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UNESCO 2003 Edição publicada pelo Escritório da UNESCO no Brasil
Education Sector
Division of Educational Policies and Strategies
Section for Policy Studies, Research and Information Technologies/UNESCO-Paris
As autoras são responsáveis pela escolha e apresentação dos fatos contidos neste livro, bem
como pelas opiniões nele expressas, que não são necessariamente as da UNESCO, nem
comprometem a Organização. As indicações de nomes e a apresentação do material ao longo
deste livro não implicam a manifestação de qualquer opinião por parte da UNESCO a respeito
da condição jurídica de qualquer país, território, cidade, região ou de suas autoridades, nem
tão pouco a delimitação de suas fronteiras ou limites.
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edições UNESCO BRASIL
Conselho Editorial
Jorge Werthein
Cecilia Braslavsky
Juan Carlos Tedesco
Adama Ouane
Célio da Cunha
Comitê para a Área de Educação
Ângela Rabelo
Célio da Cunha
Candido Gomes
Marilza Machado Regattieri
Revisão: Eduardo Perácio – DPE Studio
Assistente Editorial: Larissa Vieira Leite
Diagramação: Fernando Brandão
Projeto Gráfico: Edson Fogaça
UNESCO 2003
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
Representação no Brasil
SAS, Quadra 5 Bloco H, Lote 6,
Ed. CNPq/IBICT/UNESCO, 9º andar.
70070-914 – Brasília – DF – Brasil
Tel.: (55 61) 2106-3500
Fax: (55 61) 322-4261
Abramovay, Miriam
Escolas inovadoras: experiências bem-sucedidas em escolas públicas / Miriam
Abramovay et alli. - Brasília: UNESCO, 2003.
428p.
ISBN: 85-87853-79-1
1. Educação – Brasil 2. Violência nas Escolas – Brasil 3. Violência entre
Jovens – Brasil 4. Jovens Desfavorecidos – Brasil 5. Ambiente Escolar – Brasil 6.
Inovação Educacional – Brasil I. UNESCO II. Título
CDD 370
EQUIPE RESPONSÁVEL
COORDENAÇÃO
Miriam Abramovay Universidade Católica de Brasília
PESQUISADORES
Maria Fer nanda Rezende Nunes Convênio UNESCO/UNIRIO
Eliane Ribeiro Andrade Convênio UNESCO/UNIRIO
Miguel Farah Neto Convênio UNESCO/UNIRIO
Maria Angela Carvalho de Oliveira Muniz Convênio UNESCO/UNIRIO
João Paulo Macedo e Castro Convênio UNESCO/UNIRIO
Ana Maria Alexandre Leite Convênio UNESCO/UNIRIO
Luiz Carlos Gil Esteves Convênio UNESCO/UNIRIO
COLABORAÇÃO
Fer nanda Estevam de Carvalho Estagiária UNIRIO
Luisa Figueiredo do Amaral e Silva Estagiária UNIRIO
Lorena Vilarins Pesquisadora UNESCO
NOTA SOBRE OS AUTORES
MIRIAM ABRAMOVAY é professora da Universidade Católica de
Brasília, vice-coordenadora do Obser vatório de Violência nas Escolas
no Brasil e consultora de vários organismos internacionais em pesquisas
e avaliações nos temas: juventude, violência e gênero. For mou-se em
Sociologia e Ciências da Educação pela Universidade de Paris, França
(Paris VII Vincennes), possui mestrado em Educação pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paul o e é doutoranda na Universidade de
Bordeaux Victor Segalen, França. Coordenou e publicou várias pesquisas
e avaliações de prog ramas sociais. É autora e co-autora de livros sobre
juventude, violência e cidadania, bem como de vários artigos publicados
em revistas científicas e especializadas no tema violência nas escolas.
MARIA FERNANDA REZENDE NUNES é doutoranda pelo
Prog rama de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, mestre em educação pela Universidade do Estado do
Rio de Janeiro e pós-graduada em educação pelo IESAE/ Fundação
Getúlio Varg as. Trabalhou no Ministério da Educação e na Faculdade
de Educação da Universidade Federal Fluminense. Atualmente, integ ra
os quadros da Escola de Educação da Universidade do Rio de Janeiro
UNIRIO, a tuando também como pesquisadora da UNESCO e professora
do curso de Pós-g raduação em Educação Infantil da Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro. Coordena o Fórum Permanente
de Educação Infantil do Estado do Rio de Janeiro.
ELIANE RIBEIRO ANDRADE é doutoranda da Faculdade de
Educação da Universidade Federal Fluminense, mestre em Educação
pelo IESAE da Fundação Getúlio Varg as e pós-g raduada em Avaliação
de Programas Sociais e Educativos pelo Instituto Interamericano de
Cooperação para Agricultura IICA. Exerceu por vários anos a função
de técnica em assuntos educacionais do Ministério da Educação MEC
e integra, atualmente, os quadros da Escola de Educação da Universidade
do Rio de Janeiro UNIRIO, atuando, também, como pesquisadora da
UNESCO, nos campos de educação juventude. Professora substituta
da Universidade Estadual do Rio de Janeiro UERJ e membro do Fór um
de Educação de Jovens e Adultos do Rio de Janeiro.
MIGUEL FARAH NETO é mestr e em Educação pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (2002). Graduou-se como
geógrafo (1973) e como licenciado em Geografia (1974), pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Desde 1980, vem desenvolvendo
trabalhos nas áreas de Educação de Jovens e Adultos e de políticas
públicas para a educação, na Universidade Federal Fluminense e no
Ministério da Educação, dentre outras instituições. Integ ra, hoje, os
quadros da Universidade do Rio de Janeiro UNIRIO, atuando, também,
como pesquisador da UNESCO, nos campos de educação, juventude e
violência.
MARIA ANGELA DE OLIVEIRA NUNEZ é socióloga pela
SORBONNE NOUVELLE Paris 7, professora, consultora da UNESCO
para assuntos educacionais e integra a Unidade Gestora do Programa
Escolas de Paz, desenvolvido pela UNESCO e pela Secretaria de Estado
de Educação do Rio de Janeiro. Foi coordenadora de Prog ramas Sociais
da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social do município do
Rio de janeiro; diretora do Departamento de Creches e Escolas
comunitárias da Secretaria municipal de Desenvolvimento Social do
município do Rio de Janeiro. Coordenadora pedagógica do projeto
Alfabetizar é Constr uir” Alfabetização de Operários em canteiros de
obra desenvolvido pelo SINDUSCON Rio de Janeiro /MEC /
Fundação Roberto Marinho. Foi coordenadora peda gógica das seguintes
publicações: “Pensando: Reflexos sobre a Alfabetização de operários
da construção Civil” e “Experimentando: Roteiros par a a Alfabetização
de operários da Construção Civil”.
JOÃO PAULO MACEDO E CASTRO é doutorando pelo Programa
de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional UFRJ.
Trabalhou no grupo de pesquisa e avaliação do Prog r ama Escolas de
Paz no ano de 2001. Trabalhou na avaliação do Prog rama Favela Bair ro
no Rio de Janeiro no ano de 1997/1998 IEC/IPPUR. Trabalhou como
pesquisador no Programa de Análise qualitativa dos programas
inovadores do Comunidade Solidária (NEEP) 1998/1999.
ANA MARIA ALEXANDRE LEITE é mestre em Educação pela
Pontifícia Universidade Católica-Rio, Pós-Graduação em Psicologia
Médica pela Universidade Estácio de Sá. Exerceu, por vários anos a
função de técnico em assuntos educacionais do Ministério da Educação.
Atualmente integra os quadros da Escola de Educação da Universidade
do Rio de Janeiro- UNIRIO e atua também como pesquisadora da
UNESCO. Palestrante voluntária em cursos de pré-vestibulares para
negros e carentes na Baixada Fluminense, co-autora do livro Escolas de
Paz/UNESCO.
LUIZ CARLOS GIL ESTEVES é doutorando em Educação pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ e mestre em Educação
pela Universidade Federal Fluminense UFF, com formação nas áreas
de Ciências Sociais e Comunicação Social. É servidor da Universidade
do Rio de Janeiro UNIRIO, e xer cendo, entre outr as, a função de
pesquisador-consultor da UNESCO em Convênio de Cooperação
Técnica, e professor de Sociologia e Políticas Públicas da Universidade
Estácio de UNESA. Atuou também no Ministério da Educação
MEC, colaborando na for mulação, implementação, coordenação e
avaliação de políticas púb licas educacionais.
EQUIPES LOCAIS DE PESQUISA DE CAMPO
ALAGOAS
Universidade Federal de Alagoas
Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa
Elvira Simões Barretto coordenadora local
José Edson Lino Moreira assistente
AMAZONAS
UNISOL Fundação de Apoio Institucional Rio Solimões
Cláudia Regina Brandão Sampaio Fernandes da Costa coordenadora local
Rosimeire de Carvalho Martins assistente
BAHIA
UNIFACS Universidade Salvador
Alcides dos Santos Caldas coordenador local
Tatiana de Andrade Spinola assistente
CEARÁ
Universidade Federal do Ceará
Verônica Morais Ximenes coordenadora local
Eugênia Bridget Gadelha; Celânia Lima assistentes
DISTRITO FEDERAL
Universidade Católica de Brasília
Afonso Celso Tanus Galvão coordenador local
Raimunda Maria da Cunha Ribeiro assistente
ESPÍRITO SANTO
Universidade Federal do Espírito Santo
Thimoteo Camacho coordenador local
Kátia Coelho Santos de Sá; Flávio Corsini Lírio assistentes
GOIÁS
Universidade Federal de Goiás
Noêmia Lipovetsky coordenadora local
Marialice Thomaz Soares assistente
MATO GROSSO
Universidade Federal de Mato Grosso
Daniela Barros da Silva Freire Andrade coordenadora local
Miriam Ross Milani assistente
PARÁ
UNIPOP Instituto Universidade Popular
Lúcia Isabel da Conceição Silva coordenadora local
Josimar da Silva Azevedo assistente
PERNAMBUCO
Centro Cultural Luis Freire
Delma Josefa da Silva coordenadora local
Rosa Maria Cunha Cavalcante; Tarsila Myrtle Câmara assistentes
RIO DE JANEIRO
Universidade Federal Fluminense
Paulo César Rodrigues Carrano coordenador local
Ana Karina Brenner; Leda Fraguito assistentes
RIO GRANDE DO SUL
THEMIS Associação Jurídica e Estudos do Gênero
Míriam Steffen Vieira coordenadora local
Alinne de Lima Bonetti; Ielena Azevedo da Silveira assistentes
SANTA CATARINA
Universidade Federal de Santa Catarina
Olga Celestina da Silva Durand coordenadora local
Vera Lúcia Bazzo; Terezinha Maria Cardoso; Vânia Beatriz Monteiro da Silva
assistentes
SÃO PAULO
Ação Afirmativa Assessoria, Pesquisa e Informação
Ana Paula de Oliveira Corti coordenadora local
Liliane Petris Batista assistente
SUMÁRIO
Apresentação ..................................................................................................................... 9
Abstract ............................................................................................................................ 13
1. Alternativas à Exclusão Social ................................................................................. 15
2. Breve História da Bolsa-Escola .............................................................................. 37
3. A Bolsa-Escola Cruza Fronteiras ........................................................................... 51
4. Os Efeitos da Bolsa-Escola na Construção da Cidadania ................................ 79
5. Proposta para a África ........................................................................................... 113
6. Conclusão ................................................................................................................. 135
Bibliografia .................................................................................................................... 143
Bibliografia Complementar ........................................................................................ 147
Agradecimentos............................................................................................................. 19
Dedicatória ..................................................................................................................... 23
Prefácio............................................................................................................................ 25
Apresentação.................................................................................................................. 29
Abstract ........................................................................................................................... 33
Introdução ...................................................................................................................... 35
Caracterização do Estudo .......................................................................................... 41
CAPÍTULO 1
M
ARCO CONCEITUAL....................................................................................................... 51
Escolas Inovadoras: Revisando a bibliografia ...................................................... 51
CAPÍTULO 2
A
VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS ............................................................................................ 69
2.1 A violência e os jovens ......................................................................................... 70
2.2 A violência no ambiente escolar ........................................................................ 77
2.3 Situação das Escolas Inovadoras....................................................................... 81
2.3.1 Repetência e abandono escolar, os efeitos da violência.................... 85
2.3.2 Superando Violências ................................................................................. 88
CAPÍTULO 3
A
S ESCOLAS INOVADORAS .............................................................................................. 93
3.1 Contextualizando as inovações .......................................................................... 94
3.2 Focalizando as escolas inovadoras .................................................................... 98
3.2.1 Alagoas/Maceió Escola Estadual Miriam Marroquim ............... 98
3.2.2 Amazonas/Manaus Escola Estadual Maria Madalena
Santana de Lima ...................................................................................... 109
3.2.3 Bahia/Salvador Escola Estadual Márcia Meccia ........................ 120
3.2.4 Ceará/Fortaleza Escola de Ensino Médio Liceu
do Conjunto Ceará................................................................................. 133
1616
1616
16
ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
3.2.5 Distrito Federal/Brasília Centro de Ensino Médio
11 de Ceilândia ........................................................................................ 159
3.2.6 Espírito Santo/Vitória Escola Estadual de Ensino
Médio Arnulpho Mattos ....................................................................... 172
3.2.7 Goiás/Goiânia Escola Estadual Edmundo Rocha ................... 182
3.2.8 Mato Grosso/Cuiabá Escola Estadual Presidente Médici ...... 193
3.2.9 Pará/Belém Escola Estadual de Ensino Fundamental
e Médio Brig adeiro Fontenelle ............................................................ 205
3.2.10 Pernambuco/Recife Escola Estadual Padre Nércio
Rodrigues .................................................................................................. 226
3.2.11 Rio de Janeiro/Duque de Caxias Colégio Estadual
Guadalajara............................................................................................ 237
3.2.12 Rio Grande do Sul/Porto Aleg re Escola Estadual
Baltazar de Oliveira Garcia ............................................................. 262
3.2.13 Santa Catarina/Florianópolis Escola de Educação
Básica Hilda Theodoro Vieira ........................................................ 272
3.2.14 São Paulo/Itaquaquecetuba Escola Estadual
Parque Piratininga ................................................................................ 292
3.3 A pluralidade das experiências das escolas inovadoras ....................... 304
CAPÍTULO 4
E
STRATÉGIAS QUE FAZEM DIFERENÇA ....................................................................... 323
4.1 Clima escolar e estratégias inovadoras .......................................................... 324
4.1.1 A importância do “bom clima” na vida da escola ......................... 324
4.1.2 A gestão inovadora: o papel do diretor ............................................ 333
4.1.3 A valorização do aluno, do professor e da escola .......................... 336
4.1.4 O exercício do diálogo........................................................................... 342
4.1.5 O trabalho coletivo ................................................................................. 349
4.1.6 A participação da família e da comunidade ..................................... 353
4.1.7 A ressignificação do espaço físico ....................................................... 356
4.1.8 O incremento da sociabilidade e a construção do
sentido de pertencimento....................................................................... 361
4.2 Investindo no bom clima escolar e em estratégias que fazem a
diferença: O Programa Abrindo Espaços ................................................... 363
1717
1717
17
Conclusão .................................................................................................................... 381
Recomendações.......................................................................................................... 393
Lista de tabelas ........................................................................................................... 399
Lista de gráficos ......................................................................................................... 401
Lista de quadros ......................................................................................................... 403
Anexo A situação da educação no Brasil ........................................................ 405
Bibliografia .................................................................................................................. 419
1919
1919
19
AGRADECIMENTOS
Ao representante da UNESCO no Brasil, Dr. Jorge Werthein, que
acredita que a violência nas escolas pode ser superada por meio de diversas
estratégias e, sobretudo, de pesquisas que incentivem a melhoria das políticas
públicas, contribuindo para uma educação melhor.
À Secretaria Especial de direitos Humanos da Presidência da
República, pelo apor te estratégico para a concretização desse trabalho.
Ao Reitor da Universidade do Rio de Janeiro UNIRIO Professor
Doutor Pietro Novellino, por compreender e a poiar um projeto dessa
natureza.
Ao professor Luiz Eduardo Marques da Silva, Decano do Centro de
Ciências Humanas UNIRIO pelo apoio e pela dedicação ao
desenvolvimento dessa pesquisa.
Ao Carlos Alberto dos Santos Vieira, Coordenador de Projetos
Especiais da UNESCO, pelo suporte institucional e solidariedade. À Flavia
Santos Porto pelo auxílio administrativo nos momentos necessários.
À Leonardo de Castro Pinheir o, pela apoio prestado na fase de
elaboração do projeto de pesquisa.
Às 146 escolas públicas que colaboraram para a realização da primeira
etapa dessa pesquisa, recebendo as equipes estaduais e fornecendo
informações preciosas para o trabalho.
A todos os entrevistados diretores, coordenadores, alunos,
professores, funcionários e colaboradores –, pela cooperação e pelo tempo
dedicado.
2020
2020
20
ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Às diretoras e aos diretores das escolas inovadoras, pela gentileza
com que receberam as equipes de pesquisa, abrindo os espaços necessários
para a ref lexão sobre essas escolas.
Às Secretarias Estaduais de Educação das 14 Unidades da Federação
abordadas.
À Diana Teixeira Barbosa e Mara do Couto Fernandes por seus olhares
críticos e auxílio na revisão de todo o livro.
A todos aqueles que, muitas vezes extrapolando os limites de suas
atribuições formais, contribuem para a construção de uma escola pública
participativa e de qualidade. São essas atuações que fazem a diferença e
dão sentido à realização dessa pesquisa.
Aos jovens, os atores dos projetos, que fazem de suas escolas um
espaço para inovações, contribuindo para a formação de um ser social,
cultural e cidadão.
2121
2121
21
“Nós vos pedimos com insistência:
Nunca digam Isso é natural
Diante dos acontecimentos de cada dia,
Numa época em que corre o sangue
Em que o arbitrário tem força de lei,
Em que a humanidade se desumaniza
Não digam nunca: Isso é natural
A fim de que nada passe por imutável.”
Bertold Brecht
(Augsburgo, 1898 Berlim, 1956)
2323
2323
23
As nossas crianças e jovens Lucas, Rachel, Isadora
e Vítor, Rafael, João Pedro e Luiza, Anais e Tom,
Omara Ananda e Mariana, Ana Maria e Fernando José,
Benjamin José, Raphael e Maria Manuella –,
que nos fazem acreditar que a mudança é possível
2525
2525
25
PREFÁCIO
Uma das canções do g r upo Titãs mais apreciadas pelos jovens
repete, em seu refrão, versos que talvez representem a mais ur gente
reivindicação da juventude em nossos dias: “Só quero saber do que
pode dar cer to, não tenho tempo a perder”
1
. Numa sociedade que insiste
em enxergar os jovens, tal qual as crianças, como simples indivíduos
de passagem para a vida adulta, tais versos soam como brados de uma
juventude que, por meio da poesia, ou o melhor, aliada à poesia, vem
incessantemente tentando nos ensinar como quer e o que espera de
seu futuro. Porque, antes de tudo, também precisa dar cer to...
A realidade, entretanto, infelizmente é outra. Isto porque o
clamor juvenil não raro esbarra nos ouvidos surdos de uma minoria
que, no comando das ações sociais e não por acaso for mada por
“adultos”, ainda faz questão de ignorar as for mas plurais e legítimas
de expressão da juventude, a quem sempre é reservada a posição de
espectador, muito embora constitua numericamente a maior parcela
da população brasileira. Nossos jovens vivem, assim, uma situação
paradoxal, que se pudesse ser expressa por meio de uma fór mula
matemática, para o mais teria sempre como resultado o menos,
representado pelo esquecimento, pelo descaso e pelo abandono com
que são tratados pelo chamado mundo “adulto”.
Umas das conseqüências mais per versas dessa negligência tem
se manifestado, de modo recor rente, em diversos episódios envolvendo
situações de violência - em alguns casos, de extrema gravidade - no
interior de escolas situadas nos mais diferentes pontos do país,
mostrando, ao contrário do que muitos supõem, que não existem mais
regiões pr otegidas. Deste modo, acompanhando o chamado fenômeno
de globalização da economia, também a violência vem se impondo
crescentemente em nosso cotidiano, invadindo espaços onde sua
1
(Go Back - Sérgio Britto/Torquato Neto)
2626
2626
26
ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
presença não pode ser tolerada, como é o caso de nossas escolas, locais
em que o convívio, o aprendizado da cidadania e a prática da
solidariedade de for ma alguma podem deixar de ser a tônica dominante.
As escolas brasileiras também não têm tempo a perder, precisam saber do
que pode dar cer to.
Nesse contexto pouco animador é que recebemos como uma
lufada de frescor e de esperança este “Escolas inovadoras: experiências
bem-sucedidas em escolas públicas”. Mais um elo na sólida cadeia de
trabalhos que, algum tempo, vem sendo for jada pela Unesco do
Brasil tendo o jovem como centro das atenções, traz boas novas para
um país que não pode mais per mitir que sua juventude seja apenas
alvo de expectativas, pois também necessita ardentemente que ela
cer to. E para isso, confor me nos recomenda o estudo, é fundamental
que ela se constitua o sujeito ativo de sua própria transfor mação,
tornando-se capaz de estabelecer e zelar pela preser vação de uma
verdadeira Cultura de Paz.
Realizado em 13 capitais br asileiras e no Distrito Federal, este
livro baseia-se no relato e na análise de experiências desenvolvidas
em escolas situadas em locais de elevada vulnerabilidade social que,
tendo passado por situações-limite e experimentando as mais variadas
for mas de violência e abandono, foram capazes de enfrentar e rever ter
esse quadro, por meio, dentre outras medidas, do estabelecimento de
pactos de confiança e aposta nos jovens. Os mesmos jovens a quem,
por conta dos efeitos perversos decorrentes de uma sociedade
fundamentada na exclusão, nos acostumamos a ver, através de inúmeras
estatísticas, ocupando a triste posição de principais vítimas e agentes
da violência...
Entretanto, em consonância com um tempo que também tem pressa
e anseia por transformações eficazes e duradoura s, ao fazer o inventário
das ag r ur as enfrentadas por tais escolas, o tr abalho não se limita à mer a
catalogação de dificuldades. Ao contrário. Demonstrando que foi
realizado com ouvidos sensíveis, de suas linhas saltam lições de otimismo
e perse verança, formando um mosaico de peças que contam histórias
verdadeiras de um país que, apesar de todas as adversidades, tal e qual
os seus jovens, também tem tudo para dar cer to.
2727
2727
27
Para além de saídas mirabolantes e estratosféricas, portanto
praticamente inviáveis, as experiências aqui apresentadas se
caracterizam por estarem situadas nos limites do possível e da boa
vontade, tocadas em frente não por heróis, mas por pessoas comuns,
de car ne, osso e um coração enor me, capaz de abrig ar uma do
tamanho do Brasil.
Bons ventos espalhem essas notícias. E que ouvidos sábios e
mãos ativas sejam capazes de fazer com que elas se multipliquem...
Cristóvam Buarque
Ministro de Estado da Educação no Brasil
2929
2929
29
APRESENTAÇÃO
Consciente de que a produção e a difusão de conhecimentos
constituem o modo mais promissor para a obtenção de subsídios capazes
de operar as mudanças desejáveis por todos na vida social, a UNESCO
no Brasil vem se dedicando a realizar uma vasta série de estudos e
pesquisas em suas diferentes frentes de atuação, ao mesmo tempo em
que também tem trazido ao público brasileiro importantes publicações
internacionais afinadas com seus objetivos. O critério que fundamenta
o desempenho dessas atividades repousa no compromisso assumido pela
instituição em responder aos desafios mais prementes da sociedade
brasileira, missão que a coloca ora no papel de ouvidora, ora no papel
de porta-voz dos mais importantes temas nacionais, tornando-a
reconhecidamente apta a cooperar com as diferentes esferas
g overnamentais e não-g overnamentais.
Por conta desse perfil, a UNESCO vem direcionando g rande par te
dos esforços visando conhecer, em profundidade, um tema cada vez
mais presente tanto no noticiário midiático quanto no cotidiano da grande
maioria dos brasileiros: a violência. Explícita ou velada, material ou
simbólica, esta vem ocupando espaços progressivamente amplos nos
mais variados níveis, contaminando relações antes incólumes à sua
influência e desestruturando instituições sociais estratégicas, cuja defesa
e preservação tornam-se ur gentes, caso contrário, cor re-se o risco de
perder o controle sobre elas.
Dentre as instituições mais ameaçadas, está a escola, instância
particularmente cara ao conjunto da sociedade, em especial, às crianças
e à juventude. Esta última vem ocupando a condição de foco de diversas
violências, seja como autora, seja como vítima, a ponto de constituírem
a causa mais recorrente da mor talidade entre os jovens. Conjugam-se,
assim, dois elementos histórica e intrinsecamente ligados, o jovem e a
escola, cujo resultado, ao invés de cor responder aos anseios sociais de
um amanhã seguro e cidadão, tem implicado numa combinação perigosa,
descor tinando um futuro que pode ficar seriamente comprometido, caso
o presente não sofra, desde já, intervenções efetivas.
3030
3030
30
ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Um dos marcos da produção institucional direcionada para esse
assunto foi, sem dúvida, a publicação Violências nas Escolas. Lançada pela
UNESCO em 2002, traz os resultados de uma ampla pesquisa realizada
em capitais de 14 capitais das Unidades da Federação, abordando diversos
temas relacionados às múltiplas formas de manifestação da violência no
cotidiano escolar. O impacto produzido por este livro foi tal que uma
série de eventos e desdobramentos foram desencadeados, estabelecendo
redes de parcerias entre instituições nacionais e inter nacionais. Dentre
tais iniciativas, destaca-se a criação do Observatório de Violências nas
Escolas Brasil, parceria estabelecida entre a UNESCO e a Universidade
Católica de Brasília que tem as funções de incentivar a pesquisa, o
ensino e a extensão, bem como propor recomendações às política públicas
e desenvolver estratégias de prevenção e combate à violência escolar.
Atua ainda, aliado ao Observatório Europeu de Violências nas Escolas,
com sede em Bordeaux (FA) e o Observatório Internacional de Violências
nas Escolas composto por países de vários pontos do mundo interessados
em ampliar a compreensão sobre o problema e propor saídas viáveis para
o seu enfretamento.
Realizado a partir de um intenso trabalho de pesquisa, o livro que
ora apresentamos também se constitui num desdobramento do estudo
anterior. A diferença é que, desta vez, o foco de nossa atenção volta-se
para a descoberta de saídas criativas, capazes de responder aos anseios
de um país que vive, em sua história recente, um novo tempo na busca
de soluções. Isto porque, ao lado de indicadores denunciando uma
progressiva naturalização de atos violentos dentro e fora do ambiente
escolar, o quadro desenhado pelo Violências nas Escolas, embora bastante
preocupante, também apontou a existência de experiências
desenvolvidas por escolas dos quatro cantos do país que, tendo
vivenciado situações críticas envolvendo a prática das mais distintas
formas de violência, foram capazes de “dar a volta por cima”,
reescrevendo a sua história, que desta vez com as tintas do otimismo
e da esperança. Ainda que amparadas por diferentes estratégias e
procedimentos, um eixo básico apresentou-se comum a todas, mostrando
ser decisivo para o sucesso alcançado, qual seja, a instauração de
parcerias ativas com os seus jovens.
3131
3131
31
Jorge Wer thein
Representante da UNESCO
no Brasil
São justamente essas histórias de otimismo e determinação,
colhidas em 14 estabelecimentos escolares localizadas nas mesmas
unidades federadas que fizeram par te da amostra do Violências nas Escolas.
Longe de pretender que elas se apresentem como modelos afinal, a
realidade social é bem mais complexa do que acreditam os que se guiam
por receituários -, alguns de seus aspectos intrínsecos talvez possam ser
generalizáveis, apontando caminhos de superação que transcendam seus
próprios limites, desde que as especificidades de cada uma dessas
iniciativas não sejam esquecidas.
Fundamental, entretanto, e de acordo com as palavras de uma
diretora de escola, é reconhecer essas experiências como inter venções
sociais de resistência, capaz es de enxer gar o pr esente com os olhos do futuro,
idéia que nos remete ao famoso Relatório sobre a Diversidade Criadora,
quando recomenda: É melhor optar pelo desenvolvimento preventivo agora
do que por operações militar es de pois. É melhor cor rigir os modelos equi vocados
e distorcidos de desenvolvimento de forma a responder às aspirações dos povos
(Cuellar, 1997: 363). Esteéogrande desaf io e, ao mesmo tempo, a
verdadeira essência de uma Cultura de Paz.
3333
3333
33
ABSTRACT
Most of the research carried out by UNESCO demonstrates that
the situation of public schools for youths aged 14 to 24, especially those
from the poorer segments of society, is precarious. In order to contribute
to the improvement of this reality, man y schools are now attempting to
identify the causes for this situation and seeking innovative alternatives
to deal with situa tions of violence in an affirmative manner. UNESCO,
in par tnership with UNIRIO, sought to examine these schools in order
to understand how they are trying to combat violence and resignify their
role in view of new social and market-related demands. In order to
understand these schools and their strategies, this research, “Innovative
Schools: Successful Experiences in Public Schools” was carried out.
In g eneral terms, the objective of this research was to identify
and analyze schools that are part of the public school system in 14
states in Brazil which have been developing innovative experiences. T he
paths taken by these schools, their strategies and their perspectives were
identified, and the results they attained point to a new way to face and
solve the main problems they encountered. Although these schools were
faced with diverse and adverse conditions, they were able to overcome
violence in their day-to-day lives through the creation of coping
mechanisms. The bases of these mechanisms ar e activities r elated to
the valorization of participants, dialogue, joint effort, and to the
resignification of school as a space. This shift in the way in which
problems are dealt with makes these schools a reference in the combat
against violence and points towards new perspectives for public policies
whose objective is to seek a qualitative change in public schools.
3535
3535
35
INTRODUÇÃO
O estudo “Escolas inovadoras: experiências bem-sucedidas em
escolas públicas” tem como objetivo central dar visibilidade a uma série
de experiências que vêm sendo desenvolvidas em escolas públicas das
regiões metropolitanas de 14 Unidades da Feder ação, que por meio de
configurações diversas, têm prevenido e enfrentado situações de violências
nas escolas com re percussões diretas na qualidade da educação.
Apesar de aparentemente simples, a realização das práticas
desenvolvidas por essas escolas depende de uma série de disposições
individuais e coletivas, internas e externas ao universo escolar que,
observadas com foco no cotidiano, demonstram um enorme esforço em
que aparecem envolvidos ministérios, governos estaduais, Ongs,
associações comunitárias, movimentos sociais e órgãos internacionais
como a UNESCO.
A escola pública se constitui em um campo vasto, plural e
diversificado, marcado por uma série de dificuldades, ancoradas,
principalmente, nas precárias condições educacionais. No entanto, ao lado
dessa realidade complexa, própria de uma instituição que reúne diferentes
dimensões do campo social, observam-se práticas, soluções e respostas
inesperadas, que buscam constr uir um outro tipo de história, longe
daquelas que re produzem o fracasso e a descrença na construção de uma
Cultura de paz
2
. Essas novas histórias, que aqui serão chamadas de
inovadoras, nascem exatamente de uma escola que se reconhece na
diversidade, na luta contra os processos sociais excludentes, na aposta e
na crença incondicional nos seus jovens alunos, sujeitos sociais, repletos
de necessidades, desejos e sonhos.
2
A cultura de paz está intrinsecamente relacionada à prevenção e à resolução não violenta dos
conflitos. É uma cultura baseada em tolerância, solidariedade e compartilhamento em base cotidiana,
uma cultura que respeita todos os direitos individuais - o princípio do pluralismo, que assegura e
sustenta a liberdade de opinião - e que se empenha em prevenir conflitos resolvendo-os em suas
fontes, que englobam novas ameaças não-militares para a paz e para a segurança como exclusão,
pobreza extrema e degradação ambiental. A cultura de paz procura resolver os problemas por meio
do diálogo, da negociação e da mediação, de forma a tornar a guerra e a violência inviáveis.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
O foco do estudo está direcionado para as experiências das escolas
que se voltam para as diversas juventudes, considerando a sua condição
de vulnerabilidade social, particularmente nas questões relacionadas a
situações de violência, conforme tem indicado uma série de estudos e
pesquisas na área
3
.
Vale sublinhar que a questão da violência, par ticular mente a que
perpassa o universo escolar, vem sendo abordada nos cenários nacional
e inter nacional como um dos g randes desafios para a constr ução de uma
Cultura de Paz. Para entender estas dificuldades, é importante ressaltar
que o termo violência é provido de múltiplos sentidos e significados,
acolhendo diferentes situações que fazem menção a realidades distintas
e heterogêneas. Estes múltiplos sentidos vão ecoar, tanto no processo
de aprendizado do aluno e nas relações no interior da escola quanto na
imagem da instituição escolar como espaço protegido, de direito e
responsável pela educação das novas gerações, precioso para o
desenvolvimento auto-sustentado do país (Gadotti e Romão, 2000:43).
As relações entre violência e escola, segundo alguns autores
(Debarbieux, 1998), estão na base da constituição da instituição escolar,
como os castigos físicos e a humilhação pública, se modificando a partir
de meados do século XX. Para Philipe Áries (1981) “a escola infligiu à
criança o chicote, a prisão, em suma, correções reservadas aos condenados
das condições mais baixas. Assim, para Corti (2002) passamos de um estado
em que a violência era instrumento para garantir a autoridade para outro
em que ela passa a ser evitada. Nesse sentido, poderíamos afirmar que a
instituição escolar sofreu um processo de pacificação.
A UNESCO, tendo como finalidade contribuir para o debate e a
for mulação de políticas públicas referentes às áreas focalizadas nesse
estudo (educação, violência, escola e juventude), investe na realização
de uma série de pesquisas, que buscam expressar percepções e práticas
dos múltiplos integrantes da vida escolar (alunos, professores, diretores,
quadros administrativos, pais e moradores do entorno).
3
Um razoável investimento em estudos sobre juventude por metodologia quantitativa e
qualitativa, ou seja, análise em profundidade em diferentes áreas do Brasil promovido pela
UNESCO, antecede esta pesquisa. Exemplos são Abr amovay (coord.), 2001; Waiselfisz, 1998,
2000; Abramovay e Rua, 2002; Castro et al., 2001; Abramovay et al., 1999; e Minayo, 1999.
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Considerando a importância de análises que explicam as
macrossituações que envolvem o espaço escolar, o trabalho aqui
apresentado optou por se ater a situações particulares, que dessem conta
dos mecanismos com os quais muitas escolas constroem respostas para
o seu cotidiano, promovendo ações que melhoram o clima escolar,
revertendo de forma criativa situações relacionadas à violência, sob o
olhar dos seus próprios integr antes.
As experiências descritas tratam de diferentes ações. Em alguns
casos, pontuais, mas significativas, pois provocam o compromisso e o
entusiasmo da comunidade escolar. Em outros, são experiências que
têm o mérito de articular e promover processos de integração e a
possibilidade de alunos e professores se incluírem em novas redes de
conhecimento, cultura, cidadania e solidariedade.
O que está em jog o, com cer teza, é um novo modelo de gestão da
escola pública, em que se pressupõe a articulação com a sociedade imediata
bair r o ou comunidade local, vila, cidade e vínculos mediatos com as esf eras
estadual, nacional e global (Frigotto, 2000:11). Ressalta-se, aqui, a
importância fundamental do papel indutor das diferentes instâncias que
compõem o sistema educacional brasileiro, como o Ministério da
Educação, os Conselhos Nacional, Estaduais e Municipais de Educação,
as Secretarias de Estado e Municipal de Educação, na consolidação de
um apoio efetivo, técnico e financeiro. Este apoio potencializa as
iniciativas que valorizam a escola pública, seus alunos, professores e
funcionários, construindo novas opções para os jovens.
As iniciativas, consideradas inovadoras porque propiciam
processos criativos de articulação e transfor mação do clima escolar,
promovem uma maior integração dos diferentes setores da escola,
fortalecendo laços e mecanismos de compartilhamento de interesses e
objetivos. E, neste sentido, per mitem um contr aponto aos diferentes
tipos de problemas vivenciados, contribuindo para a diminuição da
violência na escola - indisciplina, agressões, ameaças, intimidações -,
para a melhoria do desempenho escolar e para a promoção da motivação
de alunos e professores. Enfim, tais iniciativas vêm desper tando em
muitos gestores, professores, alunos e comunidades a convicção de que
a mudança é possível.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Para uma melhor compreensão destas questões, este livro foi
org anizado em quatro capítulos.
O primeiro capítulo, centrado no marco conceitual da pesquisa,
coloca em discussão diferentes percepções e sentidos atribuídos ao
ter mo “inovação” e ressalta a impor tância de se refletir sobre os
mecanismos de integ ração (diálo go, cooperação e par ticipação).
O capítulo dois contextualiza, ainda, as relações entre violência,
escola e juventude, no âmago das quais surgem as experiências
inovadoras. Para tanto, abor da dados que quantificam e qualificam a
violência que atinge os jovens no Brasil e a violência no ambiente
escolar.
No terceiro capítulo, o foco encontra-se na descrição e na análise
das escolas inovadoras. Seu eixo se constitui a partir da ref lexão sobre
“o que faz uma escola ser inovadora?”, retratando o contexto das
inovações. Em um segundo momento, tece uma análise, em profundidade,
de 14 escolas cujos projetos se destacaram, uma por unidade da
federação, obser vando os processos de produção de práticas inovadoras
na prevenção e no enfrentamento da violência e suas relações com as
características do universo escolar, considerando o contexto interno da
escola e seu entorno. Sistematiza, ainda, as grandes linhas que
caracterizam a diversidade das práticas em curso nessas escolas.
O quarto capítulo apresenta e analisa as estratégias identificadas
como inovadoras no cotidiano das escolas, refletindo sobre as
mudanças obser vadas na relação com os alunos, na par ticipação das
famílias e da comunidade, no engajamento dos professores e demais
funcionários, no uso e na perce pção do espaço físico, na sociabilidade
e na própria imagem da escola. Aborda as relações entre clima escolar,
violência e aprendizagem, coletadas nos depoimentos dos diversos
participantes da pesquisa, obtidos em entrevistas e g r upos f ocais. Pode-
se observar a impor tância do “bom clima escolar” como fator de êxito
das práticas inovadoras direcionadas à revalorização da escola e ao
enfrentamento da violência
Em sua conclusão, o livro, a par tir das experiências levantadas
no universo pesquisado, apresenta recomendações e aponta
perspectivas para políticas públicas voltadas à constr ução de uma
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escola pública afinada com as aspirações da sociedade, de for ma a
oferecer aos jovens uma educação de qualidade capaz de abordá-los
com um novo olhar, de valorizar suas múltiplas identidades e incorporar
em suas práticas cotidianas suas produções culturais como for ma de
enfrentar as situações de violência.
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CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO
O estudo aqui apresentado buscou identificar experiências e
caminhos percorridos por instituições escolares que vêm trabalhando
de for ma inovadora na constr ução de uma escola pública capaz de
contribuir para a diminuição da exclusão social, par ticularmente no que
se r efere aos milhões de jovens que se encontram à marg em da educação,
da cultura, da ciência, do esporte, do lazer etc. Busca, também, identificar
as conseqüências dessas novas práticas no combate às situações de
violência no espaço escolar.
O interesse em estudar as “escolas inovadoras” surgiu de uma série
de indagações a partir dos resultados da pesquisa Violências nas Escolas
(2002), realizada pela UNESCO. O trabalho faz um amplo estudo sobre
o tema, procurando identificar e analisar as percepções dos alunos, do
corpo técnico-pedagógico e dos pais sobre os tipos de violência correntes
no ambiente escolar e suas causas.
A violência surg e como conseqüência da ruptura de pactos sociais,
por meio da força física ou simbólica, apresentando-se em uma
multiplicidade de situações capazes de, muitas vezes, esgaçar os laços
sociais. O trabalho aponta, também, para situações dentro do ambiente
escolar que podem, no limite, desencadear a violência casos de
indisciplina; pichações e depredações; não-construção de pactos dentro
da escola; não-explicitação de regras e nor mas da escola; falta de
professores e baixos salários; falta de investimento em material e
equipamento físico; espaço físico descuidado e desorganizado; ausência
de diálogo entre os integrantes da unidade escolar etc. A partir desse
vasto levantamento, o estudo sug ere que essas situações sejam pensadas
de forma integ rada, pois se interpenetr am, não havendo entre as mesmas
uma relação de causalidade, mas de profunda interdependência.
Em síntese, diante desse rol de preocupações, obser vou-se a
necessidade de se compreender os processos adotados por algumas
escolas que, em contextos desfavoráveis, vêm desenvolvendo
experiências bem-sucedidas no cotidiano escolar. O objetivoéode
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
registrar um conhecimento que vem sendo produzido de for ma não-
instituída e que pode oferecer pistas para possíveis mudanças num
quadro ainda precário da educação brasileira.
Com essas preocupações, formularam-se as seguintes indag ações:
Por que uma escola inovadora? Como as escolas se organizam? Quem
participa dessas novas práticas? Como os diferentes atores na escola
percebem as experiências inovadoras? Que situações levaram à
necessidade de mudança? Essas ações provocam mudanças nas atitudes
e na organização da escola? Existe relação entre clima escolar,
experiências inovadoras e aprendizagem? Como as situações de violência
são enfrentadas por essas escolas? Que aspectos são propulsores de
mudanças? Como as escolas produzem ações para enfrentar a violência,
ressignificando seu papel frente às novas demandas sociais?
Cabe destacar, que o estudo narra experiências singulares em
contextos específicos. Como aponta Lahire, as características extraídas
da vida social devem sempre ser recontextualizadas , (....) não se tratam de
capitais que circulam, mas de seres sociais que, nas relações de interdependência e
em situações singulares, fazem circular ou não, podem “transmitir” ou não, as
suas propriedades sociais (Lahire, 1997: 32). Nessa perspectiva, procurou-
se realizar um estudo mais aprofundado, construindo diferentes
interpretações para os múltiplos fenômenos característicos da realidade
analisada, repletos de variabilidades históricas, econômicas e culturais.
PROCEDIMENTOS ADOTADOS
O estudo combinou abordagens e estratégias de coleta de dados
distintas, mas complementares, per mitindo superar as limitações e
ampliar os benefícios de cada um dos procedimentos adotados. O
processo de coleta de dados foi organizado em duas etapas: na primeira,
optou-se por uma abordagem extensiva e, na segunda, por uma
abordagem compreensiva , que per mitiu qualificar o tipo de material
coletado.
A abordagem extensiva baseia-se na utilização de métodos e
técnicas quantitativas. Tal procedimento objetiva trabalhar com a
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43
capacidade inferencial dos dados, a partir de uma metodologia indutiva,
característica de pesquisas do tipo sur vey. Sob esta perspectiva, são
desenvolvidos instr umentos como questionários auto-aplicáveis ou
aplicados mediante entrevistas, abrangendo universos completos (censo)
ou amostras probabilísticas. Esta abordag em tem como principais
vantagens: (a) a possibilidade de aferir magnitudes; (b) a identificação
de padrões comuns a universos distintos; (c) a comparabilidade dos
resultados; (d) a razoável precisão das generalizações; (f) a possibilidade
de examinar tendências e recorrências a serem qualificadas por meio de
outros procedimentos.
No que se refere à abordagem compreensiva, o principal objetivo
desse procedimento é se ater ao conteúdo das informações for necidas
pelos atores sociais, consistindo na captação das percepções,
representações, valores, intenções e motivações.
Entre as técnicas adotadas na abordagem qualitativa,
privilegiaram-se:
A realização de entrevistas individuais semi-estruturadas com
diretores das escolas, alunos, professores, coordenadores de
projetos e comunidade. Este procedimento permitiu conhecer
categorias e aspectos da atividade cotidiana, vivenciados e/ou
por eles utilizados, sobre os quais não havia conhecimento
anterior, o que impedia sua incor poração em um questionário.
Tal abordagem resultou em entrevistas mais detalhadas, onde
foi possível captar os diferentes sentidos que os indivíduos
atribuem às suas ações. Assim, é possível ao pesquisador
explorar cer tas inf or mações e idéias inesperadas, surgidas no
processo de entrevista.
A realização de gr upos focais com alunos e professores.
Considera-se o g r upo focal como uma adequada técnica de
pesquisa para buscar respostas aos “porquê” e “como” dos
comportamentos sociais. É uma fonte de informação para se
entender as atitudes, crenças e valores de um g r upo ou de uma
comunidade relacionada aos aspectos específicos que se quer
estudar. Esta técnica transfor mou-se em um dos principais
instrumentos dos métodos de “indagação rápida” (Rapid
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Assessment)
4
, desenvolvida para obter uma infor mação em
profundidade e que possibilite dar respostas em curto prazo às
indag ações sug eridas em campo.
A realização de observação direta (in loco) nas escolas
selecionadas. Para a realização deste tipo de atividade, elaborou-
se um roteiro de campo em que foram estabelecidos alguns
critérios que deveriam guiar o olhar do pesquisador. O trabalho
de obser vação tinha como principal objetivo confrontar os
dados obtidos por meio de entrevistas, questionários ou g rupos
focais com a percepção do pesquisador. A observação de campo
per mitiu, também, acompanhar as relações e os compor tamentos
dos diferentes atores sociais.
A PREPARAÇÃO DOS PESQUISADORES
O trabalho foi coordenado por um g rupo de pesquisadores que,
por meio de convênio de cooperação entre a UNESCO e a UNIRIO,
vem desenvolvendo uma série de pesquisas. Para a viabilização deste
estudo nos Estados, constr uíram-se parcerias com universidades,
organizações não-governamentais e centros de pesquisa, visando à
composição de equipes estaduais responsáveis pela realização do
trabalho. Assim, tra balhou-se em quatorze estados, onde foram f ormaram
equipes locais de pesquisa com o objetivo de coletar as infor mações
nas escolas selecionadas. Essas equipes eram for madas por pesquisadores
com experiência em trabalhos dessa natureza e que haviam atuado
junto ao setor de pesquisa e avaliação da UNESCO em outros projetos.
As equipes estaduais foram preparadas, por meio de encontros,
onde as discussões circularam em tor no dos objetivos do trabalho, dos
procedimentos metodológicos, das diferentes etapas da pesquisa, dos
4
O Rapid Assessment é utilizado para facilitar decisões que devem ser pautadas na realidade; é
uma ferramenta para articular opiniões, julgamentos e perspectivas dos envolvidos em
processos sociais diversos. (World Bank, 1993).
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45
instr umentos elaborados. Como facilitador da discussão e do tr abalho,
distribuiu-se durante o treinamento um material, contendo orientações
e documentos necessários ao trabalho de campo.
A SELEÇÃO DAS ESCOLAS
A priori, o presente estudo trabalhou com as mesmas quatorze (14)
capitais contempladas na pesquisa Violências nas Escolas: Maceió, Manaus
Salvador, Fortaleza, Vitória, Goiânia, Cuia bá, Belém, Recife, Rio de Janeiro,
Porto Alegre, Florianópolis, São Paulo e Distrito Federal, sendo que, os
pesquisadores receberam a orientação de que poderiam selecionar escolas
de outros municípios que fizessem parte da região metropolitana.
Os dados aqui apresentados foram coletados a partir de dois
momentos distintos. Primeiro definiu-se, para compor este estudo, um
mínimo de 10 escolas por Unidade da Federação, o que totalizou 146
escolas. A escolha das escolas que integ ram a pesquisa se realizou a
partir de consulta a todas às secretarias estaduais de educação dos estados
selecionados, alguns sindicatos de professores e algumas organizações
não-governamentais com atuação no campo educacional. Para orientar
a escolha das escolas foram estabelecidos os seguintes critérios:
Localização em bairros/comunidades com índices elevados de
violência (de acordo com os dados fornecidos pelas Secretarias
Estaduais de Educação);
Localização no município da capital ou na região metropolitana;
Desenvolvimento de projetos culturais, científicos, esportivos,
literários, e as chamadas atividades extracurriculares;
Novas formas de g estão;
Baixos índices de evasão e invasão;
Reconhecimento e valorização social;
Escolas com demanda por vagas pela população;
Escolas com funcionamento nos três turnos;
Escolas com número significativo de jovem;.
Escolas que eram consideradas problemas e que sofreram mudanças;
Algum tipo de experiência de enfrentamento de situações de
violência (interna e externa), por meio de iniciativas criativas;
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Nessa seleção, foram indicadas duas escolas que não pertenciam à
capital do estado, mas, à região metropolitana, quais sejam: municípios de
Itaquaquecetuba, em São Paulo, e Duque de Caxias, no estado do Rio de
Janeiro.
Num primeiro momento, o objetivo concentrou-se em realizar uma
caracterização geral das 146 escolas 10 por estado–edoseuentorno.
Foram coletadas diferentes informações sobre a escola, gestão, organização,
experiências e projetos desenvolvidos como contraponto aos diferentes
problemas, permitindo ainda, detectar as diferentes característicaseanatureza
do que as escolas estavam denominando de processos de inov ação. Estes
dados foram coletados a partir da observação de campo, aplicação de
questionário aos diretores, entrevistas com membros das secretarias estaduais
de educação e das comunidades. Procurou-se, também, obser var a
disponibilidade das escolas para a realização de um estudo em profundidade.
As 146 escolas focalizadas no momento inicial da pesquisa, revelaram
um panorama plural, caracterizado por significativa diversidade de
combinações entre suas ofertas educacionais, conforme pode-se observar
na tabela abaixo:
TABELA 1 Percentual de escolas, por etapas de
atendimento, segundo o diretor, 2002
Fonte: Pesquisa Escolas Inovadoras, UNESCO, 2002.
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No que se refere ao número de alunos matriculados nas escolas
pesquisadas, o quadro encontrado é também distinto. Considerando os dados
apresentados, as escolas indicadas como inovadoras, podem ser agrupadas
em pequenas (menos de 500 alunos matriculados), que correspondem a
3,4% das escolas pesquisadas; médias (de 500 a 1000 alunos matriculados),
onde se encontram 13% do total; e grandes (mais de 1000 alunos
matriculados), equivalendo a 83,6% das escolas. O dado interessante para
posterior análise é o fato da grande maioria das escolas consideradas bem-
sucedidas (83,6%) serem compostas de mais de 1000 alunos.
DESDOBRAMENTOS
O desdobramento desta etapa foi a seleção de uma escola em cada
capital ou região metropolitana (14), para a realização de
acompanhamento mais aprofundado. Cada equipe estadual, em parceria
com a coordenação da pesquisa, após exaustiva análise das 146
experiências (registrada em 14 relatórios parciais de pesquisa), indicou
aquelas que deveriam participar do estudo em profundidade. As escolas
selecionadas foram:
01. Alagoas/ Maceió Escola Estadual Miriam Marroquim;
0 2. Amazonas/ Manaus Escola Estadual Maria Madalena
Santana de Lima;
0 3 . Bahia/ Salvador Escola Márcia Meccia;
0 4. Ceará/ Fortaleza Escola de Ensino Médio Liceu do Conjunto
Ceará;
05 . Distrito Feder al Centro de Ensino Médio 11 de Ceilândia;
0 6 . Espírito Santo/ Vitória Escola Arnulpho Mattos;
0 7 . Goiás/Goiânia Escola Estadual Edmundo Rocha;.
0 8 . Mato Grosso/ Cuiabá Escola Estadual Presidente Médici;
0 9 . Pará/ Belém Escola Estadual de Ensino Fundamental e
Médio Brig adeiro Fontenelle;
10. Pernambuco/Recife Escola Estadual Padre Nércio
Rodrigues;
11. Rio de Janeiro/ região metropolitana/ município de Duque
de Caxias Colégio Estadual Guadalajara;
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
12. Rio Grande do Sul/ Porto Alegr e Escola Estadual Baltazar
de Oliveira Garcia;
13. Santa Catarina/ Florianópolis Escola de Educação Básica
Hilda Theodoro Vieira;
14. São Paulo/ região metropolitana de São Paulo/ município de
Itaquaquecetuba Escola Estadual Parque Piratininga;
Esse segundo momento da pesquisa, chamado de abordagem
compreensiva, procurou trazer detalhes das diferentes percepções e
práticas com as quais as escolas vêm constr uindo as inovações e apreender
os diferentes sentidos atrib uídos a essas inovações, par ticular mente as
que se referem aos aspectos relacionados aos jovens e às situações de
violência escolar. Assim, as equipes estaduais estiveram presentes nas
escolas, e em cada uma das quatorze unidades, utilizaram os seguintes
procedimentos:
Entrevista com o diretor responsável pela escola; entrevista
com seis alunos dois de cada tur no, na faixa etária de 15 a 24
anos; três professores um de cada turno; quatro funcionários
do corpo administrativo também pr eservando uma amostra
de tur no.
Seis g rupos focais com alunos diferentes turnos e f aixa etária
entre 15 e 24 anos; e três g r upos focais com professores.
Observação da escola e seu entor no. A orientação se baseou
na necessidade de compreensão do espaço, por estar ele
intrinsecamente vinculado à compreensão da organização
humana. Pensar o espaço, as demarcações ter ritoriais é,
sobretudo, pensar o uso que as pessoas fazem dele, g erador de
percepções diferentes sobre o local. Os espaços físicos não estão
separados das percepções e significados atribuídos pelas pessoas.
Outro destaque importante diz respeito à conversa como um
momento privilegiado para a obtenção de informações,
conhecer as pessoas e os tipos de relações e práticas que ali se
estabelecem. Ao contrário da entrevista, a conversa per mite
obter registros aleatórios, opiniões sobre assuntos diferentes,
informações mais espontâneas. Cabe ao pesquisador
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49
sistematizar e ordenar as f alas, dar um signif icado ao que é dito,
conectá-las com os objetivos mais gerais da pesquisa. Valorizou-
se assim, à dinâmica local, considerando que, em um primeiro
momento o campo é mais rico do que as hipóteses, sugestões e
visões do g r upo da pesquisa.
As entrevistas e os g r upos focais totalizaram, aproximadamente,
400 horas de fitas transcritas, referentes a todo o material de campo. As
equipes estaduais realizaram ainda, um relatório final, abordando
diferentes aspectos identificados em campo, tais como caracterização
do local, história dos atos de violência, estratégias de superação, for mas
de relacionamento com o entor no escolar, for mas de org anização,
planejamento e gestão da unidade escolar, o que gerou 14 relatórios
finais por Estado.
Com base nos dados originários dos questionários, dos relatórios
dos pesquisadores estaduais, das entrevistas individuais, dos g r upos
focais e da obser vação in loco, foi realizado um tratamento sistemático
dos dados, buscando uma análise que permitisse relacionar e
correlacionar os diversos procedimentos, na busca das convergências,
divergências, tensões, contradições e por fim, descobrir situações que
possam apontar as estratégias construídas por esses atores no
enfrentamento das violências escolares.
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51
ESCOLAS INOVADORAS: REVISANDO A BIBLIOGRAFIA
Este estudo tem como preocupação trazer a público experiências/
ações/projetos
5
, implementados no âmbito das escolas estaduais das
regiões metropolitanas de 14 capitais, que visam reverter diferentes
situações reconhecidas como de violência escolar.
São diferentes os tipos de violências que repercutem no processo
de aprendizado do aluno e na imagem da instituição escolar como espaço
de a prendizado e f or mação. Os atos praticados no interior da escola
que atingem o indivíduo em suas diversas dimensões física (agressões),
moral (xing amentos, desrespeitos) e pública (destruição, roubo) são
denominados pela expressão “violência escolar”.
Em diferentes pesquisas realizadas pela UNESCO
6
buscou-se trazer
à tona o olhar dos diferentes atores participantes da vida escolar (alunos,
professores, diretores quadros administrativos, pais e moradores do entorno)
sobre os principais problemas enfrentados nas escolas. Estes estudos
permitiram traçar um perfil sobre o sentimento da comunidade escolar no
que se refere às atitudes que geram práticas e condutas violentas.
1. MARCO CONCEITU A L
5
No texto, optou-se por utilizar os ter mos experiências/ações/ projetos pelo f ato de muitas
das iniciativas aqui apresentadas não se confor marem em um modelo que possa ser explicado,
seja como uma ação, projeto ou experiência. As diferentes iniciativas podem, em cer tos
momentos, apresentar-se como uma ação (individual e pontual), como uma experiência
(ação mais coordenada e coletiva) ou projeto (que envolve um grau de planejamento e
coordenação). Neste sentido, optou-se por utilizar os três termos por considerar que ele
atende melhor à idéia de processo.
6
Abramovay et al. 2002; Abr amovay, 2002; Debarbieux e Blaya, 2002, entre outras.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
A questão da violência escolar vem se colocando no cenário
nacional e internacional como um dos grandes desafios para a
constituição de uma Cultura de Paz. No entanto, observa-se uma g rande
dificuldade para conceituar e encontrar explicações para as origens e as
causas dos atos de violência praticados na escola.
Para entender estas dificuldades, duas questões devem ser pontuadas.
Em primeiro lug ar, é impor tante constatar que o ter mo “violência” é
polissêmico, com diferentes significados constituídos histórica e
culturalmente (Debarbieux, 1996, 1998; Chesnais, 1981; Dupâquier, 1999;
Watts, 1998; Zaluar, 1998; Peralva, 1997). Em segundo lug ar, observa-se
que, sob o manto desse termo, se abrigam situações diversificadas, passando
de pequenos delitos e ataques à propriedade a atentados contra a vida, que
infor mam sobre realidades e manifestações de violências distintas e
heterogêneas. Entretanto, apesar da complexidade do termo e da dificuldade
de conceituação, existe um consenso básico. Todo ato de agressão física,
moral, institucional que tenha como alvo a integridade do(s) indivíduo(s)
ou g rupo(s) é considerado ato de violência (Abramovay e Rua, 2002).
A partir deste consenso, a literatura que se debruça mais
especificamente sobre o tema da violência escolar tem traçado, ao longo
dos anos, diferentes olhares e focos de interesse, pois, como salienta Charlot,
a própria violência escolar é um fenômeno heterogêneo e desestrutura as
representações sociais que têm valor fundador: aquela da infância (inocência), a da
escola (refúgio de paz) e a própria sociedade (pacificadora no regime democrático)
(Charlot, 1997: 01 apud Abramovay e Castro, 2003). De acordo com o autor,
as violências praticadas no universo escolar, para serem compreendidas e
explicadas, devem ser hierarquizadas a partir da sua natureza: atos associados
ao que denominou de violência (roubos, violência sexual, ferimentos, crimes,
etc.), atos de incivilidades (humilhações, palavras grosseiras, falta de respeito)
e violência institucional e simbólica, (violência nas relações de poder).
A hierarquia proposta por Charlot, em cer ta medida, per mite
compreender fenômenos de violência escolar de for ma mais ampla e
diversificada, ao tratar como violência certas ações oriundas da quebra
do diálogo (intimidações, injúrias, delitos contra objetos e propriedades
etc.), e praticadas por aquilo que Bourdieu (2001) chamou de “poder
oculto” ou violências simbólicas.
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53
A noção de incivilidade , como matriz para a análise da violência
escolar, tem uma forte repercussão nos estudos realizados na França
(Peralva,1997). No entanto, alguns autores, como Dupâquier (1999) e
Fukui (1991), chamam a atenção para a necessidade de distinguir violência
de agressividade (expressão da incivilidade), visto que nem toda
manifestação de agressividade pode ser um ato de violência, pois nem
toda ag ressividade tem como desejo a destr uição do outr o.
Para Debarbieux, as incivilidades seriam violências anti-sociais e anti-
escolares, quando mais traumáticas, pois silenciosas e banalizadas para proteção
da escola, tomando muitas vezes a forma de violência simbólica (Debarbieux,
1998 apud Abramovay e Rua, 2002). Porém, em um estudo mais recente,
Debarbieux e Blaya (2002) aler tam para o fato de o termo poder gerar
uma distorção nas interações escolares, levando a interpretações e
explicações sobre atos de violência de cunho evolucionista, tais como a
predominância de certos padrões de comportamentos identificados como
“bárbaros” e outros “civilizados”. Nesses termos, os autor es sug erem
substituir o termo incivilidade pelo termo “microviolência”, como f or ma
de melhor qualificar certos atos de violência que ocorrem nos processos
interativos entre os diferentes atores sociais.
Em que pese a necessidade de impor limites entre conceitos como
violência e agressividade, os estudos realizados a partir da década de
1990 vêm demonstrando um grande potencial na busca de uma maior
compreensão, não apenas do fenômeno da violência escolar, mas,
também, de uma maior inteligibilidade do cotidiano escolar, com suas
múltiplas formas de interações positivas e neg ativas. Neste sentido, é
importante atentar para as diferentes realidades escolares, levando em
consideração os códigos e regras definidos por cada sociedade.
Diferentes pesquisas realizadas na Europa, nos Estados Unidos e
no Brasil, vêm mostrando uma variedade de olhares sobre o universo
escolar, contribuindo de forma significativa para um maior acúmulo sobre
o fenômeno da violência e para sua maior inteligibilidade.
A extensa revisão de estudos sobre a violência vem mostrar que
as pesquisas realizadas na Inglaterra (Hayden e Blaya, 2001) têm
dificuldade em conceituar a violência escolar, visto que o termo violência
não é comumente usado para qualificar certos atos praticados por
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
professores contra alunos ou vice-versa, por suas conotações emocionais
(Abramovay e Rua, 2002). Termos como “agressividade”,
“comportamento agressivo”, bullying”e“disruption seriam mais
apropriados par a lidar com certas situações do cotidiano escolar. Também
na Espanha, como mostra Ortega (2001), existe um certo
constrangimento moral ao se qualificar certos atos de violência, em
especial aqueles praticados contra jovens e crianças, como “violência
escolar”. nos Estados Unidos, o foco tenderia a se localizar no exterior
da escola, nas gangues (Hagedorn, 1997), e, nestes casos, as expressões
utilizadas seriam “delinqüência juvenil”, “condutas desordeiras”,
“comportamento anti-social” (Flannery, 1997).
No Brasil, a partir de meados dos anos 90, haveria a tendência a
um certo consenso na literatura de tratar como violência todas as
manifestações de ag ressão contra o pa trimônio, assim como aquelas
voltadas contra a pessoa (alunos, professores, funcionários etc.) (Fukui,
1991; Sposito, 1994; Guimarães, 1996; Minayo, 1999).
Do ponto de vista da busca de explicações sobre as causas da
violência escolar, percebe-se que a literatura sobre o tema associa os
atos de violência a fatores externos e/ou inter nos. De uma f or ma bem
resumida, pode-se sugerir que os fatores externos (exógenos) referem-
se a explicações de ordem socioeconômica, ao agravamento das
exclusões sociais, raciais e de gênero, à perda de referencial entre os
jovens, ao surgimento de “galeras”, “gangues”, “tráfico de drogas”,
desestr uturação familiar etc, à perda dos espaços de sociabilidade
(Candau, Lucinda e Nascimento, 1999; Guimarães, 1998; Belintane,
1998; Artz, 1998; Peignard, 1998; Payet, 1997; Zinnecker,1998). Estes
fatores, apesar de não condicionantes, estariam na origem da explicação
de muitos casos de violência pra ticados nas escolas. Neste tipo de
perspectiva, a escola torna-se vítima de situações que fogem ao seu
controle, sendo objeto de atos de violência.
No que se refere às variáveis internas (endógenas), a literatura
destaca os seguintes fatores: o nível de escolaridade dos estudantes
(Flanner y, 1997), o sistema de nor mas e re gra s, a disciplina dos
projetos políticos pedagógicos (Haydem, 2001; Blaya, 2001;
Ramogino et al., 1997), a quebra dos pactos de convivência interna,
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o desrespeito de professores com alunos e vice-versa, a qualidade
do ensino, a carência de recursos (Sposito, 1998; Feldman, 1998; Blaya,
2001). Obser va-se que estas variáveis se inserem em um conjunto de
ações, dificuldades e tensões vividas no cotidiano escolar. A
dificuldade de estabelecer relações entre os alunos, a escola e a
comunidade contribuem para o surgimento de violências no interior
da unidade escolar.
Vale destacar que o tema violência nas escolas compor ta múltiplos
olhares, percepções e modelos de análise. Obser va-se, como vêm
salientando Debarbieux (2001) e Watts (1998), a necessidade de se
proceder a estudos multidisciplinares e transnacionais, como form a de
confrontar experiências distintas e encontrar afinidades que levem a uma
maior compr eensão do fenômeno. Por outro lado, os estudos r ealizados
vêm mostrando que a escola passa por transfor mações no que se refere
à sua identidade, ao seu pape l e à função social. Alinhar perspectivas
macrossociais sobre juventudes, violência e exclusão social com estudos
etnográficos sobre o universo escolar pode contribuir de for ma
significativa para a constituição de alternativas à violência.
Neste estudo, mudou-se o foco, par tindo-se das ações e iniciativas
criadas pela comunidade escolar com o objetivo de melhorar o clima
escolar, fortalecer/estabelecer os canais de interlocução entre os
diferentes integrantes da escola, ampliar a participação dos alunos,
melhorar o desempenho escolar e constr uir mecanismos de diminuição
da violência escolar.
Ao inverter a linha de investigação, ou seja, ao investigar as ações
propositivas existentes no meio escolar, a pesquisa revelou aspectos
importantes sobre o processo de organização e gestão da escola,
possibilitando um outro olhar sobre as ações e os comportamentos
violentos no seu interior. Ao serem valorizadas, as iniciativas e experiências
realizadas pelas escolas, no enfrentamento a uma série de questões
(indisciplina, agressões, ameaças, intimidações, baixo desempenho escolar,
desmotivação) promovem uma maior integração da unidade escolar,
fortalecendo ou mesmo criando laços e mecanismos de compartilhamento
de interesses e objetivos e possibilitando um contraponto aos diferentes
tipos de violências praticados no interior da escola.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
A utilização da expressão “experiências bem-sucedidas” ou
“experiências inovadoras” implica o risco de qualificação de outras
experiências como ineficazes ou, mesmo, como ultrapassadas, g erando
um certo reducionismo na análise e na compreensão do trabalho
realizado pelas escolas. Neste sentido, ao tratar de experiências bem-
sucedidas, procurou-se resgatar a própria percepção transmitida pelos
atores envolvidos, que conferiam a suas experiências/ações/projetos
um caráter de “inovação”.
Em muitos casos, trata-se de ações muito simples e que, num
primeiro momento, podem parecer “banais” ou mesmo “antiquadas”,
mas são significativas, pois despertam um compromisso e uma motivação
dos par ticipantes pela busca de soluções aos problemas enfrentados.
Em outros casos, certos projetos podem parecer “grandiosos” e
desproporcionais para a realidade da escola. Entretanto, apr esentam
capacidade de ar ticulação e integração com o entor no, per mitindo
ampliar as parcerias e as estratégias de superação de problemas de
integ ração da escola com a comunidade. Em que pese o for mato da
experiência/ação/projeto desenvolvido pela escola, o que garante a
unidade destas iniciativas que, por isso mesmo, estão sendo
consideradas como bem-sucedidas é fato de estarem articulando
processos de construção coletiva para a super ação das dificuldades.
A partir destas primeiras ponderações, é importante atentar para
outras questões que estão presentes na discussão sobre inovação. O termo
“inovação” apresenta um caráter ambíguo, visto que, ao se tra tar uma
deter minada experiência como inovadora, pode estar se estabelecendo
uma comparação entre experiências, onde uma poderia ser considerada
mais inovadora do que outra. A inovação não é atemporal nem abstrata,
mas adquire significado quando historicizada e contextualizada.
Cabe, neste sentido, levantar algumas questões que podem
aprofundar o debate sobre as iniciativas aqui retratadas. Vale lembrar
que o tema da inovação sempre esteve associado ao campo das
descobertas científicas e institucionais (Beck, 1992; Latour, 1997).
Dentre suas diferentes abordagens, vale recuperar algumas sugeridas
por autores que, em trabalhos e pesquisas distintas, levantaram questões
sugestivas sobre alguns significados a ele atribuídos.
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Uma primeira questão a ser enfatizada, como sugerem Deal e
Kennedy (1982), é que as grandes transf ormações sociais, econômicas e
políticas que marcaram as sociedades no final da segunda guerra mundial
geraram uma incerteza grande a respeito dos valores, abalando a confiança
no comprometimento das pessoas, sendo necessário enfatizar modelos e
construir pr ocessos que, de um lado, possibilitassem maior integração e,
de outro, fossem capazes de fazer confluir interesses e mecanismos de
diálog o. O investimento em iniciativas inovadoras aparece como a g rande
possibilidade de desenvolvimento socioeconômico.
Diante de tal preocupação, Heller (1985) levanta uma hipótese
interessante no que se refere a conceber a inovação como um mecanismo
capaz de recuperar os processos de integração social. Segundo o autor,
existe uma crise de legitimidade da autoridade institucional, que se
evidencia pela pouca conf iança atribuída às instituições e suas lideranças.
Esta desconfiança gera uma perda de referencial e uma fragmentação
dos modelos de ação, esta belecendo um maior descomprometimento
dos integrantes das org anizações com a própria instituição. A instituição
deixa de representar os interesses e anseios dos seus integrantes, perdendo
seu papel de fornecedora de modelos culturais (éticos e morais),
comportamentais e educacionais. Para Heller, a identidade passou a ser
constr uída de f orma diferente, havendo um deslocamento dos espaços
g eradores e propulsores de identidades par a fora das org anizações. Essa
alteração, quando projetada no futuro, apresentaria uma tendência “não-
inovadora”, pois tenderia a valorizar modelos culturais carismáticos,
autoritários ou mesmo, consumistas.
A inovação, neste caso, pode ser pensada como um instrumento de
recuperação da auto-estima institucional, de devolução de legitimidade e
autoridade à instituição, enquanto portadora de certos modelos culturais.
Recuperar a legitimidade significa restabelecer a confiança, o diálogo e o
comprometimento dos diferentes integrantes com o projeto institucional,
com os objetivos de curto e longo prazo da escola.
No caso de Heller, pode-se sugerir que a idéia de inovação se
localiza menos na oposição entre o novo e o velho e mais na atualização
e/ou criação de mecanismos de recuperação dos processos de
integração social.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Um outro autor que pode contribuir neste debate é Alvesson
(1987), que chama a atenção para outros aspectos do processo de crise
organizacional. Segundo ele, o desenvolvimento acelerado (econômico
e social) traz, como conseqüência, um processo de quebra da coesão de
certos modelos culturais, uma tecnificação da vida social e a destruição
de certos padrões culturais tradicionais que agiam como integradores
das várias dimensões da vida social. Para Avelsson, a perda de cer tos
referencias morais e éticos, por exemplo, estaria na origem da mudança
de atitude em relação tanto à autoridade quanto à família, resultando na
transformação dos comportamentos e nas formas de interação. Muitos
autores nacionais e internacionais vão atribuir a estas mudanças
comportamentais e atitudinais um campo de reflexão para pensar o
crescimento de formas de sociabilidades neg ativas, como, por exemplo,
as “gangues” e o “tráfico de drogas” (Jankow s ky, 1991; Guimarães, 1998),
ou de atitudes de “delinqüência” e “criminalidade”
7
.
As instituições escolares podem ser percebidas como modelos
(não exclusivos) dos pressupostos básicos (morais e éticos) que
deter minado g r upo desenvolve no processo de aprendizag em para lidar
com os problemas de adaptação externa e de integração interna. Uma
vez que os pressupostos funcionem suficientemente bem para serem
considerados válidos, são ensinados aos demais integrantes como a
maneira cor reta para lidar com aqueles problemas. Dentro desta
perspectiva, a inovação aparece como uma experiência capaz de
reordenar/mediar/negociar as interações tanto externas quanto
internas, não apenas do ponto de vista das ações que gera, mas dos
valores que transmite.
7
Algumas abordagens sobre violência no meio escolar procuram demonstrar que o tipo de
violência praticado na escola está mais associado a problemas relacionais (agressões,
indisciplinas, ameaças etc.) do que a atos criminais. Segundo alguns autores (Brancaleoni,
1998; De barbieux, 1996; Peralva, 1997), cer tas ações criminais, tais como homicídios, são,
ger almente, pra ticadas no exterior da escola. Entretanto, repercutem no universo escolar e
afetam tanto a imagem da escola quanto a dos alunos.
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Ainda no trabalho de Avelsson, pode-se encontrar uma perce pção
de inovação como um conjunto de ações capazes de restabelecer certos
padrões de sociabilidades positivas, que teriam sido “perdidas” ou
substituídas por outras. Menos do que definir um padrão ou um
comportamento ético universal, estas ações devem ser capazes de ordenar
e recuper ar o grupo, enquanto por tador de um modelo de ação, sem
excluir outros. A inovação, neste caso, é pensada como um processo
situado em um tempo e em um espaço específico e compartilhado pelos
atores envolvidos.
No entanto, o pr oblema da inovação também levanta um outro
conjunto de questões associado à idéia de superação e resolução de
certos compor tamentos e práticas desestr uturadores das socia bilidades
positivas. O conf lito e os diferentes tipos de violências escolares colocam
em evidência a quebra de certos pactos de convivência (Ortega, 2001),
instituindo uma ordem desordenada e uma perda da capacidade de ensino
e aprendizado do aluno e uma sensação de fr acasso escolar.
Vale destacar que as primeiras interpretações sobre o fracasso
escolar estavam circunscritas ao foro individual dos alunos, centradas
na “incapacidade de aprender”. Entretanto, este problema toma
dimensões alarmantes do ponto de vista social, e a lógica do fracasso
individual dos alunos passa a ser questionada
8
. A escola, então, volta-
se para o conjunto dos alunos oriundos das camadas populares,
atribuindo-lhes a culpa pelo fracasso escolar
9
. Neste tipo de abordagem,
a origem socioeconômica aparece como força explicadora.
Até meados dos anos 1980, as explicações sobre o fracasso escolar
repousavam sobre uma crítica ao sistema educacional, compreendido como
uma “aparelho” reprodutor das desigualdades socioeconômicas (Bourdieu
e Passeron, 1970; Willis, 1991), sendo as tensões e os conflitos existentes
no universo escolar determinados pelos conflitos sociais mais g erais.
8
As primeiras medidas tomadas pelo poder público no sentido de minimizar o fracasso dos
alunos, principalmente a evasão e a repetência, que no final dos anos 1970 atingiam
índices superiores a 50%, tiveram caráter compensatório.
9
As políticas desta década são marcadas por acentuar o incipiente repertório cultural deste
segmento da população, tanto as de natureza lingüística (justificando o fracasso da
alfabetização) quanto as referentes às suas condições de vida.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Focalizando o espaço intra-escolar, Moreira enfatiza que, no
mínimo, duas culturas confrontam-se no cotidiano: de um lado, a cultura
erudita e etnocêntrica, veiculada nos conteúdos prog ramáticos e
identificada com as camadas dominantes da população; por outro, a
cultura popular marginalizada e ausente das práticas pedagógico-
curricular es no interior das escolas. (Moreira, 1999: 54).
Neste tipo de abordagem, ainda inspirada na perspectiva de
Bourdieu e Passeron (1970), os conteúdos programáticos impõem um
sistema simbólico reprodutor de uma cultura dominante, que contribui
para a reprodução das estr uturas de poder. No centro da ação
pedagógica, confrontam-se duas dimensões: o conteúdo transmitido
(artefato simbólico) e o poder que ordena a relação (identificado como
violência simbólica), exercido pela autoridade pedagógica. No entanto, a
análise de Moreira chama a atenção para a importância de se retomar o
microcosmo da unidade escolar. Ao destacar a existência de padrões de
comportamentos distintos, o autor alerta para a tensão que se constitui
no ambiente escolar entre os diferentes segmentos (alunos, professores e
administração), g erando formas de discriminação cultural, r acial e social.
Algumas pesquisas, como as de Lüdke e Mediano (1992), mostram
que, para além da re produção das estr uturas de poder, existe também
uma ausência da cultura popular nas práticas pedagógicas e curriculares
(nas estr uturas formais de ensino). Além disso, nas práticas cotidianas
da escola, são criadas expectativas e estereótipos em relação aos alunos
das camadas populares, gerando novas práticas pedagógicas que os
afastam deste processo
10
.
10
É bastante diferente nascer no Maranhão e nascer em São Paulo. Enquanto no primeiro estado,
para 4 crianças nascidas, 3 são pobres, no segundo a situação se modifica: apenas 1 é pobre. A
mortalidade infantil chega a 62 para cada mil crianças nascidas em Alagoasea16para as nascidas
no Rio Grande do Sul. Também é fato que as mulheres g anham menos que os homens e que,
segundo os últimos indicadores sociais elaborados pelo IBGE (2002), a partir do Censo de 2000,
as diferenças começam quando são ainda muito jovens. As meninas freqüentam a escola mais
tempo que os meninos, que a abandonam devido ao trabalho. Vale lembrar que estes últimos
estão mais afetos a mortes violentas. Se o exemplo acima for transportado para mulheres jovens
e negras, a situação de desigualdade se torna ainda mais grave.
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Esta tendência mudaria no final dos anos 1980, com a garantia de
direitos constitucionais, presentes na Constituição Federal (1988) e no
Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), onde fica notória a
necessidade de mudança de argumentos para justificar o insucesso
escolar : de um lado, as características individuais, a preguiça, o desleixo,
a falta de zelo e a incapacidade intelectual; de outro, a origem
socioeconômica. Tais argumentos, aos poucos, são substituídos por uma
visão mais ampla sobre as diferenças culturais, os valores, as tradições,
que se entrecruzam com as explicações socioeconômicas.
É neste panorama que o debate sobre a escola pública assume
grande importância, pois se espera dela uma cultura escolar apta a lidar
não com a diversidade de seus alunos e com as desigualdades
existentes entre eles, mas, também, a contribuir par a a constr ução de
uma escola mais igualitária. Em tal processo, a e xistência de um clima
escolar propenso à inclusão dos alunos e de suas famílias, dos valores,
crenças e cultura que os cercam, trará impactos à aprendizagem. Assim,
o clima positivo e o respeito à heterogeneidade cultural serão
motivadores para os alunos e professores na busca de novos
conhecimentos e, ao mesmo tempo, responsáveis por uma cultur a escolar
capaz de construir uma identidade compartilhada.
Neste sentido, vale lembrar as ponderações feitas por Charlot, a
respeito da relação entre orig em social e trajetória escolar. Segundo o
autor, é importante atentar para os sentidos diversos atribuídos pelos
alunos à escola. O fracasso escolar deve ser entendido não apenas a
partir de explicações de natureza externa à escola, mas das múltiplas
reações e interações estabelecidas no interior da escola (Charlot, 1997
apud Abramovay e Castro, 2003).
Vários estudos e pesquisas, como a de Soares (2002), contribuíram
para focar a questão do fracasso escolar na inadequação do sistema
escolar (nas suas estr uturas formais e nos padrões de interação) e não
mais na inabilidade cognitiva de seus alunos. Assim, voltar o olhar para
dentro da escola (estudos e pesquisas da década de 1990) significa
conhecer em que medida dimensões culturais criam ou estimulam
embates de alunos, professores e direção. Assim, é possível buscar for mas
de promover uma educação includente por meio da minimização dos
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efeitos perversos de uma sociedade hierarquizada, tanto culturalmente
quanto nas suas estr uturas sócio-políticas.
A busca por uma educação humanista, onde a diversidade fosse
percebida como uma dimensão complementar e não antagônica,
provocou uma série de estudos, que buscavam refletir sobre o universo
escolar como um fenômeno total, não mais determinado por uma ou
outra dimensão (econômica, social, cultural), mas pela forma como estas
dimensões afetavam o cotidiano escolar.
Nessa perspectiva, alguns estudos (Ortega e Del Rey, 2002)
chamam a atenção para o fato de a educação, enquanto instância criadora
e formadora de valores éticos, sociais e morais, ter se afastado dessa
preocupação por uma valorização excessiva da liberdade individual,
gerando um aumento considerável das tensões internas na escola. Essas
tensões, em um extremo, poderiam desencadear fenômenos de violência
de natureza e origens distintas. Nesse sentido, o conflito no interior da
escola colocaria em risco a própria instituição, enquanto pr opulsora de
um saber ético for m ativo, exigindo um processo regulatório mais rígido
11
.
Os estudos de Nóvoa (1992), Brunet (1992) e Silva (2000)
atentam para certos aspectos, referentes à organização escolar (tais
como liderança, autoridade, g estão, legitimidade e hierarquia), que
afetam, de um lado, a estabilidade dos professores e, de outro, o
desempenho dos alunos. Estas refle xões vêm contribuir para o debate
acerca dos elementos que definem o clima escolar para os envolvidos
neste processo.
