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Título original: Primary Care: balancing health needs, services, and technology
Publicado anteriormente por: © 1998 by Oxford University Press, Inc. New York,
N.Y. USA. Edição inglesa; e © 2001 por MASSON, S.A., Fundacó Jordi Gol i
Gurina, Societat Catalana de Medicina Familiar i Comunitària. Edição espanhola.
©UNESCO 2002 Edição brasileira
A edição brasileira foi publicada pelo Escritório da UNESCO no Brasil e
Ministério da Saúde
A autora é responsável pela escolha e apresentação dos fatos contidos neste livro, bem
como pelas opiniões nele expressas, que não são necessariamente as da UNESCO, nem
comprometem a Organização. As indicações de nomes e a apresentação do material ao longo
deste livro não implicam a manifestação de qualquer opinião por parte da UNESCO a
respeito da condição jurídica de qualquer país, território, cidade, região ou de suas autoridades,
nem tampouco a delimitação de suas fronteiras ou limites.
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Starfield, Barbara
Atenção primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
/ Bárbara Starfield. Brasília : UNESCO, Ministério da Saúde, 2002.
726p.
ISBN: 85-87853-72-4
Título original: Primary Care: balancing health needs, services, and technology.
1. Medicina Familiar 2. Medicina Preventiva 3. Educação e Saúde 4. Serviços
de Saúde 5. Promoção da Saúde 6. Tecnologia I. UNESCO III. Título
CDD 610
Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciênci a e a Cultura
Representação no Brasil
SAS, Quadra 5 Bloco H, Lote 6,
Ed. CNPq/IBICT/UNESCO, andar.
70070-914 Brasília DF Brasil
Tel.: (55 61) 321-3525
Fax: (55 61) 322-4261
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Políticas de Saúde
Departamento de Atenção Básica
UNESCO Brasil
Conselho Editorial
Jorge Werthein
Cecilia Braslavsky
Juan Carlos Tedesco
Adama Ouane
Célio da Cunha
Comitê para a Área de Educação para a Saúde
Maurício Gomes Pereira
Cristina Raposo
Alessandra Schneider
Tradução: Fidelity Translations
Revisão: Eduardo Perácio (DPE Studio)
Revisão técnica: Ananyr Porto Fajardo
Assistente Editorial: Larissa Vieira Leite
Diagramação: Fernando Brandão
Projeto Gráfico: Edson Fogaça
© UNESCO, 2002
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Políticas de Saúde
Departamento de Atenção Básica
Esplanada dos Ministérios, Bl. G, andar, sala 718
70058-900 Brasília - DF
Tel.: (61) 315-2797
Fax: (61) 226-4340
E-mails: [email protected].br
AGRADECIMENTOS
Muitas pessoas contribuíram de muitas maneiras para esta
análise da importância da atenção primária dentro dos sistemas
de saúde. De longe, as melhores contribuições têm sido de meus
colaboradores e amigos que pensaram profundamente a respeito
do assunto da atenção primária no contexto dos sistemas de saúde.
Estou em dívida, especialmente, com Juan Gér vas e Mercedes
Perez Fer nandez, cuja amizade e colaboração constantes me
levaram a novas for mas de pensar e questionar. Seu auxílio em
relação à BBC (Bibliográfico CESCA), uma inestimável bibliografia
internacional anotada mensalmente, é responsável por minha
consciência e apreciação de um conjunto maior de informações
do que de outra for ma seria o caso.
Minha exposição inicial aos escritos de Kerr L. White e,
posterior mente, a oportunidade de trabalhar como membro da
faculdade em seu depar tamento, foram certamente inf luentes em
meu pensamento a respeito da atenção primária, um termo que não
existiria senão pela introdução feita por Kerr no início dos anos 60.
Seus escritos foram os primeiros a fazer um sentido real para mim,
uma jovem médica lutando para entender o que eu estava fazendo.
O desafio de Kerr ao sistema de atenção de saúde para converter
dados em informações, então em inteligênciaeaseguir em sabedoria,
são tão pertinentes hoje quanto o eram 40 anos atrás.
Agradeço também a meus colaboradores especiais no Johns
Hopkins, os quais continuam a tornar a colaboração em pesquisa
verdadeiramente emocionante. Jonathan Weiner, Don Steinwachs,
Chris Forrest e Anne Riley me vêm especificamente à mente devido
ao nosso trabalho em conjunto sobre assuntos relacionados à
atenção primária, medidas de case-mix e a avaliação da condição
de saúde de crianças e adolescentes.
Também sou g rata à Marg orie Bowman, que me ajudou
consideravelmente com os esboços clínicos, e à Karen Rappaport.
Nada é suficiente para falar a respeito do enorme desejo de
meus colaboradores inter nacionais em dividir informações e idéias
suas contribuições especiais estão notificadas, com g ratidão, no
Capítulo 15.
Como sempre, minha família merece uma menção especial.
Minha maravilhosa mãe, Eva Starfield, tomou o papel de
interlocutora e editora não oficial do meu livro depois da morte
de meu maravilhoso pai. Meu marido, Neil Holtzman, por ter
ser vido como táb ua de salvação oficial, apesar dos desconfor tos
de ter de conviver com a irritabilidade que acompanha qualquer
empenho intenso, como escrever um livro. Ag radeço especialmente
a Rob e April, Jon e Beth, Susan e Steven por me oferecerem tanto
diversão emocional como intelectual na forma de cinco netos
incríveis e à Débora, por ser ela mesma.
Finalmente, sinto uma gratidão extrema por minha assistente
Ruth Hurd, que nem piscou nas inter mináveis alterações, que
per maneceu perfeitamente calma at ravés do que pareceu serem
centenas de rascunhos, e cujo auxílio foi simplesmente inestimável.
SUMÁRIO
Prefácio.................................................................................................................. 9
Apresentação...................................................................................................... 13
Abstract ............................................................................................................... 15
I. ATENÇÃO PRIMÁRIA E SAÚDE
1. Atenção primária e sua relação com a saúde .............................. 19
2. Uma estrutura para a medição da Atenção Primária................ 43
3. Morbidade na Atenção Primária .................................................... 71
II. PRÁTICA DE ATENÇÃO PRIMÁRIA
4. Descrevendo a Atenção Primária.................................................101
5. Profissionais de Atenção Primária, subespecialistas
e outros profissionais não-médicos............................................. 133
6. Atenção Primária no contexto dos sistemas de saúde............ 177
III. RESPONSABILIDADE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA
7. Acessibilidade e Primeiro Contato: A “Porta”......................... 207
8. Cadastro de pacientes e atenção orientada para o
paciente ao longo do tempo ......................................................... 247
9. Interação profissional-paciente ..................................................... 291
10. Integralidade da atenção: quem deveria oferecer o que ........313
11. Coordenação da atenção: juntando tudo ................................... 365
IV. PACIENTES E POPULAÇÕES
12. Qualidade dos serviços de atenção primária:
uma visão clínica ................................................................................ 419
13. Avaliação da Atenção Primária: uma visão da população..... 481
14. Saúde pública e A tenção Primária orientada para
a comunidade ..................................................................................... 533
8
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
V. POLÍTICA DE SAÚDE E ATENÇÃO PRIMÁRIA
15. Sistemas de Atenção Primária em nações ocidentais
industrializadas ...................................................................................565
16. Sistemas de informação para a Atenção Primária................... 597
17. Necessidades de pesquisa em Atenção Primária ...................... 631
18. Políticas de saúde para alcançar efetividade e eqüidade ......... 665
Epílogo.............................................................................................................. 697
Apêndice: instrumento para avaliação de sistemas de
Atenção Primária em saúde infantil ........................................................... 699
Índice Remissivo .............................................................................................717
9
PREFÁCIO
Nos seis anos desde que a obra Primar y Care: Concept,
Evaluation, and Polic y [Atenção Primária: Conceito, Avaliação e
Política] foi publicada, o mundo dos serviços de saúde passou por
inúmeras mudanças. A reforma da atenção à saúde caracteriza
quase todos os países, mesmo aqueles com sistemas de saúde
estáveis décadas. Uma g rande par te do ímpeto para a reforma
origina-se dos custos sempre cr escentes da atenção, decor rentes
do envelhecimento da população, melhor sobrevivência de doentes
crônicos como resultado de tratamentos médicos aprimorados, e
o crescente papel de tecnologias caras no diagnóstico e manejo da
doença. Poucos países podem absorver os custos crescentes sem
uma séria consideração de alternativas. Devido às preocupações
compartilhadas entre os países e a centralidade da atenção primária
dentro deles, uma convergência de interesses sobre a natureza
da atenção primária e seu papel dentro dos sistemas de saúde.
Assim, este livro recorre fortemente ao conhecimento e
experiências de uma ampla variedade de países.
O livro tem a intenção de ajudar os leitores a entenderem o
papel da atenção primária como um foco de organização dos
sistemas de saúde, oferecer evidências científicas disponíveis sobre
sua utilidade e ajudar no seu desenvolvimento e crescimento.
Entretanto, as crescentes ameaças à qualidade da atenção e as
crescentes iniqüidades sociais que ameaçam piorar ainda mais as
disparidades entre as populações socialmente favorecidas e as
socialmente desfavorecidas traz uma nova urgência ao tópico da
efetividade e eqüidade dos ser viços de saúde e o papel da atenção
primária em melhorá-las.
Em sua forma mais altamente desenv olvida, a atenção primária
é a porta de entrada no sistema de serviços de saúde e o locus de
10
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
responsabilidade pela atenção aos pacientes e populações no decorrer
do tempo. Existe ainda a crença predominante de que a essência da
atenção primária é fundamentalmente simples. Nada pode estar mais
longe da verdade , e este livro é testemunha destes desafios.
O livro possui cinco seções principais: Atenção Primária e
Saúde; Prática de Atenção Primária; Responsabilidade na Atenção
Primária; Pacientes e Populações; e Política de Saúde e Atenção
Primária.
Atenção Primária e saúde. Três capítulos abordam a
relação entre a atenção primária e a saúde, traçam o
histórico do desenvolvimento da atenção primária como
um conceito e estabelecem o fundamento para o
pensamento a respeito de como as contribuições da
atenção primária têm sido e podem ser avaliadas.
Prática de Atenção Primária. Três capítulos descrevem
as características da prática da atenção primária e os tipos
de profissionais de saúde e examinam a atenção primária
como um componente dos sistemas de serviços de saúde.
Responsabilidade na Atenção Primária. Cinco capítulos
abordam a medição e a avaliação dos componentes
essenciais da atenção primária. Quatro descrevem a
importância de cada uma das principais características da
atenção primária, as abordagens para avaliar sua obtenção
e suas importantes implicações políticas; outro explora a
importância das interações paciente-profissional de saúde
na atenção primária.
Pacientes e populações. Três capítulos exploram a inter-
relação das abordagens centradas no paciente e centradas
na população para alcançar uma atenção primária de alta
qualidade, efetiva e eqüitativa.
Política de Saúde e Atenção Primária. Os últimos quatro
capítulos examinam vários sistemas de atenção primária
em nações industrializadas ocidentais, a importância dos
sistemas de informação na atenção primária, as
11
necessidades de pesquisa que podem ser adotadas como
uma estratégia nacional e ser realizadas por organizações
de pesquisa ou pesquisadores individuais e uma agenda
de política para atingir uma maior eficácia e eqüidade.
O livro é para aquelas pessoas desafiadas pelo pensamento
crítico a respeito do que é a atenção primária, o que deveria ser e
qual a sua contribuição para a melhora da saúde. Isto inclui muitos
médicos que a praticam, educadores que a ensinam, pesquisadores
que a estudam e avaliam, pacientes que a utilizam e desejam
entendê-la, e formuladores de política interessados em melhorá-
la. O livro tenta servir a cinco públicos: profissionais de saúde de
atenção primária que querem entender o que fazem e por que o
fazem; educadores de profissionais de saúde de atenção primária
que desejam uma base para pensar a respeito de suas abordagens
para a aprendizagem; pesquisadores que podem encontrar
estruturas, conceitos e dicas para direcionar seu trabalho;
for muladores de política que se beneficiariam de uma melhor
apreciação das dificuldades e desafios da atenção primária e de
sua importância; e os consumidores dos serviços de saúde, os quais
podem achar útil entender e interpretar suas próprias experiências.
O livro anterior foi escrito às vésperas da eminente reform a
da atenção à saúde nos Estados Unidos, na esperança de trazer
maior inter esse à atenção primária àqueles esforços. Portanto, os
exemplos usados foram, em sua maioria, desse país. Agora a situação
mudou; quase todos os países estão lutando com suas próprias
reformas e os princípios são aplicados em todos os lug ares. Os
resultados de estudos em outros países, escritos principalmente em
língua inglesa, são agora incorporados a este livro em uma extensão
muito maior. Como a literatura que trata da atenção primária ainda
é esparsa, muitos dos capítulos neste livro incorporam achados
mencionados no livro anterior, juntamente com as evidências que
foram adicionadas durante a década de 90. Assim, o livro serve
como uma fonte de informações acumuladas referentes ao
desenvolvimento e à avaliação da atenção primária no século XX.
12
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
O livro é amplamente direcionado para a atenção fornecida
pelos médicos. Isso não sugere que outros profissionais,
especialmente enf er meiros, tenham pouca responsabilidade na
atenção primária. Ao contrário, a tese é baseada na suposição,
geralmente considerada precisa para as nações industrializadas,
que o médico é que tem a responsabilidade de enxergar a totalidade
da atenção primária. Outros profissionais podem assumir
responsabilidade por alguns de seus aspectos, mesmo por alguns
dos mais centrais, mas é o médico que deve supervisionar todos
os seus aspectos. O reconhecimento da impor tância de outros tipos
de profissionais vem na for ma do uso da palavra pr ofissional de
saúde ao long o do livro. A expr essão “profissional de saúde”, em
vez de médico, é usada sempre que a função específica sob
consideração algumas vezes seja, ou possa ser, assumida por um
profissional que não seja médico. Embora a capacitação especial
dos médicos de atenção primária os torne “especialistas” em sua
área de prática, o livro adota a designação mais convencional de
profissionais de saúde não ligados à atenção primária como
“especialistas” ou “subespecialistas”. Os leitores devem entender
que isto é meramente “simbólico”, uma vez que os médicos de
atenção primária são, na verdade, especialistas em atenção primária.
A atenção primária é complexa. Seus desafios exigirão
esforços conjuntos na pesquisa e na tradução sistemática do
conhecimento em políticas. Embora a atenção primária tenha se
tornado cada vez mais reconhecida como um aspecto crítico dos
sistemas de saúde, ela ainda sofre de uma falta de apreciação de
suas características e contribuições, sendo que suas funções estão
sob constante ameaça de serem banalizadas no zelo de economizar
em serviços de saúde. Uma a tenção primária for te é essencial para
um sistema de saúde forte. Se este livro transmitir isso aos leitores,
terá atingido seus objetivos.
13
APRESENTAÇÃO
É longa a tradição de colaboração entre o Ministério da Saúde
e a Or ganização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura UNESCO. Essa cooperação técnica tem objetivado,
desde o início das atividades de sua Representação no Brasil, a
for mulação e operacionalização de políticas públicas capazes de
estimular o desenvolvimento human o e a qualidade de vida.
O presente livro, resultado dessa colaboração institucional, tem
importância ímpar para a estratégia brasileira de organização da
atenção básica e, em especial, para o Programa de Saúde da Família.
Desde a promulgação da Constituição de 1988, o Brasil tem
vivido uma refor ma sanitária sem precedentes, no sentido da
constr ução de um Sistema Único de Saúde universal, integral e
equânime. A adoção, no início da década de 90, da estr atégia de
Saúde da Família e sua evolução, ag re gando importantes atores
políticos e técnicos e demonstrando seu potencial transfor mador,
faz com que hoje ela se apresente como uma proposta para a
organização dos sistemas municipais de saúde, viabilizando o
cumprimento dos princípios do SUS.
A expansão do Programa de Saúde da Família alcançou mais
de um terço da população brasileira, e tem mostrado que a forma
brasileira de organização do sistema de saúde, a partir da atenção
básica, possui características similares às propostas formuladas
pela autora em seu livro. Entr etanto, destacam-se par ticularidades
como a riqueza da contribuição do trabalho dos Agentes
Comunitários de Saúde, o pressuposto do trabalho
multiprofissional nas equipes, o vínculo entre equipe, população
e ter ritório, e o estimulo à par ticipação da comunidade.
Esta obra, da Professora Barbara Starfield, é uma perfeita
expressão da sua criativa e inteligente capacidade de avaliar e
14
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Bar jas Negri
Ministro da Saúde
Jor ge Wer thein
Diretor da UNESCO no Brasil
entender a atenção primária dentro dos sistemas de saúde. Ajuda-
nos a dimensionar a complexidade que a atenção primária
experimenta, na medida em que deve adequar-se às mudanças no
perfil epidemiológico da população, aos crescentes avanços tecno-
científicos e às necessidades cambiantes da população, além de
reafirmar a eqüidade como um dos princípios éticos mais
importantes de qualquer sistema ou política de saúde.
Editar este livro em português e distribuí-lo aos profissionais
que “fazem” atenção básica em nosso país, aos educadores, aos
investig ador es, aos g estores e usuários é um marco na construção
do Sistema Único de Saúde no Brasil.
15
ABSTRACT
In Primary Car e: Balancing Health Needs, Ser vices and Technolog y,
Barbara Starfield presents evidence of the positive impact of
primary care on the health of populations and provides innovative
methods to evaluate the attainment and contribution of primary
care systems and practitioners. This volume is a valuable extension
of the author’s 1992 book on primar y care, underscoring two
additional areas: the role of primary care in facilitating equity in
health services, and the emerging overlap between clinical medicine
and public health. As primar y care increasingly infor ms health
care decision-making throughout the world, this updated edition
is critical for the future trajectory of health policy.
II
II
I
Atenção Primária e Saúde
19
1. ATENÇÃO PRIMÁRIA E SUA RELAÇÃO
COM A SAÚDE
... o fracasso em reconhecer que os resultados de
obser vações especializadas são, quando muito, apenas
verdades parciais, que precisam ser corrigidas com fatos
obtidos por estudo mais amplo.
... Não existe membro mais perigoso da nossa profissão
do que aqueles nela nascidos, os especialistas.
Osler, 1892
Todo sistema de serviços de saúde possui duas metas principais.
A primeira é otimizar a saúde da população por meio do emprego do
estado mais avançado do conhecimento sobre a causa das
enfermidades, manejo das doenças e maximização da saúde. A segunda
meta, e igualmente importante, é minimizar as disparidades entre
subgrupos populacionais, de modo que determinados gr upos não
estejam em desvantagem sistemática em relação ao seu acesso aos
serviços de saúde e ao alcance de um ótimo nível de saúde.
Em reconhecimento às crescentes iniqüidades sociais e de saúde
em quase todos os países, a Organização Mundial da Saúde adotou
um conjunto de princípios para construir a base da atenção primária
dos serviços de saúde. Conhecida como a Carta de Lubliana, ela propõe
que os sistemas de atenção de saúde deveriam ser:
dirigidos por valores de dignidade humana, eqüidade,
solidariedade e ética profissional;
direcionados para a proteção e promoção da saúde;
centrados nas pessoas, per mitindo que os cidadãos
influenciem os serviços de saúde e assumam a
responsabilidade por sua própria saúde;
20
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
focados na qualidade, incluindo a relação custo-
efetividade;
baseados em financiamento sustentável, para per mitir a
cobertura universal e o acesso eqüitativo; e
direcionados para a atenção primária.
A Comunidade Européia adotou esses princípios em 1996,
eles têm como base uma longa tradição de luta em direção à eqüidade
e “solidariedade” na maioria das nações européias (BMJ, 1996).
Infelizmente nem todas as nações concordam com estes princípios.
Confor me o conhecimento se acumula, os profissionais
tendem a, cada vez mais, se subespecializar para lidar com o volume
de novas inf ormações e administrá-lo. Portanto, em quase todos
os países, vemos as profissões da área de saúde ficarem mais
fragmentadas, com um crescente estreitamento de interesses e
competências e um enfoque sobr e enfer midades ou tipos de
enfer midades específicas em vez de sobre a saúde g eral das pessoas
e comunidades. Em alguns países, mais subespecialistas do que
especialistas em atenção primária. A atenção especializada
geralmente exige mais recursos do que a atenção básica porque é
enfatizado o desenvolvimento e o uso de tecnologia cara para
manter viva a pessoa enfer ma em vez de dar ênfase aos pr og ramas
de prevenção de enfer midades ou redução do desconfor to causado
pelas doenças mais comuns, que não ameaçam a vida. Embora
seja possível que a tendência à especialização baseada no
conhecimento mais atual ofereça uma atenção altamente eficaz a
doenças individuais, é improvável que produza uma atenção básica
altamente efetiva. Por que isso acontece? A especialização
direcionada ao tratamento da enfer midade não pode maximizar a
saúde porque a prevenção da enfermidad e e a promoção de um
ótimo funcionamento transcendem as enfermidades específicas e
requerendo uma perspectiva mais ampla do que a que pode ser
alcançada pelo especialista na enfer midade. A atenção médica
eficaz não está limitada ao tratamento da enfer midade em si; deve
considerar o contexto no qual a doença ocorre e no qual o paciente
vive. Além disso, raramente as enfermidades rar amente existem
21
1. Atenção Primária e sua relação com a saúde
de for ma isolada, especialmente quando apresentadas ao long o
do tempo. Assim, os especialistas em enfermidades podem oferecer
a atenção mais apropriada para as enfermidades específicas dentro
de sua área de competência especial, mas um profissional de
atenção primária deve integrar a atenção para a variedade de
problemas de saúde que os indivíduos apr esentam com o tempo.
Um sistema de saúde orientado para a subespecialização
possui outro problema: ele ameaça os objetivos de eqüidade.
Nenhuma sociedade possui recursos ilimitados para fornecer
ser viços de saúde. A atenção subespecializada é mais cara do que
a atenção primária e, por tanto, menos acessível para os indivíduos
com menos recur sos poderem pag ar por ela. Além disso, os recursos
necessários para a atenção altamente técnica orientada para a
enfer midade competem com aqueles exigidos para oferecer
ser viços básicos, especialmente para as pessoas que não podem
pag ar por eles.
Ao contrário, a atenção primária envolve o manejo de
pacientes que, geralmente, têm múltiplos diagnósticos e queixas
confusas que não podem ser encaixadas em diagnósticos
conhecidos e a oferta de tratamentos que melhorem a qualidade
global da vida e de seu funcionamento. A região européia da
Organização Mundial da Saúde propôs que a saúde fosse definida
como “a medida em que um indivíduo ou grupo é capaz, por um
lado, de realizar aspirações e satisfazer necessidades e, por outro,
de lidar com o meio ambiente. A saúde é, por tanto, vista como um
recurso para a vida diária, não o objetivo dela; abranger os recursos
sociais e pessoais, bem como as capacidades físicas, é um conceito
positivo”.
A “saúde” possui muitos tipos de determinantes (Fig. 1.1)
A estrutura g enética é altamente influente, tendo evoluído por
milhões de anos, e determina os limites dentro do que os serviços
de saúde podem alcançar na melhora da saúde. A estrutura g enética
continua a evoluir, e a condição de amanhã, em ter mos de potencial
para a saúde, deverá, provavelmente, ser diferente do que é hoje.
Cada vez mais é este o caso, que os cientistas estão aprendendo
22
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
a mexer nos genes para alterar estados de saúde. Além disso, a
tecnologia moderna torna cada vez mais possível interferir com a
expressão genética por meios como modificação do meio ambiente,
alteração de comportamento e o uso de determinados tipos de
atenção médica. Os outros deter minantes da saúde ambiente
social e físico, compor tamentos individuais e serviços de saúde
(prática médica) superpostos à estr utura genética (g enótipo) são
mostrados na Figura 1.1. Confor me indicado nesta f igura, a saúde
de um indivíduo ou uma população é deter minada por sua
combinação genética, mas grandemente modificado pelo ambiente
social e físico, por comportamentos que são cultural ou socialmente
deter minados e pela natureza da atenção à saúde oferecida.
Figura 1.1Figura 1.1
Figura 1.1Figura 1.1
Figura 1.1
Determinantes do estado de saúde.
Fonte: Starfield (1973).
23
1. Atenção Primária e sua relação com a saúde
A Figura 1.2 mostra a provável rota para estes importantes
deter minantes, de acordo com o conhecimento atual. A cadeia de
causas é complexa. Ela envolve fatores antecedentes, como o
contexto ambiental, as condições sociais e as relações sociais, e
os fatores de risco genético. Alguns destes fatores operam
diretamente (como água contaminada ou fatores de risco à
segurança em casa) e alguns indiretamente por meio de fatores de
mediação envolvendo compor tamento, estresses sociais e acesso
à atenção médica. Todos os riscos interagem de várias formas
(muitas delas desconhecidas) em seu efeito sobre a saúde.
Esta visão dos determinantes de saúde refere-se tanto ao
indivíduo como aos indivíduos. Ou seja, o estado de saúde de
uma população é determinado pelos mesmos fatores que ag em no
nível ecológico (população), em vez do nível individual. Assim, a
condição de saúde de uma comunidade é deter minada pelas
características ambientais daquela comunidade, as características
comportamentais de sua população e o senso de conexão e de
graus de coesão social na comunidade. O mesmo ocorre para as
condições sociais, como níveis de renda e riqueza na população, o
nível geral de educação na comunidade e as características de
oportunidades de trabalho disponíveis para seus membros.
Na maioria das nações industrializadas diferenças
sistemáticas na falta de saúde entre comunidades, com
concentrações mais elevadas entre os socialmente desfavorecidos,
independente da medida da morbidade (mortalidade, morbidade
objetivamente verificada, saúde auto-avaliada, presença de
limitações decorrentes de enfermidades crônicas ou simplesmente
a presença de enfermidades crônicas). Muitos estudos demonstraram
que a morbidade se concentra mais entre os socialmente
desfavorecidos, e este é o caso em todos os países em que ela foi
estudada. Entretanto, as disparidades variam de país para país, sendo
muito pior em alguns (como nos Estados Unidos) do que em outros
(como os Países Baixos) (Wagstaff e Van Doorslaer, 1993).
Utilizando a mortalidade de homens entre 35 e 64 anos de idade
como indicador de saúde, Kunst (1997) encontrou disparidades
24
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Adaptado de Starfield (1990)
Figura 1.2Figura 1.2
Figura 1.2Figura 1.2
Figura 1.2
Determinantes de saúde e doença.
25
1. Atenção Primária e sua relação com a saúde
socioeconômicas persistentes e até mesmo crescentes na saúde entre
as décadas de 70 e 80 em várias nações industrializadas, mas a
ausência de consistência nas diferentes causas de mortalidade levou-
o a concluir que os fatores ligados ao estilo de vida, como o tabagismo
e a ingestão de álcool, provavelmente também desempenhem um
papel na explicação das diferenças entre os países. Em seu relatório,
ele reconheceu de forma explícita que estes fatores ligados ao estilo
de vida podem ser fortemente influenciados por diferenças sociais
e econômicas antecedentes entre os indivíduos e a comunidade,
como foi previsto pelos modelos de deter minantes de saúde
representados na Figura 1.2.
Uma maior riqueza nacional não garante as condições
socioeconômicas que produzem um alto nível de saúde. Os
Estados Unidos, por exemplo, estão entre os países mais ricos,
mas sua população não colhe os benefícios disso em termos de
uma melhor saúde. A falta de uma relação consistente entre vários
aspectos do estado de saúde e a riqueza global do país está bem
documentada. Por exemplo, existem diferenças substanciais na
sobrevivência de crianças entre países com níveis similares de
riqueza global e a sobrevivência similar em alguns países com níveis
muito diferentes de saúde. Dentro do g rupo de nações com um
Produto Inter no Bruto (PIB) de mais de 20.000 dólares americanos
per capita , a variação nas taxas de sobrevivência para crianças abaixo
de 5 anos de idade varia de aproximadamente 990 por 1.000 nos
Estados Unidos a 995 por 1.000 na Finlândia, Suécia e Islândia.
Entre as nações com um PIB entre 1.000 e 2.000 dólares
americanos per capita, a variação é de menos de 900 por 1.000 na
Suazilândia e Papua-Nova Guiné a 990 por 1.000 em Cuba, que
tem a mesma taxa de sobrevivência infantil que os Estados Unidos
com um PIB vinte vezes maior.
Os países também diferem amplamente na diferença de renda
entre indivíduos pobres e ricos dentro de cada país. Os Estudos
de Renda de Luxemburgo demonstram a disparidade na renda
familiar, depois de pagos os impostos, entre crianças cujas famílias
são mais pobres do que 90% dos lares no país e aquelas nos 10%
26
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
mais ricos da população, dentro de cada uma das 18 nações
industrializadas do ocidente. A renda familiar dos 10% de crianças
mais ricas é mais do que seis vezes maior do que a dos 10% mais
pobres nos Estados Unidos de longe a mais socialmente iníqua
entre os países. A diferença é de aproximadamente quatro vezes
na Itália, Canadá e Austrália. É de três a quatro vezes no Reino
Unido, França, Alemanha e Suíça, mas menor do que três vezes
na Finlândia, nos Países Baixos, na Suécia e na Áustria. Este é o
mesmo caso quando todas as pessoas, não apenas as crianças, são
levadas em consider ação; os Estados Unidos são, de long e, os mais
iníquos, sendo a Finlândia, a Suécia e os Países Baixos os menos
iníquos. Entretanto, as iniqüidades são piores para todos os
indivíduos do que apenas para as crianças no caso da França,
Áustria, Nor ueg a, Dinamarca, Suécia e Finlândia, sugerindo que
estes países fazem um esforço especial para oferecer suportes
sociais para as crianças desfavorecidas, mas não tanto para os
adultos. Em contraste, as iniqüidades são pior es para as crianças
do que para todos os indivíduos nos Estados Unidos, Itália, Canadá
e Alemanha (Rainwater and Smeeding, 1995; Smeeding, 1996).
Confor me foi observado acima, a saúde está diretamente
associada à vantagem social em termos absolutos. Quanto mais
recursos sociais de indivíduos e comunidades, maior a probabilidade
de uma saúde melhor. Além disso, a privação social relativa, mais
do que a a bsoluta, também está associada a uma saúde pior. Ou
seja, quanto maiores as disparidades na riqueza em qualquer
população, maior as disparidades na saúde. Isso foi demonstrado
por várias abordag ens para avaliação. Wagstaf f e Van Doorslaer
(1993) usaram dados de levantamentos populacionais em que foi
pedido às pessoas que descrevessem sua saúde. Quanto maior a
desigualdade de renda dentro dos países, maior a desigualdade na
saúde. As diferenças na extensão das disparidades de renda,
conforme medidas pelo percentual de renda depois de pa g os os
impostos e do recebimento de benefícios para os 70% menos
favorecidos da população, estão relacionadas à diferença na
expectativa de vida. Quanto menor a disparidade de renda, ou seja,
27
1. Atenção Primária e sua relação com a saúde
quanto mais eqüitativa a distribuição de renda na população, mais
longa a expectativa média de vida, mesmo quando os níveis médios
de renda no país são similares (Wilkinson, 1992, 1996, 1997).
Foi demonstrado haver a mesma relação dentro dos países e
para outros indicadores de saúde. Por exemplo, dados dos 50
estados dos EUA mostram uma relação bastante notável entre os
índices de desigualdade de renda no estado e a mortalidade
ajustada à idade, mortalidade infantil, mortalidade por doença
cardíaca, mortalidade por vários tipos de câncer, mortes por todas
as doenças infecciosas combinadas e por tuberculose, além de por
pneumonia e bronquite, separadamente, e homicídios. Os achados
persistiram mesmo quando as diferenças nas taxas de tabagismo
foram consideradas (Kennedy et al., 1996). Em outro estudo,
utilizando uma medida diferente de desigualdade de renda, os
achados foram os mesmos. Além disso, foi descober to que uma
maior desigualdade de renda estava associada a uma porcentagem
maior de crianças nascidas vivas pesando menos de 2.500 gramas
e taxas maiores de incapacitação entre a população (Kaplan et al.,
1996). Ou seja, quanto maior a desigualdade de renda, maiores as
taxas de problemas relacionados à saúde, sem levar em conta a
medida específica da desigualdade de renda.
Os ser viços de saúde, na qualidade de um dos determinantes
diretos, podem ter um papel na melhora da saúde, mesmo em face
das notáveis iniqüidades na distribuição de riquezas. Como o nível
global de g astos em ser viços de saúde não está unifor memente
associado a melhores níveis de saúde, qualquer efeito dos ser viços
de saúde deve ser uma conseqüência de características específicas
destes serviços de saúde. Com base apenas na teoria, é provável
que a obtenção de efetividade e eqüidade exija que o sistema de
saúde tenha uma forte orientação de atenção primária.
Para que a atenção primária otimize a saúde, ela deve enfocar
a saúde das pessoas na constelação dos outros deter minantes de
saúde, ou seja, no meio social e físico no qual as pessoas vivem e
trabalham, em vez de enfocar apenas sua enfer midade individual.
As unidades de atenção primária obtêm a eqüidade fornecendo
28
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
atenção no nível mais apropriado; assim, isso libera recursos que
podem ser usados para diminuir as disparidades na saúde entre os
segmentos mais e menos necessitados da população.
A atenção primária é aquele nível de um sistema de serviço
de saúde que oferece a entrada no sistema para todas as novas
necessidades e problemas, fornece atenção sobre a pessoa (não
direcionada para a enfer midade) no decor rer do tempo, f or nece
atenção para todas as condições, exceto as muito incomuns ou
raras, e coordena ou integra a atenção fornecida em algum outro
lugar ou por terceiro s. Assim, é definida como um conjunto de
funções que, combinadas, são exclusivas da atenção primária. A
atenção primária também compartilha características com outros
níveis dos sistemas de saúde: responsabilidade pelo acesso,
qualidade e custos; atenção à prevenção, bem como ao tratamento
e à reabilitação; e trabalho em equipe. A atenção primária não é
um conjunto de tarefas ou atividades clínicas exclusivas;
virtualmente, todos os tipos de atividades clínicas (como
diagnóstico, prevenção, exames e várias estratégias para o
monitoramento clínico) são características de todos os níveis de
atenção. Em vez disso, a atenção primária é uma abordag em que
for ma a base e deter mina o trabalho de todos os outros níveis dos
sistemas de saúde. A atenção primária aborda os problemas mais
comuns na comunidade, oferecendo serviços de prevenção, cura
e reabilitação para maximizar a saúde e o bem-estar. Ela integ ra a
atenção quando mais de um problema de saúde e lida com o
contexto no qual a doença existe e influencia a resposta das pessoas
a seus problemas de saúde. É a atenção que organiza e racionaliza
o uso de todos os recursos, tanto básicos como especializados,
direcionados para a promoção, manutenção e melhora da saúde.
Vuori (1985) sug eriu quatro formas de visualizar a a tenção
primária: como um conjunto de atividades, como um nível da
atenção, como uma estratégia para or ganizar a atenção à saúde e
como uma filosofia que per meia a atenção à saúde. que existem
poucas atividades que sejam exclusivas da atenção primária, a
29
1. Atenção Primária e sua relação com a saúde
primeira abordagem é inadequada. Os níveis de atenção, as
estratégias para organização da atenção à saúde e uma “filosofia”
estão inter-relacionados, sendo que a definição de atenção primária
utilizada neste livro capta suas inter-relações.
A atenção primária difere da atenção por consulta, de curta
duração (atenção secundária) e do manejo da enfermidade a longo
prazo (atenção terciária) por várias características. A atenção primária
lida com os problemas mais comuns e menos definidos, geralmente
em unidades comunitárias como consultórios, centros de saúde,
escolas e lares. Os pacientes têm acesso direto a uma fonte adequada
de atenção que é continuada ao long o do tempo, para diversos
problemas e que inclui a necessidade de serviços preventivos.
Comparada à Medicina subespecializada, a atenção primária
é menos intensiva, tanto em capital como em trabalho, e menos
hierárquica em sua org anização. Portanto, é inerentemente mais
adaptável e capaz de responder às necessidades sociais de saúde
em mudança. Na atenção especializada, os pacientes tipicamente
são encaminhados por um outro médico que explorou a natureza
do problema do paciente e iniciou um trabalho de diagnóstico
preliminar. O p rocesso de diagnóstico resulta em uma definição
precisa de fisiopatologia; as inter venções são basicamente
orientadas para este processo fisiopatológico. Na atenção
primária, ao contrário, g eralmente, o paciente é conhecido pelo
médico, sendo que, a entrada no sistema é dada pelo paciente,
freqüentemente com queixas muito pouco específ icas e vagas. A
principal tarefa é a elucidação do problema do paciente e a
obtenção de inf or mações que levem a um diagnóstico e à escolha
do manejo mais apropriado. Médicos da atenção primária, quando
comparados com especialistas, lidam com uma variedade mais
ampla de problemas, tanto com pacientes individuais como com
a população com a qual trabalham. Como estão mais próximos
do ambiente do paciente do que os especialistas, estão em uma
posição melhor para avaliar o papel dos múltiplos e interativos
deter minantes da doença e da saúde.
30
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
CONTEXTO HISTÓRICO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA
Em 1920, oito anos após a instituição do seguro nacional de
saúde na Grã-Bretanha, foi divulgado um “texto oficial” (Lord Dawson
of Penn, 1920) tratando da organização do sistema de serviços de
saúde. Distinguia três níveis principais de serviços de saúde: centros
de saúde primários, centros de saúde secundários e hospitais-escola.
Foram propostos vínculos formais entre os três níveis e foram descritas
as funções de cada um. Esta formulação foi a base par a o conceito de
regionalização: um sistema de organização de serviços planejado para
responder aos vários níveis de necessidade de serviços médicos da
população. Este arranjo teórico forneceu, posteriormente, a base para
a reorg anização dos serviços de saúde em muitos países, os quais
agora possuem níveis claramente definidos de atenção, cada um com
um setor de atenção médica primária identificável e em funcionamento.
Em 1977, em sua trigésima reunião anual, a Assembléia Mundial
de Saúde decidiu unanimemente que a principal meta social dos
governos participantes deveria ser “a obtenção por parte de todos os
cidadãos do mundo de um ní vel de saúde no ano 2000 que lhes permitirá
levar vida social e economicamente produtiva”. Hoje conhecida como
“Saúde para Todos no Ano 2000”, esta declaração desencadeou uma
série de atividades que tiveram um grande impacto sobre o pensamento
a respeito da atenção primária. Os princípios foram enunciados em
uma conferência realizada em Alma Ata e trataram do tópico da
“atenção primária à saúde”. O consenso alcançado foi confirmado
pela Assembléia Mundial de Saúde em sua reunião subseqüente, em
maio de 1979. A atenção primária à saúde foi definida como:
Atenção essencial à saúde baseada em tecnologia e métodos práticos, cientificamente
comprovados e socialmente aceitáveis, tor nados uni versalmente acessíveis a
indivíduos e famílias na comunidade por meios aceitáveis para ele seaumcusto
que tanto a comunidade como o país possa arcar em cada estágio de seu
desenvolvimento, um espírito de autoconfiança e autodeterminação. É parte integral
do sistema de saúde do país, do qual é função central, sendo o enfoque principal
do desenvolvimento social e econômico global da comunidade. É o primeiro nível
31
1. Atenção Primária e sua relação com a saúde
de contato dos indivíduos, da família e da comunidade com o sistema nacional de
saúde, levando a atenção à saúde o mais próximo possível do local onde as
pessoas vivem e trabalham, constituindo o primeiro elemento de um processo de
atenção continuada à saúde. (Organização Mundial da Saúde, 1978)
A atenção primária à saúde foi reconhecida como uma porção
“integ ral, per manente e onipresente do sistema formal de atenção
à saúde em todos os países, não sendo apenas uma coisa ‘a mais’”
(Basch, 1990). A conferência de Alma Ata especificou ainda mais
que os componentes fundamentais da atenção primária à saúde
eram educação em saúde; saneamento ambiental, especialmente
de águas e alimentos; programas de saúde materno-infantis,
inclusive imunizações e planejamento familiar; prevenção de
doenças endêmicas locais; tratamento adequado de doenças e
lesões comuns; fornecimento de medicamentos essenciais;
promoção de boa nutrição; e medicina tradicional.
Embora estes conceitos de atenção primária à saúde tenham
sido pensados para serem aplicados em todos os países,
discordâncias a respeito da extensão na qual eles são aplicáveis nas
nações industrializadas, bem como a respeito dos impedimentos à
sua aplicação (Kaprio, 1979). O conceito de atenção primária à saúde,
em sua ênfase sobre a “proximidade com as pessoas”, parece estranho
em países com sistemas de saúde baseados na tecnologia, na
especialização, na supremacia do hospital e no currículo das escolas
de Medicina que estão sob o controle de especialistas que trabalham
em hospitais. Além disso, o princípio de que a atenção à saúde deve
ser “relacionada às necessidades” não é facilmente entendido em países
com sistemas de saúde bem estabelecidos, mas sem nenhum sistema
de informação para documentar sistematicamente as necessidades
de saúde ou avaliar o impacto dos serviços de saúde sobre eles. A
orientação para a comunidade tem pouca base histórica nos sistemas
de saúde da maioria dos países industrializados.
Entretanto, alguns países reorg anizaram seus ser viços de
saúde para consolidar os aspectos médicos e de saúde da atenção
primária. Por exemplo, os novos “médicos de família”, em Cuba,
32
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
residem onde trabalham. São, por tanto, membros da comunidade à
qual servemeéemseubenefício que atuam como agentes de
mudança, quando existem circunstâncias ambientais ou sociais que
necessitam de melhoria (Gilpin, 1991). Esta integr ação dos serviços
médicos convencionais com serviços sociais e ambientais se encaixa
no modelo previsto em Alma Ata.
Muitas das metas específicas definidas em Alma Ata foram
alcançadas em países industrializados (Vuori, 1984). A maioria destes
países pode ressaltar com orgulho seus programas de longa duração
para a maior parte das atividades: fornecimento de alimentos,
fornecimento de água potável, saúde materno-infantil, imunizações e
controle de doenças endêmicas, tratamento básico de problemas de
saúde e fornecimento de medicamentos essenciais. Quando a atenção
primária em saúde é vista como serviços “acessíveis”, muitos destes
países podem, com justiça, assegurar que alcançaram as metas devido
à disponibilidade de serviços de atenção médica. Apenas quando as
nações encaram a atenção primária à saúde como uma estratégia para
integ rar todos os aspectos dos serviços de saúde é que ela se torna
igualmente aplicável como uma meta em nações industrializadas. Esta
visão requer que um sistema de atenção à saúde seja organizado para
enfatizar a justiça e a eqüidade social, a auto-responsabilidade, a
solidariedade internacional e a aceitação de um conceito amplo de
saúde (Vuori, 1984).
As mudanças necessárias para converter a atenção médica
primária convencional nas nações industrializadas em uma atenção
primária à saúde mais ampla, conforme a definição elaborada em
Alma Ata, estão descritas na Tabela 1.1. Todas as orientações de
mudanças fazem parte das metas de atenção primária de acordo
com a concepção neste livro, o qual utiliza o termo atenção primária
para denotar a atenção médica primária convencional lutando para
alcançar os objetivos da atenção primária à saúde. A intenção é
sugerir que, ao aumentar a orientação dos ser viços de atenção
primária em direção à resposta das necessidades, tanto das
comunidades como dos indivíduos que buscam atenção, a atenção
médica primária convencional se aproximará da visão de atenção
primária à saúde de Alma Ata e em direção a uma maior eqüidade.
33
1. Atenção Primária e sua relação com a saúde
Tabela 1.1Tabela 1.1
Tabela 1.1Tabela 1.1
Tabela 1.1
Da atenção médica primária à atenção primária à saúde
Adaptado de Vuori (1985)
ATENÇÃO PRIMÁRIA COMO UM ENFOQUE DE
INTERESSE POLÍTICO
Em muitas partes do mundo, os benefícios da atenção
primária foram adotados pela fé. Confor me foi observado acima,
o Relatório Dawson, de 1920, apresentou uma estrutura
org anizacional baseada em diferentes níveis de atenção, sendo a
mais básica o centro de atenção primária à saúde, apoiado por um
nível secundário, consistindo de especialistas que for neciam
atenção por consultas que, por sua vez, era apoiado por um nível
terciário baseado em hospitais-escola para atenção às doenças mais
incomuns e complicadas. A Declaração de Alma Ata, de 1978,
codificou a “santidade” da atenção primária à saúde como um
princípio para todos os sistemas de saúde do mundo.
Foi apenas recentemente, entretanto, que evidências empíricas
dos benefícios da atenção primária foram procuradas e encontradas.
34
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Comparações internacionais
Nem todos os países organizaram seus sistemas de saúde
em torno de uma forte base de atenção primária. O imperativo
tecnológico do século XX tem sido responsável por uma tendência
à especialização e à inferioridade do generalista, sendo este
imperativo mais for te em alguns países do que em outros. Em que
medida estas diferenças na orientação da atenção primária estão
associadas a uma saúde melhor, custos mais baixos e satisfação
das pessoas com seu sistema de saúde? Uma comparação entre 12
nações industrializadas ocidentais diferentes indica que os países
com uma orientação mais forte para atenção primária, na verdade,
possuem maior probabilidade de ter melhores níveis de saúde e
custos mais baixos (Starfield, 1994).
Foi desenvolvida uma classificação para a força da orientação
de atenção primária utilizando cinco características do sistema de
saúde que se pensava estarem associadas a uma forte atenção
primária e seis características das unidades de saúde que refletem
uma forte atenção primária. As cinco características do sistema
foram a medida na qual os profissionais e instalações de saúde
estavam regulados de modo que estivessem geograficamente
distribuídos aproximadamente de acordo com o grau de
necessidade; o tipo de médico designado como médico de atenção
primária; os honorários profissionais dos médicos de atenção
primária em relação a outros especialistas; o número de médicos
de atenção primária em relação a outros especialistas; e a extensão
da cober tura de seguro para os serviços de saúde.
As seis características das unidades de saúde foram a
extensão na qual as pessoas buscam o primeiro atendimento com
seu médico de atenção primária antes de ir a qualquer outro lugar;
a força das relações entre as pessoas e seu médico de atenção
primária; a medida em que a unidade de atenção primária tratou
de necessidades comuns, independente de seu tipo; o grau de
coordenação entre a atenção primária e outros ser viços de saúde;
a orientação familiar da atenção primária; e a orientação
comunitária da atenção primária.
35
1. Atenção Primária e sua relação com a saúde
Cada país recebeu uma pontuação de 0, 1 ou 2, dependendo
da presença e força das características. Os países foram, então,
classificados por sua pontuação média para as 11 características.
As medidas de saúde e de gastos consistiam do seguinte:
1. Classificação das taxas para 14 indicadores de saúde
obtidos por métodos comparáveis e de uma única fonte
de dados. Os indicadores incluíam mor talidade neonatal;
mortalidade pós-neonatal; mortalidade infantil (neonatal
e pós-neonatal combinadas); expectativa de vida na idade
de 1 ano (para eliminar a contribuição da mortalidade
infantil) e nas idades de 20, 65 e 80 anos, para homens e
mulheres, separadamente; taxas de morte ajustadas por
idade; e anos de vida potencial perdidos antes de 65 anos
como resultado de problemas preveníveis. Também
incluíram uma medida de morbidade: porcentagem de
baixo peso no nascimento.
2. Classificação para gastos totais de sistemas de saúde per capita,
expresso pela paridade do poder de compra. Como é o caso
com as outras classificações, a classificação “melhor” é 1.
3 . Classificações para a satisfação de cada população com
seu sistema de saúde, obtida por uma pesquisa por telefone
em que as pessoas classificaram o sistema de saúde de
seu país de acordo com a extensão em que necessitava de
melhoras. A classificação foi baseada na dif erença entre
a porcentagem da amostra de população relatando que
seriam necessárias mudanças importantes e a porcentagem
que dizia que seu sistema necessitava apenas de mudanças
menores para tor ná-lo melhor.
4. Classificações para gastos por pessoa para medicamentos
prescritos pela paridade do poder de compra, sendo
conferido grau 1 ao país com os menores custos de
medicamento prescrito.
A Figura 1.3 mostra que, quanto mais forte o sistema de atenção
primária do país, melhor a classificação para os impactos combinados.
A Figura 1.4 mostra as classificações para a força da atenção primária
36
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
em um eixo e a classificação para gastos de atenção à saúde totais, per
capita, no outro eixo, sendo conferido grau 1 para o país com o mais
baixo custo total. Os gráficos tornam claro que os países com atenção
primária mais forte lidam melhor com resultados e custos.
Figura 1.3Figura 1.3
Figura 1.3Figura 1.3
Figura 1.3
Relação entre a força da atenção primária e os resultados combinados.
Outras três facetas importantes desta comparação são
impor tantes. Primeiro, as pontuações para as características do
sistema e para as características da unidade de saúde estavam
altamente relacionadas, ou seja, países nos quais as políticas de
saúde conduziam à atenção primária eram os países em que as
características das unidades de saúde também refletiam uma forte
atenção primária (Fig. 1.5). Segundo, as vantagens decor rentes de
uma for te atenção primária foram maiores para g r upos jovens, o u
seja, durante a primeira infância e a fase escolar, em relação à
vida adulta (Starfield, 1993). Terceiro, o g rupo de países com
sistemas de saúde que tentam distribuir recursos de acordo com a
necessidade em vez da demanda (o mercado) alcançam melhores
níveis de saúde do que outros países (Starfield, 1993).
37
1. Atenção Primária e sua relação com a saúde
Figura 1.4Figura 1.4
Figura 1.4Figura 1.4
Figura 1.4
Relação entre a força da atenção primária e os gastos totais
com atenção à saúde
Figura 1.5Figura 1.5
Figura 1.5Figura 1.5
Figura 1.5
Relação entre as políticas do sistema de saúde e as características da
prática relacionada à atenção primária
38
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Outras avaliações do impacto da atenção primária
As primeiras destas avaliações mediram o impacto da
atenção primária por meio do exame de diversas medidas de
resultado em áreas mais e menos bem ser vidas de médicos de
atenção primária e especialistas.
Utilizando dados de todos os condados dentro dos estados
continentais dos Estados Unidos para 1978-1982, Far mer e
colaboradores (1991) foram os primeiros a demonstrar taxas de
mortalidade específicas para a idade consistentemente mais
baixas em condados com proporções mais altas de médicos de
atenção primária para a população. Embora as taxas de pobreza
(mas não áreas rurais, porcentagem de lares chefiados por
mulheres, porcentagem da população com menos de 12 anos de
escolaridade ou porcentagem de minoria) também tivessem sido
consistentemente relacionadas às taxas de mortalidade, a
proporção de médicos de atenção primária para a população teve
um efeito independente.
Shi (1994) estendeu esta abordagem ao examinar o efeito
dos médicos de atenção primária por coeficiente da população
sobre as “chances de vida” (taxas de mortalidade total, taxas de
mortalidade por doença cardíaca, taxas de mortalidade por
câncer, expectativa média de vida ao nascer, mortalidade neonatal
e baixo peso no parto) das proporções de médicos de atenção
primária por população, pr oporção de especialistas por coeficiente
da população, classificação estadual dos indicadores
socioeconômicos (taxa de desempreg o, nível de escolaridade,
índice de poluição, renda per capita) e as classificações estaduais
dos indicadores de estilo de vida (taxas de negligência no uso de
cinto de segurança, obesidade e ta bagismo). A Tabela 1.2 resume
os achados, os quais mostram que, quanto mais médicos de
atenção primária por população e quanto menor o número de
outros especialistas por população, melhores as chances de vida,
independente do efeito de outros fatores de influência, como a
renda per capita .
39
1. Atenção Primária e sua relação com a saúde
Shea e colaboradores (1992) utilizaram uma abordagem de
caso-controle para examinar o impacto de ter um médico de atenção
primária. Homens que apareceram em um pronto atendimento
numa grande área metropolitana foram caracterizados como
portadores de complicações de hipertensão ou portadores de outros
problemas enquanto, ocasionalmente também apresentam
hiper tensão, que era não complicada. A pr obabilidade de que
aqueles homens cuja hipertensão foi a causa de sua consulta
tivessem uma fonte regular de atenção primária foi menor do que
os homens cuja hipertensão tinha sido um achado casual. A
presença de uma fonte de atenção primária foi a diferença mais
marcante entre os dois grupos até mesmo mais impor tante do
que a cober tur a d o seguro.
Welch e colaboradores (1993) examinaram declarações para
ser viços fornecidos a indivíduos com mais de 65 anos de idade
em todos os Estados Unidos para explorar as razões para a variação
geog ráfica nos gastos com médicos. Embora os gastos não
estivessem relacionados ao número total de médicos por população,
Tabela 1.2Tabela 1.2
Tabela 1.2Tabela 1.2
Tabela 1.2
Principais determinantes de
resultado
(mortalidade geral, mortalidade por
doença cardíaca, mortalidade por câncer, mortalidade neonatal, duração
da vida, baixo peso ao nascer) em 50 Estados dos EUA
Obser vação: Todas as variáveis são ecológicas, não individuais.
Fonte: Shi (1994)
40
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
eles eram menores em áreas com uma proporção maior de médicos
de atenção primária, mesmo após o controle dos efeitos adicionais
das taxas de admissão em hospitais e altas taxas de pag amento.
Os achados deste estudo foram ainda mais ref inados por intermédio
da demonstração de que uma oferta maior de médicos de família e
internistas generalistas estava significativamente associada a custos
mais baixos para os serviços médicos, mesmo após o controle para
o efeito de diversas variáveis sociodemográficas e de oferta do
sistema de saúde. Em comparação, quanto maior o for necimento
de especialistas em atenção não-primária mais elevados os g astos.
Avaliações mais recentes dos benefícios da atenção primária
abordavam mais diretamente as características da própria atenção
primária em vez do tipo de profissional de saúde que
presumivelmente a fornecia. que requerem um entendimento
das características específicas da atenção primária e dos métodos
para avaliá-los, eles são discutidos mais à frente no Capítulo 13.
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43
A atenção primária, confor me foi definida no Capítulo 1,
oferece o suporte filosófico para a organização de um sistema de
ser viços de saúde. Mas as definições gerais não ajudam quando a
tarefa é determinar se um dado sistema merece a descrição de
atenção primária . É necessário que sejamos mais específicos.
Historicamente, a atenção primária tem sido definida pelo
tipo de médico que a exerce; mesmo atualmente é comum que
seja caracterizada como aquele atendimento oferecido por clínicos
gerais (ou médicos de família). O problema com esta
caracterização é que a norma para a atenção primária transforma-
se naquela que descreve as unidades de medicina de família. Como
isto pode variar de lugar para lugar e de país para país, é necessária
uma melhor alter nativa para especificar suas funções.
A atenção primária pode ser distinguida de outros tipos de
atenção pelas características clínicas dos pacientes e seus problemas.
Estas características incluem a variedade de diagnósticos ou
problemas observados, um componente identificável dedicado à
prevenção das doenças e uma alta proporção de pacientes que
sejam conhecidos na unidade de saúde.
Comumente é pensado que os profissionais de saúde da atenção
primária possam ser diferenciados daqueles da atenção secundária e
terciária pela variedade dos problemas encontrados. Sobre a totalidade
dos problemas, os subespecialistas podem ter uma maior variedade
de diagnósticos, que a maioria dos problemas muito raros pode ser
encontrada na atenção especializada e não na atenção primária.
Esperava-se que os profissionais de saúde da atenção primária
2. UMA ESTRUTURA PARA A MEDIÇÃO
DA ATENÇÃO PRIMÁRIA
44
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
possuíssem uma maior variedade dos diagnósticos mais comuns,
supunha-se por exemplo, aqueles que a brangem 50% das consultas,
que seria esperado que os subespecialistas atendessem
principalmente pacientes com um subg rupo destes diagnósticos
comuns que têm complicações que não podem ser tratadas por
médicos de atenção primária. Além disso, os subespecialistas, por
definição, limitam-se apenas a determinados tipos de diagnósticos e,
portanto, tratariam de uma variação menor de diagnósticos. Assim,
profissionais de saúde da atenção primária deveriam observar uma
variedade maior de tipos de diagnósticos, pelo menos entre seus
diagnósticos mais freqüentes, do que os subespecialistas.
Outra for ma de avaliar a variedade de diagnósticos ou a
variedade de problemas apresentados é examinar a porcentagem de
todos os diagnósticos que contribuíram para os 50 diagnósticos mais
comuns; esta porcentagem deveria ser menor na unidade de atenção
primária do que na unidade subespecializada, que se imaginava
que as unidades de atenção primária teriam uma variedade maior.
Como a atenção primária é o ponto de primeiro contato
dentro do sistema de atenção à saúde, seus profissionais deveriam
encontrar uma série muito mais ampla de problemas apresentados
do que no caso da atenção subespecializada. Quando estes
problemas apresentados são catalogados, um número muito maior
deles deveria abrang er qualquer porcentag em deter minada de todos
os problemas na atenção primária do que na atenção especializada.
Também podemos supor que nas unidades de atenção
primária haja uma maior porcentagem de consultas classificadas
como relacionadas à prevenção.
As unidades de atenção primária deveriam envolver uma
proporção maior de pacientes que recebem atenção continuada do
que aqueles que chegam pela primeira vez, sendo que a descrição da
unidade de atenção primária e da subespecializada deveria demonstrar
a diferença. Uma característica relacionada que deveria distinguir a
atenção primária é uma maior familiaridade dos profissionais de
atenção primária tanto com o paciente como com seus problemas.
Seria esperado que tanto os médicos de atenção primária quanto os
45
2. Uma estrutura para a medição da Atenção Primária
subespecialistas examinassem pacientes novos e pacientes “antigos”,
pacientes com problemas antigos. Os profissionais de saúde da atenção
primária devem examinar mais pacientes “antigos” com problemas
novos porque eles são responsáveis pela atenção ao paciente no
decorrer do tempo, sem considerar qual o problema em particular.
Esta abordagem descritiva (empírica) para caracterizar a
atenção médica foi melhor resumida por White (1973), que
distinguiu a atenção primária, secundária e terciária pela natureza
dos pr oblemas de saúde, pelo local da prestação do atendimento,
pelo padrão de encaminhamento, pela duração da responsabilidade,
pelas fontes de informação, pelo uso de tecnologia, pela orientação
do interesse e pela necessidade de treinamento. A Tabela 2.1
apresenta sua estr utura. Confor me a tabela indica, as distinções
entre os níveis de atenção são feitas de acordo com o grau de
diferença para cada uma das 23 características.
Estas abordagens, embora geralmente úteis para o propósito
de ilustrar a singularidade da atenção primária, não oferecem uma
base apropriada para o estabelecimento de metas para obtenção de
um alto nível de desempenho dos serviços de atenção primária.
Abordagens mais novas para avaliação da obtenção de uma melhor
atenção primária mudam de uma abordagem de conteúdo e orientada
para tarefas para uma abordagem que considera o que a atenção
primária deveria estar fornecendo no contexto das características
dos sistemas de serviço de saúde. Esta seção mostra que as funções
mais importantes da atenção primária podem ser medidas de uma
forma que ofereça uma base para o estabelecimento de metas e
aperfeiçoamento contínuo em sua realização.
Todas as avaliações exig em padrões a par tir dos quais o
desempenho possa ser medido, seja de acor do com uma meta
preestabelecida, seja através da comparação de um sistema (ou
estabelecimento) em relação a outro (Parker et al., 1976). Este
capítulo oferece uma estr utura teórica para o estabelecimento
destes padrões. Os capítulos subseqüentes mostram como esta
estr utura pode ser usada para avaliar cada uma das principais
características da atenção primária.
46
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Tentativas para definir a atenção primária por suas funções
datam do início da década de 70. A atenção primária é, agora,
amplamente aceita como a oferta da Medicina ao primeiro contato; a
suposição de responsabilidade longitudinal pelo paciente sem
considerar a presença ou ausência de doença ; e a integração de
aspectos físicos, psicológicos e sociais de saúde aos limites da
capacitação da equipe de saúde. Tal descrição foi pr oposta no
Relatório Millis (1966) e condiz com as principais características da
atenção primária: primeiro contato, longitudinalidade, abrangência e
coordenação (ou integração) (Alpert e Charney, 1974; Parker, 1974).
Tabela 2.1Tabela 2.1
Tabela 2.1Tabela 2.1
Tabela 2.1
Conteúdo relativo da atenção primária e de outras formas de atenção
O = não característico
+ a ++++ = cada vez mais característico
Adaptado de White (1973)
47
2. Uma estrutura para a medição da Atenção Primária
Um comitê do Institute of Medicine [Instituto de Medicina]
(1978) sugeriu uma abordagem para avaliar a atenção primária,
listando os atributos da atenção primária como acessibilidade,
integralidade, coordenação, continuidade e responsabilidade. Destes
cinco atributos, apenas a integralidade foi realmente definida
(capacidade da equipe de atenção primária em lidar com os problemas
emergentes na população à qual ser ve). A responsabilidade foi
reconhecida como uma característica não exclusiva da atenção
primária, embora essencial a ela. O comitê reconheceu que a atenção
primária não poderia ser avaliada por características descritivas como
a localização da atenção, o campo de treinamento do profissional ou
pela ofer ta de um conjunto particular de serviços. Mas esta beleceu
que “os profissionais que treinam homens e mulheres para atenção
primária devem acostumar seus estudantes a um ambiente de prática
que atenda ou exceda” os padrões da atenção primária, especificados
na for ma de respostas positivas a um conjunto de 21 questões
referentes a seus cinco atributos. Sete questões foram dedicadas à
acessibilidade, seis à integ ralidade, quatro à coordenação, três à
continuidade e uma à responsabilidade.
Os resultados dos esforços deste comitê foram um marco
importante na tentativa de delinear um método normativo para medir
a obtenção da atenção primária. Entretanto, a lista de questões
apresenta limites. Em primeiro lugar, a maioria dos indicadores na
lista poderia ser atributos da atenção secundária ou terciária, além da
atenção primária; estes incluem a oportunidade para os pacientes
marcarem consultas; a avaliação da cultura, dos antecedentes, da
condição socioeconômica e circunstâncias de vida do paciente; a
disponibilidade para internar pacientes em hospitais, asilos ou clínicas
de recuperação; a of erta de informações simples e compreensíveis
sobre taxas; a aceitação de pacientes sem considerar sua raça, religião
ou etnia; prontuários de saúde acessíveis e facilmente localizáveis;
oferta de um resumo dos registros do paciente a outros médicos quando
necessário; e a garantia de responsabilidade por alertar as autoridades
competentes se o problema de um paciente revelar ser uma ameaça à
saúde que possa afetar a outrem.
48
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Em segundo lugar, muitos dos indicadores exigem um nível
muito alto de desempenho e não permitem nenhuma
variabilidade, sendo, por tanto, difíceis de atingir. Um exemplo é
a exigência de que “90% das solicitações adequadas para
consultas de rotina, como exames preventivos, sejam atendidas
dentro de uma semana”.
Em terceiro lugar, muitos dos indicadores representam a
capacidade potencial de oferecer um ser viço, em vez de sua
realização concreta. Alguns exemplos são: a oferta de pessoal que
possa lidar com pacientes com barreiras especiais de linguagem
(em vez da existência concreta de tais serviços para aqueles que
deles precisam), a disponibilidade dos profissionais para internar
pacientes em outras instituições (em vez do grau em que podem
fazê-lo) e a disposição da unidade de saúde para lidar com a grande
maioria dos problemas dos pacientes (em vez da demonstração de
que a unidade realmente realiza isso).
Uma alternativa ao método de avaliação da atenção primária
sugerido pelo Instituto de Medicina é avaliar o nível real de alcance
de resultados em vez do potencial de obtenção do primeiro contato,
da longitudinalidade, da integralidade e da coordenação. Os
padrões para avaliar a adequação estariam baseados no grau de
melhoria de uma época para outra ou pela comparação de um
sistema em relação a outro, em vez de fazê-lo em comparação
com um padrão absoluto arbitrário. Assim como a lista do Instituto
de Medicina, a abordagem facilita a auto-avaliação de clínicas ou
unidades de saúde, bem como a avaliação por uma instituição
externa, para deter minar o g rau com que o estabelecimento ou o
sistema de serviços de saúde oferece atenção primária que responda
aos padrões aceitos ou que, pelo menos, alcance um nível de
desempenho mais alto do que outros.
Para isso, os critérios do Instituto de Medicina foram
adaptados por Smith e Buesching (1986) para verificar o grau em
que a atenção primária era atingida. Perguntaram a uma amostra
casual de pessoas sobre características selecionadas de seu
atendimento; das respostas resultou um escore de atenção primária.
49
2. Uma estrutura para a medição da Atenção Primária
O acesso foi verificado por respostas a af ir mativas como
“eu poderia telefonar para meu médico hoje por estar com dor
no peito e receber uma resposta imediata” e “se eu entrasse em
contato com meu médico com um problema de saúde que não
fosse uma emergência, ele me examinaria dentro de um período
razoável de tempo”.
A continuidade foi expressa em respostas como “meu médico
me para exames regulares mesmo se eu não tenho uma doença
específica” e “meu médico me oferece tratamentos confiáveis de
acompanhamento para a doença”.
A integralidade foi julgada por respostas como “meu médico
cuida da maioria dos meus problemas médicos” e “meu médico tem
um excelente conhecimento sobre toda minha medicação atual”.
As respostas sobre coordenação incluíram “se eu precisar
de um exame laboratorial ou de radiografias, meu médico explica
os resultados para mim” e “se vários médicos estão envolvidos no
meu tratamento, meu médico org aniza-o”.
Uma característica adicional, a atenção personalizada, foi
avaliada por meio de respostas como “meu médico tem um excelente
conhecimento sobre o tipo de trabalho que eu faço” e “posso discutir
um problema pessoal, familiar ou emocional com meu médico”. A
satisfação com a atenção estava altamente associada ao escore
derivado da combinação das respostas para estes atributos; também
foram associados altos escores de atenção primária a pacientes que
estiveram doentes menos dias e que ficaram menos dias em casa
devido à doença, depois que fatores que pudessem gerar confusão,
como percepção do estado de saúde e problemas de saúde relatados,
fossem levados em consideração. Entretanto, a especialidade do
médico pessoal não foi associada ao escore de atenção primária e
cerca de 25% da amostra da comunidade indicaram um
subespecialista como seu médico pessoal.
Um relatório mais recente sobre atenção primária do Instituto
de Medicina definiu-a como “a ofer ta de ser viços de atenção à
saúde integrados e acessíveis por meio de clínicos que sejam
responsáveis por atender a uma grande maioria de necessidades
50
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
pessoais de atenção à saúde, desenvolvendo uma parceria constante
com os pacientes e trabalhando no contexto da família e da
comunidade”. (Donaldson et al., 1996). Reconhecendo que os
termos nesta definição podem estar abertos a diferentes
interpretações, o relatório especificou, ainda, cada um dos
componentes da definição, como segue:
Integrado: integral (tratando qualquer problema de saúde em qualquer
estágio do ciclo de vida do paciente); coordenada (assegurando
a ofe r ta de uma combinação de serviços e informações de
saúde que atendem às necessidades de um paciente e que
também envolva a ligação entre estes serviços); continuada
(atenção ao longo do tempo por um único indivíduo ou equipe
de indivíduos e comunicação efetiva e oportuna).
Acessível: de fácil abordagem e eliminação de barreiras geográficas,
administrativas, financeiras, culturais e de linguagem.
Ser viços de Atenção à Saúde: ser viços of erecidos por profissionais
de atenção à saúde diretamente ou de acordo com sua
orientação com o propósito de promover, manter ou
restaurar a saúde.
Clínico: um indivíduo que utiliza o conhecimento científico e tem
autoridade para orientar a prestação de serviços da equipe
de saúde aos pacientes.
Responsável: responsável pela abordagem de uma grande maioria
das necessidades pessoais de saúde.
Maioria das necessidades pessoais de saúde: os clínicos recebem todos
os problemas trazidos pelos pacientes (sem restrições por
problema ou sistema do organismo) e são treinados para
diagnosticar e manejar uma grande maioria destes problemas
quando for adequado.
Necessidades pessoais de atenção à saúde: questões físicas, mentais,
emocionais e sociais que envolvem o funcionamento de um
indivíduo.
Par ceria constante: relação esta belecida ao long o do tempo entre
paciente e clínico com a expectativa mútua de continuidade
no decor rer do mesmo.
51
2. Uma estrutura para a medição da Atenção Primária
Paciente: indivíduo que interag e com um clínico devido a uma
doença ou para promoção da saúde e prevenção de doenças.
Contexto da família e da comunidade: entendimento das condições de
vida do paciente, da dinâmica familiar e dos antecedentes
culturais referentes à comunidade na qual o paciente vive.
Esta definição de atenção primária não incluiu explicitamente
a atenção ao “primeiro contato”, embora o relatório, como par te
de uma seção sobre integralidade, reconheça que a “atenção
primária é a via comum e preferida dentro do sistema de atenção à
saúde” (Donaldson et al., 1996, pág. 38). Além disso, ela é similar
à definição anterior do Instituto de Medicina ao incluir algumas
características que também pertencem a outros níveis dos sistemas
de saúde. Por e xemplo, a responsabilidade se aplica não a penas à
atenção primária, mas também ao sistema do qual a atenção
primária é uma parte. É esperado que os especialistas que aceitam
a responsabilidade pelo manejo continuado de pacientes com
problemas raros ou incomumente complexos mantenham parceria
constante. Além disso, muitos dos conceitos mencionados na
definição estão aber tos a várias interpretações. No período de
apenas um ano de pois do surgimento do relatório, dois g rupos
distintos de pesquisadores (Flocke, 1997; Franks et al., 1997)
fizeram referência à definição ao justificarem suas abordagens para
medição da atenção primária; estas abordagens eram bastante
diferentes. Além disso, a expressão “a maioria das necessidades
pessoais de atenção à saúde” é ambígua e aberta à interpretação
de que se refira à maioria dos problemas listados em compêndios
como a Classificação Internacional de Doenças (ver Capítulo 16).
Ou seja, a “maioria” (no sentido do relatório) diz respeito apenas
a indivíduos específicos e não às necessidades da população. Para
as populações, o conceito de ter todas as necessidades comuns
atendidas é a mais relevante.
Esta definição mais recente do Instituto de Medicina também
é especialmente notável em seu enfoque sobre os pacientes
individuais em vez da org anização de ser viços de saúde para
atender às necessidades da população. A próxima seção deste
52
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
capítulo enfatiza a importância de enfocar a atenção primária dentro
do contexto de um sistema de saúde que trata explicitamente das
funções duais para atender tanto às necessidades das comunidades
como às daqueles indivíduos que buscam atendimento por si
mesmos (pacientes).
ATENÇÃO PRIMÁRIA A PARTIR DO PONTO DE
VISTA DO SISTEMA DE ATENÇÃO À SAÚDE
A Canadian Medical Association [Associação Médica
Canadense] considera, explicitamente, a atenção primária como o
ponto de entrada para o sistema de atenção à saúde, estando inter-
relacionada aos outros componentes do sistema. Define a atenção
primária como consistindo de “avaliação de um paciente ao
primeiro contato e a oferta de atenção continuada para uma ampla
variedade de questões de saúde, além de incluir a abordagem de
problemas de saúde, prevenção e promoção de saúde; e apoio
continuado, com inter venções familiar e comunitária, quando
necessário”. Difere, assim, do relatório do Instituto de Medicina
ao distinguir a atenção ao primeiro contato como uma função
cr ucial e ao incluir inter venções comunitárias na definição das
funções (Canadian Medical Association, 1994).
A Charter for General Practice/Family Medicine in Eur ope [Car ta
para Clínica Geral/Medicina de Família na Europa], desenvolvida
por um g r upo de trabalho da r egião européia da Or ganização
Mundial da Saúde (1994), reconhece, explicitamente, o papel da
atenção primária como um sistema de atenção que oferece
atendimento acessível e aceitável para os pacientes; assegura a
distribuição eqüitativa de recursos de saúde; integra e coordena
ser viços cur ativos, paliativos, preventivos e promotor es de saúde;
controla, de forma racional, a tecnologia da atenção secundária e
os medicamentos; e aumenta a relação custo-efetividade dos
ser viços por meio de 12 características:
53
2. Uma estrutura para a medição da Atenção Primária
1. Geral: não é restrita a faixas etárias ou tipos de
problemas ou condições
2. Acessível: em relação ao tempo, lug ar, financiamento
e cultura
3. Integrada: curativa, reabilitador, promotora de saúde
e preventiva de enfermidades
4 . Continuada: longitudinalidade ao longo de períodos
substanciais de vida
5. Equipe: o médico é parte de um grupo multidisciplinar
6 . Holística: perspectivas físicas, psicológicas e sociais
dos indivíduos, das famílias e das comunidades
7. Pessoal: atenção centrada na pessoa e não na
enfer midade
8. Orientada para a família: problemas compreendidos no
contexto da família e da rede social
9 . Orientada para a comunidade: contexto de vida na
comunidade local; consciência de necessidades de
saúde na comunidade; colaboração com outros setores
para desencadear mudanças positivas de saúde
10. Coordenada: coordenação de toda a orientação e apoio
que a pessoa recebe
1 1. Confidencial
1 2. Defensora: defensora do paciente em questões de
saúde sempre e em relação a todos os outros
provedores de atenção à saúde.
Reconhece, ainda, que determinadas condições estr uturais,
melhoras organizacionais e questões de desenvolvimento
profissional devem ser consideradas na oferta de atenção primária
de alta qualidade. As condições estruturais incluíam a clara
definição de uma unidade de saúde em que os membros da
população tivessem o direito de optar e mudar a escolha de
profissionais de atenção primária, a capacidade de colocar uma
unidade de saúde na comunidade em que sua população reside,
atenção ao primeiro contato em que o acesso a especialistas é
54
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
dado por meio do profissional de saúde de atenção primária e um
sistema de remuneração equilibrado para oferecer toda a
variedade de ser viços necessários para a população.
Tanto a visão de atenção primária centrada na população
como na pessoa oferecem uma base para um sistema nor mativo
de medição das funções de atenção primária dentro de um sistema
de ser viços de saúde. Além disso, introduz a necessidade de levar
em conta tanto a estr utura de sistemas de saúde como os
comportamentos que ref letem a função, seja a partir do ponto de
vista da população, seja do indivíduo.
A Figura 2.1 especifica os componentes importantes do
sistema de saúde de acordo com seu tipo: estr utura, processo e
resultado (Donabedian, 1966). As características individuais
dentro de cada componente diferem de lugar para lugar e de época
para época, mas cada sistema de ser viços de saúde possui uma
estr utura (ou capacidade) que consiste das características que
possibilitam que ofereça ser viços, os processos (ou desempenho)
que envolvem tanto ações por parte dos profissionais de saúde
no sistema como as ações das populações e dos pacientes, e o
resultado refletido em vários aspectos do estado de saúde. Estes
componentes interagem com o comportamento individual e são
deter minados tanto por ele como pelo ambiente social, político,
econômico e físico em que o sistema de serviços de saúde existe.
As páginas seguintes descrevem uma abordagem para
medição da atenção primária com base em determinadas
estr uturas e processos ou, como são mais comumente designados,
“capacidade” e “desempenho” dentro do sistema de ser viços de
saúde. Esta abordagem para medir a atenção primária presume
que os atributos estr uturais estejam em seu devido lug ar par a
que impor tantes atividades possam ser realizadas. Também
presume a importância de avaliar o desempenho dessas
atividades. Assim, medir os aspectos principais envolve a
medição de uma característica comportamental e da característica
estr utural da qual ela de pende.
55
2. Uma estrutura para a medição da Atenção Primária
Vamos e xaminar, por sua vez, a capacidad e e o desempenho
do sistema de serviços de saúde para estabelecer o estágio para
escolha destas características, que são as mais importantes na
atenção primária. O próximo capítulo considerará os “resultados”,
no contexto de uma discussão de medição do estado de saúde.
CAPACIDADE DE UM SISTEMA DE SERVIÇOS
DE SAÚDE
A capacidade do sistema de ser viços de saúdeéoque
propicia a prestação destes serviços. Seus elementos capacitadores
consistem dos recursos necessários para oferecer os ser viços.
Confor me é mostrado na Figura 2.1, existem, pelo menos, dez
componentes estr uturais principais:
Figura 2.1Figura 2.1
Figura 2.1Figura 2.1
Figura 2.1
O sistema de serviços de saúde
Fonte: Starfield (1992).
56
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Pessoal: inc lui todos os envolvidos na prestação do ser viço e sua
educação e treinamento.
Instalações e equipamentos: inclui os prédios (por e xemplo, hospitais,
clínicas ou centros de saúde, e consultórios) e os
componentes físicos das instalações, incluindo elementos
como instrumental laboratorial e tecnologia para
diagnóstico ou tratamento.
Ger enciamento e comodidades: inclui características dos ser viços que
não aquelas diretamente relacionadas à atenção clínica. Por
exemplo, os resultados de exames laboratoriais são
registrados de forma moder na? Os pacientes são tratados
com cortesia e respeito?
Variedade de ser viços ofer ecidos pelas instalações: esta gama de ser viços
pode variar de um país para outro e de comunidade para
comunidade, mas cada unidade toma decisões a respeito
do tipo de serviços que estará disponível ou não. A
variedade de ser viços oferecidos é uma consideração
importante para a natureza da atenção primária e é discutida
em maiores detalhes no Capítulo 10.
Organização de serviços: o pessoal trabalha em grupos ou
individualmente? Quais os mecanismos para assegurar a
confiabilidade e quem é responsável por oferecer os
diferentes aspectos da atenção?
Mecanismos para oferecer continuidade da atenção: estes mecanismos
são especialmente importantes na atenção primária, porque
sem eles não haveria maneira de lidar com problemas que
exigem mais do que uma consulta ou exigem transferência
de informações. Geralmente, a continuidade é oferecida na
for ma de profissionais ou equipes de profissionais que
ser vem como primeiro contato para o paciente, mas, às
vezes, o único mecanismo de continuidade é alguma for ma
de prontuário médico. A continuidade é considerada mais
detalhadamente no Capítulo 11.
57
2. Uma estrutura para a medição da Atenção Primária
Mecanismos para oferecer acesso ao atendimento: não tem sentido possuir
pessoal, instalações e equipamentos se não puderem ser
utilizados por pessoas que deles necessitem. Existem
diversos tipos de acessibilidade: acessibilidade em relação
ao tempo (ou seja, o horário de disponibilidade),
acessibilidade geográfica (adequação de transporte e
distância a ser percorrida) e acessibilidade psicossocial
(existem barreiras de linguagem ou culturais à comunicação
entre os funcionários, nas instalações, e os pacientes?). A
acessibilidade e sua importância especial na atenção primária
são consideradas em maiores detalhes no Capítulo 7.
Ar ranjos para financiamento: qual o método de pagamento dos
ser viços e como a equipe é remunerada por seu trabalho?
Dentre todos os aspectos estr uturais, este é o mais provável
de ser diferente de país para país e, portanto, é de g rande
interesse para estudos comparativos entre nações.
Delineamento da população eletiva para r eceber os ser viços: cada unidade
do sistema de ser viços de saúde deveria ser capaz de definir
a comunidade à qual serve e conhecer suas características
importantes em ter mos sociodemog ráficos e de saúde.
Membros da população deveriam ser capazes de identificar
sua fonte de atenção e estar conscientes da responsabilidade
desta pela oferta dos ser viços requeridos. Este aspecto
estr utural é um outro elemento cr ucial na atenção primária,
especialmente em relação ao aspecto conhecido como
longitudinalidade. Este elemento é discutido com mais
profundidade no Capítulo 8.
Administração do sistema de saúde: sistemas de saúde diferem em
sua responsabilidade em relação àqueles aos quais ser vem.
Freqüentemente não envolvem a população em decisões
sobre a maneira pela qual os ser viços são org anizados ou
oferecidos. Às vezes, conselhos comunitários ser vem como
conselho consultivo. Raramente a responsabilidade pela
tomada de decisão é compartilhada ou assumida por
comitês comunitários.
58
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
As abordagens para a administração variam desde aqueles
com menos poder (capacidade de ser ouvido) aos com mais poder
(capacidade de controlar a organização). A variação consiste de
três tipos principais: controle, escolha e persuasão moral/legal
(Saltman, 1994). O controle político, no qual as pessoas têm
autoridade sobre os orçamentos e alocação de recursos, é a forma
mais direta de administração; também condiz com a tomada de
decisão coletiva, democrática. A escolha, como uma for ma
alter nativa de administração, é um método muito mais indireto
baseado no princípio de que per mitir às pessoas que escolham
onde e de quem desejam receber seus ser viços encorajará a
competição, e assim, por omissão, a responsabilidade será
alcançada. Levando o princípio da escolha à sua conclusão lógica,
o f inanciamento dos ser viços per mitiria às pessoas buscarem
atendimento por prestadores de serviços de saúde alter nativos e
receberem reembolso como se tivessem sido atendidas por
profissionais médicos convencionais. (Est e é o caso nos Países
Baixos, onde o sistema de seguro reembolsará acupuntura e outras
terapias alternativas, e na Alemanha, onde a terapia nos spas é
reembolsável.) O terceiro mecanismo de administração é mais
indireto e é representado pelos sistemas de reparação legal e social
por serviços inadequados ou prejudiciais. As pesquisas de
satisfação par a determinar como as pessoas se sentem a respeito
de seus serviços funcionam por persuasão moral, a medida mais
indireta de controle porque as pessoas não têm capacidade de
mudar aspectos dos serviços que são consider ados inadequados.
DESEMPENHO DE UM SISTEMA DE SERVIÇOS
DE SAÚDE
Os pr ocessos de um sistema de serviços de saúde são as ações
que constituem a ofer ta e o recebimento de ser viços. Assim, existem
dois componentes: aqueles que representam atividades por parte de
59
2. Uma estrutura para a medição da Atenção Primária
quem oferece atenção e aqueles que representam atividades da
população. Os provedores devem, primeiro, reconhecer as
necessidades que existem tanto na comunidade como nos pacientes
individuais. Este aspecto é conhecido como r econhecimento de um
pr oblema (ou d e necessidades) e é uma consideração particularmente
importante em relação à atenção primária. O problema pode ser um
sintoma, um sinal, um exame labora torial anor mal, um item anterior
mas relevante no histórico do paciente ou da comunidade ou
necessidade de um procedimento preventivo indicado. O
reconhecimento do problema subentende consciência da existência
de situações que exijam atenção num contexto de saúde. Após
reconhecer o problema, g eralmente, o profissional de saúde formula
um diagnóstico ou um entendimento do problema quando um
diagnóstico não for possível. Isto é necessário para chegar ao passo
seguinte no processo de atenção: a instituição de uma estratégia
adequada para tratamento ou manejo. Subseqüentemente, deve ser feito
um arranjo para r ea valiação do problema para determinar se seu
reconhecimento original, seu diagnóstico e seu tratamento foram
adequados. A esta altura, o processo de atenção inicia um novo
ciclo de monitoramento e acompanhamento, com vigilância dos
problemas tal qual existem agora.
Os processos de atenção que refletem como as pessoas
interag em com o sistema de atenção também são importantes. Em
primeiro lugar, as pessoas decidem se e quando usar o sistema de
atenção à saúde. Se realmente utilizarem-no, chegam a uma
compreensão sobre o que este ser viço lhes oferece e, então,
decidem quão satisfeitos estão com seu atendimento e se aceitarão
as recomendações ou orientações dos profissionais de saúde. Em
seguida, decidem sobr e o quanto querem participar do processo.
Podem decidir realizar as recomendações ou modificá-las da
maneira como pensam ou desrespeitá-las parcial ou
completamente. Certos processos de atenção sugeridos por
pacientes são uma consideração importante na avaliação da atenção
primária, como será obser vado nos Capítulos7e8.
60
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
MEDINDO A OBTENÇÃO DA ATENÇÃO
PRIMÁRIA: A ABORDAGEM CAPACIDADE-
DESEMPENHO
Tanto o potencial como o alcance dos aspectos cr uciais da
atenção primária podem ser medidos pela abordagem da
capacidade-desempenho. Quatro elementos estruturais do
sistema de ser viços de saúde definem o potencial, enquanto dois
aspectos do processo traduzem o potencial numa atividade
importante.
Os quatro elementos estruturais relevantes à atenção
primária são acessibilidade, variedade de ser viços, população
eletiva e continuidade. São definidos como segue:
Acessibilidade: envolve a localização do estabelecimento próximo
da população a qual atende, os horários e dias em que está
aberto para atender, o grau de tolerância para consultas
não-agendadas e o quanto a população percebe a
conveniência destes aspectos da acessibilidade.
Variedade de ser viços: é o pacote de serviços disponíveis para a
população, bem como aqueles ser viços que a população
acredita que estejam disponíveis.
Definição da população eletiva: inclui o quanto o serviço de atenção
à saúde pode identificar a população pela qual assume
responsabilidade e o quanto os indivíduos da população
atendida sabem que são considerados parte dela.
Continuidade: consiste nos arranjos pelos quais a atenção é
oferecida numa sucessão ininterrupta de eventos. A
continuidade pode ser alcançada por intermédio de diversos
mecanismos: um profissional que atende ao paciente ou
um prontuário médico que registra o atendimento prestado,
um registro computadorizado ou mesmo um prontuário
trazido pelo paciente. O quanto o estabelecimento oferece
tais arranjos e a percepção de sua obtenção pelos indivíduos
na população indica a extensão da continuidade da atenção.
61
2. Uma estrutura para a medição da Atenção Primária
Traduzir o potencial na atividade adequada requer dois
elementos de desempenho do sistema de ser viços de saúde:
utilização de ser viços pela população e reconhecimento de
problemas por profissionais de serviços de saúde.
A utilização refere-se à extensão e ao tipo de uso dos ser viços
de saúde. A razão fundamental para uma consulta pode ser a
investigação da ocorrência de um novo problema, o
acompanhamento de um problema antig o ou receber ser viços
preventivos. A utilização pode começar pelo paciente ou ser uma
exigência ou orientação de um profissional de saúde, podendo,
ainda, ocorrer como resultado de alguma exigência administrativa.
O reconhecimento de um problema (ou de necessidade) é o passo
que precede o processo diagnóstico. Se os problemas ou
necessidades de saúde não forem reconhecidos, não haverá
qualquer processo diagnóstico ou, então, será um processo
inadequado. Os pacientes podem não se queixar de problemas por
não estarem cientes deles, ou podem se queixar de uma coisa que
mascara outra. O papel do profissional de saúde é a deter minação
precisa das necessidades de saúde de um paciente ou da população.
Como foi anterior mente declarado, são necessários um
dos quatro elementos estr uturais (acessibilidade, variedade de
ser viços, população eletiva e continuidade) e um dos dois elementos
processuais (utilização, reconhecimento do problema) para medir
o potencial e o alcance de cada um dos atributos da atenção
primária: atenção ao primeiro contato, longitudinalidade,
integ ralidade e coordenação. Cada um dos quatro atributos é
suficientemente impor tante para garantir um capítulo em separado.
A seção seguinte descreve resumidamente os elementos estr uturais
e processuais necessários para medir cada um.
A atenção ao primeiro contato implica acessibilidade e uso do
ser viço a cada novo problema ou novo episódio de um problema
pelo qual as pessoas buscam atenção à saúde. Independente do
que um estabelecimento de saúde define ou percebe como
acessibilidade, ele não oferece atenção ao primeiro contato a menos
que os seus usuários em potencial percebam-na como acessível e
62
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
isto se ref lita na sua utilização. Portanto, a medição da atenção ao
primeiro contato envolve a avaliação da acessibilidade (elemento
estr utural) e da utilização (elemento processual).
Diversas questões importantes dizem respeito à atenção ao
primeiro conta to. Em que medida o sistema oferece fácil acesso,
tanto geograficamente quanto com horário mais prolongado de
funcionamento? A população acha este acesso conveniente? O
quanto o acesso mais fácil está associado à utilização do
estabelecimento para problemas novos por sua população definida?
A atenção ao primeiro contato é mais profundamente discutida
no Capítulo 7.
A longitudinalidade pressupõe a existência de uma fonte regular
de atenção e seu uso ao long o do tempo. Assim, a unidade de
atenção primária deve ser capaz de identificar a população eletiva,
bem como os indivíduos dessa população que deveriam receber
seu atendimento da unidade, exceto quando for necessário realizar
uma consulta fora ou fazer um encaminhamento. Além disso, o
vínculo da população com sua fonte de atenção deveria ser refletida
em fortes laços interpessoais que refletissem a cooperação mútua
entre as pessoas e os profissionais de saúde.
Diversas questões importantes referem-se à longitudinalidade.
Aqueles indivíduos claramente identificados como usuários
identificam a unidade de saúde como sua fonte regular de atenção
e utilizam-na como tal por um período de tempo? Todas as
consultas, exceto as iniciadas pelos profissionais, ocorrem na
unidade? A natureza da interação entre o profissional de saúde e
os pacientes reflete sua cooperação mútua? A longitudinalidade é
o assunto do Capítulo 8.
A integralidade implica que as unidades de atenção primária
devem fazer arranjos para que o paciente receba todos os tipos de
ser viços de atenção à saúde, mesmo que alguns possam não ser
oferecidos eficientemente dentro delas. Isto inclui o encaminhamento
para serviços secundários para consultas, serviços terciários para
manejo definitivo de pr oblemas específicos e para ser viços de
suporte fundamentais, tais como internação domiciliar e outros
63
2. Uma estrutura para a medição da Atenção Primária
serviços comunitários. Embora cada unidade de atenção primária
possa def inir diferentemente sua própria variedade de serviços, cada
uma deveria explicitar sua responsabilidade tanto para a população
de pacientes como para a equipe, bem como reconhecer as situações
para as quais os serviços estão disponíveis. A equipe deveria oferecer
e reconhecer a necessidade de serviços preventivos e de serviços
que lidem com sintomas, sinais e diagnósticos de doenças manifestas.
Também deveria reconhecer adequadamente pr oblemas de todos
os tipos, sejam eles funcionais, orgânicos ou sociais. Este último
tipo é par ticularmente importante, que todos os problemas de
saúde ocorrem dentro de um ambiente social que freqüentemente
predispõe ou causa enfermidades.
Diversas questões importantes referem-se à integralidade.
O quão inclusivo é o pacote de benefícios oferecido? Ele é explícito
e é compreendido pela população? Ao oferecer ser viços, os
profissionais reconhecem um amplo espectro de necessidades na
população? Eles encaminham a outros especialistas, quando
apropriado? A integralidade é assunto do Capítulo 10.
A coordenação (integração) da atenção requer alguma forma de
continuidade, seja por parte dos profissionais, seja por meio de
prontuários médicos, ou ambos, além de reconhecimento de
problemas (um elemento processual). Por exemplo, o estado de
problemas observado em consultas anteriores ou problemas pelos
quais houve algum encaminhamento para outros profissionais
deveria ser avaliado nas consultas subseqüentes. Este
reconhecimento de problemas será facilitado se o mesmo
profissional examinar o paciente no acompanhamento ou se houver
um pr ontuário médico que esclareça estes problemas. Assim, tanto
a continuidade como o reconhecimento de problemas são
necessários par a avaliar a coordenação da atenção.
Diversas questões impor tantes referem-se à coordenação. Em
que medida o ag endamento é organizado para per mitir que os
pacientes consultem sempre com o mesmo profissional em todas
as consultas? Os prontuários médicos contêm infor mações
pertinentes ao atendimento dos pacientes? Existe aumento do
64
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
reconhecimento de problemas associado à melhor continuidade?
Este reconhecimento aumentado é função de prontuários melhores,
da continuidade com um profissional usual, ou de ambos? A
coordenação é o assunto do Capítulo 11.
AVALIANDO A EFETIVIDADE DOS ATRIBUTOS
DA ATENÇÃO PRIMÁRIA
Funções da atenção primária e tarefas da atenção
primária
Algumas vezes, as funções da atenção primária são
confundidas com as tarefas que são necessárias para realizar
algumas delas. Assim, a atenção primária, freqüentemente, é
caracterizada pelo tipo de ser viços que oferece dentro dos interesses
de obtenção da integr alidade. Exemplos típicos de tais serviços
são a promoção de saúde, a prevenção de enfermidades (incluindo
tanto a prevenção primária como a secundária, ou seja, a detecção
precoce por meio de exames), diagnóstico e manejo de uma ampla
variedade de problemas médicos, atenção à saúde materno-infantil,
atenção emergencial, atenção reabilitadora, atenção paliativa,
encaminhamentos quando apropriados, manutenção do prontuário
médico, proteção do paciente, educação em saúde e par ticipação
em programas de saúde comunitária e de proteção da saúde
(Alberta Medical Association, 1996). Definir e medir a atenção
primária pela da obtenção de suas funções cardinais resultará, pelo
efeito destas funções, em uma lista de tarefas similar ou idêntica.
As funções é que são cruciais, porque muitas das tarefas que fazem
parte da atenção primária (por exemplo, prevenção, atenção
emergencial, proteção do paciente, educação em saúde, atenção
reabilitadora) são tarefas que também fazem parte de outros níveis
de atenção e podem, até mesmo, ser assumidas por outros níveis
de atenção (por exemplo, atividades de saúde púb lica) em vez de
ser oferecidas nas unidades de atenção primária.
65
2. Uma estrutura para a medição da Atenção Primária
Diferenças essenciais entre a atenção primária e a
atenção por outros especialistas
Embora a atenção primária e outros níveis de atenção muitas
vezes compartilhem atributos, existem diferenças marcantes na
maneira como as funções são realizadas. A seguir, são discutidas
algumas das principais diferenças:
1. Acessibilidade. Todos os serviços deveriam ser
adequadamente acessíveis. O acesso aos ser viços de
subespecialistas deveria ser assegurado para aqueles que
deles necessitarem, sendo que o limite de horário deveria
ser adequado às necessidades dos pacientes e à urgência
de sua situação. Na atenção primária, entretanto, o acesso
deve ser universal e não necessariamente relacionado ao
grau de necessidade, que não se pode esperar que os
indivíduos conheçam a gravidade ou urgência de muitos
de seus problemas antes de buscarem atendimento.
2 . Prontuários médicos. Todos os profissionais de saúde
devem manter registros completos e precisos e serem
responsáveis pelo conteúdo por eles g erado. A atenção
primária é especial apenas pela responsabilidade de
conhecer os elementos essenciais dos registros gerados
em outros níveis de atenção.
3. Utilização dos serviços pelas populações. Embora indivíduos
nas populações utilizem todos os níveis de serviços de
tempos em tempos, o uso da atenção primária é desencadeado
basicamente pelos indivíduos, enquanto na atenção
secundária e terciária o uso é mais freqüentemente
desencadeado pelo profissional de atenção à saúde.
4. Reconhecimento do problema. Tanto a atenção primária
quanto a não-primária devem reconhecer os problemas
que são trazidos a elas. Na atenção primária, estes
problemas e necessidades são muito pouco definidos e
diferenciados, enquanto em outros níveis de atenção eles
são melhor definidos, porque passaram por um “filtro”
de definição.
66
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
5. Variedade de serviços. Tanto a atenção primária quanto
outros níveis de atenção devem especificar a variedade
de serviços que será oferecida, de acordo com o
treinamento, a experiênci a e a competência do profissional
de saúde. Na atenção primária, entretanto, a variedade
deve ser mais ampla, pois ela deve abranger todos os
problemas de saúde que são comuns na população, em
vez de um subconjunto deles.
6 . O processo de diagnóstico na atenção primária difere
daquele de outros níveis de atenção, que a
probabilidade de doenças sérias, a freqüência de testes
para diagnóstico e a prescrição de terapias definitivas são
menores na atenção primária. O valor de tempo (espera
obser vada) tor na-se maior tanto para definir melhor os
problemas apresentados quanto para julgar a
probabilidade de sucesso de medidas alternativas.
Enquanto as ameaças à efetividade e à eficiência da
atenção primária encontram-se na maior probabilidade de
não observar uma enfer midade quando ela está e o
possível atraso no diagnóstico de enfermidades menos
comuns, a ameaça à efetividade e eficiência da atenção
subespecializada encontra-se na maior probabilidade de
atribuir queixas a enf er midades que não estão presentes e
o conseqüente dano como um resultado de exames
excessivos, diagnósticos e tratamentos inadequados
(mesmo temporariamente) e a desnecessária ansiedade por
parte dos pacientes. A atenção primária está mais sujeita
a er ros de omissão, enquanto a atenção especializada é
mais propensa a er ros por r ealização.
Na teoria, o elemento estr utural de cada característica
deveria estar relacionado de perto ao elemento processual. Ou
seja, um acesso melhor deve levar a uma melhor utilização para
cada problema novo de saúde; uma melhor identificação de uma
fonte regular de atenção deveria estar associada ao uso mais
67
2. Uma estrutura para a medição da Atenção Primária
consistente daquela fonte regular de atenção ao longo do tempo e
a melhores interações profissional-paciente; uma variedade mais
ampla de serviços disponíveis deveria estar associada a um melhor
reconhecimento das necessidades para aqueles ser viços; e uma
melhor continuidade da atenção deveria levar a uma melhor
coordenação de atenção, medida pelo maior reconhecimento de
infor mações a respeito dos pacientes. Na prática, pouca
pesquisa que teste especificamente a teoria.
Além disso, os aspectos singulares da atenção primária nem
sempre são claramente se paráveis. Se existe uma relação entre
um profissional de saúde e um paciente que transcende a presença
de problemas ou tipos de problemas específicos
(longitudinalidade), é mais provável que o paciente procure
inicialmente aquele profissional de saúde para atendimento no
caso de um novo problema (atenção ao primeiro contato). De
for ma semelhante, a longitudinalidade deveria também estar
relacionada à integralidade, que um profissional ou unidade
de saúde que of erece atenção ao long o do tempo, independente
do tipo de problema, também deveria oferecer uma maior
amplitude de ser viços. Similar mente, quanto maior a variedade
de serviços oferecidos, maior o peso da coordenação,
especialmente se alguns destes serviços tiverem de ser oferecidos
em outro local que não a própria unidade de atenção primária.
Apesar destas inter-relações, as quatro características exclusivas
da atenção primária são, conceitualmente, distintas; apenas
quando são colocadas em uso na prática é que o potencial para
sobreposição torna-se evidente. A extensão da sobreposição é,
na verdade, de alta prioridade para a pesquisa.
A capacidade de medir os aspectos importantes da atenção
primária torna possível estabelecer metas para alcançá-los e medir
sua obtenção. Também tor na possível g arantir que unidades de
saúde ou profissionais em particular qualifiquem-se para a
designação de provedores de atenção primária. Serviços
qualificados como de atenção primária podem ser comparados com
68
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
outras formas de atenção no que se refere ao impacto dos serviços.
O conhecimento a respeito da importância relativa de cada aspecto
na contribuição para os resultados desejados pode resultar de
pesquisas utilizando esta abordagem para medição. A obtenção
de um nível satisfatório de atenção ao primeiro contato está
associada com a maior satisfação entre os pacientes, bem como
com uma melhor resolução do problema? A longitudinalidade está
associada a um melhor reconhecimento de problemas, melhor
entendimento e participação dos pacientes, e resulta em menos
dias de incapacitação e desconforto? A integralidade está associada
a diferentes modelos de utilização, menos episódios de uma doença
nova ou resolução mais rápida de problemas? A coordenação está
associada com uma menor utilização global, melhor compreensão
e aumento na par ticipação do paciente em sua atenção, além de
resolução mais rápida do problema com menos problemas novos?
A atenção primária devolve os pacientes mais rapidamente a níveis
ótimos de atividade, conforto e satisfação com sua saúde e faz um
trabalho melhor ao ajudar as pessoas a alcançarem seu potencial
total e capacidade máxima de recuperação contra ameaças à sua
saúde? Cada uma das quatro características é igualmente
importante, ou algumas são mais importantes do que outras?
Nenhum sistema de atenção primária pode alcançar o
desempenho perfeito em todos os quatro componentes
fundamentais: primeiro contato, longitudinalidade, integ ralidade
e coordenação. Se os padrões forem muito elevados, os pacientes
ficarão desapontados e os profissionais, fr ustrados. Mas a
justificativa para a necessidade de atenção primária não depende
da obtenção de padrões ótimos; é suficiente para demonstrar,
apenas, que as metas da atenção primária são melhor atendidas
por profissionais de saúde treinados e organizados para oferecer a
atenção primária do que por profissionais treinados para enfocar
doenças específicas, sistemas do organismo ou mecanismos
patogênicos específicos e que a obtenção das metas melhora
progressivamente com o decorrer do tempo é o suficiente.
69
2. Uma estrutura para a medição da Atenção Primária
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71
A maioria das abordagens para caracterização da condição
de saúde na prática clínica é baseada na freqüência de diagnósticos
individuais ou nos diagnósticos individuais a g rupados por sistemas
de órgãos do org anismo. Esta pode não ser a melhor abordagem
para a prática da atenção primária. Muitos indivíduos possuem
mais de um diagnóstico, sendo que algumas enfermidades
predispõem a outras. Assim, as abordagens enfer midade-por-
enfer midade falham na apreensão das experiências de morbidade
de pacientes individuais ou de populações de pacientes. Uma vez
que a atenção primária enfoca os pacientes e as populações de
pacientes em vez de suas enfer midades, as abordagens que
caracterizam a morbidade de acordo com as diferentes
manifestações de saúde e doença seriam mais úteis na atenção
primária. Este capítulo discute os desafios à caracterização de
padrões de morbidade nestas diferentes formas.
CARACTERIZANDO SAÚDE E DOENÇA
A avaliação de saúde e doença (condição de saúde) serve
para quat ro propósitos: facilitar a prestação de atendimento clínico,
documentar as diferenças entre populações e subpopulações para
infor mar as atividades de saúde pública e a política de saúde, dispor
e administrar recursos de acordo com a extensão da necessidade e
medir o impacto (resultados) de serviços de saúde.
3. MORBIDADE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA
72
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Facilitando a prestação de atendimento clínico
O atendimento clínico geralmente é mais previsível e mais
efetivo quando as intervenções são direcionadas para a interr upção
da rota patogenética, ou seja, atacando um elo na cadeia de eventos
entre um deter minante da doença e a própria doença. O
“diagnóstico”, ou o nome dado à doença, tem uma função importante
na atenção médica porque geralmente implica uma provável
etiologia e curso da doença, sug erindo, assim, uma estratégia para o
tratamento. Os diagnósticos são a forma convencional de especificar
a morbidade na atenção clínica, embora não seja necessariamente a
mais apropriada na atenção primária.
Avaliando e documentando a saúde de populações e
subpopulações
Por meio da extensão da atenção clínica, a saúde de uma
população ou subpopulação poderia ser descrita pela freqüência
de diagnósticos individuais na população, sendo que as dif erentes
populações poderiam ser comparadas com relação à incidência
(freqüência de novas ocorrências) ou prevalência (freqüência em
deter minado ponto no tempo) de cada diagnóstico específico. Por
exemplo, os Atlas de mor talidade em diferentes países, ou em
diferentes subdivisões políticas de qualquer país, retratam a
freqüência de ocorrência de mortes devido a diagnósticos
específicos (Holland, 1991, 1993).
O conhecimento a respeito da incidência ou da prevalência
de enfermidades específicas deriva g randemente de dados sobre
consultas médicas. Entretanto, a maioria dos problemas novos de
saúde que surgem nunca chega a chamar a atenção de profissionais
(White, 1961). Além disso, muitos problemas não podem ser
resolvidos em uma consulta; algumas vezes, são necessárias muitas
consultas para for necer as infor mações necessárias para diagnosticar
e resolver um problema. Um avanço conceitual importante na
mudança para ir além das abordagens baseadas em consultas é a
abordagem baseada no episódio de atendimento. Os médicos
indicam qual consulta de uma série é a inicial para um problema,
73
3. Morbidade na Atenção Primária
caracterizam-no, mantêm um registro de quais consultas
subseqüentes estão relacionadas ao problema e indicam a consulta
na qual o problema é considerado resolvido. (Se o problema estiver
em andamento, um período de tempo, como um ano, pode ser usado
para delinear o episódio.) A abordagem tem mais utilidade quando
começa com um problema apresentado (quer relacionado à
enfer midade em andamento ou não) e o acompanha até sua
resolução; o problema é denominado, utilizando-se um sistema de
codificação como a Classificação Internacional de Atenção Primária
(ver Capítulo 16), e o episódio é designado por um diagnóstico se e
apenas se um diagnóstico for alcançado. Lamber ts e Hofmans-Okkes
(1996) descreveram a natureza da prática da atenção primária nos
Países Baixos mostrando que, em uma população de pacientes de
15.158 mulheres, com idade entre 25 e 44 anos, 11.570 (76%)
consultaram com seu médico de atenção primária pelo menos uma
vez em um ano. Os 20 episódios novos mais comuns constituíram
um terço de todos os episódios novos. As 15.158 mulheres
apresentaram uma média de 2,9 novos episódios por ano, dos quais
2,4 eram novos e apenas 0,5 eram antig os. (Para as 11.570 pacientes
que consultaram, o número médio de episódios foi de 3,8, dos quais
3,1 eram novos.) O tempo para resolução, sua correlação com os
diferentes tipos de recursos usados e a quantidade de recursos para
diagnóstico e manejo de diferentes problemas podem ser
determinados pela aplicação desta abordagem por e pisódio.
Entretanto, a morbidade, expressa pelos diagnósticos de um
indivíduo, ou mesmo os sintomas ou incapacitações específicas, é
cada vez mais reconhecida como uma medida incompleta e
inadequada do peso da doença. Não oferece nenhuma informação
sobre aspectos mais positivos d a saúde, conforme expressos nas
abordagens mais comuns para definir saúde (ver Capítulo 1). Além
disso, os padrões de diagnóstico de enfermidades individuais variam
de lugar para lugar e de época para época. Embora existam critérios-
padrão para alguns poucos diagnósticos, eles não são universalmente
usados; o que é chamado de uma enfermidade em um lug ar pode
não ser reconhecido como a mesma enfer midade em outros lugare s.
74
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Assim, embora a Classificação Internacional de Doenças seja usada
em todo o mundo para designar as causas de morte, além das causas
de hospitalização e consultas de pacientes não-internados, não existe
nenhuma garantia de que o mesmo diagnóstico signifique a mesma
coisa em todos os lugares, que nenhuma definição foi incluída
nas edições anteriores. Tem havido tentativas para reduzir a
variabilidade no estilo de diagnóstico por meio do desenvolvimento
de gr upos de diagnósticos que refletem, essencialmente, doenças
similares (Schneeweiss et al., 1983), mas estes grupos não inc luem
todas as enfer midades, nem são usados com freqüência para
comparação entre as unidades de saúde em lugar es diferentes.
Sem dúvida, a principal razão para a busca de medidas além
do diagnóstico clínico para descrever e comparar a saúde de
populações resulta do reconhecimento de que contar diagnósticos
individuais não re presenta a saúde de forma apropriada. Muitos
países realizam pesquisas domiciliares de amostras representativas
de sua população. Estas pesquisas, geralmente, revelam
infor mações a respeito da percepção da saúde das pessoas
(excelente, muito boa, boa, regular, ruim), sobre seus sintomas e
sobre várias doenças para as quais elas podem ou não ter buscado
atendimento. Estes tipos de dados estão-se tornando fontes
impor tantes de infor mação sobre a saúde de diferentes g r upos
dentro das populações e mesmo entre populações de diferentes
países. Assim, Wagstaf f e Van Doorslaer (1993) utilizaram dados
sobre dias registrados de incapacitação por problemas crônicos,
limitação de atividades associadas a elas e a autopercepção de
saúde para mostrar que os países com sistemas de saúde mais
eqüitativos possuem melhor saúde. A principal inconveniência
deste tipo de dados são as possíveis diferenças na tendência ao
registrar problemas em populações diferentes.
Planejando e alocando recursos
A disponibilidade eficiente de recursos depende de boas
infor mações sobre a existência de problemas passíveis de alteração
pelos serviços de saúde. A existência de diferenças na morbidade
75
3. Morbidade na Atenção Primária
em diferentes unidades de saúde oferece a base para a alocação
dos r ecursos de for ma diferenciada, de acor do com as necessidades
da população atendida.
Existem três alternativas para lidar com este desafio da
alocação de recursos: a histórica, a sociodemográfica e a
categ orização por diagnóstico.
1 . A abordagem histórica para caracterização da extensão
da morbidade na unidade de saúde: diversos fatores
transfor mam a abordagem histórica na mais preditora da
situação presente e futura. A maioria das unidades de
saúde não muda de ano para ano, e a maioria da população
das unidades de saúde permanece relativamente
constante. A saúde de suas populações também
permanece relativamente constante, exceto pelo
crescimento g radual nas enf er midades relacionadas ao
envelhecimento, uma vez que as pessoas continuam dentro
das unidades de atenção primária. Como os determinantes
de saúde e doença são biológicos, sociais e ambientais, a
morbidade geral combinada das unidades de saúde
individuais tende a per manecer constante. Assim, os
recursos gastos na atenção à população da unidade e as
experiências de utilização daquela população per manecem
relativamente constantes ao longo do tempo, pelo menos
de ano em ano, na ausência de incentivos ou
desmotivações exter namente impostas para mudá-los.
Descrever estes padrões de uso de serviços em um período
de tempo é, por tanto, altamente preditor dos padrões de
uso de recursos no período de tempo seguinte, contanto
que não haja fatores extrínsecos que alterem a
probabilidade de uso dos recursos. Entretanto,
freqüentemente surg em fatores exter nos na for ma de
novas tecnologias disponíveis para intervenção e
incentivos financeiros par a empregá-las. Como nem todas
as unidades de saúde serão expostas ou responderão da
mesma forma a estes incentivos, as alocações de recursos
76
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
com base em seu uso anterior, freqüentemente têm a ver
com diferenças nos padrões de prática em vez de
diferenças nas necessidades das populações atendidas.
2 . A abordagem sociodemográfica: como os padrões de
doença são tão altamente sensíveis ao contexto social e
ambiental, o padrão de morbidade em qualquer unidade
de saúde específica ou mais geral será altamente
dependente das características sociodemográficas da
população da unidade. Características de importância
especial são renda e riqueza (incluindo habitação e
nutrição, bem como recursos materiais para lidar com
doenças que possam ocorrer), ocupação (com seus
diferentes riscos à saúde), estr utura social da área de
moradia e uma variedade de influências ambientais na
área. Estes tipos de fatores são suficientemente preditores
do nível de morbidade da unidade de saúde, de for ma
que os recursos podem ser direcionados de for ma
diferenciada de acordo com a natureza da comunidade
atendida. Por e xemplo, na Suécia e no Reino Unido são
usados índices de privação social, às vezes com
infor mações adicionais sobre características de saúde
tanto para oferecer níveis diferentes de suporte financeiro
para as unidades, dependendo das características
sociodemográficas de suas populações (Diderichsen et al.,
1997), como para estudos epidemiológicos na unidade.
3. A abordagem para categorização por composição
nosológica (case-mix): enquanto a maioria dos aspectos
da prestação de ser viços de saúde (como número de
consultas, quantidade de pessoal ou dinheiro gasto)
per mite a quantificação direta, a morbidade não. Não
uma maneira de quantificar o peso da enfer midade, quer
por indivíduos quer dentro de uma população de
indivíduos; mesmo que houvesse, a soma não teria sentido,
porque é provável que a severidade de cada componente
de enfer midade individual varie entre indivíduos e
77
3. Morbidade na Atenção Primária
populações diferentes (Iezzoni, 1997). As medidas de
combinação de caso são for mas de medir a carg a total de
morbidade em uma população de pacientes pela da
combinação de diagnósticos de for mas diferentes; são uma
ferramenta importante para avaliar tanto a qualidade
quanto os custos da atenção. Muitos aspectos da avaliação
da qualidade requerem comparações de diferentes
profissionais e unidades de saúde; onde os resultados da
atenção são diferentes, isso pode ser devido ao fato dos
desafios subjacentes serem maiores em um resultado do
que em outro, em vez de resultado das diferenças na
qualidade da atenção oferecida. Assim, todas as
comparações de qualidade da atenção requerem uma
padronização da morbidade inicial antes de avaliar as
diferenças nos resultados que são encontrados. De forma
similar, diferenças na necessidade e nos gastos de recursos
entre sistemas, unidades ou profissionais de saúde podem
resultar de diferenças na extensão da morbidade em suas
populações. A existência de muitos milhares de
enfermidades individuais, cada uma com níveis
amplamente variáveis de gravidade e necessidade de
recursos, impossibilita a simples adição de diagnósticos para
alcançar uma descrição do nível de peso de morbidade.
Resumir as infor mações de uma unidade de atendimento
clínico para fornecer perfis da morbidade total existente nas
unidades de saúde é um desafio difícil. A maioria das unidades é
composta por pacientes com centenas, se não milhares, de
diagnósticos; uma medida resumida que leve todos em
consideração é um desafio desanimador.
Quando as populações são razoavelmente homogêneas, em
particular no que se refere às características etárias e sociais, os
padrões de morbidade podem ser suficientemente unifor mes, de
for ma que a freqüência de diagnósticos individuais pode ser usada
para caracterizar o case-mix . Por exemplo, em uma população de
uma unidade de saúde composta principalmente por idosos, a
78
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
variabilidade na distribuição de enf ermidade será menor do que
em uma população de faixa etária mista, porque algumas
enfer midades são muito mais comuns em idososeavariabilidade
na susceptibilidade a outras enfer midades (como aquelas par a as
quais a variabilidade genética terá resultado em morte antes da
idade avançada) será menor, de forma a resultar em um padrão
mais homogêneo de enfer midades. As abordagens de case-mix
baseadas na presença de diagnósticos específicos podem, por tanto,
ser relativamente bem-sucedidas em populações mais velhas (Ellis
et al., 1996). Em populações mais heterogêneas, as necessidades
de recursos para diagnóstico individual são altamente variáveis.
Em áreas diferentes e em unidades diferentes, a variabilidade na
severidade de diagnósticos individuais impede o estabelecimento
do perfil da unidade e a alocação de recursos baseada apenas na
presença ou ausência de diagnósticos individuais encontrados na
unidade, especialmente quando a população da unidade é diversa
em idade e outras características sociodemog ráficas.
Uma abordagem que combine os diagnósticos num número
gerenciável de categorias diferentes baseada na similaridade de
sua necessidade de recursos é mais útil sob estas circunstâncias. A
principal fonte de infor mações para estabelecer o perfil das
unidades deriva, desta for ma, dos dia gnósticos registrados em
for mulários de queixas ou achados casuais, os quais também
contêm informações para determinar os recursos dedicados a lidar
com eles ao long o do tempo. As unidades de saúde podem ser
comparadas com relação ao peso da morbidade em seus pacientes,
bem como os gastos da provisão de atenção para eles. Os sistemas
de case-mix também podem ser utilizados para estabelecer taxas de
capitação; se um profissional de saúde possui maior peso de
morbidade, um pagamento por capitação mais alto pode ser
justificado. Se determinados estabelecimentos de atenção à saúde
recebem mais por prestarem ser viços de atenção a g r upos da
população que são mais doentes, a distribuição de recursos será
mais justa e não haverá nenhuma tendência de uma unidade ou
profissional tente evitar atender a indivíduos especialmente
79
3. Morbidade na Atenção Primária
doentes. Conforme os pagamentos por capitação se tor nam mais
difundidos, é mais provável que aumente a necessidade de sistemas
de combinação de case-mix .
Embora existam muitos métodos de case-mix, a maioria está
limitada ao atendimento de pacientes internos. Aqueles que lidam
com a atenção ambulatorial estão fundamentados, basicamente,
em consultas e não em pessoas.
Entretanto, o sistema de ACG (Gr upos Clínicos Ajustados
[Adjusted Clinical Groups ], antig o Gr upo de Atenção Ambulatorial
[Ambulatory Car e Gr oups]) é um sistema de case-mix que caracteriza
as pessoas de acordo com as doenças que apresentam em um
período de tempo (geralmente um ano). Isto é feito pela
combinação de diagnósticos em populações de pacientes dentro
de gr upos r elativamente homogêneos no uso de seus r ecursos ao
long o daquele período de tempo. Este sistema para categ orização
do peso da morbidade, representada pela combinação de
diagnósticos, foi originalmente desenvolvido para explicar os
padrões de utilização. A pesquisa anterior tinha demonstrado que
indivíduos (tanto crianças como adultos) que eram usuários
freqüentes de serviços tendiam a per manecer usuários freqüentes
por longos períodos de tempo (Densen et al., 1959; Starfield et al.,
1985). Contrariamente, aqueles que eram usuários não freqüentes
apresentavam a tendência de per manecer não freqüentes no mesmo
período long o de tempo. Para determinar se estes padrões eram
resultado de uma predisposição para utilização dos ser viços de
saúde por parte das famílias, resultado da presença de tipos
específicos de doenças (como problemas médicos crônicos ou
problemas de saúde mental), ou algum fator relacionado aos
padrões de morbidade, foi desenvolvido um método para
caracterizar a morbidade. Este método conceituou a doença como
um tipo entre vários: doenças menos importantes que são,
geralmente, autolimitadas se tratadas apropriadamente; doenças
mais importantes, mas também limitadas na duração se tratadas
apropriadamente; enfermidades médicas, g eralmente de natureza
crônica e não curáveis por de tratamento médico; doenças
80
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
decor rentes de problemas anatômicos (como problemas de audição,
visão e ortopédicos) que, geralmente, não são curáveis mesmo com
inter venção apropriada; e problemas que são considerados de
natureza psicossocial. A exploração das relações entre estes fatores
(uso familiar de serviços, presença de tipos específicos de doenças
e medida do “peso da morbidade”) indicou que o fator mais
proeminente foi o último: o peso da morbidade. Ou seja, os
indivíduos que receberam diagnósticos dentro de mais de cinco
dos diferentes tipos tinham probabilidade muito maior de serem
usuários persistentemente freqüentes dos serviços; contrariamente,
aqueles com peso baixo de morbidade, manifesto por terem menos
tipos de diagnósticos, tinham maior probabilidade de
persistentemente serem usuários não freqüentes dos serviços.
Estes estudos sugeriram que uma ampliação desta abordagem
para a “peso da morbidade” poderia ser útil para uma variedade
de objetivos na atenção primária em específico, na atenção
ambulatorial, no geral, e talvez, mesmo, na atenção total de
indivíduos e populações. Os testes deste potencial indicaram que,
na verdade, este foi o caso. A abordag em envolvia a indicação de
cada diagnóstico na Classificação Internacional de Doenças
Modificação Clínica (CID MC) em uma das 32 categorias
relacionadas na Tabela 3.1. (Originalmente haviam 34, mas duas
foram apagadas porque possuíam poucos diagnósticos e foram
reclassificadas para outros Gr upos de Diagnósticos Ajustados
[Adjusted Diagnostic Groups ADGs] .) A indicação dos diagnósticos
para estas categorias foi realizada por médicos conhecedores da
apresentação clínica e da epidemiologia das doenças, utilizando
os critérios a seguir, na ordem apresentada:
Probabilidade de que o problema persistisse e o paciente
tivesse de consultar de novo
Probabilidade de uma consulta ou encaminhamento
especializado, no momento e no futur o
Necessidade e custo esperado do diagnóstico e
procedimentos terapêuticos associados ao problema
Probabilidade de uma hospitalização associada
81
3. Morbidade na Atenção Primária
Probabilidade de uma incapacitação associada
Probabilidade de diminuição associada da expectativa
de vida
Tabela 3.1Tabela 3.1
Tabela 3.1Tabela 3.1
Tabela 3.1
Grupos de Diagnóstico Ajustado (ADGs)
82
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Os 32 agr upamentos estão remontados em 12 g rupos
relativamente semelhantes (CADEs) que são, então, ag r eg ados de
acordo com suas combinações mais comumente encontradas na
prática clínica. Cada, indivíduo em uma população inscrita, é
caracterizado pelos diagnósticos que recebe no período de tempo
e colocado naquele ag rupamento final (o Grupo Clínico Ajustado
ACG) que re presenta a constelação de diagnósticos para aquele
paciente. O case-mix de um estabelecimento de saúde, ou de
qualquer profissional, pode ser descrita de acordo com o modelo
do ACG. Pode-se considerar que os profissionais ou
estabelecimentos com maior freqüência daqueles ACGs
representam os pacientes mais doentes, necessitando de mais
recursos para a tenção para aqueles pacientes em suas unidades.
O aspecto importante do sistema ACG é que um único ACG
é indicado para um indivíduo, baseado no padrão da morbidade
apresentado pelo indivíduo em um período de tempo de,
geralmente, um ano. Esta indicação de morbidade não depende
da taxa de consultas ou da extensão de uso ou custo do diagnóstico
e procedimentos terapêuticos porque são usados apenas
diagnósticos para a indicação. Um indivíduo pode ter múltiplas
doenças de um tipo, e ainda assim ser indicado para apenas uma
categ oria de doença para o ano. Assim, o método não depende do
número de doenças, mas de seu tipo, confor me é caracterizado
pelos critérios para indicação. Cada uma das 32 categ orias básicas
é relativamente homogênea em sua probabilidade de consultas e
uso de outros recursos. As categ orizações do ACG resultantes são
altamente preditoras do número de consultas para atendimento
ambulatorial e uso de recursos de atenção ambulatorial durante o
período de tempo a partir do qual os diagnósticos são indicados;
seu uso também é pr editor para o ano seguinte (Weiner et al., 1991).
Os ACGs também possuem validade clínica, que os
padrões de morbidade são relativamente estáveis ao longo do
tempo. É muito mais provável que os indivíduos em uma categoria
per maneçam na ca tegoria no ano se guinte do que seria esperado
no caso de distribuição casual por doença, sendo que as
83
3. Morbidade na Atenção Primária
experiências de utilização no ano subseqüente são similares dentro
das categorias (Starfield et al., 1991).
Assim, o sistema de ACG tem uma utilidade potencial para
descrever diferenças no padrão de doenças em diferentes populações
clínicas, ao servir como método para estratificação das populações
em grupos clinicamente significativos para o propósito de traçar o
perfil da prática de diferentes profissionais ou grupos de profissionais
de saúde, e como um método para o estudo do uso de recursos e
planejamento das necessidades de recursos de diferentes populações.
Também possui aplicabilidade na pesquisa que b usca explicar a
previsibilidade de vários fatores do sistema de saúde no uso de recursos,
de forma que as diferenças na morbidade em diferentes populações
possam ser controladas quando da avaliação do impacto do
profissional e dos fatores do sistema sobre o uso de serviços e recursos.
O sistema de case-mix ACG está sendo amplamente utilizado
como uma técnica para traçar o perfil em unidades clínicas, para
descrever e entender as diferenças no padrão de prática dos
clínicos, na oferta de um meio para desenvolver uma taxa de
capitação para as unidades, e em estudos de pesquisa que exijam
um mecanismo de controle para o efeito da morbidade, enquanto
examina o impacto de outros fatores sobre o uso de recursos.
Embora originalmente desenvolvido e aplicado apenas em
ambientes ambulatoriais, foram adicionados os códigos de
diagnóstico encontrados para pacientes hospitalizados e recursos
consumidos na atenção hospitalar.
A Tabela 3.2 resume as principais pesquisas utilizando os
ACGs. Cada estudo está descrito de acordo com seu objetivo e
fonte de informações; os tipos de características examinadas; se o
sistema ACG tenha sido utilizado em sua forma ACG (um padrão
de morbidade para cada indivíduo na população), em sua forma
ADG (cada tipo de morbidade para cada indivíduo considerado
isoladamente), ou, em alguns casos, em sua forma CADG (cada
um dos agrupamentos reclassificados para cada indivíduo
considerado isoladamente); e o uso do sistema ACG na
interpretação de achados importantes da pesquisa.
84
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
TabelaTabela
TabelaTabela
Tabela
3.23.2
3.23.2
3.2
Grupo de diagnostico ajustado (ACGs): perfil, decisão de capitação, pesquisa e estudos metodológicos
85
3. Morbidade na Atenção Primária
TabelaTabela
TabelaTabela
Tabela
3.23.2
3.23.2
3.2
ACGs: perfil, decisão de capitação, pesquisa e estudos metodológicos (continuação)
86
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
ACGs no contexto europeu
O sistema ACG no contexto norte-americano tem sido cada
vez mais expandido para abranger todo o uso de serviços de saúde,
em vez de apenas o uso da atenção primária, porque o orçamento
para os serviços de saúde de indivíduos e gr upos leva em conta o
uso projetado não apenas para os serviços de atenção primária, mas,
também, para ser viços especializados e atenção a pacientes
internados. Ou seja, prêmios de seguro, quer sejam parte de seguro
privado ou governamental para idosos ou pobres, geralmente cobrem
todos os serviços, embora, muitas vezes, de f orma incompleta. Em
comparação, na Europa, o planejamento e orçamento para os
ser viços são, geralmente, r ealizados se paradamente para serviços
de atenção primária e para serviços especializados (seja oferecidos
em clínicas de pacientes não internados de hospitais, seja como
ser viços para pacientes inter nados). Na Europa, o interesse pelo
sistema ACG tem sido largamente aplicado para descrever e
compreender a atenção primária.
O trabalho de desenvolvimento na Espanha mostrou a
aplicabilidade do sistema para a atenção primária no contexto de
um sistema nacional de saúde. Juncosa e colaboradores (1998)
usaram os ACGs para traçar o perfil de 2.467 pacientes de 13
equipes de atenção primária em nove centros de saúde na província
de Barcelona, Espanha. Em vez de utilizar todos os diagnósticos
realizados nas 13.269 consultas feitas pelos pacientes, foram usados
os diagnósticos (ou, se não houve diagnóstico, o problema)
associados a um episódio de atenção (ver acima). No final de um
período de tratamento, os profissionais de saúde decidiam quando
o episódio tinha começado e indicavam apenas um problema ou
diagnóstico para todas as consultas associadas àquele diagnóstico.
Se havia uma doença intercorrente surgindo durante o período
entre a primeira consulta para o pr oblema e a última, ela for m ava
a base para um episódio diferente, como ocorreu com todos os
problemas novos que surgiram de pois que o e pisódio terminou.
Assim, os pacientes apresentaram 7.559 episódios diferentes no
ano (dezembro de 1993 junho de 1994), sendo que cada um dos
87
3. Morbidade na Atenção Primária
quais teve um diagnóstico associado que foi indicado para um
ADG. A distribuição resultante dos ADGs foi muito similar à
distribuição encontrada pelos responsáveis pelo desenvolvimento
original do sistema, utilizando dados da atenção ambulatorial de
um gr upo modelo de uma org anização de manutenção de saúde
em g rupo nos Estados Unidos.
que as unidades de atenção primária em muitos países da
Europa utilizam a Classificação Internacional de Atenção Primária
(CIAP) [ Inter national of Primar y Car e] em vez do CID-MC para
codificar problemas ou diagnósticos, os pesquisadores
desenvolveram um método para apontar problemas e diagnósticos
para os ADGs utilizando o CIAP no lugar do CID. Embora o CIAP
seja compatível com o CID, possui menos códig os, de forma que
não existe correspondência de um para um para problemas ou
diagnósticos individuais. Em alguns casos, um códig o CIAP
corresponde a mais de um código CID-MC, sendo que cada um
deles pode ser indicado para um ADG diferente. Por meio de um
processo de repetição, levando em conta as freqüências dos
diferentes diagnósticos dentro destes códigos, os pesquisadores
indicaram cada código CIAP para o seu ADG mais provável. A
distribuição resultante dos ADGs, utilizando o CIAP em vez do
CID, foi muito similar àquela utilizando os CIDs, indicando assim
que eles podem ser usados de forma intercambiável.
Pesquisadores de atenção primária na região basca da Espanha
(Orueta et al., 1998) também encontraram uma forte correspondência
entre a previsibilidade dos grupos de morbidade, quer conseguida
utilizando os ADGs ou ACGs individuais, e a de estudos nor te-
americanos. Ou seja, a proporção de variância no uso do recurso
(considerando os próprios custos de consultas, bem como os testes
diagnósticos a eles associados), que é explicável pela variação de
morbidade varia entre 40% e 50% quando os diagnósticos são
indicados por episódio (como no estudo em Barcelona).
Outros pesquisadores na Espanha estão testando a
aplicabilidade do sistema ACG em um estudo colaborativo
envolvendo mais de 50 unidades de saúde em diferentes regiões
88
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
do país. Um relatório preliminar com 22 médicos, incluindo quatro
pediatras, confir mou a similaridade da distribuição de ADGs e
ACGseacapacidade de previsão do sistema para ref letir o número
de consultas (Car mona et al ., 1997).
Assim, um sistema de case-mix que descreva as experiências
de pessoas com sua combinação de morbidade parece altamente
útil para responder à variedade de necessidades que surgem na
atenção primária, onde quer que seja praticada.
Medir o impacto (resultados) dos serviços de saúde
sobre a saúde
O quarto objetivo da avaliação do estado de saúde é medir
o impacto dos ser viços de saúde. Quando o efeito da a tenção
médica é prevenir a ocorrência de doenças específicas, o impacto
dos profissionais de saúde e das unidades pode ser avaliado pela
medida da freqüência de ocorrência das enfermidades específicas
preveníveis na população de pacientes. Entretanto, a maioria das
enfer midades não pode ser prevenida, e o objetivo da atenção é
reduzir a duração da doença ou o desconforto e incapacitação
associados a ela. Assim, as medidas de condição de saúde mais
apropriadas para avaliar o impacto de inter venções são aquelas
que determinam diretamente o efeito dos serviços de saúde no
contexto das vidas e aspirações diárias das pessoas.
Avanços tanto na biologia molecular quanto nas ciências sociais
estão instigando uma mudança na maneira com que a saúde é
encarada e medida. Um enfoque sobre a enfermidade está sendo
substituído por um enfoque sobre a morbidade, ou “desconforto”,
que é uma representação muito mais ampla de saúde.
um século e a té relativamente pouco tempo, era pensado
que a base genética para a enfermidade ocorria pela ação de genes
isolados que, por mutação ou hereditariedade, “causariam”
determinados problemas em indivíduos cujas células carregassem o
gene afetado. Quanto mais se aprende a respeito do modo de ação
do material genético, mais é reconhecido que este é o caso apenas
para uma pequena proporção das doenças sofridas pelos indivíduos
89
3. Morbidade na Atenção Primária
(Holtzman, 1989). A enfermidade geneticamente deter minada não
está mais comumente associada aos efeitos de genes múltiplos,
mas é muito sensível à presença ou ausência simultânea de fatores
associados no ambiente (Holtzman, 1989). De forma semelhante,
os avanços nos métodos para identificar e medir os efeitos de fatores
sociais e ambientais tor naram aparente que o risco de enf ermidade
ou suas complicações depende não de um ou de alguns destes fatores
mas, em vez, de um modelo complexo de sua ocorrência no tempo
e no espaço. A classe social é um deter minante bem conhecido e
bem documentado da doença, embora muitos indivíduos na classe
social mais baixa estejam em boa saúde.
Confor me foi acima obser vado, os níveis educacionais, de
habitação e nutrição, os riscos ambientais (tanto físicos quanto
sociais), dinâmicas familiares e recursos psicológicos e exposição
aos ef eitos mitig adores das intervenções de atenção à saúde estão
entre a miríade de “causas” de enfer midades. Como resultado desta
multiplicidade de determinantes, é improvável que as
manifestações de enfer midades sejam as mesmas em todas as
pessoas que as apresentam. Assim, a variabilidade na severidade e
na manifestação de qualquer enfer midade dada é muito mais
comum do que uma manifestação “média” dela. A maioria das
“causas” pode não estar associada a uma doença ou pode estar
associada a diferentes manifestações de doenças (inclusive doenças
múltiplas no mesmo indivíduo), sendo que as “causas” não
necessariamente “causam” a doença manifesta ou até mesmo
oculta. A Figura 3.1 expressa estes fenômenos, que são conhecidos
como penetrância, pleotropismo e heterogeneidade etiológica (Holtzman,
1989); sobreposto a estes fenômenos encontra-se o fenômeno da
susceptibilidade, no qual tanto as “causas” quanto as doenças
podem estar inter-relacionadas e potencializadas.
Apesar da disseminada falta de valorização corrente (e,
portanto, de documentação) da heterog eneidade das manif estações
e prognósticos da maioria das doenças específicas, do conjunto de
enfer midades aparentemente não relacionadas em indivíduos
90
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
identificados como tendo um diagnóstico específico, e da
conseqüente falta de enfoque sobre o indivíduo na literatura de
pesquisa, existe uma ampla evidência de que a morbidade não está
aleatoriamente distribuída na população, mas sim que tende a se
ag rupar em determinados indivíduos. Roos et al. (1997) mostr aram
que, numa população de pacientes adultos com hipertensão, apenas
um terço (34%) das consultas realizadas por estes pacientes em um
ano foram devidas a este diagnóstico; o próximo motivo mais comum
para a consulta foi o diabetes (que contou para 3% das consultas).
Assim, uma maioria substancial de consultas (63%) foi para um
grande número de problemas diferentes, nenhum deles contando
para mais de 1% de todas as consultas. Clouse e Osterhaus (1994)
demonstraram que adultos (com idades de 18 a 64 anos) com
diagnóstico de enxaqueca têm gastos 33% mais altos para problemas
não relacionados à enxaqueca do que outros pacientes comparados
por idade, gênero, tempo de inscrição na unidade e condição de
titular ou dependente. Em crianças com doenças crônicas, a co-
prevalência observada para os pares mais comuns de problemas
crônicos infantis é de 140%-380% maior do que os níveis
estatisticamente previstos (Newacheck e Stoddard, 1994). A
severidade da doença geralmente não está relacionada à severidade
biológica medida pela probabilidade de morte prematura ou nível de
indicadores biomédicos da enfermidade. Com apenas algumas poucas
exceções para enfermidade muito incomuns, existe tanta variabilidade
nas manifestações e impacto de enfermidades específicas quanto
entre enfermidades diferentes (Stein e Jessop, 1982).
Assim, a condição de saúde medida meramente pela
existência ou probabilidade de ocor rência de uma enfer midade
específica ou mesmo de combinações de enfer midades é uma
abordagem incompleta para a caracterização da saúde individual
ou populacional. Uma vez que a avaliação do estado de saúde é
necessária para o planejamento e prestação adequada da atenção,
os avanços em sua conceituação e medição são importantes tanto
para a política de saúde quanto para a atenção clínica.
91
3. Morbidade na Atenção Primária
Figura 3.1Figura 3.1
Figura 3.1Figura 3.1
Figura 3.1
Base para a variabilidade na causa e manifestações de enfermidades.
A definição original de saúde da Organização Mundial da
Saúde (1948) foi criticada com base no fato de que ela é não apenas
inalcançável, mas, também, porque fornece o impulso errado em
seu enfoque no completo bem-estar físico, mental e social. Se a
civilização avança como um resultado do desafio contínuo para
tomar o controle do ambiente natural, “completo bem-estar” é
um impedimento ao progresso. A proposta seguinte do
Departamento Europeu vai mais direto ao ponto: “a extensão na
qual um indivíduo ou g r upo é capaz, por um lado, de realizar
aspirações e satisfazer necessidades e, por outro lado, de lidar com
o ambiente. A saúde, por tanto, é vista como um recurso para a
vida diária, não o objetivo da vida; é um conceito positivo
envolvendo recursos sociais e pessoais, bem como capacidades
físicas” (Organização Mundial da Saúde, 1984).
92
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Assim, a saúde não é a ausência de enfermidade ou
predisposição para a doença; em vez disso, é a redefinição contínua
do potencial para o funcionamento máximo para atender aos
desafios da vida da f or ma mais positiva e produtiva. No futuro, as
abordagens para traçar o perfil do peso da morbidade na prática
terão de mudar para abordagens que não sejam baseadas apenas
em enfer midade ou enfermidades diagnosticadas.
Figura 3.2Figura 3.2
Figura 3.2Figura 3.2
Figura 3.2
Estado de saúde/resultado da atenção
Fonte: adaptado de Starfield (1974).
93
3. Morbidade na Atenção Primária
Existem muitas formas de considerar o estado de saúde e os
resultados da atenção quando vistos a partir desta perspectiva mais
ampla (McDowell e Newell, 1996). A maioria divide a saúde nos
componentes mencionados na definição original de saúde da
Organização Mundial da Saúde: mental, física, social. A Figura
3.2 apresenta um outro tipo de abordag em. Nesta conceituação, a
condição de saúde possui sete componentes, variando da
longevidade à capacidade de recuperação:
Longevidade: a medida mais comum do estado de saúde,
especialmente no nível populacional, é a longevidade ou
expectativa de vida e seu oposto, a mortalidade. Uma
característica importante da saúde de indivíduos é sua
expectativa de vida; a expectativa média de vida em uma
população é um descritor importante do estado de saúde de
uma nação. Sistemas de atenção à saúde inf luenciam a
expectativa de vida, mesmo que esta última também seja
afetada por outros deter minantes, como estrutura genética,
ambiente social e físico e compor tamentos pessoais.
Atividade: O segundo componente do estado de saúde é a natureza
da atividade do indivíduo ou da população. Qualidades
relevantes incluem a apresentação de tipos de incapacitação
que afetam o indivíduo e, em nível populacional, a proporção
da população que pode continuar com as atividades normais.
Desconforto: Inclui dor ou outras sensações que interfiram com o
trabalho ou o prazer.
Bem-estar e satisfação percebidos: Esta característica denota como as
pessoas vêem sua própria saúde e o quanto estão satisfeitos
com ela.
Enfermidade: Envolve a presença de problemas reconhecidos como
uma interferência potencial ou real no bem-estar do
indivíduo ou da população; inclui tanto patologias mentais
como físicas.
Alcance: Reflete os aspectos positivos da saúde que devem ser
considerados na realização do que a OMS define como “um
estado de bem-estar”. Significa o nível de desenvolvimento
94
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
ou realização e o potencial para futuro desenvolvimento de
uma saúde melhor. Uma forma comum de descre ver o alcance
está relacionada a como os papéis sociais nor mais são
desempenhados.
Capacidade de Recuperação: Esta característica de saúde também
per tence a um estado de bem-estar. Refere-se à capacidade
de lidar com a adversidadeeéacategoria que mede o potencial
para resistir a uma variedade de possíveis ameaças à saúde. A
capacidade de responder ao estresse de forma construtiva pode
ser medida por técnicas fisiológicas, técnicas psicológicas ou
pela evidência de que determinadas def esas conhecidas por
aumentar a r esistência estão presentes ou foram fornecidas.
O protótipo de capacidade de recuperação biológic a é o estado
de estar adequadamente imunizado contra doenças
preveníveis. Uma segunda medida da capacidade de
recuperação é o alcance de determinados padrões nutricionais.
Uma terceira medida é o desempenho de deter minados
comportamentos de saúde ou modificações ambientais
conhecidos por reduzirem a probabilidade de enfermidades;
um e xemplo típico é um nível definível de exercício físico.
Vulnerabilidade: Esta pr opriedade da saúde ref lete as características
que diminuem a capacidade do indivíduo de se precaver contra
ameaças à saúde. Exemplos de características que aumentam
o risco incluem o uso errôneo de substâncias e atividades que
aumentem a probabilidade de ocorrência de lesões.
Ver a saúde como uma composição de propriedades per mite
o desenvolvimento de perfis que refletem diferentes combinações
de forças e fragilidades (Starfield, 1974; Riley et al., 1998a; Riley
et al., 1998b).
Uma avaliação da efetividade de um sistema de saúde, quer
em relação ao indivíduo, à comunidade ou a toda a população,
deveria levar em conta, pelo menos, alguns aspectos de todas estas
características do estado de saúde. (Os Capítulos 12 e 13
consideram as diferentes abordagens para avaliação da condição
95
3. Morbidade na Atenção Primária
de saúde em maiores detalhes.) Para atingir a eqüidade entre
subg rupos da população, também é necessário ter informações a
respeito do estado de saúde destes subg rupos populacionais, de
for ma a deter minar se a saúde de g r upos vulneráveis da população
difere daquela do resto da população e quais são as diferenças.
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IIII
IIII
II
Prática de Atenção Primária
101
Este capítulo descreve o conteúdo da prática de atenção
primária em dois países com ênfases historicamente diferentes na
atenção primária como alicerce de seus sistemas de serviços de
saúde. A seguir, é feita uma breve discussão sobre a orientação da
atenção primária para a família. A última seção apresenta uma
cronologia da atenção primária e de médicos subespecialistas nos
Estados Unidos e uma consideração sobre o futuro dos
profissionais de atenção primária neste país.
PRÁTICA DA ATENÇÃO PRIMÁRIA NOS
ESTADOS UNIDOS
A principal fonte de informações a respeito da natureza da
atenção primária nos Estados Unidos é a National Ambulatory Medical
Car e Survey [Pesquisa Nacional de Atenção Médica Ambulatorial]
(NAMCS), uma pesquisa nacional realizada em consultórios. Ela
foi inicialmente realizada em 1974 e continuou a cada ano até o
início dos anos 80, quando passou a ser realizada uma vez a cada
cinco anos. Em 1990, mais uma vez tornou-se anual.
Setenta por cento dos contatos para atendimento
ambulatorial com médicos nos Estados Unidos são realizados
nos consultórios ou em estabelecimentos clínicos organizados;
14% em departamentos de pacientes não internados, 13% por
telefone e 4% no domicílio (National Center for Health Statistics,
1997). Isto representa uma discreta diminuição continuada nos
4. DESCREVENDO A ATENÇÃO
PRIMÁRIA
102
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
contatos em consultórios e um discreto aumento correspondente
nos contatos domiciliares e em clínicas organizadas. Assim, a
NAMCS reflete a natureza da atenção ambulatorial para a grande
maioria de pessoas nos Estados Unidos. Entretanto, não fornece
informações a respeito de atendimento por consulta ou
encaminhamento oferecidos dentro dos hospitais, departamentos
de pacientes não internados ou salas de emergência, que
geralmente estão localizados em áreas onde reside uma
porcentagem desproporcional de pessoas socioeconomicamente
desfavorecidas. Portanto, no início dos anos 90, o National Center
for Health Statistics [Centro Nacional de Estatística em Saúde]
desenvolveu um levantamento comparável de departamentos de
pacientes não internados e de emergência; estes dados per mitem
comparar a atenção oferecida nestes estabelecimentos com aquela
nos consultórios (Lipkind, 1996; Stussman, 1996).
O quadro de amostragem da NAMCS é uma lista de médicos
mantida pela American Medical Association [Associação Médica
Americana] (que obtém os nomes de todos os estudantes de
medicina em graduação na faculdade de medicina e solicita,
periodicamente, infor mações a seu respeito por meio de um
levantamento por questionários) e pela American Osteopathic
Association [Associação Osteopática Americana], que mantém
uma lista de osteopatas.
*
O quadro de amostragem está estratificado pela
especialidade e pela área geográfica; é pedido a cerca de 3.000
médicos que completem for mulários sobre as consultas realizadas
em seus consultórios em uma semana do ano. Os 16 itens de
informação seguintes são obtidos rotineiramente: data de
*
Os dados da NAMCS são a única fonte de informações rotineiramente coletadas, a
qual inclui médicos de osteopatia “MOs” e médicos em geral “MDs”. A menos
que esteja indicado diferentemente, todos os outros dados estão relacionados a MDs
apenas, que não existe informação comparável sobre osteopatas. Nos dados da
NAMCS, os “DOs” não são separadamente diferenciados, de forma que não é possível
determinar se e de que forma sua prática difere da dos “MDs”.
103
4. Descrevendo a Atenção Primária
nascimento do paciente, etnia, raça, sexo, prob lema ou queixa
apresentados, se o paciente tinha sido consultado
anterior mente, se o paciente foi encaminhado por outro médico,
tipo de motivo para a consulta, diagnóstico (podem ser listados
até três), causa da lesão, ser viços de diagnóstico e terapia,
disposição e o nome de todos os medicamentos administrados
ou prescritos. Podem ser obtidos dados adicionais par a obter
infor mações a respeito de questões de interesse nacional atual.
