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ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING – ESPM/SP
PROGRAMA DE MESTRADO EM COMUNICAÇÃO E PRÁTICAS DE CONSUMO
Tiago Pereira Andrade
REPRESENTAÇÕES MIDIÁTICAS E IDEALIZAÇÕES
SOBRE JUVENTUDE E CONSUMO:
os sentidos do discurso na Revista Veja
São Paulo
2011
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TIAGO PEREIRA ANDRADE
REPRESENTAÇÕES MIDIÁTICAS E IDEALIZAÇÕES
SOBRE JUVENTUDE E CONSUMO:
os sentidos do discurso na Revista Veja
Dissertação apresentada à ESPM como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre em
Comunicação e Práticas de Consumo.
Orientador(a): Rosamaria Luiza (Rose) de Melo Rocha
São Paulo
2011
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A565 Andrade, Tiago Pereira
Representações midiáticas e idealizações sobre juventude e consumo:
os sentidos do discurso na Revista Veja / Tiago Pereira Andrade. – São
Paulo: ESPM, 2011.
232 p. : il., color, tab.
Orientador: Rosamaria Luiza de Melo Rocha
Dissertação (Mestrado em Comunicação e Práticas de Consumo)
Escola Superior de Propaganda e Marketing, São Paulo, SP, 2011.
1. Comunicação. 2. Consumo. 3. Juventude. 4. Jornalismo.
5. Veja. I. Título. II. Rocha, Rosamaria Luiza de Melo. III. Escola
Superior de Propaganda e Marketing.
CDU 659.3
TIAGO PEREIRA ANDRADE
REPRESENTAÇÕES MIDIÁTICAS E IDEALIZAÇÕES
SOBRE JUVENTUDE E CONSUMO:
os sentidos do discurso na Revista Veja
Dissertação apresentada à ESPM como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre em
Comunicação e Práticas de Consumo.
Aprovado em de de
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________________
Presidente: Profa. Dra Rose de Melo Rocha, Orientadora, ESPM
____________________________________________________________
Membro Interno: , ESPM
____________________________________________________________
Membro Externo:
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais,
aos membros da T.U.C.T.,
a todos os professores do mestrado, em especial minha orientadora, Rose de Melo Rocha
a todos os meus amigos mestrandos, em especial à Denise Tangerino
aos meus companheiros de trabalho da ESPM, que me permitiram e incentivaram a desenvolver este
trabalho.
RESUMO
Esta pesquisa examina o discurso das notícias e das capas da revista Veja sobre o tema juventude
e consumo. O corpus compreende uma seleção de matérias da revista, publicadas no primeiro
semestre de 2009. Interessa-nos problematizar em que medida estas representações midiáticas
colocam em circulação idéias que contribuem para leituras idealizadas, dicotômicas, superficiais
ou estigmatizadas sobre jovens em particular e a juventude em geral, identificando-se ainda a
centralidade da cultura de consumo na produção destas representações. O primeiro capítulo, que
precede a análise das matérias, está focado em discussões sobre jornalismo, revistas e mídia. No
capítulo seguinte é apresentada a análise das matérias selecionadas, e no último capítulo discutir-
se-á as principais tematizações sobre a juventude encontrados nas matérias. A análise se concentra
no discurso e na lógica de produção de sentidos adotada pela revista para a construção de
determinadas representações sobre os jovens e a juventude, e também serão analisados os temas
recorrentes nas matérias. O critério para compor a pesquisa foi a tematização direta
(jovens/juventude) do assunto ou abordagens de questões a ele relacionadas como juvenilização
ou tecnologias. A dissertação é elaborada por meio de pesquisa bibliográfica e documental,
análise sociológica e elementos da análise do discurso midiático. A base bibliográfica compreende
Mayra Rodrigues Gomes, Nilson Lage, Ciro Marcondes Filho, Juremir Machado da Silva, Rosana
de Lima Soares, Rose de Melo Rocha, Silvia Borelli, Maria Celeste Mira, Gislene Silva, Cristina
Ponte, Everardo Rocha, Edgard Morin, Martine Joly, Guy Debord, Pierre Bourdieu entre outros
do campo da comunicação e da sociologia.
Palavras-chave: Comunicação; Consumo; Juventude; Jornalismo; Veja.
ABSTRACT
This research examines the discourse of news and the covers of the magazine Veja on the theme
of youth and consumption. The corpus includes a selection of the articles of the the magazines,
published in the first semester of 2009. We are interested in questioning the extent to which these
media representations put into circulation ideas that contribute to reading idealized dichotomous
surface or stigmatized in particular on young people and youth in general, identifying even the
centrality of consumer culture in the production of these representations. The first chapter, which
precedes the analysis of the material, is focused on discussions about journalism, magazines and
media. The following chapter presents the analysis of the issues selected, and the last chapter will
discuss the main thematizations on youth found in the articles. The analysis focuses on the
discourse and logic of production of meaning adopted by the magazine for the construction of
certain representations of young people and youth, and also will consider the recurring themes at
the research. The criterion for the survey was to compose directly thematized (youth) or
approaches the subject of questions related to it as juvenilization or technologies. The dissertation
is prepared through a literature review and documentary analysis and sociological elements of the
analysis of media discourse. The bibliographic database covers Mayra Rodrigues Gomes, Nilson
Lage, Ciro Marcondes Filho, Juremir Machado da Silva, Rosana de Lima Soares, Rose de Melo
Rocha, Silvia Borelli, Maria Celeste Mira, Gislene Silva, Cristina Ponte, Everardo Rocha, Edgar
Morin, Martine Joly, Guy Debord, Pierre Bourdieu and others in the field of communication and
sociology.
Keywords: Communication, Consumption, Youth, Journalism; Veja.
ÍNDICE DE IMAGENS
Índice das capas das revistas
Capa 1 - 4/02/2009 ................................................................................................................... 49
Capa 2 - 18/02/2009 ................................................................................................................. 50
Capa 3 - 15/04/2009 ................................................................................................................. 51
Capa 4 - 13/05/2009 ................................................................................................................. 52
Capa 5 - 7/01/2009 ................................................................................................................... 53
Índice das figuras - Análise por ordem cronológica de publicação
Figura 1 - informe capa 07/01/2009 ......................................................................................... 55
Figura 2 - mais velhos... ...porém mais jovens ......................................................................... 55
Figura 3 - quarentões ................................................................................................................ 56
Figura 4 - cinquentões .............................................................................................................. 56
Figura 5 - sessentona ................................................................................................................ 56
Figura 6 - mulher de Okinawa .................................................................................................. 56
Figura 7 - Demi Moore, quanto mais velha, mais bela............................................................. 57
Figura 8 - fórmula para longevidade 1 ..................................................................................... 58
Figura 9 - Fórmula para longevidade 2 .................................................................................... 58
Figura 10 - Idosos felizes 1 ...................................................................................................... 59
Figura 11 - Idoso feliz 2 ........................................................................................................... 59
Figura 12 - mágica do rejuvenescimento .................................................................................. 60
Figura 13 - Benjamin Button 1 ................................................................................................. 62
Figura 14 - Benjamin Button 2 ................................................................................................. 62
Figura 15 - Capa 04/02/2010 .................................................................................................... 62
Figura 16 - Tablóides Ingleses ................................................................................................. 63
Figura 17 - flagra Ronaldo........................................................................................................ 64
Figura 18 - flagra Adriano ........................................................................................................ 64
Figura 19 - flagra Kobe Bryant................................................................................................. 64
Figura 20 - Cartola bilionário do Chelsea ................................................................................ 64
Figura 21 - Robinho evolução 1 ............................................................................................... 64
Figura 22 - Robinho evolução 2 ............................................................................................... 64
Figura 23 - Robinho evolução 3 ............................................................................................... 64
Figura 24 - Robinho evolução 4 ............................................................................................... 64
Figura 25 - Robinho evolução 5 ............................................................................................... 64
Figura 26 - capa 18/02/2009 ..................................................................................................... 66
Figura 27 - Juventude em rede ................................................................................................. 67
Figura 28 - Juventude e tecnologia 1 ........................................................................................ 67
Figura 29 - Juventude e tecnologia 2 ........................................................................................ 67
Figura 30 - jovem tribo ............................................................................................................. 68
Figura 31 - jovem relacionamento ............................................................................................ 68
Figura 32 - Quanto custa o jovem? ........................................................................................... 69
Figura 33 - Jovem festa ............................................................................................................ 69
Figura 34 - jovem "faz tudo ao mesmo tempo" 1 ..................................................................... 70
Figura 35 - "faz tudo ao mesmo tempo" 2 ................................................................................ 70
Figura 36 - jovem comemorando ingresso vestibular .............................................................. 72
Figura 37 - militantes da raça ................................................................................................... 72
Figura 38 - considerados negros ............................................................................................... 73
Figura 39 - jovens pobres ......................................................................................................... 73
Figura 40 - jovem injustiçado ................................................................................................... 73
Figura 41 - o problema na educação de base ............................................................................ 74
Figura 42 - negros nos Estados Unidos .................................................................................... 74
Figura 43 - capa 15/04/2009 ..................................................................................................... 75
Figura 44 - primeiro lugar nos vestibulares .............................................................................. 75
Figura 45 - plenário Enem ........................................................................................................ 75
Figura 46 - maratona de vestibular ........................................................................................... 76
Figura 47 - professor de cursinho ............................................................................................. 76
Figura 48 - professor de colégio ............................................................................................... 76
Figura 49 - doutor precoce ....................................................................................................... 77
Figura 50 - sucesso profissional 1 ............................................................................................ 77
Figura 51 - sucesso profissional 2 ............................................................................................ 77
Figura 52 - sucesso profissional 3 ............................................................................................ 77
Figura 53 - jovens cangurus 1................................................................................................... 79
Figura 54 - jovens cangurus 2................................................................................................... 79
Figura 55 - jovens cangurus 3................................................................................................... 79
Figura 56 - Chanel, década de 50 ............................................................................................. 80
Figura 57 - Chanel e celebridades, tempos atuais .................................................................... 80
Figura 58 - Tarso, da telenovela da Globo ............................................................................... 81
Figura 59 - transplante de cabelo .............................................................................................. 82
Figura 60 - capa 13/05/2009 ..................................................................................................... 83
Figura 61 - craques do futuro ................................................................................................... 84
Figura 62 - vestiário .................................................................................................................. 84
Figura 63 - craque "bebê" ......................................................................................................... 84
Figura 64 - garoto treinando 1 .................................................................................................. 85
Figura 65 - garoto treinando 2 .................................................................................................. 85
Figura 66 - Willian com carro .................................................................................................. 85
Figura 67 - Breno com carro .................................................................................................... 85
Figura 68 - Neymar .................................................................................................................. 86
Figura 69 - magnata Ucraniano ................................................................................................ 86
Figura 70 - Dunga, ex-técnico da seleção brasileira ................................................................. 86
Figura 71 - Abercrombie & Flitch , loja nos EUA ................................................................... 88
Índice dos Quadros – Análise por ordem cronológica de publicação
Quadro 1 - projeção de longevidade ......................................................................................... 56
Quadro 2 - biologia do envelhecimento ................................................................................... 57
Quadro 3 - relacionamento 1 .................................................................................................... 68
Quadro 4 - relacionamento 2 .................................................................................................... 68
Quadro 5 - quanto custa o jovem? ............................................................................................ 69
Quadro 6 - melhor lugar do mundo .......................................................................................... 69
Quadro 7 - distribuição das vagas............................................................................................. 72
Quadro 8 - histórico do Enem................................................................................................... 76
Quadro 9 - prova Enem ............................................................................................................ 77
Quadro 10 - Chanel para todas as classes ................................................................................. 81
Quadro 11 - alto rendimento dos jogadores de futebol ............................................................ 87
Quadro 12 - Abercrombie & Flitch e as concorrentes .............................................................. 88
Índice das Imagens – Análise Iconográfica
Imagem 1 - 07/01/2009 p.68-69 ............................................................................................. 105
Imagem 2 - 07/01/2009 p. 70 ................................................................................................. 105
Imagem 3 - 07/01/2009 p.71 .................................................................................................. 105
Imagem 4 - 07/01/2009 p.71 .................................................................................................. 105
Imagem 5 - 07/01/2009 p.72 .................................................................................................. 105
Imagem 6 - 07/01/2009 p.74-75 ............................................................................................. 106
Imagem 7 - 07/01/2009 p.78-79 ............................................................................................. 106
Imagem 8 - 07/01/2009 p.80-81 ............................................................................................. 106
Imagem 9 - 07/01/2009 p.82-83 ............................................................................................. 107
Imagem 10 - 07/01/2009 p.84 ................................................................................................ 107
Imagem 11 - 07/01/2009 p.86-87 ........................................................................................... 108
Imagem 12 - 21/01/2009 p.124 - 125 ..................................................................................... 108
Imagem 13 - 21/01/2009 p.124 - 125 ..................................................................................... 108
Imagem 14 - 04/02/2009 - p. 78-79 ........................................................................................ 109
Imagem 15 - 04/02/2009 - p. 82 ............................................................................................. 109
Imagem 16 - 04/02/2009 - p. 82 ............................................................................................. 109
Imagem 17 - 04/02/2009 - p. 83 ............................................................................................. 109
Imagem 18 - 04/02/2009 - p. 84 ............................................................................................. 110
Imagem 19 - 04/02/2009 - p. 82 ............................................................................................. 110
Imagem 20 - 04/02/2009 - p. 82 ............................................................................................. 110
Imagem 21 - 04/02/2009 - p. 83 ............................................................................................. 110
Imagem 22 - 04/02/2009 - p. 83 ............................................................................................. 110
Imagem 23 - 04/02/2009 - p. 83 ............................................................................................. 110
Imagem 24 - 18/02/2009 - p. 82 ............................................................................................. 111
Imagem 25 - 18/02/2009 - p. 84-85 ........................................................................................ 112
Imagem 26 - 18/02/2009 - p. 86 ............................................................................................. 112
Imagem 27 - 18/02/2009 - p. 87 ............................................................................................. 112
Imagem 28 - 18/02/2009 - p. 88 ............................................................................................. 112
Imagem 29 - 18/02/2009 - p. 89 ............................................................................................. 112
Imagem 30 - 18/02/2009 - p. 90 ............................................................................................. 113
Imagem 31 - 18/02/2009 - p. 91 ............................................................................................. 113
Imagem 32 - 04/03/2009 - p. 66-67 ........................................................................................ 114
Imagem 33 - 04/03/2009 - p. 68-69 ........................................................................................ 114
Imagem 34 - 04/03/2009 - p. 70 ............................................................................................. 115
Imagem 35 - 04/03/2009 - p. 71 ............................................................................................. 115
Imagem 36 - 04/03/2009 - p. 72 ............................................................................................. 115
Imagem 37 - 04/03/2009 - p. 72 ............................................................................................. 116
Imagem 38 - 04/03/2009 - p. 73 ............................................................................................. 116
Imagem 39 - 15/04/2009 p.70-71 ........................................................................................... 116
Imagem 40 - 15/04/2009 p.74 ................................................................................................ 116
Imagem 41 - 15/04/2009 p.74-75 ........................................................................................... 116
Imagem 42 - 15/04/2009 p.75 ................................................................................................ 116
Imagem 43 - 15/04/2009 p.76 ................................................................................................ 117
Imagem 44 - 15/04/2009 p.77 ................................................................................................ 118
Imagem 45 - 15/04/2009 p.76 ................................................................................................ 118
Imagem 46 - 15/04/2009 p.77 ................................................................................................ 118
Imagem 47 - 15/04/2009 p.90 ................................................................................................ 118
Imagem 48 - 15/04/2009 p.92 ................................................................................................ 118
Imagem 49 - 15/04/2009 p.92 ................................................................................................ 119
Imagem 50 - 15/04/2009 p.94 ................................................................................................ 119
Imagem 51 - 15/04/2009 p.94-95 ........................................................................................... 119
Imagem 52 - 15/04/2009 p.111 .............................................................................................. 120
Imagem 53 - 29/04/2009 p.121 .............................................................................................. 120
Imagem 54 - 29/04/2009 p.122 .............................................................................................. 120
Imagem 55 - 13/05/2009 p. 76-77 .......................................................................................... 121
Imagem 56 - 13/05/2009 p. 78-79 .......................................................................................... 121
Imagem 57 - 13/05/2009 p. 78 ............................................................................................... 121
Imagem 58 - 13/05/2009 p. 80-81 .......................................................................................... 121
Imagem 59 - 13/05/2009 p. 81 ............................................................................................... 122
Imagem 60 - 13/05/2009 p. 82-83 .......................................................................................... 122
Imagem 61 - 20/05/2009 p. 102 ............................................................................................. 122
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 12
1 COMUNICAÇÃO, CONSUMO MIDIÁTICO E JORNALISMO ................................. 17
1.1 DO JORNALISMO CLÁSSICO À REVISTA VEJA: HISTÓRIA E FUNÇÕES ............ 17
1.2 É CLARO QUE ACONTECEU... SAIU NO JORNAL! ................................................... 19
1.3 TÁ NA CAPA DA REVISTA: CONCEITOS DE MAGAZINES E A HISTÓRIA DAS
REVISTAS BRASILEIRAS .................................................................................................... 30
1.4 VEJA, LEIA, COMPROVE... ............................................................................................. 36
2 VEJA, O QUE ELA MOSTRA: A CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS ......................... 41
2.1.1 Introdução metodológica ................................................................................................. 41
2.1.2 Introdução analítica ......................................................................................................... 45
2.2 ANÁLISE DAS CAPAS .................................................................................................... 48
2.3 ANÁLISE POR ORDEM CRONOLÓGICA DE PUBLICAÇÃO .................................... 55
Mais velhos... ...Porém mais jovens – 07/01/2009 ................................................................... 55
Uma vida em reverso – 21/01/2009 .......................................................................................... 61
Por que eles não crescem? – 04/02/2009 .................................................................................. 62
Mergulho no submundo – 18/02/2009 ..................................................................................... 65
A juventude em rede – 18/02/2009........................................................................................... 66
Uma segunda opinião – 04/03/2009 ......................................................................................... 71
Vestibular: vai mudar tudo, menos o mérito – 15/04/2009 ...................................................... 75
Daqui eu não saio – 15/04/2009 ............................................................................................... 78
Ela não ficou para a titia – 15/04/2009 ..................................................................................... 80
A família é a vilã – 15/04/2009 ................................................................................................ 81
Cabelos: Alternativas antiqueda – 29/04/2009 ......................................................................... 82
Gol de ouro – 13/05/2009 ......................................................................................................... 83
O alce de 2,5 bilhões de dólares – 20/05/2009 ......................................................................... 87
2.4 ANÁLISE DAS MATÉRIAS POR CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE ................... 89
Mais velhos... Porém mais jovens – 07/01/2009 ...................................................................... 92
Uma vida em reverso – 21/01/2009 .......................................................................................... 93
Por que eles não crescem? – 04/02/2009 .................................................................................. 94
Mergulho no submundo – 18/02/2009 ..................................................................................... 95
A juventude em rede – Eles é que mandam – 18/02/2009 ...................................................... 95
Uma segunda opinião – 04/03/2009 ......................................................................................... 96
Vestibular: Vai mudar tudo, menos o mérito – 15/04/2009 ..................................................... 97
Daqui eu não saio – 15/04/2009 ............................................................................................... 98
Ela não ficou para titia – 15/04/2009........................................................................................ 98
A família é a vilã – 15/04/2009 ................................................................................................ 99
Cabelos: Alternativas antiqueda – 29/04/2009 ......................................................................... 99
Chuteiras que valem ouro – 13/05/2009 ................................................................................. 100
O Alce de 2,5 bilhões de dólares – 20/05/2009 ...................................................................... 100
2.4.1 Análise geral dos critérios de noticiabilidade ............................................................... 101
2.5 ANÁLISE ICONOGRÁFICA .......................................................................................... 103
3 REPRESENTAÇÕES MIDIÁTICAS EM VEJA: OS SENTIDOS DO DISCURSO . 123
3.1 PRINCIPAIS TEMATIZAÇÕES ..................................................................................... 123
3.2 JUVENILIZAÇÃO DA CULTURA ................................................................................ 124
3.3 ESPETACULARIZAÇÃO ............................................................................................... 129
3.4 IDEALIZAÇÕES E DEMONIZAÇÕES ......................................................................... 133
3.5 JUVENTUDE, COMUNICAÇÃO E CONSUMO .......................................................... 137
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 142
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 145
ANEXOS ............................................................................................................................... 148
12
INTRODUÇÃO
A inspiração para esta dissertação nasceu ao analisarmos observatórios de imprensa
latino-americanos, aliados à determinação de entender os aspectos midiáticos que
relacionavam a juventude ao consumo. O primeiro intuito da pesquisa foi trabalhar na
identificação destas relações entre juventudes e consumo, analisando o que as narrativas
midiáticas revelam sobre o jovem e o que é dito para o jovem, principalmente na construção
de estereótipos e estigmas, porém nos faltava escolher o meio a ser analisado.
A revista Veja foi a escolhida por ser a maior em circulação no país, e representa a
uma faixa paradigmática da população brasileira em termos de pensamento político, social e
histórico, hegemônico e de base conservadora. Apesar das críticas por parte de intelectuais,
ela se mantém como uma forte fonte da reprodução do imaginário social, merecendo diversas
pesquisas que possam ajudar a identificar o modo de pensar de seus leitores, editores e
correspondentes.
Em recente entrevista concedida à radio CBN, Flavio Gikovate, famoso psiquiatra por
uma longa atuação midiática, falava sobre diversos temas da contemporaneidade, e recebeu
uma pergunta sobre o porquê as pessoas perderiam o sentido da vida. Ele respondeu que isso
pode ser sinal de depressão, e que em nossa sociedade, quando isso acontece, buscamos a
referência de sentido da vida principalmente relacionando-o ao consumo. Inspiramo-nos em
heróis midiáticos, saímos para fazer compras e consumimos das mais diversas maneiras para
preencher uma lacuna antropológica. É através do consumo que se criam e se reformulam as
metas da vida, as identidades, as ideologias, enfim, ele trata o consumo como forte
representante do sentido da vida.
Nestor Garcia Canclini (2008) nos conta que as pessoas consomem em escalas e
lógicas distintas. O ato de consumir envolve relações macro (econômicas, multinacionais)
com pequenas relações pessoais (subjetivas, de gosto). A maneira como consumimos está
relacionada com a cultura da qual fazemos parte. Os bens de consumo perpassam questões de
valor, pois estão relacionados com construções simbólicas. O consumo é uma das dimensões
do processo de comunicação e remete a apropriações dos diversos sujeitos envolvidos neste
sistema. Por meio do consumo os sujeitos enviam mensagens à sociedade e aos grupos sócio-
culturais.
A relação entre mídia e consumo, como nos explica Silverstone (2005), é estreita. A
mídia se estende para além de textos midiáticos e recepção, ela envolve produção e consumo
13
de significados, numa atividade de continuo engajamento com estes significados. A mídia
dilata a experiência de consumo que é avaliado à sua luz numa infinidade de maneiras.
Ao analisarmos a revista, levamos em consideração múltiplas relações de consumo,
tanto aquele simbólico, das informações e construções de conceitos e identidades, passando
pelo consumo de celebridades e por fim atingindo o consumo de bens propriamente, ou seja,
algumas dessas relações podem ser abordadas na produção direta e indireta destes bens, ou
pela própria cultura do consumo midiático.
As reportagens sobre os jovens em Veja apresentam diversos meios para a manutenção
de conceitos generalistas ligados diretamente ao consumo. O jovem é tratado tanto como um
agente social que merece atenção específica por parte da família e da sociedade, pela forma de
se relacionar, pela violência, rebeldia, como também um modelo de beleza e vigor físico a ser
seguido, além de serem seres totalmente adaptados à tecnologia. O jovem por inúmeros
trajetos e recursos narrativos, é constantemente “mercantilizado”.
Diretamente, o consumo de bens está relacionado a matérias que apresentam o jovem
como detentor único da capacidade de lidar com diversas tecnologias simultâneas, sempre
equipados com celulares, iPods, relógios, e relacionando-se virtualmente, criando assim
hábitos que os permitem ser detentores e dependentes das tecnologias sugeridas nos artigos.
Há também um forte apelo para uma cultura de cosméticos e serviços de estética,
como cirurgias plásticas, tratamentos para queda de cabelo, propostas de regimes alimentares,
todos eles motivados por apresentação da cultura midiática de celebridades como ideais e
modelos do imaginário coletivo da beleza juvenil. Este ideal, não se restringe aos jovens, mas
é voltada a todas as faixas etárias. Como nos conta Edgar Morin (1962:152), os homens e as
mulheres não querem mais envelhecer, pois o paradigma de vigorosidade, força, beleza e
saúde dos jovens tem papel central na sociedade, desde, pelo menos, as décadas de 60 e 70.
Todo esse contexto da cultura midiática e cultura do consumo, apresenta e conceitua
um jovem no imaginário social. Tomemos por imaginário social, todos os conjuntos de
significações que fazem parte das aceitações coletivas e constituem expressões humanas em
uma rede simbólica. (HERRERA, 2008:2) Neste caso, acredita-se em uma realidade
confirmada e reconfirmada pelos padrões apresentados pela revista, e, como nos conta Gianni
Vattimo:
Realidade, para nós, é mais o resultado do cruzamento, da contaminação das
múltiplas imagens, interpretações, reconstruções que, em concorrência entre
si ou, seja como for, sem qualquer coordenação central, os media distribuem.
[...] Mas tem mais sentido reconhecer que aquilo que chamamos de
14
‘realidade do mundo’ é alguma coisa que se constitui como contexto de
múltiplas fabulações – e tematizar o mundo nestes termos é precisamente o
dever e o significado das ciências humanas. (VATTIMO: 2005,13-32)
Algumas das fabulações citadas por Vattimo fazem parte deste imaginário social, e são
as significações dadas também pela revista. Assim, não tratamos o termo juventude como
somente faixa etária. Por isso o termo aparecerá tanto como um adjetivo para classificar
adolescentes, adultos, e às vezes até crianças e idosos.
Reguillo afirma que a juventude tal como a conhecemos, é uma invenção do pós-
guerra, “en el sentido del surgimento de un nuevo ordem internacional que conformaba uma
geografia política en la que los vencedores accedian a inéditos estándares de vida e imponian
sus estilos e valores”. Assim, prossegue, “la sociedade reivindicó la existencia de los niños y
los jóvenes, como sujetos de derechos y, especialmente, em caso de los jóvenes, como sujetos
de consumo”. (2000, p. 23).
Pierre Bourdieu (1983), ao discorrer sobre a categoria “juventude”, tenta explicar que
esta seria somente uma palavra, assim como a “velhice”, onde ambas são noções das
construções sociais impostas por padrões hegemônicos do mundo adulto, utilizadas para uma
disputa de forças.
Estes jovens, como explicam Everardo Rocha e Claudia Pereira (2009: 19) tornam-se
cada vez mais observados na última década pelos segmentos do mercado, e podem ser
também observados em pesquisas de mercado de órgãos internacionais, como a TNS RI
1
(Research International), ou a TRU Study (Estudo anual feito pela TNS RI) que, inclusive,
está no Brasil desde 2008, anualmente aplicando questionários com jovens da região
metropolitana. Essa importância dos jovens enquanto consumidores pode ser vista na mídia
nacional, como acontece na MTV desde 1999 com seus Dossiês
2
, ou até mesmo na revista
Veja que desde 2000 publica matérias relacionadas à juventude e consumo.
A pesquisa então foi dividia em três capítulos principais. No primeiro deles, há uma
recuperação histórica sobre o jornalismo, iniciando pelo seu nascimento desde a idade média
e passando pelas grandes eras jornalísticas, sempre lembrando a que interesses servem os
jornais, mas, principalmente, na confirmação do pacto social. Interessa-nos também entender
1
Segundo o website corporativo da empresa : “A TNS é a maior empresa de pesquisa de mercado customizada
do mundo. Especializada em prover insights e orientações para auxiliar seus clientes na tomada de decisões, a
empresa detém amplo conhecimento sobre diferentes segmentos de negócios: Consumo, Telecom & TI,
Financeiro, Varejo, Healthcare e Automotivo.”
2
Segundo o website da MTV: “O Dossiê Universo Jovem é resultado de um estudo sobre com jovens das classes
ABC, com idade entre 12 e 30 anos. O universo pesquisado corresponde a 64 milhões de jovens no Brasil.”
15
como são estruturadas as notícias e quais são os principais estilos jornalísticos, entendendo
noções habituais como o sensacionalismo, ou a construção do efeito de realidade.
Posteriormente, definimos melhor os estilos jornalísticos das revistas, ou magazines
que, no Brasil, ao contrário dos jornais diários, atendem a uma necessidade do mundo
moderno de triagens, condensando as notícias diárias mais importantes para economia de
tempo dos leitores, já que as revistas possuem uma periodicidade maior, ou tematizações
específicas atendendo aos interesses específicos, como as revistas tematizadas sobre carros,
assuntos femininos, assuntos adolescentes, científicos, entre outros. Além disso, as revistas
possuem formatos normalmente mais elaborados, ilustrados e de material de maior qualidade,
normalmente acompanhadas de muitas mensagens publicitárias.
O último item do primeiro capítulo está focado especificamente na história e no
jornalismo praticado pela revista Veja, desde seu surgimento inspirado em revistas norte-
americanas, e passando a ser a porta voz das ideologias políticas, culturais e econômicas da
editora e de seus patrocinadores, lembrando de momentos históricos brasileiros e qual papel
desempenhou nestes momentos, como no militarismo.
A estrutura da revista é revelada e declarações tanto de membros fundadores como de
críticos constituem este capítulo, completando e introduzindo os conceitos necessários para
iniciarmos uma análise que nos permitirá entender quem nos discursa sobre o tema
objetivado, no caso, a relação de consumo e juventude.
No capítulo seguinte, o mais denso e mais importante desta dissertação, faz-se a
análise do conteúdo midiático apresentado pela revista. Trata-se de uma pesquisa empírica
sobre o conteúdo relacionado entre juventude e consumo do período compreendido no
primeiro semestre de 2009. Este período foi escolhido, pois, além de coincidir com o início do
curso de mestrado, foi encontrada uma grande concentração de matérias sobre o tema em
questão.
Este capítulo inicia-se com a análise das capas das revistas que trazem o tema
juventude na própria capa, onde nos preocupamos em analisar não só objetivamente, mas
também qualitativamente tanto o conteúdo em texto quanto as imagens.
O resto deste capítulo está dividido em três momentos. O primeiro deles tem como
objetivo “desmontar” e descrever cada uma das notícias que carregam o tema juventude,
mostrando a quantidade de recursos jornalísticos, quais as idéias que cada uma destas
matérias tenta passar, suas posições ideológicas e de que forma estas idéias são passadas. A
ordem da análise é a cronológica, obedecendo à posição das publicações nas páginas dentro
da revista e na data da edição.
16
O segundo item faz uma análise sobre a questão dos critérios de noticiabiliade das
matérias. Entender quais são os valores-notícia utilizados pela revista nos permite saber quais
apelos utilizados para conquistar e dialogar com seus leitores, aumentando a capacidade de
compreensão sobre os meios pelos quais as matérias são publicadas, como polêmica,
proximidade com os leitores, drama e suspense, proeminência, surpresa, raridade ou até
entretenimento. Este item é fundamental para a compreensão do impacto sócio-cultural das
representações publicadas.
O terceiro e último item, procura fazer uma análise das imagens destas matérias,
baseada principalmente no roteiro criado pelos próprios pesquisadores, utilização as noções
apresentadas por Barthes de linguagens conotativas ou denotativas na análise do discurso, e
como estas imagens são apresentadas, ou seja, se reforçam as idéias dos textos ou
acrescentam idéias novas. As questões como as expressões dos personagens nas fotografias,
criando sensações aos leitores, ou as produções feitas destas fotografias, retratando fatos
“reais” ou se as fotos são feitas em estúdios ou o quanto são produzidas tecnologicamente
também são relevantes para esta análise. Por fim, o objetivo desta análise é procurar os
significados estabelecidos pela revista como convenções ou hábitos da cultura, permitindo
que nos aproximemos da forte relação estabelecida entre imagens e imaginários sociais.
Todos estes itens são finalizados com uma breve conclusão que nos permitirá
identificar suas recorrências, e estabelecer relações entre eles considerando os temas que
servirão de base para o capítulo final desta dissertação, que dialogará, através dos dados
coletados, com os autores que estudam a juventude, comunicação e o consumo.
Este último capítulo será dividido em quatro temas que fazem parte das principais
tematizações encontradas, sendo elas: juvenilização da cultura, espetacularização,
idealizações e demonizações sobre a juventude, e as principais relações entre juventude, mídia
e consumo. Os principais autores utilizados serão Edgar Morin, Guy Debord, Everardo
Rocha, Rose de Melo Rocha, Silvia Simões Borelli, Juremir Machado, e outros que dissertam
sobre contemporaneidade, juventude e consumo.
Por fim, no último capítulo, das considerações finais, tentaremos fazer uma síntese
sobre as formas como a revista relaciona todos os temas sobre juventude, levando em
consideração as análises sociológicas e culturais da pesquisa, atreladas à construção de
estereótipos e as possíveis polêmicas sobre aquilo que pôde ser detectado no diálogo entre
intenções e ideologia da revista, e valores de seus leitores.
17
1 COMUNICAÇÃO, CONSUMO MIDIÁTICO E JORNALISMO
Jornal, longe
Que faremos destes jornais, com telegramas, notícias,
anúncios, fotografias, opiniões...?
Caem as folhas secas sobre os longos relatos de guerra:
e o sol empalidece suas letras infinitas.
Que faremos destes jornais, longe do mundo e dos homens?
Este recado de loucura perde o sentido entre a terra e o céu.
De dia, lemos na flor que nasce e na abelha que voa;
de noite, nas grandes estrelas, e no aroma do campo serenado.
Aqui, toda a vizinhança proclama convicta:
"Os jornais servem para fazer embrulhos".
E é uma das raras vezes em que todos estão de acordo.
Cecília Meireles, in 'Mar Absoluto'
1.1 DO JORNALISMO CLÁSSICO À REVISTA VEJA: HISTÓRIA E FUNÇÕES
A poesia de Cecília Meireles reflete a utilidade (ou descartabilidade) do jornal em um
local, que provavelmente é uma cidade afastada e isolada. Poderíamos questionar se tal
isolamento ainda é possível em nossos tempos, com o advento da internet e a invasão de
outros media, e, mesmo se algum lugar assim ainda existir, poderíamos dizer que representa
uma sociedade que não faz parte deste estudo.
O capítulo inicial desta pesquisa tem como principal objetivo recuperar noções
históricas relativas à conceituação do jornalismo e de suas principais funções sociais e
comunicacionais. Nesse sentido, apresentamos contribuições analíticas referentes à forma
através da qual são eleitas as notícias. As matérias normalmente são selecionadas para a
apresentação em um determinado periódico respeitando diversas regras, por meio dos
chamados critérios de noticiabilidade.
Em seguida, buscamos referências que nos permitam entender as estruturas
jornalísticas e suas funções, como, por exemplo, o jornalismo de confirmação, de vigilância,
do desenho do espaço social, e toda a hierarquia das notícias dentro do jornal clássico,
incluindo sua aliança com a ciência, com a política e a economia, além de nos ajudar a
entender como isso se deu historicamente. Apresentamos também o chamado mito da
transparência, criticado por Marcondes Filho:
18
A ideologia da transparência, é, assim, a resposta atualizada do
jornalismo aos novos tempos de “visibilidade total”. Não importa mais a
concepção política que eu tenho, a ideologia, minhas idéias subversivas
ou meus planos de revolução. Tudo isso é neutralizado pela informação
gratuita, volumosa, massacrante na qual qualquer um pode falar o que
quiser sem prejudicar ninguém.
(MARCONDES FILHO, 2002:112)
Uma das principais funções descritas é a da utilização do efeito de real, que se afirma
através de recursos como pesquisas, imagens e como é organizado o discurso em uma notícia,
transformando-a em um fato para os leitores. “A realidade discursiva na qual o homem se
inscreve é, pois, diferente de uma “realidade” tomada como sendo o “real”...” (SOARES,
2001:50).
