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MATERIAL ESSENCIAL
MATERIAL ESSENCIAL
Colecção Boas Práticas da ONUSIDA
A resposta dos agregados
familiares e das comunidades
à epidemia do HIV/SIDA
nas zonas rurais
da África
Sub-sahariana
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UNAIDS/99.43E - (Original em inglês: Agosto 1999)
ONUSIDA - 20 Avenue Appia - 1211 Genebra 27 - Suíça
Telef. (+41 22) 791 46 51 - Fax (+41 22) 791 41 87
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© Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o HIV/SIDA
(ONUSIDA) 2001.
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Agradecimentos
Este relatório foi compilado por Gladys Mutangadura,
Duduzile Mukurazila e Helen Jackson.
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ONUSIDA
Genebra, Suíça
1999
ONUSIDA COLECÇÃO BOAS PRÁTICAS
A resposta dos agregados
familiares e das comunidades
à epidemia do HIV/SIDA
nas zonas rurais
da África Sub-sahariana
A resposta dos agregados
familiares e das comunidades
à epidemia do HIV/SIDA
nas zonas rurais
da África Sub-sahariana
A resposta dos agregados
familiares e das comunidades
à epidemia do HIV/SIDA
nas zonas rurais
da África Sub-sahariana
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ONUSIDA
SUMÁRIO
Prefácio ................................................................................................................... 5
Siglas ....................................................................................................................... 7
Resumo.................................................................................................................... 9
1. Introdução............................................................................................................. 13
2. Objectivos, métodos e definição de termos ....................................................... 15
2.1 Objectivos ....................................................................................................... 15
2.2 Metodologia, alcance e limites do estudo ........................................................ 16
2.3 Definição de termos ........................................................................................ 16
3. As acções de resposta dos agregados familiares perante o HIV/SIDA nas
zonas rurais........................................................................................................... 17
3.1 Tipos de estratégias adoptadas pelos agregados familiares .............................. 17
3.2 As estratégias de resposta mais comuns .......................................................... 24
4. As implicações políticas no reforço das acções de resposta dos agregados
familiares .............................................................................................................. 24
4.1 Melhorar a produção agrícola ......................................................................... 24
4.2 Gerar rendimentos e diversificar as fontes de rendimentos .............................. 26
4.3 Reduzir o peso do trabalho das mulheres ........................................................ 27
4.4 Melhorar o bem-estar das crianças necessitadas .............................................. 27
4.5 Estratégias de longo prazo .............................................................................. 28
4.6 Áreas de investigação para aprofundar............................................................ 28
4.7 Quem é responsável pela opções ao nível dos programas e das políticas? ........ 28
5. Respostas comunitárias ao HIV/SIDA .................................................................. 29
5.1 As organizações comunitárias locais informais ................................................. 31
5.2 As organizações formais de base comunitária.................................................. 35
5.3 Programas de tratamento e de cuidados ao domicílio ...................................... 42
5.4 Mudanças ao nível das regras e dos valores culturais ....................................... 44
6. As implicações das políticas nas acções de resposta comunitárias .................. 45
6.1 Reforçar e mobilizar as capacidades comunitárias ............................................ 46
6.2 Reforçar as respostas da comunidade .............................................................. 47
6.3 Medidas de atenuação .................................................................................... 47
6.4 Actividades geradoras de receitas .................................................................... 48
6.5 Trabalho em parceria ....................................................................................... 49
6.6 Avaliar a eficácia das respostas da comunidade ............................................... 49
7. Conclusões ............................................................................................................ 50
Referências e fontes de documentação .............................................................. 52
Anexo 1 Exemplos de grupos de entreajuda do Uganda ............................................. 61
Anexo 2 Organizações de ajuda aos sobreviventes em Kagera, Tanzania ..................... 62
Anexo 3 Exemplos de organizações de base comunitária nas
zonas rurais do Zimbabwé ........................................................................... 63
Anexo 4 Exemplos de organizações de base comunitária nas
zonas rurais do Quénia ................................................................................. 64
5
ONUSIDA
Prefácio
Em 1997, os Co-patrocinadores da ONUSIDA propuseram-se planear um pro-
jecto relativo ao impacto e às consequências da epidemia do HIV/SIDA e levá-lo a cabo em
1998-99. Os sectores a estudar incluíam a agricultura, as crianças e as famílias. O presente
relatório foi preparado pela ONUSIDA com a cooperação do PNUD e da FAO, na sequência de
uma conferência regional que se realizou em Harare, em Junho de 1998, e cujo tema era o
impacto do HIV/SIDA nos agregados familiares rurais de pequena dimensão. Esta iniciativa, sob
a forma de um documento de referência, faz parte do Apelo Colectivo dos Co-patrocinadores
da ONUSIDA e concentra-se nas zonas rurais. Ela consiste numa análise da documentação que
foi produzida até agora acerca das respostas que dão os agregados familiares rurais e as comu-
nidades para atenuar a epidemia do HIV/SIDA e incide na África Sub-sahariana. O conhecimen-
to destes dados é imperativo para se melhorar a planificação das futuras respostas nas zonas
rurais. É fundamental saber quais são as soluções que dão bons resultados e avaliar a dimen-
são dos custos da implementação dessas soluções.
O presente relatório baseia-se no trabalho de Gladys Mutangadura, Duduzile Mukurazita e
Helen Jackson que compilaram e analisaram a documentação referente às respostas dadas
pelos agregados familiares e pelas comunidades à epidemia do HIV/SIDA.
Em numerosos países e zonas de elevada prevalência, o HIV/SIDA não só representa uma ame-
aça para a saúde dos indivíduos e uma ameaça, social e económica para as famílias e para as
comunidades, como também mina o lento avanço das últimas décadas em matéria de desen-
volvimento. O seu efeito global na sociedade mede-se amiúde em termos de atrasos no cresci-
mento do PIB ou de recuo ao nível do desenvolvimento (pontos) no índice de desenvolvimento
humano utilizado pelo PNUD. Esses valores (pontos) são muitas vezes números abstractos para
os estrategas, mas cada vez que decrescem isso traduz-se em perdas concretas ao nível dos
agregados familiares. O efeito do HIV/SIDA nos agregados familiares é devastador: estudos
efectuados entre agregados familiares de África e da Ásia (Costa do Marfim, Tanzania, Tailândia)
mostram que as famílias vivendo com o HIV/SIDA estão sujeitas a substanciais reduções nos
seus rendimentos, que vão de 40 a 60 %. Esta perda é compensada pelo recurso a emprésti-
mos, pela utilização das poupanças das pessoas e pela redução do consumo. Estes aspectos
são os que relevam da economia; no que se refere às estratégias de resposta aos problemas
sociais, verifica-se a dissolução total ou parcial das famílias: as crianças vão viver com outros
membros da família, o cônjuge ou o filho emigram para ganhar dinheiro e, por vezes, quando
o marido morre, a esposa tem de ir viver para casa de um irmão.
A fim de melhorar as condições de vida das famílias rurais vivendo com o HIV/SIDA e de as
ajudar a manter o seu rendimento de base, nós, na nossa qualidade de decisores de nível
nacional e internacional, juntamente com as ONG que trabalham nesta área, temos de alargar
os nossos conhecimentos das estratégias de resposta que já são utilizadas pelas famílias e pelas
comunidades. Neste processo, precisamos de pôr em evidência as estratégias que funcionam
de maneira sustentável assim como os custos necessários para se garantir o sucessos destas
iniciativas.
Esperemos que o presente relatório sirva de inspiração às comunidades, às ONG e aos doado-
res das zonas rurais, principalmente em África, onde a epidemia não só não se limita às cidades
ou a subgrupos de populações específicas, como a doença tem também um efeito devastador
nas aldeias e nas comunidades. Este relatório dá exemplos de estratégias que deram resultados
Prefácio
A resposta dos agregados familiarese das comunidades à epidemia do HIV/SIDA nas zonas rurais da África Sub-sahariana
6
positivos e de outras que fracassaram. Todavia, não responde à pergunta sobre a relação custo-
eficácia das acções de resposta, como estava previsto inicialmente. São muito poucas as inicia-
tivas de resposta das comunidades e dos agregados familiares rurais ao impacto da epidemia
do HIV/SIDA que foram avaliadas no que respeita à sua eficácia e, na prática, nenhuma o foi no
que respeita ao seu custo para a sociedade. Esta descoberta, que já é importante por si só,
serve para lembrar a quem implementa projectos que só raramente é possível adoptar métodos
utilizados por outros quando se dispõe apenas da descrição do processo em si. A avaliação do
processo é importante mas não é suficiente para se decidir a implementação de um projecto.
Se quisermos participar no estabelecimento de políticas nesta área, temos que saber quais são
as medidas que dão resultados e porquê.
Aquando da planificação de acções de resposta, devem ser efectuadas avaliações sistemáticas
- incluindo análises de rentabilidade - para que se garanta que as escolhas feitas tomem em
consideração a eficácia, a capacidade de financiamento, a sustentabilidade e as questões rela-
tivas à equidade. O presente estudo mostra claramente que os critérios de impacto e de eficá-
cia são raramente definidos. Para se garantir uma planificação adequada são necessárias uni-
dades de medida do impacto e dos resultados (a curto e a longo prazos), bem como avaliações
dos custos das iniciativas. Estas avaliações podiam incluir indicadores sobre o grau de sucesso
do projecto, como o número de famílias que ele abrange, a escolaridade, a segurança alimen-
tar e a quantidade de dinheiro disponível, em conformidade com os objectivos do programa. É
de esperar que este documento alimente debates sobre o que poderá ser feito nas zonas rurais
para atenuar o impacto do HIV/SIDA, tanto ao nível dos agregados familiares como das comu-
nidades. Esperamos igualmente que encoraje os estrategas políticos e as comunidades a
monitorar e a medir a eficácia e os custos incorridos com essas iniciativas, criando-se assim uma
memória colectiva neste domínio.
7
ONUSIDA
Siglas
ABEKA Abemahamo ba Karagwe (organização de base comunitária da Tanzania)
ACDI Agência Canadiana para o Desenvolvimento Internacional
AusAID Australian Agency for International Development (Agência Australiana para o
Desenvolvimento Internacional)
DANIDA Danish International Development Agency (Agência Dinamarquesa para o
Desenvolvimento Internacional)
DFID Department for International Development, UK (Agência Britânica para o
Desenvolvimento Internacional)
DTS Doenças de transmissão sexual
ELCT Evangelical Lutheran Church of Tanzania, Huyawa (Igreja Evangélica Luterana
da Tanzania)
FACT Family AIDS Caring Trust (Associação de Ajuda às Famílias Afectadas pelo
SIDA)
FAO Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura
FOCUS Families, Orphans and Children Under Stress Programme (Programa de Ajuda
às Famílias, aos Órfãos e às Crianças em Dificuldade)
GASCO Gomba AIDS Care Organization (Organização de Cuidados aos Doentes do SIDA,
Uganda)
GTZ Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (Agência de Cooperação
Técnica Alemã)
HIV Vírus da Imuno-deficiência Humana
HIVOS Humanistic Institute for Cooperation with Developing Countries (Netherlands),
(Instituto Humanista para a Cooperação com os Países em vias de
Desenvolvimento – Países Baixos)
KAKAU Kanisa Katoloki na UKIMWI, (Organização de base comunitária da Tanzania)
KARADEA Karagwe Development Association (Associação de Desenvolvimento de
Karagwe)
KISA Kisa Farm Women’s Group (Grupo de mulheres – Uganda)
KOCC Kemondo Orphan Care Center (Centro de Ajuda aos órfãos –Tanzania)
KOTF Kagera Orphans Trust Fund (Tanzania)
MACOP Missenyi AIDS Control Orphans Project (Tanzania)
NACWOLA National Community of Women Living with HIV/AIDS (Comunidade nacional
de mulheres vivendo com o HIV/SIDA)
NORAD Norwegian Agency for International Development (Agência Norueguesa para o
Desenvolvimento Internacional)
OMS Organização Mundial de Saúde
A resposta dos agregados familiarese das comunidades à epidemia do HIV/SIDA nas zonas rurais da África Sub-sahariana
8
ONG Organização não-governamental
ONUSIDA Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o HIV/SIDA
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PVHS Pessoas Vivendo com o HIV/SIDA
SAfAIDS Southern Africa AIDS Information Dissemination Service (Serviço de Difusão de
Informação sobre o SIDA da África Austral)
SAFO Society for AIDS Families and Orphans, África do Sul (Agrupamento de Famílias
e Órfãos Atingidos pelo SIDA)
SARDC Southern Africa Regional Documentation Centre (Centro de Documentação
Regional da África Austral)
SIDA Síndroma de Imuno-deficiência Adquirida
SIDA Swedish International Development Agency (Agência Sueca de Desenvolvimento
Internacional)
STOGA St Theresa’s Old Girls Association
TASO The AIDS Support Organization, Uganda (Organização Ugandesa de Ajuda aos
Doentes do SIDA)
UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância
USAID United States Agency for International Development (Agência dos Estados Unidos
para o Desenvolvimento Internacional)
WAMATA Walio Katika Mapambano na Ukimwi, Rubya Branch (Os que estão em guerra
contra o SIDA na Tanzania)
ZAN Zimbabwé AIDS Network (Rede SIDA do Zimbabwé)
9
ONUSIDA
Resumo
Introdução
Resultados
A finalidade do presente estudo é examinar a documentação que existe sobre as
acções de resposta ao HIV/SIDA ao nível dos agregados familiares e das comunidades e de
formular recomendações em matéria de políticas. O presente documento constitui a base de
um outro muito mais curto e mais orientado para a sensibilização e que servirá para estimular
debates entre os grupos temáticos das Nações Unidas e os principais agentes interessados
naquilo que pode ser feito na África Sub-sahariana. Este estudo consiste numa análise das
publicações existentes e numa reflexão baseada nelas. A documentação estudada tem algu-
mas limitações: por um lado, dado que os documentos se concentram na África Sub-sahariana,
os resultados não são necessariamente aplicáveis a outras regiões do mundo; por outro, dado
que se trata de uma análise de documentos, foi difícil obter testemunhos «informais», pelo que
a cobertura do assunto fica inevitavelmente incompleta.
Resultados
Adocumentação respeitante às acções de resposta dos agregados familiares re-
velou que são várias as acções que estes empreendem e que elas podem ser classificadas em
três categorias:
1. Estratégias destinadas a melhorar a segurança alimentar.
2. Estratégias destinadas a procurar rendimentos ou a aumentá-los por forma a que o agrega-
do familiar possa manter o seu padrão de despesas.
3. Estratégias destinadas a atenuar a perda de mão-de-obra.
As estratégias de resposta que não requerem o uso de dinheiro são as que são mais frequentemen-
te adoptadas. Entre os exemplos destas estratégias encontra-se a redistribuição do trabalho no
seio do lar, a retirada das crianças da escola, a diversificação da produção agrícola do agregado
familiar e a diminuição das áreas cultivadas. Embora certas estratégias de resposta não sejam
irreversíveis, outras, como a retirada das crianças da escola, são-no muitas vezes. A estas podemos
considerá-las estratégias de curto prazo com consequências de longo prazo para a sobrevivência.
A rentabilidade das estratégias de resposta local dos agregados familiares não foi objecto de
investigação. Este ponto representa inegavelmente uma lacuna no conhecimento e deve ser
alvo de pesquisa no futuro.
As políticas que podem ser adoptadas para se reforçar a capacidade de resposta dos agregados
familiares em relação ao impacto do HIV/SIDA incluem:
a melhoria do acesso dos agregados familiares aos recursos que são limitados tais como a
mão-de-obra, a terra, o capital, os animais de tiro e as competências em matéria de gestão;
a promoção de uma utilização optimizada dos recursos disponíveis através de tecnologias
melhoradas; a prestação de um apoio económico destinado a melhorar os rendimentos dos
agregados familiares afectados por meio de actividades geradoras de receitas;
a instauração da entreajuda (responsabilização) entre os grupos que estão afectados, tais
como os agregados familiares chefiados por crianças, as viúvas, os avós, os jovens, os ór-
fãos, as trabalhadoras do sexo, etc., a fim de se reduzir a vulnerabilidade e de se reforçar a
capacidade de resposta.
Resumo
Introdução
A resposta dos agregados familiarese das comunidades à epidemia do HIV/SIDA nas zonas rurais da África Sub-sahariana
10
Existem diferentes iniciativas comunitárias destinadas a atenuar o impacto do HIV/SIDA. Elas
são levadas a cabo por ONG, grupos religiosos, curandeiros tradicionais, pessoas vivendo com
o HIV/SIDA, mulheres, jovens e outros. Eis algumas delas:
organização comunitária de acolhimento de crianças;
sistemas cooperativos de guarda de crianças e de centros de nutrição para ajudar as mulhe-
res a enfrentar o peso do seu trabalho;
apoio aos órfãos na forma de ajuda em matéria de nutrição e educação;
reparação de casas em vias de deterioração;
prestação de cuidados domiciliários e visitas aos órfãos ou aos doentes de SIDA;
confecção e distribuição de uniformes escolares;
aprendizado e formação profissional de órfãos adolescentes;
projectos agrícolas de diferentes níveis a fim de se aumentar a produção;
partilha do trabalho; projectos geradores de receitas com o fim de obter dinheiro e comida;
associações de poupança e sistemas de crédito para despesas com funerais.
As respostas da comunidade assumem a forma de organizações locais, tais como grupos de
apoio social, associações de poupança e grupos informais de entreajuda, ou de organizações
de base comunitária que, até certo ponto, se apoiam numa ajuda exterior proveniente de ONG
ou doutros organismos.
Os grupos tradicionais autóctones constituem uma fonte essencial de apoio nas comunidades
sujeitas ao impacto da epidemia de SIDA. A documentação da Tanzania, da Zâmbia e do
Zimbabwé indica que, em numerosas comunidades, existem grupos tradicionais autóctones
tais como associações de poupança e de financiamento de funerais, sistemas de organização
da partilha do trabalho e de economias de colheitas. Estas estruturas desempenham um papel
fundamental na luta dos agregados familiares contra a epidemia do HIV/SIDA.
Nas regiões mais atingidas de Kagera, na Tanzania, um estudo demográfico junto dos agrega-
dos familiares mostrou que novas associações de urgência tinham sido formadas especifica-
mente para enfrentar as necessidades em dinheiro e em mão-de-obra originadas pela epidemia
de SIDA. As principais actividades destas associações de urgência incluem a ajuda às cerimónias
fúnebres, a agricultura comunal, o apoio a doentes, a reconstrução de habitações e a reabilita-
ção de machambas, o apoio aos sobreviventes e a actividades geradoras de receitas. Estes
grupos informais não só prestam ajuda material como apoio psicológico. Porém, à medida que
aumenta o número de falecimentos ligados ao SIDA, estas estratégias locais são cada vez mais
solicitadas e torna-se necessário instaurar programas e políticas capazes de prestar apoio quan-
do as estratégias existentes se tornam insuficientes.
As iniciativas comunitárias formais incluem as organizações de base comunitária e as organizações
de luta contra o impacto do SIDA que se apoiam de uma forma ou doutra na ajuda exterior de
ONG, de governos ou doutras instituições de desenvolvimento. As suas actividades de atenuação
variam de um país para outro mas incluem a agricultura e actividades geradoras de receitas que
são alheias à agricultura, tais como o artesanato, a apicultura, a carpintaria, o corte e a costura, a
criação de porcos, a criação de aves, a cultura de bananas e de legumes e o sector da construção.
A documentação mostra igualmente que quando as comunidades tentam enfrentar o HIV/
SIDA verificam-se certas mudanças ao nível dos valores e normas culturais comunitários. Hoje,
há numerosas comunidades que não têm os recursos materiais e humanos necessários para
manter os ritos requeridos pela tradição e que, por isso, tiveram de adoptar rápidas modifica-
ções. Vários estudos mostram que os períodos de luto foram consideravelmente encurtados.
11
ONUSIDA
Recomendações
Alguns estudos referem igualmente mudanças em certas práticas culturais tradicionais que são
susceptíveis de acelerar a propagação da transmissão do HIV. Por exemplo, num estudo efectu-
ado na Zâmbia, verificou-se que os ritos funerários que incluem práticas sexuais são cada vez
menos praticados, particularmente quando se suspeita que o SIDA tenha sido a causa do fale-
cimento.
Os programas de base comunitária dependentes de ajudas exteriores responderam melhor às
necessidades das pessoas afectadas pelo SIDA, tomando uma série de medidas mais vasta e
mais holistica em benefício dos membros afectados e infectados.
No entanto, estes programas têm limitações como sejam: pouca aptidão em matéria de gestão
e de organização, falta de fundos e de apoio técnico para manter o projecto quando o doador
se retira; prestação de apoio mal orientada; problemas entre fundadores e, quando o progra-
ma é financiado por uma igreja, discriminação em relação aos que dela não são membros. A
adopção de medidas para resolver estes problemas pode ajudar a reforçar a capacidade das
comunidades de lutar contra o impacto do HIV/SIDA.
