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Módulos
Ética e Cidadania
Desenvolvimento e Sustentabilidade
Conservação dos Recursos Naturais
Saúde e Turismo
Autores
Maria Paula Patrone Regules
Paloma Albino Borba Cavalcanti
Wellington Tibério
Vanessa Cerqueira Silva
Coordenação
Regina Araujo de Almeida
Luiz Gonzaga Godoi Trigo
Édson Leite
Maria Ataíde Malcher
ÉTICA,
MEIO AMBIENTE
E CIDADANIA
PARA O TURISMO
Livro do Aluno
Capa Etica.indd 1Capa Etica.indd 1 2/3/2007 11:11:552/3/2007 11:11:55
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O Ministério do Turismo está lançando a coleção de livros de educação para o
turismo, um produto do projeto Caminhos do Futuro. Trata-se de mais uma iniciativa
para envolver toda a sociedade no esforço de dar qualidade e aumentar a competi-
tividade do turismo brasileiro, com vistas no desenvolvimento econômico e social do
Brasil. Neste caso, com os olhares voltados para professores e alunos do ensino
fundamental e médio da rede pública.
Os livros abordam temas relevantes para o turismo no país. Mostram caminhos e
a importância de se desenvolver o turismo de forma sustentável e inclusiva, gerando
renda e benefícios para todos os brasileiros. O desafio é capacitar professores em
conteúdos de turismo, para que absorvam novos conhecimentos e despertem nas
crianças e jovens o interesse pela conservação do patrimônio natural e cultural e
também pelas carreiras emergentes no mercado do turismo.
O projeto Caminhos do Futuro se insere nas diretrizes do Plano Nacional de Turismo,
que reconhece o turismo como atividade econômica e incentiva parcerias para o
desenvolvimento do setor. A coleção de educação para o turismo é um exemplo da
união de esforços entre o Ministério do Turismo, o Instituto de Academias Profissio-
nalizantes, a Academia de Viagens e Turismo e a Universidade de São Paulo, com
apoio da Fundação Banco do Brasil.
Esse esforço conjunto de agentes públicos e privados vai permitir dotar as escolas
brasileiras de material didático-pedagógico de qualidade, democratizando para todo
o País o conhecimento sobre as várias faces do turismo e suas potencialidades. As
crianças e jovens terão a oportunidade de vislumbrar no turismo um fator de construção
da cidadania e de integração social. A possibilidade de um futuro melhor para todos.
Walfrido dos Mares Guia
Ministro do Turismo
APRESENTAÇÃO
APRESENTAÇÃO
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Apoio
Ministério do Turismo
Ministro
Walfrido dos Mares Guia
Secretaria Executiva
Secretário
Márcio Favilla Lucca de Paula
Secretaria Nacional de Programas
de Desenvolvimento do Turismo
Secretária
Maria Luisa Campos Machado Leal
República Federativa do Brasil
Presidente: Luiz Inácio Lula da Silva
Departamento de Qualificação e
Certificação e de Produção
Associada ao Turismo
Diretora
Carla Maria Naves Ferreira
Coordenação-Geral de
Qualificação e Certificação
Coordenadora-Geral
Tânia Mara do Valle Arantes
Consultoria Técnica do Projeto
Consultora da UNESCO
Maria Aparecida Andrés Ribeiro
Revisão Técnica e Adequação
de Textos
Acompanhamento e Avaliação
do Projeto
Consultora do PNUD
Stela Maris Murta
Conselho
Presidente
Tasso Gadzanis
Vice-Presidente
Flávio Mendes Bitelman
Secretário
Nilton Volpi
Tesoureiro
Osmar Malavasi
Diretora Acadêmica
Regina Araujo de Almeida
Conselho Consultivo
Caio Luiz de Carvalho
Luís Francisco de Sales
Manuel Pio Corrêa
IAP – Instituto de Academias Profissionalizantes
Equipe Academia de Viagens e
Turismo - AVT
Coordenação
Prof. Dr. Luiz Gonzaga Godoi Trigo
Assistente Administrativo
Silvânia Soares
Assistente Financeiro
Carmen Marega
Assistente Técnico
Marcelo Machado Silva
Material Didático do Projeto
Caminhos do Futuro
Equipe de Coordenação
Regina Araujo de Almeida
Luiz Gonzaga Godoi Trigo
Edson R. Leite
Maria Ataíde Malcher
Revisão de Português
Celina Maria Luvizoto
Laura Cristo da Rocha
Vanda Bartalini Baruffaldi
Revisão Editorial
Débora Menezes
Consolidação Final dos textos
Silvânia Soares
Coordenação de Projetos
Prof. Dr. Ricardo Ricci Uvinha
Núcleo de Turismo da Universidade de São Paulo
Coordenação Geral: Profa. Dra. Beatriz H. Gelas Lage
Coordenação Documentação
Profa. Dra. Regina A. de Almeida
Coordenação de Marketing
Prof. Dr. Luiz Gonzaga Godoi Trigo
Coordenação de Eventos
Prof. Dr. Edson R. Leite
© MTUR/AVT/IAP/USP – 2007
Qualquer parte desta obra poderá ser reproduzida para fins
educacionais e institucionais, desde que citada a fonte.
Escola de Artes, Ciências e Humanidades – EACH
Curso de Lazer e Turismo
Diretor: Dante De Rose Júnior
Coordenadora: Beatriz H. Gelas Lage
FBB – Fundação Banco do Brasil
GTTP – Global Travel & Tourism Partnership
Diretora: Dra. Nancy Needham
USP – Universidade de São Paulo
FFLCH – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Diretor: Gabriel Cohn
Departamento de Geografia - Chefe: Jurandyr Ross
LEMADI - Laboratório de Ensino e Material Didático
Coordenador: Prof. Dr. Francisco Capuano Scarlato
Técnica Responsável: Waldirene Ribeiro do Carmo
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MÓDULO I - ÉTICA E CIDADANIA
TEMA 1: O QUE É ÉTICA? .............................................................................. 8
TEMA 2: CIDADANIA .................................................................................... 10
TEMA 3: A CIDADANIA NO TURISMO .......................................................... 12
TEMA 4: O COMPROMISSO ÉTICO DO TURISMO SUSTENTÁVEL .............. 16
TEMA 5: TURISMO: UM DIREITO SOCIAL? ................................................... 17
TEMA 6: CÓDIGO DE ÉTICA DO TURISMO DA
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO (OMT) ........................... 18
MÓDULO II - DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE
TEMA 1: O SIGNIFICADO SOCIOECONÔMICO DO TURISMO ...................... 24
TEMA 2: O DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO E SEUS EFEITOS ..................... 29
TEMA 3: O DESAFIO DA SUSTENTABILIDADE .............................................. 36
MÓDULO III - CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS
INTRODUÇÃO
CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS E TURISMO.............................. 42
TEMA 1: RECURSOS NATURAIS .................................................................... 42
TEMA 2: RECURSOS NATURAIS E TURISMO ................................................ 51
MÓDULO IV - SAÚDE E TURISMO
INTRODUÇÃO
SAÚDE E TURISMO ........................................................................................ 54
TEMA 1: A IMPORTÂNCIA DA HIGIENE ........................................................ 54
TEMA 2: TURISMO DE SAÚDE ..................................................................... 55
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................. 60
Sumário
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Autora: Maria Paula Patrone Regules
Crédito: Sérgio Fiori
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8
TEMA 1
O QUE É ÉTICA?
O QUE É ÉTICA?
1
Oscar Vilhena é brasileiro e professor de Direito na
USP - Universidade de São Paulo. Atua na formação
de professores da rede municipal, na área de direitos
humanos e educação. Esta citação está em Vilhena,
2004:107.
Nos vários lugares por onde circulamos, na família, na escola, no bairro, num grupo de amigos ou nos meios
de comunicação como a televisão, o rádio, jornais e revistas, é muito comum ouvirmos frases como estas: “Hoje
em dia não se tem mais ética”, “O problema do Brasil é a falta de ética”, “É necessária uma postura ética”.
Sabemos que a ética garante princípios com que, de alguma forma, todos nós concordamos e que foram aceitos
por aqueles que fazem parte da nossa sociedade. Portanto, a ética é fundamental para regulamentar as relações
entre todos nós. Se ela é tão importante, cabe nos uma pergunta: afinal, o que é ética?
Se buscarmos a origem da palavra, sua etimologia, temos que nos aproximar dos gregos: ética vem de ethos
= costumes, mores = moral. Isto significa que a “ética” já era estudada pelos gregos na antiguidade e era
considerada uma ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. Portanto, ética é uma ciência do
comportamento moral dos homens a ser estudada no campo da filosofia. Podemos, também, chegar a outra
definição que complementa a primeira:
“Ética é um conjunto de regras morais que regulam a conduta e as relações humanas”.
Se a ética é um conjunto de regras morais, vamos entender o que é a moral, já que é comum fazermos
confusão entre o uso de ética e moral.
Ética e moral ____________________________________________________________
Usando uma situação do dia-a-dia como exemplo, vamos imaginar uma moça que usa uma saia curta, e uma
outra pessoa que diz: “Que imoralidade, o tamanho da saia desta moça!”. Nesse caso, um indivíduo julgou o
comportamento do outro e, para os seus costumes, aquele modo de vestir é descabido. É bem possível que, para
outra pessoa, essa situação nem chame a atenção. Da mesma forma ocorreram os primeiros contatos entre os
grupos indígenas que viviam no Brasil e os europeus colonizadores, que consideravam uma imoralidade as
vestimentas dos indígenas, o uso de grafismos, pinturas e adornos. Achavam que estes estavam “nus” pelo fato
de não usarem as mesmas roupas e adornos a que eles estavam acostumados e isso, portanto, causava grande
espanto. Agora, se virmos do ponto de vista dos grupos indígenas, a forma de vestir é outra, diferente da do
europeu e, de forma alguma, o corpo não precisava de toda aquela roupa com o calor tropical do Brasil. Os
indígenas também deveriam achar esquisito (não necessariamente imoral) o jeito como os “brancos” estavam
vestidos, cobertos de roupa até o pescoço.
Portanto, a moral dependerá muito de alguns referenciais como: quem somos, onde moramos, a qual cultura
pertencemos e em que época histórica vivemos. Imaginem se esses mesmos europeus colonizadores nos vissem
caminhando pelas ruas com as vestimentas que usamos hoje, ou se as pessoas que viveram no final do século XIX
vissem as mulheres usando calças, trabalhando e tendo os mesmos direitos que os homens. Isto, certamente,
seria considerado uma imoralidade. No entanto, devido a muitas mudanças na História, a sociedade é outra e a
nossa moral também mudou. O que antigamente era considerado imoral, hoje pode não ser mais. Sabemos que
essas designações quase sempre espelham valores pessoais, razão pela qual nem sempre há um perfeito acordo
no julgamento de atitudes entre as pessoas.
Já com a ética é diferente. A ética seria um conjunto de padrões de condutas compartilhadas por todas as
pessoas, e que, desde a filosofia do grego Aristóteles, está relacionada a uma noção de justiça. É lógico que o que
é justo ou não muda ao longo da História e depende do ponto de vista de cada cultura. Porém, na ética, buscam-
se valores que são universais, baseados na noção de justiça, como, por exemplo, o direito à vida.
Um pensador atual, chamado Oscar Vilhena, nos ajuda a diferenciar a moral da ética:
Assim, a moralidade está relacionada principalmente aos costumes
privados, enquanto a eticidade – isto é, a qualidade da conduta ética –
designa valores de ordem pública que permitem o convívio.
1
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Ética, Meio Ambiente e Cidadania para o Turismo
Módulo I
II
II
I
A ética na formulação das Constituições, Declarações e Tratados ____________
Uma conduta ética busca a “realização do bem comum” fundado em valores que são públicos, pois procura
os princípios fundamentais do comportamento humano. Dessa forma, as Constituições dos países estão basea-
das em princípios éticos, pois são depositárias de regras de justiça, resguardando e preservando valores que vão
reger a vida social. Trata-se aqui de sobrepor as diferenças e as particularidades de cada um, ou da cultura de cada
povo, para estabelecer uma relação de mútua igualdade. Vale destacar que, ao mesmo tempo que as Constitui-
ções se baseiam em princípios gerais, também são produtos da especificidade cultural e histórica de cada país. O
direito à vida, por exemplo, faz parte das declarações universais dos direitos humanos; no entanto, existem países,
como os Estados Unidos e outros, que possuem na sua Constituição a pena de morte.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (de 1948) constitui uma agenda de princípios morais públicos,
que orienta todos os povos:
A partir de então, se, por exemplo, considero indispensável que, em minha vida privada, possa
desfrutar de liberdade religiosa, deverei estar disposto a aceitar que todos os demais membros da
sociedade escolham livremente suas próprias religiões. Se desejo usufruir o direito de votar, tendo em
vista escolher um representante legislativo, estarei ao mesmo tempo me dispondo a aceitar que os
votos de todos os cidadãos sejam levados em consideração.
2
A consolidação da Declaração dos Direitos Humanos surge em reação aos crimes cometidos contra determina-
dos grupos sociais ocorridos na Segunda Guerra Mundial.
Com relação ao meio ambiente, também existem normas fundadas na ética, na Declaração dos Direitos
Humanos e em outras legislações mais específicas, nas quais se colocam limites à relação dos povos com os
recursos naturais. O nosso agir sobre a natureza deve ser regulado por princípios éticos, já que se trata do
patrimônio da humanidade, das gerações presentes e das gerações futuras. A preservação das condições da
nossa própria existência é um dever.
O meio ambiente deve ser um bem comum e solidário, concebido como um valor a ser assegurado para o uso
de todos. A água, o ar, o solo e outros elementos dos recursos naturais são bens para satisfazer as necessidades
e, portanto, devem ser preservados para que possamos realizar as nossas necessidades em relação à sobrevivência
e também em relação à diversão, ao lazer e à cultura.
O que significa termos uma conduta ética no turismo? Isso representa uma demanda voltada a todos os
agentes envolvidos nas atividades turísticas: o turista, o poder público, as empresas e a comunidade receptora.
Coloca-se a necessidade de que esses agentes tenham, como princípios, a valorização da vida, o respeito mútuo,
o respeito à diferença, à cultura local e à preservação do meio ambiente. É sabido que as atividades do turismo
cresceram de modo significativo no mundo inteiro e não necessariamente de forma organizada e planejada, mas
trazendo inúmeros impactos ambientais e sociais que, de alguma forma, também prejudicam a própria continui-
dade do turismo. O turismo pode, por um lado, dinamizar a economia de uma determinada região, ajudando a
desenvolvê-la e, por outro, ser o agente de impactos e danos muitas vezes irreversíveis.
Atualmente, há um avanço na organização mundial em defesa do meio ambiente e do respeito às diferenças
culturais, envolvendo governos, sociedade civil, ONG’s, imprensa, mídia, universidades (comunidade científica) e
os movimentos sociais. Organizados em fóruns, eles vêm elaborando materiais que, muitas vezes, têm servido
como base para a elaboração de tratados entre os povos no sentido da não-agressão ao meio ambiente. Em 1999,
no Chile, foi criado o Código Mundial de Ética do Turismo.
A Constituição Federal do Brasil de 1988 estabelece, como princípio das suas relações internacionais, “a
cooperação entre os povos para o progresso da humanidade” (CF, art. 4, IX).
a) Por que é importante a cooperação entre os povos?
b) Como você vê, nos dias de hoje, a cooperação entre as várias nações mundiais? E a participação do Brasil?
Procure ilustrar este trabalho com matérias e fotos de jornais e revistas.
2
Vilhena, 2004: 113.
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Origem da cidadania _____________________________________________________
A cidadania está relacionada ao surgimento da vida na cidade e à capacidade dos homens e mulheres de
exercerem direitos e deveres de cidadãos. Esse conceito vem da Antigüidade e foi criado nas cidades gregas,
chamadas de “polis”. Portanto, nas “polis” gregas, existiam os cidadãos que exerciam uma participação direta e
política na vida das cidades. Cada cidadão tinha um papel na vida privada, em assuntos relacionados com a vida
particular, e uma atuação na vida pública, que se referia a tudo que era comum a todos os cidadãos. Assim, ser
cidadão significava exercer a cidadania na vida pública. A democracia da Grécia era restrita, pois participavam
apenas os homens livres, deixando de fora as mulheres, crianças e escravos.
Um pouco de história ____________________________________________________
Foi somente a partir da Revolução Francesa, em 1789, que se estabeleceu a noção de cidadania tal qual a
conhecemos hoje. Contrapondo-se ao regime monárquico e às normas da sociedade feudal, surge o chamado
Estado de Direito, em que se estabelecem direitos iguais para todos os homens a partir das chamadas “Cartas
Constitucionais”. Surgem as noções de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, das quais somos herdeiros.
Assim, os homens passam a ter direitos iguais perante a lei, pela primeira vez na História da Humanidade e, ao
menos em teoria, acaba a desigualdade que existia até então.
Estes princípios éticos foram consolidados a partir das Constituições francesa e norte-americana. Vejamos
trechos de ambas:
Todos os homens são, por natureza, igualmente livres e independentes e têm direitos inerentes,
dos quais, ao entrar num estado de sociedade, não podem, por nenhum contrato, privar ou despojar
sua posteridade; a saber, o gozo da vida e da liberdade, os meios de adquirir e possuir propriedade e
a busca da felicidade e segurança.
(Seção 1 da Declaração de Direitos da Virgínia de 12 de junho de 1776, Independência Americana).
Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos (...). Esses direitos são a liberdade, a
propriedade, a segurança e a resistência à opressão.
(Artigos 1 e 2 da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão da Revolução Francesa, 1789).
Estes princípios éticos foram reafirmados após a Segunda Guerra Mundial, pela Organização das Nações
Unidas (ONU), em 1948, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos (...). Todo homem tem capacidade
para gozar os direitos e a liberdade estabelecidos nesta declaração, sem distinção de qualquer espé-
cie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou
social, riqueza, nascimento ou qualquer outra condição (...). Todo homem tem direito à vida, à liberda-
de e à segurança pessoal.
(Artigos I, II, III da Declaração Universal dos Direitos do Homem,
proclamada a 10 de dezembro de 1948 pela Assembléia das Nações Unidas).
Portanto, quando estamos falando de cidadania ou em cidadãos, necessariamente estamos falando de um
conjunto de direitos e deveres relacionados a todos os indivíduos que fazem parte da nossa sociedade.
Exercer a cidadania, mais do que realizar uma conduta moral específica, refere-se ao exercício de direitos e
deveres e, assim, tanto a idéia de direitos quanto a de cidadania estão sempre em processo de mudança e
construção.
Vamos tentar entender as três gerações de direitos que foram se desenvolvendo ao longo de nossa História e
que ainda estão em construção:
TEMA 2
CIDADANIA
CIDADANIA
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Módulo IV
IVIV
IVIV
IV
11
Ética, Meio Ambiente e Cidadania para o Turismo
As gerações de direitos___________________________________________________
A primeira geração de direitos
A primeira geração de direitos são as liberdades individuais, chamadas de direitos civis, que foram consagra-
das no século XVIII, após a Revolução Francesa, constituindo os direitos individuais de ir e vir, da propriedade,
segurança, acesso à justiça, associação, liberdade de opinião, de expressão e crença religiosa. Aqui surgem as
noções de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” e os homens passam a ter direitos iguais perante a lei, pela
primeira vez na História da Humanidade. Foram proclamadas várias declarações e constituições como as que
foram citadas anteriormente.
A segunda geração de direitos
A segunda geração de direitos do cidadão é a dos direitos sociais, conquistados no século XIX e XX. São todos
os direitos de caráter social mais geral, como o direito à educação, saúde, habitação, lazer e segurança. Também
os direitos ligados ao mundo do trabalho, como o direito ao salário, jornada fixa, seguridade social, férias,
previdência e outros fazem parte dessa geração de direitos. Esse conjunto de direitos foi fruto das conquistas dos
movimentos sociais dos trabalhadores e dos socialistas e social-democratas e desembocou na constituição de um
Estado de bem-estar social.
A terceira geração de direitos
A terceira geração são os direitos coletivos da humanidade e se referem à defesa ecológica, à paz, ao desenvol-
vimento, à autodeterminação dos povos, à partilha do patrimônio científico, cultural e tecnológico, ao direito a
um meio ambiente saudável e ecologicamente equilibrado e ao direito à utilização do patrimônio comum da
humanidade. Esses seriam os chamados “direitos sem fronteiras” que requerem uma “solidariedade planetária”.
3
Essas novas necessidades surgiram após a Segunda Guerra Mundial (1945), a partir dos grandes conflitos sociais,
guerras entre os países e devastação do meio ambiente. Buscou-se uma ampliação dos direitos para representar os
anseios de toda a humanidade e, portanto, a viabilização de direitos que são tanto de natureza individual como
coletiva. São os direitos coletivos da humanidade, também chamados de “direitos sem fronteiras ou solidários”.
Sites de alguns órgãos públicos, nacionais e internacionais, voltados para a defesa dos “direitos sem frontei-
ras ou solidários”:
www.ibama.gov.br
www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port/artecult/patrim/iphan
www.unesco.org
www.onu-brasil.org.br
Aprender a ser cidadão __________________________________________________
O termo cidadania é muito popular nos dias de hoje, sendo comum ouvir as expressões: “seja cidadão”, “uma
empresa cidadã”, etc. As escolas possuem a responsabilidade de formar cidadãos, garantida pelas diretrizes e
bases da educação nacional, na lei 9394/96 que, em seu artigo 2º, afirma: “a educação (...) inspirada nos princí-
pios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem como finalidade o pleno desenvolvimento do
educando, seu preparo para o exercício da cidadania”.
Algumas questões interessantes são colocadas para todos os envolvidos nas atividades turísticas (como os
agentes de turismo, o turista e a comunidade receptora): Pode a cidadania ser ensinada? Como ensinar a cidada-
nia? O que está em jogo quando formulamos estas questões é: valores como cidadania, ética, solidariedade e
respeito podem ser ensinados no campo da educação, seja ela formal ou informal?
Sabemos que, de alguma forma, aprendemos a respeitar e, também, o seu inverso, a desrespeitar; aprende-
mos a ser solidários e, portanto, vamos incorporando certos valores. O êxito, maior ou menor, nessa tarefa de
educar para o respeito dos princípios éticos depende de um esforço conjunto de todas as instituições sociais: da
escola, da família, das igrejas, da mídia, dos formadores de valores com os quais todos nós convivemos e que
muitas vezes podem ser coincidentes ou conflituosos com os princípios éticos e de cidadania.
1) Entreviste um advogado, delegado ou juiz em sua cidade e peça informações sobre os direitos do cidadão no Brasil.
2) Em seguida, classifique as informações recebidas em direitos civis, sociais e de caráter coletivo da humanidade.
3
Benevides (2004: 61).
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12
O turismo é caracterizado pelo deslocamento no espaço (próximo ou distante) de grupos de pessoas ou
indivíduos que, a partir do tempo livre, irão usufruir momentos de lazer e de divertimento. Na definição da OMT
(Organização Mundial do Turismo), o turismo pode ser entendido como um “deslocamento voluntário e tempo-
rário do homem fora de sua residência habitual, por uma razão diferente que a de exercer uma atividade remune-
rada”. Nesse deslocamento, alguns sujeitos estão envolvidos: o próprio turista, as empresas turísticas e a comu-
nidade receptora moradora do lugar de destino.
