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© UNESCO 2004 Edição publicada pelo Escritório da UNESCO no Brasil
Education Sector
Division of Educational Policies and Strategies
Section for Support for National Educational Development / UNESCO-Paris
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edições UNESCO
BRASILBRASIL
BRASILBRASIL
BRASIL
Conselho Editorial da UNESCO no Brasil
Jorge Werthein
Cecilia Braslavsky
Juan Carlos Tedesco
Adama Ouane
Célio da Cunha
Comitê para a Área de Educação
Alvana Bof
Candido Gomes
Célio da Cunha
Maria José Feres
Marilza Machado Regattieri
Assistente Editorial: Rachel Gontijo de Araújo
Revisão: Reinaldo Lima
Diagramação: Fernando Brandão
Projeto Gráfico: Edson Fogaça
Apoio Técnico: Maria Luiza Monteiro Bueno e Silva
Impressão e Acabamento:
Organização das Nações Unidas para
a Educação, a Ciência e a Cultura
Representação no Brasil
SAS, Quadra 5 Bloco H, Lote 6,
Ed. CNPq/IBICT/UNESCO, 9º andar.
70070-914 – Brasília – DF – Brasil
Tel.: (55 61) 2106-3500
Fax: (55 61) 322-4261
O Perfil dos professores brasileiros : o que
fazem, o que pensam, o que almejam — / Pesquisa
Nacional UNESCO, – São Paulo : Moderna, 2004
1. Professores – Atitudes 2. Professores –
Brasil 3. Professores – Brasil – Pesquisa
4. Professores – Condições econômicas
5. Professores – Condições sociais 6. Professores –
Satisfação no trabalho I. Pesquisa Nacional UNESCO.
© UNESCO 2004
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP(Câmara Brasileira do Livro, SP
(Câmara Brasileira do Livro, SP(Câmara Brasileira do Livro, SP
(Câmara Brasileira do Livro, SP
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, Brasil)
04-3073 CDD-371.10072081
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Índices para catálogo sistemático:Índices para catálogo sistemático:
Índices para catálogo sistemático:
1. Pesquisa : Professores brasileiros : Educação 371.10072081
2. Professores brasileiros : Pesquisa : Educação 371.10072081
EDITORA MODERNA LTDA.
Rua Padre Adelino, 758 - Belenzinho
São Paulo - SP - Brasil - CEP 03303-904
Vendas e Atendimento: Tel. (0_ _ 11) 6090-1500
Fax (0_ _ 11) 6090-1501
www.moderna.com.br
2004
ISBN: 85-16-04183-2
EQUIPE RESPONSÁVEL
PELA ELABORAÇÃO DO DOCUMENTO FINAL
Eliane Ribeiro Andrade
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO/ Convênio UNESCO
Maria Fernanda Rezende Nunes
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO/ Convênio UNESCO
Miguel Farah Neto
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO/ Convênio UNESCO
Miriam Abramovay
Universidade Católica de Brasília
EQUIPE RESPONSÁVEL PELA VERSÃO PRELIMINAR
Paulo Henrique Ellery Lustosa da Costa
Pesquisador da UNESCO
Fabiano de Sousa Lima
Pesquisador da UNESCO
Yuli Hostensky
Pesquisador
Ana Amélia da Silva
Pesquisadora
APOIO ESTATÍSTICO
Lorena Vilarins dos Santos
Pesquisadora da UNESCO
Márcio Machado Ribeiro
Pesquisador
Diana Barbosa
Pesquisadora da UNESCO
CONSULTORES
Candido Gomes
Professor Titular da Universidade Católica de Brasília
Beatrice Laura Carnielli
Professora Associada da Universidade Católica de Brasília
José Florêncio Rodrigues Jr.
Professor Associado da Universidade Católica de Brasília
Márcia Lopes
Ex-Diretora do Programa de Graduação em Educação da Universidade de Brasília
Vera Maria Nigro de Souza Placco
PUC / São Paulo
Luiza Helena da Silva Christov
UNESP / São Paulo
SUMÁRIO
Agradecimentos................................................................................... 9
Prefácio ............................................................................................. 11
Apresentação .................................................................................... 13
Abstract............................................................................................. 15
Introdução ......................................................................................... 17
Metodologia ...................................................................................... 21
CAPÍTULO 1
O professor no século XXI: exigências e desafios ............................ 27
1.1 Dimensões, conflitos ............................................................... 27
1.2 Dilemas no processo de formação do professor ...................... 33
1.3 O professor do ensino fundamental e médio de acordo
com a legislação brasileira ....................................................... 36
CAPÍTULO 2
Perfil dos professores ........................................................................ 43
2.1 Os professores segundo sexo, idade e família.......................... 44
2.1.1 Sexo ................................................................................ 44
2.1.2 Idade ............................................................................... 47
2.1.3 Estado civil e família...................................................... 48
2.2 Os professores segundo distribuição geográfica, renda
familiar, autoclassificação social e mobilidade........................ 55
2.2.1 Distribuição geográfica ................................................... 56
2.2.2 Renda familiar................................................................. 60
2.2.3 Autoclassificação social.................................................. 64
2.2.4 Mobilidade ...................................................................... 70
2.3 Os professores segundo escolaridade, habilitação
e situação profissional ............................................................. 73
2.3.1 Escolaridade e habilitação dos professores .................... 75
2.3.2 Situação profissional....................................................... 82
2.3.2.1 Situação funcional dos professores das
escolas públicas..................................................... 85
2.4 Os professores segundo suas práticas culturais ....................... 89
2.4.1 Participação dos professores em eventos
e atividades culturais ....................................................... 90
2.4.2 Preferências culturais dos professores ............................ 99
2.4.3 Participação dos professores em associações ...............104
CAPÍTULO 3
Percepção dos professores ..............................................................107
3.1 Sobre a educação, a política educacional e o currículo .........108
3.2 Sobre o papel dos professores, os cursos de formação,
as condições de trabalho, a satisfação profissional e as
aspirações profissionais.......................................................... 125
3.2.1 Sobre o papel dos professores ......................................125
3.2.2 Sobre os cursos de formação ........................................132
3.2.3 Sobre as condições de trabalho, a satisfação
e as aspirações profissionais..........................................135
3.3 Sobre questões sociais emergentes ........................................141
3.3.1 Sobre comportamentos na esfera pública e privada .....141
3.3.2 Sobre a criminalidade ...................................................144
3.3.3 Sobre manifestações de atitudes de discriminação.......145
3.3.4 Sobre os jovens .............................................................152
Sumário executivo...........................................................................161
CAPÍTULO 4
Considerações finais e recomendações ...........................................169
4.1 Considerações finais ..............................................................169
4.2 Recomendações .....................................................................180
Lista de tabelas ............................................................................... 185
Lista de gráficos ..............................................................................193
Anexo – Tabelas .............................................................................. 195
Referências bibliográficas ...............................................................215
9
AGRADECIMENTOS
Aos professores, pela disponibilidade para responder aos
questionários, na esperança de que pesquisas desta natureza possam
subsidiar a construção de políticas públicas que valorizem a profissão
docente e transformem a educação no país.
Ao Representante da UNESCO no Brasil, Dr. Jorge Werthein, pelo
seu apoio incansável ao desenvolvimento de pesquisas, projetos,
programas e ações que possam contribuir para desnaturalizar as
desigualdades e reinventar uma educação mais humana.
Ao Assessor para Políticas Educacionais da UNESCO, Professor Dr.
Célio da Cunha, pela confiança e pelo inestimável apoio no
desenvolvimento do estudo.
Ao Reitor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro -
UNIRIO, Professor Dr. Pietro Novellino e ao Decano do Centro de
Ciências Humanas da UNIRIO, Professor Dr. Luiz Eduardo Marques
da Silva, pelo apoio aos projetos desenvolvidos no âmbito do convênio
UNESCO/UNIRIO.
A Maria Inês Bastos, coordenadora do setor de comunicação e
informação da UNESCO, pelas contribuições a respeito das novas
tecnologias educacionais.
A Maria Ângela de Oliveira Muniz e a Ana Maria Alexandre Leite,
do convênio UNESCO/UNIRIO, pela elaboração de resenhas
relacionadas ao estudo.
A Lígia Dabul, pela leitura criteriosa e pelas sugestões sobre as
práticas culturais dos professores.
10
A Lorena Vilarins Santos e à Diana Barbosa, pelo companheirismo e
pela disponibilidade na realização do trabalho.
A Flávia Santos Porto e a Alenícia de Sousa, da UNESCO pela
presteza no atendimento às questões operacionais.
Aos profissionais do IBOPE Opinião Pública, de modo especial a
Márcia Cavallari Nunes - Diretora Executiva -, Hélio Gastaldi Filho -
Gerente de Planejamento e Atendimento – e Waldemar Montes Neto -
Gerente de Operacões de Campo -, pela presteza e eficiência na
condução de todo o trabalho de coleta a inserção de dados.
As equipes locais responsáveis pela coleta de dados.
Aos profissionais do Setor de Pesquisa da UNESCO, que têm apostado
no exercício de uma produção intelectual coletiva, tornando-a realidade.
11
PREFÁCIO
Ao longo das duas últimas décadas, a maior parte dos países – tanto
da América Latina como de outras regiões do mundo – empreendeu
profundos processos de transformações educacionais. O balanço dos
resultados destes processos mostra que houve importantes avanços na
expansão quantitativa da oferta escolar, em todos os níveis, que se
produziram significativas modificações nos estilos de gestão e
administração, destinados a conceder maiores níveis de autonomia aos
estabelecimentos escolares e maiores níveis de responsabilidade pelos
resultados (accountability), que foram renovados os conteúdos
curriculares, tanto do ponto de vista cognitivo como ético e emocional,
e que se avança rapidamente em políticas destinadas a promover a
incorporação de novas tecnologias da informação nas escolas.
Contudo, os resultados não são tão satisfatórios quando se observa
o desempenho de aprendizagem dos alunos. As medições nacionais e
internacionais confirmam que os progressos são muito lentos e que
existem desigualdades muito significativas nos resultados de
aprendizagem dos alunos de diferentes origens sociais. Embora seja
verdade que o êxito da aprendizagem é conseqüência de fatores muito
diversos e complexos, é aceitável sustentar que uma das explicações do
baixo impacto das reformas nos processos de ensino-aprendizagem tenha
sua raiz no “fator docente”, entendido como o conjunto de variáveis
que definem o desempenho dos mestres, professores e diretores das
escolas: condições e modelos de organização do trabalho, formação,
carreira, atitudes, representações e valores.
Não é por acaso, portanto, que, nos últimos anos, venha-se
percebendo uma forte revalorização do papel e da importância dos
docentes, nas estratégias de reforma educacional. A principal lição
aprendida nestes anos se refere à necessidade de se desenhar políticas
integrais, que superem os enfoques unidimensionais tradicionalmente
adotados, quando se trata de enfrentar os desafios que a questão docente
levanta. Essas políticas integrais abrangem, pelo menos, três grandes
dimensões: (i) ações destinadas a melhorar o perfil dos aspirantes ao
12
exercício da profissão docente; (ii) estratégias destinadas a elevar a
qualidade da formação inicial dos mestres e professores e a garantir
processos contínuos de capacitação em serviço; e (iii) estabelecer pautas
da carreira docente, que permitam a ascensão na categoria, sem o
abandono da sala de aula. O desenho dessas políticas exige o
conhecimento, com muito maior exatidão do que no passado, não só
das condições materiais de trabalho e das características da formação
docente, como também das representações que os docentes têm de sua
profissão, dos processos de reforma e de seus alunos, de suas
representações acerca das diversas dimensões do comportamento
cidadão e das pautas principais de seus consumos culturais.
Nesse contexto, o IIPE-UNESCO-Buenos Aires promoveu uma série
de estudos nacionais sobre o pessoal docente, que contribuem para
compreender, com mais pertinência, sua situação e as diversas lógicas de
seu comportamento. O componente básico destes estudos é uma pesquisa
administrativa, numa amostra representativa de docentes, que indaga sobre
todas as questões vinculadas a uma política integral. O estudo sobre os
docentes brasileiros, apresentado nesta publicação, constitui um capítulo
muito importante neste esforço investigativo. O Brasil é um país onde,
nos últimos anos, ocorreu uma expansão muito rápida, tanto de sua
matrícula escolar, como de seu corpo docente. Os resultados desta
pesquisa permitem a compreensão, com muita clareza, da significativa
heterogeneidade dos docentes do país e a complexa variedade de situações
que existem, do ponto de vista da subjetividade dos mestres.
Levando em conta as informações oferecidas pela pesquisa, a análise
efetuada neste livro, pela equipe de pesquisadores do Escritório da UNESCO
em Brasília, permite não só compreender a situação, como também oferecer
um conjunto de estratégias de ação, suscetíveis de serem desenvolvidas, seja
em nível nacional seja em nível estadual. Confiamos que esta contribuição
contribua para enriquecer os debates sobre os problemas educacionais do
Brasil e para o desenho das estratégias políticas mais pertinentes para se
enfrentar os problemas que os mestres e professores apresentam, pois são
eles os atores fundamentais das transformações educacionais destinadas a
oferecer uma educação de boa qualidade para todos.
Juan Carlos Tedesco
Diretor do IIPE-UNESCO – Buenos Aires
13
APRESENTAÇÃO
A publicação que temos o prazer de apresentar é parte do esforço da
UNESCO em apoiar o desenvolvimento de estudos e pesquisas que
possam subsidiar a construção de políticas públicas na área da educação,
particularmente no que se refere aos principais agentes desse processo:
os professores.
Desde a Conferência Mundial de Educação para Todos, realizada em
Jomtien, Tailândia, no ano de 1990, a UNESCO vem concentrando sua
atuação no sentido de cooperar com os governos e a sociedade civil,
prestando-lhes auxílio, para que a educação possa contribuir para conquistar
um mundo mais seguro, mais sadio, mais próspero e ambientalmente mais puro e
que, ao mesmo tempo, favoreça o progresso social, econômico e cultural, a tolerância
e a cooperação internacional. Isto porque temos plena convicção de que
garantir a todos o acesso a uma educação de qualidade deve ser nossa
mais alta prioridade, assim como nosso desafio mais nobre e mais urgente.
Nesse contexto, é particularmente importante reconhecer o papel
vital dos professores, sem os quais será impossível buscar novos sentidos
para a escola e construir pactos e alianças originais, em que esteja
presente a dimensão cidadã, o compromisso com a cultura de paz, com
a solidariedade, com o respeito às diversidades e com a satisfação das
necessidades básicas de aprendizagem.
Analisando o perfil dos professores brasileiros, fica bastante claro
que as condições de trabalho e a situação social desses profissionais,
elementos decisivos para se prover a educação para todos, devem ser
urgentemente melhoradas em todos os países signatários da
Recomendação Relativa à Situação do Pessoal Docente OIT/UNESCO
(1966). Assim, poderemos produzir as condições educativas que
compreendam tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem
(como a leitura e a escrita, a expressão oral, o cálculo, a solução de
problemas) quanto os conteúdos básicos da aprendizagem (como
conhecimentos, habilidades, valores e atitudes), necessários para que
14
os seres humanos possam sobreviver, desenvolver plenamente suas
potencialidades, viver e trabalhar com dignidade, participar plenamente
do desenvolvimento, melhorar a qualidade de vida, tomar decisões
fundamentadas e continuar aprendendo por toda a vida.
O desafio é imenso, mas examinando o perfil aqui apresentado,
centrado nos professores brasileiros de ensino fundamental e médio,
que mostra quem são esses docentes, como atuam e que percepções
trazem sobre o mundo social, sua profissão e seus alunos, encontram-
se pistas importantes para ações voltadas ao aprimoramento e à
democratização da educação em todos os seus aspectos, lembrando ser
esta um direito fundamental de todos, mulheres e homens, de todas as idades.
Faz-se necessário reconhecer que a realidade exposta neste trabalho
mostra a premência de se adotarem medidas urgentes no sentido da
reversão do quadro de desvalorização do professor brasileiro, sob pena
de se tornarem inócuas ações que não enxerguem o fato de se viver,
hoje, um momento crucial para a definição do caminho que se deseja
para a educação no país.
Em suma, o livro oferece informações e abordagens que se pretende
sejam somadas a uma série de estudos desenvolvidos na área, tanto no
Brasil como em outros países, particularmente ao estudo realizado pelo
IIPE/UNESCO na Argentina, no Uruguai e no Peru. Tem como
perspectiva, ainda, contribuir com a imensa rede de educadores,
universidades, governos, entidades e movimentos da sociedade civil que
reconhece ter o professor um papel fundamental na educação de hoje,
que se estende para muito além da simples transmissão de conteúdos,
tendo a grande responsabilidade de criar um ambiente propício no espaço
escolar para a reflexão, a construção do conhecimento e a socialização
do saber sistematizado ao longo da história humana e social.
Jorge Werthein
Representante da UNESCO no Brasil
15
ABSTRACT
“Profile of Teachers in Brazil: What They Do, What They Think, What
They Long For...” is a study that has the objective of understanding,
within a more systematic frame, the educators of basic and secondary
education of schools in urban areas. The research considers social,
economic and professional aspects of all school environments by obtaining
data through a survey answered by more than 5,000 academic staff
members of public and private institutions throughout the Federation’s
27 States. The study was adapted in accordance to a research
accomplished by the Instituto Internacional de Planeamiento de La
Educación – IIPE/UNESCO, in Buenos Aires, which is now dedicated
to a comparative study entailing Argentina, Uruguay, Peru and Brazil.
The study questions the tensions around the roles given to schools
and teachers in contemporary society, as well as the demands and
strategies of these professionals’ basic and continued formation, the
social context of their daily routines, and even the legislative aspects
pertaining to educational policies. The analysis centers on the data
that allowed the assessment of characteristics related to sex, age
group, family, geographic distribution, family income, self-
classification and social mobility, professional occupation, title and
license, and features belonging to cultural practices.
In general terms, the study also identified the perceptions and
opinions of surveyed teachers on matters of social, political, and
above all, educational significance, while considering some
fundamental aspects of the National Policy for Education. The
teachers’ daily routines and their professional perspectives and
aspirations are considered side by side with their perceptions on
uprising social issues – ethical conduct, youth expressions,
discrimination, criminality – which, may directly or indirectly exert
some influence over their work.
16
In the end, the Brazilian teachers here studied make up a universe
of contrasts differences, and possibilities, but their answers provide
us with the necessary leads to be followed in order to achieve a more
democratic public policy. A policy capable of redeeming the dignity of
these professionals who are indispensable for the formation of younger
generations and for the edification of a more just society.
17
INTRODUÇÃO
A pesquisa “O Perfil dos Professores Brasileiros: o que fazem, o que
pensam, o que almejam...” aborda professores do ensino fundamental e do
ensino médio, contemplando algumas de suas características sociais,
econômicas e profissionais, a partir de questionários respondidos por 5.000
docentes de escolas públicas e privadas das 27 Unidades da Federação. A
pesquisa foi adaptada a partir do estudo realizado pelo Instituto Internacional
de Planeamiento de La Educación – IIPE/ UNESCO, em Buenos Aires
1
.
Tal estudo mostra-se oportuno, pois, talvez mais intensamente que
em qualquer outro momento de sua história, entre a década de 1990 e
os primeiros anos do século XXI, a figura do professor da educação
básica tem sido colocada em discussão. Esse embate se dá de modo
paradoxal: se, por um lado, é no professor que se deposita parte da
responsabilidade pela condução do processo de consolidação de novos
paradigmas científicos, éticos e culturais, fato que se traduz em
exigências cada vez mais complexas quanto a suas competências
profissionais, é verdade, também – principalmente nas sociedades mais
fortemente marcadas pela exclusão –, que a ele é destinado um lugar
socialmente desvalorizado, que lhe confere, tal qual à maioria de seus
alunos, condição de excluído (Nóvoa, 1999).
Claro está que o papel do professor se vê em xeque no bojo do próprio
questionamento sobre a função da escola nos dias atuais. Do ponto de
vista da escola, a sua importância e a dos professores – historicamente
vistos como detentores e produtores de conhecimentos – são colocadas
em questão, fazendo com que, na condição de instituição social, ela se
veja obrigada a repensar seu papel e o dos docentes, em uma perspectiva
de reconstrução de sua prática, de sua formação e da forma como lidam
1
Neste momento o IIPE/UNESCO se dedica à elaboração de um estudo comparativo entre
a Argentina, o Uruguai, o Peru e o Brasil, sobre o mesmo tema.
18
com a produção e a transmissão do conhecimento. Como afirma Libâneo
(2003), a sociedade aspira por uma escola capaz de garantir a todos
formação cultural e científica para a vida pessoal, profissional e cidadã,
propiciando o estabelecimento de uma relação autônoma, crítica e
construtiva com a cultura em suas várias manifestações, vislumbrando
a formação de cidadãos que tenham participação em todas as esferas
da vida social.
Uma tal perspectiva, com a qual, seguramente, concorda uma parcela
significativa dos educadores, comporta o reconhecimento das limitações
presentes no processo educativo desenvolvido pela escola e,
especificamente, os limites impostos ao trabalho do professor. Significa
que, ser professor, hoje, redunda na urgência de se reverem posições
sobre o que seja educar no momento atual, de modo a contribuir para a
formação de cidadãos capazes de construir alternativas e saídas para
desafios que lhes são colocados no cotidiano. Implica um maior domínio
das informações que circulam em distintos campos, transbordando os
aparentes limites das diferentes áreas do conhecimento e a compreensão
das relações existentes entre elas. Significa estar comprometido com a
permanente construção da escola e de sua dinâmica, compartilhando
seu coletivo e compreendendo historicamente o espaço onde atua, seus
alunos, o conhecimento que trazem e suas expectativas. Não é pouco,
como se observa na opinião de Perrenoud (1999), que, ao discutir a
formação de professores em sociedades em processo de mudança, afirma
que, ainda que não se configurem como intelectuais, no sentido estrito,
são eles, no mínimo, os mediadores e intérpretes ativos das culturas,
dos valores e do saber em transformação.
Nesse contexto, o papel do professor, sua formação, competências e
carreira constituem temas candentes entre os debates sobre educação,
tanto no que concerne aos aspectos políticos, como aos pedagógicos.
Muitos desses debates têm dado origem a políticas públicas para a
educação, sendo que, com freqüência, têm passado ao largo das várias
dificuldades que caracterizam a realidade vivida pela maioria dos
professores e das escolas do país.
Pressionados pelos baixos salários, por uma formação precária –
freqüentemente desvinculada das condições concretas de vida de seus
alunos e do meio em que atuam – e pelo acesso limitado ou inexistente
19
a bens culturais, entre outros problemas, os professores se vêem isolados
no enfrentamento da heterogeneidade social, econômica e cultural que,
segundo Morin (2000), caracteriza a sala de aula. Ao mesmo tempo, se
defrontam com um processo gradativo de perda da identidade e da
dignidade profissionais, que, conforme Libâneo (2003), necessitam ser
resgatadas.
Aprofundar o conhecimento sobre quem são esses professores
constitui condição essencial para que se possam tornar efetivas as
iniciativas voltadas à sua valorização e à possibilidade real de que
venham corresponder às expectativas neles depositadas, sobretudo em
um país como o Brasil, onde a questão da educação reveste-se de
absoluta importância e onde a legislação confere à formação do docente
caráter fundante da política educacional.
Considerando-se o perfil do professor brasileiro aqui retratado, o
momento presente se mostra crucial, no sentido de se adotarem medidas
urgentes para reverter o caminho da desvalorização desse profissional,
antes que esse processo se torne irreversível. É, portanto, com a
perspectiva de contribuir com mais informações e reflexões sobre o
docente que atua nas escolas de ensino fundamental e médio do país –
suas características socioeconômicas, suas condições profissionais, suas
percepções – que a pesquisa se coloca à disposição das diversas
instâncias públicas que definem e viabilizam ações que têm o professor
como elo fundamental de um processo educativo democrático.
No sentido de tornar acessíveis as questões abordadas e as
informações resultantes do estudo, este livro organiza-se em cinco
capítulos, antecedidos por um item referente aos procedimentos
metodológicos adotados.
O primeiro capítulo, voltado ao marco conceitual da pesquisa, coloca
em pauta algumas tensões sobre o papel atribuído à escola e ao professor
nos dias atuais, sobre as demandas e estratégias de formação inicial e
continuada desse profissional, sobre o contexto social que envolve seu
cotidiano e sobre aspectos da legislação referente à política educacional
e, conseqüentemente, ao seu trabalho.
O segundo capítulo constrói um perfil dos docentes pesquisados,
considerando quatro dimensões: características relacionadas a sexo, faixa
etária e família; características relacionadas a distribuição geográfica,
20
renda familiar, autoclassificação e mobilidade social; características
relacionadas a atuação profissional, titulação e habilitação e
características relacionadas a práticas culturais. Nesse capítulo,
contextualizam-se aspectos de cunho individual e social que interferem
na identidade profissional dos professores.
O terceiro capítulo aborda percepções e opiniões dos professores
estudados a respeito de questões de âmbito social, político e, sobretudo,
educacional, considerando alguns aspectos fundamentais da política
nacional para a educação, consubstanciada na Lei de Diretrizes e Bases
da Educação (Lei nº 9394/96). A realidade de trabalho dos professores
e suas perspectivas e aspirações profissionais são colocadas ao lado de
suas percepções sobre questões emergentes na sociedade –
comportamento ético, expressões juvenis, discriminação, criminalidade
– que, direta ou indiretamente, podem exercer influência sobre seu
trabalho.
Em seguida são apresentados, sob a forma de um sumário executivo,
os principais “achados” da pesquisa, ressaltando aspectos de ordem
quantitativa e qualitativa que podem contribuir para o reconhecimento
e a sistematização do perfil dos professores estudados.
Finalmente, além de se apresentarem as principais conclusões obtidas
por meio da pesquisa, são apresentadas recomendações sobre
encaminhamentos possíveis com vistas à valorização do docente brasileiro.
21
METODOLOGIA
Este estudo visa levantar o perfil dos professores brasileiros do
ensino fundamental e médio, em escolas públicas e privadas de área
urbana. A pesquisa tem abrangência nacional e o trabalho de campo
foi realizado entre os meses de abril e maio de 2002.
Os dados foram levantados por meio de questionários auto-
aplicáveis aos professores. Esses instrumentos foram adaptados pela
UNESCO, a partir do material produzido pelo IIPE. A aplicação dos
questionários foi realizada por uma equipe de entrevistadores do
IBOPE, devidamente treinada para a abordagem deste tipo de público.
Após o processamento do material, realizou-se a filtragem das
questões, para que fosse garantida a consistência da base de dados.
As inferências do trabalho foram feitas em relação ao Brasil em
sua totalidade e a outros níveis, como regiões, unidades federativas e
dependências administrativas, entre outros.
A amostra para esta pesquisa foi construída de forma a que se
possam fazer inferências para o total dos professores brasileiros do
ensino fundamental e médio, em escolas urbanas. A seguir, tem-se o
detalhamento do desenho amostral.
1. DESCRIÇÃO DA AMOSTRA
O universo da pesquisa é constituído por funções docentes de
escolas urbanas municipais, estaduais, federais, das redes pública e
privada, do ensino fundamental e médio, localizadas nas 27 Unidades
da Federação. Embora a pesquisa tenha por objeto de estudo o
professor, a seleção da amostra se deu a partir do cadastro de funções
docentes, visto que no cadastro do censo educacional do Instituto
22
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (MEC/INEP) não há
dados sobre professores.
O censo educacional do INEP coleta dados de escolas e obtém
informações sobre o número de professores atuantes em cada uma
delas por série e por modalidade de ensino. Ocorre que um mesmo
professor pode lecionar em diferentes séries, em diferentes níveis ou
modalidades de ensino e em diferentes escolas. Assim, um mesmo
professor pode ser contabilizado mais de uma vez, caso esteja
vinculado a mais de um nível de ensino e/ou a mais de uma escola.
Por esta razão, o censo educacional utiliza o conceito de funções
docentes, em vez do termo “professor”. Neste sentido, embora a
pesquisa seja aplicada a professores do ensino fundamental e médio
das escolas selecionadas, deve-se observar que as estimativas aqui
encontradas para o total nacional referem-se a funções docentes. Pode-
se, no entanto, considerar que uma análise do perfil nacional das
funções docentes representa o perfil mais próximo e fidedigno
alcançável do universo docente. Dessa forma, as análises realizadas
estarão referenciadas ao professor, embora as estimativas realizadas
sejam para funções docentes.
A amostra de 5.000 professores é representativa do total das
funções docentes do Brasil, que é de 1.698.383, conforme mostra a
Tabela 1.
Do total de professores pesquisados, 82,2% tem atuação na rede
pública e 17,8% na rede privada. A expansão da amostra representa o
universo de 1.672.907 professores atuando no ensino fundamental e
médio das redes pública e privada de ensino
2
.
2
A diferença de 25.476 docentes do total de professores do ensino fundamental e médio do
Brasil se refere àqueles que não responderam a este quesito no questionário.
23
Fonte: MEC/INEP/SEEC, Censo Escolar, 2001.
Nota: (1) O mesmo docente pode atuar em mais de um nível de ensino e em mais de um estabelecimento. (2) Nos dados referentes ao Ensino Médio estão inclusos os do Curso Normal.
TABELA 1 – Número de professores na população
1
, por nível de ensino e dependência administrativa, segundo as
Unidades Federativas do Brasil – 2001
24
O corte amostral excluiu municípios com até três escolas e escolas
com até sete
professores do universo da pesquisa.
O instrumento de coleta de dados desta pesquisa apresentava
informações relativas a:
• Dados da escola;
• Dados pessoais;
• Aspectos gerais;
• Opinião sobre a educação;
• Atividades culturais e uso do tempo livre.
O questionário continha questões fechadas de múltipla e de única
escolha, e algumas questões abertas.
2. PLANO AMOSTRAL
O delineamento amostral utilizado foi o de amostragem aleatória
estratificada, com seleção de conglomerados em dois estágios. Essa
técnica minimiza o custo de locomoção e coleta de dados e supera a
dificuldade enfrentada pela não-existência de um cadastro único dos
professores das escolas do Brasil. A estratificação da amostra
contemplou região, unidade federativa, nível de ensino e dependência
administrativa da escola.
As unidades amostrais selecionadas no primeiro estágio foram os
municípios e, no segundo, as escolas. O critério de seleção adotado foi
a probabilidade proporcional ao tamanho do conglomerado, isto é,
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: A escola em que o(a) sr.(a) trabalha é:
(1) Dados expandidos.
TABELA 2 – Proporção e número absoluto de professores pesquisados,
por dependência administrativa das escolas
1
– 2002
25
quanto maior o conglomerado, maior foi a chance de ele ser sorteado
para a composição da amostra. Para mensurar tal probabilidade, tomou-
se por medida quantitativa o número de professores existentes nos
municípios e nas escolas.
Cada função docente da população em estudo teve a mesma
probabilidade de ser sorteada para a amostra, o que a caracteriza como
equiprobabilística ou autoponderada. Essa característica indica um fator
único a ser aplicado na amostra para que seja diretamente expandida
para o universo.
O número ótimo do tamanho de escolas a serem pesquisadas foi de
625. Elas foram alocadas proporcionalmente ao número de professores
existentes em cada Unidade da Federação. Fixou-se o número de 8
professores a serem pesquisados por escola, totalizando um quantitativo
de 5.000 docentes na pesquisa. Eles foram selecionados de forma
sistemática, a partir da obtenção do cadastro de professores das escolas
selecionadas. A substituição dos docentes ocorreu nos casos de recusa
em responder ao questionário, por motivo de licença ou doença.
A margem de erro máxima estimada é de 1,4 ponto percentual nos
resultados obtidos para o total da amostra. Quanto ao nível de confiança,
adotou-se um quantitativo de 95%.
Os resultados que caracterizam o perfil dos professores lotados nas
escolas de ensino fundamental e médio foram apresentados em tabelas
univariadas e bivariadas, com freqüências relativas.
27
1.1 DIMENSÕES E CONFLITOS
Ao buscar trazer novas informações sobre quem são os professores
brasileiros que atuam, hoje, no ensino fundamental e no ensino médio,
este estudo toca, necessariamente, em um tema que, já há algum tempo,
ocupa boa parte do debate corrente na educação: o papel atribuído à
escola e ao professor nos dias atuais.
Nóvoa (1991) aborda a gênese e o desenvolvimento da profissão
docente em sua relação com a gênese e o desenvolvimento da instituição
escolar. Nessa direção, a trajetória dos sistemas de ensino e da escola e
o papel do professor tendem a sofrer significativas transformações nos
momentos de transição das sociedades, provocadas pelos modelos
culturais, sociais e econômicos vigentes em cada época. Conforme o
autor, a história da profissão docente lida com uma série de mudanças
e, hoje, ganha novos contornos, a partir de amplo debate em torno da
necessidade de redefinição da função educativa – quem são os alunos,
quem são os professores, qual o papel da escola, o que ensinar etc.
Na mesma linha de reflexão, constata-se que renovar a escola,
transformá-la ou reinventá-la têm sido preocupações de todos aqueles
que, direta ou indiretamente, trabalham com ela. Por mais diversas que
sejam as propostas surgidas nesse sentido, a necessidade de mudar é
quase unânime. Por certo, a escola que se conhece parece não mais
responder aos novos tempos. As limitações dos currículos existentes,
as competências necessárias à formação profissional, entre outros temas,
fazem parte das preocupações de pesquisadores do mundo inteiro.
1. O PROFESSOR NO SÉCULO XXI:
EXIGÊNCIAS E DESAFIOS
28
Libâneo (2003) aponta o fato de que os educadores reconhecem o
impacto das transformações que, presentemente, se operam nos
campos econômico, político, social e cultural sobre a educação e o
ensino, produzindo um movimento de reavaliação do papel da escola
e dos docentes. Tal movimento, segundo ele, não enfraquece, no
entanto, a característica que tem a escola de se constituir como
instituição necessária à democratização da sociedade. Na escola se deposita
a responsabilidade pela formação de cidadãos participantes, capazes
de fazer uma leitura crítica das transformações que ocorrem em escala
planetária.
A esse respeito, Candau (2000), refletindo sobre as escolas
brasileiras, adverte que as salas de aula, onde, em princípio, se ensina
e se aprende, deveriam ser espaços voltados ao trabalho com o
conhecimento sistematizado, à construção de significados, ao reforço,
ao questionamento e à construção de interesses sociais, formas de
poder e de vivências marcadas por uma dimensão antropológica,
política e cultural.
Libâneo (2003: 8-9) lembra, ainda, que tal perspectiva, neces-
sariamente, implica oferecer aos alunos uma formação geral sólida, capaz
de ajudá-los na sua capacidade de pensar cientificamente, de colocar
cientificamente os problemas humanos, além de contribuir para a construção
de uma nova postura ético-valorativa de recolocar valores humanos fundamentais
(...), como suportes de convicções democráticas. Assinala o autor: (...) a escola
tem um grande papel no fortalecimento da sociedade civil, das entidades, das
organizações e movimentos sociais. Ora, tudo o que esperamos da escola para
os alunos são, também, exigências colocadas aos professores.
Essa reflexão sintetiza a discussão sobre o que é ser professor hoje
ou, melhor dizendo, sobre o que se espera dele. O fato de existir um
desconforto em relação ao seu papel profissional é abordado por Ricci
(1999), a partir de análises de Esteve (1995) a respeito do mal-estar
vivido pelos docentes europeus no final do século XX, gerado por
fatores como:
(a) aumento de exigências em relação ao professor: é cada vez maior o número de
responsabilidades. Além do domínio da disciplina, pede-se que ele seja
pedagogo, organizador de grupo, que cuide do equilíbrio psicológico e
29
afetivo dos alunos, da integração social, da educação sexual, e assim por
diante. Tal aumento de exigência não seria acompanhado, segundo o autor,
pela alteração na formação do professor;
(b) inibição educativa de outros agentes de socialização: a família, em virtude da
incorporação da mulher no trabalho e da redução do número de seus
membros e horas de convívio, vai delegando à escola maior
responsabilidade no que diz respeito a um conjunto de valores básicos;
(c) desenvolvimento de fontes de informação alternativas: os meios de comunicação
alteram o papel transmissor do professor, obrigando-o a integrar tais
meios à aula;
(d) ruptura do consenso social sobre educação: atualmente, segundo Esteve, a
sociedade encontra-se perante uma socialização divergente: uma sociedade
pluralista que defende modelos de educação opostos e a aceitação de
conteúdos multiculturais;
(e) modificação do apoio da sociedade ao sistema educativo: os pais sentem-se
desamparados em relação ao futuro dos filhos, em especial, em virtude
do aumento das taxas de desemprego. Percebem que a educação não
gera automaticamente maior igualdade social, abandonando a idéia de
ensino como promessa de um futuro promissor. Por outro lado, a
emergência de uma sociedade voltada para o prazer individual (o que
Lipovetsky denomina de personalização social) acaba por gerar uma defesa
incondicional dos alunos, sejam quais forem o conflito e a razão que
assistem ao professor;
(f) menor valorização social do professor: como o status social é estabelecido
em termos exclusivamente econômicos, a função de docente passa a ser
desconsiderada ou relativizada;
(g) mudança dos conteúdos curriculares: a velocidade da criação e da socialização
de informações gera uma permanente insegurança a respeito da atualidade
do conhecimento à disposição do professor. O autor questiona-se: o que
pode ser considerado um conhecimento útil aos alunos?
