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Representação da OPAS/OMS no Brasil
Ministério da Saúde
AVALIAÇÃO DE
IMPACTO NA SAÚDE
DAS AÇÕES DE SANEAMENTO:
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marco conceitual e estratégia metodológica
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Brasília, 2004
Ministério da Saúde
Representação da OPAS/OMS no Brasil
© Copyright 2004 OPAS - Organização Pan-Americana da Saúde
1
a
edição - 2004
Todos os direitos reservados.
É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte.
Ministério da Saúde
Esplanada dos Ministérios, Bloco C
70.058-900 - Brasília - DF - Brasil
www.saude.gov.br
Representação da OPAS/OMS no Brasil
Setor de Embaixadas Norte, Lote 19
70.800-400 - Brasília - DF - Brasil
www.opas.org.br
Tiragem: 1.000 exemplares
Impresso no Brasil/Printed in Brazil
BRASIL. Ministério da Saúde. Organização Pan-Americana da Saúde.
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual
e estratégia metodológica. Organização Pan-Americana da Saúde. – Brasília:
Ministério da Saúde, 2004.
116 p.: il
ISBN 85-87943-37-5
1. Saneamento - marco conceitual. 2. Saneamento - metodologias. 3.
Saneamento - avaliação. I. Organização Pan-Americana da Saúde. II. Título.
NLM: WA 540
Ficha catalográfica elaborada pelo Centro de Documentação da Representação da
Organização Pan-Americana da Saúde / Organização Mundial da Saúde no Brasil
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Ministério da Saúde
Ministro Humberto Costa
Secretaria de Vigilância em Saúde
Secretário Jarbas Barbosa da Silva Júnior
Fundação Nacional de Saúde
Presidente Valdi Camarcio Bezerra
Organização Pan-Americana de Saúde
Representante Antonio Horacio Toro Ocampo
Saneamento
Ricardo Silveira Bernardes (UnB) - Coordenador
André Monteiro da Costa (CPAgM/FIOCRUZ)
Carlos Antonio Alves Pontes (CPAgM/FIOCRUZ)
Cristina Célia Silveira Brandão (UnB)
Eudemberg Pinheiro da Silva (UnB)
Léo Heller (UFMG)
Martin Alberto Ibáñez-Novion (UnB) in memorian
Patrícia Campos Borja (UFBA)
Sérgio Rodrigues Ayrimoraes Soares (UnB)
Silvano Silvério da Costa (SAAE/Guarulhos-SP)
Jacobo Finkelman (Representante da OPAS/OMS no Brasil)
Eduardo Hage Carmo (SVS/MS)
Carla Teixeira (UnB)
Carlos Henrique de Melo (FUNASA/MS)
Fernando Ferreira Carneiro (SVS/MS)
Guilherme Franco Netto (SVS/MS)
Jacira Cancio (Representação da OPAS/OMS no Brasil)
José Antonio Escamilla (Representação da OPAS/OMS no Brasil)
Manoel Maria Henrique Nava Jr. (FUNASA/MS)
Maria da Glória Teixeira (ISC/UFBA)
Miguel Crisóstomo Brito Leite (FUNASA/MS)
Ricardo Silveira Bernardes (UnB)
Sebastião Loureiro (ISC/UFBA)
Vilma Ramos Feitosa (FUNASA/MS)
Coordenação Geral
Jacobo Finkelman (Representante da OPAS/OMS no Brasil)
Jarbas Barbosa da Silva Júnior (SVS/MS)
Valdi Carmarcio (Funasa/MS)
Coordenação Científica
Carla Teixeira (UNB)
Maria da Glória Teixeira (ISC/UFBA)
Ricardo Silveira Bernardes (UNB)
Sebastião Loureiro (ISC/UFBA)
Comissão Executiva
Eduardo Hage Carmo (SVS/MS)
Jacira Cancio (Representação da OPAS/OMS no Brasil)
José Antonio Escamilla (Representação da OPAS/OMS no Brasil)
Miguel Crisóstomo Brito Leite (FUNASA/MS)
Grupo Tarefa
Equipes Científicas
Epidemiologia
Maria da Glória Teixeira (ISC/UFBA) - Coordenadora
Agostino Strina (ISC/UFBA)
Craig Milroy (ISC/UFBA)
Delsuc Evangelista (ISC/UFBA)
Maria da Conceição Nascimento Costa (ISC/UFBA)
Maurício Barreto (ISC/UFBA)
Antropologia
Carla Costa Teixeira (UnB) - Coordenadora
Anna Davidson (UnB)
Carla Coelho de Andrade (UnB)
Jacques de Novion (UnB)
Luís Cláudio Moura (UnB)
Martiniano Neto (UnB)
Economia da Saúde
Sebastião Loureiro (ISC/UFBA) - Coordenador
Alex Santos Fernandez (ISC/UFBA)
Edson Correia (ISC/UFBA
Flávio Fontanelli (ISC/UFBA
Luciano Damasceno Santos (ISC/UFBA)
Diagramação
Edite Damásio da Silva
Maria Célia de Souza
Capa
Gyl Munhoz
Revisão Redacional
Alberico Buzón
Participação Especial (em Oficinas de Trabalho)
Alexander Messent Cairncross (London School of Hygiene & Tropical Medicine)
Cristina Raposo (UNESCO)
Edgar Ortegon Quiñones (CEPAL)
Eloisa Domingues (IBGE)
Gerardo Galvis (Representação da OPAS/OMS no Brasil)
Henrique Fernandes da Câmara Melo (CPAgM/FIOCRUZ)
Iván Estribí Fonseca (Representação da OPAS/OMS no Brasil)
João Gutemberg Costa (London School of Hygiene and Tropical Medicine)
Julio Jacobo Waiselfisz (UNESCO)
Liz Maria de Almeida (UFRJ)
Luiz Roberto Santos Moraes (UFBA)
Mara Lúcia C. Oliveira (FUNASA/MS)
Maria das Graças Rúa (UNESCO – Brasil)
Marlene Barros de Carvalho (UFBA)
Martine Anne Irène Fabri Forget (AIM Consultores Internacionales en Ambiente y Desarrollo)
Mônica Viegas (CEDEPLAR/UFMG)
Nely Silveira da Costa (IBGE)
Neuza Maria Simões (ABES)
Patrícia Lustosa Brito (Consorcio Intermunicipal Vale do Jiquiriça)
Rejane Maria de Sousa Alves (SVS/MS)
Ruy Pereira dos Santos (SES/PE)
Steven Ault (Representação da OPAS/OMS no Brasil)
Vera Lúcia Gattás (SVS/MS)
Vicente Monteiro da Silva (SES/PE)
Colaboradores
Adriana Rodrigues Cabral (FUNASA/MS)
Carmem Priscila Bocchi (SCTIE/MS)
Dariush Akhavan (OPAS/OMS-Brasil)
Elisabeth Duarte (SVS/MS)
Fátima Marinho (SVS/MS)
Isabella Samico (SVS/MS)
Jose Boaventura Teixeira (FUNASA/MS)
Katia Ern (FUNASA/MS)
Luiz Roberto Santos Moraes (UFBA)
Marta Helena Dantas (SVS/MS)
Ricardo Vidal (SCTIE/MS)
APRESENTAÇÃO
Colaborar na diminuição dos riscos ambientais à saúde, constitui-se uma das missões fundamentais do
Sistema Único de Saúde do Brasil (SUS), coerente com o princípio constitucional de que todos os cidadãos
têm direito a acesso igualitário às ações que visem à proteção à saúde. Os esforços do governo brasileiro,
desde a criação do SUS, têm possibilitado importantes avanços nessa área, por meio do apoio, técnico e
econômico, às ações de promoção da saúde.
A avaliação destes programas é um instrumento fundamental no processo de formulação e aperfeiço-
amento das intervenções no campo da saúde coletiva, representando um desafio tanto para as instituições de
pesquisa como para os responsáveis pela formulação das políticas de saúde. A avaliação envolve a análise dos
processos de formulação, desenvolvimento, ações implementadas, resultados e impactos obtidos, compreen-
dendo ainda a análise do contexto histórico e social em que estes programas são concebidos.
A avaliação do impacto na saúde das ações de saneamento tem como principal objetivo contribuir para
o processo de tomada de decisões relativo às políticas públicas para esses setores. A proposta metodológica
de “Avaliação do impacto na saúde das ações de saneamento” é resultado de intenso trabalho de parceria
entre instituições acadêmicas do país, o Ministério de Saúde e a Representação da Organização Pan-America-
na da Saúde no Brasil/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS). Foi gerada a partir de uma série de
oficinas de trabalho, nas quais participaram pesquisadores, gestores e consultores altamente qualificados.
Esta é uma iniciativa singular na medida em que desde o início incluiu um componente de avaliação no
escopo de uma ampla política pública de saneamento, visando particularmente aferir a sua efetividade no que
diz respeito a mudanças no estado de saúde da população. Para dar conta desta singularidade, fez-se neces-
sário a articulação de vários campos do conhecimento, o que permitiu a produção de informações e de uma
proposta metodológica, que subsidiarão a avaliação dos componentes epidemiológico, econômico,
sociocultural, tecnológico e de gestão, das ações de saneamento.
Para a Representação da OPAS/OMS no Brasil é importante que o Ministério da Saúde desenvolva
materiais que apoiem as avaliações de campo, de modo que permita orientar o desenvolvimento de ações
considerando as realidades. Este esforço de elaboração da metodologia se realizou durante a gestão do Dr.
Jacobo Finkelman como Representante no Brasil desta Organização.
Ao divulgar esta proposta, o Ministério da Saúde e a OPAS procuram contribuir para estabelecer um
diálogo produtivo com gestores, técnicos e pesquisadores, na perspectiva de colher subsídios ao aperfeiçoa-
mento do processo de execução deste projeto.
Jarbas Barbosa da Silva Jr
Secretario de Vigilância em Saúde/MS
Antonio Horacio Toro Ocampo
Representante da OPAS/OMS no Brasil
Valdi Camarcio Bezerra
Presidente da FUNASA/MS
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 9
CAPÍTULO 2
OBJETIVOS ................................................................................................................................. 11
CAPÍTULO 3
ANTECEDENTES ............................................................................................................................ 13
CAPÍTULO 4
O PROGRAMA DE SANEAMENTO ........................................................................................................ 15
CAPÍTULO 5
MARCO CONCEITUAL ..................................................................................................................... 17
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................17
A
VALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS ..............................................................................................................18
C
OMPLEXIDADE DOS OBJETOS DESTE ESTUDO: SAÚDE E SANEAMENTO ....................................................................... 19
A
VALIAÇÃO EM SAÚDE E SANEAMENTO ............................................................................................................21
E
IXOS E DIMENSÕES DA AVALIAÇÃO ..............................................................................................................22
M
ODELO EXPLICATIVO DE CAUSA E EFEITO ......................................................................................................24
R
EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................... 26
CAPÍTULO 6
ESTRATÉGIA DA AVALIAÇÃO .............................................................................................................. 29
CONCEPÇÃO DA METODOLOGIA DA AVALIAÇÃO .................................................................................................. 29
D
ESCRIÇÃO DO MODELO GERAL DE AVALIAÇÃO ..................................................................................................30
T
EMPORALIDADE .................................................................................................................................. 30
N
ÍVEIS DA AVALIAÇÃO .............................................................................................................................. 31
A
PLICAÇÃO DO MODELO FPEEEA ............................................................................................................33
CAPÍTULO 7
PROCEDIMENTOS PARA DEFINIÇÃO E SELEÇÃO DA POPULAÇÃO, AMOSTRA E CASOS PARA ESTUDO ......................... 37
TÉCNICAS PARA AGRUPAMENTO DOS MUNICÍPIOS DO ESTUDO .................................................................................40
D
EFINIÇÃO DA AMOSTRA..........................................................................................................................42
S
ELEÇÃO DOS MUNICÍPIOS PARA ESTUDOS DE CASO ............................................................................................48
R
EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................... 48
CAPÍTULO 8
EIXO SANEAMENTO ....................................................................................................................... 49
OBJETIVOS .........................................................................................................................................49
P
RINCÍPIOS DE UMA POLÍTICA PÚBLICA DE SANEAMENTO ......................................................................................50
E
FETIVIDADE, EFICÁCIA E EFICIÊNCIA DE AÇÕES DE SANEAMENTO .............................................................................. 51
D
IMENSÕES DA AVALIAÇÃO DO EIXO SANEAMENTO ............................................................................................52
METODOLOGIA ....................................................................................................................................55
E
STRATÉGIA DE TRABALHO DE CAMPO ........................................................................................................... 58
I
NDICADORES DE SANEAMENTO AMBIENTAL .....................................................................................................63
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..........................................................................................................................68
R
EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................... 68
CAPÍTULO 9
EIXO ANTROPOLÓGICO ................................................................................................................... 71
OBJETIVOS .........................................................................................................................................71
C
ONSIDERAÇÕES SOBRE A DIMENSÃO SOCIOCULTURAL ........................................................................................72
METODOLOGIA ....................................................................................................................................74
C
ONSIDERAÇÕES FINAIS ..........................................................................................................................78
R
EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................... 79
CAPÍTULO 10
EIXO EPIDEMIOLÓGICO ................................................................................................................... 83
OBJETIVOS .........................................................................................................................................83
A
VALIAÇÃO DE IMPACTO EPIDEMIOLÓGICO: ASPECTOS METODOLÓGICOS .....................................................................84
M
ETODOLOGIA ....................................................................................................................................87
C
ONSIDERAÇÕES ÉTICAS .......................................................................................................................... 94
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................... 95
CAPÍTULO 11
EIXO ECONÔMICO ........................................................................................................................ 97
OBJETIVOS .........................................................................................................................................98
P
RINCIPAIS CONCEITOS EM AVALIAÇÃO ECONÔMICA .............................................................................................98
M
ETODOLOGIA ....................................................................................................................................99
DEFINIÇÃO DOS BENEFÍCIOS E CUSTOS A SEREM INCLUÍDOS NA ANÁLISE ..................................................................... 100
M
ETODOLOGIA PARA ESTIMAÇÃO DE CUSTOS ...................................................................................................101
M
ETODOLOGIA DE AVALIAÇÃO DOS BENEFÍCIOS ................................................................................................109
AVALIAÇÃO DE EQÜIDADE ......................................................................................................................... 112
C
ONSIDERAÇÕES FINAIS ..........................................................................................................................112
R
EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................... 113
CAPÍTULO 12
CONCLUSÕES ............................................................................................................................... 115
9
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
A presente proposta metodológica de avaliação situa-se, historicamente, em um contexto caracteriza-
do por importantes particularidades, ditadas pela singularidade de um projeto com abrangência e diversida-
de inéditas nas mais recentes iniciativas do setor de saneamento no Brasil. Mais que o desenvolvimento de
uma avaliação de programa de saneamento, este projeto pode ser visto, fundamentalmente, como uma dupla
oportunidade. De um lado, a de avaliar um programa federal de saneamento que contempla variada gama de
situações proporcionadas pela magnitude das ações. De outro, a perspectiva de se inaugurar uma prática
sistemática de avaliação de ações e programas de saneamento no país, a partir da qual será desenvolvida e
validada uma metodologia que, embora envolvendo distintas áreas do conhecimento técnico científico,
poderá ser reproduzida no nível local sem que haja prejuízo do seu rigor científico.
Adicionalmente, um benefício lateral que não deve ser negligenciado constitui a possibilidade de
construção de um banco de dados sobre os sistemas objeto da avaliação, que pode subsidiar a constru-
ção de sistemas de informação em saneamento articulado com informações epidemiológicas e econômi-
cas, úteis para a formulação de políticas gerais para o setor.
Considerando também que as intervenções em saneamento ambiental, financiadas pelo Ministério
da Saúde/FUNASA, foram concebidas com o propósito de reduzir as desigualdades regionais e elevar a
qualidade de vida das populações beneficiadas, tendo como um de seus objetivos elevar o nível de saúde
dessas populações, entende-se ser imprescindível a avaliação do impacto que a melhoria das condições
do saneamento ambiental poderá produzir na redução da morbidade e mortalidade das populações.
Esse procedimento, não só poderá vir a representar um marco na esfera governamental do país,
no que diz respeito à prática de avaliar a efetividade de suas políticas e ações, como também de criar
oportunidades para a correção ou aprimoramento dessas ações e, principalmente, dar respostas com
clareza e transparência à população acerca da efetividade dessa política pública.
É importante, ainda, sublinhar a magnitude e diversidade das ações de saneamento objeto desta
avaliação que, a partir de 2001, reuniram, entre outras, as seguintes diversidades:
Geográfica – benefício estendido a 1.846 municípios distribuídos por 21 estados de todas as
regiões do país;
Populacional – variedade do porte populacional dos municípios beneficiados que vai desde
1.025 (Rio da Conceição, TO) até 723.142 habitantes (Maceió, AL);
Institucional - quatro tipos principais de gestão e combinações que envolvem companhias
estaduais de saneamento, os municípios, o Governo Federal e a iniciativa privada, além de
associações de moradores;
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
10
Ações - abastecimento de água, esgotamento sanitário e melhorias sanitárias domiciliares (MSD),
com respectivas combinações;
Diferentes concepções técnicas para cada ação.
Reside precisamente em tal riqueza de situações, a circunstância favorável de realizar avaliações e de
extrair informações para a correção de rumos deste e de futuros programas de saneamento, bem como de
acumular conhecimentos para a formulação de políticas setoriais mais amplas. Por outro lado, essa diversida-
de torna maior o desafio para a montagem de uma proposta metodológica de avaliação que consiga contem-
plar os diversos aspectos de maneira integrada.
Nesta perspectiva é que foi desenvolvida a concepção metodológica apresentada no presente docu-
mento, construída por uma equipe de trabalho multidisciplinar que envolveu técnicos, dirigentes e assessores
das instituições patrocinadoras e equipes científicas da área de saneamento, epidemiologia, antropologia e
economia da saúde. Considerando-se o caráter inédito da tarefa, procurou-se deixar claro tanto os funda-
mentos teóricos para a construção da avaliação, como as estratégias metodológicas a serem empregadas na
sua execução.
11
CAPÍTULO 2
OBJETIVOS
O objetivo geral desta proposta metodológica é avaliar as ações de saneamento desenvolvidas pelo
Ministério da Saúde/Fundação Nacional de Saúde (MS/FUNASA) e seus impactos na saúde das popula-
ções dos municípios beneficiados.
O objetivo geral se desdobra nos seguintes objetivos específicos:
•Avaliar a implementação das ações intersetoriais de saneamento com enfoque na gestão dos
serviços, nas condições sanitárias das localidades em que as ações serão implementadas e nos
aspectos tecnológicos dos sistemas de abastecimento de água, das melhorias sanitárias
domiciliares e dos sistemas de esgotamento sanitário;
Compreender as ações de saneamento ambiental em suas conexões e seus desdobramentos
no modo de vida e nas condições de saúde das populações envolvidas;
•Avaliar o impacto produzido pelas intervenções de saneamento na morbidade e mortalidade
por algumas doenças que têm sua ocorrência relacionada com o saneamento;
•Avaliar o custo-benefício e o custo-efetividade das ações de saneamento.
13
CAPITULO 3
ANTECEDENTES
Em 2001, o governo brasileiro instituiu um extenso programa social denominado Projeto Alvora-
da, que previa investimentos em quinze diferentes campos de ações, dentre os quais destacava-se a ampli-
ação da infra-estrutura de saneamento disponível nos municípios que apresentavam Índice de Desenvol-
vimento Humano (IDH) igual ou menor que 0,500. As ações programáticas incluíam sistemas de abaste-
cimento de água, sistemas de esgotamento sanitário e melhorias sanitárias domiciliares (MSD).
Embora o fomento a essas ações seja feito baseado na estrutura legal que serviu de arcabouço para
o Sistema Único de Saúde (SUS) – com ênfase na Constituição Federal e na Lei no 8.080, as obras
financiadas dentro desse projeto não estão sob a gestão deste sistema. Durante a execução, o Ministério da
Saúde, por intermédio da Fundação Nacional de Saúde (MS-FUNASA), supervisionava a implantação dos
sistemas de saneamento. Após a entrega da obra, a gestão ficava a cargo do órgão responsável pelo
saneamento no município. Ademais, os financiamentos das atividades de operação e manutenção dessas
ações não contam com fontes permanentes de recursos, ficando em sua maioria condicionados à articu-
lação institucional de serviços estaduais e municipais de saneamento, além da cobrança de tarifas.
A complexidade desse cenário de investimento, que envolve a questão intersetorial e de entrelaça-
mento de políticas públicas específicas, apontava para a necessidade de realização de um estudo sistêmico
com base científica para a avaliação dessas ações de saneamento, razão pela qual o então Centro Nacional
de Epidemiologia (CENEPI), da FUNASA, solicitou à Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) que
coordenasse o desenvolvimento de um projeto de avaliação, tendo como principal objetivo avaliar as
ações de saneamento e seus impactos na saúde das populações dos municípios beneficiados.
Logo de início, constatou-se que não existia na literatura científica avaliação de impacto
epidemiológico de ações de saneamento no cenário apresentado – diversidade geográfica, populacional
e cultural e que abrangia três tipos de intervenção e combinações entre as mesmas.
Esta constatação apontou para a necessidade de ampliação da discussão, com o propósito de
reunir experiências e conteúdos de diferentes áreas do conhecimento, com vistas à elaboração de um
projeto que atendesse à solicitação do CENEPI-FUNASA. Assim, a OPAS organizou um Grupo Tarefa com-
posto por seus consultores, técnicos e dirigentes do Ministério da Saúde, além de pesquisadores de várias
instituições de ensino e pesquisa do país.
Este grupo, entre maio de 2001 e agosto de 2002, promoveu vários seminários para a troca de
experiência e discussão da concepção teórica, metodológica e estratégica desta avaliação, com a partici-
pação de consultores nacionais e internacionais. Como resultado desses eventos e das reuniões e ativida-
des do Grupo Tarefa, optou-se por uma avaliação que envolvesse quatro eixos, quais sejam: (a) Sanea-
mento; (b) Epidemiologia; (c) Antropologia; e, (d) Economia da Saúde.
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
14
O processo de seleção das instituições para elaboração e execução do projeto nos quatro eixos
referidos foi feito por meio de Edital Público da OPAS. Foram selecionadas as propostas das seguintes institui-
ções: (a) Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília, para o Eixo Saneamento;
(b) Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília, para o Eixo Antropologia; (c) Instituto de
Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, para os Eixos Epidemiologia e Economia da Saúde.
O Projeto de Avaliação apresentado neste documento foi desenvolvido pelas equipes científicas dessas
duas instituições, juntamente com o referido Grupo Tarefa.
15
CAPÍTULO 4
O PROGRAMA DE SANEAMENTO
Ao longo dos anos, a saúde pública e o saneamento sofreram influências do desenvolvimento
político e econômico da constituição do Estado Brasileiro.
No período colonial, a maior parte das ações de saneamento era realizada em nível individual,
situação possível pela ausência de grandes aglomerações humanas, abundância de recursos hídricos,
baixo potencial poluidor da produção de esgotos e boas condições de autodepuração dos cursos d’água
(Rezende e Heller, 2002). As obras, entretanto, atendiam apenas a uma parte da população, caracterizan-
do um quadro precário das condições sanitárias da época e determinando várias epidemias. A necessida-
de de melhorar as condições sanitárias levou o poder público a intervir no setor de saneamento.
Assim, deu-se início às grandes campanhas sanitárias de controle e erradicação de doenças infec-
ciosas e parasitárias cujo ciclo epidemiológico é relacionado com o ambiente, a partir das quais os órgãos
responsáveis pela Saúde Pública no Brasil desenvolveram ações de saneamento, em geral bastante especí-
ficas e pontuais.
No início da década de 1950, o Serviço Especial de Saúde Pública – SESP (transformado posteri-
ormente em Fundação de Serviços de Saúde Pública – FSESP, vinculada ao Ministério da Saúde), começou
a assinar convênios com os municípios para financiamento, construção e operação de Sistemas de Abas-
tecimento de Água (SAA) e Sistemas de Esgotamento Sanitário (SES), em municípios e localidades urbanas
e rurais.
Em meados da década de 1960, uma nova engenharia institucional e financeira começou a ser
delineada para o setor de saneamento, a partir das ações do Departamento Nacional de Obras de Sanea-
mento – DNOS. Em 1968, foi criado o Sistema Financeiro de Saneamento - SFS, gerido pelo Banco Nacio-
nal de Habitação – BNH e, em 1967, formulou-se o Plano Nacional de Saneamento - PLANASA, que até a
década de 1980 se constituiu na política federal de saneamento do país. O PLANASA privilegiou as ações de
abastecimento de água e esgotamento sanitário, principalmente de áreas urbanas, para fazer frente à
ampla industrialização do país e a conseqüente urbanização, que se deu a partir da década de 1970. Por
meio de concessões dos municípios, a execução da política coube às recém-criadas Companhias Estadu-
ais, que eram financiadas com recursos do BNH e de cada estado. Seguindo a lógica de auto-sustentação,
o retorno do capital investido deveria vir por meio da cobrança de tarifas. Os municípios que não aderiram
ao PLANASA foram excluídos do acesso a recursos do SFS. Muitos desses municípios constituíram Serviços
Autônomos de Água e Esgotos – SAAE ou permaneceram sendo atendidos pela FSESP.
A reforma administrativa do Ministério da Saúde, de 1990, contemplou a criação da Fundação
Nacional de Saúde – FUNASA por meio da fusão de vários órgãos do Ministério, inclusive a FSESP. Assim,
essa nova Fundação passou a dispor de um Departamento Nacional de Saneamento (atual Departamento
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
16
de Engenharia de Saúde Pública – DENSP), que detém toda a experiência acumulada pelos profissionais
oriundos da FSESP, com a responsabilidade de cumprir o disposto no inciso II do artigo 6, Capítulo I da Lei
Orgânica da Saúde. Assim, as responsabilidades de formulação da política e gestão dos recursos para a área
de saneamento alocados no orçamento do Ministério da Saúde, com vistas a atender aos princípios e diretrizes
do SUS, são do DENSP-FUNASA.
No âmbito do Ministério da Saúde, a política de governo definida nos últimos anos para a aplicação dos
recursos destinados ao saneamento está voltada para a redução de algumas doenças infecciosas e parasitári-
as, e compreende, dentre outras, as seguintes ações:
Abastecimento de Água (AA) – ação que compreende a implementação, ampliação e
estruturação de sistemas públicos de abastecimento de água;
Melhorias Sanitárias Domiciliares (MSD) – ação que visa controlar doenças evitáveis mediante
medidas de saneamento nos domicílios, envolvendo a construção de banheiros, privadas, fossas
sépticas, vasos sanitários, pias de cozinha, lavatórios, tanques, reservatórios de água e filtros etc.;
Esgotamento Sanitário (ES) – ação que procura contribuir para o controle de doenças parasitárias
transmissíveis pelos dejetos humanos e para a melhoria da qualidade de vida das populações, mediante
a construção, a ampliação e a estruturação de serviços de coleta e tratamento de esgotos sanitários.
O universo dos municípios integrantes dessa proposta de avaliação foi determinado a partir do extinto
Projeto Alvorada. Para efeito de seleção dos municípios a serem atendidos com os recursos disponíveis, neste
projeto, foi utilizado o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) inferior a 0,500. Para efeito de priorização
alguns critérios epidemiológicos foram previamente definidos e estabelecidos na Portaria nº 176, de 22/03/00
(mortalidade infantil maior que 40/1000 e ocorrência de doenças específicas de interesse para a Saúde
Pública, a exemplo da cólera, tracoma, esquistossomose, dentre outras). Vale apontar que esses critérios
foram posteriormente reformulados nas Portarias n
o
01 (02.01.02), nº 225 (15.05.03) e nº 106 (08.03.04),
passando a ser válidos para novos aportes de recursos.
Simultaneamente à execução das ações de saneamento, cada município desenvolve o Programa de
Educação em Saúde e Mobilização Social (PESMS). Este programa tem por finalidade fomentar a participação
e a organização comunitária, por intermédio de ações permanentes de Educação em Saúde, quando da
implantação das diversas ações de saneamento, proporcionando o acesso da população a instalações, habi-
tações e sistemas de saneamento ambiental saudáveis, além de contribuir para a sustentabilidade dessas
ações. Esta atividade de educação em saúde no âmbito deste programa de saneamento tem previsão de ser
financiada com recursos da contrapartida de estados e municípios.
Observou-se que ao se considerar, como proposto no referido Projeto Alvorada, IDH igual ou
menor que 0,500, praticamente todos os municípios que atendiam aos critérios referidos nas citadas
Portarias estariam contemplados. Assim, no período 2001/2002, o DENSP-FUNASA repassou parte dos
seus recursos para os municípios que atenderam a esses critérios, por meio de convênios que previam o
desenvolvimento dos três tipos de ações referidas, tanto de forma isolada como combinadas. Para esses
convênios foi destinado o valor global da ordem de R$ 1,3 bilhão, que deverá beneficiar 1,5 milhão de
famílias. Até abril de 2004, foram repassados recursos da ordem de R$ 950 milhões. Os municípios que
tiveram seus convênios firmados até julho de 2002, referentes ao desenvolvimento de ações de saneamen-
to, foram incluídos nesta avaliação.
17
CAPÍTULO 5
MARCO CONCEITUAL
INTRODUÇÃO
A avaliação institucional e de políticas públicas tem se tornado um instrumento fundamental e
imprescindível no processo de formulação e aperfeiçoamento das ações do Estado no campo das políticas
sociais. Apesar do consenso quanto à necessidade de se promover tais avaliações, o arcabouço conceitual
e metodológico que fundamenta essa atividade ainda é muito incipiente (Belonni et al., 2000). Para Rico
et al. (1998) a avaliação de políticas e programas sociais tornou-se um desafio tanto para os centros de
pesquisa como para os governos, em face da necessidade de se inovar conceitos e metodologias avaliativas
devido à rejeição aos “modelos tradicionais que não conseguem apreender, na sua totalidade, os
fluxos e nexos entre a tomada de decisão, sua implementação, execução, resultados e impactos
produzidos”. Em face da escassez de literatura teórica e de experiências avaliativas, Belonni et al. (2000)
recomendam uma criteriosa discussão conceitual e metodológica quando da elaboração de instrumentos
avaliativos. Por outro lado, a complexidade dos fenômenos políticos e sociais contemporâneos tem exigi-
do uma abordagem interdisciplinar no processo de avaliação de políticas públicas.
Essas avaliações envolvem a análise dos processos de formulação, do desenvolvimento, das ações
implementadas ou dos fatos ocorridos, resultados e impactos obtidos e, ainda, a análise do contexto
histórico e social em que é concebida. Não se restringe, portanto, ao exame comparativo entre o proposto
e o alcançado (Belonni et al., 2000). Um processo de avaliação envolve um julgamento, diz respeito à
atribuição de um valor a uma determinada política ou programa governamental (Contandriopoulos,
1994; Hartz, 1998). Para Arretche (1998), a avaliação é uma medida de aprovação ou desaprovação de
uma política ou programa público, segundo uma certa concepção de justiça.
Figueiredo & Figueiredo (1986) fazem uma distinção entre avaliação política e avaliação de
política. A primeira tem por objetivo analisar e elucidar os critérios que fundamentam uma política, as
razões que a tornam preferível em relação a outra, sendo que a mesma deve contribuir para o bem-estar
da população. Esse tipo de avaliação não entra no mérito da apropriação dos benefícios da política pela
população. Além disso, a avaliação examina o caráter político do processo decisório que levou à adoção
de uma determinada política, como também os valores e critérios políticos que a orientam, independente
da engenharia institucional e de seus resultados (Rico et al., 1998).
Por outro lado, a avaliação de política busca examinar a engenharia institucional e os traços
constitutivos dos programas (Rico et al., 1998). Esse tipo de avaliação busca elucidar se a política está
condizente com princípios de justiça política e social minimamente aceitos e sobre os quais existe um consen-
so mínimo e, ainda, se houve a efetiva apropriação dos benefícios (Figueiredo & Figueiredo, 1986).
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
18
Assim, um modelo de avaliação deve sustentar-se em um paradigma de sociedade que esteja articulado
com a dinâmica de produção da realidade, indo além da simples coleta de dados. Tal paradigma deve acompa-
nhar as mudanças dos processos sociais e urbanos e as mudanças mais profundas de concepção da sociedade
e do estilo de desenvolvimento (Borja, 1997). Ao referir-se à construção de um modelo de sistema de indicado-
res para avaliação da realidade, Pfaff (1975) defende que o mesmo deve ser definido de forma mais ampla como
um modelo de controle, com um conjunto de metas, opções, parâmetros, variáveis, entre outros.
AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
Embora seja uma atividade muito antiga, só recentemente a “avaliação” vem ganhando novos contor-
nos, envolvendo múltiplas aplicações, principalmente quando se refere à avaliação de políticas públicas, em
decorrência da exigência das sociedades modernas para obter o máximo de eficiência e efetividade das
aplicações dos investimentos públicos.
A área de Economia foi pioneira no desenvolvimento de métodos para indicar as vantagens e custos
dos programas públicos. Entretanto, as abordagens empregadas neste campo de conhecimento têm se mos-
trado insuficientes para a avaliação de programas sociais, em especial os de saúde, saneamento e educação.
Essa constatação tem estimulado iniciativas voltadas para o desenvolvimento de novas metodologias em uma
perspectiva interdisciplinar (Contandriopoulos et al., 2000).
Nas sociedades modernas as intervenções públicas fazem parte do cotidiano da vida dos indivíduos,
visto ser uma das funções do Estado formular e implementar políticas que elevem as condições de vida das
populações. Todavia, como nos países em desenvolvimento, de modo geral, os recursos públicos são bastante
escassos em relação às necessidades, torna-se inevitável que os governos tenham que fazer opções tanto
acerca dos problemas prioritários a serem contemplados, como das tecnologias que resultem em maior
custo-benefício (Contandriopoulos et al., 1994). Por outro lado, como muitas vezes os efeitos benéficos
esperados são de difícil percepção e aferição, principalmente quando estão envolvidos objetos tão complexos
como saúde e saneamento, impõe-se a realização de avaliações destas intervenções, com caráter multidisciplinar,
utilizando-se de metodologias quantitativas e qualitativas.
Por diversas razões, seja de ordem política, técnico-científica ou gerencial, avaliar intervenções sociais
representa uma atividade relevante para o processo decisão-ação, por produzir informações que subsidiam
gestores e financiadores, para definição de prioridades, para apresentar à sociedade resultados dos investi-
mentos realizados e para apontar modificações e adequações necessárias às intervenções já implementadas.
Em paralelo a essa perspectiva pragmática que resulta da pesquisa avaliativa, existem outras grandes
vantagens envolvidas na sua realização. Em primeiro lugar, ao envolver os responsáveis pela formulação e
implementação de políticas e, mais a largo, a sociedade em geral, possibilita ampliar as interações entre estes
vários atores e mediar estas interações por informações técnico-científicas qualificadas. Um outro aspecto não
menos importante é o de que a pesquisa avaliativa se constitui em uma importante fonte de conhecimento
sobre elementos da dinâmica desta própria sociedade. Sabe-se que, muitas das políticas sociais, ao terem
como propósito central implementar intervenções que tragam incrementos no estado de bem-estar de uma
população, estão em verdade modificando os determinantes que estão na base dos níveis iniciais de bem-estar
ou de saúde dessa população. Ao produzir conhecimento de como a intervenção modificou o estado anterior
de bem-estar, a avaliação está também ajudando a entender como os determinantes atuam.
19
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
No campo da saúde, tem se tornado consenso o reconhecimento da necessidade de se avaliar a
eficácia das tecnologias curativas ou preventivas antes da recomendação da sua adoção pelo sistema de
saúde. Nos dias atuais, não é aceitável que qualquer nova tecnologia de saúde, como uma vacina ou um
medicamento, seja introduzida para uso pela população sem passar por sistemas formais de avaliação.
As políticas e programas de saúde pública são intervenções complexas que operam múltiplas tecnologias,
mas que não podem ser confundidas com meras somatórias destas e, portanto, devem ser objeto de avalia-
ções específicas. Um programa de imunização, por exemplo, embora tenha por base uma ou mais vacinas
(que, para serem adotadas, devem ter tido as suas eficácias comprovadas), não pode ser confundida com
estas. Ao se proceder à avaliação de um programa de imunização serão geradas novas informações, entre as
quais se inclui o efeito destas tecnologias em condições reais de utilização, ou seja, as suas efetividades. A
efetividade, além de ser dependente da eficácia da tecnologia, depende também de vários elementos desta,
como efeitos adversos, além de outros ligados à implementação do programa tais como custos e dificuldades
operacionais, dentre outros.
Grande parte das tecnologias restritas ao campo da saúde é direcionada para interferir no curso de
doenças já instaladas, e um número menor para preveni-lo e assim reduzir a sua ocorrência. Distintamente,
uma série de políticas públicas sociais ou econômicas tem efeitos potenciais sobre a saúde ao atuarem sobre
os processos geradores de ocorrência ou os determinantes das doenças ou outros eventos da saúde, portan-
to, afetando diretamente a incidência destes eventos. Dentre estas, cabe destacar as intervenções de sanea-
mento ambiental que, ao propiciarem melhorias nos níveis de higiene dos indivíduos e do seu contexto,
reduzem o contato das populações com grande variedade de vetores, reservatórios e veículos inanimados de
agentes patogênicos e, assim, diminuem as chances de adoecimento por diversas doenças. Ademais, essas
intervenções, ao propiciarem água facilmente acessível, além de meios mais adequados para coleta e disposi-
ção de esgotos sanitários e resíduos sólidos, elevam a qualidade de vida e influenciam no modo de vida das
populações beneficiadas, o que, em última instância, pode também ter efeitos positivos sobre o bem-estar e a
saúde e, indiretamente, na redução de diversas enfermidades relacionadas ao desgaste físico.
COMPLEXIDADE DOS OBJETOS DESTE ESTUDO: SAÚDE E SANEAMENTO
Apesar do seu uso rotineiro e com diferentes sentidos, não existe um conceito unificado de saúde, de
modo que o seu uso é sempre acompanhado de uma série de imprecisões que criam dificuldades de ordem
conceitual, metodológica ou operacional. As definições disponíveis estão situadas em uma grande diversida-
de, e vão desde as mais abrangentes e operacionalmente intangíveis (o estado de completo bem estar físico,
mental e social), até aquelas conceitualmente limitadas, enquanto operacionalmente úteis (a ausência de
doenças). Outro aspecto a destacar é o fato de que os níveis de saúde de uma população são determinados
por múltiplos fatores, o que significa dizer que as condições de saúde prevalentes em uma população em um
dado momento de tempo resultam de uma complexa interação de fatores de diversas categorias atuando
sobre a população. A avaliação, portanto, constitui-se em um esforço de separar os efeitos da intervenção em
foco, de uma série outra de fatores e intervenções, que estão de maneira contínua atuando sobre as popula-
ções. Essa separação é, sem dúvida, a principal dificuldade envolvida na avaliação dos programas sociais.
O saneamento ambiental constitui-se de um conjunto de ações que visam proporcionar níveis
crescentes de salubridade ambiental em determinado espaço geográfico, em beneficio da população que
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
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habita este espaço. Essas ações, se adequadamente implementadas, podem produzir uma série de efeitos
positivos sobre o bem-estar e a saúde das populações beneficiadas. Porém, mais do que isto e em conse-
qüência dos diferentes efeitos que proporciona, o saneamento ambiental adequado é considerado parte
constituinte do modo moderno de viver e um dos direitos fundamentais dos cidadãos das sociedades
contemporâneas.
Nas sociedades hoje ditas desenvolvidas, as melhorias das condições ambientais em que viviam suas
populações evoluíram em paralelo com o intenso desenvolvimento social e econômico observado a partir
do final do século XIX, estando, portanto, intrínseca e inseparavelmente interligados a este processo inten-
so de transformações ocorridas em tais sociedades desde aquele momento até os dias atuais. Já as socieda-
des ditas em desenvolvimento tiveram seus processos de transformação bastante diferenciados daquelas
anteriormente referidas, tendo-se gerado como conseqüência o que na atualidade se constitui em uma das
suas principais características: a manutenção de parcelas significativas das suas populações sem acesso a
bens e serviços que são considerados direitos fundamentais no modo moderno de viver. Além de todos os
efeitos negativos, o fato de parcelas da população nesse grupo de sociedades terem paulatinamente obtido
acesso a esses bens e serviços, cria novas situações, em que iniqüidades que já existiam entre nações,
passem a existir no interior de cada sociedade. Tornando, em conseqüência, cada vez menos tolerável o
não acesso de amplas parcelas da população a tais bens e serviços. Como conseqüência, os governos
desses países são permanentemente pressionados a implementar políticas e ações específicas que propici-
em ambientes adequadamente saneados a parcelas importantes das suas populações e, desta forma, con-
tribuam para reduzir as iniqüidades existentes.
O Brasil apresenta imensos déficits nessa área, pois parcelas significativas da sua população não têm
acesso aos benefícios do saneamento ambiental. Essa situação é visível tanto quando se comparam as regiões
do país ou quando se comparam áreas da maioria das grandes cidades, e está na base dos grandes diferenci-
ais inter e intra-regionais, intra-urbanos e urbano-rural observado nas condições de vida e de saúde. Não por
acaso, políticas de saneamento vêm sendo identificadas como prioridades que poderiam reduzir esses imen-
sos diferenciais, constituindo-se em um importante fator de eqüidade.
A Figura 5.1 revela a acentuada diferença existente na difusão espacial das redes de saneamento no
território brasileiro, com destaque para a presença de rede de abastecimento de água e dos serviços de coleta
de lixo e limpeza urbana na maioria dos municípios brasileiros, em contraste com a concentração espacial da
rede de esgotos sanitários, cuja presença continua restrita à Região Sudeste e às áreas mais urbanizadas das
demais regiões do País.
Este tema aprofunda a questão em torno da desigualdade espacial verificada na distribuição dos
serviços de saneamento, apontando na direção do acesso diferenciado às redes por parte da população,
uma vez que a existência da rede nem sempre significa um amplo atendimento da população, dada sua
pequena extensão face ao número de domicílios atendidos. Nesse contexto, a universalização dos serviços
de saneamento é a grande meta a ser alcançada no País. O programa de saneamento, objeto desta proposta
de avaliação, apesar de sua magnitude e diversidade, envolvendo municípios de todas as regiões do país,
não preenche os enormes déficits acumulados do setor, principalmente no que se refere ao esgotamento
sanitário.
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Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
Norte Nordeste Sudeste
Sul
Centro-Oeste
%
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Rede geral de abastecimento de água Rede coletora de esgôto
Limpeza urbana e coleta de lixo
Drenagem urbana
Figura 5.1. Proporção de municípios com serviços de saneamento básico, por tipo de serviço, segundo as
Grandes Regiões, 2000
Fonte: IBGE
AVALIAÇÃO EM SAÚDE E SANEAMENTO
O fato de ser possível implementar extensos programas de saneamento em períodos de tempo relativa-
mente curtos faz com que os seus efeitos se diferenciem com relação ao conjunto de mudanças que estão
ocorrendo em uma dada sociedade, o que torna possível que estas intervenções possam, de alguma forma, ter
esses efeitos identificados e, eventualmente, mensurados.
No presente caso, em que será avaliado um programa de saneamento em curso em mais de 1.800
municípios de um país de dimensões continentais, como o Brasil, ter-se-á uma oportunidade única para
mensurar o impacto desta política sobre o bem-estar e a saúde de populações que apresentam condições de
vida diferenciadas, do ponto de vista do ambiente físico e, principalmente, do ponto de vista econômico, social
e cultural. Nesse contexto, torna-se de fundamental importância empreender um conjunto organizado de
esforços que permita registrar eventuais efeitos dessas intervenções, não somente sobre o estado de saúde e
bem-estar, mas também sobre outros aspectos relevantes que resultem úteis para o conhecimento da nossa
realidade e que tragam benefícios em termos de aprimorar a continuidade da sua implementação no futuro.
Contudo, avaliar a efetividade de ações sanitárias sobre a situação de saúde das populações beneficiadas é
sempre, por si só, uma complexa tarefa, em função tanto de dificuldades conceituais como metodológicas,
resultantes das características dinâmicas e multifatoriais dos determinantes das condições de saúde das popu-
lações e das suas intrincadas relações com os aspectos econômicos, sociais e culturais de cada sociedade, em
cada momento histórico (Vieira da Silva e Formigli, 1994; Santana et al., 1997).
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
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Uma pesquisa avaliativa deve ampliar a base de evidências existentes sobre a questão e fornecer expli-
cações plausíveis acerca dos resultados encontrados, examinando procedimentos de implementação e inves-
tigando fatores mediatos contextuais. Por não se conhecer precedente na literatura de avaliação de um
programa de saneamento desta amplitude e implementado em um período de tempo relativamente curto, e
que, além disso, se propõe abordar tantos aspectos, fica evidente que o esforço para superar as dificuldades
de sua realização terá que ser enfrentado pela inclusão de diversos eixos que utilizarão diferentes recursos
metodológicos, mas que se espera que os resultados finais propiciem um conjunto integrado de conhecimen-
tos úteis.
Desse modo, esta avaliação não deve ser considerada como um único estudo, mas como um conjunto
organizado de estudos, e a complexidade do seu objeto exige a análise de diversos eixos e o envolvimento de
diferentes disciplinas e estratégias, com vistas à obtenção de resultados consistentes e confiáveis.
EIXOS E DIMENSÕES DA AVALIAÇÃO
A presente proposta de avaliação se respalda em eixos que utilizam recursos metodológicos diferentes,
de forma a contemplar as diversas interfaces da relação saúde e saneamento. Em um processo de discussão
conduzido pela OPAS e o Ministério da Saúde, os seguintes eixos foram definidos: Saneamento, Antropo-
logia, Epidemiologia e Economia da Saúde.
Esse conjunto de eixos contempla algumas dimensões de análise que objetivam avaliar aspectos parti-
culares do impacto na saúde das ações de saneamento, traduzidas em questões específicas de infra-estrutura,
organização, custos e benefícios das ações de saneamento; de percepção da população envolvida; e do
impacto epidemiológico. De forma geral, essas dimensões retratam o cenário em que as ações de saneamento
serão implementadas, procurando captar e avaliar as diversas relações entre o homem e o meio ambiente,
conforme ilustrado na Figura 5.2.
Na Figura 5.2 encontram-se representadas as dimensões de avaliação contempladas pelos diferentes
eixos, a saber: gestão dos serviços de saneamento, condições sanitárias e aspectos tecnológicos (Eixo Sanea-
mento); aspectos sócio-culturais (Eixo Antropológico); impactos epidemiológicos (Eixo Epidemiológico) e
avaliação econômica (Eixo Econômico). Algumas dessas dimensões são descritas, de forma simplificada, a
seguir.
DIMENSÃO DA GESTÃO DOS SERVIÇOS DE SANEAMENTO
Segundo Moraes (1997), o sistema de gerenciamento de serviços públicos de saneamento é formado
pelo conjunto de agentes institucionais, governamentais e entidades privadas, que tem o objetivo de executar
a política de saneamento adotada, tendo como principal instrumento o plano de saneamento. Para o autor, a
gestão dos serviços de saneamento deve estar respaldada em uma política de saneamento, na qual estejam
explicitadas a sua diretriz geral, o seu modelo de gerenciamento, a organização legal e institucional e o sistema
de gerenciamento que reúna os instrumentos para o planejamento, a execução, a operação e a avaliação das
obras e serviços de saneamento, segundo princípios de uma política pública de saneamento. Moraes (1997)
considera, ainda, que as ações governamentais estão refletidas em leis, decretos, normas e regulamentos
vigentes.
23
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
Figura 5.2. Desenho do cenário de implementação das ações de saneamento
Condições
sanitárias
Aspectos
tecnológicos
Aspectos
socioculturais
Impacto
epidemiológico
Gestão de serviços de
saneamento
Avaliação econômica
DIMENSÃO DAS CONDIÇÕES SANITÁRIAS
O termo “condição sanitária” expressa o nível de salubridade ambiental, se relacionado à existência de
condições higiênicas das moradias e do espaço público, envolvendo desde as instalações hidráulicas sanitá-
rias domiciliares aos sistemas públicos de saneamento. Os sistemas de saneamento envolvem diversas solu-
ções individuais e coletivas para o abastecimento de água, destino dos esgotos e dos resíduos sólidos e
drenagem das águas pluviais. Esses sistemas devem ter qualidade e quantidade suficientes para a promoção da
saúde pública e controle da poluição ambiental.
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DIMENSÃO DE ASPECTOS TECNOLÓGICOS
Essa dimensão de avaliação contempla os aspectos referentes às tecnologias utilizadas nos projetos de
saneamento, assim como o processo de implementação das obras e serviços e a posterior operação dos
sistemas e instalações executadas. Considera-se que as tecnologias devem ser apropriadas a cada realidade do
ponto de vista sociocultural e ambiental, de forma a se obter eficácia na utilização e operação das obras e
serviços implantados e eficiência no processo de implementação com relação aos custos e ao cronograma
físico e financeiro. Nesse aspecto, terá grande importância o apoio metodológico e o trabalho integrado com
o Eixo Antropologia, responsável pela dimensão sociocultural. Embora, nas últimas décadas, a comunidade
técnico-científica da engenharia sanitária tenha despertado o interesse e feito um esforço para a adoção de
tecnologias mais apropriadas a cada realidade local, existe ainda um longo caminho para que, efetivamente,
os projetos sejam concebidos e implantados atendendo a esse princípio.
DIMENSÃO ECONÔMICA
Esta dimensão busca avaliar a eficiência das intervenções em saneamento no que se refere ao alcance
e aos resultados das ações implementadas, principalmente em termos de melhorias nos indicadores
epidemiológicos e sanitários. Possibilita, também, verificar se os benefícios gerados pelas medidas implementadas
se distribuem de forma eqüitativa entre a população.
A realização de avaliações econômicas, por sua vez, exige a seleção de instrumentos objetivos que
fundamentem e orientem decisões de investimentos sociais. Nesse sentido, a escolha das técnicas disponíveis
de avaliação econômica requer um conhecimento nítido do fenômeno em questão e o desenho metodológico
mais pertinente dependerá em grande parte do que a investigação deseja identificar.
MODELO EXPLICATIVO DE CAUSA E EFEITO
Como mostrado anteriormente, existe um alto grau de complexidade na relação saúde e ambiente, que
pode ser avaliada com foco em diferentes dimensões. Essa relação pode ser vista como uma relação de causa
e efeito em que determinados condicionantes, associados à falta de saneamento, acabam por gerar efeitos
negativos na saúde.
Para explicar essa relação de causalidade, são utilizados, freqüentemente, modelos que representam
um esforço de aproximação da realidade. Para retratar a complexa relação entre saúde e saneamento, optou-
se por se adotar o modelo explicativo proposto pela Organização Mundial de Saúde – OMS (Corvalan et al.,
1996), estruturado em uma cadeia de causa e efeito, conhecido pela sigla em inglês FPEEEA - Forças Motrizes,
Pressões, Estados, Exposições, Efeitos e Ações.
O MODELO FPEEEA
A Organização Mundial da Saúde (OMS), preocupada com os reflexos do comprometimento da salu-
bridade ambiental na saúde humana tem promovido estudos para o melhor entendimento da relação meio
ambiente – saúde, de forma a subsidiar a definição de políticas e estratégias para esses setores. Dentro desse
esforço, situa-se o projeto HEALDLAMP (Health and Environment Analysis for Decision-making – Análise
da Saúde e do Meio Ambiente para a Tomada de Decisão), que tem por objetivo “a melhoria do apoio à
informação para as políticas de saúde ambiental e a disponibilização de informações sobre os impactos da
25
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
saúde ambiental em vários níveis aos responsáveis pela decisão, profissionais de saúde e ao público” (Briggs
et al, 1996).
A partir da adaptação da estrutura Pressão - Estado - Resposta, utilizada na construção de sistemas
de indicadores da Organization for Economic Cooperation and Development - OECD (baseada em
trabalho desenvolvido pelo governo do Canadá), a OMS propôs a estrutura conceitual para indicadores de
saúde ambiental. O modelo FPEEEA (Forças Motrizes, Pressões, Estados, Exposições, Efeitos e Ações)
busca explicar a maneira como várias forças motrizes geram pressões que afetam o estado do meio ambi-
ente que expõe a população a riscos e afetam a saúde humana (OECD, 1993).
A matriz de causa e efeito proposta pela OMS é representada por uma cadeia intitulada Desenvolvimen-
to - Meio Ambiente - Saúde, que revela o entendimento de que a saúde é o resultado da interação entre
desenvolvimento e meio ambiente. Assim, por exemplo, as forças motrizes do desenvolvimento, represen-
tado pela urbanização e a industrialização, geram pressões sobre o meio ambiente que deterioram o seu
estado e expõe a população à riscos, que podem gerar efeitos negativos para a saúde humana.
O Ministério da Saúde, responsável pela implementação do Sistema Único de Saúde (SUS), tem como uma
das suas responsabilidades proteger a população de danos á saúde. Nessa perspectiva, vem financiando ações de
saneamento em larga escala com o propósito de reduzir riscos decorrentes da deterioração do meio ambiente
urbano. O modelo FPEEEA adequa-se ao objetivo principal deste projeto que é o de mensurar os efeitos destas
intervenções sobre a saúde das populações beneficiadas, razão pela qual foi adotado nesta avaliação.
Os componentes previstos no modelo FPEEEA proposto pela OMS (Corvalán, 1996) são apresentados
na Figura 5.3. Ressalta-se que essa metodologia prevê a definição de indicadores nos vários pontos da
cadeia.
Conforme já explicitado, existe um alto grau de complexidade na relação saúde e ambiente. Além disso,
todo modelo traz em si limitações, pois se constitui em uma tentativa de aproximação e explicação da realidade.
Ou seja, qualquer que seja o modelo adotado não é possível apreender a realidade em sua totalidade, pois a
mesma é produto de um processo histórico, econômico e social complexo. A cadeia de causa e efeito adotada
cumpre em parte este papel, pois tem se mostrado útil na tentativa de explicar a relação saúde e ambiente.
Em face da complexidade dos fenômenos que envolvem esta avaliação e, ainda, considerando que nem
todos os fenômenos podem ser mensurados através de indicadores, pretende-se privilegiar no seu modelo as
ações de saneamento e alguns efeitos em detrimento de outros. Em princípio, devido ao objetivo principal
desta avaliação, privilegiou-se o efeito na saúde humana, embora considerando-se, também, os efeitos no
meio ambiente, na exclusão social e na cidadania. O desenvolvimento conceitual da cadeia de causa e efeito
será apresentado no Capítulo 6.
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
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Forças motrizes
Pressões Produção
Figura 5.3. Modelo FPEEEA: cadeia de Desenvolvimento - Meio Ambiente - Saúde (Corvalán et al., 1996)
Crescimento da
população
Desenvolvimento
econômico
Tecnologia
Consumo Disposição dos resíduos
Estado
Riscos naturais
Disponibilidade de
recursos
Níveis de poluição
Exposição
Exposição externa Dose de absorção
Dose orgânica alvo
Efeito Bem-estar
Morbidade Mortalidade
Ação
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29
CAPÍTULO 6
ESTRATÉGIA DA AVALIAÇÃO
Nas últimas décadas, várias ações e atividades vêm sendo desenvolvidas no Brasil, em decorrência
da adoção de políticas públicas direcionadas para a redução das acentuadas desigualdades sociais e,
principalmente, para compensar efeitos adversos decorrentes das várias crises econômicas que o país tem
enfrentado. Todavia, a aferição do cumprimento dos objetivos propostos por essas políticas não tem se
constituído em uma prática comum.
Não se têm dúvidas quanto ao papel que desempenha um adequado sistema de saneamento para a
melhoria da qualidade de vida das populações, principalmente, pelo seu potencial em evitar a ocorrência de
doenças infecciosas e parasitárias e a convivência com animais nocivos à saúde. Sabe-se que os benefícios
dessas intervenções dependem, por um lado, da sua implantação e operação plena, não se restringindo à
disponibilização de recursos financeiros pois estão na dependência da capacidade de gestão do poder
municipal e, por outro, do nível educacional dos usuários, para que possam ser utilizados adequadamente.
Ao propor esta avaliação, o Ministério da Saúde centrava-se em mensurar o impacto epidemiológico
sobre a saúde das populações beneficiadas pelas extensas ações de saneamento que estavam sendo
implementadas. Entretanto, no decorrer dos vários seminários realizados para se definir a concepção e a
metodologia da avaliação, entendeu-se que outras dimensões, além da epidemiológica, deveriam ser
contempladas, com vistas a não somente obter uma maior compreensão das mudanças que estas interven-
ções produziriam sobre a saúde, como também sobre as tecnologias envolvidas na implementação das
ações, sobre a forma que a população percebia esta intervenção e seus benefícios, além de mensurar o
custo-benefício e o custo-efetividade.
Deste modo, esta proposta de avaliação foi ampliada no seu escopo, necessitando para sua concep-
ção do esforço e articulação de equipes multidisciplinares, com o propósito comum de conceber projetos
que atendessem aos objetivos específicos relacionados aos diferentes campos de conhecimento e, ao mesmo
tempo, atendessem aos objetivos gerais e comuns da avaliação. Para facilitar o entendimento dos diversos
eixos desta avaliação e suas intrincadas relações, apresenta-se esquematicamente, na Figura 6.1 e nos demais
ítens deste capítulo, a síntese da proposta com os seus diferentes níveis e momentos de coleta de dados, e, nos
Capítulos 8 a 11 encontram-se detalhadas as metodologias específicas de cada um deles.
CONCEPÇÃO DA METODOLOGIA DA AVALIAÇÃO
Uma freqüente tentação em estudos desta natureza é a de conceber a avaliação meramente como
um conjunto de indicadores a serem levantados, orientando-a primordialmente pelas possibilidades de
obtenção de dados e não pelos fins a que tais indicadores prestar-se-iam, em suma, privilegiando os meios
e não os fins. Este viés traria como conseqüência uma fragilidade conceitual, resultando em desarticulação
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entre as informações a serem obtidas e as análises e, sobretudo, em obscuridade na interpretação dessas
informações. Conseqüentemente, ter-se-ia dificuldade em vislumbrar o sucesso ou o insucesso do programa
e a contribuição mais ampla dele decorrente. De modo a escapar dessa lógica, optou-se pela construção
cuidadosa do modelo de avaliação, segundo um processo gradual de definições de suas diretrizes
metodológicas, com respaldo em uma base conceitual coerente.
Assim, preliminarmente à concepção do modelo de avaliação, algumas questões prévias foram
delineadas, de tal forma a orientar os passos a serem adotados nessa concepção:
Questão 1 – qual deve ser a função da avaliação?
Questão 2 – como avaliar?
Questão 3 – quais aspectos devem ser avaliados?
Questão 4 – quais efeitos devem ser esperados das ações previstas no programa e como são os
vínculos relacionais que resultam desses efeitos?
Em um processo de discussão dialético e por aproximações sucessivas, as respostas às questões foram
determinadas por meio dos seguintes procedimentos:
Procedimento 1 – estabelecimento dos objetivos da proposta metodológica de avaliação, conforme
já especificado no Capítulo 2;
Procedimento 2 – construção do modelo metodológico de avaliação;
Procedimento 3 – definição das dimensões de análise a comporem a avaliação (descritas no
Capítulo 5), bem como, ao se especificar o modelo metodológico, sua natureza, temporalidade e
abrangência;
Procedimento 4 – construção de modelo explicativo de causa e efeito – modelo FPEEEA.
O desenvolvimento das questões a serem investigadas na avaliação revelou-se essencial para assegurar
um adequado substrato conceitual ao projeto de avaliação, na medida em que a sua ausência poderia condu-
zir a uma avaliação irrefletida e com objetivos difusos, desarticulando a análise posterior de seus resultados.
DESCRIÇÃO DO MODELO GERAL DE AVALIAÇÃO
Para efeito da avaliação objeto deste projeto, visualiza-se a relação entre as ações de saneamento e seus
efeitos na comunidade, conforme modelo apresentado na Figura 6.1.
TEMPORALIDADE
De acordo com o desenho apresentado (Figura 6.1), para que a avaliação contemple a evolução
temporal da intervenção o modelo estratégico adotado inclui três estágios bem definidos em função do
cronograma de execução das obras, a saber: (a) Estágio inicial; (b) Estágio intermediário; e, (c) Estágio final.
Estágio inicial - refere-se ao período em que as intervenções ainda não ocorreram;
Estágio intermediário - refere-se ao período em que as ações de saneamento estão sendo
implantadas e as informações devem ser levantadas, prioritariamente, por meio de dados primários;
Estágio final - refere-se ao período em que as obras de saneamento já estão finalizadas.
31
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
Os estágios descritos caracterizam a situação da ação de saneamento, tendo início e fim bem definidos.
Por outro lado, o início e duração dos marcos temporais da avaliação (t
0
,t
1
e t
2
), para os diferentes eixos, são
variáveis, em função da estratégia metodológica a ser adotada. Porém, ressalta-se que esses marcos temporais
devem ser localizados dentro dos referidos estágios. A localização dos marcos temporais da avaliação de cada
eixo será apresentada nos capítulos específicos (Capítulos 8 a 11).
NÍVEIS DA AVALIAÇÃO
Uma importante dificuldade em avaliações dessa natureza reside na necessária conciliação entre
abrangência e profundidade das informações geradas, de forma a garantir que a avaliação realizada refira-se
efetivamente ao universo de ações avaliadas e que possa ser extrapolada a outras intervenções da mesma
natureza. Por outro lado, a avaliação deve incluir indicadores que assegurem informações precisas, consis-
tentes e confiáveis. Para contemplar os dois âmbitos de necessidades, idealizou-se uma avaliação em três
níveis, nos quais abrangência e profundidade se completam sucessivamente:
•Estudos no total dos 1.846 municípios que tiveram programas de saneamento contratados pelo
DENSP/FUNASA, entre janeiro de 2001 e julho de 2002;
Estudos em uma amostra, composta por cerca de 30 municípios selecionados segundo uma
adequada representatividade do universo; e,
Efeitos sobre a saúde e de
natureza ambiental e
sociopolítica
(após ação de saneamento)
Figura 6.1. Modelo simplificado das ações de saneamento em uma comunidade
Estágio durante a ação
de saneamento
COMUNIDADE
Estágio inicial Estágio após ação
Efeitos sobre a saúde e de
natureza ambiental e
sociopolítica
Cenário de
atendimento antes
das ações de
saneamento
(Figura 5.2)
Cenário de
atendimento
modificado após as
ações de
saneamento
AÇÃO DE
SANEAMENTO
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32
População do estudo
Amostra
Estudo de caso
Figura 6.2. Articulação entre os três níveis da avaliação
ABRANGÊNCIA PROFUNDIDADE
Estudos de caso - escolhidos a partir da amostra de municípios que sofreram a intervenção.
Os três níveis de avaliação articulam-se conforme a representação da Figura 6.2.
Ressalte-se a importância do aprofundamento progressivo, mesmo às custas de perda de abrangência e
representatividade. Ainda que o país disponha de uma adequada base de informações de saúde e saneamento,
crescentemente aperfeiçoada com os diagnósticos e censos realizados (Censo Demográfico, Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios, PNSB, SNIS e outras bases), as fontes secundárias freqüentemente limitam a análise
da informação, por ocultarem dimensões importantes da realidade. O levantamento de dados primários, quanti-
tativos e qualitativos, em uma amostra de municípios, propiciará uma maior aproximação com a realidade
concreta das modificações que porventura venham a acontecer, após a implantação das obras de saneamento, às
questões sanitárias, e permitirá ainda fazer mensurações de custo-benefício e custo-efetividade.
Em função da metodologia de obtenção de dados, e mesmo da diferença entre indicadores a serem
construídos nos três níveis da avaliação, estes fornecerão distintas informações, com algumas interfaces.
Assim, será indispensável a análise integrada dos três níveis que recorrerá tanto a métodos quantitativos de
agregação de informações e indicadores, no qual a construção de índices pode se mostrar uma possibilidade,
quanto a métodos qualitativos de análise.
Desse modo, todos os quatro eixos da avaliação prevêem coleta de dados primários e secundários.
Com os dados secundários, será avaliada a totalidade dos municípios. Em uma amostra destes municípios é
que serão conduzidas coletas de dados primários, além de estudos de casos que compõem os projetos de
antropologia e economia da saúde. Com o propósito de realizar a avaliação integrada nos quatro eixos, as
populações estudadas serão as mesmas para todos eles. Assim, a metodologia do processo de seleção da
amostra e estudos de caso foi definida de modo compartilhado com as quatro diferentes equipes e com os
demais componentes do Grupo Tarefa. Esta metodologia encontra-se detalhada no Capítulo 7 que antecede a
apresentação dos projetos.
33
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
Entende-se que, não obstante a grande complexidade inerente à magnitude desta avaliação, esta estra-
tégia metodológica tornará possível que os resultados gerados pelos seus diferentes eixos sejam analisados em
conjunto, visando fornecer um quadro mais claro das intervenções e dos seus efeitos sobre as condições de
vida, bem-estar e saúde das populações beneficiadas. Por outro lado, também possibilitará que, paralelamen-
te, cada um dos eixos da avaliação realize os seus projetos e análises de interesse específico.