Na maioria das vezes, em maior ou menor grau, a atividade turística estabelece uma ponte entre grupos que
até então não haviam entrado em contato e, portanto, não se conheciam. Dessa forma, ocorre um encontro,
permeado por trocas, tanto econômicas, quanto socioculturais. É comum a atividade turística ser vista apenas do
ponto de vista econômico, ou seja, do que pode gerar de riquezas para a comunidade receptora e para todos
aqueles que desenvolvem os serviços do turismo.
No entanto, sabemos que numa viagem – seja um deslocamento para um lugar distante ou próximo – ocorre
uma série de mudanças em relação ao turista viajante e à comunidade receptora do lugar de destino.
Podemos nos perguntar: por que todas as pessoas envolvidas nessa relação se transformam e mudam?
Porque esta não é apenas uma relação econômica em que uns pagam e outros recebem, prestando serviços
turísticos. As relações são permeadas por trocas simbólicas, afetivas, de modos de ver o mundo, jeitos de falar, de
se comportar, de preparar um alimento, de brincar. Ou seja, são elementos
da cultura de cada região ou grupo que são expostos e trocados. Vamos
pensar numa situação: quando vamos a algum lugar diferente e estranha-
mos o que vemos, ao mesmo tempo, vem à lembrança o que nos é familiar:
“Em casa se cozinha desse jeito”, “Lá na minha terra se ouve forró”, “No
meu pedaço tem brincadeira de pipa (quadrado)”, “Na Igreja tem procissão
quando é o dia do santo”, “Na minha cidade se fala diferente”, “O pessoal
veste bombachas, lenço e toma chimarrão”, e inúmeros outros exemplos
que podemos citar e lembrar. Não precisamos ir para muito longe para
estranhar alguns jeitos e percebermos que “onde moro é diferente”. Pois
bem, é quando estamos em contato com o diferente que nos damos conta
de quem somos e como vivemos. Portanto, tanto aprendemos sobre os
outros como aprendemos sobre nós mesmos.
O problema que acontece é o que já conhecemos e vivenciamos inúme-
ras vezes: o estranhamento leva, muitas vezes, as pessoas a realizarem um
“juízo de valor”, julgando um grupo ou uma determinada cultura como
sendo inferior à sua própria e, portanto, surgem preconceitos e estigmas
que colocam o “outro” num lugar de “inferioridade” a partir das brincadeiras, piadas e até mesmo xingamentos.
Imaginem como isso é complicado num país como o Brasil, que é enorme em extensão e possui uma grande
diversidade étnica. Por mais que sejamos conhecidos como um povo dócil, que mistura todas as raças e que é
detentor de um ótimo convívio, nós sabemos o quanto também somos intolerantes e preconceituosos.
Nas atividades de turismo, são colocadas em contato pessoas com visões de mundo muito distintas, seja entre
indivíduos do mesmo país ou entre indivíduos que até chegam a se comunicar em línguas diferentes. Portanto, é
necessário e primordial o respeito mútuo, do visitante em relação à comunidade receptora e vice-versa. O turista
visitante aprende e amplia a sua visão de mundo numa relação solidária e de reciprocidade com o “outro”. Além
do mais, não é somente o viajante que “leva” e transforma a sua visão de mundo, mas também a comunidade
receptora troca, aprende e se transforma com aquele que chega. E isto não é necessariamente ruim, já que toda
a história da nossa humanidade é feita de mudanças e transformações nas trocas entre as culturas.
O intercâmbio de culturas é fundamental para o progresso dos homens e ele ocorre há séculos na nossa história.
Muitos grupos, comunidades que hoje são visitadas e estão nos roteiros turísticos, como por exemplo, os grupos
indígenas, são frutos de outras misturas que ocorreram anteriormente e, portanto, também estão diferentes da
geração dos seus avós e da de seus pais. A sua história não está parada no tempo. Então, o turismo não é a única via
de contato com o mundo exterior nem tampouco o único fator de impacto. Com o avanço dos meios de comunica-
ção e os meios de transporte, dificilmente existe alguma comunidade ou grupo que não tenha tido contato com o
resto da humanidade. Em maior ou menor grau, todas as culturas estão em relação, muitas vezes de forma tensa e
conflituosa ou de forma solidária e fraterna. Portanto, o problema em questão não é isolar as comunidades, até
A CIDADANIA NO TURISMO
TEMA 3
A CIDADANIA NO TURISMO
Fonte: Microsoft Office Online
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Ética, Meio Ambiente e Cidadania para o Turismo
Módulo I
II
II
I
porque, como já vimos, isto seria impossível. O importante é que o turista e os profissionais do turismo, de forma
ética e cidadã, cuidem e zelem pelo modo como se estabelece a relação com a comunidade receptora.
Somos testemunhas do que vem ocorrendo em grande medida em várias regiões do Brasil e do mundo: um
turismo de massa no qual as comunidades receptoras são desrespeitadas no plano cultural e pouco participam dos
ganhos econômicos que as atividades turísticas geram. São construídas grandiosas infra-estruturas, com prédios e
estradas que modificam a paisagem da cidade, alterando a dinâmica local e as relações sociais, com o único objetivo
de atender o turista. Os efeitos da globalização aparecem quando a cultura local é substituída por formas de
comportamento padronizadas que podem ser encontradas em qualquer lugar do mundo. Conhecemos muitos
lugares que sofreram impactos ambientais e socioculturais e que, hoje em dia, deixaram de ser vistos como lugares
bonitos e interessantes para a realização das atividades turísticas. Assim o Estado, na promoção de políticas públi-
cas, as escolas, os demais espaços de convivência devem incentivar a valorização das culturas, ao invés da massificação
e padronização carregada de preconceitos e estigmas em relação ao outro. Dessa forma, a atitude ética e cidadã no
turismo deve ser praticada por todos os envolvidos na atividade.
O combate à exploração sexual ___________________________________________
Um grave problema enfrentado pelo turismo em nosso país envolve a questão da exploração sexual, sobretu-
do de menores. Essa prática criminosa constitui um dos impactos mais negativos do turismo. É importante
ressaltar que a exploração sexual no contexto do turismo existe em algumas das praias e cidades mais visitadas do
Brasil e, também, em muitos outros lugares do mundo. De modo geral, esse problema está diretamente ligado à
falta de perspectivas para a inclusão social das comunidades carentes.
O problema da exploração sexual da infância e da adolescência ainda não foi suficientemente destacado como
um problema real do turismo de massas, sobretudo o de praia e mar. Justamente por ser esta modalidade da
atividade turística tão importante num país com o vasto litoral brasileiro é que não devemos medir esforços para
inibir prática tão abjecta e criminosa.
No mundo inteiro, várias são as ações oficiais de combate ao chamado turismo sexual. No Brasil, existe o
compromisso público de alterar a estratégia de divulgação internacional do país, objetivando erradicar a explora-
ção sexual infanto-juvenil. Não se veiculam mais, como em épocas passadas, campanhas publicitárias que associam
a imagem do país à de mulheres usando biquínis sumários, querendo reforçar a idéia da terra exótica em que o
sexo é livre e fácil.
O Ministério da Justiça, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), vários estados e prefeituras
brasileiras, e ONGs associadas ao Ministério do Turismo têm se empenhado em promover campanhas e folhetos
turísticos que prestigiem aspectos ligados à imagem de um país multirracial e multicultural. O Ministério do
Turismo, em parceria com a Organização Mundial do Turismo, lançou em 2005 a campanha “Brasil, quem ama
protege” e também dedicou o ano ao tema do Turismo Sustentável e Infância.
O combate aos atos de abuso e exploração sexual é previsto no Código Penal Brasileiro e, mais enfaticamente,
no Estatuto da Criança e do Adolescente, que prevê, em seus artigos 1º, 11º, 21º, 32º, 33º, 34º, 35º e 36º, a
proteção da criança contra todas as formas de exploração ou abuso sexual. Afirma também o compromisso por
parte dos Estados, devendo estes tomar todas as medidas de proteção. O Estatuto, ainda no intuito de reprimir e
punir a prática da exploração sexual infanto-juvenil, tipifica-a como crime, em seus artigos 240 e 241, com penas
de reclusão de 1 a 4 anos.
Em 25 de maio de 2000, as Nações Unidas adotaram o Protocolo Facultativo para a convenção sobre os
Direitos da Criança, que trata da venda de crianças, prostituição e pornografia infantil. Segundo a Unicef, até o
momento, 108 estados assinaram o protocolo e 71 ratificaram-no, tornando o protocolo válido em 2002.
Conheça alguns trechos do protocolo:
Protocolo Facultativo para Convenção sobre os Direitos da Criança
relativo à venda de crianças, prostituição e pornografia infantis
Os Estados Partes no presente Protocolo,
(...) Considerando também que a Convenção sobre os Direitos da Criança reconhece o direito da
criança a ser protegida contra a exploração econômica e contra a sujeição a qualquer trabalho susce-
tível de ser perigoso ou comprometer a sua educação, prejudicar a sua saúde ou o seu desenvolvimen-
to físico, mental, espiritual, moral ou social,
Gravemente inquietos perante o significativo e crescente tráfico internacional de crianças para fins
de venda de crianças, prostituição e pornografia infantis,
Profundamente inquietos com a prática generalizada e contínua do turismo sexual, à qual as
crianças são especialmente vulneráveis, na medida em que promove diretamente a venda de crianças,
prostituição e pornografia infantis,
Ética Aluno.p65 26/3/2007, 14:0613
14
Reconhecendo que determinados grupos particularmente vulneráveis, especialmente as meninas,
encontram-se em maior risco de exploração sexual, e que se regista um número desproporcionada-
mente elevado de meninas entre as vítimas de exploração sexual,
Inquietos com a crescente disponibilidade de pornografia infantil na Internet e outros novos
meios tecnológicos, e recordando a Conferência Internacional sobre o Combate à Pornografia Infantil
na Internet (Viena, 1999) e, em particular, as suas conclusões que apelam à criminalização mundial da
produção, distribuição, exportação, transmissão, importação, posse intencional e publicidade da
pornografia infantil, e sublinhando a importância de uma cooperação e parceria mais estreitas entre
os Governos e a indústria da Internet,
Acreditando que a eliminação da venda de crianças, prostituição e pornografia infantis será faci-
litada pela adoção de uma abordagem global que tenha em conta os fatores que contribuem para a
existência de tais fenômenos, particularmente o subdesenvolvimento, a pobreza, as desigualdades
econômicas, a iniqüidade da estrutura socioeconômica, a disfunção familiar, a falta de educação, o
êxodo rural, a discriminação sexual, o comportamento sexual irresponsável dos adultos, as práticas
tradicionais nocivas, os conflitos armados e o tráfico de crianças,
Acreditando que são necessárias medidas de sensibilização pública para reduzir a procura que
está na origem da venda de crianças, prostituição e pornografia infantis, e acreditando também na
importância de reforçar a parceria global entre todos os agentes e de aperfeiçoar a aplicação da lei em
nível nacional,
(...) Tendo devidamente em conta a importância das tradições e dos valores culturais de cada povo
para a proteção e o desenvolvimento harmonioso da criança, acordam o seguinte:
Artigo 1º - Os Estados Partes deverão proibir a venda de crianças, a prostituição infantil e a
pornografia infantil, conforme disposto no presente Protocolo.
Artigo 2º - Para os fins do presente Protocolo:
a) Venda de crianças significa qualquer ato ou transação pelo qual uma criança seja transferida
por qualquer pessoa ou grupo de pessoas para outra pessoa ou grupo mediante remuneração
ou qualquer outra retribuição;
b) Prostituição infantil significa a utilização de uma criança em atividades sexuais mediante remu-
neração ou qualquer outra retribuição;
c) Pornografia infantil significa qualquer representação, por qualquer meio, de uma criança no
desempenho de atividades sexuais explícitas reais ou simuladas ou qualquer representação
dos órgãos sexuais de uma criança para fins predominantemente sexuais.
(...)
Artigo 9º
1. Os Estados Partes deverão adotar ou reforçar, aplicar e difundir legislação, medidas adminis-
trativas, políticas e programas sociais a fim de prevenir a ocorrência das infrações previstas no
presente Protocolo. Deverá ser prestada particular atenção à proteção das crianças especial-
mente vulneráveis a tais práticas.
2. Os Estados Partes deverão promover a sensibilização do público em geral, especialmente
crianças, pela informação por todos os meios apropriados, pela educação e formação, a respei-
to das medidas preventivas e efeitos nocivos das infrações previstas no presente Protocolo. No
cumprimento das obrigações impostas pelo presente artigo, os Estados Partes deverão esti-
mular a participação da comunidade e, em particular, das crianças e crianças vítimas, nesses
programas de educação e formação, designadamente em nível internacional.
3. Os Estados Partes deverão adotar todas as medidas que lhes sejam possíveis a fim de assegurar
toda a assistência adequada às vítimas de tais infrações, em especial a sua plena reinserção
social e completa recuperação física e psicológica.
4. Os Estados Partes deverão garantir que todas as crianças vítimas das infrações enunciadas no
presente Protocolo tenham acesso a procedimentos adequados que lhes permitam, sem discri-
minação, reclamar indenização por danos aos alegados responsáveis.
5. Os Estados Partes deverão adotar todas as medidas adequadas a fim de proibir eficazmente a
produção e difusão de material que faça publicidade às infrações previstas no presente Protocolo.
(...)
Disponível em: www.unicef.org/brazil
Ética Aluno.p65 26/3/2007, 14:0614
15
Ética, Meio Ambiente e Cidadania para o Turismo
Módulo I
II
II
I
Veja mais sobre a questão nos sites:
www.unicef.org/brazil
www.violenciasexual.org.br
www.abrapia.org.br
Veja, também, a Lei 8.069/90, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e, ainda,
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Dos crimes contra os costumes aos crimes contra a administração.
4
a
.ed. ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2001.
DO BEM, Arim Soares. A dialética do turismo sexual. Campinas: Papirus, 2005.
Na Volta Que o Mundo Dá _______________________________________________
Mônica Salmaso
4
Composição: Vicente Barreto e Paulo César Pinheiro
Um dia eu senti um desejo profundo
De me aventurar nesse mundo
Pra ver onde o mundo vai dar
Saí do meu canto na beira do rio
E fui prum convés de navio
Seguindo pros rumos do mar
Pisei muito porto de língua estrangeira
Amei muita moça solteira
Fiz muita cantiga por lá
Varei cordilheira, geleira e deserto
O mundo pra mim ficou perto
E a terra parou de rodar
Com o tempo
Foi dando uma coisa em meu peito
Um aperto difícil da gente explicar
Saudade, não sei bem de quê
Tristeza, não sei bem por que
Vontade até sem querer de chorar
Angústia de não se entender
Um tédio que a gente nem crê
Anseio de tudo esquecer e voltar
Juntei os meus troços num saco de pano
Telegrafei pro meu mano
Dizendo que ia chegar
Agora aprendi por que o mundo dá volta
Quanto mais a gente se solta
Mais fica no mesmo lugar.
Reflita sobre o texto a seguir e, depois, elabore uma redação associando-o à realidade brasileira:
“Somos todos iguais (enquanto seres humanos), mas somos todos diferentes (pelo modo como construímos
a nossa maneira de estar no mundo); que enfim, membros de grupos com identidades, concepções e práticas
diversas somos, apesar disto, membros de uma única humanidade” (Aracy Lopes da Silva em A temática
indígena na escola).
4
Mônica Salmaso é uma cantora paulistana.
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A prática do turismo pode ser um importante instrumento para o desenvolvimento da cidadania, se realizado
de forma comprometida, respeitando os princípios básicos da diferença, da diversidade cultural existente e do
meio ambiente. Deve-se elaborar uma política de turismo que leve em conta a satisfação de todos os envolvidos,
a comunidade local, turistas, empresas de turismo. Portanto, vem sendo desenvolvida a idéia de um turismo
sustentável, baseado em princípios que deveriam seguir uma escala de prioridades. Tais princípios são abordados
com mais ênfase no módulo de “Desenvolvimento socioeconômico e sustentabilidade” deste mesmo livro e
também no módulo específico de “Ecoturismo”, já considerando as características mais peculiares desse tipo de
turismo.
Sustentabilidade
“A sustentabilidade pode ser entendida como o princípio estruturador de um processo de desenvolvimento
centrado na equidade social, eficiência econômica, diversidade cultural, proteção e conservação do meio ambien-
te. Portanto, tem possibilidade de tornar-se um fator motivador e mobilizador das instituições, regulando pa-
drões de comportamento e valores dominantes” (Ministério do Turismo).
Participação da comunidade local
Em todo o processo, é fundamental a participação da comunidade com pleno exercício da cidadania, gerando
direito sobre o conhecimento e propiciando o acesso aos vários serviços de saúde, lazer, educação e assistência
social. A participação é um elemento chave tanto na concepção e no planejamento, como na implementação de
políticas de turismo. Fortalece, assim, a cidadania, o crescimento social e político do grupo, na medida em que
amplia as suas responsabilidades e resgata valores sociais, históricos, étnicos e culturais. Além disso, ocorre de
fato a descentralização do processo decisório na implementação das atividades turísticas.
Desenvolvimento local
O turismo deve visar à melhoria da qualidade de vida, bem como à redução de níveis de exclusão social, por
meio da distribuição mais justa da renda e de bens. Em cada região, o desenvolvimento turístico deve convergir
para o aproveitamento dos recursos específicos e satisfazer as necessidades básicas da população tais como
alimentação, habitação, saúde e educação. Além disso, deve ser estimulada a economia local a partir da constitui-
ção de pequenos e médios empreendimentos nos diversos setores, valorizando a produção tradicional. Devem ser
implementadas políticas públicas de apoio à formação de arranjos produtivos locais, pautados nos princípios da
economia solidária, contribuindo para o desenvolvimento social e econômico e, conseqüentemente, para a
inclusão social e a melhoria da qualidade de vida das populações.
Estímulo e valorização das especificidades culturais
A promoção da diversidade cultural a partir da valorização dos seus saberes, conhecimentos, práticas e valores
éticos e a inserção na economia das populações tradicionais devem ser estimuladas enquanto troca entre a
cultura local e os visitantes, transformando o turismo em agente de inclusão, com conseqüente valorização das
produções artísticas, da gastronomia local, da herança cultural, do patrimônio histórico e dos padrões culturais,
raciais e étnicos da população. É preciso que todos estes elementos estejam focados na justiça social, incluindo
a eqüidade racial e de gênero.
1) Em sua comunidade, há alguma preocupação com a sustentabilidade do turismo?
2) Como o desenvolvimento em sua comunidade poderia ser melhorado graças ao desenvolvimento de ativida-
des de turismo, respeitando a sustentabilidade?
TEMA 4
O COMPROMISSO ÉTICO DO
TURISMO SUSTENTÁVEL
O COMPROMISSO ÉTICO DO
TURISMO SUSTENTÁVEL
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Ética, Meio Ambiente e Cidadania para o Turismo
Módulo I
II
II
I
Com tantos avanços tecnológicos da chamada globalização, há um redescobrimento da cultura local em
contraposição à global e, portanto, um crescente desejo das pessoas de conhecerem lugares novos e outras
culturas. Nesse sentido, as viagens trazem uma ampliação de horizontes para aqueles que se deslocam de um
lugar a outro. Trazemos em nossas malas lembranças, histórias para contar, novos amigos que algum dia pode-
mos reencontrar e um lugar para voltar. Certamente, voltamos diferentes do que fomos, com a própria experiên-
cia da viagem, ainda mais quando estamos abertos e dispostos à troca e ao estabelecimento de uma relação
afetiva com as pessoas e o lugar que visitamos.
Já que exigimos políticas públicas para a geração de trabalho, também temos que exigir políticas públicas
voltadas para o lazer, divertimento e eventos culturais, importantes momentos da vida que devem ser garantidos
como direito a todos.
A Vida de Viajante _______________________________________________________
Composição: Luiz Gonzaga
5
e Hervê Cordovil
Minha vida é andar
Por esse país
Pra ver se um dia
Descanso feliz
Guardando as recordações
Das terras por onde passei
Andando pelos sertões
E dos amigos que lá deixei.
Chuva e sol
Poeira e carvão
Longe de casa
Sigo o roteiro
Mais uma estação
E alegria no coração.
Minha vida é andar...
Mar e terra
Inverno e verão
Mostra o sorriso
Mostra a alegria
Mas eu mesmo não
E a saudade no coração
Minha vida é andar
Em subgrupos, discuta com os companheiros e responda:
a) No Brasil, o turismo é um direito de todos?
b) Quais são as medidas necessárias (governo, sociedade, instituições, escola) para que o turismo seja um
direito garantido a todos?
Apresente os resultados aos demais grupos.
5
Luiz Gonzaga nasceu em Exu, Pernambuco. Mestre da sanfona, foi o primeiro e um dos maiores divulgadores da música
nordestina.
TEMA 5
TURISMO: UM DIREITO SOCIAL?
TURISMO: UM DIREITO SOCIAL?
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O Código Mundial de Ética do Turismo foi criado por membros da Organização Mundial do Turismo (OMT),
representantes da indústria turística mundial, delegados dos Estados, territórios, empresas, instituições e orga-
nismos que se reuniram em Assembléia Geral, em Santiago do Chile, em outubro de 1999.
O Código cria um marco de referência para o desenvolvimento responsável e sustentável do turismo mundial
no início do novo milênio, levando em conta que as estimativas são de que o turismo internacional quase que
triplicará o seu volume nos próximos vinte anos. O texto está inspirado nas diversas declarações e códigos
profissionais mundiais e tem como objetivo minimizar os efeitos negativos do turismo no meio ambiente e no
patrimônio cultural, aumentando os benefícios para os residentes, receptores dos destinos turísticos.
Princípios
1. Contribuição do turismo para a compreensão e o respeito mútuo entre homens e sociedades.
1.1 A compreensão e a promoção dos valores éticos comuns à humanidade, num espírito de tolerân-
cia e de respeito pela diversidade das crenças religiosas, filosóficas e morais, são, ao mesmo
tempo, fundamento e conseqüência de um turismo responsável. Os agentes do desenvolvimen-
to e os próprios turistas devem ter em conta as tradições e práticas sociais e culturais de todos os
povos, incluindo as de minorias e populações autóctones, reconhecendo a sua riqueza.
1.2 As atividades turísticas devem conduzir-se em harmonia com as especificidades e tradições das
regiões e países receptores, observando as suas leis, seus usos e costumes.
1.3 As comunidades receptoras de turistas, por um lado, e os agentes profissionais locais, por outro,
devem aprender a conhecer e a respeitar os turistas que os visitam, e informarem-se sobre os
seus modos de vida, gostos e expectativas. A educação e a formação ministradas aos profissio-
nais contribuem para um acolhimento hospitaleiro dos turistas.
1.4 As autoridades públicas têm por missão assegurar a proteção dos turistas e visitantes, bem como
dos seus bens. Nesse sentido, devem conceder especial atenção à segurança dos turistas estrangei-
ros, devido a sua particular vulnerabilidade. Assim devem disponibilizar meios específicos. (...).
1.5 Os turistas e visitantes devem evitar, quando de seus deslocamentos, praticar atos criminosos ou
considerados delituosos pelas leis do país visitado, bem como comportamentos considerados cho-
cantes ou que firam as populações locais, ou ainda suscetíveis de atentar contar o meio ambiente
local. Eles também devem abster-se de todo tráfico de drogas, armas, antiguidades, espécies pro-
tegidas, bem como de produtos ou substâncias perigosas ou proibidas pelas legislações nacionais.
1.6 Os turistas e visitantes têm a responsabilidade de obter informações, antes mesmo de sua
partida, sobre as características dos países que pretendem visitar. (...).