Estes conceitos importantes, e suas funções, se devem às construções históricas
geradas por diversas situações articuladas a disputas por domínio e interesses. Com isso, o
jornalismo foi se transformando e outros valores passaram a norteá-lo, tais como a noção de
neutralidade, imparcialidade, transparência, da busca do “furo”, os impactos visuais, a
velocidade, e o jornalismo de entretenimento.
O capítulo continua então descrevendo as diferenças das revistas para o jornalismo
clássico, pela segmentação dos assuntos e públicos, além do nascimento de revistas semanais
dirigidas ao homem moderno e sua necessidade de condensar as notícias da semana pela falta
de tempo associada a um ritmo de vida alucinado.
No Brasil, há alguns exemplos clássicos de revistas, como Claudia e Quatro Rodas,
exemplos de magazines de públicos segmentados e a revista Cruzeiro, que pode ser
considerada a primeira grande revista nacional. O capítulo irá dissertar sobre as citadas
revistas, para descrever a história da revista Veja, como a grande protagonista deste trabalho.
A revista Veja atravessou fatos e circunstâncias que a transformam na revista de maior
tiragem e mais polêmica do país. Como se pretenderá demonstrar ao longo da dissertação,
esta revista pode ser considerada uma das mais atuantes partícipes na construção do
imaginário social sobre a classe média brasileira. Assim, nossa hipótese de pesquisa coaduna-
se a uma leitura particular das representações sobre as juventudes, permeadas pela mídia, pelo
consumo midiático e por uma vertente da economia política dos meios decisiva na
compreensão da ingerência da cena midiática na agenda política nacional.
19
1.2 É CLARO QUE ACONTECEU... SAIU NO JORNAL!
Uma notícia, como matéria prima do jornalismo, aparece como um dado ou evento
social que, segundo critérios pertinentes a este campo, mereceria a publicação midiática. Se
tomarmos por referência o próprio discurso dos profissionais deste tipo de mídia, o “fazer
jornalístico” significaria elencar assuntos que supostamente seriam mais interessantes para o
público e, a partir deste pressuposto, tratar de apresentá-los de forma atraente, afirmação sem
dúvida questionável em termos de uma análise crítica.
Vamos analisar o que nos dizem alguns analistas desta produção social e cultural. Se
tomarmos a interpretação de Lage (1998:19-22) tem-se que, no sentido mais cru da definição,
seria necessário diferenciar uma simples narração de um fato do que seria uma notícia. Esta se
daria pela seleção dos eventos, sua ordenação e por uma nomeação, uma linguagem
específica.
É importante diferenciar valores da notícia, critérios de seleção de notícias e conceitos
de noticiabilidade. Nestes termos, não há espaço na mídia para a publicação de informações
ou notícias triviais que ocorrem no dia-a-dia e não tem destaque, não chamam a atenção.
Como explica Silva (2005:96), a criação das notícias passa pela interação dos repórteres,
diretores, editores, dos acordos feitos pelos produtores em poderosas convenções culturais e
literárias em que os jornalistas operam o pensar.
Portanto, a noticiabilidade compreende qualquer fator potencialmente capaz de agir na
produção da notícia, considerando-se, inclusive, julgamentos pessoais dos jornalistas, a
cultura dos editores, condições de produção da empresa de mídia, qualidade do material,
relação com as fontes (os contatos), o público, os prazos, os valores éticos, circunstâncias
históricas, políticas e sociais. Para melhor compreensão deste processo, Silva (2005:96)
divide os critérios de noticiabilidade na origem, no tratamento e na visão dos fatos.
A autora reúne os critérios mais conhecidos e faz a proposta de uma tabela com os
valores da notícia, para a operação das análises de acontecimentos que podem ser noticiados
conforme segue:
20
Propostadetabeladevaloresnotíciaparaoperacionalizaranálisesde
acontecimentosnoticiáveis/noticiados
IMPACTO PROEMINÊNCIA
Númerodepessoasenvolvidas(nofato) Notoriedade
Númerodepessoasafetadas(pelofato) Celebridade
Grandesquantias(dinheiro) Posiçãohierárquica
Elite(indivíduo,instituição,país)
Sucesso/Herói
CONFLITO ENTRETENIMENTO/CURIOSIDADE
Guerra Aventura
Rivalidade Divertimento
Disputa Esporte
Briga Comemoração
Greve
Reivindicação
POLÊMICA CONHECIMENTO/CULTURA
Controvérsia Descobertas
Escândalo Invenções
Pesquisas
Progresso
Atividadesevaloresculturais
Religião
RARIDADE PROXIMIDADE
Incomum Geográfica
Original Cultural
Inusitado
SURPRESA GOVERNO
Inesperado Interessenacional
Decisõesemedidas
Inaugurações
Eleições
Viagens
Pronunciamentos
TRAGÉDIA/DRAMA JUSTIÇA
Catástrofe Julgamentos
Acidente Denúncias
RiscodemorteeMorte Investigações
Violência/Crime Apreensões
Suspense Decisõesjudiciais
Emoção Crimes
Interessehumano
Fonte:Silva(2005:104105)
21
A tabela apresentada, conforme explica Silva (2005:104-105), é o resultado de uma
avaliação dos atributos apontados por diferentes autores
3
a cerca dos chamados critérios de
noticiabilidade.
A forma como a notícia se apresenta, tomando por referência a literatura clássica do
jornalismo, envolve questões que podem ser analisadas investigando-se sua estrutura. A
maneira como se estruturam as notícias jornalísticas é de importância crucial para entender o
papel das mesmas na sociedade. A apresentação do posicionamento dentro dos periódicos é
um aspecto que pode ajudar a revelar qual a importância destas notícias e inclusive sinalizar
alguns de seus objetivos. Mais do que isso, pode nos dar pistas para compreender qual é a
“alma” de determinado periódico. Chamamos de “alma” seu posicionamento histórico,
político, social e quais interesses possui, para além da informação.
Neste ponto de vista, a análise da produção jornalística se torna um tanto “rasa”,
empobrecida, se feita sem o entendimento de sua função, de seu papel e lugar no jogo social.
Esta função, para Gomes (2000:19), pode ser interpretada como o poder do jornalismo atuar
no funcionamento da sociedade. Este poder está norteado pelos pertinentes mercados,
sistemas políticos e econômicos em que está inserida a produção, mas significa basicamente
organizar discursivamente uma dada sociedade. Sua função organizadora, que é constitutiva
de seu poder, se tornaria mais visível quando analisada a estrutura do discurso jornalístico.
O poder é exercido, conforme explica Gomes (2000:20-21), por meio de vários
recursos. O primeiro trata-se da função testemunhal, que, antes de qualquer coisa, significa
uma confirmação do “pacto social
4
” na comunidade, estabelecida através da linguagem. Além
disso, confirma-se pela concentração de temas que reiteram o “pacto social”, como o Estado
ou a economia, e os órgãos pelos quais o jornalismo é exercido. O “pacto social” precisa ser
constantemente reiterado para que se sustente. Aliás, este é um dos motivos pelos quais no
jornalismo não se fala na primeira pessoa, para se falar sempre em nome de todos, não
importando o teor da notícia. O discurso jornalístico é legitimado através deste recurso.
Nesse sentido, é como se as notícias buscassem contar a história desta sociedade,
fazendo com que ela permaneça estruturada em um subjetivo acordo de vontades dos poderes
instituídos. Faz-se necessário a ressalva de que permanecer estruturada não significa que esta
3
A tabela foi utilizada na monografia de uma de suas orientandas, Erica Franzon, em 2004 na Universidade
Federal de Santa Catarina ao comparar os valores notícias de dois telejornais.
4
O chamado “pacto social”, sem a necessidade de aprofundar nas teorias do contrato social de Hobbes, Lock e
Rosseau, entendemos como uma suposta estrutura de regras e conceitos implícitos, aceitos por todos ou pela
maioria da sociedade que faz a mesma se manter como ela é.
22
sociedade não se modifique, mas que estas mudanças fazem parte de um processo desta
estrutura, que acabam sendo legitimadas também pelas notícias.
Lage (1998:9-9) esclarece que na Idade Média as confirmações do “pacto social” se
firmavam por sermões das igrejas, decretos, proclamações e exortações. Eram reiteradas
também por contos notáveis, crônicas da vida cotidiana, cantigas, literaturas clássicas e
fábulas de trovadores. Depois, com a expansão comercial, as notícias com estas funções
cruzavam os mares e continentes. Posteriormente, o acúmulo de capital propiciou maior
desenvolvimento artesanal e de alfabetização, permitindo uma utilização maior da linguagem
escrita. Os avvisi
5
já eram pregados em muros em cópias manuscritas, e o mais interessante é
que não vinham dos duques nem das igrejas, mas sim dos banqueiros burgueses.
Gomes (2000:21) ainda chama a atenção para outra função do jornalismo. Além de
exercer a confirmação, o jornalismo possui outra forma de reiterar o “pacto social” que é sua
postura como um vigilante, um observador dos deslizes dos poderes dominantes. Por esse
motivo, o jornalismo é muito conhecido como o quarto poder, além do legislativo, judiciário e
executivo.
O caso Watergate é bem lembrado por Machado da Silva (2000:10) como uma
expressão paradigmática na qual o jornalismo se apresentou como vigilante. O autor ressalta
que “Watergate é um exemplo supremo da aplicação das “regras do bom jornalismo” à grande
imprensa. Este foi um caso no início dos anos 70 em que o jornal Washington Post iniciou
uma série de investigações descobrindo ilegalidades nas transações do presidente norte
americano Richard Nixon, culminando no pedido de sua renúncia.
Desta forma, podemos entender a função de vigilância exercida pelo jornalismo, assim
como sua função de confirmação, como mantenedoras da ordem estabelecida. Porém, a
vigilância é mais incisiva que a confirmação. É interessante pensar, por exemplo, notícias que
supostamente contam os fatos de uma sociedade (confirmam a ordem do “pacto social”), que
podem se enquadrar como sua confirmação, e notícias que denunciam os fatos de deslizes dos
poderes estatais ou econômicos (portanto, também mantêm a ordem do “pacto social”), que
podem ser enquadradas como uma vigilância.
Um dos fatores principais atribuídos por Gomes (2000:23) e que tem especial
significância para esta dissertação, está no chamado desenho do espaço social. Este desenho
trata de estabelecer uma ordem de importância, colocar valores por escolher e priorizar as
5
Avvisi eram cartas feitas à mão, usadas para questões políticas, militares, e econômicas, rápidas e eficientes na
Europa durante os anos 1500-1700.
23
temáticas. Segundo Soares (2001:23-24), apesar de no jornalismo existir uma organização de
regras estabelecidas, em geral, da busca de construção de narrativas impessoais e objetivas,
não há como relatar objetivamente um fato, pois:
...os fatos não são entidades autônomas, esperando que o jornalista vá até
eles para revelá-los. Os fatos, assim como aquilo que é chamado de “real”
são construídos pela linguagem e os mecanismos de tal operação não são de
forma mecânica.
(SOARES, 2001:26)
A eleição de temas e a forma como eles são colocados dependem das instituições de
poder da sociedade onde se exerce este jornalismo, dos jornalistas com suas ideologias e do
contexto ideológico onde está inserido este jornal, e não simplesmente dos fatos. É pouco
comum, mas acontece, por exemplo, de periódicos de posicionamentos políticos contrários
elegerem destaques diferentes na capa, ou formas diferentes de abordarem o mesmo fato,
parecendo até mesmo fatos diferentes, contribuindo para este desenho do espaço social.
A construção deste desenho do espaço social, para Gomes (2000:23), seguindo a
forma como se apresentam as idéias em um jornal, obedece uma seqüência baseada na ordem
dos seguintes temas: Estado em exercício/evento que desestabiliza a ordem social; economia
– organização para-estatal; feitos científicos – um contar épico; fait divers
6
; esporte, lazer e
cultura.
A autora coloca tanto a ciência quanto a economia como desdobramentos do poder
instituído, e depois cita que a economia possui uma autonomia, destacando-se do poder
estatal. Consideramos ser interessante confirmar esta idéia, percebendo que, com a chamada
globalização, este processo se torna a cada momento mais visível no mundo contemporâneo.
Essa hierarquia corrobora a ordem instituída.
No caso da ciência, que pode servir como uma aliada do Estado, ela apresenta uma
realização de projetos que supostamente melhoram as condições de vida (GOMES, 2000:23) e
que significaria revelar segredos, aperfeiçoamentos tecnológicos, construir e desconstruir
mitos que criam expectativas positivas e estão sempre atrelados paralelamente a feitos
políticos.
6
Faits divers (pronuncia-se fé-divér; em francês, literalmente, "fatos diversos") é uma expressão de jargão
jornalístico e, por extensão, um conceito de teoria do jornalismo que designa os assuntos não categorizáveis
nas editorias tradicionais dos veículos (política, cidade, polícia, economia, internacional, esportes e outros).
São fatos desconectados de historicidade jornalística, ou seja, referem-se apenas ao seu caráter interno e seu
interesse como fato inusitado, pitoresco. Em geral, remetem a temas considerados "leves", curiosos, não muito
sérios e sem comprometer seriamente ninguém.
24
A função da utilização da ciência como algo positivo para o desenho do espaço social
através de notícias já aparecia no início do jornalismo, quando ainda era pouco parecido tal
como conhecemos hoje. Conforme descreve Marcondes Filho (2002:11-12), na era chamada
de primeiro jornalismo durante o “Iluminismo”, iniciada a partir de 1789, a ciência trabalhava
confirmando uma dominação a partir do controle do saber e da informação e era confirmada
pelo pensamento positivista, procurando sempre a manutenção das autoridades de poder e
facilitando a submissão e a servidão. A burguesia trabalhava a exposição em demasia neste
jornalismo, já que ele coincide com a Revolução Francesa na luta pelos direitos humanos, no
fim da monarquia, e no fim do poder instituído da Igreja. A exploração das idéias iluministas,
desvendando e mostrando tudo que fosse possível, virando tudo de pernas para o ar, valendo
tudo, inclusive profanação (algo impossível de se aceitar já que até poucos séculos antes a
igreja era soberana), donde surge o mito da transparência.
Fazendo uma breve releitura de tudo que foi dito até agora sobre função jornalística,
comentamos sua função de testemunho, onde se trabalha a confirmação dos fatos e a
vigilância da sociedade para manter o “pacto social”. Para tanto, isso ocorre conforme uma
interpretação destes fatos, seguindo algumas regras jornalísticas de interpretação, dominadas
pelo Estado, economia e órgãos onde estão inseridos estes meios jornalísticos. Além disso, o
jornalismo contribui para o chamado desenho do espaço social, mostrando as formas como
são elencadas e selecionadas as notícias. Existe uma hierarquia que é utilizada em todo o
processo, ressaltando, na contemporaneidade, o Estado e a economia. Mas não foi somente
através desta relação de poderes que o jornal se estruturou historicamente e que se resumiriam
as funções do jornalismo.
Para entender como se dão as interpretações, é necessário mencionar uma das funções
da linguagem utilizada no jornalismo: a função de “referência e realidade”. Gomes (2000:24)
relembra Gilles Deleuze, sobre a origem de um “sem sentido” na relação entre signo/referente
nas práticas do jornalismo. Para todo processo supracitado é que se dá o testemunho e há uma
necessidade de sentido, sentido este que se reforça pelo próprio testemunho, criando uma
lacuna entre o real concreto e a justificativa deste real. Portanto, o discurso do real é dito por
tantas vezes que reforça o próprio discurso, criando uma referência simbólica, uma ilusão.
Para tanto, o nome dado para a estratégia utilizada na prática jornalística para preencher esta
lacuna é a referencialidade.
Desta forma, as matérias jornalísticas podem estar, como nos lembra Gomes (2000:24-
25), sempre fundamentadas em citações, entrevistas, fotografias, tabelas de porcentagens e
diversos recursos que fazem referência ao real, ajudando a transformar as notícias narrativas e
25
os dizeres da imprensa em algo que transforma para os leitores o significado no referente, ou
seja, transforma a notícia em realidade, e isto é chamado de efeito de real.
Em outros termos, na história “objetiva” o “real” não é mais que um
significado informulado, arbitrado por trás da aparência toda poderosa do
referente. Esta situação define o que poderíamos chamar de efeito de real.
(BARTHES, 1982:20)
Apesar de, nas ciências da comunicação e da linguagem, este “efeito de real” já ser
algo conhecido, ainda há um forte mito de que existe uma realidade a ser retratada e uma
verdade a ser revelada. Tal noção é criticada por Soares (2001:26), lembrando Gans (1980:
312) ao dizer que os jornalistas são grandes construtores da nação e da sociedade como
gerenciadores da arena simbólica.
Gomes (2000:25-26) mostra que há três funções que integram as matérias e que
contribuem para criar este “efeito de real”. A primeira delas são os índices. No caso do jornal,
são as fotos, as testemunhas, as declarações que apresentam o estado de espírito de um
personagem em alguma ocorrência. Uma foto, por exemplo, que mostra um olhar de
desespero dos observadores de um desastre, contribui para criar a atmosfera, o clima de um
fato.
As imagens, além de criar o “clima”, causar emoções, podem construir um sentido
planejado, divulgar ideologias ensaiadas, e se transformam em ícones. Às vezes elas parecem
tentar produzir um efeito de realidade e podem se transformar em ícones, em símbolos, em
modelos, trazendo inúmeras informações que podem dar mais margem a interpretações do que
os textos.
Outra forma recorrente nos periódicos são os informantes, que situam o tempo e o
espaço através de fatos históricos, do clima e das datas, por exemplo. É normal em um jornal
um quadro informando uma notícia que será lançada no outro dia, ou a previsão do tempo em
uma determinada região, ou destacar uma data histórica, deixando sempre o leitor preparado
para o dia de amanhã, ou relembrando uma data de ontem.
Os informes podem criar uma necessidade de seqüência, como uma novela, por
exemplo, com uma chamada: “Não perca amanhã, especial sobre juventude: Aprenda como os
jovens se relacionam e saiba como lidar melhor com seus filhos”. Ou, ainda, cria um hábito e
uma expectativa, na previsão do tempo, dizendo: “Hoje, parcialmente nublado, amanhã sol
com chuva no fim da tarde”.
26
As catálises também são funções em que normalmente a matéria se mostra por algum
evento específico, na chamada ou na foto, e as informações da seqüência dos fatos vêm
descritas abaixo, criando uma inversão cronológica dos acontecimentos: começa-se pelos
fatos mais chocantes para depois entrar nos pormenores e chamar a atenção para o fato
principal da notícia.
Sobre as catálises, é interessante fazer uma observação sobre a forma como são feitas
para introduzir um conceito jornalístico, pois Lage (1998:26-27) fala dos leads das notícias,
considerando que um lead é normalmente o primeiro parágrafo de uma notícia e que nele está
contido o que é mais importante nela.
É importante salientar algumas diferenças ainda colocadas por Gomes (2000:27-30), já
que “efeito de real” é um termo de Barthes das estratégias dos discursos realistas, e que é
usado na prática jornalística. Já a “ilusão referencial” está ligada a uma auto-suficiência do
real, sem mediação simbólica, facilmente perceptível pelos índices de referencialidade. A
tabela de porcentagem, que vem de algum instituto de pesquisa, serve como um testemunho
matemático e se aproxima do verossímil. Já as fotos, os relatos e entrevistas, não se
aproximam tanto desta relação, mas trazem um aporte maior de credibilidade, embora não de
verossimilhança. “No jornalismo o jogo da credibilidade se joga sobre o sucesso da
referencialidade suposta”. (GOMES, 2000:30)
Apesar da estrutura e de todas as funções do jornalismo até aqui mencionadas, da
subordinação hierárquica ao “pacto social”, das técnicas de transformação da notícia/signo em
real/referente, do mito da transparência, vale lembrar que os valores dominantes do fazer
jornalismo foram se transformando ao longo da história. Se o desenho social segue uma
hierarquia de valores pré-determinados, nem sempre foi dessa forma. Marcondes Filho
(2002:48) divide a história do jornalismo em cinco fases, iniciando pela pré-história, passando
pelas chamadas fases de primeiro jornalismo, segundo, terceiro e quarto jornalismo.
Muito do que se diz em relação à invenção da imprensa, deve-se à primeira impressão
da Bíblia, em 1452, na Mongúncia, Alemanha. Trata-se de um fato discutível, já que no início
o papel era fabricado na Espanha no séc. XII sob ocupação árabe, os metais utilizados vieram
da Coréia, em 1390, e a cerâmica dois séculos antes na China. Mas o principal impulso
ocorreu em um contexto mundial após as navegações para as Américas, com o comércio
despontando em todos os lugares e, em 1609, em Bremen, na Alemanha, surge o primeiro
periódico, espalhando-se posteriormente pela Europa. (LAGE, 1998:9)
Sobre a chamada pré-história do jornalismo, Marcondes Filho (2002:48) relata que
os valores dominantes eram os do espetacular e da novidade, como as mortes e as vidas dos
27
reis, pessoas deformadas e desastres. Mas Lage (1998:10-11) afirma que desde o início a
notícia aparecia centrada na acumulação do capital mercantil, concentrando-se, por exemplo,
nas conseqüências comerciais das safras da agricultura. Depois dominados pela burguesia,
passaram anos e anos entre brigas políticas, até que a distribuição dos jornais já não visava o
lucro, mas era vista como um instrumento de poder e de controle.
Marcondes Filho (2002:48) destaca que, a partir de 1789, surge o Primeiro Jornalismo,
onde os agentes (jornalistas) eram políticos, escritores, críticos e cientistas, ao contrário do
empreendedor isolado da fase anterior. Os valores deste jornalismo passavam pela razão, a
verdade e a transparência (valores vigentes até hoje), questionamento das autoridades, crítica
política e confiança no progresso. Porém, sua economia era deficitária.
O Segundo Jornalismo começa em 1830 e vai até 1900 (MARCONDES FILHO,
2002:48). É a fase do jornalismo de massa, onde aparecerem os primeiros jornalistas
profissionais e o jornal inicia a busca pelo lucro. Cria-se a necessidade do “furo” jornalístico,
e acredita-se na neutralidade. Nascem as reportagens, as enquetes, as entrevistas e as
manchetes, e começa o investimento nas primeiras páginas, logos e chamadas.
Ao período entre 1900 e 1960, Marcondes Filho (2002:48) dá o nome de Terceiro
Jornalismo, onde os valores estão voltados às grandes rubricas literárias ou políticas, e o
espaço predominante se dava ao entretenimento com páginas-magazine, matérias sobre
esporte, cinema, rádio, teatro, infantil e feminino. Os publicitários começam a dominar
grandes proporções dos espaços jornalísticos, e a fotografia aparece como um forte elemento.
Lage (1998:12-13) diz que, neste período, com a transformação da sociedade e o
fortalecimento do nacionalismo, socialismo e liberalismo em disputa pelas opções políticas
das massas, as lutas sociais começam a reivindicar espaços na imprensa, e em meio a esta
aquecida briga os donos das empresas jornalísticas aproveitam a situação e deixam o
romantismo da primeira fase jornalística para transformar o jornal em uma empresa voltada
aos lucros com notícias populares e sensacionalistas.
O surgimento do chamado sensacionalismo, que tem como marco local os Estados
Unidos, se desenvolveu depois da guerra civil. A imprensa já estava enquadrada em um
esquema capitalista liberal, substituindo a tarefa de sociabilização do grande contingente de
imigrantes europeus, para dar ênfase às histórias sentimentais e de crime, que projetam
aspirações e angústias nas massas (LAGE, 1998:14-15), utilizando-se de um jogo de emoções.
Para combater este tipo de apropriação do jornalismo, outros jornalistas norte-
americanos se empenharam no tratamento das informações baseadas no espírito científico,
28
tentando não avançar além daquilo que os fatos indicavam (apesar de ideológico, impossível),
fazendo nascer daí o mito da imparcialidade. (LAGE, 1998:15)
O advento do Quarto Jornalismo, conforme periodização feita por Marcondes Filho
(2002:48), tem por características a valorização à velocidade, os impactos visuais e recupera o
mito da transparência. Ela contempla de 1970 até os dias atuais, e a informação eletrônica e
interativa se torna cada vez mais presente. Lage (1998:13-14) conta que, com a inovação
tecnológica na segunda metade do século 19 nos processos de produção dos jornais, cria-se a
necessidade de uma auto-sustentação dos mesmos, para a modernização das máquinas, o que
ajuda na transformação de uma atividade livre do pensar em uma operação que precisará
vender muito para se autofinanciar. A partir deste momento, a imprensa se firma forte como
um negócio do capitalismo. O caráter de mercadoria das notícias faz com que os espaços
publicitários comecem a ser mais vendidos para assegurar sua sustentação e sobrevivência. E
a tendência, até o final do século 20, é de fazer do jornal preenchido em sua maior parte por
comunicações publicitárias permeado de notícias.
Marcondes Filho (2002:9) apresenta a história do jornalismo como um reflexo da
aventura da modernidade, graças ao desenvolvimento econômico do empreendedor burguês e
à modernidade política através das vitórias das democracias republicanas, e as disputas
políticas. É nesse contexto que nasce a figura do jornalista.
Muitos dos valores que norteavam o jornalismo em fases anteriores perduram até hoje,
como a busca do “furo”, o caráter de atualidade e a aparência de neutralidade, ou
imparcialidade, o caráter “libertário e independente”, desde a criação da imprensa de massa,
que na verdade faz desaparecer a liberdade e criar um entretenimento para preencher a falta de
funções políticas. Esta mudança do espírito da época, marcada pelos monopólios, adaptando-
se à modernidade, muitas vezes é chamada de decadente e niilista, devido à crise da cultura
ocidental do século XX.
Neste período, como descreve Morin (2005:48-52), há um enfraquecimento na Europa
e nos EUA de jornais e revistas de baixo nível em benefício dos de nível médio. A
mediocridade na acepção original da palavra e não no sentido pejorativo corrente, prevalece,
ou seja, os baixos sobem e os altos descem. Os jornalistas se tornam mais eficientes e os
poetas pioram. As qualidades técnicas e literárias se modificam por uma cultura
industrializada irrigando todo o sistema. Esta crítica de Morin pode ajudar a mostrar ainda
muitas das facetas do jornalismo na modernidade. O autor ainda explica que esta nivelação
pelo médio é um fato que acontece em diversos setores da sociedade, e não só na mídia.
29
Assim, o jornalismo, enquanto objeto de estudo do campo da comunicação e da
sociedade, pode ser analisado por meio de referências da linguagem, da história e de relações
de poder que se dão ao longo dela. A mídia aparece como um forte aparato do sistema social,
construindo e reforçando referencias simbólicas, produzindo e reproduzindo discursos que
confirmam a ordem e estrutura social em que vivemos, e vigiando para a manutenção da
mesma. A sociedade, ao consumi-la, absorve desenhos do espaço social, e transforma
referências em realidade, demonstrando um poder de dominação autônomo por um lado, e
hierarquizado por outro.
Sodré (1972:12) já dizia que o próprio fenômeno moderno da cultura de massa só se
tornou possível com o desenvolvimento do sistema de comunicação da mídia, ou seja, com o
progresso e a multiplicação dos jornais, revistas, filmes, rádios, discos, e a televisão,
ressaltando uma forte centralidade no conceito de mídia.
A história da mídia impressa se confunde com a história da política, da economia e da
comunicação na sociedade organizada. Ela acaba refletindo, sobretudo, o pensamento e a
organização da sociedade e dos os movimentos sociais em um determinado tempo. Nos dias
de hoje, com o desenvolvimento das telecomunicações, da informática e da tecnologia de
modo geral, esta mídia impressa perde muito do seu espaço para novos formatos, desde o
surgimento da televisão no início do século XX até o desenvolvimento das mídias digitais e
interativas e cada vez mais sofisticadas, no final do século XX e começo do XXI (leia-se:
Internet). Mesmo assim, ela continua como uma forte referência na construção do imaginário.
30
1.3 TÁ NA CAPA DA REVISTA: CONCEITOS DE MAGAZINES E A HISTÓRIA DAS
REVISTAS BRASILEIRAS
Para além de uma análise panorâmica do jornalismo e da cultura midiática, é
importante diferenciar as revistas dos outros periódicos, pois possuem uma forma própria de
se comunicar. Ao direcionarmos o foco da investigação, pretendemos esclarecer as
particularidades do consumo midiático característico destes veículos de imprensa, assim
procuramos explicar essas diferenças, contextualizando principalmente a história das revistas
brasileiras em relação aos primeiros países em que este tipo de mídia se desenvolveu, como
na Europa e nos Estados Unidos.
No mundo contemporâneo, o conceito da palavra “revista” não se resume
exclusivamente à mídia impressa conhecida também como magazine, em formato brochura,
mas inclui também, em tempos de internet, sua versão digital, ou edições somente digitais.
Não obstante, o interesse deste trabalho está voltado à revista em sua forma impressa clássica,
em função de sua mais longeva presença, construída ao longo do século passado, e ainda
presente em nossa cultura e no cotidiano.
Empreendendo uma análise crítica, Sodré (1972:40) explica que o conceito clássico de
revista designa uma extensão da imprensa diária, porém com objetivos distintos (em contraste
com os jornais diários), sendo mais opinativa sobre assuntos variados e também aprofundando
os assuntos:
Pelas características que tem, é formadora de opinião... A revista,
diferentemente do jornal, garante visibilidade por período mais longo, sendo
esta uma boa vantagem. Geralmente existem publicações bimestrais,
mensais e semanais. E a grande variedade de títulos existentes no mercado
permite que você segmente o público. Além disso, a revista promete alta
credibilidade.
(CESAR OLIVEIRA, 2008:71)
A partir de 1900, várias revistas foram criadas no Brasil, algumas das quais existindo
até os dias de hoje (MIRA, 2001:13). Apesar disso, como explica Sodré (1972:40), elas não
participaram tão significativamente de alguns desenvolvimentos históricos específicos, como
a abolição, ou grandes campanhas cívicas, ao contrário de países como os Estados Unidos,
onde as magazines tiveram papéis importantes, não somente no último século, mas em um
grande período de sua história.
Em 1928 foi criado em território nacional um dos grandes ícones editoriais da época,
que unia informação e entretenimento: O Cruzeiro (MIRA, 2001:13). Esta magazine era
31
dirigida a todos, tendo seu público-alvo nos mais variados tipos sociais, em pessoas de todas
as idades: o homem, a mulher, os jovens, as criança; o patrão e o empregado, promovendo
uma cultura generalista. Como nota Sodré:
Num país de dimensões continentais, sem maiores limitações de censuras, o
campo era vasto e variado para O Cruzeiro. Seus repórteres e fotógrafos, que
constituíam uma espécie de elite profissional na época, eram verdadeiros
cavaleiros andantes em busca do Santo Graal da Sensação: iam buscar o
assunto na fonte, em qualquer ermo do Brasil ou do mundo[...] Para um
público ainda não saturado pelos veículos de massa, ler O Cruzeiro era
redescobrir semanalmente o mundo, e sempre de modo aventuroso e
sensacional: índios hostis, discos voadores, escândalos de políticos ou de
ídolos populares, excursões proibidas na Argentina peronista, crimes
misteriosos, etc.
(SODRÉ, 1972:41).
Foi no contexto da cultura de massa do século XX, que as revistas mais conhecidas no
Brasil começaram o que pode ser chamada de sua trajetória histórica. O país vivia uma
modernização tardia, e todos os setores da produção cultural passavam por transformações,
evoluções técnicas, profissionalização e racionalização para o consumo pelos processos de
urbanização e industrialização. O Cruzeiro fez parte desta transição entre a época em que
jornalismo e literatura se confundiam, e em que a Indústria Cultural no Brasil despontava
(MIRA, 2001:14).
Um dos motivos por detrás da criação de O Cruzeiro pela iniciativa de Assis
Chateaubriand
7
era de natureza política: ajudar a levar Getúlio Vargas ao poder, como parte
da campanha da Aliança Liberal. Aliás, sua tiragem chegou a passar de 700 mil exemplares na
edição histórica do suicídio de Getúlio Vargas, produzindo também cerca de 300 mil
exemplares em espanhol exportados para América Latina. Os números são próximos da
7
Histórico jornalista e empresário brasileiro nascido em Umbuzeiro, Paraíba, que se tornou dono de um império
jornalístico, Os Diários Associados (1940-1980) constituído à base de interesses e compromissos políticos, e que
e se notabilizou pela enorme influência que exerceu, por várias décadas, junto às altas esferas de decisão no
Brasil (1940-1970). Diplomado pela Faculdade de Direito de Recife (1913), começou a trabalhar na imprensa
ainda como estudante. Mudou-se (1917) para o Rio de Janeiro, passando a colaborar no Correio da Manhã. Foi
redator-chefe do Jornal do Brasil (1919-1921) e advogado da Companhia Light and Power. Comprou (1924) O
Jornal, mais tarde órgão principal dos Diários Associados, uma poderosa empresa de comunicações construída à
base de interesses e compromissos políticos, que chegou a publicar 34 jornais no país, além de possuir 36
estações de rádio, 18 de televisão, uma agência de notícias, várias revistas infantis e a Editora O Cruzeiro, com a
revista semanal do mesmo nome, o periódico de maior circulação na América Latina. Foi Senador pelo
Maranhão (1952-1957), mas renunciou ao mandato ao ser designado embaixador em Londres (1957-1960), no
governo Kubitschek. Fundador do Museu de Arte de São Paulo, o Masp, escreveu vários livros e tornou-se
imortal da Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a cadeira nº 37, e morreu em São Paulo. Fonte:
Universidade Federaç de Campina Grande http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/Chateaub.html
32
tiragem da revista Veja em tempos recentes, porém quando a população brasileira não
chegava aos 50 milhões de habitantes. (MIRA, 2001:23)
Durante grande parte de sua trajetória, entre as décadas de 30 e 60, O Cruzeiro foi o
grande veículo nacional de informação e notícias. Foi responsável pela crônica social, política
e artística, não só sobre o Brasil, mas sobre todo o mundo, rica em publicidades, esquemas de
distribuição, marketing e outros conceitos que hoje marcam quase todas as revistas
conhecidas. Havia até uma permuta que Chateaubriand havia feito com o diretor da MGM
8
de
publicidade conjunta. A editora utilizou um esquema de distribuição usando todos os meios
de transporte disponíveis. Visualmente, possuía muitas imagens e fotografias, em papel
couchê, e divulgava todas as personalidades famosas da época em anúncios de produtos de
um mercado crescente. Do ponto de vista profissional, para muitos profissionais do
jornalismo de revistas, O Cruzeiro representou uma verdadeira escola no Brasil. (MIRA,
2001:24-25)
Concomitantemente, outras revistas semanais operavam e cresciam no Brasil, mas
nenhuma que chegasse perto do alcance de O Cruzeiro. Dentre estas, podemos citar a Revista
da Semana, Careta, Seleções, A Cigarra, Carioca, Fon-Fon, Cena Muda, entre várias outras.
A partir dos anos 60, inicia-se a chamada “era das grandes revistas”, por serem
pioneiras na segmentação dos assuntos, e assim, abrindo novos caminhos, consolidando
estilos e conquistando os leitores. Dentre estas, é importante destacar quatro: Claudia, Quatro
Rodas, Realidade e Veja. A primeira consolidou o público feminino, a segunda a imprensa
automobilística, a terceira assumindo um tom de conversa com intelectuais, e a última como a
revista semanal de informação. Paralelamente, neste mesmo período, inicia-se o declínio de O
Cruzeiro exatamente por ser uma revista que tratava de muitos temas e não poderia mais
competir com revistas de assuntos e tão especializadas como as quatro supracitadas. (MIRA,
2001:41-42)
Segundo Mira (2001:42), existia uma escassez de recursos das revistas citadas, em
termos de direcionar seus ideais, pois, apesar de já existirem pesquisas de mercado, elas não
eram tão desenvolvidas a ponto de responder aos questionamentos necessários. Estas revistas
tinham em comum uma idéia fixa de mostrar o leitor brasileiro. Claudia queria mostrar a
mulher, a moda e a cozinha brasileira, Quatro Rodas queria traçar um mapa físico do Brasil,
8
Metro-Goldwyn-Mayer Inc., ou MGM, é uma empresa norte-americana de comunicação de massa, envolvida
principalmente com produção e distribuição de filmes e programas televisivos.