Recomendações
As principais recomendações que resultam da análise da documentação existente incluem as
seguintes necessidades:
Reforçar a capacidade que os agregados familiares rurais têm para enfrentar o HIV/SIDA
melhorando-se o seu acesso aos recursos que são limitados: trabalho, terra, capital, animais
de tiro e aptidões em matéria de gestão. Tal pode ser realizado através de serviços de
extensionismo que promovam tecnologias que permitam a utilização óptima dos recursos
disponíveis, através de sistemas de pesquisa que desenvolvam tecnologias susceptíveis de
melhorar a produtividade tendo em conta os constrangimentos relativos ao trabalho e ao
capital, através de uma melhoria dos rendimentos dos agregados familiares afectados por
meio de actividades geradoras de receitas e através de um apoio mais orientado para os
agregados familiares mais vulneráveis.
Conseguir que os programas de assistência social se dirijam especialmente a um grupo mais
alargado de agregados familiares, em função de indicadores respeitantes à pobreza e ao
SIDA. Para melhor o conseguir, é necessário trabalhar por intermédio das próprias comuni-
dades para se identificar as pessoas mais necessitadas.
Os estrategas políticos e as agências de desenvolvimento deverão contribuir para a atenua-
ção do impacto do HIV/SIDA trabalhando por meio dos mecanismos comunitários tradicio-
nais já existentes e não removendo-os. Os programas e as políticas deverão orientar-se para
o reforço das acções de resposta locais tais como as associações de poupanças e os sistemas
de economia de mão-de-obra e de tracção animal. Além disso é necessário monitorar de
perto a situação nas comunidades, de modo que se possa elaborar políticas e programas
para se responder aos novos desafios que vão surgindo à medida que a epidemia progride.
Promover a eficácia das organizações de base comunitária e das ONG. As estratégias
de resposta comunitárias podem ser consolidadas por meio do reforço das
competências em matéria de gestão das organizações de base comunitária e da formação
em termos de elaboração projectos, de planificação, de administração, de
monitorização e de avaliação.
Estabelecer uma parceria real entre as comunidades, os governos, as agências doadoras, as
ONG internacionais, as ONG locais, o sector privado e outros, com o fim de se atenuar os
impactos do HIV/SIDA.
A resposta dos agregados familiarese das comunidades à epidemia do HIV/SIDA nas zonas rurais da África Sub-sahariana
12
Intensificar os programas de atenuação. Os doadores multinacionais devem ser mais flexí-
veis e dirigir os seus donativos para as iniciativas locais, de preferência repartindo as quan-
tias em várias fracções modestas em vez de atribuir a totalidade a um só projecto. O realce
que se dá actualmente às subvenções e aos projectos com grandes orçamentos prejudica as
iniciativas locais as quais poderão ser muito mais eficazes e apropriadas e também duradoiras.
Os doadores são contudo avessos a gerir vários pequenos projectos. É necessário um meca-
nismo para resolver este problema, talvez através de um organismo intermédio cujo papel
seria gerir os fundos, que atribuíria em pequenas fracções, e prestar contas da sua utiliza-
ção aos doadores.
Conseguir que as estratégias governamentais de longo prazo se ocupem dos problemas
subjacentes que tornam os pequenos agregados familiares rurais vulneráveis ao impacto do
HIV/SIDA. As estratégias devem visar a eliminação da pobreza por meio da reabilitação e da
expansão de serviços essenciais tais como a educação de base, os cuidados de saúde pre-
ventivos, a água potável, saneamento, melhoria do acesso à terra, ao crédito e aos merca-
dos, assim como uma protecção maior contra a seca por meio da introdução da irrigação.
Seria igualmente necessário criar mais empregos remunerados para os pobres e para as
pessoas que não possuem terra.
Desenvolver uma abordagem mais global no que respeita à avaliação dos programas de
atenuação e assegurar uma boa qualidade em matéria de planificação. Para isso, é necessá-
rio dispor de instrumentos de medição do impacto e dos resultados (de curto e de longo
prazos), bem como do custo das iniciativas.
Evitar que as organizações de base comunitária e as ONG efectuem um trabalho igual
àquele que já existe nas comunidades, antes fazendo com que se integrem, reforçando ou
complementando as respostas comunitárias. O apoio exterior deve ser arquitectado a partir
das estruturas comunitárias existentes: igrejas, grupos de mulheres, escolas e famílias de
acolhimento.
Os governos devem desempenhar um papel de liderança mais activo e rever o seu empenho
em relação ao desenvolvimento rural. Devem tomar este caminho após uma análise clara
do impacto do SIDA no desenvolvimento e do impacto do desenvolvimento na própria
epidemia do SIDA.
13
ONUSIDA
1. Introdução
Ao longo dos últimos vinte anos, o HIV/SIDA tornou-se um fenómeno cada vez
mais mundial. Nos países mais gravemente atingidos pela pandemia, a morbilidade e a morta-
lidade cresceram e prevê-se que vão continuar a subir. O facto de a morbilidade e a mortalida-
de aumentarem não só significa que o HIV/SIDA está a modificar a estrutura demográfica dos
agregados familiares como também que ele atinge gravemente o bem-estar socio-económico
dos agregados familiares e das comunidades. Investigações efectuadas sobretudo nos anos
noventa, mostraram que o HIV/SIDA tem um efeito negativo nas pequenas explorações agríco-
las e por conseguinte na vida dos agregados familiares rurais. Só por este motivo já é necessário
prestar atenção ao nível das políticas. Os efeitos socio-económicos são duramente sentidos
pelos indivíduos, pelos agregados familiares e pelas comunidades, os quais recebem pouco
apoio - ou mesmo nenhum - da comunidade encarregada das mudanças tecnológicas e dos
estrategas políticos. Segundo o relatório do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o
HIV/SIDA (ONUSIDA) para 1998, mais de 33 milhões de pessoas vivem com o HIV/SIDA no
mundo. Cerca de 60 % das pessoas infectadas vivem na África Sub-sahariana onde a pobreza,
a desigualdade entre os sexos e a vulnerabilidade às catástrofes naturais geram um meio ambi-
ente que exacerba o impacto do HIV/SIDA.
O principal modo de transmissão do HIV na África Sub-sahariana é a relação heterossexual, que
se estima que represente 93 % dos casos entre os adultos, seguida da transmissão vertical e
das transfusões de sangue. As investigações sobre os impactos socio-económicos do HIV/SIDA
nos agregados familiares dos países em vias de desenvolvimento mostraram que os principais
impactos são sociais, psicológicos e económicos (ver no quadro 1 uma recapitulação pormeno-
rizada dos impactos). Os agregados familiares que praticam a agricultura de subsistência são
muitas vezes atingidos de forma mais violenta do que as famílias urbanas. Eles têm que supor-
tar o desaparecimento de membros activos na produção, a descida de rendimentos, a diminui-
ção das suas reservas alimentares e dos seus bens, a redução das suas economias, pois estas
são consagradas aos cuidados de saúde e às despesas com funerais. Além disso, as oportunida-
des de educação ficam reduzidas pois as crianças são tiradas da escola para se ocuparem das
pessoas doentes ou para realizarem pequenos trabalhos que proporcionem um rendimento
suplementar. A diminuição do nível de nutrição foi igualmente observada em agregados fami-
liares pobres (Loewenson et al., 1997).
Ao nível comunitário, quanto mais se acentua a epidemia do HIV/SIDA, mais os impactos socio-
económicos afectam a comunidade no seu conjunto. A longo prazo, provocam efeitos negativos
na própria função e estrutura comunitárias. As perdas em termos de recursos humanos afectam
todas as instituições (ONG, organizações de base comunitária) assim como as estruturas comuni-
tárias e é necessário planificar estas perdas. Os problemas comunitários inerentes a esta nova
situação compreendem: a necessidade de apoio a um número cada vez maior de órfãos, a redu-
ção da participação da comunidade nas estruturas comunitárias e de bairro, o aumento do núme-
ro das pessoas sem lar e o aumento da criminalidade. Por outras palavras, a coesão social está
ameaçada e a situação que de aí advém faz aumentar o risco de transmissão do HIV.
Os agregados familiares e as comunidades já tomaram algumas medidas para enfrentar os
impactos do HIV/SIDA, tal como já o tinham feito em relação a outras calamidades como a
seca. Se assim não tivessem feito, teriam simplesmente deixado de existir. Os agregados fami-
liares mais afectados são as famílias pobres para as quais o impacto do SIDA acentua os proble-
mas, reforça a pobreza e prolonga o tempo necessário para se recomporem. A rede de segu-
1. Introdução
A resposta dos agregados familiarese das comunidades à epidemia do HIV/SIDA nas zonas rurais da África Sub-sahariana
14
rança comunitária tradicional ficou fragilizada devido à acentuação do declínio económico da
África Sub-sahariana e ao aumento do número dos agregados familiares necessitados (Tibaijuka,
1997).
Foram efectuadas muito poucas investigações destinadas a identificar e analisar a rentabilidade
dos mecanismos de resposta utilizados pelas comunidades e pelos agregados familiares. O
objectivo deste estudo é observar as respostas dadas pelas comunidades e pelos agregados
familiares rurais na luta contra o HIV/SIDA, e analisar o seu impacto e sustentabilidade. Ele
sugere igualmente as áreas sobre as quais os estrategas políticos poderiam debruçar-se e apre-
sentar eventualmente melhorias. O presente documento constituiria deste modo a base a par-
tir da qual se desenvolveriam instrumentos de sensibilização. Esta análise da documentação
existente concentrar-se-á em algumas das seguintes interrogações:
Quais são as acções de resposta que os agregados familiares e as comunidades utilizam
actualmente para atenuar os impactos do HIV nas zonas rurais ?
Qual é a frequência de uma acção de resposta, nos diferentes agregados familiares e nas
diferentes localidades?
Quais são os custos associados a cada tipo de resposta ?
Quais são os impactos (sociais e económicos) associados a cada tipo de resposta ?
Qual é a sustentabilidade de cada tipo de resposta ?
Quais são as novas implicações políticas a considerar na formulação de políticas futuras ?
As respostas a estas perguntas são essenciais para os estrategas políticos e para as organiza-
ções de desenvolvimento interessadas na elaboração de estratégias de curto e de longo prazo
destinadas a ultrapassar os impactos do HIV/SIDA. É difícil chegar a conclusões específicas
sobre o impacto de políticas e de projectos alternativos sem se dispor de informações sobre as
acções de resposta levadas a cabo pelos agregados familiares e pelas comunidades mais afec-
tados pela morbilidade e mortalidade.
Este relatório está dividido em seis secções. A secção 2 descreve os métodos e os objectivos do
estudo e define os principais termos utilizados. A secção 3 enumera as respostas actualmente
utilizadas pelos agregados familiares para minorarem o impacto do HIV/SIDA nas zonas rurais e
analisa as estratégias de resposta actualmente utilizadas pelos agregados familiares. A secção 4
identifica as implicações políticas do reforço das estratégias de resposta dos agregados famili-
ares. A secção 5 descreve as acções de resposta da comunidade que existem actualmente para
diminuir o impacto do HIV/SIDA nas zonas rurais e compara os seus efeitos. A secção 6 apre-
senta opções que permitem reforçar estas estratégias e a secção 7 apresenta conclusões.
15
ONUSIDA
2 . Objectivos, métodos
e definição de termos
- Perda da família e da identidade
- Depressão
- Diminuição do bem-estar
- Crescimento da malnutrição,da
fome
- Incapacidade de vacinar ou
prestar cuidados de saúde
- Degradação do estado de saúde
- Aumento das exigências
ao nível do trabalho
- Perda de oportunidades ao
nível educativo/escolar
- Perda da herança
- Migração forçada
- Crianças sem tecto, vagabundagem,
criminalidade
- Aumento do número de crianças
de rua
- Exposição à infecção pelo HIV
Quadro 1: Impactos potenciais do SIDA nos agregados familiares
- Perda de membros, luto
- Empobrecimento
- Alteração da composição da
família e dos papeis dos
adultos e das crianças
- Perda de membros activos
na produção
- Migração forçada
- Dissolução da família
- Stress
- Incapacidade de cuidar e
educar as crianças
- Perda de rendimentos para
os cuidados médicos e a
educação
- Desânimo
- Patologias de longo prazo
(crescimento do comportamento
depressivo entre as crianças)
- O número de agregados
familiares multi-geracionais que
não terão pessoas de meia idade
vai aumentar
Impactos potenciais do SIDA
nas famílias
Impacto do SIDA nas crianças
- Diminuição de mão-de-obra
- Crescimento da pobreza
- Incapacidade de manter as infra-
estruturas
- Perda de mão-de-obra
qualificada
incluindo trabalhadores de
saúde e professores
- Na agricultura, perda de
insumos e de mão-de-obra
- Redução do acesso aos cuidados
de saúde
- Morbilidade e mortalidade
elevadas
- Stress e depressão
- Incapacidade de mobilizar
recursos necessários à satisfação
das necessidades globais da
comunidade em matéria de
seguros ou de financiamento
2.1 Objectivos
O objectivo geral deste estudo é compreender melhor as acções de resposta
das comunidades e dos agregados familiares, principalmente rurais, na luta contra o impacto
do HIV/SIDA e estudar a relação entre o custo e a eficácia destas respostas. Mais especificamen-
te, estes objectivos incluem:
Identificar as respostas dos agregados familiares e das comunidades;
Avaliar as respostas e a sua sustentabilidade perante o impacto.
Fonte: Hunter e Williamson (1997)
2 . Objectivos, métodos
e definição de termos
Problemas ao nível comunitário
A resposta dos agregados familiarese das comunidades à epidemia do HIV/SIDA nas zonas rurais da África Sub-sahariana
16
2.2 Metodologia, alcance e limites do estudo
Este estudo é baseado na análise da documentação existente. Esta foi consultada
no Centro de Documentação da SAfAIDS e noutros centros de compilação de informações.
Efectuaram-se visitas aos seguintes locais: Universidade do Zimbabwé, Institute of Development
Studies, Project Support Group, UNICEF, SADC - Departamento de Segurança Alimentar, SARDC,
escritórios locais do PNUD e do Banco Mundial. Este relatório limita-se geograficamente à
África Sub-sahariana. As pesquisas de dados electrónicos foram efectuadas através da AIDSline
e da Africa Health Anthology. No fim do presente documento encontra-se uma lista completa
das obras consultadas para este estudo.
O estudo concentra-se nas publicações em língua inglesa respeitantes à África Sub-sahariana.
A diversidade das situações agro-ecológicas gera diferenças entre os mecanismos de resposta
que são adoptados. Não se conseguiu encontrar qualquer estudo acerca dos custos das respos-
tas dos agregados familiares ou das comunidades. O essencial da documentação sobre custos
diz respeito às acções ao nível dos cuidados e da prevenção. É difícil obter dados de confiança
respeitantes à economia doméstica (Banco Mundial, 1997). Embora a documentação utilizada
devesse concentrar-se apenas nas zonas rurais e a secção respeitante às respostas ao nível dos
agregados familiares não se debruce senão sobre documentos referentes às zonas rurais, a
secção sobre as respostas da comunidade, essa, baseia-se em publicações tanto sobre zonas
rurais como zonas urbanas. Fez-se esta escolha porque existe um vínculo entre as zonas urba-
nas e rurais: com efeito, as populações deslocam-se frequentemente entre o campo e a cidade
e as respostas da comunidade têm tendência a ser semelhantes. Acontece mesmo que certos
tipos de respostas da comunidade começam nas zonas urbanas, como as que são apoiadas
pelas ONG. Uma das principais limitações da análise das publicações existentes sobre determi-
nado assunto é que os documentos «informais» podem não estar disponíveis nos centros de
documentação.
2.3 Definição de termos
Comunidade: grupo específico de pessoas vivendo geralmente numa zona geo-
gráfica comum, que partilham uma cultura comum, que estão organizados numa estrutura social
e que possuem uma certa consciência da sua identidade como grupo (Allman et al., 1997).
Agregado familiar: grupo de pessoas que vivem sob o mesmo tecto e que tomam as suas
refeições em conjunto.
Custo-eficácia: a relação custo-eficácia é um instrumento de medição. Ela compara o custo de
um programa com a sua eficácia. Uma das medidas da eficácia da atenuação do impacto da
epidemia do HIV/SIDA poderá ser o nível da segurança alimentar e da frequência escolar. Neste
estudo fizeram-se esforços para indicar os custos e a eficácia das diferentes estratégias das
comunidades e dos agregados familiares. Contudo, verificou-se que as informações sobre cada
uma das estratégias são difíceis de obter: não foi efectuado qualquer estudo do custo-eficácia
de iniciativas, particularmente daquelas que são levadas a cabo no âmbito tradicional ou local.
Além disso, as informações respeitantes aos custos destas iniciativas não foram registadas de
maneira formal.
17
ONUSIDA
3 . As acções de resposta dos agregados familiares
perante o HIV/SIDA nas zonas rurais
Os agregados familiares adoptaram uma vasta gama de estratégias para atenuar
os efeitos do HIV/SIDA. Esta secção apresenta os tipos de estratégias adoptadas pelos agregados
familiares, a ordem pela qual foram adoptadas assim como o seu custo e eficácia.
3.1 Tipos de estratégias adoptadas pelos agregados familiares
Existem muitas maneiras de classificar as estratégias de resposta. No quadro 2,
dividimo-las em três categorias principais:
estratégias destinadas a melhorar a segurança alimentar,
estratégias destinadas a gerar e aumentar os rendimentos de forma a manter-se os padrões
de despesas do lar,
estratégias destinadas a aliviar a perda de mão-de-obra.
Recorrer a alimentos menos
caros (Por exemplo, substituindo
o pão pela papa de farinha)
Reduzir o consumo de um dos
alimentos
Enviar as crianças para ficarem
a viver com outros membros da
família
Substituir um dos alimentos por
vegetais locais/selvagens
Mendigar
Quadro 2: Estratégias de resposta dos agregados familiares
Estratégias destinadas a melhorar a
segurança alimentar
A documentação existente sobre o impacto da doença e do falecimento de adultos e sobre as
respostas dos agregados familiares sugere que os indivíduos e os agregados familiares se envol-
vem em processos de experimentação e de adaptação quando tentam enfrentar mudanças
demográficas imediatas e de longo prazo. O impacto do HIV/SIDA, na Zâmbia em particular e
em África em geral, é descrito como um verdadeiro maremoto (Barnett e Blaikie, 1992);
Drinkwater, 1994; Bond, 1993). Ao longo de um período de cinco anos, a uma das fases da
doença podem seguir-se outras que, gradualmente, diminuem os recursos e a disponibilidade
de mão-de-obra de um ou de vários agregados familiares interdependentes. O estudo de Kagera
(Tanzania) mostrou que o agregado familiar afectado fica sujeito, ao longo dos seis meses
3 . As acções de resposta dos agregados familiares
perante o HIV/SIDA nas zonas rurais
Diversificar os rendimentos
Migrar em busca de novos empregos
Contrair empréstimos
Vender bens
Utilização das economias ou
investimentos
Redistribuir o trabalho no seio
do lar e tirar as crianças da escola
Fazer horas extraordinárias
Contratar mão-de-obra e
utilizar animais de tiro
Diminuir a área de cultivo
Pedir ajuda à família
Diversificar as fontes de
rendimento
Estratégias destinadas a gerar e
aumentar os rendimentos de modo a
manter os padrões de despesa do
agregado familiar
Estratégias destinadas a atenuar a
perda de mão-de obra
A resposta dos agregados familiarese das comunidades à epidemia do HIV/SIDA nas zonas rurais da África Sub-sahariana
18
antes de um falecimento e no período que se segue ao óbito, a movimentos de entrada e de
saída de membros da família ou do agregado familiar. Verificou-se que estes movimentos de-
sempenham um papel importante na estratégia de resposta do agregado familiar (Over, 1995).
A partir destes estudos (Sauerborn et al., 1996; Donahue, 1998; Hunter et al., 1997), ficou
demonstrado que os mecanismos de resposta são adoptados de maneira sequencial ou por
etapas (ver Quadro 3).
Após o seu estudo sobre as estratégias de resposta (Sauerborn et al., 1996) referente aos
custos relacionados com a doença nas zonas rurais do Burkina Faso, foi definida uma estra-
tégia de resposta sequencial. Ela corresponde perfeitamente às etapas identificadas por
Donahue. A sequência é a seguinte:
1. Utilização das economias
2. Venda de bens (gado, equipamento, etc.)
3. Contracção de empréstimos
4. Trabalho remunerado
5. Assistência da comunidade
6. Inacção total (à beira da catástrofe)
Procurar um emprego remunerado ou migrar temporariamente para arranjar trabalho
remunerado
Dedicar-se a produzir produtos agrícolas de subsistência que não exijam muitos
cuidados (que são geralmente menos nutritivos)
Esgotar as contas de poupança ou vender bens como jóias ou gado (excepto os
animais de tiro)
Recorrer à família alargada ou a membros da comunidade
Solicitar dinheiro à família própria ou à do cônjuge
Contrair empréstimos junto de fontes de crédito formais ou informais
Reduzir o consumo
Diminuir as despesas consagradas à educação, aos cuidados de saúde não urgentes ou a
outros investimentos essenciais para o ser humano
Vender terra, equipamentos, instrumentos
Contrair empréstimos com juros exorbitantes
Reduzir ainda mais o consumo, a educação ou as despesas com a saúde
Reduzir a quantidade das terras cultivadas e os tipos de culturas produzidas
Depender da caridade
Dissolução do agregado familiar
Migração em desespero de causa
Etapas Estratégias de gestão do luto
Quadro 3: As três etapas da gestão do luto
I. Mecanismos
reversíveis e
recurso a bens
cautelares
II. Recurso a bens
de produção
III. Indigência
Fonte: Donahue (1998).