As informações derivam, atualmente, de cerca de 36.000
consultas ao ano; cerca de 75% de todos os médicos solicitados
a par ticipar realmente cooperam (Woodwell, 1997).
Os diagnósticos são codificados utilizando a Classificação
Internacional de Doenças Modificação Clínica, sendo os
medicamentos codificados de acordo com um sistema especial
projetado pelo Centro Nacional para Estatísticas de Saúde. Um
aspecto da NAMCS é a codificação dos problemas apresentados
por meio de um sistema no qual os problemas são categorizados
por “módulos”, como segue: sintomas; doenças; diagnóstico,
exames e prevenção; tratamento; lesões e efeitos adversos;
resultados de exames; ou administrativo. As inf or mações obtidas
a partir da NAMCS oferecem a base para estudos que esclareçam
a natureza da atenção primária, explorem as razões das diferenças
e avaliem o impacto das diferenças sobre os benefícios e custos
da a tenção.
A Tabela 4.1 mostra a distribuição das consultas realizadas
em consultório por idade do paciente e por tipo de médico.
Médicos generalistas e de família oferecem menos de um quarto
de toda a atenção e menos de um terço da atenção para adultos
em cada g r upo etário. Bem mais da metade de todas as consultas
de crianças abaixo dos 15 anos de idade são feitas por pediatras;
os generalistas oferecem atendimento em um quinto das consultas
infantis; e outros médicos de atenção não-primária realizam-na
em cerca de 16% das consultas. Os médicos inter nistas oferecem
relativamente mais atenção a pessoas mais velhas, mas ainda
contam com apenas 24% das consultas para pessoas com mais
104
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
de 65 anos de idade. Com o tempo, a pr oporção de toda a atenção
prestada por médicos de família vem declinando, com um
aumento correspondente na atenção oferecida por especialistas
em atenção não-primária e, para as crianças, por pediatr as.
Tabela 4.1Tabela 4.1
Tabela 4.1Tabela 4.1
Tabela 4.1
Porcentagem de consultas em consultório por idade e tipo de médico:
estados unidos, 1994
* Nesta tabela, e nas subseqüentes, indivíduos menores de 15 anos são considerados crianças.
Embora os campos da pediatria e da saúde materno-infantil geralmente incluam 15-17
anos de idade, e talvez mesmo até 20 anos como “crianças e jovens”, as idades de 0-14
anos são usadas para representar as crianças neste capítulo porque vários países encorajam
ou permitem que pediatras atuem na qualidade de médicos de atenção primária para
crianças até 15 anos.
A Tabela 4.2 descreve os motivos de consulta a
especialistas de atenção primária e de atenção não-primária por
parte de crianças abaixo dos 15 anos de idade. A maioria das
consultas, tanto com médicos de atenção primária quanto com
outros tipos de médicos, são motivadas por sintomas; esta
proporção vem aumentando lentamente no decor rer do tempo,
exceto no caso dos médicos de família. Por tanto, é provável que
reflitam ou uma proporção crescente de consultas para primeiro
contato com médicos de atenção não-primária ou maior número
de encaminhamentos de problemas mais indiferenciados por
médicos de atenção primária. Apenas cerca de uma em cada 20
consultas são realizadas especificamente para uma enf er midade
definida. Os pediatras também oferecem, significativamente,
mais atendimentos motivados por diagnóstico, exames ou
105
4. Descrevendo a Atenção Primária
prevenção do que no caso dos g eneralistas. Médicos g eneralistas
e de família oferecem, relativamente, mais atenção para lesões
do que os pediatr as.
Tabela 4.2Tabela 4.2
Tabela 4.2Tabela 4.2
Tabela 4.2
Consultas por crianças de 0-15 anos em consultórios médicos, por motivo
da consulta e tipo de médico: estados unidos, 1994
A Tabela 4.3 apresenta os motivos para as consultas feitas
por adultos. As consultas motivadas por uma necessidade de
diagnóstico, exame ou prevenção são consistente e
significativamente menos comuns na prática dos internistas do
que na prática dos médicos generalistas e de família. Os internistas
oferecem uma proporção maior de atenção para diagnósticos
específicos do que os médicos generalistas e de família, embora
as diferenças não sejam estatisticamente significativas para as
diferentes faixas etárias separadamente. Médicos generalistas e
de família oferecem relativamente mais atenção para lesões
apresentadas por adultos em todas as faixas etárias do que os
internistas. É muito mais provável que as consultas a médicos
de atenção não-primária (refletidas nas diferenças entre “todos
os médicos” e os médicos de atenção primária) sejam para
tratamento específico.
106
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Em suma, é mais provável que as consultas a médicos
generalistas ou de família enfoquem as queixas e lesões dos
pacientes, embora as dif erenças tenham r eduzido com o tempo.
Tabela 4.3Tabela 4.3
Tabela 4.3Tabela 4.3
Tabela 4.3
Consultas por adultos em consultórios médicos por motivo de consulta e
tipo de médico: estados unidos, 1994
* Diferença entre 100% e o total da coluna inclui todos os outros motivos e motivos
desconhecidos.
107
4. Descrevendo a Atenção Primária
É mais provável que os internistas enfoquem enfer midades
específicas e é mais provável que os pediatras enfoquem a
prevenção e exames do que os médicos generalistas ou de família.
Para todos os tipos de médicos de atenção primária, entretanto,
a maioria das consultas é motivada por sintomas e queixas; apenas
uma pequena minoria é motivada por diagnósticos específicos.
Em geral, não existem diferenças marcantes nem consistentes
entre médicos de a tenção primária e outros especialistas.
O Capítulo 1 indicou que a prática de atenção primária
deveria ser diferenciável da prática especializada por uma
variedade maior de tipos de problemas apresentados e uma
variedade maior de diagnósticos. A Tabela 4.4 mostra que este
é, apenas parcialmente, o caso nos Estados Unidos. A tabela
mostra as similaridades entre a medicina de família, a medicina
interna e a cir urgia g eral, quando é levado em conta o número
dos problemas mais comuns necessário para atingir 50% das
consultas. O número é muito maior do que para outras
especialidades, incluindo pediatria, indicando, assim, mais
diversidade entre os problemas comuns na prática de atenção
primária. Com o passar do tempo, esta diversidade vem
aumentando em muitos tipos de práticas subespecializadas,
sug erindo, mais uma vez, ou uma tendência maior de pacientes
para procurar diretamente atendimento com subespecialistas ou
um aumento nos encaminhamentos de muitos problemas comuns
para subespecialistas. Apenas quando as especialidades são
organizadas pela porcentagem de problemas que responde pelos
50 principais problemas é que a pediatria, assim como a medicina
de família e a medicina interna, são separadas das
“especialidades” mais tradicionais. Mesmo neste caso, entretanto,
a cir urgia geral se assemelha à atenção primária nos Estados
Unidos e não a outras especialidades, sendo que isto ocorre com
a pediatria apenas quando não são incluídas consultas de bebês
saudáveis. Houve poucas mudanças nestas porcentagens na
década passada.
108
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
A Tabela 4.5 apresenta um quadro semelhante relacionado à
variedade de diagnósticos na atenção primária e em outras
especialidades. Mostra o número dos diagnósticos mais comuns que,
considerando suas freqüências, respondem por 50% de todas as
consultas para diferentes tipos de médicos nos Estados Unidos. Com
exceção da ginecologia/obstetrícia, estes números aumentaram na
última década, indicando, assim, uma maior diversidade entre os
diagnósticos mais comuns. Se os diagnósticos mais comuns realizados
por profissionais de atenção primária são mais variados, estes
profissionais devem encontrar mais diagnósticos em uma dada
porcentagem de consultas (por exemplo, 50%) do que outros
especialistas. Para os generalistas, internistas e cirurgiões gerais, pelo
menos 30 destes diagnósticos devem ser incluídos para alcançar 50%
das consultas. Para os dermatologistas, psiquiatras, ginecologistas/
obstetras e oftalmologistas, dez ou menos dos diagnósticos mais
comuns respondem por 50% das consultas. Para os pediatras, os oito
diagnósticos mais comuns respondem por 50% das consultas,
assemelhando-os mais com outros especialistas do que com médicos
Tabela 4.4Tabela 4.4
Tabela 4.4Tabela 4.4
Tabela 4.4
Número de problemas mais freqüentes que respondem por 50% de todas
as consultas e a porcentagem de todos os problemas apresentados
representados pelos 50 problemas mais apresentados, por especialidade
do médico: Estados Unidos, 1994
* Sessenta e um por cento quando excluídas as consultas de bebês e crianças saudáveis.
109
4. Descrevendo a Atenção Primária
de atenção primária. Entretanto, quando os diagnósticos de crianças
ou pessoas saudáveis são excluídos, são necessários 24 diagnósticos
para atingir 50% das consultas para pediatras, fazendo com que se
pareçam mais com médicos de atenção primária. Quando a
porcentagem necessária de consultas para abranger os 50 diagnósticos
mais freqüentes é considerada (última coluna da Tabela 4.5), os
cirurgiões se assemelham aos médicos de família e internistas e não
aos especialistas, sendo que os pediatras se assemelham a eles apenas
quando os bebês ou crianças saudáveis são excluídos. Estas
porcentagens diminuíram ao longo da última década (exceto para
pediatria), indicando uma variedade maior de problemas menos
comuns (embora não necessariamente raros) nas unidades de saúde
de todos os tipos. (Deve ser observado que estas porcentagens não
refletem necessariamente o número total de diagnósticos diferentes
nas unidades de atendimento dos médicos de atenção primária versus
outros especialistas, porque as diferenças entre as porcentagens e 100%
podem ser compostas por mais diagnósticos, apesar de muito incomuns,
na atenção subespecializada do que na atenção primária.)
É evidente que nem a variedade dos problemas mais comuns
nem dos diagnósticos distingue claramente os generalistas, internistas
e pediatras, considerados como profissionais de atenção primária,
dos cirurgiões, que não são considerados como provedores de
atenção primária. (Esta situação pode mudar com o tempo,
entretanto, com as consultas r ealizadas em outros lugar es, exigindo
cada vez mais um encaminhamento do profissional de atenção
primária.) Além disso, isto pode ser verdade apenas em países como
os Estados Unidos, onde a maioria da população, historicamente,
tem tido acesso direto a um especialista sem encaminhamento de
um profissional da atenção primária. Este acesso direto a especialistas
pode levar a uma situação que torne a atenção subespecializada
semelhante à atenção primária. Nesta situação, não é possível utilizar
diagnósticos específicos ou variedades de diagnósticos como base
para identificação da unidade de atenção primária, pelo menos com
os esquemas de codificação atuais que não podem distinguir as
diferenças na gravidade do problema ou d iagnóstico.
110
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Presume-se que as unidades de atenção primária tenham uma
porcentagem maior de consultas classificadas como relacionadas à
prevenção, mas, como é o caso para vários diagnósticos e pr oblemas,
os dados nos Estados Unidos não apóiam unifor memente esta
distinção. A porcenta g em de consultas de adultos não associadas a
qualquer sintoma varia de 1,8 para otorrinolaringologistas a 61,4
para ginecologistas/obstetras, com a maioria das outras
especialidades oscilando em torno de 10% (Puskin, 1977).
As Tabelas 4.6 e 4.7 mostram a condição de encaminhamento
de pacientes que consultam médicos de atenção primária e não-
primária. A Tabela 4.6 apresenta as porcentagens de consultas
específicas que foram realizadas por encaminhamento de outro
médico. Estas porcentag ens aumentaram muito na última década,
Tabela 4.5Tabela 4.5
Tabela 4.5Tabela 4.5
Tabela 4.5
Número de diagnósticos mais freqüentes respondendo por 50% de
todas as consultas e a porcentagem de todos os diagnósticos
representados pelos 50 diagnósticos mais comuns, por
especialidade do médico: Estados Unidos, 1994.
* 56,3 depois da eliminação das consultas de crianças saudáveis.
O grande número de categorias para número de diagnósticos é registrado pela variedade
de tipos de fraturas e distensões, cada uma das quais tem um código CID diferente.
Quando reclassificados pelos grupos de Schneeweis, o número de diagnósticos é de
quatro, com a avaliação completa incluída ou não (Schneeweis et al., 1983).
111
4. Descrevendo a Atenção Primária
algumas vezes, mais que o dobro. Entretanto, a porcentagem destas
consultas não excede um quarto (um terço no caso de crianças
examinadas por especialistas de atenção não-primária), mesmo nas
práticas de especialistas de atenção não-primária. As consultas com
internistas ocorrem, provavelmente, mais por encaminhamento do
que no caso dos médicos generalistas e de família, mas, mesmo neste
caso, a porcentagem não excede 10%, e xceto para as relativamente
poucas crianças e xaminadas por internistas. As consultas com outros
especialistas tendem a ocorrer mais por encaminhamento do que as
consultas com médicos de atenção primária, e esta diferença foi
ampliada na última década por causa do g rande aumento, ao longo
do tempo, na porcentag em de consultas a especialistas de atenção
não-primária devido a encaminhamento.
Tabela 4.6Tabela 4.6
Tabela 4.6Tabela 4.6
Tabela 4.6
Porcentagem de consultas em que os pacientes foram encaminhados por
outro médico: Estados Unidos, 1994
Tabela 4.7Tabela 4.7
Tabela 4.7Tabela 4.7
Tabela 4.7
Porcentagem de consultas em que os pacientes foram encaminhados para
outro médico: Estados Unidos, 1994
112
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Entretanto, a porcentagem destas consultas ainda é menor
que 50% em todos ou na maioria dos g r upos etários, e xceto no
caso da neurologia e da neurocirurgia. A porcentagem de
consultas decorrentes de um encaminhamento para a maioria dos
outros médicos de atenção não-primária varia de 30% a 50%,
enquanto, apenas alguns anos (1991), a porcentag em estava
mais comumente entre 10% e 20%. Entre os principais
subespecialistas, a porcentagem está acima de 50% apenas para
os neurologistas e neurocirurgiões e abaixo de 20% para
oftalmologistas, psiquia tras e ginecologistas/obstetras.
Nos dados da NAMCS, as consultas de pacientes que tinham
sido encaminhados anterior mente e estão voltando ao especialista
para continuação do tratamento não são contadas como
encaminhamentos. Um estudo nacional de mais de 20
especialidades, em meados dos anos 70, utilizou aproximadamente
as mesmas técnicas da NAMCS, mas perguntava como o médico
recebeu, inicialmente, o paciente pelo problema que motivou a
consulta específica e perguntava, ainda, se o paciente tinha sido
encaminhado apenas para obter um parecer ou aconselhamento
ou se tinha sido permanentemente encaminhado. Médicos de todas
as especialidades tinham uma proporção maior de pacientes que
foram encaminhados definitivamente do que os enviados para
aconselhamento ou parecer, sendo que a porcentagem de pacientes
examinados por encaminhamento como um todo era, conforme
esperado, consideravelmente maior do que aquelas encontradas
na N AMCS. Os especialistas com a porcentag em mais alta de
encaminhamentos inter nos foram neur ocir urgiões, sendo que os
especialistas com a porcentagem mais baixa de encaminhamentos
internos foram os ginecologistas/obstetras, oftalmologistas e
der matologistas, fato de vido, em grande parte, a uma porcentag em
muito menor de pacientes encaminhados de for ma definitiva
(Robert Wood Johnson Foundation, 1982). Não dados mais
recentes que possam ser usados para averiguar as tendências no
decor rer do tempo.
113
4. Descrevendo a Atenção Primária
Entretanto, o s dados de 1994 indicam que a g rande maioria
de pacientes não é encaminhada de volta ao médico responsável
pelo encaminhamento. Além disso, daqueles pacientes não
encaminhados para consulta, mais de três quartos (exceto para
der m atologistas, cir urgiões g erais e otorrinolaring ologistas) são
relatados como “antigos” pacientes com antigos problemas,
indicando que existe uma substancial continuidade da atenção
continuada nas unidades de atendimento dos especialistas norte-
americanos. Daqueles pacientes encaminhados para a consulta, mais
da metade são pacientes e xaminados anterior mente pelo mesmo
problema, exceto no caso de der matologistas e neur ologistas,
confir mando a tendência dos especialistas norte-americanos de
examinar o mesmo paciente repetidamente para o mesmo problema.
Não se sabe o quanto este padrão representa uma delegação da
atenção pelos médicos de atenção primária aos especialistas, em
vez da atenção compartilhada com os especialistas que atuando
como consultores para os médicos de atenção primária. Um estudo
recente de pacientes com diabetes em Alberta, Canadá, indica que
a maioria dos pacientes encaminhados para especialistas de atenção
não-primária continua a consultar com o médico de atenção primária
também para seu diabetes, sugerindo a probabilidade da atenção
compartilhada, mas a generalização deste achado para outras áreas
e países é desconhecida (Reid, 1998).
A Tabela 4.7 apresenta a porcentag em de consultas que
resulta em um encaminhamento a outro médico. Esta
porcentagem é menor para crianças do que para adultos e
geralmente similar para médicos de família (para consultas
infantis) e pediatras. Embora a diferença nas taxas de
encaminhamento de adultos pelos diferentes tipos de médicos
de atenção primária não seja marcante, médicos de família
encaminham menos adultos mais jovens do que os internistas;
confor me a idade dos pacientes aumenta, a diferença se estreita
até a idade de 65 anos, quando os médicos de família encaminham
discretamente mais pacientes do que os internistas. Os
114
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
especialistas de atenção não-primária encaminham uma
porcentagem menor tanto de seus pacientes adultos quanto
infantis do que os médicos de atenção primária, mas as taxas
geralmente baixas de encaminhamento por todos os tipos de
médico é marcante. A taxa de encaminhamento vem aumentando
com o tempo e, ao contrário da percepção que as Organizações de
Manutenção da Saúde [Health Maintenance Or ganization HMO]
inibem os encaminhamentos de atenção primária para especialistas,
seus pacientes são provavelmente encaminhados, embora tenham
taxas de auto-encaminhamento menores. Apesar do aumento nas
taxas de encaminhamento, entretanto, cerca de metade de todos
os novos pacientes examinados por especialistas são auto-
encaminhados nos Estados Unidos (For rest e Reid, 1997).
Outra característica que deveria distinguir os profissionais de
atenção primária dos especialistas é a distribuição de consultas do
paciente pela familiaridade tanto com o paciente quando com seus
problemas. Seria esperado que tanto os médicos de atenção primária
quanto outros especialistas examinassem novos pacientes e vissem
“antig os” pacientes com problemas antigos. Os profissionais de
atenção primária deveriam ver mais pacientes antigos com problemas
novos, uma vez que são responsáveis pela atenção ao paciente ao
long o do tempo, sem considerar o problema em particular. A Tabela
4.8 mostr a que a prática de deter minados especialistas e dos médicos
de a tenção primária diferem em alguns aspectos. Os especialistas
de atenção não-primária de todos os tipos examinam menos
pacientes antigos com problemas novos do que os médicos de atenção
primária. Entretanto, os inter nistas generalistas examinam menos
desses pacientes do que os médicos de família ou pediatras. As
diferenças são ainda mais marcantes quando apenas as consultas
não encaminhadas são consideradas (Tabela 4.9). Na última década,
estas por centagens têm permanecido relativamente constantes,
exceto por um declínio na proporção de pacientes antigos com
problemas novos examinados nos consultórios de ginecologistas/
obstetras, sug erindo, assim, uma diminuição nos aspectos de
longitudinalidade da prática de ginecologia/obstetrícia.
115
4. Descrevendo a Atenção Primária
Tabela 4.8Tabela 4.8
Tabela 4.8Tabela 4.8
Tabela 4.8
Distribuição de consultas em consultórios por familiaridade com o
paciente ou com os problemas do paciente por especialidade do médico:
Estados Unidos, 1994
Tabela 4.9Tabela 4.9
Tabela 4.9Tabela 4.9
Tabela 4.9
Porcentagem de consultas não encaminhadas por problema anterior à
consulta: Estados Unidos, 1994
Fonte: Schappert (1996).
Embora tenha havido poucas mudanças no período de 15
anos, de 1978 a 1993, nos pr oblemas clínicos obser vados na
atenção primária e a proporção de pacientes que tomam
116
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
medicamentos, houve um aumento na porcentagem de consultas
que envolvem ser viços de prevenção, mudanças nas medicações
específicas que são mais comumente prescritas e um aumento na
duração das consultas de atenção primária (Stafford et al ., 1998).
A duração mais longa das consultas está associada a uma realização
de mais testes diagnósticos, prescrição de mais medicamentos e
encaminhamento de mais pacientes a outros médicos, além de
orientações. Além disso, as características org anizacionais também
desempenham um papel; as consultas são mais curtas quando o
número de funcionários de apoio de meio período é menor. No
geral, a duração das consultas, em 1993, foi de 16,2 minutos para
adultos (Blumenthal et al., 1998) e 14,2 minutos para crianças
(Ferris et al., 1998).
A NAMCS também obtém infor mações a respeito da
proporção de consultas em que o paciente é encaminhado de volta
ao médico que o encaminhou. Para os médicos de atenção primária,
estas porcenta gens têm permanecido baixas (0–2%). Com poucas
exceções (neurologia, cir urgia cardiovascular, cir urgia torácica),
a porcentagem de consultas em que os pacientes são encaminhados
de volta ao médico que os encaminhou é baixa (menos de 10%),
sendo muito mais baixa do que a porcentagem de consultas
decorrentes de um encaminhamento, sugerindo que uma
porcentagem substancial de pacientes que são encaminhados não
são rapidamente encaminhados de volta ao médico que os
encaminhou. Na verdade, a porcentagem de todas as consultas
realizadas com pacientes que não foram encaminhados sem
problemas novos (para esta consulta) está acima de 40% para todos
e, geralmente, acima de 50% para a maioria dos especialistas.
Entretanto, a neurologia parece ser relativamente singular entre
as principais especialidades de atenção não-primária ao encaminhar
os pacientes de volta ao médico que os encaminhou e ao vê-los
novamente, mais tarde, para o mesmo problema; também tem a
porcentagem mais baixa de pacientes não encaminhados que não
apresentam problemas novos (nesta consulta) (Schappert, 1996).
Ou seja, pode ser que, nos Estados Unidos, os especialistas em
117
4. Descrevendo a Atenção Primária
neurologia estejam fazendo melhor uso dos médicos de atenção
primária para a atenção continuada (com um reencaminhamento
quando necessário) em vez de eles mesmos realizarem o
acompanhamento.
Estes dados a respeito do conteúdo da atenção nos Estados
Unidos indicam que os médicos de atenção primária e de atenção
não-primária em consultório não diferem tanto quanto poderia ser
esperado no que se refere a várias características clínicas
importantes de consultas, como os motivos para a consulta e as
características do encaminhamento. É possível que a inclusão de
especialistas baseados nos hospitais revelasse diferenças maiores,
mas não estudos que forneçam dados para esta comparação.
O CONTEÚDO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA NO
REINO UNIDO
Os Estados Unidos e o Reino Unido estão em extremidades
opostas do espectro de força de seu direcionamento para a atenção
primária (ver Capítulo 15). Dados existentes fornecem alguns
contrastes interessantes, basicamente nos tipos de infor mações
que são coletadas nos dois países.
Como os pacientes do Reino Unido registram-se para receber
toda sua atenção primária de um médico em particular (um clínico
geral), cada profissional de saúde tem uma “lista de pacientes”,
embora estas estejam, cada vez mais, se tornando listas de grupo.
Em 1995, o tamanho médio da lista era de 1.781, uma diminuição
gradual dos 2.098 em 1980. Destes, 7% tinham idades de0a4
anos, 13% de5a14anos, 42% de 15 a 44 anos, 22% de 45 a 64
anos, 9% de 65 a 74 anos, e 7% mais de 74 anos. A duração média
das consultas era de 8,8 minutos (cerca de metade da duração dos
Estados Unidos). Em média, apenas cerca de 16% dos pacientes
vistos no período de um ano tinham sido encaminhados a outro
médico; isto aumentou com cada faixa etária sucessiva de 10%
entre os pacientes com idades d e0a4anos e 6,7% em idades de
118
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
5 a 15 anos para 45% daqueles acima de 74 anos, tendo o número
médio de encaminhamentos por indivíduo encaminhado aumentado
progressivamente de 1,12 na faixa etária mais jovem para 1,27 na
faixa etária mais idosa. Uma em cada dez consultas foi uma
consulta domiciliar (Royal College of General Practice, 1995a).
A Tabela 4.10 compara os dez diagnósticos mais freqüentes
na prática generalista no Reino Unido com a prática da medicina
de família e prática da medicina inter na g eral nos Estados Unidos.
pouca similaridade nos tipos de diagnósticos mais comuns,
exceto para infecção do trato respiratório superior, asma e
hiper tensão, mas o método de cálculo difere e a amostra de
medicina inter na g eral nos Estados Unidos não inclui crianças.
O número de prescrições por pessoa varia em países
diferentes. No Reino Unido, em 1993, foi feita uma média de 8,8
prescrições por pessoa (Royal College of General Practice,
1995c), comparando com 16,6 nos Estados Unidos. Entretanto,
este último número inclui todos os tipos de unidades, não apenas
a atenção primária.
A porcentagem de unidades de saúde computadorizadas tem
crescido; em 1993, 79% das práticas estavam usando
computadores, um número que foi projetado para aumentar para
92% em 1997. Em 1993, quase todas elas (98%) estavam
utilizando computadores para o registro de pacientes; 94% os
estavam usando para prescrições, 90% para, pelo menos,
prontuários clínicos parciais, 42% para re-chamada do paciente e
84% para relatórios anuais da unidade. No Reino Unido, o uso de
computadores para trabalhar (em vez do uso para cobrança) é
promovido por um reconhecimento específico pelo Serviço
Nacional de Saúde [National Health Ser vice ] da importância das
infor mações na criação de um sistema de saúde melhor e de suas
propostas para desenvolver especificações mínimas para sistemas
de informação e para apoiar projetos para melhorar a transferência
eletrônica de informações para as unidades de saúde (Royal Colleg e
of General Practice, 1996).
119
4. Descrevendo a Atenção Primária
A FAMÍLIA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA
Um artesão não especializado 20 anos de idade portador de erupção
cutânea obscura foi encaminhado a um der ma tologista por um
cir urgião oftalmológico. Ele foi tratado sem sucesso por muitas
semanas até que foi examinado por seu clínico g eral, que confirmou
que o paciente dividia a cama com seu irmão. O irmão também
tinha uma erupção, e ambos se coçavam mais à noite. O clínico
geral foi, assim, capaz de diagnosticar e controlar a sarna subjacente.
Uma experiência clínica
Tabela 4.10Tabela 4.10
Tabela 4.10Tabela 4.10
Tabela 4.10
Os 10 principais diagnósticos na prática da Atenção Primária
Fonte: Dados da NAMCS para os Estados Unidos; Royal College of General Practice (1995a)
para o Reino Unido.
120
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Sempre foi pensado que a orientação para a família
contribuísse para bons ser viços de saúde. O conhecimento da
família oferece não apenas o contexto para avaliação dos problemas
dos pacientes e ajuda para isolar a probabilidade de diversos
diagnósticos possíveis, mas também é importante na decisão a
respeito de uma intervenção apropriada, porque as famílias podem
diferir em sua capacidade de realizar diferentes tratamentos e
manejar estratégias. É provável que a família se tor ne ainda mais
importante conforme o conhecimento a respeito da genética aumenta
e as possibilidades tanto de prevenção quanto de manejo aumentem.
Embora a medicina de família esteja baseada em um forte
alicerce teórico desenvolvido durante a primeir a década da f ormação
da disciplina (nos anos 70 nos Estados Unidos), existe uma relativa
escassez de literatura a respeito da orientação para a família por
parte dos profissionais de saúde da atenção primária. Um estudo do
teor de seis periódicos norte-americanos de medicina de família de
1989 a 1993 dividiu a questão em seis categorias: atenção ao
paciente no contexto da família, a família como paciente,
instr umentos para medir o funcionamento da f amília, geno grama e
ciclo de vida, atenção a membros da família e artigos de revisão
sobre família. No período de cinco anos do estudo, foram publicados
apenas 47 textos sobre a família nos seis periódicos; destes, pelo
menos a metade (e mais de 60% no jornal com mais artigos) foi
limitada a apenas duas destas seis ca tegorias. Assim, parece haver
poucas evidências, pelo menos na literatura norte-americana, que
pudessem ajudar a julgar a magnitude das contribuições especiais à
atenção primária feitas pelos médicos de família (Smilkstein, 1994).
Muitas técnicas estão disponíveis para ajudar os profissionais
de saúde a considerar o contexto da família como uma parte de sua
atenção aos pacientes. North e colaboradores (1993) examinaram a
extensão na qual dez destas foram usadas por médicos de família.
Das dez, uma (o genograma) é usada para o propósito específico de
identificar pr edisposições a doenças em famílias. Oito servem ao
propósito de identificação do contexto da família no qual a atenção
aos pacientes ocorre: conferências de família, entendimento do ciclo
121
4. Descrevendo a Atenção Primária
de vida da família, teoria de sistemas de família, mapas de famílias,
APGAR (Adaptação, Parceria, Crescimento, Afecção, Resolução)
da família, autoconsciência da dinâmica da família do próprio médico
e sessões de aconselhamento familiar. Uma técnica adicional é
especificamente indicada para lidar com o problema de dependência
química e f amílias. A mais formal destas técnicas (g enograma, mapas
de famíli a e o APGAR da família) foi a menos usada: mais da metade
dos médicos (e 95% no caso do APGAR) nunca as usou. Exceto
para a autoconsciência da dinâmica da própria família, menos de
15% dos médicos empregavam qualquer das técnicas diariamente.
Embora o treinamento anterior nas técnicas específicas tenha
aumentado a probabilidade de seu uso, este não foi o caso para a
mais formal das ferr amentas (APGAR), sugerindo que as demandas
de tempo do trabalho podem interferir com a atenção sistemática
para o atendimento orientado para a família.
Nos Estados Unidos, onde a medicina de família compartilha
a atenção primária com a medicina interna e a pediatria, uma
proporção substancial da população identifica um médico de
família como sua fonte de atenção primária. Os dados da pesquisa
de Gastos Nacionais em Saúde de 1987, uma pesquisa domiciliar
realizada por um período de um ano, revelou que em um terço das
famílias, pelo menos um dos pais e um filho estavam sendo
atendidos pelo mesmo médico. Quando este era o caso, 85% dos
cônjuges dos pais também estavam recebendo atendimento da
mesma fonte. Em 80% 90% destas famílias (dependendo se a
mãe, o pai ou o filho fosse considerado), este médico era um médico
de família. Quando o médico procurado pelo pai (ou mãe) e para a
criança era diferente, era provável que um médico de família fosse
identificado como a fonte de atenção primária para 49% das mães,
57% dos pais e apenas 18% dos filhos. As famílias cujo
atendimento era pago pelo Medicaid (para os pobres) ou pelo
Medicare (acima de 65 anos ou incapacitados) tinham mais
probabilidade de ter a atenção orientada para a família, assim como
as famílias vivendo em áreas r u rais, mães com níveis educacionais
inferiores e famílias chefiadas pela mãe (Doescher e Franks, 1997).
122
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
A proporção substancial da atenção primária prestada por
médicos de família, sem dúvida mais alta em muitos países do que
nos Estados Unidos, indica uma necessidade de entender melhor
as contribuições especiais que são feitas por uma orientação para
a família, par ticularmente com um reconhecimento crescente da
importância de características biológicas, bem como sociais e
ambientais que ag r upam as famílias.
PROFISSIONAIS DE SAÚDE DA ATENÇÃO
PRIMÁRIA NOS ESTADOS UNIDOS
Embora o ter mo atenção primária tenha longa história,
virtualmente ele não foi utilizado nos Estados Unidos antes de
meados dos anos 60. Mesmo hoje, não é amplamente aceito pela
profissão médica, a qual usa os ter mos medicina de família, medicina
geral inter na e pediatria geral para ref letir os conceitos que são
incorporados no termo mais amplo atenção primária. Parece
provável que isto seja um resultado da ênfase sobre a especialização
que muito tem caracterizado a medicina nos Estados Unidos.
A especialização foi bem encaminhada durante a segunda
década do século (Stevens, 1978). Em 1915, 66% dos alunos das
faculdades de medicina diziam que planejavam se subespecializar.
A oftalmologia foi a primeira especialidade médica a ser
for malmente org anizada (Wechsler, 1976). Nos anos 30, muitas
especialidades surgiram como entidades separadas; em 1937 havia
comissões formais de certificação em oftalmologia (1917),
otorrinolaringologia (1924), ginecologia/obstetrícia (1927),
der matologia (1932), pediatria (1933), cir urgia or topédica (1934),
psiquiatria e neurologia (1934), radiologia (1934), proctologia
(1935) a qual tor nou-se mais tarde ciru rgia do cólon e do reto
urologia (1935), medicina inter na (1936) e cir urgia (1937). A
for malização subseqüente foi alcançada pela ciru rgia neurológica
(1940), medicina física (1947), medicina preventiva e saúde pública
(1948) e cirurgia torácica (1950). Muitas destas “especialidades”
mudaram seus nomes mais tard e e a Comissão Americana de
123
4. Descrevendo a Atenção Primária
Cir urgia Torácica não tinha sido oficialmente reconhecida como
uma especialidade importante isolada até 1970. Assim, em 1950,
havia mais de 15 comissões para certificar a competência de
médicos que entravam nos campos de especialidade, mas não havia
nenhuma especialização para médicos de família (Wechsler, 1976).
Em 1996, havia 38 certificações separadas, mais 43 em
subespecialidades e mais de 21 outras certificações especiais, bem
como a certificação de medicina de família (Randolph et al., 1997).
A disponibilidade de fundos federais para fornecer assistência
para educação de veteranos da Segunda Guerra Mundial acelerou a
entrada de médicos nas especialidades, resultando na rápida queda
da proporção de médicos generalistas de 75%, em 1935, para 45%,
em 1957 (Knowles, 1969). Em meados dos anos 60, uma crise na
disponibilidade dos médicos de atenção primária foi amplamente
antecipada e diversas comissões nacionais recomendaram passos para
reverter a tendência com propostas de estabelecer uma “especialidade”
de medicina de família. Entretanto, os especialistas tradicionais
resistiram ativamente ao estabelecimento de uma especialidade de
prática de família/geral. Em 1965, a American College of Physicians
[Escola Americana dos Médicos] (os internistas) chegou ao ponto de
afirmar seu interesse e senso de responsabilidade para promover a
prática da medicina de família (Knowles, 1969). Depois de repetidas
tentativas da Academia Clínica Geral [ Academy of General Practice]
para estabelecer uma comissão certificadora na prática de família,
em 1969, uma foi finalmente aprovada. Em 1971, o Congresso
aprovou a legislação The Health Professions Educational Assistance Program
[Programa de Assistência Educacional para Profissões de Saúde] que
autorizou, pela primeira vez, o gasto de fundos para apoiar o
treinamento em medicina de família. Desde 1968, muitos estados,
iniciando com Nova York, têm aprovado leis que clamam pelo
desenvolvimento de programas de prática de família em faculdades
estaduais de medicina. Em 1972, 31 faculdades tinham criado
departamentos de prática de família e outras 30 tinham estabelecido
divisões de prática de família; estas somaram cerca de três quintos de
todas as faculdades de medicina do momento. Havia 107 programas
de residência aprovados em medicina de família: 63 em hospitais
124
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
comunitários, 41 em hospitais universitários ou hospitais associados
a universidades e três em hospitais militares, com um total de mais de
1 mil cargos de residência (Rousselot, 1973). Médico da família éa
designação para os graduados destes programas aprovados de
treinamento em medicina de família; generalista é reser vado para
médicos similares que se formar am na faculdade de medicina antes
que estes programas de treinamento tivessem sido desenvolvidos.
A legislação aprovou, em 1963 e 1968, a expansão facilitada
na oferta geral de todos os médicos, incluindo especialistas, mas
em 1971 a legislação federal para apoiar o crescimento da medicina
de família não conseguiu afetar a oferta de médicos de atenção
primária em relação a outros especialistas.
Em 1976, a preocupação a respeito da distribuição de
médicos (proporção relativamente baixa médico/população na maioria
das áreas não urbanas ) e o fornecimento defasado de médicos de
atenção primária levaram o Congresso norte-americano a aprovar a
legislação que fornecia financiamento para programas de treinamento
da atenção primária em medicina de família, medicina interna geral e
pediatria. O número de médicos de família, internistas e pediatras e a
proporção destes médicos para a população aumentou, mais do que
compensando o declínio no número de médicos generalistas. O número
de médicos de atenção primária por 100 mil habitantes aumentou de
69,6, em 1980, para 78.8, em 1985, e 83,7, em 1990. Apesar deste
aumento, o crescimento no número de médicos de atenção primária
foi menor do que o de especialistas de atenção não-primária, de forma
que eles contaram com uma proporção menor de todos os médicos
em 1990 do que em 1985.
A Tabela 4.11 apresenta a distribuição de especialidades médicas
nos Estados Unidos de 1963 a 1995. Em 1995, apenas 39% de todos
os médicos ativos (e 39% de todos os médicos com consultório) eram
médicos de atenção primária. Entretanto, esta porcentagem inclui a
maioria das subespecialidades pediátricas, bem como algumas
subespecialidades da medicina interna, que não são enumeradas
separadamente. Em contraste com a maioria dos especialistas em
medicina de família e generalistas, nem todos os especialistas em
medicina interna e pediatria praticam a atenção primária. No final
125
4. Descrevendo a Atenção Primária
dos anos 80, por exemplo, quase 30% dos médicos que se classificaram
como pediatras gerais na verdade tinham uma concentração em
subespecialidades (17%) ou praticavam unicamente uma
subespecialidade (11%) (McCrindle et al., 1989). Entre metade e dois
terços de todos os internistas em treinamento nos anos 80 buscaram
treinamento subespecializado (Instituto de Medicina, 1989; Barnett
e Midtling, 1989). Este aumento na subespecialização ocorreu na
medicina osteopática também; entre 1980 e 1987, o número de
certificados de subespecialidade em osteopatia dobrou.
Entre 1990 e 1995, a porcentagem de crescimento em
especialistas de atenção primária variou de 2% para médicos de família
e generalistas para 11% para internistas generalistas e 21% para
pediatras, ou um aumento na porcentagem geral de 9%. Em contraste,
a taxa de aumento nas subespecialidades médicas foi de 80%,
enquanto o número de especialistas em cir urgia per maneceu
relativamente constante, mas outras subespecialidades diminuíram
cerca de 12%.
Tabela 4.11
Número de médicos profissionalmente ativos (por 100.000 habitantes),
anos selecionados 1963 e seguintes*
* Além disso, havia 25.479 médicos osteopatas nos Estados Unidos em 1986. A osteopatia é um ramo
separado e menor da medicina que se baseia em uma filosofia diferente de patologia da medicina alopata
predominante. De todos os médicos osteopatas em 1986, 61% praticavam a atenção primária, principalmente
a clínica geral. Os médicos osteopatas englobam 3% de todos os médicos nos Estados Unidos, mas
representam 9,3% dos médicos de atenção primária e 12,2% dos médicos de família (Barnett e Midtling,
1989).
Exclui especialidades desconhecidas
Inclui subespecialidades pediátricas bem como a pediatria geral
§ Inclui ginecologia/obstetrícia
Fontes: 1963-1990, U.S. Department of Health, Education and Welfare; 1980, 1990, 1995, Randolph et al.,
(1997), conforme citado em Starfield, B. “Primary Care: Concept, Education and Policy”, Oxford
University Press, 1992 (2
a
impressão) página 93 ou Department of Health, Education and Welfare. A
Resort to the President and Congress on the Status of Health Professions Personnel the United States.
DHEW Publication No. (HRA) 78-93, Washington D. C. 1978.
126
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
A Tabela 4.12 apresenta o número geral de pessoas para cada
tipo de médico nos Estados Unidos em 1990 e em 1995. Em 1995,
havia um médico ativo para cada 365 pessoas, mas menos da
metade destes eram médicos de atenção primária. Em média, havia
um médico de atenção primária para cada 1.080 pessoas e apenas
um médico de família/g eneralista para cada 3.448 pessoas.
Tabela 4.12Tabela 4.12
Tabela 4.12Tabela 4.12
Tabela 4.12
População por médico: Estados Unidos, 1990 e 1995
* Incluídos com especialistas em cirurgia antes de 1995
Fonte: Randolph et al . (1997)
Embora os graduados na faculdade de medicina estejam
cada vez mais escolhendo as especialidades de atenção primária,
a probabilidade de um aumento substancial na proporção de
médicos de atenção primária parece remota. Em 1996, a
proporção de todos os médicos que completavam seu treinamento
que eram médicos de atenção primária era menor que 30%
(American Medical Association, 1997).
O número apropriado de médicos de diferentes tipos é difícil
de especificar. Embora comparações internacionais incluindo
países que diferem nas proporções relativas de tipos diferentes de
médicos pudessem contribuir para a discussão, não forneceriam
uma resposta definitiva devido ao grande número de outras
diferenças entre os países. Nos Estados Unidos, os sistemas
integrados de saúde com bons dados a respeito dos funcionários
127
4. Descrevendo a Atenção Primária
fornecem um padrão razoável contra o qual outros sistemas de
saúde podem ser comparados. Os dados de 106 g r upos e modelos
de equipe das HMOs indicaram que a proporção de médicos de
atenção primária para o total de médicos (expressa como
equivalentes de período integral) variou entre 45% e 49%.
Entretanto, quanto menor a participação no plano, menor a
proporção de médicos de atenção primária. Nas HMOs com
participações abaixo de 80 mil, apenas 33%-37% dos médicos de
período integral eram médicos de atenção primária, enquanto a
porcentagem comparável para HMOs maiores foi de cerca de 60%
(cálculos de Dial et al., 1995). Organizações menores utilizam um
número muito maior de subespecialistas por 100 mil habitantes
inscritos do que as org anizações maiores. Não é sabido o quanto a
diferença no trabalho destes especialistas em organizações maiores
e menores difere é desconhecida. Embora um estudo mais recente
em dois modelos de HMOs com uma equipe grande sugira que
estas organizações continuam a ter mais médicos de atenção
primária por habitante do que o país como um todo, pode não ser
mais verdade que eles possuam menos subespecialistas,
especialmente subespecialistas médicos (Hart et al., 1997).
Conforme será mostrado no Capítulo 15, este direcionamento
para a subespecialidade não é universal nas nações ocidentais
industrializadas. Além disso , o crescimento na oferta de todos os médicos
de atenção primária combinados é menor do que na oferta de outros
especialistas , predispondo, assim, a uma orientação especializada cada
vez maior para a prática médica nos Estados Unidos .
É provável que a proporção relativa de especialistas de atenção
primária e não-primária tenha um impacto maior sobre os modelos
de prática em ambos os tipos de especialistas. Nos Estados Unidos,
a proporção de especialistas de atenção não-primária é alta
comparada a outros países e não uma queda notável, mesmo
nesta era de atenção monitorada. Isto está refletido em padrões de
prática em que os médicos de atenção não-primária nos Estados
Unidos têm um papel muito maior na atenção continuada, orientada
para a enfermidade dos pacientes, conseqüentemente com maiores
128
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
custos, do que é o caso em muitos outros países. O número de
subespecialistas necessários para atender às necessidades de consulta
com médicos de atenção primária ou para o monitoramento
continuado de problemas raros ou incomuns não é conhecido e
permanece um desafio para futuras pesquisas orientadas para a
política em todos os países. Existe variação na proporção de médicos
de atenção primária e de atenção não primária para a proporção de
habitantes: esta variabilidade é vista mesmo dentro dos países.
Assim, está claro que onde existir uma relativa escassez de
médicos de atenção primária em relação a outros especialistas em
geral (como nos Estados Unidos), deveriam ser consideradas alterações
tanto na política governamental quanto na não-governamental.
Algumas possibilidades incluem (Starfield e Simpson, 1993):
1 . Aumentar os ganhos profissionais dos médicos de
atenção primária para alcançarem uma paridade ou
quase paridade com especialistas.
2. Estabelecer uma base mais racional para o
encaminhamento e especialmente para o manejo de
pacientes a longo prazo (Em particular, os médicos de
atenção primária poderiam atender mais pacientes com
problemas continuados de saúde com marcação de
consultas mais apropriadas e atenção compartilhada com
subespecialistas, reduzindo assim a demanda por serviços
diretos de subespecialistas. Ou seja, a atenção primária
com um apoio adequado de especialistas poderia reduzir
a demanda por atenção subespecializada).
3 . Reestr uturar as políticas de licenciamento estadual
para limitar a oferta de médicos a áreas de necessidade.
4. Fornecer incentivos financeiros a programas que
for mam os médicos de atenção primária.
5. Expandir e melhorar programas de perdão de dívidas
para médicos de atenção primária.
6. Reestruturar programas de taxas para a atenção
primária para estimular a oferta de serviços importantes
de atenção primária.
129
4. Descrevendo a Atenção Primária
7. Reduzir a trabalhosa papelada administrativa associada
a atividades de cobrança e garantia de qualidade.
8 . For necer bônus ao atingir impor tantes objetivos da
atenção primária.
9. For necer bônus para a equipe na atenção primária.
1 0. Premiar níveis mais altos de alcance de funções da
atenção primária.
11. Financiar cada vez mais pesquisas de atenção primária
para melhorar seus desafios intelectuais e aumentar a
base científica para esta prática.
12. Envolver estagiários no monitoramento contínuo da
qualidade da atenção para prepará-los para a revisão
crítica de sua própria prática.
Muitos países instituíram políticas orientadas para estes
objetivos. Como mostra o Capítulo 15, os esforços políticos estão
ref letidos na forma como os médicos trabalham, fornecendo, assim,
a base para o otimismo a respeito da capacidade dos sistemas de
saúde em responder aos desafios para melhorar a ofer ta de serviços
de atenção à saúde.
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133
Desde a Antiguidade, o médico tem sido o profissional de
Medicina oficialmente aprovado, com outros tipos de profissionais
de saúde auxiliando ou complementando o papel do médico na
prestação de serviços de saúde. Onde a ofer ta de médicos era (ou
ainda é) pequena, profissionais de saúde como enfer meiros e
auxiliares substituíam-nos. A experimentação com os papéis da
atenção primária ampliados para estes outros profissionais recebeu
impulso pelo movimento dos “médicos dos pés descalços” na
China, depois da revolução de 1949 e pelo treinamento de
enfer meiros e “assistentes médicos” nos Estados Unidos iniciado
nos anos 1960 e 1970.
Embora o papel destes profissionais não-médicos nunca
tenha sido for malmente delineado, seu treinamento e envolvimento
na atenção primária levanta questões referentes à relativa
efetividade e eficiência de diferentes tipos de profissionais de saúde
envolvidos na atenção primária. Estas questões eram
particularmente notáveis nos Estados Unidos, onde a crescente
especialização estava produzindo um excesso de subespecialistas
às custas dos médicos de atenção primária. Além disso, nos Estados
Unidos (em contraste com a maioria dos países industrializados),
os serviços de atenção primária são prestados não apenas por
clínicos gerais e médicos de família, mas também por pediatras e
internistas g eneralistas. A responsabilidade pela atenção primária
pode ser assumida por outros tipos de médicos mesmo em países
5. PROFISSIONAIS DE ATENÇÃO
PRIMÁRIA, SUBESPECIALISTAS
E OUTROS PROFISSIONAIS
NÃO-MÉDICOS
134
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
onde o médico de famíli a é o suporte da atenção primária. Por
exemplo, na Espanha e na Itália, os pediat ras são os médicos de
atenção primária para crianças abaixo de 14 anos de idade. Nos
Estados Unidos, até uma época relativamente recente, os pediatras
eram considerados os médicos de atenção primária para crianças
abaixo de 14 anos de idade; agora a idade aumentou para incluir
adolescentes. Ser viços de obstetrícia, algumas vezes, não são
considerados parte da medicina de família em alguns países, onde
a atenção pré-natal de rotina é prestada por parteiras ou obstetras.
Assim, a questão de quem oferece atenção primária melhor, e para
quem, é relevante em quase todos os lugares porque as decisões
influenciam a política tanto a respeito do conteúdo educacional
como da org anização e do financiamento dos serviços.
Uma questão envolve os méritos relativos da prestação de
serviços de atenção primária à saúde por médicos de família em
comparação com seus colegas “especialóides” (Fry e Horder, 1994)
(ou seja, pediatras gerais e internistas gerais). O crescimento do poder
e da influência de especialistas e uma tendência cada vez maior de
alguns segmentos da população a acreditarem que a atenção
especializada é melhor do que a atenção generalista, bem como
afirmações precoces que outros especialistas prestam “atenção primária”
(Aiken et al., 1979), também levam a questões a respeito dos méritos
relativos da atenção especializada e generalizada. Um caso especial de
atenção “especialista” versus a “generalista” envolve a questão dos
serviços a serem prestados a mulheres; em particular: os obstetras são
médicos de atenção primária se, pelo menos, algumas mulheres
acreditarem que eles são sua principal fonte de atenção? Uma terceira
questão, de interesse par ticular nos Estados Unidos, refere-se aos
profissionais de saúde não-médicos como prestadores de atenção
primária. Finalmente, o papel da equipe na atenção primária requer
considerações. As questões específicas a serem respondidas são: A prática
da atenção primária é igualmente efetiva, não importando o tipo de
médico? Ou existe uma justificativa teórica ou prática para limitar a
prática da atenção primária a determinados tipos de médicos, talvez
com auxílio de outros membros de uma “equipe”?
135
5. Profissionais de Atenção Primária, subespecialistas e outros profissionais não-médicos
Uma observação especial: alguns médicos de atenção
primária se ofendem com a designação “generalista”,
particular mente quando contraposto ao ter mo “especialista”
porque denota inferioridade na mente de algumas pessoas. Para os
propósitos deste capítulo, o ter mo “g eneralista” é mantido porque
é o sujeito da especialidade “generalismo”, que está em
consideração (Smilkstein, 1994).
BASES TEÓRICAS PARA O MÉDICO DE
ATENÇÃO PRIMÁRIA
O Dr. S. é um médico e um pesquisador biomédico reconhecido
que começou a perder a visão no início de seus 60 anos. Devido à
sua formação como médico e pesquisador distinto, ele não teve
dificuldades em buscar os melhores oftalmologistas na área. Nem
teve problemas para comunicar-se com eles. Ele falava sua língua
e compar tilhava de seu conhecimento. O Dr. S. recebeu um
diagnóstico de degeneração macular, uma causa irreversível e
progressiva da cegueira, e foi dito a ele que nada poderia ser feito.
Apenas muito mais tarde, e por meio de discussões com outras
pessoas que não eram pro fissionais, o Dr. S. descobriu que havia
muito que podia ser feito por ele. Estas são suas palavras:
Acredito que é raro o médico que tem tempo, energia e
discernimento para devotar profunda atenção ao que está
acontecendo ao resto de seu paciente. Pode ser que meu médico
não possa fazer nada por meus olhos, mas por trás destes olhos
encontra-se um homem ansioso e preocupado que precisa
trabalhar, mas que agora está privado de seus ganhos costumeiros,
e muito que pode ser feito por ele. As complicações da cegueira
não estão nos olhos, mas em outr as par tes. Uma dela s é a sensação
de ulceração na superfície anterior de ambas as tíbias a cerca de
30 centímetros do chão, que é a altura de uma mesa de centro
convencional. Este é um problema de um paciente cego, mas não
é mencionado em nenhum dos livros de oftalmologia. Acredito
136
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
que para a maioria dos oftalmologistas a cegueira representa um
fracasso, assim como a mor te representa o fracasso para o
internista. O internista não tem de lidar com o paciente que morreu,
mas o paciente que está cego continua a viver, e a incapacidade do
oftalmologista em lidar com a cegueira tem um impacto
importante sobre o paciente. Os oftalmologistas negam ao paciente
qualquer outra ajuda porque eles se sentem derrotados. Os
oftalmologistas não têm consciência de dezenas de auxílios que
tornam a vida mais tolerável para o paciente ceg o.
Se meu médico tivesse me falado a respeito de relógios sonoros
ou audiolivros, meu mundo teria se transformado de um inferno
vivo para um inf erno bar ulhento, e algumas vezes em paraíso.
O Dr. S. passou pelos “melhores oftalmologistas disponíveis de
acordo com todos os critérios profissionais”. Ele poderia ter se
sentido melhor se tivesse sido examinado por um médico de
atenção primária, com a consultoria de um oftalmologista.
De um ponto de vista teórico, os interesses e habilidades
envolvidos na prestação da atenção deveriam ser diferentes
daqueles envolvidos na atenção especializada. Os médicos que
praticam a atenção primária devem tolerar a ambigüidade porque
muitos problemas nunca alcançam o estágio de um diagnóstico
que possa ser codificado utilizando a nomenclatura padrão de
diagnóstico. Eles devem sentir-se confor táveis em estabelecer e
manter um relacionamento com os pacientes e em lidar com
problemas para os quais não nenhuma aberração biológica
demonstrável. Eles também devem ser capazes de manejar vários
problemas de uma vez, mesmo que os problemas não estejam
relacionados em etiologia ou patogênese. Além disso, no decor rer
de long os períodos de tempo, os problemas dos pacientes mudam,
e os especialistas que são adequados ao problema para o qual o
paciente originalmente procurou atendimento podem ser
desafiados além de suas habilidades e interesses quando outros
tipos de problema surgem.
137
5. Profissionais de Atenção Primária, subespecialistas e outros profissionais não-médicos
O progresso médico e as novas tecnologias oferecem o
impulso para uma orientação crescentemente especializada cada
vez maior; os mesmos fenômenos também requerem habilidades
g eneralistas bem aguçadas. Melhores estratégias para o manejo
melhorarão a expecta tiva de vida de forma que a complexidade
do manejo da doença aumentará com o tempo; uma maior
sobrevivência também resultará no conglomerado de diferentes
tipos de doenças. O s problemas de saúde estão ficando mais
complexos, com mais síndromes, incapacidades, insuficiências e
deficiências do que aqueles que os médicos estão acostumados a
ver. Tanto o envelhecimento das populações como o aumento da
sobrevivência de indivíduos atingidos por problemas anatômicos,
fisiológicos ou psicológicos estão, provavelmente, aumentando a
necessidade da atenção domiciliar e de conhecimento acerca da
existência de recursos na comunidade.
Na unidade de atenção primária, a doença se apresenta em
um estágio mais inicial do que ocorre na atenção especializada
porque os especialistas geralmente vêem os problemas depois que
os pacientes tenham sido encaminhados por médicos de atenção
primária. que o treinamento de especialistas ocorre em centros
médicos terciários, ficam sujeitos a pacientes com problemas em
um estágio mais diferenciado. Como resultado, os especialistas
tendem a superestimar a probabilidade de enfermidades sérias em
populações não examinadas, um fenômeno condizente com os
achados de muitos estudos sobre a forma como as pessoas avaliam
a probabilidade de eventos (Kahnemann et al., 1982). Com base
nestas considerações, um ponto de vista teórico sugere que a
atenção primária deveria ser oferecida por indivíduos treinados
para atenção primária em estabelecimentos de atenção primária e
não por aqueles treinados em centros médicos terciários.
Os argumentos teóricos para que os médicos de atenção
primária assumam a responsabilidade pela atenção primária são
reforçados pela experiência em outras profissões, nos sistemas de
saúde de outras nações industrializadas, e em sistemas organizados
de atenção à saúde. Como Moore (1992) obser vou, a maioria das
138
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
outras profissões e indústrias emprega a especialização para lidar
com uma complexidade crescente. Entretanto, quando o tamanho
e a complexidade alcançam um determinado nível, as organizações
empregam gerentes gerais que planejam, alocam recursos,
super visionam e coor denam o trabalho de especialistas, além de
monitorar os resultados. Poucas nações industrializadas confiam
em especialistas para a prestação de atenção primária; a maioria
tem sistemas baseados no médico generalista com apoio de
especialistas (K aprio, 1979). Nos Estados Unidos, todos os
sistemas org anizados de ser viço de saúde (como as for mas de
trabalho em g r upo das org anizações de manutenção da saúde
[HMOs]) empregam médicos de atenção primária; no final dos anos
90, virtualmente, todos os graduados de programas de atenção
primária teriam de fazer parte das HMOs se seus programas
crescessem, confor me previsto, em 10% ao ano (Moore, 1992).
Evidências empíricas sobre os benefícios de um médico de
atenção primária sustentam as noções teóricas. Quanto maior a
proporção de médicos generalistas em uma comunidade, menor a
freqüência de hospitalização. Experiências na Suécia indicam que
a atenção primária reduz o f luxo de pacientes para serviços
especializados em atenção secundária, como consultórios e salas
de emergência, e diminui os custos totais de atenção à saúde
ajustados à idade (Moore, 1992). Dados de um estudo colaborativo
internacional sobre a utilização da atenção médica mostrou que
áreas com uma proporção maior de especialistas do que generalistas
possuem maiores taxas de consultas médicas que não podem ser
consideradas devidas a necessidades maiores de saúde (Kohn e
White, 1976). Os especialistas podem tratar demasiadamente os
pacientes de maneira superf icial; por exemplo, os alergistas que
tratam crianças e adultos com asma usam mais corticóides do que
os médicos de família e os pediatras com quem foram comparados
(Engel et al., 1989).
Deter minantes impor tantes da qualidade de atenção são a
duração do treinamento em pós-graduação, a extensão da
experiência com o problema específico em consideração e a
139
5. Profissionais de Atenção Primária, subespecialistas e outros profissionais não-médicos
natureza da or ganização em que o médico trabalha (Palmer e Reilly,
1979). Os diversos papéis do médico podem influenciar
grandemente a tomada de decisão, nem sempr e em direções
consistentes. Eisenberg (1986) caracterizou estes papéis como
“profissionais de saúde de auto-satisfação”, “agentes do paciente”
e “abonador do bem social”. Algumas vezes um papel predomina,
enquanto outras vezes outro prevalece. Os médicos podem ter
necessidades de “auto-satisfação” em ter mos de uma renda
esperada porque encontram determinadas formas de prática que
são mais satisfatórias para eles, porque foram treinados de
determinadas for mas que lhes são, por tanto, mais confor táveis,
porque o ambiente em que trabalham contém certas expectativas
que podem ser difíceis de superar, ou porque suas associações ou
colegas profissionais r ecomendam trabalhar de determinada for ma.
Atuar como agente do paciente também pode produzir diferenças
no padrão de trabalho porque médicos diferentes podem interpretar
as necessidades do paciente de forma diferente, porque os
pacientes podem fazer demandas por deter minados tipos de
inter venções, ou porque a conveniência para o paciente pode ser
considerada um fator crucial. Como “abonador do bem social”, os
médicos podem tomar decisões com base em suas crenças a respeito
das prioridades cor r espondentes. Por exemplo, eles podem estar
preocupados quanto ao benefício de uma intervenção quando os
recursos necessários poderiam ser mais benéficos para outros
pacientes. Todas estas considerações podem contribuir de for m a
importante para a diferença nos modelos de prática entre os
diferentes tipos de médicos para determinar as melhores
abordagens para reduzir a variabilidade onde isto parecer desejável.
Se treinar especificamente em atenção primária for
importante para sua prática, que evidências existem de que
deter minados tipos deste treinamento são superiores a outros? Em
particular, o treinamento de médicos de família, internistas gerais
e pediatras é igualmente efetivo? A literatura de pesquisa fornece
uma riqueza de dados a respeito deste assunto. A maioria dos
estudos aqui considerados foram realizados nos Estados Unidos,
140
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
o único país industrializado ocidental em que tanto internistas
como pediatras têm o mesmo status como médicos de atenção
primária em relação a médicos de família ou “generalistas”.
A literatura contém vários tipos de abordagem para comparar
a prática dos médicos de família com os internistas gerais na atenção
a adultos e dos médicos de família com os pediatras na atenção
pediátrica. (Poucos estudos também incluíram especialistas de
diferentes tipos em sua comparação.) Os métodos de diagnóstico
e tratamento, os encaminhamentos e o uso de recursos foram
estudados por diversos métodos, incluindo revisão de prontuários
médicos, diários de consultas mantidos pelos médicos por vários
dias, questionários enviados a médicos e pacientes programados
(simulados). Alguns estudos foram de escopo nacional, enquanto
outros foram limitados a instalações clínicas individuais. Alguns
apenas descrevem as diferenças nas características da prática,
enquanto outros avaliaram especificamente a qualidade técnica
da atenção, a satisfação com a atenção por par te dos pacientes,
reduções na utilização dos ser viços ou alguns aspectos sobre
resultados ou custos da atenção. Alguns poucos estudos abordaram
a obtenção do aspecto singular da atenção; estes estão resumidos
em outros capítulos.
Médicos de família, internistas gerais e pediatras gerais:
perfis da prática
A National Ambulatory Medical Car e Ha very [Pesquisa Nacional
de Atenção Médica Ambulatorial] for nece informações descritivas
a respeito de diversas características de pacientes, problemas do
paciente e características da prática. Esta pesquisa pode ser usada
para comparar as práticas de vários tipos de médicos. Por exemplo,
os internistas gastam mais tempo com os pacientes (18,4 minutos)
do que os médicos de família/generalistas (13,0 minutos). Os
internistas pedem mais exames laboratoriais (73% das consultas)
e radiografias (53% das consultas) do que os generalistas (34% e
19%, respectivamente). Os internistas também têm maior
probabilidade de oferecer orientações referentes a problemas de
141
5. Profissionais de Atenção Primária, subespecialistas e outros profissionais não-médicos
saúde (17,8% das consultas) do que os generalistas (12,4%), mas
não diferenças aparentes na freqüência de terapia para
problemas emocionais (3%) (Noren et al., 1980).
A mesma pesquisa tem sido utilizada para comparar as
características das práticas de médicos de família e clínicos gerais
com as dos pediatras. Os pediatras pedem mais exames
laboratoriais, mas prescrevem menos medicamentos para as
categorias importantes de doenças (febre, dor de garganta, dor
abdominal, diarréia e dor de ouvido) (Fishbane e Starfield, 1981).
Os diários de consultas mantidos pelos médicos foram a fonte
de informação em outra pesquisa nacional de entrevistas pessoais
de médicos de família e pediatras. Um estudo desta pesquisa
examinou a atenção fornecida a crianças com cinco tipos de
consultas (paciente saudável e condições da pele, ouvidos, boca
ou garganta e problemas do trato respiratório superior) e cinco
diagnósticos principais (exame médico, infecções do trato
respiratório superior, pneumonia, faringite, otite média) no
ambiente ambulatorial. Os pediatras realizaram mais testes
diagnósticos para todos os diagnósticos, realizaram mais
imunizações e deram mais orientações sobre crescimento e
desenvolvimento, mas ofereceram menos terapia específica do que
os médicos de família. Entretanto, os médicos de família orientaram
mais sobre assuntos de família e questões sexuais do que os
pediatras. Os médicos de família também a presentaram maior
probabilidade de oferecer uma variedade mais ampla de serviços,
especialmente cirurgias menores, para cada faixa etária na infância
(Starfield et al., 1985).
A mesma pesquisa nacional foi utilizada para estudar uma
amostra de 132 médicos de família e 102 internistas generalistas
que completaram questionários e mantiveram diários de consultas
em 3.737 e 2.250 consultas de adultos em consultório,
respectivamente. A análise revelou que, em relação aos médicos
de família, era duas vezes mais provável que os internistas
generalistas pedissem exames de sangue, contagens sangüíneas,
radiog rafias torácicas e eletrocardiog ramas. Eles também gastaram
142
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
mais tempo com pacientes e os encaminharam e hospitalizaram
em uma taxa maior, quer fossem levados em conta todos os
pacientes, quer apenas aqueles com hipertensão essencial benigna.
O preço médio por consulta para pacientes de internistas foi cerca
de duas vezes maior que o dos médicos de família, mesmo depois
do controle da variedade de características dos pacientes, da
unidade de saúde e do médico (Cherkin et al., 1987).
Embora estes dados tenham mais de uma década, análises
similares de dados mais recentes sugerem que a situação nos
Estados Unidos não mudou (D. Blumenthal et al., manuscrito não
publicado; Ferris et al., 1998).
Foram comparados os métodos de diagnóstico de inter nistas
e médicos de família utilizando assistentes de pesquisa que são
treinados para apresentar problemas como se fossem pacientes
reais. Por exemplo, os métodos de diagnóstico de nove médicos de
família foram comparados com os de nove internistas, utilizando
estes pacientes “programados” para apresentar três problemas
clínicos. Os médicos de família f izeram menos perguntas sobre o
histórico, requisitaram menos itens de dados sobre exames físicos
e pediram menos exames labora toriais. Em dois dos três problemas,
o estudo revelou que os médicos de família perguntaram
relativamente mais a respeito do estado mental e da situação de
vida. Não houve diferenças significativas nos diagnósticos
alcançados (Smith e McWhinney, 1975).
Em outro estudo utilizando simulações, foram comparados
os métodos de diagnóstico de residentes do terceiro ano em medicina
interna (n = 31) aos residentes de medicina de família (n = 22),
utilizando descrições por escrito de cinco pacientes, cada um com
um problema diferente. Os residentes em medicina de família
perguntaram muito menos itens de exames físicos. Os custos
laboratoriais foram maiores para os internistas, mas apenas para duas
das simulações. Entretanto, os dois grupos de médicos não diferiram
no número de hipóteses de diagnóstico (Scherger et al., 1980).
Os prontuários médicos foram a fonte de informações em
outras comparações da atenção prestada por diferentes tipos de
143
5. Profissionais de Atenção Primária, subespecialistas e outros profissionais não-médicos
médicos de atenção primária. Em um destes estudos 520 pacientes
foram aleatoriamente alocados para uma clínica de medicina interna
ou de prática de família. Depois de aproximadamente dois anos,
as fichas dos pacientes foram avaliadas em relação à freqüência
de consultas, solicitação de exames laboratoriais, número de
encaminhamentos, consultas clínicas para problemas agudos,
consultas em salas de emergência e freqüência de consultas
marcadas não realizadas. Os custos associados também foram
calculados. Os pacientes examinados pelos internistas tiveram, em
média, consultas mais freqüentes na clínica de atenção primária,
na sala de emergência e na clínica de atenção para problemas
agudos. A pr obabilidade de faltas às consultas marcadas foi maior
na clínica de atenção primária. O custo mediano anual total de
exames laboratoriais para pacientes na clínica de medicina interna
foi significativamente maior por causa das taxas maiores de
encaminhamento para especialistas e valores mais altos de exames
laboratoriais gerados por especialistas (Bertakis e Robbins, 1987).
Prontuários médicos também foram usados para estudar
cerca de 2 mil pacientes internados de médicos de família e de
internistas em relação à duração de sua hospitalização, aos g astos
g erados, aos g astos g erados por dia, à disposição, número e tipo
de diagnósticos e ao número de procedimentos. As únicas
diferenças foram o número de diagnósticos; os médicos de família
indicaram menos. A revisão de uma amostra aleatória de 50 fichas
de médicos de família e uma amostra igual de 50 fichas de
internistas não revelou diferenças na gravidade da doença, sendo
que o ajuste multivariado para as diferenças no case-mix não alterou
os achados (Franks e Dickinson, 1986).
Um estudo de atenção prestada a 10.608 adultos por gr upos
de 60 médicos de família e 245 internistas generalistas indicou
que os pacientes de médicos de família tinham g astos farmacêuticos
mais baixos e se consultaram menos com dermatologistas,
psiquiatras e ginecologistas, mas fizeram uso de mais consultas de
atenção de emergência (sem marcação), de forma que seus g astos
totais não foram menores que aqueles dos pacientes de internistas
144
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
generalistas. As taxas de hospitalização, as taxas de consultas
ambulatoriais e gastos com laboratório e radiografias foram os
mesmos para os pacientes de médicos de família e de internistas
generalistas (Selby et al ., 1998).
Uma pesquisa com médicos de família, internistas e
ginecologistas/obstetras em Maryland solicitou aos médicos que
relatassem a porcentagem de seus pacientes que havia sido
encaminhada, a porcentagem para quem tinham sido encaminhados
e a porcentagem não encaminhada. Os médicos de família
receberam menos encaminhamentos do que os outros dois tipos
de médicos, mas encaminharam a mesma porcentagem (10%
11%) de pacientes que os generalistas (Sobal et al., 1988).
Estes estudos indicam que a atenção oferecida por pediatras
e internistas difere da atenção oferecida por médicos de família,
pelo menos de algumas f or mas. Existe alguma evidência que sugir a
que isto esteja associado a uma menor satisfação, pior diagnóstico,
pior manejo ou piores resultados da atenção? As categorias de
estudo a seguir abordam estas questões.
Satisfação do paciente com a atenção. A satisfação dos pacientes
com sua atenção tem sido estudada por entrevistas de
acompanhamento por telefone, bem como por questionários
enviados por correio. Em um estudo utilizando tanto prontuários
médicos como entrevistas telefônicas, a satisfação foi maior entre
os pacientes de médicos de família do que um gr upo equivalente de
pacientes examinados por internistas e pediatras (Farrell et al., 1982).
Os questionários enviados aos pacientes forneceram
infor mações de um estudo nacional em que os pacientes foram
aleatoriamente amostrados a partir de diários de consultas mantidos
por médicos de família e internistas. Foi perguntado a estes
pacientes o quão satisfeitos eles estavam com a atenção médica
que recebiam. Duzentos e treze pacientes adultos de 124 médicos
de família e 218 pacientes de 98 internistas gerais responderam.
Os pacientes de ambos os tipos de médicos relataram níveis
similares de satisfação sobre as quatro dimensões medidas (acesso,
humanização, qualidade e satisf ação ger al), mesmo de pois que
145
5. Profissionais de Atenção Primária, subespecialistas e outros profissionais não-médicos
diversas características dos pacientes, das unidades e do médico
tivessem sido controladas (Cherkin et al., 1988).
Qualidade técnica da atenção. O reconhecimento dos médicos a
respeito dos problemas dos pacientes e sua aderência aos padrões
profissionalmente definidos de atenção para diagnóstico e manejo
na atenção primária foram estudados com várias abordagens,
incluindo revisão de prontuários, entrevistas com médicos e
auditoria de formulários de queixas.
As auditorias de prontuários médicos foram a base de um
estudo que descobriu que os médicos de família registravam menos
critérios de supervisão da saúde do que os pediatras, mas também
o fazem ao registrar itens relacionados ao manejo da enfer midade
(Thompson e Osborne, 1976).
Quando a qualidade da atenção foi julgada por meio do exame
dos prontuários para verificar o diagnóstico e o manejo de
problemas específicos, os especialistas tiveram desempenho melhor
em sua própria área de treinamento especializado do que os
médicos de família ou generalistas ou os especialistas atuando fora
de sua área de especialidade (Payne et al., 1984). Isto condiz com
a conhecida relação entre volume de atenção e qualidade da
atenção em unidades de pacientes internados em hospitais; quanto
maior o volume de atenção para um problema por parte de um
cir urgião específico ou de um hospital em g eral, melhor a qualidade
da atenção. Entretanto, a qualidade geral da atenção por par te de
um deter minado profissional ou unidade de saúde em par ticular
não pode ser julgada pela qualidade da avaliação da atenção para
qualquer diagnóstico específico, especialmente quando o
diagnóstico selecionado ref lete problemas g eralmente observados
na atenção especializada ao invés daqueles mais característicos
da atenção primária.
Em uma pesquisa, uma amostra representativa de médicos
em Maryland foi questionada a respeito de suas atitudes em relação
aos pacientes com hiper tensão. A probabilidade de que os médicos
de família indicassem que pediriam determinados exames
diagnósticos para os pacientes foi levemente menor. Eles também
146
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
foram mais cautelosos ao recomendar medicamentos anti-
hipertensivos em casos de pressão arterial discretamente elevada,
mas foram mais favoráveis a alguns regimes não-far macológicos
(redução de peso e de tabagismo, aumento de exercícios, redução
da ingestão de álcool e dieta com menos colesterol) do que internistas
ou outros especialistas. A probabilidade de todos os tipos de médicos
apoiarem o uso de diuréticos para o tratamento inicial de pacientes
com hipertensão leve foi a mesma (Cloher e Whelton, 1986).
Os pacientes também foram questionados a respeito do
padrão de prática de seu médico. Em um destes estudos, calouros
de faculdade foram perguntados a respeito de quanto
aconselhamento de saúde tinham recebido de seus profissionais
de atenção primária à saúde. Os pacientes dos internistas receberam
mais orientações a respeito de tabagismo e uso de álcool do que
os pacientes de pediatras ou médicos de família, receberam mais
orientações sobre abuso de drogas e prevenção de doenças
cardíacas do que os pacientes de pediatras, e receberam mais
aconselhamento a respeito de controle de peso e nutrição do que
os pacientes de médicos de família. Os pediatras deram mais
conselhos a respeito de controle de peso do que os médicos de
família, mas não ultrapassaram os internistas em qualquer das áreas
acima mencionadas (Joffe et al., 1988).
Em outro estudo, foi aplicado um teste de triag em a 1.452
pacientes que freqüentavam duas clínicas de atenção primária em
um grande centro de atenção primária para identificar problemas
psicossociais existentes. A probabilidade dos médicos de família
reconhecerem problemas de saúde mental existentes foi menor do
que para os internistas, mas o desenho da pesquisa não pôde
deter minar se as diferenças ocor reram devido a outras diferenças
no estilo da prática nas duas clínicas ou devido à diferença do tipo
de médico (Kessler et al., 1985).
Em outro estudo, prontuários médicos e entrevistas de
médicos de atenção primária foram usados para estudar a obtenção
de um conjunto mínimo de padrões (desenvolvidos por consenso
dos médicos) para o manejo de pacientes com quatro condições
147
5. Profissionais de Atenção Primária, subespecialistas e outros profissionais não-médicos
indicadora s. As quat ro condições eram a atenção a bebês normais,
a atenção a mulheres grávidas, a atenção a adultos com diabetes
recente e a atenção a pacientes com doença cardíaca congestiva.
Foi solicitado que uma amostra aleatória de todos os médicos de
um país participasse; a amostra incluía 34 médicos de família, 11
inter nistas, oito pediatras e oito obstetras com 523 bebês. Envolveu
363 gestantes, 244 pacientes diabéticos iniciais e 128 pacientes
com doença cardíaca congestiva que passaram pelas unidades de
saúde dur ante o período do estudo. Os dados foram coletados de
prontuários médicos e entrevistas com os médicos. Os escores de
manejo foram melhores para pediatras e obstetras para duas
condições, atenção a crianças normais e gestantes,
respectivamente, do que para os médicos de família. Para as outras
duas condições, diabetes inicial em adultos e doença cardíaca
congestiva, não houve nenhuma diferença entre os escores do
manejo de médicos de família e de internistas. Nem as
características do paciente nem da enfer midade explicaram as
diferenças encontradas (Hulka et al., 1976).
Também foram usados questionários em um estudo de 200
pediatras e 300 médicos de família na Geórgia escolhidos
aleatoriamente para questionar a respeito de seu tratamento para
enurese, seus hábitos de prescrição e seu conhecimento sobre os
efeitos colaterais e tóxicos de antide pressivos tricíclicos. Um total
de 190 médicos respondeu. Quase metade dos médicos de família
e dos pediatras relatou o uso de antidepressivos tricíclicos para o
manejo da enurese. Apenas um terço dos que prescrevem estes
medicamentos estava consciente dos efeitos colaterais ou
toxicidade desta classe de drogas. Entre os médicos que não
prescreviam o medicamento, uma pr oporção maior de pediatras
estava consciente dos efeitos colaterais e da toxicidade do que os
médicos de família. Os pediatras tiveram maior probabilidade de
tratar os pacientes por um período menor de tempo, de limitar
novas prescrições e de promover a disponibilidade do xarope de
ipeca em casa para uso quando a criança acidentalmente tomasse
uma superdosagem (Rauber e Maroncelli, 1984).
148
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Em uma avaliação de um sistema de revisão autorizado
estadual, Brook e W illiams (1976) verificaram formulários de queixas
e descobriram que os médicos generalistas tinham uma proporção
menor de injeções negadas pela organização de revisão autorizada
do que os internistas, mas tiveram mais injeções negadas do que os
pediatras. Entretanto, os generalistas tendiam, em média, a aplicar
mais injeções por consulta e tiveram um número absoluto maior de
injeções negadas por consulta do que os inter nistas ou pediatras.
Os profissionais gerais tendiam a aplicar mais injeções, em média,
por consulta do que outros tipos de médicos e tiveram números
discretamente maiores de injeções negadas por consulta ambulatorial.
Vários estudos compararam os médicos de família com
pediatras ou internistas apresentando a eles quadros clínicos
hipotéticos. Em um estudo, os médicos foram questionados quanto
ao uso de antibioticoterapia para um episódio agudo de rinite
purulenta. Os médicos de família apresentaram maior
probabilidade de relatar a prescrição de antibióticos, e a fazê-lo
mais precocemente no curso da doença, do que os pediatras, exceto
para crianças em salas de obser vação (onde a freqüência de
prescrições foi elevada e igual) (Schwartz et al., 1997).
Médicos de família e pediatras foram pesquisados quanto à
sua prática de imunização, par ticularmente no que se r efere aos
mecanismos para identificar crianças mal imunizadas e o uso de
consultas com presença de doenças para fornecer as imunizações
necessárias. Uma porcentagem discretamente maior de pediatras
relatou a vacinação de crianças durante a doença crônica e consultas
de acompanhamento e tiveram maior probabilidade de usar sistemas
de rastreamento para detectar a baixa imunização (Szilag yi et al.,
1994). Entretanto, um estudo em um g rande hospital militar sem
qualquer barreira financeira para a atenção descobriu que as crianças
acompanhadas por médicos de família tinham maior probabilidade
de estar atualizadas nas imunizações do que as crianças
acompanhadas por pediatras (Weese e Krauss, 1995).
Estudos de caso hipotético referentes à atenção de um
paciente com diabetes, angina ou hipertensão foram apresentados
149
5. Profissionais de Atenção Primária, subespecialistas e outros profissionais não-médicos
a médicos, os quais também foram questionados se recomendariam
uma consulta de acompanhamento para o problema. Houve uma
grande variação nas recomendações relatadas entre os tipos de
doença (Petitti e Gr umbach, 1993).
Em alguns lugares, os médicos de atenção primária cuidam
de seus pacientes quando estão hospitalizados, levantando, assim,
a questão de possíveis diferenças entre os médicos de família e
outros especialistas em atenção primária. Em um grande estudo
de 31.321 internações em todo um estado, as medidas de resultado
da morbidade, mortalidade, duração da hospitalização e gastos
hospitalares foram verificadas para as dez categorias mais comuns
de diagnóstico. A distribuição de diagnósticos de inter nação f oi a
mesma para ambos os tipos de médicos, e não houve diferença na
mortalidade ou nos gastos hospitalares uma vez que as
características relevantes do paciente (incluindo a severidade na
internação) e as características hospitalares foram levadas em
conta. Pacientes de internistas apresentaram uma morbidade
discretamente maior e tiveram hospitalizações discretamente mais
longas (McCann et al., 1995).
Em nenhuma destas comparações entre os médicos de
família e pediatras ou internistas foram examinadas as
características da unidade de atenção primária, independente da
probabilidade de que a força dessas características pudesse contar
para diferenças na variabilidade da atenção fornecida, tanto dentro
das especialidades em atenção primária quanto a través delas.
Utilização, custos e r esultados da atenção. Tanto a abordag em
retrospectiva quanto a prospectiva mostraram poucas diferenças
sistemáticas no uso de r ecursos e nos resultados da atenção.
Alguns estudos sugerem que os médicos de família são os
profissionais de atenção primária mais eficientes e efetivosd,
enquanto outros não mostram nenhuma diferença ou uma
vantagem par a inter nistas e pediatras.
Por exemplo, houve poucas diferenças em um estudo de
atenção em duas clínicas envolvendo pediatras. Em uma das
clínicas, entretanto, os internistas e trabalhadores de saúde
150
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
envolvidos formavam equipes com os pediatras de for ma a g erar
uma orientação para a família com crianças e pais recebendo
atenção na mesma clínica. Nas duas clínicas, os prontuários
médicos foram revisados em termos de (1) uso g eral do centro, (2)
imunizações realizadas, (3) processos e resultados em três
problemas (cárie dental, anemia ferropriva e infecções
respiratórias), (4) percepção dos pais sobre o estado de saúde dos
filhos, (5) percepção dos pais s obre o comportamento dos filhos,
(6) visão dos pais a respeito do centro, e (7) atitudes dos pais em
relação à eficácia da atenção médica. Houve poucas diferenças
mensuráveis na utilização e no resultado entre os dois grupos de
crianças. Onde houve diferenças, elas tenderam a favor da
abordagem familiar: crianças mais velhas permaneceram na c línica
ao invés de procurar outro lug ar confor me cresciam; as imunizações
foram, de certa f or ma, mais opor tunas; e as crianças pareceram
passar por menos consultas, no decor rer do tempo, em outras fontes
de atenção além do centro de saúde (San Agustin et al., 1982).
Outro estudo envolvendo pediatras encontrou diferenças. Este
estudo utilizou um desenho prospectivo para avaliar a competência
relativa de pediatras e generalistas no manejo de doenças febris entre
259 crianças abaixo de dez anos de idade, um g rupo em uma sala de
emergência de um hospital inf antil, e outr o g rupo em um hospital
geral do Canadá. Ambos os grupos de crianças foram similares em
suas características demográficas, nas queixas apresentadas e no grau
e duração da f ebre. Foi realizada uma entr evista por telefone duas
semanas depois da consulta para determinar resultados com base
na duração da doença aguda, em maiores contatos com o médico
ou hospitalizações. Embora não tenha sido encontrada nenhuma
diferença significativa nos resultados medidos de doença febril, pôde
ser discernida uma tendência em favor dos pediatras no que se refere
a duas medidas: sintomas não resolvidos em duas semanas (8,3% vs
12,5%) e hospitalização subseqüente (0,8% vs 3,0%). A freqüência
geral de uso de laboratório e prescrição de antibióticos foi a mesma
para ambos os tipos de médicos, mas foram encontradas diferenças
significativas no tipo de exame: generalistas pediram mais
151
5. Profissionais de Atenção Primária, subespecialistas e outros profissionais não-médicos
radiografias e menos exames microbiológicos do que os pediatras
(Leduc e Pless, 1982).
Estudos de caso-controle encontraram poucas vantagens
sistemáticas na atenção pediátrica por um tipo de médico comparado
a outro. Em um destes estudos, os pediatras e os médicos de família
foram comparados no que se refere à sua habilidade em reconhecer
uma doença severa aguda ou em evitar complicações preveníveis.
Crianças que tiveram contato com um médico mais de 24 horas antes
de sua consulta na sala de emergência foram divididas em dois grupos,
um com resultados aceitáveis e o outro com complicações
potencialmente preveníveis ou diagnosticáveis, além de tratamento
ou encaminhamento retardados. Casos e controles foram comparados
por idade, condição socioeconômica e tipo de doença. Em entrevistas
de acompanhamento com os pacientes, não houve evidências de uma
atenção melhor por parte de pediatras do que de médicos de família
mesmo depois de considerar outros fatores que poderiam ter
influenciado os resultados (Kramer et al., 1984).
Outro estudo de caso-controle utilizou prontuários médicos
e entrevistas por telefone para avaliar a utilização e os custos da
atenção em um g rupo de 45 pacientes de médicos de família
comparados a 63 pacientes que freqüentavam clínicas médicas e
pediátricas em um período de 33 meses. Apesar de uma pr evalência
25% maior de problemas médicos crônicos significativos, os
pacientes de unidades de família utilizaram a atenção especializada
menos da metade das vezes dos outros pacientes (0,9 vs 1,8
consultas por ano), embora eles tenham tido uma média de uma
consulta a mais por ano devido a taxas de consulta mais altas para
seus médicos de família (4,4 vs 2,5 consultas por ano). Os custos
para os procedimentos não diferiram (Farrell et al., 1982).
Estudos sobre a atenção à saúde do adulto também falharam
em mostrar diferenças sistemáticas entr e internistas e generalistas.
Em um estudo, os encargos para atenção ambulatorial e atenção
continuada ao paciente prescritos por residentes em medicina interna
foram comparados aos da medicina de família para consultas de
pacientes com um de quatro diagnósticos: doença cardíaca
152
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
congestiva, diabetes, doença ar ticular degener ativa ou hiper tensão.
For am verificados os prontuários de 4.991 consultas na clínica de
medicina interna e de 700 consultas na clínica de medicina de família
foram auditados. Os encarg os por consulta na clínica de medicina
interna foram maiores do que os da clínica de medicina de família
depois de considerar as diferenças na idade dos pacientes, no
diagnóstico e na severidade do problema. Entretanto, os médicos
de família marcaram consultas de acompanhamento com mais
freqüência, com intervalo mais cur to entre as consultas. Como a
duração total da atenção médica para os problemas selecionados
(máximo de 18 meses) foi menor na medicina de família para apenas
dois dos problemas e como o número de consultas para cada
problema dentro do período total do estudo foi maior, os encargos
totais no período do estudo foram similares para os dois tipos de
residentes, embora os encargos por consulta tenham sido muito
maiores para os pacientes dos internistas (Bennett et al., 1983).
Outro estudo comparou o efeito da especialidade do médico
e de sua certificação sobre os custos e resultados de atenção à
saúde para 213 pacientes com doença pulmonar crônica,
acompanhados por um ano. A função pulmonar dos pacientes, a
capacidade funcional, o número de problemas médicos e a condição
do seguro foram preditores do resultado, mas nem a especialidade
do médico nem a certificação da comissão tiveram um impacto
significativo sobre os resultados ou custos depois de controlar os
outros fatores (Strauss et al., 1986).
Médicos de família e internistas não parecem diferir em sua
prática de hospitalização, mesmo depois do controle de várias
características relacionadas à severidade da doença. Por exemplo, um
estudo de 523 pacientes hospitalizados indicou que a duração da
hospitalização e a taxa de reinternação na unidade de tratamento
intensivo e no hospital, a severidade da doença, o diagnóstico na
alta, a proporção dos pacientes que faleceram, o tempo até a morte, a
taxa de consulta e os encargos hospitalares não diferiram
significativamente entre os pacientes tratados pelos dois tipos de
médicos (Hainer e Lawler, 1988).
153
5. Profissionais de Atenção Primária, subespecialistas e outros profissionais não-médicos
Outro estudo comparou o tratamento do paciente internado
por cetoacidose diabética pelos internistas e pelos médicos de
família em um hospital-escola. O uso do laboratório e a duração
da hospitalização foram estudados para 12 pacientes tratados por
internistas e 16 pacientes tratados por médicos de família. A
hospitalização foi mais longa e o número total de procedimentos
laboratoriais e radiog rafias por paciente foi maior no g r upo de
medicina interna. Os níveis de glicose sérica e na urina foram
comparáveis (Hamburger et al., 1982).
Muitos destes estudos têm limitações em seu desenho,
incluindo uma falta de possibilidade para detectar as verdadeiras
diferenças e dificuldades em controlar diferenças no case-mix
(Bowman, 1989). Apesar disso, os achados são marcadamente
inconsistentes. Isto sug ere que, inde pendente das diferenças que
existam entre os diferentes tipos de médicos de atenção primária
no perf il da atenção, a satisfação do paciente, a qualidade técnica
ou a utilização, os custos e os resultados da atenção podem ter
mais a ver com outros fatores além do tipo de médico principal
médico de família, internista ou pediatra.
Médicos de atenção primária e outros especialistas
Em muitos países, as fronteiras entre a atenção primária e a
atenção subespecializada são relativamente claras. Em outros,
particular mente quando a prática subespecializada não está
limitada a hospitais ou onde a atenção ao primeiro contato não
está altamente desenvolvida, de for ma que os pacientes podem ir
diretamente a subespecialistas, a “qualidade” relativa da atenção
prestada pelos dois tipos de médicos pode ser uma questão
importante. Nos Estados Unidos, o pode r e a influência cada vez
maiores dos médicos de atenção primária está ameaçando o
domínio histórico dos subespecialistas, existindo vários estudos
recentes que compararam os dois tipos de médicos.
A maioria das comparações entre os médicos de atenção
primária e outros especialistas examina a atenção de condições
selecionadas que estão especialmente dentro do campo de ação
154
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
dos especialistas no estudo. Não é de sur preender que eles acreditem
que a atenção especializada é superior.
Por exemplo, uma pesquisa nacional (EUA) com
gastroenterologistas, médicos de família e internistas generalistas
coletou dados sobre prescrições relatadas de antibioticoterapia para
erradicar o Helicobacter pylori. Os especialistas adotaram a terapia
com antibiótico antes que os generalistas, tanto antes quanto depois
do tempo em que a eficácia do tratamento tinha sido estabelecida.
Entretanto, os generalistas que trabalhavam em gr upo com
especialistas foram equivalentes aos gastroenterologistas em sua
adoção desta terapia indicada, sugerindo que é mais provável que
os esforços educacionais e promocionais alcancem diretamente
os especialistas orientados para a enfer midade; depois eles os
transmitem aos médicos de atenção primária que trabalham com
eles (Hirth et al., 1996).
Talvez a maior comparação entre médicos de atenção
primária e especialistas orientados para a doença tenha sido
realizada em três ár eas urbanas dos Estados Unidos. Foi feita uma
amostra de médicos de família, internistas generalistas,
cardiologistas e endocrinologistas foram amostrados das HMOs,
de grandes grupos multiespecializados e de grupos de
especialidade única ou isolada caso apresentassem hiper tensão,
diabetes mellitus não insulino-dependente, infarto do miocárdio
recente ou de pressão. Depois do ajuste case-mix do paciente (tipo
de doença e co-morbidade), não foi encontrada nenhuma diferença
importante, exceto para as taxas de utilização mais altas entre os
pacientes de internistas (Greenfield et al., 1992). Uma análise
adicional da atenção aos pacientes com diabetes mellitus ou
hipertensão examinou a mortalidad e e o estado de saúde (estados
fisiológicos e psicológicos, bem como o funcionamento) depois
de dois e quatro anos; a mortalidade foi acompanhada por sete
anos. As únicas diferenças entre especialidades encontradas f oram
uma melhor condição de infecção e ulceração do entre pacientes
de endocrinologistas e taxas mais altas de utilização entre os
pacientes de internistas (Greenfield et al., 1995).
155
5. Profissionais de Atenção Primária, subespecialistas e outros profissionais não-médicos
Num estudo de 10.608 adultos em um modelo de HMOs em
g rupo, a atenção prestada por inter nistas generalistas foi comparada
à atenção prestada por inter nistas subespecializados. Nesta HMOs,
os internistas subespecializados tiveram de concordar em atuar
tanto como médicos de atenção primária como subespecialistas
em sua área específica de treinamento. Os custos par a farmácia e
ser viços radiológicos, bem como as consultas de atendimento de
urgência, foram mais altos entre os pacientes dos internistas
subespecializados, mesmo depois que as diferenças na
complexidade do problema de seus pacientes tivessem sido levadas
em conta (Selby et al., 1998).
Os quadros clínicos referentes a pacientes com sintomas
possivelmente indicativos de sífilis foram enviados a internistas
certificados por comissão e peritos em doenças sexualmente
transmissíveis; comparados aos internistas, os peritos em doenças
sexualmente transmissíveis pediram exames diagnósticos em uma
probabilidade menor da doença, mas tiveram indicações mais altas
para a realização de punção lombar para detecção da evidência de
neurosífilis do que os inter nistas. Como os quadros eram hipotéticos,
não havia uma forma para determinar a precisão dos diagnósticos
nos dois grupos de médicos (Winkenwerder et al., 1993).
Em um estado, os profissionais concordar am em registrar
pacientes consecutivos que aparecessem com dor lombar aguda
em um estudo. Os pacientes foram contatados por telefone
periodicamente por até seis meses para avaliar a condição funcional,
a condição de tr abalho, o uso de serviços de saúdeeasatisfação
com a atenção recebida. Os pacientes de médicos de atenção
primária urbanos, médicos de atenção primária r urais, quiropráticos
ou ortopedistas não diferiram em tempo para recuperação ou volta
ao trabalho; os custos médios foram mais altos para cirurgiões
or topédicos e quiropráticos. A satisf ação foi mais alta entr e os
pacientes sob os cuidados dos quiropráticos (Carey et al., 1995).
Em muitos países (ver Capítulo 15), pacientes hospitalizados
são atendidos por médicos da equipe que são especialistas na
condição específica ocasionando hospitalização, presumivelmente
156
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
devido à suposição de que os pacientes hospitalizados exigem a
atenção do especialista orientado para a doença. Nestes países,
um papel claro e separado para os dois tipos de médicos. Em outros
países, os médicos de atenção primária cuidam de seus pacientes
hospitalizados, com a consulta de especialistas orientados para a
doença conforme necessário. Embor a este, g eralmente, seja o caso
dos Estados Unidos, propostas para substituir o modelo médico
de atenção primária/especialista por um modelo que envolveria o
treinamento de um “hospitalista”. Este tipo de médico seria um
médico de atenção primária treinado na atenção de problemas
comuns de pacientes hospitalizados e assumiria seu atendimento
com a consultoria apropriada do médico de atenção primária do
próprio paciente e outros especialistas adequados. Esta abordag em
está atualmente em uso em algumas organizações de atenção
manejada (Wachter e Goldman, 1996). As per guntas a respeito da
efetividade relativa da atenção hospitalar fornecida por médicos de
atenção primária versus especialistas são relevantes em um contexto
em que não se paração clara entre seus dois papéis isolados.
A atenção hospitalar de pacientes com infarto agudo do
miocárdio ou acidente vascular cerebral tem recebido considerável
atenção da pesquisa porque ambos os tipos de pacientes são
relativamente comuns e por tanto, teoricamente, dentro da área de
atuação da atenção primária. Um estudo mostrou que os pacientes
admitidos ao serviço de neurologia em um hospital tiveram um
perfil melhor de prognóstico e por isso tiveram maior probabilidade
de ter melhores resultados do que os pacientes de internistas
generalistas (Hor ner et al., 1995). Por isso, estudos sobre a
efetividade relativa dos dois tipos de médicos deveriam controlar
a severidade dos problemas na internação. Um estudo subseqüente
pela mesma equipe de pesquisadores indicou que os pacientes
tratados por neurologistas tiveram menor mortalidade e melhor
condição funcional na alta, mas gerou um terço a mais de custos
do que os pacientes de médicos de família e um quinto a mais de
custos do que os pacientes de internistas como resultado da
realização de mais e xames diagnósticos. Os neurologistas também
157
5. Profissionais de Atenção Primária, subespecialistas e outros profissionais não-médicos
apresentaram maior probabilidade de prescrever o anticoagulante
varfarina, de iniciar precocemente a reabilitação e de liberar
pacientes para as clínicas de reabilitação para pacientes internados
do que para asilos (Mitchell et al ., 1996). Uma pesquisa de médicos
em relação a seu manejo de pacientes com estenose da carótida
extracraniana, que estão em alto risco de acidente vascular cerebral,
revelou que os neurologistas e internistas tem maior probabilidade
do que os ciru rgiões de pr escreverem antiag r egantes de plaquetas
ou aspirina. As diferenças no uso de anticoagulantes foram ainda
maiores: os médicos de família apresentaram maior probabilidade
de prescrevê-los, seguidos por internistas e, depois, neurologistas
(Goldstein et al., 1996).
Um grande estudo realizado em dois estados descobriu que o
atendimento para pacientes internados por um cardiologista por
infarto agudo do miocárdio resultou em melhor sobrevivência, em
média, no ano seguinte, do que no caso de pacientes internados por
médicos de atenção primária, depois do controle de uma variedade
de características do paciente e do hospital, embora as diferenças
não tenham sido grandes. Como é o caso em geral, o especialista
orientado para a doença teve uma probabilidade muito maior de
usar procedimentos cardíacos e medicamentos (Jollis et al., 1996).
Estes achados são apoiados por aqueles de outro estudo conduzido
em dois estados, o qual descobriu que os cardiologistas acreditavam
mais fortemente nos benefícios da terapia medicamentosa e
apresentaram maior probabilidade de relatar a prescrição de
medicamentos a pacientes com infarto agudo do miocárdio do que
os internistas e médicos de família (Ayanian et al., 1994).
A competência ao lidar com um problema vem não apenas
com o treinamento, mas também com a prática; estudos
demonstraram que a freqüência com a qual um problema é
encontrado é um importante deter minante da qualidade da
atenção. Po rtanto, não é de surpreender que os subespecialistas
tratando pacientes com diagnósticos dentro do escopo de sua
especialidade, geralmente, são tidos como aqueles que fornecem
atenção de melhor qualidade para estes problemas do que os
158
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
especialistas de atenção primária. Entretanto, os subespecialistas
gostariam de ser avaliados pela qualidade com que lidam com
sintomas ou enfermidades vagos ou atenção preventiva for a dos
interesses de sua subespecialidade? A questão não é apenas como
os médicos de atenção primária lidam com enfermidades
específicas, mas também como os especialistas desempenham as
funções e tarefas da atenção primária.
Um dos desafios da atenção primária é decidir quando
encaminhar a um subespecialista. A freqüência de problemas em uma
população da unidade de saúde, e não o interesse dos subespecialistas
na atenção de enfermidades específicas, deveria deter minar se a
responsabilidade é do médico de atenção primária ou do especialista.
Os subespecialistas e os médicos de atenção primária deveriam decidir
conjuntamente quem deve ter a responsabilidade por tratar
determinados tipos de problemas e em que estágios um
encaminhamento é indicado; algumas vezes a atenção compartilhada
é indicada. Estas decisões podem variar de área para área, conforme
variam a incidência e a prevalência do problema.
No Reino Unido e na Espanha, por exemplo, a resposta à
Declaração de Saint Vincent (que estabelece datas limite para a
redução de complicações do diabetes) reverteu, por meio da política
governamental e profissional, a tendência dos médicos generalistas
de encaminhar pacientes com diabetes mellitus não insulino-
dependentes a especialistas em diabetes ou endocrinologistas. O
diabetes mellitus não insulino-dependente foi declarado um problema
de atenção primária e os médicos generalistas recebem pouco
incentivo financeiro para assumir a atenção de pacientes que
apresentam este quadro. Muitas equipes de generalistas
estabeleceram clínicas especiais que seguem os protocolos para a
atenção, envolvendo enfermeiras, como optometristas e pediat ras.
Centros de diabetes comunitários especiais estabelecidos por
hospitais e que servem a populações de um quar to a um terço de
milhão de pessoas apóiam as equipes de unidades de saúde geral
para educação e para consulta. A troca de atenção especializada
159
5. Profissionais de Atenção Primária, subespecialistas e outros profissionais não-médicos
pela atenção primária acompanha um aumento do reconhecimento
da seriedade desta doença comum e compõe esforços concentrados
para melhorar a atenção por meio de metas compartilhadas, ao invés
de uma competição entre linhas da especialidade (Keen, 1996).
O caso especial da atenção para mulheres
Em alguns lugares, mais notavelmente nos Estados Unidos,
uma proporção substancial de mulheres b usca os serviços de um
ginecologista/obstetra em vez de um médico de família ou
internista generalista. Certamente, muitas das preocupações de
saúde das mulheres não são diretamente experimentadas por
homens: planejamento familiar, gravidez indesejada, infertilidade,
infecções do sistema re produtivo f eminino, exames para câncer
do sistema re produtivo feminino, avaliação do risco de conce pção
e atenção para maternidade não complicada, bem como abuso
sexual por parte do cônjuge. Nos Estados Unidos, cerca de um
terço dos médicos de família prestam atenção obstétrica. Estudos
que foram relatados não mostram diferenças nos resultados, pelo
menos para pacientes sem distúrbios latentes g raves.
Vários estudos compararam os médicos de família e obstetras
para atenção r elacionada à g estação. Os par tos f oram atribuídos a
médicos de família ou obstetras, de acordo com quem forneceu a
atenção pré-natal. Os escores de risco foram indicados para cada
uma de 1.942 gestações para explorar a probabilidade de diferenças
em riscos biológicos nos dois g rupos de pacientes; não foi
encontrada nenhuma diferença. As pacientes de médicos de família
tiveram uma incidência significativamente menor de cesarianas,
uso de fórceps, diagnósticos de desproporção céfalo-pélvica e
nascimentos prematuros, apesar de uma porcentagem muito maior
de mulheres com alto risco resultante de carências sociais
(Deutchman et al., 1995).
Em uma revisão retrospectiva de prontuários médicos em
cinco locais nos Estados Unidos, mulheres que foram atendidas
por médicos de família durante a gestação apresentaram menor
160
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
probabilidade de receber anestesia peridural durante o trabalho
de parto ou uma episiotomia durante o parto e apresentaram taxas
menores de cesarianas do que as pacientes que foram atendidas
por obstetras, mesmo depois do ajuste para outros fatores que
poderiam ter exercido influência. Os resultados neonatais e
maternos nos dois g r upos de mulheres foram similares (Huetson
et al., 1995a, b). Estes achados são condizentes com aqueles de
um estudo anterior que consistia de um desenho retrospectivo
pareado para comparar os resultados do manejo da atenção na
gravidez de baixo risco prestado por médicos de família ou
obstetras. Os médicos de família tiveram taxas mais baixas de
indução do trabalho de par to, monitoramento fetal inter no e
externo, uso de analg esia com narcóticos e uso de oxitocina no
pós-par to. Suas pacientes passaram menos tempo no hospital,
tanto durante o trabalho de parto como no pós-parto (MacDonald
et al ., 1993).
Para muitos outros tipos de necessidades de saúde, estudos
mostraram que as mulheres não recebem atenção equivalente aos
homens, mesmo quando o problema é o mesmo. Por exemplo,
mulheres (e minorias) na Califórnia apresentaram
significativamente menos probabilidade de receber sete dos nove
procedimentos estudados, incluindo prótese de quadril,
implantação de marca-passo e cir urgia de bypass coronário, mesmo
depois do controle de outras características que pudessem causar
diferença (Giacomini, 1996). Elas também apresentam menos
probabilidade de receber a terapia indicada para infarto agudo do
miocárdio (McLaughlin et al ., 1996).
Assim, pode ser que a falta de preparo geral de muitos
médicos de atenção primária e de especialistas orientados para a
doença em relação à atenção de problemas entre mulheres necessite
de uma abordagem que melhore a probabilidade de que recebam a
atenção equivalente para necessidades equivalentes. Uma
abordagem de equipe, por exemplo, pode ser a mais apropriada
(ver abaixo).
161
5. Profissionais de Atenção Primária, subespecialistas e outros profissionais não-médicos
PROFISSIONAIS NÃO-MÉDICOS
Em algumas situações, principalmente nas nações em
desenvolvimento, freqüentemente os prestadores de atenção
primária não são médicos. Eles podem ser enfer meir os trabalhando
na comunidade ou farmacêuticos ou pessoal treinado
especificamente para um papel que não exige uma educação médica
tradicional. As tarefas que são necessárias e os recursos disponíveis
deter minam o tipo de pessoal envolvido (K aprio, 1979). Em
nações industrializadas, o pessoal não-médico não desempenha
um papel significativo na prestação da atenção primária, pelo
menos quando definida como a obtenção de todos os aspectos
exclusivos e essenciais da atenção primária. Entretanto, podem
exercer um papel importante na melhor a de determinados aspectos
da atenção primária.
Poucos médicos trabalham sozinhos; a maioria tem, pelo
menos, um outro indivíduo, que não seja um médico, para interagir
com pacientes no consultório. Alguns destes membros d a equipe
simplesmente recebem os pacientes, marcam as consultas ou obtém
e registram dados administrativos. Outros participam da consulta
clínica por meio da realização das instr uções do médico, como
tomadas radiográficas ou coleta de sangue para exames
laboratoriais, administração de medicamentos ou imunizações, ou
auxiliar o médico a realizar um pr ocedimento cirúrgico.
Em alguns lugares, os membros da equipe que não são médicos
funcionam de forma mais independente, até mesmo e xaminando
pacientes sob a orientação geral do médico ou como resultado de
treinamento direcionado a capacitá-los para realizar determinadas
funções por si mesmos. Em alguns casos, os membros do quadro
que não são médicos desempenham funções que os médicos,
provavelmente, não desempenham bem ou não o fazem com
entusiasmo. Por exemplo, os enfer meiros podem fazer visitas
domiciliares para ajudar a avaliar o problema do paciente, para ajudar
um paciente sobre um tratamento médico ou para resolver algum
problema social que esteja interf erindo no tratamento médico.
162
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Assim, existem três tipos de funções para profissionais não-
médicos. Um tipo desempenha uma função “suplementar”, que
amplia a eficiência do médico ao assumir parte das tarefas,
geralmente aquelas que são de natureza técnica e, comumente,
sob a orientação do médico. O segundo tipo existe quando os
profissionais não-médicos prestam ser viços que são geralmente
prestados por médicos; funcionam como “substitutos”. O terceiro
tipo de papel é “complementar” no qual estes profissionais ampliam
a efetividade dos médicos fazendo coisas que os médicos não
fazem, fazem mal, ou fazem relutantemente (Starfield, 1993).
A maioria das avaliações do papel e da efetividade dos
profissionais não-médicos como substitutos de médicos foi
realizada durante uma era em que havia uma diminuição perceptível
de médicos e um esforço para treinar profissionais não-médicos
para compensar esta diminuição. Estas avaliações foram
consistentes no apoio ao papel para este pessoal na atenção
primária, embora o papel nunca tenha sido especificado com
precisão suficiente para distinguir as funções suplementares,
substitutas e complementares. As poucas avaliações que foram
realizadas demonstraram que profissionais não-médicos treinados
poderiam oferecer atenção para muitos problemas agudos e
crônicos, bem como atenção preventiva, em um nível de qualidade
que igualou ou excedeu aquela for necida pelos médicos (LeRoy,
1981; Record, 1981). Existem algumas funções que os profissionais
não-médicos realizam melhor que os médicos: identificam mais
sintomas e sinais em seus pacientes e prescrevem mais terapias
não-medicamentosas do que os médicos (Simborg et al., 1978).
Também auxiliam, de forma efetiva, a pacientes para implementar
os tratamentos continuados e difíceis em que os efeitos
terapêuticos muitas vezes são demorados (Starfield e Sharp, 1968).
Uma revisão de 155 estudos referentes a profissionais de
enfer mag em conduzida no Canadá e nos Estados Unidos (Canadian
Medical Association, 1995) descobriu apenas um punhado de
estudos que foram considerados metodologicamente sólidos e
alcançaram resultados para uma amostra suficientemente ampla de
163
5. Profissionais de Atenção Primária, subespecialistas e outros profissionais não-médicos
práticas a serem consideradas como aplicáveis. Achados
relativamente consistentes foram que o emprego de profissionais
enfermeiros ou assistentes de médicos na atenção primária f or neceu
o potencial para um aumento no tamanho da prática, sem nenhum
impacto adverso sobre a qualidade da atenção ou os custos g erais.
O tempo gasto por estes profissionais de saúde foi muito maior do
que o tempo gasto pelos médicos; cerca de um terço dos pacientes
foram encaminhados ao médico para algum aspecto da atenção
(Scherer, 1977). Assim, pode ser inferido que estes profissionais
poderiam contribuir consideravelmente para a atenção primária,
par ticularmente em áreas em que não médicos de atenção primária
suficientes para oferecer os serviços necessários.
Infelizmente, nenhum estudo examinou o potencial de
profissionais não-médicos para realizar ou contribuir com as
funções da atenção primária. Em teoria, pode ser inferido que tais
profissionais podem melhorar a realização destes quatro aspectos.
O primeiro contato poderia ser melhorado se a disponibilidade
aumentada de serviços levar as pessoas a melhorar sua busca da
atenção primária em vez de serviços de emergência ou unidades
hospitalares para pacientes exter nos. A longitudinalidade poderia
ser melhorada, pelo menos para alguns pacientes, se uma relação
pessoal for esta belecida mais f acilmente do que com o médico.
Contribuições à integralidade poderiam surgir se estes profissionais
complementarem o enfoque atual de ser viços prestados por
médicos. Como coordenadores da atenção, os enfer meiros podem
ser superiores aos médicos. Entretanto, o estudo que examina o
reconhecimento das infor mações a respeito dos pacientes que foi
gerado fora da unidade de atenção primária indicou que os
enfer meiros tinham funções igualmente fr acas às dos médicos
(Simborg et al., 1978).
É evidente que a literatura não apóia fortemente um papel
substituto para os pr ofissionais de enf er magem ou assistentes
médicos, pelo menos enquanto os médicos de atenção primária
desejarem assumir a prestação destes serviços. Entretanto,
provavelmente a atenção à saúde não funcionaria bem sem a
164
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
participação de profissionais não-médicos atuando em papéis
suplementares ou complementares. Uma extensa revisão sobre o
papel potencial de “assistentes médicos”, nos Estados Unidos,
que estão em uma categoria separada dos profissionais de
enfer mag em, r evelou que estes pr ofissionais são, pelo menos até
recentemente, cada vez mais empregados em instituições e clínicas
para pacientes internados, em vez de na atenção primária para a
qual foram originalmente indicados. Mesmo quando empreg ados
em serviços para pacientes externos, é mais provável que trabalhem
com um especialista médico e cirúrgico do que com médicos de
atenção primária. Os estudos mostram que a delegação de tarefas
e a super visão de médicos é um deter minante impor tante da
produtividade do assistente médico; os papéis do assistente médico
são claramente maiores na área da suplementação do que na
substituição ou complementação (Jones e Cawley, 1994).
Pouco se sabe a respeito do quanto os serviços de saúde ou
resultados de atenção são melhorados pelo trabalho em equipe ou
sob quais condições as equipes funcionam mais eficientemente. A
próxima seção aborda esta questão.
A EQUIPE NA PRÁTICA DA ATENÇÃO PRIMÁRIA
O apoio para o “trabalho em equipe” na atenção primária
está muito difundido, especialmente no Reino Unido, onde a
prática de atenção primária é mais altamente desenvolvida.
Naquele país, assim como em outros (por exemplo, Finlândia,
Espanha e Portugal), o trabalho em equipe é ativamente
estimulado pela política nacional, que até mesmo fornece apoio
financeiro adicional (Pearson e Spencer, 1995). A composição
da equipe de atenção primária varia. Médicos generalistas,
enfer meiras de unidade e equipe de enfer magem comunitária
(muitos dos quais com treinamento em ser viço social) são
invariavelmente incluídos; parteiras e farmacêuticos, que
geralmente trabalham na comunidade, mas fora da unidade, são
165
5. Profissionais de Atenção Primária, subespecialistas e outros profissionais não-médicos
Tabela 5.1Tabela 5.1
Tabela 5.1Tabela 5.1
Tabela 5.1
Três tipos de equipes
g eralmente, mas não sempre, incluídos. A relação com as equipes
de atenção à saúde mental na comunidade e com os assistentes
sociais foi menos claramente definida.
Uma estr utura (Tabela 5.1) para avaliar o funcionamento da
equipe ajudaria a caracterizar tanto o potencial como as
contribuições reais dos trabalhadores da equipe e para facilitar a
avaliação de sua efetividade na contribuição para uma melhor
efetividade e efeciência dos serviços. Esta estrutura apresenta três
modelos de trabalho em equipe: o modelo Delegado, o modelo
Colaborativo e o modelo Clínico por Consultoria. Provavelmente
o mais comum é o modelo Delegado, no qual o médico é o “líder”
da equipe. Os papéis são definidos de acordo com as tarefas que
necessitam ser realizadas; as tarefas são relativamente divididas,
de maneira formal, para que os pr ofissionais não-médicos recebam
a indicação de um papel amplamente suplementar (embora algumas
tarefas possam ser complementares), sendo que as funções da
atenção primária e da responsabilidade financeira são assumidas
166
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
pelo líder da equipe. Neste modelo, a responsabilidade leg al é
claramente do médico.
O se gundo modelo é o Colaborativo. Não nenhum líder
designado. As tarefas são compar tilhadas; cada membro da equipe
enfoca as funções da atenção primária. Tanto os riscos financeiros
quanto as responsabilidade legais são compar tilhados. Entr etanto,
um “trabalhador-chave” escolhido (Stott, 1995), que poderia
ser qualquer membro da equipe, para pacientes individuais; esta
pessoa serviria como o locus da longitudinalidade pessoal para estes
pacientes (Freeman e Hjortdahl, 1997). Assim, cada membro da
população eletiva da unidade escolheria o indivíduo mais
apropriado em virtude dos interesses e habilidades interpessoais
para as expectativas do próprio paciente. Este modelo for ma a
base para os serviços de saúde prestados em muitos centros de
saúde comunitários, como o “CLSC” [Centr e Locaux de Ser vices
Communitaires] em Quebec, e em pelo menos algumas HMOss
(par ticular mente o modelo de grupo e de equipe) nos Estados
Unidos. Este tipo de modelo pode ser especialmente apropriado
para a atenção à saúde de mulheres.
O terceiro modelo é o Clínico por Consultoria. Os papéis
não são padronizados e variam de local para local, dependendo
dos interesses e habilidades pessoais dos membros da equipe que
decidem se afiliar. Este modelo promove a subespecialização
clínica, com especialistas individuais trabalhando para prestar
atenção a problemas em sua área de interesse, sem considerar se
estes problemas necessitam, realmente, dos serviços do
subespecialista. O modelo pode tender em direção a uma hierarquia
maior com o tempo, conforme um especialista se torna dominante
sobre o outro, por meio da oferta de serviços que demandem mais
recursos. A aceitação da responsabilidade pelas quatro funções da
atenção primária não é clara nem estável, semelhante à situação
dos esquemas de manejo do caso de enfermidade (ver capítulo 8).
O locus da responsabilidade tanto financeira quanto legal também
pode não estar claro.
167
5. Profissionais de Atenção Primária, subespecialistas e outros profissionais não-médicos
O crescimento no uso de clínicos de medicina alternativa
(como os quiropráticos, naturopatas e profissionais da medicina
oriental) bem como clínicos tradicionais não-médicos que exercem
em áreas superpostas às dos médicos (como pediatras, psicólogos,
optometristas e parteiras) podem tornar o terceiro modelo cada
vez mais comum. Além disso, a política governamental em muitos
lugares (incluindo o Medicare nos Estados Unidos e o Medicaid
em muitos estados) per mite o reembolso especificamente para
alguns destes tipos de profissionais. Os planos de saúde nos
Estados Unidos estão oferecendo cada vez mais acesso a estes
clínicos (Cooper e Stoflet, 1996).
Um caso especial de “trabalho em equipe” é encontrado nas
clínicas de manejo de enfermidades que fazem par te das unidades
de atenção primária. Por exemplo, seis unidades de saúde g erais
no sul de Londr es, Inglater ra, utilizaram um estudo randomizado,
controlado, no qual pacientes adultos com epilepsia foram
indicados par a uma clínica administrada por enfermeiros, enquanto
os outr os continuaram com seu atendimento médico. As clínicas
administradas por enfe r meiros substituíram o consultório sob
protocolos definidos de atividade. Foi realizada uma consulta inicial
e uma depois de três meses de acompanhamento e os pacientes
responderam um questionário de pois de seis meses. Foi alcançado
um melhor manejo dos níveis sangüíneos adequados de medicação
nas clínicas administradas por enfer meiros, o que g eralmente
resultou em uma mudança no manejo esta belecido anteriormente
pelo médico (Ridsdale et al., 1997). Assim, neste exemplo de
trabalho em equipe, os diferentes profissionais que estão envolvidos
complementam as habilidades específicas de outros.
O trabalho em equipe eficiente não é fácil de a tingir. O mais
evidente dos problemas é o desafio da comunicação e da
transferência de informações que são necessárias para a
coordenação da atenção. O número de linhas de comunicação
necessário é não linea r e é descrito pela equação (n
2
n) ÷ 2, onde
n = número de membros da equipe (Stott, 1995). Um método
empírico é que a tomada de decisão fica otimizada com seis
168
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
membros da equipe; o trabalho em equipe é altamente improvável
com mais de 12 membros (Stott, 1993).
Embora o ímpeto inicial para o trabalho em equipe (pelo
menos nos Estados Unidos) tenha sido aumentar o potencial dos
médicos da atenção primária, cuja oferta era baixa, outros
imperativos agora estão à frente. Uma população em
envelhecimento e um aumento nas doenças que duram mais ou
recorrem mais freqüentemente têm criado a necessidade de uma
abordagem da atenção primária que é mais ampla. É o encontro
destas duas novas necessidades, além da melhora da oferta da
atenção primária, que sustentarão o movimento em relação ao
trabalho de equipe em todos os lug ares.
IMPLICAÇÕES: O TREINAMENTO DOS
MÉDICOS DE ATENÇÃO PRIMÁRIA
A atenção primária deve ser prestada pelos clínicos mais
treinados e mais habilitados nesta prática. A evidência resumida
neste e nos Capítulos d e7a11indicam que os médicos de família,
internistas generalistas e pediatras são mais efetivos e mais
eficiêntes na provisão das funções da atenção primária do que os
especialistas. Se esta superioridade vai continuar, depende da
capacidade de todos os médicos de atenção primária em responder
aos desafios impostos pelas mudanças no padrão de doenças e em
usar a nova tecnologia adequada para prevenir, curar ou melhorar a
doença. Com as melhoras na sobrevivência, a complexidade da
doença aumentará. As doenças com manifestações multissistêmicas
e de etiologia multifatorial mudarão a forma como os profissionais
de saúde lidam com as necessidades dos pacientes e como eles se
relacionam com a comunidade.
Os médicos de atenção primária do futuro se tornarão
administradores médicos e colaboradores de equipe em uma extensão
muito maior do que no passado. Isto exigirá habilidades na alocação
de recursos, integr ação e coordenação, além de monitoramento do
169
5. Profissionais de Atenção Primária, subespecialistas e outros profissionais não-médicos
desempenho e g arantia da qualidade. Os ser viços de atenção
domiciliar à saúde tornar-se-ão mais importantes, não para propósitos
de manejo das doenças agudas, mas sim para a avaliação adequada
de fatores sociais que complicam o diagnóstico e o manejo e para o
atendimento de pacientes reclusos como resultado de incapacitação
funcional. Os avanços na tecnologia da informação podem auxiliar
no diagnóstico e no manejo. Também podem fornecer um
mecanismo melhor para a obtenção de aconselhamento por
consultores, bem como a atenção coordenada. Habilidades para
adaptar e utilizar estes sistemas para a atenção primária terão de
ser desenvolvidas. A epidemiologia clínica, a tomada de decisões,
a economia e o treinamento nas ciências sociais e comportamentais
relacionados à saúde e à atenção à saúde serão par te do ar mamento
para for mação do médico de atenção primária. O sucesso da
atenção primária de pende da adoção, por par te da sociedade, de
sua importância e dos mecanismos para melhorá-la como ponto
central em suas políticas de saúde para treinamento e prestação
da atenção primária.
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177
Muitas características dif erentes determinam a forma como
os sistemas de saúde parecem e como eles operam. A
multiplicidade destas características oferece oportunidade para
inúmeras permutas e combinações, de for ma que nenhum sistema
de saúde é parecido nem atua da mesma for ma que outro. Este é o
caso da comparação entre países e entre subsistemas dentro dos
países. Apesar disso, todos os sistemas de ser viço à saúde encaram
desafios similar es: prestar ser viços de saúde de forma efetiva,
eficiente e eqüitativa.
O rápido acúmulo de conhecimento a respeito dos
deter minantes de saúd e e o desenvolvimento de uma tecnologia
complexa estão levando a uma capacidade aumentada de detectar
e manejar a enf ermidade, p revenir doenças e promover a saúde,
mesmo em face de mudanças nos perfis demográficos como
envelhecimento das populações e mudança nos padrões e riscos
de enfermidade. Todos os países estão enfrentando o imperativo
de alterar seus sistemas de saúde para responder melhor a estes
desafios sem acabar com suas economias devido a gastos com
ser viços de saúde.
6. ATENÇÃO PRIMÁRIA NO CONTEXTO
DOS SISTEMAS DE SAÚDE
Em uma conversa numa importante reunião profissional,
um colega, ao ser solicitado a especular sobre como a
atenção primária estaria or ganizada dali a cinco anos,
respondeu que não tinha certeza como seria quando
voltasse ao consultório naquela tarde!
Relatado por JK (1997)
178
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Assim, a refor ma da atenção à saúde, que envolve mudanças
importantes nas características dos sistemas de saúde, está
progredindo em muitos países. Algumas destas mudanças são
realmente inovadoras; outras são modificações com base em
experiências em outros lug ares. Este capítulo considera os aspectos
básicos dos sistemas de atenção à saúde, as principais abordagens
que estão sendo usadas para refor má-los, o provável impacto
destas refor mas sobre a atenção primária, além do caso especial
de “atenção gerenciada”. Como uma tendência à convergência
de determinadas características de sistemas de saúde, esta
discussão utilizará literatura internacional derivada basicamente
de experiências das nações ocidentais industrializadas.
TIPOS DE SISTEMAS DE SERVIÇOS DE SAÚDE
Os aspectos mais importantes que definem os sistemas de
ser viço de saúde no século mais recente consistem dos tipos de
cobertura de seguro saúde, das características do provedor de
seguridade (governamental, privado regulado pelo governo e
organizações amplamente privadas) e dos mecanismos e tipos de
reembolso para os profissionais (Organization for Economic
Cooperation and Development, 1992). Os profissionais (de saúde)
podem ser pagos diretamente pelos pacientes (com reembolso ao
paciente para os serviços cobertos pelo seguro) ou pela seguradora,
no total ou em parte em ambos os casos. Os três principais tipos de
pagamento são salário (compensação fixa paga regular mente),
capitação (pagamento fixo por indivíduo identificado como eletivo
para a atenção), ou uma taxa para cada serviço, estabelecida de acordo
com o que é comum e costumeiro na comunidade, negociada com
grupos de profissionais, com base nos custos relativos dos serviços
ou habilidades necessárias ou com base em encargos históricos (Tabela
6.1). No início do século XX, a taxa por serviço dominava como
método de reembolso; com o passar do tempo, esta for ma de
pagamento diminuiu em todos os lugares. Os países sempre diferiram,
179
6. Atenção Primária no contexto dos sistemas de saúde
entretanto, no compromisso do governo quanto ao seu envolvimento
no financiamento e organização dos serviços de saúde.
A Figura 6.1 mostra o grande número de possibilidades para
financiamento dos serviços de atenção primária. As letras entre A e
F caracterizam os pagadores. Os governos podem pag ar os
profissionais diretamente, com fundos obtidos de impostos (A) ou
de fundos de seguridade social designados (B), como no caso do
fundo Medicare, realizado a partir de contribuições de empregador-
empregado. As contribuições de empreg ador-empregado também
podem ser pagas em um fundo não-governamental e sem fins
lucrativos (C), geralmente chamado “fundo de doença”; comumente,
estes são regulados atentamente pelos governos. De forma
alternativa, as contribuições de empregador-empregado podem ser
pagas a uma empresa privada de seguros com fins lucrativos (D),
como é, comumente, o caso nos Estados Unidos . Algumas v ezes os
próprios indivíduos pagam pelos serviços (F) (particularmente quando
seu seguro básico não cobre todos os serviços ou quando um co-
pagamento) e algumas vezes adquirem seguros de empresas de seguros;
este último caso, geralmente, é para suplementar a cobertura obtida
por meio de outros mecanismos. Os próprios empregadores (E) podem
ser os financiadores de ser viços de saúde diretamente para os
profissionais ou pelas companhias de seguro privadas.
Tabela 6.1Tabela 6.1
Tabela 6.1Tabela 6.1
Tabela 6.1
Três métodos de pagamento
180
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Figura 6.1Figura 6.1
Figura 6.1Figura 6.1
Figura 6.1
Financiamento e reembolso para serviços de atenção primária
Exemplos de diferentes países*
Alemanha C (IVcIIa)
Austrália A Ia
Canadá A Ia
Dinamarca A Ic
Espanha A Ib
Estados Unidos
Medicaid A Ia,AI c, A (I V c II a,b,c)
Medicare (Parte B) A Ia,AIVc,IIa,b,c
Centros de Saúde Comunitários A Ib
Atenção Gerenciada D (IVa,c;IIa,b,c);E(V a, c II a,
b, c); E (IIIabc)
Finlândia A Ib
França C Ia
Países Baixos C Ic
Reino Unido AIc
Todos os lugares (Seguro Privado) F a
* Em quase todos os países, existem formas adicionais, por combinação e até mesmo algumas
experimentais; por exemplo, contribuições de empregador-empregado para a aquisição de
seguro privado (D I a); contribuições de prêmio por pessoa cobrindo aproximadamente 25%
dos encargos do Medicare Parte B (Linha F).
Legenda:
I-V Ver Figura Acima
Reembolso
a taxa por serviço
b salário
c capitação
181
6. Atenção Primária no contexto dos sistemas de saúde
Até recentemente, os pagadores pagavam diretamente pelos
serviços (contr atando e administrando os próprios serviços e clínicas)
ou pagavam profissionais independentes para organizarem os
serviços (rota I). O primeiro tipo er a comum em países em que o
g overno tanto pag ava como prestava os serviços. A introdução de
outra classe, interposta entre pagadores e profissionais, tornou-se
comum em muitos lugares e é conhecida como atenção gerenciada.
Instituições governamentais, não-governamentais (rota IV) e os
próprios empregadores (rota V) podem pagar organizações cuja
função é pagar os profissionais (rota II). Quando os próprios
empregadores pag am pelos ser viços de saúde para seus empreg ados,
eles podem fazê-lo diretamente (rota III) ou por meio de companhias
de seguro ou organizações administrativas privadas (rota V). O
mecanismo pelo qual os profissionais são pagos não precisa ter
qualquer relação com o modo de financiamento; o reembolso da
taxa por serviço, capitação ou salário pode car acterizar a maioria,
se não todos, os diferentes arranjos de financiamento.
A par te inferior da Figura 6.1 caracteriza a for ma mais
comum de arranjos para financiamento e reembolso em vários
países ocidentais industrializados diferentes, pelo menos desde
meados dos anos 90, utilizando a designação Rota. Cada país é
caracterizado pela for ma principal de arranjo de financiamento
(A-E), quer os profissionais sejam pagos direta ou indiretamente
(I-V), e quer a maioria dos mecanismos de pagamento seja por
taxa por serviço, capitação ou salário (a-c). Em muitos casos,
existem arranjos diferentes mesmo dentro de países, dependendo
do local e das circunstâncias.
TIPOS DE REFORMA DA ATENÇÃO À SAÚDE
As abordag ens para a refor ma da atenção à saúde são tão
diversas quanto as possibilidades apresentadas pelas diferentes
características do sistema de serviços de saúde. As refor mas do
ser viço de saúde, embora possam ser catalog adas de diversas
182
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
for mas (Office of Economic Cooperation and Development, 1996;
Defever, 1995; Etheredge et al., 1996), são de dois tipos principais:
abordagens quanto à demanda e abordagens quanto à oferta. A
primeira depende da instituição de desestímulos para a busca de
serviços, enquanto a última limita os recursos que são
disponibilizados para sustentar um sistema de serviços.
Abordagens relacionadas à demanda
Muitos países estão levando em conta os encargos ao usuário
e outras barreiras para a atenção. Os encarg os aos usuários tomam
a for ma de deduções (em que o primeiro valor definido de
pagamento em um ano é assumido pelo paciente) ou de co-
pagamentos (em que uma deter minada proporção ou deter minado
valor em dólares pelos ser viços oferecidos são pagos pelo
paciente). As deduções são particularmente regressivas.
Constituem uma importante barreira ao acesso à atenção para
indivíduos de baixa renda e não são usadas, ou muito pouco usadas,
na maioria dos países ocidentais industrializados (com exceção da
Suíça e dos Estados Unidos) (Organization for Economic
Cooperation and Development, 1995). Em alguns lugares, os co-
pagamentos são impostos, ou são mais altos, apenas para alguns
ser viços. Este é o caso da opção “ponto de serviço” de muitos
planos de atenção à saúde nos Estados Unidos: exigências de
pagamento pelo paciente são maiores se o indivíduo preferir buscar
atenção de um médico ou serviço não afiliado ao plano de saúde
em que o paciente está registrado. Outras barreiras indicadas para
diminuir a demanda pelos ser viços inc luem as características
organizacionais, como tor nar os ser viços menos acessíveis;
geralmente, isto toma forma por meio de exigências para a
marcação de consulta para serviços de atenção aguda, aumento
do tempo de espera para as marcações ou redução do número de
linhas telefônicas disponíveis para marcar rapidamente as
consultas. As bar reiras nesta última categ oria são, g eralmente,
instituídas pelos planos de saúde individuais ou pelos serviços e
não por decisões políticas de larga escala. Os co-pagamentos,
183
6. Atenção Primária no contexto dos sistemas de saúde
entretanto, estão sendo cada vez mais adotados pelos for muladores
de políticas, como uma forma de reduzir a demanda por serviços
de atenção primária. Desde 1995, os únicos países da Or ganization
for Economic Cooperation and Development [Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico] que não utilizavam
co-pag amentos para serviços de atenção primária eram Alemanha,
Reino Unido, Canadá, Grécia, Espanha e Turquia (Org anization
for Economic Cooperation and Development, 1995). No Reino
Unido, os g eneralistas demonstraram pub licamente sua oposição
ao compar tilhamento de custos por seus ser viços.
Abordagens relacionadas à ofer ta
Nas abordagens relacionadas à oferta, as decisões políticas
têm a intenção de mudar os incentivos para a prestação de serviços.
Limites globais. Durante os anos 80 e o começo dos anos
90, muitos países instituíram limites globais para os orçamentos
para reduzir as crescentes taxas dos gastos com saúde. Em alguns
países, estes limites foram instituídos em nível nacional; as
neg ociações para o reembolso por ser viços ou contratos para o
for necimento de ser viços devem estar adequados dentro de um
orçamento global estabelecido. Em outros lugares, estes
orçamentos são estabelecidos em nível local (no caso de ser viços
cujo orçamento é regional e realizado por região) ou em nível de
plano de saúde. Como estes orçamentos devem cobrir todos os
serviços (não apenas ser viços de atenção primária), eles,
provavelmente, afetam todos os níveis de ser viços de saúde,
embora não necessariamente da mesma forma.
Estratégias de r eembolso de médicos. Nos últimos 50 anos, as
for mas de pagamento outr as que não a taxa por ser viço têm sido
usadas em diferentes países e mesmo dentro de países em
diferentes tipos de org anizações. Comumente, os especialistas têm
sido pag os por salário, par ticularmente nos lugares em que
trabalham basicamente em hospitais. O pag amento de taxa por
serviço estimula a realização de exames e procedimentos, bem
como o uso de serviços por meio de listas de espera mais cur tas e
184
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
o retor no para acompanhamento. A capitação desestimula o uso
de exames e procedimentos desnecessários (mas corre o risco de
maus ser viços relativos às necessidades dos pacientes). Entretanto,
facilita o estabelecimento de boas relações com os pacientes
(porque existe um contrato implícito entre os médicos e seu grupo
de pacientes) e encoraja uma atenção precoce para evitar o gasto
posterior de mais recursos. O salário tende a eliminar os incentivos
por produtividade. Além disso, como implica uma relação
empregador-empreg ado entre o pag ador do salário e o médico,
predispõe a uma estr utura burocrática dentro do sistema de
ser viços de saúde. Sem outros incentivos compensadores, também
faltam os elementos construtivos de competição para produzir
melhores serviços. Entretanto, elimina qualquer incentivo
financeiro para for necer serviços a mais ou a menos.
Scott e Hall (1995) revisaram 18 estudos referentes à
remuneração de médicos de atenção primária; sete dos estudos
avaliaram o impacto de diferentes modos de reembolso sobre o
comportamento do médico, le vando em consideração a qualidade
do estudo. (Os 11 estudos restantes tratavam de difer enças no
nível de reembolso.) Apesar das diferenças no desenho do estudo,
as avaliações foram consistentes ao mostrar um aumento no uso
de todos os tipos de serviços (número de visitas ao consultório e
consultas domiciliares, exames laboratoriais) com mudança de
reembolso por capitação para taxa por ser viço. Nenhum dos
estudos, entretanto, examinou o impacto das características do
paciente sobre a natureza do efeito ou o impacto da mudança sobre
aspectos da saúde dos pacientes.
Embora, décadas, comum em alguns países, a capitação
teve uma vida mais ampla em outros lugares, basicamente para o
pagamento de médicos de atenção primária. (Em geral, os
especialistas são pagos por salário na maioria dos países, onde
trabalham basicamente em hospitais e dentro do orçamento do
hospital.) Mudanças recentes nos Estados Unidos levaram a um
rápido crescimento na proporção de médicos de atenção primária
que são pagos por capitação e por salário (como funcionários de
185
6. Atenção Primária no contexto dos sistemas de saúde
grandes corporações de organizações de atenção à saúde, e não do
g overno, como no Reino Unido). Em uma tentativa de encontrar
um meio-termo entre as relativas vantagens e desvantagens dos
diferentes modos de pa g amento, muitos países e org anizações de
atenção à saúde estão combinando-os em diferentes circunstâncias.
Por exemplo, onde o modo é a capitação, os incentivos podem ser
oferecidos por meio de taxa por serviço, pela atenção a problemas
que tendem a ser negligenciados, ou para o cumprimento de
objetivos de atenção preventiva. “Experimentos” mais abrangentes
(geralmente sem avaliação formal) estão sendo desenvolvidos em
muitos lugares, incluindo novos esquemas como a retomada da taxa
por serviço para os médicos de atenção primária (para desestimular
o encaminhamento de seus pacientes para especialistas ) e a aceitação
da capitação para outros especialistas (para reduzir a tendência de
pedir exames e de realizar procedimentos).
“Gerenciamento” da atenção por parte dos médicos. Mesmo em países
em que os médicos de atenção primária têm servido como ligação
para outros serviços especializados, tem havido pouco controle tanto
sobre os custos como a natureza da atenção prestada porque, uma
vez que os pacientes são encaminhados, o médico de atenção
primária tem pouca influência sobre o teor ou extensão da atenção
prestada. Em muitos lugares, esta situação está mudando. Um típico
exemplo disso é a “retenção de fundos”, em que os generalistas no
Reino Unido recebem orçamentos para o pagamento por serviços
(exceto aqueles cobertos por pagamento especial de incentivos).
Estes profissionais da atenção primária contratam, então, serviços
para serem prestados por outros especialistas. Como os hospitais
não recebem mais orçamentos completamente abertos, os
pagamentos realizados por generalistas são importantes para os
hospitais e para os especialistas que neles trabalham; a competição
pelos contratos de generalista tenciona tanto melhorar a atenção
como diminuir os gastos gerais da a tenção. Nos Estados Unidos,
onde existe pouca experiência histórica com médicos de atenção
primária atuando como um filtro para a atenção especializada, exceto
para as org anizações com modelo de equipe ou g rupo, em que são
186
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
pag os por salário ou capitação, esta for ma de controle do médico é
relativamente nova e combinada, na maioria das vezes, com o
controle gerencial para garantir que estes médicos mantenham uma
taxa de encaminhamento relativamente baixa.
Gerenciamento de médicos por gerentes. Uma variedade de opções
está disponível para os gerentes cujo objetivo é controlar o
comportamento dos profissionais de saúde. Como um resultado
da melhor (e, muitas vezes, eletrônica) coleta de dados, é possível
traçar o perfil da prática dos médicos e compará-lo com outros
para deter minar a taxa de uso de vários tipos de ser viços (consultas
por paciente ou por tempo; exames laboratoriais por paciente ou
por episódio de doença; taxa de encaminhamento por população
de pacientes, por paciente ou por doença) e os custos de serviços
em categorias diferentes ou no total. Os médicos que parecem
não coEPOrar podem não ter seus contratos renovados, ou podem
ter seus ganhos reduzidos por falha para atingirem metas
preestabelecidas. Alternativamente, podem ser recompensados por
manter a utilização ou os custos baixos entre os pacientes pelos
quais são responsáveis; estas recompensas podem ter várias for mas,
incluindo a divisão dos lucros acumulados por organizações de
atenção g erenciada com fins lucrativos. (Obser vação: a União
Européia proíbe tais programas com fins lucrativos em seus países
membros.) Outra forma de controle é a imposição de dir etrizes para
as práticas. Quando estas diretriz es são baseadas em evidências
adequadas de efetividade, podem melhorar a prática (embora não
reduzam, necessariamente, os custos). Quando baseadas em
evidências inapropriadas ou inadequadas, elas se tornam meros
agentes de controle sobre o critério e o julg amento do médico.
Restrições no âmbito da unidade. Em alguns lugares, os
profissionais sofrem restrições para determinados tipos de condições
e problemas apresentados por seus pacientes. Em alguns casos, isto
é resultado de limitações nos tipos de problemas cobertos pelo seguro
do paciente; em outros, a restrição é um resultado de “corte” do
plano ou org anização de saúde. Nos Estados Unidos, por exemplo,
é comum que determinados tipos de problemas sejam financiados
187
6. Atenção Primária no contexto dos sistemas de saúde
separadamente, em geral por capitação, e manejados por um gr upo
de profissionais (geralmente não médicos) que são completamente
separados do médico de atenção primária. Embora isto seja mais
comum no caso de problemas mentais e comportamentais, também
é cada vez mais comum para determinados problemas crônicos
comuns, como asma e diabetes.
Existem várias tendências na organização e no financiamento
que parecem ser comuns nas nações ocidentais industrializadas,
se não no mundo em geral (Defever, 1995). Entre elas está uma
tendência em tor nar a competição mais operativa nos ser viços de
saúde. Sob competição, os profissionais e as org anizações de
ser viços estão menos sujeitos à regulamentação pública ao decidir
como fornecerá ser viços e com quem. Em muitos países, as
organizações de serviços recebem um nível definido de
financiamento (incluindo, algumas vezes, ajudas de custo por
perdas para compensar os custos elevados de populações idosas,
pobres ou enfer mas) e são cobradas pela r esponsabilidade do
for necimento de serviços. Os compradores dos serviços (pacientes
ou, mais comumente, agentes de pessoas ou empregadores) são
livres para escolher os profissionais ou org anizações de serviços
cujas características mais lhes agradam.
Outra tendência difusa é a privatização. Muitos países que
anteriormente confiaram ao governo o fornecimento de serviços,
pelo menos para alguns segmentos da população, ag ora estão se
voltando para as organizações privadas e contratando-as para a
prestação dos serviços. Estas abord ag ens são indicadas para diminuir
a burocratização e aumentar a probabilidade de resposta dos
consumidores. Entretanto, os custos mais baixos (um fundamento
importante para a competição) geralmente não se materializam no
caso dos serviços de saúde, principalmente porque o mercado muitas
vezes impõe sua própria demanda aos competidores, resultando em
um aumento nos custos da atenção (Defever, 1995).
Uma terceira tendência consiste da imposição de uma
estr utura administrativa entre o pag adoreoprofissional dos
serviços de saúde. Embora indicada para reduzir os custos por
188
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
meio do estímulo à inovação e ao monitoramento da utilização
desnecessária dos ser viços, um aumento na administração não-
médica tem seus próprios custos que, geralmente, mais do que
compensa as reduções planejadas. Grandes quantidades de
documentação são necessárias para o microgerenciamento da
utilização; os custos para a obtenção (dos profissionais de saúde)
e para análise e manutenção de sistemas de infor mação podem ser
consideráveis (Defever, 1995).
A aumentada descentralização das regiões também é um
aspecto de muitas reformas do sistema de saúde. Ela é
especialmente forte onde os fundos governamentais de impostos
centrais (como na Dinamarca, Finlândia, Norueg a, Espanha e
Suécia) ou de seguradoras públicas (como na Alemanha, nos Países
Baixos e na Suíça) f luem para os g over nos regionais. Em alguns
destes países (Finlândia e Espanha), a região tanto paga como
org aniza os ser viços de atenção primária, enquanto em outros, os
ser viços são for necidos separadamente (Alemanha) ou uma
experimentação com contratos separados (como na Dinamarca,
Suécia, Reino Unido e Catalunha, Espanha (Gér vas, 1996)).
Alguns destes aspectos da refor ma for talecem a posição
do profissional de atenção primária. Outros, entretanto,
enfraquecem diversos aspectos da prática de atenção primária e
comprometem a obtenção de alguns ou todos os aspectos
importantes da atenção primária.
REFORMA DA ATENÇÃO À SAÚDE E DA
ATENÇÃO GERENCIADA
A atenção gerenciada é uma tentativa de controlar os custos
e a ofer ta de ser viços através de um conjunto de incentivos e
desestímulos, impostos de fora, indicados para alterar a utilização
dos serviços. Embora inicialmente imposta, de for ma mais seletiva
sobre o setor da atenção primária dos sistemas de ser viços de
saúde, ela tem efeitos indiretos sobre outros níveis do sistema de
189
6. Atenção Primária no contexto dos sistemas de saúde
saúde através de seu efeito sobre a atenção primária. Assim, a
refor ma da atenção à saúdeeaatenção g erenciada têm le vado a
novos tipos de vínculo entre os diferentes níveis de sistemas de
saúde, com um impulso geral em direção a uma maior integração
entre eles. Quatro tipos de modelos são encontrados em diferentes
g raus, em diferentes lug ares. As empresas integ radas de saúde, que
estão se tornando comuns no setor privado nos Estados Unidos,
reúnem o seguro e a prestação de atenção à saúde sob um
patrocínio. Assim, re produzem os sistemas de saúde mais antigos
financiados e operados pelo governo (como era comum nos
sistemas de saúde dos países socialistas), mas desta vez sob
patrocínio privado. Sistemas integ rados de prestação, que são
ar ranjos menos f or mais, g eralmente envolvem contratos entre
diferentes níveis do sistema de saúde (como ser viços médicos de
atenção primária, outros serviços especializados e atenção
hospitalar) sob a administração conjunta e não uma propriedade
conjunta. Vínculos entre os hospitais-escola e as organizações de
manutenção da saúde (ou grupos de médicos) nos Estados Unidos
podem for mar sistemas integ rados de saúde. Pouco se sabe a
respeito da for ma através da qual eles EPOram, sua permanência
em um sistema de saúde mutável ou seu impacto sobre os custos
ou qualidade da atenção. Um mecanismo bem menos formal de
integração consiste na melhora do mecanismo para alcançar o fluxo
de infor mação e coordenação dentro da atenção primária como
parte de uma estrutura administrativa.
O fato de qualquer nação sensata, tendo obser vado que poderia
oferecer pão dando aos padeiros uma compensação financeira
para fabricar pães, deveria ir adiante e oferecer a um cirurgião
uma compensação financeira por cortar sua perna, é de perder as
esperanças na política humanitária.
George Bernard Shaw (1911)
Os esforços da reforma em muitos países do mundo muito
tempo se livraram das compensações pecuniárias de médicos que
190
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
tentavam ganhar através da realização de quantos procedimentos
fossem possíveis, mesmo os inadequados. Mesmo nos Estados
Unidos, onde a prática da taxa por serviço durou mais tempo do
que em qualquer outra nação ocidental industrializada, este aspecto
do “lucro” está de saída apenas para ser substituído por uma
estr utura g erenciada corporativa do sistema de saúde com base
no ganho privado e não na melhora da saúde da comunidade.
Dentre essas nações ocidentais industrializadas, os Estados Unidos
permanecem como o único país que ainda falha na g arantia de
cobertura f inanceira para todos os cidadãos.
Os arranjos organizacionais que estão assumindo uma
importância cada vez maior em outros lugares obtiveram seu
protótipo dos Estados Unidos. Estes são caracterizados por várias
combinações e permutações de formato organizacional e reembolso.