2. Turismo, instrumento de desenvolvimento individual e coletivo.
2.1 O turismo, atividade geralmente associada ao repouso, à diversão, ao desporto, ao acesso cultu-
ral e à natureza deve ser concebido e praticado como meio privilegiado de desenvolvimento
individual e coletivo. Praticado com a necessária abertura de espírito, constitui-se em um fator
insubstituível de auto-educação, de tolerância mútua e de aprendizagem das diferenças legíti-
mas entre povos e culturas, assim como de sua diversidade.
2.2 As atividades turísticas devem respeitar a igualdade entre homens e mulheres, devem tender a
promover os direitos humanos e especialmente os direitos particulares dos grupos mais vulneráveis,
especialmente as crianças, os idosos, os deficientes, as minorias étnicas e os povos autóctones.
2.3 A exploração de seres humanos sob todas as suas formas, principalmente sexual e especialmente
no caso das crianças, vai contra os objetivos fundamentais do turismo e constitui a sua própria
negação. Portanto, e em conformidade com o Direito Internacional, deve ser rigorosamente
combatida com a cooperação de todos os Estados envolvidos e sancionada sem concessões
pelas legislações adicionais, quer dos países visitados, quer dos países de origens dos atores
desses atos, mesmo quando estes são executados no estrangeiro.
TEMA 6
CÓDIGO DE ÉTICA DO TURISMO DA
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO
CÓDIGO DE ÉTICA DO TURISMO DA
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO
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Ética, Meio Ambiente e Cidadania para o Turismo
Módulo I
II
II
I
2.4 Os deslocamentos por motivo de religião, de saúde, de educação e de intercâmbios culturais ou
lingüísticos constituem formas particularmente interessantes de turismo, que merecem ser
encorajadas.
2.5 A introdução do conteúdo relativo ao valor dos intercâmbios turísticos, dos seus benefícios
econômicos, sociais e culturais, e também dos seus riscos, deve ser incentivada nos programas de
educação.
3. O turismo, fator de desenvolvimento sustentável.
3.1 É dever de todos os agentes envolvidos no desenvolvimento turístico, salvaguardar o ambiente
e os recursos naturais, na perspectiva de um crescimento econômico sadio, contínuo e sustentá-
vel, capaz de satisfazer eqüitativamente as necessidades e as aspirações das gerações presentes
e futuras.
3.2 Todos os tipos de desenvolvimento turístico que permitam economizar os recursos naturais raros
e preciosos, principalmente a água e a energia, e que venham a evitar, na mediada do possível, a
produção de dejetos, devem ser privilegiados e encorajados pelas autoridades públicas nacio-
nais, regionais e locais.
3.3 Deve ser equacionada a distribuição no tempo e no espaço dos fluxos de turistas e de visitantes,
especialmente a que resulta das licenças de férias e das férias escolares, e buscar-se um melhor
equilíbrio na freqüência, de forma a reduzir a pressão da atividade turística sobre o meio ambien-
te e a aumentar o seu impacto benéfico na indústria turística e na economia local.
3.4 As infra-estruturas devem estar concebidas e as atividades turísticas programadas de forma a
que seja protegido o patrimônio natural constituído pelos ecossistemas e a biodiversidade, e
que sejam preservadas as espécies ameaçadas da fauna e da flora selvagens. (...).
3.5 O turismo de natureza e o ecoturismo são reconhecidos como formas de turismo especialmente
enriquecedoras e valorizadoras, desde que respeitem o patrimônio natural e as populações
locais se ajustem à capacidade de carga dos locais turísticos.
4. O turismo, fator de aproveitamento e enriquecimento do patrimônio cultural da humanidade.
4.1 Os recursos turísticos pertencem ao patrimônio comum da humanidade. As comunidades dos
territórios onde eles se situam têm, em face deles, direitos e obrigações especiais.
4.2 As políticas e as atividades turísticas serão desenvolvidas, respeitando o patrimônio artístico
arqueológico e cultural, que deve ser preservado e transmitido às gerações futuras.
4.3 Os recursos obtidos pela freqüência aos locais e monumentos culturais devem ser empregados,
pelo menos em parte, preferencialmente na manutenção, salvaguarda, valorização e enriqueci-
mento desse patrimônio.
4.4 A atividade turística deve ser concebida de forma a permitir a sobrevivência e o desenvolvimento
de produções culturais, artesanais e tradicionais, bem como do folclore, e a não provocar sua
padronização e empobrecimento.
5. O turismo, atividade benéfica para os países e para as comunidades de destino.
5.1 As populações e comunidades locais devem estar associadas às atividades turísticas e participar
eqüitativamente nos benefícios econômicos, sociais e culturais que geram e, sobretudo, na
criação de empregos diretos ou indiretos (...).
5.2 As políticas turísticas devem ser conduzidas de tal forma que contribuam para a melhoria do
nível de vida das populações das regiões visitadas e respondam às suas necessidades. As concep-
ções urbanística e arquitetônica e o modo de exploração das estâncias e alojamentos turísticos
devem visar a sua melhor integração no contexto econômico e social local. Em caso de igualdade
de competências, deve ser dada prioridade à contratação de mão-de-obra local.
5.3 Uma particular atenção deve ser dada aos problemas específicos das zonas costeiras e aos terri-
tórios insulares, bem como às zonas rurais e serranas, frágeis, onde o turismo representa, muitas
vezes, uma das raras oportunidades de desenvolvimento em face do declínio das tradicionais
atividades econômicas.
5.4 Os profissionais de turismo, especialmente os investidores, devem, conforme regulamentação
estabelecida pelas autoridades públicas, proceder a estudos sobre o impacto dos seus projetos
de desenvolvimento em relação ao entorno e aos meios naturais existentes. Devem, da mesma
forma, prestar informações quanto aos seus futuros programas e aos impactos previstos com a
maior transparência e objetividade requerida, abrindo-se ao diálogo, nessas matérias, com as
populações interessadas.
Ética Aluno.p65 26/3/2007, 14:0619
20
6. Obrigações dos agentes de desenvolvimento turístico.
6.1 Os agentes profissionais do turismo têm por obrigação fornecer aos turistas uma informação
objetiva e sincera sobre os destinos, as condições de viagem, do receptivo e de estadia. (...).
6.2 Os profissionais de turismo, quando lhes couber, irão dar assistência, em cooperação com as
autoridades públicas, quanto à segurança, prevenção de acidentes, proteção sanitária e higiene
alimentar dos que recorrem aos seus serviços.
6.3 Os profissionais do turismo, enquanto deles depender, contribuirão para o pleno desenvolvi-
mento cultural e espiritual dos turistas e permitirão o exercício de suas práticas religiosas duran-
te os deslocamentos.
6.4 As autoridades públicas dos Estados de origem e dos países de destino, em coordenação com os
profissionais interessados e suas associações, zelarão pelo estabelecimento de mecanismos ne-
cessários ao repatriamento dos turistas, no caso do não cumprimento das empresas organizadoras
de suas viagens.
6.5 Os governos têm o direito, e o dever, especialmente em caso de crise, de informar aos seus
cidadãos das condições difíceis, e mesmo dos perigos que eles possam encontrar, por ocasião de
seus deslocamentos ao exterior. No entanto, incube-lhes fornecer tais informações sem prejudi-
car, de forma injustificada ou exagerada, a indústria turística dos países receptores de fluxos
turísticos e os interesses dos seus próprios operadores. O conteúdo de eventuais avisos deve,
portanto, ser previamente discutido com as autoridades dos países de destino e com os profis-
sionais interessados. As recomendações que sejam formuladas serão estritamente proporcio-
nais à gravidade real das situações e limitadas às zonas geográficas onde a insegurança estiver
comprovada. Essas recomendações devem ser atenuadas ou anuladas logo que o retorno à
normalidade o permitir.
6.6 A imprensa, sobretudo a especializada em turismo, e os outros meios de comunicação, incluindo
os modernos meios de comunicação eletrônica, devem fornecer uma informação honesta e
equilibrada sobre os acontecimentos e situações suscetíveis de influência na freqüência turística.
Igualmente, devem ter por missão o fornecimento de indicações precisas e confiáveis aos consu-
midores de serviços turísticos. As novas tecnologias de comunicação e o comércio eletrônico
devem ser desenvolvidos e utilizados para esse fim, não devendo, de forma alguma, assim como
a imprensa e os outros meios de comunicação, incentivar o turismo sexual.
7. Direito do turismo.
7.1 A possibilidade de acesso direto e pessoal à descoberta das riquezas de nosso mundo constituirá
um direito aberto, igualmente, a todos os habitantes do planeta. A participação cada vez mais
ampla no turismo nacional e internacional deve ser considerada como uma das melhores expres-
sões possíveis do crescimento contínuo do tempo livre, e não deve ser dificultada.
7.2 O direito ao turismo para todos deve ser visto como conseqüência ao direito ao descanso e ao
tempo livre e, em particular, a uma razoável limitação da duração do trabalho e licenças periódi-
cas pagas, conforme é garantido no artigo 24 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, e
no artigo 7.3 do pacto internacional relativo aos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
7.4 O turismo social, sobretudo o turismo associativo, que permite o acesso da maioria dos cidadãos
ao lazer, às viagens e às férias, deverá ser desenvolvido com o apoio das autoridades públicas.
7.5 O turismo das famílias, dos jovens e estudantes, das pessoas idosas e dos deficientes deverá ser
encorajado e facilitado.
8. Deslocamento turístico.
8.1 Os turistas e visitantes se beneficiarão, respeitando-se o Direito Internacional e as legislações
nacionais, da liberdade de circulação, quer no interior do seu país, quer de um Estado para outro,
em conformidade com o artigo 13 da Declaração Universal dos Direitos Humanos; e poderão ter
acesso às zonas de trânsito e de estada, bem como aos locais turísticos e culturais, sem exagera-
das formalidades e sem discriminações.
8.2 Os turistas e visitantes devem ter reconhecida a faculdade de utilizar todos os meios de comunica-
ção disponíveis, interiores ou exteriores; devem beneficiar-se de um pronto e fácil acesso aos
serviços administrativos, judiciários e de saúde locais, bem como ao livre contato com as autori-
dades consulares do seu país de origem, em conformidade com as convenções diplomáticas
vigentes.
Ética Aluno.p65 26/3/2007, 14:0620
21
Ética, Meio Ambiente e Cidadania para o Turismo
Módulo I
II
II
I
8.3 Os turistas e visitantes serão beneficiados com os mesmos direitos dos cidadãos do país visitado
quanto à confidencialidade dos dados e informações pessoais que dizem respeito a eles, sobre-
tudo as armazenadas sob forma eletrônica.
8.4 Os procedimentos administrativos do cruzamento de fronteira, estabelecidos pelos Estados ou
resultantes de acordos internacionais, como os vistos, ou as formalidades sanitárias e alfandegá-
rias, devem ser adaptados, de modo a facilitar ao máximo a liberdade de viajar e o acesso do
maior número de pessoas ao turismo internacional. Os acordos entre grupos de países, visando
a harmonizar e simplificar tais procedimentos devem ser encorajados. Os impostos e os encargos
específicos que prejudiquem a indústria turística e atentem contra a sua competitividade turísti-
ca devem ser progressivamente eliminados ou reduzidos.
8.5 Desde que a situação econômica dos países de origem o permita, os turistas devem dispor do
crédito de divisas conversíveis, necessário aos seus deslocamentos.
9. Direitos dos trabalhadores e dos empresários da indústria turística.
9.1 Os direitos fundamentais dos trabalhadores assalariados e autônomos da indústria turística e
das atividades afins devem ser assegurados pelas administrações, quer dos Estados de origem,
quer dos países de destino, com especial atenção, tendo em vista as limitações específicas
vinculadas à sazonalidade da sua atividade, à dimensão global de sua indústria e à flexibilidade
muitas vezes imposta pela natureza do seu trabalho.
9.2 Os trabalhadores assalariados e autônomos da indústria turística e das atividades afins têm o
direito e o dever de adquirir uma formação ajustada, inicial e contínua. A eles será assegurada
uma proteção social adequada e a precariedade do emprego deve ser limitada ao máximo possí-
vel. Deverá ser proposto aos trabalhadores sazonais do setor um estatuto especial, visando a sua
proteção social.
9.3 A toda a pessoa física e jurídica, sempre que demonstrar possuir as disposições e qualificações
necessárias, deve ser reconhecido o direito de desenvolver uma atividade profissional no âmbito
do turismo, de acordo com a legislação nacional vigente. Os empresários e os investidores -
especialmente das pequenas e médias empresas - devem ter reconhecido o livre acesso ao setor
turístico com um mínimo de restrições legais ou administrativas.
9.4 As trocas de experiência oferecidas aos quadros de trabalhadores de diferentes países, assalaria-
dos ou não, contribuem para o desenvolvimento da indústria turística mundial. Assim, devem ser
incentivadas sempre que possível, de acordo com as legislações nacionais e as convenções inter-
nacionais aplicáveis.
9.5 Fator insubstituível de solidariedade no desenvolvimento e de dinamismo nas trocas internacio-
nais, as empresas multinacionais da indústria turística não devem abusar das situações de posi-
ção dominante que por vezes detêm. Elas devem evitar tornarem-se modelos culturais e sociais
artificialmente impostos às comunidades receptoras de fluxos turísticos. Em troca da liberdade
de investir e operar comercialmente, que lhes deve ser plenamente reconhecida, devem compro-
meter-se com o desenvolvimento local, evitando, pelo repatriamento excessivo dos seus benefí-
cios ou pelas importações induzidas, reduzir a contribuição que dão às economias onde estão
instaladas.
9.6 A colaboração e o estabelecimento de relações equilibradas entre empresas dos países emisso-
res e receptores contribuem para o desenvolvimento sustentável do turismo e para uma distri-
buição eqüitativa dos benefícios do seu crescimento.
10. Aplicação dos princípios do Código Mundial de Ética do Turismo
10.1 Os setores públicos e privados do desenvolvimento turístico cooperaram na aplicação dos pre-
sentes princípios e devem zelar pelo controle da sua efetivação.
10.2 Os agentes do desenvolvimento turístico reconheceram o papel dos organismos internacionais,
na primeira linha das quais a Organização Mundial do Turismo, e das organizações não governa-
mentais competentes em matéria de promoção e desenvolvimento do turismo, na proteção dos
direitos humanos, do meio ambiente e da saúde, respeitando os princípios gerais do Direito
Internacional.
10.3 Os mesmos agentes manifestam a intenção de submeter, para efeitos de conciliação, os litígios
relativos à aplicação ou interpretação do Código Mundial de Ética do Turismo a um terceiro
organismo imparcial denominado Comitê Mundial de Ética do Turismo.
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Em subgrupos, discuta com os companheiros e responda:
1) O Código de Ética da OMT é respeitado no Brasil?
Monte um painel com os colegas sobre:
2) Os direitos e deveres do povo brasileiro com relação ao turismo.
Ética Aluno.p65 26/3/2007, 14:0622
Autora: Paloma Albino Borba Cavalcanti
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Há um crescente interesse pelo turismo, tanto no Brasil como no mundo, e isso
tem origem na importância econômica que a atividade adquiriu. Nos últimos
vinte anos, o turismo vem crescendo em torno de 8% ao ano, elevando-o
a uma das cinco maiores atividades geradoras de riqueza e emprego do
mundo, de acordo com dados de 2002 da OMT – Organização Mundial
do Turismo.
Foi ao longo do século 20, especialmente após a Segunda Guerra
Mundial, que o turismo como o conhecemos hoje conseguiu se de-
senvolver em grande escala. Isso porque a aviação comercial ganhou
força, o carro tornou-se o meio de transporte mais popular, abriram-
se muitas estradas e também ocorreram importantes conquistas tra-
balhistas, como as férias remuneradas. Para entender melhor o
surgimento do turismo, consulte os módulos básicos “Passaporte
para o Mundo” e “Aprendiz de Lazer e Turismo”.
Dessa forma, a atividade acaba se tornando muito importante para vários países, porque tem a capacidade de
gerar muitos empregos, melhorando a renda e a qualidade de vida da população. De maneira geral, pode-se dizer
que os principais benefícios econômicos do turismo para um país são: a geração de empregos, o aumento da
renda nacional e a melhora na balança de pagamentos, como veremos a seguir.
Empregos, renda nacional e balança de pagamentos _______________________
Empregos
É importante compreender que o turismo é uma atividade com o potencial de empregar muito mais pessoas,
pois necessita de muita mão-de-obra. Além de fazer parte do setor de serviços (que passou a empregar mais que
a indústria), o turismo tem um processo produtivo especial, necessitando de diversas organizações para ser
realizado e, a maioria delas, de pequeno porte (que também acabam empregando proporcionalmente mais que
as grandes empresas). Além disso, tem a capacidade de gerar muitos empregos de média e baixa qualificação, ou
seja, a maior parte dos trabalhadores empregados não necessita de curso superior, mas sim de cursos técnicos
que qualifiquem uma função.
Tomando como exemplo a hotelaria, funções como a de camareira, garçom, faxineiro, cozinheiro, recepcionis-
ta, telefonista, entre outros, não exigem nível superior e são a maioria dos empregos em um empreendimento.
Entretanto, é recomendável que todos os trabalhadores tenham o ensino médio completo.
Dias (2002) aponta que, em 2001, foram gerados 207 milhões de empregos em todo o mundo e que a
previsão é que, em 2011, esse número alcance 260 milhões, o que significa praticamente 9% do número total de
empregos. Entretanto, há uma enorme dificuldade para se conseguir estipular o número de empregos exatos que
a atividade gera, especialmente no Brasil, por causa das dimensões do nosso território e da condição de
informalidade de muitos trabalhadores
6
.
Costuma-se calcular o número de empregos gerados com o turismo em um país a partir de duas bases: a
primeira identifica quantos empregos diretos são gerados, tanto formais quanto informais. Mas o que significa
um emprego direto? Considera-se que um trabalhador é um empregado direto quando ele atua em atividades
típicas do turismo, como por exemplo, a hotelaria, os serviços de guias de turismo, os transportes, as agências de
viagem e turismo, as empresas de alimentação, entre outras.
A segunda base busca identificar os empregos indiretos gerados a partir do desenvolvimento do turismo.
Como exemplo, vamos considerar uma cidade que passa a receber visitantes. Esse visitante necessita da hospeda-
gem, dos restaurantes e dos atrativos turísticos, mas também precisa que se produzam mais ovos, alfaces, carne,
6
A informalidade significa que o emprego existe, porém não há registro (na carteira de trabalho).
TEMA 1
O SIGNIFICADO
SOCIOECONÔMICO DO TURISMO
O SIGNIFICADO
SOCIOECONÔMICO DO TURISMO
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Ética, Meio Ambiente e Cidadania para o Turismo
entre outros alimentos. Também vai necessitar comprar um remédio em uma farmácia, roupas e outros artigos no
comércio da cidade. O que acaba acontecendo então? Como os produtores vão precisar produzir mais alimentos
para os turistas e os comerciantes vão ter mais gente para atender em seus estabelecimentos, acabam contratan-
do mais empregados para seus negócios.
Esses são os chamados empregos indiretos, porque esses trabalhadores não estão atuando diretamente com
serviços turísticos, mas são contratados em função do aumento do número de turistas naquela cidade. Estima-se
que em torno de 52 setores produtivos sejam beneficiados com o desenvolvimento da atividade turística nos
destinos, tais como a construção civil, os hortifrutigranjeiros, a agropecuária, o comércio em geral e a produção
de artesanato.
Segundo Rabahy (2003), em 2002, o número de empregos gerados a partir do turismo no Brasil foi de 1,63
milhão de postos de trabalho diretos e 750 mil indiretos, totalizando 2,4 milhões, o equivalente a 3,3% do total
de pessoal ocupado em todo o país. O Ministério de Turismo
7
recentemente divulgou números que apontam
para o crescimento do número de empregos no setor: entre os anos de 2003 e 2005, foram gerados 263 mil
empregos diretos e 789 mil indiretos, totalizando pouco mais de 1 milhão de novos postos de trabalhos.
Além dos empregos gerados, podemos estudar também qual é a renda média do trabalhador do turismo. O
autor Arbache (2001) nos apresenta resultados interessantes: ao longo da década de 1990, houve aumento
significativo do rendimento médio mensal no turismo brasileiro, passando de R$520,00 em 1993 para R$636,00
em 1998, um crescimento real de 22%. Esse aumento na renda elevou o setor à quinta posição entre as áreas que
melhor remuneram, superando o comércio e alguns ramos da indústria.
Renda nacional
Dessa forma, como conseqüência do número de empregos gerados e da renda média de cada trabalhador, tem-
se também um aumento da renda nacional do país, que pode ser chamada de PIB – Produto Interno Bruto - e que
indica tudo aquilo que é produzido no país. Nos estados, mais desenvolvidos, o turismo chega a representar em
torno de 4% do PIB, mas no Brasil esse número é um pouco menor, chegando a 2%. Já em algumas ilhas e países
menores, que recebem muitos turistas, a atividade chega a representar mais de 50% do PIB.
No entanto, essa porcentagem só representa as receitas diretas geradas. A partir delas, surgem também os
gastos indiretos, mais conhecidos como “efeitos multiplicadores da renda do turismo”. Esse efeito não é exclu-
sividade do turismo. Consideremos o exemplo dos consumidores de suco de laranja engarrafado: ao comprar o
produto no supermercado, estão proporcionando emprego aos funcionários do supermercado e gerando receita
aos proprietários. Estes irão repassar parte da receita aos fabricantes do suco que, por sua vez, repassarão aos
produtores de laranja de uma pequena cidade do interior. Esses produtores terão receita e poderão empregar
mais pessoas nas suas plantações. Estas pessoas terão um salário e, com isso, irão gastar sua renda na cidade. Esse
dinheiro estará, por fim, movimentando parte da economia daquela cidade, gerando mais empregos e assim por
diante. Multiplicam-se as receitas, os empregos e o próprio capital.
No Brasil, alguns estudos indicam que esse índice multiplicador é de 2.4, ou seja, a cada real gasto pelo turista,
outros R$ 2,4 estariam sendo gerados na renda nacional. Se aplicássemos esse índice ao exemplo das laranjas,
teríamos que, a cada real gasto na compra de uma caixinha de suco de laranja, mais R$ 2,4 de renda seriam
gerados ao longo da cadeia de suprimentos e empregos.
Renda do turismo = receitas diretas (gastos dos turistas em hotéis, restaurantes, etc.) + receitas
indiretas (gastos das empresas de turismo com outras empresas) => EMPREGOS DIRETOS E INDIRETOS.
Balança de pagamentos
Um outro importante indicador econômico do turismo é a balança de pagamentos. Esse índice mede o total
gasto na importação de produtos e serviços em comparação ao total recebido a partir das exportações. De uma
maneira simplificada, isso significa dizer que, quando vendemos mais que compramos do exterior, temos lucro e
quando compramos mais do exterior do que vendemos, temos prejuízo. Essa conta é muito importante para
demonstrar se o país tem capacidade de produzir tudo aquilo que consome e também se os nossos produtos são
competitivos no mercado internacional.
7
Para consultar mais dados, veja o documento referencial para o Turismo 2007-2010, disponível no site do Ministério do
Turismo: www.turismo.gov.br.
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No turismo, o índice da balança comercial mede o gasto dos turistas brasileiros fora do país, ou seja, todos os
brasileiros que viajaram ao exterior e o quanto eles gastaram, de um lado, e de outro, quanto gastaram os turistas
estrangeiros que visitaram o país. Se a balança for negativa, saiu mais dinheiro do país do que entrou por meio
do turismo mas se, for positiva, entrou mais dinheiro do que saiu e tivemos lucro.