33
Realidade desvendar um país que o noticiário comum não mostrava, e Veja integrar o país
através da informação.
Mira (2001:43-44) considera que a revista Claudia se caracterizou por tomar uma
postura, como também declarado por Victor Civita em 1986 na comemoração de 25 anos da
revista, de ser a filha, esposa ou amiga das leitoras. Ainda segundo a autora, algumas
pesquisas divulgavam, inclusive, que o público feminino lê mais revistas do que o masculino,
enquanto o masculino lê mais jornais.
A revista Quatro Rodas, como descrito por Mira (2001:61), esteve ligada à indústria
automobilística brasileira em fase de sua nacionalização, sempre em busca de “furos” que
poderiam consistir em antecipar modelos e protótipos de carros, segredos de fábrica e testes
automotivos. De certa forma, ela já se encaixava com perfeição no modelo da postura
econômica liberal e internacionalista que mais tarde foi escolhido como o modelo brasileiro
de desenvolvimento: a aliança com o capital estrangeiro. Esse modelo obteve tanto sucesso
que levou à criação do Guia Quatro Rodas que se tornou uma bíblia do turismo brasileiro.
Tudo isso sempre esteve inspirado em modelos de revistas estrangeiras do mesmo gênero.
Por tratarem de assuntos específicos, as duas revistas citadas, Cláudia, Quatro Rodas,
funcionam mais como auxiliares no consumo do que como divulgadores da informação, sendo
que as matérias valorizam sempre certos ângulos publicitários das reportagens, exploradas da
mesma forma que os anúncios, acionando os impulsos aquisitivos dos leitores, como ressalta
Sodré (1972:44). Nestes casos, portanto, a revista está intimamente vinculada à lógica
capitalista do mercado e do consumo.
Ainda consoante Sodré (1972:45) a intenção do editor no caso supracitado, é vender a
revista, assim como se vende uma roupa ou um sabonete; por isso, seu grande interesse é o de
entretenimento ou a evasão do consumidor, fazendo com que ele permaneça fiel à revista, o
que exige do jornalista matérias leves e simultaneamente brilhantes.
Mira (2001:69), por sua vez, faz uma análise da revista Realidade, que era bastante
aprovada pelos leitores, e possuía quase uma centena de páginas, tida em grande estima pelos
intelectuais e jornalistas pela profundidade de suas matérias. Foi uma das revistas que melhor
retratou as condições de vida no Brasil, porém suas condições de publicação não foram das
melhores já que durante dez anos de história, passou somente três deles fora do período de
controle do regime militar. Era um estilo de revista ilustrado como O Cruzeiro e Manchete
9
9
Manchete é uma revista brasileira que foi publicada de 1952 a 2000 pela Bloch Editores. Posteriormente, o
nome da revista foi dado à emissora de televisão, a extinta Rede Manchete. Como outros títulos da Bloch
Editores, foi comprada pelo empresário Marcos Dvoskin e relançada em 2002, pela Editora Manchete. No
34
mas inspirado na revista francesa Realité. Porém, o mesmo problema que havia levado a
decadência de O Cruzeiro e de outras revistas semanais internacionais, como a Life,
10
fez com
que se acelerasse um processo de segmentação cada vez maior, criando revistas
especializadas. O ideal seria transformar esta revista em uma revista semanal de informações,
o que não aconteceu. Futuramente, parte de seus jornalistas acabam ajudando a criar a Veja,
cujo histórico será discutido um capítulo adiante.
A maior parte das revistas, segundo crítica de Sodré (1972:44), está estritamente
ligada à publicidade (revistas de luxo) ou às camadas do público de baixo poder aquisitivo, e
poucas são ligadas ao jornalismo tradicional, que é entendido como um sistema de formação e
irrigação de opiniões. Este jornalismo formador de opiniões, como dito anteriormente neste
trabalho, é normalmente polêmico, pois discute conceitos, visões de mundo e pontos de vistas.
Sodré (1972:44) também salienta criticamente que, naquela época, um fator muito
importante para o bom profissional do jornalismo de revista era adotar as técnicas da isenção
e do encantamento, combinando literatura com um discurso denotativo, e equacionando três
conceitos fundamentais para manter os padrões de sucesso: sensação, sucesso e relaxamento.
Tratar das escolhas que apresentam somente os ângulos espetaculares dos assuntos de
interesse, eis o conceito de sensação. O autor usa como exemplo a eleição de notícias sobre
psicanálise, que, à época, causavam grande impacto e suscitavam enorme interesse. Essas
matérias não estavam propriamente interessadas na teoria psicanalítica freudiana, por
exemplo, mas recorriam a ela como pretexto temático para vender notícias sobre sexo,
aproveitando-se do tabu que existia ao redor do assunto; outros temas aos quais também se
apelava estavam relacionados à chamada revolução sexual, permitindo explorar, assim, o
sensacional nas matérias.
O conceito de sucesso descreve uma situação em que há grande realização por parte de
um personagem, podendo ser um indivíduo, ou um grupo, ou uma instituição. Esta grande
realização pode ser uma ascensão econômica, ou de poder de uma forma geral, ou por feitos
extraordinários, ou por um padrão de beleza física. Aquilo que é apresentado como sucesso,
neste caso, está ligado a uma especificidade ligada ao seus leitores, já que os heróis podem
variar conforme uma faixa etária, uma classe social, ou um gênero. Assim, revistas de
segmentações diferentes, produzem heróis diferentes.
entanto, deixou de ter periodicidade semanal para passar a ser editada apenas em edições especiais sem
periodicidade fixa, como os especiais de Carnaval. Fonte: Wikipedia.
10
A Life Magazine foi uma revista de fotojornalismo, fundada em 1936 por Henry Luce (fundador da Time
Magazine), depois de adquirir os direitos da marca Life. A publicação periódica do Life Magazine terminou com
a edição de maio de 2000.
35
O relaxamento é uma técnica que visa o entretenimento do leitor, libertando-lhe os
sentidos e evitando as “tormentas” intelectuais. Para tanto, utiliza matérias otimistas e
idealizadas, que focam a miséria como algo exótico, ou do âmbito do folclore. O exótico se
torna algo figurativo, apresentando uma banalidade através do distanciamento, como a
pobreza na Índia, ou a vida dos pescadores ribeirinhos nos recônditos do Brasil. Um exemplo
são as fotografias nos artigos de moda que muitas vezes retratam um antagonismo, já que
apresentam modelos utilizando roupas de fina costura, e ao fundo, um garoto negro vendendo
coco na praia, tratando com certa normalidade o abismo social, simplesmente para mostrar a
idéia de um país tropical.
Boas (1996:71), ao tratar da diferenciação do estilo magazine para outros veículos de
mídia, explica a importância para a gramática própria deste veículo, alertando para a grande
variedade dos estilos, de fotografias, do design e do texto. Há ainda outras diferenças que,
apesar de óbvias, são importantes, como a durabilidade das revistas em relação aos jornais, os
tratamentos dados aos textos que aproximam mais a uma literatura, e a maior complexidade
dos recursos gráficos.
Outra diferenciação adotada pelo autor acima citado, é que nas revistas as frases são
mais criativas, já que acabam fugindo da tradição, preocupando-se com o contexto da
contemporaneidade e a atualidade. Estas frases também têm como função dar pistas para os
leitores, estimulando uma abertura de texto mais inteligente e exercitando o raciocínio, algo
totalmente diferente dos leads dos jornais. Além disso, há um forte empenho em sustentar o
interesse do leitor, fazendo com que as capas tomem um tratamento como uma embalagem de
um bem de consumo. (BOAS:1996, 73-75)
Na contemporaneidade, há uma característica marcante nos periódicos que preenchem
uma grande lacuna do homem moderno, que é a falta de tempo. Ortiz (1994) fala da
necessidade do homem globalizado de fazer tudo às pressas e, conseqüentemente, as revistas
semanais suprem bem a necessidade da busca de informação, já que carregam um resumo dos
acontecimentos da semana.
Prova desta tendência cada vez mais forte, é o novo formato da Folha de S. Paulo,
que, estrategicamente, aumentou o tamanho das letras, no texto e nas chamadas, aumentou
também as fotografias e ilustrações, e diminuiu em 30% o tamanho dos textos.
36
1.4 VEJA, LEIA, COMPROVE...
A revista Veja é a protagonista deste trabalho, por isso possui um capítulo especial.
Ela é considerada a maior e mais polêmica revista do país. Mira (2001:75-77) conta que
Roberto Civita
11
chega dos EUA em 1958 após cursar na Pensilvânia Economia e Jornalismo
e estagiar na Time-Life
12
, além de fazer uma tese sobre a Curtis Publishing Company (uma
das maiores editoras norte americanas). Vinha com bagagens e inspirações para a criação da
mesma, mas seu pai, Victor Civita, acha muito cedo para a aplicação do projeto, pois no
Brasil acreditava que não iria emplacar.
A autora diz que Roberto Civita, mesmo já tendo uma carreira de sucesso como diretor
de publicidade da Quatro Rodas e a experiência de ter sido diretor da Realidade, consegue
aplicar somente em 1968 seu projeto e cria a Veja. Ela foi lançada no dia 8 de setembro com
uma campanha publicitária inédita. Às 22:00 horas quase todas as emissoras de televisão do
país, transmitiram sua estréia, durante 12 minutos, com artistas e chefes de Estado, incluindo
o presidente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Sua distribuição utilizou todos os
grandes meios de transporte conhecidos especialmente fretados, e a editora criou todo um
esquema de impressão para que na segunda-feira estivesse entregue em 20 mil pontos de
venda e na casa de 800 mil assinantes. O seu objetivo, conforme publicou Victor Civita
13
na
Carta ao leitor na edição número 1, era:
O Brasil não pode mais ser o velho arquipélago separado pela distância,
espaço geográfico, a ignorância, os preconceitos e os regionalismos: precisa
de informação a fim de escolher novos rumos. Precisa saber o que está
acontecendo nas fronteiras da ciência, da tecnologia e da arte no mundo
inteiro. Precisa acompanhar o extraordinário desenvolvimento dos negócios,
da educação, do esporte, da religião. Precisa estar, enfim, bem informado. E
este é o objetivo de Veja. (
Veja, n. 1, 1968)
Esta era a visão de integração do território nacional, como conta Mira (2001:78-79),
que muito agradava aos militares que estavam no poder, e aos empresários. Mesmo assim, a
revista nos primeiros anos esteve algumas vezes censurada, com exemplares apreendidos e
passou muitos anos pela censura prévia. A posição da revista no começo era de combate ao
11
Roberto Civita é um empresário ítalo-judeu brasileiro, atual presidente do Grupo Abril e filho de seu fundador,
Victor Civita.
12
Time Life é uma empresa estadunidense, sediada em Fairfax, Virgínia. Foi fundada em 1961 pela Time
Incorporated, como companhia especializada em marketing direto de música e livros.
13
Victor Civita um jornalista e empresário judeu brasileiro. Fundou a Editora Abril em 1950.
37
regime militar, contra a linha-dura, o AI-5, o fechamento do Congresso, a suspensão dos
direitos civis, a censura e a tortura. Mas quatro anos após sua estréia, começou a conseguir
entrevistas com os militares que eram considerados inatingíveis, criando certa intimidade e
confiança do poder.
Mira (2001:75-76) explica que mesmo assim, ainda no regime militar, nos anos 70, a
revista recebia bastante pressão do governo militar, e em 1975 acaba cedendo e demitindo
Mino Carta
14
, um de seus principais e mais conceituados dirigentes. Em solidariedade ao
mesmo, diversos funcionários da revista pedem demissão, o que, para Raimundo Pereira, um
dos colaboradores, fez com que a revista mudasse muito seu perfil.
Ao longo dos anos a revista se tornou a porta-voz em amplitude nacional da Editora
Abril de sua linha Política e Econômica, e passou a ser portadora de um papel ideológico
muito importante. Porém, nem tudo em sua história foi fácil e de crescimento contínuo.
Durante os cinco primeiros anos a revista operou no vermelho, com uma primeira tiragem de
vendas de 600 mil, despencando para 20 mil exemplares nas edições seguintes. O fato se
deve graças a um difícil processo de adaptação da revista ao leitor brasileiro, pela falta de
hábitos de leitura do público, modelo que os EUA não tiveram que enfrentar com a revista
Time por exemplo.
A questão nacional era uma questão política, e de início a revista adotou uma técnica
chamada de pauta circular, que obteve um resultado desastroso, mas a estratégia mudou a
partir da cobertura da escolha do presidente Médici. Mas o principal motivo apontado para o
fracasso inicial de Veja foi a decepção dos leitores por esperarem uma revista diferente, pois o
nome se mostrava como uma revista semelhante à Look,
15
cheia de fotos e ilustrações, e a
referência para uma revista assim no Brasil, era a Manchete. Na verdade, segundo Roberto
Civita, o projeto de uma revista ilustrada havia sido abandonado devido à concorrência com a
televisão, já que as revistas deste gênero haviam sucumbido em experiência parecida nos
EUA.
A revista Manchete já havia superado aos poucos O Cruzeiro por seus investimentos
em recursos gráficos, priorizando fotografia e diagramação, e procurando pautar assuntos
14
Demetrio "Mino" Giuliano Gianni Carta é um jornalista, editor, escritor e pintor ítalo-brasileiro. Carta dirigiu
as equipes de criação de publicações que fizeram história na imprensa brasileira, como Quatro Rodas, o Jornal
da Tarde, Veja, IstoÉ, e Carta Capital, da qual ainda é diretor de redação. Só houve um fracasso, até hoje
lamentado: o Jornal da República, trucidado no final dos anos setenta por um inimigo mortal - o déficit de
caixa.
15
A semelhança no nome fez com que a revista Look gerasse processos a ponto de fazer o nome da revista Veja
mudar para Veja e leia até o fim da revista Look nos anos 70.
38
mais modernos durante o período Juscelino Kubitschek. Em 1960, 760 mil exemplares
esgotaram-se em 48 horas cobrindo a inauguração de Brasília. No momento em que a revista
Veja foi lançada, os leitores brasileiros já idealizavam tipo específico de revista, parecido com
a Manchete, mas sua proposta inicial uma, calcar seu conteúdo, sobretudo, em textos.
(MIRA:2001:87-88)
Porém a revista foi se adaptando, mas sem mudar a essência. Pelo seu projeto
inspirado na Time, seus editores sabiam através dos empresários, que o leitor tinha pouco
tempo. A proposta de uma revista semanal era de resumir os jornais diários. A revista semanal
preencheria para o leitor contemporâneo uma função básica: economizar tempo.
Ortiz (1994) explica a necessidade de uma função fast food nos diversos segmentos da
sociedade para o homem contemporâneo. É neste sentido que a Veja preenche esta lacuna da
falta de tempo. Segundo dados de sua editora, em 1984, Veja se tornou a revista de maior
faturamento da empresa. E em 1996, a revista já era a quinta de maior publicação do mundo, e
a terceira em publicidade.
A autora ainda explica que nos anos 70/80 a revista entrou definitivamente na era do
marketing, e as vendas por assinaturas representavam 85% da circulação paga. Todas as
pautas e notícias, inclusive a diagramação, começaram a ser moldadas conforme pesquisa de
mercado. Como pesquisado por Adorno e Horkheimer o “plugging” se torna um poderoso
sistema de enredamento do leitor, onde ele é investigado e bombardeado pelos vendedores
para assinar e depois renovar a revista. Isso cria um paradoxo de um leitor de peso, que cobra
muito da revista. Mira (2001:92) afirma que algumas pesquisas em 1994 indicaram que o
leitor de Veja faz parte da “classe média” além de ser totalmente voltada para o mercado. Em
entrevista, antes de sair da equipe da revista, Augusto Nunes declarou sobre a revista (MIRA
2001:92):
Acho que Veja é a revista da classe média brasileira. A classe média é,
grosso modo, liberal politicamente e conservadora no campo dos costumes –
não gosta, por exemplo, de mulheres nuas na revista. A classe média, quer
eleições diretas, mas também não quer que a esquerda avance demais...
Então, é claro que devemos tratar desses assuntos com cautela, para que a
revista não agrida a posição dos leitores... Por diversas razões, eu definiria a
revista como liberal.
Machado da Silva (2000), faz uma crítica sobre o estilo de Veja dizendo que a mesma
aposta na homogeneidade da forma, das linhas de apoio, dos leads, das imagens e dos textos
fez com que a revista mergulhasse na pasteurização, com todas as páginas tendo o mesmo
estilo, enfadonho, asséptico, hospitalar e definitivo. Ele ainda discute que apesar de a revista
39
se orgulhar de uma suposta seriedade, ela acaba passando por alguns constrangimentos, como
em um caso específico, por exemplo, em 1997, o historiador americano Thomas Skidmore,
revelou no programa Roda Viva que certa vez iria se encontrar com o então presidente
Fernando Henrique Cardoso, em Washington, mas um contratempo impediu-o de comparecer.
Mesmo assim, a revista Veja publicou como um “furo” de reportagem a conversa dos dois na
capital dos EUA.
As polêmicas sobre a revista, dificilmente são divulgadas em outras mídias, e de modo
geral pouco são lembradas na sociedade brasileira, talvez pela sua credibilidade e sua força
midiática, incluindo fatores econômicos e políticos. Mas eventualmente sofre duras críticas,
até mesmo dentro do meio jornalístico, como do jornalista Luis Nassif que critica em seu web
site:
O maior fenômeno de anti-jornalismo dos últimos anos foi o que ocorreu
com a revista Veja. Gradativamente, o maior semanário brasileiro foi se
transformando em um pasquim sem compromisso com o jornalismo,
recorrendo a ataques desqualificadores contra quem atravessasse seu
caminho, envolvendo-se em guerras comerciais e aceitando que suas páginas
e sites abrigassem matérias e colunas do mais puro esgoto jornalístico.
16
É possível dizer muito sobre o perfil, a “alma”, da revista perante sua história e
comparando com outras revistas americanas que inspiraram a criação da mesma,
independente de surgirem em contextos diferentes. É importante salientar que, por se tratar da
revista de maior circulação no país e por abordar temas ligados ao cotidiano da classe média
brasileira, seus assuntos se diversificam bastante, mas normalmente trata de temas como
política, economia, cultura, religião, comportamento, conflitos e negócios. Por esse motivo,
ela se tornou objeto de análise de muitas pesquisas ao longo dos anos. Nela, com certa
regularidade são agendados também temas como tecnologia, ecologia, religião, corpo e
beleza, saúde, educação, violência e entretenimento. Ainda possui seções fixas sobre cultura
geral, cinema, teatro, literatura, música, gastronomia e muitos guias práticos sobre os assuntos
mais diversos. A revista é entregue aos seus assinantes nos sábados e nas bancas aos
domingos, mas traz a data de quarta-feira em suas edições.
Em relação ao tema “juventude”, Everardo Rocha (2009:20) nos conta que, a partir do
inicio dos anos 2000, passam a ser publicadas edições especiais da revista Veja tratando do
16
Texto retirado do blog do autor: http://www.advivo.com.br/luisnassif/
40
tema. A primeira, em 2001, enfatiza a tecnologia da geração Z
17
. Em 2003, na “Veja Jovens:
Edição Especial”, mais de cem páginas trazem estudos sobre os jovens brasileiros nos quais se
exploram dados primários e secundários de pesquisas, abordando assuntos como
comportamento, educação, saúde, consumo e tecnologia. Em 2004, a revista traz um retrato
de um jovem brasileiro que trocou as utopias pelo pragmatismo, que preza sua autonomia e
deseja expandi-la por meio do estudo e do trabalho, que teme a violência e o desemprego, mas
não desanimou no ideal de melhorar o país. Por fim, na edição de 2009, que aparecerá mais
adiante nesta pesquisa, temos na capa os adolescentes como principais tomadores de decisão
com relação ao consumo familiar.
17
Geração Z é a definição sociológica para definir geração de pessoas nascidas desde a segunda metade da
década de 90 até os dias de hoje. A teoria mais aceita por estudiosos é que essa geração surgiu como
concepção sucessora no final de 1982 (começo do Echo Boom), aceita internacionalmente e adotada entre
1993 a 1995. Ou seja, geração que correspondem à idealização e nascimento da World Wide Web, criada em
1990 por Tim Berners-Lee (nascidos no início de 1993) e no "boom" na criação de aparelhos tecnológicos
(nascidos entre o fim de 1993 a 2010). A grande nuance dessa geração é zapear, tendo várias opções, entre
canais de televisão, internet, vídeo game, telefone e mp3 players . As pessoas da Geração Z são conhecidas
por serem nativas digitais, estando muito familiarizadas com a World Wide Web, YouTube, telefones móveis
e mp3 players, não apenas acessando a internet de suas casas, e sim pelo celular, ou seja, extremamente
conectadas.
41
2 VEJA, O QUE ELA MOSTRA: A CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS
O Sol nas bancas de revista,
me enche de alegria e preguiça,
quem lê tanta notícia?
Caetano Veloso, Alegria, alegria
2.1.1 Introdução metodológica
O objetivo deste capítulo é a aproximação entre o objeto desta pesquisa e as teorias que
permitem o tratamento analítico de temas recorrentes encontrados no corpus, aplicando uma
metodologia desenvolvida pelo pesquisador conforme as propostas que serão apresentadas a
seguir.
As escolhas das notícias sobre juventude compreendem um período de edições que
coincide com a data do início do mestrado e, paralelamente, foi um momento de forte
inspiração, devido aos primeiros artigos selecionados, pois as matérias eram noticiadas ou
continham algum informe na capa. O período em questão foi o primeiro semestre de 2009 e,
por isso, mantivemos a ordem cronológica das matérias selecionadas, obedecendo primeiro à
data da edição e, em seguida, pela página dentro da revista.
Outro critério de seleção adotado foi escolher as notícias que possuíam a palavra jovem
ou juventude no título, subtítulo ou no lead da notícia, e ainda aquelas que possuíam algum
teor sobre juventude em seu conteúdo. A principal preocupação neste momento da seleção era
não descartar nenhuma matéria mesmo que aparentemente o termo juventude pudesse não
aparecer como um norteador dos objetivos principais da pesquisa. Nesta seleção, quinze
matérias foram selecionadas.
Na etapa seguinte as matérias foram lidas e descartamos as que não condiziam com o
sentido de juventude desejado pela pesquisa, sendo duas as descartadas por utilizar o termo
“jovem” ao tratar de crianças do ensino fundamental e pré-escola. Nesta etapa, conseguimos
os seguintes números: total de treze matérias, sendo quatro matérias de capa, uma com
informe na capa e totalizaram setenta e nove páginas abordando de forma direta ou indireta o
tema juventude.
Nesta seleção, é possível perceber uma média de cinco notícias a cada dois meses, ou
seja, em média, é lançada aproximadamente uma notícia sobre juventude a cada duas edições
42
lançadas da revista. Além disso, é publicada em média uma capa sobre juventude a cada um
mês e meio, ou seja, a cada seis semanas.
A tabela que segue (tabela 1) apresenta a data de publicação da revista semanal na
primeira coluna, se possui capa ou informe na capa na segunda coluna, o título da matéria na
terceira, e as páginas que ocupam dentro da revista na última coluna, incluindo se há alguma
publicidade no meio da matéria.
Data Matériadecapa Título página
7dejan. informenacapa Maisvelhos...Porémmaisjovens pg6887
21dejan. Umavidaemreverso pg124125
4defev. Capa Porqueelesnãocrescem? pg7885
18defev. Mergulhonosubmundo pg82
Capa Ajuventudeemrede pg8493
4demar. Umasegundaopinião pg6673
15deabr. Capa Vestibular:vaimudartudomenoso mertio pg7079
Daquieunãosaio pg9092
Elanãoficoutitia pg9495
Afamíliaéavilã pg111
29deabr. Cabelos:Alternativasantiqueda pg120122
13demaio Capa Chuteirasquevalemouro pg7685
20demaio Oalcede2,5bilhõesdedólares pg102103
Tabela1Seleçãodasmatériasdocorpus
A análise neste capítulo está dividia em três itens. No primeiro deles, Análise por
ordem cronológica de publicação, apresentamos a matéria pelo título e desmontamos as
matérias, identificando os recursos jornalísticos utilizados. Além do título da matéria é
apresentado o lead
18
, a data, a quantidade de páginas, as imagens, os quadros (apresentação de
recursos gráficos, como pesquisas, históricos, tabelas) e os boxes, que são quadros de textos
complementares às matérias.
18
O lead é o relato inicial da notícia. Vem da frase “to lead the way”, ou seja, “mostrar o caminho”. E é
justamente o lead que abre o caminho para a leitura do texto; é através dele que a atenção e o interesse do
leitor são despertados. Pode-se dizer que o lead é a introdução da notícia; uma síntese inicial que procura
responder às cinco perguntas básicas: O quê? Quem? Como? Quando? Onde? (LAGE, 1999)
43
Além de desmontar a matéria, procuramos observar qual a principal tematização, se a
juventude é dita de forma direta ou indireta, se a matéria fala para os jovens, para os não-
jovens ou para ambos e, principalmente, procuramos fazer uma primeira análise da forma
como a juventude está sendo abordada.
A abordagem nos ajudará a mostrar como o conceito de juventude está sendo
construído por este periódico e apresentando a seus leitores, respondendo às perguntas: Para
Veja o que significa ser jovem? Quem são e como são os jovens e a juventude segundo o
universo da revista?
Esses dois momentos, um desmontado a matéria jornalisticamente e o outro ligando à
construção do imaginário social de juventude, nos ajudam a entender e preparar os próximos
passos a serem desenvolvidos na pesquisa. A construção dos conceitos de juventude também
é importante para discutir as principais tematizações relacionadas ao tema no capítulo final, e
a desconstrução das matérias nos ajudará a entender as funções jornalísticas do próximo item
dentro deste capítulo.
No próximo item, chamado Análise das matérias por critérios de noticiabilidade,
procuramos nos afastar um pouco das questões ideológicas sobre juventude, para fazer uma
análise de ordem jornalística, buscando entender o que levou determinada matéria a ser
publicada. Segundo Silva (2005: 96), noticiabilidade é todo e qualquer fator que
potencialmente é capaz de agir no processo de produção da notícia, desde as características do
fato, os julgamentos pessoais do jornalista, a cultura profissional da categoria, e as condições
favorecedoras ou limitantes da empresa de mídia, além da qualidade do material (imagem e
texto), a relação com as fontes e com o público, os fatores éticos e ainda as circunstâncias
históricas, políticas, econômicas e sociais.
Entender todo conjunto de forças que colaboraram para a publicação de uma matéria
em detrimento da outra não é um estudo de um valor-notícia e, por isso, é importante salientar
que a análise nos fará entender quais as ferramentas utilizadas para serem discutidas ou
implantadas determinadas idéias sobre o jovem ou juventude, e o porquê da importância
destas publicações.
Esta análise dos critérios de noticiabilidade, percorre as idéias de alguns autores
apresentados por Pontes (2005:218), ao trabalharem com análise do discurso jornalístico entre
os anos 80 e 90, combinando uma análise de perspectiva multimodal: a linguagem, a posição,
orientação espacial, contrastes tonais, enquadramentos visuais.
Toda esta análise associa a perspectiva sociológica e política sobre o jornalismo como
discurso social. A produção jornalística deve ser analisada principalmente nos termos
44
cognitivos dos textos, em um contexto que consiga dar conta das transformações discursivas
construindo compreensão e legitimidade.
Selecionando as matérias, pretendemos criar aqui uma matriz de conceitos a serem
abordados. Os títulos, o lead, e as imagens, em um primeiro momento, são os principais
chamarizes das notícias, acompanhado os informes e recursos gráficos.
O tipo de sentimento, como uma preocupação, ou uma esperança, que representam
estes chamarizes em relação à juventude, e a construção de significados e conceitos
idealizando a juventude, podem ser cruzadas com estes conceitos, verificando assim o quanto
são reforçados os arquétipos apresentados.
Um dos fatores a ser analisado nas notícias é o do modelo de influência de
parâmetros de ordem econômica com orientação para os imperativos comerciais, ou seja, o
consumo, e a mercantilização.
O último item é a Análise iconográfica, e não é de menor importância que os itens
anteriores, pois as figuras ajudam a construir ou legitimar os imaginários no momento da
leitura das matérias. Joly (1996:42) explica que uma análise das imagens não é feita
simplesmente por si, mas responde a um projeto de pesquisa, ou seja, ao analisarmos uma
imagem, já possuímos um pensamento norteador.
Tomemos então como conceito de imagem, de uma forma mais ampla, aquilo que
permite que apareça o mundo como nossa representação. No caso da revista seu papel é tão
fundamental quanto o do texto, nos completando com sensações e inclusive nos permitindo
receber informações extras, a maioria das vezes de múltiplas interpretações.
Temos como intenção capturar o maior número de formas possíveis para interpretá-
las dizendo se aparecem de forma explícita ou implícita, se complementam o texto ou
simplesmente servem como adornos, e como as informações são construídas através destas
imagens.
45
2.1.2 Introdução analítica
Em uma primeira análise das matérias selecionadas, que serão confirmadas ou
rebatidas ao longo desta dissertação, o efeito do real que a revista Veja tenta produzir
apresenta jovens totalmente interessados em moda, pragmáticos, totalmente relacionados com
o mundo digital e tecnológico. Além disso, na maioria das fotos da revista aparecem jovens de
pele branca, roupas da moda, sorrindo e “produzidos”, bem sucedidos e felizes.
Quando conhecemos pouco ou não compreendemos sobre um determinado grupo ou
indivíduo, criamos o que Lipmman chama de estereótipos:
Se não podemos compreender plenamente os atos de outras pessoas
enquanto não sabemos o que elas acham que sabem, precisamos, para ser
justos, apreciar não só as informações de que elas dispuseram mas também
as mentes das quais a filtraram. (LIPPMAN, 1972, p. 153)
A juventude apresentada pela maioria das matérias selecionadas, idealiza
primeiramente jovens de classes sociais bem sucedidas, brancos e felizes, as exceções ficam
por conta das notícias que envolvem celebridades esportivas ou crimes. Para melhor
entendermos as diferentes situações sobre juventude Borelli, Oliveira e Rocha (2008)
discorrem sobre o conceito:
Ser jovem é responder por inserções singulares e experimentar, de forma
conflituosa a hierarquia de classes, as desigualdades sociais, a exposição à
violência, as condições de gênero e etnia, o acesso ou exclusão ao consumo
cultural. Entretanto, ser jovem, significa também considerar certas
características capazes de configurar alguns padrões comuns aos jovens, em
diferentes condições sociais, entre eles, conflitos geracionais, linguagens
próprias, rebeldia, heroísmo e aventura, adesão ao movimento e ao jogo,
ligação ao presente e rejeição ao passado, certa recusa à experiência, auto-
realização e a exaltação da vida privada, ideal de beleza, amor e felicidade,
juvenilização e longevidade juvenil.
(BORELLI; OLIVEIRA; ROCHA,
2008)
Outra percepção inicial é de que a revista fala normalmente do jovem para o não-
jovem, aparentemente para os pais ou responsáveis, e apresenta diversas pesquisas e
declarações para atestar o que está sendo dito. Além disso, normalmente ela traz um tom de
46
alerta, direcionado desde o começo da matéria como um guia passo a passo de ajuda e
entendimento para atestar que se relacionam com estes jovens.
Em uma matéria específica sobre juventude, vale observar que há comparações das
gerações dos anos 60 e 70 com os nascidos nos anos 90, dizendo que, os primeiros, lutavam
por revoluções políticas e sexuais, enquanto os jovens dos anos 90 não querem mudar nada,
somente arrumar bons empregos e ter conforto no futuro.
Apesar das definições generalistas que encontramos nas matérias, percebemos que, ao
menos uma vez, há certo cuidado nas matérias sobre os conceitos propostos como no trecho:
VEJA foi a campo tentar descobrir como os adolescentes atuais poderiam ser
identificados se tomados como um todo. Sim, é uma generalização, e como
toda generalização deve ser olhada com cuidado. Mas quem sabe ela possa
subsidiar pais angustiados (e irritados) com moças e rapazes para quem, de
uma hora para outra, eles, antes tão adorados, se tornaram "ridículos". (Veja,
18/02/2009, p.86)
A matéria em questão admite a generalização e previne o leitor deste mal, porém
chama pouca atenção para isso e dedica dezenas de páginas reafirmando a posição
generalizada. O grande problema, neste caso, como nos adverte Reguillo, seria que:
Em nenhuma parte do mundo a juventude representa um bloco homogêneo
capaz de responder por um conjunto de categorias fixas... eles trabalham,
vão à escola, abraçam algumas causas, mas os referenciais identitários não
passam pela fábrica, pela escola, pelo partido. A identidade está em outra
parte. São identidades móveis, efêmeras, mutantes, capazes de respostas
ágeis, e por vezes, surpreendentementes comprometidas
. (REGUILLO,
1998: 58)
É possível perceber algumas conotações negativas sobre a juventude veiculadas pela
revista, mostrando esses jovens de certa forma “acomodados”. Ao mesmo tempo em que soa
crítica, também exibe uma conotação positiva ao dizer que estes jovens estão mais próximos
dos valores da tradição e da família, uma atitude conservadora.
Martín-Barbero (2002) analisa que vivemos uma sociedade totalmente midiatizada, onde
construímos valores e idéias através das mediações audiovisuais. Portanto há uma
responsabilidade por parte de qualquer mídia, e neste caso estamos tratando de uma das
mídias de maior circulação no país, e há uma responsabilidade na construção do imaginário
sobre o que é a juventude, e nossa proposta é detectar essa construção.
47
Ainda nesta primeira análise, percebemos um grande número de matérias que não falam
sobre a juventude, mas mais especificamente sobre a cultura juvenil, ou sobre a juvenilização
da cultura, termo utilizado por Morin (1962:147-152), que explica uma exaltação sobre os
padrões estéticos da juventude, a sede de aventura, e a vigorosidade, mostrando que o
comportamento juvenil pode ditar a moda, como em matérias sobre roupas e acessórios, ou
ainda pode ditar o comportomento, mostrando que a saúde e pró atividade é sinônimo de
comportamento juvenil. A declaração de um advogado de setenta e três anos na revista, em
uma matéria em que ele é chamadado de um “idoso jovem”, exemplifica o caso explicitado:
Sou advogado há 49 anos e ainda não penso em me aposentar, porque o
trabalho, para mim, é fonte de energia. Somente há cinco anos reduzi a carga
horária no escritório porque queria ter mais tempo para fazer outras coisas
que também me dão muito prazer e estavam negligenciadas. Uma delas é a
marcenaria, uma paixão que herdei do meu avô. A outra é a aviação. Eu e
minha mulher pilotamos aviões de pequeno porte e, depois que diminui o
ritmo do trabalho, conseguimos dobrar o número de viagens pelo Brasil e
pela América do Sul. Eu até me surpreendi de chegar a essa idade com tanto
ânimo. Acho que isso se deve a minha postura positiva diante da vida e à
certeza de que o velho não pode se limitar a existir, tem que continuar
vivendo. (BETTIOL, Luiz Carlos, Veja, 01/01/2009, p.83)
Considerando todos os itens citados na introdução metodológica e na introdução
analítica, depois de um estudo prévio, pudemos esquematizar a matriz de análise que
responderá aos objetivos desta pesquisa, conforme segue no gráfico a seguir:
Matriz 1 - Proposta de Análise
48
2.2 ANÁLISE DAS CAPAS
Antes de partirmos para uma análise individual de cada uma das matérias,
analisaremos as capas das edições que no período estudado fizeram alguma referência a
juventude. A disposição das imagens das capas aparece nesta etapa de forma cronológica e a
análise não inclui o conteúdo da matéria a que a capa faz referência, ou seja, para analisar a
capa, não abrimos a revista visitando cada uma das matérias. Os conteúdos das matérias à que
as capas fazem referência serão analisados posteriormente. O objetivo principal neste
momento é um estudo sobre as imagens inspirado em conceitos da análise do discurso,
atrelados a uma análise sociológica e jornalística, e buscando inspirações na antropologia e na
crítica da cultura.
