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negras, segundo Rosemberg, apresentam uma trajetória escolar mais
acidentada do que as crianças brancas, vivenciando um maior número de
afastamentos e retornos para a escola, o que indica uma interação difícil
entre o sistema escolar e o alunado negro. Rosemberg e colaboradoras
ressaltam que, apesar das dificuldades, o alunado negro esforça-se por
permanecer na escola. A autora levanta, ainda, uma importante hipótese
sobre as dificuldades do alunado negro, que tende a ser encaminhado ou
aceito com mais freqüência pelas escolas carentes: segundo Rosemberg,
as famílias negras podem estar encaminhando seus filhos para
equipamentos sociais freqüentados por negros ou por populações brancas
mais pobres, como um mecanismo de defesa contra a discriminação racial.
Rosemberg formula, também, a hipótese da segregação espacial dos
segmentos raciais, que vem a ser confirmada pelos estudos de Edward
Telles
11
. Telles aponta uma segregação residencial no espaço urbano
brasileiro, estando os negros confinados às áreas mais pobres e carentes
dos centros urbanos, ainda que legalmente a segregação espacial não exista
no Brasil. Note-se que, nestas áreas, os equipamentos educacionais
públicos são menos adequados, seja do ponto de vista da conservação
dos prédios, seja da qualidade do ensino ministrado
12
.
Estudos, anteriores, como os de Luiz C. Barcelos, Nelson do Valle
Silva e em outros mais recentes, como o de Nelson do Valle Silva e Carlos
A. Hasenbalg
13
, e o de Ricardo Henriques
14
, apontam que os índices
educacionais para negros e brancos continuam apresentando diferenciais
mais do que significativos, especialmente nos níveis de 2º e 3ºgraus,
embora, as diferenças venham-se reduzindo gradativamente para a escola
de 1º grau. Em 1992, a escolarização das crianças negras de 7 a 14 anos
11 Edward E. Telles. Contato racial no Brasil urbano: análise da segregação residencial nos quarenta maiores centros
urbanos do Brasil, em 1980, p. 362.
12 Pierre Bourdieu, em Contrafogos: tática para enfrentar a invasão neoliberal, comenta a política habitacional
européia pós-liberal. Diz ele: “Penso particularmente na política da habitação. (....) Esta política, em certo
sentido, foi bem-sucedida demais. Seu resultado ilustra o que eu dizia há pouco sobre os custos sociais
de certas economias. Pois ela é certamente a causa maior da segregação espacial, com isso, dos problemas
ditos ‘de subúrbio’”, p. 15.
13 Luiz Cláudio Barcelos. Educação: um quadro de desigualdades raciais, pp. 7-23; Nelson do Valle Silva.
Distância social e casamento inter-racial no Brasil, pp.17-53; Nelson do Valle Silva e Carlos A. Hasenbalg.
Tendências da desigualdade Educacional no Brasil, s/p.
14 Idem, Desigualdade racial no Brasil: evolução das condições de vida na década de 90, p. 30.