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acima de tudo, que no marido ama a mulher mais do que os pais e que mais tarde
no pai, ama os filhos acima dos pais da mulher e das amantes. A natureza é
exigente, porque é pródiga. É bem possível que vocês dois estejam enganados. E
agora, está disposta a encarar a realidade? Está me ouvindo, não está?
Margarida — Se estou, meu Deus!
Duval — Está pronta a tudo sacrificar por meu filho; mas se Armando aceitar, o seu
sacrifício que Sacrifício poderá oferecer-lhe em troca? Irá desfrutar a sua mocidade
e depois, o que acontecerá quando vier o fastio? Porque o fastio há de vir… Se for
um homem como os outros, há de abandoná-la, atirando-lhe o passado no rosto e
dizendo que todos fazem o mesmo; se for um homem de bem casa-se com a
senhora, ou pelo menos, fica ao seu lado. E esta ligação, ou este casamento, que
não teve a castidade por base, a religião por apoio, nem a família por resultado?
Seria desculpável no rapaz, mas nunca no homem maduro… Que aspirações
poderia ter que carreira poderia seguir? E eu, que recompensa iria receber do filho
por quem me sacrifiquei durante vinte anos? Este amor não é o fruto de duas
simpatias puras, a união de duas afeições castas; é a paixão, no que ela tem de
mais terrestre e de mais humano; nasceu do capricho de um e da fantasia de outro;
em resumo não é uma causa, é um resultado. E com o correr dos anos, o que
ficará de tudo isso? Quem lhe diz que as rugas do seu rosto não vão fazer cair o véu
dos olhos de meu filho? Quem lhe diz que o amor de Armando não vai morrer com a
sua mocidade?
Margarida — Ah! A realidade!
Duval — Não está vendo daqui a sua dupla velhice, duplamente deserta,
duplamente isolada, duplamente inútil? Que lembrança vai deixar? Que bem terá
praticado? Não, Margarida, a vida é feita de necessidades cruéis. A senhora e meu
filho têm pela frente, dois caminhos diversos, que o acaso reuniu por um momento,
mas que a razão separa para sempre. Quando, por livre vontade escolheu a vida
que hoje leva, não previu o que podia acontecer. Foi feliz três meses, não manche
uma felicidade, que já não pode durar guarde apenas no coração a sua lembrança.
Que esta lhe dê forças, é tudo o que tem direito de pedir. É duro o que estou
pedindo, é cruel o que exijo, mas a estima em que a tenho é que me Obriga a falar
assim. Quero dever ao seu bom senso, ao seu coração, ao seu amor por meu filho,
o sacrifício que podia ter pedido à força e à lei. Um dia ainda vai se orgulhar do que
fez e a vida inteira terá o respeito de si própria. É um homem que conhece a vida
quem lhe fala. É um pai quem lhe implora. Vamos, Margarida! Vamos, minha filha,
prove que gosta de meu filho, coragem!
Margarida (Consigo mesma).— Então, por mais que se esforce, a criatura caída,
jamais se levanta? Deus talvez lhe perdoe, a sociedade, nunca! De fato, com que
direito irá ocupar no seio da família, um lugar reservado à virtude? Que importa se
está apaixonada! Pode dar a prova que quiser dessa paixão, ninguém acredita, e é
muito justo. Por que, coração, por que futuro? Que quer dizer com essas palavras?
Olhe um pouco a lama do passado! Que homem lhe chamaria esposa, que criança
lhe chamaria mãe? O Sr. tem razão: quantas vezes, cheia de terror, eu me dizia
tudo o que acabo de ouvir! Mas como falava comigo mesma não me escutava até o
fim... Agora vejo que era verdade, porque é o senhor quem me está dizendo! É
preciso obedecer. Falou em nome de seu filho, em nome de sua filha foi muita
generosidade invocar esses nomes. Pois bem... um dia o senhor dirá à essa moça,
tão linda e tão pura pois é a ela que estou sacrificando a minha felicidade, o senhor
dirá a essa moça que havia uma vez, em algum lugar, uma mulher que só tinha uma
esperança, um pensamento, uma alegria, que à invocação do seu nome renunciou a