19
ONUSIDA
Com base nestes estudos, é importante notar quais são os factores que determinam a capaci-
dade de resposta de um agregado familiar. Estes incluem: o acesso aos recursos, o tamanho do
agregado familiar e a sua composição, o acesso aos recursos das famílias alargadas e a capaci-
dade da comunidade para fornecer apoio.
Os agregados familiares que dispõem de rendimentos mais elevados ou de recursos alternativos
estão mais aptos a enfrentar o impacto do HIV/SIDA. Os agregados familiares que beneficiam de
apoio são mais propensos a recuperar da situação no decurso das etapas 1 e 2. Os agregados
familiares pobres e de pequena dimensão, que não têm qualquer margem de manobra para
absorver os custos suplementares gerados pela infecção do HIV, são os mais vulneráveis à epide-
mia. Eles não possuem bens materiais, particularmente no que se refere a gado, que permitem
certas escolhas de estratégias, como por exemplo pedir empréstimos ou contratar mão-de-obra.
Estes agregados familiares foram identificados como sendo de alto risco (à beira da catástrofe)
e devem beneficiar de ajuda especial para se reforçar a sua capacidade de resposta.
3.1.1 Estratégias de resposta utilizadas pelos agregados
familiares para melhorar a sua segurança alimentar
Redução do consumo de alimentos, sua substituição por
produtos menos caros e recurso a plantas selvagens
Quando a pessoa que sustenta a família morre, os agregados familiares confrontam-se com
uma diminuição da quantidade de alimentos. Rugalema (1998) na Tanzania, Sauerborn et al.
(1996) no Burkina Faso e Barnett et al. (1995) em meio rural do Uganda descobriram que
certos agregados familiares diminuem o número de refeições quando são confrontados com
restrições alimentares. Esta atitude parece ser uma estratégia frequentemente utilizada pelos
agregados familiares na Etiópia, a fim de enfrentarem uma descida dos seus rendimentos, em
consequência de uma crise inesperada, quer se trate de um problema sectorial quer individual
(Webb et al., 1992). As investigações da SAfAIDS na Zâmbia sobre este assunto, em 1998,
mostraram que os agregados familiares compravam alimentos menos caros ou então substitu-
íam certos pratos de acompanhamento (como uma entrada constituída por hidratos de carbo-
no de base tais como o milho ou a mandioca) por vegetais locais ou selvagens.
A mendicidade
As investigações da SAfAIDS na Zâmbia (SAfAIDS, no prelo) identificaram a mendicidade como
sendo uma estratégia de sobrevivência em épocas de necessidade. Sauerborn et al. (1996)
indicaram que esta estratégia de sobrevivência se pratica quando os agregados familiares em
situação de risco sentem que a catástrofe está iminente.
3.1.2 As estratégias de resposta com vista ao aumento dos rendimentos
Diversificação dos rendimentos
Sauerborn et al. (1996) em meio rural do Burkina Faso, a SAfAIDS (no prelo) em meio rural na
Zâmbia e Barnett et al. (1995) no Uganda mostraram que os agregados familiares rurais que não
conseguem satisfazer as suas necessidades alimentares, ou obter dinheiro por meio da produção
agrícola, dedicam-se a uma série de actividades geradoras de rendimentos: venda de lenha, fabri-
co de cerveja de mapira, venda de gado, construção de vedações, realização de trabalhos artesanais,
A resposta dos agregados familiarese das comunidades à epidemia do HIV/SIDA nas zonas rurais da África Sub-sahariana
20
costura e pequeno comércio a fim de complementar os seus rendimentos. No Malawi, Munthali
(1998) nota que os agregados familiares fazem frente através do «ganyu» (biscates). Na Zâmbia,
em meio rural, os dados mostram que certos membros de agregados familiares rurais migraram
para as zonas urbanas à procura de um emprego para poderem enviar uma parte do que ganham
para a sua região rural. Outros trabalham nos campos dos vizinhos, em função das necessidades,
de modo a ganharem algum dinheiro (SAfAIDS, no prelo). Existem casos confirmados de crianças
de 10 anos apenas que têm de ir trabalhar para outrem a fim de participarem nos esforços desti-
nados a responder às necessidades de um parente doente (PNUD, 1997). Os agregados familiares
que não têm capacidade para diversificar as suas fontes de rendimentos são particularmente vul-
neráveis à epidemia. A prevalência da pobreza leva as mulheres a prostituir-se para ganhar dinhei-
ro. No Malawi, meninas de 12 anos tiveram que se sujeitar a ter relações sexuais para atender à
necessidade imediata de dinheiro (Little, 1996).
Venda de produtos agrícolas e utilização das economias
Num estudo efectuado no Zimbabwé por Kwaramba (1997), verificou-se que a venda de pro-
dutos agrícolas é uma estratégia de resposta dominante para a angariação de rendimentos
destinados a atender às despesas suplementares com a saúde. Barnett et al. (1995) em meio
rural do Uganda, Drinkwater (1993) nas zonas rurais de Mpongwe, na Zâmbia, Rugalema
(1998) no distrito de Bukoba, na Tanzania e Sauerborn et al. (1996) no Burkina Faso, relatam
descobertas semelhantes. Eles indicam que esta estratégia, largamente utilizada, se encontra
entre as primeiras que são empregues. Tibaijuka (1997) em Kagera, Tanzania, relata que os
agregados familiares vendem bananas (o seu alimento de base) num acto de desespero que
lhes permitirá arranjar dinheiro para pagar despesas médicas. Os mesmos estudos indicam
igualmente que os agregados familiares utilizam as suas economias quando precisam de di-
nheiro para enfrentar os custos dos cuidados e dos funerais.
Empréstimos
Sauerborn et al. (1996) indicam que o sector financeiro informal é uma fonte importante de
rendimentos que é utilizada em épocas de necessidade. Aryeetey e Hyuha (1990) indicam que
os agregados familiares na Tanzania, no Zimbabwé, no Gana, no Quénia, no Malawi e no
Uganda recorrem a empréstimos provenientes do sector informal por causa de outras catás-
trofes, como a seca. Sauerborn et al. (1996) em meio rural do Burkina Faso, a SAfAIDS (em
vias de publicação) em meio rural da Zâmbia e Rugalema (1998) no distrito de Bukoba, na
Tanzania, Tibaijuka (1997) em Kagera, na Tanzania, identificam o sector financeiro informal
como sendo constituído por:
1. família, amigos e vizinhos
2. cooperativas rurais
3. associações de poupança
4. comerciantes rurais
5. prestamistas rurais
Os empréstimos são concedidos sem grande burocracia e com muito poucas formalidades por
escrito. As taxas de juro são inexistentes ou muito baixas quando se trata das fontes 1, 2 e 3 mas
podem ser substanciais no caso das fontes 4 e 5 (observou-se taxas superiores a 100 %). Quando
as taxas de juro são elevadas, certos agregados familiares não contraem empréstimos, tal como
mostram os testemunhos seguintes que são extraídos de um estudo de impacto socio-econó-
mico efectuado na Zâmbia (SAfAIDS, 1997).
21
ONUSIDA
“Quando estamos apertados e não temos nada para comer, pedimos dinheiro emprestado à
Kaloba [organismo de crédito que pratica uma taxa de juro de 100 % e que é dirigido por
particulares]” (SAfAIDS, no prelo, na Zâmbia).
Venda de bens
Tibaijuka (1997) em Kagera, Tanzania, e Rugalema (1998) no distrito de Bukoba, na Tanzania
referem agregados familiares que, não tendo dinheiro suficiente para comprar comida ou para
pagar cuidados de saúde, despesas com funerais ou com a educação, vendem alguns dos seus
bens para enfrentar a crise. A quantidade e o tipo de bens assim utilizados variam segundo os
agregados familiares. Há indícios de que uma vasta gama de bens, excepto terras, foram vendidos
como forma de obter dinheiro destinado a pagar tratamentos. Num estudo levado a cabo por
Rugalema na Tanzania e pela SAfAIDS na Zâmbia, entre os bens mais frequentemente vendidos
encontra-se o gado, bicicletas, galinhas, mobiliário, ferramentas de marceneiro, rádios e carrinhos
de mão. Certos agregados familiares dizem que empenharam colheitas futuras a fim de satisfazer
necessidades urgentes de dinheiro (Rugalema, 1998; SAfAIDS, no prelo).
Depois da morte da mãe, deixámos de ter qualquer meio de subsistência. Era ela que se
encarregava de nós. O meu irmão acabou agora o curso na escola mas não pode continuar a
estudar porque não temos dinheiro para as propinas. Eu também não consigo encontrar traba-
lho, hoje não é fácil encontrar trabalho. Decidimos vender os blocos que estavam para ampli-
ação da nossa casa. Havia 500 e vendemo-los por K150 000. Utilizámos o dinheiro para mon-
tar um negócio. Começámos a vender carvão à beira da estrada, perto da nossa casa. Assim,
pelo menos, conseguimos comer uma refeição por dia.
“Como sou o mais velho, comecei a fazer pequenos trabalhos para as pessoas e ganhei algum
dinheiro (ele assumiu o papel de chefe de família). Mas as pessoas não me pagam a tempo, a
vida é difícil. A minha tia, que tratou da minha mãe, agora paga as propinas escolares do nosso
irmão mais novo. Eu gasto mais tempo a procurar dinheiro para conseguir aguentar.” (SAfAIDS,
no prelo).
O papel da família alargada
Através da história, a família ou para utilizar a terminologia dos economistas o agregado
familiar, constituiu a unidade económica e social essencial sobre a qual assentaram a maior parte
das sociedades humanas. A família alargada é uma verdadeira rede de segurança e é ainda, de
longe, a resposta comunitária mais eficaz à crise do SIDA (Mukoyogo e Williams, 1991). As publi-
cações mostram que, quando há penúria de alimentos num agregado familiar afectado, as crian-
ças vão viver com outros membros da família: Sauerborn et al. (1996) em meio rural do Burkina
Faso, a SAfAIDS (1998) em meio rural da Zâmbia, Barnett et al. (1995) no Uganda, Lwihula (1998)
na região de Kagera, na Tanzania, Rugalema (1998), Drinkwater (1993) na Zâmbia, Kwaramba
(1997) no Zimbabwé e SAfAIDS (no prelo) na Zâmbia. Os membros da família alargada passam a
ser responsáveis pela subsistência alimentar das crianças. Contudo, estes estudos não pesquisaram
de que tipo de parentes se trata nem a duração da estadia das crianças em casa deles. A família e
os amigos podem prestar um grande apoio moral e material às pessoas doentes quando antevêem
a possibilidade de uma atitude recíproca no futuro. A confecção de alimentos, o trabalho da terra
ou a guarda do gado serão efectuados por um outro membro da família ou por um vizinho, por
acréscimo às suas tarefas habituais. Com o andar do tempo, a capacidade que as famílias e as
redes sociais têm para absorverem estas exigências vai diminuir, pois cada vez mais adultos vão
morrer jovens devido ao HIV/SIDA.
A resposta dos agregados familiarese das comunidades à epidemia do HIV/SIDA nas zonas rurais da África Sub-sahariana
22
3.1.3 Estratégias de resposta dos agregados familiares
destinadas a atenuar a perda de força de trabalho
Redistribuição do trabalho no seio do lar e retirada das crianças da escola
Sauerborn et al. (1996) no Burkina Faso referiram que a redistribuição de tarefas entre os membros
do lar constituía a estratégia mais frequentemente utilizada para enfrentar as baixas de produção
previstas devido à morbilidade e mortalidade dos adultos. As crianças podem ser retiradas da
escola para compensar as perdas de rendimentos e de mão-de-obra que acontecem quando os
adultos produtivos adoecem, cuidam de doentes em fase terminal ou quando morrem. Na Tanzania
(Rugalema, 1998), a utilização intensiva de mão-de-obra infantil foi uma das principais estratégias
utilizadas pelos agregados familiares em dificuldade quando têm de prestar cuidados.
Embora as crianças não estejam directamente envolvidas na prestação de cuidados, estão-no
indirectamente, quando assumem o papel dos respectivos pais e mães nas actividades agrícolas
e domésticas (tais como a busca de água e de lenha e a participação nas colheitas). Elas confec-
cionam igualmente refeições para o restante agregado familiar, arranjam comida, tratam do
gado e fazem compras.
Retirar as crianças da escola é uma estratégia comum e foi referida pelos professores da escola
primária como sendo um dos principais factores da fraca frequência escolar dos órfãos e das
crianças cujo progenitor(es) estavam doentes (Rugalema, 1998; SAfAIDS, no prelo). As meni-
nas estão mais sujeitas a ser retiradas da escola do que os meninos. O facto de se adiar a
matricula de crianças em idade escolar por motivo de doença dos pais é igualmente uma
atitude frequente. Ninguém sabe se as crianças que são retiradas da escola poderão um dia
voltar a mesma e são necessárias investigações sobre este assunto.
Em alguns dos agregados familiares mais atingidos, pode acontecer que os jovens órfãos her-
dem recursos consideráveis que não são capazes de gerir. Num estudo efectuado na região de
Kagera, na Tanzania, Tibaijuka (1997) mostrou que certos jovens órfãos herdaram vastas pro-
priedades agrícolas que foram rapidamente invadidas pelo capim por falta de cuidados. Tradi-
cionalmente, tais propriedades teriam sido cuidadas pelo clã, mas estas instituições estavam a
desaparecer por falta de mão-de-obra.
Contratar mão-de-obra e utilizar animais de tiro
Na Zâmbia, no Burkina Faso, na Tanzania, no Malawi e no Zimbabwé, os agregados familiares
afectados indicaram que tinham contratado pessoal e utilizado animais de tiro para enfrentar
as suas necessidades de produção (SAfAIDS, no prelo, Sauerborn et al., 1996, Rugalema, 1998,
Kwaramba, 1997). Esta mão-de-obra era contratada para realizar as actividades mais depen-
dentes do trabalho humano, a saber a preparação da terra, a monda e a colheita. Todavia, a
contratação de mão-de-obra só é possível quando existem recursos para pagar os trabalhado-
res. Só os agregados familiares que têm um rendimento estável ou fontes de receitas estão
aptos a contratar pessoal. Alguns agregados familiares pagam os seus trabalhadores em espé-
cie, por exemplo com milho ou outros bens. Os agregados familiares pobres contam com a
ajuda gratuita de parentes e de membros da comunidade compassivos e solidários.
Alteração da produção agrícola e culturas de substituição
Investigações efectuadas na África Oriental indicam que os agregados familiares que se dedi-
cam à produção agrícola, seja ela qual for, podem cultivar uma mescla de produtos: uns desti-
nados à sua subsistência, outros destinados à obtenção de rendimentos (Barnett et al., 1994;
23
ONUSIDA
FAO, 1995). A quantidade de trabalho necessária é variável, pois certos produtos estão mais
dependentes do calendário do que outros. Por exemplo, o menor atraso na sementeira do
milho, do feijão ou do amendoim provoca uma grande diminuição do rendimento da colheita
e tem por isso repercussões na segurança alimentar. Em contrapartida, as bananas, a mandioca
e o inhame não estão subordinados a intervenções em datas precisas e podem dispensar cuida-
dos durante algum tempo sem que isso afecte a colheita.
A interrupção prolongada da intervenção humana pode igualmente afectar actividades importan-
tes como a preparação da terra ou a conservação dos sistemas de irrigação, o que, por seu turno,
afectará a futura colheita. Estudos da FAO na África Oriental (FAO, 1995) mostram que as famílias
afectadas substituem as culturas de rendimento por culturas que requerem menos mão-de-obra e
menos insumos caros como os fertilizantes e os pesticidas. O resultado é que culturas como a do
café foram abandonadas pelos agregados familiares afectados nas regiões de Gwanda e Nakyerira,
no Uganda, os quais passaram a depender de culturas como a mandioca e as bananas. Topouzis
(1994), num outro estudo efectuado no Uganda, descobriu que as viúvas deixaram de semear
tomate, que é uma das principais culturas de rendimento, por causa da carência de fungicidas. O
mesmo acontece com o arroz e a mapira culturas que requerem muita mão-de-obra que são
substituídos pelo milho e a mandioca, que exigem menos trabalho. No Zimbabwé, Kwaramba
(1997) observa que os agregados familiares afectados deixaram de fazer culturas de rendimento,
como o algodão e o amendoim, substituindo-as pela do milho.
Redução das áreas cultivadas
Um estudo referente aos impactos socio-económicos (Black, 1997) no Burkina Faso e na Costa
do Marfim mostra que há uma redução das áreas cultivadas, devido à carência de mão-de-obra
provocada pela doença e pela morte nos dois países. Topouzis (1994) regista resultados idênti-
cos nas zonas rurais do Uganda. Em função do cálculo de custos, os agregados familiares
fazem a sua escolha entre a cultura de rendimento e a de subsistência para economizar mão-
de-obra. Em alguns países, contudo, foram adoptadas estratégias inovadoras, tais como a
partilha das colheitas que o exemplo seguinte ilustra.
“Jane é uma viúva de 45 anos de idade que vive com os seus dois filhos: um rapaz de 22 anos e
uma menina de 11 anos. Teve oito filhos. Quatro morreram de SIDA e os outros saíram de casa
para se casar. Jane é dona de uma machamba de café, mas grande parte dela voltou a ser mato
porque não havia mão-de-obra para a explorar. A principal contribuição em trabalho é a dela e a
da filha de 11 anos. Mas ela também contrata ocasionalmente trabalhadores a quem entrega uma
parte da colheita, o que lhe permite cultivar mais um pouco de café. O facto de possuir terra deu
a esta mulher a possibilidade de organizar um sistema de partilha de culturas com pessoas que não
têm terra ou que não têm que chegue. Este método é eficaz para a manutenção da produção
agrícola desde que haja terra em abundância. Porém, esta mulher alterou o seu sistema de explo-
ração e, em grande parte, abandonou a produção de café para se dedicar a culturas de subsistên-
cia. Ela tirou igualmente a filha da escola a fim de a pôr a ajudar na machamba e no lar.”
(Barnett e Blaikie, 1992).
Prolongamento do dia de trabalho
Topouzis (1994) no Uganda, e a SAfAIDS (no prelo) na Zâmbia indicam que numerosos agregados
familiares afectados fazem horas extraordinárias a fim de compensar a falta de mão-de-obra e a
perda de rendimentos. Por exemplo, um filho cuja mãe está doente, na Zâmbia, disse que gastava
mais tempo a tentar ganhar dinheiro trabalhando no campo e fazendo biscates e que, além disso,
tinha de reservar cerca de três horas por dia para prestar cuidados à mãe e ficar em pé durante
A resposta dos agregados familiarese das comunidades à epidemia do HIV/SIDA nas zonas rurais da África Sub-sahariana
24
4 . As implicações políticas no reforço das acções
de resposta ao nível dos agregados familiares
uma parte da noite para a atender. O tempo que tenho de dedicar ao trabalho aumentou e
sobra-me muito pouco tempo para dormir, diz ele (SAfAIDS, no prelo).
3.2 As estratégias de resposta mais comuns
As estratégias de resposta que não requerem o uso de dinheiro são as mais
frequentemente adoptadas (Sauerborn et al., 1996). Entre os exemplos destas estratégias en-
contra-se a redistribuição do trabalho no seio do agregado familiar, o abandono da escola
pelas crianças, a diversificação da produção agrícola do agregado familiar e a redução das
áreas cultivadas. Noutros estudos (Rugalema, 1998; SAfAIDS, no prelo; Webb e Reardon, 1992;
Barnett e Blaikie, 1992), as estratégias dominantes são, por ordem de importância: a diversifi-
cação dos rendimentos, a redução do consumo de alimentos, a utilização das economias e a
venda de bens, particularmente gado e objectos como bicicletas e rádios.
Na documentação consultada, não se regista qualquer variação de monta, ao nível das acções
de resposta, em função do tipo de comunidade. A documentação mostra no entanto que as
ajudas de inspiração religiosa - isto é, de apoio a agregados familiares com as mesmas afinida-
des religiosas - tendem a ser discriminatórias. As condições climáticas constituem uma fonte
importante de variação ao nível das acções de resposta. Kezaala (1998) indica que na África
Austral, que está sujeita a períodos de seca, numerosos agregados familiares poderão ter ne-
cessidade de ajuda exterior devido à sua insegurança alimentar. Na África Oriental, pelo contrá-
rio, em virtude do seu potencial agro-ecológico, as comunidades são mais resistentes e mais
capazes de suportar o encargo dos órfãos.
São várias as opções políticas que surgem na documentação estudada e que são susceptí-
veis de ser utilizadas para reforçar a capacidade dos agregados familiares rurais enfrentarem
o HIV/SIDA. As políticas e os programas devem procurar apoiar os agregados familiares a fim
de se evitar acções de resposta negativas (como tirar as crianças da escola) e de reforçar as
respostas positivas do agregado familiar. Globalmente, o objectivo das políticas e dos progra-
mas deverá ser, por um lado, melhorar o bem-estar do agregado familiar a curto e a longo
prazos pela utilização de meios que não criem dependência e, por outro lado, minimizar os
riscos de os membros do agregado familiar contraírem a infecção do HIV. Esta secção apre-
senta uma série de políticas e de programas que podem ser adoptados. Existe uma verdadeira
necessidade de políticas e de programas específicos ao nível nacional e local. As ideias que se
apresenta a seguir dão apenas uma indicação geral das estratégias que poderiam ser adoptadas
para atenuar o impacto do SIDA.