A tipologia convencional divide estas combinações em três tipos
principais: organizações de manutenção da saúde (HMOs),
org anizações de prestadores preferenciais (PPOs preferred movider
or ganizations) e planos de indenização g erenciada (MIPs Managed
indemnity plans). A seção a seguir descreve estas for mas de atenção.
Organizações de Manutenção da Saúde
Nos últimos 40 anos, a freqüência do pré-pagamento por
ser viços tem aumentado gr adualmente. Nesta for ma de reembolso,
pagador es terceirizados contratam médicos ou g rupos de médicos.
Em retor no pelo pré-pag amento, os profissionais concordam em
oferecer um pacote de serviços definido em um contrato. Em
algumas formas de pré-pag amento, estes médicos também cor r em
pelo menos algum risco financeiro de custos da atenção que
resultem de encaminhamentos ou hospitalizações, embora a maioria
dos esquemas exclua deter minados custos “catastróficos” sobre
os quais o médico não tem controle. Estes esquemas são
conhecidos como HMOs.
Em 1932, a Commission on the Costs of Medical Care [Comissão
sobre Custos de Atenção Médica] nos Estados Unidos recomendou
que a atenção à saúde fosse prestada por gr upos org anizados de
191
6. Atenção Primária no contexto dos sistemas de saúde
profissionais de saúde, preferivelmente em um ambiente hospitalar,
com base no pré-pag amento. Embora a atenção fornecida por tais
g r upos org anizados seja uma característica de muitos sistemas de
atenção à saúde, é apenas nos Estados Unidos que eles são
organizados basicamente dentro do setor privado e largamente
reembolsados por planos de seguro privado.
Nas HMOs, o pagamento para médicos ou g rupos é
previamente fixado dependendo do número (e, algumas vezes, do
tipo) de pacientes inscritos ou está sujeito a alguma participação
nos riscos. Os médicos que trabalham na HMO devem controlar
os gastos de atenção à saúde; se for prestada mais atenção do que
a HMO tinha previsto, ela arcará com o déficit. Por outr o lado, se
muito pouca atenção for fornecida, a HMO poderá ser suspeita de
não prestar a atenção necessária.
Originalmente, as HMOs eram org anizações de ser viço sem
fins lucrativos que prestavam serviços clínicos. Na ter minologia
atual, entretanto, a HMO é g eralmente o agente fiscal que fecha
contrato com uma categoria administrativa ou diretamente com
um g r upo de atenção médica para for necer ser viços para sua
população definida. Os médicos ou grupos de médicos dentr o de
uma HMO são de diversos tipos:
Modelo em equipes: os médicos trabalham diretamente para a
HMO, mediante salário, mas, algumas vezes, com um bônus,
dependendo dos ganhos da HMO ou de sua produtividade.
Modelo em gr upo: a HMO contrata um gr upo médico se parado
para for necer seus serviços. Estes também são conhecidos como
ser viços pré-pagos em grupo, e os médicos podem ser pag os por meio
de salário ou capitação. Em modelos de HMOs em rede, o contrato
é celebrado com vários médicos ou ser viços em gr upo, em vez de
apenas um.
Associação de unidades individuais (IPA Individual Pratice
Association): a HMO contrata médicos individuais que estão em
consultórios independentes ou um gr upo de médicos cujos
membros trabalham de for ma independente, g eralmente em
192
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
consultório individual ou em g r upos de especialidade única.
Como é o caso com outros tipos de HMOs, os planos da IPA
exigem, tipicamente, que os médicos de atenção primária atuem
como por tas de entrada para seus pacientes. Este papel e xige
que aprovem encaminhamentos, hospitalizações e procedimentos
e exames de alto custo. Uma taxa de capitação é pag a à HMO
para cada pessoa inscrita. Os médicos podem receber uma
capitação por serviços de atenção primária ou podem ser
reembolsados de acordo com um esquema de taxa fixa para os
ser viços prestados; as taxas são tipicamente baseadas em uma
porcentag em da taxa usual do médico. Os médicos de atenção
primária podem receber capitação adicional pelo encaminhamento
e ser viços auxiliares ar ranjados pelo médico de atenção primária
e pag os por taxa por ser viço ou por um esquema de pag amento
pré-ar ranjado. Geralmente, uma parte da taxa ou do pag amento
de capitação é retido pela IPA. Se a utilização e os custos
estiverem alinhados com as expectativas, o valor retido é
devolvido aos médicos.
Todas as formas de planos da HMO podem ter um ar ranjo
por ponto de ser viço, no qual os pacientes são livres para buscar
atendimento de médicos que não per tencem à HMO, mas pag am
consideravelmente mais por fazê-lo.
Exceto nos modelos de HMOs em g r upo ou equipe, os
profissionais podem fechar contrato com as HMOs para atender a
pacientes inscritos. Tipicamente, mantêm o direito de prestar
ser viços para várias HMOs e/ou para pacientes por taxa por serviço.
Planos de indenização gerenciada e organizações
prestadoras preferenciais
Embora muitas vezes não estejam incluídas sob a r ubrica
da atenção gerenciada, porque não apresentam capitação nem
arranjos salariais, pelo menos outras duas formas de
microgerenciamento são comuns, principalmente nos Estados
Unidos. Um plano de indenização gerenciada é um arranjo
193
6. Atenção Primária no contexto dos sistemas de saúde
convencional (indenização) de taxa por ser viço, no qual o uso
dos serviços e dos procedimentos é cuidadosamente monitorado.
Uma PPO é uma entidade administrativa que contrata
empreg adores ou seguradoras para for necer ser viços a indivíduos
por uma taxa negociada, geralmente descontada abaixo do nível
cor rente. Em uma PPO, os pacientes podem escolher um médico,
não impor tando se ele faz par te da PPO ou não. Se utilizarem
um médico que não seja da PPO, os pacientes devem pag ar uma
taxa mais alta para cobertura do prejuízo. Em uma EPO
(exclusive provider organization [organização prestadora
exclusiva]), o uso de médicos que não façam parte da PPO não é
cober to, exceto em situações de emergência. A EPO, por tanto, é
similar à IPA, com a exceção de que a EPO pag a a seus médicos
uma taxa por ser viço neg ociada, enquanto a IPA, g eralmente,
divide o risco com seus médicos (e sempre com seus médicos de
atenção primária) pela retenção de uma parte da capitação ou da
taxa por serviço até que todas as despesas sejam cobradas. Esta
parte não é devolvida a menos que as metas financeiras tenham
sido atingidas.
Como parte integrante das PPOs, existe uma organização
ge renciadora que exerce deter minadas funções administrativas
para monitorar o uso dos ser viços. Estas podem incluir a
autorização de pré-hospitalização (ou seja, aprovação de
hospitalizações eletivas), opiniões de outros médicos antes de
cir urgias, autorização de planos de tratamento para deter minados
ser viços não-emergenciais, como ser viços de saúde mental, e
revisão da atenção médica prestada.
Muitos aspectos da atenção gerenciada são comuns em
diferentes nações, embora em diferentes g raus e extensão. Estes
incluem a capitação, as por tas de entrada (médicos de atenção
primária como o ponto de primeiro contato para cada nova
necessidade), taxas de usuários, educação do consumidor,
diretrizes de prática médica, maior utilização de profissionais
não-médicos quando estes podem substituir os médicos, melhores
194
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
sistemas de informação clínica e telemedicina, como uma
extensão dos ser viços de atenção primária (Smith, 1997).
Na Europa, a atenção gerenciada tende a ser definida como
“um processo para maximizar o ganho em saúde de uma
comunidade, dentro de recursos limitados, assegurando que uma
variedade e um nível apropriado de ser viços seja prestado e pelo
monitoramento de um caso baseado em casos, para garantir a
melhora continuada para atender às metas nacionais para saúde
e as necessidades do indivíduo” (Fairfield et al ., 1997a). Esta
visão enfoca os ganhos em saúde comunitária pela integração
das políticas, descentralização do gerenciamento e manejo da
atenção à saúde individual, incluindo o manejo da enfer midade
que nunca é “moldado”, mas sim uma extensão da relação entre
a atenção primária e os especialistas. Políticas nacionais (ausentes,
de forma comparável, nos Estados Unidos, mas existentes em
alguns graus apenas em poucos estados norte-americanos) tomam
a forma da def inição das necessidades em saúde, da avaliação
da efetividade e do custo-efetividade do tratamento e o
estabelecimento de prioridades (Fairfield et al., 1997b). O
estabelecimento das prioridades locais (substituído nos Estados
Unidos pelas organizações privadas) enfoca o contrato com
hospitais, especialistas e diferentes tipos de profissionais para
for necer os ser viços além da atenção primária; a prática clínica é
cada vez mais encorajada por diretrizes, e não pelo perfil médico,
o que, g eralmente, é usado de for ma punitiva contra os médicos
nos Estados Unidos. Os membros da Comunidade Eur opéia lidam
com a exigência de que os serviços de saúde sejam fornecidos de
acordo com arranjos sem fins lucrativos o oposto da tendência
crescente de obtenção de lucro nos Estados Unidos. Além disso,
o conceito de eqüidade na provisão de ser viços de saúde, refletido
no ter mo solidariedade, assegura que os valores subjacentes que
guiam o desenvolvimento dos sistemas de ser viço de saúde na
Europa décadas não estão sendo sacrificados nas refor mas da
atenção à saúde dirigidas para a contenção de despesas e melhora
da qualidade da atenção.
195
6. Atenção Primária no contexto dos sistemas de saúde
ATENÇÃO GERENCIADA E ATENÇÃO PRIMÁRIA
Apesar da inclusão quase universal do conceito de “porta
de entrada”, a atenção gerenciada não conduz, necessariamente, à
obtenção da atenção primária. Onde a delegação de poderes ao
médico de atenção primária para tomar decisões a respeito da
atenção recebida pelas populações de pacientes está enfatizada, é
provável que os quatro aspectos da atenção primária sejam
facilitados. A atenção ao primeiro contato será melhorada não
apenas tendo um médico de atenção primária como ponto de
contato para todas as novas necessidades, mas, também, colocando
a responsabilidade nas mãos dos médicos de atenção primária para
realizarem encaminhamentos inf or mados, quando necessário. A
longitudinalidade será promovida por meio da vinculação formal
da população com uma fonte identificável de atenção primária e,
se este médico tiver sido livremente escolhido pelas pessoas, e de
uma melhor probabilidade de que sejam desenvolvidas relações
de longo prazo. A integralidade será estimulada pelo
desenvolvimento de sistemas integrados, nos quais as necessidades
das populações são documentadas e os ser viços planejados, de
forma que o nível mais adequado de atenção tenha a
responsabilidade de fornecer os serviços apropriados. A
coordenação também será facilitada por meio de vínculos mais
formais entre os níveis de atenção e melhores linhas de
comunicação e será aprimorada por mecanismos eletrônicos de
f luxo de informações, para melhor integ rar a atenção em diferentes
níveis e tipos de profissionais. Nos Estados Unidos, por exemplo,
a antiga equipe sem fins lucrativos e o modelo das HMOs em
g r upo, g eralmente, desempenharam bem estas características.
Entretanto, as direções tomadas pela atenção gerenciada em
sistemas de atenção à saúde, em que as principais metas são a
contenção de custos e a competição, apresentam a probabilidade
de serem contrárias à obtenção dos aspectos da atenção primária
(Reid et al., 1996; Starfield, 1997).
196
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
J.A. é uma cabeleireira de classe média que desenvolveu esporões
de calcâneo, os quais f izeram com que ela inter rompesse seu
exercício diário de caminhada. Ela tem uma cirurgia marcada como
paciente ambulatorial, mas relatou que lhe foi solicitado que
consultasse seu “médico preliminar” para obter o encaminhamento.
Quando perguntada se o que realmente quis dizer com “atenção
preliminar” era “atenção primária”, ela disse, “Oh sim, atenção
primária; esta é a palavra certa.”
J.A. (1997), Estados Unidos
Ao invés de ver a atenção de primeiro contato como uma
estratégia para dar poder aos pacientes e seus médicos para entrar
em um acordo em relação à estratégia de manejo clínico mais
apropriada, a atenção gerenciada pode ser vista como uma barreira
(a “preliminar” necessária) para outros serviços. Assim, o acesso ao
primeiro contato é ameaçado por motivos lucrativos que impõem
barreiras à busca da atenção primária com o interesse de reduzir os
custos em curto prazo. A atenção g erenciada, que enf atiza a inscrição
de populações mais saudáveis (como os empregados com ganhos),
pode extrair, seletivamente, recursos dos segmentos menos saudáveis
da população (desempr egados, pobres, idosos), reduzindo, assim,
seu acesso aos serviços necessários. Além disso, os planos por “ponto
de serviço”, que permitem que os pacientes busquem atendimento
em outros lugares sem discutir com seus médicos de atenção
primária, podem melhorar a satisfação do consumidor em curto
prazo, enquanto interfere ativamente com os benefícios da atenção
de primeiro contato.
Embora a atenção gerenciada em teoria promova a
longitudinalidade por meio da vinculação de pacientes com uma
fonte de atenção primária, uma falta de apreciação da essência da
longitudinalidade interfere ativamente em sua obtenção.
Uma recente comparação dos benefícios relativos de atenção
fornecida por médicos de atenção primária e especialistas usou
um estudo controlado, no qual homens idosos muito doentes,
que receberam alta hospitalar, foram aleatoriamente indicados para
197
6. Atenção Primária no contexto dos sistemas de saúde
receber atenção continuada de uma equipe de médico-enfermeiro
de atenção primária ou de uma clínica especializada, na qual tinham
sido atendidos antes da hospitalização. Os indi víduos que tinham
uma fonte identificável de atenção primária foram excluídos do estudo.O
acompanhamento seis meses depois não conseguiu encontrar
qualquer diferença nos custos ou resultados de atenção para
indivíduos nos dois g r upos do estudo.
Estudo relatado em um periódico
médico norte-americano de prestígio (1996).
Quando existe uma pequena familiaridade com o conceito
ou significado da atenção primária, uma tendência de equalizá-
la com o tipo de médico que a fornece, e não com o próprio conceito.
A longitudinalidade não pode ser alcançada sem tempo para
fornecer o conhecimento necessário para atingir a atenção
orientada para a pessoa. Os benefícios da longitudinalidade não
podem ser alcançados em períodos inferiores a um ano, e quando
a utilização não é freqüente, g eralmente, leva vários anos. Muitas
organizações de atenção gerenciada não apenas limitam a livre-
escolha do médico; elas também quebram ativamente as relações
médico-paciente por meio de negociações contratuais periódicas
entre os empregadores e as organizações de atenção gerenciada,
ou empr egadores e g r upos de médicos, que mudam a lista de
gr upos e médicos eletivos para participação no plano que é
escolhido pelos pacientes. Como a competição, por definição, leva
em si a expectativa de que estas mudanças realmente ocorram
como “pacotes” mais atraentes disponibilizados no mercado, ela
interfere ativamente no alcance da longitudinalidade. Vários
estudos demonstram que a manutenção das relações com médicos
específicos, geralmente, é interrompida por este processo
(Commonwealth Fund, 1995; National Committe for Quality
Assurance, 1995; Kerstein et al., 1994; Commonwealth Quar terly,
1992). Por exemplo, em um estudo de pacientes em uma rede de
138 médicos comunitários em uma área urbana dos Estados
Unidos, um em cada quatro pacientes com seguro de saúde de
198
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
IPA ou PPO apresentou uma mudança involuntária de médicos
em um período de 2 anos (Flocke et al., 1997).
Os sistemas de saúde direcionados ao mercado
comprometem a integralidade pelo enfoque sobre a oferta de
ser viços que economizam dinheiro em cur to prazo. Uma vez que
não incentivos para que mantenham um grupo específico de
pacientes em long o pr azo, eles não têm incentivos para for necer
ser viços precoces no curso do desenvolvimento da saúde ou
para for necer ser viços preventivos com retornos do investimento
apenas em long o prazo.
A coordenação da atenção não é, necessariamente,
comprometida por sistemas de saúde direcionados ao mercado;
na medida em que são partes de sistemas de saúde integrados
com sistemas comuns de infor mação, a coordenação pode até
mesmo ser melhorada. Entretanto, determinados aspectos destes
sistemas agem contra o alcance da atenção coordenada. Os g r upos
limitados de subespecialistas reduzem a probabilidade de que o
mais apropriado possa ser escolhido em casos de necessidade
especial. Além disso, ela restring e a capacidade dos médicos de
atenção primária de escolher o mais apropriado, porque, muitas
vezes, eles devem fazer o encaminhamento para subespecialistas
com os quais eles não estão familiarizados. Resumos escritos
estão substituindo as discussões pessoais acerca dos pacientes
(Roulidis e Schulman, 1994).
A história natural da atenção gerenciada nos Estados Unidos,
com seu enfoque no ganho a curto prazo, não é um bom prognóstico
para melhoras futuras na atenção primária. Existe pouco incentivo
para os gerentes trabalharem com grupos de médicos e
consumidores para adaptar modos de prestação de serviços que
demonstraram melhor ar a atenção. Muitas organizações de atenção
gerenciada estão per mitindo que os pacientes escolham os
especialistas, principalmente ginecologistas/obstetras, como seu
médico de atenção primária, ou que escolham tanto um generalista
quanto um especialista como médicos de atenção primária duplos,
negando, assim, todas as vantagens das quatro car acterísticas da
199
6. Atenção Primária no contexto dos sistemas de saúde
atenção primária. Dessa forma, a atenção g erenciada, da maneira
como está implementada nos Estados Unidos, está assumindo
muitas das características da atenção primária convencional,
ficando diferente apenas na autonomia reduzida do médico e no
critério individual na atenção aos pacientes.
Na medida em que a atenção gerenciada invadiu meu consultório,
a logística da competição para permanecer na Medicina tornou-
se impraticável, porque o sistema exigia cada vez mais disputa
com as companhias de segur os. Finalmente, vendi meu consultório
ao hospital comunitário. O quadro de funcionários aumentou para
três empreg ados mais uma “equipe de administração do serviço”
no controle de todas as operações. Teoricamente, as horas de
funcionamento foram expandidas, mas o médico estava cada vez
menos disponível.
Dr. R.M., médico em Ne w Jersey
O FUTURO DA REFORMA DA ATENÇÃO
PRIMÁRIA À SAÚDE
Os imperativos para a reforma decor rem de inadequações
obser vadas na org anização e no financiamento dos serviços que
vêm ocor rendo décadas. Estes imper ativos inc luem a contenção
dos custos; os serviços de gerenciamento burocrático em sistemas
altamente controlados; uma ausência de resposta aos consumidores
em uma era de crescente infor mação ao consumidor, conhecimento
e expectativa; e ausência de competitividade. Embora nem todos
os sistemas estejam igualmente expostos a estas inadequações,
todos apr esentam algum g rau delas em todos os países. A imposição
de estra tégias de refor ma, na ausência de pesquisa e avaliação
anteriores adequadas (e com pouca probabilidade de coleta
sistemática de dados para monitorar seu impacto), certamente
levará a suas próprias ineficiências e déficits. Onde está ocor r endo
a reforma no setor privado com pouco envolvimento público ou
200
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
omissão de um órgão publicamente responsável, o único recurso
para o desempenho inadequado é o recurso legal ou social para os
déficits identificados. Nos Estados Unidos, esta micror regulação
está em evidência. As restrições ao acesso aos ser viços
resultaram em meios alter nativos de ofer ta de serviços, onde são
considerados necessários. A for ma de crescimento mais rápida de
planos de saúde é o plano por “ponto de serviço”, no qual os
indivíduos podem optar por outro médico, além do médico de
atenção primária ou especialista designado, pag ando uma taxa extra
para buscar atendimento com um médico de sua própria escolha
fora do plano. Como apenas os que podem pag ar taxas extras
utilizarão esta opção, esta estratégia está basicamente direcionada
à atração de indivíduos de renda mais alta para os planos de saúde.
Outros recursos são mais eqüitativos em seu efeito. Sérias
restrições quanto ao uso dos ser viços, incluindo hospitalizações
máximas obrigatórias para várias condições (incluindo hospitalização
de recém-nascidos no pós-parto) têm sido observadas por
comprometerem a qualidade da atenção e, especialmente, por
interferirem na autonomia do médico para julgar as necessidades
específicas de um paciente individual. Assim, muitos estados
aprovaram leis em resposta à proteção do profissional e do consumidor
para subverter estas práticas de plano. Muitas regulamentações
estaduais agora obrigam a cobertura de serviços específicos, como
saúde mental, abuso de álcool e drogas, mamografia e atenção pré-
natal. Alguns estados obrigam que os planos de saúde permitam que
as pessoas busquem atendimento diretamente de especialistas; vários
outros têm tais leis de acesso direto para serviços de ginecologia/
obstetrícia. Muitos estados estabeleceram duração mínima de
hospitalização para impedir que os planos de saúde se recusassem a
pagar pela atenção hospitalar, especialmente para recém-nascidos
(Hellinger, 1996). Infelizmente, nem todos os planos de saúde estão
sujeitos às regulamentações estaduais, tornando, assim, estes recursos
inaplicáveis a todos. Além disso, muitos destes “recursos” que são
direcionados à limitação dos abusos da atenção gerenciada são
contrários à obtenção de uma boa atenção primária.
201
6. Atenção Primária no contexto dos sistemas de saúde
A reforma da atenção à saúde (na forma de atenção
gerenciada nos Estados Unidos) é geralmente vinculada à redução
da taxa de aumentos em seus custos, mas não na redução destes
custos ou em sua redistribuição. A e vidência deste impacto sobre
a qualidade da atenção é misturada, mas a avaliação está
comprometida pelo excesso de tipos organizacionais e uma
conseqüente incapacidade em atribuir o desempenho a arranjos
organizacionais e financeiros específicos (Miller e Luft, 1997).
Talvez seu principal efeito tenha sido a desprofissionalização dos
médicos, principalmente os médicos de atenção primária, cuja
autonomia sobre a tomada de decisão médica tem sido
grandemente reduzida como resultado das estratégias de
gerenciamento no setor privado. Efeitos similares ameaçam a
Europa, embora a magnitude de seu efeito dependerá das políticas
específicas assumidas pelos g overnos nacionais. A lição a ser tirada
tanto do sucesso quanto das falhas da experiência norte-americana
é a importância do desenvolvimento, da introdução e do uso de
padrões científicos profissionais de qualidade, não apenas para os
aspectos técnicos de atenção, mas, também, para os aspectos de
prestação de ser viços de saúde. A divisão de responsabilidade para
o desenvolvimento destes padrões com g rupos de consumidores
corre o risco de contribuir para o processo de desprofissionalização
(Groenewegen e Calnan, 1995), mas é provável que este seja bem
mais preferível do que a perda da autonomia com base no controle
g erencial com a meta principal da contenção de despesas.
O futuro de vários aspectos da atenção g erenciada é incer to.
A Nova Zelândia abandonou a competição em favor da
colaboração apenas alguns anos depois de sua implementação
(Ham, 1997). Uma retração na vigorosa expansão da retenção
competitiva de fundos no Reino Unido foi instituída com a volta
do g overn o Trabalhista ao poder, em 1997. Mesmo nos Estados
Unidos, o futuro da atenção ger enciada está em questão. Os
esforços governamentais para colocar a população idosa (por quem
o g overno é financeiramente responsável na forma do Medicare) e
as populações socialmente carentes (por quem os estados mantêm
202
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
a responsabilidade financeira na forma do Medicaid) nas
organizações de atenção gerenciada, provavelmente, levarão a um
aumento na inscrição dos indivíduos mais doentes nas organizações
de a tenção g erenciada, ameaçando, assim, a lucratividade que foi
calculada a partir da inscrição preferencial de indivíduos menos
doentes. Grupos de médicos têm mostrado um crescente interesse
em competir com as organizações de atenção gerenciada pelos
contratos com hospitais e empreg adores. A preocupação pública
quanto às inadequações obser vadas da atenção gerenciada,
provavelmente, também ampliará e ameaçará ainda mais a
liberdade relativa do setor privado de atenção gerenciada na
deter minação da for ma que os serviços de saúde são prestados.
Além disso, o rápido crescimento da inscrição em organizações de
atenção gerenciada não impediu grandes aumentos nos custos da
atenção à saúde, que quadruplicou de 1980 a 1995. Conforme a
atenção gerenciada torna-se menos lucrativa, é improvável que
continuará a atrair o capital que é necessário para sua expansão
(Ginzburg e Ostow, 1997).
A multiplicidade dos possíveis arranjos para financiamento
e organização de sistemas de atenção à saúde deixa um espaço
considerável para a experimentação por diferentes sistemas de
saúde pelas nações e dentro das nações. No passado, os esforços
da reforma não foram acompanhados por esforços sistemáticos
para avaliar seu impacto. Uma maior atenção à necessidades para
estas avaliações, e com ênfase específica no impacto sobre a
atenção primária, devem fornecer a melhor base para a escolha
entre as abordag ens alter nativas.
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IIIIII
IIIIII
III
Responsabilidade
na Atenção Primária
207
Quando eu era residente, tive uma experiência que mudou minha
carreira. Comecei na cirurgia e, freqüentemente, os pacientes vinham
à clínica com dores e padecimentos e não apresentavam qualquer
problema cirúrgico, então eu os encaminhava para a clínica apropriada
e lhes dava um número de telefone para ligar. Presumi que eu tinha
cuidado do problema. Mas, um dia, eu telefonei para aquele número
para ver o que os pacientes estavam passando. A primeira vez que
telefonei, a ligação caiu. Então tentei novamente, e a ligação caiu mais
uma vez e na vez seguinte fui colocado em espera, e na outra me
disseram que iriam transferir minha ligação. Acabei por fazer 14 ligações
para marcar uma consulta. E eu falo inglês. Então comecei a me
preocupar sobre como eu estava encaminhando meus pacientes, onde
eles estavam indo e o que estávamos fazendo com eles. Funcionamos
bem porque conhecemos o sistema, mas a maioria das pessoas vai
para casa e logo encontra barreiras e não sabem como lidar com elas.
Mudei de cirurgia para Medicina de família e agora faço tudo o que
posso por eles. Apenas quando sinto que não posso fazer mais nada
eu os encaminho, e não os deix o partir até que a consulta esteja marcada.
Estou disponível para cuidar de enfermidades, mas isso não é tudo o
que faço. Meus pacientes são muito mais complexos que suas
enfermidades. Agora sinto que realmente estou fazendo alguma coisa
pelos pacientes que realmente algo de extraordinário na prática
da Medicina. O melhor que podemos fazer pelos pacientes é entender
o que dizem, e um pré-requisito é ouvir. É óbvio que cuido de suas
enfer midades estou disponível para fazê-lo da for ma que eles
necessitarem mas essa é uma pequena par te do que faço.
Dr. C., médico
7. ACESSIBILIDADE E PRIMEIRO
CONTATO: A “PORTA”
208
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
A idéia de que existe um ponto de entrada cada vez que um
novo atendimento é necessário para um problema de saúde e que
este ponto de entrada deve ser de fácil acesso é inerente à
org anização de serviços de saúde por nível de atenção (primária,
secundária, terciária). Em linguagem mais clara, este ponto de
primeiro contato é conhecido como porta de entrada.
A idéia de uma “por ta” faz sentido. Primeiro, a pessoa não
conhece suficientemente os detalhes técnicos da atenção médica
para avaliar de maneira informada a fonte e a época apropriadas
para atenção a muitos de seus problemas. Os indivíduos que
acreditam que têm um problema de saúde deveriam poder consultar
com um profissional que pudesse ajudá-los a entender se o
problema é sério o suficiente para necessitar de atenção adicional
ou se é um problema autolimitado que não necessita de atenção
adicional. A ausência de um ponto de entrada facilmente acessível
faz com que a atenção adequada possa não ser obtida ou seja
adiada, incor rendo em g astos adicionais. É esperado que o conselho
e orientação de um médico de atenção primária facilite a seleção
da melhor fonte de atenção.
Nem todo médico pode estar igualmente habilitado em todas
as facetas da atenção médica , e o nível de entrada da atenção
oferece desafios especiais. Os problemas trazidos pelos pacientes
são geralmente vagos e não relacionados a sistemas orgânicos
específicos. Devido aos limares variados para b usca da atenção,
alguns pacientes procuram atendimento antes do que outros, no
curso de sua doença. Portanto, os médicos de atenção primária
defrontam-se com uma variedade muito maior de for mas de
apresentação da doença do que os especialistas, que, geralmente,
vêem os pacientes em estágios posteriores e mais diferenciados da
doença. Os médicos de atenção primária trabalham na comunidade
em que as manifestações de doenças são grandemente influenciadas
por seu contexto social. Em contraste, outros especialistas,
especialmente aqueles que trabalham em hospitais, lidam com
problemas mais afastados de seu contexto social.
209
7. Acessibilidade e primeiro contato: a “porta”
A evidência para os benefícios de um primeiro contato bem-
sucedido é importante para apoiar sua inclusão como uma
característica-chave da atenção primária. A seção a seguir tece
considerações sobre estes benefícios.
BENEFÍCIOS DA ATENÇÃO AO PRIMEIRO
CONTATO
A importância do fácil acesso à atenção para reduzir a
mor talidade e morbidade é reconhecida muitos anos. A natureza
da evidência foi resumida para a saúde infantil (Starfield, 1985);
tipos similares de evidências estão disponíveis para adultos. Por
exemplo, devido aos déficits orçamentários, muitos indivíduos não
tiveram permissão para receber serviços como pacientes externos
do Veterans Administration Hospital [ Hospital de Administração dos
Veteranos], por eles, anteriormente, utilizado como fonte de atenção.
Quando questionados, a probabilidade de que relatassem ter acesso
à atenção médica necessária e de que estivessem de fato recebendo
atenção foi muito menor. Também foi mais provável que relatassem
que estão com a saúde debilitada e apresentavam maior
probabilidade de mau controle da pressão arterial um ano depois do
que os indivíduos que continuaram em tra tamento, embora estes
últimos estivessem, inicialmente, mais doentes (Fihn e Wicher,
1988). Quando a Califórnia acabou com os benefícios de atenção
à saúde, para muitos adultos indigentes, houve um declínio no
uso dos serviços e uma deterioração da condição de saúde que
persistiu pelo menos por um ano (Lurie et al., 1986).
A maximização do acesso para uma fonte de atenção primária
também é importante. Vários estudos indicam que os pacientes
deveriam ver um generalista antes de consultar um especialista.
Evan R. é um menino de 15 anos que, um dia, voltou da escola para
casa com um inchado, depois de passar várias horas jog ando
basquete com os amigos. A mãe de Evan levou-o a um ortopedista
210
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
que ela conhece, o qual tirou uma radiografia que mostrou uma possível
fratura fina. O ortopedista decidiu enviar Evan a um reumatologista,
que o atendeu imediatamente e mencionou a possibilidade de
sarcoidose. Evan fez uma radiografia torácica (normal) e teve sangue
coletado para vários exames, incluindo enzima conversora de
angiotensina (ECA), um exame utilizado para o diagnóstico de
sarcoidose em adultos. O nível de ECA estava ele vado. Isto sugeria
que Evan fosse acompanhado por seis meses para confirmar ou
descartar o diagnóstico de sarcoidose. A mãe de Evan ficou apavorada,
achando que este era um problema fatal. Evan passou por uma
tomografia óssea para descartar um possível câncer ósseo. Antes de
voltar para casa, ele voltou ao ortopedista para que seu tornozelo
fosse engessado. Uma semana depois, seu tio (um pediatra) visitou-
os e o encontrou fazendo arremessos na entrada de casa, com o
engessado. O pediatra mencionou à mãe que o sarcóide raramente se
apresenta desta for ma e que o exame de ECA é inespecífico e
altamente sensível às mudanças hormonais da puberdade. Evan estava
na puberdade. A enfermidade que deveria ter sido tratada com uma
bolsa de gelo e elevação do resultou em uma conta de milhares de
dólares por exames diagnósticos desnecessários. Uma semana depois,
o pediatra convenceu o o rtopedista a remover o g esso.
B.G. (1994)
Utilizando dados de uma pesquisa em gr upos envolvendo
uma amostra nacional de indivíduos nos Estados Unidos, Forrest
e Starfield (1998) demonstraram que uma melhor acessibilidade
aos serviços estava associada a uma maior probabilidade de atenção
ao primeiro contato e continuidade com o médico de atenção
primária. A acessibilidade foi medida por inter médio de respostas
a uma pergunta sobre barreiras geográficas (tempo de viagem maior
do que 30 minutos), uma pergunta sobre barreiras financeiras
(nenhum seguro durante todo o ano, ou par te dele) e três perguntas
referentes a barreiras organizacionais (disponibilidade de atenção
depois do horário comercial no centro de atenção primária, cinco
ou mais dias de espera para obter uma consulta e mais de 30
minutos de espera no consultório). O próprio componente da
211
7. Acessibilidade e primeiro contato: a “porta”
atenção, depois do horário comercial, possui cinco componentes:
horário de emergência, chamadas domiciliares, horário noturno,
horário nas manhãs de sábado, outros horários durante o fim de
semana). O primeiro contato foi avaliado pela proporção de
consultas em um ano para qualquer dos 24 tipos de problemas
agudos, nas quais a primeira consulta no episódio foi com o auto-
identificado “médico específico, que g eralmente é consultado no
centro de atenção primária”. A continuidade foi avaliada pela
medição da proporção de todas as consultas no ano que foram
realizadas com o médico, não impor tando onde ocor reram. Um
aumento no número de barreiras ao acesso foi associado a menos
atenção ao primeiro contato e continuidade mais baixa, mesmo
depois do controle de várias características influentes do paciente,
tipos de centro de atenção primária e tipos de profissionais de
atenção primária.
Um experimento solicitou que os pacientes registrados em
um programa de seguro saúde recebessem atendimento primeiro
de um médico generalista; nenhuma hospitalização ou consulta a
um especialista era permitida sem o encaminhamento de um médico
de atenção primária. Depois de um ano de inscrição, aqueles
incluídos no programa passaram menos dias no hospital do que
aqueles cujo seguro per mitia que buscassem atenção inicial em
qualquer lugar (Moore, 1979). Entretanto, uma avaliação
subseqüente não conseguiu demonstrar qualquer diferença nos
custos de ser viços de pacientes internados ou externos,
principalmente porque a “porta de entrada” da atenção primária
não f oi capaz de controlar os serviços de outros especialistas que
foram pag os com base em taxas por serviço, sem nenhum risco
financeiro. Na verdade, 70% das hospitalizações foram controladas
por especialistas outros que não médicos de atenção primária
(Moore, 1983).
Estudos no Canadá mostraram que as indicações apropriadas
para tonsilectomia e/ou adenoidectomia estavam mais presentes
em crianças que tinham sido encaminhadas por um pediatra ou
que tiveram alguma consulta pediátrica do que no caso de crianças
212
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
que consultaram apenas especialistas de ouvido, nariz e g arg anta.
Os resultados da atenção também foram melhores para as crianças
vistas inicialmente por um pediatra; estas crianças tiveram menos
complicações pós-operatórias, uma maior diminuição de episódios
respiratórios após ciru rgias e uma maior diminuição em e pisódios
de otite média após cir urgia (Roos, 1979).
Em um estudo comparativo das taxas de consultas em dois
ser viços em g r upos pré-pag os (Starf ield, 1983), as crianças, no
plano de prática de g r upo que necessitaram de encaminhamento
de prestadores de atenção primária antes de consultas com outros
especialistas, tiveram menos consultas com estes especialistas do
que as crianças no plano que não exigia encaminhamento. Não
evidências de que consultas adicionais neste último plano tenham
levado a uma melhor saúde das crianças.
A solicitação de uma consulta a um “ponto de entrada” antes
que uma consulta possa ser realizada em qualquer lugar está
associada à utilização reduzida tanto de outros serviços
especializados como de consultas em sala de emergência. Em um
estudo em que os novos inscritos foram aleatoriamente
encaminhados para um sistema que exigia uma consulta numa
“porta de entrada” ou para um com benefícios iguais mas sem
exigência de “porta de entrada”, os pacientes do plano com
exigência de porta de entrada tiveram uma média de 0,3 menos
consultas a um especialista no período de um ano do que os
pacientes do outro g rupo (Martin et al., 1989). Em outro estudo
de amostras aleatórias estratificadas de pacientes inscritos em
quatro programas demonstrativos do Medicaid que exigiam uma
“porta de entrada”, os pacientes tiveram grandes reduções na
proporção de pacientes com, pelo menos, uma consulta em sala
de emergência, variando de 27 a 37% para crianças e de 30 a 45%
para adultos (Hurley et al., 1989).
Um estudo nacional em g r upo de experiências com doenças
e utilização de atenção médica forneceu uma boa base para estimar
a economia nos custos de atendimento ao primeiro contato com
um médico de atenção primária. Todos os e pisódios de atenção
213
7. Acessibilidade e primeiro contato: a “porta”
para 24 consultas de prevenção e doença aguda foram estudados
no que se refere ao local no qual se buscou, inicialmente, o
atendimento. Os episódios que começaram com consultas a
prestadores de atenção primária auto-identificados pelo indivíduo
foram, em geral, 53% menos onerosos: 62% para doenças agudas
e 20% para atenção preventiva depois do controle de muitas outras
características associadas aos custos da atenção. A economia foi
quase a mesma, inclusive depois que as consultas em sala de
emergência (que são caras) tinham sido excluídas (Forrest e
Starfield, 1996).
A relação entre a atenção ao primeiro contato e uma
porcentag em inferior do produto interno bruto g asto em serviços
de saúde foi confirmada utilizando-se dados de um g rande estudo
internacional. Os países europeus foram classificados de acordo
com a porcentagem de especialistas médicos que eram diretamente
acessíveis às pessoas no país (Crombie et al., 1990). Os países
com uma porcentagem mais alta dedicaram uma proporção maior
do produto interno bruto à saúde do que os países com
porcentagens inferiores (ou seja, os que exigiam encaminhamento
por um profissional de atenção primária) (Fry e Horder, 1994).
Um pequeno estudo em um grande hospital infantil urbano
confir mou os benefícios da atenção ao primeiro contato em
crianças com doença aguda (apendicite). Estas crianças, cujos pais
contataram seu prestador de atenção primária antes da chegada
ao hospital, apresentaram uma menor probabilidade de perfuração
do apêndice do que aquelas que não o fizeram, independente da
cober tura ou do tipo de seguro. Se elas se apresentaram em um
fim de semana, também tiveram maior probabilidade de ser
imediatamente operadas. As consultas por telefone f oram tão
efetivas quanto o exame pessoal realizado pelo médico no alcance
destes benefícios (Chande e Kinnane, 1996).
Outro estudo de crianças com apendicite mostrou os mesmo
achados g erais. As crianças que per tenciam a uma organização de
manutenção da saúde (com exigências de que os pacientes
consultem com seu médico de atenção primária antes de buscar
214
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
atenção em outros lugares) tiveram uma menor duração dos
sintomas antes de se apresentarem no hospital e períodos menores
de hospitalização do que as crianças em programas de saúde sem
uma consulta exigida com um médico de atenção primária. A
consulta não apenas não retardou o atendimento, como também
facilitou-o (O’Toole et al., 1996).
Por que estes benefícios aumentam na atenção ao primeiro
contato?
Era uma vez, um Porteir o e uma Feiticeira. O tra balho do Porteir o
era decidir quem poderia ver a Feiticeir a. A maioria das pessoas
que viam o Porteiro não viam a Feiticeira. Geralmente elas estavam
apenas um pouco doentes ou com a preocupação de estarem
doenteseoPorteiro er a muito bom em decidir quem precisava
ver a Feiticeira. A maioria das pessoas que a viam estavam muito
doentes e ela poderia lançar seus feitiços para fazer com que
melhorassem. A FeiticeiraeoPorteiro precisavam um do outro.
O problema foi que quanto mais pessoas ouviam a respeito das
poções mágicas da Feiticeira, mais queriam vê-la, e as filas de espera
tornaram-se cada vez mais longas. Algumas vezes, o Porteiro tinha
de mandar algumas pessoas de volta à Feiticeira, porque elas não
peg aram poções mágicas suficientes. As pessoas ficaram muito
bravas e contaram à Rainha. A Rainha disse, “Deixe as pessoas
que desejam ver a Feiticeira ir diretamente a ela e que elas mesmas
a paguem. As pessoas que podiam pag ar ficaram muito felizes. O
problema era que as filas de espera ficaram maiores porque a
Feiticeira passava mais e mais tempo vendo aqueles que podiam
pagar. Na verdade, a maravilhosa bola de cristal começou a dar
mais e mais r espostas erradas. “Descubra o que está acontecendo”,
g ritou a Rainha. O Porteiro teclou o “DataSpell” em sua bola de
cristal e apareceu a mensagem: “O valor de um exame
diagnóstico depende da prevalência da condição na população
examinada. A Feiticeira é muito boa ao decidir quem está muito
doente, mas nada boa ao decidir quem está bem. O Porteiro é
muito bom ao decidir quem está bem, mas não tão bom ao decidir
quem está muito doente. Os Porteiros usam os exames e testes
215
7. Acessibilidade e primeiro contato: a “porta”
para deter minar se as pessoas estão normais ou não, enquanto a
Feiticeir a usa os testes para detectar a doença. Se a bola de cristal
da Feiticeira estiver funcionando de f or ma adequada, ela deveria
ver apenas as pessoas que o Por teiro suspeita que estão doentes o
suficiente para precisar de mais atenção. E o Porteiro veria as
pessoas que ele pensa estarem doentes e tentaria descobrir se
realmente estão. E então o sistema funcionará. Long e de ser um
arranjo para privar as pessoas de escolha e acesso à Feiticeira, é a
for ma mais eficiente de cuidar de pessoas doentes. A Rainha
descobriu, entretanto, que persuadir as pessoas disso era muito
mais difícil uma vez adquirido o gosto pelo acesso direto à bola
de cristal e às poções mágicas, ele não é facilmente esquecido.
Adaptado de Mathers e Hodgkin (1989)
A razão pela qual o primeiro contato é importante é que o
treinamento dos médicos de atenção primária ocorre com pacientes
que têm baixa probabilidade de estarem doentes com problemas
raros ou sérios. O tr einamento de outros especialistas, entretanto,
se com pessoas que apresentam grande probabilidade de ter
um problema raro ou sério em sua ár ea de especialização. A
probabilidade de que um determinado exame diagnóstico
diagnosticará cor retamente uma condição em um determinado
paciente depende da freqüência provável daquela doença nos
pacientes que o médico examina. Se o problema for incomum, o
exame dará vários resultados falso-positivos em relação aos
resultados corretos. Os exames que os subespecialistas usam são
calibrados para um bom desempenho em pacientes com maior
probabilidade de ter a enfermidade. Se muitas pessoas com baixa
probabilidade da enfermidade (como aquelas não encaminhadas
por médicos de atenção primária) forem submetidas ao exame, na
maioria das vezes ele não terá resultados precisos. Assim, as
pessoas estarão, desnecessariamente, sujeitas a uma cadeia de
exames diagnósticos, cada um dos quais com uma probabilidade
finita de produzir um efeito adverso, sendo que os custos não serão
justificáveis devido ao seu baixo rendimento.
216
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
A Drª G. é uma cirurgiã que primeiro procurou a tendimento de
um especialista em ouvido, nariz e g arg anta (ONG) por causa de
terríveis dores de cabeça e um auto-diagnóstico de sinusite. O
médico ONG pediu uma tomografia computadorizada e, depois,
receitou esteróides para a sinusite, mas as dores de cabeça da Drª
G. pioraram, a ponto de ela ser incapaz de continuar a operar.
Neste ínterim, ela procurou seu ginecologista para um check-up de
rotina, que a aconselhou a parar de tomar suas pílulas
anticoncepcionais e a encaminhou a um neurologista que
diagnosticou enxaqueca e receitou medicamentos para este
problema. Logo ela desenvolveu falhas na fala, o que levou o
neurologista a aumentar a dose. A não-remissão dos sintomas fez
com que ela consultasse seu internista generalista, que pediu exames
para a função da glândula tireóide. Diagnóstico: Hiper tireoidismo.
A Drª G. ag ora está assintomática e voltou a tr abalhar, tomando
medicamentos para seu problema.
Para qualquer sintoma ou queixa apresentados, a
probabilidade de verdadeira enfer midade será mais baixa na
população de atenção primária do que nas práticas de outros
especialistas, por causa da freqüência maior da doença nestas
últimas práticas (Sox, 1996). Assim, encarando os mesmos
problemas de pacientes que os especialistas, os médicos de atenção
primária pedirão menos exames e procedimentos e ainda assim
obterão os mesmos resultados, ou até melhores, em ter mos d e
diagnósticos precisos, da variedade de condições na atenção
primária (Rosser, 1996).
Steven C. é um menino de 5 anos de idade que desenvolveu dor
ar ticular em várias articulações. Seus pais o levaram ao seu médico,
que além de ser pediatra era prof essor acadêmico, especializado
em hematologia. Preocupado com a presença de artrite
reumatóide, o pediatra realizou uma bateria completa de exames
de sangue e radiog rafias; todos eles foram relatados como nor mais
vários dias mais tarde. Steven não precisava ter passado por este
caro exame completo, que foi desconfor tável para ele e produziu
ansiedade em seus pais; ele tinha recebido imunização contra
217
7. Acessibilidade e primeiro contato: a “porta”
sarampo alemão na semana anterior, mas este pediatra especialista
não estava ciente da ocorrência, razoavelmente comum, de dores
migra tórias nas ar ticulações em crianças após a imunização.
Na medicina ocidental, julgar que uma pessoa doente está
bem é considerado mais notório do que julgar se uma pessoa que
está bem está doente. Assim, as características mais altas de “falso-
positivo” dos diagnósticos na atenção subespecializada são
consideradas mais aceitáveis do que as características mais altas de
“falso-negativo” de diagnósticos na atenção primária. muitos
anos, Scheff (1964) descreveu o impacto adverso destas suposições
sobre a saúde dos pacientes. Suas advertências receberam pouca
atenção nos anos de intervenção, pelo menos parcialmente, porque
a tendência surpreendente dos médicos preferirem aceitar um
diagnóstico exagerado do que um diagnóstico fraco é altamente
compatível com os incentivos econômicos para o uso da tecnologia
cada vez mais sofisticada e cara. Ainda assim, os fortes argumentos
de Scheff, a grande quantidade de evidências para uma grande carga
de doença iatrogênica e a predominância de danos médicos
resultantes de erros por realização, e não omissão, de procedimentos,
oferecem a justificativa teórica para os benefícios da atenção ao
primeiro contato com os profissionais da atenção primária.
A definição de uma pessoa saudável é alguém que não passou por
exames suficientes.
Anônimo
IMPLICAÇÕES DA POLÍTICA E DA PESQUISA DA
ATENÇÃO AO PRIMEIRO CONTATO: DIVISÃO
DE CUSTOS E PORTAS DE ENTRADA
Quando os custos da atenção parecem estar fora de
controle, os responsáveis pela política, freqüentemente, recorrem
à idéia de que podem ser reduzidos pela imposição de exigências
218
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
para divisão de custos sobre os usuários dos ser viços. Esta é
uma abordagem que parece ter um apelo mundial, porque muitos
países estão impondo exigências cada vez maiores sobre os
pacientes para contribuírem com o suporte dos custos de seu
próprio atendimento. A divisão de custos tem duas formas: exigir
o pagamento de uma parte dos custos do prêmio do seguro e
dividir os custos na for ma de co-pag amentos ou deduções. O
último tipo é o que apresenta a barreira mais imediata ao acesso
porque é imposta no ponto em que é tomada a decisão de se
buscar os ser viços. A ampla experiência mostra que os co-
pagamentos ou deduções reduzem o uso dos ser viços (Rasell,
1995) sem redução do custo (Saltman e Figueras, 1997). Como
resultado, eles podem ser garantidos em situações em que
acredita-se que a utilização é supérflua e desnecessária. Em um
país em que as taxas de utilização são relativamente baixas e
em que existem bar reiras conhecidas ao acesso, sua utilidade pode
ser questionada (Tabela 7.1).
Tabela 7.1Tabela 7.1
Tabela 7.1Tabela 7.1
Tabela 7.1
Médicos e hospitais, início dos anos 1990
Fonte: Schieber et al. (1994)
219
7. Acessibilidade e primeiro contato: a “porta”
O “x” da questão é que a divisão de custos no ponto de
decisão da busca pelos serviços reduz tanto as consultas
necessárias quanto as desnecessárias (Rasell, 1995).
Acompanhando esta redução nos serviços, os médicos em sistemas
de pa gamento por serviço parecem compensar as reduções na
renda aumentando o nível dos ser viços para aqueles que o recebem;
como um resultado, os custos g erais aumentam (Fahs, 1992),
enquanto os resultados de saúde, incluindo a persistência dos
sintomas da enfermidade entre indivíduos de baixa renda, pioram
(Shapiro et al., 1986). Em uma situação em que os custos
excessivos estão associados à maior intensidade dos ser viços
fornecidos por médicos, e não à busca excessiva de atendimento
pelos pacientes, a imposição de barreiras financeiras para a busca
da atenção é um instrumento grosseiro e indireto para o controle
dos custos. Essa situação existe nos Estados Unidos, onde a divisão
de custos é comum. A Tabela 7.1 mostra que os números de leitos
hospitalares, hospitalizações, duração da hospitalização, número
de médicos e número de contatos médicos per capita são geralmente
mais baixos nos Estados Unidos do que em muitos países. É
improvável que a imposição de controles de custo adicionais
reduzam mais os custos sem comprometer a saúde. Uma melhor
estratégia é criar mecanismos que identifiquem os ser viços
desnecessários, tanto por parte dos profissionais quanto por parte
dos pacientes, instituir prática de melhora da qualidade para reduzir
diagnósticos e intervenções terapêuticas desnecessários.
Em janeiro de 1996, 80% dos canadenses consultados aprovaram
o registro junto a um médico de família para a atenção médica
necessária, encaminhamentos a especialistas e outros prestadores,
e atendimento depois do horário comercial.
Canada Health Monitor, Pesquisa 13, janeiro de 1996
Mesmo nos Estados Unidos, a idéia de uma “porta de
entrada” não é nova. De 1953 a 1978, no Hunterdon Medical Center
[Centro Médico de Hunterdon, em New Jersey], não foi per mitido,
220
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
aos pacientes que consultassem outros especialistas a menos que
tivessem sido encaminhados pelos médicos de atenção primária.
A porta de entrada também é, geralmente, usada na área militar
para controlar o acesso aos especialistas. No final dos anos 80,
mais de 85% das organizações de manutenção da saúde
restringiram a consulta direta dos pacientes com subespecialistas,
e mais de 50% exigiam que os pacientes consultassem primeiro
um prestador de atenção primária antes que pudessem ser vistos
por outro especialista (Reagan, 1987).
Em sistemas em que tradicionalmente existe livre, escolha
de médicos e acesso desimpedido dos pacientes a qualquer tipo
de médico, o benefício de uma por ta de entrada pode não ser
intuitivamente óbvio. Se as pessoas acreditarem que um
subespecialista tem maior perícia e habilidade e acreditarem que
seja competente para decidir de for ma apropriada a respeito de
seu problema, se sentirão privados da atenção “melhor” se
tiverem que procurar atenção em algum outro lug ar primeiro. Se
eles estão corretos na avaliação de seus problemas, o acesso
desimpedido a um especialista poderia ser mais eficiente, porque
economiza os g astos de uma consulta inter mediária. O acesso
desimpedido também propicia uma conveniência maior, pois os
pacientes não têm de ter tempo para marcar duas consultas em
vez de uma, fazendo, assim, com que os pacientes recebam
atenção mais rapidamente.
Por outro lado, o treinamento de médicos de atenção primária
torna-os mais familiarizados com a forma como os problemas se
apresentam em estágios iniciais e, a partir daí, eles são mais capazes
de avaliar a importância relativa de vários sintomas e sinais em
estágios iniciais da doença. Seu conhecimento dos pacientes facilita
a avaliação da natureza das mudanças nos sinais e sintomas, e é
mais provável que eles sejam mais eficientes no uso de recursos
para avaliar a impor tância das mudanças. Os médicos de a tenção
primária podem, também, facilitar o acesso a outros especialistas e
orientar o paciente para o mais a propriado, o que também pode
encurtar o tempo para a atenção apropriada ao invés de aumentá-lo.
221
7. Acessibilidade e primeiro contato: a “porta”
Assim, a questão das portas de entrada é controversa e está-
se tor nando cada vez mais controversa conf or me mais tipos de
organizações de atenção à saúde a adotam. Em um contexto
internacional, os países com portas de entrada, em que os pacientes
não buscam atenção de especialistas antes de consultar seu médico
de atenção primária, não são, necessariamente, países cujas
populações estão menos satisfeitas com seus sistemas de serviço
de saúde (Gérvas et al., 1994). Entretanto, nos Estados Unidos,
existe uma suspeita muito difundida de que a base para a porta de
entrada é a contenção de despesas e não a racionalidade da
org anização, que é historicamente o caso em muitos países na
Europa. As por tas de entrada são, cada vez mais, usadas para
dificultar a utilização de especialistas, levantando, assim, a
possibilidade de que a atenção necessária seja negada. A falha da
por ta de entrada no encaminhamento pode, até mesmo, levar a
uma atenção inadequada; se a porta de entrada não for
suficientemente reconhecida ou habilitada nos diagnósticos ou
manejo do problema, a atenção necessária é adiada. Quando o
cliente se inscreve no sistema de saúde, ele ou ela pode escolher
um médico (pelo menos do quadro de médicos), mas cada contato
subseqüente deve ser por este médico. A escolha do subespecialista
pode ser mantida no momento de cada encaminhamento, mas é
provável que esta escolha seja restrita a apenas um gr upo
relativamente pequeno de subespecialistas. Existem preocupações
importantes a respeito da eqüidade com a imposição de portas de
entrada quando a responsabilidade pelo pagamento é do pagador,
que tem um grande interesse financeiro na redução do uso dos
serviços especializados. Os pacientes cuja atenção é pag a pelos
empregadores ou seguradoras, que ganham financeiramente a partir
dos baixos níveis destes serviços cor rem um risco especial de não
serem apropriadamente encaminhados.
O impacto da porta de entrada também depende dos
incentivos financeiros dos profissionais de atenção primária.
Estudos da atenção gerenciada nos anos 80 indicaram que a porta
de entrada reduziu a probabilidade dos pacientes consultarem outro
222
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
especialista, com um conseqüente aumento nas consultas de
atenção primária se o médico fosse pago por taxa por ser viço. Além
disso, os pacientes visitaram menos lug ares diferentes do que antes
do registro no plano (Hurley et al., 1991).
A por ta de entrada envolve algumas considerações éticas.
Quando a restrição ao acesso a especialistas está vinculada aos
incentivos financeiros para o médico de atenção primária, um
conflito potencial de interesses entre a preocupação do médico com
sua renda e a preocupação com o bem-estar dos pacientes. O direito
dos pacientes de conhecer os conflitos potenciais precisa de proteção.
A maioria destas considerações a respeito das portas de
entrada não acontece em muitos países onde o conceito de um ponto
de primeiro contato tem uma longa tradição. Em todos estes países,
a livre-escolha do médico de atenção primária e o manejo de relações
a longo prazo com eles (ver Capítulo 8) melhoram a probabilidade
de que os pacientes confiarão em seu médico de atenção primária
para escolher o local apropriado para o encaminhamento. Na
Dinamarca, todas as pessoas têm o direito de escolher um entre
dois planos. No primeiro, eles têm direito a ser viços livres de
encargos de um médico de atenção primária escolhido e de outros
especialistas mediante encaminhamento deste médico. No segundo,
eles podem consultar qualquer médico, mas devem pag ar uma parte
das taxas. Apenas 3% das pessoas escolhe o segundo plano.
Geralmente, eles são mais idosos, têm renda maior, são mais
saudáveis e utilizam mais a atenção subespecializada. O que torna
a situação diferente nos Estados Unidos é a ligação do processo de
encaminhamento com um imperativo de contenção de despesas e
conseqüente interferência com a autonomia do médico na tomada
de decisão, o que levanta o espectro do racionamento e não da
organização racional. Desde meados dos anos 90, um número
crescente de estados norte-americanos que está aprovando leis para
per mitir o acesso direto a subespecialistas, em especial, mas não
apenas, para ginecologistas/obstetras, arriscando assim,
potencialmente, os benefícios da atenção ao primeiro contato. Estas
223
7. Acessibilidade e primeiro contato: a “porta”
leis fazem parte de um ataque legislativo mais extenso,
impulsionado por uma reação geral contra muitos dos abusos
obser vados da atenção g erenciada (Helling er, 1996). Em 1996,
entretanto, houve sinais de que esta abordag em fragmentada para
a regulamentação destes abusos estava sendo substituída por uma
exigência mais integral de mecanismos de cálculo da
responsabilidade pelas unidades de saúde e pelos resultados da
atenção à saúde.
Se o propósito da porta de entrada for fornecer um uso
mais racional de recursos, deveria haver uma fundamentação
científica para a crença de que os profissionais de atenção
primária podem julg ar de for ma eficaz e eficiente quem deve ser
encaminhado a um especialista ou não. Sem uma clara
fundamentação para o que deveria ser mantido na atenção
primária e o que deveria ser encaminhado, sempre haverá a
suspeita de que fatores como as contenções de despesas estão
controlando as decisões.
As taxas de encaminhamento dos médicos de atenção
primária a outros especialistas variam consideravelmente,
embora, em média, cerca de 5% das consultas na clínica geral
resultem num encaminhamento para um especialista (Christensen
et al., 1989; Wilkin e Smith, 1987). Algumas variações ocorrem
devido a diferenças nas características dos pacientes,
especialmente a idade (Penchansky e Fox, 1970), e algumas estão
associadas com o tipo de or g anização. Por e xemplo, os médicos
nas c línicas em g r upo pré-pag o (incluindo as org anizações de
manutenção da saúde) encaminham menos do que os médicos
em outros tipos de clínicas, e os médicos de família encaminham
menos do que os internistas (Perkoff, 1978). Dados mais recentes
indicam que este continua a ser o caso, pelo menos para os
pacientes adultos (Franks e Clancy, 1997). Entretanto, a
variabilidade permanece mesmo depois que estas características
tenham sido le vadas em consideração. Por exemplo, Penchansky
e Fox (1970) encontraram u m g rau de variação de 2 a 18% dos
224
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
pacientes encaminhados entre os internistas e de 2 a 10% dos
pacientes encaminhados entre os pediatras. Estudos mais recentes
mostram até quatro vezes mais variações nos encaminhamentos
por profissionais de atenção primária, tanto nos Estados Unidos
quanto na Inglaterra (Wilkin e Dornan, 1990).
Um deter minante importante das taxas de encaminhamento é
a disponibilidade dos subespecialistas na comunidade. Por exemplo,
o número de pacientes externos examinados nas clínicas
especializadas nas diferentes regiões da Grã-Bretanha está fortemente
associado ao número de profissionais que realizam as consultas e
está apenas fracamente associado às taxas de doença, medidas pela
relação padronizada de mortalidade e pelo número médio de
prescrições por paciente feitas por profissionais gerais (Roland e
Morris, 1988). Na Dinamarca, a taxa de encaminhamentos entre
todos os 141 profissionais gerais em um condado estava mais
altamente relacionada ao número de especialistas em diferentes áreas
dentro do condado (Christensen et al., 1989).
Nos Estados Unidos, onde muitas pessoas podem buscar
atendimento de outros especialistas sem um encaminhamento
de um médico de atenção primária, as taxas de consultas a estes
outros especialistas são diretamente proporcionais à capacidade
das pessoas irem ou voltarem a um especialista sem o
aconselhamento ou orientação de um médico de atenção primária
(Perkoff, 1978; Starfield, 1983).
A crescente atenção e o uso das portas de entrada forçam a
consideração da natureza da atenção subespecializada, bem como
da atenção primária. Pesquisas fornecerão aos planejadores a base
para os critérios de formalização para os encaminhamentos, de
for ma que os motivos diferentes das necessidades médicas serão
reduzidos. A especificação dos critérios justificáveis para o
encaminhamento também facilitará o desenvolvimento de sistemas
para melhorar a capacidade do médico de atenção primária para
coordenar a atenção um importante corolário de um papel
racional da porta de entrada. As questões envolvidas na melhora
da coordenação da atenção são abordadas no Capítulo 11.
225
7. Acessibilidade e primeiro contato: a “porta”
MEDIÇÃO DA ATENÇÃO AO PRIMEIRO
CONTATO
A idéia de que deveria haver um lugar ou prestador
específico de atenção à saúde, atuando como um ponto de entrada
para o sistema de saúde, cada vez que um novo problema fosse
apresentado, é inerente ao conceito de “primeiro contato”. Apesar
das dúvidas quanto à adoção difundida das “portas de entrada”,
o conceito de um local ou pessoa para primeiro contato se tornou
bem aceito como uma abordagem desejável para a organização
dos ser viços. Além disso, a concor dância geral de que a por ta
de entrada seja um médico generalista, geralmente um médico
de família/generalista, um internista generalista ou um pediatra
g eneralista. Esta fonte deve ser acessível à população, que deve
usá-la sempr e que surgirem novos problemas.
Os termos acesso e acessibilidade são usados de forma
intercalada e, geralmente, ambígua. Uma definição (Millman,
1993) avançou o suficiente para definir acesso como “o uso
opor tuno de ser viços pessoais de saúde para alcançar os melhores
resultados possíveis em saúde”, implicando, assim, que o acesso
não é importante na ausência de efetividade a demonstrada dos
ser viços. Como a efetividade da maioria dos serviços de saúde
específicos é desconhecida, tal definição não tem utilidade.
A “acessibilidade” possibilita que as pessoas cheguem aos
ser viços. Ou seja, este é um aspecto da estrutura de um sistema
ou unidade de saúde e este aspecto é necessário para se atingir a
atenção ao primeiro contato. Acesso”éaformacomo a pessoa
experimenta esta característica de seu ser viço de saúde. A
acessibilidade não é uma característica apenas da atenção
primária, uma vez que todos os níveis de ser viços devem estar
acessíveis. Entretanto, os requisitos específicos para a
acessibilidade diferem na atenção primária porque este é o ponto
de entrada no sistema de serviços de saúde. Conforme
anterior mente observado, a incerteza em relação à urgência e à
226
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
severidade de problemas recentes ou recorrentes torna a facilidade
de acesso ao atendimento um aspecto importante para a atenção
às pessoas.
A Figura 7.1, baseada nos componentes do sistema de saúde
confor me apresentados no Capítulo 2, mostra aqueles aspectos
do sistema de atenção à saúde que estão envolvidos na obtenção
do primeiro contato: a característica estrutural da acessibilidade
e a característica compor tamental do uso dos ser viços no ponto
em que cada necessidade é percebida.
A seção a seguir revisa as formas de medição do
componente estr utural (capacidade) da atenção ao primeiro
contato acessibilidade. A seção subseqüente trata da medição
do componente de desempenho utilização.
Medição da acessibilidade e do acesso
A acessibilidade é o elemento “estr utural” necessário para
a primeira atenção. Para oferecê-la, o local de atendimento deve
ser facilmente acessível e disponível; se não, a atenção será
postergada, talvez a ponto de afetar adversamente o diagnóstico
e manejo do problema.
Existem vários tipos de “acessibilidade”. Donabedian
(1973) distinguiu o acesso socioorganizacional do acesso
geog ráfico. O primeiro inclui aquelas características de r ecursos
que facilitam ou atrapalham os esforços das pessoas para
cheg arem ao atendimento. Um exemploéaexigência de que os
pacientes paguem uma taxa de consulta antes de receber o ser viço,
o que pode g erar uma barreira para o acesso. Preconceitos sociais
menos explícitos como idade, raça ou classe social também são
exemplos. O acesso g eográfico, por outro lado, envolve as
características relacionadas à distância e ao tempo necessários
para alcançar e obter os ser viços.
A acessibilidade e o acesso podem ser medidos a partir do
ponto de vista tanto da população quanto da unidade de atenção
à saúde.
227
7. Acessibilidade e primeiro contato: a “porta”
Figura 7.1Figura 7.1
Figura 7.1Figura 7.1
Figura 7.1
Sistema de serviços de saúde: componentes do primeiro contato.
Resumido da Figura 2.1
Avaliação do acesso para as populações
Pesquisas sobr e bar r eiras ao uso dos ser viços. As pesquisas de
saúde freqüentemente detectam infor mações sobre a existência
de vários impedimentos ao uso dos serviços (como a ausência de
seguro ou outra cober tura de terceiros dos custos dos serviços)
bem como informações quanto à extensão em que os serviços
necessários não são recebidos e os motivos. Foram feitas perguntas
como as que seguem:
Você tem de pedir folg a no trabalho para ir ao médico?
Quanto tempo você leva para ir ao médico?
O médico fala sua língua nativa (Edwards e Berlin, 1989)?
228
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Várias outras pesquisas nos Estados Unidos contêm
perguntas a respeito do acesso aos serviços de saúde (Kovar, 1989).
Pesquisas sobre a percepção das pessoas a respeito da acessibilidade
da atenção. Penchansky e T homas (1981) descreveram uma pesquisa
na qual as pessoas responderam a 16 perguntas a respeito da
acessibilidade da atenção. A acessibilidade foi dividida em cinco
tipos: disponibilidade, acessibilidade, comodidade, custos
acessíveis e aceitabilidade. As perguntas foram as seguintes:
Disponibilidade
Levando tudo em conta, o quanto você acredita que é
capaz de obter boa atenção médica para você e sua família
quando necessário?
O quanto você está satisfeito com sua capacidade de
encontrar um bom médico para cuidar de toda sua família?
O quanto você está satisfeito com seu conhecimento de
onde obter atenção médica?
O quanto você está satisfeito com sua capacidade de obter
atenção médica em uma emergência?
Acessibilidade
O quanto você está satisfeito com a conveniência do
consultório de seu médico em relação à sua casa?
O quão difícil é para você chegar ao consultório do seu
médico?
Comodidade
O quanto você está satisfeito com o tempo de espera para
marcar uma consulta?
O quanto você está satisfeito com a conveniência de
horários do consultório do seu médico?
O quanto você está satisfeito com o tempo em sala de
espera até ser atendido?
O quanto você está satisfeito com a facilidade para entrar
em contato com seu médico?
229
7. Acessibilidade e primeiro contato: a “porta”
Possibilidade de pagamento
O quanto você está satisfeito com seu seguro-saúde?
O quanto você está satisfeito com o preço da consulta de
seu médico?
O quanto você está satisfeito com o tempo que tem para
pagar a conta do médico?
Aceitabilidade
O quanto você está satisfeito com a aparência do
consultório de seu médico?
O quanto você está satisfeito com a vizinhança do local
onde se encontra o consultório?
O quanto você está satisfeito com os outros pacientes
que geralmente você no consultório?
Na medida em que o limiar das pessoas para a adequabilidade
seja similar, as respostas para pesquisas como esta poderiam
fornecer uma base para avaliação da adequação da acessibilidade
ou para comparar a adequação da acessibilidade em áreas diversas.
Entretanto, se g rupos distintos de pessoas diferirem nos padrões,
esta pesquisa pode concluir que não diferenças quando, de fato,
elas são consideráveis.
Os métodos restantes (relação uso/incapacidade, relação
sintomas/resposta e análise do episódio da doença) não são tão
direcionados às barreiras reais ao acesso quanto às reflexões sobre
a provável existência de barreiras conforme manifestadas pelo uso
dos serviços inferior ao esperado. Além disso, nenhum deles é
específico para os serviços de atenção primária e teriam de ser,
significativamente, adaptados para serem úteis neste contexto.
Relação uso/incapacidade. Esta medida de acessibilidade (Aday
et al., 1980), como a anterior, é aplicada em pesquisas com a
população. Os pesquisados devem responder se houve dias em
que foram incapazes de realizar suas atividades nor mais por causa
de um problema de saúde e se procuraram atenção médica. Quanto
menor a relação uso/incapacidade, menor o acesso à a tenção.
230
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Obviamente, a medida é útil apenas para propósitos comparativos
porque não resposta “cor reta”. Presume-se que os g rupos da
população que diferem em sua relação média de uso/incapacidade
diferem no acesso à atenção. Os principais prob lemas com a medida
são que tanto o numerador quanto o denominador dependem da
memória do pesquisado e fica presumido que todas as incapacidades
sejam similares em sua necessidade por atenção médica ou que as
populações diferentes são similares quanto à natureza de suas
incapacitações. Ambas as suposições podem estar incorretas. Outro
problema com o uso da relação uso/incapacidade é que o número
de consultas médicas usado no numerador pode não estar ligado
ao número de incapacidades no denominador (Yerg an et al., 1981).
Relação sintomas/resposta. Esta medida, também usada em
pesquisas com a população (Andersen, 1978), traz à tona
infor mações sobre a possível apresentação de sintomas específ icos
pelos pesquisados e cuja atenção médica, geralmente, é
considerada necessária por profissionais. Um g rupo de médicos
forneceu a proporção de pacientes que deveriam ter procurado
atendimento ar a os sintomas. A “resposta” é se eles realmente
buscaram atenção médica. A relação é derivada como segue:
(Pessoas que contataram) (Pessoas que precisam contatar)
Pessoas que precisam contatar
No caso da relação uso/incapacidade, a medida é útil apenas
para propósitos comparativos; os gr upos da população com
relações diferentes, presumivelmente, diferem em seu acesso à
atenção. A principal limitação da medida é que a avaliação dos
médicos em relação à necessidade de atenção está baseada na
opinião e não em dados. Além disso, a freqüência de complexos
de sintoma que são esclarecidos é baixa (Yergan et al., 1981), de
for ma que são necessárias grandes amostras para estimativas
estáveis. Outro problema é que todos os complexos de sintoma
são contados, e não apenas um por paciente.
231
7. Acessibilidade e primeiro contato: a “porta”
Análise do episódio de doença. Confor me usada originalmente
(Richardson, 1970), os indivíduos respondem se estiveram
doentes durante um período definido, o número de dias
associados à incapacitação e o número de dias associados ao
uso de atenção médica. Aday et al. (1980) expandiram a
abordagem perguntando sobre os resultados do atendimento e
categorizando o tipo de doença como necessitando ou não de
atenção (de acordo com o julgamento profissional) e o grau de
preocupação do paciente em relação ao problema. A maior
desvantagem do método é que ele é problemático para os
pesquisados com doenças complexas. Embora não haja método
validado para a derivação de um índice de resumo da resposta
apropriada, Yerg an et al . (1981) sug eriram um mecanismo para
a categ orização dos dados para projetar tal método. Quando o
resultado é incluído na análise, o acesso é considerado
inadequado, mesmo que o resultado tenha sido bom, mas a
atenção não tenha sido prestada para problemas que causaram
grande parte das preocupações do paciente.
Deveria ser observado que os três últimos métodos
descritos (uso/incapacidade, sintomas/resposta, episódio de
doença) fazem inferências a respeito do acesso a partir das
medidas que envolvem a utilização. Na ter minologia de Aday
et al. (1980: 35), estas medidas de acesso refletem o “acesso
realizado”. É importante reconhecer que estas medidas de
acesso não estão especificamente relacionadas à fonte de
atenção primária, embora pudessem ter sido adaptadas para tal.
O acesso à atenção também pode ser avaliado no nível
das unidades (prestadores). Todos os métodos usados no nível
da população também podem ser aplicados aos pacientes que
vêm à unidade de atenção à saúde. Na interpretação dos
achados, entretanto, estes métodos subestimarão a extensão da
dificuldade no acesso aos ser viços, porque os pacientes com
problemas de acesso que limitam seu uso estarão pouco
representados entre os pacientes disponíveis para a entrevista.
232
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Avaliação da acessibilidade e do acesso nas unidades
ou entre os pacientes
Em um método de avaliação da acessibilidade (Weiner e
Starfield, 1983), os profissionais respondem a uma série de
perguntas a respeito das características da disposição de seu
consultório, associadas à acessibilidade. Estas incluem:
disponibilidade de horários para consultas de emergência;
tempo desde o pedido de consulta até sua marcação para
problemas agudos mas não-emergenciais e para problemas
não-agudos;
duração média do tempo de espera na recepção;
disponibilidade para chamadas domiciliares;
uso de um serviço de uma secretária eletrônica quando o
consultório está fechado
prestação de atendimento após o horário comercial;
disponibilidade de um programa de taxas flexíveis
relacionado à capacidade de pagamento;
aceitação de pagamento pelo Medicare para indivíduos
eletivos.
A suposição do método é que todas estas características de
acesso devem ser fornecidas, mas seu uso principal é comparativo:
avaliar as diferenças na acessibilidade para a atenção entre
diferentes tipos de médicos e g r upos de médicos. Entretanto,
quando agregado para uma área, ele pode ser usado para comparar
o acesso do sistema em diferentes áreas.
Em outra abordagem para avaliar a acessibilidade, os padrões
são estabelecidos para cada um de seus vários aspectos, e depois
uma clínica ou unidade é avaliada (ou auto-avaliada) em relação
aos padrões (Institute of Medicine, 1978). São feitas 16 perguntas
sobre acessibilidade. As seis primeiras estão diretamente
relacionadas à acessibilidade, as três seguintes abordam a
conveniência e as sete restantes abordam a aceitabilidade. As
questões são:
O acesso aos ser viços de atenção primária é oferecido 24
horas por dia, 7 dias por semana?
233
7. Acessibilidade e primeiro contato: a “porta”
Existe oportunidade para um paciente marcar uma
consulta?
O horário de funcionamento do consultório é compatível
com o trabalho e o modo de vida da maioria dos pacientes?
A maioria (90%) dos casos de urgência médica pode ser
atendida dentro de uma hora?
A maioria dos pacientes (90%) com problemas agudos,
mas não urgentes, pode ser atendida dentro de um dia?
A maioria (90%) das solicitações adequadas para
marcação de consulta de rotina, como exames preventivos,
pode ser atendida dentro de uma semana?
A unidade de saúde está convenientemente localizada para
que a maioria dos pacientes possa chegar a ela por meio
de transporte público ou particular?
A unidade de saúde é projetada de forma conveniente
para pessoas portadoras de deficiências físicas ou idosos?
A unidade de saúde aceita pacientes que possuam meios
para o pagamento, não importando qual a fonte
(Medicare, Medicaid)?
O tempo de espera para a maioria (90%) dos pacientes
marcados é de menos de meia hora?
Se uma minoria substancial (25%) de pacientes falam uma
língua específica ou possuem outra barreira de
comunicação, a equipe do consultório inclui pessoas que
possam lidar com este problema?
As acomodações para espera são confortáveis e espaçosas?
A equipe da unidade demonstra, consistentemente,
interesse e apreciação pela cultura, antecedentes,
condição socioeconômica, ambiente de trabalho e
condição de vida do paciente?
Os pacientes recebem informações simples,
compreensíveis a respeito de taxas, procedimentos de
cobrança, marcação de consultas, contato com a unidade
depois do horário comercial e procedimentos de
reclamações?
234
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Os pacientes são estimulados a perguntar sobre sua
doença e seu atendimento, a discutir seus problemas de
saúde livrement e e a revisar seus prontuários, se desejado?
A unidade de saúde aceita pacientes independente de sua
raça, religião ou identidade étnica?
O acesso, medido a par tir do ponto de vista dos pacientes,
pode ser avaliado utilizando-se “pacientes simulados”. Nesta
abordagem, os indivíduos são treinados para marcar uma consulta
por telefone e depois são obser vados em sua visita à unidade. São
usados dois tipos de medidas, a relação de urgênci a e a relação de
fr ustração. Para deter minar a relação de urgência, um g r upo de
indivíduos, consistindo de profissionais de saúde, administradores
da unidade e pacientes, decide previamente se queixas específicas
são críticas, sérias, crônicas ou rotineiras. Estas designações estão
baseadas no tempo máximo que deveria passar antes que o paciente
fosse visto para cada categ oria de sintomas. Depois, para cada
paciente simulado com o problema é calculada uma relação de
tempo até a consulta dividida pelo tempo apropriado para a
consulta para os pacientes em cada categ oria de condição.
O índice de frustração tem três componentes: tempo g asto
ao telefone para marcar a consulta, tempo da chegada à unidade
até o momento de ser recebido e tempo gasto na espera por exames
laboratoriais comuns. O tempo apropriado (em minutos) para cada
um destes componentes também foi estabelecido pelo grupo, e os
dados de pacientes reais, independente de sua condição, são
monitorados e comparados aos padrões.
As unidades podem estabelecer seus próprios padrões de
desempenho em qualquer um destes índices. Alter nativamente, as
unidades podem ser comparadas a outras para determinar qual
tem melhor desempenho.
O crescente interesse pela avaliação de todos os aspectos
importantes da atenção primária levou ao desenvolvimento de
instr umentos que abordam componentes múltiplos da atenção,
incluindo acessibilidade e acesso. Estes estão apresentados no
Capítulo 13 no contexto de instrumentos que medem todas as
quatro características conjuntas da atenção primária.
235
7. Acessibilidade e primeiro contato: a “porta”
Medição do uso da unidade quando a atenção é
inicialmente considerada necessária
O uso dos serviços é um aspecto dos processos de atenção
para dois de seus aspectos singulares: primeiro contato e
longitudinalidade. A característica da utilização relevante para a
atenção ao primeiro contato é a extensão em que a primeira consulta
para um novo problema é feita na fonte regular de atenção. Ela é
distinta da utilização no caso da atenção longitudinal em que ela
deveria sempre ocorrer (exceto para as consultas de
encaminhamento) na fonte de atenção primária, sem considerar
nem o estágio do problema específico nem o tipo de problema.
A medição do primeiro contato é melhor realizada no nível
da população do que no nível da unidade. A razão para isto é que
as medidas no nível da unidade excluirão, sistematicamente,
indivíduos que não procuram os serviços porque têm dificuldade
de acesso ou por causa de algum outro motivo. Os indivíduos com
poucas consultas na unidade também estarão sub-representados nos
dados coletados de amostras aleatórias de seus usuários. As
conclusões a respeito do acesso ou da utilização que derivam de
entrevistas de pacientes não refletem, necessariamente, as
experiências daqueles que apresentam maior probabilidade de um
acesso r uim ou subutilização, a menos que a unidade utilize uma
lista de seus pacientes para selecionar as amostras para a entrevista.
Por este motivo, os estudos da atenção ao primeiro contato com
base na população são preferidos aos baseados na unidade.
A medição do componente comportamental da atenção ao
primeiro contato envolve o esclarecimento de infor mações
referentes ao local em que a a tenção foi buscada. Estas infor mações
podem ser obtidas de fontes como prontuários médicos,
for mulários de queixas ou dados par a cobrança, mas não se pode
ter certeza de que este tipo de registro englobe todo o uso dos
ser viços. Outra desvantag em para esta técnica é que este tipo de
registro, g eralmente, não indica se a consulta f oi por iniciativa do
paciente ou resultado de um encaminhamento. Como a atenção
ao primeiro contato refere-se apenas a consultas iniciadas pelos
236
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
pacientes, a ausência desta informação é falha na indicação precisa
da extensão em que a atenção ao primeiro contato é atingida.
Uma alternativa é perguntar aos indivíduos onde eles
receberam atendimento quando buscaram-no da última vez para
um novo problema e se a consulta foi realizada a conselho de outro
médico. Outr a alter nativa é explorar tanto a acessibilidade como
o uso dos ser viços ao mesmo tempo, por meio de perguntas como
as que seguem:
Qual é sua f onte regular de tratamento, ou seja, o lug ar
aonde você geralmente vai quando tem um novo problema
que você acha que precise de atenção médica?
Onde você foi da última vez que teve um novo problema
que você achou que precisasse de atenção médica?
Foi fácil obter ajuda do médico que você procurou? (Vários
aspectos do acesso podem ser explorados pelo
desdobramento desta pergunta.)
Qual foi o motivo pelo qual você não foi à sua fonte de
atenção regular para esta última consulta? (Uma escolha
dos motivos incluiria vários deles claramente relacionados
aos aspectos que melhoram a acessibilidade aos serviços
e à facilidade da utilização.)
Tabela 7.2Tabela 7.2
Tabela 7.2Tabela 7.2
Tabela 7.2
Resumo do primeiro contato
237
7. Acessibilidade e primeiro contato: a “porta”
Adaptações mais recentes de métodos para avaliar o uso dos
serviços de atenção primária para o primeiro contato são
apresentadas no Capítulo 13, no contexto da avaliação de todas
as características da atenção primária. A Tabela 7.2 resume a
abordagem para medir a a tenção ao primeiro contato.
O QUE SE SABE SOBRE A OBTENÇÃO DA
ATENÇÃO AO PRIMEIRO CONTATO?
Acesso e acessibilidade à atenção primária
Existem vários exemplos de como as medidas
anteriormente descritas foram utilizadas para fornecer
infor mações a respeito do acesso à atenção e a adequabilidade
do primeiro contato na atenção primária.
Houve uma melhora marcante no acesso à atenção nos
Estados Unidos nos anos 70 como resultado da aprovação da
legislação da Guer ra contra a Pobreza em meados dos anos 60.
Entretanto, no início dos anos 80, houve reduções nas
coberturas terceirizadas para atenção, especialmente para
aqueles com baixa renda. Uma pesquisa nacional por telefone,
realizada em meados dos anos 80, mostrou como o acesso aos
serviços mudou devido a estas reduções nas coberturas dos seguros.
Houve um aumento marcante no número de pessoas que relatou
não ter nenhuma fonte regular de atenção e que,
conseqüentemente, tinha muito menos consultas e menos
hospitalizações (Freeman et al., 1987). A situação foi
especialmente notável entre os indivíduos que não tinham seguro;
31% não tinham qualquer fonte de atenção regular em 1986 (Robert
Wood Johnson Foundation, 1987). Embora a redução no uso da
atenção não fosse, necessariamente, restrita à atenção ao primeiro
contato, a redução no número de indivíduos que relataram não ter
uma fonte de atenção regular sugere que a atenção ao primeiro
contato de uma fonte de atenção primária foi seriamente
comprometida, devido às reduções na cober tura do s eguro.
238
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Os médicos de diferentes especialidades diferem no grau em
que suas unidades são acessíveis. Estudos (Weiner, 1981; Starfield
et al., 1973; Cherkin et al., 1986) indicam que:
Médicos de família apresentam menor probabilidade de
exigir marcações para consultas do que outros médicos.
Médicos de família apresentam maior probabilidade de
manter o funcionamento do consultório no horário
comercial durante os fins de semana do que os internistas
generalistas.
Médicos de família e internistas apresentam maior
probabilidade de relatar que atendem chamadas
domiciliares ou consultas especiais em salas de emergência
e asilos que realizam mais estas consultas do que outros
tipos de médicos.
Pacientes de médicos de família esperam menos tempo
para marcar consultas não-urgentes do que os pacientes
de outr os tipos de médicos.
Consultórios de generalistas e pediatras ou internistas não-
certificados pelo conselho são mais acessíveis do que os
pediatras ou internistas certificados pelo conselho ou
outros especialistas.
Pesquisas nacionais indicaram que as pessoas que relatam
não ter nenhuma fonte de atenção regular consultaram
substancialmente menos do que precisavam, confor me foi medido
pela relação sintomas/resposta. As pessoas que tinham
subespecialistas como sua fonte regular de atenção relatam
consultar mais do que os peritos considerariam necessário. Em
contraste, aqueles com um clínico ou um médico de atenção
primária como sua fonte de atenção tiveram, aproximadamente, o
mesmo número global de consultas que os peritos consideravam
necessárias (Taylor et al., 1975).
Um estudo mais recente do atendimento realizado por 60
médicos de família, 245 internistas generalistas e 55 internistas
subespecializados que trabalhavam em um plano de saúde
239
7. Acessibilidade e primeiro contato: a “porta”
organizado (Gr umbach et al., 1998) indicou que havia poucas
diferenças nos relatos dos pacientes sobre a acessibilidade, com
um índice discretamente maior para inter nistas g eneralistas.
Entretanto, os inter nistas tinham g rupos menores de pacientes e
receberam menos pacientes por unidade de tempo de trabalho do
que os médicos de família. Não houve nenhuma diferença entre
os internistas gerais e os subespecializados, mas neste plano de
saúde, os internistas subespecializados tinham de concordar em
devotar a maior parte de seu tempo à atenção primária, e não para
à atenção subespecializada.
Uso da atenção primária para o primeiro contato
A taxa de consultas a especialistas em alguns ambientes
organizacionais é muito maior do que em outros, principalmente
porque os planos (incluindo alguns tipos de organizações de
manutenção da saúde) per mitem que os pacientes marquem
consultas diretamente com subespecialistas, enquanto outros
exigem que os pacientes sejam encaminhados por um médico
de atenção primária (Perkoff, 1978; Starfield, 1986). Assim,
pelo menos em algumas unidades, a atenção ao primeiro contato
não é alcançada pelos médicos de atenção primária. Quer a
situação seja resultado da escolha do paciente para ir
diretamente ao subespecialista, quando isto é per mitido, quer
seja resultado de uma falta de acessibilidade ou falta de
interesse do médico de atenção primária, isso não pode ser
deter minado a partir dos dados; apenas um estudo subseqüente
esclareceria o motivo para a falha do primeiro contato nestes
ambientes de atenção primária.
Em um estudo multicêntrico do uso dos serviços, pessoas
que relataram um generalista como sua fonte de atenção
apresentaram uma probabilidade muito maior de procurar este
médico, inicialmente, quando sofrem de uma doença aguda, do
que as pessoas que relataram que um especialista era sua fonte de
atenção regular (Spiegel et al., 1983).
240
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Um estudo nacional de uma amostra representativa dos
médicos com consultório mostrou que os médicos gerais e de
família tinham uma proporção mais alta de primeiras consultas
(na qual o paciente não tinha sido visto antes) do que os pediatras.
Estes últimos, em contraste, tiveram uma proporção maior de
pacientes que os tinham consultado anterior mente, mas para
outros problemas, e não para o problema que ocasionou a consulta
(Fishbane e Starfield, 1981). O mesmo ocorreu para os
generalistas quando comparados a outros tipos de médicos,
embora a diferença entre os generalistas e internistas,
oftalmologistas e otorrinolaringologistas não fosse grande
(Puskin, 1977). Estes achados sugerem que os generalistas podem
atuar melhor como ponto de primeiro contato para novos
problemas do que os pediatras, internistas, ou outros
especialistas, pelo menos historicamente.
Em alguns lugares nos Estados Unidos, a obtenção da atenção
ao primeiro contato ocorreu menos nos anos 90 do que nos anos
70. Por e xemplo, os pais das crianças que foram e xaminadas em
uma sala de emergência urbana em 1976 e em 1993 foram
questionados quanto à presença de uma fonte regular de atenção
qual levavam seus filhos com mais freqüência, estando eles bem ou
doentes). Embora a porcentagem de crianças com uma fonte regular
tenha sido maior em 1993 do que em 1976, uma proporção menor
tinha contatado sua fonte regular antes de ir à sala de emergência
(Shah-Canning et al., 1996). Assim, as pessoas que não estão inscritas
em organizações de atenção gerenciada com a atenção ao primeiro
contato institucionalizada podem ter menor probabilidade de
recebê-la ag ora do que no passado.
Dessa forma, os poucos estudos que examinaram a
extensão da atenção ao primeiro contato indicam que os
indivíduos, cuja fonte regular de atenção é um médico de atenção
primária, têm maior probabilidade de receber a atenção ao
primeiro contato desse médico do que os indivíduos que têm
outros tipos de médicos como sua fonte regular de atenção.
241
7. Acessibilidade e primeiro contato: a “porta”
RESUMO
Existem importantes justificativas teóricas e empíricas
para a função da atenção primária como “porta”.
A atenção ao primeiro contato envolve a prestação de
ser viços que sejam acessíveis (uma característica estr utural ou
de capacidade da atenção) e a utilização destes ser viços quando
surge uma necessidade de atenção (uma característica do
processo ou desempenho da atenção).
Infor mações referentes à acessibilidade da atenção devem
ser averiguadas tanto no nível da população quanto no nível
das unidades.
A melhor for ma de esc larecer as infor mações a respeito
da obtenção da atenção ao primeiro contato é perguntar aos
indivíduos na população ou analisar os dados de todas as
consultas realizadas pelos indivíduos na população para
deter minar onde eles foram quando buscaram a atenção pela
primeira vez para um novo problema ou necessidade de atenção.
A acessibilidade da atenção varia com o tipo de médico.
Em geral, os médicos de atenção primária, especialmente
médicos de família, são mais acessíveis do que outros tipos de
médicos, em particular no que se refere à flexibilidade na
prestação do atendimento sem consulta ou horários para
marcação.
O acesso à atenção é importante na redução de
mortalidade e morbidade. O uso dos profissionais de atenção
primária em vez de especialistas para a atenção ao primeiro
contato, provavelmente, leva a uma atenção mais apropriada,
melhores resultados de saúde e custos totais mais baixos.
O crescente enfoque sobre as “portas de entrada” deveria
ser acompanhado por uma estratégia para obter infor mações
referentes à natureza e extensão dos encaminhamentos, o
desenvolvimento de melhores critérios para encaminhamento e
o papel adequado dos subespecialistas na atenção aos pacientes.
242
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
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Longitudinalidade não é uma palavra que aparece em
qualquer dicionário. Ela é derivada de longitudinal, que é definido
como “lidar com o crescimento e as mudanças de indivíduos ou
g r upos no decorrer de um período de anos”. Embora a palavra
continuidade seja usualmente empregada no lugar de longitudinalidade,
esta última transmite melhor a idéia do que a anterior.
Longitudinalidade, no contexto da atenção primária, é uma relação
pessoal de longa duração entre os profissionais de saúde e os
pacientes em suas unidades de saúde. A continuidade não é
necessária para que esta relação exista; as interr upções na
continuidade da atenção, por qualquer motivo, necessariamente
não interrompem esta relação. Portanto, o termo
“longitudinalidade”, cunhado por Alpert e Charney em 1974,
oferece um sentido muito melhor sobre a característica que é uma
parte crucial da atenção primária.
O alcance da atenção primária implica a existência de um
local, um indivíduo ou uma equipe de indivíduos associados que
sir va como fonte de atenção por um deter minado período de
tempo, independente da presença ou ausência de problemas
específicos relacionados à saúde ou do tipo de problema. Ter
8. CADASTRO DE PACIENTES E
ATENÇÃO ORIENTADA PARA O
PACIENTE AO LONGO DO TEMPO
Gostaria que meu médico ti vesse se encarregado de tudo.
Ele me conhece e nós podemos conversar e nos entender.
Sra. P., de pois do nascimento de seu filho, que era
normal, mas que passou por exames minuciosos
devido a sintomas passageiros.
248
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
atenção longitudinal significa que aqueles indivíduos na população
identificam uma fonte de atenção como “sua”; que os prestadores
ou grupos de prestadores reconhecem, pelo menos implicitamente,
a existência de um contrato formal ou informal para ser a fonte
habitual de atenção orientada para a pessoa (não para a doença); e
que esta relação existe, por um período de tempo definido ou
indefinido, até que seja explicitamente alterada.
uma distinção entre a identificação de um médico, uma
equipe de médicos ou um local específico de atenção como locus
de longitudinalidade. Quando uma equipe ou um local é a fonte
da longitudinalidade, o peso da coordenação é provavelmente
maior do que se um indivíduo específico for a fonte, que é
provável que os pacientes sejam examinados por um número maior
de profissionais. Por outro lado, quando um indivíduo é a fonte de
longitudinalidade, os desafios de prestar a atenção ao primeiro
contato e a integralidade são maiores, pois é mais difícil para um
indivíduo do que para uma equipe ou organização médica estar
sempre disponível e prestar ou disponibilizar uma variedade de
ser viços necessários.
A essência da longitudinalidade (Alper t e Char ney, 1971) é
uma relação pessoal ao longo do tempo, inde pendente do tipo de
problemas de saúde ou até mesmo da presença de um problema de
saúde, entre um paciente e um médico ou uma equipe de médicos
e profissionais não-médicos. Por inter médio desta relação, os
profissionais passam a conhecer os pacientes e os pacientes passam
a conhecer seus profissionais com o passar do tempo. Isto é captado
no Medicine’s Revoton on Primary [Relatório do Instituto de Medicina
sobre a Atenção Primária] como uma “parceria sustentada” na qual
“o paciente é tratado como uma pessoa completa, cujos valores e
preferências são levados em consideração” (Institute of Medicine,
1997). Seria esperado que os benefícios deste conhecimento
resultassem em uma variedade de for mas. Por exemplo, os pacientes
consultariam menos, pois muitos problemas podem ser manejados
por telefone, sem necessidade de marcar uma consulta para
averiguar infor mações conhecidas. Também resultariam em
249
8. Cadastro de pacientes e atenção orientada para o paciente ao longo do tempo
menos hospitalizações, que os profissionais, provavelmente,
seriam mais capazes de averiguar se o problema poderia ser
manejado em casa.
A “continuidade da atenção” é uma expressão usada
freqüentemente para descrever o quanto os pacientes consultam
com o mesmo profissional ou visitam a mesma unidade de saúde
entre uma consulta e outr a ou mesmo em um determinado período
de tempo. Neste sentido, a continuidade poderia ser uma
característica tanto da atenção especializada como da atenção
primária, mas estaria orientada para o manejo dos problemas e
não da atenção às pessoas, independente do problema que elas
possam ter. O Capítulo 11 discute estas diferenças entre
longitudinalidade e continuidade de forma mais completa.
Tenho, repetidamente, ido de hospitais a consultórios médicos e
tenho feito perguntas. As dores começaram de pois da minha
cir urgia. Todos os médicos fazem exames e mais exames qualquer
exame que possam encontrar, pedem que eu faça, de um enema
com bário a uma série de exames do trato gastrointestinal superior
a qualquer outra coisa. E continuo fazendo perguntas, e eles apenas
continuavam receitando mais e mais, me dizendo para tomar os
remédios, que até hoje ainda não pararam a dor. Eu per gunto a
eles: “Por que vocês estão me receitando tantos remédios se sou
tão alérgica a tantos deles?” Quando fiz todas estas perguntas,
eles me disseram para confiar neles. Então, no começo, eu tomei
tudo o que me foi receitado, o que não me ajudou. Cansei daqueles
médicos que estavam me “ajudando” e que ficavam me dizendo
como eu me sentia e não ouviam quando eu dizia o que realmente
sentia. Você tem apenas que dizer a eles que “esperem um pouco”.
Então mudei de médico porque eu queria uma segunda opinião.
Quando fui a este outro médico, ele me examinou e balançou a
cabeça e disse: “Não sei, mas tome este remédio”. Ele fez a receita
para que eu tomasse o medicamento e pediu para eu voltar em
duas semanas. A dor não estava melhorandoeoremédio não
estava fa zendo efeito. Então voltei a ele, ele me examinou de novo
e eu pedi a ele o resultado dos exames que ele tinha pedido, mas
ele disse que ainda não os tinha. Ele ficou sentado por cinco
250
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
minutos, sacudindo sua cabeça, e depois me fez cinco receitas! E
quando per guntei para o que eram, ele disse: Apenas tome-os.
Confie em mim, tome-os e chegaremos a uma solução”. Eu disse
“tá bom”, e ele disse que pediria para outro senhor entrar para
me examinar e que eu deveria voltar em cinco semanas. Eu fiquei
sentada por uns cinco minutos até que o outro médico entrou.
Ele pegou seu estetoscópio e ouviu de um lado lado direito
deu a volta na mesa, se virou e me passou outras duas receitas.
Quando perguntei para o que eram, ele disse apenas para confiar
nele e voltar em duas semanas. Eu lhe disse que eu não era uma
cobaia e que não tomaria todas aquelas receitas. Rasguei todas as
receitas e saí do consultório.
Finalmente voltei à médica de família que tem cuidado de mim
por 20 anos. Ela me conhece muito bem e foi maravilhosa. Ela
me ouviu e não tentou me dizer como eu estava me sentindo. Ela
retirou todos os medicamentos e a dor começou a desaparecer.
Sra. M., g arçonete de 50 anos.
Como é o caso de cada um dos quatro atributos da atenção
primária, a longitudinalidade está relacionada aos outros. O
relacionamento com uma fonte habitual de atenção implica que o
local será o local de atenção ao primeiro contato. Isso também implica,
conforme será observado nos próximos dois capítulos, que a fonte
habitual de atenção assegurará que esta seja integral e coordenada.
OS BENEFÍCIOS DA LONGITUDINALIDADE
Os benefícios da associação com uma fonte habitual de atenção
têm sido documentados em uma ampla variedade de estudos. Embora
ter um local (por exemplo, clínica ou centro de saúde do bairro) como
a fonte habitual de atenção não seja equivalente a ter um médico
como fonte habitual de atenção, até recentemente havia poucas
evidências a este respeito porque a maioria dos estudos sobre os
benefícios da longitudinalidade foi realizada utilizando ou o local ou
251
8. Cadastro de pacientes e atenção orientada para o paciente ao longo do tempo
o médico como base para o estudo, havendo poucas comparações
entre os dois. Entretanto, pelo menos metade dos pacientes em vários
g r upos de unidades de saúde na Inglaterra (onde os pacientes,
geralmente, se registram com um profissional específico) valorizava
uma associação com um médico específico, de forma suficientemente
notável para esperar mais tempo por uma consulta e esperar mais
tempo no consultório para ver o médico (Freeman e Richards, 1994).
Os pacientes no cadastro do próprio médico apresentavam
probabilidade muito maior de terem consultado com aquele médico
num período de seis anos do que os pacientes relacionados a um grupo
de médicos em vez de pacientes de um médico específico (Freeman e
Richards, 1990). Outro estudo, envolvendo mais de 2 mil pacientes
em 89 unidades de saúde britânicas, descobriu que os pacientes em
clínicas com cadastros “pessoais” (e não de “g r upo”) estavam
significativamente mais satisfeitos com sua atenção, não importando
a forma como a satisfação tenha sido avaliada (Baker e Streatfield,
1995; Baker, 1996).
Uma pesquisa nacional de pacientes realizada nos Estados
Unidos em 1988 descobriu que os indivíduos com um médico
específico, como sua fonte habitual de atenção, receberam
melhores prescrições de imunizações recomendadas, melhores
exames para câncer de mama, melhor uso dos ser viços por par te
dos que apresentavam a saúde fragilizada e menos hospitalizações
para problemas ambulatoriais simples (ver Capítulo 13) do que os
indivíduos que relataram apenas um local como sua fonte habitual.
Entretanto, estes achados estavam restritos àqueles que relataram
um centro não-tradicional (por exemplo, uma clínica hospitalar de
pacientes não-internados ou outro tipo de clínica) como sua fonte.
Além disso, o estudo não fez distinção entre ter um especialista
como fonte habitual e ter um médico de atenção primária como
esta fonte (Lambrew et al ., 1996).
Porém, um estudo que classificou a adequação da atenção
primária recebida em áreas urbanas de um estado norte-americano
mostrou que os pacientes com ótima adequação de atenção primária
(uma combinação de disponibilidade, continuidade, integralidade e
252
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
comunicação com os profissionais) não tinham maior probabilidade
de relatar um profissional específico como sua fonte habitual de
atenção do que aqueles que relataram o local como sua fonte (Stewart
et al., 1997). Ou seja, quando um local atinge altos níveis de
atributos de atenção primária, os benefícios podem ser tão grandes
quanto ter um médico específico. Assim, o “x” da questão é se um
local ou uma pessoa específica tem maior probabilidade de alcançar
os atributos da atenção primária. Infelizmente, a ausência (até muito
recentemente) de ferramentas para medir estes atributos e a falta
geral de apreciação da importância de estudá-los impediu o acúmulo
de evidências a este respeito.
Como a literatura sobre os benefícios da longitudinalidade
algumas vezes aborda a associação a um local específico e, algumas
vezes, a uma pessoa específica, os exemplos de benefício a seguir
estão divididos de acordo com o fato da fonte ser um profissional
ou um local específico. Na maioria dos exemplos, havia uma real
associação com uma fonte habitual de atenção (em vez do mero
relato da presença de uma fonte habitual de atenção).
Estudos em que a fonte habitual de atenção era um
profissional individual
A longitudinalidade facilita a obser vância da medicação
prescrita. Em um estudo anterior, no norte do estado de Nova
York, Char ney et al. (1967) demonstraram que a ingestão de
medicamentos foi maior entre as crianças cujos próprios médicos
tinham feito a prescrição. Becker et al. (1972) demonstraram um
efeito similar para as crianças em tratamento para otite média.
Os pacientes que tinham uma f onte habitual de atenção, mas
que não consultavam com esse médico habitual, apresentaram maior
probabilidade de que o médico que os atendeu considerasse que
não precisavam de atenção para um problema do que seria o caso se
seu próprio médico os tivesse avaliado. Este achado sugere que os
médicos que desenvolveram uma relação com os pacientes são mais
capazes de avaliar suas necessidades do que os médicos que não
estão familiarizados com o paciente (Steinwachs e Yaffe, 1978).
253
8. Cadastro de pacientes e atenção orientada para o paciente ao longo do tempo
A longitudinalidade da atenção facilita o reconhecimento
de determinados tipos de problemas. Por exemplo, Becker et al.
(1974) demonstraram que as crianças indicadas aleatoriamente para
receber atenção de uma equipe, consistindo de um médico,
enfer meiro e nutricionista, que permaneceu constante no decor rer
do tempo, apresentaram maior probabilidade de ter seus problemas
comportamentais reconhecidos do que as crianças vistas na mesma
unidade de saúde pelo próximo profissional disponível.
Um estudo norueguês com 1.401 adultos atendidos por 89
médicos generalistas descobriu que o relatório dos médicos sobre
o quanto eles conheciam os pacientes estava associado a um melhor
reconhecimento da maioria dos tipos de problemas psicossociais
que os pacientes registraram, de forma independente, em
questionários depois das consultas, mesmo depois do controle de
outros fatores influentes, como características sociodemográficas
do paciente e do médico (Gulbrandsen et al., 1997).
A corroboração do impacto de ter um médico pessoal vem de
um grande estudo nacional de 10.250 crianças em 172 centros de
atenção primária. O deter minante mais notável do reconhecimento
pelos médicos dos problemas psicossociais das crianças era a
familiaridade com o paciente, determinada pelo fato de o profissional
que atendeu à criança ter relatado que o paciente era seu paciente
pessoal, e não paciente de grupo ou paciente de atenção não-primária
em sua unidade de saúde (Kelleher et al., 1997).
A atenção preventiva de alguns tipos, par ticularmente para
crianças, é melhor se o indivíduo possuir um profissional que sirva
como sua fonte de atenção primária. Assim, as crianças
associadas a um local específ ico, onde recebem seu atendimento,
têm maior probabilidade de receber uma imunização indicada se
tiveram, anteriormente, uma relação com um médico ou enfermeiro
específico (Lieu et al., 1994).
Também foi descoberto que os médicos fazem mais
diagnósticos precisos (entre as mulheres que apresentam sintomas
no trato urinário) e (acertadamente) não prescrevem tratamento
se conhecem melhor a paciente (Nazareth e King, 1993).
254
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Os pacientes que passaram por consultas em um centro
médico têm maior probabilidade de voltar ao médico que os
encaminhou se consideram este médico sua fonte habitual de
atenção (Lawrence e Dorsey, 1976). Isso significa que a
identificação de uma fonte de longitudinalidade melhora a extensão
na qual os pacientes completam o processo de encaminhamento,
voltando ao médico que os encaminhou.
Quando os pacientes visitam o mesmo profissional, em vez
de profissionais diferentes, a atenção é mais eficiente. Um estudo
com base populacional, envolvendo a revisão de todas as queixas
de uma amostra aleatória dos pacientes do Medicaid (com idade
entre0e21anos) por três anos, revelou que a longitudinalidade
estava associada a uma redução nas internações hospitalares e nos
custos globais (Flint, 1987).
Menores taxas de hospitalização e menores custos globais podem
exigir uma duração ainda mais longa da relação médico-paciente em
alguns grupos da população. Em um estudo nacional com idosos, foram
necessárias relações de pelo menos cinco anos e, particularmente, aquelas
de 10 anos, para atingir estes benefícios . Nenhuma influência da duração
das relações nos procedimentos preventivos, tabagismo ou obesidade
foi encontrada (Weiss e Blustein, 1996).
A longitudinalidade está associada a uma satisfação
aumentada por par te dos pacientes, conforme mostrado em vários
estudos (Wasson et al., 1984; Becker et al., 1972, 1974). Quanto
mais longa a relação médico-paciente, maior a satisfação, mesmo
quando fatores como número de consultas; idade e sexo do paciente;
idade, sexo, localização e tipo de unidade de saúde e de reembolso
do profissional; e tipo de consulta, doença e duração do problema
forem considerados. Por exemplo, os pacientes em 133 centros de
clínica g eral na Noruega que estavam relacionados aos mesmos por
mais de cinco anos tinham uma probabilidade mais de um terço
maior de relatar estarem muito satisfeitos, em relação àqueles cuja
relação durava de um a cinco anos (Hjor tdahl e Laerum, 1992).
Obviamente, a satisfação não é uma boa medida dos
benefícios da longitudinalidade porque os indivíduos insatisfeitos
255
8. Cadastro de pacientes e atenção orientada para o paciente ao longo do tempo
têm maior probabilidade de mudar de profissional, se puderem
fazê-lo. Entretanto, uma cor roboração independente dos
benefícios da longitudinalidade a partir de um estudo relacionado
nos mesmos 133 centr os da Nor ueg a. Os médicos dos pacientes
relataram conhecer mais a respeito de seu histórico médico, sua
personalidade e sua rede social quando a duração da relação era
mais longa; os médicos levaram, pelo menos, um ano e, muitas
vezes, cinco anos para atingirem uma boa base de conhecimento a
respeito dos pacientes (Hjortdahl, 1992). Eles também apresentam
maior probabilidade de manejar, de forma adequada, em vez de
prescrever medicamentos (Hjortdahl e Borchgrevink, 1991).
O que conta para os efeitos benéficos da longitudinalidade?
Embora os mecanismos específicos não tenham sido explorados,
existem várias possibilidades. Ao longo do tempo, um senso de
confiança no médico pode deixar os pacientes mais confortáveis
para relatar infor mações relevantes e a responder melhor às suas
recomendações. Similar mente, os médicos envolvidos em atenção
longitudinal podem ser mais sensíveis a infor mações relativamente
sutis que ajudam a esclarecer a natureza do problema do paciente.
O conhecimento acumulado a respeito dos antecedentes do
paciente e as experiências de doenças podem ajudar o médico a
chegar a uma avaliação mais precisa de seu problema.
Meu filho de 18 anos acampa, esquia, nada e estuda em uma escola
secundária rural local. Ele depende de um computador para falar,
de uma cadeira de rodas elétrica para se movimentar, pela casa e na
escola, e de seus pais para a maioria de suas necessidades físicas. Ele
tem uma enfermidade neurológica não-diagnosticada que parece
ser progressiva; ele é adotado e seu distúrbio é, provavelmente,
genético. Nosso médico de família cuida das imunizações, dores de
garganta e esse tipo de coisas, mas, para algumas necessidades
especiais, Nick continua consultando com um especialista. Os dois
médicos trabalham de forma muito próxima, mas nosso médico
de família é quem pode explicar melhor a Nick o que está
acontecendo, como quando ele começou a ter convulsões.
Sra. A., mãe.
256
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
O médico, na qualidade de um “de positário de informações”,
é a base para a idéia de que a continuidade da atenção é um aspecto
útil dos serviços de saúde. Este assunto é abordado no Capítulo 11.
No passado, foi demonstrada uma preocupação de que a
longitudinalidade poderia retardar o reconhecimento de problemas
sérios (Evang, 1960; Miller, 1973), mas isso nunca foi
documentado de for ma apropriada como um problema sistemático.
Estudos em que a fonte de atenção era um local
específico
Crianças que recebem atendimento de uma fonte habitual
identificável apresentam maior probabilidade de receber atenção
preventiva do que outras crianças. Alpert et al. (1976) mostraram que
crianças indicadas aleatoriamente a uma unidade de saúde específica
para todo seu atendimento tiveram taxas muito mais altas de consultas
para supervisão da saúde e taxas mais baixas de consultas para atenção
a doenças do que os pacientes não-inscritos na unidade, embora suas
taxas de consultas anteriores para os dois tipos de consultas fossem
similares. McDaniel et al. (1975) demonstraram que as crianças que
receberam toda sua atenção de um centro pediátrico tinham maior
probabilidade de ter imunizações completas do que as que receberam
atenção de um pediatra particular e de uma clínica da secretaria de
saúde. (Entretanto, os achados não foram consistentes nos quatro
grupos de pediatras estudados, indicando que o achado não pode ser
generalizado para todos os centros).
Um estudo nacional de crianças relatando os centros de saúde
comunitária (CHCS Community Health Centers) como sua fonte
habitual de atenção mostrou que aqueles que usaram os CHCS
para a atenção para a enfermidade e para a atenção de rotina
apresentaram maior probabilidade de receber uma atenção
preventiva adequada à idade do que as crianças que usaram os
CHCS apenas para a atenção de rotina. Se, além disso, também
havia uma relação com um médico específico dos CHC, a
probabilidade de ter recebido uma atenção de rotina apropriada
para a idade era ainda maior (O’Malley e Forrest, 1996).
257
8. Cadastro de pacientes e atenção orientada para o paciente ao longo do tempo
Ter uma fonte habitual de atenção foi o determinante mais
potente (até mais do que a presença de seguro) do recebimento de
serviços preventivos entre as mulheres na Califórnia. Além disso,
se aquela fonte de atenção forneceu uma obtenção otimizada das
características da atenção primária, conforme foi relatado pelos que
responderam a este estudo baseado na comunidade, o recebimento
da atenção preventiva foi ainda maior. O componente mais notável
da avaliação da atenção primária foi uma característica da
longitudinalidade: a adequação relatada da extensão e da facilidade
para comunicar-se com os médicos do local (Bindman et al., 1996).
Pacientes que consultam mais vezes numa unidade de saúde
durante um período de tempo têm maior probabilidade de receber
a atenção preventiva indicada. Isto foi demonstrado como sendo
o caso tanto de crianças (Benson et al., 1984) como de adultos,
que se beneficiaram mais dos sistemas de lembretes
computadorizados para a atenção preventiva caso tivessem
consultado mais em vez de menos vezes (Chambers et al., 1989).
As pessoas que possuem uma fonte de atenção primária
apresentam maior probabilidade de manter suas consultas de
revisão. Spivak et al. (1980) mostraram que as crianças que tinham
uma fonte de atenção primária tinham duas vezes mais chances
de manter as consultas de revisão do que as crianças sem tal fonte.
Elas tinham, pelo menos, 50% mais probabilidade de fazê-lo do
que as crianças cuja fonte de atenção primária era usada para
atenção de rotina e pequenas enfer midades, mas que for am levadas
para a sala de emergência por problemas mais sérios, ou crianças
que usaram mais de uma fonte de atenção primária, com ou sem
uso da sala de emergência.
As pessoas cuja atenção é longitudinal apresentam menos
hospitalizações de emergência e períodos de hospitalização mais
curtos, como foi demonstrado por um estudo no qual homens acima
de 55 anos foram, aleatoriamente, indicados para dois grupos diferentes
de atenção: um longitudinal e o outro não (Wasson et al., 1984).
Um estudo mais recente, que incluiu tanto crianças como
adultos não-idosos, mostrou que os indivíduos com melhor
258
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
longitudinalidade em um ano tinham taxas significativamente menores
de hospitalizações no ano subseqüente (Gill e Mainous, 1998).
Pessoas socialmente desfavorecidas (ou seja, aquelas que
recebem assistência pública para atenção médica na for ma de
Medicaid em duas áreas nos Estados Unidos [Califórnia e cidade de
Nova York]) apresentavam menor probabilidade de precisar de
hospitalizações e maior probabilidade de ter hospitalizações mais
curtas, em hospitais, se fossem usuários habituais de um centro de
saúde comunitário do que se uma grande parte das consultas fosse
em outras fontes de atenção. Os custos totais da atenção para estes
pacientes foram menores, mesmo que tenham passado por mais
consultas de atenção ambulatorial. Além disso, o caso foi o mesmo
entre o subg r upo de pacientes com asma ou diabetes; ou seja,
hospitalizações e custos foram menores se eles tinham buscado, mais
consistentemente, atendimento em um centro de saúde comunitário
do que se não o tivessem feito (Duggar et al., 1994).
Crianças urbanas apresentaram maior probabilidade de
receber atenção para episódios indiferenciados de doença e para
dores de ouvido, além de estar sob atenção habitual para asma, se
tivessem uma fonte longitudinal de atenção do que se não a
tivessem (Ger man et al., 1976; Salkever et al., 1976).
Pessoas cuja atenção é fornecida longitudinalmente têm
menor probabilidade de contrair doenças preveníveis, como foi
mostrado em um estudo sobre ocorrência de febre reumática aguda
em crianças em Baltimore (Gordis, 1973). A longitudinalidade da
atenção também pode reduzir a probabilidade de maus resultados
ao nascimento, especialmente baixo peso. Quando a atenção pré-
natal é uma continuação da atenção em andamento, os be bês têm
maior probabilidade de ter um peso normal ao nascer do que se
sua atenção pré-natal não tenha feito parte de um programa de
atenção que tenha antecedido à gestação (Starfield, 1985).
Os custos da atenção são reduzidos para indivíduos que
recebem atenção longitudinal. Uma análise de dados nacionais feita
por Butler et al. (1985) mostrou que crianças que relataram uma
fonte habitual de atenção tiveram custos totais de atenção
259
8. Cadastro de pacientes e atenção orientada para o paciente ao longo do tempo
aproximadamente 25% menores do que as crianças sem nenhuma
fonte de a tenção habitual; os custos para este último g r upo de
crianças tiveram um desvio padrão muito maior (indicando uma
maior heterogeneidade de experiências) do que no caso das crianças
com fonte de atenção habitual.
Em muitos estudos é impossível determinar se a presença de
uma fonte usual de atenção causa o efeito benéfico ou está meramente
associada a ele. Por exemplo, Ettner (1996) usou uma técnica (variáveis
instrumentais) para determinar se a presença de uma fonte habitual
de atenção levou a ou resultou de diferenças na recepção dos serviços
preventivos. Para exames de rotina em crianças e para determinados
procedimentos preventivos (por exemplo, tempo desde a última
verificação da pressão arterial) em adultos, o fato da existência de
uma fonte de atenção habitual não teve impacto; ela melhorou o
recebimento para outros procedimentos (e xame de Papanicolao,
palpação de mama e mamog rafias). Po rtanto, a relação entre
longitudinalidade da atenção e o uso dos serviços depende da forma
como a questão é investigada. Os estudos em que a fonte de atenção
habitual é identificada retrospectivamente (isto é, depois do período
em estudo) indicam que a presença de uma fonte de atenção habitual
está associada a um número crescente de consultas (Andersen e Aday,
1978; Scitovsky et al., 1979; Marcus e Stone, 1984). Estudos em que
a fonte habitual de atenção é identificada prospectivamente (isto é,
antes dos modelos de uso serem examinados) indicam que ter uma
fonte de atenção habitual reduz o uso (Breslau e Reeb, 1975; Alpert
et al., 1976). O motivo para isto é que o uso relativamente recente
dos serviços apresenta probabilidade de gerar uma percepção de uma
relação habitual; os indivíduos que usam mais o serviço têm maior
probabilidade de relatar que o médico que os atendeu é a fonte de
atenção habitual. Estudos prospectivos, por tanto, oferecem uma
avaliação mais precisa do impacto benéfico da longitudinalidade sobre
o uso dos ser viços; eles mostram que a freqüência dos serviços,
especialmente para atenção às doenças, é reduzido.
A Tabela 8.1 resume a natureza das evidências sobre o
benefício de uma associação com um local ou profissional
260
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
específicos. Os benefícios da associação com um local específico
são mais extensos e condizentes com a idéia de que o maior
conhecimento a respeito das pessoas, que deriva de uma relação
pessoal, confere benefícios adicionais na for ma de um melhor
reconhecimento das necessidades e diagnósticos mais precisos. Em
contraste, alguns benefícios podem decorrer da existência de um
depósito de informações armazenadas (como em um prontuário
médico) a respeito dos indivíduos; isto poderia contar para a melhor
atenção preventiva, que está simplesmente associada a um local
específico de relação, ao invés da não existência deste local ou à
melhor coordenação da atenção levando a custos mais baixos.
Tabela 8.1Tabela 8.1
Tabela 8.1Tabela 8.1
Tabela 8.1
Benefícios da longitudinalidade, com base em evidências da literatura
++: Boas evidências; +: Evidências moderadas (o efeito pode resultar de uma maior
probabilidade de se ter um profissional específico em um local específico)
Assim, as evidências sobre os benefícios da longitudinalidade
indicam que sua utilidade deriva do conhecimento obtido ao longo
do tempo. Estes benefícios são mais consistentemente encontrados
no reconhecimento dos problemas dos pacientes do que nos
aspectos da atenção técnica, como o desempenho dos
procedimentos preventivos. Quando os profissionais conhecem os
pacientes, eles são mais capazes de julgar a necessidade de
inter venções diagnósticas e de avaliar os méritos r elativos de
261
8. Cadastro de pacientes e atenção orientada para o paciente ao longo do tempo
diferentes modos de inter venção. Essas vantagens são melhor
alcançadas quando a relação é com um profissional em particular,
e não com um local específ ico. As vantagens decor rentes da
associação com um local específico, ao invés da não existência de
um local identificável, derivam, mais provavelmente, da crescente
probabilidade de ver o mesmo profissional ou grupo de profissionais
naquele local e de outros atributos da atenção primária que estão
associados ao local, em particular, a existência de um registro que
facilita o reconhecimento de deter minadas necessidades, como os
ser viços preventivos.
IMPLICAÇÕES DA POLÍTICA E DA PESQUISA DA
LONGITUDINALIDADE: LIVRE ESCOLHA,
ATENÇÃO GERENCIADA E MANEJO DE CASOS
DE DOENÇA
A livre escolha do médico de atenção primária é a norma na
maioria dos países industrializados. A cor roboração da importância
da livre escolha dos médicos de atenção primária vem de um grande
estudo de 10.205 pacientes inscritos em uma HMO com modelo em
grupo. Os 47% dos pacientes que escolheram seu médico de atenção
primária apresentaram muito mais probabilidade de classificar sua
satisfação com a atenção como excelente ou muito boa do que os
53% dos pacientes que foram indicados a um médico de atenção
primária por não terem escolhido um (Schmittdiel et al., 1997).
O advento da atenção gerenciada (ver Capítulo 6) foi
projetado, pelo menos no conceito, sobre o princípio da
longitudinalidade. Teoricamente, a atenção g erenciada deveria
promover o alcance da longitudinalidade porque geralmente exige
a identificação com um profissional de atenção primária. Na
realidade, ela parece impedir o alcance da longitudinalidade.
Muitas organizações de atenção gerenciada nos Estados Unidos
não apenas limitam a livre escolha do profissional de atenção
primária; elas também, muitas vezes, quebram as relações
262
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
estabelecidas entre os pacientes e os médicos porque o médico
não está no quadro de profissionais da org anização. Quase metade
de todos os norte-americanos que recebem seguro-saúde através
de seus empregadores tem seus planos escolhidos por estes; cerca
de metade do restante pode escolher apenas entre dois planos
(Institute of Medicine, 1996; Angell e Kassirer, 1996). A ausência
da livre escolha do médico interfere com o estabelecimento de
uma boa relação com um profissional de atenção primária. Além
disso, como os mecanismos de mercado implicam a existência
da competição entre os planos de saúde e na eterna livre escolha
dos compradores, um sistema de atenção gerenciada com base
nos mecanismos de mercado promoverá mudanças freqüentes nos
planos e profissionais na forma de “pacotes” novos e
aparentemente mais atraentes de serviços oferecidos para
melhorar a posição no mercado. Uma pesquisa nacional recente
descobriu que quase metade de todos os médicos relatou uma
perda de 10% de seus pacientes nos mercados com alta
penetração da atenção gerenciada como resultado de mudanças
nos planos de seguro dos pacientes (Commonwealth Fund
Quarterly, 1996). O a dvento dos planos de atenção gerenciada
por ponto de ser viço, enquanto teoricamente aumentam a “livre
escolha”, na verdade anulam os benefícios da longitudinalidade
ao aumentar a capacidade dos pacientes na busca de atenção em
qualquer local, sem discutir com o clínico de atenção primária.
Virtualmente, todos os estudos sobre o impacto da atenção
gerenciada direcionada pelo lucro sobre relações de longa duração
entre profissionais e pacientes indicam que estas relações de longa
duração são interrompidas na medida em que os empregadores e
outros compradores trocam, periodicamente, de planos de saúde
e, assim, mudam o paciente para planos aos quais seus
profissionais habituais de atenção não estão associados (Sturm
et al., 1996; Davis et al., 1995). Vinte por cento dos inscritos em
uma HMO do Medicare deixam sua HMO no período de 12 meses
depois da inscrição (Brown et al., 1993). Nas HMOs do Medicaid,
cerca de 5% se desassocia a cada mês, geralmente por perder a
263
8. Cadastro de pacientes e atenção orientada para o paciente ao longo do tempo
eletividade (Woolhandler e Himmelstein, 1996). Quar enta por
cento de todas as mulheres nos Estados Unidos trocam de
profissional a cada ano em busca de uma relação mais satisfatória
(Commonwealth Fund, 1993). Entre os inscritos em programas
de atenção gerenciada de associações de consultórios individuais
e de organizações profissionais preferenciais (ver Capítulo 6), os
indivíduos que foram forçados a trocar seu médico de atenção
primária tiveram escores significativamente mais baixos para
vários aspectos da longitudinalidade (incluindo a qualidade da
comunicação interpessoal, relatório de conhecimento médico de
seus pacientes e percepção dos pacientes de que podem ir ao seu
médico para quase todos os seus problemas) do que os indivíduos
que puder am permanecer com seu médico (Flocke et al., 1997).
O ter mo manejo de caso tem uma long a história, originando-
se do serviço social. Possui significados variados de pendendo
do contexto profissional, com apenas uma linha comum, sendo
essa a idéia de um mecanismo para encontrar e coordenar diversos
ser viços nos quais a atenção deve ser recebida a par tir de várias
fontes. Alguns ser viços podem ser clínicos, enquanto outros
podem ser administrativos (Hurley, 1986). Entretanto, o uso da
palavra caso não condiz com o conceito de longitudinalidade, que
se refere às pessoas como mais do que apenas a soma de ser viços
necessários.
Uma vez que o manejo de caso pode abranger tantos tipos
diferentes de funções, alguém que não seja médico pode ser necessário
para preencher o papel. Liptak e Revell (1989) pesquisaram médicos
de família e pediatras que trabalhavam em clínicas especializadas de
centros médicos e os pais de pacientes com doença crônica das mesmas
clínicas. Cerca de 60% dos médicos acreditavam que o médico de
atenção primária deveria ser o g erenciador do caso, 20% pensavam
que os pais eram mais apropriados para o papel, 15% sugeriram uma
clínica ou médico especializado e 5% sug eriram um enfermeiro
comunitário. Os médicos não estavam certos quanto a quem estava
manejando o caso para 51% de seus próprios pacientes crônicos.
Considerações específicas que os médicos pensavam ser mais
264
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
importantes em seu próprio papel de gerenciadores do caso foram o
diagnóstico, a severidade da doença e os recursos disponíveis na área
de especialidade. Os pais, entretanto, classificaram as clínicas
especializadas e os médicos de atenção primária quase como
igualmente reconhecíveis a respeito da saúde de seus filhos bem, como
igualmente acessíveis.
A abordag em do New York State Depar tment of Social Jenices and
Health [ Secretaria de Serviço Social e Saúde do Estado de Nova
York] (Child Health Financing Repor t, 1990), que pag ava aos
médicos para assumir a atenção continuada de crianças de baixa
renda, abriu caminho para muitas instituições estaduais do Medicaid
para adotar o manejo de caso da atenção primária (PCCM Primary
Care Case Management), no qual os pacientes escolhem ou são
indicados para um médico específico. Os médicos, g eralmente,
devem prestar cobertura 24 horas para a unidade de saúde, devem
providenciar internações hospitalares, consultas com especialistas
e ser viços auxiliares, e devem aderir às diretrizes da atenção
preventiva. Os especialistas também devem fornecer resumos das
consultas aos médicos de atenção primária e informar a estes ao
agendar inter nações. Assim, a “atenção gerenciada” neste contexto
inclui a integração (coordenação) da atenção, bem como a a tenção
ao primeiro contato através do estímulo à longitudinalidade.
O financiamento do manejo de caso foi incorporado à política
pública norte-americana com a aprovação da Seção 9.508 da
Consolidated Omnibus Budget Reconciliation Act [Lei Consolidada de
Reconciliação Orçamentária de Dispositivos Diversos] de 1985, que
forneceu fundos para a prestação do manejo de caso dentro da Social
Jecusity Act [Lei de Seguridade Social] (Medicaid). Similarmente, a
Lei Pública 99.457 Intervention Pr ogram for Infants and toddlers with
Handrcap [Programa de Intervenção Precoce para Bebês e Crianças
Pequenas com Necessidades Especiais] determina a prestação de
serviços de manejo de caso para crianças que fazem parte do programa.
A teoria do manejo de caso, bem como as considerações sobre
custos, fornece a base para a moda atual do manejo de caso para
doenças, em que a atenção de determinadas doenças é “cortada” da
265
8. Cadastro de pacientes e atenção orientada para o paciente ao longo do tempo
atenção primária e entregue a uma equipe separada orientada para a
doença. O “corte” da atenção é realizado através de contratos separados
com empresas, geralmente com fins lucrativos, e sob o patrocínio de
empresas fa r macêuticas, para prestar serviços para uma doença
específica, ou, até mesmo mais comumente, para a saúde mental e
problemas de abuso de substâncias. Pessoas com estas doenças vão
diretamente a estes profissionais indicados, e não ao seu profissional
de atenção primária quando seu problema encontra-se no âmbito do
“corte”. O manejo de caso da doença, como o manejo de caso em
geral, não é compatível com os princípios da longitudinalidade se, na
verdade, enfocar o manejo da doença, e não uma parceria para a
atenção do paciente como um todo ao longo do tempo.
Em uma grande reunião nacional, o diretor médico de uma grande
organização de atenção gerenciada com fins lucrativos estava
enaltecendo o manejo de caso de doenças como uma estratégia para
melhorar a atenção e conter as despesas. Apresentou os dados de tal
programa para crianças com asma. Seus dados demonstravam
claramente que os custos da atenção eram inferiores para estas crianças
do que era o caso antes da instituição do programa. Entretanto, quando
os custos da atenção eram divididos entre os associados à atenção à
asma e os associados ao restante da atenção, a economia estava toda
na categoria da atenção não associada à asma. Quando questionado
por um membro da platéia para explicar este ponto, ele comentou:
“O enfermeiro gerenciador de caso não cuidou apenas da asma, mas
de todas as necessidades das crianças. Moral da história: para atingir
a economia nos custos de um programa de manejo da doença, é
necessário oferecer uma boa atenção primária ao mesmo tempo.
Qualquer avaliação dos benefícios expressos do manejo de
caso de doenças deve levar em consideração não apenas seu
impacto sobr e a doença e os custos de seu manejo, mas também a
extensão na qual afeta (de forma neg ativa ou positiva) todos os
outros aspectos da atenção aos pacientes. O futuro destes ar ranjos
“subtraídos” não está claro, e muitos acreditam que eles
desaparecerão na medida que as organizações de atenção
266
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
gerenciada integrarem-se mais com médicos especializados em
centros médicos acadêmicos ou na comunidade.
Uma questão relacionada é a justificativa potencial para se ter
duas “fontes habituais de atenção” quando as duas diferem em seu
enfoque. Nos Estados Unidos, um terço das mulheres adultas indica
que tanto um médico de família (ou internista geral) quanto um
ginecologista/obstetra s ã o fontes habituais de atenção, sendo que
buscam atenção para os assuntos referentes ao sistema reprodutor junto
a estes últimos. Estas mulheres apresentam números mais elev ados de
consultas globais e uma probabilidade mais alta de terem recebido
exames de Papanicolao, mamo grafias e exames de colesterol mais
recentes do que as mulheres que recebem atenção apenas de um médico
de família ou internista (Weisman et al., 1995). Embora seja possív el
que as mulheres que deliberadamente buscam atendimento de um
médico de atenção primária e de um ginecologista também busquem
deliberadamente o atendimento preventivo, é pr ov ável que o
recebimento da atenção de um ginecologista melhore o recebimento de
serviços prev entivos no âmbito ou relacionados àquela área de interesse
e treinamento daquele médico internista. É desconhecido o quanto
estas mulheres recebem de outros aspectos da atenção primária
(primeiro contato, relações interpessoais, integ ralidade global e
coordenação). Como muitos sistemas de saúde integrados, pelo menos
nos Estados Unidos, agora permitem que as mulheres escolham tanto
um médico de família ou internista generalista quanto um ginecologista/
obstetra como seus profissionais de atenção primária, a necessidade de
avaliação do impacto destes arranjos no recebimento de atenção
primária de alto nív el (não apenas atenção preventiva) está aumentando .
MEDIÇÃO DA L ONGITUDINALIDADE
Como ocorre com os quatro aspectos chave da atenção primária,
a abordagem para medição depende grandemente da definição da
característica. A definição proposta pelo Instituto de Medicina, ou
267
8. Cadastro de pacientes e atenção orientada para o paciente ao longo do tempo
seja, “Uma parceria continuada refere-se à relação entre o paciente e
o clínico com a expectativa mútua de continuidade no decorrer do
tempo e fundada no desenvolvimento da confiança, respeito e
responsabilidade mútuo”, pode ser igualmente pertinente tanto na
atenção subespecializada como na atenção primária, se ela não estiver
claramente orientada para a pessoa, e não centrada no manejo de
longa duração de algum problema de saúde.
Um aspecto central da medição da longitudinalidade é a idéia
de que os indivíduos deveriam ser capazes de identificar sua fonte de
atenção primária, sendo que esta fonte deveria ser capaz de identificar
sua população eletiva (o aspecto da “capacidade”). Além disso, os
indivíduos deveriam utilizar essa fonte habitual para todos os
problemas, exceto aqueles para os quais um encaminhamento por
parte do médico de atenção primária (o aspecto do “desempenho”).
A medição desta consistência de uso ao longo do tempo requer um
bom sistema de informação que documente para onde as pessoas se
dirigem para obter atenção não encaminhada por diferentes tipos de
motivos. Portanto, nem sempre é possível avaliar este aspecto do
desempenho da a tenção primária. Além disso, esta pode não ser a
melhor abordagem. Freeman e Hjortdahl (1997) consideram
obrigatória a substituição da longitudinalidade “temporal” pela
longitudinalidade “pessoal” qual eles designam “continuidade”).
A longitudinalidade temporal denota uma relação em um período longo
de tempo, enquanto a longitudinalidade pessoal enfoca mais a força
da relação entre pacientes e profissionais de saúde. É possível, na
visão deles, ter uma relação de longa duração baseada num
relacionamento r uim e que um bom relacionamento possa se
desenvolver até mesmo em um curto período de tempo. Assim, parece
mais razoável e apropriado avaliar a força do vínculo interpessoal
entre as pessoas e sua fonte de atenção, o que pode ser determinado
através de obser vação, fitas de áudio ou vídeo ou através de
entrevistas. Os estudos mostram que a “acreditar” que o profissional
fará o que é melhor para o paciente está altamente relacionado à
satisfação com a atenção (Thom e Campbell, 1997), sendo, portanto,
268
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
altamente preditor da busca dos serviços daquele local ou pessoa. Assim,
uma medição apropriada da probabilidade de uso da fonte habitual de
atenção é a adequação da relação interpessoal entre profissional e
paciente. Como a necessidade de “acreditar” no médico é
presumivelmente importante para todos os níveis da atenção e não
está limitada à atenção primária, a avaliação de sua adequação na atenção
primária requer a identificação daqueles aspectos da interface que são
particularmente relevantes para estabelecer uma atenção orientada para
a pessoa (não para a doença) ao longo de períodos de tempo.
A Figura 8.1 mostra estas características da capacidade e do
desempenho dos sistemas de saúde que estão envolvidos na
obtenção da longitudinalidade.
Figura 8.1Figura 8.1
Figura 8.1Figura 8.1
Figura 8.1
Sistema de serviços de saúde: longitudinalidade. Resumido da Figura 2.1.
269
8. Cadastro de pacientes e atenção orientada para o paciente ao longo do tempo
O restante desta seção discute for mas de medir a fonte
habitual de atenção e a população eletiva e, depois, discute as
duas abordagens para medição apropriada do uso da fonte habitual
de atenção primária: uso ao longo do tempo para diversos tipos de
problemas e, alternativamente, a força da relação entre o
profissional de atenção primária e os pacientes.
Identificação de uma fonte habitual de atenção e
definição de uma população eletiva
No nível populacional, a extensão na qual os indivíduos têm
uma fonte habitual de atenção primária é geralmente avaliada por
meios de uma pesquisa domiciliar, como a U.S. National Health
Intersinew Jur vey [Pesquisa Nacional de Saúde por Entrevista nos
Estados Unidos]. Esta pesquisa em andamento de uma amostra
nacionalmente representativa de lares avalia periodicamente se as
pessoas têm uma fonte habitual de atenção e se esta fonte é um
médico ou local específico. Existem dados disponíveis para
deter minar as tendências de tempo no relato de uma fonte habitual
de atenção, bem como as mudanças no tipo de fonte.
Ao longo dos anos, têm sido realizadas muitas pesquisas
específicas por investigadores e pesquisadores de opinião pública,
algumas delas de natureza periódica. Entre as mais extensas,
encontram-se aquelas realizadas pela Universidade de Chicago
(Andersen et al., 1976; Aday et al., 1980, 1984). Mais tarde, a
Robert Wood Johnson Foundation (através de um instituto
profissional de pesquisa) realizou várias séries de entrevistas por
telefone (Freeman et al., 1987).
No nível das unidades de saúde, a identificação com uma fonte
habitual de atenção é refletida na existência de cadastros de
pacientes que indicam que o profissional ou gr upo identifica uma
população eletiva pela qual é responsável. Nos Estados Unidos, a
existência destes cadastros não é comum, embora as organizações
de atenção gerenciada dependam de sua existência para identificar
os pacientes pelos quais são responsáveis.
270
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Em muitos outros países, as listas (“cadastros”) de pacientes
são uma parte integral da atenção primária e freqüentemente
ser vem como base para o pag amento dos profissionais. Estes
cadastros são uma parte integral da atenção primária em países
como Reino Unido, Itália, Países Baixos, Portug al e Dinamarca.
Na Nova Zelândia e na Irlanda, o cadastro é usado apenas para
parte da população. Na Suécia, Finlândia e Noruega, o uso de um
cadastro é experimental (Organization for Economic Cooperation
and Development, 1995; BMJ, 1997). Os cadastros de pacientes
constituem a base para o estabelecimento de um senso de
responsabilidade por um g rupo de pessoas, e são os meios pelos
quais os profissionais podem acompanhar as necessidades de seus
pacientes e o quanto estão sendo respondidas.
O Dr. G. é um médico g eneralista na Espanha. Uma vez ao ano, ele
e a enf ermeira com quem ele trabalha revisam seus cadastros para
determinar quais indivíduos com mais de 75 anos não consultaram
no último ano. Todos estes pacientes são contatados para avaliar
como estão indo e para determinar se algum serviço indicado.
Para estudar a validade de um cadastro de pacientes de um
centro de saúde na província de Ontário, Canadá, onde nenhum
cadastro de pacientes é exigido, uma pesquisa por correio e telefone
calculou a extensão na qual pacientes e unidades de saúde
concordavam que esta era sua fonte habitual de atenção. A relação
era formada por todos os indivíduos que indicaram que pretendiam
usar a unidade como sua fonte habitual de atenção. No caso dos
pacientes conhecidos da clínica no momento em que a inscrição
foi feita, aqueles cujos registros indicaram um padrão de utilização
compatível com o uso habitual foram incluídos. O cadastro foi
aumentado com o nome dos membros da família identificados pelos
novos pacientes . A unidade de saúde foi considerada como a fonte
habitual de atenção se os entrevistados indicassem que era sua fonte
“usual”. A precisão do cadastro, comparada com a pesquisa por correio,
neste centro de saúde, foi de mais de 90% (Anderson et al., 1985).
271
8. Cadastro de pacientes e atenção orientada para o paciente ao longo do tempo
Uso adequado da fonte habitual de atenção: método
baseado no histórico de utilização
Pesquisas sobre o uso da fonte habitual de atenção têm
confundido os conceitos de atenção longitudinal, prevalência da
atenção e atenção seqüencial (Dietrich e Marton, 1982; Wall, 1981;
Starfield, 1980). Como r esultado, alguns dos métodos descritos nesta
seção foram mencionados como medidas de “continuidade”, apesar
de, na verdade, abordarem o fenômeno da atenção longitudinal.
Não foi proposto qualquer padrão para a longitudinalidade.
Portanto, todas as medidas descritas neste capítulo são medidas
relativas à comparação dos resultados de uma avaliação com outra;
escores mais altos refletem melhor longitudinalidade.
No nível populacional e em algumas unidades de saúde, é
possível documentar, a partir dos sistemas de dados existentes,
onde as pessoas têm ido para atendimento e se foi uma consulta
por encaminhamento. Quatro medidas têm sido usadas no nível
populacional. Deveria ser obser vado que os métodos mencionados
abaixo não foram desenvolvidos nem aplicados à atenção primária
em si. Para usá-los no contexto da longitudinalidade, teriam que
ser modif icados para incluir no numerador apenas aqueles serviços
procurados a partir da fonte de atenção primária. Alguns abordam
a longitudinalidade temporal (consistência de uso uma vez).
Outros são de caráter inter mediário entr e a longitudinalidade
temporal e pessoal.
1. ContiNuidade do profissional usual (UPC usual provider
continuity). Nesta avaliação, o número de consultas a uma
fonte habitual de atenção é dividido pelo número total
de consultas no mesmo período de tempo. A razão
resultante é conhecida como UPC (Breslau e Reeb, 1975).
Quanto mais próxima de 1 for a razão, mais alta a
longitudinalidade.
2 . Continuidade da atenção (COC continuIty of care). O
escore da UPC é muito sensível ao número total de
consultas; por exemplo, se um indivíduo consultar apenas
uma vez num ano e tiver sido em sua fonte habitual de
272
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
atenção, a UPC é 1. Quanto menor o número de
consultas, mais fácil será alcançar uma UPC alta. A COC
corrige este problema estatístico ao requerer dados
detalhados da consulta e ao utilizá-los para corrigir o
efeito do número de consultas em seus cálculos. Também
corrige o número total de profissionais diferentes que
são consultados e considera as consultas a especialistas
que são feitas por encaminhamento da fonte de atenção
primária como uma consulta ao médico de atenção
primária (Bice e Boxer man, 1977).
3 . Probabilidade da continuidade (LICON Likelihood of
continuity). Esta medida corrige o efeito do número disponível
de fontes bem como o número total de consultas. Quanto
maior o número disponível de fontes, maior a probabilidade
de que outros profissionais, que não a fonte habitual de
atenção, sejam consultados (Steinwachs, 1979).
Cada uma dessas três medidas, quando aplicadas a todas as
consultas dentro de um período determinado de tempo (geralmente
um ano), indica a extensão na qual uma fonte habitual de atenção é
usada ao longo do tempo. As medidas não determinam a extensão na
qual as consultas são feitas para problemas específicos ou para uma
gama completa de serviços. Também não determinam se qualquer
uma das consultas foi feita por encaminhamento. Portanto, ao aplicar
qualquer uma destas medidas para avaliar a longitudinalidade, é
importante eliminar consultas que resultem de um encaminhamento
pelo profissional de atenção primária para outro profissional.
A UPC, a COC, a LICON e o local de consulta por vários
tipos de motivos são medidas da longitudinalidade com base na
unidade de saúde quando a fonte de infor mações é obtida de
registros ou de pacientes na mesma. O índice “k” (Ejlertsson e
Berg, 1984) é uma medida de longitudinalidade no nível
institucional. Esta medida é similar à UPC (proporção do total de
consultas realizadas na fonte habitual de atenção), exceto pelo
fato de considerar a fonte habitual de atenção como o indivíduo
procurado pelo paciente em uma consulta em particular, e não o
273
8. Cadastro de pacientes e atenção orientada para o paciente ao longo do tempo
médico identificado pelo paciente como sendo a fonte habitual de
atenção. O índice “f (Smedby et al., 1986) é similar ao índice “k”
no que se refere à fração de consultas durante um período definido
de tempo feitas a um médico consultado em uma visita específica.
Uma comparação da UPC, da COC e do índice “k”, com exemplos
de dif erentes números e modelos de uso da atenção, é for necida
por Ejlertsson e Berg (1984).
4. O índice modificado de continuidade (MMCI Modified
continui ty index ) foi projetado para levar em consideração o
número de profissionais visitados e o número de consultas
com os pacientes. O numerador da taxa é expresso como 1
(número de profissionais ÷ [número de consultas + 0,1])
e o denominador como1–(1÷por[número de consultas
+ 0,1]). Foi aplicado no pro grama de residência em medicina
de família para avaliar a obtenção da longitudinalidade no
contexto do treinamento (Magill e Senf, 1987).
5. Outra medida de longitudinalidade considera,
explicitamente, a natureza do problema pelo qual o
atendimento foi procurado. Os indivíduos são contatados
pela pesquisa para determinar sua fonte habitual de atenção.
Queixas, prontuários médicos ou entrevistas com pacientes
são usados para determinar a natureza da atenção prestada
(na melhor das hipóteses, o motivo do atendimento, mas
geralmente é o diagnóstico feito) e o local em que foi
prestada. A medida da longitudinalidade é o grau no qual o
caso não encaminhado foi buscado na fonte habitual de
atenção (em vez de outra fonte) por diversas razões.
Embora esta medida não tenha sido amplamente aplicada,
foi utilizada de for ma modificada no Rand Health Insurance
Experiment [Experimento Rand de Seguro-Saúde] (Spiegel
et al., 1983), uma demonstração em nível nacional do efeito
de co-pagamentos sobre a utilização e o estado de saúde.
Neste uso, f oi solicitado aos indivíduos que indicassem o
nome de seu médico “pessoal”, ou seja, o indivíduo a quem
deveria ser enviado o resultado de um exame de triagem
274
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
multifásico agendado. Os prontuários foram revisados para
determinar o médico que prestou diversas consultas, bem
como para determinar o tipo de médico que os pacientes
consultavam para infecções do trato respiratório superior,
hipertensão e exames em geral. Apenas 12% dos pacientes
indicaram especialistas como seu médico pessoal e apenas
6% indicaram médicos relacionados como especialistas e
de atenção não-primária no American Medical Association
Masterfile [Arquivo Mestre da Associação Médica
Americana] e no American Medical Dir ector y [Diretório
Médico Americano]. Quando o médico de atenção primária
foi definido como aquele que prestou a pluralidade da
atenção, um em cada três pacientes foi classificado como
tendo um especialista em atenção não-primária como
médico de atenção primária. Quando o médico de atenção
primária foi definido como o local onde era buscada a
atenção para problemas comuns, aproximadamente 1 em
cada 10 pacientes tinha um especialista em atenção não-
primária como sua fonte de atenção primária.
Seria útil uma modificação adequada deste método para
deter minar a extensão da longitudinalidade de atenção. Neste
método, os pacientes são questionados a respeito de sua fonte
habitual de atenção, a qual pode ser definida tanto como o médico
com o qual consultam quando têm um problema novo como aquele
para quem gostariam que fossem enviados resultados de exames
médicos. Prontuários de todas as consultas durante um período de
tempo são revisados para determinar onde um indivíduo foi em
busca de atenção por razões preventivas ou administrativas, por
sintomas ou sinais de novas doenças em potencial, para atenção a
problemas existentes e para diagnóstico ou razões terapêuticas.