Segundo Silva (2000), conhecer as concepções de autoridade e
hierarquia que fundamentam a prática de uma escola será essencial para
compreender as for mas de participação compartilhada que se
engendram. Utiliza-se do conceito de Arendt de que a autoridade exclui a
11
Imbricada a este processo regulatório estaria presente a idéia de coerção. Tal combinação
(regulação e coerção) colocaria em movimento mecanismos contínuos, capazes de avaliar,
medir, qualificar e hierarquizar certos comportamentos e práticas, assim como identificar e
classificar seus autores. No limite, pode-se afirmar que a introdução de câmeras de vídeo e
de detectores de metal nos estabelecimentos escolares é exemplo drástico destes processos
de coerção e r egulação.
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utilização de meios externos de coerção: onde a força é usada, a autoridade em si
fracassou, para elucidar a diferença desta para as demais formas de poder.
Assim, para que haja autoridade, é necessário um reconhecimento da sua
legitimidade pelas partes envolvidas (Arendt, 1972 apud Silva, 2000:131).
Neste sentido, a legitimidade existe ou deixa de existir na medida em
que seja reconhecida tanto pelos alunos, professores, diretores,
funcionários e familiares como pela comunidade do entor no. Observa-
se que as relações que se processam no interior da escola entre
professores e alunos, alunos e alunos, direção e professores, dentre outros,
estão em per manente embate e neg ociação a respeito da autoridade.
Conforme aponta Silva:
A atuação da direção da escola é fundamental (...). A tarefa do administrador
escolar não é controlar o trabalho pedagógico mas assegurar a existência de
condições para que o ensino se realize (...). Quando a legitimação da autoridade
se meramente pelo cargo burocrático ocupado, normalmente ocorre
uma centralização das decisões for mais nas mãos da direção e um
individualismo exacerbado nas práticas ocorridas na sala de aula (...). Nos
grupos em que o predomínio desse tipo de cultura, observa-se um baixo
envolvimento dos profissionais entre si e com a escola, sendo muito freqüente
a alta rotatividade de profissionais e a proliferação daqueles que dizem que
nada para ser feito (Silva, 2000: 133).
Para Friedberg (1995), não se pode conceituar as instituições como
instâncias plenamente org anizadas, pois estas carr egam, em seu form ato,
um certo grau de anarquia, que o autor vai denominar de “anarquia
organizada”. O que caracterizaria esta anarquia não seria apenas o fato
de existirem conflitos de interesse e uma falta de autoridade, mas um
conhecimento mal utilizado e mal distrib uído.
As escolas têm, muitas vezes, objetivos e metas pouco claros e,
principalmente, pouco assumidos por seus integ rantes. O g r au e o tipo
de participação dos diferentes atores da comunidade escolar é frágil e
pouco definido, estabelecendo-se relações desequilibradas e ambíguas.
Alguns autores procuram mostrar que este desequilíbrio está
associado ao formato altamente centralizador e autoritário do sistema
educacional, reproduzido na unidade escolar. Em tal contexto, os temas
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da descentralização dos processos político-administrativos e da
democratização da escola pública aparecem com destaque. A criação
de colegiados e conselhos, dotados de autoridade deliberativa e decisória,
o envolvimento da comunidade escolar na seleção de diretores e o
repasse direto de recursos financeiros às unidades escolares, dentre outras
providências, contribuem, ineg avelmente, para a construção de uma
escola mais autônoma.
A discussão sobre o impacto da gestão participativa na qualidade
do trabalho das escolas não é recente, tornando-se especialmente
expressiva no final da década de 1970 e p autando-se, sobretudo, no
reconhecimento da impossibilidade de apenas a direção solucionar os
problemas e questões inerentes à vida escolar. A gestão participativa e
descentralizada pressupõe uma prática de discussão coletiva, que
envolve desde a divisão de responsabilidades e a definição das funções
de cada um até as decisões sobre encaminhamentos e ações concretas.
Conforme afirmam Sousa e Corrêa, sendo o projeto pedagógico a identidade
da escola, sua construção demanda um processo constante de partilha entre os vários
segmentos que contribuem para o trabalho da instituição escolar (Sousa e Corrêa,
2002: 62). Certamente, tal perspectiva implica rever o papel e as funções
do diretor, de forma que este atue no cotidiano, na condição de líder
pedagógico, apoiando a definição de prioridades, avaliando programas e
ações, organizando e participando de atividades de formação dos
funcionários e valorizando os resultados alcançados pelos alunos.
A realidade brasileira, porém, mostra que a tendência centralizadora
ainda é muito forte na cultura da escola e do sistema educacional como
um todo. A participação, no seu sentido pleno, ainda não constitui prática
comum no cotidiano, muito marcado por uma conce pção na qual seria o
diretor o único “responsável” pela escola. Nesse quadro, entretanto, é
possível reconhecer estabelecimentos onde, como apontam Penin e Vieira
(2001), uma identidade bem definida, que os diferencia de outros e
que permite que o perfil da escola não se confunda com a figura do diretor,
mesmo quando esta, individualmente, apresenta destaque expressivo. Em
tais estabelecimentos, é aparente o trabalho de todos os atores na
constr ução de sua história e cultura: professores, funcionários, alunos,
pais ou responsáveis pelos alunos e demais componentes da comunidade.
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No entanto, como chama a atenção Friedberg (1995), as relações
que são estabelecidas pelos indivíduos dentro de um mesmo sistema
(organização) também apresentam desequilíbrios no nível das ações,
das e xpectativas e dos anseios. O autor lembra que as hierarquias se
constituem no próprio contexto da ação, onde também são exercitadas
relações de poder. Mesmo que esses processos não inviabilizem a ação,
desestr uturando a cooperação, podem intervir como elemento capaz de
aumentar as tensões e as desigualdades.
O que está em jogo neste processo é a capacidade, institucional e
individual, de estabelecer mecanismos de neg ociação e mediação. Como
bem mostram certos autores, toda ordem social é uma ordem negociada
(Simmel, 1971; Strauss, 1992), que pressupõe algumas definições: quem
negocia o quê, com quem e em relação a quê. A negociação está
igualmente ordenada em função do tempo: uma “ordem negociada” exige
um trabalho de organização contínua das bases que a orientam. Strauss
(1992) estabelece uma distinção importante entre “um processo de
negociação cotidiana” e um “processo de avaliação periódica”. No
primeiro caso, a negociação autoriza o estabelecimento de procedimentos
que viabilizem a vida cotidiana das organizações em diálogo com as
nor mas, reg ras, convenções formais. No segundo, o processo serve para
estabelecer os ter mos mais g erais da neg ociação e para definir seus
limites. Estas bases também sofrem cotidianamente mudanças e
reorientações, estabelecendo-se novos parâmetros. Strauss chama, ainda,
a atenção para o fato de que a introdução de um elemento novo a uma
deter minada situação reorienta as bases da neg ociação.
O que se observa no universo da escola são constantes alterações
(rotatividade grande de professores, evasão escolar, abandono, transferência
de alunos), que têm reflexos no comportamento e no processo de articulação
dos envolvidos, afetando a maneira como os atores irão se posicionar diante
dos outros, tornando a negociação um processo instável e permanente.
Apesar da instabilidade causada pelas crescentes alterações na vida
da escola, os diferentes atores procuram, nas suas ações cotidianas,
estabelecer relações, tanto na definição dos problemas quanto na busca
por soluções, o que g arante uma cer ta maleabilidade para transformar e
inter vir no ambiente escolar.
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No entanto, esta neg ociação permanente pode g erar também um
bloqueio nas ações mais transfor madora s, impedindo um movimento
maior de mudança, visto que, como prática cotidiana, também eleva o
g rau e o nível de tensão, alterando o clima escolar e tor nando a mudança
um processo em alguns casos lentos e, em outros, inviável.
Paradoxalmente, as reg ras e nor mas que compõem o sistema
educacional e, mais especificamente, a estr utura nor mativa da escola,
funcionam a par tir de iniciativas e ações provenientes dos indivíduos.
Por tal motivo, as normas que sancionam cer tas ações como inadequadas
às reg r as da escola são, freqüentemente, objeto de crítica dos próprios
indivíduos que estão imbuídos do intuito de propagá-las. E, neste sentido,
as neg ociações entre os diversos atores sobre as regr as e as normas
assumem a for ma de “jog os de poder”.
Em contraste com esta perspectiva, para Bonafé-Schmitt (2000),
o próprio conflito contribuiria, de uma certa maneira, como mecanismo
de regulação social, para inventar novas nor mas e regras da vida em
comum. Neste tipo de abordagem, as manifestações de conflito não são
apenas observadas pelo seu lado desag reg ador, mas como possibilidades
de construção de consensos, ao dar visibilidade às tensões que reg em as
relações sociais. Na opinião do autor, o desaf io seria encontrar for mas
de promover um mecanismo que permita uma “regulação consensuada”,
onde seria necessário ensinar e aprender a manejar os conflitos.
As preocupações aqui levantadas podem ajudar a compreender o debate
sobre inov ação no campo da educação. Garcia, em 1989, chamava a atenção
para a idéia de que, ao trazer para o Brasil experiências bem-sucedidas de
modelos de aprendizado, avaliação de gestão e conteúdo curricular de outros
países, muitos pesquisadores e profissionais da área acreditavam que estariam
“inovando” e modernizando os processos educacionai s e a própria
funcionalidade da escola. No entanto , Garcia alertou para o aspecto setorizado
deste tipo de percepção , ao tratar a inovação apenas do ponto de vista das
metodologias educacionais, não levando em conta os processos do fazer
educacional, as diferenças culturais , sociais e econômicas .
Como dito acima, recuperar os processos de integração social e de
legitimidade do espaço da escola tem sido o grande desafio que mobiliza
os diferentes setores que atuam ou ref letem sobre o universo escolar.
6767
6767
67
No âmbito da ação da escola, a busca por processos de integração social
passa pela constituição de estratégias que visem à melhoria do clima
escolar e a transformação da aprendizag em em alg o prazeroso.
É neste sentido que diferentes experiências vêm sendo realizadas,
na busca de encontrar for mas alter nativas de atenuar o aspecto
desag regador dos atos de conf lito. Brandoni (2001), por exemplo, afirma
que, na Argentina, várias pesquisas e avaliações de projetos de ação no
meio escolar possibilitaram o conhecimento de estratégias que
contribuíram para uma melhoria do clima escolar e para a construção
de uma cultura da não-violência, através de experiências de mediação
escolar pelos pares.
Se a violência degrada as relações estabelecidas, a maneira de
enfrentá-la pode, muitas vezes, tanto imobilizar os sujeitos pelos
inúmeros obstáculos a serem enfrentados quanto levar a ações pontuais
dos indivíduos, sendo o coletivo, ou a expressão deste, desconsider ado.
O grande desafio que se coloca no trabalho inovador dentro da escola
em situações adversas é pontuado por Bazílio: Entender e praticar a educação
como direito humano significa concebe-la como parte do resgate de uma dívida
social onde pensar o passado é fundamental para compreender o presente e colocá-
lo numa situação crítica (Bazílio, 2003: 125).
A escola pública para todos tem que estar preparada para assumir
as condições pr ecárias em que vive a maior par te dos seus alunos. Assim,
conhecer o processo de perda dos valores humanos essenciais da
população é tarefa básica para que se possam criar estratégias de acesso,
permanência e qualidade, pautadas no respeito ao outro
independentemente da sua condição econômica, cultural, de sexo e de
raça–enainclusão de todos os alunos num processo de aprendizagem
mais justo e solidário. É na elaboração de um projeto comum que se
encontra a possibilidade de participação dos diferentes atores do
processo pedagógico nos destinos da escola, de forma a reverter o quadro
de violência que a envolve e, conseqüentemente, aos seus jovens.
6969
6969
69
Neste capítulo serão apresentados alguns dados referentes à situação
de violência no Brasil, em especial a violência que afeta os jovens entre
15 e 24 anos. A partir de diferentes dados divulgados por institutos como
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e SIM (Subsistema
de Informação da Mor talidade), constata-se que é nesta faixa que se
encontram os maiores índices de mortes por causas violentas. Outra
constatação importante é o fato destas mortes ocorrerem principalmente
nos finais de semana período onde os jovens não estão nem trabalhando
e nem estudando, como demonstrou o estudo de Waiselfisz (2002).
Os efeitos da violência re percutem de forma direta na vida das
escolas, estabelecendo incer tezas e tensão no quotidiano escolar. Estas
questões serão analisadas neste capítulo, a partir do estudo Violências nas
Escolas, realizado pela UNESCO. Este trabalho apresentou resultados
importantes no que se refere a percepção das principais situações
desencadeadoras de violências no interior da escola, tais como (atos de
indisciplina, agressões entre alunos e professores, pichações, depredações,
não-explicitação das normas de organização da escola, carência de recursos
humanos e materiais, baixos salários de professores e funcionários, falta
de diálogo entre os integrantes da unidade escolar e não-interação da
família e da comunidade, dentre outras). O impacto destas situações de
violênciaséatransfor mação do clima escolar e o enfraquecimento das
relações incidindo sobre a qualidade das aula s e o desempenho dos alunos.
Por fim, será apresentada a contextualização das escolas inovadoras
referentes à situação de violência. Vale destacar que os dados da pesquisa
Escolas Inovadoras não se distanciam dos dados mais gerais do estudo
2. A VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS
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7070
70
ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Violências nas Escolas, observando-se uma alta incidência de violências
internas (tais como briga entre alunos, indisciplina, agressões verbais,
pichações, entre outras), que revelam uma preocupação das unidades
escolares com os aspectos relacionados à convivência interna, principalmente
no que tange às relações existentes entre os próprios jovens. Os ef eitos
dessas diferentes práticas violentas são observados no desempenho escolar
dos alunos, no aumento do abandono escolar e na repetência.
No entanto, a pesquisa Escolas Inovadoras revelou que a par tir de
um conjunto de ações, o falar sobre situações de violência adquire um
outro signif icado. A busca por mecanismos de superação e diminuição
dos atos de violência permite uma visão mais crítica e menos tolerante
em relação as situações de violência.
Se o medo e a incerteza geram instabilidade nas relações internas
e externas a escola, não se pode deixar de constatar também que estas
sensações mudam, quando a preocupação com os aspectos
relacionados à integração dos diferentes atores das escolas.
2.1 A VIOLÊNCIA E OS JOVENS
O “Mapa da violência III: os jovens do Brasil” (Waiselfisz, 2002)
fornece um panorama recente da situação de violência que afeta a
juventude
12
brasileira nas últimas décadas, oferecendo, ainda, algumas
comparações em nível internacional
13
.
12
A noção de juventude adotada pela UNESCO acompanha aquela da Organização Internacional
da Juventude, que a caracteriza como uma fase de transição, situada entre os 15 e os 24 anos de
idade. Tal opção é também utilizada na maioria das análises demográficas; na escolarização
obrigatória; na responsabilização penal; na classificação de filmes e programas de televisão etc.
13
O trabalho em pauta complementa e aprofunda dados sobre as causas das mortes violentas dos
jovens brasileiros, contidos em duas publicações anteriores do mesmo autor, intituladas “Mapa
da violência: os jovens do Brasil” (Waiself isz, 1998) e “Mapa da violência II: os jovens do Brasil”
(Waiselfisz, 2000). Neste terceiro volume, por meio do confronto da população total com a faixa
de 15 a 24 anos, são realizadas análises tanto das taxas de homicídios, óbitos por acidentes de
transportes, suicídios e mortes por armas de f ogo, quanto de vitimização juvenil, dur ante 10
anos, nos estados e capitais do Brasil, comparando seus resultados com números provenientes de
mais 59 países do mundo, quais sejam: Albânia; Alemanha, Argentina; Armênia, Austrália, Áustria,
7171
7171
71
Ao direcionar-se o foco para a juventude brasileira, que se
considerar sua dimensão numérica: de acordo com dados divulgados
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE, a partir do
Censo Demográfico de 2000, dos cerca de 170 milhões de habitantes
do país, uma expressiva parcela 34 milhões, equivalentes a 20% do
total é constituída por jovens de 15 a 24 anos. É justamente nesta
faixa onde, pela lógica da produção e da reprodução da vida, deveria
estar centrada grande parte das expectativas da sociedade que
encontram-se os maiores índices de mortes por causas violentas,
ocorridas, principalmente, nos finais de semana.
Estatísticas do Subsistema de Informação da Mor talidade SIM,
órgão ligado ao Ministério da Saúde dão conta de que, no ano de
2000, 70,3% dos óbitos de jovens do país foram causados pelas
chamadas causas exter nas (acidentes de trânsito, homicídios, suicídios
etc.). Vale notar que em 68,3% dos casos de homicídios registrados
entre a juventude foram utilizadas armas de fog o. De acor do com
Waiselfisz (2002), tais índices são tão graves que, conjug ados às quedas
atualmente observadas nas taxas de fecundidade, são os responsáveis
diretos pela tendência de declínio do crescimento do número absoluto
de jovens no país nos próximos anos.
Os custos da violência, no Brasil, são enor mes. Cálculos do Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID) avaliam que, somados os
gastos de instituições públicas e privadas, a conta brasileira chegava,
em agosto de 2001, a R$ 105 bilhões
14
, algo em torno de 10,5% do
Produto Inter no Br uto (PIB) do país, ao passo que nações como o Per u,
os Estados Unido seaFrançaconsumiam 5,1%, 3% e 2% de seu PIB,
Azerbaijão, Bahamas, Bielorússia; Bulgária, Canadá, Colômbia, Coréia, Croácia, Cuba,
Dinamarca, Equador, Escócia, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Federação
Russa, Finlândia, França, Granada, Grécia, Holanda, Hong Kong, Hungria, Ilhas Cayman,
Irlanda, Irlanda do Nor te, Islândia, Israel, Itália, Japão, Kuwait, Letônia, Lituânia,
Luxemburgo, Macedônia, Malta, Maurício, México, Moldávia, Nor uega, Nova Zelândia,
Polônia, Portug al, Porto Rico, Reino Unido, República Eslovaca, República Checa, Romênia,
Cingapura, Suécia, Ucrânia e Uzbequistão.
14
Cerca de US$ 42 bilhões, pelo câmbio oficial de venda do dólar em 01/08/2001.
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respectivamente (Helena e Wer neck, 2001). Para efeito de compar ação,
a quantia despendida pelo Brasil equivaleria a mais do que toda a riqueza
produzida num país como o Chile, por exemplo (idem, ibidem).
As tabelas que se seguem permitem que se construa um perfil da
distribuição dos óbitos por homicídio entre os jovens de 15 a 24 anos de
idade. Segundo Wailselfisz (2002), enquanto, no conjunto da população
brasileira, os homicídios corresponderam a 4,7% do total de óbitos, no ano
2000, esse percentual, no caso das pessoas de 15 a 24 anos, atingiu 39,2%.
A ta bela 2 aponta uma estr utura da mor talidade juvenil nos 14
estados integrados à pesquisa Escolas Inovadoras, na qual pode-se
constatar o que foi obser vado anteriormente: no Brasil, as causas
externas são responsáveis por mais da metade do número de óbitos na
faixa etária de 15 a 24 anos. Dentre essas causas, destacam-se os
homicídios: 38,1% das mortes são atribuíveis aos homicídios, sendo
que em estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco tal
porcentagem eleva-se a mais de 50%. Santa Catarina é a unidade com o
menor índice, registrando, em 2000, 105 óbitos, que re presentam 10,7%
do total de mortes no estado. Em contrapartida, o estado ca tarinense é
o que apresenta o mais alto índice de mor tes por acidente de trânsito,
38,9%. O estado em que menos se mor re por acidentes de trânsito, nessa
faixa de idade, é o Rio de Janeiro cujos óbitos por esta causa
correspondem a 9,5% das mor tes. No Brasil, o suicídio é responsável
por 3% dos óbitos juvenis, mas nos estados do Mato Grosso, Rio Grande
do Sul e Santa Catarina este valor atinge 7%.
Na tabela 3, que apresenta os números de óbitos por homicídio
nos anos de 1991 e 2000, entre os jovens, é possível verificar um aumento
de 77% do número de mor tes neste decênio. Este dado alarmante pode
ser verificado em quase todos os estados indicados na tabela, como
Alagoas, Ceará, Espírito Santo, Pernambuco, Mato Grosso e Bahia, cujas
mortes sofreram um aumento de mais de 100%. O Estado da Bahia
contou, em 1991, 171 casos de homicídios. Em 2002, esse número subiu
para 807, correspondendo a um aumento de 371,9% de óbitos por esta
causa na faixa etária de 15 a 24 anos. O Pará foi o estado que apresentou
menor crescimento, 13,8%, e o Rio Grande do Sul foi a única unidade
que apr esentou decréscimo nessa questão, registrando-se uma queda de
2,2% do número de homicídios entre 1991 e 2000.
7373
7373
73
TABELA 2 Estrutura da mortalidade na faixa etária de 15 a 24 anos,
segundo causa do óbito, 2000 (%)
Fonte: SIM/DATASUS In: WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência III: os jovens do Br asil. Brasília:
UNESCO, 2002.
TABELA 3 Evolução do número de óbitos por homicídio entre a
população de 15 a 24 anos, 1991/2000
Fonte: SIM/DATASUS. In: WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência III: os jovens do Brasil. Brasília:
UNESCO, 2002.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Como indica a tabela 4, a seguir, o número de homicídios entre a
população de 15 a 24 anos equivale a 38,7% dos óbitos registrados entre
a população total do país.
TABELA 4 Número de homicídios entre os jovens de 15 a 24 anos nos
estados e municípios, por ocorrência e população total, 2000
Fonte: SIM/DATASUS, 2003.
7575
7575
75
Dessa forma, considerando a divisão do SIM/DATASUS em 12
g rupos etários e verificando os dados da tabela, fica evidenciado que, na
faixa de 15 a 24 anos de idade, os homicídios atingem sua maior incidência.
Nos municípios de Manaus, Recife, Duque de Caxias e Brasília representam
quase 50% dos óbitos juvenis. E, com exceção de Florianópolis (25,7%),
todos os municípios apresentam índice superior a 30%.
A utilização de armas de fogo na ocorrência de homicídios entre
os jovens cresce g radualmente e, por isso, é preocupante. Como pode
ser visto na tabela 5, no ano de 1998, a taxa de mor talidade por ar mas
de fog o f oi de 35,1 para 100.000 jovens.
TABELA 5 Taxa de mortalidade por armas de fog o entr e a população
de 15 a 24 anos, 1998/2000
Fonte: SIM/DATASUS In: WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência III: os jovens do Brasil. Brasília:
UNESCO, 2002.
Em 2000, essa proporção elevou-se para 41,9, caracterizando um
crescimento de 19,5% em dois anos. Nos estados de Alag oas, Ceará e
Goiás houve um crescimento de quase 50%, das mortes causadas por
7676
7676
76
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ar mas de fog o. E o Estado de São Paulo registrou uma incidência de
61,1% sobre o número de ocorrências em 1998. Por outro lado, algumas
unidades registraram uma relativa queda em seus índices, como
Amazonas, Santa Catarina, Distrito Federal, Pernambuco, Pará, Bahia e
Espírito Santo. Esses dois últimos a presentaram uma diminuição de mais
de 12% nas taxas de homicídios provocados por arma de fog o.
Nas tabelas6e7possível obser var que o maior registro de
óbitos por homicídio entre os jovens é realizado durante os sábados e
doming os.
TABELA 6 Distribuição dos homicídios nos dias da semana
entre os jovens de 15 a 24 anos Brasil, 2000
Fonte: SIM/DATASUS In: WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência III: os jovens do Brasil.
Brasília: UNESCO, 2002.
TABELA 7 Média dos homicídios por dias úteis e
final de semana Brasil, 2000
Fonte: SIM/DATASUS In: WAISELFISZ, Julio Jacobo. M apa da Violência III: os
jovens do Brasil. Brasília: UNESCO, 2002.
7777
7777
77
Somando-se os números contabilizados nos dias úteis que são
cinco –, temos 10.185 homicídios. E, nos dois dias do fim de semana,
foram 7.050 casos em 2000. Calculando-se a média entre os dias úteis e
o final de semana, tem-se uma diferença de 73% do número de mortes
registradas nesse período em relação ao primeiro, sinalizando que os
jovens “morrem” mais nos dias de ociosidade, em que não estão na
escola ou no trabalho.
2.2 A VIOLÊNCIA NO AMBIENTE ESCOLAR
É nesse quadro que se situa um dos mais sérios problemas
enfrentados pelo sistema educacional do país na contemporaneidade: o
agravamento de situações geradoras de “violências nas escolas”, grande
desafio a ser enfrentado pelas políticas públicas para a preparação e
for mação da juventude no espaço escolar.
Os estudos e pesquisas que a UNESCO e seus parceiros vêm
realizando têm trazido contribuições importantes, no sentido de oferecer
um diagnóstico amplo e aprofundado sobre a juventude, os diferentes
tipos de violências e seus efeitos nas escolas (Castro et al., 2001).
Neste contexto está situado um dos mais completos estudos
feitos sobre o assunto na América Latina: a pesquisa “Violências nas
Escolas” (Abramovay e Rua, 2002). Desenvolvido em 14 capitais das
unidades da federação
15
, a partir das percepções de alunos, pais/
responsáveis, professores, diretores e funcionários de escolas públicas
e par ticulares, esse estudo permitiu a construção de um mapa sobre os
diversos tipos de violências registrados nas unidades escolares.
15
A pesquisa foi realizada no decorrer do ano 2000, em escolas públicas e particulares
brasileiras, nas seguintes capitais das unidades da federação: Maceió (AL), Manaus (AM),
Salvador (BA), Fortaleza (CE), Brasília (DF), Vitória (ES), Goiânia (GO), Cuiabá (MT),
Belém (PA), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Porto Aleg re (RS), Florianópolis (SC) e São
Paulo (SP).
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7878
78
ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Para conhecer o mundo da escola e a percepção de seus diversos
atores
16
, a pesquisa optou por uma concepção abrangente de violência,
incorporando não apenas a idéia de maus-tratos, uso de força,
intimidação, mas também as dimensões sócio-culturais e simbólicas
do fenômeno
17
.
O estudo aponta algumas situações que podem, no limite,
deslanchar a violência, como atos de indisciplina, agressões entre alunos
e professores, pichações, de predações, não-explicitação das nor mas de
organização da escola, carência de recursos humanos e materiais, baixos
salários de professores e funcionários, falta de diálogo e não-interação
da família e da comunidade, com os integ rantes da unidade escolar.
Sugere, entretanto, que essas situações devem ser pensadas de for ma
integrada, não havendo entre as mesmas uma relação de causalidade,
mas de profunda interdependência.
A pesquisa confir ma dados levantados por Waiselfisz (2000),
que chamam a atenção para o fato de as principais vítimas de violências
serem os alunos, seguidos de professores, funcionários e diretores.
Verificou-se que o impacto mais significativo da violência é tor nar
o ambiente da escola pouco apropriado às aulas, acentuando as faltas
dos alunos e a piora da qualidade do ensino, conforme indica a tabela 8.
16
Foram aplicados questionários para os alunos (33.655), para os pais (10.225) e para os
membros do corpo técnico-pedagógico (3.099), distribuídos em 239 escolas públicas e 101
escolas privadas. Além disso, mediante técnicas qualita tivas, foram entrevistados diretor es,
coordenadores de disciplina, supervisores, agentes de segurança e policiais. Foram feitos
grupos focais com alunos, pais e professores, totalizando 2.155 pessoas, com 729 horas de
entrevistas gravadas.
17
Blaya (2001), em pesquisa sobre o clima escola r e a violência nos sistemas de ensino secundário
da França e da Inglaterra, observa que as ofensas verbais foram a expressão de violência mais
freqüente nestes países, confirmando que, na escola, o maior problema não é a violência
“bruta”, mas as perturbações e as “microvitimizações repetidas” (Debarbieux et al., 1998).
7979
7979
79
Tais acontecimentos trazem conseqüências drásticas para os alunos
que sofrem com a repetência ou até mesmo com a exclusão da escola.
Além disso, a re petênciaeaevasão escolar comprometem a eficiência
do sistema escolar
18
.
TABELA 8 Alunos,por percepção das conseqüências da violência na escola
sobre o seu desempenho escolar, segundo capitais das Unidades da
Federação 2000 (%)
Fonte: Pesquisa Nacional Violência, Aids e Drogas nas Escolas, UNESCO, 2001.
Foi perguntado ao informante: como você acha que a violência afeta seus estudos: Não consegue se concentra nos estudos; Fica nervoso,
revoltado; Não sente vontade de ir à escola (Marque todas que forem verdadeiras) Foram consideradas apenas as respostas afirmativas.
18
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Estatísticas em Educação INEP/2002 –, os
alunos do ensino fundamental necessitam de 10,2 anos para completar os 8 anos previstos de
estudo. no ensino médio, os estudantes levam, em média, 3,8 anos para completar os 3
anos previstos.
8080
8080
80
ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Obser va-se, ainda, que a violência afeta, significativamente, o
clima escolar. A deterioração das r elações incide na qualidade das aulas
e no desempenho escolar dos alunos (Abramovay e Rua, 2002).
O “clima de violência”, além de influir na qualidade de ensino, no
desempenho escolar dos alunos e no desempenho profissional do corpo
técnico-pedagógico, também incide sobre a percepção dos alunos a respeito
do espaço físico da escola, da gestão e dos próprios coleg a s. Constata-se
que um ambiente escolar desfavorável contribui para o esg açarmento das
relações entre os atores da escola (professores e alunos; professores e
direção; alunos e alunos; alunos e direção)
19
. A tabela 9 fornece um
panorama sobre os aspectos de que os alunos menos gostam na escola.
19
Ortega levanta a importância da prevenção da violência por meio do aperfeiçoamento das
condições de convivência. Este processo implica a mobilização de muitas motivações. Assim,
a educação de emoções, sentimentos e valores não pode ser um simples esquema no processo,
mas a incorpor ação de objetivos, conteúdos e estratégias ao cur rículo, para permitir que os
alunos expressem suas emoções, tomem conhecimento de seus próprios sentimentos e
assumam atitudes e valores de respeito mútuo (Ortega, 2001: 209).
TABELA 9 Alunos, por capitais das Unidades da Federação, segundo o
que não gostam nas escolas, 2000 (%)
Fonte: Pesquisa Nacional Violência, Aids e Drogas nas Escolas, Unesco, 2001.
Solicitou-se ao informante: Marque o que você não gosta na sua escola. Os percentuais referem-se apenas às respostas afirmativas.
8181
8181
81
Diante deste quadro, o estudo destaca a impor tância de se atentar
para os cuidados com o entorno da escola e com o ambiente escolar; a
interação escola, família e comunidade; a importância do
estabelecimento de mecanismos de neg ociação de normas e reg ras dentro
da escola; a criação de processos de sensibilização voltados aos
professores sobre as diversas for mas de violência; a implementação de
ações pontuais de segurança pública; a valorização e organização de
jovens; a articulação entre as diferentes áreas g overnamentais (educação,
justiça, cultura etc.) e a elaboração de materiais didáticos escritos e
áudio-visual (Abramovay e Rua, 2002).
2.3 SITUAÇÃO DAS ESCOLAS INOVADORAS
O estudo Escolas Inovadoras acompanha, no que se refere as práticas
de violências escolares, a mesma tendência exposta na pesquisa
Violências nas Escolas, apresentada no item acima.
Cabe ressaltar, entretanto, que uma parte significativa dos
problemas expostos pelas escolas, fundamentalmente, aqueles que têm
origem no interior das próprias escolas, são apresentados como situações
vivenciadas no passado da instituição escolar. As experiências bem
sucedidas desenvolvidas por essas escolas puderam agir diretamente na
transfor mação desses espaços, diminuindo significativamente situações
de conflito e violência.
Os principais problemas enfrentados pelas escolas podem ser
ordenados da seguinte forma: problemas relacionados ao que Debarbieux
e Blaya (2001) vem denominando de microviolências, ou condutas anti-
sociais e anti-escolares; e a problemas oriundos de práticas violentas
externas a escola.
Como pode ser observado na tabela 10, a alta incidência
apresentada pelo item briga entre alunos (62,9%) revela a existência de
uma preocupação das direções escolares com os aspectos relacionados
à convivência interna, principalmente no que tange às relações
existentes entre os próprios jovens. As brig as entre os alunos, segundo
o próprio relato dos diretores, ocorrem por diversos motivos briga
8282
8282
82
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por namorados (as), brig as por encarar”, brig as por brincadeiras,
envolvimento dos jovens com outros grupos externos (rappers,
g rafiteiros, hip-hop, g angues etc.) –, que g eram atritos no exterior da
escola e repercutem no seu interior
20
.
TABELA 10 Proporção de diretores
1
, segundo indicação dos maiores
problemas enfrentados pela escola no que se refere a situações de violência
2002
20
A pesquisa “Violências nas escolas” mostrou que, na percepção dos alunos, uma das principais
insatisfações declaradas refere-se aos seus próprios pares. (Abramovay e Rua, 2002: 156)
Fonte: Pesquisa Escolas Inovadoras, UNESCO, 2002
(1 ) 143 diretores responderam a esta questão.
( 2 ) Foram consideradas apenas respostas afirmativas à pergunta: “Quais os maiores problemas enfrentados por esta escola,
no que se refere a situações de violência? (Se necessário, marque mais de uma opção)”.
8383
8383
83
Ao reconhecer este como um dos principais problemas enfrentados
pela escola, as direções escolares procuram, em certa medida, demonstrar
a dificuldade que existe em tr ansfor mar a instituição em um ambiente
prazeroso para o jovem. Além disso, manifestam ter conhecimento de
que a “briga entre alunos” está diretamente associada à falta de vínculos
e atitudes de pertencimento do jovem com relação à escola, constituindo-
se como um desafio.
A escola tinha um índice elevado de violência, em mais de 70%. Havia muita
briga entr e os alunos, pichações, depredação. Não podia fazer uma festa de
portões abertos. E o próprio alunado foi dando propostas de como poderíamos
enfrentar o problema. Eles foram tomando a escola como deles. (Entrevista
com diretora, Pernambuco)
Ainda dentro das microviolências, a tabela também revela um outro
leque de temas relacionados ao cotidiano da escola. É possível observar
que também tiveram alta incidência outros itens associados à idéia de
indisciplina e quebra do pacto de convivência, tais como: alunos
indisciplinados (53,1%), agressões morais (28%), discriminação (22,4%),
ameaças aos professores (25,9%), ameaças em geral (22,4%) e falta de
respeito (42%). Isto sugere um cotidiano tenso e complexo do ponto de
vista da g estão escolar. Tais itens mostram a ausência ou, no mínimo, a
fragilidade da comunidade escolar para estabelecer canais de interlocução
interna, mecanismos capazes de ordenar e estabelecer relações de
reciprocidades positivas, como mostra este relato de uma diretora:
Conflitos entre alunos e professores dificultam a discussão de questões sobre
violência. É necessário sensibilizar os professores. Direção e professores se reúnem
uma vez por semana para discutir, fazer planejamento. Nestas r euniões estão
tentando fortalecer a discussão sobre violência.
Neste sentido, pode-se sugerir que as principais práticas de
violência existentes no interior da escola tem como efeito principal a
desestruturação das relações internas, a quebra dos pactos de
convivência, estabelecendo um quotidiano tenso. Os problemas
relacionados a violência verbal e a dificuldade de diálogo entre os
diferentes atores da escola ilustram não apenas a perda da capacidade
de estabelecer canais de comunicação como também o obstáculo ao
processo de aprendizado, g erando medo, sentimento de impotência e
diminuindo a auto-estima institucional.Esta tensão tende a aumentar
quando se analisa as variáveis externas a escola que repercutem
diretamente no quotidiano escolar.
Obser va-se na tabela 10 que um conjunto de outros itens tais
como invasões (24,5%), venda de drogas (19,6%), problemas com
pessoas ligadas ao tráfico (20,3%), conflitos no entorno escolar (51,7%),
alunos ar mados (28,0%), uso de drogas (58,0%), também foram
bastante assinalados. Estes itens revelam uma for te inf luência de ações
de origem exter na a escola. Observa-se que são recorrentes as referencias
de professores ou diretores sobre certos alunos que chegam à escola
como vítimas de agressões realizadas por parentes ou por g r upos/
gangues do entorno. Como se obser vou em muitos casos, certas
rivalidades e oposições externas entre grupos ou g angues repercutem e
são vividas no interior da escola.
Por exemplo, aqui você tem questão de drogas, você tem questão de gangues, é
funk, essas coisas e eles são diferentes. Então, às vezes, agente até detectando
em salas, eles se identificam e começam a formar grupinhos, então ultimamente
agente tem tidos alguns problemas e eu tenho até pela conversa com os alunos, eu
tenho observado: ah, fulano é de tal lugar. (Entr evista com diretora, Rio
de Janeiro).
Chama atenção ainda, os itens violência sexual (15,4%) e
homicídios (5,6%), que são manifestações de violências que têm grande
impacto nas representações e percepções dos alunos, incidindo
consideravelmente no aumento da instabilidade institucional.
Este tipo de situação gera, tanto para a comunidade escolar quanto
para a sociedade como um todo, a sensação de que a escola é um espaço
inseguro e pouco confiável para o convívio social. A violência externa
abala não apenas a auto-estima individual como também a auto-estima
institucional. Os problemas de comportamento, como pequenas ag ressões
e indisciplinas, assumem uma dimensão mais dramática, pois são muitas
vezes explicados como partes das brigas entre gangues ou grupos rivais.
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O que estes depoimentos revelam é que a violência escolar é
vivida de for ma distinta e oriunda de diferentes matizes. Chama a
atenção, nos dados acima, o fato de que existe uma preocupação em
diferenciar os tipos de violência (interna, externa), atribuindo-se a eles
causas também distintas. A violência do entor no escolar aparece como
um tencionador a mais nas frágeis relações estabelecidas no interior
da escola, como mostra a entr evista com um diretor. As dr ogas são uma
questão exter na, no ambiente exter no, a droga gera violência na escola porque
muda o comportamento do aluno, altera, deixa mais agressivo, sem condições de
conversa, isso é um tipo de violência que nos deu problema.
Ao confrontar o resultado acima com os depoimentos, observa-
se que existe um consenso em relação as práticas violentas. Estas são
percebidas como desagregadoras das relações internas estabelecendo
fronteiras entre alunos, assim como entre alunos e professores. Os
diferentes depoimentos mostram que os principais problemas
enfrentados no interior das escolas estavam direta ou indiretamente
relacionados a questões de indisciplina, e desrespeito, enquanto que
os problemas relacionados ao entorno estão associados principalmente
a pr esença de g angues e tráfico de drog as.
2.3.1 Repetência e abandono escolar, os efeitos da violência
Os principais efeitos dessas diferentes práticas violentas são
observados no desempenho escolar dos alunos, no aumento do
abandono escolar e na repetência. Estes dilemas a serem equacionados
pelas escolas públicas, de uma maneira geral, também se encontram
presentes em escolas que têm uma proposta inovadora, onde a
abertura para o “novo” ainda convive com “velhos” problemas. É
possível inferir que o adequado enfrentamento destas questões
possibilitará a construção de uma outra escola pública de maior
qualidade, como mostra o depoimento de um diretor: (...) por mais
que haja alguém que fale mal da escola pública nós achamos que ela é a
melhor, porque aqui nós trabalhamos com tantas diferenças, escolas que
selecionam, que classificam para o aluno entrar, então, eu acredito que a escola
pública hoje recebe todo mundo.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
As diferentes concepções da comunidade escolar expressam
expectativas históricas que não responsabilizam o aluno e suas famílias
pelo fracasso escolar, como também sinalizam para a situação em que
se encontra o ensino no país que, apesar de universalizado, ainda não
g arante qualidade para todos.
As escolas analisadas tentam romper com a situação que paira
sobre inúmer as instituições púb licas de ensino, embora isso não se faça
tão facilmente, que implica romper com uma série de condições e
com a descrença e com o conf or mismo de muitos:
(...) Depois da implantação dos projetos o clima escolar ficou favorável, propenso
ao trabalho, e conseqüentemente eles [os alunos] estão prontos a aprender. Antes
o aluno era distante não se integrava à escola, tínhamos problemas com repetência.
Hoje, com a nossa gestão, eles se sentem seguros, próximos, os alunos atendem,
entendem a proposta da escola. Os projetos desenvolveram nos alunos a afetividade
tanto pelos professores, quanto pela escola. Essas mudanças vêm se dando
lentamente no processo. (Entrevista com diretora, Goiás).
É preciso ressaltar que, em razão de diversos fatores, como
necessidade de trabalho ou de procura de trabalho, falta de apoio financeiro
para passagens, livros, cadernos, lápis, ajuda nos afazeres domésticos,
situações de violência no entorno ou no interior da escola, muitos estudantes
abandonam os estudos, o que além de comprometer o seu processo de
formação, também repercute na sua trajetória profissional.
Parte significativa dos jovens que não conseguem concluir a
escolaridade básica, em idade considerada apropriada pelo sistema de ensino
brasileiro, migram para a Educação de Jovens e Adultos, particularmente
para o ensino notur no. De uma maneira g eral, sua ofer ta é de cunho
compensatório, sendo seu ensino uma “recuperação” de conteúdos da escola
regular, sem compromisso com a construção de saberes por esses alunos
que, normalmente, enfrentam um processo de ensino/aprendizagem a partir
de metodologia que não leva em consideração suas diferenças, acúmulos,
origem sócio–cultural e experiências de vida.
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Para se ter um quadro da situação de acesso, em 2002, dos 8.710.584 alunos matriculados no
ensino médio, 4.255.234 estavam no ensino notur no, a g rande maioria (4.184.803) estudando
na zona urbana, conforme indica dados INEP/MEC.
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No quadro a seguir destacam-se as principais questões enfrentadas
pelas escolas inovadora s.
Nesse contexto, a responsabilidade pela interrupção nos estudos não
recai exclusiv amente sobre o aluno. Como foi possível observar, a interrupção
é conseqüência de múltiplos fatores: condições de trabalho, stress, moradia,
Relacionados a fatores do
sistema de ensino
Desrespeito às condições
culturais dos jovens e adultos
metodologias inadequadas.
Multirrepetências Falta de
interesse do aluno.
Dificuldades de encontrar
estágios.
Atividade profissional que
atrapalha os estudos,
provocando cansaço físico e
mental.
Horário de aulas incompatíveis.
Ausência de disciplinas.
Cur rículos desinteressantes.
Falta de qualidade no ensino.
Ausência de preparação para o
trabalho.
Carência de professores
Alunos matriculados por uma
central de atendimento (0800)
em escolas distantes de suas
comunidades.
QUADRO 1 Fatores relacionados ao abandono,r epetência e evasão escolar
Relacionado a fator es externos
Toque de recolher imposto pelo
tráfico, dificultando a
per manência de jovens oriundos
de área de risco nas escolas
notur nas.
Alunas que têm filhos e não têm
com quem deixá-los (falta
creche).
Famílias desestr uturadas.
Mudanças sucessivas de
trabalho
A atuação dos jovens no
mercado infor mal, e no tráfico.
Dificuldades impostas pelas
empresas que não liberam os
alunos.
Empreg os temporários.
Conf litos no entor no.
Alunos armados.
Discriminação quanto a cor,
sexo, local de moradia.
Venda ou uso de drog as.
Ruas sem iluminação.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
desinteresse pelas aulas, e principalmente pelo sentimento de insegurança
como mostra o depoimento de uma diretora: Eles chegam cansados do trabalho
e encontram professores que ministram aulas como se eles fossem crianças, assim sentem-
se duplamente punidos pelo sistema e pela injustiça social.
Em relação à repetência, as justificativas vêm sempre atreladas a
modelos de eficiência de desempenho e à falta de acompanhamento
familiar nos estudos dos alunos. Par ece haver um cer to consenso a
respeito da participação da família na escola e das expectativas com
relação ao desempenho e comportamento do aluno.
Nos depoimentos, a ênfase está na falta de interesse dos pais em
acompanhar as tarefas escolares dos filhos, seja por falta de tempo em
virtude das exigências do trabalho, seja por não terem a escolarização
mínima, ou ainda por constituírem famílias desagr egadas. Na maioria das
vezes, é colocada sobre os ombros da família a responsabilidade total
pelo fracasso escolar do filho, como sinaliza uma diretora: (...) essas crianças
são filhos de pais analfabetos, nunca trazem os exercícios de casa feitos. Não têm
quem os ajude.
2.3.2 Superando Violências
Percebe-se nos depoimentos que a partir de um conjunto de ações,
experiências e projetos que serão analisados nos próximos capítulos, o
falar sobre as práticas violentas acaba tendo relação direta com a
repetência, o abandono e o sucesso no processo ensino-aprendizagem.
O fato da escola procurar mecanismos de diminuição e superação dos
atos de violência possibilitou uma visão mais crítica e menos tolerante
em relação aos atos violentos, permitindo o estabelecimento de um antes
eumdepois, como mostra o relato abaixo:
Bom, eu acho que a escola foi do marco 0 ao 10. Antes se falava mal, a
escola era referência pra coisas más. Reportagem mesmo, vinha pra
filmar os banheiros sujos e as coisas que acontecia. Agora, é motivo de
or gulho, não para os alunos como para a comunidade. Era pichação, era
os bandidinhos que jogavam pedra, queimavam a sala de ciência, nossa, foi
uma época hor rível mesmo. (Grupo focal com aluno, São Paulo)
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Se o medo gera uma certa instabilidade no ambiente escolar, não
se pode deixar de constatar também que este diminui, quando a
preocupação da direção escolar com os aspectos relacionados à
integração dos diferentes atores das escolas .
Neste processo de busca por estratégias que visem à diminuição
das práticas violentas, a escola se colocou em duas situações
interessantes: de um lado, a escola teve que dar visibilidade aos atos de
violência, o que permitiu o reconhecimento e o enfrentamento destas
ações. De outr o, a escola teve que romper com o discurso de vitimização
e enfrentar também os problemas externos a ela, gangues, tráfico,
violência doméstica.
Desta for ma, o que foi possível per ceber no estudo é que o falar
sobre a violência significa contextualizar a escola em espaços e tempos
distintos. Debarbieux, em suas pesquisas, vem sinalizando para a
importância de se tratar da “multiplicidade” de sentidos que são
atribuídos à violência, além do modo como estes sentidos fornecem
certas representações acerca do que é violência. A escola é muitas vezes
retratada como um espaço institucional autônomo, com regras
disciplinares rígidas e fronteiras claramente identificáveis, sendo a ela
comumente atribuída a responsabilidade pelo processo de educação e
for mação do jovem. Essa responsabilidade aumenta nos dias atuais,
quando se relaciona aumento da criminalidade com a incapacidade da
escola de “manter” o jovem no seu interior; e isso é compreendido como
uma “falência” do sistema educacional.
Partindo prioritariamente destes resultados, a UNESCO Brasil se volta
para uma série de trabalhos relacionadas com a implantação de políticas
públicas que contribuam para a reversão da violência. A pesquisa relatada
nesse livro oferece mais um aporte nessa direção, como se observará no
capítulo a seguir, que apresenta as escolas inovadoras estudadas.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
SUMÁRIO
A partir dos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística IBGE, com base no Censo Demográfico de 2000,
dos cerca de 170 milhões de habitantes do país, uma expressiva
parcela 34 milhões, equivalentes a 20% do total é constituída
por jovens de 15 a 24 anos. É justamente nesta faixa que se
encontram os maiores índices de mortes por causas violentas. Em
68,3% dos casos de homicídios registrados entre a juventude, as
armas de fog o foram as g randes causadoras de vítimas fatais.
Observa-se que o númer o de homicídios entre a população de 15
a 24 anos equivale a 38,7% dos óbitos registrados entre a
população total do país. Constata-se também que nos sábados e
domingos ocorrem os principais atos de violência. Os dados
indicam que os jovens “morrem” mais nos dias de ociosidade, ou
seja, nos dias em que não estão na escola ou no trabalho.
De acordo com cálculos do Banco Interamericano de
Desenvolvimento BID, os custos da violência, no Brasil,
somados os gastos de instituições públicas e privadas chegavam,
em agosto de 2001, a R$ 105 bilhões, 10,5% do Produto Interno
Br uto PIB do país.
A par tir do estudo Violências nas Escolas, observou-se que cer tas
situações são desencadeadoras de violência, tais como: atos de
indisciplina, agressões entre alunos e professores, pichações,
depredações, não-explicitação das nor mas de org anização da
escola, carência de recursos humanos e materiais, baixos salários
de professores e funcionários, falta de diálogo entre os
integrantes da unidade escolar e não-interação da família e da
comunidade, dentre outras. A violência implica na construção
de um ambiente pouco apropriado às aulas, acentuando as faltas
dos alunos e a piora da qualidade do ensino. Ainda neste campo,
obser va-se que a violência afeta o clima escolar, deteriorando
as relações e incidindo sobre a qualidade das aulas e no
desempenho dos alunos.
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O “clima de violência”, gerando a sensação de insegurança,
também incide sobre a percepção dos alunos a respeito do espaço
físico da escola, da g estão e dos próprios cole ga s. Um ambiente
escolar desfavorável contribui para o esgarçamento das relações
entre os atores da escola (professores e alunos; professores e
direção; alunos e alunos; alunos e direção).
A alta incidência apresentada pelo item briga entre alunos (62,9%),
apontado pelos diretores como um dos principais problemas
enfrentados pela escola, revela a existência de uma preocupação
das direções escolares com os aspectos relacionados à convivência
interna, principalmente no que tange às relações existentes entre
os próprios jovens. As brigas entre os alunos, segundo o próprio
relato dos diretores, ocorrem por diversos motivos briga por
namorados(as), envolvimento dos jovens com outros g rupos
externos (rappers, grafiteiros, hip-hop, g angues etc.) – , que geram
atritos no e xterior da escola e repercutem no seu interior.
É possível observar que também tiveram alta incidência outros
itens associados à idéia de indisciplina e quebra do pacto de
convivência, tais como: alunos indisciplinados (53,1%),
agressões morais (28%), discriminação (22,4%), ameaças aos
professores (25,9%), ameaças em geral (22,4%) e falta de
respeito (42%). Isto sugere um cotidiano tenso e complexo do
ponto de vista da g estão escolar. Tais itens mostram a ausência
ou, no mínimo, a fragilidade da comunidade escolar para
estabelecer canais de interlocução interna, mecanismos capazes
de ordenar e estabelecer relações de reciprocidades positivas.
Os principais efeitos dessas diferentes práticas violentas são
obser vados no desempenho escolar dos alunos, no aumento do
abandono escolar e na repetência.
O curso noturno é aquele em que se evidenciam os maiores índices
de abandono (73%). A responsabilidade pela interr upção nos
estudos não recaiu exclusivamente sobre o aluno; a interrupção é
conseqüência de múltiplos fatores: condições de trabalho, stress,
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
moradia, desinteresse pelas aulas, e principalmente o sentimento
de insegurança.
Observou-se nos depoimentos que a par tir de um conjunto de
ações, experiências e projetos, o falar sobre ações violentas adquire
um outro significado. O fato da escola procur ar mecanismos de
superação e diminuição dos atos de violência permitiu uma visão
mais crítica e menos tolerante em relação aos atos violentos,
permitindo o estabelecimento de um antes eumde pois.
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O presente capítulo retrata as escolas inovadoras, observando
processos, trajetórias e conhecimentos produzidos, tendo em vista,
fundamentalmente, a singularidade de cada escola, no que se refere
às experiências capazes de contribuir para a implementação, na escola
pública brasileira, de práticas voltadas à prevenção e ao
enfrentamento de situações de violência.
O capítulo apresenta-se estruturado em três blocos. No primeiro,
colocam-se algumas reflexões sobre possíveis categorias de escolas
inovadoras, de acordo com as características dos processos correntes.
No segundo, são analisadas as 14 escolas selecionadas para o estudo
em profundidade. Por fim, são sistematizadas as principais tendências
reveladas pelo conjunto de projetos e ações em curso nessas escolas.
Nessa etapa do estudo é possível perceber que as escolas
inovadoras defrontam-se com questões que atravessam as
particularidades regionais e lançam mão de alternativas de solução
recorrentes, compartilhando o desafio de melhorar o ambiente
escolar por meio de práticas criativas e inovadoras. Nesse sentido, a
análise de seus perfis permite identificar uma variedade considerável
de interpretações sobre o que são projetos ou ações direcionados à
superação da violência.
Observa-se desde projetos bem estruturados e deflagradores de
mudanças palpáveis na vida da escola até ações pontuais, de expressão
limitada. Ainda que freqüentemente se apóiem em diretrizes e
intervenções das secretarias de educação, essas escolas assumem
identidade própria na forma como se desenvolvem, produzindo
3. AS ESCOLAS INOVADORAS
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
resultados distintos em seu trabalho . É o caso, por exemplo, de um
projeto de apoio ao adolescente, centrado nas questões da sexualidade e
do uso de drogas. Fruto de iniciativa externa, o projeto aparece, em
uma das escolas, como atividade restrita à “discussão de temas relativos
à afetividad e e à sexualidade”. Em outra, extrapolou o formato-padrão,
originando a criação de um “Núcleo de apoio permanente ao
adolescente”, ampliando-se e envolvendo em sua organização uma equipe
permanente, formada por um professor e 12 alunos, voltados ao
atendimento sistemático, tornando-se referência para outras ações em
curso na escola.
Enfim, como pontuado, o que unidade às escolas
focalizadas nesse capítulo é o fato de buscarem formas alternativas
para enfrentar problemas. Neste sentido, talvez, a questão mais
relevante seja a idéia de negociação/articulação. Como esses
diferentes grupos influem, compartilham e mudam certas realidades?
3.1 CONTEXTUALIZANDO AS INOVAÇÕES
De uma forma geral, pode-se agrupar essas escolas em três tipos:
(a) escolas com ações pontuais; (b) escolas que visam à integração das estratégias; e (c)
escolas com estratégias integradas. É importante ressaltar que esta categorização
não considera certas particularidades regionais. Além disso, vale lembrar
que a constituição de uma “tipologia” não permite projetar
hierarquizações nem traçar uma linha evolutiva, no que se refere às
estratégias de ação de cada escola. Os agrupamentos realizados não
podem ser comparados do ponto de vista de uma “situação precária”
para uma “situação ideal”. Seu objetivo é contribuir para a compreensão
dos processos pelos quais determinadas ações são recorrentes e como
se integram com outros aspectos mais gerais de cada localidade.
As escolas com ações pontuais são aquelas que passaram por situações
de violência aguda, geralmente algum ato forte (homicídio, ameaça,
espancamento etc.), gerador de reação imediata, freqüentemente da parte
de um indivíduo (professor, aluno, diretor ou pai de aluno). Nesses
casos, a gravidade do ato consegue estabelecer uma unidade em torno
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de seu enfrentamento, embora a escola disponha de pouca experiência
para lidar com ações extraclasse. Os trabalhos são desenvolvidos com
base na ação de um ou mais professores, notadamente os vinculados à
prática de atividades esportivas e culturais, como é o caso dos de educação
física. São trabalhos que, quase sempre, têm lugar no espaço das aulas,
não ultrapassando seus limites formais. Esporadicamente, ocorrem sob
a forma de gincanas ou feiras, tendo, portanto, expressão pontual.
Destaca-se, também, a realização de palestras, debates e discussões como
meio de trabalhar o conteúdo das ações desenvolvidas.
Com freqüência, as escolas recorrem às secretarias estaduais de
educação, em busca de auxílio. Assim, alguns programas ou projetos
dessas instituições acabam por tornar-se sua principal referência. Para
além das palestras, observa-se que existem dificuldades para lidar com
problemas que têm origem em outras esferas, como drogas, violência
doméstica e violência do entorno.
Muitos alunos e ex-alunos coordenam atividades e permanecem
nas escolas além do horário regular para preparar tais atividades. Os
jovens têm o hábito de ocupar o tempo livre na escola, na programação
de suas atividades extracurriculares. As escolas também promovem
atividades culturais, com reflexos positivos para a comunidade.
Apesar da objeção da maioria dos diretores, algumas escolas
desenvolvem parcerias com a polícia civil, Observamos a presença
permanente de duas policiais militares que fazem a ronda na escola . Existem
comissões que fazem a articulação entre as secretarias de segurança e
as secretarias de educação. Materiais impressos são distribuídos nas
escolas, tendo como foco a violência escolar, o uso de drogas etc.
Alguns diretores recorrem, ainda, à polícia militar, para fazer a
segurança/ronda em suas escolas.
Enfim, o que chama a atenção nas escolas com ações pontuais
é a capacidade de aglutinar, incentivar os diferentes atores. As ações
encontram-se ainda embrionárias, mas podem reverter em estratégias
mais programáticas e de proporções maiores, se devidamente
incentivadas e se houver investimento efetivo.
As escolas que visam à integração das estratégias caracterizam-se,
especialmente, por possuírem algumas atividades, experiências ou
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
ações regulares que trabalham a questão da violência e da paz. Estas
ações, ao contrário das escolas anteriormente abordadas,
apresentam algum tipo de consolidação. São atividades ligadas à
cultura, ao esporte e ao lazer:
Trabalhamos com projeto-piloto de semestre e miniações. No semestre,
trabalhamos com o projeto da Copa, que é um assunto de interesse dos
alunos. Realizamos socialização através do teatro. Estamos desenvolvendo
o P rojeto Juvenil, trabalhamos com jogos e músicas. Assim, os alunos se
sentem atraídos pela escola e a escola fica com a cara dos jovens.
(Entrevista com diretor)
Nestas escolas, os projetos não são exclusivamente de autoria
de um único professor, mas articulados com outros professores ou
com moradores do entorno. Além disso, observa-se que existem
outras ações, oriundas das secretarias de educação ou de ONGs locais.
Em tais escolas, também é possível perceber a existência de uma
participação mais expressiva do entorno. Observa-se que um
diálogo maior entre pais de alunos e direção escolar. No entanto,
apesar desta aproximação estabelecer canais de interlocução, ainda
não se constitui como ação integrada por todos os atores, revelando-
se uma certa dificuldade para ordenar os diferentes interesses locais.
Assim, as ações tendem a ter caráter ainda pontual.
No que se refere à gestão escolar, constata-se que existe uma
presença mais atuante do diretor (ou da equipe de direção), traduzida
no seu conhecimento acerca dos problemas da escola e no grau de
interlocução com os alunos e professores. O respeito pela escola e
o reconhecimento de que seu espaço deve ser preservado são
compartilhados pelos diferentes atores sociais.
Por fim, o que caracteriza as escolas com ações integradas são as
estratégias de superação da violência voltadas não exatamente para
um determinado projeto ou ação, mas para a forma de gestão do
estabelecimento, o relacionamento entre alunos, professores e
demais funcionários e a abertura para a comunidade.
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São as escolas que conseguiram, ou estão tentando, enfrentar
seus problemas de uma forma integrada, participativa e flexível. Nelas,
observa-se a existência de diversas atividades, de cunho e origem
distintos. O que as identifica como escolas inovadoras é a capacidade
de integrar estes diferentes projetos e ações em seu cotidiano.
Os papéis do diretor, dos professores e dos alunos tornam-se
fundamental para um bom desempenho. A capacidade de articulação e
negociação é imprescindível para o “sucesso” da experiência. É
interessante observar que o espaço escolar assume outras características,
sendo não apenas um espaço de “aprendizagem”, mas de lazer, cultura e
esporte, aparecendo como um espaço compartilhado e aberto.
Em sua grande maioria, os estabelecimentos pesquisados
apontam, como resultados mais significativos das estratégias por
eles adotadas, além da redução das várias formas de violência a que
estão sujeitos, as mudanças ocorridas na relação dos alunos com a
escola: aumento da assiduidade às aulas, melhoria no rendimento
escolar, interesse pelo estudo e pela pesquisa, redução da evasão,
apropriação de responsabilidades. Destacam-se, ainda, os ganhos
relativos ao resgate da “imagem” da escola junto aos alunos,
professores, funcionários e à comunidade, como traduz o
depoimento de uma diretora: Esta escola foi indicada para a pesquisa
pelo fato de ter mudado e r esgatado o r espeito da comunidade. Valorizamos o
ser e, aqui, o aluno tem um espaço dele, um espaço onde ele consegue atuar.
Ainda que algumas das estratégias de superação da violência
colocadas em prática se apresentem pouco estruturadas, parece haver
uma gama de possibilidades de aprimoramento e dinamização das
ações em curso. O tratamento mais individualizado dessas ações, por
parte dos órgãos estaduais de educação, pode, certamente, constituir
fator de sua maior qualificação e enriquecimento, no sentido de
tornarem-se mais abertas à participação dos jovens e da comunidade;
interagirem com as práticas curriculares cotidianas da escola; terem
caráter sistemático; incorporarem um maior número de alunos e
professores e atentarem às especificidades dos jovens, tirando partido
de seu potencial criativo e de sua disposição para o novo.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
3.2 FOCALIZANDO AS ESCOLAS INOVADORAS
Neste item, são apresentadas as 14 escolas inovadoras selecionadas como
mais representativas. Os dados e as análises que se seguem são originários dos
relatórios produzidos pelos pesquisadores das equipes locais. Na medida em
que tais documentos comportam níveis e densidades distintos, respeitou-se,
na elaboração dos perfis, o caráter autoral desses trabalhos.
3.2.1 Alagoas
ESCOLA ESTADUAL MIRIAM MARROQUIM MACEIÓ
Rua da Liberdade, s/n°, Piabas, Jacintinho Maceió/AL.
Contexto sociodemográfico do município Maceió
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Contexto educacional do município
Caracterização da escola
O entorno
A Escola Estadual Miriam Marroquim localiza-se na periferia
de Maceió, no bairro denominado Jacintinho. A rua é estreita e de
acesso difícil, não dispondo de ponto de ônibus. No seu entorno,
existem casas de moradia populares, algumas grotas e bares. A área
se caracteriza pela alta densidade demográfica e por uma infra-
estrutura precária (rede de abastecimento d’água insuficiente, coleta
de lixo reduzida, carência de serviços de saúde) e pelas altas taxas de
violência, conforme destaca jornal de grande circulação no município:
A falta de água atinge 80% do Jacintinho: em algumas áreas, não chega
mesmo, a não ser durante alguns momentos, pela madrugada. A violência e
a falta de segurança no bairro deixam 87% da população aflita, enquanto
os problemas de atendimento médico deixam insatisfeitos 58% dos
moradores. (Jornal Gazeta de Alagoas, 11/02/2001)
A população jovem no bairro é significativa, refletindo a
situação do município, em que a faixa de 10 a 19 anos corresponde a
aproximadamente 25% do total de habitantes (IBGE, 2002). Nesse
contexto, a imagem construída sobre os jovens e o bairro é marcada
por situações de violência e pela presença do tráfico de drogas:
Fonte: Sistema de Estatísticas Educacionais INEP/MEC, 2002.
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Assassinatos, lesões corporais, assaltos, tráfico e uso de dr ogas, além de
pequenos fur tos e porte ilegal de ar mas, são r otina no Jacintinho. A maioria
dos crimes é praticada por jovens na faixa etária entre 17 e 25 anos. (...)
Gr otas e fa velas cercam o bair r o e ampliam os pr oblemas. “Os jovens
estão no caminho das drogas, se viciam e usam armas para praticar pequenos
roubos e conseguir algum dinheiro para manter o vício”, afirma o delegado
policial.(...) Brigas de galeras são outr o pr oblema: “É como ocor r e no
eixo Rio de Janeir o São Paulo, onde jovens ficam se digladiando com
facas e r evólver es, sobr etudo em discussões surgidas em discotecas”, r essalta
o delegado. Numa das vilas da Gr ota Santa Rosa, as pessoas deixaram
seus casebres para fugir da violência no Jacintinho: se encontram 24.391
domicílios e 44 áreas consideradas vulneráveis. (Jornal Gazeta de
Alagoas, 11/02/2001)
O quadro de precariedade do bair ro, ag regado a uma visão, em
geral, nega tiva dos jovens que r esidem, contribui para a constr ução
de uma auto-imagem também profundamente comprometida. É
habitual os jovens falarem de Jacintinho ou deles próprios de for ma
desqualificada, como mostra o depoimento de um aluno da escola:
Esse lugar não presta, tem gente ruim. Os jovens? Ah, é tudo ruim também,
ninguém aqui presta! Entretanto, a construção dessa imagem
generalizante se rompe muito rapidamente, na medida em que esses
mesmos jovens são convidados a descrever o trabalho que vêm
fazendo no projeto de prevenção de DST/AIDS:
O gr upo está discutindo o pr oblema da Aids, educação sexual. Todo mundo
tem participado. Quem? Todo jovem aqui do bair r o. O meu grupo é muito
ativo, participa, quer melhorar o bair r o. Aqui tem muita gente boa. No
tráfico? é um grupinho, pois a maioria dos jovens o que mais quer é um
empr ego. (Gr upo focal com alunos, Alagoas)
Ao mostrar entusiasmo e auto-estima elevada, o jovem aluno
aponta a possibilidade de mudança.
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A unidade escolar
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
A escola é toda murada e suas salas de aula são pequenas e precárias. No
período da pesquisa, a diretora anunciou um projeto de reforma do prédio
escolar, previsto para o final de novembro de 2002. Na entrada, um mural
expõe as notícias que mais refletem o interesse da escola, como por exemplo:
“O meio ambiente precisa ser preservado”, “Em defesa da educação pública”,
“Dia nacional de mobilização das mulheres contra a ALCA”.
Segundo vários professores, as escolas públicas estaduais de
Alagoas vêm sofrendo inúmeras dificuldades no que se refere à falta de
recursos humanos. O desmonte da rede estadual de ensino em gestões
passadas, com inúmeras e prolongadas greves, atraso salarial, rotatividade
de secretários de educação e o desfalque de pessoal, devido ao programa
de demissão voluntária (PDV), foram alguns fatores que contribuíram
para agravar a situação. Apesar desse quadro, ressaltam que muitas
escolas estaduais estão-se tornando pólos de desenvolvimento artístico/
cultural, em que os jovens vêm inovando e contribuindo para a
superação das dificuldades. No caso da Escola Mirian Marroquim,
embora os alunos confirmem a situação relatada por professores, se
recusam a perder quaisquer eventos para os quais são convidados
seminários, debates, conferências, apresentações culturais e pressionam
a direção e os professores para viabilizar a participação.
Maiores problemas enfrentados antes das experiências
inovadoras
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O quadro de violências apresentado pela Escola Estadual Miriam
Marroquim antes de se implementarem as ações inovadoras aparece
nos depoimentos de vários atores da comunidade escolar, mostrando
situações bastante alarmantes: Te ve muita violência mesmo, e até hoje tem,
não tanto como antes... , afirma uma aluna.
A experiência de ser ameaçada: Eu tive problema de violência, com
garotas da minha idade Ah, eu não fui com sua cara, vou pegar você...”,
tor na-se mais g rave pela presença de armas entre os alunos: Foi preciso
as duas diretoras e o inspetor ficarem esperando na porta do colégio, porque elas
estavam com navalhas, com facas, estiletes (...).
Os conflitos motivados por disputas de namoradas aparecem
como causa mais séria de violência entre os meninos e rapazes,
conforme relata um aluno:
saiu briga fora. Por causa disso, um menino maluquinho mor r eu...
Dois meninos mataram ele, porque ele tava namorando com a garota que
tinha sido namorada de um deles. Deram dois tiros nele por causa de uma
garota. A garota viva, o assassino foi solto, o menino perdeu a vida, que
jamais vai ser entregue de volta! (Grupo focal com alunos, Alagoas)
A violência no entorno determinava que a escola se mantivesse
fechada, de forma a evitar a entrada de pessoas de fora e o acesso às
drogas, o que, conseqüentemente, restringia circulação dos próprios
alunos: Não tínhamos acesso a esportes (...) A violência, principalmente à noite,
era grande. Tínhamos que ficar trancados, com grades [risos]. entraram pessoas
tentando matar, outras trazendo drogas. Com base no depoimento, a
imagem de uma escola “sitiada” não parece imprópria.
A ocorrência de roubos também se registrava, como revela um
aluno, ao falar de seu primeiro contato com o estabelecimento: No
primeiro ano que eu vim pra cá, no primeiro dia, tava no portão e, aí, teve um
assalto: um menino pegou a cha ve do carr o de um pr ofessor e saiu cor rendo.
Tal contexto, certamente, determinava um clima de medo e
insegurança, como faz supor a fala de um professor, que mostra o
estado de abandono e desproteção existente:
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Aqui, antes, a comunidade não tinha muita segurança. Os alunos eram
agr edidos, os marginais entravam. Quase todo final de semana ar r omba vam
a escola e levavam o que tinha: era bujão de gás, panela, jaleco dos alunos...
A gente não tinha quase nada, porque tudo eles conseguiram levar.
(Entrevista com professor, Alagoas)
O desafio enfrentado pela escola, portanto, foi o de resgatá-la
como espaço público protegido da criminalidade, respeitado em sua
autoridade.
Estratégias de superação
Mecanismos de resolução dos problemas: Conselhos; reuniões
entre pais e mestres; reuniões entre professores e alunos; reuniões
entre pais ou responsáveis, professores e alunos; encontros
privados entre pais ou responsáveis e professores ou direção;
encontros privados entre pais ou responsáveis, professores,
direção e alunos, polícia e conselho tutelar.
Abertura nos finais de semana: condições de abertura:
empréstimo para a comunidade; atividades desenvolvidas:
festas religiosas, festas da comunidade.
Espaços disponibilizados para os jovens: pátio, quadras
esportivas e salas de aula.
Pessoas e instituições procuradas pela escola para
resolução de conf litos: Polícia, família, conselho tutelar,
secretaria de educação e a própria comunidade escolar.
Relação com o Conselho Tutelar: esporádica.
Programas, projetos e experiências
1) NAPA Núcleo de Apoio Per manente ao Adolescente
Origem: A experiência surge a partir de diagnóstico realizado
pela Coordenação de Ação Cultural CORAC, órgão da
Secretaria Estadual de Educação. Este órgão desenvolve um
trabalho de expressão artístico-cultural junto às comunidades,
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voltado para as questões sociais mais emergentes nestas
comunidades, como a violência, as drogas, a gravidez na
adolescência etc. Neste contexto, cria-se o projeto “Ação
Cultural e Saúde”, financiado pelo Ministério da Saúde. É um
projeto de prevenção de DST/AIDS e gravidez precoce,
integrando várias escolas no país. Em Alagoas, inicialmente,
foram realizadas visitas aos estabelecimentos para selecionar
e capacitar professores, alunos (entre 14 e 18 anos) e alguns
pais. O objetivo é que todos se tornem agentes multiplicadores.
Esta capacitação foi realizada por 10 profissionais, sendo três
médicos infectologistas, dois assistentes sociais, três psicólogos
e duas pedagogas. Foi elaborado um plano de ação sobre o
que a escola gostaria de desenvolver, sobre os recursos
necessários e, ao final da primeira etapa de trabalho, a escola
apresentou a proposta de organização do Núcleo de Apoio
Permanente do Adolescente NAPA.
Tempo de duração: um ano.
Público-alvo: alunos e comunidade.
Organização: formação de subgrupos de trabalho, a partir
do interesse demonstrado pelos alunos sobre diferentes
temas: gravidez na adolescência, DST/AIDS, violência,
drogas etc. Realização de pesquisas na escola, na
comunidade e nas instituições sobre estes temas. Busca
permanente de recursos humanos (especialistas nos
temas), para o enriquecimento dos conteúdos.
Participação ativa em campanhas de prevenção da gravidez
na adolescência, DST/AIDS, violência, drogas etc. Práticas
socioeducativas, a partir de abordagens individuais, de
oficinas e dramatizações. Campanhas pela limpeza e
organização da coleta de lixo junto à comunidade etc. Além
disso, o NAPA dispõe de uma sala própria, conquistada
pelos alunos após negociação com a direção da escola,
onde professores e alunos realizam reuniões periódicas
para discutir suas ações. As lideranças do projeto são os
próprios alunos da escola.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Objetivos: desenvolver novos hábitos culturais em relação
às DST/AIDS, à violência, à gravidez precoce etc.
Coordenação: professora do primeiro segmento do Ensino
Fundamental, cursando a Faculdade de Pedagogia.
Desdobramentos: os alunos ficaram muito entusiasmados
com o fato de as lideranças do NAPA serem seus pares, ou
seja, alunos como eles. O trabalho contribuiu para a
elevação da auto-estima e, também, para a percepção de que
os jovens podem ser agentes de sua própria história, pois,
com o NAPA, eles têm espaço para tomar iniciativas e
assumir responsabilidades pelos resultados obtidos. A
construção do sentimento de pertencimento, o
compromisso com a escola e com seus próprios colegas é a
tônica do programa, como também a aproximação com as
famílias, por meio da participação dos pais, que estiveram
presentes nas capacitações e nas diversas atividades.
Algumas mudanças significativas puderam ser observadas no
cotidiano da escola, desde eventos culturais, como apresentações
teatrais dirigidas pelos alunos, a partir dos temas discutidos pelo NAPA,
e oficinas de danças e ritmos até o próprio dia-a-dia da sala de aula.
Como exemplo, destaca-se a festa pelo Dia do Índio, que todos os
anos era uma repetição caricatural da condição indígena no Brasil. A
partir da constatação de que, em Alagoas, existem populações
indígenas, decidiu-se convidar uma das tribos para contar a sua própria
história para toda a comunidade escolar. O evento provocou a discussão
sobre a diversidade étnica e cultural brasileira, as várias identidades
que formam o Brasil, os processos de exclusão a que vários povos
foram submetidos e, por conseguinte, o papel de cada um de nós como
sujeito desse processo. Um dado importante se refere à mudança de
olhar para a população indígena, bastante discriminada pelos alunos
anteriormente e, agora, valorizada e reconhecida como parte importante
da construção da identidade de cada brasileiro.
Outra mudança diz respeito à abordagem de questões como
sexualidade e drogas e à superação da visão moralista de culpa e
pecado, possibilitando a construção de novos referenciais e
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desenvolvimento de um pensamento crítico e social por parte dos
alunos e professores. O trabalho iniciado pelo NAPA tomou rumos
não previstos pela própria escola, tendo reflexos, inclusive, no
próprio processo de ensino-aprendizagem.
Perspectivas da escola
A identidade da Escola Miriam Marroquim parecia
inevitavelmente marcada pelas conseqüências da violência existente
no bairro em que está localizada, onde a rede de tráfico de drogas é
forte e influente. Eventos sérios, como assassinatos, lesões corporais,
assaltos, tráfico e uso de drogas, além de pequenos furtos e porte
ilegal de armas, levam o nome do bairro às páginas dos jornais e
acabam por estigmatizar seus jovens, expostos a toda sorte de riscos.
Entretanto, os estudantes que participam da experiência
desenvolvida pela escola, apesar de ainda não terem ocupado em
sua plenitude um espaço mais ampliado na escola inclusive
porque o programa tem, apenas, um ano de atuação -, conseguiram
recolocar, com apoio da direção e dos professores, de forma
criativa, persistente e ousada (por meio de oficinas, peças de teatro,
pesquisas, panfletos, cartazes e conversas informais, entre outros),
questões fundamentais como o estigma, a discriminação, a gravidez
na adolescência, as DST/AIDS, a violênci a e a solidariedade. Suas
práticas trazem, indiscutivelmente, questões políticas para fora de
suas fronteiras, o que pode possibilitar a reconstrução e a
ressignificação de suas próprias imagens. É um trabalho que traz
reflexos positivos e desdobramentos imensuráveis no momento
e, por conseguinte, benefícios para toda a escola, possibilitando a
construção de outros referenciais.
A experiência que a escola vem vivenciando demonstra a
necessidade de abertura de espaços de participação para os jovens
alunos, espaços de interlocução entre professores, direção, alunos e
famílias, que, muitas vezes, pode surgir de ações pontuais, como o
trabalho relativo às DST/AIDS, incrementado pelo governo federal.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
3.2.2 Amazonas
ESCOLA ESTADUAL MARIA MADALENA SANTANA
DE LIMA
Rua J, quadra 33, s/nº Armando Mendes, Manaus/AM.
Contexto sociodemográfico do município Manaus
Contexto educacional do município
Fonte: Sistema de Estatísticas Educacionais INEP/MEC, 2002.
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Caracterização da escola
O entorno
A Escola Estadual Maria Madalena Santana de Lima está situada na
Zona Leste da cidade de Manaus, tida como a de maior índice de violência
na cidade. A forma como o bairro Armando Mendes se estruturou e as
dificuldades enfrentadas pela população que o ocupou, aliadas a questões
econômicas, são, certamente, responsáveis pelas representações
construídas sobre seus moradores, seus modos de vida etc.
A geografia do bairro guarda características que auxiliam na análise
da sua composição social. A parte alta, onde está situada a escola,
dispõe de comércio, posto de saúde, melhor estrutura urbana. Suas
moradias são, em geral, de alvenaria, embora com estruturas inacabadas.
As ruas principais são asfaltadas, ainda que algumas sem condições
adequadas ao tráfego. Não sinais de trânsito e toda sinalização
existente resume-se a algumas faixas de pedestre em frente às escolas e
alguns quebra-molas. O sistema de transporte coletivo é deficiente,
não atendendo às necessidades, que são preenchidas com transporte
alternativo Kombis de lotação, que circulam constantemente.
Não áreas de lazer. O entorno da escola é considerado como
um dos locais mais agradáveis do bairro. Contudo, a concentração de
pessoas em torno da chamada “praça de alimentação”, ao lado da escola,
sobretudo jovens/estudantes, é tida como alvo de traficantes de droga,
brigas, ações de galera etc. A “praça” é vista pelos moradores e alunos
como “ponto de lazer”, mas também como “lugar perigoso”, “lugar de
briga”. Foi eleita como espaço principal do bairro, concentrando alunos
antes ou depois das aulas. É nela que são realizados os comícios políticos,
sempre com a presença de bandas de forró e carros de som,
proporcionando bailes a céu aberto e gratuitos à população.
Na praça, exatamente ao lado do posto de saúde e em frente à
igreja católica, uma conhecida “boca de fumo”. Muitas barracas de
lanche, todas com bebidas alcoólicas à disposição de qualquer
consumidor, ali se localizam, desde o período da manhã, quando os
vendedores estão posicionados, com seus pequenos aparelhos de
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
televisão e cadeiras de balanço, nas calçadas e extremidades da área. Não é
possível identificar exatamente onde a boca de fumo atua, embora todos
afirmem que a própria polícia tem conhecimento de seu funcionamento. É
como se houvesse um espaço reconhecido embora não aprovado nos
discursos para a ação inevitável do narcotráfico, do consumo de droga e
da prostituição. A ausência de alternativas de lazer e de centros de
profissionalização e estudo para os jovens é considerada como a grande
dificuldade para os moradores, que, por estarem distantes do centro da
cidade e demais bairros que apresentam opções de banhos de rio, passeios,
bibliotecas, acesso a computadores, cursos de informática oferecidos pela
Secretaria Estadual de Educação, cursinhos pré-vestibulares etc. – , não
têm acesso a estes bens e serviços.
Um aspecto de melhoria na segurança é a presença dos
chamados “verdinhos”, agentes comunitários de segurança,
selecionados pela Secretaria de Segurança do Estado entre os
moradores locais, para atuar no controle da segurança do bairro.
Não constituem força policial, mas utilizam fardamento verde, usam
cassetetes e rádios. A presença dos “verdinhos” é marcante,
sobretudo nas portas das escolas e na praça.
A retirada de um posto policial da quadra em frente à escola é
considerada negativa, uma negligência à segurança no bairro.
É evidente o esforço de toda a comunidade para se libertar do
estigma de bairro periférico, marcado por ações de violência constantes.
A unidade escolar
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A escola foi criada pelo Decreto-Lei 1.902, de 1989, sendo
inaugurada em junho do mesmo ano. Em seguida, entrou em reforma,
construiu uma quadra coberta poliesportiva, sendo reinaugurada em
agosto de 1991. É a única na localidade que atende à demanda de
ensino médio, não apenas dos moradores do bairro, mas de outras
localidades também.
Os projetos que desenvolve refletem, sobretudo, a mudança
dos seus gestores, pois foi a partir da nova administração que teve
início uma participação maior dos professores nas atividades
curriculares alternativas e nas atividades extracurriculares. Uma das
medidas adotadas foi a confecção de um painel informativo que
expõe, de forma pública, desde a filosofia e os valores preconizados
pela escola até índices, gráficos e dados referentes ao cotidiano escolar.
Dentre os dados apresentados, destacam-se, particularmente, os que
expressam a Missão da Escola: Assegurar aos seus alunos habilidades, hábitos
e atitudes capazes de lhes proporcionar desenvolvimento para o exercício da
cidadania plena, assim como formar cidadãos críticos na construção de uma sociedade
mais justa e igualitária.
Maiores problemas enfrentados antes das experiências
inovadoras
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A Escola Estadual Maria Madalena Santana de Lima defrontava-
se, antes de lançar mão de ações inovadoras, com a violência externa,
em um contexto marcado pela presença de galeras
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,emqueo
envolvimento de alunos era recorrente: vi, fora da escola, agressões a
alunos, afirma um professor, que remete à época em que passou a
trabalhar no estabelecimento: Tinha problema de galera no começo, em 98,
quando eu entrei aqui. Pude presenciar como é a violência, um atacando o outro,
na par te exter na da escola (...).
