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TEIXEIRA
ANÍSIO
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Ministério da Educação | Fundação Joaquim Nabuco
Coordenação executiva
Carlos Alberto Ribeiro de Xavier e Isabela Cribari
Comissão técnica
Carlos Alberto Ribeiro de Xavier (presidente)
Antonio Carlos Caruso Ronca, Ataíde Alves, Carmen Lúcia Bueno Valle,
Célio da Cunha, Jane Cristina da Silva, José Carlos Wanderley Dias de Freitas,
Justina Iva de Araújo Silva, Lúcia Lodi, Maria de Lourdes de Albuquerque Fávero
Revisão de conteúdo
Carlos Alberto Ribeiro de Xavier, Célio da Cunha, Jáder de Medeiros Britto,
José Eustachio Romão, Larissa Vieira dos Santos, Suely Melo e Walter Garcia
Secretaria executiva
Ana Elizabete Negreiros Barroso
Conceição Silva
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Clarice Nunes
TEIXEIRA
ANÍSIO
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Fundação Joaquim Nabuco. Biblioteca)
Nunes, Clarice.
Anísio Teixeira / Clarice Nunes. – Recife:
Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010.
152 p.: il. – (Coleção Educadores)
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7019-531-9
1. Teixeira, Anísio, 1900-1971. 2. Educação – Brasil – História. I. Título.
CDU 37(81)
ISBN 978-85-7019-531-9
© 2010 Coleção Educadores
MEC | Fundação Joaquim Nabuco/Editora Massangana
Esta publicação tem a cooperação da UNESCO no âmbito
do Acordo de Cooperação Técnica MEC/UNESCO, o qual tem o objetivo a
contribuição para a formulação e implementação de políticas integradas de melhoria
da equidade e qualidade da educação em todos os níveis de ensino formal e não
formal. Os autores são responsáveis pela escolha e apresentação dos fatos contidos
neste livro, bem como pelas opiniões nele expressas, que não são necessariamente as
da UNESCO, nem comprometem a Organização.
As indicações de nomes e a apresentação do material ao longo desta publicação
não implicam a manifestação de qualquer opinião por parte da UNESCO
a respeito da condição jurídica de qualquer país, território, cidade, região
ou de suas autoridades, tampouco da delimitação de suas fronteiras ou limites.
A reprodução deste volume, em qualquer meio, sem autorização prévia,
estará sujeita às penalidades da Lei nº 9.610 de 19/02/98.
Editora Massangana
Avenida 17 de Agosto, 2187 | Casa Forte | Recife | PE | CEP 52061-540
www.fundaj.gov.br
Coleção Educadores
Edição-geral
Sidney Rocha
Coordenação editorial
Selma Corrêa
Assessoria editorial
Antonio Laurentino
Patrícia Lima
Revisão
Sygma Comunicação
Ilustrações
Miguel Falcão
Foi feito depósito legal
Impresso no Brasil
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SUMÁRIO
Apresentação, por Fernando Haddad, 7
Ensaio, por Clarice Nunes, 11
A trajetória de Anísio Teixeira, 11
Qual é o nosso propósito na vida?, 12
Quais são os limites da ação partidária
no campo da educação?, 20
Qual é o preço a pagar pela
afirmação da democracia como valor?, 27
A compreensão da sociedade e da educação brasileiras
na obra de Anísio Teixeira, 35
As bases teóricas do pensamento de Anísio Teixeira, 36
A obra de Anísio Teixeira como provocação, 54
Desertos, 61
Textos selecionados, 67
Mestres de amanhã, 67
Ciência e arte de educar, 81
A educação que nos convém, 99
Cronologia, 121
Bibliografia, 125
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7
O propósito de organizar uma coleção de livros sobre educa-
dores e pensadores da educação surgiu da necessidade de se colo-
car à disposição dos professores e dirigentes da educação de todo
o país obras de qualidade para mostrar o que pensaram e fizeram
alguns dos principais expoentes da história educacional, nos pla-
nos nacional e internacional. A disseminação de conhecimentos
nessa área, seguida de debates públicos, constitui passo importante
para o amadurecimento de ideias e de alternativas com vistas ao
objetivo republicano de melhorar a qualidade das escolas e da
prática pedagógica em nosso país.
Para concretizar esse propósito, o Ministério da Educação insti-
tuiu Comissão Técnica em 2006, composta por representantes do
MEC, de instituições educacionais, de universidades e da Unesco
que, após longas reuniões, chegou a uma lista de trinta brasileiros e
trinta estrangeiros, cuja escolha teve por critérios o reconhecimento
histórico e o alcance de suas reflexões e contribuições para o avanço
da educação. No plano internacional, optou-se por aproveitar a co-
leção Penseurs de l´éducation, organizada pelo International Bureau of
Education (IBE) da Unesco em Genebra, que reúne alguns dos mai-
ores pensadores da educação de todos os tempos e culturas.
Para garantir o êxito e a qualidade deste ambicioso projeto
editorial, o MEC recorreu aos pesquisadores do Instituto Paulo
Freire e de diversas universidades, em condições de cumprir os
objetivos previstos pelo projeto.
APRESENTAÇÃO
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8
Ao se iniciar a publicação da Coleção Educadores
*
, o MEC,
em parceria com a Unesco e a Fundação Joaquim Nabuco, favo-
rece o aprofundamento das políticas educacionais no Brasil, como
também contribui para a união indissociável entre a teoria e a prá-
tica, que é o de que mais necessitamos nestes tempos de transição
para cenários mais promissores.
É importante sublinhar que o lançamento desta Coleção coinci-
de com o 80º aniversário de criação do Ministério da Educação e
sugere reflexões oportunas. Ao tempo em que ele foi criado, em
novembro de 1930, a educação brasileira vivia um clima de espe-
ranças e expectativas alentadoras em decorrência das mudanças que
se operavam nos campos político, econômico e cultural. A divulga-
ção do Manifesto dos pioneiros em 1932, a fundação, em 1934, da Uni-
versidade de São Paulo e da Universidade do Distrito Federal, em
1935, são alguns dos exemplos anunciadores de novos tempos tão
bem sintetizados por Fernando de Azevedo no Manifesto dos pioneiros.
Todavia, a imposição ao país da Constituição de 1937 e do
Estado Novo, haveria de interromper por vários anos a luta auspiciosa
do movimento educacional dos anos 1920 e 1930 do século passa-
do, que só seria retomada com a redemocratização do país, em
1945. Os anos que se seguiram, em clima de maior liberdade, possi-
bilitaram alguns avanços definitivos como as várias campanhas edu-
cacionais nos anos 1950, a criação da Capes e do CNPq e a aprova-
ção, após muitos embates, da primeira Lei de Diretrizes e Bases no
começo da década de 1960. No entanto, as grandes esperanças e
aspirações retrabalhadas e reavivadas nessa fase e tão bem sintetiza-
das pelo Manifesto dos Educadores de 1959, também redigido por
Fernando de Azevedo, haveriam de ser novamente interrompidas
em 1964 por uma nova ditadura de quase dois decênios.