(h) escassez de recursos materiais: o autor cita a redução de recursos públicos
destinados à educação na Europa: 2,2% do PIB na Grécia, 3,3% na
Espanha, 4,2% em Portugal (a média nos países desenvolvidos é de 6%);
(i) mudanças na relação professor/aluno: o autor destaca a impunidade crescente
dos alunos. Cita, como ilustração, o número de agressões sofridas por
professores, em 1979, nos Estados Unidos: 113 mil, envolvendo 5% do
total de docentes do ensino público;
30
(j) fragmentação do trabalho do professor: finalmente, destaca o acúmulo de
tarefas, envolvendo administração, programação, avaliação, reciclagem,
orientação aos alunos, atendimento aos pais, participação em seminários
e reuniões de coordenação. (Ricci, 1999: 164-166).
Ainda sobre as transformações na profissão docente, Gatti (1996),
referindo-se aos países em desenvolvimento, afirma que as profundas
transformações por que passa a profissão, hoje, associam-se ao efeito
conjugado de diversos fatores: por um lado, o crescimento do número
de alunos e sua heterogeneidade sociocultural, a demanda de uma certa
qualidade da escolarização pela população e o impacto de novas formas
metodológicas de tratar os conhecimentos e o ensino; por outro, a
ausência de uma priorização político-econômica concreta da educação
básica e o caráter hierárquico e burocrático, muitas vezes centralizador
e pouco operante, das estruturas responsáveis pelos sistemas
educacionais.
Certamente, a discussão sobre as expectativas criadas em torno do
professor traz à tona a distância entre o discurso acerca de seu papel e
o tratamento a ele concedido, tanto pelos estudiosos quanto pelas
políticas a ele destinadas.
Nóvoa (1999), ao abordar a situação do professor na atualidade, critica
o modo como sociedades marcadas por crises de legitimidade política e
por limitada participação tentam compensar a falta de uma autêntica
vivência democrática e o presente difícil a partir da pregação do civismo
e da projeção de todas as expectativas na “sociedade do futuro” e
depositam nos professores o papel “salvador” necessário à consecução
desses propósitos. Segundo o autor, passam a ser os docentes o alvo das
atenções dos políticos e da opinião pública, na medida em que não
dispõem de outras alternativas para os problemas: A inflação retórica tem
um efeito desresponsabilizador: o verbo substitui a ação e conforta-nos no sentimento
de que estamos a tentar fazer alguma coisa (idem: 13).
Analisando a questão, o autor conclui que o final do século XX não
trouxe à luz propostas coerentes sobre a profissão docente, acentuando,
isto sim, as ambigüidades. Se, sob um ângulo, os professores são vistos
com desconfiança e como profissionais medíocres, dotados de uma
formação deficiente, sob outro, são bombardeados com uma retórica cada
31
vez mais abundante que os considera elementos essenciais para a melhoria da
qualidade do ensino e para o progresso social e cultural (ibidem: 12-13).
Em outra reflexão sobre o tema, Nóvoa (1995) destaca o fato de, na
década de 1990, em relação aos professores, terem se ampliado diversos
processos de cunho excludente, no quadro de uma redefinição que tende a
modificar as funções sociais e os papéis profissionais que lhes estavam
tradicionalmente atribuídos (ibidem: 7).
Vale, aqui, atentar ao fato de que Bourdieu (1998) enquadra os
educadores, docentes e professores primários
3
, juntamente com os
assistentes sociais e os magistrados, entre outros, na categoria dos
“trabalhadores sociais”, aqueles a quem o autor vê mergulhados nas
contradições do mundo social, estando cotidianamente à frente do que
ele chama de “sofrimento social”, que se expressa através de inúmeros
dramas pessoais. Bourdieu também alerta para a condição de desprestígio
do professor, que pode ser avaliada de acordo com o baixo valor dos
seus salários: O desprezo por uma função se traduz, primeiro, na remuneração
mais ou menos irrisória que lhe é atribuída. O salário é um sinal inequívoco do
valor atribuído ao trabalho e aos trabalhadores (1998: 11).
A questão da exclusão do professor, já anunciada em trabalhos que
tratam do denominado processo de “pauperização” da categoria
(APPLE 1987; ENGUITA, 1991; PUCCI, OLIVEIRA e SGUISSARDI,
1991) aparece, sob ângulo distinto, em Camargo (2004), ao referir-se
ao estado de “abandono” em que se encontra esse profissional no
enfrentamento de uma realidade social muitas vezes marcada pela
desigualdade, com a qual lida em seu cotidiano e da qual, é importante
ressaltar, compartilha: Freqüentemente, o educador se sente perdido e jogado à
própria sorte, tendo que encontrar, por sua conta e risco, as saídas possíveis.
A autora atenta, ainda, ao fato de a autoridade do educador,
anteriormente legitimada pela sociedade e pela família e relacionada
não apenas ao conhecimento de que era portador, mas à situação
sociocultural diferenciada em que se encontrava em relação ao aluno,
já não ter a expressão de outros tempos. Camargo destaca que o
3
Na França, o professor primário é aquele dedicado às quatro primeiras séries do Ensino
Fundamental.
32
professor não era, em nada, igual ao aluno, diferenciando-se dele pela
postura assumida, pelas experiências acumuladas, pelo padrão e pela
diversidade das referências culturais de que dispunha e pela linguagem
que utilizava. Hoje, freqüentemente, confunde-se com o aluno,
compartilhando com ele as mesmas condições sociais, econômicas e
culturais: O modelo que deveria ser oferecido pelo educador, diferenciado dos
usuais, com os quais os alunos estão familiarizados e que já não lhes ensinam
mais nada, deixou de existir.
A desmotivação e os cada vez mais elevados níveis de evasão
registrados entre os docentes, no caso do Brasil, parecem refletir as
observações de Camargo, conforme demonstram pesquisas de Lapo e
Bueno (2002), que apontam para o fato de que o grau de satisfação ou
de insatisfação com o trabalho docente pode estar diretamente
relacionado aos resultados – bons ou ruins – de sua própria atuação
como mediador no processo ensino-aprendizagem, em uma dinâmica
de rápidas e profundas transformações, cujo reflexo não consegue
traduzir em seu trabalho: podemos perguntar se os professores não perderam
ou não estariam perdendo referências culturais que estariam gerando
desajustamentos, a tal ponto de provocar a evasão da profissão docente (idem:
250). Para as autoras, o enfraquecimento dos vínculos com a profissão
é produto da ação conjunta de vários fatores geradores de dificuldades
e insatisfações, acumulados ao longo do tempo. Fazendo parte de uma
sociedade que se transforma com velocidade extrema e que impõe
constantes mudanças e adaptações, os professores se sentem insatisfeitos
ao não dar conta das exigências que lhes são feitas no campo profissional,
seja pela sobrecarga de trabalho, pela dificuldade de apoio dos pais dos
alunos, pelo sentimento de inutilidade em relação ao trabalho que
realizam, pela concorrência com outros meios de transmissão de
informação e cultura e, certamente, pelos baixos salários.
Nesse quadro, entretanto, em que se encontram social, econômica e
culturalmente desvalorizados e sem acesso a boas condições de formação
profissional, um fato chama a atenção: os professores, paradoxalmente,
não deixaram de protagonizar papel de destaque na sociedade,
perceptível, por exemplo, em alguns setores de expressiva importância.
Conforme estudo de Rodrigues (2002), está ocorrendo, hoje, no Brasil,
uma ampliação gradativa do número de docentes no Congresso Nacional.
33
Segundo o autor, eles ocupam espaço significativo nas bancadas de todos
os partidos, em um movimento inverso ao de outras categorias.
1.2 DILEMAS NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DO PROFESSOR
Ao situar a posição que ocupa o professor no contexto de mudanças
que caracteriza o momento atual, Libâneo chama a atenção para o fato
de que as universidades e os cursos de formação para o magistério devem
estar voltados à formação de um professor capaz de ajustar sua didática às
novas realidades da sociedade, do conhecimento, do aluno, dos diversos universos
culturais, dos meios de comunicação. Para o autor, o novo professor,
minimamente, necessitaria:
(...) de uma cultura geral mais ampliada, capacidade de aprender a aprender,
competência para saber agir na sala de aula, habilidades comunicativas,
domínio da linguagem informacional, saber usar meios de comunicação e
articular as aulas com as mídias e multimídias (LIBÂNEO, 2003: 10).
A recuperação de sua dignidade e da credibilidade do ofício passaria
por uma reconfiguração de sua identidade profissional, envolvendo o
fortalecimento de suas lutas por melhores salários e condições dignas
de trabalho, destacando-se uma formação de qualidade.
A questão da formação, por certo, constitui-se como um dos pontos
cruciais da requalificação do educador. Nóvoa (2004), advogando uma
perspectiva de formação que pressupõe considerar o professor como
“pessoa inteira”, com uma história, uma vivência, afirma que a formação
é um ciclo que abrange a experiência do docente como aluno (educação de base),
como aluno-mestre (graduação), como estagiário (práticas de supervisão), como
iniciante (primeiros anos da profissão) e como titular (formação continuada). Para
o autor, o desafio que se delineia para o profissional da área escolar é o
de manter-se atualizado sobre as novas metodologias de ensino e
desenvolver práticas pedagógicas eficientes. A esse respeito, chama a
atenção para a dificuldade que tem o professor para corresponder ao
que lhe é imposto: A busca isolada pela atualização é difícil e, por isso, é
aconselhável um vínculo com uma instituição. Mas o mais importante é entender
que o local de trabalho é o espaço ideal para a formação continuada.
34
A concordância sobre a necessidade de se investir em um novo perfil
do professor, dotado de competências compatíveis com as exigências
que a sociedade atual vem estabelecendo, se projeta no debate que
atravessa as diferentes esferas. Constituem marcos importantes dois
documentos balizadores das ações da UNESCO. O primeiro deles é de
autoria de Morin (2000) – “Os sete saberes necessários à educação do
futuro” – e, como sugere seu título, situa sete condições necessárias ao
professor para a construção da educação do futuro, quais sejam: analisar
as condições psíquicas e culturais que conduzem ao erro e à ilusão;
situar informações em um contexto e um conjunto/estabelecer relações
entre as partes e o todo; colocar a condição humana como centro de
todo ensino; compreender que todos os seres humanos compartilham
de um destino comum, diante dos problemas planetários; construir
educação para a compreensão; estabelecer relação de controle entre
indivíduo e sociedade pela democracia e pela concepção de humanidade
como comunidade planetária; enfrentar imprevistos e incertezas.
O segundo documento, de autoria de Delors (1998) – “Educação:
um tesouro a descobrir” –, aponta como pilares para a educação no
milênio recém-iniciado as seguintes condições: aprender a conhecer,
adquirir os instrumentos da compreensão; aprender a fazer, agir no
ambiente; aprender a conviver, participar e cooperar; aprender a ser,
via essencial que integra os três pilares precedentes.
Os fundamentos presentes nestes dois documentos têm constituído
referenciais não apenas nos processos de reorientação curricular
correntes em diversos países, mas igualmente em propostas e ações de
formação docente.
No Brasil, como pontua Silke Weber (2000), a propósito da situação
brasileira, a questão da formação de professores retoma lugar de
importância a partir do momento em que se impõe, no debate educacional, a
discussão sobre a qualidade do ensino ministrado nos diferentes níveis e
modalidades, como desdobramento da luta em favor da construção da cidadania e
da democracia (idem: 129).
No plano da formação de professores, temos a formação inicial que
acontece nos cursos de magistério ou superior e a formação continuada,
desenvolvida ao longo da trajetória profissional do docente. A formação
inicial é apenas um componente de uma estratégia mais ampla de
35
profissionalização do professor, indispensável para implementar uma
política de melhoria da educação básica. Entretanto, dos que ingressam
em cursos iniciais de formação de professores, a grande maioria não se
interessa em ser professor, conforme alerta Mello (2000: 100):
O único aspirante ao magistério que ingressa no ensino superior com opção
clara pelo ofício de ensinar é o aluno dos cursos de magistério de primeira
a quarta série do ensino fundamental. A esse, na maior parte dos cursos,
não é oferecida a oportunidade de seguir aprendendo os conteúdos ou
objetos de ensino que deverá ensinar no futuro. Aprende-se a prática do
ensino, mas não sua substância. Os demais ingressam no ensino superior
de formação de professores com a expectativa de serem biólogos,
geógrafos, matemáticos, lingüistas, historiadores ou literatos, dificilmente
professores de biologia, de geografia, de línguas ou de literatura. Os cursos
de graduação são ministrados num contexto institucional distante da
preocupação com a educação básica, que não facilita nem mesmo a
convivência com pessoas e instituições que conhecem a problemática desta
última. Os professores formadores que atuam nesses cursos, quando estão
em instituições de qualidade, são mais preocupados com suas investigações
do que com o ensino em geral, e menos interessados ainda no ensino da
educação básica.
No âmbito da “formação continuada”, existem críticas contundentes
aos modelos tradicionais que imperam nos processos de formação em
serviço. Freitas (2002) destaca que as políticas atuais têm reforçado a
concepção pragmatista e conteudista da formação de professores. Para
Gatti (2003: 192):
Trabalhos sobre formação em serviço ou continuada e desempenho de
professores têm analisado as dificuldades de mudança nas concepções e
práticas educacionais desses profissionais em seu cotidiano escolar. Em
geral os mentores e implementadores de programas ou cursos de formação
continuada, que visam a mudanças em cognições e práticas, têm a concepção
de que, oferecendo informações, conteúdos, trabalhando a racionalidade
dos profissionais, produzirão a partir do domínio de novos conhecimentos
mudanças em posturas e formas de agir.
Desvendar, no atual contexto, sentidos da formação, requer observar
a sintonia desses planos em relação às necessidades da escola hoje. Tal
36
análise requer, ainda, compreender que os paradigmas de formação não
são construções neutras, nem desvinculadas da realidade social em que
se vive, cenário, portanto, a ser considerado quando se procura refletir
sobre a formação dos docentes brasileiros.
Os desafios na área de formação dos professores são muitos. Os
processos formativos não se dão no abstrato, porque estão destinados
a profissionais que, como os demais trabalhadores, têm tido suas
condições concretas de existência acentuadamente deterioradas. Assim,
é nessa realidade social que a formação se desenvolve e é na sua
complexidade e nas suas contradições que atuam as escolas.
1.3 O PROFESSOR DO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO DE
ACORDO COM A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA
O Brasil é ainda um país que não alcançou sua “cidadania
educacional” (Cury, 2000). Segundo o Censo Demográfico de 2000, do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2000: 63):
Um ponto central é a evidente falta de eficiência e efetividade do sistema
educacional, no sentido de garantir o acesso e a permanência do estudante
na escola, na medida em que os resultados mostram, entre outras coisas:
a existência de 24 milhões de brasileiros analfabetos (16%); que menos
de 1/4 da população brasileira estuda; que 44% da população só concluiu
até a 3ª série do ensino fundamental; que quase 1/3 da população da área
rural não teve acesso à educação; que 1/4 da população rural não tem
escolaridade ou quando a tem não ultrapassa a 1 ano de estudo; que
grande parte da população só conseguiu concluir, apenas, alguma das
séries do ensino fundamental; que o número de não-alfabetizados tende
a se ampliar na medida em que a faixa etária aumenta; a pequena
participação da rede pública na oferta de vagas nos cursos de graduação;
que somente pouco mais de 3% da população possui cursos de nível
superior concluído; a existência de um significativo contingente de crianças,
jovens e adultos com defasagem idade-série; que 6% das crianças de 7 a
14 anos não estão ou nunca estiveram estudando; a existência de mais de
3 milhões de pessoas sem alfabetização, na faixa etária de escolaridade
obrigatória. Agregue-se a esse quadro perverso: as significativas diferenças
37
educacionais encontradas entre as raças; a importante diferença de
desempenho entre as áreas rurais e urbanas; a alta dispersão dos estudantes
que gera grande discrepância interna nos resultados de muitos grupos
etários, indicando a reprodução das diferenças sociais na escolarização
brasileira e, finalmente, o baixo rendimento nominal mensal per capita
da grande maioria dos estudantes brasileiros.
No âmbito da legislação, também se vivencia uma prática de
discriminação e de privilégio. Segundo Cury (2000: 574), a ampliação
do acesso e da oferta foi garantida por um corpo docente que sofreu o
ônus de, por um lado, financiar a expansão com o rebaixamento de seus salários
e a duplicação ou triplicação da jornada de trabalho e, por outro, ver reduzidas
as chances de ingresso no trabalho por concursos, devido à necessidade
de contratação de novos profissionais, estando submetido à prática dos
contratos precários, existentes em elevado número ainda nos dias atuais.
A Constituição de 1988 traz importantes avanços para a educação
brasileira, estende os deveres do Estado com a educação pública e gratuita,
em todos os níveis de ensino. No seu Artigo 208, estabelece que o dever
do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
I – ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele
não tiveram acesso na idade própria; II – progressiva extensão da
obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; III – atendimento
educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente
na rede regular de ensino; IV – atendimento em creche e pré-escola às
crianças de zero a seis anos de idade; V – acesso aos níveis mais elevados
do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada
um; VI – oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do
educando; VII – atendimento ao educando, no ensino fundamental, através
de programas suplementares de material didático-escolar, transporte,
alimentação e assistência à saúde.
Do ponto de vista da legislação, as questões que envolvem a escola e
o professor, no Brasil, vêm sendo alvo de intensas mudanças, como reflexo
e resposta às demandas criadas pelo processo de globalização econômica
cada vez mais forte durante as décadas de 1980 e 1990. A democratização
do acesso e a melhoria da qualidade da educação básica se processam em
um contexto no qual se ampliam o fortalecimento dos direitos da
38
cidadania e a disseminação das tecnologias da informação, fatores de
reconhecimento da importância da educação nas políticas públicas.
Assim, nos últimos vinte anos, os sistemas de ensino público e
privado vêm experimentando processos de reforma educacional, no
âmbito dos estados, dos municípios e, mesmo, das unidades escolares.
Vários tipos de ação, algumas mais abrangentes, outras mais específicas,
no sentido do atingimento dos vários componentes do processo
educativo, têm sido registrados.
A questão da formação de professores ganha importância a partir da
discussão sobre a qualidade do ensino ministrado nos diferentes níveis
e modalidades, como desdobramento da luta em favor da construção
da cidadania e da democracia. Uma referência importante dessa
discussão pode ser localizada no Artigo 206 da Constituição, o qual,
sintetizando o estado-da-arte da mobilização social que acompanhou a
elaboração da Carta Magna, em 1988, apresenta a garantia de padrão
de qualidade como um dos princípios da educação nacional (SILKE
WEBER, 2000).
A Lei n
o
9.394/96, a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB) produzida ao longo dos oito anos posteriores à
promulgação da referida Constituição, incorporou debates e demandas
correntes naquele período e consubstanciou as bases da reforma
educacional que se sucedeu, cujos impactos ainda se fazem sentir, em
diferentes campos.
Caracterizando-se pela maior flexibilidade e autonomia nas relações
entre os entes da federação na gestão da educação, a nova LDB
preconiza um processo de descentralização das propostas político-
pedagógicas e da administração dos recursos financeiros, reforçando o
papel das secretarias estaduais e municipais de educação. Ao mesmo
tempo, referenda áreas tradicionalmente excluídas das políticas regulares,
como a educação infantil, a educação de jovens e adultos, a educação
indígena e a educação especial, além de promover a prescrição de novos
parâmetros curriculares, onde a cidadania é colocada como referência
fundamental, e a visão conteudista dá lugar à valorização da produção
da aprendizagem e da construção de competências nos alunos.
Nesse contexto, a instituição da Lei nº 92/96, que cria o FUNDEF
– Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e
39
de Valorização do Magistério – cuja maior inovação consiste na mudança
da estrutura de financiamento do Ensino Fundamental, ao subvincular
a esse nível de ensino uma parcela dos recursos constitucionalmente
destinados à Educação
4
– constitui-se em uma das medidas de maior
repercussão, significando a possibilidade de alguma melhoria nos ganhos
dos professores daquele segmento.
Entretanto, Barelli (apud SILKE WEBER, 2000) demonstra ser a
desvalorização social a principal característica dos professores, expressa
pela baixa auto-estima, decorrente das precárias condições de trabalho
e dos baixos salários a que ainda têm sido expostos.
No âmbito das políticas nacionais, a Resolução do CNE/CP nº 1, de
18 de fevereiro de 2002
5
, instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior,
curso de licenciatura, de graduação plena.
O Artigo 2º desta resolução apresenta como orientação para o preparo
do professor, os seguintes compromissos:
(I) – o ensino visando à aprendizagem do aluno; (II) – o acolhimento e o
trato da diversidade; (III) – o exercício de atividades de enriquecimento
cultural; (IV) – o aprimoramento em práticas investigativas; (V) – a
elaboração e a execução de projetos de desenvolvimento dos conteúdos
curriculares; (VI) – o uso de tecnologias da informação e da comunicação
e de metodologias, estratégias e materiais de apoio inovadores; (VII) – o
desenvolvimento de hábitos de colaboração e de trabalho em equipe.
No Artigo 6º da mesma resolução, são indicados como competências
a serem consideradas para a construção do projeto pedagógico dos
cursos de formação dos docentes aquelas referentes:
4
Com o FUNDEF, implantado em 1998, destinou-se cerca de 1,5% do PIB brasileiro ao
ensino fundamental público. São recursos vinculados à Educação, por força do disposto no
artigo 212 da Constituição Federal, transferidos regular e automaticamente aos governos
estaduais e municipais, com base no número de alunos matriculados em cada uma de suas
redes de ensino.
5
CNE. Resolução CNE/CP 1/2002. Diário Oficial da União, Brasília, 9 de abril de 2002.
Seção 1, p. 31. Republicada por ter saído com incorreção no original no D.O.U. de 4 de
março de 2002. Seção 1, p. 8.
40
(I) – ao comprometimento com os valores inspiradores da sociedade
democrática; (II) – à compreensão do papel social da escola; (III) – ao
domínio dos conteúdos a serem socializados, aos seus significados em
diferentes contextos e sua articulação interdisciplinar; (IV) – ao domínio
do conhecimento pedagógico; (V) – ao conhecimento de processos de
investigação que possibilitem o aperfeiçoamento da prática pedagógica;
(VI) – ao gerenciamento do próprio desenvolvimento profissional.
Essa resolução postula também que a definição dos conhecimentos
exigidos para a constituição de competências deverá, além da formação
específica relacionada às diferentes etapas da educação básica, propiciar
a inserção no debate contemporâneo mais amplo. O debate deve
envolver questões culturais, sociais, econômicas e os conhecimentos
sobre o desenvolvimento humano e a própria docência, contemplando:
cultura geral e profissional; conhecimentos sobre crianças, adolescentes,
jovens e adultos, aí incluídas as especificidades dos alunos com
necessidades educacionais especiais e as das comunidades indígenas;
conhecimento sobre dimensão cultural, social, política e econômica da
educação; conteúdos das áreas de conhecimento que serão objeto de
ensino; conhecimento pedagógico; e conhecimento advindo da
experiência.
No plano da formação de professores, o então ministro da Educação,
Cristovam Buarque, homologou a decisão da Câmara de Educação Básica
do Conselho Nacional de Educação que põe fim à polêmica sobre a
exigência de curso superior para os professores de Educação Infantil e
das primeiras quatro séries do ensino fundamental. A resolução do CNE
deixa claro que, mesmo depois de 2006, será permitido o exercício da
docência neste nível de ensino aos professores com nível médio na
modalidade Normal, inclusive para ingresso na carreira.
Como se pode observar, a formação de professores tem confrontado
instâncias governamentais, legisladores e especialistas na tarefa
preparadora de quadros docentes, como aponta Silke Weber (2000). A
autora exemplifica o embate a partir do amplo movimento em torno
dos Parâmetros Curriculares Nacionais, concebidos num modelo
espelhado na produção acadêmica internacional, em detrimento da
produção nacional, ainda que vários especialistas tenham sido chamados
para formular pareceres sobre a matéria.
41
A necessidade de definir diretrizes curriculares para o ensino
fundamental e médio trouxe mais uma vez à tona o debate em torno da
formação inicial e continuada de professores (aí incluídos os professores
leigos), quando programas governamentais de curta e média duração
(Parâmetros em Ação, Projeto Alvorada, TV Escola, entre outros) são
ofertados pelo Ministério da Educação às secretarias municipais e
estaduais de educação para o desenvolvimento dos profissionais da
educação.
Vale ressaltar que, como produto dessa discussão, torna-se evidente
que o reconhecimento da qualidade como princípio constitucional e
como diretriz de política educacional:
(...) não somente fortalece a concepção de que a ação educativa, na qualidade
de prática especificamente pedagógica, cumpre uma função política, mas
sobretudo resgata a atuação dos agentes da disseminação de conhecimentos,
tecnologia, arte, cultura como processos históricos apresentados segundo
óticas próprias; de produção do saber para os alunos, estimulando o
desenvolvimento de posturas ativas perante o aprendido e o aprender, de
sentimentos de cooperação e de solidariedade ou de competição na
convivência social; de envolvimento crítico no mundo da vida e nas esferas
de trabalho, da política, da cultura (SILKE WEBER, 2000: 140).
Conforme o exposto, as idéias e as ações dirigidas para a formação
dos professores ainda não incorporaram parte importante da produção
científica, elaborada nos últimos anos. Conseqüentemente, há ainda um
percurso a cumprir para a transformação do debate em medidas
concretas, que possibilitem a criação de políticas públicas de formação,
como planos de carreira para o magistério que se coadunem com a
realidade da formação e condições de trabalho voltadas, também, para
as ações de desenvolvimento dos docentes brasileiros.
43
Considerando que se tornar professor faz parte de um processo plural,
este capítulo tem por finalidade identificar o perfil dos docentes, tendo em
vista os espaços e tempos em que estão inseridos. Tal perfil estrutura-se a
partir de dados que vão além da formação escolar e profissional, abordando,
necessariamente, aspectos de cunho individual e social. São eles: sexo;
idade; estado civil e família; autoclassificação social; mobilidade; trajetórias;
situação profissional; escolaridade e habilitação de professores
6
.
Entretanto, cabe ressaltar que o docente só pode ter seu perfil
delineado, de fato, se considerada, fundamentalmente, sua condição de
sujeito como professor, já que trabalhar não é exclusivamente
transformar um objeto ou situação em uma outra coisa. É, também,
transformar a si mesmo em e pelo trabalho, como afirma Tardif (2000).
Para o autor, o trabalho modifica a identidade do trabalhador, pois
trabalhar não é somente fazer alguma coisa, mas fazer alguma coisa de
si mesmo, consigo mesmo:
Se uma pessoa ensina durante trinta anos, ela não faz simplesmente alguma
coisa, ela faz também alguma coisa de si mesma: sua identidade carrega as
marcas de sua própria atividade e uma boa parte de sua existência é
caracterizada por sua atuação profissional, como também sua trajetória
profissional estará marcada pela sua identidade e vida social, ou seja, com o
passar do tempo, ela tornou-se – aos seus próprios olhos e aos olhos dos
outros – um professor, com sua cultura, seu éthos, suas idéias, suas funções,
seus interesses etc (Tardif, 2000: 2).
2. PERFIL DOS PROFESSORES
6
Vale lembrar que o conjunto de variáveis aqui apresentado foi selecionado com base no
estudo “Los docentes y los desafios de la profesionalización”, da UNESCO/IIPE, conforme
mencionado no item referente à metodologia da pesquisa.
44
No caso do Brasil, onde o magistério é marcado, em sua história, por
dificuldades de todas as ordens, a identidade construída pelos
professores é, também, profundamente marcada, cotidianamente, pela
luta pela afirmação no contexto em que atuam.
2.1 OS PROFESSORES SEGUNDO SEXO, IDADE E FAMÍLIA
Neste item, os professores são abordados a partir de atributos como
sexo e idade e de dados acerca do seu estado civil e da composição de
suas famílias. Essa caracterização do docente brasileiro permite que
sejam estabelecidas, por confronto, algumas especificidades e
continuidades frente a determinados traços do conjunto da população.
Retrata, também, aspectos dessa categoria profissional – que toma para
si a tarefa de educar – fundamentais para que dimensões do próprio
ensino no país sejam compreendidas.
Além de fornecer dados gerais que facilitem uma primeira
aproximação do universo dos professores, neste capítulo pretende-se
estimular o surgimento de questões a respeito dessa categoria. A
participação desigual de homens e mulheres nos diferentes níveis de
ensino leva, por exemplo, à indagação acerca das razões de exercerem a
profissão. Dados sobre a idade dos professores suscitam reflexões sobre
a situação da renovação dos quadros do magistério.
2.1.1 Sexo
Segundo os dados da pesquisa, dentre os professores brasileiros,
81,3% são mulheres e 18,6% são homens. Percebe-se que, em relação
às pessoas economicamente ativas (83.243.239), 58,13% são homens
e 41,86% mulheres. Conclui-se que, no magistério, essa proporção
assume características bem distintas. Cabe ressaltar que a maioria das
professoras encontra-se atuando no ensino fundamental.
Ao revisar a produção teórica sobre o tema, publicada entre 1990 e
1998 em periódicos especializados, André (2002) refere-se a autores
que, ao refletirem sobre a identidade e a profissionalização do professor,
45
fornecem elementos para pensar acerca das razões dessa enorme
discrepância entre o número de mulheres e o de homens envolvidos no
magistério. A autora localizou onze artigos centrados exclusivamente
no tema sexo/gênero, que sublinham determinantes socioistóricos que
levam à feminização do magistério. Yannoulas (1993), por exemplo,
acredita que o reduzido número de escolas existentes no século XIX e
no início do século XX explica não ter havido uma resistência organizada
ao ingresso das mulheres na profissão no momento em que a cobertura
escolar foi ampliada. Desse modo, se considerado seu ponto de vista, a
presença tão predominante de mulheres na profissão docente no Brasil
se deveria ao aumento do mercado de trabalho, decorrente da ampliação
do atendimento escolar, como também da procura dos homens por novas
profissões que ofereciam melhores salários, quando do início da
industrialização no país.
Outros autores abordados por André enfocam e discutem a associação,
presente no imaginário social, entre escola e maternidade, que leva a
uma concepção do processo educativo da escola como continuidade do
iniciado no lar, sempre sob a orientação e/ou a coordenação de mulheres.
A própria denominação “tia”, dada pelos alunos às professoras, reforça a
proximidade e identificação da professora com figura familiar e similar à
materna (FREIRE, 1993). Para esses autores, a função da professora é
naturalizada e desqualificada como prática e saber especializados, quando
é concebida como continuação das tarefas da primeira educação, próprias
da mãe. O conceito de feminização do magistério não se refere apenas à
participação maciça de mulheres nos quadros docentes, mas também à
adequação do magistério às características associadas tradicionalmente
ao feminino, como o cuidado.
Representações sociais bastantes difundidas sobre professores e
professoras parecem acompanhar essas distinções na composição, por
sexo, do quadro docente dos diferentes níveis de ensino. Conforme
exposto por Louro (1997), o professor sempre foi associado à autoridade
e ao conhecimento, enquanto a professora sempre foi – e ainda é –
vinculada ao apoio e a cuidados dirigidos aos alunos. Essas associações
correspondem e se ajustam ao predomínio dos homens nos níveis mais
altos e especializados da educação, nos quais o trabalho, em boa medida,
está dirigido para a orientação dos jovens em relação à sua futura
46
profissão, e à predominância das mulheres nos segmentos iniciais da
escolarização, que contam com muitas tarefas voltadas para aspectos
relacionados ao cuidado das crianças.
No âmbito da Educação Básica, o Censo do Professor, realizado
pelo INEP, em 1997
7
, registra 85,7% de mulheres e 14,1% de homens
entre os professores (MEC/INEP, 1999). Deve-se, mais uma vez, atentar
que é no ensino fundamental que aparecem as maiores proporções de
professoras, sendo que, no ensino médio, prevalecem os homens,
correspondendo a dois terços do total de docentes.
Segundo análise do Sistema de Avaliação da Educação Básica – SAEB,
em 2001, a distribuição dos professores por sexo varia bastante, segundo
a disciplina e a série. Em Língua Portuguesa, independentemente da série
avaliada, a proporção de professores do sexo feminino representa a
maioria. No entanto, a proporção de mulheres vai diminuindo
gradativamente, quanto mais avançada é a série pesquisada. Já em
Matemática, a proporção de docentes do sexo feminino é maior na 4ª
série do ensino fundamental (91,1 %) e diminui gradativamente até a 3ª
série do Ensino Médio, quando a proporção de docentes do sexo masculino
assume a maioria, representando 54,7% do total. De um modo geral,
constata-se que a participação das mulheres nos segmentos profissionais
se concentra no setor terciário e, mais especificamente, nas áreas de saúde
e ensino. Nessas atividades, a presença feminina representa 70% dos
postos de trabalho. As áreas de saúde e ensino, juntas, representam cerca
de 20% das ocupações brasileiras, sendo a participação das mulheres de
16,8%, contra 3,4% de homens (PNAD, 2002).
Para Carvalho (1996: 13), o fato de a maioria dos professores
corresponder a mulheres não é só uma questão numérica, mas produz
marcas dessa presença feminina na caracterização do grupo de
profissionais da escola, nas formas de ensino, nas relações estabelecidas
entre os diferentes atores que dão materialidade à escola. Para a autora,
as marcas estão relacionadas ao predomínio da emoção e da afetividade
na visão do mundo e do trabalho docente, como também a uma postura
defensiva e conservadora frente ao novo.
7
O Censo do Professor de 1997 foi o último realizado pelo MEC/INEP até o momento de
elaboração deste estudo.
47
Assim, de acordo com Louro (1997), a escola é atravessada por essa
contradição e, portanto, torna-se obrigatório pensar a instituição e seus
sujeitos considerando as construções sociais sobre o masculino e o feminino.
2.1.2 Idade
Os dados do estudo apresentam como resultado uma média de idade
dos docentes de 37,8 anos, o que, considerado o panorama internacional,
coloca os professores brasileiros como relativamente mais jovens. A
grande maioria dos docentes dos países pertencentes à Organização de
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e os de alguns países
da União Européia, por exemplo, têm mais de 40 anos de idade
8
. Segundo
Siniscalco (2003), os professores representam cerca de 1,6 % (59 milhões)
da população mundial entre 15 e 64 anos de idade, sendo que, nos países
mais pobres, estão concentrados em faixas etárias mais jovens.
No Brasil, há uma concentração significativa desses profissionais nas
faixas de 26 a 35 anos e de 36 a 45 anos (33,6% e 35,6% do total,
respectivamente). Os professores jovens, com até 25 anos, somam 8,8%
do total. Com mais de 45 anos se encontram 21,9% dos docentes. Os dados
apresentados na Tabela 3 mostram que não há diferenças significativas na
distribuição de homens e mulheres nas diversas faixas etárias.
TABELA 3 – Proporção de professores, por sexo, segundo a faixa etária
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Sua idade?
(1) Dados expandidos.
8
A pesquisa Retrato da Escola: A realidade sem retoques da educação no Brasil, divulgada pela
Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE (2003), aponta que 53,1%
48
Considerando que a idade do professor constitui uma das marcas de
sua atuação, chama-se a atenção para algumas questões eventualmente
relacionadas à condição etária, como a renovação dos quadros docentes
por efeito de concurso/aposentadoria, a aceitação de novas concepções
pedagógicas, a maior ou menor experiência, entre outras. Cabe também
destacar que a concentração de docentes em atividade em sala de aula
até 45 anos pode estar relacionada a uma aposentadoria “precoce” ou,
ainda, a situações de abandono da profissão
9
.