Ao analisar as imagens, recorremos mais especificamente a operadores metodológicos
indicados por Joly (1996) que as considera uma das ferramentas mais importantes na
comunicação contemporânea, mas pede cautela ao utilizarmos uma abordagem argumentativa
para não criarmos receitas prontas para analisá-las e nem acreditarmos que as interpretaremos
de forma igual. Seguindo os cuidados da autora, temos como intenção verificar as
possibilidades de interpretações das capas de forma mais crítica, levantando as informações
mais evidentes e as mais implícitas.
Sob um olhar bakthiniano, a capa é entendida como uma unidade comunicativa, e
também é um gênero discursivo, que se compõe de três elementos essenciais: conteúdo
temático, estilo e construção composicional. Há um formato relativamente estável nas capas
de Veja, mas os elementos verbais e não verbais serão analisados de forma ampla, pois
ajudam a compor o enunciado produzido pela composição e pelo estilo de cada uma delas.
Vale lembrar que serão analisadas quatro capas, e um informe de capa, em ordem
cronológica de publicação e, em seguida, será realizada uma comparação geral de todas elas.
Podemos adiantar que duas capas são tematizadas com futebol, uma com vestibular, uma com
comportamento juvenil e o informe trata de juvenilização da cultura.
49
Capa 1 - 4/02/2009
A primeira capa mostra uma
celebridade, o jogador de futebol
Robinho, com o fundo fora de foco e
o dedo na boca como fazem os bebês.
Mesmo quem não conhece o rosto em
questão, pode observar um jovem
negro com camiseta de futebol,
fazendo um gesto que não condiz com
a sua faixa etária. A utilização da foto
é oportunista, já que se trata de uma
comemoração de um gol em que o
jogador fez o gesto para homenagear
seu filho, que era um bebê à época.
Apesar de apontar para um caso
específico, o texto da capa generaliza:
A síndrome de Peter Pan dos
milionários de calção pega mais um,
Robinho, acusado de agressão sexual na Inglaterra. A matéria trata de um caso específico,
mas logo na capa já diz que há um problema comum entre os jovens jogadores milionários.
Este problema poderia ser traduzido pelos dizeres: Por que eles nunca crescem? sugerindo ser
a juventude associada a uma fase de falta de responsabilidade. Mas essa falta de
responsabilidade, no caso, é associada a poder e a um crime, que é ressaltado por uma faixa
vermelha no fim da capa: Exclusivo: a história completa da confusão.
No canto superior esquerdo, há uma chamada com um símbolo abstrato e o nome
destacado “Apocalipse”, e no canto superior direito, um padre cantor com o nome destacado
“Fenômeno”. Se juntarmos os dois informes à matéria de capa, podemos associar o fenômeno
que seria a vida dos jogadores ao apocalipse que são as tragédias decorrentes disso.
Podemos notar uma posição ideológica da revista sobre a ascensão social destes
atletas e o oportunismo da mesma em explorar um episódio específico para criar uma
narrativa policialesca e sensacionalista sobre uma celebridade, justificando o fato e o
moralizando.
50
Capa 2 – 18/02/2009
A capa ao lado sugere uma
inversão nos papéis dos pais e do
filho, e isso é representado pelo
tamanho deles na foto. Apesar da
inversão, as expressões nos rostos dos
três sujeitos são felizes, e podemos
interpretar que estariam aprovando a
situação. O rapaz no meio utiliza
vestimentas de aparência jovem, mas
seu rosto é de um adolescente. O
fundo neutro faz com que foquemos
na imagem dos sujeitos apenas, e os
dizeres do informe condizem com
toda esta interpretação. Apesar de não
fazer parte da matéria, a composição
da capa possui um informe na parte
superior, com um senhor de cabelos brancos (senador Jarbas Vasconcelos, conforme a
legenda) com o dedo em riste, e a expressão sisuda, em fundo amarelo, mostrando certo
destaque, que podemos interpretar como um desabafo, ou ainda uma ordem. O conjunto da
capa pode ser interpretada como uma denuncia, se olharmos somente as fotos, é como se a
figura superior desaprovasse o que está acontecendo logo abaixo, já que o sorriso dos pais
aparenta quase que uma servidão voluntária.
As escritas abaixo do título Um retrato dos adolescentes de hoje: eles são os reis da
era digital, decidem o que a família vai comprar, custam caríssimo, mas estão mais
desorientados do que nunca. A descrição audaciosa coloca o jovem no centro das decisões de
consumo e controle da tecnologia, porém faz um alerta dizendo que estão desorientados, o
que sugere que os pais devem retomar seus papéis, podendo fazer-nos entender a posição
ideológica da revista, de que os jovens devem ser controlados, e não controladores.
Analisando um pouco mais, podemos interpretar também que o lado direito em que
está o pai, exerce uma força maior pela curvatura do menino, mostrando a herança patriarcal
da família, ou talvez insinuando onde ainda há a resistência e assim sugerindo onde deve
começar a mudança.
51
Capa 3 - 15/04/2009
A capa apresenta um jovem
branco de olhos claros com uma
expressão de duvida, com o cabelo
raspado e inscrições na testa,
representando um típico ritual de
celebração de quem consegue
ingressar na faculdade. O título em
vermelho chama mais a atenção
mostra o problema, e em preto
apresenta o caminho para resolução,
pois a apresentação do tema sugere
que a revista sana todas as dúvidas e
inclusive sugere um modelo da nova
prova unificada que será adotada.
Alguns dos recursos utilizados
já na capa, é a utilização dos números
para impressionar. As 16 dúvidas e as 500 universidades seguidas de 3 questões modelos
chamam a atenção de quem procura entender a nova prova, ou pelo menos esta é a proposta
da capa.
O fundo claro faz com que foquemos somente no jovem e, sua expressão, apesar de
preocupada, mostra seus olhos claros direcionados para a solução que está no título da
matéria. E a testa rabiscada e o cabelo raspado já sugerem um sucesso, mostrando que não há
nada tão preocupante assim, como se o problema já estivesse resolvido no conteúdo da
matéria.
Os informes superiores trazem as cores vermelha e azul, com duas notícias que
geram esperança. Uma delas enaltece o sonho do presidente norte americano na busca pelo
fim das armas nucleares, a outra é sobre pesquisas de soluções para problemas cardíacos,
contrastando mais uma vez com a expressão preocupada do jovem. Com isso acaba-se
abrandando, mais uma vez, a preocupação inicial que pode ocorrer quando o leitor se deparar
com a primeira visão da capa.
É interessante pensar em todo o contexto da capa, idealizando um jovem branco de
olhos claros, e, no informe, um destaque ao presidente norte-americano, permitindo-nos
perceber a influência estrangeira na revista.
52
Capa 4 - 13/05/2009
A última capa mostra um
jovem ou adolescente, segurando uma
bola de futebol com um globo
terrestre impresso, as chuteiras
penduradas no pescoço e o cabelo
raspado. A legenda mostra que,
apesar de ser uma foto de estúdio, o
personagem é real e, apesar da pouca
idade, domina o mundo em suas mãos
através dos negócios do futebol,
dados que são confirmados pelo título
Gol de Ouro e, reconfirmados pelo
texto abaixo: O milionário negócio de
descobrir, treinar e vender para
Europa “craques-bebês” brasileiros
une clubes, famílias e investidores.
Há clara alusão ao sucesso financeiro como eixo central do tema pelos termos “ouro”
e “milionário”, onde os jovens e crianças se apresentam ao mesmo tempo como mercadorias e
portadores de talentos capazes de dominar o mundo. A expressão do rosto do jovem é séria
apresentando certa frieza, o que confirma o seu rótulo de mercadoria.
Os informes superiores falam de três temas que podem ser de certa forma
relacionados à notícia da capa: Holocausto, Caixa 2 no RS e Narcisismo, todos causadores de
sentimentos negativos, e causando assim um impacto negativo da foto confirmado por todo
fundo escuro e pela expressão séria do rapaz. Quando vemos um menor sendo manipulado,
associamos ao trabalho infantil que é crime, o que também pode causar uma pesada
impressão.
O cabelo raspado pode ter diversos significados, mas o mais comum em jogadores de
futebol é em referência a uma recente geração vitoriosa de nosso futebol, que inclusive jogava
nos principais clubes europeus e foi responsável por uma grande movimentação financeira na
mesma época em que os grandes empresários deste ramo começaram a se destacar.
53
Capa 5 - 07/01/2009
O informe ao lado destacado
pelo círculo vermelho, apesar do
pouco espaço que exerce na capa,
possui um grande destaque pela forte
cor. É a primeira notícia de capa que
aparece como um guia para aumentar
a longevidade, e em destaque estão os
olhos claros de uma moça
evidenciando o padrão de estética
ocidental e jovem.
É interessante o contraste
com o resto da capa sobre a guerra
mostrando corpos de crianças,
aparentemente mortas e feridas,
confirmadas pelo título que afirma a
existência de mortos inocentes.
Não há melhor maneira de representar a condenação de um inocente como descrito no
texto: Israel ataca radicais em território palestino. Entre as centenas de mortos, há culpados
e inocentes e mostrando o corpo de uma criança.
A imagem chama a atenção pelo fim de uma vida curta e o informe sobre juventude
que aparece acima ensinando a ganhar mais quinze anos sem esforço, grosso modo, é como se
criasse uma distância em relação àquela realidade triste, fazendo-a pertencer a um mundo
exótico. O que torna mais interessante é o dedo em riste do homem carregando o corpo da
criança sobrepondo as letras do título da revista e apontando para o informe, como se ali
estivesse a solução do problema, apesar da grande disparidade das duas notícias.
Não só para a questão da longevidade, mas no mesmo patamar de importância no
título do informe é colocada a questão da juventude, prometendo não só uma extensão da
vida, mas um rejuvenescimento, confirmado pelo padrão estético apresentado.
Objetivamos agora algumas comparações entre as quatro capas. O antagonismo criado
pelos dois títulos das capas 1 e 2 (Por que eles não crescem? e Eles é que mandam) já fazem
parte de um objeto de análise. A primeira destaca a irresponsabilidade e um sinal de alerta
aproximando jovens às características infantis, e cobrando um amadurecimento. A segunda
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invertendo os papéis de responsabilidade de um adulto em um jovem, afirmando uma
situação.
As capas 3 e 4 sobre o vestibular e os jovens jogadores que são tratados como
mercadorias, com dois jovens brancos de cabelo raspado deixam visíveis, porém de forma não
explícita, as condições sociais de dois tipos de jovens buscando o sucesso, um dono de seu
próprio destino e o outro como apenas um ser passivo dentro de um negócio milionário do
futebol.
Há duas capas que possuem visivelmente interferência digital, a 2 e a 3, e ainda os olhos
que aparecem no informe da capa 5. Nelas é possível ver os jovens idealizados pela revista,
bem sucedidos, com padrões estéticos definidos (brancos de olhos claros), enquanto as capas
que mostram jovens “reais” nas capas 1 e 4 (fotografias de personagens da vida real, e não de
modelos), são de um negro como celebridade, e de um jovem desconhecido com o rosto sério,
não apresentam expressões felizes, contrastando vida ideal e vida real.
As duas capas que falam sobre o futebol, a 1 e a 4, são discordantes por um lado e
complementares por outro. No que tange ao sucesso dos jogadores de futebol que vão para o
exterior, a 4 analisa a questão financeira e o poder adquiridos pelos jogadores positivamente,
e a 1 cobra maior responsabilidade dos que já têm este poder.
As capas 2 e 4 que mostram o jovem segurando os pais e o jovem segurando o globo,
atribuem um enorme poder ao jovem, dominando a família e dominando o mundo, porém o
que domina a família está feliz, pois não é uma mercadoria como o que segura o globo. A
grande diferença entre os dois aparenta estar na condição social.
Por fim, tanto a capa 1 como a 3, apresentam uma pergunta no título. A pergunta
negativa: Por que eles nunca crescem? faz parte da matéria daquele que já atingiu o sucesso,
e é negro, diminuindo-o. Já a pergunta Mudou, e agora? aparece seguido de um guia para o
vestibular junto a um branco de olhos claros que está buscando o sucesso.
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2.3 ANÁLISE POR ORDEM CRONOLÓGICA DE PUBLICAÇÃO
Mais velhos... ...Porém mais jovens – 07/01/2009
A reportagem com informe na capa de 07/01/2009, Mais velhos... Porém mais jovens
é um artigo especial de 19 páginas sobre Longevidade e Juventude. O informe na capa ocupa
exclusivamente a parte superior, que na maioria das edições é dividida entre três informes
diferentes.
Figura1informecapa07/01/2009
A matéria assinada por Thereza Venturoli é dividida em cinco artigos. O primeiro
artigo é estruturado começando com duas fotografias de celebridades brasileiras, as atrizes
Monah Delacy e Christiane Torloni, mãe e filha respectivamente, que possuem trinta anos de
diferença de idade, porém, ambas fotografadas aos cinqüenta e um anos de idade. A mãe
aparece séria em uma foto preta e branca, visivelmente com mais rugas na pele, enquanto a
filha é apresentada em uma foto sorridente e colorida, aparentemente maquiada e sem rugas.
A fotografia sugere uma comparação em que são atribuídas à medicina e a mudança de
comportamento de vida, duas formas diferentes de envelhecimento. A mais bela e saudável da
filha contra a menos bela e saudável, da mãe.
Figura2‐maisvelhos......porémmaisjovens
Após as dua páginas iniciais com as fotografias apresentadas na figura 2, o corpo do
texto ocupa as três páginas seguintes. As duas primeiras são acompanhadas de fotografias de
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celebridades consideradas símbolos estéticos da beleza, separadas por faixas etárias,
classificadas como “Quarentões”, “Cinquentões” e a “Sessentona”.
Figura 3 - quarentões
Figura4‐cinquentões
Figura5sessentona
A foto da terceira página
apresenta uma mulher de Okinawa no
Japão, um país que abriga muitos
residentes que possuem mais de cem
anos de idade, manipulando alguma
planta não especificada na descrição,
como uma camponesa. Argumenta-se
que a quantidade de centenários é devida
a uma questão genética.
Figura6‐mulherdeOkinawa
Na mesma página a matéria apresenta um
quadro com um recurso gráfico mostrando o
aumento da expectativa de vida mundial e criando
uma projeção para os próximos quarenta anos,
apresentado pelas Nações Unidas, finalizando o
primeiro artigo. As fontes citadas neste artigo são: O
biogerontologista americano Stuart Jay Olshansky da
Universidade de Ilinois; o cientista americano
Leonard Guarente, do MIT em Massachussets; a
equipe liderada pelo pesquisador David Sinclair, de
Harvard; e as Nações Unidas.
Quadro1‐projeçãodelongevidade
O artigo seguinte possui o título Por que ficamos mais velhos, em uma seção chamada
pela revista de Biologia do envelhecimento, também assinada por Thereza Venturolli, com o
lead A ciência ainda não desvendou todos os mecanismos do envelhecimento, mas uma coisa
é certa: só envelhecemos porque deixamos de ser interessantes para a perpetuação da
espécie.
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Ele possui quatro páginas, apresentando nas duas primeiras as fotos da evolução da
celebridade cinematográfica americana Demi Moore. Ela aparece como um exemplo,
primeiramente por sua genética privilegiada, e depois pela ginástica, alimentação rigorosa,
cirurgias e tratamentos estéticos.
Figura7‐DemiMoore,quantomaisvelha,maisbela
As duas páginas seguintes são ocupadas quase que exclusivamente por um quadro
chamado O que muda no corpo com o tempo: A partir dos 25 anos, o organismo começa a
perder 1% da sua capacidade funcional a cada ano. Ainda que a evolução tivesse desenhado
o corpo humano para durar por mais tempo, as soluções cobrariam seu preço.
Quadro2‐biologiadoenvelhecimento
As fontes utilizadas são: o gerontologista americano Robert Arking, da Universidade
Estadual de Wayne, a Enciclopédia dos Sistemas de Sustentação da Vida, da Unesco; citações
do biólogo ucraniano Theodosius Dobzhansky; citações de Charles Darwin; Thomas
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Kirkwood, biólogo, diretor do Instituto de Envelhecimento e Saúde da Universidade de
Newcastle na Inglaterra.
O terceiro artigo da série está na seção que recebe o nome de Estilo de Vida e é
assinada por Naiara Magalhães. O título da matéria é: Como ganhar mais de 15 anos de (boa)
e acompanha o lead: É simples: basta persistir na manutenção dos bons hábitos – e desde
cedo. A conta foi feita por médicos ingleses, com a contribuição de especialistas brasileiros.
O artigo possui quatro páginas, porém a parte do texto ocupa menos de uma página. As
outras três possuem um quadro com fotos ilustrando as “boas maneiras” para aumentar a
longevidade.
Figura8‐fórmulaparalongevidade1
Figura9‐Fórmulaparalongevidade2
As fontes utilizadas no texto são: A revista científica PLos Medicine de médicos da
universidade de Cambridge. As fontes do quadro são: Ângelo Bos, geriatra da PUC-RS,
Maria Lúcia Lebrão, professora da Faculdade de Saúde Pública da USP, Marcia Fidélix,
presidente da associação brasileira de Nutrição, Nelson Lucif, diretor clínico da Associação
Brasileira de Nutrologia, Wilson Jacob Filho, diretos de geriatria do HC, e as pesquisas
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“Impacto combinado dos hábitos saudáveis na mortalidade entre homens e mulheres” (2008),
da Universidade de Cambridge, e “Atividade de lazer como um determinante da
sobrevivência” (2002), das universidades suecas Red Cross e Umea e do Instituto Novum.
Há, ainda, o testemunho do médico geriatra do Hospital das Clínicas Wilson Jacob Filho,
e da atriz norte americana Mae West.
O quarto artigo da série de reportagens possui quatro páginas, a seção é chamada de
idosos jovens, assinada por Naiara Magalhães. Possui o título: A hora é agora e segue com o
seguinte lead: Eles já passaram dos 65 anos, mas continuam ativos, saudáveis e bem
dispostos. São os "idosos jovens".
A primeira página e mais da metade da segunda, mostram a imagem de um casal de
idosos felizes ao lado de um avião e uma paisagem do céu ao fundo em um aeroporto.
Figura10‐Idososfelizes1
Figura11‐Idosofeliz2
Este artigo está divido em texto e testemunhos. O primeiro testemunho é de Betty
Bettiol, uma artista plástica de sessenta e sete anos, demonstrando que ainda tem sonhos e
vontade de viver devido às suas experiências. O segundo é de Luiz Carlos Bettiol, um
advogado de setenta e três anos, que é marido da primeira testemunha e também demonstra
muita vontade de viver. A foto em questão é do casal, pois ambos pilotam o avião por prazer e
para ganhar tempo em suas atividades.
Na página seguinte, mais um testemunho, de José Alberto Camargo, de setenta e
quatro anos, um administrador de empresas aposentado que começou, escrever livros sobre
sua vida ao se aposentar. Ele possui uma fotografia de meia página. (figura 11)
O artigo ainda conta com um box opinativo de José Mindlin, empresário e bibliófilo
de noventa e quatro anos, que debate o assunto de forma filosófica, ao mesmo tempo dando
seu próprio testemunho sobre o envelhecimento.
As fontes apresentadas são: Elaine Saad, gerente geral da Right Management Brasil; o
IBGE; Júlio Deodoro, diretor da prova de corrida São Silvestre; e Renato Maia Guimarães,
médico presidente da Associação Internacional de Gerontologia e Geriatria.
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O quinto e último artigo da série da reportagem especial está na seção Terapias
heterodoxas, de duas páginas, e é assinado por Adriana Dias Lopes, levando o título: Será que
dá resultado? Possui o seguinte lead: Você é livre para seguir o tratamento que quiser. Mas
atenção: não basta que ele tenha alguma base científica para ser efetivo diante do espelho.
O artigo possui uma imagem central de um vendedor prometendo uma “fórmula
mágica” do rejuvenescimento e da beleza, todos os personagens na figura estão com
vestimentas típicas norte americanas do período colonial.
Figura12‐mágicadorejuvenescimento
Apesar do título da seção ser Terapias heterodoxas, somente um tipo de terapia é
apresentado, a medicina ortomolecular. O resto do artigo procura explicar a química do
envelhecimento do corpo humano.
As fontes apresentadas são: Linus Pauling, pai da medicina ortomolecular, premio
Nobel de Química, e prêmio Nobel da Paz; Alfredo Halpern, endocrinologista; Fabio Nasri e
Renato Maia Guimarães, geriatras.
De forma geral, a matéria especial fala pouco sobre ou para jovens diretamente, mas
quando diz que, ao envelhecer, é preciso manter a estética juvenil e a saúde conservada, pois é
mais interessante mudanças de hábitos e precauções desde uma idade não avançada. A
tematização sobre a juventude como ideal estético e de vigor a ser seguido é o eixo central de
todo o discurso.
O informe na capa já sugere um “manual” de como prolongar a vida em até quinze
anos somente por escolhas comportamentais. O primeiro artigo utiliza imagens de
celebridades e pesquisadores norte-americanos além de experiências internacionais para
evidenciar o fato de que a longevidade aumentou e mostrar que os padrões estéticos da
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juventude já podem ser preservados, mas ainda sem dizer como. O segundo artigo procura um
aprofundamento do primeiro, mas utilizando de argumentos de biólogos e explicando através
de um quadro informativo, ocupando metade do artigo, as transformações ocorridas no corpo
humano com a velhice, causando um sinal de alerta, de preocupação ao leitor. O terceiro
artigo já apresenta o quadro com as precauções e soluções indicadas no informe da capa,
legitimado pelos argumentos de médicos ingleses e especialistas brasileiros. O quarto artigo é
baseado principalmente em relatos e testemunhos de idosos que gozam de saúde, vontade de
viver e bem dispostos. Vale lembrar que se trata de pessoas bem sucedidas profissionalmente
e elites socioeconômicas. Para completar, o artigo é finalizado por um depoimento filosófico
de um intelectual de noventa e quatro anos. Até então, os artigos se apresentaram quase que
em totalidade de maneira tendenciosa, prescritiva e moralista, oferecendo um padrão estético,
e um ethos comportamental. O último artigo, porém, apesar da figura apresentar de forma
irônica um produto “milagroso” que faz rejuvenescer, ela serve mais como um alerta contra
métodos não-qualificados, mas oferece a medicina ortomolecular como uma solução,
detalhando o funcionamento deste método alternativo de tratamento, apresentando a condição
mercadológica no final da matéria.
Uma vida em reverso – 21/01/2009
Na edição de 21/01/2009, o tema juventude novamente aparece na revista, na matéria
que recebe o título: Uma vida em reverso na seção de crítica cinematográfica da revista. O
lead que precede a matéria é: No embriagador O Curioso Caso de Benjamin Button, o diretor
David Fincher conta a história de um homem que nasce velho e se torna cada vez mais
jovem. E conclui que, seja qual for o sentido da viagem, é impossível escapar ao tempo. A
matéria possui duas páginas e é assinada por Isabela Boscov. As fotografias apresentadas são
de trechos do filme e ocupam mais da metade das duas páginas.
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Figura13‐BenjaminButton1
Figura14‐BenjaminButton2
A matéria em si, por se tratar de uma crítica cinematográfica, utiliza-se de poucos
recursos jornalísticos, sem nenhum box, quadro, ou testemunho, apresentando apenas as
imagens que retratam bem a idéia principal do filme, de uma anomalia, onde o protagonista
nasce com aspectos da velhice e vai rejuvenescendo. A parte que mais se aproxima da
normalidade em sua vida, é a metade dela, pois ele apresenta os mesmo aspectos físicos dos
outros que nascem no mesmo período dele, inclusive seu par romântico, com quem vive seus
tempos áureos enquanto jovem, ou seja, a juventude aparece novamente como um ideal. ...um
homem que ganhou o dom de rumar do pior para o melhor, no final dá uma idéia desoladora
de uma infância aprisionada na senilidade e na decadência.
A crítica em relação ao filme é positiva, tanto concordando com a idéia central do
mesmo, quanto fazendo sua propaganda mercadológica (mercado cinematográfico), portanto
trata-se de uma matéria ideológica e mercadológica. Ela supervaloriza a juventude em
detrimento da velhice, retomando a idéia de Edgar Morin sobre a juvenilização da cultura.
Por que eles não crescem? – 04/02/2009
A matéria de capa da revista do dia
04/02/2009, recebe o nome Por que eles não crescem?
com o lead Síndrome de Peter Pan dos milionários de
calção pega mais um, Robinho, acusado de agressão
sexual na Inglaterra. O dedo na boca do jogador de
futebol sugere uma falta de maturidade, um
despreparo para uma situação econômica bem
favorecida possibilitando o acontecimento de
escândalos midiáticos como o crime sexual citado.
Figura15‐Capa04/02/2010
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A matéria possui o mesmo título Por que eles não crescem?, porém utiliza um lead
diferente da capa: A acusação de ter cometido agressão sexual em uma boate da Inglaterra
revela a face imatura de Robinho – a mesma de outros atletas que saltaram da pobreza ao
estrelato. Ela totaliza oito páginas e utiliza de diversos recursos jornalísticos. É assinada por
Thaís Oyama e Fábio Portela e conta com reportagens de Kalleo Coura e Naiara Magalhães.
As duas primeiras páginas possuem pouco texto e, a foto que ocupa quase totalmente este
espaço, é a mesma da capa, acompanhada das capas de tablóides sensacionalistas ingleses.
Figura16‐TablóidesIngleses
A matéria continua como uma espécie de dossiê policial
até a terceira página sobre o caso específico de Robinho,
mostrando as fotografias do local onde supostamente teria
acontecido a violência sexual ao lado de uma foto em que o
jogador acompanha a esposa.
Além disso, há uma foto do jovem jogador português Cristiano Ronaldo, ao lado de
uma Ferrari destruída por um acidente em que ele dirigia. O nome dado pela revista à casa
noturna onde teria acontecido o incidente é de “inferninho”, e não danceteria ou algo do
gênero. O português Cristiano Ronaldo é chamado de imaturo, por ter sido acusado (porém
posteriormente inocentado) de um estupro, e por ter sofrido um acidente de carro.
Estas mesmas páginas são divididas com um box sobre a chamada “síndrome de Peter
Pan” dos astros do esporte apresentados na capa da revista. As fontes para descrição desta
síndrome são os especialistas em psicologia esportiva Suzy Fleury e Dietmat Samulski. Eles
contam que quando muito novos os jogadores são excessivamente cobrados passando muito
tempo longe da família e sem estudo, e quando eles se vêem com fama e sucesso midiático e
financeiro, e com a falta de uma boa estrutura cultural e familiar, acabam se envolvendo em
escândalos e mostram suas fragilidades. As fotografias seguintes (Figuras 17, 18) exibem
Ronaldo e Adriano, astros do futebol internacional, e o astro do basquete americano Kobe
Bryant (Figura 19). Ainda há o boxeador Mike Tyson aparece na revista como os exemplos de
escândalos no campo esportivo.
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Figura17‐flagraRonaldo
Figura18‐flagraAdriano
Figura19‐flagraKobeBryant
Em seguida, a sétima e a oitava páginas
da matéria apresentam outros três boxes com
fotos que preenchem quase totalmente o espaço
com pouco texto, mas recheado de recursos. O
primeiro box recebe o nome Um cartola das
arábias e fala sobre o bilionário irmão do
presidente dos Emirados Árabes e dono do
Chelsea, o clube de futebol inglês, um dos mais
ricos do mundo, falando dos valores para
legitimar a fortuna dos jogadores.
Figura20‐CartolabilionáriodoChelsea
O segundo box retorna ao tema Robinho, porém legitimando o quadro anterior que
tratava dos especialistas em psicologia esportiva, mostrando sua trajetória de vida vindo de
uma infância pobre, e justificando a rápida ascensão econômica como causadora de uma frágil
estrutura psicológica.
Figura21‐Robinhoevolução1
Figura22‐Robinho
evolução2
Figura23‐Robinho
evolução3
Figura24‐Robinhoevolução4
Figura 25‐Robinho
evolução5
O último box (Box 1) ainda mantém Robinho como tema central, revelando o tamanho
de sua fama e seu poder econômico como jogador mais caro do mundo, mais uma vez
legitimando a sua falta de estrutura psicológica. Há fotos mostrando seu carro e sua mansão
no exterior para comprovar a exorbitância de seus valores.
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O jogador mais caro do mundo
Quando saiu do Santos, em 2005, Robinho recebia 250 000 reais por mês.
Foi para o Real Madrid para ganhar o triplo desse valor.
Para que ele saísse do Real Madrid, o Manchester City pagou 43 milhões de euros, o que o tornou o jogador mais caro do
mundo em 2008.
No time inglês, ele recebe 6 milhões de euros por ano, em valores líquidos.
Seus contratos de patrocínio lhe rendem mais 5 milhões de euros por ano.
O aluguel de sua casa em Manchester equivale a 49 000 reais por mês.
Sua mansão no condomínio Acapulco, no Guarujá, custou 3 milhõesde reais.
O mais novo de seus carros, um Lamborghini Gallardo, custou 560 000reais.
Sua garagem ainda tem um Audi Q7 e um Mercedes ML.
Box1‐Robinho
As fontes apresentadas pela matéria são: Suzy Fleury, especialista em psicologia
esportiva; e Dietmar Salmusky, especialista em psicologia esportiva. Há testemunhos do
agente do jogador, Wagner Ribeiro, do DJ e de outros funcionários da casa noturna onde
supostamente ocorreram os fatos sem citar seus nomes, de Chris Nathaniel, conhecido por
“endireitar” os bad boys (garotos problemáticos) do futebol inglês, que foi contratado pelo
Chelsea para cuidar de Robinho e recuperar sua imagem.
A matéria em si relaciona o teor do que é noticiado a diferenças de classe, já que fala
sobre ascensão social dos jogadores de futebol; juventude, mostrando uma abordagem
conservadora e idealizada sobre os jovens através de valores como a família e a educação; e
sociedade do espetáculo
19
mostrando conseqüências da fama e a repercussão midiática da
vida privada dos jogadores de futebol e outros astros do esporte.
Há um cunho ideológico da questão de classe relacionada à juventude, mostrando
grandes casos de escândalos sem mostrar a exceção à regra. A questão da falta de presença da
família aparece como uma das principais causas dos escândalos. A juventude é mostrada
como uma fase de rebeldia, de transição, apresentadas como facilitadoras de falta de estrutura
psicológica, e ainda mais prejudicada por uma juventude prolongada, que não deveria existir
mais, já que ricos e poderosos já deveriam ter se tornado responsáveis. Portanto, a juventude
nestes casos é relacionada à irresponsabilidade.
Mergulho no submundo – 18/02/2009
Na edição do dia 18/02/2009, mais uma matéria foi selecionada, com o título:
Mergulho no Submundo, possuindo apenas uma página. No lead: A polícia Federal prende 55
jovens da classe média que traficavam drogas sintéticas. Um deles fornecia armas e
granadas a bandidos de uma favela no Rio de Janeiro. Ela é assinada por Ronaldo França.
19
Expressão utilizada por Guy Debord, que será debatida mais a frente nesta dissertação.
66
Apesar de conter pouco texto, duas fotografias o ilustram, dividindo pela metade o
conteúdo da página. A primeira mostra um jovem bem vestido, acompanhado de policiais
federais, saindo de uma ambiente que aparenta ser um condomínio. Na outra, está retratado
um abraço entre a mãe e o filho acusado do crime em uma varanda de um apartamento de
classe média, enquanto a polícia aguarda. Os únicos testemunhos são do delegado federal
Enrico Zambrotti Pinto, e do titular da delegacia de entorpecentes do Rio de Janeiro, Victor
Cesar dos Santos.
Apesar de o tráfico de drogas entre jovens ser uma coisa usual no Brasil, o que torna
esta notícia algo digno de noticiabilidade é o fato de acontecer em uma classe social onde isto
não é comum, e as causas são pouco exploradas. O tema central é policial, sobre o tráfico de
drogas, a matéria é de cunho ideológico, e a causa apresentada são as festas que motivam os
jovens de classe média consumidores das drogas a “se perderem” e entrarem para o mundo do
tráfico.
A juventude em rede – 18/02/2009
Outra matéria de 18/02/2009 trata de
adolescência e juventude, e é a matéria de capa
da revista com o seguinte título: Eles é que
mandam acompanhada do lead: Um retrato dos
adolescentes de hoje: eles são os reis da era
digital, decidem o que a família vai comprar,
custam caríssimo, mas estão mais desorientados
do que nunca. Relembramos que a foto da capa
mostra um adolescente em proporção muito
maior que os pais, representando o domínio
sobre os mesmos. Apesar da situação, todos se
mostram felizes.
Figura26‐capa18/02/2009
A matéria especial na revista possui o título Juventude em rede com o lead: Como
pensam e se comportam os adolescentes de hoje: filhos da revolução tecnológica, eles vivem
no mundo digital, são pragmáticos, pouco idealistas e estão mais desorientados do que
nunca. A matéria possui 10 páginas e é assinada por Anna Paula Buchalla.
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Figura27‐Juventudeemrede
A imagem inicial da matéria ocupa duas
páginas e mostra um casal de jovens
(adolescentes), sugerindo uma teia feita por
cabos de rede prendendo os mesmos ao mundo
digital, com os dizeres de que o celular, o iPod, o
computador e o videogame se tornaram
extensões do corpo e dos sentidos.
As duas páginas seguintes apresentam duas imagens de jovens testemunhos falando da
interação e necessidades deles com os gadgets eletrônicos.
Figura28‐Juventudeetecnologia1
Figura 29 - Juventude e tecnologia 2
A inversão dos papéis de
dominação apresentados pela capa
é confirmada pelo testemunho dos
jovens ao lado (Figuras 28 e 29),
que atesta que os mais jovens
possuem mais desenvoltura com as
novas tecnologias fazendo com que
os pais se tornem os dependentes
no lar.
A jovem da Figura 29 testemunha que existem os relacionamentos através da internet
nas redes sociais e revela preocupação do pai pela imagem que pode ser passada com tanta
exposição, mas, mesmo assim, não consegue oferecer resistência ao mundo digital.
O primeiro quadro (Recurso Gráfico 1), com recursos quantitativos da matéria aparece
na mesma página, mostrando o relacionamento destes jovens com os gadgets eletrônicos e
com a utilização da internet.
RecursoGráfico1‐Serestecnológicos
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Nas quinta e na sexta página, mais duas fotos de adolescentes, com depoimentos,
reforçam concepções sobre a juventude contemporânea.
Figura30‐jovemtribo
Todos os depoimentos dos adolescentes que aparecem com fotos na
revista, reforçam a idéia central da conceituação sobre juventude, cada foto
apresentando um conceito. O jovem ao lado (Figura 30), segundo a
matéria, representa o fim das tribos, pelos estereótipos, já que fica muito
mais difícil identificar o universo de que cada jovem faz parte pela sua
aparência. Inclusive os próprios conceitos sobre “tribos” urbanas começam
a ser questionados pela revista, já que os jovens possuem identificações de
diferentes tribos simultaneamente.
O casal de adolescentes ao lado sugere uma
perspectiva sobre o valor que é dado ao relacionamento
pelos mesmos que, apesar da pouca idade, já exibem
alianças de compromisso, não como juras de amor eterno,
mas apenas para representar um vínculo mais forte. Há uma
sugestão de prematuridade no envolvimento amoroso.
Figura 31 - jovem relacionamento
Sobre a questão dos relacionamentos na juventude, a matéria, nas mesmas páginas,
apresenta dois quadros estatísticos (Quadros 3 e 4) com recursos gráficos sobre as formas
através das quais costumam se relacionar.