*
A relação completa dos educadores que integram a coleção encontra-se no início deste
volume.
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Assim, pode-se dizer que, em certo sentido, o atual estágio da
educação brasileira representa uma retomada dos ideais dos mani-
festos de 1932 e de 1959, devidamente contextualizados com o
tempo presente. Estou certo de que o lançamento, em 2007, do
Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), como mecanis-
mo de estado para a implementação do Plano Nacional da Edu-
cação começou a resgatar muitos dos objetivos da política educa-
cional presentes em ambos os manifestos. Acredito que não será
demais afirmar que o grande argumento do Manifesto de 1932, cuja
reedição consta da presente Coleção, juntamente com o Manifesto
de 1959, é de impressionante atualidade: “Na hierarquia dos pro-
blemas de uma nação, nenhum sobreleva em importância, ao da
educação”. Esse lema inspira e dá forças ao movimento de ideias
e de ações a que hoje assistimos em todo o país para fazer da
educação uma prioridade de estado.
Fernando Haddad
Ministro de Estado da Educação
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11
ANÍSIO TEIXEIRA
(1900 - 1971)
Clarice Nunes
A trajetória de Anísio Teixeira
1
Sabem-se os nascimentos quando já foram sofridos. Assim que
nasce, o sujeito empreende uma viagem rumo ao desconhecido,
que não sabe ainda quem é, mas vai descobri-lo nas suas respostas às
provocações da própria existência. Não nascemos educadores.
Tornamo-nos educadores num processo laboriosamente construído,
lapidado no diálogo com diversos educadores que transitam dentro
de nós. Saber qual é o nosso propósito na vida não é tarefa fácil. Ele
vai se delineando em nossa infância, adolescência e juventude. Ao
tomar uma decisão a respeito de um propósito, optamos por reali-
zar esforços que vamos levar a termo no futuro. Toda decisão é
fruto das escolhas que fazemos dentro do enfrentamento de situa-
ções que vivemos e que são afetadas pela nossa origem social e pelas
influências do grupo familiar, da escola e dos amigos.
Cada um responde à pergunta formulada de uma maneira pró-
pria, fruto de um campo de possibilidades em que interagimos com
outros mergulhados em circunstâncias que fornecem os limites com
os quais e contra os quais lutamos para implementar nossos projetos.
1
Creio que encontrei um caminho frutífero para escrever sobre a trajetória de Anísio Teixeira
por ocasião da conferência de abertura da 23ª Reunião Anual da Anped, em Caxambu,
quando elaborei uma narrativa a partir dos momentos de ruptura que identifiquei na sua vida.
Retomo-os neste texto com pequenos acréscimos e algumas ligeiras modificações.
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Qual é o nosso propósito na vida?
Qual seria o propósito da vida de Anísio Teixeira? Nasceu o
educador no fim do século XIX, no ano de 1900, em Caetité,
pequena cidade do interior baiano, a 800 quilômetros de Salva-
dor, no casarão assobradado da Praça de Sant’Ana, na antiga
Rua do Hospício, defronte à porta da igreja. Lembro-me ainda
da emoção que senti quando pela primeira vez adentrei pelas
portas abertas do edifício restaurado e percorri suas salas, che-
gando até o quarto do casal, diante do bercinho que o acolheu
em seus primeiros dias de vida.
Pela sua origem social, radicada nas famílias Spínola e Teixeira,
proprietárias de terra e com prestígio político consolidado e pela
educação inaciana recebida nos colégios que frequentou, Anísio ti-
nha diante de si um quadro de alternativas plausíveis à sua dispo-
sição: o sacerdócio; a magistratura; o exercício liberal da advocacia,
Medicina (encaminhamento paterno) ou Engenharia (encaminhamen-
to do seu irmão Nelson); o exercício do jornalismo e das letras; a
condução dos negócios e interesses familiares ou a carreira de polí-
tico profissional. Tratava-se de um amplo repertório se comparado
ao de outras crianças de origem social diferente, mas ao mesmo
tempo um repertório limitado pelas circunstâncias históricas.
Após seus estudos primários realizados com Dona Maria
Teodolina das Neves Lobão e Priscila Spínola, sua tia, Anísio Teixeira
ingressou, em 1911, no Colégio São Luiz Gonzaga, ginásio de pre-
paratórios organizado pelos padres jesuítas, e já se destacava pela
vivacidade de espírito e rigor nos estudos. Aí nasceu sua admiração
pela Companhia de Jesus que cresceu quando, em 1914, transferiu-
se para o Colégio Antonio Vieira, em Salvador, iniciativa de jesuítas
europeus que vieram do colégio lisboeta de Campolide, no mo-
mento em que Portugal se tornava uma República. Nesse colégio,
Anísio teve contato com muitos docentes de valor que combina-
vam a vocação sacerdotal com a vocação acadêmica, sendo pesqui-
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sadores em seus campos de conhecimento e autores de artigos em
revistas internacionais. No corpo docente do colégio destacavam-se
o padre Meyer, suíço de nascimento e dedicado à química, antigo
professor da Universidade de Beirute; padre Zimmermann, alemão,
matemático; padre Camillo Torrend, naturalista francês e especialis-
ta em protozoários; padre Dignam, irlandês, que ensinava vocabulá-
rio e gramática da língua inglesa; padre Antonio Ferreira, paulista e
orador sacro muito estimado em Salvador e padre Luiz Gonzaga
Cabral, considerado o maior pregador da Península Ibérica, descen-
dente de família de aristocratas da cidade do Porto, provincial dos
jesuítas em Campolide e confessor do rei português.
O humanismo cristão dos colégios jesuítas possibilitou-lhe o
domínio da escrita, mediante um trabalho constante com os tex-
tos, o treinamento caligráfico, diferentes tipos de leitura, a realiza-
ção de operações mentais analíticas e sintéticas. Abriu seu pensa-
mento para o campo filosófico e estimulou o contato com os
livros numa relação íntima que o acompanhou a vida toda. No
gabinete de física, no laboratório de Química e no museu de histó-
ria natural, Anísio pôde ingressar no campo científico e num modo
de pensar que embora subordinado à fé era novo nos colégios da
época. Foi ainda nesse ambiente que ele se reconheceu, como di-
zia, “um animal religioso”.
Aprendeu também certo modo de vestir-se, alimentar-se, via-
jar, preferir, organizar, suportar privações e adversidades, superar
obstáculos. Construiu um estilo de andar, de expressão do rosto, o
costume da concentração, do recolhimento interior, a regularidade
na hora das refeições, do sono, do despertar e outros tantos detalhes
que mostravam como a formação jesuítica numa instituição na qual
esteve internado teve um forte efeito sobre seu comportamento.