2.1.3 Estado Civil e Família
A média do número de pessoas por família, entre os professores,
está situada em 3,8. Essa média pode ser considerada alta, se comparada
com a média nacional, que, segundo a PNAD/2001, é de 3,3 pessoas
por família. Com relação ao estado civil, os professores se declaram,
em sua maioria, casados (55,1%), situação que não varia muito segundo
o sexo. Chama a atenção, entretanto, o fato de 28,3% serem solteiros, o
que pode estar relacionado com um perfil de professores mais jovens
no Brasil: 42,4% têm menos de 35 anos de idade. Contudo, os
pesquisados apontam para a presença de novas composições familiares
(6,1%), que, segundo Castells (1999), é reflexo das transformações na
ordem global que afetam, ao mesmo tempo, a privacidade e a
sociabilidade e dão origem a novos movimentos diversos.
dos trabalhadores da educação básica se concentram na faixa etária de 40 a 59 anos. As
diferenças entre os resultados das duas pesquisas devem-se ao tipo de amostragem utilizado
em cada uma delas: enquanto a pesquisa do CNTE atinge trabalhadores de dez estados
brasileiros, a aqui exposta está representando professores da totalidade dos estados brasileiros.
9
Pesquisa realizada por Lapo e Bueno (2002) permitiu constatar que, de 1990 a 1995, houve
um aumento da ordem de 300% nos pedidos de exoneração de docentes na rede pública de
ensino do Estado de São Paulo. A média anual do aumento de exonerações, naquele período,
foi de 43%.
49
A grande maioria dos professores já constituiu uma unidade familiar
autônoma em relação à original (formada com seus pais): pelo menos
71,6% deles declararam morar com a família nuclear que construíram.
Os dados apresentados na tabela abaixo seguem a tendência da
população brasileira em geral. A PNAD 2001 indica que 53,3% da
população vive num arranjo familiar formado pelo casal com seus filhos.
Os professores pesquisados habitam com o cônjuge ou companheiro,
com seus próprios filhos e/ou com os filhos do companheiro. Por conta
da dificuldade de manter autonomamente a família que constituíram,
ou ainda porque se responsabilizam por pais e irmãos, 26,9% dos
professores declararam habitar junto com sua família nuclear original.
Há também 4,4% que afirmam viver sozinhos, 5,3% que moram com
outros parentes e 3,6% que moram com não-parentes.
TABELA 4 – Proporção de professores, por sexo, segundo o estado civil
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Seu estado civil?
(1) Dados expandidos.
TABELA 5 – Proporção de professores, segundo a constituição familiar
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Quem mora com o(a) sr.(a)?
(1) Dados expandidos.
(2) As respostas não são auto-excludentes.
50
Apesar de mais de 76% dos professores viverem autonomamente
em relação à sua família nuclear original, chama a atenção o fato de
62,3% deles responder negativamente quando questionados sobre se
são “chefes de família” apenas 37,7% deles declararam-se chefes de
família (Tabela 6). Entretanto, ao se considerar a análise por sexo,
percebe-se que tal percentual reflete o fato de o professorado ser
formado preponderantemente por mulheres. Na verdade, a grande
maioria dos professores homens (72,7%) se considera chefe da família,
enquanto apenas 29,7% das mulheres se classificam dessa maneira
10
.
10
Entre as mulheres, se acionado o dado acima apresentado, relativo ao estado civil, pode ser
aventado que as 29,7% que se declararam chefes de família incluem as 9,2% separadas ou
divorciadas e as 2,3% viúvas, posto que é comum, nessas situações, a prole permanecer sob
a responsabilidade das mulheres (Tabela A1).
11
O Censo Demográfico (IBGE/2000) constatava que, em 1991, a proporção de homens
como chefes de família estava em torno de 82%, sendo de 18% a de mulheres. Já em 2000,
esse número sofre uma significativa alteração (25% de mulheres como chefes de família
contra 75% de homens). Evidencia-se também o crescimento de famílias de modelo
monoparental chefiadas por mulheres, especialmente no estágio inicial da trajetória familiar,
quando as crianças estão ainda na primeira infância. É interessante observar que as regiões
Nordeste e Sudeste são as que apresentam as maiores proporções de domicílios chefiados
por mulheres. No caso do nordeste, deve-se considerar, entre outros fatores, a intensidade
da emigração nordestina masculina ocorrida nas últimas décadas.
Dos professores que não se consideram chefes de família, 28,4%
responderam que cabe a seus filhos a chefia (Tabela A1), o que pode
indicar, dentre outros fatos, incidência significativa de filhos de
professores com capacidade de obter salários mais altos que os dos
pais
11
. Mas a maioria dos 62,3% que não se consideram chefe de família
TABELA 6 – Proporção de professores, por sexo, segundo a condição de
chefe de família
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: O sr.(a) é o(a) chefe de família da sua casa?
(1) Dados expandidos.
51
afirmou que é seu cônjuge ou parceiro quem ocupa essa posição. Apesar
de não ser possível aqui chegar a formulações conclusivas, o fato de
cerca de terça parte (33%) dos chefes de família possuírem o curso
superior (completo ou incompleto) indica que o nível de escolaridade
não é elemento especialmente relevante para a atribuição que os
professores se dão com relação à posição de chefe de família. Na verdade,
o nível de escolaridade dos chefes de família distribui-se de forma
homogênea pelo professorado: um terço dos chefes de família possui o
ensino fundamental completo ou incompleto, um terço o ensino médio e
o outro terço o nível superior completo ou incompleto (Tabela 7).
A participação na renda familiar é item que costuma acompanhar a
atribuição da posição de chefe de família. De fato, o percentual de docentes
que declara ser o principal provedor da família, 40,2%, é próximo ao que
se declara chefe da família, 37,7%. Mais uma vez percebe-se a seletividade
da resposta, se o atributo gênero é acionado: a maioria dos professores
homens declara-se principal provedor da renda familiar (63,7%), enquanto
junto às professoras esse percentual cai para 34,7%. Cabe, aqui, uma
reflexão sobre o fato de 65,3% das docentes mulheres não se apresentarem
como principais provedoras de renda da casa.
TABELA 7 - Proporção de professores, segundo o nível de instrução do
chefe de família
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Qual o nível máximo de instrução da pessoa que é o chefe de família na sua casa?
(1) Dados expandidos.
52
É provável que a figura do provedor masculino, que costuma estar
identificada à de chefe de família, se sobreponha à realidade efetiva da
participação na renda familiar. Em outras palavras, as relações desiguais
de gênero parecem ainda concorrer mais fortemente do que o nível de
escolaridade e a participação na renda familiar para a determinação da
representação da chefia da família junto a parcela considerável do
professorado. Assim, dentre outras possibilidades, é cabível relacionar
o fato de poucas professoras se declararem chefes de família à visão
conservadora que atribui essa posição social aos homens,
independentemente da efetiva responsabilidade frente ao funcionamento
e, muitas vezes, à própria manutenção da unidade familiar.
TABELA 8 – Proporção de professores, por sexo, segundo a condição de
ser ou não o principal provedor de renda da família
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: O(a) sr.(a) é o(a) principal provedor(a) de renda da sua casa?
(1) Dados expandidos.
TABELA 9 – Proporção de professores, por sexo, segundo percentagem de
contribuição para a renda familiar
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Qual a porcentagem da sua contribuição para a renda mensal da sua família?
(1) Dados expandidos.
53
Mesmo quando o docente não é o principal provedor, ele tem uma
participação significativa na renda familiar: cerca de um terço dos
professores afirma que sua contribuição representa entre 81% e 100%
da renda total da família. A segunda maior parcela é a dos que
contribuem na faixa de 41% a 60% da renda da família (Tabela 9).
Outro aspecto da vida familiar investigado nesta pesquisa foi o da
incidência da prática docente junto aos familiares dos professores. A esse
respeito, a maioria (63,3%) dos docentes declarou haver outro professor
na sua família. Entre esses, 35,1% têm irmãos professores e 12,5% têm
mãe professora. Além disso, 9,7% dos que responderam afirmativamente
têm o cônjuge ou parceiro também professor (Tabela 10).
A pesquisa constata, ainda, que a escolaridade dos pais dos
professores é bastante precária: 49,5% dos professores têm os pais
com o nível fundamental incompleto (Tabela 11). Cerca de 15% dos
pais e das mães não têm nenhum grau de instrução, enquanto não
passam de 5,7% os docentes cujos pais possuem ensino superior
completo. Tal dado pode sinalizar a existência de uma certa mobilidade
social entre os atuais professores brasileiros.
TABELA 10 – Proporção de professores, segundo a prática docente por
outros membros da família
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Na sua família, além do(a) sr(a), há alguém que se dedique ou tenha se dedicado à prática
docente?
(1) Dados expandidos.
54
Batista (2004), em “Os professores de português e a leitura: um estudo
exploratório”, buscou apreender as relações de professores de Português
com a leitura. Trata-se de uma investigação de caráter exploratório,
circunscrita a professores que atuam em Minas Gerais, cujos dados
foram, em sua maior parte, coletados entre os anos de 1993 e 1994. É
interessante perceber que os avós dos professores aparecem
representados nos grupos com baixa ou nenhuma escolaridade (cerca
de 86%). Nota-se, porém, uma importante diferença em relação à
escolaridade dos pais dos professores: a concentração maior dos
professores ocorre, predominantemente, junto ao grupo dos sem-
escolaridade completa. Além disso, é maior o número de avós
analfabetos. Tudo indica, portanto, que entre as duas diferentes gerações
do grupo familiar ocorreu um aumento no nível de instrução, embora
discreto: a concentração predominante desloca-se apenas parcialmente
dos sem-escolaridade completa para os com o curso primário completo,
uma vez que, se passa dos avós para os pais, constata-se apenas uma
diminuição da concentração dos sem- escolaridade e não um predomínio
significativo dos que concluíram o primário (primeiro segmento do
ensino fundamental).
É possível, tomando-se os dados sobre o grau de instrução dos pais
dos professores apresentado na pesquisa acima abordada, associar a
TABELA 11 – Proporção de professores, segundo o nível de escolaridade
dos pais
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Qual o nível de instrução do seu pai e da sua mãe?
(1) Dados expandidos.
55
construção de uma carreira docente à possibilidade de mobilidade social
por meio de um processo de escolarização ao qual pais e mães dos
docentes não tiveram acesso.
2.2 OS PROFESSORES SEGUNDO DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA,
RENDA FAMILIAR, AUTOCLASSIFICAÇÃO SOCIAL E
MOBILIDADE
O presente item analisa as questões afetas à profissão dos professores,
a partir dos dados obtidos sobre a região geográfica em que atuam, a
renda familiar, a autoclassificação social e a mobilidade, associados às
variáveis de sexo, idade e família.
Em 2002, o Censo Escolar registrou um total de 2,4 milhões de
funções docentes em creche, pré-escola, classe de alfabetização, ensino
fundamental e ensino médio, para um total de 50,6 milhões de alunos
matriculados nesses níveis de ensino. Para o ensino fundamental, conta-
se com 1.581.044 docentes. Para o ensino médio, são 468.310. O
aumento no número de funções docentes no ensino fundamental, de 5ª
a 8ª séries, foi de 30,9% de 1996 para 2002, sendo 34,2% na rede pública.
No ensino médio, esse acréscimo foi de 43,3%, com 50,8% na rede
pública. A região que registrou maior aumento, tanto no ensino
fundamental de 5ª a 8ª séries quanto no ensino médio, foi a Nordeste
(Estatísticas dos Professores no Brasil, MEC/INEP, 2003). Isso se
explica pelos inúmeros programas governamentais e insumos voltados
à inclusão de crianças e jovens em idade obrigatória de escolarização
nas redes de ensino, naquela região.
Os professores de ensino fundamental constituem expressiva maioria
em todas as regiões do país. Esse dado é reflexo da cobertura do
atendimento, nas redes de ensino, da população entre 7 e 14 anos, da
ordem de 97% (Censo Escolar de 2002, MEC/INEP). No que diz
respeito à escolaridade da juventude, embora se observe que no período
entre 1994
12
e 2000 a taxa de analfabetismo tenha decaído de 15,5%
12
Dados estimados pelo MEC/INEP, a partir de IBGE/PNAD, 1994.
56
para 11,7%, os números são ainda bastante insatisfatórios,
principalmente ao se considerar que, do total de jovens entre 15 e 24
anos, 46,8% (ou 16 milhões) freqüentam a escola (IBGE, 2001),
porcentagem esta que, analisada ao inverso, alerta para o fato de mais
da metade da juventude do Brasil estar fora dos sistemas de ensino
13
.
Ainda segundo o MEC/INEP (2002), no ano de 2002 existiam
172.508 estabelecimentos com ensino fundamental, sendo 153.696
públicos e 18.812 privados. Já no ensino médio, para o mesmo ano,
registram-se 22.533 estabelecimentos. Destes, 15.761 são da rede
pública e 6.772 são da rede privada. Evidencia-se a forte presença da
rede pública no ensino fundamental.
2.2.1 Distribuição Geográfica
A vida de uma escola costuma ser, por diversas razões, influenciada
diretamente pelo fato de estar situada em determinado município, de
determinada região. Boa parte das condições de vida e trabalho dos
professores brasileiros também está delineada por essa localização. Por
tal razão, mapear a distribuição espacial dos professores que
participaram da pesquisa pode auxiliar no estabelecimento das áreas
que merecem atenção diferenciada do poder público frente a questões
específicas do ensino.
A maioria dos professores da pesquisa trabalha em escolas
localizadas nos municípios do interior (61,6%), o que é compatível
com o fato de a maior parte dos municípios brasileiros situar-se nessa
categoria. A quarta parte (25,6%) atua nas capitais e os demais (12,8%)
nas chamadas periferias urbanas, segundo parâmetros estabelecidos
pela própria pesquisa
14
.
13
Sobre o analfabetismo entre os jovens de 14 a 24 anos ver Waiselfisz, 2004.
14
A pesquisa engloba na categoria “interior” todos os municípios que não são capitais nem
pertencem a regiões metropolitanas de capitais (periferia urbana), independentemente de
sua população e dos tipos de atividades que desenvolvem.
57
A distribuição geográfica acompanha distinções sociais importantes
no interior da categoria. Uma análise da localização espacial dos
professores segundo o sexo revela que, em termos relativos, os homens
tendem mais facilmente a atuar na capital que as mulheres, as quais,
por sua vez, estão mais presentes em municípios situados no interior
ou na periferia (Tabela 12).
Do mesmo modo, podem ser apontadas diferenças significativas na
distribuição espacial dos professores quando as faixas etárias são
observadas. Professores mais velhos aparecem em maior número atuando
nas capitais, enquanto nas periferias observa-se maior concentração
relativa de professores mais jovens. Assim, encontram-se 20,9% dos
professores com até 25 anos para 30,8% dos professores na faixa de 46
a 55 anos atuando na capital. É bem provável que esses dados reflitam
uma modalidade de carreira docente na qual tempo de trabalho e/ou
experiência acompanham o vetor centro/periferia: os professores mais
jovens, que estão iniciando a carreira, são alocados preferencialmente
nas escolas de periferia, adquirindo chances de trabalhar nas escolas
dos grandes centros urbanos à medida que aumentam sua experiência
e/ou tempo de atuação.
Na Tabela 13 pode ser observado que boa parte dos professores
(45,1%) atua em municípios com mais de 100.000 habitantes. Sua
distribuição, segundo o tamanho da população dos municípios, também
acompanha diferenças sociais importantes existentes no interior da
TABELA 12 – Proporção de professores, por sexo, segundo a condição do
município onde leciona
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
(1) Dados expandidos.
58
categoria. Nos municípios com menos de 100.000 habitantes, a presença
feminina no professorado é maior em termos absolutos e relativos,
enquanto nos municípios mais populosos, com mais de 100.000
habitantes, a presença masculina é maior, relativamente.
TABELA 13 – Proporção de professores, por sexo, segundo o porte do
município (em número de habitantes) onde leciona
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
(1) Dados expandidos.
Parte considerável dos professores estudados (45,3%) atua na
região Sudeste (Tabela 14). De fato, há uma concentração de matrículas
nessa região. Dados da Sinopse Estatística do INEP de 2002 indicam
que, do total de 54.716.609 matrículas na educação básica, 20.578.565
são da região Sudeste (MEC/INEP, 2002).
TABELA 14 – Proporção de professores, por sexo, segundo a região
geográfica onde leciona
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
(1) Dados expandidos.
59
Cerca da quarta parte desses professores atua na região Nordeste.
Na região Sul estão 15,7% deles. Menores concentrações são
apresentadas pela região Centro-Oeste (7,8%) e pela região Norte
(6,0%). No caso da distribuição dos professores por região, não são
encontradas diferenças significativas quanto ao sexo, afora leve
predominância relativa de docentes homens na região Norte e uma
tendência semelhante para as mulheres na região Sul.
Em 2002, havia no Brasil 32 alunos para cada docente de 4ªa 8ª
séries do ensino fundamental (MEC/INEP,2003). Essa relação alunos/
professor varia significativamente nas diversas regiões do país. Nas
regiões Norte e Nordeste a razão aluno/professor é muito alta: 50 e 43
alunos por professor, respectivamente. Nas demais, essa relação
encontra-se abaixo da média nacional: no Centro–Oeste há 29 alunos
por professor; no Sudeste, 27 e, no Sul, 26, quase metade da encontrada
no Norte. Esses dados tornam-se ainda mais importantes por
corresponderem a disparidades socioeconômicas entre as diferentes
regiões do país: é exatamente nas regiões mais pobres que há mais alunos
por professor. Cabe relacionar a questão da pobreza com as
desigualdades, conforme nos alerta Henriques (2004):
O Brasil não é um país pobre, mas tem um número excessivo de pobres.
É que, apesar do seu alto grau de desenvolvimento, que o coloca entre as
onze maiores economias do mundo, e a renda per capita de sua população,
superior à de 75% da humanidade, 53 milhões de brasileiros vivem na
pobreza. Pior: desse enorme contingente, 22 milhões encontram-se em
condição de miséria. O que explica esse paradoxo? O fato de o Brasil ter
uma das mais elevadas desigualdades de renda do mundo. Aqui, a
desigualdade de renda é tal que a posição do Brasil, em termos de justiça
social, está muito distante de qualquer padrão reconhecível como razoável
no cenário mundial. Fosse a desigualdade de renda condizente com o grau
de desenvolvimento do país, haveria em torno de 60% de pobres a menos
no Brasil. Não é o que se verifica, porém. Aqueles que se encontram entre
os 10% mais ricos da população apropriam-se de cerca da metade do
total de renda das famílias, enquanto que, no outro extremo, os 50% mais
pobres detêm pouco mais de 10% da renda. E isso há pelo menos 30
anos. A construção de um projeto de desenvolvimento para o Brasil, tendo
60
como eixo a justiça social e a qualidade de vida, pressupõe a consciência de
que a pobreza é nosso problema mais urgente, mas que nossa maior doença
é a desigualdade.
Vale ressaltar que as diferenças regionais têm sido perpetuadas ao
longo da sociedade brasileira. Alguns números referentes à renda do
trabalhador ilustram tal fato. Como apontam Azzoni e Menezes, apud
Santos Júnior e Ferreira (2003), a renda média do trabalho do brasileiro,
por hora, é de R$15,87; no Nordeste, é de R$12,33 e, no Sudeste,
R$17,12. Os autores sinalizam, ainda, que, ao se pensar no conjunto
das Unidades da Federação, as diferenças são mais significativas: no
Piauí, a renda média é de R$8,97; no Rio de Janeiro, R$17,13; na Bahia,
R$12,81 e, em São Paulo, R$18,66.
2.2.2 Renda Familiar
A despeito da desvalorização da profissão docente, refletida, de um
modo geral, nos baixos salários, a renda familiar dos professores é
sensivelmente superior à da média da população brasileira. De acordo
com o IBGE
15
, 50,7% dos brasileiros ocupados ganham até dois salários
mínimos. Os dados da pesquisa revelam que 65,5% dos professores
possuem renda familiar entre dois e dez salários mínimos e 36,6% entre
cinco e dez (Tabela 15). Já na faixa mais elevada, mais de 20 salários
mínimos, o percentual dos professores encontra-se próximo ao da
população em geral, 6,1% e 5,9%, respectivamente. Já foi visto que
32,5% dos professores afirmam contribuir com mais de 81% da renda
familiar e que outros 16,8% contribuem com percentual situado entre
61% a 80% (Tabela 9), o que permite aferir a importância da
participação dos docentes na composição da renda de seu lar.
15
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2001: microdados. Rio de Janeiro: IBGE,
2002.
61
Tomando como base a relação entre a dependência administrativa
da escola em que o professor atua (escola pública e escola privada) e a
renda familiar (Tabela 16), percebe-se que, do total dos docentes que
se situam na faixa de até 2 salários mínimos, 4,9% estão atuando na
rede pública e 3,0 % nas escolas privadas.
Há uma concentração de professores de renda familiar mais elevada
nas escolas privadas. Esse percentual atinge 43,5% se somadas as faixas
de ganho de 10 a 20 salários mínimos e mais de 20 salários. Na escola
pública, para essas faixas de ganho, obtém-se o índice de 27%.
TABELA 15 – Proporção de professores, segundo a faixa de renda familiar
mensal
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Qual é aproximadamente a renda mensal da sua família?
(1) Dados expandidos.
TABELA 16 – Proporção de professores, por dependência administrativa
da escola, segundo renda familiar mensal
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Qual é, aproximadamente, a renda mensal da sua família?
(1) Dados expandidos.
62
Abordando a questão da pauperização dos professores do ensino
básico, particularmente os da rede pública, Assis (2004) apresenta a
seguinte análise:
Ao pensar na universalização do direito à educação básica, educação
infantil, ensino fundamental e ensino médio, há que se pensar no professor,
na valorização do profissional que tem a responsabilidade de trabalhar
com estes corações e mentes, constituindo conhecimentos e valores
indispensáveis à vida da criança, do adolescente e jovem no presente, no
curto e no médio prazo. Assim como houve uma pauperização da
população em geral no Brasil, também houve uma pauperização dos
professores. Os professores deixaram de ganhar um salário digno,
deixaram de ter uma carreira atraente, passaram a ter muita dificuldade
de se manter como cidadãos. O professor é um profissional que tem que
ler, viajar, escrever, ter acesso aos bens de cultura e isso durante muitas
décadas foi sendo destruído e alijado de seu alcance. Eu não acredito
que foi só para o professor, foi para toda a população de profissionais
do país, mas em particular isso deixa uma marca extremamente perniciosa
no professor. Porque um profissional que não tem uma preparação prévia
e uma atualização em serviço e condições de se tornar um cidadão e um
profissional cada vez mais sábio, mais experiente, mais cidadão do mundo,
com olhar para o seu país, para sua localidade, para sua cidade, para o
seu bairro, mas uma pessoa que se vê como integrante deste planeta com
toda cultura que a inteligência humana tem criado, se ele não tem a
possibilidade do acesso, como é que ele abre estes caminhos na escola?
A região geográfica onde o professor trabalha se correlaciona com
sua renda familiar. Acompanhando as desigualdades regionais, apenas
12,3% dos professores da região Nordeste possuem renda familiar
acima de 10 salários mínimos. Esse percentual sobe para 22,5% entre
os professores da região Norte; para 26,8% entre os da região Centro-
Oeste; 27,8% entre os da região Sul; e 42,1% junto aos professores
da região Sudeste, conforme a Tabela 17.
Diferenças na renda familiar dos professores também são
encontradas segundo a condição do município em que trabalham, se
capital do estado, periferia ou interior. Dos professores que atuam
nas capitais, 46,7% têm renda familiar superior a 10 salários mínimos
(Tabela 18). Na periferia das capitais, esse percentual cai para 32,2%
63
e, no interior, para 22,6%. É expressivo o percentual de professores
que trabalham no interior com renda familiar abaixo de cinco salários
mínimos – 41,4%, enquanto 24,4% dos que trabalham na periferia e
18,5% dos que atuam em capitais têm famílias com essa faixa de renda.
TABELA 17 – Proporção de professores, por região geográfica onde leciona,
segundo a renda familiar mensal
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Qual é, aproximadamente, a renda mensal da sua família?
(1) Dados expandidos.
TABELA 18 – Proporção de professores, por condição do município onde
leciona, segundo a renda familiar mensal
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Qual é, aproximadamente, a renda mensal da sua família?
(1) Dados expandidos.
64
O tamanho do município onde os professores exercem o magistério
é outra variável correlacionada com a renda de suas famílias. De fato,
em municípios com menos de cinco mil habitantes, apenas 2,6% dos
professores têm renda familiar superior a 10 salários mínimos. Por sua
vez, nos municípios com população entre 20 mil e 50 mil habitantes,
o percentual é dez vezes maior, 22,9% dos professores. Nos municípios
com mais de 500 mil habitantes, faixa onde estão incluídas as capitais,
o percentual dos professores cujas famílias têm renda familiar acima
de 10 salários mínimos chega a 51,1%.
A partir dos dados apresentados neste item, a respeito da renda
familiar dos professores, do local em que trabalham e do tipo de escola
em que lecionam, é possível propor um modo de hierarquizá-los que
pode auxiliar em uma primeira aproximação de diferenças importantes
no seu nível de vida. Conjugando essas três variáveis e conformando
categorias por meio de sua agregação, se obteria o conjunto dos
professores hierarquizados segundo sua renda familiar. No pólo
superior, estariam os professores da região Sudeste, que exercem suas
atividade em escolas privadas das capitais. No pólo oposto, com renda
familiar mais baixa, estariam os professores que atuam em escolas
públicas localizadas em municípios do interior com até cinco mil
habitantes.
2.2.3 Autoclassificação Social
Os professores, com freqüência, são situados na classe média pela
população, por eles mesmos e também por diferentes estudos
acadêmicos. Guimarães (1999) observa que a classe média tem sido
pouco estudada e aponta três áreas que concentram a maioria dos
estudos a seu respeito: militares e estudantes, por força da atuação
importante que tiveram em determinados momentos da história do
Brasil; categorias profissionais específicas, como advogados,
engenheiros e médicos, devido às suas relações e participação no
poder; e o associativismo e o sindicalismo, envolvendo segmentos da
classe média, que por vezes incluem a atuação dos professores.
65
Análises que localizam os professores em classes sociais são
consideravelmente marcadas pelos estudos que costumam centrar-se
na discussão a respeito da profissionalização e da pauperização da
categoria. No Brasil, discussões sobre o empobrecimento do professor
foram, de maneiras diferentes, suscitadas e desenvolvidas, dentre outros,
por Enguita (1991), por Pucci, Oliveira e Squissardi (1991) e por
Carvalho (1996).
Em que pese a importância que determinadas análises têm tido em
diferentes debates sobre a localização do professorado na estrutura ou
na hierarquia social que, de alguma maneira utilizam o conceito ou a
noção de classe social, o senso comum costuma associar classe à posição
ocupada pelos indivíduos na hierarquia social. Foi com este sentido
que os questionários desta pesquisa apresentaram aos professores a
questão sobre a autoclassificação em uma determinada classe (alta,
média e baixa). Na verdade, em vez de determinar a classe social à qual
pertence o professor, aqui será indicada aquela com a qual o docente
brasileiro se identifica e em que medida essa identificação está baseada
em sua renda familiar, na região geográfica e na localidade em que vive.
Cabe ressaltar que optar por uma categoria, ao autoclassificar-se na
escala de estratificação social:
Pode ser a maneira de assumir uma recusa frente às situações consideradas
extremas e negativamente valorizadas do ponto de vista social ou que
corresponderiam a estereótipos a serem evitados. De alguma forma,
haveria referencias implícitas a um outro com o qual não se quer identificar
ou que não serve de parâmetro de comparação (ABRAMOVAY e RUA,
2002: 209).
Os dados da pesquisa revelam que aproximadamente um terço dos
professores (33,2%) se autoclassifica como pobre. Essa percepção está
correlacionada com a renda familiar e é mais acentuada junto aos
professores com renda familiar de até dois salários mínimos, 65,8% dos
quais classificaram-se desse modo. Quando os professores têm renda
familiar entre dois e cinco salários mínimos, esse percentual cai para
47%, diminuindo progressivamente e chegando a 9,8% dos professores
com renda familiar acima de 20 salários mínimos (Tabela 19).
66
Os dados mostram que o que aqui está sendo chamado de
identificação de classe tem a ver, em grande medida, com renda familiar.
O fato de considerar-se pobre, que também se relaciona com a renda
familiar, não acompanha completamente essa identificação. Como pode
se observar na Tabela 20, a maioria dos professores se considera
pertencente à classe média baixa em todas as faixas de renda, à exceção
dos que têm renda familiar superior a 20 salários mínimos. Dos
professores com renda familiar de até dois salários mínimos, a maioria
(48,6%) se identifica com a classe média baixa e 31,9% se consideram
pertencentes à classe baixa, embora 65,% deles, como foi visto, tenham
se autoclassificado como pobres. Da mesma forma, dos professores com
a renda familiar variando de dois a cinco salários mínimos, dos quais
47% se julgam pobres, 17,9% se consideram situados na classe baixa e
58% na classe média baixa. Mesmo com renda muito baixa, a maioria
dos professores não se identifica como pertencentes a estratos sociais
mais pobres, o que pode estar evidenciando uma necessidade de
preservação da auto-estima e valorização.
Atuar em uma ou outra região geográfica parece não interferir na
forma dos professores se identificarem com as classes sociais
apresentadas na pesquisa. Em todas as regiões, a identificação com a
classe média baixa predomina. A maior identificação com a classe baixa
é observada na região Norte (18%), e a menor na região Sul (8,1%).
TABELA 19 – Proporção de professores, por renda familiar mensal, segundo
a percepção da condição econômica da família
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: O(a) sr.(a) considera sua família pobre?
(1) Dados expandidos.
67
Quando se considera a condição e o porte do município onde os
professores trabalham, são observados nas capitais (39,1%) e nos
municípios com mais de 500 mil habitantes (38,9%) valores
relativamente altos daqueles que se enquadram na classe média. Por
outro lado, os maiores percentuais de professores que se identificam
com a classe baixa são encontrados nos municípios de até 20 mil
habitantes (15%) e nos municípios do interior (12,3%). Vale lembrar
que, como já assinalado, a maior parte dos professores pesquisados atua
em cidades com até 100 mil habitantes e no interior (44,3% e 61,6%,
respectivamente).
Pode-se constatar pelas Tabelas 21 e 22 que, à medida que o porte
dos municípios aumenta, a renda familiar se eleva.
A autoclassificação também muda conforme o porte do município,
o que sugere haver correlação entre o grau de urbanização e as formas
de autoclassificação que identificam os professores. Enquanto a maioria
(54%) dos que atuam em municípios com até 5.000 habitantes tem
uma renda familiar entre 2 a 5 salários, a maior parte dos docentes das
cidades com mais de 500.000 habitantes (37,3%) tem uma renda familiar
de 10 a 20 salários mínimos. No geral, a faixa de renda familiar mais
freqüente e a de 2 e 10 salários mínimos.
TABELA 20 – Proporção de professores, por renda familiar mensal, segundo
identificação de classe social
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Atualmente, com qual classe social o(a) sr.(a) se identifica?
(1) Dados expandidos.
68
Como pode ser constatado na tabela a seguir, independentemente
do porte do município, a maioria do professorado não se considera pobre
(66,8%), existindo uma tendência dos docentes de municípios com até
5.000 habitantes a assim se classificar.
TABELA 21 – Proporção de professores, por porte do município onde
leciona, segundo renda familiar mensal
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Qual é, aproximadamente, a renda mensal da sua família?
(1) Dados expandidos.
O tipo de escola em que o professor atua parece também interferir
nas diferentes formas de se identificarem com as classes sociais
apresentadas, muito embora os professores das escolas públicas e
privadas se dividem uniformemente quanto à identificação com a classe
alta (0,3% e 0,4%, respectivamente).
TABELA 22 – Proporção de professores, por porte do município onde
leciona, segundo a percepção da condição econômica da família
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: O(a) sr.(a) considera sua família pobre?
(1) Dados expandidos.
69
Ao se analisarem os dados pela dependência administrativa da escola,
constata-se que, nas escolas públicas, 35,8% dos professores consideram
que seus alunos são de nível socioeconômico baixo, enquanto os das
escolas privadas, em maiores proporções, classificam seus alunos como
de nível médio ou médio-alto.
TABELA 23 – Proporção de professores, por dependência administrativa
da escola, segundo identificação de classe social
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Atualmente, com qual classe social o(a) sr.(a) se identifica?
(1) Dados expandidos.
TABELA 24 – Proporção de professores, por dependência administrativa
da escola, segundo o nível socioeconômico de seus alunos
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Qual é o nível socioeconômico predominante entre os alunos deste estabelecimento?
(1) Dados expandidos.
Se, por um lado, os professores com melhores rendas familiares
declaram estar em escolas privadas, por outro, é também nessas escolas,
segundo a própria opinião dos docentes, que estão concentrados os
alunos com melhores condições socioeconômicas. Nas escolas públicas,
70
entretanto, os professores evidenciam percepções de alguma distância
social entre eles e seus alunos, corroborando a observação que vem
sendo feita por diversas pesquisas da UNESCO na área (ABRAMOVAY
e RUA, 2002; ABRAMOVAY e CASTRO, 2003).
2.2.4 Mobilidade
Estudos sobre mobilidade social buscam compreender o trânsito
de contingentes da população dentro do sistema de classes sociais de
uma geração para outra (mobilidade intergeracional) ou na mesma
geração (mobilidade intrageracional). Tais estudos tiveram impulso
com a iniciativa do IBGE de incluir um questionário suplementar na
PNAD de 1973, com perguntas versando sobre a mobilidade social.
A pesquisa aqui abordada contempla a mobilidade sob dois
enfoques clássicos a respeito do tema: o da mobilidade intergeracional
e o da mobilidade intrageracional. A análise por meio do primeiro
enfoque se apóia em informações sobre o status socioeconômico dos
pais do professor, obtido a partir do seu nível de escolaridade. Essas
informações são complementadas com a avaliação do professor sobre
a sua situação econômica, comparada com a de seus pais quando ele
era criança, e com o enfoque da mobilidade intrageracional baseado
nas informações sobre o tipo de escola freqüentada pelos seus filhos.
Conforme já mencionado anteriormente, o grau de escolaridade
predominante entre os pais dos docentes é o fundamental incompleto,
abarcando 50,2% dos pais e 48,8% das mães dos professores (Tabela
11). Há consenso entre os docentes, independentemente do montante
de sua renda familiar, de que eles desfrutam de uma situação melhor
que a dos seus pais, numa proporção pouco abaixo de dois terços. No
total, cerca de 21% se consideram em situação igual, 14,6% em
situação pior e 64,4% em situação melhor.
O fato de morar em uma ou outra região parece não interferir
significativamente no modo como avaliam sua situação econômica em
relação à dos seus pais. A porcentagem dos que se consideram em
situação melhor que a de seus pais varia de 60,4% na região Sul a 67,9%
71
na região Norte. Os professores que vivem nas regiões Nordeste e
Centro-Oeste fazem avaliações muito semelhantes às de seus colegas
da região Norte (67,6% e 67,5%, respectivamente).
É entre os professores da região Sul que são verificados maiores
percentuais dos que avaliam sua situação como pior que a de seus pais
(18,3%), enquanto entre os da região Sudeste há maior incidência dos
que avaliam sua situação como igual (22,3%).
TABELA 26 – Proporção de professores, por região geográfica onde leciona,
segundo situação econômica intergeracional
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: A sua atual situação econômica, em relação à de seus pais quando o(a) sr.(a) era criança, é?
(1) Dados expandidos.
TABELA 25 – Proporção de professores, por renda familiar mensal, segundo
situação econômica intergeracional
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: A sua atual situação econômica, em relação à de seus pais quando o(a) sr.(a) era criança, é –
(1) Dados expandidos.
A avaliação de que se encontram em uma situação melhor que a de
seus pais, indicativa de uma mobilidade intergeracional ascendente
no âmbito da família, está influenciada, possivelmente, pelo diferencial
72
de escolaridade dos professores em relação a seus pais. Esse diferencial
pode ser atribuído, em boa medida, ao aumento de exigências
educacionais para o preenchimento das ocupações
16
. Isso significa
que, se os docentes não tivessem aumentado, substancialmente, seu
nível de escolaridade em relação ao dos seus pais, estariam sujeitos a
uma mobilidade descendente, sobretudo no meio urbano (FILMUS,
1996). O fato de exercerem uma profissão com exigência de
qualificação escolar deve, em alguma medida, se somar e interferir na
avaliação extremamente positiva que fazem da sua situação
econômica, quando comparada à dos seus pais.
