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riam ainda mais o poderio da Rádio Nacional, o assunto é
encerrado com a informação de que,em 1949,o programa
“No mundo da bola” promoveu a eleição do jogador de
futebol preferido pelos ouvintes. Os votos eram enviados
num envelope de comprimido para dor de cabeça, o patro-
cinador do concurso. Os funcionários da emissora conta-
ram, no final da eleição, mais de 19 milhões de envelopes,
sendo que o craque vitorioso – o atacante Ademir, do
Va s c o d a G a m a e da seleção brasileira – recebeu
5.304.935 votos,marca que,em matéria de eleição,só seria
superada em 1960, quando Jânio Quadros foi eleito presi-
dente da República com pouco mais de 6 milhões de votos.
Fundada em 1936 e sendo transferida para
o governo federal em 1941, a Nacional
dispensava a ajuda oficial, pois, duran-
te mais de 20 anos, foi o veículo de
comunicação com a maior receita
publicitária do país. Tal receita
era suficiente para pagar os salá-
rios de 9 diretores,240 funcioná-
rios administrativos, 10 maes-
tros,124 músicos,33 locutores, 55
radiatores, 39 radiatrizes, 52 canto-
res, 44 cantoras, 18 produtores de pro-
gramas, 1 fotógrafo, 5 repórteres, 13 infor-
mantes, 24 redatores e 4 editores de jornais fala-
dos.
A programação era variada.A audiência feminina fica-
va por conta das novelas, que, em estilo de folhetins,se pro-
longavam por vários meses. Havia também os programas
humorísticos, a cobertura dos acontecimentos esportivos,
os programas de auditório, os (muitos, podem acreditar)
programas culturais e os programas musicais. Estes últi-
mos, provavelmente, são os que mais resistiram ao esqueci-
mento a que foram condenados não só os programas
como os próprios radialistas, uma sina que parece confir-
mar o que diziam os anunciantes contrários à publicidade
radiofônica nos tempos pioneiros, recusando-se a fazer
propagando em rádio: palavras o vento leva.Mas o pessoal
da música não foi esquecido e, durante muitos anos, seus
nomes permaneceram ligados à história da Rádio
Nacional. Falando, por exemplo, do cantor Francisco
Alves, um dos primeiros ídolos da música popular brasilei-
ra, vem logo à lembrança a abertura do seu programa, ao
meio-dia, quando a locutora dizia que, naquele momento,
os ponteiros se encontravam. A morte de Francisco Alves,
em setembro de 1952, num acidente de carro, paralisou o
Brasil e levou pela primeira vez a Rádio Nacional a suspen-
der a programação e passar 24 horas tocando apenas dis-
cos do cantor.
Seria difícil apontar o maior ídolo entre as centenas de
cantores que passaram pela emissora, mas Orlando Silva,
sem dúvida, foi o primeiro deles, pelo menos cronologica-
mente. Contratado pela Rádio Nacional logo
na sua fundação, com uma carreira de
somente dois anos,Orlando era um
intérprete excepcional, para muitos,
o melhor que o Brasil já teve (João
Gilberto, um dos criadores da
Bossa Nova, vai mais longe: para
ele, Orlando Silva era o melhor
cantor do mundo de todos os
tempos). Seus discos e a própria
Rádio Nacional se encarregaram de
espalhar sua voz por todo o país e não
demorou muito para assumir a condição
de ídolo nacional. Nas grandes cidades, os
empresários se viram obrigados a programar apresenta-
ções do cantor nas praças públicas para que fosse visto pelo
maior número possível de pessoas.
Dois nomes intimamente ligados aos tempos áureos
da Rádio Nacional são os das cantoras Emilinha Borba e
Marlene. Profissional desde os 14 anos de idade,Emilinha
apresentou-se em outras emissoras e nos cassinos da Urca
e Copacabana, antes de ser contratada pela emissora em
1945, ano em que foram lançados os grandes programas
de auditório. Foi ela o grande destaque desse tipo de pro-
grama. Os ouvintes sabiam que ela ia cantar,antes mesmo
de ser anunciada, pela gritaria de um público formado
geralmente de gente humilde, na maioria mulheres, que
madrugava na porta da Nacional para garantir um lugar
no auditório (por serem, em grande parte, negras e mula-
Seria difícil
apontar o maior ídolo
entre as centenas de
cantores que passaram pela
emissora, mas Orlando Silva,
sem dúvida, foi o primeiro
deles, pelo menos
cronologicamente.
Contratado pela Rádio
Nacional ....