Estudar em colégios jesuítas implicou para ele a interiorização de
normas e valores morais, o reconhecimento de que seus “dons” espe-
cíficos (a inteligência, o desejo, a imaginação e a memória) precisavam
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ser orientados no sentido de impregnar seus atos com uma tessitura
consciente, racional e espiritual. Essa formação forneceu-lhe um modus
vivendi. Dentro desse universo, Anísio fez escolhas no campo das leitu-
ras (Santo Ignácio, padre Antonio Vieira, São Tomás de Aquino etc.),
das amizades (padre Cabral, Herbert Fortes, Guilherme Joaquim Fa-
ria Góes etc.). Declarava-se admirador da monarquia e filiado à tradi-
ção da restauração católica. Era alguém que havia interiorizado uma
visão hierarquizada dos homens e considerava a família a instituição
modelar da sociedade. Defendia uma concepção elitista e seletiva de
ensino. Militante do movimento católico, o educador esteve, durante
sua juventude, ideologicamente próximo de Jackson de Figueiredo,
Alceu Amoroso Lima e Plínio Salgado.
Para ele, o catolicismo parecia uma verdade tão completa e
tão grandiosa que se disporia a dedicar sua vida por inteiro para
defendê-la. Aguardava a manifestação da vontade divina e o con-
sentimento dos pais para ingressar no noviciado.
Dos 19 aos 22 anos, Anísio oscilou entre seguir a vida religiosa
ou a vida secular. Aguardava o consentimento dos pais para reali-
zar o que percebia como sua vocação sacerdotal, mas a graça não
veio. O pai de Anísio via nele um magistrado nato, seu sucessor
natural, futuro patriarca familiar. Padre Cabral via nele uma voca-
ção para o sacerdócio e, pelos seus talentos, alguém destinado a
ocupar postos importantes na hierarquia eclesiástica. Espremido
entre as aspirações da autoridade paterna e as da autoridade reli-
giosa acabou retardando seu ingresso ao sacerdócio e abdicando
da carreira de político profissional.
Formou-se, assim, advogado a contragosto, mais por impo-
sição da vontade dos pais. De fato, se padre Cabral pretendia que
Anísio fizesse os votos religiosos e ingressasse para a Companhia
de Jesus, seus pais procuravam demovê-lo dessa ideia e, por inicia-
tiva do pai, Anísio foi para o Rio de Janeiro realizar os estudos
jurídicos. Pressionado pelos pais e pelo padre Cabral, Anísio se
debatia entre seguir ou não uma carreira religiosa.
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Disputado entre dois universos aparentemente opostos, mas que
convergiam em termos de prestígio político e social, foi aos poucos
decidindo-se pela vida secular. Para essa decisão contribuiu a viagem
que realizou à Europa por volta de 1925, na companhia de dom
Augusto Álvaro da Silva, arcebispo primaz da Bahia e reformista
católico. Seu diário de viagem cala-se completamente sobre mo-
mentos significativos do itinerário religioso previsto para o católico
renovado que pretendia ser; nele não encontramos nenhuma palavra
sobre as bênçãos que recebera do papa Pio XI, sobre os colégios e
conventos nos quais esteve hospedado. Encontramos, porém, um
Anísio já convencido de que sua compreensão metafísica da vida
estava diluída; um Anísio deslumbrado com as noites parisienses e
as lindas mulheres espanholas. O Anísio que voltou da Europa estava
mais longe da Companhia de Jesus do que quando saíra do Brasil. E
questionando-se: por que não servir a Deus no mundo?
Criado num ambiente de discussão política permanente, ele
conhecia de perto o jogo de interesses e os problemas que ocor-
riam nas hostes partidárias da velha Bahia. Seu pai, Deocleciano
Pires Teixeira, era um típico coronel do Nordeste e exercia um
poder palaciano, conchavista, mais brando no seu exercício do
que o de outros coronéis. A herança que gostaria de legar a seus
filhos era o poder político que significava segurança, tranquilidade,
fortuna, consideração social. Na disputa política pelo governo
baiano nas eleições de 1924, seabristas e calmonistas se engal-
finharam e os segundos levaram a melhor
2
.
2
Os seabristas eram seguidores de José Joaquim Seabra, há vários anos líder do
situacionismo e, na década de 1920, candidato a vice-presidente na chapa Reação
Republicana encabeçada por Nilo Peçanha. Com a vitória de Arthur Bernardes para a
Presidência em 1924, a direção do governo da Bahia ganha um novo rumo. Mesmo antes
de ser indicado para concorrer a governador, Francisco Góes Calmon passou a aglutinar
todos os descontentamentos seabristas e a inspirar um calmonismo que aprofundou a
divisão dos partidos locais até 1930. O curioso é que, tentando aplacar os ânimos, é o
próprio Seabra que indica Calmon para a conquista do governo, mas ao ver como sua
candidatura crescia retirou-lhe o apoio. Cf. Cid Teixeira. As oligarquias na política baiana.
In: Wilson Lins et al. Coronéis e Oligarquias. Salvador: UFBA/Ianamá, 1988.
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Quando Francisco Góes Calmon foi eleito sem antes ter exercido
qualquer cargo político, embora mantivesse relações com figuras de
projeção de todos os grupos políticos locais, este preferiu, em vez de
delegar a Anísio uma promotoria em Caetité, como solicitara
Deocleciano, oferecer-lhe o cargo de Inspetor Geral do Ensino. Ca-
beria a ele, portanto, dirigir a instrução pública da cidade de Salvador.
Essa indicação foi recebida de muitas formas: os Teixeira viam-
se recompensados pelo apoio dado à candidatura de Calmon; os
padres jesuítas viam nessa indicação um sinal de Deus, já que Aní-
sio poderia ser um instrumento no sentido de ampliar a influência
da Igreja dentro da estrutura estatal; o próprio Anísio ficou sur-
preso, pois não se sentia preparado para atuar numa área que des-
conhecia, mas viu nessa oportunidade uma possibilidade de servir
a Deus no mundo. Iniciou uma série de conversas pedagógicas
com Antonio Carneiro Leão, na ocasião, diretor da Instrução Pú-
blica do Distrito Federal, com Afrânio Peixoto, que também já
havia exercido esse cargo. Nessa mesma época, leu Métodos ameri-
canos de educação do belga Omer Buyse, que muito o influenciou.
Ao assumir o posto que lhe destinou Calmon, Anísio levava sua
familiaridade com a política sertaneja; seu sentimento de católico
fervoroso e congregado mariano; sua organização de pensamento e
trabalho aprendida nos colégios jesuítas e seus conhecimentos jurídi-
cos. Lutavam dentro dele duas artes de governar: a de Inácio e a de
seu próprio pai. Por força do cargo assumido, entrou, pela primeira
vez, em contato com uma literatura pedagógica e um sistema públi-
co de educação que não conhecia. Em oposição à cultura, à organi-
zação, à competência docente dos colégios nos quais estudara, de-
parou-se – na capital do seu estado natal – com a pobreza de recur-
sos materiais e humanos. Observou também a dispersão e a desar-
ticulação dos serviços educativos, o despreparo do professor, a
imoralidade, a corrupção e a acomodação dos poderes públicos,
alimentando a ineficiência da máquina estatal.