São consideradas apenas consultas que ocorreram por iniciativa
do paciente (ou seja, são excluídas consultas como resultado de
encaminhamento pela fonte habitual de atenção). Quando os
prontuários médicos ou formulários de queixas não especificam
275
8. Cadastro de pacientes e atenção orientada para o paciente ao longo do tempo
se a consulta foi feita por iniciativa do paciente, os pacientes podem
ser questionados para determinar onde foram na última vez por
estas razões e se foi por encaminhamento de sua fonte habitual de
atenção ou por sua própria iniciativa. A quantidade de consultas
sem encaminhamento pelos diferentes motivos pelos quais foram
até a fonte habitual de atenção indica a extensão da
longitudinalidade de atenção que foi alcançada.
Uma abordagem interessante para avaliar a longitudinalidade
é encontrada na obra de Sweeney e Gray (1995), na Inglaterra. Ao
definir a ausência de longitudinalidade como quatro consultas
consecutivas que não ocorreram com o médico com o qual os
pacientes estavam registrados, eles descobriram que os pacientes
sem longitudinalidade tinham maior probabilidade de pertencer a
classes sociais inferiores e com múltiplos tipos de problemas.
A informação a respeito da obtenção da longitudinalidade
em nível populacional requer a obtenção de informações sobre a
fonte habitual de atenção através de um método baseado na
população, isto é, através de um método que contate os indivíduos
independentemente de suas consultas à unidade. Contudo,
qualquer dos métodos acima mencionados poderia ser calculado
com informações for necidas pelos pacientes quando aparecessem
na unidade de saúde. Neste caso, a medida poderia ser considerada
como baseada na unidade de saúde e não na população. No nível
de unidades de saúde, os métodos para avaliar a longitudinalidade
utilizam informações obtidas a partir de prontuários da própria
unidade. Por tanto, a extensão de longitudinalidade pode ser inferida
apenas para aqueles indivíduos que realmente utilizaram a unidade
durante o período de tempo de interesse.
Um aspecto importante da longitudinalidade a atenção de
pacientes hospitalizados pelo profissional de atenção primária
tem r ecebido pouca atenção. Na maioria dos sistemas de saúde,
os pacientes hospitalizados são tratados por médicos da equipe
do hospital, e não pelos médicos de atenção primária (com
consultoria adequada dos médicos da equipe do hospital). Em
muitos lugares nos Estados Unidos, é comum que os médicos
276
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
estabelecidos na comunidade cuidem de seus pacientes quando
hospitalizados, como a “consulta de registro”. Perrin e
colaboradores (1996) descobriram que esta prática varia muito de
lugar para lugar e até mesmo dentro de áreas específicas,
dependendo do tipo de unidade de atenção primária. Em geral, os
médicos assalariados em g r upos org anizados (“HMOs de modelo
em equipe”) apresentam maior probabilidade de estar encarregados
por seus pacientes hospitalizados, seguidos pelos médicos
estabelecidos na comunidade em consultórios particulares; médicos
que trabalham nos centros de saúde do bair ro (serviço público) e
nas clínicas hospitalares são as que apresentam menor
probabilidade de o fazerem (Perrin et al., 1996).
Outros métodos novos para avaliação da existência de uma
fonte longitudinal de atenção são apresentados no Capítulo 13 no
contexto da avaliação global da atenção primária.
Uso adequado da fonte habitual de atenção: método
baseado nas características da inter-relação entre
clínico e paciente (“longitudinalidade pessoal”)
Conforme observado acima, é difícil avaliar o uso da fonte
de atenção primária para os vários tipos de necessidades que
constituem o teor da atenção primária devido à falta de sistemas
de dados que documentem aonde as pessoas vão pelos vários tipos
de atenção que recebem. Um método alter nativo, utilizando as
pesquisas entre os pacientes em unidades de saúde ou as populações
em geral, pode avaliar a força da relação interpessoal entre o
profissional e o paciente, a qual seria esperado estar associada ao
uso consistente ao long o do tempo.
A “confiança” (“segurança em relação ao caráter, capacidade,
força e sinceridade de alguém ou alguma coisa” Websters New
Collegiate Dictionar y, 1981) algumas vezes é considerada como a
caracterização desta relação; mas não é, necessariamente, exclusiva
das relações de atenção primária. Um pequeno estudo (Thom e
Campbell, 1997) em uma unidade de saúde de atenção primária
indicou que os pacientes consideravam “confiança” a relação
277
8. Cadastro de pacientes e atenção orientada para o paciente ao longo do tempo
específica e que se desenvolve no decorrer do tempo, mas isso pode
caracterizar a atenção especializada de longa duração com o propósito
de manejar uma enfermidade em particular, bem como uma relação
orientada para o paciente característica da atenção primária. Assim,
o desafio à avaliação da característica da relação orientada para o
paciente é distinguir aqueles aspectos da relação que são específicos
da pessoa daqueles que podem estar associados à atenção às
enfer midades ou problemas específicos. A impor tância disto é
destacada pela observação de que metade de todas as consultas com
médicos de atenção primária é realizada para problemas que não se
enquadram no modelo biomédico convencional (Leopold et al., 1996).
Leopold et al. (1996) especificaram seis aspectos da atenção
que facilitariam o alcance de parcerias sustentadas, orientadas para
a pessoa: enfoque na pessoa como um todo; conhecimento do
médico sobre o paciente; atenção e empatia; confiança do paciente
no médico; atenção adequadamente adaptada ; e a participação do
paciente e tomada de decisões compartilhada. Como apenas os
dois primeiros aspectos são específicos da atenção primária, a
abordagem para medição da longitudinalidade pessoal deveria
enfatizar sua avaliação. (Os outros são mais apropriadamente
considerados como aspectos importantes das relações entre médico
e paciente em geral e são considerados no Capítulo 9.)
Muitos dos instr umentos disponíveis e vocam a satisfação das
pessoas com a relação com seu profissional e não as verdadeiras
características desta relação. Além disso, a maioria dos instrumentos
não distingue entre a natureza da relação com o profissional de
atenção primária e o profissional visto em uma consulta ou uma
série de consultas, o qual poderia ser um especialista orientado para
a enfermidade. As características das relações entre atenção primária
e paciente incluem a extensão do entendimento entre o profissional
e o paciente, a tranqüilidade dos pacientes em falar aos profissionais
a respeito de suas preocupações, e quanto os pacientes sentem que
seu profissional está interessado neles como uma pessoa e não como
alguém com um problema médico e que entende quais problemas
são mais impor tantes para eles.
278
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Outros métodos de avaliação de aspectos da longitu-
dinalidade, tanto temporal quanto interpessoal, estão
apresentados no Capítulo 13 no contexto da avaliação global da
atenção primária.
O QUE SE SABE SOBRE A OBTENÇÃO DA
LONGITUDINALIDADE
Várias pesquisas indicam que generalistas (médicos de família,
médicos generalistas, pediatras ou internistas generalistas) são
indicados como fonte habitual de a tenção pela maioria da população.
Nos Estados Unidos, onde tanto internistas generalistas e pediatras,
como médicos de família, são considerados profissionais de atenção
primária, médicos de família e generalistas respondem por
aproximadamente 50% de todos os médicos identificados como
fonte habitual de atenção; internistas e pediatras respondem por
14% cada um, pelo menos a partir da década de 80. Os 20% restantes
de médicos identificados como fonte habitual de atenção são outros
especialistas. Para a população infantil, os pediatras são identificados
como fonte habitual de atenção para 56% das crianças entre1e5
anos de idade e para 33% das crianças entre6e17anos de idade. A
renda da família está relacionada ao tipo de médico que é indicado:
famílias de renda mais baixa têm maior probabilidade de identificar
um médico de família ou generalista e menor probabilidade de
identificar um internista ou pediatra do que as famílias de alta renda
(Aday et al., 1980, pág. 53). Além disso, mesmo quando famílias de
baixa renda identificam um especialista em atenção primária (como
um internista ou pediatra), é menos provável que o médico tenha
certificado (Starfield et al., 1973).
No Rand Health Insurance Experiment (que excluiu pessoas
acima de 62 anos de idade e os 7% da população dos g rupos com
renda mais alta), 88% da população em três áreas do país indicaram
um médico de atenção primária como seu médico pessoal. Quase
a metade (49%) indicou clínicos gerais ou médicos de família, 16%
279
8. Cadastro de pacientes e atenção orientada para o paciente ao longo do tempo
indicaram inter nistas e 22%, pediatras. Cerca de uma em cada 8
pessoas (12%) indicou um especialista: 5% ginecologistas/
obstetras, 4% cirurgiões, 2% inter nistas-subespecialistas e o
restante outros tipos de médicos ou médicos com especialidade
desconhecida (Spiegel et al., 1983).
Weiner (1981), em um estudo sobre a distribuição e alcance
da atenção primária dentro de toda uma área metropolitana
(Baltimore), pediu aos pacientes que visitavam uma amostra
aleatória de todos os tipos de médicos para indicar o ano em que
tinham primeiro consultado o médico. A duração da relação médico-
paciente foi calculada a partir desta inf ormação e a partir do ano
cor rente. Foi f eita a suposição de que uma duração mais long a
refletiria mais provavelmente uma relação em andamento não
associada à atenção para um problema ou tipo de problema em
par ticular. Tanto pacientes de inter nistas como de médicos de família
relataram relações de aproximadament e7a8anos, em média, cerca
do dobro daquelas relatadas por pacientes de outros tipos de médico
(cerca de3a4anos em média); isto sugere que médicos generalistas
oferecem mais longitudinalidade do que especialistas.
A Pesquisa Nacional de Atenção Médico Ambulatorial, uma
pesquisa periódica de uma amostra representativa de médicos que
trabalham em consultório nos Estados Unidos, fornece uma
maneira para avaliar a longitudinalidade em sua avaliação sobre
se as consultas são primeiras consultas, consultas de
acompanhamento (isto é, houve uma consulta anterior pelo mesmo
problema), ou primeiras consultas por um problema em particular
por um paciente previamente visto devido a outros problemas.
Puskin (1977) analisou consultas realizadas por adultos e calculou
um g rau de longitudinalidade para cada tipo de médico. Esta
proporção consistia no número de pacientes examinados antes por
outros problemas dividido pelo número de pacientes nunca vistos
antes. Médicos generalistas e de família tiveram os índices mais
altos (2,36); internistas generalistas vieram a seguir com 1,65.
Diversos tipos de outros especialistas tiveram graus ligeiramente
menores do que aqueles dos internistas (especialistas
280
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
cardiovasculares com 1,54; cirurgiões gerais com 1,40 e
ginecologistas/obstetras com 1,14), mas o índice de outros
especialistas foi muito mais baixo (0,23 a 0,42).
Foi feita uma análise similar para consultas pediátricas, mas
apenas pediatras e clínicos generalistas/médicos de família foram
comparados (Fishbane e Starfield, 1981). O grau de
longitudinalidade para pediatras (4,65) foi muito mais alto do
que o de generalistas (2,27), embora a proporção de 2,27 para
generalistas fosse similar àquela encontrada para pacientes
adultos e muito mais alta do que a proporção para outros tipos
de médicos no estudo com adultos.
Estes achados indicam que generalistas, pediatras e
internistas têm maior probabilidade de oferecer atenção
longitudinal do que outros médicos especialistas.
Estudos que examinam quanta atenção médicos de
diferentes tipos oferecem para diversos problemas também
indicam que médicos generalistas têm maior probabilidade de
oferecer atenção longitudinal do que especialistas. Por exemplo,
no estudo com os médicos de Baltimore, no qual os pacientes
foram questionados onde tinham feito um check-up habitual por
último e onde tinham sido atendidos por gripe ou resfriado,
apontou que pediatras, internistas e médicos de família tinham
uma probabilidade entre duas e três vezes maior de serem
indicados como fonte de atenção para ambos os problemas do
que os médicos especialistas (Weiner, 1981).
Investigadores do estudo Rand sobre Seguro-Saúde (Spiegel
et al., 1983) chegaram o mais próximo possível da avaliação do
alcance da longitudinalidade ao determinar a porcentag em de
pessoal que consultavam com o mesmo médico todas as vezes, a
maioria das vezes e menos do que a maioria das vezes num ano,
confor me o tipo de médico que era a “principal” fonte de atenção
(definido como o médico consultado na maior parte das consultas,
deter minado pelas fichas clínicas). Pacientes que contavam com
um generalista como a fonte principal tinham mais que o dobro
281
8. Cadastro de pacientes e atenção orientada para o paciente ao longo do tempo
de probabilidade de consultar com o mesmo médico em todas as
consultas em relação aos pacientes atendidos por especialistas
na maioria das vezes (36% versus 16%). Outras análises indicaram
que pacientes cuja principal fonte de atenção era um especialista
tinham muito menor probabilidade de consultar aquele especialista
para infecções do trato respiratório superior (33%) em
comparação com pacientes cuja fonte principal de atenção era
um generalista; estes últimos consultavam um generalista 99%
das vezes. Mesmo pacientes examinados para um problema como
hipertensão tinham maior probabilidade de consultar com sua
fonte principal de atenção se esta fosse um generalista do que se
fosse outr o especialista. Todos os pacientes cuja f onte de atenção
era um generalista consultavam com este para a hipertensão;
apenas 53% dos pacientes de outros especialistas consultavam-
nos devido a hipertensão, enquanto 47% consultavam um
generalista. Estes achados indicam que a longitudinalidade é um
aspecto muito mais freqüente da atenção de generalistas do que
de especialistas.
Todos estes estudos foram realizados nos Estados Unidos
numa época em que a maioria das pessoas tinha liberdade para
consultar com qualquer médico. Como este não é o caso em
muitos paíse s e é cada vez menos o caso nos Estados Unidos, os
achados específicos podem ter pouca relevância para a prática
corrente. Certamente o caso é que a extensão na qual as pessoas se
identificam com um local ou indivíduo específicos como sua fonte
de atenção varia de um sistema de saúde para outro e de lugar para
lugar. Nos Estados Unidos, no início dos anos 90, cerca de 60%
identificaram um indivíduo e 40% um local como sua fonte habitual
de atenção. Em toda uma cidade no Canadá, onde seguro-saúde
universal, menos de um terço das crianças com idades entr e1e5
anos alcançou a longitudinalidade (definida como, pelo menos, 80%
da atenção total prestada pelos médicos ou unidades médicas mais
freqüentemente consultados ou por encaminhamento dess a unidade)
num período de 5 anos (Mustard et al., 1996).
282
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Em países sem cober tura financeira universal para serviços
de saúde, os indivíduos e as famílias de baixa renda têm muito
menos probabilidade de relatar que possuem um médico de
atenção primária ou até mesmo uma unidade de saúde de atenção
primária. Por exemplo, em 1993, homens adultos nos Estados
Unidos, com idades entre 18 e 24 anos, sem educação secundária
completa, pobres, negros, hispânicos ou desempregados
apresentavam maior probabilidade de não ter seguro e,
concomitantemente, não ter uma fonte habitual de atenção
(Centers for Disease Control and Prevention, 1995).
Conforme foi observado acima, o estabelecimento da atenção
gerenciada nos Estados Unidos deveria melhorar a extensão na qual
sua população relata uma associação com um médico de atenção
primária e utiliza essa fonte de forma consistente ao long o do tempo.
Na prática, entretanto, mudanças anuais, ou mais freqüentes, e
involuntárias nos planos de seguro estão interferindo no
desenvolvimento de relações de long a duração.
Em sistemas de atenção à saúde nos quais a associação de
uma população ou de pacientes com um generalista faz mais parte
da tradição da atenção médica, é mais provável que a
consistência da busca de atenção com generalista escolhido seja
até mesmo maior do que vem sendo nos Estados Unidos.
RESUMO
A Tabela 8.2 resume a natureza da longitudinalidade. A
longitudinalidade implica a existência de um médico ou g r upo de
médicos habitual e o uso desta fonte para a atenção que não está
limitada a determinados problemas ou tipos de problemas. Sua
avaliação envolve a medição de aspectos estr uturais da atenção
(a identificação da fonte habitual de atenção pelas pessoas e a
identificação da população eletiva por par te do médico ou g rupo)
e determinados aspectos do desempenho (uso adequado da fonte
de atenção e a força das relações interpessoais).
283
8. Cadastro de pacientes e atenção orientada para o paciente ao longo do tempo
Tabela 8.2Tabela 8.2
Tabela 8.2Tabela 8.2
Tabela 8.2
Resumo da longitudinalidade
Existem vários métodos de avaliação da longitudinalidade
da atenção. A maioria pode ser adaptada para uso em pesquisas e
estudos com base na população e nas unidades de saúde.
A longitudinalidade da atenção não é tão bem alcançada por
determinados segmentos da população, especialmente indivíduos de
classe social mais baixa e outros grupos relativamente desprovidos.
A longitudinalidade está associada a diversos benefícios,
incluindo menor utilização de serviços, melhor atenção preventiva,
atenção mais oportuna e adequada, menos doenças preveníveis,
melhor reconhecimento dos problemas dos pacientes, menos
hospitalizações e custo total mais baixo. A longitudinalidade
envolvendo uma relação com um profissional específico confere
benefícios que são mais extensivos do que aqueles envolvendo
apenas uma relação com um local específico.
O manejo de caso é um conceito relativamente novo em
ser viços de saúde. Como uma função orientada para o paciente ao
long o do tempo, está mais intimamente relacionada ao aspecto
longitudinal da atenção primária. Suas funções são tanto clínicas
284
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
quanto gerenciais, envolvendo prioridades centradas na
necessidade dos pacientes, bem como nos imperativos
profissionais. As funções que exig em capacitação c línica (como
atenção ao primeiro contato, integ ralidade e coordenação da
atenção) são componentes lógicos do manejo de caso, mas é
necessário haver mais pesquisa e avaliação para deter minar a
plausibilidade e o impacto dos médicos assumirem mais funções
gerenciais. Em um ambiente de atenção g erenciada e de manejo
de caso de enfermidade, deve haver ampla opor tunidade para o
estudo da forma na qual a longitudinalidade é alcançada e o sucesso
dos esforços para obtê-la.
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291
O Dr. K pratica medicina na par te leste de Manhattan. Ele diz,
“Muitas vezes os pacientes entram e apresentam todos os tipos
de histórias estranhas até serem corajosos o suficiente para contar
a verdadeira razão pela qual estão aqui. Ontem uma paciente veio
e me falou sobre dores e desconfortos, dores de cabeça e
problemas em todas as partes do seu cor po, e ela tinha cer teza
que não era gripe e que havia algo errado com ela que ela não
sabia o que era. Eu a examinei mas não encontrei nada de anormal.
Então a encorajei a falar sobre o que estava sentindo. Percebi seu
olhar ansioso e obser vei-a. Finalmente, ela se rendeu e disse: “Olha,
eu estou usando drogas. Então tor nou-se claro que os problemas
que ela estava apresentando eram sintomas de abstinência. Não
acho que se eu tivesse feito uma porção de perguntas, ou mesmo
perguntado a ela se estava usando drogas, ela teria me contado.
Ela teve de criar coragem para fazê-lo e precisou de um pouco
de tempo e que eu a encorajasse. A questão é, se você puder
quebrar barreiras, você pode descobrir o verdadeiro motivo pelo
qual vieram a você e resolver o problema sem uma porção de
consultas, exames e medicamentos. Eu poderia ter dito “Você
sente muita dor e desconfor to, então vou fazer alguns exames e te
dar aspirina para tomar em casa e você vai voltar em dois dias e
vamos ver o que acontece”. Se você simplesmente ouvir e obser var
os pacientes, você aprenderá com eles. Quando você percebe um
olhar ansioso, você sabe que o paciente quer lhe contar alg o, e
você tem apenas que deixar que ele coloque para fora quando
estiver pronto para isso. Um médico cuida de pacientes, não de
toaletes, aparelhos elétricos ou condicionadores de ar. Um ser
humano é complexo, não uma máquina, então você realmente
9. INTERAÇÃO PROFISSIONAL-
PACIENTE
292
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
tem que tentar entender as coisas. Qualquer um pode pedir um
exame ou fazer uma prescrição. A g rande coisa da prática da
medicina é descobrir por quê.
As interações entre profissionais e pacientes contribuem
para o estabelecimento de relações de longa duração, que
facilitam a efetividade na atenção primária. São os meios pelos
quais os médicos aprendem a respeito de muitos, se não da
maioria, dos problemas dos pacientes e como os pacientes
aprendem a respeito da maioria dos aspectos de sua atenção.
Embora as interações entre pacientes e profissionais ocorram no
decorr er da consulta e do encaminhamento, é a amplitude e a
profundidade do contexto que distingue as interações na atenção
primária daquelas de outros níveis de atenção.
Geralmente as pessoas têm medo de contar as coisas aos médicos.
Eles podem ficar bravos, ou dizer que você está imaginando coisas,
ou pensar que é comum. Muitas pessoas têm medo de médicos.
Talvez o médico as classifique como “pacientes com distúrbios
mentais”. Como elas têm medo, aprendem a esconder coisas dos
médicos, presumindo que de qualquer forma eles descobrirão
porque são tr einados para isso. Acho que os médicos deveriam
agir como seres humanos, não como médicos. Médicos deveriam
saber que cada paciente é uma pessoa viva, com sentimentos.
Mesmo se o médico tiver tratado do mesmo problema várias e
várias vezes, cada paciente é diferente.
Sr. M., empreiteiro de 50 anos
Tanto os profissionais quanto os pacientes contribuem para o
processo de atenção médica. Quando os pacientes buscam
atendimento, eles se apresentam e expressam seus problemas,
preocupações e necessidades utilizando o sistema (utilização); o
profissional tem a responsabilidade de reconhecer os problemas,
necessidades ou preocupações do paciente (reconhecimento de
problemas) e de formular estas necessidades em um diagnóstico
para o qual um manejo adequado pode ser sug erido. Os pacientes
293
9. Interação profissional-paciente
participam através de seu entendimento das sugestões e
recomendações e de sua aceitação, se for apropriado. Também
par ticipam do regime sug erido seja por sua implementação, pelo
retorno na época recomendada, ou pela busca de alternativas quando
as recomendações não parecem apropriadas ou são inadequadas.
Os profissionais reavaliam, então, a situação, determinando se o
problema está r esolvido, se as preocupações diminuíram ou se as
necessidades for am atendidas de f orma adequada.
A relação de longa duração que caracteriza a atenção
primária será difícil de se manter se uma das partes estiver
desconfortável com sua consulta. Como muitos dos problemas que
os pacientes trazem aos médicos de atenção primária são de causa
ou prognóstico incer to, a relação deve estar for te o suficiente para
tolerar a ambigüidade, pelo menos em alguns estágios no
desenvolvimento dos problemas. Esta força é constr uída, em par te,
sobre u m livre fluxo de informações relevantes entre ambas as
partes e sobre a conexão que oferece o contexto para a relação.
Muito da comunicação ser ve para transmitir itens específicos
necessários para lidar diretamente com os problemas, preocupações
ou necessidades. A conversa verbaléaformadecomunicação
mais comum. O profissional faz perguntas para esclarecer o
problema e inf orma o paciente a respeito do diagnóstico, o plano
de intervenção dirigido para a resolução ou melhora do problema
e o plano para a reavaliação. Os pacientes oferecem infor mações
a respeito de seus problemas, preocupações e necessidades e depois
questionam o médico se aspectos do diagnóstico, terapia ou plano
de acompanhamento não estiverem claros.
Esta é a situação ideal. Na prática, podem ocorrer atalhos,
ou os pacientes podem não conseguir dizer muito a respeito de
seu problema quanto gostariam, seja porque o profissional
direciona o f luxo de informações fazendo apenas determinadas
perguntas, seja porque o paciente não tem tempo suficiente.
Algumas vezes o profissional pode fornecer muito pouca
infor mação, de for ma que o paciente é incapaz de entender o
diagnóstico, o plano de intervenção ou o plano para reavaliação.
294
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Minha mãe descobriu que tinha guaicina nas fezes em um exame de
rotina. Ela tem um histórico anterior de úlceras e nós suspeitamos
de uma recorrência, mas ela foi enviada a um gastroenterologista
para uma colonoscopia. Durante o procedimento, o médico
verbalizou suas observações, exclamando, d e for ma audível, num
deter minado momento para si e para a enfer meira auxiliar, “Lá
está ele; está o câncer. No momento da conclusão do exame,
perguntei ao médico se minha mãe e eu poderíamos sentar e
conversar com o médico, que respondeu efusivamente, “Claro”.
No consultório, o médico me fe z um inter rog atório intempestivo
enquanto, simultaneamente, ditava notas de seu exame.
Dr. C.D., eminente pediatr a
A importância das limitações na comunicação médico-
paciente é indicada pela sua relação com processos judiciais por
imperícia. Médicos de atenção primária com histórico de queixas
por imperícia têm uma probabilidade muito maior de ter más
habilidades comunicativas (com base em fitas de áudio de suas
consultas com os pacientes) do que outros médicos. As
características mais importantes da interação são educar o paciente
sobre o que esperar e sobre o fluxo de sua consulta; médicos sem
queixas de imperícia passam mais tempo com seus pacientes
(Levinson et al., 1997).
Nas teorias tradicionais sobre a interação médico-paciente, o
papel do profissional recebeu uma parte desproporcionalmente
g rande da atenção. Teóricos sociais presumiram que o médico tinha
um papel de comando por causa das funções atribuídas à interação
médico-paciente. Alguns teóricos consideravam o médico como um
agente de controle social que legitimava um “desvio social”, como
a ausência no trabalho devido a doença. De acordo com essas teorias
tradicionais, o papel do paciente é relativamente passivoeodo
profissional é dominante. Outros acreditavam que os interesses
econômicos do médico demandavam que eles mantivessem os
pacientes satisfeitos para que não buscassem atendimento em outras
fontes. Isto requer a manutenção de uma conduta “profissional”
envolvendo conhecimento especializado e uma linguagem misteriosa.
295
9. Interação profissional-paciente
Confor me estas teorias, o paciente pode não ser passivo, mas
qualquer conflito entre o paciente e o médico seria minimizado de
forma a engrandecer o médico (Freidson, 1972).
A suposição pelo médico de um papel dominante interfere
com a apr eciação do papel da miríade de determinantes da saúde,
influenciando a ação sobre pacientes e com o fato de que os pacientes
não necessariamente vêem sua atenção médica como o determinante
ou a inf luência mais notável. Além disso, médicos e pacientes
freqüentemente discordam a respeito da natureza do problema dos
pacientes; em geral, médicos e pacientes concordam em cerca de
metade do tempo apenas (Starfield et al., 1979, 1981; Connely et al.,
1989). Apenas cerca de metade de todos os pacientes relata exercer
um papel ativo na interação com seu médico; a outra metade acredita
que seu papel é passivo (Brody et al., 1989a).
O Sr. R. é um engenheiro de 42 anos de idade que apresentou
uma dor aguda no peito quando levantou uma carga de
aproximadamente 9 kg. Como ele possui um histórico familiar de
doença cardíaca, ele procurou atendimento com um cardiologista.
Seguiu-se este diálogo:
Médico: “Uma das vantagens de ser um cardiologista é que posso
aliviar seus medos. Olhei seus exames e não acredito que você
tenha apresentado um evento coronário significativo.
Sr. R.: “Obrigado doutor. Mas o senhor não diminuiu meus medos .
Sou um homem estudado e quando ouço o senhor usar as palavras
“acredito”, “significativo” e “evento” em uma frase, me preocupo com
o que o senhor está me dizendo. Não estou nem um pouco seguro.
Preço da consulta: $400.
Preço dos exames laboratoriais: $375
Algumas conceituações sobre a interação médico-paciente
atribuem um papel maior ao paciente. Szasz e Hollander (1956),
296
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
por exemplo, descr evem três modelos para a interação médico-
paciente. No primeiro, modelo atividade-passividade, o médico
toma as decisões. Isto ocor re em situações em que o paciente está
anestesiado ou inconsciente. No segundo, modelo orientação-
cooperação, o médico fornece as instruções e o paciente as r ealiza
(coopera). No ter ceiro, modelo de par ticipação mútua, o médico
auxilia os pacientes a se ajudarem; os pacientes participam na
tomada de decisão. Neste terceiro modelo, o médico não presume
saber o que é melhor para o paciente; os pacientes estão
conscientes das restrições em suas próprias circunstâncias de vida
que tor nam determinados métodos de intervenção mais ou menos
viáveis. O que é melhor para o paciente surg e da interação entre
paciente e médico para a qual ambos contribuem com sua própria
informação exclusiva e depois negociam a abordagem mais
apropriada para o manejo (Szasz e Hollander, 1956).
O crescimento do movimento de consumidores e a crescente
sofisticação da população estreitaram, inevitavelmente, a brecha
entre a competência profissional e o conhecimento do consumidor
(Haug e Levin, 1981), levando a tipos diferentes de exploração da
dinâmica da interação.
Dependendo do grau de controle do profissional sobre a
interação versus o do paciente, atualmente são reconhecidos quatro
tipos de interação. Quando tanto o paciente como o profissional
possui um alto controle, a interação é caracterizada como
“mutualidade”. Quando o paciente tem um alto controle mas o do
médico é baixo, a interação é “consumista”. O baixo controle do
paciente e o alto controle do médico produzem uma interação
“paternalista”, enquanto o baixo controle das duas partes produz
uma interação “falha” (Stewart e Roter, 1989).
Esta categorização é similar àquela indicada como uma
estr utura par a descrever a comunicação médico-paciente. Esta
estr utura possui quatro “modelos”: paternalista (o médico ar ticula
oproblemaeotratamento); infor mativo (o médico fornece as
infor mações para o paciente escolher entre as alternativas);
interpretativo (o médico esclarece os valores do paciente e o auxilia
297
9. Interação profissional-paciente
a selecionar uma intervenção); e deliberativo (o médico ajuda o
paciente a deter minar e escolher entre seus próprios valores)
(Emanuel e Emanuel, 1992).
Green (1988), um advogado de defesa em processos por
imperícia, obser vou que quase todos os litígios por imperícia
médica decorreram de mal entendidos a respeito do processo de
tomada de decisão e argumentou que a doutrina do “consentimento
infor mado” deveria ser substituída por alguma manifestação
tangível da tomada de decisão compar tilhada, talvez na forma de
“contratos” que reflitam a concordância a respeito das decisões
por par te dos pacientes e dos médicos. Sua aborda gem sug erida
envolve um formulário cur to que explica os quatro modelos de
tomada de decisão (tradicional, consentimento informado,
colaboração e escolha do paciente) e solicita que tanto os pacientes
como os médicos indiquem qual preferem.
Apesar de sua importância, o teor verbal da interação não
pode sustentar, sozinho, a relação profissional-paciente. Tanto
profissionais quanto pacientes respondem ao contexto da interação,
como cada um se sente em relação ao outro e como estes
sentimentos são transmitidos. Este contexto pode ser avaliado pela
análise dos tons de voz ao invés do teor da interação ou pela
obser vação de posturas físicas e maneirismos. O tom e a emoção
da voz têm mais influência sobre o que os pacientes levam de suas
consultas do que o teor da interação, mesmo quando itens
específicos da informação estejam envolvidos.
A literatura sobre a dinâmica da consulta médica enfoca
ambas as partes na consulta através do exame da natureza tanto
da comunicação verbal como dos comportamentos não-verbais.
Embora a comunicação entre profissional e paciente não esteja
limitada à atenção primária, a maior parte do conhecimento a
respeito do indivíduo deriva de estudos nas unidades de atenção
primária. É impossível codificar o teor da interação, bem como o
tom da comunicação vocal. Vários métodos para codificar os
componentes da interação estão disponíveis (Roter e Hall, 1989),
sendo as duas categorias principais de componentes a transferência
298
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
verbal de informações entre pacientes e médicos e os
compor tamentos socioemocionais. A transferência de informações
envolve questionamentos, infor mações relevantes sobre a
enfermidade ou problema de saúde e seu manejo, além da
concordância a respeito da identificação e tratamento do problema.
As técnicas para calcular e avaliar a transferência de infor mações
geralmente envolvem a gravação de fitas de áudio na consulta,
embora a observação e a escuta direta por um observador neutro
também seja efetiva . O teor da interação verbal é então analisado.
Componentes socioemocionais envolvem a comunicação explícita
dos sentimentos; sentimentos transmitidos como ner vosismo ou
ansiedade; amabilidade ou empatia; ou expressão da satisfação e
confiança. O teor socioemocional da interação também é avaliado
a par tir de fitas de áudio, mas neste caso as vozes passam por um
filtro eletrônico que elimina as freqüências mais altas de voz e
tor na o teor verbal ininteligível, embora preser ve o ritmo, o
andamento e outras qualidades não-verbais (Hall et al., 1987).
As características da interação médico-paciente contribuem
substancialmente para o que os pacientes pensam e fazem
conforme refletido em sua satisfação, sua recordação das
infor mações per tinentes par a seu problema, seu entendimento
daquela infor mação e sua observância em relação às orientações.
A satisfação dos pacientes com sua atenção está mais
relacionada à quantidade de informações dadas pelo profissional,
especialmente de inf or mações g era is, em vez de técnicas (Roter e
Hall, 1989). Exemplos de informações g erais incluem explicação
a respeito de problemas de saúde e seu tratamento, aconselhamento
sobre estresse e discussão da idéia dos pacientes a respeito do
problema e seu manejo. As infor mações técnicas incluem itens
como os resultados de exames e testes (Brody et al ., 1989b). A
satisfação do paciente também é melhorada por uma maior
comunicação global, especialmente pela conversação social,
conversação para formação de parceria, sentimentos positivos e
conversa positiva, mas é reduzida pela transmissão de sentimentos
ou informações neg ativas.
299
9. Interação profissional-paciente
Embora os médicos aprendam a fazer perguntas, a maioria
dos pacientes não faz tantas perguntas mesmo quando querem
infor mações. O desaf io para o médico é estabelecer um diálog o
no qual as preocupações do paciente surjam num contexto
diferente do questionamento direto. Os pacientes ficam mais
satisfeitos, tanto com os aspectos técnicos como interpessoais da
atenção, quando os médicos os envolvem na tomada de decisões
perguntando se o paciente concorda com a decisão a respeito do
problema, de suas causas e de seu manejo. O interesse demonstrado
pelo médico, na visão do paciente, tem um impacto maior sobre a
satisfação do que a capacidade percebida do paciente de fazer
perguntas ou o relato do paciente sobre comentários iniciados por
ele mesmo. Na verdade, a capacidade do paciente de fazer
perguntas ou de iniciar os comentários melhora a satisfação apenas
com os aspectos técnicos da atenção e não tem nenhum efeito
sobre os aspectos inter pessoais (Ler man et al., 1990). Assim,
quando os médicos solicitam o envolvimento de pacientes, estes
ficam muito mais satisfeitos com a atenção, um fenômeno que
apóia as teorias mais recentes de “compartilhamento” da interação
médico-paciente, em vez dos antigos modelos autoritários.
Fui ao dermatologista e a enf ermeira me levou à sala de exame e
me disse para tirar toda a roupa e deitar na maca. O médico veio e
me examinou. Foi como estar em um laboratório de patologia. Ele
estava ditando uma bela descrição da minha erupção cutânea para
um microfone no teto. De pois de me examinar por completo, a
primeira coisa que disse foi, “Bem, tenho 99 por cento de certeza
que isso não é um fung o, mas vou fazer um exame para ter 100 por
cento de certeza”. O que ele não me disse naquele momento foi
que o exame custaria $20. Ele poderia ter dito “Você g ostaria que
eu fizesse o exame agora, ou se isso não desaparecer dentro de
alguns dias, faremos o e xame mais tarde?” mas sua enfermeira
entrou, me raspou com uma pequena faca , e o médico me disse
para virar-me. Ali estava eu nu, deitado de barriga para baixo e ele
disse “Vou lhe dar uma injeção de cor tisona. Acredito que isso vai
curá-lo, ou pelo menos esper o que sim. E então a enfer meira me
300
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
espetou com uma agulha. Não gosto de tomar muitos remédios
mas não tive tempo de pensar em nada e quando você está lá, com
seu traseiro sendo espetado, você está meio vulnerável, e assim,
antes que eu tivesse chance de decidir qualquer coisa, recebi a injeção.
Depois ele me entregou um frasco de comprimidos e, quando
perguntei o que eram, ele me disse que era cortisona e me passou
uma r eceita para mais comprimidos. Então eu disse, “eu tenho que
tomar estes comprimidos? Será que a injeção não seria suficiente?”
“Bem”, ele disse, “você não tem que tomar os comprimidos”, então
ele os peg ou de mim e jo g ou no cesto. Então eu disse, “vou levar a
receita e, se a erupção não desaparecer, eu tomo o remédio”. “Não”,
ele disse, “você sabe o que é melhor”, e rasgou a receita.
Sr. C., contador de 30 anos
Os pacientes têm maior probabilidade de aceitar conselhos
e instr uções quando o profissional for nece mais informações, fa z
menos perguntas gerais (mas mais perguntas a respeito da adesão)
e fornece mais devoluções positivas e menos neg ativas. Além disso,
os pacientes entendem melhor o aconselhamento, especialmente
quando o profissional se esforça para constr uir uma parceria.
Estratégias úteis para melhorar o entendimento do paciente em
relação ao aconselhamento (Roter e Hall, 1989) incluem:
Apresentação das inf or mações no início da consulta
Cuidado com as instruções para que sejam específicas e
não gerais
Org anização das informações por blocos c laros
Repetição das informações mais impor tantes
Pedir devolução dos pacientes em relação a seu
entendimento
Resumo das informações no fechamento da consulta
As características da interação entre médicos e pacientes
também influenciam os resultados da atenção médica. Quando
ambos concordam sobre a natureza do problema, é mais provável
que o resultado seja considerado como uma melhora quando
avaliado pelo paciente e pelo médico no momento da consulta de
301
9. Interação profissional-paciente
acompanhamento (Starfield et al., 1979, 1981; Bass et al., 1986;
Headache Study Group, 1986). Além disso, quando os pacientes
acreditam que foram participantes ativos na consulta médica, eles
relatam menos desconfor to, maior alívio de seus sintomas e mais
melhoras em sua condição geral no acompanhamento uma semana
depois da consulta. Também relatam menos preocupações com
sua doença e um maior senso de controle sobre ela (Brody et al.,
1989a; Wasser man et al., 1984). Os sinais objetivos do melhor
controle da doença também são evidentes quando os pacientes
participam ativamente da interação médico-paciente. Por exemplo,
um maior envolvimento do paciente resulta em um melhor controle
do diabetes, melhor controle da pressão arterial e qualidade
melhorada de vida (Greenfield et al., 1985, 1988; Roter, 1977;
Kaplan et al., 1989; Orth et al., 1987; Stewart, 1995).
Um grande estudo realizado em três cidades nos Estados
Unidos, envolvendo adultos com doença crônica sob os cuidados
de médicos de atenção primária, endocrinologistas ou
cardiologistas, mostrou que a tomada de decisão mútua (“estilo
participa tivo”) nas consultas aumentou de forma linear, conforme
a duração da relação aumentava de uma primeira consulta até 5
anos ou mais (Kaplan et al., 1995). Uma escala para a participação
na tomada de decisão resultou de respostas a três perguntas,
questionando se o médico pediria ao paciente para ajudar a tomar
uma decisão a r espeito da escolha do tratamento, se faria algum
esforço para oferecer aos pacientes algum controle sobre o
tratamento e se ele pediria ao paciente para que assumisse alguma
responsabilidade pelo tratamento. Entretanto, a importância do estilo
participativo foi muito mais significativa em relação à duração
subseqüente da relação. Pacientes de médicos com estilos de maior
tomada de decisão participativa tinham menos probabilidade de
mudar de médico durante o primeiro ano de acompanhamento
subseqüente. Médicos de família e endocrinologistas tiveram maior
probabilidade de serem classificados como tendo boa capacidade
do que os cardiologistas, principalmente se estavam em unidades
de saúde pequenas (Kaplan et al., 1996).
302
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Apesar dos muitos estudos e da extensa literatura a respeito
da comunicação médico-paciente, muito ainda deve ser aprendido.
Embora a maioria dos estudos tenha sido realizada em
estabelecimentos de atenção primária, não houve tentativa de
deter minar a relação entre os estilos de comunicação e a extensão
da obtenção das características de atenção primária. Como
resultado, não sabemos se os médicos que for necem melhor
atenção primária em geral também têm melhores habilidades de
comunicação. Fora o estudo acima mencionado (K aplan et al.,
1996), que examinou a influência do estilo de comunicação sobre
a duração da relação médico-paciente, os estudos não têm
explorado a extensão de sua associação com a atenção ao primeiro
contato, a integ ralidade ou a coordenação da atenção. Além disso,
tem havido uma confusão considerável nos conceitos que têm sido
estudados, especialmente em relação aos fenômenos
aparentemente superpostos da confiança, comunicação e satisfação
(Thom e Campbell, 1997). Todos os três podem ser importantes
no contexto da longitudinalidade, a qual envolve uma relação
contínua, orientada para a pessoa, ao longo do tempo (Leopold et
al., 1996). Ainda assim, a confiança não é algo exclusivo das
relações entre médico e paciente na atenção primária, sendo
igualmente importante para que os pacientes estejam satisfeitos
com a atenção recebida tanto de subespecialistas como de médicos
de atenção primária. Entretanto, pouco se sabe a respeito da
importância dos vários aspectos da comunicação médico-paciente
em diferentes tipos de unidades de saúde. Evidências de que os
processos por imperícia na atenção especializada, especialmente
em relação aos cir urgiões, não estão r elacionadas ao estilo de
comunicação sugerem que ou os padrões de comunicação são
relativamente muito menos importantes ou que a natureza da base
para o processo difere. Por exemplo, se os processos por imperícia
protocolados contr a cir urgiões são basicamente realizados por
erros cometidos, enquanto aqueles protocolados contra os médicos
de atenção primária são er ros por omissão, as implicações para a
natureza da comunicação médico-paciente serão diferentes.
303
9. Interação profissional-paciente
Embora “acreditar” tenha sido definida como “a crença de
uma pessoa de que as palavras e ações do médico são dignas de
confiança” (ou seja, confiar), os instr umentos que têm sido usados
para medi-la não abordam exatamente a “confiança”. A ferramenta
mais usada (Anderson e Dedrick, 1990) contém questões como
“duvido que meu médico realmente se importe comigo como pessoa”
e “geralmente, meu médico leva minhas necessidades em
consideração e as coloca em primeiro lugar”; isto reflete a natureza
das interações paciente-médico em vez dos estados de crença. Além
disso, cinco das 11 questões na escala usam a palavra “confiança”
sem defini-la. Os estudos não têm conseguido esclarecer a natureza
das coincidências e interações entre “confiança”, satisfação e
comunicação, e não são claros quanto às causas subjacentes dos
benefícios decorrentes de suas influências relativas. “Satisfação” com
um médico e estilos de comunicação estão relacionados, mas não
de forma extrema, ou seja, a g rande satisfação nem sempre está
associada à boa comunicação e a boa comunicação nem sempre
está relacionada à g rande satisfação. Pelo menos par te da associação
pode se referir ao fato de que as mesmas questões são usadas para
medir ambos os aspectos. Ambos têm sido associados a uma melhor
concordância, mas os estilos de comunicação participativa (e,
por tanto, a concordância entr e o médico e o paciente a respeito da
natureza do problema do paciente) estão mais altamente associados
a melhores r esultados, sugerindo, dessa forma, uma maior saliência
da natureza da comunicação. Ou seja, parece provável que a cadeia
de efeito vai do tipo de comunicação para a concordância
profissional-paciente a respeito dos problemas e estratégias para
inter venção para uma melhor concordância e entendimento do
paciente, e daí, para melhores resultados. “Confiança” e “satisfação”,
nesta conceituação, são subprodutos destas relações.
Infelizmente, nenhum estudo foi desenhado para testar os
caminhos que resultam em melhores resultados da atenção e a
aplicabilidade dos resultados aos diferentes tipos de necessidades
do paciente em diferentes ambientes. Do ponto de vista da atenção
primária, a necessidade de esclarecimentos é par ticularmente aguda
304
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
por causa da maior diversidade de tipos de necessidades que devem
ser atendidas. Os subespecialistas lidam basicamente com um tipo
de necessidade: manejo de um problema apresentado que foi
definido em algum nível. Os médicos de atenção primária não
apenas têm de lidar com os problemas atuais, pelo menos metade
dos quais são suficientemente vagos para que não possam ser
explicados por diagnósticos médicos convencionais (Weston e
Brown, 1989; Pollack et al., 1993), mas eles também têm de lidar
com seu impacto sobre os futuros padrões de utilização e busca
de auxílio por par te do indivíduo, com o manejo de problemas em
andamento, e com a promoção opor tunista da saúde (Stott e Davis,
1979). A natureza dos desafios à comunicação profissional-
paciente pode não ser a mesma para todos, e nenhum estudo
considerou as possíveis diferenças no impacto de diferentes estilos
de comunicação em cada uma destas situações.
Embora a consulta médica seja, tempos, considerada uma
arte e não uma ciência, novas vertentes de pesquisa demonstram
como as antig as técnicas são receptivas a estudos e mudanças.
Existe uma “tecnologia” que pode ser ensinada. Conversar com
os pacientes pode ser uma arte antiga, mas também existe uma
ciência moder na baseada em evidências empíricas. O treinamento
em habilidades de comunicação realmente melhora o desempenho
dos médicos, pelo menos no julgamento dos pacientes (Kaplan et
al., 1995). Médicos treinados em habilidades que resultem em
pacientes que participam mais ativamente da consulta médica
conseguem deles melhores informações para o diagnóstico (Maguire
et al., 1986). Este treinamento também melhora a qualidade da
explicação que o médico aos pacientes e melhora a utilidade
daquilo que o paciente conta ao médico (Putnam et al., 1988).
Estão disponíveis listas de verificação para avaliar as habilidades
de entrevista médica no nível de graduação (Kraan et al., 1989).
Existem modelos para ensinar habilidades em comunicação
médico-paciente durante a residência (Schofield e Arntson, 1989).
Ao receber este treinamento, os residentes em atenção primária
são mais capazes de detectar doenças psiquiátricas entre seus
305
9. Interação profissional-paciente
pacientes (Goldberg et al., 1980). Se as habilidades em
comunicação não fizerem parte do treinamento médico, podem
ser aprendidas mais tarde (Kurtz, 1989).
Em uma era em que os pacientes são encorajados a participar
mais ativamente nas consultas médicas e os médicos são exortados
a dedicar mais atenção às causas socioeconômicas da doença e
enfer midade, é dito que em propagandas médicas as formas como
os pacientes são re presentados são, cada vez mais, semelhantes a
espécimes desmembrados, seres mecânicos, sexuados, fisicamente
ativos. Todas estas são r epresentações biomédicas das pessoas.
Elas apóiam a tendência da medicina biomédica para dar
importância à tecnologia e ao tratamento medicamentoso para
problemas localizados, para estimular o anonimato do paciente,
para promover a visão do “ser dividido”, e desvalorizar os
aspectos afetivos da relação médico-paciente.
D.L., Inter national Journal of Health Services (Lupton, 1993)
A adequação da interação paciente-médico inclui mais do
que a simples transferência de infor mações. O que os pacientes
sabem a respeito de seus problemas e de seus tratamentos é
deter minado por mais do que aquilo que os profissionais contam
a eles. A doença possui significados para o paciente que vão muito
além de sua manifestação física porque toda doença produz
alguma perturbação na vida de uma pessoa. A cura de uma doença
remove a anor malidade física, mas requer a restauração das
relações perturbadas pela doença. Se um profissional não se ativer
a correlatos não físicos da doença por não explorar seu significado
para o paciente, o resultado pode ser insatisfa tório (McW hinney,
1989). Os pacientes chegam com preconceitos que influenciam
a forma como inter pretam tanto sua doença como os conselhos
médicos. Quando os profissionais exploram com os pacientes o
que eles sabe m e o que pensam a respeito de sua doença, seus
efeitos e seu manejo, estes preconceitos podem ser revelados.
Então o médico pode f ornecer infor mações em um contexto
significativo para o paciente. Por este motivo, a franque za no
306
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
aconselhamento factual não é, geralmente, a melhor abordagem,
embora possa parecer eficiente (Maynard, 1990). A for ma como
as infor mações são transmitidas aos pacientes e seu envolvimento
como participantes ativos no diálogo têm um impacto poderoso
sobre o que pensam, como se sentem e como reagem às
orientações médicas.
Como a saúde é fortemente influenciada pelo contexto social
em que as pessoas vivem e trabalham, seria esperado que os fatores
sociais fossem um componente importante das interações médico-
paciente. Muitos estudos demonstraram que este não é o caso. O
treinamento de médicos g eralmente enfoca os deter minantes
biológicos da doença, em vez dos deter minantes sociais, e não
existe um método aceito de categorizar os fatores sociais como no
caso dos fatores biológicos. A análise filosófica e empírica de
Waitzkin (1991) sobre a natureza da interação entre médicos e
pacientes mostra como a ideologia deter mina o teor do discur so e
como ela leva os médicos a evitarem as questões sociais que causam
as doenças e influenciam seu cursoearesposta ao tratamento.
Por exemplo, uma meta bem aceita de a tenção médica é fazer com
que os indivíduos voltem ao trabalho. Como os pacientes possuem
sistemas de valores diferentes e podem não compartilhar estas
metas, a discussão aberta de estratégias para reduzir a doença, a
incapacitação e o desconforto podem produzir discordância e
conflitos. Muitos dos determinantes da enfermidade e do estado
de saúde estão além do controle dos indivíduos. Mesmo aqueles
comportamentos individuais comumente tidos como iniciados e
mantidos por escolha do indivíduo são fortemente influenciados
pelo contexto social e ambiental (ver Fig. 1.2). Assim, solucionar
muitos problemas de saúde requer muito mais do que lidar com os
indivíduos apenas; as interações profissional-paciente, muitas
vezes, têm de levar em consideração o contexto da população.
Como resultado, a solução par a muitos problemas de saúde está
na ação coletiva que leva à alteração ambiental e social das
condições que predispõem e mantém a doença.
307
9. Interação profissional-paciente
Tradicionalmente, o ensino médico não consegue reconhecer
que os próprios indivíduos não podem mudar muitas das
circunstâncias nas quais se encontram. O resultado desta falha
leva a inter venções médicas paliativas, e não curativas, porque
são direcionadas ao aumento da capacidade do indivíduo em se
acomodar a situações que afetam adversamente à saúde, e não em
mudá-las. Por exemplo, o estresse e suas inf luências sobre a
predisposição a doenças são, geralmente, tratados com
medicamentos que ajudam a pessoa a se adaptar às condições do
ambiente, embora continuem a causar danos ao indivídu o e a outras
pessoas expostas às mesmas ad versidades.
O reconhecimento adequado da natureza destes determinantes
da saúde vem de interações com pacientes individuais pode se
tornar uma ferramenta importante para os profissionais em seu papel
como protetores da saúde das populações. Sem este reconhecimento,
as tensões subjacentes na interação profissional-paciente
per manecem sem solução, confor me os indivíduos passam a
reconhecer que seus profissionais têm pouco a oferecer no caminho
das soluções definitivas para seus problemas de saúde. A abordagem
de curta duração para alterar esta tensão subjacente no discurso
médico está fundamentada em uma tentativa consciente, por parte
dos médicos, de reconhecer a existência desta tensão subjacente,
entender seu fundamento e evitar soluções técnicas, como
medicamentos, para reduzir o estresse relacionado ao trabalho e
induzido pelo ambiente e seus ef eitos fisiológicos. Em vez de
“supermedicar” o problema de saúde, os médicos poderiam ajudar
os pacientes a entender a gênese de seus problema e encorajá-los a
se envolver em atividades coletivas, e não individuais, para lidar
com os determinantes subjacentes dos problemas. Em curto prazo,
será necessária a reestruturação mais fundamental dos sistemas de
saúde e das interações profissional-paciente para trazê-los para uma
relação mais próxima com outros sistemas sociais, no contexto da
atenção à saúde de populações, para tornar a atenção médica mais
efetiva e eqüitativa na prevenção, cuidado e cura das doenças, e na
promoção da saúde.
308
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
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313
Alisa é uma criança de quatro anos de idade cujo crescimento e
desenvolvimento têm sido nor mais. No último ano, entretanto,
tem sofrido de otite média aguda que parece nunca curar apesar
do tratamento aparentemente adequado. Faltou a diversas
consultas médicas e sua mãe não telefona para cancelar ou
remarcar. Numa reunião mensal para estudo de caso, a situação
foi discutida e f oi decidido que a Drª S. faria uma visita domiciliar.
A família vive num prédio de apartamentos em um bairro de
baixa renda. O prédio tem um elevador, mas os corredores são
escuros. O a partamento da família, entretanto, é iluminado e bem
arrumado. Quando a Drª S. tocou a campainha, foi afetuosamente
recebida pela Srª M. e seus três filhos, que não tinham ido à
escola naquele dia. Ao longo da discussão sobre a família e seus
problemas de saúde, a Drª S. perguntou onde as crianças
dor miam e a Srª M. se ofereceu para mostrar-lhe o apartamento.
Quando se sentaram na sala para tomar o café preparado pela
Srª M, a Drª S. notou uma por ta fechada na entrada da sala e
perguntou que quarto era aquele. A Srª M. ofereceu-se para
mostrar-lhe e abriu a porta. Sentada no canto estava uma velhinha
de cabelos brancos balançando-se para frente e para trás e
falando sozinha. Poucos minutos de obser vação convenceram a
Drª S. de que a mulher, avó materna, estava em franca alucinação.
A intervenção posterior do ser viço social resultou numa
internação adequada da avó. O problema do ouvido de Alisa,
que persistia porque a Srª M. estava distraída com a esquizofrenia
10. INTEGRALIDADE DA ATENÇÃO:
QUEM DEVERIA OFERECER
O QUE
314
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
da própria mãe e conseqüente incapacidade de centrar-se no
tratamento prescrito, foi resolvido.
A integralidade exige que a atenção primária reconheça,
adequadamente, a variedade completa de necessidades relacionadas
à saúde do paciente e disponibilize os recursos para abordá-las.
As decisões sobre se a atenção primária, e não outro nível de
atenção, detém a capacidade de prestar serviços específicos variam
de lugar para lugar e de época para época, dependendo da natureza
dos problemas de saúde de diferentes populações.
As interações profissional-paciente específicas não fornecem
apenas discernimento quanto aos prováveis determinantes da
saúde e suas possíveis interações em pacientes individuais. Elas
também fornecem indicações quanto à probabilidade de saúde
entre outras pessoas que possam ser examinadas pelo profissional
ou pela unidade ou plano de saúde. Ou seja, as mesmas
predisposições à doença que ocorrem no paciente específico também
podem existir em outros que vivem na mesma comunidade ou estão
expostos às mesmas condições sociais, ambientais ou ocupacionais.
O reconhecimento adequado da gênese do problema de um paciente
fornece, assim, uma poderosa ferramenta para o profissional a fim
de influenciar a natureza dos ser viços que deveriam ser prestados à
população sob cuidado na unidade, na unidade de saúde, pelo plano
de saúde ou pelo sistema de saúde integrado.
A atenção primária é o ponto de entrada para a atenção à
saúde individual, o locus da responsabilidade continuada pelos
pacientes em populações e o nível de atenção na melhor posição
para interpretar os problemas apresentados no contexto histórico
e meio social do paciente. Assim, a f or ma pela qual é for mulada
para prestar os serviços e de como fazê-lo de for ma adequada são
componentes-chave de uma estratégia para melhorar a efetividade
e a equidade dos serviços de saúde.
Entretanto, a atenção primária é apenas um componente
(embora seja o componente fundamental) dos sistemas de saúde. Seu
papel é prestar, diretamente, todos os serviços para as necessidades
315
10. Integralidade da atenção: quem deveria oferecer o que
comuns e agir como um agente para a prestação de serviços para as
necessidades que devem ser atendidas em outros lugares.
A experiência continuada é necessária para manter a
competência ao lidar com problemas; não deve ser esperado que
nenhum tipo de profissional lide sozinho com todas as necessidades
na população. Ao invés disso, a integ r alidade requer que os serviços
estejam disponíveis e sejam prestados quando necessários para os
problemas que ocorrem com freqüência suficiente para que os
profissionais mantenham sua competência. A variedade de serviços
disponíveis e prestados na atenção primária pode, assim, variar de
comunidade para comunidade confor me incidência ou prevalência
de pr oblemas forem diferentes. que a atenção primária está
orientada para o atendimento das necessidades das pessoas, deve
disponibilizar uma variedade de ser viços voltados para estas
necessidades e alcançar um alto nível de desempenho no
reconhecimento de necessidades existentes na população. As
“necessidades” podem ser sintomas, disfunções, desconfortos ou
enfermidades; também podem ser intervenções preventivas
indicadas ou a té mesmo inter venções para promoção da saúde. O
desafio é reconhecer as situações nas quais uma intervenção é
necessária e justificada. A variedade de tipos de problemas de
saúde na atenção primária é muito maior do que em qualquer outro
tipo de a tenção, sendo mais ampla, por tanto, a variedade de todos
os tipos de inter venções. Reconhecer quando os ser viços são
necessários é um desafio não apenas para aqueles que estão doentes
e buscam atendimento. Como a atenção primária é continuada, as
funções de cuidado e cura são provavelmente mais prolongadas,
extensivas e mais variadas. Tipos mais extensivos de recursos
devem, muitas vezes, ser aplicados. Os serviços nor malmente não
prestados na atenção subespecializada, como consultas
domiciliares e outros esforços além, são freqüentemente
necessários como parte da atenção integral. Como a atenção
primária lida com um conjunto maior de preocupações quanto à
saúdeeofazdentro de um conte xto social mais amplo, deve
possuir um amplo conjunto de tipos de r ecursos à sua disposição.
316
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Embora possa parecer que quanto maiores a variedade e a
aplicação dos ser viços disponíveis, melhor o cuidado, isto não é
necessariamente verdade. Alguns tipos de serviços podem não ser
efetivos, alguns podem ser efetivos mas não valem o custo, e alguns
podem ser prejudiciais. Como é obser vado mais adiante neste
capítulo, tomar uma decisão sobre uma variedade adequada de
ser viços é uma questão política impor tante e um componente
chave do papel dos serviços de atenção primária.
Em pequenas unidades de saúde, como o consultório de um
profissional individual, a variedade de serviços disponíveis será,
necessariamente, menor do que nas unidades de saúde maiores porque
a eficiência exige que equipamentos e instalações estejam disponíveis
apenas se o uso for suficientemente alto. Nas pequenas unidades de
saúde, em que a variedade de serviços é menor, o prestador deve
assegurar que seja feito um encaminhamento adequado e que os
serviços necessários sejam recebidos. A reforma da atenção à saúde
para o século XXI envolverá cada vez mais organizações e populações-
alvo maiores; as decisões políticas referentes a uma variedade
adequada de serviços, ao mesmo tempo, tornar-se-ão mais fáceis e
mais complexas. Isso resultará em um maior alívio porque haverá uma
capacidade maior para o uso de informações para aprender sobre a
natureza e a distribuição dos problemas de saúde. Por outro lado, isso
resultará em maior complexidade devido ao reconhecimento crescente
de que diferentes populações têm diferentes necessidades e, portanto,
requerem um complexo de serviços.
A integralidade da atenção é um mecanismo importante
porque assegura que os serviços sejam ajustados às necessidades
de saúde. Quando os serviços são muito limitados em alcance ou
profundidade, as doenças preveníveis podem não ser prevenidas,
enfer midades podem evoluir por mais tempo do que o justificável,
a qualidade de vida pode ser colocada em risco e as pessoas podem
morrer mais cedo do que deveriam. Os próprios pacientes
reconhecem a importância da integralidade e expressam sua
insatisfação em sua ausência. Por exemplo, Fletcher e colaboradores
(1983) descobriram que a integralidade é a segunda característica
317
10. Integralidade da atenção: quem deveria oferecer o que
mais importante do cuidado (depois da continuidade) para os
pacientes que procuram uma clínica de atenção primária para adultos.
Hickson e colaboradores (1988) descobriram que o terceiro motivo
mais comum para a insatisfação dos pais, depois da falta de resposta
ao tratamento e localização inconveniente do consultório, foi a falta
de interesse pelos problemas comportamentais de seus filhos.
A integralidade é, assim, julgada pelo quanto a variedade
disponível de ser viços atende às necessidades que são comuns em
todas as populações e as necessidades que são comuns na
população atendida, bem como a extensão na qual evidências
de que os serviços são usados de forma adequada para atender a
estas necessidades.
Fui consultar um otorrinolaringologista porque sentia dor de
ouvido. Ele enfiou alg o no meu ouvido, forçou e forçou e disse
que não via nada de er rado. Eu falei, “mas doutor, dói tanto que
às vezes chega a doer o olho”. Ele examinou de novo meu ouvido
com aquela luz e girou e depois disse que era tudo imaginação
minha. Quando ele disse que era tudo imaginação minha, comecei
a ficar com raiva, e quando ele disse aquilo me levantei e disse
“Muito obrigada por não descobrir nada de errado com meu
ouvido, Doutor. Quanto é a consulta?” Ele me disse e eu falei
“Por que o senhor não imagina que eu acabei de pagá-lo?” E saí.
Eles ficam com raiva da gente e isso faz com que a gente tenha
vontade de começar a g ritar “Ei, eu sinto dor. Por que não me
escuta por cinco minutos? Eu venho até aqui pedir ajuda e você
me diz que eu não tenho tais dores e está tudo na minha cabeça”.
Eu não acho que eles devam dizer qualquer coisa até que me
escutem primeiro e depois cheguem à conclusão sobre o quê está
errado. Se não tem nada er rado com meu ouvido, então o médico
deveria descobrir o quê está causando a dor e não achar, porque
não tenho um problema na parte do corpo que eles cuidam, que
não tem nada errado. Eu gosto dos médicos, mas eles têm que
escutar e ter um pouco de compaixão pelo paciente e não apenas
pensar naquela par tezinha do meu cor po.
Srª R., secretária de 60 anos de idade.
318
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
BENEFÍCIOS DA INTEGRALIDADE:
A PREVENÇÃO COMO UM EXEMPLO
Os benefícios da atenção integral podem ser deduzidos a
partir dos benefícios conhecidos da atenção preventiva (Russell,
1986) e a par tir dos benefícios da prestação de serviços que têm
sua efetividade conhecida para as populações com necessidades
específicas de saúde. Um estudo cr uzado nacional, entretanto,
questiona a suposição de que todos os ser viços necessários devem
ser prestados ou providenciados pela fonte de atenção primária.
Depois de comparar os sistemas de saúde nos Estados Unidos
com aqueles em várias nações da Europa ocidental, Silver (1978)
concluiu que as crianças tinham mais probabilidade de ter
recebido a atenção preventiva indicada, como imunizações,
naqueles sistemas em que a responsabilidade por estes
procedimentos preventivos estava dissociada da prática de
atenção primária e tinha sido assumida por um órgão público. Se
este é o caso em g eral ou se é apenas o caso quando os ser viços
de atenção primária não são adequados ainda deve ser
deter minado. O fator crítico pode ser quão suficientemente bem
org anizado é o órgão público para prestar o serviço de for ma
sistemática e integrada. Nos Estados Unidos, onde o
envolvimento local na saúde pública na prestação de ser viços
tem diminuído muito nas últimas décadas, pode não haver
recursos adequados para manter estes esforços. Por exemplo,
quando o acesso aos profissionais de atenção primária é
melhorado como resultado de uma melhor cobertura de seguro
para atenção preventiva (incluindo imunizações e atenção pré-
natal), famílias com cobertura de seguro deficiente ou sem
cobertur a tem maior probabilidade de receber estes serviços de
seu prestador de atenção primária do que de unidades de saúde
pública separadas (Rodewald et al., 1997; Simpson et al., 1997).
A prevenção é uma necessidade especial na atenção
primária. Historicamente, a prevenção tem uma função de saúde
319
10. Integralidade da atenção: quem deveria oferecer o que
pública; as atividades mais preventivas foram direcionadas às
populações, principalmente para proteg er o bem-estar do público,
e não a saúde do indivíduo. freqüentemente regidas por leis e
regulamentações, elas tratavam a todos igualmente: todo mundo
precisava de imunizações. Todo mundo precisava de proteção
contra doenças induzidas pelo ambiente. Entretanto, a prevenção
se expandiu do simples conceito de proteção das populações
contra a doença para inter venção em sua fonte ambiental. A
prevenção, a tualmente, considera os riscos que apenas alguns
indivíduos enfrentam devido a suscetibilidades biológicas ou
sociais específicas. Quando todos estão sob risco, ou quando a
probabilidade de estar sob risco é desconhecida, freqüentemente
um bom caso para uma estratégia de saúde pública, e não
clínica, em relação à prevenção. As estratégias baseadas na
população podem nem sempre ser as mais eficientes ou nem as
mais se guras quando nem todos estão sob risco, e se tornam menos
justificáveis confor me diminui a probabilidade de risco. Além
disso, nem todos querem se engajar na prevenção quando isso
requer ações pessoais ou quando é imposto através de uma
burocracia visível.
A prestação de serviços preventivos para todos os indivíduos
tem a vantagem de parecer eqüitativo; um caso neste ponto foi a
recomendação norte-americana de examinar todos os bebês em
busca de anemia falcifor me, embora esta seja 168 vezes mais
comum entre afro-americanos do que entre americanos brancos,
baseada na idéia de que “o exame beneficiaria igualmente a todos
os be bês” (Sickle Cell Disease Guideline Panel, 1993). Entretanto,
cada inter venção (incluindo as inter venções pr eventivas) tem
riscos, e sujeitar os indivíduos de baixo risco para o problema aos
riscos da intervenção, provavelmente, causa mais danos do que
seria esperado pela ocorrência improvável do próprio problema.
Além disso, não garantia de que mesmo uma estratégia para
alcançar a todos na população atingirá aqueles mais difíceis de
alcançar e que podem apresentar maior necessidade.
320
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Muitas atividades clínicas de prevenção estão relacionadas
a enfermidades específicas; outras são mais orientadas,
geralmente, à melhora da capacidade de recuperação contra uma
variedade de ameaças à saúde. Exemplos na primeira categoria
são mamografias para detectar câncer de mama, exame de
hipertensão para detectar a susceptibilidade a enfer midades
cardiovasculares e exame de recém-nascidos para detectar doenças
metabólicas congênitas em um estágio inicial pré-sintomático. Na
última categoria constam as atividades primárias preventivas, como
cintos de segurança e capacetes, aleitamento ma ter no e inter rupção
do tabagismo. Como nem todos estão sob risco de efeitos adversos,
seja de doenças específicas, seja da multiplicidade de problemas
que podem ser prevenidas pela intervenção, a probabilidade de
estar sob risco precisa ser investigado. O desafio para os serviços
de saúde é deter minar quando a averiguação será melhor realizada
através de uma abordagem baseada na população e quando uma
função da medicina clínica será mais adequada.
As intervenções para toda a população, que são geralmente mais
apropriadamente realizadas pelas atividades de saúde pública, são
mais apropriadas quando a avaliação do risco individual é impossível
ou difícil, quando um baixo risco de efeito adverso, e quando o
problema a ser prevenido tanto é comum como tem implicações sérias
para a população. (As abordagens para toda a população também são
mais apropriadas quando é sabido que todos estão sob risco, como é
o caso de problemas ou lesões induzidas pelo ambiente.)
Freqüentemente, a escolha entre a abordagem generalizada
(toda a população) e a seletiva (populações selecionadas) para
investig ação dos riscos, e, por tanto, dos méritos relativos de uma
abordagem de saúde pública ou de medicina clínica, não é fácil. A
seleção da abordagem mais apropriada requer um conhecimento
preexistente sobre a probabilidade do risco (Rose, 1992). Isso exige
uma ferramenta que seja capaz de identificar os riscos, de modo
que tenha sensibilidade e especificidade aceitáveis, que tenha
limites razoavelmente precisos e pouca ambigüidade na zona limite
321
10. Integralidade da atenção: quem deveria oferecer o que
entre o anor mal e o normal, seja aceitável aos pacientes e
prestadores de serviços, não cause efeitos adversos quando as
pessoas forem falsamente classificadas, seja viável na prática, e
não seja inaceitavelmente cara para ser realizada. A questão de
evitar efeitos adversos desnecessários devido a resultados falsos é
mais crítica nas abordagens da população em geral do que nas
seletivas porque mais efeitos colaterais podem ser tolerados em
populações que se encontram em alto risco. O alto custo é mais
facilmente tolerado nas abordagens seletivas pelo mesmo motivo:
o alto custo é mais aceitável quando o risco é mais alto. Algumas
vezes as abordagens generalizadas são melhores apenas porque as
oportunidades para se alcançar as pessoas são melhores; as
abordagens seletivas, geralmente, requerem que haja um
mecanismo especial para alcançar aqueles em risco. As abordagens
generalizadas são melhores para problemas que são comuns na
população ou impõem um problema de saúde pública. Esta é a
razão pela qual as imunizações, algumas vezes, são realizadas como
função da saúde pública e não da medicina clínica. As abordagens
consag radas à saúde pública também são, muitas vezes, justificadas
como mais efetivas porque a medicina clínica tem sido lenta ao
assumir o desafio da prevenção (Starfield e Vivier, 1995).
A Tabela 10.1 indica que as diferentes características da
unidade de saúde, observadas a partir da perspectiva dos
componentes do sistema de saúde, que influenciam o fato de uma
abordagem populacional (todos recebem a intervenção preventiva,
quer por um plano ou centro de saúde, quer através de um esforço
da saúde pública) ou uma abordagem seletiva (a intervenção é
indicada apenas para as populações de alto risco) ser,
provavelmente, a melhor estratégia quando uma escolha a ser
feita. Os tipos, o treinamento e a motivação dos funcionários na
unidade de saúde, a adequação das informações disponíveis e sua
transferência, os incentivos financeiros e a clara definição da
população abrangida pela unidade são todas considerações
estr uturais r elevantes.
322
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Vários esforços anteriores, incluindo a educação médica
convencional continuada e o uso de diretrizes para melhorar a
extensão em que as atividades preventivas são realizadas na prática
clínica, tiveram efetividade limitada. A complexidade da prática
de atenção primária está associada à extraordinária variabilidade
no desempenho (Crabtree, 1997). A totalidade com a qual as
unidades de saúde são capazes de reconhecer os problemas e
necessidades na população, a adequação de seu diagnóstico e os
procedimentos de tratamento, além das características da
população, que significam a probabilidade de aceitação das
atividades preventivas, influenciarão a escolha entre as abordagens
de atenção primária e de saúde pública.
Tabela 10.1Tabela 10.1
Tabela 10.1Tabela 10.1
Tabela 10.1
Requisitos do sistema de saúde para as abordagens bem sucedidas de
prevenção populacional
versus
seletivas
323
10. Integralidade da atenção: quem deveria oferecer o que
IMPLICAÇÕES POLÍTICAS E DE PESQUISA DA
INTEGRALIDADE DA ATENÇÃO: SERVIÇOS A
SEREM PRESTADOS PELA ATENÇÃO PRIMÁRIA
Em alguns países, a especificação dos serviços que
deveriam ser prestados na prática clínica ao invés de serem
oferecidos nas atividades de saúde pública é estabelecida por
uma política nacional. Freqüentemente, as decisões quanto ao
que deveria ser coberto são tomadas pela limitação da
disponibilidade de recursos para a atenção clínica; onde existe
pouco ou nenhum recurso para prestar um ser viço definido, não
é necessário nenhuma decisão individual sobre sua utilidade para
qualquer indivíduo específico porque simplesmente não está
disponível para ninguém (Grogan, 1992). Claramente, esta é a
abordagem mais eqüitativa para especificar a variação de ser viços
a serem prestados. Em outros países, o único limite para os
ser viços que estão disponíveis é a demanda dos profissionais e
dos pacientes; como os mercados podem gerar sua própria
demanda, geralmente existe um alto grau de iniqüidade na
variedade de ser viços disponíveis para suas populações. O efeito
desta diferença é demonstrado pela consideração da freqüência
com a qual deter minadas tecnologias são usadas em diferentes
países (Fig. 10.1). Embora nenhuma destas seja intervenção de
atenção primária, os mesmos tipos de diferenças também são
encontrados para a tecnologia disponível na atenção primária,
assim como é especialmente notável na França e na Alemanha.
Mesmo em países em que a demanda direciona a variedade de
serviços que são prestados, os crescentes mandatos por
responsabilidade resultante dos gastos públicos crescentes de
fundos, provavelmente, produza uma maior homogeneidade da
variedade de ser viços disponíveis para diferentes g r upos da
população. Entretanto, onde a privatização do financiamento é
cada vez mais comum, maior é a probabilidade de resultar em
heterogeneidade e iniqüidade.
324
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
As decisões políticas referentes ao locus apropriado de
responsabilidade não estão limitadas aos ser viços preventivos. A
questão política relevante para a integralidade, em geral, está
embasada na decisão de quais serviços per tencem, adequadamente,
à atenção primária e quais devem ser disponibilizados em outro lugar.
Na melhor das hipóteses, a variedade de ser viços prestados
seria determinada apenas pela necessidade e prestada em níveis
de atenção em que os clínicos encontrem esses serviços de forma
suficientemente freqüente para manter a competência em lidar com
eles. Na prática, são necessários ajustes porque os recursos são
limitados e necessidades concorrentes para vários tipos de
ser viços de saúde e para outros serviços sociais além da saúde,
como habitação e educação.
Em qualquer sistema de saúde, organização de atenção à
saúde, ou consultório, devem ser tomadas decisões em relação aos
Figura 10.1Figura 10.1
Figura 10.1Figura 10.1
Figura 10.1
Ordenação das taxas de uso de tecnologia
Fonte: Baseado em Battista et al (1994).
325
10. Integralidade da atenção: quem deveria oferecer o que
ser viços que serão diretamente prestados ou disponibilizados.
Embora nem todos os ser viços sejam prestados no setor da atenção
primária, o profissional de atenção primária tem a responsabilidade
de reconhecer as necessidades de atenção à saúde e providenciar
ou coor denar a prestação de serviços a serem disponibilizados em
outros locais. Por tanto, a natureza do pacote de benefícios é
bastante notável na atenção primária, mesmo que não ofereça todos
os serviços necessários.
Em muitos (se não na maioria) dos sistemas de saúde, as
hospitalizações e os serviços especializados mais caros são cober tos
pelos planos de seguro ou pelos sistemas nacionais de saúde. Em
comparação, muitos serviços de atenção primária freqüentemente
não estão incluídos, algumas vezes com base no argumento de que
são mais “irrestritos” e, por tanto, serão utilizados excessivamente
se forem r eembolsados, que eles são previsíveis e, por tanto, não
necessitam de “segurança” contra incertezas, ou que eles não
precisam ser cobertos pelo seguro porque são relativamente baratos
e, sendo assim, podem ser adquiridos.
Várias considerações ditam os ser viços que devem estar
disponíveis. Estas considerações são de vários tipos:
disponibilidade de padrões, especificação das necessidades a serem
atendidas, critérios baseados em evidências, e o mercado. A política
resultante depende de qual abordagem é tomada. Uma discussão
de cada uma destas quatr o considerações encontra-se a seguir.
Embora nenhuma das qua tro seja útil na determinação exata do
que deve ser oferecido na atenção primária, cada uma pode servir
como um modelo par a fazê-lo.
Padrões
A Health Policy Agenda [Ag enda de Política de Saúde] foi pr oduto
de vários anos de deliberações por parte dos representantes das
principais associações profissionais nos Estados Unidos. E m g eral,
seu pacote de benefícios especif icados inclui “serviços médicos para
pacientes inter nados ou não, ser viços hospitalares, ser viços
laboratoriais e radiográficos, prescrição de medicamentos, atenção
326
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
institucional para idosos e pessoas com incapacidades físicas ou
mentais, serviços odontológicos, exames iniciais e periódicos,
incluindo ser viços de diagnóstico e tratamento, ser viços de
planejamento f amiliar, serviços de atenção domiciliar e pessoal e
outros ser viços médicos necessários” (Tallon, 1989).
A política sobre os benefícios à saúde propostos pela American
Academy of Pediatrics [Academia Americana de Pediatria], em 1989,
é ainda mais detalhada. “Os planos de seguro-saúde deveriam
cobrir os serviços para crianças, do nascimento aos 21 anos de
idade. Estes serviços deveriam ser solicitados por um médico e
prestados em um hospital ou consultório médico... a seguir
encontra-se uma lista ideal dos benefícios... pela qual cada ser viço
coberto pelo plano deve ser comparado.” A lista inclui o seguinte:
Atenção médica, incluindo supervisão de saúde e
tratamento de problemas agudos e diagnóstico de doença
grave e de longa duração
Tratamento de problemas pree xistentes
Atenção cirúrgica, incluindo etapas para correção de
defeitos de nascimento
Serviços de saúde mental, abuso de álcool e outras substâncias
Serviços de emergência e trauma
Serviços hospitalares para pacientes inter nados
Consultoria com pediatras subespecializados
Serviços de planejamento familiar
Ser viços para g estantes, incluindo atenção pré-natal,
consultoria pré-natal com um pediatra e atenção para a
gestação de um único dependente do detentor da apólice
Atenção a todos os bebês recém-nascidos, incluindo um
pediatra especializado para atender gestações de alto risco
Exames e testes de saúde a partir do momento do
nascimento e tratamento de defeitos e outras doenças ou
lesões de nascimento
Serviços laboratoriais e de patologia
Ser viços de diagnóstico radiológico e radioterapia;
ser viços de anestesia
327
10. Integralidade da atenção: quem deveria oferecer o que
Serviços solicitados pelo médico para ajudar a criança a se
recuperar de uma doença ou lesão, incluindo fisioterapia
Fonoterapia e terapia ocupacional
Atenção domiciliar à saúde ou serviços de uma enfermeira
licenciada privada
Atenção hospitalar para crianças com doenças terminais
Ajuda aos pais ou responsáveis que necessitam de ajuda
pela necessidade constante de cuidar de crianças com
doenças de longa duração
Ser viços de atenção de long a duração prestados em um
centro de atenção inter mediária ou de enfer magem
habilitado ao invés de hospitais
Manejo e super visão de caso dos ser viços sociais e
médicos especiais necessários por crianças cronicamente
doentes ou incapacitadas
Ser viços sociais e médicos para avaliar e tratar crianças
com suspeita de abuso ou negligência
Transpor te para o hospital ou centro de saúde
Atenção odontológica preventiva e restauradora
Aconselhamento nutricional e exames completos
periódicos
Prescrição de medicamentos e suprimentos cirúrgicos e
médicos
Óculos ou lentes corretivas
Aparelhos auditivos e suplementos nutricionais especiais
Aluguel ou compra de equipamentos médicos duráveis,
como camas especiais ou muletas
A lista de serviços, extensa como é, ainda exclui determinados
serviços como consultas domiciliares por médicoseévagaarespeito
da extensão de outros serviços. A a tenção cirúrgica inclui cirur gias
cosméticas outras que não para correção de defeitos de nascimento?
O que está inc luído nos ser viços laboratoriais? Apesar disso, é óbvio
que a proposta da Academia Americana de Pediatria é muito mais
integral do que a maioria dos pacotes de benefícios dos seguros e
programas públicos existentes.
328
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Os padrões para a atenção preventiva podem ser derivados
de diretrizes publicadas para uma ampla variedade de tipos de
procedimentos, incluindo exames, aconselhamento e imunizações
ou quimioprofilaxia. Estas diretrizes (U.S. Preventive Services Tas k
Force, 1996) oferecem uma r evisão da efetividade de mais de 100
inter venções clínicas para a prevenção de 60 doenças e problemas
e fazem recomendações em relação a suas indicações e a época, e
freqüência dos ser viços que for am considerados efetivos por um
g rande grupo de peritos que revisaram as evidências.
Necessidades de saúde comunitária
Outra abordagem para especificar o conteúdo dos pacotes
de benefícios está baseada na variedade de necessidades de uma
comunidade. Em um método para defini-la, uma organização
prestadora de atenção à saúde documenta as necessidades de saúde
de sua população e usa os dados para estabelecer as prioridades.
Em comparação ao estabelecimento de prioridades de acordo com
metas e objetivos, conforme acima descrito, este método poderia
levar a diferentes prioridades de uma comunidade para outra e
isso depende de que dados cada comunidade decide coletar e dos
critérios usados para interpretá-los. Esta abordagem é discutida
em maiores detalhes no Capítulo 14.
Evidências sobr e a efetividade dos serviços
O terceiro elemento do pacote de benefícios estabelece as
prioridades de acordo com o g rau de benefícios oferecidos. A o
invés de utilizar os dados para determinar as necessidades de saúde
da comunidade, esta abordagem estabelece prioridades de acordo
com a perce pção do público do valor de uma intervenção, de seu
impacto sobre os resultados da atenção, e de seus custos. Isso foi
tentado em Oregon, onde uma comissão governamental era
responsável por obter as infor mações necessárias e por desenvolver
a variedade de serviços que seriam disponibilizados. A comissão
buscou contribuições do público através de reuniões na cidade e
pesquisas aleatórias. As pessoas responderam o quanto valorizam
329
10. Integralidade da atenção: quem deveria oferecer o que
problemas como mobilidade, capacidade mental, alívio da dor e
capacidade de continuar trabalhando. Os dados tor naram-se, então,
parte de um cálculo de custo-benefício envolvendo considerações
sobre quantos dos resultados desejados uma intervenção específica
alcança, incluindo critérios como melhoria da expectativa de vida,
qualidade de vida e o número de pessoas que seriam beneficiadas.
Foi desenvolvida uma lista de prioridades, de forma que o
tratamento de problemas a baixo de determinada classificação não
seria r eembolsado. Embora tenha sido projetada e implementada
apenas para o programa Medicaid (isto é, para pessoas sem seguro
com renda muito baixa), ela foi bem-sucedida no aumento da
quantidade de dinheiro disponível para aumentar o nível de renda
para a eletividade o Medicaid e, assim, reduzir o número de
indivíduos sem seguro- saúde (Bodenheimer, 1997).
Os critérios de cobertura propostos para inclusão de
intervenções nos planos de saúde em g eral (não a atenção primária
em específico) são (1) a inter venção é usada para um problema
médico, (2) existem evidências de sua ef etividade na saúde, (3) é
esperado que sua aplicação produza o efeito desejado
imediatamente, (4) seus efetividade superam seus efeitos prejudiciais,
e (5) tem a melhor relação custo-benefício para o objetivo planejado
(Eddy, 1996). Esta abordagem está baseada em e vidências da
efetividade do manejo para problemas que acredita-se serem mais
impor tantes na população, e não os mais comuns. Assim, é uma
abordagem que presta serviços onde os recursos são insuficientes
para atender aos padrões de integralidade que poderiam ser
estabelecidos com base nas necessidades da população.
O mercado
Em um sistema de saúde baseado no mercado, diferentes
unidades de saúde freqüentemente utilizam a integralidade dos
serviços para ganhar distância dos concorrentes. Freqüentemente, uma
integralidade mínima necessária é determinada pelas regulamentações
g over namentais que exig em ser viços como atenção médica em
consultório; hospitalização; transplantes de coração, rins ou córnea;
330
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
e controle da infertilidade. A maioria das adesões a estes pacotes
básicos, os quais algumas vezes aumentam consideravelmente o custo,
derivam de negociações com empregadores ou companhias de seguro
que, freqüentemente, expõem suas exigências às propostas de
diferentes provedores de saúde. O pacote final de benefícios negociado
é, freqüentemente, revisado baseada na experiência e nas negociações
anuais subseqüentes.
Nos Estados Unidos, a integralidade dos benefícios está
geralmente baseada nos problemas do mercado. Como resultado, os
benefícios disponíveis para os indivíduos, famílias, grupos
registrados ou empregados em várias indústrias ou empresas, são
amplamente discrepantes. Uma comparação entre 15 planos de seguro
(Alpha Center, 1990), cada um desenvolvido para fornecer
financiamento para pessoas anteriormente sem seguro, demonstrou
que alguns serviços foram sempre cobertos, alguns foram g eralmente
cobertos (em 10 a 12 planos), alguns cobertos apenas algumas vezes
(de seis a oito planos) e alguns foram cobertos apenas raramente
(um a três dos planos). Os itens a seguir foram sempre cobertos:
Consultas em consultório
Exames laboratoriais e radiografias para diagnóstico de
pacientes não internados
Cirurgia de pacientes ambulatoriais, incluindo os encarg os
médicos e da unidade de saúde
Atenção a bebês saudáveis
Serviços de ambulância
Serviços em sala de emergência
Serviços para pacientes hospitalizados, incluindo quarto
semipar ticular e refeições, taxas do cirurgião, taxas do
anestesista, consultas médicas no hospital e prescrições
Entretanto, nem todos os planos cobriam estes ser viços na
mesma medida. Os ser viços que eram quase sempr e cobertos
incluíam exames físicos de rotina para pacientes ambulatoriais;
imunizações para pacientes ambulatoriais; fisioterapia para
pacientes ambulatoriais; e enfermeira par ticular no hospital. Mais
uma vez, contudo, a medida dos benefícios variava.
331
10. Integralidade da atenção: quem deveria oferecer o que
Os serviços que eram geralmente cober tos incluíam prescrições
para pacientes ambulatoriais; consultas domiciliares; e exames
auditivos e oculares de rotina.
Os ser viços que eram a penas algumas vezes cobertos incluíam
atenção ao convalescente ou atenção num estabelecimento de
enfer mag em habilitado; ser viços de saúde mental para pacientes
ambulatoriais; e atenção em asilos. Tipicamente, estes benefícios
tinham limitações quanto ao número destes ser viços ou quanto ao
valor fornecido.
Os serviços que eram for necidos apenas raramente incluíam
equipamentos médicos duráveis; aparelhos protéticos e ortópticos;
pediatria; e exames e aconselhamento genéticos.
Em geral, as decisões a respeito do conteúdo do pacote de
benefícios têm sido amplamente deter minadas pelo parecer do
profissional e por considerações sobre custos. Onde os serviços
necessários não estão incluídos, ou não são recebidos, ou são
adquiridos por aqueles que necessitam ou são fornecidos diretamente
pelo setor de saúde pública. A prestação de serviços através do setor
de saúde pública corre o risco de fragmentar os serviços e reduzir a
probabilidade de alcance da longitudinalidade, da atenção ao primeiro
contato e da coordenação do cuidado. Em nações em desenvolvimento,
pode ser justificado o foco sobre a atenção seletiva, em vez da integrada,
dado o estágio de subdesenvolvimento do setor de serviços de saúde e
o tipo de necessidades da população (Walsh e Warren, 1979). Mas,
mesmo nesta situação, pode ser que a atenção integrada seja uma
estratégia mais apropriada de longa duração (Rifkin e Walt, 1986).
Uma abordagem para definir o que é apropriado para ser
coberto pela atenção primária é fornecida pelas deliberações dentro
da British Medical Association [Associação Médica Britânica]
(General Medical Services Committee, 1996). Estas deliberações
resultaram de mudanças na for ma que os médicos g eneralistas
(médicos de atenção primária no Reino Unido) são pagos por seus
ser viços. Novos mecanismos de contrato estão questionando
muitos dos serviços prestados até o momento por muitos, se não
pela maioria, dos médicos g eneralistas. A Tabela 10.2 relaciona os
332
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
ser viços que são considerados “centrais” e aqueles considerados
como exigindo um pagamento adicional se realizados (não centrais).
Tabela 10.2Tabela 10.2
Tabela 10.2Tabela 10.2
Tabela 10.2
Serviços centrais e não-centrais: propostas da British Medical
Association 1996
De acordo com os princípios, o que é considerado estar dentro
da esfera de ação da atenção primária, e não através de
encaminhamento para outro lugar, deveriam depender da freqüência
do problema ou necessidade; os profissionais de atenção primária
devem ser treinados (inicialmente ou através da educação continuada)
para atender estas necessidades comuns. Se procedimentos mais
demorados ou mais arriscados são indicados na unidade, os grupos
de pacientes deveriam ser menores ou deveria ser fornecida uma
compensação pelo tempo extra para permitir que o profissional inclua
o serviço na unidade de atenção primária. Um recente relatório sobre
a incorporação bem-sucedida da colonoscopia (geralmente realizada
333
10. Integralidade da atenção: quem deveria oferecer o que
por não especialistas em atenção primária) na unidade geral é um
exemplo da resposta de um g rupo de médicos de família norte-
americanos para uma necessidade crescentemente maior de serviços
preventivos (Pierzchajlo et al., 1997). Nesta unidade, 100 colonoscopias
foram feitas por ano por um médico de família em uma área rural, o
qual tinha sido treinado para realizar o procedimento. Em um período
de 7 anos, houve apenas uma complicação maior relacionada ao
procedimento manejado de forma bem-sucedida pelo profissional.
O apoio empírico para a proposição de que a necessidade de
encaminhamento está relacionada à freqüência com a qual os
problemas são encontrados na população vem de um grande estudo
nacional de pediatras de atenção primária que atendem em consultório.
A probabilidade de encaminhamento para uma ampla variedade de
problemas infantis estava direta e altamente relacionada à infreqüência
com a qual o problema era encontrado pelos profissionais em sua
prática diária (CB Forrest et al., em preparação).
No futuro, as decisões referentes à variedade adequada de
ser viços a serem prestados na atenção primária, bem como na
atenção secundária e terciária, estarão cada vez mais baseadas na
responsabilidade pública, levando em consideração as necessidades
da comunidade, a equidade do acesso e a eetividade dos serviços.
Embora os métodos para estabelecer as prioridades ainda sejam
primitivos e não haja consenso quanto à abordagem a ser usada, o
reconhecimento dos limites dos recursos direcionará a atenção ao
desafio e impelirá considerações cuidadosas das várias alter nativas.
O Dr. M é um pesquisador bolsista de pós-graduação que estuda
experiências de atenção primária de pacientes que estão sendo
examinados em três clínicas pediátricas especializadas, em um hospital
muito bem conceituado. Como ele estava entrevistando os médicos
a respeito de seus pacientes, também perguntou a respeito da
probabilidade de duração de sua relação com cada paciente. Nenhum
dos médicos pôde responder à pergunta, uma vez que eles nem tinham
pensado sobre o papel que estavam exercendo no cuidado dessas
crianças ao longo do tempo.
334
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
MEDIÇÃO DA INTEGRALIDADE
Assim como ocorre com os outros atributos da atenção primária,
a avaliação da integralidade pode ser orientada tanto para o nível do
sistema/população como para o nível de unidades de saúde/paciente.
No nível populacional, as necessidades da comunidade definem a
variedade de ser viços que deveriam ser oferecidos, enquanto a
integralidade é medida pela penetração destes serviços na comunidade.
No nível institucional, a variedade de ser viços é estabelecida,
geralmente, de acordo com diretrizes profissionais como programas
de imunização ou recomendações para procedimentos, como
mamog rafias. A avaliação neste nível geralmente usa tabelas de
auditoria ou outros registros, como formulários de queixas.
A Figura 10.2 retrata os componentes da integralidade no
contexto do sistema de serviços de saúde para populações e pacientes.
Figura 10.2Figura 10.2
Figura 10.2Figura 10.2
Figura 10.2
Sistema de serviços de saúde: Integralidade. Resumido da Figura 2.1
335
10. Integralidade da atenção: quem deveria oferecer o que
Variedade de serviços
A variedade de ser viços que estão disponíveis deveria
consistir de um núcleo que seja rele vante para toda a população,
bem como serviços adicionais para populações com necessidades
de saúde especiais que sejam comuns.
No nível populacional, os padrões para a g ama de ser viços
necessários pelas comunidades são declarados em termos tão g erais
que a medição de uma variedade, g eralmente, não é viável. Por
exemplo, a Org anização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que
para que a atenção primária seja integral, todas as atividades
orientadas para o desenvolvimento deveriam estar inter-
relacionadas e equilibr adas de for ma a enfocar os problemas de
maior prioridade confor me são mutuamente percebidos pela
comunidade e pelos sistemas de saúde, e que as inter venções
culturalmente aceitáveis, tecnicamente adequadas, manejáveis e
adequadamente selecionadas devem ser implementadas em
combinações que atendam às necessidades locais. Isto implica que
os programas com um único objetivo deveriam estar integrados
dentro das atividades de atenção primária à saúde da for ma mais
rápida e fácil possível. OMS, 1978
Esta declaração esclarece que a integralidade não consiste
de programas com objetivos únicos, mas oferece pouca orientação
para deter minar quais os problemas têm a mais alta prioridade e
como as decisões devem ser tomadas em relação à medição da
aceitabilidade cultural, adequação técnica e manejo.
A variedade de serviços adequados para a assistência primária
consiste de três componentes: os problemas e necessidades das
populações e dos pacientes, as tarefas que são necessárias para
abordar estes problemas e o local em que são realizados. Ou seja,
são levados em consideração com quais problemas lidam, como eles
são tr atados de for ma adequada, e onde. Rivo e colabor adores
(1994) usaram os achados de uma pesquisa nacional de unidades
de saúde nos Estados Unidos para identificar a freqüência de
problemas encontrados nas unidades de atenção primária e
compilaram uma lista de competências a elas associadas.
336
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
A Tabela 10.3 lista um subgr upo de tipos de problemas que
são adequadamente considerados como problemas de atenção
primária. (Problemas que estão indiscutivelmente dentro do âmbito
da atenção primária devido a sua freqüência muito alta, como o
resfriado comum, não estão incluídos nesta lista.)
Tabela 10.3Tabela 10.3
Tabela 10.3Tabela 10.3
Tabela 10.3
Tipos e exemplos de problemas no âmbito da Atenção Primária
Adaptado de Rivo et al. (1994)
A Tabela 10.4 lista as tarefas e habilidades que estão
relacionadas ao reconhecimento e manejo de problemas encontrados
na atenção primária
Os profissionais de atenção primária também devem estar
familiarizados e utilizar outr os serviços de atenção amb ulatorial,
ser viços baseados no hospital, atenção domiciliar e asilos e clínicas,
quando apropriado.
Rivo et al. (1994) usaram esta lista para estabelecer a
integralidade dos programas de treinamento para diferentes
especialidades que são comumente pensadas como oferecendo
atenção primária. A contagem do número de competências
indicadas nos diferentes programas indica, claramente, uma maior
variedade de ser viços na unidade de família, de pediatria e de
medicina interna em comparação com a medicina de emergência e
a ginecologia/obstetrícia.
337
10. Integralidade da atenção: quem deveria oferecer o que
As comparações entre os vários sistemas de atenção podem
oferecer informações para estabelecer a adequação relativa (e não
absoluta) da integ ralidade dos serviços disponíveis. Por exemplo,
uma abordagem baseada na população para avaliar a “variedade de
serviços” poderia vincular programas de compar ação entre países
para determinar o quanto os vários tipos de serviços de a tenção
primária estão incluídos na atenção primária (por exemplo, serviços
de saúde mental, exames e serviços de saúde preventiva, ou serviços
de saúde bucal). Existem poucos estudos deste tipo: um estudo
notável é o International Collaboration Study of Medical Care Utilization
[Estudo de Colaboração Internacional sobre a Utilização da Atenção
Médica] (Kohn e White, 1976). Uma parte deste estudo descreveu
aspectos selecionados da prestação do cuidado à saúde no final dos
anos 60 em sete países que participaram do estudo: Canadá, Estados
Unidos, Argentina, Reino Unido, Finlândia, Polônia e Iugoslávia
(Kohn e W hite, 1976, págs. 420-37).
Tabela 10.4Tabela 10.4
Tabela 10.4Tabela 10.4
Tabela 10.4
Tarefas e habilidades necessárias na Atenção Primária
Adaptado de Rivo et al. (1994)
338
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
A abordag em institucional para avaliar a variedade de ser viços
compara os serviços disponíveis em vários tipos de planos de saúde
ou organizações de atenção à saúde e os equipamentos de
consultório para lidar com a variedade de serviços. Além disso, a
avaliação deveria considerar a competência da equipe para lidar
com uma ampla variedade de problemas ou a existência de uma
abordagem sistemática para obter os ser viços em outro lug ar se
não forem oferecidos na unidade.
O “X” da questão da avaliação da integralidade requer a
deter minação da freqüência das necessidades de saúde necessárias
na população a ser atendida, estabelecendo a variedade de serviços
para atender àquelas necessidades que ocorrem de forma
suficientemente freqüente para os médicos de atenção primária
manterem a competência em lidar com eles, e então oferecer estes
ser viços quando houver necessidade. Como será observado abaixo
na seção sobre a obtenção da integralidade, poucas evidências
na literatura relacionadas a estas questões.
Medição do reconhecimento das necessidades
No nível populacional, a obtenção da integralidade é refletida
pela extensão em que os serviços de saúde abordam as necessidades
evidentes da população. O não reconhecimento destas
necessidades é manifestado por um subdiagnóstico sistemático de
problemas que são comuns na população ou por evidências da
falta de recebimento ou prestação dos ser viços indicados na
população de pacientes examinados nos estabelecimentos de
atenção primária.
Uma abordagem adaptada à avaliação da integralidade da
atenção no nível populacional foi desenvolvida por investigadores
do pr og rama Indian Health Services [Serviços Indíg enas de Saúde]
no Arizona (Schorr e Nutting, 1977). A abordagem estava
relacionada à extensão em que o sistema de saúde abordava,
adequadamente, certas necessidades reconhecidas da população
e traçava a atenção para os problemas através de seus estágios
sucessivos. Os investigadores identificaram sete problemas de
339
10. Integralidade da atenção: quem deveria oferecer o que
saúde (hiper tensão, diabetes no adulto, tuberculose, infecção do
trato urinário, lacerações da cabeça, g astroenterite infantil e otite
média a guda) e deter minaram a extensão na qual houve um achado
de caso adequado (reconhecimento do problema) para os
problemas, juntamente com procedimentos adequados de
diagnóstico, terapia e acompanhamento.
Este tipo de abordagem para avaliar a integralidade é
particularmente bem adaptada a situações em que as necessidades
da comunidade são conhecidas por estudos anteriores de
mortalidade e morbidade.
Uma abordagem alternativa para julgar a adequação da
variedade de serviços necessários em uma comunidade presume
que diferentes comunidades deveriam ter a saúde aproximadamente
equivalente, par ticular mente para problemas que respondem à
atenção médica. Se os serviços forem adequadamente integ rais,
deveria haver paridade nas comunidades quanto à freqüência e
gravidade destas doenças em que a atenção médica é efetiva em
sua prevenção e tratamento.
O potencial deste método na identificação das áreas em que
a melhora na integralidade era necessária é demonstrado em dois
estudos, um nos Estados Unidos e um no Canadá.
Em um estudo nos Estados Unidos, Woolhandler et al.
(1985) compararam as taxas de morte em diferentes idades entre
brancos e negros para problemas em que a morte pode ser prevenida
por atenção médica, com as taxas de todas as causas de morte.
Em todas as idades abaixo de 60 anos, a relação da taxa de mortes
preveníveis entre brancos e negros foi maior do que a relação de
mortes de negros para brancos por todas as causas, indicando que,
pelo menos, algumas das mortes em excesso ocorreram devido à
falha do sistema de saúde em prevenir as mortes por estes
problemas. A disparidade nas taxas de mor tes associada a causas
preveníveis foi par ticular mente marcante para jovens e adultos
jovens. Se o problema fosse simplesmente uma maior
suscetibilidade a doenças que ameaçam a vida entre negros, a
relação para os problemas preveníveis seria igual à relação para
340
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
todas as causas. As relações desiguais sug erem um problema com
a adequação dos ser viços de saúde que podem ser disparidades no
acesso a serviços de saúde ou na amplitude dos serviços disponíveis
para os dois tipos de populações.
No Canadá, Wilkins e Adams (1983) usaram dados de
estatísticas de vida e pesquisas de saúde em cinco regiões
diferentes tanto no tamanho da população quanto nos níveis de
renda para calcular a expectativa de vida e expectativa de vida
ajustada à qualidade de homens versus mulheres. Houve dif erenças
sistemáticas em ambas as medições do estado de saúde em áreas
com diferentes rendas familiares. Como o sistema de saúde
canadense é projetado para reduzir as barreiras financeiras ao
acesso aos ser viços, provavelmente as diferenças não ocorrem
devido a diferenças nesse acesso; ao invés disso, provavelmente
ocor rem devido, pelo menos em par te, ao fato de os ser viços serem
insuficientemente amplos para atender às necessidades de saúde
da população menos favorecida.
No nível institucional, uma abordagem empírica para medição
depende da disponibilidade de informações a respeito dos tipos
de problemas e diagnósticos que são vistos e manejados em
diferentes unidades de saúde e por diferentes profissionais. Na
ausência de diferenças nas necessidades populacionais, deveria
haver uma paridade geral na freqüência de problemas observados
por diferentes profissionais ou obser vados por diferentes g r upos
de profissionais que parecem prestar uma atenção integ ral. Por
exemplo, é provável que as unidades de saúde que têm diferença
em suas taxas de diagnóstico de depressão em adultos e problemas
comportamentais em crianças sejam diferentes em sua
integ ralidade da atenção, a menos que possa ser mostrado que suas
populações diferem na freqüência real destes problemas.
Dados da National Ambulatory Medical Care Survey [Pesquisa
Nacional de Atenção Médica Ambulatorial] (ver Capítulo 4)
oferecem infor mações a respeito de problemas e diagnósticos em
uma amostra representativa de consultórios de diferentes
especialistas (e, mais recentemente, também em ambulatórios
341
10. Integralidade da atenção: quem deveria oferecer o que
hospitalares) nos Estados Unidos. Os dados podem ser usados
para comparar a distribuição de problemas e/ou diagnósticos em
sua integralidade. Se os dados são obtidos de todos os tipos de
unidades de saúde em uma comunidade ou país, os resultados são
equivalentes a um método baseado na população para comparar a
integ ralidade entre tipos de médicos.
Em uma abordagem normativa para avaliar a integralidade, um
padrão é estabelecido e as unidades de saúde são medidas de acordo
com sua obtenção do padrão. A lista de verificação do Institute of
Medicine [Instituto de Medicina] (1978) para atenção primária inclui
sete questões em sua seção sobre integralidade. Quatro das sete tratam
da disponibilidade de uma variedade de serviços, mas elas podem ser
reestruturadas para captar a prestação real de serviços, determinando
se as unidades de saúde realizam a atividade:
A unidade está disposta a lidar, sem encaminhamento,
com a maioria (mais de 90%) dos problemas que ocorrem
na população atendida (por exemplo, queixas gerais como
febre ou fadiga, traumas menores, garganta inflamada,
tosse e dor no peito)?
Os profissionais na unidade estão dispostos, quando
apropriado, a inter nar e atender pacientes em hospitais?
Os profissionais na unidade estão dispostos a internar e
atender pacientes em asilos ou clínicas para
convalescentes?
Os profissionais de saúde na unidade estão dispostos,
quando apropriado, a visitar o paciente em casa?
Seguem as três questões que tratam diretamente do aspecto
processual da integralidade:
As medidas preventivas primárias e secundárias
adequadas são usadas para aquelas pessoas em risco, como
imunização para tétano ou pólio, detecção precoce de
hipertensão e controle de fatores de risco para doença
coronariana?
Os pacientes são estimulados e auxiliados na prestação
do atendimento e a participar do planejamento de sua
342
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
própria saúde, como instruções nutricionais, dieta,
exercícios, prevenção de acidentes, planejamento familiar
e problemas de adolescentes?
Os profissionais da unidade oferecem apoio às instituições
que promovem a saúde comunitária, como programas
públicos de educação da saúde, programas de detecção de
doenças, programas de medicina do esporte e de saúde
escolar e treinamento para atendimento de emergências?
Embora esta abordagem tenha sido pensada para uso no nível
institucional, ela também pode ser adaptada aos serviços
org anizados no nível populacional. Por exemplo, todas as unidades
na área lidam com a grande maioria dos problemas na população?
Os serviços preventivos primários e secundários adequados são
usados pelas pessoas sob risco?
Uma terceira abordagem para medir a integralidade está
baseada na extensão do reconhecimento das necessidades dos
pacientes. Estudos repetidos demonstraram que os profissionais
freqüentemente não conseguem reconhecer problemas que os
pacientes expressam quando buscam atendimento. As
deficiências são particularmente pronunciadas quando os
problemas são de natureza psicológica ou psicossocial. Para
avaliar a extensão do reconhecimento das necessidades dos
pacientes, deve existir um mecanismo para averiguar, de for ma
independente, a natureza dos problemas apresentados pelos
pacientes. Uma técnica é pedir que os pacientes escrevam suas
queixas e preocupações enquanto esperam para ver o
profissional ou pedir que a recepcionista ou pessoa equivalente
pergunte ao paciente sua opinião a respeito da aparência da
unidade de saúde. Estas queixas são, então, comparadas com
aquelas identificadas pelos profissionais em um formulário
especial de coleta de dados ou escritos no prontuário médico.
Uma quarta abordagem, que pode ser usada, tanto no nível
populacional quanto no nível institucional, avalia a proporção de
indivíduos na população da unidade que são atendidos por
343
10. Integralidade da atenção: quem deveria oferecer o que
especialistas em um ano. Se não motivo para acreditar que uma
população tenha uma necessidade maior de serviços especializados
do que a população de referência, uma proporção maior de
pacientes que são atendidos pelos especialistas indica que a
integralidade da unidade de atenção primária na cobertura dos
problemas é insuficiente. Embora as normas para esta proporção
devessem ser facilmente obtidas a partir de uma variedade de
planos centros de saúde, existem poucos dados de referência.
Estimativas sintéticas sugerem que não mais do que um quarto
dos indivíduos em uma população deveria necessitar de ser viços
clínicos, além daqueles oferecidos pela atenção primária em um
ano. Estas estimativas são baseadas em suposições quanto à
proporção de pacientes (ou pessoas na população) que tenham
distúrbios incomuns ou complicações incomuns de distúrbios (e
que, por tanto, seria esperado que necessitassem de atenção de
especialistas) e a proporção de pacientes que necessitam de
encaminhamento de curta duração para fins de prestação de
orientações por médicos de atenção primária ou intervenções de
curta duração que exigem habilidades de especialistas (como uma
cir urgia maior ou investigações e procedimentos laboratoriais
complexos). Países, áreas geográficas dentro de países ou
populações em diferentes unidades de saúde ou centros de saúde
que variam grandemente na proporção de indivíduos examinados
por especialistas deveriam realizar sem demora investigações para
determinar se este é um resultado de maiores necessidades de saúde
ou de integralidade inadequada da atenção primária. Os motivos
para esta inadequação podem estar em um treinamento insuficiente
dos profissionais, cargas excessivas de pacientes que levam a um
tempo inadequado para lidar com determinados tipos de problemas,
recursos inadequados para lidar com eles ou incentivos errados
para encaminhar individualmente ou em combinação.
Outros métodos para avaliação da integ ralidade dos ser viços
oferecidos estão apresentados no Capítulo 13, no contexto das
avaliações da atenção primária em geral.
344
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
O QUE SABEMOS A RESPEITO DA OBTENÇÃO DA
INTEGRALIDADE
Um neurologista que conheço é freqüentemente questionado pelos
pacientes se ele pode assegurar que está tudo bem com seus exames
cardíacos, “enquanto ele está preocupado com outras coisas”. Ele
responde, “Claro, se você me lembrar onde fica seu cor ação.
Dr. K., pediatra residente
A integ ralidade foi avaliada de duas for mas. Em alguns
estudos, foi averiguada a disponibilidade de uma variedade de
ser viços, enquanto em outros foi determinada a extensão em que
os ser viços necessários foram prestados.
Existem poucas infor mações que for necem uma base par a
decidir o que pode ser adequadamente diagnosticado e manejado
pelo médico de atenção primária e o que requer encaminhamentos
para outros níveis de atenção. Alguns tipos de encaminhamento
são de curta duração e objetivam principalmente receber
aconselhamento, orientação ou um segundo parecer. Lawrence e
Dorsey (1976) categorizaram estes motivos para encaminhamento
como segue:
1 . Uma necessidade de um diagnóstico especializado ou
procedimento de tratamento que o médico de atenção
primária não oferece. Estes tipos de encaminhamento são
caracterizados por uma percepção relativamente clara, por
parte do paciente, do médico de atenção primária e do
médico especialista em relação ao que deve ser feito; a
duração do encaminhamento é breve e o paciente nunca
deixa a área do médico de atenção primária.
2. Confirmação para o paciente ou médico em relação a um
segundo parecer em casos em que o paciente ou uma
terceira parte pagante tem dúvidas a respeito de um curso
de ação sug erido, em que motivo para suspeitar que os
critérios outros que não medicamente justificáveis, possam
estar operando como incentivos financeiros ou ameaças
345
10. Integralidade da atenção: quem deveria oferecer o que
de imperícia ou em que uma legítima incerteza a respeito
de um curso de ação proposto para um problema médico.
3. Para uma avaliação mais extensa ou mais geral, como em
situações em que o problema do paciente é complexo e não
está claro. Nestas situações, o consultor tem maior
probabilidade de tomar mais iniciativa, e o período de
consultoria pode ser mais longo do que os dois tipos de
motivos para encaminhamento mencionados anteriormente.
Em cada uma destas situações o encaminhamento objetiva
a consultoria, o período de encaminhamento é relativamente breve,
e uma clara expectativa de que o paciente retorne ao médico de
atenção primária dentro de um período de tempo que pode,
g eralmente, ser pré-especificado.
Em comparação, alguns tipos de encaminhamento são de
prazo rela tivamente long o e podem envolver uma inter r upção
significativa ou até mesmo abandono dos papéis por parte dos
médicos de atenção primária. Os motivos para este tipo de
encaminhamento são dois:
Para problemas incomuns ou crônicos sérios em que o
manejo requer conhecimento técnico presente apenas em
centros médicos maiores, em que o envolvimento em
pesquisa oferece as infor mações mais atualizadas a
respeito de novas terapias e inter venções.
Por motivos logísticos, conveniência ou viabilidade, como
a disponibilidade de recursos financeiros que paguem por
ser viços apenas se prestados em tipos específicos de
unidades de saúde. Esta categoria de encaminhamentos
deveria ser minimizada se for desejável haver uma
previsibilidade relativa em um sistema.
Confor me será obser vado no próximo capítulo, uma
crescente tendência de muitos encaminhamentos manterem um
papel para o profissional de atenção primária, mesmo para o
manejo de problemas que levaram ao encaminhamento. Assim,
existem quatro tipos de encaminhamentos:
346
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
1. Consultoria: atenção compartilhada de curta duração
2. Manejo em conjunto: atenção compartilhada de longa duração
3. Transferência temporária: manejo de cur ta duração
4. Transferência prolongada: transferência de longa duração
para manejo.
As indicações para encaminhamento por problemas
específicos fazem par te da estr utura básica dos capítulos em alguns
livros apenas (por exemplo, Dershewitz, 1988; Stein, 1998). Nestes
livros, as indicações especificadas são quase todas relacionadas à
presença de deter minados sintomas ou sinais, e não à presença de
diagnósticos, sugerindo que são feitos mais encaminhamentos para
diagnóstico ou aconselhamento terapêutico do que para atenção
continuada. Outros vários tipos de indicações também sugerem
uma necessidade de consultoria de curta duração ao invés de
encaminhamento de long a duração. Estão incluídos confirmação
ou diagnóstico; esclarecimento da etiologia; avaliação de rotina
que exige habilidades especializadas como monitoramento, serviços
sociais ou terapia de apoio; e aconselhamento sobre dosagens de
medicamentos. Outro tipo de indicação, problemas refratários ou
recorrentes, poderia exigir tanto um encaminhamento de longa
duração como uma consultoria de curta duração, de pendendo do
problema e da estratégia de manejo.
Muito pouco é sabido a respeito das freqüências relativas de
encaminhamentos por diferentes tipos de motivos. Um estudo de
1.041 consultas relatadas por 40 médicos de família forneceu
algumas infor mações a respeito desta questão; 90% das consultas
foram manejadas no estabelecimento de atenção primária, 7%
foram categorizadas como atenção “compartilhada” na qual apenas
uma consultoria foi solicitada e 3% foram encaminhamentos para
atendimento de “apoio” (encaminhamento) (Taylor, 1981). Mas
este foi um estudo relativamente pequeno de um g r upo não
representativo de médicos de atenção primária. Vários estudos
nacionais grandes nos Estados Unidos, em andamento durante a
produção deste livro, devem lançar uma nova luz sobre estes
aspectos importantes da atenção primária.
347
10. Integralidade da atenção: quem deveria oferecer o que
Alguns exemplos da avaliação da integralidade estão
relacionados abaixo. Alguns utilizam a disponibilidade da
variedade de serviços, enquanto outros usam a extensão na qual
os ser viços são pr estados. Todos os estudos usam a abordag em
empírica em vez da normativa.
1 . Em um estudo baseado em unidades de saúde de uma
amostra representativa de profissionais em uma grande
cidade norte-americana, foi determinada a proporção de
unidades que foram capazes de prestar amplos serviços a
seus pacientes habituais. Os serviços foram sigmoidoscopia,
eletrocardiograma, audiometria, exame pélvico, biópsia
superficial, suturas menores, tonometria, testes de função
pulmonar, deter minação sanguínea de hematócrito/
hemoglobina, consultas de aconselhamento com mais de 45
minutos, imunizações e exame físico completo. A partir de
seis das medidas acima, foi criado um índice de integralidade.
Internistas, pediatras e médicos de família foram melhor
classificados, ou ofereceram maior integralidade, conforme
o índice; psiquiatras e cirurgiões subespecializados tiveram
a classificação mais baixa; e outros tipos de especialistas
foram intermediários. A variabilidade relativamente alta para
subespecialistas médicos indicou a grande variabilidade na
obtenção de integralidade por estes tipos de médicos (Weiner,
1981; Weiner e Starfield, 1983).
2. Dados nacionais derivados de diários de consultas mantidos
pelos médicos (como na Pesquisa Nacional de Atenção
Médica Ambulatorial) foram usados para avaliar a variedade
de serviços prestados por vários tipos de médicos. Um destes
estudos (Starfield et al., 1984) averiguou a distribuição de
todas as consultas feitas por crianças, incluindo adolescentes,
de acordo com o tipo de médico. Revelou o seguinte:
Enquanto cerca de um terço de todas as consultas de
pacientes ambulatoriais feitas por crianças foram com
pediatras, apenas cerca de uma em oito consultas para
cir urgia menor foram feitas com eles.
348
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Médicos de família e g eneralistas, por outro lado,
tiveram aproximadamente a mesma proporção de
consultas pediátricas para cir urgias menores que a
proporção de crianças que examinaram para problemas
em geral, sugerindo que são mais integrais em sua
atenção, pelo menos no que se refere à realização de
cir urgias menores.
Pediatras também foram sub-representados em relação
ao tratamento de problemas psicológicos; prestaram
menos de um quinto dos atendimentos para estes
problemas, embora fossem a fonte habitual de atenção
para mais de um terço das crianças.
Médicos de família e g eneralistas, por outro lado,
prestaram aproximadamente a mesma proporção de
atendimentos para problemas psicológicos pediátricos
que a proporção de profissionais que eram a fonte habitual.
Estes achados sugerem que os generalistas podem fornecer
atenção com maior integralidade diretamente às crianças
do que os pediatras, que enfocam, de forma relativamente
forte, a atenção preventiva e a atenção para doenças
médicas. A confirmação adicional da crença de que existe
uma maior integralidade na unidade de família deriva do
achado que tanto os médicos de família quanto os
generalistas examinaram, relativamente, mais pessoas
jovens por problemas obstétricos, bem como por
problemas ambientais e econômicos.
Um estudo mais recente utilizando dados da Pesquisa
Nacional de Atenção Médica Ambulatorial de 1985 a 1992
examinou os relatos dos encaminhamentos feitos para
internistas, médicos de família e generalistas durante as
consultas com adultos. Análises de regressão revelaram que
ser um paciente do sexo masculino (exceto em unidades de
HMO); ter menos medicamentos prescritos, um novo
problema (nunca ter sido examinado antes pelo problema),
consultas mais longas ou menos concentração do médico
349
10. Integralidade da atenção: quem deveria oferecer o que
em tipos específicos de diagnósticos; e ser uma médica, enfim
todos estes itens aumentaram, de for ma inde pendente, a
probabilidade de encaminhamento. Além disso, as unidades
de saúde com uma proporção maior de pacientes de HMO
tiveram taxas mais altas de encaminhamento, mesmo quando
os pacientes de HMO foram removidos da análise. Assim,
mesmo os pacientes que eram capazes de procurar um
encaminhamento por si próprios devido à não exigência de
uma “porta de entrada” tinham maior probabilidade de ser
encaminhados se estivessem em unidades com uma grande
proporção de pacientes de HMO. Entretanto, deveria ser
observado que as HMOs durante o tempo do estudo eram
diferentes das organizações de gerenciada mais comuns
durante a década corrente, que, sem dúvida, impôs mais
desincentivos e barreiras ao encaminhamento do que era o
caso no período anterior (Franks e Clancy, 1997).
3. Um estudo, baseado nas unidades de saúde de uma
amostra nacional de graduados recentes de residências
de medicina interna e medicina de família atualmente
trabalhando em consultório, usou questionários e diários
de todas as consultas com pacientes por 3 dias. Os
médicos de família tiveram, relativamente, mais pacientes
com distensões e luxações e relativamente mais pacientes
com problemas psicossociais. Eles examinaram mais de
três vezes o número de pacientes adultos com trauma e
muito mais pacientes para consultas de pré e pós-natal
do que os internistas. Estes últimos examinaram mais
pacientes por doenças crônicas, principalmente pacientes
jovens e de meia-idade (Cherkin et al., 1986). Estes
achados sugerem que os médicos de família prestam uma
variedade maior de tipos de atendimento do que os
internistas generalistas, cujo enfoque é relativamente
maior sobre o manejo de doenças médicas crônicas.
4. Um estudo baseado em unidades de saúde, realizado em
cinco tipos de unidades de saúde em diferentes áreas
350
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
geográficas, descobriu taxas muito discrepantes de
diagnóstico de determinados tipos de problemas entre
crianças (Starfield et al., 1980). As taxas de diagnóstico de
problemas psicossociais variaram de 5% a 15% sem
nenhuma consistência pelo tipo de unidade. A variabilidade
entre as unidades de dois grupos multiespecializados foi
tão grande quanto aquela entre os grupos
multiespecializados, o g rupo pediátrico e a medicina de
família. Entretanto, as taxas de dia gnóstico de problemas
psicossomáticos, todos dos quais tiveram uma
manifestação somática, foi altamente consistente (cerca de
9%). Estes achados sugeriram que a integralidade, pelo
menos como as unidades de saúde lidavam com problemas
psicossociais em crianças, variou nas unidades de saúde,
provavelmente como resultado de fatores outros que não
o tipo de organização ou especialidade de atenção primária.
Um estudo de adultos em vários tipos de unidades de saúde
de atenção à saúde em três cidades norte-americanas
alcançou conclusões similares. Um exame diagnóstico
padrão para distúrbio depressivo foi realizado com os pais,
e os resultados foram comparados com os formulários de
relato de consulta preenchidos pelos médicos que viram
os pacientes para o problema sob atendimento. Apenas
cerca de metade de todos os pacientes deprimidos
examinados por seu internista tiveram sua depressão
diagnosticada; a proporção variou de 46% a 51%,
dependendo do tipo de unidade de saúde (Wells et al., 1989).
5. Em um estudo comparando unidades de grupo pré-pago com
unidades com pag amento por ser viço, 1.580 adultos e
crianças foram aleatoriamente indicados para receber atenção
sem cobrança de encargos tanto por um médico de escolha
do paciente que cobre por serviço ou uma unidade de grupo
pré-pag o. Os pacientes que receberam seu atendimento pela
unidade de grupo pré-pago tiveram taxas mais altas de atenção
preventiva do que os pacientes que receberam atenção do
351
10. Integralidade da atenção: quem deveria oferecer o que
médico pago por taxa por serviço. Este estudo indicou que a
integralidade, pelo menos como está refletida na atenção
preventiva, pode diferir de acordo com o tipo de organização
na qual a atenção é recebida (Manning et al., 1984).
6 . Em um estudo, baseado nas unidades de saúde, sobre
quanto das diretrizes profissionais para procedimentos de
prevenção foi atendido mostrou que não havia diferença
consistente entre generalistas (médicos de família e
internistas gerais) e internistas subespecializados.
Entretanto, os pacientes que passaram por um e xame
físico completo apresentaram maior probabilidade de ter
recebido os procedimentos indicados. O determinante
mais marcante foi o grau de importância que o médico
atribuía ao procedimento. Pacientes cujos médicos
acreditavam que o procedimento era importante tinham
maior probabilidade de tê-los realizado. Este estudo
indica a importância dos padrões de prática profissional
individual na obtenção da integralidade da atenção em
situações em que não existem mecanismos específicos
dentro da unidade de saúde para garantir a realização dos
procedimentos indicados (Dietrich e Goldberg, 1984).
Tanto adultos quanto crianças que consultam mais têm mais
probabilidade de receber os procedimentos preventivos indicados
(Benson et al., 1984; Fontana et al., 1997). Entretanto, aqueles com
uma doença sintomática crônica comum, especialmente aqueles que
relatam más condições, têm menos probabilidade do que os
indivíduos em comparação de receber uma ampla variedade de
procedimentos preventivos indicados, pelo menos de acordo com
um estudo de mais de 4.000 adultos com idades entre 52 e 64 anos
atendidos por 42 unidades de g rupo de atenção primária (Fontana et
al., 1997). Ou seja, a integralidade parece ser prejudicada quando
um profissional de atenção primária enfatiza o manejo de uma
doença, e não as necessidades do paciente como um todo.
A adesão às diretrizes para a integralidade não pode ser
presumida. Por este motivo algumas unidades médicas de saúde
352
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
adotaram sistemas computadorizados para lembrar os médicos que
determinados procedimentos são indicados para pacientes individuais.
Para melhorar ainda mais a realização destes procedimentos, podem
ser entregues cartões-postais carimbados endereçados aos pacientes ao
médico com os lembretes. Uma melhor adesão às diretrizes ocorre
quando estes mecanismos são colocados em ação (Schoenbaum, 1990).
Um estudo da atenção prestada a 10.608 adultos de grupos de
60 médicos de família, 245 internistas gerais e 55 internistas
subespecializados indicou que havia muito poucas diferenças, embora
estatisticamente significativas, na integralidade medida pelo
recebimento de serviços preventivos ou promotores de saúde, com
os internistas gerais apresentando um desempenho discretamente
melhor. Os escores para os primeiros foram 84,1 e 86,6,
respectivamente, sendo 47,1 e 49,0 para os últimos (em uma escala
de 0-100) (Grumbach et al., 1998).
Um estudo de todos os pediatras no estado do Texas (Feigin et
al., 1996) averiguou a freqüência com a qual os procedimentos
selecionados foram realizados em um ano. A Tabela 10.5 relaciona estes
procedimentos de acordo com o fato de serem comuns nas unidades de
pediatria (estabelecidos em duas vezes por mês como suposição arbitrária
de que esta freqüência seria necessária para manter uma competência
razoável) e de que houve diferenças significativas nas taxas de realização
em áreas rurais (onde a disponibilidade de especialistas para realizar os
serviços necessários pode ser limitada) versus áreas urbanas .
Os achados mostraram que a disponibilidade de outros
especialistas determina a integralidade das unidades de atenção primária.
Em nenhum caso os pediatras apresentaram maior probabilidade de
realizar um procedimento em uma área urbana. Os achados também
levantam a questão se alguns pediatras (particularmente aqueles nas
áreas rurais) estariam realizando os procedimentos que agora estão
realizando, considerando a baixa freqüência com a qual são necessários.
Ou seja, pode ser que a distribuição de especialistas não esteja
apenas comprometendo a integralidade da atenção primária, mas
também está resultando em um potencial para uma qualidade ruim
da atenção em algumas unidades de atenção primária.
353
10. Integralidade da atenção: quem deveria oferecer o que
Um estudo de 161 unidades gerais selecionadas aleatoriamente
das 5.825 unidades nos Países Baixos examinou a taxa de
encaminhamento para 27 tipos diferentes de pr ocedimentos. A taxa
de encaminhamento estava bem abaixo de 50% para 18 dos 27
procedimentos e acima de 80% apenas para 9 deles. Estes
profissionais próprios da atenção primária realizavam de mais de
75% das suturas para feridas abertas, lidavam com unhas encravadas
e infiltrações de ombro e cotovelo, enfaixe de torção de cotovelo,
inserção ou ajuste de dispositivos intra-uterinos, ajuste de pessários,
exame de corrimento vaginal, realização de exames diagnósticos para
infecções fúngicas de pele e tratamento de úlceras varicosas e por
pressão. Realizaram entre metade e três quar tos das excisões de cistos
sebáceos, excisões de nevos e lipomas cutâneos, incisões de
abscessos, drenag em de b ursa do joelho e do cotovelo, tratamento
Tabela 10.5Tabela 10.5
Tabela 10.5Tabela 10.5
Tabela 10.5
Procedimentos comuns e incomuns na unidade pediátrica
Fonte: Feigin et al. (1996)
354
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
de lesões na córnea, exames de audiometria, remoção de corpos
estranhos do ouvido, nariz ou g arganta e biópsias de pele. Os
procedimentos que ocuparam menos da metade do tempo incluíram
punções de hidrocele (6%), tratamento conser vador de fratur as
(26%), tratamento conservador de dedos do pé, cotovelos e ombros
deslocados (39%), drenagem de cisto mamário (2%), proctoscopia
(9%), tonometria e fundoscopia (17%), paracentese (1%), exame
para infertilidade (6%) e exames para alergia (4%) (Delnoij, 1994).
Existem pelo menos algumas evidências de que estimular os
médicos de atenção primária a expandir a variedade de serviços
que oferecem pode ter o efeito de encorajar os pacientes a buscarem
a inter venção quando, de outra for ma, não o fariam e quando não
é, necessariamente, desejável que o façam. É sabido que a
disponibilidade aumentada de equipamentos para exames
diagnósticos e inter venções terapêuticas aumenta a taxa de
realização de muitos procedimentos acima e além do que seria
considerado necessário (Coulter, 1995; Rink et al., 1993).
Assim, a integralidade requer o conhecimento da freqüência
dos problemas e necessidades na área específica em que as unidades
estão localizadas (ver Capítulo 14). Como a educação médica não
necessariamente treina os profissionais para a prática em áreas
específicas, a educação continuada deve ter a responsabilidade de
garantir que a competência seja mantida para os ser viços que
deveriam ser oferecidos na atenção primária.
Uma comparação internacional de taxas de encaminhamento
realizada em unidades de atenção primária (unidade geral de saúde)
em 15 países oferece uma evidência indireta das diferenças na
integ ralidade nos diferentes países. A Figura 10.3 indica as dif erenças
em porcentagens de consultas que resultam em um encaminhamento
para um especialista de atenção não primária. No geral, as
porcentag ens variam de 1,5 em Portugal a 45,7 na Bélgica, com a
preponderância de porcentagens entre 5 e 20. Em geral,
porcentagens mais altas refletem porcentagens mais altas para
especialistas médicos, cirúrgicos e outros tipos, mas exceções
notáveis: a baixa taxa de encaminhamento em Portugal ocorr e devido
355
10. Integralidade da atenção: quem deveria oferecer o que
às baixas taxas de encaminhamento apenas para especialistas
médicos; no Reino Unido, os encaminhamentos para outros tipos
de especialistas são relativamente altos; na Alemanha, os
encaminhamentos para cir urgiões são especialmente altos. Neste
estudo, os países com altas taxas de consultas com médicos
generalistas também foram países com porcentagens mais altas de
consultorias resultado de encaminhamentos, mas esta relação não
se manteve para os médicos individuais dentro dos países (Fleming,
1991). Uma limitação na inter pretação dos dados, entretanto, é o
cálculo das porcentagens baseado nas consultas e não nas pessoas
consultadas. Os países com altas taxas de encaminhamento podem
ser aqueles países em que os indivíduos realizam menos consultas
para atenção primária, enquanto os países com baixas porcentagens
de consultas resultando em um encaminhamento também podem
ter altas taxas de consultas por pacientes individuais. Quer o caso
seja de um ou de ambos, as taxas de encaminhamento para pacientes
individuais serão menos variáveis do que parecem nesta comparação.
Figura 10.3Figura 10.3
Figura 10.3Figura 10.3
Figura 10.3
Encaminhamentos por 1000 consultas
Fonte: Fleming (1991).
356
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
No norte da Noruega , um terço das pessoas consulta pelo
menos com um especialista no período de um ano, em um sistema
de atenção à saúde que requer o encaminhamento de um generalista
para uma consulta com um especialista em atenção não primária e
que não apresenta barr eiras financeiras para estas consultas. As áreas
com relação médico generalista/população mais alta e aquelas com
um hospital tiveram proporções mais altas de pessoas que consultaram
com um especialista em atenção não primária; o nível educacional e o
problema de saúde mais debilitada estavam, cada um
independentemente, associados às taxas mais altas de encaminhamento
(Fylkesnes, 1993). Em comparação , um estudo em 183 unidades em
Nottinghamshire, Inglaterra, descobriu que 22% dos indivíduos foram
encaminhados em um ano: 14% por motivos médicos e 8% por
necessidades cirúrgicas (padronizado para proporção de idosos versus
não idosos na unidade). As taxas de encaminhamento foram mais altas
entre as unidades isoladas e em áreas de baixa renda (Hippisley-Cox et
al., 1997), demonstrando a necessidade de se considerar a extensão das
necessidades de saúde e características sócio-demográficas relacionadas
ao interpretar as diferenças nas taxas de encaminhamento.
Nos Países Baixos, as taxas de encaminhamento foram
calculadas baseadas na proporção de episódios de atenção primária
que resultaram em um encaminhamento a um especialista de atenção
não primária. As taxas de encaminhamento caíram de 16% em 1971
para 11% (padronizadas para as mudanças na idade e sexo) em 1994,
apesar de um aumento no número de especialistas em atenção não
primária; a queda foi mais notável de 1980 a 1985, especialmente no
caso de encaminhamentos a especialistas cirúrgicos, que em 1994
abrangiam cerca de metade de todos os encaminhamentos. Estes achados
sugerem que a atenção primária pode ter se tornado mais integral neste
período de 20 anos naquele país (Van de Lisdonk e Van Weel, 1996).
Um estudo de taxas de encaminhamento entre 121.958
consultas de 242 médicos generalistas na Espanha revelou uma
ampla variabilidade que foi associada a várias características de
pacientes, de médicos e da unidade. As taxas de encaminhamento
mais altas foram encontradas para pacientes do sexo masculino,
357
10. Integralidade da atenção: quem deveria oferecer o que
médicos acima de 65 anos, médicas, grandes arquivos de pacientes,
menor número de consultas por semana, unidade localizada em
área urbana, pressão percebida dos pacientes e o não trabalhar em
uma equipe de atenção primária. A significância estatística do
modelo de regressão na predição da taxa de encaminhamento nas
práticas foi muito alta (García Olmos et al., 1995).
RESUMO
A Tabela 10.6 resume a natureza da integralidade. A
integ ralidade dos ser viços requer que o conteúdo dos serviços seja
explícito e que haja o reconhecimento de situações onde sua
aplicação seja adequada. Assim, ela deveria ser avaliada através
do exame da variedade de serviços disponíveis (um aspecto
estr utural)eoreconhecimento das necessidades (um aspecto
processual). A variedade de ser viços que estão disponíveis deveria
consistir de um núcleo que se aplicaria a cada população e ser viços
adicionais que estariam disponíveis para atender necessidades
especiais que são comuns na população atendida. A falha em
reconhecer as necessidades e problemas é manifestada através de
um subdiagnóstico sistemático dos problemas sabidamente comuns
na população de pacientes ou pela evidência de falta de
recebimento de ser viços indicados naquela população.
A decisão sobre o locus apropriado dos ser viços não é direta.
Para serviços preventivos, a consideração da probabilidade de risco,
bem como a natureza dos aspectos org anizacionais dos ser viços
clínicos, influenciam as decisões quanto as vantagens relativas das
abordagens de saúde pública versus as de medicina clínica.
Estudos baseados em consultórios ou nas unidades de saúde
podem oferecer informações r eferentes ao g rau de disponibilidade
e de prestação de uma completa variedade de ser viços aos
pacientes que ali recebem sua atenção, mas não consegue oferecer
as informações necessárias para determinar se a unidade de saúde
atende às necessidades da população pela qual ela é responsável.
358
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
A avaliação da adequação da integralidade fica comprometida
na ausência de uma terminologia aceita para a especificação das
necessidades. Quando não existem padrões bem validados para
especificação da variedade de ser viços, as diferenças populacionais
na freqüência de problemas acessíveis à atenção médica servem
para identificar a integralidade inadequada.
Embora os médicos de atenção primária, geralmente, prestem
atendimento mais integral do que outros especialistas, existem
disparidades persistentes na integralidade entre as especialidades
de atenção primária, e mesmo dentro delas.
As taxas de encaminhamento variam amplamente, tanto entre
países como dentro deles. Isto sugere haver difer enças seja nas
necessidades da população, seja na integ ralidade dos serviços de
atenção primária.
A política imperativa relacionada à integralidade envolve as
diferenças na extensão do “pacote de benefícios” fornecido por
várias seguradoras, g overnos e org anizações de ser viços de saúde.
No momento, estes benefícios variam amplamente. No futuro, as
abordagens que empregam as considerações das necessidades
Tabela 10.6Tabela 10.6
Tabela 10.6Tabela 10.6
Tabela 10.6
Resumo da integralidade
* Considerando as necessidades da população
359
10. Integralidade da atenção: quem deveria oferecer o que
populacionais, a fr eqüência destas necessidades na população, a
efetividade de vários tipos de intervenções sobre o estado de saúde
e nos resultados em saúde, e os custos das inter venções for necerão
uma abordagem mais consistente e racional para definição da
variedade de serviços a serem disponibilizados.
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365
A coordenação, o quar to componente da a tenção, é essencial
para a obtenção dos outros aspectos. Sem ela, a longitudinalidade
perderia muito de seu potencial, a integralidade seria dificultada
e a função de primeiro contato tornar-se-ia uma função puramente
administrativa. Descrições de atenção primária, sob o ponto de
vista do médico, freqüentemente, referem-se ao pr ofissional de
atenção primária como o defensor do paciente (Robinson, 1977)
ou em ter mos do compromisso do médico de atenção primária
com as pessoas (McWhinney, 1975; Draper e Smits, 1975). Para
chegar ao que estes ter mos indicam, o profissional de atenção
primária deve estar ciente de todos os problemas do paciente em
qualquer contexto no qual estes apareçam, pelo menos no que se
refere à saúde. A ampliação do alcance da prática em consultórios
individuais para unidades de g r upo e como par te de sistemas
integrados de saúde fornece tanto novos desafios como melhores
oportunidades par a coordenar os ser viços.
Coordenação é um “estado de estar em harmonia numa ação
ou esf orço em comum”. Esta definição expressa, for malmente,
o que as descrições mais realistas indicam. A essência da
coordenação é a disponibilidade de infor mações a respeito de
11. COORDENAÇÃO DA ATENÇÃO:
JUNTANDO TUDO
Fui a tantos médicos nos últimos meses, preciso de um
médico que junte tudo.
Um paciente em uma sala de emergência
(início dos anos 90)
366
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
problemas e ser viços anterioreseoreconhecimento daquela
infor mação, na medida em que está relacionada às necessidades
para o presente atendimento.
A expressão manejo de caso, que foi recentemente utilizada
para descrever esforços para conter custos, pode-se sobrepor à
idéia de coordenação da atenção, mas existe pouca concordância
sobre uma definição operacional padrão de manejo de caso. Neste
livro, manejo de caso é considerado como uma função da atenção
que deriva da presença de uma fonte habitual, ou seja,
longitudinalidade (ver Capítulo 8).
O seguinte relato ilustra os desafios da coordenação:
Uma mulher de 41 anos de idade está em atendimento numa
“clínica de atenção primária” devido à hipertensão moderada.
Este esboço contém infor mações sobre seu atendimento entre
uma consulta na clínica até a próxima consulta de revisão
marcada, num inter valo de aproximadamente três meses. Com
o propósito de avaliar a coordenação, o interesse recai no quanto
de infor mações relevantes para o atendimento da mulher o
profissional de atenção primária r econheceu no inter valo entre a
consulta inicial e a consulta de acompanhamento.
na consulta “zero”, na clínica de atenção primária, o médico
notou que a paciente tinha “um resfriado” e apresentava sinais
condizentes com o diagnóstico. O médico solicitou uma
radiografia torácica e prescreveu um tr atamento sintomático. Na
consulta de acompanhamento, três meses depois, o profissional
fez referência à infecção respiratória em suas anotações, mas
não mencionou os resultados da radiografia nem se a paciente
tinha tomado a medicação ou sentido alguma melhora.
duas semanas depois da consulta “zero”, a paciente apareceu
sem marcar consulta na mesma clínica ainda se queixando de
sintomas de infecção respiratória. Foi f ornecida uma receita
de antibiótico, mas o profissional de atenção primária não
fez referência a isto na sua folha de acompanhamento.
duas semanas mais tarde a paciente apareceu inesperadamente
em outra clínica da mesma instituição com o mesmo tipo de
367
11. Coordenação da atenção: juntando tudo
sintoma; o profissional obser vou que ela tomava Valium
regular mente e que fumava. Recomendou que parasse de fumar
e prescreveu tratamento sintomático adicional.
na consulta de acompanhamento na unidade de atenção primária,
o profissional não mencionou esta consulta nem o tratamento
ou conselho em suas anotações no prontuário médico.
um mês depois (e um mês antes da consulta de
acompanhamento agendada), a paciente foi atendida na sala
de emergência após uma aparente tentativa de suicídio.
Novamente, não houve referência a esta consulta ou ao
problema associado nas anotações do médico de atenção
primária nesta consulta de acompanhamento.
A revisão do prontuário médico da paciente referente ao período
anterior à consulta “zero” revelou que ela vinha sofrendo de dores
de cabeça alguns anos e estava sendo acompanhada na clínica
neurológica, a qual não descobriu nenhuma anor malidade em
repetidos exames. Em uma consulta, foi observado que estava
moderadamente hipertensa e foi encaminhada à clínica de atenção
primária, na qual vinha sendo atendida a cada três meses para
acompanhar a evolução da hipertensão moderada. Pelo menos
em uma ocasião anterior, um ano antes, tinha tentado suicídio por
superdosagem de sua medicação. Apesar deste histórico, os sérios
problemas de saúde mental da paciente não foram integrados à
sua atenção primária. Houve pouca ou nenhuma coordenação na
atenção a esta paciente por parte do médico de atenção primária.
Starfield et al. 1977
O conhecimento sobre a extensão dos desafios da coordenação
e sobre os impactos relativos de diferentes formas de alcançá-la é
extremamente esparso. O desenvolvimento de sistemas org anizados
de serviços de saúde, com integ r ação da atenção em diferentes níveis
e locais de pr estação de serviços, aumenta a consciência da ausência
de uma sólida informação de base, bem como a necessidade de
tentativas mais sistemáticas de desenvolvê-la.
Nem todas as necessidades podem ser atendidas dentro da
atenção primária (ver Capítulo 10). Isto significa que as pessoas
têm de ir a outros lugares por vários aspectos de suas necessidades
368
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
de saúde. Algumas vezes, elas o fazem com o reconhecimento
explícito do clínico de atenção primária, por meio dos processos de
consultoria e encaminhamento. Em outras ocasiões ou em outras
circunstâncias, podem buscar estes serviços por si mesmos (acesso
direto ou “auto-encaminhamento”). Além disso, uma necessidade,
dentro da própria atenção primária, de integrar ou coordenar os
serviços prestados por diferentes membros da equipe de profissionais.
Apesar do fato de eu o tê-lo avisado, um cir urgião deu a um
paciente meu de aproximadamente 250kg sua insulina regular e
uma dieta de 2.500 calorias quando ele foi internado para um
procedimento cirúrgico eletivo. O paciente entrou em coma a
partir de uma hipoglicemia. Eu sabia que o paciente ingeria grandes
quantidades de alimento em sua casa (muito mais que 2.500
calorias) e que a quantidade habitual de insulina poderia ser um
problema. Seu desjejum nor mal era um litro de Coca-Cola, 900g
de bacon, duas dúzias de ovos e um pacote de pão. Acho que o
cirurgião teve problemas em acreditar em mim.
A Figura 11.1 fornece uma representação esquemática dos
desafios da coordenação. Retrata a atenção primária em relação à
atenção oferecida por especialistas em atenção não-primária. A
rota 1 reflete as situações em que os pacientes buscam
atendimento diretamente dos outros profissionais. As outras rotas
refletem o primeiro contato com a atenção primária e a atenção
subseqüente por outros tipos de profissionais. A rota 2 indica os
encaminhamentos feitos dentro da atenção primária por motivos
administrativos, como exigência de certificação; o paciente pode
até mesmo não ter sido atendido por um profissional de atenção
primária antes do encaminhamento.
A rota 3 mostra os encaminhamentos como resultado da
incerteza ou incapacidade do profissional de atenção primária para
levar um problema ao diagnóstico, sendo que o encaminhamento é
feito com o propósito de obter orientação ou confirmação de outro
especialista. A rota 4 ocorre mais à frente no processo da atenção,
quando um diagnóstico foi feito mas o aconselhamento, ou segunda
369
11. Coordenação da atenção: juntando tudo
opinião, a respeito da terapia adequada é necessária. A rota 5 ocorre
quando os pacientes necessitam de reavaliação e manejo continuados
que os profissionais de atenção primária são incapazes de oferecer,
seja por falta de recursos, seja por falta de conhecimento para lidar
com um problema incomumente complexo ou raro.
As rotas6a9representam o retorno dos pacientes de outros
especialistas para a atenção primária. A rota 6 ocorre quando os
especialistas são incapazes de averiguar a natureza do problema do
paciente e acreditam que o médico de atenção primária está em
uma melhor posição par a fazê-lo. Nas rotas7e8,ospacientes são
reenviados à atenção primária com orientações sobre como fazer
um diagnóstico ou qual tratamento instituir, respectivamente. Na
rota 9, o tratamento foi instituído e os pacientes são reenviados à
atenção primária para continuação do manejo. Nas rotas 10 e 11, os
pacientes são encaminhados de um especialista par a outro, sem (rota
10) ou com (rota 11) conhecimento do médico de atenção primária.
Figura 11.1Figura 11.1
Figura 11.1Figura 11.1
Figura 11.1
Desafios da coordenação
370
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Assim, os desafios da coordenação se dividem em três partes:
1. Dentro do estabelecimento de atenção primária, quando
os pacientes são vistos por vários membros da equipe e
as inf or mações a respeito do paciente são ger adas em
diferentes lugares (incluindo laboratórios).
2. Com outros especialistas chamados para fornecer
aconselhamento ou intervenções de cur ta duração.
3. Com outros especialistas que tratam de um paciente
específico por um long o período de tempo, d evido à
presença de um distúrbio específico.
Uma amiga minha, de 45 anos, com um forte histórico familiar de
câncer de mama, foi informada por seu ginecologista de que tinha
um nódulo na mama, no local de uma biópsia anterior, e que ele
deveria ser melhor avaliado. Quando a paciente foi consultar o
cirurgião com quem vinha consultando anualmente desde a biópsia
original, ele ignorou o novo nódulo, considerando-o como tecido
cicatricial da biópsia. No ano seguinte, o ginecologista ficou
desapontado ao descobrir que nada tinha sido feito e insistiu com a
paciente que a cicatriz poderia estar mascarando algum outro
processo em andamento dentro da mama. Minha amiga voltou ao
cirurgião, que então diagnosticou um câncer. Em algum momento,
o cirurgião perguntou a ela, “Por que você não me aler tou a respeito
deste nódulo no ano passado?”, apesar do fato de ela ter feito isso.