A concepção e a elaboração deste modelo de avaliação demandou um período de tempo relativamente
longo e um esforço técnico-científico que mobilizou profissionais de distintas áreas do conhecimento que
atuam em serviços e em instituições de ensino e pesquisa. Todavia, em paralelo, houve o esforço para que
grande parte da estratégia metodológica desenvolvida venha a ser facilmente reproduzida pelos serviços de
saúde, sem prejuízo do seu rigor científico.
APLICAÇÃO DO MODELO FPEEEA
Os quatro efeitos considerados no desenvolvimento do modelo FPEEEA são descritos a seguir:
Efeito na saúde – está relacionado à saúde humana e representa o impacto das ações de
saneamento na morbi-mortalidade devido à inadequação ou ausência de saneamento no meio;
Efeito no meio ambiente – refere-se ao impacto da ausência das ações de saneamento nos
ecossistemas, sendo incorporado em um esforço de superar a concepção antropocêntrica
geralmente presente nas políticas públicas;
Exclusão social – esse efeito trata da questão da mudança social referente ao saneamento, que
uma política ou modelo de desenvolvimento pode promover;
Efeito na cidadania – considera os reflexos da promoção de ações de saneamento ou de sua
ausência nos níveis de cidadania.
O modelo FPEEEA, apresentado nas Figuras 6.3 a 6.5, dedica-se a explicar os determinantes sobre os
quatro efeitos citados. Assim, em função da ausência ou precariedade do saneamento, procurou-se vislum-
brar, em seqüência, as exposições, os estados, as pressões e as forças motrizes correspondentes, com seus
respectivos fluxos relacionais. Cada célula da cadeia causal (Força motriz, Pressão, Estado, Exposição, Efeito
e Ação) pode ser qualificada e quantificada com o uso de indicadores apropriados. A discussão sobre os
indicadores para os diferentes Eixos da Avaliação será apresentada nos respectivos capítulos.
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34
Figura 6.3. Modelo FPEEEA para as ações de saneamento considerando apenas o efeito sobre a saúde
Pressão
Desperdício de
água pelo
consumidor
Inexistência ou
inadequação de
sistemas de água
Inexistência ou
inadequação de
serviços de água
Inexistência ou
inadequação do
VCQACH
Estrutura tarifária
excludente
Baixo nível de
renda da população
Inexistência ou
inadequação de
sistemas ou
soluções
individuais de
esgotos
Inexistência ou
inadequação de
serviços de esgotos
Inexistência ou
inadequação de
serviços de destino
de lixo
Inexistência ou
inadequação de
sistemas ou solução
individual do
destino de lixo
Inexistência ou
inadequação de
sistemas de
drenagem
Inexistência ou
inadequação de
serviços de
drenagem
Forças
Motrizes
Modelo de
desenvolvimento
ambientalmente
insustentável
Modelo de
desenvolvimento
socialmente
exclud. e política e
economicamente
subordinado
Ausência ou
inadequação de
politicas públicas
de saneamento
Indefinição marco
legal para o setor
de saneamento
Financiamento
público instável e
insuficiente
Processo
acelerado de
urbanização
Política de
desenvolvimento de
recursos humanos
inadequada
Desenvolvimento,
difusão e
apropriação
tecnológica
insuficiente
Precariedade da
democracia
Transparência
insuficiente e
corrupção
Estado
Déficit de água
(irregularidade ou
ausência no
abastecimento)
Água de consumo
contaminada
Esgoto e lixo no
peridomicílio
Esgoto e lixo nas
coleções hídricas
Ambientes
aquáticos
contaminados
Esgoto e lixo no
solo
Moradas
desprovidas de
instalações hidro-
sanitárias
adequadas
Higiene domiciliar
e pessoal
inadequada
Inundações e
empoçamentos
provocados por
drenagem
inadequada
Exposição
População
consumindo água
em quantidade
insuficiente
População
consumindo água
em quantidade
inadequada
População
consumindo
alimento
contaminado
População exposta a
ambiente aquático
contaminado
População em
contato com esgoto
e resíduos sólidos
População exposta
a vetores
População exposta
a inundações e
empoçamento
Efeito
Morbi-mortalidade
ampliada devido à
inadequação de
saneamento
ambiental
Baixo nível de
escolaridade e
ausência programa
de educação
sanitária/
ambiental
35
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
Pressão
Inexistência ou
inadequação de
sistemas de água
Inexistência ou
inadequação de
serviços de água
Forças
Motrizes
Modelo de
desenvolvimento
ambientalmente
insustentável
Mod. de desenvolv.
socialmente
excludente e polit.
e economicamente
subordinado
Ausência ou
inadequação de
politicas públicas
de saneamento
Indefinição marco
legal para o setor
de saneamento
Financiamento
público instável e
insuficiente
Processo
acelerado de
urbanização
Política de
desenvolvimento de
recursos humanos
inadequada
Desenvolvimento,
difusão e
apropriação
tecnológica
insuficiente
Precariedade da
democracia
Transparência
insuficiente e
corrupção
Estado
Esgoto e lixo nas
coleções hídricas
Ambientes
aquáticos
contaminados
Esgoto e lixo no
solo
Degradação de
ecossistemas
Exposição
População exposta a
ambiente aquático
contaminado
População em
contato com esgoto
e resíduos sólidos
Efeito
Ecossistemas comprometidos
Figura 6.4. Modelo FPEEEA para as ações de saneamento considerando apenas o efeito sobre o meio ambiente
Inexistência ou
inad. de sistemas
ou soluções ind. de
esgotos
Inexistência ou
inad. de serviços de
esgotos
Inexistência ou
inadequação de
serviços de destino
de lixo
Inexistência ou
inad. de sistemas
ou solução
individual do
destino de lixo
Inexistência ou
inadequação de
sistemas de
drenagem
Inexistência ou
inadequação de
serviços de
drenagem
Demanda pelos
bens da natureza
principalmente
pela água
Uso e ocupação do
solo inadequado
Inexistência ou
inadequação do
controle ambiental
Desperdício de
água pelo
consumidor
Comprometimento
da disponibilidade
dos recursos
naturais
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36
Figura 6.5. Modelo FPEEEA para as ações de saneamento considerando apenas o efeito sobre a cidadania e exclusão social
Pressão
Uso e ocupação do
solo inadequado
Alocação de
recursos com
critérios de
priorização
inadequados
Inexistência ou ins.
de participação e
controle social
Inexistência ou
inadequação de
sistemas de
drenagem
Forças
Motrizes
Estado
Deslizamentos
provocados por
drenagem ou
ocupação
inadequada
Iniqüidade na
distribuição de
serviços de água,
esgoto, lixo e
drenagem
Mecanismos de
participação e
controle social
insuficientes
Exposição
População exposta
a deslizamento de
terra
População
subtraída do direito
aos serviços de
saneamento
Efeito
Inexistência ou
inadequação de
serviços de
drenagem
Modelo de
desenvolvimento
ambientalmente
insustentável
Mod. de desenvolv.
socialmente
excludente e polit.
e economicamente
subordinado
Ausência ou
inadequação de
politicas públicas
de saneamento
Indefinição marco
legal para o setor
de saneamento
Financiamento
público instável e
insuficiente
Processo
acelerado de
urbanização
Política de
desenvolvimento de
recursos humanos
inadequada
Desenvolvimento,
difusão e
apropriação
tecnológica
insuficiente
Precariedade da
democracia
Transparência
insuficiente e
corrupção
Gestão de serviços
de saneamento de
maneira
centralizada
População sem
acesso a mecan. de
particip. e controle
social em
saneamento
População
desinformada sobre
responsab.
institucionais em
saneamento
Redução dos níveis
de cidadania
Inex. ou inadeq.
entre setores e
internamente setor
saneamento
Insuficiência dos
sistemas de
informação
Clientelismo
político e interesses
econômicos
Participação dos
munic. no exerc. do
poder concedente
c/as concessoões
estaduais
insuficientes
Exclusão social
37
CAPÍTULO 7
PROCEDIMENTOS PARA DEFINIÇÃO E SELEÇÃO DA POPULAÇÃO,
AMOSTRA E CASOS PARA ESTUDO
Em 2001, todos os 2.318 municípios que apresentavam Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)
menor ou igual a 0,500 foram considerados elegíveis para receber financiamento do Ministério da Saúde/
FUNASA destinado a intervenções de saneamento, sendo que para serem atendidos, os governos munici-
pais interessados deveriam apresentar suas propostas e projetos ao DENSP/FUNASA. Devido à limitação de
recursos, a FUNASA precisou priorizar o atendimento a esses municípios, usando para isso os critérios
epidemiológicos dispostos na Portaria nº 176, de 22/03/00, razão pela qual nem todos os municípios que
atendiam ao critério relativo ao IDH foram contemplados.
Deste modo, foram incluídos neste projeto de avaliação todos os 1846 municípios, que haviam
firmado Convênio com a FUNASA entre janeiro de 2001 até julho de 2002, para programas de saneamento
(abastecimento de água, melhorias sanitárias domiciliares e esgotamento sanitário). Esses municípios
estão distribuídos por 21 estados, situados em todas as regiões do Brasil, porém com maior concentração
na Região Nordeste (75,3%), seguida da Região Norte (12,9%), como pode ser visto na Figura 7.1.Essa
situação já era esperada, visto serem estas as regiões mais pobres do país e que, portanto, possuem maior
número de municípios que apresentavam nível de IDH menor ou igual a 0,500.
Figura 7.1. Distribuição dos municípios do estudo por Regiões do Brasil
Centro-Oeste
Nordeste
Sudeste
Sul
Norte
Regiões Brasileiras
Nordeste (75,3%)
Norte (12,9%)
Centro-Oeste (1,0%)
Sudeste (9,8%)
Sul (1,0%)
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
38
A distribuição do número de municípios contemplados, por estado, encontra-se representada na
Figura 7.2. Observe-se que somente os estados do Amapá, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Rio Grande do
Sul, Santa Catarina e o Distrito Federal não foram contemplados.
F igura 7.2. Distribuição dos municípios contemplados por Unidade Federada
Unidades da Federação
São Paulo
Espírito Santo
Mato Grosso
Roraima
Rondônia
Goiás
Acre
Paraná
Amazonas
Sergipe
Pará
Tocantins
Alagoas
R. Gde do Norte
Piauí
Ceará
Pernambuco
Maranhão
Minas Gerais
Paraíba
Bahia
350
300
250
200
150
100
50
0
Número de Municípios
Além de ampla distribuição geográfica, os municípios que vêm sendo beneficiados pelas intervenções
de saneamento apresentam grandes disparidades populacionais, abrangendo desde populações na faixa de
1.000-2.000 habitantes (1,6% do total) até aqueles com mais de 150.000 habitantes (0,4% do total), como é
o caso de Jequié, Juazeiro, Itabuna e Vitória da Conquista na Bahia; Juazeiro do Norte no Ceará; Caruaru em
Pernambuco; e Arapiraca e Maceió em Alagoas. Contudo, a faixa de 5.000 a 10.000 habitantes por município
é a mais abrangente, com cerca de 24,2% do total de municípios. A Figura 7.3 ilustra essa distribuição
populacional, podendo se verificar que aproximadamente 88% dos municípios possuem menos de 30.000
habitantes.
A maioria dos Termos de Convênios de financiamento foi firmada diretamente com os municípios
(61,7%), enquanto 25,9% o fez por intermédio dos estados, e 12,4% por ambos os tipos. Embora fossem
possíveis quatro diferentes formas de gestão (municipal; estadual; particular e federal) e ainda combinações
destas formas, neste estudo predomina a administração exclusivamente estadual ou municipal.
O total de investimento previsto no programa de saneamento da FUNASA, nestes 1846 municípios, foi da
ordem de R$ 1,3 bilhão, havendo uma grande variação dos valores totais em cada município em função dos
diversos tipos de intervenção. Na tentativa de permitir uma visão de conjunto dos valores conveniados, foi
utilizado o conceito de investimento per capita. Para tanto, utilizou-se o valor previsto para as diversas ações
de saneamento e dividiu-se pela população total do município. Levando-se em conta que as ações de saneamento
não atenderiam a toda a população do município, o investimento per capita deve ser visto com algum
cuidado. Entretanto, esse indicador permitiria ter alguma idéia da abrangência da ação no município.
39
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
A Tabela 7.1 apresenta os extremos do indicador investimento per capita para cada uma das
combinações das ações de saneamento apresentadas anteriormente. A combinação de Água + Esgoto +
Melhorias Sanitárias Domiciliares apresentou a maior variação do investimento per capita (R$ 3,00 a R$
954,00) e o mais elevado valor de mediana (R$ 155,50), enquanto a menor mediana era apresentada pelas
Melhorias Sanitárias Domiciliares e a menor variação pela combinação Água + Esgoto.
Figura 7.3. Distribuição dos municípios segundo faixa populacional
500
400
300
200
100
0
Número de Municípios
Até 2
2 a 5
5 a 10
10 a 15 15 a 20
20 a 30
30 a 50
50 a 100
100 a
150
Acima
de 150
1,6%
15,3%
24,2%
18,7%
14,6%
13,5%
7,1%
4,1%
0,6%
0,4%
População (hab. x 1.000)
Tabela 7.1. Número de municípios e valores per capita de investimento segundo tipo de intervenção de
saneamento
Tipo de intervenção
Abastecimento de água
Abastecimento de água + esgoto
Abastecimento de água + melhorias sanitárias domiciliares
Abastecimeto de água + esgoto + melhorias sanitárias
Esgoto
Esgoto + melhorias sanitárias domiciliares
Melhorias sanitárias domiciliares
Número de
municípios
Valor per capita (R$)
Máximo
Mediana
205
18
808
104
40
85
586
265,34
350,00
715,00
954,00
168,58
624,00
144,92
22,14
36,00
38,00
155,50
20,85
31,00
12,09
0,83
4,00
3,00
3,00
2,44
6,00
0,57
Mínimo
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
40
TÉCNICAS PARA AGRUPAMENTO DOS MUNICÍPIOS DO ESTUDO
Visando melhor evidenciar o impacto epidemiológico das ações de saneamento, fez-se necessário
agrupar os municípios segundo critérios de similaridade com vistas a comparações entre os diferentes gru-
pos, em lugar de comparações individuais.
O fato de todos os 1.846 municípios incluídos neste projeto de avaliação apresentarem Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) igual ou inferior a 0,500 contribuiu para torná-los relativamente homogêne-
os quanto às condições de vida da população e, assim, já se poderia esperar que houvesse certa dificuldade
para agregá-los em conjuntos diferenciados. Embora simples, o agrupamento a partir do critério geográfico
poderia não se mostrar adequado, pois haveria a possibilidade de se encontrar mais semelhanças, quanto a
características sociais e econômicas, entre municípios localizados em diferentes regiões. Assim, optou-se pelo
emprego de técnicas estatísticas classificatórias multivariadas, que buscam maximizar as similaridades existen-
tes com base em diversas variáveis.
Dentre as técnicas disponíveis, escolheram-se as análises Fatorial e de Componentes Principais, que se
constituem em técnicas estatísticas multivariadas que produzem novas variáveis sintéticas ortogonais a partir
de um conjunto de variáveis originais. Esta análise consiste em um processo de combinação linear entre
variáveis que permite reduzi-las a um pequeno número de componentes (Componentes Principais), repre-
sentando de modo sumarizado as características de interesse com suas diferenças maximizadas, já que cada
componente apresenta correlação máxima com as variáveis originais e baixa ou nenhuma correlação com os
demais componentes (Mainly, 1989). Desta forma, na medida em que os componentes principais represen-
tam uma síntese das informações contidas em muitas variáveis que partilham de características comuns,
municípios que tenham o índice sintético produzido por esta técnica com valores similares podem ser consi-
derados “estatisticamente similares” e, assim, passarão a fazer parte de um mesmo grupo. Este modo de
agrupamento apresenta as seguintes vantagens no contexto deste estudo:
•A avaliação das intervenções sanitárias poderá ser realizada pela comparação entre municípios
agregados segundo diferentes níveis de saneamento;
•A avaliação/comparação de distintos fatores de risco para níveis diferenciados das variáveis de
interesse (saneamento, escolaridade e renda) poderá ser feita pela comparação de municípios
dentro de um mesmo grupo, pois esta estratégia ajuda a lidar com os problemas decorrentes dos
confundidores e modificadores de efeito; e
•Todas as comparações epidemiológicas poderão ser feitas utilizando-se grupos que possuem um
maior número de observações do que seria possível fazer em comparações individuais de municípios,
aumentando assim, o poder das análises.
Várias simulações foram feitas a partir de combinações de uma série de variáveis e indicadores
socioeconômicos e de saneamento dos municípios obtidas do Censo Demográfico de 2000. Aqueles que se
mostraram com maior poder discriminatório foram:
proporção de chefes de famílias analfabetos;
proporção de chefes de família com menos de quatro anos de escolaridade;
proporção de chefes de família com rendimento médio mensal inferior a dois salários mínimos;
41
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
proporção de domicílios ligados à rede geral de esgotamento sanitário;
proporção de domicílios que dispunham de água dentro da residência;
proporção de domicílios com instalações sanitárias dentro da residência.
Ao final das simulações, quatro componentes mostraram-se mais evidentes, cada um deles com predo-
mínio dos seguintes fatores:
1 - educação;
2 - esgotamento sanitário;
3 - renda;
4 - água canalizada e sanitário no domicílio.
Ao se tentar reunir os municípios em grupos caracterizados por similaridades intragrupo e diferenças
entre eles, com o emprego de técnicas de agregação mais comumente utilizadas como “análise de clusters
e “K-means”, entre outras, verificou-se não ser possível fazê-lo, pois os escores relativos a cada variável
gerados pelas análises fatoriais e de componentes principais para cada um dos municípios foram muito
semelhantes. Possivelmente, este comportamento resultou do próprio critério de seleção dos municípios a
serem beneficiados pelas ações de saneamento – IDH abaixo de 0,500. Como se tem conhecimento que esses
escores têm média 0 (zero) e desvio padrão/DP igual a 1 (um) decidiu-se então, intuitivamente, alocar os
municípios em três grupos de acordo com a posição do valor do escore obtido para cada variável em relação
a essas medidas, adotando-se os seguintes pontos de corte: escores menores que -0,5 DP, entre -0,5 e + 0,5 DP
e maiores que + 0,5 DP. Estas condições são apresentadas na Tabela 7.2, a seguir.
Tabela 7.2. Fatores, representação, grupos e padrão para a análise empregada
Fator Representaçao
1
Educação
(Analfabetismo,
escolaridade)
Grupo (faixa)
Padrão
1 (< -0.5 dp) alta” escolaridade, “baixo” analfabetismo
média” escolaridade, “médio” analfabetismo
baixa” escolaridade, “alto analfabetismo
2
3 (> -0.5 dp)
1 (< -0.5 dp)
2* Esgotamento
sanitário
“alta” porcentagem de cobertura de esgotamento sanitário
“média” porcentagem de cobertura de esgotamento sanitário
“baixa” porcentagem de cobertura de esgotamento sanitário
3 (> -0.5 dp)
2
3 Renda
1 (< -0.5 dp)
“alta” renda
“média” renda
“baixa” renda
2
3 (> -0.5 dp)
1 (< -0.5 dp)
4*
Água canalizada
e sanitários no
domicílio
“alta” cobertura de água canalizada e sanitários
“baixa” cobertura de água canalizada e sanitários3 (> -0.5 dp)
2
*% domicílios “ligados à rede de esgotamento sanitário (ES), com “instalações sanitárias” e água canalizada dentro da residência” (Água e instalações sanitárias)
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
42
A representação gráfica segundo este critério indicou que os municípios eram bastante semelhantes no
que dizia respeito aos escores relativos aos fatores de educação e renda, diferenciando-se apenas quanto aos
de saneamento (esgotamento sanitário e canalização de água e sanitário no domicílio).
Decidiu-se então por realizar as análises para avaliação das intervenções considerando os municípios
distribuídos nos três grupos apresentados na Tabela 7.2 segundo os escores (índices sintéticos produzidos
pela Análise de Componentes principais) relativos à situação de saneamento no ano 2000 (Figura 7.4).
Figura 7.4. Distribuição dos municípios incluídos no estudo segundo os escores produzidos pela análise de
componentes principais a partir de fatores selecionados* (Brasil, 2000)
Esgotamento sanitário
Distribuição dos municípios a partir dos fatores selecionados*
*% domicílios “ligados à rede de esgotamento sanitário (ES), com “instalações sanitárias” e água canalizada dentro da residência” (Água e instalações sanitárias)
DEFINIÇÃO DA AMOSTRA
Uma das estratégias do desenho metodológico dos diferentes eixos desta avaliação envolve coleta de
dados primários em municípios selecionados dentre os 1.846 incluídos neste estudo. Esse levantamento de
dados visa desenvolver análise mais aprofundada dos efeitos sobre a saúde e sobre o meio ambiente das
intervenções implementadas, bem como para acompanhar e avaliar o processo de implantação das obras
efetivamente realizadas.
Ao se analisar o indicador de investimento per capita, verificou-se que a grande maioria dos
municípios seria beneficiada com recursos de pequena monta, o que resultaria em intervenções pontuais
dentro de cada cidade ou localidade. Esta constatação apontou para a inadequação de uma seleção por meio
2
1,5
0,5
0
-0,5
-1
-1,5
-3,5
1
-2
-2,5
-3
-3,5
-4
-4
-3
-2,5
-2 -1,5
-1
-0,5 0 0,5
1
1,5
2
2,5 3
Água canalizada e sanitários no domicílio
N=1.846
43
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
de sorteio aleatório simples, por partilha proporcional ou mesmo de modo estratificado, por ser bem maior
a probabilidade de serem incluídos estes pequenos projetos, o que tornaria mais difícil captar e mensurar os
efeitos das intervenções ao nível populacional. Deste modo, optou-se por definir critérios de exclusão e
seleção dos municípios para esta amostra.
Partiu-se do princípio de que para atender ao principal objetivo do projeto, qual seja, avaliar o impacto
das ações de saneamento na saúde, seria necessário maximizar os efeitos de interesse. Conseqüentemente,
para contemplar este pressuposto dever-se-ia considerar municípios que iriam sofrer intervenções de sanea-
mento mais expressivas. Nesta lógica, dois critérios foram logo de início observados:
I) Tipo de intervenção de saneamento que os municípios iriam desenvolver; e
II) Estabelecimento de um valor mínimo do repasse de recursos que seria transferido da FUNASA para
os municípios.
Os trabalhos para determinação da amostra foram desenvolvidos em etapas, nomeadas de 1, 2, 3 e 4,
cujos procedimentos encontram-se detalhados nos itens a seguir.
ETAPA 1 – CLASSIFICAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DA POPULAÇÃO DE ESTUDO
As intervenções de saneamento que foram conveniadas nos 1846 municípios pela FUNASA envolvem
sete tipos de combinações:
Somente abastecimento de água (AA);
Somente melhorias sanitárias domiciliares (MSD);
•Somente esgotamento sanitário (ES);
Abastecimento de água (AA) + melhorias sanitárias domiciliares (MSD);
Abastecimento de água (AA) + esgotamento sanitário (ES);
Melhorias sanitárias domiciliares (MSD) + esgotamento sanitário (ES); e
Abastecimento de água (AA) + MSD+ esgotamento sanitário (ES).
A partir das informações dos convênios foi construída a Tabela 7.3, que aponta o número e percentual
de municípios em relação às diversas combinações de ações de saneamento.
Tabela 7.3. Número e percentual dos municípios por tipo de investimento
Tipo de intervenção
Água
Esgoto
MSD*
Água + Esgoto
Água + MSD
Esgoto + MSD
Água + Esgoto + MSD
Total
%
Número
11,1
2,2
31,8
1,0
43,7
4,6
5,6
100,0
205
39
587
18
808
85
104
1.846
* MSD - Melhorias Sanitárias Domiciliares.
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
44
As informações registradas nos Termos de Convênios firmados entre os 1.846 municípios e a FUNASA,
condensadas na Tabela 7.3, mostram que mais de 40% dos municípios iriam investir em sistemas de
abastecimento de água e melhorias sanitárias domiciliares, seguido daqueles com propostas de realizar
unicamente melhorias sanitárias domiciliares (31,8% dos municípios). Em seguida, 11,1% dos municípios
tinham previsão de investimentos unicamente em sistemas de abastecimento de água e 5,6% dos municípi-
os previa investimentos em sistemas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário e melhorias
sanitárias domiciliares.
Como era apenas um total de 142 os municípios com investimentos nas outras três combinações de
intervenção, representando, no total, apenas 7,8% da população do estudo, optou-se por excluí-los, o que
resultou em um n =1.704 municípios.
ETAPA 2 – CLASSIFICAÇÃO A PARTIR DO PORTE DOS INVESTIMENTOS
Para atender ao pressuposto de máxima intervenção decidiu-se por eleger o investimento per
capita, definido anteriormente, como indicador. Nessa lógica, associou-se a abrangência da intervenção
sendo representada pela previsão de valores de investimento per capita, nas obras de saneamento, obtido
pela divisão do valor total dos recursos do Termo de Convênio assinado com a FUNASA pela população total
do município. Dessa forma, municípios com maiores valores de investimento per capita foram conside-
rados como sendo aqueles com intervenções mais abrangentes.
Ao se ordenar os municípios, agrupados por tipo de intervenção, em valores de investimento per
capita decrescentes, verificou-se que esta distribuição delineava curvas que apresentavam formas semelhan-
tes para os quatro diferentes tipos de intervenção, como pode ser visualizado na Figura 7.5. Nesta distribuição
dos valores de investimento per capita, estabeleceu-se pontos de corte que resultou na seleção de 314
municípios cujos valores mínimos de investimento per capita, por tipo de intervenção, estão apresenta-
dos na Tabela 7.4.
ETAPA 3 – CLASSIFICAÇÃO A PARTIR DAS AÇÕES DE SANEAMENTO, TIPO DE GESTÃO E PORTE
POPULACIONAL
Após as duas primeiras etapas, os 314 municípios foram classificados dentro dos seguintes critérios:
a) Combinação dos seguintes tipos de componentes financiados:
Abastecimento de água (AA);
Melhorias Sanitárias Domiciliares (MSD);
Abastecimento de água + melhorias sanitárias domiciliares (AA + MSD);
Abastecimento de água + esgotamento sanitário + melhorias sanitárias domiciliares (AA + ES +
MSD).
b) Tipo de gestão dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário:
Categoria 1 - municípios que não têm nenhuma presença do nível estadual na gestão dos
serviços de água e/ou esgotos; e
Categoria 2 - municípios que têm a participação do nível estadual na gestão dos serviços de água
e/ou esgotos.
45
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
Tabela 7.4. Número de municípios selecionados de acordo com o menor valor per capita de investimento
por tipo de intervenção
Tipo de intervenção
Água
Esgoto
MSD
Água + Esgoto
Água + MSD
Esgoto + MSD
Água + Esgoto + MSD
Total
Número
Menor valor per capita
36
6
97
8
129
15
23
314
R$ 54/hab.
R$ 60/hab.
R$ 35/hab.
R$ 50/hab.
R$ 89/hab.
R$ 85/hab.
R$ 300/hab.
-
Figura 7.5. Distribuição dos municípios segundo tipo de intervenção e investimento per capita.
Água
Número de municípios
300
200
100
0
0
50
100
150
200
R$/habitante
Número de municípios
Água+MSD
R$/habitante
800
600
400
200
0
0 200
400
600
800
Número de municípios
MSD
200
R$/habitante
150
100
50
0
0
200
400
Água+Esgoto+MSD
Número de municípios
R$/habitante
1200
1000
800
600
400
200
0
0
20
40
60
80
100
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
46
c) Faixa populacional dos municípios, segundo Censo Demográfico de 2000 (IBGE, 2002):
Municípios com até 10 mil habitantes;
Municípios com população entre 10 e 20 mil habitantes; e
Municípios com mais de 20 mil habitantes.
A combinação dos três critérios acima referidos resultou em um total de 24 grupos. Nesta etapa, para
maior garantia de que os investimentos eram expressivos frente à população a ser beneficiada, tornou-se
necessária a análise mais detalhada dos planos de trabalho dos convênios. Visando otimizar a análise desses
planos de trabalho que ficam nas Coordenações Regionais da FUNASA, optou-se por solicitar seis represen-
tantes para cada um dos 24 grupos. Dessa forma, dos municípios que compunham cada um destes grupos
foram sorteados seis, excluindo-se os outros. Alguns dos 24 grupos não continham seis municípios, deste
modo, ao invés de 144 foram selecionados 132 municípios.
Ao se utilizar estes critérios, os municípios selecionados apresentaram distribuição muito semelhante
aos 1.846 quando considerados os fatores 2 (% de domicílios ligados à rede de esgotamento sanitário) e 4 (%
de domicílios com água e instalações sanitárias), que foram utilizados na análise de componentes principais,
como pode ser observado na Figura 7.6. Ademais, estão geograficamente distribuídos em quatro das cinco
regiões brasileiras e a freqüência dos tipos de ações de saneamento é a seguinte:
a) abastecimento de água, 77%;
b) MSD, 77%;
c) esgotamento sanitário, 27%.
Observe-se que o mesmo município pode ter sido contemplado com mais de uma ação, conforme as
combinações descritas anteriormente (somente AA, somente MSD, AA+MSD e AA+MSD+ES). Estes achados
revelam que os 132 municípios, embora não tenham sido selecionados de forma aleatória, guardam caracte-
rísticas bastante semelhantes com a população do estudo.
ETAPA 4 – TRIAGEM A PARTIR DOS PLANOS DE TRABALHO
Após a Etapa 3, solicitou-se à FUNASA os Planos de Trabalho dos 132 municípios, visando proceder
ao diagnóstico das ações de saneamento previstas nos convênios. Os Planos de Trabalho ou Planos de
Execução são documentos integrantes dos Termos de Convênios, nos quais são detalhadas as etapas de
execução das obras previstas, especificando os principais itens quanto à unidade, à quantidade
implementada e ao prazo de sua execução. Cada Plano de Trabalho corresponde a apenas uma ação de
saneamento. Assim, para um município contemplado com abastecimento de água e MSD, por exemplo,
existem dois planos.
Estes Planos de Trabalho seguem um padrão que contém a descrição do projeto, a entidade proponen-
te, a unidade federativa, a praça de pagamento, o programa e seu órgão financiador, a ação a ser financiada,
a descrição sintética do objeto, a justificativa da proposição e a autenticação do documento. Além disso, cada
plano contém, em anexo, um cronograma de execução e plano de aplicação, com os seguintes itens:
especificação da ação, indicador físico (unidade e quantidade), previsão de execução (início e término) e
planilha de custos.
47
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
A sistematização dos Planos de Trabalho foi realizada considerando-se os principais itens que descre-
vem a obra, organizados em um cadastro com a identificação do município (nome, código, população e ações
previstas) e do programa (ação a ser financiada, descrição sintética do objeto e plano de aplicação, indicando
as especificações e custo das obras). Foi possível então identificar os municípios em que ocorreram as ações
mais significativas em abastecimento de água, MSD e esgotamento sanitário.
Figura 7.6. Distribuição dos municípios incluídos no estudo e dos municípios selecionados na Etapa 3 segundo os
escores produzidos pela análise de componentes principais a partir de fatores selecionados* (Brasil, 2000)
*% domicílios “ligados à rede de esgotamento sanitário (ES), com “instalações sanitárias” e água canalizada dentro da residência” (Água e instalações sanitárias)
N=132
Distribuição dos municípios a partir dos fatores selecionados*
2
1,5
0,5
0
-0,5
-1
-1,5
-3,5
1
-2
-2,5
-3
-3,5
-4
-4
-3
-2,5 -2
-1,5
-1
-0,5
0 0,5
1
1,5
2
2,5 3
Esgotamento sanitário
Água canalizada e sanitários no domicílio
Esgotamento sanitário
2
1,5
0,5
0
-0,5
-1
-1,5
-3,5
1
-2
-2,5
-3
-3,5
-4
-4
-3
-2,5 -2
-1,5 -1 -0,5
0 0,5
1 1,5 2 2,5 3
Água canalizada e sanitários no domicílio
N=1.846
48
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
Merece destaque que a triagem considerou o critério da temporalidade. Tendo em vista que a abordagem
metodológica prevê levantamentos antes, durante e após a ação de saneamento (Figura 6.1), priorizou-se para
inclusão nos grupos os municípios que ainda não haviam iniciado e/ou executado intervenções de saneamento.