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As poucas escolas em funcionamento estavam concentradas em
Salvador, localizadas em antigas residências, muitas em ruínas. Era
generalizado o costume de o professor custear, com seus próprios
recursos, o aluguel da sala ou do prédio em que instalava as “cadei-
ras”. O governo não oferecia mobiliário escolar, nem o professor a
adquiria. Cabia ao aluno fornecer cadeiras e mesas improvisadas
com barricas, caixotes, pequenos bancos de tábua, tripeças estreitas
e mal equilibradas, cadeiras encouradas ou tecidas a junco. Anísio
chegou a presenciar que era comum os estudantes escreverem no
chão, estirados de bruços sobre papéis de jornal ou, então, fazerem
seus exercícios de joelhos, ao redor de bancos ou à volta das cadeiras.
Faltava material didático, particularmente livros. Excepcional-
mente, era possível encontrar ainda, no sertão baiano, o Almanaque
do bom homem Ricardo, de Benjamin Franklin, que, traduzido para o
português, serviu como manual de leitura da escola primária no
interior do país desde a segunda metade do século XIX e instruiu
baianos ilustres como Afrânio Peixoto. Este se comoveu ao en-
contrar um exemplar numa exposição retrospectiva de livros in-
fantis da Biblioteca Pública de Nova York, em 1933
3
.
A fiscalização do ensino não existia, os professores eram
despreparados e a habitual distribuição político-eleitoral dos redu-
zidos cargos oferecidos por indicação, prática existente em seu
próprio grupo familiar, pressionado pelos compromissos políti-
cos assumidos na campanha sucessória e cobrado com insistência.
Apesar de a primeira Constituição Estadual Baiana, datada de
2/7/1891, estabelecer no artigo 148, do capítulo I, no título X, a
gratuidade e a universalidade do ensino primário.
De fato, o serviço escolar estava reduzido na Bahia à alfabeti-
zação rudimentar e à subvenção a escolas particulares feita pelas
prefeituras municipais. Uma das maiores dificuldades do Inspetor
3
Francisco Venâncio Filho. Contribuição norte-americana à educação no Brasil. Revista
Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio de Janeiro, 9 (25): 229-65, 1946, p. 254.
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Geral de Ensino, assim, seria romper com a tradição de valorização
do ensino particular pelos deputados e senadores estaduais baianos
como resposta às deficiências do ensino primário público. Acres-
cente-se que, na plataforma eleitoral de Calmon, explícita na Mensa-
gem de 1925, ele se propunha apenas a aperfeiçoar o aparelho exis-
tente, argumentando que a Bahia, ao contrário de São Paulo, não
tinha urgência de alfabetização em massa já que ali a industrialização
apenas engatinhava. Sua pretensão era apenas criar algumas poucas
escolas para alguns e não para todos. Anísio começou a se mover no
interior da máquina estatal com essa expectativa, inspirado pela con-
cepção intelectualista e seletiva que aprendera com os jesuítas e por
certo iluminismo pedagógico que herdara do pai. No senado baiano,
Deocleciano Teixeira havia defendido os gastos públicos com edu-
cação e havia criado uma escola normal em Caetité que, anos mais
tarde, fechada pela oposição, acabou servindo como sede do Co-
légio São Luiz Gonzaga onde Anísio estudou.
Ao mesmo tempo em que nosso educador se deparava com
essa situação, decidira realizar duas viagens pedagógicas aos Estados
Unidos (Nunes, 2007 b). Graças a essas circunstâncias, travou conta-
to com uma literatura pedagógica e um sistema público de educa-
ção que não conhecia. A primeira viagem à América durou sete
meses e foi realizada em 1927. Nela Anísio Teixeira iniciou-se no
pensamento de John Dewey (1859-1952), travou relações de amiza-
de com Monteiro Lobato (1882-1948), na ocasião, adido comercial
em Nova York, realizou excursões pedagógicas e ainda preparou o
terreno para uma visita mais prolongada àquele país em meados de
1928 e 1929, quando teve oportunidade de estudar.
No retorno de sua primeira viagem à América, em novembro
de 1927, a bordo do Alcântara, Anísio escreveu ao pai sobre a
renovação do seu gosto pelos assuntos educacionais. Afirmava
sua convicção de não mais se afastar desse rumo, a despeito das
oscilações políticas e da imprensa que não lhe poupava críticas.
Reconhecia seu caráter idealista e a paixão necessária para a tarefa
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19
educativa
4
. Essa decisão surgia como construção lentamente ela-
borada desde o momento em que fora convidado a exercer o
cargo de Inspetor Geral do Ensino em Salvador.
A passagem de Anísio pelo Teachers College da Universidade
de Colúmbia, no final da década de 1920, foi vivida com uma
intensa carga afetiva, uma experiência de conversão pelo avesso.
Numa dimensão laica, Anísio reviveu situações que conhecera no
“mundo dos colégios jesuítas”, o que o empurrou a reinterpretar a
realidade e produziu aos seus olhos e aos olhos dos outros uma
ruptura biográfica que acentua o antes e o depois da estadia nos
Estados Unidos. Adotou John Dewey como sua plataforma de
lançamento para o mundo, como viga mestra para compreender
o que se passava na sociedade norte-americana. Escolhera um crí-
tico contundente dos impasses da democracia dessa sociedade,
um colaborador direto de instituições instaladas no meio da po-
pulação pobre e imigrante com objetivos filantrópicos e educativos,
um pensador que denunciava, nos Estados Unidos, que a ameaça
da democracia não estava fora do país, mas dentro dele: nas atitu-
des pessoais e nas instituições.
Escolher Dewey, de quem seria o primeiro tradutor no Brasil,
era optar por uma alternativa que substituiu os velhos valores ins-
pirados na religião católica e abraçados com sofreguidão. Era apos-
tar na possibilidade de integrar o que, nele, estava cindido: o corpo
e a mente, o sentimento e o pensamento, o sagrado e o secular.
Era abrir seu coração para o pensamento científico, apostando na
crença de que o enraizamento e as direções da mudança social a
favor da democracia estavam apoiadas na infância. O pragmatismo
deweyano forneceu-lhe um guia teórico que combateu a improvi-
sação e o autodidatismo, permitiu-lhe operacionalizar uma políti-
ca e criar a pesquisa educacional no país.
4
Anísio Teixeira. Carta de Anísio Teixeira a Deocleciano Pires Teixeira (18/11/1927); Arquivo
Anísio Teixeira, Série Correspondência, Ata 22.03.06, documento n.
20, CPDOC/FGV.
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20
As marcas dessa ruptura se evidenciaram nos deslocamentos
que operaram em sua vida e em novas ideias que horrorizaram al-
guns dos seus amigos mais íntimos, que passaram a vê-lo como um
baiano americanizado. Mas essa imagem não era só de seus amigos
baianos. Alguns rapazes de São Paulo, que viriam a ser seus colabo-
radores na década de 1930, no Distrito Federal, também construí-
ram dele essa imagem que reconheceriam, um pouco envergonha-
dos, ser equivocada. Ao visitar a Universidade de Colúmbia, em
1935, Lourenço Filho refazia a imagem do amigo e dizia, em carta:
“verifico que (em aspectos sociais e de pensamento) você é menos
americano do que eu próprio supunha”
5
. Do sacerdócio, pelo qual
em boa parte da sua juventude se viu predestinado, Anísio Teixeira
fez a travessia do seu primeiro deserto: o deserto da fé.
