aluno/ano foi fixado em R$ 315,00. Dos 26 Estados da Federação, oito não atingiram este valor com
os recursos próprios e receberam complementação federal, sete deles da Região Nordeste(3).
Embora tenha sido criado a partir de uma iniciativa de emenda constitucional apresentada ao
Congresso Nacional pelo Executivo Federal, a implantação do Fundef ficou predominantemente a
cargo dos Estados, que responde por 65%, até porque a participação do governo central tem sido
pouco expressiva, limitando-se a menos de 5% dos recursos totais redistribuídos pelo Fundo. Este é,
aliás, um dos aspectos críticos da reforma, pois a elevação do valor mínimo nacional por aluno/ano, a
partir do qual é determinado o montante da complementação da União, depende de decisão do
governo federal.
Em 1998, o Fundef mobilizou cerca de R$ 13,3 bilhões para o ensino fundamental, dos quais apenas
R$ 542 milhões provenientes do governo federal. No segundo ano, 1999, a receita total se elevou
para cerca de R$ 14,2 bilhões, acompanhado de um pequeno aumento da complementação federal,
estimada em R$ 650 milhões. Para 2000, o governo federal fixou pisos diferenciados, elevando para
R$ 333,00 o valor mínimo por aluno/ano de 1ª a 4ª séries e para R$ 349,65, de 5ª a 8ª séries. Com
isso, estima-se que a complementação da União atinja cerca de R$ 800 milhões.
despeito do apoio financeiro pouco efetivo do governo federal, os resultados iniciais produzidos por
esta reforma foram muito positivos. Em primeiro lugar, o critério de distribuição dos recursos - número
de matrículas efetivadas - incentivou a incorporação das crianças que permaneciam fora da escola,
impulsionando o aumento da taxa de escolarização líquida, na faixa de 7 a 14 anos, para cerca de
96%, segundo dados de 1999, o que mostra que o acesso ao ensino fundamental está praticamente
assegurado. Em segundo lugar, a exigência legal de que, no mínimo, 60% dos recursos do Fundef
sejam destinados à remuneração dos professores em efetivo exercício permitiu substancial melhoria
dos salários do magistério, especialmente nas redes municipais da Região Nordeste, que
concederam aumento médio de 49,6% no primeiro ano de vigência da nova sistemática de
financiamento. O pagamento de melhores salários, por sua vez, atraiu profissionais mais qualificados
para a carreira docente, contribuindo assim para uma expressiva redução de 25% no número de
professores leigos(4).
No entanto, o impacto mais visível do Fundef se deu sobre a distribuição das matrículas entre as
redes estaduais e municipais. Ao garantir recursos proporcionais ao número de alunos, o fundo
incentivou fortemente os municípios a assumir maior responsabilidade pelo provimento do ensino
fundamental obrigatório, desencadeando um processo de municipalização acelerada da matrícula
neste nível de ensino, conforme mostra o gráfico 1. Em apenas dois anos, de 1997 a 1999, as redes
municipais incorporaram cerca de 4 milhões de matrículas. Parte deste crescimento se deu pela
transferência negociada de escolas estaduais e parte pela incorporação de crianças que estavam
excluídas do sistema escolar. Na década de 90, as redes municipais quase dobraram de tamanho,
passando de 8,8 milhões de matrículas, em 1991, para cerca de 16,2 milhões, em 1999. No mesmo
período, as redes estaduais mantiveram praticamente o mesmo quantitativo de alunos. Com a
implantação do Fundef este aparente equilíbrio deverá se alterar profundamente nos próximos anos,
conforme tendência observada a partir de 1997.
Este processo de municipalização do ensino fundamental envolve pelo menos três aspectos muito
positivos. Primeiro, compromete os governos locais com o financiamento prioritário do ensino
obrigatório, que deve ser universal e gratuito, conforme estabelece a Constituição. Segundo,
aproxima a supervisão e a gestão das escolas da comunidade que recebe os seus serviços e que
pode, portanto, exercer um controle mais direto e efetivo. Finalmente, ao atribuir aos municípios
maior responsabilidadade pelo ensino fundamental, libera, em parte, os Estados para dar maior
atenção ao ensino médio, que atravessa um período de grande expansão.