A fala de um estudante corrobora esse depoimento, ao se
referir ao comportamento de seus colegas no passado: antigamente,
os alunos do próprio colégio eram galerosos! Aí, prejudicavam muito os professores,
por que “saiu fora, no maior perigo”. Tinham medo até de sair! O
problema era, de fato, bastante sério, na medida em que, como
lembra um professor, as galeras queriam entrar na escola para “pegar”
alunos integrantes de outras galeras. Assim, as “guerras” entre grupos
rivais invadiam o espaço escolar.
Além disso, conforme relata a diretora, não eram raros, no
interior da escola, os desentendimentos e as agressões verbais e físicas
resultantes de brigas originadas externamente. Segundo ela, a
ociosidade de jovens moradores do bairro, que estavam “do lado de
fora”, levava-os, freqüentemente, a provocar os alunos da escola: A
escola fica próxima a uma praça onde funciona, de quinta a domingo, som ao vivo
(...) Os alunos se envolviam em brigas e, por isso, aqui acabava se dando o
desfecho do que eles não conseguiam resolver fora.
A venda de drogas por alunos foi outro problema registrado
dentro da escola, constituindo mais um dos motivos geradores do
movimento de mudança que nela se instalou.
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No Amazonas, o termo “galera” refere-se ao que em outros locais se conhece por “gangue”.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Estratégias de superação
Mecanismos de resolução dos problemas: conselhos;
reuniões entre professores e alunos; reuniões entre pais ou
responsáveis, professores e alunos, polícia, igrejas,
professores, pedagogos e a direção.
Aber tura nos finais de semana: condições de aber tura:
empréstimo para a comunidade, projetos da própria escola;
atividades desenvolvidas: atividades esportivas e de recreação;
atividades da comunidade; trabalho voluntário da igreja
católica (encontros de casais, encontros de jovens).
Espaços disponibilizados para os jovens: pátio e quadras
esportivas.
Pessoas e instituições procuradas pela escola para
resolução de conflitos: Polícia, associação de pais e mestres,
família, conselho tutelar, associação de moradores da
comunidade, igrejas locais, secretaria de educação, a própria
comunidade escolar.
Relação com o Conselho Tutelar: esporádica.
Programas, projetos e experiências
1) Xadrez
Origem: O “Projeto Xadrez” é um projeto institucional,
idealizado pela Secretaria de Educação e implantado, em 2001,
em diversas escolas da rede estadual.
Tempo de duração: dois anos.
Público-alvo: os alunos.
Organização: A atividade é desenvolvida no tur no vespertino.
O apoio para o funcionamento do projeto pela Secretaria de
Educação se restringiu à doação dos relógios oficiais, das peças
e car tilhas instr utivas. entre 40 e 50 alunos participando.
é permitido jog ar nos tempos vagos, para que os alunos não
faltem às aulas.
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Objetivos: Ocupar os jovens com atividades constr utivas,
encarando a competição de forma saudável. Conhecer mais
de perto os alunos envolvidos no jogo, na medida em que a
proximidade entre os participantes na partida de xadrez
possibilita um maior envolvimento entre eles.
Desdobramentos: Os alunos participam de torneios entre
as diversas escolas estaduais. Hoje, este projeto conta com
significativo apoio e participação dos professores.
2) Rádio e Jornal Boca Livre
Origem: O projeto “Jornal” surgiu por iniciativa de uma
professora. Sua proposta visava a uma edição mensal,
embora, em 10 meses, tenham sido editados apenas três
números. O projeto “Rádio” radiodifusão, por meio da
utilização do equipamento de alto-falantes instalado nas
dependências da escola, surgiu a partir da iniciativa dos
alunos do turno da noite, aproximadamente no mesmo
período em que teve início o projeto do jornal.
Tempo de duração: 10 meses.
Público-alvo: Comunidade escolar.
Organização: A radiodifusão funciona durante 10 minutos em
cada turno, durante o horário do intervalo, e transmite
infor mações diversas relacionadas à cultura, ao lazer etc.
Existem cerca de 40 alunos envolvidos nos dois projetos, em
que professores de diversas disciplinas (biologia, química,
geografia), coordenados por uma professora de língua
portuguesa e um professor de língua inglesa, trabalham com
g r upos de alunos da 2
ª
eda3
ª
séries do ensino médio vespertino
e notur no, como se f ossem equipes de jor nalismo, ou seja, de
repor tag em, editoração, radiodifusão. Os temas veiculados na
rádio e no jornal são sugeridos pelos próprios alunos e aprovados
pelos professores. Os alunos, poste-riormente, são divididos
em equipes de espor te, saúde e laz er para, então, elaborarem as
matérias, nos períodos da tarde e da noite, no laboratório de
infor mática, sob a super visão dos professores. A s equipes se
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
responsabilizam pela programação do dia e treinam habilidades
direcionadas à comunicação. Os alunos contam, neste projeto,
com o apoio da direção da escola. Inicialmente, o comércio e
alguns políticos da localidade patrocinaram a impressão do
jornal em troca de propaganda, mas, atualmente, eles contam
apenas com o apoio financeiro do pastor de uma igreja. O
jornal custa R$ 0,25 e sua tiragem atende exclusivamente à
comunidade escolar.
Objetivos: O objetivo principal é contribuir para o
desenvolvimento da escrita dos alunos, seu crescimento nos
estudos e sua profissionalização. Visa também à pesquisa de
diversos temas atuais e que fazem parte das várias disciplinas,
a integração dos alunos e a compreensão da importância que
tem no exercício profissional a divisão de responsabilidades.
Coordenação: Professor de língua portuguesa e professor de
língua inglesa.
Desdobramentos: Maior interesse dos alunos por assuntos
diversos. Muitos alunos passaram a demonstrar uma vocação
especial para o Jornalismo e, a partir daí, vêm investindo nessa
direção. A elevação da auto-estima dos alunos foi fator
bastante acentuado pelos professores. Os estudantes que
integram estes projetos utilizam mais freqüentemente os
equipamentos do labor atório de informática.
3) Projeto Futsal
Origem: reivindicação apresentada pelos alunos do ensino
noturno, que não realizam atividades cur riculares de educação
física, para a utilização da quadra poliesportiva.
Tempo de duração: não especificado.
Público-alvo: jovens dos tur nos vespertino e notur no.
Organização: tor neios inter nos e externos. A carga horária
dos coor denadores desta atividade é org anizada de forma a
que eles per maneçam junto dos times nos momentos de treino.
Os alunos do turno noturno ficam na escola após o 5
o
tempo
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para treinar. Os critérios de par ticipação para os tor neios são
assiduidade e bom rendimento nas disciplinas.
Objetivos: Proporcionar aos alunos do curso noturno a
possibilidade de realizar um espor te, dentro do espaço escolar.
Coordenação: Professores da escola.
Desdobramentos: Demonstração explícita de grande
satisfação por parte dos alunos, que mencionam parti-
cularmente o convívio e o ambiente agradável que vêm
constr uindo. poucos registros de brig as nas atividades
esportivas. Os professores apontam maior respeito e amizade
entre eles. Acredita-se que a evasão também diminuiu. Por
parte das meninas, reclamação quanto ao fato de este
esporte ser “masculino”, daí reivindicarem o uso da quadra
para jog os entre elas.
4) Projeto Artesanato
Origem: preocupação da escola em oferecer alguma atividade
que contribuísse para a per manência do aluno na escola.
Tempo de duração: dois anos.
Público-alvo: alunos do curso notur no.
Organização: foi modificada a composição da carga horária
dos professores para que eles pudessem par ticipar do projeto,
da mesma for ma que a escola org anizou o horário dos alunos
para que eles também tivessem condições de participar das
oficinas de artesanato sem prejuízo das aulas. Nos horários
estabelecidos, são oferecidos oficinas de bordado, pintura,
desenho e alguns ofícios, como cabeleireiro, manicura etc. Os
próprios alunos são os instrutores, cabendo a três
coordenadoras o papel de organizar horários, dando suporte
administrativo ao projeto. O projeto não conta com nenhum
recurso, o que dificulta sua execução. Diante disso, o material
utilizado passou a ser comprado pelos próprios alunos, o que
tem dificultado sua permanência nesta experiência.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Objetivos: conter a evasão, proporcionar o a prendizado de um
ofício e servir como atividade de terapia de cunho profissional.
Coordenação: professora graduada em história.
Desdobramentos: embora os participantes do projeto
considerem positivo o fato de terem adquirido novas
habilidades, não existe registro quanto à evidência de terem
desenvolvido alguma atividade profissional a partir deste
aprendizado. A diminuição da evasão foi destacada pelos
professores como relevante. O caráter “relaxante” das
atividades é apontado pelos alunos como positivo. No
entanto, as lacunas nos horários de aula para aqueles que não
participam dos projetos foi vista como prejudicial, em especial
para os que desejam se preparar para o vestibular. A falta de
sistematização das oficinas quanto aos diferentes métodos e
conhecimento das diversas técnicas foi sentida especialmente
pelos alunos de desenho. Percebe-se maior interesse das jovens
casadas ou mães. Os jovens do sexo masculino, interessados
em artesanato, tendem a procurar mais as oficinas de desenho,
enquanto as jovens buscam as de manicura e cabeleireiro.
5) Projeto Teatro
Origem: o projeto vem funcionando desde o ano de 2001.
Tempo de duração: dois anos.
Público-alvo: alunos.
Organização: são integradas as atividades do currículo de
língua portuguesa e artes para os participantes, durante
quatro dias da semana. Eles ensaiam peças de autoria de
alguns professores ou de outros dramaturgos da região. Os
coordenadores trabalham nesses ensaios a apropriação, por
parte dos alunos, dos recursos da comunicação.
Objetivos: potencializar o uso de determinadas palavras por
meio da expressão teatral e, ao mesmo tempo, oportunizar
aos participantes sua socialização e contribuir para a
compreensão do mundo ao seu redor.
Coordenação: coordenadores da escola e professores.
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Desdobramentos: os alunos integrantes, pertencentes ao
turno vespertino, relataram os ganhos individuais que o
projeto tem proporcionado para cada um deles,
especialmente na comunicação e no pensamento crítico. As
críticas em relação ao projeto se referem, basicamente, à falta
de um palco, espaço de grande significado para o “artista”.
Professores e alunos demonstram satisfação com o resultado
das peças apresentadas na comunidade escolar e em outros
lugares. Os alunos que participam do projeto Teatro
consideram que suas habilidades de comunicação e de
estrutura de pensamento foram ampliadas no desenrolar
desta experiência.
Perspectivas da escola
Houve um tempo, de acordo com vários entrevistados, em que
a Escola Estadual Maria Madalena Santana de Lima chegou a ter
apelidos como “Madalena Night Club”, “Madalena Drinks” e
“Madalena Motel”, expressão do estado de depreciação a que chegou,
pela atuação das “galeras” no seu interior e pelo desvirtuamento de
seu papel. O envolvimento de seus alunos em conflitos, brigas e, até
mesmo, no tráfico de drogas contribuía para a desvalorização social
a que estava submetida.
Hoje, esse quadro mudou. São muitos os que afirmam que, a
partir dos projetos realizados, a escola passou a ser reconhecida e
respeitada como instituição de ensino. As ações começaram a ser
esboçadas no sentido de investir em outras formas de reduzir as
violências produzidas por estes grupos, em situações nas quais, em
geral, as vítimas eram jovens estudantes cujas condições sociais e
histórias de vida em muito se assemelhavam às dos chamados
“galerosos”.
Os projetos que a escola construiu, de uma maneira geral,
contribuíram para uma maior assiduidade dos alunos e para a redução
da evasão, que, nos anos anteriores, apresentava índices muito
elevados. Atualmente, o índice é quase insignificante. Cer tamente, eles
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vêm sendo responsáveis pelo resgate da cidadania, ajudando no
oferecimento de perspectivas de profissionalização e valorizando o
trabalho do professor.
Muitos professores passaram a acreditar que um dos objetivos
principais de alguns projetos é contribuir para inserir os alunos no
mercado de trabalho e dar-lhes uma perspectiva de futuro. Assim,
eles passaram a ser encarados como alternativa para a
profissionalização e o lazer, devido à ausência de espaços culturais
no bairro. Sob essa ótica, a escola está inovando, permitindo a
ocupação do tempo em uma comunidade desprovida de atrativos
para os jovens.
Da mesma forma, considera-se que, a partir dos projetos, a escola
passou a ser reconhecida e respeitada como instituição de ensino,
ressignificada e com uma maior participação também por parte do
professor, que passou a entender o seu trabalho como parte de um
coletivo. O ambiente escolar modificou-se, sendo praticamente
inexistentes situações de conflito generalizado dentro da escola.
3.2.3 Bahia
COLÉGIO ESTADUAL MÁRCIA MECCIA
Rua Benjamim Abdon, s/n° Mata Escura, Salvador/BA.
Contexto sociodemográfico do município Salvador
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Caracterização da escola
O entorno
O Colégio Estadual Márcia Meccia está localizado na Praça
Benjamim Abdon, Jardim Pampulha, no fim da linha do ônibus que
atende ao bairro da Mata Escura, em área próxima a um presídio.
Um posto da Polícia Militar funciona 24 horas por dia no mesmo
local. Nas imediações da escola existem, também, uma igreja
evangélica “Universal do Reino de Deus”, um Posto de Saúde e o
Centro de Atendimento à Família, pertencentes à Secretaria de Saúde,
do Trabalho e do Bem-estar Social, da Prefeitura Municipal de
Salvador. Próxima à escola está a área de proteção ambiental da
Represa do Prata, atualmente assoreada.
Contexto educacional do município
Fonte: Sistema de Estatísticas Educacionais INEP/MEC, 2002.
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O muro recentemente construído na escola apresenta pichações
“novas” do lado externo; do lado voltado para o seu interior está pintado e
sem pichações. A construção desse muro era uma das reivindicações mais
importantes da gestão da escola, que vislumbrava, com ele, a redução do
alto índice de violência existente nas suas imediações. As invasões ocorriam
com muita freqüência, até mesmo durante o período das aulas, e tinham
como objetivo tirar os cadernos, lápis e todo o material disponível dos
próprios estudantes, tornando evidente a insegurança em que viviam alunos,
professores e funcionários.
A unidade escolar
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A escola foi criada em 1994, ocupando as instalações de uma antiga
creche que per tencia à Secretaria de Educação do Estado, quando ainda
era de sua responsabilidade o atendimento a crianças d e4a6anos de
idade. Entretanto, a par tir de 1994, o atendimento a crianças pequenas
passou a ser feito pela Prefeitura Municipal de Salvador. Atualmente, o
ensino oferecido pelo estabelecimento se restringe ao fundamental.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Em março de 1999, a escola realizou um g rande encontro, que
envolveu diversos segmentos organizados da sociedade civil, com o
objetivo de discutir e elaborar um “Projeto Especial de Redução da
Violência para o bairro da Mata Escura e da Comunidade Escolar”, capaz
de g arantir a continuidade de suas atividades pedagógicas. Na época, a
violência era muito acentuada, tais como agressões entre os alunos, o
que impedia o trabalho dos professores:
A classe em que leciono é de 35 alunos. A maioria deles é violenta. Usam
palavras ofensivas e a violência física, principalmente entre os meninos, que
brigam sem escolher lugar nem hora, chegando a ponto de fazer ameaças de
morte na hora da saída. Eles se atracam em sala de aula, dando socos no
r osto dos colegas. Tenho um aluno que chegou a ponto de me dizer que
quando a mãe bate nele, ele planeja agir mais violentamente ainda no dia
seguinte. (Relatório do Encontro do Projeto de Redução da
Violência, Escola Márcia Meccia, 1999)
Depoimentos como estes mobilizaram a comunidade local, com
o objetivo de mudar esta realidade. Participaram do encontro do
projeto de redução da violência representantes da Igreja Batista Nova
Sinai, Presidente da Associação Beneficente da Mata Escura,
Presidente da Associação da Nova Mata Escura, Diretora do Centro
Educacional Senhora de Paula, Diretora Social da Associação
Feminina da Mata Escura, empresários, coordenadores do CEDECA
(Centro de Defesa da Criança e do Adolescente), além de diversos
professores, estagiários e funcionários.
A meta estabelecida nesse encontro foi reduzir o alto índice de
violência do nosso alunado em 80% no prazo de 10 meses, segundo a
diretora da escola. Para atingir esta meta, foram definidas ações,
objetivando: sensibilizar coordenadores, professores e
funcionários; integrar a escola à comunidade; realizar encontros
com professores de todos os turnos; enfatizar as comemorações
cívicas sociais, com a presença dos responsáveis; promover
atividades pedagógicas, com a participação efetiva do alunado;
divulgar e premiar os trabalhos dos alunos; buscar perma-
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nentemente o apoio dos pais e/ou responsáveis; recuperar o
espaço de lazer e arte existente na escola, possibilitando
apresentações teatrais, festivais, campeonatos, gincanas e outras
atividades, na tentativa de oferecer aos alunos atividades que
fossem ao encontro de seus interesses.
Ainda nesse encontro, foi definido o Dia “D” Contra a
Violência, sendo estabelecido o dia 2 de junho para a realização da
“Caminhada da Paz” e atividades culturais voltadas para a música,
poesias, jog ral, rap, teatro e exposição de trabalhos, com premiação
para os melhores.
Maiores problemas enfrentados antes das experiências
inovadoras
A Escola Estadual Márcia Meccia enfrentava sérios problemas
de violência antes de, em 1999, ter tomado a decisão de estabelecer,
com a comunidade, um verdadeiro pacto, no sentido de promover a
constr ução de novos referenciais para a sua e xistência, baseados na
busca da paz.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Segundo a diretora da escola, embora a experiência profissional
demonstrasse que manifestações de violência são comuns à maioria
das escolas, as verificadas na escola, naquele período, extrapolavam
os limites da convivência, interferindo, de forma bastante negativa,
no bom andamento das atividades, principalmente aquelas de cunho
pedagógico, conforme atesta o depoimento a seguir:
Na minha classe, existem alunos tão agressivos que chegam a agredir colegas
a socos e pontapés em plena sala de aula. Sem falar das agressões morais,
que são constantes, alunos jurando pegar os colegas fora da escola, para dar
mur r os e pauladas. Muitas vezes, tenho que interr omper a aula para falar
sobre violência, e, mesmo assim, tem alunos que não escutam (...). Essas
atitudes pr ejudicam muito o desenvolvimento das aulas, tor nando difícil
vencer o projeto pedagógico em tempo hábil. Sinto que poderia ter um melhor
r endimento se não fosse obrigada a faz er tantas inter r upções. (Entrevista
com professora, Bahia)
Não raro, as agressões físicas se faziam acompanhar por ameaças
ou pelo uso efetivo de objetos transformados em armas, tais como
lápis e lâminas de barbear, como afirma um professor: Na minha turma,
tem todo tipo de agressões: rasteiras, desentendimentos, empurrões. As atitudes
violentas são demais. São poucos os que não se utilizam de uma ponta de lápis
fina para espetar a bar riga dos colegas. Outro professor também manifesta
sua preocupação de forma direta: A violência em minha classe é muito
grande. Outro dia, apreendi do aluno [X] um instrumento constituído de uma
gilete inserida num tubo de caneta, formando, assim, uma arma. recolhi várias
giletes em sala de aula.
Além de brigas e agressões verbais, são comuns relatos
diagnosticando a ocorrência de furtos e de maus tratos ao material
escolar: Entre meus alunos, as agressões físicas são constantes e permanentes. O
material escolar também é sempr e danificado.
Tal situação, segundo a diretora, foi geradora de um dos maiores
problemas por ela enfrentados ao assumir a gestão da escola: a recusa
de vários docentes em lecionar no colégio, alegando falta de respeito
dos alunos para com os professores.
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Sofrendo os efeitos da violência interna e externa, em um bairro
caracterizado pela situação de criminalidade elevada, a escola
encontraria saída na implementação de estratégias inovadoras para
fazer frente a tantos problemas.
Estratégias de superação
Mecanismos de resolução dos problemas: conselhos;
reuniões entre pais ou responsáveis, professores e alunos;
encontros privados entre pais ou responsáveis e professores
ou direção; encontros privados entre pais ou responsáveis,
professores, direção e alunos, polícia; adesão ao Programa
Abrindo Espaços, da UNESCO.
Aber tura nos finais de semana: condições de abertura:
programas e projetos institucionais, empréstimo à
comunidade, projetos da própria escola; atividades
desenvolvidas: música, teatro, trabalhos manuais etc.
Espaços disponibilizados para os jovens: toda a escola.
Pessoas e instituições procuradas pela escola para
resolução de conf litos: Polícia, ig rejas locais, a própria
comunidade escolar.
Relação com o Conselho Tutelar: esporádica.
O programa de redução da violência.
A partir do diagnóstico produzido em 1999, a escola instituiu
um programa de redução da violência, sistematizado no quadro a
seguir:
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Visando à implementação efetiva das ações, foi planejada e
executada uma série de atividades, dentre elas um debate sobre o
Estatuto da Criança e do Adolescente e a promoção de palestras
(Conseqüências do uso e abuso de drogas; Doenças sexualmente
transmissíveis; Conseqüências da gravidez precoce). Entretanto, a
atividade de maior repercussão foi a instituição do “Dia ‘D’ contra a
violência”. O acontecimento, que contou com a participação maciça
de alunos, autoridades e da comunidade em geral, desdobrou-se em
vários eventos, mobilizando todo o colégi o e o seu entorno.
Programas, projetos e experiências
1) Teatro
Origem: o “Projeto de redução da violência na escola”.
Tempo de dur ação: desde 1999.
Público-alvo: os alunos.
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Organização: esse projeto vem sendo desenvolvido com a
participação de 250 alunos e contempla tanto a parte teórica
quanto a prática. Tem critérios de seleção, objetivos,
habilidades, recursos materiais, acompanhamento e avaliação.
Os próprios alunos criam as peças, marcam os ensaios e as datas
das apresentações. Geralmente, ao tér mino de cada semestre,
eles apresentam todo o trabalho que desenvolveram durante o
período.
Objetivos: oferecer aos jovens e adolescentes a possibilidade
de se expressar por meio da arte cênica, buscando o convívio
social, a identificaçã o e a valorização da arte local e nacional,
a valorização do direito à liberdade de expressão e preservação
da cultura nacional.
Coordenação: Professor de Educação Artística e um aluno
voluntário.
Desdobramentos: os alunos que participam do grupo de teatro
têm um melhor convívio na escola e na comunidade, valorizam
a parceria e a solidariedade. As peças em que atuam são bastante
críticas, buscando retratar a realidade em que vivem e, desta
forma, refletem sobre seus problemas cotidianos, relacionados
tanto à sua vida pessoal quanto ao bairro em que moram.
2) Capoeira
Origem: contato feito pela escola com um professor de
capoeira que passou a trabalhar com os alunos.
Tempo de duração: três anos.
Público-alvo: alunos e comunidade.
Organização: esse projeto conta com a participação de 250
alunos e possui uma parte teórica e uma prática. A teoria
procura trabalhar o fato de que a capoeira não é uma luta,
mas uma dança afro-brasileira. O aluno aprende a origem e
o significado de cada movimento da capoeira. A parte prática
trabalha o desenvolvimento corporal. Assim, o aluno aprende
a valorizar o seu corpo, em sintonia com o grupo. Os
encontros acontecem nos finais de semana.
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Objetivos: levar o aluno a refletir sobre suas potencialidades
corporais, adotando atitudes de respeito e solidariedade,
repudiando qualquer tipo de violência.
Coor denação: Professor for mado em Instrumento e Canto.
Desdobramentos: melhoria na credibilidade, valorização da
escola e na preservação do patrimônio escolar, tanto pelos
alunos como pela comunidade. Percebe-se a elevação da auto-
estima dos alunos, a valorização do outro e a conseqüente
melhora no convívio na comunidade escolar e adjacências.
3) Coral
Origem: o Programa “Abrindo espaços”.
Tempo de duração: um ano.
Público-alvo : alunos e comunidade.
Organização: a professora trabalha teoria musical por meio
de aulas de canto. Os encontros acontecem aos finais de
semana.
Objetivos: interpretar músicas, vivenciando um processo de
expressão em grupo para um melhor convívio entre os alunos
e a comunidade. Experimentar e criar técnicas relativas à
interpretação, improvisação e à composição musical, além
de descobrir novos valores musicais.
Coordenação: Professor formado em Instrumento e Canto.
Desdobramentos: melhoria no convivo entre os alunos, além
da oportunidade de entrarem em contato com um universo
cultural antes desconhecido por eles.
4) Grupo de Dança
Origem: Programa “Abrindo Espaços”.
Tempo de duração:umano
Público-alvo : alunos e comunidade.
Organização: o projeto conta com a participação de,
aproximadamente, 250 alunos. As aulas são de história e cultura
da dança afro e de expressão corporal. Os alunos ensaiam
coreografias para apresentar na escola e em outros lugares.
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Objetivos: possibilitar ao aluno um maior conhecimento das
suas potencialidades e melhorar sua auto-estima. Maior
conhecimento do corpo e sua relação com as danças.
Coordenação: Professor de dança.
Desdobramentos: a presença de alunos e pais em uma
mesma sala, desenvolvendo atividades em conjunto. A
credibilidade da escola, conquistada pela oferta de atividades
artísticas e culturais.
5) Programa Abrindo Espaços Bahia
Origem: iniciativa da UNESCO, em ação conjunta com a
Secretaria de Estado de Educação.
Tempo de duração: o Programa acontece desde 2001.
Objetivo: contribuir para o fortalecimento da cidadania, da
participação dos jovens, de forma a atuar em prol da
construção de uma cultura de paz.
Público-alvo: alunos (sobretudo os jovens) e comunidade.
Organização: o Programa é operacionalizado nos finais de
semana, por meio da realização de oficinas e ações diversas,
selecionadas a partir de consulta à comunidade, especialmente
aos jovens alunos. As oficinas são ministradas, na maioria das
vezes, por voluntários (jovens e membros da comunidade do
entorno), com atividades na área da cultura, dos esportes, das
artes e do lazer.
Coordenação: diretora da escola.
Desdobramentos: todas as atividades da escola estão, hoje,
em torno do Programa Abrindo Espaços, como facilitador e
suporte para uma série de ações.
Perspectivas da escola
O Colégio Estadual Márcia Meccia, acossado pela condição extrema
de violência em seu entorno área vizinha a um presídio, dotada de altos
índices de criminalidade e de sérios conflitos de convivência na comunidade
e pelo desrespeito generalizado entre seus alunos, envolvendo conflitos
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
com brigas, ameaças a professores e desafios armados , entre outros recorreu
aos seus próprios recursos humanos e aos da comunidade para buscar uma
solução de conciliação e reversão da violência.
Portanto, na busca de soluções, teve fundamental importância
a promoção de um maior envolvimento da escola e dos professores
tanto com as famílias dos alunos quanto com a comunidade.
Muitas ações estabelecidas em 1999, no Projeto de Redução da
Violência, não se esgotaram naquele ano, concretizando-se no
decorrer do tempo e correspondendo, hoje, a atividades incorporadas
ao calendário escolar. Segundo a diretora, a introdução do Programa
Abrindo Espaços foi decisiva:
Um momento marcante dessa trajetória foi a adesão de nossa escola, em
março de 2002, ao Programa Abrindo Espaços. Embora desde 1999 a
escola viesse experimentando a abertura de suas dependências nos fins de
semana, como parte da estratégia de um maior envolvimento com a
comunidade da Mata Escura, o Programa Abrindo Espaços trouxe novas
perspectivas, qualificando verdadeiramente as ações desenvolvidas.
(Entrevista com diretora, Bahia)
Para o conjunto da escola, a violência teve uma mudança
significativa, conforme revelam alguns depoimentos:
Aqui parou a violência, não tem mais esse negócio de um querer ferir o outro.
Mudou porque aqui tem mais pais e mães de família... A maioria é de meninos
que trabalham para ter o seu e não para bulir em nada de ninguém. Por isso,
parou a violência aqui. Antigamente, aqui tinha malandragem, aqui nesse colégio
a gente vinha armado, disposto a trocar tiros. Uns estão presos, uns morreram,
uns foram embora... Aí, foi acabando, uns passando para o outro colégio e,
aqui, foram entrando os pais de família. (Entrevista com aluno, Bahia).
A implantação do Projeto de Redução da Violência trouxe uma
série de ganhos significativos para o desenvolvimento da comunidade
escolar, elevando, também, sua auto-estima e possibilitando sua
contribuição mais efetiva na gestão da escola. É também maior o
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interesse e o estímulo dos alunos, que passaram a ser ouvidos e
valorizados. O envolvimento de empresas, entidades não-gover-
namentais e outros parceiros e colaboradores, com cer teza, permitiu
que muitas iniciativas fossem viabilizadas. Mudou o perfil das associações
de bairro localizadas na região, que passar am a adotar uma política mais
voltada para os interesses da coletividade, a partir de uma maior
conscientização de seu papel.
Queremos continuar nossa luta em prol da superação do maior desafio que
cotidianamente enfrentamos, queéodemanter nossa escola funcionando,
em condições dignas e dignificantes, tanto para a comunidade intra quanto
para a extra-escolar. Em paralelo, prosseguimos também na busca de sempre
melhorar e incr ementar a qualidadeeaofertadenossos serviços para todos
aqueles que, de algum modo, estão afetos ao colégio, direta ou indiretamente.
(Entrevista com diretora, Bahia)
A realidade atual da Escola pode ser caracterizada,
principalmente, pela diminuição do alto índice de violência e pela
consolidação de sua parceria com a comunidade. Est a é a sua marca
principal.
3.2.4 Ceará
ESCOLA DE ENSINO MÉDIO LICEU DO CONJUNTO
CEARÁ
Rua 1139 A, 10, Etapa Conjunto Ceará, Fortaleza/CE.
Contexto sociodemográfico do município For taleza
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Contexto educacional
Fonte: Sistema de Estatísticas Educacionais INEP/MEC, 2002.
Caracterização da Escola
O entorno
A população do bairro em que está localizada a Escola de Ensino
Médio Liceu do Conjunto Ceará tem baixo poder aquisitivo.
Entretanto, reside em casas com um padrão uniforme. O entorno,
portanto, não se caracteriza por favelas com barracos, embora esteja
cercado por elas.
Sua infra-estrutura conta com uma delegacia modelo, um quartel
de polícia, um juizado especial, uma agência dos correios, três agências
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bancárias, o corpo de bombeiros, uma vila olímpica, o Liceu, o centro
social urbano (que oferece diversos cursos profissionalizantes na área
de esportes) e um s hopping center. O meio de transporte predominante
é o ônibus, mas com poucas linhas. As ruas não são asfaltadas, têm
muitos buracos e bueiros entupidos.
O sistema de distribuição de água e de esgoto do Conjunto Ceará
atende a 100% dos moradores do bairro, o que significa boa qualidade
de vida, apesar de, em momentos de chuva, o bairro sofrer bastante
com as conseqüências das enchentes, decorrentes do depósito de lixo
no canal existente, prejudicando, nestas ocasiões, o deslocamento
dos estudantes para a escola.
O Conjunto Ceará, como bairro de uma grande cidade, tem
os seus problemas de segurança, mas ainda é tido como um bairro
calmo e seguro para morar. Por meio da mobilização comunitária,
com o passar do tempo, ele foi recebendo equipamentos de
segurança, com uma maior presença da polícia. Os moradores têm
exigido uma intensificação das rondas noturnas, combate ao furto
de carros, maior segurança para os colégios, combate ao tráfico de
drogas e especial atenção aos jovens, maiores vítimas da violência.
Para a realização de grandes eventos, o bairro necessita de maior
segurança, que eles atraem a presença de algumas gangues e
traficantes, que aproveitam estes momentos para praticar pequenos
delitos. Segundo os moradores, não muitos problemas com
drogas. As gangues, que atuam nos finais de semana, e as drogas
que aparecem são originárias dos bairros localizados nas adjacências
do Conjunto Ceará. A droga mais comum é a “cola”, que tem
viciado muitas crianças e adolescentes, que, ultimamente, são vistos
vagando nas ruas. O conselho comunitário assistência a eles,
mesmo sendo, na sua maioria, moradores dos bairros vizinhos. É
notória a presença de crianças e adolescentes com cola,
principalmente em dias de festa.
Embora tenha passado, nos últimos anos, por melhoria, a rede
de iluminação pública ainda necessita de uma melhor distribuição,
que possibilite atender, principalmente, às escolas públicas, pouco
iluminadas.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Funcionam como meios de comunicação no bairro três emissoras
de rádio, que prestam g randes ser viços à comunidade com uma
programação de música, infor mação, debate e utilidade pública. A
imprensa local é f or mada por pequenos jornais e boletins infor mativos,
que circulam, de tempos em tempos, na comunidade, e vem sendo
patrocinada, quase sempre, pelos comerciantes da área. Da mesma
for ma, é impor tante registrar a presença de jor nais elaborados por
estudantes de diversas escolas públicas e apoiados por organizações
não-g overnamentais.
No entorno do Conjunto Ceará, funcionam 18 escolas públicas e
57 escolas privadas. Para cada 23 ruas ou 600 famílias, o bair ro conta
com uma escola pública de ensino fundamental. A iniciativa privada no
campo educacional tem crescido de f or ma significativa. Com 6% de sua
população tendo obtido o diploma univer sitário, o Conjunto Ceará tem,
como próximo passo, a construção de uma escola de ensino superior. A
Universidade Estadual Vale do Acaraú, com sede no Município de
Sobral, nor te do Estado, está promovendo cursos de nível universitário
no bair ro, em parceria com a escola local. Segundo o Censo de 1999,
estão estudando, da educação infantil ao superior, 39% da população
do bair ro, sendo 52% em estabelecimentos públicos e 48%, privados.
Desses, 85% estudam em unidades localizadas no bair r o.
Do ponto de vista da saúde, o bairro conta com unidades públicas
e privadas de atendimento ambulatorial e com um hospital público, ainda
insuficientes para a demanda local.
Apesar de todas as dificuldades, hoje existe uma população no
bairro que tem orgulho de viver nele. O conceito de morar no
Conjunto Ceará evoluiu com a participação de todos na mudança
estrutural do local. Os movimentos populares, que lutam pela sua
melhoria, são fortes e os líderes comunitários bastante atuantes.
Muitos moradores de comunidades vizinhas se dizem moradores do
Conjunto Ceará e não da localidade a que realmente pertencem.
A noite, no Conjunto Ceará, começa às 22 horas,
principalmente no sábado, com forró, pagode, seresta, MPB, funk e
hip hop. O Pólo de Lazer Luiz Gonzaga um comércio formado por
bares, churrascarias, pizzarias, localizado na principal praça do lugar
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-, nos finais de semana, representa importante opção de lazer. A rica
cultura nordestina aparece nas festas juninas, religiosas, grupos
folclóricos e artesanato. A Vila Olímpica existente no bairro estimula
a prática de atividades esportivas, principalmente pelos jovens.
De grande valor para a integração do jovem ao mercado de
trabalho é o Projeto ABC, núcleo de profissionalização e socialização
que desenvolve várias atividades, dentre elas o teatro infantil, capoeira,
futsal masculino e feminino, futebol, kung fu, caratê e jazz, além dos
cursos de computação.
No Conjunto Ceará, está localizado, também, o Centro Social
Lúcio Alcântara CSU, de administração municipal, que realiza cursos
de profissionalização e disponibiliza espaços para a prática de esportes.
É importante destacar o crescimento do comércio ligado ao
setor de entretenimento. A distância dos locais tradicionais de lazer
possibilitou o surgimento de churrascarias, pizzarias, bares e
lanchonetes, dentre outros, que têm uma freqüência garantida. Além
disso, embora dispondo de pouco espaço para a instalação de
indústrias, o Conjunto Ceará tem micro e pequenas empresas, nas
áreas de panificação, confecção, calçados, metalurgia, gráfica e
móveis, dentre outras. São cerca de 72 indústrias no bairro.
A unidade escolar
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
É impor tante considerar que, na época de sua fundação, ocor rida
em 13 de abril de 1998, a escola tinha 975 alunos. Atualmente, são
1.735 estudantes, distribuídos em três tur nos. Muitos deles, oriundos
de escolas particulares do próprio bairro, consideraram como fator
deter minante para a mudança o fato de suas antigas escolas não
oferecerem a estr utura física e projetos tão bons quanto os do Liceu,
mesmo em se tratando de um colégio da rede pública.
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Maiores problemas enfrentados antes das experiências
inovadoras
Apesar do nível da violência interna não ter atingido patamares
alar mantes, o fato de localizar-se em um bair ro violento tor nava o
Liceu do Conjunto Ceará uma escola vulnerável, segundo sua diretora.
Confor me seus de poimentos, a existência de desentendimentos entre
professores e alunos não cheg ou a resultar em brigas mais violentas.
Porém, a tensão se fazia entr ever no clima reinante, como se obser va
no relato de um professor: Houve ameaça. O aluno jurou bater no professor.
A única violência foi essa, não uma vez só, mas várias vezes.
O clima de ameaça também se registrava entre os alunos,
notadamente por parte daqueles que tinham uma expectativa
negativa sobre o que papel a ser cumprido por ela, como mostra a
fala de um aluno:
Eu, particularmente, no primeiro ano, cheguei a ser ameaçado por colegas
da turma. É que, logo que a escola estava sendo implantada, as pessoas
achavam que o Liceu seria uma escola igual às outras: ‘o professor finge que
aula, você finge que assiste’. Eles pensavam que esta seria a realidade
da escola. (Entrevista com aluno, Ceará)
O fato de alguns alunos supostamente pertencerem a gangues
ou usarem drogas não se revelou no interior da escola. Entretanto,
as repercussões de sua influência se faziam anunciar, como, por
exemplo, no ato de um aluno que colocou uma bomba caseira no banheiro,
por causa, segundo ele, dos “meninos da rua”.
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Outro indício do risco sofrido pela escola residia no fato de alguns
professores terem sido assaltados nas imediações.
Do ponto de vista da violência simbólica, algumas ocorrências
não passaram em branco, como a que narra um professor, ao se referir
à discriminação sentida por um aluno paraplégico, ao ser abordado
por colegas de forma jocosa: Ele andava de cadeira de rodas e tinha umas
pessoas, ? Sempre tem pessoas que gostam de magoar, brincando com a cara
dele... Eu vi pelo gesto, ele saindo de cabeça baixa...
Esse quadro demandava da escola a adoção de medidas
preventivas, justificando uma série de inovações e procedimentos
voltados ao combate da violência.
Estratégias de superação
Mecanismos de resolução dos problemas: reuniões entre
pais ou responsáveis, professores e alunos.
Aber tura nos finais de semana: condições de aber tura:
empréstimo para a comunidade, projetos da própria escola;
atividades desenvolvidas: atividades esportivas e de recreação,
música, teatro, trabalhos manuais, festas religiosas; atividades
da comunidade; trabalho voluntário; atividades escolares
(reforço, pré-vestibular etc.).
Espaços disponibilizados para os jovens: toda a escola.
Pessoas e instituições procuradas pela escola para resolução
de conflitos: f amília e a própria comunidade escolar.
Relação com o Conselho Tutelar: nunca ocorreu.
Programas, projetos e experiências
Todos os projetos são de iniciativa da escola, apesar dos recursos
para o seu desenvolvimento serem buscados em outras instituições.
Alguns destes projetos são financiados pelo Projeto Escola Viva (dois
professores de artes são pagos por este projeto) e outros por
voluntários. Cada projeto tem o controle de participantes e o
envolvimento de um ou mais professores responsáveis.
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1) Clube do Jornal Expressão
Origem: grupo de alunos que concorreu às eleições para o
Grêmio Estudantil e que decidiu criar um instrumento de
acompanhamento das atividades desenvolvidas pela gestão
vencedora, e também a partir de outros projetos estudantis.
Inicialmente, contaram com o apoio do Instituto Intervalo,
que promove um clube de jornais escolares. Em seguida,
estabeleceram uma parceria com a ONG Comunicação e
Cultura, que também desenvolve um trabalho de formação
de clubes de jornais estudantis, incluindo a capacitação
necessária. A iniciativa foi de um aluno que atualmente é
funcionário da escola.
Tempo de dur ação: não especificado.
Público-alvo: os alunos.
Organização: os alunos escrevem artigos a partir de fatos e
notícias da realidade. Este trabalho tem como preocupação
respeitar a pluralidade de idéias, a liberdade de expressão e a
ética jornalística.
Objetivos: visa à socialização e à divulgação das informações
e da programação social e cultural da escola; à conscientização
dos alunos quanto aos direitos humanos; à divulgação dos
projetos da escola junto à comunidade externa; ao
desenvolvimento do protagonismo.
Coordenação: aluna da escola.
Desdobramentos: a participação dos alunos nas atividades
do clube aumentou após a parceria com a ONG, tendo em
vista a capacitação promovida por ela nas áreas de
informática, didática, e técnicas de redação. Além disso, na
época de implantação deste projeto, o Liceu do Conjunto
Ceará era uma escola recém-criada, tendo um espaço a ser
preenchido por projetos, não faltando sugestões, críticas e
debates.
Obser vação: o jornal está parado desde o inicio de 2002,
em função de problemas relacionados à sua elaboração,
dentre eles a questão da verba, visto ser o jornal
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
distribuído gratuitamente e não contar com muitos
financiadores. No momento, estão tentando reativá-lo, com
uma nova direção.
2) Companhia de teatro Atos & Retratos”
Origem: o grupo surgiu em 1998, por iniciativa de alguns alunos
que se organizaram para fazer uma apresentação na festa de
Natal da escola. Em 1999, um aluno começou a dar aulas
teóricas sobre o que seria o teatro, mas sua iniciativa não ag radou
aos jovens. Diante disso, a escola teve a iniciativa de contratar
dois professores para ensinar aos alunos a teori a e a prática do
teatro. A ênfase é no teatro popular teatro de rua–enas
danças folclóricas e regionais.
Público-alvo: alunos do Liceu, em maior número,
professores e pessoas da comunidade. Atualmente, conta com
45 integrantes.
Organização: o grupo se reúne aos sábados para ensaiar.
As inscrições são abertas anualmente. Não existe um número
de vagas determinado, ele retrata o número de pessoas que
deseja fazer teatro. O grupo se organiza por setores de
patrocínio, eventos, coordenação, tesouraria, dinâmica e
estudos. Todos os integrantes do teatro contribuem
voluntariamente com a quantia necessária para a manutenção
da atividade. Os recursos com que contam são os obtidos
nas apresentações e nas rifas organizadas pela escola. O
transporte também fica sob responsabilidade da escola. O
dinheiro arrecadado é muito importante para a confecção
de adereços, figurino e maquiagem. A maioria do figurino é
confeccionada pelos alunos, com a ajuda da comunidade,
sendo que alguns integrantes do grupo criam os modelos. A
maior parte das peças é escrita a partir de pesquisas realizadas
pelos próprios alunos, embora algumas sejam de autoria
deles. O arquivo com as fotos das peças será ampliado a partir
da compra, pela escola, de uma filmadora. As apresentações
são feitas em escolas públicas e particulares, no Centro
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Cultural Dragão do Mar, IBEU, Teatro José de Alencar e
também em municípios próximos à capital. O teatro tem
uma sala na escola, uma biblioteca, várias roupas, fotos,
recursos de palco, além de um computador. As maiores
dificuldades apontadas estão relacionadas aos recursos
materiais transporte, figurino e iluminação que eles
tentam superar com criatividade.
Objetivos: realizar pesquisas sobre a cultura brasileira,
especialmente a cultura do estado e da cidade. Desenvolver
oficinas de expressão corporal, fazendo o corpo e a alma
“falarem”, utilizando-se da dança e das artes cênicas. Envolver
a Cia. de Teatro e Dança nos eventos culturais em âmbitos
municipal, regional e nacional, tornando-a divulgadora do
estado por todo o país. Resgatar e preservar a cultura e os
costumes populares.
Coordenação: professor formado em Ciências Religiosas,
com cursos de Filosofia e diversos cursos na área de artes
cênicas e teatro popular.
Desdobramentos: apresentação em diversos lugares, tendo
sido premiado em um festival. Os alunos consideram que o
teatro mudou completamente suas vidas: perderam a timidez,
tornaram-se mais solidários e participativos, aprenderam a
lidar melhor com as pessoas, adquiriram uma visão mais
crítica da realidade a partir das leituras dramáticas feitas, além
de serem estimulados ao estudo, à leitura e à elaboração de
textos literários. Os próprios integrantes do teatro formaram
um grupo de estudo direcionado às dificuldades que
enfrentam nas disciplinas. Também são vistos no colégio
como bons alunos, os que mais debatem e discutem, sendo
considerados um grupo de referência. Esta fala é tanto dos
alunos como dos professores. Consideram que o teatro
contribuiu para o desenvolvimento da afetividade: A gente
acha estranho os outros grupos porque as pessoas são muito frias, elas
não se tocam. E quando a gente se aproxima para dar um beijo ou um
abraço, elas não gostam. Nestes quatro anos de existência,
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
ganharam vários prêmios, de melhor ator, atriz e peça, além do
Festal, em 2001, onde g anharam o prêmio com a peça “Maria
do Caritó”, concor r endo com mais 63 escolas.
3) Escola em ação
Origem: o Projeto Escola em Ação surgiu a partir de longas
discussões com toda a comunidade escolar acerca das
dificuldades enfrentadas pelos alunos no que se refere à
escassez de material didático adequado à nova proposta do
Ensino Médio.
Tempo de duração: indeterminado.
Público-alvo: alunos em geral.
Objetivo: oferecer material didático a todos os alunos, a fim
de garantir a eficiência do processo ensino-aprendizagem.
Organização: uma equipe de educadores foi designada para
construir módulos didáticos, tendo como referenciais os
PCNs, as enquetes realizadas na comunidade escolar, por
ocasião da construção do Projeto Político-Pedagógico, e as
avaliações anuais da escola. Sua elaboração foi financiada pela
Secretaria de Educação e os papéis utilizados para impressão
foram doados pelos pais.
Coordenação: esta produção é coordenada por todo o corpo
pedagógico da escola.
Desdobramentos: atualmente, os módulos prontos são os
referentes à primeira série do ensino médio e estão sendo
aplicados nos três turnos. No momento, está sendo aguardada
a liberação do restante dos recursos, pela Secretaria de
Educação, para concluir a impressão e a encadernação do
material voltado para as e séries. Este material foi
entregue aos pais dos alunos na forma de empréstimo,
considerando que sua impressão atende exclusivamente aos
matriculados em 2002, e sua utilização é prevista para os
próximos anos. Para cada série, foram impressos 1.800
módulos, sendo 600 de cada área do conhecimento. Este
projeto recebeu um prêmio na Bahia, no valor de R$5.000,00.
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Observação: é desejo desta comunidade escolar que este
material seja avaliado no decorrer de sua aplicação por
professores, alunos, equipe pedagógica e, futuramente, possa
ser disseminado em outras escolas públicas.
4) Projeto de energia solar
Origem: é um projeto internacional de cooperação,
denominado “Energia Solar no Campo”, e conta com os
seguintes parceiros: Escola Alemã Corcovado, do Rio de
Janeiro, o Liceu do Conjunto Ceará, de Fortaleza, a escola
Leibnizschüle, de Hannover (Alemanha) e a Escola
Secundária de Palmela, em Portugal.
Tempo de duração: três anos.
Público-alvo: populações carentes.
Organização: cada escola conta com a participação de dois
professores e dois alunos, que vivenciam esse intercâmbio
em um período de quinze dias. O Laboratório de Ciências
utiliza a energia solar.
Objetivos: intercâmbio cultural e a utilização de energia
renovável para atender às populações carentes.
Coordenação: a coordenação é feita por um professor de
geografia e um de física.
Desdobramentos: na primeira etapa, com o tema “Luz para a
Educação”, foram instalados um kit de Sistema Solar e uma
bomba d’água numa escola indígena da tribo Tremembé, na
comunidade de Almofala, Ceará assentamento do Incra. Nessa
etapa, foram incluídas as escolas Técnica Federal de Ouro Preto,
Escola Alemã de Porto, em Portugal, e o Ginásio Vogel-Sang,
de Solingen, na Alemanha. Existe um kit de energia solar
instalado na escola, que fornece energia para os laboratórios.
5) Projeto centro de línguas cursos de espanhol, esperanto
e italiano
Origem: a partir da imensa procura dos alunos por cursos
de línguas estrangeiras, tanto pelo interesse intelectual quanto
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
pelo que possibilita em termos de aprimor amento profissional,
um g rupo de professores resolveu fundar na escola um centro
de estudos de línguas estrangeiras, que garantisse, gratuitamente
para os alunos da escola, o a prendizado de alguns idiomas. O
curso de espanhol foi iniciado em junho de 2002, por uma
Amiga da Escola”.
Tempo de duração : um ano.
Público-alvo: alunos do Liceu e pessoas da comunidade.
Organização: o Centro de Línguas funciona em horários
alternados e aos sábados, atendendo aos jovens da escola e da
comunidade local. A Secretaria de Educação se responsabilizou
pela contratação dos professores de italiano, inglês e espanhol,
e um coordenador. Eles utilizam os conhecimentos gramaticais
trabalhados nas aulas de inglês e espanhol para fomentar a
prática de conversação, tendo em vista que este aspecto não é
contemplado de forma satisfatória em sala de aula, devido ao
tempo restrito da hora/aula. No que se refere ao material
pedagógico, a escola se comprometeu a imprimi-lo, em xerox,
com as folhas doadas pelos alunos. Atualmente, a escola oferece
o italiano em uma turma avançada, em parceria com o Instituto
de Italiano, o francês, o espanhol e o esperanto são ministrados
por professores voluntários amigos da escola. No momento, a
escola busca recursos para a compra dos materiais necessários
para a ampliação do funcionamento do Centro de Línguas.
Objetivos: propiciar ao aluno o estudo de línguas
estrangeiras. Capacitar o jovem da escola e da comunidade
para o mercado de trabalho. Difundir entre a juventude da
escola e da comunidade o conhecimento de outras culturas,
despertando para o conhecimento e para a comunicação
como perspectiva para a paz mundial. Preparar os jovens da
escola e da comunidade na língua estrangeira, necessária
também para o vestibular. Capacitar o jovem da escola
pública para intercâmbios internacionais.
Coordenação: professores de línguas hispânicas e de
português-inglês.
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Desdobramentos: existe um projeto em andamento na escola
para que, em 2003, seja inaugurado um “Centro de Línguas”
destinado não somente aos alunos, mas à comunidade em geral.
O Liceu considera que o Centro de Línguas, além de ampliar o
seu cur rículo, prepara os jovens da escola e da comunidade local
para o mundo do trabalho, tendo em vista a emerg ente industria
do turismo no Ceará e a necessidade de mão-de-obra
especializada nesse setor.
6) Projeto Cine Liceu 2003
Origem: o Projeto Cine Liceu nasceu da necessidade de um
grupo de educador es e alunos do Liceu do Conjunto Ceará trazer
os jovens para dentro da escola no sábado à noite, horário em
que, normalmente, os adolescentes estão mais mobilizados para
festas. A idéia foi competir com outros locais, criando alg o
atrativo, onde os jovens pudessem chamar seus amigos,
namorados e família para, juntos, vivenciarem a cultura de for m a
divertida e saudável, que residem em um bairro de periferia
considerado área de risco.
Tempo de duração: não especificado.
Público-alvo: alunos.
Organização: o Projeto Cine Liceu consiste em apre-
sentações quinzenais de filmes considerados de sucesso. Sua
exibição é aos sábados, a partir das 18 horas e 30 minutos,
no pátio da escola. Na semana anterior, são distribuídos,
gratuitamente, cerca de 300 ingressos para os alunos dos três
turnos da escola.
Objetivos: proporcionar aos jovens o conhecimento de filmes
clássicos e também daqueles que retratam a nossa cultura.
Coordenação: coordenador peda gógico e dois professores.
Desdobramentos: a intenção do g r upo é adquirir um telão e
um bom sistema de som. Isto para atender a um número maior
de jovens, considerando que a escola dispõe de uma área
interna ampla, com capacidade para mais de 300 jovens.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Obser vações: par a a realização desse projeto, a escola conta
apenas com uma locadora de vídeo que fornece o DVD. O
Liceu do Conjunto Ceará considera este projeto de suma
importância para a comunidade da escola e do entorno, uma
opção de lazer que alia diversão e segurança e, além disso,
promove o gosto pela arte e pela cultura, ingredientes
fundamentais para o exercício da cidadania.
7) Festival da escola Semana Cultural e Feira de Ciências
Origem: projeto da Secretaria de Educação Básica do Estado
do Ceará, que tem como eixo norteador a concepção de
“Escola Viva”, que objetiva mudar o fazer pedagógico do
cotidiano escolar.
Tempo de duração: não especificado.
Público-alvo: alunos e comunidade local.
Organização: o festival tem, como eixo, as ações de arte e
cultura, o esporte recreativo e experiências científicas,
desenvolvidas de forma contextualizada e interdisciplinar no
dia-a-dia da escola. Proporciona ao aluno a oportunidade de
desafiar, ousar e se revelar, além de fortalecer laços de
amizade, solidariedade e cooperação, tornando o ambiente
escolar mais dinâmico, mais produtivo e menos violento. É
realizado durante todo o ano letivo e tem sua culminância
na escola, com participação da comunidade em geral.
Objetivos: promover a integração e a troca de experiências entre
os alunos da escola. Socializar as atividades realizadas pelos
alunos na dança, na música, no teatro e nas artes plásticas.
Coordenação: diretora
Desdobramentos: os alunos têm-se sentido mais capazes e
desafiados a ousar e a revelar o que conseguem criar, além
de fortalecer laços de amizade, solidariedade e cooperação.
8) Projeto quarteto de cordas
Origem: a importância dada ao ensino da música erudita e
popular faz parte do projeto da escola, da mesma forma que
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a formação artístico-cultural dos alunos, pelo fato de que,
mais do que acordes e sons, o ensino da música pressupõe
conhecimento das artes e da história das sociedades, nos seus
aspectos sociais, políticos e ideológicos.
Tempo de duração: não especificado.
Público-alvo: alunos.
Organização: a escola considera fundamental a permanência
de um professor para a música clássica que tenha um
conhecimento que transcenda a arte e abranja outras áreas
do conhecimento. Conta com um professor dedicado
exclusivamente à regência do quarteto de cordas e da
orquestra de violões.
Objetivos: Proporcionar aos alunos a possibilidade de entrar
em contato com a música erudita e, futuramente, caso seja
sua vocação, profissionalizar-se.
Coordenação: o referido professor.
Desdobramentos: a criação do quarteto de cordas e da
orquestra de violões permitirá à escola divulgar o talento dos
alunos em todo o estado, além de permitir à comunidade
conhecer e apreciar a música instrumental e erudita.
9) Reforço escolar
Origem: no inicio de 2002, foi estabelecido um período para
a revisão dos conhecimentos básicos das disciplinas das áreas
de Ciência da Natureza e Linguagens e Códigos. Ao final
deste momento, foi feito um teste, no sentido de averiguar
os conhecimentos adquiridos. Observou-se que 60% dos
alunos das primeiras séries apresentavam deficiências nas
áreas acima citadas. Verificou-se, então, a necessidade de se
criarem mecanismos de superação das deficiências detectadas,
por meio de horas extras de reforço, com a colaboração de
professores, coordenadores, amigos da escola, alunos e ex-
alunos.
Tempo de duração: seis meses.
Público-alvo : alunos.
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Organização: as aulas são ministradas aos sábados, no período
da manhã, e são direcionadas aos alunos do 1
o
ano. Aqueles
que apresentam notas baixas são “obrigados” pela escola a
par ticipar deste reforço. As tur mas são formadas por, no máximo,
20 alunos da mesma série, que participam ativamente da seleção
do material didático utilizado revistas, jornais, vídeos e jogos
–, sob a orientação do professor orientador, coordenadores da
escola, gestão pedagógica, monitores alunos e ex-alunos e
com apoio do professor titular e coordenador da área
trabalhada.
Objetivos: possibilitar aos alunos um espaço que contribua
para a superação das suas dificuldades em química, física,
matemática e português, permitindo o resgate da sua auto-
estima e, conseqüentemente, a sua permanência na escola,
evitando a evasão e a repetência.
Coordenação: professores.
Desdobramentos: segundo os monitores, o reforço promove
a integração entre os alunos, a perda da timidez, a desinibição
para falar em público e o desenvolvimento da afetividade. Além
disso, desperta nos monitores a compreensão da dificuldade
do que é ser professor e a exposição a que está sujeito
10) Projeto plantonistas tira-dúvidas
Origem: necessidade de oferecer aos alunos uma
oportunidade para trabalhar as suas dúvidas, de forma a se
obter melhoria do processo de ensino-aprendizagem.
Tempo de dur ação: um ano.
Público-alvo: Todos os alunos da escola, principalmente
aqueles que estão estudando para o vestibular e outros
concursos.
Organização: Esse projeto reúne uma equipe de ex-alunos
que permanecem na escola, em horários e dias determinados,
à disposição dos alunos para esclarecimento de dúvidas
geradas nos momentos de estudo em casa. Como
reconhecimento da escola, pelo apoio e pelos serviços
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prestados, esses ex-alunos receberão, ao final do ano letivo,
um certificado de honra ao mérito, com o total de horas
trabalhadas.
Objetivos: proporcionar aos alunos a possibilidade de
orientação nas matérias que apresentam maiores dificuldades.
Coordenação: a coordenação é feita de forma voluntária pela
equipe de ex-alunos.
Desdobramentos: diante de tantas dificuldades enfrentadas
pelos jovens que cursam o Ensino Médio, o Liceu do
Conjunto Ceará considera este projeto muito importante,
tendo em vista que os ex-alunos são vistos como exemplo de
incentivo, motivação, para aqueles alunos que, muitas vezes,
se sentem incapazes de prosseguir nos estudos. Embora seja
difícil suprir a carência de material didático para todos esses
alunos, a escola compreende que deve incentivá-los na luta
por uma escola de qualidade. Assim sendo, buscam, a cada
dia, os meios necessários para ajudá-los a aprimorar seus
conhecimentos, garantindo a permanência desses alunos na
escola.
11) Arte-educação (música)
Origem: a procura por cursos de instrumentos clássicos,
associada ao potencial artístico dos alunos, demonstrado na
prática pelo manuseio do violão e da guitarra. O coordenador
da escola, a partir desse interesse, resolveu fundar a camerata
de violões e iniciar o ensino do violino.
Tempo de duração: não especificado.
Público-alvo: alunos da escola e comunidade do seu entorno.
Organização: o Projeto de Música do Liceu do Conjunto
Ceará funciona durante a semana e aos sábados. Atende a
alunos e pessoas da comunidade que desejam ocupar seu
tempo livre de forma prazerosa e saudável. As aulas de
música com teclado, bateria, violão, violinos e viola são
ministradas por dois professores contratados a partir da teoria
musical básica, leitura de partitura e aulas práticas.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Objetivos: desenvolver nos alunos a sensibilidade, a
solidariedade e o respeito à diferença, possibilitando a
valorização das manifestações artísticas e culturais eruditas
e populares. Buscar desenvolver a capacidade expressiva oral,
corporal e facial, favorecendo o diálogo, a convivência e a
autonomia. Preparar o quarteto de cordas e, futuramente, a
orquestra de câmara da escola.
Coordenação: coordenação e professores.
Desdobramentos: a banda dos alunos, denominada
Constelação, se apresenta na própria escola e na comunidade.
Desta forma, a escola contribui para que esses jovens
aperfeiçoem seus conhecimentos musicais e possam se tornar
profissionais nesta área. A intenção é, no futuro, a criação
da Camerata do Liceu.
12) Projeto de monitoria
Origem: criação do sistema de monitoria por disciplinas
afins, em sala de aula e nos laboratórios de informática,
química, física e biologia.
Tempo de duração: quatro anos.
Público-alvo: alunos, principalmente os que apresentam
dificuldades de aprendizagem.
Organização: as ações desenvolvidas pelos monitores
compreendem o reforço da aprendizagem dos alunos da
própria tur ma do aluno monitor ou de tur mas anteriores. Os
monitores ajudam também os professores em sala de aula e
em práticas de laboratório, em pesquisas sociocomunitárias,
seminários e visitas culturais. Sua função é tirar dúvidas, não
dar aulas. Eles terão, como incentivo, certificados, visitas
culturais, participação em cursos etc. É de sua
responsabilidade, também, fazer a chamada dos alunos e
anotar todos os conteúdos trabalhados em sala de aula. Eles
recebem da coordenação uma pasta para guardar o material
e, quinzenalmente, suas anotações são recolhidas. A reunião
com os coordenadores é realizada aos sábados. Vale ressaltar
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que, durante as aulas no laboratório de química, monitores
e alunos estão fabricando detergentes e desinfetantes, que
são utilizados pela própria escola. Existe um projeto para
que, em 2003, passem a f abricar, também, perfumes. A idéia
inicial é que todos estes produtos sejam vendidos aos
comerciantes do bairro com o selo do Liceu. O dinheiro
arr ecadado será destinado à manutenção do projeto, d evido
aos seus custos.
Objetivos: auxiliar os professores e alunos no processo de
ensino-aprendizagem, principalmente os alunos com
necessidade de reforço escolar. Criar um espaço educativo que
favoreça o estudo, a criatividade, a investigação, a cooperação,
a participação social, a aplicação e a socialização do
conhecimento escolar e favorecer o protagonismo do
educando em ações voltadas para o conhecimento e
desenvolvimento da realidade em torno da escola.
Coordenação: a coordenação é feita pelo professor de
biologia.
Desdobramentos: a escola atribui a este projeto a
possibilidade de criação de um espaço educativo concreto,
que favoreça o estudo e, com isso, incentive a criatividade, a
investig ação, a cooperação, a par ticipação social, a aplicação
e a socialização do conhecimento escolar.
13) Multimeios
Origem: projeto idealizado pela Secretaria de Educação do
Estado do Ceará para as escolas da rede pública estadual. É
um espaço reser vado ao atendimento de alunos, professores
e comunidade local, em apoio às atividades cur riculares. O
projeto disponibiliza material para leitura, pesquisa, jogos
pedagógicos, vídeos, equipamentos eletroeletrônicos,
laboratório, músicas etc.
Tempo de duração: não especificado.
Público-alvo: alunos, professores e comunidade local.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Organização: funciona como estimulador do estudo e da
compreensão do mundo de for ma holística. Está integ rado aos
projetos contidos no Plano de Desenvolvimento da Escola
PDE, através do desenvolvimento de parcerias com outras
entidades educativas e culturais. Reuniões de professores com
o intuito de organizar visitas culturais a diversos locais, para o
aprimoramento dos conteúdos em sala de aula. uma
coordenação do uso dos materiais de multimeios e, também,
da utilização dos laboratórios e da biblioteca.
Objetivos: assegurar a qualidade do ensino na escola, pelo
aprimoramento das atividades em sala, oferecendo aos
professores material necessário para dinamização e
diversificação das atividades desenvolvidas no cotidiano.
Desenvolver o potencial artístico dos alunos, mediante ações
que impulsionem sua criatividade e desenvolvimento de sua
sensibilidade. Contribuir para um maior conhecimento dos
alunos por intermédio de visitas culturais. Apoiar os
professores na sua atividade mediante suporte pedagógico.
Coordenação: coordenador pedagógico da escola, formado
em biologia, e auxiliado pelos professores coordenadores da
área.
Desdobramentos: com a implantação do centro, a escola
tornou seu currículo mais dinâmico, cresceu a freqüência
dos alunos à biblioteca, às pesquisas nos laboratórios e à
utilização, nas aulas, do material didático-pedagógico.
14) Capoeira
Origem: iniciativa de uma voluntária.
Tempo de duração: um ano.
Público-alvo: alunos.
Organização: as aulas acontecem aos sábados, pela manhã,
acompanhadas de música regional. Cada música tem sua
história reconstruída, para que os alunos compreendam o
contexto em que foi escrita.
Objetivos: resgatar a origem dessa dança.
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Coordenação: ex-aluno, fundador do Grupo Arte Regional
de Capoeira, com quatorze anos de experiência nesta
atividade.
Desdobramentos: o grupo hoje conta com três alunos
monitores. Esta experiência vem possibilitando um trabalho
de prevenção no uso de drogas, além de melhorar, de forma
significativa, o comportamento e a concentração dos alunos
nos estudos.
15) Coral
Origem: é uma iniciativa bastante recente na escola. A
professora criou voluntariamente o coral
Tempo de duração: seis meses.
Público-alvo: alunos e comunidade.
Organização: é um projeto aberto a todos os alunos da
escola e à comunidade. Os alunos passam por classificação
vocal, seguida de um período de exercícios com aulas
semanais, em que se trabalham músicas regionais, sacras e
clássicas.
Objetivos: segundo os próprios alunos, o coral estimula a
autodisciplina, a responsabilidade e a concentração, além de
ser uma porta aberta para uma futura profissão.
Coordenação: professora licenciada em música pela UFC.
Desdobramentos: o resultado imediato do envolvimento
com a música, por parte dos alunos, é uma maior
concentração, tranqüilidade e cordialidade.
16) Projeto do meio ambiente
Origem: os graves problemas ambientais que as comunidades
circunvizinhas à escola enfrentam suscitaram nos professores o
desejo de despertar nos alunos e nas próprias comunidades a
consciência da necessidade do engajamento pessoal, com vistas
à sua diminuição ou, se possível, eliminação, por uma atuação
individual e coletiva. Inicialmente, a realização do projeto estava
prevista para um semestre, envolvendo todos os alunos da escola.
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No entanto, a experiência estendeu-se, contando com 102
monitores, todos alunos do 2
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ano, que trabalham com a coleta
seletiva de lixo na escola e na comunidade.
Tempo de duração: um mês.
Público-alvo : alunos e comunidade.
Organização: o projeto tem parceria com o Sebrae,
responsável pela capacitação e pelos instrumentos utilizados,
Secretaria de Trabalho e Ação Social e com o projeto
“Mercosul Educacional”.
Objetivos: desenvolver a consciência ambiental dos alunos
e da comunidade.
Coordenação: professor e um grupo de alunos que trabalha
os “Mandamentos da Educação Ambiental”.
Desdobramentos: por ocasião do Festival da escola, foi
realizada uma exposição dos trabalhos no shopping do bairro.
Posteriormente, o projeto foi encaminhado ao Ministério da
Educação para um convênio com o Mercosul. um
movimento para a fundação de uma cooperativa de
reciclagem do lixo. Para tanto, foi realizada uma capacitação
dos alunos em um curso oferecido pelo Sebrae. Futuramente,
a disposição de se implementar a coleta seletiva do lixo,
beneficiando os catadores e possibilitando a reciclagem do
lixo, o que viabilizará, além da limpeza do bairro, geração de
emprego e renda.
17) Mercosul educacional
Origem: projeto de intercâmbio cultural entre países do
Mercosul e outros, dentre os quais a Argentina, a Bolívia e a
Colômbia.
Tempo de duração: um ano.
Público-alvo: alunos do segundo ano do ensino médio que
demonstraram interesse em participar.
Organização: cada escola enviou, em outubro de 2002, para
a Argentina, dois professores e quatro alunos, para um
intercâmbio durante o período de cinco dias. A seleção dos
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alunos para a viagem foi feita de acordo com o envolvimento
do aluno com o projeto e sua fluência na língua espanhola,
pois eles estudam o espanhol como língua obrigatória e
também fazem um curso de espanhol oferecido pelo colégio,
ministrado por um professor voluntário.
Objetivos: promover o intercâmbio cultural entre os países.
Coordenação: diretora.
Desdobramentos: segundo os integrantes do projeto, os
benefícios são muitos. Ressaltam que alcançaram uma maior
conscientização da realidade, além do conhecimento teórico.
Conscientizaram-se de que, “mesmo sendo estudantes de
escola pública, podem conquistar seu espaço no mundo e
concretizar seus sonhos”.
18) Atenção psicológica
Origem: convênio com o Departamento de Psicologia da
Universidade Federal do Ceará UFC, para atendimento aos
alunos na Clinica da Universidade e a participação de
estagiários na escola.
Tempo de funcionamento: um ano.
Público-alvo: todos os alunos que apresentem “problemas”.
Organização: além das consultas, a escola promove palestras
para alunos e professores. Segundo a coordenadora, a
existência de um serviço psicológico na escola pública é
muito importante.
Objetivos: proporcionar aos alunos um acompanhamento
psicológico, que os ajude a superar os problemas que
dificultam a aprendizagem.
Coordenação: Departamento de Psicologia da UFC. A
responsável, na escola, é uma professora licenciada em
filosofia.
Desdobramentos: a escola considera que ainda não pode
ser apontado nenhum resultado deste projeto, visto que o
mesmo é feito exclusivamente na universidade e os resultados
ficam em seu poder. A diretora afir ma que alguns pais
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
consideram que seus filhos estão mais tranqüilos e
responsáveis, enquanto outros retornaram à escola para
reclamar, dizendo que seus filhos não precisam de
acompanhamento terapêutico.
Perspectivas da escola
O Liceu do Conjunto Ceará, apesar de situado em um bairro
violento, onde a população se defronta com a presença de drogas e
roubo, vem demonstrando, com as muitas e variadas atividades que
desenvolve dança, teatro, jor nal, música –, que é possível contribuir
para que seja amainada tal situação, a partir do trabalho educativo
voltado, também, para a comunidade.
Assim, a busca por parcerias com diversas instituições retrata
o impacto que o Liceu tem interna e externamente. Os projetos
citados resultam na elevação da auto-estima, na diminuição da evasão,
na melhoria de rendimento na sala de aula, além de contribuir para a
retirada dos alunos da rua, incentivando-os a “fazer o vestibular”.
A diretora acredita que a escola foi indicada como inovadora
por ser vista pela comunidade em geral como uma escola pública de
qualidade, que valoriza seus alunos e que vem tendo seu trabalho
reconhecido “boca a boca”.
Com o propósito de dinamizar o cotidiano da sala de aula, foram
criados projetos que possibilitam o envolvimento de toda a
comunidade escolar e do seu entorno. São ações voltadas para o
desenvolvimento das potencialidades de cada aluno, na busca da
superação das dificuldades do processo ensino-aprendizagem,
viabilizando uma ação que é coletiva e comprometida com o Projeto
Político Pedagógico da Escola.
Estes projetos se desenvolvem utilizando uma metodologia
contextualizada e interdisciplinar, fortalecendo a dinâmica curricular
e tornando a escola efetivamente viva e prazerosa. Nessa perspectiva,
as estratégias de ação estão direcionadas para as diversas áreas do
conhecimento, a fim de desenvolver nos alunos competências e
habilidades que lhes permitam dar continuidade aos estudos e
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favoreçam sua inserção no mundo. Tais iniciativas, no âmbito do
pedagógico, têm contribuído para a diminuição de situações de
violência no interior do estabelecimento, considerando que a qualidade
do ensino se mostra como estratégia importante na aproximação do
jovem com a escola.
3.2.5 Distrito Federal
CENTRO DE ENSINO MÉDIO 11 DE CEILÂNDIA
EQNP 1/5 AE P Nor te Ceilândia, Brasília/DF.
Contexto sociodemográfico do município Brasília
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Contexto educacional
Caracterização da Escola
O entorno
O Centro de Ensino Médio 11 de Ceilândia localiza-se em uma
das áreas mais pobres da periferia de Brasília. Em Ceilândia, os problemas
crônicos que afetam regiões periféricas de grandes cidades também estão
presentes: tráfico e consumo de drogas, assaltos, gangues e outras formas
de violência. No entanto, em termos de estrutura física, o bairro conta
com rede de esgoto, água encanada, as casas são de alvenaria e as ruas
asfaltadas. As principais demandas da população local são a segurança
e o lazer, este especialmente sério para os jovens, que, não tendo o que
fazer, são, muitas vezes, atraídos para a criminalidade.
A escola atende à clientela do “P Norte”, região muito pobre, onde
predominam barracos, as ruas são de terra e o esgoto corre a céu aberto.
Atende também a alunos do setor QNQ localidade bastante violenta,
com assassinatos constantes. Existe, inclusive, um certo preconceito
contra os alunos que vivem no QNQ, região considerada como a
“periferia da periferia”.
A unidade escolar
Fonte: Sistema de Estatísticas Educacionais INEP/MEC, 2002.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
A escola foi fundada como Centro Educacional, em 1982, com o
nome de Escola Classe 37 de Ceilândia, para atender, exclusivamente,
a alunos do ensino fundamental primeira a quar ta séries. Em 1996,
mudou o nome para Centro de Ensino 23 de Ceilândia, passando a
trabalhar somente com alunos de quinta a oitava séries. Em 1999, o
nome da escola mudou novamente, agora para Centro Educacional 13
de Ceilândia, e seu atendimento passa a ser de alunos da sétima e oitava
séries do ensino fundamental e do ensino médio. A par tir de 2000, passa
a ser o Centro Educacional 11 de Ceilândia e, em 2001, o Centro de
Ensino Médio 11 de Ceilândia.
Maiores problemas enfrentados antes das experiências
inovadoras
Antes de pôr em prática o conjunto de ações inovadoras que hoje
caracteriza seu trabalho, o Centro de Ensino Médio 11 de Ceilândia
defrontava-se com os problemas advindos de sua localização em uma
área bastante violenta, onde os conflitos presentes nas relações da
comunidade, incluindo os familiares dos alunos, acabavam por ter
refl exos no cotidiano escolar.
Toda sor te de problemas se apresentava, desde a ocorrência de
roubos dentro do estabelecimento, como ressalta um aluno, até a sua
invasão por um bêbado, cuja ação demandou, segundo a diretora, o uso
da força: Ele estava tumultuando. (...) Acharam por bem pedir r eforço ao batalhão
escolar, que o retirou da escola.
Os pequenos atos de violência perpassavam o cotidiano dos
alunos, como afirma um professor: São aquelas discussões, briguinhas,
empur ra-empurra de um lado e do outr o.
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Nesse contexto, manifestações de intolerância e preconceito
também eram percebidas, como ressalta um aluno, ao referir-se ao
problema de uma colega, atingida por ofensas de cunho racista: Tinha
violência que dói na alma, que é o preconceito por ela ser negra. Agora eu vi
brincadeiras. É, são brincadeiras de mau gosto, como alguém falar: “Seu nego
safado!” (...) Isso dói na alma! Da mesma forma, outro aluno se refere à
discriminação de certa aluna, por sua origem: Tinha uma menina na minha
sala que é nordestina, daquelas que não negam... Aí, o pessoal tirava muito
sar r o da cara dela. E isso é violência.
O trabalho da escola, certamente, teria um enfoque nas questões
atinentes às relações da comunidade e outro nos valores e conceitos
correntes entre os jovens alunos.
Estratégias de superação
Mecanismos de resolução dos problemas: conselhos;
reuniões entre pais e mestres; reuniões entre professores e
alunos; reuniões entre pais, professores e alunos; reuniões
entre pais e professores ou direção.
Aber tura nos finais de semana: condições de aber tura:
programas e projetos institucionais, empréstimos à comunidade,
projetos da própria escola; atividades desenvolvidas: festas
religiosas; festas e outras comemorações; atividades esportivas/
recreação.
Espaços disponibilizados para os jovens: pátios e quadras
esportivas, salas de aula.
Pessoas e instituições procuradas pela escola para resolução
de conflitos: Polícia, família e a própria comunidade escolar.
Relação com o Conselho Tutelar: nunca ocorreu.
Programas, projetos e experiências
1) Projeto Recriando Ceilândia
Origem: a preocupação em criar alternativas de emprego para
a comunidade e a visão dos estudantes com relação às
perspectivas profissionais.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Tempo de duração: dois anos.
Público-alvo: alunos e comunidade.
Organização: os alunos trabalham com o auxílio dos
professores.
Objetivos: ensinar a fazer artesanato, desenvolvendo no
aluno sua capacidade de empreendedor, por meio da criação
de cooperativas, utilizando estratégias de comercialização,
relacionadas à administração.
Coordenação: professores.
Desdobramentos: as pichações diminuíram, da mesma forma
que a violência entre os alunos. Os alunos passaram a fazer
pesquisas de campo para reconhecer a realidade de cada
comunidade. Foram adquirindo autoconfiança e passaram a
acreditar que o empreendedorismo não é uma atividade tão
difícil e que pode representar uma opção profissional
interessante.
2) Projeto Bolo com Coca
Origem: quando os alunos começaram a procurar a
orientadora educacional para conversar sobre assuntos
diversos, ela percebeu que determinados temas eram
recorrentes e que faltava na escola um espaço para eles
discutirem esses assuntos.
Tempo de duração: três anos.
Público-alvo: alunos.
Organização: são realizados debates nos diversos turnos,
possibilitando a participação dos alunos nos horários que não
os das suas aulas. Em uma sala de aula, sob a coordenação de
um professor, eles conversam sobre temas previamente
estabelecidos, a partir do seu interesse. Temas como sexo,
drogas, violência, relacionamento familiar, emprego, futuro
profissional e cidadania estão entre os mais procurados. O nome
“bolo com coca” se deve ao fato de que, durante os encontros,
a direção da escola oferece uma mesa com comida e refrigerante,
que contribui para o clima informal e festivo do evento.
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Objetivos: aprender a conviver e a aceitar as diferenças e a
se colocar na perspectiva do outro. Valorizar o diálogo.
Coordenação: professores.
Desdobramentos: uma melhora significativa no
relacionamento familiar. O aprofundamento do diálogo entre
alunos e escola, na medida em que todos se sentem à vontade
para falar e discutir suas questões com a equipe pedagógica,
que, por sua vez, passou a conhecer os dilemas e problemas
vividos pelos alunos.
3) Sala ambiente
Origem: professores e alunos achavam trabalhoso terem que
ficar trocando de sala a cada aula, além de considerarem que
este fato causava desânimo os professores tinham de ficar
carregando seus materiais “pra e pra cá” e os alunos se
dispersavam.
Tempo de duração: não especificado.
Público-alvo: alunos e professores.
Organização: a escola seleciona uma sala para cada disciplina.
Assim, ao invés de o professor mudar de sala, o aluno é quem
muda. A sala de geografia, por exemplo, tem mapas, globo,
cartazes e outros recursos pedagógicos. Cada professor é
responsável pela sala da disciplina que leciona.
Objetivo: proporcionar uma aprendizagem mais agradável e
prazerosa.
Coordenação: professores.
Desdobramentos: as salas estão mais organizadas para as
aulas e dispõem de um material previamente selecionado, o
que contribui também para otimizar o uso do tempo.
4) Projeto inter-rádio
Origem: observou-se que os murais e circulares não atingiam
a todos os alunos.
Público-alvo: alunos.
Tempo de duração: não especificado.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Organização: o rádio alcança todas as salas e o pátio. O
sinal anunciando o inter valo das aulas, por exemplo, é ao
som da música em vez de sirene. Muitas vezes, o rádio é
utilizado durante os intervalos para os alunos enviarem
mensagens, promoverem debates, receberem recados. O
inter-rádio é utilizado, também, para comunicação dos
eventos da escola.
Objetivos: melhorar a comunicação no interior da escola.
Coordenação: professores e um aluno por sala, selecionado
por concurso, que inclui testes de fala, de voz, de fluência e
de criatividade.
Desdobramentos: os alunos, de um modo geral, estão
envolvidos com a rádio, tanto escolhendo músicas quanto
enviando mensagens. A escola considera que ficou mais fácil
passar seus informes, à medida que a rádio funciona de
manhã, à tarde e à noite. Outro fato interessante é que os
grupos de música, dos alunos da escola principalmente os
de pagode estão fazendo apresentações ao vivo na rádio.
5) Projeto Passar ela do Tempo
Origem: iniciativa da professora de artes, que resolveu
trabalhar com a moda de cada época, de uma forma dinâmica
e interativa.
Tempo de duração: não especificado.
Público-alvo: alunos.
Organização: neste projeto, desenvolvido pela área de
educação artística, os alunos pesquisam sobre a arte e seus
vários momentos históricos. A partir daí, produzem roupas
de época que são, então, exibidas em um desfile de modas.
Por exemplo, no último trabalho, os alunos fizeram um
estudo de representações pictóricas femininas em diferentes
períodos e concluíram que a “ditadura da magreza” é algo
relativamente recente, que no renascimento, mulheres mais
encorpadas eram tidas como o ideal de beleza e que magreza
era sinônimo de pobreza e fome.
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Objetivos: aprofundar o conhecimento sobre o modo de vida
das pessoas nos diversos períodos da história e os valores
sociais que acompanham estes períodos. Isto permite que
alunos e alunas pensem criticamente sobre os valores da
sociedade ocidental, que, de tão repetidos, são incorporados
sem nenhuma reflexão. Assim, cria-se uma oportunidade para
trabalhar valores relacionados às ideologias.