Quais são os limites da ação partidária no campo da educação?
Eis Anísio Teixeira em sua mesa de trabalho, que é também
uma mesa de existência a serviço da educação. Redige o programa
do Partido Autonomista do Distrito Federal. Estamos no mês de
fevereiro de 1935. Na introdução desse programa aponta a neces-
sidade do Estado assumir o papel regulador da distribuição de
bens, denuncia o fracasso da fórmula personalista das organiza-
ções partidárias nacionais. Apresenta o prefeito Pedro Ernesto
como liderança confirmada pelo voto popular, pela primeira vez
na história da cidade, destacando o sentido radical da sua obra
pública, obra que ajudou a construir.
Dispara críticas: às organizações políticas liberais, que não per-
cebiam a necessidade de homogeneidade e coesão; aos extremis-
tas de esquerda e aos extremistas de direita que, no seio de suas
organizações, tornavam-se pequenos sacerdotes ativos e operantes
5
Lourenço Filho. Carta a Anísio Teixeira (30/01/1935). In: Lourenço Filho. Correspondên-
cia (25) entre AT e Lourenço Filho. Arquivo Anísio Teixeira, Série Correspondência, AT e
29.11.01, documento n. 15, CPDOC/FGV.
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das ideias e das soluções do seu partido, todas essas atitudes con-
trárias à formação de uma mentalidade aberta.
Propõe um partido para o qual a primeira necessidade é a difu-
são da cultura e do esclarecimento público dos problemas brasilei-
ros e de suas possíveis soluções. Todo esse esforço acompanhado
de rigorosa liberdade de palavra e de imprensa. O partido revolucio-
nário, como ele o chamava, mas que também foi denominado de
Partido Autonomista do Distrito Federal, não precisaria de censura
ou segredo. As ideias deveriam triunfar pelo seu mérito. O que este
partido procuraria garantir era um padrão mínimo de educação e
de informação, a defesa e manutenção da saúde e os direitos sociais
elementares da honra, como o da subsistência, trabalho e conforto
relativo
6
. Esta proposta partidária tinha um alvo preciso: o expurgo
de antigas lideranças políticas que cercavam o prefeito e foram não
só desprestigiadas, mas em decorrência prejudicadas na sua pre-
tensão de empreguismo e favorecimento de eleitores ou possíveis
eleitores. O programa do Partido Autonomista foi assumido inte-
gralmente por Pedro Ernesto no seu discurso de posse como pri-
meiro prefeito eleito do Distrito Federal.
Por que Anísio teria escrito um programa partidário? Para
defender uma obra arduamente construída e que criava, na cidade
do Rio de Janeiro, um sistema de ensino municipal que ia da escola
primária à universidade. Esta obra corria sérios riscos numa con-
juntura na qual o pensamento autoritário crescia dentro do Estado
e na própria sociedade, onde as posições políticas se radicalizavam,
onde se gestava, como o ovo da serpente, a ditadura varguista.
Paschoal Lemme não compreendia a indiferença de Anísio quando
o alertou sobre a conveniência de não opor qualquer obstáculo ao
pleno cumprimento do dispositivo constitucional, elaborado por
Francisco Campos, que garantia a presença do ensino religioso nas
6
Anísio Teixeira. Manuscrito de um programa de partido político. Arquivo Anísio Teixeira,
Série Produção Intelectual, AT [Teixeira, A.] pi37/46.00.00, CPDOC/FGV.
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22
escolas públicas. Chegou a comentar que Anísio não parecia se
preocupar com a formidável onda que ia se agigantando contra
ele, movida pelas incompreensões, ignorância e má-fé, a qual rotu-
lava sua obra de anárquica, dissolvente de costumes e desagregadora
da sociedade (Lemme, 1998, pp. 143-147).
Essa “obra anárquica”, como taxavam os opositores de Aní-
sio Teixeira, contou com uma equipe que reuniu grande número
de colaboradores dos mais distintos matizes ideológicos: católi-
cos, liberais, comunistas, pensadores de direita e de esquerda. Como
foi possível reunir pessoas tão diferentes numa obra comum? Só
podemos compreender essa possibilidade se visualizarmos o Es-
tado sinalizando seu desejo de introduzir o Brasil na modernidade.
As portas se abriram. Urgia entrar e tentar. A habilidade coorde-
nadora de Anísio lidou com a tensão entre inflexões que, de um
lado, empurravam as realizações da sua gestão para uma abertura
real das chances educativas e, de outro, para a formulação de pes-
quisas e instrumentos que partiam de uma concepção autoritária
das classes populares.
A escola primária, a escola técnica secundária e o ensino de adultos
se expandiram e melhoraram sua qualidade. A escola técnica foi um
interessante pomo de discórdia, pois não apenas reuniu, pela pri-
meira vez no país, num curso secundário, da cultura geral aos cursos
técnicos profissionais, antes existentes apenas ao nível primário, mas
também valorizou seus diplomas, além de introduzir a participação
dos estudantes, organizados em conselhos, na gestão escolar. As bi-
bliotecas, sobretudo a biblioteca infantil, grande novidade capitane-
ada por Cecília Meireles, e as bibliotecas de classe dinamizaram a
pedagogia. A rádio educativa colocou o governo municipal falando
diretamente aos corações e mentes das famílias cariocas. O profes-
sor primário foi prestigiado e, pela primeira vez no país, sua forma-
ção ocorreu em nível superior na então recém-criada Universidade
do Distrito Federal. A educação foi instituída como área de investi-
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23
gação acadêmica. Ao mesmo tempo, porém, sob sua gestão, pro-
duziam-se pesquisas no Instituto de Pesquisas Educacionais, como
as de Arthur Ramos, que defendiam o controle brando das crianças,
ou ainda, aplicavam-se, nas escolas primárias, apesar das suas
discordâncias, os testes classificatórios de alunos.
Anísio Teixeira participou da mentalidade de sua época e aca-
bou endossando o papel disciplinador da escola sobre a cidade.
Lidou com a heterogeneidade das classes populares e de suas crian-
ças dentro delas, mas não o fez, como alguns de seus colaborado-
res, de forma a identificá-la como carência de atributos intrínsecos
do sujeito pobre. Ele deslocou a carência do indivíduo para a omis-
são dos governos na direção da reconstrução das condições sociais
e escolares. Não considerou as classes populares urbanas como obs-
táculos sociais e políticos e por esse motivo defendeu a educação
como instrumento de superação de uma carência que não é do indi-
víduo, mas da cultura erudita que lhe faz falta. Pôde perceber que a
desigualdade entre as pessoas não estava dada. Era feita.