Fez-se o possível para que os 24 grupos que compõem a amostra estivessem representados por pelo
menos um município na amostra reduzida. Todavia, um dos grupos, formado por um só município – com
única intervenção em Abastecimento de Água, gestão estadual e população maior que 20 mil habitantes – não
foi julgado interessante por apresentar classificação A3 (somente tratamento) e pendências na prestação de
contas, que fizeram com que sua obra não tivesse sido iniciada até janeiro de 2004. Assim sendo, restaram 23
grupos representados na amostra por 33 municípios.
Esses 33 municípios foram reavaliados de forma que somente um de cada grupo compusesse a amos-
tra reduzida final. Essa discussão priorizou as ações em Abastecimento de Água mais favoráveis ao estudo, a
melhores situações da obra e as localizações geográficas acessíveis ao grupo de pesquisa do levantamento
primário.
Este processo permitiu identificar 23 municípios com ações de saneamento mais significativas, repre-
sentando 23 grupos dentre os 24 diferentes grupos definidos na Etapa 3.
SELEÇÃO DOS MUNICÍPIOS PARA ESTUDOS DE CASO
Para obter uma maior compreensão dos diversos fatores ligados à causalidade das doenças relaciona-
das com saneamento, observar as mudanças na percepção, comportamento e práticas da população com
relação ao saneamento ambiental e para mensurar com maior fidedignidade o custo-benefício e custo-
efetividade, foram escolhidos nove dentre os 23 municípios selecionados na Etapa 4. Os principais critérios
para essa escolha foram:
ter menos de 10.000 habitantes devido à facilidade do desenvolvimento do estudo antropológico
em um curto período de tempo;
apresentar um bom investimento em água, com tratamento, reservação e distribuição;
contemplar os dois diferentes tipos de gestão do sistema de saneamento implantado (municipal e
estadual); e
estarem situados nas duas regiões (Nordeste e Norte) de maior abrangência do programa de
saneamento do MS/FUNASA.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2002). Censo Demográfico - 2000. Rio de Janeiro, RJ.
Mainly BFJ 1989. Component analysis. Chapter five, p.59-71. In: Multivariate statistical methods: a primer.
London. New York. Chapman and Hill., 159p.
49
CAPÍTULO 8
EIXO SANEAMENTO
A avaliação do Eixo Saneamento compreende três dimensões de análise, que abordam a gestão dos
serviços, as condições sanitárias e os aspectos tecnológicos das ações implementadas. No âmbito
dessas dimensões, serão avaliados os seguintes componentes: abastecimento de água (AA), esgotamento
sanitário (ES) e melhorias sanitárias domiciliares (MSD). Apesar de não contemplados no Programa de
Saneamento, também serão avaliados, em menor grau de profundidade, os componentes: resíduos sólidos
(RS) e drenagem pluvial (DP), por apresentarem estreita relação com as outras ações de saneamento.
Para subsidiar a proposta metodológica, foi necessário definir um conjunto de princípios que
deveriam nortear e conduzir o processo de avaliação. Desse modo, são apresentados os princípios de
uma política pública de saneamento, além dos conceitos de efetividade, eficácia e eficiência das ações de
saneamento, necessários para a avaliação nas três dimensões citadas.
A caracterização que subsidiará a pesquisa na população de estudo e na amostra de municípios
deverá ser efetuada a partir de um conjunto de indicadores que possa traduzir a situação de tais ações
de saneamento e dimensões de análise. Os indicadores selecionados foram definidos a partir da adapta-
ção do Modelo FPEEEA apresentado no Capítulo 5. Para cada campo de análise do referido modelo,
buscar-se-á descrever suas condições por meio dos indicadores mencionados. Nos municípios que cons-
tituem a população do estudo, as variáveis que comporão o banco de dados serão obtidas a partir de
dados secundários, enquanto que nos municípios da amostra serão utilizados dados primários.
É importante frisar, ainda, que a avaliação será baseada na comparação das condições tecnológicas,
sanitárias e de gestão dos serviços de saneamento, antes e depois da implementação das intervenções nos
municípios, comparando-as também a um padrão considerado ótimo, para que as metas do Programa de
Saneamento possam ser aferidas.
OBJETIVOS
O Eixo Saneamento tem como objetivo geral avaliar a implementação das ações intersetoriais
de saneamento com enfoque na gestão dos serviços, nas condições sanitárias da localidade em que as
ações serão implementadas e nos aspectos tecnológicos dos sistemas de abastecimento de água, das
melhorias sanitárias domiciliares e dos sistemas de esgotamento sanitário.
Para tanto, os seguintes objetivos específicos deverão ser alcançados:
Definição e seleção de indicadores específicos para cada dimensão de análise: gestão dos
serviços, condições sanitárias e aspectos tecnológicos;
Elaboração de metodologia para avaliação integrada das ações de saneamento.
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
50
PRINCÍPIOS DE UMA POLÍTICA PÚBLICA DE SANEAMENTO
A natureza da ação de saneamento a coloca como uma meta social e coletiva, principalmente em
função das repercussões coletivas de sua ausência e por se constituir em um monopólio natural e essencial à
vida. Em sendo uma meta social, a mesma se situa no plano coletivo, onde os indivíduos, a comunidade e o
Estado têm papéis a desempenhar. Dada a sua natureza, o esforço para a sua promoção deve se dar em vários
níveis envolvendo diversos atores. As ações de saneamento, além de serem fundamentalmente uma ação de
saúde pública e de proteção ambiental, são, também, um bem de consumo coletivo, um serviço essencial, um
direito do cidadão e um dever do Estado. Desse modo, a promoção das ações de saneamento é mais compa-
tível com as políticas públicas e sociais, o que estabelece um princípio fundamental:
Considerando os conteúdos que vêm norteando a defesa de uma política pública de saneamento para
o Brasil, pontuam-se alguns princípios que vêm sendo defendidos em vários fóruns (Brasil, 2000; Moraes e
Oliveira, 2000; Moraes e Borja, 2001; Montenegro et al., 2001):
Universalidade - atendimento universal da população alvo das ações de saneamento;
Eqüidade - equivalência na qualidade sanitária dos serviços, independente das condições sócio-
econômicas do usuário e da realidade urbanística de onde vive;
Integralidade - atendimento pelos serviços de saneamento com uma visão que entenda o
saneamento como um conjunto de ações, envolvendo pelo menos o abastecimento de água, o
esgotamento sanitário, a limpeza pública, a drenagem pluvial e o controle de vetores;
Titularidade municipal - reconhecimento e respeito à autonomia municipal, em coerência com
o preceito constitucional;
Participação e controle social - como requisito indispensável para tornar visível e legitimada a
diversidade de interesses, bem como para a apropriação dos equipamentos de saneamento pela
população;
Intersetorialidade - integração com o desenvolvimento urbano, a saúde pública e com as áreas
ambiental e de recursos hídricos, entendida como indispensável para se atingir o pleno êxito das
ações, por natureza, complexas;
Qualidade dos serviços - incluindo a regularidade, a continuidade, a eficiência, a segurança, a
atualidade, a cortesia e a modicidade dos custos;
Acesso - compatibilização da política tarifária com o poder aquisitivo do usuário, mediante a
prática da modicidade dos preços.
Dessas considerações, entende-se que os serviços de saneamento devem ter como meta atender a esses
princípios fundamentais. Uma vez que esses princípios sejam atendidos, temos a situação onde o serviço de
saneamento atingiu o padrão ótimo. Esse conceito de padrão ótimo será importante no processo de avaliação
e seu emprego indica a necessidade de se estabelecer uma metodologia para a definição desse padrão ótimo.
A promoção das ações de saneamento deve ter uma abordagem pública, o que resulta no
fortalecimento do papel do Estado.
51
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
EFETIVIDADE, EFICÁCIA E EFICIÊNCIA DE AÇÕES DE SANEAMENTO
Antes de definir as aplicações dos conceitos de efetividade, eficiência e eficácia, relacionados às ações
de saneamento, fez-se um levantamento de definições desses conceitos em outros campos. Esse procedimento
foi importante em função dos diferentes significados que esses conceitos podem adquirir devido ao contexto
e a área do conhecimento em que são utilizados. Após a análise e considerando que o Programa de Sanea-
mento está inserido no âmbito de uma política pública, optou-se por trabalhar com os conceitos deste campo
disciplinar. No campo das políticas públicas, a efetividade, eficácia e eficiência se constituem em critérios
analíticos básicos para a avaliação de políticas (Belloni et al., 2000), conforme apresentado a seguir.
EFETIVIDADE
No campo das políticas públicas, a avaliação de efetividade envolve “o exame da relação entre a
implementação de um determinado programa e seus impactos e resultados, isto é, o sucesso ou o
fracasso em termos de uma efetiva mudança nas condições sociais prévias da vida das populações
atingidas pelo programa sob avaliação” (Figueiredo e Figueiredo, 1986).
A efetividade de uma política pública está fortemente relacionada a determinados ideais de igualdade e
justiça social. É na avaliação da efetividade que se deve demonstrar que uma determinada realidade social tem
uma relação de causalidade com uma política em particular. Nesse ponto, reside a maior dificuldade
metodológica da avaliação de efetividade, uma vez que se deve demonstrar que os resultados estão relaciona-
dos aos produtos oferecidos por uma dada política sob análise.
Assim, a efetividade será avaliada a partir de três questões básicas:
Em que medida ocorreu a efetiva mudança nas condições de saneamento das populações
beneficiadas pelo Programa de Saneamento?
Em que medida essas mudanças têm relação com o Programa de Saneamento?
Em que medida os resultados do Programa de Saneamento se afastaram ou se aproximaram dos
princípios de uma política pública de saneamento que promova a justiça social e ambiental?
EFICÁCIA
No campo das políticas públicas, a avaliação de eficácia é usualmente mais aplicada por ser mais
factível e de menor custo. Essa avaliação refere-se ao estudo da verificação dos objetivos e instrumentos
explícitos de um determinado programa e seus resultados efetivos (Figueiredo e Figueiredo, 1986). Nesse tipo
de avaliação, podem ser verificados as metas ou instrumentos propostos e os efetivamente atingidos ou
empregados. Segundo Rico et al. (1998), o avaliador compara, por exemplo, as metas propostas e as atingi-
das, com base nas informações disponíveis, e conclui pelo sucesso ou fracasso da política.
A eficácia será avaliada a partir da seguinte questão:
Os objetivos e metas propostos pelo Programa de Saneamento foram atingidos?
EFICIÊNCIA
No campo das políticas públicas, a avaliação da eficiência envolve o estudo da “relação entre o esforço
empregado na implementação de uma dada política e os seus resultados alcançados” (Figueiredo e
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
52
Figueiredo, 1986). Para Rico et al. (1998), a avaliação de eficiência é hoje a mais necessária e urgente em face
da escassez de recursos públicos que exige maior racionalização de gastos. Além disso, os autores acreditam
que esses estudos são importantes porque paralelamente à escassez de recursos existe uma ampliação das
populações que necessitam ser atingidas pelas políticas sociais.
Finalmente, Rico et al. (1998) ressaltam que a avaliação de eficiência atende a princípios democráti-
cos, pois a utilização de recursos públicos na implementação de políticas envolve a necessidade de se garantir
a probidade, competência e eficiência no uso dos mesmos, sendo uma condição para a confiança pública no
Estado e nas suas instituições. Os autores alertam para o fato de que é necessário fazer uma distinção entre os
conceitos de eficiência do setor público e do setor privado. Enquanto o setor privado busca custos mais
reduzidos e os melhores resultados, o setor público não pode trabalhar apenas com essa lógica. Rico et al.
(1998) citam, como exemplo:
“(...) dado o objetivo de redução de desigualdades, justifica-se uma política de subsídios, o que
não está de acordo com uma concepção de eficiência que busca apenas minimizar custos. No
entanto, este instrumento não elimina a necessidade de aplicar uma política de subsídios com o
maior grau de eficiência possível, eliminando custos desnecessários e não condizentes com o
princípio da equidade”.
A eficiência será avaliada considerando-se as seguintes questões:
•O Programa de Saneamento foi implementado segundo princípios de justiça social, de moralidade
e de probidade administrativa?
Durante a execução do Programa de Saneamento ocorreu uma aplicação criteriosa dos recursos
financeiros e humanos?
•O processo de implementação do Programa de Saneamento atendeu a um cronograma físico de
execução factível?
DIMENSÕES DA AVALIAÇÃO DO EIXO SANEAMENTO
A avaliação do Eixo Saneamento compreende três dimensões de análise, abordando a gestão dos
serviços, as condições sanitárias e os aspectos tecnológicos das ações implementadas. Os enfoques
dados a cada dimensão são apresentados a seguir.
GESTÃO DOS SERVIÇOS DE SANEAMENTO
No âmbito da proposta de avaliação, essa dimensão possui quatro enfoques:
Técnico-gerencial e operacional - entendido pelas ações que garantam a prestação de serviços
com qualidade e quantidade, com a adoção de tecnologias atuais e apropriadas à realidade local.
Relaciona-se aos princípios de regularidade, continuidade, qualidade, modicidade dos custos e de
segurança. Refere-se à disponibilidade de pessoal qualificado para a execução dos serviços e a
existência de programas de capacitação. Envolve a existência de equipamentos para as ações de
operação e manutenção e as atividades de controle da qualidade da água distribuída à população.
Social - entendido pelas ações que promovam a prestação dos serviços de forma universal e
igualitária para a população, envolvendo os princípios da eqüidade e modicidade das tarifas e
53
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
taxas. Contempla as ações de educação sanitária e ambiental, de forma a disseminar comportamentos
mais positivos quanto ao meio ambiente, e envolve a existência de programas de comunicação
social para atendimento ao cidadão.
Legal e institucional - envolve a disponibilidade de arcabouço jurídico-institucional que possa
garantir a prestação dos serviços de saneamento com quantidade e qualidade à população. Relaciona-
se ao poder concedente, por parte do município, na prestação dos serviços de saneamento, a
existência de órgão prestador dos serviços, de leis, planos, programas, fóruns e fundos. Refere-se
à existência da participação e controle social.
Financeiro - envolve os aspectos relativos ao financiamento dos serviços de saneamento (água,
esgoto, lixo e drenagem). Inclui a existência de plano de investimentos e dotação orçamentária
anual que contemple o setor saneamento, a capacidade de investimentos e estrutura tarifária e de
taxas. Refere-se ainda a situação financeira dos prestadores dos serviços.
Com base nesses enfoques, essa dimensão representará a avaliação da forma como a gestão dos
serviços será realizada e se a intervenção proporcionada pelo Programa de Saneamento induziu alguma
alteração no modelo de gestão. Essa dimensão da avaliação privilegiará o momento posterior às intervenções,
porém não desprezando as informações anteriores, que permitirão comparações. Coletará medidas indiretas
de eficácia, as quais deverão ser analisadas à luz do padrão ótimo de gestão, considerado paradigma. Para
exemplificar a abordagem, pode ser citada a variável “controle social”, cuja presença de forma plena no
processo de gestão será considerada ideal e, sua ausência, “não ideal”, podendo haver gradações entre um
controle social que atenda um padrão ideal e a sua ausência.
DIMENSÃO DAS CONDIÇÕES SANITÁRIAS
As condições sanitárias das ações de saneamento serão avaliadas segundo o acesso e qualidade dos
serviços implementados. A avaliação contemplará dois enfoques descritos a seguir:
Salubridade ambiental - entendido como “o estado de higidez em que vive a população urbana
e rural, tanto no que se refere à sua capacidade de inibir, prevenir ou impedir a ocorrência de
endemias e epidemias veiculadas pelo meio ambiente, como no tocante ao seu potencial de promover
o aperfeiçoamento de condições mesológicas favoráveis ao pleno gozo de saúde e bem-estar”.
Envolve os princípios da integralidade das ações (água, esgotos, resíduos sólidos, drenagem e
controle de vetores) e da qualidade e quantidade dos serviços prestados, compreendendo o ambiente
domiciliar (moradia) e o ambiente público (via);
Proteção e controle ambiental - entendido pelas ações relativas ao controle e proteção ambiental.
Diz respeito à capacidade dos recursos hídricos de atender à demanda para o abastecimento de
água da população, sem comprometer os diferentes usos e a manutenção dos ecossistemas locais.
Refere-se, também, à verificação da capacidade dos corpos receptores em absorver as cargas
poluidoras dos efluentes dos sistemas de saneamento e à proteção e controle dos mananciais, das
áreas de recarga de aqüíferos, áreas de preservação permanente e ao controle dos processos de
impermeabilização do solo. Envolve as ações de controle e monitoramento da qualidade dos
recursos hídricos e do solo e a realização dos licenciamentos ambientais pertinentes e suas
recomendações.
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
54
Com base nesses enfoques, essa dimensão consistirá da avaliação dos indicadores que caracterizam
a realidade sanitária da população, buscando identificar o papel da intervenção nessa evolução. Compara-
rá os indicadores com a condição sanitária ideal, conforme definido, embora também deva observar a
evolução dos indicadores antes e depois, dessa forma verificando o impacto (a efetividade) do Programa
de Saneamento.
DIMENSÃO DOS ASPECTOS TECNOLÓGICOS
O exame da dimensão tecnológica no processo de avaliação dar-se-á segundo três enfoques básicos,
apresentados a seguir:
Projeto - refere-se ao processo de seleção, concepção e discussão das tecnologias a serem
implantadas e a elaboração dos projetos de engenharia e à adequação das tecnologias adotadas
com relação aos seguintes aspectos:
a) realidade sociocultural da população;
b) ambiente físico e natural;
c) constituição institucional do prestador de serviços;
d) atualização técnica e
e) custos e condições de implantação, operação e manutenção. Envolve, junto à população alvo,
a qualidade do projeto técnico, a eficiência e eficácia na execução das ações de seleção,
concepção, discussão e elaboração dos projetos;
Execução das obras - envolve o processo de:
a) discussões com a população alvo;
b) implantação das tecnologias de saneamento;
c) eficácia e eficiência do planejamento e execução das obras;
d) qualidade das obras e
e) satisfação da população com a tecnologia implantada e com a qualidade da obra;
Operação e manutenção dos sistemas - envolve os aspectos de operação e manutenção dos
sistemas sob dois pontos de vista diferentes:
a) do usuário, enfocando a apropriação da tecnologia, utilização e manutenção adequada das
instalações sanitárias domiciliares disponibilizadas e
b) do prestador de serviços, responsável por garantir a qualidade e o funcionamento adequado
dos sistemas implementados.
Com base nesses enfoques, essa dimensão consistirá essencialmente da avaliação das soluções de
engenharia empregadas, envolvendo a qualidade dos projetos, o custo e prazo de execução, a finalização e
entrega dos empreendimentos e o grau de apropriação das soluções pela população beneficiada. Não se
caracteriza uma comparação antes e depois, mas de dados e informações que necessitarão ser identificados
antes (análise de projetos), durante (execução) ou depois (custos, prazos, entrega, apropriação) da implan-
tação dos sistemas.
55
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
METODOLOGIA
O desenvolvimento, no Capítulo 5, das questões a serem investigadas na avaliação conduziu à formu-
lação da seguinte questão geral em que se estrutura o projeto de avaliação:
Para o equacionamento dessa questão, que procura explorar o conceito de êxito e identificar o padrão
de êxito a ser buscado e o paradigma da situação de saneamento adequado, deve-se levar em consideração os
princípios enunciados de uma política pública de saneamento: universalidade, eqüidade, integralidade,
titularidade municipal, gestão pública, participação e controle social, intersetorialidade, qualidade
dos serviços e acesso.
Nesse contexto, para cada dimensão de análise proposta pelo Eixo Saneamento, a questão geral se
desdobra da seguinte forma:
Em que grau o modelo de gestão se aproxima do modelo de gestão dos serviços de saneamento?
Em que grau as condições sanitárias das populações das localidades de intervenção se aproximam
das ideais?
Em que grau a concepção e a prática tecnológicas se aproximam do ideal?
Para se avaliar o grau de êxito, apontam-se, basicamente, duas estratégias: (a) verificação das transfor-
mações nos municípios em análise, comparando as realidades antes e depois das intervenções previstas pelo
Programa de Saneamento; e (b) comparação da realidade verificada após a intervenção de saneamento e um
padrão ótimo, a ser definido.
Para a pesquisa na população de estudo, entende-se ser mais apropriado estabelecer a avaliação para
as duas alternativas, ao passo que na amostra imagina-se ser mais razoável a comparação da realidade após a
ação de saneamento com um padrão ótimo. Tal decisão se ampara no fato de que, na população de estudo,
preponderantemente será possível obter as informações antes e depois, ao passo que, na amostra, essa
possibilidade talvez não seja viável para a maioria das informações. Ressalta-se, ainda, que a pesquisa na
população de estudo considerará o município como base espacial de avaliação, enquanto a pesquisa na
amostra deverá priorizar a localidade objeto das ações de saneamento.
Esse desenho metodológico encontra-se apresentado na Figura 8.1.
A decisão de utilizar a comparação da realidade após a ação de saneamento com um padrão ótimo
remete à necessidade de se estabelecer uma metodologia para a definição desse padrão ótimo. O
padrão ótimo pode ser definido para cada indicador por um processo de consulta amplo, envolvendo uma
técnica de consenso. Os quesitos apontados anteriormente que compõem a presente avaliação (universalida-
de, eqüidade, dentre outros) serão a base para essa definição. A base legal também é fundamental, citando-se,
como exemplo, as Normas Brasileiras sobre sistemas de saneamento, editadas pela ABNT, resoluções do
CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente e Portarias do Ministério da Saúde.
Em que grau o Programa de Saneamento alcançou êxito?
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
56
Independente da estratégia de avaliação adotada, ressalta-se o papel fundamental da construção de um
sistema de indicadores. No que se refere aos objetivos de um sistema de indicadores, Will e Briggs (1995)
acreditam que seja um meio de prover as políticas com informações, de demonstrar seu desempenho ao
longo do tempo e de realizar previsões, podendo ser utilizados para a promoção de políticas específicas e
monitoramento de variações espaciais e temporais das ações públicas. Os indicadores permitem adquirir
novos conhecimentos e transferir os conhecimentos existentes, não só aos investigadores, mas também aos
responsáveis pela tomada de decisão e ao público em geral (ONU, 1977). Além disso, eles podem ser utiliza-
dos para descrever os prováveis resultados das políticas em curso, ou da sua ausência, ou ainda identificar a
adaptação e definição de novas políticas. Assim, os objetivos de um sistema de indicadores devem não apenas
contemplar os interesses do Poder Público em avaliar a efetividade, eficiência e eficácia das políticas adotadas,
mas também ser um instrumento de cidadania, na medida em que informe aos cidadãos o estado do meio
ambiente e da qualidade de vida (Borja e Moraes, 2003).
ESTRUTURAÇÃO DO SISTEMA DE INDICADORES
A definição do sistema de indicadores para avaliação das três dimensões (gestão, sanitária e tecnológica),
nos três componentes de saneamento (abastecimento de água, esgotamento sanitário e melhorias sanitárias
domiciliares) foi realizada a partir do Modelo FPEEEA (Capítulo 5 – Figura 5.3). A partir da análise e
discussão desse modelo, fez-se um aprimoramento de cada campo de análise (ver definição no Glossá-
rio) de forma a melhor adequá-lo às questões relacionadas aos indicadores de saneamento, resultando na
Figura 8.2.
Figura 8.1. Desenho metodológico da avaliação do Eixo de Saneamento
Dimensão da
avaliação
Gestão dos
serviços
t
o
Estágio antes da
intervenção
Coleta de
dados
secundários
Coleta de
dados
secundários
Condições
sanitárias
-
Aspectos
tecnológicos
t
1
Estágio durante a
intervenção
t
2
Estágio após a
intervenção
Método de
avaliação
População
do estudo
População
do estudo
População
do estudo
Amostra
Amostra Amostra
-
--
-
-
Coleta de
dados
secundários
Coleta de
dados
secundários
Coleta de
dados
primários
Coleta de
dados
primários
Comparação com
padrão ótimo e
antes/depois
Comparação antes/
depois e com
padrão ótimo
Comparação com
padrão ótimo
-
Análise dos
projetos
Avaliação da
execução das
obras
Avaliação da
O&M e
“apropriação”
pela
população
57
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
Figura 8.2. Matriz saneamento-saúde modificada
Pressão
(P)
Inexistência ou
inadequação de
sistemas de água
(P1)
Inexistência ou
inadequação de
serviços de água
(P2)
Inexistência ou
inad. de sistemas
ou soluções ind. de
esgotos
(P3)
Inexistência ou
inadequação de
serviços de esgotos
(P4)
Inexistência ou
inadequação de
VQACH
(P5)
Inexistência ou
inad. de serviços
para destino de lixo
(P6)
Inexistência ou
inadequação de
sistemas ou
soluções indiv. do
destino do lixo
(P7)
Inexistência ou
inadequação de
sistemas de
drenagem
(P8)
Inexistência ou
inadequação de
serviços de
drenagem
(P9)
Uso inadequado
da água pelo
consumidor
(P10)
Dificuldade de
acesso da
população ao
saneamento
(P11)
Ausência de noções
de higiene
(P12)
Forças
Motrizes
(FM)
Política de
saneamento
inxistente ou
inadequada
(FM1)
Ausência de
programa de
educação sanitária
e ambiental
(FM2)
Política de
inclusão social
inexistente ou
inadequada
(FM3)
Estado
(Es)
Déficit de água
(irregularidade ou
ausência no
abastecimento)
(Es1)
Água de consumo
contaminada
(Es2)
Esgoto e lixo no
peridomicílio
(Es3)
Meio ambiente
insalubre
(Es4)
Moradias
desprovidas de
instalações hidro-
sanitárias
adequadas
(Es5)
Higiene
domiciliar e
pessoal
inadequada
(Es6)
Exposição
(Ex)
População
consumindo água
em quantidade
insuficiente
(Ex1)
População
consumindo água
de qualidade
inadequada
(Ex2)
População exposta
a ambiente
insalubre
(Ex3)
População residente
em domicílio
insalubre
(Ex4)
População exposta
a vetores
(Ex5)
Efeito
(Ef)
Morbi-mortalidade ampliada devido
à inadequação de saneamento
ambiental
(Ef1)
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
58
A partir da Figura 8.2, foram definidos indicadores para representar os campos de análise relativos à
Pressão, Estado e Exposição. Cada campo de análise recebeu um código para ser correlacionado posterior-
mente aos respectivos indicadores. É importante frisar que as alterações foram realizadas de modo a garantir
que a nova conformação do Modelo FPEEEA não comprometeria o desenvolvimento da cadeia de causa e
efeito empregada na elaboração do modelo original.
ESTRUTURAÇÃO DO BANCO DE DADOS
A partir da definição do sistema de indicadores, foram identificadas suas respectivas variáveis (quan-
titativas, qualitativas e categóricas), segundo a dimensão de análise, o componente analisado, sua unidade e a
fonte de coleta de dados.
Com a definição das variáveis, é possível estruturar um banco de dados, adotando-se os seguintes
passos:
Adaptação dos campos de análise do Modelo FPEEEA;
Definição de indicadores de pressão, estado e exposição, para cada campo de análise;
Identificação do tipo de indicador (quantitativo, qualitativo e categórico);
Definição da dimensão e do componente do indicador;
Identificação das variáveis de cada indicador.
Os dados a serem coletados podem ser primários ou secundários. Os dados primários serão
coletados durante as visitas de campo, conforme descrito no item a seguir – Estratégia de trabalho de campo.
Para a coleta de dados secundários serão utilizadas as fontes de pesquisa constantes na Tabela 8.1.
ESTRATÉGIA DE TRABALHO DE CAMPO
A estratégia operacional para a realização da pesquisa de campo pode ser dividida em duas etapas,
sendo: (a) Etapa 1 – Preparação das visitas aos municípios, em que se efetua uma pesquisa prelimi-
nar em fontes secundárias, um nivelamento conceitual e metodológico e a instrumentação e planejamento do
apoio logístico necessários à etapa seguinte; (b) Etapa 2 – Trabalho de campo, que consiste, basicamen-
te, na aplicação dos instrumentos de coleta de dados.
PESQUISA PRELIMINAR EM FONTES SECUNDÁRIAS
A pesquisa preliminar objetiva subsidiar os pesquisadores com informações pertinentes sobre os
municípios objeto de estudo. Essas informações encontram-se disponíveis nas chamadas fontes secundárias
(Tabela 8.1), onde serão coletadas, dentre outras, as seguintes variáveis:
População total do município;
Número total de domicílios permanentes;
Renda média familiar;
População com renda familiar mensal de até ˚ salário mínimo.
59
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
Fonte
Tipo
Informações
Sítio na Internet
IBGE
Pública/Federal/BR
Censo demográfico, Pesquisa Nacional de Saneamento
Básico - PNSB
www.ibge.gov.br
Ministério das Cidades Púb
lica/Federal/BR
Sistema Nacional de Informações de Saneamento - SNIS
(Programa de Modernização do Setor de Saneamento -
PMSS)
www.snis.gov.br
Fundação Nacional de Saúde -
FUNASA
Pública/Federal/BR
Sistema de Acompanhamento e Avaliação de Convênios -
SISCON e SIGESAN / Planos de Trabalho / Projetos de
engenharia e descrição de cada projeto
www.funasa.gov.br
Caixa Econômica Federal
Pública/Federal/BR
Sistema de Gerenciamento de Contrato da CEF - APF
www.cef.gov.br
Instituto de Pesquisas Econômicas
Aplicadas - IPEA
Pública/Federal/BR
www.ipea.gov.br
Secretarias estaduais responsáveis pela geração de
estudos, pesquisas e informações socioeconômicas e
geográficas que viabilizam a avaliação e elaboração de
estratégias e políticas públicas para o desenvolvimento
dos respectivos estados
Pública/Federal/BR
www.bndes.gov.br
BNDES
Governos Estaduais
Instituto de Pesquisa e Estratégia
Econômica do Ceará - IPECE (IPLANCE)
Público/Estadual/CE
www.iplance.ce.gov.br
Dados e informações obtidos a partir de pesquisas
realizadas em estudos de pós-graduação
Público/Estadual/AL
Público/Estadual/BA
Público/Estadual/PA
Público/Estadual/TO
Público/Estadual/RN
Público/Estadual/PI
Público/Estadual/PB
Público/Estadual/MA
Público/Estadual/AM
Público/Estadual/MG
Dados e informações a partir de projetos, convênios firmados
entre essas instituições e os municípios de interesse
Instituições nacionais de ensino e
pesquisa
PNUD, OPAS, OMS etc
Pública/Privadas
Organismos e instituições
internacionais de interesse
www.opas.org.br
Vários
www.alagoas.al.gov.br
www.ba.gov.br
www.sepof.pa.gov.br
www.to.gov.br
www.searh.rn.gov.br
www.pi.gov.br
www.paraiba.pb.gov.br
www.ma.gov.br/cidadao
www.amazonas.am.gov.br
www.mg.gov.br
Tabela 8.1. Relação de fontes de dados secundários
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
60
NIVELAMENTO CONCEITUAL E METODOLÓGICO
Devido à diversidade de informações a serem levantadas, e de certo grau de complexidade que a
avaliação deste projeto exige, é necessário que os pesquisadores tenham uma visão abrangente e uniforme de
todas as dimensões do projeto. Portanto, faz-se necessário um nivelamento conceitual e metodológico por
meio de treinamento que viabilize a:
Organização dos dados obtidos por meio do levantamento em fontes secundárias;
•Avaliação quanto ao grau de entendimento das questões da pesquisa e quanto ao manuseio dos
formulários e questionários padrões a serem aplicados;
Integração entre as equipes dos demais eixos de estudo.
APOIO LOGÍSTICO
Uma das tarefas de planejamento mais importante para a execução do trabalho de campo é aquela
responsável pelo apoio logístico. Nessa etapa, deve-se municiar o pesquisador com equipamentos e instru-
mentos de coleta de dados, além da organização quanto à viagem, hospedagem, deslocamentos e contatos
prévios com as Coordenações Regionais da FUNASA.
INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS - MAPA DE VARIÁVEIS
Na pesquisa de campo serão utilizados mapas de variáveis como instrumentos de coleta de dados,
contendo informações gerais do prestador dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário
(tais como: cadastro, cobertura de atuação, tarifas praticadas etc.) e questionários de coleta de dados domi-
ciliares (a definição dos domicílios será feita em conjunto com o Eixo Epidemiologia), de qualidade da água,
financeiros e de pessoal, operacionais e relativos ao meio ambiente e aos serviços de limpeza pública e
drenagem urbana. A Tabela 8.2 apresenta o Mapa de Variáveis.
ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO DE CAMPO
A pesquisa de campo exigirá do pesquisador uma atenção voltada a responder questões que, muitas
vezes, carecem tanto de conhecimentos técnicos específicos, como de um “olhar clínico” sobre a realidade
que o cerca. Assim, a observação crítica do pesquisador será de fundamental importância no momento da
coleta dos dados.