Nesta pesquisa, além da mobilidade intergeracional entre os
docentes e seus pais, aferiu-se a existência de uma mobilidade entre
os professores e seus filhos. Para tanto, levantaram-se informações
sobre o histórico acadêmico dos docentes e de seus filhos, buscando-
se, com isso, sinais de possíveis diferenças socioeconômicas que, no
futuro, marcariam essas gerações.
Em relação aos filhos dos docentes, constata-se que 54,0% deles
estão matriculados na rede privada de ensino. A renda familiar parece
interferir nessa tendência. Enquanto 22,8% dos filhos dos professores
com renda familiar de até dois salários mínimos estudam em escolas
privadas, esse percentual sobe para 86,7% junto aos professores que
têm renda familiar acima de 20 salários mínimos.
Apesar dos baixos salários dos docentes, os dados sinalizam para um
esforço dos professores em manter seus filhos em escolas particulares, o
que, em alguma medida, deve estar relacionado com a crença no potencial
da educação privada como instrumento de mobilidade social.
Essa opção de dirigir os filhos para escolas privadas confirma o
apresentado em pesquisa realizada por Oliveira e Schwartzman (2002)
que, ao discutirem as características das escolas eficazes e as diferenças
entre as escolas públicas e privadas, afirmam que os professores das
escolas públicas, por perceberem o impacto dessas diferenças, preferem
16
Observar que há outros fatores que podem ter interferido nesse quadro, que diferencia
tanto o nível de escolaridade dos professores do de seus pais, além da exigência do próprio
mercado de trabalho, como a maior oferta de vagas nas escolas públicas.
73
matricular seus filhos em escolas privadas. Ao mesmo tempo, essa
preferência indica que os professores estão incluídos em mecanismos
sociais descritos por Pastore (2000), que afirma que para grande parcela
da população a educação do próprio filho transformou-se no capital
necessário para a mobilidade.
2.3 OS PROFESSORES SEGUNDO ESCOLARIDADE, HABILITAÇÃO
SITUAÇÃO PROFISSIONAL
A Lei de Diretrizes e Bases, de 1996, elaborada como resposta às
novas exigências educacionais da sociedade brasileira ao final do século
XX, colocou em pauta a necessidade de reconstrução do perfil do
professor. O vigorar de tal legislação desencadeou um processo de
reformulação dos diversos cursos voltados para a formação inicial dos
professores da educação básica, ampliando também o leque de
instituições responsáveis em desenvolver a referida tarefa (nível médio,
modalidade normal; nível superior – pedagogia e licenciaturas e Institutos
Superiores de Educação)
17
.
17
No Brasil, o curso de ensino médio na modalidade normal tem duração mínima de 3.200
horas, cumpridas em quatro anos letivos, em jornada diária de tempo parcial, ou três anos
letivos, em jornada diária de tempo integral (Resolução nº 02/1999, CNE/CEB).
TABELA 27 – Proporção de professores, por renda familiar mensal, segundo
dependência administrativa da escola freqüentada pelo filho durante o
ensino fundamental
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Em que tipo de escola seu/sua filho(a) estuda? (caso tenha mais de um(a) filho(a), fale sobre
o(a) mais novo(a)
(1) Dados expandidos.
74
De um modo geral, após a LDB, os documentos das instituições
formadoras convergem para uma qualificação que possa desenvolver
no professor o exercício de uma cidadania ativa e inclusiva
18
. Segundo
Lüdke (2001), o componente da reflexão passou a ser considerado
imprescindível para a formação do bom desempenho do trabalho
desenvolvido pelo docente.
Assim, não basta delinear o profissional que se deseja, mas
compreender e atentar para o profissional que existe, como alerta Arroyo
(1999: 145):
Não é ingênuo pensar que as atribuições listadas em cada nova lei, nova
política, novo parecer, possam, por um passe de mágica, alterar o histórico
ofício de mestre que os professores repetem? É curioso com que facilidade
cada lei ou parecer lista novas atribuições com a pretensão de formar
um novo perfil, mais moderno e atualizado de educador. O grave não é,
apenas essa ingênua pretensão. O grave é confundir a função histórica de
educador com detalhes, com capacidades de elaborar o projeto da escola,
por exemplo, ou com aprender as técnicas de condução de uma reunião
com as famílias, ou aprender novos critérios de enturmação, de avaliação,
de aceleração. É grave porque distraídas as leis e os pareceres com detalhes,
os currículos, as pesquisas e as políticas de formação não chegam no
cerne do ofício de mestres do papel social do educador, do que é a
qualidade constitutiva, do que é historicamente identitário do pensar e
agir educativos. É isso que deve ser formado e qualificado. Outra
concepção e outra prática de formação.
Entretanto, Kuenzer (1999) chama a atenção para o fato de que, na
prática, as políticas de formação inviabilizam a construção da identidade
do professor como cientista da educação para constituí-lo como
tarefeiro, dado o aligeiramento e a desqualificação de sua formação.
18
Para Rodrigues (2001: 236), cidadania “recebe sua definição do conjunto semântico que a
expressão exercício da cidadania carrega. O texto constitucional sugere que o conceito de
cidadania resulta de uma função social – a prática da cidadania – onde o seu significado
emerge. Similar a todo conteúdo semântico, ele só é plenamente compreendido na relação
com a vida social. Por seu lado, é o ato concreto do exercício de cidadania que dá sentido
ao termo cidadão”.
75
Neste campo, configura-se o desafio para a construção de políticas
públicas referentes à formação e à valorização do magistério. Conhecer
como esse profissional tem se constituído em professor no Brasil e em
que condições ele vem atuando faz-se oportuno, na medida em que se
podem subsidiar tanto os pressupostos político-pedagógicos dos cursos
de formação inicial e continuada, as suas estruturas e organizações
curriculares como também os aspectos referentes a carreira, salários e
dignidade profissional.
Com essas preocupações, o presente item aborda a escolaridade, a
habilitação e a situação profissional dos professores, fazendo uma
correlação dos dados encontrados com as demais variáveis abordadas
ao longo do capítulo, assim como gênero, idade, distribuição geográfica,
renda familiar e mobilidade social. Apresentam-se, também, algumas
opiniões dos professores sobre os temas correlacionados.
2.3.1 Escolaridade e Habilitação dos Professores
Ao se verificar em que tipo de escola os professores estudaram, nota-
se que a maior parte da trajetória escolar deu-se em escolas da rede de
ensino oficial. Mais de 4/5 dos docentes fizeram o ensino fundamental
em escolas públicas. No que diz respeito ao ensino médio, 69,2% deles
também afirmam tê-lo feito em instituição pública.
TABELA 28 – Proporção de professores segundo a dependência
administrativa da escola que estudou durante o ensino fundamental e
médio
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: A maior parte de sua educação fundamental e média foi feita em escolas: (Marque com um X
a opção correspondente em cada caso)
(1) Dados expandidos.
76
O quadro atual demonstra que é o espaço público o lugar privilegiado
de produção e formação docente. Os professores, em certa medida já
trazem uma familiaridade com o universo em que trabalham, pois lá
foram alunos. Tal fato, como apontou Tardif e Raymond (2000), traria
elementos constitutivos do exercício da função docente, úteis no
contexto da sua profissão e da sala de aula. Entretanto, freqüentemente,
percebe-se que mesmo esses professores têm problemas para lidar com
a realidade que enfrentam na escola.
A formação inicial de praticamente metade dos professores brasileiros
foi obtida em instituições públicas de ensino (50,2%) e, portanto,
gratuitas. A Tabela 29 apresenta dados sobre a crescente participação
de instituições públicas de ensino ao longo da carreira dos docentes,
computando-se desde o local onde obtiveram sua titulação até onde
iniciaram sua prática docente e, por fim, onde trabalham atualmente.
De cada dez docentes, sete começaram sua carreira em uma instituição
pública e, atualmente, cerca de oito trabalham nesse tipo de escola.
TABELA 29 – Proporção de professores, segundo a dependência
administrativa da escola em que obtiveram titulação, iniciaram a carreira e
atuam no momento
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Qual o tipo de estabelecimento lhe conferiu o título para a prática da docência?
Em que tipo de escola o(a) sr.(a) iniciou sua carreira como professor?
A escola em que o(a) sr.(a) trabalha é :...
(1) Dados expandidos.
Sobre a educação superior dos professores, 67,6% deles afirmam ter
concluído este nível de ensino – sendo que 61,9% o fizeram com formação
pedagógica, ou seja, estão licenciados para a função que desempenham.
Os docentes com apenas o ensino médio somam 32,3%, sendo que, dessa
parcela, 83% têm formação pedagógica (modalidade normal)
19
.
19
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 determina, no Artigo 62, que “A
formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de
77
A formação do professor em nível médio ou superior constitui variável
correlacionada com sua renda familiar. Como pode ser visto na Tabela
30, é considerável a diferença de renda entre os professores com
formação de nível médio e os que têm formação de nível superior.
Enquanto pouco mais da metade dos docentes com ensino médio (com
e sem formação pedagógica) tem renda familiar inferior a cinco salários
mínimos (52,7% e 56,6%, respectivamente), menos da terça parte
daqueles com ensino superior (com e sem formação pedagógica) está
nessa situação (23,8% e 26,7%, respectivamente). Nas faixas de renda
mais elevadas, de 10 a 20 salários mínimos e de mais de 20 salários
mínimos, o percentual de professores com ensino superior (35,9% para
os com formação pedagógica e 32,6% para os sem essa formação) é
cerca do dobro do observado entre os que possuem apenas o ensino
médio (18,4% e 15,5% para os com e os sem formação pedagógica,
respectivamente), independentemente da formação pedagógica.
licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida
como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro
primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio na modalidade normal”.
TABELA 30 – Proporção de professores, por habilitação, segundo a renda
familiar mensal
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Qual é, aproximadamente, a renda mensal da sua família?
(1) Dados expandidos.
78
A respeito do tipo de estabelecimento que conferiu o título para a
prática docente, observa-se que a titulação de pouco mais da metade
dos professores (50,2%) foi concedida por instituições públicas de ensino
(Tabela 31). Comparando os percentuais de docentes que se titularam
em escolas públicas e privadas, segundo o tipo de habilitação declarada,
verifica-se que a proporção de professores que se titularam em
instituições públicas de ensino é maior entre os professores com apenas
o ensino médio – independentemente do fato de ser com ou sem
formação pedagógica (67,4% e 64,5%, respectivamente) – do que a
registrada pelos professores com ensino superior (41,6% dos que têm
formação pedagógica e 45,5% dos que não têm). Para esse último grupo,
é importante ressaltar a maior participação das instituições privadas,
principalmente para os que possuem licenciatura (58,4%).
TABELA 31 – Proporção de professores, por dependência administrativa
da instituição onde obteve a titulação, segundo habilitação
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Qual a sua habilitação?
(1) Dados expandidos.
Confirmando os dados expostos neste item, o estudo “Estatísticas
dos Professores do Brasil”, publicado pelo MEC/INEP em 2003,
explicita o fato de que o setor público ainda é o grande detentor da
formação de professores no país, no nível médio. O trabalho mostra
que existem 2.641 escolas de nível médio (modalidade normal)
formando professores para a educação infantil e para as séries iniciais
do ensino fundamental, das quais 2.050 são públicas. A grande maioria
está localizada na região Nordeste (1.174 estabelecimentos). No que
79
se refere aos cursos de graduação com licenciatura, para a formação de
professores de 5ª a 8ª séries do ensino fundamental e do ensino médio,
na rede pública existem 3.116 cursos, contra 2.764 da rede privada,
desvendando-se a significativa presença do setor privado nas graduações
de Pedagogia.
Os dados levantados pela pesquisa revelam, entretanto, que, em
grande parte, a habilitação docente está em conformidade com o definido
pela legislação em vigor. Os professores sem formação pedagógica –
tanto de formação superior quanto de formação média – são,
majoritariamente, os professores com poucos anos de profissão. No caso
dos professores com ensino médio, 51,9% têm menos de 10 anos de
trabalho, sendo 20,1% desses com menos de 5 anos de profissão. Entre
os professores com ensino superior, 54,7% têm menos de 10 anos de
profissão, sendo 18,2% o percentual dos que não possuem ainda 5 anos
de magistério (Tabela A4)
Como se percebe na Tabela 32, do total dos professores que lecionam
no ensino médio, 80,3% estão habilitados para o trabalho, de acordo
com o estipulado pela LDB. Dentre os pesquisados prevalecem os
docentes com habilitação superior com formação pedagógica, 60,3%
no ensino fundamental e 80,3% no ensino médio.
TABELA 32 – Proporção de professores, por nível de ensino de atuação,
segundo a habilitação
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Qual a sua habilitação?
(1) Dados expandidos.
80
A análise por região geográfica indica que a região Norte (14,8%) e a
região Centro-Oeste (14,2%) são as que mais possuem professores sem a
habilitação para o exercício do magistério (Tabela A.5). Outra diferença
espacial é a estabelecida segundo o tamanho das cidades. Muito embora
as cidades com até 5 mil habitantes contabilizem 1,6% dos professores
brasileiros, elas respondem por 9,0% dos docentes com ensino médio
sem formação pedagógica. Nas cidades com mais de 500 mil habitantes,
onde trabalham 22,2% do total dos professores brasileiros, registram-se
3,4% dos docentes com ensino médio sem formação pedagógica, o que
representa, aproximadamente, 12.568 professores.
Também a análise relacionando a habilitação profissional com a idade
revela resultados importantes. De acordo com a Tabela A6, constata-se
que os professores com até 35 anos de idade correspondem a mais da
metade dos professores com ensino médio sem formação pedagógica e
43,8% daqueles com ensino superior sem formação pedagógica.
TABELA 33 – Proporção de professores, por porte do município, segundo
a habilitação
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Qual a sua habilitação?
(1) Dados expandidos.
81
Quando os dados sobre a situação econômica dos professores são
organizados em função da habilitação (Tabela 35), percebe-se que os
docentes com ensino superior sem formação pedagógica (69,9%) tendem
mais fortemente a acreditar que terão uma situação econômica melhor
nos próximos anos. Entre os professores com ensino superior e formação
pedagógica (25,7% deles) é que são encontrados os maiores índices de
pessimismo frente ao futuro.
TABELA 34 – Proporção de professores, por habilitação, segundo o tempo
de magistério
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Há quantos anos o(a) sr.(a) é professor?
(1) Dados expandidos.
TABELA 35 – Proporção de professores, por habilitação, segundo opinião
sobre a situação econômica daqui a 5 anos
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Como o(a) sr.(a) acha que estará sua situação econômica daqui a 5 anos?
(1) Dados expandidos.
82
A maioria dos docentes (27%) declara ter entre seis e dez anos de
serviço, sendo que grande parte tem curso superior sem formação
pedagógica (36,5%). Exclusivamente 8,9% têm mais de 25 anos de
profissão (Tabela 34), sugerindo que os professores aposentam-se no
limite mínimo permitido por lei (mínimo de 30 anos de serviço para
homens e 25 anos para as mulheres). Em pesquisa realizada pela
Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE, 2003),
o tempo médio de serviço dos professores é avaliado em 15 anos.
Finalizando, cabe registrar, que o Brasil, no que se refere à
formação inicial (habilitação para a profissão), segue tendência
mundial
20
. Siniscalco (2003) aponta que, dos 83 países que forneceram
dados sobre a qualificação de professores para a Avaliação EPT 2000
(UNESCO/Institute of Statistics, 2000), um terço relatou que todos
os seus professores “primários” (séries iniciais do ensino fundamental)
têm, pelo menos, as qualificações acadêmicas mínimas exigidas pelas
autoridades nacionais para lecionar nesse segmento. Os dados da
UNESCO apontam ainda que, na maioria dos países menos
desenvolvidos, a quase totalidade dos professores dos primeiros níveis
tem, no máximo, qualificação para lecionar nas séries iniciais do ensino.
2.3.2 Situação Profissional
Analisando os dados sobre o início da carreira docente, observa-se
que ela tende a começar cedo, não raro antes da formatura. Segundo os
dados apurados (Tabela 36), 53% dos professores conseguiram seu
primeiro emprego antes de concluir seus cursos de habilitação, o que
pode ser decorrência da obrigatoriedade do estágio como prática docente.
Outros 20,5% ingressaram no mercado de trabalho no máximo seis
meses após serem habilitados
21
.
20
A pesquisa do CNTE (2003) aponta 90% dos professores habilitados para o cargo que exercem.
21
Segundo o documento “Estatísticas dos Professores no Brasil” (MEC/INEP, 2003), em se
mantendo o cenário de políticas para a regularização do fluxo escolar, em 2006 existirá uma
redução de 150 mil postos de trabalho para professores das séries iniciais do ensino
fundamental. Já no ensino fundamental de 5ª a 8ª séries, também para atender à demanda de
correção de fluxo, serão necessários mais de 98 mil novos empregos e no ensino médio, pelo
seu processo de expansão, serão necessários 125.000 novos docentes.
83
A expansão do ensino público transforma o magistério em ocupação
na qual ocorre relativamente rápida inserção no mercado de trabalho.
A maioria dos professores iniciou a carreira em escolas públicas (70,3%),
enquanto 28,2% começaram a trabalhar em escolas privadas.
Atualmente, a maioria dos professores trabalha em escolas públicas
(82,2%) e o restante afirma atuar em escolas privadas.
TABELA 36 – Proporção de professores, segundo o tempo em que conseguiu
o primeiro emprego como docente
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Quanto tempo depois de receber seu título o(a) sr.(a) conseguiu seu primeiro emprego como docente?
(1) Dados expandidos.
No que se refere à quantidade de horas semanais em que atuam em
sala de aula (Tabela 38), verifica-se que a maior proporção dos
professores cumpre de 21 a 40 horas (54,2%). Os que trabalham de 1 a
20 horas apresentam proporção de quase um terço (30,9%) e 14,8%
dos professores trabalham mais de 40 horas semanais.
TABELA 37 – Proporção de professores, segundo a dependência
administrativa da escola onde iniciou a carreira docente e onde trabalha
atualmente
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Em que tipo de escola o(a) sr.(a) iniciou sua carreira como professor? A escola em que o(a) sr.(a)
trabalha é?
(1) Dados expandidos.
(2) Comunitárias, de ONG’s e/ou movimentos sociais.
84
De acordo com o levantamento realizado, a maioria dos professores
afirma trabalhar em apenas uma escola, 58,5% – 971.475 professores.
Os que trabalham em duas escolas são 32,2% e os que trabalham em três
escolas somam 6,3%. Encontra-se, ainda, uma porcentagem significativa
– 2,9% – de professores que trabalham em quatro ou mais escolas, o que
representa 48.574 professores (Tabela A7)
Constata-se a tendência de professores do sexo feminino trabalharem
em uma só escola (62,1%). Essa prevalência se mantém nas análises
por região e por nível de ensino.
Quanto ao número de alunos que os professores possuem sob sua
responsabilidade, o número total varia principalmente segundo o nível
de ensino considerado.
TABELA 38 – Proporção de professores, segundo a quantidade de horas
semanais despendidas dentro de sala de aula
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Atualmente, quantas horas semanais o(a) sr.(a) atua em sala de aula?
(1) Dados expandidos.
TABELA 39 – Proporção de professores, por nível de ensino em que atua,
segundo o número de alunos
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO. Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: No total,quantos alunos o(a) sr.(a) tem aproximadamente?
(1) Dados expandidos
85
No ensino fundamental encontram-se, na proporção mais elevada,
23,3% dos professores com até 40 alunos. Já no ensino médio as
proporções mais elevadas são de 17,8% dos professores que possuem
entre 201 e 300 alunos e 17,7% dos que possuem mais de 600 alunos,
o que deve ser o caso dos professores que lecionam uma disciplina em
várias turmas, numa mesma escola e, também, em outras escolas.
2.3.2.1 Situação Funcional dos Professores das Escolas Públicas
Considerando que 82,2% dos professores estão nas escolas públicas
e que tal inserção traz características bastante específicas, o estudo
abordará, a seguir, a situação funcional desses docentes de forma
particular. Cabe registrar que, de 1996 para 2000, existiu um aumento
expressivo de 34,2% do número de docentes no ensino fundamental de
5ª a 8ª séries nas redes públicas, enquanto no ensino médio o aumento
foi de 50,8% (MEC/INEP, 2003).
A situação funcional dos docentes que atuam em escolas públicas
aponta para mais da metade na categoria de concursados (66,1%). Há
ainda 9,2 % dos professores efetivos sem concurso. Contudo, o contrato
temporário apresenta proporção expressiva, uma vez que se considera
que este trabalho está vinculado ao setor público – 19,1 % dos
professores que atuam em escolas públicas estão submetidos a esse tipo
de contrato de trabalho.
TABELA 40 – Proporção de professores da rede pública, segundo o tipo de
vínculo institucional mantido com a escola
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Atualmente, qual é a sua situação funcional?
(1) Dados expandidos.
86
O concurso para o ingresso na rede pública de ensino vem sofrendo,
ao longo da história da profissionalização docente, práticas bastante
controversas e distintas. Além do ingresso na carreira docente por
concurso, existem hoje outras modalidades de contrato na rede pública.
A acelerada expansão do ensino para as crianças e jovens não se fez
acompanhada pelo aumento de concursos para os professores. Neste
sentido, estar atuando na escola pública pode significar um emprego
de curta ou média duração, existente para suprir as atuais deficiências
da rede.
Destaca-se que a porcentagem de docentes do sexo masculino com
contratos temporários (27,1%) ou contratados pela CLT (7,1%) é maior
do que as registradas entre as professoras, de 17,4% e 5,4%,
respectivamente (Tabela 41). Os professores parecem ser mais variantes
na profissão, no que depende do contrato de trabalho a que estão
submetidos na rede pública. Tal fato também pode ser atribuído a uma
procura por novos postos pelos professores do sexo masculino.
Como pode ser observado na Tabela 42, a porcentagem de professores
concursados é maior nas faixas de tempo mais elevadas (acima de 5
anos de profissão), o que também é verificado para o caso dos
professores efetivos sem concurso. No caso dos contratos temporários,
ocorre exatamente o inverso, ressaltando-se, mais uma vez, o caráter
provisório e precário desse vínculo profissional mais afeto aos mais
jovens na profissão.
TABELA 41 – Proporção de professores da rede pública, por sexo, segundo
o tipo de vínculo institucional mantido com a escola
1
2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Atualmente, qual é a sua situação funcional?
(1) Dados expandidos.
87
Em uma análise regional, verifica-se que a região Centro-Oeste
possui a maior concentração de professores concursados (77,5%),
percentual muito próximo do encontrado na região Sul (74,8%). A
região Nordeste apresenta a maior porcentagem de professores efetivos
sem concurso (21,3%); na região Norte está a maior porcentagem de
professores com contratos temporários (29,0%) e, na região Sul,
registra-se a maior porcentagem de professores contratados pelo regime
da CLT (10,5%).
TABELA 42 – Proporção de professores da rede pública, por tempo de
magistério, segundo o tipo de vínculo institucional mantido com a escola
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Atualmente, qual é a sua situação funcional?
(1) Dados expandidos.
TABELA 43 – Proporção de professores da rede pública, por região
geográfica, segundo o vínculo institucional mantido com a escola
1
¹ –
2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Atualmente, qual é a sua situação funcional?
(1) Dados expandidos.
88
O tipo de vínculo profissional dos professores das escolas públicas
também se diferencia segundo o nível de ensino em que o docente atua,
como pode ser visto na Tabela 44. Como já apontado anteriormente,
chamam a atenção as porcentagens de docentes com contratos
temporários no ensino fundamental e no ensino médio – 18,5 % e 23,4%
respectivamente –, visto que esses níveis têm sido, nos últimos anos,
alvos da intervenção governamental, tanto para a ampliação da oferta
quanto para a qualificação dos cursos ofertados.
TABELA 44 – Proporção de professores da rede pública, por nível de
ensino em que atua, segundo o tipo de vinculo institucional mantido
com a escola
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Atualmente, qual é a sua situação funcional?
(1) Dados expandidos.
Verifica-se também que, a depender do tipo de vínculo a que o
professor da rede pública está submetido, existe maior ou menor
possibilidade de se dedicar a uma outra atividade remunerada (Tabela
45). Dos professores pesquisados, 12,7% têm uma outra atividade
remunerada e 87,3% declaram não possuir outro trabalho
22
. São os
professores com contratos regidos pela CLT os que mais se dedicam a
uma outra atividade remunerada (16,5%), seguidos pelos docentes com
contratos temporários (14,9%) e pelos efetivos sem concurso (12,6%).
Dos professores efetivos concursados, 11,8% declaram desenvolver
outra atividade remunerada.
22
Dos entrevistados pelo levantamento da CNTE, 16,5% disseram exercer outro trabalho
remunerado.
89
Ainda a respeito do exercício de outra atividade remunerada, verifica-
se que são os professores que têm o ensino superior (sem formação
pedagógica) os que proporcionalmente mais possuem outra atividade
(24,5%), enquanto os que possuem ensino médio (com formação
pedagógica) são os que declaram, em menor proporção (10,8%), possuir
outra atividade remunerada (Tabela A8).
2.4. OS PROFESSORES SEGUNDO SUAS PRÁTICAS CULTURAIS
Os dados sobre a relação dos docentes com a cultura adquirem
especial relevância, pois trazem à tona dimensões da vida social cuja
consideração pode alargar a compreensão da educação e do papel dos
educadores na sociedade.
A prática educativa pode estar voltada não apenas para o trabalho,
mas também para a formação da pessoa no sentido mais amplo, o que
inclui a estética e o ético, entre outras dimensões da vida. Desse modo,
além das análises sobre o consumo cultural dos professores, mais
recentemente tem-se percebido a importância de se conhecer suas
preferências e atividades culturais. Isso porque, se a escola é concebida
como centro de formação, é esperado que as atividades ligadas à cultura,
como música, literatura, teatro, cinema, entre outras, sejam partes
importantes do processo educativo.
TABELA 45 – Proporção de professores da rede pública, por vínculo
institucional mantido com a escola, segundo a realização de outro trabalho
remunerado
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Hoje, além da atividade docente, o(a) sr.(a) realiza outro trabalho remunerado?
(1) Dados expandidos.
90
Segundo Bourdieu e Passeron (1964), o capital cultural dos indivíduos,
isto é, as competências culturais e lingüísticas herdadas dentro dos limites
da classe social a que pertencem seus familiares, constituem elementos
importantes para o desempenho escolar. No bojo desse referencial, uma
série de estudos (NOGUEIRA e CATANI, 1998) vem apontar as
influências do capital cultural na trajetória escolar, rompendo o mito do
dom ou das qualidades inatas para o sucesso escolar.
No caso brasileiro, segundo Canen (1997b), há uma associação entre
o consumo e o capital cultural na formação de identidades sociais.
Identidades que são construídas pelo acesso a bens econômicos e culturais
por parte dos diferentes grupos, em que os determinantes de classe social,
raça, gênero e diversidade cultural atuam de forma marcante. A instituição
escolar, segundo a autora, tem produzido a exclusão daqueles grupos
cujos universos culturais não correspondem aos padrões dominantes.
Baseada em literatura na área (LÜDKE e MEDIANO, 1992; CANDAU,
1995, 1997; CANEN, 1997a, 1997b, 2001 e EGGLESTON, 1993),
aponta que as expectativas dos professores com relação ao desempenho
de alunos de padrões culturais distintos dos dominantes são, muitas vezes,
permeadas de estereótipos que se refletem em práticas docentes que, sob
uma pretensa neutralidade técnica, legitimam o silenciar das diferentes
“vozes” que chegam às escolas.
No entanto, em uma perspectiva crítica, a escola tem o papel de resgatar
práticas culturais plurais no seu espaço, permitindo a construção de
projetos pedagógicos que ressaltem a diversidade, expressando o universo
dos alunos, dos professores, do entorno, enfim do universal e do particular,
a fim de que seja possível uma ação pedagógica reflexiva, transformadora
e não-excludente. Nessa dimensão, dispor de dados sobre as práticas
culturais dos docentes, por um lado, facilita a apreensão das identidades
construídas ao longo da trajetória profissional e, por outro, permite a
formulação de um projeto educativo mais abrangente.
2.4.1 Participação dos Professores em Eventos e Atividades Culturais
Aos professores foi perguntado se freqüentam eventos culturais e
quais as suas atividades culturais preferidas. Incluem-se nesse rol
91
atividades de lazer e espaços de sociabilidade que, dentre uma série de
outras experiências, estão também relacionados às práticas culturais da
população brasileira (Tabela 46).
TABELA 46 – Proporção de professores, segundo freqüência a eventos
culturais
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: O(a) sr.(a) costuma ir a algum dos seguintes eventos culturais? Com que freqüência?
(1) Dados expandidos.
A maioria dos professores assinalou freqüentar ou usar, algumas vezes
por ano (englobados aí os que freqüentam semanal ou mensalmente) a
maior parte dos eventos e locais listados: museus, teatro, exposições
em centros culturais, cinemas, fitas de vídeo, show de música popular
ou sertaneja, danceterias, bailes, bares com música ao vivo e clubes.
92
Observa-se que uma atividade realizada normalmente no âmbito
doméstico sobrepõe-se de maneira clara às demais apresentadas: 33,0%
dos docentes afirmam assistir a fitas de vídeo uma vez por semana e
32,1% dizem fazê-lo uma vez por mês. O cinema, por exemplo,
apresenta proporções bem inferiores: quase metade dos professores
(49,2%) vão ao cinema algumas vezes por ano, 20,4% uma vez por
mês e 5,8% uma vez por semana. Esse dado, se observado à luz do
fato de inexistirem cinemas em diversos municípios do país, toma
proporções mais significativas (IBGE, Pesquisa de Informações
Básicas Municipais, 1999).
Boa parte das demais atividades tende a ter freqüência de algumas
vezes ao ano. É o caso de visitas a exposições e idas ao teatro e a
museus, que fazem parte da rotina de parcela dos professores. As
exposições em centros culturais são freqüentadas algumas vezes por
ano por 66,1% dos professores e 8,6 % dizem nunca visitá-las. Quanto
às proporções verificadas para o teatro 52,2% afirmam ir algumas vezes
por ano e 17,8% nunca vão ao teatro. No caso dos museus, não é
muito diferente: 14,8% dos professores declaram nunca visitar museus
e a maioria assinala que vai algumas vezes por ano (50,4%). Entretanto,
pode-se relativizar a aparentemente pequena significância da
freqüência apresentada, pois, assim como os cinemas, os teatros e
centros culturais não são encontrados em todas as localidades. Essas
distinções podem estar calcadas, dentre outros fatores, nas ofertas
diferenciadas desses eventos e atividades culturais e na gratuidade ou
no valor pago para se ter acesso a eles.
Quanto aos eventos esportivos, a freqüência de participação dos
professores é, relativamente, baixa. Os estádios esportivos são
freqüentados uma vez por semana por 4% dos professores, contra
38,7% que nunca vão a eles, o que deve estar relacionado com o fato
de tratar-se de atividade com a qual as mulheres poucas vezes se
identificam. Mas cerca da quarta parte dos professores freqüentam
estádios ao menos uma vez por ano. Já os clubes são visitados algumas
vezes por ano por quase metade dos professores (43,2%) e uma vez
por semana por 11,0% deles. Uma parcela de 13,3% afirma nunca
visitá-los. Com efeito, os clubes parecem constituir espaços de lazer e
sociabilidade razoavelmente importantes.
93
Quando os dados são desagregados por gênero, observa-se que os
homens são mais assíduos em relação aos referidos eventos do que as
mulheres (Tabela A9).
A análise por renda, por seu turno (Tabela 47), pode ajudar a
explicar boa parte das diferenças observadas entre os professores na
freqüência a eventos culturais: elevando-se a faixa de renda familiar
do professor, aumenta a sua participação na maioria dos eventos
relacionados. Além disso, as menores proporções de freqüência aos
eventos estão nas menores faixas de renda familiar.
TABELA 47 – Proporção de professores, por renda familiar mensal, segundo
a freqüência a eventos culturais
1
– 2002
94
TABELA 47 – (continuação)
95
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: O(a) sr.(a) costuma ir a algum dos seguintes eventos culturais? Com que freqüência?
(1) Dados expandidos.
TABELA 47 – (continuação)
96
Esse comportamento – eleva-se a faixa de renda familiar do professor,
aumenta a sua participação em eventos – só não se aplica para shows de
música popular ou sertaneja e para os estádios esportivos. Isso significa
dizer que tais atividades podem ser consideradas “mais populares” do
que as demais.
Os professores das escolas privadas afirmam, em maiores proporções,
participar com mais freqüência das atividades culturais referenciadas do
que os professores das escolas públicas onde prevalecem as indicações
de algumas vezes por ano, uma vez no passado e nunca (Tabela A10).
Chama também a atenção o fato de que, entre as atividades relativas
às preferências culturais apresentadas aos docentes, eles destaquem
como as mais freqüentemente realizadas aquelas ligadas à profissão. A
maioria dos professores (52%) declara que costuma ler materiais de
estudo ou formação. Na seqüência está a opção ler revistas
especializadas em educação (47,9%), seguida de fotocópia de materiais
(44,5%), conforme os dados da Tabela 48. Se somadas as freqüências
habitualmente/sempre com às vezes, chega-se a proporções muito altas de
professores exercendo essas e outras atividades ligadas à sua formação
e profissão: 71,8% dos professores participam de seminários de
especialização, 94,4% lêem revistas especializadas em educação, 87,7%
fotocopiam materiais, 93% lêem materiais de estudo ou formação, 81,4%
compram livros (não-didáticos) e 86,2% freqüentam a biblioteca.
Em contraposição, são significativas as freqüências dos professores
que responderam que nunca exercem atividades vinculadas à sua
formação. Destacam-se aqueles que nunca participam de seminários de
especialização (11,4%).
Da mesma maneira, são relativamente poucos os professores que
estudam ou praticam atividades artísticas. Os que habitualmente
estudam ou ensaiam teatro são 4,1%, e os que afirmam nunca fazê-lo
chegam a 66,1%. Os que pintam ou aprendem a esculpir são 6,1% e os
que nunca o fazem correspondem a 65,7% dos pesquisados. São 8,0%
os professores que afirmaram que praticam ou aprendem danças
habitualmente, enquanto quase metade deles, 49,6%, declara jamais
fazê-lo. Além disso, 12,8% estudam ou desenvolvem algum artesanato
com muita freqüência, enquanto 47,7% nunca o fazem.
97
TABELA 48 – Proporção de professores, segundo a freqüência de atividades
que atestam suas preferências culturais
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Gostaríamos de saber mais a respeito de suas preferências culturais. Indique se o(a) sr.(a)
realiza alguma das seguintes atividades, e com que freqüência:
(1) Dados expandidos.
No que diz respeito às atividades de entretenimento e/ou informação,
foi perguntado aos professores simplesmente qual a freqüência com que
as realizam. Frente àqueles outros dois blocos de atividades, as
porcentagens verificadas agora são mais altas: 74,3% dos docentes
afirmam que assistem à TV diariamente e 52,0% declaram que ouvem
rádio diariamente, conforme demonstra a Tabela 49. Esses dados
corroboram a hipótese de que o lazer doméstico é bastante usual, como
98
o assistir a fitas de vídeo já indicava, o que pode ser explicado pelo fato
de ser mais barato e de fácil realização e/ou pela falta de tempo para se
dedicar a outros tipos de práticas, já que os deveres profissionais
parecem ocupar boa parte do tempo dos docentes.
TABELA 49 – Proporção de professores, segundo a freqüência de outras
atividades
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Indique com que freqüência o(a) sr.(a) realiza as seguintes atividades:
(1) Dados expandidos.
99
Dentre as atividades que os professores afirmam nunca realizar,
destacam-se algumas ligadas ao uso do computador e da Internet, o
que sugere dificuldade de acesso às modernas tecnologias de informação,
cada vez mais valorizadas e utilizadas como ferramentas educacionais.
De fato, a maioria dos professores declara que nunca usa correio
eletrônico (59,6%), não navega na Internet (58,4%) nem se diverte com
seu computador (53,9%).
É significativo que 23,5% dos professores declarem que lêem jornal
1 ou 2 vezes por semana, 9,5% que lêem a cada 15 dias e 3,7% que não
lêem jornal nunca, dada a importância do veículo como agente de
informação. Também se mostra bastante elevado o número de
professores que nunca fazem ginástica, esportes ou alguma atividade
física (34,5%).