4.1 Melhorar a produção agrícola
Dado que a maioria dos agregados familiares rurais estão dependentes da produção agríco-
la para a sua sobrevivência (como fonte de rendimento e de alimentos), o reforço da capacida-
4 . As implicações políticas no reforço das acções
de resposta ao nível dos agregados familiares
25
ONUSIDA
de de produção agrícola do agregado familiar permite que o impacto do SIDA seja atenuado. A
capacidade de produção agrícola do agregado familiar pode ser reforçada através da melhoria
do acesso ao trabalho, à terra, ao capital, aos animais de tiro e a competências em matéria de
gestão, através da promoção da utilização das tecnologias existentes que requerem pouca
mão-de-obra e capital, assim como através do desenvolvimento de tecnologias capazes de tirar
o máximo proveito dos limitados recursos disponíveis.
Existem já tecnologias que permitem uma utilização óptima dos recursos disponíveis e que
podem ser adoptadas pelos sistemas agrícolas com recursos escassos. Estas tecnologias podem
ser promovidas por extensionistas agrícolas em benefício dos agregados familiares afectados
pelo SIDA. Estas medidas compreendem:
recorrer a culturas intercalares para se reduzir o tempo dedicado à monda
promover a utilização de variedades de grande rendimento que não requeiram muita mão-
de-obra
pouco ou nenhum amanho da terra a fim de se limitar despesas elevadas com charruas e
bois
promover a utilização de pesticidas naturais, o que diminui a compra de produtos
dispendiosos, como por exemplo os pesticidas químicos.
4.1.2 Desenvolvimento de tecnologias destinadas aos agregados
familiares sem recursos do sector dos pequenos agricultores
Os institutos de investigação agronómica devem tomar em consideração as novas necessida-
des tecnológicas que os pequenos agricultores têm em consequência da epidemia de SIDA. Na
planificação de uma tecnologia susceptível de diminuir o impacto do HIV/SIDA, é importante
efectuar uma análise apropriada da situação local. As técnicas seguintes poderão ajudar os
agregados familiares a manter e melhorar a produção:
selecção da variedade apropriada de cultura (por exemplo: maturação precoce, resistência
às doenças, facilidade de malhar ou de pilar o produto).
melhoria das culturas intercalares existentes.
concentração nos produtos agrícolas de alto rendimento que sejam resistentes à seca.
introdução de alfaias agrícolas susceptíveis de ser utilizadas por pessoas debilitadas ou por
burros (por exemplo, charruas e semeadores mais leves e uma enxada melhorada).
tecnologias locais melhoradas no que respeita a palhagem, culturas intercalares e selecção
de sementes.
melhoria das tecnologias de criação de animais ao nível individual, como os banhos carricidas.
4.1.3 Reforço das associações de partilha do trabalho e de animais de tiro
As associações organizadoras da partilha do trabalho e dos animais de tiro, assim como as de
empréstimos, ajudam a atenuar os principais constrangimentos dos agregados familiares afec-
tados pelo SIDA, isto é, mão-de-obra, capital e animais de tiro. As políticas e os programas que
apoiarem essas actividades ajudarão os agregados familiares afectados a lutar contra o impac-
to do SIDA.
4.1.1 Promoção das tecnologias existentes
que exigem pouca mão-de-obra e capital
A resposta dos agregados familiarese das comunidades à epidemia do HIV/SIDA nas zonas rurais da África Sub-sahariana
26
4.1.4 Implicações das perdas em recursos humanos
Para que reflictam as mudanças ocorridas no meio rural, todas as instituições de desenvolvi-
mento formais e informais devem rever os seus programas e a sua política de recursos huma-
nos. É importante que as instituições reajam à epidemia de SIDA planeando o impacto desta na
mão-de-obra. As respostas fundamentais à epidemia de SIDA devem incluir a prevenção do
HIV, o prolongamento da vida e a redução da morbilidade relacionada com o HIV. Isso pressu-
põe uma acção de sensibilização e a introdução de políticas de prevenção. É necessário planifi-
car as perdas em termos de competências, de gestão e de pessoal. É preciso introduzir a todos
os níveis a polivalência em termos de competências, de modo a limitar-se as dificuldades no
terreno da produção agrícola rural.
4.2 Gerar rendimentos e diversificar as fontes de rendimentos
Os programas que contribuem para a melhoria e diversificação das fontes de rendimentos
dos agregados familiares afectados ajudam a atenuar o impacto do SIDA. Esses programas
auxiliam a manter os padrões de despesas do agregado familiar e, por conseguinte, a evitar-lhe
perdas maiores no futuro.
4.2.1 Melhorar a capacidade dos agregados familiares gerarem rendimentos
A primeira resposta de todas deveria ser a atenuação do impacto do SIDA nos agregados
familiares através da melhoria da sua capacidade de gerar rendimentos (Donahue, 1998). O
objectivo a atingir é manter os padrões de despesas do agregado familiar e encorajá-lo a fazer
economias. Isto pode conseguir-se através de projectos de micro-crédito que são, por defini-
ção, pequenos empréstimos de curto prazo e de rápida rotação (tal como a produção artesanal).
Uma outra resposta poderá ser o crescimento das economias em natura dos agregados famili-
ares através da ampliação das suas oportunidades de possuir gado e da protecção dos reba-
nhos existentes por meio da prestação de bons cuidados veterinários (Sauerborn et al., 1996).
Por exemplo, no Uganda, Addo (1998) refere que, graças a um projecto, micro-subsídios de
100 dólares americanos foram concedidos a 30 famílias ou a um grupo de PVHS para financiar
actividades geradoras de receitas que requerem pequenos investimentos, tais como o tricô, a
tecelagem, a jardinagem e a venda de peixe.
A autonomia económica pode melhorar o estado de espírito das PVHS que tenham perdido a
esperança. As medidas de emancipação económica das comunidades devem dirigir-se especi-
ficamente às mulheres e aos jovens que efectuam o essencial do trabalho de prestação de
cuidados. É preciso fomentar a auto-subsistência destes projectos através da formação dos
seus participantes e da reciclagem dos fundos. Os fundos da assistência social devem fazer
parte de uma política social global de escala nacional. Esta política deve definir claramente
prioridades e assegurar uma coordenação entre as instituições de modo a garantir a feitura de
projectos melhor elaborados e sustentáveis. As estratégias de curto prazo não respondem aos
problemas mais críticos. É, portanto, necessária uma combinação entre as estratégias visando o
alívio e aquelas vocacionadas para o investimento, para que se garanta que os projectos te-
nham continuidade quando os fundos se esgotarem.
Certos agregados familiares estão dependentes de pequenos trabalhos como principal fonte
de rendimentos da família. Esta situação, por seu turno está dependente da criação de oportu-
nidades de emprego na zona. Para os mais pobres e para as famílias que não possuem terra, o
acesso a um trabalho remunerado é crucial.
27
ONUSIDA
4.2.2 Promoção da diversificação dos rendimentos
A promoção da diversificação dos rendimentos pode reforçar a capacidade de resposta das
famílias. Proporcionar o acesso ao trabalho remunerado pode ser uma estratégia para se dar
aos agregados familiares fontes suplementares de rendimentos (Sauerborn et al., 1996). Nas
regiões agrícolas de clima muito incerto, os agregados familiares que dispõem de uma grande
diversidade de rendimentos não agrícolas são menos vulneráveis à insegurança alimentar. Uma
outra estratégia consiste em encorajar a diversificação das culturas e em promover a redução
do uso de insumos exteriores. Os rendimentos não agrícolas, particularmente os que podem
ser engendrados em casa, e o pequeno comércio constituem outras possibilidades (quando
estas actividades tiverem sido solidamente ponderadas). Dado o fraco índice de êxito dos pro-
jectos geradores de receitas em numerosos países, essas actividades devem ser alvo de uma
planificação realista e minuciosa, antes de serem promovidas.
4.2.3 Modalidades de financiamento dos serviços de saúde
A introdução de sistemas de pré-pagamento no âmbito dos quais as cotizações são pagas após
a estação das colheitas e cobrem as despesas médicas de todo o ano (Sauerborn et al., 1996)
poderá ser recomendada.
4.3 Reduzir o peso do trabalho das mulheres
É necessário explorar formas de aliviar o peso do trabalho das mulheres, por meio do desen-
volvimento de métodos de preparação de alimentos que poupem trabalho e da melhoria do
acesso às fontes de aprovisionamento de água e de combustível doméstico. O desenvolvimen-
to e a promoção de fogões eficazes pode levar a uma redução do tempo que as mulheres
gastam a recolher lenha. O tempo ganho desta forma pode ser utilizado para a realização de
actividades produtivas tais como a colheita, o transporte, a armazenagem, a transformação
(particularmente a desfolhagem e o pilar) e o comércio dos produtos. Em certas zonas, a utili-
zação de burros para transporte tem ajudado as mulheres a realizar outras actividades impor-
tantes. Instalar um maior número de pontos de aprovisionamento de água reduz a distância a
percorrer pelas mulheres que vão buscar água e pode beneficiá-las. Certos programas que
visam providenciar serviços de amas ou de guarda de crianças podem igualmente libertar as
mulheres e permitir-lhes realizar outras actividades produtivas.
4.4 Melhorar o bem-estar das crianças necessitadas
A eficácia da maior parte dos programas sociais poderia ser melhorada se estes fossem dirigidos
às populações que têm necessidades específicas. Só através de uma ajuda dirigida é que os agre-
gados familiares desesperados podem ser atingidos. Isto implica uma descentralização e uma
reforma das técnicas de despistagem. A assistência sob a forma de educação, de cuidados de
saúde e de nutrição pode facilitar o desenvolvimento humano a longo prazo. Um dos aspectos
importantes da assistência social é o facto de que os agregados familiares pobres que não estão
confrontados com o SIDA têm, a despeito disso, necessidade do mesmo tipo de assistência, dado
que os seus filhos estão também mal alimentados e fora da escola. A equidade pode ser conseguida
se o governo prestar assistência social às pessoas que dela mais precisam, independentemente da
causa imediata da sua pobreza. Deste modo, como o indica a documentação consultada (Over,
1998; Donahue, 1998), o alvo da assistência deve basear-se nos dois indicadores directos da po-
breza, e não só na presença do SIDA no agregado familiar.
A resposta dos agregados familiarese das comunidades à epidemia do HIV/SIDA nas zonas rurais da África Sub-sahariana
28
4.5 Estratégias de longo prazo
As estratégias governamentais de longo prazo devem ter em conta os problemas subjacentes
que tornam os agregados familiares rurais vulneráveis ao impacto do HIV/SIDA. As estratégias
devem tomar em consideração os pontos seguintes:
Problemas de saúde, por exemplo incorporando-lhes uma melhoria da qualidade da água e
dos serviços de saúde.
Constrangimentos ao nível da agricultura, tais como: dificuldades para se obter terras,
créditos e mercados; atenuação dos problemas ligados à seca, por exemplo pela introdução
de um sistema de irrigação.
Pobreza.
4.6 Áreas de investigação para aprofundar
Numerosos aspectos das acções de resposta das famílias são pouco conhecidos em termos
de custo e de eficácia. Ora, estas informações poderiam ajudar os programas a atenuar o
impacto do SIDA nos agregados familiares. Uma das maneiras de se obter dados de confiança
acerca dos agregados familiares no que respeita ao impacto do SIDA é incluir nos actuais
inquéritos aos agregados familiares (inquéritos sobre a pobreza, inquéritos sobre a saúde
demográfica ou recenseamentos) perguntas específicas acerca do impacto da morbilidade e
da mortalidade nos rendimentos do agregado familiar, nas despesas e noutros indicadores de
bem-estar. Os recenseamentos ou os questionários actualmente utilizados nos inquéritos so-
bre a pobreza não exploram a interdependência entre a prevalência da doença e o estatuto
socio-económico do agregado familiar.
4.7 Quem é responsável pelas opções ao nível dos programas e das
políticas?
A secção anterior pôs em evidência um conjunto de recomendações relativas aos programas
ou às políticas mas não referiu a quem incumbia a responsabilidade de pôr em prática esta ou
aquela recomendação. As instituições estatais (ministérios da agricultura, do desenvolvimento
rural, da saúde, da investigação, da segurança social, etc.) não podem desempenhar esta
tarefa sozinhos; devem colaborar com outras agências de desenvolvimento (tais como as orga-
nizações de base comunitária, as ONG e as organizações de ajuda aos doentes do SIDA) e com
as comunidades a fim de que os esforços destinados a atenuar o impacto do HIV/SIDA sejam
coroados de êxito.
29
ONUSIDA
5 . Respostas comunitárias ao HIV/SIDA
5 . Respostas comunitárias ao HIV/SIDA
A maior parte das comunidades desenvolveram uma larga gama de estratégias
complexas e inovadoras para sobreviver aos impactos negativos do HIV/SIDA. As publicações
mostram que, em muitos lugares, as comunidades uniram-se espontaneamente para apoiar e
assistir as famílias e as crianças afectadas pelo HIV/SIDA. O paradoxo é que, sendo as acções de
resposta das comunidades aquelas que mais rentabilidade podem ter, elas são, ao mesmo
tempo, as menos visíveis (Hunter e Williamson, 1997). Mesmo antes do advento do HIV/SIDA,
a segurança alimentar na África Sub-sahariana já estava ameaçada (Kadonya, 1998). A seca e
as inundações figuram entre as calamidades com que estas comunidades rurais tiveram que se
confrontar. As famílias africanas deram provas de uma grande capacidade para enfrentar a
doença e as dificuldades (Barnett e Blaikie, 1992; Sauerborn et al., 1996).
Alguns mecanismos de resposta da comunidade são desencadeados no seio da própria comu-
nidade - poderíamos designar estas acções por acções locais ou autóctones - e outros são
introduzidos nas comunidades e sustentados financeiramente por agências exteriores tais como
ONG, agências internacionais de desenvolvimento, governo ou igrejas. Em conformidade com
o grau de mobilização das comunidades e com o seu grau de receptividade às iniciativas, esses
projectos podem ter sucesso e ter continuidade, mesmo depois da retirada dos doadores. A
figura 1 classifica as respostas da comunidade em três grandes categorias que não se excluem
mutuamente. As acções efectuadas em cada uma das categorias também não são incompatí-
veis entre elas. Por exemplo, uma organização de base comunitária pode estar envolvida em
várias actividades de apoio e de atenuação que incluem a ajuda aos órfãos, a partilha do
trabalho, projectos geradores de receitas, tratamentos e cuidados.
A documentação consultada (por exemplo, Hunter e Williamson, 1997; Barnett e Blaikie, 1992;
Sauerborn et al., 1996; Donahue, 1998) indica que surgiram diferentes iniciativas comunitárias
de atenuação do impacto do HIV/SIDA e de apoio. Os estudos mostram que as pessoas afecta-
das pelo HIV/SIDA encontram ajuda principalmente junto da família, dos vizinhos, das institui-
ções comunitárias e das organizações informais locais. O estudo de Kagera promovido pelo
Banco Mundial na Tanzania indica que, nas famílias nas quais a pessoa que provia ao sustento
morreu de SIDA, 90 % da assistência - material ou outra - provém da família e de grupos
comunitários como as associações de poupança e as sociedades funerárias; apenas 10 % da
assistência é prestada pelas ONG e outros organismos.
Entre as formas principais de apoio comunitário e de actividades de atenuação do impacto
encontram-se as seguintes:
Sistema de guarda das crianças organizado pela comunidade: guarda durante o dia sob
forma cooperativa e centros de nutrição, de modo a libertar as mulheres para que elas
possam trabalhar dentro ou fora de casa.
Apoio aos órfãos sob a forma de apoio nutricional e educacional.
Reparação de casas em vias de deterioração.
Cuidados ao domicílio e visitas a órfãos e a doentes do SIDA.
Confecção e distribuição de uniformes escolares.
Aprendizagem e formação profissional para adolescentes órfãos em matérias com procura
no mercado do trabalho.
Projectos agrícolas de diferentes níveis com vista ao crescimento da produção.
A resposta dos agregados familiarese das comunidades à epidemia do HIV/SIDA nas zonas rurais da África Sub-sahariana
30
Partilha do trabalho.
Projectos geradores de receitas para a obtenção de dinheiro e de alimentos.
Facilidades de crédito para as despesas funerárias.
As acções de resposta da comunidade assumem a forma de agrupamentos diversos, tais como
grupos de apoio social, associações informais, grupos de entreajuda, organizações de base
comunitária apoiadas por agências de desenvolvimento exteriores e organizações de ajuda a
doentes de SIDA. As diferenças entre estes agrupamentos nem sempre são claras, mas os três
primeiros grupos têm tendência a propor acções locais ou autóctones organizadas pela comu-
nidade. Os membros participam nestas acções por opção e não por obrigação, e estes grupos
tentam resolver os problemas sociais por intermédio da participação local, da acção social, da
mobilização de recursos e da construção de um espírito comunitário (Altman, 1994). As duas
últimas categorias são constituídas mais por organizações locais formais que de uma forma ou
de outra contam com ajudas externas provenientes de ONG e de outros organismos; elas
actuam como intermediárias no processo de desenvolvimento ao longo do qual certas decisões
são eventualmente tomadas no exterior.
Organizações de apoio aos doentes do SIDA é a expressão usada pelo Programa Mundial
do SIDA, da OMS, para designar as organizações que fornecem serviços relacionados com o
HIV/SIDA e que não são governamentais (Altman, 1994). Na secção seguinte expõe-se primei-
ro o papel desempenhado pelos grupos locais/autóctones que não dependem de fontes de
financiamento exteriores, depois o dos grupos mais formais que dependem de fontes de
financiamento exteriores.
Figura 1. Acções de resposta da comunidade perante o HIV/SIDA
Respostas da comunidade ao HIV/SIDA.
Apoio e atenuação
- Grupos de apoio social
- Associações de poupança
e de crédito
- Grupos de entreajuda
- Organizações de base comunitária
- Projectos geradores de receitas
- Trabalho voluntário
- Cuidados aos doentes
- Apoio psicológico e espiritual
- Cuidados às crianças
- Protecção dos direitos de propriedade
- Redução do período de luto
- Mudanças nas práticas tradicionais que
implicam um risco de infecção pelo
HIV
- Modificações dos ritos funerários
- Mudanças nos comportamentos
relacionados com cada um dos sexos,
por exemplo: parceiras múltiplas,
papeis desempenhados na prestação de
cuidados
- Redução das práticas sexuais de risco
Tratamento e cuidados
Cultura/regras
31
ONUSIDA
5.1 As organizações comunitárias locais e informais
Há muito tempo que existem diferentes formas tradicionais e informais de siste-
mas de segurança social de natureza local, em numerosas sociedades dos países em vias de
desenvolvimento. Os exemplos de organizações deste tipo incluem grupos de apoio social, tais
como sociedades funerárias, sistemas de poupança de colheitas ou de partilha de trabalho, ou
associações de poupança. O funcionamento dessas organizações não está regulamentado pela
legislação. Elas actuam em conformidade com as regras estabelecidas pelos seus membros.
5.1.1 Grupos de apoio social
Lwihula (1998) em Kagera, na Tanzania, indica que existe m na maior parte das comunidades,
grupos de apoio social organizados por homens ou mulheres - ou por ambos. Os membros
destes grupos apoiam-se mutuamente na vida corrente; por exemplo, ajudando-se um aos
outros a cultivar os campos, e contribuindo com o seu trabalho, com dinheiro e com alimentos
para responder a necessidades especiais (tais como doença ou funerais) ou em ocasiões particu-
lares (tais como cerimónias de casamento). Esses grupos só podem prestar um apoio muito
limitado e, em caso de falecimento, a ajuda limita-se ao período de luto. Alguns grupos de
apoio social formam-se tendo em vista actividades específicas tais como as sociedades funerá-
rias, os sistemas de poupança de colheitas e de partilha do trabalho.
Madembo (1997) no Zimbabwé e Rugalema (1998) na Tanzania descobriram que as sociedades
funerárias são organizações de apoio social autóctones e estabelecidas que fornecem assistên-
cia mútua aos seus membros nas zonas rurais em caso de falecimento ou de doença. Elas
oferecem uma certa segurança financeira em caso de infelicidade e respondem igualmente a
outras necessidades sociais dos seus membros. Estas sociedades funerárias estão igualmente
vocacionadas para que os seus membros dediquem parte do seu tempo à assistência as pessoas
enlutadas, cultivando os seus campos.
Os sistemas de poupança de colheitas existem há muito tempo nas zonas rurais de África. e há
muitos anos que são utilizados para se atender às necessidades dos membros da comunidade.
No Zimbabwé, Madembo (1997) e Ncube (1998) relatam que as formas tradicionais dos siste-
mas de poupança designados por zunderamambo (literalmente, o campo do rei) foram
actualizadas e adaptadas às necessidades actuais. Nestes sistemas, os membros da comunidade
participam no trabalho das terras do chefe ou do responsável da aldeia e guardam o produto do
seu trabalho para as épocas de necessidade. No Zimbabwé, estes sistemas de poupança consti-
tuem uma fonte importante de apoio comunitário aos agregados familiares afectados.