A obra comum da equipe de Anísio não impediu as divergênci-
as e as críticas aos seus colaboradores e até mesmo aos amigos mais
queridos. Críticas que despontam pelas margens ou, como ele pre-
feria dizer, em pontos menos exatos. Ao comentar, no começo da
década de 1930, o bem-sucedido livro de Lourenço Filho, Introdução
ao estudo da Escola Nova, Anísio apontou com elegância sua visão
rígida da técnica pelo esvaziamento de aspectos substantivos do
pensamento filosófico
7
. Ao considerar a avaliação da aprendizagem
como uma atitude inerente a qualquer iniciativa escolar, ele abriu
espaço para recolocar a avaliação como prática suscetível de crítica
no seu processo mediante seus resultados, relativizando o valor dos
7
Anísio Teixeira. Comentários sobre a Introdução ao estudo da Escola Nova. Arquivo
Anísio Teixeira, Série Produção Intelectual, AT [Teixeira, A] pi 18/22.00.00/2, CPDOC/
FGV. Parecer crítico: Introdução ao estudo da Escola Nova. Arquivo Lourenço Filho, Série
Produção Intelectual, LF/S. Ass. pi 30/32.00.00, CPDOC/FGV.
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24
testes tão defendidos por Lourenço Filho e Isaías Alves. Já na déca-
da de 1940, ao comentar a obra Sociologia educacional, de Fernando de
Azevedo, afirmou numa belíssima carta que “a educação é sobretu-
do um sentido”. Perguntava-se: “e este sentido é arbitrário ou im-
posto pelas instituições (...)?”. E respondeu: “Creio que em edu-
cação sempre haverá mais necessidade de filosofia do que de ciência
(...) a educação é sobretudo, uma arte que progride como progride
a música” (Vidal, 2000, p. 43).
Anísio nunca abandonou a concepção da educação como uma
prática atravessada pela ciência e, ao mesmo tempo, pela arte. É
pela filosofia e pela arte que relativiza o peso da ciência na educa-
ção. É pelo seu amor a ambas que, mesmo tendo escrito um pro-
grama partidário no momento em que sua obra estava ameaçada,
se afasta dos partidos. Ele recusava a noção de ordem, lealdade,
hierarquia e o desprezo pela discussão teórica, comuns nas hostes
partidárias de então. Esses aspectos criavam, em Anísio, uma anti-
patia por qualquer filiação, mas não impediram que ele convidasse
homens de partido, comunistas como Leônidas Rezende e Edgardo
Castro Rebelo, para ingressarem nos quadros da Universidade do
Distrito Federal. Essa atitude não era isolada, pois ele se aproxima-
va de artistas e escritores que defendiam explicitamente sua indepen-
dência de criação e a usavam para justificar sua não-adesão a parti-
dos políticos de qualquer espécie. Essa não-adesão convivia com
uma simpatia militante por algumas ideias comunistas, da qual par-
tilhavam Carlos Drummond de Andrade e Paschoal Lemme
(Andrade, 1983, p. 9). Bem mais tarde, Jorge Amado, eleito depu-
tado pelo Partido Comunista Brasileiro, por São Paulo, em 1945,
dedicaria a Anísio Teixeira, a quem considerava o amigo das crianças,
seu famoso livro Capitães da areia.
À medida que, em meados dos anos de 1930, a modernização
autoritária se firmou, Anísio Teixeira catalizou a perseguição de ca-
tólicos e pensadores autoritários. Sua gestão foi avaliada como uma
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25
estratégia de oposição dentro da estratégia oficial e, como tal, foi
combatida e interrompida. Os católicos invadiram a prefeitura e
controlaram os serviços educativos. Venceu o projeto repartido de
educação: para o povo, uma educação destinada ao trabalho e para as elites,
uma educação para usufruir e exercer a cultura. Anísio opusera ao nacional
o democrático, entendido menos como conjunto de mecanismos
de participação dos indivíduos na sociedade política e mais como
mecanismos de democratização da sociedade civil (Warde, 1984,
pp. 105-139). A reforma por ele conduzida empurrou a escola para
fora de si mesma, ampliando sua área de influência na cidade. Atra-
vessou o espelho da cultura europeia e norte-americana, articulando
o saber popular ao acadêmico. Retirou o problema da educação da
tutela da Igreja e do governo federal. Todos esses aspectos marcam
o caráter polêmico da sua gestão, graças à sucessão de conflitos que
se criaram em vários níveis: no nível governamental, no nível ideoló-
gico e no interior das próprias escolas.
A opressão política calou a voz de Anísio, de seus colaborado-
res, de seus admiradores. Como afirma Renato Janine Ribeiro, no
posfácio do livro de Carlo Ginzburg, O queijo e os vermes, “nem toda
confissão é uma vitória da tortura; porque às vezes a pior tortura é
ter a voz silenciada” (1987, p. 241). A memória da formidável obra
pública que ele e sua equipe de trabalho empreenderam foi apagada.
Escrevendo a Anísio, em meados da década de 1940, Monteiro
Lobato rememora:
Lembro-me quando te vi no Rio de Janeiro, (perseguido) pela polí-
cia, escondido pelos amigos como um grande criminoso – e naquela
ocasião também chorei. To whom the bells toll? Todos estávamos im-
plicitamente perseguidos, foragidos, escondidos com você (...) Dez
anos passou você caminhando como minhoca por baixo da terra
escondido da Reação Triunfante, mas caminhando sem o saber
(Vianna & Fraiz, 1986, p. 101).
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Na mesma mesa em que Anísio escreveu o Programa do Partido
Autonomista do Distrito Federal, Francisco Campos escreveu a Consti-
tuição do Estado Novo. O volume e o teor das cartas recebidas por
Felinto Muller, em meados de 1930, ávidas pelo combate e repres-
são ao comunismo, revelam que Anísio tinha razão quando escrevia
a Hermes Lima mostrando a importância da formação da opinião
pública no combate aos dogmas, medos, preconceitos, fanatismos
(Nunes, 2000, p. 511). Tornara-se um trabalhador gasto e desmora-
lizado pelo fascismo brasileiro. Acusado de tapeador público por
Everardo Backeuser; denunciado nos subterrâneos do Serviço Se-
creto da Polícia varguista, ao lado de estupradores, estelionatários e
mandantes de homicídio. Viria a revanche? Mais traduções aconte-
ceram. A família aumentou com os novos filhos que chegaram.
Mineirou manganês no Amapá e vendeu carros em Salvador. Os
tocos da sua obra, como profetizara Lobato, ficaram enterrados
para brotar de novo. Em meados da década de 1940 finalmente era
reconhecido pela Unesco, que o convidava para sua inserção na en-
tidade como conselheiro do Ensino Superior.