Destaca-se, ainda, em relação à música, que 55,1% dos professores
ouvem-na diariamente e que 8,3% deles estudam ou tocam algum
instrumento musical todos os dias. Mais de dois terços deles nunca
estuda ou toca instrumentos musicais. Outros 33,1% dizem que
compram CDs ou fitas cassete habitualmente e 14,0% dizem que têm o
hábito de gravar músicas.
2.4.2 Preferências Culturais dos Professores
Aos professores foi solicitado que indicassem os três gêneros musicais
que preferem. A MPB é a mais citada, apontada por 71,8% deles (Tabela
50), alcançando maior proporção de indicações junto aos professores
que têm de 26 a 35 anos (Tabela A11) e sendo a preferida de 77% dos
professores que vivem nas capitais
23
. A música sertaneja é citada entre
os gêneros preferidos por 43,1% dos professores. Se os dados são
desagregados por faixa etária, percebe-se que, à medida que a idade
aumenta, aumenta a proporção de citações para esse tipo de música,
chegando a 51% entre os mais velhos, com idade acima dos 55 anos.
23
Para os dados completos sobre preferências musicais por condição do município, ver a
Tabela A12, em anexo.
100
A categoria pagode, for foi citada por 30,7% dos professores,
aparecendo em maior proporção entre os que têm até 25 anos (35,7%).
Esse gênero de música também recebeu mais indicações de preferência
por parte dos professores que vivem no interior (34,5%) (Tabela A12).
O samba tradicional é citado como uma das preferências musicais
por 25,5% dos professores. A proporção de citações do samba como
preferência também aumenta de acordo com a faixa etária do docente,
chegando ao máximo de 43,1% para acima de 55 anos (Tabela A11).
É na periferia dos centros urbanos que as proporções são maiores (27,%),
embora as variações aqui não sejam amplas (Tabela A12).
Já o rock nacional é citado por 23,2% dos professores como um dos
gêneros musicais que preferem. Aqui ocorre o inverso, pois as citações
diminuem conforme a idade aumenta: de 38% para os mais jovens a
5,1% para os mais velhos (Tabela A11).
TABELA 50 – Proporção de professores, segundo gêneros musicais
preferidos
1
¹ – 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Quais dos gêneros musicais, abaixo, o(a) sr.(a) prefere? (Selecione os três que o(a) sr.(a) mais ouve)
(1) Dados expandidos.
(2) As respostas não são auto-excludentes.
Pode-se perceber que a escolha de um ou outro gênero musical varia,
principalmente, segundo a idade e o local de moradia e/ou atuação do
professorado. A MPB aparece como significativa exceção, indicando a
capacidade de os professores, em geral, se identificarem com esse gênero.
101
Observa-se que entre os mais jovens são indicadas preferências que
contam com formas de difusão bastante amplas, como o rock nacional,
o pagode e o forró, enquanto os mais velhos optam mais pelo samba
tradicional, gênero que normalmente encontra bem menos facilidade
de difusão. Também pode ser observado que a música sertaneja é mais
indicada dentre as preferidas pelos docentes que vivem nos municípios
do interior e o samba pelos das periferias dos centros urbanos, locais
nos quais esses gêneros, muitas vezes, têm suas origens e são mais
facilmente difundidos.
Aos professores foi também solicitado indicar o tipo de leitura com
o qual prefeririam ocupar seu tempo livre. Dentre os gêneros
considerados mais interessantes por eles, a opção que obteve maior
número de respostas foi pedagogia e educação – 49,5%, muito acima dos
demais. O segundo tipo mais apontado foi revistas e livros científicos
28,3%, incidência que, se somada ao interesse por leituras sobre
pedagogia e educação, sugere que os professores ocupam com leituras
relacionadas ao seu trabalho e área profissional parte significativa do
tempo livre. Em seguida, aparecem literatura de ficção (27,6%) e livros de
auto-ajuda (23,8%), no rol de suas preferências de leitura.
TABELA 51 – Proporção de professores, segundo gêneros de leituras
preferidas no tempo livre
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Se tivesse que escolher um livro para ler no seu tempo livre, por qual desses gêneros o(a) sr.(a) optaria?
(1) Dados expandidos.
(2) As respostas não são auto-excludentes.
102
Os professores indicaram com mais veemência seu desinteresse em
relação à novela policial, 66% deles apontando-a como o gênero de
leitura menos interessante para ocupar seu tempo livre.
Já foi atestado que os professores assistem TV com muita freqüência,
o que está registrado na Tabela 49. Especificando o modo como
manifestam esse interesse, foram levantados dados a respeito das
modalidades de programas televisivos que preferem. Um contingente
de 36,4% dos professores, a maior proporção deles, indicou preferir os
noticiários, e logo abaixo, 28,3% deles afirmaram gostar mais de
documentários. O tipo de programa de que menos gostam é o de
“esportes” (32,3%), provavelmente, como menos preferido, talvez por
haver predominância de mulheres no professorado, seguido das novelas,
indicadas por 27,8% como gênero de que não gostam.
TABELA 52 – Proporção de professores, segundo tipos de programas
televisivos preferidos
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Se tivesse que escolher um programa de TV para assistir, qual dos gêneros abaixo o(a) sr.(a)
escolheria?
(1) Dados expandidos.
É interessante observar que alguns tipos de programas que costumam
ter grande audiência, como as novelas e as minisséries, não são incluídos
pelos professores entre os seus favoritos. Isso não significa que não
assistam a esses programas, mas apenas que não os consideram
especialmente interessantes. A preferência por noticiários e
documentários talvez indique desejo de manter-se informado, o que,
103
de alguma maneira, pode contribuir para um melhor desempenho de
suas atividades profissionais.
Vale considerar que, embora os maiores índices de audiência
televisiva no Brasil situem-se no horário noturno, particularmente
quando são veiculadas as novelas, os professores secundarizam o fato
de que vêem esse tipo de programa. Carneiro, apud Citelli (1999),
apresenta pesquisa realizada com professores em Goiás, Minas Gerais
e no Distrito Federal, revelando que apesar de a maioria absoluta declarar
que assiste à televisão, são indicados como preferenciais: (1º) telejornais,
(2º) filmes, (3º) documentários, (4º) entrevistas e (5º) educativos. Nessa
relação, a novela não tem aparecido como um dos gêneros de mais
audiência, o que, para Carneiro, apud Citelli (1999: 9), poderia se
justificar pela hipótese de que os docentes temem comprometer a sua
imagem intelectual, porque a telenovela é aceita no descompromisso do
entretenimento e formalmente negada como “seriedade” no interpretar e no educar.
Nessa perspectiva, professores podem omitir informações sobre o ato
de assistir à novela por insegurança, devido à natureza complexa da
TV, vinculada ao entretenimento, sem um valor social relacionado com
o conhecimento.
Ao se observarem os dados a partir das categorias de gênero, notam-
se algumas diferenças entre os programas preferidos pelos professores
e pelas professoras. Para os noticiários e os documentários não há
grandes diferenças entre suas indicações, mas para outras categorias
elas são importantes, assim como os programas esportivos, que são
preferidos pelos homens e não costumam ser apreciados pelas mulheres
(13,3% contra 1,5% respectivamente) (Tabela A13 e A14).
Aos professores também foi solicitado que indicassem seu esporte
preferido. A natação é o que tem maior freqüência, apontada por 29,6%
dos professores, seguida de perto pelo futebol, esporte preferido de
27,5% deles. Logo abaixo, o vôlei aparece com 24,4% das indicações.
Importante notar que essas indicações de preferência não se estendem
necessariamente para a prática desses esportes. De fato, as atividades
físicas e esportivas parecem não constituir hábito dos professores: como
visto, 17,8% afirmam praticá-las diariamente, enquanto 34,5% declaram
que nunca as praticam.
104
TABELA 53 – Proporção de professores, segundo esportes preferidos
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Dos esportes abaixo, qual o(a) sr.(a) prefere?
(1) Dados expandidos.
Por outro lado, quando solicitados a indicar o esporte de que menos
gostam, a maioria dos professores assinalou o boxe (35,5%) e, em
seguida, o golfe (20,7%), esportes de fato bastante distantes de sua
tradição. As menores proporções de rejeição referem-se ao tênis (1,5%),
ao basquete (0,9%), à natação (0,8%) e ao vôlei (0,7%).
Alterações consideráveis nesse quadro ocorrem quando os dados são
segmentados por gênero. Seguindo tendência encontrada na população
brasileira, os homens preferem, em primeiro lugar, o futebol, seguido
pela natação e pelo vôlei, enquanto as mulheres preferem a natação,
seguida pelo vôlei e pelo futebol (Tabela A15).
2.4.3 Participação dos Professores em Associações
A fim de verificar se têm o hábito de participar de algum tipo de
associação, foi solicitado aos docentes que apontassem com que
freqüência se envolvem com essas atividades e se estão filiados a
organizações ou entidades que promovem atividades associativas.
105
Quanto à participação em associações ou clubes esportivos, 43,0%
dos entrevistados responderam que nunca foram filiados ou
associados a eles. Contrapondo esse dado ao de freqüência a clubes
(Tabela A16), vê-se que 13,4% deles dizem freqüentá-los
habitualmente como associados e 23,8% afirma ir a clubes pelo
menos uma vez por mês.
Com uma taxa de participação um pouco mais alta que a
observada em relação aos clubes, aparecem os sindicatos. Segundo
a pesquisa, 16,0% dos professores participam habitualmente de
sindicatos. Entretanto, a parcela dos que nunca foram ao sindicato
chega perto da metade (49,6%).
Não participar do sindicato não significa, necessariamente, que
não se freqüentem as ações sindicais relevantes para garantir e criar
direitos para a categoria, as atividades sindicais e a própria filiação
ao sindicato não se constituindo, assim, como medidas diretas do
nível de adesão e participação dos professores no movimento
sindical.
Das entidades filantrópicas, 57,9% dos professores nunca
participaram. As associações de bairro (vizinhança, de fomento, etc.)
são freqüentadas habitualmente por 5,5% dos professores. Um
contingente de 60,1% deles afirma nunca ter ido a tais locais. Do
mesmo modo, os centros culturais (musical, cineclube etc.) são
habitualmente freqüentados por 7,2% dos professores. Em
contrapartida, 47,4% nunca foram a eles. Com níveis de freqüência
aproximados, aparecem os partidos políticos, que, segundo as
informações fornecidas, são freqüentados habitualmente por 6,6%
dos docentes, contra 67,5% que nunca participam. Nesse caso, como
no dos sindicatos, a freqüência não traduz o vínculo que os
professores possam estabelecer com eles, calcados em ações e
atitudes não vinculadas à presença no espaço físico, participação
em atividades regulares ou na rede de sociabilidade a eles referidas.
A participação e o envolvimento na sua paróquia ou associação
religiosa é a atividade associativa mais freqüentemente assinalada
pelos professores: 40,8% dos entrevistados declaram freqüentá-las
habitualmente frente a 19,8% que afirmam nunca ir a esses eventos.
106
Ao se desagregarem os dados por dependência administrativa das
escolas em que atuam, algumas observações podem ser feitas. Em
primeiro lugar, percebe-se que os professores das escolas privadas são
os que, em maior proporção, freqüentam as associações de cultura e
lazer, como os clubes esportivos e os centros culturais. Isso está de
acordo com o verificado anteriormente: são os professores das escolas
privadas que apresentam os maiores índices de participação em eventos
culturais.
Finalmente, são os professores das escolas públicas os que afirmam
participar com maior freqüência de associações de cunho político e/ou
reivindicatório (Tabela A16): são os que mais participam das associações
de bairro (6,3 %), dos sindicatos (17,4%) e dos partidos políticos (7,0%).
TABELA 54 – Proporção de professores, segundo freqüência da participação
em associações
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: O(a) sr.(a) participa de alguma das seguintes associações ou instituições?
(1) Dados expandidos.
107
Ao estudar a carreira dos professores, Huberman (1992) lista várias
questões que identifica como apaixonantes a respeito desses profissionais
e que considera serem do interesse daqueles envolvidos no tema da
educação. Algumas delas remetem à percepção dos próprios docentes
sobre sua inserção no ofício de educar, o contexto em que vivem e os
distintos momentos de sua trajetória.
Será que há ‘fases’ ou ‘estágios’ no ensino? Será que um grande número de
professores passam pelas mesmas etapas, as mesmas crises, os mesmos
acontecimentos, o mesmo termo de carreira, independentemente da
‘geração’ a que pertencem, ou haverá percursos diferentes, de acordo com
o momento histórico da carreira?
As pessoas estão mais ou menos satisfeitas com a sua carreira, em momentos
precisos da sua vida de professores? (...) Se fosse preciso fazer uma nova
opção profissional, as pessoas continuariam a escolher o ensino?
Será que as pessoas, como insinua a sociologia institucional, acabam por se
aproximar cada vez mais da instituição em que trabalham? As pessoas
tornam-se mais prudentes, mais conservadoras, mais ‘fatalistas’?
O que é que distingue, ao longo das carreiras, os professores que chegam
ao fim carregados de sofrimento daqueles que o fazem com serenidade? A
partir de que momentos será possível as pessoas aperceberem-se, digamos
mesmo ‘predizer’, do fim da carreira? (Huberman,1992: 35-36).
Certamente, muito se afirma sobre quem são os professores a partir
de um olhar externo a eles, fato que, eventualmente, produz
3. PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES
108
interpretações que pouco revelam de suas próprias visões. Neste
capítulo, com perspectiva semelhante à de Huberman, busca-se conhecer
as percepções dos professores pesquisados sobre as situações vividas
no seu cotidiano, no trabalho e fora dele. Está organizado em três eixos.
O primeiro diz respeito à condição dos docentes em um contexto de
mudanças educacionais, permitindo conhecer o significado mais amplo
que atribuem à educação, à política educacional, às questões curriculares
e ao cotidiano escolar. O segundo trata de como definem seu próprio
papel profissional e atenta às suas opiniões sobre os cursos de formação,
as condições de trabalho, a satisfação profissional e as aspirações
profissionais. Por fim, o terceiro está centrado em temas candentes na
sociedade, como criminalidade, discriminação e juventude.
3.1 SOBRE A EDUCAÇÃO, A POLÍTICA EDUCACIONAL E O
CURRÍCULO
Como já destacado anteriormente, um tema recorrente no debate
sobre as questões relativas à educação é o impacto das atuais
transformações econômicas, políticas, sociais e culturais no ensino,
notadamente no que concerne ao papel da escola e dos professores. O
processo de globalização da ordem econômica e tecnológica vem
transformando as relações sociais e, conseqüentemente, trazendo novos
desafios para a educação. Neste contexto, conhecer a percepção dos
membros da comunidade escolar sobre os objetivos e finalidades da
educação é um pré-requisito para o estabelecimento de políticas que
qualifiquem o trabalho dos profissionais de ensino.
Assim, com a perspectiva de captar a opinião dos professores
pesquisados sobre as finalidades da educação, foi a eles apresentado
um rol de alternativas, dentre as quais deveriam escolher as duas que
considerassem mais importantes e as duas que considerassem menos
importantes.
De acordo com os docentes, como se observa na Tabela 55, as duas
mais importantes finalidades da educação seriam formar cidadãos conscientes
(72,2%) e desenvolver a criatividade e o espírito crítico (60,5%).
109
A opção por essas duas finalidades revela uma acentuada preocupação
com a formação de atitudes e valores dos estudantes, tanto em termos
de atuação coletiva quanto individual, evidenciando uma tentativa dos
professores de corresponder às idéias hoje correntes no campo
educacional, que valorizam a questão da cidadania e a da formação do
cidadão. Se, por um lado, tal posição pode estar sintonizada com o ideário
educacional vigente, por outro, nota-se a pouca importância atribuída às
finalidades transmitir conhecimentos atualizados e relevantes (16,7%) e
proporcionar conhecimentos básicos (8,9%), esta última posicionando-se em
quarto lugar na lista de finalidades consideradas como menos importantes,
com a manifestação de 21,4% dos professores. Tal dado pode estar
relacionado com a severa crítica que vem circulando na área das ciências
humanas e sociais sobre o ensino conteudístico, em que o papel do
professor estaria restrito a mero transmissor de conhecimentos, de forma
TABELA 55 – Proporção de professores, segundo opinião sobre as
finalidades mais e menos importantes a serem alçadas pela educação
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Na sua opinião, quais são as finalidades mais importantes a serem alçadas pela educação?
E as menos importantes?
(1) Dados expandidos.
110
mecânica e pouco reflexiva. Neste contexto, existe uma tendência a não
se valorizarem essas finalidades da educação a esse grupo de professores,
optando-se, então, por questões afetas a outras dimensões educacionais
e sociais, como, por exemplo, desenvolver a criatividade e o espírito crítico dos
alunos ou a formação de professores conscientes. Na verdade, conforme aponta
Ireland (2004: 69), tal debate pode estar secundarizando uma das tarefas
básicas da escola, sua função clássica: socializar o saber sistematizado que faz
parte da herança da humanidade.
As duas finalidades da educação consideradas como menos
importantes seriam selecionar os indivíduos mais capacitados (66,1%) e criar
hábitos de comportamento (27,9%). Vale, aqui, relacionar a opção por essas
duas alternativas com uma posição possivelmente menos elitista dos
professores no que tange ao papel da escola nos dias de hoje. Recorda-
se, ainda, o fato de ser recorrente, como comprova estudo recente da
UNESCO sobre o ensino médio (ABRAMOVAY e CASTRO, 2003), a
reclamação de educadores da rede pública em relação à perda do caráter
profissionalizante que essa modalidade comportava anteriormente à
atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação.
Em que pese essa observação, ao se abordar a política educacional
adotada no Brasil na segunda metade da década de 1990, observa-se
que os professores apresentam um acentuado grau de concordância com
seus principais aspectos, como pode ser visto na Tabela 56. Em geral, o
grau de concordância dos docentes com cada um dos itens analisados
sobre o tema apresenta pequena variação, em função de diversas
características: sexo, idade, renda familiar, porte dos municípios e tipo
de dependência administrativa da escola onde lecionam. Tais
características não teriam relação significativa com a avaliação que
realizam os professores sobre os aspectos da política educacional
analisados, salvo em casos específicos.
Na discriminação dos aspectos da LDB considerados, optou-se pela
referência às políticas concretizadas em consonância com a Lei
24
.
24
São as seguintes: (1) PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais, a partir do Art. 26º, que
define: “os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum,
a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte
diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da
111
A institucionalização da participação dos profissionais da educação
na elaboração do projeto pedagógico constitui um marco importante na
gestão democrática do ensino público na educação básica e na
construção da autonomia da escola. Como era de se esperar, houve um
elevado grau de concordância dos professores com essa inovação trazida
pela LDB (90,9%).
Outra mudança introduzida pela LDB e bem aceita pelos docentes é
a nova estrutura da educação básica, que passou a englobar a educação
infantil, o ensino fundamental e o ensino médio. Essa estrutura, que
implica a expansão das matrículas para além da escolaridade obrigatória
de nível fundamental, é aprovada por 87,7% dos professores.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais, elaborados com o intuito de
estabelecer competências e diretrizes norteadoras do conteúdo
curricular da educação, receberam a aprovação de 86,2% dos professores.
Entretanto, cerca de 8,6% deles – o que representa 146.401 pessoas,
em números absolutos – manifestam discordância. Vale destacar que,
TABELA 56 – Proporção de professores, segundo grau de concordância
com os aspectos da LDB
1
¹– 2002
economia e da clientela”; (2) PNE – Plano Nacional de Educação, a partir do Art 9º que
define: “A União incumbir-se-á de: I - Elaborar o Plano Nacional de Educação (...)”; (3)
FUNDEF – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização
do Magistério, a partir do Art 9º, que define: “A União incumbir-se-á de: III – prestar
assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para o
desenvolvimento de seus sistemas de ensino e o atendimento prioritário à escolaridade
obrigatória, exercendo sua função redistributiva e supletiva”.
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Manifeste seu grau de acordo ou desacordo com os seguintes aspectos da Lei de Diretrizes e
Bases – LDB.
(1) Dados expandidos.
112
em diversos estudos, têm sido registradas críticas aos PCNs (SANTOS,
2002; LOPES, 2002, entre outros).
Assim como nos tópicos anteriores, um percentual bastante elevado
de professores concorda com a criação do FUNDEF (79,6%). Esse
percentual, conforme a Tabela A17, é ligeiramente maior entre os
professores do Norte e do Nordeste (87%), onde, historicamente, os
salários dos docentes da educação básica são inferiores aos vigentes
em outras áreas do país. É possível que isso ocorra pelo fato de seus
professores serem mais afetados positivamente pelo FUNDEF
25
.
O Plano Nacional de Educação, elaborado pela União em colaboração
com a sociedade civil, recebeu o aval de 74,8% dos professores. De todos
os aspectos da política nacional tratados nesse item, o PNE é o que
apresenta o maior percentual de “não opinou” (14,5%). O fato de ser
maior o percentual daqueles que não opinaram do que o dos que
discordaram (10,6%) reflete, provavelmente, a possível não-participação
da maioria dos professores entrevistados no processo de debates e
consultas que culminou com a sua aprovação, pelas próprias limitações
existentes a uma presença mais ampla da categoria nas discussões. Esses
dados mostram que, apesar de o tema estar sendo discutido há alguns
anos e de o PNE ter sido aprovado pouco mais de um ano antes do início
da coleta de informações desta pesquisa, parcela significativa dos
docentes o desconhecem ou não quiseram opinar sobre ele.
Dentre as principais ações do Ministério da Educação, o SAEB –
Sistema de Avaliação da Educação Básica – é, provavelmente, uma das
mais polêmicas. Como as propostas de avaliação da educação foram
implantadas concomitantemente com as medidas que visavam à
25
Com o FUNDEF, implantado em 1998, destinou-se cerca de 1,5% do PIB brasileiro ao
ensino fundamental público. São recursos vinculados à Educação, por força do disposto no
artigo 212 da Constituição Federal, transferidos regular e automaticamente aos governos
estaduais e municipais, com base no número de alunos matriculados em cada uma de suas
redes de ensino. O Fundo tem especial importância para municípios e estados onde a receita
originalmente gerada não é suficiente para a garantia de um valor por aluno/ano igual ou
superior ao determinado oficialmente pelo Governo, como é o caso da maior parte dos estados
nordestinos. Em 2002, segundo o Ministério da Educação, esse valor era de R$ 418,00, para
alunos de 1ª a 4ª séries, e de R$ 438,90, para os de 5ª a 8ª séries e da Educação Especial.
113
expansão da educação básica, elas foram percebidas como parte de um
mesmo movimento reformista que dominou o debate público sobre
educação na segunda metade da década de 1990. De todos os aspectos
da política educacional abordados neste estudo, o SAEB foi o que
recebeu o menor percentual de aprovação entre os professores –
1.105.663 em números absolutos, equivalentes a 65,1% do total, sendo
também o segundo menos conhecido, ou sobre o qual 13,3% dos
pesquisados – o que significa 225.885 pessoas – não quiseram opinar.
Com relação à percepção dos professores sobre os efeitos da LDB
nas suas condições de trabalho, nota-se, de uma forma geral, que eles
vêem os impactos de forma favorável. Dos sete efeitos apresentados
aos docentes, quatro foram avaliados positivamente por mais da metade
deles, conforme se verifica na Tabela 57.
Assim, aproximadamente 60% dos professores julgam que os
impactos mais positivos da LDB incidiram sobre inovações pedagógicas e
democratização do acesso à educação.
TABELA 57 – Proporção de professores, segundo o impacto da LDB em
aspectos da rotina escolar
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Em termos gerais, qual foi o impacto da LDB em cada um dos seguintes aspectos?
(1) Dados expandidos.
114
Para mais da metade dos professores, a LDB teve impactos positivos
na organização do ensino (52,4%) e na participação dos professores na tomada
de decisões (52,1%). De fato, a LDB estipula que os sistemas de ensino
devem definir normas de gestão democrática que garantam a
participação dos profissionais de educação na elaboração do projeto
pedagógico da escola. Como apontam os resultados desta pesquisa, essa
medida é muito bem-vinda pelos professores.
Juntamente com a democratização do acesso ao ensino, a qualidade
da educação constituiu a pedra de toque da reforma educacional
implantada no Brasil na segunda metade da década de 1990. Qualidade
é um termo polissêmico, com distintos significados para os profissionais
da educação. Isso fornece uma pista para interpretar a dispersão das
respostas sobre o impacto da LDB nesse aspecto. Considerado um
impacto positivo por 46,4% dos professores, esse percentual é
praticamente idêntico ao observado com a soma dos que o consideram
negativo (24,7%) ou neutro (20,5%).
Cerca de 40% dos docentes consideram que a LDB teve impacto
positivo nas condições de trabalho e na infra-estrutura do estabelecimento onde
lecionam. Em ambos os casos, esse percentual é inferior ao obtido com
a soma dos percentuais relativos às opções neutro ou negativo. Isto sugere
que a LDB teve repercussão bastante limitada nestes aspectos da
educação, segundo os pesquisados.
Os docentes, como se observa, avaliam como predominantemente
positivos os efeitos da LDB. Seu impacto maior se refere às inovações
pedagógicas, à democratização do acesso à educação e à organização
do ensino. Sua participação na tomada de decisões indica que, para a
maioria, seu papel se fortaleceu com a nova legislação. Os itens em que
há menor concordância são aqueles que dependem menos das normas e
mais de uma teia intrincada de fatores, em que são vitais as opções
tomadas pelos gestores dos sistemas de ensino e redes escolares: a
qualidade da educação, a infra-estrutura do estabelecimento e as
condições de trabalho.
No que tange especificamente ao currículo escolar, aspecto bastante
trabalhado pela LDB, os professores aprovam a inclusão de temas ligados
à conjuntura e às questões atuais. Dos sete temas apresentados no
115
questionário, seis obtiveram percentuais acima de 85%, como se observa
na Tabela 58. Apenas religião, um tema bastante polêmico, principalmente
quando se considera que a escola pública brasileira é laica, apresentou
percentuais em torno de 65,7%.
As variáveis demográficas, segundo as quais os docentes foram
agrupados, exercem pouca influência sobre sua percepção acerca dos
temas tratados na escola. Assim, a ordem dos temas considerados
apropriados ao currículo escolar permanece praticamente inalterada em
TABELA 58 – Proporção de professores, por dependência administrativa
da escola
1
, segundo opinião sobre temas a serem tratados na escola
2
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: O(a) sr.(a) concorda ou não concorda que estes temas sejam tratados nas escolas?
(1) As escolas privadas religiosas foram retiradas da análise.
(2) Dados expandidos.
116
função do sexo, da idade, da região geográfica, da renda familiar, da
dependência administrativa ou do nível de ensino no qual lecionam.
Em geral, pode-se constatar que a maioria dos professores concorda
com a introdução de temas da atualidade no currículo, tais como
prevenção ao uso de drogas, saúde reprodutiva e violência. Essa postura
pode estar relacionada tanto à sua identificação com concepções mais
atuais da função docente quanto às situações potencialmente
problemáticas que enfrentam cotidianamente na escola.
Com vistas a um rápido diagnóstico de diversas contingências tidas
como problemáticas para o bom desempenho desses professores no dia-
a-dia, apresentou-se a eles uma lista contendo treze situações, dentre
as quais deveriam apontar aquelas que, na sua opinião, representam um
empecilho ao ensino (Tabela 59).
TABELA 59 – Proporção de professores, segundo opinião sobre
situações que representam ou não um problema em seu trabalho diário
na escola
1
– 2002
117
A situação que os professores mais consideram como um problema
para o exercício de suas atividades profissionais é o tempo disponível para
a correção de provas, cadernos etc. (69,3%). A segunda situação mais
mencionada é o tempo disponível para o desenvolvimento das tarefas (54,9%).
A terceira é manter a disciplina entre os alunos (54,8%). As características
sociais dos alunos (51,7%) e a relação com os pais (44,8%), ocupam,
respectivamente, a quarta e a quinta posição.
Observa-se que as situações mais apontadas como problema pelos
professores remetem ao plano do exercício de suas atividades
cotidianas. A questão do tempo disponível para verificação dos trabalhos do
aluno é, em parte, um problema administrativo, com vastos reflexos
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Diariamente, os professores enfrentam uma multiplicidade de situações nas escolas. Da lista
que se apresenta abaixo, pedimos que indique quais representam um problema, para o(a) sr.(a), em seu trabalho diário e quais não.
(1) Dados expandidos.
TABELA 59 – (continuação)
118
pedagógicos. A que se refere ao tempo disponível para instrução lembra
currículos compartimentados e congestionados de conteúdos. A que
se volta à capacidade de manter a disciplina entre os alunos remete à
ordem em sala de aula, necessária para que se alcancem os objetivos
educacionais. Finalmente, ao assinalarem as características sociais dos
alunos e a relação com os pais, os docentes mostram que ainda creditam
a fatores indiretamente relacionados à prática educativa questões que
nem sempre se encontram relacionadas a tais fatores, estando
eventualmente afetas à pouca habilidade da própria escola em lidar
com elas.
Ressalte-se, ainda, que diversas pesquisas recentes desenvolvidas
pela UNESCO apontam a culpabilização da família como recorrente
entre os professores no momento de creditar responsabilidades em
relação aos resultados do trabalho escolar junto aos alunos
(ABRAMOVAY e CASTRO, 2003; ABRAMOVAY et al., 2003a;
ABRAMOVAY et al., 2001).
A questão do alcance dos objetivos educacionais passa,
fundamentalmente, pelos fatores que influenciam a aprendizagem,
tornando-se necessário, para a construção de estratégias e proposições
para melhorar a educação, compreender de forma apurada a percepção
que deles têm os docentes. Com tal objetivo, apresentou-se aos
pesquisados uma lista com seis fatores e solicitou-se que escolhessem
os dois considerados como mais importantes.
O primeiro aspecto a ser destacado é o fato de a totalidade dos
professores ter se manifestado sobre o tema. Diferentemente de outras
questões, em que percentuais significativos de docentes não opinaram,
todos eles indicaram os dois fatores que consideram mais influentes
para a aprendizagem.
O segundo aspecto que chama a atenção é o elevado grau de
convergência dos professores a esses fatores. A ordem permanece
praticamente inalterada em função das diferenças de renda (Tabela 60).
Os professores consideram acompanhamento e apoio da família como
o fator que mais influencia a aprendizagem dos alunos (78,3%), o que
demonstra, mais uma vez, o peso que dão ao papel dos pais e/ou
responsáveis no processo educativo.
119
A literatura sobre o tema e os dados estatísticos fortalecem o papel
da família como promotora da aprendizagem e potencializadora dos
efeitos benéficos da escola sobre o estudante. Tangri e Moles (1987),
embora reconheçam a multiplicidade de impedimentos à aproximação
entre a escola e a família, enumeram estratégias e iniciativas que
promovem e aumentam o envolvimento entre ambas. Recente pesquisa
desenvolvida pela UNESCO
26
aborda os diferentes níveis de
participação da família e da comunidade no ambiente escolar e destaca
TABELA 60 – Proporção de professores, por renda familiar mensal, segundo
indicação de fatores que influenciam a aprendizagem
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Existem diversos fatores que influenciam a aprendizagem. Da lista seguinte, escolha os dois
que o(a) sr.(a) considera mais importantes ( Marque os dois mais importantes )
(1) Dados expandidos.
26
Escolas Inovadoras: experiências bem-sucedidas em escolas públicas, Abramovay et al., 2003b.
120
que, quando as relações são mais positivas e compartilhadas, todos –
corpo docente e discente – tendem a se sentir mais valorizados,
contribuindo para a melhoria da escola. Da mesma forma, os dados do
SAEB patenteiam o maior rendimento de estudantes de 4ª e 8ª séries
do ensino fundamental e 3ª série do ensino médio, tanto em Português
como em Matemática, quando pais e professores se conhecem
(REZENDE, 2001).
Entretanto, cabe apontar a dissonância desse resultado, se associado
às respostas dadas pelos professores sobre os objetivos e finalidades da
educação. Atribuir a fatores externos à escola o indicativo principal do
sucesso da aprendizagem é, de certa forma, se eximir da
responsabilidade sobre a aprendizagem dos alunos. Tal afirmativa
corrobora, mais uma vez, o fato de que o discurso proferido – crenças,
idéias e valores – nem sempre corresponde à realidade vivida.
Arelação professor/aluno é o segundo fator considerado pelos docentes como
mais importante para a aprendizagem (53,9%). O papel da relação interpessoal
entre o professor e o aluno na aprendizagem não pode ser subestimado. Essa
relação foi estudada por Carkhuff, Berenson e Pierce (1977) em numerosas
salas de aula nos Estados Unidos. Eles concluem que as crianças apresentam
dificuldades para aprender com professores de que não gostam.
Em terceiro lugar, com 31,9% de menções, aparece a competência do
professor como fator de influência na aprendizagem dos alunos.
Esses dados indicam claramente que os professores ainda transferem
a responsabilidade do sucesso da aprendizagem dos alunos para fatores
que escapam à sua ordem de competência. Essa opção fortalece uma
concepção conservadora de educação, que mantém a instituição escolar
e o corpo docente numa posição intocável – qualquer tipo de fracasso é
atribuído ao que está aparentemente fora dela: os alunos e suas famílias.
Infra-estrutura, equipamento e condições físicas da escola compõem o quarto
fator considerado em termos de influência na aprendizagem (14,8%).
É possível que a insatisfação com as condições físicas e materiais para
o exercício do magistério traga dificuldades ao trabalho docente.
Ao se analisar a situação do quinto fator apontado pelos professores
como mais influente no processo de aprendizagem, a gestão da escola,
percebe-se o quanto eles podem estar pouco atentos à importância desse
121
aspecto para o sucesso da educação, visto que apenas 9,7% o
consideraram. Tal fato poderia ser explicado pela ainda pequena
participação que a maior parte dos docentes têm na definição das
diretrizes político-pedagógicas de suas escolas.
Finalmente, o fator menos apontado como importante para a
aprendizagem, nível econômico e social da família do aluno (7,1%),
apresenta proporções baixas em relação aos demais. Em certa medida,
esse dado se contrapõe a resultados de estudos que apontam a
importância de fatores tais como nível econômico e social da família
do aluno – em especial a escolarização da mãe – sobre o rendimento
escolar dos alunos (COSTA, 1990).
Na percepção dos professores, fica claro que os fatores interpessoais,
como o acompanhamento da família e a relação com os alunos, exercem
mais influência no processo de aprendizagem do que fatores técnicos,
tais como a competência do docente, a forma de gerenciamento da escola
ou a sua infra-estrutura física.
Ainda no campo da aprendizagem, torna-se importante conhecer as
posições dos docentes sobre a introdução da informática na educação. A
reduzida disponibilidade de dados sobre os limites e as possibilidades de
tal recurso no processo educacional, no Brasil, gera a necessidade de se
compreender como se dá sua relação com o universo da tecnologia e da
informática.
Conforme a Tabela 61, chama a atenção o fato de que 50,5% deles
não têm computador em casa. O percentual de docentes que possuem
esse bem – 49,5%, no geral – cresce à medida que aumenta sua renda
familiar: enquanto 2,8% dos professores com renda familiar de até 2
salários mínimos possuem computador no domicílio, 91,7% dos que têm
renda familiar acima de 20 salários mínimos usufruem dessa facilidade.
Dos professores que possuem computador em casa, aproximadamente
três quartos têm, também, acesso doméstico à internet. Igualmente, o
acesso à internet é mais freqüente entre os professores com renda familiar
acima de 20 salários mínimos (89,7%) e menos usual entre as famílias
que auferem menos de dois salários mínimos (66,7%) e entre 2 a 5
salários mínimos (52,8%). Ou seja, dos professores com menor renda
familiar, cerca de 3% possuem computador em casa e, destes,
aproximadamente 70% têm acesso à Internet (Tabela 62).
122
Em geral, os professores têm uma visão positiva a respeito dos efeitos
das novas tecnologias de informação sobre o trabalho docente. Dos
seis efeitos apresentados no questionário, quatro podem ser classificados
como desejáveis e dois como indesejáveis.