Coordenação: equipe de educação artística.
Desdobramentos: os alunos aprenderam a confeccionar
roupas, e muitos descobriram seus talentos na área da moda
e do estilismo. Além disso, aprenderam a valorizar o seu
próprio corpo e as roupas que usam. Compreenderam que
a valorização de um determinado tipo de corpo é cultural,
que depende da época e do seu contexto sociopolítico.
6) Semana Cultural
Origem: em um determinado momento, a escola sentiu
necessidade de sistematizar os trabalhos que realizava, para expô-
los para os próprios alunos, pais e comunidade. A escola se
organiz ou e decidiu fa zer uma semana dedicada à exposição.
Tempo de duração: não especificado
Público-alvo: a escola e a comunidade.
Organização: uma vez por ano, em outubro, durante uma
semana, a escola interrompe suas atividades formais para se
dedicar à apresentação de uma série de eventos produzidos
pelos alunos. Isto inclui desfile de modas, apresentações
musicais, peças de teatro, trabalhos diversos na área de artes
plásticas, debates sobre temas do momento e sobre temas de
interesse dos estudantes. A produção artística é acompanhada
de debates e reflexões acerca do seu processo de produção e
dos sentidos e significados que se podem apreender a partir
da interação com um objeto artístico.
Objetivos: mostrar os trabalhos realizados pelos alunos para
a comunidade externa.
Coordenação: diretoria da escola.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Desdobramentos: em 2003, a semana cultural acontecerá pela
oitava vez, o que reflete seu sucesso entre os alunos e
professores. A diretora considera que o fato de a comunidade
comparecer em peso, lotando a escola, possibilitou a
melhoria da comunicação e, conseqüentemente, da relação
entre escola e comunidade. Além disso, a escola aponta que,
com a semana cultural, os alunos têm a oportunidade de
aprofundar temas que não abordariam de outra forma.
7) Educação para a saúde
Origem: este projeto começou em 2001, quando a escola
resolveu sistematizar suas atividades voltadas para a saúde.
Buscou-se proporcionar mais atividades aos alunos da noite,
que ficam à margem de muitos trabalhos.
Tempo de duração: um ano.
Público-alvo: alunos.
Organização: a escola promove palestras sobre cuidados com
a saúde e com o corpo, que são o foco do projeto “educação
para a saúde”. Os expositores, que podem ser tanto
especialistas convidados quanto professores da escola, fazem
palestras sobre temas variados relacionados a cuidados com
o corpo, como a importância das atividades físicas, saúde
mental, doenças sexualmente transmissíveis, drogas etc. A
coordenação é do professor de Educação Física.
Objetivos: proporcionar ao aluno uma maior consciência
sobre as questões da área da saúde, desde prevenção de drogas
às DST e, desta forma, diminuir a incidência de diversas
doenças entre os alunos.
Desdobramentos: a escola considera que os resultados ainda
são pontuais e individuais. Entretanto, é fato que os alunos
estão mais conscientes sobre seu corpo e sua saúde.
8) Projeto capoeira
Origem: a iniciativa foi de um professor de história, que
for mou um aluno, hoje “mestre de capoeira”.
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Tempo de duração: seis anos.
Público-alvo: alunos e a comunidade.
Organização: as aulas de capoeira trabalham tanto o corpo
quanto sua cultura. O corpo é trabalhado por meio de
exercícios de aquecimento e de movimentos próprios a ela,
e a cultura é trabalhada pela conscientização sobre a riqueza
artística afro-brasileira, enfatizando as músicas e os costumes.
A coordenação, inicialmente, esteve nas mãos do professor de
história, mas, atualmente, são os próprios alunos que se
organizam para manter a capoeira.
Objetivos: oferecer uma alternativa de atividade física extra-
escolar.
Coordenação: o mestre é um aluno.
Desdobramentos: a direção aponta que, antes da capoeira,
os alunos e algumas pessoas da comunidade invadiam a
escola. Agora, com a escola aberta, eles a respeitam mais.
Perspectivas da escola
Localizado em uma área de elevados índices de violência, o
Centro de Ensino Médio 11 de Ceilândia tinha como maior problema
os reflexos, em seu interior, dessa condição. O fato de as famílias dos
alunos se envolverem com drogas na rua e com brigas entre vizinhos
atravessava os muros da escola.
Segundo o diretor, o trabalho que teve que desenvolver foi o
de “apaziguar” os conflitos. Os pais dos alunos foram envolvidos
em diferentes projetos, numa ação integrada com professores. Este
envolvimento foi pautado pela contribuição de cada participante,
substituindo as ações de reclamação com que eram pontuadas as
reuniões do passado.
A questão da violência vem sendo trabalhada com projetos
desenvolvidos em sala de aula, voltados para a valorização do aluno;
acompanhamento regular por parte da orientação educacional e
exclusão total de qualquer tipo de punição. negociação de limites
e espaços para criar responsabilidade.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Todos os alunos e professores participam de, ao menos, um projeto,
embora o mais comum seja participar em mais de um. A comunidade
também está, cada vez mais, envolvida com o trabalho da escola e não
somente com suas festas.
A partir das ações que pôs em curso, a escola passou a produzir
pesquisas, experiências, peças teatrais, desfiles, confecção de figurino,
telas, quadros, artesanato. O comércio local patrocina alguns dos
eventos, cedendo material de limpeza, pintura e construção. A escola
recebe o apoio do Senac, por meio de palestras sobre temas variados,
além de atividades práticas como corte de cabelo e encaminhamento
para obtenção de carteira de trabalho para a comunidade. O Sebrae
oferece palestras sobre gerenciamento de empresas, tanto para alunos
quanto para a comunidade.
Os projetos são desenvolvidos, praticamente, sem nenhum apoio
de outras instituições. Apenas a Secretaria Estadual de Educação, por
meio da Regional de Ensino de Ceilândia, oferece algum tipo de apoio,
que se reduz à doação de parte do material para os projetos. Entretanto,
a maior parte do material é produzida por alunos e professores.
Uma das professoras mais antigas da escola menciona o fato de
que os projetos foram surgindo de um modo espontâneo, a partir da
idéia de um ou outro professor, idéia que era adotada pelo grupo, que a
aperfeiçoava e tratava de levar avante. Outros professores consideram que
o trabalho vem sendo possível graças à relação com os estudantes e
com o conselho de classe participativo, que envolve professores, pais,
estudantes e direção. Normalmente, as experiências são organizadas
no início do ano letivo, durante a semana pedagógica. Nela, os
responsáveis, professores, direção e coordenadores decidem sobre o
desenvolvimento dos projetos, relacionando-os aos conteúdos
trabalhados em sala de aula. As maiores dificuldades e, também, as
mais constantes dizem respeito à falta de verbas e de apoio institucional.
Muitas mudanças aconteceram na escola a partir das
experiências, tendo como eixos principais: o relacionamento da
comunidade escolar com a escola, a auto-estima dos alunos e
professores, os relacionamentos dentro do grupo e os processos de
aprendizagem. O relacionamento da comunidade escolar com a escola
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é uma das conseqüências mais interessantes da experiência.
Considerando que o bairro tem uma deficiência muito grande em
relação a segurança, transporte, renda e espaços culturais, as
atividades desenvolvidas pela escola se tornaram uma opção de lazer
importante para a comunidade. Além disso, os debates que ocorrem
influenciam o relacionamento de alunos da escola com seus pais. Os
jovens, ao perceberem que o diálogo “funciona”, passam a adotá-lo
dentro de casa, em situações de conf lito com os pais e irmãos.
Os projetos da escola também trazem importantes ganhos para os
professores, que mencionam uma grande satisfação em ver seu trabalho
bem realizado. A satisfação com a competência profissional passa a ser
um g rande motivador. O reconhecimento obtido pelos r esultados do
trabalho contribui para um aprimoramento, cada vez maior, dos projetos
existentes, bem como para a criação de novos projetos. Uma outra fonte
de motivação diz respeito aos aspectos humanizadores dos projetos.
Professores se sentem recompensados ao verem os alunos tirarem boas
notas nas provas do Enem, se afastarem das drogas e alcançarem uma
consciência cidadã. Os projetos, portanto, auxiliam no resg ate da
dignidade profissional dos professores. Embor a exista entre eles a
consciência de que a profissão se encontra socialmente desvalorizada e
de que o salário que recebem não é digno, consideram fundamental fazer
um trabalho de bom nível. Os projetos se tornam uma forma de resistência em
torno de uma militância pela educação.
Os projetos ou experiências também contribuem para um
relacionamento saudável entre os diversos grupos do contexto escolar.
A natureza coletiva das atividades faz com que as pessoas se aproximem
umas das outras, criando uma atmosfera de amizade e colaboração.
Como todos os professores, de alguma forma, participam de todos os
projetos quando não coordenam, desenvolvem atividades em sala de
aula relacionando o conteúdo da aula ao que é vivenciado no projeto
-, o sentimento de uma responsabilidade coletiva pelo sucesso do
trabalho. A natureza multifacetada das experiências faz com que os
alunos pertençam a diversos grupos, o que contribui para a ausência
de gangues na escola. Todos se tornam conhecidos e afeiçoados a todos.
Em conseqüência dessas elaborações, o desenvolvimento
acadêmico dos alunos torna-se privilegiado. Em termos de resultados
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
de aprendizagem, a escola tem bons indicadores: como mencionado
anterior mente, é das escolas da região uma das que mais aprovam no
Enem, conseguindo, inclusive, colocar alguns de seus alunos na
Universidade de Brasília.
Quanto aos efeitos dos projetos no enfrentamento da violência,
os professores mais antig os afir mam que a escola melhorou muito,
principalmente quando se tem em vista que, antes, havia mais problemas
relativos ao uso de droga s e à violência. Enfim, todas as iniciativas em
torno de questões relacionadas à melhoria da qualidade do ensino e do
ambiente escolar vêm surtindo efeito direto na diminuição de conflitos
no interior da escola.
3.2.6 Espírito Santo
ESCOLA DE SEGUNDO GRAU ARNULPHO MATTOS
Rua 12, Esquina Praça Terezinha Grechi, 1 Bairro
República, Vitória/ES.
Contexto sociodemográfico do município Vitória
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Contexto educacional
Caracterização da Escola
O entorno
O bairro República, onde se situa a Escola de Segundo Grau
Arnulpho Mattos, possui em torno de 20 mil habitantes e surgiu a partir
da expansão imobiliária vinculada aos processos de industrialização e
urbanização, a partir da década de setenta. A rua que acesso à escola é
estreita e bem arborizada, com trânsito razoável de carros e por onde
circula a linha de ônibus que serve à área. uma praça no entorno
imediato da escola, onde costumam reunir-se, de um lado, as famílias que
freqüentam um pequeno parque infantil, com espaço para a prática de
esporte, rodas giratórias e balanço, e é também local de encontro diário de
idosos, que se reúnem para jogar baralho e bocha. A praça possui telefones
públicos e banheiros, é bem arborizada e iluminada e possui uma cancha
de bocha. Os que praticam este esporte formam uma associação e
participam de torneios municipais e regionais, que compõem o calendário
esportivo do Estado. Mesmo bem situada, iluminada e bem freqüentada
pelos moradores, especialmente durante o dia, à noite, a praça é
freqüentada por usuários e traficantes de droga, especialmente maconha.
Fonte: Sistema de Estatísticas Educacionais INEP/MEC, 2002.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
algum tempo a direção decidiu fechar o acesso da praça à escola e
vice-versa, erguendo um muro de alvenaria nos limites entre os dois
espaços.
O comércio no entorno da escola é bem diversificado, especialmente
na avenida principal, com bares, lanchonetes, uma padaria, papelaria, loja
de artig os para presente, restaurante tipo self-ser vice, banca de jor nal,
pequenas lojas de roupas masculinas e femininas e locadora de vídeos. Nas
proximidades existem, também, igrejas de várias religiões.
O bairro dispõe de uma unidade de saúde municipal, bem
conceituada. Como não possui quadra de esportes e o campo de
futebol amador foi extinto algum tempo para dar lugar à
construção de um conjunto imobiliário, as crianças, mesmo que não
sejam alunos, utilizam a escola para a prática de esporte, especialmente
vôlei e futsal. Atrás da escola, situa-se a Escola de Educação Infantil
Marlene Orlande Simonetti, tida como a Cinderela” da Prefeitura
Municipal de Vitória.
A unidade escolar
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A escola foi fundada em março de 1977 e, hoje, é vista como
modelo de escola pública pelos alunos que a freqüentam. Sua imagem
positiva ultrapassa o bairro, tendo repercussões até mesmo na
Universidade Federal do Espírito Santo. É a escola preferida de
professores e alunos da universidade para a realização de estágios e
estudos complementar es.
Seu currículo, inicialmente, era direcionado para o ensino
profissionalizante e destinava-se basicamente a atender à crescente
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
demanda de mão-de-obra para atuar no mercado de trabalho qualificado
da indústria local. Quando foi extinto, em decorrência da refor ma do
ensino médio, passou a ser lembrado com nostalgia pela direção, por
alunos e professores.
Maiores problemas enfrentados antes das experiências
inovadoras
A Escola Arnulpho Mattos, depois de ter sido referência por muito
tempo, sofr eu um processo de decadência que, hoje, se encontra rever tido.
Entretanto, até que uma direção inovadora reconduzisse seus r umos,
foram inúmeros os problemas em que se viu envolvida, no campo da
violência.
As agressões ao patrimônio do estabelecimento se manifestavam
por meio de de predações, tanto externas quanto inter nas. O conflito
entre a estr utura da escola dotada de cer ta rigide z–easdemandas de
deter minados estudantes pareciam estar na orig em dos conf litos. Além
disso, a presença da venda e do consumo de drog as entre alguns jovens
também contribuía para ampliar a tensão existente.
A violência manifestava-se, igualmente, na ocorrência de brigas
e discussões, envolvendo, freqüentemente, alunos e pessoal da
“segurança’, por questões ligadas ao desrespeito às regras de
comportamento, como relata um aluno: Te ve muitas discussões aqui, com
o segurança... É que, na escola, não se per mite fumar e eles fuma vam escondido...
A situação da escola também parecia marcada pela suspeita de
roubos e desvios de materiais e máquinas, o que, nas palavras do
diretor, tornou-a, por um tempo, estigmatizada e vista com
preconceito.
O desafio por ela enfrentado foi duplo: as inovações deveriam
dar conta da violência crescente e do desprestígio dela conseqüente:
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Eu me candidatei com uma postura de mudar o quadro de violência na escola em
termos de fumo, em ter mos de dr ogas e em ter mos de desencontr o pedagógico,afirma
o diretor, bem-sucedido em seu propósito.
Estratégias de superação
Mecanismos de resolução dos problemas: conselhos;
reuniões entre professores e alunos; reuniões entre pais e
mestres; serviço de orientação educacional da escola.
Aber tura nos finais de semana: condições de aber tura:
programas e projetos institucionais (SEE,UNESCO) e
projetos da própria escola; atividades desenvolvidas:
atividades esportivas e de recreação, música, teatro, trabalhos
manuais; atividades da comunidade; trabalhos voluntários;
atividades de reforço e de pré-vestibular da escola; gincanas,
casamentos e festas da comunidade.
Espaços disponibilizados para os jovens: toda a escola.
Pessoas e instituições procuradas pela escola para
resolução de conflitos: família e a própria comunidade.
Relação com o Conselho Tutelar: nunca r ecorreu.
Programas, projetos e experiências
1) Par ticipação anual nos encontr os da Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência SBPC
Origem: Encontro Anual da SBPC, na Universidade Federal
do Espírito Santo (UFES), em 1994.
Tempo de duração: nove anos.
Público-alvo: alunos e os demais interessados.
Organização: a escola se inscreve previamente nas áreas
artísticas, culturais e científicas, por meio de oficinas. A pós
a aprovação, convoca os professores interessados em oferecê-
las, para que montem uma equipe de alunos, que
desenvolverão os projetos e darão corpo e conteúdo às
oficinas. Os alunos são escolhidos pelo interesse, empenho
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
e participação na elaboração dos projetos. Isso porque a
procura é tão grande que não é possível acolher todos os
interessados. Todos podem participar da elaboração do
projeto, mas cada oficina pode contar com, em média,
cinco alunos. Todas têm conteúdo pedagógico, porque podem
ser a proveitadas no cotidiano escolar, como, por exemplo, a
oficina de teatro, que procura trabalhar a dramatização em
sala de aula, além da oficina de voz, que trabalha entonação
e respir ação. No ano de 2003, a escola org anizou 15 oficinas
o número máximo até então sendo três de Química,
quatro de Biologia, duas de Física, duas de Meio ambiente e
três sobre temas Culturais. A comunidade escolar está em
processo constante de mobilização e preparação dos seus
projetos. São realizadas atividades culturais, como
espetáculos musicais, festas e quer messes, com a finalidade
de arrecadar fundos que venham a financiar a locomoção e
hospedagem dos jovens alunos para os Encontros Anuais da
SBPC. Moradores do bair ro, pais de alunos e comerciantes
também participam e colaboram.
Objetivos: segundo o diretor, a escola objetiva, com esta
participação, fazer a integração do aluno com a comunidade
externa o que ele denomina de interescolaridade além de
ampliar e permitir ao aluno a visão macro da sociedade, nos
seus aspectos artísticos, culturais e científicos.
Coordenação: direção da escola.
Desdobramentos: a escola tem um histórico recente de
violência, que se manifestava de várias formas, como
arrombamentos, existência e atuação moderada de gangues,
roubos, uso e tráfico de drogas. A superação dos problemas
vividos pela escola é perceptível e mesmo evidente. O relato
dos professores, de moradores do bairro e de alunos,
especialmente dos mais antigos e/ou daqueles que fizeram
opção pela Escola Arnulpho Mattos, mesmo residindo em
bairros distantes e até em outras cidades da Grande Vitória,
corrobora esta impressão dominante.
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2) GEOESGAM Feira de Geografia
Origem: proposta de um professor de Geografia, no sentido
de realizar um evento que abrangesse todas as áreas da
Geografia. A partir daí, uma feira anual de Geografia envolve
toda a escola.
Tempo de duração: sete anos.
Público-alvo: toda a comunidade escolar.
Organização: em cada período letivo, um tema é escolhido
para execução dos trabalhos e sua exposição: um País, um
Estado, um Município ou uma região. Os melhores
trabalhos são selecionados para serem apresentados na
SBPC. Após a escolha do tema, a escola se concentra como
um todo na realização de sua pesquisa durante duas
semanas. Em 2002, por exemplo, a escola escolheu trabalhar
“países exóticos”. A partir daí, os alunos pesquisaram, fora
do horário de aula, que países seriam esses, seus hábitos
culturais, alimentares, sua história, política etc. Como
finalização, a escola monta a feira com seus “grupos
temáticos”. Em 2003, a escola escolheu trabalhar os
diferentes potenciais turísticos de cada estado do Brasil. A
escola tem como incentivo à participação dos alunos o
oferecimento de uma viajem turística pelo Estado do
Espírito Santo, incluindo transporte e hospedagem.
Objetivos: fazer com que o aluno estude todas as áreas da
Geografia política, humana, natural etc. -, além de despertar
o potencial intelectual do aluno para as ciências humanas
em geral. Promover a interdisciplinaridade na escola.
Coordenação: professor de Geografia.
Desdobramentos: segundo o diretor, esta feira cria no aluno
uma expectativa de entrar em contato com novos
conhecimentos. Ressalta, também, o empenho dos alunos
na disciplina de Geografia, por meio do encanto com as
descobertas e o crescente interesse pelo conhecimento. Vale
dizer que, todos os anos, a imprensa local TV e jornal
faz a cobertura da feira.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
3) Publicação da cartilha “Dicionário do Dialeto Capixaba”
Origem: essa idéia começou no tempo em que o diretor ainda
era estudante da graduação da faculdade de Letras. Ele conta
que, quando estudou a língua árabe e se encantou com sua
riqueza cultural, concluiu que nossa língua era tão rica
quanto ela. A partir daí, começou a estudar as diferenças
culturais do Português. Ao entrar para a direção da escola,
resolveu elaborar um projeto que contemplasse a riqueza
do dialeto capixaba. Para tal, criou uma equipe de alunos e
professores interessados em estudar o dialeto capixaba em
todo o Estado do Espírito Santo. Após sua conclusão,
resolveu buscar um financiamento que permitisse sua
publicação, sob a forma de livro, o que se tornou possível
graças à doação de mil e quinhentos reais pelo Sebrae. A
publicação saiu em julho de 1995.
Tempo de duração: não especificado.
Público-alvo: estudantes de lingüística ou os interessados em
conhecer mais sobre o dialeto capixaba.
Organização: foram levantados os termos próprios e
verbetes do linguajar e a gíria de uso comum no Estado, bem
como do folclore e da culinária capixabas, a partir de uma
pesquisa, realizada em todo Estado, que mapeou as diferenças
culturais e as riquezas do dialeto.
Objetivos: divulgar a diversidade do dialeto e da cultura
capixabas.
Coordenação: diretor da escola.
Desdobramentos: o diretor conta que o lançamento desse
dicionário despertou o interesse tanto dos alunos quanto da
comunidade extra-escolar pela língua capixaba, além de
valorizar seu potencial lingüístico, cultural e folclórico.
Perspectivas da escola
A Escola Arnulpho Mattos pode ser considerada inovadora
por inaugurar uma aproximação bastante produtiva com a
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universidade. Antes de caminhar para a mudança, o estabelecimento
vivia sob o estigma da violência e do preconceito, sendo alvo de
constantes de predações, tanto inter nas quanto exter nas. O tráfico de
drogas envolvia ostensivamente um grupo de alunos, segundo
depoimentos de vários integrantes da comunidade escolar. Além
disso, os materiais disponíveis para o trabalho dos estudantes eram,
freqüentemente, sucateados, o que prejudicava as atividades de
professores e alunos.
A interlocução com a universidade aconteceu após a candidatura
de um novo diretor escolar, que se elegeu a partir de uma plataforma
que visava a mudança do quadro de violência que havia se estabelecido.
Tal encaminhamento tem possibilitado envolver alunos e professores
em projetos arrojados no campo da ciência, o que, direta ou
indiretamente, contribui para um enriquecimento dos currículos, das
metodologias e do trabalho em sala de aula. O exemplo dessa escola
pode servir de parâmetro para outras escolas e universidades
brasileiras, apontando um papel social importante para o mundo
acadêmico.
Um aspecto a ser destacado é a existência de uma integração
entre as diferentes atividades que acontecem na escola, com foco em
um objetivo maior, que é a produção do conhecimento. Como é
ressaltado nas entrevistas e nos grupos focais, a comunidade escolar
carrega um profundo orgulho por ter sido a primeira escola pública
de ensino médio a participar dos Encontros Anuais da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Destaca-se, ainda, o
papel central do diretor, morador da comunidade e com grande
atuação na associação de moradores, sendo sua militância
fundamental para a aproximação entre escola, comunidade e
familiares.
Enfim, a feira de ciência, o projeto de matemática, a feira de
geografia e química, o teatro e a dança, como outras ações e fatores,
compartilham um mesmo objetivo, que é diminuir as desigualdades
intelectuais e culturais dos alunos das escolas públicas brasileiras.
Em boa medida, essas atividades contribuíram para superar situações
de violência vividas pela escola. O fato é que, surpreendentemente,
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
como as manifestações culturais, as atividades científicas podem
produzir, nas diversas juventudes, mobilização, participação,
envolvimento, auto-estima, responsabilidade etc., viabilizando, para
muitos desses alunos, uma cidadania ativa, distante de situações
capazes de os colocar em situação de vulnerabilidade social.
3.2.7 Goiás
COLÉGIO ESTADUAL EDMUNDO ROCHA
Rua Leopoldo de Bulhões, s/n° Setor Vera Cruz II, Goiânia/GO.
Contexto sociodemográfico do município Goiânia
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Contexto educacional
Caracterização da Escola
O entorno
O Colégio Estadual Edmundo Rocha localiza-se no bairro
Conjunto Vera Cruz II, situado na região periférica de Goiânia. O bairro
foi criado por volta de 1983, a partir do conjunto habitacional destinado
quase que exclusivamente a pessoas carentes. Em 1984, foi construída
a escola e, na mesma época, postos de saúde, centro comunitário e alguns
equipamentos urbanos. Hoje, tornou-se uma “cidade dormitório”.
A população conta com alguns supermercados e pequenas
confecções. As casas têm boa estrutura, saneamento básico, esgoto
e água tratada, ruas asfaltadas, iluminação pública, praças e linhas de
ônibus que integram o bairro ao centro da cidade.
A unidade escolar
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
O estabelecimento foi constr uído em 1984 e inaugurado em 1985.
sofreu algumas reformas de ampliação, além da constr ução de um
muro a sua volta, contando com recursos do FUNDEF.
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O principal problema enfrentado pela escola em sua trajetória foi
a violência, que, no momento, vem sendo combatida com a realização
de eventos e palestras em um amplo processo de conscientização sobre
suas conseqüências na vida dos alunos. A direção tem convocado, em
deter minados momentos, o Conselho tutelar, pais, polícia civil e o
juizado da infância e juventude para, juntos, definirem as estratégias
que a escola de ve adotar.
A presença nas reuniões convocadas pela escola ainda é
considerada pequena. Para os pais, em geral, a escola é vista como
o ponto de apoio para todos da comunidade e uma r eferência para o bair ro.
Ela é conhecida pela qualidade de ensino, pela criatividade e pelo
trabalho de equipe que desenvolve. Seus alunos trabalham e
estudam na escola.
Maiores problemas enfrentados antes das experiências
inovadoras
As estratégias inovadoras de que o Colégio Estadual
Edmundo Rocha necessitou lançar mão foram antecedidas por
eventos de violência de toda ordem. Dentre eles, as agressões com
explosivos no interior do estabelecimento constituíam fator de
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
preocupação e resultavam no cancelamento das aulas, como relata
um aluno: A gente teve muito pr oblema com a violência no colégio. dois
anos, quando eu vim, nós nunca tínhamos aula, porque sempre tinha bomba
estourando...
Outro aluno, em sua fala, revela o clima de violência generalizada
que se abatia sobre a escola, externa e internamente, envolvendo brigas
e ameaças:
Tinha briga do lado de fora, ameaças de morte por parte dos alunos, alunos
ameaçando pr of essor, ameaçando diretor. Também tinha, tipo assim, briga
de rivalidade entre gangues, né? Tinha até apagão de luz, que eles jogavam
não sei o que nos fios de ener gia de alta tensão e apagavam tudo, pra
tr ocar porrada e tal, faz er bagunça! (Entrevista com aluno, Goiás)
Segundo um coordenador, os problemas se davam,
principalmente, antes de a escola ser murada. Pessoas estranhas, vez
por outra, adentravam o estabelecimento. Além disso, a questão da
droga estava presente: Nós tivemos alunos viciados, mas vinham, também,
pessoas que não eram da escola, provocando brigas. A própria diretora, certa
vez, sentiu-se ameaçada:
Tinha um rapaz que não estudava aqui e era traficante. Ficava assim, de
cócoras, o dia inteiro, sacando os meninos na sala de aula. E, quando a
gente passava próximo dele, ele falava: “Hei, hei, madame! A senhora
mexendo onde não deve...”. O tempo todo era isso. (Entrevista com
diretor, Goiás)
A presença de conflito entre dois grupos rivais, no interior da
escola, também se fazia notar, sitiando áreas inteiras, conforme relato
da diretora: “Eu mando nessa ala, você manda naquela”. Era assim que eles
faz iam. Aquele corredor ali era o beco deles, onde fica vam... Tinha dia, no recr eio,
que eu tinha que ir pr o corr edor ficar escorada na parede, pra eles não tomar em
o corr edor...
A necessidade de transformar esse quadro, por certo, mobilizou
a escola no sentido de buscar alternativas inovadoras.
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Estratégias de superação
Mecanismos de resolução dos problemas: reuniões entre
pais e mestres; reuniões entre professores e alunos; reuniões
entre pais, professores e alunos; encontros privados entre
pais, professores ou direção; encontros privados entre pais,
professores, direção e alunos: conselho tutelar;
conscientização dos alunos em relação aos seus direitos e
deveres; trabalho com o regimento escolar.
Aber tura nos finais de semana: condições de aber tura:
empréstimos à comunidade. atividades desenvolvidas:
atividades da comunidade; trabalho voluntário; aulas de
capoeira; kung fu.
Espaços disponibilizados para os jovens: pátio e quadras
esportivas.
Pessoas e instituições procuradas pela escola para
resolução de conflitos: família, conselho tutelar, a própria
comunidade escolar.
Relação com o Conselho Tutelar: esporádica.
Programas, projetos e experiências
1) Cantinho da Leitura
Origem: a partir da dificuldade observada pelos professores
no que diz respeito à escrita e à leitura dos alunos do primeiro
ano do ensino fundamental, a escola decidiu elaborar um
projeto de utilização dos livros literários distribuídos pelo
MEC para facilitar o acesso dos alunos à literatura.
Tempo de duração: dois anos.
Público-alvo: no início, o projeto estava voltado para o
primeiro ano do ensino fundamental. No momento, este
trabalho atinge a todos os alunos da escola.
Organização: os professores reservam um tempo para
leituras em sala de aula, tendo a preocupação de selecionar
textos e livros relacionados aos temas que estão trabalhando.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Além disso, os alunos têm livre acesso a esses livros, doados
pelo MEC, podendo, mesmo, levá-los para casa. Sempre que
possível, a escola convida contadores de história para
enriquecer esta atividade, incentivando mais ainda a
participação dos próprios alunos.
Objetivos: melhorar a leitura e, conseqüentemente, a escrita
dos alunos. Desenvolver o hábito da leitura e o gosto pela
literatura.
Coordenação: professores.
Desdobramentos: na avaliação dos professores, os alunos
estão mais motivados para as aulas, tendo gosto pela leitura
e escrevendo melhor, com menos erros ortográficos. Uma
aluna, do primeiro segmento do ensino fundamental, teve
um envolvimento tão grande com o projeto que se tornou
contadora de histórias, tendo sido bastante incentivada pela
escola a desenvolver este talento. Em um concurso realizado
recentemente pelo MEC, conquistou o primeiro lugar.
2) Projeto “Enriquecendo nosso vocabulário”
Origem: a constatação da escola quanto às dificuldades dos
alunos para ler e escrever corretamente.
Tempo de dur ação: dois anos.
Público-alvo: o conjunto da escola.
Organização: durante todos os dias da semana, são traba-
lhadas três palavras retiradas de diferentes matérias. Cada
professor procura relacionar estas palavras com sua
disciplina e, sempre que possível, de forma interdisciplinar.
Os alunos fazem pesquisas sobre essas palavras, criam textos
temáticos com elas etc. A escola faz pesquisa junto aos alunos
para saber quais são as palavras que eles querem trabalhar.
Essa atividade procura integrar a realidade do seu entorno.
Ou seja, as palavras selecionadas fazem parte do cotidiano
desses alunos.
Objetivos: enriquecer o vocabulário.
Coordenação: os professores da escola.
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Desdobramentos: a motivação tem sido tão grande que os
alunos procuram saber, antes das aulas, as palavras selecionadas
para o decorrer do dia.
3) Projeto temático “Semana da Comunidade”
Origem: projeto da Secretária de Educação.
Tempo de duração: dois anos.
Público-alvo: escola e comunidade.
Organização: durante uma semana, previamente escolhida, a
escola desenvolve uma série de palestras, exposição de trabalhos
de alunos, apresentação de teatro etc. Estes eventos são
organizados e elaborados pelos alunos e professores e abertos
à comunidade, durante o horário escolar.
Objetivos: facilitar e melhorar a integração da escola com a
comunidade.
Coordenação: professores da escola.
Desdobramento: os pais estão mais presentes na escola e
interessados pelo que ela realiza, inclusive com relação às
atividades extracurriculares. Na escola, isso é apontado como
um fator de incentivo aos alunos com dificuldades de
aprendizagem, que sentem, na presença dos seus responsáveis,
motivo de preocupação com a educação que recebem, o que os
mobiliza mais ainda para os estudos e para a obtenção de boas
notas.
4) Projeto cultural “Folclore”
Origem: a experiência teve início a partir de uma reunião entre
os coordenadores pedagógicos, em que foi discutida a questão
da aculturação, da globalização e do material que é veiculado
pelos meios de comunicação, principalmente a T V. A par tir daí,
a escola começou a pensar em um projeto que trabalhasse, de
for ma dinâmica, a cultura regional.
Tempo de duração: dois anos.
Público-alvo: a comunidade escolar.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Organização: no mês de agosto, são desenvolvidas diversas
ações, tanto em sala de aula quanto em outros espaços e horários.
São apr esentadas peças folclóricas e servidas comidas típicas,
diferentes a cada semana. As atividades são sugeridas pela
coordenação pedagógica e pelos professores, discutidas com
os alunos e têm a par ticipação de toda a comunidade escolar.
Objetivos: conhecer a cultura local de Goiás e,
conseqüentemente, a cultura brasileira.
Coordenação: professores.
Desdobramentos: os alunos passaram a conhecer a cultura
regional e a valorizá-la. Estão mais cooperativos, na medida em
que todos contribuem para a realização destes eventos,
apreciando coletivamente o resultado alcançado por cada grupo.
5) Projeto “Ecologia e Meio Ambiente”
Origem: este projeto surge a partir da necessidade de
conscientizar os alunos sobre algumas questões ambientais,
em virtude, principalmente, dos problemas relacionados à
existência do lixo produzido pelos alunos durante as aulas.
Quando as aulas terminavam, a sala estava muito suja. A
comunidade local também sofria com o excesso de lixo e a
parca coleta existente não dava conta da demanda.
Tempo de duração: cinco anos.
Público-alvo: o conjunto dos alunos.
Organização: a escola trabalha com a coleta seletiva de
lixo para posterior reciclagem. O dinheiro obtido é revertido
para a instituição. Todos os alunos trazem o lixo coletado
de casa. Cada tur ma fica responsável por um tema para ser
aprofundado, procurando relacioná-lo às questões
ambientais. Na data previamente estabelecida, cada gr upo
apresenta seus estudos para toda a escola. Além destas
exposições, a escola agendou visitas de todas as tur mas a
uma fábrica de reciclagem e à fábrica da “Coca-Cola”.
Posterior mente, o conteúdo dessas visitas foi trabalhado
em sala de aula.
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Objetivos: valorizar e preservar o meio ambiente e
conscientizar os alunos em relação à produção do lixo.
Coordenação: coordenadores pedagógicos.
Desdobramentos: a escola avalia que ainda é cedo para
obser var os resultados deste projeto, mas considera que os
alunos estão mais conscientes, cuidando melhor do
estabelecimento e da comunidade em que vivem.
Perspectivas da escola
O Colégio Estadual Edmundo Rocha, num passado não muito
remoto, viveu sérios problemas de violência: ar mas nas mãos dos
alunos, brigas entre gangues rivais, que se valiam do fato de a escola
não ter muros para intimidar os alunos dentro das salas de aula
expostas à r ua. Além disto, as bombas estour adas no banheiro, no
pátio e as freqüentes ameaças faziam com que o colégio tivesse
péssima fama.
Atualmente, os problemas de violência não existem mais e
os alunos antes considerados problemáticos são os que lideram o
processo de tr ansfor mação. Segundo depoimento do diretor, os alunos
adquiriram conhecimentos sobre prevenção e estão mais conscientes, sabem
trabalhar em grupo e se r elacionar com os outr os. As mudanças trazidas
para a escola são inúmer as, confor me afir mam os próprios alunos:
Antes, a escola era pichada, dentro e fora das salas... as portas quebradas.
Hoje, está diferente, as paredes estão limpas e os alunos estão mais unidos.
São consideráveis as contribuições dos projetos desenvolvidos
na escola, tanto para a melhoria da qualidade do ensino e a reversão
dos índices de evasão e repetência quanto para a mudança de
conce pção dos professores, no que diz respeito à avaliação. De acordo
com um prof essor, o colégio, hoje, tem 90% de aprovação, quando,
anterior mente, esse índice estava em tor no de 70%.
No período que antecedeu os projetos, as discussões em sala
de aula, muito freqüentes, dificultavam o aprendizado. Entretanto,
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
os alunos perceberam que os professores passaram a se preocupar
mais com o processo ensino-aprendizagem e com a vida deles de um
modo geral. Os alunos citam os trabalhos de pesquisa como capazes
de contribuir para a aprendizag em de for ma significa tiva.
A amplitude do trabalho interdisciplinar vem contribuindo para
uma nova postura dos professores com relação ao seu trabalho. Eles
passam a compreender que fazem parte de um todo e que os diversos
conteúdos das diferentes matérias podem ser trabalhados de for ma
articulada. Assinalam a mudança positiva que sofreram na for ma de
pensar a função da escola, suas r esponsabilidades, papéis e limites.
É maior a preocupação do coletivo da escola com um trabalho
que possibilite a elevação da auto-estima dos alunos, o que gera
mudança no comportamento durante as aulas. Vêm sendo
priorizados, na dinâmica dos projetos, a verbalização dos alunos, o
desenvolvimento da linguagem e o investimento em sua maior
presença nos diversos tur nos. Os projetos vêm mostrando que existem
outras maneir as de viver a vida que não as ag ressivas e desrespeitosas.
um crescimento da autonomia dos alunos que passaram “a
fazer” as atividades e não mais “sendo colocados a faz er”. Além disso,
deter minados professores passaram, com a prática dos projetos, a
ficar com seus alunos na escola além do horário, o que também tem
contribuído para o diálog o entre eles.
Graças à realização dos projetos, a escola melhorou suas
condições físicas e materiais, construiu novas salas de aula,
implantou a biblioteca, ampliou seu acer vo, trocou as carteiras,
adquiriu computadores e constr uiu o muro. Todos estes g astos for am
viabilizados pelo Plano de Diretriz Escolar.
Pais e professores reconhecem que está havendo mudanças no
comportamento dos jovens estudantes e percebem que, no que tange
à violência, houve transfor mações significativas. Conf orme assinala
um professor: Antes da construção do muro, a violência existia... Hoje, não
existe mais. Primeiro, pela construção do muro; depois, pela realização de um
trabalho de conscientização e sociabilidade com os alunos .
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3.2.8 Mato Grosso
ESCOLA ESTADUAL PRESIDENTE MÉDICI
Avenida Mato Grosso s/n° Bairro Araés, Cuiabá/MT.
Contexto sociodemográfico do município Cuiabá
Contexto educacional
Fonte: Sistema de Estatísticas Educacionais INEP/MEC, 2002.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Caracterização da Escola
O entorno
A Escola Estadual Presidente Médici está localizada em uma das
avenidas centrais de Cuiabá e é vista de longe, pois foi construída em
um terreno muito acima do nível da rua. Seu acesso principal é feito
pela subida de uma rampa cercada de coqueiros que dão a ela um
certo “ar de imponência”, embora constantemente quebrado pelo
vaivém colorido e festivo dos alunos que transitam na rampa.
São muitas as lojas existentes no seu entorno, dentre elas, lojas
de telefones celulares, locais para fotocópias de documentos,
lanchonetes, bares, restaurantes e discoteca. Nos fundos está o bairro
Araés, conhecido como um dos mais tradicionais da cidade. É um
bairro de classe média, mas também de setores populares.
A localização central da escola favorece a locomoção dos alunos,
que dispõem de diversos pontos de ônibus em frente a ela, com muitas
linhas e circulação freqüente. O clima na avenida, onde está situada
a escola, especialmente à noite, é de muito movimento, com eventos
culturais e cívicos, carnaval, desfile de 7 de Setembro, Micarecuia
carnaval fora de época –, shows, comícios e manifestações políticas.
A unidade escolar
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A escola foi construída no ano de 1976, num contexto sociopolítico
em que verbas públicas foram responsáveis pelo levantamento de prédios
considerados como verdadeiros “elefantes brancos”.
Havia uma necessidade de mostrar um estado “inovador e sério”
nas suas ações públicas. A escolha do material utilizado na construção da
escola fortalece estas idéias. Em alguns espaços, a escola possui pisos que
“imitam” mármore branco. O morro onde está construída era um lugar
onde havia uma cacimba de água que alimentava a população cuiabana.
Observando a sua organização, percebe-se que os professores
são divididos por modalidades de ensino, permitindo facilmente
detectar que os do ensino fundamental parecem não comungar das
mesmas inquietações dos professores que atuam no nível médio.
O perfil dos professores, quanto à classe social, é revelado pelo
grande número de carros novos estacionados no pátio da escola.
Na tentativa de identificar os processos institucionais que
permeiam as relações cotidianas da comunidade escolar, é possível
destacar a representação acerca do seu espaço físico como um dos
elementos estruturais do imaginário da escola, funcionando como
organizador das práticas desenvolvidas pelos grupos que ali convivem.
A Escola Presidente Médici é reconhecida como uma escola bem
estruturada e funcional, apesar de grande.
Na história da escola, tem destaque o palco e o porão como
ambientes constantemente mencionados. Neste cenário, o palco
aparece como espaço físico significativo e pode ser comparado com
um “coração democrático”, espaço de ficar, apresentar, se mostrar,
de assistir, opinar, manifestar. O palco é ação, emoção e
sociabilidade, ambiente de comunhão.
O espaço físico da escola parece simbolizar um valor positivo
no que se refere à qualidade de ensino. Marcada pelo nome de um ex-
presidente, a escola foi, de fato, colocada no cenário educacional mato-
grossense para funcionar como centro de referência. Por este motivo,
alguns alunos relatam a responsabilidade que sentem em mantê-la
como uma das melhores do Estado.
Sensível ao processo de desvalorização do magistério e do ensino
público, a escola se frente ao desafio de sustentar a sua imensa
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infra-estrutura, ao mesmo tempo em que se sente sintonizada com
as discussões sobre educação.
Com relação à violência, apresenta posturas diferentes, que
oscilam do imobilismo, quando se trata da violência da família, à
expulsão da escola, para os casos considerados graves. Ainda de
forma intuitiva e pela via estética, tem buscado compreender o
universo juvenil.
Intuitivamente, a escola diz, através do palco, que o caminho
para a superação da violência está na expressividade, na arte e nas
manifestações culturais. Segundo depoimentos, o palco era um antigo
fosso que abrigou uma pessoa armada que ameaçou a escola, em um
dia de aula. O palco em si é, neste sentido, a própria ressignificação
de uma experiência violenta.
A escola pode ser percebida, também, pelos seus cartazes nas
paredes, pelo painel interativo das campanhas para o grêmio
estudantil, pelos anúncios dos filmes do Cine Escola, pela ginga da
capoeira do mestre Didi, ocupando o palco no fim da tarde, misturada
ao o som dos ensaios da fanfarra.
Todas essas pistas remetem a pensar sobre o que o espaço, os
ambientes podem revelar no burburinho dos jovens, ouvem-se
afir mações como estas: Sabe? No segundo piso a gente ama, adora!!! Tem a
quadra de esporte, o ginásio, o namoro (risos).
Maiores problemas enfrentados antes das experiências
inovadoras
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
A Escola Presidente Médici enfrentava diversas formas de
violência anteriormente à adoção de projetos inovadores. Os
problemas ocorriam numa escala que ia desde as agressões verbais,
por motivos banais, até o consumo e o tráfico de drogas, praticado
por determinados alunos: vi garotos fumando maconha no banheiro,
cheirando cocaína, sei , afirma um aluno.
As disputas entre os alunos, freqüentemente, degeneravam em
agressão física. Segundo um professor, isso era bastante comum.
Entretanto, ainda que apenas uma vez, chegou a ser registrado o fato
de um aluno bater em uma professora.
Tais ocorrências tendiam ao agravamento. Como afirma um
estudante, houve até caso de ameaça com arma: Foi justamente num
evento... O aluno trouxe um revólver e começou a ameaçar o pessoal
e atirar. Trouxe bebida também, mas isso foi uma vez...
A adoção de medidas inovadoras seria o caminho capaz de
reverter esse processo.
Estratégias de superação
Mecanismos de resolução dos problemas: conselhos, reuniões
entre pais e mestres, reuniões entre professores e alunos, reuniões
entre pais ou responsáveis, professores e alunos, serviço de
orientação educacional, aproximação com a comunidade.
Abertura nos finais de semana: condições de aber tura:
programas e projetos institucionais, empréstimo para a
comunidade, projetos da própria escola, atividades
desenvolvidas: Festas religiosas, comemorações da
comunidade, atividades esportivas/recreação, música, teatro,
trabalhos manuais, atividades da comunidade/trabalho
voluntário, atividades escolares/reforço/pré-vestibular,
sessões de filmes, festas de 15 anos a pedido das alunas.
Espaços disponibilizados para os jovens: pátio e quadras
esportivas, sala do grêmio e saguão da escola.
Pessoas e instituições procuradas pela escola para
resolução de conflitos: família, comunidade escolar, polícia.
Relação com o Conselho Tutelar: esporádica.
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Programas, projetos e experiências
1) Projeto Recare
Origem: observação feita na escola por um professor de
matemática sobre a “eterna” dificuldade dos alunos com a
matéria. Preocupado em fazer alguma coisa que contribuísse
para modificar a situação, o professor, ao procurar a
Secretaria Estadual de Educação para discutir uma alternativa
prática que ajudasse os alunos na superação de suas
dificuldades, tomou conhecimento desse projeto.
Tempo de duração: não especificado.
Público-alvo: alunos do ensino médio.
Organização: o aluno que gosta de matemática tem um
espaço reservado, confortável, com ar-condicionado, 10
televisões e audiovisual, onde tem oportunidade de estudar
e ter aulas de reforço. Nela, os alunos se sentem à vontade
para ler e discutir.
Objetivos: desenvolver o pensamento matemático dos
alunos de uma forma mais prazerosa e, conseqüentemente,
mais fácil.
Coordenação: é um programa direcionado para o ensino
médio e coordenado pelo professor de matemática.
Desdobramentos: hoje, alguns alunos fazem matemática na
Universidade Federal. Destes, alguns se drogavam, outros
chegaram a ser traficantes. Entretanto, foram os que mais
freqüentaram o Recare. Cabe ressaltar que vários alunos de
outras escolas públicas encontram neste espaço, em época
de vestibular, as aulas de reforço que buscam.
2) Projeto da fanf ar ra
Origem: a fanfarra tinha sido uma experiência na escola,
mas, aos poucos, foi sendo desativada não contava mais
com professores e, muito menos, com os instrumentos
necessários. A partir da mudança de direção, em 2000, ela
começa a ser recuperada, com a ajuda de professores e alunos
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
e, aos poucos, vai retomando sua importância, com a
reorganização de sua estrutura.
Público-alvo: alunos.
Organização: o professor de educação física, que coordena
este Projeto, trabalha a lira e alguns instrumentos caixa,
pratos, surdo e chocalho e cada aluno escolhe, dentre eles,
o que mais lhe agrada para tocar. O porão da escola é que
abriga a fanfarra, por ser um lugar que abafa o som, não
atrapalhando outras atividades escolares. A fanfarra tem sido
considerada a expressão da arte dos alunos. O grupo ensaia
cotidianamente, levando a sério o compromisso de romper
com o traço do militarismo presente na fanfarra.
Objetivos: desenvolver a musicalidade nos alunos. Fazer com
que eles, por intermédio da música, “amenizem” sua
agressividade e descubram seus talentos.
Coordenação: professor de educação física.
Desdobramentos: a organização atingida permitiu à escola
ter, hoje, uma fanfarra “de linha”, que funciona quase
diariamente. Muitos dos alunos deste Projeto eram vistos
como problemáticos e, hoje, a partir do tempo que dedicam
a esta atividade, vêm sendo capazes de se apresentar em shows,
o que tem contribuído muito para sua auto-estima. A escola
aponta uma mudança significativa destes alunos, a partir do
contato com a música. A fanfarra é requisitada durante todo
o ano para participar de vários concursos. Seus integrantes
foram a Campo Grande (MS) e agora os planos incluem o
Rio de Janeiro, para participar de um concurso de fanfarras.
No momento, conta com 100 integrantes e é, com certeza,
um dos orgulhos da escola. Este projeto nasceu com a escola,
perdeu vida, mas foi resgatado pelos alunos. Sua apresentação
inclui peças da música popular brasileira e outros gêneros.
3) Projeto Artífice
Origem: a partir da seleção de um grupo de alunos, feita
pelo professor de artes, foi montado um ateliê, onde
funcionava, anteriormente, um antigo depósito de cadeiras.
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Tempo de duração: não especificado.
Público-alvo: alunos.
Organização: este trabalho obedece a uma seqüência que
compreende o desenho espontâneo, a desconstrução do
desenho, o desenho em diferentes tamanhos de papel, a
utilização das cores dos lápis e o trabalho com as tintas. A
análise da produção realizada inclui a atenção ao traço e a
qualidade da imagem retratada. Seus temas são drogas,
relações familiares, “eu no mundo”, a política, o capitalismo
e o socialismo. Todos esses assuntos têm sido temas
potenciais para os desenhos. Este Projeto é mantido pelo
Conselho Estadual de Cultura de Mato Grosso e pela escola.
É coordenado por um artista plástico, destaque no Salão
Jovem Arte Mato-Grossense, voluntário, “amigo da escola”.
Objetivos: desenvolver uma nova linguagem estética nos
alunos, com vistas à promoção do protagonismo juvenil.
Coordenação: professor de artes.
Desdobramentos: muitos dos alunos da escola, hoje,
trabalham com artes. Mesmo alguns deles, considerados pela
escola como problemáticos, vêm-se mostrando criativos e
talentosos, o que tem contribuído muito para uma mudança
no comportamento que tinham.
4) Projeto Cine Escola
Origem: aulas do professor de história, que tinha como
prática utilizar filmes para ilustrar sua matéria. Esta
experiência fez tanto sucesso entre os alunos que a direção
resolveu em conjunto com os professores ampliar a
exibição de filmes para todas as matérias. Esta idéia cresceu
e a escola criou um projeto para exibir esses filmes aos
sábados.
Tempo de duração: três anos.
Público-alvo: alunos e comunidade.
Organização: a escola oferece sessões de filmes e
documentários para os alunos, aos sábados, pela manhã. Eles
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
são selecionados pelos professores, de acordo com o
conteúdo que está sendo trabalhado no cotidiano das aulas.
A partir daí, o professor, em sala de aula, trabalha o conteúdo
do filme, procurando fazer relações com a sua disciplina.
Objetivos: utilizar, de forma pedagógica, diversos recursos
visuais. Relacionar os conteúdos dos filmes aos das matérias.
Oferecer aos alunos acesso a filmes diversos. Ampliar o
conhecimento sobre determinado tema.
Coordenação: professor de história.
Desdobramentos: além do sucesso deste projeto entre os
alunos e a comunidade, visto que todos os sábados a sala de
exibição fica lotada, a escola direção e professores recebeu,
em 25 de maio de 2003, uma moção de aplauso da Assembléia
Legislativa, pelo acesso da comunidade escolar ao cinema e
pelo trabalho pedagógico com recursos audiovisuais.
5) Projeto Olimpíadas
Origem: o desejo de integrar todas as atividades esportivas
desenvolvidas pela Educação Física e a ampliação das
modalidades oferecidas aos alunos.
Público-alvo: todos os alunos.
Tempo de duração: três anos.
Organização: os esportes são treinados durante as aulas de
educação física, embora seja permitido aos alunos
interessados permanecer também na escola, fora do horário
escolar, desde que a quadra não esteja sendo usada. Além
disso, para aquelas modalidades que a escola não tem
estrutura física para oferecer natação e atletismo –, foram
feitas parcerias com algumas escolas locais e com a
Universidade Federal, para que possibilitassem, aos alunos
interessados, o uso dos seus espaços. A olimpíada acontece
uma vez por ano, no mês de junho , e é realizada com todas
as pompas que este evento pressupõe: abertura oficial, com
direito a volta olímpica na quadra com a tocha acesa e
distribuição de medalhas. Além do trabalho esportivo, a
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escola trabalha interdisciplinarmente as áreas de língua
portuguesa e história, relacionando-as com as atividades das
olimpíadas. Em história, os alunos trabalham a origem das
olimpíadas, o que contribuiu para que elas se popularizarem
etc. O evento é aberto à comunidade, que tem participado
amplamente, torcendo e incentivando os atletas.
Objetivos: descobrir talentos, unir as turmas, incentivar o
espírito de equipe e trabalhar os sentimentos de vitória e derrota.
Coordenação: a coordenação obedece a um rodízio entre os
professores de educação física. A cada ano, um é escolhido
para permanecer à sua frente.
Desdobramentos: alunos vistos como problemáticos estão
mais tranqüilos. Um desses alunos, inclusive, é campeão em
várias modalidades. Considera-se que as mudanças que este
projeto tem proporcionado são perceptíveis. Exemplo disso
são os alunos que têm deixado de usar drogas para participar
do esporte, além daqueles que também têm participado mais
intensamente do cotidiano escolar. Segundo o diretor, o
esporte, ao trabalhar a disciplina, ajudou a diminuir o índice
de reprovação. A partir das três olimpíadas realizadas na
escola, decidiu-se por organizar, no próximo ano, uma
exclusiva para os pais dos alunos.
6) Projeto Capoeira
Origem: necessidade de ocupar o tempo livre dos alunos,
principalmente daqueles considerados indisciplinados. A
capoeira permite, no desenrolar do seu jogo, da sua dança,
trabalhar de forma prazerosa questões como disciplina,
responsabilidade e cooperação.
Tempo de duração: dois anos.
Público-alvo: alunos, principalmente aqueles caracterizados
como indisciplinados.
Organização: a capoeira trabalha com a música (tanto
cantada quanto tocada), a coordenação motora e o equilíbrio,
por meio de seus diversos movimentos. Inicialmente, o
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
professor faz um alongamento com os alunos e, em seguida,
eles fazem a roda. As músicas são cantadas durante todo o
tempo que dura a roda. As aulas acontecem às terças e
quintas, à tarde, depois das aulas. Elas são dadas por um ex-
aluno, hoje funcionário contratado pela escola.
Objetivos: trabalhar a disciplina, a consciência corporal e a
cultura afro-brasileira.
Coordenação: ex-aluno contratado pela escola como
funcionário.
Desdobramentos: é visível a mudança de comportamento
daqueles alunos considerados mais problemáticos, tanto na
participação em sala de aula quanto na sua vida cotidiana.
Perspectivas da escola
A Escola Presidente Médici tem trabalhado algumas propostas
que ajudam a enfrentar as diversidades e os desafios impostos pela
rotina da comunidade estudantil. A entrevista com o diretor sinaliza
nuances deste movimento:
Por mais que tenha alguém que fale mal da escola pública, nós achamos que ela é
a melhor, porque aqui nós trabalhamos com muitas diferenças. Tem escolas que
selecionam, que classificam para o aluno entrar... Então, eu acredito que a escola
pública, hoje, recebe todo mundo. Aqui na escola Presidente Médici, nós temos
aquele filho que não tem pai nem mãe, a filha da empregada doméstica e o filho do
doutor, do médico e do juiz. (Entrevista com diretor, Mato Grosso)
Tais desafios envolvem, também, a questão da droga, que atingia
vários alunos, tendo havido, inclusive, a penetração de traficantes
no interior da escola, como relatam alguns professores. Agressões
verbais e físicas, igualmente, retratam o clima de violência vigente
antes de se buscarem alternativas de mudança.
O caminho escolhido tem sido o de construir estratégias de
superação das suas dificuldades a partir de diferentes projetos, que
priorizam diversas linguagens, como o cinema, a música, a leitura, o
teatro, a fanfarra, as artes, a dança. Esta preocupação é clara e
intencionalmente definida: a arte como canal de expressividade,
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transcendência do ser humano, ressignificação de identidades e
elemento fundamental para a diminuição de situações de violência
no interior da escola, na medida em que os jovens têm acesso a formas
múltiplas de expressão e se descobrem confiantes em sua própria
capacidade de criar.
3.2.9 Pará
ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO FUNDAMENTAL E
MÉDIO BRIGADEIRO FONTENELLE
Rua São Domingos, 511 Terra Firme, Belém/PA.
Contexto sociodemográfico do município Belém
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Contexto educacional
Fonte: Sistema de Estatísticas Educacionais INEP/MEC, 2002.
Caracterização da Escola
O entorno
A Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Brigadeiro
Fontenelle está localizada na principal avenida do bairro Terra Firme,
com trânsito intenso e muito movimento de pessoas, com as melhores
lojas, uma feira e o mercado municipal. É um dos mais populosos
bairros da periferia da cidade de Belém. Possui cerca de 37% de sua
área no nível inferior ao da maré, sendo cortado por vários igarapés
que formam a Bacia do Tucunduba. As casas são de alvenaria e
ocupam os terrenos mais altos; nos terrenos aterrados e de charco a
predominância é de palafitas, por onde se chega por meio de estivas,
que são pontes estreitas de madeira. A área mais próxima à escola é,
entretanto, de terrenos mais altos. Sua população, muito pobre, é
estimada em aproximadamente 150.000 pessoas, das quais cerca de
50% habitam nas áreas mais alagadas.
O bairro aparece nos meios de comunicação como sendo de
grande violência, com ações de gangues de jovens, drogas e
homicídios. Cerca de 50% dos seus domicílios estão em áreas “de
ocupação”. As condições de saneamento são precárias e responsáveis
pela grande incidência de cólera, leptospirose e diarréia infecciosa.
A localidade possui duas Unidades Básicas de saúde, um Centro
de Saúde, um Hospital Universitário e uma Clínica Odontológica
Universitária, pertencentes à Universidade Federal do Pará.
A atividade econômica caracteriza-se pela informalidade, com
muitos vendedores autônomos e prestadores de serviços. boa
rede de transporte urbano, com diversas linhas de ônibus e apenas
uma praça e campos de futebol como áreas de lazer.
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A unidade escolar
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A escola foi fundada em 1972, inicialmente com apenas seis salas
de aula. Aos poucos, foi sendo reformada e ampliada para atender à
demanda do bair ro. Recebe, principalmente, alunos do próprio bair ro,
embora alguns morem relativamente longe da escola.
A história da escola foi construída permeada de muitos
problemas, que, embora inicialmente tidos como exteriores a ela,
foram, aos poucos, surgindo e crescendo no seu interior: depredação,
invasões de gangues, ausência de professores, evasão e repetência,
indisciplina por parte dos alunos, consumo de drogas nos fundos da
escola, como forma de agredir e provocar alguns alunos, alcoolismo
por parte de professores, tentativa de homicídio de um professor, saques
e roubos. Segundo rela tos, parece que, aos poucos, foi se configurando
uma “situação de caos”, com desorganização administrativa, inúmeros
problemas pedagógicos e de relações, dificuldade em obter professores,
em virtude do medo e de sua “má fama”. A imagem da escola tornou-
se extremamente negativa. Alvo de noticiários, ficou conhecida como
uma das 10 escolas mais violentas da cidade. Os pedidos de transferência
chegaram a ameaçar o seu funcionamento, por falta de alunos, e a
própria comunidade chegou a pensar na sua paralisação, devido às
inúmeras aulas suspensas por invasões, brigas e telefonemas
ameaçadores. Os professores, alunos, funcionários e pais viviam
apreensivos e com muito medo.
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Esta situação resultou em um processo de intervenção que durou
sete meses. A equipe de inter venção encontrou, inicialmente, muita
resistência. Concomitantemente, foi criada uma Companhia
Independente de Policiamento Escolar, integ rante da polícia Militar
do Estado, que passou a atuar nesta e em outras escolas, conseguindo
conter, de cer ta for ma, o alto índice de violência.
Após os sete meses de inter venção, foi empossada uma nova
diretora, que per manece até hoje. Ela iniciou um processo de
reconstr ução pedagógica da escola, que foi desencadeado a par tir da
Feira Cultural, considerada um g rande evento e uma primeira tentativa
de reconstr uir a auto-estima, as relações, algumas metas e reg ras da
escola, ref letir sobre o cur rículo, enfim, construir o Projeto Pedagógico
da Escola.
A partir dessa iniciativa, começaram a ser trabalhados vários
projetos, com o objetivo principal de ressignificar seu papel social.
A escola passou por um processo de reforma que durou
aproximadamente dois anos e praticamente constr uiu uma “nova
escola”, que dispõe, no momento, de uma excelente infra-estr utura,
com espaços e equipamentos novos e de boa qualidade. Durante a
refor ma, a escola funcionou precariamente em uma paróquia e um
centro comunitário. Apenas em ag osto de 2002, quando ficou pronta,
é que a escola voltou a funcionar normalmente. No segundo semestre
de 2002, houve uma retomada do trabalho, com reorganização do
espaço e das suas atividades. Na verdade, a reforma não está
totalmente finalizada. Ainda existem trabalhadores executando alguns
ser viços no auditório, ainda não concluído.
A escola tem grandes muros, grades e um rigoroso controle de
entrada e saída das pessoas. Seus portões são per manentemente
trancados a cadeado, talvez herança dos g r aves problemas de violência
pelos quais passou. Está nova e é bonita, apesar de sua história
conturbada.
No momento, pode ser caracterizada como bem org anizada, com
um esquema de direção-geral e alguns vice-diretores que funcionam
por tur nos. Não dispõe de equipe técnica. A coor denação pedagógica
é feita por pr ofessores, por meio de projetos que eles coordenam. Tem
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divisão de funções bem delimitadas e a equipe é bem entrosada. Seus
funcionários e professores também demonstram gostar muito dela, pois
mencionam o fato de se sentirem bem no trabalho, participando
amplamente no seu cotidiano. Alguns professores, em função da carga
horária, passam o dia na escola e se dizem satisfeitos, “como se
estivessem em casa”, o que faz com que ela possa contar com a
disponibilidade deles para a realização das “feiras, festas, passeios e
mutirões de limpeza”.
Maiores problemas enfrentados antes das experiências
inovadoras
Tida como um dos dez estabelecimentos educacionais mais
violentos de Belém, a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio
Brigadeiro Fontenelle sofria com o distanciamento dos próprios
professores, amedrontados com a violência ali registrada, em uma das
áreas de mais alta periculosidade da cidade. O estado de depredação
em que as instalações se encontravam era, segundo vários depoimentos,
indício de tal situação.
A escola sofria com a invasão de gangues que, armadas,
praticavam saques e assaltavam alunos e professores, provocando a
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interrupção das atividades. O testemunho de um supervisor é
ilustrativo:
Violência? Teve bastante, sim... Esses pi vetes, que circulavam aqui no
bair r o, chegavam a entrar, invadir o colégio... Entravam na sala de aula
e ar rancavam os lápis das crianças lápis, cader no... sem que os
professores pudessem fazer nada. Uma vez, chegaram a dar um tiro pra
dentro de sala em que eu estava dando aula. (Entrevista com
super visor, Belém)
Problemas de roubo, ao que parece, eram comuns, mesmo entre
alguns alunos, como afirma um estudante: Teve r oubo na sala. Alguns
alunos pegaram a bolsa de um colega e começaram a fazer brincadeiras com essa
bolsa. Aí, abriram e tiraram uma determinada quantia em dinheiro dela e a
entregaram sem essa quantia.
O apelo das drogas, certamente, também estava presente,
havendo vários casos de alunos usuários. O uso de ar mas, nesses casos,
era eventualmente registrado, como for ma de intimidar aqueles que,
por ventura, tomassem alguma atitude: Tinha alunos que vinham ar mados.
À noite, eles traz iam cigar r os de maconha, fuma vam aqui atrás, escondidos...
a gente passa va por eles e eles estavam lá, de cigar r o aceso.
A recuperação da escola enfrentava, portanto, uma situação-
limite, na medida em que diversas for mas de violência tendiam a
degradá-la de maneira aparentemente inexorável.
Estratégias de superação
Mecanismos de resolução dos problemas: conselhos;
reuniões entre pais e mestres; reuniões entre professores e
alunos; reuniões entre pais ou responsáveis, professores e
alunos; reuniões entre pais ou responsáveis e professores ou
direção; reuniões entre pais ou responsáveis, professores,
direção e alunos; polícia; conselho tutelar; igrejas;
comunidade; regimento da escola (procedimentos, do mais simples
ao mais sério: r eunião de pr ofessor e aluno; r eunião de ser viço técnico
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
e aluno; r eunião de ser viço técnico e r esponsáveis; r eunião de conselho
escolar; r eunião de conselho tutelar).
Aber tura nos finais de semana: condições de aber tura:
programas e projetos institucionais; empréstimo à
comunidade; projetos da própria escola. atividades
desenvolvidas: festas religiosas; festas e outras comemorações;
atividades esportivas/recreação, música, teatro, trabalhos
manuais; atividades da comunidade, trabalho voluntário;
atividades escolares (reforço, pré-vestibular etc.); catequese;
capoeira.
Espaços disponibilizados para os jovens:todaaescola.
Pessoas e instituições procuradas pela escola para
resolução de conf litos: família, conselho tutelar, ig rejas
locais, Secretaria de Educação, a própria comunidade escolar.
Relação com o Conselho Tutelar: esporádica.
Programas, projetos e experiências
1) Ronda Escolar
Origem: necessidade de um apoio externo para os alunos e
profissionais da escola, pelo fato da escola estar localizada
em um bairro periférico, altamente populoso e sofrer
constantes ameaças e pequenos fur tos.
Tempo de duração: quatorze anos.
Público-alvo: a comunidade escolar e comunidade.
Organização: inicialmente, a ronda era feita durante todos
os tempos de aula, sendo que um policial ficava dentro da
escola, principalmente na portaria. Atualmente, a escola não
vem sentindo mais a necessidade da ronda em todos os turnos,
daí ela se restringir à noite, por ser o período mais violento.
Um policial per manece durante a noite na por taria ou, então,
quando a escola faz uma ocorrência ou um pedido especial.
Como por exemplo, solicitando aos policiais da ronda que
ajudem transportando alunos acidentados ou doentes para o
hospital, ou mesmo o ser viço de uma ambulância.
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Objetivos: prevenção da violência.
Coordenação: Projeto Ronda Escolar: SIOP Sociedade
Internacional de Oncologia Pediátrica.
Desdobramentos: inibição da violência na escola e no seu
entorno e maior entrosamento da polícia com os alunos e
comunidade.
2) Atividades espor tivas e recr eativas
Origem: o desejo dos professores de educação física de
ampliar as atividades extracurriculares oferecidas,
possibilitando aos alunos entrar em contato com um maior
universo espor tivo. Este projeto foi ampliado posteriormente,
passando a abrang er outras atividades recr eativas, como, por
exemplo, o teatro.
Tempo de duração: treze anos.
Público-alvo: a comunidade escolar.
Organização: para as atividades esportivas, a escola realizou
uma parceria com a Universidade Rural de Belém, a fim de
que os alunos tivessem um espaço para treinar as atividades
relacionadas ao atletismo. Os demais esportes são treinados e
praticados na própria escola. As atividades recreativas são
desenvolvidas fora do horário escolar, embora dentro da escola.
A coordenação é feita pelos professores de educação física e
pela direção.
Objetivo: resgatar a auto-estima dos alunos. Ocupar, de
maneira positiva, o tempo dos alunos com a prática de esportes
e desenvolver cer tas habilidades muitas vezes desconhecidas.
Desdobramentos: a escola, em parceria com uma ONG local,
de teatro, está oferecendo um curso aberto a todos, para
formação de profissionais na área do teatro. Os alunos
envolvidos com o esporte viajam para competições
interestaduais, financiados pelo g overno do Estado. Estão
mais “amigos” da escola, “vestindo a camisa” em prol da
educação de qualidade. Estão cada vez mais participando da
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
vida escolar, aumentando o vínculo e se sentindo integrantes
da comunidade escolar. Além disso, esses alunos melhoraram
o rendimento nas diferentes matérias e estão mais
disciplinados. As atividades lhes têm possibilitado outros
caminhos, quanto a maiores oportunidades de participação
social. Mudou a imagem da escola junto à comunidade, que
passando a vivenciar suas transfor mações, construiu um
conceito positivo a seu respeito.
3 ) Ações cur riculares: feira cultural, eventos de estudo/
seminários, palestras, orientação sexual
Origem: a preocupação quanto à possibilidade dos alunos
terem uma participação maior no cotidiano da escola fez com
que ela decidisse realizar diversas atividades que
proporcionassem uma aprendizagem mais prazerosa e menos
monótona, oferecendo também uma oportunidade para os
alunos realizarem um trabalho mais científico, com pesquisas
e levantamento de hipóteses.
Tempo de duração: onze anos.
Público-alvo: todos os alunos.
Organização: os professores f azem, no início do ano, u m
planejamento par ticipativo, que leva em consideração as
habilidades de cada um. Os projetos incluem pesquisas
bibliog ráficas e de campo, visando a oferecer atividades em
que os alunos descubr am e constr uam o conhecimento. As
atividades são realizadas durante todo o ano letivo, dentro e
fora da sala de aula. Os professores fazem a organização
inicial e o desenvolvimento do trabalho é feito pelos próprios
alunos.
Objetivos: for mar cidadãos com mais opor tunidades na vida.
Ampliar o conhecimento do aluno.
Coordenação: a direção coordena este Projeto.
Desdobramentos: melhoria na qualidade do ensino, maior
participação dos alunos em todas as atividades da escola.
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Os próprios alunos procuram a direção e os professores
para maiores infor mações sobre essas atividades, sugerindo,
inclusive, sua diversificação.
4) Projeto CEB Centro de Ensino Básico
Origem: surge da necessidade de diminuir os altos índices de
repetência, principalmente no primeiro segmento do ensino
fundamental.
Tempo de duração: treze anos.
Público-alvo: alunos da à séries.
Organização: a partir de uma capacitação inicial feita pela
Secretaria Estadual de Educação, foi implementado um
sistema de ciclos, para que esses professores passassem a
trabalhar de uma forma considerada mais coerente.
Atualmente, todo início de ano, no período de uma semana,
uma equipe de técnicos da Secretaria de Educação planeja,
junto com os professores, o trabalho que será desenvolvido
durante o ano. Além de cursos de atualização e capacitação,
orientam esses professores para utilizar esses conhecimentos
em seu cotidiano. Os conteúdos trabalhados são os
correspondentes a esta fase, mas com uma metodologia
diferente, mais dinâmica, interessante, atrativa e prazerosa.
Os professores se reúnem quinzenalmente para discutir os
processos e resultados deste sistema. A coordenação geral é
da Secretaria Estadual de Educação, mas, na escola, cada
professor é responsável pelo trabalho realizado na sua tur ma.
Objetivos: minimizar a evasão escolar e a repetência.
Coordenação: Secretaria de Educação.
Desdobramentos: o primeiro ano de funcionamento deste
projeto foi muito satisfatório, diminuíram a evasão e a
repetência. Entretanto, posterior mente, com as sucessivas
mudanças de governo, a Secretaria de Educação parou de
mandar o material necessário para se trabalhar de forma
diferenciada com os diversos conteúdos jogos lúdicos, livros
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
paradidáticos, músicas etc., o que prejudicou a sua
continuidade. Mesmo assim, o índice de repetência é menor
do que antes da implantação deste projeto.
5 ) Projeto GQT Programa de Qualidade Total Gestão pela
qualidade
Origem: a administração da escola buscou este projeto, junto
à Secretaria Estadual de Educação, visando a melhorar os
diversos problemas existentes em cada um dos seus setores.
Para tal, o governo trouxe uma técnica em educação, do
Estado de Minas Gerais, para capacitar a escola nos seus
diversos passos e posterior implementação.
Tempo de duração: quatro anos.
Público-alvo: a comunidade escolar.
Organização: este programa funciona com equipes de
professores, alunos e funcionários, sob a coordenação de
um professor da escola. O GQT, dentro do trabalho de
monitoramento da escola, elabora gráficos de desempenho,
rendimento escolar e grau de satisfação, que são,
posteriormente, fixados e socializados nos murais da escola.
Objetivos: permitir à escola um olhar para si mesma, pensar
seus problemas, traçar planos de trabalho específicos
violência, limpeza, relações humanas, rendimento por
disciplina, merenda etc. e avaliar seus resultados.
Proporcionar uma maior organização e participação em
todas as atividades da escola, identificar problemas e soluções
no processo educativo.
Coordenação: direção da escola.
Desdobramentos: a implantação do Projeto conseguiu
monitorar alguns dos problemas da escola, dentre eles a
violência e a limpeza, conseguindo bons resultados. Foi desse
projeto a iniciativa do mutirão de limpeza que envolveu
alunos, pais, professores e funcionários e que contribuiu
para mudar, de forma significativa, a “cara” da escola. Os
alunos falam com muito entusiasmo desse trabalho. Ele está
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sendo retomado agora, em função do seu funcionamento
precário durante a reforma, mas, tem demonstrado ser um
dos projetos de maior envolvimento de funcionários,
professores e alunos.
6 ) PDE Plano de Diretriz Escolar
Origem: surge da necessidade da escola de melhorar a
qualidade do ensino oferecido, oferecendo, conse-
qüentemente, cursos de capacitação e atualização aos seus
professores e disponibilizando, por tanto, novas possibilidades
de aprendiza gem para os alunos.
Tempo de duração: um ano.
Público-alvo: o conjunto da escola.
Organização: este é um programa do MEC Ministério da
Educação, Fundo de Fortalecimento da Escola –, para atender
ao planejamento estratégico da escola, visando à melhoria
da qualidade do ensino. É um trabalho coletivo da
comunidade escolar equipe escolar e pais de alunos e
aponta objetivos, estratégias, metas e planos de ação a serem
alcançados. Com o PDE, a escola faz um diagnóstico da sua
realidade, define sua proposta, objetivos, perspectivas e
valores.
Objetivos: investir na Proposta Pedagógica da escola.
Coordenação: direção da escola.
Desdobramentos: possibilitou a organização da sala de
leitura aberta à comunidade e a ampliação das salas de vídeo
e informática.
7 ) TV Escola
Origem: é uma iniciativa do Ministério da Educação, que
financia o material TV e Antena parabólica para as escolas
e a capacitação dos professores. Quando o projeto começou,
ele dispunha do material necessário, além do incentivo aos
professores, pois esta atividade era computada como hora/
aula. Com a mudança de gover no, o projeto perdeu o subsídio
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necessário, sendo posteriormente abandonado. Atualmente, foi
reerguido, sendo que os professores receberam o curso de
preparação que antecede o início deste trabalho.
Tempo de duração: cinco anos.
Público-alvo: o conjunto da escola.
Organização: funciona com a mesma metodologia do
telecurso: o aluno assiste vídeos, canais educativos e depois
desenvolve trabalhos baseados no assunto abordado. O
professor tem a função de selecionar os conteúdos veiculados
e contribuir na discussão que surge a partir das dúvidas dos
alunos. Ele é direcionado tanto para aqueles alunos com
dificuldades em deter minadas matérias, que buscam uma
alternativa de ensino e não têm dinheiro para pagar por uma
aula particular, quanto para pais e funcionários que se disponham
a freqüentá-lo. As aulas acontecem durante o horário escolar,
em uma sala designada para este projeto.
Objetivos: proporcionar a formação continuada de professores,
por meio dos cursos de preparação, e atualização e oferecer
outras possibilidades de ensino aos alunos e comunidade.
Coordenação: a coordenação é da Secretaria Estadual de
Educação, escola e alguns pr ofessores.
Desdobramentos: melhoria da postura dos professores e alunos
no que diz respeito à aprendizagem. Os alunos, tendo a oportunidade
de receber um reforço em uma determinada disciplina, em alguns
conteúdos específicos, ficam mais interessados e se sentem mais
incentivados a superar as dificuldades que encontram. A comunidade
em geral e, principalmente, os pais estreitaram os laços de parceria
com a escola, passando a conviver mais no espaço escolar e,
conseqüentemente, a ampliar seu conhecimento sobre o cotidiano
da escola.
8 ) Projeto Aluno para Aluno”
Origem: o fato de ser uma “escola-pólo” levou-a a ser objeto
de parceria com a Universidade do Estado do Pará para ser
campo de estágio dos seus alunos dos cursos de licenciatura.
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Tempo de duração: dois anos.
Público-alvo: professores e alunos da a séries.
Organização: este projeto tem uma sala própria e conta com
um professor itinerante, que permanece durante o período
da manhã. É aberto a todos os alunos, mas atende,
principalmente, àqueles com dificuldades de aprendizagem
ou portadores de necessidades especiais. A função deste
professor é atender, de forma particular, aos alunos que
solicitam sua ajuda, durante o tempo que for necessário.
Objetivos: intercâmbio de experiências entre alunos
universitários e a comunidade escolar; aprendizagem dos
alunos.
Coordenação: a coordenação é feita pela universidade e pela
direção da escola.
Desdobramentos: melhor desempenho dos professores e
alunos no processo ensino-aprendizagem e maior interesse
pela pesquisa. A escola registra que este projeto tem
contribuído para a reversão da repetência e da defasagem
dos conteúdos, na medida em que o aluno recebe uma
atenção especial e individual.
9 ) Projeto “Pulando o Muro”
Origem: a idéia de um grupo de professores de proporcionar
aos alunos uma maior aproximação entre os conteúdos
trabalhados em sala de aula e a realidade concreta. As “aulas-
passeio”, como são chamadas, também decorrem da
reformulação da parte pedagógica da escola que, dentre
outras coisas, passou a priorizar uma aprendizagem mais
prazerosa e interessante.
Tempo de dur ação: dois anos.
Público-alvo: professores e alunos de a séries.
Organização: esses passeios acontecem uma vez por
semestre e são organizados por disciplina. Geralmente, são
feitos de barco, para a ilha da Cutijuba ilha localizada em
frente a Belém, de fácil acesso com uma natureza bem
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
preser vada e com uma geografia privilegiada. Ela abrig a diversas
espécies de fauna e flora. A escola também visita museus e
exposições. As disciplinas envolvidas neste projeto são Biologia,
História e Geografia.
Objetivos: contextualizar a aprendizagem, por meio da
aproximação entre o objeto de estudo e a realidade do aluno.
Proporcionar um ensino mais ag radável e prazeroso.
Coordenação: a coordenação é feita pelas professoras destas
disciplinas.
Desdobramentos: mudanças na postura dos professores e
alunos envolvidos no projeto, por meio do crescimento do
interesse de ambos em ensinar e aprender. Os alunos se
mobilizam para os passeios e consideram estes momentos como
os melhores do ano letivo. Os conteúdos trabalhados, por meio
deste projeto, têm um rendimento melhor, verificado nas
próprias notas dos alunos.
10) Projeto “Liberal na Escola”
Origem: o jornal Liberal, o de maior circulação em Belém, criou
este pr ojeto, par a incentivar o uso do jornal na prática cotidiana
da escola. Entretanto, as escolas interessadas tiveram que se
inscrever para par ticipar de um processo de seleção. A Brig adeiro
Fontenelle foi escolhida entre as finalistas.
Tempo de dur ação: cinco anos.
Público-alvo: o conjunto da escola.
Organização: a escola recebe os jornais semanalmente para
leitura e pesquisa dos professores e alunos. Além do tr abalho
que é feito em sala de aula, este projeto oferece visitas a teatros,
cinemas, à gráfica e editora do jornal, para que conheçam todas
as etapas de produção e confecção de um grande jornal.
Objetivos: incentivo à leitura e à pesquisa.
Coordenação: a coordenação é feita pela Fundação Rômulo
Maiorana e por uma professora.
Desdobramentos: maior interesse dos alunos pela leitura,
pesquisa e linguagem jornalística. A escola considera que esta
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é mais uma ferramenta a ser utilizada pelo aluno e pelo professor
no processo de ensino. O aluno está tendo sua for mação
ampliada, por meio, também, deste conhecimento do “mundo”
do jornal.
11) Projeto “Musicalização na Escola”
Origem: iniciativa de uma jovem da localidade, que procurou
a escola para dar aulas de música e, concomitantemente, trazer
o programa “Música na escola”, da Fundação Carlos Gomes,
para dentro da Brig adeiro Fontenelle.
Tempo de duração: quinze anos.
Público-alvo: toda a escola.
Organização: esta jovem organizou um coral com os alunos
de a séries do Ensino Fundamental, a partir de um
trabalho de iniciação musical. Entretanto, com sua mudança
para outro bair ro, as aulas f oram inter rompidas e a escola
deixou de oferecer esta atividade. Hoje, a escola conta com a
visita anual da orquestra da Fundação Carlos Gomes que
realiza uma apresentação aberta à comunidade.
Objetivos: despertar o interesse pela música e pela arte em geral.
Coordenação: a coordenação é feita pela Secretaria de
Educação e pela Fundação Carlos Gomes.
Desdobramentos: aumentou o interesse pela arte. Mudança
no compor tamento dos alunos, par ticipantes deste pr ojeto, em
lugares públicos. Além disso, todo ano, a escola é convidada
para a apresentação da orquestra Carlos Gomes no Te atro da
Paz. Alguns alunos procuraram a Fundação para fazer o teste
que possibilita entrar para a Escola de Música.
12) Projeto “Higiene Bucal”
Origem: projeto da Universidade Estadual do Pará UEPA,
que realiza um trabalho de prevenção na área da saúde.