No Brasil, durante muitos anos e até recentemente, tivemos uma história de balanças comerciais negativas, ou
seja, turistas brasileiros gastavam mais no exterior do que estrangeiros gastavam no Brasil. Mas, a partir das
políticas de incentivo para que o brasileiro viajasse mais pelo Brasil e com a desvalorização do real (que passou a
valer cada vez menos que o dólar), fazendo com que ficasse muito caro viajar para o exterior, tivemos resultados
cada vez melhores.
Balança do turismo = Gastos dos estrangeiros no Brasil – Gastos dos brasileiros fora do Brasil =>
BALANÇA COMERCIAL POSITIVA (+) OU NEGATIVA (–).
Como os países podem incentivar o
desenvolvimento do turismo? ____________________________________________
Como vimos, o turismo acaba se tornando uma atividade econômica muito importante para os países. Para
incentivar o desenvolvimento da atividade, então, os governos passaram a investir recursos e desenvolver diversos
tipos de ações.
Uma dessas formas é o investimento em infra-estrutura básica (energia elétrica, saneamento básico, etc) e de
acesso (rodovias, portos, aeroportos, rodoviárias) para que seja possível que as empresas se instalem nas cidades
e também que os turistas tenham como chegar ao local que querem visitar. Além disso, uma boa cidade e um bom
país para o turista deve ser bom primeiramente para seus cidadãos e, por isso, é fundamental que os governos
tomem consciência de que o investimento em melhorias básicas para a população também beneficia os turistas
e a vinda de investimentos privados e empresas turísticas.
Além disso, é necessário conceder incentivos fiscais para que as pequenas, médias e grandes empresas
possam se instalar em regiões menos desenvolvidas turisticamente, por exemplo, ou ainda, estabelecer linhas de
financiamento para que o empresariado consiga o crédito necessário para construir ou ampliar seu negócio.
Um outro tipo de ação de grande importância é a de divulgação do país. Normalmente, o governo tem a
função de promover o local, divulgando seus atrativos, realizando propagandas e campanhas promocionais para
que as pessoas viajem mais dentro de seu país e também para que os estrangeiros possam conhecer e visitá-lo
cada vez mais.
Diante de tantas ações, os governos passaram a desenvolver, desde o início da década de 1960, os chamados
Planos ou Políticas Nacionais de Turismo, instrumentos a partir dos quais definem todas as metas que desejam
alcançar para o desenvolvimento da atividade turística e também todas as ações ou políticas públicas que desejam
empreender ao longo de suas gestões.
Segundo a OMT – Organização Mundial do Turismo (2005) a “Política ou Plano Nacional de Turismo fixa os
principais objetivos, estratégias e ações que serão executadas, com o intuito de elaborar um marco geral propício
ao desenvolvimento duradouro da atividade turística”.
O Brasil conseguiu formular e implementar sua primeira Política Nacional de Turismo a partir de 1996. Logo
que foi criado, o Ministério do Turismo também formulou o Plano Nacional de Turismo para os anos de 2004 a
2007, estabelecendo áreas prioritárias para sua atuação como melhoria da gestão, incentivo ao crescimento das
empresas e serviços turísticos, melhoria da infra-estrutura básica e de acesso das cidades turísticas, da qualidade
dos serviços turísticos e da capacitação dos profissionais atuantes e apoio à comercialização. Além disso, também
estabeleceu metas com relação ao número de empregos a serem gerados e ao número de turistas estrangeiros e
nacionais que gostaria de receber ao longo desses anos.
É importante perceber, dessa forma, que, ao fazermos uma viagem ou trabalharmos em uma atividade turísti-
ca, estamos participando desse plano maior que é estabelecido pelo governo de nosso país. Cabe a cada um
trabalhar para melhorar as condições de vida da população brasileira, aumentar as receitas e o número de turistas
de nosso país, sempre preservando o que nos é mais precioso: nosso povo e nosso patrimônio natural e cultural.
Veja, na página seguinte, um trecho do Plano Nacional de Turismo 2003-2007, que contém uma mensagem do
Ministro do Turismo:
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Ética, Meio Ambiente e Cidadania para o Turismo
Plano Nacional de Turismo 2003-2007
O Plano Nacional foi concebido de forma coletiva, com uma ampla consulta às mais diversas
regiões brasileiras e a todos os setores representativos do turismo e constitui-se em um processo
dinâmico de construção permanente. Traduz uma concepção de desenvolvimento que, além do cres-
cimento, busca a desconcentração de renda por meio da regionalização, interiorização e segmentação
da atividade turística.
(...) Ao colocar o Plano Nacional em execução, permitimo-nos reorientar esforços e eliminar obstá-
culos de tal forma que se realize o nosso compromisso de fazer do turismo uma prioridade nacional.
Assim sendo, temos que preparar o futuro, olhar para frente e construir o que deverá ser esta ativida-
de nos anos vindouros, com base em um pensamento estratégico, a partir do reconhecimento do
turismo como atividade econômica relevante que requer planejamento, análise, pesquisa e informa-
ções consistentes.
Devemos diversificar nossos mercados assim como os produtos e destinos que oferecemos. O
governo federal, os governos estaduais e municipais, instituições e associações de classe, universidades,
empresários, trabalhadores, organizações não governamentais e todos os demais que compõem o
setor devem realizar um esforço para incrementar a qualidade e a competitividade do turismo brasileiro,
neste momento em que muitos outros países estão competindo para conquistar mercados turísticos.
Destacamos ainda a atenção que devemos dirigir ao incremento do turismo interno, que deve ser
fortalecido pelo consumo da sociedade brasileira, permitindo a todos o acesso ao lazer e às férias,
respondendo a uma aspiração legitima dos nossos cidadãos e tendo no turismo um fator de constru-
ção da cidadania e de integração social.
Desta forma, estamos apresentando à sociedade brasileira o Plano Nacional do Turismo, cuja
construção, consolidação e execução deverão ocorrer ao longo dos próximos anos, tendo presente
que o turismo:
deverá se transformar em fonte geradora de novos empregos e ocupações, proporcionando uma
melhor distribuição de renda e melhorando a qualidade de vida das comunidades;
ao contribuir para multiplicar os postos de trabalho no território nacional, poderá interferir posi-
tivamente no âmbito da violência urbana, fortalecendo a segurança da população;
deverá transformar-se em um agente da valorização e conservação do patrimônio ambiental (cul-
tural e natural), fortalecendo o princípio da sustentabilidade;
tornar-se-á um instrumento de organização e valorização da sociedade, articulando seus interes-
ses econômicos, técnicos, científicos e sociais, com o lazer, a realização de eventos, feiras e outras
atividades afins;
poderá, por meio de programas de qualificação profissional, elevar a qualidade da oferta turística
nacional, fator essencial para inserir o país competitivamente no mercado internacional;
atuará como mecanismo instigador de processos criativos, resultando na geração de novos produ-
tos turísticos, apoiados na regionalidade, genuinidade e identidade cultural do povo brasileiro,
fortalecendo a auto-estima nacional e a de nossas comunidades;
a partir das novas políticas sociais, poderá configurar-se como uma das mais eficazes expressões
do uso do tempo liberado [livre] do trabalhador, contribuindo para a sua saúde física e mental;
ao ser fortalecido internamente pelo exercício contínuo e sistêmico de consumo pela sociedade
brasileira, deverá criar as condições desejáveis para a estruturação de uma oferta turística qualifi-
cada, capaz de atender melhor o mercado internacional;
para alcançar as metas desejáveis no balanço de pagamentos, exigirá normatização e legislação
adequadas, com vistas à facilitação e ao aumento da entrada de turistas estrangeiros;
por sua dinâmica, necessita de uma constante troca de informações entre os destinos turísticos, a
oferta e os mercados consumidores, o que requer investimentos constantes em marketing.
Por fim, é importante salientar que as metas desafiadoras para o período 2003-2007 requerem
entusiasmo e determinação, cujo atingimento somente será possível por meio de um esforço conjun-
to entre agentes públicos e privados para solidificar uma estrutura turística integrada e duradoura(...)
Fonte: Plano Nacional de Turismo 2003-2007 – Diretrizes, Metas e Programas.
Disponível em www.turismo.gov.br
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Quantos e quem são nossos turistas?______________________________________
O Turismo internacional no Brasil
A participação do Brasil e da América do Sul ainda é modesta, considerando o fluxo turístico mundial. Em
2002, segundo a OMT – Organização Mundial do Turismo os países sul-americanos receberam, juntos, cerca de
13,6 milhões de turistas (dos quais o Brasil representa 28%) e um faturamento de US$ 14,4 bilhões, enquanto em
termos comparativos, a região do Caribe recebeu, no mesmo período, 17,3 milhões de turistas e obteve um
faturamento de US$ 16,7 bilhões. Os países que mais receberam turistas no mundo foram, de acordo com dados
da OMT de 2002, a França, a Espanha, os Estados Unidos, a Itália, a China e o Reino Unido.
O turismo brasileiro vem crescendo. Através de pesquisas nos principais aeroportos e fronteiras terrestres do
país, é possível traçar um perfil do turista estrangeiro que nos visita. Em 2002, ele permaneceu, em média, 14,4
dias e gastou US$87 por dia. As principais cidades visitadas foram:
Principais Cidades visitadas pelo turista estrangeiro em 2002
Cidades %
Rio de Janeiro 38,58
São Paulo 20,54
Salvador 12,76
Foz do Iguaçu 9,28
Recife 8,24
Porto Alegre 7,93
Florianópolis 6,42
Balneário Camboriú 4,90
Fonte: Anuário Estatístico Embratur 2002
O turista estrangeiro que visita o Brasil tem nacionalidades distintas, mas os europeus, norte-americanos e
sul-americanos são a grande maioria. Entre os europeus, destacam-se os alemães, franceses, italianos, portugue-
ses e espanhóis e, entre os sul-americanos, os argentinos, uruguaios e paraguaios.
Turismo doméstico
O turismo doméstico é aquele que trata dos brasileiros viajando dentro de seu próprio país. A EMBRATUR –
Instituto Brasileiro de Turismo procurou estimar esse número: em 1998, em torno de 38 milhões de brasileiros
viajaram e, em 2001, 41 milhões, um número muito significativo e que indica crescimento para os próximos anos.
Quanto ao perfil, o brasileiro costuma viajar muito de carro e ônibus de linha; viajar de avião ainda é uma
realidade muito distante; somente 9% das viagens utilizaram esse meio de transporte. A grande maioria ainda
fica hospedada em casa de amigos e parentes (66%), embora a utilização dos meios profissionais de hospedagem
venha subindo: 15% já ficam em hotéis e 5% em pousadas. Somente 8% dos turistas utilizaram os serviços de
uma agência de viagens, portanto, a maioria realiza viagens independentes e auto-organizadas.
Esses números indicam um Brasil que ainda tem muito a crescer em termos de viagens domésticas. O brasilei-
ro, embora goste de viajar, é prejudicado por sua renda. Por outro lado, a cifra de 41 milhões de turistas indica que
muita gente já está viajando nesse país, o que é impressionante se levarmos em conta nossos índices sociais, a
desigualdade de renda e o grau de pobreza de muitas regiões do Brasil. Viajar é, portanto, um sinal de melhoria
da qualidade de vida das pessoas.
1) O turismo é uma atividade que necessita de muita mão-de-obra. Comente essa afirmação.
2) Por que a maioria dos brasileiros viaja de carro ou ônibus?
3) Descubra se existe algum tipo de estudo sobre os turistas que visitam sua cidade. Depois, comente a
importância de saber qual é o perfil dessas pessoas.
4) Faça uma pesquisa com seus familiares e amigos, procurando descobrir qual foi o lugar mais longe do
Brasil que conheceram, como fizeram para chegar lá e onde se hospedaram.
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Ética, Meio Ambiente e Cidadania para o Turismo
Neste tema, estudaremos quais os principais efeitos que
o turismo pode criar sobre a comunidade que o recebe, alte-
rando seu modo de viver e a economia local. Também vamos
entender um pouco dos efeitos que a atividade pode gerar
sobre o meio ambiente.
Desenvolvimento econômico local:
efeitos do turismo na comunidade _____
O Brasil apresenta excelentes perspectivas para o turis-
mo em todo o seu território. Os diversos biomas e ecossis-
temas, bem como o imenso patrimônio cultural existente em
todas as regiões brasileiras permitem que diversos destinos sejam estruturados para o turismo. Dessa forma, a
atividade é uma das mais importantes opções para o desenvolvimento econômico local, especialmente para
aquelas regiões carentes de outras iniciativas econômicas, de grande fragilidade ambiental ou de relevante
patrimônio histórico-cultural.
Os efeitos econômicos do desenvolvimento turístico podem ser muito benéficos, trazendo empregos e renda
para locais onde quase nenhuma outra atividade conseguiria se desenvolver. Entretanto, se não for desenvolvido
da forma correta, tende a gerar inúmeros efeitos negativos, muitos dos quais de difícil reversão.
Para que o desenvolvimento turístico consiga se estabelecer de forma mais efetiva e sustentável, é muito
importante contar com a participação e o envolvimento da comunidade local, já que sua compreensão da realida-
de é única. A partir de um processo participativo, fica mais fácil construir com sucesso boas políticas de turismo.
É importante, também, estar consciente de que não devemos considerar a atividade a solução para todos os
problemas brasileiros, pois ela precisa de alguns importantes requisitos para se desenvolver, como infra-estrutura
urbana, acesso e equipamentos de saúde e educação. Embora possa contribuir muito para a construção de um
Brasil melhor, uma série de outras ações políticas e projetos são necessários.
Efeitos socioeconômicos
Para entender os efeitos socioeconômicos do turismo, precisamos identificar que, na maior parte dos casos, a
atividade se desenvolve de forma espontânea. O que significa esse desenvolvimento de forma “espontânea”?
Para explicar, vamos tomar como exemplo uma cachoeira. Inicialmente, essa cachoeira é freqüentada somente por
algumas pessoas do local, mas, com o passar do tempo, ela vai se tornando conhecida, surgem alguns visitantes
de fora da cidade que passam a indicá-la para outros turistas e, de repente, essa cachoeira já está sendo freqüen-
tada por muita gente.
Ao mesmo tempo em que ela estava se tornando conhecida, foi aberta uma estrada de terra maior para
passarem carros; alguém da comunidade montou uma estrutura para vender bebidas e comidas no local; outras
pessoas da comunidade montaram um restaurante que serve almoços; outras começam a ganhar dinheiro como
flanelinhas (guardando os carros dos visitantes).
Ainda não há coleta de lixo. O lixo produzido pelos turistas acumula-se nas imediações da cachoeira, gerando
mau cheiro e poluição; também não há sistema de abastecimento de água e rede de esgotos. A água da cachoeira
começa a ficar poluída e, de repente, quando as autoridades e a comunidade percebem, a cachoeira está total-
mente degradada.
Esse último exemplo ilustra uma série de impactos negativos gerados a partir do crescimento do turismo a um
atrativo. Imaginem se todos os atrativos da cidade fossem utilizados dessa forma? Em muito pouco tempo, todo o
meio ambiente estaria degradado e haveria uma série de problemas sociais. São exatamente esses os tipos de
impactos gerados quando o turismo se desenvolve em uma cidade de forma desordenada e espontânea, sem
nenhum planejamento ou controle por parte das autoridades ou da própria sociedade. A tabela da página seguinte
aponta os principais efeitos que o turismo pode gerar na economia, nas cidades e na vida da comunidade local:
TEMA 2
O DESENVOLVIMENTO
TURÍSTICO E SEUS EFEITOS
O DESENVOLVIMENTO
TURÍSTICO E SEUS EFEITOS
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Principais impactos socioeconômicos negativos do turismo
A) Aumento do custo de vida;
B) Insuficiência dos serviços públicos;
C) Êxodo rural e êxodo de outras atividades econômicas;
D) Migração regional;
E) Urbanização e adensamento populacional;
F) Especulação imobiliária e periferização da cidade – favelização;
G) Criminalidade, tráfico e uso de drogas;
H) Diminuição da qualidade de vida;
I) Perda econômica – empreendimentos com sede fora da cidade remetem seus lucros;
J) Sazonalidade – desemprego, prejuízos, falência.
A) Aumento do custo de vida: a chegada de turistas gera um maior movimento no comércio e no setor de
serviços, fazendo com que os proprietários vejam uma oportunidade de lucrar mais e aumentam seus preços.
Conseqüentemente, como os residentes usam uma parte dos serviços e compram nos mesmos lugares que os
turistas, acabam prejudicados.
B) Insuficiência nos serviços públicos: o turismo cresce muito mais rápido que a capacidade de resposta dos
serviços públicos. Demoram-se anos para ampliar a oferta de energia elétrica, o sistema de abastecimento de água,
o saneamento básico, o asfaltamento de vias urbanas, etc., enquanto o crescimento da demanda por tais serviços,
por causa do turismo, é muito mais rápido.
C) Êxodo rural e de outras atividades econômicas: é muito comum nos pequenos municípios, um movi-
mento do campo para a cidade - o êxodo rural pois os trabalhadores rurais, principalmente os jovens, acreditam
que o turismo lhes dará uma melhor oportunidade de vida e remuneração. Então, as pequenas propriedades
agrícolas entram em decadência e a cidade passa a ter que comprar fora os alimentos hortifrutigranjeiros.
Além disso, pode ocorrer uma “monocultura” econômica, ou seja, todos os proprietários do local migrarem
para o turismo na esperança de ter mais lucro. Se houver queda no fluxo turístico, haverá falências em massa,
causando enormes problemas e desemprego na cidade.
D) Migração regional: também é muito comum a migração das cidades que estão em volta daquela que está
crescendo com o turismo. Esse não é um fenômeno restrito ao turismo: as grandes capitais e as cidades-satélites
sofrem com esse problema, pois há excesso de gente, que, por não ter melhores condições de vida, acaba indo
morar nas periferias da cidade, agravando ou gerando problemas de favelização.
E) Urbanização e adensamento populacional: trata-se de outro problema muito comum no desenvolvimen-
to do turismo. Cresce o número de turistas, cresce a urbanização sobre o território. Praias antes desertas passam
a ter casas de veraneio e hotéis, gerando uma extensão da cidade para esses novos núcleos habitacionais. O
processo de urbanização acaba eliminando parte das áreas verdes da cidade e há uma perda da qualidade de vida.
F) Especulação imobiliária e periferização das cidades: a atividade turística gera uma valorização dos
terrenos, especialmente daqueles próximos aos atrativos. O que acontece, normalmente, é que as imobiliárias
compram os terrenos das comunidades tradicionais e os vendem a um preço mais caro a investidores e turistas.
Entretanto, com o dinheiro que recebem da imobiliária, os moradores já não conseguem comprar bons terrenos
e acabam indo para a periferia da cidade. Esse é um impacto muito comum nas pequenas cidades litorâneas de
todo o Brasil - no litoral paulista, muitas comunidades de indígenas caiçaras foram expulsas da beira-mar e, no
litoral nordestino, muitos terrenos são vendidos a grupos estrangeiros.
G) Criminalidade, tráfico e uso de drogas: o aumento da urbanização, a migração e periferização das
cidades turísticas têm efeito direto sobre o aumento da criminalidade. Esta é decorrente de um processo de
marginalização social da população que mora nos bairros pobres, em contraposição aos turistas e moradores
“ricos”. Como conseqüência, cresce o número de assaltos, furtos de carros e a residências. Um outro impacto
negativo é o surgimento do tráfico de drogas. Trata-se de um problema muito sério, pois expõe os jovens
residentes, antes inseridos em uma comunidade tradicional, ao contato com as drogas, podendo aumentar
inclusive o número de usuários.
H) Diminuição da qualidade de vida: diante de tantos impactos negativos, é natural que a qualidade de vida
dos moradores se deteriore. Congestionamentos, poluição sonora e visual, aumento da urbanização, dos proble-
mas sociais e do custo de vida são apenas alguns dos problemas enfrentados pelas comunidades.
I) Perda econômica: Grandes cadeias hoteleiras têm a vantagem de gerar muitos empregos; entretanto,
alguns empreendimentos optam por importar muita mão-de-obra, alegando que a população local não está
qualificada para o trabalho. Isso gera uma considerável perda econômica.
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Ética, Meio Ambiente e Cidadania para o Turismo
J) Sazonalidade: enquanto na alta temporada há excesso de pessoas nas cidades, gerando a sobrecarga dos
serviços, na baixa temporada, há capacidade ociosa de boa parte dos negócios. Como conseqüência, a cidade
sofre com o desemprego, com o prejuízo e as falências de muitos negócios. Isso gera uma insatisfação em toda
a comunidade, que ora sofre com o excesso de gente, ora com o desemprego; nas prefeituras, que têm de lidar
com problemas econômicos, sociais e infra-estruturais e, por fim, nos turistas, que acabam voltando insatisfeitos
por causa dos congestionamentos, da superlotação, falta de produtos, etc.
Se bem desenvolvido de forma sustentável, entretanto, o turismo pode gerar muitos benefícios socioeco-
nômicos.
Impactos socioeconômicos positivos do turismo
A. Geração de empregos diretos (em particular para jovens, mulheres e minorias étnicas) e indiretos (na
pesca, agricultura, artesanato e manufatura, por exemplo);
B. Aumento das empresas, faturamento e arrecadação municipal;
C. Melhoria da qualidade de vida – aumento da renda;
D. Auxílio na diminuição da desigualdade de renda (através da rede de pequenos proprietários, por exemplo).
O desenvolvimento do turismo pode trazer muitos empregos à cidade, especialmente se os empreendimentos
optarem por usar a mão-de-obra local. Além disso, todas as atividades que crescem indiretamente com o turismo
também propiciam empregos.
Há, ao mesmo tempo, o surgimento de várias empresas, crescimento de outras e melhoria na arrecadação
municipal, que, quando bem administrada, pode reverter em numerosos benefícios à comunidade local, como
melhoria dos serviços urbanos, educação e saúde. Conseqüentemente, há melhoria na qualidade de vida dessas
populações.
E, se a rede produtiva do turismo for estruturada em torno de pequenos proprietários de hotéis, restaurantes
e agências de viagem, é muito provável que a renda seja mais bem distribuída do que em modelos onde há
grandes empresas. Assim, mesmo com acentuado crescimento, a oferta se estrutura de forma pulverizada, permi-
tindo uma melhor distribuição de renda.
Efeitos socioculturais
A origem dos impactos socioculturais está na interação entre turistas e comunidade residente. Turistas e
comunidade normalmente têm culturas diferentes e, no curto espaço de uma viagem, não é possível que um
turista vivencie a cultura local de forma a tornar-se parte dela.
O conceito de cultura deve ser entendido de uma forma mais ampla. Todas as sociedades, sejam elas rurais ou
urbanas, possuem o seu próprio sistema de valores e costumes. Dessa forma, não se trata somente das manifes-
tações folclóricas, artísticas e das construções históricas, mas também dos hábitos e costumes de uma comunida-
de tradicional.
Em meio a esse contato que se estabelece entre os turistas e a comunidade, surgem alterações no contexto
sociocultural do lugar, que podem ser benéficas ou negativas. A tabela abaixo apresenta, de forma resumida, os
principais impactos positivos e negativos que o turismo acarreta:
Impactos socioculturais do turismo
Negativos
A. Mudança nos hábitos de consumo: alimentação, vestuário, entretenimento;
B. Descaracterização das expressões culturais locais e do artesanato;
C. Exploração sexual, prostituição e aumento das doenças sexualmente transmissíveis;
D. Degradação do patrimônio histórico-cultural.
Positivos
A. Valorização da cultura local e do artesanato;
B. Criação de uma identidade cultural local e consciência para preservação;
C. Melhoria no nível educacional das comunidades;
D. Valorização e preservação do patrimônio histórico.
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A) Mudança nos hábitos e costumes locais: é um dos
impactos mais comuns, pois os turistas vêm com roupas de
férias, hábitos alimentícios e linguagens muito diferentes.