O grau de concordância com os efeitos indesejáveis das novas
tecnologias de informação sobre o trabalho docente também está
fortemente relacionado com a renda familiar mensal (Tabela 63). O
percentual de professores que concordam que as novas tecnologias de
informação vão substituir parcialmente o trabalho dos professores nas aulas
cai de 29,8%, assinalados pelos professores com renda familiar de até 2
salários mínimos, para 17,9%, entre aqueles com renda familiar superior
a 20 salários mínimos. O percentual dos que concordam que as novas
tecnologias de informação vão promover a desumanização do ensino e das
TABELA 61 – Proporção de professores, por renda familiar mensal, segundo
a existência de computador em casa
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Na sua casa, existe computador?
(1) Dados expandidos.
TABELA 62 – Proporção de professores, por renda familiar mensal, segundo
o acesso à Internet em casa
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: O(a) sr.(a) tem acesso à internet na sua casa?
(1) Dados expandidos.
123
instituições pedagógicas cai de 19,5%, entre os professores com renda
familiar de até 2 salários mínimos, para 13,1%, entre aqueles com renda
familiar superior a 20 salários mínimos. O maior grau de concordância
dos professores localizados nos estratos econômicos mais baixos com
os efeitos indesejáveis das novas tecnologias de informação sobre o
trabalho docente pode ser atribuído, entre outros motivos, ao fato de
poucos deles possuírem computador em casa e, muito provavelmente,
estarem pouco familiarizados com a utilização do recurso.
Com esses dados, pode-se concluir que os professores acreditam que
a introdução de novas tecnologias de informação engendrará impactos
positivos na educação, mas não substituirá o fator humano no processo
de ensino e aprendizagem.
TABELA 63 – Proporção de professores, por renda familiar mensal, segundo
opinião sobre os efeitos das novas tecnologias de informação sobre a
educação
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Em relação aos efeitos que teriam as novas tecnologias de informação (computadores, internet,
ensino programado, ensino a distância, etc.) sobre o trabalho docente, o(a) sr.(a) concorda ou não concorda com as seguintes afirmações?
(1) Dados expandidos.
124
Antes do computador, o rádio e a televisão foram adotados como
instrumentos de alfabetização em vários estados brasileiros e em
outros países. Nos últimos anos, a informática assume um papel de
relevo como agente de instrução, mesmo para os estratos econômicos
de menor renda. O debate sobre o papel, o mérito e as vantagens da
utilização do computador como instrumento facilitador da
aprendizagem ainda mobiliza a literatura especializada e as discussões
sobre políticas públicas em todo o mundo. Nos países onde a infra-
estrutura das escolas de ensino médio e fundamental já não mais exige
grandes dispêndios com a aquisição de computadores, e a conexão à
Internet é muito difundida, o debate está centrado sobre os efeitos
pedagógicos e sobre os resultados acadêmicos da utilização da nova
tecnologia.
Um número cada vez maior de pesquisas sobre a influência da
informática na aprendizagem vem sendo realizado. Em geral, os
estudos mostram que os efeitos da informática na educação ocorrem
pela ampliação do acesso à informação e na comunicação entre
professor e aluno.
A conexão entre esses efeitos e variações na aprendizagem não
está ainda plenamente estabelecida, particularmente pelas dificuldades
de isolar esses fatores na complexa rede de elementos que atuam sobre
a aprendizagem. Há, entretanto, convergência nos estudos que
ressaltam as alterações nos atores do processo educacional,
particularmente o papel estratégico que desempenham os professores
para que as novas tecnologias possam realizar suas promessas com
relação ao ensino-aprendizagem
27
.A pesquisa mostra que os
professores são favoráveis ao ingresso da informática na escola.
27
Uma ilustração da literatura mais recente sobre o tema é o relatório final do projeto
“Monitoring and evaluation of research in learning innovations (MERLIN)”, que estudou
a questão do uso das tecnologias de informação e comunicação em países da Comunidade
Européia e foi concluído em agosto de 2002. O texto completo do relatório final pode ser
obtido no seguinte endereço:
http://www.ub.edu/euelearning/merlin/docs/
finalreprt.pdf
125
3.2 SOBRE O PAPEL DOS PROFESSORES, OS CURSOS DE
FORMAÇÃO, AS CONDIÇÕES DE TRABALHO, A SATISFAÇÃO
PROFISSIONAL E AS ASPIRAÇÕES PROFISSIONAIS
3.2.1 SOBRE O PAPEL DOS PROFESSORES
Em uma instituição com múltiplas finalidades como é a escola, é de
se afirmar que exista também uma multiplicidade de papéis atribuídos
aos professores, que precisam ser conhecidos e compreendidos para
que se elaborem estratégias para a formação e a qualificação profissional.
Assim, com o intuito de conhecer melhor as características que o
professor deve ter, o questionário apresentou aos entrevistados duas
definições básicas, quais sejam:
A: O professor é, antes de tudo, um transmissor de cultura e
conhecimento;
B: O professor é, sobretudo, um facilitador da aprendizagem dos
alunos.
O primeiro enunciado pode expressar uma visão “bancária”
28
do papel
dos docentes, que implicaria estarem os conteúdos previamente
alinhavados, os objetivos definidos e o comportamento dos alunos
definido por uma matriz pré-estabelecida. Nesse caso, cabe ao professor
transmitir o “pacote” do conhecimento. O segundo enunciado reflete
concepções afetas ao professor como mediador do processo de aquisição
do conhecimento, surgidas na segunda metade do século XX, segundo
as quais a função do professor é, essencialmente, a de criar condições
para que a aprendizagem se consubstancie.
Conforme o Gráfico 1, a preferência dos pesquisados orientou-se
fortemente para o segundo enunciado (79,2%). Dessa forma, 17,3%
dos docentes identificam como papel do professor aquele apontado na
primeira afirmação. Um número ainda menor (3,4%) não se identifica
com nenhum dos enunciados apresentados. O forte contraste observado
entre as duas definições e o baixo percentual de professores que não se
28
Este termo foi utilizado por Paulo Freire para traduzir uma postura educacional onde o
conhecimento se acumula, em um processo onde o professor e o aluno têm papel secundário.
126
identifica com nenhuma das opções indicam que as alternativas possíveis
em termos de função docente estão bem delimitadas. A idéia do
professor como “facilitador” é generalizada em todos os subgrupos que
constituem o universo estudado. Entretanto, sua intensidade varia em
função de certas características dos sujeitos, notadamente a renda
familiar mensal.
É possível, por exemplo, perceber que o grau de concordância com
o segundo enunciado tende a crescer à medida que aumenta a faixa
salarial dos docentes, variando de 67,6% entre os professores com
renda familiar de até 2 salários mínimos ao pico de 84,5% entre aqueles
com renda acima de 20 salários mínimos. Isto sugere que os docentes
situados nos estratos econômicos mais elevados, freqüentemente,
concordam com concepções mais ligadas à cultura do que à
aprendizagem dos alunos.
GRÁFICO 1 – Proporção de professores, por renda familiar mensal, segundo
opinião sobre definições a respeito do papel do professor
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Sobre o papel do professore, existem diversas definições. Qual dessas duas frases aproxima-
se mais de sua opinião?
(1) Dados expandidos.
127
Os movimentos da sociedade constituem parâmetros para a reflexão
sobre o papel do professor e a educação. Os anos 1990 foram marcados
pelo debate em torno desse tema, acentuando-se a concepção de que o
docente deve ter uma formação que o torne um intelectual crítico-
reflexivo da prática pedagógica. A partir das contribuições de diversos
autores (SACRISTÁN, 1995; ZEICHNER, 1993; GIROUX, 1997;
CONTRERAS, 1999), são propostos dois grandes caminhos para a
identidade profissional do professor: o de tecnólogo de ensino e o de
agente social. As respostas à presente pesquisa, observadas em
diferentes passos, sugerem inclinação pronunciada para a identidade
relacionada ao agente social.
A construção de uma nova identidade profissional não se faz apenas
nos cursos de formação, embora eles sejam fundamentais para legitimar
e consolidar a imagem docente. A universalização da educação
fundamental trouxe à tona o debate sobre o papel da escola pública, no
sentido de lidar com uma cultura escolar marcada pela diversidade de
seus alunos, pelas desigualdades existentes entre eles, pelas várias
culturas juvenis, contribuindo, assim, para uma educação mais igualitária.
No que tange ao seu papel político, vale ressaltar que, a partir da
nova LDB, o professor passa a ter reconhecida como uma de suas
funções a de possibilitar aos alunos uma formação cidadã
29
. Para tanto,
faz-se necessário trazer para a sala de aula conteúdos e reflexões sobre
os temas transversais, inseridos no currículo, tais como ética, cidadania,
sexualidade, meio ambiente, entre outros. A política é um desses temas,
considerado, pelos docentes, como bastante controverso.
Perguntou-se aos professores sua posição sobre o desenvolvimento
de temas ligados à política em sala de aula (Tabela 64). Eles foram
solicitados a dar notas de 1 a 10, segundo a concordância com
proposições relacionadas ao assunto, as quais foram classificadas nos
seguintes graus de concordância: muito baixo (0 a 2), baixo (2 a 4), médio
(4 a 6), alto (6 a 8) e muito alto (8 a 10).
29
A formação cidadã é mencionada no Título II da LDB: Dos princípios e fins da educação
nacional. O artigo 2º define como finalidades da educação “o pleno desenvolvimento do educando,
seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (Brasil, 1996).
128
De modo geral, os professores reconhecem a importância de seu
papel no tratamento de tais temas. A proposição que obtém o maior
índice de concordância é a de que o professor deve desenvolver a consciência
social e política das novas gerações, com 72,6% de docentes atribuindo
grau muito alto e 18,4% grau alto. É possível verificar que a maior
proporção de professores que concordam com a proposição em grau
muito alto encontra-se nas faixas intermediárias, de 26 a 55 anos,
embora não existam grandes variações entre as faixas etárias,
conforme a Tabela A18.
Em segundo lugar, aparece a proposição de que o professor deve se
comprometer com a democratização social e política do país, com 62,9% de
respostas no grau muito alto e mais 22,6% no grau alto. Considerando-
se a estrutura etária, é na faixa de 46 e 55 anos que há maior
proporção de pesquisados concordando em grau muito alto com a
proposição.
TABELA 64 – Proporção de professores, segundo o grau de concordância
com afirmações sobre o papel político do professor
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Avalie de 01 a 10, seu grau de acordo com cada uma das seguintes proposições, onde 10
representa o grau máximo de concordância.
(1) Dados expandidos.
129
No terceiro posto vem o professor deve ter a consciência de que o seu
papel é político, com 40,4% de concordância no grau muito alto e 24,1%
no grau alto. A média das notas chega a 7,14. Por faixa etária, são os
mais velhos que concordam em mais alto grau com a proposição.
Já a proposição de que em sala de aula o professor não deve abordar
problemas políticos atuais é a que obtém menor grau de concordância:
47,6% dos professores colocam-na na categoria muito baixo e 10,1%
na categoria muito alto. A escala de concordância se inverte em relação
aos itens anteriores: nesse caso, a média das notas é de 3,87.
Por faixa etária, são os mais novos os que apresentam menor
concordância, pois 51,1% dos professores de 26 a 35 anos e 49,6%
dos de até 25 anos se classificam no grau muito baixo de concordância
com a proposição. Esses resultados são condizentes com os anteriores,
pois todos ressaltam o reconhecimento da importância do
esclarecimento político dos alunos pelos docentes.
Entretanto, há um tema no qual os professores se dividem: é a
proposição de que o professor deve evitar toda forma de militância e
compromisso ideológico em sala de aula. A maioria das respostas se concentra
no grau médio de concordância (24,5%), embora os extremos também
apresentem valores significativos (23,3% em muito alto e 19,9% em
muito baixo). A média das notas também atesta essa divisão: 5,84.
Por faixa etária, são os professores mais velhos os que mais
concordam com a proposição: 30,7% dos acima de 55 anos apresentam
grau muito alto de concordância. Os mais divididos são os mais jovens:
no grau médio de concordância estão 25,5% dos professores até de 25
anos e 25,9% dos professores de 26 a 35 anos. Pode-se perceber que
os docentes se encontram nitidamente divididos quando o assunto
deixa de ser discutir política em sala de aula e passa ao âmbito da
defesa de uma posição política perante os alunos.
Prova de que não há um consenso sobre esse tema entre os
professores é a questão a respeito da opinião sobre o comprometimento
político do professor quando no início da carreira. Para a primeira
proposição, de que a atividade docente deve reger-se pelo princípio da
neutralidade política, 55,2% dos professores dizem que discordavam do
pressuposto no início da carreira, contra 44,8% que dizem que
concordavam, como se verifica na Tabela 65.
130
Com relação à segunda assertiva, de que o trabalho do professor deve
estar associado com um compromisso político, 52,5% dizem que discordavam
e 47,5% dizem que concordavam no início da carreira.
Ainda em relação ao ponto de vista político, os professores foram
perguntados sobre um outro tema que revela seus valores (Tabela 66).
Duas frases foram colocadas, solicitando-se a eles que assinalassem a
que mais se aproxima de sua opinião:
A: Para mim, a liberdade e a igualdade têm a mesma importância. Mas se
tivesse que escolher entre uma e outra, consideraria a liberdade individual como a
mais importante, quer dizer, que cada um possa viver em liberdade e desenvolver-
se sem obstáculos.
O pressuposto de tal afirmação relaciona-se a uma concepção mais
individualista da vida social. No geral, 19,7% dos professores
concordam com ela, em oposição a 75,6%, que dela discordam. Por
faixa etária (Tabela A19), são os professores mais velhos aqueles que
mais concordam com a afirmação, 23,7% na faixa de acima de 55 anos.
Por renda, são os professores com renda familiar de até 2 salários
mínimos, 23,1%, conforme a Tabela A20, em anexo.
B: A liberdade e a igualdade são importantes, mas se tivesse que escolher uma
das duas, consideraria a igualdade como a mais importante, isto é, que ninguém
se veja desfavorecido, e que as diferenças de classe social não sejam tão fortes.
Trata-se, aqui, de uma outra percepção do social: uma concepção
mais igualitária da vida em grupo, em que a existência de
TABELA 65 – Proporção de professores, segundo opiniões sobre o
compromisso político do professor, no início da carreira
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: No início da sua carreira docente, qual era a sua opinião sobre os seguintes enunciados?
(1) Dados expandidos.
131
oportunidades iguais é privilegiada. É nessa assertiva que se concentra
a maioria das respostas dos professores: 75,5% dizem concordar com
ela. Por faixa etária, são os mais jovens que se destacam, 77,4% na
faixa de 26 a 35 anos. Por renda, são aqueles situados na faixa de 2 a
5 salários mínimos, 77,6%.
É significativo que os professores digam se interessar mais por viver
num mundo com menos desigualdade do que em uma situação em que
o “cada um por si” impere. Entretanto, vale ressaltar uma outra opção
para a questão, respondida em proporção pequena, mas com uma
distribuição uniforme: a daqueles que não concordam com nenhuma
das duas frases. No total, 3,2% dos professores marcam essa opção, o
que equivale, em números absolutos, a 54.349 pessoas.
Pode-se perceber que os professores, em consonância com os
preceitos da LDB, assumem a posição de que é seu dever profissional
tratar dos temas relacionados à política na escola. Eles só se dividem
quando a questão passa do esclarecimento político dos alunos à
militância em sala de aula. Vale ressaltar que os docentes assumem
TABELA 66 – Proporção de professores, segundo a concordância com
afirmações sobre liberdade e igualdade
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Qual dessas duas frases mais se aproxima da sua opinião?
(1) Dados expandidos.
132
uma postura predominantemente marcada por ideais igualitários,
condição importante para se formar cidadãos que aceitem e
compartilhem a convivência pluralista das sociedades contemporâneas.
3.2.2 Sobre os Cursos de Formação
Os dados levantados pela pesquisa revelam que a maioria dos
professores, ao serem questionados sobre a instituição mais adequada
para oferecer os cursos de formação inicial aos docentes, está de acordo
com o preceito normativo da LDB, que estabelece as universidades ou
as instituições de educação superior como os agentes mais apropriados
para oferecer formação docente., como mostra a Tabela 67.
TABELA 67 – Proporção de professores, segundo instituição que considera
mais adequada para oferecer formação docente aos professores
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Qual instituição o(a) sr.(a) considera mais adequada para oferecer formação docente aos
professores?
(1) Dados expandidos.
No que diz respeito aos cursos de formação continuada, os
professores também consideram as instituições de ensino superior como
as mais adequadas para prestar esses serviços. A diferença, aqui, é que
as porcentagens de indicação sofrem uma ligeira queda, se comparadas
com a indicação para a formação inicial. Tal queda é, em parte, explicada
pela apresentação de mais alternativas de resposta, no questionário, do
que no caso da formação inicial.
Constata-se também que, quando questionados sobre os estímulos
mais eficazes para o êxito da formação continuada (Tabela 68), os
docentes indicam os estímulos salariais (74,1%) e a promoção na carreira
(57,4%), dando menos importância a diplomas e certificados formais (9,8%).
133
Sobre o conteúdo de um bom programa de aperfeiçoamento (Tabela
69), no geral, os docentes elegem como mais importantes: o nível
profissional dos responsáveis pelo curso (57,9%), o interesse e a pertinência dos
temas (57,5%) e a participação em experiência de grupo (50,1%). Há que se
destacar, no que se refere aos professores com ensino superior, a opção,
em níveis mais acentuados, pelo fator o interesse e a pertinência dos temas,
tanto pelos que têm formação pedagógica (62,3%) quanto pelos que
não têm (48,9%).
Observa-se que a maioria dos professores possui formação docente
(89,3% dos que atuam no ensino fundamental e 89,6% dos que atuam
no ensino médio), em conformidade com o estabelecido pela legislação
em vigor, de acordo com a Tabela 31, anteriormente apresentada.
TABELA 68 – Proporção de professores, por habilitação, segundo a
indicação dos estímulos mais eficazes para formação continuada
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Quais são os estímulos mais eficazes que contribuem para o êxito da formação continuada?
(selecionar até duas opções)
(1) Dados expandidos.
(2) As respostas não são auto-excludentes.
134
Entretanto, as porcentagens de professores sem formação prevista pela
LDB são significativas
30
.
TABELA 69 – Proporção de professores, por habilitação, segundo a indicação
dos pontos importantes para um programa de aperfeiçoamento
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: O mais importante em um bom programa de aperfeiçoamento é – (selecionar até três opções)
(1) Dados expandidos.
(2) As respostas não são auto-excludentes.
30
Segundo o INEP, considerando o grau de formação das funções docentes de 5ª a 8ª séries,
aproximadamente 32% das funções docentes do País não possuem esse grau de formação,
chegando a 59% na Região Norte e 52% na Região Nordeste (Estatísticas dos Professores,
2003 – MEC/INEP).
135
Sobre as percepções a respeito da formação continuada, as opiniões
e expectativas apresentadas indicam que a maioria dos docentes
brasileiros concorda que tais cursos devem ser executados por
instituições de ensino superior, privilegiando, em sua organização, o
nível dos profissionais responsáveis pela sua condução e o interesse e a
pertinência dos temas a serem tratados. Além disso, para a maioria dos
professores, o estímulo mais eficaz na promoção da participação é o
retorno em termos profissionais e salariais. O conjunto dessas
informações oferece importantes indicações a serem consideradas no
planejamento e na implantação de futuros cursos.
3.2.3 Sobre as condições de trabalho, a satisfação e as aspirações profissionais
De um modo geral, os professores concordam com as idéias de
aumentar o tempo e as possibilidades de trabalho em equipe com outros colegas,
tanto em sala de aula como fora dela (87,6%) e favorecer a concentração da
carga horária dos docentes em apenas um estabelecimento (86,7%), como
evidencia a Tabela 70. Em oposição, ressalta-se o fato de as opções
com maior nível de discordância serem prolongar o calendário escolar anual
para melhorar a qualidade do ensino (90,2%) e prolongar a jornada escolar
(80,4%), que implicariam aumento do tempo dedicado ao trabalho pelos
professores.
A esse respeito, é importante ressaltar que a Lei 9.394/96
apresentou um aumento significativo para a carga horária, segundo o
Artigo 24:
A educação básica, nos níveis fundamental e médio, será organizada de
acordo com as seguintes regras comuns: I a carga horária mínima anual
será de oitocentas horas, distribuídas por um mínimo de duzentos dias de
efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos exames finais,
quando houver.
Tal ampliação, prevista na LDB, é resultado de expressiva luta de
educadores, sindicatos, associações de pais e sociedade civil em geral
na defesa do ensino de qualidade, considerando os baixos níveis de
136
escolaridade e a vigência de até quatro turnos escolares em inúmeros
estados e municípios brasileiros. Nessa perspectiva, vários estudos e
autores (COELHO,1996; CAVALIERI, 1996) apontam para o fato de
que o direito á educação de qualidade está relacionado com o acesso e
a permanência na escola. Para Cavalieri (1996) com a necessidade de
uma ampliação das funções da escola, o tempo de permanência diária
dos alunos passou a ser a condição para que a escola possa desempenhar
essas novas atribuições.
Na contramão dessa realidade, que as novas exigências educacionais
impõem, os professores declaram-se contrários à ampliação da
permanência dos alunos na escola, o que pode estar relacionado com
os baixos salários da categoria.
TABELA 70 – Proporção de professores, segundo opinião sobre as possíveis
mudanças nas condições do trabalho docente
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Queremos conhecer sua opinião sobre as possíveis mudanças nas condições do trabalho docente.
Indique seu grau de concordância com cada um dos seguintes enunciados.
(1) Dados expandidos.
O interessante é verificar que, mesmo concordando com aumentar o
tempo e as possibilidades de trabalho em equipe com outros colegas, tanto em sala
de aula como fora dela, poucos são os professores que se declaram
dispostos a participar dessas atividades, caso lhes fossem concedidas
10 horas a mais de remuneração por semana (Tabela 71).
137
É importante destacar, por um lado, a predominância, em todas as
regiões, da opção auto-aperfeiçoamento (ler, buscar novos materiais), escolhida,
no geral, 50,1% dos docentes, seguida da que se refere à formação
continuada (19,7%). Tal resultado estaria revelando a necessidade que
sentem os docentes de investimento em sua formação, face às novas
exigências da educação, e uma possível insatisfação com o que tiveram
até então.
Por outro, chama a atenção o fato de ser notório o desinteresse por
opções ligadas ao trabalho escolar cotidiano e à vida da escola, como
produção de materiais pedagógicos (0,1%), trabalhos de pesquisa (0,2%) e
atividades ligadas aos grêmios (0,3%).
No que tange à satisfação dos professores em relação à sua profissão
(Tabela 72), tendo como termo de comparação o início de sua carreira,
TABELA 71 – Proporção de professores, por região geográfica, segundo
atividades escolhidas para ocupar o tempo extra de dez horas de trabalho
remunerado a mais por semana na escola em que trabalha
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Se dessem dez horas de trabalho remunerado a mais por semana na escola em que trabalha,
quais das seguintes atividades o(a) sr.(a) escolheria para ocupar esse tempo extra? (Escolha as três mais importantes)
(1) Dados expandidos.
138
observa-se que quase metade aponta a opção mais satisfeito(a) agora do
que no início da sua carreira (48,1%) e que 15,3% apontam igualmente
satisfeito(a). Os professores que assinalam a opção menos satisfeito(a)
representam 24,3% e os que assinalam a opção insatisfeito(a) 12,3%,
contingente representativo, visto que significa, em números absolutos,
208.904 pessoas. Entretanto, o que chama a atenção é o fato de, mesmo
em condições de trabalho freqüentemente difíceis, a proporção dos que
se mostram satisfeitos é de 63,4%.
TABELA 72 – Proporção de professores, segundo o grau de satisfação em
relação ao seu trabalho, comparado com o início da carreira docente
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Comparando com o início da sua carreira, em relação ao seu trabalho o(a) sr.(a) diria que está:
(1) Dados expandidos.
Tais resultados permitem estabelecer um contraponto ao crescente
desinteresse dos professores por sua profissão, apontado em diversos
trabalhos, como o de Lapo e Bueno (2002), que abordam a questão da
evasão docente como resultado dos desajustes provocados na identidade
desses profissionais pela perda de referências culturais.
Esse contraponto é corroborado quando se analisam as aspirações
profissionais dos docentes pesquisados em um futuro próximo (Tabela
73). Os professores, em sua maioria – 50,2%, o que equivale a 852.601
pessoas, em números absolutos –, assinalam a opção permanecer na função
atual, na mesma instituição. A segunda opção mais apontada, realizar outra
atividade profissional na área educacional, é da preferência de 25,5% dos
pesquisados, ou seja, de 433.094 pessoas.
Tais proporções revelam que a maior parte dos professores não
pretende, nos próximos anos pelo menos, se ausentar da sala de aula,
seja mesmo por realizar outra atividades na área educacional, seja por dedicar-
se a outra profissão (10,7%).
139
A Tabela 73 mostra, também, as diferenças entre as aspirações dos
docentes segundo as regiões geográficas em que vivem. Como é possível
notar, ainda que a opção permanecer na função atual, na mesma instituição
seja a mais apontada em todas as regiões, enquanto os professores da
Região Sul são os que, proporcionalmente, mais a indicam (56,5%), os
professores da Região Norte são os mais interessados em realizar outra
atividade profissional na área de educação (32,4%), e os da região Centro-
Oeste os mais interessados em dedicar-se a outra profissão (16,1%). Por
sua vez, os professores da Região Sudeste são os principais interessados
em ocupar cargos de direção e administração escolar (9,4%). Tais diferenças
podem ser relevantes no momento de se definir estratégias para a
promoção da carreira docente nessas regiões, ainda mais quando
associadas à habilitação do docente.
A análise por dependência administrativa das escolas em que
trabalham confirma a posição dos professores, tanto na rede pública
quanto na rede privada de ensino, quanto a permanecer na função atual, na
mesma escola. Nas escolas públicas é maior a porcentagem, em
TABELA 73 – Proporção de professores, por região geográfica, segundo a
aspiração profissional para os próximos cinco anos
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Qual a sua principal aspiração profissional para os próximos anos?
(1) Dados expandidos.
140
comparação com as escolas privadas, dos professores que optam por
ela e por dedicar-se a outra profissão, conforme dados da Tabela A21.
No que tange à análise segundo a habilitação dos docentes (Tabela
A22), mais uma vez, a opção permanecer na função atual, na mesma escola
aparece como a mais apontada em todas as categorias. Entretanto,
evidencia-se que os professores com ensino médio com formação
pedagógica são os que, proporcionalmente, mais consideram tal
possibilidade (53,8%), enquanto aqueles com ensino superior sem
formação pedagógica são os que menos a assinalam (45,4%), aparecendo,
em contrapartida, como os que mais se manifestam por dedicar-se a
outra profissão (13,3%).
São ainda os professores com ensino médio com formação pedagógica
os que apontam em maior proporção a opção realizar outra atividade
profissional na área de educação (26,8%).
Resultados igualmente interessantes sobre as aspirações profissionais
dos docentes podem ser observados a partir de uma análise relacionada
ao seu tempo de magistério. Como evidenciado na Tabela 74,
considerando-se a opção permanecer na função atual, na mesma instituição,
os professores entre 21 e 25 anos de magistério são os que mais
manifestam a intenção de permanecer onde estão (63,7%), enquanto
os que têm menos de 4 anos são os que, em menor proporção (40%),
mostram esse desejo, ao mesmo tempo em que os que mais demonstram
buscar algo novo, seja assinalando permanecer na função atual, mas em outra
instituição (12,1%), seja dedicando-se a outra profissão (13,5%). Tal situação
entre esses professores mais novos na profissão pode estar indicando,
também, a possível insatisfação com as condições de trabalho que,
freqüentemente, lhes são impostas no início da carreira – locais mais
distantes e periféricos, turmas iniciais ou problemáticas, entre outras.
Os professores que possuem entre 11 e 15 anos de profissão são os
que demonstram maior pretensão de ocupar cargos de direção e administração
escolar (9,6%). Observa-se que os professores com mais de 25 anos de
profissão, da mesma forma que aqueles com menos de 4, apontam com
destaque a opção dedicar-se a outra profissão (13,5%). Nesse caso, porem,
é possível a hipótese de o desejo de se dedicar a outra atividade
profissional se dever, em parte, à expectativa da aposentadoria, ao
contrário do que ocorre com os iniciantes.
141
As análises aqui apresentadas indicam que, apesar dos problemas que
cercam a profissão na atualidade, os professores não perderam a identificação
com seu trabalho e têm expectativas positivas em relação a ele.
3.3 SOBRE QUESTÕES SOCIAIS EMERGENTES
3.3.1 Sobre comportamentos na esfera pública e privada
Ainda com o intuito de compreender os valores dos professores, em
um sentido mais amplo, eles foram questionados sobre algumas práticas
relacionadas à esfera pública e à privada.
TABELA 74 – Proporção de professores, por tempo de magistério, segundo
a aspiração profissional para os próximos cinco anos
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Qual a sua principal aspiração profissional para os próximos anos?
(1) Dados expandidos.
142
No que concerne à esfera pública, foi apresentada aos pesquisados
uma lista de 10 atos/atitudes, com três opções de marcação: admissível,
indiferente e inadmissível (Tabela 75).
Em sua maioria, os docentes consideram todos os atos/atitudes
apresentados inadmissíveis. A proporção mais baixa refere-se a não
declarar à Receita o total de suas rendas (59,7%). A mais elevada, 98,3%,
diz respeito a danificar bens públicos (orelhões, praças etc.).
Cabe ressaltar que, para dois desses itens, as proporções dos que
consideram admissível ou que se dizem indiferentes a tais comportamentos
estão acima da média: não declarar à Receita o total de suas rendas, além de
ser citado com menor proporção como inadmissível, é considerado um
comportamento admissível para 10,2% dos professores, enquanto 30,1%
se posicionam como indiferentes. O outro item citado acima da média
nessas mesmas categorias é mentir para conseguir um trabalho: admissível
para 10,8% dos professores e indiferente para outros 18,8%.
TABELA 75 – Proporção de professores, segundo a opinião sobre
comportamentos na esfera pública
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: De acordo com o(a) sr.(a), esses comportamentos são admissíveis ou inadmissíveis?
(1) Dados expandidos.
143
No que se refere à esfera privada, os itens foram direcionados
principalmente à relação com drogas e aos comportamentos afetivos e
sexuais. Aqui se nota uma tendência diferente da identificada nas
opiniões sobre comportamentos na esfera pública. Os professores se
mostram menos flexíveis quando as normas de comportamento
socialmente estabelecidas remetem à vida pessoal.
Conforme se observa na Tabela 76, dentre as 9 categorias relacionadas,
6 são consideradas inadmissíveis (com percentuais acima de 50%), enquanto
3 são consideradas admissíveis para a maior parte dos professores. As
proporções dos itens inadmissíveis variam de 59,7% para o item ter relações
homossexuais – que é admissível para 9,4% dos docentes pesquisados – a
96,5% para o item usar drogas pesadas. Destaca-se o fato de que os itens
afetos ao uso da bebida (72,3%), da maconha (83,8%) e de drogas pesadas
(96,5%), bem como o suicídio (92,7%), são aqueles considerados como
inadmissíveis pela maior proporção de professores.
As proporções para os admissíveis vão de 42,3% para o item ter relações
sexuais sem estar casado a 52,5% para o item divorciar-se. Observa-se, por um
lado, que os três itens assim considerados estão situados nos campos afetivo
e sexual. Por outro, percebe-se que as proporções de admissibilidade são
menores que as atingidas pelos itens considerados como inadmissíveis.
Vale ressaltar que o posicionamento indiferente é citado com mais
freqüência nas questões de ordem pessoal do que nas anteriores, relacionadas
à esfera pública. Apesar de não ter alcançado a maior proporção de respostas
em nenhum dos itens, essa posição está bem representada, pois em 6 dos 9
itens ela aparece com proporções variando de 20,9% (para embriagar-se) a
34,5% (para ter relações sexuais sem estar casado).
Na análise por sexo (Tabela A23), não há tendência de variação entre
as professoras e os professores, ocorrendo somente algumas diferenças
mais significativas em determinados itens, tais como: embriagar-se,
considerado inadmissível para 60,0% dos homens e 75,1% das mulheres;
e ter relações sexuais sem estar casado, considerado admissível para 39,9%
das mulheres e 52,4% dos homens. Vale especial menção ao item ter
relacionamento pessoal com uma pessoa casada, considerado inadmissível para
45,6% dos homens e 64,4% das mulheres e considerado admissível para
8,6% das mulheres e 19,2% dos homens
144
TABELA 76 – Proporção de professores, segundo a opinião sobre
comportamentos na esfera privada
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: De acordo com o(a) sr.(a), esses comportamentos são admissíveis ou inadmissíveis?
(1) Dados expandidos.
Outro aspecto a ser destacado é o fato de, na opção admissível, à
exceção do item divorciar-se, as proporções relativas às mulheres serem
sempre inferiores às relativas aos homens. Vale nesse aspecto, atentar
ao fato de que as primeiras parecem considerar em maior proporção
aspectos relacionados à situações pessoais, como a importância de
manter relações estáveis. Maior “liberalidade” sexual parece ser ainda
vista como justificável mais para os homens do que para as mulheres.
3.3.2 Sobre a criminalidade
O aumento dos índices de violência observado nos últimos anos
explica, em parte, a preocupação, quase generalizada, com os aspectos
da segurança pública. Se, por um lado, alguns setores da sociedade
acreditam que as práticas de repressão contribuem para coibir tais ações,
por outro, há um conjunto de pessoas para as quais a solução para esse
tema deve passar por ações de caráter preventivo.
Com o intuito de situar os professores nesse debate, perguntou-se sobre
que soluções haveria para o problema da criminalidade (Tabela 77).
145
As soluções apresentadas podem ser agrupadas em ações de caráter mais
repressivo (aumentar as penas para os delinqüentes e aumentar o número de
policiais) e ações de cunho preventivo (resolver o problema de emprego e melhorar
a educação dos jovens).
TABELA 77 – Proporção de professores, segundo opiniões sobre soluções
para o problema da criminalidade
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Em relação ao problema da delinqüência e da criminalidade, o que o(a) sr.(a) considera mais
adequado fazer? (Escolha apenas uma opção)
(1) Dados expandidos.
A maioria dos professores acredita que a melhor solução é melhorar a
educação dos jovens (52,9%). Em segundo lugar, vem resolver o problema do
emprego, com 36,5% das respostas. Ou seja, coerentemente com sua
função de educadores, as opções de cunho preventivo são as mais
defendidas pelos professores.
3.3.3 Sobre Manifestações de Atitudes de Discriminação
O reconhecimento das diferenças é, nos dias de hoje, uma bandeira
da luta política de diversos grupos sociais. Esse reconhecimento passa
pela aceitação de que, em uma sociedade pluralista, na qual todos têm
os mesmos direitos e deveres, as atitudes de discriminação devem ser
combatidas, ao mesmo tempo em que se devem formar as novas gerações
de acordo com esses preceitos. Nesse sentido, no Plano Nacional de
Combate ao Racismo e à Intolerância (Brasil, 2001), é ressaltada a
importância de se debater essas questões, especialmente no Brasil, dada
a extensa veiculação da idéia de democracia racial e do estereótipo do
146
brasileiro como “homem cordial”, ideologias que acabam por naturalizar
em nossa sociedade as desigualdades historicamente constituídas
31
.
A fim de identificar manifestações de possíveis atitudes de discriminação
em relação a grupos/categorias sociais ou étnicas diferentes, foi perguntado
aos professores se eles se importariam em ter como vizinhos pessoas desses
grupos/categorias (Tabela 78). Para efeito de análise, tais categorias foram
organizadas em dois blocos: um definido a partir do pertencimento a
categorias sociais estigmatizadas – seja por comportamentos diferentes da
dita “normalidade social” ou por condições socioeconômicas – e o outro a
partir de características étnicas ou de origem geográfica.
31
As desigualdades são mensuráveis: de acordo com o PNUD (Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento), o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil, em 1999, situava o
país na 74ª posição na escala mundial. Entretanto, considerando-se somente a população recenseada
como branca, o país ascenderia à 43ª posição. Em situação distinta, caso se levasse em conta apenas
a população negra (classificada como preta e parda nas estatísticas oficiais), a posição brasileira
seria a 108ª, conforme estudos de pesquisadores ligados ao movimento negro (Sant’Anna, 2001).
TABELA 78 – Proporção de professores, segundo opinião a respeito de ter
determinados grupos sociais em sua vizinhança
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Na lista seguinte existem vários grupos de pessoas. Quais dessas pessoas o(a) sr.(a) gostaria
e quais o(a) sr.(a) não gostaria de ter como vizinho?