Tempo de duração: dois anos.
Público-alvo: a escola como um todo, principalmente o ensino
fundamental.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Organização: todos os anos, uma equipe de estagiários da
UEPA, dos cursos de Medicina e Odontologia, r ealiza na escola
uma série de palestras sobre higiene bucal, DST e gravidez na
adolescência. As palestras acontecem, alternadamente, em todos
os tur nos e duram, em média, duas semanas. É um trabalho
exclusivamente de prevenção, por meio da conscientização, e
não prevê tratamento dentário.
Objetivos: melhoria da saúde bucal, conscientização quanto
ao perigo das DST e prevenção da gravidez na adolescência.
Coordenação: a coordenação é do Hospital Adventista de
Belém, junto com a UEPA e a direção da escola.
Desdobramentos: melhoria da postura em relação à saúde
bucal. Atualmente, a escola considera que diminuiu o
número de jovens e adolescentes grávidas.
13) Projeto “Pacto pela vida no trânsito”
Origem: iniciativa do DETRAN Departamento de
Trânsito, e CTBEL Companhia de Trânsito de Belém.
Tempo de duração: cinco anos.
Público-alvo: o conjunto da escola.
Organização: todos os anos, uma equipe do Detran realiza
um trabalho de conscientização dos professores na escola.
São oficinas, onde os professores são capacitados, com a ajuda
de um material próprio, a repassar os conteúdos em sala de
aula para os alunos. No final do ano, é feita uma prova para
avaliar o que o aluno aprendeu sobre o tema.
Objetivos: melhorar a consciência e a postura no trânsito.
Coordenação: a coordenação é do Detran/Secretaria de
Educação Seduc e da direção da escola.
Desdobramentos: melhoria da postura, tanto dos alunos
quanto dos professores, em relação ao comportamento no
trânsito.
14) Projeto “Educação Fiscal”
Origem: seminários de capacitação, envolvendo 22 escolas,
dentre elas a escola Brigadeiro Fontenelle. Os professores
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participaram de palestras, oficinas pedagógicas e produção de
material didático-pedagógico para auxiliar a escola a construir
uma educação fiscal.
Tempo de duração: dois anos.
Público-alvo: toda a escola.
Organização: este é um programa realizado pela Secretaria
Executiva de Educação do Pará e pela Secretaria da Fazenda.
O programa é desenvolvido nas escolas públicas estaduais,
envolvendo escola e comunidade, resgatando uma prática
efetiva de cidadania, em que direitos e deveres devem ser
assumidos coletivamente. A educação fiscal é o asses-
soramento técnico-pedagógico da Secretaria Executiva de
Educação nas escolas. Entre as ações desenvolvidas pelas
escolas destacam-se seminários, palestras, encontros com
comunidade interna e externa, apresentação de jogos
dramáticos, de corais, de construção de painéis, de maquetes,
de histórias em quadrinhos e outros.
Objetivos: desenvolver a consciência dos alunos e da
comunidade extra-escolar quanto aos seus direitos como
cidadãos, principalmente no que diz respeito à sensibilização
da importância da nota fiscal.
Coordenação: Secretarias de Educação e da Fazenda.
Desdobramentos: a comunidade escolar está mais sensível
quanto à importância de exigir o cupom fiscal. Além disso,
os alunos estão mais conscientes quanto aos seus direitos e,
conseqüentemente, quanto aos seus deveres, o que gera uma
mudança de atitude e postura em relação à sociedade.
15) Projeto “Olho no olho”
Origem: a conscientização feita por intermédio de uma
campanha nacional do MEC com o objetivo de divulgar a
importância do exame de vista nas crianças com dificuldades
de aprendizado. A partir daí, a escola procurou a Secretaria
Estadual de Educação SEDUC, para saber como proceder,
o que permitiu receber a orientação e a capacitação
necessárias à sua implementação.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Tempo de duração: três anos.
Público-alvo: alunos e professores de a séries.
Organização: inicialmente, os professores responsáveis por
este projeto foram capacitados para realizar, de forma
autônoma, o exame de vista. No momento, este projeto é
colocado em prática no início do ano. Os professores fazem
o exame em todos os alunos de a séries do ensino
fundamental e encaminham aqueles com problemas de visão
para o oftalmologista do Estado, que prevê, inclusive, a doação
dos óculos para os que necessitam.
Objetivos: prevenção da saúde visual.
Coordenação: a coordenação é feita pela Secretaria de
Educação e pela professora do primeiro segmento do Ensino
Fundamental.
Desdobramentos: melhoria da saúde visual de professores e
alunos envolvidos no projeto, além da possibilidade dos alunos
que não têm condições econômicas enxergarem plenamente,
por meio do uso dos óculos. A escola considera que alguns
alunos, que se destacavam por não acompanhar o ritmo da
turma, conseguem aprender e seguir junto com o grupo.
Segundo a diretora, isso ajuda a beneficiar a inclusão desses alunos.
16) PROINFO Pr ojeto de inf or matização
Origem: a escola se inscreveu no Proinfo para receber do
MEC a verba necessária para montar um laboratório de
informática e para capacitar os professores interessados em
trabalhar com a informática em sala de aula.
Tempo de duração: um ano.
Público-alvo: toda a escola e comunidade externa.
Organização: os professores-coordenadores receberam
capacitação para trabalhar com o computador na escola. Em
seguida, ficaram responsáveis por transmitir esses conhe-
cimentos para os professores interessados. A escola oferece
aula de informática dentro da g rade cur ricular para os alunos
do segundo segmento do fundamental e ensino médio, mas,
além da aula, propriamente dita, os professores trabalham
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deter minados conteúdos utilizando o computador como mais
uma ferramenta para a aprendizagem. O laboratório funciona
em todos os tur noseéabertoatodos os professores e alunos.
São 10 computadores, para uma média de 50 alunos.
Objetivos: utilização da tecnologia no ensino.
Coordenação: a coordenação é feita por um professor para
cada um dos três turnos de funcionamento da escola.
Desdobramentos: o projeto ainda está em fase de implantação,
mas os alunos se mostram mais interessados quando sabem que
a aula vai ser no laboratório de informática. A direção considera
que os alunos aprendem mais rápido quando aula ali. O
professor de Física resolveu fazer sua avaliação final utilizando
os computadores e os alunos gostaram da idéia.
Perspectivas da escola
A situação da Escola Brig adeiro Fontenelle parecia insustentável.
Todos os de poimentos sobre os problemas por ela vividos são muito
graves, mostrando uma conjuntura de extrema de violência, que fugia
ao controle da direção, dos funcionários e da própria Secretaria Estadual
de Educação, tendo-se cheg ado a ponto de sugerir seu fechamento.
Invasões, roubo de material e tiros são alguns dos constantes episódios
acontecidos, sem que qualquer providência pudesse ser tomada. A
comunidade escolar encontrava-se como refém de tal situação.
Esse quadro foi revertido, a partir de um trabalho de integração e
envolvimento de todos os segmentos, mobilizados para um projeto coletivo,
de forma a dinamizar o ensino e conver ter a escola em referência na
comunidade, situação tida como surpreendente para muitos.
É importante ressaltar, entretanto, que os alunos, em especial,
ainda reivindicam uma maior participação. Talvez como r eflexo dos
problemas vividos, o controle e a disciplina ainda são muito fortes.
Ainda assim, o gosto pela escola é muito grande. Entre os
professores, predominam os sentimentos de satisfação, embora
reconheçam que ainda muito a fazer. A preocupação deles com
o sucesso dos alunos e com a qualidade do ensino é evidente. Os
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
alunos, apesar de identificarem dificuldades, aspiram ingressar na
faculdade e se sentem com condições de fazê-lo. Os professores
estão profundamente comprometidos com o trabalho. Assumiram
junto com a direção, de peso especial nesse processo, o desafio de
reconstr uir a escola.
Outro aspecto a ser considerado é o fato da escola estar voltando
de um long o período de dois anos de reforma, em que seu funcionamento
se deu em condições distantes das ideais, com aulas em espaços externos,
salão paroquial, centro comunitário.
Esses fatos, entretanto, não inviabilizam a qualidade do trabalho
que se vem apresentando. O êxito em conter a violência que ocor ria no
interior do estabelecimento, assim como em contribuir para a sua redução
na vizinhança uma vez que acolhe os adolescentes, oferecendo-lhes
não apenas atividades, mas, principalmente, expectativa de futuro é
inegável. A escola demonstra que é possível enfrentar com propostas
educativas a questão da violência e recuperar a credibilidade da educação,
a partir de um trabalho assumido coletivamente e da reivindicação,
junto ao poder público Secretarias de Educação e Segurança –, do
cumprimento de suas responsa bilidades.
3.2.10 Per nambuco
ESCOLA ESTADUAL PADRE NÉRCIO RODRIGUES
Av. Uriel de Holanda, s/n° Linha do Tiro, Recife/PE.
Contexto sociodemográfico do município Recife
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Contexto educacional
Fonte: Sistema de Estatísticas Educacionais INEP/MEC, 2002.
Caracterização da escola
O entorno
A Escola Estadual Padre Nércio Rodrigues está localizada numa
reserva de mata atlântica, no bairro chamado Linha do Tiro, que guarda
este nome por ter sido utilizado como campo de treinamento do
exército por muitas décadas. Tem uma população estimada em 13.947
habitantes, 52,6% do sexo feminino e 46,4% do sexo masculino. Sua
infra-estrutura é deficiente, sendo apenas a avenida principal asfaltada,
com iluminação precária. Não dispõe de postos de saúde, saneamento
básico e posto policial, o que contribui decisivamente para o
agravamento das condições de segurança. Quanto ao transporte
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
coletivo, seu ser viço é considerado satisfatório pela comunidade.
Entretanto, quanto a espaços de lazer, não possui praças públicas,
nem quadras de esporte. Conta apenas com um campo de futebol, diante
da escola, disponível somente à noite e mediante pag amento. Neste
local, realiza-se, duas vezes por semana, uma feira de “troca-troca”,
fonte de renda para grande parte dos seus moradores, alunos da escola
e pessoas que residem em outros bair ros. Em termos socioeconômicos,
a grande maioria da população é de baixa renda, sendo as ocupações
principais vinculadas ao mercado informal e ao setor de serviços.
A unidade escolar
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A escola foi fundada em 1987, numa iniciativa da própria
comunidade, devido à g rande demanda existente na região. Tem esse
nome em homenag em ao Padre Nércio, religioso conhecido por sua
grande atuação no local e por seu enor me carisma. Em 1987, foi
incorporada ao sistema escolar do Estado de Per nambuco, passando, a
partir daí, a ser regida da mesma for ma que as demais escolas públicas
estaduais.
No início da década de 1990, nas proximidades da escola, surgiram
os primeiros grupos de jovens que se organizaram com o objetivo de
expressar suas críticas e seus descontentamentos. Entretanto, em função
da atuação de vários de seus elementos, que passaram a ter atitudes não
condizentes com os objetivos até então declarados, o movimento se
fragilizou, se desgastou, chegando a ter alguns embates com a polícia,
com repercussões negativas para toda a comunidade.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Neste período, a escola foi invadida por um desses g rupos à procura
de um aluno considerado rival, por pertencer a um outro grupo do bair ro,
instaurando-se, então, no seu interior, um clima de profunda insegurança.
A necessidade de constr uir os muros ao redor do estabelecimento surgiu
a partir desse dia.
A escola, então, que era utilizada como via de passagem, passou a
ser vista como um obstáculo para as pessoas que transitavam pelo seu
terr eno aber to, gerando um descontentamento para alguns dos moradore s,
que viram na destruição desse muro a única saída. Iniciou-se, assim, um
processo de sua constante constr ução e derr ubada, num clima de
confronto que se estendeu até a tomada de decisão de iniciar um diálogo
com a vizinhança.
Na tentativa de estabelecer uma relação que permitisse superar
o impasse criado, restava esse caminho, ou seja, uma mobilização
na direção do aprofundamento da discussão acerca dos interesses
que estavam em jogo naquele momento, visando a garantir e a
preservar o trabalho da escola. Com este objetivo, tornou-se
decisivo conhecer as lideranças locais, criar um canal que permitisse
chegar aos responsáveis por aqueles atos contra a escola e tentar
reverter a situação instaurada.
Foram realizadas várias reuniões e, neste processo, um jovem de
19 anos, morador da comunidade, que exercia um forte poder e influência
sobre ela, assumiu as negociações com a escola. Esta, mais uma vez,
afirmou sua intenção de manter o muro e solicitou o apoio do rapaz,
deixando claro, entretanto, que não era sua intenção denunciar ninguém,
como posteriormente passou a ser dito na comunidade.
A reação do jovem foi imediata, comprometendo-se a realizar
uma reunião com o grupo que sabia ser o responsável pela agressão
à escola. Garantiu, ainda, que, a partir daquele dia, ela não sofreria
mais nenhuma violência, ressaltando, porém, que estava tendo
aquela iniciativa porque tinha sido bem tratado. Para que se possa
ter uma idéia do porquê dessa situação, o jovem, ao chegar à escola,
tinha uma grande ferida nos pés, que impressionou bastante a todos,
a ponto de tomarem a iniciativa de tratar daquele ferimento. A verdade
é que, depois deste episódio, a escola nunca mais foi agredida.
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Este fato é um marco na história da escola, pois, a partir dele,
se fortaleceu a idéia de se estabelecer uma maior articulação com a
comunidade. Percebeu-se, ainda, que o estreitamento das relações
poderia levar a novas atitudes de ambas as partes, que, certamente,
contribuiriam para a viabilização da escola como instituição
possuidora de uma função social a desempenhar naquele lugar.
Maiores problemas enfrentados antes das experiências
inovadoras
A Escola Estadual Padre Nércio Rodrigues enfrentou problemas
sérios na convivência com seu entor no, violento e ag ressivo em relação
às instalações do estabelecimento. Curiosamente, a presença da praça,
onde se realiza uma feira de troca-troca e funciona um bar, atraía drogas
e violência, com repercussão na vida da escola.
Segundo depoimentos de vários entrevistados, a realização da feira
trazia problemas sérios, tendo sido registrada uma morte em frente à
escola durante seu funcionamento. Por sua vez, a existência do “bar de
brega”, com o som em alto volume, prejudicava o funcionamento das
aulas, atrapalhando os alunos.
Do ponto de vista da violência interna, a escola parecia menos
atingida, apesar dos problemas ocorridos “do lado de fora”. Como
afir ma um professor, havia, principalmente, conflitos pessoais: O
namorado separou-se da menina e, depois, a menina estava com outro rapaz.
Daí, por não se entenderem, os rapazes queriam sair nos tapas!
Certamente, alguns depoimentos dão conta de que, entre os alunos,
agressões verbais evoluíam para agressões físicas, pelos mais
diversos motivos: ocor reu aqui na escola, tanto essa agressão física
como a verbal, um com o outro.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Os problemas com drogas, presentes nas vizinhanças da escola,
também a atingiam, como relata a diretora: A questão das drogas é difícil.
O álcool era um problema sério, que a gente resolveu. a droga, é um problema
exter no. Gera violência porque muda o comportamento do aluno, altera, o deixa
mais agressivo, sem condições de conversa.
A pichação da escola também ocorria, como lembra um professor,
bem como a constante destruição do seu muro, um dos motes para que
se partisse para um processo de entendimento com a comunidade,
solidificado com a realização do Programa Escolas Abertas.
Estratégias de superação
Mecanismos de resolução dos problemas: palestras;
conversas; conscientização em sala de aula; desenvolvimento
de projetos; adesão ao programa Abrindo Espaços, da
UNESCO.
Aber tura nos finais de semana: condições de abertura:
semanalmente; atividades desenvolvidas: programas e
projetos institucionais; empréstimo para a comunidade;
projetos da própria escola.
Espaços disponibilizados para os jovens: toda a escola.
Pessoas e instituições procuradas pela escola para
resolução de conflitos: família.
Relação com o Conselho Tutelar: esporádica.
Projetos, programas e experiências
1) Projeto Escola Aberta
Origem: o Projeto Escola Aberta, inicialmente denominado
“Peteca”, foi implementado com base no Programa Abrindo
Espaços, desenvolvido pela UNESCO. A escola, anterior-
mente, desenvolvia ações de incentivo ao esporte.
Tempo de duração: desde o ano 2000.
Público-alvo: alunos e comunidade em geral.
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Objetivos: o Projeto Escola Aberta tem como principal objetivo
promover a abertura do espaço escolar nos finais de semana
para a realização de atividades esportivas e culturais,
organizadas sob a forma de oficinas, voltadas a todos os jovens
da escola e comunidade, na perspectiva do desenvolvimento
de uma Cultura de Paz.
Organização: o projeto é coordenado por um ex-aluno da
escola e supervisionado por um técnico da UNESCO, que
visita as escolas aos fins de semana e promove discussões
sobre o andamento dos trabalhos, principalmente no que se
refere aos aspectos relativos à constr ução de valores, como são
estimulados e de que forma são vivenciados.
O planejamento das ações é feito semanalmente pelo
coordenador e por dois alunos voluntários, na perspectiva de
que, cada vez mais, os jovens tornem-se responsáveis pelo
programa. Esse grupo tem como tarefa a realização da inscrição,
por turma, dos alunos que desejam participar do Prog rama; a
organização das oficinas previstas; o levantamento do material
necessário; a organização dos espaços da escola e a divulgação
da programação, em car tazes, no comércio local. Para tais
atividades, eles contam com o apoio da diretora e de técnicos
da secretaria da escola. Os professores não participam
diretamente do Prog rama. Um gr upo pequeno ajuda no mutirão
da escola para os fins de semana, em tarefas necessárias à sua
organização
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. Também inte g ra a equipe do Prog rama o Mestre
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O relato do coordenador do Projeto Escola Aberta demonstra o grau de comprometimento
que tem com aquele espaço, sua liderança na comunidade e sua inserção social: Tenho 23
anos, estudei do fundamental ao médio aqui na escola e todos os dias fico da s 7 e meia às 12 horas, de
forma voluntária, ajudando na cozinha, na merenda e tirando dúvidas dos alunos nas matérias em que
eles têm dificuldades. Sempre morei na comunidade. Conheço bem Recife e seus lugares históricos,
conheci tudo sozinho, mas os museus com a escola. Ando em toda a comunidade e sou conhecido como o
rapaz do Projeto e dos grupos de música. Também gosto de dançar.Conheço muitos alunos de outras
escolas que vêm para porque nas escolas deles não tem nada disso. Acho que o programa ajudou muito
para os estudos dos alunos. Com o dinheiro que a UNESCO deu para o Programa, compramos o
material para alguns jogos, camisas para os times de futebol e para os grupos de dança.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Lua, que faz par te de uma ONG contratada pela UNESCO,
que realiza o Projeto Cultural “Pernambuco”, percorrendo
alter nadamente, com seu g r upo de dança, composto de 45
crianças e 55 jovens, todas as escolas que pertencem ao
Programa.
Coordenação: UNESCO e escola.
Desdobramentos: o Projeto Escola Aberta vem sendo
considerado como o grande diferencial no cotidiano da escola.
Segundo a diretora e o grupo responsável pela organização das
atividades, o Escola Aberta, faz com que os jovens percebam,
cada vez mais, a importância de sua participação e de uma atuação
mais propositiva na escola. Os professores também afirmam estar
sendo possível identificar transformações no comportamento dos
alunos que participam das atividades dos finais de semana,
tornando-se mais atentos, r esponsáveis e interessados. Outra
mudança sentida por todos é a preocupação da escola em
desenvolver temas de interesse dos jovens e uma maior interação
entre os conteúdos. Vale ressaltar também que o fomento de
trabalhos que focam a auto-estima contribui para aumentar o
interesse do jovem pela escola. Em muitos depoimentos, percebe-
se que os jovens estão se sentindo valorizados no espaço escolar.
Os alunos têm participado mais intensamente das atividades,
trazendo para dentro da escola as mais diversas expressões juvenis,
ficando claro serem essas práticas resultado do processo de
aproximação entre o “mundo da escola” e o “mundo do jovem”. A
partir do Escola Aberta, os alunos montam regularmente o mural
e apresentam seus poemas e textos, sempre em exposição.
2) Projeto Benfam
Origem: convênio com uma organização canadense.
Tempo de duração: não especificado.
Público-alvo: alunos da escola.
Organização: este Projeto, em desenvolvimento em vários
estados brasileiros, é coordenado por uma psicóloga/
educadora e articulado com várias escolas do bairro. Seu
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planejamento é periódico, onde são definidos os processo
de acompanhamento, avaliação e capacitação dos conteúdos,
retirados de temas gerais selecionados em conjunto pelos
professores e alunos.
Objetivos: desenvolver uma ação educativa no combate à
Aids e a outras DST, à violência sexual e doméstica, à
gravidez precoce e na concretização dos direitos sexuais e
reprodutivos.
Coordenação: não especificado.
Desdobramentos: os alunos, após dominarem estes
assuntos, passam a ser, também, expositores nos debates
organizados pela escola.
Perspectivas da escola
Quando a nova direção assumiu suas funções, a Escola Estadual
Padre Nércio Rodrigues estava muito envolvida com a discussão da
violência na comunidade, decorrente, principalmente, da realização
de uma feira semanal que acontece no espaço fronteiriço ao
estabelecimento, palco de disputas, brigas e confrontos com a polícia.
Neste contexto, a construção de um trabalho que permitisse
responder a estes atos violentos tornou-se urgente.
Assim, a escola vivencia um processo repleto de desafios em
diversas áreas, naturalmente permeado de contradições, pois os limites
e as possibilidades no campo da realização das ações estão
permanentemente se confrontando. O próprio fato de estar inserida
numa experiência inovadora é motivo de surpresa e cautela por parte
de alguns professores. Para ilustrar o processo de construção da
unidade intra-escolar e a incipiente fluidez de comunicação no campo
da gestão da escola, o depoimento de um professor é bastante
elucidativo: ainda vivemos três escolas em uma.
Entretanto, a disposição de enfrentar os problemas relacionados
à violência e à aprendizagem, com base no incentivo a práticas como
o esporte e o acesso à cultura, por meio de aulas-passeio a sítios
históricos, museus e galerias de arte, indica que a escola está tentando
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
inserir o seu alunado num campo de ampliação de universo cultural.
Vem, também, promovendo vivências e debates que têm contribuído
para a troca, ref lexão e constr ução de idéias sobre violência, drog as,
sexualidade, doenças sexualmente transmissíveis e solidariedade,
contando, inclusive, com a presença de muitos pais e pessoas da
comunidade. A partir do interesse demonstrado por alguns alunos,
deter minados temas são selecionados e, de pois de apr ofundados por
eles, socializados nas aulas, tendo-os como expositores.
Outra prática comu méadeincluir pessoas da comunidade, pais
e alunos para as visitas aos museus e exposições, o que vem
contribuindo para o reconhecimento e valorização da cidade em que
vivem, dos muitos elementos que, enfim, fazem a sua identidade, sua
história. Como exercício que per mite a inclusão, é inovador e mote
para muita discussão, porque abre a possibilidade deles se sentirem
mais próximos de suas próprias histórias, como também promove uma
integração intergeracional, aproximando os jovens de diferentes
gerações.
Escola e comunidade vão, assim, se interpenetrando, se
influenciando, cada uma interferindo na dinâmica da outra, ampliando
os espaços de convivência, de socialização e, quem sabe, talvez um
dia os professores não vejam aquela comunidade simplesmente como
o caminho que eles percorrem para chegar à escola.
Os profissionais e alunos acham que as ações consideradas como
bem-sucedidas podem contribuir para que a escola passe a ser vista
como espaço cultural público, com a comunidade dando seus vários
significados. Tais espaços são recentes, estão sendo criados e
articulados em meio a muitas decisões, são ainda em número reduzido,
mas expressam o desejo da convivência e da importância dessa
aproximação.
As práticas desenvolvidas pela Escola Padre Nércio Rodrigues
têm sido consideradas essenciais para que os fins de semana do bairro
Linha do Tiro se caracterizem como espaço produtor de uma Cultura
de Paz, onde jovens e comunidade em geral se divertem, apresentando
seus g r upos de dança, capoeira, oficinas de teatro e de música, além
de tor neios de jog os, entre outras atividades.
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3.2.11 Rio de Janeir o
COLÉGIO ESTADUAL GUADALAJARA
Rua Aristides Caire, s/n° Olavo Bilac, Duque de Caxias/RJ.
Contexto sociodemográfico do município Duque de
Caxias (Região Metropolitana da cidade do Rio de Janeir o)
Contexto educacional
Fonte: Sistema de Estatísticas Educacionais INEP/MEC, 2002.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Caracterização da Escola
O entorno
Duque de Caxias, município onde se localiza o Colégio Estadual
Guadalajara, é parte da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. O bairro
de Olavo Bilac é uma área periférica, popular, caracterizada pela escassez
de equipamentos sociais urbanos. Dispõe de um serviço de transporte
coletivo precário, ainda que a sede da maior empresa municipal ali se
encontre. Embora conte com algumas linhas de ônibus, as conexões
para as diferentes regiões da cidade são poucas, o que causa um relativo
isolamento do bairro em relação aos outros distritos e municípios da
região. Muitos pais acabam transferindo os filhos para escolas mais
distantes, mas de acesso mais fácil.
A população residente no bairro é de baixa renda. As casas no
entorno da escola são, em sua maioria, de alvenaria, muitas com
tijolos à vista, construídas bastante próximas umas às outras.
asfalto em toda a redondeza, um benefício conquistado pouco
tempo.
O comércio varejista é intenso no bairro, com vários mercados,
açougues, mercearias, bares, comércio de utilidades domésticas, entre
outros. Chama a atenção a grande quantidade de igrejas de diversas
orientações evangélicas. Bares e fliperamas também são numerosos
em torno da escola, sendo fontes freqüentes de tensões entre a direção
do colégio e os alunos que “matam aula” nesses espaços.
O bairro é desprovido de equipamentos sociais urbanos de
natureza pública, tais como hospitais, postos de saúde, creches,
bibliotecas, centros de cultura etc. O fato da escola ser a única
instituição do poder público no local a torna um centro de
referência. É comum que pais, responsáveis e demais membros da
comunidade recorram à escola em busca de auxílio direto ou como
intermediária na resolução dos mais variados problemas.
Outro grave problema da localidade refere-se à segurança
pública. Vários foram os relatos que expressaram o sentimento
comum de insegurança que é viver no bairro. Isso se relaciona tanto
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com a presença cotidiana do tráfico de drogas como com a ausência
de policiamento ostensivo na re gião. As r eferências à presença de
policiais foram quase sempre associadas a incursões violentas de
combate aos traficantes de drogas e atitudes altamente discriminatórias
contra os moradores e, em especial, os jovens. Esses são, quase sempre,
alvos de abordagens violentas por parte de policiais, que enxergam
neles, mesmo quando não evidências objetivas, ligações com a
criminalidade.
O simbolismo da presença do tráfico de drogas é retratado pela
presença, no alto de um dos morros que circundam a escola, de uma
bandeira vermelha, que representa uma das facções do tráfico de
drogas do Rio de Janeiro: o Comando Vermelho. A bandeira
incorporada à paisagem e ao cotidiano de moradores e profissionais
da escola denota um certo grau de normalização de uma situação de
domínio social criminoso e que interdita as liberdades democráticas.
Alguns alunos afirmaram o paradoxo de que a vida no bairro é
“tranqüila”, ainda que exista o domínio dos traficantes de drogas.
Um deles nos disse: é não mexer com os caras, não pisar na bola e não
invadir a área deles que fica tudo bem. Em contraposição, uma aluna relatou
que mudou para outro bairro e que agora pode sair à noite, o que
não ocorria nos tempos em que morava no Olavo Bilac, pois os
traficantes impediam a saída de moradores após as 22 horas. Outro
relato confirma a violência do tráfico:
Um dia, a gente viu os caras descendo o mor ro carr egando um mor to, mas
ele devia ser de fora... Eles não matam ninguém daqui, devia ser alguém
que não conhecia as regras, veio e não saiu em tempo, devia estar usando
roupas azuis ou verdes [cores associadas a grupos rivais à facção
que domina a região]. (Entrevista com aluno, Rio de Janeiro)
Muitos afirmam que as regras de “boa convivência” com o tráfico
são bastante claras e que todos têm condições de segui-las. Outros
afirmam que é difícil saber o que se passa pela cabeça dos traficantes.
A cada momento, as regras e exigências mudam, criando um clima de
constante tensão e preocupação.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
A unidade escolar
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Maiores problemas enfrentados antes das experiências
inovadoras
O Colégio Guadalajara se defrontava com os problemas advindos
de um entor no violento, marcado, sobr etudo, pela pr esença do tráfico
de drogas. Conflitos entre gr upos não eram incomuns, exigindo
providências, como exemplifica a diretora: A polícia não apareceu e eu tive
que sair. Fui interferir, ver quem era aluno e partir pra cima: “Olha, se acontecer
qualquer coisa, eu vou tomar uma atitude...”. Violência? Tem. O que não pode é
entrar no território da escola.
No cotidiano, freqüentemente, se impunham restrições difíceis de
superar, como no caso das ordens advindas do tráfico, no sentido de
serem suspensas as atividades da escola, em determinadas ocasiões, como
obser va uma pessoa da comunidade: Eles vieram aqui no colégio e mandaram
fechar, mandaram todas as crianças ir embora cedo! E fecharam o colégio, entendeu?
A violência presente na comunidade transparece no
comportamento agressivo de muitos alunos, como afirma uma
super visora: A gente nota em algumas crianças, nas brincadeiras, na sala de
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
aula, no recreio, nas brincadeiras... Por que? Porque convivem, moram... Então,
a gente tenta faz er um trabalho...Eorecreioéqucansativo!
O clima de agressividade é, igualmente, admitido pelos alunos,
como se pode perceber no depoimento de um estudante: Às vezes, no
futebol, tem violência. E também briga de namorado... Começa a se agr edir
verbalmente, depois vai no tapinha, a porrada estanca.
É nesse contexto que as inovações introduzidas pelo colégio,
no dia-a-dia, vêm atuando.
Estratégias de superação
Mecanismos de resolução dos problemas: diálogo constante
entre direção, alunos e professores; realização de diferentes
atividades sempre com a liderança dos alunos; adesão ao
Programa Abrindo Espaços da UNESCO.
Abertura nos finais de semana: condições de abertura:
programas e projetos institucionais, empréstimos para a
comunidade, projetos da própria escola.
Atividades desenvolvidas: festas e outras comemorações,
atividades esportivas, música, teatro, trabalhos manuais,
atividades da comunidade/trabalho voluntário.
Espaços disponibilizados para os jovens: toda a escola
Pessoas e instituições procuradas pela escola para
resolução de conflitos: família.
Relação com o Conselho Tutelar: esporádica.
Programas, projetos e experiências
1) Núcleo de Cultura do Guadá (NCG)
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Origem: contratação, por parte do Governo do Estado do
Rio de Janeiro, de animadores culturais para aturar nas escolas
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Descrição feita a partir do relato de uma das animadoras culturais.
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públicas. Três animadores foram alocados no Colégio
Guadalajara.
Tempo de duração: desde 1995.
Público-alvo: alunos e comunidade em geral.
Organização: a direção do Colégio Guadalajara disponibilizou
para o Núcleo uma sala de aula que passou a funcionar como
espaço per manente do gr upo teatral. O Núcleo é coordenado
por duas animadoras culturais remanescentes do projeto original
de animação cultural que foi modificado pelo Governo do
Estado.
Objetivos: o Núcleo de Cultura do Guadá tem como principal
objetivo promover a realização de atividades artísticas e
culturais, sobretudo peças de teatro.
Coordenação: duas animadoras culturais da escola.
Desdobramentos: a primeira peça produzida pelo Núcleo
foi inscrita por iniciativa dos alunos em um concurso de
teatro profissional no município de Duque de Caxias,
conquistando o prêmio da categoria Revelação. Apesar de,
posteriormente, o Governo do Estado ter decidido alocar
as animadoras culturais exclusivamente em CIEPs, o
Colégio Guadalajara não quis que os projetos iniciados
fossem interrompidos, visto que os resultados obtidos
estavam sendo muito positivos, reivindicando, junto à
Secretaria de Educação, que as animadoras pudessem
permanecer na escola.
Subprojetos do Núcleo de Cultura:
1.1) Gr upo de dança afro
Origem: o grupo surgiu a partir da constatação de que a
maioria dos alunos da escola era de origem negra e/ou
nordestina e de que esta origem era fonte de auto-
identificação negativa.
Tempo de duração: desde 1996.
Público-alvo: alunos.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Objetivos: trabalhar a cultura afro-brasileira com alunos. Traz er
esta cultura para o cotidiano desses alunos.
Organização: divisão dos g rupos de dança por faixa etária
e entre principiantes e iniciados. O grupo de adolescentes
dos iniciados acompanha as apresentações da banda afro e
os adolescentes principiantes são gradativamente incluídos
neste grupo, conforme o aprimoramento de suas performances .
O grupo infantil não integra o grupo de adolescentes, pois
as animadoras entendem que com crianças é preciso realizar
trabalho diferenciado, de acordo com o desenvolvimento
corporal e rítmico desta faixa etária.
Coordenação: o grupo é coordenado pelas animadoras
culturais.
Desdobramentos: a valorização, por parte desses alunos, da
cultura afro-brasileira.
1.2) Banda afro
Origem: o projeto surgiu com a formação do Núcleo de
Cultura do Guadá, idealizado por uma das animadoras culturais
que detinha conhecimentos sobre percussão e ritmos afro-
brasileiros. Os primeiros instrumentos foram conseguidos por
meio de doação da escola de samba Grande Rio, por contatos
feitos por essa animadora cultural. Mesmo com a doação,
faltavam dois instrumentos para completar o conjunto. O grupo
conseguiu, junto à direção, a compra dos instrumentos que
faltavam com verba da manutenção da escola. Uma das
dificuldades enfrentadas para a consolidação do trabalho da
banda se refere à resistência de alguns professores, alunos e
membros da comunidade que associam a batida dos tambores
com a religiosidade afro-descendente. A aceitação do trabalho
artístico-cultural da banda por um número crescente de alunos
e os sucessivos convites para apresentações públicas, diluem,
gradativamente, o referido preconceito.
Tempo de duração: desde 1995.
Público-alvo: alunos.
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Organização: os alunos procuram essas oficinas de acordo
com seus interesses e as oficinas são organizadas por faixa
etária (de7a18anos). Em seguida, a animadora cultural
seleciona o repertório musical e elabora as coreografias,
procurando trabalhar a percepção sonora e expressão
cultural, afinação. Somente após trabalhar esses pontos, os
alunos vão tocar os instrumentos. Como a banda é do núcleo,
ela conta com alguns integrantes fixos (os mais experientes)
e outros móveis (aqueles que participam mais das oficinas).
A banda e o grupo de dança ensaiam às quartas e, aos
sábados, a escola concentra todas as oficinas e faz o ensaio
geral com o grupo de dança e a banda afro. O ensaio é aberto
à comunidade. Outro aspecto importante diz respeito à
preocupação com as questões raciais, trabalhando a
consciência (vinculada à auto-estima) negra, por meio de
músicas e ritmos afro-descendente.
Coordenação: as animadoras culturais.
Objetivos: desenvolver a cultura afro-brasileira, por
intermédio da música.
Desdobramentos: a escola começa a ser reconhecida por
outros estabelecimentos (associações de moradores, Igrejas
etc.) e escolas, como referência em trabalhos culturais (a
diretora cita o fato de a escola ser requisitada ao longo do ano,
para diversas apresentações, tanto com a banda quanto com
o grupo de dança e teatro).
1.3) Jovens pela Paz
Origem: é um projeto do governo estadual, que desenvolveu
parceria com a escola para a realização de atividades culturais.
Tempo de duração: desde o ano 2000.
Público-alvo: alunos.
Organização: o projeto prevê oferecimento de bolsa de R$
250,00 mensais para adolescentes e jovens, para que
trabalhem com oficinas culturais durante 20 horas semanais.
A escola solicitou e conseguiu 30 bolsas (este era o número
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
de alunos engajados no projeto com condições de ser
multiplicadores). A avaliação feita pelos integrantes do
projeto foi de que havia pouca consistência em sua execução;
não havia controle sobre a carga horária trabalhada nem
sobre as atividades realizadas. Em avaliação conjunta,
animadoras e adolescentes decidiram que seria fundamental
cumprir os horários estabelecidos no projeto, realizar
planejamento e avaliação das atividades desenvolvidas. Assim,
resolveu-se, junto com o coordenador do projeto estadual,
que os alunos teriam treinamento específico sobre plane-
jamento, dinâmica de realização de oficinas e também sobre
técnicas de avaliação de projetos. Inicialmente, as atividades
eram realizadas somente na escola. Hoje, são realizadas
atividades em espaços da comunidade, como igrejas e
associações de moradores. O projeto contava, até o momento
da entrevista, com 22 adolescentes e jovens multiplicadores,
realizando atividades de dança, teatro e aula de ritmo. Essas
modalidades serão ampliadas com o oferecimento de
lambaeróbica e caratê. Os alunos têm dia específico de
planejamento e avaliação conjuntos.
Coordenação: a coordenação das atividades do projeto está
sob a responsabilidade das animadoras culturais. Ambas têm
o segundo grau completo.
Objetivos: desenvolver na escola diversas atividades de
cunho artístico-cultural.
Desdobramentos: as animadoras culturais avaliam que o
projeto trouxe grandes benefícios aos alunos, por ter
favorecido a manutenção dos alunos na escola num
momento em que muitos jovens abandonam os estudos em
busca de emprego e, ainda, pela oportunidade de realizar uma
atividade de cunho profissional.
1.4) Projeto Pichação
Origem: o projeto foi implementado no início das
atividades de animação cultural. Esta idéia surgiu a partir da
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constatação de que os alunos têm o costume de pichar carteiras
e paredes por pura diversão e que esta prática não seria
eliminada simplesmente com “broncas” e discursos de
conscientização.
Tempo de duração: o projeto teve duração de dois anos
(1995-97).
Público-alvo: alunos pichadores.
Organização: as animadoras culturais trabalhavam sele-
cionando, em cada turma, alunos pichadores que tinham
talento para desenhar. Depois, elas pediam a eles que
desenhassem, para que a tur ma eleg esse o melhor desenho. O
desenho escolhido passava, então, a representar a tur ma. De
tempos em tempos, este desenho era substituído por outro
eleito.
Coordenação: as animadoras culturais. Ambas têm o segundo
g rau completo.
Objetivos: o projeto tinha como objetivo identificar e
trabalhar com os alunos pichadores da escola, buscando
desenvolver a arte da grafitagem e diminuir a pichação na
escola.
Desdobramentos: a maioria dos alunos passou a praticar a
arte da g rafitag em. A animadora afir ma que alguns ainda são
pichadores, pois identifica suas “assinaturas” no bairro.
Entretanto, não o fazem mais na escola. O projeto teve fim
em 1999, quando conseguiu cumprir seu objetivo.
1.5) Rádio Guadá
Origem: a rádio surgiu a partir da necessidade do núcleo
cultural de divulgar suas atividades para toda a escola, pois,
antes da rádio, tais atividades ficavam mais restritas às pessoas
próximas ao núcleo. Quando a escola criou a rádio, a fez
pensando em ter um canal de comunicação que abrangesse e
atingisse todos os turnos da escola.
Tempo de duração: não especificado.
Público-alvo: a escola como um todo.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Organização: a rádio funciona nos horários de recreio e quando
a escola tem eventos especiais para anunciar a programação e
seus horários. Os alunos (voluntários) responsáveis se dividem
entre os turnos da escola e discutem, junto à coordenação, as
orientações e sugestões sobre os informes (notícias, atividades,
eventos etc.) transmitidos pela rádio. A grade de horários é feita
de acordo com a necessidade da escol a e a trilha sonora é
escolhida pelos alunos, mas a orientação da coordenação é para
que se prioridade à música popular brasileira.
Coordenação: as animadoras culturais. Ambas têm o
segundo grau completo.
Objetivos: divulgar as atividades do núcleo cultural, bem
como as atividades de educação ambiental. Divulgar as
atividades da escola, passar alguns informes gerais e algumas
notícias importantes. Divulgar a MPB, para que os alunos
tenham a oportunidade de conhecê-la.
Desdobramentos: a animadora avalia que a rádio escolar
quebrou o clima de extrema seriedade e tédio da escola. Isso
aproximou mais os alunos e propiciou maior cuidado com
os equipamentos e o espaço escolar. Além de proporcionar
uma maior integração entre as atividades promovidas, pela
divulgação das mesmas.
1.6) Sessão literária
Origem: surgiu a partir do grupo de teatro. A coordenação
pedagógica da escola teve a idéia de trabalhar, por meio da
dramatização, com os autores nacionais. A proposta inicial
era trabalhar com a literatura nacional, nas disciplinas de
Português e Literatura, de uma forma alternativa, para que
os alunos passassem a gostar de nossos autores e,
conseqüentemente, valorizá-los.
Tempo de duração: não especificado.
Público-alvo: os alunos do ensino médio realizam as peças e
os demais segmentos assistem. Desta forma, toda a escola é
atingida com este projeto.
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Organização: a cada ano são selecionados quatro autores
brasileiros. Duas alunas do grupo de teatro realizam pesquisa
sobre suas vidas e obras. O grupo se reúne e decide quais
aspectos são mais relevantes ou que mais se destacam com
relação a cada autor. O grupo define uma dinâmica
diferenciada de construção do texto da peça para cada autor.
Vale ressaltar que todas as peças são escritas pelos alunos
em conjunto com as animadoras culturais. Realizada a fase
de construção dos textos, parte-se para a montagem da peça,
os figurinos e os cenários, tudo para envolver o público no
tema apresentado.
Coordenação: as animadoras culturais. Ambas têm o
segundo grau completo.
Objetivos: incentivar a leitura de autores brasileiros, por meio
da divulgação dos mesmos.
Desdobramentos: a diretora aponta a criação de uma platéia
fiel, tanto de alunos quanto da comunidade externa, que
acompanha todas as peças. Além disso, os alunos estão mais
entrosados com a literatura nacional, pois, agora, têm uma
familiaridade com estes autores que antes não existia. A
comunidade extra-escolar também passou a conhecer um
número maior de escritores.
1.7) Projeto Ibamor
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Origem: projeto iniciado este ano com alunos de a
série. Partiu da constatação de que a maioria dos alunos e
funcionários da escola tem origem afro-descendente, mas que
esta maioria não tem uma consciência crítica sobre isso,
assumindo uma postura neutra e, às vezes, discriminatória,
mesmo que inconsciente.
Tempo de duração: não especif icado.
Público-alvo: alunos e professores do ensino fundamental.
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Em Yorubá, Ibamor significa “se ele soubesse”.
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Organização: acompanhando a cartilha os alunos têm oficinas
temáticas relativas aos temas abordados. Essas atividades foram
pensadas para incluir os alunos mais novos da escola no NCG,
visto que os alunos que participam dos g rupos de dança, teatro
e banda são os mais velhos, devido às habilidades exigidas para
essas atividades. Atualmente a escola está trabalhando com a
for mação dos professores que trabalham neste projeto, por
inter médio da leitura e discussão de textos, dinâmicas que
apontam e procuram solucionar atitudes preconceituosas.
Somente depois deste trabalho de sensibilização com os
professores é que este projeto vai ser trabalhado com os alunos.
Coordenação: as animadoras culturais. Ambas têm o segundo grau
completo.
Objetivo: visa à produção de material didático relacionado com
a cultura afro-brasileira. O objetivo é que esse material didático
seja trabalhado em sala de aula, por alunos e professores, com
culminância prevista para 20 de novembro, dia em que se
homenageia o herói neg ro Zumbi dos Palmares. Além da
conscientização e valorização da cultura negra.
Desdobramentos: os professores estão se colocando criticamente
quanto a atitudes , geralmente cotidianas , de racismo. Segundo a diretora,
eles agora estão sensibilizados e conscientes sobre esta questão .
2 ) Projeto Educação Ambiental
Origem: a partir de um curso de especialização sobre Educação
Ambiental, duas professoras desenvolveram a idéia de
implementar um projeto especial sobre o tema na escola.
Subprojetos de Educação Ambiental:
2.1) Fo r mação de monitores:
Origem: na primeira atividade realizada pelo núcleo, durante
uma oficina de compostagem, com alunos de série, foram
selecionados aqueles que se destacaram para serem monitores
do projeto. Esses monitor es passaram por capacitação teórica
sobre temas relativos ao meio ambiente.
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Tempo de duração: desde 1998.
Público-alvo: alunos do ensino fundamental e médio.
Organização: os alunos selecionados recebem for mação,
realizam pesquisas e desenvolvem atividades junto à
comunidade escolar, relativas ao tema meio ambiente. Todas as
atividades desenvolvidas são avaliadas por uma equipe de
professores que as incluem nas notas de todas as disciplinas
da grade curricular. Os monitores acompanham as atividades
de educação ambiental em sala de aula e nas visitas ecológicas.
Os alunos que se integram ao projeto são selecionados por meio
de entrevista. Esse processo seletivo tornou-se necessário frente
ao grande interesse dos alunos e à capacidade limitada do projeto
para a bsorver a demanda. Alguns alunos são encaminhados pela
coordenação pedagógica por terem problemas relacionados à
indisciplina ou dificuldades de aprendizagem. Nestes casos, o
projeto pode servir como alternativa educativa ou, ainda, como
“prêmio”. O aluno encaminhado nessas condições participa do
projeto assumindo compromisso de mudança de comportamento
em sala de aula.
Coordenação: a coordenação do projeto está sob a
responsabilidade de professores de história e biologia.
Objetivos: como objetivo geral, pode ser apontada a
integração do aluno no cotidiano das atividades escolares.
Além disso, esse projeto tem um duplo objetivo, pois, ao
mesmo tempo em que desenvolve a consciência ecológica
nos aluno, pode servir de estímulo aos mais desinteressados.
Desdobramentos: os alunos monitores passam a ser figuras
importantes na escola, uma vez que são eles que dão a todos
os estudantes do segundo segmento do Ensino Fundamental
e aos do Ensino Médio a possibilidade de se ter diversas
atividades sobre o tema.
2.2) Oficina ambiental
Origem: foi a primeira atividade realizada pelo núcleo e
surgiu a partir da idéia elaborada pela escola de se
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
aproveitarem os restos de comida, desperdiçados na cozinha,
para fazer adubo.
Tempo de duração: desde 1998.
Público-alvo: alunos de a séries do Ensino Fundamental.
Organização: os trabalhos organizam-se em oficinas semanais.
Cada turma é dividida em três grupos e passa, a cada semana,
por uma delas. As oficinas acontecem uma vez por semana,
sob orientação das coordenadoras do projeto e dos monitores.
Ao final de três semanas, acontece uma “contação de histórias”.
No projeto há, atualmente, uma adolescente que se capacitou
na arte de contar histórias. Ela utiliza seus conhecimentos e
habilidades narrando temas relacionados ao meio ambiente.
A turma é dividida em dois grupos e, enquanto um grupo ouve
histórias, o outro faz a avaliação do mês de trabalho com a
professora em sala de aula. Todo o trabalho, etapa por etapa,
é registrado pelos alunos.
Coordenação: a coordenação do projeto está sob a respon-
sabilidade de professores de história e biologia.
Objetivos: desenvolver a produção de adubo, a reutilização
de lixo sólido e reciclagem de papel. Este subprojeto agregou
a atividade que deu início ao projeto de educação ambiental.
Desdobramentos: além do aumento do interesse dos alunos
pela questão ambiental, resultando na indicação de alunos
monitores, houve uma conscientização de toda a escola sobre
o desperdício de comida e como ele pode ser evitado.
2.3) Fazendo histórias
Origem: o subprojeto “Fazendo histórias” foi elaborado
para incentivar a prática da redação nas turmas de série
do Ensino Fundamental. Em 2002, o projeto foi ampliado
para as turmas de a séries, uma vez que essas turmas
têm a disciplina de produção de texto na parte diversificada
da grade curricular.
Tempo de funcionamento: desde o ano 2000.
Público-alvo: alunos do Ensino Fundamental.
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Organização: os alunos criam histórias, fazem ilustrações e
os melhores trabalhos são organizados e encadernados,
transformado-se em livros. Foi realizado coquetel de
lançamento dos livros, convidando a comunidade e auto-
ridades locais. As coordenadoras do projeto, em conjunto com
as professoras da disciplina específica, fizeram o planejamento
da atividade, que acontecerá, simultaneamente, em todas as
tur mas e, ao final do ano, os alunos serão avaliados pelo livro
confeccionado. Haverá, ainda, nova produção de livros para
outro lançamento.
Coordenação: a coordenação do projeto está sob a
responsabilidade de professores de história e biologia.
Objetivos: desenvolver a capacidade de escrita e autoria dos
alunos, além de estimular a criatividade e imaginação dos
mesmos.
Desdobramentos: a professora entrevistada disse da
importância desse tipo de atividade para a auto-estima, tanto
para alunos quanto para pais ou responsáveis, uma vez que
os alunos são reconhecidos publicamente como autores de
livros.
2.4) Poupança ecológica
Origem: nasceu como um subprojeto do projeto lixo
urbano.
Tempo de duração: não especificado.
Público-alvo: alunos do Ensino Fundamental e Médio.
Organização: os alunos coletam, na comunidade, lixo
reciclável, como garrafas pet, papelão, latas, entre outros.
Coletam, também, alimentos não-perecíveis, que são doados
no mês de novembro para a campanha “Natal sem Fome”.
A escola participa dessa campanha de solidariedade pelo
segundo ano consecutivo, por iniciativa de uma professora.
O lixo reciclável tem dia específico para ser coletado na
escola. Cada turma tem uma poupança, aberta em nome de
dois representantes da turma. Essa poupança segue os moldes
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
de uma conta poupança bancária: são emitidos comprovantes
de abertura e de depósito, sendo o saldo demonstrado
publicamente em mural construído especificamente par a essa
atividade. Ao final do ano, a turma com saldo maior é
contemplada com um passeio turístico. Este subprojeto tem
parceria com o Grêmio Estudantil na organização da coleta do
material.
Coordenação: a coordenação do projeto está sob a
responsabilidade dos professores de história e biologia.
Objetivos: estimular os alunos e a comunidade externa a fazer
a coleta seletiva. Contribuir para a diminuição de lixo, ao
redor da escola, por meio desta campanha de reciclagem.
Desdobramentos: os alunos percebem, segundo uma das
coordenadoras do projeto, que não estão ganhando apenas
o passeio, mas, principalmente, um ambiente mais limpo.
Os relatos de alunos revelam resultados significativos na
comunidade. Apontam o fato de que não se encontram mais
garrafas pet ou latinhas jogadas no chão, o ambiente ficou
mais limpo e todos estão preocupados com a coleta desses
materiais. Mesmo pessoas que não estudam no colégio
recolhem o lixo para algum vizinho ou conhecido.
2.5) Visitas ecológicas
Origem: este projeto é tido como um desdobramento do
projeto “trocando figurinhas” e do projeto “lixo urbano”.
Tempo de duração: não especificado.
Público-alvo: alunos do ensino fundamental e médio.
Organização: os monitores e coordenadores do projeto,
reunidos com os professores das turmas, verificam, no início
do ano letivo, quais temas das disciplinas de cada série podem
ser objeto de visitação orientada a aterros sanitários, estações
de tratamento de água, reservas ecológicas etc. Os
professores elaboram avaliações que são aplicadas após as
visitas, para identificar o rendimento do aluno durante a visita
e o aproveitamento da mesma em cada uma das disciplinas
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ministradas para aquela turma. As avaliações são feitas pelo
coletivo de professores e não apenas pelos responsáveis por
disciplinas específicas. Por meio das avaliações, os professores
fazem relatório para as coordenadoras do projeto, que, por
sua vez, prestam contas à direção sobre as atividades e
resultados.
Coordenação: a coordenação do projeto está sob a
responsabilidade dos professores de história e biologia.
Objetivos: promover a interdisciplinaridade, além de
aproximar os conteúdos trabalhados com o cotidiano do
aluno.
Desdobramentos: uma das professoras entrevistadas avalia
que o projeto, oneroso para a escola, precisa ter suas
atividades e resultados bem avaliados para que os gastos
com o transporte sejam justificáveis. faz alguns anos que
este subprojeto está sendo colocado em prática e seus
resultados têm sido positivos, o que justifica sua conti-
nuidade. Outro desdobramento foi a conscientização ecológica
por par te dos alunos.
2.6) Esquete
Origem: não especificado
Tempo de duração: desde 1999.
Público-alvo: alunos do Ensino Fundamental e Médio.
Organização: para o primeiro esquete, produção de
pinturas e quadros sobre meio ambiente e um ver nissage com
os trabalhos. Para o segundo, um “concurso” de esquetes e
de musicais. Cada turma escolhe em qual dos dois concursos
irá se inscrever. O “concurso” não resulta em vencedores. Os
trabalhos são avaliados por todos os professores das várias
disciplinas e serão atribuídas notas que se agregarão à avaliação
final dos alunos. Todos participam de alguma forma na
criação do texto, montagem da apresentação, encenação etc.
Coordenação: a coordenação do projeto está sob a de uma
animadora cultural e dos professores de história e biologia.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Objetivos: trabalhar a arte e a cultura nas comunidades carentes.
Desdobramentos: a escola se sente reconhecida por este
trabalho, tanto por parte dos alunos, quanto por par te de quem
assiste. Segundo a diretora, a escola consegue “mostrar sua cara”
por meio desses esquetes.
2.7) Cidadania Ambiental
Origem: este projeto partiu da necessidade de se diversificar
os trabalhos, segundo o interesse do aluno. Teve início com a
indicação de várias escolas para trabalhar em parceria com a
Fundação José Pelúcio, lig ada à Universidade Federal do Rio
de Janeiro, e a Petrobrás, que estavam financiando projetos de
cidadania ambiental.
Tempo de duração: desde 2001.
Público-alvo: alunos do ensino médio, que são os agentes
ambientais.
Organização: as instituições parceiras concedem uma bolsa
de R$ 80,00 a seis alunos na escola, que desenvolvem um
trabalho ambiental, voltado para a comunidade. A Fundação
faz a renovação semestral do contrato. Este trabalho é feito,
obrigatoriamente, fora da escola, com a comunidade local. A
escola estabelece a metodologia de acordo com as atividades
desenvolvidas pelo núcleo ambiental.
Coordenação: a coordenação do projeto está sob a
responsabilidade de professores de história e biologia.
Objetivos: conscientizar a comunidade extra-escolar quanto às
questões ambientais.
Desdobramentos: Por meio dele foi possível obter um
computador, recém-instalado, com acesso à inter net. Outro
benefício do projeto é o financiamento de oito bolsas para
agentes ambientais e, também, bolsa especial para um
coordenador do projeto; como o projeto conta com 11
monitores, todos os alunos e coordenadores combinaram que
o dinheiro das bolsas seria dividido em partes iguais a todos
os participantes.
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2.8) Fontes alternativas e economia de energia
Origem: projeto pontual motivado pela crise energética de
2001. Tal fato g erou interesse em alunos e professores por
pesquisar fontes alternativas de energia e divulgá-las para a
comunidade.
Tempo de dur ação: dois anos (2001 e 2002).
Público-alvo: a escola como um todo e a comunidade externa.
Organização: o trabalho aconteceu, principalmente, por
meio de um programa da empresa Furnas Centrais Elétricas
S.A., de visita às escolas para realizar palestras de cons-
cientização sobre o desperdício de energia elétrica, além de
mostrar algumas fontes alternativas, como a energia solar, a
eólica etc.
Coordenação: a coordenação do projeto está sob a
responsabilidade de professores de história e biologia.
Objetivos: conhecer as fontes alternativas de energia para,
com isso, economizar na conta de luz da escola.
Desdobramentos: a escola conseguiu cumprir sua meta de
energia. O projeto funcionou durante dois anos e foi
encerrado ao ter sua meta alcançada.
2.9) Tr abalho com paradidáticos
Origem: surgiu a partir do diagnóstico da escola, quanto à
dificuldade dos alunos do ensino médio na leitura. Desde
então, a escola passou a discutir esta questão e resolveu que
cada turma deverá ler, no mínimo, um livro paradidático,
relacionado a algum tema trabalhado em sala de aula.
Tempo de duração: não especificado.
Público-alvo: alunos do Ensino Médio.
Organização: os professores selecionam os livros que serão
trabalhados em todas as disciplinas, em seminários temáticos
organizados pelos próprios alunos. A avaliação individual
dos alunos é feita coletivamente por todos os professores,
sendo agregada às notas de cada disciplina. Do conjunto de
livros selecionados, a preocupação de que, pelo menos
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
um, seja voltado às questões ambientais. Todos os professores
são envolvidos neste projeto, cada um coordenando a sua área.
Coordenação: a coordenação do projeto está sob a
responsabilidade de professores de história e biologia.
Objetivos: desenvolver o hábito da leitura e, conse-
qüentemente, melhorar a escrita dos alunos.
Desdobramentos: a ampliação da perspectiva dos alunos na
interpretação dos textos e a leitura crítica dos mesmos, o
que também contribuiu para uma conseqüente melhora na
escrita. Segundo a diretora, a escola, agora, pode disponibilizar
o jornal para os alunos sem que esses roubem ou estraguem,
porque agora eles têm o interesse de ler.
2.10) Trocando figurinhas
Origem: este projeto começou a partir do projeto “lixo
urbano”. Nesta época, as professoras de história e biologia
trabalharam com oficinas da reciclagem, com a produção de
composto orgânico, e plantando mudas, que depois as
crianças levavam para casa. A partir daí, a escola começou a
ampliar as atividades voltadas à questão ambiental, até chegar
a ponto de propor uma disciplina ligada à educação
ambiental. Proposta feita, as professoras interessadas
selecionaram e organizaram quais seriam os conteúdos
trabalhados, separando-os por séries. Passada esta etapa de
elaboração curricular, a escola entrou em contato com outras
instituições que trabalham com questões ambientais, visando
à aproximação do aluno com os temas trabalhados. Dessa
forma, a troca de figurinhas nasceu destas visitas, nas quais a
escola troca informações com as instituições, fazendo o
intercâmbio de conhecimentos.
Tempo de dur ação: desde 2000.
Público-alvo: alunos do Ensino Fundamental e Médio.
Organização: na maior parte das vezes, a escola visita as
instituições, mas algumas instituições também vão à escola
para a realização de palestras. A escola trabalha primeiro o
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conteúdo geral e depois passa a trabalhar o conteúdo
relacionado à visita. Essas instituições são, geralmente, a
Cedae, a Prefeitura de Duque de Caxias, Furnas. O
cronograma de atividades é feito de acordo com as
possibilidades da instituição. A periodicidade, portanto, varia
de lugar para lugar. Este projeto conta somente com a verba
da escola.
Coordenação: a coordenação do projeto está sob a
responsabilidade de professores de história e biologia.
Objetivos: este projeto tem como objetivo trazer para a
realidade do aluno os temas trabalhados na Educação
Ambiental, além de proporcionar o intercâmbio entre a escola
e as instituições ligadas a questões ambientais.
Desdobramentos: quando os alunos vão a esses lugares, eles
têm um olhar mais crítico, sabem perguntar, fazer
questionamentos e, neste contato, o aluno amplia seu
universo conceitual. Além disso, passa a conhecer, na prática,
como acontecem determinadas ações que ele estuda em sala
de aula.
3 ) Programa Escolas de Paz
Origem: iniciativa da UNESCO, em ação conjunta com a
Secretaria de Estado de Educação.
Tempo de duração: o Prog rama acontece desde 2000.
Objetivo: contribuir para o fortalecimento da cidadania, da
participação dos jovens, de forma a atuar em prol da
construção de uma cultura de paz.
Público-alvo: alunos e outros jovens da comunidade.
Organização: o Programa é operacionalizado pela abertura
da escola nos finais de semana, justamente quando mais
aumenta a incidência de atos violentos praticados contra ou
pela juventude. Sua implementação se por meio da
realização de oficinas e ações diversas, selecionadas a partir
de consulta à juventude local. Tais oficinas são ministradas,
na maioria das vezes, por oficineiros, provenientes da própria
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
escola, da comunidade e de ONGs, com atividades nas áreas
da cultura, dos espor tes, das ar tes e do lazer.
Coordenação: diretora da escola.
Desdobramentos: o Programa Abrindo Espaços integra-se aos
vários projetos e atividades desenvolvidos pela escola,
potencializando-os, como facilitador e suporte para uma série
de ações.
Perspectivas da escola
Localizado em um bairro caracterizado pela ingerência do tráfico
de drogas, onde o domínio de distintas facções representa risco
potencial para a comunidade, o Colégio Guadalajara tem sabido
apresentar novas perspectivas de futuro para a sua juventude. Ao se
conhecerem os resultados de seu trabalho, tem-se a convicção de
que se referem a uma série de experiências desenvolvidas ao longo
do tempo neste caso, tendo como ponto de par tida do processo o
ano de 1994, momento de mudanças na sua direção. Dessa for ma,
não parece adequado apontar uma única experiência como bem-
sucedida, nem mesmo um deter minado conjunto de ações. Há, na
verdade, um processo de transfor mação global bem-sucedido. A
pesquisa conseguiu identificar mudanças, mas elas não foram devidas
a um único elemento de inovação, que pudesse ser tratado
isoladamente do conjunto de práticas instituintes processadas a partir
do referido marco de redefinição político-administrativa da escola.
As experiências instituintes tendem a se confirmar em práticas
coletivas duradouras, que até se manifestam em eventos, mas que,
fundamentalmente, são tecidas com os muitos fios das memórias
individuais e coletivas.
O Colégio Guadalajara cultiva sua memória. grande
preocupação com o registro do planejamento e da execução das
atividades desenvolvidas por meio de significativo acer vo fotog ráfico,
produção de vídeos e livro s e o cuidado com a memória social. Outra
preocupação constante é com o registro autoral das peças teatrais e
produções literárias da escola. Esse cultivo da memória também se
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faz corpo nos tempos e espaços criados para a participação de ex-
alunos e outros membros da comunidade, que mantêm vínculos
criativos e nutrem afetos com a escola. A per manência dos sujeitos
no espaço da escola é significativa para a compreensão das inúmeras
referências que se têm sobre o sentimento positivo de pertencimento
a esse espaço escolar público.
É digno de nota o alto valor coletivo dado pelos usuários a
uma experiência educacional pública, numa época em que as relações
de mercado venderam a idéia do privado como a expressão da
qualidade. O Colégio Guadalajara atualiza a possibilidade de se fazer
educação pública de qualidade, ainda que se situe num contexto
espacial de imensas precariedades materiais, internas e exter nas.
A escola, certamente, não está preocupada apenas em combater
a violência, mas em fazer educação. Tanto o discurso quanto as
práticas obser vadas no Guadalajara parecem a tualizar a noção que
enxerga o educativo numa dimensão utópica, porém não descuidada
do cotidiano. O combate à violência dissociado de reflexões
socioeducativas ampliadas poderia afastar os sujeitos da perspectiva
da educação como prática da liberdade. A busca de segurança como
for ma de combate à violência poderia constr uir, simultaneamente,
ambiente seguro, porém antidemocrático. O desaf io é reconciliar os
ter mos, de modo a constr uir sociedades não-violentas e seguras com
níveis mais ampliados de participação social e liberdades
democráticas.
Nesse sentido, a práxis do Colégio Guadalajara parece apontar
que a opção por práticas dialógicas de resolução democrática dos
conflitos e a aposta na cultura como espaço-tempo de coexistência
podem ser efetivos meios de combate à violência. Os projetos
especiais Núcleo de Cultura do Guadá e Educação Ambiental
apontam para novas e criativas for mas de organização do tempo
escolar, indicando a possibilidade do estabelecimento de novas
relações sociais e produção de saberes que não se processam
necessariamente no contexto das rígidas e convencionais grades
curriculares. a convicção de que a escola pública é aparelho
cultural que pode favorecer a mobilidade física, simbólica e social,
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
ampliando horizontes existenciais de jovens alunos das classes
populares. Nesse contexto, a implementação de um pr ograma como o
Escolas de Paz contribui para a potencialização da capacidade de essas
estratégias constituírem caminhos importantes para a redução da
violência.
3.2.12 Rio Grande do Sul
ESCOLA ESTADUAL BALTAZAR DE OLIVEIRA GARCIA
Rua Sargento Silvio D. Hollembach, 69, Porto Alegre/RS.
Contexto sociodemográfico do m unicípio Porto Alegr e
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Contexto educacional
Fonte: Sistema de Estatísticas Educacionais INEP/MEC, 2002.
Caracterização da Escola
O entorno
A Escola Estadual Baltazar de Oliveira Garcia está situada no
bairro Rubem Berta, no conjunto residencial Jardim Leopoldina, na
região norte da cidade de Porto Alegre. É uma localidade com diversos
estabelecimentos industriais e comerciais. Dispõe também de um
órgão do Governo do Estado o Vida Centro Humanístico que oferece
alguns serviços públicos postos da Defensoria Pública e do Centro
Administrativo da Região Norte ligado à Prefeitura Municipal de Porto
Alegre.
O Jardim Leopoldina reúne diversos prédios padronizados que,
por sua extensão, é reconhecido, muitas vezes, como um bairro
independente. Os blocos localizados mais próximos da escola
apresentam boa aparência, são pintados, cercados e estão dispostos
em quadras planejadas. Além dos conjuntos habitacionais, o bairro
é formado por diversas vilas e dois grandes parques A Praça México
e o Parque Chico Mendes.
A grande maioria dos alunos e também alguns professores da
Escola moram no bairro e comungam da mesma visão quanto às suas
facilidades, ou seja, o fácil acesso para outras regiões da cidade e cidades
vizinhas, pela existência de um serviço de transporte urbano, a variedade
do comércio existente e as possibilidades de lazer oferecidos. O
depoimento de um aluno é ilustrativo desta imagem acerca do bairro
Tudo que tu quiseres fazer aqui tem: tem praça, tem escola de futebol, escola de
samba, posto de saúde, posto policial, mercado, tem tudo. (...) É uma cidade!
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Dentre os aspectos que mais gostam, os alunos citam as pessoas e
as amizades. A praça México, ao lado da escola, uma grande área verde
com pracinha, bancos e diversas quadras de esportes, é vista como o
local que propicia o encontro dos moradores, espaço de lazer e de
sociabilidade, mas, também, onde ocorrem assaltos, estupros e uso de
droga s.
A estratégia de proteção utilizada pelas meninas é andar em
grupo ou acompanhadas dos meninos, embora sejam comuns as
manifestações visando a conseguir um maior policiamento para a
praça. A última foi organizada pelo Grêmio Estudantil e culminou com
a decisão de que os ônibus passam a ser obrigados a parar em frente à
escola no final das aulas do notur no.
Estes episódios relacionados à violência são considerados os
únicos motivos de insatisfação dos alunos e habitantes do bairro e
por esta razão, praticamente não freqüentam o outro grande parque
da região Parque Chico Mendes que, pelo fato de ser cercado e
muito arborizado, tem facilitado a ocorrência de assaltos. Outro
aspecto mencionado que intimida e favorece a violência são as carcaças,
prédios residenciais situados nas ruas dos fundos da escola,
abandonados em plena construção e posteriormente invadidos e
embora seus “moradores” tenham sido retirados de lá, suas ruínas
vêm servindo de refúgio.
A unidade escolar
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A escola foi fundada em 1982 e construída com verba federal. Ela
funciona em um prédio de três andares com salas muito amplas, um
ginásio coberto integrado a outro prédio onde abriga a educação infantil,
além de um pátio interno com uma pracinha com brinquedos, dois blocos
de madeira com várias salas de aula e um anfiteatro. É reconhecida pela
estr utura que ocupa e pelo trabalho que desenvolve como uma “meg a”
e boa escola. Ela é toda cercada, embor a sir va também como residência
de três PMs, o que não impede que mesmo estando bem conservada
apresente algumas pichações.
Maiores problemas enfrentados antes das experiências
inovadoras
A situação enfrentada pela Escola Estadual Baltazar de Oliveira
Garcia, no campo da violência, era mais associada ao seu entorno do
que às condições internas. Como observa um funcionário do
estabelecimento, não ocor riam problemas graves com freqüência. Eram
mais comuns na vizinhança: Existem em volta, na praça... até a Secretaria de
Segurança tem conhecimento do que ocorre. Na escola, são pequenos delitos, é
um aluno brigar com outr o, um aluno pisar no outr o... Começam brincando e
acabam brigando. A inf luência da “praça”, entretanto, se fazia presente,
notadamente nas noites de sexta-feira, quando alguns alunos bebiam,
como lembra a diretora.
Eram também registrados, no interior da escola, vários tipos de
violência simbólica, como relata uma aluna: Acontecia de chamar os outros
de negão, d e pr eto velho, baleia, magrelo... Acho que nunca de via ter isso, porque
todo mundo é igual, sem ser a cor, sem ser o corpo... O que impor t a é o que tem
dentro do coração.
A insegurança do bairro, onde gangues em situação de
confronto, coloca em risco os alunos e demais atores da comunidade
escolar. Segundo a diretora, o problema levou um aluno do turno da
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noite a ir ar mado para a escola, sob a alegação de que tinha de atravessar
duas áreas muito perigosas para chegar em casa.
O desafio da escola coloca-se, sobretudo, na superação das
influências do meio conturbado no seu cotidiano.
Estratégias de superação
Mecanismos de resolução dos problemas: a escola tem um
serviço específico de orientação educacional e a direção
chama os pais para conversar.
Aber tura nos finais de semana: condições de abertura:
projetos da própria escola; atividades desenvolvidas: festas e
outras comemorações, seminários.
Espaços disponibilizados para os jovens: pátio e quadras
esportivas, salas de aula, refeitório e ginásio.
Pessoas e instituições procuradas pela escola para
resolução de conflitos: Conselho Tutelar e Brigada Militar.
Relação com o Conselho Tutelar: esporádica.
Programas, projetos e experiências
1) Coral
Origem: não especificada.
Tempo de duração: sete anos.
Público-alvo: alunos do Ensino Fundamental e Médio. No
entanto, está aberto a todos alunos.
Objetivos: desenvolver o gosto pela músic a e o convívio
entre os alunos.
Organização: os alunos interessados se inscrevem para
participar e o horário de funcionamento é após as aulas. Os
ensaios acontecem às e feiras, com cerca de 30 alunos.
A seleção das músicas é feita pelos alunos e professora.
Coordenação: é coordenado por uma professora que fez
faculdade de música, com formação em regência e,
atualmente, com dedicação exclusiva para o coral.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Desdobramentos: uma maior responsabilidade, compromisso
e cuidado, por parte dos alunos, com a escola. Sua
apresentação em vários eventos da cidade. Com os recursos
decorrentes da premiação recebida pelo Banco de Boston, foi
possível adquirir material necessário para o projeto. O coral é
considerado como a atividade cultural mais bem-sucedida da
escola. Do ponto de vista da direção, é a “menina dos olhos”.
Tem seu total reconhecimento, acompanhamento e apoio,
contando, inclusive, com uma sala própria para seus ensaios.
Está sempre presente nas atividades da escola Dia da família,
Natal, “hora cívica”, na Semana da Pátria. Por ocasião do
concurso de corais, realizado entre várias escolas, recebeu um
prêmio pelo primeiro lugar. E, embora os alunos que
participam do coral não o considerem “capaz de mudar a
realidade escolar”, mencionam mudanças nas suas vidas, como
a ampliação do círculo de amizades e o fato de terem se
tor nado popular es na escola. O coral tem conseguido, assim,
criar no estabelecimento um bom clima escolar, fator
fundamental para o desestímulo à violência.
2) Teatro
Origem: a iniciativa de um professor de montar oficinas e um
g r upo de teatro.
Tempo de duração: quatro anos.
Público-alvo: alunos da escola.
Organização: um dos g r upos do teatro tem seis integ rantes,
com uma média de 14/15 anos de idade, dos quais cinco
estudantes do diur no e um do notur no. o outro g r upo é
composto de alunos na faixa de 20 anos, integrado também
por alguns ex-alunos. Funciona fora do horário das aulas e
seus ensaios acontecem às feiras. As peças são escritas
pelos alunos. Como disse um professor, A g ente vai listando
palavras, idéias que gostaríamos que estivesse no espetáculo”
-“A g ente vai atrás da constr ução do espetáculo”.
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Objetivos: responder, por inter médio do teatro, à violência
crescente. Criar um espaço que per mita aos jovens se posicionar,
opinar e contribuir com idéias novas para a escola. Para a
diretora, um dos objetivos é desenvolver habilidades relativas
à comunicação, trabalhar a timide z e as diversas for mas de
expressão.
Coordenação: um diretor de teatro, “amigo da escola”.
Desdobramentos: diversas apresentações foram feitas em
escolas de Po rto Aleg re e cidades vizinhas. A designação de
uma sala especial para o seu funcionamento e o
comprometimento total da diretora com sua realização têm
contribuído para o interesse cada vez maior da comunidade
escolar. Alunos que fizeram parte do teatro se tornaram
atores profissionais. A apresentação da peça “Beijos
Elétricos”, em uma escola de outra cidade da região
metropolitana, teve repercussão. Seu texto é sobre a
realidade dos jovens, relação entre professor e alunos,
namoro, sexualidade, gravidez, prevenção de DST/AIDS e
uso de drogas. A integração do grupo permitiu que todos se conhecessem
muito, seus problemas e histórias.
3 ) G r upo de monitores
Origem: a importância dada pela direção da escola ao apoio
dos alunos nos momentos de preparação de uma grande
atividade promovida pela escola.
Tempo de duração: um ano .
Público-alvo: alunos a partir da série.
Organização: a diretora convida alunos de todas as séries
com problemas de disciplina, aqueles considerados “terríveis”
e os “exemplares” para compor o grupo. O funcionamento
deste projeto é pontual, ocorrendo nos momentos de
realização de uma grande atividade. Nestas ocasiões, a
diretora reúne o grupo, distribui as tarefas de acordo com as
necessidades do evento e a capacidade de cada um.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Objetivos: melhorar a organização dos eventos da escola,
valorizando os alunos que, ao se sentirem úteis e importantes, se
preocupam em melhorar seu compor tamento.
Coordenação: a diretora.
Desdobramentos: maior comprometimento dos alunos com
a escola e com os estudos.
4 ) Projeto “Tonel Bom”
Origem: a professora de artes presenciou uma catadora de lixo
telefonando, com o seu celular, para outra pessoa e chamando-
a para o local, sob a justificativa de que ali o “tonel estava
bom. Este fato despertou nela o desejo de trabalhar com os
alunos, sob for ma de crônica, situações e temas inusitados,
capazes de mobilizá-los.
Tempo de duração: não especificado.
Público-alvo: inicialmente, os alunos pichadores. Hoje, com
a ampliação dos temas, toda a escola.
Organização: a direção se responsabiliza pela aquisição dos
materiais tintas, papéis, painel de madeira–eosalunos
executam o trabalho. Hoje, com a ampliação dos temas
desenvolvidos, a escola trabalha de forma interdisciplinar.
Inicialmente, cada professor desenvolve o tema escolhido
dentro de sua disciplina e, posteriormente, se integra aos
demais.
Objetivos: fazer com que os alunos pichadores canalizem,
de uma forma positiva, o seu potencial criativo e desenvolva
o espírito crítico, refletindo sobre os valores éticos e morais
que estão retratados numa situação específica como a da
crônica.
Coordenação: professora de artes.
Desdobramentos: o trabalho com um dos temas de discussão
o lixo levou-os a desenvolver uma nova postura em
relação a ele, pois estão mais conscientes sobre seus efeitos,
evitando o desperdício e promovendo na escola e em suas
casas a coleta seletiva para posterior reciclagem.
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Perspectivas da escola
O trabalho desenvolvido pela Escola Estadual Baltazar de
Oliveira Garcia consegue reverter um quadro de desvalorização e de
baixa auto-estima de um estabelecimento marcado pela violência de seu
entor no, cujos efeitos traziam para o cotidiano escolar o estigma e a
discriminação. É considerado inovador porque, dentre outros motivos,
consegue resgatar nos alunos a importância dos estudos para a realização
dos seus projetos de vida, o sentimento de que ela contribui no cotidiano
para a sua formação, de que os laços que unem o conjunto das pessoas
que ali atuam caracterizam uma “Escola Família” ou seja, a importância
da afetividade, do interesse pelo outro e da solidariedade vão além do
previsto formalmente.
Sua forma de gestão, construída ao longo do tempo pelas
diferentes direções e que encontra, na atual administração, uma
possibilidade de consolidação, cumpre os objetivos a que se propõe,
mesmo com o desafio decorrente da ampliação do estabelecimento,
com a oferta do ensino médio. Tal experiência tem propiciado a
construção de uma base forte para o desenvolvimento de projetos
que têm, como objetivo, a formação integral do aluno. A preocupação
constante tem sido pensá-los a partir, principalmente, do seu interesse.
A prática da gestão vem se caracterizando por priorizar a combinação
da necessidade de dar controle e limites para os alunos com o diálogo,
traduzido na idéia da conversa, da proximidade, da pessoalidade e da
afetividade nas relações escolares, o que tem correspondido
enormemente às suas expectativas e contribuído para reverter
conflitos e desentendimentos geradores de violência.
Talvez sejam exatamente estes os elementos que vêm dando
aos alunos, em especial àqueles das camadas mais desfavorecidas da
população que compõem o público atendido, a crença na escola como
uma forma de realização dos seus projetos de vida. A escola
demonstra, assim, um nível de preocupação com seus alunos e um
compromisso dos professores tão grande que pode ser considerada
uma experiência com uma gestão inovadora, que todas essas ações
têm contribuído de forma bastante contundente na superação de
situações de conflito geradores de violência.
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3.2.13 Santa Catarina
ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA HILDA THEODORO
VIEIRA
Rua Lauro Linhares, 560, Florianópolis/SC.
Contexto sociodemográfico do município Florianópolis
Contexto educacional
Fonte: Sistema de Estatísticas Educacionais INEP/MEC, 2002.
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Caracterização da Escola
O entorno
O espaço urbano do entorno da escola é caracterizado,
principalmente, pela existência de duas redes sociais com “confli-
tuosas trajetórias” e, por tanto, com condições e expectativas de vida
distintas. De um lado, vivem os moradores “de baixo”, com suas
demandas amplas de consumo e uma imag em construída como “positiva”
no contexto da cidade. De outro, os moradores do mor ro, os “de cima”,
sem qualquer assistência por parte do poder público e marcados por
muitas lutas por mínimas condições de vida, de moradia e de participação
social (água encanada, luz elétrica, rede de esg oto, creche, posse dos
terrenos etc.).
A área denominada de “parte de baixo” do bairro é a mais
populosa, tendo como limite a região do Mangue do Itacorubi. Em
uma de suas extremidades, está localizado o bairro da Serrinha e o
campus da Universidade Federal de Santa Catarina. Na outra
extremidade, a área ocupada pelos prédios da Penitenciária Estadual
e a área do Centro Integrado de Cultura do Estado. O bairro é cortado
por uma rua principal onde se localiza a escola –, ao longo da qual
se concentra a maioria dos serviços e o fluxo populacional mais
intenso. Vale ressaltar que a proximidade da universidade favorece a
presença de estudantes e professores, que moram e transitam no
bairro, tornando-o um dos mais caros e disputados no mercado
imobiliário.
A presença da penitenciária estadual provoca grande
desconforto, manifestado das mais diversas formas, quer por
moradores, com suas reivindicações, quer pelos próprios jovens-
alunos, que vêem nela um local de potencial deflagração de situações
de risco (fugas, rebeliões) e, conseqüentemente, de movimentação
da polícia na região.
Assim, o que se observa no entorno da escola é o fato de que
seus jovens alunos vivem em meio a uma realidade de muito conflito,
responsável pela grande dificuldade de convívio. De fato, os diferentes
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
segmentos sociais que nele residem não se cruzam na dinâmica do sistema
de circulação de bens. Os moradores “de baixo usufruem a ofer ta de
ser viços do bairr o da Trindade e de outros bair ros da cidade, enquanto
os moradores pobres do morro per manecem “reféns” da falta de
condições de consumo e de circulação, que os retêm no espaço de suas
r uelas e casebres.
Para o atendimento escolar, portanto, confluem segmentos
sociais com experiências que, constantemente, tensionam ou opõem
símbolos, expectativas, interesses e perspectivas de vida, exigindo
muitos esforços dos educadores para o estabelecimento de uma
convivência pacífica e produtiva para o conjunto dos alunos, dos
seus professores e demais agentes da escola.
A unidade escolar
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A escola teve suas atividades iniciadas em agosto de 1950, como
Escola Reunida Prof. Antonio Francisco de Souza, em prédios de madeira
localizados no espaço atual da rótula da Penitenciária na Trindade, então
denominada Três Pontes. Ali permaneceu até 1967, quando sofreu um
incêndio. Um novo prédio foi constr uído para o seu funcionamento e
inaugurado em 24 de abril de 1968.