Aí começa o chamado “efeito demonstração”, especialmen-
te entre os jovens. Os residentes começam a imitar o estilo
de vida dos turistas, introduzem gírias e passam a se vestir e
comer de maneira semelhante aos visitantes. Como conse-
qüência, há uma perda significativa dos hábitos e costumes
tradicionais. Há também um relaxamento da moralidade,
pois os jovens passam a achar natural beber e consumir
drogas, por exemplo.
B) Descaracterização das expressões culturais x va-
lorização da cultura local: o turismo pode gerar tanto a
preservação da cultura local criando, inclusive, uma identi-
dade cultural e sentimento de orgulho, quanto pode levar a
uma excessiva comercialização e descaracterização de suas expressões. Nesse caso, o artesanato passa a ser
produzido em função dos gostos dos turistas, perde um pouco de sua essência e naturalidade. As expressões
folclóricas também se tornam apresentações encenadas. Entretanto, quando elas ocorrem de forma espontânea,
sendo valorizadas pelo turista, podem trazer enormes benefícios positivos. Os jovens passam a se envolver nas
questões culturais, dedicando-se à sua preservação. É o caso de muitos municípios brasileiros que mantiveram
suas tradições folclóricas, a exemplo do Recife - PE e São Luís - MA.
C) Exploração sexual, prostituição e aumento de doenças sexualmente transmissíveis: a exploração
sexual é um dos graves problemas enfrentados pelo Brasil, especialmente em alguns estados do Nordeste, pois
alguns visitantes estrangeiros têm uma imagem de que somos um país liberal e com belas mulheres seminuas.
Recentemente, o Ministério do Turismo realizou uma campanha para o combate à exploração sexual de menores,
como já vimos no módulo de “Ética e Cidadania” deste mesmo livro, e que vem obtendo importantes efeitos
positivos. O agravamento dos problemas sociais, a pobreza e a esperança de ganhos rápidos levam inúmeras
mulheres, muitas das quais menores, a se prostituír. Esse problema pode ser combatido por meio de políticas de
conscientização e coibição aos turistas que se enquadrem nesses casos, aos equipamentos turísticos que incen-
tivam a prática e ao incentivo de políticas assistenciais às vítimas.
D) Degradação do patrimônio histórico-cultural x preservação: da mesma forma que as manifestações
culturais, também a cultura material pode ser preservada ou degradada por causa do turismo. Um uso excessivo
e atos de depredação podem levar à degradação do patrimônio. É o caso de alguns locais em Ouro Preto e dos
Profetas esculpidos pelo mestre Aleijadinho em Congonhas do Campo - MG. Por outro lado, a atividade turística
pode gerar uma valorização das construções, fazendo com que muitas sejam restauradas, tombadas e preservadas.
Um último impacto positivo sociocultural está ligado à geração de empregos e à possibilidade de melhoria
educacional da população. Aumenta a preocupação em qualificar-se para a profissão, seja por meio de cursos
técnicos seja do ensino regular e também há a busca pelo aprendizado de novas línguas, especialmente o inglês
e o espanhol.
1) Cite e comente alguns dos efeitos socioeconômicos que mais lhe chamaram atenção.
2) Como você descreveria sua cultura local (hábitos, costumes, tradições)?
3) Procure identificar alguns efeitos socioeconômicos e culturais que foram retratados no texto e que acontecem
ou aconteceram em sua cidade.
4) Visita monitorada pelo professor a alguns pontos da cidade para exemplificar alguns dos impactos socioeco-
nômicos retratados no texto, fazendo um diagnóstico situacional (identificação dos principais pontos positi-
vos e negativos em relação ao desenvolvimento socioeconômico). Caso o município ainda não apresente
muitos deles, o exercício deve ser o de identificar o que pode acontecer na cidade a partir de um desenvolvi-
mento desordenado do turismo.
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Ética, Meio Ambiente e Cidadania para o Turismo
Impactos ambientais do turismo __________________________________________
Um grande debate da atualidade reside no conflito que se verifica entre o desenvolvimento econômico e os
impactos ambientais. Estes impactos têm sido gerados pelas mais diversas atividades econômicas e também pelo
próprio processo de crescimento populacional e o aumento da urbanização.
O crescimento das cidades, sem um planejamento adequado, gera uma série de efeitos negativos, tais como
a poluição das nascentes, a contaminação dos rios, a ocupação desordenada em áreas de preservação ambiental
ou nos morros e nas encostas, causando problemas de erosão e deslizamentos de terra. E há, também, o desma-
tamento e o conseqüente impacto sobre a fauna e a flora locais, levando algumas espécies à extinção.
Como o turismo acontece em um território, um lugar, e tem como um de seus efeitos mais fortes a aceleração
do processo de urbanização, devido à criação de infra-estrutura turística e aumento do número de visitantes, ele
pode ser responsável por alguns efeitos negativos sobre o meio ambiente.
Todos os tipos de turismo podem gerar efeitos sobre o meio ambiente. Podemos observá-los tanto em
grandes cidades como nas pequenas. A prática do ecoturismo, como abordado no módulo específico “Ecoturismo”,
por ser realizada em ambientes naturais, pode gerar efeitos ainda mais intensos sobre o meio.
Os principais efeitos negativos produzidos a partir do crescimento das cidades em função do turismo seguem abaixo:
Principais efeitos urbano-ambientais do turismo
Impactos negativos Riscos socioambientais
Aterros ilegais, excesso de lixo Poluição do lençol freático que abastece as cidades
Esgotos sem tratamento e lixo jogado na Poluição das águas, inviabilizando a pesca, o banho e oferecendo
praia, rios, lagoas e lagos riscos à saúde da população e do turista
Estrangulamento das áreas verdes da cidade Perda do patrimônio ambiental do município, com prejuízos à flora
– construção desordenada e fauna locais
Ocupação das áreas de encostas e morros Problemas de erosão devido à perda da cobertura vegetal e
deslizamentos de terra
Desmatamento das áreas verdes e de Sérios problemas ecológicos no bioma, climáticos e perda de
preservação ambiental animais e plantas
Poluição do ar, sonora e visual Aumento dos problemas de saúde, especialmente nas crianças
(bronquite, asma)
Perda da qualidade de vida
Fonte: adaptado de OLIVEIRA PUPPIM in BARBOSA & ZOUAIN (2004).
Além dos impactos urbano-ambientais, uma série de outros efeitos pode ser gerada por causa da prática do
turismo em áreas naturais, como o ecoturismo. Entretanto, um dos principais efeitos positivos de um turismo
praticado de forma sustentável é a criação e conservação de áreas naturais. Uma vez criadas, essas áreas passam
a ter uma série de restrições quanto ao desenvolvimento de atividades econômicas e ao uso e ocupação do solo,
em menor ou maior grau.
Como o turismo ecológico depende da qualidade do meio ambiente para ocorrer, a criação de áreas de
conservação é uma condição fundamental para continuidade deste tipo
de turismo.
Em algumas regiões do Brasil, em especial no Norte e Centro-Oeste,
os grandes proprietários de fazendas estão começando a perceber a im-
portância de ter seu patrimônio natural preservado e, mais do que isso,
de que é seu dever preservar tais áreas para as próximas gerações. Em
função disso, muitas áreas de preservação têm sido criadas
e uma parte significativa dos biomas do Pantanal e da
Amazônia começam a ser mais preservados. Essas fazendas
passam a ganhar não mais com o desmatamento, a venda
das madeiras, a formação de pastos para o gado e a caça de
espécies nativas, e sim com o ecoturismo.
Um outro impacto positivo do ecoturismo é o aumento
da consciência da comunidade, dos guias de turismo e dos
próprios turistas quanto à conservação dos recursos naturais.
A tabela da página seguinte apresenta os principais efeitos
criados a partir da prática do turismo em áreas naturais:
Fonte: Microsoft Office Online
Fonte: Microsoft Office Online
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Os impactos ambientais gerados pela atividade turística podem existir tanto na cidade (poluição
do ar e das águas, construção desordenada, etc.) quanto em áreas naturais (erosão, desmatamento,
perda da fauna e flora locais, acúmulo de lixo, etc.). Os impactos nas áreas naturais são provenientes
da prática do ecoturismo.
Principais efeitos ambientais do turismo em áreas naturais
Atrativos e uso inadequado Impactos ambientais
Manguezais - construções ilegais de casas e Poluição das águas e do mangue, depósito irregular de lixo e pisoteio
visitas aos mangues, com pisoteio e banhos excessivo. Por ser importante área de reprodução e berçário de
de lama espécies aquáticas, traz enormes prejuízos à fauna e flora locais.
Dunas e praias - coleta da areia, construções Problemas de erosão, especialmente nas dunas fixas, perda da
e aterros irregulares, saneamento inadequa- beleza cênica, poluição das águas e acúmulo de lixo nas dunas.
do, depósito de lixo, bugues em dunas fixas
Recifes de corais – pisoteio excessivo e Os recifes demoram milhares de anos para se formar e são habitat
depósito de lixo natural de várias espécies. O pisoteio excessivo e o depósito de lixo
causam prejuízos por vezes irreversíveis aos recifes. Em Porto de
Galinhas (PE) e na Costa do Descobrimento (BA), algumas medidas
foram tomadas para regular a visitação.
Cachoeiras, lagos, lagoas e rios - depósitos Acúmulo de lixo pela falta de coleta; construções irregulares
de lixo, poluição das águas despejando esgoto in natura nos rios, lagos e lagoas.
Cânions e rochas - pichação e depredação Pichação e depredação nas rochas milenares dos parques e nas
chapadas brasileiras.
Rios – pesca esportiva inadequada Diminuição da quantidade de peixes, chegando à ameaça de
extinção de alguns, prejuízo à pesca tradicional e à sobrevivência das
populações ribeirinhas.
Trilhas – poluição sonora, lixo, pisoteio Abertura de trilhas sem os devidos cuidados gera erosão e destruição
excessivo, erosão, incêndios, destruição da mata nativa. O uso excessivo traz prejuízos à fauna local, que
da mata nativa foge com a poluição sonora. Depósitos de lixo, inclusive de bitucas
de cigarro, podem gerar incêndios na mata.
Dessa forma, é possível perceber que os recursos naturais são parte importantíssima no alcance do turismo
sustentável. Os impactos provenientes de um turismo “predatório”, sem a conscientização dos turistas e da
comunidade, podem ser muito ruins. Por outro lado, quando o turismo ocorre sob bases sustentáveis, pode
melhorar em muito a qualidade ambiental e de vida da população local.
1) Em sua opinião e com base nos conceitos apreendidos, por que a preservação do meio ambiente é impor-
tante para a sociedade e para o turismo?
2) Procure descobrir qual é o destino do lixo e do esgoto de sua cidade e se há programas de reciclagem ou
tratamento dos efluentes. Em sua opinião, o lixo e o esgoto são um problema para o local?
3) Pense nos atrativos naturais de seu município e na forma como são utilizados pela comunidade e pelos
turistas. Você consegue identificar alguns dos impactos ambientais relatados no texto? Quais?
4) Visita monitorada pelo professor a pontos da cidade para exemplificar alguns dos impactos socioambientais
retratados no texto, fazendo um diagnóstico situacional (identificação dos principais pontos positivos e
negativos em relação ao desenvolvimento do turismo quanto ao meio ambiente). Caso não identifiquem
muitos impactos, discutam o que poderia ser feito para que os recursos continuem preservados.
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Ética, Meio Ambiente e Cidadania para o Turismo
Texto complementar e atividades
Texto retirado de Dias (2002), p. 118, e adaptado da Folha de S. Paulo, Caderno de Turismo, de 12 de março de
2001, sob o título “Ponta Grossa quer Turismo Light”. Leia atentamente o texto “Turismo controlado em
pequena localidade” e perceba a importância do envolvimento da comunidade na questão do desenvolvimento
turístico. Discuta em classe quais foram as ações da comunidade para minimizar os impactos socioculturais,
econômicos e ambientais em sua vila.
Turismo controlado em pequena localidade
Ainda não é coisa do passado aquela aldeia de pescadores quase imaculada dos vícios da sociedade
moderna e que parece existir apenas nas novelas.
A cerca de 190 km de Fortaleza, a praia de Ponta Grossa, no município de Icapuí, mantém intacta
sua beleza de falésias e rochas cor-de-fogo e ainda conserva uma população ingênua e ao mesmo
tempo preocupada com a manutenção de sua identidade.
Os moradores afirmam categoricamente que não querem seguir o exemplo da vizinha Canoa
Quebrada, que sucumbiu ao turismo de massa e aos vícios da sociedade moderna, com sua música
altíssima, seu trânsito incessante de bugues e caminhões, sua ocupação desordenada: “Os morado-
res de Canoa venderam a preço de banana suas terras aos gringos. A gente não cai nessa, não”,
comenta um habitante de Ponta Grossa. Ele se refere aos estrangeiros que um dia se apaixonaram por
Canoa Quebrada e ali construíram pousadas, restaurantes e bares, “empurrando” os moradores para
áreas afastadas da praia.
Com os prós e os contras que o turismo pode trazer a Ponta Grossa, a população, de cerca de 180
habitantes, tem alguns cuidados para manter seus direitos e a natureza protegida. Segundo a prefei-
tura de Icapuí, a comunidade tem um pacto que não permite a venda de suas terras a pessoas
estranhas ao povoado.
Também segundo a prefeitura, outros três pontos resguardam a região: 70% da área pertence a
uma APA (Área de Proteção Ambiental), o local tem um projeto de desenvolvimento sustentável e há
um conselho de turismo no município, com representantes de todas as praias que abrangem os 67 km
de seu litoral. Esse conselho discute os projetos relativos ao turismo e tem o poder de barrar propostas
de empresários interessados em construir “megaresorts” e parques em Ponta Grossa.
Outro detalhe é que no povoado só é permitida a existência de pousadas domiciliares. Tanto que
ali só há um meio de hospedagem, com três quartos. Os bugues que visitam o povoado, vindos de
outros lugares, são obrigados pela comunidade a abaixarem o som ao chegarem ali. Os veículos
também são proibidos de subir nas dunas próximas a Ponta Grossa, atualmente delimitadas por uma
cerca de arame farpado. Para saber mais sobre este assunto, consulte: www.brasilcidadao.org.br/
noticias/index.asp.
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Nesse tema, entenderemos o conceito de desenvolvimento sustentável. Também abordaremos brevemente o
modo como o turismo pode ser desenvolvido de forma mais sustentável, a partir do entendimento do papel do
Estado e da sociedade civil nesse processo.
Desenvolvimento sustentável ____________________________________________
O termo desenvolvimento sustentável surge a partir das discussões mundiais sobre o mau uso dos recursos
naturais. Crescem, ao longo dos anos 1970 e 1980, os movimentos ambientalistas, a consciência da necessidade
de preservar o meio ambiente e a importância do bem-estar social. A noção de desenvolvimento passa a estar
muito relacionada à sustentabilidade: só há desenvolvimento se houver uma melhora efetiva da qualidade de vida
do homem.
COMO PODERÍAMOS DEFINIR SUSTENTABILIDADE?
De forma simples, poderíamos dizer que se trata dos produtores e consumidores utilizando os recur-
sos sem prejuízos aos demais seres humanos, no presente e para as próximas gerações. Isso significa
adotar uma visão de longo prazo e usar de maneira racional e responsável os recursos disponíveis,
sejam eles humanos ou ambientais.
Não percebemos que, no simples ato de jogar um papel de bala pela janela de um ônibus ou uma bituca de
cigarro na praia, estamos ferindo o princípio da sustentabilidade, pois estes atos estarão prejudicando o próximo
a usar a rua ou a praia.
Para que a sustentabilidade aconteça, é preciso que o processo de desenvolvimento contemple as diversas
esferas da sociedade: a econômica, a ambiental, a social e a cultural.
A esfera econômica se refere à geração de empregos e renda para os trabalhadores. Isso significa que, em
nome do meio ambiente ou da preservação cultural, não podemos eliminar toda e qualquer atividade econômica,
pois as pessoas precisam trabalhar e ter renda para se sustentar.
A esfera ambiental parece muito clara no conceito de sustentabilidade, pois as empresas precisam considerar
o custo social que geram ao degradar o meio ambiente. Se uma grande indústria de aço polui um rio, às margens
do qual está instalada, prejudicará o abastecimento de água de todas as cidades adjacentes, bem como os
pescadores que vivem do que extraem do rio. Há um enorme custo social causado pela poluição, pois, para
despoluir e reconstituir a flora e fauna locais, é preciso muito dinheiro, tempo e, às vezes, os efeitos podem ser
irreversíveis.
As esferas sociais e culturais dizem respeito à própria qualidade de vida da sociedade e aos hábitos e costumes
tradicionais. Construir um grande resort em uma praia, expulsando a comunidade local da beira-mar, gera
grandes impactos sociais e culturais, pois ela perderá seu sustento e seu modo de vida tradicional. Porém, se o
empreendimento se preocupar em manter a vila de pescadores em seu estado original, comprando deles os peixes
para servir aos seus hóspedes e mantendo-os em suas ocupações tradicionais, já estamos falando de incluir
nestas esferas a noção de sustentabilidade.
Portanto, em face de todos os impactos gerados pelo turismo, poderíamos definir o turismo sustentável como:
TURISMO SUSTENTÁVEL
Aquele que é desenvolvido e mantido em uma área (comunidade, ambiente) de maneira e em uma
escala que se mantenha viável pelo maior tempo possível, não degradando ou alterando o meio
ambiente (natural ou cultural), não interferindo no desenvolvimento de outras atividades e processos,
não degradando a qualidade de vida da população envolvida, mas, pelo contrário, servindo de base
para uma diversificação da economia local. (Wall, 1997 apud Kinker, 2002).
TEMA 3
O DESAFIO DA SUSTENTABILIDADE
O DESAFIO DA SUSTENTABILIDADE
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Ética, Meio Ambiente e Cidadania para o Turismo
Portanto, o turismo sustentável pode ser aplicado a qualquer tipo de turismo; é um desafio a ser perseguido
por todas as comunidades e destinos turísticos. É importante fazer esta distinção, pois muitos confundem este
tipo de turismo com aqueles desenvolvidos no meio ambiente natural, como o ecoturismo.
O turismo no meio ambiente natural é praticado há muitas décadas e seu único pré-requisito é ocorrer no
meio ambiente natural, sem englobar aspectos de preservação ou sustentabilidade. Já o ecoturismo, em suas
definições mais recentes, apresenta três fatores importantes: conservação do ambiente visitado, seja ele natural
ou cultural; conscientização ambiental do turista e da comunidade receptora e o desenvolvimento local e regional
integrado. Portanto, no ecoturismo, incorporam-se, efetivamente, os princípios do desenvolvimento sustentável
e o aspecto educacional.
TURISMO SUSTENTÁVEL
ECOTURISMO
Turismo sustentável tem como princípio a preservação dos recursos e pode ser desenvolvido na
cidade, no campo, em qualquer lugar e é válido para todos os tipos de turismo, Ecoturismo é aquele
que acontece somente no meio ambiente natural.
Entretanto, infelizmente, a prática do ecoturismo no Brasil, em muitos municípios, é hoje uma grande causa-
dora de impactos sócioambientais porque o esporte vem sendo praticado em grande escala, com muitos visitan-
tes e sem a preocupação de beneficiar as comunidades locais. Além disso, os atrativos estão sendo degradados.
Muitos municípios têm tentado construir um ecoturismo mais sustentável. Em Fernando de Noronha (PE), por
exemplo, há restrições para o número de visitantes dos atrativos. Outros destinos, como Bonito (MS), também
procuram estabelecer regras para a preservação, embora sofram com a grande quantidade de turistas que os
visitam.
A sustentabilidade se apresenta, dessa forma, como um desafio tanto para as autoridades como para a
iniciativa privada e, principalmente, para a comunidade que, normalmente, é a mais prejudicada. Esse desafio se
torna ainda mais marcante quando consideramos a dinâmica da atividade e a dificuldade em responder a tempo
às demandas do crescimento econômico por parte dos órgãos públicos.
1) Por que é importante praticar o turismo sustentável?
2) Procure debater com seus colegas de classe o que seria o turismo sustentável na sua cidade. O que pode ser
melhorado?
3) A partir do diagnóstico situacional socioeconômico, cultural e ambiental realizado nas atividades anteriores,
tente estabelecer, em um debate em classe, um ideal para o turismo sustentável no município, estipulando o
que se deve buscar e evitar no desenvolvimento da atividade. Identificar também como as empresas e os
trabalhadores do setor se comportam e o que pensam sobre o turismo sustentável.
O planejamento turístico como ferramenta para a sustentabilidade __________
Quando pensamos na palavra planejamento, o que nos vem à cabeça? O planejamento está ligado às tarefas
mais básicas que realizamos no nosso cotidiano. Quando sabemos que, no dia seguinte, teremos que ir à escola,
almoçar, ajudar nosso pai a consertar o chuveiro de casa, terminar um trabalho do colégio, naturalmente nos
planejamos para conseguir realizar todas essas tarefas.
O ato de planejar requer que estabeleçamos uma meta e tracemos um caminho para atingi-la. Não só as
pessoas, mas também as empresas e os governos precisam se planejar.
O mesmo acontece com o desenvolvimento do turismo em uma cidade ou país. O planejamento é uma
ferramenta que possuímos para estabelecer o que queremos conquistar com a atividade turística e traçarmos
ações, prazos e planos para atingir os resultados. Mas ele deve ser desenvolvido e implantado sob o comando da
esfera pública, em a colaboração com a comunidade local e a iniciativa privada. Isso porque somente o poder
público pode estabelecer leis e regras que se apliquem a todos.
O Estado tem alguns deveres no turismo, dentre os quais estabelecer e zelar pelas regras, normais e leis
estabelecidas junto à infra-estrutura turística; garantir a proteção e conservação do patrimônio ambiental e
cultural; garantir o bem-estar e benefícios à comunidade receptora e criar condições para que os serviços e
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equipamentos turísticos tenham a qualidade desejada pelo turista (RUSCHMANN, 1997). E a maneira pela qual os
governos garantem tais condições é pelo planejamento, estabelecendo metas, objetivos, prioridades e ações por
meio da elaboração de planos e também de políticas públicas, que podem ser definidas como todas as decisões
e ações que os governos empreendem para o setor.
No Brasil, por termos três níveis de governo – federal, estadual e municipal – temos também três níveis de
planejamento turístico, um para cada esfera. Além desses, também é possível desenvolver o planejamento regio-
nal, criando os chamados “pólos turísticos”, que envolvem vários municípios.
No nível nacional, elabora-se o Plano ou Política Nacional de Turismo, contendo todas as metas e áreas em que
o governo estará atuando. Nos níveis estadual e municipal, o principal instrumento de planejamento é o Plano de
Desenvolvimento ou Plano Diretor de Turismo. Mas é especificamente no nível municipal ou local que os efeitos
do desenvolvimento turístico se fazem sentir com mais força. Por isso, o Estatuto da Cidade, elaborado recente-
mente, determina que os municípios turísticos acima de 20 mil habitantes sejam obrigados a desenvolver seu
Plano Diretor de Turismo, de maneira a minimizar os efeitos negativos da atividade e potencializar seus benefícios.