Dessa forma, é pertinente a utilização de um roteiro que por um lado oriente e uniformize a observação
em campo e, por outro, aponte eventuais deficiências quanto às variáveis e indicadores não contemplados nos
questionários. Como exemplificação da aplicação desse roteiro, citam-se as observações elencadas para o
Campo de Análise ES4 – Meio ambiente insalubre (Figura 8.2):
Observar a presença de lixo ou entulhos nas fontes de água existentes próximas aos domicílios, e se
ocorre lançamento de dejetos sem nenhum tipo de tratamento; questionar quais os principais usos
dessas águas, bem como se ocorreram mudanças quanto a esses usos (pesca, lazer, consumo etc.);
Observar a presença de lixo, entulho e esgoto nas ruas e valas existentes e a presença de terrenos
baldios ou abandonados;
61
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
Tabela 8.2. Mapa de variáveis do Eixo Saneamento
Quantidade de domicílios ligados à rede pública que consomem regularmente água mineral
Quantidade de domicílios ligados à rede pública que desinfetam regularmente a água
Quantidade de domicílios s/ reservatório interno
Quantidade de domicílios s/ canalização interna
Quantidade de domicílios sem banheiro interno
Quantidade de domicílios sem sanitário interno
Quantidade de domicílios com fossa rudimentar, céu aberto, canais e outros cursos de água ou sem sanitário
Quantidade de dom. que despejam esgoto em coleção hídrica
Quantidade de instalações hidro-sanitárias com vazamento (por domicílio)
Qualidade microbiológica da água no ponto de consumo intra-domicílio
Qualidade físico-química da água no ponto de consumo intra-domicílio
Variáveis
Dados domiciliares
Quantidade total de empregados
Quantidade de profissionais de nível superior
Quantidade de profissionais de nível técnico
Quantidade de profissionais de nível médio
Carga horária de treinamento de empregados
Quantidade de empregados treinados
Receita operacional direta de água
Receita operacional direta de esgoto
Despesas totais com os serviços de água
Despesas totais com os serviços de esgotamento sanitário
Despesas de exploração dos serviços de água
Despesas de exploração dos serviços de esgotamento sanitário
Variáveis
Dados de gestão (recursos humanos e aspectos financeiros)
Quantidade de amostras coletadas na rede de distribuição para análise de turbidez
Quantidade de amostras coletadas na rede de distribuição para análise de cloro residual
Quantidade de amostras coletadas na rede de distribuição para análise bacteriológica
Quantidade de amostras coletadas na saída da ETA para análise de turbidez
Quantidade de amostras coletadas na saída da ETA para análise de cloro residual
Quantidade de amostras coletadas na saída da ETA para análise bacteriológica
Quantidade de amostras coletadas para verificação da qualidade da água
Quant. de amostras analisadas, na rede de distribuição, para aferição de turbidez com resultados fora do padrão
Quant. de amostras analisadas, na rede de distribuição, para aferição de coli. Fec. com resultados fora do padrão
Quant. de amostras analisadas, na rede de distribuição, para aferição de cloro residual. com resultados fora do padrão
Coliformes fecais
DBO de origem de esgotos e lixo
DBO do corpo receptor
OD do corpo receptor
Variáveis
Dados de qualidade da água
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
62
Capacidade nominal da unidade de captação
Quantidade de economias residenciais totais (reais) de água
Disponibilidade hídrica do manancial
Quantidade de economias de água residenciais reais micromedidas
Volume de reservação
Quantidade de economias residenciais com ligação de água cortada
Capacidade nominal da ETA
Quantidade de economias residenciais com ligações factíveis.
Volume total de água tratada
Quantidade de domicílios com ligação clandestina
Volume de água tratada apenas por simples desinfecção
Quantidade de ligações pesquisadas quanto à clandestinidade
Volume de água bruta captada
Total de ligações clandestinas
Volume de água consumido
Pressão média na rede
Volume de água faturado
Quantidade de economias ativas atingidas por paralisações no abastecimento de água
Volume de água de serviço
Duração das paralisações
Volume de água produzido macromedido
Quantidade de ligações totais (reais) de esgoto
Volume de água produzido
Quantidade de ligações ativas de esgoto
Volume de água tratado importado
Quantidade de economias ativas de esgoto
Volume de água bruta exportado
Quantidade de economias residenciais ativas de esgoto
Volume de água tratado exportado
Quantidade de economias residenciais totais (reais) de esgoto
Quantidade de economias residenciais abastecidas por soluções alternativas de abastecimento de água
Número de economias residenciais que possuem solução individual de esgotamento sanitário
Quantidade de ligações totais (reais) de água
Número de economias residenciais esgotadas cujo esgoto é tratado em ETE
Quantidade de ligações ativas de água
Número de economias residenciais sem tratamento de esgoto
Quantidade de ligações ativas de água micromedidas
Volume de esgoto tratado
Quantidade de ligações (reais) de água micromedidas
Volume de esgoto coletado
Quantidade de economias totais de água
Volume de esgoto faturado
Quantidade de economias ativas de água
Quantidade de extravasamento de esgotos registrados
Quantidade de economias residenciais ativas de água
Duração registrada dos extravasamentos de esgotos
Variáveis
Dados operacionais dos sistemas de abastecimentode água e esgotamento sanitário
Tabela 8.2. Mapa de variáveis do Eixo Saneamento (continuação)
63
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
Quantidade de domicílios com coleta
até 2 vezes por semana
Quantidade de domicílios com coleta 3
vezes ou mais por semana
Quantidade de domicílios com coleta
direta
Quantidade de domicílios com coleta
indireta
Quantidade de domicílios com coleta
pública de lixo
Quantidade de domicílios com lixo
jogado no solo ou em cursos de água
Quantidade de domicílios próximos a
vala negra e lixão/terreno baldio/área
despejo (condições insalubres)
Quantidade de domicílios que
despejam lixo em coleção hídrica
População (ou domicílios) que se utiliza
de ambientes aquáticos
Quantidade de pessoas (ou domicílios)
em contato com esgoto e lixo
Quantidade de pessoas <5anos em
contato com esgoto e lixo
Variáveis
Dados sobre meio ambiente, drenagem urbana e serviço de limpeza pública
Lixo
Drenagem
Meio Ambiente
% da área (mancha) urbana atendida
por MacroDrenagem
Total de ruas
Quantidade de ruas pavimentadas
(asfalto/ paralelepípedo/ blocket)
Quantidade de ruas com sarjeta/ guia
Quantidade de ruas com galerias
Quantidade de pessoas (ou domicílios)
expostas a inundações e empoçamentos
Quantidade de pessoas (ou domicílios)
que ocupam áreas abaixo da cota de
inundamento
Domicílios localizados em rua com
microdrenagem
Quantidade de ruas sujeitas a
empoçamentos
Quantidade de domicílios situados em
área de preservação permanente APP
(CONAMA 303)
Quantidade de domicílios situados em
àrea de preservação permanente APP
(encosta) acima de declividade limite
Quantidade de domicílios situados em
unidades de conservação
Quantidade de domicílios situados em
área de proteção de manancial
Questionar se ocorrem inundações e empoçamentos provocados pela inadequação de serviço de
drenagem;
Observar a localização e identificar o tipo de indústrias ou quaisquer outras atividades econômicas
que lancem seus resíduos ou efluentes sem tratamento em corpo receptor hídrico ou diretamente
sobre o solo; a existência de maus odores ou emanações gasosas, fuligem ou poeira;
Observar a existência de certos grupos de animais domésticos (suínos, caprinos, bovinos, galináceos,
eqüinos etc) circulando livremente em vias e logradouros públicos;
Observar atividades potencialmente degradantes, tais como: queimadas, mineração, indústria de
cimento etc.
INDICADORES DE SANEAMENTO AMBIENTAL
A partir da coleta dos dados realizada por meio dos instrumentos de coleta descritos, serão construídos
indicadores para os campos de análise referentes à pressão, estado e exposição da Figura 8.2, conforme
apresentado na Tabela 8.3.
Tabela 8.2. Mapa de variáveis do Eixo Saneamento (continuação)
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
64
P3-1
P3-2
P3-3
P3-4
P3-5
P3-6
P3-7
Capacidade de produção de água bruta
Índice de atendimento de água
Reservação per capita
Capacidade de tratamento de água
Percentual de água consumida que é tratada
Disponibilidade de água bruta para abastecimento público
Percentual de água tratada apenas por simples desinfecção
Produtividade por mil ligações
Proporção de profissionais de nível superior
Proporção de profissionais de nível técnico
Proporção de profissionais de nível médio
Carga horária de capacitação de recursos humanos
Perda de faturamento
Indicador de desempenho financeiro
Perda física (=perda real)
Perdas totais na distribuição
Eficiência de macromedição
Margem de despesa de exploração
Proporção de coletas para análise bacteriológica na rede de distribuição
realizada pelo CQACH
Proporção de coletas para análise turbidez na rede de distribuição
realizada pelo CQACH
Proporção de coletas para análise cloro residual na rede de distribuição
realizada pelo CQACH
Percepção do usuário com relação à qualidade da água
Percepção do usuário com relação às respostas institucionais às suas
reclamações acerca de falhas no sistema de água
Responsável pela prestação dos serviços de abastecimento de água
Tipo da análise da água para cloro residual e bacteriológico na rede de
distribuição.
Frequência da análise da água para cloro residual e bacteriológico na
rede de distribuição.
Produtividade
Existência de programa de CQACH na rede de distribuição
Nível de esgotamento sanitário
Proporção de economias com solução individual de esgotamento
sanitário
Índice de tratamento de esgotos em ETE
Índice de coleta de esgotos
Investimento per capita em esgotamento sanitário feito pelo Alvorada
Investimento per capita em esgotamento sanitário feito por outros
órgãos a partir de 2000
Mutuário responsável pela aplicação dos recursos
Tabela 8.3. Relação dos indicadores de saneamento ambiental
Campo de análise
Cód.
Indicadores
Dimensão
Unidade de
medida/
categoria
Denominação
Denominação
P1 - Inexistência ou
inadequação do sistema
de água
P2 - Inexistência ou
inadequação do serviço de
água
P3 - Inexistência ou
inadequação de sistemas
ou soluções individuais de
esgoto
P1-1
P1-2
P1-3
P1-4
P1-5
P1-6
P1-7
P2-1
P2-2
P2-3
P2-4
P2-5
P2-6
P2-7
P2-8
P2-9
P2-10
P2-11
P2-12
P2-13
P2-14
S
S
T
S
G
G
G
G
G
G
S
S
S
T
G
G
%
%
L/hab
L/s/hab
%
L/s/hab
%
Empreg./mil ligações
%
%
%
H/empregados
%
%
%
%
%
%
%
%
Econ./empregado
%
%
%
%
R$/hab
R$/hab
continua
P2-15
P2-16
P2-17
P2-18
P2-19
P2-20
P2-21
65
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
P9-1
P9-2
P9-3
P9-4
P9-5
Descrição das unidades do sistema de esgotamento sanitário que
compõem o empreendimento(tipo de tratamento)
Produtividade por mil ligações
Proporção de profissionais de nível superior
Proporção de profissionais de nível técnico
Proporção de profissionais de nível médio
Carga horária de capacitação de recursos humanos
Indicador de desempenho financeiro
Percepção do usuário com relação ao serviço de esgotos
Percepção do usuário com relação às respostas institucionais às suas
reclamações acerca de falhas no sistema de esgotos
Existência de órgão responsável pela prestação dos serviços de
esgotamento sanitário (idem P2-13)
Existe Programa de Vigilância da Qualidade da Água
Proporção de coleta de amostra para VQACH ou cumpre a Portaria 1469
Proporção de frequência de coleta adequada de lixo
Proporção de frequência de coleta inadequada de lixo
Proporção de coleta direta
Proporção de coleta indireta
Percepção do usuário sobre a qualidade do serviço de lixo
Cobertura de domicílios com coleta pública de lixo
Inadequação da disposição do lixo
Cobertura domiciliar de microdrenagem
Existência de sistema de drenagem superficial
Existência de sistema de drenagem subterrâneo
Existência de limpeza e desobstrução de dispositivos de captação de
água de chuva
Existência de limpeza e desobstrução de galerias
Existência de drenagem e limpeza de canais
Existência de varrição e limpeza de vias
Percepção do usuário sobre a existência e qualidade dos serviços de
drenagem
Órgão prestador do serviço de drenagem pluvial
Pessoal afeito ao planejamento, ao projeto, à manutenção, operação e
administração de sistemas
Despesa média anual dos serviços de drenagem por empregado
Incidência das despesas de pessoal e serviços de terceiros no total
Tabela 8.3. Relação dos indicadores de saneamento ambiental (continuação)
Campo de análise
Cód.
Indicadores
Dimensão
Unidade de
medida/
categoria
Denominação
Denominação
P3- Inexistência ou
inadequação de sistemas
ou soluções individuais
de esgoto
P4 - Inexistência ou
inadequação dos serviços
de esgoto
P9 - Inexistência ou
inadequação do sistema
de drenagem
P4-1
P4-2
P4-3
P4-4
P4-5
P4-6
T
G
G
G
G
G
G
G
G
G
Empreg./mil ligações
%
%
%
H/empregados
%
%
P5 - Inexistência ou
inadequação de VQACH
P5-1
P5-2
P6 - Inexistência ou
inadequação de serviços de
destino de lixo
P6-1
P6-2
P6-3
P6-4
P7 - Inexistência ou inade-
quação de sistemas ou solução
individual do destino do lixo
P7-1
P7-2
P8 - Inexistência ou inade-
quação de sistemas de
drenagem
P8-1
P8-2
P8-3
P8-4
P8-5
P8-6
P8-7
S
S
S
S
G
S
S
S
%
%
%
%
%
%
%
%
S/N
S/N
S/N
S/N
S/N
P3-8
P2-7
P2-8
P2-9
P6-5
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
66
Consumo per capita
Indice de Hidrometação
Pressão média na rede
Existência regular de programas de uso adequado e de controle de
desperdício de água
Adequação de instalações hidro-sanitárias
Referência do usuário ao desperdício
Despesa total com os serviços por m
3
faturado
Tarifa média de água
Tarifa média de esgotos
Tarifa média praticada
Modicidade tarifária
Renda média familiar
Proporção de pobres
IDHM - Renda
Valor da conta mínima de água
Escolaridade
Existência de programa regular de educação sanitária ou ambiental
IDHM-Educação
Percepção do usuário sobre os programas de educação sanitária e
ambiental
Inadequação do armazenamento domiciliar de água
Economias atingidas por paralisações
Duração média das paralisações
Proporção de ligações cortadas
Proporção de domicílios não ligados à rede pública em ruas com rede
de água
Proporção de clandestinidade no acesso à água
Proporção de ligações clandestinas pesquisadas
Proporção de abastecimento inadequado de água (abastecimento
alternativo).
Existência de racionamento regular
Proporção de cortes por incapacidade de pagamento do usuário
Percepção do usuário sobre a quantidade de água disponível para seu
consumo
Incidência da análise de cloro residual fora padrão na rede de
distribuição
Incidência das análises de turbidez fora padrão na rede de distribuição
Incidência de análises de coliformes fecais fora padrão na rede de
distribuição
Desconfiança do usuário na qualidade da água por consumo de água
mineral
Desconfiança do usuário na qualidade da água por desinfecção
domiciliar
Percepção do usuário sobre a qualidade da água
Tabela 8.3. Relação dos indicadores de saneamento ambiental (continuação)
Campo de análise
Cód.
Indicadores
Dimensão
Unidade de
medida/
categoria
Denominação
Denominação
P10- Uso inadequado de
água pelo consumidor
P11 - Dificuldade de acesso
da população ao
saneamento
Es2 - Água de consumo
contaminada
P10-1
P10-2
P10-3
P10-4
P11-1
P11-2
P11-3
P11-4
P11-5
P11-7
P11-8
P11-9
G
T
G
T
G
G
G
G
G
G
G
G
G
G
S-E
G
G
S
S
S
S
S
S
S
S
S
S
S
S
S
S
m
3
/hab
%
mca
S/N
R$/m
3
R$/m
3
R$/m
3
R$/m
3
%
R$
%
R$/10m
3
%
S/N
%
Econ./paralizações
Horas/paralização
%
%
%
%
%
%
%
%
%
%
%
P12 - Ausência de noções de
higiene
P12-1
Es1-1
Es1-2
Es1-3
Es1-4
Es1-5
Es1-6
Es1-7
Es1-8
Es1 - Déficit de água -
irregularidade ou ausência
no abastecimento
P12-2
P12-3
Es2-1
Es2-2
Es2-3
Es2-4
Es2-5
P10-5
P10-6
P11-10
P12-4
Es1-9
Es1-10
Es1-11
Es2-6
67
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
Insalubridade do peridomicílio
Proporção de dom, que despeja esgotos em coleção hídrica
Proporção de dom, que despeja lixo em coleção hídrica
Carga orgânica de origem sólida ou líquida despejada em coleção
hídrica
Qualidade bacteriológica da coleção hídrica
Existência de lixão
Ocorrência referida de domicílios em ruas que sofreram inundação ou
empoçamento
Ocorrência de domicílios que sofreram inundação
Proporção de ruas sujeitas a empoçamentos provocados por drenagem
inadequada
Quantidade de instalações hidro-sanitárias com vazamento por
domicílio
Inadequação da disponibilidade intradomiciliar de água
Proporção de domicílios sem banheiro
Proporção de domicílios sem sanitário
Inadequação do destino de dejetos
Inadequação do acondicionamento domiciliar de lixo
Descrição das unidades das melhorias sanitárias domiciliares que
compõem o empreendimento
Investimento por domicílio em melhorias sanitárias domiciliares
Mutuário responsável pela aplicação dos recursos
Percepção do usuário sobre a adequação de suas instalações hidro-
sanitárias
Percepção da população sobre hábitos de higiene e riscos para
transmissão de doenças
Uso de material domiciliar sanitário
Hábitos referidos de higiene na população
Insuficiência de consumo per capita de água
Qualidade microbiológica da água (Coli total, fecal e E. Coli;) no ponto
de consumo intradomicílio;
Qualidade físico-química da água (turbidez , cloro residual e flúor) no
ponto de consumo intra-domicílio
Cobertura de população exposta a ambientes aquáticos contaminados
Incidência de pessoas em contato com esgoto e lixo
Incidência de crianças em contato com esgoto e lixo
Incidência referida de presença de Aedes aegypt
Proporção de pessoas expostas a inundações e empoçamentos
Tabela 8.3. Relação dos indicadores de saneamento ambiental (continuação)
Campo de análise
Cód.
Indicadores
Dimensão
Unidade de
medida/
categoria
Denominação
Denominação
Es3 - Esgoto e lixo no
peridomicílio
Es4-1 - Meio ambiente
insalubre
Ex1 - População
consumindo água em
quantidade insuficiente
Es3-1
Es4-1
Es4-2
Es4-3
Es4-4
Es4-5
Es4-6
Es4-7
Es4-8
Es5-1
Es5-2
Es5-3
S
S
S
S
S
S
S
S
S
S
S
S
S
S
S
T
T
T
S
S
S
S
S
S
S
S
S
S
S
S
%
S/N
Es5 - Moradias desprovidas
de instalações hidro-
sanitárias adequadas
Ex3-1
Es5-4
Es5-5
Es5-6
Es5-7
Es5-8
Es5-9
Es6-1
Es6-2
Es6-3
Es6 - Higiene domiciliar e
pessoal inadequado
Ex1-1
Ex2-1
Ex2-2
Ex2 - População
consumindo água de
qualidade inadequada
Ex3 - População exposta a
ambiente insalubre
Ex4 - População residente
em domicílio insalubre
Ex5 - População exposta a
vetores
Ex4-1
Ex4-2
Ex5-1
Ex5-2
%
%
mg/l
%
%
%
%
%
%
R$/domicílio
%
%
%
%
%
Es5-10
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
68
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma última definição metodológica importante diz respeito a como se dará a avaliação após a confor-
mação do banco de dados com os indicadores e variáveis definidos a partir do Modelo FPEEEA. Algumas
dúvidas se colocam. Serão utilizados índices compostos ou buscar-se-á interpretar cada indicador isolada-
mente?
A construção de índices compostos contém algumas fragilidades. Um dado município ou localidade
pode apresentar, por exemplo, um índice de condições sanitárias extraordinárias, no entanto determinado
indicador que compõe tal índice pode apresentar fragilidades graves. Os índices são mais apropriados para
avaliar melhor uns componentes e dimensões do que outros. Os índices são mais apropriados para comparar
municípios, o que não é o caso dessa avaliação.
Entretanto, mesmo considerando tais fragilidades, julga-se conveniente adotar índices compostos de
indicadores, com as seguintes observações:
Definir índices por campo de análise, por dimensão e por componente;
Utilizar os índices para subsidiar um julgamento mais amplo, pois somente o indicador isolado
pode avaliar detalhadamente os pontos que merecem ser melhorados ou corrigidos;
Adotar pesos por cada indicador para compor o índice, considerando as condições em que as
situações extremas se reflitam no índice.
Para a análise das dimensões sanitárias e de gestão, pode-se almejar a construção de um Índice de
Desenvolvimento Sanitário – IDS composto para cada município, a partir de outros indicadores, também
compostos, de abastecimento de água, de esgotamento sanitário e de instalações sanitárias domiciliares, por
exemplo, conforme procedimento proposto por Borja e Moraes (2000). Após o cálculo dos indicadores, os
dados podem ser uniformizados pela mesma metodologia utilizada em outros estudos, como o desenvolvido
pelo PNUD na construção do IDH.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Belloni, I., Magalhães, H., Sousa, L.C. Metodologia de Avaliação em Políticas Públicas. Uma experiência em
educação profissional. Cortez, São Paulo.
Borja, P.C. e Moraes, L.R.S. (2000). “Indicadores de Saúde Ambiental - Saneamento em políticas Públicas:
Análise Crítica e Proposta”. In: XXVII Congreso Interamericano de Ingenieria Sanitaria y Ambiental, Porto
Alegre.
Brasil. (2002). Diagnóstico dos serviços de água e esgotos - SNIS 2001. SEDU/PR - IPEA, Brasília, Brasil.
Ferreira, A. (2000). Dicionário da Língua Portuguesa. Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro.
Figueiredo, M. e Figueiredo, A. (1986). Avaliação política e avaliação de políticas: um quadro de referência
teórica. Análise e Conjuntura. Fundação João Pinheiro, Belo Horizonte.
Hartz, Z.M.A. (1997). Avaliação em saúde – dos modelos conceituais à prática na análise da implantação de
programas. FIOCRUZ, Rio de Janeiro, RJ, 131p.
69
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2002). Censo Demográfico - 2000. Rio de Janeiro, RJ.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2002). Pesquisa Nacional de Saneamento Básico - 2000.
IBGE, Rio de Janeiro, RJ, 487p.
Montenegro, M.H.F., Aguiar, A.M.S., Andrade, I., Souza, J.A. de, Henriques, M.M. (2001). Plano de gestão: A
regulação do operador público dos serviços de água e esgotos. In: 21 Congresso Brasileiro de Engenharia
Sanitaria e Ambiental, João Pessoa,17p.
Moraes, L.R.S. e Borja, P.C. (2001). “Política e Regulamentação do Saneamento na Bahia: situação atual e
necessidade de arcabouço jurídico-institucional”. In: 21 Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e
Ambiental, João Pessoa, 20p.
Moraes, L.R.S. e Oliveira Filho, A. (2000). “Política e Regulamentação do Saneamento no Brasil: Análise
Contemporânea e Perspectivas”. In: IX SIMPÓSIO LUSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E
AMBIENTAL, Porto Seguro, 1848-1859.
Rico, E.M., Saul, A.M., Fonseca, A.M.M., Fagnani, E., Perez, J.R.R., Melo, M.A., Carvalho, M.C.B., Pestana,
M.I.G.S., Arretche, M.T., Faria, R.M. Rios, T., e Lobo, T. (1998). Avaliação de Políticas Sociais: Uma Questão
em Debate. Cortez: Instituto de Estudos Especiais, São Paulo.
71
CAPÍTULO 9
EIXO ANTROPOLÓGICO
Recortar o universo do saneamento sob o prisma mais específico da antropologia, além de um
desafio, é crucial quando se deseja proporcionar uma perspectiva mais abrangente dos fenômenos aos
quais esse se vincula. A abordagem antropológica privilegia as relações cotidianas, o sentido, a significa-
ção, a dimensão valorativa dos fatos observados, tendo por referência a lógica própria à cultura na qual as
práticas humanas estão inseridas. Desse modo, em muito pode contribuir para alargar a compreensão das
ações de saneamento, que vêm sendo tratadas quase que exclusivamente nos limites dos conceitos técni-
cos da engenharia e do saber médico-científico.
Em outras palavras, as práticas em saneamento e saúde possuem características que só podem ser
plenamente apreendidas mediante a elucidação das lógicas e dos padrões socioculturais em que são
atualizadas. As interpretações e vivências que os grupos sociais atribuem a essas experiências adquirem
significados de acordo com contextos culturais e processos sociais específicos.
O estudo antropológico de populações dos municípios conveniados às ações de saneamento do
Programa visa, portanto, a favorecer conhecimentos e entendimentos sobre os usos, os valores e os
sentidos que diferentes grupos imprimem ao saneamento, às noções de saúde, doença, limpeza, sujeira
etc. Trabalhar a dimensão sociocultural na avaliação proposta significa acordar importância a aspectos
que, ao serem negligenciados, limitam a compreensão das ações de saneamento, implicando perdas
substantivas em eficácia e efetividade. A realidade possui inúmeras facetas que escapam aos modelos
estatísticos/matemáticos de mensuração e só podem de fato ser apreendidas por meio da observação
direta dos comportamentos e das vivências e subjetividades partilhados no cotidiano. Trata-se de uma
“realidade invisível” (Borja e Moraes, 2003), pouco evidente, envolvendo crenças, valores, idéias, sensa-
ções, afetos, dificilmente quantificáveis, mas fundamentais em qualquer tentativa de entendimento dos
significados e das cadeias de causalidade nos quais se inserem as práticas e as experiências humanas.
OBJETIVOS
Este eixo tem como objetivo geral compreender as ações de saneamento ambiental em suas conexões
e seus desdobramentos no modo de vida e nas condições de saúde das populações envolvidas. Visa, ainda,
a contribuir para a crítica qualitativa dos indicadores quantitativos, usualmente presentes nas avaliações das
políticas de saneamento. Para tanto, buscar-se-á investigar as seguintes dimensões específicas:
1. Representações sobre doenças e práticas de cura, focalizando as doenças oriundas do ambiente
contaminado;
2. Percepções e atitudes em relação à água e a seus usos;
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
72
3. Sistemas de classificação e condutas relacionadas ao lixo;
4. Tipos de convivência com esgoto e suas destinações;
5. Padrões de higiene e de alimentação;
6. Tipos de relações sociais propiciados pelas ações de saneamento (novas áreas de lazer, mudança
na convivência familiar e comunitária etc.);
7. Percepções e usos dos equipamentos e tecnologias implantados;
8. Padrões de organização comunitária e formas de associativismo; e
9. Participação da população na concepção, implementação e gestão de políticas públicas, priorizando
aquelas relativas ao saneamento.
Em cada uma dessas dimensões, deve-se procurar identificar os princípios, idéias e valores que as
norteiam, considerando a diversidade de sujeitos (segundo gênero, idade, ocupação, trajetória etc.) e de
instituições sociais (de saúde, educacionais, religiosas, comunitárias etc.). Dar-se-á especial atenção aos
problemas e às melhorias identificados pelos moradores, líderes comunitários, gestores e técnicos após a
implementação dos sistemas. Trata-se, portanto, de apreender as representações sobre o impacto das ações
de saneamento desde a perspectiva dos diferentes sujeitos envolvidos, considerando que a forma como os
indivíduos concebem o mundo é fundamental para o modo como nele atuam. O isolamento das conseqüên-
cias destas ações sobre a realidade, tomando como parâmetro um ponto de vista exterior aos identificados no
horizonte dos grupos investigados, não constitui o propósito das avaliações socioculturais. Tal recorte ade-
qua-se mais a pesquisas que visam, prioritariamente, a construir cenários de realidades do tipo “dever ser”,
em detrimento da compreensão de como a realidade “é”.
Por fim, a investigação contemplará as múltiplas mediações políticas que envolvem a implantação das
ações de saneamento, tais como: conflitos e negociações entre poderes constituídos e emergentes, usuários e
técnicos, líderes e gestores, e moradores beneficiados e excluídos. Trata-se de compreender de que forma o
acesso aos serviços públicos básicos, um direito assegurado pela Constituição, é interpretado pela população
e em que medida traduz-se em sentimentos de inclusão social e novos padrões de cidadania.
CONSIDERAÇÕES SOBRE A DIMENSÃO SOCIOCULTURAL
Os debates recentes sobre o saneamento vêm destacando sua complexidade e a necessidade de consi-
derar as ações em saneamento no bojo do controle de “todos os fatores do meio físico do homem, que
exercem ou podem exercer efeitos deletérios sobre seu bem-estar físico, mental ou social” (OMS, citado por
Moraes 2003:1). Assim, as ações de saneamento passaram a abranger, por exemplo, preocupações com a
melhoria das condições habitacionais e a educação sanitária e ambiental, embora a compreensão, no Brasil,
permaneça nas ações de abastecimento de água, de destinação de esgoto sanitário e de resíduos sólidos, de
drenagem de águas pluviais e de controle de vetores e de reservatórios de doenças transmissíveis. Simultanea-
mente, verificou-se a redefinição do papel da população alvo no bom desenvolvimento das ações de sanea-
mento.
A política de saneamento busca interferir na vida cotidiana das populações atingidas melhorando sua
qualidade de vida por meio do incremento das condições de habitabilidade, consideradas em sentido amplo.
Freqüentemente, no entanto, suas ações não logram atingir os resultados esperados. Embora tecnicamente
73
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
corretas, as obras de esgotamento sanitário e de abastecimento de água, por exemplo, nem sempre são
eficazes na diminuição da incidência de doenças oriundas de um ambiente contaminado.
Em recente estudo na localidade de São Sebastião (DF), Rissoli (2001) verificou que não houve a
interrupção do ciclo de contaminação da população no que se refere à água e ao esgoto, mesmo após os
investimentos públicos em sistemas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário. Uma parcela signi-
ficativa da população de São Sebastião continuava consumindo a água dos poços, em detrimento da água
disponibilizada pela Companhia de Saneamento do DF (CAESB). As alegações apresentadas para esta escolha
foram, entre outras, a qualidade da água da CAESB (“tem gosto ruim”, “tem muito cloro, parece leite”, “é
salobra”, “quando cozinha a panela fica preta” etc.) e o preço da água. Diagnósticos deste tipo vieram a
revelar a importância da dimensão não técnica no planejamento das ações em saneamento. Conhecer o modo
de vida e os valores da população a ser contemplada revelou-se tão importante quanto a definição da obra de
engenharia a ser realizada.
Por tal mudança de concepção, a população a ser beneficiada vem sendo reconsiderada em sua
condição de sujeito ativo que deve interagir e se apropriar das diferentes ações de saneamento a partir de seu
horizonte cultural, tanto nos momentos de concepção, planejamento, execução e gestão das políticas públi-
cas, quanto no que concerne ao modo como as compreende e delas se utiliza na sua vida cotidiana. Sendo
longa a tradição dos estudos antropológicos na investigação da diversidade cultural e social dos grupos
humanos, a antropologia dispõe de um rico arsenal teórico e metodológico para a orientação de pesquisas no
âmbito das representações e interações sociais em suas múltiplas dimensões. No que se refere ao conteúdo
específico deste eixo – saúde e saneamento na vida cotidiana e da perspectiva da participação e controle social
das políticas públicas –, destacam-se os trabalhos produzidos em: (1) antropologia da saúde, (2) antropo-
logia da política e (3) nos chamados estudos de comunidade.
A preocupação com a temática da saúde, embora tenha ganhado impulso nos anos 1970, está
presente desde os primeiros trabalhos antropológicos. Os estudos de W.H.R. Rivers, datados da segunda
década do século passado, representam iniciativa pioneira no campo da antropologia médica. Rivers –
antropólogo, médico e psicólogo – constatou, a partir de seu contato com povos então ditos primitivos, que as
elaborações culturais sobre a “causação da doença” seriam a principal chave para a compreensão das
distintas noções de doença, diagnóstico, prognóstico e cura (Rivers, 1924). Tal diversidade de causas foi por
ele classificada em três categorias:
1) a da ação humana, traduzida na crença de que a doença ocorre devido à ação levada a cabo por
um ser humano (feitiço, bruxaria e outras formas de magia);
2) a da ação espiritual ou sobrenatural, que atribui a causa da doença à ação de algum agente não
humano (espíritos, divindades e outras formas de personificação do sobrenatural);
3) a das forças naturais, que engloba a crença nas causas naturais como fator provocador da doença
(ação de organismos vivos, do fogo, do calor e do frio, entre outras).
