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Ele, moço e grisalho. Um tipo grave,
Severa palidez, gesto polido,
Com esse aspecto, encantador e suave,
De homem precocemente envelhecido.
E errava nele qualquer coisa, algo
De bem sereno, algo de bem disposto,
Que punha um tom mais fino e mais fidalgo,
Na romântica alvura do seu rosto.
E quando o trem partiu, numa voragem,
Por entre a poeira, e sol, e a estrada infinda
Contou-me um companheiro de viagem
A história desse par... Que história linda!
Ele, rapaz do tom, dos mais mundanos,
Herdeiro duma tia filantropa,
Deixara a Pátria, no verdor dos anos,
Pelas sonhadas tentações da Europa.
E andou, moço e feliz, numa doidice,
Catando sensações de terra em terra.
E invernos de Paris, verões de Nice,
Céus de Madri, nevoeiros de Inglaterra,
Por toda a parte, o coração em fogo,
Ele esbanjara a mocidade ardente!
E em Monte Carlo, muita vez, no jogo,
Gastando como um príncipe do Oriente,
Brilhara nesses antros rosicleres,
Cheios de esnobes, de peitinhos brancos,
Onde, com elegância, entre mulheres,
Perdia sempre alguns montões de francos.
Enfim, cansado e farto, já grisalho,
— Sombra roída pelos desenganos,
Tornou um dia à Pátria, ao verde galho
Onde se abrira a flor dos seus vinte anos.
Trazia nalma, como chaga horrenda,
Um grande mal que urgia de remédio:
E foi buscar, nos ócios da fazenda,
Um bálsamo eficaz para o seu tédio.
E os cafezais, e as espraiadas roças,
Que um sol fecundo alegremente doura;
E o céu tão nosso, e as árvores tão nossas,
E ares de campo, e cheirosos de lavoura,