Assim, o planejamento turístico é de fundamental importância para estabelecer as bases do desenvolvimento
turístico no destino. É graças ao Plano Diretor do Turismo que se estabelecem as políticas públicas para o setor. As
diretrizes definidas procuram combater e evitar todos os impactos estudados anteriormente. É a partir dele que
devem se originar todos os programas e leis que ajuda a amenizar os efeitos negativos e potencializar os efeitos
positivos do turismo.
São exemplos de normas para amenizar os efeitos negativos do turismo:
Limitar o tamanho das construções à beira-mar e estabelecer normas para evitar a especulação imobiliária,
como a limitação da venda de terrenos a pessoas de fora da cidade;
Limitar e ordenar o uso dos atrativos turísticos, estabelecendo o número máximo de visitantes por dia;
Ações de melhoria da infra-estrutura urbana, como sinalização turística, ampliação das vias que dão acesso aos
atrativos e à circulação nos centros comerciais, limites para a circulação de carros em determinadas ruas, etc.;
Padronização arquitetônica das construções, especialmente em centros históricos.
Para incentivar o crescimento do turismo, o governo pode fornecer incentivos fiscais aos novos empreendi-
mentos, bem como oferecer programas de qualificação de mão-de-obra, conscientização turística e ambiental.
Entretanto, ainda são poucos os municípios brasileiros que dispõem de um Plano Diretor de Turismo e muitas
cidades encontram dificuldades na sua implantação, por falta de recursos ou equipe qualificada.
É importante mencionar que o planejamento municipal deve contemplar não só o seu território, mas também
o entorno. Pode-se tomar como exemplo o caso da região amazônica, que abrange vários estados e diversas
cidades.
Com o passar dos anos, especialmente no Brasil, tem-se identificado ser de suma importância que as orga-
nizações não-governamentais, os líderes comunitários, as diversas associações de classe e bairro, a sociedade civil
de maneira geral e a iniciativa privada discutam propostas que sejam benéficas para todos e ajudem no processo
de planejamento.
Portanto, para o desenvolvimento do turismo sustentável, é preciso que haja a formação de diversos tipos de
parceria: entre as organizações direta e indiretamente envolvidas na organização da atividade; entre estas e as
demais organizações atuantes no local; entre iniciativa privada, governo e sociedade civil.
O Plano Diretor do Turismo é um dos principais instrumentos para criar um turismo sustentável.
Todos os municípios que desejam desenvolver o turismo devem elaborá-lo e implantá-lo com a ajuda
da comunidade, organizações não-governamentais e iniciativa privada.
1) O que você acha da participação comunitária no processo de planejamento? Faça alguns comentários.
2) Se existir algum espaço público de debates sobre a atividade turística em sua cidade, sobre aspectos da
preservação ambiental e cultural, vá a uma das reuniões e veja como se desenvolvem as discussões e o processo
de construção de consensos. Faça um relatório e apresente à classe suas principais conclusões sobre o processo
participativo que vivenciou.
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Ética, Meio Ambiente e Cidadania para o Turismo
Mecanismos para a sustentabilidade ______________________________________
A própria noção de sustentabilidade envolve uma amplitude difícil de dar conta. Sabe-se que o turismo
sustentável deve incluir as lógicas econômica, ambiental, social e cultural. Sabe-se também que, para ser implan-
tado o princípio de sustentabilidade, todos devem se unir e agir de forma cooperativa. De nada adianta a
prefeitura implantar um programa para despoluir os rios que cortam o município, se a população continuar
jogando lixo.
Assim, um turismo sustentável só se constrói a partir de uma ampla perspectiva participativa. Algumas ações
partirão da própria comunidade, como a organização de cooperativas para a produção de artesanato; outras da
iniciativa privada, como o programa de certificação de empreendimentos ecologicamente corretos e muitas
partirão da prefeitura, como visto no item anterior.
A prefeitura de Blumenau (SC), por exemplo, criou um extenso programa de preservação ambiental: quase
11% do município foi transformado em áreas de conservação. Aliaram-se a ele atividades de pesquisa e uma
política de lazer urbano para a população local. E ainda, toda a rede municipal de ensino passou a estudar a
disciplina de Educação Ambiental.
Para a sustentabilidade, todos devem ceder um pouco e ganhar menos no presente para um maior
ganho coletivo no futuro.
Podemos enumerar algumas soluções que têm sido adotadas para o desenvolvimento sustentável:
Parcerias: a iniciativa privada ajuda na preservação do meio ambiente, denunciando casos de desmatamento,
tráfico de espécies selvagens e caça ilegal, enquanto as autoridades públicas procuram agir rapidamente e
coibir essas ações. Ao mesmo tempo, os empreendimentos têm procurado beneficiar comunidades rurais
ou isoladas da cidade, provendo educação e saúde, serviços que seriam de atribuição das prefeituras. Essas
parcerias fazem com que o meio ambiente seja preservado e as comunidades, beneficiadas.
Envolvimento da comunidade: em municípios onde a comunidade se une ao poder público para gerir os
impactos da atividade turística, os efeitos rapidamente se fazem sentir. Alguns agentes comunitários
servem como importantes elos em programas de combate ao uso de drogas, à exploração sexual e ao
aumento da criminalidade. Além disso, alguns programas da prefeitura, como os de qualificação profissio-
nal e combate ao desemprego, podem melhorar muito com a contribuição da comunidade, pois ela
conhece a realidade melhor do que ninguém.
Educação ambiental e de conscientização para o turismo: a educação ambiental é muito importante
para turistas, residentes, jovens e crianças. Um maior grau de conscientização da comunidade e dos empre-
sários locais evita uma série de práticas já mencionadas – desmatamentos, depósito de lixo, importação de
produtos e mão-de-obra, etc. Da mesma forma, campanhas de conscientização para turistas são muito
comuns nas praias, nos parques nacionais e nos municípios ecoturísticos. A distribuição de saquinhos de
lixo, folhetos e a conversa com monitores são práticas que têm retorno.
Todos juntos no controle do meio ambiente: a parceria entre a comunidade, prefeitura e iniciativa
privada é muito importante no controle ao desmatamento, à caça e à destruição do meio ambiente. É
importante trabalhar coletivamente e criar um sistema de informações para conseguir identificar as ações
predatórias.
Novas formas para a produção dos serviços turísticos: a estruturação de redes de pequenos produtores,
muito comuns no turismo rural, e o estabelecimento de cooperativas agrícolas, de artesanato, manufaturas
e mão-de-obra é muito eficaz no combate ao desemprego e à desigualdade de renda. Criam-se vínculos e
compromissos efetivos com o desenvolvimento local, e a renda gerada permanece na própria cidade e vai
direto para o trabalhador.
Provavelmente, neste exato momento, novas idéias, parcerias e projetos estão acontecendo para
viabilizar um turismo melhor para todos. Entretanto, educar e ser educado para o turismo é uma
importante ferramenta para a conquista de novos horizontes, enxergar mais longe e ir além do
esperado. Portanto, o lema é: estudar e juntar as mãos para construir um futuro melhor!
Ética Aluno.p65 26/3/2007, 14:0639
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1) Comente e dê a sua opinião sobre algumas das soluções para o turismo sustentável.
2) Desenvolva a mesma atividade sobre o texto a seguir, levando em conta que algumas das soluções para o
turismo sustentável envolvem a educação ambiental.
Texto Complementar
Eco-vídeo Biblioteca leva Educação Ambiental a mais de 150 mil estudantes
Criado em agosto de 2003, o Projeto Eco-Vídeo Biblioteca nasceu para levar informações e desen-
volver ações voltadas para a conscientização e a educação ambiental dos goianos, principalmente de
crianças e adolescentes matriculados em escolas públicas e privadas da capital e do interior. Pouco
mais de um ano após seu lançamento, o projeto já chegou a cerca de 25 municípios e atendeu a
aproximadamente 150 mil pessoas.
Na Eco-Vídeo Biblioteca, o público tem acesso a um acervo de 450 livros e várias fitas de vídeo
sobre meio ambiente. A partir das próximas edições do projeto, os visitantes também terão acesso a
cartilhas sobre direitos do consumidor, Código de Posturas de seus municípios e um resumo da
legislação ambiental, incluindo as leis florestais, de pesca e de crimes ambientais. Com esse reforço,
segundo o presidente da Agência Ambiental, o órgão pretende contribuir para a formação não
apenas de defensores do meio ambiente, mas de cidadãos cientes de seus direitos.
A Eco-Vídeo Biblioteca adota uma metodologia dinâmica, que procura não só repassar informa-
ções à comunidade, mas envolvê-la nesse processo de aprendizagem e de conscientização. Um dos
instrumentos usados é a instalação da Eco-Vídeo Biblioteca em um circo, onde não faltam brincadei-
ras com a participação de palhaços, malabaristas e outros artistas circenses. O trabalho de educação
ambiental continua após o encerramento da edição do projeto no município. É que antes de deixar
cada cidade, a Agência Ambiental repassa às prefeituras e escolas, kits com livros e fitas de vídeo. O
objetivo é fomentar a instalação de bibliotecas ecológicas nos municípios atendidos e garantir a
seqüência do trabalho de educação ambiental.
Texto adaptado de www.agenciaambiental.go.gov.br, em 2004.
Ética Aluno.p65 26/3/2007, 14:0640
Autor: Wellington Tibério
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TEMA 1
RECURSOS NATURAIS
RECURSOS NATURAIS
O que são recursos naturais? _____________________________________________
A palavra “recurso” pode ser encontrada nos dicionários com os seguintes significados: o meio que permite
conseguir o que se pretende; ao que se recorre em caso de necessidade; o meio adequado para se chegar a um
determinado fim; ou bens, riquezas ou outras coisas que se podem utilizar para fazer algo.
Já para os “recursos naturais”, podemos encontrar diversas definições:
“São aquelas riquezas que se encontram em estado natural para serem utilizadas em benefício da humanidade”.
10
“São os bens da natureza sobre os quais exercemos uma influência direta, já que os utilizamos no nosso dia-
a-dia. São os bens que nos servem por toda a nossa vida como fonte de nosso sustento, como recursos para a
vida. São a herança que a Terra nos confiou...”.
11
Apesar de algumas variações, a idéia da utilização humana é a base de todas as definições do que são os
recursos naturais. Portanto, por recursos naturais se entende tudo aquilo que existe na natureza e que o ser
humano utiliza tanto para sua subsistência quanto para o seu bem-estar. Assim, o ar, a água, o solo, a energia
solar, a vegetação, os minerais, a fauna, entre muitos outros bens da natureza, são recursos naturais, por propor-
cionarem aos seres humanos tudo o que precisam para a satisfação de suas necessidades, sejam básicas sejam até
mesmo supérfluas.
“A queda da qualidade de vida nas grandes cidades, provocada pela superpopulação, poluição sonora, visual,
do ar e das águas, congestionamentos e violência, além das pressões e da rotina do cotidiano, estressam os
citadinos de tal forma que, nas férias e nos feriados, buscam o descanso no contato com o verde e a natureza,
geralmente longe dos centros urbanos. Essa necessidade torna-se cada vez maior, e o aumento do número de
pessoas que viajam em ‘busca do verde’ faz com que, ironicamente, passem a agredir e deteriorar ambientes
alheios”.
8
Essa contraditória situação além de constituir mais uma forma de destruição do meio ambiente natural, já
agredido de várias outras maneiras, tende a inviabilizar a prática do turismo em determinadas áreas, que fica com
a sua força atrativa comprometida. Para reverter essa situação é necessária uma crescente preocupação com a
qualidade dos recursos naturais, tanto pelos profissionais do turismo quanto pelos próprios turistas e comunida-
des receptoras.
Já em 1977, Jost Krippendorf alertava para os riscos do turismo em ambientes naturais, denominando os
turistas de ‘devoradores de paisagens’ que, através da massificação da atividade, destroem as bases da sua razão
de ser – o convívio com a natureza”.
9
Diante dessa situação, é necessário promover a compreensão de que o meio ambiente constitui-se na “maté-
ria-prima” do turismo e que, portanto, a atratividade de uma destinação está diretamente ligada à qualidade
desse meio ambiente.
8
RUSCHMANN, Doris. Turismo sustentado para preservação do patrimônio ambiental, in: Turismo em Análise. São Paulo,
v.3, n.1, p.42-50, maio. 1992, p. 42.
9
Idem, p. 43.
10
ROA, Jesus Gutiérrez. Recursos naturales y turismo. México: Limusa, 1986, p. 1
11
Idem, p. 12.
INTRODUÇÃO
CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS
NATURAIS E TURISMO
CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS
NATURAIS E TURISMO
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Ética, Meio Ambiente e Cidadania para o Turismo
Um dos usos fundamentais dos recursos naturais é a produção de abrigos. Imagine o volume de recursos
naturais empregados na produção de uma cidade. São pontes, ruas, avenidas, calçadas, casas, prédios, escolas e
indústrias, para citar alguns exemplos de construções humanas que usam água, cimento, brita, ferro, vidro,
madeira, entre uma grande quantidade de outros materiais extraídos da natureza.
12
Os recursos naturais também são utilizados, por exemplo, na produção de tecidos, como a seda, o linho, o
algodão e até mesmo tecidos sintéticos como o náilon e o poliéster, fabricados a partir de derivados do petróleo.
A sociedade em que vivemos alcançou, principalmente a partir da revolução industrial, uma enorme capacida-
de de transformação da natureza em bens utilizáveis pelos seres humanos.
A evolução do conhecimento tecnológico transforma o uso dos recursos naturais. Durante séculos,
algo existente na natureza pode não ser aproveitado pelos seres humanos; porém, a partir de uma
certa invenção, pode passar a ter enorme importância para o funcionamento das atividades econômicas.
Um exemplo foi o petróleo: até o surgimento do motor a combustão interna, no final do século
XIX, o petróleo era utilizado para outros fins; alguns povos indígenas utilizavam-no para ornamentar
a face em festividades ou na guerra. Atualmente, é um dos mais importantes recursos naturais,
gerando cobiça e disputa em escala internacional. Casos como esse mostram que um recurso natural
é sempre definido pela capacidade técnica dos seres humanos em explorá-lo.
13
Plataforma de exploração de petróleo em águas profundas
Se prestarmos bem atenção, os recursos naturais estão presentes em tudo o que nos rodeia, fazem parte do
nosso dia-a-dia, da alimentação ao transporte, da lâmpada à energia que a acende. Bens como automóvel,
televisão, geladeira, bicicleta, computador, livro, avião, mesa, sofá, entre outros, são produzidos por meio da
transformação de elementos encontrados na natureza como minério de ferro, bauxita (a partir do qual se produz
o alumínio), zinco, cobre, entre outros minérios, bem como látex (extraído da seringueira para a produção de
borracha), celulose (extraída de madeira para produção de papel), diversos vegetais, madeira, etc.
Toda a energia que utilizamos também deriva dos recursos naturais pela apropriação e transformação da
energia existente na natureza. O petróleo e o álcool para os transportes; a lenha e o gás para cozinhar e até
mesmo a energia elétrica, produzida a partir da força das águas (hidrelétricas); da queima de combustíveis fósseis
(termelétricas) e da fissão do urânio (nuclear) são os principais exemplos da apropriação de energia da natureza
realizada pelos seres humanos.
Matrizes energéticas mundiais (esquerda) e brasileiras (direita)
Fonte: Ciência Hoje/RJ, dezembro/2000
Fonte: Ciência Hoje/RJ, dezembro/2000
12
KRAJEWSKI, Ângela Corrêa; GUIMARÃES, Raul Borges; RIBEIRO, Wagner Costa. Geografia: pesquisa e ação. São Paulo:
Moderna, 2003.
13
Idem ref. 12.
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1) Divididos em pequenos grupos, fazer um levantamento dos recursos naturais presentes no local onde estão
tendo aula (prestar atenção aos objetos que estão à sua volta e tentar identificar a origem do material utilizado);
2) Montar um painel (desenho, colagem etc) relacionando os objetos identificados com os recursos naturais de origem;
3) Apresentar o levantamento realizado para os demais grupos.
(sugestão: fazer uma exposição dos painéis)
Recursos naturais renováveis e não-renováveis ____________________________
Como vimos, os recursos naturais constituem-se em uma grande quantidade de bens naturais apropriados
pelo ser humano para as mais diversas finalidades. Esses bens naturais, no entanto, podem ser divididos em dois
grandes grupos de acordo com o seu processo natural de reposição e, conseqüentemente, com a disponibilidade
desses recursos na natureza.
Recursos naturais não-renováveis
O grupo de recursos naturais não-renováveis é o que possui estoques fixos, o que significa não serem repostos
pela natureza ou cujos processos de reposição são extremamente lentos. Ao serem explorados pelos seres huma-
nos, não se renovam. Isso significa que, depois de um certo período de exploração, terão suas reservas esgotadas.
Essa é a característica, por exemplo, dos recursos minerais metálicos como cobre, ouro, estanho, chumbo, cromo,
prata, entre outros, e também dos recursos minerais de origem orgânica (fóssil) como o petróleo, o carvão, o xisto, etc.
Devido a essa característica, tais recursos mereceriam um certo cuidado na sua exploração, pois o seu esgota-
mento pode trazer graves conseqüências à sociedade moderna. Mas, infelizmente, não é isso o que vem aconte-
cendo, pois o modo de produção de mercadorias, em ritmo acelerado, impõe uma forma de exploração desses
recursos, identificada por muitos como predatória e irracional.
A situação pode vir a ser tão crítica, que alguns especialistas no assunto indicam a possibilidade da ocorrência
de conflitos armados para a obtenção de determinados recursos não-renováveis.
O petróleo foi a mais importante fonte de energia no mundo no século 20. Os cerca de 72 milhões
de barris produzidos diariamente respondem por 40,6% da demanda mundial de energia. Se acres-
centarmos a essa conta o gás natural (outro combustível de origem fóssil), a porcentagem ultrapassa
60%. No Brasil, o chamado ouro negro representa 34,2% da matriz energética.
Apesar dessa grande importância apontada pelos números, é bem possível que esteja próximo o
esgotamento desse recurso, anunciado para daqui a 40 anos.
Um provável substituto para o petróleo enquanto fonte de energia já vem sendo o gás natural,
porém esse recurso não o substitui em várias outras aplicações atuais. Apesar da previsão de esgota-
mento, o petróleo vem assumindo uma importância cada vez maior na vida das pessoas. Do lençol de
fibra sintética aos combustíveis, do plástico da escova de dente ao chiclete, ele se faz presente no dia-
a-dia em diversos momentos.
Fonte: Renata Ramalho, Ciência Hoje/RJ, dezembro/2000.
Recursos naturais renováveis
Outro grande grupo de recursos naturais é identificado por não possuir estoques fixos, o que significa que
podem ser repostos pelos processos naturais ou que o uso não interfere no seu processo de produção pela
natureza. Esse grupo é conhecido como o dos recursos naturais renováveis. Ao serem explorados pelo ser humano,
possuem a capacidade de serem renovados, significando que o seu uso adequado viabiliza a sua constante
reprodução.
Formado, por exemplo, pelos recursos provenientes da flora (recursos vegetais) e da fauna apropriada para uso
humano. Nesses dois casos, o uso pautado pelo respeito aos limites da natureza, como o não empobrecimento do
solo por meio do desmatamento ou da monocultura e o cuidado com os ciclos de reprodução dos animais, faz com
que os estoques de recursos não sejam esgotados, pois mantêm a capacidade de reposição pela própria natureza.
Uma forma de lidar com esses recursos de maneira sustentável é o que conhecemos como manejo, uma
estratégia de exploração de recursos naturais que permite a sua constante renovação e impede a sua destruição.
Atualmente, devido aos avanços da ciência na área da biotecnologia e da engenharia genética, abre-se um
novo e polêmico campo no que se refere aos recursos naturais renováveis como a fauna e a flora.
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Ética, Meio Ambiente e Cidadania para o Turismo
A manipulação genética de todo o tipo de vida pode trazer soluções para problemas a respeito da reposição da
base material para a produção de bens de que necessitamos, como alimentos e medicamentos. Porém, segundo
alguns especialistas, os organismos geneticamente modificados (transgênicos), ou seja, alterados pela incorporação
de genes de outras espécies, podem causar problemas à saúde humana, bem como a degradação de áreas naturais.
Transgênicos são organismos geneticamente modificados em processos laboratoriais, principal-
mente por meio da engenharia genética, onde se introduzem genes de outras formas de vida (fungos,
bactérias, vegetais) em determinada espécie animal, vegetal e outras, criando assim uma “nova espé-
cie” não encontrada na natureza. Não existe certeza científica quanto às conseqüências alimentares e
ambientais decorrentes da utilização dos transgênicos na agricultura, como produto de consumo, e
no meio ambiente, como espécie estranha à natureza.
Fonte: http://www.biopirataria.org/definicao_transgenicos.php
Além desses recursos naturais renováveis, delimitados pelos organismos vivos, também merecem destaque as
formas de produção de energia que utilizam a própria dinâmica da natureza como recurso, sendo assim conside-
radas renováveis.
Os elementos da natureza utilizados para a produção desse tipo de energia são: a luz solar, o vento, a água dos
rios, o calor do interior da Terra, a biomassa, o movimento das marés, entre outros.
A chamada “energia solar” consiste tanto em aproveitar diretamente o calor emitido pelo sol para aquecer
água, quanto para produzir energia elétrica por meio de placas fotovoltaicas.
A Terra recebe do Sol, por dia, mais energia que a necessária
para suprir a demanda de seus habitantes por um ano.
A energia eólica corresponde ao deslocamento de massas de ar conhecidas como vento, a qual pode ser
aproveitada para movimentar grandes cata-ventos (hélices) que, por sua vez, produzem energia elétrica.
Turbinas geradoras de energia eólica
O calor do interior da Terra é conhecido como energia geotérmica, a qual, em alguns locais, lança jatos de
vapor d’água para a superfície, o que também pode ser utilizado para a produção de energia elétrica.
O movimento das marés concentra grande energia decorrente do deslocamento de enorme volume d’água,
que pode ser utilizado para movimentar turbinas e assim também produzir energia elétrica.
Fonte: Ciência Hoje/RJ, março/2001
Fonte: Ciência Hoje/RJ, março/2001
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A biomassa também é considerada um recurso renovável, pois permite gerar energia de maneira contínua,
tanto na queima de combustíveis gerados por algum produto cultivado, como o álcool proveniente da cana-de-
açúcar, quanto na queima da própria biomassa para a produção de energia elétrica, como o bagaço da mesma
cana-de-açúcar.
A transformação de biomassa em energia é feita em usinas termelétricas:
O calor gerado por sua queima aquece um fluido e o vapor gerado move as turbinas.
A água, como recurso para produção de energia elétrica tem sua principal utilização no que conhecemos
como usinas hidrelétricas. Essas usinas, por meio da barragem do curso de um rio, produzem um desnível que é
aproveitado para fazer com que a queda d’água movimente as turbinas, gerando eletricidade.
Apesar dessas formas de produção de energia serem consideradas renováveis, algumas delas produzem
grandes impactos sócioambientais, como é o caso da hidrelétrica.
A Comissão Mundial de Represas estima que entre 40 e 80 milhões de pessoas tenham sido
desalojadas pela construção de barragens e que muitas mais foram afetadas sem que isso fosse
reconhecido. No Brasil, o número é de cerca de 2 milhões, segundo o Movimento dos Atingidos por
Barragens. Além disso, o mito da fonte limpa de energia tem sido questionado por estudos recentes,
que apontam algumas de suas desvantagens até então não consideradas: a emissão de gases poluentes,
devido à decomposição da matéria orgânica submersa, e a poluição da água.