Em 1970, passou a funcionar oferecendo ensino de à séries
do grau. Em junho de 2000, a partir das exigências da Lei de Diretrizes
e Base 9.394/96, a escola passa a ser denominada Escola de Educação
Básica Hilda Theodoro Vieira.
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Seu projeto político-pedagógico tem como objetivo geral oferecer
condições ao aluno para que ele desenvolva o senso crítico, a criatividade
e a responsabilidade, capazes de contribuir para sua formação, tor nando-
o um cidadão comprometido com a sociedade em que vive. Esse objetivo
está pautado na cooperação, r espeito, tolerância e solidariedade, premissas
importantes quando se referem a valores que devem ser trabalhados e
fortalecidos na prática desenvolvida com adolescentes e jovens, que,
embora diferentes, querem ser vistos, acolhidos, valorizados e
reconhecidos. Esse objetivo se reflete no cotidiano da escola, nos projetos
e ações que realiza, na constr ução dos seus murais, trabalhados
cotidianamente com os alunos, onde se destacam frases como esta, que
busca definir as funções da escola: Preparar para conviver com as diferenças,
aprender a viver em grupo, contribuir para a construção de uma cultura de paz e
preparar para a vida.
A escola tem como filosofia contribuir para construção de um
cidadão histórico-social, com potencialidades e capacidades
particulares, que promova e aceite mudanças, ético e inserido no
contexto social.
A relação existente entre a direção e a conjunta da comunidade
escolar é visivelmente amistosa. No que se refere aos jovens alunos,
eles têm na escola um lugar e um espaço de segurança e de exercício
de liberdade. De modo geral, possuem uma boa relação com os
professores e com a direção, se sentem acolhidos, da mesma forma
que sentem o compromisso de seus professores em ensinar.
Maiores problemas enfrentados antes das experiências
inovadoras
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A Escola Hilda Teodoro Vieira enfrentou problemas sérios de
violência em seu entor no, onde a presença do tráfico de drog as e de
conf litos entre diferentes g r upos colocava em risco a segurança da
comunidade escolar. A fala de um aluno ilustr a tal situação: Teve pr oblema
até com um colega nosso. Alguém do morr o, ali, que r oubava as coisas do ir mão
dele. Daí, ele foi tirar satisfação. Aí, eles invadiram o colégio. Ficou todo mundo
no banheiro, chamaram polícia. Esse colega, então, foi transferido daqui.
Segundo alguns entrevistados, o envolvimento de alunos e,
sobretudo, de ex-alunos com as drogas seria fator importante de
insegurança, manifestando-se, principalmente, em roubos ocorridos
no interior da escola, como exemplifica uma supervisora: Muitas vezes,
não eram nem os alunos nossos, eram ex-alunos, que vinham pra roubar, pra
fazer encrenca mesmo, e a gente que, por trás de tudo isso tinha a droga, né?
A ocor rência de conf litos entre os alunos, nesse contexto, tinha
características graves, como relata uma orientadora: Quando eu entrei
aqui, ainda usavam garrafa de vidro! Eu nunca esqueço de uma cena:
uma criança com uma garrafa, que tinha batido na parede, e tava pronta
pra agredir uma outra. Eu cheguei por trás e segurei!
Nesse quadro, a escola teria que lançar mão de estratégias ca pazes
de provocar mudanças de peso.
Estratégias de superação
Mecanismos de resolução dos problemas: conselhos
reuniões entre pais e mestres, reuniões entre professores e
alunos, reuniões entre pais ou responsáveis, professores e
alunos, encontros privados entre pais ou responsáveis e
professores ou direção, encontros privados entre pais ou
responsáveis, professores, dir eção e aluno, a escola tem um
ser viço específico de orientação educacional, conselho tutelar.
Aber tura nos finais de semana: condições de aber tura:
empréstimo para a comunidade, projetos da própria escola;
atividades desenvolvidas: festas e outras comemorações,
atividades espor tivas/recreação, atividades da comunidade/
trabalho voluntário.
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Espaços disponibilizados para os jovens: toda a escola.
Pessoas e instituições procuradas pela escola para
resolução de conf litos: família, conselho tutelar.
Relação com o Conselho Tutelar: esporádica.
Programas, projetos e experiências
1) Projeto Agentes da Paz
Origem: necessidade sentida pela escola de conser var seu
espaço físico, principalmente pelo fato de ele ter passado
por uma refor ma g eral. Para tal, procurou a Polícia Militar,
que vem desenvolvendo um projeto conhecido como
“Conselho de Segurança Escolar”. Porém, as negociações
apresentaram dificuldades iniciais. Os objetivos da PM
mostravam-se diferentes dos que a escola pretendia,
caracterizando-se mais pelo aspecto repressivo que pelo
educativo. Em um processo de neg ociação, as par tes chegaram
a um acordo que per mitiu traçar um novo r umo. A partir
daí, foram realizadas ações conjuntas entre escola, polícia,
alunos, pais/responsáveis de alunos e professores, sendo
finalmente implantado o projeto, com caráter essencialmente
pedagógico.
Público-alvo: alunos e comunidade.
Tempo de duração: quatro anos.
Organização: os alunos da escola, inicialmente, participaram
de uma capacitação, com vistas a constituírem o grupo
Agentes da paz”. Esta equipe for mada tem duas frentes de
trabalho. A primeira é o monitoramento do recreio, realizado
pelos alunos e professores em tur nos que não são os deles.
Quanto à segunda frente, ela é coordenada igualmente pelos
professores, voltando-se para a conscientização dos
moradores do seu entor no. Este projeto, além de contar com
a organização e implementação dos alunos e professores,
recebe o apoio da UNIPAZ Universidade Holística, durante
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os seminários de for mação. Os conteúdos destes encontros
são trabalhados com uma metodologia que procura
sensibilizar os participantes para uma boa convivência entre
os “sujeitos” da escola.
Objetivos: abertura da escola à comunidade, visando a sua
conscientização quanto ao significado do espaço escolar e à
importância que tem sua utilização por ela
Coordenação: a coordenação é da diretora.
Desdobramentos: o Projeto Agentes da Paz vem
apresentando resultados positivos, tanto no que se refere à
convivência entre os alunos e alunos e professores quanto
ao trabalho coletivo que a maioria dos integrantes da
comunidade escolar vem tendo.
2) Projeto Tempo de Apr ender
Origem: decisão da Secretaria Estadual de Educação de
desenvolver em cinco escolas Estaduais da Grande
Florianópolis de a séries um trabalho em parceria.
Tempo de duração: um ano.
Público-alvo: alunos com idade acima dos 14 anos e os
professores.
Organização: os professores se distribuem em pares para
planejar as aulas, ficando um com a função de ministrá-las e
outro como “articulador”. O professor da disciplina dedica
a cada tur ma cinco aulas, sendo três ministradas por ele e
duas desenvolvidas pelo “articulador” que, com a presença
do professor da matéria, trabalha os conteúdos da sua área
integrados aos anteriormente estudados. A avaliação é
compartilhada entre os dois professores.
Objetivos: viabilizar um trabalho coletivo e interdisciplinar
durante o processo de planejamento das atividades,
englobando, inclusive, o momento da avaliação, o que
qualifica o processo ensino-aprendizagem. Construir
alternativas pedagógicas diferenciadas.
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Coordenação: a coordenação é feita pela equipe Pedagógica
da escola com a contribuição dos professores e do
coordenador de ensino.
Desdobramentos: embora apresente algumas dificuldades em
sua implementação, esta experiência trouxe resultados positivos,
obser vados no momento da avaliação, no que diz respeito à
aprendizagem dos alunos. Entretanto, é mencionado o fato de
que o professor ainda não consegue trabalhar, de forma plena,
a interdisciplinaridade.
3) Projeto APOIA
Origem: parceria estabelecida pela Secretaria Estadual de
Educação e do Desporto com o Conselho Tutelar, para
responder ao alto índice existente de faltas dos alunos do
Ensino Fundamental.
Público-alvo: crianças e adolescentes de7a18anos, que ainda
não completaram o Ensino Fundamental.
Tempo de duração: não especificado.
Organização: o aluno que falta mais de uma semana
consecutiva recebe um comunicado elaborado pelas
orientadoras da escola e enviado pelo conselho tutelar,
convocando as famílias para prestarem esclarecimentos e
justificativas. Posteriormente, a escola é informada sobre as
providências tomadas e os resultados obtidos.
Objetivos: acompanhar a freqüência escolar dos alunos junto
aos pais e familiares.
Coordenação: a coordenação é compartilhada e dela fazem
parte o diretor, no âmbito da escola, a Secretaria Estadual de
Educação e o Conselho Tutelar.
Desdobramentos: aproximação da escola com os pais, que
foi criado um canal de comunicação direta para discutir as
faltas e suas conseqüências. Desta forma, os pais sentem que
a escola está atenta à educação de seus filhos.
4) Projeto Judô
Origem: desejo de um profissional, voluntário, da Federação
Catarinense de Judô de desenvolver atividades com os alunos
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da escola no período em que não estão estudando. Além
disso, utilizar uma metodologia que contemple uma discussão
sobre “a vida”.
Tempo de duração: dois anos.
Público-alvo: alunos.
Organização: os treinos acontecem às terças e quartas-feiras,
no período da manhã e da tarde. Nestes momentos, o
professor aproveita para “conversar” com os alunos sobre a
cultura de paz e a importância que tem a prática de um esporte
para uma vida saudável. Este projeto se desenvolve em
parceria com o Comitê de Ação e Cidadania do Colégio
Coração de Jesus que obteve os tatames e foi, também,
parceiro na construção da sala de cidadania, onde são
ministradas as aulas de judô e com os empresários da
comunidade que doaram os quimonos para os alunos. O
projeto coloca seus alunos em competições com outras
escolas na cidade de Florianópolis.
Objetivos: proporcionar aos alunos a oportunidade de
praticar um esporte, além das atividades de Educação Física.
Coordenação: amigo da escola.
Desdobramentos: segundo depoimentos dos alunos, o
esporte praticado na escola deu-lhes visibilidade e os
valorizou. Eles passaram a se sentir mais comprometidos com
a vida da cidade. Receberam, inclusive, um diploma pela
participação que tiveram. Esta homenagem foi estendida
também aos parceiros do Projeto.
5) Projeto de Dança Balé e Dança de Salão
Origem: iniciativa da Academia Vida Saudável de
proporcionar a alguns alunos da escola Hilda Teodoro Vieira
sua profissionalização na dança, por acreditar que com ela
poderiam ter um futuro melhor. O projeto previa aulas de
balé clássico, voltadas para crianças da educação infantil à
série do Ensino Fundamental, e aulas de dança de salão,
dirigidas a todo o Ensino Fundamental. Entretanto, apenas
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as aulas de dança de salão começaram, porque a escola pôde
contar com uma professora que fazia essa dança, que, ao
tomar conhecimento do projeto, se propôs a par ticipar.
Tempo de duração: dois anos.
Público-alvo: toda a escola.
Organização: a academia, a partir da observação direta na
escola, avalia os alunos que se apresentam e, posteriormente,
convida os que demonstram mais talento para a dança clássica
a terem aulas de dança na academia, por meio de uma bolsa
de estudos. As aulas acontecem fora do horário escolar do
aluno. Os dias e horários são combinados entre aluno, pais
e Academia. a dança de salão é realizada dentro da própria
escola, na sala denominada “cidadania”, e é oferecida nos
turnos da manhã e da tarde. A professora inicia as aulas
ensaiando os “primeiros passos”, aqueles que podem ser
realizados individualmente, para depois colocar os alunos
para dançar em dupla.
Objetivos: fazer com que os seus participantes apreciem,
desenvolvam e aprimorem o gosto pela arte e pela cultura
em geral.
Coordenação: a coordenação do balé é da própria Academia
Vida Saudável, em parceria com a direção da escola. A dança
de salão é coordenada pela professora de Artes.
Desdobramentos: a direção da escola relata ter sentido
mudanças importantes no comportamento dos alunos que
participam do Projeto, maior cuidado com a própria
aparência e demonstração explícita de “felicidade” quando
se apresentam para os colegas na escola. As alunas que têm
se apresentado esperam ter oportunidade de viajar e assistir
espetáculos de dança, dando, como exemplo, o Festival de
Dança de Joinville e outros festivais que acontecem em
Florianópolis. A academia doou uma bolsa de meio período
para estas alunas, fazendo com que se sintam integrantes da
academia, garantindo, desse modo, sua profissionalização,
aspecto importante da cidadania. No segundo ano de
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funcionamento, foi feita uma parceria com um grupo de
dança de salão, o que proporcionou a professores da escola
e comunidade em geral aulas de dança, às segundas e quartas-
feiras, na sala “da cidadania”.
6) Projeto de informática:
Origem: chegada dos seis primeiros computadores na escola,
em julho de 1999, doados pela Secretaria Estadual de
Educação e do Desporto (inaugurando o Laboratório de
Informática em rede) e conectados à internet, iniciando a
formação dos professores, que, na grande maioria, não
possuía computador em casa. Posteriormente, esta formação,
dada por um “amigo voluntário da escola”, foi estendida aos
alunos e, em 2001, com mais cinco micros, recebidos do
Proinfo, à comunidade.
Tempo de duração: quatro anos.
Público-alvo: toda a escola e comunidade.
Organização: durante todos estes anos a Escola tem
fornecido cursos de capacitação de informática para alunos,
pais e comunidade. Para pais e comunidade os cursos são
oferecidos por voluntários e para os alunos a escola dispõe
de um professor de informática.
Objetivos: proporcionar um espaço onde seus participantes
possam conhecer e se inserir no mundo da tecnologia on-
line. Utilizar os recursos da informática no processo de
ensino-aprendizagem. Oferecer oportunidades de cursos de
informática para os alunos e para a comunidade. Oferecer
cursos de capacitação direcionados aos professores.
Coordenação: a coordenação é feita pela coordenadora
adjunta e uma professora.
Desdobramentos: muita procura para sua utilização,
tanto pelos professores quanto por alunos e comunidade.
Além disso, a escola conseguiu atender e capacitar a maioria
dos professores, além de atender aos alunos que precisam
realizar trabalhos e pesquisas na internet. A oferta de cursos d e
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infor mática aos alunos, professores e comunidade se tor nou
conhecida, contribuindo de forma significativa como mais
uma ferramenta pedagógica a ser utilizada por todas as
disciplinas.
7) Projeto de capacitação dos pequenos empreendedores
Origem: este Projeto foi pensado no final de 1999, a partir
da idéia de se constr uir uma “ponte” entre a escola e os
estudantes que estão à procura de local para trabalhar e os
empresários locais, com necessidades de mão-de-obra. Em
2000, a partir da realização de algumas entrevistas com
alunos, feitas por estes empresários, constatou-se que eles
não estavam preparados para o mercado de trabalho.
Púb lico-alvo: alunos maiores de 14 anos.
Tempo de duração: não especificado.
Organização: a escola criou um curso intitulado Programa
de Educação para o Trabalho, constituído de 303 horas/aula,
com conteúdos relacionados a habilidades básicas e
habilidades especificas oficina de infor mática, oficina de
saúde. A “Estação de Vivência” como é denominada a
experiência possibilita ao aluno a oportunidade de
per manecer durante 30 horas no interior das empresas que
“adotaram”, cada uma, um aluno. O curso foi patrocinado
pelos empresários locais, que fazem parte da ASSET
Associação dos Empresários da Trindade –, criada dentro
da escola e que, até hoje, nela realiza suas reuniões,
participando de todo o processo vivenciado pela escola com
a comunidade.
Objetivos: por meio da parceria com os empresários que
estão no entorno da escola, contribuir para uma for mação
específica dos alunos, com vistas ao mercado de trabalho.
Coordenação: a coordenação é feita pela diretora adjunta.
Desdobramentos: em dezembro de 2001, um g r upo de 20
alunos recebeu certificados pela conclusão do Programa de
Educação para o Trabalho. Em 2002, for am encaminhados
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alguns estudantes para o mercado de trabalho. No momento,
um g rupo de 35 alunos participa de um curso intitulado
“Indústria do Talento”, promovido pelo Sesi, patrocinado
pelos empresários locais.
8) Projeto de recicla gem do lixo e preservação e limpeza
da comunidade “Latinha”
Origem: infor mações obtidas pela escola sobre o projeto
de reciclagem de alumínio da Coca-Cola, “Projeto Escola”,
desenvolvido pela Latasa, em parceria com os fabricantes
de Coca-Cola em todo o Brasil, com o objetivo de reduzir o
lixo, promover a conscientização ambiental entre os
estudantes e ag regar benefícios aos par ticipantes. A escola,
então, calcada em seu objetivo de oferecer condições ao
educando de desenvolver o senso de observação, a
criatividade e a responsabilidade, adota o Projeto “Latinha”.
Tempo de duração: quat ro anos.
Público-alvo: todos os alunos da Educação Infantil, do
Ensino Fundamental, toda a comunidade escolar,
comunidade do entor no e empresários.
Organização: inicialmente, a escola tomou conhecimento
do regulamento acerca do funcionamento do projeto. Em
seguida, a partir da discussão com os professores, foi
preenchida a ficha de inscrição, prevista para as escolas
interessadas em sua participação e enviada à empresa. Para
incentivar todos os envolvidos, o planejamento prevê a
projeção de um vídeo sobre reciclagem, estudos e debates,
além da mobilização de todos na coleta de latas e sua
preparação para fornecimento à empresa. A direção da escola
é a responsável pelo transporte de todo o material.
Objetivos: promover a consciência ambiental, a redução do
lixo na Comunidade Escolar e no bairro e proteger a natureza.
Envolver todos os parceiros da Comunidade Escolar e extra-
escolar na realização do Projeto. Conscientizar todos os
envolvidos sobre os ganhos que um projeto com estas
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características promove para o meio ambiente, a partir da
prática coletiva.
Coordenação: a coordenação é feita por uma professora.
Desdobramentos: a escola passou a acreditar que respeitar
o meio ambiente não é não destruir mas, antes de tudo,
não poluir. Preocupada com a formação de sua comunidade
escolar, passou a entender que por meio de um processo
educativo e coletivo é possível contribuir para a limpeza do
ambiente e para a conscientização dos alunos. É por
intermédio desse projeto que, tendo como parceira a
comunidade, contribui para que seus participantes adquiram
uma maior consciência acerca das questões ecológicas. A
decisão do coletivo da escola de comprar com o dinheiro
arrecadado com as 120.000 latinhas um aparelho de vídeo,
uma televisão, um computador, uma impressora matricial e
um scanner.
9) Projeto de recic lagem do lixo e preservação e limpeza da
comunidade papel
Origem: proposto para dar continuidade ao projeto
“Latinha”.
Tempo de duração: quatro anos.
Público-alvo: alunos da Educação Infantil à Educação
Fundamental dos turnos da manhã e da tarde, professores,
técnicos, direção e funcionários; comunidade e empresas
parceiras.
Organização: mobilização dos alunos, família e comunidade
para o trabalho de coleta, organização e venda de todo o
papel doado pelas empresas do grupo MIDI Micro Distrito
Industrial de Base Tecnológica. A verba adquirida é revertida
em prol da comunidade escolar.
Objetivos: conscientizar alunos, família e comunidade da
necessidade da reciclagem como prática de cunho ecológico.
Compra de equipamento para o Consultório Odontológico
da Unidade Escolar.
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Coordenação: a coordenação é feita por uma professora.
Desdobramentos: a escola considera que este projeto vem
contribuindo para o desenvolvimento da consciência
ecológica e, com isso, a comunidade está cuidando melhor
do seu lixo, evitando deixá-lo exposto na rua, fora dos dias
de coleta, e se preocupando em fazer a coleta seletiva do lixo.
10) Pr ojeto Dia da Família
Origem: o projeto parte da visão de que a família deve estar
integrada à escola, acompanhando seus filhos no dia-a-dia e
avaliando o processo pedagógico como um todo. Constatou-
se também que, por ocasião dos dias das Mães, dos Pais,
alguns alunos, muitas vezes, mudavam seu comportamento,
alguns se revoltavam, tornavam-se agressivos, outros se
isolavam, emudeciam, não realizavam as atividades propostas
pelo professor. Percebeu-se, então, que muitos ali, por vários
motivos, não tinham a quem homenagear, não aceitavam a
madrasta ou o padrasto, morando com avós ou outros
parentes. Dessa maneira, instituiu-se o Dia da Família,
discutindo com o aluno, por meio de diferentes atividades,
as questões que envolvem as relações de família e as distintas
compreensões sobre o tema.
Tempo de duração: desde 1995.
Público-alvo: direção, professores, funcionários, alunos e
comunidade.
Organização: são realizados encontros em que se reúnem
pessoas que são ou que foram da escola. O Projeto está
relacionado ao tema “identidade” e sua construção Quem
somos nós? De onde viemos? Neste momento, a escola está
realizando atividades com música, organizando bazar com
peças feitas pelos talentos existentes na comunidade, jogos e
danças. Sua organização é feita pela direção.
Objetivos: trabalhar o sentimento “de família”, que muitos
mencionam quando se referem à escola. Desenvolver
atividades que contribuam para integrar a escola e a
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comunidade. Discutir com a comunidade escolar o verdadeiro
sentido de família. Promover a confraternização entre as famílias
da escola. Identificar e valorizar os talentos da escola e da
comunidade.
Coordenação: direção.
Desdobramentos: por meio deste projeto, a escola vem
conseguindo integrar-se à comunidade do entorno, criando
uma relação de confiança e diálogo, principalmente com os
pais e responsáveis. A ressignificação do que seja “família”
para todos aqueles que têm uma relação com a escola.
11) Pr ojeto de Espor te e vida saudável
Origem: os altos índices de evasão, repetência e o uso de
drogas e a campanha realizada pela Secretaria de Educação,
incentivando as escolas a adotarem o “Projeto de Esportes”
na sua prática cotidiana.
Tempo de funcionamento: não especificado.
Público-alvo: a comunidade escolar.
Organização: para sua realização, as escolas receberam um
incentivo de 50% dos gastos efetuados. Como contrapartida,
a escola se comprometeu em designar um professor que
coordenasse as atividades esportivas na escola. Posteriormente,
o Comitê de Cidadania do Colégio Coração de Jesus passou a
contribuir, complementando os recursos necessários para que
se pudesse construir um espaço, que passou a ser denominado
“sala da cidadania”, onde são realizadas suas atividades. A escola
trabalha com vôlei, capoeira, tênis e futebol. Os treinos são
realizados regularmente, fora do horário escolar e todos os
interessados podem se inscrever para participar. As atividades
de vôlei, futebol e capoeira acontecem na quadra poliesportiva.
No caso específico do tênis, a Fundação Gustavo Kuerten,
montou uma parceria com a escola, oferecendo aulas. Duas
vezes por semana, um ônibus da Fundação transporta os
alunos que participam desse projeto para os treinos, que
duram, em média uma hora e meia.
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Objetivos: tentar diminuir os índices de e vasão, re petência e
o uso de drog as entre os alunos. Tor nar a escola um espaço
mais ag radável e pra zeroso.
Coordenação: a coordenação das aulas de futebol e de vôlei
é do professor de Educação Física. As aulas de capoeira são
coordenadas por um mestre voluntário e as de tênis, pelos
professores da Fundação.
Desdobramentos: um professor da escola desenvolveu, no
morro onde está localizada a penitenciária, vizinho à escola,
um trabalho comunitário voltado para o esporte e ajudou a
criar a associação de moradores da região. Isso vem contri-
buindo para a boa relação entre a escola e a comunidade,
que este professor também é morador do bair ro. A direção
considera que os alunos estão muito satisfeitos com o fato de
terem tantas opções de esporte.
12) Projeto da banda escolar
Origem: a decisão da escola de reciclar alguns instr umentos
velhos que estavam guardados sem utilização. A idéia de
montar uma banda composta pelos alunos para apresentação
no dia 7 de Setembro.
Tempo de duração: qua tro anos.
Público-alvo: alunos.
Organização: solicitação da escola, junto ao batalhão militar,
de um voluntário para realizar seus ensaios. Conco-
mitantemente, conseguiu-se a doação de alguns instr umentos
com uma escola estadual vizinha. Entretanto, devido ao
barulho que provocam seus ensaioseareclamação da
vizinhança, a banda se apresenta em datas comemorativas,
como feriados nacionais e o Dia da Independência. O ensaio
acontece numa sala, sob “a batuta” de um regente. A banda é
for mada por um número fixo de alunos, interessados em dela
fazer par te. Conta com instrumentos próprios e uniformes para
os dias de apresentação. Sempre que possível, é realizado um
desfile para a comunidade.
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Objetivos: desenvolver a musicalidade naqueles alunos que
se interessam por música e possibilitar que aprendam a tocar
os instr umentos de que g ostam.
Coordenação: a coordenação é de um policial do Batalhão
Militar.
Desdobramentos: a direção aponta que os alunos mais
interessados pela banda são aqueles tidos como “proble-
máticos”, que mudaram “radicalmente” de compor tamento,
passando a ser mais disciplinados e org anizados. Esses alunos,
agora, têm mais facilidade para se concentrar nas disciplinas
e estão tendo um desempenho escolar satisfatório.
13) Projeto do coral da escola
Origem: a participação de uma professora de educação física
da escola em um coral, que a motivou a criar um coral na
escola.
Tempo de duração: não especificado.
Púb lico-alvo: alunos.
Organização: esse coral começou em uma pequena sala com
um g r upo de alunos desta professora. Em se guida, juntou-se
a ela o filho de uma outra professora, que tocava teclado.
Os ensaios acontecem na “sala da cidadania”, fora do horário
escolar. As músicas selecionadas enfatizam a cultura local.
O coral ensaia semanalmente e se apresenta nas festas
promovidas pelo Estado e pelo Município.
Objetivos: desenvolver a cultura musical na escola.
Potencializar o interesse demonstrado pelos alunos. Priorizar
as manifestações cultur ais da região.
Coordenação: este projeto é coordenado por uma professora
de educação física.
Desdobramentos: o coral da escola g ravou um CD, com a
ajuda da Associação de Pais e Professores e dos empresários
locais. Esse CD contém uma música feita pelos próprios
alunos participantes, adotada como hino da escola. Tanto
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sua letra quanto sua melodia foram f eitas pelos alunos. A
comercialização do produto é feita pela própria escola.
Perspectiva da escola
A Escola Hilda Teodoro Vieira viveu um cotidiano conturbado
e violento. Estigmatizada pela comunidade do seu entorno pelas
constantes brigas de gangues e pela ameaça dos jovens envolvidos
no tráfico, tinha suas instalações invadidas freqüentemente. O
depoimento de uma mãe revela o sentimento de insegurança vivido
pelos estudantes e seus responsáveis: Como é que eu podia mandar o meu
filho pro colégio, sabendo que, uma hora, podiam ligar pra mim dizendo que ele
tava morto? Tinha pessoas vendendo drogas com arma na mão, ameaçando a
gente! Hoje, a partir de uma série de ações, a escola mudou e o nível
de violência ali existente é considerado bastante baixo.
A escola desenvolve suas ações de forma integrada com os
diversos segmentos existentes no seu entorno moradores,
comerciantes e associações educativas, em consonância com seu
projeto político-pedagógico. É um estabelecimento de ensino que
compreende os alunos como sujeitos com necessidades concretas e
expectativas, mas também com diversos problemas, que se estendem
desde a falta de uma alimentação adequada à exposição a diversas
formas de violência.
Revela, ainda, um compromisso sociocultural em suas
atividades, de forma sistemática e contínua e com uma preocupação
de inclusão social. Tais aspectos contribuem para legitimar a escola
e autorizam considerá-la uma escola inovadora no atual contexto
educacional brasileiro, por criar, preservar e qualificar práticas
institucionais públicas, cuja dimensão político-social é fundamental
para a manutenção do direito à educação de qualidade dos segmentos
sociais excluídos do processo de desenvolvimento da sociedade
brasileira. È fato que o conjunto das atividades vem contribuindo
para relações mais harmoniosas no interior da escola, o que, como
conseqüência, previne uma série de situações relacionadas a conflitos
entre seus alunos.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
3.2.14 São Paulo
ESCOLA ESTADUAL PARQUE PIRA TININGA
Rua Joaquim Serra, 110 Parque Piratininga,
Itaquaquecetuba/SP.
Contexto sociodemográfico do município Itaquaquecetuba
(Região Metropolitana da cidade de São Paulo)
Contexto educacional
Fonte: Sistema de Estatísticas Educacionais INEP/MEC, 2002.
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Caracterização da Escola
O entorno
A Escola Estadual Parque Piratininga II está localizada no bairro
Parque Piratininga, periferia de Itaquaquecetuba, município da Região
Metropolitana da cidade de São Paulo. O bairro, limítrofe ao município
de Guarulhos, é de formação recente, tendo sido fundado em 1984.
Abriga cerca de 20.000 habitantes, apresentando tendências de expansão
e crescimento populacional.
Sua população é composta por nordestinos, que migraram de
seus estados em busca de emprego e melhores condições de vida.
Entretanto, com poucas chances reais de emprego, boa parte deles
retorna a seus estados de origem. Muitos se arrependem do retorno
e voltam a migrar, razão pela qual grande flutuação de moradores
na região, o que é sentido diretamente pela escola, que chega a
matricular um mesmo aluno duas vezes por ano.
O bairro apresenta possibilidades de ocupação, embora precária,
pela quantidade de terrenos e loteamentos disponíveis para compra.
As casas, sem reboco e com pouca ventilação, são feitas
artesanalmente pelos próprios moradores, apresentando, geralmente,
diversos riscos, pois são construídas em encostas e em terrenos com
solo pouco apropriado.
A infra-estrutura do bairro, em todos os aspectos, é insuficiente
em relação à sua densidade populacional. As ruas não têm asfalto,
dando origem a uma poeira densa, responsável por sérios problemas
respiratórios, sobretudo nas crianças. O transporte público é precário,
o que dificulta a locomoção dos moradores, fato particularmente
mencionado por muitos alunos, que consideram este o motivo para o
desconhecimento do centro da cidade. Estes problemas vêm sendo
enfrentados pela AMPAPI Associação dos Moradores do Parque
Piratininga, entidade representativa, sem fins lucrativos, criada em 1992,
que vem obtendo alguns avanços no que diz respeito às reivindicações
apresentadas nas mobilizações articuladas pelas lideranças locais. As
conquistas estendem-se por quase todos os campos e a mais expressiva
é a chegada da água e do esgoto, em 1997.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
A segurança no bairro é dificultada pela pouca iluminação e pelo
difícil acesso ao local. Por iniciativa dos moradores, e com seus próprios
recursos, foi construída uma Base Comunitária de Polícia, cuja
sustentabilidade é ga rantida também pela população, sendo o Estado
de São Paulo responsável apenas pela mão-de-obra do policial.
Não equipamentos culturais no bairro, daí as quadras das
escolas constituírem uma g rande atração, muito freqüentadas pelos
moradores. O isolamento do bair ro e a pouca iluminação nas ruas são
elementos que amedrontam os jovens e suas famílias, dificultando sua
circulação por outros espaços e ambientes.
A unidade escolar
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A Escola Estadual Parque Piratininga I foi fundada em 1991.
Inicialmente, funcionava em um espaço provisório, de madeira,
constr uído para atender à crescente demanda de um bairro em expansão.
Era pichada, suja e, constantemente, depredada por alunos e membros
da comunidade.
Nesse período, a escola funcionava em quatro tur nos prati-
camente ininterruptos, o que dificultava a manutenção da limpeza e sua
org anização. Seus índices de evasão e repetência eram altos e a unidade
não desenvolvia nenhum tipo de trabalho pedagógico para reverter essa
situação bastante precária. Os professores não dispunham de um horário
para planejamento pedagógico, agiam individualmente e, pra ticamente,
não contavam com espaços para discutir os problemas escolares e
encaminhamentos necessários.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Várias famílias recusavam-se a matricular seus filhos, mesmo
que isso significasse arcar com as despesas da locomoção para outro
bairro ou até mesmo para outra cidade. Os alunos conviviam num
ambiente que não favorecia o processo de ensino-aprendizagem.
Muitos jovens relatam que tinham vergonha de estudar em um lugar
“tão horrível”, que “odiavam” aquela escola e que a freqüentavam
por obrig ação.
Além de todos os problemas de infra-estr utura, a escola ainda
convivia com a violência interna e externa. Internamente, as relações
entre todos eram per meadas pela a gressividade e pelo individualismo.
O comportamento dos alunos era constantemente criticado e a
atitude, nestes momentos, da grande maioria dos professores e
funcionários, era marcada principalmente por medidas repressoras,
o que alimentava um círculo vicioso, que os alunos r espondiam
com um profundo desrespeito.
Além das brigas entre os alunos, o uso de drogas era grande.
Ameaças aos professores e à direção er am práticas bastante comuns.
São vários os rela tos confir mando o e pisódio r elacionado à diretora
da escola nessa época que, ameaçada com um revólver, se salvou
porque a ar ma não disparou. Pelo fato de a escola estar localizada
em um espaço aber to, sem muros altos ou g randes por tões, ela sofria
com invasões constantes, o que causava preocupação aos pais, que
temiam pela segurança dos filhos. Para agravar este clima, a
comunidade não tinha qualquer relação com a escola e não existiam
tentativas para aproximá-las.
Em 1996, uma nova diretora assume a direção e inicia uma
série de transfor mações relacionadas diretamente à comunidade
escolar e à comunidade do entor no. De imediato, convoca os pais e,
em um processo em que o diálogo vai dar a tônica, solicita o apoio
deles para alterar o perfil da escola. São iniciados mutirões para
melhorar a infra-estr utura e os pais passam a colaborar com a limpez a
e segurança dos alunos. Em um sistema de rodízio, começam a
freqüentar diariamente a escola e a ajudar nas várias tarefas
consideradas necessárias. A diretora inicia uma aproximação com as
entidades do bair ro, principalmente com a associação de moradores.
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Em 2001, é construída uma escola provisória no terreno ao seu
lado, que recebe o nome de Parque Piratininga II. Neste mesmo ano,
dentre 897 escolas inscritas, no Estado de São Paulo, a escola recebe
o Prêmio Gestão 2000 e sua diretora o prêmio de Referência Nacional
em Gestão Escolar, como exemplo de liderança em gestão escolar.
Maiores problemas enfrentados antes das experiências
inovadoras
Das diversas for mas de violência com que se defrontava a Escola
Estadual Parque Piratininga, uma tinha destaque: a própria dificuldade
de relacionamento e compreensão da comunidade escolar, incluindo-
se os professores, dos caminhos a serem seguidos. As palavras da
diretora são esclarecedoras: Quando cheguei à escola, a situação estava muito
violenta e o que mais dificultava era o comportamento das pessoas e as posturas
umas com as outras. Foi um desafio lidar com a agressividade e com o
individualismo. Segundo ela, a violência começava dentro da escola,
na postura dos funcionários e professores: O comportamento dos alunos
r efletia isso. Quando vinha para a escola, a comunidade era maltratada. Percebi
que os professores precisavam aprender a lidar com as pessoas, sobretudo com os
adolescentes.
Apesar de localizada em uma área sujeita à violência, a escola
sofria, principalmente, com os problemas inter nos. Confor me afir m a
um aluno, muitos conflitos prota gonizados por jovens na r ua eram
iniciados dentr o do estabelecimento, a par tir de motivos triviais, como
brigas por namoradas ou quando um não ia com a cara do outr o.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
A pichação das instalações, a colocação de “bombinhas” nos
banheiros, além das constantes brigas entre os alunos, entre outras
agressões, eram comuns, de acordo com uma coordenadora.
Entretanto, não se registravam problemas mais sérios: Morte, briga
assim? Graças a Deus, não temos.
As mudanças em que a escola investiu com ações inovadoras,
dentre muitas prioridades, passariam, necessariamente, por
transfor mações nas relações entr e os vários atores do universo escolar,
na busca de caminhos de construção da paz em um ambiente marcado
pela violência.
Estratégias de superação
Mecanismos de resolução dos problemas: ouvir os jovens,
conversas, processos de conscientização, os próprios jovens
assumem estas tarefas junto à direção e professores.
Aber tura nos finais de semana : atividades desenvolvidas:
empréstimo para a comunidade, festas religiosas, atividades
esportivas/recreação, trabalho voluntário e projetos da
própria escola.
Espaços disponibilizados para os jovens : pátio e quadra
esportiva.
Pessoas e instituições procuradas pela escola para
resolução de conflitos: a própria comunidade escolar.
Relação com o Conselho Tutelar: esporádica.
Programas, projetos e experiências
1) Projeto conservação do espaço escolar
Origem: sugestões dos pais, professores, funcionários e
alunos, a partir da constatação de que era necessário envolver
todos na preservação do espaço escolar.
Tempo de duração: seis anos.
Público-alvo: toda a comunidade escolar.
Objetivo: conscientizar a comunidade escolar sobre a
importância da preservação do seu espaço.
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Organização: realização de reuniões com todos os professores
e funcionários, onde são discutidos temas ligados a este assunto.
Um mural localizado no pátio é organizado diariamente pelo
inspetor da escola, que expõe a situação de cada sala de aula no
que diz respeito à sua conservação. Quando alguma apresenta
problemas relacionados à sujeira, ele conversa com o grupo, tendo
como perspectiva a conscientização.
Coordenação: equipe pedagógica
Desdobramentos: a escola se tornou extremamente limpa,
com seus equipamentos funcionando. não pichação.
Dessa forma, gasta pouco dinheiro com manutenção, pintura
e consertos. Os recursos economizados são empregados em
materiais didáticos.
2 ) Projeto presença 100% do aluno na escola
Origem: o grande número de faltas dos alunos e o índice de
abandono, constatação feita nas reuniões inicias realizadas
pela nova direção.
Tempo de duração: quatro anos.
Público-alvo: pais e alunos.
Organização: a escola controla diariamente a freqüência de
todos os alunos. Caso um aluno tenha duas faltas em uma
semana ela envia uma carta para a família informando a
situação e pedindo que compareça à escola. Em reunião com
estes pais, de forma individual, é feito um trabalho de
conscientização quanto à importância da assiduidade para a
aprendizagem. Um dos motivos que levaram a escola a definir
esta estratégia foi tomar conhecimento de que em muitos
casos os alunos não compareciam porque os pais dormiam
até tarde e não os acordavam. Muitos deles achavam natural
os filhos faltarem duas vezes na semana. Além daqueles
alunos que, apesar de saírem de casa dizendo aos pais que
estão indo à escola, não comparecem.
Objetivo: reverter o grande número de faltas por meio de
um trabalho de conscientização dos pais.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Coordenação: não especificado.
Desdobramentos: de uma maneira geral, os pais aparecem
quando convocados e os resultados são evidentes, as faltas
diminuíram. A presença dos alunos passou a ser maciça. A
diretora aponta como resultado a satisfação dos pais, que
tomaram consciência sobre o fato de que a escola se preocupa
com a educação de seus filhos e de que estes estão sendo olhados
e cuidados. A par tir deste contato, a escola estreitou sua relação
com os pais, aumentando e melhorando ainda mais o diálogo
com a comunidade local.
3 ) Projeto biblioteca
Origem: com o aumento do número de matrículas da escola,
o espaço utilizado pela antiga biblioteca foi transformado
em sala de aula, os livros separados e guardados em armários.
Durante os horários de planejamento, momento de reunião
dos professores, a discussão sobre a necessidade da escola
voltar a ter uma biblioteca sempre aparecia. Esta situação
levou a organização de uma pequena biblioteca na antiga sala
de reunião do grêmio.
Público-alvo: alunos e comunidade.
Organização: os alunos recebem uma carteirinha para ser
apresentada no momento da retirada dos livros da
biblioteca quando necessitam fazer pesquisas, levar para
casa um livro, a pedido dos pais, ou mesmo ler nas horas
livres. Em um primeiro levantamento realizado, foi
possível observar que em apenas alguns casos não houve
a devida devolução.
Objetivos: desenvolver e aprimorar nos alunos o hábito da
leitura e da pesquisa.
Coordenação: direção.
Desdobramentos: uma enorme procura da biblioteca,
tanto pelos alunos quanto pela comunidade local. A
diretora relata que a procura é tão grande que, em algumas
ocasiões, se forma uma fila na sua porta, ultrapassando as
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expectativas iniciais, visto que, agora, a biblioteca é utilizada
também por alunos de três escolas vizinhas, que não dispõem
de biblioteca, além dos pais e parentes dos alunos, que a
freqüentam para leituras diversas. Na escola, a diretora
aponta, também, o maior interesse do aluno pela leitura e,
conseqüentemente, a ampliação de seu vocabulário e de seu
pensamento crítico. Confor me a diretora, é visível a dif erença
que sentimos nos alunos que estão fazendo uso contínuo da biblioteca.
Eles ampliaram sua visão de mundo e passaram a ter um discurso
mais rico.
Perspectivas da escola
A Escola Estadual Parque Piratininga está localizada numa
região de extrema pobreza e violência, enfrentando condições
sociais bastante adversas. Seu trabalho de enfrentamento da
violência foi iniciado em 1997, razão pela qual possui um
acúmulo de tempo e de experiência significativo para que se
possam fazer análises mais profundas sobre a metodologia
utilizada e seus impactos. A violência começava dentro do
estabelecimento, na postura dos funcionários e professores, e o
comportamento dos alunos refletia isso. Segundo relato da
diretora, a comunidade era maltratada quando tentava se integrar
nas atividades escolares. De um modo geral, os professores tinham
dificuldades com os alunos e precisavam aprender a lidar com
os adolescentes. Naquela época, recorriam ao conselho tutelar
e à polícia. Havia um grupo de pais que ficava na escola, no pátio,
para coibir um pouco as depredações.
Hoje, a transformação é evidente: maior integração com a
comunidade escolar e um prédio absolutamente preservado, cheio de
vidros, e sem nenhuma grade, conforme indica o depoimento orgulhoso
de uma aluna.
Tanto a diretora quanto os demais atores da escola e da
comunidade identificam não uma “experiência” na Escola Parque
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Piratininga II, mas uma série de iniciativas e de atividades que, na sua
ótica, dif erenciam esta escola das outras. Daí todos a considerarem uma
escola exitosa e de qualidade
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.
As atividades que realiza possuem um espectro extremamente
amplo: vão desde a conservação do espaço físico, tão necessário para o
desenvolvimento do sentimento de pertencimento dos alunos, até o
arejamento das práticas de sala de aula, com certeza, um dos grandes
responsáveis pela mudança que a escola vivencia, no que tange ao
aprendizado. Cada um dos seus atores percebe as mudanças a partir
do tipo de relação que estabelece com a escola, das expectativas que
tem e da compreensão que alimenta quanto ao papel que ela se propõe.
Estas ações foram fruto das muitas idéias da diretora, dos pais,
professores e funcionários. Para que surgissem, foi preciso criar o
espaço das reuniões pedagógicas, que envolvem professores e todos
os demais funcionários e recriar o espaço de reunião dos pais,
tornando-a mais atrativa e capaz de, efetivamente, trazer os familiares
dos alunos para a escola. Este momento tem sido fundamental, pois
também permite que os professores, juntos, possam discutir
problemas e apresentar propostas e soluções concretas para os
imensos desafios que o cotidiano traz.
Embora exista efetivamente uma presença muito forte da
diretora na concepção de todo o processo que esta escola vivencia, é
preciso salientar que sua forma de gestão, sua maneira de pensar os
diversos papéis e responsabilidades na construção de uma escola
estimula professores, funcionários e pais a debruçar-se sobre seus
problemas e a pensar e trazer soluções para o seu enfrentamento.
Este constante exercício de reflexão, que é coletivo, permite que a
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A pesquisa foi realizada depois de a escola ter recebido o Prêmio Gestão Escolar 2000, que
a projetou para a rede e para as autoridades oficiais como um modelo bem-sucedido.
Jornais, emissoras televisivas, entre outras, passaram a procurar a escola e a direção e a
registrar suas conquistas, o que tem mexido profundamente com os alunos e com a
comunidade, que nunca havia sido alvo de atenção da mídia, a não ser pelos índices de
violência. Esta visibilidade pública aumenta ainda mais o orgulho da comunidade escolar
e não-escolar, o que pode estar gerando uma sobre-representação positiva da escola. Isto
não invalida, obviamente, os avanços objetivamente alcançados pela unidade.
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escola enfrente desde os problemas mais corriqueiros até desafios
maiores e, par ticularmente, investir cada vez mais na qualidade do seu
trabalho.
A escola busca oferecer atividades artístico-culturais aos
estudantes fora do período das aulas, iniciativa que se reveste de grande
importância, considerando a ausência de alternativas desta natureza no
bair ro e na região.
No âmbito do que se costuma denominar de “relação com a
comunidade”, a escola busca envolver familiares não apenas no
acompanhamento da vida escolar de seus filhos, nas reuniões
periódicas, mas também nas convocações por motivo de faltas,
ocasião em que a escola demonstra respeito e interesse por seus alunos
e familiares. Além disso a escola possui muita proximidade com a
Associação de Moradores do bairro, buscando estabelecer formas de
colaboração.
No entanto, em que pese a importância de cada uma destas
iniciativas, nenhuma delas implica, necessariamente, mudanças
democráticas e relacionais no espaço escolar. É possível fazer arte e
cultura e conversar com os pais reproduzindo posturas autoritárias,
excludentes e desrespeitosas, sem sequer “arranhar” o tipo de fazer
educativo da escola. Talvez por isso, muitas escolas abertas para a
comunidade, que oferecem diferentes atividades aos finais de semana,
mesmo assim não consigam construir um ambiente de diálogo e
continuem padecendo de todo tipo de depredações.
O fazer pedagógico refere-se às formas de construir
conhecimentos e habilidades em determinadas áreas, mas também se
relaciona, visceralmente, ao processo de socialização que abrange o
exercício de posturas e atitudes compatíveis com a coletividade e com
a vida democrática. Esta dimensão do comportamento e das relações
interpessoais, que geralmente estão ausentes do rol das atribuições e
responsabilidades da escola e de seus profissionais (sobretudo nos
níveis de educação que atendem a jovens e adolescentes), são alvo da
preocupação e da ação da Escola Parque Piratininga II.
Apesar de ser uma escola que atende a adolescentes e jovens, o
barulho é raro e vem dos jogos que sempre ocorrem na quadra, do
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
sinal musical ou de alguma atividade que esteja sendo desenvolvida em
aula. Brigas entre alunos, gritos de jovens ou de professores são raros e
isso não é resultado de um pr ocesso constante de punição ou de coação.
A tranqüilidade que impera na maior parte do tempo na escola não é
sinônimo de vozes silenciadas, mas manifestação de um processo de
trabalho que inclui o diálogo e a valorização da unidade escolar como
um todo.
O controle relativo à conservação da sala de aula, a forma de
organizar os intervalos, a atenção em orientar os alunos para circularem
com calma pelos corredores, a conservação dos banheiros, as
mensagens ressaltando valores tudo isso revela uma preocupação e
uma intervenção intencionalmente planejada. Cada detalhe da escola
exala esta preocupação. Desde a solicitude do funcionário abrindo o
portão do estacionamento, até a exposição do rendimento escolar no
pátio, os quadros de arte clássica exibidos nas paredes, tudo na escola
compõe, em detalhes, o processo que a fez construir sua qualidade.
Grande parte da comunidade escolar, acredita que os resultados obtidos
não são ganhos definitivos e, por isso, precisam ser reafirmados
constantemente. E a idéia de que é possível melhorar ainda mais
contagia várias pessoa s e é responsável pela criação e concretização de
novos projetos. Sem dúvida, a escola inova quando inaugura uma
gestão que pactua a importância do trabalho educativo para todos:
direção, professores, funcionários, alunos, familiares e comunidade.
3 .3 A PL URALIDADE DAS EXPERIÊNCIAS NAS
ESCOLAS INOVADORAS
Com os dados obtidos a partir das diferentes experiências que
caracterizam as escolas inovadoras, pode-se perceber um número
significativo de projetos voltados para os alunos jovens que, além de se
configurarem como projetos extracurriculares ou transversais ao
currículo, têm um papel impulsionador de mudanças no ambiente da
escola como um todo. Assim, as atividades, que freqüentemente resultam
no desenvolvimento de ações vinculadas à cultura, à saúde e ao esporte,
buscam contribuir para a melhoria da qualidade da educação.
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Um dado interessante é a preocupação de muitas escolas em
encontrar novas estratégias educativas desvinculadas de uma educação
mais tradicional, na perspectiva de construir práticas que possam
responder à realidade desses jovens.
No intuito de analisar as principais tendências das experiências
desenvolvidas nas escolas inovadoras, organizaram-se os projetos,
registrados em cada perfil das 14 escolas, em seis grandes temas, isto
é, os mais recorrentes dentre o material coletado, quais sejam: área
educacional, área cultural, área ambiental, área de saúde, área de
esporte e área profissionalizante.
Depois de categorizados, os projetos ficaram assim distribuídos:
Área educacional 39 projetos;
Área cultural 39 projetos;
Área ambiental 12 projetos;
Área de esportes 10 projetos;
Área de saúde 6 projetos;
Área profissionalizante 1 projeto.
QUADRO 2 Distribuição dos projetos por áreas de especificidade e
por localização das escolas nas UF
No âmbito da área educacional, foram consideradas atividades
bastante diversas, como as feiras de ciências e, também, os projetos
vinculados às salas de leitura. Ainda nesta área, encontram-se as ações
realizadas para a manutenção do espaço físico e conservação da
Fonte: Pesquisa Escolas Inovadoras, UNESCO/2002.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
escola. Os projetos de informática também se encontram na categ oria
educacional, pois, configuram-se como meios importantes para a
pesquisa, a formulação e a apresentação de trabalhos acadêmicos,
além de representar um atrativo para os alunos.
Os projetos ligados à área educacional surgem da necessidade
de se criarem mecanismos de superação dos problemas de
aprendizagem dos alunos, detectados pela escola. Ao perceber que o
ensino tradicional não consegue romper com as dificuldades dos
alunos na leitura e escrita, a escola se obrigada a pensar em outros
meios de ensino que modifiquem essa realidade. Tais mecanismos de
superação são criados na intenção de diversificar o ensino tradicional,
tornando-o mais interessante para alunos e professores. Esses projetos
proporcionam uma aprendizagem mais agradável e prazerosa, por
meio de novas contribuições para o desenvolvimento intelectual do
educando.
Para tal, existem certos objetivos comuns a esses projetos
relacionados, principalmente, ao favorecimento da escrita e leitura
dos alunos, ao desenvolvimento de pesquisa sobre temas diversos e
à capacitação do jovem para o mercado de trabalho. Outro objetivo
importante encontrado nesses projetos está na preparação dos jovens,
da escola e da comunidade para o vestibular, considerando a
ineficiência do ensino público para a inserção desses alunos em
faculdades públicas. Em todos esse casos, os objetivos visam à
superação das dificuldades encontradas e, em última instância, à
transformação qualitativa da escola pública.
A participação na semana da SBPC, experiência relatada pela
escola do Espírito Santo, foi categorizada na área educacional, pois
todas as oficinas elaboradas pela escola têm caráter pedagógico, sendo
aproveitadas no cotidiano escolar, como, por exemplo, a oficina de
teatro, que procura trabalhar a dramatização em sala de aula. Aqueles
projetos que objetivam a estabilização da presença dos alunos nas
escolas também foram considerados como pertencentes à área
educacional, pois têm sua origem na percepção das escolas sobre o
fato de que aqueles alunos que faltam com freqüência acabam se
evadindo posteriormente. Esses projetos surgem da necessidade de
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se garantir uma freqüência estável para os alunos faltosos e se atingir
diretamente o trabalho escolar, pela conscientização dos alunos e
pais quanto à importância de se freqüentar a escola.
Nessa área, encontram-se, ainda, projetos vinculados ao cotidiano
da sala de aula que buscam tornar esse espaço mais prazeroso, dinâmico
e substancial, com o objetivo de repercutir diretamente no processo
de ensino/aprendizagem dos alunos. Muitas vezes, esses trabalhos
fazem parte do projeto político pedagógico da escola e acontecem por
meio da diversificação dos temas trabalhados, procurando um canal
de interlocução entre a escola e a realidade do aluno.
É interessante considerar que as salas de leitura e bibliotecas
assumem um papel importante para a apropriação dos conteúdos
curriculares pelos alunos, pois além de lhes oferecer a oportunidade
de aprofundar os temas trabalhados, instigam a curiosidade sobre
determinados assuntos, resultando em um trabalho de pesquisa
acadêmica que, sem esses recursos, ficaria inviável. Tais espaços
representam uma conquista tanto para a escola, que amplia seus
recursos pedagógicos, quanto para a comunidade extra-escolar, que
ganha o acesso a diversas leituras num ambiente propício ao estudo.
Na maioria das bibliotecas e salas de leitura, o acesso à comunidade
é irrestrito, pois esse acaba sendo o único espaço de leitura e pesquisa
no entorno da escola. Nesse sentido, ao estruturar uma biblioteca , a
escola amplia sua atuação educativa, pois permite que seu espaço
seja utilizado, de forma construtiva, tanto por alunos, quanto por
pais e pessoas da comunidade externa. O sucesso dessa iniciativa é
tão expressivo que em algumas escolas a demanda de interessados
resulta na formação de filas para o ingresso nas bibliotecas e salas de
leitura, como é o caso da escola de São Paulo. Tal fato contradiz a
idéia de que as populações mais carentes não se interessam pela leitura
e nos faz pensar na importância desses espaços na periferia.
Outro tema freqüente nos projetos da área educacional está
relacionado ao reforço escolar. Esse reforço é oferecido aos alunos
que apresentam dificuldades de aprendizagem, no intuito de diminuir
os índices de repetência e/ou as notas baixas e, de acordo com as
possibilidades da escola, se manifesta de várias formas. Geralmente,
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
é oferecido por alunos mais experientes, ou por universitários
voluntários, que dão um atendimento mais qualificado no horário
extra-escolar àqueles alunos com baixo desempenho. Percebe-se,
nesses projetos, uma tendência ao rompimento com o tradicional
preconceito dos alunos quanto à recuperação escolar, que é tida como
um momento carregado de pessimismo e intimamente ligado ao
sentimento de derrotismo. Assim, o acompanhamento individual
constitui-se em uma possibilidade de superação das dificuldades
relacionadas ao aprendizado, chegando a representar uma valorização
desses alunos, visto que os mesmos recebem uma atenção que, de
outra forma, não teriam.
Os projetos categorizados na “área cultural” foram aqueles
vinculados à dança, à música, ao teatro, à capoeira e ao artesanato. A
partir dos relatos dos coordenadores de projetos, percebe-se que seus
objetivos e abrangências são muito diferentes de uma escola para
outra. Em algumas, o grupo de teatro tem como objetivo o
aprofundamento de conhecimentos vinculados à dramaturgia
nacional e internacional, e a reflexão destes temas no universo em
que vivem os alunos, suas condições de vida, o acesso à cultura. Em
outras escolas, o grupo de teatro se apresenta em fase de
profissionalização, extrapolando os muros da escola. Da mesma
forma, enquanto alguns movimentos culturais atingem toda a escola,
outros se restringem aos seus participantes, deixando os demais alunos
à parte desse processo.
Em algumas escolas, as ações culturais assumem tamanha
importância que resultam em uma (re)formulação do projeto político-
pedagógico, incluindo a cultura como parte da proposta educacional
da escola. Nessas escolas, a cultura não é encarada como mais um
recurso pedagógico, mas como um importante componente para a
construção de uma educação crítica, voltada para uma perspectiva
socioeconômica sobre a história e realidade atual do país.
Dessa forma, os projetos culturais trabalham com os alunos
no sentido de envolvê-los nesse universo, que começa dentro da sala
de aula e ultrapassam os seus limites. Um universo que não se limita
aos conteúdos escolares e aos grandes temas comemorativos (como
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festas temáticas, feriados etc.), mas engloba os potenciais artístico-
culturais da comunidade intra e extra-escolar. As atividades culturais
aparecem como parte da educação dessas escolas, e concebidas como
essencial para o desenvolvimento de qualquer projeto educativo.
Nesse campo, os projetos de maior significância, no cotidiano
escolar, estão relacionados a manifestações regionais e/ou à
originalidade da formação étnico-cultural do Brasil. Tais projetos
procuram trabalhar, por meio dessa pluralidade, a valorização do
aluno e de sua história, buscando elucidar ao longo do seu processo
os fatores sociais e econômicos que levam à sobreposição de uma
cultura mais “globalizada”, na busca por uma valorização da
identidade cultural do país. Nesses projetos, a cultura regional
representa uma força motriz para deslanchar um trabalho voltado
para a valorização da população local, por meio do conhecimento
de sua origem e desenvolvimento. São considerados nessa valorização,
os talentos locais, as capacidades físicas e pessoais da escola e o
interesse dos alunos e professores de se envolverem nessas atividades.
Em outras escolas, os projetos culturais restringem-se a ações
pontuais, com “começo, meio e fim”, que não chegam a se articular
com as outras instâncias do cotidiano escolar. São trabalhos,
geralmente, voltados para a comemoração de datas comemorativas,
ou para a ocupação do tempo ocioso dos alunos. No primeiro caso,
a organização do projeto começa alguns meses antes da data
comemorativa, e termina com a apresentação. No segundo caso, são
projetos que se propõem a oferecer a esses jovens alternativas de
lazer e desporto. Tal fato, entretanto, não deve ser interpretado como
limitador à possibilidade de, em outro momento, extrapolarem seus
resultados atuais e interagirem com outras propostas.
Dentre as atividades da área cultural, a música foi a mais
freqüente, aparecendo ora na forma de coral, ora na forma de grupos
musicais. Geralmente, os projetos ligados à música tendem à
valorização da cultura regional, com o é o caso da banda afro da escola
do Rio de Janeiro. Essa valorização começa na apropriação dos ritmos
locais e se efetiva pela formação de bandas e conjunto musicais,
compostos pelos próprios alunos. A música é vista, por essas escolas,
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como um meio para desenvolver no educando a sensibilidade, a
solidariedade e o respeito pela diversidade, possibilitando a
valorização das manifestações artísticas e culturais, tanto eruditas,
quanto populares. Outra frente de atuação da música está na formação
de corais que objetivam trabalhar a coletividade entre os alunos por
meio da diferença percebida tanto nos timbres de voz, quanto nas
diversas personalidades–edaharmonia entre o grupo.
Em seguida, vêm as atividades culturais ligadas à Capoeira, ao
Teatro, à Dança e à criação de Rádio e Jornais. A capoeira foi
considerada pertencente à área cultural porque, em todas as escolas,
sua atuação não se restringe ao exercício físico. Geralmente é
trabalhada a partir da valorização da cultura afro-brasileira,
resgatando a história dessa luta e suas diferentes vertentes. É vista,
pela maioria das escolas, como uma atividade completa, pois trabalha
corpo e mente (pela disciplina exigida pelos exercícios, pela
consciência racial e pela noção do outro), unindo luta e dança e
contribuindo intimamente para a construção da cultura de paz.
Os projetos de rádio e jornal, na maioria dos casos, são
realizados pelos próprios alunos, que dividem e organizam as tarefas,
e discutem o repertório de assuntos e músicas veiculados. Esses
projetos propiciam não o trânsito de informações sobre a
programação da escola, mas também a divulgação de notícias atuais
e matérias culturais, proporcionando maior conscientização aos
alunos e, conseqüentemente, promovendo os direitos humanos na
escola. Tais objetivos são, por vezes, apontados como uma forma de
contribuição para a participação ativa dos jovens, visto que são os
próprios alunos que escolhem e elaboram o que vai ser veiculado,
resultando em uma aproximação profissional com o jornalismo. Suas
atuações vão desde informes escolares, que esses veículos de
comunicação acabam por atingir todos os turnos da escola, à
apresentação de músicas
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e inf or mações diversas, elaboradas pelos
próprios alunos sobre cultura, atualidades, lazer, política etc.
27
Neste caso, foi obser vada uma tendência à valorização da música brasileira.
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Os projetos de Teatro visam à apropriação por par te dos alunos
dos recursos de comunicação, pela leitura e encenação de textos e
conseqüente desenvoltura na fala. A intenção da escola ao montar um
grupo de teatro é que, ao trabalhar com a literatura nacional e
internacional de forma alter nativa, os alunos passem a g ostar da leitura,
e, conseqüentemente, passem a valorizá-la. a dança é trabalhada de
diversas formas, indo desde balé clássico, experiência realizada em Santa
Catarina, ao g rupo de dança afro da escola do Rio de Janeiro. Os projetos
ligados à dança trabalham com os talentos locais, buscando a valorização
da cultura brasileira. Tais experiências têm seu auge na formação de
g r upos de dança que se apr oximam de uma postura mais profissional,
fazendo ensaios e apresentações constantes.
Os projetos ambientais, embora menos freqüentes no universo das
14 escolas pesquisadas Ceará, Goiás, Rio de Janeiro e Santa Catarina
–, têm um peso importante em algumas escolas. Esses projetos têm,
geralmente, sua origem nos problemas enfrentados pelas escolas, em
relação ao excesso de lixo produzido (tanto dentro, quanto fora), e a
precariedade do sistema de saneamento e de coleta. Esses problemas
ambientais acabam gerando um ambiente sujo e poluído, aumentando
os casos de doenças e degradação do meio ambiente.
Tal realidade acaba motivando as escolas a driblar esses
problemas, por intermédio da conscientização dos alunos e da
comunidade local sobre as questões ambientais. O trabalho de
conscientização acontece tanto pelas ações pontuais, quanto
permanentes com a criação de grupos fixos que trabalham durante
todo o ano letivo. São trabalhos vinculados à reciclagem, ao
reaproveitamento de material, à educação ambiental e à formação de
uma consciência ecológica, e geralmente contemplam o entorno da
escola, no sentido de diminuir a poluição, causada principalmente
pelo lixo. Os objetivos desses projetos estão ligados ao
desenvolvimento da produção de adubo, à reutilização de lixo sólido
e reciclagem de papel, por meio da coleta seletiva, à contribuição
para a diminuição de lixo ao redor da escola e, principalmente, à
conscientização da comunidade intra e extra-escolar quanto às
questões ambientais.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Os projetos vinculados à área da saúde estão relacionados,
principalmente, ao conhecimento do corpo. Nas escolas do estudo,
foram encontradas experiências que vão desde higiene bucal dos
alunos, funcionários e suas famílias, até atividades de formação dos
estudantes para ensinar aos demais jovens, questões como doenças
sexualmente transmissíveis, gravidez na adolescência, necessidade de
exame pré-natal etc. Foram encontrados projetos de saúde em escolas
de Alagoas, do Distrito Federal, do Ceará, do Pará e de Santa Catarina.
Na prática, esses projetos têm duas frentes de atuação. A primeira
está relacionada a ações pontuais (geralmente sobre a forma de palestras e
debates) que trabalham com a conscientização sobre o corpo e a saúde.
Nesta frente, a escola espera que, tomando conhecimento da importância
de cuidar de sua saúde física e mental –, os alunos ajam de forma a evitar
certas doenças e/ou práticas que os coloquem em risco. A outra frente está
estruturada na forma de um núc leo permanente de apoio ao adolescente,
no qual o trabalho é constante e atinge diretamente o cotidiano escolar.
Mas em ambos os casos, os objetivos são semelhantes, e a intenção principal
é de proporcionar aos alunos a possibilidade de conhecer qualitativamente
o significado de saúde, para com isso efetivar a prevenção de doenças
diver sas. Percebe-se ser bastante reconhecido, e incorporado a práticas
escolares, o projeto DST/Aids, do Ministério da Saúde.
Os projetos da área de esportes têm atividades bem diversas, que vão
desde o xadrez, à estruturação de olimpíadas anuais. Nas escolas
inovadoras o esporte é visto como um meio para desenvolver no educando
noções como solidariedade (pelo espírito de equipe), disciplina, equilíbrio
(físico e emocional), concentração etc. As escolas acreditam que por meio
dos esportes é possível resgatar e favorecer a auto-estima dos alunos,
ocupar positivamente seu tempo vago, além de desenvolver habilidades,
que poderão futuramente se transformar em uma profissão. É também
pelos esportes que as escolas constroem uma prática de cultura de paz,
pois ao praticar uma atividade física o jovem percebe a importância de se
levar uma vida saudável em todos os sentidos, evitando brigas, uso ou
envolvimento com as drogas e atitudes individualistas. Dessa for ma, o
esporte se constitui em uma atividade fundamental para a qualidade do
ensino oferecido por essas escolas.
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Na área profissionalizante , o estudo detectou apenas um projeto
desenvolvido na escola de Santa Catarina que tem como objetivo
primeiro a formação de jovens para o trabalho. Este projeto de
capacitação de pequenos empreendedores surgiu por meio da queixa,
feita pelos empresários locais, sobre a desqualificação desses alunos
para o trabalho. A partir deste feedback, a escola começou a elaboração
de um importante trabalho de preparação dos alunos para o mercado
de trabalho. Tal projeto contribuiu para a efetivação de uma parceria
entre o comércio local e a escola, e aumentou a confiança desses
alunos quanto ao seu potencial profissional. Entretanto, os jovens,
nas diversas escolas pesquisadas, relatam que o envolvimento em
atividades de âmbito cultural, educacional e de saúde, por si só, acaba
sendo um facilitador na busca de uma profissão.
Por fim, um outro aspecto importante de ser destacado está
relacionado ao financiamento e/ou apoio recebidos por esses
projetos, com vistas ao seu desenvolvimento. Dos 107 projetos
registrados quatro têm como apoio o Ministério da Educação, 16 as
secretarias estaduais de educação, três as universidades, três a
UNESCO (Programa Abrindo Espaços), 75 contam com os recursos da
própria escola e seis de diferentes instituições (Ongs, empresas,
Ministério da Saúde e Benfam).
QUADRO 3 Distribuição dos projetos por órgãos de financiamento/
apoio e por localização das escolas nas UF
Fonte: Pesquisa Escolas Inovadoras, UNESCO/2002.
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É interessante observar que a maioria absoluta dos projetos está
sendo mantida pelas próprias escolas, o que demonstra que existe uma
parcela significativa de escolas buscando alternativas para melhorar o
ambiente escolar, tanto no que tange aos espaços físicos, como nas
relações dentro da escola e no processo de ensino aprendizagem.
Outro dado interessante é a participação inexpressiva das Ongs
no apoio a essas experiências. Por um lado, pode-se creditar a essas
instituições um acesso limitado a financiamentos voltados para a área
educacional e, por outro, o não reconhecimento do espaço escolar
como privilegiado para a atuação do tipo de trabalho desenvolvido
pelas Ongs.
Para um maior aprofundamento, cabe refletir também sobre a
participação ainda tímida das universidades, principalmente pelo seu
papel essencial na formação dos professores que trabalham
diretamente com uma realidade tão diversa e complexa; do MEC,
como importante órgão que tem legitimidade para ser indutor de
novas práticas; e até mesmo das secretarias estaduais de educação,
responsáveis diretas, administrativamente, por todas essas escolas.
Sem dúvida, a ampliação da participação efetiva dessas diferentes
instâncias, entre outras, poderá trazer contribuições positivas para a
prevenção e enfrentamento da violência nas escolas.
Por fim, cabe ressaltar que os projetos apresentados por cada
uma das escolas aqui estudadas têm um impacto direto em mudanças
de atitudes, comportamentos e valores. Pode-se perceber o
desenvolvimento de uma educação que renova os relacionamentos
de modo a alterar as relações entre os diferentes atores, exercitando
a participação, o diálogo e apostando no desejo de mudança de todos
aqueles que vivenciam aquela realidade.
No que está relacionado com as origens das violências, observa-
se que esta surge, muitas vezes, como situações eventuais, que nascem
no próprio interior da escola. Mas, de um modo geral, pode-se afirmar
que a grande maioria da violência aqui descrita está relacionada com
fatores que têm sua origem no exterior da escola, no entorno dela.
As escolas absorvem as situações do seu entorno, considerando que
seu público também é esse entorno, no que ele carrega de bom e de
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problemas, sendo assim, o externo está bem mais presente nas escolas
do que se possa imaginar, não se pode pensar a escola sem pensar
nessa sua faceta.
As escolas aqui registradas, demonstram estar bastante atentas
para a relação escola/comunidade e vice-versa, e tentam descobrir
nessa convivência o que existe de mais positivo, olhando com outros
olhos aquela realidade. Dessa nova postura, desvendam-se as
manifestações culturais juvenis, as tradições culturais, os ensinamentos
dos mais velhos, o resgate da história da localidade e de seus moradores,
constr uindo uma nova memória, muito mais vinculada ao que pode
ser valorado e legitimado socialmente, possibilitando novos
sentimentos e par tilhas. Nessa perspectiva , previne e diminui situações
violentas, dando a esse espaço um caráter mais se guro, de integ ração
social, de sociabilidade intergeracional, de proteção, de opor tunidades
e perspectivas e de ampliação do universo científico e cultural de todos.
Esse senso de pertencimento, visibilidade e valorização é
imprescindível para que possa se garantir o processo de reversão do
quadro em que se encontram a maioria das escolas hoje, não podendo
esquecer que tais práticas estão intimamente relacionadas com noções
de democr acia, cidadania e direitos humanos.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
SUMÁRIO
A análise dos perfis permite a identificação de uma variedade
considerável de interpretações sobre o que seriam projetos ou
ações direcionadas à superação da violência. Observa-se desde
projetos bem estr uturados e deflagradores de mudanças
perceptíveis na vida da escola, até ações pontuais, de expressão
limitada.
As escolas assumem identidade própria na for ma como
desenvolvem projetos e ações mesmo que, freqüentemente, se
apóiem em diretrizes e intervenções das secretarias de educação,
produzindo distintos resultados em seu trabalho.
A unidade das escolas está no fato de buscarem for mas
alternativas para enfrentar problemas que, muitas vezes, são
atribuídos a uma violência genérica, identificada com a
localização do estabelecimento.
As escolas podem ser ag r upadas em três tipos: escolas com ações
pontuais, escolas que visam à integração das estratégias e escolas
com estratégias inte gradas. Este ag r upamento não pode ser
comparado do ponto de vista de uma “situação precária” para
uma “situação ideal”. O objetivo é contribuir para a compreensão
dos processos pelos quais determinadas ações são recor rentes e
como se integram com outros aspectos mais gerais de cada
localidade.
As escolas com ações pontuais são aquelas que passaram por
situações de violência, g eralmente algum ato for te (homicídio,
ameaça ou espancamento). A reação, freqüentemente, par tiu de
um indivíduo (professor, aluno, diretor ou pai de aluno). A
gravidade do ato conseguiu estabelecer uma unidade em torno
de seu enfrentamento. No entanto, a escola dispõe de pouca
experiência para lidar com ações extraclasse.
As escolas que visam a integração das estratégias são as que
possuíam algumas atividades, experiências ou ações que
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trabalham a questão da violência e da paz. Os projetos não são
exclusivamente de autoria de um professor, mas são articulados
com outros prof essores ou com moradores do entorno. No
entanto, ainda não se constitui uma ação integrada por todos os
atores, revelando uma certa dificuldade de ordenar os diferentes
interesses locais.
As escolas com ações integradas são identificadas como tendo
uma estratégia de superação da violência não exatamente por
um determinado projeto ou ação, mas na forma de g estão da
escola, o relacionamento entre alunos, professores e demais
funcionários e a abertura para a comunidade. O que as identifica
como escolas inovadoras é a capacidade de integrar estes
diferentes projetos e ações em seu cotidiano.
As 14 escolas pesquisadas apontam como resultados/reflexos mais
significativos das estratégias por elas adotadas as mudanças
ocorridas na relação dos alunos com a escola: aumento da
assiduidade/freqüência às aulas, melhoria nas notas/rendimento
escolar, interesse pelo estudo e pela pesquisa, redução da evasão,
desenvolvimento de responsabilidades em relação ao espaço escolar.
O tratamento mais individualizado dessas ações, por parte dos
órgãos estaduais de educação pode constituir fator de sua maior
qualificação e enriquecimento, no sentido de tor narem-se mais
abertas à participação dos jovens e da comunidade; interagirem
com as práticas curriculares cotidianas da escola; terem caráter
sistemático; incorporarem um maior número de alunos e
professores e atentarem às especificidades dos jovens, tirando
partido de seu potencial criativo e de sua disposição par a o novo.
um número significativo de projetos voltados para os alunos
jovens que, além de se configurarem como projetos
extracurriculares ou transversais ao cur rículo, têm um papel
impulsionador de mudanças no ambiente da escola como um todo.
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As áreas de trabalho mais desenvolvidas pelas escolas que
organizam projetos, experiências e ações estão centradas em:
área educacional 39 projetos; área cultural 39 projetos; área
ambiental 12 projetos; área de esportes 10 projetos; área de
saúde–6projetos e área profissionalizante–1projeto.
Os projetos ligados à área educacional surgem da necessidade de
se criarem mecanismos de superação dos problemas de
aprendizagem dos alunos, detectados pela escola. Estes são criados
na intenção de diversificar o ensino tornando-o mais interessante
para alunos e professores. Objetivos comuns aos projetos:
favorecimento da escrita e leitura dos alunos; desenvolvimento
de pesquisa sobre temas diversos; capacitação do jovem para o
mercado de trabalho; preparação para o vestibular.
Na área educacional, também projetos que objetivam a
per manência dos alunos nas escolas e projetos afeitos às salas
de leitura e bibliotecas. Estes assumem um papel impor tante
para a apropriação dos conteúdos curriculares pelos alunos, pois
além de lhes oferecer a oportunidade de aprofundar os temas
trabalhados, instigam a curiosidade sobre determinados assuntos,
resultando mun trabalho de pesquisa acadêmica que, sem esses
recursos, ficaria inviável.
O acompanhamento individual substituindo as aulas de reforço
escolar constitui-se em uma possibilidade de superação das
dificuldades relacionadas ao aprendizado, chegando a representar
uma valorização desses alunos.
Na área cultural, os projetos estão vinculados à dança, à música,
ao teatro, à capoeira e ao artesanato com o objetivo de
aprofundar os conhecimentos relativos à dramaturgia nacional
e inter nacional, e/ou oferecer a profissionalização, extrapolando
os muros da escola.
As ações culturais assumem tamanha importância na maioria
das escolas que resultam em uma (r e)for mulação do projeto
político-pedagógico, incluindo a cultura como par te da pr oposta
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educacional da escola. Estas ações constituem-se num universo
que não se limita aos conteúdos escolares e aos grandes temas
comemorativos (como festas temáticas, feriados etc.), mas
engloba os potenciais artístico-culturais da comunidade intra e
extra-escolar.
A cultura regional representa uma força motriz nesses projetos
para deslanchar um trabalho voltado para a valorização da
população local, por meio do conhecimento de sua origem e
desenvolvimento. São considerados os talentos locais, as
capacidades físicas e pessoais da escola e o interesse dos alunos
e professores de se envolverem nessas a tividades.
Na área cultural, a música foi a mais freqüente, aparecendo ora
na forma de coral, ora na forma instrumental. Geralmente, os
projetos ligados à música tendem à valorização da cultura
regional, como é o caso da banda afro.
A capoeira é vista, pela maioria das escolas, como uma atividade
completa, pois trabalha corpo e mente (por meio da disciplina
exigida pelos exercícios, da consciência racial e da noção do
outro), unindo luta, dança e contribuindo para a constr ução da
cultura de paz.
Os projetos de rádio e jornal, na maioria dos casos, são realizados
pelos próprios alunos, que dividem e organizam as tarefas, e
discutem o repertório de assuntos e músicas veiculadas. Suas
atuações vão desde informes escolar es, à apresentação de músicas
e informações diversas sobre cultura, atualidades, lazer, política.
Os projetos de teatro visam à apropriação por parte dos alunos
dos recursos de comunicação, por intermédio da leitura e
encenação de textos e da conseqüente desenvoltura na fala. Os
alunos passam a gostar da literatura e valorizá-la.
A dança é trabalhada de diversas formas, indo desde balé clássico
ao gr upo de dança afro. Tais experiências têm seu aug e na
for mação de g rupos de dança que se aproximam de uma postura
mais profissional, fazendo ensaios e apresentações constantes.
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Os projetos ambientais têm sua origem nos problemas
enfrentados pelas escolas, em relação ao excesso de lixo
produzido (tanto dentro, quanto fora)eaprecariedade do
sistema de saneamento e de coleta.
O trabalho de conscientização ambiental acontece ou pelas
ações pontuais ou per manentes como a criação de g r upos fixos
que trabalham durante todo o ano letivo. São trabalhos
vinculados à reciclagem, ao reaproveitamento de material, à
educação ambientaleàformação de uma consciência ecológica,
envolvendo também a comunidade.
Os projetos vinculados à área da saúde estão relacionados ao
conhecimento do cor po. Foram encontradas experiências que
vão desde higiene bucal dos alunos, funcionários e suas
famílias, até atividades de for mação dos estudantes para
ensinar aos demais jovens, sobre DST/AIDS, gravidez na
adolescência e necessidade de exame pré-natal.
Os objetivos nos projetos de saúde são semelhantes e a
intenção principal é de proporcionar aos alunos a possibilidade
de conhecer qualitativamente o significado de saúde, para com
isso efetivar a prevenção de doenças diversas. Percebe-se ser
bastante reconhecido e incorporado às práticas escolares, o
projeto DST/Aids, do Ministério da Saúde.
Os projetos da área de esportes têm atividades bem
diversificadas, que vão desde o xadrez à estr uturação de
olimpíadas anuais. O esporte é visto como um meio para
desenvolver no educando noções sobre solidariedade (pelo
espírito de equipe), disciplina, equilíbrio físico e emocional
e, concentração. As escolas acreditam que por inter médio
dos esportes é possível resgatar e favorecer a auto-estima
dos alunos, ocupar positivamente seu tempo va go, além de
desenvolver habilidades que poderão se transformar numa
profissão.
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Na área profissionalizante, o estudo detectou apenas um
projeto que tem como objetivo a formação de jovens para o
trabalho. O projeto contribuiu para a efetivação de uma parceria
entre o comércio local e a escola, e aumentou a confiança desses
alunos quanto ao seu potencial profissional.
Dos 107 projetos registrados, quatro têm o apoio do Ministério
da Educação, 16 das secretarias estaduais de educação, três de
universidades, três da UNESCO (Programa Abrindo Espaços),
75 contam com os recursos da própria escola e seis de diferentes
instituições (Ongs, empresas, Ministério da Saúde e Benfam).
A maioria dos projetos está sendo mantida pelas próprias escolas,
o que demonstra que existe uma parcela significativa de escolas
buscando alternativas para melhorar o ambiente escolar, os
espaços físicos, as relações dentro da escola e o processo de
ensino e aprendizagem.
Verifica-se a insuficiência das Ongs nessas experiências, o que
pode ser creditado a um acesso limitado de financiamentos
voltados para a área educacional ou de um não reconhecimento
do espaço escolar como privilegiado para a atuação destas
entidades.
Cabe ressaltar a limitada participação das universidades,
considerando-se seu papel fundamental na for mação dos
professores que trabalham diretamente com uma realidade tão
diversa e complexa; do MEC, como importante órgão que tem
legitimidade para ser indutor de novas práticas; e até mesmo
das secretarias estaduais de educação, responsáveis diretas,
administrativamente, por todas essas escolas.
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É no cotidiano que os estabelecimentos pesquisados buscam
enfrentar a violência a que estão sujeitos, por meio de estratégias
inovadoras, traduzidas, sobretudo, numa direção sintonizada com
mudanças qualitativas na relação com os alunos, na participação das
famílias e da comunidade, no engajamento dos professores e demais
funcionários, no uso e na perce pção do espaço físico, na sociabilidade e
na própria imagem da escola.
A diversidade dessas estratégias, tanto por sua natureza quanto
por sua abrangência, é bastante significativa, trazendo consigo a
perspectiva de transformação das práticas convencionais de gestão e
organização das escolas e de seu posicionamento em relação às questões
que lhe são impostas pela sociedade em geral e, especificamente, por
seu entor no, dentre as quais o problema da violência assume proporções
preocupantes.
Em seu conjunto, tais estratégias vêm possibilitando a emergência
de um “bom clima escolar” demonstrando o êxito das iniciativas voltadas
ao combate à violência. Essa noção aparece em muitos dos depoimentos
colhidos nas entrevistas e nos g r upos f ocais realizados nas escolas,
subjacente às explicações para os bons resultados do trabalho
desenvolvido.
Ao tratar do tema, o presente capítulo está org anizado em dois eixos.
O primeiro aborda as várias estratégias correntes no cotidiano das escolas
inovadoras, analisando a importância do clima escolar e, progressivamente:
o pa pel do diretor; a valorização do aluno, do professor e da escola; o
exercício do diálogo; o trabalho coletivo; a participação da família e da
4. ESTRATÉGIAS QUE FAZEM DIFERENÇA
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
comunidade; a ressignificação do espaço físico; o incremento da
sociabilidade e a constr ução do sentido de per tencimento. O segundo
apresenta as características e alguns resultados do Abrindo Espaços”,
prog rama desenvolvido a partir da iniciativa da UNESCO, concebido de
forma a possibilitar o investimento integrado em estratégias inovadoras,
com resultados bastante promissores na instalação de um bom clima escolar
e, conseqüentemente, na redução da violência e na melhora das condições
de aprendizagem.