Assim, Rivers verificou que as explicações sobre os fenômenos que levam à perda das forças vitais e à
morte, embora não orientadas pela racionalidade do saber médico, revelam-se sempre portadoras de um
esquema lógico se consideradas no contexto social no qual se manifestam. Ainda hoje, o campo da reflexão
sobre as interfaces entre a ordem biológica e a ordem cultural mantém conexões de continuidade com as
linhas estabelecidas por Rivers, enveredando por investigações em torno de, por um lado, formas de
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
74
racionalidade e de classificação simbólica e, por outro, de representações acerca da doença, da anatomia e
das práticas de cura.
O presente projeto coloca não apenas a possibilidade de avançar nesta temática em contextos sócio-
culturais ainda não explorados, bem como desafia a criar uma nova linha de reflexão que conecte, em torno
dos problemas específicos postos pelas ações de saneamento, os conhecimentos alcançados nos trabalhos já
consagrados. Estes versam principalmente sobre as relações entre doença e malefício (Evans-Pritchard 1937,
Bastide 1971), doenças e processos de cura (Zimmerman 1980, Duarte 1986, Knauth 1991), relação
médico e paciente (Kleinman 1980, Young 1982, Loyola 1984), hábitos alimentares (Peirano 1975, Woortmann
1978), representações sobre o corpo (Ibañez-Novión 1978, Boltanski 1979, Leal 1995) e classificações de
puro e impuro, limpo e sujo (Douglas 1976, Dumont 1966) em diferentes realidades culturais. Trata-se de
explorar as interfaces entre essas dimensões, abordadas separadamente nos diferentes estudos, de modo a
mapear realidades que só ganham visibilidade quando consideradas em conjunto.
Entre os inúmeros escritos sobre a temática da política, aqueles que se apresentam com maior renta-
bilidade analítica para os interesses deste projeto são os que buscam compreender os significados da vida
política sob o ponto de vista dos próprios sujeitos envolvidos (Palmeira e Heredia 1995, Bezerra 1995,
Teixeira 1998). Tal abordagem tem permitido renovar os debates clássicos sobre clientelismo, redes de ajuda
mútua, facções (Leal 1976, Schmidt et al. 1977), cidadania e concepções de participação, constituição de
lideranças e mediadores (Durkheim 1983, Mauss 1953-54, Marshal 1967, Reis 1981), relação entre organis-
mos governamentais e entidades não-governamentais (Landim 1993, Fernandes 1994).
Os estudos de comunidade são fundamentais para apurar a observação no trabalho de campo no que
se refere aos modos de vida, relações cotidianas e seus significados em um espaço de convivência de base
territorial (Harris 1953, Pierson 1966, Lewis 1963, Galvão 1955). Esta linha de investigação propicia um
maior potencial para uma abordagem articulada dos diversos aspectos da realidade uma vez que se defina um
recorte local – município, bairro ou comunidade. Nesse sentido, em início dos anos 1950, o estado da Bahia,
representado pelo antropólogo Thales de Azevedo, em colaboração com o Departamento de Antropologia da
Universidade de Columbia (NY), viabilizou a implementação de um projeto de pesquisa de natureza antropo-
lógica com o objetivo de subsidiar o planejamento de programas nas áreas de educação e saúde pública nas
zonas rurais do estado. Foram realizados três estudos de comunidade, com duração de dois anos, envolvendo
equipes interdisciplinares. A experiência revelou-se de grande interesse e importância na busca de alternati-
vas às soluções de problemas sociais.
Ao propor o diálogo entre as diferentes linhas de pesquisa acima mencionadas, o projeto tem a
ambição de contribuir para o aprimoramento dos instrumentos de planejamento e avaliação de políticas
públicas e, simultaneamente, incrementar e adensar o debate acadêmico.
METODOLOGIA
O método de pesquisa de campo intensiva, próprio da tradição antropológica, é o parâmetro desta
avaliação sociocultural. Inspira-se nos estudos de pequenas formações sociais ágrafas que caracterizaram os
primeiros trabalhos da disciplina. Nestes, o levantamento de informações dava-se prioritariamente por meio
do contato íntimo e prolongado com os grupos investigados, envolvendo o aprendizado dos códigos e lingua-
gem locais. O que inicialmente poderia parecer uma imposição do objeto em si, revelou-se uma concepção
75
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
metodológica eficaz para a compreensão de universos humanos de natureza bastante diversificada. Assim, o
desenvolvimento de técnicas específicas de coleta de dados deu-se no âmbito da construção dessa abordagem
que busca apreender o modo de vida dos grupos, englobando, a partir do olhar dos sujeitos, três dimensões
principais: relações e práticas cotidianas, instituições sociais e visões de mundo. Na metáfora utilizada pelo
autor que é considerado o paradigma da moderna pesquisa de campo, tais dimensões seriam a carne e o
sangue, o esqueleto e o espírito da existência social (Malinowski, 1922).
Da perspectiva do marco conceitual específico que orienta o projeto “Avaliação de Impacto na Saúde
das Ações de Saneamento”, a pesquisa de campo intensiva reafirma a consideração do universo investigado
em sua totalidade para:
1. a observância das múltiplas cadeias de causalidades envolvidas, direta ou indiretamente, nas ações
de saneamento e seus impactos na saúde;
2. a investigação das complexas redes de relações locais e suas hierarquias (materiais e simbólicas),
no contexto das quais as ações de políticas públicas são implementadas, de modo a refinar, tanto
em dimensão micro quanto macro, a compreensão das possíveis estratégias de atuação sobre a
realidade; e
3. a apreensão de três diferentes momentos de implementação das ações de saneamento, a saber:
antes do início da intervenção (t
0
), durante a realização da ação (t
1
) e após a sua conclusão (t
2
), de
modo a compreender a dinâmica e os processos de produção e transformação da realidade
focalizada.
Buscar-se-á, com a investigação aprofundada em poucos municípios, contribuir para o aprimoramen-
to dos indicadores de saneamento e saúde inspirados no Modelo FPEEEA (Forças Motrizes, Pressões, Esta-
dos, Exposições, Efeitos e Ações) proposto pela Organização Mundial de Saúde-OMS (Von Schirnding 1998;
Corvalan, C.; Briggs, D.; Zielhus, G.). Tais indicadores podem estar articulados, por exemplo, em torno dos
seguintes conjuntos de questões:
1. inexistência ou inadequação de políticas públicas (de saneamento; de saúde; de meio ambiente; e
de inclusão social);
2. acessibilidade, inadequação ou inexistência dos serviços (de atendimento comunitário de saúde;
de água, de esgoto, de coleta e destino de lixo e de drenagem);
3. insalubridade do meio ambiente e higiene domiciliar e pessoal inadequadas;
4. exposição da população a vetores e a condições ambientais e domiciliares inadequadas.
A análise qualitativa de indicadores exige dos pesquisadores das ciências humanas e, em particular, da
antropologia, o desenvolvimento de estratégias metodológicas que possibilitem apreender tanto as elabora-
ções conscientes desenvolvidas pelos diferentes sujeitos acerca das ações de saneamento, quanto as dimen-
sões valorativas e vivenciadas no cotidiano, nem sempre conscientes. Se na abordagem qualitativa dificilmente
o universo investigado pode ser reduzido a modelos estatísticos/matemáticos, tampouco a consideração de
um aspecto particular da realidade pode prescindir da percepção do conjunto de processos, dimensões e
temporalidades envolventes. Dessa forma, para alcançar os objetivos propostos – compreender as interven-
ções de saneamento e seus desdobramentos no modo de vida de grupos sociais; e contribuir para a crítica
qualitativa dos indicadores de saneamento e saúde – o desenho da pesquisa de campo requer a incorpora-
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76
ção de ancoragens metodológicas complementares, envolvendo etapas, conteúdos e técnicas de coleta de
dados distintas.
Cabe, porém, antes de detalhar as estratégias metodológicas, explicitar a inserção diferenciada da
análise dos aspectos socioculturais nos três níveis de avaliação previstos: população, amostra e estudo de
caso. Para a população, composta por 1.846 municípios, será realizada a sistematização de uma listagem dos
aspectos socioculturais relevantes na composição da análise final dos resultados e, ainda, um levantamento
das fontes secundárias a serem consultadas. Para a amostra, composta por 23 municípios, além da listagem
dos aspectos socioculturais, as fontes secundárias levantadas serão trabalhadas a fim de fornecer as informa-
ções que se fizerem necessárias ao diálogo com os demais projetos. No estudo de caso é onde a avaliação
sociocultural dar-se-á de forma mais consistente, merecendo algumas considerações à parte.
Níveis de inserção da avaliação sociocultural:
População - listagem de fontes secundárias;
Amostra - levantamento de dados secundários; e
Estudos de caso - levantamento de dados secundários e pesquisa de campo.
Os estudos de caso visam a possibilitar o aprofundamento da investigação por meio da pesquisa
intensiva em áreas restritas. Nesse nível, pode-se abordar questões que não são passíveis de serem tratadas
pelo uso de instrumentos de levantamento de dados de rápida aplicação, tais como pesquisas de opinião e
questionários sobre condições materiais de existência, tão necessários às pesquisas por amostragem. Trata-se
de, em especial, mapear as teias de significado nas quais os sujeitos vivem e as quais atualizam numa tensão
permanente entre continuidade e mudança. Por sua natureza essencialmente compartilhada, os sistemas
simbólicos podem ser acessados tanto por observação direta quanto por interação verbal. Assim, valores e
sentidos, emoções e sensações são partilhados e negociados no dia a dia em suas diversas dimensões. A vida
cotidiana revela-se como o espaço e o tempo por excelência das construções e reelaborações, verbais e não-
verbais, dos significados que possibilitam e orientam as interações entre os diferentes sujeitos.
A pequena abrangência dos estudos de caso requer procedimentos de escolha das áreas a serem
investigadas, distintos daqueles utilizados na seleção da amostra. Não se trata de representar o universo em
miniatura ou de transformar essas áreas em laboratório dos cientistas sociais. Os estudos de caso pretendem
ser casos exemplares, no sentido de serem bons para pensar o problema em foco. Assim, sua escolha deve ser
feita a partir da construção de tipos gerais, tendo como critérios os elementos que melhor permitam explorar
analiticamente as diferentes dimensões que compõem o projeto “Avaliação de Impacto na Saúde das Ações de
Saneamento”.
A definição desses elementos vem sendo feita em consonância com as demais equipes de pesquisa
(Saneamento, Epidemiologia e Economia da Saúde), sendo que até o momento já foram estabelecidos os
seguintes critérios:
1) tipo de intervenção de saneamento;
2) de gestão (municipal ou estadual);
3) inserção regional;
4) proximidade de cursos de água;
77
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
5) presença de organizações comunitárias; e
6) de políticas públicas de inclusão social.
A seleção final dos municípios a serem submetidos à pesquisa de campo pressupõe três momentos
lógicos: a definição da amostra, a indicação dos potenciais casos exemplares (entre 6 e 10 municípios) e, por
fim, uma visita de sondagem a esses municípios com o objetivo de selecionar os estudos de caso (entre 3 e 6
municípios).
ESTRATÉGIA DE COLETA DE DADOS
As estratégias a serem utilizadas nos diferentes níveis de avaliação do projeto são duas: pesquisa em
fontes primárias e pesquisa em fontes secundárias.
1) Pesquisa em fontes primárias
A pesquisa primária comporta a produção de novos dados, implicando na realização de estudos de
casos. O levantamento de informações nesta etapa deverá contemplar três técnicas de coleta de dados:
Observação direta
Trata-se do levantamento de informações obtidas por meio de conversas informais individuais e/ou
grupais. Supõe também a observação minuciosa de eventos e de comportamentos não verbais relacionados
ao objeto em estudo. Por tal procedimento, buscar-se-á acessar dimensões de difícil mensurabilidade por
serem rotineiras, naturalizadas pela população e, freqüentemente, imersas em sistemas culturais desconheci-
dos no planejamento das enquetes convencionais.
Aqui assume destaque o próprio entendimento do que seja adequado ou inadequado em termos
dos vários aspectos presentes na avaliação dos serviços de água, esgoto, lixo e drenagem e, também, de
padrões de higiene. O desperdício de água, por exemplo, não pode ser avaliado estritamente por meio de
medições hidrométricas, pois o maior ou menor consumo de água depende fortemente da visão que os
usuários do sistema têm sobre escassez, abundância, ciclo de origem e destino das águas, além do custo e da
classificação que se faz dos tipos de água (do poço, do rio, encanada, tratada etc.) e seus usos (boa para
beber, para cozinhar, para banho, para lavagem de roupa etc.).
O mesmo se aplica no que concerne às avaliações da participação da população no planejamento
e gestão das ações de saneamento. Neste caso, é necessário mapear as diferentes concepções de cidadania e
expectativas com relação à atuação dos poderes públicos e privados, de modo a ampliar o entendimento dos
mecanismos de participação e controle social em políticas públicas.
A observação direta, portanto, visa a captar valores, atitudes, percepções, sentidos e experiências que
fundamentam as visões de mundo e o dia a dia das populações na sua relação com as ações de saneamento.
Grupos de discussão
Objetivam obter informações por meio de entrevistas direcionadas a grupos selecionados a partir
de determinadas características identitárias. Trata-se de uma “conversa com finalidade”, ou seja, possui um
foco de interesse sobre o qual se desenrolará a conversa, tendo o apoio de um roteiro temático estruturado.
Esta técnica explora as representações conscientes permitindo ir além das respostas estereotipadas, pois
pressupõe um envolvimento prolongado dos participantes na discussão estruturada, criando condições para
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
78
uma reflexão coletiva que transcende a soma das opiniões individuais. Será potencialmente utilizada para
investigação junto a moradores das áreas objeto de intervenções, lideranças comunitárias, profissionais e
técnicos dos serviços de saneamento, saúde e educação.
Procurar-se-á abordar em especial as opiniões sobre os serviços em suas diferentes fases (planeja-
mento, implementação, manutenção e atendimento ao usuário): grau de satisfação, respostas às expectativas,
acesso às informações, avaliação das tecnologias utilizadas, dos critérios de alocação de recursos e as mudan-
ças ocorridas nas rotinas da vida local.
Entrevistas
Trata-se de levantar informações por meio de entrevistas individuais, apoiadas por um roteiro
temático aberto. As entrevistas seguem um esquema geral, mas podem incorporar temas adicionais que
pareçam pertinentes a cada um dos sujeitos em questão, prioritariamente, decisores e gestores em diferentes
níveis: prefeitos e vereadores, gerentes de serviços, secretários estaduais e municipais. Por tal procedimento
pretende-se levantar informações concernentes à existência de participação e de controle social, de serviços
de atendimento aos usuários, a relação entre partidos políticos e administração pública, aos critérios de
alocação dos recursos, às disponibilidade e acessibilidade das informações, ao grau de desenvolvimento
institucional (integração de serviços e das administrações estadual e municipal, programas intersetoriais,
extensão das ações), às operacionalidade e manutenção dos serviços.
2) Pesquisa em fontes secundárias
A pesquisa secundária implica na reorganização dos dados disponíveis, configurando-se numa etapa
importante da investigação. Sua contribuição se ordenará em complementaridade e em relação aos dados
colhidos em campo por meio da observação direta, grupos de discussão e entrevistas. Esta etapa pressupõe:
levantamentos bibliográficos e documentais (legislação, avaliações e diagnósticos, periódicos);
pesquisa em banco de dados e sites (IBGE, CNBB, partidos políticos, órgãos públicos etc.);
levantamentos de dados obtidos junto aos órgãos da administração pública estadual e municipal,
tais como secretarias de saúde, de educação, de obras e de meio ambiente, e empresas prestadoras
de serviços de saneamento; e
pesquisa histórica (arquivos municipais e estaduais, acervos dos Ministérios e da Biblioteca
Nacional).
Para assegurar uma eficácia máxima à pesquisa de fontes secundárias, é oportuno que a mesma se dê
em absoluta complementaridade com as visitas a campo, que devem ser precedidas de uma minuciosa prepa-
ração bibliográfica. O objetivo deste levantamento é instrumentalizar os pesquisadores com as informações já
disponíveis sobre os municípios, devendo ter continuidade durante a pesquisa de campo no que se refere a
dados municipais em arquivos locais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma última colocação teórico-metodológica deve ser feita com relação ao fato de que, embora os
pesquisadores envolvidos na investigação específica do eixo antropológico tenham questões muito definidas,
estas não devem configurar uma “camisa de força” na realização da pesquisa de campo. Os objetivos gerais e
79
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
específicos mencionados anteriormente constituem um levantamento de problemas, indagações e aspectos
realizado com base em estudos já desenvolvidos por antropólogos no âmbito das relações entre saúde, meio
ambiente e modo de vida. Desta perspectiva, são oriundos de pesquisas etnográficas e foram construídos no
diálogo cuidadoso e atento entre teorias acadêmicas e teorias e práticas populares investigadas. Têm, portan-
to, valor heurístico sem pretensões de se transformarem em leis do comportamento humano neste universo
temático. É fundamental, portanto, que o pesquisador busque desde o início não se restringir apenas às
perguntas pré-definidas e mantenha-se atento a todos as dimensões da realidade investigada que apresentam
não somente relevância teórica, mas, sobretudo, relevância etnográfica, ou seja, que sejam importantes do
ponto de vista local. Afinal, o avanço que o conhecimento antropológico logrou atingir desde meados do
século XIX deveu-se principalmente ao investimento metodológico realizado com a finalidade de ressaltar, por
um lado, que toda e qualquer pesquisa desta perspectiva consiste de esforços de compreensão dos múltiplos
sentidos que a experiência humana possa conter; e, por outro, que o refinamento do debate teórico advém do
confronto com os fatos etnográficos, por mais elegância e fascínio que por ventura o debate teórico per se
venha a apresentar.
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83
CAPÍTULO 10
EIXO EPIDEMIOLÓGICO
A avaliação de programas é reconhecida como um procedimento imprescindível no âmbito das
políticas públicas, face à necessidade de otimizar o uso dos recursos disponíveis, fundamentar a tomada
de decisão considerando os avanços científicos e a diversidade tecnológica do mercado, informar a
população sobre o impacto epidemiológico produzido e realizar projeções do alcance das metas
estabelecidas.
O conceito de impacto epidemiológico freqüentemente é usado como sinônimo de efetividade, que
diz respeito ao efeito de intervenções em conjunturas reais e não em situações experimentais de pesquisa.
A avaliação desses efeitos na saúde refere-se à sua mensuração em relação a grandes grupos populacionais
ou em grandes intervalos de tempo (Vieira da Silva, 2003).
Embora os resultados benéficos das intervenções de saneamento sobre a saúde já sejam conheci-
dos e consistentes em várias realidades, sabe-se que estes efeitos podem ser modificados, ou não se
tornarem claramente perceptíveis em função da influência de uma conjunção de fatores, tais como o tipo
de tecnologia empregada, a cobertura, organização e eficiência das ações, a realidade sociocultural de
cada local, entre outros.
A complexidade desse processo impõe o emprego de metodologia científica nas suas avaliações,
com vistas à uma aferição mais acurada do impacto epidemiológico produzido. A expectativa é de que os
produtos de uma avaliação desta natureza, além de indicarem se os objetivos propostos pela intervenção
foram alcançados, possam subsidiar no redirecionamento de ações na perspectiva do seu aprimoramento
e otimização da aplicação de recursos públicos.
OBJETIVOS
O Eixo Epidemiológico tem como objetivo geral avaliar o impacto produzido pelas interven-
ções de saneamento na morbidade e mortalidade por algumas doenças que têm sua ocorrência relacio-
nada com o saneamento.
O objetivo geral se desdobra nos seguintes objetivos específicos:
Analisar a tendência da incidência de febre tifóide, hepatites virais e leptospirose;
Analisar a tendência das taxas de internação por diarréia em crianças menores de cinco anos;
Analisar a tendência da mortalidade por diarréia em crianças menores de um ano e menores
de cinco anos;
Analisar a tendência das taxas de mortalidade infantil e de menores de cinco anos;
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
84
•Estimar a redução da prevalência de enteroparasitoses selecionadas após a intervenção de
saneamento; e
Estimar a redução da prevalência de diarréia infantil aguda em crianças pré-escolares, após a
intervenção de saneamento.
AVALIAÇÃO DE IMPACTO EPIDEMIOLÓGICO: ASPECTOS METODOLÓGICOS
A avaliação do impacto ou efetividade de intervenções sanitárias sobre a situação de saúde das popu-
lações beneficiadas é sempre uma tarefa complexa, em decorrência tanto de aspectos conceituais como de
problemas metodológicos que envolvem o próprio processo de avaliação. Esta complexidade se amplia,
especialmente, quando envolve a mensuração da efetividade de intervenções que interferem na saúde huma-
na, tendo em vista as características dinâmicas e multifatoriais dos determinantes das condições de saúde das
populações (Silva & Formigli, 1994; Santana et al., 1997).
Como em toda investigação científica, também nas pesquisas avaliativas de impacto epidemiológico é
fundamental ter clareza da teoria que deverá orientar o estudo, visto que é esta que apoia a escolha metodológica
e embasa a análise do fenômeno, fornecendo subsídios para o entendimento dos resultados encontrados. Em
se tratando de um estudo sobre os possíveis efeitos de intervenções na saúde de populações humanas, a teoria
subjacente sobre a determinação dos problemas de saúde de interesse é baseada nos conhecimentos bioló-
gico, epidemiológico e social.
De modo geral, são empregadas nas pesquisas avaliativas no campo da avaliação de impacto
epidemiológico as mesmas estratégias de investigação já consagradas pela Epidemiologia, ou seja, os dese-
nhos estruturados, tais como os experimentais, quase experimentais e os não experimentais ou observacionais.
A escolha de um ou mais destes recursos metodológicos depende da natureza do objeto da investigação e dos
objetivos da avaliação, e, da sua maior ou menor vulnerabilidade a viéses. A rigor, o desenho experimental,
também denominado estudo de intervenção, é o que apresenta maior potencial para evitar tais viéses. Contu-
do, em se tratando de estudo envolvendo seres humanos, enfrenta-se problemas éticos (Smith, 1980) que,
praticamente, impedem a sua realização. Desta forma, os desenhos observacionais são os mais utilizados em
detrimento dos anteriores (Almeida-Filho & Rouquayrol, 1999).
Metodologias freqüentemente utilizadas na avaliação de impacto de intervenções na saúde são: o
monitoramento (retrospectivo e prospectivo) de doenças específicas, mediante análise de séries temporais de
indicadores de morbi-mortalidade, cortes transversais seriados, ou acompanhamento de coortes. Estes dife-
rentes desenhos genericamente denominados de quase-experimentais são considerados apropriados para
estas avaliações (Rothman, 1986).
Em avaliações de impacto epidemiológico, com freqüência, são empregadas mais de uma abordagem
metodológica visando amplificar as evidências dos possíveis efeitos da intervenção (Chen, 1990). Além disso,
de acordo com Hartz (1998), os resultados obtidos com o emprego de vários desenhos de estudo, se consis-
tentes e compatíveis com a realidade, possibilitam fazer uma inferência causal mais sólida do que com aqueles
derivados de apenas um desenho. Considera-se ainda que quando o problema sob intervenção se refere a
uma doença de alta patogenicidade e o programa de intervenção tem como propósito a redução, controle,
eliminação ou erradicação de casos clínicos isolados ou agrupados, a análise de séries temporais e espaciais,
em geral, mostra-se adequada e suficiente para a avaliação. No entanto, mensurar o impacto de ações sobre
85
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
o meio ambiente na saúde de populações, como é a proposta deste eixo do estudo, é uma tarefa muito mais
complexa, por se tratar de uma intervenção que tem efeitos inespecíficos que, inclusive, extrapolam o campo
da saúde, e confundem-se e interagem com uma série de outros fatores e intervenções que influenciam, direta
e indiretamente, a determinação do processo saúde-doença.
Qualquer que seja a estratégia de avaliação epidemiológica adotada, não deve ser negligenciado, quer
no desenho do estudo ou na análise de seus resultados, o fato de que os efeitos esperados podem ser
potencializados ou reduzidos em função de outros programas sociais, padrões de desenvolvimento social e
econômico de cada local, e da duração de exposição à intervenção de interesse da avaliação. No que diz
respeito a esta última, a sua cobertura, acesso e utilização são elementos que também devem ser considerados,
ao lado da adequação das ações ao conhecimento técnico e científico vigente (análise de implantação). As
avaliações de efetividade que ignoram estes e outros fatores apresentam resultados bastante diferenciados
com problemas para sua generalização (Denis & Champagne, 1997; House, 2001). Deve também ser obser-
vada a fragilidade dos sistemas de informações disponíveis, particularmente nas áreas menos desenvolvidas,
que afeta a disponibilidade, acesso, cobertura e qualidade da informação.
EFEITOS DO SANEAMENTO AMBIENTAL SOBRE A SAÚDE
O conhecimento acerca da relação existente entre saneamento ambiental e o processo saúde-doença
já se encontra estabelecido há mais de um século (Rosen, 1994). Melhorias sanitárias introduzidas, entre
1860 e 1920, na Europa e na América do Norte, ao lado da elevação do nível de vida da população, desempe-
nharam papel fundamental na redução das taxas das doenças diarréicas e controle da ocorrência de epide-
mias de tifo e cólera (Esrey et al., 1985; Snow, 1987). De fato, o amplo acesso, nos países desenvolvidos, aos
dispositivos para eliminação das excretas e a disponibilidade de água de boa qualidade e em quantidade
suficiente determinaram uma drástica redução da incidência das doenças relacionadas a estes meios de
transmissão.
Certamente que estes avanços se deram também em decorrência de um vasto conjunto de efeitos
indiretos, de mais difícil aferição, que influenciaram a melhoria da saúde mediante modificações na esfera
social, econômica e educacional com conseqüente efeito no estilo de vida (Cvjetanovic, 1986), mas é inegável
o papel dos efeitos diretos produzidos pelas referidas intervenções na ocorrência daquelas doenças, por
contribuírem para elevar o nível de higiene pessoal e comunitário e o estado nutricional da população.
Entretanto, nos países em desenvolvimento, as doenças relacionadas ao saneamento mantêm-se como
problemas relevantes de saúde pública, apresentando-se como importantes causas de morbidade e mortali-
dade, especialmente entre crianças, em razão de um determinante comum, a inexistência ou precariedade do
esgotamento sanitário, e a não disponibilidade de água em quantidade suficiente e qualidade adequada para
o consumo humano (Huttly, 1990; Esrey & Habicht, 1986). Tudo isto, por sua vez, contribui para a deposição
das excretas em locais inadequados, tais como nas mãos, na água, nos alimentos e nos equipamentos domés-
ticos (Wolman, 1975).
No Brasil, as campanhas sanitárias desenvolvidas no início do século XX, que tinham em sua estrutura
um forte componente de saneamento ambiental, também conseguiram reduzir significativamente e, até, erradicar
algumas das doenças endêmicas e epidêmicas. Apesar do avanço no conhecimento científico-tecnológico na
assistência à saúde individual e coletiva, foi a relativa melhoria alcançada nas condições de vida das popula-
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
86
ções que permitiu que se obtivesse uma expressiva redução na mortalidade pelas doenças redutíveis por
saneamento. Contudo, a extrema desigualdade social existente no país, contribui para que permaneçam ainda
extensas áreas de pobreza e com precária infra-estrutura de saneamento e de saúde, que se potencializam e
estão na base da persistência, índices relativamente elevados de mortalidade infantil e de morbidade e morta-
lidade por causas evitáveis, a exemplo das doenças diarréicas e das parasitoses intestinais.
SANEAMENTO AMBIENTAL, DIARRÉIA E PARASITOSES INTESTINAIS
Embora nem sempre seja de fácil mensuração o impacto positivo produzido pelo abastecimento de
água e o esgotamento sanitário na ocorrência das diarréias, estudos epidemiológicos, com metodologias as
mais diversas, realizados em diferentes contextos, têm apresentado resultados consistentes quanto à existência
dessa relação (Bern et al., 1992; Victora et al., 1988; Wibowo & Tisdell, 1993; Gross et al., 1989). Da mesma
forma, apesar dos diferentes mecanismos de transmissão dos distintos enteroparasitas, são indispensáveis
condições ambientais propícias para o desenvolvimento de seus estágios evolutivos, o que significa dizer que
a ausência ou insuficiência de condições mínimas de saneamento e de práticas adequadas de higiene favore-
cem a dispersão destes agentes no meio-ambiente (WHO, 1991).
No que se refere à relação entre saneamento e mortalidade infantil, numerosas investigações atribuem um
papel de grande importância ao saneamento em seus diversos componentes. Por exemplo, o tipo de abasteci-
mento de água foi o fator ambiental que se mostrou mais significativamente correlacionado às variações das taxas
de mortalidade infantil nas diversas regiões do Sri Lanka (Patel, 1980). Outro fator também fortemente associado
à mortalidade infantil no mesmo país era a falta de instalações sanitárias no domicílio (Waxler et al., 1985).
Estudo de intervenção em uma área urbana das Filipinas registrou que a incidência da cólera foi reduzida
em 68% após instalação de dispositivos de eliminação das excretas, em 73% com o abastecimento de água, e em
76% com a adoção conjunta dessas duas medidas (Azurin & Alvero, 1974). Em área urbana desse mesmo país,
um estudo caso-controle demonstrou que a incidência da diarréia diminuiu 20% entre crianças com menos de
dois anos de idade, cujas famílias passaram a usufruir de um melhor nível de saneamento, resultante tanto da
qualidade da água utilizada como do sistema de eliminação das excretas (Baltazar et al., 1988).
Uma comparação entre mais de 40 países, efetuada a partir de dados disponíveis em fontes das Nações
Unidas, indicou que, nos modelos analíticos dotados de mais alta capacidade explicativa, a proporção de domi-
cílios sem qualquer tipo de instalação sanitária era o fator que apresentava a associação mais forte com a
mortalidade infantil (Hertz et al., 1994), enquanto um estudo mais recente efetuado com técnicas de análise de
sobrevivência revelou que as diferenças em nível de comunidades quanto a abastecimento de água, esgotamento
sanitário, limpeza pública e cobertura de rede elétrica constituem-se nos fatores explicativos mais importantes
dos diferenciais de mortalidade infantil, em ambientes urbano e rural, no Nordeste brasileiro (Sastry, 1997).
A densidade das instalações sanitárias da comunidade também pareceu ser mais importante que o
acesso individual a esses dispositivos, tendo em vista que o risco de desnutrição aguda apresentado pelas
crianças que residiam em um conglomerado com bom nível de esgotamento sanitário foi o mesmo, quer
tivessem ou não tivessem acesso a um dispositivo individual próprio (Bateman & Smith, 1991).
No Brasil, uma avaliação dos benefícios de ações de saneamento sobre a saúde da população de uma
área urbana, indicou que estas ações geraram um impacto positivo sobre a ocorrência de doenças diarréicas,
estado nutricional e prevalência de geohelmintoses entre crianças (Moraes, 1997)
87
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
Estes conhecimentos resultam ser de grande relevância no delineamento metodológico, já que suge-
rem que em uma avaliação do impacto epidemiológico de programas de saneamento, a unidade de estudo
seja menos o indivíduo e mais a comunidade. (Esrey & Habicht, 1986; Bateman & Smith, 1991).
Não se desconhece que atualmente, devido a outras intervenções, os indicadores de mortalidade relacio-
nados com as doenças redutíveis por saneamento já se encontram em níveis reduzidos se comparados com os
valores que apresentavam na primeira metade do século passado. Entretanto, entende-se que o aporte de água e
o esgotamento sanitário ainda desempenham papel fundamental na melhoria do estado de saúde das populações
carentes, e que para mensurá-los tem-se que se eleger alguns indicadores específicos de morbidade e mortalida-
de capazes de quantificar estas mudanças. Embora os efeitos resultantes desses benefícios não mais possam ser
facilmente captados pelos indicadores clássicos de mortalidade rotineiramente utilizados, existe uma morbidade
“oculta” que produz danos à saúde de indivíduos e populações e que tem sido negligenciada quando da escolha
dos indicadores construídos a partir de dados tradicionalmente coletados de modo sistemático pelos serviços de
saúde. Para que a magnitude desta morbidade “oculta” possa ser estimada, faz-se necessário buscar dados
primários ou mesmo dados já disponíveis nos serviços de saúde e que não são sistematicamente analisados para
então se construir outros indicadores, que aliados aos tradicionais, possibilitem análises mais completas e que
melhor expressem o impacto de ações sanitárias sobre a saúde das comunidades.