Minha amiga, esposa de um proeminente advogado de causas
trabalhistas, nunca quis culpar os médicos. Ela desenvolveu
metástase no ano passado, cinco anos de pois do diagnóstico, e
ag ora está-se recuperando de um transplante de células-tronco.
Seu marido a como sendo muito azarada, mas não como uma
vítima de imperícia médica. Ela está tão acostumada a ir a tantos
especialistas diferentes para seu atendimento médico, em vez de ir
a um bom médico de atenção primária, que ela não avalia que o
sistema, com sua falta de mecanismos para coordenação da atenção
entre os especialistas, deixou-a na mão.
Dra. R., médica
371
11. Coordenação da atenção: juntando tudo
Um caso excelente pode resultar em um modelo
“deliberativo” de relação paciente-profissional de atenção primária
que considera o médico como análogo a um professor que ouve e
depois aconselha os pacientes a respeito das questões relacionadas
à saúde. Este modelo “bilateral” é extensivo para um trilateral
quando outro especialista está envolvido na atenção ao paciente.
O papel especial do profissional de atenção primária é moderar a
tendência em relação à dominância na tomada de decisões do
paciente, evitar duplicação desnecessária de exames e
procedimentos e minimizar a expressão, para o paciente, de
diferenças insignificantes no julgamento com outro profissional
que esteja envolvido. O papel especial de outros especialistas é o
de fazer apenas o que lhes é pedido e de se submeter ao julgamento
definitivo do médico de atenção primária (feito em conjunto com
o paciente) a respeito da necessidade de outras intervenções.
Ambos os profissionais mantêm a confiança dos pacientes no outro
médico se o paciente o desejar e isso não interfere com o bem-
estar definitivo do paciente (Emmanuel, 1994).
Um der ma tologista prescreveu esteróides orais para uma paciente
com algumas pequenas (a meu ver) lesões de sarcoidose ao redor
dos olhos, resultando em uma perda de controle de seu diabetes.
Ela queria que as lesões fossem curadas, o der matologista queria
curá-las, e eu queria controlar o diabetes.
A complexidade do processo de encaminhamento e a
multiplicidade dos motivos para encaminhamentos complicam o
estudo dos motivos para a grande variabilidade nas taxas de
encaminhamento que têm sido observadas em diferentes
populações, diferentes áreas geográficas, e até mesmo diferentes
países, como foi descrito no capítulo anterior. Salem-Schatz e
colaboradores (1994) demonstraram que as características dos
pacientes, incluindo idade, sexo e case-mix (medido pelo método
do Ambulatory Car e Gr oup [Gr upo de Atenção Amb ulatorial] ao
caracterizar ao peso da morbidade nos pacientes ver Capítulo 3)
372
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
somaram metade da variabilidade nas taxas de encaminhamento
em uma grande organização de manutenção da saúde (HMO) com
52 consultórios médicos e quase 38.000 pacientes no período de
um ano. Uma vez que estas características foram controladas, as
diferenças na idade do médico, posse da unidade de saúde,
localização da unidade e quantos pedidos de exames laboratoriais
não tinham mais qualquer r elação com as taxas de encaminhamento.
Sullivan (1992) descobriu que o diagnóstico específico foi o preditor
mais importante da probabilidade de que um encaminhamento
fosse de long a duração, ao invés de cur ta, para adultos; os pacientes
com artrite reumatóide ou doença vascular periférica tinham mais
chances de continuar com um especialista além da consulta inicial
do que os pacientes com osteoartrite, psoríase ou eczema.
Assim, os desafios da coordenação variam com os motivos
para encaminhamento e a natureza das necessidades dos pacientes.
O restante deste capítulo trata da natureza dos desafios para a
coordenação presentes na atenção primária, como são atendidos,
como estes desafios e os métodos de lidar com eles são medidos,
e as questões políticas que estão envolvidas na eliminação das
lacunas entre os diferentes profissionais envolvidos na atenção
dos pacientes.
Um de nossos gastroenterologistas locais faz endoscopia em todos
os pacientes que examina. Para mim, muitos destes exames não
devem ser indicados. Para ele, o paciente foi enviado a ele porque
não está bem e precisa de uma avaliação completa.
BENEFÍCIOS DA COORDENAÇÃO
Até recentemente, não havia nenhum estudo que examinasse
especificamente os benefícios da coordenação da atenção. Os
benefícios decorrentes da coordenação dependem do tipo de
coordenação necessária. Quando é necessária uma consultoria para
um aconselhamento, orientação ou intervenção de cur to prazo, a
373
11. Coordenação da atenção: juntando tudo
comunicação com o profissional de atenção primária precisa apenas
resumir a natureza das recomendações ou atenção prestadas, com
qualquer instr ução especial que seja necessária para que os
profissionais de atenção primária reassumam a atenção continuada.
Quando a consultoria faz parte de um manejo continuado de um
problema específico pelo outro especialista, o desafio da
coordenação é maior porque requer um processo de diálogo
contínuo entre os dois níveis de atenção para solucionar qualquer
mal-entendido ou para evitar a ausência de informações que poderia
interferir com seu melhor manejo.
Um de meus pacientes, um senhor idoso, casado, descobriu que
tinha câncer no cólon depois de um exame. Ele passou por uma
cirurgia, mas desenvolveu metástase nos pulmões cerca de quatro
anos mais tarde. O cirurgião disse a ele que não havia muito que
pudesse ser feito, e o paciente não queria que muito fosse feito. O
cirurgião continua a ver o paciente a cada seis meses e pede uma
tomografia computadorizada do peito (que mostra que ele tem
um crescimento contínuo da metástase). Acho que o cirurgião quer
fazer alguma coisa; eu me preocupo mais com o resultado, o que
não será mudado pelos exames de tomografia. Após telefonar
para o cir ur gião, ele parou de pedir os exames, embora continue
a querer ver o paciente, apesar de eu ser o responsável por seus
problemas médicos e os pr oblemas relacionados ao câncer.
Em uma grande pesquisa com médicos generalistas
britânicos, Coutler et al. (1989) descobriu que o encaminhamento
foi buscado para tratamentos específicos ou procedimentos
cirúrgicos (36%), investigação de diagnósticos específicos (35%),
aconselhamento sobre o manejo (15%), confirmação para
generalistas ou pacientes (4%) e transferência de longa duração
da responsabilidade da atenção primária para a atenção
especializada (10%). Assim, a grande maioria dos
encaminhamentos é para consultoria e atendimento de curta
duração, sendo esperado que o paciente volte diretamente para a
atenção primária.
374
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
A coordenação requer tanto um meio de transferência de
infor mações (o componente estrutural ou de capacidade) quanto
o reconhecimento de informações (o componente processual ou
de desempenho) (Fig. 11.2).
A atenção compartilhada é um meio de melhorar o fluxo
de infor mações do médico de atenção primária para outros
especialistas e de volta para aquele. Como é obser vado a seguir,
na seção sobre Implicações Políticas, a atenção compar tilhada é
um mecanismo cada vez mais usado de intercâmbio de
informações a respeito dos pacientes com problemas em
andamento. Entretanto, a atenção compartilhada também pode
ser usada para melhorar os benefícios dos encaminhamentos de
curta duração.
Figura 11.2Figura 11.2
Figura 11.2Figura 11.2
Figura 11.2
Sistema de serviços de saúde: coordenação. Resumido da Figura 2.1.
375
11. Coordenação da atenção: juntando tudo
Um estudo holandês incluiu 12 médicos generalistas com
pacientes entre 10 e 75 anos de idade, com problemas ortopédicos
para os quais os médicos estavam pensando em encaminhar por
causa de incer tezas a respeito do diagnóstico ou manejo terapêutico.
Os pacientes foram aleatoriamente indicados para sessões de
consultoria conjunta com um ortopedista ou para a atenção
“usual”, na qual eles mesmos deveriam decidir se seriam
encaminhados ou não. Um ano de pois, os pacientes foram avaliados
por um ortopedista não envolvido no atendimento. Houve,
significativamente, menos encaminhamentos e ações para
diagnóstico no g r upo de atenção compartilhada, sem efeitos
negativos no resultado subseqüente. Na verdade, mais pacientes
estavam livres de sintomas no acompanhamento de um ano neste
g r upo do que no g rupo de a tenção usual (Vierhout et al., 1995).
Um estudo norte-americano explorou o potencial do manejo
colaborativo para alcançar as diretrizes de tratamento para adultos
com depressão. Os pacientes de 22 médicos de atenção primária
foram aleatoriamente indicados para um de dois g r upos. Os
pacientes no g r upo de intervenção alternar am consultas com um
médico de atenção primária e um psiquiatra, com consultoria verbal
entre os dois tipos de médicos. Os pacientes no gr upo de
comparação foram manejados de acordo com a vontade do médico
de atenção primária. A avaliação dos resultados em um mês e três
meses revelou uma melhor adesão à terapia no g rupo de intervenção
e melhor resolução dos problemas do paciente, mas estes últimos
benefícios ocorreram apenas em pacientes com depressão
importante (Katon et al., 1995).
Métodos mais convencionais (embora não necessariamente
mais fáceis) para melhorar a transferência de informações
envolvem melhorias na continuidade dos profissionais ou equipes
de profissionais, prontuários médicos ou sistemas de infor mações
computadorizados.
Vários estudos indicam que o reconhecimento de
infor mações a respeito dos pacientes pode ser melhorado por meio
do aprimoramento dos mecanismos de continuidade. Por exemplo,
376
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
a continuidade do profissional resulta num melhor reconhecimento
das informações do paciente. Em uma série de estudos realizados
em seis unidades de atenção primária diferentes, a continuidade
do profissional melhorou o reconhecimento de vários tipos de
infor mações, par ticular mente no que se refere a problemas e
terapias claramente identificados. A continuidade do profissional,
entretanto, não facilitou o reconhecimento, por parte do
profissional, de consultas realizadas em outros lugares (Starfield
et al., 1976; Simborg et al., 1978).
A adição da lista de problemas aos prontuários resulta em
um melhor reconhecimento do problema. Estudos nas seis
clínicas indicam que este aperfeiçoamento nos prontuários
médicos facilitou o reconhecimento das informações. As listas
de problema melhoraram o reconhecimento de problemas de
pacientes especialmente se o período entre as consultas foi longo
e se houve um profissional diferente em cada uma (Simborg et
al., 1976). Benefícios similares decorreram da inserção de
infor mações impressas por computador. Isto resultou num melhor
reconhecimento do médico sobre problemas e terapias anteriores
do paciente, mas não melhorou o reconhecimento de consultas
feitas em outros lugares entre uma consulta à unidade de atenção
primária e um acompanhamento subseqüente. Ocorreram
melhoras, quer tenha havido continuidade do profissional ou não,
de uma consulta para a outra, na unidade de atenção primária
(Starfield et al., 1977).
A de volução computadorizada de deter minados tipos de
infor mações também melhora a a tenção ao paciente ao facilitar a
coordenação. A continuidade melhorada, na forma de um resumo
computadorizado nos prontuários médicos, em uma clínica sem
continuidade dos médicos, pode melhorar diversos aspectos da
atenção. Um estudo consistiu de uma avaliação aleatória controlada
envolvendo pacientes que foram acompanhados em três clínicas
médicas especializadas. Um resumo continha as infor mações
atualizadas a respeito do paciente e incluía uma lista de problemas,
medicações e resultados de exames laboratoriais, além de ações
377
11. Coordenação da atenção: juntando tudo
sugeridas referentes ao processo de atenção. Os pacientes cujos
médicos receberam os resumos apresentaram maior probabilidade
de ter os procedimentos e encaminhamentos indicados realmente
realizados, maior implementação das dietas indicadas e mais
descober tas tanto de problemas novos como resolvidos. Estes
pacientes também passaram, em média, menos dias no hospital
(Rogers e Haring, 1979).
A continuidade aperfeiçoada, na forma de um perfil
computadorizado de medicamentos, também pode resultar no uso
mais ef etivo das infor mações. Em um estudo, o computador gerava
um resumo atualizado de cada medicação atual e passada do
paciente sempre que um medicamento era retirado da farmácia.
Utilizando uma amostra aleatória de pacientes examinados em um
ambulatório de pacientes não-internados, este perfil era inserido
em seu prontuário médico em 24 horas. A duração das interações
medicamentosas apresentadas pelos pacientes foi mais curta para
estes pacientes do que para aqueles sem os perfis r egistrados. Os
perfis também foram associados a um número reduzido de
consultas em um ano de estudo, presumivelmente devido a uma
diminuição no número de consultas para renovações de prescrição
de medicamentos.
O reconhecimento de informações importantes por parte dos
profissionais também pode ser melhorado por vários outros
métodos. Por exemplo, a presença de um observador durante a
interação profissional-paciente pode aumentar o senso de
responsabilidade do pr ofissional par a com o paciente de forma
que ele possa investigar os problemas de importância para o
paciente. Um estudo demonstrou este efeito ao mostrar que a
presença de um obser vador melhora o reconhecimento dos
problemas que o paciente julga que necessitem de acompanhamento
(Starfield et al., 1979a).
Em estudos como os resumidos, o efeito é provavelmente
um resultado do mero reconhecimento aperfeiçoado das
necessidades do paciente por par te dos profissionais, e por tanto,
de uma maior concordância entre os pacientes e os médicos em
378
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
relação aos problemas do paciente. Quando pacientes e
profissionais concordam sobre os problemas do paciente, a
probabilidade dos problemas melhorarem é maior do que quando
apenas o paciente ou o médico nota sua existência. Foi descoberto
ser este o caso, quer a melhora da saúde do paciente tenha sido
julgada pelo médico (Starfield et al., 1981), quer pelo paciente
(Starfield et al., 1979b).
Embora a maior parte das evidências mencionadas acima
esteja disponível muitos anos, elas não são amplamente
reconhecidas, não sendo auto-evidente que muitos subespecialistas
recebam bem as oportunidades para melhorar a interação com os
médicos de atenção primária. Contudo, pelo menos alguns
especialistas o fazem. No Canadá, uma pesquisa com oncologistas
em um centro médico de atenção terciária indicou seu desejo de
que os médicos de família mantivessem um papel no atendimento
dos pacientes com câncer em remissão. As sug estões específicas
incluíram desenvolvimento de diretrizes, seminários informais para
melhorar a probabilidade do compar tilhamento de informações,
melhores mecanismos para o f luxo de infor mações, políticas
explícitas para incluir os médicos de família em discussões de
planos de tratamento e divisão dos papéis no manejo continuado
com o médico de família fazendo parte da equipe (Wood e
McWilliam, 1996). Entretanto, os interesses de outros especialistas
em uma melhor coordenação com os médicos de atenção primária
pode variar em grau. Nos Estados Unidos, onde os médicos de
atenção primária não têm tido uma história recente de centralidade
na atenção ao paciente, outros especialistas dão menos valor ao
receber infor mações de médicos de atenção primária do que os
médicos de atenção primária que as enviam, sendo que ambos os
tipos de médicos classificam o valor da definição de papéis e
procedimentos de monitoramento específico abaixo dos outros
aspectos do processo de consultoria. Ambos os tipos de médicos
classificam altamente o valor da comunicação verbal inicial seguida
por relatórios escritos, e ambos classificam altamente o valor das
infor mações a respeito das medicações atuais, crenças e atitudes
379
11. Coordenação da atenção: juntando tudo
do paciente em relação à saúde, sensibilidade a medicamentos,
questões que os pacientes, provavelmente, não discutiriam com o
profissional que presta a consultoria, motivos para o
encaminhamento, sintomas impor tantes e sua cronologia, achados
e diagnósticos do médico que encaminha (Williams e Peet, 1994).
Uma melhor comunicação entre os profissionais de atenção
primária e outros especialistas pode levar a situações em que exista
discordância em relação ao curso de ação adequado. Os
especialistas tendem a favorecer as estratégias que melhoram o
problema do paciente, enquanto os médicos de atenção primária
enfocariam mais a situação global do paciente. Algumas vezes,
estas metas podem estar em conf lito. Nestas circunstâncias, é o
paciente ou o representante do paciente que deve tomar a decisão
definitiva depois de conhecer as alternativas e sua fundamentação.
IMPLICAÇÕES DA POLÍTICA E DA PESQUISA DA
COORDENAÇÃO DA ATENÇÃO
O manejo da doença está-se tornando mais complexo.
Conforme a tecnologia avança, existem maiores possibilidades para
diagnóstico, inter venção e mais especialização de pessoal par a
oferecer os novos serviços. A natureza da doença também está
mudando: o envelhecimento da população e a sobrevivência cada
vez mais longa de indivíduos com condições complexas ou
incapacitantes colocam um fardo crescentemente maior sobre o
sistema de a tenção à saúde para coordenar a atenção. O apoio da
função de coordenação depende do desenvolvimento de melhores
meios de transferência de informação e de manejo do paciente,
especialmente quando recebem atenção das várias fontes para as
quais foram encaminhados.
Uma figura surpreendente da Medicina do século XX e ex-editor
de um periódico de Medicina de prestígio desenvolveu um
adenocarcinoma. Depois de uma operação bem-sucedida que
380
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
restaurou sua capacidade de engolir, ele enfrentou uma difícil
escolha: passar pela quimio e radioterapia, questionavelmente
efetivas e altamente desconfortáveis, para uma possível, mas não
detectável metástase ou esquecer estes tratamentos. Ironicamente,
a área na qual o câncer se desenvolveu era uma à qual o médico
eminente tinha devotado muita atenção em sua carreira como
pesquisador. Enquanto tentava decidir qual plano seguir, ele rece bia
de colaboradores profissionais de todo o país “um dilúvio de
conselhos bem-intencionados, mas contraditórios”. Como
resultado, ele e sua família (incluindo um filho e uma filha que
eram médicos) ficaram cada vez mais confusos e angustiados.
Finalmente, um sábio amigo médico disse: “O que você precisa é
de um médico.” Quando este conselho foi seguido, ele rela tou
que sua família e ele “sentiram um alívio imenso e imediato. A
incapacidade g erada pela preocupação nervosa foi disper sa e eu
pude voltar às minhas ansiedades costumeiras, como decidir o
destino dos manuscritos”.
Relatado por S.J.R., T he Pharos (Inverno de 1995)
Como os encaminhamentos requerem que os pacientes
consultem com profissionais diferentes, a continuidade não pode
ser alcançada ao não ser mantido o mesmo profissional. Outros
mecanismos são necessários. Historicamente, os prontuários
médicos têm for necido este mecanismo, mas os prontuários
médicos padrão não são adequados para a tarefa. A maioria deles
ser ve apenas como auxílio para a memória e é útil basicamente
para o profissional que os escreveu; outros profissionais apresentam
uma probabilidade muito menor de utilizar as informações, mesmo
que estejam disponíveis.
Algumas melhoras nos sistemas de prontuário médico são
projetadas para facilitar outros propósitos, como cobranças e
reembolso, documentação do processo de atenção, revisão da
qualidade, monitoramento ou funções leg ais. Elas não melhoram
o reconhecimento das informações de consultas de
encaminhamento ou aquelas realizadas em outros locais por
iniciativa do paciente.
381
11. Coordenação da atenção: juntando tudo
O imperativo para a coordenação está crescendo
rapidamente como resultado de uma importante troca de políticas
no f inanciamento e org anização dos serviços de saúde, como por
meio da abordagem de “retenção de fundos” no Reino Unido, e da
expansão da cobertura dos pagamentos por capitação para incluir
a atenção especializada nas HMOs e sistemas de saúde
“integ rados” nos Estados Unidos. Nestes sistemas, os profissionais
de atenção primária (no Reino Unido) e as organizações de atenção
gerenciada (nos Estados Unidos) estão sob risco para cobertura
de serviços prestados fora da atenção primária; se seus orçamentos
forem ultrapassados por encaminhamentos para estes ser viços, eles
terão menos capital disponível para expansão ou melhoria em sua
unidade, e podem, até mesmo, cor rer o risco de não ter seus
contratos renovados.
Assim, foi desenvolvida nos últimos anos uma variedade de
mecanismos para melhorar a probabilidade da coordenação. Variam
do desenvolvimento de diretrizes for mais para superação dos
ser viços de subespecialistas ao crescente uso da telemedicina e à
atenção compartilhada entre médicos de atenção primária e outros
especialistas.
Diretrizes formais computadorizadas estão em
desenvolvimento em alguns lug ares. Estas diretrizes operam na
for ma de progr amas que ajudam os médicos de atenção primária a
saber quando é adequado encaminhar; quais exames e
procedimentos são adequados para realização antes do
encaminhamento; quais os exames inadequados para realização,
porque podem ser desnecessários; e quais informações for necer a
outros especialistas. Estes programas são, geralmente,
desenvolvidos com base nos julg amentos informados feitos por
g r upos de “peritos” especialistas; na sua for ma mais desejável,
estes grupos também incluiriam médicos de atenção primária. Não
é conhecida nenhuma avaliação do impacto desta abordagem para
melhorar a coor denação.
Uma das estratégias mais amplamente usadas, especialmente
no Reino Unido, é a “clínica de long o alcance” na qual uma equipe
382
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
de especialistas presta um serviço de diagnóstico ou tratamento
nos estabelecimentos de atenção primária, e não nos
estabelecimentos de consultoria, como hospitais. Bailey e
colaboradores (1994) avaliaram a extensão e a natureza destes
esforços por meio de entrevistas telefônicas com 50 gerentes
hospitalares, 96 especialistas, 88 médicos generalistas e 122
detentores de fundos de clínica geral na Inglaterra. A maioria (60%)
dos hospitais estava envolvida nestas atividades de longo alcance,
e 32 detentores de fundos identificaram um adicional de 61 clínicas
de longo alcance cobrindo especialidades cirúrgicas, médicas e
serviços de saúde mental (nesta ordem de freqüência). Os
benefícios relatados mais comumente foram, para os pacientes,
facilidade de acesso e períodos de espera mais curtos; para os
profissionais, a comunicação aprimorada foi mais comumente
mencionada como um benefício. Entretanto, também foram
relatados os problemas associados a estes esforços, sendo o mais
comum os 5 a 10% de especialistas que relataram problemas
decorrentes do aumento na demanda de tempo (Bailey et al ., 1994).
A atenção compartilhada é um esforço para aprimorar a
coordenação tornando explícitas as responsabilidades dos médicos
de atenção primária e de outros especialistas na atenção aos
pacientes. Ela foi avaliada de for ma mais extensiva no caso da
atenção a pacientes com diabetes. A revisão de Greenhalgh (1994)
sobre estas avaliações vale como modelo para uma avaliação mais
extensiva e de maior alcance de seu valor potencial. Os resultados
de estudos anteriores de falhas na coordenação enfocaram sua
consideração sobre a “falha inequívoca da atenção desestr uturada
por médicos generalistas para produzir níveis aceitáveis de processo
e resultado”, o “potencial para altos padrões de atenção quando a
atenção estr uturada de uma equipe de atenção primária foi
acompanhada por um alto grau de apoio e entusiasmo dos
especialistas”, o achado que “estes extremos de qualidade podem
coexistir dentro das áreas locais e até mesmo dentro de um único
esquema de atenção compartilhada”, e a importância dos “três R:
383
11. Coordenação da atenção: juntando tudo
registro, relembrar e revisão regular”. Greenhalgh avaliou que todos
os três estudos aleatórios controlados da atenção compartilhada
publicados desde 1991, bem como a maioria dos estudos
longitudinais e contagens descritivas mais recentes produzem
resultados favoráveis no geral. Ele catalog ou várias for mas de
atenção compar tilhada como segue: cor reio eletrônico, exigindo
uma base de dados comum com portas de múltiplo acesso; atenção
compartilhada auxiliada por computador, com um conjunto de
dados aceitos a ser coletado; cartões de registro compartilhados,
que podem tanto ser mantidos pelo paciente como ser enviados
pelo cor reio, bem como entre médicos de atenção primária e
especialistas; reuniões de contato (usadas mais freqüentemente
para saúde mental e problemas de abuso de substâncias);
comunicação regular por carta ou folha de registro padrão; clínicas
comunitárias, onde um médico consultor ou enfermeiro
especializado realiza atendimento nos estabelecimentos de atenção
primária; ou (e mais radicalmente) compartilhamento de recursos
onde os consultores não vêem os pacientes, mas oferecem
educação, apoio e planejamento estratégico para o médico de
atenção primária. O compartilhamento bem-sucedido da atenção
tem sido demonstrado até para problemas pediátricos difíceis e
para esforços direcionados, como exame de retina.
O pediatra e o cirurgião ortopédico marcaram suas consultas
seguidas para que eu não tivesse que fazer duas consultas
separadas. Eles dividiram um cadastro, me poupando da
responsabilidade de passar infor mações incompletas. As consultas
foram marcadas sem que eu tivesse que ligar para cada um
independentemente com um fisioterapeuta, um terapeuta
ocupacional, um fonoaudiólogo, um oftalmologista e um
psicólogo. As informações foram compartilhadas entre os
membros da equipe de forma que o fonoaudiólogo, por
exemplo, sabia que a avaliação psicológica indicou a possibilidade
de um distúrbio de aprendizagem.
W. Sibbald, T he Medical Post (3 de janeiro de 1996)
384
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
A telemedicina é uma das for mas de uma técnica que
melhoraria cada apoio. Embora as vantagens tenham sido
demonstradas tanto tempo, nos anos 70 (Dunn et al., 1977),
não está claro que a coordenação da atenção seria melhorada por
um maior uso deste r ecurso (Wyatt, 1996). A par ticipação ativa
do paciente pode ser reduzida pela preocupação com a tecnologia,
não existindo garantias de que a interação ativa entre o médico
de atenção primária e o consultor poderia ser reduzida, deixando
menos escolha ao médico de atenção primária e ao paciente. Além
disso, os problemas lo gísticos em reunir médicos e pacientes, bem
como os custos da tecnologia, também podem interferir com seu
uso difundido, mesmo quando apropriado.
Infelizmente, a ausência de uma distinção clara entre a
atenção secundária (consultiva) e a terciária (encaminhamento)
impede o desenvolvimento de sistemas de informações ajustados
para necessidades específicas. Pelo menos um estudo demonstr ou
que as clínicas secundárias podem ser distinguidas das terciárias;
tanto a continuidade do profissional quanto a coordenação da
atenção dentro de unidades de saúde são maiores em clínicas
caracterizadas como terciárias do que em clínicas caracterizadas
como secundárias. Apesar destas diferenças, os especialistas que
trabalham nestas clínicas são incapazes de especificar se os
pacientes estão sob seus cuidados apenas para aconselhamento e
orientação de curta duração ou se perceberam um papel de longa
duração envolvendo o fato de assumir a responsabilidade para uma
atenção mais integral do que os especialistas geralmente oferecem
(Mawajdeh, 1988).
Um entendimento das responsabilidades relativas dos
médicos de atenção primária e de outros especialistas pode facilitar
a atenção aos pacientes, conforme foi demonstrado em um estudo
de alcoólatras com problemas encaminhados a uma clínica especial
de alcoolismo por seus médicos generalistas na Grã-Bretanha.
Depois de uma sessão inicial na qual receberam conselhos e
orientações na clínica, os pacientes foram aleatoriamente alocados
385
11. Coordenação da atenção: juntando tudo
para um g r upo que recebeu atenção continuada da clínica ou para
um g rupo encaminhado de volta ao seu g ener alista, o qual tinha
sido contatado e apoiado pelos especialistas da clínica. Depois de
seis meses, os pacientes atendidos por seu generalista melhoraram,
pelo menos, tanto quanto aqueles atendidos pelos especialistas.
Os pacientes atendidos por especialistas consultaram muito mais
na clínica, enquanto aqueles atendidos pelo generalista consultaram
mais no consultório do g eneralista mais conveniente. Neste caso,
a responsabilidade claramente definida para a atenção de curta
duração pelos especialistas, com orientação adequada para o
médico de a tenção primária, serviu para melhor ar a ef etividade
sem sacrificar a eficácia da atenção (Dr ummond et al., 1990).
O desafio para o desenvolvimento de políticas referentes à
coordenação da atenção depende do desenvolvimento de mais
conhecimento a r espeito do processo de encaminhamento, da
transferência de informações derivadas dos encaminhamentos e
do quanto os médicos de atenção primária reconhecem estas
infor mações. As questões políticas incluem o desenvolvimento de
pelo menos alguns padrões para encaminhamento e que podem
ser ensinados durante o processo de educação médica e que podem
ser usados para monitorar a qualidade de vários componentes da
atenção médica. São necessários novos métodos de transferência
de informações para facilitar o reconhecimento das informações
geradas em consultas com médicos outros que não o de atenção
primária. Os registros mantidos pelo cliente, ou “passaportes
médicos”, podem ser uma abordag em fr utífera que está sendo
implementada em vários lugares e é parte da política nacional de
saúde na França desde 1997. Também é provável que uma melhor
coordenação exija um reconhecimento mais explícito, no nível dos
sistemas de saúde dos papéis e responsabilidades relativos da
atenção primária, da secundária e da terciária.
A coordenação entre estes três setores é conhecida como
regionalização. Com a regionalização, um vínculo bem
estabelecido entre a atenção primária, a secundári a e a terciária.
386
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Os serviços são organizados conforme as necessidades da
população e são projetados de forma que existam profissionais e
unidades suficientes em cada nível para cuidar das necessidades
naquele nível, mas não excedê-lo.
A necessidade de recursos em cada nível pode ser calculada
tanto empiricamente, baseada na experiência de sistemas de saúde
existentes, como pela estimativa do número de profissionais e
unidades de saúde necessárias em cada nível, a partir dos cálculos
teóricos baseados nas necessidades ou demandas existentes.
Em muitos países, a atenção é org anizada de for ma que
existe, geralmente, um profissional de atenção primária para cada
um mil a três mil pacientes, dependendo da idade e do nível de
doença na população e sua distribuição geográfica. Os hospitais
comunitários atuam como um recurso para consultas e para
hospitalizações não-complicadas. Hospitais de atenção terciária
estão, g eralmente, associados a instituições de ensino médico e
servem como um local para encaminhar os pacientes com
problemas incomumente complicados ou raros.
Os cálculos teóricos da necessidade de recursos em cada
nível podem estar baseados na avaliação dos profissionais sobre
quais serviços deveriam idealmente ser oferecidos. A avaliação
“baseada nas necessidades” foi usada por Lee e Jones (1933) e
subseqüentemente por um gr upo na Universidade de Yale
(Schonfeld et al ., 1972) no início dos anos 70. Um gr upo de peritos
desenvolveu estimativas sobre o número médio de consultas
necessárias para proporcionar atendimento primário para problemas
crônicos e agudos específicos para diferentes f aixas etárias.
Nas estimativas de Yale, cada pr oblema agudo foi consider ado
como necessitando de uma consulta e meia por ano, em média;
adultos não-idosos com problemas crônicos e aqueles acima de
65 anos de idade com problemas crônicos foram avaliados como
necessitando de três a sete consultas por ano, respectivamente.
Foram utilizados dados da U.S . National Health Inter view Sur vey
[Pesquisa de Entrevista Nacional de Saúde, Estados Unidos], para
387
11. Coordenação da atenção: juntando tudo
deter minar a prevalência de problemas crônicos e agudos nos
diferentes gr upos etários. A próxima etapa no processo de
estimativa exigiu avaliações referentes ao número de consultas
que o médico poderia realizar em média. A partir destas estimativas,
foi calculado o número de médicos necessários.
Pesquisas baseadas em unidades de saúde (como a National
Ambulatory Medical Car e Sur vey [Pesquisa Nacional de Atenção
Médico-Ambulatorial] nos Estados Unidos) fornecem dados a
respeito do número e tipo de consultas que são manejadas pelos
médicos, de forma que as estimativas d e profissionais não são mais
necessárias para esta etapa dos cálculos. O Graduate Medical
Education National Ad visory Committee [Comitê Nacional Assessor
em Educação Médica de Pós-graduação] (1978) forneceu uma
maior precisão para as estimativas elaboradas pelas tentativas
anteriores. A simples substituição da taxa real de consultas pela
taxa teórica de consultas aumentou a estimativa para o número de
médicos necessários em 20 a 40%, dependendo da especialidade.
As estimativas baseadas na demanda de ser viços utilizam
infor mações como na National Health Inter view Sur vey, na qual os
pesquisados são questionados a respeito do número de consultas
que fizeram com os médicos. As cor reções podem ser feitas para
alterações previstas que influenciarão a utilização (como a
expansão de um seguro-saúde) ou para mudanças esperadas no
equilíbrio entre profissionais não-médicos e médicos. Utilizando
estes tipos de procedimentos, o Graduate Medical Education
National Ad visor y Committee elaborou estimativas sobre o número
de médicos que seriam necessários tanto na atenção primária
como em outras especialidades. Em g eral, as estimativas baseadas
na demanda são consideravelmente inferiores às estimativas
baseadas nas necessidades.
Confor me foi observado no Capítulo 4, as experiências de
sistemas integrados maduros de saúde podem fornecer
estimativas sobre o número de profissionais de atenção primária
e outros especialistas. Entretanto, as diferenças nas características
388
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
populacionais e nas necessidades de atenção à saúde tornam
perigoso adotar qualquer um deles sem uma cuidadosa avaliação
de tais diferenças. Por outro lado, estudos sobre os motivos para
a variabilidade em diferentes sistemas podem fornecer dicas
importantes quanto ao modo mais eficaz de prestar ser viço
primário, consultoria e encaminhamento, par ticular mente no que
se refere aos papéis relativos que cada um deveria desempenhar
no alcance de uma atenção otimizada com o mínimo de recursos.
Além disso, o distanciamento da unidade de atenção primária
certamente influenciará a natureza e o modo de interação entre
os clínicos de a tenção primária e outros especialistas.
Os principais desafios para a coordenação da atenção
quando diferentes profissionais estão envolvidos variam de
acordo com o tipo de situação. Onde vários profissionais estão
envolvidos como resultado de consultas iniciadas pelo paciente,
a coordenação ocorrerá apenas se os próprios pacientes atuarem
como condutor es da transferência de infor mações ou se houver
um prontuário médico compar tilhado. Se um encaminhamento
estiver envolvido, o desafio dependerá se a atenção é de cur to
ou long o prazo. No primeiro caso, a principal preocupação é com
a devolução oportuna de informações aos pacientes e ao
profissional que os encaminhou. Os mecanismos devem estar no
lugar para assegurar que o paciente e todos os profissionais
envolvidos estejam cientes das anormalidades e recomendações
para a intervenção. Em comparação, os desafios para a
coordenação quando o paciente está sob atenção especializada
de longa duração decorrem dos compromissos potenciais em
relação à longitudinalidade da atenção. Ou seja, quando a maior
parte da atenção está centrada no manejo de uma doença
específica, deve haver um mecanismo para assegurar que a
atenção necessária não relacionada àquela doença (como os
ser viços preventivos indicados) seja prestada. Conforme indica
a próxima seção, poucos estudos enfocaram este último aspecto
da coordenação.
389
11. Coordenação da atenção: juntando tudo
MEDIÇÃO DA COORDENAÇÃO
O alcance da coordenação no nível da população pode ser
avaliado pela agreg ação das medidas no nível do indivíduo. Como
é o caso de cada um dos outros três atributos, a avaliação da
coordenação no nível individual requer a consideração de um
elemento estr utural da atenção, o qual for nece a capacidade para
o alcance do atributo, e um aspecto processual, o qual for nece a
contrapartida do desempenho (Fig. 11.2).
O elemento estr utural essencial para a coordenação é a
continuidade da atenção; deve haver um mecanismo que deixe o
profissional ciente dos problemas sempre que ocor rerem, de for ma
que possíveis inter-relações possam ser detectadas e manejadas.
A continuidade é, geralmente, alcançada pela manutenção do
mesmo médico ou outro profissional de atenção à saúde para o
paciente de uma consulta para outra. Mas existem outros
mecanismos para alcançar a continuidade, como uma equipe de
indivíduos cujos canais de comunicação permitam que eles
transmitam infor mações impor tantes a respeito dos pacientes
entre si seja por um prontuário médico contendo informações
precisas e completas a respeito do paciente, um computador que
contém infor mações a respeito dos pacientes, ou registros feitos
pelos próprios pacientes.
O elemento do desempenho superior à coordenação é o
processo de reconhecimento do problema ou reconhecimento das
infor mações a respeito da atenção dos problemas. Apenas quando
os problemas são reconhecidos é que os profissionais podem agir
sobre eles. Como não pode haver tratamento sem um
reconhecimento inicial do problema existente, esta etapa é a mais
crítica. Quando os médicos não a gem baseados em informações,
isso constitui um erro por omissão, e não um erro por
cometimento. Ou seja, o problema decorre de uma falha no
reconhecimento da existência de inf or mações, e não uma falha
na ação sobr e elas.
390
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Medição da continuidade
Para alcançar a coordenação da atenção, deve haver um
mecanismo para transferir as informações a respeito dos problemas
do paciente ou da atenção recebida para estes problemas. A
continuidade, no contexto da medição da coordenação, envolve a
presença de tal mecanismo par a assegurar uma sucessão ininterrupta
de eventos entre as consultas. A longitudinalidade e a continuidade
diferem porque na primeira a sucessão de eventos está relacionada
ao tempo e ocorre no espectro completo de problemas ou motivos
em potencial para consultas. Para a continuidade, a questão
importante é a sucessão de eventos entre as consultas sem importar
onde ocorr eram e por quais motivos. Muitos estudos a respeito do
assunto da continuidade foram publicados, mas a maioria não
distingue entre os conceitos separados de longitudinalidade (a
presença e o uso de uma fonte habitual de atenção no decorrer do
tempo) e de continuidade (a seqüência de consultas nas quais
um mecanismo de transferência de inf ormações). Como o uso do
mesmo termo para denotar fenômenos diferentes impede o processo
de pesquisa e de acúmulo de conhecimento, é importante distinguir
entre os conceitos de longitudinalidade e de continuidade (Starfield,
1980). A Tabela 11.1 compara a longitudinalidade e a continuidade
e, além disso, distingue estes conceitos do primeiro contato.
Freqüentemente, os pacientes não têm uma fonte identificável
de atenção que alcance a longitudinalidade e ainda alcance a
continuidade da atenção para p roblemas específicos. Ou seja, é
possível ter continuidade sem longitudinalidade. Por exemplo, um
prontuário médico completo pode estar disponível para todos os
profissionais, enquanto os pacientes podem consultar com um
profissional diferente ou ir a uma unidade diferente para cada consulta.
Nesta situação, existe continuidade mas não longitudinalidade.
Inversamente, os pacientes podem ter uma fonte habitual
de atenção, na qual a longitudinalidade é razoavelmente bem
alcançada, mas, ainda assim, faltar a continuidade para os eventos
que ocorrem em seqüência. Por exemplo, um paciente que consulta
com o mesmo profissional toda vez alcança a longitudinalidade,
391
11. Coordenação da atenção: juntando tudo
mas pode não haver nenhum mecanismo, além da memória humana,
para a tr ansferência de informações. Além disso, a continuidade
da atenção pode ser um aspecto da atenção terciária, tanto quanto
da primária, no sentido de que os indivíduos que são acompanhados
por especialistas de atenção terciária para seus problemas raros
ou complexos podem alcançar um alto g rau de continuidade. Por
exemplo, não havia diferença na continuidade da atenção por
generalistas e por subespecialistas para os pacientes com doença
crônica examinados em um estudo de adultos de meia-idade e
idosos no Quebec (Beland, 1989) ou em um para pacientes em
unidades grandes privadas e multidisciplinares na Califórnia
(Goldberg e Dietrich, 1985). Existem vários métodos de avaliação
da continuidade de profissionais e outros para a avaliação da
continuidade alcançada por meios alternativos:
Tabela 11.1Tabela 11.1
Tabela 11.1Tabela 11.1
Tabela 11.1
Resumo: longitudinalidade
versus
continuidade
versus
primeiro contato
392
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
GINI e CON (Standardized Index of Concentration [Índice
Padronizado de Concentração]) (Shortell, 1976): estas
duas medidas da continuidade foram embasadas na
economia internacional, na qual são usadas para avaliar
a concentração de recursos. são úteis quando
aplicadas no nível populacional. Shortell (1976) aplicou-
as para avaliar a fonte de utilização durante um episódio
de doença envolvendo, pelo menos, cinco consultas. As
medidas não conseguem, no entanto, distinguir os
padrões de uso (por exemplo, consultar com o mesmo
médico várias vezes e com outro para outras consultas
resultaria no mesmo índice dos pacientes que alternavam
médicos no número total de consultas). Assim, os índices
não conseguem captar a sucessão de eventos numa
seqüência de atenção.
Continuidade Seqüencial (SECON Sequential Continuity):
esta medida é a fração de pares seqüenciais de consultas
com o mesmo profissional. Ela varia de zero a um, com
um valor esperado de um dividido pelo número de
profissionais disponíveis se a busca de atenção e o
agendamento forem aleatórios (Steinwachs, 1979).
Probabilidade de Continuidade Seqüencial (LISECON
Likelihood of Sequential Continuity): esta medida é a
probabilidade de que a SECON (continuidade
seqüencial) seja maior do que ocorreria se a distribuição
de profissionais nas consultas seqüenciais fosse aleatória
(Steinwachs, 1979).
Tanto a SECON como a LISECON são medidas de
probabilidade que controlam o nível de uso e o número de
profissionais disponíveis.
Índice “s”: neste método (Smedby et al., 1986), o
paciente é identificado numa consulta específica. Esta
medida considera se o profissional visto naquela ocasião
393
11. Coordenação da atenção: juntando tudo
é o mesmo que tinha sido visto na consulta anterior na
unidade de saúde. Tem um valor de um se o profissional
for o mesmo, e o valor é zero se não o for. Os valores
podem ser agregados pela média ao longo das consultas
de cada pessoa.
Taxa de retor no do encaminhamento (Holmes et al., 1978):
este método mede a disponibilidade de infor mações
referentes a um aspecto específico da atenção (por
exemplo, encaminhamentos). É baseado nas informações
dos prontuários médicos e averigua a porcentagem de
encaminhamentos que resultou num retorno de
infor mações a r espeito do encaminhamento.
Todas as medidas acima são empíricas (ou seja, medidas
relativas). Como elas não apresentam padrões para uma
continuidade adequada, são basicamente usadas na comparação
entre uma unidade de saúde ou profissional e outro ou entre um
g r upo populacional e outro. A medida desenvolvida pelo Institute
of Medicine, por outro lado, é nor mativa, ou seja, ela tem um padrão
definível em relação ao qual as medidas podem ser classificadas.
Medidas do Institute of Medicine: a lista do Institute of
Medicine (1978) contém três questões referentes à
continuidade. Um paciente que assim desejar pode marcar
consultas subseqüentes com o mesmo profissional? Os
prontuários completos são mantidos de forma que sejam
prontamente encontrados e acessados? Os itens ou
problemas relevantes no registro do paciente são
ressaltados, regularmente revisados e usados no
planejamento da atenção?
Das seis medidas de continuidade, apenas as duas últimas
tratam de mecanismos de continuidade outros que não da
continuidade de pessoal. Dois dos critérios do Institute of Medicine
reconhecem explicitamente a importância dos prontuários médicos.
Seu papel no alcance da continuidade tem sido demonstrado por
vários estudos. Por exemplo, Mar tin (1965) mostrou que os
394
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
pacientes apresentam maior probabilidade de manter as consultas
agendadas quando as datas de acompanhamento estão escritas no
prontuário médico. Outro estudo (Zucker man et al., 1975) mostrou
que os pacientes apresentam mais chances de obter informações a
respeito de sua atenção (por exemplo, dosagem e ações do
medicamento) se as informações estiverem no prontuário.
Para que os prontuários sirvam como um mecanismo de
continuidade, eles devem conter infor mações impor tantes a
respeito dos pacientes. Não padrões para prontuários médicos,
para sistemas de informação computadorizados ou para registros
mantidos pelos próprios pacientes, exceto para as categorias mais
gerais, incluindo diagnóstico e terapia. Nem todos os tipos de
infor mações são igualmente bem registrados nos pr ontuários
médicos. Por exemplo, T hompson e Osbor ne (1976) realizaram
um extenso estudo nacional de profissionais pediátricos e
mostraram que muitos itens de informações que foram
considerados, de forma mais ampla, como evidências de atenção
de alta qualidade, não foram registrados. Os itens que foram
consistentemente registrados incluíam determinadas medições de
rotina na primeira infância e idade pré-escolar, histórico de sintomas
nas crianças com um problema agudo recorrente, terapia
medicamentosa e um programa para a continuação do tratamento
em crianças com alergia, queixas importantes, sintomas, bem como
alguns tipos de exames diagnósticos. A aborda gem para avaliar a
adequação dos prontuários médicos para fins de alcançar a
continuidade compara a ocorrência real com a que foi registrada e
que pode ser averiguada. Isto envolve diversas técnicas:
Entrevista com pacientes e médicos: Para obter
infor mações através deste método, tanto pacientes quanto
médicos deveriam ser questionados porque nem sempre
concordam a respeito dos eventos relacionados à
consulta. Na verdade, os estudos mostram que: (1) os
pacientes e seus médicos concordam a respeito da
natureza do problema do paciente em apenas metade de
todas a consultas; (2) em um quarto das consultas, um
395
11. Coordenação da atenção: juntando tudo
problema é mencionado apenas pelo paciente; e (3) em
um quarto das consultas um problema é mencionado
apenas pelo médico (Starfield et al., 1979b, 1981; Romm
e Putnam, 1981).
Gravação da consulta em fitas de áudio e vídeo
(Zucker man et al., 1975).
Ter um obser vador registrando o conteúdo de uma
consulta e compará-lo com o prontuário médico (Starfield
et al., 1979a).
As inovações nos prontuários médicos podem melhorar sua
utilidade para fins de continuidade. As listas de problema inseridas
na frente do prontuário realmente melhoram o reconhecimento dos
problemas sob atenção dos profissionais. Resumos computadorizados
também podem alcançar o propósito para alguns, mas não todos, os
aspectos da atenção. Ressaltar as informações, em observações por
escrito (Williamson et al., 1967) ou por computador (Barnett, 1976),
alcança o mesmo propósito. (O Capítulo 16 for nece mais detalhes a
respeito dos sistemas de informação.)
A avaliação da extensão da transferência de informações é
uma abordag em convencional para avaliar os aspectos estruturais
da coordenação. Um instr umento padronizado e bem testado para
avaliar a adequação da comunicação entre médicos de atenção
primária e outros especialistas tornaria esta abordagem mais útil
na avaliação tanto do alcance relativo como absoluto de padrões
para esta comunicação. Embora não exista atualmente nenhum
instr umento desse tipo, existem muitas iniciativas que sug erem as
orientações par a seu conteúdo.
Em 1996, a Welsh Secr etary of Health [Secretaria de Saúde do
País de Gales] (1997) estabeleceu 20 metas para a saúde, entre
elas metas para melhorar a transferência de informações da atenção
primária para a secundária: Os resultados de todos os exames
diagnósticos (exceto para doenças sexualmente transmissíveis)
deveriam ser recebidos pelo médico generalista do paciente dentro
de dois dias úteis, e todas as infor mações referentes ao manejo
396
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
clínico do paciente deveriam ser recebidas pelo médico generalista
dentro de 24 horas após a alta hospitalar.
O College of Family Physicians of Canada [Escola de Médicos
de Família do Canadá] e o Royal College of Physicians and Surgeons of
Canadá [Escola Real de Médicos e Cir urgiões do Canadá] (1993)
propuseram, conjuntamente, diretrizes para a transferência de
informações, incluindo o seguinte:
Os médicos que realizam encaminhamentos deveriam
envolver os pacientes na decisão de encaminhar, na
escolha do especialista e no plano de manejo proposto,
incluindo o acompanhamento e a continuidade da atenção;
deveriam comunicar, claramente, aos especialistas/
consultores o objetivo e os problemas para os quais
precisam de ajuda é necessária e enviar a eles os resultados
de achados e investigações, incluindo radiografias, para
estarem disponíveis no momento da consultoria; e devem
participar na revisão similar e sistemática do processo de
consultoria/encaminhamento.
Os pacientes deveriam entender a necessidade e o
objetivo do encaminhamento; demonstrar cortesia com
ambos os médicos; entender a hora e o lugar da consultoria
e o que os levou a ela, e avisar ambos os médicos se não
for capaz de comparecer; entender que os resultados serão
comunicados a eles pelo especialista/consultor; entender
que os resultados dos exames serão relatados a eles pelo
médico que os solicitou; entender que deveriam voltar
ao médico que os encaminhou para continuação da
atenção como resultado do encaminhamento; e participar
da revisão de caso sistemática do processo de consultoria/
encaminhamento.
Os especialistas/consultores deveriam oferecer fácil
acesso a seus serviços; of erecer consultoria em horários
adequados ou auxiliar os médicos que encaminham a
encontrar alternativas apropriadas; demonstrar cortesia e
respeito para com os pacientes e médicos que
397
11. Coordenação da atenção: juntando tudo
encaminham; comunicar, clara e prontamente, os
resultados da consultoria ao médico que encaminhou e
ao paciente; relatar, prontamente, os resultados dos
exames laboratoriais para os pacientes no contexto clínico
adequado; orientar os médicos que encaminham,
prontamente, a respeito da hospitalização do paciente e
fornecer relatórios imediatos no momento da alta;
rec onhecer as preocupações do médico que encaminha a
respeito dos encaminhamentos laterais ou cr uzados;
reencaminhar os pacientes aos médicos que encaminharam
para continuação da atenção no momento apropriado e,
quando for necessária a atenção continuada para algum
problema complexo ou específ ico, envolver o paciente e
o médico de atenção primária na decisão; e participar da
revisão de caso sistemática do processo de consultoria/
encaminhamento.
Medição do reconhecimento de infor mações que
exigem acompanhamento
Cinco métodos têm sido usados para avaliar o
reconhecimento de infor mações refe rentes aos problemas dos
pacientes ou à atenção prestada a eles.
1 . As medidas do Institute of Medicine (1978) são baseadas
nas respostas a várias perguntas que ser vem como uma
medida normativa do alcance da coordenação. Cada uma
lida, de alguma forma, com a tr ansferência de informações
para facilitar a integ ração da atenção, embora nenhuma
avalie, realmente, o reconhecimento das informações. As
questões são as seguintes: (a) Os profissionais na unidade
fornecem infor mações pertinentes a outros pr ofissionais
que atendem ao paciente, buscam ativamente uma
devolução relevante dos consultores e outros
profissionais, e atuam como ouvidores em contatos com
outros profissionais? (b) É fornecido um resumo ou
398
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
sumário do prontuário do paciente a outros médicos
quando necessário? (c) Os profissionais na unidade
desenvolvem um plano de tratamento que considere a
capacidade do paciente para compreendê-lo? (d) Os
profissionais usam diversas táticas para garantir que o
paciente cooperará com o tratamento? (e) O plano de
tratamento reflete a capacidade física, emocional e
financeira do paciente para ser implementado? As duas
primeiras perguntas facilitam a coordenação ao melhorar
a probabilidade de que os profissionais reconheçam as
infor mações importantes. As três últimas perguntas estão
mais relacionadas à qualidade da atenção do que ao
processo de coordenação em si.
2. O método da University of North Carolina [Universidade da
Carolina do Norte] (Fletcher et al., 1984) avalia, mais
diretamente, a coordenação. Esta é definida como uma
evidência escrita de que o especialista está consciente do
envolvimento do médico de atenção primária com o paciente
e que ou o médico de atenção primária marcou a consulta
ou sabia dela de antemão. Alternativamente, a coordenação
é alcançada se o médico de atenção primária souber de uma
consulta que um paciente tenha feito a outro médico.
3. A avaliação da coordenação da atenção foi mais aperfeiçoada
pelo Dar tmonth Primar y Car e Cooperati ve Pr oject [Projeto
Dartmouth de Atenção Primária Cooperativa] (COOP), uma
rede colaborativa baseada em consultórios no norte da Nova
Inglaterra. A atenção era considerada coordenada se o
médico de atenção primária soubesse com antecedência das
consultas feitas em qualquer lugar. Isso poderia ocor rer
quando o médico de atenção primária marcasse, ele mesmo,
a consulta, ou quando o médico discutisse sua necessidade
antes que o paciente a marcasse ou quando o médico
soubesse de antemão das consultas que o paciente planejasse
fazer em outros lugares por sua própria iniciativa. A
informação sobre as consultas foi obtida por telefonemas
399
11. Coordenação da atenção: juntando tudo
periódicos aos pacientes que mantinham diários registrando
todos os seus contatos com médicos, hospitalizações,
consultas ambulatoriais não médicas e o preenchimento de
prescrições medicamentosas. Houve coordenação em 75%
das consultas médicas ambulatoriais, 81% das hospitalizações
não-emergenciais e 78% de todas as prescrições
medicamentosas, mas em apenas 33% das consultas com
profissionais não-médicos (Dietrich et al., 1988).
4. Em outra a bordagem para avaliar a coordenação, foi
perguntado aos pacientes onde e por que tinham ido para
obter atendimento. Foi perguntado aos profissionais se o
paciente tinha sido atendido em outro lugar e, em caso
positivo, onde e por que. Alternativamente, os sistemas de
informação podem ser usados como fonte de informação
sobre onde os pacientes foram e por qual r azão. Esta
alternativa é fundamentalmente útil onde o sistema de
informação contém dados sobre todas as consultas feitas
pelos pacientes; se forem obtidos formulários de queixas de
todas as consultas, a base de dados que os contém seria uma
fonte adequada. O reconhecimento da informação pelos
profissionais é avaliado tanto pelo questionamento em
relação ao seu conhecimento a respeito destas consultas e
seu conteúdo como pela revisão de seus prontuários em busca
de evidência do reconhecimento da inf ormação. Este é o
método utilizado no estudo que forneceu o caso usado no
início deste capítulo (Starfield et al., 1977).
5. Determinados aspectos do reconhecimento de informações
podem ser obtidos diretamente do prontuário médico. Por
ex emplo, existe um mecanismo para os profissionais anotarem
o resultado de exames e indicarem que notificaram os
pacientes, bem como os outros médicos envolvidos, a
respeito das anormalidades? Existem mecanismos para
garantir que os pacientes saibam da necessidade de uma
consulta de retor no ou de procedimento, estando estes
mecanismos implementados e registrados?
400
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Todos estes métodos estão relacionados, basicamente, aos
desafios da coordenação resultante de encaminhamentos de curta
duração. Métodos mais recentes de medição do reconhecimento
de infor mações que exig em acompanhamento são apresentados
no capítulo 13, no contexto da avaliação global da atenção
primária. A avaliação da adequação da coordenação quando os
encaminhamentos são de longa duração enfoca, basicamente, as
avaliações da adequação do reconhecimento das necessidades dos
pacientes que não estão relacionadas ao problema específico sob
atenção a long o pra zo. Consistente com a g rande pre ponderância
do encaminhamento de cur ta duração, a maioria dos estudos sobre
o alcance da coordenação enfoca este ultimo.
O QUE SABEMOS A RESPEITO DA OBTENÇÃO DA
COORDENAÇÃO
T.M. é um adolescente que relatou ter consultado com sete
profissionais em sete planos de saúde diferentes. Ele também
revelou que tinha tantas metas a alcançar com estes sete médicos
que ele escolheu não se tratar com nenhum deles porque ele estava
sobrecar regado.
Responsável pelo caso
Muitas unidades de atenção primária, bem como de atenção
especializada, não possuem altos níveis de continuidade. Estudos
descritos abaixo for necem as evidências deste fato.
Estudos iniciais sobre o processo de encaminhamento e
transferência de infor mações associadas foram realizados na
Inglaterra. Depois da reorganização de 1948, os departamentos
de pacientes ambulatoriais tornaram-se o centro para o qual um
médico generalista poderia encaminhar um paciente para obter o
parecer de um especialista. Vários estudos foram realizados em
consultórios individuais hospitalares para deter minar o tipo de
pacientes que era encaminhado pelos pr ofissionais. Os achados
destes estudos (Chamberlain, 1965) foram os seguintes:
401
11. Coordenação da atenção: juntando tudo
Quase 10% das cartas de profissionais que acompanhavam
os pacientes tinham menos de 15 palavras; apenas 15%
tinham mais de 100 palavras.
Houve uma significativa associação entre o tamanho da carta
e a classe social das pessoas que moravam próximas ao
hospital. Quanto mais alta a classe social, mais longa a carta.
Menos da metade das cartas pedia que o paciente fosse
visto por um consultor específico. A g rande maioria dos
encaminhamentos não continha qualquer tentativa de
diagnóstico, mas simplesmente solicitavam que o
consultante “examinasse e orientasse”.
A qualidade da comunicação entre o médico e o consultor
era inferior para os médicos que viviam próximos ao hospital.
Nos anos 50, os estudos, hoje clássicos, de Williams e seus
colaboradores na Carolina do Norte examinaram o processo de
encaminhamento e as características das infor mações a ele
associadas. Nestes estudos, foram entrevistados médicos que
encaminharam e seus pacientes encaminhados foram entrevistados,
tendo sido revisados os prontuários médicos. A adequação do
processo de encaminhamento foi julgada de acordo com os cinco
critérios seguintes (William et al., 1961):
Definição e especificação das necessidades e objetivo do
encaminhamento, incluindo entendimento mútuo entre
pacientes e médicos
Comunicação adequada do objetivo ao consultor
Atenção ao objetivo por parte do consultor
Comunicação adequada dos achados e recomendações ao
médico que encaminhou
Claro entendimento por parte do paciente, do médico que
encaminhou e do consultor da responsabilidade pela
continuação da atenção ao paciente (Williams et al., 1961).
A especificação do objetivo para o encaminhamento foi
deter minada para 99% dos encaminhamentos. Apenas em um
quarto das vezes o propósito foi especificado; um motivo médico
402
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
não específico foi dado num outro terço dos encaminhamentos. O
motivo mais comum (39% das vezes) foi “em resposta à solicitação
do paciente”. Cerca de um em 25 encaminhamentos estava
relacionado a uma incapacidade do paciente de custear os serviços
medicamente necessários.
O motivo para a consultoria solicitada foi especificado em
um comunicado em apenas quatro de dez casos; foi mais provável
encontrar o motivo na comunicação por escrito quando o médico
tinha declarado-o c laramente nas entrevistas.
Em apenas um de seis casos o motivo para o encaminhamento
foi mencionado no comunicado do consultor de volta ao médico
generalista.
Os critérios relacionados à comunicação de volta ao médico
que encaminhou era uma política do centro médico e foi alcançado
100% das vezes. Entretanto, as comunicações subseqüentes nunca
foram enviadas por 24% dos pacientes para os quais elas foram
asseguradas.
A responsabilidade pela continuidade da atenção ao paciente
foi estudada por meio do exame do prontuário médico e por
entrevista com os pacientes e os médicos que encaminharam,
quanto ao fato do paciente ter voltado a consultá-los ou não. Os
pacientes apresentaram maior probabilidade de voltar ao médico
que encaminhou quando o prontuário médico especificava
claramente esta intenção. No total, 62% dos pacientes voltaram
ao seu médico generalista, mas a porcentagem foi de 79% se a
obser vação era clara e apenas 42% se a observação não estivesse
clara quanto ao arranjo (Williams et al., 1961).
Estudos mais recentes na Grã-Bretanha confir mam os
achados dos estudos anteriores. Uma proporção substancial de
cartas de encaminhamento omitia informações como detalhes de
terapia medicamentosa e doenças anteriores. A adoção de car tas
em for mato fixo não tem sido muito difundida, embora elas
contenham, mais consistentemente, as infor mações necessárias.
As car tas de consultores para os médicos de atenção primária são,
freqüentemente, evasivas ou, quando muito, não são claras no
403
11. Coordenação da atenção: juntando tudo
auxílio ao médico de atenção primária e estão, com fr eqüência,
consideravelmente atrasadas (Wilkin e Dornan, 1990). Médicos
generalistas, pacientes e consultores têm diferentes percepções do
motivo para encaminhamento, e estas diferenças, geralmente, não
são explícitas. Nestas situações, é difícil, se não impossível, julgar
a adequação do encaminhamento, da natureza das infor mações
transferidas e dos procedimentos para o encaminhamento e para o
retor no ao médico de atenção primária (Grace e Ar mstrong, 1987).
Tenho cer teza que o paciente fica, de cer ta for ma, confuso, mas
esta carta a você é uma tentativa para tornar a posição clara. Ela
não precisa marcar outra consulta na clínica do hospital.
Carta de um médico de família britânico
para um especialista no hospital
Deficiências na transferência de informações de consultores
de volta aos médicos de atenção primária parecem ser um problema
em muitos países, mesmo naqueles com características de atenção
primária muito diferentes. Um estudo de 340 encaminhamentos
por 20 médicos generalistas mostrou uma ampla variabilidade nas
taxas de encaminhamento (de 1,6 a 10,0%); foram recebidas cartas
de consultores em apenas um terço dos casos, mesmo quando o
encaminhamento resultou em uma mudança de medicação ou
diagnóstico (Haikio et al., 1995).
Dar infor mações por escrito ao paciente pode ser muito
importante. Em uma pesquisa de 300 consultorias consecutivas
realizadas na Inglaterra, foi perguntado, tanto aos pacientes como
aos médicos, quais os conselhos dados a eles a respeito da necessidade
de uma consulta de retorno. Médicos e pacientes concordaram em
menos da metade das vezes a respeito de qual foi o conselho dado.
Os pacientes, principalmente, tinham maior probabilidade de discordar
de seu médico quando nenhum conselho específico tinha sido dado
durante a consulta médico-paciente; nestes casos, os pacientes tinham
uma probabilidade muito maior de indicar que uma consulta de retorno
era necessária (Armstrong et al., 1990).
404
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Um estudo, realizado em uma importante HMO nos Estados
Unidos, confirmou a importância das informações escritas; se um
formulário escrito tivesse sido dado a um paciente para uma consulta
de revisão com o médico que o encaminhou, o paciente apresentava
uma probabilidade muito maior de voltar ao médico do que se as
infor mações tivessem sido for necidas verbalmente. Os pacientes
também apresentaram maior probabilidade de voltar ao seu médico
se o considerassem seu médico de família (Lawrence e Dorsey, 1976).
Outro estudo mostrou que os consultores comunicam seus
achados aos profissionais que encaminham em apenas 55% das
consultorias. Caso tenha sido marcada uma consulta de retor no
para o paciente voltar ao médico de atenção primária, o médico
tinha maior probabilidade de saber o resultado da consultoria
(McPhee et al., 1984).
Num estudo realizado durante o período de sete meses em
seis unidades de saúde diferentes (três pediátricas e três para adultos),
houve uma ampla variabilidade na porcentagem de pacientes
observados pelo mesmo clínico em duas consultas consecutivas em
que a segunda era um retorno da primeira. O percentual em cinco
unidades variou de 46 a 79%, e em apenas uma estava acima de
90% (93%). Apesar do fato de que aproximadamente um em cada
nove pacientes em cada unidade tivesse consultado em outro lugar
por recomendação de seu próprio médico e até mesmo mais de uma
vez por sua própria conta, freqüentemente, os prontuários médicos
destes pacientes não continham informações sobre estas consultas
(Tabela 11.2) (Starfield et al., 1976).
Smedby et al. (1984) calcularam níveis seqüenciais de
continuidade em consultas para nove problemas diferentes numa
unidade de atenção primária. O percentual de consultas com
continuidade de profissional variou de 10%, no caso de doença
pulmonar obstrutiva, a 28%, para diabetes. Os níveis de
continuidade foram maiores para consultas agendadas do que para
as não-agendadas e para aquelas nas quais o paciente era visto por
um médico que tivesse trabalhado na unidade por períodos maiores
de tempo. No geral, a continuidade foi de apenas 22%.
405
11. Coordenação da atenção: juntando tudo
Holmes et al. (1978) compararam o encaminhamento com
retorno garantido para pacientes de médicos de família que
tivessem feito residência em Medicina de família em relação a
pacientes de médicos generalistas, cujo conhecimento veio apenas
de sua experiência prática. Os dois tipos de médicos não tinham
níveis de r etor no diferentes após o encaminhamento, que era de
cerca de 80%.
Existem poucos estudos sobre quanto de continuidade
aprimorada de profissionais ou informações está associada a um
melhor reconhecimento das infor mações impor tantes para a
atenção adequada ao paciente.
Num estudo sobre a extensão da coordenação entre a unidade
de Medicina interna em atenção primária e outras unidades na
University of North Carolina [Universidade da Carolina do Norte], a
porcentagem de consultas que eram coordenadas variou entre 22%,
para as clínicas de especialidade, a 47%, para consultas “de
entrada” (Fletcher et al., 1984). A coordenação das consultas, na
sala de emer gência, foi de 28%. Em comparação, a porcentag em
de hospitalizações nas quais havia coordenação com a unidade de
atenção primária foi de 75%. No total, cerca de apenas um terço
(35%) dos casos que exigiam a coordenação obtiveram-na.
Tabela 11.2Tabela 11.2
Tabela 11.2Tabela 11.2
Tabela 11.2
Continuidade da atenção conforme prontuários médicos:
porcentagem de tabelas contendo o teor das consultas de intervenção
(número de fichas entre parênteses)
Fonte: Starfield et al. (1979a)
406
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Uma mulher pobre, por volta dos 30 anos, sofre de distúrbio do
pânico, para o qual está sendo tr atada. Ela trabalha meio turno, não
possui seguro e seu marido está incapacitado, devido a uma lesão nas
costas e por doença psiquiátrica. Devido a suas dificuldades financeiras,
ela gradualmente começou a espaçar sua medicação em intervalos
cada vez maiores. Uma noite, à meia-noite, ela teve dor no peito e
perda de fôleg o. Sua ir mã, que nunca tinha presenciado isto
anteriormente, correu com ela para a sala de emergência onde ela
passou por vários exames e recebeu uma conta de US$2.500. Telefonei
para o médico da sala de emergência. Por que todos aqueles exames
para um ataque de pânico? Ele achou que a dor no peito se adequava
ao seu protocolo para exclusão de infarto do miocárdio e não tinha
deter minado quais medicamentos ela tomava, nem se tinha um
histórico de distúrbio do pânico. Esta paciente está pagando por sua
consulta em sala de emergência, US$10 por vez, mas agora ela terá
ainda menos dinheiro para sua medicação.
Dr. M.
Outro estudo sobre a obtenção da coordenação foi realizado
em seis unidades de atenção primária diferentes, três de Medicina
interna e três pediátricas, todas associadas a um grande centro
médico. Envolveu pacientes que tinham sido agendados para uma
consulta de revisão seis meses depois de uma consulta anterior e
que foram identificados na consulta de revisão. Antes de sua segunda
consulta, seus prontuários foram revisados para averiguar as
informações geradas na primeira consulta, bem como aquelas geradas
em consultas subseqüentes em qualquer outro lugar, seja por
encaminhamento pela unidade de atenção primária, seja por iniciativa
do próprio paciente. Em todas as unidades, o reconhecimento das
informações geradas dentro da clínica de atenção primária, quer o
paciente tenha sido atendido pelo mesmo profissional que na consulta
inicialmente identificada ou não, foi muito maior do que a extensão
do reconhecimento das informações g eradas em consultas realizadas
em algum outro lug ar. A Tabela 11.3 mostra que este é o caso para
todos os tipos de informações: (1) problemas claramente
identificados, ou seja, aqueles ressaltados no prontuário médico
407
11. Coordenação da atenção: juntando tudo
porque foram registrados como queixas ou diagnósticos importantes;
(2) pr oblemas mencionados no texto de observações no prontuário
médico; (3) terapias prescritas; ou (4) exames realizados (Starfield
et al., 1976). A extensão do alcance da coordenação para as consultas
que ocorreram em outro lugar foi similar àquela obtida no estudo
da Universidade da Carolina do Norte.
Tabela 11.3
Efeito da continuidade do profissional sobre o reconhecimentos das informações
Adaptado de Starfield et al. (1976)
Apesar do grande destaque do processo de encaminhamento
tanto do ponto de vista da necessidade cada vez maior por
encaminhamentos como dos altos custos da atenção associada
(Glenn et al., 1987), existem poucos estudos mais recentes nos
Estados Unidos referentes à transferência de infor mações e
coordenação da atenção.
Jenkins (1993) desenvolveu e aplicou um questionário de
11 itens para 39 especialistas para avaliar a qualidade da carta de
encaminhamento. Os especialistas foram instr uídos a comparar
as informações na car ta com as informações obtidas do paciente
pelo histórico e pelo exame clínico. Nove das 11 questões estavam
relacionadas a impor tantes aspectos das infor mações clínicas (er ros
ou omissões de dados clinicamente relevantes), uma refletia a
ausência de intervenções adequadas antes do encaminhamento, e
408
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
outra se referia à qualidade do texto da carta. Entre 5 e 28% das
705 cartas tinha erros de omissão (dependendo do tipo de
infor mação), e 23% ref letiam a ausência de uma investigação pré-
encaminhamento relevante. As taxas de ambos os tipos de
inadequações foram maiores para os encaminhamentos para
especialistas médicos do que para especialistas cirúrgicos. Embora
a precisão da decisão dos especialistas a respeito da adequação do
encaminhamento tenha sido testada contra uma avaliação
independente por um médico generalista não envolvido, nem a
validade, nem a confiabilidade das avaliações a respeito da exatidão
e da precisão foram testadas. Apesar disso, o estudo mostra o
potencial deste método para determinar a adequação das
infor mações que são necessárias para a coordenação da atenção.
Maiores evidências de déficits na coordenação vêm de um
estudo da condição de imunização de crianças em atendimento
terciário para espinha bífida (Raddish et al., 1993). Embora esteja
claro que estes pacientes necessitam de atenção continuada de
um especialista, devido ao seu problema raro e complexo, parece
que este atendimento não substitui, nem está coordenado com a
atenção primária. Neste estudo de 120 crianças de um centro de
encaminhamento terciário, todas as crianças, exceto uma, tiveram
um médico de atenção primária identificado. Entr etanto, o atraso
na imunização aumentou de 20 para 50% a partir da primeira nas
séries de imunizações indicadas para 18 meses de idade; ao ingressar
na escola, apenas um quarto das crianças estava com sua
imunização atualizada.
Outro estudo da atenção prestada a 10.608 adultos de grupos
de 60 médicos de família e 245 internistas generalistas mostrou
que os pacientes dos internistas generalistas classificaram melhor
seus médicos em termos de coordenação (medida pelos relatos de
que o médico sabia a respeito de outros médicos e profissionais
de saúde consultados) do que os pacientes de médicos de família
(Gr umbach et al ., 1997).
Poderia ser esperado que o advento da “atenção gerenciada”
(ver Capítulo 6) melhorasse a coordenação devido a uma maior
409
11. Coordenação da atenção: juntando tudo
probabilidade dos modos de integração dentro de um sistema de saúde
organizado. Dados de uma pesquisa de 84 inter nistas generalistas na
equipe de um g rande hospital-escola em Washington, DC., não
forneceram motivos para otimismo. Quarenta e um dos médicos que
participaram tanto dos planos de atenção gerenciada como não-
gerenciada relataram que seus pacientes na atenção manejada foram
encaminhados mais freqüentemente a um especialista desconhecido,
que os pacientes falaram pessoalmente menos vezes com o especialista
e que enviaram um resumo escrito a especialistas com menor
freqüência (Roulidis e Schulman, 1994).
RESUMO
A Tabela 11.4 resume a natureza da coordenação. Alcançar
a coordenação é um desafio para profissionais de atenção primária
devido à multiplicidade de tipos de motivos para encaminhamento
e das dificuldades técnicas na transferência e reconhecimento de
infor mações g eradas em diferentes lugares. Freqüentemente os
pacientes consultam em outros lugares, quer mediante
recomendação de seu médico ou por sua própria vontade, e a
transferência de informações a respeito destas consultas ou o que
ocorreu durante elas, geralmente, está ausente.
Tabela 11.4Tabela 11.4
Tabela 11.4Tabela 11.4
Tabela 11.4
Resumo da coordenação
410
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
A continuidade do profissional facilita o reconhecimento de
infor mações referentes à atenção aos pacientes dentr o da unidade
de atenção primária, mas não melhora o reconhecimento de
infor mações a respeito de consultas em outros lug ares.
Atualmente, as melhoras disponíveis nos prontuários médicos
e outras tecnologias facilitam o reconhecimento das informações
geradas a respeito de paciente s e a melhora da atenção prestada
aos pacientes, mas elas não se estendem ao reconhecimento de
informações que ocor rem em outros lugares, seja mediante
encaminhamento, seja por iniciativa do paciente.
Quanto maior o reconhecimento dos problemas dos pacientes
pelos profissionais, maior a probabilidade dos pacientes mostrarem
uma melhora subseqüente.
Na maioria dos estudos, a coordenação da atenção é
considerada fraca. Existem vários métodos para avaliação do
impacto da coordenação da atenção. Tentativas sistemáticas par a
aplicá-los forneceriam uma oportunidade para detectar as
deficiências sistemáticas e instituir mecanismos para superá-las.
As implicações de novas políticas estão levando à exploração
de uma diversidade de novas abordagens, incluindo a atenção
compartilhada entre os médicos de atenção primária e os especialistas.
As decisões políticas informadas a respeito da coordenação da atenção
requerem mais pesquisas sobre as diferenças nas necessidades,
dependendo do tipo de encaminhamento, do emprego das medidas
para distinguir, claramente, entre os conceitos de continuidade e
coordenação no contexto da atenção por consultoria (curta duração)
e por encaminhamento (longa duração), e dos mecanismos de
compartilhamento da atenção, quando apropriado.
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IVIV
IVIV
IV
Pacientes e Populações
419
Os sistemas sociais devem ser responsáveis por seu
desempenho. No sistema de saúde, esta responsabilidade leva a
forma da garantia de qualidade. Este capítulo descreve os
métodos para avaliar e garantir a qualidade da atenção em
estabelecimentos de atenção primária.
O QUE SIGNIFICA “QUALIDADE DA ATENÇÃO”?
No contexto da otimização da efetividade e eqüidade, a
qualidade da atenção significa quanto às necessidades de saúde,
existentes ou potenciais, estão sendo atendidas de forma
otimizada pelos ser viços de saúde, dado o conhecimento atual a
respeito da distribuição, reconhecimento, diagnóstico e manejo
dos problemas e preocupações referentes à saúde. Assim, os
ser viços de alta qualidade levam em consideração a consciência
dos problemas de saúde na população, bem como as características
populacionais e subpopulacionais que geram ameaças, bem como
o potencial para a saúde no futuro. Os serviços de saúde de alta
qualidade estão preocupados não somente com a adequação dos
ser viços para o diagnóstico e manejo de doenças, mas também
com a adequação dos serviços que pr evinem doenças futur as e
promovem melhoras na saúde. Obviamente, a qualidade da
atenção é uma questão para todos os níveis dos serviços de saúde,
incluindo os ser viços de emergênciaeaatenção especializada.
12. QUALIDADE DOS SERVIÇOS DE
ATENÇÃO PRIMÁRIA: UMA VISÃO
CLÍNICA
420
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Este capítulo trata das questões especialmente relevantes para a
atenção primária.
*
O termo qualidade também tem sido usado em um sentido
amplo para ref letir não apenas a qualidade da atenção conforme
definida acima, mas também a satisfação com os serviços, os custos
da a tenção, a qualif icação do pessoal dos ser viços de saúde, a
segurança e aparência agradável das unidades de saúde em que os
ser viços são for necidos, e a adequação dos equipamentos (como
nos laboratórios) que contribuem para a prestação dos serviços.
F.S., o avô de minha esposa, recebia atendimento de alta qualidade.
Seu médico tirou três dias para viajar com ele a uma clínica
conhecida para o diagnóstico e tratamento. Embora ele tenha
falecido log o após a via gem, suas expectativas f oram atendidas.
Ele tinha confiado que a atenção médica faria o melhor possível,
teve evidências de que tentaram e aceitou os resultados. O que era
adequado foi decidido por seu médico sem questionamento de
qualquer pessoa. Quanto mais, melhor.
R.H. 1996
A s atisfação com os serviços não é, em si, uma medida da
qualidade da atenção conf orme foi definida acima. Entretanto, ela
pode estar indiretamente relacionada com a qualidade, porque pode
influenciar a busca de determinados tipos de serviços que influenciam
o estado de saúde. Similar mente, os custos da atenção estão
indiretamente relacionados à qualidade porque influenciam quais
ser viços podem ser custeados. Como os recursos financeiros
disponíveis para os serviços de saúde não são ilimitados, mesmo em
países ricos, o dinheiro gasto em serviços menos efetivos ou em
serviços para as populações menos necessitadas deixa menos dinheiro
disponível para serviços mais efetivos, especialmente populações que
*
Na verdade, pouco se sabe a respeito da qualidade da atenção por consultoria e por
encaminhamento a par tir do ponto de vista de sua org anização, suas atividades ou
sua resposta às necessidades dos pacientes.
421
12. Qualidade dos serviços de Atenção Primária: Uma Visão Clínica
mais precisam deles. Assim, os custos da atenção estão fortemente
relacionados às iniqüidades na distribuição da efefetividade dos
serviços de saúde de acordo com a “lei de atenção inversa”, pela qual
aqueles que menos necessitam recebem mais serviços (Hart, 1971).
A qualidade da atenção pode ser vista tanto de uma perspectiva
populacional como de uma perspectiva clínica (ou seja, individual).
A partir de uma perspectiva clínica, a preocupação está centrada no
impacto dos profissionais individuais, ou grupos de profissionais, sobre
a saúde de seus pacientes. V ista a par tir de uma perspectiva
populacional, a preocupação está centrada no impacto dos sistemas
de saúde da população e sobre a redução das disparidades na saúde
entre os subgrupos populacionais. Como a organização e a prestação
de serviços de saúde mudaram com o tempo de um enfoque sobre os
pacientes para um ponto de vista sobre populações definidas e, em
alguns países, para enfocar a população como um todo, os limites
entre a qualidade vista clinicamente e a qualidade observada do ponto
de vista da população tornaram-se menos distintos. Apesar disso, o
âmbito da preocupação da medição da qualidade difere de acordo
com a perspectiva. Este capítulo trata do assunto da qualidade da
atenção primária vista clinicamente; o capítulo 13 trata do assunto a
partir da perspectiva populacional. A Figura 2.1 informa a escolha
dos assuntos tratados nas duas abordagens; na perspectiva clínica, os
pacientes é que são enfocados, enquanto na populacional, o interesse
recai sobre todas as pessoas.
O Dr. S. estava dando uma aula par a uma classe de alunos calouros
de medicina a respeito do assunto da qualidade da atenção. Na
metade da aula, um aluno no fundo da sala levantou a mão e
disse: “Dr. S., não sei por que precisamos de uma aula a respeito
da qualidade da atenção. Em primeiro lug ar, tivemos que ser muito
inteligentes para entrar na faculdade de medicina e todos nós
devemos estar entre os melhores para termos sido aceitos por
esta f aculdade de medicina, que é a melhor do país. Não acredito
que haja qualquer dúvida de que a atenção que prestaremos será
de alta qualidade, então por que precisamos de uma aula a respeito
da qualidade da atenção?”
422
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
ABORDAGENS INICIAIS PARA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE DA ATENÇÃO NO SETOR
AMBULATORIAL
Historicamente, os esforços para garantir a qualidade da atenção
começaram no hospital. Conforme a base científica da prática médica
se desenvolvia, a adequação do treinamento do médico tornou-se
uma questão. No início do século XX, reformas instigadas por Flexner,
nos Estados Unidos, transformaram a educação no foco das atividades
que tinham o objetivo de melhorar a qualidade da prática médica. Na
primeira metade do século, as únicas tentativas sistemáticas de
melhorar a qualidade da atenção consistiram no credenciamento das
faculdades de medicina e na instituição de exigências estaduais de
que os graduados fossem aprovados por um exame padrão antes de
serem licenciados. Codman, um cirurgião em Massachusetts, defendeu
a avaliação dos “resultados finais” da atenção hospitalar por meio do
exame do que ocorreu aos pacientes depois que tiveram alta. Rejeitada
por seus colaboradores, esta abordagem permaneceu adormecida por
mais de 50 anos até que reviveu, assim como o movimento dos
“resultados”, nas últimas décadas do século XX.
Na metade do século, o interesse na qualidade da a tenção
reviveu, mas enfocava, basicamente, a atenção aos pacientes
internados. Lembcke (1956), por exemplo, usou a literatura médica
para definir a “boa atenção” para os diagnósticos selecionados e
desenvolveu uma lista de critérios para avaliação da atenção a
pacientes com infor mações no prontuário médico. Ele propôs que
todos os hospitais mantivessem uma auditoria interna com base
nos critérios da literatura . Mais tarde a Joint Commission on the
Accreditation of Hospitals exigiu que, como uma condição para a
acreditação, os hospitais tivessem comitês para realizar auditorias
internas, mas não especificou o que deveria ser auditado nem exigiu
que as deficiências fossem corrigidas.
O uso que Cochrane fez da nova técnica do estudo clínico
controlado aleatório (1972) desencadeou o potencial para a avaliação
da eficácia das intervenções baseadas em evidências científicas.
423
12. Qualidade dos serviços de Atenção Primária: Uma Visão Clínica
Nos anos 60, o interesse se voltou para a avaliação da qualidade
na atenção ambulatorial porque, nos Estados Unidos pelo menos, os
órgãos públicos responsáveis (governamentais) começaram a pagar
por esta atenção para deter minados subgr upos populacionais. A
garantia da qualidade da atenção é um desafio mais no ambiente
ambulatorial do que no ambiente de pacientes hospitalizados (Palmer,
1988). Uma hospitalização é um “episódio” claro para o qual existe
um motivo definível e que tem um ponto de entrada e um ponto final
claro quando os resultados da hospitalização podem ser descritos. O
resultado é mais claramente definido; os pacientes morrem ou recebem
alta, e sua condição no momento da alta é relativamente fácil de
descrever. No ambiente ambulatorial, o “produto” é difícil de definir
e até mesmo mais difícil de medir.
Na atenção primária, muitos problemas dos pacientes são
tão pouco entendidos que a natureza de seu curso ou progressão é
desconhecida. Por tanto, é difícil determinar que mudanças nas
condições dos pacientes resultam da terapia e quais teriam ocorrido
ao longo do tempo sem tratamento. Em comparação com a atenção
aos pacientes internados, o contato com os pacientes é limitado a
poucos minutos em inter valos infreqüentes. Por tanto, a equipe de
saúde é menos capaz de observar as mudanças na doença e tem
menos controle sobre o manejo do tratamento do que no ambiente
de pacientes inter nados. A unidade de atenção, freqüentemente,
não é definível. Muitos problemas de saúde têm um aparecimento
indeterminado, e os médicos de a tenção primária encontram as
doenças em diferentes estágios, em diferentes pacientes. Além
disso, a resolução dos problemas de saúde, na maioria das vezes, é
g radual, sem um ponto final claro, e alguns problemas nem são
resolvidos, mas ao invés disso passam por períodos de progressão
e remissão. O tempo, e não a consulta, é uma unidade de análise
mais útil para a garantia da qualidade na atenção ambulatorial do
que na atenção a pacientes internados, embora o período adequado
de tempo possa ser difícil de especificar. As medidas de resultado
que enfocam os níveis de incapacitação e mobilidade, bem como
o funcionamento físico e mental, são, pelo menos, tão impor tantes
424
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
quanto a resolução da enfermidade e a melhor a na manifestação
biológica da doença. As medidas que não dependem de diagnósticos
específicos fazem parte do arsenal porque a atenção primária
considera a pessoa em primeiro lugar e a doença na medida de sua
influência sobre a pessoa apenas.
Os ambientes de atenção ambulatorial são muito mais
isolados da influência de colegas do que aqueles dentro do hospital,
de forma que os problemas de qualidade podem ser mais crônicos
e mais arraigados do que seria esperado para os médicos que
trabalham em hospitais. Além disso, os sistemas de dados
ambulatoriais não estão tão bem desenvolvidos quanto aqueles
da atenção hospitalar, apesar dos importantes avanços que
ocorreram recentemente. Os prontuários médicos ambulatoriais
são, g er almente, muito menos acessíveis e menos completos do
que os prontuários hospitalares.
Estas diferenças na atenção ambulatorial complicam os
desafios da garantia de qualidade; são necessárias abordagens
diferentes daquelas utilizadas em hospitais. Na atenção primária
os desafios são ainda maiores. A função da atenção primária é,
algumas vezes, curar, mas, mais freqüentemente é cuidar dos
pacientes até que seus problemas sejam resolvidos, estabilizados
ou pelo menos parem de pr og redir. Em qualquer caso, ou mesmo
quando nenhum deles é possível, fazer com que os pacientes se
sintam confortáveis e capazes de funcionar até os limites de sua
capacidade desafia o profissional de atenção primária.
MÉTODOS PARA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA
ATENÇÃO AMBULATORIAL: UMA CRONOLOGIA
As primeiras abordagens para avaliação da qualidade da
atenção dependiam grandemente dos prontuários médicos; elas
também enfocavam, basicamente, a atenção aos pacientes
internados, provavelmente por estes prontuários serem mais
acessíveis e de for mato mais padronizado do que os da atenção
425
12. Qualidade dos serviços de Atenção Primária: Uma Visão Clínica
ambulatorial. As técnicas usadas pelos primeiros investigadores,
entretanto, são igualmente aplicáveis na atenção primária. Uma
técnica usa os “perfis da atenção” nos quais as infor mações a
respeito de várias características, como diagnóstico, operações,
exames laboratoriais e consultas são abstraídas dos prontuários
médicos e usadas para compar ar os hospitais em determinada área
(Eisele et al., 1956). Outra técnica, a auditoria médica, conta com
o desenvolvimento a priori de critérios para a boa atenção.
Quando foi instituído o financiamento governamental para
determinados segmentos da população nos Estados Unidos nos anos
60, foram decretadas auditorias de prontuários médicos para os
programas de serviço de atenção ambulatorial financiados pelo
g overno, e os prog r amas de demonstração receberam apoio para
desenvolverem os procedimentos (Morehead e Donaldson, 1974). No
todo, os procedimentos de auditoria médica foram empregados , embora
a escolha dos diagnósticos diferisse daqueles usados para a atenção a
pacientes internados; as metas comuns para as auditorias médicas
incluíam a atenção a bebês e crianças saudáveis, reconhecimento e o
manejo de anemia ferropriva e asma em crianças, hipertensão, diabetes
e úlcera péptica em adultos; gestações de alto risco na obstetrícia; e
doença inflamatória pélvica ou sintomas de menopausa na ginecologia.
Aspectos que foram cuidadosamente verificados incluíam diagnósticos
justificáveis, os componentes do exame físico, estudos laboratoriais
ou radiografias indicados, aceitabilidade da terapia e procedimentos
e consultas de acompanhamento.
Payne et al. (1984) utilizaram uma técnica similar nos estudos
da qualidade da atenção em cinco tipos diferentes de unidades de
saúde, que incluíam ginecologia, medicina de família, medicina interna
e pediatria. As cinco unidades eram de consultórios individuais, duas
clínicas de ensino universitário, uma unidade de gr upo
multiespecializado de taxa por serviço e uma unidade de g r upo
multiespecializado (capacitado) pré-pag o. Foram escolhidas dez
condições para revisão: exames médicos periódicos em adultos, exame
ginecológico periódico, exame médico pediátrico periódico, uso
terapêutico de medicamentos com efeitos colaterais importantes,
426
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
anemia, hipertensão, doença cardíaca crônica, vulvovaginite, infecções
aguda e crônica do trato urinário. Os critérios para o bom desempenho
foram estabelecidos por médicos representantes dos cinco locais. Estes
estudos mostraram que (1) os especialistas tiveram melhor
desempenho, mas apenas em sua área especializada de treinamento,
(2) médicos mais jovens tiveram melhor desempenho, e (3) a titulação
não estava consistentemente relacionada ao bom desempenho. Um
estudo mais recente das unidades de atendimento no Canadá
confirmou a importância do treinamento de residência em medicina
de família no alcance da boa qualidade de atenção avaliada por
auditoria de prontuários médicos (tabulação adequada, atividades
preventivas, procedimentos de avaliação e prescrição de
medicamentos) (Borgiel et al., 1989).
A técnica de estagiamento (Gonella et al., 1984) fornece um
método para caracterizar as enfer midades de acordo com seu g r au
de prog ressão; quanto mais avançado o estágio, presume-se que
menos adequada foi a atenção anterior. As avaliações a respeito
da adequação da atenção são relativas, dependendo da comparação
dos estágios da enfer midade obser vados em uma unidade com
aqueles obser vados em outra (Gonella et al., 1977).
A abordagem do algoritmo (Greenfield et al., 1981) é outra
técnica adaptada para a avaliação do exame e manejo dos problemas,
bem como de outros aspectos da atenção. Em comparação com outros
métodos, a abordagem do algoritmo começa com o problema do
paciente, e não com o diagnóstico. Os fluxog ramas iniciam-se com
um problema do paciente (como dor de cabeça) e consistem de uma
série de ramificações dependendo de como as questões subseqüentes
do histórico e exame médico do paciente são respondidas.
Na cidade de Nova Yor k, várias unidades hospitalares para
pacientes não internados incorporam esta abordagem na atenção
continuada. O uso destas orientações especificadas para o
diagnóstico e manejo de crianças com problemas respiratórios, otite
média aguda, asma e gastroenterite resulta em uma melhor
documentação no prontuário médico, menos procedimentos
laboratoriais não indicados, mais prescrições adequadas de
427
12. Qualidade dos serviços de Atenção Primária: Uma Visão Clínica
antibióticos e gastos reduzidos par a os serviços em ge ral. A melhora
no manejo, medida pela r esolução mais rápida e mais completa
dos sintomas na unidade, também foi demonstrada, pelo menos
para asma (Cook e Heidt, 1988).
Em outra abordagem, o método do marcador (Kessner et al.,
1973), os pacientes são escolhidos a partir de pesquisas comunitárias
para detectar indivíduos com determinados tipos de problemas. Seu
médico ou médicos são identificados e seu processo de atendimento
é seguido para determinar o reconhecimento, diagnóstico e terapia
do problema, bem como o acompanhamento. Embora este método
seja muito caro e pouco prático para uso rotineiro, poderia ser utilizado
baseado numa amostra em combinação com outras pesquisas, como
a Pesquisa Nacional de Entrevista de Saúde (National Health Interview
Sur vey) em andamento. Dessa f or ma, os custos dos pacientes
inicialmente identificados com problemas poderiam ser previstos,
deixando apenas os custos do acompanhamento.
Uma abordagem similar foi usada em uma g rande r eser va
indígena nativa no Arizona (Nutting et al., 1981, 1982). O processo
da atenção para cada uma das nove condições foi traçado a partir
de sua prevalência na comunidade em relação a seleção de
procedimentos, avaliação do diagnóstico, tratamento e
monitoramento, além da instituição do manejo continuado, quando
necessário. Nem todas as condições foram adequadas para a
vigilância em cada estágio; por exemplo, apenas o manejo contínuo
foi útil para os distúrbios convulsivos. Para a maioria das condições
(hipertensão, atenção pré-natal, atenção a bebês, incluindo
imunizações, lacerações, faringite estreptocócica e gonorréia) pelo
menos três fases de atenção puderam ser avaliadas. Foram
obser vadas as diferenças sistemáticas no desempenho entre
diferentes unidades de serviço de saúde na reser va.
A vantagem dos métodos marcadores é sua aplicabilidade
às populações, em vez de apenas os pacientes em uma unidade de
saúde; a avaliação começa com a prevalência de um problema na
comunidade e segue-o por meio dos processos de atenção médica
para determinar quando, e se existe atenção de qualidade.
428
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Uma outra abordagem sobre a melhora da qualidade da
atenção começa com a suposição de que é impossível para os
médicos se lembrarem de todas as informações necessárias para
fornecer uma atenção de ótima qualidade. Para superar este
problema, um computador for nece lembretes para determinadas
coisas em deter minadas circunstâncias, como por exemplo, um
lembrete para pedir um exame laboratorial se um paciente estiver
tomando um medicamento que causa desequilíbrio de eletrólitos
(McDonald, 1976).
ABORDAGENS PARA AVALIAR A QUALIDADE DA
ATENÇÃO PRIMÁRIA
A maior par te da literatura a respeito da qualidade da atenção,
como foi definida e descrita acima, tem focalizado o desempenho
clínico orientado para a doença e, muitas vezes, até mais
estreitamente a respeito dos aspectos da atenção que refletem o
manejo de distúrbios diagnosticados ou a respeito da prevenção
de algumas doenças específicas, predominante, mas não
necessariamente, na atenção primária. Confor me indicado pela
definição for necida acima, o conceito de “qualidade” é visto, mais
adequadamente, como uma estratégia que envolve mais do que a
prevenção e o manejo enfocados na enfer midade, par ticularmente
na atenção primária (que é inerentemente orientada para a pessoa).
Quatro aspectos são importantes na consideração e avaliação dos
ser viços de atenção primária a par tir desta perspectiva mais ampla:
capacidade do recurso, prestação de serviços, desempenho clínico
e avaliação do estado de saúde (Tabela 12.1).
1. Capacidade para organizar a atenção primária
A adequação dos recursos para a oferta de atenção clínica
envolve a consideração de todos os aspectos da estr utura conforme
descritos na Figura 12.1, como por exemplo, o número de pessoal
adequadamente treinado para prestação da atenção primária aos
429
12. Qualidade dos serviços de Atenção Primária: Uma Visão Clínica
Tabela 12.1Tabela 12.1
Tabela 12.1Tabela 12.1
Tabela 12.1
Quatro aspectos importantes para a qualidade da Atenção Primária
Figura 12.1Figura 12.1
Figura 12.1Figura 12.1
Figura 12.1
Qualidade da atenção. Capacidade do sistema/unidade/plano.
Resumido da Figura 2.1
430
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
pacientes atendidos, o númer o e o tipo de unidades de saúde nas
quais os serviços são prestados, a adequação do financiamento para
os serviços de atenção primáriaeavariedade de serviços que eles
cobrem, providências para garantir a acessibilidade, a adequação
dos sistemas de informação para pr estar serviços e avaliá-los, além
dos mecanismos administrativos para garantir que as unidades de
saúde sejam projetadas e operadas para atender às necessidades da
população. Como a maior parte destes assuntos é discutida em outros
capítulos deste livro, eles não estão descritos aqui.
Nos Estados Unidos, não padrões governamentais para a
org anização ou prestação da atenção primária. A Joint Commission on
Accreditation of Healthcar e Organizations [Junta da Comissão sobre
Acreditação de Organizações de Saúde] (1997), uma organização
profissional privada, historicamente autorizou hospitais e agora
realiza entrevistas e visita unidades de saúde para atenção
ambulatorial para fins de acreditação. Várias outras abordag ens para
a garantia de qualidade foram desenvolvidas e empregadas pelas
unidades de saúde para seus próprios objetivos, e não para a
acreditação. Por exemplo, a AmbuQual (Anderson et al ., 1989) é
projetada para classificar 10 “parâmetros” da atenção ambulatorial.
Estes parâmetros abordam a qualificação da equipe de profissionais
e da equipe de apoio, mecanismos para alcançar a continuidade da
atenção, car acterísticas dos sistemas de informação, manejo do risco
do paciente (mecanismos de controle de qualidade), satisfação do
paciente, observância do tratamento pelo paciente, acessibilidade,
adequação (ser viço disponível) e custo dos ser viços (como
monitoramento do produto), cada um pesado de acordo com os
julgamentos profissionais de seu relativo destaque ao influenciar o
estado de saúde. O sistema é projetado, basicamente, para avaliações
internas, e não para a comparação entre unidades de saúde, pois
tanto os métodos de coleta de dados como as formas de medi-los
podem variar de lugar para lugar. Além disso, as unidades de saúde
podem substituir os indicadores específicos por outros que eles
acreditem ser mais relevantes para sua situação.
431
12. Qualidade dos serviços de Atenção Primária: Uma Visão Clínica
Embora existam muitas pesquisas sobre a satisfação dos
pacientes com vários aspectos organizacionais de sua unidade de
atenção à saúde, como fácil acesso e competência observada de seus
profissionais, houve poucas tentativas para avaliar a satisfação de
forma objetiva. Uma exceção é a comparação da atenção prestada
em três planos de atenção gerenciada em uma grande cidade no oeste
dos Estados Unidos (Borowsky et al., 1997). Neste estudo, foi
solicitado aos médicos que classificassem vários aspectos da
capacidade de seu plano. A seguir exemplos do tipo de características
do plano que os médicos foram solicitados a classificar.
Em relação ao pessoal
Oferece educação médica continuada para os médicos
Facilita a enfermagem domiciliar
Treina os médicos para obter autorização para a atenção
Seleciona profissionais que não utilizam exames e
procedimentos em excesso
Em relação à or ganização
Oferece acesso à atenção especializada para pacientes que
precisam dela
Em r elação à variedade de ser viços
Geralmente inclui a atenção necessária nos benefícios do plano
Inclui atenção à saúde mental
Manejo
Possui sistemas de lembrete efetivos para atenção preventiva
Oferece tempo suficiente para examinar os pacientes
Oferece autorização eficiente quando necessário
Políticas de autorização não interrompem as relações
profissional-paciente
Evita o fornecimento de infor mações conflitantes para
pacientes e profissionais
Implementa as diretrizes clínicas
432
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Financiamento
Evita co-pagamentos que interfiram na busca da atenção
necessária
Sistemas de informação
Aconselha o profissional se o paciente
Estiver recebendo narcóticos duplicados de diferentes fontes
Necessitar de serviços preventivos
Fornece perfis da atenção de forma que os profissionais
possam comparar sua prática com outras.
Comunica claramente os critérios usados para avaliar o
desempenho do profissional;
Usa critérios justos e realistas para julgar o desempenho do
profissional
For nece material educacional de alta qualidade para pacientes
a respeito de exames e procedimentos e a respeito dos
benefícios do plano
2. Componente da prestação de serviços
Este componente enfoca as características da prestação de
ser viços que são impor tantes no alcance de uma boa atenção
primária, segundo descrito nos Ca pítulos 7-11 e conf or me é
obser vado na Figura 12.2. Como o alcance da efetividade e da
eqüidade dos serviços de saúde depende de um for te sistema de
atenção primária, a obtenção da atenção ao primeiro contato,
longitudinalidade, integralidade e coordenação é importante na
avaliação da qualidade da prestação dos ser viços na atenção
primária. A avaliação da adequação dos ser viços de atenção
primária envolve aspectos da capacidade como desempenho das
unidades de saúde ou dos consultórios.
Bob é um estudante de medicina do quarto ano. Durante as três
primeiras semanas de seu estágio em medicina de família, ele
enfatizou somente os problemas médicos. Um paciente idoso que
sofria de doença pulmonar obstrutiva crônica em estágio final
433
12. Qualidade dos serviços de Atenção Primária: Uma Visão Clínica
tentou, repetidamente, obter alguma segurança e perguntava a Bob
se ele faria um milagre consigo naquele dia. Na terceira semana
deu-se o seguinte diálogo:
Bob: Ligue-me se precisar.
Paciente: Estou falando com o senhor agora.
Bob: Não muito que eu possa fazer.
Depois da visita ele comentou: Vou passar para a radiologia, a
medicina é muito deprimente.
Na quarta semana, deu-se o seguinte diálogo:
Bob: Se acontecer alguma coisa me ligue.
Paciente: E o que você poderia fazer de bom?
Bob: Podemos conversar.
Paciente: Isto seria apoio moral.
Bob: Às vezes o apoio moral ajuda muito.
Em um exemplo anterior de um estudo envolvendo crianças
examinadas em um centro médico terciário, a unidade pediátrica
de atenção primária foi comparada aos consultórios na comunidade
para oferecer uma base para o julgamento da adequação relativa
do desempenho no que se refere ao alcance da característica da
“longitudinalidade” da atenção primária. Na unidade em estudo,
os médicos mantinham registros das consultas e os pacientes
respondiam a quatro perguntas: Est a é a primeira visita da criança
à clínica? Algum médico de fora deste hospital a enviou a esta
clínica? A última vez que esta criança passou por um exame regular
completo, ela foi a algum outro lug ar ou veio a esta clínica? A
última vez que esta criança recebeu cuidados médicos para um
resfriado ou gripe, ela foi a algum outro lugar ou veio aqui?
As respostas a estas perguntas servir am como base para a
categorização das consultas como atenção primária, atenção à
primeira consulta, atenção especializada ou atenção por consultoria.
Foi obtido um escor e que foi comparado com os escores obtidos
de consultórios pediátricos na mesma comunidade. Os resultados
desta avaliação indicaram que a clínica hospitalar era tão efetiva
quanto os médicos em consultório na extensão da oferta de
434
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
longitudinalidade da atenção (Wilson et al., 1989). Neste estudo,
o paciente foi a unidade de análise e os resultados foram agregados
para caracterizar a unidade clínica.
Figura 12.2Figura 12.2
Figura 12.2Figura 12.2
Figura 12.2
Qualidade da atenção. Avaliação da prestação de serviços.
Resumido do da Figura 2.1
Os estudos da adequação da prestação dos ser viços nos
estabelecimentos de atenção primária podem também envolver
pesquisas de pacientes tanto na unidade como através da coleta
de uma amostra aleatória dos usuários e contatando-os por telefone
ou cor reio. Também podem ser realizadas pesquisas paralelas sobre
seus profissionais ou representantes da administração da unidade
ou do plano. Quando os profissionais e os pacientes concordam
que existem inadequações na prestação dos serviços, e xiste um
claro caso para modificação da org anização dos recursos. Quando
eles divergem, é necessário explorar os motivos para as
discrepâncias e desenvolver um mecanismo que as resolvam para
modificar a prestação dos ser viços. Os instrumentos para avaliação
435
12. Qualidade dos serviços de Atenção Primária: Uma Visão Clínica
da adequação da atenção primária são os mesmos, não importando
se eles enfocam os pacientes ou as populações e são, por tanto,
descritos no Capítulo 13.
3. Desempenho clínico
O terceiro componente da qualidade aborda a adequação
do componente clínico da prestação de ser viço, ou seja, a forma
na qual a saúde e os problemas relacionados a ela são tratados. As
medidas do desempenho clínico são aquelas nas quais a
contribuição dos clínicos é identificável (Conquest 1.0, 1996, pág.
3). Podem focalizar as enfermidades ou problemas específicos ou
os aspectos mais gerais da saúde da pessoa, e não seu distúrbio
específico. O primeiro enfoque é chamado específico por pr oblema e
o segundo, genérico.
Medidas específicas desempenho clínico por problema. Estas medidas
podem ref letir os serviços preventivos, curativos ou reabilitadores
para diagnósticos específicos. Sua adequação envolve, em primeiro
lugar, saber se os serviços são apropriados dado o estado atual do
conhecimento a respeito das indicações para a atenção, se são
prestados de for ma adequada ou inadequada quando são indicados
(qualidade técnica) e se são opor tunos; os ser viços podem ser
indicados e tecnicamente adequados, mas não ser prestados no
melhor momento. A Figura 12.3 indica que os aspectos do processo
que exigem consideração são o reconhecimento dos problemas e
necessidades, a avaliação do diagnóstico, as intervenções
terapêuticas e as reavaliações. A maior par te da vasta literatura a
respeito da qualidade dos processos de atenção aborda a adequação
do processo diagnóstico até chegar ao diagnóstico selecionado ou,
ainda mais comum, a adequação da terapia administrada devido à
presença de um dia gnóstico. Mas muito mais que isso nos
processos de atenção. Como a maioria das avaliações do processo
de atenção começa com a presença de um diagnóstico, todo o
processo da avaliação do diagnóstico e, par ticular mente, aquele
aspecto que aborda a adequação do reconhecimento dos problemas
das pessoas, g eralmente não é considerado.
436
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Um estudo interessante num estabelecimento de atenção
primária apresenta evidências gráficas da variabilidade na avaliação
do diagnóstico para 150 adultos e crianças, em três unidades gerais,
apresentando a mesma queixa: dor abdominal. Houve 15 modelos
diferentes de exames, nove modelos diferentes de manejo e 30
diagnósticos diferentes, englobados em cinco tipos diferentes de
diagnóstico; um adicional de 36 diagnósticos pode ser especificado
como “desconhecido”(21), “viral não específico”(9) ou “outros”(6)
(Edwards et al., 1985). Este estudo indica quão inadequadas podem
ser as avaliações de diagnóstico quando começam com o diagnóstico
como base para a avaliação da qualidade: ignoram completamente a
consideração da qualidade da atenção para aqueles pacientes que
apresentam um problema, mas não necessariamente recebem um
diagnóstico pelo qual a qualidade da atenção é avaliada.
Figura 12.3Figura 12.3
Figura 12.3Figura 12.3
Figura 12.3
Qualidade da Atenção. Avaliação do desempenho clínico.
Resumido da Figura 2.1
437
12. Qualidade dos serviços de Atenção Primária: Uma Visão Clínica
O outro aspecto do desempenho clínico específico por
problema, a reavaliação para garantir que os resultados esperados
foram alcançados, também é ignorado. Entretanto, sua impor tância
é cada vez mais reconhecida, principalmente por meio do
desenvolvimento de abordag ens para determinar se os profissionais
monitoraram adequadamente os pacientes com doenças crônicas
que necessitam de acompanhamento periódico.
A adequação do desempenho clínico na unidade ou no nível
de consultório é, geralmente, avaliada durante as abordagens
convencionais desenvolvidas nos últimos 50 anos (confor me
descrito anterior mente neste capítulo).
Medidas genéricas do desempenho clínico. Os métodos convencionais
específicos por problema estão sendo, cada vez mais, complementados
com abordagens menos focalizadas nas enfermidades e mais focalizadas
nos problemas dos pacientes e na saúde vista de forma mais ampla.
Como esta orientação para a pessoa, e não para a enfermidade, é mais
condizente com o enfoque da atenção primária, estas abordagens
genéricas são especialmente relevantes no contexto da atenção primária.
São indicadas como genéricas porque não estão relacionadas a
enfer midades, problemas ou condições específicas, podendo ser
aplicadas a todos os pacientes não importando sua condição.
Louise era uma estudante de 26 anos de idade que estava planejando
se especializar em medicina de família. Com um sucesso
considerável, ela procurou estabelecer e manter uma for ma de
interação dominada pelo médico em suas visitas domiciliares.
Durante sua entrevista com os pacientes ela se mantinha
estritamente atenta aos problemas médicos. Quando o paciente
pedia ajuda, a resposta era médica.
No diálogo a seguir, Louise ignorou o item fundamental da
infor mação referente ao re pentino g anho de peso do paciente:
Paciente: Quanto mais eu tento diminuir o consumo de sal, mas
eu aumento. Minha esposa me manteiga de amendoim com
sal. Temo que terei que ir ao hospital para obter comida sem sal.
Louise: Você tem problemas para urinar?
438
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Paciente: Não, mas é desconfortável. Mas o que me pr eocupa é o sal.
Confor me foi mostrado, mas não de for ma evidente para Louise,
a animosidade permanente entre o paciente e sua esposa estava
exacerbada por sua condição de repouso devido à doença e ela
buscava a retribuição dando a ele uma dieta alta em sal, enquanto
ele permanecia incapaz de f azer qualquer coisa a respeito.
A Tabela 12.2 mostra as características de uma avaliação de
uma clínica de atenção primária para adultos (Barker et al., 1989).
Os profissionais na clínica estabeleceram a priori um nível
hipotético de desempenho que eles consideraram adequado. O
desempenho da clínica de atenção primária foi então avaliado em
comparação àquele de padrões absolutos.
Os pacientes que estavam mantendo as consultas agendadas
para acompanhamento foram escolhidos para o estudo se a consulta
de acompanhamento ocorresse dentro de seis meses após a consulta
anterior. Antes da consulta de revisão, os prontuários foram revisados
para se obter todos os itens de informações da consulta anterior.
Depois da consulta, os prontuários foram revisados novamente para
se g arantir o reconhecimento das inf ormações.
Tabela 12.2Tabela 12.2
Tabela 12.2Tabela 12.2
Tabela 12.2
Avaliação do programa numa clínica de atenção primária para adultos:
metas e mecanismos de avaliação
Adaptado de Barker et al. (1989).
439
12. Qualidade dos serviços de Atenção Primária: Uma Visão Clínica
A investigação mostrou que:
o reconhecimento dos problemas identificados na
consulta “zero” ficou próximo do nível de critério de 75%,
mas o reconhecimento foi consistentemente melhor
quando o problema estava em uma lista de problemas;
o reconhecimento das terapias que foram prescritas
atendeu aos padrões preestabelecidos, mas foi melhor
para medicamentos importantes (91%) e medicamentos
menos importantes (70%) do que para terapias não
medicamentosas (38%);
o reconhecimento de todos os exames agendados na
consulta anterior (59%) não alcançou os padrões tanto
para exames com resultados anormais como para aqueles
com resultados normais;
o reconhecimento também foi inadequado para as
consultas de inter venção, ag endadas ou não.
Como um resultado da avaliação, os diretores clínicos alteraram
a ficha de consulta para exigir o registro separado de todas as terapias
não-medicamentosas, bem como as consultas de intervenção.
Outra avaliação na mesma clínica examinou o
reconhecimento das necessidades dos pacientes conforme estavam
refletidas pelas informações nos prontuários médicos (Ker n et al.,
1990). Foram usados dezesseis itens para avaliar o reconhecimento
das necessidades: legibilidade, histórico médico passado, presença
de uma lista de problemas na primeira página do prontuário médico
do paciente, preenchimento da lista de problemas, histórico de
alergia na primeira página, histórico de tabagismo e alcoolismo na
primeira página, preenchimento do histórico social na primeira
página, clareza no registro do estado funcional e clareza do regime
de medicação. Também avaliaram o registro de obser vância, a
orientação para o problema das anotações da consulta, anotações
da consulta no formato SOAP (ver Capítulo 16), uso de uma folha
de fluxo para os problemas ativos, adequação da atenção para
problemas ativos, documentação da escolaridade do paciente e
uso de uma folha de fluxo para atenção preventiva.
440
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
A atenção preventiva foi avaliada pela oferta de vacina de
difteria/tétano no período de 10 anos, vacina pneumocócica em
pacientes de alto risco, vacina anual contra gripe em pacientes de
alto risco, exame retal/prostático a cada dois anos em pacientes
com 45 anos ou mais, exame anual de sangue oculto nas fezes em
pacientes acima de 45 anos, exame para câncer cervical pelo menos
a cada três anos, exame anual da mama pelo médico para pacientes
com 40 anos ou mais, um teste sorológico para sífilis e um teste
para tuberculose. A auditoria ocorreu por seis anos consecutivos
e a adequação do desempenho foi definida como o registro dos
procedimentos indicados em pelo menos 75% dos prontuários; o
desempenho de menos de 50% foi considerado uma inadequação
importante. Apenas três dos 26 itens alcançaram o padrão de 75%;
15 tiveram deficiências impor tantes.
As melhoras no desempenho ocorreram no período de seis anos.
Os itens que mostraram a menor melhora foram a documentação da
condição funcional, compromisso do paciente com o tratamento,
escolaridade do paciente (ambos acima de 50% inicialmente) e a
documentação de alguns itens da atenção preventiva.
As medidas genéricas do processo de atenção foram usadas
com sucesso, em combinação com as medidas específicas por
problema, em uma comparação da qualidade da atenção prestada
em diferentes tipos de unidades de atenção primária para a
população do Medicaid, no estado de Maryland (Starfield et al.,
1994). Os indicadores específicos por problema foram divididos
em três categorias: acesso à atenção primária, qualidade técnica e
adequação da atenção para vários problemas ou tipos de atenção
diabetes, asma e hipertensão em adultos (bem como a atenção
de rotina para adultos com estes tipos de problemas) e asma, otite
média e atenção a crianças saudáveis, no caso de crianças.
Indicadores do acesso (para todos, exceto atenção de rotina em
adultos) incluíram consultas para ser viços emergenciais ou
hospitalização presumindo-se que a oferta de atenção primária
acessível minimizaria estes tipos de atendimento. Os indicadores
441
12. Qualidade dos serviços de Atenção Primária: Uma Visão Clínica
da qualidade técnica refletiram os padrões atuais para os
procedimentos direcionados ao diagnóstico, tratamento e
monitoramento médico dos pacientes com problemas específicos.
Os indicadores de adequação foram aqueles não indicados para
pacientes com estes problemas, como por exemplo, r adiog rafias
torácicas para pessoas com ataque agudo de asma. (Uma categoria
adicional de indicador, o resultado, foi representado pelo controle
da glicose sangüínea entre os indivíduos com diabetes).
Os indicadores genéricos foram aplicados a todos os
indivíduos, não apenas àqueles com as condições específicas. Eles
incluíram a presença ou ausência de uma lista de problemas no
prontuário médico, a presença de uma lista de medicações no
prontuário médico, ausência do conhecimento de consultas a outros
profissionais (refletido pela ausência de menção no prontuário
médico da consulta ou de qualquer coisa que tenha ocorrido na
consulta ou decorrente dela), documentação dos problemas
psicossociais (presumindo-se que uma proporção finita de pacientes
teria um diagnóstico de um problema psicossocial no período de
um ano se os problemas dos pacientes fossem adequadamente
reconhecidos), e taxas de hospitalização para condições sensíveis à
atenção ambulatorial (Capítulo 14). No total, havia 21 indicadores
da qualidade da a tenção. Embora nem sempre estatisticamente
significativas, havia diferenças nos escores por tipos de unidade para
19 dos 21 indicador es. Em 11 dos 19 indicadores, os pacientes que
receberam atenção nos centros de saúde comunitários tiveram
escores melhores e em outros oito tiveram o segundo melhor escore.
Os pacientes que receberam sua atenção primária nas clínicas
hospitalares tiveram os piores escores para 10 indicadores, e os
médicos de consultório tiveram os piores escores para nove deles.
Um tipo de abordagem genérica para avaliação do
desempenho da prestação de serviços recebeu pouca atenção na
avaliação da qualidade dos processos de atenção: testes,
procedimentos ou formas diferentes de terapia, inapropriados ou
contra-indicados.
442
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
O potencial para esta abordagem foi demonstrado em um
estudo em 133 g rupos de médicos que faziam par te de uma g rande
organização de manutenção da saúde (HMO) na Califórnia. O
diretor de g arantia médica ou de qualidade de cada g r upo f oi
questionado a r espeito das formas com as quais a qualidade era
monitorada no grupo. Os indicadores que abordavam um possível
uso excessivoeaporcentag em de g r upos que os monitoravam
foram partos por cesariana (92%), medicamentos prescritos a
pacientes não internados (70%) e angioplastias (57%). (Em
comparação, entre 50% e 66% monitoravam os ser viços
preventivos possivelmente subutilizados, como imunizações
infantis, mamografias, acompanhamento de exames de
Papanicolao anormais, vacina da g ripe em idosos e pacientes entre
42 e 64 anos de idade, com uma consulta médica no máximo
dois anos.) O monitoramento menos freqüente da sub utilização
potencial incluiu tratamento de acompanhamento após infarto do
miocárdio, exame anual de retina para pacientes diabéticos e exame
de acompanhamento anual para pacientes asmáticos; foi
demonstrado que, pelo menos, o primeiro destes teve seus
resultados melhorados (Kerr et al., 1996).
Um homem por volta de seus 50 anos foi ao seu médico se queixando
de dor no peito. Como parte de um cuidadoso exame, o médico
examinou sua próstata. Ele achou que estava anormal e pediu um
exame para verificar a presença de câncer da próstata. Os resultados
foram normais, e então o paciente foi encaminhado a um cardiologista,
que, sem consultar o médico de família, solicitou o mesmo exame.
Quando os resultados foram relatados como “limite”, o cardiologista
solicitou outr o; desta vez os resultados foram anormais.
O cardiologista encaminhou o paciente a um urologista, que
solicitou um quar to exame; os resultados foram nor mais. O
urologista agendou o paciente para um ultra-som e biópsia da
próstata. O paciente se recusou a passar por estes procedimentos,
que não tinha clareza sobre sua necessidade.
443
12. Qualidade dos serviços de Atenção Primária: Uma Visão Clínica
Por exemplo, muitos estudos convencionais da qualidade da
atenção examinam a extensão na qual medicações indicadas
(efetivas) são fornecidas, mas poucos examinam a extensão na qual
são prescritas medicações não indicadas. Um resumo de 33 ar tig os
que avaliam a adequação da prescrição mostrou uma taxa global
de 43% de inadequação, bem acima da metade do que no caso de
uma indicação inadequada para a medicação ou escolha inadequada
do medicamento (Einar son et al., 1989). Mais informações estão
disponíveis a respeito de prescrição inadequada para idosos; em
geral, cerca de 5% de todos os idosos numa população receberam
prescrição inadequada em um ano (Lexchin, 1998). No Reino
Unido, Espanha e Itália, a qualidade cada vez maior da prescrição
na prática g eral é um objetivo explícito. No Reino Unido, por
exemplo, um sistema conhecido como PACT (Pr escribing Analysis
and Costs [Análise e custos da Prescrição]) é uma revisão
computadorizada de todas as medicações prescritas na medicina
geral. Ele é usado para ajudar a estabelecer orçamentos para
prescrição, examinar os motivos para a variabilidade na prescrição
e desenvolver indicações para a prescrição de medicações
específicas. O sistema contém marcadores tanto de prescrições
boas quanto más (Majeed et al., 1997).
Infelizmente, não compêndio disponível de indicações
inadequadas para medicações específicas. A melhor fonte atual destas
informações está contida no livro Worst Pills, Best Pills (Wolfe et al.,
1993), que se refere par ticularmente aos idosos. Como é provável
que a prescrição inadequada seja a evidência mais comum da qualidade
comprometida da atenção, ela deveria ser uma parte importante da
avaliação da qualidade e dos esforços da garantia. Buetow et al. (1996)
reuniram 10 peritos para sugerir critérios de avaliação da adequação
da prescrição. Estes peritos sug eriram 19 indicadores que foram
reunidos em cinco categorias: indicação inválida; escolha inadequada,
contra-indicação ou duplicação de medicamento; superdosagem ou
duração excessiva; histórico medicamentoso inadequado ou prescrição
inadequada; e monitoramento inadequado. Depois, foram revisados
444
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
62 estudos em relação à adequação da prescrição. Embora não haja
garantia de que os estudos que foram revisados sejam representativos
das unidades em geral, eles cobriram a variedade de medicamentos
prescritos para problemas comuns de long a duração, como asma,
hipertensão, insônia e ansiedade. Os indicadores que foram
desenvolvidos são aplicáveis para a revisão dos prontuários médicos
ou outros sistemas de informação de consultórios e poderiam servir
como uma base inicial para o monitoramento da adequação do
desempenho em termos genéricos. Outra estratégia útil examina a
prescrição real em comparação com as diretrizes-padrão para
prescrição, conforme representadas pelas indicações aprovadas.
Embora a ausência desta indicação pudesse refletir a inadequação do
padrão (resultante de evidências científicas não disponíveis) e não a
qualidade da atenção, a falha consistente na adesão aos padrões
poderia identificar como inadequado o desempenho clínico em
pacientes de alto risco. Esta abordag em foi utilizada tendo como
critérios os padrões da Food and Drug Administration [Agência de
Administração de Alimentos e Medicamentos] (McKinzie et al., 1997).
A importância da prescrição inadequada é destacada por um
estudo realizado pelos Centers for Disease Control and Prevention (CDC).
Este estudo concluiu que mais de um terço das prescrições de
antibióticos feitas anualmente não são necessárias. Isto inclui todas
as prescrições de antibióticos para resfriado; um terço dos antibióticos
para crianças com resfriado e fluido no ouvido médio sem dor de
ouvido, inflamação do tímpano ou febre; metade dos antibióticos para
garganta inflamada (aquelas não causadas por infecções
estreptocócicas); 80% das prescrições de antibióticos para bronquite
(aquelas que não ocorrem devido a algumas infecções específicas ou
em pacientes sem doença pulmonar grave); e metade das prescrições
de antibióticos para sinusite (aquelas sem dor facial ou edema nos
primeiros 10 dias de sintomas) (CDC, dados não publicados, 1997).
Outro enfoque importante, mas ignorado do desempenho da
clínica g enérica refere-se à ofer ta opor tuna de infor mações aos
pacientes. Embora haja muitas evidências de demora em dar
445
12. Qualidade dos serviços de Atenção Primária: Uma Visão Clínica
informações aos pacientes, particularmente em relação a
resultados de exames, não tem havido atenção, nem para
atividades de pesquisa nem de avaliação da qualidade para este
aspecto da atenção. Os desafios para a avaliação envolvem a
consideração da tr ansferência de infor mações ao pr ofissional, o
reconhecimento da infor mação por par te do profissional e o
tempo para que isto ocorra, além da transmissão oportuna das
informações aos pacientes e seus mecanismos. Assim, este
aspecto da qualidade do desempenho está intimamente ligado à
função de coordenação da atenção primária e merece muito mais
atenção do que a que recebeu no passado.
4. Resultados do componente da atenção
Embora o estado de saúde e os “resultados” sejam
conceitualmente equivalentes, o primeiro geralmente é usado quando
o foco de interesse está nas populações ou subpopulações, enquanto
o último, g eralmente, se aplica a situações em que o atendimento
clínico de um grupo de pacientes está sendo avaliado.
Historicamente, os resultados da atenção foram inicialmente
medidos pelas taxas de mortalidade, porque elas estavam disponíveis
na maioria das vezes, enquanto outros aspectos do estado de saúde
não. A Classificação Inter nacional de Doenças (CID) trouxe padrões
internacionais ao esforço de desenvolver métodos de codificação
das causas de morte de forma que elas podem ser comparadas de
área para área e de país para país, com relação à ocorrência de
mortalidade evitável. Décadas mais tarde, um enfoque na morbidade
foi adicionado ao arsenal da avaliação da qualidade clínica. As
revisões do CID adicionaram seções que possibilitaram a codificação
das condições raramente letais, se é que o eram; nos anos 80, foi
desenvolvida uma adaptação mais simpática à atenção primária
conhecida como International Classification of Health Pr oblems in Primary
Care [Classificação Internacional de Problemas de Saúde na Atenção
Primária] (World Org anization of National Colleg es, Academies,
and Academic Associations, 1979). As avaliações clínicas dos
446
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
resultados da atenção, freqüentemente, enfocam as mudanças na
morbidade conforme manifestadas pelas tendências nos valores
laboratoriais que acredita-se reflitam a severidade ou estágio da
enfermidade. O reconhecimento crescente da importância
adicional da função física para a saúde e o bem-estar das
populações levou ao desenvolvimento, pela Org anização Mundial
da Saúde (1980), da Inter national Classification of Impairments,
Disabilities and Handicaps [Classificação Internacional de Lesões,
Incapacitações e Deficiências].
Seguiram-se novas formas de pensar a respeito dos
resultados a partir da consideração relativamente recente de que
a doença definida pelas características biofisiológicas é uma
representação inadequada tanto do impacto da doença sobre as
pessoas como do impacto dos serviços de saúde. O novo enf oque
está no quanto elas são capazes de desempenhar as atividades
de suas vidas e na qualidade de vida relacionada à saúde
(HRQOL). O estado funcional é a representação da morbidade
na vida diária da pessoa. Assim, considera como a doença afeta
a forma como as pessoas se percebem e como ela inf luencia suas
atividades profissionais e pessoais. O HRQOL é um conceito
mais amplo, que leva em consideração como as pessoas se sentem
a respeito de suas vida s e o que elas são capazes de fazer. Na
prática, a maioria das avaliações do HRQOL são for mulários
das avaliações do estado funcional no qual existe um escore
global, e não um escore representando o perfil em um “campo”
diferente da saúde. Uma vantagem de um escore global é que a
saúde de diferentes populações (representada pelo escore global)
pode ser comparada de forma simples e direta.
A Figura 12.4, que foi adaptada de um trabalho feito por
Wilson e Cleary (1995), representando os tipos de preocupações
que estão envolvidas nestas abordagens para a avaliação dos
resultados, enquanto a Figura 12.5 especifica os componentes de
uma abordagem multidimensional para a avaliação do estado de
saúde que tem sido usada para caracterizar a saúde dos jovens
entre 11 e 17 anos, descrita posteriormente neste capítulo.
447
12. Qualidade dos serviços de Atenção Primária: Uma Visão Clínica
Figura 12.4Figura 12.4
Figura 12.4Figura 12.4
Figura 12.4
Relações entre diferentes medidas de resultados de pacientes.
Adaptado de Wilson e Cleary (1995)
Figura 12.5Figura 12.5
Figura 12.5Figura 12.5
Figura 12.5
Qualidade da atenção. Avaliação dos resultados/estado de saúde.
Resumido da Figura 2.1
448
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Estes novos métodos são particularmente relevantes para a
avaliação dos resultados da atenção primária. Como apenas uma
pequena minoria de pessoas nos estabelecimentos de atenção primária
morrerão dentro de qualquer período de tempo, a mortalidade não é
adequada como uma medida de resultado, a menos que haja uma
suspeita de atenção muito fraca ou conduta que leve à morte a
partir de causas iatrogênicas. Os níveis de morbidade também são
menos relevantes na atenção primária do que em outros níveis de
atenção (especialmente atenção especializada) porque as doenças na
unidade de atenção primária, muitas vezes, não podem ser atribuídas
a dia gnósticos específicos. Entretanto, a morbidade pode ser um
resultado da atenção primária em três tipos de casos: complicações
resultantes de terapia inadequada, esforços inadequados na prevenção
de problemas preveníveis e reconhecimento inadequado da existência
de problemas que então progridem então, para os estágios finais da
enfermidade. O estado funcional ou medidas HRQOL, em
comparação, são particularmente r elevantes para a atenção primária por
causa de sua orientação para as pessoas, e não para sua enfermidade.
Assim, as avaliações dos resultados, como a avaliação do
desempenho clínico, podem ser encaradas como específicas do
problema (relacionadas a problemas específicos) ou genéricas (não
específicas para qualquer problema em particular).
Abordagens específicas por problema. As medidas específicas por
problema são o arsenal convencional da avaliação dos resultados
dos pacientes, condizente com a predisposição dos médicos e
outros profissionais de saúde de migrar para medidas de resultado
que ref letem a melhora do estado da enfermidade. Devido à sua
relativa facilidade de medição e compatibilidade com os fenômenos
biofisiológicos, as medidas empregadas encontram-se,
freqüentemente, no domínio dos resultados ou achados
laboratoriais a respeito do exame físico. Exemplos típicos são níveis
sangüíneos de hemoglobina A1c como a manifestação da
efetividade do controle do diabetes ou medições periódicas da
pressão arterial como um efeito do controle de hipertensão. Como
449
12. Qualidade dos serviços de Atenção Primária: Uma Visão Clínica
a maior parte da atenção preventiva objetiva evitar a ocorrência
de enfermidades específicas (por exemplo, doença arterial
coronária no caso de níveis de colesterol; câncer cer vical no caso
de esfregaço de Papanicolao; câncer de mama no caso de triagem
por mamografia), a adequação com a qual as pessoas recebem os
procedimentos, algumas vezes, é uma representação dos resultados
em casos em que uma forte ligação entre o recebimento da
resposta e a ocorrência subseqüente da enfermidade. O documento
da U.S . Pr eventive Services Task For ce (1996), Guide to Clinical Pr eventi ve
Ser vices [Guia para Serviços Clínicos Preventivos], for nece a base
científica para o estabelecimento do elo, bem como evidências
atuais sobre a justificativa para implementação destas intervenções.
Abordagens genéricas para a avaliação dos resultados
Pensei que eu fosse aprender muito sobr e o diabetes. Aprendi
mais do que imaginava. Isto é muito dr amático, mas apr endi mais
a respeito de como você realmente deve olhar para a pessoa como
um todo porque na verdade o manejo do diabetes é o que eu
deveria aprender, mas esta é uma parte muito pequena da vida do
meu paciente. Eu estava lidando com o fato de como isso a tinha
limitado, o que eu não esperava...
D., uma estudante de medicina do quarto ano
que acabou seu estágio em medicina de família
A abordagem genérica para avaliação dos resultados é a mesma,
não importando se o foco é sobre o paciente ou sobre as populações;
observa o estado de saúde ou os resultados como se parados de
qualquer enfermidade ou tipo de enfermidade em particular e envolve
a coleta de informações diretamente dos pacientes. As informações
englobam comportamentos, como limitação nas atividades da vida
diária nor mal (trabalhar, brincar, ir à escola, atividades físicas
necessárias para viver de forma inde pendente) e também podem
englobar as atividades que refletem a propensão para melhorar a saúde
no futuro (por exemplo, habilidade e aptidão físicas, ou sua redução,
como tabagismo e abuso de outras substâncias, andar de bicicleta ou
de moto sem capacete).
450
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Em sua maioria, as medidas são usadas de f orma individual;
os dias de trabalho perdidos devido a doenças agudas, a medida na
qual limitações da capacidade de realizar atividades diárias
normais ou atividades impor tantes, ou a porcentagem da população
que se exercita regularmente, são exemplos. As adições mais recentes
ao arsenal destes tipos de medidas são as baterias de perguntas que
combinam diversos itens numa escala que representa o
funcionamento físico, emocional e social. A variedade de tipos de
estado funcional ou das escalas HRQOL é ampla. Estas ferramentas
têm sido testadas em sua integridade psicométrica (confiabilidade e
validade) e, geralmente, elas fornecem escores da escala em vários
campos (Stewart e Ware, 1992; Feeny et al., 1995; Landgraf e Abetz,
1996; McDowell e Newell, 1996).
A abordagem genérica para avaliar os resultados é
particularmente apropriada no monitoramento dos efeitos adversos
das intervenções, em que a natureza do efeito pode não ser previsível.
Vários estudos mostraram que entre 4% e 16% dos pacientes
hospitalizados são prejudicados pelo tratamento, embora metade dos
casos fosse prevenível (Brennan et al., 1991; Wilson et al., 1995). A
freqüência de efeitos adversos do manejo do paciente não internado,
par ticular mente dos efeitos adversos de medicamentos, não é
conhecida, mas é, provavelmente, substancial. Apenas medidas
genéricas do resultado seriam capazes de detectar a maioria dos
problemas devido a medicações que não têm efeito colateral específico
conhecido atualmente.
O potencial para as avaliações do estado de saúde com enfoque
na pessoa foi aprimorado pelo desenvolvimento do conceito de perfis.
Em comparação com as avaliações de condição de saúde mais
convencionais, que abordam diferentes aspectos da saúde (por
exemplo, físico, social psicológico) de forma se parada e independente,
os perfis possibilitam caracterizar a saúde de acordo com um modelo
no campo da saúde. Por exemplo, o Child Health and Illness Profile-
Adolescent Edition (CHIP-AE) [Perfil de Saúde e Doença da Criança-
Edição para Adolescentes] (Starfield et al., 1995) possui seis campos
da saúde: satisfação com o estado de saúde, desconfor to, riscos,
451
12. Qualidade dos serviços de Atenção Primária: Uma Visão Clínica
capacidade de recuperação, distúrbios e alcance. Treze combinações
dos quatro primeiros destes campos abrangem a taxonomia dos perfis
de saúde, e os adolescentes se encaixam em apenas um destes perfis
dependendo se seus escores nos diferentes campos estiverem no terço
mais alto, médio ou mais baixo da distribuição de escore nas
populações de adolescentes. Os resultados dos serviços podem ser
avaliados de acordo com o fato dos indivíduos ou populações de
indivíduos mudarem para perfis que caracterizem melhor a saúde,
mudarem para perfis piores ou permanecer nos mesmos (Starfield e
Riley, 1998; Riley et al., 1998). Estes perfis têm sido testados entre
adolescentes em escolas, estabelecimentos para tratamento de doenças
agudas, clínicas especializadas para o manejo de doenças crônicas e
entre jovens com distúrbios mentais; eles mostram como tanto as
debilidades como a resistência, esperadas e inesperadas, dos indivíduos
são manifestadas e interagem entre si. Ferramentas como estas são
particularmente adequadas à avaliação do impacto de intervenções
que objetivam melhor ar o conjunto da saúde, par ticularmente em
g r upos de indivíduos. Ver a saúde a par tir da perspectiva dos
indivíduos, e não da perspectiva de vários aspectos dos indivíduos,
oferece oportunidades para ajustar a atenção primária da forma que
seja mais adequada para este conjunto de necessidades, que
provavelmente interagem de maneiras que transformam as abordagens
categóricas mais convencionais em intervenções ineficientes.
Resolução de problemas específicos do paciente como uma medida de
resultado. Uma abordagem genérica subutilizada e potencialmente útil
para avaliar os resultados de determinados aspectos da atenção clínica
está baseada na idéia de que as pessoas buscam atenção para
necessidades ou problemas percebidos e que a atenção efetiva deveria
amenizar estes problemas. “Necessidades” ou “problemas” que as
pessoas trazem aos serviços de saúde incluem a atenção preventiva
indicada, tratamento para problemas agudos autolimitados e melhora
das manifestações de doença crônica, debilitações, deficiências e
incapacidades. A Classificação Internacional de Problemas na Atenção
Primária (ver Capítulo 16) torna possível categorizar e codificar estas
necessidades e problemas. As abordagens para implementação deste
452
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
aspecto da avaliação dos resultados requerem uma documentação
cuidadosa dos problemas quando eles são apresentados aos profissionais
de saúde, como “queixa principal” ou “motivo para consulta” ou quando
eles ocorrem no decorrer da interação paciente-profissional. A atenção
médica de alta qualidade deveria, geralmente, levar à resolução dos
problemas ou, pelo menos, à redução de sua intensidade, severidade
ou manifestações, não importando o problema ou como é manifestado.
Portanto, esta abordagem reúne informações de pacientes depois de
um período de tempo que é considerado adequado para alcançar uma
resposta. As diferenças entre os profissionais de saúde, ou entre as
diferentes unidades de atenção ou sistemas de saúde, no momento
do alcance da melhora dos problemas de saúde podem refletir as
diferenças na efetividade dos serviços prestados. Em uma aplicação
anterior deste método (Mushlin e Appel, 1980) os pacientes foram
contatados vários dias depois de uma consulta para determinar se
ainda tinham sintomas, quanta limitação das atividades apresentaram
e seu entendimento da causa e do prognóstico de seus problemas.
Quando estas avaliações dos resultados foram comparadas com as
auditorias dos prontuários médicos padrão, as avaliações foram mais
sensíveis do que as auditorias na detecção da atenção abaixo do padrão,
pelo menos quando medida em comparação com os julgamentos da
qualidade da atenção global feitos por peritos.
A Duke Severity of Illness Checklist [Lista de Checagem da
Severidade de Doenças de Duke] (Parkerson et al., 1993) é uma
abordagem similar, exceto pelo fato de que ela julga a severidade dos
níveis de sintoma, as complicações, o prognóstico sem tratamento e a
resposta esperada ao tratamento a partir do ponto de vista dos médicos.
Ela foi testada por 22 médicos de família voluntários em nove países
para pacientes adultos. Os profissionais acreditavam que a ferramenta
seria útil basicamente para pacientes mais velhos e aqueles com
problemas crônicos de saúde (Parkerson et al., 1996). Como ele requer
que seja feita uma consulta para a av aliação, não seria útil para julgar a
melhora dos pacientes sem uma consulta de retorno, a menos que fosse
adaptada através do uso de telefone ou correio.
453
12. Qualidade dos serviços de Atenção Primária: Uma Visão Clínica
Quando sistematicamente empregada em unidades de saúde,
esta abordagem direciona as considerações para os déficits ou,
contrariamente, para os sucessos no manejo dos problemas dos
pacientes ou por profissionais específicos ou tipos de profissionais e
servindo assim como uma “educação continuada” constante focalizada
nos resultados da atenção. Ela também oferece uma base para gerar
pesquisas clínicas para determinar por que níveis esperados de
resolução ou melhora de problemas não ocorreram e para o
estabelecimento de metas para a melhora.
QUAIS SÃO OS DETERMINANTES DA ATENÇÃO
DE ALTA QUALIDADE?
Estudos mostraram que existem três determinantes principais
da qualidade da atenção: o período de experiência do médico no
manejo de um problema específico em estudo, a natureza da
organização na qual o médico trabalha e a duração do período de
treinamento em pós-graduação no assunto sendo estudado (Palmer e
Reilly, 1979). Estudos mais recentes sugerem o destaque contínuo
das características da organização. Por exemplo, os ar ranjos por
capitação nos quais os médicos trabalham em grupos, e não de forma
independente, tiveram melhores resultados no papel e no
funcionamento físico para pacientes deprimidos (Rogers et al., 1993).
Entretanto, a ampliação do foco para aspectos da atenção mais
genéricos, enfocados na pessoa pode tornar características como a
natureza da interação médico-paciente muito mais importantes.
Está claro que diferentes tipos de abordagem para avaliar a
qualidade podem nem sempre levar às mesmas conclusões. Os
serviços que superam em alcance as características da atenção primária
podem nem sempre fornecer a melhor qualidade da atenção medida
pelas intervenções clínicas específicas e nem são g arantia de que
alcance os melhores resultados todas as vezes. Contrariamente, os
serviços de qualidade tecnicamente elevada podem não ser espelhados
pelo desempenho adequado nas formas de prestação de serviços e
454
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
podem nem sempre alcançar aqueles que mais necessitam deles.
Embora pouco seja sabido a respeito da correlação no julgamento da
qualidade da atenção medida pelas diferentes abordagens, sabemos
que os julgamentos da qualidade da atenção que são baseados na
avaliação dos resultados nem sempre concordam com os julgamentos
feitos com base em uma revisão das características da atenção prestada,
ainda que seja no mesmo paciente. Por exemplo, Brook et al. usaram
informações de questionários de histórico médico, exames, queixas
do seguro e entrevistas com médicos e pacientes para julgar a
qualidade da atenção ambulatorial (não necessariamente limitada aos
médicos de atenção primária) para três problemas crônicos em adultos
e quatro problemas crônicos em crianças. Peritos sugeriram que embora
aproximadamente 70% dos pacientes estivessem recebendo atenção
subotimizada de acordo com os critérios predeterminados, uma
melhor atenção resultaria em mais do que uma pequena melhora em
menos da metade dos pacientes (Brook et al., 1990). Vários estudos
mostraram que os profissionais que estão abaixo do padrão em um
conjunto de julgamentos não estão necessariamente abaixo do padrão
em outros (Palmer et al., 1996; Brook et al., 1996).
Se os objetivos da atenção médica são melhorar a saúde e aliviar
o sofrimento, as avaliações que tratam diretamente destas
características são de maior valor do que as avaliações dos
procedimentos para alcançá-los. Um estudo em grande escala realizado
nos consultórios de médicos em várias cidades nos Estados Unidos
fornece um exemplo interessante do emprego tanto dos determinantes
específicos dos pr oblemas como dos determinantes g enéricos do
resultado para os indivíduos com quatro problemas crônicos
(hipertensão, diabetes mellitus não insulino-dependente, doença
cardíaca cong estiva e distúrbio de pressivo) obser vados em tipos
diferentes de arranjos organizacionais e por diferentes tipos de
profissionais, incluindo médicos de família, internistas, cardiologistas,
endocrinologistas, psiquiatras, psicólogos clínicos e outros
profissionais de saúde mental (Tarlov et al., 1989). Os resultados
incluíam medidas clínicas como pressão arterial; funcionamento físico,
social e desempenho dos pacientes na vida diária; percepções do
455
12. Qualidade dos serviços de Atenção Primária: Uma Visão Clínica
paciente saúde geral e bem-estar; e satisfação do paciente com o
tratamento (Tarlov et al, 1989). Não houve diferenças sistemáticas
por tipo de organização nem por especialidade médica na qualidade
da atenção medida pelos resultados entre os pacientes com diabetes
e hipertensão (Greenfield et al., 1995). Entretanto, os pacientes idosos
e de baixa renda (com qualquer um dos quatro problemas) tiveram
piores resultados da saúde física do que os pacientes em sistemas de
saúde caracterizados pelos pagamentos capitados; contrariamente,
pacientes idosos não pobres com doença crônica tiveram melhores
resultados da saúde física sob estas circunstâncias. Nenhuma diferença
consistente foi encontrada para os resultados da saúde mental. Os
autores formularam a hipótese de que pacientes com menos recursos
sociais e de saúde são menos capazes de ser beneficiados pelos novos
tipos de estabelecimentos de saúde do que os indivíduos com maiores
recursos (Ware et al., 1996). Outras análises do estudo mostraram
que, para os pacientes em geral, a maioria das diferenças no
funcionamento e no bem-estar, não foram explicadas pela presença
de problemas médicos crônicos específicos nos pacientes (Stewart et
al., 1989). Além disso, todas as medidas de estado de saúde foram
piores se os pacientes apresentavam sintomas depressivos (Wells et
al., 1989). Assim, fica claro que a avaliação dos resultados da atenção
para problemas de saúde específicos deve levar em consideração tanto
fatores do paciente, como a presença de outros problemas
(comorbidade) apresentados pelos pacientes como as características
dos estabelecimentos em que a atenção é oferecida.
Como a qualidade da atenção é uma “redefinição sucessiva do
inalcançável”, será, indubitavelmente, impossível estabelecer padrões
normativos absolutos para a qualidade, que sejam invariáv eis no decorrer
do tempo. A qualquer momento , entretanto, órgãos normativos e de
acreditação podem querer estabelecer padrões mínimos em cada uma
das quatro áreas de avaliação da qualidade. Atualmente a aplicação
principal da avaliação da qualidade é para o manejo interno em que as
unidades de saúde individuais examinam sua qualidade de acordo com
as metas estabelecidas por eles e depois projetar mecanismos para
melhorar o que parece ser um desempenho a baixo do padrão. O
456
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
advento da atenção gerenciada competitiva, na qual a qualidade
freqüentemente é definida como a comercialização bem-sucedida e
o retorno adequado do lucro dos investidores, tem preparado
esforços para desenvolver as avaliações da qualidade que são, de
alguma forma, mais condizentes com os componentes da qualidade
descrita neste ca pítulo. Condizente com o enfoque “competitivo”
do sistema de serviços de saúde atual, a adequação da qualidade é
derivada, basicamente, de comparações entre as unidades e os planos
de saúde, direcionadas ao alcance de padrões preestabelecidos.
FONTES DE INFORMAÇÃO PARA MEDIÇÃO DO
DESEMPENHO CLÍNICO
Uma vez que a atenção primária é agora freqüentemente coberta
pelos planos de seguro ou pelos programas governamentais, na maioria
dos países, embora em alguns (como nos Estados Unidos) de forma
incompleta, a qualidade da atenção é uma preocupação crescente
destes pagadores “terceiros”. Para manter a vigilância da qualidade
da atenção, estes órgãos agora exig em ou estimulam a coleta de
informações para as atividades de g arantia de qualidade. Algumas
destas informações vêm dos mesmos formulários de queixas que são
usados para fins de cobrança, em locais em que os pagamentos de
taxas por serviço ainda são comuns. Entretanto, um problema é que
as informações ligadas aos propósitos de cobrança algumas ve zes são
mostradas de forma a maximizar os reembolsos , e não para refletir a
atenção clínica. Os formulários de consulta computadorizados servem
para os mesmos propósitos que os formulários de queixas e têm
limitações similares , ou seja, precisão e exatidão incertas. Entretanto,
geralmente contêm mais informações do que os formulários de queixas,
são mais fáceis de usar e estão disponíveis na maior parte das vezes.
As avaliações a respeito da adequação da atenção clínica podem
ser baseadas tanto nos padrões estabelecidos a priori como por
comparações com outras unidades de saúde. Quando as unidades de
saúde são comparadas, as diferenças na qualidade da atenção são,
457
12. Qualidade dos serviços de Atenção Primária: Uma Visão Clínica
geralmente, difíceis de interpretar porque podem ser devidas às
diferenças na qualidade da atenção ou na extensão ou severidade das
doenças nas populações, nas várias unidades de saúde. Esta é uma
questão preocupante se o foco em consideração recair sobre
enfermidades específicas ou sobre medidas genéricas de qualidade.