4.1 CLIMA ESCOLAR E ESTRATÉGIAS INOVADORAS
4.1.1 A importância do “bom clima” na vida da escola
Ainda que não haja uma posição consolidada sobre a definição de
clima escolar, vale r emeter a Fontes (s.d.), quando o define como a
qualidade do meio interno que se vi ve numa or ganização e o compreende como
resultante de diversos fatores, sobretudo dos que são de natureza imaterial,
como as atitudes, o tipo de gestão. Sampaio, por sua vez, refere-se a uma
espécie de personalidade, de ‘maneira de ser’ que é característica do estabelecimento,
determinada por uma série de variáveis, entre as quais a estrutura, o processo
or ganizacional e os comportamentos indi viduais e de gr upo (Sampaio, 1996: 4).
Para Fox, a qualidade de vidaeaprodutividade dos docentes e dos
alunos é determinada pelo clima, “um fator crítico para a saúde e para a
eficácia de uma escola” (Fox, 1973:5-6, apud Brunet, 1992). Tal opinião
ganha coro nas falas de vários atores da comunidade escolar, onde é
perceptível a importância atribuída à possibilidade do estabelecimento dispor
de condições capazes de tornar-se mais “competitivo” no processo de
conquista do estudante, como expressa uma coordenadora de São Paulo,
que considera forte o poder de atração que o “lado de fora” da escola exerce
sobre o aluno: Então, a gente tenta fazer com que a atração maior esteja aqui
dentro, pra que ele não queira estar mais fora do que aqui. A gente tenta fazer com
que o ambiente aqui seja agradável, seja bom pra que ele participe aqui, e não fora”.
Depoimentos de professores mostram como pais e responsáveis
são influenciados pelas condições encontradas na escola para o
acolhimento de seus filhos.
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Quem não gosta de coisa boa, né? Não existe uma pessoa que não goste de
ambiente bom, lugar bonito. Se você souber que seu filho vai pra um lugar
bom, você passa a gostar do lugar, onde você sabe que ele é bem recebido,
que num ambiente limpo, or ganizado, com pessoas preparadas. Você
acaba dando valor à escola, justamente, porque trata bem dos seus. (Grupo
focal com professores, São Paulo)
O relato acima mostra que a confiabilidade da escola parece passar
por um conjunto de “variáveis”, conforme denomina Brunet (1992) que,
de for ma articulada, combinam desde a competência dos quadros
funcionais (dir eção, docentes, funcionários etc.) até as condições físicas
e estéticas do estabelecimento.
São também significativas as palavras de um aluno, ao afir mar
que quem consegue arranjar uma escola boa tem mais oportunidade do que os
outr os, que acabam entrando nas dr ogas. Ainda que tal opinião mereça ser
relativizada, é possível reconhecer que traduz, de alguma for ma, um
sentimento de que caberia em grande parte à escola a responsabilidade
pelo destino daqueles que por ela passam.
A existência de um “bom c lima” transparece em observações que
destacam a sintonia entre a expectativa dos aluno s e o cumprimento da
função de ensinar da escola, como aponta um entrevistado que, ao ouvir
de jovens estudantes de estabelecimentos de outros bairros que havia
coleg as que por tavam ar mas, retr ucou: Nossa, na minha escola não, o
pessoal le va um li vr o, caderno...
Na mesma linha, o papel da escola como espaço de “cuidado”,
valorizado por seus alunos, está presente na fala da professora que se
sente orgulhosa pelo fato de alguns, cujas mães trabalham fora,
preferirem ir às aulas mesmo quando se encontram doentes, condição
que poderia justificar seu não-comparecimento: Eu per gunto: Ah, por
que é que você veio? Porque minha mãe trabalhando... Então, às vezes, eles
pr ef er em vir pra escola do que ficar soz inhos em casa.
A per manência dos alunos no espaço escolar f ora do período
específico das aulas seria, também, sintomática da existência de um
“bom clima” no estabelecimento. Em alguns de poimentos, este fato
aparece nitidamente.
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Eles estão sempr e cir culando, pode notar: eles fazem namorico na escola,
eles brincam na escola... Eles querem estar na escola. Eu, a [coordenadora]
e o guarda mandamos eles embora, pois eles não querem... Aí, eles beijam
a [coordenadora], se abraçam a mim, não querem ir embora. Reclamaram
no conselho que a única coisa ruim é quando eu mando eles embora.
(Entrevista com diretor, Rio Grande do Sul)
O clima favorável traduz-se, também, na satisfação com que os
professores se referem à escola, seja pela experiência nela adquirida É
aqui que eu aprendi grandes coisas, grandes objetivos e tive uma grande experiência
de vida e educacional –, pelo aspecto afetivo Essa escola é o meu segundo
lar, eu amo essa escola! ou pelo sentimento de segurança e bem-estar
Não é porque eu trabalho, mas eu acho essa escola muito bonita, e ela ficando
melhor ainda. E eu gosto, me sinto muito bem aqui.
Estas são apenas algumas evidências da condição favorável de
convivência e abertura proporcionada pelo bom clima presente nas escolas
inovadoras. Foi possível identificar, também, alguns fatores mais
nitidamente relacionados à existência dessa condição, destacando-se,
sobretudo, o papel dos diretores, dos professores e dos demais funcionários
como peças-chave para a definição das relações estabelecidas no interior
da escola. Os tipos de gestão, orientação pedagógica e proposta educa tiva
presentes na conduta e nas atitudes daqueles que dão rumo à vida do
estabelecimento escolar a parecem nos muitos depoimentos coletados.
Uma gestão mais aberta e igualitária, na qual se processa maior
integ ração entre a direção, os docentes e outros funcionários, parece ser
fator decisivo para um bom clima escolar. Essa é marca presente na
maioria das escolas pesquisadas, aparecendo em várias falas, como a de
uma professora, que na participação de todos e na existência de
comunicação as condições para a ajuda mútua.
Nossa diretora não é uma diretora de gabinete, é uma diretora que participa
em todos os eventos junto com os professores e funcionários. Ela não distingue
um dos outros, entendeu? Quer que todo mundo se una, vista a mesma
camisa... Eu acho isso uma diferença muito grande. É uma família mesmo!
(Gr upo focal com professores, Pará)
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A idéia de “família” aparece, aqui, qualificando positivamente
um conjunto de características do clima escolar que Br unet (1992)
considera interferir nitidamente na satisfação da “equipe” da escola:
o tipo de relações interpessoais, a coesão dos integrantes, seu grau de
implicação na tarefaeoapoio r ecebido no trabalho. Um coordenador
testemunho semelhante: Aqui tem um clima muito bom de amizade.
Quando acontece algo, a gente senta, conversa, esclarece e fica numa boa.
Nossos professores são todos amigos e isso é muito forte, né? São todos
companheir os. Uns ajudam os outr os. Da mesma for ma, uma diretora af ir ma
haver integração entre os professores e funcionários: um respeito do
pr ofessor pelo trabalho do funcionário e vice-versa. É r ecípr oco.
A necessidade de competência e sensibilidade para lidar com as
diferentes visões e posturas existentes no g r upo, de forma a promover
condições de trabalho satisfatórias para todos, fica nítida nas palavras
de outra diretora:
A relação dos funcionários, em geral, é maravilhosa. Dizem que essa
escola tem açúcar! Mas, se existe colaboração, existe rejeição para inovar,
também... Tem uns, por exemplo, que não conseguem entender o fato de as
disciplinas estarem interligadas. Aí, é você tentar, sem magoar, mudar o
raciocínio de uma pessoa que está trabalhando 40 anos... (Entrevista
com diretora, Pernambuco)
No depoimento, torna-se clara a preocupação com as
especificidades, o que, sem dúvida, contribui para a elevação da auto-
estima dos que fa zem par te da equipe de trabalho. Uma professora , de
outra escola, aborda, com reconhecimento, atitude semelhante da
direção:
Eu trabalhei em uma escola em que a dir etora chegava e pergunta va:
“Como é seu nome? Você é pr ofessora de quê?” Aqui, não. Nossa dir etora,
se duvidar, sabe o nome completo de todo mundo... Ela conhece todos, é
capaz de dizer qual é a carga horária que você tem, sabe? Então, ela é
entrosada, e isso passa pra nós, professores... (Gr upo focal com
professores, Pará)
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É, no entanto, na abertura e no respeito com que se caracterizam
as relações mantidas pela “equipe” da escola com os alunos, que parece
residir um dos mais importantes componentes do bom clima escolar e,
por conseguinte, da possibilidade de se reduzirem o conflito e a violência
na escola. Nessa dir eção, são muitos os testemunhos, que a fala de um
aluno sistematiza com objetividade: O que eu mais gosto aqui é da forma
como os alunos são tratados.
A frase cur ta, mas plena de signif icado, traz à r eflexão, no mínimo,
a distância existente, em muitas escolas, entre direção, professores e
funcionários e os jovens estudantes. A prática do diálog o e do respeito
nas relações aparece nas falas como elemento fundamental da construção
de um clima escolar satisfatório.
Essa escola é diferente de outras na amizade da diretora com os alunos e no
r espeito entr e pr of essor es e alunos. (Grupo focal com alunos, São Paulo)
Por mais que eu tenha dificuldade, eles me tratam bem dentro da sala... Tiram
minhas dúvidas com educação. (Entrevista com aluno, Santa Catarina)
Esta escola é muito mais evoluída do que outras escolas nas relações. Não
somente os professores, os funcionários, mas até a diretora, uma pessoa muito
carismática, que senta com o aluno pra conversar. Em escolas que eu estudei,
o dir etor nem apar ecia. Os funcionários, que têm um cargo superior, sentam
com os alunos e conversam, não somente para dar ordens, mas também
explicações. (Entrevista com aluno, Ceará)
QUADRO 4 Por mais que eu tenha dificuldade , eles me tratam bem
dentro da sala...
De acordo com alguns diretores, o convívio com os jovens e o
tratamento a eles dispensado constituem o grande diferencial para uma
relação de proximidade, não marcada por conflitos: O que eu vejo em algumas
escolas não é exatamente rejeição em relação aos jovens, mas uma certa distância.
E isso eu não sinto aqui. É como se a gente fosse diferente... Existe uma
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aproximação que nos diferencia. Essa “aproximação” parece ser, também,
o mote para a importância atribuída ao cuidado dispensado aos alunos
mais carentes na relação que estabelecem com o colégio, situação
destacada por uma diretora. Em sua opinião, a escola passa a se
constituir como ponto de referência para aqueles que se vêem inseguros
e desprotegidos, cujos pais trabalham e os deixam sós.
Eu gosto bastante dos professores, gosto da diretoria, gosto da escola...
Gosto do jeito de eles ensinarem, porque não é aquele tipo de professor
que se preocupa em ensinar, que o aluno apr enda, não... Eles se
preocupam também com o bem-estar do aluno. (Entrevista com aluno,
São Paulo)
Essa idéia parece reforçada com clareza nas palavras de outro
aluno, que valoriza o fato de poder compartilhar seus problemas com
alguém que o conhece desde pequeno: É muito bom, porque, às vezes, a
gente tem um problema e não quer nem contar pra mãe, pro pai, pros irmãos...
Tal situação é também destacada por meio do de poimento de
uma professora, quando considera que, em sua sala de aula, o que
mais se destaca é a aproximação afetiva com os alunos, identificada
como conquista deles próprios.
Essa tem sido uma característica marcante no meu trabalho diário com os
meninos, deixando bem claro que esta afetividade não significa ser
boaz inha ou ser amiguinha. É ser exigente e, ao mesmo tempo, afeti va.
Isso me faz lembrar do comentário de um aluno, no final de uma aula:
“Professora, a senhora é muito chata, mas é muito legal! Como é que pode
isso?” É nessas pontuações que você a possibilidade de seu trabalho
ser bacana. (Entrevista com professora, Ceará)
A professora parece expressar a satisfação que sente pela for ma
gratificante com que equilibra seu cotidiano na sala de aula,
reconhecendo e valorizando o espaço de opinião e espontaneidade de
seus jovens alunos e, ao mesmo tempo, desenvolvendo as atividades
for mais com firmeza.
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Não dúvida de que o investimento na sociabilidade está presente
nos estabelecimentos caracterizados por um bom clima, como afirma
um aluno, que acredita ser essencial o que denomina de “vivência social”
entre professores e alunos e diretores e alunos.
A constr ução de um bom clima escolar, por cer to, está igualmente
pautada no investimento em propostas educativas e em projetos que
valorizem aqueles que compartilham o espaço da escola. São numerosas
as falas que mostram a preocupação com o desenvolvimento de projetos
e atividades baseados no resgate de valores e na perspectiva de maior
participação.
O p r ocesso de apr endizagem não é inter no, mas exter no também. Por
exemplo, a gente participa de jogos e leva os alunos para lá. Todos vão: os
pr ofessores, os funcionários e até o pessoal de apoio. Eles gostam. De pois, a
gente explora o que eles vêem na sala de aula. Todos participam.
(Entrevista com professor, Pará)
Essa parece ser, também, a percepção de um coordenador de
Per nambuco que, após a intr odução de projetos diferenciados, afirma
ter notado sensível diferença na atitude dos alunos com relação às
propostas de trabalho extra-classe apresentadas pelos professores: Às
vezes, a professora estava no pátio fazendo uma atividade diferente e eles
per guntavam “Não vai ter aula não?”. Porque aula, para eles, era o quadr o
e o cader no... Agora, isso mudou.
O modo como algumas atividades de cunho cultural e esportivo
se organizam, notadamente aquelas que se realizam com regularidade,
per mitem a integração entre os alunos e deles com os professores,
envolvendo, também, pais e responsáveis. Por exemplo, a mesma escola
à qual se refere o de poimento anterior associa a e xistência de um “Grupo
de Canto Coral”, formado por professores, à r ealização de uma “Noite
da Escola”, da qual par ticipa toda a comunidade escolar. Outra escola,
a par tir da existência de um g rupo de teatro criado por iniciativa dos
alunos, com o intuito de angariar fundos para a f or matura assumiu a
decisão de constituir um espaço cultural, cuja dimensão vem
contribuindo para a instauração de um clima de solidariedade e para a
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conseqüente diminuição da violência. Como afirma a animadora cultural
do estabelecimento:
Crescemos, ganhamos prêmio de revelação num concurso profissional e temos
o espaço cultural, com oficinas de oito meses de duração, com atividade cultural
dentro da escola, sem aquela coisa de favorecer grupos de interesse. Ajudamos
a enfrentar a questão da violência. (Entrevista com animadora cultural,
Rio de Janeiro)
Nessa mesma direção, uma professora faz importante observação,
ao afirmar que, em termos de criação de um clima desestimulador da
violência, projetos culturais, como o teatro e as artes plásticas, têm a
possibilidade de tr abalhar a subjetividade dos jovens, d e for ma a tor ná-
los mais sensíveis.
A realização de projetos parece assumir especial significado na
medida em que são incor porados ao cotidiano, ao projeto político-
pedagógico vigente, e contribuem para a mudança de padrões de
relacionamento e atitude dos diversos a tores da vida escolar. Como
afir ma uma diretora, o pr ojeto capaz de produzir transfor mações, como
a redução da violência, é aquele que deixa de ser projeto e passa a ser
um programa efetivo da escola: Nós não estamos promovendo atividades
em momentos estanques, em dias festivos, em datas especiais... Nosso trabalho
com a arte e com a cultura é uma constante na sala de aula.
A constr ução do bom clima na escola passa, necessariamente, por
um trabalho pautado no combate às mais variadas for mas de exclusão,
tão presentes na sociedade. Os projetos esportivos mostram-se
especialmente interessantes como pontes para a transformação,
sobretudo quando conseguem reforçar a org anização do coletivo.
Algumas escolas têm dado peso especial a esse aspecto, integ rando, por
exemplo, alunos das chamadas “classes especiais” em prog ramações
esportivas, por meio das quais participam de equipes que,
eventualmente, se envolvem em campeonatos e competições. Mais uma
vez, a incorporação desse tipo de trabalho às atividades curriculares
contribui para a mudança do cotidiano escolar no desenvolvimento de
relações mais solidárias e integ radoras.
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O uso efetivo do equipamento da escola pode constituir fator
favorável para a melhoria do clima escolar. Sobre esse ponto, o
depoimento de um outro estudante, também serve de reforço: O nosso é
um dos melhores colégios daqui. O laboratório tem aparelhos que outras escolas
não têm, os pr o fessores são ótimos e, a cada dia, eu desenvolvo mais.
Nota-se que o fato de a escola propiciar a ampliação do uso de
recursos mais atraentes no trabalho cotidiano vem ao encontro das
expectativas dos estudantes, como obser va uma coordenadora, ao
afir mar que os alunos não aceitam mais a aula do tipo senta, copia, decora
e pr ova”, “senta, copia, decora e prova”. Na sua opinião, eles quer em, por
exemplo, ver um vídeo que os ajude a entender mais, algo r elacionado ao que
estão estudando. Querem r ecursos variados, aulas mais dinâmicas. Chega de “giz,
lousa, caderno”, “giz, lousa, cader no”, sabe?
O bom clima instalado em escolas que optaram por desenvolver
projetos diversificados aparece, por exemplo, na f ala de um professor :
Muita coisa mudou. A escola se abriu e os alunos, hoje, participam, se engajam,
pr ocuram melhorá-la. não tem pichação como tinha, por exemplo. O professor
destaca, ainda, o fato de as próprias condições de ensino terem se tornado
mais satisfatórias: Até os monitores, nos finais de semana, também estão ensinando
bem. Por fim, afirma que a escola é vista com outros olhos, a partir das
mudanças pelas quais tem passado: A escola está super bem-falada aqui no
bairr o e fora dele também, atra vés desses projetos. Está sendo valorizada.
O clima escolar também se torna melhor a partir da percepção de
que a escola, em si, passa a ser objeto de cuidado e apreço pelos que
respondem por ela. Neste aspecto, a questão da segurança inclui-se entr e
as que mais importam. Certamente, as condições para que se reduza a
violência e se amplie a possibilidade de a escola cumprir a contento sua
função de instituição primordialmente voltada ao ensino ganham maior
expressão.
A síntese da importância do bom clima escolar para a vida dos
atores da escola parece residir na fala de um aluno, mostrando como a
sua vida mudou a partir do momento em que se ampliaram as
possibilidades de amizade: Hoje, eu vejo que preciso do colega que está do meu
lado, não pelo que ele tem, mas pelo que ele é. Eu aprendi a ser humilde, ao ponto
de querer apr ender com o colega que está ao meu lado.
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O sentido da construção de relações coletivas baseadas na
compreensão e na solidariedade se faz presente nesse depoimento e
revela possibilidades pr omissoras no combate à violência nas escolas.
4.1.2 A gestão inovadora: o papel do diretor
O exercício de uma gestão aberta à mudança constitui, sem dúvida,
traço comum às escolas inovadoras, conforme se pôde constatar ao longo
da pesquisa. De for mas variadas, na busca de alter nativas para lidar
com a questão da violência, esses estabelecimentos vêm experimentando
transformações nos modos convencionais de administrar e conduzir o
cotidiano. Em tal quadro, o papel dos diretores ganha impor tância
significativa, associado à atuação dos demais integrantes do coletivo
escolar
28
. Alguns depoimentos ajudam a consolidar essa reflexão:
Quando a atual direção chegou, em 97, a escola era tida como a pior da
diretoria de ensino, e agora é considerada a melhor do Estado, o que é
motivo de muito or gulho para dentro e fora da escola, que esta nova
posição atrai muito a impr ensa e os meios de comunicação para o bairr o.
(Entrevista com diretor, São Paulo)
Ao expressar satisfação com o novo status da escola, o diretor
reconhece, indiretamente, o peso de sua administração nas
transfor mações obser vadas. Da mesma for ma, outro dirigente a
dimensão da importância de seu papel de articulador dos diferentes atores
do espaço escolar no esforço de mudança.
A escola era um caos. Não tinha vigia, não tinha secr etário. Aulas, na
sexta-feira, não existiam. A escola era uma “danceteria”! Então, adotou-
se uma administração participativa. As decisões passaram a ser coletivas.
Reunimos direção, professores, funcionários e alunos, que tomaram para si
a r esponsabilidade de tirar os rótulos horríveis que a escola tinha. Os alunos
tinham vergonha de estudar numa escola assim. Trouxemos a comunidade,
a igreja, o posto de saúde. (Entrevista com diretor, Amazonas)
28
As características dos diretores das escolas inovadoras estão detalhadas no artigo “Escolas
inovadoras: um retrato de alter nativas” (Abr amovay et al, 2002), publicado pela UNESCO.
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Percebe-se, por tanto, que são os diretores aqueles que conduzem
um trabalho que é de muitos: professores, alunos, familiares e outros
atores. Nesse sentido, vários deles demonstram preocupação em criar
condições de participação de toda a comunidade escolar no planejamento
e nas decisões, a partir de ações que não se limitam a consultas e
votações, mas que demandam um envolvimento ref lexivo e propositivo.
O relato sobre os prováveis motivos da indicação de uma
deter minada escola para o presente estudo ilustra as múltiplas funções
atribuídas a quem ocupa este cargoeograudecomplexidade das mesmas.
Outro aspecto que chama a atenção nesta escola é o forte envolvimento da
diretora com os alunos e a integração, de um modo geral, de todo o ambiente
escolar voluntários, funcionários, professor es e cor po pedagógico e
administrativo. Em vários momentos da entr evista, a dir etora foi solicitada
por diversas pessoas e estava disponível para todas, mesmo com a nossa
presença. Não que não se importasse conosco, mas, com certeza, nem ela,
nem a escola, deveria parar pela nossa presença. Essas atitudes mostraram
grande originalidade da diretora em relação a outras que, freqüentemente,
estavam com um discurso “pr ontinho” nos esperando. (Relatório de campo,
Rio Grande do Sul)
Na gestão das escolas inovadoras, destaca-se, também, um certo
cuidado dos diretores em desenvolver uma atuação adequada às
especificidades de cada uma, de forma a respeitar e explorar as
possibilidades existentes. É o caso, por exemplo, de um estabelecimento
em cuja vizinhança o tráfico de drog as está instalado. De acordo com a
diretora, este fato não afeta significativamente o cotidiano escolar, em
razão de ela ter aprendido, na própria escola, a utilizar, como “método de
trabalho”, a abordagem direta das questões relacionadas com a violência ,
para que os problemas não se agravem ou tomem proporções incontornáveis.
A importância do diretor na recondução de muitas escolas a uma
situação de respeito e consideração a todos os que compartilham seu
espaço, notadamente os alunos, deve ser, mais uma vez, ressaltada.
Nesse sentido, é ilustrativa a observação de uma professora, que relata
o fato de, em sua escola, a diretora dialogar com os alunos: Aqui, eu vejo
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a dir etora conversar com eles, não berrar... Na escola em que eu fiz o magistério,
a inspetora tinha um apito. Se você não andasse logo, era piiim no seu ouvido!
Em outro de poimento, pode-se perceber a afetividade como ing rediente
presente no trabalho dos educadores, inter mediando o encaminhamento
pedagógico for mal que caracteriza boa par te da vida escolar.
A gente nota que, nas outras escolas do bair ro, os pr ofessor es não têm
amizade com os alunos... É aluno pra um lado e pr of essor pro outr o. Aqui,
a diretora conseguiu mudar um quadro de violência, de individualidade,
através da or ganização que ela fez na escola, com os alunos e com os
pr ofessores. Colocou pr o fessor como amigo do aluno. Aqui, cada professor é
mais educado, mais amigo do que o outr o. Então, a gente pode notar que,
hoje, tem uma união muito grande, tanto em termos de educação como de
amizade. (Entrevista com aluno, Pará)
Outro aluno remete explicitamente à importância do estímulo da
direção e do corpo docente para o estabelecimento do respeito como
meio de combate à violência: A escola é muito radical em relação à violência.
Nos incentiva a ter respeito “aluno com aluno”. Não somente os professores, mas
todos os funcionários aqui fazem isso.
Ao se refletir sobre o papel da gestão e, especificamente, dos
diretores no investimento em estratégias capazes de contribuir para o
combate à violência nas escolas, cabe considerar que o olhar desses
gestores em relação ao futuro, certamente, pode representar um
diferencial inovador fundamental. Nesse sentido, é emblemático o fato
de a direção da escola do Rio Grande do Sul estimular e dar condições
para que as alunas-mães principalmente as que estão amamentando
levem seus filhos às aulas enquanto estudam, revertendo o quase
inevitável processo de evasão dessas jovens que, freqüentemente, deixam
de estudar durante a gestação e a fase subseqüente.
Analisada sob diferentes ângulos, essa iniciativa traz à tona não
apenas a discussão sobre a conveniência das escolas terem condições
especiais para receber os bebês das mães adolescentes, mas também a
necessidade de se compreender que a garantia da escolaridade das mães
pode significar preservá-las da exposição à violência.
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4.1.3 A valorização do aluno, do professor e da escola
Nas escolas observadas sob o prisma das relações e práticas que
se estabelecem entre os sujeitos que, direta ou indiretamente, delas
fazem par te, percebe-se a impor tância da constr ução de mecanismos de
valorização, cujo funcionamento, na maioria das vezes, se no sentido
do resgate de suas identidades. O olhar respeitoso do outro pode provocar
uma série de mudanças nos comportamentos e atitudes dos jovens e
dos professores, significando valorização e reconhecimento social.
Segundo Soares (2002), a existência social se essencialmente pelo
olhar do outro. Dessa forma, no que tang e aos pr ocessos educacionais,
essa premissa torna-se, par ticularmente, imprescindível.
Nesse contexto, um passo impor tante para a mudança ocor re no
momento em que a direção possibilita a abertura do espaço escolar para
os demais atores. A inovação passa por legitimação dessa direção junto
aos alunos e aos professores, por meio de estratégias de valorização
destas que, sem dúvida, são suas figuras mais impor tantes.
Ao afirmar que os professores são preocupados com eles (...) em
que a gente se sinta bem na escola, que tenha vontade de vir pra e não de ficar
nas ruas... os alunos demonstram reconhecer o fato de que são tratados
com atenção pelos docentes. Da mesma forma, no depoimento a seguir,
é perceptível a convicção dos jovens sobre o modo personalizado com
que são cuidados:
Gosto do jeito de eles ensinarem, porque não é aquele tipo de professor
que se preocupa em ensinar... Eles se preocupam, também, com o bem-
estar, em fazer uma coisa que a gente goste, que se sinta bem. Conversam
com a gente e estão preocupados em saber se a gente aprendeu. A gente sente
que tem alguém preocupado com cada um de nós... (Gr upo focal com
alunos, Rio de Janeiro)
Mais do que se referir a um modo específico de tratamento dos
alunos, este depoimento coloca em questão o próprio papel do professor,
cujos procedimentos usuais, de caráter for temente hierarquizado, seriam
bastante restritos à função de educar segundo uma perspectiva “bancária”
que, como ressalta Freire (1974), toma o aluno como tábula rasa, em que
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seriam “depositados” os conhecimentos escolares. Nas escolas inovadoras,
porém, parece vingar uma concepção de educação mais aberta, onde a
relação entre professores e alunos se de forma igualitária.
As estratégias de valorização representam uma espécie de aposta
nos laços de afeto e de pr oximidade possíveis no ambiente escolar. O
depoimento de um jovem aluno corrobora o acerto dessa aposta, ao
traduzir a atenção a ele dedicada por sua escola: Ah, quando eu começo a
faltar muito, e sentem a minha falta, mandam bilhete, escrevem pra minha casa,
pro meu pai... Apesar d’ele ser menos presente, ele vem na escola, ele conversa com
as professoras... Eu não agüento mais! [risos].
Assim, do mesmo modo como os alunos constatam a preocupação
do diretor e dos professores e funcionários com sua assiduidade às aulas,
também o corpo docente reconhece que a escola não cumpre apenas a
função de ensinar, mas também a de cuidar. O depoimento de um
professor, sobre o fato de não raramente aparecerem alunos doentes e
com febre na escola para serem tratados e medicados, traz à reflexão os
vários significados da escola: Eles vêm pra escola queimando em febre e eu
pergunto, por que?”, ao que respondem Ah, em casa não tem quem cuide de mim”.
A complexidade da função docente aparece quando um g r upo de
professores destaca que o aspecto mais importante da docência é a relação
que se constrói com o aluno, no sentido de transf or mar sua existência:
Pr ofessor não é r epassador de conteúdo. É psicólogo, pai, mãe, amigo. A
influência que o professor vai ter na vida do aluno vai depender de pessoa para
pessoa, da r elação. Na opinião desses docentes, “fazer a diferença” na
vida do aluno, atuar com desprendimento, constitui um g r ande prêmio,
uma gratificação profissional
29
.
Para outros professores, alunos esforçados, que são
desmotivados devido à falta de estr utura de a poio e às condições do
próprio bairro e da escola, o que os levaria a assumir o estereótipo do
“malandro”, visto como “o esper to que sobrevive”, conforme aponta
La Taille. Os jovens de hoje vivem uma ética muito diferente das g erações
29
Entretanto, não se pode secundarizar que, de modo ger al, para os alunos, ser considerado
“bom professor” se relaciona profundamente com o esforço de cada profissional em garantir
a aprendizagem, com qualidade, de todos os seus alunos.
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anteriores, uma vez que os mecanismos tradicionais de ascensão estão
a eles bloqueados. Em sua opinião, configur a-se um g r ande paradoxo,
como pode ser verificado abaixo:
Todos os dados estatísticos mostram que a escolaridade dos cidadãos jovens
da periferia aumentou, a maioria está freqüentando escolas, e de qualquer
maneira esses jovens são mais escolarizados do que os do passado. No entanto,
a capacidade de converter essa escolarização numa forma de inserção
participativa na sociedade está bloqueada.... Isso gera uma tensão muito
grande entre querer estar e de estar inserido numa situação minimamente
digna (La Taille, 2000: 124).
Essa questão transparece, por exemplo, na fala de um professor
que, após afir mar que por vezes rotula seus alunos de rebeldes ou
indisciplinados, reconhece que por trás da rebeldia, por trás da indisciplina,
tem uma história e que isso constitui matéria-prima de seu trabalho.
Nessa perspectiva, a consciência de que a escola tem função
especial no processo de valorização dos alunos aparece claramente no
depoimento a seguir:
Eu acho que o papel da escola, hoje, é resgatar essa classe dos excluídos. Eu
penso que tenho que tratar muito bem o meu aluno da classe de aceleração.
Por quê? Porque, em determinada trajetória, ajudei a excluir esse aluno
que hoje aqui comigo com defasagem na série, esse aluno agressivo, esse
aluno r ebelde, né? Em deter minada altura, eu excluo... Então, a escola tem
papel fundamental na formação desses jovens. Então, eu vejo por e nós,
como professores, temos que resgatar isso aí, na nossa atividade do dia-a-
dia. (Entrevista com coordenador, Santa Catarina)
Participar ou não de experiências inovadoras ou de “projetos”
desenvolvidos na escola parece vincular-se a uma complexidade de
percepções por vezes ambivalentes evidenciadas pelos professores,
que vêem a si próprios como idealistas, amigos, “repassadores de
conhecimento”, opressores ou oprimidos, lidando com alunos que ora
merecem investimentos afetivos, ora ad vertências.
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A estratégia de “valorização” revela uma visão da escola que a
considera para além de um lugar de aprendizagem, na medida em que
exerce funções de cuidado e atenção para com o outro, fato que re percute
positivamente, como salienta um aluno: A escola está preocupada com a
gente. Pra gente ser alguém na vida, ter um emprego bom, uma coisa assim. Eles
tão se importando com a gente.
O sentimento de elevação da auto-estima aparece em situações
por vezes tidas como triviais, como a relatada por um aluno que se
reconhece valorizado pelo simples acesso, na escola, a bens que, até
então, situavam-se distantes de sua r ealidade.
Na aula de arte, a gente tem uma pasta, né? Uma resma de folhas, sulfite,
bor racha, lápis, pincel, lápis de cor, cera, compasso, régua, cola, durex...
Instrumentos básicos pra você ter, pra desenhar... Eu acho esse kit
interessante, porque eu nunca tive oportunidade. Essas coisas, o material,
fui adquirindo dos outr os, o que sobra va de alguma coisa, de alguém. (Grupo
focal com alunos, Mato Grosso)
Por cer to, medidas aparentemente simples podem proporcionar aos
jovens a concretude de sua existência social, como o fato de a escola
estabelecer prioridades para o uso de seus recursos em benefício dos
alunos. Pode-se lembrar, aqui, uma decisão da escola do Rio de Janeiro
que, ao racionalizar a utilização dos computadores de que dispunha para
fins administrativos sete unidades, obtidas por doação –, conseguiu
destinar quatro delas para o uso dos alunos, superando as limitações
impostas pela inexistência de sala ou laboratório de infor mática e de
acesso à inter net. A sala do g rêmio estudantil f oi dotada, então, de
condições para mais bem atendê-los: Aqui na escola, a gente tem os nossos
próprios computador es. São nossos, estão no Grêmio... Eu faço todos os trabalhos
da escola mesmo, sem problema.
A fixação de jor nais diários nos muros do pátio, para consulta dos
alunos, é outro tipo de recurso, utilizado por uma das escolas, no sentido
de lhes proporcionar acesso à informação. Ainda ali, a convencional
prática de “aulas de reforço”, de pouco apelo junto aos jovens, foi
ressignificada e passou a atraí-los de forma surpreendente. Se,
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anterior mente, eram colocados em situação de inferioridade, perante os
demais colegas, pelo estigma do atraso Nós nos sentíamos humilhados,
entrando na sala de reforço... –, ag ora se viam valorizados, ao serem
convidados para “aulas particulares” de português e matemática.
A valorização dos alunos se dá, também, na medida em que a escola
lhes ouvidos e considera suas opiniões, criando mecanismos onde
suas sugestões, referentes a mudanças que gostariam de ver
implementadas, são analisadas, sendo suas decisões posterior mente
socializadas. Nessa linha, vale destacar situação ocorrida em outra escola,
onde a fragilidade da formação dos professores na área da informática
acabou por esboçar um contraponto à convencional relação entre
professores e alunos, na medida em que estes últimos, por terem
intimidade com o mundo do computador, foram colocados na posição
de orientadores da aprendizag em dos primeiros. Inverteu-se, assim, a
relação entre “quem ensina” e “quem aprende”.
No que se refere à valorização dos professores, muitos dos
estabelecimentos aqui abordados vêm investindo em ações capazes de
gerar u m clima de satisfação entre eles, caracterizado por acolhimento,
suporte e condições para que desenvolvam seu trabalho. Assim, o bom
entrosamento, o coleguismo, a aber tura e o incentivo a idéias novas
tornam-se marcas impor tantes.
A diretora se organiza de um jeito que, se falta um pr o fessor, ela adianta ou
bota matéria, alguma coisa para aquela turma não ficar ociosa. Por exemplo:
me ligaram, um dia em que precisaram que eu viesse mais cedo, para não
deixar os alunos ociosos. A gente tem uma certa tranqüilidade pra trabalhar,
porque quando tu tem problemas, tu pode chamar a direção, pra pedir um
apoio. (Gr upo f ocal com professores, Rio Grande do Sul)
A valorização de alunos e professores aparece de forma integ rada,
por exemplo, na escola do Espírito Santo, em sua par ticipação nos
encontros anuais da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC). Pode-se observar que a participação em atividades extraclasse
per mitiram que, em boa medida, os problemas relacionados à violência
e à de predação fossem superados. Além disso, é revelador o f ato de que
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ex-alunos retornem à escola, participando dos seus projetos e
impulsionando novas atividades, com é o caso do Pr ojeto Teatr o ede
cursos de recicl ag em e reforço, oferecidos também a outros moradores
do bair ro. Uma par te considerável dos professores e dos ex-professores
da escola, bem como da Universidade Federal do Espírito Santo, tem
envolvimento muito intenso com a escola.
Outra mostra de estratégia de valorização dos professores pode
ser observada nos projetos desenvolvidos pela escola do Distrito Feder al,
onde se discutiu com os docentes o fato de terem bastante motivação
para desenvolver todas as ações correntes, apesar da baixa remuneração
comum à sua categoria. Remeteram à grande satisfação pessoal gerada
por um trabalho bem realizado. Tal satisfação, aliada à competência
profissional, acaba por se constituir como forte fator de motivação.
Assim, o reconhecimento obtido com os resultados do trabalho contribui
para um aprimoramento cada vez maior dos projetos existentes, bem
como para a criação de novos projetos.
Uma outra fonte de motivação, segundo os professores, diz respeito
aos aspectos “humanizadores” dos projetos desenvolvidos em sua escola.
Sentem-se recompensados pelos bons resultados obtidos por seus alunos
nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), pelo fato de
se afastarem das drogas e por alcançarem uma consciência cidadã. Esses
projetos, por tanto, auxiliam no resgate da dignidade pr ofissional dos
professores, afastando-os de uma prática alienada. Há, entre eles, a
consciência de que a profissão encontra-se socialmente desvalorizada e
de que o salário que recebem não é digno. Assim, um modo de responder
ao descaso governamental é justamente fazendo um trabalho de bom
nível. Os projetos, por tanto, tornam-se forma de resistência e militância
pela educação.
Outro fato constatado é o grande número de escolas ter seu trabalho
centrado no desenvolvimento de ações que valorizam a promoção de uma
identidade étnica, atentando ao exercício dos direitos culturais dos jovens.
Assim, a pluralidade da sociedade é trabalhada a partir da incorporação
de atividades capazes de refleti-la. Percebe-se a predominância de temas
voltados à cultura afro-brasileira, com a difusão de suas inúmeras
manifestações: oficinas de capoeira, dança afr o , manejo de instrumentos
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de percussão, dentre outra s. Vale destacar o depoimento da animadora
cultural de uma escola onde, a partir da constatação de que a maioria dos
alunos tinha origem negra ou nordestina e de que este atributo constituía
fonte de auto-identificação neg ativa, criou-se um grupo de dança afro.
Chegando ao local da apresentação [uma academia de dança clássica], vendo
as demais dançarinas, as alunas quiseram desistir, pois achavam que
passariam muita ver gonha com a dança que apr esentariam. As animadoras
conseguiram incentivá-las e, ao final, elas foram muito aplaudidas, receberam
homenagem especial da diretora da academia e, a partir daquele ano, a
categoria afr o foi incluída no conservatório de dança. Daquele momento em
diante, o grupo se estruturou: aumentou a participação e diminuíram as
desistências. Isso seria devido ao fato de as alunas reconhecerem suas raízes.
(Entrevista com animadora cultural, Rio de Janeiro).
Nesse contexto, os pr ojetos inovadores jo gam um papel importante,
contribuindo para a ressignificação da imagem que os alunos negros
parcela numerosa dos estudantes da escola pública possuem a respeito
de si próprios.
A valorização transparece na melhoria do desenvolvimento escolar
dos alunos. Durante a realização dos gr upos focais, pode-se obser var
jovens bem articulados, oferecendo opiniões seguras sobre diversos
temas. Apresentavam uma consciência elevada não somente a r espeito
dos problemas mais diretamente a eles relacionados, como drogas,
violência e segurança, mas também sobre sua condição de cidadãos
situados em um universo político definido.
4.1.4 O exercício do diálogo
O exercício do diálogo assume importante papel nas escolas
inovadora s, tor nando-se, possivelmente, instrumento político essencial
a uma reestr uturação de suas práticas cotidianas. Nesses estabele-
cimentos, a gestão vem se configurando mais participativa, na medida
em que a direção despe-se do caráter centralizador que historicamente
lhe foi atribuído e consegue estabelecer relações de respeito e paridade
com toda a comunidade escolar.
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Em algumas escolas, o diálogo aberto tem contribuído para a
descentralização dos processos decisórios, com resultados bastante
animadores na redução da carga burocrática, na gestão político-
administrativa e na ampliação da autonomia dos diversos sujeitos no
cotidiano.
Na escola do Rio de Janeir o, por exemplo, a descentralização do
poder de decisão se evidencia pelo regime de revezamento de horários
de trabalho e de tarefas, estabelecidos entre as diretoras, e pela
distribuição de responsabilidades entre alguns professores, alunos,
funcionários e colaboradores da comunidade.
Alunos e professores do Rio Grande do Sul demonstram ter uma
relação baseada no diálogo,norespeito enaamizade, expressões recor rentes
na f ala de diferentes atores, que transcendem o ambiente escolar. Este
ambiente de receptividade e de diálogo favorece o desenvolvimento de
atividades com os alunos. Uma professora de por tuguês do tur no diur no
destaca o fato de conseguir o empenho e a participação dos estudantes
no debate sobre sexualidade e prevenção de DST/AIDS. Além disso,
asas aos interesses manifestados por eles, ao organizar visitas a museus,
promovendo a inclusão social, ao conduzi-los por espaços até então
desconhecidos. um professor de matemática do tur no noturno que,
durante as aulas, abre espaço para o diálogo a respeito de assuntos da
comunidade, violência, aspectos do cotidiano etc., organiza churrascos
de confraternização aos sábados, com a participação de alunos e
professores. A professora de religião, por sua vez, discute questões éticas
e de for mação da cidadania, ampliando o universo, muitas vezes restrito,
que cerca tais temas. Iniciativas como as aqui exemplificadas são, ao
mesmo tempo, causa e conseqüência do clima de diálog o estabelecido
entre os atores da escola.
O diálog o cria, então, a possibilidade de se estabelecerem relações
de amizade entre alunos e professores, a partir da descoberta do que
pensa e de como vive o gr upo. Possibilita, também, conhecer e
compartilhar novos olhares e atitudes sobre o tema em discussão que,
numa perspectiva de for mação, vai repercutir na vida dos sujeitos
envolvidos.
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A nossa turma tem uma intimidade muito grande com os professores, de
convidá-los para ir em junto. A gente foi até em pizzaria com quase todos os
pr ofessores. A gente f ez churrasco no sítio do pr o fessor de matemática. Foram
todos eles, praticamente. Os professores se dão bem com os alunos.
(Entrevista com aluno, Rio Grande do Sul)
Sem dúvida, é também o exercício do diálogo fator decisivo no
processo de transfor mação da escola em instância de per tencimento e
identidade. Uma professora revela ter ainda na lembrança as marcas do
tempo em que trabalhava em um estabelecimento em que a diretora não
sabia o seu nome, embora estivesse havia um ano. Ao se referir à sua
escola atual, chama a atenção para o fato de que ninguém descarta a sua
idéia, ninguém pode mudar as coisas pensando apenas nas suas próprias idéias.
As mudanças sur gem das coisas que existem e são melhoradas. Assim, as
conversas vão ganhando continuidade e solidez. Segundo esta
professora, vão criando raízes, pois é difícil uma ár vor e[com raíz es] muito
pr ofundas ser ar rancada por um vendaval. Pode até arrancar a copa, um pedaço,
mas a raiz ela não tira.
Freire afirma que não se pode pensar pelos outr os nem para os outr os
nem sem os outr os. A significação do diálog o está no fato de que os sujeitos
dialógicos crescem um com o outro. O diálog o não nivela, não reduz
um ao outro. Ao contrário, implica um r espeito fundamental dos sujeitos nele
engajados (Freire, 1992: 117-118).
A prática do diálog o tem constituído, ainda, impor tante fator de
superação dos problemas internos de violência com que se defronta a
escola onde muitas vezes impera a lei do silêncio. Ao se referir à maneira
como habitualmente são resolvidos esses conf litos, um professor afirma
que é através da conversa, de muita conversa. Um aluno mostra como a
utilização do diálog o constitui um instrumento da escola para a criação
de situações mais apaziguadoras entre os próprios colegas: A escola está
passando pros alunos, incentivando neles o diálogo, que não deve ir pra violência,
que tem que conversar antes, não pr ecisa sair batendo. A escola conseguindo,
tão diminuindo as brigas.
O depoimento de uma professora traz para a prática as idéias de
Paulo Freire sobre o diálogo como possibilidade de conscientização.
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Segundo ela, o método da pessoa conversar é que acaba levando a outra a pensar
de uma forma diferente. Eu acho que é uma preparação, são idéias novas, que
deveriam estar presentes em outras unidades escolares. Outra professora
menciona o diálog o como fer r amenta, ele é nossa ar ma, é o nosso ar gumento,
é conscientização.
Cabe lembrar que, para Bakhtin (1990), a consciência não é
somente um fenômeno psicológico, mas também ideológico, um produto
do intercâmbio social. Assim, toda comunicação é, ao mesmo tempo,
individual e social, pois reflete, conjugadamente, uma “fala interior”
dos interlocutores e uma “fala externa”, assimilada do contexto sócio-
cultural e econômico no qual está inserida a comunidade escolar.
Neste sentido, o educador e o educando não são frutos de uma
produção isolada; o “eu” se constrói em colaboração, o que significa
dizer que os eus são autores uns dos outros, remetendo-se à linguagem como
uma criação coletiva. A linguagem nasce de um diálogo entre o “eu” e o
outro, entre muitos “eus” e muitos outros. Assim, as escolas
professores, alunos, pais, diretores e funcionários são arenas de diálogo,
importantes par a a construção de valores.
Em outra escola que eu estudei, a diretora não tava nem aí. Se matavam
na frente, chamavam a polícia, enter ra vam e era isso que acontecia.
Nesta escola é diferente, a dir etora vai atrás, se preocupa mesmo. Ela
chega todo o dia ali e per gunta “Como é que seu (...)? bem? Aconteceu
alguma coisa?”, “não, não aconteceu nada” ou “aconteceu”, “ah, então
tá, vamos conversar”. Ela é bem assim. (Entrevista com aluno,
Rio Grande do Sul)
Na maioria das escolas inovadoras, a direção tem assumido um
papel fundamental para a criação de espaços convidativos ao diálog o.
Conhecer experiências, atribuir valor ao que o outro pensa e faz, instigar
e estar aber to a novas propostas são práticas comuns entre a dir eção,
professores e alunos. Numa das escolas, por exemplo, os alunos reúnem-
se em uma sala de aula, junto com um professor, e conversam sobre
temas por eles escolhidos, a par tir dos seus interesses. Temas como sexo,
drog as, violência, relacionamento familiar, empreg o, futuro pr ofissional
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e cidadania estão entre os mais recor r entes. O nome desta experiência,
que acontece com regularidade, chama-se “Bolo com Coca”, devido ao
fato de que, durante os encontros, uma mesa com comida e
refrig erante, possibilitando um ar informal e festivo às reuniões. Tanto
nas entrevistas com os alunos quanto com a direção, houve unanimidade
em relação a uma melhora significativa no relacionamento dos
envolvidos. Segundo a dir eção:
Os encontros oferecem uma espécie de treinamento para o ato de falar e
ouvir, de explorar subjetividades, perspectivas individuais e pontos de vista.
Assim, os alunos aprendem a “conviver com” e a “tolerar” diferençasease
colocar em na perspectiva do outr o. O diálogo passa a ser mais valorizado.
(Relatório de campo, Distrito Federal)
Quando o diálogo passa a ser mais valorizado dentro da escola, as
hierarquias existentes, conseqüentemente, deixam de se configurar como
empecilhos entre aqueles que convivem a maior parte do tempo juntos
no espaço escolar. A entrevista com uma professora mostra que a relação
dos alunos com a direção se no mesmo nível que a estabelecida com
os professores: Eles têm a mesma liberdade com a direção, diálogo acessível,
não têm objeção. Com os serventes, também é assim, não tem obstáculo, né? Chegam,
chamam a pr esença da dir etora em sala de aula e falam, conversam e argumentam.
Da mesma forma, na escola do Amazonas, embora exista um espaço
privativo para a direção e os professores onde, teoricamente, não seria
per mitida a circulação dos alunos, eles freqüentavam e per maneciam
nessa dependência, demonstrando estar sempre à vontade, conversando
com os professores, realizando trabalhos de grupo.
Evidentemente, quando o diálogo passa a fazer parte do cotidiano
dos professores e se transforma na tônica da convivência dos alunos, o
retorno a situações onde tal componente não se faz presente causa
estranhamento e, freqüentemente, não-adaptação à nova realidade.
uma série de relatos de alunos que saíram da escola, passaram por outros
estabelecimentos e acabaram retornando a ela, sob a justificativa de
que ali as pessoas se preocupam contigo. Um aluno, ao tecer uma comparação
entre sua escola e outra escola tradicional da cidade, salientou o fato de
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que nela nem os professores conhecem os alunos. Não conversa. não tem
controle, os alunos podem sair quando querem.
Parece, também, haver uma identificação do controle, citado pelo
aluno, como algo positivo, que remete à qualidade das relações, à
afetividadeeàpreocupação dos professores com os estudantes. O
controle assume o significado de “ver o outro e reconhecê-lo como
importante”: Eles confiam nos alunos! A professora de artes deixa a gente sair
da escola para fazer o trabalho, desenhar, e ela sabe que a gente vai voltar.
Mesmo assim, ela quer saber quem foieoquefez. Nesse contexto,
responsabilidade e confiança são pilares impor tantes para a construção
do diálog o e da reciprocidade entre alunos e professores.
Esta questão também foi encontrada no relato de professores
que lecionam em outras escolas. Eles estabelecem comparações e
destacam como características marcantes do ambiente escolar o
respeito, as boas relações pessoais, o acolhimento da escola, a união.
Salientam estes aspectos como motivadores para o diálogo em sala de
aula e para a existência de uma relação har moniosa entre aluno e
professor. Tal como destaca um docente: Pr ofessor não é r epassador de
conteúdo. A influência que o pr ofessor vai ter na vida do aluno vai de pender de
pessoa para pessoa, da r elação.
Entretanto, os alunos e a própria direção das escolas consideram
que, para estabelecer um diálogo com o jovem, é necessário interesse,
vontade de aprender e de penetrar num universo muitas vezes distante
daquele do interlocutor. A linguagem das gírias, das entrelinhas, dos
não-ditos, da postura, das maneiras de pensar e de agir do jovem se
configura em “dialetos” nem sempre compreendidos pelos professores,
uma vez que são pouco padronizados e sofrem muitas variações, a partir
do contexto social e cultural em que vive o aluno. Embora a escola
trabalhe com a concepção de que o educando está imerso na história e
na cultura, nem sempre per mite que seus alunos ressignifiquem os
padrões estabelecidos. Nas escolas do Rio Grande do Sul e de Goiás,
por e xemplo, esta preocupação se faz presente:
Para ter um trabalho bem-sucedido com o jovem, tem que ser apaixonado
pelo seu trabalho e saber buscar, ouvir e não ser sisudo demais: Ah, vou
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tomar uma atitude, ser super-rígida, super-grosseira”. Não, não é. É nessa
hora que tu tem que chegar, conversar de uma forma leve, fazer eles verem
que tu também foi um adolescente, foi um jovem. (Grupo focal com
professores, Rio Grande do Sul)
Eu acho que o dir etoreoprofessor corr em atrás. Os pr of essor es que antes
chegavam na sala e chamavam o aluno, passavam no quadro, sentavam
na mesa e ficavam lá, escrevendo não sei o quê, agora vêem na prática,
conversam com a gente, pr ocuram entender a gente. Mudou bastante. (Gr upo
focal com alunos, Goiás)
também a preocupação, por par te dos professores, com a
ausência de diálogo dos alunos com a família. Sendo assim, atribuem à
escola esta função, a de poder aprender com o outro. Em outra escola,
tal manifestação é expressa por uma das professoras participantes de
um grupo focal: Aqui, o diálogo é especial. Muitas vezes, eles não encontram
diálogo com a família. Então, a escola tem uma preocupação muito grande de
dialogar, para for mar aquela pessoa atuante, consciente para viver o mundo, não
ver conteúdos.
Vale ressaltar que, quando o diálogo na comunidade escolar,
também aber tura para sugestões de alunos e professores e, por tanto,
mudanças no ambiente escolar, seja por conta de um professor com
pouco vínculo com os alunos ou, ainda, por conta da própria família.
Sempre que a gente percebe que um professor não está tendo um bom
r elacionamento com os alunos, a gente pede que seja feita uma r eunião.
Nós tivemos caso que foi resolvido através da conversa franca entre
pr ofessor e aluno. Às vezes, uma conversa mais par ticular, se for um caso
mais isolado, ou uma conversa coletiva, quando a sala inteira está com
problema. Procuramos resolver dessa forma. (Entrevista com
coordenador, Goiás)
O que a escola traz, abrindo esse espaço, é demonstrar que muitas pessoas
falam que no colégio muita bagunça. Você muitos pais que pensam:
Ah, não vou deixar minha filha na escola, porque tem muito menino.
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Abrindo a escola, mostrando que os alunos gostam do que fazem,
conscientiza as pessoas. Eles deixam os alunos serem mais livres,
responsáveis. O criativo é incentivar os alunos. (Gr upo focal com
alunos, Goiás)
Nota-se que muitos professores apostam na melhoria das condições
de vida dos alunos e apóiam seu desejo de fazer uma faculdade, um
curso técnico, de ser alguém, e reconhecem a impor tância do estudo para
alcançar estes objetivos: todo mundo quer ser feliz nesse mundo, todo mundo
está faz endo de tudo para ter uma vida melhor, um futur o.
Nesse item, observa-se a importância de se considerar as trajetórias
individuais em processos vinculados as ações educacionais. A postura
de um diretor, o estímulo de um professor, o entusiasmo de um
funcionário surge, na série de histórias contadas pelos atores que
compõem o universo das escolas pesquisadas, como essencial para,
muitas vezes, impulsionar processos transfor mador es para realidades
que pareciam bastante ador mecidas.
4.1.5 O trabalho coletivo
Presente na totalidade dos relatos analisados, a noção de
“constr ução coletiva é , sem dúvida, um dos marcos das experiências
aqui referenciadas, constituindo, na maior par te das vezes, a principal
responsável pela existência dessas ações. Freqüentemente, é tal noção
que orienta o trabalho das escolas, reafir mando a necessidade de as
mesmas potencializarem os recursos humanos e materiais de que
dispõem em função de projetos que privilegiem o investimento na
chamada “força do coletivo”.
Quase sempre, as ações constituem-se em um ponto de chegada e
de conf luência, fruto de neg ociações, onde se aposta na responsabilidade
de todos. Nesse sentido, pode-se dizer que não acontecem da noite para
o dia: são tecidas no coletivo com um fio articulador que, aos poucos,
vai se embrenhando no trabalho desenvolvido dentro e fora da escola,
pela maioria e em benefício da maioria. Desse modo, o mote principal
do tr abalho coletivo é a par ticipação, que pressupõe o envolvimento de
todos no pr ocesso. Não são raras as vezes em que professores mencionam
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sua impor tância, conforme mostra depoimento de uma professora : A
participação no projeto, isso mexe com a cabeça e influencia a sua vida. A gente
fica muito mais ligada na importância do grupo, no respeito aos colegas, na
importância de saber trabalhar em equipe.
Os resultados do investimento no coletivo se traduzem no fato de
dentro da escola, a maioria dos que nela atuam sabem a sua função,
como se obser vou em várias das unidades pesquisadas. Assim, a eventual
ausência dos componentes da direção não constitui obstáculo a que tudo
ocor ra nor malmente: o trabalho se g arante pelo coletivo. A escola possui
uma rotina, que é conhecida por todos, e isso facilita a sua organização.
Como bem pontua Paro (2001), uma gestão participativa e
descentralizada resultante do compromisso de todos pressupõe uma
prática de discussão coletiva, que envolve desde a divisão de
responsabilidades e a definição das funções de cada um até as decisões
sobre encaminhamentos e ações concretas. Dentro dessa estr atégia, a
coesão dos professores e demais funcionários mostra-se fundamental,
como aponta uma diretora: Não um momento em que a gente não junte os
funcionários e os professores, pois o funcionário da escola é, também, um
educador. Eles têm reuniões juntos, participam de debates, dos momentos de
confrater nização.
Ainda que a constr ução coletiva envolva a prática democrática e
o exercício do diálog o, é impor tante haver uma liderança capaz de
coordenar e dar curso às ações, mediando os conflitos e interesses que
decor rem naturalmente desse tipo de processo.
Quando a diretora assumiu a escola, isso aqui ta va aquele lixão. Primeir o,
ela foi fazendo reunião com os professores. Então, os professores foram
ajudando e, aí, também conscientizando os alunos. Era um trabalho contínuo,
mas ninguém desanimava. Quando os pais viram o resultado do trabalho
que ela estava fazendo, também começaram a ajudar . (Entrevista com
professor, São Paulo)
Um dos principais requisitos para o estabelecimento das práticas
de trabalho coletivo nessas escolas é a experiência dos sujeitos
envolvidos em ações similares em outras esferas, tais como igrejas,
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associações de moradores, g rupos de jovens, movimentos civis. Por esta
razão, constata-se a importância do estímulo ao trabalho coletivo em
diferentes âmbitos, que tal prática é capaz de reproduzir-se em diversas
instâncias da vida social. Alguns professores e coordenadores relatam
que vivências adquiridas em espaços religiosos contribuem para o
exercício do trabalho em g rupo.
Ainda que, na maior parte dos casos, o desenvolvimento das ações
obedeça a uma delegação de responsabilidades, onde cada um dos
atores envolvidos desempenha deter minado papel, o dia-a-dia escolar
também dispensa uma boa dose de solidariedade e cooperação. Nesse
caso, é comum o estabelecimento de laços de ajuda mútua, que são
decorr entes, muitas vezes, de um trabalho de equipe bem ar ticulado.
Acho que o ponto principal é essa relação bem alinhada, bem definida entre
os professores e as outras pessoas envolvidas com a escola. Aqui, um ajuda
o outr o. Por exemplo: às vezes, na hora do jornal, está passando um pr of essor
e a gente pede ajuda na r edação. Então, ele vai e uma força, mesmo se
não for essa a tarefa dele. Assim, todos procuram ajudar, tanto no projeto
do jornal da escola como em outr os projetos também. (Entrevista com
professor, Mato Grosso)
Bastante significativa e talvez a maior responsável pelas
conquistas anteriores–éamudança representada pela possibilidade de
o trabalho coletivo retirar os vários sujeitos que circulam no ambiente
escolar do isolamento. Dentre esses sujeitos, destacam-se pr ofessores e
alunos que, a par tir de um maior envolvimento, passam a dar maior
atenção ao conte xto em que se dão as práticas educativas.
A maioria das pessoas que procuram esta escola, tanto aluno quanto
prof essor, incor pora bem, veste a camisa da escola. Quer dizer, está
pr eocupada com a coletividade social. Você veja que, às vezes, você não
conhece um professor que acabou de entrar, mas daqui a pouco você começa
a conversar com ele. Aí, que o pensamento dele não é tão difícil, que
não é muito diferente daquilo que você está desenvolvendo ou quer
desenvolver na escola. Aí, a gente cresce junto! Acho que nossa escola,
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enquanto instituição, consegue passar, tanto para os alunos quanto para
os pr ofessores que aqui chegam, essa metodologia de trabalho coletivo.
(Gr upo focal com professores, Goiás)
Pode-se afir mar que um dos saldos mais positivos das práticas
assumidas coletivamente no universo dos estabelecimentos pesquisados
diz respeito à percepção de que os rumos da escola são de
responsabilidade de todos que dela fazem parte, o que, por sua vez,
demanda a adoção de uma postura que valorize um projeto educativo e
social pautado no pluralismo e na prática democrática.
O que tem de mais importante aqui e que não tinha antes? Ah, sem dúvida
os projetos que a gente desenvolve hoje e que trouxeram você à nossa escola.
Você olha em volta e vê: todo mundo aí, querendo dar sua opinião.
todo mundo querendo ajudar, influenciar na vida da escola. As coisas aqui
mudaram muito. (Grupo f ocal com professores, Pernambuco)
Ao se falar de responsabilidades coletivas, é possível fazer menção
à escola de Santa Catarina, que concebe seu projeto pedagógico a partir
de uma gestão pautada neste princípio. Assim, uma situação g eradora é
partilhada por todos os professores. Por exemplo: uma professora de
geog raf ia pediu que os alunos f ossem ao laboratório de informática enviar
e-mails para trabalhar o conceito de localização e orientação, desafiando-
os a saber até onde esses e-mails iriam chegar: Eles conectavam os onze
computador es em r ede, uma f esta! Entraram a pro fessora de inglês pra traduz ir
com eles, a de matemática trabalhando porcentagem, confeccionando gráficos...
Então, é uma atividade que todos gostam, todos trabalham.
Esta prática de trabalho é também apontada como uma
metodologia importante a ser adotada pelas escolas, pois, como aponta
outra professora, a mídia é uma g rande concor rente da escola em termos
de atrair a atenção dos alunos e inventar novidades. Por isso, a gente tem
que sentar e discutir a maneira de trabalhar. O profissional tem que criar junto,
pois o que certo é complicado, é difícil de alcançar se não for em equipe.
Entretanto, tr abalhar coletivamente não é tarefa fácil. É necessário
superar barreiras, uma vez que a afinidade pessoal e profissional é algo
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que não existe a priori, mas que vai sendo constr uída paulatinamente.
Professores de São Paulo explicitam as dificuldades iniciais que devem
ser encaradas quando se acredita na impor tância do trabalho conjunto,
embora ressaltem que, ao final desse processo, o corpo docente
amadurece: Trabalhar com alguém diferente de você significa outras idéias, outro
temperamento... Vocês vão ter que pensar juntos sobr e uma mesma coisa. Aí, tem
que aprender a lidar com o diferente, com o outro, tolerar e ouvir pra ser ouvido,
pra ser tolerado.
4.1.6 A par ticipação da família e da com unidade
A participação da família em que pese ser reconhecida como de
fundamental importância na vida da escola ainda se de for ma
bastante limitada na maior parte dos estabelecimentos. Nas escolas aqui
abordadas, entretanto, obser vou-se a existência de diversas estratégias
voltadas à constr ução de relações positivas e compartilhadas com as
famílias e as comunidades.
Nos estabelecimentos do Rio de Janeiro, de São Paulo e do Distrito
Federal, as reuniões de familiares dos alunos diferenciam-se das
convencionais, não apenas pelo fato das escolas os receberem com
lanches, chás ou flores, criando um clima receptivo e acolhedor. Em
vez de se discutir a indisciplina de cada aluno e suas notas, a conversa
gira em torno do desenvolvimento dos estudantes, seus avanços e
dificuldades. Os prof essores também falam a respeito da importância
dos pais acompanharem o dia-a-dia escolar de seus filhos e estarem
atentos a suas atitudes e compor tamentos.
Nas reuniões com os pais, fazemos um planejamento, uma estratégia para
segurá-los. Não ficamos falando mal do aluno... Fazemos dinâmicas com
texto, música, caf ezinho. Quer emos eles dentro da escola. A comunidade é
um importante parceiro na segurança e no sucesso dessa escola. (Entrevista
com professores, Rio de Janeiro)
Em outra escola, pode-se constatar o fato da mesma estar sempre
aberta aos pais, que costumam comparecer em peso às reuniões bimestrais
e às a tividades realizadas. Na verdade, obser va-se que essas escolas
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enfrentam de frente o desafio de sair do círculo vicioso de
culpabilizações: escola x família, família x escola, na tentativa de
encontrar novas formas de relacionamento, mais dialógicos, tolerantes
e solidários, reconhecendo a diversidade das composições familiares
própria das sociedades contemporâneas.
Vale ressaltar que, em todos os casos analisados, o trabalho
exercido pelos responsáveis pela coordenação das ações nas escolas não
prescinde do estabelecimento de múltiplas parcerias e da constante
realimentação das bases que sustentam tais parcerias. Por esta linha,
obser vam-se unidades cujas alianças são realizadas no interior da escola
e fora dela, como bem ilustra o depoimento que se segue:
A comunidade aqui apóia muito a diretora, valoriza o trabalho dela e ela
também valoriza o pessoal que vem até aqui participar com a gente. Ela
recebe todo mundo muito bem. Os pais, aqui, têm os mesmos direitos que os
filhos têm. Eles entram na escola, participam das reuniões, participam da
mostra cultural. Enfim, participam do dia-a-dia. (Gr upo focal com
professores, São Paulo)
Com relação à comunidade, o investimento em sua participação
efetiva no dia-a-dia foi, igualmente, a saída encontrada por muitas
escolas para aproximar seu trabalho das legítimas aspirações da
população, em entor nos particularmente violentos e problemáticos. Para
tanto, a visão da direção sobre o papel da instituição tem peso impor tante,
como ressalta uma das diretoras, quando afir ma que par te do princípio
de que a escola pública não pertence a nenhum governador, a nenhum secr etário
de educação e a nenhum dirigente. Na opinião da educadora, a escola constitui-
se em bem da comunidade onde se insere, comunidade essa a quem
cabe preser vá-la: Para pr eservá-la, é necessário estar dentr o dela, nos dizendo
o que quer do ensino, suas necessidades, ajudando a administrá-la. acreditamos
na educação que está envolvida com todos os segmentos da sociedade.
Em seu de poimento, a diretora destaca, ainda, acreditar que a
Educação não é de responsabilidade exclusiva do governo: É de todos,
dos dirigentes, do corpo docente, da comunidade. De fato, em sua escola, a
partir de inúmeras reuniões entre diferentes lideranças comunitárias e
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professores, funcionários e alunos, chegou-se ao estabelecimento de um
plano de trabalho conjunto, visando à melhoria do a tendimento e,
conseqüentemente, a uma relação har moniosa. Esse plano, além de
possibilitar a co-responsabilização por parte de todos os envolvidos,
constituiu a base para a criação de diversos projetos voltados ao
interesse coletivo.
Vale atentar ao fato de que, se não uma g rande diferença no
estado físico das escolas pesquisadas em relação à maioria das escolas
públicas do país, é com respeito às práticas e atitudes dos integrantes
da escola e do seu entorno face ao espaço escolar que se estabelece o
novo. Em São Paulo, a pichação, a de predação e a sujeira eram uma
constante, por parte de alunos e membros da comunidade. O
funcionamento em quatro tur nos, praticamente ininter ruptos, dificultava
a manutenção da limpezaeaorganização. Os índices de evasão e
repetência eram altos e a unidade não desenvolvia qualquer tipo de
trabalho pedagógico para reverter essa situação. Várias famílias
recusavam-se a matricular seus filhos. Muitos jovens relataram a
vergonha que sentiam por estudar em um lug ar tão hor rível. Entretanto,
a gradativa organização da comunidade e a mudança na direção do
estabelecimento deram início a uma série de transformações inter nas e
externas: as famílias e a comunidade foram convidadas ao diálogo e
conclamadas a apoiar medidas capazes de alterar o perfil da escola. O
depoimento de sua diretora é esclarecedor:
Criamos mutirões para melhorar a infra-estrutura e os pais passaram a
colaborar com a limpezaeasegurança dos alunos. Em sistema de rodízio,
fr eqüentavam diariamente a escola e colaboravam com tudo que era necessário.
Procuramos, também, uma aproximação com as entidades do bair ro,
principalmente a associação dos moradores. (Entrevista com diretora,
São Paulo)
A participação da comunidade, muitas vezes, preenche
determinadas carências das escolas. Como na maioria delas
dificuldades para a obtenção de recursos para investimentos,
notadamente os de infra-estr utura, é comum a realização de pequenas
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
refor mas com a participação dos moradores e comerciantes locais. Estas
iniciativas têm-se revelado um bom mecanismo de aproximação com o
entorno, como destaca uma professora : O impor tante é conquistar as pessoas,
trazê-las para dentro da escola, mostrar que a escola também é um espaço delas,
do qual elas têm que se apr opriar. Nessa linha, parece interessante o
depoimento de um pai de aluno, que atua voluntariamente na escola em
atividades culturais.
A gente começou aqui com trabalho voluntário, faz tempo. Cr esceu muito
a nossa ar te, aqui dentr o. A gente faz um trabalho educativo. Pr ocura
passar não a capoeira em si, mas a cultura, a parte instrumental, a
parte poética que a capoeira oferece. A gente procura sempre estar viajando,
fazendo passeio, intercâmbio das pessoas daqui com as pessoas de fora.
A comunidade sempre participa com a gente. (Entrevista com
responsável, Mato Grosso)
Vale destacar a situação de algumas unidades que encontraram no
desenvolvimento de práticas de trabalho voltadas para dentro e para
fora da escola a solução tanto para a preser vação de seu patrimônio
físico quanto para o desempenho de suas funções educativas, como relata
uma professora ao relembrar os problemas que havia quando a escola
era arrombada ou quando se instalava briga e confusão em suas
dependências: A coisa mais importante que a gente fez e continua fazendo
foi trazer a comunidade para trabalhar com a gente. Depois disso, os nossos
problemas quase acabaram. Agora, a gente até consegue dar aula! [risos].
4.1.7 A ressignificação do espaço físico
Um aspecto que vem chamando a atenção é o processo de
ressignificação dos espaços da escola. Nota-se que, em alguns
estabelecimentos, a f or ma como tais espaços vinham sendo utilizados
tornou-se alvo de preocupação. Alguns diretores a tentaram par a a
existência de áreas sub-aproveitadas no interior das unidades, seja porque
eram abandonadas, sujas e pouco freqüentadas, seja porque eram
utilizadas para infrações, como o consumo de drogas. Procurou-se, então,
estabelecer uma nova dinâmica para seu uso, def inir novos significados.
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Na escola de Mato Grosso, constatou-se uma situação bastante
significativa: o “porão” anteriormente abandonado, a ponto de, em
certa ocasião, ter servido de esconderijo para um indivíduo armado
tornou-se área voltada para manifestações artísticas e culturais, levadas
a efeito pelos próprios alunos. Abrig a a fanfarra , ali localizada pelo fato
de as condições acústicas evitarem que o som cause transtorno a outras
atividades escolares. O g r upo ensaia cotidianamente, apresentando peças
da música popular brasileira e de outros gêneros, como a soul music eo
funk. Tal situação demonstra a capacidade da escola ocupar cer tos
espaços simbolicamente importantes, atribuindo novos valores ao seu
uso. A preocupação em associar qualidade e criatividade vem se
revelando como uma estratégia bem-sucedida.
Em outra escola, a de São Paulo, uma pequena inicia tiva trouxe
mudanças impor tantes para a conser vação do espaço. O estabelecimento
era conhecido como “bar racão”, por ser muito castig ado e depr edado.
Segundo professores, alunos, pessoas da comunidade e a própria dir eção,
era difícil evitar as invasões. No aspecto pedagógico, a escola era tida
como “péssima”, o que levava muitos pais do entorno a matricular seus
filhos em outros locais, ainda que tal atitude implicasse em custo de
transpor te. A mudança de dir eção g erou uma nova orientação. Segundo
a diretora, os pr oblemas eram tantos que não sabíamos por onde começar. Uma
das iniciativas mais surpreendentes foi a instituição do “lava pés”. Como
muitas das r uas próximas eram de ter ra, todo aluno antes de entrar
deveria lavar os sapatos para manter limpo o interior da escola. Esta
prática g erou uma preocupação dos alunos em procurar conservar outros
espaços da escola e constituiu mote para desdobramentos importantes,
estabelecendo-se novos padrões de interação e relacionamento. Aos
poucos, a escola passou a ser reconhecida de outra forma, tanto pelos
alunos e professores quanto pelos moradores do entorno, que começara m
a par ticipar de sua preser vação.
Obser va-se, por tanto, que determinadas mudanças realizadas na
dinâmica dos ambientes sociais, seja pela reforma física ou pela ocupação
de espaços vazios, g eram transfor mações de atitudes e compor tamentos.
Percebe-se que as iniciativas que visam org anizar e preservar o espaço
físico tr azem, em seu bojo, a conce pção de uma proposta peda gógica
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calcada na constr ução de uma escola capaz de atender aos interesses de
alunos e professores, figuras decisivas. Tais procedimentos singularizam
o jovem, o professor e a escola, permitindo que este espaço seja especial
para todos.
Na escola do Distrito Federal, uma experiência aparentemente
simples, mas que demanda disposição pedagógica do g rupo docente,
resultou na diminuição do abandono escolar e no maior interesse dos
alunos em par ticipar das aulas. Segundo a direção, a organização da
escola em salas-ambiente trouxe uma série de vantagens, sendo mais
destacado o fato de que os alunos e os professores encontram uma sala
or ganizada para a aula, o que re pr esenta economia de tempo, além de uma aula
qualitativamente melhor .
uma grande preocupação com o investimento em ações que
levem à mudança da imagem negativa da escola públic a e à valorização
do espaço escolar. Como afirmou a coor denadora da escola de Alag oas,
a escola vem se empenhando em melhorar as áreas para o esporte, para as atividades
artísticas e para a biblioteca, para dar oportunidade aos alunos de conhecer outros
espaços da cidade.
A valorização do espaço escolar vista aqui a partir de medidas
de investimento, preser vação e manutenção da infra-estrutura a parece
como uma das estratégias de conscientização e elevação da auto-estima
de todos os envolvidos. Como salientou a diretora da escola de
Pernambuco, cuja fala remete à compreensão de cidadania como um
conjunto de ações e práticas concretas, indissociáveis do cotidiano: Não
adianta nada trabalhar a impor tância da conser vação da Amazônia se eu não
conser vo o lugar em que eu vivo, o meu espaço. No fundo, quer emos trabalhar
ética e cidadania.
A existência de um espaço físico limpo, ordenado e bem ocupado
constitui aspiração de todos os integ rantes da comunidade escolar. Nos
estudos realizados, foi possível obser var diferentes estratégias, que
per mitem dar um novo significado às instalações da escola, valorizando
a integração das pessoas com o seu ambiente.
É importante ressaltar, que algumas das escolas que compõem
esse estudo também estão em estado precário, com paredes descascadas,
pichadas, riscadas, sujas e, em alguns momentos, ameaçadas de invasão
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por g angues e bandos do entor no. Entretanto, essa situação não impede
a realização de deter minadas iniciativas que visam à melhoria do
ambiente escolar e à diminuição da violência.
O uso de computadores pelos alunos, conjugado ao acesso à
internet, em algumas escolas inovadoras, pode estar indicando uma
situação diferenciada. Tal constatação contrapõe-se a resultados de
pesquisas da UNESCO
30
, que relatam queixas de alunos a respeito da
inexistência de computadores e de acesso à internet para seu uso. Neste
sentido, constata-se que estas escolas, embora medianas em termos de
recursos materiais, disponibilizam seus equipamentos para toda a
comunidade escolar.
Como a maioria das escolas tem dificuldades em obter recursos
para investimentos em infra-estr utura, muitos estabelecimentos optam
por realizar pequenas r efor mas com a par ticipação de moradores e
comerciantes locais. Tal tipo de atividade mostra-se igualmente útil para
que a comunidade possa também ajudar a escola a encontrar soluções
para os pr oblemas de invasão, de predação e pichação, como exemplifica
uma diretora: Os pais começam a cobrar dos seus filhos, e isso ajuda no trabalho
da escola . Na fala da diretora da escola de Alagoas, essa situação também
aparece com destaque:
Apesar da nossa comunidade ser muito problemática, a relação comunidade-
escola é boa. Fizemos, outro dia, um mutirão de lixo, acompanhado de
caminhada e car r eata. Trouxemos car r o de som, di vulgando o trabalho.
Pintamos e consertamos o mur o. Com isso, eu sei que ninguém mais coloca
saco de lixo no muro da escola. Ela está limpa! Antes, tinha dia que você
chegava aqui e nem conseguia dar aula, era uma podridão. (Entrevista
com diretor, Alagoas)
Registraram-se, na quase totalidade das escolas, reclamações de
alunos e professores sobre certas ações desrespeitosas ao patrimônio
público, praticadas por outros alunos: muitos atos de “vandalismo” são a
30
Violências nas escolas (Abramovay e Rua, 2002); Escolas de paz (Abramovay et al., 2001).
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
eles atribuídos. No entanto e talvez seja este um diferencial das escolas
inovadoras –, observa-se que existe vigilância e controle inter no com
relação a estes alunos, por parte dos professores ou dos próprios colega s.
Acompanhando a vigilância do patrimônio, as escolas, de acordo
com suas possibilidades, investem na recuperação do espaço físico como
estratégia para a diminuição das depr edações. Obser vou-se que elas
procuram melhorar e ampliar suas instalações, adquirindo novos
equipamentos (vídeos, computadores, carteiras etc.) e realizando obras
de infra-estr utura (construção de quadras de espor tes, pavilhões, reforma
de salas, instalação de ventiladores, manutenção dos equipamentos).
Medidas como essas têm-se revelado de extrema importância, pois
conseguem interessar e motivar tanto à comunidade escolar como à do
entorno, contribuindo para resg atar a imagem positiva da escola.
É notória a relação por vezes tensa da escola com o seu entor no.
Obser va-se que os bairros onde ficam situadas as escolas g eralmente são
desprovidos de equipamentos sociais públicos, tais como hospitais, postos
de saúde, bibliotecas, centros culturais, áreas de lazer etc., sendo a escola,
às vezes, a única opção de lazer. Como relata uma professora do Rio
Grande do Sul, a escola acaba sendo compelida a ficar mais tempo aberta
para os alunos: Eles querem estar na escola todo o tempo, jogando bola... A escola
é uma grande parte da vida deles. Ao invés de ir ao shopping, eles vêm pra cá.
Essa percepção leva, em muitos casos, a um arranjoeauma
organização da unidade escolar concebidos de f orma a “protegê-la” da
ameaça externa policiamento na porta da escola, portões fechados e
vigias. Entretanto, a despeito de tais iniciativas, o estudo nas quatorze
escolas revela que certas medidas de “proteção” do patrimônio não são
eficientes se não vierem acompanhadas de ações que visem à mudança
de comportamento e de atitudes em relação ao ambiente escolar, como
sugere a fala abaixo:
O grande desafio é justamente isso, colocar na cabeça de todos da comunidade
que a escola está no bair ro e pertence ao bairr o e todos eles têm que cuidar,
inde pendente de ter um envolvimento dir eto. U m par ente estudando ou
trabalhando nela, tem que cuidar da escola. (Entrevista com diretor,
Amazonas)
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Tal inte g ração efetua-se com a criação de cer tos mecanismos de
participação da comunidade nas atividades da escola, assim como no
uso do espaço escolar. Muitos r elatos enfatizaram a impor tância de se
“conscientizar” os moradores locais sobre a necessidade da preservação
e conservação das instalações escolares. Como sug ere um aluno, depreciar
o local em que estudamos e moramos significa depreciar a nós mesmos.
4.1.8 O incremento da sociabilidade e a constr ução do
sentido de per tencimento
As diversas for mas de convivência também são valorizadas e
colocadas como condição para o avanço do trabalho educativo. Saídas
para passeios com alunos têm sido aproveitadas como momentos
possíveis para se trabalhar a colaboração e a solidariedade entre eles,
compartilhando vivências e histórias de vida.
A idéia de transformação dos espaços inter nos tem como objetivo
a melhoria da qualidade de ensino, por meio da maior motivação dos
alunos e dos professores. Ao serem criados ou ampliados os espaços de
sociabilidade, possibilita-se sua maior integ ração.
Na escola do Distrito Federal, desenvolve-se uma experiência na
qual os alunos de um determinado tur no têm atividade alternativa em
outro. Reúnem-se em uma sala de aula, sob a coordenação de um
professor, e conversam sobre assuntos previamente estabelecidos por
eles próprios, a par tir de seu interesse. Temas como sexo, drog as,
violência, relacionamento familiar, emprego, futuro profissional e
cidadania estão entre os mais procurados. Nas entrevistas, declararam
gostar muito dessa experiência e a apontaram como fator de significativa
mudança no relacionamento familiar. Os encontros oferecem uma
espécie de exercício dos atos de falar e de ouvir, de explorar
subjetividades, perspectivas individuais e pontos de vista. Os alunos
aprendem a “conviver com” e a “tolerar” diferençaseasecolocar na
perspectiva do outro.
Ao associar ensino com lazer e cultura, a escola amplia sua
capacidade de motivar os diferentes atores sociais (pais, alunos,
professores e funcionários) e de oferecer alternativas criativas para a
diminuição da evasão escolar e da violência interna. Na escola do Rio
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
de Janeiro, a construção de mapas das redes de relação pessoal e dos
espaços escolares significativos para os alunos
31
, levada a efeito durante
a pesquisa, evidenciou a importância que os jovens conferem à escola
como espaço de socialização. Uma aluna apontou o pátio de entrada
como lugar muito significativo, pois é onde encontr o todos os amigos r eunidos.
Outro aluno, ao desenhar sua rede de relações, representou a escola no
centro do mapa, dela partindo todas as suas ações sociais até mesmo
sua residência foi posta em se gundo plano.