Quadro3‐relacionamento1
Quadro4‐relacionamento2
A sétima página apresenta o primeiro box da matéria para legitimar a idéia do começo,
de que os jovens são caros, mostrando inclusive que mesmo nas classes mais baixas, apesar
do menor poder aquisitivo, o comportamento ocorre da mesma forma que nas
economicamente mais favorecidas.
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Figura32‐Quantocustaojovem?
O Box (figura 32) sugere um guarda roupa básico
para os jovens de classe alta, com roupas de marcas
importadas, com muitos acessórios, como relógios e
aparelho celular. Porém explica que nas classes mais
baixas, os jovens se endividam para manter um padrão
que imita os destes jovens de classe alta econômica.
A foto ao lado (Figura 33) é
exibida na oitava página e
mostra um comportamento
megalomaníaco dos jovens, que
fazem festas caríssimas com
produções extravagantes para
ostentar poder.
Figura33‐Jovemfesta
Ainda na mesma página, outro recurso é apresentado, um outro quadro de gráficos e
estatísticas sobre quanto custa economicamente um adolescente.
Quadro5‐quantocustaojovem?
A oitava e penúltima página traz um guia, com recomendações para que os pais destes
adolescentes aprendam a lidar com diversas situações como a bebida, o abuso de gastos ao
telefone, o abuso da internet, quando há discussões e até quando o filho não quer atender à
chamada telefônica no celular. É apresentado um quadro para dizer que todos os jovens da
classe média se comportam de maneira muito parecida.
Quadro6‐melhorlugardomundo
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Mais duas imagens fotográficas são apresentadas nas duas últimas páginas, trazendo
os mesmos recursos de todas as fotografias de jovens até agora, acompanhadas de um
depoimento como forma de legitimação das idéias centrais da reportagem. Enquanto a garota
que dança balé (Figura 34) no teatro municipal afirma que conviver com outras classes sociais
a enriquece culturalmente, confirmando a teoria da revista de que os jovens não fazem mais
parte de tribos específicas e se misturam, o garoto sentado no degrau (Figura 35) reclama da
falta de tempo para fazer todas as atividades que deseja, legitimando a teoria do “faz tudo ao
mesmo tempo”.
Figura34‐jovem"faztudoaomesmotempo"1
Figura35‐"faztudoaomesmotempo"2
O último recurso jornalístico utilizado na matéria é um quadro que fala sobre os
hábitos de leitura dos adolescentes, utilizando como exemplo as leituras fictícias de moda,
como os vampiros, e a grande quantidade de leitura feita pela internet, reafirmando que as
discussões na internet evitam o olho no olho se restringindo a relacionamentos virtuais.
As fontes utilizadas na matéria são: enquetes realizadas pela própria revista Veja
através da página na internet; Núcleo Jovem da Editora Abril, Ipsos Marplan, Dossiê 4 –
Universo Jovem MTV e Deloitte; Research International; Instituto Nacional de Vendas e
Trade Marketing (Invent).
Há citações literárias no começo da matéria criando um clima de envolvimento do
leitor, de O Apanhador do Campo de Centeio de J.D.Salinger. Ainda há os depoimentos de
oito jovens, que são citados nas fotografias, e declarações de Felipe Mendes, diretor-geral da
Research International; Claudia Xavier da Costa Souza, coordenadora do centro pedagógico
do Colégio Porto Seguro; Ceres Alves de Araujo, psicóloga; Silvana Leporace, coordenadora
educacional do Colégio Dante Alighieri; e Diana Corso, psicanalista.
A matéria possui tanto um cunho ideológico por contribuir diretamente para a
construção do imaginário social sobre o que é juventude como mercadológica traçando uma
identidade idealizada da juventude pelas suas vestimentas e acessórios. Chega inclusive a citar
nomes de colégios e mostrar em fotos os uniformes. Além disso, o quadro que mostra como o
jovem se veste cita marcas e inclusive mostra preços.
71
Há uma tentativa de prevenir a generalização no começo da matéria ao descrever o
jovem: VEJA foi a campo tentar descobrir como os adolescentes atuais poderiam ser
identificados se tomados como um todo. Sim, é uma generalização, e como toda
generalização deve ser olhada com cuidado. Mas ela não condiz com o desenvolvimento do
texto, já que o estudo é feito nitidamente em escolas caras, e fica evidente que estão falando
de adolescentes das classes A e B, inclusive pelas suas roupas e acessórios eletrônicos. No
total, vinte e três jovens aparecem nas fotos, e somente um, na menor de todas, é negro. No
quadro que mostra o guarda roupa básico, a garota veste um total de R$ 9.499,00 e o garoto,
R$ 2.955,00, mostrando nitidamente a dominação dos ideais das classes econômicas A e B,
mas o mesmo quadro afirma que as classes C, D, e E compartilham do mesmo guarda-roupa,
inclusive se endividando para isso.
As principais definições sobre juventude apresentadas na matéria são: o
relacionamento intenso com tecnologia e com o mundo virtual; multi-tarefas, o faz tudo ao
mesmo tempo; pragmáticos e nada idealistas; superficiais; expositivos e nada introspectivos.
É importante ressaltar que a matéria fala para os pais destes jovens, e não para os jovens.
Inclusive ela ensina a se relacionar com eles, pois os pais se tornaram, segundo o discurso
midiático, reféns destes jovens contemporâneos.
Uma segunda opinião – 04/03/2009
A matéria especial da edição do dia 04/03/2009 tem como título: Uma segunda
opinião e o lead que precede: O projeto que cria cotas raciais nas universidades federais
brasileiras exige mais atenção do que a justeza da causa sugere: ele pode ser igualmente
ruinoso para os negros e brancos brasileiros. Ela possui oito páginas e tem como tema
principal a política educacional universitária no Brasil com as cotas para os negros. É assinada
por Camila Pereira.
A primeira e a segunda páginas dividem a primeira imagem da matéria (Figura 36),
uma fotografia de calouros recém ingressos na faculdade comemorando o mérito do
vestibular.
72
Figura36‐jovemcomemorandoingressovestibular
O primeiro recurso de estatísticas
aparece logo ao lado da foto inicial, sobre a
distribuição das vagas na faculdade para o
novo projeto do Senado onde metade das
vagas são reservadas para egressos de escolas
públicas que já contribuiria para os negros.
Quadro7‐distribuiçãodasvagas
As duas páginas que seguem mostram uma foto (Figura 37) de um grupo de negros
militantes do combate ao racismo, se colocando contra as cotas para negros nas faculdades. A
foto tem o título Traidores da raça, e se refere ao nome dado pelos militantes da foto àqueles
que são a favor das cotas. É interessante que, na foto, os membros aparecem com olhares
intimidadores, como se estivessem recriminando o leitor no caso de uma opinião contraria à
deles.
Figura37militantesdaraça
73
Na quinta página, a matéria utiliza-se de mais uma
fotografia (Figura 38) para mostrar a polêmica sobre quem é ou não
é negro, já que os alunos representados foram selecionados como
negros para se candidatar através das cotas no processo seletivo de
uma universidade. A posição da revista desde a primeira página se
torna clara e incisiva na formação de uma opinião contras as cotas e
utiliza diversos recursos para combatê-la.
Figura38‐consideradosnegros
Abaixo desta foto, um quadro de texto (Box 2) coloca os argumentos de quem é a
favor das cotas raciais sendo combatidos e criticados pela reportagem.
O que dizem os
defensores das cotas
O sistema ajudaria a
reparar uma dívida com
os negros pelo longo
período de escravidão
O Brasil é um país racista
– e os negros, menos
escolarizados e mais
pobres por causa disso,
precisam de um
empurrão
Aumentar o número de
negros com diploma de
ensino superior teria um
efeito simbólico na
diminuição da
discriminação
A diversidade contribuirá
para a melhoria do ensino
superior
A experiência brasileira
está dando certo – sem
nenhum sinal de que
comprometa o nível das
universidades
Comentário
O raciocínio é capcioso.
Quem recebe a
"reparação" não são
aqueles que
concretamente foram
feridos pela escravidão –
mas um grupo de
pessoas definidas pelo
impreciso conceito de
raça, que vem inclusive
sendo questionado pela
ciência
As desigualdades sociais
entre brancos e negros
de fato existem, tal como
o preconceito. O que não
existe é racismo
institucionalizado. Depois
da abolição, em 1888, o
Brasil nunca criou
barreiras legais em
função da cor da pele, ao
contrário de outros países
Pode ser, mas
provavelmente não por
meio das cotas. A
experiência mostra que o
sistema não confere
prestígio aos negros,
mas, sim, os estigmatiza
como um grupo menos
capaz de avançar por
mérito próprio
O conceito de diversidade
no projeto é bastante
limitado. Toda a
variedade sociocultural
brasileira se resume a
negros, pardos e índios.
Ao contrário do que
acontece em outros
países, a biografia e os
talentos individuais dos
candidatos não são
levados em conta
Embora alguns estudos
revelem resultados
positivos, não houve
tempo suficiente para
uma avaliação mais
científica sobre o impacto
das cotas no Brasil. Em
países onde elas foram
implantadas há mais
tempo, a experiência não
foi bem-sucedida
Box2‐defensoresdascotas
A sexta página apresenta mais uma fotografia, colocando outras prioridades na frente
da questão racial, que é a questão de classes. A foto em questão (Figura 39) apresenta crianças
pobres jogando bola em um conjunto habitacional de baixa renda.
Figura39‐jovenspobres
Figura40‐joveminjustiçado
A foto ao lado (Figura 40), já na sétima e na oitava páginas, apresenta a indignação de um
jovem que, segundo a matéria, obteve um ótimo desempenho no vestibular, mas não
conseguiu entrar devido ao número de vagas ter diminuído graças às cotas raciais, criando
uma noção de injustiça.
As duas últimas páginas da matéria apresentam duas fotografias para ilustrar soluções e
causas diferentes para os problemas. A primeira (Figura 41) remete ao problema da
74
desigualdade social como responsável pelas injustiças de ingresso nas universidades,
mostrando uma foto de uma aula em uma escola pública. A segunda foto (Figura 42) propõe
uma comparação de que a mesma medida foi adotada nos Estados Unidos e sugerindo que
diversos problemas decorreram por conseqüência, dizendo que a renda dos negros até caiu.
Segundo a reportagem, até na Índia há cotas existentes desde 1949, e só não são derrubadas
pois os políticos não querem perder votos, mas não resolveram as diferenças sociais.
Figura41‐oproblemanaeducaçãodebase
Figura42‐negrosnosEstadosUnidos
É evidente a questão político-ideológica da revista utilizando de todos os artifícios
jornalísticos para a construção de uma opinião contra as cotas, apresentando estatísticas,
fotografias, declarações, testemunhos, e diversas fontes. Entre elas: Leão Alves, do
movimento Nação Mestiça; Ministro Edson Santos, da Secretaria da Igualdade Racial;
matemático Renato Pedrosa, um dos coordenadores do vestibular da Unicamp; sociólogo
Demétrio Magnoli; sociólogo Simon Schwartzman; antropóloga Yvonne Maggie; Eunice
Durham, especialista em ensino superior. Há ainda diversos testemunhos de vários jovens que
já foram citados na descrição das figuras.
A questão racial é o tema central da matéria, mas é importante ressaltar que quando se
trata do assunto de vestibular, por questões óbvias, a juventude está envolvida na situação.
75
Vestibular: vai mudar tudo, menos o mérito – 15/04/2009
A matéria de capa de 15/04/2009,
apesar de não falar diretamente sobre
juventude, relaciona-se indiretamente aos
jovens, já que tem como tema central o
vestibular. A capa apresenta um candidato
jovem branco de olhos claros, de cabelo
raspado com um “X” em sua testa,
sobrepondo a palavra Vestibular e o título ao
lado, Mudou e agora? e traz como lead: Veja
responde às 16 dúvidas principais sobre o
novo sistema de seleção para o ensino
superior, já que será adotado neste ano por
500 universidades brasileiras.
Figura43‐capa15/04/2009
A matéria especial possui dez páginas e é assinada por Camila Pereira, Monica
Weinberg e Renata Betti. A primeira e a segunda páginas dividem a foto (Figura 44) de um
estudante escrevendo fórmulas de frente para o leitor, em um painel translúcido. A legenda
diz que se trata de um estudante que em 2002 conseguiu ser o primeiro em três universidades
Figura44‐primeirolugarnosvestibulares
das mais concorridas do Estado de São Paulo e
conseguiu um grande emprego antes mesmo de
se formar. O título que acompanha a matéria é
Vestibular: Vai mudar tudo, menos o mérito. O
lead diz: A substituição do vestibular por uma
prova unificada começa a valer já neste ano em
centenas de universidades. O novo exame é
menos massacrante para os alunos, mas continua a selecionar os melhores.
A matéria trata do novo sistema de avaliação para
o ensino médio (o ENEM) aplicado como forma de
seleção para o vestibular em já mais de quinhentas
universidades. O anúncio oficial é legitimado por outra
imagem na terceira página.
Figura45‐plenárioEnem
76
Esta mesma página é dividida com um quadro de texto esclarecendo dezesseis itens
enumerados de eventuais dúvidas sobre o novo exame, em forma de um guia, ou manual. O
objetivo principal da matéria é tranqüilizar os candidatos e os envolvidos, como a família do
candidato, e se colocar a favor do novo método de seleção.
A quinta e a sexta páginas dividem-se entre três fotografias, um quadro em forma de
cronograma, e os textos. As fotografias aparecem em forma de testemunho, como
comprovação do que dizem os professores e a aluna.
Figura46maratonadevestibular
Figura47‐professordecursinho
Figura48‐professordecolégio
Na primeira foto (Figura 46), temos a estudante que fez dezessete provas de
vestibulares diferentes, mas não passou em sua primeira opção, e agora vai tentar tudo
novamente, maratona que, teoricamente, seria evitada com um sistema único de seleção. A
segunda foto (Figura 47) fala sobre os métodos de ensino dos cursinhos pré-vestibulares, na
base de “decorebas” que poderiam estar com os dias contados. Na última foto (Foto 48),
vemos o professor de uma escola particular fala sobre o conteúdo exagerado de diversas áreas
diferentes que precisam ser estudadas pelos alunos.
O quadro em forma de cronograma (Quadro 8) seleciona alguns momentos históricos
sobre a aplicação do vestibular e apresenta duas imagens de alunos fazendo as provas na
década de 60 e depois em 2009.
Quadro8‐históricodoEnem
A sétima e a oitava páginas possuem apenas uma coluna de texto, e mais quatro
fotografias (Figuras 49, 50, 51 e 52) utilizadas como recursos de testemunho do sucesso de
estudantes esforçados e competentes, que independente do desafio, serão bem sucedidos. Uma
clara alusão ao esforço recompensado de uma sociedade do espetáculo. O sucesso intelectual
e profissional.
77
Figura49‐doutorprecoce
Figura50‐sucessoprofissional1
Figura51‐sucessoprofissional2
Figura52‐sucessoprofissional3
A penúltima página ainda apresenta mais uma foto de testemunho de um professor que
confessa que já começou a preparar suas aulas do cursinho, voltadas à nova prova unificada, e
relatando que já estão preparados para um novo sistema.
Por fim, na última página, há uma prova simulada (Quadro 9) com o modelo da nova
prova do ENEM para os jovens e interessados já terem uma idéia de como é a prova e
comparar com as modificações anteriores.
Quadro9‐provaEnem
As fontes utilizadas pela matéria são: Reynaldo Fernandes, presidente do Inep, órgão
do ministério responsável pelo exame; Eunice Durham, antropóloga; Gustavo Ioschpe,
especialista em educação; Elcio Bertolla, professor do colégio Porto Seguro; Marcelo
Rodrigues, professor do cursinho Anglo, Roberto Lobo, consultor e ex-reitor da USP;
78
Andreas Scheleicher, alemão que comanda a prova internacional do Pisa; Richard Feynman,
premio Nobel em Física; Olinda Assmar, reitora da Universidade Federal do Acre.
A matéria ainda utiliza dos testemunhos apresentados pelos jovens vestibulandos e
comparações com sistemas internacionais, teoricamente bem sucedidos para defenderem sua
posição ideológica a favor do novo sistema de seleção. Devido aos colégios e cursinhos
apresentados, há ainda uma questão mercadológica na matéria, mesmo que sua principal
motivação possa ser ideológica.
A juventude é colocada como a fase de transição, de atingir a maturidade profissional,
relacionada à escolha da profissão, sugerindo que, quando seguida a fórmula do sucesso
proposta, de muita dedicação, ela seria recompensada.
A posição da revista a favor do novo sistema de seleção dos universitários é justificada
constantemente pelos profissionais da área, especialistas e alunos, e em nenhum momento
contestada pela matéria.
Daqui eu não saio – 15/04/2009
Na mesma edição de 15/04/2009, outra matéria chama a atenção para o tema
juventude, na seção de comportamento, com o título: Daqui eu não saio assinada por Carolina
Romanini e com o lead: Uma geração de jovens que trabalham e ganham seu dinheiro mas
resistem à idéia de deixar a casa dos pais estabelece um novo padrão de comportamento. A
matéria ocupa três páginas.
A reportagem propõe uma nova categoria de jovens que não querem deitar a
comodidade de sair da casa dos pais, e por isso recebem o nome de jovens cangurus. A
primeira página da revista é ocupada quase totalmente por uma fotografia (Figura 53) de uma
família reunida com dois “jovens” de trinta e um anos cada, que teoricamente não vêem
motivos para sair da casa dos pais, mesmo que culturalmente exista um desejo de
emancipação dos jovens em relação a suas dependências, e eles têm a possibilidade de ser
totalmente independentes. A matéria assim sugere uma mudança de um paradigma que dá
sentido à juventude, que é a ansiedade de independência característica da fase de transição da
vida infantil para a vida adulta.
79
Figura53‐jovenscangurus1
RecursoGráfico2‐jovenscangurus
Ao lado da fotografia, um quadro informativo (Recurso Gráfico 2) com recursos
gráficos, explica quem são os chamados “jovens cangurus” pela revista. É possível notar a
posição ideológica da revista desde o começo da matéria, já que mostra como conseqüência
da escolha destes jovens em continuar em casa, as famílias mais unidas e felizes, realçando
este lado positivo.
A terceira e última página da matéria possui duas imagens fotográficas de testemunhos
de jovens que continuam na casa dos pais para investimento na carreira e obtenção de sucesso
econômico e intelectual, fazendo a família ficar mais feliz e ainda manter comodidade no
estilo de vida.
Figura54‐jovenscangurus2
Figura55‐jovenscangurus3
Na primeira foto, a jovem de vinte e seis anos (Figura 54) é especialista em marketing
e por escolher continuar morando com os pais, pode investir em uma carreira de chef de
cozinha. O segundo, aos trinta e sete anos, (Figura 55) não sai da casa dos pais, e com isso, já
conseguiu fazer intercâmbio em Londres e seis cursos de especialização.
As fontes apresentadas pela revista são: Instituto de pesquisas LatinPanel; o psiquiatra
e escritor, Içami Tiba; Bárbara Hofer, da Universidade de Middlebury, em Vermont, EUA. A
matéria conta com o testemunho dos pais e filhos que vivem a lógica do “jovem canguru”, e
com comparações com culturas de outros países, como Japão e Estado Unidos.
80
A matéria é de cunho totalmente ideológico. A fase da juventude é apresentada como
o rito de passagem entre a adolescência e a vida adulta, porém, estes jovens da matéria
pretendem prolongar essa fase continuando dependentes dos pais para atingirem maior
sucesso no mercado de trabalho que aqueles que começam a vida individual mais cedo. Ela
valoriza o fato de os jovens não saírem de casa cedo apresentando os pais destes jovens como
afetuosos e “modernos” por respeitarem as diferenças de gerações, mas estes jovens não
apresentam rebeldias capazes de grandes conflitos.
Ela não ficou para a titia – 15/04/2009
Ainda na mesma edição da revista de 15/04/2009, mais uma matéria com o tema sobre
juventude é abordado, com o título Ela não ficou para titia, assinada por Bel Moherdaui, na
seção de Moda, com o lead: Criada há mais de cinqüenta anos, a bolsa Chanel de
correntinha (e uma infindável profusão de genéricas) renasce no ombro das jovens e
modernas.
A matéria ocupa apenas duas páginas da revista, porém a parte de texto ocupa menos
da metade do espaço. O tema central da matéria é a bolsa Chanel que se mantém na moda
desde os anos cinqüenta. As fotos são recursos utilizados para legitimar a tão antiga moda, há
uma pequena foto do início dos anos cinqüenta com a precursora, da moda em preto e branco,
outra foto dividia entre três celebridades internacionais utilizando a bolsa de marca.
Figura56‐Chanel,décadade50
Figura 57 - Chanel e celebridades, tempos atuais
O tema juventude pode ser abordado aqui pela via de juvenilização da cultura,
atrelado ao marketing e o potencial de consumo dos jovens no mundo contemporâneo. O
produto apresentado é de alto padrão, portanto, fala para os jovens de classe social média para
alta, com cultura da moda. Mesmo assim, o outro recurso utilizado, mostra outras opções para
81
quem é de outras classes sociais, do mesmo modelo do produto, de marcas diferentes. A
matéria apresenta o preço e as lojas do produto em todo seu texto. Esta matéria se torna
importante na fácil visualização sobre o consumo atrelado a temas da juventude.
Quadro10‐Chanelparatodasasclasses
As fontes citadas são Arnaldo Silva, consultor de estilo da rede ShoeStock; Costança
Basto, que criou a bolsa de cetim colorido para a ala jovem, e uma versão mais tradicional
para os não jovens; Bruno Trippe, diretor de produção da Channel; Cicilia Sreet Barros,
diretora da Chanel Brasil.
A família é a vilã – 15/04/2009
Por último, ainda na mesma edição de 15/04/2009 da revista, há mais uma matéria que
trata sobre juventude, com apenas meia página, que recebe o nome de: A família é a vilã
assinada por Marcelo Marthe tem como lead: Na novela das 8, os males dos jovens são
desencadeados por seus pais monstruosos.
Apesar de tratar de uma comparação
com a ficção, a curta matéria confirma a
idéia transmitida pela novela, de que os
problemas psicológicos e comportamentais
dos jovens são de boa parcela de
responsabilidade dos pais destes jovens. O
jovem aparece como um ser facilmente
influenciável pela família e pelos amigos,
determinando sua psique.
Figura58‐Tarso,datelenoveladaGlobo
82
As fontes utilizadas são: a psicóloga Lídia Arantagy; e Mauro Aranha, da associação
Brasileira de Psiquiatria. É importante ressaltar que o último (Mauro Aranha) afirma que a
esquizofrenia possui diversas causas, e não é possível deixar toda a culpa nos ombros dos
pais. É importante ressaltar este fato, pois apesar da posição ideológica da matéria, ela oferece
um especialista com um contraponto.
Cabelos: Alternativas antiqueda – 29/04/2009
Na reportagem de 29/04/2009, a juventude aparece citada em uma matéria sobre
quedas de cabelos. O título da matéria é Cabelos: Alternativas antiqueda e é assinada por
Anna Paula Buchalla. A principal relação com juventude pode ser observada no lead: Está
mudando o perfil de quem procura um dermatologista com queixa de queda de cabelos.
Senhores de mais de 50 anos, com cabelos brancos e ralos, cederam lugar aos mais jovens,
na faixa dos 30 a 40 anos. Eles agora são maioria no consultório.
O artigo é repleto de fórmulas de diferentes tratamentos como transplantes,
suplementos nutricionais, medicamentos, tratamento a laser, ou até um perfil para assumir a
falta de cabelos e raspar a cabeça por completo mantendo-se jovem.
Nota-se desde o começo da matéria o tema da juvenilização da cultura, a estética
jovem, não só na preocupação dos mais velhos que tentam se manter jovens, mas, neste caso,
dos próprio jovens que buscam um ideal de juventude estético. A matéria, em três páginas,
dedica totalmente as duas primeiras a uma introdução textual, com sete quadros de fórmulas
para resolver os problemas da falta de cabelo, inclusive apresentando o preço de cada um dos
tratamentos. Há poucas fotos que ilustram os tratamentos, mas particularmente uma chama a
atenção com um testemunho.
Figura59‐transplantedecabelo
O homem ao lado (Figura 59) possui
quarenta e seis anos. Ele legitima o transplante
capilar como uma solução, afirmando que seu
cabelo começou a cair desde os vinte anos de
idade. A página seguinte é separada por três boxes
diferentes. O primeiro é Pesadelo feminino com o
lead As principais causas da queda de cabelo em
mulheres e como evitá-las.
Este box mostra a foto de uma moça de vinte e oito anos de idade e um cabelo esteticamente
belo, contando um trauma de ter perdido o cabelo por uma experiência mal sucedida de tintas
83
e descolorações, e enumera os motivos das quedas capilares como o uso de produtos
químicos, distúrbio de tireóide, oscilações hormonais, má alimentação e stress.
O outro box apresentado chama-se Os pelos que eles não querem contando que
homens utilizam de recursos estéticos que antes eram exclusivamente femininos através de
uma pesquisa da Nívea, empresa de cosméticos.
O último box, apresenta um texto em forma de questionário, e remete ao primeiro box
sobre a queda de cabelo feminino, confirmando alguns mitos sobre dormir com a cabeça
molhada, uso de secador e “chapinha” como agentes da queda do cabelo, e afirmando que o
shampoo antiqueda funciona em termos.
A matéria é nitidamente mercadológica, apresentando marcas de cosméticos, técnicas
de tratamentos e prevenção para a queda dos cabelos, e apresenta como justificativa a questão
estética e a necessidade da aparência jovem como estratégias de incentivo a determinados
consumos identitários.
Gol de ouro – 13/05/2009
A matéria do dia 13/05/2009, que também é a matéria de
capa, trata-se de um especial sobre os negócios do futebol. O
título: Gol de ouro, com o lead: O milionário negócio de
descobrir, treinar e vender para Europa “craques-bebês”
brasileiros une clubes, famílias e investidores. A relação da
matéria com o tema da juventude está na formação dos jovens
jogadores de futebol, como mercadoria, saindo cada vez mais
cedo do Brasil para desenvolver seu futebol em terras
estrangeiras e ganhar dinheiro.
Figura60‐capa13/05/2009
Dentro da revista, a reportagem especial possui dez páginas, temos como título:
Chuteiras que valem ouro. É assinada por Kalleo Coura e possui o seguinte lead: O futebol é
um negócio rentável não apenas para os clubes e jogadores. Empresários e investidores estão
ganhando muito dinheiro com a venda de atletas.
A foto (Figura 61) que ocupa mais da metade das duas primeiras páginas da matéria,
mostra um grupo de garotos que tem como sonho se tornar milionário jogando no exterior,
onde eles já estão esperando uma oportunidade e sorte.
84
Figura61‐craquesdofuturo
Mais uma vez, pode ser relacionado ao tema da sociedade do espetáculo, e a busca
pelo sucesso da fama e do dinheiro. A revista nitidamente incentiva a iniciativa e tentativa dos
jovens que possuem este sonho.
Na segunda página, adolescentes são exibidos se preparando para uma peneira, nome
dado à seleção de novos jogadores (Figura 62), e a legenda explica a enorme dificuldade de
ser selecionado. Logo abaixo, uma outra fotografia (Figura 63) ilustra um garoto de 14 anos
que é jogador de futebol, mas não sonha em jogar em nenhum clube brasileiro, e sim na
Europa.
Figura62‐vestiário
Figura63‐craque"bebê"
Na quarta página, há um Box sobre a empresa de marketing esportivo Traffic,
que possui no interior de São Paulo um clube chamado Desportivo Brasil, especializado na
formação de jovens talentos para a Europa. A foto inicial da matéria (Figura 61) trata
exatamente de alguns dos cento e vinte jovens que fazem um treinamento intenso e cheio de
sacrifícios nesta empresa.
A quinta página já é iniciada com um recurso, um quadro falando sobre os caça
talentos no Brasil, e quais são as características observadas pelos mesmos, como idade,
estatura, comportamento, relacionamento e passaportes. O quadro vem acompanhado da foto
85
de um ex-jogador de futebol conhecido e que tem esta função após se aposentar dos campos
para legitimar as informações jornalísticas.
Entre a quinta e a sexta páginas, mais duas fotografias de garotos treinando com seus
testemunhos (Figuras 64 e 65), um já vivendo na Europa com a entrega total para atingir os
sonhos e outro que conseguiu o sucesso de começar a jogar nas categorias de base do Roma,
da Itália.
Figura 64 - garoto treinando 1
Figura 65 - garoto treinando 2
Na sexta página, uma foto de
um jogador já conhecido no Brasil (Figura
66). Com vinte anos, ao se mudar para jogar
na Ucrânia por 200 mil dólares mensais,
Willian diz que não renova o contrato por
nenhum valor, pois não se adaptou à cultura
local e nem ao intenso frio. Ele posa para a
foto exibindo seu carro.
Figura66‐Williancomcarro
Figura67‐Brenocomcarro
Na mesma situação que Willian, o
zagueiro Breno, com dezenove anos vive na
Alemanha, e fez um rápido sucesso no
Brasil. Ele conta que teve um processo muito
longo de difícil adaptação, mas agora sua
condição já melhorou muito. Na foto de
Breno (Figura 67) assim como na de Willian,
ele está exibindo seu carro.
Os jogadores supracitados demonstram uma dificuldade totalmente diferente dos
meninos que saem bem mais jovens e ainda não tiveram o gosto do sucesso no Brasil. Ainda
há jovens promessas no Brasil que teoricamente possuíam uma saída iminente (Ao menos
segundo a revista, já que ambos continuam sendo sondados até hoje para jogar no exterior).
Sabendo disso, grandes empresários tratam de investir na compra de seus direitos federativos
86
visando lucros futuros, como Dentinho que é apresentado com o recurso gráfico identificando
quem tem os direitos do mesmo em caso de uma transação internacional, ou Neymar que, na
época da revista, aos 17 anos, já ganhava 80 000 reais mensais.
RecursoGráfico3‐DequeméDentinho
Figura68‐Neymar
Há um Box na sétima página que fala sobre o magnata ucraniano, Rinat Akhmetov de
42 anos, que é dono do time de Willian e já levou muitos jovens brasileiros para seu time.
Cria-se uma aura de obscuridade em torno de sua fortuna, mas os números são reproduzidos
pela revista, como que para impressionar e seduzir o leitor. É a sociedade do espetáculo mais
uma vez.
Figura69‐magnataUcraniano
Figura70‐Dunga,extécnicodaseleçãobrasileira
Nas duas últimas páginas, entre a fotografia de Neymar (Figura 68) ao lado da foto de
Dentinho, aparece a foto do ex-técnico da seleção brasileira (na época era o técnico vigente)
Dunga (Figura 70), que em sua carreira como jogador, teve longa passagem pelo exterior e dá
seu testemunho do quanto aprendeu e cresceu culturalmente vivendo na Europa.
Por fim, o último recurso utilizado na matéria, apresenta um quadro (Quadro 11) em
forma de tabela, com alguns jogadores brasileiros que se transferiram para Europa e renderam
lucros exorbitantes aos detentores de seu passe (clubes e empresas).
87
Quadro11‐altorendimentodosjogadoresdefutebol
As fontes utilizadas: Raffaele Poli, pesquisador do Centro Internacional de Estudos do
Esporte, da Suíça; Guto Assumpção, diretor de futebol da base do Santos; John Calvert-
Toulmin, representante do Manchester United na América do Sul; Giovane Élber de Souza,
representante do Bayer de Monique; Sérgio Cláudio dos Santos, observador técnico do Milan;
Ricardo Pelegrini, técnico responsável pelas categorias de base do Roma; Economática e
Anbid.
A posição mercadológica da matéria apóia e incentiva um negócio totalmente
lucrativo para todas as partes, mostrando que no sonho de tentar investir nesta carreira há
grandes possibilidades de sucesso.
O jovem aparece como um ser tutelado, dependente, uma aposta no futuro. A matéria
é idealista, pois apesar de tratar o jovem como mercadoria, considera um negócio rentável
para todas as partes, considerando uma frágil economia brasileira e a grande entrada de
recursos em território nacional. O artigo não aborda diretamente a questão da classe, mas
apresenta jovens deslumbrados com a riqueza, indicando uma classe social baixa, multi-
étnica, de todo território brasileiro.
O alce de 2,5 bilhões de dólares – 20/05/2009
A matéria de 20/05/2009, de duas páginas, tem como título: O alce de 2,5 bilhões de
dólares e é assinada por Camila Pereira e tem como lead: Com roupas descoladas para
adolescentes e universitário, a Abercrombie & Flitch tornou-se uma das marcas mais
valiosas dos Estados Unidos. A afirmação do lead vem acompanhada no começo da matéria
pela justificativa de que a marca nunca foi tão desejada pelos jovens, inclusive brasileiros.
Como recursos jornalísticos, cada página apresenta uma foto da loja, sendo a primeira
mostrando a forma com que os vendedores se apresentam, com uma forma “jovem de ser”,
informais, com corpos atléticos e dentro dos padrões estéticos, modelos. Na segunda foto,
uma enorme fila do lado de fora legitima a popularidade apresentada pela revista. (Figura 71).
88
Figura71‐Abercrombie&Flitch,lojanosEUA
Além disso, para justificar o sucesso da marca, é apresentada uma tabela de recursos
gráficos (Quadro 12) que mostra uma comparação com a média das concorrentes, justificando
o estilo jovem como causador do sucesso.
Quadro12‐Abercrombie&Flitcheasconcorrentes
A questão da juventude aparece novamente relacionada à cultura de consumo e à
juvenilização da cultura, e o jovem é apresentado como um consumidor em grande potencial,
que supervaloriza a beleza, “descolado”, rebelde. Por se tratar de uma matéria sobre roupas de
marca de alto padrão, trata de jovens de classes sociais média para alta. O artigo se justifica
através do sucesso da loja de roupas, ligando ao fato do ambiente da loja utilizar músicas de
uma discoteca, atendentes com o padrão de modelos, alguns jovens até sem camisa,
ressaltando a “liberdade” e grande diversidade em uma loja de roupas impessoais, e
associando tudo isso a temas da juventude.
89
2.4 ANÁLISE DAS MATÉRIAS POR CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE
No item anterior, as matérias foram analisadas conforme sua estrutura e seus recursos
jornalísticos. O objetivo agora é analisar os valores da notícia e as causas de sua publicação,
os motivos dos destaques, do volume, e do maior ou menor trabalho jornalístico
(considerando qualidade, recursos, fontes, jornalistas envolvidos, entre outros). O motivo pelo
qual a notícia foi construída ou elencada, ou dada em destaque como capa, ou informe da
capa, também entram na discussão do que são chamados de critérios de noticiabilidade, que
serão guiados neste estudo basicamente por duas autoras: Gislene Silva e Cristina Ponte.
A proposta feita por Silva (2005:95) é de dividir o sistema dos critérios de
noticiabilidade em três instancias; a origem do fato, ou a seleção primária dos fatos; o
tratamento dos fatos, ou a hierarquização dentro do periódico dos fatos (se é destaque, capa,
especial e sua produção); e, por fim, a visão dos fatos, ou os fundamentos ético-
epistemológicos (interesse do público).
Estudiosos do jornalismo denominaram como valores-notícia, ou os critérios de
noticiabilidade, as ferramentas que nos ajudam a entender qual a visão construída por
determinados veículos midiáticos em conjunto com seus leitores, ou telespectadores, ouvintes
ou receptores de forma geral. Esses valores-notícia são os que aparecem nas três instancias
citadas por Silva. Eles são guiados por diversos valores jornalísticos que, ao longo da história,
receberam diferentes definições, por diferentes pensadores, conforme a tabela apresentada
pela autora.
Stieler:novidade,proximidadegeográfica,proeminênciaenegativismo.
Lippman:clareza,surpresa,proximidadegeográfica,impactoeconflitopessoal.