Rugalema (1998) na Tanzania, a SAfAIDS (a publicar brevemente) e Ncube (1998) no Zimbabwé
observaram que a partilha gratuita do trabalho no seio da comunidade é uma resposta comum-
mente adoptada pelas comunidades para contribuírem para o apoio aos agregados familiares
afectados. No Zimbabwé, estes sistemas de partilha do trabalho (nhimbe) existem há muito
tempo e constituem uma fonte essencial de segurança social para os agregados familiares em
épocas de calamidade.
5.1.2 As associações de poupança autóctones
Lwihula (1998) na região de Kagera, na Tanzania, Ncube (1998) no Zimbabwé e a SAfAIDS (no
prelo) na Zâmbia mencionam que muitas comunidades possuem associações de poupança lo-
cais que desempenham um papel essencial ao contribuirem para as respostas dos agregados
A resposta dos agregados familiarese das comunidades à epidemia do HIV/SIDA nas zonas rurais da África Sub-sahariana
32
familiares à epidemia do HIV/SIDA. A poupança comunitária local funciona geralmente de
acordo com um sistema de economias e de crédito por rotação.
Madembo (1997) indica que estes sistemas de poupança por rotação já existem há muito
tempo em numerosos países africanos. O princípio que os rege é o seguinte: um grupo de
pessoas reúne um fundo que é alimentado pelas contribuições financeiras de cada um dos
participantes. Este fundo é atribuído na totalidade ou parcialmente a cada um dos participan-
tes, um após outro. Cada membro faz a mesma contribuição. Depois de cada participante ter
recebido a sua parte, o grupo pode dissolver-se ou recomeçar um novo ciclo. Entre as popula-
ções rurais, as contribuições são feitas ou em dinheiro, ou em natura (por exemplo, alimentos,
insumos agrícolas, utensílios de cozinha, etc.). Madembo indica que os sistemas de poupança
por rotação são populares porque requerem poucos encargos aos seus membros, geram con-
fiança mútua e proporcionam segurança e reciprocidade que podem ser utilizadas em períodos
de urgência. Proporcionam também aos seus membros a possibilidade de acesso a uma soma
relativamente importante de dinheiro que lhes seria difícil reunir sem este sistema. Nos Cama-
rões, estes sistemas de poupança dispõem de um fundo social que proporciona um seguro de
vida e um seguro de doença aos seus membros (Kaseke, 1997). Parte das contribuições é
colocada nesse fundo social o qual atribui subvenções ou empréstimos em caso de falecimento
ou de doença de um dos membros ou de uma das pessoas a seu cargo.
Tal como os sistemas de poupança por rotação, as associações de poupança são uma impor-
tante fonte informal de financiamento dos agregados familiares rurais em caso de urgência. Os
fundos são geralmente utilizados para a compra de insumos agrícolas tais como sementes ou
fertilizantes, para pagar propinas escolares, para a compra de vestuário, ou são reservados para
eventualidades como tratamentos médicos, nascimentos e falecimentos. Os fundos podem
igualmente ser utilizados como forma de participação no capital de pequenas empresas e para
iniciar projectos geradores de rendimentos. A utilização da poupança como medida de segu-
rança para quem tem rendimentos fracos e incertos é a primeira razão da participação numa
associação de poupança. A maioria dos agricultores só recebe o seu rendimento uma vez por
ano. As associações de poupança permitem-lhes dispor de dinheiro depois da venda da produ-
ção agrícola e têm, por isso, uma função de amortecedor nas épocas difíceis.
No Zimbabwé, as associações de poupança têm tido grande êxito nas zonas rurais. Segundo
Madembo (1997), os membros organizam reuniões preparatórias para decidir o fim a que se
destinam as poupanças nos doze meses seguintes. Depois determinam as suas necessidades
em sementes, fertilizantes e insecticidas - que encomendam em comum, a fim de beneficiarem
de preços por atacado. O Zimbabwé esteve sujeito a graves secas durante as campanhas de
1991/1992 e 1994/1995. Madembo (1997) observa que, graças à sua prudência e ao espírito
de entreajuda das suas associações, muitos dos membros das associações de poupança conse-
guiram manter os seus filhos na escola e tiveram a possibilidade de fazer novos investimentos
mais rapidamente após a chegada das chuvas. Portanto, as associações de poupança desem-
penham, directa e indirectamente, um papel fundamental pelo facto de corresponderem às
necessidades de segurança social dos agricultores da comunidade.
5.1.3 Associações autóctones de ajuda de urgência
O estudo demográfico sobre agregados familiares da Tanzania patrocinado pelo Banco Mundi-
al mostrou que, além das associações tradicionais de poupança e de ajuda mútua existentes, os
habitantes de numerosas aldeias, particularmente nas regiões mais atingidas (distritos rural e
urbano de Bukoba, e de Muleba), criaram novas organizações especificamente destinadas a
enfrentar os custos da epidemia de SIDA (Lwihula, 1998). As descobertas fundamentais de
33
ONUSIDA
Lwihula (ver Quadro 4), baseadas em discussões de grupo dirigidas, mostram que:
As associações tradicionais de ajuda mútua e de poupança já existiam mas surgiram organi-
zações específicas nas aldeias gravemente atingidas pela epidemia de SIDA, particularmente
entre os Haya e os Nyambo.
Mesmo agregados familiares em que ainda não houve óbitos participam nestas organiza-
ções para se precaverem em relação a falecimentos futuros.
As associações são dirigidas e organizadas principalmente por mulheres.
Estas associações levam a cabo uma vasta gama de acções com objectivos específicos (exem-
plo: enfrentar crises, organizar cerimónias fúnebres, actividades agrícolas comunais).
Entre os Haya e os Nyambo, as associações de ajuda instauraram regras de funcionamento
(exemplo: reuniões mensais e contribuições que servem para cobrir despesas de falecimen-
tos iminentes).
Fonte: Lwihula, 1998.
Barnett e Blaikie (1992) observaram que surgiram grupos informais de mulheres que dão conselhos
e que se realizam reuniões espontâneas. Estas mulheres entreajudam-se nas plantações, tratam de
doentes e suavizam as tarefas dos seus acompanhantes (ver o exemplo que se apresenta no Painel
1). Sem que seja preciso pedir-lhes, mulheres da vizinhança vêm em qualquer altura mondar ou
desbastar as bananeiras de uma mulher que esteja doente. Elas persuadiram os Resistance Councils
locais a solicitar ajuda exterior para os órfãos e algumas delas assumiram mesmo a responsabilidade
de albergar crianças nos seus lares. As sessões informais de aconselhamento permitem que as
mulheres partilhem as suas experiências e as suas preocupações e que não enlouqueçam (Barnett
e Blaikie, 1992). Seria conveniente disponibilizar espaços públicos para as mulheres, pois aparente-
mente os espaços públicos existentes são território masculino.
No Zimbabwé, numerosos credos religiosos têm
comités de mulheres que são designados por “li-
gas de mães”. O princípio que as inspira é a pres-
tação de apoio espiritual, económico e social a
pessoas que se confrontam com dificuldades eco-
nómicas. Os membros contribuem com um certo
montante todos os meses e em compensação bene-
Painel 1: As Ligas de Mães no Zimbabwé
ficiam de assistência financeira para funerais e
casamentos, visitas aos doentes, de orações e de
aconselhamento. Estes grupos de mulheres são
muito activos a tomar conta de crianças cujos pais
estão a morrer em consequência de doenças re-
lacionadas com o HIV/SIDA.
(Extraído de Gumbo, 1998).
dinheiro, alimentos, combustível,
trabalho
dinheiro, alimentos, visitas
trabalho, dinheiro, materiais
de construção
trabalho, sementeiras
dinheiro, visitas
dinheiro
Quadro 4: Associações autóctones da região de Kagera, na Tanzania
Luto e funerais
Apoio a doentes
Reconstrução de habitações
e reabilitação de machambas
Trabalhos agrícolas comunais
Apoio aos sobreviventes
Actividades geradoras de
rendimentos
10-40
10-40
10-40
10-40
10-20
10-40
Famílias enlutadas
Famílias com membro/s
doente/s
Famílias em crise
Famílias participantes
Órfãos, viúvas
Grupos de mulheres
Actividades Contribuição mensal Tamanho da associação Beneficiários
A resposta dos agregados familiarese das comunidades à epidemia do HIV/SIDA nas zonas rurais da África Sub-sahariana
34
5.1.4 Os grupos de entreajuda de pessoas vivendo com o HIV/SIDA
Num certo número de países africanos, as organizações de luta contra o SIDA que reúnem
pessoas infectadas e afectadas desempenham um papel cada vez maior nas acções de resposta
à epidemia, muito embora o número das PVHS implicadas seja ainda diminuto quando compa-
rado com a amplitude da infecção. Na realidade, calcula-se que 90 % da população não sabe
se está infectada e que entre as pessoas que o sabem, a maioria procura guardar segredo e não
adere aos grupos de PVHS. Na Costa do Marfim, país que tem a mais elevada prevalência de
SIDA na África Ocidental, foram criados em 1994 dois grupos de entreajuda compostos por
pessoas vivendo com o SIDA. Noutros sítios de África, entre as motivações que levam as pesso-
as a tornar-se membros de um grupo de entreajuda de pessoas vivendo com o SIDA encontra-
se: busca de apoio material, social e psicológico e o desejo de evitar a estigmatização. Os
grupos de entreajuda têm uma importante função social que compreende:
A prestação de serviços a outras PVHS.
Uma acção de intermediação entre as PVHS e os seus parentes
A prevenção do HIV e a mobilização de pessoas não infectadas e não afectadas.
A divisão do trabalho com profissionais de cuidados de saúde.
A constituição de grupos de pressão e de sensibilização (interacções com as autoridades
locais, as organizações internacionais e os doadores).
Na Costa do Marfim e noutros sítios, os grupos de entreajuda de PVHS dão uma resposta
colectiva às crises individuais, prestando apoio psicológico às pessoas que estão - ou se sentem
- amiúde socialmente rejeitadas. Em geral, os grupos de entreajuda enfrentam problemas cul-
turais, organizacionais e dificuldades económicas, dado que por vezes não dispõem de grandes
fundos. Uma outra fonte de tensão provém do facto de a maioria dos seus membros ser pobre
e encarar os grupos de entreajuda como fonte de rendimentos. Com efeito, a motivação da
adesão a estes grupos é muitas vezes económica e não baseada na ideia de uma resposta
colectiva às violações dos direitos do homem.
É evidente que, na maioria dos países, são poucas as pessoas da classe média, as pessoas
abastadas ou com uma categoria profissional elevada que são membros activos de grupos de
apoio à luta contra o HIV/SIDA. A África do Sul constitui uma excepção visto que a NAPWA
(Associação Nacional de Pessoas Vivendo com o HIV/SIDA) foi criada por homossexuais brancos
relativamente abastados, embora a sua massa associativa esteja a mudar. Em 1998, uma orga-
nização destinada a mulheres vivend o com o HIV/SIDA foi criada por Mercy Makhalamele. Esta
organização cujo nome é WANN (Rede Nacional de Mulheres em Vida) procura responder
às necessidades culturais, socio-económicas e psicológicas de mulheres vulneráveis, e muitas
vezes pobres, e às das pessoas a seu cargo.
A um nível mais vasto, existe a ramificação africana da GNP+ (Rede Mundial de Pessoas Viven-
do com o HIV/SIDA) que está sedeada em Nairobi. Com o nome de RAP+ (Rede Africana de
Pessoas Vivendo com o HIV/SIDA), este organismo procura reforçar o papel das redes nacionais
de sensibilização no que respeita aos direitos das pessoas com o HIV.
No Zimbabwé, The Centre foi criado em 1994 por PVHS a fim de promover serviços de saúde e
de aconselhamento e de apoiar uma rede acabada de nascer, a ZNNP+ (Rede de Pessoas Viven-
do com o HIV/SIDA no Zimbabwé). Hoje, a ZNNP+ agrega centenas de membros em grupos de
apoio espalhados por todo o país e, tal como na África do Sul, uma rede independente, desti-
nada às mulheres, está em vias de ser criada para responder às suas necessidades específicas.
35
ONUSIDA
Os grupos informais não dispõem geralmente de dados exactos sobre custos e eficácia mas
têm tendência para ter custos operacionais inferiores porque são mais informais, baseiam-se
na compreensão mútua e porque têm menos custos organizacionais e administrativos. Estes
grupos podem constituir uma fonte essencial de apoio nas comunidades marcadas pela epide-
mia do SIDA. Com efeito, eles dão uma contribuição importante ao nível da produção agrícola,
tanto no que respeita a mão-de-obra como em resposta às necessidades em capitais e alimen-
tos. Além destas ajudas materiais, os grupos informais prestam um apoio psico-social funda-
mental.
Dado que o número de falecimentos ligados ao SIDA aumenta, as estratégias locais actualmen-
te em vigor estão sujeitas a pressões cada vez mais fortes e torna-se necessário elaborar políti-
cas e programas capazes de prestar apoio quando as estratégias existentes passarem a ser
insuficientes. A documentação consultada não fornece muitas informações empíricas acerca
da proporção de PVHS que são membros dos grupos de entreajuda. Também não permite
saber-se até que ponto estes conseguem enfrentar o impacto do HIV/SIDA antes de acabarem.
Certos autores (Webb, 1995; Sabatier, 1997) indicam que há comunidades que já não conse-
guem enfrentá-lo, nomeadamente no que respeita a absorver os órfãos do SIDA. Isto é verda-
deiro sobretudo nas comunidades onde o número de órfãos cresceu brutalmente e atingiu
níveis que tendem a ultrapassar a capacidade de absorção da comunidade. A seca e o declínio
económico são factores de enfraquecimento da capacidade de resposta da comunidade. Con-
tudo, não é possível determinar o limiar exacto a partir do qual a comunidade começa a sentir-
se ultrapassada, como não se pode determinar o tipo de acção de resposta que desaparece
primeiro. Estas questões mereciam mais investigação.
5.2 As organizações formais de base comunitária
Muitos dos programas de base comunitária que assistem pessoas afectadas pelo HIV/SIDA são
desenvolvidos e geridos por organizações de base comunitária. Geralmente, estas organiza-
ções procuram ser democráticas; representam os interesses dos seus membros e prestam-lhes
contas. Constituíram-se em consequência de experiências comuns. Em certos lugares onde a
cooperação entre os diferentes agregados familiares não é habitual, houve ONG que facilita-
ram o desenvolvimento de grupos de entreajuda, os quais são uma espécie de organizações de
base comunitária. Estes grupos são geralmente locais mas podem expandir-se e tornar-se ver-
dadeiras redes de organizações locais. Em 1993, o PNUD (Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento) estimava que existiam pelo menos 100 000 organizações de base comunitá-
ria no mundo inteiro (Hunter e Williamson, 1997).
Os organismos que trabalham com organizações de base comunitária em certos países inclu-
em: ActionAid, InterAid, PLAN, SIDA, HIVOS, GTZ, DANIDA, OXFAM, União Europeia, Catholic
Relief Services, NORAD, UNICEF, USAID, Cruz Vermelha e World Vision. As actividades das
organizações de base comunitária e das organizações de ajuda aos doentes do SIDA variam de
um país para o outro, indo desde os cuidados ao domicílio ao apoio psicológico, passando pela
assistência material. Na zonas rurais do sul do Uganda, a World Vision encorajou a formação
de pequenos grupos de entreajuda que trabalham em meio agrícola e em actividades não
agrícolas geradoras de rendimentos tais como o artesanato, a apicultura, a marcenaria, a cos-
tura e a construção.
Em Kagera, Tanzania, a WAMATA (organização local de assistência aos sobreviventes compos-
ta de voluntários e sem fins lucrativos) está aberta a todos os doentes de HIV/SIDA e a todos os
que ajudam um amigo ou parente doente. Os membros contribuem com pequenas somas em
A resposta dos agregados familiarese das comunidades à epidemia do HIV/SIDA nas zonas rurais da África Sub-sahariana
36
dinheiro ou oferecem um pouco de comida às famílias afectadas pelo SIDA mais necessitadas.
Reparam casas e levam produtos médicos do dispensário local às pessoas acamadas. No entanto,
estes programas possuem recursos locais limitados para manter os serviços e precisam de apoio
exterior, o qual assume a forma de participação nas despesas de propinas escolares, de alimen-
tos, de uniformes, de vestuário, de lençóis e de mantas, bem como de fundos de maneio que
permitam às famílias afectadas pelo SIDA iniciar projectos como a produção de legumes, a cria-
ção de aves e de gado, carpintaria e costura.
Na África do Sul, a SAFO (Sociedade de Ajuda às Famílias e aos Órfãos) foi formada no Soweto
em 1992 com o objectivo de fornecer cuidados e apoio a famílias afectadas (Gilks et al., 1998).
Muitas organizações de base comunitária funcionam graças a numerosos voluntários e a alguns
empregados remunerados. O Anexo 1 apresenta uma selecção de grupos comunitários de
entreajuda que são apoiados pela ActionAid do Uganda. Os Anexos 2, 3 e 4 apresentam algu-
mas das actividades principais das organizações de base comunitária, da região de Kagera, na
Tanzania, e das zonas rurais do Zimbabwé e do Quénia.
Certas organizações de base comunitária cresceram e tornaram-se ONG, como a TASO (Organi-
zação de Ajuda aos Doentes de SIDA), no Uganda. A TASO começou por ser uma pequena
organização de base comunitária que nasceu em 1987 em Kampala. Hoje, está espalhada por
seis locais cobrindo a região sudeste do Uganda e serve, simultaneamente, zonas rurais e urba-
nas. O seu pessoal é constituído por 150 empregados e 2 000 voluntários. A TASO presta uma
gama de serviços que inclui aconselhamento, creches, tratamentos e cuidados, cuidados ao
domicílio, apoio social, como o pagamento de propinas escolares de crianças necessitadas, e
actividades geradoras de rendimentos tais como a costura, a criação de porcos, a cultura de
bananas e de legumes. De acordo com uma avaliação da TASO efectuada em 1994, o tratamen-
to e os cuidados (incluindo o aconselhamento e os cuidados de enfermagem) são mencionados
por 86 % dos 619 utentes inquiridos como sendo os serviços da TASO mais úteis; 10 % menci-
onam o apoio social e 4 % diferentes outros serviços (TASO, 1994). Os seus principais patrocina-
dores incluem a ActionAid, DANIDA, USAID, DFID e AusAID.
Embora possa parecer mais fácil obter dados sobre os custos e a relação custo-eficácia das organiza-
ções de base comunitária que são apoiadas por agências de desenvolvimento exteriores - visto que
são mais formais - a recolha de informação sobre este assunto revelou-se tarefa difícil. A avaliação de
1994 da TASO não dá qualquer informação sobre os custos ou a relação custo-eficácia das activida-
des da TASO. A avaliação dos programas de base comunitária efectuada em 1998 pela ActionAids
Strategies for Action no Uganda e no Malawi também não fornece informação sobre os custos ou
a relação custo-eficácia das actividades de apoio de base comunitária.
5.2.1 O apoio às crianças e aos órfãos
Duas das formas essenciais de apoio aos órfãos que se encontram em situação particularmente
difícil são, por um lado, a ajuda institucional, como seja o internamento em orfanatos e, por
outro lado, o acolhimento ou a adopção tradicionais pelos membros da família e da comunida-
de. A secção seguinte analisa, para começar, os programas que se destinam a reforçar o acolhi-
mento tradicional e os cuidados por parte da família alargada e da comunidade e, em seguida,
debruça-se sobre os programas de ajuda institucional.
Tradicionalmente, considera-se que a família alargada e a comunidade no seu todo apoiam o agre-
gado familiar economica, psicologica e emocionalmente. Trata-se de uma prática comum na maior
parte da África Oriental e Austral. No entanto, a documentação mostra que, à medida que aumenta
37
ONUSIDA
o número de agregados familiares afectados pela epidemia de SIDA, certas comunidades já não
conseguem absorver todos os órfãos do SIDA. As causas disso são a falta de recursos, a urbaniza-
ção e a migração (Webb, 1997). Estas carências são visíveis, por exemplo, no facto de existirem
agregados familiares cujo chefe de família é uma criança e que não beneficiam de qualquer ajuda
ou, como mostra o estudo de Kagera promovido pelo Banco Mundial, pelo desaparecimento de
certos agregados familiares. Contudo, muitas organizações de base comunitária que se dedicam à
ajuda a órfãos foram criadas à medida que o número de órfãos aumenta.
O estabelecimento de uma ajuda à prestação de cuidados a crianças e a órfãos na comunidade
é ilustrado por estudos de caso provenientes do Zimbabwé, do Malawi e da Tanzania que são
relatados no Painel 2. Quando os órfãos não beneficiam da rede de segurança que a família
alargada representa, as instituições de acolhimento ou os orfanatos constituem o último recur-
so para se responder às suas necessidades. Os orfanatos são, por vezes, geridos por igrejas,
particularmente os que são destinados a crianças de menos de três anos, ou por ONG, governos
ou privados. Dado que o número de crianças órfãs do SIDA aumenta, é provável que a necessi-
dade de orfanatos venha a crescer.