A diarréia infantil aguda é um exemplo de morbidade que tem sua verdadeira magnitude “oculta” e
sobre a qual o saneamento ambiental tem um expressivo efeito. Se por um lado a mortalidade por esta causa
foi reduzida drasticamente com a implementação da terapia de reidratação oral (TRO), mesmo nas áreas de
populações carentes de saneamento básico, por outro existem evidências de limitada redução na sua incidên-
cia. Episódios destas doenças quando freqüentes, interferem no crescimento e desenvolvimento das crianças.
A prevalência de parasitoses intestinais, ainda muito freqüente nas populações sem acesso ao sanea-
mento, pode revelar o grau de contaminação ambiental por agentes potencialmente patógenos para o ser
humano (Carneiro et al., 2002), além de existirem evidências de que estas infecções influenciam no cresci-
mento e desenvolvimento infantil (Kvalsvig, 1988; Kvalsvig et al., 1991). Alguns dos parasitas intestinais têm
seu ciclo biológico estreitamente relacionado com a oferta da água em quantidade e qualidade adequadas,
enquanto outros com o esgotamento sanitário e a disposição de resíduos sólidos no meio ambiente.
Neste sentido, seguindo o modelo explicativo de causalidade entre saneamento ambiental e morbi-morta-
lidade adotado, optou-se por se empregar na presente avaliação indicadores de doenças infecciosas e parasitá-
rias que sejam sensíveis e apresentem viabilidade técnica e operacional para sua obtenção, relativos à diarréia
infantil aguda, parasitoses intestinais e algumas doenças específicas de veiculação hídrica (Figura 10.1).
METODOLOGIA
Como já acentuado no Capítulo 5, o processo de avaliação e mensuração dos efeitos de ações de
saneamento na saúde de uma população defronta-se com dificuldades de ordem metodológica, além de
problemas conceituais. Os métodos epidemiológicos têm limitações no que diz respeito a permitir ao investi-
gador atribuir, com certeza, às intervenções de saneamento, os possíveis desfechos observados, pois uma
série de outros fatores e intervenções atuando em paralelo tem efeitos sobre tais desfechos. Por sua vez, razões
de ordem operacional e ética descartam o emprego de desenho de estudo randomizado (Almeida Filho,
1999) que, teoricamente, daria mais certeza quanto à inferência de seus resultados.
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
88
Mortalidade infantil por diarréia
Incidência de febre tifóide, hepatite e leptospirose
Internação por diarréia
Incidência de episódios de diarréia
Prevalência de infecção por S. mansoni e geo-helmintos intestinais
Figura10.1. Modelo FPEEEA para as ações de saneamento considerando apenas o efeito sobre a saúde
Pressão
Desperdício de
água pelo
consumidor
Inexistência ou
inadequação de
sistemas de água
Inexistência ou
inadequação de
serviços de água
Inexistência ou
inadequação do
VCQACH
Estrutura tarifária
excludente
Baixo nível de
renda da população
Inexistência ou
inadequação de
sistemas ou
soluções
individuais de
esgotos
Inexistência ou
inadequação de
serviços de esgotos
Inexistência ou
inadequação de
serviços de destino
de lixo
Inexistência ou
inadequação de
sistemas ou solução
individual do
destino de lixo
Inexistência ou
inadequação de
sistemas de
drenagem
Inexistência ou
inadequação de
serviços de
drenagem
Forças
Motrizes
Modelo de
desenvolvimento
ambientalmente
insustentável
Modelo de
desenvolvimento
socialmente
exclud. e política e
economicamente
subordinado
Ausência ou
inadequação de
politicas públicas
de saneamento
Indefinição marco
legal para o setor
de saneamento
Financiamento
público instável e
insuficiente
Processo
acelerado de
urbanização
Política de
desenvolvimento de
recursos humanos
inadequada
Desenvolvimento,
difusão e
apropriação
tecnológica
insuficiente
Precariedade da
democracia
Transparência
insuficiente e
corrupção
Estado
Déficit de água
(irregularidade ou
ausência no
abastecimento)
Água de consumo
contaminada
Esgoto e lixo no
peridomicílio
Esgoto e lixo nas
coleções hídricas
Ambientes
aquáticos
contaminados
Esgoto e lixo no
solo
Moradas
desprovidas de
instalações hidro-
sanitárias
adequadas
Higiene domiciliar
e pessoal
inadequada
Inundações e
empoçamentos
provocados por
drenagem
inadequada
Exposição
População
consumindo água
em quantidade
insuficiente
População
consumindo água
em quantidade
inadequada
População
consumindo
alimento
contaminado
População exposta a
ambiente aquático
contaminado
População em
contato com esgoto
e resíduos sólidos
População exposta
a vetores
População exposta
a inundações e
empoçamento
Efeito
Morbi-mortalidade
ampliada devido à
inadequação de
saneamento
ambiental
Baixo nível de
escolaridade e
ausência programa
de educação
sanitária/
ambiental
89
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
A escolha de indicadores capazes de mensurar adequada e corretamente a situação de saúde da
população beneficiada e que apresentem sensibilidade suficiente para captar as alterações porventura produ-
zidas pelas intervenções, também se constitui em outra dificuldade enfrentada nestas avaliações, já que nem
sempre os dados necessários para a sua construção estão disponíveis.
Na tentativa de superar, pelo menos em parte, esses obstáculos optou-se por empregar duas diferentes
estratégias de investigação e, embora a escolha dos indicadores de saúde tenha sido limitada pela disponibi-
lidade e qualidade dos dados, buscou-se identificar, dentre os disponíveis, aqueles referentes a causas de
morbidade e mortalidade e faixas etárias, que sabidamente são mais sensíveis às intervenções ambientais
sanitárias. Da mesma forma, diferentes técnicas de análise quantitativa serão utilizadas visando conferir maior
precisão ao processo de mensuração e à interpretação dos resultados encontrados. As técnicas empregadas
na análise deverão ajudar a isolar os efeitos que possam ser atribuídos à intervenção, diferenciando de outros
fatores e intervenções que interfiram nos desfechos investigados.
Assim, para atender os objetivos propostos na presente investigação serão empregadas duas estratégi-
as que se encontram representadas esquematicamente pelas Figuras 10.2 e 10.3. A primeira estratégia cons-
titui-se no acompanhamento da evolução de indicadores de saúde construídos com dados secundários no
universo dos municípios que vem sofrendo a intervenção, visando identificar possíveis alterações ocorridas na
evolução temporal dos indicadores de saúde da população após a adoção da intervenção. Com a segunda
estratégia, utilizando-se dados primários e secundários, procurar-se-á maximizar a possibilidade de registrar
e mensurar o efeito das intervenções a partir da coleta e análise de dados em uma amostra de municípios
selecionados, conforme descrito no Capítulo 7.
Figura 10.2. Estratégia I
T
o
1
a
Etapa (antes)
T
2
2
a
Etapa (depois)
I
N
T
E
R
V
E
N
Ç
Ã
O
Construção de
indicadores
Construção de
indicadores
Levantamento de dados
do SIM, SINAN e SIH
2004 - 2006 ...
T
o
Levantamento de
indicadores de saúde/
saneamento/
socioeconômicos
Classificação e
agregação dos
municípios por situação
de saneamento
Levantamento de dados
do SIM, SINAN e SIH
1991 - 2003
T
1
T
2
Análise de série temporal (Evolução e comparação antes/depois)
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
90
De fato, quando na dinâmica dos efeitos estudados é possível (como no caso das doenças transmissíveis,
tais como diarréia e enteroparasitoses) se identificar uma relação bidirecional entre prevalência ou incidên-
cia, medidas no nível coletivo e ocorrência da doença no indivíduo, o estudo ecológico, acoplado à captação
primária de dados individuais, permite detectar efeitos que possivelmente passariam despercebidos em qual-
quer uma das duas abordagens separadas (Susser, M. 1994a e 1994b).
ESTRATÉGIA I
DESENHO DO ESTUDO
Será realizado um estudo do tipo ecológico misto (espaço-temporal), em que o agregado espacial
(município ou agregado de municípios) em um ano calendário será a unidade de análise.
ÁREA E POPULAÇÃO
Serão incluídos na presente investigação os municípios brasileiros que, em 1991, apresentavam
Índice de Desenvolvimento Humano/IDH inferior a 0,500 e que forem beneficiados pelas ações de saneamen-
to previstas pelo Projeto do MS/FUNASA.
Serão considerados os 1.846 municípios, que em julho de 2002, já haviam apresentado à FUNASA
os respectivos Projetos e celebrado Convênio, especificando o tipo de intervenção de saneamento que deverá
ser executado.
Figura 10.3. Estratégia II
T
o
1
a
Etapa (antes)
T
2
2
a
Etapa (depois)
I
N
T
E
R
V
E
N
Ç
Ã
O
T
o
Classificação e seleção
dos municípios segundo
tipologia
Delimitação da
população beneficiada
Determinação do
tamanho das amostras
T
1
T
2
Inquéritos
coprológicos
Levantamento dos
indicadores do SIAB
Inquéritos
coprológicos
Levantamento dos
indicadores do SIAB
Análise dos dados
(cortes transversais)
Análise dos dados
(cortes transversais)
91
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
FONTES DE DADOS/INDICADORES
Sistema de Informações de Mortalidade (SIM)
-Taxa de mortalidade infantil
- Mortalidade infantil proporcional
- Mortalidade infantil proporcional por diarréia
- Mortalidade infantil proporcional por causas mal definidas
-Taxa de mortalidade de menores de cinco anos
-Taxa de mortalidade de menores de cinco anos por diarréia
- Mortalidade proporcional de menores de cinco anos por diarréia
- Mortalidade proporcional de menores de cinco anos por causas mal definidas.
Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN)
-Taxa de incidência de febre tifóide
-Taxa de incidência de hepatites virais
-Taxa de incidência de leptospirose
Sistema de Informações Hospitalares (SIH)
-Taxa de internação por diarréia em menores de cinco anos
PLANO DE ANÁLISE
Os 1.846 municípios incluídos no estudo foram classificados e reunidos em seis grupos diferenci-
ados segundo situação anterior de saneamento, a partir do emprego de técnica estatística classificatória
denominada “Análise de Componentes Principais” conforme descrito no Capítulo 7. Chama-se a atenção para
o fato de que esta técnica classificatória indicou que todos os municípios eram semelhantes quanto às carac-
terísticas socioeconômicas (renda e educação), diferindo apenas quanto à situação de saneamento. A seguir,
deverão ser adotados os seguintes procedimentos:
a) Análise da tendência temporal de séries históricas de indicadores de saúde dos grupos de
municípios por tipo de intervenção de saneamento; e
b) Identificação e análise das mudanças nos padrões das séries históricas dos indicadores de
saúde dos municípios, após os diferentes tipos de intervenção de saneamento, considerando os
grupos de municípios pré-estabelecidos no baseline (características socioeconômicas e de
saneamento).
A análise das séries históricas incluirá a análise da tendência, feita mediante descrição da evolução
temporal dos indicadores de morbimortalidade selecionados, a partir da comparação da variação de sua
magnitude no período de estudo, bem como a inspeção visual das respectivas curvas de tendência desde um
período anterior até alguns anos após a intervenção. Este procedimento aliado à comparação, ano a ano, da
variação (em percentual) de cada indicador possibilitará a identificação de possíveis mudanças na tendência
desta curva no período posterior à intervenção. Caso seja observada irregularidade expressiva na evolução
dos indicadores de saúde que dificulte a identificação da tendência, proceder-se-á à suavização destas curvas,
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
92
mediante técnica das médias móveis com número de termos correspondente ao período identificado de
flutuação de série ou, pelo menos, de ordem três.
A modelagem das séries temporais, que podem ser descritas como sendo a soma dos componentes de
tendência, sazonalidade, ciclicidade e termo aleatório, levará em conta a violação da independência dos
eventos que, nas análises menos sofisticadas, representa um pressuposto básico (o fato de, por exemplo, um
caso de doença ocorrer, em uma dada pessoa, independentemente da ocorrência em outra). Na análise de
indicadores ecológicos ao longo do tempo, isso não é verdade: a incidência de uma doença em um determi-
nado dia, mês ou ano é correlacionada com a ocorrência no dia, mês ou ano anterior. Esta correlação,
expressa em uma função denominada função de autocorrelação, será tratada com um modelo de média
móvel autoregressiva integrada (ARIMA).
Quanto à análise estatística da tendência, a mesma será realizada mediante ajuste, com regressão de
Poisson (modelagem do erro adequada para eventos raros), dos indicadores correspondentes às séries
temporais relativas aos municípios dos respectivos grupos e também considerando todos os municípios,
adotando-se o nível de significância de 0,05.
Serão coletadas informações acerca da existência e ano de implantação de programas sociais e de
saúde como o Programa de Agentes Comunitários de Saúde/Programa de Saúde da Família, Fome Zero, além
da cobertura de leitos hospitalares, médico e de unidades de atenção à saúde (antes e após a intervenção),
entre outros, de modo a serem consideradas quando da interpretação dos resultados.
Será também realizada a análise geoestatística dos eventos e a modelagem espacial propriamente dita,
utilizando um modelo de regressão (tal como SAR – simultaneous autoregressive model, CAR – conditional
autoregressive model ou MA – moving average model) que inclua a dependência espacial através da
especificação do vetor de erros U, com média zero, E(U)=0 e matriz de variância-covariância E(UUT)=C,
refletindo a dependência entre as áreas.
O processamento e a análise dos dados serão efetuados com o uso dos pacotes estatísticos SPSS. 10 e
STATA 7.0 e, para ajustar os modelos de autocorrelação espacial, do módulo espacial do pacote estatístico SPLUS.
ESTRATÉGIA II
DESENHO DO ESTUDO
Trata-se de uma pesquisa avaliativa do tipo quase-experimental utilizando dados secundários e
primários, para analisar em maior profundidade os efeitos das intervenções de saneamento sobre a saúde da
população de uma amostra de municípios beneficiados pelas ações de saneamento.
ÁREAS DE ESTUDO
Serão 23 municípios selecionados conforme descrito no Capítulo 7.
FONTES DE DADOS SECUNDÁRIOS / INDICADORES
Sistema de Informações da Atenção Básica (SIAB)
- Incidência de episódios de diarréia em crianças de 0 (zero) a 2 (dois) anos
93
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
-Taxa de mortalidade infantil
-Taxa de mortalidade de menores de cinco anos
-Taxa de mortalidade por diarréia em menores de um ano e menores de cinco anos.
Capacidade instalada de serviços e programas de saúde:
- Número de unidades de saúde discriminado por tipo de atendimento, porte e nível de
atenção (postos, centros, hospitais).
- Cobertura de programas de saúde tais como terapia de reidratação oral/TRO, Programa de
Agentes Comunitários de Saúde/PACS, Programa de Saúde da Família/PSF, Monitoramento
das doenças diarréicas agudas/MDDA, Programa de Redução da Mortalidade Infantil/PRMI,
Controle de Infecções Respiratórias Agudas/IRA, Programa Nacional de Imunizações/ PNI,
entre outros.
INQUÉRITO DE DIARRÉIA
Definição de “caso”: diarréia nos últimos quinze dias referida pela mãe ou cuidador.
População/Área: crianças menores de 5 anos residentes nas áreas beneficiadas pelas ações
de saneamento nos 23 municípios selecionados.
Procedimentos de Amostragem:
- Parâmetros – prevalência semanal de diarréia de 5,8% - valor encontrado em inquéritos
anteriores (ISC/UFBA, 2003)
- Erro (ε) amostral máximo igual a 30%.
- Significância (α) de 5%.
Seleção das crianças: sorteio de rua e domicílio da área beneficiada pelas ações de
saneamento, a partir do qual serão visitadas todas as casas até completar o tamanho da amostra.
INQUÉRITO COPROSCÓPICO
População/Área: crianças de 5 a 9 anos residentes nas áreas beneficiadas pelas ações de
saneamento nos 23 municípios selecionados.
Procedimentos de Amostragem:
- Parâmetros – prevalência de parasitoses intestinais entre 20 a 30% (ISC/UFBA, 2003)
- Erro (ε) amostral máximo igual a 30%.
- Significância (α) de 5%.
Seleção das crianças: sorteio de rua e domicílio da área beneficiada pelas ações de
saneamento, a partir do qual serão visitadas todas as casas até completar o tamanho da
amostra.
A determinação do tamanho da amostra será efetuada empregando o software Epi Info 6
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
94
INSTRUMENTOS E ESTRATÉGIA PARA COLETA DE DADOS PRIMÁRIOS
A coleta de dados primários nos municípios selecionados será feita mediante aplicação de um
questionário pré-codificado contemplando variáveis socioeconômicas e ambientais (peridomiciliares e do-
miciliares), e amostras de material fecal para realização de exame coproscópio.
INDICADORES A PARTIR DE DADOS PRIMÁRIOS
Prevalência de infecção por A.lumbricoides
Prevalência de infecção por T. trichiurus
Prevalência de infecção por ancilostomídeos
Prevalência de episódios de diarréia em menores de cinco anos (nos últimos 15 dias).
PLANO DE ANÁLISE
a) Análise da variação da tendência temporal das variáveis/indicadores de “resultado”, considerando
o tipo e combinações de intervenções, conforme descrito na estratégia I.
b) Cálculo das medidas de efeito (Razões de Riscos) e de impacto (Risco Atribuível/RA%) referentes
à incidência de episódios de diarréia e prevalência de parasitoses intestinais para grupos de
municípios, segundo tipo de intervenção recebida. A Razão de Risco da diarréia será estimada
diretamente, como Razão de Incidência, mediante regressão de Poisson que, no caso de evento
raro (não excedente a uma freqüência de 10%), constitui uma aproximação adequada da
distribuição binomial (que a prevalência, em si, apresenta). Será também aplicada a modelagem
linear multinível, com 2 níveis, que envolve dados com estrutura hierárquica, representados, neste
caso, pelas informações individuais (nível micro) aninhadas dentro de um nível superior (nível
macro), que são as unidades municipais.
c) Análise de Regressão Linear Múltipla para a quantificação da contribuição de cada tipo de
intervenção de saneamento em grupos de municípios com características sociais e econômicas
similares. Para esta análise, os indicadores de saúde acima referidos serão considerados como
variável dependente (efeito). Cada tipo de intervenção bem como outros possíveis fatores
confundidores ou modificadores de efeito serão as covariáveis de interesse.
No tocante aos resultados dos inquéritos parasitológicos e da investigação sobre ocorrência de diar-
réia, as análises serão realizadas tanto em nível ecológico (municípios e agregados de municípios) quanto em
nível individual, comparando-se grupos de indivíduos cujos domicílios foram beneficiados em relação àque-
les não beneficiados.
O processamento e a análise dos dados serão efetuados com o uso dos pacotes estatísticos SPSS. 10 e
STATA 7.0.
CONSIDERAÇÕES ÉTICAS
Por se tratar de pesquisa que utilizará material biológico de seres humanos, o presente protocolo foi
submetido para avaliação do Comitê de Ética em Pesquisas (CEP) do ISC/UFBA.
95
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
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97
CAPÍTULO 11
EIXO ECONÔMICO
As avaliações econômicas buscam, de forma geral, medir a eficiência das intervenções, com vistas
a melhorar as chances de que as decisões e as opções adotadas alcancem os resultados mais eficientes.
Possibilitam também verificar se os benefícios gerados pelas medidas implementadas se distribuem de
forma equitativa entre a população.
Dito de outra forma, as avaliações econômicas medem se os recursos sociais estão sendo bem
aplicados, seja no sentido de que a sociedade recebe em benefícios mais do que os recursos que sacrifica
no empreendimento, seja no sentido de que a opção adotada é a mais efetiva dentre as disponíveis.
A realização de avaliações econômicas consome recursos quase sempre escassos e para justificá-
las, portanto, é necessário que os resultados obtidos tornem-se instrumentais no sentido de orientar
decisões e corrigir os rumos dos investimentos sociais. Para a seleção das técnicas disponíveis de avalia-
ção econômica, torna-se necessário um conhecimento prévio do fenômeno em questão, pois o desenho
metodológico mais pertinente dependerá em grande parte do que o investigador deseja identificar. Se o
objetivo da avaliação é, por exemplo, a escolha da mais eficiente dentre duas ou mais soluções de sanea-
mento mutuamente excludentes, o estudo de custo-efetividade dará a resposta adequada. Se, no entanto,
o propósito é o de verificar se um projeto se justifica por si mesmo, uma avaliação de custo-benefício e de
sustentabilidade do projeto será mais apropriada. Outro critério norteador do tipo de análise a ser utiliza-
da é a presença de diferentes tipos de benefícios não diretamente relacionados às condições de morbi-
mortalidade da população afetada (Dye, C. et al., 1993).
Uma das maiores dificuldades na implementação de programas de avaliação econômica na área da
saúde, por sua vez, é a valoração dos benefícios alcançados. Nesse sentido, a fim de reduzir o grau de
arbitrariedade da análise implementada, muitas vezes opta-se pela análise custo-efetividade. No caso de
existirem muito benefícios não relacionados à saúde passíveis de valoração, a análise custo-benefício é
priorizada (Garber et al., 1996).
As avaliações econômicas propostas no âmbito do presente projeto, por sua vez, se enquadram nas
análises de custo-benefício, custo-efetividade e eqüidade. O objetivo do estudo de custo-efetividade é
justamente a determinação dos impactos das ações em saneamento na saúde das populações. Os indica-
dores de resultado neste caso seriam as variáveis epidemiológicas de morbidade e mortalidade.
Destaca-se que os benefícios das intervenções de saneamento têm diversos impactos não direta-
mente relacionados à saúde, principalmente no tocante à qualidade de vida e bem-estar dos indivíduos,
não se tratando, portanto, de uma intervenção que tem como objetivo único a redução da incidência de
diarréias e da mortalidade infantil. Assim, a intenção de avaliar as intervenções de saneamento tem também
como foco verificar a correspondência entre os recursos dispendidos e a melhoria na qualidade de vida
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
98
dos indivíduos beneficiados. Neste sentido, opta-se, também, por uma avaliação de custo-benefício das ações em
saneamento representado pelos anos de vida ganhos, valorização dos imóveis, redução dos gastos públicos e
privados com tratamento de doenças causadas pela falta de saneamento, dentre outros. Embora seja trabalhosa a
estimação de todos os benefícios gerados, esta análise auxiliará o desenvolvimento de metodologias de avaliação de
políticas de intervenções em saneamento, uma vez que ainda são poucos os trabalhos existentes no país.
Tendo o programa de saneamento básico o objetivo de promover melhorias nas condições de vida dos
estados e municípios com precário Índice de Desenvolvimento Humano-IDH, faz-se necessário qualificar os
benefícios obtidos e a eqüidade na sua distribuição. Os indicadores aqui propostos serão agrupados em
quatro grandes categorias articuladas entre si, quais sejam: benefícios, efetividade, custos e eqüidade.
OBJETIVOS
O Eixo Econômico tem como objetivo geral avaliar o custo-benefício e o custo-efetividade das
ações de saneamento.
O objetivo geral se desdobra nos seguintes objetivos específicos:
Definição e mensuração dos benefícios e custos diretos e indiretos das intervenções em saneamento;
•Avaliação econômica do custo-benefício das intervenções;
•Avaliação econômica do custo-efetividade das intervenções; e
•Avaliação da eqüidade na distribuição dos benefícios nos municípios selecionados.
PRINCIPAIS CONCEITOS EM AVALIAÇÃO ECONÔMICA
A avaliação econômica é de grande importância na tomada de decisão e, através de técnicas específi-
cas, visa a construção de indicadores que orientem as decisões e permitam a adoção das opções mais
eficientes. Nesse sentido, envolve a mensuração dos insumos utilizados (custos) e dos resultados obtidos
(efeitos). Asssim, o propósito é o de otimização, seja através da minimização dos custos para a obtenção dos
mesmos resultados ou a maximização dos resultados ao menor custo. Essencialmente, portanto, as avaliações
econômicas são procedimentos técnicos de apoio às decisões estratégicas e gerenciais. A avaliação econômi-
ca também envolve a comparação entre duas ou mais intervenções ou ações.
Para a compreensão desses conceitos torna-se necessário o entendimento de definições utilizadas em
serviços de saúde, tais como eficácia, efetividade e eficiência. Eficácia é a probabilidade de que um indivíduo,
em uma população definida, se beneficie da aplicação de uma tecnologia sanitária na resolução de um
problema determinado, em condições ideais de intervenção, sendo que normalmente se estabelecerá de
forma experimental e terá validez universal. A efetividade tem o mesmo conceito de eficácia, todavia aplicada
para uma realidade concreta e para o contexto populacional. Finalmente, a eficiência associa os resultados
aos recursos consumidos. É um conceito relativo; um projeto não é mais eficiente por si mesmo, mas sim em
comparação com outro, utilizando-se como instrumento de medição a efetividade dos projetos comparados,
quando seja conhecida, ou a eficácia quando se desconhece a efetividade.
Estudos de avaliação econômica têm sido realizados para a estimativa do custo-benefício e do custo-
efetividade. Esses métodos de avaliação, entretanto, são muitas vezes trabalhados em conjunto para melhor
visualização dos resultados. Apesar dos limites decorrentes das dificuldades de se estimar monetariamente
99
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
situações intangíveis, a exemplo de uma sensação de alívio após a cura, esses trabalhos têm sido úteis para
orientar o planejamento e a adoção de ações em saúde.
Assim, enquanto os estudos de custo-benefício referem-se à avaliação econômica de programas, servi-
ços ou ensaios clínicos em que os custos e os benefícios são representados em termos monetários, a avaliação
de custo-efetividade, por sua vez, não exige a tradução dos indicadores de benefícios em termos monetários,
adequando-se, portanto, a uma série de estudos, principalmente os relacionados à área de saúde.
METODOLOGIA
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
As intervenções ambientais, nas quais se inserem as de saneamento, diferem da maior parte daquelas
relativas à saúde em diversos aspectos, devendo-se destacar, portanto, aqueles mais estritamente relacionados
ao saneamento.
Em primeiro lugar, as intervenções ambientais são fundamentalmente preventivas, o que faz com que
grande parte dos benefícios alcançados só seja percebida no longo prazo. A natureza preventiva das interven-
ções de saneamento coloca uma questão importante na execução da avaliação econômica, no que diz respei-
to ao horizonte temporal em que esses benefícios (custos evitados) serão computados, assim como com
relação à taxa de desconto intertemporal utilizada.
Um segundo aspecto é a elevada presença de benefícios não-saúde que representam uma dimensão
importante dos resultados obtidos. Neste caso, tem-se, por exemplo, a redução do tempo utilizado na busca de
água potável (aumento do tempo disponível para as demais atividades), alterações na produtividade do
trabalho e do rendimento escolar, os ganhos de bem-estar promovidos pelas ações em saneamento, benefíci-
os comerciais, dentre outros.
A escolha do conjunto de benefícios saúde e não-saúde envolvidos na análise, será fundamentada pelo
modelo FPEEEA (Forças Motrizes, Pressões, Estados, Exposições, Efeitos e Ações) proposto pela Organização
Mundial de Saúde-OMS. Esse modelo, portanto, apoiará a seleção dos indicadores que serão utilizados,
abrangendo por exemplo as seguintes questões:
1. Acessibilidade, inadequação ou inexistência de serviços de saneamento;
2. Iniqüidade na distribuição de serviços de água, esgoto e lixo;
3. Exposição da população a vetores e a condições ambientais domiciliares inadequadas; e
4. Alocação de recursos com critérios de priorização inadequados.
Estas questões serão abordadas na coleta dos dados primários nos municípios do estudo de caso, que
serão obtidos por entrevistas domiciliares e outros instrumentos de pesquisa, e na coleta dos dados secundá-
rios disponíveis.
A perspectiva inerente à concepção do programa, por sua vez, inclui todos os resultados alcançados para
o conjunto da população do município assistido e não apenas a população à qual foram providos serviços de
saneamento diretamente, no caso desses serviços serem implementados de forma desigual nos municípios. Nesse
sentido, é importante que se tenha indicadores médios do município que reflitam toda a população (perspectiva
societária) e indicadores representativos dos domicílios que sofreram as intervenções.
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
100
Um terceiro aspecto também relevante diz respeito às responsabilidades do financiamento,
implementação e manutenção das intervenções ambientais que, em geral, são de responsabilidade de diver-
sos órgãos. No caso específico deste programa, esta dificuldade não se coloca por se ter optado por um
instrumental de análise custo-benefício e custo-efetividade, onde a inclusão de todos os custos do programa
é fundamental.
Estas dificuldades ou peculiaridades das intervenções de saneamento, talvez justifiquem em parte a
menor participação de estudos custo-efetividade e/ou custo-benefício na literatura internacional. No Brasil, a
despeito da sua realidade tornar este tipo de intervenção bastante importante, não existem trabalhos que
contemplem especificamente uma avaliação econômica. A maior parte dos estudos se concentra nos impactos
epidemiológicos das intervenções.
A próxima seção apresenta a proposta do conjunto de indicadores de benefícios e efetividade a ser
utilizado, além dos custos incluídos na análise e seus indicadores de mensuração.
FOCO DO ESTUDO
Este projeto incluirá três municípios do estudo de caso nos quais serão coletados os dados primários
referentes aos custos (diretos e indiretos) e aos benefícios (saúde e não-saúde). Para os municípios da
amostra reduzida serão realizadas estimativas, tanto para os custos quanto para os benefícios, através das
informações obtidas nos três municípios escolhidos e dos dados secundários disponíveis.
DEFINIÇÃO DOS BENEFÍCIOS E CUSTOS A SEREM INCLUÍDOS NA ANÁLISE
PERSPECTIVA DA INTERVENÇÃO
Um primeiro e importante aspecto, quando da implementação de qualquer avaliação econômica, é a
definição da perspectiva da intervenção. Por perspectiva, entende-se a extensão em que os benefícios e custos
serão avaliados. No caso das ações deste programa, por consistir de uma intervenção que visa reduzir as
disparidades sociais regionais e melhorar a qualidade de vida das populações que vivem em municípios com
IDH-M igual ou menor a 0,500, entende-se ser adequado considerar a população total de cada município.
Essa escolha implica, portanto, na análise dos custos e benefícios, considerando os resultados médios alcan-
çados com o programa, além dos efeitos específicos dos domicílios diretamente beneficiados.
MÉTODOS DE ANÁLISE DE CUSTOS
A cada dia percebe-se a grande importância para a gestão sanitária de uma análise mais apurada sobre
custos, e como minimizá-los sem, contudo, perder a qualidade na assistência. Por este motivo, torna-se
necessária a utilização de um instrumental gerencial e analítico de estimação e controle de custos, como meio
de orientar os gestores em saúde na adoção de medidas eficazes para a contenção e redução dos mesmos.
Entretanto, percebe-se que hoje um dos problemas enfrentados pelos gestores de saúde, tanto no
âmbito interno dos hospitais, como no âmbito da administração pública em sua totalidade, representada
pelas Secretarias de Saúde, é justamente a falta de um instrumento de análise de custos que seja homogêneo
e aplicável em todas as unidades de saúde, capaz de estimar os custos dos principais itens da produção
hospitalar e ambulatorial que geram mais despesas para a administração (Martins, D., 2000).
101
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
Este trabalho, por sua vez, pressupõe o detalhamento dos custos das doenças em saneamento e do
tratamento das doenças relacionadas à falta de condições adequadas de saneamento nos municípios. Para
tanto, torna-se necessário o levantamento dos custos institucionais, representados pelo tratamento ambulatorial
e internações hospitalares, dos custos pessoais e familiares, além dos custos de implementação das ações, que
serão obtidos através das informações fornecidas pela FUNASA e pelas Prefeituras Municipais.
A seguir, descrever-se-á o método de custeio utilizado durante as últimas décadas nas principais unida-
des de saúde e emergência do país, que é o método de custeio por absorção.
MÉTODO DE CUSTEIO POR ABSORÇÃO
Estudos gerenciais sobre a gestão da assistência à saúde apontam que o principal sistema de custos
utilizado em hospitais é o método de custeio por absorção. Este sistema supõe que os volumes de procedimen-
tos médicos geram custos, logo, quando realizados individualmente, são indicados como geradores de custos
diretos e indiretos, representados pelas informações do prontuário médico e pelo rateio de atividades
correlacionadas, respectivamente. O custeio por absorção tem, portanto, como premissa básica que todos os
custos de produção, independentemente de serem fixos ou variáveis, são alocados aos produtos ou serviços
(Martins, Eliseu, 1998).
Com relação ao custo do tratamento das doenças com causas associadas ao saneamento, que foram
definidas no âmbito do estudo epidemiológico, este estudo utilizará uma metodologia de estimação de custo
que envolverá procedimentos mistos de custeio por absorção e avaliação direta dos custos. No caso da
internação hospitalar, por exemplo, para cada doença serão estimados os custos de um tratamento padrão,
considerando o custo médio diário de um paciente em unidade de saúde da rede pública e o tempo de
permanência médio dos pacientes nos hospitais.