Os jovens estudantes foram unânimes em af irmar que não
opção de lazer no bair ro, à exceção da oferecida pelo colégio que, ao
desenvolver atividades artísticas e culturais durante toda a semana
inclusive aos sábados e domingos –, torna-se ponto de encontro
daqueles que estão em busca de lazer. São recor rentes os casos de
alunos que creditam a esta oportunidade o fato de estarem menos
expostos à violência da rua.
Também presente nas chamadas escolas inovadoras está um
constante movimento de incorporação, em seu cotidiano, de diver sas
manifestações culturais produzidas no âmbito extra-escolar, tais como
o hip-hop, a dança afro, o grafite, a capoeir a etc. –, cujos desdobramentos,
por sua vez, são reincorporados tanto pela própria escola quanto pelo
ambiente que os originou, resultando num movimento incessante de
realimentação das duas esferas.
Em função de tais ações, muitos jovens de fora das escolas têm
seu interesse desper tado pelo teatro, pela dança e pelo desenho, entr e
outras áreas afins, o que tem favorecido o surgimento de novas formas
de organização, bem como o esta belecimento de identidade entre sujeitos
com diferentes inserções.
Esse processo vem contribuindo para o que se poderia caracterizar
como (re)construção do sentido de per tencimento em relação à escola,
na condição de espaço institucional público. Para o jovem, isso se
expressa no orgulho de ser reconhecido como aluno de uma deter minada
31
A técnica utilizada junto aos alunos dessa escola consiste no mapeamento de suas relações
significativas e dos seus espaços de pertencimento com base na vivência cotidiana, por meio
do desenho.
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escola, de zelar pelo patrimônio comum, de mobilizar-se para conquistar
melhorias e de participar ativamente das ações cotidianas e dos eventos
correntes, como revela a fala de um aluno: A partir da escola, a gente se
interessa por alguma coisa, descobre algum dom, porque aqui tem vários projetos
justamente pra gente descobrir no que é bom.
Ao possibilitar o aprofundamento das relações interpessoais e a
elevação da auto-estima, o investimento no sentido de pertencimento parece
gerar um compromisso com a continuidade das ações, como sugere um
professor ao afirmar que: Trabalhar com um grupo é bom pro seu próprio crescimento
íntimo. É ótimo conhecer e se dar bem com as pessoas... Isso acaba mudando a vida da
gente mesmo, não a vida da escola. Da mesma forma, a fala de um aluno
conta da satisfação com “o que está dando certo”: Eu acho que qualquer
pessoa consciente, que tenha juízo, que que a coisa é boa, quer mais é que ela
continue. Ninguém gosta de estragar um trabalho bem feito, se for maluco!
Nas escolas estudadas, percebeu-se uma tendência ao cultivo da
memória social. grande preocupação com o registro do planejamento
e da execução das atividades desenvolvidas, através de fotografias, vídeos
e livros. Esse cultivo da memória também toma cor po nos tempos e
espaços criados para a participação de ex-alunos e outros membros da
comunidade que mantêm vínculos criativos e nutrem afetos com a escola.
A permanência dos sujeitos no espaço da escola é significativa
para a compreensão das inúmeras referências que tivemos sobre o
sentimento positivo de per tencimento a esse espaço escolar público.
No relato de alunos, professores, diretores e funcionários, as histórias
de suas escolas parecem sempre presentes, ainda que, muitas vezes, nas
entrelinhas. Cada vez mais, eles se vêem nelas incluídos.
4 .2 INVESTINDO NO BOM CLIMA ESCOLAR E EM
ESTRATÉGIAS QUE FAZEM A DIFERENÇA:
O PROGRAMA ABRINDO ESPAÇOS
Idealizado no âmbito de uma política global de desenvolvimento
de uma Cultura de Paz e de consolidação de valores democráticos, de
for ma a combater as desigualdades entre as nações, os elevados índices
de violência e a persistência de diferentes for mas de discriminação
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
(Noleto, 2001), o Prog rama Abrindo Espaços configura-se como
alternativa de ocupação e lazer para jovens, tendo como objetivo
contribuir para a redução dos níveis de violência registrados entre eles
durante os finais de semana, mais elevados do que os atingidos nos dias
úteis, conforme constatado por Waiselfisz (2000)
32
.
A conce pção do Prog rama resgata a impor tância da educação,
valendo-se, principalmente, do aporte conceitual oferecido por Delors
e Morin. Para Delors (1998), a educação deve ser organizada com base
em quatro pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver
juntos e aprender a ser. Morin (2000), por sua vez, defende, com vistas ao
milênio recém-iniciado, a construção de uma educação fundamentada
em “sete saberes”: as cegueiras do conhecimento (o err o e a ilusão), os princípios
do conhecimento pertinente, a condição humana, a identidade ter rena, o
enfr entamento das incertezas, a compr eensão e a ética do gêner o humano.
No Abrindo Espaços”, a escola vê-se reconhecida como locus
potencialmente privilegiado para o investimento em um processo de
mudança de atitude e comportamento dos jovens expostos, ativa ou
passivamente, à violência (Abramovay et al., 2001). Parte-se do
pressuposto de que a instituição escolar é detentora de representatividade
e respeitabilidade junto aos jovens e às comunidades, pela possibilidade
de constituir-se como espaço de referência e per tencimento, tendo em
vista a posição social que ocupa como núcleo organizado legítimo; pelo
fato de ser um local de acesso a todos os membros da comunidade,
independente de estarem for malmente a ela vinculados; pela condição
potencial que tem de se configurar como via mais informal de aproximação
entre a juventude, a família e a comunidade.
Mas não é somente do espaço escolar que se vale o Programa: sua
efetivação, fundamentada em ações de cunho cultural, artístico e
esportivo, de pende da par ticipação do coletivo da instituição diretores,
professores, merendeiras, auxiliares etc.; suas atividades incorporam-se a
práticas educativas e a outras iniciativas em curso; são utilizados seus
32
De acordo com as pesquisas do autor, um desmesurado aumento das taxas de homicídios de
jovens aos sábados e domingos, 57% mais elevadas do que as registradas durante os dias úteis.
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equipamentos e materiais. Assim, o Abrindo Espaços” conta com os
recursos humanos, técnicos e físicos disponibilizados pela escola,
conjugados em um projeto educacional consistente cujos focos são o
jovem, a própria escola eacomunidade (Noleto, 2001: 18) –, capaz de
contribuir para o for talecimento da cidadania e da participação dos jovens.
O Abrindo Espaços”, nos estados onde está implantado (Rio de
Janeiro, Per namb uco e Bahia)
33
, adquire características específicas, de
acordo com a realidade local, confor mando-se por meio de parcerias
com secretarias de educação e outras instituições e organizações da
sociedade civil.
De for ma g er al, o Prog rama é operacionalizado através da aber tura
de escolas nos finais de semana, de preferência em unidades de ensino
que disponham de espaço físico adequado laboratórios de informática,
quadras de esporte, bibliotecas etc. –, localizadas em áreas de elevada
incidência de violência e com poucas alternativas de lazer e cultura.
Seu implemento se através da realização de oficinas e ações diversas,
selecionadas a par tir de consulta à juventude local. Tais oficinas são
ministradas, na maioria das vezes, por voluntários, preferencialmente
jovens e membros da comunidade do entorno escolar, onde são
desenvolvidas atividades na área da cultura, dos esportes, das artes e
do lazer, entre outras do interesse da juventude.
Uma das marcas mais importantes do Abrindo Espaços”,
entretanto, vem a ser o seu caráter processual, explicitado no fato de
reelaborar-se cotidianamente, tendo como norte a prática da tolerância
e o respeito mútuo.
As estratégias de que se vale o Programa têm se revelado bastante
acertadas, como apontam avaliações realizadas desde o início de suas
atividades. Não se pode negar que, o Abrindo Espaços” acumula
importantes conquistas. Por certo, os finais de semana de muitos
brasileiros vêm ganhando novas e promissoras perspectivas,
33
O Programa recebe distintas denominações locais: “Escolas de Paz”, no Rio de Janeiro;
“Escola Aberta”, em Pernambuco; Abrindo Espaços”, na Bahia. No momento, acha-se em
fase de implantação nos estados de São Paulo e do Rio Grande do Sul.
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considerando-se o fato de que a iniciativa conta com a aprovação da
grande maioria dos atores envolvidos, alcançando resultados positivos
na redução da violência intra e extra-escolar.
Algumas conquistas traduzem a importância do Programa, tais
como: a possibilidade de ampliação do universo cultural dos jovens e
dos professores; a aproximação entre a escola e a família; o
reconhecimento do espaço escolar como instância de cuidado e de não-
exposição da juventude a situações de violência; a possibilidade de se
desenvolverem novas alternativas de convivência entre jovens de
diferentes gr upos, no interior da escola ou exter namente a ela; o
estabelecimento de maior aproximação e solidariedade entre os jovens,
os professores e as comunidades, viabilizando espaços de encontro,
diálogo e afetividade.
Os resultados de avaliação realizada ao longo de 2000, sobre a
primeira etapa do Programa no Estado do Rio de Janeiro (Abramovay et
al., 2001)
34
, ressaltam o sentimento positivo despertado em seus
integrantes e o potencial demonstrado pela escola como lugar de
sociabilidade.
Ao apontar os motivos que os levavam a participar das atividades,
66,9% dos jovens pesquisados afirmar am que desejavam encontr ar amigos
e 49,3% que g ostariam de conhecer pessoas, conforme a tabela 11.
34
Durante a primeira etapa do Prog rama no Rio de Janeiro, procedeu-se a uma avaliação de
processo, como subsídio para sua eventual reorientação e ampliação. Constituiu-se de duas
abordagens complementares: quantitativa, baseada em sur vey, realizado através de
questionários respondidos por alunos, diretores e grupos de animadores das escolas
participantes; qualitativa, baseada na realização de grupos focais em seis escolas selecionadas,
com jovens participantes e com não-participantes do Programa, e com integrantes das equipes
responsáveis por seu desenvolvimento. Na abordag em quantitativa, essa pesquisa buscou atingir
o então universo de escolas participantes (111 em todo o Estado), sendo utilizados questionários
auto-aplicáveis para os alunos (11.560 em todo o Estado) e para os diretores (89 em todo o
Estado) e integrantes dos grupos de animadores do Programa (931 em todo o Estado). Na
abordagem qualitativa, foram ouvidas, em 24 entrevistas e 19 grupos focais, cerca de 220
pessoas na área metropolitana do Ri o de Janeiro, r esultado de 34 visitas a escolas selecionadas
nos municípios do Rio de Janeiro, Niterói, São Gonçalo e São João do Meriti.
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367
Estes índices reforçam a percepção da escola como espaço legítimo
do estabelecimento de relações sociais potencializados pelo Programa.
O sentimento positivo está igualmente presente na opinião de
jovens e animadores
35
com relação ao impacto das atividades
desenvolvidas na redução da violência, como demonstra a tabela 12.
TABELA 11 Razões de participação no Programa Escolas de Paz, segundo
os jovens, 2000 (%)
Fonte: Avaliação Escolas de Paz, UNESCO, 2000.
35
Responsáveis pelo desenvolvimento das atividades do Pro grama no Rio de Janeiro, em sua
primeira etapa.
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368
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Da mesma forma, o Prog rama é reconhecido por sua potencialidade
em outras categorias de demandas e necessidades sociais, como é
possível obser var na opinião de animadores sobre seus resultados,
conforme o g ráfico 1.
TABELA 12 Avaliação de jovens e animadores quanto ao impacto do
Programa (%)
Fonte: Avaliação Escolas de Paz, UNESCO, 2000.
GRÁFICO 1 Avaliação,pelos animadores,dos resultados do programa,
2000
Fonte: Avaliação Escolas de Paz, UNESCO, 2000.
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369
O espaço do Programa Abrindo Espaços na Bahia é reconhecido
como uma instância pública de caráter único, no qual as opor tunidades
são democr atizadas.
Como na minha rua não tem lazer o que eu faço? Venho tomar curso no
Abrindo Espaço. Eu venho aqui e me di virto à beça (...) tomando todas as
aulas que queria ter. Eu não vou pagar, venho para cá, que é de graça, e
acabo me divertindo e aprendendo outras coisas mais. (Beneficiários,
Avaliação do Prog rama Abrindo Espaço na Bahia, 2003)
Também no que diz respeito à par ticipação dos jovens alunos
ounão–edeoutros integrantes das diferentes comunidades nas ações
desenvolvidas, a avaliação em pauta revelou que sua presença foi
bastante expressiva, colaborando para o fortalecimento do processo de
aproximação entre as escolas e seu entorno. Alguns exemplos são
significativos, como o de um adolescente pichador do Rio de Janeiro,
com diversas passagens pela polícia, que, a partir do Programa, voltou
para a escola e tornou-se disputado “grafiteiro”, cujo trabalho passou a
desper tar for te interesse. Da mesma forma, outro caso é relatado no
Programa na Bahia:
Eu pichava tudo, todos os monumentos importantes da cidade. Na minha
cabeça, antes, era assim: quanto mais importante, melhor! Gostava de me
juntar com a galera e arr e piar. Agora não penso mais desse jeito. Descobri
o grafite aqui no Pr ograma e quero ganhar a vida faz endo isso. (Aluno,
Avaliação Escolas de Paz, UNESCO, 2000)
(...) ele pichava a escola toda, as cadeiras, mesas, paredes e a diretora
fala assim: “Você gosta de pichar, tem um trabalho ótimo para fazer
aqui aos sábados”. (Entrevista com jovem colaborador, Abrindo
Espaços, Bahia)
Os jovens beneficiários se sentem atraídos pelos cursos e têm
oportunidades, como expressam, que não estariam ao seu alcance:
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Em Salvador, um curso de teatro pra iniciantes, tem que pagar R$ 170,00
por mês. Então ele abriu este espaço de graça para a comunidade, a gente se
descobrir. (Beneficiários, Avaliação do Prog rama Abrindo Espaço
na Bahia, 2003)
Tenho muita necessidade de aprender inglês e estou achando muito
gratificante o Pr ojeto da UNESCO, porque é assim que eu posso.
Curso de inglês, informática, capoeira (...) seja o que for, é um incentivo
pra gente. (Beneficiários, Avaliação do Progr ama Abrindo Espaço
na Bahia, 2003)
Assim, de acordo com os resultados da avaliação do Programa
Abrindo Espaços na Bahia é possível perceber o impacto dessas ações
nas mudanças de atitude dos jovens frente à vida, constr uídas na medida
em que se sentem respeitados. Destaca-se o fato de que quando
perguntados sobre o que mais gostam no Abrindo Espaços, a opção
mais apontada pelos beneficiários é “encontrar amigos”
Este Programa, certamente, se estabelece como estratégia de
constr ução de novas possibilidades de convivência e solidariedade para
aqueles que deles participam. A avaliação dos beneficiários é
extremamente positiva e todos os atores que participam deram nota
superior a 8,5, considerando valores de zero a dez, como se observa na
tabela a seguir:
TABELA 13 Beneficiários do Programa Abrindo Espaços, segundo o que
mais gostam no Programa 2002
Fonte: UNESCO, Abrindo Espaços, 2002.
Nota: Foi perguntado aos beneficiários: Do que você mais gosta no Programa Abrindo Espaços?
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Outro estudo realizado sobre o impacto do Abrindo Espaços”
nos Estados de Per nambuco e Rio de Janeir o (Waiselfisz & Maciel,
2003)
36
, confir ma o saldo positivo do Abrindo Espaços” para o
estabelecimento escolar, no sentido da redução da violência que o atinge,
interna e externamente.
A tabela a seguir, elaborada a partir da percepção de diretores de
escolas participantes e não participantes do Programa, conta dessa
situação. Como pode ser comprovado, as escolas participantes do
Abrindo Espaços”, em ambos os estados, tenderam sempre a apresentar
uma média de melhoria da situação maior nos 18 aspectos listados do
que as não par ticipantes. Em alguns itens, os benefícios apr esentam-se
bem acentuados, o que, por sua vez, ratifica os resultados do estudo
apresentado anteriormente (Abramovay et al., 2001), dando conta das
enormes potencialidades do Prog rama no curso de sua implementação
no Estado do Rio de Janeiro. Dentre os principais índices de melhoria
obser vados nessa tabela, destacam-se, tanto no RJ quanto em PE, os
seguintes aspectos: brigas na escola; indisciplina dos alunos; interesse
da comunidade pela escola; relações entre alunos, pichações; relação
entre professores e alunos; aprendizagem dos alunos; vandalismo/
depredação da escola e of ensas pessoais e humilhações.
TABELA 14 Beneficiários do Programa Abrindo Espaços, segundo
avaliação dos participantes do Programa 2002
Fonte: UNESCO, Abrindo Espaços, 2002.
Nota: Foi perguntado aos beneficiários: De0a10quenota você ao Programa Abrindo Espaços?
36
O estudo constitui-se de uma avaliação objetiva do impacto do Programa na redução da
violência, tanto na escola como no seu entor no, nos dois estados onde o mesmo foi implantado
em caráter pioneiro. Para isso, utilizou-se um modelo de avaliação capaz de, ao mesmo
tempo, oferecer respostas rápidas e apresentar solidez metodológica no mapeamento da
incidência das diversas manifestações de violências, desenvolvendo-se, em cada um dos
estados, a partir de dois grupos de escolas participantes e não-participantes (grupo de
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controle). Dessa forma, foram pesquisadas 102 escolas participantes do Programa Escolas
de Paz e igual número de não-participantes, no Rio de Janeiro, e 120 escolas participantes do
Programa Escola Aberta e igual número de não-participantes, em Pernambuco. Foram
consideradas situações intra e extra-escolares indutoras de violência e pesquisada a percepção
dos gestores escolares sobre a melhoria ou o agravamento dessas manifestações, tomando-se
os resultados do Programa nos anos de 2000, 2001 e 2002.
37
A escala corresponde às comparações realizadas pelos diretores entre a situação anterior e a
atual das escolas pesquisadas. Às respostas “melhor” foi atribuído valor 100 positivo; às
respostas “igual”, valor0eàsrespostas “pior”, valor 100 neg ativo, obtendo-se, por tanto,
uma amplitude que pode variar de 100 pontos positivos até 100 pontos negativos. Por
exemplo: se todas os diretores respondessem que a situação melhorou, o valor escalar seria
de 100 positivos; se todos respondessem que piorou, seria de 100 negativos; se a situação
fosse considerada igual, o valor escalar seria próximo de zero.
TABELA 15 Escala de melhoria
37
das escolas participantes e não
participantes do ProgramaAbrindo Espaços no RJ e PE,segundo os diretores
Fonte: Avaliação de impacto do Programa Abrindo Espaços, UNESCO, 2003.
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Outro dado a ser ressaltado é o que diz respeito às melhorias
obtidas pelas escolas participantes, a partir do tempo de sua adesão ao
Prog rama. De acordo com a tabela 16, pode-se afirmar que, segundo a
percepção dos diretores, quanto mais cedo for o ingresso no Abrindo
Espaços”, maiores serão os benefícios experimentados pelas instituições
de ensino. Assim, no caso do Rio de Janeiro, observa-se que 15 dos 18
aspectos listados têm médias de melhorias superiores nos estabelecimentos
escolares que ingressaram no Programa em 2000 em comparação àqueles
que o fizeram em 2001. Em Pernambuco, estado cuja adesão deu-se
também em 2002, todos os 18 aspectos listados apresentam médias bem
mais significativas nas escolas participantes do Programa desde 2000
do que naquelas que nele ingressaram nos anos subseqüentes.
TABELA 16 Escala de melhoria das escolas participantes do
Programa Abrindo Espaços no RJ e PE, de acordo com o ano
de início, segundo os diretores
Fonte: Avaliação de impacto do Programa Abrindo Espaços, UNESCO, 2003.
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Destaca-se ainda que, a melhoria substancial no clima interno
da escola, em virtude da redução de alguns de seus índices de violência
especialmente aqueles relativos às relações entre os alunos e às relação
destes com os seus professores tem repercussão direta na melhoria
das condições de aprendizag em dos alunos. A constatação de melhora
a partir da relação entre esses dois indicadores encontra eco nos
postulados de Abramovay e Rua (2002), quando afirmam constituir a
violência um dos principais fatores que respondem pela baixa
aprendizagem verificada hoje nas escolas brasileiras.
A pesquisa constata, também de forma muito significativa, uma
melhoria no relacionamento da escola com os responsáveis pelos alunos
e demais moradores do seu entorno: pais de alunos e membros da
comunidade, participando diretamente das atividades oferecidas pelas
escolas nos finais de semana, apropriam-se de um espaço onde, até
então, eram limitados. Tais elos estariam possibilitando a r eversão de
um conjunto de agressões e violências que as escolas vinham sofrendo, muitas
delas originadas no ambiente exter no e com for te impacto nas for mas de convívio.
(Waiself isz e Maciel, 2003: 103). Além disso, infere que, conquanto
ainda não possa dispor de indicadores muito claros, em virtude do
escasso tempo transcorrido desde o início da experiência, estaria
havendo uma leve tendência de reversão de aspectos da violência, em
sua forma mais pesada e criminal (tais como o uso e o consumo de
drogas; o porte ou o uso de ar mas de fog o etc.), nas escolas que
participam do Programa.
Concluindo o estudo, com base na análise dos g astos totais anuais
do Programa nos Estados de Pernambuco e do Rio de Janeiro com o
público atendido nos finais de semana, os autores fazem uma estimativa
de que cada participante custe, em média, por mês, cerca de R$ 1,00
em Pernambuco e R$ 2,00 no Rio de Janeiro
38
. Segundo os padrões
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No Estado do Rio de Janeiro, o Prog rama é mais caro, uma vez que, além de algumas oficinas
serem remuneradas, dentre as atividades desenvolvidas, inclui-se o oferecimento de refeições
aos participantes, momento que se caracteriza por uma grande confraternização entre eles.
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internacionais
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, tais valores são avaliados como reduzidos para programas
preventivos e consideravelmente baixos se comparados com os recursos
aplicados em atividades repressivas ou punitivas (internação de
adolescentes infratores ou prisão de jovens criminosos).
Feitas essas considerações, f ica evidente a impor tância do Abrindo
Espaços” como opção e referência para o poder púbico, tanto no sentido
do investimento em escolas e/ou sistemas onde esse tipo de ação ainda
não se estabeleceu quanto no reforço e na potencialização das
experiências ora em curso em um grande número de estabelecimentos
espalhados por todo o país, onde a construção de um bom clima escolar
tem contribuído favoravelmente para a diminuição da violência e
revalorização da educação.
39
Cerca de US$ 0,28 em Pernambuco e US$ 0,56 no Rio de Janeiro, considerando o câmbio
oficial de venda do dólar cotado a R$ 3,50, valor médio dos primeiros vinte dias do mês de
março de 2003. Vale destacar que, embora o Prog rama Abrindo Espaços” não tenha sido
alvo desta avaliação no estado da Bahia, também naquele estado o seu custo mensal, por
participante, está avaliado em torno de R$ 1,00, ou cerca de US$ 0,28.
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SUMÁRIO
Os estabelecimentos pesquisados buscam enfrentar a violência
a que estão sujeitos por meio de estratégias inovadoras,
traduzidas por uma direção sintonizada com mudanças
qualitativas na relação com os alunos, na participação das
famílias e da comunidade, no engajamento dos professores e
demais funcionários, no uso e na percepção do espaço físico, na
sociabilidade e na própria imagem da escola.
A diversidade dessas estratégias é significativa, trazendo consigo
a perspectiva de transfor mação das práticas convencionais de
gestão e organização das escolas e de seu posicionamento em
relação às questões que lhes são impostas.
O estudo analisa a importância do clima escola r e o papel do
diretor; a valorização do aluno, do professor e da escola; o
exercício do diálogo; o trabalho coletivo; a participação da
família e da comunidade; a ressignificação do espaço físico; o
incremento da sociabilidade e a constr ução do sentido de
pertencimento.
A existência de um “bom clima” é destacada pela sintonia entre
a expectativa dos alunos e o cumprimento da função de ensinar
pela escola, traduzida nos seguintes aspectos: o seu papel como
espaço de “cuidado”; a possibilidade de permanência dos alunos
no espaço escolar fora do período específico das aulas; a
realização de uma gestão mais aberta e igualitária, na qual se
processa maior integ ração entre a dir eção, os docentes e outros
funcionários; a coesão dos integrantes; a abertura e o respeito
com que se caracterizam as relações mantidas pela “equipe” da
escola com os alunos; o investimento na sociabilidade; a
realização de projetos e a incorporação destes ao cotidiano da
escola e ao projeto político-pedagógico vig ente, entre outros.
Tais características podem produzir transfor mações, como a
redução da violência e das mais variadas for mas de exclusão.
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A gestão aberta à mudança constitui traço comum às escolas
inovadoras, implicando transformações nos modos
convencionais de administração: a abordagem direta das questões
relacionadas com a violência, para que os problemas não se agravem
ou tomem pr oporções incontor náveis; o estímulo e a criação de
condições para que as alunas-mães possam estudar tendo um
espaço educativo para seus filhos; a valorização dos alunos, a
partir de diferentes estratégias entre elas o acesso a bens
materiais e culturais; o diálogo como instrumento para a
descentralização dos processos decisórios, contribuindo para a
redução da carga burocrátic a e a ampliação da autonomia dos
professores e alunos.
O diálogo possibilita conhecer e compartilhar novos olhares e
atitudes sobre os diferentes temas sociais e pedagógicos
que, numa perspectiva de for mação, vão repercutir na vida dos
alunos e no processo de transformação da escola em instância
de pertencimento e identidade.
A direção tem assumido um papel fundamental para a criação
de espaços convidativos ao diálog o. Conhecer experiências,
atribuir valor ao que o outro pensa e faz, instigar e estar aberto
a novas propostas são práticas comuns entre a direção,
professores e alunos.
Os professores vêm-se preocupando com a ausência de diálogo
dos alunos com a família. Sendo assim, atribuem à escola esta
função, a de poder aprender com o outro.
A “constr ução coletiva” é um dos marcos das e xperiências aqui
referenciadas. As ações constituem-se em ponto de chegada e
de confluência, fruto de negociações, onde se aposta na
responsabilidade de todos. Nesse sentido, pode-se dizer que não
acontecem da noite para o dia: são tecidas no coletivo com um
fio articulador que, aos poucos, vai se embrenhando no trabalho
desenvolvido dentro e fora da escola, pela maioria e em
benefício da maioria.
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A existência de estratégias voltadas à constr ução de relações
positivas e compartilhadas com as famílias e as comunidades é
uma tônica nas escolas. Em vez de se discutir a indisciplina de
cada aluno e suas notas, a conversa gira em torno do
desenvolvimento dos estudantes, seus avanços e dificuldades.
Com relação à comunidade, o investimento em sua participação
efetiva no dia-a-dia foi, igualmente, a saída encontrada por
muitas escolas para aproximar seu trabalho das legítimas
aspirações da população, em entor nos par ticular mente violentos
e problemáticos.
Não uma grande diferença no estado físico das escolas
pesquisadas em r elação à maioria das escolas públicas do país.
É com respeito às práticas e atitudes dos integrantes da escola e
do seu entor no f ace ao espaço escolar que se estabelece o novo.
A participação da comunidade, muitas vezes, preenche
deter minadas carências das escolas. É comum a realização de
pequenas reformas com a participação dos moradores e
comerciantes locais. Estas iniciativas têm-se revelado um bom
mecanismo de aproximação com o entor no.
Chama a atenção o processo de ressignificação dos espaços da
escola. Os diretores atentam para a existência de áreas sub-
aproveitadas, procurando estabelecer uma nova dinâmica para
seu uso. As mudanças realizadas na dinâmica dos ambientes
sociais g eram transformações de atitudes e compor tamentos.
A aquisição de novos equipamentos e a realização de obras de
infra-estr utura são medidas que têm se revelado importantes,
pois interessam à comunidade escolareàdoentorno,
contribuindo para resgatar a imagem positiva da escola.
Associar ensino com lazer e cultura amplia a possibilidade da
escola de motivar os pais, alunos, professores e funcionários e
de oferecer alternativas criativas para a diminuição da evasão
escolar e da violência interna.
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A maioria dos jovens estudantes afirma que não opção de
lazer no bairro, à exceção da oferecida pela escola, que, ao
desenvolver atividades artísticas e culturais durante toda a
semana inclusive aos sábados e domingos –, torna-se ponto
de encontro daqueles que estão em busca de lazer.
É constante o movimento de incorporação de manifestações
culturais produzidas no âmbito extra-escolar nas escolas
inovadora s, tais como o hip-hop, a dança afro, o g r afite, a capoeir a
etc. –, cujos desdobramentos são reincorporados pela escola.
As características e os resultados do programa Abrindo
Espaços”, desenvolvido a par tir de iniciativa da UNESCO,
possibilitam o investimento integrado em estratégias inovadoras,
com resultados bastante promissores na instalação de um bom
clima escolar, na redução da violência e na melhora das condições
de aprendizagem.
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CONCLUSÃO
A questão da violência é trabalhada no dia-a-dia com todo mundo, nas
pequenas ações e atitudes, no tratamento com as pessoas, no afeto com o
semelhante. Aqui, todos fazem esse trabalho. (...) Ninguém agride quem
lhe trata bem: nem criança, nem jovem, nem adulto. Eu não quer o agr edir
quem me afeto. É possível convi ver com muitas pessoas sem ser agressi vo.
Todas essas posturas estão integradas às atividades cur riculares.
reuniões semanais em que discutimos a importância de trabalhar os
comportamentos. Se for necessário, fazemos até reuniões diárias. Acho
que nossa força está nisso: não deixamos nada pra depois...” (Entrevista
com diretora, São Paulo).
Numa época como a que vivemos, quando as mais diversas
for mas de violência insistem em se tor nar um imperativo do dia-a-dia,
atropelando a todos em sua rápida escalada, seria extremamente fácil
sucumbir ao confor mismo. No entanto, é exatamente o oposto o que
as histórias aqui registradas nos contam, pois elas constituem, em sua
própria essência, mecanismos de prevenção e enfrentamento de
situações adversas, que muitos se acostumaram a classificar de “fora
de controle”, mas que podem ser revertidas. Provas disso são as
mudanças aqui relatadas que expressam o compartilhamento de
diferentes ações e estratégias desenvolvidas localmente por segmentos
sociais tão diversificados quanto as culturas de que fazem parte.
Os caminhos percorridos pelas escolas são múltiplos, refletindo
inúmeras especificidades locais, tais como características próprias das
redes às quais se vinculam, sua evolução histórica, peculiaridades socio
espaciais etc. A riqueza dos processos aqui apresentados repousa,
justamente, no fato de que cada uma dessas escolas constr uiu o seu
próprio caminho à luz tanto de sua trajetória e potencialidades, como
de suas limitações, pois confor me afir mam diretores, professores e
alunos: receitas prontas não existem.
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No entanto, e apesar de suas par ticularidades, carregam o potencial
de gerar um conhecimento global capaz de colaborar para a diminuição
da exclusão e para a promoção de uma maior integração social, visto
que agir localmente é agir globalmente (Ler oy, 2001). Por este motivo, acredita-
se que suas questões singulares podem contribui r e muito para a
difusão e ampliação do conhecimento acerca de uma área ainda pouco
explorada na recente literatura brasileira, com o é o caso da prevenção e
do enfrentamento de situações relacionadas às diversas for mas de
violência presentes nas escolas.
Deve-se também frisar que este estudo está centrado em algumas
das diversas facetas desse fenômeno, pois, como afirma Debarbieux, não
pode haver conhecimento total sobre violência sobre a violência social na escola
porque tudo o que nos é possível é obter representações parciais dela. E temos que
aceitar esse fato, ou nos tornaremos prisioneir os da fantasia de onisciência, que é
tudo, menos científica (Debarbieux, 2002: 20). Deste modo, a expectativa é
que ele possa contribuir, dentro de seus limites, para um melhor
conhecimento de experiências que, conforme as aqui relatadas, apostam
nas escolas como espaços capazes de potencializar a idéia de que o homem
é vulnerável, mas que existe um impulso ético para aliviar seu sofrimento,
quando possível, e oferecer segurança a cada indivíduo (Cuéllar, 1997: 47).
Isto posto, par te-se para a apresentação das conclusões do presente
estudo, at ravés da abordag em de questões que parecem essenciais para
a constr ução de uma Cultura de Paz no interior dos estabelecimentos
escolares, ao mesmo tempo em que também se procura, em algumas
ocasiões, relacionar o conhecimento por ele produzido com outros
realizados pela Unesco, par ticular mente aquele que lhe deu origem,
intitulado Violências nas Escolas.
De modo geral, as ações desenvolvidas pelas escolas inovadoras
apontam que é possível a implantação concreta de uma política pública
voltada tanto para a prevenção e o enfrentamento da violência quanto
para a melhoria das condições de acesso e per manência na escola. Par a
tanto, tornam-se fundamentais, entre outras medidas, o investimento
na melhoria de qualidade do ambiente escolar e o reconhecimento de
que a instituição e seus sujeitos devem ser tratados da mesma forma como nós
próprios gostaríamos de ser tratados (Cuéllar, 1997).
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Outro aspecto surpreendente é o fato de tais escolas, embora
situadas em contextos de imensas precariedades materiais, internas e
externas ao ambiente escolar, atualizarem a possibilidade de se fazer
uma educação capaz de produzir novas solidariedades. Desta for ma, as
experiências constituem-se práticas sociais que são construídas por uma
série de sujeitos que, direta ou indiretamente, estão presentes no
cotidiano escolar: alunos, professores, funcionários, famílias e
comunidade.
É também a partir de processos contínuos repletos de erros,
acertos, conflitos e tensões que tais sujeitos reconhecem e identificam
as mudanças (que, por sua vez, não se processam por meio apenas de
um único elemento de inovação isolado, mas de um conjunto de práticas
que vão se integrando ao cotidiano), levando em consideração o tempo
para a sua constr ução e o reconhecimento da existência de práticas
anteriores que as possibilitaram.
Um dado importante, e que vem contrariar uma tendência
obser vada em muitas escolas brasileira s,éofatodeagrande maioria
delas constr uírem respostas à violência long e de ar tefatos de disciplina
e segurança (circuito inter no de TV, policiamento na entrada, revista de
alunos por meio de detectores de metais). Ao contrário, obser va-se um
investimento incondicional em práticas disciplinares guiadas por
concepções educativas ampliadas e processos de trabalho pedagógico
continuado, que buscam a co-r esponsabilidade de todos os envolvidos
no cotidiano escolar, orientados por questões éticas e morais. Desta
for ma, a opção por práticas dialógicas de r esolução dos conf litos e a
aposta na cultura como espaço-tempo de co-existência demonstram que
podem ser muito mais efetivas no combate à violência do que o
investimento instrumental em aparatos de segurança.
A opção por uma prática calcada em um diálogo constante faz
com que professores e alunos sintam-se mais participantes da dinâmica
escolar, e por isso, mais responsáveis por ela. Entretanto, se, por um
lado, percebe-se a realização de práticas instituintes democráticas de
condução da administração escolar, por outro também se verifica que
tais práticas ainda se encontram bastantes associadas ao núcleo informal
de g estão, org anizado em tor no, principalmente, da lider ança política
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da direção geral. O papel da direção da escola é, por tanto, preponderante
no estímulo e na viabilidade das escolas se abrirem a novas propostas
para seus próprios alunos, professores e comunidade.
Entretanto, por mais que muitas experiências pareçam ser
deslanchadas a partir de trajetórias individuais que devem ser
valorizadas e prezadas em qualquer aspecto de um trabalho educativo e
social –, a sustentabilidade do projeto vai depender, em última instância,
de um projeto mais coletivo em que estejam representados os diferentes
atores, o que, por sua vez, impõe a necessidade de um trabalho mais
conjunto, e não apenas centrado na figura da direção.
Nesse caminho, pode-se também observar que tais escolas
investem bastante na produção de projetos político-pedagógicos
elaborados coletivamente, cujo ponto de partida são os problemas reais
de cada escola. Soma-se ainda que, do ponto de vista da gestão, essas
escolas tendem a colocar o projeto político-pedagógico sempre à frente
do fazer administrativo. Nesses projetos, quase sempre elaborados
coletivamente, são expostos, de for ma bastante explícita, o diagnóstico
da violência e as possíveis formas de sua reversão, ref letindo, de modo
geral, uma série de princípios presentes na constituição de uma nova
ética universal, como a questão dos direitos humanos e as relações entre
a natureza, o planeta e a sociedade humana. Tais projetos se caracterizam
por conferir à educação um sentido muito mais amplo, incorporando ao
campo pedagógico (conteúdos, currículos, metodologias, didáticas e
avaliações) as complexas relações, crenças, valores, sociabilidades e
motivações existentes no mundo social, indicando a possibilidade do
estabelecimento de novas relações sociais e produção de saberes que
não se processam necessariamente, no contexto das rígidas e
convencionais g rades cur riculares.
É interessante perceber que essas escolas se mostram bastante
organizadas, em que as noções de justiça e autoridade são colocadas
claramente, existindo uma construção compar tilhada de reg ras, normas,
pactos de convivência e de cuidado com o bem público. Assim, quando
uma escola é pichada, os próprios alunos revoltam-se e organizam um
tipo de mutirão não para limpá-la, mas também discutir amplamente
a situação. A discussão faz parte de uma estratégia educativa, onde se
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aprende por meio da vivência, da experimentação e do confronto
pacífico, pois o importante é não jogar os pr oblemas para debaixo do tapete,
como aponta uma professora entrevistada.
Nos depoimentos dos jovens também aparece um reconhecimento
explícito da necessidade da existência de regras de comportamento na
escola, até mesmo como valorização da instituição. Eu acho que tudo de ve
ser organizado, os horários para cada coisa, o que pod e e o que não pode. Na
reunião de regras da escola a gente decidiu que não pode entrar aqui com arma,
nenhum tipo.
Os jovens e muitos dos profissionais da educação das escolas
estudadas parecem apontar que os problemas relacionados com a crise
de autoridade entre professores e alunos e a violência a ela associada
podem ser resolvidas com o diálog o, tecnologia barat a, porém de extrema
complexidade, uma vez que exige para sua efetivação apenas a prática
cooperativa e simultânea de muitos sujeitos (Carrano, 2002). A
implementação dessa tecnologia em curso, não sem dificuldades, ating e
níveis significativos de êxito, como visto nos resultados deste estudo.
A obser vação de que existe uma a posta explícita no desenvolvimento
do diálog o como mecanismo de r eversão de diferentes for mas de
violência física, simbólica e material aparece, ainda, como resposta
a constatação de que problemas de relacionamento ocorrem, em grande
medida, por dificuldades de comunicação entr e professores e alunos.
Além disso, e xiste a expectativa de que tais instituições se apresentem
como “escolas abertas” visando tanto garantir a incorporação de
aprendizagens significativas da sua rede de relacionamentos, através da
exploração de diferentes tempos e espaços educativos, como ainda manter
relações mais horizontais entre os cor pos discentes e docentes.
Tais experiências também sugerem uma proteção no campo das
relações e atitudes, como o estabelecimento de acordos mediados pelo
diálog o, espaços de sociabilidade, implementação de projetos que buscam
a solidariedade e o sentimento de pertencimento à escola e mecanismos
de valorização dos sujeitos que fazem seu cotidiano.
Outro mecanismo importante que fortalece a valorização da escola
é sua rede de relacionamentos com instituições e movimentos diversos,
o que, além de contribuir para superar o seu isolamento físico e social
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por meio do envolvimento com empresas, entidades não-governamentais
e outros par ceiros e colaboradores, per mite que muitas iniciativas sejam
viabilizadas
40
.
Obser vou-se também que a consolidação de parcerias entre a
escola e sua respectiva comunidade é um dos fatores mais eficazes para
a diminuição do alto índice da violência verificada no ambiente escolar,
parcerias essas viabilizadas através do fomento de projetos envolvendo
tanto a comunidade escolar quanto a do seu entor no. Quanto mais
organizada é a comunidade, seus movimentos sociais, mais efetiva é a
pressão pela exigência de um ambiente escolar satisfatório junto ao poder
público, como as Secretarias de Educação e Segurança, prática esta que
além de constituir o elemento essencial de um processo educativo em
torno do ser cidadão, ainda concor re para a recuperação da credibilidade
das escolas públicas.
Um impor tante aspecto percebidoéaformacomo essas escolas
ressignificam os vínculos intergeracionais, ou seja, a relação entre jovens
e adultos, sendo que a disputa geracional existente entre estes é
trabalhada explicitamente, minimizando os conflitos (Bourdieu, 1983).
Algumas estratégias dão conta da busca de aproximação dos professores
com os alunos, percebida através da preocupação demonstrada pelos
primeiros em relação aos últimos. Os jovens modificam suas atitudes e
comportamentos a partir de pequenos movimentos por parte dos adultos
como, por exemplo, quando estes lhes perguntam o motivo de uma
falta no dia anterior –, sendo que a omissão do mundo adulto é por eles
lida como desprezo. Preferem, assim, uma escola que os cuidem a uma
que os ignorem.
Prática comum nas escolas inovadoras é a inclusão de pais e
pessoas da comunidade em visitas a museus e exposições juntamente
com os alunos, atitude que também contribui para o reconhecimento e
a valorização tanto da cidade em que vivem como de outros elementos
40
A formação de uma rede de entidades e/ou pessoas como impulsionadora de diversos projetos
sociais foi analisado pela Unesco no livro Cultivando vidas, desarmando violências, coordenado
por Castro (2001).
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que, enfim, fazem a sua identidade, a sua história. Como exercício que
per mite a inclusão, tal prática é inovadora e mote para muita discussão
porque abre a possibilidade dos indivíduos se sentirem mais próximos
de suas próprias histórias, promovendo uma integração intergeracional,
aproximando os jovens de pessoas de outras idades.
Elemento significativo e que também tem reflexos positivos na
disposição do jovem em tratar o outro com respeito e dignidade é o
investimento na melhoria do ambiente escolar, cuja conseqüência direta
é a própria preservação do equipamento físico e social da escola. Iniciativas
desse porte atuam como contrapontos de uma situação escolar precária,
gerando comportamentos e atitudes capazes de criar novas perspectivas
para os alunos, os professores e as escolas. Nessa linha, um dos aspectos
que certamente mais chama a atenção nas escolas inovadora s é o cuidado
com a manutenção dos banheiros utilizados pelos alunos.
Na pesquisa Ensino Médio: Múltiplas Vozes (Unesco, 2003), que
ouviu 1.651.966 jovens estudantes de 3.972 escolas em todo o Brasil,
o banheiro foi o item que recebeu a pior nota dentre todas as
dependências escolares avaliadas. A principal reclamaçã oéadafalta
de limpeza e de itens de higiene pessoal, situação que se agrava no
tur no notur no, pois, segundo os alunos, causam odor desag radável nas
escolas, atrapalhando o andamento das aulas e desvalorizando o espaço.
Nas escolas inovadoras, entretanto, os banheiros bem cuidados
contribuem para a elevação da auto-estima, conforme atesta o
depoimento de uma jovem: Aqui somos muito bem tratados, a escola gosta
da gente. Olha nossos banheiros.
A elevação da auto-estima em outros níveis é também um dos
traços essenciais dessas experiências. Dentre as estratégias adotadas,
evidencia-se como mais recorrente a iniciativa de dar visibilidade aos
jovens, proporcionando-lhes situações efetivas de par ticipação, através
de sua ação tanto no centr o das atividades quanto no das decisões.
Outro exemplo de elevação da auto-estima está na preocupação
demonstrada em recuperar o papel organizador e transfor mador da
memória social da escola através do registro das atividades
desenvolvidas, traduzidas pela for mação de um significativo acervo
fotográfico, pela produção de vídeos e livros. O cultivo dessa memória
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
também se manifesta nos tempos e espaços criados para a participação
de ex-alunos e outros membros da comunidade que mantêm vínculos
criativos e/ou nutrem afetos pela escola. Além de elemento importante
no incremento da auto-estima, o zelo pela memória contribui ainda para
o estabelecimento de um sentimento positivo de pertencimento a esse
espaço escolar público, concr etizando uma existência social.
Nessas unidades foi recorr ente a observação de um conjunto de
ações capazes de operar transf or mações no clima escolar, tais como: o
controle relativo à conser vação da sala de aula; a exibição de fotos e
cartazes nas paredes das escolas com mensagens positivas; a
disponibilidade para atender aos alunos e seus familiares; a oferta de
locais para encontro dos jovens dentro da escola; a abertura das escolas
nos finais de semana que parece ser casual, revela, na verdade, uma
g rande pr eocupação, em intervir no cotidiano escolar. O cuidado com a
escola, com o conhecimento que é trabalhadoeaformacomo é
desenvolvido, com as atividades desencadeadas, com as aulas, etc., tudo
isso é expresso em mensagens, explícitas ou implícitas, indicando que
todos que ali estão são impor tantes. Nada parece ser desprezado, mas
valorizado, reconhecido.
Um aspecto importante abordado na pesquisa Violências nas Escolas
(Abramovay e Rua, 2002) diz respeito às situações de violência geradas
pelos jovens ao constatarem as reduzidas chances de mobilidade social
através da escola. Nas escolas inovadoras, essas situações têm sido
prevenidas por meio de um grande investimento na aprendizagem dos
alunos, o que lhes abre possibilidades reais de sucesso. Tais iniciativas
repercutem em várias situações, notadamente na demonstração de que
os alunos crêem em seu futuro, elaborando projetos que vislumbram
uma escolaridade alongada até a universidade e uma inserção profissional
qualificada. Esta visão parece assentar-se na percepção de que a boa
qualidade de sua escola pode dar-lhes chances concretas de competir
no vestibular, embora também reconheçam as dificuldades de concorrer
com jovens das escolas particulares, como também criar oportunidades
de se inserir no mercado de trabalho. A escola for talece, assim, o presente
destes jovens, para que eles sejam efetivamente sujeitos na constr ução
de seu futuro.
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Outra mudança apontada pelos entrevistados é uma sensível
diminuição das chamadas formas de incivilidades
41
ou seja, a recusa
ao trabalho escolar, o ruído per manente, a g rosseria, a passividade, o
não envolvimento nas atividades escolares, a hostilidade, a zombaria,
as “briguinhas” no interior das escolas, o que também repercute
diretamente na qualidade do ensino oferecido.
As conseqüências de um ambiente sem violência também se
expressam em termos de resultados de aprendizag em. Determinadas
escolas inovadoras apresentam bons indicadores como os verificados
nos resultados do Exame Nacional do Ensino Médio ENEM, aplicado
pelo MEC, conseguindo, inclusive, que alguns de seus alunos ing r essem
em universidades públicas de excelência. Observa-se também que esses
estabelecimentos ampliaram seu índice de aprovação em torno de 30%.
Cabe aqui um destaque especial para o papel das universidades
como parcerias importantes na perspectiva de envolver alunos e
professores em projetos arrojados no campo da ciência, o que, direta ou
indiretamente, contribui tanto para o enriquecimento dos currículos,
das metodologias e do trabalho em sala de aula, como para o engajamento
de alunos em projetos científicos que patrocinam bolsas de estudo e o
resg ate da dignidade de professores e alunos. Vale destacar que, tal como
as manifestações culturais, as atividades científicas têm também o poder
de produzir, nas diversas juventudes, mobilização, participação,
envolvimento e responsabilidade, possibilitando a muitos dos alunos o
exercício de uma cidadania ativa, longe de situações que os coloquem
em vulnerabilidade social. Quando os jovens e professores começam a
freqüentar os campi universitários, em função de seu envolvimento em
diferentes projetos, modificam imediatamente sua postura no interior
da escola, passando a ter uma atitude de maior compromisso com a
preservação e reconhecimento do espaço escolar.
41
Deve-se lembrar que a maioria dessas situações de microviolências geralmente conta com a
presença dos alunos mais jovens, dos turnos diurnos e do ensino fundamental, particularmente
da à séries, confor me aler tado em outros estudos (Abr amovay, 2003; Cor ti, 2001).
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Também recor r ente nos casos relatados foi a menção à participação
voluntária, que assume papel de destaque, notadamente no desen-
volvimento da maior parte das variadas atividades que integram as
experiências. Tomando-se por referência o fato de essas experiências
estarem se desenvolvendo em escolas situadas em áreas de vulnerabilidade
social, contando, na maior par te dos casos, com a par ticipação da
comunidade escolar ou de seu entorno na gestão e/ou no oferecimento
de atividades, pode-se dizer que elas implicam na ação de atores
potencialmente em igualdade de condições. Daí não diz erem respeito, de
maneira geral, à prática da participação voluntária com base na alteridade,
mas, sobretudo, no exercício da solidariedade com o próximo, o que pode
criar vínculos mais profundos, que serão tão mais duradouros quanto maior
for o êxito, o investimentoeaexpressão social de tais experiências.
No que diz respeito à promoção de eventos extra-classe, é bastante
comum a realização de vivências e debates, ocasiões estas que, contando
inclusive com a presença de familiares e pessoas da comunidade,
contribuem para a troca, a reflexão e a construção de idéias sobre violência,
drogas, sexualidade, doenças sexualmente transmissíveis e solidariedade.
O incentivo à prática do esporte e ao acesso à cultura, através de aulas
especiais, passeios a sítios históricos, museus, galerias de arte indicam
que tais escolas tentam ampliar o universo cultural de seu alunado, atr avés
da promoção de exercícios de interação e transdiciplinariedade.
As atividades artísticas têm sido a tônica dos projetos desen-
volvidos pelas escolas, constituindo canal impor tante de expressão,
transcendência do ser humano e ressignificação de identidades (Castro,
2001). Considerando que tais escolas ficam situadas em bairros com
grandes deficiências em relação à segurança, transporte, renda e espaços
culturais, as atividades desenvolvidas por elas também se tornaram uma
opção de acesso à cultura imprescindível para as suas comunidades
42
.
42
Cabe destacar, entretanto, que o importante papel cumprido pelas atividades culturais no que se
refere às mudanças identificadas não pode ser interpretado isolado do conjunto de práticas
instituintes processadas no universo de cada escola. Assim, não se pode pretender suprir o baixo
desempenho escolar, comumente atribuído aos alunos provenientes das camadas desfavorecidas
da população, com a proliferação de ações consideradas meramente como compensatórias.
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Percebe-se, ainda, que muitas das ações desenvolvidas pelas escolas
inovadoras podem ser interpretadas como verdadeiros processos de
mediação, que acontecem, na maioria das vezes, informalmente, mas
que formulam verdadeiras estratégias educativas de prevenção,
investindo nas redes sociais de convivência e na qualidade educacional
(Orteg a e Del Rey, 2002).
Alguns problemas foram relacionados como limitadores no
desenvolvimento e na sustentabilidade dessas ações. Entre os mais
recorrentes, destaca-se a situação dos professores que trabalham em
muitas escolas os chamados “professores taxistas” –, os quais, por
conta dos baixos salários, acabam não interagindo da for ma desejada
nos projetos e práticas escolares. Outro sério entraveéafalta de
for mação dos educadores, mesmo nas escolas inovadoras, no sentido
de estes poderem lidar adequadamente com situações de violência
simbólica e/ou física. Em ambos os casos, tais problemas que não são
exclusivos das unidades estudadas, mas do conjunto das escolas públicas
brasileiras atestam importantes lacunas por parte do poder público no
que concer ne à realização de investimentos na área da educação.
Vale destacar, em três das chamadas escolas inovadoras, a presença
marcante do Pr ograma Abrindo Espaços: Educação e Cultura para a Pa z,da
UNESCO, que consegue traduzir a maioria dos princípios positivos
expressos no conjunto dessas unidades escolares, servindo de estímulo
a novas práticas
43
.
43
Vale ressaltar que o Prog rama reforça a necessidade do papel indutor de org anismos
nacionais e internacionais na construção de uma diversidade criadora, investindo numa
visão nova e criativa para um mundo melhor, a fim de assegurar que o desenvolvimento
humano possa reduzir o número de guerras e de conflitos internos armados (Cuéllar, 1997). Assim,
a escola, alvo preferencial do Programa, reforçando seu caráter de instância de construção
do conhecimento, também se apresenta como espaço onde todos têm o direito de cir cular
e do qual também podem desfrutar, a fim de se divertir, encontrar amigos, desenvolver
sociabilidades afirmativas, passar o tempo etc., entre uma infinidade de outras
possibilidades. Tal leque de opções depende, obviamente, de deter minadas limitações,
dentre as quais destaca-se, na maioria das vezes, a escassez dos recursos financeiros
disponíveis para a realização de atividades no âmbito escolar
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
A idéia de que, para responder à realidade, essas escolas abrem
suas por tas para possibilidades de constr uir múltiplas táticas ancoradas
tanto no diálog o e no fortalecimento do coletivo como nas efervescentes
interações que brotam dessas iniciativas, constitui, por si só, o novo, a
semente da transfor mação. E a semente extrapola os limites da escola,
que as práticas cotidianas desses estabelecimentos estão intimamente
associadas aos contextos ter ritoriais de existência de seus sujeitos.
Por tanto, quando essas escolas sofrem um processo de transfor mação,
os efeitos podem gerar novos processos além dos muros da escola,
atingindo a vida do seu entor no, a relação dos alunos com as suas
famílias, os amig os e os vizinhos.
Neste trabalho refletiu-se sobre experiências que apostam numa
saída pacífica para a violência nas escolas. Entretanto, a tranqüilidade
que impera , na maior parte do tempo, nas escolas inovadoras não é
sinônimo de vozes silenciadas. Ao contrário, é a manif estação de um
processo de trabalho que inclui o diálogo e a valorização da unidade
escolar como um todo, existindo uma enorme polifonia, visto que, de
acordo com os versos da música A Minha Alma do g rupo Rappa , tão
cantada pelos jovens brasileiros, a paz sem voz não é paz, é medo .
No geral, são experiências que rompem com preconceitos e dão
visibilidade e reconhecimento aos segmentos da população profun-
damente marginalizados pelo processo histórico de exclusão social ainda
marcante no país. Por esta via, fica claro que naturalizar as diferentes
for mas de violência nas escolas púb licas incor re no g rave er ro de
mascarar uma série de preconceitos que contribuem para o abismo das
desigualdades no Brasil. O esforço está justamente em superar
estereótipos, preconceitos e estigmas profundamente associados ao ser
jovem, aos perfis das famílias das classes populares, à abertura das
escolas para as comunidades e, fundamentalmente, ao lugar que essas
pessoas ocupam em nossa sociedade.
Por último, cabe ressaltar a presença de um elemento essencial no
conjunto das chamadas escolas inovadoras, sem o qual nenhuma delas
lograria êxito, qual seja, uma enor me disposição para a mudança,
disposição esta que se assenta na compreensão de que o direito à
escolaridade é um bem, um legítimo patrimônio da humanidade, que de
for ma alguma pode ser ameaçado por situações de violência nas escolas.
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RECOMENDAÇÕES
CONSTRUINDO UMA NOVA AGENDA
Considerando que, como experiência especificamente humana, a educação
é uma for ma de inter venção no mundo (Freire, 1997), sendo, por tanto,
instr umento essencial para a construção de práticas que possibilitem a
invenção de um mundo mais humano, em que a violência não se
sobreponha a uma Cultura de Paz, apresenta-se, a seguir, uma série de
recomendações gerais e específicas que possam contribuir para uma nova
agenda, propondo políticas públicas que alterem os mecanismos de
reprodução das desigualdades sociais.
Tais recomendações originaram-se nas principais demandas
apresentadas pelas escolas alunos, professores, diretores, funcionários,
familiares, comunidade do entorno –, cotejadas com a análise de
entrevistas, g rupos focais, questionários e observações de campo, bem
como com o acer vo de ensaios e pesquisas promovidos pela UNESCO.
As indicações em pauta, refletindo o próprio trabalho das escolas
inovadoras aqui estudadas, apostam no desenvolvimento de ações que
fortaleçam a prevenção, constr uindo respostas à violência que, long e
de se valerem de artefatos de disciplina e segurança, investem na
capacidade de professores, alunos e comunidade compreenderem que
os caminhos para a consolidação de uma diversidade criadora, capaz de
repercutir além da escola, residem na transmissão de novos valores
culturais, como a tolerância, a solidariedade e o respeito mútuo.
Os processos educativos devem constituir instrumento imprescindível
de desnaturalização da violência, estando atentos, portanto, aos problemas
existentes. Educar é aprender a viver junto e pacificamente. Com esta
convicção, apresentam-se as recomendações que se seguem.
Aber tura do Espaço Escolar
Abrir as escolas públicas nos finais de semana com atividades
de esporte, arte, cultura e lazer que contemple as juventudes e
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
suas múltiplas necessidades, cumprindo um papel inovador e
difusor de uma cultura de paz, assim como estimulando
transfor mações da prática pedagógica. Essa dinâmica tem o
mérito de resgatar o interesse das juventudes pela escola,
entendida como um locus privilegiado para impulsionar e
possibilitar o acesso a atividades culturais (g r upos de dança,
oficinas de grafite, hip hop e capoeira, entre outras), de lazer e
ao esporte como diversão e, também, como fator de coesão
social. Desse modo, tais atividades valorizam a expressão da
cultura nacional, das diversas manifestações locais e regionais,
bem como se constituem como pólo de atração dos jovens e da
comunidade que vivem no entorno da escola.
Nessa perspectiva, o Programa Abrindo Espaços, de iniciativa
da UNESCO, vem apresentando resultados positivos,
evidenciados por meio de indicadores que apontam que essa
pode se uma eficiente estratégia de prevenção das violências
na escola. As avaliações sobre os resultados e impactos do
Programa nos Estados do Rio de Janeiro, da Bahia e em
Pernambuco, demonstram que o Abrindo Espaços é extre-
mamente valorizado pelos jovens, pelas famílias e comunidades
onde se desenvolve e também elogiado pela equipe das escolas
onde está implantado e pelos dirigentes das secretarias de
educação.
Estratégias de Mediação
Desenvolver estratégias de mediação devido às dificuldades
encontradas pela comunidade escolar para administrar as
diferentes situações de conflito que enfrenta diariamente, como
as violências físicas, incivilidades, simbólicas e institucionais.
Trata-se de criar as bases de uma escola que tenha consciência
da violência, no seu cotidiano, como fenômeno que se constrói
socialmente e, portanto, é passível de ser evitada. Uma escola
que tenha no diálogo o recurso primordial dos conflitos que ela
deve administrar.
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Nesse sentido, propõe-se a mediação como uma metodologia
pedagógica de resolução de conflitos, uma vez que, propicia a
prática do diálogo, diminui o sentimento de insegurança,
interfere nos níveis de violência e pode promover uma atmosfera
pacífica, além de contribuir para a melhoria da qualidade do
ensino e da aprendizagem.
Segurança
Efetivar providências no sentido de ampliar a segurança no
entorno das escolas, como, por exemplo, iluminação das ruas e
policiamento.
Investir na sensibilização da polícia em relação aos direitos
humanos, promovendo cursos de capacitação, de forma a evitar
os abusos eventualmente praticados em relação à juventude.
Projetos Intra-Escolares
Promover projetos, ações e práticas que contribuam para tornar
as escolas lugares mais seguros, fontes de conhecimento
científico e cultural, de sociabilidade e de exercício democrático,
em prol da cidadania e dos direitos humanos.
Investir em projetos voltados à elevação da auto-estima de seus
alunos, criando, nos sistemas de ensino, grupos de apoio que
atendam aos jovens e aos professores, abordando questões
como drog as, medicina preventiva e abuso sexual, entre outra s.
Desenvolver atividades que promovam a aproximação entre as
famílias dos aluno s e a escola, possibilitando maior integração entre
as demandas do entorno e os interesses e possibilidades escolares.
Promover formas criativas, vinculadas às artes, de desestímulo ao
vandalismo contra o patrimônio público (depredação e pichação),
chamando os alunos à responsabilidade e estimulando o cuidado
Incentivar a formação de g r upos de jovens nas escolas, com
vistas à promoção de atividades lúdicas, culturais e esportivas,
de debates e festas. A par ticipaçã o e a integração dos jovens
deve se dar, preferencialmente, desde o processo de concepção/
organização das atividades.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Instituir canais de infor mação que possibilitem, aos diversos
atores da comunidade escolar, compartilhar a vida cotidiana
da escola, tanto no que se refere aos problemas enfrentados
quanto às suas soluções.
Promover a participação dos jovens das escolas públicas em
colônias de férias, viagens e atividades de intercâmbio,
possibilitando-lhes conhecer e interagir com outros jovens e
com outros lug ar es. Nesse sentido, deve ser possibilitada a troca
entre os estabelecimentos, por meio de uma rede de escolas, de
modo a facilitar o intercâmbio entre os jovens, os professores e
outros envolvidos.
Realizar avaliação e acompanhamento constantes de programas,
projetos e experiências voltados à redução das violências nas
escolas, principalmente pelo fato de serem ainda bastante
limitadas as ações per tinentes a esse campo.
Parcerias
Instituir mecanismos de integração entre as escolas e as
Secretarias de Educação, os Conselhos Tutelare s e o Ministério
Público, entre outras instâncias, para a elabor ação de medidas
de prevenção contra as ações violentas.
Incentivar, por parte dos poderes públicos, a criação de
programas de prevenção à violência doméstica, em atuação
conjunta com as escolas.
Promover a aber tura de uma linha de financiamento, com base
nos recursos do FNDE, voltada à formação dos profissionais
da educação no campo da Cultura de Paz, como contraponto à
violência.
Sensibilização
Incentivar o debate público sobre temas pertinentes à questão
da violência, como uso de ar mas, drogas, roubos e assaltos,
preconceitos e discriminações, intolerâncias, desrespeito e
humilhação, entre outros.
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Investir na ampliação do debate público sobre as experiências
bem-sucedidas no campo da prevenção e do enfrentamento da
violência.
Estimular uma educação que assuma uma “postura de proteção”
em relação aos jovens.
Promover atividades de sensibilização dos alunos e de seus
familiares sobre os problemas causados pelos diferentes tipos
de violências (agressões verbais, xingamentos, discriminações,
preconceitos e humilhações) e sobre for mas de reduzi-los.
Cotidiano Escolar
Garantir aos alunos, nos diferentes turnos, o acesso a todas as
suas dependências, como banheiros, laboratórios de informática,
laboratórios de ciência e salas de TV e vídeo, em condições
adequadas de uso.
Definir regras claras e compartilhadas, sobre disciplina e sobre
as atividades cotidianas, como avaliações, uso de materiais e
freqüência. As discussões voltadas a essas definições devem
ocorrer no início do ano letivo, por meio de debates e
plebiscitos, incorporando, sempre que possível, repr esentações
da comunidade, como familiares, associações de moradores etc.
É importante que essas regras se apliquem a todos os atores
que compõem a escola, alunos, professores, direção e
funcionários.
Promover debates e discussões em torno dos temas relacionados
à Cultura de Paz, como contraponto à violência, buscando
incorporá-los ao projeto político-pedagógico e ao cur rículo, e
sensibilizar seus professores e demais profissionais. Tais debates
devem privilegiar temas relacionados às diversas for mas de
discriminação (contra negros, homossexuais, mulheres,
deficientes físicos etc.) e às manifestações culturais juvenis.
Focar a atenção em seus alunos, acompanhando as suas
ausências e dificuldades. Da mesma forma, atentar aos
problemas e potencialidades da comunidade, como condição
para situar-se no tempo e no espaço.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Políticas Públicas
Apoiar as diferentes experiências, ações e iniciativas
desenvolvidas pelas escolas, evitando-se a descontinuidade
dos projetos e incentivando a incorporação destas atividades
no cotidiano escolar
Dar continuidade e, se possível, ampliar os programas voltados
à infor mação e ao esclarecimento dos jovens, com eficácia
comprovada nas escolas, como o “Programa Nacional de DST
e Aids”, do Ministério da Saúde.
Disponibilizar para as escolas instalações e equipamentos
referentes a novas tecnologias da infor mação e comunicação,
per mitindo que os alunos tenham o acesso a computadores e
Internet para que estejam em sintonia com o contexto
histórico-social.
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LISTA DETABELAS
Tabela 1 Percentual de escolas, por etapas de atendimento,
segundo o diretor, 2002................................................................................. 46
Tabela 2 Estr utura da mor talidade na faixa etária de 15 a
24 anos, segundo causa do óbito, 2000 (%)............................................. 73
Tabela 3 Evolução do número de óbitos por homicídio
entre a população de 15 a 24 anos, 1991/2000...................................... 73
Tabela 4 Número de homicídios entre os jovens de 15 a
24 anos nos estados e municípios, por ocorrência e população
total, 2000......................................................................................................... 74
Tabela 5 Taxa de mortalidade por armas de fog o entre a
população de 15 a 24 anos, 1998/2000 .................................................... 75
Tabela 6 Distribuição dos homicídios nos dias da semana
entre os jovens de 15 a 24 anos Brasil, 2000 ....................................... 76
Tabela 7 Média dos homicídios por dias úteis e final de
semana Brasil, 2000 .................................................................................... 76
Tabela 8 Alunos, por percepção das conseqüências da violência
na escola sobre o seu desempenho escolar, segundo capitais
das Unidades da Federação 2000 (%)........................................................ 79
Tabela 9 Alunos, por capitais das Unidades da Federação,
segundo o que não gostam nas escolas, 2000 (%) .................................. 80
Tabela 10 Proporção de diretores, segundo indicação dos
maiores problemas enfrentados pela escola no que se refere a
situações de violência 2002 ...................................................................... 82
400400
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Tabela 11 Razões de par ticipação no Prog rama Escolas
de Paz, segundo os jovens, 2000 (%) ......................................................367
Tabela 12 Avaliação de jovens e animadores quanto ao
impacto do Programa (%) ...........................................................................368
Tabela 13 Beneficiários do Prog rama Abrindo Espaços,
segundo o que mais gostam no Programa 2002 .................................370
Tabela 14 Beneficiários do Prog rama Abrindo Espaços,
segundo avaliação dos participantes do Programa 2002 .................371
Tabela 15 Escala de melhoria das escolas par ticipantes e
não participantes do Programa Abrindo Espaços no RJ e PE,
segundo os diretores .....................................................................................372
Tabela 16 Escala de melhoria das escolas par ticipantes do
Programa Abrindo Espaços no RJ e PE, de acordo com o ano
de início, segundo os diretores...................................................................373
401401
401401
401
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 Avaliação, pelos animadores, dos resultados do
programa, 2000 ..............................................................................................368
403403
403403
403
LISTA D E QUADROS
Quadro 1 Fatores r elacionados ao abandono, r epetência e
evasão escolar .................................................................................................. 87
Quadro 2 Distribuição dos projetos por áreas de especificidade
e por localização das escolas nas Unidades da Federação ..................305
Quadro 3 Distribuição dos projetos por órgãos de
financiamento/apoio e por localização das escolas nas Unidades
da Federação ..................................................................................................313
Quadro 4 Por mais que eu tenha dificuldade, eles me tratam
bem dentro da sala ........................................................................................328
405405
405405
405
ANEXO
A SITUAÇÃO DA EDUC AÇÃO NO BRASIL
No que diz respeito à situação educacional brasileira, em que pese
o reconhecimento geral de que a educação é de importância vital para o
enfrentamento das profundas desigualdades sociais existentes no país, o
ensino, sobretudo o público, é ainda insatisfatório quanto à sua amplitude
e qualidade, estando, por tanto, aquém das necessidades da população
1
.
No que diz respeito à escolaridade da juventude, embora se observe
que no período entre 1994
2
e 2000 a taxa de analfabetismo tenha decaído
de 15,5% para 11,7%, os números são ainda bastante insatisfatórios,
principalmente ao se considerar que, do total de jovens, apenas 46,8%
(ou 16 milhões) freqüentam a escola (IBGE, Censo 2000), porcentagem
esta que, analisada ao inverso, aler ta para o fato de mais da metade da
juventude do Brasil estar fora dos sistemas de ensino
3
.
Na tabela 1, pode-se perceber que os indicadores de matrícula por
modalidades de ensino apontam maior concentração no Ensino
Fundamental, tanto na rede pública quanto na rede privada. Do total de
1
Todavia, nas duas últimas décadas, as políticas educacionais a presentaram sensíveis mudanças,
originadas tanto das pressões de diferentes setores da sociedade traduzidas, sobretudo, na
Constituição de 1988 quanto das tendências de caráter global presentes, por exemplo, na
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, e nas reformas curriculares dos
anos 90. Nesse contexto, temas como a descentralização dos processos político-administra tivos
e a democratização da escola pública aparecem com destaque. A criação de colegiados e
conselhos, dotados de autoridade deliberativa e decisória, o envolvimento da comunidade
escolar na seleção de diretores e o repasse direto de recursos financeiros às unidades escolares,
dentre outras medidas, contribuem para a construção de uma escola dotada de mais autonomia,
para a qual a ação do poder público em especial, o federal, por meio MEC - teve participação
de destaque, sobretudo na regulação de medidas educacionais.
2
Dados estimados pelo MEC/INEP, a par tir de IBGE/PNAD, 1994.
3
Este número assume dimensões ainda mais inquietantes quando comparado com estatísticas
que atestam a cober tura, quase que total, nas redes de ensino, da população entre7e14anos
(97% do geral, segundo o Censo Escolar de 2002, realizado pelo INEP/MEC), demonstrando
que, no plano das políticas educacionais voltadas para a faixa de 15 a 24 anos, no Brasil,
ainda resta um g rande caminho a ser percor rido.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
TABELA 1 Número de matrículas por modalidade e rede de ensino,
segundo capitais e Unidades da Federação, 2002
matrículas realizadas em 2002, em todo ter ritório brasileiro, 67%
correspondem àquelas referentes às séries do Ensino Fundamental da rede
pública. Esse padrão pode ser visto em todos os estados e municípios
apontados nas tabelas. Na modalidade Educação de Jovens e Adultos, o
número de matrículas nas escolas públicas é largamente superior ao número
de inscritos nas escolas particulares, no Brasil, nos estados e municípios
integrados à pesquisa. Em Manaus, por exemplo, foram 41.364 matrículas
no ensino público e somente 941 nas escolas particulares, em 2002, mesmo
considerando o número maior de estabelecimentos da rede pública, em
relação à rede privada, que oferecem essa modalidade. Em Vitória e
Florianópolis, embora com predomínio da rede pública, um número
expressivo de matrículas na rede privada, registrando-se, em 2002, 2.431
matrículas nas escolas públicas contra 1.949, nas particulares, em Vitória;
em Florianópolis, foram 5.134, no ensino público, e 4.075, no privado.
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407407
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Fonte: Sistema de estatísticas educacionais INEP/MEC, 2002.
TABELA 1 (continuação)
A seguir, na tabela 2, que aponta as matrículas em relação ao tur no,
a comparação nos mostra que o número de matrículas no Ensino Médio,
na maior parte dos municípios, é relativamente superior no período
notur no, possivelmente em conseqüência da inserção dos jovens no
mercado de trabalho e do retorno de pessoas fora da idade escolar aos
estudos. Em Manaus, contaram-se 37.566 matrículas, no diur no, e 61.324,
no notur no. No entanto, em algumas capitais, como Salvador, Fortaleza,
Vitória, Por to Aleg re e Brasília, o número de matrículas nas turmas de
Ensino Médio foi maior no período diurno.
A tabela 3 apresenta as taxas de rendimento escolar
4
nas modalidades
de Ensino Fundamental e Médio da rede pública, no ano de 2001. O Estado
4
A taxa de rendimento é medida considerando a proporção de alunos da matrícula total de cada
série, em determinado ano, que são aprovados, reprovados ou que não seguem os estudos.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
de São Paulo e o Município de Itaquaquecetuba apresentaram as mais altas
taxas de aprovação, com 90.8 e 88.6, respectivamente, no Ensino
Fundamental, e com 82.5 e 80.6, no Ensino Médio. Bahia (64) e Salvador
(60.6) obtiveram as menores taxas de aprovação no Ensino Fundamental
em 2002. No Ensino Médio, Porto Alegre e Salvador apresentaram as mais
baixas taxas de aprovação, 61 e 61.9, respectivamente. As taxas de
reprovação, por sua vez, mostraram-se, na grande parte dos municípios e
estados, consideravelmente superiores nas séries do Ensino Fundamental
em relação ao Ensino Médio que, no entanto, apresentou as maiores taxas
de abandono. Porto Alegre registrou as maiores taxas de reprovação: 18.3,
no Ensino Fundamental, e 21.2, no Médio. No quesito evasão escolar,
Salvador (21.5) e Maceió (18.7) são os municípios com as maiores taxas no
Ensino fundamental. Vitória aparece com uma taxa de abandono de 47.2,
contra uma taxa de aprovação de 44.2, evidenciando que cerca de 50% dos
alunos do Ensino Médio da rede pública nesta capital abandonaram a escola
no ano de 2001. Entretanto, na rede privada a realidade se mostra outra:
em Vitória, a taxa de aprovação é de 98.1, enquanto a taxa de abandono é
de apenas 0.2. Em Itaquaquecetuba, a aprovação é de 100%, apresentando
índice zero nas taxas de repetência e de abandono.
TABELA 2 Número de matrículas na rede pública por modalidade de
ensino e turno, segundo capitais e Unidades da Federação, 2002
409409
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409
Fonte: Sistema de estatísticas educacionais INEP/MEC, 2002.
TABELA 2 (continuação)
TABELA 3 –Taxa de r endimento escolar dos alunos matriculados na rede pública,
por modalidade de ensino, segundo capitais e Unidades da Federação, 2001
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
A tabela 4 mostra a taxa de distorção idade-série
5
referente ao
ano de 2002, no Brasil e nos 14 estados que participaram da pesquisa.
TABELA 3 (continuação)
Fonte: Sistema de estatísticas educacionais - INEP/MEC, 2002.
5
Taxa de Distorção Idade-Série: Em um sistema educacional seriado, e xiste uma adequação
teórica entre a série e a idade do aluno. No caso brasileiro, considera-se a idade de 7 anos como
a idade adequada para ing resso no ensino fundamental, cuja duração, normalmente, é de 8 anos.
Seguindo este r aciocínio, é possível identificar a idade adequada para cada série. Este indicador
permite avaliar o percentual de alunos, em cada série, com idade superior à idade recomendada.
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411
Comparando-se as redes pública e privada, fica evidenciado que a
maior par te dos alunos das escolas públicas, sobretudo no Ensino Médio,
não está na série compatível com sua idade. Alagoas apresentou as
maiores taxas tanto na rede pública quanto na particular: 60.5, no Ensino
Fundamental e 81.4, no Ensino Médio, na rede pública, e 14.1
(Fundamental) e 36.8 (Médio), na rede privada. Na rede pública, as
menores taxas foram r egistradas em São Paulo, com 15.1, no Ensino
Fundamental, e 36.6, no Médio. Dentre as unidades listadas, Santa
Catarina apresentou as menores taxas na rede privada, em 2002: 2.5, no
Ensino Fundamental, e 7.6, no Ensino Médio. O estado obteve ainda a
segunda menor taxa na rede pública ficando atrás somente de São
Paulo , com índices de 19.4 (Fundamental) e 40.3 (Médio).
TABELA 4 Taxa de distorção idade-série,por modalidade e rede de ensino,
segundo capitais das Unidades da Federação, 2002
Fonte: Sistema de estatísticas educacionais INEP/MEC, 2002.
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
Na tabela 5, propõe-se uma análise comparativa das taxas de
analfabetismo
6
, em 1996 e 2000, entre os jovens de 15 a 24 anos,
discriminando por g rupos de idade.
6
Taxa de Analfabetismo: No Censo Demo g ráfico, realizado com periodicidade decenal, e na
PNAD, com periodicidade bianual, são consideradas analfabetas as pessoas incapaz es de ler e
escrever pelo menos um bilhete simples no idioma que conhecem. Aquelas que aprenderam a
ler e escrever, mas esqueceram, e as que apenas assinam o próprio nome também são consideradas
analfabetas. A Taxa de Analfabetismo é o percentual de pessoas analfabetas em deter minada
faixa etária. O INEP considera, para avaliar essa taxa, a faixa etária de 15 anos ou mais, isto
é, o analfabetismo avaliado acima da faixa etária onde, por lei, a escolaridade seria obrigatória.
TABELA 5 Taxa de analfabetismo na faixa etária de 15 a 24 anos,por grupos
de idade, segundo capitais e Unidades da Federação, 1996/2000
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A primeira indicação do porquê deste agrupamento pode ser vista
quando se compara o g r upo de 20 a 24 nos anos de 1996 e 2000: a taxa
de analfabetismo aumentou de 5.8 para 6.7, no território nacional, ao
contrário da taxa no g rupo de 15 a 19 anos, que sofreu uma lig eira queda
de 5.4 para 5. Esse padrão se repete na maioria dos estados e municípios
contidos na tabela, isto é, grande parte apresentou relevante crescimento
no número de analfabetos entr e as pessoas de 20 a 24 anos. O Estado
em que houve maior crescimento foi Alagoas, cuja taxa de 18.4, em
1996, alcançou 23.4, em 2000, nesse g rupo etário. Na f aixa de 15 a 19
anos, o quadro se mostra um pouco melhor: excetuando-se Maceió,
Fortaleza, Recife e Duque de Caxias, os demais municípios apresentaram
ligeira diminuição das taxas de analfabetismo entre 1996 e 2000. No
Estado do Ceará, apesar da taxa decair de 10.3 para 9.5, sua capital,
Fortaleza, percor re o sentido inverso, registrando um aumento de 3.7
para 3.9. Em 1996, entre os municípios apontados, Florianópolis
apresentava a menor taxa de analfabetismo (1.1) e Maceió (7.2) contava
com a maior taxa, na faixa de 15 a 24 anos. Em 2000, essas duas capitais
continuaram a apresentar o menor e o maior índices: Florianópolis pende
para 0.9 único município da tabela na casa do zero –, e Maceió
predomina sobre os demais com sua taxa de 9.1.
Fonte: Sistema de estatísticas educacionais INEP/MEC, 2002.
TABELA 5 (continuação)
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
As tabelas6e7apontam o número de escolas da rede pública,
segundo infra-estrutura disponível, no Ensino Fundamental e no Ensino
Médio, respectivamente. Numa primeira leitur a das tabelas, pode-se
observar que o número de equipamentos é consideravelmente inferior ao
número de escolas. No Ensino Fundamental (tabela 6), vale sublinhar
que apenas 21,3 % das escolas da rede pública no Brasil que atendem a
esta modalidade possuem biblioteca, um dos mais importantes
equipamentos sociais da escola. Este número sinaliza a necessidade de se
implantarem políticas de incentivo à leitura no país. Os outros itens têm
presença ainda mais rara nos estabelecimentos de Ensino Fundamental
da rede pública: apenas 5,0 % das escolas contam com laboratório de
ciências e 8,1 % têm acesso à internet, na maior parte das vezes restrito
aos funcionários da escola. Vitória é a capital que apresenta maior
quantidade de bibliotecas em relação ao número de escolas: são 54 escolas
públicas que atendem ao Ensino Fundamental, sendo que 50 possuem
esse equipamento. No Estado da Bahia, a discrepância é bastante
significativa: são 22.709 escolas de Ensino Fundamental, e apenas 1.314
bibliotecas, 337 laboratórios de informática, 128 laboratórios de ciências,
1.125 quadras de esporte e 239 computadores para acesso à internet. E,
sobretudo, vale salientar que cerca da metade das escolas do estado não
possui energia elétrica, quadro que também pode ser verificado nos estados
do Amazonas e do Pará. Os dados mostram, ainda, que em Maceió não
forma alguma de acesso à inter net, enquanto, em Itaquaquecetuba,
64,6% das escolas contam com o acesso à rede.
TABELA 6 Número de escolas que atendem ao Ensino Fundamental, por
infra-estrutura disponível, segundo capitais e Unidades da Federação, 2002
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415
Nos estabelecimentos de Ensino Médio da rede pública (tabela
7), a situação apresenta-se consideravelmente melhor: nas 14.771 escolas
que oferecem a modalidade no Brasil, 11.278 bibliotecas, 6.313
laboratórios de infor mática, 5.260 laboratórios de ciências, 10.602
quadras de esporte e 5.635 computadores para acesso à internet. Quase
100% das escolas dispõem de energia elétrica. Em Vitória e Florianópolis,
todas as escolas que atendem ao Ensino Médio contam com bibliotecas.
Em Itaquaquecetuba, das 31 instituições de Ensino Médio, 29 possuem
Fonte: Sistema de estatísticas educacionais INEP/MEC, 2002.
TABELA 6 (continuação)
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ESCOLAS INOVADORAS: Experiências Bem-Sucedidas em Escolas Públicas
quadras de esporte e acesso à inter net. No entanto, em Belém, Maceió e
Goiânia, menos de 10% das escolas possuem acesso à rede, ressaltando
o contraste sócio-econômico entre os estados das regiões Norte/
Nordeste e o Centro-Sul do país.
TABELA 7 Número de escolas que atendem ao Ensino Médio, por infra-
estrutura disponível, segundo capitais e Unidades da Federação, 2002
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417
Fonte: Sistema de estatísticas educacionais INEP/MEC, 2002.
TABELA 7 (continuação)
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