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em termos de igualdade, com respeito a seu agressor. Ade-
mais, quando estão acontecendo os atos de violência inter pes-
soal, o diálogo tampouco alcança os limites de r eciprocidade
que se exigem para que a compreensão da posição do outro
seja um instrumento eficaz: colocar-se no lug ar de car rasco,
por mais sensível, inteligente e compreensiva que seja a víti-
ma, não é alg o que deva s e r solicitad o, pelo menos, enquanto
se estiver sofrendo, fora do marco das sessões de mediação,
os efeitos da violência. O uso da mediação, neste tipo de cir-
cunstância, converte ou poderia convertê-la em mais um ce-
nário, no qual a vítima se visse obrig ada a utilizar fer r amentas
de defesa das quais, em g eral, não dispõe, e o agressor pode-
ria, mesmo sem muito controle, aumentar sua prepotência ou
seu domínio psicológico.
Por outro lado, os sentimentos de culpa, ou, em sua
falta, o cinismo moral do ag ressor, não são bons matizes
emocionais para que uma pessoa, que está exercendo ações
reprováveis, esteja em condições de enfrentar, frente à sua
vítima atual, um diálog o sincer o. Isso não quer dizer que entr e
duas pessoas, que tenham vivido uma experiência de violên-
cia interpessoal, nunca se possa mediar, já que, caso se tives-
se conseguido deter a ag r essividade entre ambos, e se tivesse
em andamento um processo de revisão da violência anterior,
poderia, assim, ser acer tada a sua utilização. De qualquer for-
ma, estes são casos par ticularmente difíceis, que devem fi-
car, mais que os comuns, nas mãos de especialistas e com
responsabilidade institucional, já que é muito difícil para o(a)
mediador(a) controlar seus próprios valores morais e emo-
ções quando o desequilíbrio entre as par tes é muito g rande.
Não devemos esquecer que, ao abordar conf litos que ir rom-
pem em violência interpessoal – sobretudo se esta for pro-
longada no tempo e relativamente estável entre as pessoas
envolvidas – exig em-se processos metodológicos diferentes
ao que estamos descrevendo como mediação em conf litos.