Para melhor compreensão dos componentes dos custos, será detalhada em seguida a forma pelas
quais estes serão estimados.
METODOLOGIA PAR A A ESTIMAÇÃO DOS CUSTOS
ESTIMATIVA DOS CUSTOS DIRETOS PA R A O TRATAMENTO DE DOENÇAS RELACIONADAS À FA LTA DE SANEAMENTO
Esta metodologia pressupõe a construção de uma estrutura de custos para as doenças diretamente
relacionadas à falta de saneamento. Para tanto, deve-se ter acesso à lista de pacientes que deram entrada em
postos de saúde e/ou em hospitais de emergência com suspeitas dessas doenças. Posteriormente, solicitar-se-
á acesso aos dados sobre o endereço residencial de alguns casos para a realização de entrevistas domiciliares.
Estas serão realizadas visando a estimação dos custos para a família e pacientes, além do levantamento do
perfil socioeconômico dos mesmos.
Será realizada a estimação dos custos através da coleta de informações via prontuário médico. Baseado
na suspeita diagnóstica, será elaborada a planilha de custos, visto que o repasse do Ministério da Saúde é
realizado tendo como base as tabelas de preços do SIA/SUS e do SIH/SUS que classificam suas informações de
acordo com a suspeita diagnóstica.
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
102
Todavia, existe um déficit muito grande entre o que é pago pelo Ministério da Saúde e o que é realmente
gasto pelo hospital, o que tornaria o presente trabalho bastante impreciso se fosse baseado apenas nas
informações contidas na suspeita diagnóstica. Então, a estrutura de custos final será construída a partir dos
custos da assistência aos pacientes que deram entrada devido a doenças relacionadas à ausência ou deficiên-
cia de saneamento, onde serão incorporadas outras informações sobre exames e medicamentos que não
constam nas referidas fontes de informação. Dessa forma será possível uma melhor visualização dos gastos
com cada paciente. Este componente dos custos será incorporado ao longo do processo, quando forem
realizadas as entrevistas domiciliares.
A Figura 11.1, abaixo, indica os componentes dos custos que serão utilizados neste trabalho.
Institucionais
Família
Família
Custos diretos
monetários com
tratamento
Custos monetários
indiretos
Total dos custos
considerados
Figura 11.1. Custos considerados no estudo
Institucionais
CUSTOS DIRETOS MONETÁRIOS INSTITUCIONAIS
Os custos diretos monetários institucionais considerados serão divididos em duas categorias: custos
ambulatoriais e custos de internação. Uma parcela dos custos ambulatoriais será estimada a partir da lista de
procedimentos médicos da Associação Médica Brasileira-AMB, de 1999. Uma outra fração, sobretudo aquela
referente a medicamentos, será calculada com base em preços médios de mercado (genéricos, quando estes
existirem), ou fornecidas pelas próprias Secretarias de Saúde.
Os dados referentes aos custos de internação serão coletados a partir dos valores pagos pelo SUS nos
atendimentos dos pacientes (AIHs), compreendendo: honorários médicos e serviços profissionais, procedi-
mentos, hotelaria e medicamentos, exames, serviços auxiliares de diagnose e terapia, anestesia, entre outros.
Com isso será calculado o custo médio por paciente, sendo o mesmo replicado para os casos de perdas de
fichas de prontuários médicos ou ausência de informações específicas.
103
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
CUSTOS INDIRETOS MONETÁRIOS INSTITUCIONAIS
Esses custos serão levantados junto aos órgãos responsáveis pelo Sistema de Saúde (Secretarias da
Saúde) e compreendem vários elementos de custos indiretos e despesas gerais das unidades de saúde
investigadas: (a) folha de pessoal; (b) gastos com luz, telefone e água; (c) alimentação; (d) limpeza e
higienização; e (e) vigilância. (Ver Figura 11.2)
Custos
institucionais
Custos diretos
Figura 11.2. Custos institucionais diretos e indiretos
Custos indiretos
Ambulatorial
Internação
Folha de pessoal
Gastos luz, telefone e
água
Manutenção da rede
Vigilância/
Alimentação
Medicamentos
Consulta
Honorários médicos
Medicamentos
Exames
Hotelaria
DETERMINAÇÃO DOS CUSTOS AMBULATORIAL E HOSPITALAR
CUSTO AMBULATORIAL
O custo ambulatorial por paciente para cada doença será estimado levando-se em conta as despe-
sas relacionadas com o tratamento ambulatorial nas unidades de saúde. Serão contabilizadas as despesas com
pessoal (médico e não médico), despesas correntes, com medicamentos, exames, material de consumo e
despesas com depreciação. O custo ambulatorial por paciente será assim definido:
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
104
Onde:
C
pessoal
= custo com pessoal médico e não médico, definido como a soma de todos os salários
pagos ao pessoal médico e não médico de cada unidade de saúde, incluindo
produtividade, férias, décimo terceiro e encargos trabalhistas pagos.
C
despesas correntes
=custo com as despesas correntes da unidade. Refere-se à soma das despesas das
unidades de saúde com água, luz, telefone, gases, segurança e demais contratos
terceirizados.
C
medicamentos
= custo com medicamentos. Serão computados todos os gastos com medicamentos para
as doenças.
C
material consumo
= custo com material de consumo. Refere-se à soma de todas as despesas que cada
unidade teve com material de consumo (papel, material para exames, seringas, agulha,
algodão etc.).
C
depreciação
= custo com a depreciação dos bens móveis e imóveis. Este valor será calculado
considerando o valor registrado no sistema de patrimônio das Secretarias Municipais
de Saúde, levando-se em consideração a depreciação padrão dos valores móveis (20%
ao ano) e dos valores imóveis (5% ao ano) no ano, para cada unidade.
N = número de pacientes total em todas as unidades de saúde por doença.
j = unidade de saúde “1” a “n”.
CUSTO COM INTERNAMENTO HOSPITALAR
O custo do internamento foi classificado em dois grandes blocos para sua estimativa, assim definidos:
1) custo médio com hotelaria, por dia, levando-se em conta os custos relacionados aos gastos com
profissionais médicos e não médicos, gastos com despesas correntes, depreciação dos bens
móveis e imóveis e materiais;
2) somado ao gasto médio com medicamentos utilizados para tratamento das doenças;
As aproximações aqui adotadas estão de acordo com a literatura internacional sobre alocação
de gastos para composição de custos, especialmente custos hospitalares, conforme apontado por Drummond
et al (1997).
O custo médio do internamento foi definido como:
105
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
Onde:
C
pessoal
= custo com pessoal médico e não médico;
C
d.correntes
= custo com despesas correntes;
C
depreciação
= custo com a depreciação dos bens móveis e imóveis;
C
material consumo
= custo com material de consumo;
C
medicamentos
= custo com medicamentos. Refere-se ao custo com medicamentos por doença
tratada no referido hospital;
N
total pacientes ano
= número total de pacientes internados nos hospitais
N
pacientes por doença ano
= número de pacientes internados, por doença, no hospital;
j = doença “1” a doença “n”;
TMP = tempo médio de permanência (internamento), por doença, no hospital.
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO SOBRE CUSTOS INSTITUCIONAIS
Parte do financiamento das despesas é proveniente do Ministério da Saúde (MS), contudo, este
repasse não é feito de forma arbitrária, e sim, através de regras definidas de antemão pelos gestores federais.
Serão estas regras que definirão em grande medida o detalhamento dos custos.
Com relação às internações hospitalares, existem informações relativas a cada internação realizada
através do SUS, sendo possível obter para cada nível geográfico não apenas o volume de internações deman-
dadas pela população residente (mesmo que o atendimento tenha ocorrido em outro município), como
também o valor pago por cada internação, que é função dos dias de permanência e procedimentos realizados.
O Sistema de Informações sobre Internações Hospitalares-SIH é utilizado para o registro de dados
das internações hospitalares, como tipo de doença ou agravo, tempo de internação, idade e sexo do paciente,
dentre outras, e as informações deste sistema possibilitam ao MS realizar o pagamento das internações aos
prestadores de serviços. Cabe destacar novamente que o valor pago por cada internação pode não refletir os
efetivos custos hospitalares, porém representa o custo de cada internação para o Ministério da Saúde, ou seja,
os valores pagos pelas internações, que incorporam o volume e a complexidade das internações.
A tabela SIH/SUS, por sua vez, tem como referência a suspeita diagnóstica. Entretanto, quando um
paciente apresentar mais de uma suspeita diagnóstica, sempre será considerada a de maior valor. Deve-se,
ainda, ter certa atenção para a tabela SIH/SUS, pois ela possui uma particularidade bastante importante para
a composição dos preços ao longo do tempo, decorrente de sua característica decrescente. O valor descrito
na tabela para cada suspeita diagnóstica só possui validade até o décimo terceiro dia, após o qual os preços
aplicados são reduzidos paulatinamente até um valor mínimo determinado pelo MS. Esta questão é de grande
importância para a composição dos custos hospitalares, pois indica que quanto maior o tempo de internação,
mais gastos o hospital terá, uma vez que é ele quem arcará com estas despesas.
Para o atendimento ambulatorial usar-se-á o SIAB e o SIA/SUS. O Sistema de Informações
Ambulatoriais da Atenção Básica-SIA é utilizado para o registro dos procedimentos ambulatoriais realizados
no município, tais como consultas, vacinação, exames, procedimentos ambulatoriais, visitas domiciliares,
entre outros. As informações existentes no SIA/SUS, entretanto, não permitem identificar o perfil por idade e
sexo dos atendimentos e, além disso, não existe uma unidade única para expressar os episódios ambulatoriais
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
106
como no caso das internações hospitalares. Na tabela SIA/SUS estão contidas listas de diagnósticos suspeitos
que, por sua vez, servirão como base para o pagamento do MS à unidade de saúde. O SIA/SUS gera o Boletim
de Produtividade Ambulatorial-BPA que dispõe da consolidação dos preços e contém todos os valores incor-
porados no serviço de atendimento prestado.
Por sua vez, o Sistema de informação sobre Atenção Básica-SIAB é utilizado para o registro de
informações sobre as famílias cadastradas no Programa de Agente Comunitário de Saúde-PACS e Programa de
Saúde da Família-PSF. Os dados coletados regularmente sobre as famílias alimentam esse sistema e permitem
acompanhar os casos de doenças, a vacinação, a gestação, o crescimento e desenvolvimento das crianças e os
óbitos. As informações fornecidas por esse sistema serão bastante úteis na análise dos principais indicadores
de saúde utilizados, servindo, também, de base para a estimativa de custos do tratamento das doenças.
CUSTOS DIRETOS DA FAMÍLIA
Esta categoria de custos, estimados a partir de entrevistas, é composta por gastos particulares com
medicamentos, consultas em clínicas privadas, exames, dietas especiais, contratação de serviços e outros
gastos cobertos pela família do doente.
CUSTOS INDIRETOS DA FAMÍLIA
Trata-se, neste caso, dos custos de oportunidades decorrentes da enfermidade que atingem o
paciente e seus eventuais acompanhantes no momento do atendimento e de outras idas aos serviços médicos.
Em outros termos, trata-se, por exemplo, do prejuízo em dias de trabalho e/ou estudo perdidos para os
pacientes e acompanhantes.
DETERMINAÇÃO DOS CUSTOS DAS FAMÍLIAS E CUSTOS SOCIAIS
Os dados serão coletados por pesquisadores treinados, utilizando questionários padronizados junto
aos pacientes (e seus familiares) nos municípios selecionados nos estudos de caso; estes dados serão combi-
nados para possibilitar a estimação de:
- Custo das famílias: serão agregados os custos monetários unitários com transporte, alimentação,
exames, medicamentos extras, tempo de espera nos serviços e remunerações perdidas – para o
paciente (temporariamente ou permanentemente) e para o acompanhante - nas duas modalidades
de tratamento.
- Custos sociais: custo monetário total do pagamento de benefícios aos casos temporariamente ou
permanentemente impedidos de trabalhar; e custo monetário unitário da baixa produtividade
dos casos, definido como os dias de trabalho perdidos vezes a proporção de pacientes que perderam
o emprego vezes as médias das remunerações diárias.
Os custos relativos às famílias são apresentados na Figura 11.3 a seguir.
CUSTOS DE IMPLANTAÇÃO E MANUTENÇÃO
Será considerado custo todo recurso utilizado nas obras que estão sendo avaliadas, independente do
órgão ou instituição que faça a despesa. Deverão ser então computados os custos para a FUNASA, bem como
as contrapartidas municipais e estaduais. Nas intervenções onde a população participa com trabalho ou arca
107
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
com parte das despesas para a instalação da melhoria, essa contribuição deve ser devidamente quantificada e
adicionada aos custos mencionados. Os custos de manutenção que não constarem em registros contábeis dos
agentes envolvidos, por sua vez, serão estimados a partir de parâmetros a serem definidos durante o processo
de avaliação.
METODOLOGIA PARA CÁLCULO DOS CUSTOS DE IMPLANTAÇÃO
A metodologia para cálculo dos custos de implantação é simples e baseada nos registros contábeis dos
contratos das obras ou no preço de aquisição dos serviços e materiais. Eventualmente, parcelas dos custos
administrativos das instituições envolvidas podem ser adicionadas. Para tanto, a metodologia de rateio de
custos por apropriação pode ser empregada.
Os custos eventualmente incorridos pelas famílias (seja através de trabalho não remunerado prestado
durante a construção da melhoria, seja em pagamentos em espécie ou dinheiro) deverão ser coletados com
os instrumentos apropriados a cada situação.
O custo total de implantação será, portanto, igual ao somatório do gasto federal, estadual, municipal,
familiar e social.
BENEFÍCIOS
No caso da intervenção de saneamento, existem benefícios em saúde e benefícios não relacionados
diretamente à saúde. Os principais impactos em saúde de ações de saneamento referem-se à incidência e
mortes por diarréia e outras doenças infecciosas e parasitárias.
Custos das famílias
Diretos
Indiretos
Consulta/Privada
Figura 11.3. Custos familiares diretos e indiretos
Medicamentos
Plano de Saúde
Institucionais
Custos de oportunidade
Gastos com alimentação
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
108
Nesse sentido, um conjunto de indicadores poderá ser monitorado, como:
Incidência de casos notificados de doenças infecciosas e parasitárias relacionadas com o
saneamento;
•Taxas de hospitalização por doenças infecciosas e parasitárias relacionadas com o saneamento;
•Taxa de mortalidade infantil e de menores de 5 anos;
Incidência de episódios de diarréia infecciosa aguda;
•Prevalência de enteroparasitoses.
A fim de avaliar os impactos epidemiológicos obtidos com as intervenções de saneamento, os
indicadores acima citados serão comparados com indicadores obtidos antes da intervenção da ação em
saneamento, contruídos a partir de dados secundários disponíveis.
A tradução monetária dos benefícios de saúde pode ser feita, por exemplo, através da multiplicação
do número de casos evitados de uma determinada doença, pelo custo de seu tratamento. Esse cálculo oferece
uma medida do benefício alcançado. O benefício assim calculado expressa os gastos públicos que foram
evitados, gastos que a sociedade como um todo deixou de incorrer. Essa valoração será discutida a seguir na
seção de metodologia de avaliação dos benefícios.
Adicionalmente, outras consequências das ações de saneamento não se expressam em indicadores
de saúde, mas efetivamente constituem benefícos, como a redução do mau cheiro decorrente de melhorias no
esgotamento sanitário. Por último, existem ainda aspectos privados dos benefícios de saúde, que são associ-
ados, por exemplo, à despesa que a família deixa de ter porque os seus membros não adoeceram (medica-
mentos que deixaram de ser comprados etc.), ou as remunerações que a família ganha, porque os seus
membros não adoeceram e puderam continuar a trabalhar. Uma avaliação completa dos benefícios deve
também incorporar esses elementos. Apresenta-se a seguir alguns exemplos de benefícios não-saúde a serem
incorporados na avaliação:
Ganho de bem-estar provocado pela existência de condições de saneamento adequadas;
Elevação do rendimento escolar;
Benefícios comerciais.
Um último aspecto conceitual relativo aos benefícios que precisa ser considerado é a ocorrência de
externalidades positivas ou negativas. Todos os impactos ambientais associados à intervenção de saneamento
devem ser analisados. A avaliação de custo-benefício deve, portanto, observar todos os possíveis efeitos das
intervenções realizadas (Piola, S.F. et al., 1998). A tradução monetária desses tipos de benefícios pode ser feita
através de referências aos preços de mercado (por exemplo, a valorização do preço de mercado do imóvel
após a instalação da melhoria) ou feita através do uso de instrumental específico. Na literatura econômica
encontram-se muitos relatos de pesquisas feitas utilizando metodologias em que o beneficiário responde um
questionário onde expressa a medida monetária do benefíco recebido. Tais metodologias são brevemente
apresentadas na seção seguinte.
109
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO DOS BENEFÍCIOS
AVALIAÇÃO DE CUSTO-BENEFÍCIO
Na avaliação de custo-beneficio um projeto se justifica na medida em que os benefícios gerados pelo
projeto sejam superiores aos custos da sua realização; nesses termos, a sociedade ganha mais do que despende.
Os benefícios, portanto, têm que ser expressos em unidades monetárias. A razão de custo-benefício deve ser
menor ou igual à unidade, o que significa que o somatório dos custos colocados no numerador deve ser igual
ou inferior ao somatório dos benefícios no denominador:
A dificuldade técnica na realização de avaliações de custo-benefíco reside justamente na tradução de
todos os benefícios em unidades monetárias. As ações de saneamento geram benefícios de diversas ordens,
mas a maioria não tem uma expressão monetária direta, requerendo alguma aproximação ou procedimento
técnico que faça tal tradução. Esse cálculo requer o conhecimento do custo incorrido pelo sistema público no
tratamento das doenças evitáveis pelo saneamento, do custo incorrido diretamente pelas famílias no tratamen-
to do seu membro doente, do valor médio dos rendimentos obtidos pelos indivíduos condicionados a alguns
atributos e de uma tábua de vida. Os anos de vida reprodutiva ganhos poderão ser obtidos através do cálculo
de uma tábua de vida construída a partir da nova taxa de mortalidade observada após a intervenção. O valor
da renda a ser imputado pode ser calculado utilizando a renda média do município, por exemplo.
Diante dessas informações é possível calcular os gastos que seriam necessários para tratar as doenças
evitáveis pelo saneamento e os benefícios produtivos que podem ser auferidos com as mortes evitadas.
A Figura 11.4 apresenta alguns exemplos de benefícios diretamente relacionados à saúde.
Benefícios
Saúde
Custos do tratamento
das doenças evitadas
Redução da mortalidade
Figura 11.4. Apuração dos benefícios em saúde gerados
Sistema Público
de Saúde
(Institucional)
Famílias
Anos de vida produtivos
ganhos
Custos diretos
monetários
Custos indiretos
monetários
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110
Uma possível construção desses indicadores pode ser realizada utilizando a metodologia a seguir.
1) Benefício de saúde = Doenças evitadas X respectivo custo de tratamento.
2) Benefício de saúde = Doenças evitadas X respectivo custo para as famílias.
3) Benefício de saúde = Mortes evitadas X anos de vida produtiva ganhos X valor do trabalho.
Os custos familiares serão levantados em uma amostra de familias, que tenha, pelo menos, um membro
com a doença investigada, através de questionário específico.
Para o levantamento dos demais benefícios não associados diretamente à saúde, é necessária uma
exploração inicial através de grupos de discussão e/ou entrevistas abertas. Essa técnica de grupos e entrevistas
permite detectar benefícios ou prejuizos que ocorrem na ótica da população, mas não são percebidos pelo
investigador. A partir da identificação do que a população percebe como benefício, serão elaborados questi-
onários específicos a serem aplicados em um número ampliado dos beneficiários (essa amostra será a mesma
utilizada pelo grupo de antropologia). Os questionários nesse tipo de estudo são geralmente desenhados de
forma a colocar o respondente em uma situação de escolha entre alternativas com diferentes pesos ou valores.
Ao fazer sua escolha, o respondente revela indiretamente o valor monetário do benefício recebido.
Um possível método busca criar um mercado hipotético fazendo com que os usuários revelem suas
preferências, isto é, tenta-se extrair dos usuários o valor que estes estariam dispostos a pagar pela utilização da
água ou serviço. A pergunta sobre a disponibilidade a pagar é aberta ao entrevistado, que pode atribuir
qualquer valor monetário. A disponibilidade a pagar será, portanto, uma variável contínua que poderá assu-
mir qualquer valor não negativo, podendo, por isso, ser economicamente modelada. (Carreira-Fernandez;
Garrido, 2003).
As questões podem, portanto, ser formuladas da seguinte forma: Quanto você estaria disposto a pagar
para obter uma melhoria “X”? Quanto você gostaria de receber como compensação se essa melhoria fosse
retirada? Em quanto você acha que sua moradia ficou valorizada devido à melhoria (por quanto você venderia
a casa antes e depois da melhoria)?
Um outro método, normalmente utilizado, fundamenta-se no custo de oportunidade ou preço de
reserva do serviço e é operacionalizado através de uma simulação hipotética da interrupção do seu forneci-
mento. Nessa simulação, obtém-se o valor máximo que os usuários estariam dispostos a pagar pelo serviço e
permanecerem indiferentes entre o uso desse serviço ou a busca por uma solução alternativa que produza o
mesmo efeito. Uma vantagem deste método é que o preço de reserva, o custo da alternativa menos cara,
quando estimada, representa uma alternativa legítima do valor do serviço. (Carrera-Fernandez; Garrido,
2003).
Estes métodos permitem uma aproximação do valor do benefício obtido. O instrumento a ser utilizado
terá que ser testado e devidamente validado antes de ser aplicado.
Benefício não-saúde = Valorização do imóvel (preço de mercado).
Benefício não-saúde = Tempo ganho com a melhoria x renda média por tempo.
Benefício não-saúde = ganho de bem-estar obtido com a intervenção.
Para os benefícios não-saúde (ver Figura 11.5), a escolha dos indicadores determinará o instrumento
a ser utilizado.
111
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
Benefícios
Valorização imobiliária
Ganhos de bem -estar
Figura 11.5. Benefícios não saúde gerados
Questionário/
Entrevistas
Tempo ganho
AVALIAÇÃO DE CUSTO-EFETIVIDADE
Com relação aos benefícios em saúde proporcionados pelas intervenções em saneamento básico, a
análise de custo-efetividade apresenta-se como um importante e poderoso instrumento de avaliação
econômica.
A análise de custo-efetividade se emprega na comparação de tecnologias sanitárias alternativas, ou seja,
tecnologias substitutivas e/ou complementares. Os resultados sobre a saúde podem, portanto, ser medidos
numa mesma unidade clínica: anos de vida ganhos, dias de sofrimento evitados, adesão ao tratamento etc.
Existindo, por exemplo, duas intervenções (A) e (B), com custos C(a) e C(b), e uma efetividade E(a)
e E(b), e uma das intervenções apresentar custos sempre inferiores e a efetividade sempre superior, a decisão
sobre a intervenção a ser escolhida torna-se simples e clara, ou seja, se C(a) > C(b) e E(a) < E(b), a
intervenção B é preferível; por sua vez, se C(a) < C(b) e E(a) > E(b), a intervenção A é preferível. Se o custo
de cada uma das intervenções for idêntico (C(a) = C(b)) ou se a efetividade de cada uma das intervenções for
idêntica (E(a) = E(b)), pode-se calcular e comparar as relações custo-efetividade, ou seja C(a)/E(a) e C(b)/
E(b). Nessas circunstâncias, se C(a)/E(a) < C(b)/E(b), a intervenção A é preferível a B (Dye, C. et al., 1993).
Entretanto, se uma intervenção mostra-se mais custosa e mais eficaz, não será possível chegar de
imediato a uma conclusão.
Este é o caso das intervenções de saneamento e a fórmula geral para determinação do custo-efetividade
incremental, que determinará e possibilitará a análise, é determinada por:
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
112
Efetividade =
pDoença antes.A.S. - pDoençaA.S
pDoença antes.A.S
No caso específico deste estudo, a Efetividade dos serviços será determinada de acordo com a seguinte
formulação matemática:
pDoença antes.A.S.: Probabilidade de ser infectado antes da ação de saneamento.
pDoença.A.S.: Probabilidade de ser infectado após a ação de saneamento.
A efetividade do Programa alcança seu valor máximo (100%) quando a probabilidade de ser infectado
após a ação de saneamento for nula.
O indicador de resultado será representado pela redução na morbidade e mortalidade de doenças
relacionadas ao saneamento básico, ou seja, quanto menor as entradas hospitalares, sejam elas ambulatoriais
ou de internação, mais custo-efetivo o programa.
AVALIAÇÃO DE EQÜIDADE
As ações em Saneamento Básico privilegiam o município como unidade a receber os investimentos
propostos que, no entanto, não é um todo homogêneo. Os municípios podem ser normalmente representados
como um mosaico de localidades, com variadas características, e com padrão de necessidade e de qualidade de
vida distintamente distribuídos. A distribuição dos benefícios propostos dificilmente se dará de maneira uniforme
para todos os residentes. Certamente alguns serão beneficiados, enquanto outros não. Se a avaliação das ações
do projeto não se detiver e analisar essas diferenças, poderá chegar a falsas conclusões quanto ao real impacto
do projeto. O erro poderá ser tanto de super-estimação como de sub-estimação dos resultados. Importa portanto
avaliar em quais linhas a desigualdade na distribuição do benefício vai se dar em cada contexto específico.
METODOLOGIA
As medidas de equidade requerem, de um lado, o uso de indicadores de riqueza ou renda das famílias
e, de outro lado, os indicadores que expressem a intensidade com que o benefício é recebido pelas respecti-
vas famílias. A avaliação da equidade vai requerer portanto informação conjugada de renda/riqueza e benefí-
cio para cada família na amostra. A amostra deve ser selecionada de tal forma que dê conta da diversidade na
distribuição dos benefícios. Populações contempladas por estes devem ter igual chance de compor a amostra
que as populações não beneficiadas.
Indicador: % de benefício recebido pelos 20% mais pobres do município em comparação com % do
benefício recebido pelos 20% mais ricos do município.
Os percentuais podem ser ajustados a cada contexto. De acordo com a diversidade encontrada, os índices de
benefícios poderão ser mapeados e superpostos ao mapeamento da distribuição da renda/riqueza no município.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta de avaliação econômica apresentada não restringe os custos incorridos e benefícios obti-
dos a uma análise de curto prazo. No caso dos benefícios, por exemplo, as doenças evitadas podem ser
113
Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento: marco conceitual e estratégia metodológica
percebidas não apenas no curto prazo, mas nos anos subseqüentes. Além disso, como este projeto está
inserido em outro mais amplo, é importante que a metodologia proposta acompanhe a estrutura de investiga-
ção empírica dos demais grupos. No caso dos custos, segundo a mesma lógica, optou-se por não só conside-
rar os custos de curto prazo, que se constituem fundamentalmente dos custos de construção e
operacionalização das obras de saneamento, como também os custos futuros. Como a análise proposta não
se restringe aos impactos de curto prazo, será necessária a utilização de taxas de desconto intertemporal para
os custos e benefícios.
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115
CAPÍTULO 12
CONCLUSÕES
A presente publicação é o resultado da etapa de concepção do modelo de avaliação do impacto na
saúde das ações de saneamento. Essa proposta é o fruto do processo de construção da avaliação em tela,
na qual a inserção dos diferentes eixos, Saneamento, Antropológico, Epidemiológico e Econômi-
co, deu-se gradativamente, como resultado de um rico e profícuo ambiente de discussão. O texto também
contou com a incorporação das conclusões de diversas reuniões do Grupo Tarefa e de Oficinas de
Trabalho realizadas ao longo de 2002 a 2004, que resultaram no enriquecimento do seu conteúdo.
Vale realçar, nesse processo, o papel das instituições envolvidas, que pelo seu histórico de traba-
lhos na relação saúde-saneamento, criaram ambiente propício ao desenvolvimento dos trabalhos. Essas
instituições, notadamente OPAS, FUNASA e SVS, tiveram clareza e competência para conduzir o processo
de desenvolvimento metodológico no período de transição entre duas administrações federais, fazendo-
o de maneira transparente e fundamentada, resultando em uma proposta com credibilidade na esfera da
administração pública.
Outro aspecto importante foi o processo de seleção das instituições de pesquisa responsáveis pelo
desenvolvimento dos trabalhos. Uma licitação pública resultou na escolha de instituições universitárias
com experiência na área, o que tem sido de grande importância para a credibilidade científica da propos-
ta. Vale ressaltar que, de maneira geral, os diversos fóruns onde foi feita a discussão dessa proposta, como
por exemplo o Congresso da ABRASCO, indicaram que o modelo concebido para a avaliação é adequado,
com destaque para a idéia de utilizar-se o modelo FPEEEA como fio condutor entre as causas e os efeitos
devido à inadequação de saneamento ambiental sobre a saúde (morbi-mortalidade ampliada). Embora
não seja o foco principal dessa proposta, ficou evidenciada a possibilidade de ampliar o estudo para dois
outros efeitos sugeridos, quais sejam: (a) efeitos de natureza ambiental (ecossistemas comprometidos) e
(b) efeitos de natureza sóciopolítica (exclusão social e redução dos níveis de cidadania).
Embora a concepção metodológica para a avaliação tenha sido considerada adequada, com a
utilização de indicadores como elementos de avaliação, deve-se ressaltar que ficou evidenciado a impor-
tância de uma constante retroalimentação no projeto de avaliação. Esse ajuste deverá ser feito ao longo do
desenvolvimento dos trabalhos, tendo como base fundamental os estudos de caso. Além disso, é impor-
tante ressaltar que os indicadores, de forma geral, merecerão uma análise de sensibilidade. De acordo
com a estratégia dialética adotada no desenvolvimento do projeto de avaliação, os primeiros resultados da
pesquisa deverão estabelecer diretrizes para o confronto entre o presente modelo de avaliação com a
realidade, permitindo corrigir aspectos importantes para a continuidade da execução da pesquisa e da
análise e interpretação dos resultados.
Ministério da Saúde / Representação da OPAS/OMS no Brasil
116
A avaliação integrada é um aspecto crucial a ser considerado. Embora a proposta de avaliação, por
questões metodológicas, tenha sido concebida em diferentes eixos, a sua avaliação integrada deverá abranger
todas as dimensões envolvidas. As dimensões de avaliação contempladas no presente trabalho são: gestão,
sanitária e tecnológica, sociocultural, epidemiológica e econômica. Diante disso, é fundamental que a avalia-
ção global consiga integrar essas avaliações parciais, procurando abordar a dimensão político-institucional.
Como exemplo, a medida de efetividade das ações de saneamento pode ser resultado do impacto na saúde,
que é verificado por métodos epidemiológicos. Do mesmo modo, a eficiência dessas ações poderá ser
avaliada pela dimensão econômica. A avaliação integrada, ao incluir todas as dimensões, permitirá indicar a
sustentabilidade das ações de saneamento implementadas por programas governamentais.
Embora essa proposta metodológica tenha sido desenvolvida a partir de um cenário de ações de
saneamento gerado por um programa de governo específico, a meta dos trabalhos é apresentar uma metodologia
de avaliação que possa ser incorporada pelos agentes públicos para acompanhamento de ações de sanea-
mento em geral. Para tanto, é fundamental identificar com clareza indicadores a serem incorporados nos
levantamentos regulares de informação, como a PNSB produzida pelo IBGE, o que garantirá acompanhamen-
to contínuo da realidade do saneamento por meio de dados secundários.
Esta publicação significa, de certa forma, uma marco importante na etapa de elaboração da metodologia.
A idéia é de que agora há condições para que a avaliação possa ser levada a cabo e seus resultados analisados.
Entretanto, a produção de resultados e sua análise não devem ser vistos como atividades limitadas unicamente
pelo apontado nessa proposta metodológica. Isso porque, por mais elaborado que tenha sido o processo de
desenvolvimento metodológico, sempre se teve claro que haveria necessidade de correção de rumos. Como
é possível prever, as avaliações parciais serão desenvolvidas durante um período relativamente longo, o que
indica a possibilidade de evolução da compreensão e prática de processo de avaliação complexo como o
apresentado na presente proposta.
Resta dizer algo sobre a etapa de validação dessa proposta metodológica. Os pesquisadores envolvidos
até agora têm claro que o mesmo cuidado tomado na apresentação da proposta metodológica deva ser
tomado na etapa de validação. Isso significa aproveitar diferentes formas para discutir os resultados encontra-
dos, tais como eventos científicos e encontros de pesquisadores. Também deve-se ter como meta a publicação
dos resultados de maneira integrada, permitindo a crítica abrangente a todo o processo de avaliação.