mundo pequeno inserido em um maior" (Benjamin, 1984, p. 77).
As crianças precisam criar, construir e desconstruir, precisam de espaços com areia, água, terra,
objetos variados, brinquedos, livros, jornais, revistas, discos, panos, cartazes, e também espaços
cujo objetivo é a experiência com a cultura, a arte e a ciência, de que com freqüência as crianças
pequenas são alijadas: mesmo nas grandes cidades, a maior parte dos locais está longe de
contemplar as necessidades das crianças de 0 a 6 anos. Falta nos nossos municípios valorização
de espaços de arte, história e cultura; faltam brinquedos e/em praças e parques; brinquedotecas e
locais para crianças pequenas em clubes, museus, bibliotecas, hospitais, postos de saúde,
bancos - instituições para onde as levam os adultos por longos períodos de tempo. Mesmo as
escolas, creches e pré-escolas precisam de espaços de brincar, garantindo o direito das crianças,
e prestando relevante serviço às famílias.
infância e educação: desafios e possibilidades hoje
Muitos são os desafios das políticas sociais para a infância. Questões relativas à situação política
e econômica e à pobreza das nossas populações, questões urbanas e sociais, problemas
educacionais específicos assumem proporções graves e exige respostas firmes e rápidas, nunca
fáceis. Muitas são também as possibilidades de enfrentar a questão. Hoje, vivemos o paradoxo de
ter um conhecimento teórico avançado sobre a infância, enquanto assistimos com horror a
incapacidade da nossa geração de lidar com as populações infantis e juvenis. De que modo as
pessoas percebem as crianças? Qual é o papel social da infância na sociedade moderna? Que
valor é atribuído à criança por pessoas de diferentes classes e grupos sociais? O que significa ser
criança em diferentes culturas? Como trabalhar com crianças pequenas, considerando seu
contexto de origem, seu desenvolvimento e os conhecimentos, direito social de todos? Como
assegurar que, diante da diversidade das populações infantis e das contradições da sociedade
contemporânea, a educação cumpra seu papel social? Este texto não responde a essas
questões, mas se sente comprometido com elas e com uma sociedade fundada no
reconhecimento do outro, nas diferenças (de cultura, etnia, religião, gênero, classe, idade) e na
superação da desigualdade.
A população brasileira, a partir da progressiva consciência de seus direitos e da participação em
movimentos sociais, teve papel central numa das maiores conquistas da educação infantil no
Brasil: o reconhecimento, na Constituição de 1988, do direito à educação de todas as crianças de
0 a 6 anos e do dever do Estado de oferecer creches e pré-escolas para tornar fato este direito.
Movimentos sociais e instâncias públicas (municipais e estaduais) vêm se esforçando no sentido
de expandir com qualidade a educação infantil e enfrentar os desafios que se colocam. Pela
primeira vez na história da educação brasileira, 1994, foi formulada uma política nacional de
educação infantil, com diretrizes para a formação dos profissionais.
Mas, a fim de que a educação infantil de qualidade seja de fato direito de todos coloca-se como
desafio urgente, a formação profissional de todos os professores: formação como direito à
educação, de todos (crianças, jovens, adultos e dentre eles os professores); formação nas áreas
básicas do conhecimento (língua, matemática, ciências naturais e ciências sociais); e formação
cultural, com oportunidade de se discutir valores, preconceitos, experiências e a própria história.
Formação entendida como qualificação, na melhoria da qualidade do trabalho pedagógico, e de
profissionalização, garantindo avanço na escolaridade, carreira e salário. Formação que implica
em constituir identidades, ponto crucial frente à crescente evasão de professores. Formação que
– seja continuada (com novas propostas pedagógicas), seja inicial (em escolas de formação de
magistério e na universidade) - garanta espaço para a pluralidade e para que professores narrem
suas experiências, reflitam sobre práticas e trajetórias vividas, compreendam a sua própria
história, redimensionem o passado e o presente, ampliem seu saber e seu saber fazer. Formação