Bond: referente à pessoa de destaque ou personagem público (proeminência); incomum
(raridade); referente ao governo (interesse nacional); que afeta o bolso (interesse
pessoal/econômico); injustiça que provoca indignação (injustiça); grandes perdas de vidaou
bens (catástrofe); conseqüências universais (interesse universal); que provoca emoção
(drama);deinteresse de grande número de pessoas (número
depessoasafetadas);grandes
somas(grandequantiadedinheiro);descobertadequalquersetor(descobertas/invenções)e
assassinato(crime/violência).
Galtung e Ruge: freqüência, amplitude, clareza ou falta de ambigüidade, relevância,
conformidade,imprevisão,continuidade,referênciaapessoasenaçõesdeelite,composição,
personificaçãoenegativismo.
GoldingElliot: drama, visual atrativo, entretenimento, importância, proximidade, brevidade,
negativismo,atualidade,elites,famosos.
Gans:importância,interesse,novidade,qualidade,equilíbrio.
Warren: atualidade, proximidade, proeminência, curiosidade, conflito, suspense, emoção e
conseqüências.
90
Hetherington: importância, drama, surpresa, famosos, escândalo sexual/crime, mero de
pessoasenvolvidas,proximidade,visualbonito/atrativo.
Shoemaker 90T all: oportunidade, proximidade, importância/impacto, conseqüência,
interesse, conflito/polêmica, controvérsia, sensacionalismo, proeminência,
novidade/curiosidade/raro.
Wolf: importância do indivíduo (nível hierárquico), influência sobre o interesse nacional,
númerodepessoasenvolvidas,relevânciaquantoàevoluçãofutura.
Erbolato: pr oximidade, marco geográfico, impacto, proeminência, aventura/conflito,
conseqüências, humor, raridade, progresso, sexo e idade, interesse pessoal, interesse
humano, importância, rivalidade, utilidade, política editorial, oportunidade, dinheiro,
expectativa/suspense, originalidade, culto de heróis, descobertas/invenções, repercussão,
confidências.
Chaparro: atualidade, proximidade, notoriedade, conflito, conhecimento, conseqüências,
curiosidade,dramaticidade,surpresa.
Lage: proximidade, atualidade, ide ntificação social, intensidade, ineditismo, identificação
humana.
Fonte:Silva(2005:102103)
A tabela mostra o que deve ser levado em consideração ao analisar os motivos pelos
quais um fato, ou um tema, foi noticiado, pensando no consumo da notícia pelo receptor, ou
seja, quais os elementos que irão atrair e fazer com que ele se envolva com determinada
publicação.
Os fatores apresentados na tabela mostram os valores detectados por cada um dos
estudiosos em uma época e espaço geográfico diferentes, porém todos tentavam ser universais
nos valores notícia. Silva, elencando os principais valores que identificados por estes
pensadores, e os atualizando, propõe uma tabela com os valores-notícia para análise.
Pretendemos então, neste capítulo, analisar cada matéria conforme a proposta de Silva,
para depois relacionar os recursos com os valores utilizados antes de discutir as tematizações.
Esta análise se faz importante para entender qual o tipo de relacionamento existente entre o
leitor de Veja e a própria revista na construção e veiculação de imaginários sociais. A mesma
ordem cronológica da análise anterior foi obedecida.
Utilizaremos a análise feita até agora, acompanhada de uma leitura detalhada de cada
uma das matérias, para verificar quais os valores encontrados e tentá-los justificar observando
quais são os mais recorrentes e discutí-los. Segue novamente a tabela apresentada por Silva,
que será utilizada no desenvolvimento da análise:
91
Propostadetabeladevaloresnotíciaparaoperacionalizaranálisesde
acontecimentosnoticiáveis/noticiados
IMPACTO PROEMINÊNCIA
Númerodepessoasenvolvidas(nofato) Notoriedade
Númerodepessoasafetadas(pelofato) Celebridade
Grandesquantias(dinheiro) Posiçãohierárquica
Elite(indivíduo,instituição,país)
Sucesso/Herói
CONFLITO ENTRETENIMENTO/CURIOSIDADE
Guerra Aventura
Rivalidade Divertimento
Disputa Esporte
Briga Comemoração
Greve
Reivindicação
POLÊMICA CONHECIMENTO/CULTURA
Controvérsia Descobertas
Escândalo Invenções
Pesquisas
Progresso
Atividadesevaloresculturais
Religião
RARIDADE PROXIMIDADE
Incomum Geográfica
Original Cultural
Inusitado
SURPRESA GOVERNO
Inesperado Interessenacional
Decisõesemedidas
Inaugurações
Eleições
Viagens
Pronunciamentos
TRAGÉDIA/DRAMA JUSTIÇA
Catástrofe Julgamentos
Acidente Denúncias
RiscodemorteeMorte Investigações
Violência/Crime Apreensões
Suspense Decisõesjudiciais
Emoção Crimes
Interessehumano
Fonte:Silva(2005:104105)
92
Mais velhos... Porém mais jovens – 07/01/2009
A notícia de 07/01/2009, Mais velhos... Porém mais jovens é um artigo especial de
dezenove páginas sobre Longevidade e Juventude. A origem do fato, ou seja, o que levou à
escolha desta matéria, em número de pessoas envolvidas, podemos pensar nos leitores de Veja
que atravessam determinada faixa etária considerada pela matéria, ou seja, a partir dos
quarenta anos de idade, e para aqueles que vão logo chegar nesta fase, e estão preocupados
com a saúde e a questão estética.
Há uma proeminência, já que é oferecida uma notoriedade, um ideal de beleza
apresentado e ainda os exemplos utilizados são de celebridades internacionais, não só como
ícones de beleza, mas como verdadeiros heróis da estética. Pelo mesmo motivo há uma
questão polêmica, já que algumas pessoas apresentadas contrariam a lógica, e, ao envelhecer,
vão se tornando mais belas. Há a inserção de conhecimentos e cultura, já que são apresentados
tratamentos inovadores, como a medicina ortomolecular, além de pesquisas que atestam maior
longevidade para quem segue determinadas receitas. Além destes, a matéria é carregada de
quadros e testemunhos científicos que justificam a biologia do envelhecimento.
No mesmo sentido da polêmica, ainda é apresentada uma questão de raridade, como o
lugar incomum no Japão onde a longevidade ultrapassa as expectativas conhecidas, um local
original, inusitado.
Apesar deste local raro, incomum, nesta cultura diferente, e do uso de celebridades
como exemplos, a reportagem procura mostrar uma proximidade cultural com o leitor,
evidenciando a questão de que em qualquer lugar do mundo é possível cuidar da saúde e da
aparência, independente da cultura.
Por fim, a matéria utiliza de um quadro que trabalha com as emoções humanas, com as
declarações de José Mindlin, fazendo o leitor se identificar com a sede de vida do bibliófilo de
noventa e quatro anos de idade.
A matéria carrega um informe na capa da edição, e trata-se de uma matéria especial,
maior que todas as outras da mesma revista, até que a matéria de capa. Ela se localiza bem ao
meio do magazine e é dividida em cinco artigos sendo o de abertura, uma apresentação ao
tema que será abordado, mostrando fatos de pessoas mais velhas com boa saúde e outras mais
velhas com a aparência de uma beleza juvenil. O segundo artigo é calcado em conhecimento
científico, explicando o que acontece com o corpo humano ao envelhecer. O terceiro artigo se
apresenta como um manual para combater o envelhecimento, e assim atingir o status
apresentado no primeiro artigo. No quarto artigo, há os testemunhos de idosos não famosos
93
que gozam de plena saúde e muita vontade de viver, justificando assim todos os outros, e o
quinto e último artigo levanta a questão dos tratamentos alternativos, e, apesar de mostrarem
uma pergunta no título da matéria, apresenta as argumentações científicas que validam o
tratamento, mas ressaltando que o importante é o leitor se sentir bem e não a ciência
apresentada.
Uma vida em reverso – 21/01/2009
Na mesma edição de 21/01/2009, a matéria de título Uma vida em reverso, trata
exclusivamente de uma crítica cinematográfica e o enredo do filme acaba se misturando com
a opinião crítica do jornalista, fazendo com que a tabela de valor-notícia utilizada, analise
objetos tanto da matéria quanto do filme.
Não há grande impacto de pessoas envolvidas, pois o jornalista fala diretamente com o
leitor geral de Veja que acompanha o cinema. Mas a matéria foi destacada, pois a edição da
revista acompanha sempre uma outra edição trazendo um guia com críticas cinematográficas,
teatrais, de shows, bares e restaurante, ou seja, se esta crítica saiu na edição principal, mesmo
sem chamada, capa, ou um volume considerável, mereceu certo destaque, ainda ocupando
duas páginas no final da revista, fora do guia.
Por se tratar de um filme, o entretenimento é o principal valor-notícia utilizado, mas na
narrativa crítica do filme, considerando a ficção dentro do entretenimento, encontramos uma
questão de proeminência, já que há um herói na história. Porém, este herói possui uma doença
rara, nasce velho e vai rejuvenescendo até a morte, tratando de uma relação polêmica com o
meio em que vive. Por se tratar de um doença bem rara, as relações apresentadas pelo
protagonista do filme, na visão crítica da revista, trata-se de algo inesperado, uma aberração,
uma surpresa.
Outro valor-notícia encontrado está na tragédia, na emoção, que tanto é apresentada no
filme como no artigo, já que desperta o interesse humano na questão de que ninguém escapa
ao tempo, como finaliza o autor da matéria.
94
Por que eles não crescem? – 04/02/2009
A matéria do dia 04/02/2009 é a da capa da revista, e recebe o nome Por que eles não
crescem? Se trata de uma matéria única com a capa e mais oito páginas localizada no meio da
revista.
O primeiro valor-notícia é de impacto, pois a notícia é relacionada ao futebol, e
envolve uma paixão nacional, e menciona um escândalo que afeta milhares de pessoas de
forma indireta, já que não está relacionada só aos jogadores, mas aos torcedores de forma
geral. Além disso, outro valor atribuído ao impacto está relacionado às grandes cifras
apresentadas pela matéria.
Outro valor é novamente a proeminência, pois a notícia principal é de um jogador de
futebol, uma celebridade, e cita outras celebridades esportivas, todos muito bem sucedidos e
de muita notoriedade.
Por se tratar de futebol, o entretenimento é outro valor que fica implícito, pois se trata
de uma capa chamando a atenção para a matéria, um astro esportivo vivendo um escândalo
que, segundo a reportagem, é comum a outros ícones esportivos.
A polêmica também aparece como um valor-notícia importante, pois a matéria relata
inicialmente de um escândalo sexual em que uma celebridade está envolvida, e muitos outros
casos de outros tipos de escândalos com celebridades também aparecem como exemplos de
uma causa em comum, a falta de uma estrutura psicológica que normalmente é adquirida no
campo social da família, segundo o artigo.
A tragédia, ou o drama, também é um dos valores apresentados, já que a matéria
aparece com uma narrativa policial, de suspense, ouvindo diversos lados de um fato,
reconhecendo o local de uma suposta violência, ou um crime cometido contra uma jovem
inglesa em uma boate. A narração gera interesse, curiosidade, como uma narrativa de uma
ficção.
Por fim, o último valor apresentado é o da justiça, pela denuncia de um crime, onde as
investigações não concluem se o jogador é inocente ou culpado, mas deixa a dúvida no ar, de
uma decisão judicial pendente.
Hierarquicamente, a matéria é iniciada com o caso específico do jogador de futebol
Robinho, acusado de ter cometido uma agressão sexual em uma casa noturna na Inglaterra, e
assim vai até mais da metade da matéria, argumentando que casos como esse acontecem
devido ao sucesso repentino e à falta de estrutura psicológica, relacionada à baixa classe
social e à distância da família na criação. Ela é seguida pela exemplificação de outros casos de
95
escândalos com celebridades esportivas como forma de legitimar a teoria apresentada pela
matéria, sempre com quadros que mostram as exuberâncias financeiras. Os valores-notícia
utilizados da tabela foram: impacto; proeminência; entretenimento; polêmica; tragédia/drama;
justiça.
Mergulho no submundo – 18/02/2009
Na edição do dia 18/02/2009, a matéria com o título: Mergulho no Submundo,
possuindo apenas uma página, e localizada na seção policial da revista, apresenta como
primeiro valor notícia o impacto, pelo número de jovens envolvidos em uma busca policial,
mas, principalmente, por estes jovens fazerem parte da classe média no Rio de Janeiro, e não
da classe pobre. Isso também gera uma polêmica, uma controvérsia, já que se eles fossem
pobres, a notícia não mereceria publicação, seria trivial, cotidiana.
Por isso, mesmo uma matéria sem destaque na revista, de apenas uma página, ainda
merece ser noticiada, mas pela sua raridade, tratando do incomum, da surpresa, do inesperado,
de uma forte proximidade geográfica e cultural do leitor de Veja, de um crime e uma comoção
da família, e da justiça do Estado agindo sobre os mal-feitores.
É interessante pensar em uma matéria com tantos valores-notícia merecendo pouco
destaque dentro da revista, já que, segundo a tabela proposta, encontramos: impacto;
polêmica, raridade, proximidade; surpresa; tragédia/drama; e justiça.
Ao analisar os critérios de noticiabilidade através das questões ético-epistemológicas
como apresentado por Silva, poderíamos concluir que pelo interesse do público, a matéria é
pouco explorada não interessando a construção, ou visibilidade deste tipo de jovem para os
leitores.
A juventude em rede – Eles é que mandam – 18/02/2009
Ao contrário da matéria anterior, a de capa da edição de 18/02/2009 trata de
adolescentes, teoricamente juventude, e é a matéria de capa da revista com o seguinte título
Eles é que mandam. Também é uma matéria especial de dez páginas, sem contar a capa. O
primeiro valor apresentado é o de impacto, já que a matéria fala para todos os leitores de Veja
que possuem filhos adolescentes/jovens e para todos aqueles que têm contato com os mesmos.
96
A capa, assim como toda a matéria, gera polêmica, colocando o adolescente maior que os pais
e dizendo que eles é que mandam.
De forma implícita, há uma relação de conflito entre pais e filhos, como uma disputa
para sintetizar no mundo contemporâneo quem é que manda em quem. Por isso há polêmica, e
não só pela questão de conflito, mas por se tratar de uma controvérsia, algo teoricamente
incomum para uma questão tradicional.
Além do impacto, do conflito e da polêmica, a matéria é recheada de pesquisas que
tentam apresentar o jovem contemporâneo aos pais e interessados em entendê-los, e por isso
há um valor-notícia de conhecimento e cultura.
O valor da proximidade também é considerado, já que os jovens em questão
supostamente fazem parte da rotina da maioria dos leitores da revista, logo estão dentro da
casa dos leitores.
A matéria aprofunda em demasia os valores-notícia até aqui citados, procurando
demonstrar as principais características dos jovens contemporâneos, ora chamando de jovem,
ora de adolescentes, mas, pelo seu impacto, proximidade e conflito, já se fazem dignos de
uma profunda reflexão e por isso são de grande noticiabilidade, merecendo inclusive a capa.
Hierarquicamente, a matéria é construída com diversas pesquisas e recursos gráficos
que mostram pesquisas de diversos órgãos, dando destaque à pesquisa feita pela própria
editora. Por ser capa e matéria especial, se localiza bem ao meio da revista e é a matéria de
maior volume.
Uma segunda opinião – 04/03/2009
Mais uma matéria especial da edição do dia 04/03/2009 com o título Uma segunda
opinião possui como primeiro valor-notícia o impacto, já que atinge uma questão de
educação, de raça, e conseqüentemente um número muito grande de pessoas, tratando da lei
das cotas para estudantes universitários que são da raça negra e afetando aos que não são
negros, por supostamente terem uma disputa mais concorrida no ingresso à universidade.
Há uma questão de conflito envolvida, pois além das etnias, há uma reivindicação por
parte da matéria considerando uma justiça maior se as cotas englobassem uma questão de
classe e não de raça para corrigir o que seria um erro histórico.
Neste mesmo sentido, há uma polêmica, pela questão racial em si. A matéria envolve
uma questão de classe, controversa à lei proposta. Além disso, há declarações de grupos anti-
97
racistas se posicionando contra as cotas raciais, usando argumentos fortes e dizendo que
aqueles que são a favor são “traidores da raça”.
Outro valor-notícia é a proximidade para com os leitores, já que a universidade, a
educação de forma geral, e as questões de raça e classe, estão presentes em todo território
nacional em termos de cultura e também de geografia.
O valor do governo, ou seja, leis, decisões de interesse nacional, aqui aparecem pela
primeira vez entre as análises selecionadas, pois a discussão geral é em torno de uma lei,
discutindo-se sua justiça ou outras saídas que contemplem sua causa. Pelo mesmo motivo, é
possível colocar uma questão de denúncia contra o governo, no sentido de uma justiça social e
por isso pode-se dizer também do valor-notícia chamado justiça.
A justiça ainda aparece em dois momentos, na discussão sobre o esforço não
recompensado dos concorrentes que não fazem parte das cotas, colocando-os de fora da
disputa, e novamente quando lembra a questão de classe, já que se trata de uma suposta
correção histórica, nada mais justo do que contemplar também os brancos injustiçados.
A questão hierárquica, mais uma vez coloca a juventude na seção especial da revista,
em uma matéria localizada no meio, não se tratando de uma capa e nem com informe na capa,
mas com uma matéria bem produzida de oito páginas. Portanto, segundo a tabela, os valores-
notícia apresentados são: Impacto; conflito; polêmica; proximidade; governo; e justiça.
Vestibular: Vai mudar tudo, menos o mérito – 15/04/2009
A matéria de capa da edição de 15/04/2009 Vestibular: Vai mudar tudo, menos o
mérito apresenta inicialmente como valor a questão do impacto, considerando que estão
envolvidos todos os vestibulandos novamente, assim como a matéria das cotas raciais, porém,
está sendo tratada a unificação dos vestibulares através do Enem.
O segundo valor-notícia em questão que aparece é o conflito, considerando a disputa
que é o vestibular. Há muita rivalidade, e a matéria mostra os heróis, os bem sucedidos,
aqueles que conseguem sucesso na disputa do vestibular, e que na nova formula continuarão
conseguindo, só que fazendo menos provas. Por isso também aparece o valor-notícia em uma
questão de proeminência.
Outro valor notícia que aparece assim como na análise anterior e pelos mesmos
motivos, é a proximidade, já que o vestibular envolve um grande número de pessoas em um
mesmo cotidiano, sendo vestibulandos ou até mesmo outros envolvidos, como familiares e
profissionais da área.
98
A questão do valor-notícia do governo, novamente é encontrada por se tratar de uma
decisão federal, com o objetivo de unificar os vestibulares, evitando assim as grandes
maratonas de prova, e possibilitando que os melhores possam escolher a universidade onde
pretendem estudar.
A matéria mais uma vez está na seção especial da revista, localizada no meio da
edição e é a matéria de capa, o que envolve com exclusividade algumas das questões do
padrão da nova prova, como um manual de como vai ser o novo vestibular.
Daqui eu não saio – 15/04/2009
Na edição de 15/04/2009, a matéria Daqui eu não saio chama a atenção inicialmente
para o valor-notícia da polêmica, pois há uma controvérsia no sentido de que os jovens ao
atingirem determinada idade e independência financeira, costumam sair da casa dos pais para
escrever sua própria história.
A matéria então se utiliza da expressão jovem canguru, para falar do incomum, do
inusitado, trazendo o valor da raridade, mas mostrando algumas experiências que acabam por
não deixar tão “raro” no caso dos jovens que continuam morando com os pais.
A proximidade é outro valor que pode ser considerado, já que estes jovens são
profissionais liberais que fazem parte do dia a dia do leitor, e dão os próprios testemunhos na
matéria.
A matéria ocupa três páginas na revista, e está depois da matéria de capa sobre o
vestibular do Enem, o que faz perceber certa ligação até cronológica com a matéria anterior,
já que a primeira mostra o sucesso no vestibular, e esta apresenta uma fórmula de continuar o
sucesso depois da formação.
Ela não ficou para titia – 15/04/2009
Na mesma edição, a matéria Ela não ficou para a titia é mais uma que aborda a
questão da juventude indiretamente e traz como valor notícia a proeminência, já que utiliza de
celebridades e de notoriedade através de um artigo de moda, a bolsa Chanel.
Outro valor que pode ser abordado na mesma matéria é a questão da proximidade, já
que o artigo da moda se apresenta para todas as gerações e ainda há opções para diversas
classes sociais.
99
A matéria possui apenas duas páginas e se localiza na parte final da revista, depois das
outras que tem como tema juventude, mas com um assunto totalmente diferente das matérias
anteriores que possuem correlações.
A família é a vilã – 15/04/2009
Ainda na mesma edição, mais uma matéria aborda a questão da juventude, com o
título A família é a vilã. É uma matéria primeiramente polêmica, já que compara a ficção com
a realidade para dizer que os problemas psicológicos que alteram a personalidade dos jovens
acontecem primeiramente na criação dos mesmos.
Há ainda o valor da tragédia/drama, já que define os personagens, os comparado,
sendo um esquizofrênico e outro violento, causando desconforto em quem lê a matéria mesmo
não conhecendo a telenovela mencionada.
Por fim, a proximidade também é colocada como um valor-notícia, já que trata de
qualquer família que têm jovens e adolescentes em seu meio, e assim coloca os erros
educacionais como responsáveis pelos problemas psicológicos, trazendo um sinal de alerta
para qualquer leitor.
Cabelos: Alternativas antiqueda – 29/04/2009
Na edição de 29/04/2009, há uma matéria relacionada de forma indireta com a
juventude, com o título Cabelos: Alternativas antiqueda. O primeiro valor-notícia é o da
notoriedade, da proeminência. A beleza estética do cabelo é colocada como padrão a ser
seguido.
Outro valor possível de se colocar é o conhecimento científico, pois são explicadas
diversas formas diferentes das causas da queda de cabelo e diversas soluções para o problema.
Por fim, há um certo drama quando se trata da queda de cabelo feminina, pois a
questão estética para a mulher neste sentido é apresentada por uma pessoa que testemunha sua
própria experiência.
A matéria está localizada hierarquicamente no final da revista na seção chamada
“guia”, ou seja, a principal proposta da matéria é servir como um manual para resolver
problemas.
100
Chuteiras que valem ouro – 13/05/2009
A última matéria de capa da edição de 13/05/2009 de título Chuteiras que valem ouro
apresenta novamente o tema do futebol, e por isso envolve um grande número de pessoas e o
valor-notícia de impacto já pode ser considerado o primeiro encontrado.
A proeminência mais uma vez aparece como um valor-notícia nesta matéria, já que os
jovens jogadores buscam sucesso profissional e econômico e notoriedade fora do território
nacional. Este sucesso é ressaltado pelas cifras apresentadas e pelas imagens de jovens que
atingiram o sucesso, mostrando seus carros e suas roupas.
O entretenimento também é um valor que pode ser relacionado, já que se trata de uma
matéria relacionada ao esporte, e os fãs de futebol acabam por se interessar pela mesma.
Apesar de a matéria não levantar a questão de forma polêmica, ela é polêmica por si
só, já que incentiva os jovens a tentarem seu futuro no esporte diretamente no exterior sem
que exista uma garantia de sucesso.
A proximidade ao leitor também pode ser considerada um valor notícia de
importância, pois a realidade do futebol faz parte da cultura popular brasileira, mesmo que
possam não existir muitos leitores interessados no futebol, ou nos jogadores.
Hierarquicamente, mais uma vez a matéria ocupa a capa e o meio da revista. É uma
matéria especial e é direcionada do geral para o particular, ou seja, começa contando sobre os
jogadores que sonham com o sucesso de jogar no exterior e partem para a comprovação dos
jogadores que atingiram este sucesso.
O Alce de 2,5 bilhões de dólares – 20/05/2009
A última matéria a ser analisada, do dia 20/05/2009, traz como valor notícia a
proeminência, pois utiliza a notoriedade, a estética, como modelos.
Além deste valor, também é apresentada a questão da curiosidade/entretenimento, pois
a loja possui um jeito inusitado de atender o cliente, com modelos expondo o corpo, de forma
informal.
Por se tratar de uma matéria comercial, dando notoriedade a uma marca, é possível
notar que os valores deste artigo se encontram mais próximos a valores publicitários do que
propriamente um artigo jornalístico utilizaria.
101
2.4.1 Análise geral dos critérios de noticiabilidade
O impacto aparece em sete das treze notícias, incluindo todas as capas, a que tem
informe na capa e a outra que não aparece na capa, mas é uma matéria especial. Todas estas
matérias chamam a atenção por envolver ou afetar um grande número de pessoas, tratando de
assuntos generalizados, como velhice ou juventude, educação e futebol. São temas que
chamam a atenção por si só, provavelmente por isso atingindo um grande número de
consumidores deste tipo de notícia.
A proeminência é outro valor recorrente, aparecendo em oito matérias. É interessante
pensar que ela está presente em matérias relacionadas à juvenilização da cultura ou com a
sociedade do espetáculo. Além disso, há um total de oito matérias em que marcas ou serviços
são apresentados, ou seja, as matérias são de cunho mercadológico e em sete destas, a
proeminência aparece como um valor-notícia.
O conflito é um valor que aparece em apenas quatro das treze matérias, sendo duas
delas, matérias que envolvem vestibular como tema. É interessante que as quatro também são
as matérias especiais mais volumosas das selecionadas, e três são capas.
O entretenimento/curiosidade, é um tema com pouquíssima recorrência, em apenas
três matérias, todas com pouco em comum, e colocando a questão do entretenimento em
segundo plano.
A polêmica aparece em nove matérias, sendo o valor mais recorrente de todos. Ela
aparece em notícias destacadas e notícias de pouco destaque, e se mostra como forte
ferramenta para a notícia ganhar visibilidade.
O valor de conhecimento/cultura aparece em apenas três das treze, mostrando que este
valor-notícia é pouco utilizado pela revista. Nos três casos, este valor é utilizado como boxes
nas matérias que são utilizadas como justificativa científica pra confirmar alguma teoria.
Apesar disso, a opinião de especialistas faz este papel em quase todas as outras matérias.
O valor da raridade também aparece com pouca freqüência, em apenas quatro
matérias, sendo três delas matérias pequenas e com pouco destaque e na matéria grande em
que aparece, é apenas um recurso em uma parte pequena da matéria, mostrando que este é um
recurso pouco utilizado pela revista e pouco chama a atenção dos leitores.
A proximidade é também é um valor recorrente, em todos os tipos de matéria,
aparecendo oito vezes. Mesmo as matérias em que não existe este valor-notícia, não há um
distanciamento tão grande. Quando consideramos este valor junto com o fato de todas as
matérias especiais da revista e muitas outras aparecem acompanhando uma espécie de manual
102
prático para a vida dos leitores, podemos perceber que a revista fala quase que exclusivamente
do estilo de vida dos próprios leitores, e pouco fala sobre o excêntrico.
A surpresa é um valor quase inexistente nas matérias selecionadas, aparecendo
somente duas vezes, uma delas em uma matéria que fala sobre uma ficção, uma análise
cinematográfica, e a outra em uma matéria curta, policial, mostrando algo pouco comum por
se tratar de criminosos juvenis de classe média alta.
A questão do governo, nesta construção sobre juventude, aparece somente duas vezes,
em matérias especiais, sendo que o posicionamento da revista é, uma vez a favor, e uma vez
contra o governo. É importante salientar que a revista, como já apareceu anteriormente, é o
porta voz político da editora, e diversas outras matérias possuem o valor-notícia de governo,
inclusive tomando posição assumida. Independente disso, quando a discussão passa por
juventude, no período selecionado, há uma posição ideológica, mas um certo distanciamento
do tema político.
A tragédia/drama aparece em cinco das treze matérias selecionadas, e são valores que
normalmente fecham as matérias, causando algum tipo de sentimento ao leitor, às vezes
aproximando, fazendo com que o leitor se perceba um semelhante, alguém capaz de passar
por aquilo, e às vezes compartilhando somente do sentimento, fazendo com que o leitor se
coloque no lugar de determinado indivíduo.
Por fim, o valor-notícia de justiça também aparece pouquíssimas vezes, somente duas.
Assim como o valor de governo, se tomarmos como exemplo notícias que não passam pelo
tema de juventude, podemos perceber que em matérias policiais, este valor é muito comum.
Ou seja, não é um valor-notícia que a revista deixa de usar, mas tratando deste tema e neste
período, foi pouco utilizado.
103
2.5 ANÁLISE ICONOGRÁFICA
É possível adiantar que a revista usa grande parte das imagens para reforçar e criar o
efeito de real no texto, como foi detectado no início da pesquisa. Mas, em muitos casos, as
imagens são mais relevantes que o próprio texto.
O primeiro mecanismo utilizado para a análise da imagem se constitui da avaliação
conotativa ou denotativa. Não poderíamos considerar que alguma imagem fosse simplesmente
denotativa, ou seja, que possuísse características não subjetivas. A principal intenção, neste
caso, é uma avaliação de se a imagem pretende um efeito de reflexão profunda ou se, ao
contrário, ela é mais ilustrativa do texto. As fotografias também podem tentar representar um
efeito de realidade, ou seja, uma foto tirada de um fato que a revista está noticiando, ou se ela
é produzida em um estúdio, ou tecnologicamente tratada ou modificada.
Normalmente as fotos produzidas em estúdios ou as figuras construídas
tecnologicamente através de efeitos de computador, dizem muito mais do que as outras, e só
por um olhar crítico e criativo podemos perceber o que os consumidores destas imagens
também podem interpretar e o quanto elas ajudam na construção de imaginário social de
forma implícita.
Segundo Roland Barthes, a fotografia possui uma linguagem conotativa e denotativa,
o obtuso e o óbvio. A linguagem denotativa remete ao óbvio: tudo o que concretamente se vê
na fotografia, tudo que está evidente. O conotativo remete ao obtuso: toda a informação
implícita na fotografia: o enquadramento da foto, o posicionamento da câmera, mais para
cima ou mais para baixo, dando noção de superioridade ou inferioridade. Tudo isso se trata de
informações conotativas da fotografia, que geralmente revelam a bagagem social e cultural do
próprio fotógrafo, o seu studium (BARTHES, 1984, p. 48).
No caso de Veja, a maioria das imagens são fotografias de pessoas, e a expressão delas
passa a sensação desejada pelo texto de forma direta ou indireta. É como se essas imagens
falassem com o leitor através da expressão dos rostos. As expressões das pessoas nas
fotografias revelam felicidade ou infelicidade a respeito do tema considerado. Muitas vezes o
personagem é um testemunho do tema. Além disso, encontramos concordância ou
discordância por parte destes testemunhos, acompanhados inclusive de um olhar que sugere
condenação, piedade ou súplica, dirigida àquele que está lendo.
O fundo da foto, ou o entorno dela, reflete muito a proposta do foco do leitor em
relação à imagem. Seria difícil considerar qual a importância dada pelos leitores às figuras do
texto, mas não há dúvida que participam da proposta de entendimento da matéria,
104
independente do nível de análise que o leitor possa fazer delas. Um fundo de cor neutra chama
a atenção para o objeto principal com clareza. Um fundo com paisagem focada ou com um
entorno poluído de imagens, pode deixar muitas interpretações para o leitor.
As conexões estabelecidas com a matéria e com a legenda das próprias fotos, têm
muita utilidade na análise final desta pesquisa e, apesar de já terem sido feitas anteriormente
na análise das matérias, quando a imagem é analisada separadamente, novas possibilidades de
interpretações são possíveis.
Outro objetivo principal deste item é procurar nestas imagens significados
estabelecidos por convenções ou hábitos da cultura. Um exemplo disso seria um símbolo,
como uma ampulheta, que poderia representar o tempo, ou uma metralhadora, representando a
guerra, ou símbolos que exigem uma abstração ou maior concentração por parte do leitor,
como um pássaro que pode representar paz em um momento, ou liberdade em outro. Todos
estes ícones sozinhos dão margem a maiores interpretações, porém, como as matérias já foram
analisadas anteriormente sobre outros aspectos, relacionamos as leituras de viés iconográfico
ao tema central de cada uma das notícias analisadas.
A ordem utilizada será a mesma, a cronológica, porém, como o que interessa é a
análise somente das imagens, optamos por não indicar o título e a data das matérias no início
de cada uma delas. As datas poderão ser verificadas nas legendas das imagens.
105
Imagem1‐07/01/2009p.6869
A primeira imagem
(Imagem 1) é um pouco
denotativa e muito
conotativa. Enquanto a
expressão da primeira atriz
é séria, a segunda aparece
sorrindo. O fato de
estarem uma ao lado da
outra sugere uma
comparação, favorecendo
a segunda fotografia,
colorida e mais bem produzida. O fundo de cor acinzentada chama a atenção somente para as
duas fotografias. A imagem representa bem a idéia da matéria, “Mais velhos, porém mais
jovens”, e é reforçada pela legenda da própria figura que coloca a idéia de ambas as fotos da
mãe e da filha terem sido tiradas enquanto elas tinham a mesma idade.
Imagem2‐07/01/2009p.70
Imagem3‐07/01/2009p.71
Imagem4‐07/01/2009p.71
As três fotografias acima (Imagem 2, 3 e 4) são de celebrdidades conhecidas
internacionalmente, nitidamente “montadas” e denotativas, pois sugerem somente grupos
que aparecem imponentes, exuberantes e posando suas belezas já reconhecidas e legitimadas.
As fotografias são rotuladas como sendo de quarentões, cinquentões e sessentona, em alusão
às suas idades, e contrastando com suas aparências.
Imagem5‐07/01/2009p.72
A fotografia ao lado (Imagem 5) é bem
conotativa e apresenta um trabalho manual de uma
camponesa, aparentemente de uma cultura distante
pelas suas vestimentas orientais. Ela sugere uma
manipulação com o mato, algo que remete à alquimia
despertando ainda a curiosidade, por ser excêntrico.
Na legenda da imagem há a indicação sobre um determinado lugar no Japão onde a
106
expectativa de vida é muito maior que a média. É como se a pessoa na foto fosse detentora
de um segredo, de um conhecimento específico.
Imagem6‐07/01/2009p.7475
A seqüência fotográfica ao
lado (Imagem 6) é denotativa e mostra
mais uma celebridade internacional.
As três fotografias sugerem beleza
estética. As fotografias, por si só,
pouco têm a dizer além disso, mas no
contexto da matéria, indica-se uma
linha do tempo em relação ao
envelhecimento da atriz através de uma década, como se em uma década ela tivesse mudado
quase nada ou até ficado mais bela. Há certa contradição em relação à primeira fotografia
analisada (Imagem 1), já que aqui se atribui à genética um dos motivos de não aparentar o
envelhecimento, enquanto, na outra, apresenta mãe e filha mostrando que as imagens podem
ser manipuladas para se dizer que, independente da genética os cuidados são importantes.
Imagem7‐07/01/2009p.7879
As imagens que seguem
são de ricas interpretações para o
imaginário, e portanto bastante
conotativas. Na primeira (Imagem
7) aparece um casal mais velho e
uma moça mais jovem ao meio,
em posição de início de uma
corrida. O relógio ao fundo tem
Imagem8‐07/01/2009p.8081
como função representar o
tempo, como se eles
estivessem correndo contra
ele. Ora, o tempo neste caso
pode representar a vida, ou a
saúde. As roupas de cores
brancas mostram uma leveza,
e dão uma sensação de bem
estar, como se esta corrida
fosse algo leve e prazeroso. As idades e sexos diferentes podem ser interpretados como se
107
não houvesse gênero ou faixa etária pra iniciar essa corrida. Na legenda, diz-se que fazer
exercícios regularmente faz com que se viva mais três anos.
Abaixo, um grande símbolo de proibido fumar (Imagem 8) é denotativo, e expressa
a idéia de toda a matéria relacionada à saúde. Diz-se na legenda que é possível ganhar cinco
anos de vida se não se fumar.
Ao lado e em segundo plano, a foto de uma mulher sorrindo e segurando um prato,
aparentemente contendo somente salada, em outra imagem denotativa, relaciona a saúde ao
hábito de se alimentar regularmente. Importante é salientar mais uma vez a roupa branca,
que também pode servir à interpretação de que são médicos, ou profissionais da saúde.