A documentação revela que os orfanatos têm pouca probabilidade de ser financeiramente susten-
táveis em virtude do peso enorme e prolongado no tempo que representam para a Assistência
Social ou para outros organismos responsáveis pelo seu funcionamento. Segundo Ainsworth e
Over (1997), o custo de uma criança acolhida num orfanato é cerca de oito vezes maior do que o
de uma criança acolhida por uma família. As múltiplas exigências de que se reveste a guarda de
crianças impõem uma ratio criança/encarregado de cuidar dela que é menor nas instituições (Powell
et al., 1994). Este estudo nacional efectuado no Zimbabwé acerca de instituições de acolhimento
de crianças mostrou que as crianças mais pequenas que se encontram nos orfanatos correm um
risco superior de contrair infecções recorrentes. O relatório elaborado por Powell indica que um
inquérito sobre dois orfanatos que acolhem 100 crianças no total mostrou que 42 delas tinham
estado hospitalizadas uma vez e 26 delas duas ou mais vezes. É também claro que os orfanatos
raramente vão ao encontro dos interesses da criança, quer no plano económico quer no social.
No Zimbabwé, o programa de base comunitária
FOCUS (Programa de Ajuda às Famílias, aos
Órfãos e às Crianças em Dificuldade) foi lança-
do em 1993, numa zona rural, por uma igreja lo-
cal, com o apoio técnico da FACT (Associação
de Ajuda às Famílias Atingidas pelo SIDA), de
Mutare. As actividades principais do projecto
compreendem o recrutamento de voluntários no
seio da comunidade para identificar órfãos,
registá-los e fazer-lhes visitas, num raio de dois
quilómetros em torno do seu domicílio. Os volun-
tários recebem uma formação básica e duas ve-
zes por mês vão visitar os agregados familiares
onde vivem órfãos. Os órfãos que vivem em con-
dições mais difíceis, como os que se encontram
em lares cujo chefe de família é uma criança, re-
cebem visitas todas as semanas. Os órfãos são
apoiados materialmente através de insumos agrí-
colas (sementes de milho e fertilizantes, por exem-
plo), pagamento de propinas da escola primá-
ria, alimentos e mantas.
Entre as outras actividades realizadas pela
FOCUS encontra-se: apoio ao amanho da terra
pertencente aos órfãos, reparação de casas, cui-
dados de saúde, guarda de crianças, subsídios e
criação de actividades geradoras de receitas.
Este último ponto compreende o fornecimento de
bens materiais a projectos de base comunitária,
tais como a criação de aves e a horticultura. O
rendimento resultante dos projectos geradores de
receitas reverte para a ajuda às famílias neces-
sitadas. O apoio psico-social é prestado através
de actividades culturais e desportivas que se re-
alizam frequentemente. O programa FOCUS não
faz distinção entre órfãos do SIDA e os outros
órfãos. Tenta prestar ajuda a quem dela mais
necessita. Pode também apoiar crianças que não
são órfãs em casos excepcionais de aflição.
Painel 2: Estudos de casos sobre apoio a órfãos
A resposta dos agregados familiarese das comunidades à epidemia do HIV/SIDA nas zonas rurais da África Sub-sahariana
38
Em 1998, o programa FOCUS contava com 137
voluntários espalhados por cinco localidades ru-
rais e uma zona residencial urbana densamente
povoada, em Mutare. O programa cobre um to-
tal de 50 000 agregados familiares e presta aju-
da a 1 200 órfãos. O custo total do programa
FOCUS é de 1150 dólares americanos por mês,
dos quais 44 % são destinados a despesas admi-
nistrativas da FACT e 56 % às despesas directas
do programa (78 % para assistência material aos
órfãos, 13 % para reembolso das despesas dos
voluntários e para uniformes, 9 % para forma-
ção e despesas com reuniões). (Foster e Makufa,
1998). Os voluntários só recebem incentivos mí-
nimos: uniformes, 10 dólares americanos de pre-
sente de Natal e formação. O programa FOCUS
é utilizado noutras províncias do país e outros
programas foram lançados na Zâmbia, no
Quénia e no Malawi, na sequência de visitas aos
locais onde a FOCUS está presente, no âmbito
do programa regional de formação da FACT.
No Malawi, o programa COPE da Save the
Children Federation USA representa igualmen-
te um bom exemplo de projecto elaborado com
vista ao reforço da capacidade da comunidade.
O objectivo da intervenção do COPE é mobili-
zar a acção comunitária para a atenuação do
impacto do HIV/SIDA nas famílias e nas crian-
ças. A primeira fase compreendia a elaboração
de uma estratégia de programação; esta etapa
consistiu nomeadamente na formação de agru-
pamentos vocacionados para os cuidados comu-
nitárias, que reuniam o governo, responsáveis
religiosos, empresários, os anciãos da comuni-
dade e outras pessoas chave, a fim de responder
às necessidades das famílias em matéria de saú-
de e de problemas económicos e psicológicos. A
segunda fase do programa incluía o reforço da
capacidade destes agrupamentos identificarem
e mobilizarem os recursos internos, de acederem
a recursos externos e de coordenarem as organi-
zações de base comunitária que levariam a ini-
ciativa por diante.
Os comités de luta contra o impacto do SIDA ao
nível da comunidade conseguiram identificar,
monitorar e apoiar os órfãos e outras crianças vul-
neráveis ao ajudarem alguns deles a voltar para a
escola e ao fornecerem-lhes assistência material
sob a forma de uniformes escolares, vestuário, mi-
lho, arroz, sabão e material didáctico. Estas mes-
mas organizações comunitárias conseguiram reu-
nir fundos graças a hortas comunitárias,
efectuando trabalhos remunerados em pequenas
machambas pertencentes a agricultores e reali-
zando cortejos humanitários. As pessoas encarre-
gadas da guarda de crianças beneficiavam de aju-
da sob a forma de insumos agrícolas e de conselhos
técnicos por intermédio dos comités de luta con-
tra o impacto do SIDA ao nível da aldeia. As ou-
tras realizações dos comités de luta contra o im-
pacto do SIDA ao nível das aldeias incluem a
formação de clubes de jovens implicados na pro-
moção da prevenção do HIV e nos trabalhos de
prestação de cuidados, em sistemas de base co-
munitária de guarda de crianças e em actividades
recreativas estruturadas destinadas às crianças.
As características mais notáveis deste programa
são, por um lado, a criação de parcerias entre o
sector público e privado e, por outro lado, o facto
de a COPE ter agido como simples mediadora que
facilitou o estabelecimento do projecto. No fim do
ciclo previsto para o projecto, os trabalhadores
agrícolas da COPE foram retirados das aldeias e
das comunidades que foram consideradas auto-
suficientes (Krift e Phriri, 1998).
No Malawi, certas organizações de base comu-
nitária começam a oferecer uma educação in-
formal aos órfãos. Por exemplo, a Chifundo
Orphan Home, no distrito de Manase, foi criada
por mulheres que queriam ajudar os órfãos a
continuar a receber educação. Esta instituição
pediu ao chefe da aldeia que lhe indicasse quais
eram os órfãos que não iam à escola.
Na região de Kagera, na Tanzania, 12 organiza-
ções de base comunitária e ONG internacionais
prestam ajuda a cerca de 47 % dos órfãos. Parece
que a ajuda exterior gera uma certa dependência:
as pessoas ou as comunidades têm tendência para
ficar à espera que ONG exteriores venham pres-
tar-lhes ajuda. O Projecto de Ajuda aos Órfãos
UKIMWI fornece uma assistência limitada às co-
munidades para as ajudar a resolver os seus pró-
prios problemas de órfãos. Os recursos das famí-
lias e das comunidades são mobilizados em
primeiro lugar para aumentar a produção de ali-
mentos, o que inclui o cultivo das terras e a cria-
ção de duas vacas, assim como culturas de rendi-
mento como as de bananas ou café. As outras
actividades consistem na organização de apoio
comunitário com vista à reparação de casas de
órfãos, ao pagamento de propinas escolares de um
certo número de órfãos, a prestação de assistên-
cia médica aos órfãos e à implementação de acti-
vidades geradoras de rendimentos destinadas a
grupos de mulheres ou a órfãs (costura, remen-
dos, cestaria, etc.). (Ng’weshemi et al., 1997)
39
ONUSIDA
Mukoyogo e Williams (1991) observaram que, na Tanzania, quando as crianças deixam a sua
aldeia, perdem o direito de herdar a terra dos seus pais e deixam de ter o sentimento de
pertença. Têm igualmente que enfrentar problemas de socialização e a perda das suas raízes
culturais - e a experiência mostra que as consequências dessas situações a longo prazo são
extremamente nefastas pois engendram adultos mal adaptados que vão perpetuar a epidemia.
As crianças albergadas em orfanatos não estão completamente integradas na comunidade
porque estas instituições estão estruturadas como comunidades isoladas onde a integração só
se verifica no âmbito escolar (Powell et al., 1994). O facto de se levar a ajuda directamente à
comunidade é mais eficaz, embora os governos tenham dificuldade em determinar quais as
famílias de órfãos mais necessitadas. Como já dissemos, as organizações de base comunitária
desempenham um papel fundamental.
5.2.2 Projectos geradores de receitas
As ONG locais e as que recebem fundos internacionais procuram melhorar os rendimentos dos
membros da comunidade apoiando projectos geradores de rendimentos que sejam susceptíveis
de atenuar os efeitos do HIV/SIDA. As ONG podem actuar por intermédio de organizações de base
comunitária e oferecer ajuda a projectos geradores de receitas - quer individuais quer de grupo. No
Uganda, as organizações de base comunitária apoiadas pela ActionAid tendem a ser constituídas
por pessoas de características variadas (por exemplo, viúvas, pessoas vivendo com o SIDA e mulhe-
res). Por outro lado, há indivíduos no seio das organizações de base comunitária que administram
projectos geradores de receitas. Asingwire et al. (1998) avaliaram cinco organizações de base
comunitária directamente apoiadas pela ActionAid Uganda. Tratava-se da NACWOLA, GASCO,
TASO Kumi, STOGA e KISA. As actividades geradoras de rendimentos levadas a cabo por estas
organizações de base comunitária estão expostas no Quadro 5.
Quadro 5: Actividades levadas a cabo por organizações de base comunitária no âmbito de projectos geradores
de receitas no Uganda
Projecto gerador de rendimentos visando grupos Projecto gerador de rendimentos para
indivíduos
NACWOLA TASO Kumi
Criação de coelhos - Costura Criação de cabritos
TASO Kumi STOGA
Agricultura, venda de produtos agrícolas,
restaurante, criação de cabritos Fundo de maneio
GASCO KISA
Criação de porcos Fundo de maneio
As avaliações efectuadas por Asingwire et al. mostram que a criação de coelhos não parece
constituir um empreendimento muito lucrativo para pessoas vivendo com o HIV/SIDA. A
NACWOLA é uma ONG nacional fundada em 1991 por mulheres que vivem com o SIDA. Na
altura da avaliação de Asingwire et al., o projecto funcionava há cerca de 10 meses e nenhum
dos seus membros tinha ainda tirado dele o menor proveito em termos de rendimento, embora
eles tivessem consagrado tempo, dinheiro e trabalho à criação dos coelhos. Não obstante esta
reserva, verificaram-se algumas vantagens na medida em que o grupo ofereceu um forte apoio
psico-social às pessoas vivendo com o HIV/SIDA.
A resposta dos agregados familiarese das comunidades à epidemia do HIV/SIDA nas zonas rurais da África Sub-sahariana
40
Em 1996, a ActionAid Malawi lançou um pro-
jecto-piloto dirigido a órfãos, doentes crónicos
e pessoas vivendo com o SIDA. Graças a um
financiamento da UNICEF, a ActionAid propor-
cionou o desenvolvimento do potencial de ac-
ção de organizações de base comunitária a fim
de facilitar a formação de poupanças de rota-
ção funcionais e de sistemas de crédito. As sub-
venções e os pequenos empréstimos podem ser
utilizados para projectos como:
- Produção e fabricação em pequena escala
na área da costura, panificação. tecelagem,
Painel 3: A experiência da ActionAid com projectos geradores de receitas no Malawi
A criação de cabritos, projecto levado a cabo pela TASO Kumi, provou não ter interesse para as
PVHS, por causa da sua própria natureza. São precisos dois anos até que a pessoa vivendo com
o HIV/SIDA consiga tirar proveito da venda de cabritos e, como os beneficiários recebiam cabri-
tos muito jovens, a criação destes representava um grande peso sobre os seus ombros. Grande
número de PVHS adoeciam ou morriam antes de realizarem o mais pequeno lucro.
O fundo de maneio da KISA foi um fracasso porque os montantes dos empréstimos eram
demasiado pequenos e repartidos por numerosos membros. Em contrapartida, o fundo da
STOGA foi um verdadeiro sucesso e serviu de modelo para outras organizações de base comu-
nitária. Os membros da STOGA decidiram não atribuir empréstimos muito pequenos adoptan-
do uma fórmula que consiste em seleccionar apenas um número muito pequeno de beneficiários
no início. Estes raros membros, mulheres unicamente, conseguiram devolver os créditos rece-
bidos a tempo para que outros membros pudessem deles beneficiar por sua vez. Além disso o
grupo desenvolve uma actividade de proximidade, isto é, dá espectáculos de teatro que ren-
dem dinheiro, o qual é repartido por todos. Se um dos membros deixa de pagar de vez, recebe
somas mais pequenas no momento da partilha, pois deduz-se-lhe uma parte para compensar
as contribuições que ela não efectuou.
Ao longo dos seus trabalhos, Asingwire et al. indicam que os projectos de grupos se deparam por
vezes com problemas quando não têm um responsável específico do projecto. Os projectos de
grupos devem, no entanto, ser encorajados junto das pessoas vivendo com o HIV/SIDA, devido à
satisfação que eles lhes dão e à importância que tem para elas o facto de se encontrarem umas
com as outras e de partilharem as suas experiências. Asingwire et al. recomendam que os projec-
tos geradores de rendimentos individuais sejam encorajados junto de pessoas que não vivem com
o HIV/SIDA. Quando criam os seus próprios projectos, os indivíduos são mais propensos a em-
penhar-se completamente do que quando fazem parte de um grupo. As experiências referentes a
projectos geradores de receitas no Malawi são semelhantes, como o Painel 3 ilustra.
No Uganda, no âmbito do projecto «Zero Grazing Heifer Project» as famílias receberam uma
vaca prestes a parir, de maneira a poderem beneficiar da produção de leite. A família torna-se
dona da vaca logo que esta dê à luz uma cria fêmea, a qual é levada para que o ciclo possa
continuar. Enquanto que o projecto foi um êxito quando se tratou de empréstimos em dinhei-
ro, quando está em jogo um bem indivisível como o é uma vaca, a vulnerabilidade da família
pode tornar-se maior se esta se confrontar com uma situação de aflição na qual a venda do
animal se transforma numa verdadeira catástrofe (Kezaala e Bataringaya, 1998).
trabalho do couro, preparação de alimentos.
- Actividades agrícolas como a produção de
aves, de ovos, de frangos, horticultura, etc.
- Prestação de serviços como sapataria,
reparação de bicicletas, gestão de salões de
chá.
- Pequeno comércio: compra e venda de
diversos produtos como feijão e milho.
- Pesca.
Os membros de um grupo funcional podem ob-
ter empréstimos na qualidade de grupo ou a tí-
41
ONUSIDA
Nas regiões rurais da Zâmbia, as estratégias de resposta estão ligadas às actividades agrícolas e
ao fabrico de cerveja. Sendo os mercados limitados, a compra e venda de bens é uma activida-
de menos importante. Os projectos agrícolas comunitários de pequena escala são geridos de
maneira que os lucros vão para as pessoas que deles mais precisam, sendo estas definidas pelo
comité de gestão do projecto (Webb, 1995).
O estudo efectuado no terreno, em Mpongwe, na Zâmbia, pela FAO, mostra que o emprésti-
mo de gado é uma intervenção importante que reforça as acções de resposta dos agregados
familiares e da comunidade, particularmente as das mulheres. O micro-crédito é deliberadamente
apresentado de maneira a atrair as mulheres pois são elas quem apresenta a maior taxa de
reembolso no mundo inteiro (Hunter e Williamson, 1998). A experiência mostrou igualmente
que as mulheres utilizam mais os seus rendimentos para contribuir para as necessidades imedi-
atas das crianças.
tulo individual mas comprometem-se a reembol-
sar os seus empréstimos rapidamente, de manei-
ra a manter-se o fundo de rotação. O montante
emprestado inicialmente era de 400 MK (kwacha
malawiana) mas, posteriormente, os membros
podiam receber até 1500 MK por pessoa. O gru-
po de apoio determina o montante máximo que
se pode pedir emprestado baseando-se na capa-
cidade que os beneficiários têm de devolver o
dinheiro. O dinheiro é emprestado sem que se
tenha que apresentar garantias. As taxas de juro
vão de 10 a 20 % por ano. Os prazos de reem-
bolso variam de um grupo para outro. No seu
conjunto, os reembolsos foram honrados. Uma
mulher Zomba cuja actividade é a britagem de
pedra reembolsou o seu empréstimo num mês e
obteve um empréstimo maior que lhe permitiu
aumentar a dimensão do negócio. Um certo nú-
mero de organizações de base comunitária como
a NASO, de Nkhotakota, obteve o reembolso de
85 % das somas emprestadas a indivíduos e es-
tão em condições de conceder uma segunda sé-
rie de empréstimos.
O projecto pretende alcançar os seguintes ob-
jectivos: abranger 3000 órfãos vivendo em 756
agregados familiares, ajudar 62 pessoas viven-
do com o HIV/SIDA e que receberam fundos para
levar a cabo projectos geradores de rendimen-
tos, assegurar a formação e a gestão dos volun-
tários que animam os grupos de apoio. Os prin-
cipais problemas que se encontrou foram queixas
segundo as quais o montante dos empréstimos
era demasiado pequeno para o tipo de activida-
des que os beneficiários queriam empreender e o
facto de certos beneficiários não terem compe-
tências suficientes para levarem a cabo um pro-
jecto gerador de rendimentos, embora já tenham
adquirido alguns conhecimentos e aptidões.
Os principais ensinamentos a tirar da experiên-
cia são:
- Os projectos individuais são melhor geridos
do que os projectos de grupo pois são melhor
acompanhados quando uma só pessoa é res-
ponsável pela gestão do projecto.
- As actividades geradoras de receitas que são
administradas localmente pela comunidade e
que se regem por regras próprias são mais
benéficas e têm menos custos. É importante
que as comunidades possuam os seus própri-
os sistemas de crédito pois isso garante a sua
sustentabilidade.
- Um programa de crédito e de poupança que
se apoia na participação comunitária e num
espírito de voluntariado tem mais hipóteses de
sustentabilidade do que um projecto cujo fun-
cionamento diário depende de um funcioná-
rio.
- Um programa cujo alvo seja a unidade fami-
liar estará mais apto a responder às necessi-
dades dos beneficiários.
Adaptado de: Khonyongwa (ActionAid Malawi),
1998.
A resposta dos agregados familiarese das comunidades à epidemia do HIV/SIDA nas zonas rurais da África Sub-sahariana
42
Na documentação consultada, os custos e a eficácia dos projectos geradores de rendimentos
não são mencionados. A avaliação de projectos geradores de receitas efectuada por Asingwire
et al. no Uganda, em 1998, não refere os custos e a eficácia desses projectos. Segundo Sabatier
(1997), as ONG que se ocupam do SIDA têm economias de escala pequenas e os custos admi-
nistrativos e despesas correntes absorvem a maior parte dos seus orçamentos. Em certos casos,
acontece mesmo que o que chega efectivamente aos beneficiários visados seja menos de 20%
do orçamento. Isto foi confirmado no que se refere às ajudas de natureza muito pessoal, como
os cuidados ao domicílio (que são estudados na secção seguinte), o aconselhamento e o apoio
em período de crise. O facto de os programas serem mais centrados na comunidade torna-os
menos dispendiosos e mais eficazes. Semelhante falta de dados observa-se no que respeita a
publicações sobre ONG envolvidas no trabalho de atenuação do impacto. Há indícios de que
certos projectos geradores de rendimentos particularmente orientados para grupos oferecem
mais vantagens psicológicas do que materiais. Verifica-se igualmente que a implementação de
projectos geradores de rendimentos faz aumentar a auto-estima, pois os seus membros ficam
demasiado ocupados para sentirem pena de si próprios (Julian et al., 1996).
Certos estudos salientam a necessidade de se avaliar cuidadosamente a relevância de qualquer
projecto gerador de rendimentos antes de introduzi-lo na comunidade, para se saber se ele se
coaduna com as competências e os recursos da comunidade. A avaliação de um projecto agrí-
cola de cultura da baunilha no distrito de Mukono, no Uganda, revelou que o projecto não era
viável por não existir mercado para este produto (Kezaala et al., 1998). A falta de competências
e de conhecimentos adequados são identificados em vários estudos como a principal razão de
fracasso. As boas intenções, uma pequena injecção de capital e umas lições rápidas não
conseguem fabricar alfaiates, criadores de aves e padeiros (Jackson et al., 1993). As interven-
ções que são bem avaliadas, de baixo custo e que são elaboradas com base nos recursos,
competências e necessidades da comunidade têm mais hipóteses de êxito. Todavia, Jackson et
al. chamam a atenção para as dificuldades inerentes à criação de projectos baseados exclusiva-
mente em critérios de rentabilidade e de geração de rendimentos. Se a rentabilidade não for o
fim em vista, tal deve ficar perfeitamente claro desde o início, para que os participantes não
acalentem esperanças vãs e ideias erradas.