1) Qual a diferença entre os recursos naturais renováveis e os não-renováveis?
2) A partir do trabalho feito no item anterior (levantamento dos recursos naturais presentes no local onde estão
tendo aula), classificá-los, identificado os renováveis e os não-renováveis. Acrescentar ao painel caso ele ainda
esteja exposto.
3) Ler e discutir (em dupla) o que o texto abaixo tem a ver com os recursos naturais. Qual a mensagem que o autor
quer passar?
“Nossos ancestrais consideravam a terra rica e generosa, o que ela é. Muitas pessoas (...) conside-
ravam a natureza inexaurível, o que hoje sabemos que só pode ser se cuidarmos dela. Não é difícil
perdoar a destruição do passado que resultou da ignorância. Hoje, porém, temos acesso a mais
informação e é essencial que reexaminemos eticamente o que herdamos, nossas responsabilidades e
nosso legado para as gerações vindouras. As maravilhas da ciência e da tecnologia são equivalentes,
se não superadas, a muitas tragédias atuais, inclusive a fome humana em muitas partes do mundo e
a extinção de outras formas de vida. A exploração do espaço acontece ao mesmo tempo em que os
oceanos e as nascentes da Terra ficam cada vez mais poluídos. Muitos habitats, plantas, animais,
insetos e microorganismos que consideramos raros podem nem ser conhecidos pelas futuras gera-
ções. Temos a capacidade e a responsabilidade. Devemos agir antes que seja tarde demais”.
Dalai-Lama do Tibete – líder espiritual da fé-budista. In PORRIT, Jonathon.
Salve a Terra. São Paulo: Globo/Círculo do Livro, 1991.
Fonte: Ciência Hoje/RJ, março/2001
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Ética, Meio Ambiente e Cidadania para o Turismo
4) Discutir com os colegas qual história está sendo contada por essa letra de música.
Sobradinho
Sá e Guarabira / Compositor desconhecido
O homem chega e já desfaz a natureza
Tira a gente e põe represa, diz que tudo vai mudar
O São Francisco lá pra cima da Bahia
Diz que dia menos dia vai subir bem devagar
E passo a passo vai cumprindo a profecia
Do beato que dizia que o sertão ia alagar
O sertão vai virar mar
Dá no coração
O medo que algum dia
O mar também vire sertão
Vai virar mar
Dá no coração
O medo que algum dia
O mar também vire sertão
Adeus remanso, casa nova, sento-sé
Adeus pilão arcado vem o rio te engolir
Debaixo d’água lá se vai a vida inteira
Por cima da cachoeira o gaiola vai subir
Vai ter barragem no salto do Sobradinho
E o povo vai se embora com medo de se afogar
O sertão vai virar mar
Dá no coração
O medo que algum dia
O mar também vire sertão
Vai virar mar
Dá no coração
O medo que algum dia
O mar também vire sertão.
Um recurso natural especial: a água _______________________________________
A água é um recurso natural que merece uma especial atenção pelo fato de
ser vital para todos os seres vivos e, contraditoriamente, ser muitas vezes utili-
zada de maneira irracional, promovendo um enorme desperdício.
Trata-se de um elemento renovável, porém a sua quantidade total no planeta
não aumenta por meio dos processos de reposição natural, ao mesmo tempo
que o seu consumo crescente e o descaso com que tratamos nossos reservatóri-
os tem poluído grande quantidade desse bem, o que o torna um recurso
renovável, porém finito.
A água, fundamental para a vida humana, é utilizada em abundância na
nossa sociedade. No entanto, por exemplo, quando nos ensaboamos com o
chuveiro ligado, um dos mais preciosos recursos naturais vai literalmente em-
bora pelo ralo.
Conforme dados publicados na revista Ciência Hoje, três quartos do chama-
do ‘planeta água’ são cobertos por esse líquido. Desse total, apenas 2,75%
corresponde a água doce, dos quais apenas 22% podem ser utilizados. Ou seja,
dos alardeados três quartos de água que compõem o planeta Terra, o homem
tem à sua disposição somente 0,6%. O que resta de água doce está congelada nas calotas polares, em neves eternas
ou se encontra em lugares inacessíveis. Já os números relativos ao Brasil mostram um panorama à primeira vista
bastante confortável: 15% dos tais 0,6% estão no país. Mas não pense que isso vá garantir seu banho de 20
minutos. Dos nossos 15%, quase três quartos se encontram na região Norte, onde a concentração populacional é
muito menor.
Fonte: Microsoft Office Online
Ética Aluno.p65 26/3/2007, 14:0647
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O problema da escassez desse recurso já é sentido por um grande número de pessoas em todo o mundo.
Estima-se que cerca de 1 bilhão de pessoas não tem acesso à água potável e que cerca de 1,5 bilhão está
submetido a algum tipo de racionamento. Até mesmo no Brasil, apesar da abundância desse recurso, algumas
cidades já vêm sofrendo com os racionamentos.
Situado entre o Uzbequistão e o Cazaquistão, o Mar de Aral era o quarto maior mar interior da
Terra, com 66,1 mil quilômetros quadrados. Suas águas eram renovadas e alimentadas pelos rios Amu
Daria e Sir Daria. O desvio da água desses dois rios para os projetos de irrigação das plantações de
algodão, realizados pelo então governo da União Soviética, consumiram e secaram 90% da água que
chegava ao Aral. O resultado foi desastroso: 27 mil km2 secaram e o que era fundo do mar transfor-
mou-se em deserto. A concentração de sal dobrou, 60% do volume de água se perdeu e a indústria
pesqueira, que empregava 60 mil pessoas, acabou. A maioria das espécies de peixes desapareceu e a
fauna que vivia em suas margens foi reduzida significativamente.
Fonte: Ecologia e Desenvolvimento – ano 9 – n° 76
FAO Water website - Crops and drops – Overuse and Misuse.
Um dos motivos dessa situação preocupante é a falta de consciência de que, embora esse recurso seja
renovável, ele não é inesgotável. O desperdício nas atividades industriais e agrícolas, o não tratamento dos
esgotos e o seu despejo desordenado, a contaminação dos reservatórios subterrâneos, o consumo excessivo e a
perda no fornecimento são apenas alguns dos fatores que fazem com que a ONU (Organização das Nações
Unidas) aponte para uma situação crítica já por volta de 2025, baseada em uma estimativa de que dois terços da
população mundial viverá em condições de escassez de água.
1) O que significa afirmar que a água é um recurso natural renovável, porém finito?
2) A idéia de viver sem água lembra filmes de ficção científica que prevêem um futuro terrível: terra seca, fome,
sede, conflitos para obter o recurso. No entanto, esse cenário já é uma realidade em diversas partes do mundo.
Escrever uma pequena redação sobre como será o futuro se não usarmos racionalmente a água.
3) Em pequenos grupos, fazer uma pesquisa sobre qual a origem da água utilizada em suas casas e, também, um
levantamento sobre situações de desperdício que podem identificar dentro de suas casas e na sua comunidade.
4) A partir desses dados e das informações do texto, elaborar, em conjunto com os demais grupos, uma campa-
nha de esclarecimento e conscientização sobre o uso racional da água.
Os recursos naturais no Brasil _____________________________________________
O primeiro documento oficial onde foram mencionados os recursos naturais dessas terras que vieram a se
chamar Brasil foi a carta de Pero Vaz de Caminha, escrita em 1500, ao rei de Portugal. A partir de então, com a
colonização portuguesa, teve início um intenso processo de apropriação dos seus recursos naturais (cabe lembrar
que o Brasil foi uma colônia de exploração), começando pela região litorânea com a extração do pau-brasil e, logo
após, com o cultivo da cana-de-açúcar.
Ao longo de quase cinco séculos de nossa História, assistimos a uma drás-
tica devastação florestal, tendo como conseqüência a redução de algumas
formações vegetais a pequenos fragmentos dispersos por várias regiões.
Em 500 anos de descobrimento, o Brasil perdeu 37% de três de seus
principais ecossistemas. Desde a chegada de Pedro Álvares Cabral, foram
destruídos 93% da Mata Atlântica, 50% do Cerrado e 15% da Amazô-
nia, num total de 2,75 milhões de km², o equivalente a mais de dez vezes
o tamanho do estado de São Paulo. O levantamento, feito pelo Fundo
Mundial para a Natureza, mostra que as práticas de devastação no país
continuam semelhantes às dos últimos séculos.
Jornal O Estado de São Paulo, 19 de abril de 2000. In: ALMEIDA, Lúcia Marina Alves;
RIGOLIN, Tércio Barbosa. Geografia, série Novo Ensino Médio, São Paulo: Ática, 2003).
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Apesar dessa apresentação alarmante, o território brasileiro ainda possui uma das maiores coberturas florestais
do mundo e, conseqüentemente, configura-se como um país rico em biodiversidade. Nesse sentido, merece desta-
que a pequena, porém riquíssima, faixa de Mata Atlântica que sobreviveu ao desmatamento intenso, o complexo
Pantanal Mato-grossense, bem como a famosa Amazônia brasileira e até mesmo áreas de cerrado e caatinga.
O Brasil também é um país rico em recursos minerais. Mesmo não sendo auto-suficiente em alguns importan-
tes recursos como o petróleo e o carvão mineral (recursos minerais não-metálicos), é um dos principais produtores
mundiais de ferro e manganês. Apesar de sofrer as conseqüências históricas da exploração desse tipo de recurso,
como o ouro das Minas Gerais, possui atualmente, importantes reservas minerais em exploração.
No que se refere aos recursos hídricos, principal via pela qual se deu a colonização e exploração do nosso
território, o Brasil é um país de destaque no mundo, tanto devido às águas superficiais, principalmente rios,
quanto às subterrâneas.
Entre outros grandes rios, destaca-se, no Brasil, o rio Amazonas, considerado o maior e mais caudaloso do mundo.
Pesquisadores brasileiros determinam a região onde fica a nascente do Amazonas; rio passa a ter cerca
de 7100km de extensão e fica mais longo que o Mississipi-Missouri (EUA) e Nilo (África). O rio, que já era
o maior do mundo em volume de água, passa a ter cerca de 7100km de extensão, a maior do mundo.
Fonte: Jornal Folha de S. Paulo, 30 de abril de 1995. In:
MOREIRA, Igor. O espaço Geográfico, São Paulo: Ática, 1999.
Quanto às águas subterrâneas, o Brasil possui, em seu território, a maior parte do importante reservatório
conhecido como Aqüífero Guarani, o qual se estende ainda aos territórios argentino, paraguaio e uruguaio.
Localização do Aqüífero Guarani
O Aqüífero Guarani é a principal reserva subterrânea de água doce da América do Sul e um dos
maiores sistemas aqüíferos do mundo, ocupando uma área total de 1,2 milhões de km
2
na Bacia do
Paraná e parte da Bacia do Chaco-Paraná. Estende-se pelo Brasil (840.000 km
2
), Uruguai (58.500 km
2
),
Paraguai (58.500 km
2
) e Argentina (255.000 km
2
), área equivalente aos territórios da Inglaterra,
França e Espanha, juntas. Sua maior ocorrência se dá em território brasileiro (2/3 da área total) abran-
gendo os estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e
Rio Grande do Sul.
Fonte: http://www.ambiente.sp.gov.br/aquifero/principal_aquifero.htm
Outra característica natural que se destaca no território brasileiro é a grande extensão do seu litoral. O Brasil
possui, aproximadamente, 5900 km de litoral banhado pelo Oceano Atlântico. Consideradas todas as irregulari-
dades, saliências e reentrâncias, chega a atingir cerca de 9200 km. Essa enorme extensão, somada ao clima
tropical, confere ao país um enorme potencial na exploração dessa área enquanto recurso.
No entanto, apesar dessas riquezas, ou talvez até mesmo devido à abundância de algumas delas, verifica-se
um histórico descaso do Brasil em relação ao ambiente natural visando a um uso sustentável dos recursos
naturais. Por conta da exuberância da natureza nessas terras, durante muito tempo, ela foi considerada como um
recurso inesgotável e, portanto, o seu uso predatório não era visto como um problema.
No presente, contudo, é importante destacar o dever, tanto da sociedade civil quanto dos poderes públicos, de
defender e preservar o patrimônio natural brasileiro, expresso na nossa Constituição Federal de 1988, em seu
artigo 255, da seguinte forma:
http://www.ambiente.sp.gov.br
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Art. 225 – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever
de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
Uma das maneiras de realização desse dever por parte do Poder Público é a delimitação de áreas identificadas
como de relevante interesse ecológico, sobre as quais se impõem regras específicas de uso e ocupação que visam
a sua preservação, conhecidas como Unidades de Conservação.
As Unidades de Conservação são partes do território nacional com características naturais de importante valor,
sobre as quais se aplicam garantias adequadas de proteção para a conservação da natureza, dos processos
ecológicos fundamentais e da biodiversidade. Essas UCs foram concebidas e criadas para proteger o patrimônio
natural e cultural do país.
O conceito de área protegida, ou Unidade de Conservação, surgiu em 1872, nos Estados Unidos,
com a criação do Parque Nacional de Yellowstone, o primeiro parque nacional num contexto de
valorização da manutenção de áreas naturais, ainda como “ilhas” de grande beleza e valor estético.
Esse conceito de áreas protegidas foi desenvolvido numa época de forte urbanização, para preservar
grandes espaços considerados pela cultura urbana como “vazios”.
No Brasil, a primeira área protegida na forma de parque surgiu somente em 1937: o Parque
Nacional de Itatiaia (Rio de Janeiro). O parque foi criado para que essa área mantivesse perpetuamente
seu aspecto primitivo e atendesse a necessidades de ordem científica. Os primeiros parques nacionais
brasileiros foram, dessa maneira, conceituados a partir da idéia da criação de monumentos públicos
naturais ou de territórios que, por sua singularidade, tivessem valor científico e estético.
Fonte: Atlas das Unidades de Conservação do Estado de São Paulo, SMA, 1998.
Foi um longo caminho, desde os anos 30, com as preocupações ambientais mais voltadas para o lado estético e
histórico, até a década de 90, quando as atenções se voltam, inclusive no Brasil, para as relações das UCs com as
sociedades nas quais estão inseridas. Busca-se, a partir de então, entender e praticar o conceito de desenvolvimento
sustentável, que envolve o equilíbrio na utilização das espécies e ecossistemas de uma região, de modo a trazer
benefícios econômicos à população sem extinção de espécies da fauna e flora nem degradação ambiental. Por meio
da Convenção Internacional sobre a Diversidade Biológica, são reconhecidas a importância do conhecimento tradi-
cional e a responsabilidade das comunidades locais na conservação das riquezas genéticas existentes no país.
1) Quais os principais recursos naturais do Brasil?
2) Qual ecossistema sofreu a maior destruição ao longo dos 500 anos de História do Brasil?
( ) Amazônia
( ) Cerrado
( ) Caatinga
( ) Mata Atlântica
3) Qual a importância das Unidades de Conservação?
4) Fazer uma redação, procurando responder a pergunta: Por que devemos defender e preservar os ambientes
naturais para as gerações futuras?
5) Em grupo, escolher um entre os recursos naturais – minerais, vegetais e hídricos – e elaborar um mapa do Brasil
com a localização desses recursos. Em seguida, apresentar para os demais o resultado do seu trabalho.
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Módulo III
IIIIII
IIIIII
III
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Ética, Meio Ambiente e Cidadania para o Turismo
A natureza enquanto recurso natural turístico _____________________________
É importante destacar que, entre o rol de necessidades humanas, podemos identificar como fundamentais na
modernidade, as ligadas à recreação e à satisfação do sentido estético. Dessa forma, uma grande quantidade de
recursos naturais são valorizados enquanto atrativos que cumprem a função de satisfazer essas necessidades,
constituindo o que pode ser considerado como recursos naturais turísticos.
Com o passar dos anos, houve significativas mudanças no campo do turismo, basicamente devido aos avanços
tecnológicos que proporcionaram meios de transporte mais rápidos e confortáveis e, também, às mudanças no mundo
do trabalho, com um significativo aumento de tempo livre. Essas mudanças, somadas às dificuldades da vida urbana,
promoveram uma demanda crescente de turistas por áreas naturais, em busca de maior contato com a natureza.
Destaca-se, nessa busca de contato com a natureza, a paisagem como recurso natural, pois o turismo atual,
fortemente influenciado pelas imagens veiculadas pelos meios de comunicação, tende a privilegiar o meio ambiente
natural na difusão das destinações e produtos turísticos. O ecoturismo, por exemplo, tem como atração predo-
minante os elementos paisagísticos, enquanto um recurso natural turístico.
Cabe destacar que a existência e sobrevivência da atividade turística dependem, em grande medida, da
preservação dos recursos naturais. Isso é evidente nos casos em que a principal atração turística é a natureza, mas
também é verdadeiro em outros casos, pois os recursos naturais constituem-se na base que garante a qualidade
da passagem de quem visita e da permanência de quem recebe.
1) Quais as relações entre recursos naturais e turismo?
2) Em pequenos grupos, fazer um levantamento do potencial turístico dos recursos naturais da região onde
vivem (recursos naturais turísticos) e elaborar formas de divulgação e promoção desses recursos de modo a
despertar o interesse em visitá-los. Apresentar para os demais grupos.
A destruição ambiental no turismo ________________________________________
As diversas atividades econômicas que visam à satisfação de necessidades cada vez mais crescentes e variadas
têm levado o ser humano a transformar irracionalmente o meio ambiente e, especialmente, os recursos naturais.
Determinadas ações dos seres humanos nos ambientes privilegiadamente naturais têm provocado a perda da
qualidade dos recursos naturais em muitos ecossistemas. A
alteração, degradação, deterioração ou contaminação do meio
ambiente podem constituir impactos muitas vezes irreversíveis.
Entre as formas mais freqüentes de impacto ambiental,
podemos citar a contaminação das águas por resíduos do-
mésticos (esgotos) ou industriais, poluição do ar pela queima
de combustíveis fósseis, uso de agrotóxicos de forma inade-
quada, despejo de resíduos sólidos (lixo) em áreas não propí-
cias, o desmatamento e captura de animais, etc. Os exemplos
citados são resultado do mau uso dos recursos naturais, so-
bre o qual nenhuma atividade econômica pode manifestar-se
carente de responsabilidade.
O turismo, no entanto, não pode ser responsabilizado por toda a carga de impactos ambientais. Porém, em
virtude da velocidade e da intensidade da atividade, sua repercussão não é desprezível e, por isso, é necessário um
atencioso acompanhamento. Uma prática que vem sendo considerada um dos maiores agressores dos espaços
naturais de interesse turístico é o chamado turismo de massa.
TEMA 2
RECURSOS NATURAIS E TURISMO
RECURSOS NATURAIS E TURISMO
Fonte: Microsoft Office Online
Ética Aluno.p65 26/3/2007, 14:0651
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O turismo de massa é caracterizado pelo grande volume de pessoas que viajam em grupo ou
individualmente para os mesmos lugares e, geralmente, nas mesmas épocas do ano. O excesso de
turistas conduz ao superdimensionamento dos equipamentos destinados ao alojamento, alimenta-
ção, transporte e entretenimento que, impreterivelmente, ocupam grandes espaços, agredindo as
paisagens e destruindo os ecossistemas.
Fonte: Ruschmann. Turismo sustentado para preservação do patrimônio ambiental.
Nesse sentido, o turismo muitas vezes contribui para diminuir a qualidade dos atrativos naturais. Hotéis
descarregam seus dejetos sem tratamento diretamente nos rios, lagos, praias, etc.; gigantescos estabelecimentos
ocultam a paisagem; diversas construções agridem a natureza com suas formas, tamanho e cores.
Muitas vezes, o próprio turista é responsável pela degradação do meio ambiente. Suas atividades, fundadas
em hábitos, costumes e até mesmo na falta de respeito ou educação, podem provocar, consciente ou inconscien-
temente, graves prejuízos aos atrativos naturais como: destruição ou coleta da vegetação; agressão à fauna
silvestre; atos de vandalismo em grutas e cavernas, como inscrições e retirada de pinturas rupestres, artefatos
arqueológicos, minerais, rochas e fósseis; promoção de incêndios florestais; abandono de todo tipo de lixo em
locais indevidos, etc.
1) Em pequenos grupos, fazer um levantamento dos principais problemas ambientais de sua região e discutir
com os demais colegas quais seriam as possíveis soluções, identificando quem seriam os responsáveis por
realizá-las e quem poderia colaborar com essas iniciativas.
O Turismo como ferramenta de conservação dos recursos naturais___________
O turismo pode ser compreendido e praticado como uma atividade destruidora dos recursos naturais, mas
também devemos observar que essa mesma atividade pode ser compreendida e realizada como viabilizadora da
preservação desses recursos.
O turismo não é, necessariamente, prejudicial ou benéfico ao meio ambiente, mas uma ou outra situação
depende da existência, ou não, do que podemos considerar como um compromisso ético tanto dos profissionais
do turismo quanto dos turistas e, ao mesmo tempo, do exercício de cidadania por parte da comunidade receptora.
A esse respeito, vale destacar que o turismo pode e deve ser considerado como uma ferramenta de conservação
dos recursos naturais.
Considerando a forte relação entre turismo e meio ambiente natural, o uso sustentável desse meio ambiente é
a única forma de garantir a continuidade da atividade turística dentro do princípio de desenvolvimento sustentável.
No sentido da formação de uma consciência ecológica, é de grande importância o desenvolvimento de
atividades turísticas ligadas à “educação ambiental”, que tem como um de seus principais objetivos formar
cidadãos conscientes de sua relação com a natureza, de modo a primarem pela sustentabilidade devido a suas
escolhas e condutas e do uso racional dos recursos naturais.
Também os moradores das localidades receptoras devem compreender a importância de preservar o meio
ambiente, pois assim estarão mais preparados para receber os turistas e cobrar deles o mesmo respeito que é
dado pelos habitantes do local.
1) O turismo pode colaborar com a conservação dos recursos naturais? Explique.
Ética Aluno.p65 26/3/2007, 14:0652
Autora: Vanessa Cerqueira Silva
Ética Aluno.p65 26/3/2007, 14:0653
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A estrutura do turismo está inter-relacionada com as atividades humanas. Dessa maneira, os aspectos natural,
cultural e urbano de uma localidade influenciam diretamente na atividade. O controle da poluição sonora, do ar,
das águas, de pragas e epidemias, enfim, a qualidade de vida é fator primordial para o sucesso do turismo.
Você visitaria um local onde estivesse ocorrendo uma epidemia? Ou estaria disposto a conhecer uma cidade
que tivesse o nível de qualidade de vida baixíssimo? Certamente as respostas serão negativas. Afinal, quando nós
idealizamos turismo, sempre o associamos a uma atividade prazerosa, positiva e saudável. Parece incompatível
que ela esteja ligada a doenças, pragas e epidemias.
De um modo geral, a atividade turística está intimamente associada à existência de bens públicos como
sistema de transportes, saneamento básico, equipamento médico-hospitalar, segurança, limpeza, comunicação e
saúde. Trata-se da infra-estrutura de apoio turístico. Mesmo planejada e executada, primeiramente, em prol da
comunidade local, os turistas que visitam essa comunidade também se beneficiam dela. Desta maneira, podemos
concluir que o investimento de um setor está ligado diretamente ao outro.