A grande taça de vinho em primeiro plano chega a despertar o paladar de quem
aprecia, e é mais uma imagem denotativa, já que a matéria sugere a ingestão de vinho como
ferramenta para o prolongamento da vida.
Por fim, a última imagem do bloco, se apresenta de maneira conotativa, pois retrata
um homem de costas, sentado em um tablado, e pescando. A pesca, no caso, pelas roupas do
homem, não representa sobrevivência e nem esporte, mas uma situação de lazer. Sabe-se que
a pesca exige paciência, pois a maior parte do tempo fica-se parado. Então a situação
apresentada em conjunto com a paisagem que se vê ao fundo, sugere paciência, paz e
sossego. A coloração em sépia da fotografia sugere uma foto mais velha. A legenda diz que
para a saúde, não se deve levar a vida a ferro e fogo.
Imagem9‐07/01/2009p.8283
A imagem ao lado (Imagem 9) apresenta um casal de
pessoas mais velhas ao lado de um avião com os
sorrisos “escancarados” e um céu azul ao fundo. A
imagem permite muitas interpretações, por isso é
conotativa. O avião com o céu ao fundo remetem à
liberdade, à exploração, às conquistas, às viagens e
aventuras, portanto uma contradição em relação o que
Imagem10‐07/01/2009p.84
se esperaria de pessoas de uma idade avançada, portanto,
reforçando a idéia principal da matéria. Já a imagem (Imagem
10) ao lado mostra um senhor sorrindo, também de forma
conotativa, já que ele aparece sentado em uma pilha de livros.
A coloração em volta da imagem mostra uma espécie de aura,
como se ele estivesse “iluminado” ou “protegido”. Ora, o livro
pode representar o conhecimento, e o conjunto destes significados pode apresentar como se o
108
senhor estivesse iluminado pelo conhecimento. Mais que isso, há bolinhas de papel
amassadas em volta do mesmo, como se ele tivesse jogado fora algum conhecimento ou se
ainda estivesse a produzi-lo.
Imagem11‐07/01/2009p.8687
Por fim, a última imagem (Imagem
11) é uma ilustração que sugere um
vendedor que possui uma poção mágica
que faz rejuvenescer. Várias observações
podem ser feitas. A primeira, que a
imagem se trata de um fato acontecendo
em território norte americano, as roupas
dos personagens sugerem esta localidade,
sugerindo certa ligação no imaginário da
cultura brasileira com a norte americana, através do prisma da revista.
Imagem12‐21/01/2009p.124‐125
A foto ao lado (Imagem 12), apesar de ser a cena de
um filme, é conotativa e sugere uma contradição, já
que mostra um senhor de idade brincando com
soldadinhos de chumbo, uma atividade
normalmente praticada por crianças. As vestimentas
e o ambiente não apresentam um lugar familiar,
indicando outra cultura ou outros tempos.
Imagem13‐21/01/2009p.124‐125
A imagem seguida (Imagem 13) também é
retirada do mesmo filme, e é bem denotativa,
mostrando a cena de intimidades de um casal, e
se considerarmos a matéria de forma
mercadológica, podemos observar o apelo
sexual para o consumo do filme, pois, a cena
não representa em nada a idéia da trama.
109
Imagem14‐04/02/2009‐p.7879
Esta imagem principal,
(Imagem 14) é denotativa e
conotativa, pois mostra o
jogador de futebol com o dedo
na boca, o que é uma
comemoração de gol típica
quando se homenageia o
nascimento de uma criança
com um gol, mas o ato típico
de bebês, remete neste caso a
uma imaturidade do próprio
jogador, já que os pequenos quadros são capas de tablóides acusando- de ter cometido um
estupro e ter mandato de prisão.
Imagem15‐04/02/2009‐p.82
Imagem16‐04/02/2009‐p.82 Imagem17‐04/02/2009‐p.83
As três imagens acima (Imagens 15, 16 e 17) são denotativas e mostram dois
jogadores de futebol brasileiros e um jogador de basquete norte americano, em situações em
que aparentemente estão em suas vidas privadas, em festas, ou danceterias. As imagens em
questão polemizam com a idéia de que os atletas não fazem festas, não bebem e não fumam
(na foto do meio o jogador tem um cigarro na mão. A opção de vida destes jogadores é
colocada em segundo plano, já que são heróis esportivos e conseqüentemente, figuras
públicas.
110
Imagem18‐04/02/2009‐p.84
A imagem (Imagem 18) ao lado apresenta um
jovem sorrindo, mas observando bem, as letras árabes em
sua camisa e, ao fundo, os homens de turbante,
percebemos que se trata de uma cultura de origem
islâmica, conseqüentemente distante da cultura brasileira.
Pouco podemos explorar além destas informações, mas ela
relacionadas às informações na legenda da imagem que
informam que este homem é um bilionário e ambicioso
dono de time de futebol, e irmão de políticos de outro
país, servem para atestar seu poder aliado à vigorosidade
da juventude.
Imagem19‐04/02/2009‐p.82
Imagem20‐
04/02/2009‐p.82
Imagem21‐
04/02/2009‐p.83
Imagem22‐04/02/2009‐p.83
Imagem23‐04/02/2009‐
p.83
As cinco imagens (Imagens 19, 20, 21, 22 e 23) acima são denotativas, e chama a
atenção por estarem em seqüência, representando a linha histórica do jogador de futebol.
Pelas roupas humildes e o chão de areia a imagem tenta representar a infância, as três fotos
do meio, mostrando a evolução na carreira de jogador de futebol, só com conquistas: ao lado
do considerado maior jogador de futebol de todos os tempos, depois levantando um troféu
de campeão brasileiro, sendo carregado por seus companheiros e, depois, com a camiseta de
um famoso time espanhol. Por fim, a última fotografia produzida e sem fundo, chama a
atenção para as roupas de grife e a jóia que o jogador carrega no pescoço. Ligando a
primeira à última foto, podemos ver a evolução econômica do jogador, e a explicação vem
do sucesso representado nas fotos do meio.
111
Imagem24‐18/02/2009‐p.82
As fotografias acima (Imagem 24) mostram duas situações denotativas, imagens reais
da reportagem, do fato em específico. A primeira da esquerda exibe quatro homens com o
uniforme de policiais federais, e ao menos um deles fortemente armados, porém andando
tranquilamente com o rapaz sendo conduzido, bem vestido, escondendo o rosto atrás de uma
mochila de marca esportiva. Na segunda imagem temos um policial federal ao lado de um
senhor vestido com terno e gravata, ambos em frente a uma senhora e um rapaz abraçados,
demonstrando afeto. As fotografias retratam a prisão de um grupo de jovens envolvidos no
tráfico de drogas no Rio de Janeiro. O que chama a atenção são as roupas e a fachada do
local onde os jovens estão sendo presos, e, talvez, até a complacência da polícia com os
mesmos, justificando seus critérios de noticiabilidade e reiterando um imaginário segundo o
qual normalmente o crime tem classe social.
112
Imagem25‐18/02/2009‐p.8485
Outra imagem produzida
(Imagem 25), e bem conotativa,
mostra um casal de jovens,
teoricamente presos a uma teia.
Apesar de estarem presos, eles
se mostram felizes com a
situação, e não aflitos ou
preocupados. Ambos são
brancos e estão bem vestidos.
Se observarmos a teia,
percebemos que ela termina com dois conectores de redes de computadores em suas
pontas. Podemos interpretar uma prisão ao mundo virtual, e mais que isso, por estarem
presos, é possível interpretar que sua situação de felicidade e comodidade é alienada, já que a
prisão sugere uma situação de desconforto.
Imagem26‐18/02/2009‐p.86
Imagem27‐18/02/2009‐p.87
As imagens ao lado (Imagens 26 e 27)
são denotativas, apresentando dois
jovens brancos sorrindo e utilizando
aparelhos eletrônicos, em casa ou fora
de casa. No caso do rapaz, estão sendo
utilizados três eletrônicos ao mesmo
tempo. As imagens confirmam a
anterior (Imagem 25).

Imagem28‐18/02/2009‐p.88
Imagem29‐18/02/2009‐p.89
As duas imagens que
seguem apresentam situações
diferentes das anteriores. A
primeira é de um jovem
aluno que caminha sorrindo
em uma calçada, com um
uniforme escolar divulgando
o nome da escola particular. À frente, em primeiro plano na mesma imagem (Imagem 28), é
possível notar uma foto de uma garota de saia e metade de sua perna. É interessante que a
legenda da foto coloca um “rótulo”, criando a identidade do rapaz como um estudioso, coisa
113
que décadas atrás recebia apelidos como “nerd”, por se tratar de uma pessoa dedicada aos
estudos e de pouco convívio social, dizendo que hoje em dia ele não faz parte de uma um
universo de tribos, pois reúne características de várias e circula entre elas.
A segunda imagem (Imagem 29) apresenta denotativamente um casal bem jovem e
sorrindo, exibindo os laços mais profundos através da utilização de alianças. Podemos
entender através desta fotografia que os jovens dão valor a laços profundos mesmo bem
cedo. É interessante pensar a uma conservadora em que é posto em circulação esse
imaginário de juventude.
Imagem30‐18/02/2009‐p.90
A imagem ao lado (Imagem 30) mostra um casal de jovens
com o fundo branco, contentes, cheios de assessórios e com
placas mostrando os preços de cada um dos acessórios. Jovens
brancos, super produzidos e pertencentes a uma classe
econômica capaz de compor seu padrão de vida. Não é preciso
analisar as matérias para perceber simplesmente pelas fotografias
que se trata de um jovem “idealizado”. A matéria apresenta um
mapeamento de como os jovens agem, e quais seus valores no
mundo contemporâneo.
A última imagem analisada nesta
matéria (Imagem 31) apresenta uma jovem
ao lado do seu próprio totem, criado para
sua festa, carregando sacolas como se
estivesse fazendo compras. É um
narcisismo de se ver como consumidor,
traduzindo poder através da estética e do
consumo de bens.
Imagem31‐18/02/2009‐p.91
Na mesma matéria, ainda há outras imagens com recursos gráficos, seguindo a mesma
linha das anteriores, tentando criar um efeito de real para os depoimentos dos jovens que
confirmam o jovem idealizado pela revista. Ao final, a matéria ensina o que se deve fazer
para se manter o controle sobre os filhos jovens que possuem estas características.
114
A fotografia em questão (Imagem 32)
mostra um grupo de jovens, todos brancos,
comemorando, ao que parece, o sucesso do
ingresso no vestibular, devido às pichações nos
corpos e as camisetas escritas “Venci!”. A face da
disputa acirrada da sociedade contemporânea
aliada ao sucesso na sociedade do espetáculo
aparece como tema nesta imagem.
Imagem32‐04/03/2009‐p.6667
Imagem33‐04/03/2009‐p.6869
A imagem ao lado (Imagem 33)
é rica em análise na matéria. Enquanto
cinco negros aparecem sentados,
nenhum sorrindo, ao contrário, com
expressões de desaprovação, há, ao
fundo, um descendente indígena
colocado de costas olhando da mesma
forma. Nenhum dos personagens é
jovem, apesar de três deles estarem
sentados em carteiras escolares, sugestionando que seriam estudantes ou professores,
nitidamente se mostrando descontentes com a situação. Além disso, nenhuma cadeira ou
assento são iguais. Trata-se de uma imagem editada, que acaba causando um desconforto no
leitor, como se as pessoas na foto estivessem reprovando algo no próprio leitor. A imagem
acompanha o título de “traidores da raça” e, por se tratar de uma questão de opinião
polêmica, como não poderia deixar de ser qualquer discussão sobre raça, a posição
ideológica da revista é confirmada pelo posicionamento dos ativistas da raça negra
selecionados para a fotografia.
115
Imagem 34 - 04/03/2009 - p. 70
A fotografia ao lado (Imagem 34) apresenta quatro jovens
enfileirados, sorrindo, como se estivessem prestando a atenção em
algo comum. É possível uma interpretação de uma artificialidade no
ato como se estivessem prestando a atenção em uma aula. A imagem é
bem diferente do jovem idealizado por Veja como modelo, na escola,
mostrando certa humildade na forma de se vestir e até um visual, do
último jovem que pode ser identificado de alguma forma com alguma
“tribo” urbana ou alguma rebeldia. Na legenda da foto, há uma
explicação de que estes alunos foram classificados como negros e
beneficiados por isso.
Imagem35‐04/03/2009‐p.71
Imagem36‐04/03/2009‐p.72
As duas imagens acima mostram duas figuras contrastantes, situadas próximas uma
da outra na revista. Elas, sozinhas, são bastante denotativas, mas ao compará-las podemos
ver algumas conotações. Enquanto a primeira (Imagem 35) mostra um grupo de crianças
pobres se divertindo com a bola em algum conjunto habitacional, a segunda (Imagem 36)
mostra aparentemente um estudante de uma classe econômica mais favorecida, com um
olhar de desaprovação sobre algo. Se levarmos em conta que a matéria fala sobre as cotas
raciais nas universidades, e que a legenda da segunda imagem mostra um calouro que tirou
boas notas, mas não foram suficientes para ingressar, já que as vagas diminuíram,
poderíamos concluir que os “negros” da primeira foto se divertem enquanto isso, mas a
legenda da primeira explica que seria mais justo que a cota fosse por classe social, mesmo
que a maioria das crianças brincando não seja branca.
116
Imagem37‐04/03/2009‐p.72
A fotografia ao lado (Imagem 37), se não
estivesse distorcida, seria totalmente
denotativa, mostrando o interior de uma sala de
aula durante suas atividades rotineiras, mas a
lente côncava deixa a imagem em formato de
um olho, sugestionando uma visão aproximada
ou em primeira pessoa, pedindo para prestar
atenção, ou espionando pelo “olho mágico”.
Imagem38‐04/03/2009‐p.73
Por fim, a última imagem a ser analisada nesta matéria,
(Imagem 38) é uma foto histórica dos Estados Unidos na época da
segregação racial. Na entrada de um cinema a porta para os negros
é diferenciada, com inscrição “Entrada para os de cor”. Apesar de
pequena a foto é forte, e resume bem a posição ideológica da
revista, sempre referindo-se aos Estados Unidos, tanto para as boas
experiências como para as ruins.
Imagem39‐15/04/2009p.7071
A fotografia ao lado (Imagem 39) é
conotativa, já que é produzida, e
apresenta um jovem sorrindo com um
olhar astuto, atrás de uma lousa
transparente, olhando através, como se o
leitor fosse o objeto de estudo daquele
jovem, ou seja, como se ele estivesse
resolvendo o problema do leitor e por
isso merecesse um tratamento especial, mesmo a fórmula sendo de Física. A legenda da
imagem na matéria aponta o jovem em questão como um grande vencedor, um herói, por
passar em primeiro lugar em algumas das universidades mais difíceis do Brasil.
Imagem40‐15/04/2009p.74
Imagem41‐15/04/2009p.7475
Imagem42‐15/04/2009p.75
As três imagens acima (Imagens 40, 41 e 42) são denotativas, pois apenas
117
representam diferentes momentos da rotina da educação escolar. Na primeira (Imagem 40)
com a jovem estudando e com a expressão de felicidade, em que a escuridão no fundo da
foto pode representar um momento de esforço, do estudo noturno. Apesar disso a estudante
posa para a foto contente.
A segunda foto (Imagem 41) aparenta uma situação rotineira, de uma sala de aula, em
que os alunos no momento da foto estão concentrados em um professor que gesticula em
frente a lousa. A terceira foto (Imagem 42) assim como a segunda, também retrata uma
situação rotineira, com a exceção de que o rapaz posa para a foto, em um ambiente
aparentemente escolar também, com uma expressão séria, porém simpática. A idealização do
jovem enquanto estudante, até o momento nas imagens é a mais recorrente nesta matéria.
A fotografia ao lado (Imagem 43) mostra um jovem
de óculos segurando um livro, com cabelos cheios e
cavanhaque, aparentemente um visual menos formal
adotado por jovens de classe média. A imagem é
denotativa e o rapaz posa para a foto com uma expressão
feliz. O fundo da fotografia nos traz um ambiente que pode
ser localizado pela arquitetura, mas principalmente pelo
letreiro na parte superior, “OF COLUMBIA”, nos faz
concluir que estamos tratando dos Estados Unidos, e cria a
sensação de aventura para a juventude, novamente ligando
o jovem ao aventureiro responsável, neste caso, sugerindo
sucesso.
Imagem43‐15/04/2009p.76
118
Imagem44‐15/04/2009p.77
Imagem45‐15/04/2009p.76
Imagem46‐15/04/2009p.77
As três fotografias em seqüência (Imagem 44, 45 e 46), apesar de serem fotos
produzidas, também mostram três situações habituais de diferentes profissionais, como se
estivessem apresentando seus trabalhos, por isso as fotos são denotativas.
Em todas elas os fotografados parecem felizes, e, ao ligar a situação do trabalho com
a felicidade, com o sucesso profissional, pensamos diretamente na imagem de sucesso pela
vida do mundo do trabalho. Com exceção do primeiro profissional, o segundo e o terceiro
aparentam ser jovens, e todos aparentam responsabilidade.
Imagem47‐15/04/2009p.90
A foto ao lado (Imagem 47), também é
denotativa: aparentemente, uma família se
encontra em uma casa de classe média. O
ambiente residencial pode ser observado pela
lareira ao fundo e pela forma como estão
sentados informalmente, o homem mais velho
está sentado sobre a mesa, e o rapaz mais
novo, e jovem, estende as pernas com os pés calçados, mostrando certa liberdade no
ambiente. Todos posam para a foto felizes, reforçando a importância dos laços familiares na
construção do ideal de juventude pela revista.
Assim como a foto anterior, a foto
ao lado (Imagem 48) sugere uma família
em uma cozinha de uma casa de classe
média. Todos estão contentes e
aparentemente preparando algum
alimento, dividindo as atividades
domésticas, demonstrando entendimento
Imagem48‐15/04/2009p.92
nas divisões dos trabalhos domésticos. A foto denotativa reforça a idéia da anterior, de
demonstrar a importância dos laços familiares para a idealização de felicidade.
119
A foto do jovem sentado em uma poltrona com o
fundo neutro (Imagem 51), apesar de denotativa, sugere mais
do que um rapaz descansando. A expressão revela uma
satisfação, e a roupa formal sugere um rapaz empregado,
retomando mais uma vez os valores da sociedade capitalista.
Após observar todas as fotos da mesma matéria, podemos
perceber que se destacam os valores da família e do trabalho.
Imagem49‐15/04/2009p.92
A fotografia (Imagem 50) poderia ser analisada como
uma foto produzida, mas por aparentar ser uma fotografia
antiga, e ainda mais de uma personalidade da época (Coco
Chanel), até hoje forte ícone do mundo da moda, pudemos
pesquisar que se trata de uma fotografia clássica, portanto é
uma foto denotativa, onde a roupa da celebridade e seus
acessórios definem seu estilo em uma aparente praça. A
imagem em questão teria pouco relacionada com a juventude,
Imagem50‐15/04/2009p.94
Imagem51‐15/04/2009p.9495
se não fossem as fotografias seguintes das
celebridades na imagem ao lado (Imagem 51) Ícones
de beleza estética e representantes de diferentes
faixas etárias, todas são aparentemente jovens. A
semelhança entre todas as fotografias, está no fato de,
além de serem celebridades, todas elas possuem o
mesmo modelo de bolsa, mostrando que há itens que
estão acima dos estilos no mundo da moda, inclusive
dos estilos jovens, que ajudam a legitimar a moda,
mas não a definem. As imagens podem ser claras menções ao consumismo e o mundo das
marcas.
120
Imagem52‐15/04/2009p.111
A foto ao lado (Imagem 52) é
denotativa, e mostra um jovem
angustiado, reprimido, devido a sua
posição fetal, se encolhendo e
escondendo o rosto, como se
estivesse sofrendo.
Ao contrário da maioria das
imagens sobre juventude, esta
destoa pelo sofrimento do rapaz,
não fosse pelo fato que se trata de uma celebridade da televisão brasileira, mais que isso, um
personagem da novela de maior audiência à época, que representa um jovem com deficiência
mental e mal relacionamento familiar.
Imagem53‐29/04/2009p.121
Imagem54‐29/04/2009p.122
A imagem acima da esquerda (Imagem 53), mostra um rapaz olhando para o espelho
refletido para a visão do leitor. A imagem, apesar de denotativa, tem de conotativa a
significação do espelho, que é um objeto utilizado normalmente para se arrumar, ligado ao
significado de beleza. O rapaz mostra sua expressão contente para o leitor, e o fundo branco
da fotografia, como se estivesse satisfeito com a própria aparência, um narcisismo.
A segunda imagem ao lado direito (Imagem 54), também é diferente do padrão de
juventude apresentado. A diferença está na expressão da jovem, que não está feliz, e se
mostra séria. A parede vermelha ao fundo, apesar de neutra, não é uma cor suave, e chega a
gerar um desconforto ao leitor. A cor vermelha normalmente é associada ou a paixão e amor,
ou a sangue, drama, suspense.
121
Imagem55‐13/05/2009p.7677
A imagem denotativa acima (Imagem 55) mostra um grupo contente de jovens
jogadores de futebol de diversas etnias. O gramado e o céu ao fundo da fotografia refletem o
sonho de diversos meninos no Brasil, por isso, gera um encantamento atraindo a atenção de
quem se identifica com esse sonho, confirmado pelas outras fotos da matéria.
Imagem56‐13/05/2009p.7879
Imagem57‐13/05/2009p.78
Imagem58‐13/05/2009p.8081
As três imagens acima (Imagens 56, 57 e 58), assim como a anterior, confirmam o
esforço de jovens e crianças em busca do sucesso ao se tornarem atletas do futebol. A
primeira das fotografias (Imagem 56) mostra garotos negros se preparando para um jogo de
futebol, ou treino em um vestiário, onde não é possível analisar suas expressões.
A fotografia do meio (Imagem 57) é produzida, pelo fundo neutro, focando a atenção
somente no atleta, aparentemente um garoto sorrindo, muito novo e com o cabelo raspado,
um estilo visual que ficou famoso entre os jogadores-celebridades do futebol brasileiro. E a
foto da direita (Imagem 58), mostra um garoto treinando em uma pose plástica.
122
Imagem59‐13/05/2009p.81
Imagem60‐13/05/2009p.8283
As duas imagens acima (Imagens 59 e 60) são denotativas e mostram dois jogadores
de futebol que atingiram sucesso no Brasil e se transferiram apara a Europa onde fizeram
fortuna e seguem suas carreiras. O ponto em comum é a ostentação de poder mostrando seus
carros. Por se tratar de dois jovens, podemos associar a liberdade que é atingida pela
juventude quando se alcança a maioridade e se começa a dirigir, ou seja, aumenta-se a
liberdade e as responsabilidades. Outro ponto comum entre as imagens, é o sucesso expresso
pelas expressões felizes de ambos.
Ao contrário das imagens em que o sucesso está atrelado a outras profissões e aos
estudos, em que os protagonistas normalmente são brancos, aqui, o sucesso no futebol
apresenta dois negros.
Imagem61‐20/05/2009p.102
As duas fotografias acima em uma imagem única (Imagem 61), são também
denotativas. A da esquerda mostra três jovens, sendo que os dois do centro estão parados,
como que esperando, dentro do que aparenta ser o lado interno de uma loja. O que chama a
atenção é o fato de que o rapaz se encontra sem camisa.
A fotografia da direita mostra uma fila para entrar no estabelecimento, ou na loja,
trazendo novamente a idéia de grande movimentação de pessoas, o que teoricamente é um
sucesso do consumo de bens. Provavelmente, pelas duas imagens juntas podemos concluir
ser o mesmo lugar. A imagem revela a idéia de juventude e beleza como responsáveis e
aliados ao sucesso no mundo capitalista.
123
3 REPRESENTAÇÕES MIDIÁTICAS EM VEJA: OS SENTIDOS DO DISCURSO
Você não sente não vê,
mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança em breve, vai acontecer
O que era novo, jovem, hoje é antigo
E precisamos todos, rejuvenescer!
Belchior, Velha roupa colorida
3.1 PRINCIPAIS TEMATIZAÇÕES
Depois de aprofundar a pesquisa do corpus no capítulo 3, pudemos perceber alguns
grandes temas sobre a juventude que já foram mencionados durante a descrição das matérias e
a investigação dos assuntos e recursos jornalísticos.
Dentre os temas mencionados, pudemos selecionar quatro de grande importância para
uma discussão aprofundada, utilizando teóricos que podem justificar, contrariar,
complementar ou confirmar as construções feitas sobre juventudes capitaneadas pelas práticas
narrativas da revista Veja. São eles, a juvenilização da cultura, cujo autor central é Edgar
Morin; A espetacularização da sociedade, com Guy Debord e estudiosos deste autor; As
idealizações sobre juventude, procurando entender o perfil do “tipo ideal” de jovem traçado
pela revista e as demonizações da juventude, tratando das conotações negativas sobre os
jovens utilizando principalmente Rose de Melo Rocha, Sivlia Borelli, Rossana Reguillo, João
Freire e José Luis Aidar como autores centrais; e a relação entre representações midiáticas da
juventude e a cultura do consumo, utilizando principalmente Everardo Rocha e outros autores
clássicos.
Apesar da evidência dos temas, é mais fácil dizer que há matérias mais voltadas para
algum em específico ou para outro, ou ainda que determinados temas não são tratados em
algumas, mas é importante pensar que a maioria traz uma intersecção entre alguns destes. Há
de se tomar muito cuidado, já que os temas todos acabam confluindo em um tema único por
diversos momentos, que é o estudo da sociedade moderna e de consumo.
124
3.2 JUVENILIZAÇÃO DA CULTURA
Este tema, citado inúmeras vezes neste trabalho, explica uma idéia utilizada
principalmente por Morin, mas também por outros autores, para posicionar a importância da
juventude na cultura de massa do século XX e, posteriormente, para entender sua
conformação contemporânea.
Em primeiro lugar, a juventude pode ser interpretada como uma fase de transição entra
a vida infantil e a vida adulta. Por este motivo, suas características seriam uma mistura de
elementos que definem uma criança e características que definem um adulto, ou seja,
responsabilidade com falta de responsabilidade, dependência e busca por independência,
ingenuidade e busca por sabedoria, entre outras características.
Porém, a caracterização do que se considera juventude é uma percepção cultural e
temporal. Morin nos lembra que em algumas sociedades arcaicas o processo de passagem
para a vida adulta era feito segundo ritos para assegurar a morte da infância abruptamente, e
com o desenvolvimento das civilizações, este acesso à idade adulta começaria a ser
abrandado. (MORIN, 1962:147)
Além disso, há transformações históricas que podem ser percebidas pelos
protagonistas históricos reconhecidos. Os atores que anteriormente eram quase que
exclusivamente adultos, começam a aparecer na literatura e nos momentos históricos na figura
de jovens:
Saint-Just, Robespierre são heróis quase adolescentes da primeira grande
revolução dos tempos modernos: depois, foram, sempre as jovens gerações
que estiveram à frente dos movimentos revolucionários: 1830, 1848, 1871 na
França, depois o outubro de 1917, o outubro polonês, a revolução húngara de
1956, a insurreição argelina de 1964, etc. Inversamente, os grandes
restabelecimentos reacionários se estabelecem sob o signo de imagens
paternais, mesmo senis, como Hindenburg na Alemanha, Pétain na França.
(MORIN, 1962:147)
O que o autor procura expressar através destas situações históricas, é que ao mesmo
tempo em que a imagem do jovem começa a tomar uma posição central nas grandes
mudanças do mundo, a imagem do velho começa a aparecer como resistência,
conservadorismo a estas mudanças.
Neste processo, é possível dizer que nos dias de hoje, como são descritos por diversos
autores como Zygmunt Bauman em todas suas obras que terminam com a palavra “líquida”,
125
(Modernidade Líquida, Amor Líquido, Vida Líquida, Medo Líquido), vivemos em uma
sociedade de rápidas e constantes mudanças, e, assim sendo, o jovem descrito por Morin se
enquadra muito mais no mundo contemporâneo, devido entre outros aspectos a sua forte
ligação com estas mudanças.
Morin explica a mudança de um paradigma do que é mais importante, a mudança de
um valor, onde a sabedoria e a experiência dos velhos é substituída pela adesão aos
movimentos de mudanças dos jovens. (MORIN, 1962:147)
A partir deste momento os jovens passam a aparecer em diversos segmentos de
importância e ter visibilidade nas sociedades, como ministros, técnicos, universitários,
intelectuais, revolucionários, e, mais à frente, nos meios de comunicação de massa, como a
música e o cinema, por exemplo.
Bourdieu nos conta que a juventude é uma noção criada pelos adultos para controle
social, assim como a velhice, que são construções para a divisão do poder, para criação de
limites sociais invisíveis, e os adultos se manterem como protagonistas principais nas faixas
etárias. Ao longo da história recente, com tantas conquistas juvenis, poderíamos dizer que a
juventude está reposicionando estes limites sociais invisíveis, e ganhando cada vez mais
espaço. (ROCHA; PEREIRA, 2009:20)
Esta mudança da posição social do jovem está atrelada a outra mudança, na qual a
família passa a ser menos paternalista, no sentido de que pais autoritários começam a dividir
os papéis que antes eram, exclusivos, das mães, tornando-se inclusive mais afetuosos com
seus filhos, ocorrido depois das grandes guerras e depois da revolução feminista. Faz-se
necessário criar um novo modelo de homem:
O novo modelo é o homem em busca de sua auto-realização, através do
amor, do bem-estar, da vida privada. É o homem e a mulher que não querem
envelhecer, que querem ficar sempre jovens para sempre se amarem e
sempre desfrutarem do presente.
(MORIN, 1962:152)
Por este motivo, quando se fala em juventude, não pensamos apenas nos jovens na
seleção das matérias. O tema de se manter jovem, a busca estética da juventude, o vigor, a
busca por aventuras e por uma vida que acompanha as mudanças, retrata o que seria ser
jovem, ou ter um espírito de jovialidade eterna.
É importante lembrar que se trata de um processo constante que muito se intensificou
na cultura de massas. Ao mesmo tempo em que os jovens se tornam os maiores
experimentadores desta cultura, por se identificarem com a adesão ao movimento com os
126
temas recorrentes como amor, felicidade, valores privados e individualismo, a cultura de
massa acultura toda a sociedade:
Sua máxima é “sejam belos, sejam amorosos, sejam jovens”.
Historicamente, ela acelera o vir-a-ser, ele mesmo acelerado, de uma
civilização. Sociologicamente, ela contribui para o rejuvenescimento da
sociedade. Antropologicamente, ela verifica a lei do retardamento contínuo,
prolongando a infância e a juventude ao adulto. Metafisicamente, ela é um
protesto ilimitado contra o mal irremediável da velhice.
(MORIN,
1962:157)
Em pelo menos 5 matérias, encontramos o tema da juvenilização da cultura de forma
bem evidente. A primeira delas, e em que aparece de forma clara em vários aspectos, é a
matéria Mais velhos... ...Porém mais jovens, primeiramente mostrando profundamente este
valor estético da juventude e da beleza. Os exemplos das celebridades que sempre se mantêm
jovens com o passar dos anos, apesar da revista citá-los como algo incomum e até
controverso, já é citado por Morin no cinema no pós guerras:
A partir da guerra, os limites de idade recuaram. Há, hoje em dia, astros e
estrelas em atividade que ultrapassaram os cinqüenta, como Marlene
Dietrich, Joan Crawford, Cary Grant, John Wayne. Isso não significa que a
juventude tenha deixado de ser uma exigência do cinema, significa que a
idade do envelhecimento recuou; o galã continua sempre galã;
cronologicamente, esses atores envelhecem, mas física e psicologicamente
continuam jovens, isto é, ativos, aventurosos, amorosos. Com cinqüenta e até
com sessenta anos, permanecem viris e belos, musculosos, bronzeados, bem
diferentes dos barrigudos cantores de ópera de sessenta anos que
interpretaram Romeu e Julieta.
(MORIN, 1962:152)
É claro que as plásticas e o desenvolvimento da medicina em geral, com cosméticos e
afins, além da tecnologia fotográfica e digital, contribuem para nos impressionarmos muito
mais com a manutenção da imagem e às vezes até melhoria visual destas celebridades, porém
estas celebridades aparecem na matéria apenas como exemplos do que os leitores devem fazer
com eles mesmos para atingir bem estar e longevidade.
A associação do poder com a juventude, na mesma matéria, é apresentada pela
explicação biológica das transformações do corpo humano com o passar do tempo, mostrando
os aspectos negativos do envelhecimento, como perda de audição, qualidade da pele, pressão
arterial, enfraquecimento do sistema imunológico, da visão, do cérebro, dos músculos e dos
ossos.
Por fim, não somente a estética e a saúde são exploradas para depreciar a velhice e
glorificar a juventude, mas também os hábitos, como nos exemplos de idosos que ainda
127
produzem conhecimento, que são aventureiros, empresários em expansão dos negócios, como
o caso do casal que pilota aviões, ela de 67 anos e ele de 73 anos: “Eles já passaram dos 65
anos, mas continuam ativos, saudáveis e bem dispostos. São os “idosos jovens” (Veja
07/01/2009, p. 83)
A revista, inclusive, dá fórmulas ao leitor para conseguir se manter com a aparência e
a saúde de uma pessoa mais jovem por mais tempo, e, inclusive, apresenta a medicina
alternativa como uma das possíveis soluções.
A crítica cinematográfica com o título Uma vida em reverso, na mesma edição da
revista, discute um filme em que a juvenilização da cultura aparece como tema central. O
tema se relaciona a uma anomalia em que o personagem principal nasce com aspecto idoso, e
vai rejuvenescendo. A valorização da juventude é apresentada no filme, mostrando a velhice
como um sofrimento, e a juventude, como sendo recheada de conquistas, alegrias e prazeres.
O sofrimento do protagonista de estar debilitado e até doente enquanto as outras crianças
estão crescendo e os jovens conquistando o mundo, é recompensado e até vingado quando os
papéis se invertem.
Há uma declaração de fatalidade, mostrando que o desejo humano de controlar o
tempo acaba sempre em vão. Ironicamente, esta matéria está na mesma edição daquela que
ensina truques para aumentar a longevidade.
As outras matérias que seguem falando sobre juvenilização da cultura, possuem um
forte apelo comercial. A primeira, de 15/04/2009, com o título Ela não ficou para a titia, é
uma matéria sobre moda, em que os estilos das bolsas em um primeiro olhar, seriam
conflitantes com a juvenilização da cultura. Por outro lado, apesar de ser um estilo “antigo”,
os acessórios nunca saem da moda, e assim representam bem a juventude contemporânea.
Nesta matéria, a mesma celebridade retratada como “quarentona” na matéria sobre
longevidade, aparece como modelo de juventude e contemporaneidade, para legitimar que a
bolsa é utilizada hoje em dia. Segundo o texto, ser jovem e ser moderno legitima a moda.
A outra matéria que aborda a juvenilização, voltada totalmente à questão estética, e
publicada na edição de 29/04/2009, tem o nome Cabelos: Alternativas antiqueda. A principal
abordagem é a preocupação com a aparência juvenil não estar restrita àqueles que já passaram
pela juventude, mas estender-se aos jovens que prematuramente já começam a ficar calvos,
ou, ainda, os que possuem algum fator hereditário para perder os cabelos e começam desde
cedo a se prevenir.
Isso acaba mostrando que o padrão do jovem vigoroso, belo e esbanjando saúde não
está restrito à faixa etária, mas a outros padrões estéticos da civilização ocidental da definição
128
de beleza. O fato de a faixa etária dos clientes que buscam os especialistas para evitar quedas
do cabelo estar diminuindo, nos leva a pensar que a contaminação pela juvenilização da
cultura é uma crescente.
Nesta mesma linha, a matéria do dia 20/05/2009, segue a linha da juvenilização da
cultura, porém através da exibição do jovem padrão, idealizado. Com o título O Alce de 2,5
bilhões de dólares a matéria trata da supervalorização de uma marca de roupas norte-
americana, que teoricamente faz roupas para jovens por elas serem “descoladas”, e possui
como diferencial o atendimento feito por jovens modelos. O ambiente da loja considerado
jovem remete a um clima de danceteria, escuro com música eletrônica.