(1) Dados expandidos.
147
As três possibilidades de respostas apresentadas aos professores
revelam atitudes distintas em relação aos grupos em questão. A opção
indiferente surge em maior proporção para as pessoas com aids
32
(78,8%) e
para alguns dos grupos socialmente estigmatizados, especialmente
aqueles em relação aos quais há campanhas/lutas antipreconceito, como
os homossexuais. Registram-se ainda, com proporções significativas de
respostas, as categorias étnicas, todas acima de 60%.
A categoria a respeito da qual os professores manifestam maior rejeição,
ou seja, a que aparece com maior percentual de respostas na opção não
gostaria, é a dos viciados em drogas (69,2%). Tal índice supera o da opção
indiferente, situação que diferencia essa categoria de todas as demais.
A resposta não gostaria deve receber maior atenção aqui, pois é o
indicador de quais grupos os professores poderiam rejeitar em sua
convivência. Vê-se que as maiores proporções aparecem para os grupos
sociais estigmatizados, com mais de dois quintos dos docentes dizendo
que não gostariam de ter como vizinhos pessoas que já foram presas e/ou
prostitutas. Logo em seguida, e com proporções um pouco menores,
aparecem os extremistas de direita (41,6%) e os extremistas de esquerda (39,6%).
No bloco das categorias étnicas, as proporções para a resposta não
gostaria são bem mais baixas do que no das categorias sociais
estigmatizadas, reflexo, em parte, das lutas antipreconceito, como as
que desenvolve o Movimento Negro, amplamente divulgadas pela
imprensa e da própria complexidade que assumem as formas de racismo,
não admitidas pela maioria da população, que, dentro da ideologia que
identifica a sociedade brasileira como “uma democracia racial”, nega a
existência de qualquer tipo de discriminação dessa ordem.
Por fim, a opção gostaria, que indica uma maior flexibilidade na
aceitação das diferenças, recebe maior proporção de respostas para o
grupos dos idosos (47,5%), embora, no conjunto, as maiores proporções
refiram-se ao bloco das categorias étnicas ou de origem: nordestinos
(35,2%), negros (34,4%) e indígenas (30,4%).
32
Embora esta não seja a denominação mais adequada, preferiu-se adotar, no questionário, a
expressão pessoas com aids, por transmitir de modo mais amplo a idéia da possível manifestação
de atitudes de discriminação em relação aos portadores de HIV.
148
Por faixa etária, há uma tendência de que os professores mais jovens
assinalem mais a opção gostaria para a maior parte das categorias, o que
decresce à medida que a idade ascende. Em contrapartida, os mais velhos
assinalam mais a opção não gostaria, como se observa na Tabela 79.
TABELA 79 – Proporção de professores, por faixa etária, segundo opinião a
respeito de ter determinados grupos sociais em sua vizinhança
1
– 2002
149
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Na lista seguinte existem vários grupos de pessoas. Quais dessas pessoas o(a) sr.(a) gostaria
e quais o(a) sr.(a) não gostaria de ter como vizinho?
(1) Dados expandidos.
TABELA 79 – (continuação)
Analisando a distribuição dos dados por região geográfica, conforme
a Tabela 80, vê-se que a maior proporção de gostaria encontra-se na
Região Norte. A única categoria que não é mais citada aqui é a dos
nordestinos, mais corrente no Nordeste, como seria de se esperar.
150
TABELA 80 – Proporção de professores, por região geográfica, segundo
opinião a respeito de ter determinados grupos sociais em sua vizinhança
1
– 2002
151
No que tange às respostas não gostaria, chamam a atenção as
porcentagens referentes à categoria favelados, que variam de 33,9%, na
Região Sul, a 13,6%, na Região Norte. Vale ressaltar que o bloco dos
socialmente estigmatizados recebe maior proporção de respostas para
essa opção na Região Sul. Na Região Nordeste se destaca o índice de
29,2% para homossexuais, sendo nela também e no Sul que os índices de
rejeição a negros são mais expressivos (2,0% e 2,2%, respectivamente).
A categoria índios tem maiores proporções de respostas em não gostaria
nas Regiões Norte (5,7%), Nordeste (5,0%) e Sul (4,6%).
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Na lista seguinte existem vários grupos de pessoas. Quais dessas pessoas o(a) sr.(a) gostaria
e quais o(a) sr.(a) não gostaria de ter como vizinho?
(1) Dados expandidos.
TABELA 80 – (continuação)
152
No que se refere à discriminação manifestada em relação à categoria
favelados, vale ressaltar que a distância espacial e social entre favela e
bairro vem sendo tratada em diversos estudos sobre as cidades
brasileiras. Segundo Ribeiro e Lago (2001), a partir de estudo no Rio
de Janeiro, as desigualdades oriundas dessas diferenças podem
expressar mecanismos de segregação e/ou discriminação de certos
segmentos sociais, que se evidenciam no mercado de trabalho quando
usados como critério seletivo na distribuição das oportunidades
ocupacionais ou diferenciador do salário. Para Barreira (1999), em
estudo na cidade de Fortaleza, os espaços são vivenciados
simbolicamente como universos que se interpenetram, mas não se
permitem uma articulação.
O modo fragmentado de ver a Cidade está presente nos depoimentos dos
profissionais de ensino. Para eles, é como se houvesse duas cidades. (...)
Este tipo de estigmatização, decorrente da nítida demarcação espacial da
Cidade, é constantemente apontada pelos educadores como uma das causas
que tem contribuído para diminuir os níveis de auto-estima dos jovens de
periferia. Para eles, tal processo se revela nos jovens através da discriminação
cotidiana que os torna ‘estranhos’ e os condena à condição de ‘eternos
suspeitos’, principalmente aos olhos dos habitantes do outro lado da Cidade
(BARREIRA, 1999: 42)
Mesmo considerando que a questão analisada focaliza a vizinhança
e trate somente de opiniões que podem vir a se materializar em atitudes
de discriminação, não é impossível a hipótese de que tais opiniões
possam ter implicações para a atuação dos docentes na escola.
3.3.4 Sobre os Jovens
Para aprofundar a discussão sobre as percepções dos professores, é
necessário conhecer sua visão sobre os jovens, dado serem estes, junto
às crianças, seu principal público. Assim, foi a eles perguntado sobre o
que pensam a respeito do grau de difusão de um conjunto de valores,
comportamentos e atitudes entre os jovens (Tabela 81).
153
As respostas revelam um certo pessimismo em relação às novas
gerações, sendo que, numa lista de 15 categorias, os docentes consideram
que 14 estão “se enfraquecendo” entre os jovens de hoje. É significativo
observar que a grande maioria pensa desse modo: pelo menos 60% dos
professores consideram que 5 dos valores listados estão se enfraquecendo,
a saber: responsabilidade, sentido de família, seriedade, respeito aos mais velhos,
tolerância. Entre 50% e 60% dos professores consideram que outros 5
itens – compromisso social, espiritualidade, honestidade, sentido do dever, ser
esforçado – estão já enfraquecidos. Apenas o item amor à liberdade é
considerado fortalecido entre os jovens de hoje (52,3%).
TABELA 81 – Proporção de professores, segundo opinião sobre a
fragilização ou o fortalecimento de determinados valores entre os jovens
de hoje
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Qual a sua opinião sobre o fortalecimento ou a fragilização/enfraquecimento de alguns valores
entre os jovens de hoje?
(1) Dados expandidos.
(2) As respostas não são auto-excludentes.
154
Em recente pesquisa da UNESCO, intitulada “Ensino médio:
múltiplas vozes” (ABRAMOVAY e CASTRO, 2003), foi possível
perceber que os docentes apresentam representações ambíguas sobre a
juventudes. Segundo o estudo, os professores do ensino médio
consideram que os jovens são, em sua maioria, honestos, pacíficos,
ordeiros e generosos. Entretanto, também acham que são mais rebeldes
do que obedientes e mais malandros do que estudiosos.
Contudo, a ambigüidade nas percepções sobre os jovens não ocorre
apenas entre os professores. Como já constatado em outras pesquisas
também realizadas pela UNESCO, o dualismo na representação sobre
as diversas juventudes é comum, sendo problemático quando aquele
colabora com a reprodução de estereótipos adultocratas e maniqueístas.
Na análise por sexo, percebe-se que as professoras se mostram um
pouco mais pessimistas que os professores: em 10 das 15 categorias – o
compromisso social, a responsabilidade, o sentido de família, a seriedade, o sentido
do dever, o respeito aos mais velhos, o cuidado com a natureza, o sentido de
justiça, a tolerância e ser esforçado – as porcentagens de citação do
enfraquecimento dos valores entre os jovens são maiores para elas,
contra 5 categorias para os professores – a espiritualidade, a honestidade,
o amor à liberdade, a identidade nacional e a generosidade (Tabela A24).
Ao observar as respostas dos professores segundo a faixa etária, é
interessante constatar que os mais pessimistas em relação aos jovens
são aqueles que possuem de 26 a 35 anos, ou seja, os professores ainda
em início de carreira. Em contraposição, os mais otimistas são aqueles
que estão acima dos 55 anos, já em vias de se aposentar (Tabela 82).
Em 13 das 15 categorias há maior proporção de professores de 26 a
35 anos que consideram que determinados valores estão se
enfraquecendo entre os jovens, com porcentagens que variam do mínimo
de 46,1% para o cuidado com a natureza ao máximo de 68,3% para o
respeito aos mais velhos. A única exceção aqui é a identidade nacional, item
mais mencionado por 44,0% dos professores de 36 a 45 anos, proporção
maior que a citada pela faixa etária anteriormente mencionada. Mesmo
o item amor à liberdade – único mencionado positivamente pela maioria
dos professores – obteve maior índice de citações de seu
enfraquecimento na faixa etária de 26 a 35 anos (18,1%).
155
TABELA 82 – Proporção de professores, por faixa etária, segundo opinião
sobre a fragilização ou o fortalecimento de determinados valores entre os
jovens de hoje
1
¹– 2002
156
TABELA 82 – (continuação)
157
Uma hipótese para explicar a descrença dos professores em relação
aos jovens diz respeito aos diferentes períodos históricos que essas
gerações viveram no Brasil. Estes professores, nascidos entre 1966 e
1976, cresceram durante os períodos de maior repressão às liberdades
democráticas na sociedade brasileira recente. Também acompanharam
o processo de redemocratização e, talvez, tenham até participado
ativamente dele. Os jovens nascidos após a efervescência sociopolítica
dos anos 1980 são considerados, pelos professores, menos imbuídos
dos valores ligados à esfera pública.
Os professores otimistas, os mais velhos (acima de 55 anos), são os
que, em maior proporção, mencionam o fortalecimento dos valores entre
os jovens para todas as 15 categorias. As proporções variam do mínimo
de 23,6% para a tolerância (bem acima da média de 16,1%) ao máximo
de 54,4% para o amor à liberdade (pouco acima da média de 52,3% para
a categoria).
As atitudes dos professores em relação às novas gerações, o principal
grupo populacional com quem trabalham, são relevantes nesse contexto.
A visão é particularmente negativa em relação aos valores pesquisados,
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Qual a sua opinião sobre o fortalecimento ou a fragilização/enfraquecimento de alguns valores
entre os jovens de hoje?
(1) Dados expandidos.
(2) As respostas não são auto-excludentes.
TABELA 82 – (continuação)
158
os quais são indispensáveis a pelo menos dois pilares da educação para
o século XXI: aprender a conviver e aprender a ser (Delors, 1998).
Entre três quintos e dois terços dos pesquisados declaram que se
enfraquecem, entre os jovens, valores como o compromisso social, a
tolerância, a responsabilidade, o sentido da família, o respeito aos mais
velhos, a identidade nacional e o sentido do dever.
Ou seja, a partir da visão dos professores em relação aos jovens,
infere-se que os docentes têm dificuldades de pensar que os jovens
possam contribuir, pelo menos de imediato, para a construção de uma
sociedade mais justa e eqüitativa. O único valor que estaria se
fortalecendo entre eles é o amor à liberdade, fato bastante positivo num
país que emergiu há pouco tempo para a democracia. No entanto, se o
amor à liberdade cresce par-a-par com a diminuição do compromisso,
da responsabilidade, da honestidade, da generosidade e do desinteresse,
é possível que tal liberdade seja o rótulo atribuído a atitudes
supostamente individualistas e, eventualmente, predatórias em face da
vida e da sociedade.
Vale aqui ressaltar, como afirma Farah Neto (2002), que, no Brasil,
os jovens, de forma recorrente, aparecem, principalmente, no centro
de questões ligadas à violência, às drogas: suas expressões, suas
tentativas de atuar na construção de sua própria história são pouco
visíveis aos olhos do restante da sociedade, incluindo-se aí a escola.
Pouco se diz, entretanto, sobre quem, de fato, são esses jovens, sobre
como vivem e como se relacionam. Por um lado, o temor e o sentimento
de insegurança que o imaginário adulto associa ao jovem traduzem-se
na ameaça que ele encarna para o mundo adulto. Por outro, quando se
relaciona a questão da juventude à da cidadania, o que se focaliza,
geralmente, são os problemas (ABRAMO, 1997).
Segundo Castro e Abramovay (2002: 16), a juventude não é vista
como ator social independente, dotado de vontade, desejos,
pensamentos e ações, capaz de decodificar seu cotidiano e devolver à sociedade
algum tipo de reação – o chamado capital cultural, que traduz o que querem os
jovens, o que propõem os jovens, considerando suas experiências.
Essas constatações devem ser levadas em conta ao se pensar as
políticas para o magistério, pois enquanto os professores que mais
159
acreditam nos jovens são aqueles em vias de se aposentar, os que
menos acreditam neles são os que têm ainda uma longa estrada pela
frente na atividade docente. E como ensinar a pessoas nas quais não
se depositam muitas expectativas? É um desafio a mais que os jovens
professores têm de enfrentar, além das dificuldades cotidianas
encontradas nas escolas.
161
SUMÁRIO EXECUTIVO
Características sociodemográficas dos professores:
Do total dos professores entrevistados, 81,3% são mulheres e
18,6% são homens.
A média de idade dos docentes é de 37,8 anos. Os professores
jovens, com até 25 anos, somam 8,8% do total. Com mais de
45 anos se encontram 21,9% dos docentes. Os dados mostram
que não há diferenças significativas na distribuição de homens
e mulheres nas diversas faixas etárias.
Com relação ao estado civil, os professores se declaram, em
sua maioria, casados (55,1%), situação que não varia muito
segundo o sexo. Chama a atenção o fato de 28,3% serem
solteiros. Os pesquisados apontam para a presença de novas
composições familiares (6,1%).
A grande maioria dos professores já constituiu uma unidade
familiar autônoma em relação à original (formada com seus
pais): ao menos 71,6% deles declararam morar com a família
nuclear que construíram.
Os professores habitam com o cônjuge ou companheiro, com
seus próprios filhos e/ou com os filhos do companheiro. Por
conta da dificuldade de manter autonomamente a família que
constituíram, ou ainda porque se responsabilizam por pais e
irmãos, 26,9% dos professores declararam habitar junto com
sua família nuclear original. Há também 4,4% que afirmam
viver sozinhos, 5,3% que moram com outros parentes e 3,6%
que moram com pessoas não-parentes.
A grande maioria dos professores homens (72,7%) se considera
chefe da família e 29,7% das mulheres classificam-se dessa
maneira. Dos professores que não se consideram chefes de
família, 28,4% responderam que cabe a seus filhos a chefia e
62,3% afirmaram que é seu cônjuge ou parceiro que ocupa
essa posição.
162
Percebe-se que as relações desiguais de gênero parecem ainda
concorrer mais fortemente do que o nível de escolaridade e a
participação na renda familiar para a determinação da chefia
da família junto a parcela considerável do professorado.
63,3% dos docentes declararam haver outro professor na sua
família. Entre esses, 35,1% têm irmãos professores e 12,5%
têm mãe professora.
A pesquisa constata que a escolaridade dos pais dos professores
é bastante precária: 49,5% dos docentes têm os pais com o
nível fundamental incompleto e cerca de 15% dos pais e das
mães não têm nenhum grau de instrução.
61,6%dos professores trabalham em escolas localizadas nos
municípios do interior, a quarta parte atua nas capitais, e os
demais nas chamadas periferias urbanas.
O tempo de trabalho e/ou experiência acompanham o vetor
centro/periferia. Nos municípios com menos de 100.000
habitantes, a presença feminina no professorado é maior em
termos absolutos e relativos, enquanto nos municípios mais
populosos, com mais de 100.000 habitantes, a presença
masculina é maior, relativamente.
45,3% dos docentes atuam na região Sudeste, a quarta parte
na região Nordeste, 15,7% na região Sul, 7,8% na região Centro-
Oeste e 6,0% na região Norte.
Os dados da pesquisa revelam que 65,5% dos professores
possuem renda familiar entre dois e dez salários mínimos e
que 36,6% possuem entre cinco e dez.
Há uma concentração de professores de renda familiar mais
elevada nas escolas privadas. Esse percentual atinge 43,5%,
se somadas as faixas de ganho de 10 a 20 salários mínimos e
mais de 20 salários. Na escola pública, para essas faixas de
ganho, obtém-se o índice de 27%.
A região geográfica onde o professor trabalha se correlaciona
com sua renda familiar: 12,3% dos professores da região Nordeste
possuem renda familiar acima de 10 salários mínimos. Esse
163
percentual sobe para 22,5% entre os professores da região Norte;
para 26,8% entre os da região Centro-Oeste; 27,8% entre os da
região Sul; e 42,1% junto aos professores da região Sudeste.
Aproximadamente um terço dos professores se autoclassifica
como pobre. A maioria dos professores se considera pertencente
à classe média baixa.
A autoclassificação muda conforme o porte do município, o
que sugere haver correlação entre o grau de urbanização e as
formas de autoclassificação que identificam os professores.
Nas escolas públicas, 52,6% dos professores consideram que
seus alunos são de nível socioeconômico baixo, enquanto os
professores das escolas privadas os classificam como de nível
médio ou médio-alto.
Há consenso entre os professores de que eles desfrutam de
uma situação melhor que a dos seus pais.
Em relação aos filhos dos docentes, constata-se que 54,0%
deles estão matriculados na rede privada de ensino. A renda
familiar parece interferir nessa tendência.
Características da trajetória profissional dos professores:
A maior parte da trajetória escolar dos docentes deu-se em
escolas da rede de ensino oficial.
A formação inicial de praticamente metade dos professores
brasileiros foi obtida em instituições públicas de ensino.
De cada dez professores, sete começaram sua carreira em uma
instituição pública e, atualmente, cerca de 8 trabalham nessa
rede de ensino.
67,6% dos professores possuem curso superior. Os professores
com apenas o ensino médio somam 32,3%. A formação do
professor constitui variável correlacionada com sua renda
familiar. A análise por região geográfica indica que a região
Norte (14,8%) e a região Centro-Oeste (14,2%) são as que
mais possuem professores sem a habilitação para o exercício
do magistério.
164
A maioria dos docentes (27%) declara ter entre seis e dez anos
de serviço, enquanto 8,9% têm mais de 25 anos de profissão.
53% dos professores conseguiram seu primeiro emprego antes
de concluir seus cursos de habilitação, sendo que a maioria
iniciou a carreira em escolas públicas (70,3%), e 28,6%
começaram a trabalhar em escolas privadas. Atualmente, 82,2%
trabalham na escola pública e o restante atua em escolas
privadas.
Mais da metade dos professores afirma trabalhar em apenas
uma escola e cumpre de 21 a 40 horas em sala de aula; um terço
trabalha de 1 a 20 horas semanais. Encontra-se, ainda, uma
porcentagem significativa (2,9%) de professores que trabalham
em quatro ou mais escolas, o que representa mais de 48.000
docentes. Constata-se a tendência de professores do sexo
feminino trabalharem em uma só escola (62,1%).
A situação funcional atual dos docentes que atuam em escolas
públicas aponta para 66,1% de concursados, 19,1% de contrato
temporário e 9,2% de efetivos sem concurso, a maior parte
destes na região Nordeste.
As atividades culturais dos professores:
A maioria dos professores costuma freqüentar eventos culturais:
museus, teatro, exposições em centros culturais, cinemas, shows
de música. Entretanto, as atividades no âmbito doméstico
sobrepõem-se às demais, como assistir a fitas de vídeo, por
exemplo. 74,3% dos docentes afirmam que assistem à TV
diariamente e 52,0% declaram que ouvem rádio diariamente.
A metade dos professores indica ir ao cinema algumas vezes
por ano. Quanto aos eventos esportivos, a freqüência de
participação dos professores é, relativamente, baixa. Os clubes
parecem constituir espaços de lazer e sociabilidade
razoavelmente importantes.
Quanto às atividades relativas às preferências culturais, os
docentes destacam aquelas ligadas à profissão: a metade declara
165
que costuma ler materiais de estudo ou formação e revistas
especializadas em educação. Além disso, 71,8% participam de
seminários de especialização e 86,2% freqüentam a biblioteca.
São relativamente poucos os professores que estudam ou
praticam atividades artísticas: os que habitualmente estudam
ou ensaiam teatro são 4,1% e os que afirmam nunca fazê-lo
chegam a 66,1%; os que pintam ou aprendem a esculpir são
6,1% e os que nunca o fazem correspondem a 65,7% dos
pesquisados.
A maioria dos professores declara que nunca usa correio
eletrônico (59,6%), não navega na Internet (58,4%) nem se
diverte com seu computador (53,9%).
23,5% dos professores declaram que lêem jornal 1 ou 2 vezes
por semana; 9,5% que lêem a cada 15 dias e 3,7% que não lêem
jornal nunca.
Dentre os gêneros literários considerados mais interessantes
pelos docentes, pedagogia/educação foi o que obteve maior
número de respostas, sugerindo que eles ocupam parte do
tempo livre com leituras relacionadas ao trabalho.
A participação em associação religiosa é a atividade associativa
mais freqüentemente informada pelos professores.
Os professores das escolas públicas afirmam participar com
mais freqüência de associações de cunho político e/ou
reivindicatório. Os professores das escolas privadas são os que
mais participam das associações de cultura e lazer.
Os professores e a educação:
As duas finalidades da educação mais importantes para os
docentes seriam formar cidadãos conscientes (72,2%) e desenvolver
a criatividade e o espírito crítico (60,5%). A menos importante seria
selecionar os indivíduos mais capacitados
Os professores apresentam um acentuado grau de concordância
com os principais aspectos da política educacional adotados
recentemente no Brasil: os PCNs receberam a aprovação de
166
86,2% dos professores. Entretanto, cerca de 8,6% deles – o que
representa 146.401 pessoas – manifestam discordância; 79,6%
concordam com a criação do FUNDEF; 74,8% dão aval ao PNE.
O SAEB é a medida mais polêmica, segundo os professores.
60% dos professores julgam que os impactos mais positivos
da LDB incidiram sobre inovações pedagógicas e democratização do
acesso à educação.
A maioria dos professores concorda com a introdução de temas
contemporâneos no currículo, tais como prevenção ao uso de
drogas, saúde reprodutiva e violência.
Dentre os fatores que mais influenciam a aprendizagem, os
professores destacam, por um lado, o acompanhamento e o apoio
da família (78,3%). A relação professor/aluno é o segundo fator
considerado pelos docentes. Por outro lado a renda familiar
mensal é o fator que mais influencia a percepção sobre as
situações que consideram como um problema a ser enfrentado
diariamente.
O tempo disponível para a correção de provas, caderno etc. é a situação
que os professores mais consideram como um problema para o
exercício de suas atividades profissionais, à exceção dos
professores situados na faixa de renda de 2 salários mínimos,
que declaram ter mais dificuldades em lidar com a disciplina
entre os alunos, com as características sociais deles e com a
relação com os pais.
Os professores acreditam que a introdução de novas
tecnologias de informação engendrará impactos positivos na
educação, mas não substituirá o fator humano no processo de
ensino e aprendizagem
A maioria dos professores concorda que as universidades ou
as instituições de educação superior são as instituições mais
adequadas para oferecer formação docente.
O estímulo mais eficaz na promoção da participação em cursos
de formação continuada é o retorno em termos profissionais e
salariais.
167
Os professores discordam com maior ênfase das propostas de
prolongar o calendário escolar para melhorar a qualidade do ensino e
prolongar a jornada escolar.
Quase metade dos professores se considera mais satisfeita agora
do que no início da sua carreira (48,1%), e 15,3% estão
igualmente satisfeitos. Os professores menos satisfeitos representam
24,3% e os insatisfeitos 12,3%.
A maioria dos professores, apesar das dificuldades que enfrenta
no cotidiano profissional, pretende permanecer na função que
atualmente desempenha.
Os dados coletados sobre as aspirações dos docentes indicam
que mais da metade deles (50,2%) declara que sua principal
aspiração profissional para os próximos anos é permanecer na
função atual, na mesma ou em outra instituição de ensino.
Chama a atenção que 10,7% dos professores declarem ter a
intenção de se dedicar a outra profissão, o que indica que uma
maioria expressiva dos docentes aspira a permanecer no campo
da educação, apesar dos problemas cotidianos.
Percepção dos professores sobre valores sociais:
Os professores tendem a defender condutas que condizem com
os comportamentos considerados aceitáveis na convivência
social, mas se mostram menos flexíveis quando as normas de
comportamento socialmente estabelecidas se referem à vida
pessoal.
Os professores revelam-se pessimistas em relação às novas
gerações: dos 15 valores citados no questionário, consideram
que 14 estão mais fracos entre os jovens.
Em relação às suas opiniões sobre comportamentos na esfera
pública, a maioria dos professores considera inadmissível a maior
parte das categorias mencionadas. As proporções variam de
59,7% para o item não declarar à Receita o total de suas rendas a
98,3% para danificar bens públicos (orelhões, praças etc.).
168
Quanto às opiniões dos professores sobre comportamentos na
esfera privada, dentre os itens relacionados na pesquisa, 6 são
considerados inadmissíveis, enquanto 3 são considerados admissíveis.
As proporções dos comportamentos inadmissíveis variam de 59,7%,
para ”ter relações homossexuais”, a 96,5%, para “usar drogas pesadas”.
Os considerados admissíveis vão de 42,3% para ”ter relações sexuais
sem estar casado” a 52,5% para ”divorciar-se”.
Em relação às opiniões sobre o papel político do professor, a
proposição que obtém o maior índice de concordância é a de
que O professor deve desenvolver a consciência social e política das
novas gerações, com 91% dos professores declarando graus muito
alto e alto de concordância.
Os professores se dividem quanto à proposição de que O
professor deve evitar toda forma de militância e compromisso ideológico
em sala de aula. A maioria das respostas se concentra no grau
médio de concordância (24,5%), embora os extremos também
apresentem valores significativos (23,3% em muito alto, e 19,9%
em muito baixo).
Quando questionados sobre as pessoas que gostariam de ter
como vizinhos, a categoria para a qual os professores mais
respondem não gostaria é a dos viciados em drogas (69,2%).
Esse é o único grupo em que a porcentagem de não gostaria
supera a de indiferente.
A maioria dos professores acredita que a melhor solução para
reduzir a criminalidade é melhorar a educação dos jovens (52,9%),
seguida de resolver o problema do emprego (36,5%). As opções de
cunho preventivo são mais defendidas pelos professores do
que as repressivas.
169
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
E RECOMENDAÇÕES
4.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Analisar o perfil dos professores da educação básica no Brasil exige,
necessariamente, uma profunda reflexão sobre o sistema educacional
brasileiro, que ainda se caracteriza por elevados índices de
analfabetismo, repetência e evasão, formando um quadro de baixa
escolaridade e colocando em questão a qualidade do ensino no país.
Sem dúvida, tal realidade é impulsionada por uma conjunção de diversos
fatores, relacionados às esferas econômica, política e social.
Desde a última década, o agravamento dessa situação tem produzido
um reflexo imediato na discussão sobre o papel do professor, o que já
era esperado, considerado o fato de ser o professor a “tecnologia de
ponta do processo educativo”, provocando o que muitos autores vão
chamar de “crise de identidade do magistério” (Candau, 1997). Nesse
contexto, é sobre o professor que se deposita a maior carga de
responsabilidade pelo chamado “fracasso escolar”. Entretanto, como
lembra Nóvoa (1999), os professores não são anjos nem demônios. São apenas
pessoas (e já não é pouco!). Mas pessoas que trabalham para o crescimento e a
formação de outras pessoas. O que é muito.
Dessa forma, é importante destacar que a tensão que atravessa a
identidade dos professores tem vínculo bastante próximo com as
transformações que marcam as sociedades contemporâneas, exigindo
novos compromissos e conhecimentos desses profissionais, que sofrem
diretamente as contradições do mundo social, estando cotidianamente
à frente dos inúmeros dramas sociais (Bourdieu,1998).
170
Nessa perspectiva, o perfil aqui apresentado deve ser lido relacionado
às tantas outras questões que compõem o fenômeno educacional.
Conforme ressalta Libâneo (2004):
Há, certamente, professores com bom nível de competências e habilidades
profissionais, social e eticamente comprometidos com seu trabalho. Entretanto,
as deficiências de formação inicial e a insuficiente oferta de formação
continuada, aliadas a outros fatores desestimulantes, têm resultado num grande
contingente de professores mal preparados para as exigências mínimas da
profissão (domínio dos conteúdos, sólida cultura geral, domínio dos
procedimentos de docência, bom senso pedagógico). Há dificuldades dos
professores em lidar com novos problemas sociais e psicológicos que
acompanham os alunos que entram na escola (familiares, de saúde, de
comportamento social, concorrência dos meios de comunicação, desemprego,
migração...). Mais uma vez, não se trata de culpabilizar os professores, eles
não respondem sozinhos pelos fracassos da escola, atrás deles estão as políticas
educacionais, os baixos salários, a formação profissional insuficiente, a falta
de condições de trabalho, falta de estrutura de coordenação e
acompanhamento pedagógico etc. Mas para quem gostaria de ver as crianças
e jovens aprendendo cidadania, dominando conceitos das disciplinas escolares,
desenvolvendo seus processos e habilidades de pensamento... não há como
não se decepcionar com os resultados apresentados.
Os professores brasileiros estudados neste trabalho compõem um
universo de contrastes, de diferenças e de possibilidades. Mais que isso,
é nas suas respostas que estão as pistas a serem seguidas, no sentido de
se chegar ao desenho de uma política pública mais democrática, capaz
de resgatar a dignidade desses profissionais, fundamentais para a
formação das novas gerações e para a construção de uma sociedade
mais justa. Claro que essas respostas devem ser interpretadas à luz de
análises que expliquem tensões entre o que nelas se expressa e as práticas
efetivamente estabelecidas, em razão do hiato existente entre o discurso
anunciado e as práticas cotidianas.
Compreender quem são esses professores e em que condições se fazem
professores é fundamental, para contribuir na construção de paradigmas
que possam estabelecer novas exigências e responsabilidades, rompendo
com estigmas e estereótipos e aproximando o ofício do magistério do tempo
e do espaço hoje.
171
Nessa direção, a análise dos dados pesquisados centrou-se, por um
lado, na ampliação do olhar sobre o sistema educacional brasileiro,
percebendo como o professor vem se inserindo nesse quadro e quais os
limites e possibilidades da sua tarefa no dia-a-dia das escolas. Por outro,
na elaboração do perfil demográfico, cultural, social e profissional dos
docentes do ensino fundamental e médio, para entender sua prática,
reconhecer implicações diretas e indiretas na sua performance e repensar
novos campos de formação.
Nessa perspectiva, um primeiro dado a ser ressaltado é o fato de os
professores acompanharem uma tendência em responder as questões
apresentadas dentro de padrões que os possam valorizar, frente ao que
hoje é estabelecido como o “politicamente correto”. Suas respostas
parecem refletir uma preocupação em se mostrar e tentar estar
identificados com valores relativos ao “educador intelectual”, conforme
a concepção de Anísio Teixeira, ou com o “professor crítico-reflexivo”,
na perspectiva de Paulo Freire. Alguns temas apresentados, se lidos
sem uma reflexão mais aprofundada e sem estar relacionados com os
graves problemas explicitados no quadro educacional brasileiro, podem
dar a entender que, na sua grande maioria, os professores do país estão
munidos de recursos suficientes para ultrapassar o senso comum e
entender e aceitar, com muita facilidade e desenvoltura, as novas
situações e exigências educacionais e sociais.
Entretanto, correlacionando esse dado com uma série de estudos
desenvolvidos, particularmente pela própria UNESCO, percebe-se,
ainda, que grande parte dos docentes reflete, de modo geral, o imaginário
da sociedade brasileira, contemporizando e minimizando situações de
exclusão e desigualdades e reproduzindo nas suas práticas situações de
violência simbólica, dificilmente mensuráveis.
Claro está que, em diversas dimensões pesquisadas, particularmente
aquelas relacionadas com a função e o papel dos professores na
sociedade, a tendência expressa se dá no sentido de respostas que
seguem um certo código dominante de percepções, o que, sem dúvida,
encobre a pluralidade de suas condições de vida e trabalho.
Um outro dado de extrema relevância é o fato de os professores
brasileiros apresentarem-se profundamente empobrecidos. A grande
172
maioria tem renda familiar situada entre 2 a 10 salários mínimos, o que
coloca em questão as políticas de valorização do magistério que foram
impulsionadas pela Lei nº 9.424/96, que estabelece o Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de
Valorização do Magistério. Fica evidente, também, a diferença entre as
rendas dos familiares dos professores com nível médio e as daqueles
com nível superior, assim como as dos que atuam nas diferentes regiões
do País – os do Norte e do Nordeste tendo renda média familiar bem
inferior à daqueles do Sudeste –, reproduzindo as históricas diferenças
sociais que marcam a sociedade brasileira.
No entanto, a despeito da faixa de renda, a maioria dos professores
afirma ter uma situação de vida melhor que a de seus pais, assim como
um nível de escolaridade superior ao deles. Vale destacar que a superação
dos docentes em relação a seus pais, no que tange ao nível de
escolaridade, revela um dado expressivo de mobilidade social
ascendente, a despeito do fato de a profissão estar desvalorizada.
Considerando a insatisfação dos professores com os baixos salários,
a mobilidade geracional pode estar muito mais relacionada com o status
social ocupado dentro de um mesmo agrupamento do que com a
remuneração e os bens adquiridos. O fato de ser professor pode colocar
o docente em posição hierarquicamente superior, principalmente aquele
oriundo de grupos com escolaridade extremamente baixa. A posição
ocupada pode estar trazendo benefícios indiretos, mas nada desprezíveis
para ampliar a circulação desse sujeito na sociedade.
Cabe registrar, ainda, as imensas desigualdades regionais e as
perceptíveis diferenças em termos de professores das escolas particulares
e das escolas públicas. De um modo geral, os professores da escola
pública estão em condições econômicas e sociais inferiores aos das
escolas privadas. Tal fato corrobora as análises que afirmam que a
sociedade brasileira é profundamente desigual e este é um dos principais
problemas a serem enfrentados no campo das políticas públicas. Vale
destacar que um terço dos professores se considera pobre e pouco mais
da metade se identifica como de classe média baixa.
O baixo nível de renda dos professores também impacta
significativamente o acesso dos mesmos as novas tecnologias,
173
especificamente ao computador e à Internet. Segundo levantamento
realizado, pouco mais da metade deles tem computador em casa.
Considerando ser hoje a Internet um instrumento fundamental de acesso
à informação e que a atualização dos professores é requisito básico
para o exercício da docência, esse recurso educativo não pode ser visto
apenas como mais um bem de consumo, mas como ferramenta essencial
para a prática docente.
Nesse conjunto de ferramentas pode ser destacada, também, a
necessidade dos canais de televisão educativa, públicos e privados,
serem acessados de forma mais direta pelos professores, pelas escolas e
seus alunos. Os canais educativos têm sido considerados, pela qualidade
da programação, importantes recursos de formação para a ampliação
do universo cultural de professores e alunos, considerando, inclusive, o
apelo simbólico que a televisão exerce no imaginário da população
brasileira. Na pesquisa, fica claro que a televisão é o veículo ao qual o
professor tem maior acesso, como telespectador.
Um outro aspecto a ser destacado é a aparente satisfação dos
docentes com sua profissão, quase metade deles se considerando “mais
satisfeita agora do que no início da sua carreira”. Em adição a tais
constatações, um número superior a 50% dos docentes declara que sua
principal aspiração profissional para os próximos anos é permanecer na
função atual, na mesma ou em outra instituição de ensino. Mas são
exatamente os docentes com formação no ensino superior os que,
proporcionalmente, mais desejam se dedicar a outra profissão
33
. O forte
desejo da maioria de permanecer na profissão pode constituir uma base
propícia para reformulações que permitam valorizar a profissão docente,
para garantir a sua permanência em sala de aula.