Em qualquer dos casos, as comparações da qualidade entre as duas
unidades de saúde são interpretáveis somente se a extensão da
morbidade de suas p opulações for a mesma. Algumas populações
podem ser mais doentes do que outras e exigir um tipo diferente de
atenção mesmo para os mesmos problemas sob investigação. Se o grau
de morbidade não for o mesmo, os mesmos critérios para a adequação
da atenção podem ser inadequados e podem não ser aplicáv eis a ambos .
Outra abordagem para a caracterização da comorbidade nos
estabelecimentos ambulatoriais é o método do Ambulatory Care Group
(ACG) [Grupo de Atenção Ambulatorial]. Este método caracteriza
os pacientes de acordo com os tipos de combinações de seus problemas
de saúde em um período de tempo, e não em consultas individuais. O
sistema ACG prevê o uso concomitante e subseqüente dos serviços e
também distingue as populações que sabidamente têm cargas
diferentes de morbidade. Também pode ser usado para examinar os
motivos para a variabilidade nos padrões das unidades de atendimento
nas áreas geográficas e entre os médicos de atenção primária (Starfield
et al., 1991). Técnicas como o método ACG são necessárias na
avaliação da qualidade da atenção para caracterizar a comorbidade
de forma que as comparações entre as diferentes unidades de saúde
possam ser interpretadas de forma mais exata.
Os prontuários médicos são a fonte mais comum de dados
para estudos de pesquisa de qualidade da atenção que lidam com o
desempenho clínico. Devido aos g astos da revisão dos r egistros
individuais em papel, esta abordagem geralmente não é prática para
o uso em atividades de monitoramento contínuo. Os formulários
de queixas computadorizados ou resumos de consultas fornecem
uma fonte mais prática; os prontuários médicos computadorizados
devem, eventualmente, tornar o monitoramento da qualidade da
atenção mais exata e viável.
458
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Entretanto, uma vez que os f or mulários de queixa estão
facilmente disponíveis, eles são uma fonte lógica de informação a
respeito de vários aspectos da qualidade da a tenção. Dados dos
formulários de queixas, especialmente quando lig ados a “arquivos
de beneficiários” para obter informações a respeito das
características demográficas, são úteis para atividades para melhorar
a qualidade nas populações inscritas (como aqueles que recebem o
Medicare nos Estados Unidos) ou pacientes em uma organização
de atenção à saúde. Weiner et al. (1990) recomendaram 60
indicadores da qualidade que empregam informações obtidas a partir
dos formulários de queixas e que podem ser usadas para monitorar
a qualidade da atenção nestas populações. Algumas são específicas
por problema, enquanto outras são g enéricas.
Uma categoria destes indicadores reflete a atenção preventiva;
ela inclui os procedimentos que previnem enfer midades e
procedimentos de exame para detectar a doença em um estágio inicial.
Um exemplo desta categoria é a porcentagem de crianças ou adultos
que recebem as imunizações recomendadas no momento apropriado.
Exemplos dos critérios para a triagem incluem a porcentagem de
pessoas que recebem um teste recomendado (como exame de
Papanicolao para câncer cer vical em mulheres adultas) e a
porcentagem de crianças que recebem o número recomendado de
consultas para crianças saudáveis.
Uma segunda categoria dos indicadores refere-se à adequação
dos procedimentos diagnósticos. Um exemplo é a porcentagem de
pessoas com um determinado diagnóstico que recebeu os exames
diagnósticos recomendados; outro é o uso excessivo de procedimentos
ou medicações que expõem, sem necessidade, os indivíduos a
problemas iatrogênicos.
Uma terceira categoria referente ao tratamento e manejo tem o
maior número de indicadores sugeridos. Entre os indicadores estão
aqueles referentes às medicações, como taxas de pacientes que recebem
medicações inadequadas ou contra-indicadas, e aqueles referentes aos
procedimentos cirúrgicos terapêuticos, como as taxas de tonsilectomia
459
12. Qualidade dos serviços de Atenção Primária: Uma Visão Clínica
ou a extensão na qual os critérios para o desempenho das tonsilectomias
são atendidos. Também incluídos nesta categoria estão os procedimentos
de acompanhamento, como a porcentagem de pacientes perdidos para
o acompanhamento. Os indicadores de continuidade ou de acesso
para a atenção incluem elementos como a porcentagem de todas as
consultas sem um encaminhamento feito para o profissional de
atenção primária do paciente, a porcentagem de pacientes que
apresentaram demora no recebimento dos procedimentos indicados
e a porcentagem de consultas para a atenção de emergência que um
contato anterior com o profissional de atenção primária poderia ter
evitado. Os encaminhamentos a especialidades são outro tipo de
indicador desta categoria; um exemplo é a porcentagem de pacientes
com mais de 50 anos de idade com diabetes insulino-dependente que
deveriam ser examinados regularmente por um oftalmologista.
Outra categoria ainda de indicadores é aquela que reflete as
funções g erais como as taxas de hospitalização, reinternação e
eventos-sentinela, que nunca, ou apenas raramente, deveriam ocorrer
sob condições em que os serviços de saúde são adequados. Categorias
adicionais de indicadores refletem a atenção aos pacientes internados
que podem estar sob controle do médico de atenção primária.
Taxas altas ou baixas de ocorrência de indicadores são a base
para interpretar alguns dos critérios, enquanto para outras a ocorrência
de eventos adversos específicos apontam um problema com a
qualidade. Indicadores como as atividades preventivas refletem
eventos desejáveis enquanto outros representam os indesejáveis.
Quando as informações a respeito da qualidade da atenção
são obtidas dos for mulários de queixas, elas são limitadas aos
usuários de serviços que não são, necessariamente, representantes
daqueles eletivos para r eceber a atenção. Outra limitação dos
registros de queixaséarelativaescassez de inf ormações referentes
aos detalhes da atenção c línica. Além disso, e como os prontuários
médicos, eles são de pouca utilidade na avaliação da extensão na
qual os profissionais reconhecem adequadamente as preocupações
que fazem com que os pacientes busquem a atenção. Esta última
460
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
faceta da atenção ainda não é um aspecto das atividades de maior
melhora da qualidade. A avaliação de outros aspectos de diagnóstico,
terapia e re avaliação requer informações adicionais de fontes outras
que não os formulários de queixas, para identif icar a natureza e a
fonte da ausência de qualidade, de forma que possam ser tomadas
atitudes para remediar a situação. Pesquisas de pessoas
aleatoriamente selecionadas de relações de inscritos (listas de
pacientes), e não entre aqueles que f azem consultas de for ma
inconstante, são mais adequados para as avaliações que envolvem
as pessoas eletivas para a atenção que não a utilizam, bem como
aquelas que o fazem.
O monitoramento dos resultados da atenção decorrentes do
desempenho clínico é um desafio porque freqüentemente os dados
não estão disponíveis. Os resultados da atenção não são relatados
freqüentemente nos prontuários médicos e nunca são relatados nos
formulários de queixa ou registros da consulta. Devido a esta lacuna
nas informações, o National Committee on Vital and Health Statistics
[Comitê Nacional sobre Estatísticas Vitais e de Saúde] recomenda
que os dados sobre o estado funcional sejam rotineiramente relatados
para cada consulta. Como não nenhum um método bem aceito
para avaliar o estado funcional em pacientes ou em populações, a
implementação desta recomendação não ocorrerá até que o campo
da avaliação dos resultados avance mais.
Várias outras técnicas podem facilitar o aprimoramento da
qualidade no estabelecimento de atenção primária. Pesquisas
periódicas e sistemáticas de pacientes por telefone são fontes de
informações referentes aos julgamentos dos pacientes a respeito de
sua atenção e sua resposta às terapias médicas. Os pacientes podem
ser questionados a respeito do tempo que levou até a remissão dos
sintomas e a respeito das dificuldades que possam ter apresentado
com o tratamento prescrito. O emprego de pacientes simulados de
forma regular pode fornecer informações a respeito da forma como a
atenção é prestada e se os pacientes tiveram preocupações a respeito
de qualquer um de seus aspectos.
461
12. Qualidade dos serviços de Atenção Primária: Uma Visão Clínica
Como as unidades de saúde clínicas assumem a responsabilidade
para com as populações definidas por um período de tempo, a
orientação destas abordagens baseadas no paciente irão em direção
às medidas do desempenho clínico, que são mais orientadas às pessoas
do que a suas enfer midades. O ímpeto em relação a isto é
explicitamente reconhecido pelo trabalho da FAACT (Foundation for
Accountability [Fundação pela Responsabilidade]), uma organização sem
fins lucrativos fundada em 1995 por várias organizações de
consumidores, órgãos governamentais e empregadores privados nos
Estados Unidos para g arantir a disponibilidade de infor mações
confiáveis para tomar decisões relativas à atenção à saúde (Lansky,
1996). Embora sua meta seja expandir o interesse para as categorias
em questão, outr as que não as enfer midades específicas, a té o
momento seu trabalho foi limitado ao câncer de mama, diabetes,
distúrbio depressivo importante e alguns riscos à saúde como uso de
tabaco ou álcool. Ela opera através da compilação e análise das
informações existentes, que são revisadas por peritos e por grupos de
consumidores em relação à e relevância em três áreas: “etapas para a
boa atenção” (aspectos da atenção que atuam como marcadores de
qualidade), satisfação do consumidor com a atenção recebida, e os
“resultados” (impacto da atenção determinado pelo estado funcional
e a não-utilização preventiva de serviços de saúde como
hospitalizações). Por exemplo, o arquivo do diabetes consiste de 11
medidas de qualidade; seis estão baseadas em infor mações de
pesquisas anuais com pacientes, e o lembrete vem dos registros de
queixas, registros laboratoriais ou prontuários médicos. Das 11
medidas, seis estão relacionadas especificamente aos “resultados”, e
três são as medidas de resultados derivados de pesquisas anuais,
incluindo quão bem os pacientes lidam com sua enfer midade,
interrupção do tabagismo e capacidade de manter atividades diárias.
A intenção da FAACT é tor nar seu trabalho definitivamente mais
genérico através do desenvolvimento de uma ampla variedade de
arquivos que englobem a completa variedade de características da
saúde nas populações inscritas.
462
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
QUESTÕES POLÍTICAS RELACIONADAS AO
DESEMPENHO CLÍNICO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA
Dois tipos de abordagens que se reforçam mutuamente formam
atualmente a base para o desenvolvimento da política referente às
atividades de garantia da qualidade: medicina baseada em evidências
e estratégias para o auto-aprimoramento.
A medicina baseada em evidências (Sackett e Rosenberg, 1995)
é uma abordagem para melhorar a qualidade da atenção específica ao
problema por meio do uso de informações derivadas de revisões
sistemáticas de estudos cientificamente completos, geralmente estudos
clínicos controlados aleatórios. Onde este tipo de evidência, ela
fornece uma poderosa ferramenta para pensar sobre o que é adequado
e inadequado na prestação de serviços clínicos, não importando se o
serviço é de atenção primária ou especializada. Infelizmente , a maior
parte da prática médica tem evoluído sem evidências sistemáticas que
as justifiquem. Este é particularmente o caso na atenção primária, uma
vez que a maioria das pesquisas médicas é realizada em grandes centros
médicos dominados por especialistas, outros que não médicos de
atenção primária. O argumento de que a “evidência” deveria ser a base
para a prática médica fornece a fundamentação para o desenvolvimento
de diretrizes clínicas para essa prática. Embora milhares de diretrizes
tenham sido desenvolvidas por muitos grupos profissionais , normativos
e de pesquisa, muitas vezes elas são inconsistentes entre si mesmo
quando abordam o mesmo tópico clínico, indicando , assim, a imperfeição
das evidências nas quais são baseadas (Merritt et al., 1997; Dixon, 1990).
Além disso, não está c laro que evidências cientif icamente sólidas
poderiam esperar informar a maioria das decisões clínicas que devem
ser tomadas na prática médica diária. Estudos clínicos controlados,
aleatórios, por sua própria natureza, requerem que as condições da
pesquisa sejam cuidadosamente especificadas e controladas, impedindo,
assim, a inclusão de populações que não atendem aos critérios para
inclusão no estudo. Dessa forma, estes estudos incluem subgrupos
relativamente pequenos de pessoas com o problema em estudo uma
situação mais exacerbada pela falta de pessoas eletivas serem voluntárias
463
12. Qualidade dos serviços de Atenção Primária: Uma Visão Clínica
para participar do estudo. Assim, muitos dos achados de estudos clínicos
controlados, aleatórios não são generalizáveis para a prática comum
com vários tipos de população porque as condições a serem preenchidas
no estudo não são aplicáveis.
A extraordinária variabilidade entre as pessoas e suas doenças,
que resulta das características biológicas e sociais (incluindo a extensão
na qual os pacientes concordam em aderir às recomendações do
profissional), é ainda mais complicada pela variabilidade que existe
nas condições de tra balho e as características dos profissionais. A
avaliação da qualidade da atenção com o propósito de melhorá-la
devem levar em consideração os motivos da falha em atender aos
padrões ou expectativas. O problema está na qualificação, treinamento
ou conhecimento do profissional? É um resultado das condições em
que os profissionais trabalham, que limitam a extensão na qual eles
podem implementar as práticas indicadas ou encorajam práticas
inadequadas? É porque seus pacientes diferem suficientemente nas
características pessoais ou da enfermidade dos pacientes típicos de
forma a tornar inaplicáveis os critérios para adequação da prática? A
outra limitação da avaliação a respeito da qualidade da atenção baseada
nas evidências é que eles são úteis apenas para o assunto específico
em avaliação, que geralmente é um problema ou diagnóstico específico.
Como foi observado acima, não evidências de que as avaliações a
respeito da atenção padrão para uma prática médica sejam
g eneralizáveis para outras.
Devido às várias dificuldades na especificação de critérios
cientificamente sólidos para a qualidade, muitas abordagens para avaliar
e aprimorar a qualidade são baseadas na idéia de que as técnicas para
auto-avaliação em longo prazo fornecerão uma base melhor do que a
insistência na adesão às normas para a atenção clínica (Berwick, 1989;
Oxman et al., 1995). Estas abordagens levam vantagem da variabilidade
entre os profissionais e unidades de saúde para examinar os possíveis
motivos para as diferenças nas práticas e, a partir daí, penetrar nas que
estão mais associadas a melhores resultados e resultados equivalentes
a custos menores do que as outras. Esta abordagem para a melhora da
qualidade tem muitas v antagens, entre elas permitir a consideração da
464
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
variedade completa de atividades clínicas ao invés de estar limitado
apenas àquelas para as quais as evidências científicas foram acumuladas.
Isso também fornece maiores incentivos para os profissionais fazerem
mudanças em suas práticas, que as evidências são mais imediatamente
relevantes para suas próprias práticas. Entretanto, a existência de um
bom sistema de informação derivado das experiências de atenção ao
paciente é necessária (ver Capítulo 16), bem como esforços conjuntos
dos profissionais para revisar, sistematicamente, estas experiências como
um foco importante de sua própria educação continuada.
Um dos principais desafios para o treinamento clínico está na
incorporação dos componentes que estimulam o desenvolvimento
de habilidades de auto-avaliação. Para isto ser alcançado, os programas
de treinamento necessitam de um sistema de infor mação bem
desenvolvido com o qual os treinandos podem revisar, periódica e
sistematicamente, seu próprio desempenho e compará-lo com suas
observações e com as evidências na literatura científica.
Em geral, a abordagem baseada na revisão cuidadosa de
evidências científicas é mais útil na identificação dos aspectos da
atenção que não são indicados. Em comparação, a abordagem com
base nas revisões e comparações das experiências dos próprios
profissionais, especialmente quando são comparadas com aquelas de
tipos similares de práticas, promete maior melhora do nível global
dos serviços, em especial na atenção primária em que a base para a
tomada de decisão científica está ausente. Este tipo de abordagem
foi chamada epidemiologia clínica ajustada à população. Ela requer que os
profissionais unam forças num esforço colaborativo para documentar,
sistematicamente, as características de seus pacientes, seus problemas,
as intervenções oferecidas a eles e seus resultados. Ela se origina no
reconhecimento de que a maioria das evidências usadas para apoiar a
“medicina baseada em evidências” vêm de populações não
representativas e altamente selecionadas. A experiência, tanto nacional
quanto internacional, com a rede de pesquisa baseada na prática
demonstrou como a sabedoria convencional, baseada na pesquisa em
instituições médicas acadêmicas, muitas vezes está errada.
465
12. Qualidade dos serviços de Atenção Primária: Uma Visão Clínica
O principal desafio para o futuro da qualidade da atenção é a
relevância para as necessidades da população. Em algumas províncias
do Canadá, particularmente em Manitoba, os dados administrativos
dos formulários de queixas são usados de forma bem-sucedida para
examinar a qualidade da atenção a partir da perspectiva de uma
população (Roos et al., 1995). Existem muitos exemplos de sua
utilidade para destacar as inadequações clínicas; a abordagem pode
encontrar uma aplicabilidade muito mais ampla em todos os sistemas
de saúde que coletam as queixas no formulário de consulta com as
formas padrão de coleta e registro de informações clínicas. Estas
abordagens formam as bases para muitas estratégias nacionais para
avaliar e melhorar o desempenho clínico.
ABORDAGENS NACIONAIS PARA A AVALIAÇÃO E
APRIMORAMENTO DO DESEMPENHO CLÍNICO
A preocupação crescente a respeito da utilidade de muitas
intervenções médicas e a disponibilidade, cada vez maior, de técnicas
para documentá-las e compará-las em diferentes estabelecimentos e
áreas geográficas tem estimulado o desenvolvimento de atividades
em maior escala do que nos estabelecimentos clínicos individuais.
Por muitos anos grupos de profissionais têm se engajado no
estabelecimento de padrões para uma variedade de intervenções
médicas contra as quais os modelos de prática profissional possam
ser avaliados. Por exemplo, a American Academy of Pediatrics publicou
uma série de manuais que fornecem orientação para os profissionais
em relação aos componentes da atenção a bebês e crianças saudáveis
e o diagnóstico e manejo adequados de enfermidades infecciosas em
crianças (American Academy of Pediatrics, 1997a, b). Além disso,
grandes seguradoras de saúde, como a Blue Cross e a Blue Shield
Associations, têm tentado estabelecer diretrizes para a adequação de
muitos serviços de diagnóstico e tratamento.
O Dutch College of General Practitioners [Colégio Holandês de
Clínicos Gerais] desenvolveu 45 diretrizes para a clínica geral; elas
466
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
abrangem problemas como diabetes não insulino-dependente, torção
do tor nozelo, otite média e distúrbios do sono (Grol et al., 1995).
Um esforço comparável está em andamento na Nova Zelândia
(Hadorn e Holmes, 1997), embora com menos ênfase nos problemas
da atenção primária do que é o caso para as diretrizes holandesas.
Os governos nacionais também estão envolvidos no estabelecimento
de diretrizes. Nos Estados Unidos, a Agenc y for Health Car e Policy and
Research [Órgão para Pesquisa e Política de Saúde] tinha um programa
organizado de desenvolvimento de diretrizes que foi abandonado
em meados dos anos 90, pelo menos parcialmente, devido a muitos
esforços não-governamentais.
Nos Estados Unidos, o advento da atenção gerenciada tem gerado
preocupações de que a ênfase no controle de gastos levará ao sacrifício
da qualidade da atenção. Em resposta, o National Committee on Quality
Assurance [Comitê Nacional pela Garantia da Qualidade] (um grupo
patrocinado, principalmente, por grandes empregadores e organizações
de atenção gerenciada) propôs um conjunto de medidas de desempenho
para os planos de saúde para considerar a adoção e compartilhamento
de seus resultados. Cinco categorias principais englobam o Health
Employers Data and Information System [Sistema de Dados e Informações
dos Empregadores em Saúde] HEDIS: qualidade, acesso e satisfação,
utilização, manejo do plano e financiamento. As medidas de qualidade
estão basicamente relacionadas às medidas de desempenho clínico dos
processos de atenção para condições e atenção preventiva selecionadas
utilizando, basicamente, abordagens para a avaliação da qualidade que
foram projetadas nos anos 60 para a avaliação da atenção em unidades
de saúde patrocinadas pelo governo. O HEDIS for nece manuais
contendo orientações para a seleção de pacientes para o estudo e
para as formas de compilar e relatar os dados. Para a maior par te
dos indicadores, são necessários períodos mínimos de inscrição para
os pacientes serem eletivos para a inclusão nas análises de qualidade.
Portanto, o HEDIS é estritamente uma abordagem orientada para o
paciente (e não para a população) para a avaliação da qualidade
porque as pessoas que não são inscritas no plano, que se retiram do
plano por qualquer motivo (incluindo insatisfação ou resultados
467
12. Qualidade dos serviços de Atenção Primária: Uma Visão Clínica
fracos) ou que aderiram a ele ou o deixaram recentemente não estão
representados nas avaliações da qualidade (National Committee on
Quality Assurance, 1997).
Nos Estados Unidos, o governo também tem um papel na
g arantia da qualidade da a tenção. As atividades de gar antia de
qualidade impostas pelo governo foram conferidas às “organizações
de revisão de observações” (PROs Perrenew Organizations) criadas
pelo Congresso em 1982 para supervisionar os serviços de saúde pagos
pelos fundos federais (basicamente aqueles para idosos na form a do
Medicare). A Health Care Financing Administration [Administração para
Financiamento da Atenção à Saúde], um órgão do Department of
Health and Human Ser vices [Ministério da Saúde e Ser viços
Humanos], é responsável por estas atividades. O prog rama mais
recente é intitulado Health Care Quality Improvement Initiative
[Iniciativa de Aprimoramento da Qualidade da Atenção à Saúde]
(HCQII); ele opera por meio das organizações de revisão de
observações (organizações de médicos em áreas locais) para empregar
critérios nacionais uniformes, explícitos para examinar os padrões de
atenção e resultados (Jencks e Wilensky, 1992). Estas PROs enfocam,
basicamente, as diferenças persistentes entre as deficiências
observadas e alcançáveis na oferta de atenção, e não nas ocasionais e
incomuns. As PROs identificam as deficiências e as destacam para os
profissionais, que devem, então, realizar um estudo mais intensivo
para identificar as causas e propor soluções. Entretanto, este programa
é, basicamente, enfocado na atenção hospitalar e, assim, limitou a
aplicação à atenção primária.
O Bureau of Primary Health Care [Escritório de Atenção Primária
à Saúde] (1995), um órgão da Health Resources and Services Administration
[Administração de Serviços e Recursos Humanos] do U.S. Department
of Health Services [Ministério da Saúde e Serviços Humanos dos Estados
Unidos], desenvolveu recomendações para a medição do impacto dos
centros de saúde sobre a redução das lacunas no estado de saúde entre
as minorias ou as populações de baixa renda e as populações norte-
americanas como um todo. O enfoque é basicamente na avaliação da
capacidade, desempenho e resultados para um conjunto de problemas
468
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
clínicos específicos, incluindo diabetes, enfermidade cardiovascular,
câncer de mama, câncer cervical, enfer midades infecciosas (como
síndrome da imunodeficiência adquirida e gastroenterite em crianças),
taxas de imunização em crianças, asma e resultados da gestação. A
Tabela 12.3 fornece exemplos da abordagem para duas destas condições.
Além disso, ela inclui a avaliação das taxas de hospitalização para
condições sensíveis à atenção ambulatorial (ver Capítulo 13).
Tabela 12.3Tabela 12.3
Tabela 12.3Tabela 12.3
Tabela 12.3
Exemplos de medidas para avaliação da Atenção Primária
Fonte: Bureau of Primary Health Care (1995)
Uma combinação de g rupos governamentais e não-
governamentais produziu um “cartão de relato” para serviços de saúde
mental, alguns dos quais poderia ser esperado que fizessem parte dos
serviços de atenção primária. Este esforçoéoresultado da colaboração
entre grupos de consumidores, grupos de defesa da saúde mental e a
Substance Abuse and Mental Health Services Administration [Administração
de Serviços de Saúde Mental e Abuso de Substâncias] do Department
of Health and Human Services (Mental Health Statistics Improvement
Program, 1966). Ele enfoca a perspectiva do consumidor, os resultados
e as pessoas com doença mental séria. Suas atividades são organizadas
em campos, incluindo acesso, adequação, resultados e prevenção.
469
12. Qualidade dos serviços de Atenção Primária: Uma Visão Clínica
O sistema ORYX da Joint Commission on Accr editation of
Healthcar e Or ganizations [Comissão Conjunta sobre Acreditação
de Organizações de Atenção à Saúde], uma organização de
acreditação não-governamental nos Estados Unidos, tem por
objetivo a integração do uso das avaliações dos resultados e a
medição do desempenho clínico no processo de acreditação.
As unidades e planos de saúde têm per missão para escolher
entre 60 sistemas para a avaliação da atenção. Entretanto,
nenhum destes sistemas é capaz de abordar a prestação de
serviços de atenção primária de qualidade. Seu enfoque é
basicamente (56 de 60) sobre a medição do desempenho clínico;
17 também incluem a avaliação da “satisfação”, que pode, em
par te, conter infor mações relevantes para o alcance dos aspectos
mais importantes da atenção primária. que a grande maioria
destes instr umentos é exclusiva e não de domínio público, seu
teor específico, método de interpretação de dados e
aplicabilidade à atenção primária, em particular, não são
conhecidos (Joint Commission on Accreditation of Healthcare
Organizations, 1997).
Nenhum destes esforços nor te-americanos na for mulação
de abordagens nacionais para garantir a qualidade do
desempenho clínico enfoca especificamente os serviços de
atenção primária. Entretanto, a centralidade da atenção
primária é implicitamente reconhecida em todas elas, e os
indicadores que foram escolhidos representam as questões que
são, g eralmente, questões de atenção primária. Além disso, elas
representam o espectro de interesses a respeito da capacidade
e organização dos serviços, desempenho clínico e em uma
medida muito mais limitada, os resultados da atenção. A g rande
maioria de indicadores do esforço do HEDIS envolve a
capacidade e o desempenho, como o desempenho de
procedimentos indicados para condições específicas. As taxas
de imunização entre os usuários de organizações de atenção
gerenciada representam uma tentativa de incluir pelo menos
470
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
uma medida de resultado presumindo-se que a imunização está
diretamente r elacionada a impedir deter minadas enfer midades.
Os indicadores do Mental Health Statistics Improvement Program
[Programa de Melhoria das Estatísticas em Saúde Mental]
(1966) envolvem a avaliação dos resultados em 43%, as
avaliações do processo em 23% e a avaliação das características
estr uturais em 34%.
Outros países estão desenvolvendo métodos para melhorar
a qualidade dos ser viços de atenção primária. Por exemplo, na
Espanha, o Insalud [Ser viço Nacional de Saúde] envia, uma vez
por mês aos generalistas, uma lista de medicações que eles
prescreveram, seu custo e as indicações da qualidade de sua
prescrição confor me medida pela prescrição dos medicamentos
sem valor terapêutico conhecido (por exemplo, medicação para
veias varicosas). Estas listas são personalizadas para os
indivíduos, com as considerações de idade e sexo baseadas na
lista de pacientes do médico, e são acompanhadas de um resumo
dos desempenhos combinados dos profissionais no mesmo centro
de saúde, de for ma que os profissionais possam comparar seus
desempenhos com o desempenho geral no centro de saúde.
A d ivulg ação pública das infor mações é uma a bordagem
que pode ser cada vez mais usada, especialmente em sistemas de
saúde orientados para o mercado. A suposição é que for necer
infor mações aos consumidor es a respeito do desempenho das
organizações de atenção à saúde ajude-os a selecionar os médicos
e unidades de saúde cujo desempenho é melhor, encor ajando,
assim, todos os médicos e unidades de saúde a for necer ser viços
superiores. Esta abordagem potencial foi reconhecida pelo
Institute of Medicine (1981), que declarou que a “viabilidade e
efetividade da publicação dos casos de qualidade inferior
persistente pelos profissionais individuais devem ser exploradas”.
O Institut of Medecine também endossou a política de divulgação
para o público de todas as infor mações exceto as que identificam
pacientes específicos. Recomendou que estejam à disposição
471
12. Qualidade dos serviços de Atenção Primária: Uma Visão Clínica
infor mações de forma que instituições sejam identificadas e numa
for ma que identifique os médicos por um códig o inviolável sem
incluir seu nome. Também recomendou que as organizações de
revisão da qualidade divulguem a um paciente solicitante ou
representante do paciente qualquer dado a respeito do paciente
que possa derivar de um resumo de registro médico (Institute of
Medicine, 1981). Um maior desenvolvimento de abordagens para
a especificação dos resultados adequados da atenção ambulatorial
levaria à divulgação pública referente a este aspecto do
desempenho dos médicos de atenção primária também. Deve ser
reconhecido, entretanto, que esta é uma abordag em muito indireta
para o aprimoramento da qualidade da atenção porque operaria
apenas através da insatisfação expressa difundida levando ao
cancelamento de planos de saúde com conseqüentes incentivos
para que os planos deter minassem os motivos da insatisfação.
Melhores sistemas de informação ag ora são capaz es de
superar quaisquer dificuldades iniciais na obtenção de dados a
respeito da qualidade da atenção. Novas org anizações integradas
de saúde apresentam maior probabilidade de ter sistemas de
infor mação que sejam relativamente acessíveis e relativamente
completos, pelo menos quando comparados com registros na
maioria dos consultórios individuais ou pequenos g rupos de
médicos. As práticas e planos que ag ora envolvem os pacientes
na tomada de decisão ou em uma política de proteção também
poderiam desenvolver protótipos para a participação do
consumidor na garantia da qualidade. As organizações de atenção
primária com populações definidas também poderiam
experimentar técnicas para combinar as medidas orientadas para
a clínica e para a população para fornecer uma melhor base para
o planejamentoeaformulação da política.
Assim, as tentativas atuais de avaliação e garantia da
qualidade da atenção pelos órgãos de acreditação estão
começando a mudar dos focos iniciais sobre as características
estr uturais e do desempenho para um enfoque sobre os resultados
472
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
da atenção, para envolver médicos na revisão de seu próprio
desempenho em relação a outros e para envolver os pacientes
não apenas no julgamento de sua própria atenção, mas também
como participantes ativos fazendo uso das quantidades cada vez
maiores de dados a respeito da qualidade da atenção para
infor mar suas próprias escolhas sobre a busca da atenção. Os
princípios éticos necessitam de consideração da autonomia,
beneficência, mau procedimento e justiça na pr estação do serviço
de saúde. As preocupações tradicionais de efetividade, eficiência,
adequação, aceitabilidade e acesso tratam, basicamente, da
autonomia e da beneficência. Mais consideração sobre a
inadequação tratará a questão do mau procedimento. Finalmente,
um foco sobre a avaliação da e xtensão na qual os serviços são
oferecidos onde são mais necessários trará consideração à questão
da justiça, uma área convencionalmente ignorada na consideração
dos esforços para a qualidade da atenção. Como uma impor tante
limitação de todas estas avaliações é a disponibilidade de dados
para apoiá-los, seu sucesso dependerá muito do movimento para
o desenvolvimento de métodos para obter infor mações de sistemas
de informação baseados na prática, das próprias pessoas, e, por
último, dos sistemas de informação comunitários que capacitam
as unidades de saúde a irem de um enfoque estritamente sobre o
paciente para um enfoque populacional.
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481
Os tópicos para avaliação dos sistemas e programas de atenção
primária são os mesmos que aqueles para estudo da qualidade da
atenção, com a exceção de que enfocam as populações, e não os
pacientes. Estes tópicos incluem a capacidade do recurso e prestação
de serviços, bem como os resultados (estado de saúde da população).
Entretanto, as fontes de dados são diferentes e o enfoque é sobre a
população em geral, e não sobre uma população registrada ou uma
população de usuários das unidades. No contexto das populações em
geral, dois aspectos merecem consideração especial: a adequação da
prestação de serviços de atenção primáriaeaavaliação dos resultados
que estão, particularmente, dentro da área da atenção primária. (A
importante questão da eqüidade é abordada nos capítulos 14 e 18.)
No mínimo, a avaliação dos sistemas e programas de atenção
primária exige a consideração da obtenção dos aspectos da atenção
primária. Além disso, os sistemas de atenção primária podem ser
avaliados ou comparados de acordo com o impacto que têm sobre o
estado de saúde das populações e das pessoas. Este capítulo começa
fornecendo um resumo dos atributos da atenção primária que podem
ser avaliados e as fontes de informações que podem ser usadas nas
avaliações. De pois, volta-se para exemplos específicos de quat ro
abordagens diferentes: a partir de uma perspectiva educacional, a partir
de uma perspectiva da população como usuária e das perspectivas da
população como pertencente a uma comunidade. O restante do
capítulo aborda a avaliação do impacto da atenção primária sobre
condições projetadas na população.
13. AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO
PRIMÁRIA: UMA VISÃO DA
POPULAÇÃO
482
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
AVALIAÇÃO DA OBTENÇÃO DAS
CARACTERÍSTICAS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA
Três tipos de características estão envolvidos na avaliação dos
programas de atenção primária: (1) aspectos exclusivos da atenção
primária, (2) aspectos derivativos, e (3) aspectos fundamentais, mas
não exclusivos. A maioria das avaliações da atenção primária fará
mais do que enfocar os aspectos exclusivos da atenção primária
(primeiro contato, longitudinalidade, integ ralidade e coordenação)
através da incorporação de sua avaliação àquelas das características
relacionadas. A Ta bela 13.1 resume as diversas características, o
tipo de for mação necessária para avaliá-las, e as fontes de
informação necessárias para o propósito. Para fornecer mais detalhes
do que é apresentado na Ta bela 13.1, segue uma breve descrição de
cada uma das características.
Aspectos exclusivos da atenção primária
Os capítulos 7-11 forneceram as bases teóricas para estas
características da atenção primária e para as formas de avaliá-las. Os
mecanismos da avaliação exigem a especificação da característica,
bem como as fontes e métodos para obtenção de informações.
Atenção no primeiro contato. São necessárias três áreas de informação
para a av aliação. A primeira env olve a acessibilidade das unidades, que
pode ser determinada a partir do projeto do programa. Características
especiais da avaliação envolvem (1) horário de disponibilidade, (2)
acessibilidade ao transporte público, (3) oferta de atenção sem exigências
para pag amento adiantado, (4) instalações para por tadores de
deficiências, (5) providências para horários noturnos, (6) facilidade da
marcação de consulta e de tempo de espera pela mesma e (7) ausência
de barreiras lingüísticas e outras barreiras culturais .
A se gunda área de informação refere-se às experiências pessoais
com o acesso à atenção. Isto pode ser determinado pela entrevista
dos pacientes ou populações sobre seu ponto de vista a respeito das
características temporais, espaciais, organizacionais ou culturais,
conforme foi observado no parágrafo anterior.
483
13. Avaliação da Atenção Primária: uma visão da população
Tabela 13.1Tabela 13.1
Tabela 13.1Tabela 13.1
Tabela 13.1
Medição da obtenção de Atenção Primária
484
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
A terceira área de informação refere-se ao uso real da unidade
como um local par a primeiro contato. Esta infor mação é obtida por
meio de entrevistas com os pacientes e pela auditoria de prontuários
médicos ou for mulários de queixa para deter minar o local da
consulta para os problemas recentemente apresentados ou para
necessidades de saúde.
Longitudinalidade. O alcance da longitudinalidade requer que
tanto pacientes quanto profissionais saibam que têm uma relação
mútua. Ela é geralmente alcançada mediante de alguma forma de
registro do paciente e a manutenção de um cadastro de pacientes na
unidade. A relação mútua pode ser testada através da confirmação
de que os membros da população inscrita realmente conhecem o local
responsável por sua atenção e sabem que o cadastro de pacientes
realmente existe. A avaliação da longitudinalidade requer um
conhecimento dos pacientes no programa e seu meio social. Isto pode
ser captado por meio de entrevista com os pacientes e médicos e por
inter médio de exame do prontuário em b usca de infor mações
impor tantes a seu respeito. As características especiais a serem
consideradas são histórico social e exposições, histórico de trabalho
e exposições, habitação, dieta, histórico de saúde, histórico familiar e
perfil genético. As características especiais a ser em determinadas a
partir dos pacientes são a identificação com a fonte habitual de atenção
e experiências com a relação de longa duração.
A fonte habitual de atenção pode fornecer informações para
avaliar a longitudinalidade. A entrevista dos pacientes sobre a
regularidade do uso para atenção não encaminhada e seus relatos a
respeito de aspectos focalizados na pessoa de suas interações com
profissionais são os elementos-chave. As áreas específicas referem-
se ao grau com que os pacientes sempre usam a fonte de atenção
primária para consultas, incluindo o manejo de doenças, manejo de
sinais e sintomas, objetivos administrativos (necessidade de atestado
de doença e saúde), resultados de exame, atenção preventiva,
necessidade e retorno de consultoria ou encaminhamento e prescrição
de medicamentos ou outras terapias. As características de sua interação
deveriam enfocar os aspectos que são especialmente relevantes para
485
13. Avaliação da Atenção Primária: uma visão da população
a atenção primária: entendimento e apreciação mútuos dos aspectos
da pessoa que estão relacionados à sua saúde global.
Um terceiro tipo de informação necessária para a avaliação da
longitudinalidade envolve a extensão da relação entre um paciente e
um profissional além do manejo específico da enfermidade. Entrevistar
pacientes e examinar prontuários podem suprir esta informação.
Integralidade da atenção. São necessários vários tipos de
informações para a avaliação. O primeiro envolve a variedade de
atividades com as quais o sistema foi projetado para lidar. Esta
informação pode ser determinada mediante exame da adequação do
pessoal, das unidades, dos equipamentos e dos serviços de apoio. As
áreas específicas para consideração incluem a capacidade de prestar
atendimento para doenças de cur ta duração, long a duração e
recorrências; educação em saúde; cirurgias menores; saúde mental; e
encaminhamento para serviços auxiliares. Em particular, a unidade
de atenção primária deveria estar equipada para reconhecer e manejar
todos os problemas de saúde comuns em sua população, não
importando de que tipo.
O segundo tipo de informação envolve o desempenho de
atividades relacionadas ao atendimento das necessidades da população.
Estas incluem as atividades preventivas primárias e secundárias como
imunizações, educação em saúde e procedimentos de exame indicados,
bem como as atividades direcionadas para detecção e manejo dos
problemas de saúde na comunidade atendida. Elas podem ser
verificadas a partir dos prontuários médicos e formulários de queixas .
Um desafio particular mente relevante envolve o
reconhecimento e manejo dos problemas existentes na população.
Estas informações estão disponíveis a partir dos prontuários médicos,
através de entrevistas com pacientes e médico s e a partir do projeto
do programa, como a capacidade de realizar consultas domiciliares
quando parecerem aconselháveis. Existem várias técnicas para avaliar
esta característica. Por exemplo, elas incluem a taxa de registro de
diagnósticos para a maioria dos problemas importantes em cada faixa
etária e a determinação se ela está de acordo com as taxas conhecidas
na população atendida; a adequação do reconhecimento dos
486
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
problemas em comparação com os resultados dos inventários de
exames padrão administrados aos pacientes; e o uso de consultas
domiciliares para determinantes sociais suspeitos de doença (alergias,
más condições de aquecimento, mau saneamento, substâncias
perigosas e ambientes). Um protótipo útil para a avaliação refere-se
ao reconhecimento de problemas psicossociais, o qual deve alcançar
níveis comparáveis à extensão de sua existência na população.
Uma quarta f orma de examinar a integ ralidade é examinar as
taxas de encaminhamento. Onde elas forem elevadas, isso pode
sugerir falta de integralidade para uma ou mais categorias de
necessidades de saúde.
Coordenação da atenção. A primeira área a ser examinada é o
mecanismo para a continuidade. O projeto do programa e os registros
do pessoal fornecerão esta informação. A continuidade do profissional
ou equipe, a pronta disponibilidade dos prontuários e a fácil localização
das inf ormações devem ser levadas em consider ação. Segundo, o
prontuário deve ser examinado para reconhecimento das informações
das consultas anteriores. Um terceiro item de informação refere-se
aos encaminhamentos para consultoria ou atenção continuada. Isto
pode ser aprendido a partir do projeto do programa e da auditoria do
prontuário. As características especiais são o uso de um sistema
organizado para encaminhamento e para localização de informações
referentes aos resultados do encaminhament o e o reconhecimento
documentado de seus resultados.
Os aspectos derivativos da atenção primária
Um alto nível de alcance das qualidades exclusivas e fundamentais
da atenção primária resulta em três aspectos adicionais denominados
aspectos derivativos. Eles são a “centralização na família”, a “competência
cultural e a “orientação para a comunidade”. Tanto a análise teórica
quanto a empírica apóiam esta designação como “derivativa”.
A centralização na família resulta quando o alcance da
integralidade fornece uma base para a consideração dos pacientes
dentro de seus ambientes, quando a avaliação das necessidades para
a atenção integral considera o contexto familiar e sua exposição a
487
13. Avaliação da Atenção Primária: uma visão da população
ameaças à saúde e quando o desafio da coordenação da atenção se
defronta com recursos familiares limitados.
A centralização na família é avaliada através da entrevista com
membros da família e por meio da comparação de informações com as
entrevistas dos médicos ou com as informações dos prontuários médicos.
O conhecimento dos membros da família é avaliado mediante
entrevista com membros da família e pela comparação das informações
com outras entrevistas com médicos ou informações do prontuário
médico. As áreas de interesse par ticular incluem a consciência da
comunicação intrafamiliar e o apoio e apreciação dos recursos
familiares (incluindo seus níveis educacionais e meios financeiros)
para lidar com os problemas de saúde do paciente.
Um segundo aspecto da centralização na família requer um
conhecimento dos problemas de saúde dos membros da família. Esta
informação também pode ser obtida por meio de entrevistas com
pacientes e médicos e mediante exame do prontuário. O conhecimento
a respeito dos padrões de doença nas famílias pode esclarecer possíveis
mecanismos de etiologia e de resposta à terapia.
A competência cultural envolve o reconhecimento das necessidades
especiais das subpopulações que podem não estar em evidência devido
a características étnicas, raciais ou outras características culturais
especiais. Se a integralidade, particularmente o aspecto relacionado
com o reconhecimento do problema, for bem alcançada, estas
necessidades especiais deveriam ser reconhecidas e abordadas no
projeto da variedade de serviços e o quão bem eles são aplicados. A
avaliação requer a deter minação de que estes são ar ranjos par a
identificar a existência de necessidades culturais especiais e a extensão
na qual populações especiais percebem suas necessidades especiais
como sendo atendidas.
Orientação para a comunidade, o terceiro aspecto derivativo,
resulta de um alto grau de integ ralidade da atenção g eral. Todas as
necessidades relacionadas à saúde dos pacientes ocorrem em um
contexto social; o reconhecimento dessas necessidades
freqüentemente requer o conhecimento do contexto social. Os
488
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
pacientes podem não perceber que necessitam de serviços de saúde
porque lhes falta conhecimento a respeito da importância de uma
estratégia preventiva ou porque não percebem que um problema
tem uma base médica ou pode ser passível de inter venções
médicas. Um entendimento da distribuição das características de
saúde na comunidade e dos recursos disponíveis nela disponíveis
for nece uma forma mais extensa de avaliar as necessidades de
saúde do que uma abordagem baseada apenas nas interações com
os pacientes ou com suas famílias.
A avaliação da orientação para a comunidade requer três tipos
de informações. A primeira é um conhecimento das necessidades
de saúde da comunidade, que pode ser obtido através de entrevistas
com médicos e da comparação de suas respostas com as estatísticas
da comunidade. As áreas que podem ser examinadas são consciência
e uso das estatísticas de morbidade e mortalidade, pesquisas de
saúde, incluindo níveis de incapacidade e de doenças, além de taxas
de absenteísmo na escola ou no trabalho. Um segundo tipo de
informação é quanto os profissionais se envolvem nos assuntos da
comunidade, uma faceta verificável através de entrevistas. As
características específicas incluem o conhecimento a respeito das
redes sociais e dos sistemas de apoio disponíveis, incluindo recursos
recreacionais, religiosos, políticos ou filantrópicos. Um terceiro tipo
de informação abrang e quanto o profissional envolve a comunidade
em questões relacionadas à prática, como a oferta de uma equipe de
aconselhamento à comunidade ou aos pacientes ou pesquisas
periódicas de satisfação do paciente e sugestões para a melhora.
Análises psicométricas de dados de questionários do
consumidor indicam que tanto a centralização na família quanto a
competência cultural estão relacionadas à integralidade. A
orientação à comunidade é muito pouco alcançada na maior parte
dos consultórios para examinar sua integridade exclusiva ou seu
caráter derivativo (Cassady et al., 1998). Confor me será discutido
no próximo capítulo, este é um impor tante desafio para os sistemas
de saúde de atenção primária.
489
13. Avaliação da Atenção Primária: uma visão da população
Os aspectos fundamentais, mas não exclusivos, da
atenção primária
Várias características são importantes na atenção primária,
embora sua importância não seja limitada a ela; são importantes tanto
na atenção especializada como na atenção primária. Incluem uma
responsabilidade de ser organizadas e eficazes na oferta de atenção;
de entender, aconselhar e orientar os pacientes; e de prestar proteção
aos pacientes quando houver necessidade. Estas características são
importantes em todos os níveis de atenção.
Ao avaliar os aspectos da atenção primária que são
fundamentais, mas não exclusivos a ela, cinco áreas merecem
investigação. Elas são (1) a adequação dos prontuários médicos, (2) a
continuidade do pessoal, (3) a comunicação profissional-paciente, (4)
a qualidade da atenção e (5) a proteção dos pacientes. Cada uma
delas tem seu tipo específico de fonte de informação e seu método
para avaliação da característica.
Registros adequados. Todo registro deve conter uma lista atualizada
de problemas inclua novos problemas e apague os r esolvidos. As
informações referentes à lista de problemas podem ser obtidas a partir
de prontuários médicos ou de impressos computadorizados.
O for mato das anotações da consulta também apresenta
informações relevantes. Cada unidade pode ter seu próprio estilo,
incluindo lista atualizada sobre medicação e alergias, fluxogramas de
atenção preventiva ou laboratorial, registro oportuno dos resultados
dos exames laboratoriais ou encaminhamentos pertinentes, ou um
formato orientado para o problema para as anotações da consulta. A
avaliação de todos estes itens requer auditorias de prontuários, embora
estes possam precisar de complementação de outras informações para
avaliar se o prontuário está completo.
Conforme os componentes dos prontuários se tornam mais
padronizados (U.S. Department of Health and Human Services, 1996)
a avaliação de sua exatidão e adequação será cada vez mais possível.
Continuidade de pessoal. A continuidade de pessoal de uma
consulta para a outra pode ser conhecida a partir do prontuário médico.
490
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
O fator importante é a porcentagem de pacientes que consultam com
o mesmo profissional ou membro da equipe no acompanhamento.
Comunicação profissional-paciente. Esta característica refere-se ao
teor e à qualidade da interação entre o paciente e o profissional, além
daqueles aspectos que são exclusivos na manutenção do enfoque
interpessoal da atenção primária. Estas informações podem ser obtidas
a partir de fitas de áudio e vídeo ou por meio das entrevistas com
pacientes e médicos. Os aspectos a serem avaliados são a concordância
a respeito dos problemas do paciente, um entendimento conjunto
dos procedimentos para avaliação diagnóstic a e o manejo das
estratégias e satisfação do paciente com a abordagem do médico para
o entendimento das suas necessidades. A avaliação da comunicação
profissional-paciente também pode envolver a indicação de que o
profissional permite que o paciente tenha um papel ativo em sua
atenção respondendo de forma construtiva a suas perguntas e suas
preocupações e considerando, com seriedade, suas sug estões para
abordagens alternativas.
Qualidade clínica da atenção. A qualificação adequada de pessoal
é o aspecto estrutural que facilita a qualidade da a tenção. Ela é
determinada através da revisão do projeto do programa e dos registros
administrativos. As informações re ferentes aos processos e resultados
da atenção podem ser encontradas no prontuário, através da
obser vação, entrevista com os pacientes ou utilização de atores
atuando como pacientes (pacientes simulados). Os aspectos da
qualidade incluem o desempenho de processos de atenção genéricos
ou específicos da doença adequados, incluindo a adequação do
reconhecimento dos problemas apresentados, procedimentos
diagnósticos e terapêuticos e reavaliação, monitoramento e vigilância
para a adequação das respostas biológicas, psicossociais e sociais e
do estado funcional.
Proteção para os pacientes. A avaliação da proteção por um programa
é baseada no grau de consciência e a extensão da utilização de muitos
dos órgãos de saúde, sociais, ocupacionais e fiscais que têm um impacto
sobre a saúde e os serviços de saúde. Entrevistas com pacientes e
médicos podem determinar seu conhecimento destes órgãos e dos
491
13. Avaliação da Atenção Primária: uma visão da população
recursos que eles podem oferecer. Os aspectos que caracterizam a
proteção são assegurar as melhoras necessárias na habitação, condições
de trabalho, segurança no bairro, saneamento e na obtenção de recursos
financeiros relacionados à melhora e manutenção da saúde.
AVALIAÇÃO A PARTIR DE UMA PERSPECTIVA
EDUCACIONAL
Uma abordagem para a avaliação de uma perspectiva
educacional usa a unidade na qual o treinamento ocorre. Um destes
estudos avaliou quanto um programa de subvenções financiado pelo
Governo Feder al obteve sucesso na melhora do treinamento dos
médicos de atenção primária. Um aspecto da avaliação desenvolveu
um levantamento detalhado pelo correio de todos os programas de
treinamento em pediatria e medicina interna e abordou a medição da
atenção primária. Todos os diretores do programa foram questionados
se possuem atualmente um programa de treinamento em atenção
primária ou se possuíram-no no passado. Um programa de treinamento
da atenção primária foi definido como um programa especialmente
projetado para treinar médicos para carreiras como g eneralistas. Em
comparação, um programa tradicional foi definido como um programa
projetado para oferecer treinamento para médicos que seguirão carreira
prestando serviços de medicina subespecializada exclusivamente ou
em combinação com a atenção generalista. Definiu, ainda, um
programa de treinamento em atenção primária como aquele que dedica
mais tempo ao treinamento na atenção ambulatorial do que faz um
treinamento tradicional, e este enfatiza a prática da “atenção
continuada” e o treinamento em estabelecimentos em que os
residentes oferecem atenção contínua (não episódica) e abrangente
(não especializada) (Noble et al., 1992).
Análises separadas compararam os programas tradicionais com
os programas de atenção primária em relação aos escores de
continuidade, integralidade no ensino e integralidade nos estágios
rotativos. Os programas de atenção primária financiados por um órgão
492
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
federal foram comparados aos programas financiados por órgãos não
federais em relação aos três aspectos da porcentagem do tempo gasto
no estabelecimento da continuidade, da integralidade do ensino e da
integralidade dos estágios rotativos; também foi avaliado quanto foi
alcançado dos outros aspectos (Tabela 13.2). Estes outros aspectos
incluíam quanto eram usados locais na comunidade para treinamento,
proporção corpo docente/treinando, diversidade do corpo docente,
seleção de minorias, extensão da avaliação interna dos programas e
obtenção dos aspectos da atenção primária. Os aspectos
especificamente pertinentes à prática de atenção primária incluíam
(1) acesso (um componente da atenção ao primeiro contato), (2)
tamanho do g rupo acompanhado no período de residência (um
representante da longitudinalidade), (3) a variedade de serviços
fornecidos (o componente estrutural da integralidade), (4) continuidade
(o aspecto estrutural da coordenação), e (5) mecanismos para melhorar
o reconhecimento das informações a respeito dos pacientes (o aspecto
do desempenho da coordenação). As questões a seguir estabeleceram
a relação entre estes elementos da atenção primária:
Tabela 13.2Tabela 13.2
Tabela 13.2Tabela 13.2
Tabela 13.2
Comparações dos programas de treinamento
* Componentes do escore do resumo
493
13. Avaliação da Atenção Primária: uma visão da população
Medida de acesso
Quando a unidade de continuidade está fechada, como no
caso das noites e dos fins-de-semana, os pacientes têm acesso
a um membro da equipe médica da unidade por telefone?
Medida de longitudinalidade
Qual é o tamanho médio do grupo de treinandos na unidade
de continuidade (número total de pacientes) ao final do
terceiro ano de treinamento?
Medida de continuidade
Quando a unidade de continuidade está fechada, como os
pacientes são tratados se precisam ver um médico antes do
próximo dia marcado? Foram listadas três opções.
Que envolvimento é esperado que os treinandos em atenção
primária tenham com seus pacientes da unidade de
continuidade durante a hospitalização destes pacientes?
Foram listadas três opções.
Medidas de integralidade
Quem é o responsável pela garantia da prestação rotineira
de medidas preventivas primárias e secundárias, como
imunizações de rotina, exames, avaliações de manutenção
da saúde para os pacientes dos treinandos?
É esperado que os residentes realizem consultas
domiciliares?
São compiladas estatísticas para traçar o perfil dos problemas
de saúde dos pacientes atendidos pela unidade de
continuidade?
Medidas de coordenação
Que métodos (se houver) são usados para garantir que as
medidas preventivas primárias e secundárias indicadas
sejam asseguradas para pacientes individuais? Foram
listados sete métodos.
494
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Que mecanismo é usado na unidade de continuidade para
que os treinandos conheçam os resultados de exames
laboratoriais/procedimentos recentes e encaminhamentos a
consultores para seus pacientes? Foram oferecidas três escolhas .
(Uma pergunta adicional foi projetada para verificar quanto os
treinandos são ensinados a manejar um espectro de problemas sem
encaminhamento. A pergunta verificou a porcentagem de pacientes
com os problemas selecionados e procurou determinar se os treinandos
trataram deles sem encaminhamento a outro profissional da saúde
dentro ou fora da unidade de continuidade. Os problemas na prática
pediátrica foram lacerações menores, necessidade de timpanocentese,
falhas de desenvolvimento e problemas comportamentais. Na
medicina interna, os problemas incluíram dor aguda no ombro, erupção
cutânea, dor pélvica e depressão sintomática. Infelizmente, um erro
tipográfico no questionário tornou as respostas inúteis.)
Tanto nos programas de medicina interna quanto de pediatria
houve diferenças grandes e estatisticamente significativas entre os
programas tradicionais e de atenção primária para a porcentagem de
tempo gasto em uma unidade de continuidade, para a integralidade
do ensino e para a integralidade dos estágios rotativos, e a partir daí,
o escore do resumo dos três (Tabela 13.3).
Tabela 13.3Tabela 13.3
Tabela 13.3Tabela 13.3
Tabela 13.3
Diferenças entre os programas de treinamento em atenção primária e os tradicionais
* Significância no nível de 0,05 com um teste unicandal. Escores mais altos refletem
melhor desempenho.
495
13. Avaliação da Atenção Primária: uma visão da população
Houve diferenças entre os programas de treinamento
financiados por um órgão federal e outros programas de
treinamento em atenção primária em algumas áreas de atenção e
nenhuma dif erença em outras. As áreas que não apr esentaram
diferenças incluíram integ ralidade do ensino, integr alidade dos
estágios rotativos, uso de locais para treinamento na comunidade,
proporção corpo docente/treinando, diversidade do corpo
docente, seleção de minorias e tentativas de avaliação interna
do prog rama ou dos treinandos. Houve, entretanto, diferenças
nos atributos exclusivos da atenção primária. O escore de
continuidade foi muito mais alto para os programas financiados
por órgãos federais, um resultado esperado porque foi exigido
pelos termos da subvenção ao treinamento que os prog ramas
alcançassem um determinado nível de continuidade. Entretanto,
além disso, os prog ramas financiados por órgãos nacionais tanto
em medicina interna quanto em pediatria tiveram escores de
atenção primária que foram significativamente mais altos do
que aqueles de outros programas de treinamento em atenção
primária, confor me está indicado na Tabela 13.4. Os escores
resumidos, elaborados a partir do índice de continuidade e o
escore da atenção primária, foram significativamente mais altos
para os programas financiados por órgão federais, tanto em
pediatria como em medicina geral. Ou seja, os programas que
operam sob expectativas formais para a atenção primária
apresentam melhor desempenho.
Em uma pesquisa pelo correio como esta, as respostas aos
questionários podem ser distorcidas pela suposição, intencional
ou não, das respostas percebidas como desejáveis, um problema
menos provável de ocor rer em uma discussão e obser vação
pessoal. As visitas à unidade feitas como parte deste estudo
confir maram os resultados da pesquisa pelo cor reio e sug eriram
que os achados do questionário, em qualquer dos casos,
subestimaram as diferenças entre os programas financiados por
órgãos federais ou não.
496
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
AVALIAÇÃO A PARTIR DAS PERSPECTIVAS DO
PACIENTE
Como um subproduto de um estudo maior que examinou as
diferenças nas experiências com a atenção entre adultos com uma ou
mais de várias enfermidades crônicas, que estavam sendo atendidos
em estabelecimentos que cobram uma taxa por serviço ou organizações
de manutenção da saúde (HMO), por médicos de diferentes
especialidades (medicina de família, medicina geral interna,
endocrinologia ou cardiologia), foi feita uma tentativa para avaliar a
obtenção da atenção primária pelos médicos. Embora as medidas não
tenham sido projetadas especificamente para avaliar a atenção
primária, foram subseqüentemente organizadas em escalas que se
acreditava ref letissem as dimensões da atenção primária. Foram
planejados sete indicadores: acessibilidade financeira e organizacional,
continuidade, integralidade, coordenação e responsabilidade
interpessoal e técnica. As escalas de acessibilidade continham8e11
indicadores, respectivamente. A escala de “continuidade” tinha apenas
um item: O médico (que pediu a você que participasse do estudo)
ainda é um de seus médicos? A escala de integralidade tinha dois
itens abordando o número de médicos consultados em seis meses e
Tabela 13.4Tabela 13.4
Tabela 13.4Tabela 13.4
Tabela 13.4
Diferenças entre os programas de treinamento em
Atenção Primária, por fonte de financiamento
* Significância no nível 0,05 com um teste unicandal. Escores mais altos refletem melhor
desempenho
497
13. Avaliação da Atenção Primária: uma visão da população
quantas consultas foram realizadas com o médico que solicitou que o
paciente participasse do estudo. A escala da coordenação tinha dois
itens inferindo informações a respeito das consultas feitas a outros
médicos e as medicações prescritas por eles e se o médico que pediu
aos pacientes para participar do estudo sabia dos medicamentos. A
escala de Responsabilidade Interpessoal tinha 14 pergunta s e a escala
de Habilidades Técnicas tinha 10 perguntas. O estudo indicou que os
pacientes nos sistemas de taxa por serviço tiveram escores mais altos
em algumas dimensões (acesso organizacional, continuidade e
responsabilidade), enquanto o acesso financeiro foi mais alto nos
sistemas pré-pagos. Os pacientes da HMO tiveram os escores mais
altos para a coordenação e os mais baixos para a integralidade. A
partir do ponto de vista da avaliação da atenção primária, várias
limitações a este estudo deveriam ser observadas; todos os pacientes
tinham, pelo menos, uma doença crônica e por isso não são
representativos da diversidade de pacientes nos estabelecimentos de
atenção primária. Segundo, as perguntas que formaram as escalas não
foram desenvolvidas especificamente para o propósito de avaliar a
atenção primária, e algumas das escalas não abordam o conceito para
o qual são indicadas para representar (Safran et al., 1994).
O PROSPER (Patient Reports on System Performance [Relatórios
dos Pacientes sobre o Desempenho do Sistema]) é projetado como
um questionário auto-administrado que enfoca os relatos de pacientes
a respeito do processo de atenção, e não sua classificação dos serviços
ou sua satisfação quanto a eles. Questiona a r espeito do acesso à
atenção, da comunicação entre os profissionais (coordenação), e do
recebimento de infor mações conf litantes. É preenchido pelos
pacientes que foram a uma consulta ou foram encaminhados nos
últimos três meses. Foi validado em vários grupos de pacientes e é
particularmente útil quando o interesse recai sobre os indivíduos com
doenças que exigem a busca de atenção de mais de um médico. Assim,
é par ticular mente adequado para a avaliação do desempenho da
atenção primária para aquele subg r upo de pacientes que têm
necessidades contínuas de saúde ou problemas crônicos que requerem
atenção pelo menos ocasional de um especialista (Zapka et al., 1995).
498
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
AVALIAÇÃO A PARTIR DE UMA PERSPECTIVA DA
COMUNIDADE
Uma avaliação da atenção primária realizada a partir da
perspectiva das unidades que atendem a toda uma população urbana
foi iniciada pela Baltimore City Medical Society [Sociedade Médica da
Cidade de Baltimore] como um empreendimento cooperativo
envolvendo planejadores de saúde estaduais, regionais e municipais,
além do corpo docente e estudantes em uma escola de saúde pública
para estudar a extensão na qual os recursos da atenção primária
estavam disponíveis para toda uma cidade norte-americana. O estudo
tinha dois objetivos: fornecer dados para o planejamento local do
sistema de prestação de atenção primária e for necer informações para
complementar os dados nacionais sobre a medição da extensão da
atenção primária em consultórios (Weiner et al., 1982).
Foram obtidos dados de todos os médicos na área. Uma amostra
aleatória estratificada também foi solicitada para completar um registro
de consulta para cada paciente atendido em uma semana.
Foram usados três métodos para avaliar a extensão da atenção
primária em consultórios. No primeiro método (o método “empírico”),
foi usado um algoritmo para distinguir entre primeiras consultas,
consultas apenas para consultoria, consultas para ser viços
especializados continuados sem encaminhamento e as consultas para
atenção principal. A última categoria incluía as consultas que não
foram realizadas para qualquer dos três objetivos e quando tanto o
último contato do paciente para um exame regular completo como
para atendimento a um resfriado ou “gripe” foi com o médico da
consulta de amostragem. Os pesquisadores desenvolveram um
Empirical Primary Care Index [Índice de Atenção Primária Empírica]
(EPCI), um índice ponderado destes quatro tipos de consultas nas
quais a atenção principal recebeu peso 3, a atenção como primeira
consulta recebeu uma taxa de 2, a atenção especializada recebeu peso
1 e a atenção por consultoria recebeu peso 0. As consultas que não
entraram nas categorias acima receberam peso 2.
499
13. Avaliação da Atenção Primária: uma visão da população
O segundo método de avaliação da extensão da atenção
primária tinha quatro componentes, três dos quais estavam
relacionados aos atributos exclusivos da atenção primária, enquanto
o quarto componente se referia à centralização na família. O método
é “normativo porque as características foram julg adas em relação
aos critérios que se presumem que sejam os padrões.
Integralidade: f oi presumido que seria maior se um deter minado
conjunto definido de serviços estivesse disponível na unidade.
Os serviços incluíam e xames físicos, imunizações, exames
pélvicos, eletrocardiogramas, determinações de hematócritos
ou hemoglobina sangüíneos e análises microscópicas.
Acessibilidade da unidade foi classificada de acordo com a
disponibilidade de marcações de consulta de emergência,
disposição do profissional em atender chamadas fora do
consultório (em casa ou sala de emergência), uso de um serviço
eletrônico de resposta a chamadas e providências formais para
a cobertura em horas noturnas.
A atenção longitudinal foi medida através da média de duração da relação
dos pacientes com um médico específico consultado e foi
controlada pela idade do paciente.
O componente de centralização na família foi baseado na porcentagem de
pacientes na unidade que tinham, pelo menos, um outro
membro imediato da família atendido pelo mesmo médico.
Os quatro escores separados foram combinados para
desenvolver o Normative Primary Car e Index [Índice Nor mativo de
Atenção Primária] (NPCI).
No terceiro método de avaliação da extensão da atenção
primária, o índice de atenção primária auto-avaliada (SAPCI Self-
Assessed Primary Care Index), os médicos responderam à pergunta “Qual
a porcentagem de consultas em sua unidade principal que você estima
serem de atenção médica geral para pacientes com os quais você
mantém uma responsabilidade continuada?” Foi considerado que os
médicos com as porcentagens mais altas fornecem mais atenção
primária do que os médicos com as porcentagens mais baixas.
500
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Os resultados mostraram que:
a porcentagem das consultas de atenção principal foi
maior para os médicos de família, internistas e pediatras
do que para todos os outros médicos;
a porcentagem de primeiras consultas foi menor para
psiquiatras e maior para médicos subespecialistas, mas
não diferiu grandemente para outros tipos de médicos;
a porcentagem de consultas de atenção especializada foi
alta para ginecologistas/obstetras e médicos
subespecialistas, baixa para os médicos de família e
pediatras e inter mediária para todos os outros;
a porcentagem de consultas para consultoria foi baixa
para pediatras e médicos de família; alta para psiquiatras,
subespecialistas cirúrgicos, cirurgiões gerais e
subespecialistas médicos; e intermediária para os outros.
Assim, o EPCI, derivado dos escores acima adequadamente
ponderados, foi alto para os médicos de família, pediatras e
internistas; baixo para psiquiatras e subespecialistas cirúrgicos;
e inter mediário para os outros. O NPCI foi o mais alto para
médicos de família, pediatras e internistas gerais; o mais baixo
para subespecialistas cirúrgicos; e inter mediário para o r estante.
O SAPCI foi condizente com os resultados dos outros dois
métodos ao indicar que internistas, médicos de família e pediatras
praticam mais atenção primária do que qualquer dos outros
especialistas.
Os achados levam a crer na utilidade das medidas para
distinção do alcance das várias características da atenção primária
num g r upo de unidades.
Este estudo também envolveu uma avaliação da
disponibilidade e da utilização dos ser viços de atenção primária
nas diferentes áreas da cidade. As taxas de consulta em
consultório foram calculadas por idade, sexo, raça e residência
dos pacientes dentro das ár eas. A medida da disponibilidade do
médico foi de consultas por pessoa. O estudo revelou que:
501
13. Avaliação da Atenção Primária: uma visão da população
a área residencial com a disponibilidade mais alta de
médicos teve 4,3 vezes mais o número médio de
consultas que a área com a disponibilidade mais baixa;
a porcentagem do total de consultas ambulatoriais a
consultórios particulares variou de 41,6 a 96,5; no geral, os
moradores obtiveram apenas 37,5% de seu atendimento em
consultórios dentro dos distritos em que moram;
a porcentagem de consulta de atenção primária para as quatro
especialidades em atenção primária dentro dos distritos em
que moram foi discretamente mais alta (43,2%) do que a
porcentagem de todas as consultas realizadas dentro do
distrito em que moram;
o uso dos serviços de consultório variou notavelmente por
raça da população: moradores negros representaram apenas
59% do número de consultas em consultório em comparação
aos moradores b rancos.
Utilizando os dados nor te-americanos como padrão, os
moradores de Baltimore tiveram um nível adequado de utilização dos
serviços especializados, mas um nível muito inferior de consultas de
atenção primária em relação à média nacional. Em cinco das oito
áreas da cidade, a renda familiar média estava mais proximamente
relacionada ao uso dos serviços do que a disponibilidade dos recursos,
enquanto nas outras três áreas tanto a renda quanto a disponibilidade
dos recursos estavam igualmente associadas ao uso. Isto implica que
a presença de recursos de atenção primária em uma área é um fator
menor na determinação do uso dos serviços de atenção primária do
que a média de renda de seus moradores. Os moradores em áreas de
alta renda comparados àqueles em áreas de renda mais baixa tiveram
uma utilização relativamente alta, não importando a disponibilidade
da atenção em suas ár eas residenciais. Em áreas com baixa renda
familiar, a utilização foi baixa embora houvesse consultórios de
atenção primária disponíveis, algumas vezes.
Um meio para acessar a utilidade das medidas baseadas nas
populações para descrever alguns aspectos da atenção primária foi
fornecido através de dois conjuntos de dados exclusivos e interligados
502
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
em Manitoba, Canadá. Um estudo analisou dados de pesquisas e dados
de queixas interligados de todas as consultas médicas (Black, 1990).
Foram desenvolvidas duas medidas de atenção primária: uma medida
de longitudinalidade e uma medida de integralidade. A medida de
longitudinalidade foi criada pela aplicação da medida de continuidade
da atenção (COC) (ver capítulo 8) para a primeira consulta em cada
episódio de atenção para uma doença, não importando o tipo de motivo
para a consulta. A medida foi validada pelo teste em relação ao que
foi relatado pelos que responderam a pesquisa como sua “fonte
habitual de atenção”; os indivíduos que relataram que tinham uma
fonte habitual de atenção tiveram escores de longitudinalidade mais
altos. A integralidade foi medida ao determinar se um indivíduo tinha
recebido uma imunização para gripe. Também foram feitas tentativas
para avaliar tanto a atenção ao primeiro contato como a coordenação
da atenção; embora ambos os métodos fossem julgados como
promissores, eles não obtiveram os padrões par a validação do critério.
O estudo indicou que:
os indivíduos que tinham sido encaminhados para
consultoria com um outro médico tiveram escores mais
baixos para longitudinalidade, enquanto aqueles que
receberam uma proporção maior de serviços de profissionais
de atenção primária tiveram escores mais altos de
longitudinalidade;
a integralidade estava significativamente relacionada ao
volume dos serviços de atenção primária que os indivíduos
receberam;
entre os indivíduos que tinham sido encaminhados, aqueles
para os quais uma proporção maior de suas consultas foi
com o profissional de atenção primária tiveram uma maior
integralidade;
na verdade, o volume de serviços de atenção primária foi
um preditor maior da obtenção de integralidade do que o
volume total de consultas ambulatoriais.
Este estudo demonstrou o potencial para a utilização de dados
de formulários de queixas para avaliar a obtenção de, pelo menos,
503
13. Avaliação da Atenção Primária: uma visão da população
duas das características da atenção primária (longitudinalidade e
integralidade) com base em população e não a partir da perspectiva
de uma unidade.
Outra pesquisa de adultos em 41 condados na Califórnia, em
1993, examinou a relação entre o acesso percebido aos serviços e a
intensidade da atenção primária recebida pelos indivíduos na pesquisa.
A intensidade da atenção primária foi avaliada por meio do escore de
quatro aspectos, como segue:
Disponibilidade: uma contagem de cinco aspectos da atenção, incluindo
um ou menos dias de tempo de espera por uma consulta quando
doente; tempo de espera de 20 minutos ou menos no
consultório; acesso telefônico em horários noturnos; acesso
telefônico nos fins-de-semana; e menos de 20 minutos de tempo
de viagem (variação dos escores, 0-1; escore máximo se os cinco
foram respondidos afirmativamente).
Continuidade (longitudinalidade): menos de ou mais de um ano voltando
ao mesmo local (variação dos escores, 0-1).
Integralidade: o paciente iria a este lugar se tivesse um novo problema
como uma gripe ou uma torção no tornozelo; atenção para um
episódio recorrente de um problema de saúde contínuo; para um
exame regular completo ou vacinação ou exame de Papanicolao
(variação do escore, 0-1 para cada item; variação dos escores por
categoria,0a1[setiver escore nos três itens = 1]).
Comunicação: os médicos no local têm tempo para ouvir; os médicos
têm tempo para explicar; problemas em falar com o médico
devido a uma barreira da linguagem (classificado 0-2 em cada
item; variação dos escores para a categoria, 0 ou 1 [se tiver
escore nos três itens = 2]).
O indivíduo foi considerado como tendo ótima atenção primária
se todos os escores mais altos possíveis foram atingidos nas quatro
características. Dos 6.674 indivíduos no estudo, apenas 18%
alcançaram atenção primária otimizada assim definida pelos
pesquisadores. Deve ser observado que o conceito de integralidade
difere da abordagem sugerida neste livro porque ela não aborda a
504
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
completa variedade de ser viços disponíveis e prestados pelos
profissionais de atenção primária, mas sim, se as pessoas procuraram
ir àquele profissional quando apresentaram o tipo específico de
problema. Além disso, a medida da “comunicação” é parte do conceito
da “longitudinalidade” (atenção focalizada na pessoa no decorrer do
tempo) como é descrito neste livro.
Outra ampla avaliação da atenção primária foi realizada em uma
grande região na Espanha. Em 1984, a Espanha iniciou a reforma de
atenção à saúde que objetivava alcançar uma melhor atenção primária.
Esta reforma foi implementada de forma progressiv a, permitindo, assim,
sua avaliação através da comparação de determinadas características
da atenção primária alcançadas em áreas em que foi implementada e
áreas em que ainda não tinha sido implementada. Embora nenhum
plano específico tenha sido feito para avaliar a reforma, a coleta de
infor mações relevantes em vários tipos de pesquisas permitiu a
avaliação de alguns aspectos da atenção primária. Na região basca,
uma pesquisa por entrevista domiciliar em 1992, coletou informações
que permitir am a avaliação da acessibilidade (como o componente
estrutural da atenção de primeiro contato), integralidade (em termos
de alcance dos procedimentos preventivos indicados) e longitudinalidade
(no contexto da aquisição de seguro priv ado para permitir que o indivíduo
buscasse atendimento em outros lugares, arriscando assim a formação
de relações de longa duração focalizadas na pessoa). A região foi dividida
em áreas que tinham uma boa penetração de serviços de reforma e
aquelas que não a tinham. A longitudinalidade da atenção foi melhor
nas áreas reformadas, conforme medida pelas taxas mais baixas de
aquisição de seguro privado. A acessibilidade foi melhor nas ár eas
reformadas para pessoas nas classes sociais mais baixas, mas não nas
mais altas, indicando uma melhora na equidade do acesso, mas não no
acesso global. A rigidez na marcação das consultas nas unidades
reformadas foi considerada a responsável pelo alcance inferior de
acessibilidade entre as pessoas cronicamente doentes nestas áreas. A
falha no alcance de uma melhor integralidade da atenção foi considerada
como estando relacionada às inadequações do comportamento de busca
da atenção por parte dos pacientes, bem como ao fato de que dois dos
505
13. Avaliação da Atenção Primária: uma visão da população
quatro procedimentos preventivos dependiam mais da atenção
especializada do que das inadequações na atenção primária porque os
procedimentos (mamografias e exames de Papanicolao) são feitos por
especialistas outros que não g eneralistas, no sistema refor mado
(Larizgoitia e Starfield, 1997).
No Reino Unido, uma abordagem estatística para avaliação da
qualidade das unidades de atenção primária começou com indicadores
de qualidade que foram presumidos como relacionados aos resultados.
O método (análise de envelope de dados) rende uma medida de
eficiência técnica relativa de unidades em áreas locais (Family Health
Services Authorities [Autoridade dos Serviços em Saúde da Família]).
Sete indicadores importantes da qualidade foram usados: generalistas
por 10.000 pacientes; porcentagem de generalistas que não trabalham
isoladamente; porcentagem de generalistas que alcançam altos níveis
de imunização infantil; porcentagem de mulheres com idades entre
35 e 64 anos com um exame de Papanicolao adequado nos últimos
5,5 anos; uma porcentagem de consultórios com padrões estruturais
mínimos (acesso a cadeiras de rodas, privacidade nos consultórios,
precauções contra incêndio e áreas de espera adequadas). Levando-
se em consideração a proporção da doença na área (limitando a doença
de longa duração padronizada por idade e sexo) e a taxa de desemprego
na área, a eficiência da atenção primária na área pode ser calculada
utilizando o gasto bruto com serviços do generalista por indivíduo na
população (Salenas-Jiménez e Smith, 1996).
O reconhecimento relativamente recente da atenção primária
como uma disciplina científica distinta trouxe uma nova consideração
à avaliação das características do sistema de saúde de relevância
específica para a atenção primária. Embora a pesquisa inicial
mencionada acima não tenha distinguido a avaliação da atenção
primária dos serviços de saúde em geral, a pesquisa mais recente difere,
abordando os aspectos da atenção que são de relevância especial para
a atenção primária.
A Agency Health Care Policy and Research [Órgão para Política e
Pesquisa de Atenção à Saúde], em conjunto com vários pesquisadores
acadêmicos nos Estados Unidos, desenvolveu e testou uma ferramenta
506
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
projetada para avaliação dos planos de saúde pelo usuário (Consumer
Assessment of Health Plans,1997). Uma seção do questionário adulto
principal (versão correio) pergunta se o indivíduo foi capaz de encontrar
um médico pessoal (“um que conhece você melhor”), se foi fácil fazê-
lo, se algum outro médico teve que ser consultado porque o médico
pessoal não esteve disponível nos últimos 6 meses, e uma classificação
geral daquele médico em uma escala de 1 a 10. Também pergunta se
exigências para um encaminhamento a um especialista e o quão fácil
foi conseguir um. Perguntas a respeito do acesso telefônico, facilidade
para marcação de consultas de rotina e atenção a pessoas saudáveis,
tempo de espera no consultório, se a equipe do consultório é prestativ a
e cortês e vários aspectos da comunicação (explicações, demonstração
de respeito, tempo gasto, conhecimento do histórico médico do paciente,
envolvimento do paciente nas tomadas de decisão e classificação geral
da atenção à saúde) nos últimos seis meses são incluídas, mas refletem
a atenção em geral, e não especificamente para os serviços de a tenção
primária. Assim, o instrumento aborda alguns aspectos da atenção
primária (acesso aos serviços para necessidades comuns, determinados
aspectos da comunicação interpessoal importantes em atenção
primária) mas sem relevância específica para as experiências em
atenção primária dos pacientes. A adaptação das perguntas tornaria o
questionário mais útil para avaliação dos aspectos específicos de
adequação da atenção primária. Como o propósito da informação é
ajudar empregadores e usuários (quando têm oportunidade) a
selecionar um plano de saúde, tem pouco a oferecer no fornecimento
de um entendimento da forma pela qual os serviços de atenção
primária são projetados e prestados e como poderiam ser melhorados.
Além disso, omite a consideração daqueles aspectos da atenção que
estão relacionados à integralidade ou longitudinalidade dos serviços
com um profissional de atenção primária.
Franks et al. (1997) avaliaram a orientação para atenção primária
das consultas incluídas na Pesquisa Nacional de Atenção Médico
Ambulatorial, a qual inclui informações a respeito das consultas
realizadas por uma amostra estratificada representativa dos médicos
em consultório nos Estados Unidos. 10 itens foram obtidos a partir de
507
13. Avaliação da Atenção Primária: uma visão da população
fitas de dados gravados desta pesquisa para abordar a atenção ao primeiro
contato, a integralidade da atenção, a coordenação e a acessibilidade.
A seguir são descritas as medidas usadas para avaliar a orientação da
atenção primária dos diferentes tipos de especialistas na pesquisa.
Acessibilidade: a proporção de pacientes negros, a proporção dos
pacientes com seguro Medicaid e a porcentagem de médicos
que trabalha em áreas rurais (sendo presumido que o melhor
acesso atrairia estes grupos da população, geralmente com um
acesso inferior).
Atenção no primeiro contato: a proporção de consultas do paciente para
as quais ele não tenha sido encaminhado por outro médico.
Integralidade da atenção: foram usadas três medidas. A primeira consistiu
do índice de Herfindahl, que reflete quanto dos diagnósticos
dos médicos estão concentrados em uma ou mais categorias de
diagnóstico e, por tanto, ref lete uma variedade de tipo de
diagnósticos feitos. A segunda refere-se à proporção de
pacientes para os quais os médicos relataram ter medido a
pressão arterial. Uma terceira medida foi a década média de
vida re p resentada pelos pacientes dos médicos. (Uma quarta
medida de integralidade também foi usada, consistindo de
informações a respeito da proporção de pacientes examinados
anterior mente por um pr oblema diferente. Entretanto, sua
natureza sugere uma melhor adequação ao conceito de
longitudinalidade porque ela aborda a busca de atenção para
vários tipos de problemas no mesmo médico.)
Coordenação: um item foi formado a partir da informação quanto a,
pelo menos, um encaminhamento ter sido feito nas consultas
amostradas (geralmente cerca de 20).
Como os autores estavam restritos em sua escolha das medidas
às informações que estavam disponíveis, houve limites no quão
específicas foram as medidas para definições mais convencionais dos
campos da atenção primária. Apesar disso, eles foram capazes de mostrar
que os médicos de família, pediatras gerais, internistas e generalistas
foram muito mais orientados para a atenção primária do que os médicos
508
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
em outras especialidades. Os cirurgiões gerais, nefrologistas e médicos
de medicina de emergência também tiveram uma classificação
relativamente alta nas medidas, indubitavelmente porque os dados sobre
a continuidade da atenção favoreceriam os médicos com uma grande
proporção de pacientes sob atenção continuada por um problema
específico, que os especialistas em medicina de emergência teriam
escores altos na medida de primeiro contato e porque os cirurgiões
gerais são conhecidos por ter uma ampla variedade de diagnósticos, e,
portanto, teriam escores altos no índice de Herfindahl.
Com base no trabalho anterior na avaliação da atenção prestada
aos indivíduos com doenças crônicas (ver acima), Safran et al., (1998)
desenvolveram um instrumento para avaliar a visão de funcionários
estaduais adultos relação ao seu “médico pessoal habitual”. Conhecida
como a Primary Care Assessment Survey [Pesquisa de Avaliação da Atenção
Primária] (PCAS), ela tem 11 escalas das quais 7 incluem mais de um
item que avalia a atenção (Os outros quatro ou tem apenas um item e/
ou consistem de relatos de experiências.) As 7 escalas são as seguintes:
1 . Acesso financeiro: Dois itens avaliam a quantidade de
dinheiro gasto em consultas e tratamentos prescritos.
2. Acesso organizacional: Seis itens avaliam a disponibilidade
por telefone, facilidade de marcar consultas quando doente,
obtenção de infor mações e marcação de consultas pelo
telefone, localização e horários do consultório.
3. Conhecimento contextual dos pacientes: Cinco itens
referem-se ao conhecimento que o médico tem do histórico
médico do paciente; responsabilidades no trabalho, em casa
ou na escola; principais preocupações com a saúde; e
valores e crenças.
4. Comunicação: Seis itens lidam com o detalhamento das
perguntas do médico a respeito de sintomas, consideração pelo
que o paciente diz, clareza das explicações e aconselhamento
e auxílio nas tomadas de decisão a respeito da atenção.
5. Tratamento interpessoal: Cinco itens avaliam a paciência, o
tratamento amigável, a atenção, o respeito do médico e o
tempo gasto com o paciente.
509
13. Avaliação da Atenção Primária: uma visão da população
6. Confiança: Oito itens avaliam a integridade, a competência
e o papel do médico como defensor do paciente.
7. Integração: Seis itens avaliam o papel do médico na
coordenação e síntese da atenção recebida de especialistas
e/ou enquanto o paciente esteve hospitalizado.
Além disso, existem três itens em duas escalas referentes à
“continuidade”: duração da relação com o médico (continuidade
longitudinal) e se o paciente vai ao médico para exames regulares
completos e para atendimento quando está doente (continuidade
baseada na consulta). Sete itens relatam o aconselhamento preventivo:
a discussão com o médico a respeito do tabagismo, uso de álcool, uso
de cinto de segurança, dieta, exercícios, estresse e sexo seguro. Um
componente adicional consiste de um item que pergunta a respeito
do detalhamento dos exames físicos.
Todas as escalas tiveram níveis aceitáveis de confiabilidade
através de testes psicométricos padrão.
A similaridade destas escalas para os quatro pontos principais
dos campos da atenção primária é evidente e é fortalecida pela análise
do quanto várias delas estão intercorrelacionadas. O conhecimento
contextual, a comunicação, o tratamento interpessoal e confiança
abordam os aspectos da longitudinalidade interpessoal (conforme foi
discutido no capítulo 8) e todos estão altamente intercorrelacionados.
O aconselhamento preventivo, o qual re presenta os aspectos da
integ ralidade dos serviços prestados, é identificável separadamente,
assim como o acesso financeiro, a continuidade longitudinal e a
continuidade baseada nas consultas. O acesso org anizacional está
moderadamente correlacionado à maioria das outras escalas; a escala
de Integração (que representa a coordenação) tem correlações moderadas
com as escalas de longitudinalidade interpessoal. Assim, existem
evidências de que os principais campos da atenção primária podem ser
avaliados, pelo menos nesta amostra de adultos empregados, segurados.
Gr umbach et al. (manuscrito não publicado, 1998), em seu
estudo das diferenças entre médicos de família e internistas, criaram
um escore para a acessibilidade que derivou das respostas a quatro
510
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
perguntas, às quais os pesquisados responderam em uma escala de
“concordo plenamente” a “discordo plenamente”. As perguntas foram:
se eu tiver uma pergunta médica durante o dia, geralmente
posso procurar meu médico para me ajudar sem problemas;
tenho fácil acesso aos especialistas;
sou capaz de conseguir atendimento sempre que preciso;
se eu ficar muito doente, geralmente consulto com meu
médico pessoal no mesmo dia.
O leitor poderá observar que a segunda destas perguntas não
pertence ao acesso à atenção primária, mas, sim, quanto os serviços
de atenção primária facilitam o acesso a especialistas.
As escalas para a integralidade consistiam de quatro itens
perguntando aos indivíduos se eles marcariam uma consulta com seu
médico pessoal para um novo problema, como uma torção do
tornozelo ou gripe, para o episódio recorrente de um problema
continuado como asma ou diabetes, para um exame regular completo
ou exame médico, para um novo problema pessoal, como depressão,
uma crise familiar ou problemas no trabalho. Deveria ser observado
que esta série de perguntas não aborda especificamente os serviços
disponíveis ou oferecidos pelo médico de atenção primária porque as
respostas representariam a intenção de buscar a atenção ao primeiro
contato para aconselhamento a respeito do melhor lugar para procurar
por estes problemas.
Três outras escalas no instr umento estão relacionadas à
integralidade. A primeira consiste de quatro itens referentes a serviços
de prevenção, incluindo injeções para gripe, verificação do nível de
colesterol, exame da mama e exame pélvico (vaginal) de rotina. A
segunda refere-se à promoção de estilos de vida saudáveis e pergunta
se o médico conversou com o indivíduo a respeito do tabagismo, dieta,
uso de álcool e exercícios. A terceira está relacionada à promoção da
saúde e pergunta se o médico conversou com o indivíduo sobre saúde
mental e psicológica, relacionamento com membros da família,
violência doméstica contra mulheres, sexualidade e relacionamento
sexual, e como prevenir a infecção pelo vírus da imunodeficiência
humana e a síndrome da imunodeficiência adquirida.
511
13. Avaliação da Atenção Primária: uma visão da população
A coordenação é abordada pelo questionamento se o médico
pessoal sabe a respeito de outros profissionais de saúde que a pessoa
esteja consultando.
Stewart e colaboradores (1997) desenvolveram um instrumento
de avaliação da atenção primária consistindo de quatro campos que
poderiam ser combinados para desenvolver um escore para uma
atenção primária otimizada. Foi testado através de uma pesquisa por
telefone de uma amostra aleatória de lares em 41 comunidades urbanas
aleatoriamente selecionadas na Califórnia. O primeiro campo consiste
de cinco aspectos da disponibilidade, incluindo um dia ou menos de
tempo médio de espera para consultar quando doente; 20 minutos ou
menos de espera média no consultório; acesso telefônico em horários
noturnos; acesso telefônico durante fins-de-semana; e menos de 20
minutos de tempo de viagem. A longitudinalidade temporal é abordada
através de uma medida de “continuidade” de item único que esclarece
os anos de freqüência no local habitual. A longitudinalidade
interpessoal é abordada por uma escala de “comunicação” de três
itens consistindo de respostas sobre quão consistentemente os médicos
no local têm tempo para ouvir e explicar e se qualquer problema
em falar com o médico e receber atendimento por causa de um
problema de linguagem. A integralidade é uma contagem de três itens
que perguntam se a pessoa iria ao local por um novo problema, como
uma torção de tornozelo ou gripe; para atenção a um episódio recorrente
de um problema de saúde continuado, como asma ou diabetes; e para
um exame regular completo ou vacinação ou (para mulheres) para
um exame de Papanicolao.
A atenção primária é considerada “otimizada” se o escore mais
alto for recebido na disponibilidade, integralidade e comunicação e
com um escore de 12 meses ou mais na longitudinalidade temporal.
Deveria ser observado que, exceto para o estudo que utiliza a
Pesquisa Nacional de Atenção Médico Ambulatorial, todas as
abordagens descritas acima referem-se apenas aos adultos; a atenção
a crianças não está incluída em nenhuma delas.
Em comparação, Flocke e colaboradores (1997) desenvolveram
um instrumento no curso de um estudo colaborativo envolvendo 4.454
512
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
consultas de pacientes a 138 médicos de família participantes em uma
rede de pesquisa em Ohio. Sete escalas foram inicialmente
desenvolvidas para abordar os vários campos postulados da atenção
primária. As três primeiras consistiam de um item cada: atenção ao
primeiro contato (“Se estou doente, sempre contato um médico neste
consultório primeiro”); integralidade da atenção (“Vou a este médico
para quase toda a minha atenção médica”); e longitudinalidade temporal
(“Há quantos anos você é um paciente deste médico?”). A
longitudinalidade interpessoal foi abordada por três escalas, como segue
Conhecimento acumulado
Este médico não conhece bem meu histórico médico
Este médico sabe bastante a respeito da minha família
Este médico entende claramente minhas necessidades de saúde
Este médico e eu passamos por muita coisa juntos
Comunicação interpessoal
Posso facilmente falar a respeito de coisas pessoais com este
médico
Nem sempre me sinto confortável fazendo perguntas a este
médico
Este médico sempre explica as coisas até que eu esteja satisfeito
Algumas vezes este médico não me escuta
Confiança na continuidade
Minha atenção médica melhora quando consulto com o mesmo
médico que consultei anteriormente
Para mim é muito importante que eu consulte com meu médico
habitual
Eu raramente consulto o mesmo médico quando busco atenção
médica
A escala da coordenação consiste dos cinco itens a seguir
Este médico nem sempre sabe a respeito da atenção que recebi
em outros lugares
513
13. Avaliação da Atenção Primária: uma visão da população
Este médico se comunica com os outros profissionais de
atenção à saúde com quem eu consulto
Este médico sabe o resultado de minhas consultas a outros
médicos
Este médico sempre acompanha um problema que tenho,
quer na próxima consulta quer por telefone
Quero um médico para coordenar toda a atenção à saúde
que recebo
O teste psicométrico revelou que os itens nestas escalas
estavam agrupados em quatro campos, que estavam
cor relacionados, de for ma r elativamente alta, uns aos outros. Os
quatro foram preferência do paciente pelo médico habitual
(consistindo de seis itens dos itens de confiança na continuidade,
preferência da coordenação, primeiro contato e atenção a brang ente);
comunicação interpessoal (quatro itens); conhecimento acumulado
sobre o paciente (consistindo de três itens de conhecimento, o item
de longitudinalidade e o item de “passar por muitas coisas”); e
coordenação da atenção (quatro itens).
Os escores neste instr umento foram testados em relação à
satisfação do paciente com a consulta, a satisfação global geral e
se as expectativas do paciente foram atendidas. Deveria ser
obser vado que, como o teste aconteceu com pacientes atendidos
consecutivamente, os achados não podem ser generalizados para
populações de pacientes ou nem mesmo para uma amostra
aleatória dos usuários da unidade, porque a seleção por consultas
causa uma super-representação dos usuários freqüentes que
poderiam estar mais doentes e mais satisfeitos com a atenção
daquele médico ou unidade.
Nenhum dos instr umentos descritos nesta seção está
orientado para o espectro de todas as idades dos indivíduos nas
comunidades. A fer ramenta de avaliação da atenção primária
(PCAT Primar y Car e Assessment Tool) é um instr umento indicado
para uso nas comunidades, entre os pacientes nas unidades e
(através de uma pesquisa da outra parte) para profissionais nas
514
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
unidades de saúde. Embora desenvolvido e testado para crianças
e adolescentes apenas, ela está sendo adaptada para adultos
porque os campos e subcampos da atenção primária são os
mesmos para ambos.
O PCAT é uma nova ferramenta projetada especificamente
para avaliar a obtenção dos aspectos da atenção primária descritos
neste livro, tanto a partir de uma perspectiva do consultório como
da população. Ela é composta pelos quatros campos da a tenção
primária, cada um com dois subcampos representando a capacidade
do sistema e as características de desempenho que representam o
campo. Além disso, libera informações a respeito dos três campos
derivativos da centralização na família, da orientação para a
comunidade e da competência cultural. Existem for mas par alelas
de administração para pessoas em amostras comunitárias ou para
aqueles atendidos nos estabelecimentos de atenção à saúde e para
administração a médicos ou pessoal administrativo nas unidades
de atenção à saúde. Assim, é possível examinar a concordância
entre pessoas e seus profissionais de atenção à saúde a respeito do
alcance da atenção primária. O instr umento tem sido testado em
relação à confiabilidade e validade (Cassady et al., 1998). Quando
usado numa comparação entre a atenção primária oferecida pelas
unidades de atenção gerenciada e não gerenciada, mostrou que as
unidades de atenção gerenciada alcançaram um melhor
desempenho de alguns, mas não de todos os aspectos da atenção
primária, quer seja na avaliação dos usuários, quer dos seus
profissionais. Notável em relação a isso foram os escores
significativa e consistentemente mais altos para o primeiro contato
(subcampo do acesso) e integ ralidade (subcampo de ser viços
oferecidos) das unidades de atenção gerenciada (Starfield et al.,
1998). Como o estudo foi realizado em apenas uma área geográfica,
os achados específicos poderiam não ser aplicáveis em outras áreas.
Os teores das versões pediátricas destes instr umentos estão no
Apêndice deste livro. O teor das versões adultas é idêntico, exceto
quando as necessidades de saúde para adultos diferem das infantis
(basicamente, no campo da integralidade).
515
13. Avaliação da Atenção Primária: uma visão da população
AVALIANDO O IMPACTO DA ATENÇÃO
PRIMÁRIA SOBRE O ESTADO DE SAÚDE A
PARTIR DE UMA PERSPECTIVA POPULACIONAL
Quando o enfoque está nas medidas do estado de saúde, quer
visto genericamente ou com um enfoque sobre a doença específica,
o desafio da medição é exigente por causa da dificuldade na
determinação de quais aspectos da saúde devem ser uma
responsabilidade dos serviços de saúde (conforme distinguidos dos
outros ser viços sociais) e dos ser viços da atenção primária,
especificamente. Conforme mostrado na Figura 2.1, os fenômenos
biológicos, o substrato genético e o estado de saúde anterior oferecem
um potencial para boa saúde que é influenciado, positiva ou
negativamente, por um vasto conjunto de características ambientais
que devem ser levadas em consideração na avaliação do impacto
dos serviços de saúde sobre a saúde. Este é, par ticularmente, o
caso quando áreas diferentes são comparadas, como ser viços
similares podem ter impactos diferentes se outros fatores de
influência for em diferentes.
As abordagens a seguir fornecem exemplos da variedade de
medidas que poderiam ser usadas para avaliar o impacto dos serviços
de atenção primária sobre o estado de saúde; elas variam do enfoque
biomédico (incluindo enfermidades, bem como suas representações
laboratoriais) a um enfoque muito mais amplo da capacidade de
funcionar adequadamente dentro do contexto do meio social.
Para a maior parte, as nações ou outras subdivisões políticas
não tentam correlacionar os indicadores de saúde de suas populações
com as mudanças estruturais no sistema de saúde ou nos modos de
prestação de serviços de saúde de forma que as explicações para um
alcance ou mudanças boas ou ruins nos indicadores não estão
disponíveis para informar a tomada de decisão subseqüente. Ou seja,
eles são usados simplesmente como tendências no estado de saúde, e
não como resultados desejados para a avaliação e planejamento dos
serviços de saúde. Entretanto, é possível relacionar as mudanças nestas
516
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
medidas, ou tendências no decor rer do tempo, para mudanças
específicas na organização ou pr estação dos sistemas de saúde. Por
exemplo, as melhoras nas taxas de imunização podem estar
diretamente ligadas aos esforços governamentais para facilitar a
disponibilidade e financiamento de sua oferta (Blendon et al., 1990);
as melhoras na mortalidade infantil podem estar ligadas em tempo
ao acesso melhorado aos serviços de aborto; e uma mor talidade
pós-neonatal aprimorada foi coincidente em tempo ao acesso
g randemente expandido aos ser viços como resultado do programa
Medicaid (Starfield, 1985). Assim, quando aplicado a períodos
sucessivos de tempo, estes métodos fornecem uma forma de avaliar
a extensão na qual os ser viços de saúde estão atendendo às
necessidades selecionadas importantes da população.
Para estas avaliações, as infor mações podem vir de várias
fontes, incluindo as pesquisas populacionais ou estatísticas de saúde
com base na população. As pesquisas populacionais podem incluir
as amostras aleatórias ou amostras estratificadas para garantir a
inclusão das populações de interesse especial. A U.S. National Health
Interview Survey [Pesquisa Nacional Nor te-Americana de Entrevista
sobre Saúde] é o protótipo de uma fonte de dados a respeito da
saúde da população em nível nacional. Esta pesquisa, sob patrocínio
do National Center for Health Statistics [Centro Nacional para
Estatísticas de Saúde], está em operação continuamente desde 1957
e oferece informações valiosas a respeito do estado de saúde relatado
e o uso de serviços e, devido à sua natureza contínua, as tendências
destas características no decorrer do tempo. As informações estão
disponíveis para grandes regiões nos Estados Unidos, e há, também,
os planos para a coleta de dados que seriam mais úteis no nível
estadual, pelo menos em alguns estados. uma lig ação planejada
desta pesquisa com uma série mais recente de uso de atenção médica
nacional e pesquisas de gastos realizadas pelo Agency for Health Care
Policy and Research [Órgão par a Política e Pesquisa de Atenção à
Saúde]; estas pesquisas são feitas em grupos nos quais eles contatam
domicílios várias vezes no decorrer de um período de um ano e
517
13. Avaliação da Atenção Primária: uma visão da população
oferecem, assim, informações a respeito das mudanças na saúde e
na utilização no decorrer de um período de tempo. Eles também
contatam as fontes de atenção (profissionais e unidades, incluindo
hospitais) para uma amostra de pessoas na pesquisa domiciliar. Esta
ligação fornece um entendimento muito mais rico das características
da saúde que podem estar relacionadas a fontes específicas de
atenção. Uma outra ligação com as pesquisas baseadas no pr ofissional
como a Pesquisa Nacional de Atenção Médico Ambulatorial (ver
capítulo 16) forneceria ainda mais informações a respeito da relação
dos padrões no uso dos serviços e resultados do estado de saúde.
A orientação na seleção das medidas para avaliar o impacto
da atenção primária no nível populacional vem de quatro
compêndios, cada um resultando de trabalhos extensivos de g rupos
de peritos nacionais nos Estados Unidos.
O Year 2000 National Objectives [Objetivos Nacionais para o
Ano 2000] (National Center for Health Statistics, 1997) fornece
uma base para a seleção de medidas específicas da saúde da população
em 22 áreas de prioridade, conforme relacionadas na Tabela 13.5
(Sondik, 1996). Estes objetivos abrangem uma ampla variedade de
problemas clínicos e condições em seus 319 objetivos e um número
igual de subobjetivos para grupos populacionais específicos. Duas
das áreas de prioridade (saúde e dados ambientais; e sistemas de
vigilância) lidam, basicamente, com estruturas do sistema, e não com
o impacto de serviços de saúde. As fontes de dados possíveis incluem
estatísticas vitais, pesquisas domiciliares, sistemas de vigilância e
sistemas de dados clínicos quando eles se tornam padronizados. Como
os objetivos são para o sistema de saúde como um todo, e não para a
atenção primária em particular, não é possível utilizá-los para avaliar
o desempenho dos sistemas de atenção primária sem levar em
consideração a relação daquele sistema com o sistema de serviços de
saúde maior. Entretanto, os objetivos fornecem uma base para as
comunidades e sistemas de saúde em geral para estabelecer metas
que levam em consideração a probabilidade de contribuições da
atenção primária em direção ao seu alcance.
518
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Dos 319 objetivos específicos, cerca de 30% se relacionam com
as estruturas, incluindo a aprovação da legislação de implementação
necessária e o desenvolvimento de programas para atender às
necessidades. Outros 20% re presentam o processo, incluindo a
condução de atividades por profissionais relacionados à saúde que
são indicados para melhorar os serviços e atender as necessidades.
Cerca de 50% se relacionam diretamente com o alcance dos resultados,
conforme medidos para os aprimoramentos em vários aspectos do
estado ou comportamentos de saúde que se sabem estar diretamente
relacionados à melhora do estado de saúde.
Um subgrupo destes 319 indicadores escolhidos pelos U.S.
Centers for Communicable Diseases [Centros Norte-Americanos para
Doenças Transmissíveis] para uso de órgãos de saúde federais,
estaduais e locais com a meta de implementá-los em, pelo menos, 40
Tabela 13.5Tabela 13.5
Tabela 13.5Tabela 13.5
Tabela 13.5
Year 2000 National (U.S.)
Objectives
: áreas de prioridade
Fonte: Sondik (1996).
519
13. Avaliação da Atenção Primária: uma visão da população
estados (Sutocky et al., 1996). A lista destes indicadores “consensuais”
inclui nove indicadores de mortalidade, quatro indicadores de
incidência de doenças e cinco indicadores de fator de risco à saúde.
Outros dois relatórios, um em 1996 e um em 1997, propuseram
seus próprios indicadores, muitos (embora não todos) deles foram
retirados dos objetivos do Health People 2000 [Pessoas Saudáveis 2000].
O primeiro destes relatórios foi planejado como um conjunto de
medidas de desempenho para órgãos de saúde pública (Perrin e Koshel,
1997). Existem 47 indicadores, 26 dos quais referentes à saúde física
e 21 referentes à saúde mental. Os 30 indicadores de saúde física e os
17 indicadores de saúde mental então em 10 e 4 categorias,
respectivamente; a maioria lida com os resultados (O), processos de
atenção à saúde (P) ou processos conhecidos por estarem relacionados
aos resultados (P-0), como segue, com o número de indicadores
individuais indicados em parênteses:
Tabagismo (4) O
Peso/dieta (2) O
Atividade física (1) O
Atenção preventiva (5) P-O
Atenção para diabetes (3) P-O
Doenças sexualmente transmissíveis/tuberculose (2) O
Comportamentos sexuais (4) P-O
Uso de droga intravenosa (2) P-O
Imunizações (3) P-O
Incapacitação (4) O
Satisfação com serviços de saúde mental (1) P
Redução da angústia e dos problemas de saúde mental (6) O
Abuso de substâncias (9) O
Abuso sexual (1) O
A segunda parte foi indicada como um conjunto de indicadores
para a saúde da comunidade para ser usada em órgãos de saúde pública
e unidades de medicina clínica e planos de saúde como uma base
para a ação conjunta (Durch et al., 1997). Cinco indicadores refletem
o estado de saúde: mortalidade infantil por raça e etnia; número
ajustado pela idade de mortes por acidente de veículos, lesões
520
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
relacionadas ao trabalho, homicídio, câncer de pulmão, câncer de
mama, enfermidades cardiovasculares e todas as causas por r aça e
sexo, conforme apropriado; incidência relatada de AIDS, sarampo,
tuberculose, sífilis primária e secundária, por idade, raça e sexo,
conforme apropriado; partos em mulheres de 10-17 anos como uma
proporção do total de nascimentos; e o número de taxa de casos de
abuso e negligência confirmados entre crianças.
Seis indicadores refletem fatores de alto risco: proporção de
crianças de dois anos completamente imunizadas; proporção de
indivíduos com idades entre 65 anos ou mais que receberam vacina
pneumocócica e vacina da gripe nos últimos 12 meses; proporção da
população de fumantes por idade, s exo e raça, conforme apropriado;
proporção de indivíduos obesos de 18 anos ou mais de idade; número
e tipo de padrões de qualidade do ar do U.S. Environmental Proctection
Agency [Órgão de Proteção Ambiental dos Estados Unidos] que não
são atendidos. Proporção de rios, l agos e estuários avaliados que
apóiam os usos benéficos (nadar e pescar).
Dois indicadores refletem o estado funcional: proporção de
adultos que relatam sua saúde como boa ou excelente; e média de
dias para os quais os adultos relatam que sua saúde física ou mental
não estava bem nos últimos 30 dias.
Dois indicadores refletem a qualidade de vida global: proporção
de adultos satisfeitos com o sistema de atenção à saúde em sua
comunidade; e proporção de pessoas satisfeitas com a qualidade de
vida em sua comunidade.
Embora as limitações de muitas destas medidas sejam evidentes,
ou seja, nenhuma consideração das diferenças de classe social,
escassez de indicadores para crianças, denominadores inadequados
(proporção de rios, lagos e estuários avaliados, e não o número total)
e a proporção, e não as taxas, de partos entre adolescentes, o tamanho
da lista e a implicação de que os indicadores podem ser obtidos é um
pulo à frente na avaliação do impacto dos sistemas de saúde.
Além disso, um órgão do Congresso Norte-Americano testou a
previsibilidade de um conjunto de indicadores escolhidos dos objetivos
da nação e de um conjunto adicional de 17 indicadores desenvolvidos
521
13. Avaliação da Atenção Primária: uma visão da população
por uma organização privada. O esforço foi para determinar se as
diferenças de estado cruzado poderiam ser explicadas por um conjunto
parcimonioso de indicadores, ao invés das listas mais extensivas
observadas acima. As análises mostraram que apenas um indicador
anos de vida perdidos devido à mortalidade por causas preveníveis
antes dos 65 anos de idade foi, de longe, o melhor na representação
da variabilidade no estado de saúde (U.S. Congress, 1996).
Dos indicadores propostos nos quatro compêndios, não mais
que nove foram propostos nos quatro, e nove foram propostos em
outros três compêndios. Estes 18 indicadores estão relacionados
na Tabela 13.6.
As metas para a “saúde da nação” foram desenvolvidas em muitos
países. As metas para o Reino Unido foram desenvolvidas em 1992,
em seis categorias: doença cardíaca coronária, derrame, câncer, doença
Tabela 13.6Tabela 13.6
Tabela 13.6Tabela 13.6
Tabela 13.6
Indicadores comuns à maioria dos compêndios nacionais nos
Estados Unidos
Fontes: Perrin e Koshel (1997); Congresso Norte-Americano (1996); Durch et
al. (1997); National Center for Health Statistics (1997).
522
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
mental, vír us da imunodeficiência humana e síndrome da
imunodeficiência adquirida, e acidentes . Uma pesquisa dos profissionais
gerais em duas grandes regiões revelaram um considerável ceticismo a
respeito da possibilidade de obtenção de algumas das 15 metas
específicas nestas categorias e a implementação variável de estratégias
para atendê-las, principalmente como um resultado da carga excessiva
de trabalho na unidade, programas irrealistas, e a indisponibilidade de
membros da equipe que não são médicos necessários para lidar com
elas adequadamente. Entretanto, metade dos 257 pesquisados tinham
estratégias com base na unidade para atender às metas (Cheung et al.,
1997). Objetivos revisados (1998) continham 12 metas em quatro áreas:
doença cardíaca e derrame, câncer, acidentes e doença mental.
Um compêndio que enfocava especificamente a atenção
primária foi proposto pelo Bureau of Primary Health Care no Ministério
da Saúde e Assistência Social dos Estados Unidos, que considerava
vários mecanismos para a avaliação da atenção primária nas muitas
unidades sob sua jurisdição. Uma abordag em enfoca as comparações
das taxas de hospitalização para os problemas sensíveis à atenção
ambulatorial. As avaliações das variações na área e suas explicações,
as reduções de lacunas na saúde entre as populações desprovidas e
providas e a penetração dos serviços em diferentes áreas também
estão em consideração. Para a maior parte, entretanto, o enfoque está
na capacidade, desempenho e resultados dos problemas clínicos nas
unidades individuais, utilizando técnicas de revisão de prontuários
médicos, dados de consultas, pesquisas de consultas e pesquisas de
usuários, e não estatística da comunidade e sistemas de informação
de saúde (Bureau of Primary Health Care, 1995). Um desafio
específico para as avaliações do impacto da atenção primária com
base na população é a ausência de sistemas de dados comuns que
possibilitariam as comparações entre diferentes unidades locais ou
grupos e ligariam seus respectivos desempenhos aos resultados das
populações específicas atendidas por cada uma delas.
Alguns indicadores têm menos utilidade na reflexão das
contribuições da atenção primária, principalmente porque as melhoras
em sua ocorrência estão não apenas na atenção primária, mas,
523
13. Avaliação da Atenção Primária: uma visão da população
também, nos serviços oferecidos por outros níveis do sistema de
atenção à saúde. Por exemplo, o alcance das metas de prevenção
orientada à enfermidade, como exame para câncer de mama, exame
de Papanicolao, exame para colesterol e exame para hipertensão pode
ser tanto uma contribuição do sistema especializado quanto do sistema
de atenção primária se as políticas de saúde ditam que os serviços
sejam oferecidos por especialistas (como no caso do exame de
Papanicolao e a mamografia em alguns países, por exemplo, Espanha).
As taxas de deficiências podem ser um resultado não apenas do sucesso
dos médicos de atenção primária na prevenção, mas também o sucesso
de fisioterapeutas na redução da deficiência por incapacitações e lesões.
Os indicadores, como expectativa de vida em diferentes idades,
particularmente em idades mais avançadas, refletem a contribuição
dos especialistas bem sucedidos em evitar a mortalidade a partir de
condições que se beneficiam da aplicação da tecnologia complexa
para os problemas do envelhecimento. Por exemplo, a expectativa de
vida na idade de 80 anos nos Estados Unidos é melhor do que em
quase todos os outros países, apesar da fraca infraestrutura de atenção
primária no país, e, em grande medida, devido ao alto uso de
intervenções que retardam a morte.
Os anos de vida saudável perdidos (HEAL Ys Years of Healthy
Life Lost), os anos de vida ajustados à qualidade (Quality-Adjusted Life
Years QALY) e os anos de vida ajustados à incapacitação (Disability-
Adjunted Life Years DALY) são outras abordagens que foram usadas
para avaliar e monitorar as necessidades de saúde (Morrow e Bryant,
1995). HEALYS é uma medida baseada em um número de anos de
vida em que a população sofre de doenças específicas; a carga total de
enfermidade é computada somando os anos de vida saudável perdida
por 1000 pessoas resultando da incapacitação e morte prematura
atribuível a estas enfermidades com início em um período definido de
tempo. Ela é usada, principalmente, em países em desenvolvimento.
Assim, a partir do ponto de vista do sistema de saúde, as reduções na
eqüidade nas comunidades devem ser uma medida de sucesso da política
para o fortalecimento da atenção primária.
524
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
QALYs, por outro lado, é um método desenvolvido para uso
em países industrializados e, geralmente, leva em consideração as
preferências dos indivíduos para diferentes resultados que podem
decorrer de uma intervenção dife rente. A incapacitação observada
(perda de função ou da mobilidade) e o enfraquecimento subjetivo
(dor e angústia) são levados em consideração. Um destes sistemas
identifica oito níveis de incapacitação e quatro de enfraquecimento,
com um número total combinado de 29 combinações diferentes, cada
uma das quais recebe um valor para cada assunto. Uma vez que a
morte prematura prevenível é uma preocupação menos importante
em países desenvolvidos, um método que enfoca a incapacitação e o
desconforto é mais aplicável do que o HEALYS. Embora o sistema
seja orientado para a tomada de decisões a respeito de intervenções
alternativas para pacientes individuais, os QALYS individuais podem
ser agregados para uso na comunidade. Entretanto, nenhuma norma
poderia ser desenvolvida porque seria esperado que as diferentes
populações diferissem em seu QALYS como um r esultado das
diferentes prioridades para diferentes resultados.
Os DALYS foram desenvolvidos para comparar as cargas de
morbidade entre diferentes enfermidades, cada uma das quais com
um DALY associado. Devido à dificuldade em especificar a
incapacitação e em atribuí-la a doenças específicas, este método de
monitoramento das necessidades de saúde encontrou menos aceitação
do que os métodos alternativos.
Assim, o alcance de muitas metas do estado de saúde requerem
não apenas a contribuição da atenção primária, mas também as
contribuições de especialistas que trabalham em vários tipos de
estabelecimentos característicos dos sistemas de atenção à saúde.
Como a atenção primária é apenas um nível do sistema de atenção à
saúde, as contribuições específicas que ela faz ao estado de saúde de
populações e de pacientes devem ser avaliadas com indicadores que
refletem sua própria contribuição dentro do sistema de atenção à saúde.
Seria esperado que as contribuições exclusivas da atenção primária
estivessem nos indicadores que refletem a atenção às pessoas no
decorrer do tempo, e não a atenção de problemas específicos que
525
13. Avaliação da Atenção Primária: uma visão da população
afligem as pessoas e que, de tempos em tempos, podem necessitar de
serviços de saúde, outros que não da atenção primária.
Reconhecendo que a maioria dos resultados exigem excelência
não apenas dos serviços de atenção primária, mas também de outros
níveis da atenção, o plano canadense para avaliação dos serviços de
saúde comunitários (CSCs) desenvolveu um compêndio dos
indicadores sensíveis aos CSCs para acompanhar o conjunto mais
abrangente de metas de saúde da população. Notável entre estes estão
os indicadores listados na Tabela 13.7.
Tabela 13.7Tabela 13.7
Tabela 13.7Tabela 13.7
Tabela 13.7
Exemplos de indicadores especialmente passíveis para os sistemas de
saúde comunitários (CBHS) do Canadá.
Fonte: Wanke et al. (1996).
526
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
A Tabela 13.8, que deriva de uma série de grupos de enfoque
informal mantidos por supostos “peritos” norte-americanos e em
outros lugares e com base no Atlas europeu para mortes evitáveis
(Holland, 1991), relaciona os resultados que estariam particularmente
relacionados com a adequação dos serviços de atenção primária.
Tabela 13.8Tabela 13.8
Tabela 13.8Tabela 13.8
Tabela 13.8
Indicadores para a avaliação da Atenção Primária no nível populacional
A maioria, mas não todos os indicadores na Tabela 13.8 está
incluída em, pelo menos, um dos compêndios mencionados acima.
Entre aqueles não incluídos anteriormente estão hospitalizações para
problemas sensíveis à atenção ambulatorial, gestações indesejadas,
baixa incidência de efeitos adversos das medicações e baixa
mortalidade pós-neonatal. A justificativa para a inclusão das taxas de
hospitalizações para problemas sensíveis à atenção ambulatorial está
527
13. Avaliação da Atenção Primária: uma visão da população
nas evidências de vários estudos nos Estados Unidos, Canadá e
Espanha, que sugerem que os bons serviços de atenção primária estão
associados a taxas menores do que é o caso em áreas com recursos de
atenção primária mais pobr es. A justificativa para as g estações
indesejadas é que uma boa relação de longa duração com a fonte de
atenção primária deve oferecer a base para esforços mais bem
sucedidos na prevenção de nascimentos associados a altas taxas de
mortalidade e morbidade. O indicador que se refere aos efeitos
adversos de medicações está no achado de que estes efeitos podem
somar uma parte maior da morbidade do que qualquer outra condição
simples na população, no alto nível de previsibilidade e, a partir daí,
prevenção de muitas delas que são prescritas de forma inadequada, e
a partir da probabilidade de que a melhor coordenação da atenção
associada com a boa atenção primária deve reduzir a probabilidade
do uso inadequado. A mortalidade pós-neonatal, conforme distinguida
do total da mor talidade infantil é par ticular mente passível de
minimização com bom acesso à atenção primária (Starfield, 1985).
Ao inter pretar as infor mações a respeito da incidência e
prevalência destes problemas na população, é importante lembrar que
não se deve esperar que a atenção primária elimine os efeitos dos
determinantes sociais e ambientais da saúde debilitada, mas sim, que
reduza a probabilidade de que fatores externos causem impacto
adverso. As comunidades que variam nas taxas de ocor rência dos
problemas relacionados na Tabela 13.8 apresentam grande
probabilidade de variar em problemas sociais e ambientais que as
provoquem. Ou seja, a comparação da adequação da atenção primária
para amenizar estes problemas em diferentes comunidades deve levar
em consideração as diferenças iniciais nas taxas destes problemas. As
taxas podem ainda ser altas mesmo quando as unidades de atenção
primária têm bom desempenho, conforme manifestado pelo progresso
em diminuí-las. Assim, a partir do ponto de vista do sistema de saúde,
as reduções na equidade nas comunidades devem ser uma medida do
sucesso da política para o fortalecimento da atenção primária.
Finalmente, os serviços de saúde (inc luindo os serviços de
atenção primária) podem ser avaliados de acordo com princípios
528
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
globais referentes aos direitos dos pacientes. Estes “direitos” estão
sendo cada vez mais incorporados às leis estaduais e aos códigos das
organizações profissionais. Por exemplo, uma associação de planos
de saúde nos Estados Unidos encorajou todos os seus membros a
adotar as seguintes políticas: os pacientes devem ter o direito à
atenção, no momento certo, no esta belecimento cer to; todos os
profissionais de atenção à saúde devem ter responsabilidade pela
qualidade dos ser viços que prestam; os pacientes devem poder
escolher, dentro de seu plano, os médicos que atendem a altos padrões
de treinamento e experiência profissionais; os médicos devem ser
encorajados a compar tilhar infor mações com seus pacientes a
respeito de seu estado de saúde, problemas médicos e opções de
tratamento; e trabalhar com pessoas que os mantenham saudáveis é
tão importante quanto deixá-los bem. Além disso, os pacientes devem
receber, mediante solicitação, informações claras a respeito de como
os médicos são pagos; os procedimentos para controle da utilização
e a base para decisões específicas, se um medicamento de prescrição
específica estiver incluído no f or mulário (e, presumivelmente, o
motivo para exclusões), e como o plano de saúde decide quando
um tratamento é experimental, e, por tanto, não incluído nos serviços
oferecidos (American Association of Health Plans, 1997). Um
Consumer Billof Rights [Código dos Direitos do Usuário] foi
promulgado por uma comissão indicada pelo Presidente dos Estados
Unidos. A Advisory Commission on Consumer Protection and Quality in
the Health Care Industry [Comissão de Conselho sobre Proteção ao
Usuário e Qualidade na Indústria de Atenção à Saúde] propôs oito
áreas de direitos e responsabilidades, incluindo divulgação de
informações, escolha de profissionais e planos, acesso a serviços
de emergência, participação nas decisões do tr atamento, respeito e
não discriminação, conf idencialidade das informações de saúde,
queixas e apelações, e responsabilidades do usuário. (Advisor y
Commission on Consumer Protection and Quality in the Health Care
Industry, 1997) No futuro, será possível avaliar a extensão na qual
estes critérios são atendido s e a extensão na qual os diferentes tipos
de sistemas de saúde diferem em seu alcance.
529
13. Avaliação da Atenção Primária: uma visão da população
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533
Neste capítulo, voltamos aos conceitos de atenção primária
expressos na Declaração de Alma-Ata (ver Capítulo 1). No parágrafo
que define a atenção primária, a palavra comunidade foi usada três vezes:
A um custo que a comunidade possa manter”, “como parte integral...
do desenvolvimento global econômico e social da comunidade” e “o
primeiro nível de contato de indivíduos, família e comunidade com o
sistema nacional de saúde...”. A declaração reconheceu a distinção
entre a atenção primária prestada a indivíduos ou famílias e a atenção
prestada à comunidade; chamou a atenção para ambos os aspectos.
poucas dúvidas de que o acesso a serviços de atenção médica
efetiv o s melhora a saúde. A priv ação do acesso, como pela retirada de
serviços oferecidos anteriormente, é seguida, num período de tempo
relativamente curto, por um declínio na saúde (Fihn e Wicher, 1988;
Lurie et al., 1986). Apesar da clara importância das condições ambientais
e sociais, incluindo nutrição e habitação, o melhor acesso aos serviços
de saúde faz a diferença, particularmente para aqueles que têm sido
relativamente privados deles. As melhoras no acesso à atenção em
virtude da aprovação de legislação para fornecer financiamento e/ou
serviços para a atenção de indivíduos socialmente desfavorecidos são
seguidos por melhoras na saúde. Os exemplos incluem taxas de
mortalidade neonatal mais baixas através de intervenções que reduzem
o estresse no trabalho de mulheres gestantes (Luke et al., 1995) e a
atenção pré-natal regionalizada (Starfield, 1985). As melhoras
documentadas na saúde também incluem taxas de mortalidade pós-
neonatal mais baixas, melhor sobrevivência à meningite bacteriana e
taxas de hospitalização por complicações do diabetes mais baixas
14. SAÚDE PÚBLICA E ATENÇÃO
PRIMÁRIA ORIENTADA PARA A
COMUNIDADE
534
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
quando os serviços de saúde são aprimorados. O acesso mais fácil ao
aborto e ao planejamento familiar tem sido associado a taxas baixas de
gestação na adolescência e os programas nacionais de financiamento
para oferecer a imunização disponível tem sido seguidos por um maior
aumento nas taxas de imunização (Starfield, 1985). Bunker et al. (1994)
calcularam os ganhos substanciais na expectativa de vida como resultado
das intervenções de atenção médica que são tanto prevenív eis (detecção
precoce) como, até mesmo mais notável, resultado da maior
disponibilidade de tratamentos efetiv os. Também houve ganhos no alívio
ao desconforto e incapacidade, embora a estimativa quantitativa do
efeito total da atenção médica seja dificultada pela ausência de
métodos padrão para avaliação dos resultados, outros que não a
mortalidade (Bunker et al., 1994). Estes ganhos em saúde resultam
ou das intervenções desejadas impostas pela política nacional de saúde
(como no caso de programas de imunização nacional) ou da aplicação
do desenvolvimento tecnológico, que geralmente ocorre de acordo
com as prerrogativ as profissionais, e não por meio de decisões políticas .
No último caso, os benefícios do progr esso médico g eralmente
resultam de forma desigual e não de acordo com as decisões feitas
com base na redução das disparidades em saúde nas diferentes
comunidades ou subgrupos da população. O ponto mais importante
da atenção, orientada para a comunidade, é garantir que os recursos
fluam para áreas em que são mais necessários, diminuindo, assim, as
iniqüidades dentro das populações.
A atenção primária, através de sua orientação para a
comunidade, divide a responsabilidade com a saúde pública para
maximizar a extensão na qual os serviços de saúde podem superar as
desvantagens sociais e seus efeitos adversos sobre a saúde.
ATENÇÃO PRIMÁRIA A PARTIR DO PONTO DE
VISTA DA POPULAÇÃO
A apresentação das quatro características da atenção primária
nos capítulos 7-11 distinguiu, explicitamente, o ponto de vista
535
14. Saúde pública e Atenção Primária orientada para a comunidade
populacional do clínico. Entretanto, a maior par te da discussão e
das evidências sobre a utilidade destas características foi extraída
de e xperiências em estabelecimentos clínicos. O motivo para isto é
direto: pouco tem sido feito para explorar a utilidade ou os benefícios
da atenção primária orientada para a comunidade na melhora nos
níveis de saúde e redução das desigualdades na saúde dentro e entre
diferentes comunidades.
A atenção primária convencional, ou seja, a atenção a partir da
perspectiva do clínico que tem sido exposto exclusivamente a pacientes
que aparecem para atendimento, tem limitações evidentes. Este
atendimento não pode levar em consideração a distribuição dos
problemas de saúde na comunidade porque muitos dos problemas
podem nunca vir a chamar a atenção do clínico e, mesmo se o fizerem,
as freqüências relativas de problemas podem não refletir suas
freqüências relativas na comunidade. Além disso, a atenção primária
convencional não pode ter consciência da forma como os problemas
são inicialmente manifestados porque, geralmente, os pacientes
esperam que os problemas progridam ou mudem antes de buscar
atenção. Além disso, os profissionais tradicionais de atenção primária
clinicamente orientada têm dificuldade em entender o impacto relativo
dos fatores ambientais, sociais e comportamentais na etiologia e
prog ressão da enfer midade porque, fr eqüentemente, não estão
familiarizados com o meio no qual os pacientes vivem e trabalham.
Finalmente, o monitoramento do impacto dos serviços de saúde é
difícil na atenção primária convencional porque o acompanhamento
ou devolução requer que os pacientes contatem ou consultem
novamente o profissional.
Existem vários motivos pelos quais o enfoque baseado na
população para a atenção clínica é uma meta desejável. O primeiro é
que o conhecimento a respeito da distribuição dos problemas de saúde
não pode derivar de experiências em centros médicos ou em
consultórios individuais. As análises realizadas por White et al. (1961)
demonstraram, conclusivamente, que a maioria das experiências com
uma doença não resulta em uma consulta com um médico; um máximo
de um terço resulta na busca de auxílio. Portanto, as informações a
536
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
respeito da natureza e da distribuição dos problemas de saúde não
podem e não devem ser baseadas nas experiências de profissionais
em centros médicos ou consultórios. O segundo motivo é que o
conhecimento sobre como a enfermidade se apresenta não pode ser
obtido sem um enfoque baseado na população. Evidências a respeito
deste ponto derivam de estudos, como um em que os médicos foram
solicitados a indicar como as pessoas com várias enfermidades
metabólicas genéticas geralmente descrevem seu problema, quando
buscam a atenção pela primeira vez. Os médicos em geral
mencionaram os sinais clássicos da enfermidade como estão descritos
em textos-padrão, os quais, na verdade, raramente são os problemas
pelos quais a atenção é procurada (Holtzman, 1978).
O terceiro motivo para um ponto de vista baseado na população
é que os médicos superestimam seus papéis na oferta de atenção. Em
sistemas de saúde em que os indivíduos podem buscar atendimento
de qualquer profissional e não troca de informações sobre as
consultas feitas pelos indivíduos, não como qualquer profissional
individual alcançar qualquer dos aspectos da atenção primária. Os
médicos podem relatar que a maioria de seus pacientes é “habitual”
mesmo quando uma minoria substancial de consultas por iniciativa
dos pacientes é realizada em outros locais (Dutton, 1981; Starfield et
al., 1976). Uma melhor coordenação com os serviços sociais tem muito
a oferecer na atenção continuada de idosos, pessoas cronicamente
doentes e mentalmente incapacitadas.
O quarto motivo refere-se à importância da devolução para a
educação continuada do profissional. Quando os pacientes não
retornam ao profissional para o acompanhamento, seja porque não
ficaram satisfeitos com a atenção, seja porque não ficaram felizes
com os resultados, o profissional perde informações cruciais para
aprender com a experiência. Um enfoque comunitário capacitaria o
profissional a desenvolver sistemas de informação que pudessem
monitorar os pacientes que perdeu e avaliar os motivos.
O motivo final para um enfoque baseado na população para a
atenção clínica deriva do imperativo de adicionar novos conhecimentos
a respeito das enfermidades, de seu curso natural na ausência de
537
14. Saúde pública e Atenção Primária orientada para a comunidade
tratamento e de como este curso pode ser modificado por várias
interv enções. A maior parte do que se sabe a respeito da doença e,
especialmente, seu manejo resulta de experiências com pacientes em
centros de pesquisa médica. Embora as pesquisas comunitárias por
entrevista obtenham informações referentes às percepções das pessoas
em relação aos seus problemas, e as pesquisas de exame populacional
forneçam informações adicionais a respeito de aspectos de saúde, que
podem ser detectados por exames e testes laboratoriais, nenhuma
abordagem pode conectar as intervenções de atenção médica ao estado
de saúde porque os dados clínicos, geralmente, não estão disponíveis
ou não podem ser vinculados aos dados da pesquisa. Os pesquisadores
em centros médicos geralmente enfocam suas considerações sobre
enfermidades específicas. Entretanto, o conhecimento do profissional
a respeito da enfermidade não reflete necessariamente as experiências
de doença das pessoas. Conforme a atenção à saúde tornar-se cada
vez mais eficiente na redução da mortalidade por causas específicas,
as pessoas sobreviverão e, assim, correrão o risco de enfermidades
múltiplas que podem interagir de formas desconhecidas e podem
responder diferentemente a várias inter venções. A abordagem
enfocada na enfermidade, que caracteriza a maioria das pesquisas
clínicas, terá que ser cada vez mais suplementada por uma abordagem
enfocada na pessoa, sendo que este enfoque pode ser alcançado apenas
por meio da visão do indivíduo em um contexto comunitário, bem
como na unidade clínica.
O QUE É A ATENÇÃO PRIMÁRIA ORIENTADA
PARA A COMUNIDADE?
A Atenção Primária orientada para a comunidade (COPC
Community-oriented Primary Care ) tem sido definida de muitas formas
diferentes. Comum a todas elas é a idéia de que é uma abordagem da
atenção primária que utiliza habilidades epidemiológicas e clínicas
de forma complementar para ajustar os programas para que atendam
às necessidades específicas de saúde de uma população definida.
538
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Fornece o reconhecimento específico para as interações no diagrama
dos determinantes de saúde apresentado no Capítulo 1; estes incluem
a sobreposição do sistema de serviços de saúde e o ambiente social e
físico, bem como a sobreposição do sistema de serviços de saúde e os
comportamentos individuais que influenciam a saúde.
Uma abordagem orientada para a comunidade aplica os métodos
da medicina clínica, epidemiologia, ciências sociais e pesquisa e
avaliação de serviços de saúde para as tarefas a seguir (Nutting e
Connor, 1986):
Definir e caracterizar a comunidade
Identificar os problemas de saúde da comunidade
Modificar programas para abordar estes problemas
Monitorar a efetividade das modificações no programa
A aplicação de métodos epidemiológicos, em que os dados são
mais representativos do que aqueles derivados das unidades clínicas,
deveriam melhorar, de for ma especial, determinados aspectos da
atenção. O diagnóstico e o manejo seriam mais adequados devido ao
melhor reconhecimento dos fatores etiológicos, muitos dos quais
decorrem de exposições sociais e ambientais. Também resultariam
em um melhor “reconhecimento do problema”, conforme dados mais
completos fornecessem informações a respeito das características dos
estágios iniciais da doença; dados mais completos também facilitariam
o reconhecimento de novos tipos de distúrbios e de conjuntos de
sintomatologia incomum. As definições de saúde normal também
podem ser aprimoradas com descrições mais completas das
características daqueles indivíduos que raramente aparecem para
atendimento.
A aplicação de técnicas das ciências sociais melhoraria o
reconhecimento dos problemas existentes por meio do entendimento
do impacto dos fatores socioeconômicos sobre a saúde, incluindo
pobreza, desemprego e outros estados de estresse.
A a plicação das técnicas de pesquisa dos serviços de saúde
forneceria um melhor entendimento do impacto de vários aspectos
da atenção médica e das relações entre os componentes da estrutura,
do processo e dos resultados dos serviços de saúde.
539
14. Saúde pública e Atenção Primária orientada para a comunidade
Em abordagens para medir a obtenção de atenção primária, a
orientação para a comunidade é considerada um aspecto “derivativo”
no sentido de que seria “derivado” de um alto nível de obtenção dos
aspectos exclusivos da atenção primária. No processo do alcance
otimizado de um alto grau de longitudinalidade da atenção, um
programa teria definido a população eletiva para a atenção e, além
disso, teria se certificado de que a população soubesse que o programa
tinha assumido a responsabilidade por seus serviços de saúde. O
programa teria, assim, alcançado a primeira etapa funcional da COPC,
que é a definição e caracterização da comunidade de forma que os
não usuários dos serviços não fossem, sistematicamente, excluídos.
A segunda etapa no alcance da abrangência através da COPC
envolve a identificação das necessidades de saúde da população
cadastrada, incluindo os indivíduos ou g r upos que raramente
buscam a atenção.
A terceira e quarta etapas, modificar o programa de atenção à
saúde e monitorar a efetividade da modificação, seguiriam as duas
etapas derivativas, envolvendo a longitudinalidade e a integralidade.
A base conceitual da COPC data dos escritos de Will Pickles
(1938), na Grã-Bretanha; Sidney Kark (1974, 1981) desenvolveu de
forma mais aprofundada o conceito primeiro na África do Sul e, mais
tarde, em Israel. Vários modelos têm evoluído nos Estados Unidos,
embora não como um movimento formal em direção à COPC. Em
1982, o Institute of Medicine of the National Academy of Sciences [Instituto
de Medicina da Academia Nacional de Ciências] patrocinou uma
conferência e um estudo da COPC, uma vez que ele existia nos
Estados Unidos no momento.
Para descrever o grau e m que a COPC foi obtido, a Academy
especificou os estágios de alcance de cada um dos quatro aspectos da
COPC. As Tabelas 14.1-14.4 descrevem os estágios. A Tabela 14.1
contém os estágios de definição da comunidade. No nível mais inferior,
nenhum esforço foi feito. No nível mais alto, esforços sistemáticos
que asseguram uma enumeração atual e completa de todos os
indivíduos na comunidade, incluindo os dados demográficos e
socioeconômicos pertinentes.
540
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
A Tabela 14.2 lista os estágios da identificação dos
problemas de saúde da comunidade. No nível mais inferior não
foram feitos esforços sistemáticos para entender o estado ou as
necessidades de saúde da comunidade; presume-se que os
resultados dos estudos da população de pacientes refletem os
problemas de saúde na comunidade como um todo. No nível mais
alto existem mecanismos formais para identificar e estabelecer
prioridades entre a ampla variedade de problemas de saúde
potenciais na comunidade, para deter minar seus cor relatos e
deter minantes e para caracterizar os padrões existentes de atenção
à saúde relacionada aos problemas.
A Tabela 14.3 apresenta os estágios da modif icação do
programa de atenção à saúde e varia desde nenhuma modificação
feita em resposta às necessidades da comunidade (Estágio 0) até
o Estágio IV, em que as modif icações no prog rama envolvem
tanto a atenção primária como os componentes da saúde
comunitária ou pública, objetivando especificar os g r upos de alto
risco com esforços ativos para alcançar estes g r upos.
Tabela 14.1Tabela 14.1
Tabela 14.1Tabela 14.1
Tabela 14.1
Critérios por estágio para a função da COPC definição e caracterização
da comunidade
Fonte: IOM (1984)
541
14. Saúde pública e Atenção Primária orientada para a comunidade
Tabela 14.2Tabela 14.2
Tabela 14.2Tabela 14.2
Tabela 14.2
Critérios por estágio para as funções da COPC identificação dos
problemas de saúde da comunidade
Fonte: IOM (1984)
Tabela 14.3Tabela 14.3
Tabela 14.3Tabela 14.3
Tabela 14.3
Critérios por estágio para as funções da COPC modificação do
programa de atenção à saúde
Fonte: IOM (1984)
A Tabela 14.4, que relaciona os estágios do monitoramento da
efetividade das modificações no programa de atenção primária, tem
cinco níveis. No nível mais inferior, o exame da efetividade do programa
é limitado ao impacto sobre os usuários ativ os dos serviços de saúde.
542
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
No estágio mais alto, a efetividade do programa é determinada pelas
técnicas que são específicas para os objetivos do programa, que contam
para um impacto diferencial entre os grupos de risco e que fornecem
informações a respeito de impactos positiv os e negativos dos programas.
Os estágios intermediários de alcance destas quatro funções descrevem
o progresso para a obtenção do nível mais alto da função.
ALCANCE DA ATENÇÃO PRIMÁRIA ORIENTADA
PARA A COMUNIDADE
No estudo do Institute of Medicine, sete unidades que buscam
fornecer a COPC foram identificadas e caracterizadas. embora nenhum
dos programas tenha alcançado um nível alto de COPC, vários
obtiveram níveis relativamente altos de desempenho em alguma das
quatro funções (Nutting e Connor, 1984).
Uma tentativa notável de alcançar a COPC em uma unidade
clínica foi feita pelo Dr. Julian Tudor Hart, na Grã-Bretanha. O Dr.
Hart, cuja unidade estava localizada em uma cidade mineira do País
de Gales, assumiu responsabilidade tanto pela comunidade como pelas
funções clínicas. Em seu conceito, o “médico geral comunitário é um
novo tipo de médico que está engajado na democracia participativa
local na busca da maximização da saúde” (Hart, 1983).
Tabela 14.4Tabela 14.4
Tabela 14.4Tabela 14.4
Tabela 14.4
Critérios por estágio para as funções da COPC monitoramento da
efetividade das modificações do programa
Fonte: IOM (1984)
543
14. Saúde pública e Atenção Primária orientada para a comunidade
Mant e Anderson (1985) propuseram que os profissionais gerais
aceitassem a responsabilidade de auditar o estado de saúde de seus
pacientes e de tornar públicos os resultados, monitorar e controlar a
doença determinada pelo ambiente, auditar a efetividade dos programas
preventivos e avaliar os efeitos da inter venção médica. Na Grã-
Bretanha, a responsabilidade pelas funções da comunidade era, até
pouco tempo, assumida por uma equipe de especialistas em medicina
comunitária. Mant e Anderson propuseram que as funções fossem
assumidas pelo profissional de atenção primária, com a transferência
dos recursos da estrutura atual de medicina comunitária para as unidades
de atenção primária; esta transferência tem ocorrido desde os anos 90.
Algumas organizações clínicas encontraram formas de se interligar
com a comunidade de novas maneiras. Por exemplo, o Group Health
Cooperative of Puget Sound [Grupo Cooperativo de Saúde de Puget Sound],
no estado de Washington, é ati vo em organizações comunitárias para
desenvolver registros automatizados de vacina e tem oferecido vacinas
grátis para comunidades desfav orecidas. Também participa das atividades
para estimular a legislatura estadual a aprovar leis que exijam uma maior
segurança ao consumidor no uso do produto . Sua estratégia para aumentar
o uso do capacete para ciclismo dependeu de uma campanha de educação
comunitária, da distribuição de cupons de desconto e a instituição de
uma campanha de distribuição de capacetes a baixo custo pelo plano de
saúde (Thompson et al., 1995). Assim, seu enfoque sobre a prevenção
não f oi limitado às intervenções clínicas individuais, mas também
adotou uma abordagem baseada na comunidade que alcançou muito
mais pessoas do que a abordagem que dependia da mudança do
comportamento de indivíduos separados para seu sucesso.
Em geral, as escolas de medicina em todo o mundo ainda não
reconheceram as vantagens de abordagens baseadas na população
para a prestação de serviços de saúde. Uma exceção notável é a
McMaster University, na província de Ontário, Canadá, que tem tentado,
desde sua fundação, integrar as habilidades da medicina populacional
àquelas da prática clínica. A Rockefeller Foundation, nos Estados Unidos,
tem utilizado este modelo para estimular o desenvolvimento de
programas em muitas escolas de medicina em todo o mundo.
544
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Em alguns países europeus (Suécia, Finlândia) e em áreas rurais
de muitos outros países industrializados, os médicos estão ativamente
envolvidos nas atividades de saúde comunitária e pública. Vários países
da América Latina estão estabelecendo, ativamente, uma agenda para
a COPC. Em Cuba, um esforço intensivo para treinar os médicos de
família tem sido feito desde meados dos anos 80. Estes novos médicos
residem e trabalham com uma enfermeira associada na comunidade em
que atendem, cuja população é estimada em cerca de 600-700 pessoas .
Os médicos de família passam metade de seu tempo prestando serviços
nas organizações comunitárias, como escolas, creches e fábricas e na
coleta de informações sobre as necessidades de saúde da comunidade. É
esperado que estes médicos documentem a freqüência dos problemas de
saúde em suas unidades e planejem seu trabalho clínico para atender às
necessidades da população (UNICEF, 1991). No México, Costa Rica,
Nicarágua e diversos outros países, a educação médica é direcionada ao
treinamento de médicos com uma orientação comunitária; em algumas
faculdades, o trabalho na comunidade faz parte do currículo durante cada
ano de treinamento na faculdade de medicina (Braveman e Mora, 1987).
Várias tendências, tanto nos Estados Unidos como em outros
lugares, podem facilitar uma orientação cada vez mais comunitária da
unidade de atenção primária. Em primeiro lugar, organizações como os
sistemas de saúde integrados estão agora assumindo a responsabilidade
pela atenção das populações. Muitas delas , particularmente, nos sistemas
de saúde que, historicamente, or g anizaram seus serviços por área
geográfica, podem assumir cada vez mais responsabilidade pelos
serviços orientados para a comunidade. Em segundo lugar, o médico
não será mais o único “capitão do navio”. Conforme os pacientes
sobrevivem mais tempo e as cargas de morbidade aumentam nas
unidades de saúde da comunidade, outro pessoal de saúde tornar-se-á
cada vez mais central para evitar a morbidade e manter e bem-estar.
Em terceiro lugar, haverá uma consideração maior para tornar os
programas de treinamentos para profissionais mais relevantes às
necessidades em mudança na população. Em quarto lugar, a percepção
da necessidade de uma atenção à saúde mais eficaz e mais eficiente
desviará a atenção para a COPC. A COPC pode ajudar as comunidades
545
14. Saúde pública e Atenção Primária orientada para a comunidade
a se organizarem de forma mais eficiente para prevenir doenças e
promover saúde, além de estimular o uso mais discriminado das
tecnologias médicas. Finalmente, o advento do processamento de
informações cada ve z melhor decorrente de computadores altamente
eficientes e de alta capacidade facilitarão muito o manejo de dados de
várias fontes e as interligações de dados de várias fontes.
IDENTIFICAÇÃO E MONITORAMENTO DAS
NECESSIDADES DE SAÚDE DA COMUNIDADE
As necessidades de saúde da comunidade são notoriamente
difíceis de especificar com precisão e exatidão. Parte da dificuldade
decorre das dificuldades em definir necessidades, e parte decorre das
dificuldades na sua determinação.
O que quer dizer necessidade? As necessidades são definidas
basicamente pela ocorrência de condições que resultam em morte
prematura, ou a prevalência da própria condição é uma causa suficiente
para preocupação? Ou a incapacitação associada aos problemas de
saúde deter minariam as prioridades? Ou a extensão na qual as
condições resultam na ausência de trabalho ou escola? Ou,
alternativamente, as necessidades são definidas pelas falhas na
implementação de estratégias preventivas de forma que a saúde na
comunidade é colocada em risco?
A definição de necessidade vai variar de época para época e de
lugar para lugar, dependendo dos valores da sociedade e da
disponibilidade de dados. Em grande medida, a definição é uma questão
de valores: quem vale o quê para quem. Como algumas necessidades
são mais fáceis de medir do que outras, a definição também dependerá
do que pode ser avaliado em qualquer momento ou lugar.
Na maioria dos países industrializados, os sistemas de estatísticas
vitais fornecem as informações básicas a respeito das causas de morte
e a respeito de vários problemas de saúde determinados rotineiramente,
como baixo peso ao nascer ou doenças de notificação compulsória. As
estatísticas vitais são usadas vários anos como ponto de partida
546
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
para a avaliação das necessidades de saúde da comunidade e continuam
a ser úteis. P or exemplo, quando as taxas de mortalidade infantil são
maiores em uma cidade do que em outra, uma investigação dos motivos
para as diferenças é geralmente iniciada. As necessidades são, portanto,
definidas empiricamente, ou seja, por meio da comparação de uma área
com outras . Uma abordagem “normativ a” estabelece padrões ou metas
específicos que acredita-se são justificáveis com base no conhecimento
atual da prevenção e do tratamento.
Uma técnica para medir as necessidades de forma normativa
envolve uma lista de eventos-sentinela, ou seja, aquelas que deveriam
ocorrer apenas raramente na presença da atenção adequada. O
método é uma aplicação sistemática das diferenças observadas a partir
das estatísticas vitais (Rutstein et al., 1976). A lista contém mais de
100 problemas ou diagnósticos. Para a maioria dos problemas na lista,
a morte é prevenível com atenção médica precoce e adequada. Para
outros, tanto as estratégias preventivas como as terapêuticas impedirão
a morte prematura decorrente do problema. As estatísticas de morte
ou, em alguns casos, as estatísticas de registros de casos ou de
hospitalização fornecem os meios para identificar estes eventos-
sentinela. A ocorrência de um problema da lista deveria indicar a
realização de uma investigação para determinar se ele ocorreu devido
a serviços de saúde inadequados ou inapropriados na comunidade.