5.3 Programas de tratamento e de cuidados ao domicílio
Os programas de cuidados ao domicílio para pessoas vivendo com o HIV/SIDA ou com outras
necessidades de saúde desenvolvem-se rapidamente na África Sub-sahariana em resposta ao
impacto do HIV/SIDA. Isto acontece porque os hospitais e as outras unidades sanitárias oficiais
não conseguem dar conta da procura crescente num momento em que os seus orçamentos
reais estão a diminuir devido a medidas de ajustamento económico estrutural. Na pior das
hipóteses, os cuidados ao domicílio são sinónimo de desleixo, mas quando são prestados cor-
rectamente, podem ajudar os pacientes a viver com a sua doença e a morrer com certa digni-
dade e aconchego, num ambiente familiar, rodeados dos seus próximos. Osborne et al. descre-
vem diferentes modelos de cuidados ao domicílio (desde a deslocação de serviços hospitalares
ao domicílio até sistemas geridos por ONG e organizações de base comunitária geridas por
PVHS) e comparam as suas vantagens. Estes autores (e ainda outros, como Woelk et al., 1997)
notam que as principais dificuldades na prestação de cuidados ao domicílio referem-se aos
custos e à sustentabilidade a longo prazo, à qualidade dos serviços e à cobertura das necessida-
des. Foster et al. (1993) calculam que, na melhor das hipóteses, são cobertas 10 % das neces-
sidades, e, muitas vezes, menos do que isso. Os primeiros programas de cuidados ao domicílio
no Uganda, na Zâmbia e no Zimbabwé foram criados por hospitais mas verificou-se que 75 %
43
ONUSIDA
do tempo de trabalho do pessoal hospitalar era gasto nas deslocações ao domicílio dos pacien-
tes das zonas rurais, o que era muito dispendioso para os hospitais.
O estudo patrocinado pela OMS em 1993 (OMS, 1994) na Zâmbia mostra que o custo médio
de uma visita ao domicílio de uma equipa de três pessoas é de 26 dólares americanos e conclui
que os cuidados ao domicílio são um serviço dispendioso em dinheiro e em horas de trabalho
mas que pode ser eficaz se as comunidades nele tiverem uma maior participação. Num outro
estudo, Gilks et al. (1998) concluem igualmente que as unidades de cuidados ao domicílio
geridas por hospitais não são rentáveis pois são dispendiosas e não conseguem abranger todas
as pessoas que delas precisam. No início dos anos noventa, os programas de cuidados ao
domicílio, mantidos por hospitais começaram a funcionar em colaboração mais estreita com
voluntários baseados nas comunidades e provenientes de igrejas e outros grupos sociais. Os
programas de base comunitária em que participam voluntários locais que efectuam visitas ao
domicílio são mais rentáveis e as equipas baseadas na comunidade têm a possibilidade de
consagrar mais tempo aos pacientes do que o pessoal que vem dos hospitais.
O estudo dedicado aos cuidados ao domicílio na Zâmbia, efectuado por Woelk et al. (1997),
embora se baseie numa amostra de pequena dimensão que não é forçosamente representativa,
mostra que o custo dos cuidados ao domicílio geridos pela comunidade é claramente mais elevado
nas zonas rurais do que nas zonas urbanas, principalmente por causa dos custos maiores de
transporte (42 dólares americanos por visita nas zonas rurais contra 16 por visita nas zonas urba-
nas). Os salários e o transporte representam a maior parte dos custos (de 78 % a 90 %). Os autores
concluem que é essencial que os programas aumentem a participação das comunidades e desen-
volvam o sentimento de serem pertença da comunidade para que os custos sejam minimizados.
Numerosos programas comunitários de cuidados ao domicílio assumem a forma de cuidados
médicos e de enfermagem, assistência material, bem como de apoio social, espiritual e emoci-
onal. No entanto, seria um erro supor que há recursos disponíveis para enfrentar as necessida-
des em materiais e medicamentos. Nem sempre assim é nas zonas rurais pobres e isso pode
tornar-se um grande obstáculo ao funcionamento de programas comunitários de cuidados ao
domicílio. Um outro grande obstáculo reside no facto de o aumento do número de pessoas
que precisa de cuidados ao domicílio poder atingir um nível que ultrapasse a capacidade dos
serviços de cuidados ao domicílio da comunidade.
Gilks et al. (1998) indicam que o custo do programa de cuidados ao domicílio Chikankata, em
meio rural na Zâmbia, é de cerca de 1000 dólares americanos por beneficiário. Os custos mais
elevados são os das despesas de transporte. O hospital de Chikankata é um hospital apoiado
pelo Exército de Salvação que serve uma população rural de cerca de 100 000 pessoas. Por
comparação, os custos dos programas de cuidados ao domicílio da Diocese católica do
Copperbelt, na Zâmbia, são modestos em relação ao número de beneficiários que servem.
Uma análise dos custos dos programas (com excepção dos de ajuda a órfãos) da localidade de
Ipusukilo, ao longo de um período de 24 meses, de 1996 a 1998, mostra que as despesas
médias mensais eram de 2216 dólares americanos por 400 doentes - ou 3600 pessoas se se
levar em conta os membros do agregado familiar. A maior parcela destas despesas era a da
ajuda social às famílias (vestuário, alimentação, mantas, lençóis), a qual representava 39 % do
dinheiro gasto. Vinham a seguir os medicamentos e os equipamentos com 21 % (Blinkhoff et
al., 1999). A avaliação dos programas de cuidados ao domicílio na Zâmbia está descrita no
Painel 4; a conclusão do estudo referido é que os cuidados ao domicílio alicerçados na comu-
nidade podem reduzir substancialmente o custo do programa. Eles proporcionam uma grande
redução nas despesas de transporte e de pessoal e permitem que uma maior proporção dos
fundos vá beneficiar directamente os doentes e suas famílias.
A resposta dos agregados familiarese das comunidades à epidemia do HIV/SIDA nas zonas rurais da África Sub-sahariana
44
Na Zâmbia, o SIDA é já a primeira causa de
falecimento de adultos hospitalizados. As pro-
jecções para 1998 referentes à infecção pelo HIV
elevam-se a 1,8 milhões de pessoas, ou seja,
quase 28 % da população total. A grande maio-
ria das pessoas infectadas, num momento ou
outro da sua doença, vão recorrer aos cuidados
de saúde e a necessidade de camas de hospital
vai crescer cerca de 20 % por ano ao longo dos
próximos dez anos. Pensa-se que, até 2010, as
PVHS ocuparão 90 % das 25 000 camas dos
hospitais.
Quarenta e sete programas de cuidados ao do-
micílio foram criados desde 1987 para presta-
rem serviços às PVHS no seio das suas comuni-
dades. Além disso, o governo zambiano reagiu
integrando os cuidados ao domicílio na sua es-
tratégia de saúde. Para isso pediu às direcções
distritais de saúde que apoiassem os cuidados
ao domicílio e encorajou os programas de cui-
dados ao domicílio a melhorar a sua eficácia
por intermédio de uma maior integração sua nos
sistemas de cuidados de saúde comunitários.
Foi efectuado um estudo para examinar certos
programas de cuidados ao domicílio criados por
hospitais e comunidades. Efectuaram-se compa-
rações gerais entre estes dois tipos essenciais de
infra-estruturas a fim de se conhecer a sua eficá-
cia relativa e o seu grau de sucesso no que res-
peita à sua integração nos sistemas de cuidados
de saúde existentes. O custo por casa visitada
varia de maneira significativa, indo de 10 a 40
dólares americanos para os programas lançados
pelos hospitais (por causa das diferenças entre
5.4 Mudanças ao nível das regras e dos valores culturais
No contexto africano, dado que cada vez mais pessoas morrem de SIDA, as comunidades têm
de renunciar às práticas tradicionais do luto. Hoje, numerosas comunidades não têm recursos
materiais e humanos para continuar a respeitar as práticas rituais e tiveram, por isso, de efectu-
ar rápidas adaptações. Os ritos funerários africanos pressupõem geralmente que o corpo seja
levado para casa e aí fique pelo menos uma noite, que seja lavado, exposto publicamente, que
se faça uma cerimónia de enterro, que haja uma grande refeição para as pessoas que partici-
pam no funeral e um período de luto de uma semana durante o qual os amigos e os parentes
dormem em casa do defunto e em torno dela (McNeil, 1999). Vários estudos indicam que a
duração dos períodos de luto passou de sete para dois ou três dias para os adultos e de três
para dois dias para as crianças (Lwihula, 1998; SAfAIDS, no prelo; Kilonzo et al., 1996). No
Uganda, o costume de não se trabalhar na machamba durante os quatro dias que se seguem
ao falecimento de um vizinho, em sinal de respeito, foi abandonado. Agora não podemos
dar-nos ao luxo de fazer isso, se não, não temos nada para comer - Dr. D Kabatesi, responsá-
vel pelo Projecto Theta de educação sobre o SIDA (McNeil, 1999).
Certos estudos indicam igualmente que se verificam mudanças em algumas práticas culturais
tradicionais que contribuem para a transmissão do HIV. Por exemplo, num estudo efectuado na
Zâmbia pela SAfAIDS (no prelo), a purificação ritual que consistia em ter relações sexuais com
a mulher que enviuvava é actualmente pouco praticada, sobretudo quando se supõe que a
causa do falecimento do marido tenha sido o SIDA. Agora, o ritual consiste mais em atar um
colar de missangas à volta da cintura da viúva e em pintalgá-la com papa de farinha. A viúva
não pode voltar a casar ou ter relações sexuais até que o colar caia por si, sob pena de morrer
ou de ficar louca.
Certas comunidades esforçam-se por proteger a herança das viúvas e das crianças para evitar
que seja confiscada pela família do defunto marido. Elas trabalham neste sentido em colabora-
ção com os dirigentes comunitários.
Painel 4: Custo e eficácia dos cuidados ao domicílio na Zâmbia
45
ONUSIDA
as estruturas, os serviços e a produtividade des-
tes programas) a 2 dólares americanos para os
programas de base comunitária. Os principais
custos incluem o transporte, os fornecimentos,
os salários e a formação. Os custos hospitalares
variam entre 3 e 8 dólares americanos por dia.
Contudo, nem os custos assumidos pelas famíli-
as que visitam os doentes nem as perdas de opor-
tunidades puderam ser calculados.
A conclusão essencial deste estudo é que, embora
seja necessário um financiamento externo, o prin-
cípio dos cuidados ao domicílio na Zâmbia deve
continuar a ser apoiado e intensificado. Os pro-
gramas de cuidados ao domicílio na Zâmbia são
exemplares e constituem uma fonte de inspiração
para o resto do mundo. Levaram indubitavelmente
a milhares de PVHS, às suas famílias e às comuni-
dades, serviços e reconforto inestimáveis. Toda-
via, é urgente melhorar a eficácia e diminuir os
custos associados aos serviços de cuidados actu-
ais, tal como são prestados em certos países.
O recurso mais frequente a cuidados ao domicí-
lio poderia aliviar a pressão que se sente nos
centros de cuidados terciários. Os custos podem
ser diminuídos se se evitar os programas verti-
cais baseados em actividades exteriores que re-
querem o uso de veículos, que abrangem pouca
gente e que exigem um grande número de horas
de trabalho de pessoal qualificado. A procura
de cuidados hospitalares podia ser desviada
para os cuidados comunitários se as unidades
de cuidados primários existentes, situadas mais
próximo dos agregados familiares, fossem me-
lhor utilizadas e apoiadas, incluindo no que res-
peita à disponibilidade de cuidados completos.
As comunidades estariam aptas a organizar uma
gama mais vasta de apoios, tanto clínicos como
espirituais e emocionais. Todavia, para se che-
gar aí, a capacidade das comunidades e das fa-
mílias se encarregarem de PVHS deverá ser
maior e mais sustentável. Frequentemente, como
mostram os estudos de caso, estas capacidades
estão disponíveis mas estão sub-utilizadas e dis-
persas - como os grupos de inspiração religio-
sa, os trabalhadores de saúde locais, os curan-
deiros tradicionais e os cuidados prestados pelos
membros da família.
Fonte: Ng’weshemi et al., 1997.
As comunidades rurais, confrontadas com perdas cada vez maiores devido ao
HIV/SIDA, procuram ajuda junto das famílias e das comunidades existentes. Elas partilham com
outras comunidades as suas experiências sobre a forma de enfrentar as perdas causadas pelo
HIV/SIDA. As organizações que prestam serviços e as ONG que dão apoio ajudam a reunir os
recursos que são necessários, particularmente para os programas de tratamento e de cuidados
ao domicílio. A documentação mostra de que maneira as populações se mobilizam utilizando
sistemas de cuidados tradicionais e modernos a fim de prestar apoio aos doentes e aos neces-
sitados das suas comunidades. As pessoas vivendo com o HIV desempenham um papel cada
vez mais importante na comunidade.
A força imensa das acções de resposta da comunidade tradicional local reside no facto delas
serem menos dispendiosas, de se basearem nas necessidades locais e nos recursos disponíveis
e na compreensão mútua dos membros da comunidade. A principal limitação destas iniciativas
locais é que não geram recursos suficientes para a compra dos medicamentos e para satisfazer
outras necessidades em matéria de tratamento e de cuidados e, por isso, o seu apoio neste
aspecto é limitado. Além disso, elas são susceptíveis de ser um pesado fardo para as mulheres,
as quais já trabalham durante longas horas.
6. As implicações das políticas nas
acções de resposta comunitárias
6. As implicações das políticas nas
acções de resposta comunitárias
A resposta dos agregados familiarese das comunidades à epidemia do HIV/SIDA nas zonas rurais da África Sub-sahariana
46
A documentação mostra que, quanto mais aumenta o número de falecimentos relacionados
com o SIDA, mais cresce a pressão que se exerce nas estratégias comunitárias existentes. Esta
observação sublinha a importância de uma vigilância estreita sobre a capacidade de resposta
das comunidades para que políticas e programas possam ser implementados de forma a pres-
tarem um apoio estratégico que maximize a eficácia das iniciativas locais e as ajude a continu-
ar. O apoio exterior dos planificadores de saúde, dos estrategas políticos, dos doadores e das
ONG deve sustentar as iniciativas de raiz comunitária e não substituir-se a elas. A necessidade
de se realizar abordagens sustentáveis, capazes de atingir o número crescente de pessoas que
precisa de ajuda, que dêem garantias de uma qualidade mínima de serviços, torna indispensá-
veis o desenvolvimento e a mobilização efectivos da comunidade. Eles devem ser os verdadei-
ros pilares das estratégias de cuidados. Os esforços de prevenção do HIV devem ser parte
integrante das estratégias de cuidados se o realce for dado à abertura e ao reconhecimento e
interiorização do problema pela comunidade. Isto exige igualmente a criação de um
enquadramento jurídico e humano ao abrigo do qual as pessoas vivendo com o HIV/SIDA
possam sem receio anunciar a sua sero-positividade.
Os programas de base comunitária que dependem de um apoio exterior foram muito eficazes
perante as necessidades das pessoas afectadas pelo SIDA. As respostas sustentadas por esses
programas são muito mais variadas e mais holisticas do que outras e incluem o apoio aos
órfãos, a melhoria de competências psico-sociais como a formação dos jovens, os cuidados ao
domicílio (cuidados de enfermagem e medicamentos), projectos geradores de receitas e
aconselhamento. No entanto, esses programas têm igualmente limitações que estão ligadas a
dificuldades organizacionais, à falta de fundos e de apoio técnico adequado à sustentação do
projecto quando o doador se retirar, a carências ao nível da orientação da ajuda, problemas
entre os fundadores e, por vezes, quando o programa é financiado por uma igreja, à discrimi-
nação daqueles que a ela não pertencem.
Ao longo da documentação consultada surgem certas opções políticas que podem ser utiliza-
das para reforçar a capacidade das comunidades de responder ao HIV/SIDA. Na próxima sec-
ção apresenta-se uma série de políticas que podem ser adoptadas.
6.1 Reforçar e mobilizar as capacidades comunitárias
Como já foi referido numa das secções anteriores, a maior parte do apoio que as famílias
recebem depende da família alargada, dos vizinhos e dos grupos comunitários informais. É
importante que os programas e as políticas tendam a reforçar e a mobilizar as capacidades
existentes no seio das comunidades. A pandemia exerce uma pressão enorme nos mecanismos
de resposta tradicionais da família alargada. Ela enfraquece dia a dia a capacidade de a família
alargada tomar conta das pessoas que sofrem do HIV/SIDA, ou que estão de luto por causa
dele. De acordo com o estudo efectuado em 1997 por McKerrow no Zimbabwé sobre a dispo-
nibilidade da comunidades para absorver os órfãos, as famílias estão mais inclinadas a ocupar-
se deles se lhes for prestado um apoio, seja qual for a forma que assuma, como por exemplo a
gratuidade da educação e dos cuidados de saúde ou das ajudas alimentares (Michael, 1998). É
pois importante que os programas e as políticas visem reforçar as acções de resposta tradicio-
nais das famílias alargadas e das suas comunidades.
As ONG e as organizações de base comunitária podem reforçar fortemente a utilidade dos
seus recursos se facilitarem e reforçarem as respostas autónomas das comunidades na sua luta
contra o SIDA em vez de lhes prestarem serviços directamente. Este objectivo pode ser atingido
encorajando-se as actividades que são pertença das comunidades tais como a guarda de crian-
47
ONUSIDA
ças, a educação informal e a partilha do trabalho, fornecendo-se ideias de programas e finan-
ciando a compra de sementes aos grupos comunitários, apoiando as associações informais de
maneira que elas possam expandir-se e atrair novos membros e reforçando a capacidade co-
munitária de realizar estas respostas fornecendo-se formação e assistência técnica aos voluntá-
rios da comunidade. As igrejas e os grupos de mulheres estão dispostos a prestar ajuda mas
têm falta de recursos e de competências para fazer funcionar programas de visitas aos órfãos
(Foster e Makufa, 1998). Todavia, antes de qualquer intervenção, o agente exterior de mudan-
ça (quer seja o governo quer uma ONG) deve levar a cabo uma avaliação pormenorizada da
situação para determinar as necessidades comunitárias e pesquisar as respostas existentes. O
agente de mudança deve agir a partir das respostas existentes e procurar reforçar, e não subs-
tituir ou eliminar, as iniciativas já em curso.
6.2 Reforçar as respostas da comunidade
As respostas da comunidade de luta contra o SIDA podem ser reforçadas de diversas maneiras.
Estas incluem:
a democratização e a localização da distribuição de recursos,
o reforço das competências em matéria de gestão das organizações de base comunitária,
formação em matéria de elaboração de projectos, de planificação, de gestão, de
monitorização e de avaliação,
a criação de um fórum onde as ONG e as organizações de base comunitária possam trocar
pontos de vista e experiências,
o estabelecimento de laços entre os doadores, as ONG, as organizações de base comunitá-
ria e o governo.
De novo, uma mobilização comunitária sólida e estratégias de desenvolvimento que incluam
uma avaliação rural participativa são essenciais.
6.3 Medidas de atenuação
Num estudo sobre 75 ONGs de seis países da África Sub-sahariana (Camarões, Costa do Mar-
fim, Quénia, Tanzania, Zâmbia e Zimbabwé), o United States National Research Council mostra
que, enquanto, em média, 65 % das ONG seleccionadas se referem à prevenção do SIDA como
um dos seus fins ou objectivos, apenas 32 % referem a atenuação do impacto do SIDA como
objectivo. Entre as ONGs que o fazem, a repartição das acções de atenuação realizadas, no
conjunto dos países, foi: aconselhamento 50 %, sensibilização da comunidade 11 %, assistên-
cia económica e projectos de entreajuda 34 % e formação 5 %. Estes resultados sugerem que
a atenuação não recebe o apoio e a atenção que merece, particularmente em certos países
mais afectados, nos quais um número crescente de agregados familiares necessita de medidas
de atenuação.
A documentação revela que é necessário haver uma combinação das actividades de atenuação
com as de prestação de ajuda de emergência. Mesmo numa comunidade que tenha uma
prevalência muito pequena do HIV/SIDA, existe a necessidade de se instalar mecanismos que
respondam às determinantes identificadas localmente que sejam susceptíveis de aumentar a
vulnerabilidade ao HIV/SIDA. É necessário trabalhar no sentido do reforço das respostas da
comunidade que visam reduzir esta vulnerabilidade. É de importância capital planear o mo-
mento oportuno para se prestar o apoio destinado a reforçar as respostas da comunidade e dos
A resposta dos agregados familiarese das comunidades à epidemia do HIV/SIDA nas zonas rurais da África Sub-sahariana
48
agregados familiares. Os agregados familiares afectados que não conseguem enfrentar o im-
pacto pelo facto de o chefe de família ser muito jovem, ou por falta de terras cultiváveis, ou por
não possuir bens essenciais, têm necessidade de uma ajuda de emergência para se evitar que
caiam numa situação de indigência permanente. Quando surgem sinais de melhoria, a ajuda
de emergência pode ser gradualmente substituída pela de atenuação que é destinada a res-
ponder a necessidades de mais longo prazo. É fundamental ajudar as famílias a não arriscarem
a sua sobrevivência a longo prazo por terem de satisfazer necessidades de curto prazo. Os
exemplos mais evidentes deste tipo de comportamento são a retirada das crianças da escola e
a venda de meios rentáveis.