Este é mais um caso mostrando a importância que é dada ao universo juvenil, não só
pelo valor da marca divulgada pela matéria, mas pela divulgação de que em Nova Iorque a
loja se tornou um ponto turístico, atraindo milhares de pessoas para apreciar este universo do
consumo juvenil, como algo idealizado.
129
3.3 ESPETACULARIZAÇÃO
Ao estudar o conteúdo midiático disponível no mundo contemporâneo, dificilmente
este não dialoga com a temática da espetacularização. Na análise dos artigos da revista,
inúmeras vezes podemos nos remeter à idéia do espetáculo. As matérias refletem e refratam a
forma com que a sociedade se orienta para traduzir valores como sucesso pessoal,
profissional, e, é claro, econômico. Se entrarmos minuciosamente em cada matéria,
encontraremos elementos que evidenciam de forma direta ou indireta esta espetacularização,
tema invariavelmente relacionado a juventude.
A idéia de espetáculo aparece em grande quantidade de ícones e imagens,
principalmente através dos meios de comunicação de massa, mas também dos rituais
políticos, religiosos e hábitos de consumo, ou seja, de tudo aquilo que falta à vida real do
homem comum: celebridades, atores, políticos, personalidades, gurus, mensagens
publicitárias, tudo transmite uma sensação de permanente aventura, felicidade, grandiosidade
e ousadia.
O espetáculo é a aparência que confere integridade e sentido a uma sociedade
esfacelada e dividida. Quando se dá mais valor à aparência do que ao conteúdo, à imagem do
que ao objeto real, temos que:
As imagens fluem desligadas de cada aspecto da vida e fundem-se num
curso comum, de forma que a unidade da vida não mais pode ser
restabelecida. A realidade considerada parcialmente reflete em sua própria
unidade geral um pseudo mundo à parte, objeto de pura contemplação. A
especialização das imagens do mundo acaba numa imagem autonomizada,
onde o mentiroso mente a si próprio. O espetáculo em geral, como inversão
concreta da vida, é o movimento autônomo do não-vivo.
(DEBORD; 1967,
9)
É a forma mais elaborada de uma sociedade que identificou ao extremo sua felicidade
ao consumo. Segundo Debord, os meios de comunicação de massa são apenas a manifestação
superficial mais esmagadora da sociedade do espetáculo, que faz do indivíduo um ser infeliz,
anônimo e solitário em meio à massa de consumidores:
O espetáculo, considerado sob o aspecto restrito dos «meios de comunicação
de massa» — sua manifestação superficial mais esmagadora — que
aparentemente invade a sociedade como simples instrumentação, está longe
da neutralidade, é a instrumentação mais conveniente ao seu automovimento
total. As necessidades sociais da época em que se desenvolvem tais técnicas
130
não podem encontrar satisfação senão pela sua mediação. (DEBORD;
1967, 15-16)
Para Juremir Machado, que faz uma atualização da obra de Debord, a era do
espetáculo acabou, e como seqüência há o hiperespetáculo. O autor explica, dizendo que, no
espetáculo, cada indivíduo abandonava seu papel de protagonista para se tornar um espectador
que contemplava um outro idealizado, por exemplo, uma celebridade. No hiperespetáculo, o
que muda é que a contemplação deixa de ser do outro e passa a ser de si mesmo, ou seja, o
sucesso torna-se alcançável. Isso pode ser explicado se tomarmos como exemplo a idéia dos
reality shows, como o Big Brother, em que há anônimos que concorrem e se tornam as
celebridades. Outro forte exemplo de saída do anonimato para se tornar admirável são as
produções independentes na internet, como blogs, personagens, e vídeos de nós mesmos,
atingindo um sucesso que antes era impossível pois não possuíamos estes recursos.
(MACHADO da SILVA; 2007, 31-32)
Para não perdermos o foco, é importante lembrar que a idéia central de Debord pode
ser sintetizada com a frase: O espetáculo é o capital a um tal grau de acumulação que se
torna imagem. (DEBORD; 1967, 20) Algumas das imagens analisadas, refletem nitidamente
esta idéia, tanto no consumo das celebridades, nas matérias que dizem que certas pessoas
dificilmente envelhecem, como a garota, que faz um totem de si mesma. Em sua obra, o autor
dedica um capítulo exclusivo à mercadoria como espetáculo. Neste mesmo capítulo faz a
ligação e cita a juventude pelo seu potencial consumista ligado à espetacularização:
Lá onde se instalou o consumo abundante, uma oposição espetacular
principal entre a juventude e os adultos vem no primeiro plano dos papéis
falaciosos: porque em parte alguma existe o adulto senhor da sua vida, e a
juventude, a mudança do que existe, não é de modo nenhum propriedade
destes homens, que são agora jovens, mas do sistema econômico, o
dinamismo do capitalismo. São as coisas que reinam e que são jovens; que
se deitam fora e se substituem a si próprias. (DEBORD; 1967, 35)
A forma como é tratada a primeira matéria, já citada na análise anterior, Mais velhos...
...Porém mais jovens, apresenta de forma indireta a idéia de Machado da Silva sobre a
hiperespetacularização, pois ela suporta e exemplifica sua teoria de que as populações estão
ganhando uma longevidade maior e se mantendo com um aspecto jovem através de
celebridades, como se disesse ao leitor, com as fotos das celebridades: “Viram só como
estamos dizendo a verdade?”. Em seguida, nas matérias complementares que seguem, temos
fórmulas para se atingir o sucesso ao parecer com estas celebridades, ao menos no sentido de
uma longevidade e preservação física. Logo depois, outra matéria comprova a tese com
131
anônimos que também conseguem vidas longas e apresentam suas formas de pensar. De certa
forma esse caminho aproxima as pessoas destas celebridades, e de uma felicidade teórica.
A exploração da vida privada de celebridades esportivas, mostrando fraquezas ou
relatos que façam com que se aproximem da realidade daqueles que estão somente na platéia
da espetacularização, também aparece nas matérias pesquisadas. É o caso da matéria de capa
de 04/02/2009, Por que eles não crescem?, mostrando a celebridade esportiva sendo acusado
de um crime de abuso sexual. O espetáculo passa inclusive pelo exorbitante poder e sucesso
do jogador de futebol e a falta de estrutura psicológica do mesmo sendo justificada pela
infância pobre e a rápida ascensão social. Os quadros que mostram o caminho do sucesso do
jogador, desde um pobre garoto da periferia, passando pelos primeiros passos com a bola, os
títulos alcançados, o reconhecimento da maior celebridade do futebol de todos os tempos até
as transferências internacionais, sugerem uma sensação de aventura, é a imagem espetacular.
Outra matéria em que o sucesso pessoal da vida capitalista é representado em uma
forte imagem é a do dia 04/03/2009, Uma segunda opinião, onde a imagem de início da
matéria apresenta um grupo de jovens comemorando o fato de terem ingressado em uma
universidade, expressando muita felicidade, com a camiseta escrita Venci!. A encenação do
ingresso no vestibular sendo comemorado já em si é uma imagem da sociedade do espetáculo,
por se tratar de uma afirmação do estilo de vida capitalista como forma de obter felicidade.
A matéria seguinte da pesquisa, do dia 15/04/2009, responsável e hedonista com o
nome Vestibular: Vai mudar tudo, menos o mérito, pelo mesmo motivo que a anterior trata do
tema da sociedade do espetáculo. Mais que tudo, ela é reforçada por duas páginas que
mostram o esforço recompensado pelo sucesso acadêmico e profissional de jovens que
investiram fortemente nos estudos e posteriormente na carreira. A matéria não mostra e nem
comenta se há fracassos, apresentando que o caminho dos vencedores, dos primeiros
colocados do vestibular é sempre recompensado à altura. O imaginário da aventura, do
sucesso, da grandiosidade e da ousadia é inúmeras vezes reafirmado, para a construção de
uma posição social que resultará em felicidade, poder e satisfação.
Neste mesmo sentido, porém em menor intensidade, a fórmula do sucesso da carreira é
sugerida pela matéria seguinte, do dia 15/04/2009, Daqui eu não saio, mostrando a existência
de uma geração de jovens que convivem sob o sustento dos pais mesmo já podendo
economicamente tem uma vida independente, mas possui esta preferência como um modo de
investirem de forma mais consistente nas próprias carreiras, ou criarem alternativas para
outras carreiras mais ousadas por prazer. Essa ousadia em busca do sucesso, como explicitada
no começo do capítulo, é mais uma imagem da sociedade do espetáculo sendo divulgada por
132
um meio de comunicação de massa através da espetacularização e instituição do mundo do
trabalho e da idealização do bem estar familiar.
Por fim, voltando ao futebol, a outra matéria de capa do dia 13/05/2009, Chuteiras que
valem ouro, sintetiza mais uma vez o hiperespetáculo apresentado por Machado da Silva, pois
é um especial sobre jovens e adolescentes jogadores de futebol que investem suas carreiras no
Brasil para atingir fama e sucesso no exterior, ou ainda de jovens que desde cedo partem para
o exterior para atingir este sucesso. Ela remete ao hiperespetáculo, apresentando diversos
jogadores anônimos, e todos os seus sonhos, empenho, apoio dos parentes e trajetórias na
busca de um sucesso que, segundo a matéria, pode ser garantia de fama e poder. Na verdade, a
condição de fracasso nem é cotada ou cogitada pela revista, que, apesar de apoiar a “causa”
dos jovens e adolescentes que possuem este sonho, utiliza como exemplos jogadores jovens
que fizeram um caminho totalmente diferente, se consagrando em grandes times brasileiros
antes da transferência internacional.
Imagens que procuram confirmar o sucesso em ambas matérias sobre futebol,
apresentam jogadores ao lado de grandes carros, ou ostentando jóias e quadros informativos
mostrando valores altíssimos. O consumo, mais uma vez, medeia a cultura do espetáculo e da
hiperespetacularização.
133
3.4 IDEALIZAÇÕES E DEMONIZAÇÕES
Dos temas mais recorrentes, não poderíamos deixar de discutir as definições que são
atribuídas à juventude, principalmente nas matérias especialmente dedicadas a explicar o
comportamento juvenil e naquelas em que um jovem ou a juventude assumem papel central
no artigo estudado.
A princípio, detectamos duas categorias que claramente procuram remeter ao que o
jovem deve ser (idealização) e ao que o jovem não deve ser (demonização), em matérias
direcionadas aos jovens, mas principalmente para as pessoas que convivem com esses jovens,
mas especificamente, os pais deles. Algumas matérias tentam se aproximar do leitor, e outras
procuram demonstrar um universo não tão próximo, mas que afeta diretamente o mundo
destes leitores.
Anteriormente, encontramos diversas pesquisas que estudam a relação da mídia com a
juventude, tratando de temas como violência, lutas de classes ou questões raciais, como as
duas que seguem:
O tema da democratização da comunicação é cada vez mais discutido no
país, porém, as relações que se estabelecem entre mídia e público não
caminham rumo à democratização. A relação da mídia brasileira com as
minorias, neste trabalho em especial a juventude, é bastante complexa. O
jovem, especialmente o negro, pobre e morador da periferia, não tem, via de
regra, o seu direito à comunicação respeitado. (SILVA, 2008:1
)
Ou ainda:
Os meios de comunicação massivos em geral, estigmatizam o jovem, em
especial os oriundos das camadas menos favorecidas da sociedade. Os
jovens, na maioria das vezes pobres e negros, aparecem nos jornais e
telejornais em matérias relacionadas à violência, prostituição e tráfico de
drogas. A esses jovens não é dado o direito à comunicação. Dessa forma, a
comunicação comunitária, em especial o rádio, aparece como meio de
resistência e forma de dar voz aos jovens, em especial aos pobres, garantindo
o seu direito ao exercício da comunicação. (SILVA; PEREIRA;LAHNI,
2008:1)
Observamos então, nas matérias que selecionamos, alguns artigos que estão
relacionados com estes temas. A matéria que trata do jogador de futebol Robinho envolvido
em uma acusação de estupro, em 4/02/2009, nos traz alguns estigmas que são encontrados nas
citações acima, já que a matéria fala sobre um negro, que está envolvido na acusação de um
crime, apesar de pertencer a uma classe social alta. A matéria associa as causas do crime à
formação humilde, em uma classe social baixa, e ainda exemplifica através de diversos outros
134
casos de seis esportistas envolvidos em escândalos criminais e de falta de responsabilidade
que seriam todos de origem pobre e cinco deles negros.
É como que se a transição da vida infantil para a vida adulta obedecesse aos interesses
de quem analisa, onde o negro é caracterizado pela rebeldia, e o branco pelas
responsabilidades. Para esta abordagem, a transição dos jovens para a vida adulta encontra-se
sempre pautada por desigualdades históricas e raciais, e, principalmente, pela condição social
dos jovens. A crítica que podemos fazer a este modelo apresentado pela revista está no fato de
os artigos apresentarem uma mesma cultura juvenil de sucesso aos jovens de uma classe alta,
e os jovens de origem de uma classe social baixa, aparecem “demonizados”, já que estão
normalmente associados a crimes.
Pais (1993: 37) explica que os estilos mais exóticos de comportamento de alguns
jovens seriam sinais de cultura juvenil utilizados para desafiar os consensos dominantes, ou
seja, para afrontar a ideologia das classes dominantes. Tais comportamentos de protesto
existiriam entre jovens de uma mesma classe social e, assim, as manifestações culturais
juvenis estariam presentes de classe para classe, mas nunca numa mesma classe.
A teoria apresentada por Pais pode ser questionável, assim como a generalização das
classes baixas apresentada pela matéria, e a contradição aparece na edição de 18/02/2009, em
uma matéria de menor destaque, onde jovens da classe média aparecem sendo presos nas
páginas policiais por tráfico de drogas. Porém, a matéria que é escolhida como notícia,
exatamente por se tratar de algo incomum, ainda tenta explicar o fato pela associação dos
jovens da classe média aos traficantes da classe baixa.
A matéria especial A juventude em rede da mesma edição da matéria supracitada de
18/02/2009, talvez seja a de melhor análise para entender a idealização sobre a juventude, já
que ela tenta explicar para os pais destes jovens o comportamento juvenil. Se analisarmos que
os leitores da revista são formados em maioria por classes médias e altas, é sobre os jovens
dessas classes que estão falando.
Os jovens apresentados nesta matéria possuem alta capacidade de entendimento e
envolvimento com a tecnológica. O próprio lead da matéria diz:
Como pensam e se comportam os adolescentes de hoje: filhos da revolução
tecnológica, eles vivem no mundo digital, são pragmáticos, pouco idealistas
e estão mais desorientados do que nunca. (Veja 18/02/2009, p. 85)
Poderíamos arriscar dizer que, para a revista, as condições sociais das classes mais
baixas dificultariam o acesso ao mundo digital e às tecnologias, devido às condições
135
econômicas incompatíveis com a aquisição de serviços e equipamentos, porém, pesquisas nos
mostram que independente da classe social, há meios que possibilitam essa convivência
digital, como explicitam Borelli, Rocha e Oliveira:
Caminhando rumo ao século XXI, vemos a cultura massiva conviver com
novas tecnicidades e são também os segmentos juvenis um dos principais
usuários dessas ferramentas de comunicação marcadas pela mobilidade,
portabilidade e, em muitos casos, simultaneidade. No caso brasileiro, é
também notável a crescente popularização e comercialização do acesso à
internet, haja vista a penetração bastante expressiva de lan houses em uma
ampla gama de cidades e de bairros. Disto não estão excluídas as regiões
periféricas brasileiras, nas quais, munidos de MP3s, celulares e freqüentando
assiduamente – e com custos relativamente baixo – as lans, jovens recebem,
produzem e reciclam formas e conteúdos midiáticos. (BORELLI; ROCHA;
OLIVEIRA, 2009, p. 14)
A revista apresenta em uma matéria os conceitos de os jovens serem pragmáticos,
pouco idealistas e estarem mais desorientados do que nunca. Esta é uma conceituação, que
não enquadraríamos como uma demonização, pois são jovens de classe média, bem sucedidos
e a matéria fala para os pais destes jovens, exigindo uma atitude deles para tornar seus filhos
melhores ainda.
Outra parte de evidente idealização, pode ser vista nas fotos, onde os jovens aparecem
atléticos, com a beleza da estética ocidental e ativos. Em relação as vestimentas e acessórios,
o jovem aparece com um forte potencial consumidor, que será tratado no próximo item.
É evidente que tanto a idealização quanto a demonização (principalmente relacionada
à violência) sempre estão associadas nas matérias com dois conceitos que acompanham a
juventude, sendo um deles do jovem como ideal de beleza, vigor físico, disposição e aventura
e o outro atrelado a resistência, rebeldia, imaturidade e irresponsabilidade. Esse conceito é
reafirmado por Borelli, Rocha e Oliveira:
Isto não se dá por acaso. Afinal, sabemos que ao lado de um imaginário
social que idealiza a existência de um jovem potente, criativo e invejável
física e mentalmente, outro cenário também povoa o cotidiano de nossas
cidades: aquele que reafirma a existência de uma natureza essencialmente
rebelde e iminentemente perigosa da juventude. (BORELLI; ROCHA;
OLIVEIRA, 2009, p. 14)
As matérias que falam sobre o vestibular também reforçam como idealização da
juventude, o jovem como universitário. É interessante pensar neste ideal de juventude em que
uma das matérias discute a medida das cotas raciais nas universidades brasileiras. Segundo a
136
revista, estas cotas raciais não são justas, pois colocariam na universidade pessoas menos
preparadas e tirariam a chance das mais preparadas, além de criar uma cisão social entre as
raças e ferir a democracia.
Outra verificação que podemos fazer dos jovens idealizados, são nas imagens, onde
eles aparecem sorridentes, felizes, normalmente ligados a quatro situações diferentes,
relacionadas: ao sucesso profissional e conquistas no mercado de trabalho; ao bom
relacionamento com a família; ao sucesso nos estudos; e à capacidade de consumo de bens e o
poder econômico.
Os jovens demonizados possuem poucas imagens nas matérias, e nas que aparecem,
normalmente não são mostrados os rostos e não nos permite analisar suas expressões. No
único caso em que os rostos aparecem, estão em casas noturnas se divertindo em uma matéria
de tema relacionado a escândalos e crimes.
137
3.5 JUVENTUDE, COMUNICAÇÃO E CONSUMO
As relações entre os conceitos sobre juventude, comunicação e consumo,
inevitavelmente, passam por todos os itens anteriores deste capítulo, por isso, antes de
aprofundá-las, é importante conceituar e discutir sobre estes conceitos.
O consumo, amplamente discutido na sociedade contemporânea, além de ser cultural e
partilhado, é universal. (ROCHA, 2008) Sendo assim, assumimos a impossibilidade de
estudar a sociedade contemporânea sem evidenciar o casamento entre comunicação e
consumo como a centralidade do estudo. Slater nos confirma sobre o consumo:
Na verdade, todo consumo é cultural. Essa afirmação significa várias coisas.
Em primeiro lugar, todo consumo é cultural porque envolve
significado[...]Em segundo lugar, o consumo sempre é cultural porque os
significados envolvidos são necessariamente significados partilhados.
(SLATER, 2002).
Martin-Barbero (2002) nos explica que a comunicação também deve ser percebida
como uma questão de cultura, ou de culturas, e não apenas de ideologias. Falar de
comunicação não comporta uma reflexão que se restringe aos aparatos e estruturas, mas
demandaria sobre sujeitos e atores sociais.
Desta forma, não podemos deixar de falar sobre o papel da mídia, já que um veículo
midiático é parte do objeto e corpus constituinte desta pesquisa. Para Silverstone (1999:20),
nossas experiências cotidianas são filtradas e moldadas pelas representações singulares e
múltiplas, construídas pela mídia, que nos dá parâmetros e referências para a condução da
vida contemporânea.
Pensar a comunicação é pensar em um processo de construção coletiva da idéia, do
emissor e do receptor, e não uma imposição. A mídia funciona como um mediador neste
processo. Ela é feita por nós e para nós. Gosto da idéia de Steiner (1975:297) citada por
Silverstone, de comparar a mídia como um tradutor. Segundo o mesmo, uma tradução
“...nunca é completa, sempre transformista, e nunca talvez, inteiramente satisfatória. É sempre
contestada. É um ato de amor.” (SILVERSTONE, 1999:34-35).
Um tradutor carrega o texto que está traduzindo com interpretações pessoais, já que
uma língua nunca completa totalmente a outra. A forma como ele coloca as palavras, como
usa a pontuação, ajudam a mudar completamente o texto original, e ainda há a interpretação
do leitor.
138
Claro que existem diversas formas de pontuar as diferenças entre tradução e
mediação, como a questão da autoria e da fidelidade do tradutor, ou os interesses
institucionais, de grupos e questões envolvendo tecnologias da mídia, como explicita
Silverstone (SILVERSTONE, 1999:37), mas o importante é entender o papel mediador que
faz a mídia na construção da cultura dentro da comunicação e do consumo.
Everardo Rocha e Cláudia Pereira ainda nos dizem sobre a relação entre consumo e
mídia:
O consumo é assim, um código aberto e inclusivo que traduz nossas relações
sociais e nossos sentimentos. E os meios de comunicação viabilizam e
ensinam esse código. A mídia estabelece modelos estéticos,
comportamentais e ideológicos, refletindo o sistema de valores, o sistema
simbólico e o sistema de classificação sustentado pelo consumo. Através da
mídia e, principalmente, da publicidade é, por excelência, a narrativa do
consumo. (ROCHA; PEREIRA, 2009:76)
Rose de Melo Rocha (2009) ainda nos conta que consumir é muito mais do que mero
exercício de gostos, caprichos ou compras irrefletidas, mas todo um conjunto de processos e
fenômenos socioculturais complexos, mutáveis, através dos quais se realizam a apropriação e
os diferentes usos de produtos.
Assim, para endossar a relação entre mídia e consumo, vale ainda citar novamente
Silverstone, quando diz:
Consumimos a mídia. Consumimos pela mídia. Aprendemos como e o que
consumir pela mídia. Somos persuadidos a consumir pela mídia. A mídia,
não é exagero dizer, nos consome. (SILVERSTONE, 1999:150)
Tomemos agora a juventude como a terceira parte desta relação (Consumo, mídia e
juventude) pela importância neste estudo. Morin (2005: 147-151) explica que nos últimos
séculos, a juventude tomou um papel muito importante como ator social, principalmente pela
adesão a grandes movimentos revolucionários na Europa e depois no resto do mundo. Por
isso, há também uma expectativa na juventude, como um ator fundamental do
desenvolvimento da sociedade, onde se aplica muita esperança e atenção por parte da
sociedade.
No Brasil, a importância dada à categoria juventude, tanto pelas pesquisas de mercado,
como pelos veículos midiáticos, se tornou noria nas últimas décadas, como já foi citado
nesta dissertação (sobre a Research International e os Dossiês MTV, na Introdução), e a
revista Veja chega a colocar o jovem como figura central nas decisões sobre consumo no
âmbito familiar na matéria Eles é que mandam.
139
Everardo Rocha (2009:19-20) nos conta que a revista Veja passou a publicar edições
especiais sobre a juventude brasileira desde 2000. Na edição de 2001 é enfatizada a tecnologia
da “geração Z”. Em 2003, mais de cem páginas exploram dados primários e secundários de
pesquisas, abordando assuntos como comportamento, educação, saúde, consumo e tecnologia.
Veja Jovens: Edição Especial”, em 2004, descreve um jovem brasileiro que trocou as utopias
pelo pragmatismo, que preza sua autonomia e deseja expandi-la por meio do estudo e do
trabalho, que teme a violência e o desemprego, mas não desanimou do ideal de melhorar o
país.
É possível evidenciar diversas relações entre juventude e consumo na revista, estas
relações, gostaríamos de destacar duas: a articulação de consumo com o uso de tecnologias,
gadgets, e a virtualidade; a juventude enquanto ideal na imagem que reflete beleza, disposição
e vontade de viver. Como foi dito no início deste item, estas duas relações repetem diversas
noções sobre a espetacularização, a juvenilização da cultura e as idealizações sobre
juventude.
A matéria Mais velhos... ...porém mais jovens, faz o uso de diversas celebridades para
afirmar a possibilidade de envelhecer sem os sintomas aparentemente ruins da velhice,
mantendo-se uma beleza juvenil e incentivando de forma indireta o consumo de cirurgias
plásticas, e de forma direta os tratamentos medicinais alternativos e inclusive sugestionando
mudanças nos hábitos cotidianos dos leitores, como alimentação, vícios e filosofias de vida.
Encontramos assim, nesta matéria, elementos da espetacularização através das celebridades,
da juvenilização da cultura, através do modelo juvenil de beleza, e idealizações sobre
juventude, sobre manter-se o espírito de aventura e o vigor físico, todas ancoradas na
perspectiva do consumo.
Outro artigo muito importante para estudarmos o consumo nesta dissertação é o de
título A juventude em rede, colocando o jovem no centro das decisões do consumo:
Nove em cada dez compras de eletrônicos das famílias brasileiras são
influenciadas pelo filho adolescente. “Quando percebo que os celulares da
minha família estão ficando ultrapassados, convenço meu pai a trocá-los” diz
Márcio Saurin, de 17 anos. “O meu é sempre o melhor (Veja, 18/2/2009)
Além de explicitar o poder destes jovens como decisivos nestas aquisições, é
ressaltada a relação entre eles e os gadjets como celulares, iPods, e o intenso uso do mundo da
World Wide Web para criação de identidades nos sites de relacionamento. Há a idealização
destes aparatos como extensão do corpo humano e inclusive a revista sugere um guarda
140
roupas básico de custo bem elevado para estes jovens, que, segundo a matéria,
independentemente da classe social, é assim que os jovens se vestem.
A hiperespetacularização também pode ser visualizada nesta matéria com referência
ao consumo, quando cita a festa de quinze anos de uma garota que organiza esta
comemoração e a decora baseada em um shoopping center com um totem com sua própria
imagem carregando sacolas de compras e o dobro do seu tamanho (Imagem 31). A garota se
identifica como uma celebridade pela sua capacidade de consumo.
A matéria Ela não ficou para a titia é focada em um acessório de moda, as bolsas
Chanel, e também utiliza de celebridades (espetacularização) para fazer um apelo ao
consumo, justificando que se trata de um item que não sai da moda com o passar dos anos. As
modelos utilizadas nas imagens carregando as bolsas são celebridades de diversas faixas
etárias diferentes, e a juventude aparece como um alento para as consumidoras que acreditam
que este acessório é apenas uma referência para pessoas velhas, ressaltando novamente a
juvenilização da cultura. A matéria amplifica ainda mais a proposta do consumo deste item da
moda ao oferecer três preços diferentes que a versão popular chega a ser cem vezes mais
barata que a versão original, citando inclusive as lojas onde a consumidora pode encontrá-las.
(Quadro 10)
Tanto a oferta da bolsa Chanel para as diferentes classes, como o guarda roupas básico
para a juventude independente da classe social, se encontram em uma proposta comum de
equalizar as aparências nas diferenciações econômicas existentes e refletidas no consumo.
Tanto os mais bem abastecidos economicamente quanto os de menor poder aquisitivo se
tornam alvos de idealizações de consumo destes objetos, o que nivela e generaliza as
identidades juvenis da classe média, como inclusive é afirmado pela própria revista ao tentar
definir o comportamento da juventude contemporânea:
É tudo muito igual. Porque não são divididos em tribos, os adolescentes da
classe média estão muito parecidos entre si. Gostam das mesmas coisas,
usam as mesmas roupas, os mesmos cortes de cabelo e têm os mesmos
gadgets. A certa distância chega a ser difícil distinguir um do outro. (Veja,
15/2/2009)
Rocha e Pereira (2009:94) nos falam sobre o tema do consumo de luxo como
perspectivas culturais, e, por isso, dizem que o luxo não pode ser compreendido na
adolescência pelos mecanismos que os definem na lógica econômica. Eles exemplificam que
para estes jovens, a marca da calça jeans não se torna mais importante sozinha, mas se
valoriza dependendo do destaque e o comportamento do outro que a usa. Por isso muitas
141
vezes a marca falsificada causa um mesmo efeito, já que as marcas servem antes de qualquer
coisa para se identificar e se juntar aos seus iguais.
A matéria de título Cabelos: Alternativas antiqueda também possui forte apelo
mercadológico nos serviços de tratamentos capilares, citando o forte aumento da
movimentação de jovens em clínicas na busca por este recurso, e afirmando que as ações
preventivas devem ser tomadas desde cedo, e assim, oferecendo um tipo de consumo estético
para os jovens e para os não jovens para ambos manterem ou recuperarem a aparência juvenil,
e assim também associando o tema da juvenilização da cultura ao consumo.
Outra matéria com forte apelo mercadológico está na de título O alce de 2,5 bilhões
de dólares que faz referência a uma loja nos Estados Unidos, em Nova Iorque, inspirada em
valores jovens, decorada como uma discoteca onde os atendentes são jovens e dentro dos
padrões estéticos da sociedade contemporânea. Nela novamente os valores passam pela
espetacularização e pela juvenilização da cultura.
142
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É satisfatório chegar ao fim desta dissertação tendo em mente que não só os objetivos
principais e as possíveis hipóteses acerca do tema fossem atingidos e, em sua maioria,
confirmados, mas perceber que muitas outras informações foram acrescentadas ao repertório
do pesquisador, nos permitindo desvendar novos elementos da revista.
Poderíamos dizer que os objetivos principais, de identificar as relações entre juventude
e consumo foram atingidos com sucesso no momento da pesquisa empírica, onde descobrimos
recorrências, como os temas: 1) juvenilização da cultura, normalmente associados a matérias
de cunho mercadológicas, e em poucos casos ideológicas, onde a juventude aparecia como um
adjetivo; 2) espetacularização, em matérias normalmente relacionadas ao sucesso do mundo
contemporâneo, ligado às conquistas materiais, e das concorrências nos estudos e no mercado
de trabalho, além do uso de celebridades como modelos a serem atingidos; 3) idealizações,
onde o jovem se relaciona com as tecnologias com grande facilidade e elas se tornam
praticamente extensões do corpo humano e meio de se relacionarem, como a virtualidade,
além do fato destes jovens sejam adeptos a realização de diversas tarefas simultâneas; 4)
demonizações, ligando os jovens a violência, tratada como desvio social e psicológico
conseqüente de desestruturações familiares e econômicas; e 5) a centralidade da figura juvenil
no consumo de forma geral, onde estes jovens aparecem como tomadores de decisões do
consumo nos âmbitos familiares, ou perpassam por todos os temas anteriores.
Sobre a relação entre mídia, consumo e juventude, pudemos perceber que algumas
questões norteiam de maneira implícita, porém de fácil visualização a revista, questões essas
que passam por conservadorismo, tradição, classe social, raça/etnia e modelo norte americano.
O conservadorismo e a tradição aparecem em valores clássicos, por exemplo, a família
como base de estrutura social e psicológica, explicados em matérias onde se incentiva o não
afastamento da família para atingir sucesso no trabalho e nos estudos, ou na falta desta base,
como explicação para ascensões desastrosas seguidas de crimes e escândalos. A propriedade
também é um valor conservador que se repete através destas conquistas materiais, que são
sinônimos de felicidade nos artigos.
Porém, este modelo de felicidade e sucesso se torna restrito e exclusivo quando
analisamos que os jovens ideais, e os modelos que seguem, são de jovens já nascidos em
condições sociais privilegiadas, das classes economicamente favorecidas, pois àqueles que
fazem parte de outras classes, quando ascendem, costumam, pelas ênfases da cobertura, se
143
envolver em diversos problemas, ou até crimes, nos permitindo verificar mais uma vez o
reacionarismo da revista.
Na mesma linha de pensamento, as matérias que tratam de educação, não levam em
consideração os negros como pessoas preparadas para este crescimento cultural e social, e
mesmo quando tratam de casos reais de crescimento econômico entre estes negros, eles são
destacados na revista pelos seus erros, e não pelos seus acertos.
O modelo norte-americano é outro elemento que é evidente e recorrente nas matérias,
tanto pelos especialistas e órgãos de pesquisa que legitimam os artigos, ou pelos inúmeros
exemplos de experiências citados, em casos de situações governamentais, de consumo e de
cultura. Não poderíamos esquecer que o próprio fundador de Veja vem de escola norte-
americana, e a revista também foi inspirada neste modelo em um momento histórico em que
os Estados Unidos serviam como parâmetro para um ideal de modernização e
desenvolvimentismo no Brasil.
A maioria das matérias fala para os não jovens, normalmente para os pais e
responsáveis, e os coloca como pessoas que necessitam de atenções especiais. Em alguns
momentos estes jovens são tratados como esperança para o futuro, e em outros relacionados
com imaturidade e irresponsabilidade, inclusive ligando-os à violência.
Algumas matérias, se comparadas com outras da mesma revista, chegam a ser
contraditórias, pois, tanto podem exaltar modelos de esforço para as conquistas pessoais e
coletivas, como podem execrá-las, dependendo de quem é o jovem em questão. O sucesso
vem associado aos jovens brancos, vindos de escolas caras, com roupas da moda, e os
fracassos estão relacionados aos negros, ou jovens oriundos de classes sociais baixas.
Portanto, o jovem visto por Veja, é um jovem que se relaciona positivamente ou não
com as propostas feitas pela revista dependendo de onde ele vem e quais as suas raízes, ou
seja, o sucesso está reservado para aqueles que já vem de uma história de sucessos, e não para
aqueles que podem mudar as perspectivas, reconfirmando sua posição conservadora.
Estas problematizações contribuem para a circulação de leituras dicotômicas,
superficiais e também estigmatizadas destes jovens que parecem ter o destino selado,
considerando as principais idéias veiculadas pela revista e confirmando uma das hipóteses
centrais deste trabalho.
Segundo a revista, há uma mudança ocorrendo em relação aos jovens, relacionada a
questões ligadas ao consumo e às ideologias destes jovens, e estas mudanças devem ser
combatidas, pois podem colocar em risco as estruturas familiares tradicionais. Ao mesmo
tempo, há um forte apelo sobre a imagem do jovem, utilizando-a como modelo para o sucesso
144
e conseqüentemente utilizada em diversas matérias de cunho mercadológico, ou seja, o jovem
e a juventude são ao mesmo tempo exaltados, mas devem ser controlados.
É interessante acrescentar um dado, apresentado pelo jornal Propaganda e Marketing
de 7/2/2011, que afirma através de uma pesquisa com 5.075 pessoas que 73% dos brasileiros
dizem confiar na mídia.
Sobre a pesquisa empírica, pudemos levantar questões que modificam a visão do
pesquisador quando tratamos de analisar a mídia, primeiramente fazendo um levantamento
das funções do jornalismo enquanto elemento base na sociedade moderna de manutenção e
confirmação do pacto social, e submetido às forças do mundo contemporâneo, principalmente
a econômica.
Há muitos valores expressos nos discursos, e se repetem principalmente nas matérias
em forma de “manuais”, estabelecendo contratos entre os enunciatários e o enunciador, ou do
consumidor e do produtor da notícia, que diversas vezes propõe neutralidade e
imparcialidade, como se a revista tivesse único e exclusivo papel de informar seus leitores. Se
o consumidor então utiliza desta informação, estará utilizando também todo o referencial
valorativo agregado.
O consumo da comunicação, no caso destas análises, gera e dialoga com um
pensamento que, mesmo sem uma pesquisa de recepção, nos permite acreditar que reflete boa
parte dos leitores desta mídia. Tal pensamento pode ser visto como racista, classista,
conservador e de forte posição ideológica e partidária.
Devido às polêmicas em torno da revista, algumas destas afirmações poderiam ser
combatidas por outros pesquisadores e muitos cuidados foram tomados para garantir a isenção
analítica. De qualquer forma, toda a interpretação carrega consigo a formação crítica e a
cultura que orientam quem está analisando.
145
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ANEXOS
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