Esta lista de eventos-sentinela foi a base para o desenvolvimento
de um Atlas de mortalidade prevenível que forneceu detalhes para cada
região local em vários países da Europa e permitiu um estudo empírico
das diferenças entre as áreas (Holland, 1991, 1993). Foram encontradas
diferenças notáveis na mor talidade dentro dos países e entre eles.
Embora nenhum esforço tenha sido feito para determinar se os
indicadores estariam relacionados especificamente com o desempenho
da atenção primária, e não com o desempenho dos sistemas gerais de
saúde, uma revisão dos dados neste Atlas fornece as evidências de que
os países com atenção primária mais forte têm menor taxa de mortalidade
por doenças infecciosas (como tuberculose e infecções intestinais) e
menor taxa de mortalidade materna e perinatal. Entretanto , os problemas
para os quais as intervenções preventivas podem ser fornecidas na
547
14. Saúde pública e Atenção Primária orientada para a comunidade
atenção especializada, e não na atenção primária, como câncer de mama
e câncer uterino , tiv eram taxa de mortalidade menor nos sistemas de
saúde orientados para a especialidade. Para outros problemas (como
mortes por outros tipos de câncer, doenças cardiovasculares ou asma),
que são provavelmente muito influenciados por fatores, outros que
não a atenção médica (como clima, dieta ou estilos de vida), não houve
diferenças consistentes entre os países.
A sugestão de que os benefícios da atenção primária decorreriam
mais da f orma com que os problemas e necessidades são manejados,
e não da atenção preventiva orientada para a enf ermidade, condiz
com as evidências de que os especialistas orientados para a
enfermidade podem ser melhores na aplicação da atenção preventiva
dentro de sua área de atuação do que é o caso para os médicos de
atenção primária. Assim, os benefícios da prevenção na atenção
primária podem ser maiores para aqueles problemas que são genéricos,
e não para aqueles que estão relacionados a condições ou sistemas do
organismo. Embora existam algumas e vidências de que este pode ser
o caso (ver Capítulo 8), este assunto tem sido pouco explorado.
Uma abordagem normativa para a avaliação das necessidades de
saúde é o estabelecimento de metas. Este método entrou em vigor no
início dos anos 80 com a publicação do U.S. Surgeon General’s “Goals
and Objectives for the Nation” [Metas e objetivos do Ministro da Saúde
dos Estados Unidos para a Nação] (U.S. Department of Health and
Human Services, 1980). Estas metas derivaram de comitês de peritos
que selecionaram os problemas de saúde importantes que acreditavam
ser sensíveis a mudanças. Cada comunidade poderia adotar todas ou
algumas das metas e poderia destinar recursos para atendê-las quando
as freqüências basais sugerissem que um problema tratável estava
presente. Muitas metas para o ano de 1990 foram alcançadas no nível
nacional. O grau de variabilidade na obtenção das metas entre áreas
locais ou até mesmo entre estados não f oi verificado, embora seja
provável que muitas comunidades locais tenham modificado as metas.
As metas para os Estados Unidos para o ano de 2000 foram
publicadas em 1990 (U.S. Department of Health and Human Services,
1990). Os objetivos foram divididos em quatro tipos principais:
548
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
promoção de saúde, proteção da saúde, ser viços preventivos e
vigilância. São adaptáveis para uso no nível comunitário ou estadual.
Em pequenas comunidades, em que a freqüência de eventos é baixa
ou em que as estimativas de freqüência podem ser instáveis, os dados
podem ter que ser agregados por vários anos para terem utilidade.
Também foram estabelecidas metas para cada nação da região
européia. O Regional Of fice of the World Health Organization [Escritório
Regional da Organização Mundial da Saúde] (1994) forneceu a
estrutura com o conjunto de 37 objeções, conforme observado na
Tabela 14.5. Uma comparação das metas européias e norte-
americanas sugere um enfoque muito maior sobre o sistema de saúde
para o alcance das metas na Europa. Em particular, a atenção primária
é identificada como uma prioridade na Europa, mas é mencionada no
compêndio norte-americano apenas no contexto da coordenação da
atenção preventiva e episódica e no alcance das metas da medicina
preventiva clínica, como exames e imunizações.
A abordagem empírica para definir as necessidades de saúde,
na qual a meta é reduzir as disparidades entre diferentes áreas e
subgrupos da população, também passou por um aprimoramento. A
computadorização dos registros de saúde e do relatório padronizado
de motivos de hospitalizações possibilita a detecção de diferenças
nas taxas de doença nas comunidades locais. Conhecida como a
abordagem por microáreas de risco, este método fornece informações
que sugerem a existência de diferenças sistemáticas nas necessidades
de saúde entre diferentes comunidades. As microáreas de risco podem
ocorrer por vários motivos, incluindo diferenças reais na morbidade
devido a diferentes exposições ambientais ou devido a variações na
unidade médica que resultam em diferentes propensões a
hospitalização devido aos mesmos problemas. As diferenças
sistemáticas nas hospitalizações por problemas que se acredita serem
passíveis de prevenção, ou tratáveis em um estágio inicial de forma a
evitar a hospitalização, sugerem a existência de necessidades de saúde
que não estão sendo adequadamente atendidas em algumas
comunidades. Billings et al. (1989) foram pioneiros neste método em
um estudo de hospitalização em várias áreas metropolitanas.
549
14. Saúde pública e Atenção Primária orientada para a comunidade
Tabela 14.5Tabela 14.5
Tabela 14.5Tabela 14.5
Tabela 14.5
Saúde para todos no ano 2000: áreas da região
européia da OMS em que as metas foram especificadas*
* Números entre parênteses indicam o número de metas específicas
dentro da categoria
Fonte: Organização Mundial da Saúde (1994).
550
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Examinaram as taxas de hospitalização por problemas em que
um bom atendimento primário evitaria a progressão de doenças ao
estágio em que requerem hospitalização. O primeiro estudo, na
cidade de Nova Yor k, descobriu que estas taxas de admissão eram
três vezes mais altas nas áreas de baixa renda do que nas áreas de
alta renda (Billings et al., 1993). Em um estudo similar em
Washington, DC, os pacientes com um único profissional
encarregado por sua atenção ou tratamento tiveram metade da
probabilidade de serem hospitalizados por problemas do que aqueles
sem um profissional, sendo isso válido para baixa e alta renda (Billings
e Teicholz, 1990). Estudos similares pelo mesmo gr upo de
investigadores em 15 áreas urbanas diferentes nos Estados Unidos
confirmaram a existência de disparidades nestas taxas de
hospitalização entre os grupos de renda, mas não encontraram-nas
em três cidades de Ontário, Canadá, onde o acesso à atenção é
universal e as pessoas de baixa renda têm acesso similar aos serviços
de atenção primária como a maioria das pessoas favorecidas (Billings
et al., 1996). Um estudo paralelo em uma área na Espanha, um país
com acesso universal a bons serviços de atenção primária, também
não encontrou diferenças nas taxas de hospitalizações pediátricas
entre os grupos de renda (Casanova e Starfield, 1995). Um estudo
em três áreas no nordeste dos Estados Unidos apoiou a importância
de uma fonte de atenção primária ao demonstrar que as crianças
hospitalizadas com doenças agudas tinham mais doenças severas se
seu vínculo com uma fonte de atenção primária fosse ruim. Além
disso, as adequações tanto da atenção ao primeir o contato como da
coordenação, manifestadas pelo fato do paciente ter sido atendido
pelo profissional de atenção primária antes da hospitalização, ou do
profissional ter realizado o encaminhamento ao hospital, ou do
profissional ter acompanhado o paciente no hospital, variaram por
área e por tipo de plano de saúde. Os únicos achados que foram
consistentes entre as três áreas foram as altas taxas de coordenação
dos ser viços pelos médicos na unidade privada localizada na
comunidade ou no modelo em equipe das organizações de
551
14. Saúde pública e Atenção Primária orientada para a comunidade
manutenção da saúde (Perrin et al., 1996). A relação entre os serviços
de atenção primária e as taxas mais baixas de hospitalização para
estes problemas sensíveis à atenção ambulatorial foi mais
fortalecida por um estudo em todo o Estado da Pensilvânia. Apenas
o número de médicos de família por população estava
significativamente associado às taxas mais baixas de hospitalização
por estes problemas em adultos e crianças, mesmo depois do
controle para a renda de cada uma das 27 áreas do estado. Nem o
número de pediatras nem de internistas generalistas mostrou a
mesma associação (Parchman e Culler, 1994).
Muitos outros estudos mostraram que as taxas de hospitalização,
em geral e para problemas sensíveis à atenção ambulatorial em
particular, são mais altas onde o acesso à atenção é inferior, medido
pelas mudanças quando o acesso financeiro é retirado (Roemer et al.,
1975), por pesquisas na comunidade (Bindman et al., 1995), ou por
ausência de seguro (Weissman et al., 1992). Uma variante dos estudos
sobre microáreas de risco utilizou dados nacionais do Child Health
Supplement [Suplemento de Saúde Infantil] da National Health Interview
Survey [Pesquisa Nacional de Entrevista sobre Saúde] de 1988, ligado
aos dados no nível do condado a partir do Area Resource File [Arquivo
de Recursos da Área] do Ministério da Saúde e Assistência Social. O
estudo demonstrou que as crianças que residiam em condados cujo
número de médicos de atenção primária estava no quintil superior
tinham metade da chance de usar uma unidade de emergência como
sua fonte de atenção primária, em relação a crianças de locais onde o
número de médicos de atenção primária situava-se nos quintil mais
baixo (Halfon et al., 1996). Assim, as diferenças no uso das unidades
de emergência, particularmente quanto a necessidade de atenção não
é urgente, pode servir como uma medida da adequação da organização
e da prestação de serviços para atender às necessidades da população.
Qualquer comunidade com taxas de hospitalização mais altas do
que o esperado para problemas sensíveis à atenção ambulatorial deveria
examinar seus ser viços ambulatoriais para deter minar se estão
adequados na oferta da atenção necessária na comunidade. Por exemplo,
552
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
os serviços sociais adicionais ou enfermeiras para visitação ajudariam
a manter os indivíduos sob atenção em casa quando a severidade de
sua doença apenas não requer hospitalização? Os serviços de saúde
estão localizados de forma que os indivíduos que necessitam podem
chegar até eles? Os incentiv os econômicos para a oferta de determinados
serviços corrompem? Os serviços do médico são de qualidade? O
excesso de hospitalização é apenas um resultado das diferenças
idiossincráticas na propensão dos médicos locais a hospitalizar pacientes
devido a características específicas daqueles pacientes?
ATENDENDO ÀS PRIORIDADES DE SAÚDE DA
COMUNIDADE
Muitos peritos que trabalham na ár ea dos serviços locais de
saúde em todo o mundo, especialmente nos países em
desenvolvimento, acreditam que a orientação para a comunidade
requer a consideração não apenas das necessidades de saúde da
comunidade, mas também a capacitação das comunidades para que
desempenhem o papel principal na identificação dos determinantes
destas necessidades no planejamento de soluções par a atendê-las.
Estas abordagens são incomuns em países industrializados, mas, onde
existem, podem servir como modelos para outros.
A experiência em países desenvolvidos e em desenvolvimento
indica que a mudança contínua de comportamento é melhor
promovida pela participação da família e da comunidade do que pela
abordagem usual que estimula a dependência dizendo às pessoas o
que é de seu melhor interesse (Taylor, 1995).
Em algumas áreas do Canadá, a necessidade de serviços de
saúde baseada na comunidade é bem reconhecida. Os serviços de
saúde baseados na comunidade (CSCs) implicam enfoque sobre uma
variedade abrang ente de serviços de saúde não-institucionais e
relacionados que são, geralmente, sinônimo dos serviços de atenção
primária. Como a idéia do CSCS foi desenvolvida a partir da
553
14. Saúde pública e Atenção Primária orientada para a comunidade
experiência com vários tipos diferentes de unidades de saúde em
diferentes províncias (incluindo centros de saúde comunitários e os
Centros Locais de Serviços Comunitários (CLSC Centres Locaux des
Services Communitaires) em Quebec, além de redes de organizações de
atenção primária e órgãos de saúde pública), não um modelo
organizacional. Os CSCs compartilham metas em comum, entretanto,
incluindo efetividade do serviço, eficiência econômica, eqüidade,
empoderamento do consumidor e da comunidade e qualidade de vida
no trabalho para aqueles que trabalham no sistema. Embora existam
poucas experiências em outros lugares que possibilitem a especificação
de características organizacionais para alcançar estas metas, existem
alguns princípios fundamentais que orientam as atividades, incluindo
maior atenção à identificação das preferências do consumidor para
participar na tomada de decisões nos serviços de saúde (ver Capítulo
9); integ ração de serviços com as abordag ens multissetoriais e
interdisciplinares (ver Capítulo 5); o uso do financiamento baseado
na população ajustado para os diferentes níveis de saúde para alcançar
uma maior eqüidade nos serviços; e uma clara definição da área de
captação do serviço (embora seja reconhecido que o tamanho ótimo
de captação seja desconhecido).
A orientação para a comunidade do esforço canadense fica
evidente a partir das metas dos elementos estruturais de um sistema
de saúde local. A Tabela 14.6 indica as metas para definição da
população, os recursos que são necessários para oferecer os serviços
e as habilidades da equipe, os mecanismos de financiamento, a
estrutura de administração, a estrutura organizacional e o sistema de
informações. A ênfase no envolvimento da comunidade em todos os
níveis da tomada de decisão é evidente. Nenhuma meta específica
para o desempenho ou resultados do CSC está prescrita, uma vez que
se reconhece que as comunidades diferem e que as necessidades
mudam de lugar para lugar e de época para época. Entretanto, um
modelo para o desenvolvimento dos planos da comunidade e a
avaliação com base nos componentes da estrutura, processo e
resultado orientam as atividades das diferentes comunidades.
554
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Os consultórios individuais, de atenção primária, também
podem se engajar nas atividades que identificam e respondem às
necessidades de saúde da comunidade. Um destes esforços, o Patient
Advisory Council [Conselho de Assessoria ao Paciente], tem sido
utilizado com sucesso em uma unidade de família de taxa por serviço,
em Minnesota. A unidade definiu sua população de pacientes e
convidou todos os membros a se unirem ao conselho e comparecerem
a quatro reuniões por ano. Além disso, as atividades contínuas do
Conselho são direcionadas para a melhoria de vários aspectos dos
serviços. A tomada de decisão é compartilhada com o Conselho. Um
Tabela 14.6Tabela 14.6
Tabela 14.6Tabela 14.6
Tabela 14.6
Serviços de saúde baseados na comunidade no Canadá: metas estruturais
Fonte: Wanke et al. (1996)
555
14. Saúde pública e Atenção Primária orientada para a comunidade
comitê do Conselho ( Ser vices Improvement Committee [Comitê para
Melhoria dos Serviços]) ajudou a unidade a melhorar o entendimento
das necessidades da comunidade. Como resultado, a unidade teve
menos processos por imperícia do que as outras na área. Além disso,
os dados epidemiológicos mostram que a unidade identifica os
problemas psicossociais na população em taxas comparáveis àquelas
verificadas a partir dos estudos na comunidade, enquanto as taxas
em outras unidades são muito mais baixas (Seifert e Seifert, 1982).
Conforme aumenta a capacidade de coletar dados a partir de
um número e variedade crescentes de fontes, novas possibilidades
para identificação de tipos diferentes de necessidades de saúde surgirão
na comunidade. Um conjunto de dados padronizados para a atenção
ambulatorial que relata, rotineiramente, todos os problemas e
diagnósticos feitos no consultório ou no centro de saúde esclarecerá
a existência de problemas que, geralmente, não causam morte ou
hospitalização. Novos sistemas para o esclarecimento e categorização
de tipos diferentes de incapacitação, limitação da atividade e
interferência com os papéis sociais como resultado dos problemas de
saúde tornarão possível utilizar estes tipos de informações para avaliar
as necessidades de saúde da comunidade de outras formas que não as
estatísticas tradicionais de morbidade e mortalidade. Abordagens
melhores e menos custosas para a pesquisa das populações fora das
unidades de saúde fornecerão um outro caminho para identificar novos
tipos de necessidades em saúde, além de fornecer um quadro mais
completo das necessidades de saúde do que aquele obtido a partir de
dados a respeito dos indivíduos que receberam os serviços.
O desenvolvimento de tecnologia para coleta e processamento
de informações cer tamente facilitará o alcance das etapas iniciais da
COPC. A tecnologia médica aprimorada expandirá a definição de
necessidades de saúde; conforme os problemas existentes são resolvidos,
novos desafios em outro nível de necessidade surgirão. A atenção
orientada para a comunidade não pode ser alcançada em todos os
lugares, nem no mesmo grau. Entretanto, é um conceito que agora é
apropriado para a consideração conforme os desafios do século XXI
se aproximam.
556
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
ATENÇÃO PRIMÁRIA E SAÚDE PÚBLICA
ORIENTADAS PARA A COMUNIDADE
O advento da atenção gerenciada, na qual as unidades de
medicina clínica assumem a responsabilidade por toda a atenção de
uma população definida, provavelmente confundirá os limites entre
a saúde pública convencional e a medicina clínica. A Tabela 14.7
delineia os diferentes tipos de intervenção dentro dos sistemas de
serviços de saúde. As linhas da tabela indicam o tipo de população
para a qual a intervenção é indicada, indo verticalmente para baixo a
partir das populações ag r eg adas (nas quais a intervenção objetiva
atingir a população como um todo, e não os indivíduos), para
populações como um todo, mas objetivando atingir indivíduos dentro
destas populações, para indivíduos dentro destas populações que são
selecionados de acordo com a presença de algum fator de risco
suspeito ou conhecido, ou para indivíduos porque têm alguma
característica individual. As colunas da tabela são divididas de acordo
com o tipo de função, variando de primária (quando a intervenção é
indicada para impedir a ocorrência de um problema), para secundária
(na qual a patologia é detectada antes que se manifeste) e para terciária
(que envolve o impedimento da progressão da patologia, sua reversão
ou cor reção de seus efeitos). A Tabela 14.8 identifica o locus de
responsabilidade pela intervenção conforme seu tipo. É improvável
que os serviços da medicina clínica assumam a responsabilidade por
todas ou pela maioria das atividades da linha superior da tabela,
envolvendo atividades referentes ao planejamento, monitoramento
ou regulamentação ambiental; monitoramento ou regulamentação de
produtos; ou recursos sociais e legais para abordar as ameaças à saúde
da população. Por outro lado, as intervenções nas outras nove células
poderiam, teórica ou realmente, recair no reino da responsabilidade
tanto do setor de saúde pública como da medicina clínica,
particularmente se a saúde pública f or definida como “esforços
organizados da comunidade com o objetivo de prevenir doenças e
promover a saúde” (Holland et al., 1991).
557
14. Saúde pública e Atenção Primária orientada para a comunidade
O potencial de colaboração entre a medicina clínica e a saúde
pública foi documentado por uma revisão de mais de 500 iniciativas
existentes nos Estados Unidos em meados dos anos 90 (Lasker, 1997).
Seis tipos de “sinergias” foram identificadas:
melhoria dos serviços a través da coordenação da atenção
para os indivíduos;
Tabela 14.7Tabela 14.7
Tabela 14.7Tabela 14.7
Tabela 14.7
Exemplos de intervenções por tipo de função e grupo alvo
* Tipo de função: Primária: intervenção para impedir que um problema ocorra; secundária:
intervenção em um estágio antes do problema se manifestar; terciária: correção para reverter
as manifestações do problema
As atividades envolvem o monitoramento das estatísticas de saúde e a pesquisa do estado de
saúde, acesso e experiências pessoais com os serviços
Esse esforço deve sempre ser considerado ético ou prático.
Tabela 14.8Tabela 14.8
Tabela 14.8Tabela 14.8
Tabela 14.8
Locus
de responsabilidade para as intervenções pelo tipo de função
e grupo alvo
SP: saúde pública; AC: atenção médica clínica
Fonte: Starfield (1996).
558
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
melhoria do acesso à atenção por meio do estabelecimento
de estr uturas para a oferta de serviços para o não-
segurado;
melhoria da qualidade e do custo-efetividade dos serviços
mediante aplicação de uma perspectiva populacional à
unidade médica;
utilização da unidade clínica para identificar e tratar dos
problemas de saúde da comunidade;
fortalecimento da promoção e proteção da saúde através
de campanhas de mobilização da comunidade;
formatação da futura orientação do sistema de saúde pela
colaboração acerca de política, treinamento e pesquisa.
Assim, parece provável que o campo da atenção primária
orientada para a comunidade possa, com o tempo, se fundir com o
da saúde pública com muitos modelos diferentes de trabalho em
equipe se unindo em diferentes áreas, dependendo das escolhas
feitas pelas próprias localidades. O papel das administrações
centrais e regionais será estabelecer a estrutura para avaliação das
necessidades e os princípios g erais para avaliação do impacto. A
ausência generalizada de sucesso no mundo todo no alcance de
uma forte orientação para a comunidade de qualquer sistema de
atenção primária, outros além dos locais confor me descritos
anterior mente neste capítulo, pode ser devida à f luidez dos limites
entre os dois campos orientados para a população e, especialmente,
à ausência de metas e obrigações claras para que a atenção e a
energia das comunidades sejam focalizadas.
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VV
VV
V
Política de Saúde
e Atenção Primária
565
O capítulo 1 contém uma descrição da relação entre as
características da atenção primária em 11 nações ocidentais
industrializadas diferentes, e sua relação com os níveis de saúde e
custos dos serviços de saúde. Aquele estudo utilizou informações
referentes ao final dos anos 80. Desde aquela época, os sistemas de
saúde de muitos países passaram por reformas no financiamento e
organização. A maioria das reformas, que ainda está em andamento,
foi projetada para reduzir o aumento inexorável nos custos da atenção
à saúde em todo o mundo, como um resultado de tecnologias novas e
caras, do envelhecimento da população e da mudança nos padrões de
morbidade. A extensão na qual as reformas mudaram a unidade de
atenção primária não é bem conhecida; apenas algumas delas foram
projetadas especificamente para fazê-lo. Embora os pilares filosóficos
da maioria dos sistemas nacionais de saúde possam não ter sido
afetados, este pode não ser o caso para as políticas de saúde específicas
relacionadas ao alcance dos objetivos da atenção primária. Por
exemplo, a imposição de co-pagamentos pode afetar o acesso aos
médicos de atenção primári a e o alcance da atenção ao primeiro
contato, par ticularmente, se as reformas não forem acompanhadas
por exigências de “porta de entrada”. A reorientação dos serviços de
atenção primária de médicos individuais para grupos pode interferir
com a longitudinalidade se interferir na manutenção de fortes relações
interpessoais entre os pacientes e seus profissionais. O melhor
planejamento e org anização dos serviços conseqüente à formação de
g rupos formais ou de sistemas de saúde que integram os serviços de
atenção primária com ser viços de consultoria (secundário) e de
15. SISTEMAS DE ATENÇÃO
PRIMÁRIA EM NAÇÕES
OCIDENTAIS INDUSTRIALIZADAS
566
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
encaminhamento (terciário) pode alterar a integralidade dos serviços
oferecidos pelos profissionais de atenção primária e mudam a natureza
da coordenação da atenção de formas imprevistas.
Este capítulo apresenta dados a respeito das características
de sistemas nacionais de saúde que conduzem à orientação para a
atenção primária (prioridades políticas no nível nacional), bem como
as informações a respeito das características da unidade que ref letem
uma boa atenção primária. Apenas nações industrializadas estão
incluídas na comparação para minimizar os possíveis efeitos que
causam confusões de características históricas, culturais e filosóficas
amplamente discrepantes de países orientais e ocidentais e o impacto
da riqueza nacional sobre as características e funções do sistema de
saúde. Apenas países com populações de 5 milhões de habitantes
ou mais são apresentados, embora informações comparáveis estejam
disponíveis sobre vários países menores (ver, por exemplo, Grant et
al. [1997] referente à Nova Zelândia). Outros países que atendem a
estes critérios foram omitidos porque não existem dados atuais
comparáveis disponíveis.
As características da política incluem quanto o sistema regula
a distribuição de recursos por todo o país; o tipo modal de
profissional de atenção primária; a forma de financiamento dos
ser viços de atenção primária; a porcentag em de médicos em
atividade envolvidos na atenção primária, e não em outra atenção
especializada; a proporção de honorários profissionais médios dos
médicos de atenção primária em comparação a outros especialistas;
o local mais comum de serviços de atenção primária; a necessidade
de um cadastro de pacientes para identificar a comunidade atendida
pelas unidades; providências para acesso 24 horas; necessidade de
divisão de custos por parte dos pacientes; a forma de reembolso
dos médicos de atenção primária e outros especialistas; o papel do
médico de atenção primária na prestação de atendimento hospitalar
a seus pacientes; se os especialistas possuem ou não consultórios
na comunidade fora dos hospitais ; e a força dos departamentos
acadêmicos de clínica geral em atenção primária.
567
15. Sistemas de Atenção Primária em nações ocidentais industrializadas
As características da prática incluem atenção ao primeiro
contato; longitudinalidade; integralidade; coordenação;
centralização na família; orientação para a comunidade; e
freqüência de visitas domiciliares.
A seção a seguir descreve os países e suas características.
*
Para
classificar a orientação da atenção primária de cada país, cada
característica recebeu um escore de 0 (denotando a ausência ou um
fraco desenvolvimento da característica) a 2 (denotando um alto
nível de desenvolvimento da característica). Um escore 1 foi
atribuído se havia um desenvolvimento moderado da característica.
A Ta bela 15.1 descreve os critérios para os escores do sistema de
saúde e das características da unidade. Os escores não ponderados
para cada país tiveram sua média calculada para derivação de um
“escore de atenção primária”.
Os escores para cada país ref letem as características da for m a
mais comum dos serviços apenas e não de outros sistemas que
possam prestar a atenção mais adequada a determinados segmentos
da população.
Nas descrições que seguem dos países, a classificação para
cada uma das características que recebeu um escore está indicada
entre parênteses.
*
As principais fontes de informação são Organization for Economic Cooperation and
Development Health Policy Studies No. 7 (1995); Fr y e Horder (1994); Boerma et al.
(1994) (reimpressão da publicação de 1993); Statistics Netherlands (1996); e documentos
oficiais (como perfis dos países OMS-EURO). Estou particularmente em dívida com
John Horder, que me levou a muitas fontes publicadas de informações e me forneceu o
benefício de sua grande sabedoria. Outros indivíduos (e organizações) que foram de
gr ande ajuda incluem Juan Gérvas (Madri); Wienke Boerma na NIVEL; Ellie Tragakes e
Janet Leifelt (OMS-EURO); Stephen Buetow, Martin Roland, Francois Mennerat (St.
Eienne); Simone Sandier (Paris); Jande Maeseneer (Ghent); Ruut de Melker (Utrecht);
Margo Rowan e equipe da Canadian Medical Association (Ottawa); Robert Reid (Canadá);
Bronnie Veale (Flinders, Austrália); Anne Staehr Johansen (Copenhagen); Esko Kalimo,
Ilkka Vohlonen e Pertti Kekki (Helsinque); Lenart Carlsson e Lars Linder (Estocolmo);
Alexandra Prados (Granada); Jon Orueta (Bilbao); Sebastian Juncosa (Barcelona); e
Javier Elola (Madri).
568
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Tabela 15.1Tabela 15.1
Tabela 15.1Tabela 15.1
Tabela 15.1
Critérios para classificação dos sistemas de saúde e características da
unidade relacionadas à Atenção Primária
569
15. Sistemas de Atenção Primária em nações ocidentais industrializadas
Tabela 15.1Tabela 15.1
Tabela 15.1Tabela 15.1
Tabela 15.1
Critérios para classificação dos sistemas de saúde e características da
unidade relacionadas à Atenção Primária (continuação)
570
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
CARACTERÍSTICAS DOS PAÍSES EM RELAÇÃO
À ATENÇÃO PRIMÁRIA
Alemanha
Tipo de sistema: não regulado
*
(0)
Financiamento: mais de 1.000 fundos separados cobrem mais de
90% da população (contribuições empregador-empregado) (1)
Tipo de profissional de atenção primária: médicos generalistas
(embora outros especialistas possam oferecer a “atenção primária”) (1)
Porcentagem de médicos em atividade que são especialistas: 81% (0)
Honorários profissionais dos médicos de atenção primária em relação
aos especialistas: 1:1,4 no setor ambulatorial; disparidade muito maior
no sistema como um todo (0)
Divisão de custos para a atenção primária: apenas de determinados
serviços; exceção para baixa renda (2)
Cadastro de pacientes: não. Cartões com chip vinculam o paciente
e o médico por períodos de três meses (0)
Exigências para cobertura 24 horas: os médicos nas áreas locais
dividem a cobertura (1)
Força dos de partamentos acadêmicos de medicina de família: alguns
são fortes (1)
*
Em 1993, a Health Care Structure Law [Lei da Estruturação da Atenção à Saúde] mudou
algumas das políticas referentes aos serviços de saúde na estrutura ambulatorial. Pela
primeira vez, existe uma clara separação entre médicos generalistas e especialistas no
setor ambulatorial, com treinamento obrigatório em clínica geral e consultorias exigidas
com um médico generalista antes de consultar um especialista. Certos serviços de médicos
generalistas (especialmente preventivos) receberão taxas mais altas, apesar do amplo
espectro da clínica, incluindo procedimentos diagnósticos, permanecer desencorajado.
A legislação para estabelecer a proporção de médicos fixos para a população de cada área
geográfica, com uma relação de 1 médico generalista para 2.000 habitantes e com quase
60% de todas as áreas fechadas para novas unidades (e menos áreas abertas para os
médicos generalistas do que para os especialistas), não é aceita pelos médicos e é esperado
que eles recorram à justiça.
571
15. Sistemas de Atenção Primária em nações ocidentais industrializadas
Atenção primária organizada por área geográfica definida: não
Unidade mais comum da prática de atenção primária: consultório
individual
Reembolso dos médicos de atenção primária: taxa por serviço
Reembolso de especialistas: taxa por serviço (salário em hospitais)
Atenção dos médicos generalistas para pacientes hospitalizados: não
Especialistas restritos aos hospitais: não
Primeiro contato: não* (0)
Longitudinalidade: fraca (0)
Integralidade: fraca* (0)
Coordenação: fraca (0)
Centralização da família: fraca (0)
Orientação para a comunidade: fraca (0)
Austrália
Tipo de sistema: atenção primária parcialmente não-regulada;
incentivos para unidades em áreas rurais; número de cobranças deve
ser racionado por área (1)
Financiamento: seguro nacional de saúde, universal, baseado nos
impostos (2)
Tipo de profissional de atenção primária: médico de família/
generalista (2)
Porcentagem de médicos em atividade que são especialistas: mais
generalistas do que especialistas (2)
Honorários profissionais dos médicos de atenção primária em relação
aos especialistas: aproximadamente 1:2 (0)
Divisão de custos para a atenção primária: 80% dos médicos
generalistas conta bruta (os pacientes não pagam nada). De outra
forma, baixo co-pagamento. (2)
Cadastro de pacientes: nenhum (0)
Exigências para cobertura 24 horas: parte da obrigação no registro
vocacional (serviços substitutos) (0)
Força dos departamentos acadêmicos de medicina de família: moderada (1)
572
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Unidade mais comum da prática de atenção primária: unidade isolada
Reembolso dos médicos de atenção primária: taxa por serviço, contas
extras permitidas (20% dos médicos generalistas fazem isso)
Reembolso de especialistas: taxa por ser viço (na prática de
consultório)
Atenção dos médicos generalistas para pacientes hospitalizados: não,
exceto em áreas rurais
Especialistas restritos aos hospitais: não
Atenção primária organizada por área geográfica definida: não
Primeiro contato: sim; acesso a especialistas através do
encaminhamento da atenção primária (2)
Longitudinalidade: variável (1)
Integralidade: variação extensiva (2)
Coordenação: fraca entre os médicos generalistas e os especialistas (0)
Centralização da família: sim (2)
Orientação para a comunidade: moderada a ruim (0)
Bélgica
Tipo de sistema: atenção primária não regulada (0)
Financiamento: virtualmente universal (98%); mais da metade
(52%) através de contribuições empregador-empregado (1)
Tipo de profissional de atenção primária: profissional de família
(geral) (2)
Porcentagem de médicos em atividade que são especialistas: 46% (1)
Honorários profissionais dos médicos de atenção primária em relação
aos especialistas: não disponível
Divisão de custos para a atenção primária: alta (25%), exceto 10%
para grupos “vulneráveis” (0)
Cadastro de pacientes: não (0)
Exigências para cobertura 24 horas: não (0)
Força dos departamentos acadêmicos de medicina de família: regular (1)
Unidade mais comum da prática de atenção primária: consultórios
individuais de médicos generalistas
573
15. Sistemas de Atenção Primária em nações ocidentais industrializadas
Reembolso dos médicos de atenção primária: taxa por ser viço, direto
do paciente, reembolsado parcialmente, exceto isenção de
pagamento par a baixa renda. Taxa negociada, o médico não está
vinculado a ela (conta e xtra permitida)
Reembolso de especialistas: taxa por serviço
Atenção dos médicos generalistas para pacientes hospitalizados: não
Especialistas restritos aos hospitais: não
Atenção primária organizada por área geográfica definida: não
Primeiro contato: não (0)
Longitudinalidade: não (0)
Integralidade: fraca. Atenção preventiva feita principalmente
pela saúde púb lica, incluindo atenção relacionada à g estação, saúde
mental de pacientes ambulatoriais, saúde escolar, saúde ocupacional,
atenção preventiva para menores de 5 anos (0)
Coordenação: fraca (0)
Centralização da família: fraca (0)
Orientação para a comunidade: fraca (0)
Canadá
Tipo de sistema: parcialmente regulado (incentivo). Em Quebec,
regulado, mas distribuição global dos médicos de família (1)
Financiamento: cobertura universal; baseado nos impostos (2)
Tipo de profissional de atenção primária: médicos generalistas e
pediatras (1,5)
Porcentagem de médicos em atividade que são especialistas: 49% (2)
Honorários profissionais dos médicos de atenção primária em relação
aos especialistas: aproximadamente 2:3 (mais alta em áreas r u rais) (0)
Divisão de custos para a atenção primária: não (2)
Cadastr o de pacientes: não. Algumas propostas para introdução
de registros (0)
Exigências para cobertura 24 horas: moderada (por obrigação
social) (1)
Força dos de par tamentos acadêmicos de medicina de família: for te (2)
574
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Unidade mais comum da prática de atenção primária: unidades em
grupo (67%)
Reembolso dos médicos de atenção primária: taxa por serviço
(negociada), mas a taxa por procedimentos é baixa. Algumas províncias
estabelecem cobertura global
Reembolso de especialistas: taxa por serviço (negociada)
Atenção dos médicos generalistas para pacientes hospitalizados:
basicamente em áreas rurais
Especialistas restritos aos hospitais: não
Atenção primária organizada por área geográfica definida: não
Primeiro contato: sim, por meio de incentivos (os especialistas
recebem menos se o paciente for auto-encaminhado) (1)
Longitudinalidade: variável (1)
Integralidade: boa. A atenção preventiva é boa na atenção
primária; em áreas rurais, os médicos generalistas fazem metade de
todos os partos normais e 20% das cesarianas (2)
Coordenação: moderada. Política profissional, mas nem sempre
seguida (0,5)
Centralização da família: geralmente boa (1)
Orientação para a comunidade: variável (0,5)
Dinamarca
Tipo de sistema: atenção primária regulada (2)
Financiamento: virtualmente universal; baseado nos impostos (2)
Tipo de profissional de atenção primária: médicos de família
(generalistas) (2)
Porcentagem de médicos em atividade que são especialistas: 75%, incluindo
especialistas baseados na comunidade com acesso direto (0)
Honorários profissionais dos médicos de atenção primária em relação
aos especialistas: 1:1 (2)
Divisão de custos para a atenção primária: baixa (2)
Cadastro de pacientes: sim (2)
Exigências para cobertura 24 horas: sim, obrigação legal (2)
Força dos departamentos acadêmicos de medicina de família: forte (2)
575
15. Sistemas de Atenção Primária em nações ocidentais industrializadas
Unidade mais comum da prática de atenção primária: unidade isolada/
em grupo (33%/49%)
Reembolso dos médicos de atenção primária: cerca de 1/4 de capitação,
3/4 de taxa por serviço incluindo cirurgias menores, alguns exames
diagnósticos, atenção relacionada à gestação, atestados, mas não para
atenção preventiva
Reembolso de especialistas: taxa por serviço na comunidade; salário
em hospitais
Atenção dos médicos generalistas para pacientes hospitalizados: não
Especialistas restritos aos hospitais: sim, exceto oftalmologistas e
otorrinolaringologistas, bem como especialistas “Midi” que realizam
cirurgias pequenas, angiografia
Atenção primária organizada por área geográfica definida: sim (raio
de 10 km)
Primeiro contato: sim, mas com acesso direto a
otorrinolaringologistas e oftalmologistas (2)
Longitudinalidade: sim, mas deve mudar se sair da área do médico (2)
Integralidade: alta. Ser viços preventivos fortemente
desenvolvidos; excelentes relacionamentos com as enfer meiras
comunitárias, de saúde mental (2)
Coordenação: moderada. Os médicos generalistas recebem
devolução de especialistas e enfermeiras de pacientes ambulatoriais,
mas fraca comunicação com os especialistas nos hospitais (1)
Centralização da família: alta. As crianças são indicadas aos
mesmos médicos generalistas que os pais (2)
Orientação para a comunidade: moderada (1)
Espanha
Tipo de sistema: regulado (2)
Financiamento: 99%; a maior parte baseada nos impostos (2)
Tipo de profissional de atenção primária: médicos de família
(generalistas) e pediatras (1,5)
Porcentagem de médicos em atividade que são especialistas: 63% (1)
576
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Honorários profissionais dos médicos de atenção primária em relação
aos especialistas: aproximadamente equivalente (2)
Divisão de custos para a atenção primária: não (2)
Cadastro de pacientes: sim (2)
Exigências para cobertura 24 horas: em áreas rurais. Serviço delegado
nas áreas urbanas (grande uso do serviço de emergência) (0)
Força dos de partamentos acadêmicos de medicina de família: fraca (0)
Unidade mais comum da prática de atenção primária: centros de saúde
(em áreas reformadas)
Reembolso dos médicos de atenção primária: salário (alguns utilizam
a capitação)
Reembolso de especialistas: salário (nos hospitais); salário no setor
ambulatorial (parte do serviço hospitalar)
Atenção dos médicos generalistas para pacientes hospitalizados: não
Especialistas restritos aos hospitais: não
Atenção primária organizada por ár ea geográfica definida: sim, os
centros de saúde atendem de 5.000 a 25.000 habitantes
Primeiro contato: sim, mas com livre acesso a pediatras e
oftalmologistas (2)
Longitudinalidade: forte associação com o médico individual de
atenção primária (2)
Integralidade: moderada. Pouca na ginecologia e em cirurgias
menores (1)
Coordenação: fraca qualidade de comunicação (0)
Centralização da família: boa. O tamanho do cadastro inclui os
membros da família (2)
Orientação para a comunidade: fraca a boa (depende do centro de
saúde) (1)
Estados Unidos
Tipo de sistema: não regulado; cerca de 20% Organizações de
Manutenção da Saúde (HMOs), 50% outra atenção gerenciada; 30%
outros (0)
577
15. Sistemas de Atenção Primária em nações ocidentais industrializadas
Financiamento: 16% não cobertos, provavelmente duas vezes esse
valor em algum momento durante o ano (0)
Tipo de profissional de atenção primária: médicos de família
(generalistas), internistas generalistas, pediatras (1)
Porcentagem de médicos em atividade que são especialistas: 61% (se
medicina interna geral e pediatria forem contados como atenção
primária; mais de 80% em caso contrário) (1)
Honorários profissionais dos médicos de atenção primária em relação
aos especialistas: 0,6-0,7 (0)
Divisão de custos para a atenção primária: alta (20% a mais das
deduções, geralmente menos no caso da HMO) (0)
Cadastro de pacientes: sim nas HMOs, algumas vezes em outras
atenções gerenciadas; Não em outras (0-1)
Exigências para cobertura 24 horas: sim nas HMOs; não em outras (0-1)
Força dos departamentos acadêmicos de medicina de família: alguns
excelentes (1)
Unidade mais comum da prática de atenção primária: geralmente
grupos (especialmente individuais e multiespecializados)
Reembolso dos médicos de atenção primária: variável. A maioria ainda
cobra taxas pelo serviço
Reembolso de especialistas: a maioria por taxa por serviço (salário
e bonificação nos estabelecimentos acadêmicos)
Atenção dos médicos generalistas para pacientes hospitalizados: variável
Especialistas restritos aos hospitais: não
Atenção primária organizada por área geográfica definida: não
Primeiro contato: sim nas HMOs; variável em outras atenções
gerenciadas; não em outras (0-2)
Longitudinalidade: variável, provavelmente diminuindo com o
passar do tempo (0)
Integralidade: variável. A atenção preventiva está aumentando
(HMOs); cobertura global provavelmente diminuindo com as novas
exclusões de cobertura financeira (0)
578
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Coordenação: variável, depende do estabelecimento e do
patrocínio. Provavelmente fraca no geral (0)
Centralização da família: boa para os médicos de família; ruim
para outros (fraca no geral) (0-1)
Orientação para a comunidade: fraca (0)
Finlândia
Tipo de sistema: público, baseado no centro de saúde (atenção
primária regulada) com setor privado substancial (2)
Financiamento: 100%; baseado nos impostos (2)
Tipo de profissional de atenção primária: médicos de família
(generalistas) (2)
Porcentagem de médicos em atividade que são especialistas: 63% 68% (1)
Honorários profissionais dos médicos de atenção primária em relação
aos especialistas: 1:1 (2)
Divisão de custos para a atenção primária: substancial ($17-$20 ou
50 marcos para as três primeiras consultas num ano, exceto crianças e
idosos) (1)
Cadastro de pacientes: apenas um terço dos médicos generalistas
possui cadastro (1)
Exigências para cobertura 24 horas: sim, pelos médicos nos centros
de saúde (2)
Força dos departamentos acadêmicos de medicina de família: forte (2)
Unidade mais comum da prática de atenção primária: centros de saúde
(55% de todas as consultas)
Reembolso dos médicos de atenção primária: salário e taxa por
ser viço por hora extr a em 60%; capitação e taxa para serviços por
hora extra (40%)
Reembolso de especialistas: salário, mas no setor privado pagamento
substancial por taxa por serviço com cobrança direta aos pacientes;
40% das consultas particulares são encaminhadas pelo setor público
Atenção dos médicos generalistas para pacientes hospitalizados: não,
mas a maioria dos centros de saúde possui leito para atenção
crônica/asilo
579
15. Sistemas de Atenção Primária em nações ocidentais industrializadas
Especialistas restritos aos hospitais: sim no setor público (cerca de
70%), não no setor privado (30%). Especialistas em hospitais
geralmente trabalham em outros horários no setor privado
Atenção primária organizada por área geográfica definida: sim
Primeiro contato: sim, no setor público. Efetivamente, apenas cerca
de 25% das pessoas têm atenção ao primeiro contato. Qualquer
paciente pode ir a um médico particular e pedir um encaminhamento
a um hospital (1)
Longitudinalidade: moderada. A escolha do médico é limitada,
mas possível. No geral, fraca durante 1990-95, mas melhorando devido
ao aumento do uso de cadastros (36%) (1)
Integralidade: variação extensiv a; excelente variedade de serviços (2)
Coordenação: nenhuma diretriz formal; fraca coordenação com
especialistas, boa na atenção a longo prazo (1)
Centralização da família: fraca (0)
Orientação para a comunidade: alta (2)
França
Tipo de sistema: não regulado (0)
Financiamento: 100%; seguro social empregador-empregado
(65%) (1)
Tipo de profissional de atenção primária: médicos de família
(generalistas) e especialistas (ginecologistas para muitas mulheres e
pediatra para a atenção preventiva em crianças) (1)
Porcentagem de médicos em atividade que são especialistas: 50% (2)
Honorários profissionais dos médicos de atenção primária em relação
aos especialistas: 1:2 (0)
Divisão de custos para a atenção primária: alta; 30% do programa
de taxas combinado e acréscimo na cobrança são comuns, mas os co-
pagamentos são z ero para g rupos vulneráveis e doença de long a
duração. Os pacientes pagam e são reembolsados pelo seguro social
ou privado, se o tiverem (0)
Cadastro de pacientes: não. Algumas propostas par a instituir
registros (0)
580
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Exigências para cobertura 24 horas: moderada (obrigação social) (1)
Força dos de par tamentos acadêmicos de medicina de família: fraca (0)
Unidade mais comum da prática de atenção primária: unidade
isolada (80%)
Reembolso dos médicos de atenção primária: taxa por serviço
(de acordo com o programa de taxas com cobertura global das
despesas para ser viços de médicos generalistas); uma lista de
mais de 4.000 ser viços que são reembolsáveis); um terço dos
médicos generalistas atende em hospitais e, assim, é assalariado;
15% trabalham em centros de saúde (assalariados)
Reembolso de especialistas: taxa por ser viço, exceto em hospitais
(assalariado)
Atenção dos médicos generalistas para pacientes hospitalizados: não
Especialistas restritos aos hospitais: não
Atenção primária organizada por área geográfica definida: não
Primeiro contato: não (0)
Longitudinalidade: embora a maioria dos pacientes possa
nomear seu médico generalista, geralmente vão a outro lugar (0)
Integralidade: fraca; a atenção preventiva, geralmente, não está
integrada à clínica geral (0)
Coordenação: fraca. Nenhuma troca de informações entre os
gener alistas e os especialistas. A partir de 1997 os pacientes devem
trazer a “carte santé” (registro de consultas e procedimentos), mas
menos de 50% deles o fazem (0)
Centralização da família: fraca (0)
Orientação para a comunidade: fraca (0)
Países Baixos
Tipo de sistema: regulado (2)
Financiamento: 70% da população no sistema “público” (sistema
de seguro social empregador-empregado); 30% com seguro privado;
100% no programa de cobertura para catástrofes (baseado nos
581
15. Sistemas de Atenção Primária em nações ocidentais industrializadas
impostos) (planos para converter todo o sistema em baseado nos
impostos) (1)
Tipo de profissional de atenção primária: médicos de família
(generalistas); enfermeiras comunitárias inde pendentes; par teiras
independentes; fisioterapeutas independentes (2)
Porcentagem de médicos em atividade que são especialistas: 67% (1)
Honorários profissionais dos médicos de atenção primária em relação
aos especialistas: 2:3 (0)
Divisão de custos para a atenção primária: nenhuma para pacientes
“públicos” (70%) (0)
Cadastr o de pacientes: sim. Tamanho médio do cadastro de 2.350
pacientes. Em grupos, o cadastro pode ser a lista do grupo (2)
Exigências para cobertura 24 horas: sim (obrigação legal) (2)
Força dos de par tamentos acadêmicos de medicina de família: for te (2)
Unidade mais comum da prática de atenção primária: consultório
individual (54%) ou pequenos gr upos
Reembolso dos médicos de atenção primária: capitação para
pacientes “púb licos” (2/3); 1/3 por taxa por serviço
Reembolso de especialistas: salário desde 1995
Atenção dos médicos generalistas para pacientes hospitalizados: não
Especialistas restritos aos hospitais: sim
Atenção primária organizada por área geográfica definida: sim
Primeiro contato: sim, nos setores público e privado (2)
Longitudinalidade: sim (2)
Integralidade: prevenção separada da clínica geral, ou seja, a
atenção primária é abrangente, embora não necessariamente através
do profissional geral. Extenso trabalho em equipe (2)
Coordenação: fraca. As cartas entre os médicos generalistas e
os especialistas são exigidas, mas raramente escritas (1)
Centralização da família: sim (2)
Orientação para a comunidade: fraca, exceto para as relações com
as enf ermeiras visitadoras, fisioterapeutas. (1)
582
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Reino Unido
Tipo de sistema: regulado (2)
Financiamento: 100%; baseado nos impostos (2)
Tipo de profissional de atenção primária: médicos de família
(generalistas) (2)
Porcentagem de médicos em atividade que são especialistas: 40% (2)
Honorários profissionais dos médicos de atenção primária em relação
aos especialistas: 1:1 (2)
Divisão de custos para a atenção primária: não (2)
Cadastro de pacientes: sim (2)
Exigências para cobertura 24 horas: sim, obrigação legal (2)
Força dos departamentos acadêmicos de medicina de família: forte (2)
Unidade mais comum da prática de atenção primária: grupos (75%
dos médicos generalistas trabalham em unidades de 3 ou mais)
Reembolso dos médicos de atenção primária: capitação mais taxas
para cirurgias menores, imunizações, visitas domiciliares noturnas,
ser viços de contracepção, atenção à maternidade, exame de
Papanicolaou, vigilância da saúde infantil, manejo de enfermidades
crônicas, mais subsídios da unidade
Reembolso de especialistas: salário
Atenção dos médicos generalistas para pacientes hospitalizados: não
Especialistas restritos aos hospitais: sim
Atenção primária organizada por área geográfica definida: sim
Primeiro contato: sim, exceto para doenças sexualmente
transmissíveis (2)
Longitudinalidade: sim (2)
Integralidade: ampla variedade de tipos de serviços prestados (2)
Coordenação: fraca com especialistas/pacientes internados,
embora melhorando rapidamente (1)
Centralização da família: sim (assume explicitamente a
responsabilidade pelas famílias) (2)
Orientação para a comunidade: alta, com relatório de dados e
reconhecimento crescente da necessidade de estudar as comunidades (2)
583
15. Sistemas de Atenção Primária em nações ocidentais industrializadas
Suécia
Tipo de sistema: regulado (centros de saúde), embora haja falta
de médicos generalistas em algumas áreas urbanas e rurais (2)
Financiamento: 100%; baseado nos impostos (2)
Tipo de profissional de atenção primária: médicos de família
(generalistas) (2)
Porcentagem de médicos em atividade que são especialistas: 90% (0)
Honorários profissionais dos médicos de atenção primária em relação
aos especialistas: maior que 1 (2)
Divisão de custos para a atenção primária: sim, com um máximo
para um ano; atenção grátis para crianças e adolescentes (1)
Cadastro de pacientes: não, embora experimentos e planos para
mudar o sistema para cadastros com cerca de 2.000 pacientes (0)
Exigências para cobertura 24 horas: não (0)
Força dos departamentos acadêmicos de medicina de família: regular (1)
Unidade mais comum da prática de atenção primária: centros de
saúde, embora um número crescente de médicos generalistas
independentes sejam pagos por meio do sistema de seguro social e
conselhos dos condados
Reembolso dos médicos de atenção primária: salário
Reembolso de especialistas: salário
Atenção dos médicos generalistas para pacientes hospitalizados: não
Especialistas r estritos aos hospitais: não. Alguns trabalham nos
centros de saúde
Atenção primária organizada por área geográfica definida: sim
Primeiro contato: não. Muitas pessoas vão diretamente ao
departamento de pacientes ambulatoriais nos hospitais. tentativas
para introdução de uma “porta de entrada” (0)
Longitudinalidade: não (0)
Integralidade: variedade de ser viços diminuindo devido às
demandas por alta produtividade (1)
Coordenação: fraca (0)
Centralização da família: alta (2)
584
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Orientação para a comunidade: os centros de atenção primária são
responsáveis por muitos aspectos da saúde pública. Bons dados
comunitários a respeito da morbidade (1)
Orientação para a comunidade: fraca (0)
A distribuição de escores para a forma “modal” da organização
(Tabela 15.2) indica dois tipos gerais de sistemas. No primeiro grupo
estão Bélgica, Estados Unidos, França e Alemanha, todos com escores
abaixo de 0,5. Estes países são caracterizados pela ausência de uma
característica chave a regulação da distribuição de recursos embora
a Alemanha possa estar avançando em direção a uma maior
regulamentação. O segundo g rupo contém os outros sete países, todos
com escores de 0,9 ou mais e que, pelo menos, em alguma extensão,
regulam a distribuição de recursos. Três destes países têm um escore
de atenção primária intermediária (0,9-1,2), enquanto os outros cinco
têm de 1,4 para mais.
Tabela 15.2Tabela 15.2
Tabela 15.2Tabela 15.2
Tabela 15.2
Escores* da Atenção Primária
* Países organizados em três agrupamentos de
acordo com a força da atenção primária. Quanto
maior o escore, mais forte a atenção primária.
585
15. Sistemas de Atenção Primária em nações ocidentais industrializadas
Uma característica da atenção primária surgiu a partir destas
comparações atualizadas e que não foi observada na comparação
anterior (Starfield, 1992). Ou seja, a força do sistema de atenção primária
não é sinônimo da orientação da atenção primária dos próprios médicos
de atenção primária. Alguns países têm uma atenção primária forte,
mas não devido às características da prática dos médicos de atenção
primária. P o r exemplo, na Figura 1.5, foi encontrado que os Países Baix os
têm a classificação mais alta para as características do sistema que
conduzem à atenção primária, mas apenas a sexta classificação para as
características da unidade. A Suécia ficou em quarto (com a Espanha)
para as características do sistema, mas teve a oitava colocação para as
características da unidade. Isto ocorre porque os dois países organizam
sua a tenção primária de forma que os profissionais não-médicos,
freqüentemente trabalhando em organizações sem fins lucrativos
separadas (como nos Países Baixos) ou nos conselhos de condados (no
caso da Suécia), assumam muitas das funções da atenção primária,
especialmente em relação aos aspectos de sua integralidade. No Reino
Unido, este também é o caso, mas como estes prof issionais estão,
geralmente, ligados às unidades, as próprias unidades têm alta
classificação quanto às características. Assim, as conclusões a respeito
da força da atenção primária como um nível do sistema de saúde devem
ser distinguidas da força da atenção primária representada pelas
características de unidades clínicas individuais. As considerações
históricas e culturais determinarão a melhor forma de alcançar as
funções da atenção primária em cada país .
Quando comparado com os achados anteriores (Starfield, 1992)
há, sim, uma similaridade marcante de classificações para as
características individuais e para as classificações dos diferentes
países, apesar do fato de que as fontes de infor mação foram
completamente diferentes. Além disso, os esforços para a reforma da
atenção à saúde orientados, basicamente, pela contenção de despesas,
não alteraram a orientação de cada país. Os países que eram orientados
de forma ruim para a atenção primária, uma década, continuam
assim; os países fortes em atenção primária antes do início das reformas
permanecem fortemente orientados para a atenção primária.
586
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
A classificação dos países, conforme foi obtida nesta pesquisa,
com dados e peritos, está confirmada pelos estudos realizados por
outros utilizando métodos similare s, mas não idênticos. Wensing e
colaboradores (não publicado) pesquisaram uma amostra de pacientes
que freqüentavam, pelo menos, 12 unidades de clínica geral, em oito
países da Europa, para determinar suas expectativas em relação à
prática geral. Eles car acterizaram, de forma independente, a força da
atenção primária nos países utilizando os dados do Estudo Europeu
de encaminhamentos, da Organization for Economic Cooperation and
Development, além da literatura. Utilizando os 11 critérios apresentados
por Starfield (1992), descritos no Capítulo 1, as classificações (para
os países incluídos neste capítulo) foram as seguintes (da mais alta
para a mais baixa): Dinamarca; Reino Unido e Países Baixos (juntos
em segundo); Suécia; Alemanha. Roland e Sibbald (não publicado)
pesquisaram um perito em cada um de 24 países da Europa. Os dados
estão disponíveis para cinco dos nove países europeus descritos neste
capítulo. Sua classificação para a força da atenção primária foi (da
melhor para a pior): Reino Unido, Suécia, Finlândia, Bélgica, França.
Os escores e as classificações foram os mesmos, não importando se
foram usadas apenas as características da atenção primária conforme
descritas neste capítulo ou se foi utilizado um conjunto maior,
incluindo vários itens * adicionais. Assim, parece que as pontuações
e classificações apresentadas neste capítulo são relativamente robustas
e, pr ovavelmente, descrevem de f or ma adequada a condição da
atenção primária nos diferentes países.
*
Treinamento dos médicos de atenção primária em estabelecimentos de atenção primária;
históricos médicos abrangentes dos pacientes mantidos pelos médicos de atenção primária;
médicos de atenção primária trabalham em equipes multidisciplinares, incluindo enfermeiros
comunitários; pessoas de todas as rendas têm um acesso aproximadamente igual à atenção
primária; existência de programas de bem-estar social organizados pelo governo para as
populações desfavorecidas.
587
15. Sistemas de Atenção Primária em nações ocidentais industrializadas
SATISFAÇÃO DA POPULAÇÃO COM SEUS
SISTEMAS DE SAÚDE
Embora pesquisas telefônicas comparáveis tenham sido
realizadas em muitos dos países no final dos anos 80 (Blendon et al.,
1990, 1991) elas não foram repetidas. Entretanto, as pontuações para
satisfação referentes ao ano de 1996 estão disponíveis a partir de
entrevistas pessoais nos 15 países-membros da União Européia
(Mossialos, 1997). A pesquisa obteve informações a respeito de dois
aspectos da satisfação: satisfação geral e mudanças necessárias. Três
g rupos de países poderiam ser distinguidos com base nos dados
combinados destes dois aspectos, como segue:
Países com alta satisfação da população: Dinamarca,
Finlândia, Áustria
Países com satisfação intermediária da população: Bélgica,
Alemanha, Países Baixos, Suécia e França
Países com baixa satisfação da população: Espanha, Reino
Unido, Itália, Grécia, Portugal e Irlanda
Embora os métodos da pesquisa telefônica anterior e da pesquisa
domiciliar mais recente sejam diferentes, a natureza das perguntas (que
se referiam ao sistema de saúde como um todo , e não à atenção primária
em específico) foi relativ amente similar, de forma que é possível tentar
tirar conclusões a respeito das mudanças ao longo do tempo. No estudo
anterior, a classificação para a satisfação foi (da mais alta para a mais
baixa) Canadá, Países Baixos, França, Alemanha Ocidental, Austrália,
Suécia, Japão, Reino Unido, Itália, Espanha, Estados Unidos , sugerindo ,
assim, consistência para, pelo menos , os países nas duas comparações.
A interpretação das respostas de satisfação nacionalmente
cruzadas são necessariamente tênues porque as diferenças culturais
podem ser responsáveis pelas diferentes expectativas e, por isso,
diferentes av aliações. Parece mais plausível que a satisfação percebida
seja uma resposta não apenas às características do sistema, mas também
à sua estabilidade. Nas pesquisas anteriores, dois países em particular
(Reino Unido e Espanha) tinham iniciado reformas importantes; as
populações de ambos os países relataram baixa satisfação. As populações
destes países ainda estão entre as mais insatisfeitas, talvez porque suas
588
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
reformas ainda estejam incompletas ou não sejam adequadas. No caso
do Reino Unido, elas estão sendo revertidas em alguma medida.
Infelizmente, os países de classificação mais alta (Dinamarca e Finlândia)
não foram incluídos nas pesquisas anteriores , de forma que não é possível
julgar a natureza das tendências nestes países ou entre eles.
INDICADORES DE SAÚDE EM 12 PAÍSES
Dezesseis indicadores estavam disponíveis para os 12 países.
Quatro pertenciam aos indicadores em pediatria (T a belas 15.3 e 15.4),
10 pertenciam à expectativa de vida nas idades de 1, 15, 40, 65 e 80
anos para homens e mulheres, separadamente (Tabela 15.5), e dois
(masculino e feminino) pertenciam ao total de anos de vida potencial
perdidos na idade de 70 anos , devido a condições preveníveis. (T a bela
15.6) Além disso, os anos de vida perdidos por suicídio e causas externas
estão disponíveis, separadamente, para homens e mulheres . Algumas
das tabelas contêm informações adicionais a respeito dos indicadores
de saúde não incluídos nas tabulações finais da classificação dos países.
Tabela 15.3Tabela 15.3
Tabela 15.3Tabela 15.3
Tabela 15.3
Porcentagem de crianças com baixo peso ao nascer (menos de 2.500g)
em crianças nascidas em hospitais, do início a meados dos anos 90
a
1995;
b
1994;
c
1993;
d
1992
*Já que quase um terço das crianças nasce fora dos hospitais nos Países Baixos, e tem menor
probabilidade de nascer abaixo do peso, o número para todos os nascimentos nos Países Baixos
provavelmente é menor
Fonte: Fitas de dados da Organization for Economic Cooperation and Development (1997)
589
15. Sistemas de Atenção Primária em nações ocidentais industrializadas
A Tabela 15.7 contém inf ormações a respeito da porcentagem
de mulheres e homens que fumam e ingerem bebidas alcoólicas em
litros per capita nas idades de 15 anos ou mais.
Tabela 15.4Tabela 15.4
Tabela 15.4Tabela 15.4
Tabela 15.4
Taxas de mortalidade infantil neonatal, pós-neonatal e total, 1993 e 1996*
* Exceto para Bélgica e França (1992) e Espanha (1991) no caso da taxa neonatal e pós-neonatal
As taxas de mortalidade relativamente altas para os Estados Unidos, como um todo, também são
encontradas entre a população branca (maioria), apenas com uma taxa de mortalidade neonatal
de 4,3, uma taxa de mortalidade pós-neonatal de 2,5 e uma taxa de mortalidade total de 6,8.
Apenas para Inglaterra e País de Gales. As taxas para Irlanda do Norte são 4,94; 2,13 e 7,07,
respectivamente.
Fonte: NCHS, 1997, p. 105; e fitas de dados da Organization for Economic Cooperation and Development (1997)
Tabela 15.5Tabela 15.5
Tabela 15.5Tabela 15.5
Tabela 15.5
Expectativa de vida
a
1996;
b
1995;
c
1994;
d
1993;
e
1992
nd
não disponível (a (s) primeira (s) letra (s) refere-se ao nascimento,
1 ano, 15 anos; a segunda letra refere-se a 40, 65 e 90 anos)
Para taxas de morte padronizadas por idade: 1994 exceto na Austrália, Canadá, França, Suécia,
1993; e Estados Unidos, Dinamarca e Espanha, 1992.
Fonte: Nascimento 1 ano, 15 anos: OMS (1993, 1994, 1995); 40, 65 e 80 anos: fitas de dados do
Office of Economic Cooperation and Development (1997).
590
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Tabela 15.6Tabela 15.6
Tabela 15.6Tabela 15.6
Tabela 15.6
Anos potenciais de vida perdidos por 100.000 (abaixo de 70 anos)
a
1994;
b
1993;
c
1992;
d
1991;
e
1989.
Fonte: Fitas de dados do Office of Economic Cooperation and Development (1997).
Tabela 15.7Tabela 15.7
Tabela 15.7Tabela 15.7
Tabela 15.7
Porcentagem de indivíduos com 15 anos ou mais que fumam e ingerem
bebidas alcoólicas em litros
per capita
1991
* 1991 exceto para Austrália, 1989; Alemanha, 1995; França, 1990; Espanha, 1995; Reino
Unido, 1994.
1991 exceto para Países Baixos e Espanha, 1990; e Estados Unidos, 1987.
Fontes: Fitas de dados do Office of Economic Cooperation and Development (1997); Schieber et al . (1994)
591
15. Sistemas de Atenção Primária em nações ocidentais industrializadas
Custo da atenção
A Tabela 15.8 mostra os custos per capita (em dólares norte-
americanos). São expressos nas paridades do poder de compra, que
expressa a conversão das diferentes moedas para um valor padrão
que paga pelo mesmo conjunto de mercadorias e serviços nos diferentes
países. Os dados nas Tabelas 15.2 e 15.8 mostram que estes países
que são mais orientados para a atenção primária têm custos globais
mais baixos para seus serviços de saúde.
Desempenho geral
A Tabela 15.9 é uma tabela resumida que fornece os escores e
a classificação da atenção primária (com a melhor, sendo considerada
an
o
1) e as classificações para os indicadores de saúde considerados
indicadores centrais para a saúde de um país.
Tabela 15.8Tabela 15.8
Tabela 15.8Tabela 15.8
Tabela 15.8
Custo da atenção
per capita
(em dólares norte-americanos)*
* Em paridades do poder de compra
Fonte: Anderson, 1997
592
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
A comparação destes dados com os dados do final dos anos 80
(Starfield, 1992) revela uma consistência geral na classificação para
os países individuais. Entretanto, existem dois países para os quais as
classificações mudaram substancialmente em vários indicadores. Os
Países Baixos têm classificações relativamente mais baixas do que
era o caso, anteriormente, para a taxa de mortalidade neonatal e pós-
neonatal, expectativas de vida para 1 ano de idade, durante a
adolescência, aos 65 e aos 80 anos, e anos potenciais de vida perdidos.
Em comparação, a Austrália tem melhorado sua classificação relativa
para expectativa de vida para 1 ano de idade e na adolescência e para
anos de vida potencial perdidos.
Tabela 15.9Tabela 15.9
Tabela 15.9Tabela 15.9
Tabela 15.9
Escore e classificação da Atenção Primária, além de classificações* em
18 indicadores de saúde
* Para obter a classificação, as classificações para cada um dos grupos de indicadores (que
geralmente incluem casas decimais) foram reclassificadas de acordo com sua ordem. Os
componentes dos indicadores compostos foram igualmente ponderados.
Proporção de mortalidade neonatal, pós-neonatal, infantil e baixo peso ao nascer.
Consiste da expectativ a de vida na idade de 1 ano. Enquanto não seja exclusivamente um indicador
da infância, exclui o impacto substancial da mortalidade infantil sobre a expectativa de vida.
** Expectativa de vida aos 15 e aos 40 anos (não disponível para a Bélgica) e nas idades de 65 e
80 anos, respectivamente.
Anos de vida potencial perdidos [years of potential life lost]. Abaixo de 70 anos, todas as causas
exceto as externas. Média de classificação de homens e mulheres. Quando todas as causas são
incluídas, a classificação dos países é (da melhor para a pior) Suécia (1), Austrália (2), Países
Baixos (3), Finlândia (4), Canadá (5), Reino Unido (6), Espanha (7), Alemanha (8), França (9),
Dinamarca (10), Bélgica (11), Estados Unidos (12).
593
15. Sistemas de Atenção Primária em nações ocidentais industrializadas
A extensão na qual estas mudanças são conseqüentes à mudança
na orientação para a atenção primária merece mais estudos. Entretanto,
é digno de nota que a Austrália tenha melhorado o sistema de atenção
primária em muitos aspectos, incluindo o fortalecimento da base
acadêmica para treinamento na unidade de família. Embora seu escore
de atenção primária não reflita esta melhora, isto pode ocorrer porque
as novas taxas de atenção primária contêm quatro itens adicionais,
nos quais a Austrália tem uma classificação relativamente baixa.
Utilizando apenas os 11 indicadores originais, o escore para Austrália
melhorou de 1,1 para 1,3.
Existe uma relação geral entre a extensão da orientação para a
atenção primária dos países e sua classificação nos indicadores de
saúde, de tal forma que os países com uma melhor orientação para a
atenção primária tendem a ter melhores classificações nestes
indicadores de saúde do que os países com uma fraca orientação para
a atenção primária. Entretanto, uma vez que as classificações da
atenção primária alcançam um nível médio não parece haver mais
melhoras do estado de saúde. Em particular, Dinamarca, Finlândia e
Reino Unido não se classificam muito bem para os indicadores de
saúde como poderia ser esperado, dado seus ele vados escores de
atenção primária. Na Dinamarca, a melhora menos favorável na
expectativa de vida e mortalidade, em relação aos outros países, foi
analisada e atribuída a um aumento da participação feminina na força
de trabalho na ausência da falta de apoios sociais melhores, a um
aumento no desempreg o, altas taxas de fumantes e consumidores
pesados de álcool,eaumaumento na desigualdade social (Ministry
of Health, 1994). Em pelo menos algumas partes da Finlândia, as
dietas são ricas em gordura s aturada. No Reino Unido, os maus níveis
de saúde podem refletir muitos anos de mau financiamento do sistema
de saúde de forma que, embora a infra-estrutura da atenção primária
seja forte, ela pode não estar recebendo apoio financeiro suficiente.
Entretanto, na média, fica claro que os quatro países com baixa
orientação para a atenção primária (Bélgica, França, Alemanha,
Estados Unidos) também têm desempenhos piores para todos os
grupos de indicadores de saúde. Em todos os países, a construção de
594
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
um enfoque de atenção primária parece primeiro precisar de um
comprometimento nacional da política e de uma organização adequada
da prática. Uma vez que esta infra-estrutura esteja no lugar, a atenção
se volta para a adequação dos serviços de atenção primária para atender
as necessidades da população um imperativo para todos os países.
Infelizmente, os indicadores que estão disponíveis para avaliar
o estado de saúde dos países não são os mais apropriados para avaliar
o impacto da atenção primária, porque muitos deles refletem a
adequação dos serviços oferecidos pelos médicos que não os de
atenção primária. O monitoramento dos indicadores sugerido no
Capítulo 13, caso fiquem disponíveis, pode oferecer mais de uma
oportunidade para avaliar as contribuições especiais da atenção
primária à saúde, tanto dentro dos países como entre eles.
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597
Os prontuários médicos sempre foram importantes na atenção
aos pacientes. Os sistemas de informação são uma extensão dos
prontuários médicos para atender não apenas às necessidades
individuais do paciente, mas também às necessidades da população
pelos serviços de atenção primária (bem como para outros níveis da
atenção à saúde). Este capítulo aborda, primeiro, os usos
tradicionais dos prontuários médicos para a atenção clínica e as
mudanças que foram feitas para tor ná-los mais úteis. A discussão, a
seguir, se volta para a inform atização e seu potencial para melhorar
não apenas a atenção clínica, mas também o planejamento, a
prestação de serviços, a avaliação dos serviços para as populações
e as bases do conhecimento nas quais encontra-se o progresso da
prestação dos ser viços de saúde. Embora a impor tância dos
prontuários médicos e dos sistemas de informação transcenda a
atenção primária, o foco deste capítulo está nas questões de
relevância especial para a atenção primária, que os profissionais
de atenção primária são os coordenadores da a tenção e, por tanto,
os principais mantenedores das informações a respeito dos pacientes.
16. SISTEMAS DE INFORMAÇÃO PARA
A ATENÇÃO PRIMÁRIA
As informações que você tem não são as que você quer, as
informações que você quer não são as que você precisa e as
informações que você precisa não existem.
Ditado irlandês
598
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
A atenção médica depende, em grande escala, da transferência
de informações. Por este motivo, tanto os sistemas médicos como os
profissionais devem manter e fornecer infor mações, gerais e
específicas, de for ma que outros sistemas, assim como outros
profissionais, que prestam atendimento ou avaliam a qualidade da
atenção tenham acesso não apenas às informações, mas que possam
encontrá-las em um formulário aplicável para a prática da atenção
médica geral e seus aspectos associados. Além disso, a transferência
de informações é, freqüentemente, necessária para propósitos médico-
legais, para documentar a atenção oferecida.
Um tipo bem diferente de transferência de informações envolve
a relação entre o paciente e médico. Isto foi discutido no Capítulo 9,
enquanto este capítulo discute os aspectos acima citados.
PRONTUÁRIOS MÉDICOS
Os prontuários médicos e os sistemas de informações servem
a quatro funções. Em primeiro lugar , são importantes como um auxílio
à memória dos profissionais na atenção aos pacientes e como uma
ferramenta epidemiológica no planejamento da atenção às populações.
Em segundo, os prontuários médicos são documentos legais
importantes: é considerado que o que aparece num prontuário reflete
os processos da atenção e, portanto, fornece evidências quando estes
processos são colocados à prova. Em terceiro, os prontuários médicos
inf luenciam os processos de atenção. O Capítulo 11, referente à
coordenação da atenção, documentou como os conteúdos dos
prontuários médicos afetam o que os pacientes sabem a respeito de
sua atenção e como eles respondem a este conhecimento. Em quarto
lugar, os prontuários médicos servem como uma fonte de informações
a respeito da qualidade da atenção e indica como melhorá-las.
Como a atenção primária é um processo de longa duração, e
não episódico (como nas hospitalizações), as exigências a respeito do
prontuário diferem daquelas da atenção aos pacientes internados. Os
prontuários devem facilitar a revisão do paciente por um período de
599
16 Sistemas de informação para a Atenção Primária
tempo, e não apenas em determinado momento. Até agora , a ciência
da informação ainda não aperfeiçoou as técnicas que melhor se ajustam
a este desafio. A maior parte do uso dos prontuários médicos ainda
enfoca a revisão de consultas específicas ou, na melhor das hipóteses,
episódios de doenças. Estes usos são mais limitados por seu enfoque,
basicamente, apenas sobre determinados processos da atenção, mais
notavelmente os processos de diagnóstico e tratamento em uma
consulta ou episódio. Como resultado, os prontuários não são tão
úteis na avaliação do reconhecimento pelos profissionais das
necessidades dos pacientes, de seu entendimento, de sua aceitação e
de sua par ticipação nos processos de atenção, ou o processo de
reavaliação em espiral do ciclo da atenção.
poucas dúvidas quanto a importância dos prontuários na
atenção clínica. Freqüentemente os prontuários são melhores do que
a lembrança dos médicos para alguns tipos de informações. Por
exemplo, quando os pacientes foram acompanhados para determinar
seu estado de saúde seis meses de pois de uma hospitalização, a
precisão de uma previsão a respeito de seu prognóstico feita no
momento da alta dependeu da base para a previsão. Quando a previsão
foi baseada nas informações do prontuário médico, ela foi,
freqüentemente, mais precisa do que quando originou-se de
lembranças do médico que prestou atendimento ao paciente (Linn et
al., 1974). Embora existem déficits sistemáticos de informações nos
prontuários médicos (Thompson e Osborne, 1976; Zuckerman et al.,
1975) eles refletem, com exatidão, muitos aspectos da atenção. Isto
inclui problemas importantes que foram identificados pelos médicos
como problemas que precisavam de acompanhamento, medicações
prescritas (embora não necessariamente todas aquelas que o paciente
está tomando) e exames com resultados anormais (Starfield et al.,
1979). A queixa principal do paciente, pelo menos confor me
interpretação do profissional, geralmente é registrada; as informações
relacionadas ao histórico da doença atual são registradas em cerca de
três quartos das vezes. Os elementos do último histórico médico são
registrados de for ma infreqüente (Romm e Putnam, 1981) e
determinados tipos de infor mações, como características sociais,
600
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
raramente são apresentados nos prontuários médicos (Chamberlin,
1971). O histórico e as características familiares também são raros
nos prontuários.
O prontuário médico completo convencional é um documento
escrito à mão sobre a consulta do paciente e contém um resumo da
“queixa principal” do paciente, uma seção de tamanho variável
contendo o “histórico médico passado”, uma seção contendo o
histórico relacionado à queixa seguida por uma seção intitulada
“exame físico” (que freqüentemente é limitada à descrição do estado
da parte do corpo mais relacionada à queixa principal). Existe,
também, uma seção contendo os “diagnósticos” ou “impressões”, a
qual pode conter qualquer número de itens sem nenhuma exigência
de que estejam em qualquer forma padrão ou codificável, e ainda
outra seção chamada “plano” ou “liberação”. Estas anotações do
profissional estão em uma seção do prontuário; relatórios
laboratoriais e observações da consulta estão em outras seções. Os
prontuários mantidos neste formato são conhecidos como
“orientados pela fonte” porque cada item é inserido em um registro
de acordo com sua fonte. Uma modificação do “prontuário orientado
para a f onte” é o prontuário médico “estr uturado”. O uso dos
formulários estr uturados para determinar o registro de informações
em categorias específicas resulta em níveis mais altos de desempenho
e melhor registro (Dug gan et al., 1990; Holmes et al., 1978; Cheney
e Ramsdell, 1987). Entretanto, quando o formulário estruturado é
simplesmente uma lista de itens que requerem uma verificação sobre
sua exatidão, os itens podem ser registrados como realizados mesmo
que não o tenham sido (Dugg an et al., 1990).
Outra modificação das anotações orientadas pela fonte emprega
algoritmos para guiar e documentar a atenção. Na cidade de Nova
York, este sistema f oi implementado em várias clínicas de atenção
primária baseadas em hospitais. Estas diretrizes melhor aram a
documentação nos prontuários médicos; também melhoraram a
adesão às diretrizes no manejo de diversos problemas para os quais
elas foram desenvolvidas; estas incluíam asma, otite média e
gastroenterite (Cook e Heidt, 1988).
601
16 Sistemas de informação para a Atenção Primária
A orientação pelo tempo é uma alternativa ou, mais comumente, um
suplemento para a orientação pela fonte. Na ficha orientada pelo tempo,
as informações são registradas por um item particular que é seguido, ao
long o do tempo, em um f luxograma. Este tipo de registro é
particularmente adequado para a atenção especializada, em que um
número limitado de itens que são seguidos ao longo do tempo. Estes
tipos de registros, geralmente, dependem da tecnologia da computação
devido à sua organização e dependência do registrar ao longo do tempo.
A orientação pelo problema é um terceiro formato útil para a
atenção primária. Um prontuário médico orientado para o problema
(POMR Problem Oriented Medical Record ) contém uma lista de
problemas, geralmente na frente da ficha, consistindo de uma lista de
todos os problemas atualmente ativos atualizados a cada consulta.
Os problemas resolvidos são riscados. Em alguns casos, o problema
pode ser um sintoma ou sinal que ainda não foi resolvido, ou que
pode nunca ser resolvido, em um diagnóstico padrão. Em um POMR
completo, cada prontuário contém uma base de dados com um
histórico completo, exame físico e resultados laboratoriais na visita
inicial. Cada consulta é registrada no formato SOAP. Ou seja, para
cada problema relacionado na lista de problemas, existe um registro
de dados subjetivos (o que o paciente diz a respeito do problema),
dados objetivos (o que o profissional encontra nos exames físicos ou
laboratoriais), a valiação (a consideração do estado do problema por
parte do profissional) e plano (o que deve ser feito a respeito do
problema). Embora o impacto total do formato SOAP não tenha sido
documentado, a lista de problemas melhora o reconhecimento e
acompanhamento dos problemas de uma consulta de atenção primária
para outra, par ticular mente se existir um profissional diferente
(Simborg et al., 1976). A lista de problemas, bem como os tratamentos
e consultas de acompanhamento, é facilmente informatizada; estas
listas informatizadas oferecem os mesmos benefícios que as listas
redigidas à mão (Johns et al., 1977). Uma vantagem importante deste
tipo de prontuário é que especifica claramente os problemas do
paciente, possibilitando assim interligar o diagnóstico e o tratamento
ao que é importante para o paciente e às avaliações dos resultados.
602
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO
Uma senhora idosa tem um bom relacionamento com seu médico
de família, mas ela também estava se consultando com vários
especialistas; foi hospitalizada várias vezes e estava tomando seis
medicamentos diferentes. Para ela, era difícil atualizar cada um de
seus profissionais a respeito da atenção prestada por outros. Quando
seus prontuários foram colocados em um computador, um resumo
impresso de suas doenças, tratamentos e respostas ficou disponível e
era regularmente atualizado. Cada profissional sabia exatamente quais
medicamentos ela estava recebendo e quais exames estava fazendo.
Com um prontuário por escrito sobre seu atendimento, ela entendeu
melhor sua saúde, sentiu-se mais confortável e foi capaz de se
comunicar com seus profissionais de for ma mais efetiva.
Um relato do Canadá, 1996
Os sistemas de inf ormação são ag reg ações de prontuários
individuais, ou, pelo menos, de determinadas partes destes prontuários.
Estes sistemas podem incluir identificadores dos indivíduos
(geralmente na forma de um número exclusivo) ou podem ser
anônimos. No primeiro caso, é possível interligar as informações de
diferentes épocas e lugares em que os indivíduos buscaram
atendimento. No último caso, a interligação é possível apenas para o
nível da agregação dos dados, geralmente por área geográfica. Ou
seja, a relação entre as diferentes características pode ser estudada no
nível agregado, o que pode não refletir as relações no nível individual,
ou seja, a falácia ecológica. A Figura 16.1 retrata os tipos diferentes
de informação que, geralmente, estão interligadas nos sistemas de
infor mação com a capacidade de fazê-lo (Roos et al., 1998). Os
sistemas de infor mação na atenção primária têm três objetivos
principais: administrativo, atenção c línica nos níveis individual e
populacional e geração de conhecimento.
As funções administrativas tradicionais requerem que as
informações sejam obtidas e transferidas para acompanhar o curso dos
processos de prestação dos serviços de saúde, de for ma que o
financiamento e reembolso sejam adequados e oportunos . Com o advento
603
16 Sistemas de informação para a Atenção Primária
de avaliações institucionalizadas mais formais da qualidade da atenção,
os sistemas de informação estão sendo cada vez mais usados para a
revisão da atenção por outros, e não por aqueles que a geraram, ou
seja, grupos de observação, gerentes e organizações de revisão externa.
Figura 16.1Figura 16.1
Figura 16.1Figura 16.1
Figura 16.1
Tipos de informação num sistema de informação.
A atenção clínica envolve as funções básicas da transferência
das informações necessárias a respeito das necessidades de saúde dos
indivíduos e a atenção à saúde no manejo clínico, acompanhamento
e coordenação da atenção que ocorre em diferentes momentos e em
diferentes lug ares para o indivíduo. Cada vez mais, os sistemas de
infor mação estão servindo para uma função clínica adicional:
avaliação e garantia de qualidade pelos próprios profissionais
individuais e grupos de profissionais, de forma que eles possam se
engajar em uma melhora contínua da qualidade. A primeira tentativa
sistemática de tornar os prontuários médicos úteis para a pesquisa
ocorreu na Inglaterra no Royal College of General Practitioners. Os estudos
de morbidade realizados em meados da década de 50 pelo College eo
Adaptado de Roos et al. (1977)
604
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
General Register Office of England and Wales [Escritório de Registro Geral
da Inglaterra e do País de Gales] mostraram que uma proporção
substancial de diagnósticos em atenção primária não poderiam receber
códigos de doenças e que quase metade (45%) dos problemas
observados na clínica geral não poderiam ser classificadas pelo Código
Internacional de Doenças (CID) porque eram complexos de sintomas,
não doenças. Como não poderiam ser codificadas, foi impossível
realizar estudos sobre sua história natural e sobre o impacto da atenção
médica sobre elas. Subseqüentemente, o College apoiou o
desenvolvimento de um esquema de codificação útil para a atenção
primária e aplicou-o a um método de indexação chamado E-book
(devido a Eimerl, seu criador). O sistema consistia de uma série de
pequenas folhas, uma para cada paciente, inseridas num livro de
registro de folhas soltas dividido em seções separadas de acordo com
o diagnóstico. Incluía informações a respeito do paciente e do tipo de
consulta e tinha vários espaços para codificar os itens de interesse
especial para o profissional. O sistema poderia fornecer o número de
episódios de doença e o número de consultas por episódio em um
determinado período de tempo. Quando combinado com um registro
de sexo-idade (uma lista de todos os pacientes na unidade, com seu
sexo e idade), os dados do E-book eram úteis para a pesquisa
epidemiológica, bem como para as investigações clínicas (Last, 1965).
As informações da unidade clínica são usadas não apenas para
pacientes individuais, mas também para toda a população eletiva para
receber atenção na unidade de atenção primária. Três tipos de
infor mações são necessários par a este propósito: distribuição
geográfica (área de residência) dos pacientes cadastrados,
características daquela população (como indicadores de classe social)
que influenciam a incidência e prevalência de diferentes doenças e
características que deveriam ser levadas em consideração na decisão
sobre as estratégias de manejo adequadas, a distribuição de idade-
sexo daquela população, e os dados da prescrição. Shanks e Crayford
(1996) forneceram exemplos gráficos da utilidade destas informações
para comparar as unidades de saúde em diferentes áreas e para avaliar
o quanto estão levando em consideração as necessidades locais no
605
16 Sistemas de informação para a Atenção Primária
monitoramento da saúde. Por exemplo, uma revisão dos dados idade-
sexo indicou que os homens de todas as idades têm menor probabilidade
do que as mulheres de receber tratamento para hipertensão, apesar da
prevalência mais alta de hipertensão em homens. Então , a unidade teve
de decidir se dedicava mais atenção em persuadir os homens na
comunidade a ter sua pressão arterial medida.
Outro uso, ainda, de um sistema de informação é para a pesquisa
sobre a efetividade dos ser viços. Como a justificativa para as
intervenções está cada vez mais baseada nas evidências dos estudos
sistemáticos , os sistemas de informação estão crescendo bastante como
fontes de dados para avaliar os méritos relativos de diferentes
abordagens para o diagnóstico e o manejo.
Os prontuários médicos informatizados e os sistemas de
informação estão se tornando essenciais conforme a prática médica
entra em uma era da medicina baseada em responsabilidade e em
evidências. Três imperativos estão direcionando os sistemas de atenção
à saúde para melhores modos de transferência de inf ormações: o
desaparecimento dos limites tradicionais entre a medicina clínica e a
saúde da população; a progressiva perda de distinção entre as funções
administrativa e clínica; e o aumento da cober tura de g r upos
vulneráveis de pacientes por sistemas privados de saúde, e não em
programas de saúde patrocinados pelo governo. Os sistemas de saúde
integrados que atendem a grandes populações definidas estão
assumindo funções que anteriormente er am assumidas pelo setor
público. As informações a respeito da saúde da população e da atenção
à saúde são tão fundamentais quanto as informações a respeito dos
pacientes individuais. A perda de nitidez das funções administrativa
e clínica está ocorrendo como resultado da necessidade de
responsabilidade pelos gastos dos financiamentos; os pagadores
precisam de infor mações para assegurar que seus gastos sejam
justificáveis de acordo com o estado atual do conhecimento clínico, e
as informações a respeito da atenção clínica são componentes cada
vez mais importantes do co-pag amento pelos serviços. Em países
(como os Estados Unidos) em que as populações vulneráveis, que
antes recebiam atendimento em organizações separadas patrocinadas
606
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
pelo governo, agora são absorvidas pelos sistemas de saúde privados,
precisando ser observada a responsabilidade pela qualidade de suas
necessidades de atenção.
Um modelo para a aplicação de informação baseada na unidade
de saúde para propósitos baseados na população é fornecido pelo
Population Health Information System [Sistema de Informação em Saúde
da População] (POPULIS) na província de Manitoba, Canadá (Roos
e Shapiro, 1995). Este sistema usa uma base de dados administrativa
bem projetada derivada dos registros de queixas que podem ser
interligados às informações hospitalares, estatísticas vitais e dados
do censo, além de dados de pesquisa. Os indicadores da saúde estão
em seis categorias: perfil demográfico da área geográfica, baixo peso
ao nascer, indicadores da penetração do sistema de atenção à saúde,
indicadores de mortalidade, dados de hospitalização e dados da
unidade. Os dados de queixas das consultas médicas contêm os
diagnósticos codificados pelo CID Modificação Clínica.
Uma ampla variedade de perguntas de relevância clínica e política
têm sido bordadas por este sistema, incluindo correlatos de variação na
hospitalização, procedimentos médicos e cirurgia, e a relação entre estes
processos de atenção e os custos, bem como os resultados (tanto os
desejados quanto os adversos). Assim, os sistemas de dados que são
relativamente comuns nos países industrializados , utilizando formulários
de queixas para reembolso ou for mulários de consultas para o
monitoramento dos serviços, podem ser adaptados para servir a
propósitos muito maiores e tão importantes quanto o reembolso para
os serviços clínicos individuais, ou seja, para geração de conhecimento
e monitoramento da saúde da população (Roos et al., 1995).
POTENCIAL DA INFORMATIZAÇÃO NO
CONSULTÓRIO
A larga disponibilidade de computadores facilita muitos aspectos
da localização, armazenamento e transmissão de informações. Tanto
as funções do prontuário médico como as do sistema de informação
607
16 Sistemas de informação para a Atenção Primária
podem ser simultaneamente acessadas. A legibilidade da escrita manual
não é mais um problema, e até mesmo a segurança das informações
é, tecnicamente, mais fácil de assegurar porque podem ser colocadas
proteções na localização de informações eletrônicas mais facilmente
do que no caso de registros em papel. As infor mações para
propósitos administrativos, monitoramento da qualidade e
propósitos de pesquisa não necessitam mais ser manualmente
codificados; o software pode pegar palavras, classificá-las em
categorias adequadas e transmiti-las, quando necessário.
A computadorização de determinados tipos de informações
facilita alguns aspectos da atenção mesmo na ausência de um
prontuário médico informatizado. Por exemplo, o uso de lembretes
gerados por computador pelos médicos de atenção primária aumenta
os pedidos indicados de mamografias (Chambers et al., 1989), bem
como de outros serviços preventivos indicados, como imunizações
para tétano, exames de Papanicolao, exames de mama e exames para
sangue oculto nas fezes (Turner et al., 1989).
Entretanto, a direção clar a é rumo à implementação mais
difundida dos prontuários médicos eletrônicos. Estes estão em uso em
muitos lugares por mais de 25 anos . O protótipo mais conhecido e mais
antig o é o Computer-Stor ed Ambulatory Record [ Registro Ambiental
Armazenado no Computador] (COSTAR), que tem sido utilizado
muitos anos no Harvard Community Health Plan [Planos de Saúde
Comunitária de Harvard] (atualmente Harvard-Pilgrim). O sistema
permite a transferência de informações entre as unidades de forma que
os registros de indivíduos que consultam outras unidades estejam
sempre disponíveis para que o médico os veja. Este registro substitui
os prontuários médicos escritos à mão ou datilografados; não
prontuário médico exceto para infor mações que não podem ser
informatizadas, como eletrocardiogramas e outros materiais gráficos, e
os resumos completos da alta hospitalar. O computador entrada
para informações quando o profissional as registra num formulário
autocodificador especificamente projetado para as necessidades de cada
especialidade no Plano de Saúde. Pode haver entrada de texto corrido,
tanto escrito como ditado. O computador libera informações de três
608
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
formas: um formulário contendo dados das consultas individuais, um
relatório do problema resumindo o estado médico atual do paciente, e
fluxogramas mostrando a mudança em um determinado item no decorrer
do tempo. O sistema inclui informações sobre cobrança, contas a
receber, transferências eletrônicas de reclamações, escala de pessoal e
dos recursos, diretrizes de serviços preventivos, lembretes para os
médicos sobre vacinas necessárias (Barton e Schoenbaum, 1990) e
informações médicas. Várias centenas de unidades nos Estados Unidos
estão utilizando este sistema desde 1993 (Barnett et al., 1993).
O potencial do prontuário informatizado do paciente foi mais
explorado nos Países Baixos, onde mais de um quarto dos 6.400
profissionais gerais os instituíram em seus consultórios; quase 40%
destes clínicos não trabalham mais com prontuários médicos em papel.
Como resultado, mais de um quarto dos médicos generalistas
holandeses baseiam-se completamente nos prontuários médicos
informatizados (Van der Lei et al., 1993). O sucesso do prontuário
médico eletrônico no sistema holandês é um resultado do alcance em
atender aos quatro desafios principais: desenvolvimento de um
vocabulário clínico padrão, desenvolvimento de métodos para facilitar
a interação direta do médico com o sistema, o apoio de sociedades
profissionais-chave no desenvolvimento de padrões e programas
educacionais (em particular, o Dutch College of General Practitioners ea
Dutch Association of General Practitioners [Associação Holandesa de
Clínicas Gerais]), e as contribuições governamentais para os custos
do desenvolvimento e utilização. O governo holandês, por exemplo,
reembolsa 60% dos custos do médico generalista para a informatização
dos consultórios com prontuários informatizados dos pacientes.
O sistema utiliza o texto corrido como a base do prontuário
clínico; entretanto, alguns itens necessitam de codificação para uso
de todo o potencial do sistema. Os diagnósticos são codificados
conforme a Classificação Internacional de Atenção Primária, que foi
projetada especificamente para a atenção primária, mas é compatível
com o CID mantido pela Organização Mundial da Saúde. A liderança
por parte das sociedades profissionais nos Países Baixos foi
fundamental na adoção deste sistema como um sistema de codificação
609
16 Sistemas de informação para a Atenção Primária
padronizado para problemas e diagnósticos. Nomes e dosagens de
medicamentos são necessários para interligar o sistema de computação
aos computador es da farmácia. Outros dados que são codificados
incluem exames laboratoriais, medição de sinais vitais,
encaminhamentos a outros profissionais de saúde e cadastramento
em estudos de pesquisa (O próprio sistema identificará o código
adequado para estes itens de informação).
Um vocabulário padronizado e controlado é tão crucial na
implementação dos prontuários informatizados dos pacientes quanto
os vocabulários e códigos padronizados nos sistemas de codificação
usados nos formulários de queixas, de consultas e outros resumos de
registros. Ele permite que os computadores b usquem e escolham
informações rapidamente, resumam-nas, identifiquem informações
clínicas importantes e localizem-nas de forma seletiva, conforme for
indicado. Anexos do prontuário, como medicamentos que não devem
ser utilizados simultaneamente e diretrizes clínicas para atenção
preventiva ou a atenção de problemas específicos podem, facilmente,
ser incorporados no sistema de informação para indicar
automaticamente a atenção contra-indicada ou indicada para os
pacientes individuais.
O sucesso holandês no alcance da inserção de informações feita
diretamente pelo médico é importante para minimizar erros na
transcrição e fornecer a oportunidade de uma devolução direta e
lembretes para o c línico, conforme os dados forem inseridos. As
organizações profissionais lideraram o caminho no desenvolvimento
do vocabulário padrão e dos padrões para identificação do paciente,
segurança do registro e transmissão eletrônica de dados. A Dutch
National Bureau of Health [Escritório Nacional Holandês de Saúde]
tem a responsabilidade de fornecer os padrões para a troca eletrônica
de informações (Van der Lei et al., 1993). Como ocorre em todos os
lugares, as decisões a respeito da extensão na qual as informações
para outros usos não-clínicos devem ser anônimas e o tipo e extensão
do uso de identificadores exclusivos de pacientes que não permitem
a ligação do número ao nome da pessoa, exceto para propósitos
clínicos, estão sujeitos a discussões e considerações políticas.
610
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
“Cartões inteligentes” são outra tecnologia com utilidade
considerável na atenção à saúde, incluindo a atenção primária.
Desenvolvidos mais de 20 anos na França, eles oferecem um
mecanismo de transferência de infor mações com excelentes
oportunidades de confidencialidade e segurança nas informações . As
informações nos cartões são de propriedade do paciente, que tem o
direito e a oportunidade de decidir quais informações não dev em ser
registradas e o direito de apagar informações que estão no cartão. O
registro de informações é permitido apenas aos usuários autorizados e
os pacientes devem digitar seu próprio número de identificação pessoal
cada vez que alguém quiser acesso às informações no cartão. O cartão
em si é de propriedade do emitente (geralmente o governo ou
seguradora); uma cópia é geralmente retida pelo profissional de atenção
primária do paciente. A tecnologia do cartão inteligente cria um registro
de usuários, de forma que um registro das transações , que não podem
ser apagadas. Uma utilidade específica, que também é compartilhada
por registros clínicos automatizados é a facilitação da redação e
preenchimento da prescrição. Certos campos de dados podem estar
protegidos e reservados para uso apenas por alguns profissionais. P or
ex emplo, informações sobre consultas psiquiátricas podem ser protegidas
contra o acesso de qualquer pessoa pelo paciente ou ter a entrada restrita
apenas para indivíduos selecionados. Por causa destas limitações, os
cartões inteligentes são utilizados, basicamente, para a atenção clínica
particularmente em relação à coordenação da atenção dos pacientes
individuais, e não para análises de dados úteis para a documentação de
problemas nas populações, para uso pelos profissionais para analisar
sua própria prática, ou para responder a questões de pesquisa complexas,
embora exista um potencial para o uso na compilação de estatísticas e
para aspectos limitados da pesquisa.
Vários modelos do uso bem sucedido dos cartões inteligentes
documentam sua contribuição para a unidade de atenção primária. Por
ex emplo, o teste-piloto Exeter Care Card incluía 13 mil pacientes , oito
farmacêuticos da comunidade, duas unidades de medicina geral, uma
unidade odontológica geral, um hospital comunitário e um hospital geral,
todos dentro de um distrito no Reino Unido. Os dados podiam ser
611
16 Sistemas de informação para a Atenção Primária
registrados nos cartões diretamente ou a partir de um registro clínico
automatizado. A avaliação do sistema mostrou que seu uso estava
associado à redução do custo da prescrição, redução dos custos de
investigações laboratoriais, redução no risco de doença iatrogênica
(especialmente em relação à atenção odontológica), reduções no tempo
para comunicação das informações , e acesso imediato às informações
necessárias para a atenção ao paciente. A aceitação por parte do paciente
do sistema de cartão foi elevada (Neame, 1997).
Os cartões também são usados em uma cidade (Rimouski) na
província de Quebec, com 7.250 pacientes e 300 profissionais de
saúde (incluindo médicos generalistas e equipes de atenção primária).
Cinco categorias de infor mações foram incluídas no cartão:
identificação, emergência, vacinações, medicações e atenção
continuada (histórico, consultorias, acompanhamento). O cartão foi
projetado para reduzir a duplicação dos exames, reduzir o risco de
interações medicamentosas e melhorar a qualidade, continuidade e
integridade da atenção. Como resultado deste teste-piloto, Quebec
emitiu 7 milhões de cartões inteligentes desde 1998.
O uso dos cartões inteligentes tem um potencial considerável
para a atenção for necida quando os pacientes viajam. Por este
motivo, a Comunidade Européia está desenvolvendo os padrões
(incluindo padrões de privacidade) para os Eur ocards”(Tervo-
Pellikka e Schaefer, 1995).
Uma barreira considerável à implementação do prontuário
informatizado do paciente e ao uso dos cartões inteligentes é a ausência
geral de conhecimento de computação entre os profissionais . Embora
a maioria dos médicos nos países industrializados tenha computadores
em seus consultórios, em sistemas de taxa por serviço eles geralmente
são utilizados apenas pelo pessoal administrativo para cobrança e outras
transações administrativas. A porcentagem de médicos de atenção
primária que utiliza computadores para propósitos clínicos varia
consideravelmente entre os países (Wilson e Pur ves, 1996). A
extremidade inferior da variação é representada pela Suíça, Estados
Unidos e Áustria e a superior pela Islândia, Reino Unido, Canadá, P aíses
Baixos e Suécia. Assim, parece que os países com orientação mais forte
612
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
para a atenção primária (ver Capítulo 15) têm mais probabilidade de
ter profissionais que utilizem computadores para propósitos clínicos.
Embora os dados decorram de um pequeno levantamento de
pesquisados selecionados e podem não ser exatamente precisos, eles
fornecem a magnitude relativa do desafio em relação à melhora do
potencial do uso de informações em diferentes países.
CÓDIGOS E SISTEMAS DE CODIFICAÇÃO
O CID, mantido pela Org anização Mundial da Saúde, foi
originalmente desenvolvido para codificar as causas de mortalidade.
Com o passar dos anos ele foi modificado e expandido, primeiro para
facilitar a codificação dos diagnósticos hospitalares e depois para
codificação da morbidade em unidades de pacientes ambulatoriais.
As revisões subseqüentes do CID incluíram códigos para os sintomas,
de forma que era , pelo menos teoricamente, possível rastrear as
doenças a partir de sua apresentação inicial até seu diagnóstico final.
Apesar deste potencial, o CID não tem sido muito útil na
atenção primária porque é um compêndio de todos os diagnósticos
possíveis, a maioria deles incomum e raramente vistos, se é que
foram observados, na unidade de a tenção primária. Assim, ele é um
instr umento incômodo, não prontamente útil para os profissionais
de atenção primária, pelo menos para outros propósitos que não
aqueles de indicação de um diagnóstico para fins de cobrança. Em
1979, a World Organization of National College Academies, e Academic
Associations of General Practitioners/Family Physicians desenvolveram
uma classificação especificamente para uso na atenção primária
(World Org aniza tion of National Colleges, 1979). Esta classificação,
conhecida como Classificação Internacional de Problemas de Saúde
na Atenção Primária (ICHPPC-2 [Inter national Classification of Health
Problems in Primary Car e ]), é compatível com o CID, mas muito mais
breve e fácil de usar na prática clínica. Assim, desde os anos 80,
está disponível um mecanismo prático para codificação de
diagnósticos da atenção primária.
613
16 Sistemas de informação para a Atenção Primária
Embora muitos pesquisadores reconheçam a necessidade de uma
melhor base de inf ormação, foi o envolvimento do g overno no
financiamento e na prestação direta do atendimento que deu a ela uma
consideração difundida nos Estados Unidos. Se os programas públicos
fossem responsáveis pelos contribuintes, teria de haver um método de
gerar e utilizar informações. No final dos anos 60, o U .S. National Center
for Health Statistics patrocinou uma série de conferências que levou à
publicação de três conjuntos de “dados mínimos”: um conjunto para a
atenção de long a duração, um conjunto para atenção de pacientes
internados e um conjunto para a atenção ambulatorial. Parte deste
esforço levou ao reconhecimento da importância da codificação dos
problemas atuais, bem como dos diagnósticos. Quando os problemas
atuais são esclarecidos e registrados, torna-se possível estudar e entender
a história natural da evolução dos problemas e sua resposta a diferentes
formas de intervenção, facilitando, assim, a geração de conhecimento
e uma melhor atenção ao paciente. O trabalho pioneiro do National
Center estimulou um projeto colaborativo internacional para planejar e
testar um sistema de nomenclatura de problemas na atenção primária
(Lamberts e Wood, 1987). A base para o programa de codificação, a
Classificação Internacional da Atenção Primária (ICPC-International
Classification of Primary Care), é uma matriz n umérica alfa bi-axial em
que existem “componentes” e “capítulos”. Cada motivo para consulta
é categorizado como um de sete componentes:
Sintoma ou queixa.
Diagnóstico, e xame ou procedimento preventivo.
Tratamentos, procedimentos ou medicações.
Recebimento de resultados de exames.
Administrativo.
Diagnóstico.
Todos os outros.
Cada motivo também é indicado para um dos 17 capítulos
indicados por letras, 15 dos quais são sistemas do organismo , um é para
problemas que cruzam os sistemas ou são de natureza geral, e um é
para problemas sociais. Dentro dos capítulos estão códigos específicos ,
organizados de forma similar entre os capítulos, de acordo com o
614
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
componente adequado. Por ex emplo, os primeiros 29 códigos em cada
capítulo referem-se a sintomas ou queixas específicos; os códigos 30-
49 referem-se a procedimentos de diagnóstico específicos; os códigos
50-59 são modalidades tera pêuticas; os códig os 60 e 61 são,
respectivamente, resultados de exames ou procedimentos e resultados
de outros profissionais; o código 62 é um procedimento administrativo;
os códigos 63-69 são vários outros motivos (incluindo a instituição de
um encaminhamento ou uma consulta por iniciativa de outra pessoa que
não seja o paciente); e os códigos 70-99 são os diagnósticos específicos
mais comuns dentro do capítulo. O sistema de codificação para os
sintomas/queixas e componentes de diagnóstico é compatível com o
CID, a ICHPPC-2 e com a Classification of Diseases, Problems and Procedures
of the British Royal College of General Practitioners [Classificação de Doenças,
Problemas e Procedimentos do Colégio Britânico de Clínicos Gerais]
(1984). A segunda edição da ICPC contém definições para todas as
rubricas, uma classificação de severidade e uma ferramenta para medir
o estado funcional (World Organization of National Colleges, 1998).
A disponibilidade de sistemas unif or mes codificarem os
problemas atuais e motivos para consulta facilitará muito tanto a
pesquisa como a prestação de serviços de atenção primária. Ela levará
a um maior entendimento da distribuição dos problemas de saúde e o
impacto de vários métodos para manejá-los, além de concentrar a
atenção sobre o aspecto mais fundamental, mas relativamente
negligenciado da atenção: o reconhecimento dos problemas dos
pacientes por parte dos profissionais.
DESAFIOS AOS AVANÇOS NO PRONTUÁRIO
MÉDICO E NOS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO
A capacidade tecnológica não é mais a barreira para sistemas de
informação efeti vos. As novidades no desenvolvimento de sistemas de
computação são tais que, essencialmente, não existem barreiras para a
transferência rápida e precisa de informações com a devida segurança
para manter sua confidencialidade. Os desafios resultam da ausência
de uma estrutura para decidir quais informações devem ser incluídas;
615
16 Sistemas de informação para a Atenção Primária
como as informações dev em ser registradas, com que detalhes e em
que formato; e mecanismos para assegurar a padronização, de forma
que as mesmas informações sejam interpretadas da mesma forma, não
importando sua fonte. Em 1996, o Congresso norte-americano
sancionou uma lei (PL 104-191) que exigia que o Department of Health
and Human Ser vices [Ministério da Saúde e Assistência Social]
recomendasse padrões para privacidade das infor mações
individualmente identificáveis para transações administrativas e para
as informações clínicas que as acompanham. Os pontos principais que
apóiam esta “simplificação administrativa” são que as informações
Devem estar interligadas entre os locais para que seja possível
acompanhar os pacientes em diferentes unidades e níveis de
atenção.
Devem estar interligadas entre períodos de tempo para que
seja possível rastrear os problemas dos pacientes do início à
resolução.
Conduzir à interligação entre “entradas” e “saídas”, ou seja,
ajudar a determinar se os problemas clínicos melhoram e o
mecanismo pelo qual as intervenções dos serviços de saúde
contribuem ou não para esta melhora.
Conforme a meta de padronização do conteúdo dos prontuários
médicos, quer em papel ou informatizados, o U .S. National Committee
on Vital and Health Statistics realizou audiências e conduziu investigações
a respeito dos itens de informação em grandes sistemas de informação
de serviços de saúde em todo o país . Suas deliberações resultaram em
um conjunto proposto de “dados centrais” que contém 42 itens de
informação em três categorias: dados de cadastramento do paciente,
dados do profissional e dados da consulta (depois categorizada como
paciente internado, paciente ambulatorial e todos os tipos de consultas
não importando onde ocorrem). A Tabela 16.1 relaciona os itens de
informações de acordo com o fato de serem considerados prontos ou
não para a implementação por causa de experiências a longo prazo e/
ou a disponibilidade de abordagens amplamente aceitas para
categorização das informações . São fornecidas as definições de cada
item pronto para implementação (U.S. Department of Health and
Human Services, 1996).
616
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Tabela 16.1Tabela 16.1
Tabela 16.1Tabela 16.1
Tabela 16.1
Elementos dos dados centrais de saúde propostos para a
padronização relacionados por presteza para implementação
Fonte: U.S. Department of Health and Human Services (1996)
617
16 Sistemas de informação para a Atenção Primária
Existem desafios adicionais que r equerem consideração,
especialmente para a atenção primária. O mais urgente deles é a
certeza do diagnóstico. Na atenção primária, os pacientes têm
maior probabilidade de se apresentarem inicialmente com
problemas que não podem receber um diagnóstico. Como foi
obser vado acima, a ICPC for nece um meio para a categ orização
destes problemas de forma padronizada. Entretanto, em alguns
países, existem incentivos poderosos para que os profissionais
indiquem um códig o de diagnóstico, ao invés de um códig o do
problema, porque os sistemas de reembolso estão vinculados à
presença de um diagnóstico (como geralmente é o caso quando os
médicos são reembolsados por taxa por ser viço). Sob estas
circunstâncias, os prontuários médicos podem registrar que a
suspeita de um diagnóstico específico, ou seja, é uma condição de
“exclusão” (R/O), mas raramente este é o caso. Os sistemas de
saúde como o Harvard Community Health Plan (atualmente Har vard-
Pilg rim) incor porou estes modificadores tempos. Eles incluem
“exclusão”, “pós-estado”, “em remissão” e “remissão parcial” (K.
Coltin, comunicação pessoal). Algumas das unidades no Kaiser
Health Plan [Plano Kaiser de Saúde] funcionam de forma similar;
os modificadores típicos são “exclusão” (R/O) ou “provável” (S.
Cohn, comunicação pessoal, 1997). Na grande maioria dos casos
nos Estados Unidos, a transação administrativa registra o
diagnóstico como se fosse um diagnóstico seguro, tor nando, assim,
impossível rastrear o curso dos problemas a partir de sua primeira
apresentação até sua resolução nos sistemas de infor mação
computadorizados. Além disso, isso complica o trabalho de
entender o processo diagnóstico, porque as investigações
diagnósticas não podem ser vinculadas à natureza dos problemas
do paciente. Na medida em que as necessidades exclusivas da
unidade de atenção primária são cada vez mais reconhecidas, os
sistemas de classificação de problemas deveriam se tornar mais
amplamente aceitáveis e utilizados. Em alguns países (como os
Países Baixos), os problemas, e não os diagnósticos, são
codificados, caso um dia gnóstico seguro não seja alcançado.
618
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Outro g rande desafio para codificar as infor mações clínicas
é a falta de padronização dos métodos para codificar os
diagnósticos, os exames diagnósticos e seus resultados e as
inter venções terapêuticas. Como foi obser vado acima, o CID,
hoje em sua décima revisão, é a base para o diagnóstico da
mortalidade e de pacientes internados em todo o mundo. A
codificação dos problemas nos estabelecimentos primários é mais
comumente feita com a ICPC, mas muitos países, incluindo a
maioria das unidades nos Estados Unidos e no Reino Unido, não
a utilizam. No Reino Unido, a classificação Read é o padrão para
a codificação de vários tipos de informações clínicas e
relacionadas (National Health Ser vice, 1995). Estas incluem:
Empreg os.
Histórico e observações.
Distúrbios.
Investigações.
Operações e procedimentos.
Regimes e terapias.
Prevenção.
Causas de lesões e envenenamentos.
Morfologia tumoral.
Estágio e escalas.
Administração.
Medicamentos.
Aparelhos e equipamentos.
Unidades de medida.
Organismos.
Sítio ana tômico.
Valores adicionais.
Categorias dependentes do contexto (certos qualificadores,
como “histórico de”).
Atributos (como aparecimento).
Embora ainda existam algumas limitações do sistema, o
Departamento de Saúde Nacional no Reino Unido adquiriu o sistema
619
16 Sistemas de informação para a Atenção Primária
e o está utilizando como padrão para todas as unidades, mantendo-o
e atualizando-o, quando necessário (Smith et al., 1995).
Vários outros sistemas de codificação são usados em todo o
mundo para diversos aspectos dos ser viços de saúde. A Figura
16.2 indica o número de países que utilizam os principais sistemas
(Wilson e Pur ves, 1996). Cada um destes sistemas tem seus pontos
for tes e fracos, e nenhum é amplamente aceito. A maioria deles
foi desenvolvida para aplicações específicas em instituições
específicas, e cada um tem pontos fracos e for tes (Cimino, 1996).
Confor me obser vado acima, o sistema de classificação Read é
promovido no Reino Unido. Nos Países Baixos, o sistema Elias
Figura 16.2Figura 16.2
Figura 16.2Figura 16.2
Figura 16.2
Número de países que utilizam vários sistemas de codificação da atenção
primária e de nomenclatura.
CID-9, Código Internacional de Doenças, Nona Revisão; CID-10, Código Internacional de Doenças,
Décima Revisão; SNOMED, Nomenclatura Sistematizada da Medicina Humana e Veterinária;
ICPC, Classificação Internacional de Atenção Primária; UMLS, Sistema de Linguagem Médica
Unificada; ICHPCC, Classificação Internacional de Problemas de Saúde na Atenção Primária
(Wilson e Purves, 1996).
620
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
está em uso na maioria das unidades gerais de saúdeeébaseadona
ICPC para codificação de diagnósticos e motivos para consulta em
um contexto de prontuário informatizado do paciente (Duisterhout
et al., 1992). Conforme os prontuários eletrônicos tornam-se mais
amplamente adotados, pode haver a convergência de vários sistemas
em um, que apoiará o uso de informações bem além de um contexto
clínico ou sistema de saúde em particular. A complexidade do desafio
fica evidente a partir de um grande número de tentativas diferentes
para planejar um sistema com relevância, viabilidade e aceitação
universal (Chute et al., 1998).
PRONTUÁRIO ELETRÔNICO DO PACIENTE
Os prontuários informatizados dos pacientes (CPR
Computorized Patient Records) têm a probabilidade de se tornarem o
método de rotina para armazenamento de informações referentes às
necessidades de saúdeeàatenção à saúde no futuro próximo,
substituindo até mesmo os prontuários médicos em papel. Facilitarão
muito os principais objetivos dos sistemas de informação de saúde:
apoiar a atenção ao paciente e melhorar sua coordenação; melhorar a
produtividade dos profissionais de atenção à saúde e reduzir os gastos
administrativos associados ao sistema em papel; e apoiar a pesquisa
clínica, epidemiológicas e dos serviços de saúde.
Não existem barreiras técnicas para o registro de dados e sua
manutenção no formato informatizado nos países em que o uso da
computação é difundido. Entretanto, existem impedimentos que
podem interferir nas aplicações nos serviços de saúde.
Quando as informações são computadorizadas, deve-se tomar
decisões em relação aos dados a serem registrados e aos detalhes que
serão incluídos. No mínimo, os elementos relacionados no conjunto
de dados centrais (ver discussão anterior neste capítulo) devem ser
incluídos para fornecer informações básicas numa forma padronizada.
Ameaças à privacidade geram preocupação tanto em prontuários
informatizados quanto em registros dos pacientes e podem causar
621
16 Sistemas de informação para a Atenção Primária
preocupações ainda maiores devido ao potencial de muito mais pessoas
e órgãos poderem ter acesso a um sistema que é utilizado para
propósitos múltiplos. Atender os propósitos de um sistema CPR requer
que cada indivíduo na população receba um identificador exclusivo
que é usado para todas as transações relacionadas à saúde. Embora a
maioria dos países indique este número aos indivíduos na população,
alguns utilizam os números que são limitados apenas às informações
relacionadas à saúde, enquanto outros utilizam um identificador
exclusivo multifunção. Neste último caso, os receios quanto à perda
da privacidade aumentam porque o conhecimento a respeito do estado
de saúde e da atenção à saúde pode ser vinculado aos dados de outros
sistemas, como o sistema judiciário, e, assim, ser usado para ameaçar
os direitos dos indivíduos. A limitação do identificador exclusivo para
propósitos relacionados à saúde apenas reduz, mas não elimina, o
potencial para dano ao indivíduo, particularmente nos sistemas de
saúde em que o acesso do indivíduo aos serviços de saúde e à cobertura
do seguro de saúde podem ser comprometidos pela divulgação de
suas informações pessoais. Entretanto, o potencial para salvaguardar
a privacidade pode ser maior com a informatização, porque os
mecanismos para tornar os dados seguros são mais fáceis do que no
caso de prontuários em papel.
Uma terceira barreira potencial à implementação refere-se à
capacidade da rede de informações. Como uma das vantag ens do CPR
é a capacidade de interligar várias fontes de informações a respeito
das pessoas e sua atenção à saúde, a garantia da capacidade da rede é
fundamental.
O Institute of Medicine [Instituto de Medicina] dos Estados Unidos
propôs padrões para o desenvolvimento e emprego dos sistemas CPR
(Dick e Steen, 1991; Dick et al., 1997). Várias condições são propostas
para sua implementação:
Os dados devem ser registrados pelo indivíduo que os coleta
para otimizar a precisão.
O sistema deve incluir, de forma confiável, dados de todas
as fontes e permitir sua localização, quando necessário.
622
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
O prontuário pode ser usado ativamente no processo de
prestação de atendimento à saúde, e todas as informações
relevantes devem ser incluídas.
O sistema é importante no processo de garantia de qualidade
e geração de conhecimento por meio da pesquisa de diversos
tipos, incluindo aquela que envolve observações ao longo
do tempo, em diferentes lugares e obtidas por meio de
diferentes mecanismos, incluindo levantamentos, registros
e estatísticas vitais.
Os usuários devem ser proficientes com as ferramentas
possibilitadas pela computação, incluindo bancos de dados
bibliográficos e sistemas de apoio de decisão clínica.
Para que o potencial do CPR seja alcançado, os países devem
desenvolver padrões para os componentes de informaçõeseaforma
pela qual eles são registrados no computador, criar leis e
regulamentações que protejam a privacidade do paciente e desenvolver
padrões para garantir a confidencialidade e procedimentos para manter
a segurança do sistema, com a imposição de várias penas pelo uso
não autorizado.
Quinze recomendações em cinco categorias de atividades foram
feitas para maximizar a segurança dos sistemas CPR (National
Research Council, 1997). Embora as recomendações fossem
específicas para os Estados Unidos, elas podem ser generalizadas para
aplicação a qualquer sistema nacional de saúde, como segue:
1. Todas as org anizações que lidam com informações
identificadoras de pacientes não importando o tamanho
devem adotar um conjunto de políticas, práticas e
procedimentos técnicos e organizacionais estabelecidos abaixo.
2. Os governos e a indústria de atenção à saúde devem agir
para criar a infraestrutura necessária para apoiar a privacidade
e segurança das informações eletrônicas em saúde .
3 . Deve haver um comitê publicamente responsável por
manter os padrões de segurança das informações de saúde
para desenvolver e atualizar os padrões de privacidade e
segurança para todos os usuários das informações de saúde.
623
16 Sistemas de informação para a Atenção Primária
Os membros devem fazer parte de organizações que
representem o amplo espectro de usuários e assuntos das
informações de saúde.
4. Os governos devem fornecer o financiamento inicial para
o estabelecimento de uma organização para a indústria de
atenção à saúde para promover um maior compartilhamento
de infor mações a respeito das ameaças à segurança,
incidentes e soluções para os problemas.
5 . Os governos devem trabalhar com organizações não-
governamentais para promover e estimular um debate
público informado para determinar um equilíbrio adequado
entre as preocupações quanto a privacidade dos pacientes
e as necessidades de infor mação de vários usuários das
informações de saúde.
6 . Organizações que coletam, analisam ou disseminam as
infor mações de saúde devem adotar um conjunto de
práticas de infor mação que sejam condizentes com a
legislação de privacidade.
7. Os governos nacionais devem trabalhar com as unidades
governamentais locais e por área, pesquisadores de saúde
e a indústria da atenção à saúde para estabelecer um
programa para promoção da conscientização do consumidor
em relação às questões de privacidade na saúde e o valor
das informações de saúde para a atenção ao paciente,
administração e pesquisa. Também devem realizar estudos
que desenvolverão um conjunto de recomendações para
aprimorar a conscientização que o consumidor tem dos
fluxos e usos dos dados de saúde.
8. Grupos profissionais e industriais devem dar continuidade e
expandir seus papéis de liderança na educação dos membros
a respeito das questões de privacidade e segurança.
9. Os g overnos devem realizar estudos para determinar a
extensão e as condições nas quais os usuários de informações
de saúde necessitam de dados que contenham os
identificadores dos pacientes.
624
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
1 0. Os g overnos devem determinar formas apropriadas de
oferecer aos consumidores um ponto de contato
centralizado, visível, em relação às preocupações quanto à
privacidade.
11. Qualquer esforço para desenvolver um identificador
individual universal deve pesar as supostas vantagens de
cada identificador em relação às preocupações quanto à
privacidade. Os métodos para identificar os indivíduos e
vinculá-los a seus prontuários devem ser acompanhados
por uma estrutura política explícita que defina a natureza e
o caráter das vinculações que violam a privacidade e
especifique as sanções legais para a criação das mesmas.
Devem facilitar a identificação das partes que conectam
os registros, de for ma que aqueles que fizerem uso
impróprio das ligações possam ser responsabilizados por
sua criação. Eles devem ser unidirecionais ao ponto que
seja tecnicamente viável, facilitar a vinculação adequada
de deter minadas informações dos registros de saúde a
respeito da pessoa ou fornecidas por ela, mas impedir que
a identidade de uma pessoa seja facilmente deduzida.
1 2. Os governos devem tomar atitudes para aprimorar as
tecnologias de segurança de informações para aplicação
na atenção à saúde.
13. Os governos de vem estabelecer as ligações formais com
grupos profissionais e não-governamentais para facilitar a
troca de conhecimento técnico a respeito da segurança das
informações.
1 4 . Os governos devem apoiar a pesquisa de métodos de
identificação e vinculação de registros, resolvendo os
problemas da atenção anônima e os pseudônimos que
interferem, necessariamente, com o alcance da qualidade
da atenção para os pacientes individuais; referentes a
auditorias de rastreamento de for ma que aqueles que
utilizam o sistema CPR de for ma er rônea possam ser
625
16 Sistemas de informação para a Atenção Primária
identificados; e referentes às ferramentas para que os
direitos vigorem e sejam manejados.
15 . Os governos devem financiar unidades de teste para
explorar as diferentes abordagens para controle do acesso
aos dados que possam ser incorporados em operações
existentes.
Além disso, é sabido que toda e cada organização que coleta,
mantém ou, de alguma forma, utiliza informações de atenção à saúde
deve estar constantemente ciente das ameaças à confidencialidadee
segurança das infor mações individualmente identificáveis e
desenvolver seus próprios padrões para manter a confidencialidade e
identificar quaisquer violações na política indicada para assegurá-la.
O uso de computadores na unidade de atenção primária não
facilita, necessariamente, a transferência de infor mações entre a
atenção primária e outros tipos de atenção. Um estudo em seis países
da Europa mostrou que os profissionais nos países com sistemas de
atenção primária mais fortes (Reino Unido, Dinamarca, Países Baixos)
têm maior tendência de fazer uso de computadores para manter os
prontuários médicos, mas o uso de computadores para a transferência
de informações a respeito dos pacientes é limitado em todos os lugares
devido a barreiras culturais e legais (DeMaeseneer e Beolchi, 1995).
Cada país desenvolverá suas próprias abordagens, ajustadas a
suas necessidades específicas. Serão necessários inter câmbios
nacionais para assegurar a relativa compatibilidade, que, como
resultado do comércio e de viagens internacionais, haverá troca de
informações entre fronteiras nacionais em relação aos indivíduos.
As seções anteriores deste capítulo indicam que muitos países
e grupos de países fizeram avanços importantes ao tratar dos desafios
dos dados infor matizados e sua tradução em infor mações. Os
potenciais e possibilidades para aprimorar a efetividade e eqüidade
da a tenção decorrente de novas tecnologias são enormes e merecem
ser almejados dentro do interesse de melhorar a saúde dos pacientes
e das populações.
626
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
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631
O contínuo aprimoramento do conhecimento baseado em
evidências é o fundamento para o progresso em todos os campos de
esforço. A atenção primária não é exceção. Os capítulos anteriores deste
livro documentaram o estado atual do conhecimento sobre a organização
e prestação de serviços de atenção primária; o leitor astuto reconhecerá
que ainda existe muito a ser aprendido! Este capítulo identifica aquelas
áreas que são de alta prioridade para a pesquisa na atenção primária na
esperança de que um número cada vez maior de profissionais acadêmicos
e clínicos se engaje no estimulante processo de contribuir com seu
conhecimento para melhorar a efetividade, a eficácia e a eqüidade do
nível básico de todos os sistemas de serviços de saúde.
Desde que o livro anterior de Starfield sobre atenção primária
foi escrito (1990), muito foi aprendido a respeito da atenção primária
e suas contribuições para o trabalho dos sistemas de serviço de saúde.
Muitas das vantagens da atenção primária foram agora documentadas,
principalmente por meio de estudos a respeito dos benefícios dos
componentes separados da atenção primária. A maior parte da
documentação referente às vantagens da atenção primária como um
todo está baseada em alguns poucos estudos que compararam custos
e resultados nas áreas que diferem na força de sua atenção primária,
medida pelo número de médicos de atenção primária ou pela presença
17. NECESSIDADES DE PESQUISA EM
ATENÇÃO PRIMÁRIA
Pesquisar é ver o que todos vêem e pensar o que ninguém
mais pensou.
Albert-Szent-Gyorgyi
632
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
de características do sistema de saúde que refletem uma forte atenção
primária. Como resultado da negligência histórica da própria atenção
primária como um assunto de interesse acadêmico, ainda existe um
g rande acúmulo de questões que precisam de respostas. A maioria
das questões é a mesma de 1990, mas pesquisas realizadas nos anos
mais recentes pelo menos ajudaram a avivar seu enfoque.
Dois tipos principais de pesquisa são necessários para promover
a eficácia da atenção primária: a pesquisa básica e a pesquisa
relacionada à política. A pesquisa básica inclui os métodos que são
importantes na medição, enquanto a pesquisa relacionada à política
contribui com informações que ajudam na tomada de decisão. Esta
última se refere tanto à pesquisa clínica quanto à pesquisa sobre as
formas de org anização, financiamento e prestação de serviços e sobre
o treinamento em atenção primária. (Um quarto tipo de pesquisa,
pesquisa e avaliação dos sistemas de saúde relevantes à atenção
primária, é considerado no capítulo 18.)
PESQUISA BÁSICA
Muitos aspectos da pesquisa básica facilitariam muito a medição
da atenção primária. Esta seção resume as questões que são de
importância especial no aprimoramento do conhecimento a respeito
dos problemas e da prática da atenção primária.
Medição do estado de saúde
A justif icativa def initiva para uma intervenção dos serviços
de saúde é seu impacto sobre o estado de saúde. Conforme foi
observado no Capítulo 2, o estado de saúde tem vários componentes;
qualquer um deles, quer individualmente ou em combinação, pode
ser influenciado pelos serviços de saúde. Embora existam várias
técnicas para avaliação do estado de saúde em adultos (McDowell
e Newell, 1996), muito ainda tem de ser f eito, par ticularmente no
desenvolvimento de medidas que sejam clinicamente úteis. A
WONCA World Or ganization of National Colleges and Academies
633
17. Necessidades de pesquisa em Atenção Primária
[Organização Mundial de Faculdades e Academias Nacionais] de
prática de medicina de família/generalista desenvolveu um método
ilustrado para avaliação do estado de saúde em adultos. O
instrumento (COOP/WONCA) é, g eralmente, preenchido pelos
próprios pacientes. Os quadros tratam de forma física, sentimentos,
atividades diárias, atividades sociais, mudanças na saúde e saúde
global. Um quadro adicional para dor e um para sono estão sendo
desenvolvidos. Os quadros foram publicados em chinês,
dinamarquês, holandês, finlandês, francês, alemão, hebraico, italiano,
japonês, coreano, norueguês, por tuguês, espanhol (catalão,
castelhano e g alego), eslovaco, sueco e urdo (WONCA, 1998). Uma
área primordial para pesquis a é o teste deste e de outros instrumentos
quanto à sua utilidade para melhorar o reconhecimento e o manejo
dos pacientes. Outra área importante para o trabalho de
desenvolvimento refere-se ao estado de saúde das crianças; é grande
a necessidade de métodos que sejam adequados às diferentes faixas
etárias na infância (Starfield, 1987).
Medição de
case-mix
e severidade da doença
As comparações de efetividade da atenção, ao longo do tempo
ou entre as unidades ou sistemas de saúde, devem levar em
consideração as diferenças iniciais na extensão ou grau de doença das
diferentes populações. Embora existam várias técnicas para esta
medição (Gold, 1988), nenhuma está suficientemente bem
desenvolvida para ser amplamente aceita. A WONCA (1998) também
desenvolveu e testou uma medida de severidade da doença para uso
em pacientes adultos. Conhecida como sistema DUSOI (Duke
University Severity of Illness [Severidade da Doença pela Duke
University]), envolve classificação dos sintomas, complicações,
prognósticos e possibilidade de tratamento pelo médico para cada
problema abordado na consulta. Os escores podem ser agregados
quando mais de um problema de saúde. Testada em 22 unidades
voluntárias em nove países, ela foi considerada (pelos profissionais)
a mais útil para pesquisa. São indicados testes mais aprofundados
sobre a aplicabilidade e utilidade mais amplas.
634
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
A atenção primária necessita de uma medida de case-mix que
facilite a categorização dos indivíduos com mais de um diagnóstico
ou tipo de morbidade. As técnicas foram desenvolvidas (Starfield et
al., 1991) e usadas para delinear o perfil da prática de clínicos
individuais e grupos de profissionais de saúde. Embora tenha sido
desenvolvido nos Estados Unidos utilizando o Código Internacional
de Doenças–Modificação Clínica (CID-MC), foi modificado para uso
com a Classificação Internacional de Atenção Primária (ICPC) na
Europa. O trabalho de desenvolvimento de Juncosa e Bolibar e a
aplicação organizada e testagem de seu uso em pesquisa baseada na
prática colaborativa dirigida por Prados-Torres, Orueta e
colaboradores na Espanha são dignos de nota em relação a isso. É
indicada uma aplicação e testagem mais amplas em uma variedade
maior de estabelecimentos, entretanto, para verificar a contribuição
do método para o entendimento da epidemiologia dos problemas na
atenção primária, e como eles informam o uso de recursos, tanto para
a atenção primária como para a totalidade da atenção prestada às
populações (Starfield et al., 1991, 1994; Tucker et al., 1996; Weiner et
al., 1996; Salem-Schatz et al., 1994). Finalmente, existe uma
necessidade de medidas de severidade da doença que possibilitariam
padronizar ou estratificar as populações que podem diferir neste
aspecto da doença (Iezzoni, 1997).
Procedimentos para avaliação da qualidade da atenção
A maioria das avaliações da qualidade da atenção trata apenas
dos diagnósticos simples. Pouco é sabido a respeito da extensão em
que os julgamentos entre diagnósticos coincidem, e não técnicas
disponíveis para avaliar este ponto. As intervenções para melhorar a
qualidade da atenção dependem do fato da atenção ser
consistentemente fraca ou fraca em apenas algumas áreas; a atenção
consistentemente inadequada pede um tipo diferente de intervenção
em relação àquela requerida por atenção inadequada para apenas um
tipo ou alguns tipos de problemas de saúde específicos. uma
necessidade por medidas de qualidade da atenção que não dependam
da presença de um diagnóstico específico. Estas medidas teriam uma
635
17. Necessidades de pesquisa em Atenção Primária
utilidade considerável na atenção primária porque muitos de seus
problemas de saúde nunca alcançam o estágio de um diagnóstico e,
inversamente, os pacientes podem ter vários problemas de saúde
coexistindo e interagindo sob atendimento a qualquer momento. A
maioria das pesquisas sobre qualidade da atenção enfoca a
identificação e o entendimento dos er ros de omissão. Os estudos
mostraram, consistentemente, que cerca de 20% da atenção é
inadequada, mas a grande maioria destes estudos foi realizada em
estabelecimento de pacientes inter nados. Além disso, enquanto a
pesquisa sobre as causas e correlatos da conduta médica (incluindo
a imperícia médica) tem documentado a extensão dos erros de
julgamento, poucas, se houveram, distinguiram os erros por omissão
dos erros por cometimento e o impacto relativo de cada um nos danos
aos pacientes. uma necessidade que força a enfocar as
considerações sobre erros nos ambientes ambulatoriais também,
particularmente em relação às intervenções (tanto farmacológicas
quanto não farmacológicas) que são desnecessárias e potencialmente
perigosas. Além disso, é importante determinar quais métodos de
verificação são melhores em separar as responsabilidades relativas
das organizações e indivíduos no aprimoramento da qualidade dos
serviços porque a maior parte das evidências de uma qualidade é,
pelo menos, parcialmente atribuível ao estabelecimento organizacional
no qual o profissional trabalha.
A capacidade de melhorar a qualidade da atenção pode ser
estendida por meio do desenvolvimento de novos tipos de técnicas.
Em particular, o quê pode ser obtido por meio dos mecanismos que
envolvem os pacientes no projeto e da realização das atividades para
melhoria da qualidade? Em que medida a satisfação com a atenção
por parte dos pacientes é um indicativo adequado para os julgamentos
do profissional a respeito da qualidade da atenção? Quais
componentes particulares da satisfação estão mais relacionados a estes
outros tipos de julgamentos a respeito da qualidade e em que medida
eles melhoram o conhecimento a respeito da atenção efetiva acima e
além das avaliações profissionais?
636
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Medição da necessidade de encaminhamento e
características da atenção referenciada
Quais tipos de problemas sempre são encaminhados, quais são
raramente encaminhados e para quais existe variabilidade?
*
O que é
responsável pela variabilidade? Em que medida as expectativas dos
pacientes orientam os encaminhamentos, e quais tipos de
encaminhamentos podem ser atribuídos basicamente às solicitações
ou insistência dos pacientes? Em que medida a política de reembolso
do profissional influencia as decisões quanto ao encaminhamento? Quais
tipos de problemas exigem en v olvimento de especialistas de longo prazo,
e quais são melhor manejados por meio de consultorias de curta duração ,
repetidas, se necessário, em vários momentos no curso da doença, ou
pela atenção compartilhada? Quais são os métodos mais efetivos de
comunicação com os especialistas, e eles variam com a natureza da
relação do especialista com o paciente? Quando os especialistas de
atenção terciária devem assumir a responsabilidade pelo manejo de
longo prazo, qual o papel apropriado do profissional de atenção primária
e quais são os melhores métodos para alcançar a coordenação entre
eles? Em que medida a atenção especializada pode ser organizada de
forma que os pacientes que não necessitem mais da atenção continuada
dos especialistas sejam imediatamente reencaminhados a seu médico
de atenção primária? Podem ser desen volvidos métodos para distinguir
a atenção por consultoria (curta duração) da atenção por
encaminhamento (longa duração) de forma que os especialistas estejam
adequadamente treinados para seus respectivos papéis, tornando a
organização da atenção de encaminhamento mais racional? Outra área
que necessita de pesquisa refere-se ao desenvolvimento de diretrizes
para ajudar os profissionais a decidir quando um encaminhamento a
um consultor é desejável.
*
A Agency for Health Care Policy and Research [Agência para Política e Pesquisa de Atenção
à Saúde] nos Estados Unidos identificou os encaminhamentos como uma área
particularmente importante de pesquisa devido à negligência do assunto no passado. Um
resumo de algumas questões de destaque é dado por Lanier e Clancy (1996).
637
17. Necessidades de pesquisa em Atenção Primária
Desenvolvimento e adaptação de métodos para manejo
dos problemas apresentados
A maioria das avaliações da qualidade dos exames diagnósticos
começa com um estudo do diagnóstico e examina, retrospectivamente,
a adequação ou pertinência dos procedimentos utilizados para alcançá-
la. Com exceção da abordagem por algoritmo para avaliar a qualidade
da atenção, nenhuma técnica começa com o problema apresentado. O
Capítulo 16, referente aos prontuários médicos e sistemas de informação,
resume um método de classificação da apresentação de problemas na
atenção primária. As técnicas para aplicá-lo possibilitariam que as
unidades dos sistemas de saúde julgassem a adequação e a pertinência
de todos os problemas apresentados pelos pacientes, não apenas
daqueles que resultaram em diagnósticos específicos. A ênfase nos
problemas apresentados é ainda mais importante na atenção primária
do que em outros tipos de atenção por causa de seu aspecto de primeiro
contato e porque as evidências indicam que cerca de metade de todos
os “diagnósticos” nas consultas de atenção primária não é resolvida em
entidades de diagnósticos codificáveis. Devido ao alto grau de incerteza
de diagnóstico da atenção primária, são necessários os melhores métodos
para caracterizá-lo. Quando os diagnósticos não são claros , a espera
atenta, algumas vezes, envolve a prescrição de uma terapia experimental,
ainda que pouco se saiba a respeito da justificativa e impacto de diversas
estratégias para inter venção quando os diagnósticos ainda são
experimentais. Muitos sistemas de reembolso (particularmente nos
Estados Unidos) dependem da indicação de um diagnóstico. Assim, as
informações que derivam de registros oficiais (como formulários de
queixas) geralmente fornecem estimativas exageradas sobre a incidência
e a prevalência de diagnósticos específicos. Os sistemas de saúde
pioneiros , como o Harvard Community Health Plan (atualmente Harvard-
Pilgrim), em Boston, reconheceram este desafio no projeto de seu
prontuário médico informatizado e que, portanto, fornecem bases para
um melhor entendimento da relação entre os problemas de diagnóstico
e os recursos usados para resolvê-los .
Que métodos são melhores para examinar como pacientes e
profissionais negociam suas diferenças referentes às necessidades e
638
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
opiniões a respeito da causa e do manejo dos problemas de saúde e
determinar como chegam a uma solução que leve a um plano de
abordagem mutuamente aceitável?
Técnicas para medir a efetividade da atenção e a
avaliação da cooperação dos pacientes
Isto envolve o grau no qual os pacientes entendem, aceitam e
participam no processo de atenção prescrito pelos profissionais de
saúde. As comparações da atenção continuada versus a episódica e a
avaliação da participação dos pacientes em seu atendimento requerem
o desenvolvimento de métodos para coletar as informações a respeito
dos pacientes de forma mais exata, conveniente e confidencial. Entre
as técnicas potencialmente úteis estão os diários de saúde, os
prontuários médicos e os resumos de prontuários médicos pessoais
mantidos pelos próprios pacientes.
Que tipos de estilos de comunicação são mais apropriados para
os pacientes de subgrupos culturais específicos? Em que medida as
diferenças entre os subgrupos cultur ais podem ser categorizadas e
usadas para ensinar treinandos de atenção primária? Os estilos de
comunicação que são otimizados na atenção primária são os mesmos
que aqueles para a atenção especializada, ou o desafio das relações
interpessoais de longa duração e enfocadas no paciente, que
caracteriza a atenção primária, pede um tipo diferente de interação
do que é o caso na atenção por consultoria de curta duração?
Procedimentos para avaliação da receptividade dos
pacientes às recomendações médicas
Existe necessidade de determinar o ponto no qual a falta de
receptividade sugere um diagnóstico ou terapia inadequados.
Melhorando a precisão e efetividade da coleta de dados
e preservação de registros
Isto resultará em uma avaliação contábil, acompanhamento do
paciente e coordenação da atenção aprimorados. As abordagens
possíveis variam de registros mantidos pelos pacientes a redes de
639
17. Necessidades de pesquisa em Atenção Primária
informações eletrônicas na atenção primária. Outr a aborda ge m é
dirigida ao desenvolvimento e testagem de sistemas de informação
que aumentariam a utilidade de grandes bancos de dados que derivam
de registros de queixas e outros procedimentos contábeis. Outras
técnicas que podem ser exploradas incluem levantamentos em
pequenas áreas e observações repetidas de coortes de pacientes para
monitorar a atenção ao longo do tempo.
Desenvolvimento de um método para estimar a comunidade
atendida por uma unidade de atenção primária
A estimativa desta “população de risco” é necessária como um
denominador para calcular as taxas , permitindo, a partir daí, comparações
das freqüências relativas entre diferentes estabelecimentos de saúde
ou entre diferentes unidades de atenção primária.
Desenvolvimento de métodos para facilitar o uso dos dados
da comunidade na unidade de atenção primária
Muitas das secretarias de saúde locais e estaduais, se não todas,
coletam dados que podem estar relacionados às características das
populações geogr a ficamente definidas. Estes dados são importantes
na identificação dos problemas de saúde que devem ser tratados na
unidade de atenção primária. Muitas das comunidades, se não a maioria
delas, contêm uma ou mais subpopulações que apresentam alto risco
de problemas de saúde e suas seqüelas. Estas populações incluem
idosos (par ticularmente os que vivem sozinhos), mulheres com
gestação de alto risco e seus bebês, populações minoritárias,
populações socioeconomicamente desfavorecidas, trabalhadores
migrantes, indivíduos com incapacidades, defetividades ou lesões, e
indivíduos sob risco particular para doenças específicas como a
síndrome da imunodefetividade adquirida, hiper tensão, riscos
ocupacionais, exposições ambientais e doenças relacionadas ao
estresse. Exemplos de tópicos de estudo incluem o projeto e
desenvolvimento de redes de infor mação coordenadas que
possibilitarão que as secretarias de saúde, órgãos de saúde comunitária
e profissionais de atenção primária coletem, analisem e interpretem
640
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
dados sobre as necessidades de saúde. A rede também tornará possível
o desenvolvimento de planos para lidar com os problemas de saúde
atuais e emerg entes.
Desenvolvimento e testagem de f ormas de examinar a
efetividade do treinamento, titulação e atividades
educacionais em atenção primária
São necessários métodos para comparar as várias fo rmas em que
os prog ramas de residência estão estr uturados, as diferenças e
similaridades nas abordagens educacionais das várias especialidades
de atenção primária e as variações no treinamento de profissionais
médicos e não-médicos . São necessários métodos adicionais para buscar
indivíduos que sejam treinados em vários tipos de programas para avaliar
o impacto de seu treinamento sobre a natureza, extensão e adequação
da unidade de atenção primária. Esta avaliação seria útil no auxílio aos
programas de treinamento para melhorar sua orientação e intensidade,
bem como para guiar suas atividades de educação continuada.
Como os médicos lidam com informações científicas,
particularmente quando elas contradizem sua forma atual de prática?
Que características determinam se os médicos podem alterar suas
práticas com base em sua própria leitura das evidências ou se
necessitam de mais mecanismos formais de grupo que sejam baseados
em processos de g r upo ou no aconselhamento de mentores ou
colaboradores respeitados?
PESQUISA RELACIONADA À POLÍTICA DE SAÚDE
A pesquisa relacionada à política de saúde trata de questões
pertinentes às decisões a respeito dos serviços quer diretamente, pelo
fornecimento de respostas a questões importantes, quer indiretamente,
pelo for necimento de infor mações que ajudam a entender um
problema de forma que as soluções alternativas possam ser colocadas.
Na atenção primária, existem três tipos de pesquisas relacionadas à
política: pesquisa clínica, pesquisa de serviços de saúde e pesquisa
641
17. Necessidades de pesquisa em Atenção Primária
relacionada ao treinamento em atenção primária. A pesquisa clínica
relevante em política de saúde (algumas vezes conhecida como
epidemiologia clínica) refere-se a processos de atenção direcionados para
o reconhecimento de sintomas, sinais e síndromes na unidade de
atenção primária, os processos de diagnóstico associados a eles, e o
tratamentoeareavaliação das estratégias que vêm após o diagnóstico.
A pesquisa dos serviços de saúde refere-se a uma variedade de relações
entre os vários componentes da estrutura, do processo e dos resultados
da atenção, como f oram descritas no Capítulo 2. A pesquisa
relacionada à formação em atenção primária refere-se às características
e ao impacto do processo para formar os profissionais de atenção
primária e manter sua competência na clínica.
Pesquisa em atenção primária clínica
Dentro desta área encontram-se vários aspectos que precisam
de mais investigações:
Descrições da prática de atenção primária em várias
configurações organizacionais, ambientes e comunidades,
incluindo a incidência de problemas encontrados, padrões
de doenças obser vadas, ser viços oferecidos e recursos
empregados. Estas informações fornecerão a base para o
entendimento dos motivos para as variações nos padrões de
prática entre unidades diferentes. Quanto da variação resulta
de diferenças nos pacientes e suas doenças, e quanto resulta
de diferenças em for mas específicas de org anização,
financiamento e prática? Quanto da variação no uso de
exames, procedimentos e encaminhamentos pode ser
explicado pelo desconforto dos profissionais com as
incertezas, quanto em relação às diferenças nos desejos e
necessidades dos pacientes, e quanto em relação às
condições da própria unidade?
Avaliações da efetividade dos medicamentos, dispositivos e
procedimentos comuns na unidade de atenção primária.
Quais são os benefícios e riscos da tecnologia ou
intervenções empregadas na unidade em comparação com
642
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
o resultado do exame sob condições de pesquisa controladas?
Qual é o impacto sobre a efetividade de várias características
dos pacientes, profissionais e ambientes?
Projeto e testagem de protocolos para exames, diagnóstico
e tratamento. Os protocolos buscam fornecer uma revisão
mais sistemática da qualidade e dos custos da atenção, para
permitir a identificação e avaliação de serviços e profissionais
alternativos, e para identificar problemas nos sintomas
apresentados, incidência de enfermidade ou efetividade do
manejo. Estudos limitados do uso de protocolos para
problemas comuns na clínica pediátrica sugerem que eles
podem ser de algum benefício; o uso destes protocolos
possibilita que profissionais não-médicos assumam alguma
carga da atenção em unidades ambulatoriais muito utilizadas?