Sua dura experiência nos anos da ditadura varguista não seria a
única. De onde vinha a força para enfrentar a hostilidade contra a
realização da educação popular e realizar o sonho de um país ci-
dadão, humano e solidário? De todo o período de realizações da
década de 1930 e posterior silêncio a que foi submetido, Anísio
carregou uma convicção: a de que as questões sociais eram mani-
festações da cultura e de que era preciso combater os problemas
que a industrialização trazia. Afirmou:
[...] com a industrialização desapareceu a integração entre o homem e
seu trabalho, que dividido e superdividido passou a ser esforço cole-
tivo e impessoal. Depois, com o desenvolvimento do saber, tam-
bém este passou a ser especializado e não oferecer senão algo muito
reduzido de saber realmente comum. Com isso desfez-se a integração
entre o homem e o saber. Com a democracia, por fim, entendida
como processo de maior participação de cada indivíduo nos bens da
vida, esses bens passaram a ser concebidos como bens materiais,
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únicos que eram possíveis ao acesso de cada indivíduo. E a democra-
cia fez-se uma democracia de consumo, o homem se sentindo tanto
mais importante quanto mais pudesse consumir
8
.
Para ele, a civilização da abundância estava exagerando a impor-
tância dos bens de consumo e não era neles que residia a felicidade
humana. Essa tão acalentada felicidade só se concretizaria com a
integração do homem ao trabalho e à cultura. Caberia ao Estado ser
o principal promotor da escolarização e difusor da cultura junto às
classes populares. Ao lado dessa convicção, carregou também a in-
cômoda questão que o acompanhou desde a juventude e que, já na
maturidade, vislumbrava no seu ponto mais agudo: Qual a magni-
tude da pobreza brasileira? Aprendera, na primeira metade da sua
vida, que a pobreza não é só a destituição de bens materiais, mas
também a repressão do acesso às vantagens sociais. Não é só fome.
É também segregação, degradação, subserviência, aceitação de um
Estado avassalador e prepotente. A pobreza brasileira era também,
e no mesmo grau de importância da pobreza material, a pobreza
política. Seu contrário emergia no horizonte dos direitos humanos
civis: a cidadania organizada. Foi para defendê-la que Anísio Teixeira
atravessou seu segundo deserto: o da solidão.
Qual é o preço a pagar pela afirmação da democracia como valor?
No dia 9 de abril de 1964, o reitor da Universidade de Brasília
(UnB), Anísio Teixeira, o vice-reitor Almir de Castro, os profes-
sores e os funcionários foram surpreendidos por uma operação
insólita: tropas do Exército e da Polícia Militar de Minas Gerais
tomaram de assalto o campus. Era a primeira de outras duas inva-
sões que ocorreriam em 1965 e 1968. Os policiais procuraram
armas. Inspecionaram minuciosamente a reitoria, a biblioteca, to-
dos os escritórios em todos os setores. Prenderam professores e
8
Anísio Teixeira. Esboço de um trabalho distinguindo a função dos políticos e pensadores
de um lado e a dos técnicos de outro, dentro da atividade educacional nacional. Arquivo
Anísio Teixeira, Série Produção Intelectual, AT [Teixeira, A.] pi 00.00.00/17, CPDOC/FGV.
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28
estudantes. Anísio Teixeira foi demitido de seu posto, ao lado de
todo o Conselho Diretor da Fundação da Universidade (Salmeron,
1999). A autonomia universitária foi violentamente agredida. Essa
agressão disparou uma campanha de difamação do trabalho até
então desenvolvido com dificuldades, mas com muita dedicação
e esperança, trabalho espezinhado por setores da imprensa que se
aliaram ao regime militar sob os rótulos da irresponsabilidade, da
indisciplina, da subversão, do atentado à doutrina da segurança
nacional. Mais uma vez o Estado desqualificava a obra para que a
sociedade lhe retirasse o apoio e, no enfraquecimento, a repressão
pudesse agir para aniquilar. De novo as lágrimas de Alcides da
Rocha Miranda que, lembrando a UDF, chorava a UnB. De novo
a perseguição, a prisão de intelectuais.
Anísio ofereceu todo apoio logístico ao anteprojeto da UnB,
sob as bênçãos de Juscelino Kubitschek e de Clóvis Salgado, no
momento em que também organizava o Plano Educacional de
Brasília. Discutiu a proposta de Darcy Ribeiro. Polemizaram sobre
sua organização. Anísio defendendo a tese de que a UnB deveria
ser estruturada para operar apenas como centro de pós-gradua-
ção, destinado a preparar o magistério superior do país, e Darcy
contra-argumentando que, ao lado da pós-graduação, os cursos
de graduação seriam indispensáveis (Ribeiro, 1978, p. 14). O pro-
cesso de discussão da universidade passou, em 1960, pelo fórum
da SBPC, especialmente instalado para discuti-la. Quando a uni-
versidade foi finalmente criada, já no governo de João Goulart,
Anísio não aceitou o cargo de reitor que lhe fora oferecido. Assu-
miu a vice-reitoria da instituição para prestigiar Darcy Ribeiro.
Socorreu várias vezes a Universidade em seus momentos iniciais,
através da transferência de verbas do Instituto Nacional de Es-
tudos Pedagógicos, que hoje leva seu nome, do qual era diretor
desde meados da década de 1950, para a Fundação Universidade
de Brasília (Ribeiro, 1978, p. 33).
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Anísio fez do Inep uma instância de condução da política edu-
cacional dentro do Ministério da Educação e Cultura. Pela destinação
de verbas e pela criação de uma infraestrutura para a pesquisa social
e educacional no país, colocou, lado a lado, cientistas e educadores
em projetos comuns através do Centro Brasileiro de Pesquisas Edu-
cacionais e dos Centros Regionais, que funcionaram em São Paulo,
Recife, Salvador, Belo Horizonte e Porto Alegre. Através de convê-
nios do Inep com as secretarias estaduais, o MEC se propunha a
equipar escolas que ampliassem a escolaridade primária para seis
anos, a construir centros de aperfeiçoamento docente. Essas medi-
das canalizavam verbas públicas para instituições públicas, além de
defender o controle da formação do professor primário pelo po-
der público, através do exame de estado. Essas decisões foram into-
leráveis para as instituições confessionais católicas e os deputados
interessados no fornecimento de verba do Inep para a construção
de escolas rurais transformadas em moeda de troca eleitoral.
Toda a grande polêmica provocada pelo livro Educação não é
privilégio no ano de 1957 – da qual a publicação do Memorial dos
bispos gaúchos, solicitando a exoneração de Anísio Teixeira do
Inep é uma consequência, dentre outras – colocou em xeque uma
vocação pública num país de ferozes interesses privatistas. Mais
uma vez Anísio catalisava a ira dos católicos que fizeram da Revista
Vozes sua trincheira de luta (Nunes, 1994). Mas, ao polemizar con-
tra a Igreja, Anísio acionava, através dos seus pronunciamentos, a
opinião pública, os órgãos do legislativo, do executivo, a própria
universidade e setores combativos da intelectualidade, colocando
em foco a necessidade da expansão e da qualidade de uma for-
mação pública comum de todos os brasileiros. A luta agora se
fazia no sentido de se contrapor aos interesses privatistas sobre a
educação na Lei de Diretrizes e Bases.