As condições de saúde de uma região são tão relevantes para o desenvolvimento do turismo quanto a
estrutura hoteleira, gastronômica, de agências, de eventos, enfim, aquelas que são conhecidas por infra-estrutu-
ra turística. Sendo assim, saúde e turismo possuem uma relação de interdependência. Localidades que não
possuem um critério de saúde pública aceitável não conseguirão desenvolver o turismo de maneira sustentável.
Uma das maiores crises no turismo mundial aconteceu devido a um problema na área da saúde, em 2003,
quando 26 países em quatro continentes foram atingidos pela pneumonia asiática (SRAS). Com o medo de
contaminação, na China (foco principal da infecção), um total de 40% das reservas em hotéis foram canceladas,
houve fechamento de teatros e cinemas além de outras medidas drásticas.
Em 2002, o Brasil foi vítima de uma epidemia de dengue. O Rio de Janeiro (segunda colocada entre as cidades
mais visitadas no Brasil, de acordo com dados da EMBRATUR de 2002) foi o palco principal desse surto. Este caso
foi difundido por todo o mundo, ocasionando uma queda considerável no turismo do estado, principalmente no
turismo internacional.
Outro fato ocorreu no início de 2005, quando o estado de Santa Catarina também teve que enfrentar um
problema dessa ordem. Em torno de 50 mil pessoas, entre elas inúmeros turistas, foram contaminados com a
doença de Chagas. O contágio ocorreu por meio do caldo de cana, vendido às margens da BR 101, no litoral do
estado, entre as cidades de Piçarras e Itajaí. Esse fato trouxe uma imagem negativa para uma das bebidas
tradicionais da região, afetando também a demanda turística do local em plena alta temporada.
Como forma de prevenção às epidemias, os órgãos públicos têm executado campanhas de vacinação em
regiões consideradas de risco. Um exemplo dessas campanhas acontece com turistas que pretendem visitar as
regiões do Norte e Centro-Oeste do Brasil. Neste caso, eles são orientados pelas agências de viagens a tomar
vacina contra a febre amarela, pois nessas regiões há municípios onde existe perigo de contaminação.
Dessa maneira, fica claro que a imagem do local influi diretamente em sua economia e o turismo, sendo parte
integrante desta, é afetado diretamente por estes episódios. O turismo como atividade social deve não somente
usufruir da infra-estrutura local, mas também ser provedor de qualidade de vida em uma região.
INTRODUÇÃO
SAÚDE E TURISMO
SAÚDE E TURISMO
TEMA 1
A IMPORTÂNCIA DA HIGIENE
A IMPORTÂNCIA DA HIGIENE
Segundo as previsões do Plano Nacional do Ministério do Turismo, até 2007 deverão ser criados 1.200.000
novos empregos no turismo brasileiro e deverá chegar a 9 milhões o número de visitantes estrangeiros no Brasil,
gerando um total de 8 bilhões de dólares em divisas. Números assim tão positivos podem ser prejudicados por
causa de hábitos simples como a higiene dos estabelecimentos.
A saúde de uma localidade depende, também, da higiene de sua população. Casos de contaminação de
turistas causada por maus hábitos de higiene são constatados, freqüentemente, nas regiões turísticas.
Ética Aluno.p65 26/3/2007, 14:0654
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Ética, Meio Ambiente e Cidadania para o Turismo
TEMA 2
TURISMO DE SAÚDE
TURISMO DE SAÚDE
O turismo de saúde é um dos gêneros mais antigos do turismo. Na História da Humanidade, há inúmeros
relatos de pessoas que viajavam longas distâncias na busca por tratamento médico. Na procura pela cura de suas
enfermidades ou de diversos tratamentos, os homens, desde o passado, se dispõem a viajar longas distâncias em
busca de lugares considerados benéficos à saúde. Mas, afinal, o que é turismo de saúde?
Turismo de saúde é toda a atividade praticada na procura da conservação ou obtenção de bem-estar físico e
mental. Essa modalidade se caracteriza pelo deslocamento e utilização de serviços turísticos associados à cura.
Outra particularidade relevante é que se trata de um turismo que não sofre com a sazonalidade, podendo ser
praticado o ano todo.
O turismo de saúde surgiu com as estâncias hidrominerais. Na Grécia antiga, as estâncias faziam com que
multidões se deslocassem e eram conhecidas por seus benefícios terapêuticos. Posteriormente, com o Império
Romano, as estâncias hidrominerais tornaram-se apreciadas em toda a Europa.
Já no Brasil, a primeira estância hidromineral foi descoberta em 1813 no estado de Santa Catarina, no
município de Santo Amaro da Imperatriz, a 36 km de Florianópolis. Em 1845, o Imperador D. Pedro II e a
Imperatriz Thereza Cristina viajaram do Rio de Janeiro a Santa Catarina para experimentar as vantagens terapêu-
ticas das águas termais. Outro fato histórico ocorreu em 1868, quando a Princesa Isabel viajou até a cidade de
Caxambu, a 390 km de Belo Horizonte, em Minas Gerais, em busca de tratamento nas águas.
Atualmente, com o aumento da longevidade da população brasileira e com a tendência de uma medicina
preventiva, o turismo de saúde caracteriza-se como um mercado em expansão.
Contestando esta realidade, mesmo com seu imenso potencial, a área de turismo de saúde não possui muitos
estudos e pesquisas que destaquem sua verdadeira importância e vantagens dentro do setor turístico.
Dentro do turismo de saúde, podem ser identificadas áreas, como:
Estâncias hidrominerais;
SPAs;
Estâncias climáticas;
Hotelaria hospitalar.
Estâncias hidrominerais __________________________________________________
O Brasil é detentor de uma grande parte dos recursos hidrotermais e climáticos do mundo.
Antigamente, o perfil dessas estâncias ou termas (como são mais conhecidas) envolvia a demanda de um
público de meia-idade ou idade avançada. Atualmente, as famílias também passaram a freqüentar as estâncias e,
com a tendência dos tratamentos preventivos, o público jovem é cada vez mais freqüente nesses espaços.
Para que a clientela fique cativa, são montados roteiros diários de recreação e lazer, sempre variados, para não
se tornarem cansativos.
Na atualidade, as estâncias hidrominerais passam por um período de inércia. A falta de incentivos governa-
mentais e privados dificulta o crescimento do setor, embora seja uma das categorias de turismo mais viáveis, já
que a cada aplicação no setor (turismo de saúde) tem-se, em média, um retorno estimado de 85% ao ano.
Pequenos cuidados com a limpeza pessoal e o rigor na fiscalização dos estabelecimentos, principalmente nos
relacionados à alimentação, são atitudes simples que evitam casos de epidemia como o que ocorreu em Santa
Catarina com a ingestão de caldo de cana contaminado.
1) Em sua opinião, quais foram os principais impactos na economia turística da China com a gripe asiática?
2) Procure notícias em jornais e revistas a respeito de epidemias, poluição ou descaso com a qualidade de vida
local e observe se há algum impacto sobre a demanda turística da região.
3) Pesquise em sua cidade ou região as condições de saúde. Verifique se são adequadas para o atendimento ao
turista. Em caso negativo proponha, com a ajuda do professor, sugestões para melhorá-las.
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Alguns exemplos de estâncias hidrominerais:
Caldas Novas (Goiás);
Campestre (Alagoas);
Santo Amaro da Imperatriz (Santa Catarina);
Caxambu (Minas Gerais);
Santa Bárbara do Rio Pardo (São Paulo);
Águas de São Pedro (São Paulo).
SPAs_____________________________________________________________________
Na década de setenta, havia apenas três spas no Brasil. Nos anos oitenta, quase quinze e, hoje, existem
aproximadamente 150 spas e clínicas.
Você sabe o que significa a palavra spa?
A expressão spa se origina na Roma antiga e significa: saúde pelas águas. O nome era dado aos locais aonde
pessoas iam à procura de águas consideradas medicinais. Originalmente, os spas eram vinculados a regiões onde
a água era o atrativo principal. Há relatos de que o primeiro spa surgiu na Bélgica, no século XVII.
Hoje em dia, esses estabelecimentos têm como característica principal oferecer toda a infra-estrutura, como
serviços sofisticados e tratamentos relacionados à perda de peso, alívio do estresse, rejuvenescimento,
desintoxicação e melhora da aparência estética.
Esses hotéis de luxo foram criados para atender uma demanda de turistas que, além do relaxamento e do lazer,
procuram tratamentos medicinais. Desta maneira, oferecem uma dieta balanceada, programas de esportes e recre-
ação, tratamentos corporais, massagens, salas de banho, salão de beleza, palestras relacionadas à saúde, venda de
produtos naturais, etc.
Para atender de forma mais satisfatória a um público cada vez mais exigente, os spas estão se subdividindo e,
com o objetivo de classificar os estabelecimentos, proporcionando palestras, debates, promovendo e criando um
padrão de qualidade para o setor.
Os spas, segundo a Associação Brasileira de Spas (ABC–SPAS), criada em agosto de 2003, podem ser classifi-
cados em:
Spas de destino: estabelecimentos que oferecem tratamentos exclusivos de clínicas médicas e possuem
serviço de hospedagem própria.
Spas Resort: estabelecimentos localizados em espaços paisagísticos privilegiados com estrutura hoteleira
tradicional e programa completo de spa.
Spas de cruzeiro: estabelecimentos localizados em navios ou barcos de cruzeiro. Possuem programação
completa e, em alguns casos, oferecem tratamentos em parceria com spas resort ou hotéis que estejam na
rota do cruzeiro.
Spas day: estabelecimentos que oferecem serviços de curta
duração, não necessitando hospedagem. Costumam ser en-
contrados próximo a grandes centros urbanos.
A Associação também subdivide essas categorias de acordo com
os serviços prestados:
Clínica naturista: promove a saúde por meio de processos e
atividades naturais valorizando, também, a área espiritual.
Spa médico: estrutura hoteleira com objetivos e filosofia clínica.
Spa holístico: estrutura hoteleira com objetivo de meditação e
atitudes afins como a filosofia nas artes holísticas e tratamen-
tos alternativos.
Spa ilha: possui estrutura hoteleira, localizando-se em uma ilha, tendo finalidade anti-estresse e de descanso.
Spa esporte e aventura: hotel com objetivo anti-estresse e de descanso, possuindo filosofia de saúde
pela água. Tem como particularidade a alimentação livre.
Spa nutrição e fitness: estrutura de hotel cujos objetivos principais são a desintoxicação e reeducação alimentar.
Spa estético: possui estrutura hoteleira ou clínica de estética, estando localizado em centros urbanos.
Tem como filosofia a beleza do corpo, podendo até realizar pequenas cirurgias.
Spa boutique: hotel com objetivo de exibir e comercializar obras de arte e produtos de decoração, que
muitas vezes fazem parte da própria decoração do spa.
Spa termal: estrutura hoteleira com finalidade de saúde por meio de banhos em águas minerais do local.
Spa bem-estar: estabelecimentos onde se focalizam os tratamentos preventivos com intuito do bem-estar,
o anti-estresse e descanso, por meio de programas terapêuticos e estéticos, tendo a opção de uma alimen-
tação balanceada ou não.
Spa ortomolecular: clínica em centro urbano, com filosofia no tratamento específico na área ortomolecular.
Crédito: AVT
Caxambu (MG), estância hidromineral
Crédito: Divulgação
Banho de pétalas de rosa no hotel
Ponto de Luz, em Joanópolis (SP)
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Ética, Meio Ambiente e Cidadania para o Turismo
Como podemos observar, as características dessas subcategorias muitas vezes se confundem e se completam.
O mercado brasileiro de spas encontra-se em grande expansão. Em 2003, esse setor lucrou R$ 250 milhões.
Segundo dados da consultoria Salon & Spa Club, o Brasil possui 877 spas do total de 1837 estabelecimentos na
América Latina. Calcula-se que 65% dos spas brasileiros estejam nas regiões Sul e Sudeste.
Estâncias climáticas ______________________________________________________
As estâncias climáticas são, muitas vezes, confundidas com as estâncias hidrominerais. Porém, enquanto o
principal atrativo das estâncias hidrominerais são as águas terapêuticas, a estância climática tem como atrativo
principal o clima do local.
No passado, as estâncias climáticas já eram famosas por seus benefícios à saúde, principalmente no tratamen-
to de problemas respiratórios e pulmonares. Ainda no tempo da monarquia brasileira, cidades como Petrópolis
(RJ) foram refúgio de nobres como Dom Pedro II, que conservava uma casa na cidade para escapar dos dias
quentes do verão do Rio de Janeiro.
Outro exemplo de estância climática é a cidade de Campos do Jordão (SP), que, na época das epidemias de doenças
pulmonares, foi freqüentada por inúmeras pessoas que a transformaram praticamente em uma cidade sanatório.
As cidades de Cunha, Botucatu e Morungaba, todas no estado de São Paulo, e a cidade de Barbacena, em
Minas Gerais, são outros exemplos de estâncias climáticas.
Caracterizadas por relevo montanhoso e clima ameno, as estâncias climáticas atualmente são consideradas,
em sua maioria, um turismo de luxo.
Hotelaria hospitalar ______________________________________________________
Na atualidade, as instituições de saúde vêm sofrendo profundas modificações. O aumento da expectativa de
vida, o avanço da tecnologia e, principalmente, a busca dos convênios por hospitais cada vez mais diferenciados
que possam oferecer um tratamento especial aos seus clientes, transformou o bem-estar emocional e clínico, o
conforto e a segurança dos pacientes e acompanhantes em fatores primordiais de um hospital. A concepção de
hotelaria hospitalar, neste contexto, tornou-se a principal responsável pelas mudanças nos serviços hospitalares.
A hotelaria hospitalar surgiu no Brasil na década de oitenta; no entanto, somente nos últimos anos, com a
valorização da humanização do ambiente hospitalar, esse setor vem ganhando força e conquistando espaço.
Trata-se de um novo conceito na administração das instituições hospitalares, reunindo vários serviços da
hotelaria clássica que, adaptados e implantados nos hospitais, transformam o ambiente, proporcionando uma
melhoria nas condições da assistência prestada, qualificando e diferenciando o atendimento.
A seguir, alguns exemplos de serviços da hotelaria que, adaptados, podem ser implantados nas instituições
hospitalares:
Recepção; Mensageiros e capitão-porteiro;
Concièrge (balcão de informação); Governança (governanta e camareira);
Alimentos e bebidas; Serviço de quarto;
Lavanderia; Restaurantes;
Reservas;
Departamento de eventos (seminários, congressos, cursos e reuniões);
Salas de lazer (leitura, brinquedoteca, jogos, música, biblioteca).
Esta nova administração tem como objetivo central aprimorar a hospitalidade, humanizando as relações entre
pessoas e hospitais.
As vantagens e colaborações da hotelaria hospitalar são inúmeras nos vários setores:
Alimentos e bebidas
Nutricionistas e até chefes de cozinha dedicam-se ao desafio de melhorar a imagem da famosa “comidinha de
hospital”. Soluções criativas e fáceis como a do Instituto do Coração, na grande São Paulo, que oferece duas
opções de pratos por dia, na sua maioria convenientemente decorados em forma de coração, como o trivial queijo
com goiabada. Idéias que podem ser experimentadas e adaptadas em outros hospitais. São simples detalhes
como este que transformam a habitual alimentação sem encanto dos hospitais em refeições apetitosas e, ao
mesmo tempo, saudáveis e sempre adaptadas à dieta de cada paciente.
Estes cuidados propiciam uma queda nos desperdícios com a alimentação, amenizando a problemática da
desnutrição no período de internação e evitando o consumo de alimentos que não pertençam à dieta do paciente
mas que, muitas vezes, são trazidos pelos próprios familiares.
Deve-se ressaltar, também, a importância da alimentação para os pacientes; ela, muitas vezes, ganha propor-
ções maiores que exclusivamente a de nutrição do indivíduo, podendo ser a única atividade prazerosa durante a
convalescença, período em que a pessoa se vê privada de muitas de suas atividades cotidianas.
Ética Aluno.p65 26/3/2007, 14:0657
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Infra-estrutura
Neste novo modelo de administração, adapta-se a estrutura do hospital para que ele pareça um hotel, com
recepção, jardins, cafés e onde também as cores e iluminação possam influenciar o cliente de saúde (paciente,
familiares e amigos). A jardinagem e o paisagismo têm o poder de mudar a visão do ambiente hospitalar –
geralmente, frio e impessoal – oferecendo uma sensação de bem-estar e conforto.
A maioria dos investimentos em infra-estrutura demanda grandes quantias monetárias, o que, para as insti-
tuições de saúde pública, muitas vezes é inviável. Contudo, atitudes simples e criativas como as adotadas pelo
Instituto do Coração (InCor) de São Paulo auxiliam na humanização, sem que sejam investidos grandes valores.
No InCor, foram implantadas placas (como lousas) na entrada dos quartos da UTI que identificam o paciente,
proporcionando uma relação mais próxima entre o corpo clínico e o cliente. Outra idéia interessante foi a
instalação de relógios de parede por todo o setor do hospital. Esses relógios possibilitam uma melhor adequação
de todos os que transitam pelo hospital, já que no setor não há janelas. Murais de fotos também foram inseridos
para tornar o espaço mais descontraído e aconchegante.
Serviços
Os serviços de hotelaria desenvolvem papel fundamental e estão inseridos em toda a estrutura, sendo o
grande diferencial da hotelaria hospitalar. Funções tradicionais da hotelaria como o trabalho de camareira,
garçom, recepcionista, manobrista, mensageiro, são princípios da humanização do ambiente hospitalar. Bancas
de revistas e jornais, lanchonetes internas, floriculturas, loja de utilidades pessoais (material de higiene pessoal,
souvenirs, etc.) são alguns exemplos de facilidades para o paciente e para os visitantes.
Lazer
As atividades lúdicas e culturais proporcionadas aos clientes de saúde durante sua estada no hospital são itens
que oferecem mais conforto, enriquecimento cultural e, principalmente, um contato com o cotidiano externo.
Mini cursos, palestras, peças de teatro, apresentações musicais, exposições, jogos, salas de leitura, prática de
origami (técnica japonesa de dobradura), entre outras atividades, são alguns exemplos do que pode ser realizado
dentro das instituições.
A hotelaria hospitalar, por meio de parcerias com profissionais de recreação e projetos similares aos Doutores
da Alegria e Projeto Carmim (organizações civis dedicadas a levar alegria às pessoas hospitalizadas, seus familiares
e profissionais da saúde; o primeiro pela arte dos palhaços; e o segundo, por meio das artes plásticas), possui a
capacidade de atenuar o sofrimento de uma convalescença, especialmente no caso de crianças.
Oportunidades no Brasil
A presença de um profissional que não atue diretamente na área da saúde oferece aos serviços hospitalares
uma inovação relativa ao atendimento e, principalmente, à consciência do papel da instituição de saúde. O
profissional de turismo e hotelaria torna-se peça fundamental da equipe multidisciplinar dos hospitais, podendo
incrementar tanto o lado social quanto o da prestação de serviços. Sendo assim, a hotelaria hospitalar surge como
uma tendência nas instituições hospitalares brasileiras, abrindo uma nova oportunidade no mercado de turismo.
Outro tipo de estabelecimento que está crescendo junto à área hospitalar são os hotéis localizados próximo
a hospitais e clínicas, que dão suporte a pacientes, familiares e médicos. Um exemplo é o Confort Hotel Ilha do
Leite, em Recife (Pernambuco). Obviamente, esses serviços não existem em função dessas pessoas que viajam para
tratamento de saúde, porém, têm suas receitas aumentadas consideravelmente em virtude delas.
A hotelaria hospitalar ainda está concentrada em grandes centros médicos como Rio de Janeiro e São Paulo,
constituindo um campo com possibilidades respeitáveis de desenvolvimento no Brasil, dependendo apenas da
ousadia e criatividade dos administradores hospitalares. A seguir, alguns exemplos de hospitais que já possuem
este diferencial:
Hospital Albert Einstein (SP); Hospital Sírio Libanês (SP);
Hospital do Coração (SP); Hospital Pequeno Príncipe (PR);
Hospital Copa D’or (RJ); Hospital Oswaldo Cruz (SP).
1) Qual a diferença entre estância climática e estância hidromineral?
2) Divida a sala em 4 (quatro) grupos. Sorteie os tipos de turismo:
1. Estâncias hidrominerais; 3. Estâncias climáticas;
2. Spas; 4. Hotelaria hospitalar.
Os grupos devem pesquisar o tema e apresentá-lo ao restante da sala.
Obs: Abuse da criatividade nas apresentações, trabalhe com teatro, dinâmicas, pintura, painéis, poesia, etc.
Ética Aluno.p65 26/3/2007, 14:0658
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Ética, Meio Ambiente e Cidadania para o Turismo
3) Pesquise em sua cidade, os atrativos relacionados à saúde que ela pode oferecer.
4) Verifique quais os atrativos relacionados que já estão sendo explorados e quais ainda não estão.
5) Preencha com verdadeiro (V) ou falso (F):
( ) As epidemias interferem no desenvolvimento do turismo.
( ) Spas-day são aqueles que proporcionam tratamento de curto prazo, não necessitando hospedagem.
Encontram-se em regiões distantes e interioranas.
( ) Estâncias climáticas são caracterizadas por sua umidade, climas amenos e relevo montanhoso.
( ) Concièrge significa balcão de informação e trata-se de uma função estritamente hoteleira.
( ) Sistema de transportes, saneamento básico, equipamento médico-hospitalar, segurança, limpeza, comu-
nicação e saúde fazem parte da infra-estrutura de apoio turístico.
6) Relacione adequadamente a primeira coluna com a segunda:
(1) Pacientes, familiares e amigos ( ) Inter-relacionada
(2) Relação entre saúde e turismo ( ) Primeira estância hidromineral
(3) Surgimento da hotelaria hospitalar no Brasil ( ) Cliente de saúde
(4) Santo Amaro da Imperatriz ( ) Década de oitenta
(5) China ( ) 40% das reservas em hotéis canceladas,
fechamento de teatros e cinemas.
7) Cruzadinhas
Horizontais:
1. Modalidade que proporciona a humanização nos hospitais.
2. Influi de maneira negativa no turismo, pois ocasiona uma queda na demanda.
3. No Brasil, são mais de 150 estabelecimentos.
4. Saúde e turismo possuem uma relação de...?
5. Clínica em centro urbano.
6. Epidemia que, em 2002, propagou-se pelo Brasil.
7. Caracterizada por relevo montanhoso e clima ameno.
Verticais:
1. Hotelaria hospitalar.
2. Hotel com objetivo de exibir e comercializar obras de arte e produtos de decoração, que muitas vezes
fazem parte da própria decoração do spa.
3. Balcão de informação.
4. Estrutura hoteleira com objetivo de meditação, filosofia nas artes holísticas e tratamentos alternativos.
5. Submodalidade de spa, que possui estrutura hoteleira ou clínica de estética, estando localizada em
centros urbanos. Tem como filosofia a beleza do corpo, podendo até realizar pequenas cirurgias.
6. Oferecem serviços de curta duração, não necessitando hospedagem, encontrados próximos a grandes
centros urbanos.
7. Serviço da hotelaria que pode ser implantado e adaptado à atividade hospitalar.
8. Prejudica diretamente o turismo.
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cidadania.terra.com.br/ interna
www.abav.com.br
www.agricultura.gov.br
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www.cidadeshistoricas.art.br
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www.sescsp.org.br
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www.doutoramoroso.com.br
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www.embratur.gov.br
www.etur.com.br
www.hotelariahospitalar.com.br
www.projetocarmim.org.br
www.revistabrasil.com.br
www.turismologia.com.br
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