Exame da freqüência relativa de efeitos adversos sobre os
pacientes de processos judiciais sobre responsabilidade
médica e sobre a documentação do desempenho do médico
que ocor rem por causa de inter venções inadequadas,
desnecessárias ou da unidade (erros por cometimento), e não
por causa da falha na intervenção (er ros de omissão). A
percepção difundida dos médicos de que fazer demais é
preferível a fazer de menos é confirmada pelas experiências
com os resultados do paciente?
Avaliação de atividades de prevenção, educação do paciente
e de autocuidado. Embora a prevenção de enfermidades e a
promoção da saúde envolvam atividades que se estendem
além do sistema de serviços de saúde, os aspectos que
requerem mudanças nos comportamentos de saúde de
indivíduos estão, em grande parte, dentro da área da atenção
primária. A efetividade de várias abordagens, especialmente
aquelas baseadas em grupo, e não nos esforços individuais
precisa ser testada. A avaliação do papel dos grupos de apoio
no manejo de problemas comuns, como asma na infância ou
dor lombar em adultos, contribuiria de forma importante
para entender a utilidade potencial dos procedimentos de
643
17. Necessidades de pesquisa em Atenção Primária
grupo ao invés da utilidade das estratégias individuais para
manejo da doença e para preveni-la. Embora existam
evidências substanciais da pouca consideração das atividades
preventivas e de promoção da saúde na atenção primária e
evidências de que estas atividades podem ser melhoradas
por várias intervenções práticas (Yanos et al., 1995), pouco
se sabe a respeito da aplicabilidade e utilidade das diversas
inter venções para uma variedade de tipos de atenção
preventiva e as populações para as quais são oferecidas.
Análise do processo de tomada de decisão médica, incluindo
tanto as descrições cuidadosas de como as escolhas
terapêutica e diagnóstica são feitas como o desenvolvimento
e testagem de métodos para melhorar o processo. Como os
profissionais de atenção primária com tipos e níveis diferentes
de treinamento identificam os indicadores de doença e
planejam o manejo e as estratégias de acompanhamento?
Quais estratégias prescritas para a tomada de decisão são
melhores para aprimorar a efetividade e a efetividade destes
processos, e quais são suas limitações e riscos? Estudos deste
tipo incluem análises do papel dos modelos matemáticos
nos diagnósticos médicos e do uso da teoria de utilidade na
estimativa e comparação das preferências dos pacientes pelos
tratamentos e resultados alternativos.
Exames das inter-relações entre os aspectos físico e
psicossocial das enfermidades, par ticularmente como são
vistas na atenção primária. A atenção primária é direcionada
ao tratamento das pessoas, e não das doenças;
freqüentemente os profissionais devem escolher entre uma
ampla variedade de queixas e problemas e indicar os rótulos
de diagnóstico cor retos e as estratégias terapêuticas. A
interação dos distúrbios físicos e psicossociais em pacientes
pode resultar em sérias distorções nos sinais, sintomas e
respostas ao tratamento, e existe, por tanto, uma grande
necessidade de informações a respeito de como estas inter-
relações podem ser mais facilmente reconhecidas e
644
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
efetivamente manejadas. Estudos deste tipo incluem o
exame das relações entre o estresse e as queixas comuns;
análises das f ormas como tranqüilizantes são usados em
consultórios; e as comparações de abordagens não-
farmacológicas e farmacológicas para amenizar os problemas
de saúde. A variação na forma pela qual os profissionais
registram os sintomas e queixas pode ter um papel importante
na determinação do processo decorrente do diagnóstico e
do manejo. Qual a proporção de pacientes que apresenta
múltiplas “queixas importantes”? Onde existem queixas
múltiplas, não fica claro que as primeiras na lista são as de
maior destaque, e ainda pouco se sabe a respeito de como
os profissionais as descrevem e priorizam. Quais sistemas
podem ser desenvolvidos que poderiam ser usados na
caracterização de “complexos de sintomas” quando queixas
múltiplas são encontradas e o que pode ser aprendido a
respeito de seu valor prognóstico, tanto para o uso de recursos
quanto para os resultados da atenção?
Existe um papel na atenção primária para os profissionais da
área que se subespecializam em tipos específicos de problemas
clínicos? Em que medida, se houver, esta especialização melhora a
qualidade da atenção sem aumentar seus custos? Se a
subespecialização é útil, que tamanho de unidade é necessária para
justificá-la? No caso específico da saúde da mulher, a
subespecialização pode fornecer melhores considerações para as
necessidades de saúde das mulheres e melhorar a resposta da atenção
primária para elas?
Exames das diferenças entre usuários e não-usuários dos
serviços de saúde por meio da comparação de indivíduos,
famílias, comunidades ou unidades. Fatores como variações
da condição econômica, educação, valores culturais, estilo
de vida, sistemas de apoio familiar e comunitário e atividades
de busca ativa da unidade podem indicar as diferentes
percepções dos profissionais, pacientes e do público em
relação à atenção primária necessária, apropriada e adequada.
645
17. Necessidades de pesquisa em Atenção Primária
Estudos deste tipo incluem exame da adequação e aceitação
do atendimento prestado em áreas com poucos serviços
médicos e a investigação das barreiras para busca da atenção
em vários subgrupos da população.
Descrições da história natural das doenças comumente
encontradas e manejadas nas unidades de atenção primária.
São necessárias informações mais completas, por exemplo,
a respeito do curso de distúrbios como otite média, artrite,
asma, depressão e dor lombar distúrbios que são
caracterizados por ciclos de remissão e exacerbação.
Particularmente importanteéaextensão dos danos funcionais
ao longo do tempo, os efeitos dos distúrbios físicos e mentais
coexistentes e a efetividade dos esforços para prevenir a
recorrência ou exacerbação.
A boa atenção primária pode reduzir a probabilidade da
comorbidade em determinados indivíduos ou em subgrupos
específicos da população? Por exemplo, as populações
socioeconomicamente desfavorecidas não apenas
apresentam maior probabilidade de se tornarem doentes,
como também apresentam maior probabilidade de se
tornarem doentes com uma variedade de tipos diferentes
de doenças (Starfield et al., 1991). Este é um resultado de
maior vulnerabilidade à doença ou um resultado da atenção
primária menos adequada? O acesso à atenção primária
que atinge longitudinalidade, integralidade e coordenação
pode reduzir esta tendência à comorbidade nestes
indivíduos e populações?
Pesquisa de serviços de saúde relacionados à atenção
primária
A segunda área de pesquisa relacionada à política refere-se a
várias questões relacionadas ao alcance de funções importantes da
atenção primária e suas inter-relações, à organização e financiamento
da atenção primária, e aos desafios crescentes da tecnologia disponível
no consultório e em casa:
646
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Estudos r elacionados à longitudinalidade da atenção. A
pesquisa relativamente recente fornece a base para o
postulado de que uma relação entre os pacientes e um
profissional específico é mais salutar do que a relação com
apenas um local específ ico. Entretanto, pouco se sa be a
respeito das condições nas quais, ou as populações para as
quais, um local específico pode ser tão vantajoso quanto
um profissional em particular. Se a coordenação da atenção
entre os diferentes profissionais em uma unidade for de alto
nível, poder ter um “local específico” em vez de um “médico
específico” seria tão vantajoso no alcance dos benefícios da
longitudinalidade? Em que medida os benefícios da
identificação com um profissional específico podem ser
alcançados por meio de outros métodos que não a
continuidade do profissional, e quais são as condições sob
as quais estas alternativas são úteis? Quais são as situações
específicas em que a manutenção de uma relação de longa
duração entre o paciente e o profissional pode ser danosa à
atenção? Quais os problemas que surgem quando os pacientes
preferem um grau de autonomia e uma relação menos pessoal
com um profissional do que aquela que comumente se
desenvolve em uma unidade de atenção primária e que pode
comprometer a efetividade da atenção devido à redução da
participação do paciente? Em que medida a “livre escolha”
de um profissional de atenção primária leva ao alcance de
benefícios de longitudinalidade, par ticularmente quando a
longitudinalidade é avaliada pela verificação da força da
relação interpessoal entre profissionais e pacientes?
Estudos relacionados à atenção ao primeiro contato. Como
os benefícios do papel de porta de entrada podem ser
mantidos apesar dos incentivos que podem reduzir o acesso
a ser viços especializados necessários? Porque alguns
pacientes preferem desviar dos médicos de atenção primária
e ir diretamente a especialistas? Existem variações culturais
na aceitação do papel da atenção primária? Estas diferenças
647
17. Necessidades de pesquisa em Atenção Primária
resultam em padrões e resultados diferentes da atenção?
Quais podem ser as desvantagens de desencorajar a prática
do auto-encaminhamento a especialistas?
Estudos relacionados à integralidade. Quais problemas são
melhor manejados exclusivamente dentro da atenção
primária? Inversamente, quais os problemas que devem ser
rotineiramente encaminhados a consultores secundários para
aconselhamento ou especialistas em atenção terciária para
manejo de longa duração? Qual o papel que o
empoderamento aumentado exerce no maior reconhecimento
dos problemas por parte dos profissionais? O que pode ser
feito para maximizar o envolvimento dos profissionais de
atenção primária na busca ativa da comunidade, atenção de
longa duração e atividades preventivas?
Estudos r elacionados à coordenação. Quais mecanismos
facilitam de forma otimizada a comunicação de
infor mações a respeito dos pacientes entre profissionais e
entre níveis de atenção?
Estudos referentes às relações entre os aspectos essenciais
da atenção primária. Muito poucos estudos de pesquisa
avaliaram simultaneamente o alcance de múltiplas metas da
atenção primária; aqueles que foram realizados sugerem que
o alcance de uma delas pode custar o alcance de outras
(Yanos et al., 1995). Num nível ecológico, ou seja, utilizando
os dados agregados a respeito de cada característica, as
comparações internacionais mostram que o maior alcance
do primeiro contato não está associado ao maior alcance da
integralidade (Boerma et al., 1997), mas não se sabe se este
é o caso no nível dos consultórios individuais. Em que
medida a manutenção de uma relação profissional-paciente
de longa duração facilita a atenção ao primeiro contato, a
integralidade e a coordenação? Uma maior integralidade da
atenção gera uma maior coordenação? Os médicos ou
organizações que têm um bom desempenho em uma
característica apresentam probabilidade de ter um bom
648
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
desempenho em outras, ou elas não estão relacionadas? Quais
fatores são responsáveis pelo bom desempenho destas
características? Elas são basicamente educacionais ou são
mais uma função do ambiente no qual o profissional trabalha?
Quais as melhores formas de melhorar simultaneamente o
desempenho do primeiro contato, da longitudinalidade, da
integralidade e da coordenação?
Estudos relacionados às unidades de referência
Em que medida as variações obser vadas nas taxas de
encaminhamento estão relacionadas às diferentes necessidades dos
pacientes, e não às diferenças aleatórias ou sistemáticas nos padrões
de clínica do médico? Existem evidências de que existem diferenças
nas taxas de encaminhamento para aconselhamento ou intervenções
de curta duração e para o manejo continuado da enfermidade de longo
prazo, e estas difer enças nas unidades de referência influenciam o
estado de saúde dos pacientes? A variabilidade nas taxas de
encaminhamento pode estar associada a diferenças (1) no case-mix,
(2) nas características do paciente, como sexo e idade, (3) nas
características do médico, como treinamento ou tempo de clínica, (4)
na disponibilidade de recursos dentro de um estabelecimento clínico,
bem como os externos, (5) na acessibilidade de práticas especializadas
para os pacientes, e (6) nas diferenças nos padrões de prática
possivelmente relacionadas às variáveis psicológicas associadas à
tolerância da incer teza ou às normas gerais na comunidade. Estas
características requerem consideração quando alguém explorar as
variações nas taxas de encaminhamento, no entendimento de seu
fundamento e no planejamento de formas para mudá-las para alcançar
os melhores resultados expressos em termos da saúde dos pacientes.
Estudos relacionados à modificação do padrão de
referência
Estudos na Grã-Bretanha mostram que os especialistas tratam
os pacientes em casos em que eles poderiam ser tratados por seu
médico generalista e que estes profissionais expressam insatisfação
649
17. Necessidades de pesquisa em Atenção Primária
quando os pacientes são contra-referenciados para outros especialistas
sem seu consentimento (Wilkin e Dornan, 1990). Em que medida a
revisão de seus prontuários médicos pelos consultores pode lembrá-
los do envolvimento do médico de atenção primária? Que outros
mecanismos para o envolvimento dos consultores podem reduzir a
freqüência do encaminhamento? Por e xemplo, a necessidade de
encaminhamento pode ser reduzida por conversas telefônicas entre o
consultor e o médico de atenção primária (Hartog, 1988) ou por meio
de sessões de consultoria com especialista dentro de um
estabelecimento de atenção primária (Tyrer, 1984)? Como as diferenças
de opinião entre os médicos de atenção primária e os especialistas
são resolvidas? Em que medida os pacientes estão envolvidos na
tomada de decisão nestes casos? Todas estas questões são assuntos
adequados para pesquisa.
Estudos referentes ao papel dos médicos de atenção
primária e dos especialistas
Em muitos países, as tarefas dos médicos de atenção primária,
secundária e terciária estão claramente delineadas. Os médicos de
atenção primária trabalham muito fora do hospital, os especialistas
consultores trabalham em hospitais comunitários e os médicos terciários
trabalham basicamente em centros médicos e de ensino regionalizados.
Em alguns países, os médicos de atenção secundária podem trabalhar
tanto fora como dentro de hospitais. Em que medida a restrição do
local de prática de médicos de atenção primária e da atenção não-
primária influencia a qualidade, efetividade e custo da atenção?
Estudos relacionados ao trabalho em equipe na atenção
primária
Muitas contribuições úteis para a atenção primária são feitas
por pessoal não-médico , embora não existam padrões para os diferentes
papéis e relações. Conforme foi observado no Capítulo 5, as tarefas
delegadas podem substituir aquelas comumente desempenhadas pelos
médicos, suplementar o que o médico faz ou complementar as
atividades convencionais dos médicos. O treinamento de pessoal não-
650
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
médico para a atenção primária seria grandemente facilitado pela
informação a respeito de qual função é mais adequadamente assumida
por quem. O quão difundido é o uso de pessoal não-médico na
prestação de aspectos clínicos da atençã oeoquãovariáveis são suas
tarefas na atenção primária? Os profissionais de enfermage m são mais
efetivos do que os médicos em assegurar a prestação dos serviços
preventivos necessários, e, em caso afirmativo, existem barreiras para
seu emprego para estes propósitos? Com que freqüência são realizadas
visitas domiciliares, para que propósito e por quem? Sob quais
condições os pacientes se relacionam com um profissional não-médico
como sua “fonte habitual de atenção” ou como o indivíduo que
coordena os diversos aspectos da atenção, e quão bem os principais
atributos da atenção primária são alcançados em comparação à atenção
por parte dos médicos?
Estudos relacionados à organização e ao financiamento
dos serviços de atenção primária
Quais arranjos de financiamento e organizacionais mais facilitam
o reconhecimento do problema, a adequação do diagnóstico e dos
procedimentos terapêuticos, e a reavaliação depois da instituição da
terapia? Em que medida e sob quais condições o manejo por telefone
pode substituir as consultas pessoais? Quais formas de organização e
financiamento facilitam o desenvolvimento de sistemas de informação
para melhorar o conhecimento das necessidades de saúde da
comunidade, o reconhecimento dos problemas dos pacientes e a
receptividade às inter venções? Como podemos maximizar os
incentivos para desenvolver estes sistemas?
Estudos relacionados ao uso da tecnologia na atenção
primária
Conforme a tecnologia se expande, mais procedimentos serão
realizados no nível da atenção primária, e alguns até serão adequados
para uso pelos próprios pacientes. A expansão da tecnologia além dos
limites dos hospitais e grandes centros médicos levanta um conjunto
de questões para pesquisa. Como a disponibilidade de tecnologia altera
651
17. Necessidades de pesquisa em Atenção Primária
a natureza da atenção primária? A disponibilidade de fazer exames
em casa aumenta ou diminui o uso dos serviços de saúde, e isso
influencia os pacientes a se desviarem dos médicos de atenção primária
e a buscarem diretamente o atendimento de especialistas? As novas
tecnologias de exames dirigidos para detectar estágios iniciais da
enfermidade desviam a atenção das necessidades para sua prevenção?
A disponibilidade difundida dos exames a domicílio impõe uma carga
maior de coordenação dos serviços sobre os médicos de atenção
primária? Quais sistemas de inf or mação seriam necessários para
facilitar o uso eficiente dos dados destas tecnologias baseadas nos
domicílios e nos consultórios? O uso cada vez maior de tecnologia
irá facilitar ou impedir a expansão dos serviços de atenção primária
organizados e integrados?
Em que medida os esforços combinados para lidar com
problemas num contexto familiar facilitam o processo de
atenção e seu resultado?
Os profissionais que utilizam a família como parte integrante
do manejo alcançam a resolução mais rápida e mais completa dos
problemas do que os médicos de atenção primária que lidam com o
contexto familiar apenas como um adjunto ao manejo?
Pesquisa sobre treinamento em atenção primária
O terceiro tipo de pesquisa relacionada à política de saúde possui
três áreas que necessitam de investigação especial:
Como o conhecimento a respeito da distribuição da enfermidade
pode ser incluído no currículo médico?
Por meio de qual mecanismo os médicos de atenção primária
podem aprender os princípios da atenção primária e como seu conteúdo
pode ser mais adequado?
Quais técnicas devem ser usadas para ensinar médicos em
treinamento a respeito das limitações de seu conhecimento, bem como
a oportunidade da consultoria e do encaminhamento apropriados?
Como muito da atenção primária requer lidar com a incerteza, deve
ser ensinado aos médicos em treinamento como reconhecer quando a
652
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
“espera atenta” alcançou seus limites e a ação subseqüente é
necessária. Também deve ser ensinado ao treinando em atenção
primária técnicas para minimizar a ansiedade que acompanha a
incerteza. Como os médicos envolvem os pacientes ao lidar com a
incerteza? Quais informações eles fornecem aos pacientes a respeito
da probabilidade das várias possibilidades referentes a seus problemas
indiferenciados e os prognósticos a eles associados? Como estes
mecanismos diferem pela formação cultural do paciente? Quais são
os melhores mecanismos para ensinar as técnicas adequadas no
ambiente educacional?
Como as abordagens para avaliação da qualidade e sua melhora
podem ser incorporadas ao treinamento dos médicos? Os treinandos
em atenção primária devem aprender como manter-se atualizados
quanto aos avanços científicos em assuntos relacionados à atenção
primária e como utilizar computadores para procurar literatura sobre
o conhecimento atualizado quando for necessário na atenção aos
pacientes. Este treinamento é melhor realizado em conjunto com as
atividades clínicas ou como parte de um treinamento científico básico?
MECANISMOS PARA FACILITAR A REALIZAÇÃO
DE PESQUISAS EM ATENÇÃO PRIMÁRIA
Uma proporção muito pequena de pesquisas publicadas refere-
se aos tópicos de importância na atenção primária. Com exceção de
alguns periódicos dedicados totalmente a tópicos de medicina de família
e medicina interna geral e pediatria, menos de 10% e, na maioria dos
casos, abaixo de 5% dos textos publicados em periódicos revisados
têm qualquer relevância para os problemas encontrados na prática da
atenção primária (Starfield, 1990). Até mesmo os periódicos que
enfocam a atenção primária apresentam uma preponderância muito
maior de tópicos clínicos do que de pesquisa básica ou pesquisa em
serviços de saúde relevantes para a atenção primária. Além disso, menos
de um quarto de todos os artigos nestes periódicos relatam estudos que
ocorreram em ambientes de atenção ambulatorial (Starfield, 1996).
653
17. Necessidades de pesquisa em Atenção Primária
A maioria das abordagens diretas para estimular a realização de
pesquisa em atenção primária envolve a provisão de financiamento
público ou privado. O g overno norte-americano fornece algum
financiamento estabelecido para tal pesquisa, principalmente pela
Agency for Health Care Policy and Research [Órgão de Política e Pesquisa
em Atenção Primária]. Entretanto, os valores deste financiamento
são apenas uma pequena fração (muito menos de 1%) do
financiamento para a pesquisa relacionada à oferta de serviços de
saúde. No Reino Unido, onde o enfoque sobre a atenção primária é
político tanto para os principais partidos políticos quanto para o
governo, uma porcentag em substancial (14%) do dinheiro do governo
g asto em pesquisa e desenvolvimento será reservada para a pesquisa
em atenção primária (Groves, 1997).
Os mecanismos adicionais para estimular a pesquisa em atenção
primária incluem o apoio para o fortalecimento das unidades
acadêmicas em atenção primária, especialmente em faculdades de
medicina e universidades de prestígio, e o fornecimento de visibilidade
para os resultados da pesquisa de atenção primária na mídia pública e
profissional. Um importante periódico de atenção primária, ou talvez
mais de um, poderia assumir o compromisso de uma revisão anual
dos estudos de pesquisa de atenção primária recentes e seus achados.
A revisão de Yanos et al., publicada em 1995, referente à pesquisa
publicada de 1980 a 1994, fornece um exemplo interessante do
potencial para esta proposta.
NÍVEIS DE PESQUISA EM ATENÇÃO PRIMÁRIA
Para explorar o enorme potencial de pesquisa, é útil dividir as
possibilidades em três níveis:
Pesquisa realizada no nível do profissional individual ou
grupo de consultórios.
Pesquisa realizada por meio da colaboração entre
profissionais em muitas unidades (ou centros de saúde) em
uma área ou país (ou até mesmo entre países).
654
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Pesquisa realizada para fins de desenvolver políticas a
respeito da org anização e da prestação de serviços numa
jurisdição política, que pode ser um município, província
ou estado, ou nação.
Todos os três níveis de pesquisa são importantes no
desenvolvimento e apoio de uma agenda de pesquisa,
complementando-se.
Pesquisa no nível do profissional ou consultório individual
O objetivo deste tipo de pesquisa é estimular um espírito de
questionamento entre os profissionais. Muitos dos médicos, se não a
maioria deles, entram no treinamento médico com um espírito de
curiosidade intelectual que geralmente se perde como resultado da
natureza didática de seu treinamento. Tendo tempo e estímulo, este
espírito geralmente pode ser recuperado. Como o conhecimento em
medicina é sempre incompleto e algumas vezes baseado em
informações inadequadas, suposições a respeito de práticas “certas”
e “erradas” devem ser continuamente sujeitas a validação. Os médicos
devem ser incentivados a questionar-se a respeito de sua própria
prática. Para a maioria, os médicos estarão interessados em assuntos
clínicos, como seus próprios diagnósticos e procedimentos terapêuticos
comparados com os de seus colegas na mesma unidade, como os
problemas de seus próprios pacientes se comparam com os problemas
observados por seus colegasearespeito da efetividade das escolhas
de tratamentos alternativos na melhora de problemas apresentados
por seus pacientes. Para realizar este tipo de estudo, é necessário
ter sistemas de informação que possam identificar um conjunto de
informações centrais a respeito de cada paciente, as consultas que
fez e o que aconteceu em cada consulta (problema apresentado,
diagnóstico, tratamento e liberação). O investimento no treinamento
de médicos para o uso de dados informatizados e na provisão de fácil
acesso aos dados computadorizados facilitará grandemente seu
interesse e a realização da pesquisa deste tipo. Keith Hodgkin (1963)
e John Fry (1966) descreveram as condições que encontraram em
suas unidades mais de 30 anos. Fry, um médico generalista na Grã-
655
17. Necessidades de pesquisa em Atenção Primária
Bretanha por 45 anos (Fry 1993), referiu-se ao potencial para a
pesquisa de longo prazo na unidade como excitante e desafiadora e
como indispensável no fornecimento de informações para melhorar
o entendimento e o manejo dos problemas de atenção primária. Como
exemplos de suas contribuições, citou as seguintes “descobertas”:
1 . A síndrome da infecção do trato respiratório superior
recorrente na primeira infância é geralmente superada aos
7-8 anos.
2. Distúrbios como asma, enxaqueca, febre do feno e úlcera
duodenal não persistem para sempre.
3 . Embora a pressão arterial elevada e a doença cardíaca
isquêmica sejam problemas relacionados ao envelhecimento,
nem todos requerem tratamento intensivo de longa duração.
4. O curso e o resultado de condições psiquiátricas comuns é
aquele dos “três terços”: um terço sofre de um único episódio,
um terço tem episódios recorrentes e um terço são crônicos
e não respondem à “cura”.
Além disso, Fry dividiu os tópicos mais receptivos à pesquisa
de unidades isoladas dentro de categ orias de estudo conforme a
maneira que a unidade é dirigida, incluindo tópicos como volume,
tipos e problemas de pacientes, encaminhamentos, visitas domiciliares,
uso de unidades de diagnóstico e informações de prescrição; estudos
de longa duração de pacientes com enfermidades específicas; estudos
do curso e prognóstico de distúrbios comuns; e estudos do impacto
de fatores sociais, pessoais e familiares. Hodgkin e Fry realizaram sua
pesquisa baseada na unidade sem o benefício dos computadores.
Imagine o que poderia ser feito hoje com o benefício dos sistemas
automatizados de informações.
Entretanto, deve-se ter atenção ao generalizar os resultados de
estudos realizados em uma ou apenas algumas poucas unidades
utilizando uma população que pode não ser representativa do público
geral. A habilidade para generalizar os achados fica comprometida
quando a população em estudo não é representativa da população
ou, pelo menos, de um subg rupo identificável da população. A
generalização é um desafio em qualquer tipo de pesquisa, mas é
656
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
particular mente problemática na atenção primária porque as
características do ambiente específico são tão influentes que se tornam
um conjunto de fatores que eles mesmos devem ser considerados.
Portanto, uma abordagem alternativa promissora para a pesquisa em
atenção primária envolve a pesquisa colaborativa, multicêntrica na
clínica baseada em consultório.
Pesquisa colaborativa, multicêntrica
Os esforços colaborativos oferecem um potencial muito maior
para realizar a pesquisa dos serviços de saúde e a pesquisa clínica
porque os diferentes estabelecimentos clínicos quase certamente terão
tipos diferentes de características estruturais (por exemplo, pessoal,
organização, financiamento) e processuais. Bons protótipos destes
esforços colaborativos (Niebauer e Nutting, 1994) incluem o
Ambulatory Sentinel Practice Netw ork [Rede de Prática Amb ulatorial
Sentinela] (ASPN) nos Estados Unidos e Canadá, Pediatric Research on
Office Settings [Pesquisa Pediátrica em Consultórios] (PROS) nos
Estados Unidos, (Wasser man, 1998) e o Eur opean General Practice
Research Network [Rede Européia de Pesquisa em Clinica Geral.]
A ASPN, iniciada no final dos anos 70 pelo North American
Primary Care Research Group [Grupo de Pesquisa Norte-Americano de
Atenção Primária], consiste principalmente de médicos de família
(Culpepper e Froom, 1988). Em meados dos anos 80, a American
Academy of Pediatrics [Academia Americana de Pediatria] organizou
uma rede similar, PROS. Ambas as redes envolvem unidades do país
na realização de pesquisas sobre tópicos derivados da experiência na
unidade e aborda tópicos importantes para os profissionais de atenção
primária. Em ambas as redes os médicos vinculados à universidade
são valiosos no manejo da pesquisa e no fornecimento das habilidades
de pesquisa necessárias para realizar a pesquisa científica. Seus comitês
de orientação também incluem profissionais ativos que participam
da escolha dos tópicos para estudo.
Algumas redes regionais complementam estas redes nacionais.
O Cooperative Information Project [Rede Cooperativa de Informações]
(COOP) é uma rede de profissionais na Nova Inglaterra que realizou
657
17. Necessidades de pesquisa em Atenção Primária
uma pesquisa colaborativa em conjunto com a Dartmouth Medical School
por mais de uma década. Outra rede regional é o Pediatric Practice
Research Group [Grupo de Pesquisa em Clínica Pediátrica] (PPRG)
em Chicago, um esforço conjunto do Children’s Memorial Hospital e
seu Institute for Education and Research, Nor thw estern University, junto
com médicos de consultório. Esta rede assumiu e publicou os
resultados de estudos sobre o crescimento infantil, a exposição das
crianças a ambientes prejudiciais, o manejo em consultório da ingestão
de corpos estranhos, exame de colesterol e a aceitação de novas
fórmulas para aleitamento artificial (Christoffel et al., 1988).
PROS e seu precursor baseado em consultorias na Califórnia
realizaram estudos de unidades de exames de visão, anemia ferropriva
e febre em bebês. Os estudos da ASPN forneceram novas informações
a respeito de várias características de diversos problemas importantes
na atenção primária, incluindo dor no peito, doença inflamatória pélvica,
aborto espontâneo e dor de cabeça (Rosser et al., 1990; Freeman et al.,
1988; Green et al., 1988; Becker et al., 1988). Os projetos do COOP
abordam a medição do estado funcional nos consultórios médicos
(Nelson et al., 1990), um estudo prospectivo sobre fadiga (Kirk et al.,
1990), controle de câncer na unidade de atenção primária (Dietrich et
al., 1990), uso de antibióticos na atenção primária e muitos outros
tópicos (Dartmouth COOP Project Bibliograph y, 1991).
As redes colaborativas européias baseadas na unidade notáveis
são a EUROSENTINEL (Leurquin et al., 1995) e a European General
Practice Research Network [Rede Européia de Pesquisa Geral] (Jones,
1991). Estas iniciativas são encorajadas e apoiadas pela União
Européia na forma de subvenções (COMAC-HSR e BIOMED).
Por anos, muitas colaborações locais entre acadêmicos e
profissionais de consultório contribuíram com infor mações
importantes para a atenção primária. A maioria destes esforços
colaborativos foi subproduto dos interesses de pesquisadores
específicos baseados em centros médicos e, portanto, enfocaram os
tópicos que foram gerados dentro dos centros; poucos esforços
sobreviveram depois que o pesquisador específico se mudou ou
encontrou outros interesses. Apesar disso, o potencial para ligações
658
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
mais amplas e mais estáveis entre o médico de atenção primária
acadêmico e o profissional de consultório, com papéis aprimorados
para os profissionais na geração de importantes tópicos de pesquisa,
fica evidente a partir das redes nacionais e regionais existentes.
Pesquisa sistemática para definir as políticas para
atenção primária
Este tipo de pesquisa é direcionado especificamente para a
resposta às questões para definir a tomada de decisão a respeito da
organização e da prestação de serviços, bem como a adequação da
preparação e do emprego de pessoal de serviços de saúde. Como estas
políticas geralmente são elaboradas em nível nacional ou regional, a
pesquisa que as define deve produzir infor mações que sejam
generalizáv eis e aplicáveis a toda a jurisdição. Assim, ela não pode ser
realizada em apenas um centro de saúde ou nem mesmo em um grupo
de centros de saúde a menos que reconhecidamente seja uma amostra
representativa. Dependendo da natureza da pergunta específica que
foi feita, a pesquisa requer um sistema de informação que contenha
dados coletados de uma maneira uniforme nas unidades clínicas ou de
levantamentos sistemáticos de amostras da comunidade ou das unidades
de serviços de saúde. Por exemplo, a avaliação da adequação da atenção
primária recebida por uma população requer informações coletadas de
forma padronizada da população ou de uma amostra representativa
dela; a caracterização da adequação da atenção primária prestada pelas
unidades ou centros de saúde requer informações coletadas de forma
padronizada do universo das unidades ou de sua amostra representativa.
As bases de dados clínicos não são incomuns nas unidades de atenção
à saúde em muitos países, mas nenhum país jamais alcançou a
capacidade de agregar dados de todas as unidades porque as bases de
dados de unidades diferentes não são uniformes . Nos Estados Unidos,
esforços estão em andamento para especificar um núcleo mínimo de
dados centrais tanto para indivíduos como para suas consultas no
sistema de serviços de saúde, e para fazê-lo de forma que seja possív el
transmitir dados comparáveis para o planejamento e avaliação (National
Center for Health Statistics, 1996).
659
17. Necessidades de pesquisa em Atenção Primária
DESAFIOS DA PESQUISA EM ATENÇÃO PRIMÁRIA
A pesquisa confiável sobre atenção primária, seja a pesquisa
básica, clínica, de ser viços de saúde ou avaliação dos prog ramas
educacionais, qualquer que seja o nível de pesquisa, requer que os
pesquisadores sejam treinados nas técnicas de pesquisa. Sua perícia
deve ser específica para a tarefa; deve incluir disciplinas como
epidemiologia, técnicas de ciências sociais, economia e análise de decisão .
Além disso, o treinamento para pesquisa deve incluir técnicas para coleta
de dados não-quantitativos utilizando as habilidades do antropólogo e
disciplinas relacionadas. Muito será ganho a partir das análises que se
tornam cada vez mais refinadas e estão em bom uso em conjunto com
as técnicas quantitativas mais tradicionais e aplicativos bioestatísticos
(Norton et al., 1990). Por exemplo, análises qualitativas revelaram
motivos para o encaminhamento que podem não ser percebidos pelas
classificações quantitativas tradicionais. O compor tamento de
encaminhar pode parecer irracional e, portanto, difícil de categorizar
(Wilkin e Dornan, 1990). O treinamento em técnicas formais para
análise qualitati v a está disponível para o ensino, bem como para uso
em pesquisas em andamento (Patton, 1980; Miles e Huberman, 1984).
É aceito na prática das subespecialidades clínicas que os
treinandos realizem estudos de pós-doutorado sob orientação de
pesquisadores titulares. Bolsas de estudo para o treinamento em pós-
doutorado na pesquisa de ser viços de saúde, incluindo aquela
relacionada especificamente à atenção primária, estão disponíveis na
Agency for Health Care Policy and Research no U.S. Department of Health
and Human Services [Ministério da Saúde e Assistência Social nos Estados
Unidos]. O National Research Services Awards [Prêmio Nacional para
Serviços em Pesquisa] para pesquisa sobre questões da atenção primária
também está disponível em outros órgãos do mesmo ministério.
O desafio da pesquisa de atenção primária é excitante. Pode
ser que suas recompensas sejam maiores do que aquelas de outras
pesquisas. A atenção primária tem o valor heurístico de contribuir
para o conhecimento comum a toda pesquisa, mas tem a recompensa
adicional de contribuir para a pesquisa avançada do desenvolvimento
660
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
nos serviços de saúde. A pesquisa biomédica é responsável pelos
enormes avanços que levaram ao entendimento dos mecanismos das
enfermidades e pelo desenvolvimento de tecnologias para manejá-
las e para prolongar a vida. Hoje o avanço está na organização e
prestação de serviços para tornar estes avanços disponíveis quando
necessários, no desenvolvimento de formas para determinar onde
estas necessidades são maiores, e no enfoque de mais consideração
sobre a documentação do impacto da tecnologia e de outros serviços
sobre os aspectos de outros estados de saúde que não apenas os
processos da enfermidade. A pesquisa em a tenção primária e a
tradução dos achados da pesquisa em política e prática clínica são
ingredientes essenciais para alcançar as duas principais metas de
qualquer sistema de serviços de saúde: otimizar a saúde da população
por meio do emprego do conhecimento mais avançado sobre causa
de enfermidade, o manejo de doença, além de maximização da saúde
e minimização das disparidades sistemáticas nos estados de saúde
associados ao acesso diferenciado aos benefícios deste conhecimento.
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665
A Declaração de Alma-Ata (ver Capítulo 1) reconheceu que
a atenção primária “reflete e evolui a partir de condições
econômicas e características políticas e socioculturais de um país
e suas comunidades” (World Health Org anization, 1978). As
características de cada sistema de atenção primária, por tanto,
são únicas. Dois países nunca configurarão seus sistemas de forma
idêntica, e o sistema de atenção primária pode até mesmo diferir
dentro dos países se as regiões tiverem características históricas,
políticas, culturais e econômicas diferentes.
Como os países diferem nestas características, também
diferem em suas ag endas políticas. Entretanto, existem algumas
questões genéricas que devem ser enfrentadas por todos os países,
independentemente do tipo de sistema de atenção primária. Em
muitos países, especialmente na Europa Ocidental, o princípio
de “solidariedade” permeia a política de saúde. Ou seja, e xiste
um reconhecimento de que o bem comum é melhor ser vido
quando o bem-estar de todos os grupos da população é
maximizado. Isto está mais recentemente ref letido na Car ta de
Lubliana de 1996 que reafir mou algumas suposições básicas a
respeito dos sistemas de saúde. No mesmo ano, a Declaração de
Buenos Aires, que abordou a Medicina de FamíliaeaReforma
da Atenção à Saúde, propôs um conjunto de princípios, muitos
dos quais são virtualmente idênticos àqueles enunciados na Carta
de Lubliana (Ceitlin e Gomez Gascon, 1997) (Tabela 18.1).
18. POLÍTICAS DE SAÚDE PARA
ALCANÇAR EFETIVIDADE E
EQÜIDADE
666
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Em 1996, a Organização Mundial da Saúde tomou a iniciativa
de enfocar a redução das disparidades no estado de saúde e nos
serviços de saúde entre grupos sociais caracterizados pelos diferentes
níveis de privilégios sociais ou econômicos. A iniciativa trata das
disparidades entre os países, bem como dentro deles. Está baseada
na evidência da existência e aumento das lacunas em quase todos os
países, do impacto adverso dos ajustes estr uturais econômicos
impostos pelas agências doadoras em países em desenvolvimento
levando a cortes nos gastos sociais e à privatização de funções
anteriormente públicas, e dos efeitos adversos de longa duração sobre
a sociedade de desigualdades sociais e de saúde.
Alcançar o crescimento e o ajuste financeiro sem uma preocupação
razoável com a eqüidade é definitivamente um desestabilizador social.
Robert McNamara (no cargo de presidente do Banco Mundial)
Fonte: Ceitlin e Gomez Gascon (1997)
Tabela 18.1Tabela 18.1
Tabela 18.1Tabela 18.1
Tabela 18.1
Políticas recentes da reforma da atenção à saúde
667
18. Políticas de Saúde para alcançar efetividade e eqüidade
Os sistemas de saúde em quase todas as nações estão passando
por reformas. Em muitos lugares, estas reformas são orientadas para
o aprimoramento do papel do mercado na organização e financiamento
dos serviços de saúde. As conseqüências desta mudança não estão
claras. Na maioria dos países da Europa ocidental, elas se sobrepõem
aos sistemas com longa história de acesso universal aos serviços e
com consideração explícita para melhorar a eqüidade ou
“solidariedade” na oferta de serviços. Nas principais reformas de países
orientados para o mercado na Europa ocidental não tem sido permitido
que comprometam estes princípios. Na verdade, em 1997, alguns
aspectos da reforma foram abandonados em países como o Reino
Unido e a Nova Zelândia porque seus efeitos eram incompatíveis
com os princípios. Em alguns países, como a Austrália, as tentativas
de r eforma da a tenção à saúde consistiram do for talecimento da
atenção primária (Webster, 1996). Em muitos países em que não
precedentes históricos em relação à igualdade ou eqüidade do acesso
aos serviços de saúde ou à atenção primária, as reformas podem até
mesmo prejudicar sua obtenção.
Eqüidade ou justiça–éumdosprincípios da ética. Qualquer
sistema de saúde ou política de saúde que queira ser ético deve
considerar a eqüidade. Embora as nações orientais e ocidentais
sejam, de alguma f orma, diferentes em sua abordagem para alcançar
os outros aspectos da ética (autonomia e beneficência), as nações
ocidentais tendem a ser similares entre si em sua abordagem destes
dois princípios éticos. O mesmo não pode ser dito do princípio da
justiça. Justiça significa imparcialidade: os iguais devem ser tratados
de forma similar. Existem duas visões opostas de imparcialidade :a
igualitária e a liber tária. Do ponto de vista igualitário, a eqüidade é
alcançada quando os recursos são distribuídos de acordo com as
necessidades. Ou seja, mais recursos são disponibilizados para as
populações que necessitam de mais serviços por apresentarem
maiores desvantagens sociais ou de saúde. O igualitário a
“similaridade” como significando o estado da humanidade, de forma
que todos têm o direito de lutar por um estado de saúde igual. O
libertário as coisas sob a suposição de que “igual” se aplica aos
668
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
méritos; os recursos são distribuídos de acordo com os méritos, ou
seja, par a aqueles que os merecem por algum critério especificado.
Na visão do liber tário, a atenção à saúde deveria ser distribuída de
acordo com padrões mínimos e financiada de acordo com a vontade
de pagar. Na abordagem liber tária, a política de saúde estabelece um
mínimo básico de serviços, e aqueles que possuem os meios para
fazê-lo ajudam a financiar os serviços para quem não os tem, até
aquele básico mínimo. De acordo com este último ponto de vista, a
igualdade do estado de saúde para todos os seres humanos não precisa
ser uma prioridade central (Wagstaff e Van Doorslaer, 1993a).
Dentro do mundo ocidental industrializado, não existe um
entendimento comum da importância relativa dos pontos de vista
igualitário e libertário . Conforme foi observado anteriormente, as visões
igualitárias tendem a prevalecer na Europa ocidental e estão
incorporadas em documentos, como o European Goals for Health [Metas
Européias para Saúde]; a eqüidade é a primeira das 38 metas. Mas
mesmo na Europa ocidental existem grandes diferenças na extensão
na qual a eqüidade é alcançada.
*
As diferenças ocorrem, em parte,
devido às diferenças no financiamento de serviços e, em parte, às
diferenças na oferta de serviços.
Muitos países tentam financiar os sistemas de saúde de acordo
com os princípios igualitários. Ou seja, os indivíduos com renda mais
alta gastam uma parte maior de sua renda para o seguro-saúde. Como
os sistemas de imposto de renda na maioria dos países industrializados
são, geralmente, de alguma forma, progressivos, os países com sistemas
de seguro-saúde baseados no imposto de renda são mais igualitários
no financiamento de seus serviços de saúde. Os sistemas de saúde
*
Os termos igualdade e eqüidade não são sinônimos. O alcance da “igualdade” na saúde requer
que as iniqüidades sistemáticas nos determinantes da saúde (incluindo, entre outros, o
acesso e a prestação de serviços de saúde adequados) sejam reduzidas. Os meios para fazê-
lo podem exigir diferentes abordagens em diferentes grupos sociais de acordo com suas
diferentes necessidades. A eqüidade na oferta de recursos leva em consideração as necessidades
subjacentes na decisão a respeito dos níveis apropriados de recursos a serem disponibilizados
para cada subgrupo da população para reduzir as desigualdades sistemáticas no estado de
saúde entre os grupos da população distinguidos pelas diferenças nas vantagens sociais.
669
18. Políticas de Saúde para alcançar efetividade e eqüidade
financiados pelo seguro social, ou seja, pelos pagamentos empregador-
empregado, tendem a ser menos igualitários porque estes impostos
são, geralmente, menos progressivos do que os impostos de renda em
geral. O seguro-saúde privado, como é comum nos Estados Unidos,
é regressivo porque não está relacionado à renda e é, muitas vezes,
mais caro para aqueles com menos capacidade de pagá-lo (Wagstaff
e Van Doorslaer, 1993b; Bodenheimer e Sullivan, 1998). O seguro
combinado para os serviços, como deduções e co-pag amentos, é um
meio regressivo de financiamento porque geralmente não está
relacionado à capacidade de pagar.
Assim como os países variam na extensão em que o
financiamento dos sistemas de saúde é igualitário, eles também variam
na extensão na qual são igualitários na prestação de serviços, conforme
é refletido em sua tentativa de distribuir recursos de acordo com as
necessidades. Confor me foi obser vado no Capítulo 1, esta
variabilidade tem um grande impacto sobre o alcance de resultados
importantes dos sistemas de saúde: serviços mais eficientes em termos
de custos mais baixos para o valor alcançado e melhores resultados
em termos de indicadores do estado de saúde.
A proteção contra uma crescente iniqüidade e de expectativas
frustradas em relação à economia nos custos da atenção com sacrifícios
na qualidade da atenção depende de esforços conjuntos para avaliar
sistematicamente as reformas do sistema de saúde, de acordo com
critérios predeterminados acordados pela população de cada país e
de acordo com os princípios decididos por acordos internacionais.
APRENDENDO COM AS COMPARAÇÕES
INTERNACIONAIS REFERENTES AO
FINANCIAMENTO E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS
DO SISTEMA DE SAÚDE
Muitas nações e muitas organizações internacionais das nações
desenvolveram metas de saúde; algumas delas estão descritas nos
Capítulos 13 e 14. Entretanto, a maioria destas metas não está
670
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
estruturada como metas de eqüidade . Dos 638 objetivos de saúde não
duplicados para os Estados Unidos estabelecidos nos objetivos revisados
em 1996 (National Center for Health Statistics), mais de 200 estão
relacionados especificamente a raças e grupos étnicos minoritários.
Embora uma proporção maior de indivíduos em grupos minoritários
seja de baixa renda, a maior parte dos indivíduos e família de baixa
renda não são desses grupos. Apesar disso, apenas 30 objetiv os tratam
especificamente da melhora da condição de saúde de indivíduos de
baixa renda. Estas metas são declaradas em termos de porcentagem de
melhora nas condições atuais de saúde, sendo a melhora desejada para
aqueles grupos desfavorecidos maior do que para a população como
um todo. Como um resultado, pelo menos algumas das metas norte-
americanas objetivam a redução das diferenças relativas na saúde entre
os grupos da população mais e menos desfavorecidos. Nenhuma meta
é estabelecida para as disparidades de renda. Assim, é esperado que o
sistema de saúde reduza as desigualdades na saúde sem reduzir as
desigualdades sociais. Se isto é ou não possível é uma questão a ser
discutida; se for possível, isto ocorrerá pelo aprimoramento da atenção
primária como uma estratégia política.
Os exemplos de algumas outras poucas nações podem ser
instrutivos. Alguns países relativamente pobres têm obtido sucesso
em melhorar bastante a saúde de suas populações, apesar de sua renda
média ser relativamente baixa. Cuba, com sua população de 11 milhões
de pessoas e sendo ainda um país em desenvolvimento, alcançou
níveis de saúde quase equivalentes a muitas nações industrializadas;
confor me foi observado anterior mente, o país assumiu um
compromisso importante para o desenvolvimento de uma forte infra-
estrutura de atenção primária com equipes de médicos e enfermeiros
vivendo e trabalhando em comunidades com 200-400 pessoas. Nas
áreas rurais, especialmente, suas responsabilidades incluem atividades
de saúde pública bem como atividades clínicas. Cada médico de família
precisa ver cada paciente de sua área de abrangência, no mínimo,
duas vezes ao ano. O prontuário médico é revisado, pelo menos, uma
vez por mês com um supervisor clínico que é um médico de família
vinculado à universidade. A vigilância computadorizada foi
671
18. Políticas de Saúde para alcançar efetividade e eqüidade
implementada em todos os níveis provinciais e está sendo estendida
para as cidades e áreas rurais locais (Waitzkin et al., 1997). Seria
instrutivo determinar quanto da melhora na saúde em países que deram
longos passos nas últimas décadas resultou da redução das
desigualdades na saúde, e não simplesmente aumentando os níveis
de saúde entre os mais privilegiados.
Este livro faz referências repetidas à melhora da saúde por meio
da atenção primária, a qual é considerada um meio para aprimorar tanto
a efetividade dos serviços de saúde como a eqüidade na oferta dos
serviços de saúde. Existem amplas e vidências do primeiro item; o
segundo é mais teórico e se baseia na suposição de que as maiores
eficiências decorrentes de uma forte infra-estrutura de atenção primária
liberam recursos que podem ser disponibilizados para aqueles com
maiores necessidades. Entretanto , não existe garantia de que este será
o caso, especialmente em países em que as economias podem ser
passadas, basicamente, para os ricos na forma de devolução de
investimentos nos ser viços de saúde com fins lucrativos. Uma
justificativa mais forte vem dos atributos da atenção primária, dois dos
quais (integralidade e coordenação) requerem a consideração das
necessidades da população. Este é especialmente o caso para a
integralidade, que não pode ser alcançada a menos que as necessidades
da população sejam explicitamente reconhecidas no planejamento e
prestação dos serviços . Assim, as populações com maiores necessidades
teriam mais serviços fornecidos . Uma outra justificativ a se baseia na
orientação dos sistemas de saúde para a comunidade, os quais são
especialmente avançados em sua organização da política da atenção
primária e na prestação de serviços . A orientação para a comunidade
obtém seu ímpeto do reconhecimento das necessidades da comunidade.
Se for feita honestamente, as comunidades com maiores necessidades
devem receber mais serviços para compensar sua maior necessidade.
Na comparação nacional cruzada, descrita no Capítulo 1, foi
mostrado que os países com uma forte base de atenção primária para
seu sistema de saúde alcançam melhores resultados a custos mais
baixos, do que os países em que a base da atenção primária é mais
fraca. Este último grupo de países, que tem os custos mais altos, não
672
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
necessariamente tem mais leitos hospitalares, maiores taxas de
hospitalização ou permanências mais longas no hospital
tradicionalmente os componentes mais caros do custo do sistema de
saúde. Na verdade, os Estados Unidos, com seus custos muito altos,
está entre os números mais baixos para as três características (Starfield,
1993). Os países de custo elevado não possuem mais médicos per
capita do que outros países, embora tenham a tendência de ter taxas
mais altas de consultas em estabelecimentos de atenção ambulatorial.
Entretanto, a média da taxa de médicos per capita e a taxa relativamente
baixa de consultas ambulatoriais são notáveis nos Estados Unidos,
incomparavelmente o país com os custos mais altos.
Embora a intensidade dos serviços, uma vez alcançados pelas
pessoas, seja mais alta nos países com distribuição menos eqüitativa
de recursos (mais notavelmente nos Estados Unidos), também não
existem garantias de que isto esteja associado ao maior uso entre os
mais necessitados. Os dados disponíveis indicam que os custos par a
a per manência de pacientes hospitalizados e para o s ser viços
ambulatoriais são muito mais altos em países de alto custo. A taxa de
uso da cirurgia de bypass coronário nos Estados Unidos é mais de oito
vezes maior do que a do próximo país de custo mais elevado. As
taxas de diálise renal dos Estados Unidos e da Alemanha são maiores
do que de outros países (Rublee, 1992). Quando os países são
classificados de acordo com suas taxas de uso de várias tecnologias,
o excesso no uso da tecnologia nos Estados Unidos está, basicamente,
concentrado naquele grupo de tecnologias que fazem uso intensivo
de maquinário (ver fig. 10.1). Em comparação, suas taxas de tecnologia
intensiva relacionada à pessoa, como transplante alogênico de medula
óssea, são apenas médias na classificação, e as comparações mostram
que o desenvolvimento desta tecnologia é muito mais iníquo do que
é o caso em outros países (Silberman et al., 1994).
Esta iniqüidade na distribuição da tecnologia é espelhada por
uma iniqüidade nas políticas de saúde relacionadas à atenção primária.
A ausência de uma política para distribuir o pessoal de saúde e as
unidades em áreas de maior necessidade leva a uma concentração
destes recursos em áreas de menor necessidade porque são as áreas
673
18. Políticas de Saúde para alcançar efetividade e eqüidade
que estão, em sua maioria, em condições de pagar por sua presença.
A ausência de políticas para assegurar a universalidade e a
responsabilidade pública pelo financiamento dos serviços de saúde
leva a uma situação em que os que são capazes de pagar pelos serviços
obtêm a maior parte dos serviços. Além disso, a ausência de uma
política para reembolsar aqueles que fornecem os serviços de atenção
primária igual àqueles que fornecem serviços subespecializados leva
a uma situação em que existem incentivos poderosos para escolher
uma especialidade em vez da atenção primária entre os treinandos
em Medicina. Assim, estas políticas de saúde, que refletem nas
unidades de serviços de saúde, não conduzem à melhora da saúde
dos menos favorecidos. Os privilégios do poder e da influência são
tão cruciais que nada menos que metas e trabalho firmes em relação
a isso serão suficientes para melhorar a eqüidade. Abandonada, a
iniqüidade irá piorar, como tem ocorrido nas últimas décadas na
maioria dos países industrializados. As populações mais privilegiadas
são incapazes de ver as vantagens de maiores igualdades sociais e de
saúde; isto requer uma visão de muito longo prazo para ver que os
melhores interesses definitivos, talvez de seus descendentes, estão
em uma sociedade com aspirações e oportunidades compartilhadas.
A eqüidade, assim como a entropia, cai naturalmente para níveis mais
baixos; é necessário energia para mantê-la e melhorá-la.
Os dados relatados no Capítulo 1 referentes à relação entre a
força da atenção primária e os níveis de saúde utilizando 14
indicadores diferentes de saúde sugerem que fatores do sistema de
saúde também podem dar sua própria contribuição para a explicação
das diferenças na relação entre os fatores socioeconômicos e de
saúde, par ticularmente porque os países com a atenção primária
mais forte não são, necessariamente, aqueles países com a
distribuição mais eqüitativa de riquezas. A Tabela 18.2 for nece os
escores da atenção primária na comparação entre 11 países, sua
classificação para os 14 indicadores de saúde e as classificações
para a eqüidade na distribuição de r enda conforme foi derivado do
trabalho dos Luxembur g Income Studies [Estudos de Renda de
Luxemburgo] (Atkinson et al ., 1995). Confor me foi mostrado,
674
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
existem diferenças marcantes nas classificações para a atenção
primária e nas classificações para a distribuição eqüitativa de renda,
particularmente para o Reino Unido e Bélgica (ambos com
classificação pior para saúde do que para desigualdades de renda) e
Espanha, Canadá, Países Baixos e Austrália (com classificação
melhor para saúde do que para desigualdades de renda).
Tabela 18.2Tabela 18.2
Tabela 18.2Tabela 18.2
Tabela 18.2
Atenção Primária, saúde e eqüidade de renda*
* Final dos anos 80, início dos anos 90
A melhor classificação é 1, a pior é 11. Ver Capítulo 1 para descrição da comparação internacional.
Derivado de Smeeding (1996).
§ Classificação se a expectativa de vida aos 80 anos for excluída.
A situação no Reino Unido é anômala porque sua classificação
para atenção primária é melhor, mas suas classificações para estado
de saúde não estão nem próximas ao topo da lista. O país tem gasto
relativamente pouco em seu sistema de saúde e houve cortes
sistemáticos a partir destes níveis baixos na década de 80. Na medida
em que os sistemas de saúde em geral e a atenção primária em
particular requerem, pelo menos, um mínimo básico de apoio
financeiro, o Reino Unido tem sofrido de séria descapitalização de
seu sistema de saúde anos. Além disso, o país, como os Estados
Unidos, gasta uma proporção relativamente pequena de seus fundos
675
18. Políticas de Saúde para alcançar efetividade e eqüidade
do governo geral no bem-estar social e na educação. Assim, na falta
de apoio para habitação, educação e outros programas sociais, até
mesmo a atenção primária não tem probabilidade de compensar as
ameaças resultantes de outros determinantes da saúde.
A classificação relativamente r uim da Finlândia para os
indicadores de saúde resulta de um mau desempenho nos grupos de
faixa etária mais avançada. Como a orientação da Finlândia para a
atenção primária é um fenômeno relativamente recente, pode ser que
as condições de saúde ruins nas faixas etárias mais avançadas reflitam
os efeitos da orientação do sistema de saúde anterior. Também podem
estar relacionadas às dietas com alto teor de gordura.
Os Estados Unidos são o único país com classificações baixas
para as três características, particularmente quando a expectativa de
vida na idade de 80 anos não é considerada. Os fatores de estilo de
vida não desempenham um papel influente na baixa classificação dos
Estados Unidos porque suas taxas de tabagismo estão entre as mais
baixas de todas as nações, assim como a proporção de indivíduos que
consomem álcool. Além disso, sua taxa de morte por acidentes com
veículos automotores por milhão de milhas dirigidas é a mais baixa
de todos os países (U.S. Congress, 1993). Mais ainda, a remoção de
todas as causas violentas de morte não altera a posição ruim do país
no que se refere a anos de vida potencial perdidos (análises dos dados
de Desenc los e Hahn [1992], U.S. Congress [1993] e Centers for
Disease Control and Prevention, [1990]).
O papel desempenhado pelas políticas de saúde em geral, e no
que se refere à atenção primária em particular, na redução do impacto
das disparidades sociais na saúde é muito pouco explorado. Dois
achados tornam este papel mais plausível. O primeiro é o achado de
que alguns estados têm níveis de saúde muito melhores do que seria
esperado, devido à extensão das disparidades sociais de renda no
estado. O exemplo mais dramático distoéoHavaí,oúnico estado na
nação que possui contribuições obrigatórias de empregadores para
cobertura do seguro-saúde mais de 20 anos (desde 1974). Estados
como Nova York e Minnesota também são melhor classificados do
que outros porque suas políticas de saúde compensam, parcialmente,
676
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
as iniqüidades da renda. Outros estados com alta desigualdade de
renda (por exemplo, Mississipi e Louisiana) apresentam a saúde ainda
pior do que seria esperado com base na relação média entre a
desigualdade de renda e a saúde porque suas políticas de saúde não
compensam o efeito das desigualdades de renda (Kennedy et al., 1995;
Kaplan et al., 1996).
A segunda linha de evidências decorre de uma reanálise dos
dados do estudo de Shi (1994) (ver Capítulo 1), que mostrou uma
relação altamente significativa entre o médico de atenção primária
para a proporção da população e os níveis de saúde na população
dos estados. Quando as medidas de desigualdade de renda são
acrescentadas à análise, a importância da atenção primária permanece
significativa para todas as medidas e a força da relação entre a
desigualdade de rend a e a saúde é reduzida (mas não eliminada).
Assim, parece que a orientação para a atenção primária pode, em
parte, superar o severo impacto adverso das desigualdades de renda
sobre a saúde, mesmo nos Estados Unidos (Shi et al., preparação do
manuscrito 1998).
A terceira linha de evidência s é a posição relativamente
privilegiada dos idosos nos Estados Unidos. Em face do desempenho
relativo quase uniformemente ruim na maioria dos indicadores de
saúde, a classificação dos Estados Unidos é muito elevada para a
expectativa de vida aos 80 anos. Este é o único grupo da população
no país como um todo a ter tido um apoio de renda básica após a
aposentadoria (desde 1935) e a ter tido uma cobertura universal para
as despesas médicas (Medicare) desde 1965. De todos os gr upos
etários, os idosos têm a relação mais próxima relatada com um médico
de atenção primária e, com exceção de crianças muito jovens, a taxa
mais elevada de consultas de primeiro contato com seu médico de
atenção primária (Forrest, 1995).
Também é possível que este seja o grupo etário com maior
probabilidade de se beneficiar de uma tecnologia avançada e cara
projetada para manter a sobrevivência na presença de doenças que
ameaçam a vida; as análises (não-publicadas) dos dados (U.S. Congress,
1993) a respeito das taxas de mortes entre idosos (mais de 75 anos)
677
18. Políticas de Saúde para alcançar efetividade e eqüidade
por diferentes causas indicam que a vantagem relativa dos Estados
Unidos está na sobrevivência com doença cardiovascular, câncer e
nas taxas de acidentes (apenas entre mulheres). As taxas de morte
por outras causas nos idosos, incluindo as que refletem problemas
agudos como infecções, não são inferiores nos Estados Unidos em
comparação a qualquer outro lugar.
A classificação relativamente melhor para os indicadores de
saúde nos Estados Unidos em relação à sua classificação sobre
desigualdade social também pode ser um resultado das medidas de
“redes de segurança”, estabelecidas em meados dos anos 60, na forma
do Medicaid, que financia serviços de saúde basicamente para mães
e crianças em famílias de renda muito baixa e na forma de uma rede
de centros de saúde comunitários, orientados para a atenção primária,
localizados em áreas geográficas com falta de outros serviços de saúde.
Embora nenhum dos programas tenha alcançado a maioria dos
indivíduos de renda muito baixa (principalmente como um resultado
das diferenças nas políticas de eletividade nos diferentes estados), a
variação dos serviços prestados é, pelo menos, tão boa quanto, se
não melhor, aquelas associadas à maioria dos planos de seguro-saúde
privados no país. As reduções nos benefícios associadas ao Medicare
e ao Medicaid conseqüentes às mudanças na política nacional em
meados de dos anos 90, por meio da remoção do efeito protetor destes
programas de “rede de segurança” podem piorar a posição relativa
ruim dos Estados Unidos e aumentar o impacto das desvantagens
sociais sobre os diferenciais de saúde no país.
Uma grande variedade de abordagens para vários aspectos da
atenção primária em todo o mundo fornece uma oportunidade para
que cada nação identifique as alternativas para as formas atuais de
operação. Algumas destas abordag ens, como as limitações dos
especialistas à prática hospitalar, estão enraizadas nos sistemas,
enquanto outras são soluções inovadoras em resposta a prioridades
específicas, como o estímulo à atenção preventiva. Não é necessário
que cada país “reinvente” cada abordagem; um estudo inteligente da
política toma vantagem do conhecimento derivado a partir de
“demonstrações” existentes em outros países.
678
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
QUESTÕES POLÍTICAS PARA A ATENÇÃO PRIMÁRIA
Confor me o tempo passa, esperamos que a relevância dos
estudos realizados em um país seja cada vez maior para outros países
porque a natureza de seus desafios é convergente. Os desafios incluem,
pelo menos, os seguintes itens:
Aumento nos custos
Taxas crescentes de uso de tecnologia
Novos conceitos de saúde e o papel dos serviços de saúde,
particular mente o aumento da aceitação do modelo
biopsicossocial em vez do modelo biomédico
O ponto fundamental da prática médica baseada em
evidências, e não na experiência pessoal
Maior compartilhamento de informações dentro dos países
e entre eles como resultado da comunicação eletrônica
Cooperação econômica cada vez maior com sua necessidade
concomitante de melhorar os padrões e controle de qualidade
Transições demográficas com mudanças concomitantes na
freqüência relativa de diferentes tipos de doenças e disfunções
Mudanças nos modelos epidemiológicos da doença, por um
lado, com maiores carg as de doença crônica e, por outro
lado, com maiores ameaças de doenças transmissíveis como
resultado do aumento de viagens, comércio e comunicação
Aumento nas expectativas e nas demandas da população
Aumento das necessidades por responsabilidade na prestação
de serviços
Erosão da autonomia profissional
Mudança em direção ao aumento da competição, e não na
cooperação
Maior interesse no risco e na divisão de gastos
Como os princípios da atenção primária são os mesmos em todos
os lugares, o conhecimento reunido em um país é provavelmente
relevante em outros países também. A importância dos quatro aspectos
exclusivos da atenção primária foi documentada por evidências, pelo
679
18. Políticas de Saúde para alcançar efetividade e eqüidade
menos, moderadas, se não definitivas. As evidências derivam de uma
pesquisa de escala relativamente pequena em unidades individuais e
em grupos cada vez maiores de unidades, bem como em comparações
nacionais cruzadas que examinam a força da atenção primária em
relação à variedade das facetas importantes da saúde. A questão para
a políticaéaextensão na qual os padrões para obtenção são instituídos.
Dois componentes estruturais dos sistemas de saúde que estão
sob constante escrutínio no contexto da reforma d a atenção à saúde
são a divisão de gastos e a “porta de entrada” como um capacitador,
e não como uma estratégia punitiva. As duas coisas estão altamente
relacionadas com o alcance dos atributos da atenção primária.
Divisão de gastos
O acesso desobstruído à atenção primária para todos que dela
necessitem é um princípio básico na maioria das nações industrializadas.
Na prática, as limitações dos recursos freqüentemente levam à imposição
de barreiras aos serviços. Muitos países têm políticas explícitas em
relação ao equilíbrio apropriado entre os incentivos e os impedimentos
para uso dos serviços. Considerações sobre custos podem tor nar
desejável que os pacientes paguem alguns dos custos dos serviços de
atenção primária. Entretanto, estudos mostraram que estas políticas
reduzem o número de consultas e que a redução é indiscriminada porque
influencia tanto a utilização necessária quanto a mais arbitrária. As
políticas que melhoram a utilização dos serviços de valor (como aqueles
relacionados à prevenção de doenças) pela redução ou eliminação de
exigências para pagamento ou pelo pagamento de bônus a médicos
para encorajá-los a fornecer os serviços são mais construtiv as. Qualquer
barreira ao acesso terá um impacto maior sobre as populações
socioeconomicamente desfavorecidas e, portanto, aumentará o risco
de disparidades do estado de saúde entre os subgrupos da população
com mais vantagens e com menos v antagens. A questão para o debate
político refere-se à extensão na qual as restrições dos recursos,
particularmente aquelas relacionadas aos custos da atenção, devem ditar
as restrições ao acesso e o grau de tolerância para as conseqüências
destas restrições para o alcance da eqüidade.
680
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
As evidências são claras a respeito do impacto ruim da divisão
de custos no ponto de contato com os serviços de saúde. A divisão
de custos consistindo de deduções ou mais do que um co-pagamento
muito pequeno interfere com o acesso à atençãoeéumaforma
decididamente regressiva da taxação porque afeta desproporcionalmente
aqueles com menor capacidade para pagar e interfere tanto com a
atenção necessária como com a arbitrária. Em muitos países, aqueles
com menos capacidade para pagar são isentos da divisão de custos,
mas os custos administrativos podem ser altos e acompanhados por
ameaças à dignidade humana quando a dependência da generosidade
pública é altamente visível.
Port a de entrada
A porta de entrada, quando é conduzida como um método para
melhorar o uso adequado dos serviços de saúde de atenção não-
primária, é uma estratégia fortalecedora da atenção primária porque
aplica os recursos nos níveis de atenção em que eles são mais
justificados. Quando usada como uma barreira para os ser viços
necessários, no entanto, a estratégia se torna um meio de interferir
com o alcance da eqüidade porque aqueles que são financeiramente
capazes de comprar atenção extra o f arão.
Vários outros aspectos estruturais sob consideração nos esforços
para reforma da atenção à saúde são de impacto desconhecido sobre
a adequação do alcance da atenção primária de alto nível. Os esforços
na refor ma devem ser vistos como oportunidades para a
experimentação, com a avaliação adequada de acordo com o alcance
das metas da reforma e os possíveis efeitos colaterais involuntários.
1. Métodos de reembolso dos médicos. Pouco se sabe a respeito do
impacto de diferentes métodos de pagamento dos médicos de atenção
primária e de especialistas. Os esforços para reforma da atenção à
saúde estão convergindo em misturas de tipos de pagamentos
(geralmente capitação e/ou salário com taxa por serviços) em muitos
países, mas apenas em um as mudanças foram acompanhadas por
avaliação sistemática. As avaliações na Dinamarca mostraram que
uma mudança para repartir o pagamento de taxa por serviço levou a
681
18. Políticas de Saúde para alcançar efetividade e eqüidade
um aumento no diagnóstico e nos serviços ter apêuticoseauma
diminuição de encaminhamentos. É interessante obser var que o
aumento na of erta de serviços foi maior para aqueles em que não
havia evidências de sua utilidade, ou seja, para diagnóstico comparado
com os serviços curativos (Krasnik et al., 1990). Assim, quando a
taxa por serviços for instituída para outros serviços além daqueles
claramente indicados, isso deve ser feito levando-se em consideração
os possíveis efeitos sobre o aumento de serviços desnecessários.
2. Indicações para encaminhamento e impacto das diferenças na estratégia
de encaminhamento sobr e custos e resultados. Conforme foi observado
anterior mente neste livro, os métodos para deter minar o que é
adequadamente manejado, por completo, dentro da atenção primária,
a indicação de consultoria com especialistas para aconselhamento e
orientação, os tipos de problemas que são mais suscetíveis ao manejo
entre os médicos de atenção primária e outros especialistas e os tipos
de problemas que são melhor manejados, principalmente por outros
especialistas, são território inexplorado. As decisões informadas a
respeito da necessidade de encaminhamento aguardam estudos a
respeito da distribuição dos diferentes tipos de problemas na atenção
primária, tipos e freqüências de complicações de diagnósticos comuns,
e descrições e comparações entre diferentes profissionais e diferentes
unidades de saúde e planos. Assim, a pesquisa realizada por
profissionais individuais a respeito de sua própria prática pode fornecer
informações descritivas úteis; informações obtidas a partir da pesquisa
colaborativa podem informar melhor a respeito da questão por meio
da análise dos correlatos e determinantes da variabilidade entre as
práticas e planos. O próprio assunto também é de r elevância política
considerável, porque o planejamento para treinamento e emprego dos
recursos especializados depende do melhor conhecimento a respeito
da necessidade de seus serviços, bem como para considerar como
eles são melhor reembolsados por seus serviços. Por exemplo, se (como
é provável) a grande maioria das necessidades para a maior parte da
atenção por parte de outros especialistas são para consultoria de curta
duração e basicamente para fins de oferecer aconselhamento ao médico
de atenção primária, a organização de seu trabalho, sua localização e
682
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
seu pagamento são, provavelmente , diferentes do que se uma proporção
considerável da necessidade de seus serviços fosse por atenção direta
a longo prazo de condições complexas ou raras.
3. Livre-escolha do médico. Em muitos países, particularmente nos
Estados Unidos, muito foi feito a respeito da importância da livre-
escolha do médico pelos cidadãos. Nos sistemas de saúde europeus,
em que os serviços de atenção primária são oferecidos em consultórios
individuais ou de pequenos grupos e não em grandes centros de saúde,
a livre-escolha do médico de atenção primária é a norma. Em países
em que os serviços de atenção primária são prestados em grandes
centros de saúde, o próprio centro (e não o médico individual ou
equipe de médicos) geralmente atua como a fonte de atenção primária.
Evidências empíricas indicam que a identificação com um centro de
saúde específico (e não com uma fonte habitual de atenção não
especificada) está associada aos benefícios, incluindo melhor
receptividade da atenção preventiva indicada e melhor
comparecimento às consultas marcadas. Entretanto, conforme foi
observado anteriormente, a identificação com um médico ou equipe
de médicos específica oferece benefícios adicionais: melhor
concordância entre médico e paciente, melhor reconhecimento do
problema, menos hospitalizações e custos globais mais baixos. Como
a maioria destes benefícios apresenta probabilidade de serem
decorrentes de associações de longa duração que levam a um melhor
conhecimento dos médicos a respeito de seus pacientes e maior
confiança dos pacientes de que seu médico entende sua situação e
suas necessidades, a livre escolha do médico de atenção primária
oferece uma oportunidade para os pacientes se identificarem com os
médicos com os quais eles, provavelmente, desenvolverão uma relação
de longa duração. Ironicamente, nos Estados Unidos (com sua clara
preferência pela livre escolha do médico), uma proporção cada vez
maior de pessoas não tem livre-escolha porque seus empregadores
per mitem apenas uma escolha limitada de planos de saúde, um
problema que é composto ainda pela tendência dos empregadores em
mudar de planos de saúde a cada ano.
683
18. Políticas de Saúde para alcançar efetividade e eqüidade
A livre-escolha dos especialistas é provavelmente mais limitada
na maioria dos países porque o número de especialistas disponíveis
em qualquer área geográfica é geralmente deter minado por
planejamento e regulamentação governamental. O mesmo se torna
cada vez mais verdadeiro nos Estados Unidos, em que os planos que
contratam para oferecer os serviços a populações definidas, geralmente
limitam a variedade de especialistas aos quais os pacientes podem ser
encaminhados. A pesquisa colaborativa e especialmente a sistemática
que identifica o papel da livre-escolha dos médicos de atenção
primária, e seu impacto sobre o alcance da longitudinalidade e seus
benefícios conseqüentes, contribuiria para as políticas informadas para
permitir que os cidadãos escolham seus médicos. A freqüência com a
qual as mudanças são feitas, o número de opções que são permitidas,
os motivos pelos quais as mudanças são consideradas desejáveis e as
possíveis intervenções para reduzir a necessidade percebida de
mudança por parte dos pacientes também se beneficiaria das
deliberações da política informada. Mais informações também são
necessárias sobre o impacto da livre-escolha de outros especialistas
no processo de atenção e em seus resultados.
4. Trabalho em equipe. Embora a atenção primária seja geralmente
considerada uma atividade de “equipe”, com interligação entre
médicos e enfermeiros e, muitas vezes, outros profissionais de saúde
também, poucas evidências empíricas a respeito dos benefícios
específicos alcançados por estas interligações. Embora os enfermeiros
tempos sejam utilizados como “gerentes” do tratamento para várias
condições comuns na atenção primária, incluindo os arranjos de
manejo por doença hoje populares, a natureza do trabalho de
enfer mag em em relação à natureza do trabalho dos médicos é
desconhecida, e as informações que ajudariam a planejar o treinamento
racional e o uso de profissionais de saúde estão ausentes. A pesquisa
colaborativa forneceria uma forte base para a identificação de questões
importantes a serem tratadas em decisões políticas subseqüentes.
5. Especialistas baseados em hospital versus especialistas baseados na
comunidade. O trabalho de especialistas é muito pouco entendido em
todos os lugares. Na regionalização clássica, os ser viços de
684
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
especialistas são organizados nos níveis secundário e terciário, sendo
os níveis secundários localizados nos hospitais comunitários e os
terciários em hospitais-escola em gr andes regiões. O planejamento
para a localização destes níveis é baseado na população a ser atendida
sob a suposição de que a freqüência de problemas que necessitam de
serviços especializados deve determinar quantos especialistas são
necessários numa determinada área (W hite, 1973). Seria esperado
que os hospitais comunitários fornecessem serviços de curta duração
quando os médicos de atenção primária encontrassem um problema
para o qual necessitassem de aconselhamento ou um paciente tivesse
um problema médico ou cirúrgico que necessitasse de intervenção de
curta duração, enquanto os especialistas, em grandes centros médicos,
cuidariam de problemas mais inusitados, raros ou complexos que
seriam incomuns na população e exigiriam perícia muito especializada,
geralmente de forma continuada.
As novas formas de organização dos serviços estão desafiando
velhas suposições, especificamente em países em que o mercado, e
não o planejamento central, determina a localização e os tipos de
serviços disponibilizados para as pessoas. Enquanto os especialistas
continuam a trabalhar basicamente no hospital na maioria dos países,
os especialistas baseados na comunidade ainda são comuns em outros.
Conforme os sistemas de saúde se movem em direção à consolidação
das unidades de consultórios isolados ou pequenos para centros de
saúde maiores e até mesmo para “centros de saúde integrados”, os
especialistas podem se mover cada vez mais do hospital para a
comunidade em mais e mais áreas. Em alguns lugares , isto pode resultar
em tipos de organizações que lembram as policlínicas que
caracterizavam as nações da Europa oriental em seu regime socialista;
nesta forma de arranjo, especialistas de vários tipos estão localizados
basicamente no centro de saúde, e os pacientes podem até mesmo
consultá-los diretamente . Isto é particularmente comum no caso de
ginecologia/obstetrícia, der matologia, oftalmologia e otor rino-
laringologia. Em outros lugares, os especialistas podem continuar
baseados, fundamentalmente, no hospital, mas atender regularmente
no centro de saúde de atenção primária, para consultoria com o médico
685
18. Políticas de Saúde para alcançar efetividade e eqüidade
de atenção primária a respeito de diagnósticos ou enigmas
terapêuticos, para oferecer sessões de educação continuada, para
oferecer serviços diretamente a grupos de pacientes que poderiam se
beneficiar de consultas periódicas com especialistas ou sob arranjos
formais para compartilhar o atendimento.
Pouco se sabe a respeito dos benefícios relativos para a atenção
ao paciente e os resultados, para o conhecimento e habilidades do
médico e para os custos globais da atenção das várias opções para a
org anização, prestação e pagamento dos serviços subespecializados.
Quando os subespecialistas trabalhavam no hospital eles eram pagos,
principalmente por salário; agora que as unidades de atenção primária
podem contratar seus serviços, eles podem ser pagos por capitação
para seu trabalho clínico ou pag os por taxa por serviço como,
convencionalmente, tem sido o caso quando eles são baseados na
comunidade e trabalham em sistemas de saúde de taxa por serviço.
As decisões políticas terão de ser baseadas em um conhecimento
mais preciso a respeito de quanto de seu trabalho é dedicado ao
aconselhamento de curta duração, e não à atenção continuada de
long a duração dos pacientes. As decisões também terão de ser feitas
em relação aos benefícios e deficiências da atenção oferecida nas
unidades hospitalares, e não das unidades comunitárias e a respeito
dos méritos relativos de várias formas de reembolso para serviços
oferecidos por subespecialistas.
6. Papel dos médicos de atenção primária na atenção a seus pacientes
hospitalizados. Como uma questão de política na maioria dos países,
como aquelas descritas no Capítulo 15, os médicos de atenção primária
não são responsáveis pela atenção de seus pacientes quando eles estão
no hospital, embora alguns possam fazê-lo em áreas rurais (como na
Austrália e no Canadá) ou quando eles cuidam de pacientes com
doenças crônicas e continuam a fazê-lo em pequenos hospitais,
especialmente projetados para estes propósitos (como na Finlândia).
Médicos de atenção primária, não importando se são médicos de
família, internistas gerais ou pediatras gerais, geralmente são o “médico
de registro” para seus pacientes hospitalizados. O potencial para o
papel do médico de atenção primária como, pelo menos, um
686
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
participante na atenção ao paciente internado parece ter grande mérito,
não apenas para melhorar a coordenação da atenção, mas também
porque o maior conhecimento que o médico de atenção primária tem
do paciente pode adicionar uma dimensão útil à tomada de decisão.
Wachter e Goldman (1996) pr opuseram que os Estados Unidos
considerassem o treinamento de “hospitalistas”, que seriam
especialistas em Medicina interna (e, presumivelmente, pediatria)
responsáveis pelo manejo da atenção aos pacientes hospitalizados.
Embora uma nova idéia nos Estados Unidos, onde geralmente os
pacientes são atendidos por especialistas em atenção não primária
que manejam os problemas do paciente associados à hospitalização,
estes médicos têm um papel na atenção hospitalar em muitos outros
países. Sem considerar se é o médico de atenção não-primária que
tem a responsabilidade pelo paciente ou se é um “hospitalista” quem
o fará, parece haver uma fundamentação para um papel adicional
para o médico de atenção primária como um membro da “equipe” em
todos os países, tornando, assim, esta em uma importante área de
consideração para a política.
Realizei uma autópsia em um homem de 60 anos que havia morrido
após a cir urgia para um adenoma pituitário. Ele tinha um longo
histórico de acromegalia, presumivelmente porque o tumor estava
secretando hormônio do crescimento. Sua evolução pós-cirúr gica
foi complicada por hipotermia. A hipotermia foi resolvida, mas o
paciente continuou a ir mal e morreu. O neurocirurgião me chamou
quando eu estava prestes a iniciar a autópsia e me disse que não fazia
idéia da causa da morte.
Na autópsia, encontrei uma broncopneumonia “de livro”. Nunca
tinha visto um caso tão clássico, e não tornei a ver até hoje. O paciente
morreu com uma temperatura corpórea normal por causa dos efeitos
opostos da hipotermia (uma complicação da cirurgia) e febre pela
infecção. Aparentemente, os neurocirurgiões nunca tinham auscultado
os pulmões do paciente e nunca consideraram que ele pudesse ter
um problema além do campo da neurocirurgia.
Dr. K.R., patologista
687
18. Políticas de Saúde para alcançar efetividade e eqüidade
7. Impacto da atenção primária sobre a eqüidade. As diferenças no
estado de saúde das populações em diferentes países poderiam ser
um resultado das diferenças na saúde média ou, alternativamente,
das diferenças na distribuição de saúde nas quais algumas
subpopulações têm saúde melhor ou similar enquanto outras têm saúde
muito pior. A litera tura que deriva de estudos em muitos países
documenta a relação direta entre a classe social e a saúde; outros
estudos documentam os diferentes graus de iniqüidades sociais em
diferentes países. Embora existam pesquisas que indiquem que os
países orientados mais fortemente para a atenção primária têm melhor
saúde, não se sabe se isto é alcançado pela melhora dos níveis médios
de saúde ou pela redução das disparidades entre os grupos de classe
social. A maioria dos países agora tem um mecanismo para classificar
a classe social das áreas residenciais de forma que os indivíduos que
vivem nestas áreas possam ser caracterizados quanto a sua provável
classe social. As melhoras nos sistemas de infor mação
computadorizados que podem conectar a atenção médica à área de
residência devem fornecer dados que respondam a questões a respeito
de quais subpopulações se beneficiam da atenção primária melhorada.
A comparação internacional da atenção primária mencionada no
Capítulo 1 demonstrou que a atenção primária parece ser mais benéfica
para crianças e jovens; em idades mais avançadas (particularmente
as muito avançadas) a incidência e a prevalência de doenças se tornam
tão grandes que o maior uso, e talvez até mesmo o uso direto, de
algumas atenções subespecializadas podem ser justificáveis em casos
definidos. A pesquisa que explora o impacto diferencial da atenção
primária sobre os diferentes grupos populacionais, particularmente
aqueles caracterizados por diferenças na idade e na vantagem social,
poderia ajudar os criadores da política a fazer julgamentos mais
informados a respeito do tipo e natureza dos serviços necessários em
diferentes áreas geográficas.
8. Qualidade e resultados da atenção. Quando a pesquisa demonstra
a superioridade de determinadas práticas, o debate político enfoca a
conveniência dos incentivos para empregá-las ou, alternativamente,
os desincentivos para uso das alternativas menos adequadas. Existem
688
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
várias opções políticas, incluindo os esforços educacionais de diversos
tipos e intensidades, pressão dos coleg as ou grupos, neg ação de
pagamento ou sanções mais drásticas como publicidade ou
penalidades por ações impróprias. Embora o tipo de opção dependa
da natureza e severidade da ação contra-indicada, o debate político
enfocará a necessidades de recompensas e sanções e a rapidez com a
qual elas são implementadas depois das evidências científicas de
superioridade se tornarem aceitáveis.
Os incentivos para encorajar o envolvimento de profissionais
e pacientes no desenvolvimento de indicadores e critérios para
qualidade da atenção é outra consideração para uma agenda política.
Existem evidências crescentes da relação entre o conhecimento dos
pacientes e atitudes em relação à sua atenção e seus resultados,
conforme medidos pela melhora do bem-estar. Seria esperado que
as abordagens que melhoram a concordância entre os pacientes e os
profissionais em relação às metas da atenção aprimorassem os
resultados globais da atenção. Os conselhos locais ou outros ter ceiros
pagantes que pagam pela atenção podem considerar a oferta de
incentivos para as clínicas que envolvem os pacientes no
estabelecimento de metas e objetivos, com incentivos financeiros
separados para as melhoras numa clínica resultante do planejamento
conjunto entre pacientes e profissionais.
A avaliação dos resultados é um componente importante da
responsabilidade dos serviços de saúde. A efetividade dos serviços e
a eqüidade em sua prestação são cruciais na atenção primária, bem
como para os serviços de saúde em geral. Os resultados podem ser
considerados no nível individual, bem como no nível de sistema de
saúde. As avaliações dos resultados convencionais tratam da extensão
na qual os serviços clínicos prestados para os indivíduos alcançam
resultados finais que podem coincidir com as expectativas da atenção
médica oferecida e são, g eralmente, avaliados pela revisão do
prontuário médico ou pela entrevista dos pacientes. Rutstein et al.
(1976, 1980) e Charlton et al . (1983) estabeleceram a etapa para
consideração do impacto dos serviços de saúde sobre a saúde
(basicamente sobre as mortes), mas um grande número de estudos
689
18. Políticas de Saúde para alcançar efetividade e eqüidade
não conseguiu encontrar algum impacto (Mackenbach et al., 1990).
Nenhum destes estudos examinou a relação entre a força do sistema
de atenção primária nem nos países nem nas áreas em que os estudos
foram realizados. Uma área de desafio da pesquisa envolve a seleção
de indicadores que refletem basicamente o impacto dos serviços de
atenção primária, e não o sistema de saúde em geral, conforme foi
discutido no Capítulo 13. Como muitos dos indicadores da efetividade
da atenção primária estão fortemente relacionados à classe social baixa,
sendo influenciados por ela, qualquer comparação de sua obtenção
por meio de diferentes sistemas de saúde deveria levar em consideração
e controlar as diferenças de classe social (e outras desvantagens sociais)
das populações atendidas por eles.
Por sua própria natureza, a pesquisa de sistemas de saúde
envolve estratégias básicas de pesquisa (para desenvolver as medidas
adequadas do resultado), estratégias de pesquisa colaborativas (para
testar a viabilidade das medidas e para desenvolver os sistemas de
informação para verificar os resultados) e a pesquisa do sistema (para
desenvolver intervenções adequadas para o desempenho
progressivamente aprimorado).
DESENVOLVIMENTO DE UMA ESTRATÉGIA
PARA ALCANÇAR OS ASPECTOS
DERIVATIVOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA
Na maioria dos países, nem a centralização na família, nem a
orientação para a comunidade são um enfoque dos sistemas de atenção
primária. Em alguns países uma orientação para a família está implícita
como resultado da designação de médicos de família como
profissionais de atenção primária. Entretanto, nenhum país insiste na
responsabilidade pela orientação para a família. A orientação para a
comunidade é um ideal, mais do que uma realidade, em todo lugar,
exceto talvez em algumas poucas áreas localizadas. Embora e xista
um apelo intuitivo e uma validade aparente dos conceitos de família
e orientação para comunidade, não existem evidências de sua prática
690
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
universal. Os criadores da política terão de decidir se encorajam a
pesquisa para obter as evidências, para proceder com o planejamento
para implementação ou para ignorar os conceitos por serem de baixa
prioridade. Os méritos das três abordagens alternativas merecem
debate na arena política.
O impulso da Declaração de Alma-Ata é em direção à orientação
para a comunidade, e muitos países, par ticularmente os em
desenvolvimento, implementam as políticas indicadas para alcançá-
la. As descrições de suas características não podem ser generalizadas,
e pouco se sabe a respeito de que tipos de informações são úteis e
como elas podem ser aplicadas na melhora da atenção. Várias
iniciativas, como o projeto Healthy Cities [Cidades Saudáveis] da
Organização Mundial da Saúde e as “metas para as nações” de vários
países, sugerem algumas direções para estudo, embora estes estejam
direcionados mais para os sistemas de saúde em geral do que para a
atenção primária especificamente. A pesquisa orientada para a política
que é indicada para testar diferentes abordagens para alcançar as metas
comunitárias definidas e para avaliar as diferentes abordagens para
atendê-las seria útil para todos os sistemas que lutam para alcançar a
orientação para a comunidade.
Além disso, é evidente que as políticas (incluindo aquelas para
educação médica) indicadas para melhorar a atenção primária
orientada para a comunidade devem envolver a colaboração com os
profissionais de saúde pública, porque os limites entre a saúde pública
e a Medicina clínica estão-se tornando cada vez mais indefinidos na
medida que os centros de saúde estão assumindo a responsabilidade
pela saúde de populações definidas tradicionalmente o campo das
instituições e profissionais de saúde pública.
Se a orientação comunitária emerge como uma prioridade para
a política, deverá haver incentivos para o desenvolvimento dos
sistemas de dados da comunidade ligados aos sistemas de dados
clínicos que podem ser usados para o estabelecimento de prioridades,
planejamento e avaliações. As estatísticas vitais, sistemas de relato e
relato de dados clínicos atualmente existentes podem ser adaptados
para tornar os sistemas de dados e suas interligações mais úteis no
691
18. Políticas de Saúde para alcançar efetividade e eqüidade
nível das comunidades em que as clínicas existem. Novos sistemas
de dados terão de ser desenvolvidos para suplementar as informações
a respeito das causas de morte e doenças com documentação do estado
funcional também. Isto pode precisar da realização de levantamentos
periódicos nas comunidades, um esforço que exigirá recursos
adicionais. Os referendos locais sobre a importância acordada para
esta abordagem ajudarão a fornecer a justificativa para o gasto de
fundos adicionais.
QUESTÕES ÉTICAS REFERENTES AO USO DE
RECURSOS
Uma preocupação política importante é o uso de tecnologia
cara quando os procedimentos são claramente injustificados.
Geralmente existem mecanismos para negar o reembolso se houver
uma política de fazê-lo. Quando os procedimentos caros são
cientificamente justificados, a preocupação para os criadores da política
é a extensão na qual eles podem ser justificados com base no custo-
benefício. Algumas jurisdições começaram a desenvolver comissões
públicas para deliberar sobre custos e benefícios de procedimentos
de atenção médica e para negar aqueles com justificativas fracas de
acordo com as considerações de custo/benefício. A racionalização é
uma questão acaloradamente debatida em muitos países, e o debate
enfoca tanto os serviços no nível da atenção primária quanto os
serviços heróicos da atenção terciária (McKee e Figueras, 1996; Doyal,
1997; Coast, 1997). Quando aplicada a populações inteiras, esta
abordagem pode ter mérito. Entretanto, surgem sérias questões éticas
se o processo resulta numa situação em que determinados segmentos,
igualmente necessitados da população tiverem o acesso negado aos
serviços disponíveis a outros segmentos, da população (Health, 1997).
O debate político deve considerar estas questões éticas, bem como a
questão mais geral da prudência no uso da relação custo-efetividade
como base para tomar decisões a respeito de quais ser viços e
procedimentos devem ser fornecidos ou pagos pelo sistema de saúde.
692
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
ESTÍMULO E APOIO À PESQUISA NA ATENÇÃO
PRIMÁRIA
Como a grande maioria da pesquisa relacionada à saúde é realizada
por subespecialistas em centros médicos, a base de conhecimento da
prática de atenção primária está subdesenvolvida. A política deveria
estimular a realização desta pesquisa, preferivelmente com o
envolvimento direto dos médicos de atenção primária que tem uma
melhor compreensão da natureza dos problemas na atenção primária
do que outros especialistas ou pesquisadores não-médicos. As
organizações de pesquisa governamentais e privadas devem estabelecer
uma agenda para propostas e convites para pesquisa. As associações
profissionais devem fornecer créditos extras de educação continuada
ou fornecer certificados de mérito para os médicos que se envolveram
nesta pesquisa. Os esforços colaborativos, nos quais os médicos de
atenção primária desenvolvem redes de trabalho para definir e realizar
a pesquisa, tem um comprometimento específico porque a pesquisa
adequadamente realizada que ocorre em uma ampla variedade de
estabelecimentos pode ser mais generalizada do que a pesquisa em
apenas um ou poucos estabelecimentos. O envolvimento dos
pesquisados nos centros médicos, mesmo que sejam subespecialistas,
também pode ser encorajado, porque a exposição da questão de atenção
primária por estes pesquisadores aprimorará seu entendimento dos
desafios da atenção primária. Entretanto , estes especialistas não definem
os tópicos de pesquisa ou exercem controle exclusivo sobre a análise
ou interpretação dos achados .
ESTÍMULO E APOIO DO TREINAMENTO EM
ATENÇÃO PRIMÁRIA
Como a tendência natural para qualquer sistema é a
subespecialização, esforços especiais são feitos para manter o setor
de atenção primária viável. Os programas de treinamento em atenção
primária precisarão de apoio financeiro especial para continuar viáveis
693
18. Políticas de Saúde para alcançar efetividade e eqüidade
e atraírem os médicos que não apenas têm interesse neles, mas que
também são de alto calibre. Diante dos incentivos para especialização
por causa de maior prestígio e, na maioria dos locais, por causa da
promessa de melhor renda, os treinandos vão para a subespecialização
e não para a atenção primária. O desafio para os criadores da política
é tornar o treinamento e a prática da atenção primária pelo menos tão
atrativo quanto o treinamento e a prática da subespecialidade.
CONSTRUINDO UM POTENCIAL PARA A
RESPONSABILIDADE
Quando a responsabilidade tanto pelo financiamento como pela
prestação de serviços diretos é assumida por órgãos governamentais
ou particulares, deve haver alguma especificação explícita da natureza
e extensão dos serviços que serão assumidos. Estas especif icações
geralmente se apresentam na forma de diretrizes que devem ser
seguidas. Estas diretrizes estabelecem um conjunto mínimo de
benefícios a serem oferecidos e podem até mesmo especificar como
determinados serviços devem ser prestados. Por exemplo, elas podem
indicar que as crianças deveriam ser examinadas periodicamente para
a atenção a crianças saudáveis e indicar a periodicidade. Elas podem
exigir que determinados tipos de serviços, como os serviços de manejo
de caso, estejam disponíveis para os pacientes.
A capacidade técnica para a responsabilidade hoje se estende
além da simples especificação das exigências. É possível estabelecer
metas operacionais e medir sua obtenção. As metas podem ser
expressas como a obtenção de deter minados níveis da saúde, a
obtenção de determinados níveis de satisfação da população ou a
obtenção de padrões estabelecidos para a qualdiade da atenção.
Hoje, quando a capacidade técnica pela responsabilidade do
desempenho existe, a comunidade de gerentes e profissionais nem
está suficientemente consciente das capacidades nem comprometida
com o conceito de responsabilidade para assumir as atividades
necessárias para assegurá-la. Portanto, o desafio para a política é a
694
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
adoção de um sistema de incentivos para encorajar a experimentação
com métodos de garantia da responsabilidade. Os bônus podem ser
dados às organizações de serviço que estabeleçam metas e meçam o
grau de sua obtenção. Para estimular o interesse, as organizações podem
ser autorizadas a escolher a área em que desejam experimentar ou, pelo
menos, selecionar a par tir de uma variedade de opções. As ár eas
potenciais para aumento da responsabilidade incluem a implementação
de conselhos para aconselhamento de pacientes, avaliação das
mudanças no estado de saúde, ligações com órgãos de saúde pública
que tornam possível o uso dos dados de saúde da comunidade e o
envolvimento em pesquisa para gerar novos conhecimentos a respeito
dos problemas da atenção primária e seu manejo.
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697
Muito antes do início da era tecnológica, o conhecido patologista
celular Rudolf Virchow observou que A melhora d a Medicina
prolongaria, no final, a vida humana, mas a melhora das condições
sociais alcançaria este resultado mais rapidamente e de forma mais
bem-sucedida”. Estes sentimentos levaram-no à posição de que a
“Medicina é uma ciência social, e a política não é nada mais que a
Medicina em grande escala”.
O século seguinte trouxe desenvolvimentos, que continuam
inabalados até o momento, na capacidade dos médicos intervirem,
de formas antes inimagináveis, para reduzir o impacto adverso das
enfermidades. Entretanto, os sistemas e profissionais de saúde ainda
serão confrontados com a realidade de que muito da saúde não
está associado a enfer midades específicas. A pleiotropia, a
heterogeneidade etiológica e a penetrância variável continuarão a
impedir uma abordagem mecânica da doença e da saúde. Nem todas
as pessoas com um determinado def eito biológico sucumbirão à
enfermidade à qual ele está associado, e enfer midades similares
ocorrerão mesmo na sua ausência. A revolução genética que é
amplamente igualada ao determinismo biológico será acompanhada
pela realização da influência penetrante dos fatores sociais e
ambientais sobr e experiências de enf ermidadeeacapacidade das
pessoas alcançarem a saúde e a satisfação pessoal, assim como era
nos dias de Virchow.
O papel da atenção primária se tornar á mais crucial com o
crescente reconhecimento da interação entre biologia e o ambiente
social e físico. O desafio da atenção primária é entender e
interpretar esta interação e ajudar os indivíduos a modificar suas
circunstâncias de vida para maximizar seu potencial de saúde e
realização pessoal. Conforme o papel da Medicina muda de uma
meta de cura para a prevenção de enfer midades, e daí para a
EPÍLOGO
698
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
proteção e promoção da saúde, sua contribuição para a saúde
assumirá uma impor tância cada vez maior. Como o único ramo da
Medicina a enfocar basicamente as pessoas, e não suas doenças, a
atenção primária é fundamental no avanço da ciência e da arte
dos ser viços de saúde na sociedade moder na.
Se este livro estimulou o pensamento a respeito dos desafios
impostos por Virchow e o papel da atenção primária em assumi-los,
ele terá atingido seus objetivos.
699
Os instr umentos para Avaliação dos Sistemas de Atenção
Primária em Saúde Infantil [Child Health Systems Primary Care Assessment]
são indicados para avaliar a extensão da atenção primária prestada,
condizente com cada um dos campos e subcampos da atenção
primária, descritos neste livro. Os campos incluem os quatro atributos
exclusivos da atenção primária primeiro contato, continuidade,
integralidade e coordenação–eostrês atributos derivativos
centralização na família, orientação para a comunidade e adequação
cultural. O levantamento é indicado para fornecer escores para cada
campo e subcampo. Os instrumentos não são indicados para medir o
estado de saúde em si.
Este apêndice fornece as perguntas que estão incluídas no
instr umento de levantamento. Os for mulários de pesquisa são
formatados e incluem categorias para registrar e codificar as respostas
O Levantamento para o Usuário/Cliente é indicado para coletar
informações de indivíduos referentes a suas experiências ao utilizar
os recursos de atenção à saúde. A pesquisa pode ser administrada por
meio de entrevistas por telefone ou pessoais.
O Levantamento para a Unidade/Profissional é indicado para
coletar informações a respeito de características operacionais e práticas
relacionadas ao emprego da atenção primária por profissionais de
atenção direta (consultórios isolados ou em grupo, clínicas privadas ou
públicas, organizações de manutenção da saúde ou unidades hospitalares
de pacientes ambulatoriais, e assim por diante). O levantamento pode
ser implementado por correio ou entrevistas por telefone ou pessoais.
APÊNDICE
Instrumento para avaliação de sistemas de atenção
primária em saúde infantil*
* Este instrumento ainda não foi validado no Brasil (N.T.)
700
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Os dados coletados pelo teste-piloto forneceram estimativas
de confiabilidade e validade das escalas em cada campo, incluindo
correlações entre escalas, médias dos itens, correlações entre itens e
consistência interna. Estes testes são fundamentais para o processo
de produção de um instrumento válido e confiável.
Se você pensar em usar qualquer um dos questionários, por
favor, comunique-se com uma das pessoas abaixo.
Atenciosamente,
Holly Allen Grason, MA
Director
Women’s and Childrens Health Policy Center
Barbara Starfield, MD, MPH
University Distinguished Service Professor
Department of Health Policy & Management
410-955-3737
INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DOS SISTEMAS DE
ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE INFANTIL
Desenvolvido por
Barbara Starfield, MD, MPH
Charlyn E. Cassady, RN, PhD
Women’s and Childrens Health Policy Center
Johns Hopkins School of Public Health
Department of Maternal and Child Health
Para o(a)
Maternal and Child Health Bureau
Health and Services Administration
701
Apêndice
Public Health Service
U.S. Department of Health and Human Service
e
The Henry J. Kaiser Family Foundation
© Johns Hopkins University 1997
Todos os direitos reservados.
O desenvolvimento deste documento foi apoiado por dois
Acordos Cooperativos (MCU 243A19 e MCU 249386) do Maternal
and Child Health Bureau [Bureau de Saúde Maternal e Infantil] (Título
V, Lei de Seguridade Social), Health Resources and Services Administration
[Administração dos Recursos e Serviços de Saúde], U.S. De partment
of Health and Human Service [Ministério da Saúde e Assistência Social].
O financiamento adicional para este Levantamento de Profissional
foi fornecido pela Kaiser Family Foundation (concessão 94-1499).
LEVANTAMENTO PARA O PROFISSIONAL
Responda ao levantamento refletindo a atenção que você
oferece na qualidade de profissional individual.
1. Tipo de unidade
2. Sua especialidade
3. Das crianças e adolescentes atendidos em sua unidade,
qual a porcentagem aproximada dos seguintes tipos de
plano?
4. Qual a porcentagem aproximada de seus pacientes infantis
e adolescentes estão em planos de saúde que afetam sua
renda pelo número de encaminhamentos ou custos gerados
por você?
5. Qual a porcentagem aproximada de seus pacientes infantis
e adolescentes, que têm cobertura de saúde, que limita
encaminhamentos, limita a quem você pode encaminhar
ou requer aprovação para encaminhamentos?
702
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
6. Qual a porcentagem aproximada de seus pacientes infantis
e adolescentes, que têm cobertura de saúde, que requer
aprovação prévia para hospitalizações que não sejam de
emergência?
7. Sua unidade abre aos sábados ou domingos?
8. Sua unidade abre nos dias da semana até as 20 horas?
9. Quando sua unidade está aberta e uma criança fica doente,
alguém na sua unidade examina a criança no mesmo dia?
10. Quando sua unidade está fechada, no sábado ou domingo,
e uma criança fica muito doente, alguém na sua unidade é
capaz de examinar a criança no mesmo dia?
11. Quando sua unidade está fechada, à noite, e uma criança
fica muito doente, alguém de sua unidade seria é de
examinar a criança naquela noite?
1 2. Uma família pode conseguir, facilmente, marcar uma
consulta para exames completos de rotina numa criança
saudável em sua unidade?
13. Quando sua unidade está fechada, você tem um número
de telefone para o qual as famílias podem ligar quando
uma criança adoece?
14. Em média, os pacientes têm de esperar mais de 30 minutos
antes de ser examinados pelo médico ou enfermeira?
15. Em sua unidade, as crianças vêem o mesmo clínico cada
vez que consultam?
16. Você acha que as crianças (se tiverem idade suficiente) ou
as famílias, em sua unidade, entendem o que você lhes
pergunta ou diz?
17. Você acha que às famílias tempo suficiente para
conversarem a respeito de suas preocupações ou
problemas?
18. Você acha que as famílias se sentem confortáveis contando
a você a respeito de suas preocupações ou problemas?
19. Se uma família tem uma pergunta, ela pode telefonar e
falar com o médico ou enfermeira que melhor conhece
a criança?
703
Apêndice
20. Você acredita que conhece “muito bem” as famílias de
sua unidade?
21. Você acha que entende quais problemas são mais
importantes para as famílias que atende?
22. Sua unidade pede para se reunir com os membros da família
para discutir um problema de saúde ou familiar?
23. Qual a porcentagem de pacientes infantis e adolescentes
da unidade estão “inscritos” ou têm direito a receber todo
seu atendimento não-encaminhado em sua unidade?
24. Qual a porcentagem de pacientes infantis e adolescentes
você acha que utilizam a unidade para todas as suas
necessidades de saúde, estando bem ou doentes, (com
exceção de verdadeiras emergências e atendimento
encaminhado)?
25. Qual a porcentagem aproximada de seus pacientes infantis
e adolescentes deve pagar uma taxa ou co-pagamento em
cada consulta?
2 6. Qual a porcentagem de seus pacientes com problemas
médicos ou comportamentais de longo prazo ou
incapacidades?
27. Em média, quanto tempo uma criança permanece na sua
unidade?
28 . Sua unidade possui uma população geograficamente
definida que deve ser atendida?
29. Durante as consultas em sua unidade, os seguintes assuntos
são discutidos com a criança e com o pai/responsável?
a. Formas de manter a criança saudável, como alimentos
nutritivos ou tempo suficiente de sono?
b. For mas de manter a criança segura, como:
1. (Menos de 6 anos) ensiná-la a atravessar a rua com
segurança; uso de cadeirinhas de segurança nos
carros?
2. (Idades de6a12anos) ficar longe de armas; utilizar
cintos de segurança e capacetes para ciclismo?
704
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
3. (Mais de 12 anos) sexo seguro; dizer não às drogas;
não beber e dirigir?
c . Segurança no lar, como utilização de detectores de
fumaça e manter os medicamentos em local seguro?
d. Formas de lidar com problemas comportamentais da
criança?
e. Mudanças no crescimento e comportamento que os pais
podem esperar em determinadas idades?
30. Se uma criança precisar de qualquer um dos serviços a
seguir, seria capaz de consegui-lo no próprio local de sua
unidade?
a. Aconselhamento nutricional por um especialista ou
profissional em nutrição
b. Imunizações
c. Triag em para definir eletividade para programas ou
benefícios da assistência social
d. Ser viços “WIC” (suplemento de leite e pr ograma
alimentar)
e. Exames odontológicos de rotina
f. Tratamento odontológico
g. Planejamento familiar ou ser viços de controle de
natalidade
h. Aconselhamento ou tratamento para abuso de
substâncias ou drogas
i. Aconselhamento para problemas comportamentais ou
de saúde mental
j. Exames para envenenamento por chumbo
k. Sutura de lacerações menores
l. Aconselhamento e testagem para HIV/AIDS
m. Timpanocentese
3 1 . Você utiliza os métodos a seguir para g arantir que os
serviços indicados são prestados?
a. Fluxogramas em fichas de pacientes para resultados
laboratoriais
705
Apêndice
b. Diretrizes da clínica impressas nos prontuários dos
pacientes
c. Auditoria periódica dos prontuários médicos
d. Lista de problemas nos prontuários dos pacientes
e. Lista de medicamentos nos prontuários dos pacientes
f. Outros (especificar) _________________________
32. É esperado que os pais/responsáveis tragam os registros
médicos da criança, como imunizações ou atenção médica
recebida no passado?
33. Você permitiria que uma família tivesse acesso ao
prontuário médico da criança se assim o quisesse?
34. Quando um paciente necessita de um encaminhamento,
você discute os diferentes locais que a família pode ir para
conseguir ajuda para seu problema?
35. Alguém na sua unidade auxilia a família na marcação de
consulta para o encaminhamento?
36. Você acha que tem conhecimento de todas as consultas
que seus pacientes fizeram a especialistas ou ser viços
especiais?
37. Você recebe informações úteis a respeito dos pacientes
encaminhados de par te dos especialistas ou ser viços
especiais?
38. Depois da consulta, você conversa com o pai/responsável/
criança a respeito do(s) resultado(s) das consulta(s) que
tiveram com o especialista ou do serviço especial?
39. Com que freqüência cada um dos itens a seguir está incluído
como uma parte rotineira de sua avaliação de saúde?
Uso de:
a. Genogramas, “APGAR” da família
Discussão de:
b. Fatores de risco na família, como, por exemplo,
genéticos
c. Recursos financeiros da família
d. Fatores de risco social, como, por exemplo, perda do
emprego
706
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
e. Condições de vida, como, por exemplo, geladeira e
aquecedor funcionando
f. Estado de saúde de outros membros da família
g. Criação
Avaliação de:
h . Sinais de abuso infantil
i. Indicadores de família em crise
j. Impacto da saúde da criança sobre o funcionamento
familiar
k. Nível de desenvolvimento
40. Os médicos e enfermeiros em sua unidade perguntam aos
pais/responsáveis a respeito de suas idéias e opiniões ao
planejar o tratamento e o atendimento a uma criança?
41. Sua unidade realiza visitas domiciliares?
42. Você acha que sua unidade tem conhecimento adequado
a respeito dos problemas de saúde das comunidades às
quais atende?
43 . Sua unidade utiliza os seguintes tipos de dados para
determinar quais programas/serviços são necessários para
as comunidades às quais atende?
a. Dados de mortalidade (dados sobre mortes)
b. Dados de doenças transmissíveis relacionadas à saúde
pública (por exemplo, DSTs, TB)
c. Taxas de imunização da comunidade
d. Dados de saúde pública, a respeito de riscos à saúde ou
ocupacionais
e. Dados clínicos de sua unidade
f. Outros (especificar) ____________________
4 4 . Você é capaz de mudar os ser viços ou pro gramas de
atenção à saúde que oferece em resposta a problemas de
saúde específicos nas comunidades?
45. Sua unidade utiliza os métodos a seguir para monitorar e/
ou avaliar a efetividade de seus serviços/programas?
707
Apêndice
a. Levantamento de seus pacientes
b. Levantamentos da comunidade
c. Devolução por parte de organizações comunitárias ou
comissões de aconselhamento da comunidade
d. Devolução por parte da equipe da unidade
e. Análise de dados locais ou estatísticas vitais
f. Avaliação sistemática de seus prog ramas e ser viços
oferecidos
g. Agentes comunitários de saúde
h . Ter um membro da família no conselho administrativo
ou comitê consultivo
i. Outros (especificar) ____________________
46. Sua unidade utiliza qualquer dos métodos a seguir para
abordar a diversidade cultural em sua população de
pacientes?
a. Treinamento da equipe por instrutores de fora
b. Programas em serviço apresentados pela equipe
c . Uso de materiais/panfletos culturalmente sensíveis
(linguagem, imagens visuais, costumes religiosos)
d. Equipe refletindo a diversidade cultural da população
atendida
e. Tr adutores/intérpretes
f. Planejamento de serviços que refletem a diversidade
cultural
g. Outros (especificar) ___________________________
47. Sua unidade utiliza qualquer uma das atividades a seguir
para abranger as populações nas comunidades que você
atende?
a. Redes com órgãos estaduais e locais envolvidos com
grupos culturalmente diversos
b. Vinculação com organizações/serviços religiosos
c. Envolvimento com grupos de vizinhança/lideranças
comunitárias
708
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
d. Funcionários para busca ativa
e. Outros (especificar) ________________________
48. Você considera que sua unidade é acessível às pessoas que
não falam inglês muito bem?
49. Você é capaz de incorporar uma crença especial da família
a respeito da atenção à saúde, ou utilizar a medicina popular,
como ervas ou remédios caseiros, no plano de tratamento?
50. Você é capaz de incor porar uma solicitação da família para
utilizar um tratamento alter nativo, como homeopatia ou
acupuntura, no plano de tratamento?
51. Sua unidade oferece “tabela variável” ou planos de
pagamento de longo prazo para pacientes com dificuldades
financeiras?
52. Seus honorários profissionais são principalmente:
Apenas salário
Apenas capitação
Apenas taxa por serviço
Capitação e taxa por serviço
Salário e taxa por serviço
Salário, ca pitação e taxa por serviço
Divisão dos lucros da unidade
Outros (especificar) _________________________
5 3 . Você é eletivo para bônus ou está sujeito a deduções,
dependendo da experiência de utilização?
54. Você é eletivo para bônus se alcançar deter minadas
diretrizes ou resultados?
55. Em sua unidade, qual o número atual de consultas
a. Por dia?
b. Por semana?
56. Qual a porcentagem aproximada de consultas por idade?
57. Sua unidade está aceitando novos pacientes no momento?
58. Sua unidade é capaz de determinar quantos pacientes (não
consultas) você por ano?
709
Apêndice
LEVANTAMENTO TELEFÔNICO PARA
USUÁRIO/CLIENTE
P1. A que médico ou local (nome da criança) geralmente vai
se ele(a) estiver doente ou necessitar de orientação sobre
sua saúde?
P2. Qual o nome do médico ou do local?
P3. Qual o nome do médico ou local que melhor conhece (nome
da criança) como pessoa, sem considerar qualquer
problema de saúde especial que ele(a) tenha?
P4. Qual o nome do médico ou do local em que você levaria
(nome da criança) se ele(a) tivesse um problema de saúde
completamente novo, que não fosse uma emergência?
P5. Você pode me dizer o endereço do (Médico/Lugar L) ou
onde fica?
P6. Que tipo de lugar é?
P7. O(s) médico(s) no (Lugar L) cuida(m) de crianças apenas
ou de crianças e adultos?
P8. O(s) médico(s) no (Lugar L) cuida(m) principalmente de
crianças com certos tipos de problemas ou da maioria
dos problemas?
O5. Cerca de quantas vezes no total (nome da criança) foi ao
(Médico/Lugar L)?
O16. Há quanto tempo o (Médico/Lugar L) é sua fonte de
atenção?
O17. Você escolheu o (Médico/Lugar L) ou ele foi indicado?
O18. Você poderia trocar de (Médico/Lug ar L) a qualquer
momento que quisesse?
O19. Você trocaria de (Médico/Lugar L) por algum outro lugar
se fosse fácil fazê-lo?
F1. O (Médico/Lugar L) atende aos sábados e domingos?
F 2. O (Médico/Lugar L) atende à noite durante a semana
até as 20 horas?
F4. Quando o (Médico/Lugar L) está atendendo e (nome da
criança) adoece, o médico/local o(a) no mesmo dia?
710
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
F5. Quando o (Médico/Lugar L) não está atendendo aos sábados
e domingos e (nome da criança) fica doente, o(a) (Médico/
Lugar L) ou fala com você no mesmo dia?
F6. Quando o (Médico/Lugar L) não está atendendo e (nome
da criança) fica doente durante a noite, alguém de o(a)
veria ou falaria com você naquela noite?
F7. Você tem de esperar muito tempo ou falar com muitas
pessoas para marcar uma consulta no (Médico/Lugar L)?
F19. É fácil marcar uma consulta para exames de rotina para
uma criança saudável no (Médico/Lugar L)?
F20. Quando o (Médico/Lugar L) não está atendendo, existe
algum número de telefone que você possa ligar quando
(nome da criança) adoece?
F23. Quando (nome da criança) tem de ir ao (Médico/Lugar
L), alguém tem de faltar ao trabalho ou à escola para
levá-lo(a)?
F16. Quando você chega ao (Médico/Lugar L), você tem de
esperar mais de 30 minutos antes que (nome da criança)
seja examinado(a) pelo médico ou enfermeira?
F21. Para você, é difícil conseguir atenção médica para (nome
da criança) quando acha necessária a atenção do (Médico/
Lugar L)?
O1a. (Nome da criança) passou por um exame completo
regular?
O1b. Onde (nome da criança) foi pela última vez para um exame
completo regular quando ele(a) não estava doente?
O1c. Quando foi a última consulta, no mesmo local, para um
exame completo? (mês e ano)
O2a. (Nome da criança) recebeu imunizações (vacinas)?
O2b. Onde (nome da criança) foi na última vez que recebeu
imunizações (vacinas)?
O2c. Quando foi a última consulta, no mesmo local, para
imunização (vacinas)? (mês e ano)
O3a. (Nome da criança) foi examinado por um médico ou
enfermeira porque estava doente?
711
Apêndice
O3b. Onde (nome da criança) foi na última vez que esteve
doente?
O3c. Quando foi a última consulta, no mesmo local, por motivo
de doença? (mês e ano)
06. Quando você leva (nome da criança) a (Lugar L), ele(a)
recebe atenção do mesmo médico ou enfermeira sempre?
O7. Você acha que o médico ou enfermeira entende o que você
diz e pergunta?
O8. Suas perguntas para o médico ou enfer meira são
respondidas de forma que você entenda?
O14. Se você tem uma pergunta, você pode telefonar e falar
com o médico ou enfermeira no (Lugar L) que conhece
melhor (nome da criança)?
O21. O (Médico/Lugar L) parece interessado em (nome da
criança) como pessoa, e não como alguém com problemas
médicos?
O23. (Médico/Lugar L) lhe tempo suficiente para falar a
respeito de suas preocupações ou problemas?
O24. Você se sente à vontade para contar ao (Médico/Lugar
L) suas preocupações ou problemas?
O26. Você acha que (Médico/Lugar L) conhece “muito bem”
sua família?
O27. O (Médico/Lugar L) entende quais problemas são mais
importantes para você e sua família?
K6. (Médico/médicos e enfer meiras no Lugar L) se
encontrariam com membros de sua família se você
achasse que seria útil?
O20. (Médico/Lugar L) precisa de aprovação de outra pessoa
para encaminhar a um especialista?
M15. Quando você vai ao (Médico/Lugar L), você leva algum
registro médico de (nome da criança), como registros de
vacinas ou relatórios de atenção médica que ele(a)
recebeu?
M16. O (Médico/Lugar L) per mitiria que você visse o
prontuário médico de (nome da criança) se você quisesse?
712
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
M1. (Nome da criança) teve qualquer tipo de consulta com
um especialista ou serviços especiais?
M3. Quando foi a última vez que (nome da criança) foi a um
especialista ou recebeu serviços especiais? (mês e ano)
M2. Qual era o especialista ou o serviço especial?
M3a. Esta consulta foi devido a um problema físico, mental ou
comportamental, como uma condição que não passa ou
dura mais do que um ano?
M3b. (Nome da criança) foi a este especialista ou recebeu
serviços especiais anteriormente a esta última consulta?
M17. O (Médico ou enfermeira do Lugar L) sabe a respeito das
consultas com especialista ou dos serviços especiais?
M4. O (Médico ou enfermeira no Lugar L) discute com você
os diferentes locais que você poderia ter ido para obter
auxílio para aquele problema?
M7. Alguém no (Médico/Lugar L) ajudou você a marcar esta
consulta?
M10. Depois de ir ao especialista ou receber serviços especiais,
(Nome do médico/alguém do Lugar L) falou com você e
(nome da criança) a respeito do que aconteceu na
consulta?
M11. O (Médico do Lugar L) sabe quais foram os resultados
daquela consulta?
M13. O (Médico do Lugar L) parece interessado na qualidade
da atenção que (nome da criança) recebe do especialista
ou do serviço especial?
M14. (Nome da criança) está recebendo algum medicamento
que o médico no (Lugar L) não saiba?
C3 . Vou ler uma lista de serviços que seu filho ou sua família
podem precisar em algum momento. Para cada um, diga
se pode obtê-los no (Médico/Lugar L).
a. Respostas para perguntas a respeito de nutrição ou dieta
b. Imunização ou “vacinas”
c. Checagem para ver se sua família é eletiva para algum
programa ou benefício da assistência social
713
Apêndice
d. Serviços “WIC” (suplemento de leite e pr og rama
alimentar)
e. Exame odontológico de rotina
f. Tratamento odontológico
g. Planejamento familiar ou controle de natalidade
h. Aconselhamento ou tratamento para abuso de
substâncias ou drogas
i. Aconselhamento para problemas comportamentais ou
de saúde mental
j. Exames para envenenamento por chumbo
k. Sutura de um corte que precise de pontos
l. Aconselhamento e exame para HIV/AIDS (opcional)
C1. Nas consultas do (Médico/Lugar L) com (nome da
criança), algum dos assuntos a seguir é discutido com
você e (nome da criança)?
a. For mas de manter seu filho saudável, como alimentos
nutritivos; ou dormir o suficiente?
b. Formas de manter seu filho seguro, como...
1. (Menos de 6 anos) ensinando-o a atravessar a
rua com segurança e uso de assentos infantis de
segurança no carro?
ou
2. (Idades de6a12anos) ficar longe de armas de
fogo e usar cinto de segurança e capacetes para
ciclismo?
ou
3. (Mais de 12 anos) sexo seguro, dizer não às drogas;
não beber e dirigir?
c. Segurança doméstica, como a utilização de detectores
de fumaça e guardar remédios em local seguro?
d. Formas de lidar com os problemas comportamentais
de seu filho?
e. Mudanças no crescimento e comportamento que você
pode esperar em determinadas idades?
714
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
K1 . O (Médicos e enfermeiras no Lug ar L) perguntam a
respeito de suas idéias e opiniões quando estão planejando
o tratamento e atendimento para (nome da criança)?
R1. Alguém do (Médico/Lugar L) fez visita domiciliar?
R3. O (Médico ou enfermeira no Lugar L) sabe a respeito de
todos os problemas de saúde importantes de seu bairro?
K5. Como (Médico/Lugar L) consegue opiniões e idéias das
pessoas que irão ajudá-lo(a) a oferecer uma melhor
atenção à saúde? Ele(a):
a. Realiza pesquisas com seus pacientes para saber se
seus serviços estão atendendo às necessidades das
pessoas?
b. Realiza pesquisas na comunidade para descobrir quais
problemas de saúde o (Médico/Lugar L) deveria
conhecer?
c. Pede aos membros da família para que participem do
conselho administrativo ou comitê consultivo?
H2. Você recomendaria o (Médico/Lugar L) a um amigo ou
parente?
H 1. Você recomendaria o (Médico/Lugar L) a alguém que
não falasse inglês muito bem?
H 3. Você recomendaria o (Médico/Lugar L) a alguém que
utiliza medicina popular, como er vas ou remédios
caseiros, ou tem crenças especiais a respeito da atenção
à saúde?
B7. Quanto, nos últimos 12 meses, (nome da criança) recebeu
cobertura por qualquer tipo de seguro-saúde, incluindo
Medicaid?
B1. Durante os últimos 12 meses, alguma atenção à saúde de
(nome da criança) foi paga por meio de:
a. OMS (organização para manutenção da saúde)
b. Alguma outra companhia de seguro-saúde privada
c. Medicaid ou Assistência Médica
d. Alguma clínica da secretaria de saúde
e. Alguma outra forma? (Especificar) _______________
715
Apêndice
B10a. No último ano, você teve problemas para pagar pelo
atendimento de saúde para (nome da criança)?
B8. Quando você vai ao (Médico/Lugar L), você tem de pagar
alguma coisa pela consulta?
B9. Você recebe parte ou todo este dinheiro de volta de algum
programa de seguro-saúde?
D 1. (Nome da criança) é:
Afro-americano
Branco
Hispânico ou latino
Africano nativo
Americano nativo/Índio americano/Nativo do Alaska
Asiático, asiático-americano ou nativo das ilhas do
Pacífico
Outros (Especificar) ___________________
D 2. Qual o país de origem de (nome da criança)?
D 4. Que idiomas são geralmente falados em sua casa?
D5. Quanto a sua família paga por mês de aluguel ou hipoteca?
D 6. Finalmente, gostaria de perguntar a respeito de sua renda
domiciliar. Qual dos itens descreve de forma mais próxima
o nível de renda de seu lar?
717
ÍNDICE REMISSIVO*
A
Abordagem histórica 75
Abordagem para categorização por
composição nosológica 76
Ver também case-mix
Abordagem por algoritmo 426, 637
Abordagem relacionada à demanda 182
Abordagem relacionada à oferta 182, 183
Abordagem sociodemográfica 76
Acessibilidade 5, 47, 57, 60-62,
65, 207, 210, 225, 226,
228, 229, 232, 234,
236, 237, 239, 241, 429, 482,
496, 499, 504, 507, 510, 648
Acesso 19, 20, 23, 28, 29,
49, 54, 57, 62, 65, 66,
109, 144, 167, 182, 196, 200,
208, 209, 211, 215, 218,
220, 222, 225-231,
232, 234-237, 241, 318, 333,
340, 368, 382, 383, 396, 431,
441, 459, 471, 473, 476, 482,
492, 493, 497, 503-511,
514, 516, 517, 528, 529,
533, 534, 550, 551, 557, 558,
565, 566, 572, 574-576, 586,
598, 610, 611, 620, 621, 625, 645,
646, 654, 660, 667, 668, 679,
680, 691, 705
ACG (Adjusted Clinical Group)
79, 81, 83, 86, 87, 457, 458
ADG (Adjusted Diagnostic Group)
80, 82, 83, 87, 88
Alemanha
26, 58, 183, 188, 323, 355, 570
584, 586, 587, 590, 592, 593, 672
Alocação de recursos 58, 75, 78, 169
APGAR 121, 707
Aspectos exclusivos da atenção primária
482, 539, 678
ASPN (Ambulatory Sentinel Practice
Network) 287, 656, 657, 660
Assistentes médicos 133, 163, 164
Ver também Profissionais não-
médicos
Atenção à saúde mental 165, 431
Atenção compartilhada
113, 128, 158, 346, 374,
375, 381-383, 410, 636
Atenção continuada
31, 44, 52, 113, 117, 127,
151, 197, 264, 346, 373,
385, 397, 408, 426, 486, 491, 508,
536, 611, 636, 638, 685
Atenção domiciliar 137, 169, 326,
327, 336
* Versão abreviada do original.
718
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
Atenção gerenciada
178, 181, 186, 188, 189, 192-
199, 201, 202, 221, 223, 240,
261-266, 269, 282, 286
Atenção Primária
Avaliação da 5, 9, 48, 59, 257,
468, 481, 497, 498, 504, 505,
508, 511, 513, 522, 526
Benefícios da 33, 34, 40,
535, 547
Orientada para a comunidade 53,
533-535, 537, 538, 542, 555,
558, 690
Prática de 99, 101, 107, 164,
188, 318, 322, 492, 571, 572,
574-578, 580-583, 641, 692
Profissionais de 5, 44, 53, 101,
108, 109, 114, 133, 146, 149,
318, 332, 336, 369, 373, 379,
381, 387, 409, 502, 504, 566,
597, 612, 639, 641, 643, 647,
656, 689
Responsabilidade 5, 8, 10, 133,
137, 205, 373, 544, 556
Atenção secundária
29, 43, 47, 52, 65,
138, 333, 384, 649
Atenção subespecializada
21, 44, 66, 109, 128,
153, 217, 222, 224,
239, 267, 315
Atenção terciária 29, 378, 386,
391, 636, 647, 691
Austrália 26, 567, 571, 587,
589, 590, 592, 593, 667, 674, 685
B
Bélgica 354, 572, 584, 586, 587,
589, 592, 593, 674
Bem-estar 28, 91, 93, 94, 222, 319,
371, 446, 455, 544, 586, 665,
675, 688
Bônus 129, 191, 679, 694, 710
C
Cadastro de pacientes 5, 247, 270,
484, 566, 570-574, 576-579,
581-583
CADG (Collapsed Ajusted Diagnostic
Groups) 83
Canadá 26, 113, 150, 162,
183, 211, 270, 281, 337,
339, 340, 378, 396, 426,
465, 502, 525, 527, 543, 550,
552, 567, 573, 587, 589,
592, 602, 606, 611, 656, 674, 685
Canadian Medical Association
52, 69, 162, 170, 567, 595
Capitação 78, 79, 83-85, 178, 181,
184-187, 191-193, 381,
454, 575, 576, 578, 581, 582,
680, 685, 710
Carta de Lubliana 19, 665
Case-mix 11, 76-79, 81, 83, 88,
96-98, 371, 414, 474, 634, 648
662, 663
CID (Classificação Internacional de
Doenças) 87, 110, 445, 446,
604, 606, 608, 612, 614, 618,
620, 634
CID-MC 80, 87, 634
Cirurgiões 108, 109, 113, 155, 157,
279, 280, 302, 347, 355, 396,
500, 508
Classificação Internacional de Problemas
de Saúde 446, 452, 612, 620
CLSC (Centres Locaux des Services
Communautaires) 166, 553
719
Índice Remissivo
COC (Continuity of Care) 271-273, 502
Commission on the Costs of Medical
Care 190
Comodidade 56, 228
Comorbidade 154, 456-458, 645
Consumer Assessment of Health Plans
506, 529
Continuidade da atenção 56, 61, 67,
113, 247, 249, 256, 271,
389-391, 396, 402, 405,
429, 502, 508
Ver também Longitudinalidade
COOP 398, 633, 656, 657, 660
Custo-efetividade
20, 52, 194, 558, 692
Custos da atenção
77, 103, 140, 151, 187,
190, 202, 213, 217, 258,
265, 407, 420, 421,
565, 642, 669, 679
D
DALYs (Anos de vida ajustados por
incapacidade) 524
Declaração de Alma-Ata 533, 665, 690
Declaração de Buenos Aires 665
Descentralização 188, 194
Dinamarca 26, 188, 222, 224,
270, 574, 586-589, 592,
593, 625, 680
Direitos dos pacientes 528
DUSOI (Duke University Severity of
Illness) 453, 477, 633
E
Efetividade 6, 7, 27, 64, 66, 133,
162, 165, 186, 194,
225, 292, 314, 318, 322, 328,
359, 385, 419, 432, 449,
452, 470, 472, 538,
539, 541-543, 553, 558,
605, 625, 631, 633, 638,
640- 643, 645, 646, 649, 654,
665, 671, 688, 689, 707
Enfermeiros 10, 133, 161, 163,
167, 586, 670, 683, 706
EPO (Organização de prestadores
exclusivos) 193
Eqüidade 6, 7, 9, 14, 19,
20, 21, 27, 32, 33, 95,
194, 221, 419, 432, 481, 524,
553, 625, 631, 665-668,
670, 671,
673, 674, 680, 687, 688
Equipe 13, 46, 47, 50, 53, 57,
63, 127, 129, 134,
135, 155, 156, 160, 161,
164-169, 186, 192, 195, 197,
199, 233, 247, 248, 253,
265, 275, 276, 338, 357, 368,
370, 378, 381-383, 389, 409,
423, 429, 486, 488, 490, 493,
506, 522, 543, 550, 553, 558,
567, 581, 682, 683, 686, 707
Escore 49, 147, 159, 263, 271,
352, 434, 442, 446, 447,
450, 451, 491, 492, 494-497,
499, 500, 502, 503, 508, 510,
511, 513, 514, 567, 584, 586,
591-593, 633, 673, 699
Espanha 86, 87, 134, 158, 164, 183,
188, 270, 356, 443, 470,
504, 523, 527, 550, 575,
585, 587, 589, 590, 592, 634, 674
Especialistas 10, 19-21, 29, 31,
33, 34, 37, 38, 40, 51,
54, 63, 65, 104, 107-109,
111-114, 116, 117,
720
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
123-128, 134, 136-138,
140, 143, 145, 146, 149,
153-156, 158, 160, 166, 168,
183-185, 194, 196, 198,
200, 208, 211-213, 215, 216,
219-224, 238-241, 264, 272, 274,
278-281, 333, 341, 343, 347,
352, 355, 356, 358, 368-371,
374, 378, 379, 381-385,
387, 388, 391, 395, 396,
407-410, 426, 462, 500, 505,
507-510, 523, 524, 543, 547,
566, 570, 583, 602, 636, 646-
649, 651, 677, 680, 681,
683-686, 692, 705
Estados Unidos
9, 23, 25, 26, 37, 39, 87, 101,
102, 104-111, 114 -121, 122,
124-128, 133, 134, 138, 140, 142,
153, 154, 156, 159, 162, 164,
166-168, 179, 182, 184- 186,
189, 190-192, 194-196, 198-201,
210, 219, 221, 222, 224, 228,
237, 240, 251, 258, 261, 263,
266, 269, 275, 278, 279, 281,
282, 301, 318, 325, 330,
335, 337, 339, 341, 346, 378, 381,
386, 387, 404, 407, 422, 423,
425, 429, 431, 455, 456, 458,
461, 466-468, 469, 506, 507, 516,
517, 520-523, 527, 528, 539,
543, 544, 547, 550, 557, 576, 584,
587, 589, 590, 592, 593,
605, 608, 611, 613, 617, 618, 621,
622, 634, 636, 637, 656,
658, 659, 669, 670, 672, 674,
675-677, 682, 683, 686
Etiologia
72, 136, 168, 346, 487, 535
F
FAACT (Foundation for
Accountability) 461, 462, 475
Farmacêuticos 143, 161, 165, 610
Finlândia 25, 26, 164, 188, 270,
337, 544, 578, 586-588, 592,
593, 675, 685
França 26, 323, 385, 579, 584,
586, 587, 589, 590, 592, 593, 610
G
Gasto 27, 35-37, 40, 75-78, 90,
121, 123, 143, 144, 149, 163,
177, 183-185, 191, 208, 213,
220, 234, 323, 420, 427, 458,
466, 492, 494, 505, 506, 508,
509, 516, 605, 619, 653, 666,
674, 678, 679 691
GINI 391
H
HEALY (Anos de vida saudável
perdidos) 523, 524
HEDIS (Health Employers Data and
Information System)
466, 467, 470
Histórico 8, 30, 59, 142, 153, 255,
271, 294, 295, 314, 367, 370,
394, 406, 407, 426, 440, 444,
454, 484, 506, 508, 512, 599,
600, 601, 611, 618, 686
HMO (Health Maintenance
Organization) 114, 175, 191,
192, 243, 244, 261, 262, 288,
289, 348, 349, 360, 362, 372,
404, 412, 442, 478, 496, 497,
530, 577, 626
Honorários 34, 566, 570-574,
576-579, 581-583, 710
721
Índice Remissivo
Hospitalista 156, 686
Hospitalização 74, 80, 138, 143, 144,
149, 150, 152, 153, 156, 193,
197, 200, 211, 214, 219, 254,
257, 330, 397, 423, 441, 459,
468, 493, 522, 533, 546, 548,
550-552, 555, 599, 606, 672, 686
I
ICPC (Classificação Internacional da
Atenção Primária) 613, 614,
617-620, 627, 629, 634, 663
Impacto 30, 31, 37, 39, 68, 71,
83, 88, 90, 103, 127, 136,
152, 163, 178, 184, 189,
200-202, 217, 221, 253, 259,
262, 266, 284, 299, 304, 306,
328, 381, 410, 421, 446, 451, 461,
468, 481, 490, 515, 517, 520,
522, 527, 566, 592, 594, 601,
604, 614, 632, 635, 637,
640-642, 655, 660, 666, 669,
675-677, 679, 680, 681,
683, 687, 689, 697, 706
Imunização 148, 216, 217, 253,
334, 341, 408, 468, 470, 502,
505, 516, 534, 706, 711, 713
Indicadores de saúde 27, 35, 515,
519, 588, 591-593, 673, 675-677
Indicadores socioeconômicos 38
Índices 392
Iniqüidade 323, 669, 672, 673
Institute of Medicine
47, 69, 130, 232, 243, 248, 262,
287, 341, 361, 393, 397,
412, 470, 471, 475, 530,
539, 542, 560, 561, 621
Integração da atenção 367, 397
Integralidade 5, 47-49, 51, 61-64,
67, 68, 163, 195, 198, 248,
251, 266, 284, 302, 313-318,
323, 324, 329, 330, 334,
335-344, 347, 348, 350-352
354, 357, 358, 365, 432, 482,
485-488, 491-497, 499,
502-504, 506, 507, 509-512, 514,
515, 539, 566, 567, 571-577,
579-583, 585, 645, 647,
648, 671, 699
Interação profissional-paciente 291,
307, 377
Internista 40, 103, 105, 107-109,
111, 113, 114, 123-125,
133, 134, 139, 140-144,
146-157, 168, 216, 223-225,
238-240, 266, 278-280,
348-352, 408, 409, 455,
500, 507, 510, 551, 577, 685
IPA (Associação de Prática
Independente) 191-193, 198
J
Joint Commission 422, 429, 469, 475
L
Lei de atenção inversa 421
Lembcke 422, 475
LICON (Probabilidade de
continuidade) 272
LISECON (Likelyhood of Sequential
Continuity) 392
Longitudinalidade 46, 48, 53, 57, 61,
62, 67, 68, 114, 163, 166,
195-197, 235, 247-250, 252-265,
267, 268, 271-284, 302, 331,
365, 366, 388, 390-392,
722
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
432-434, 482, 484, 485, 492,
493, 502-504, 506, 507, 509,
511-513, 539, 565, 567, 571-577,
579-583, 645, 646, 648, 683
Ver também Continuidade da
atenção
Luxembourg Income Study 694
M
Medicaid 97, 98, 121, 167, 202, 212,
233, 243, 254, 258, 262, 264,
286, 310, 329, 362, 441, 507,
516, 677, 714, 715
Medicare
95, 98, 121, 167, 179, 202, 232,
233, 262, 285, 458, 467, 475,
663, 676, 677
Medicina alternativa 167
Medicina de família 43, 52, 78, 107,
118, 120-124, 126 134, 142,
151-153, 159, 207, 405
219, 225, 266, 273, 278,
333, 349, 350, 378, 403, 404,
425, 426, 432, 438, 443, 450,
496, 570-574, 576, 577, 580-583,
602, 633, 652, 665, 670
Médicos 7, 9, 10, 29, 30, 32, 34,
37, 38, 40, 43, 44, 47, 49,
58, 64, 72, 79, 80, 88, 101,
102-114, 116, 117, 120-129,
133-164, 167-169, 183-187,
189-199, 201, 202, 208, 211,
213, 215-221, 223, 230, 232,
238-241, 248, 249, 251-253,
255, 257, 261-264,
266, 274-282, 284, 292-295,
297-302, 304-307, 317, 325,
326, 327, 330, 333, 338, 341,
343, 345, 346-352, 354-358,
365, 370, 372, 373, 375-385
387, 389, 391, 394-403, 405,
408-410, 423-428, 431-434,
438, 442, 449, 453-455, 458,
462, 467, 470-472, 484, 485,
487, 488, 490, 491, 496-501,
503, 506-508, 510-514, 522, 523,
528, 535-537, 544, 547, 550-552,
565, 566, 570-583, 585, 586,
594, 598, 599, 606-608, 611,
617, 631, 640, 642, 643,
645-647, 649-652, 654, 656,
657, 670, 672, 679-686, 689,
692, 693, 697, 703, 705, 706,
711, 714
Metas de saúde 526, 669
Microáreas de risco 548, 551
MIPs (Managed Indemnity Plans) 190
MMCI (Modified Continuity Index)
273
Morbidade 23, 35, 71-83, 87, 88, 90,
92, 209, 241, 339, 371, 446,
448, 457, 458, 488, 524, 527,
544, 548, 555
Mortalidade 23, 25, 27, 35, 37-39,
72, 93, 149, 154, 156, 209,
224, 241, 339, 445-447, 488,
516, 519-521, 523, 527,
533, 534, 537, 546, 547, 555,
589, 592, 593, 606, 612,
618, 706
N
NAMCS (Pesquisa Nacional de Atenção
Médico-Ambulatorial) 102, 119
Necessidades de pesquisa 6, 9, 631
Necessidades de saúde 1, 3, 4, 31, 53,
61, 160, 316, 328, 335, 338,
723
Índice Remissivo
340, 343, 356, 367, 419, 484, 486,
488, 512, 515, 523, 524, 539,
540, 544-548, 552, 554, 555,
603, 619, 640, 644, 650, 703
Neurologia 112, 116, 117, 122, 156
O
Objetivos de saúde 670
Obstetrícia 108, 114, 122, 125, 134,
200, 337, 425, 684
Organização Mundial da Saúde
19, 21, 31, 52, 91, 92, 93, 335,
548, 549, 608, 612, 666, 690
ORYX 469, 475
P
Pacientes simulados 234, 461, 490
Países Baixos 58, 73, 188, 270, 353,
356, 580, 585-588, 590, 592,
608, 611, 617, 619, 625, 674
PCAS (Primary Care Assessment
Survey) 508
PCAT (Instrumento para avaliação da
atenção primária) 513, 514
Pediatria 104, 107, 109, 121, 122,
124, 125, 326, 327, 331, 336,
352, 425, 491, 494, 495, 577,
588, 652, 656, 686
Planejamento e orçamento 86
Política de saúde 325, 466, 563,
640, 641, 651, 665, 667, 668
População eletiva 57, 60-62, 166,
267, 269, 282, 539, 604
Porta de entrada 7, 52, 195, 208,
211, 212, 219-222, 223- 225,
349, 565, 583, 646, 679, 680
PPO (Organização de Provedores
Preferenciais) 190, 193, 198
Prescrição 66, 116, 147, 148, 150,
157, 252, 292, 325, 327
377, 426, 443, 444, 470,
484, 528, 604, 610, 611, 637, 655
Prevalência 72, 90, 151, 158,
214, 271, 315, 387, 427,
527, 545, 604, 605, 637, 687
Prevenção 20, 28, 31, 43, 44, 51,
52, 64, 103, 105, 107, 110,
116, 120, 146, 213, 307,
318-320, 321, 322, 328, 339,
342, 351, 428, 448, 469, 510,
523, 527, 543, 546-548,
581, 618, 642, 651, 679, 698
Primeiro contato 5, 44, 46, 48, 51,
52, 54, 56, 61, 62, 67, 68,
104, 153, 163, 193, 195, 196,
207-215, 217, 222, 225, 226,
235-237, 239-241, 248, 250,
264, 266, 284, 302, 331,
365, 368, 390, 392, 432,
482, 484, 492, 502, 504, 507,
508, 510, 512-514, 550,
565, 567, 571-577, 579, 580-583,
637, 646-648, 676, 699
Privatização 187, 323, 666
Problemas sensíveis à atenção
ambulatorial 522, 527, 551
Profissionais não-médicos 5, 133, 134,
161-165, 167, 193, 248, 387,
399, 583, 585, 638, 640,
642, 690, 692
Prognóstico 156, 198, 293, 452, 453,
599, 644, 655
Prontuários médicos 63, 65, 140,
142-147, 150, 151, 159, 235,
273, 274, 375, 376, 380, 393,
394, 395, 401, 404, 410,
424-426, 440, 444, 453, 458,
460, 462, 484, 485, 487, 489,
724
ATENÇÃO PRIMÁRIA: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia
522, 597, 598-600, 603, 605,
607, 608, 615, 617, 619, 625,
637, 638, 649, 705
PROs (Pesquisa Pediátrica em
Consultório) 287, 467,
656, 657, 663
PROSPER (Relatórios dos Pacientes
sobre o Desempenho do Sistema)
497
Q
QALY (Anos de vida ajustados pela
qualidade) 524
Qualidade dos serviços 419, 470, 528,
635
R
Rede Européia de Pesquisa 656, 657
Reforma da atenção à saúde 7, 9, 178,
181, 188, 189, 201, 316, 585,
665-667, 679, 680
Reino Unido 26, 76, 117-119, 158,
164, 183, 185, 188, 201, 270,
331, 337, 355, 381, 443,
505, 522, 585-588, 590, 592,
593, 610, 611, 618, 619, 625,
653, 667, 674
S
Saúde comunitária 64, 194, 256,
328, 342, 540, 544, 607, 639
Saúde pública 6, 64, 71, 122,
318-323, 331, 357, 498, 519,
533, 534, 553, 556-558,
573, 584, 670, 690, 694, 706
SECON (Continuidade Sequencial)
391, 392
Segurança das informações
607, 622, 624, 625
Serviços de saúde 4, 7, 9, 10, 19, 21,
22, 27, 30-32, 34, 43, 48, 51,
54, 55, 57, 58, 60, 61,
120, 133, 138, 155, 164, 166,
177-179, 181-184, 187, 188,
193, 194, 201, 202, 208, 213,
221, 225, 228, 256, 282, 283,
314, 320, 324, 326, 331, 335,
337, 338, 340, 358, 367, 381,
382, 419-421, 432, 446, 452,
456, 459, 461, 467, 469, 488,
490, 505, 515-517, 519, 525,
528, 533-535, 538, 539, 541,
543, 546, 552-554, 565, 570,
591, 597, 602, 615, 618, 619,
621, 632, 640-642, 644, 645,
651-653, 656, 658-660, 666-668,
671, 673, 677, 678, 680, 688,
689, 698, 701
Sistemas de informação 6, 8, 31, 188,
194, 267, 394, 395, 399, 429,
432, 444, 471, 472, 522, 536,
597, 601-603, 605, 614, 615,
617, 619, 637, 639, 650,
651, 654, 687, 689
Sistemas de saúde
5, 7, 10, 11, 14, 28, 31,
33-36, 51, 54, 57, 74, 127,
129, 177, 178, 189, 198, 202,
266, 268, 275, 307, 314, 318,
325, 335, 381, 385, 386, 421,
452, 455, 465, 470, 488, 516,
518, 520, 525, 529, 536, 544, 547,
565, 568, 587, 605, 617, 621, 632,
633, 637, 665-669, 671, 674,
679, 682, 684, 685, 689, 690
Sistemas de serviços de saúde
8, 101, 178, 188, 556, 631
725
Índice Remissivo
Subespecialistas 5, 10, 20, 43-45, 65,
101, 107, 112, 127, 128,
133, 153, 155, 157, 158, 198,
215, 220-222, 224, 238, 239,
279, 302, 304, 347, 378,
381, 391, 500, 685, 692
Suécia 25, 26, 76, 138, 188, 270,
544, 583, 585-587, 589,
592, 611
T
Taxa de retorno do encaminhamento
393
Taxas de doença 224, 548
Tecnologia 1, 3, 4, 45, 52, 56,
75, 137, 168, 169, 177, 217,
304, 305, 323, 523, 545, 555,
565, 641, 645, 650, 651, 660,
672, 676, 678, 691
Treinamento 45, 47, 56, 66, 121,
123-126, 133, 137-139, 145,
155, 156, 157, 161, 164, 168,
169, 266, 273, 304-306, 321,
336, 342, 343, 422, 426,
453, 463, 464, 491-496,
528, 544, 558, 570, 586, 632,
640, 641, 643, 648, 649,
651, 652, 654, 659, 681, 683,
686, 692, 693, 707
Triagem 146, 273, 449, 458, 704
U
U.S. National Health Interview Survey
516
UPC (Continuidade do profissional
usual) 271-273
V
Vulnerabilidade 94, 645
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