33
Cabe alertar para o fato de que não basta observar a demanda atual de professores sem
considerar a expansão do sistema, que tem seu referencial estratégico definido pelo Plano
Nacional de Educação. Para o ensino fundamental de 1ª a 4ª séries, diante da redução esperada
nas matrículas, considerando a manutenção do cenário de políticas para a regularização do
fluxo escolar, a expectativa para 2006 implicará redução de 150 mil postos de professores.
Esses profissionais poderão ser remanejados para outros níveis de ensino, em especial para a
Educação Infantil. No ensino fundamental de 5ª a 8ª séries, também em função do cenário de
adequação do fluxo escolar, até o ano de 2006, deverão ser necessários 98 mil novos professores.
Por fim, para o ensino médio, que passa por um processo de grande expansão, a necessidade
estimada é de um incremento de 125 mil novos docentes (MEC/INEP, 2003).
174
No que tange às famílias, requer um destaque a percepção dos
professores sobre a sua importância no processo educacional. Esta
evidência se legitima no processo de definição de políticas públicas no
campo da educação, através da LDB, dos Parâmetros Curriculares e
dos Referenciais para a Formação do Professor, que vêem como
necessária a participação e a inclusão de pais no processo educativo.
Incentiva-se a organização de grupos de pais e, atualmente, eles fazem
parte dos conselhos escolares, podendo decidir, junto à equipe da escola,
sobre vários assuntos, desde o traçado de prioridades à alocação de
verbas, à promoção de eventos etc. Estas iniciativas vêm corroborar a
necessidade de enfrentar e romper o ciclo vicioso de culpabilização
“escola x família” e “família x escola”, tão presente na justificativa do
fracasso escolar.
Gradativamente, a presença dos pais e da comunidade tem sido
considerada como uma ampliação das possibilidades, tanto da escola
quanto das famílias. É relevante também, o fato de a grande maioria
dos professores acreditar que as comunidades onde atuam consideram
sua escola de bom nível. Isto significa dizer que, apesar das
dificuldades e dos problemas, a maior parte dos docentes precisa do
reconhecimento e da aprovação das comunidades para o que sua escola
está desenvolvendo. Esse dado é importante, na medida em que revela
uma preocupação com o olhar do outro sobre o seu próprio trabalho.
Vale ainda lembrar que existe um consenso em torno da
impossibilidade de se fazer educação no âmbito restrito da escola nas
sociedades contemporâneas, considerando, prioritariamente, a
complexa realidade social. Dessa forma, a escola vem ganhando
expressões, programas e projetos que incorporam tais concepções,
como “comunidade escolar”, “escola aberta”, “amigos da escola” e
“escola parceira”, entre outros.
No que tange à legislação, ficam claros os impactos positivos gerados
pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei nº 9.394/96. De um
modo geral, os professores sinalizam que a educação melhorou,
impulsionando melhores condições de trabalho e de infra-estrutura do
estabelecimento onde lecionam. Suas avaliações quanto aos impactos
da LDB são positivas, tanto em termos das inovações pedagógicas
175
quanto da democratização do acesso à educação e da melhoria da
organização do ensino em função de sua maior participação nos
processos de tomada de decisão.
Sobre os jovens, a opinião dos professores merece um registro
especial. O que se observa é que seguem uma tendência de reproduzir
uma visão bastante recorrente, que percebe os jovens como principais
depositários de uma série de problemas sociais. Identificam neles o
enfraquecimento de uma série de valores éticos e morais, considerando
que apenas o “amor à liberdade” é um valor bastante fortalecido na
chamada condição juvenil. Com isso, espelham percepções que
identificam o jovem como um eterno descompromissado e reduzem a
possibilidade de olhar a juventude na sua diversidade e pluralidade.
Conforme analisa Novaes (1998: 5), a juventude simboliza os dilemas
da contemporaneidade, sendo vista como lugar privilegiado para a
expressão de todo o mal estar social. Traz inquietações e evoca problemas
sociais tais como violência, ócio, desperdício e irresponsabilidade. Tal fato
reveste-se de importância, posto que esse tipo de visão afeta a
qualidade das relações com os alunos, reforça uma série de estigmas e
estereótipos, tendo a escola e, particularmente, os docentes um
importante papel a cumprir na promoção de novos caminhos e saídas.
Ao mesmo tempo em que, de alguma forma, parcela significativa
dos professores aponta a dificuldade de trabalhar com o segmento
juvenil, sinaliza, também, a importância do impacto da relação
professor/aluno no processo de ensino/aprendizagem. Como eles
próprios afirmam, essa relação – que deveria estar baseada na
confiança e na crença da capacidade dos alunos – é o segundo fator,
em termos de importância, entre os que mais influenciam a
aprendizagem. Em recente publicação da UNESCO no Brasil sobre
escolas que inovam nas suas práticas cotidianas (Abramovay et al.,
2003), constatou-se que as escolas bem-sucedidas são aquelas que
investem no diálogo com seus alunos e na valorização da escola como
um todo, rompendo preconceitos e dando visibilidade e tratando com
respeito os atores que estão inseridos nesse cenário.
Refletindo sobre o investimento que foi impulsionado por uma série
de medidas no âmbito das políticas públicas pós-LDB, a maioria dos
176
docentes possui formação de acordo com o estabelecido pela legislação
em vigor. Entretanto, chama a atenção o fato de que os professores
sem formação pedagógica, tanto de formação superior quanto de
formação média, na maioria, têm menos tempo de profissão, o que
permite concluir que, no processo de seleção de novos docentes, os
sistemas de ensino não estão privilegiando a formação especializada
como critério para o ingresso na carreira. Fica claro que o referido
problema, apesar de aparecer em todo o Brasil, é mais grave nas regiões
Norte e Centro-Oeste, onde cerca de 15% dos profissionais estão sem
a habilitação adequada ao exercício do magistério, isto é, com apenas
o ensino médio regular, sem formação pedagógica ou com ensino
superior também sem licenciatura.
No que tange à necessidade de políticas públicas que estimulem a
formação dos professores, a pesquisa mostra que, acompanhando a
busca de novos temas e metodologias, é importante que se criem
mecanismos que contribuam para a adesão dos professores aos
processos de formação continuada e que, por conseqüência, ampliem
seus impactos sobre o ensino e sua atuação em sala de aula, já que,
conforme alerta Paiva (2004
: 32), a educação continuada é indispensável
para acompanhar a velocidade e a contemporaneidade do desenvolvimento das
ciências, técnicas, tecnologias, das artes, das expressões, linguagens, culturas,
enfim, que o mundo, especialmente a partir do fenômeno da globalização, confere
à história. A resposta dos docentes a essa questão reflete uma postura
bastante pragmática frente a sua tarefa educativa: a maioria declarou
que gostaria de participar de formação continuada se existisse um
estímulo, como aumento salarial ou incentivo a plano de carreira.
Contudo, o questionamento que se faz diz respeito ao lugar e ao
momento mais propícios para o aprendizado dos conhecimentos e
saberes necessários à prática docente. O espaço de aprendizado, por
excelência, dos professores seria a instância de formação inicial, a de
formação continuada ou o próprio exercício da profissão? Essa
polêmica insere-se em uma discussão que ainda persiste e tem
continuidade, segundo Freitas (2002), na luta de educadores para a
reformulação dos cursos de formação dos profissionais de educação
e no processo de definição de políticas públicas no campo da educação.
177
O debate sobre qual o perfil de professor desejável e como deve
ser a formação desse profissional ainda vigora. No entanto,
independente de consensos e dissensos sobre o professor e a formação,
o que se espera é um profissional atento às condições sociais em que
está inserido. Assim, tratar da formação dos professores implica,
necessariamente, em tratar das condições para que tais conhecimentos
sejam elaborados e, também, em tratar do cenário que a carreira do
magistério apresenta na condição de perspectiva profissional.
O estudo sobre o perfil dos professores pode sinalizar importantes
veios para a formação, tanto a inicial como a continuada.
Particularmente no que se refere a valores sociais gerais, encontra-se
uma zona de muitos conflitos para os professores, como é o caso das
práticas relacionadas ao consumo de drogas lícitas e ilícitas, à
orientação sexual, à sexualidade, entre outros. É urgente, também,
trabalhar aspectos relacionados aos novos sujeitos-alunos, na tentativa
de ultrapassar as barreiras existentes e promover o diálogo
intergeracional. Isto porque, sem dúvida, a manutenção e reprodução
de práticas conservadoras, por parte dos professores, pode atingir
diretamente a auto-estima dos alunos.
É fundamental ressaltar que, em relação a diferentes grupos,
categorias sociais ou étnicas, que vêm sendo foco das chamadas
políticas de ação afirmativa na última década no Brasil, como é o
caso dos índios, negros, idosos e homossexuais, os professores
apresentaram um elevado grau de tolerância. No caso, os idosos
receberam o maior índice de aprovação como opção de convivência.
Já os homossexuais receberam o maior índice de indiferença quanto a
situações de convivência, o que reflete avanços impulsionados por
políticas e legislações inclusivas.
Outro fator importante a ser incorporado é a construção de políticas
que dêem conta da ampliação do acesso à cultura por esses
profissionais. Os dados expressam baixíssimos níveis de participação
no que se refere aos patrimônios culturais, ficando a preferência
cultural vinculada ao que os professores têm maior facilidade de acesso,
as “indústrias culturais”. Já no caso das preferências relacionadas à
leitura, a tendência da maioria dos docentes foi a de apontar os livros
178
sobre educação e pedagogia, além de livros e revistas científicos. As
respostas podem estar relacionadas tanto com a preocupação em
responder dentro de padrões valorizados no campo profissional em
questão como, também, com a ausência de práticas de leituras
diferenciadas – como a literatura, de um modo geral – na sua trajetória
pessoal e profissional, incluindo os processos de formação.
Da mesma forma, merece especial atenção, no âmbito das
finalidades da educação, o fato de a grande maioria dos professores
pesquisados secundarizarem a tarefa de transmitir conhecimentos
atualizados e relevantes e proporcionar conhecimentos básicos para
os seus alunos. Em suas respostas, os professores privilegiam como
finalidade da educação a formação de cidadãos conscientes e o
desenvolvimento da criatividade e do espírito crítico. Entre outras
análises, essas idéias podem estar camuflando um déficit de
conhecimentos, como, também, demonstrando a rapidez e a forma
superficial e aligeirada com que os novos aportes teóricos são
introduzidos na escola e nos cursos de formação, sem o tempo
necessário de maturação e reflexão.
Portanto, os dados do estudo aqui apresentado demonstram a
necessidade de investimento em um processo amplo e de políticas
públicas integradas, com ênfase na valorização do magistério,
compreendido sob as mais diferentes conjunções. Para Neidson
Rodrigues (2001: 244):
(...) a Ação Educativa, enquanto Ação Formativa, é uma atividade
extremamente complexa e de alta responsabilidade. Segue um percurso
não espontâneo e casual e, em suas formas mais complexas e elevadas,
deve ser conduzida por pessoas qualificadas para exercer a função de Educar.
Mas é bom que se atente para a consideração de que ela não pode ser de
responsabilidade de nenhum indivíduo isoladamente, nem mesmo de
qualquer instituição especializada. Nenhum indivíduo isoladamente, por
melhor preparo que tenha, será capaz de oferecer a outro a plenitude da
formação de que ele necessita, bem como nenhuma instituição, ainda que
seja definida como educativa, poderá dar conta desse papel. Essa tarefa é
de responsabilidade social.
179
Deve-se atentar ao fato de que apenas o aumento da oferta dos
cursos de formação inicial e continuada dos professores não tem
vencido a batalha de um ensino de qualidade na sala de aula. Na última
década, pode-se perceber a proliferação de cursos de formação inicial
e continuada, cuja atuação, entretanto, não garante um nível de
qualidade capaz de contribuir para o enfrentamento do problema no
país. Mais uma vez, constata-se a necessidade imperiosa de se
construírem políticas públicas que entendam o direito à educação como
garantia de um acesso com qualidade, não se podendo mais trabalhar
o acesso dissociado da preocupação com a qualidade e,
conseqüentemente, com o trabalho em sala de aula.
É imprescindível, pois, elevar a qualidade do “possível” na
construção de políticas públicas para os professores do Brasil. Somente
dessa maneira o país poderá propiciar as condições necessárias para
produzir o “professor educador”.
Nesse sentido, o perfil aqui traçado buscou mostrar que existe um
campo fértil para promover uma série de medidas que contribuam para
melhorar a qualidade da educação no país. Contudo, não se pretendeu
construir um tipo de professor homogêneo. Ao contrário, para cada
situação ou posição apresentada, considerou-se, ao lado daquela
respondida pela maioria, uma série de outras situações e percepções
que, em números absolutos, podem estar representando forças bastante
significativas na sociedade brasileira, refletindo um momento de
tensão e embates. A pluralidade permite identificar parcelas de
professores bem mais abertos às novas demandas de seu tempo, aos
novos sujeitos sociais, aos novos temas curriculares e aponta para a
possibilidade de se promoverem estratégias que apostem em laços
sociais menos competitivos e mais solidários.
É possível que esteja no momento atual a última chance de se
promoverem políticas publicas explícitas de inclusão, no que se refere
a uma educação que garanta o acesso, a qualidade, a permanência e o
aprendizado. Dessa forma, a democratização e a modernização do país,
a médio e a longo prazos, poderão ter na escola e no professor um dos
investimentos mais seguros para a renovação da educação, o que, sem
dúvida, será muito bom para professores e alunos, mas melhor ainda
para o conjunto da sociedade.
180
4.2 RECOMENDAÇÕES
As recomendações aqui apresentadas foram elaboradas a partir do
panorama construído ao longo da pesquisa sobre os docentes brasileiros:
quem são, onde trabalham, sua constituição familiar, renda,
autoclassificação social, tipo de habilitação, tempo de magistério, entre
outros aspectos abordados. Foi também possível delinear o que os
professores pensam sobre a educação e as políticas educacionais, os
currículos, os fatores que dificultam ou facilitam a aprendizagem e os
temas emergentes na sociedade brasileira. Neste sentido, a trajetória
dos professores será determinante para a definição de políticas
educacionais voltadas a eles, a carreira, a formação e a melhoria da
qualidade do ensino no Brasil.
Vale destacar que os dados indicam a necessidade de políticas
educacionais, com ênfase na superação dos desequilíbrios observados
por região e pelo porte do município.
Aspectos Gerais
Investir em políticas capazes de contribuir para a atenuação/
eliminação das disparidades regionais existentes no campo da
educação, notadamente no que tange à formação e à remuneração
dos professores;
Investir em avaliações e pesquisas que possam identificar
estratégias inovadoras que dão ênfase à qualidade, no âmbito da
prática dos professores e das escolas, como também à compreensão
dos novos sujeitos que compõem o cenário da escola: professores
e alunos;
Investir em instrumentos e mecanismos que possibilitem uma
melhor avaliação da qualidade da oferta de formação continuada
para os professores e dos resultados efetivamente observados
sobre a qualidade do ensino como um todo;
Desenvolver mecanismos que tornem as avaliações mais
acessíveis para os professores e para os gestores das escolas e das
redes de ensino, servindo de parâmetro para a avaliação da escola
e dos processos de formação continuada dos profissionais;
181
Estimular a incorporação de temas emergentes na sociedade ao
currículo escolar, a partir de práticas pedagógicas criativas e
inovadoras;
Regulamentar a capacitação em serviço, prevista pela LDB, a fim
de que se minimizem os problemas levantados pelos professores
para o exercício de suas atividades profissionais.
Quanto ao exercício profissional
Estimular investimentos que promovam a permanência dos
professores no exercício do magistério;
Tornar o acesso à profissão, na rede pública, mais amplo e
democrático, a partir de concursos públicos, que não apenas
supram a falta de profissionais como também limitem o número
elevado de contratos temporários;
Investir na valorização do ensino público e dos professores que
nele atuam, cuja maioria teve sua trajetória escolar e formação
inicial na própria rede pública;
Criar mecanismos que visem à melhoria das condições salariais
dos professores – os dados da pesquisa revelam que grande parte
deles possui renda familiar entre dois e dez salários mínimos. Neste
sentido, é fundamental que se invista na modernização da carreira
docente (salário, formação etc). Como exemplo, aponta-se a
Europa, que, possuindo padrões salariais acima de 27 mil dólares
anuais, está preocupada e investindo maciçamente na qualidade
e no futuro;
Investir no regime de colaboração entre as diversas instâncias
governamentais para buscar avanços na questão da carreira e na
formação dos professores;
Potencializar a política de financiamento de computadores para
os professores, considerando sua importância para a prática
profissional;
Promover o acesso, em canal aberto, à programação das estações
de televisão educativa, tanto públicas quanto privadas,
considerando sua utilidade para o trabalho de professores e
alunos;
182
Quanto à formação inicial e continuada
Atentar para a necessidade de uma revisão radical dos cursos de
formação inicial e continuada de professores, incluindo as
licenciaturas, devendo o investimento nesses cursos considerar que
a formação do professor constitui variável correlacionada com sua
renda familiar e região geográfica. Há um contingente significativo
de profissionais sem habilitação para o exercício do magistério;
Priorizar o investimento na ampliação do universo cultural dos
professores, com a inclusão da questão da leitura, do acesso a
teatros e a museus, entre outros, nos currículos de formação inicial
e continuada. Portanto, a formação cultural dos professores deve
estar contemplada no bojo da formação inicial e continuada. O
cinema, o teatro, o museu, a biblioteca, o centro cultural são
patrimônios aos quais todos devem ter o acesso e o direito à
participação – o professor é produtor e consumidor de cultura e,
para tanto, deve ter acesso e reflexão crítica em relação ao que
vem sendo produzido regionalmente e, também, nacionalmente,
a fim de que exerça sua profissão plenamente;
Atentar para que os cursos de formação inicial e continuada
contribuam para a formação do professor-leitor, a partir do acesso
e da qualificação em relação aos diferentes gêneros literários,
ampliando a concepção de educação para além dos métodos e
técnicas de ensino;
Prever que os cursos de formação inicial e continuada sejam
concebidos no âmbito de um plano de cargos e salários,
possibilitando a progressão funcional;
Buscar instrumentos que dotem as universidades ou as instituições
de educação superior como lugares mais adequados para oferecer
formação docente;
Articular atividades conjuntas de suporte para a formação cultural
dos professores, entre diversas instâncias governamentais (ministérios
da educação, cultura; secretarias estaduais e municipais etc.);
Articular atividades conjuntas de suporte para a formação científica
dos professores, entre diversas instâncias governamentais
(ministérios da educação e ciência e tecnologia; secretarias estaduais
e municipais etc.);
183
Articular atividades conjuntas de suporte para garantir a inclusão
digital e de novas tecnologias para os professores, entre diversas
instâncias governamentais (ministérios da educação, ciência e
tecnologia, comunicações; secretarias estaduais e municipais etc.),
de forma a implementar programas de informática na educação,
considerando que a maioria dos docentes não possui a cultura
das novas tecnologias.
185
Tabela 1 – Número de professores na população, por nível de
ensino e dependência administrativa, segundo as Unidades
Federativas do Brasil – 2001 ............................................................ 23
Tabela 2 – Proporção e número absoluto de professores
pesquisados, por dependência administrativa das escolas – 2002.... 24
Tabela 3 – Proporção de professores, por sexo, segundo a
faixa etária – 2002 ............................................................................ 47
Tabela 4 – Proporção de professores, por sexo, segundo o estado
civil – 2002 ....................................................................................... 49
Tabela 5 – Proporção de professores, segundo a constituição
familiar – 2002 .................................................................................. 49
Tabela 6 – Proporção de professores, por sexo, segundo a
condição de chefe de família – 2002 ................................................ 50
Tabela 7 – Proporção de professores, segundo o nível de
instrução do chefe de família – 2002................................................ 51
Tabela 8 – Proporção de professores, por sexo, segundo a condição
de ser ou não o principal provedor de renda da família - 2002 ............. 52
Tabela 9 – Proporção de professores, por sexo, segundo
percentagem de contribuição para a renda familiar – 2002 ............. 52
Tabela 10 – Proporção de professores, segundo a prática docente
por outros membros da família – 2002 ............................................. 53
LISTA DE TABELAS
186
Tabela 11 – Proporção de professores, segundo o nível de
escolaridade dos pais – 2002 ............................................................ 54
Tabela 12 – Proporção de professores, por sexo, segundo a
condição do município onde leciona – 2002 .................................... 57
Tabela 13 – Proporção de professores, por sexo, segundo o porte
do município (em número de habitantes) onde leciona – 2002 ........ 58
Tabela 14 – Proporção de professores, por sexo, segundo a
região geográfica onde leciona – 2002.............................................. 58
Tabela 15 – Proporção de professores, segundo a faixa de
renda familiar mensal – 2002............................................................ 61
Tabela 16 – Proporção de professores, por dependência
administrativa da escola, segundo renda familiar mensal – 2002..... 61
Tabela 17 – Proporção de professores, por região geográfica
onde leciona, segundo a renda familiar mensal – 2002..................... 63
Tabela 18 – Proporção de professores, por condição do município
onde leciona, segundo a renda familiar mensal – 2002..................... 63
Tabela 19 – Proporção de professores, por renda familiar mensal,
segundo a percepção da condição econômica da família – 2002 .......... 66
Tabela 20 – Proporção de professores, por renda familiar
mensal, segundo identificação de classe social – 2002..................... 67
Tabela 21 – Proporção de professores, por porte do município
onde leciona, segundo renda familiar mensal – 2002 ....................... 68
Tabela 22 – Proporção de professores, por porte do município
onde leciona, segundo a percepção da condição econômica da
família – 2002 ................................................................................... 68
187
Tabela 23 – Proporção de professores, por dependência
administrativa da escola, segundo identificação de classe
social – 2002 ..................................................................................... 69
Tabela 24 – Proporção de professores, por dependência
administrativa da escola, segundo o nível socioeconômico de
seus alunos – 2002 ............................................................................ 69
Tabela 25 – Proporção de professores, por renda familiar
mensal, segundo situação econômica intergeracional – 2002........... 71
Tabela 26 – Proporção de professores, por região geográfica
onde leciona, segundo situação econômica intergeracional – 2002 .... 71
Tabela 27 – Proporção de professores, por renda familiar
mensal, segundo dependência administrativa da escola
freqüentada pelo filho durante o ensino fundamental – 2002 .......... 73
Tabela 28 – Proporção de professores segundo a
dependência administrativa da escola que estudou durante
o ensino fundamental e médio – 2002 .............................................. 75
Tabela 29 – Proporção de professores, segundo a
dependência administrativa da escola em que obtiveram
titulação, iniciaram a carreira e atuam no momento – 2002 ............. 76
Tabela 30 – Proporção de professores, por habilitação, segundo
a renda familiar mensal – 2002 ......................................................... 77
Tabela 31 – Proporção de professores, por dependência
administrativa da instituição onde obteve a titulação,
segundo habilitação – 2002 .............................................................. 78
Tabela 32 – Proporção de professores, por nível de ensino
de atuação, segundo a habilitação – 2002......................................... 79
188
Tabela 33 – Proporção de professores, por porte do município,
segundo a habilitação – 2002........................................................... 80
Tabela 34 – Proporção de professores, por habilitação, segundo
o tempo de magistério – 2002........................................................... 81
Tabela 35 – Proporção de professores, por habilitação, segundo
opinião sobre a situação econômica daqui a 5 anos – 2002 ............. 81
Tabela 36 – Proporção de professores, segundo o tempo
em que conseguiu o primeiro emprego como docente – 2002 .......... 83
Tabela 37 – Proporção de professores, segundo a
dependência administrativa da escola onde iniciou a carreira
docente e onde trabalha atualmente – 2002 ..................................... 83
Tabela 38 – Proporção de professores, segundo a quantidade
de horas semanais despendidas dentro de sala de aula – 2002......... 84
Tabela 39 – Proporção de professores, por nível de ensino
em que atua, segundo o número de alunos – 2002 ........................... 84
Tabela 40 – Proporção de professores da rede pública, segundo
o tipo de vínculo institucional mantido com a escola – 2002 .......... 85
Tabela 41 – Proporção de professores da rede pública, por sexo,
segundo o tipo de vínculo institucional mantido com a
escola 2002 .................................................................................... 86
Tabela 42 – Proporção de professores da rede pública, por tempo
de magistério, segundo o tipo de vínculo institucional mantido
com a escola – 2002.......................................................................... 87
Tabela 43 – Proporção de professores da rede pública, por
região geográfica, segundo o vínculo institucional mantido com
a escola – 2002 ................................................................................. 87
189
Tabela 44 – Proporção de professores da rede pública, por
nível de ensino em que atua, segundo o tipo de vinculo
institucional mantido com a escola – 2002 ...................................... 88
Tabela 45 – Proporção de professores da rede pública,
por vínculo institucional mantido com a escola, segundo
a realização de outro trabalho remunerado – 2002........................... 89
Tabela 46 – Proporção de professores, segundo freqüência a
eventos culturais – 2002 ................................................................... 91
Tabela 47 – Proporção de professores, por renda familiar
mensal, segundo a freqüência a eventos culturais – 2002 ................ 93
Tabela 48 – Proporção de professores, segundo a freqüência
de atividades que atestam suas preferências culturais – 2002.......... 97
Tabela 49 – Proporção de professores, segundo a freqüência
de outras atividades – 2002 .............................................................. 98
Tabela 50 – Proporção de professores, segundo gêneros
musicais preferidos – 2002 .............................................................100
Tabela 51 – Proporção de professores, segundo gêneros de
leituras preferidas no tempo livre – 2002 ....................................... 101
Tabela 52 – Proporção de professores, segundo tipos de
programas televisivos preferidos – 2002.........................................102
Tabela 53 – Proporção de professores, segundo esportes
preferidos – 2002 ............................................................................104
Tabela 54 – Proporção de professores, segundo freqüência
da participação em associações – 2002 ..........................................106
190
Tabela 55 – Proporção de professores, segundo opinião
sobre as finalidades mais e menos importantes a serem
alçadas pela educação – 2002.........................................................109
Tabela 56 – Proporção de professores, segundo grau de
concordância com os aspectos da LDB – 2002 ..............................111
Tabela 57 – Proporção de professores, segundo o impacto da
LDB em aspectos da rotina escolar – 2002 ....................................113
Tabela 58 – Proporção de professores, por dependência
administrativa da escola, segundo opinião sobre temas a
serem tratados na escola – 2002 .....................................................115
Tabela 59 – Proporção de professores, segundo opinião sobre
situações que representam ou não um problema em seu
trabalho diário na escola – 2002 .....................................................116
Tabela 60 – Proporção de professores, por renda familiar
mensal, segundo indicação de fatores que influenciam a
aprendizagem – 2002 ......................................................................119
Tabela 61 – Proporção de professores, por renda familiar
mensal, segundo a existência de computador em casa – 2002 .......122
Tabela 62 – Proporção de professores, por renda familiar
mensal, segundo o acesso à Internet em casa – 2002 ..................... 122
Tabela 63 – Proporção de professores, por renda familiar
mensal, segundo opinião sobre os efeitos das novas
tecnologias de informação sobre a educação – 2002......................123
Tabela 64 – Proporção de professores, segundo o grau de
concordância com afirmações sobre o papel político do
professor – 2002 .............................................................................128
191
Tabela 65 – Proporção de professores, segundo opiniões
sobre o compromisso político do professor, no início da
carreira – 2002 ................................................................................130
Tabela 66 – Proporção de professores, segundo a concordância
com afirmações sobre liberdade e igualdade – 2002 ......................131
Tabela 67 – Proporção de professores, segundo instituição
que considera mais adequada para oferecer formação docente
aos professores – 2002....................................................................132
Tabela 68 – Proporção de professores, por habilitação, segundo
a indicação dos estímulos mais eficazes para formação
continuada – 2002 ..........................................................................133
Tabela 69 – Proporção de professores, por habilitação,
segundo a indicação dos pontos importantes para um programa
de aperfeiçoamento – 2002.............................................................134
Tabela 70 – Proporção de professores, segundo opinião sobre
as possíveis mudanças nas condições do trabalho docente – 2002..... 136
Tabela 71 – Proporção de professores, por região geográfica,
segundo atividades escolhidas para ocupar o tempo extra de
dez horas de trabalho remunerado a mais por semana na escola
em que trabalha – 2002 ..................................................................137
Tabela 72 – Proporção de professores, segundo o grau de
satisfação em relação ao seu trabalho, comparado com o início
da carreira docente – 2002..............................................................138
Tabela 73 – Proporção de professores, por região geográfica,
segundo a aspiração profissional para os próximos cinco
anos – 2002 .....................................................................................139
192
Tabela 74 – Proporção de professores, por tempo de
magistério, segundo a aspiração profissional para os próximos
cinco anos – 2002 ..........................................................................141
Tabela 75 – Proporção de professores, segundo a opinião
sobre comportamentos na esfera pública – 2002 ..........................142
Tabela 76 – Proporção de professores, segundo a opinião
sobre comportamentos na esfera privada – 2002..........................144
Tabela 77 – Proporção de professores, segundo opiniões
sobre soluções para o problema da criminalidade – 2002 ............145
Tabela 78 – Proporção de professores, segundo opinião
a respeito de ter determinados grupos sociais em sua
vizinhança – 2002 ..........................................................................146
Tabela 79 – Proporção de professores, por faixa etária,
segundo opinião a respeito de ter determinados grupos sociais
em sua vizinhança – 2002..............................................................148
Tabela 80 – Proporção de professores, por região geográfica,
segundo opinião a respeito de ter determinados grupos sociais
em sua vizinhança – 2002..............................................................150
Tabela 81 – Proporção de professores, segundo opinião
sobre a fragilização ou o fortalecimento de determinados
valores entre os jovens de hoje – 2002..........................................153
Tabela 82 – Proporção de professores, por faixa etária,
segundo opinião sobre a fragilização ou o fortalecimento
de determinados valores entre os jovens de hoje – 2002 ............155
193
Gráfico 1 – Proporção de professores, por renda familiar
mensal, segundo opinião sobre definições a respeito do
papel do professor – 2002............................................................... 126
LISTA DE GRÁFICOS
195
ANEXO – Tabelas
TABELA A1 – Proporção de professores, por sexo, segundo a relação/
parentesco com o chefe de família
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Qual a sua relação com a pessoa que é chefe de família na sua casa?
(1) Dados expandidos.
TABELA A2 – Proporção de professores, por sexo, segundo a condição de
ser ou não o principal provedor de renda da família
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: O(a) sr.(a) é o(a) principal provedor(a) de renda da sua casa?
(1) Dados expandidos.
TABELA A3 – Proporção de professores, segundo dependência
administrativa do estabelecimento que lhe conferiu o título para a prática
da docência
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Qual o tipo de estabelecimento lhe conferiu o título para a prática da docência?
(1) Dados expandidos.
196
TABELA A4 – Proporção de professores, por habilitação, segundo tempo
de magistério
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Há quantos anos o(a) sr. (a) é professor?
(1) Dados expandidos.
TABELA A5 – Proporção de professores, por região geográfica, segundo
habilitação
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Qual a sua habilitação?
(1) Dados expandidos.
197
TABELA A6 – Proporção de professores, por habilitação, segundo a faixa
etária
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Sua idade?
(1) Dados expandidos.
TABELA A8 – Proporção de professores, por habilitação, segundo a
realização de outro trabalho remunerado
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Hoje, além da atividade docente, o(a) sr.(a) realiza outro trabalho remunerado?
(1) Dados expandidos.
TABELA A7 – Proporção de professores, por sexo, segundo a quantidade
de escolas em que trabalha
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: O(a) sr(a) trabalha como professor em quantas escolas?
(1) Dados expandidos.
198
TABELA A9 – Proporção de professores, por sexo, segundo a freqüência
em eventos culturais
1
¹– 2002
199
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: O(a) sr.(a) costuma ir a algum dos seguintes eventos culturais? Com que freqüência?
(1) Dados expandidos.
TABELA A9 – (continuação)
200
TABELA A10 – Proporção de professores, por dependência administrativa
da escola, segundo a freqüência em eventos culturais
1
¹– 2002
201
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: O(a) sr.(a) costuma ir a algum dos seguintes eventos culturais? Com que freqüência?
(1) Dados expandidos.
TABELA A10 – (continuação)
202
TABELA A11 – Proporção de professores, por faixa etária, segundo
preferências musicais
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Quais dos gêneros musicais abaixo o(a) sr.(a) prefere? (Selecione os três que o(a) sr.(a) mais ouve)
(1) Dados expandidos.
(2) As respostas não são auto-excludentes.
203
TABELA A12 – Proporção de professores, por condição do município,
segundo preferências musicais
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Quais dos gêneros musicais abaixo o(a) sr.(a) prefere? (Selecione os três que o(a) sr.(a) mais ouve)
(1) Dados expandidos.
(2) As respostas não são auto-excludentes.
TABELA A13 – Proporção de professores, por sexo, segundo programa de
TV mais preferidos
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Se tivesse que escolher um programa de TV para assistir, qual dos gêneros abaixo o(a) sr.(a)
escolheria? (Marque apenas o mais preferido)
(1) Dados expandidos.
(2) As respostas não são auto-excludentes.
204
TABELA A14 – Proporção de professores, por sexo, segundo programa de
TV menos preferidos
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Se tivesse que escolher um programa de TV para assistir, qual dos gêneros abaixo o(a) sr.(a)
escolheria? (Marque apenas o menos preferido)
(1) Dados expandidos.
(2) As respostas não são auto-excludentes.
TABELA A15 – Proporção de professores, por sexo, segundo esporte mais
preferido
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Does esportes abaixo, qual o(a) sr.(a) prefere? (Marque apenas um mais e um menos preferido)
(1) Dados expandidos.
(2) As respostas não são auto-excludentes.
205
TABELA A16 – Proporção de professores, por dependência administrativa
da escola, segundo freqüência da participação em associações ou
instituições
1
¹– 2002
206
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: O(a) sr.(a) participa de alguma das seguintes associações ou instituições? (Caso participa,
marque um X na freqüência correspondente, caso não participa marque um X em nunca)
(1) Dados expandidos.
TABELA A16 – (continuação)
207
TABELA A17 – Proporção de professores, por regiões geográficas, segundo
concordância com os aspectos da LDB
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi solicitado aos professores: Manifeste seu grau de acordo ou desacordo com os seguintes aspectos da Lei de Diretrizes e Bases
(LDB) – Lei nº.9394/96:
(1) Dados expandidos.
208
TABELA A18 – Proporção de professores, por faixa etária, segundo o
grau de concordância com afirmações sobre o papel político do
professor
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Avalie, de 01 a 10, seu grau de acordo com cada uma das seguintes proposições, onde 10
representa o grau máximo de concordância.
(1) Dados expandidos.
209
TABELA A19 – Proporção de professores, por faixa etária, segundo a
concordância com afirmações sobre liberdade e igualdade
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Qual dessas duas frases mais se aproxima da sua opinião?
(1) Dados expandidos.
210
TABELA A20 – Proporção de professores, por renda familiar, segundo a
concordância com afirmações sobre liberdade e igualdade
1
¹– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Qual dessas duas frases mais se aproxima da sua opinião?
(1) Dados expandidos.
TABELA A21 – Proporção de professores, por dependência administrativa
da escola, segundo a aspiração profissional para os próximos anos
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Qual é a sua principal aspiração profissional para os próximos anos?
(1) Dados expandidos.
211
TABELA A22 – Proporção de professores, por habilitação, segundo aspiração
profissional para os próximos anos
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Qual é a sua principal aspiração profissional para os próximos anos?
(1) Dados expandidos.
212
TABELA A23 – Proporção de professores, por sexo, segundo opinião sobre
comportamentos na esfera privada
1
– 2002
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: De acordo com o(a) sr.(a), esses comportamentos são admissíveis ou inadmissíveis?
(1) Dados expandidos.
213
TABELA A24 – Proporção de professores, por sexo, segundo opinião sobre
fragilização ou fortalecimento de determinados valores entre os jovens de
hoje
1
¹– 2002
214
Fonte: UNESCO, Pesquisa de Professores, 2002.
Notas: Foi perguntado aos professores: Qual a sua opinião sobre o fortalecimento ou fragilização/enfraquecimento de alguns valores
entre os jovens de hoje?
(1) Dados expandidos.
TABELA A24 – (continuação)
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