As comunidades estão na melhor das situações para identificar as famílias necessitadas, as
crianças e os órfãos vulneráveis. É preciso, por conseguinte, envolver as comunidades nos
sistemas de desenvolvimento, pois estão aptas a recensear e avaliar as necessidades das famí-
lias e das crianças, a determinar a extensão dos problemas, a suscitar a tomada de consciência
e a encorajar a tomada de decisões em conhecimento de causa (Donahue, 1998). As comuni-
dades estão igualmente nas melhores condições para vigiar as crianças e estar em contacto
com elas, para supervisar as suas actividades e evitar abusos em matéria de trabalho infantil. O
apoio é mais eficaz quando é dirigido aos órfãos e às famílias mais pobres, para que não caiam
na indigência definitiva. Dado o número elevado e crescente de órfãos nas regiões onde a
epidemia está fortemente instalada - e tendo em conta a pobreza existente em muitos desses
países - é importante que os países adoptem uma política que seja dirigida aos órfãos e que
procure integrá-los no desenvolvimento nacional. Uma política destinada aos órfãos ajudará as
organizações interessadas a identificar os recursos a afectar às crianças, a monitorizar os seus
progressos e a defender os seus direitos.
6.4 Actividades geradoras de receitas
Pode-se perguntar como é que os projectos geradores de receitas podem ser viáveis e susten-
táveis num meio ambiente sujeito a graves restrições económicas e onde os mercados são
escassos. No entanto, as actividades geradoras de receitas específicas podem ser muito efica-
zes quando os participantes já dispõem das competências necessárias e do acesso aos recursos
e aos mercados. Os esforços empreendidos por pessoas do exterior destinados a introduzir
projectos geradores de receitas que não sejam familiares engendram custos elevados e dão
resultados medíocres.
Ao levar-se a cabo intervenções destinadas a melhorar as capacidades que permitem gerar
rendimentos, é importante reconhecer-se que a composição e a vulnerabilidade dos agregados
familiares tal como as suas capacidades modificam-se e diferem ao longo do tempo. O seu
potencial de participar em intervenções económicas ou outras e delas tirar proveito - depen-
de em grande medida da maneira como as crianças e os adultos utilizam o seu tempo e da sua
capacidade de encontrar tempo para actividades complementares. As actividades que contri-
buem para se reduzir o peso do trabalho dos membros do agregado familiar de modo a dar-
lhes a liberdade de efectuar outras actividades produtivas são as mais interessantes. Contudo,
as mulheres correm o risco de ser duplamente afectadas ao dedicar-se a certas actividades
geradoras de receitas pois delas se espera que prestem igualmente cuidados comunitários. Por
isso, é importante avaliar cuidadosamente o impacto de cada política e programa, a fim de se
garantir que eles não sobrecarreguem as mulheres. Os projectos que completam ou reforçam
os mecanismos de resposta já existentes podem tornar-se sustentáveis As intervenções pouco
dispendiosas e centradas na comunidade têm mais hipóteses de sucesso.
49
ONUSIDA
O desenvolvimento do emprego deve constituir um objectivo importante. Para as pessoas mais
pobres e para as que não têm terra, o acesso a um emprego remunerado é vital, tanto no
contexto urbano como no rural.
6.5 Trabalho em parceria
Os estrategas políticos e os planificadores de programas devem reconhecer que o HIV/SIDA
não é apenas um problema de saúde mas sim uma crise de desenvolvimento que tem repercus-
sões não só na saúde dos membros da comunidade como também em quase todos os aspectos
do desenvolvimento comunitário. As políticas e os programas que procuram beneficiar as famí-
lias afectadas pelo HIV/SIDA deveriam ser multi-sectoriais, envolvendo o governo, os grupos
religiosos, as ONGs, o sector privado e a comunidade, numa tentativa comum de melhorar a
cooperação destinada a apoiar e reforçar respostas de base comunitária. Se o governo estiver
implicado, os indícios de apoio tanto ao nível das políticas nacionais como da participação local
tornar-se-ão visíveis. O governo deverá desempenhar o papel principal na criação de um ambi-
ente que favoreça a promoção de um desenvolvimento sustentável nas zonas rurais. Todas as
organizações governamentais oficiais (ministérios da agricultura, da educação, da saúde e ou-
tros) podem desempenhar um papel maior se reformarem as suas políticas e programas por
forma a responderem às necessidades dos agregados familiares afectados pelo HIV/SIDA. Estes
diferentes sectores governamentais podem alcançar este objectivo revendo as políticas e os
programas existentes e substituindo-os por outros, mais adaptados à epidemia, e empenhan-
do-se política e economicamente na luta contra o impacto do SIDA. Eles têm de dar a sua
contribuição e dar provas da sua vontade de promover, entre outros, serviços adaptados aos
agregados familiares afectados. Isso é possível por meio de uma avaliação da capacidade dos
recursos humanos e do desenvolvimento do potencial de acção das instituições de desenvolvi-
mento rural e agrícola, paralelamente a uma revisão permanente das políticas em vigor, de
maneira que os novos desafios criados pelo HIV/SIDA, possam ser tomados em consideração.
Os doadores podem ajudar as ONGs e as organizações de base comunitária a dedicar-se a uma
planificação de prazo mais longo e ao desenvolvimento do seu potencial de acção. Os doado-
res multinacionais devem ser mais flexíveis no que respeita ao financiamento do apoio às inici-
ativas locais. Para isso devem optar por atribuir diversas pequenas subvenções a vários e dife-
rentes projectos em vez de atribuir uma única subvenção a um grande projecto. A importância
que se dá actualmente aos projectos de grande dimensão prejudica as iniciativas locais, as
quais podem ser muito mais eficazes, apropriadas e sustentáveis. Contudo, os doadores têm
relutância em gerir numerosos pequenos projectos. Para resolver este problema é, pois, neces-
sário um mecanismo, o qual poderia ser um organismo intermédio que gerisse fundos modes-
tos e que prestasse contas aos doadores. A exploração dos meios necessários para se chegar a
esta solução é fortemente recomendada.
6.6 Avaliar a eficácia das respostas da comunidade
Devia efectuar-se análises profundas dos custos e dos proveitos de modo que os custos reais
das respostas das comunidades e dos agregados familiares fossem calculados. Isso poderia
contribuir para a selecção e reforço das respostas mais rentáveis e que mais benefícios trazem
às comunidades. Perante a crise económica actual com que se confrontam os países em desen-
volvimento, os recursos destinados à atenuação do HIV/SIDA estão a diminuir e os fundos de
numerosos doadores estão a baixar. É essencial que as acções de atenuação levadas a cabo
pelas comunidades sejam monitorizadas de perto e avaliadas, de maneira que os escassos
recursos disponíveis tenham o maior impacto possível.
A resposta dos agregados familiarese das comunidades à epidemia do HIV/SIDA nas zonas rurais da África Sub-sahariana
50
Ao longo dos últimos 15 anos, a epidemia do HIV/SIDA causou graves perturba-
ções nos agregados familiares e nas comunidades. O aumento da morbilidade e da mortalida-
de tem graves repercussões no bem-estar dos indivíduos, dos agregados familiares e das comu-
nidades. A epidemia afectou gravemente o acesso aos serviços de saúde e de educação, a
satisfação de necessidades essenciais como as da alimentação e do alojamento e o direito à
privacidade e à dignidade humana. No entanto, pessoas do mundo inteiro mobilizaram-se para
enfrentar estes desafios (Williams et al., 1995).
Várias são as acções de resposta que os agregados familiares desencadearam para atenuar o
impacto da pandemia. Em termos gerais, observou-se que certas acções de resposta adoptadas
pelos agregados familiares os tornam instáveis e vulneráveis. A venda de bens, a retirada das
crianças da escola, a redução do consumo de alimentos e a utilização das poupanças e do
património, todas estas acções têm efeitos negativos no bem-estar futuro da família. Por outro
lado, certas acções de resposta dos agregados familiares têm repercussões positivas no bem-
estar do agregado familiar a longo prazo, como seja a diversificação dos rendimentos, a parti-
lha das colheitas, a adopção de tecnologias que proporcionam economias de mão-de-obra tais
como as culturas intercalares e a diversificação das culturas. Por conseguinte, é importante que
os programas e as políticas sejam elaborados de maneira que as respostas positivas dos agrega-
dos familiares sejam reforçadas enquanto, simultaneamente, se dissuade os agregados famili-
ares de adoptar acções de resposta susceptíveis de comprometer o seu bem-estar futuro. Por
exemplo, as políticas de investigação agronómica devem ser orientadas para o desenvolvimen-
to de tecnologias adaptadas a condições onde os recursos são escassos e para a planificação de
projectos de desenvolvimento rural capazes de proporcionar ajuda aos órfãos, de criar empre-
gos e de promover a segurança alimentar dos agregados familiares.
As respostas da comunidade observadas na documentação estudada mostram de que maneira
as comunidades desenvolveram respostas a um tempo tradicionais e modernas a fim de tentar
enfrentar as necessidades urgentes das pessoas vivendo com o HIV/SIDA. Estas respostas inclu-
em: a partilha do trabalho, o apoio aos órfãos, a prestação de cuidados a crianças, a reparação
de casas, os cuidados domiciliários e as visitas a órfãos e doentes do HIV/SIDA, a confecção e
distribuição de uniformes escolares, a aprendizagem e formação profissional dos adolescentes
órfãos a fim de se lhes dar competências utilizáveis no mercado do trabalho, a criação de
projectos geradores de receitas que proporcionam a obtenção de alimentos e dinheiro e a
criação de sistemas de crédito para as cerimónias fúnebres. Os mecanismos tradicionais de
resposta da comunidade limitam-se a actividades que não requerem grandes somas de dinhei-
ro - como a compra de medicamentos e outros produtos destinados ao tratamento e aos
cuidados. As publicações mostram que se toda a comunidade se tornar pobre devido ao SIDA,
as suas acções de resposta podem atingir a saturação. Em contrapartida, se se puder tomar
medidas que previnam a propagação da infecção ou que surjam antes que os recursos comu-
nitários atinjam o ponto de rotura, as acções podem ser muito mais eficazes a longo prazo.
As organizações de base comunitária que beneficiam do apoio financeiro de organismos exte-
riores têm sido uma grande ajuda para numerosos agregados familiares afectados, embora
tenham algumas limitações que merecem ser estudadas. Se estas estratégias comunitárias es-
tiverem adaptadas às necessidades locais e tomarem em consideração os recursos disponíveis
7 . Conclusões
7 . Conclusões
51
ONUSIDA
localmente, podem ser aplicadas noutros países em desenvolvimento. As organizações de base
comunitária e as ONGs devem procurar não desenvolver um trabalho que seja a repetição
daquele que se desenrola já na comunidade. Devem, em vez disso, procurar integrar-se,
complementando ou reforçando as respostas da comunidade. O apoio exterior deve ser
construído a partir de estruturas comunitárias tais como igrejas, grupos de mulheres, escolas e
famílias de acolhimento.
Para que os programas sejam eficazes, é igualmente importante que se consagrem aos agregados
familiares com maiores necessidades. Contudo, será contrário à ética o facto de se consagrarem
exclusivamente aos agregados familiares afectados pelo SIDA pois dessa forma estarão a pôr de
lado agregados familiares que, por outras razões, têm necessidades tão grandes como as daque-
les. Por conseguinte, é importante que os programas se consagrem a um grupo de agregados
familiares mais alargado e definido de acordo com indicadores sobre a pobreza e sobre o SIDA. A
melhor forma de consegui-lo é trabalhar por intermédio das comunidades, de modo que sejam
elas próprias a identificar os agregados familiares que estão mais necessitados.
Sem investimento no desenvolvimento humano não é possível qualquer progresso no desen-
volvimento nacional, na estabilidade e no conhecimento prático, os quais permitem ultrapassar
os obstáculos ao desenvolvimento. O governo não pode, por si só, proporcionar o bem-estar
elementar da totalidade da população de um país. Para isso, requer-se uma parceria efectiva
entre as comunidades, os governos, as agências doadoras, as ONGs internacionais, as ONGs
locais, o sector privado e outros parceiros, para que se possa atacar o problema do HIV/SIDA
com êxito. Contudo, os governos devem estar dispostos a desempenhar um papel de direcção
mais activo e a rever o seu empenho no desenvolvimento rural. Eles devem ocupar-se desta
questão a partir de uma análise clara do impacto do SIDA no desenvolvimento e do impacto do
desenvolvimento na própria epidemia de SIDA.
52
A resposta dos agregados familiarese das comunidades à epidemia do HIV/SIDA nas zonas rurais da África Sub-sahariana
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Nome Local Actividade Tipo de grupo Ano de começo
do apoio
Anexo 1: Exemplos de grupos de entreajuda do Uganda
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Hospital e sensibilização
comunitária
Kisiizi Rukungiri
Sudoeste
Cuidados ao domicílio,
aconselhamento e
sensibilização
1994
Kuluva
Arua Norte Cuidados ao domicílio,
sensibilização, testes
Hospital e sensibilização
comunitária
1995
BWC
Rukunguri
Sudoeste
Sensibilização,
aconselhamento
Grupo de mulheres 1995
STOGA
Nebbi Norte
Teatro, actividades
geradoras de rendi-
mentos
Grupo de mulheres 1995
AEGY
Kamuli Leste Jovens, sensibilização,
actividades geradoras
de rendimentos
Grupo de jovens 1994
YAAC
Norte, Apac Jovens, teatro,
sensibilização
Grupo de jovens
1995
SED
Centro
Aconselhamento e
educação para a vida
familiar
Igreja católica 1994
Kisa
Norte, Nebbi Sensibilização de jovens
na escola
1995Grupo de professores
TASO Kumi
Leste
Actividades geradoras
de receitas,cuidados ao
domicílio,
aconselhamento
ONG 1994
EUDO
Centro Sensibilização de
jovens na escola
1993
GASCO
Centro
ONG
Aconselhamento
sensibilização
Localização
comunitária
1995
THECA
Centro
Sensibilização e
formação de médicos
tradicionais
ONG 1997
NACOWLA
Centro Grupo de mulheres,
grupo de PVHS e que
promove actividades
geradoras de rendi-
mentos
Grupo nacional de
mulheres
PVHS
1997
62
A resposta dos agregados familiarese das comunidades à epidemia do HIV/SIDA nas zonas rurais da África Sub-sahariana
ABEKA 1987 Órfãos Alimentação, educação,
saúde, cuidados ao domicílio
Huyawa (ELCT) 1991 Órfãos, famílias Alimentação, educação
KAKAU 1990 Órfãos, viúvas Prevenção, educação, saúde,
pessoas idosas alimentação, cuidados ao
domicílio
KARADEA 1987 Órfãos, doentes do SIDA, Geração de rendimentos
pessoas idosas
KOCC 1991 Órfãos Alimentação, educação
KOTF 1988 Órfãos, acompanhantes Alimentação, educação, saúde,
cuidados ao domicílio
MACOP 1991 Órfãos Alimentação, saúde,
cuidados ao domicílio
Anexo 2: Organizações de ajuda aos sobreviventes em Kagera, Tanzania
Organização Data de início Grupo(s)alvo Programas de Intervenções
Fonte: Banco Mundial, Universidade de Dar es-Salaam (1993).
ONUSIDA
63
Apoio emocional e
financeiro, partilha
de informações e
serviços de cuidados
ao domicílio
Fabrico de sabão,
fabrico de compotas,
apoio emocional,
partilha de informa-
ções e assistência
material
Costura e tricô, apoio
emocional, cuidados
ao domicílio e partilha
de informações
Costura, tricô, criação
de aves, apoio emocio-
nal, partilha de infor-
mações
Costura, produção de
legumes, serviços de
cuidados ao domicílio
Fonte: SAfAIDS, ZAN (1995), Harare.
Anexo 3: Exemplos de organizações de base comunitária das zonas rurais do Zimbabwé
Organização Data de início Fonte de População alvo Actividades
financiamento
Chabwira Clube
de Costura
1993
Donativos
Famílias afectadas
Chorovakamwe
Grupo de apoio
das PVHS
1993 FACT e FASO
Famílias afectadas,
pessoas vivendo
com o HIV/SIDA
Kumutsirana
Grupo de apoio
1994
Pessoas vivendo
com o HIV/SIDA e
famílias afectadas
Grupo de apoio
do Hospital
Missão Regina
Coeli
1994
Missão Regina
Coeli
Grupo de apoio
do Hospital de
Missão St Peter
1994 Hospital de
Missão St Peter
Tshelanyemba
Prevenção e
cuidados em
matéria de SIDA
SAT
Famílias afectadas
Grupo de apoio
Usizo Kuzulu
1994 Pessoas vivendo
com o HIV/SIDA e
famílias afectadas
Pessoas vivendo
com o HIV/SIDA e
famílias afectadas
Pessoas vivendo
com o HIV/SIDA e
famílias afectadas
Geração de rendimen
tos através do comér
cio de vestuário,apoio
emocional, formação
em matéria de
aconselhamento,
costura
Gerção de rendimentos,
costura e tricô, apoio
emocional cuidados ao
domicílio e partilha de
informações
64
A resposta dos agregados familiarese das comunidades à epidemia do HIV/SIDA nas zonas rurais da África Sub-sahariana
Desenvolvimento do potencial de
acção, serviços de apoio em caso de
falecimento, educação geral em
matéria de HIV/SIDA
Educação geral sobre HIV/SIDA,
aconselhamento e testes, educação
sobre HIV/SIDA através do teatro
Educação geral em matéria de HIV/
SIDA, distribuição de material de
IEC, formação sobre questões
específicas
Sensibilização para as questões
relativas ao HIV/SIDA, distribuição
de vestuário, educação geral em
matéria de HIV/SIDA, conselhamento
e testes, cuidados ao domicílio,
serviços de informação, serviços de
apoio
Anexo 4: Exemplos de organizações de base comunitária das zonas rurais do Quénia
Organização População alvo Actividades
AKADO Intervenções em
matéria de HIV/SIDA
Pessoas vivendo com o HIV SIDA,
em mulheres, pessoas idosas,
comunidades rurais
Anti-drugs movement, for
better living
Pessoas vivendo com o HIV/SIDA,
crianças, comunidades rurais
Associação Busia Young
Men Christian (YMCA)
Pessoas vivendo com o HIV/SIDA,
crianças, órfãos, jovens, pessoas
deficientes, formadores, comuni-
dades rurais, trabalhadores do
desenvolvimento comunitário
Diocese católica de
Homa Bay
Pessoas vivendo com o HIV/SIDA,
jovens, mulheres, homens,
viúvos/viúvas, comunidades
rurais, urbanas, trabalhadores do
desenvolvimento comunitário,
trabalhadores da saúde
Educação geral sobre HIV/SIDA;
distribuição de material de informa-
ção, educação e comunicação,
formação de profissionais para
sectores estranhos à saúde
CDC/KEMRI
Comunidades rurais
Community Iniciatives
Support Services
Comunidades rurais
Msamaria Community
Health Youth Group
Fonte: Kenya AIDS NGOs Consortium (1998).
Educação sobre HIV/SIDA, aconse-
lhamento sobre HIV/SIDA, creches,
cuidados ao domicílio para PVHS,
formação de trabalhadores de
saúde., trabalhadores do sector do
desenvolvimento comunitária e
doutros sectores
Órfãos, jovens, mulheres, doen-
tes hospitalizados, comunidades
rurais,trabalhadores do desenvol-
vimento comunitário
Sensibilização para as questões
relacionadas com o HIV/SIDA, distri-
buição de preservativos, creche,
educação geral sobre HIV/SIDA
distribuição de material didáctico e
de informação, educação e comunica-
ção, formação de formadores, educa-
ção sobre HIV/SIDA através do teatro
O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o HIV/SIDA (ONUSIDA) é o principal embaixador da acção mundial
contra o HIV/SIDA. Ele reúne numa só as actividades de sete organizações das Nações Unidas em luta contra a
epidemia: o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi-
mento (PNUD), o Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP), o Programa das Nações Unidas de Combate
Internacional às Drogas (PNUCID), a organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO),
a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Banco Mundial.
A ONUSIDA mobiliza as acções contra a epidemia dos seus sete organismos co-patrocinadores, ao mesmo
tempo que alia iniciativas especiais a estes esforços. O seu objectivo é dirigir e apoiar o alargamento da acção
internacional contra o HIV em todas as frentes - médica, social, económica, cultural, política, da saúde pública
e dos direitos humanos. A ONUSIDA trabalha com um largo leque de parceiros – governos e ONG, empresas,
especialistas e não-especialistas – com vista ao intercâmbio de conhecimentos, competências e boas práticas
à escala mundial.
Produção Gráfica Elográfico
Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o HIV/SIDA
ONUSIDA - 20 Avenue Appia - 1211 Genebra 27 - Suíça
Telef. (+41 22) 791 46 51 - Fax (+41 22) 791 41 87
E-mail: [email protected] - Internet://www.unaids.org
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