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da alguma, se trata do melhor e mais bem montado sistema da América Latina,
o que colabora para pôr em evidência os problemas por que estamos passando.
As universidades federais espalhadas pelos estados brasileiros continu-
am a viver momentos críticos e de apreensão em virtude do atraso de re-pas-
ses, e das indefinições quanto às prioridades do Ministério da Educação para o
ensino no país, quanto à sua situação jurídico-institucional no que diz respeito
à autonomia de gestão financeira, quanto ao valor dos salários que permanece
praticamente o mesmo há vários anos e quanto à própria situação de instabili-
dade criada pelas novas formas de aposentadoria propostas na reforma
previdenciária. Os fundos setoriais, que são parte importante desse desenho
original e criativo do sistema de C,T&I brasileiro, em 2002, não conseguiram
executar, no geral, mais do que 20% dos recursos que se anunciavam quando
de sua criação. O fato é que a irregularidade econômico-financeira constante
acaba por gerar a assistematicidade técnica do sistema, de modo que o que era
ótimo virtualmente acaba por ser menos que sofrível na realidade. O outro
efeito perverso, decorrente do mesmo fenômeno, é a total falta de possibilidade
de qualquer planejamento, efeito esse que perpassa, como uma corrente de alta
voltagem, negativa, toda a espinha dorsal do sis-tema, desde a sua arquitetura
organizatória, no centro, até a execução, pelos usuários dos programas financei-
ros, nas pontas. Embora não seja condição suficiente para solucionar esses pro-
blemas, a autonomia de gestão financeira dessas instituições é, contudo, condi-
ção necessária para deles tratar de forma adequada e eficaz. A experiência da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), criada, no
Estado, em 1962, e das universidades estaduais paulistas, desde 1989, mostram
o acerto e a justeza das decisões que instituíram a sua plena e total autonomia de
gestão financeira. No caso da Fapesp, que recebe, por lei constitucional, 1% da
receita tributária do Estado ao longo dos seus 40 anos de existência, a possibi-
lidade de seu bom funcionamento está diretamente ligada à sua autonomia e,
conseqüentemente, à sua capacidade de planejamento e de provisionamento
dos projetos concedidos e das despesas contratadas. Com autonomia e plane-
jamento a Fapesp tem conseguido, juntamente com a comunidade científica
paulista, responsável por mais de 50% da produção brasileira no setor, singrar
o mar revolto das adversidades conjunturais e estruturais da nossa economia e
navegar, com expectativa confiante para mares mais propícios de estabilidade
nos cenários futuros do país. Nesse sentido, não é demais lembrar que, embora
não seja panacéia, adotar a autonomia de gestão financeira das instituições
federais de fomento à pesquisa, como o CNPq, e também das universidades
públicas federais, seria uma boa iniciativa do novo governo e uma boa forma
de iniciar, na prática, um bom diálogo com a comunidade científica nacional
que há muitos anos luta, reclama e propugna por ela.