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— Carolina!...não senhor.
— Se eu estava aqui quando ela desmaiou ontem à tarde!
— Ah! é verdade, mas ela chama-se Amélia.
— Mudou de nome! disse consigo o mancebo, tinha vergonha que a
conhecessem! Depois dirigindo-se à mulher: Não lhe podia falar agora?
— Ela já cá não está. Saiu ontem mesmo quase à noite, deixando-me uma
carta para entregá-la a uma pessoa que a devia vir aqui procurar ontem ou hoje.
Talvez seja o senhor. Queira ter a bondade de me dizer o seu nome?
— Augusto ***.
— Justamente. Vou já buscá-la.
— Esperava que eu viesse ontem ou hoje e não quis que eu a visse!
murmurou ele apenas a mulher saíra da sala. Compreendo-te, Carolina; tu ainda me
amas e receavas que eu te repelisse agora que estás manchada, quando te havia
deixado pura. Não, não! não te repilo, porque o meu coração bate da mesma
maneira que batia há quatro anos; porque para mim sempre serás a mesma Carolina
virgem, inocente, que eu respeitei como irmã; porque terias de mim o perdão
voluntário dessas faltas que o mundo te fez cometer. Oh! para que me separei de ti?
para que fiz aquela viagem?...
E abafou com o lenço as lágrimas que lhe saltaram dos olhos.
— Aqui está a carta, disse a mulher entrando.
Augusto recebeu-a e desceu precipitadamente as escadas. Queria lê-la em
casa, porque aí ninguém viria perturbar-lhe a sua dor.
Meia hora depois, sentado a uma mesa, lia ele a carta de Carolina.
“ Augusto:
“Perdão! perdão! é de joelhos que to imploro. Não me amaldiçoes; por
piedade, ouve-me primeiro. Bem sei que te rasguei o coração, porque tu me amavas
deveras, mas já tenho expiado de sobra o mal que te fiz. Para que me deixastes tu,
para fazer aquela viagem? Antes não fosses. Chorava todas as tardes debaixo do
caramanchão, por ti; chorei três meses. Um dia vi Fernando. Um dia... Perdão!
perdão! foi fraqueza; manchei o corpo, mas a alma ficou pura. Não amava senão a ti.
Desde esse dia a tua imagem perseguiu-me sempre. Tremia diante da minha família,
tremia diante de Deus, tremia diante de tudo! Era culpada! Uma noite, enfim,
seduzida por aquele homem, que prometera desposar-me, reparando a falta, deixei
a casa onde nascera para nunca mais voltar. Passei essa última tarde com minha
mãe, que eu abracei e beijei mil vezes. Minha pobre mãe! que nunca mais te hás-de
sorrir para mim! Meu pobre pai, que nunca mais me chamarás a tua Carolina!
“Oh! Augusto! Augusto! eu tenho sofrido muito.
“Depois, meu filho foi-me arrancado dos braços, e quando pedi a Fernando os
meus dias felizes, a minha honra, as carícias de minha mãe e os afagos de meu
pai... ele respondeu-me com uma gargalhada e abandonou-me.
“Para onde havia de ir? Para casa de meus pais? Eles fechariam a porta à
filha indigna que lhes manchara o nome. Não tinha coragem bastante para suicidar-
me...arrojei-me no abismo!...
Mas todas as noites pedia a Deus nas minhas orações, que te pudesse ver
ainda uma vez antes de morrer, a ti, o único que tenho amado. Deus ouviu-me, Deus
puniu Fernando.