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Lola — Mas, perdão, creio que não foi para aprender espanhol que o senhor veio à
minha casa...
Eusébio — Não, madama, não foi para aprendê espanhol: foi para tratá de coza
munto séria!
Lola — De coisa séria? Comigo! É esquisito!...
Eusébio — Não é esquisito, não madama; eu sou o pai da noiva de seu Gouveia!...
Lola — Ah!
Eusébio — Cumo minha fia anda munto desgostosa pru via da madama, eu me
alembrei de vi na sua casa para sabê... sim, para sabê se é possive a madama se
separá de seu Gouveia. Se fô possive, munto que bem; se não fô, paciência: a gente
arruma as mala, e amenhã memo vorta pra fazenda. Minha fia é bonita e é rica; não
há de sê defunto sem choro!...
Lola — Compreendo: o senhor vem pedir a liberdade de seu futuro genro!
Eusébio — Sim, madama; eu quero o moço livre e desembaraçado de quaqué ônus!
(Lola levanta-se, fingindo uma comoção extraordinária; quer falar, não pode, e acaba
numa explosão de lágrimas. Eusébio levanta-se.) Que é isso? A madama tá
chorando?!...
Lola (Entre lágrimas.) — Perder o meu adorado Gouveia! Oh! o senhor pede-me um
sacrifício terrível! (Pausa.) Mas eu compreendo... Assim é necessário... Entre a
mulher perdida e a menina casta e pura. Entre o vício e a virtude, é o vício que deve
ceder... Mas o senhor não imagina como eu amo aquele moço e quantas lágrimas
preciso verter para apagar a lembrança do meu amor desgraçado! (Abraça Eusébio,
escondendo o rosto nos ombros dele, e soluça.) Sou muito infeliz!
Eusébio (Depois de uma pausa, em que faz muitas caretas.) — Então, madama?...
sossegue... A madama não perde nada... (À parte.) Que cangote cheiroso!...
Lola (Olhando para ele, sem tirar a cabeça do ombro.) — Não perco nada? que quer
o senhor dizer com isso?
Eusébio — Quero dizê que... sim... quero dizê... Home, madama, tira a cabeça daí,
porque assim eu não acerto cas palavras!
Lola (Sem tirar a cabeça.) — Sim, a minha porta se fechará ao Gouveia... Juro-lhe
que nunca mais o verei... Mas onde irei achar consolação?... Onde encontrarei uma
alma que me compreenda, um peito que me abrigue, um coração que vibre
harmonizado com o meu?
Eusébio — Nós podemo entrá num ajuste.
Lola (Afastando-se dele com ímpeto.) — Um ajuste?! Que ajuste?! O senhor quer
talvez propor-me dinheiro!... Oh! por amor dessa inocente menina, que é sua filha,
não insulte, senhor, os meus sentimentos, não ofenda o que eu tenho de mais
sagrado!...
Eusébio (À parte.) — É um pancadão! Seu Gouveia teve bom gosto!...
Lola — O senhor quer que eu deixe o Gouveia porque sua filha o ama e é amada
por ele, não é assim? Pois bem: é seu o Gouveia; dou-lho, mas dou-lho de graça,
não exijo a menor retribuição!
Eusébio — Mas o que vinha propô à madama não era um pagamento, mas uma...
Cumo chama aquilo que se falou cando foi o 13 de Maio? Uma... Ora, sinhô!
(Lembrando-se.) Ah! uma indenização! O caso muda muito de figura!
Lola — Não! — nenhuma indenização pretendo! Mas de ora em diante fecharei o
meu coração aos mancebos da capital, e só amarei (Enquanto fala vai arranjando o
laço da gravata e a barba de Eusébio.) algum homem sério... de meia-idade... filho
do campo... ingênuo... sincero... incapaz de um embuste... (Alisando-lhe o cabelo.)
— Oh! Não exigirei que ele seja belo... Quanto mais feio for, menos ciúmes terei!