desses grupos não eram perseguidos e sobrevivem ainda hoje. A Fundação
Palmares explica que mesmo hoje em dia, esses grupos são reconhecidos como
descendentes de negros dos quilombos, o que tornará mais fácil tentar colocar em
prática o direito garantido pela Constituição de 1988. A população que vive em torno
dos núcleos de descendentes de escravos sempre se refere a esses locais como
quilombos, mocambos ou terras dos negros.
Levantamento - Mapear os locais onde vivem comunidades remanescentes de
quilombos tem sido um trabalho lento. As informações estão sendo armazenadas
na Fundação Palmares, mas até agora somente o Estado do Maranhão conta com
um trabalho abrangente. Naquele Estado foram localizadas 401 comunidades
negras e, desse total, cem podem ser designadas como remanescentes de
quilombos, segundo o advogado Dimas Salustiano, que vem apoiando a Fundação
Palmares nos estudos sobre os direitos assegurados às populações negras. "As
situações vividas por esses grupos espalhados por vários Estados são
diferenciadas mas, em geral, todos enfrentam um problema comum: a ameaça de
perderem suas terras", assinala.
É o caso das comunidades que foram localizadas na Bacia do Rio Trombetas, norte
do Pará, em 1989. Essas comunidades, que ainda mantêm fortes traços de sua
cultura original, estão enfrentando a invasão de empresas mineradoras, fazendeiros
e madeireiras. Além disso, entram em confronto com funcionários do Ibama que
cuidam da Reserva Biológica do Trombetas, criada na região que foi ocupada pelos
antigos escravos.
Os descendentes de escravos, segundo dados históricos, cumpriram uma rota de
fuga através do porto de Belém ou da cidade de Turiaçu, no Maranhão. De lá, foram
se embrenhando na selva, fugindo da escravidão. Hoje, a população está
distribuída em dezenove comunidades, num total de 6 mil pessoas que sobrevivem
da agricultura de subsistência, caça, pesca e extrativismo.
Na Bahia, 300 famílias da comunidade de Rio das Rãs, perto de Bom Jesus da
Lapa, enfrentaram a ação de um grileiro de terras e depois de muita luta
conseguiram uma liminar na Justiça, que lhes garantiu a posse da terra. Já em
Sergipe, as 100 famílias de negros remanescentes do quilombo de Mocambo estão
em litígio com fazendeiros da região. Em Goiás, os Calungas, espalhados numa
área que atinge os municípios de Cavalcanti, Monte Alegre e Terezinha de Goiás,
enfrentam a pressão de Furnas que, para encher o lago da hidrelétrica que está
sendo construída no local, irá inundar 50% das terras onde a população negra
planta roças.
Entre os descendentes de escravos mais jovens, poucos sabem contar as histórias
dos antepassados. "Sei pouca coisa do passado, mas o velho Josias, de 102 anos,
conta como foi a fuga do cativeiro dos negros que formaram o quilombo e outros,
em Sergipe, em que levas foram chegando", conta João Rodrigues Couto, que hoje
participa das reuniões que a Fu
ndação Palmares realiza em vários Estados, para