A capacidade de suportar a avalanche de críticas que recebeu,
tanto na década de 1930 quanto na década de 1950, e que impres-
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sionava seus colaboradores diretos, era resultado visível da peda-
gogia da Companhia de Jesus. A arte de governo da Companhia
talhou, nele, a indiferença inaciana, uma formidável resistência psi-
cológica construída no embate dos exercícios espirituais, quando a
alma atravessa suas noites escuras, e constrói uma profunda ade-
são aos valores sagrados. Mesmo assim era penoso atravessar mais
essa prova da vida. A educação foi para ele um valor sagrado. A
indiferença inaciana, extremamente ativa e vigorosa nele, foi colo-
cada a serviço da causa pública à qual se dedicou e que o levou
não só a enfrentar lutas duras, mas também incluiu uma das mais
belas realizações da educação popular no país, já no final da déca-
da de 1940: a conhecida escola-parque que, ao lado das classes
comuns de ensino, no bairro operário da Liberdade, em Salvador,
constituiu uma experiência pioneira no país e internacionalmente
reconhecida de educação integral. De novo, uma escola feliz, que
reunia às classes comuns de ensino as práticas de trabalho, artes,
recreação, socialização e extensão cultural.
Nos anos de 1960, no entanto, sua trajetória foi novamente co-
locada à prova. A ditadura militar constrangeu a Universidade de
Brasília e quebrou, como dizia Darcy Ribeiro, uma das coisas mais
importantes que Anísio fizera no país: o centro brasileiro e os cen-
tros regionais de pesquisa. De novo se frustrava a tentativa de tornar
a educação uma área de investigação acadêmica. O Inep foi
desativado como agência de produção da pesquisa educacional, tor-
nando-se, primeiramente, um órgão burocrático e depois uma agência
financiadora de estudos e pesquisas na área. A revista Educação e Ciên-
cias Sociais foi suspensa e a Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, após
um breve período de expectativa voltou a circular trimestralmente,
ainda que aos trancos e barrancos. Os acervos documentais e bibli-
ográficos, laboriosamente organizados pelo Centro Brasileiro de
Pesquisas Educacionais, e mesmo com o zelo de funcionários dedi-
cados, acabaram sendo desmembrados e parcialmente dilapidados.
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Banido, suspeito, excluído. Respondeu à violência com seu tra-
balho, o trabalho possível, como professor visitante em universi-
dades estrangeiras, tradutor, conferencista, membro do Conselho
Federal de Educação, idealizador do Instituto de Estudos Avança-
dos em Educação (Iesae) no Rio de Janeiro e no qual tive a honra
de realizar o meu Mestrado em Educação. Numa carta que Anísio
Teixeira escreve a Monteiro Lobato, em janeiro de 1947, afirma:
“[...] Os sonhos não se realizam sem que primeiro se armem os
andaimes. E uma construção em andaimes pede imaginação e amor
para ser compreendida” (Vianna & Fraiz, 1986, p. 104). Uma es-
cola pública com um Ensino Básico de qualidade para todos, onde
a pesquisa é assumida como componente do ensino, e em que os
espaços e os tempos da educação sejam significativos para cada
sujeito dentro dela. Uma escola bonita, moderna, integral em que
o trabalho pedagógico apaixona e compromete professores e alu-
nos. Uma escola que construa um solidário destino humano, histó-
rico e social foi o grande sonho de Anísio Teixeira, para o qual
procurou construir os andaimes.
A violência barrou suas iniciativas, mas não venceu sua impla-
cável denúncia de que a privação da educação torna impossível até
a simples sobrevivência. Anísio estava convencido de que sem a
qualidade cognoscitiva e psicossocial das experiências de conheci-
mento não existem vivências da esperança. E a escola, tal como ele
e seus colaboradores pensaram, e concretizaram, pretendia insti-
tuir-se como organizadora da esperança em vidas humanas con-
cretas. Mas a organização da esperança assusta, porque desestabiliza
privilégios. Porque exige, sobretudo, a paciência dos recomeços.
O tema da democracia no âmbito da escola e fora dela, em
toda a produção de Anísio Teixeira, foi decisivo e se impôs sobre
outros temas. Ganhou na sua obra, mas principalmente com sua
vida, uma entonação própria, distinta mesmo de outros intelectu-
ais que colaboraram com seus projetos ou se opuseram a eles. Do
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ângulo da educação popular, as construções escolares que edificou,
tanto no Rio de Janeiro, quanto em Salvador, foram palco de uma
expansão regulada tanto das atividades dos estudantes, quanto da
sua comunicação interativa. Os espaços de aprendizagem na escola
se ampliaram e diversificaram. Mas, e os alunos? Como percebiam
essas novidades?
As escolas criadas por Anísio e a geração de educadores à qual
pertenceu, tanto na década de 1930, quanto nas décadas de 1950 e
1960, não foram vistas pelos alunos que as frequentaram como lo-
cais de confinamento. Pelo contrário, constituíram a possibilidade
de reapropriação de espaços de sociabilidade crescentemente sone-
gados às classes trabalhadoras pelas reformas urbanas que lhes em-
purravam para a periferia da cidade. Para muitos desses alunos, es-
sas escolas foram a única abertura para uma vida melhor. Num belo
depoimento registrado em Sous-venir de classe (Memórias do curso de polí-
tica de formação de professores), uma ex-aluna discorre sobre a importân-
cia que o projeto de Anísio e seus companheiros de geração tiveram
na sua vida de adolescente, na década de 1960. Diz ela:
Se para o país a fábrica era a base do avanço, se dela vinha o sustento da
família, na hora do jantar e da fiscalização de cadernos e boletins a
fábrica era o dragão devorador de criancinhas que trocassem os livros
pela brincadeira, pelos namoricos ou festas. E fábrica significava levan-
tar ainda noite, embrulhar em jornal a marmita que passara a noite
aberta para não azedar, coar o café, colocar na garrafa de guaraná com
rolha de cortiça, enfiar-se numa pesada e puída roupa de frio, pendu-
rar-se tiritando num trem e depois num ônibus, ficar oito horas de pé
na frente de uma máquina, suportar o (chefe), ganhar pouco, não ter
feriados nem férias, trabalhar 35 anos e morrer. Com sorte, casar com
o colega do lado. Ou, a sorte grande, com o padeiro e ir para o tanque,
cinco filhos, fogão e vassoura. Sílvio Santos na TV, macarronada no
domingo. E morrer. Sempre morrer. Talvez por isso meus poemas de
adolescente falem tanto em morte. Progresso ou morte. Era esse o
lema lá em casa. Uma casa de operários procurando dar o salto que o
país = nação prometia. E todos nós acreditamos nisso. Sinceramente.
Dedicadamente, cada minuto da vida daquelas décadas. Podia-se não
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ter carne ou leite, mas tinha livro e tinha que ler, nem que fosse com
vela. Tínhamos que nos apropriar desse capital-saber que nos daria o
passaporte para o progresso (Lagoa, 1995, p. 4).
Ainda narrando suas lembranças, escritas em meados da década
de 1990, ela acrescenta:
[...] a fábrica ficou lá atrás, mas o que ela representou na minha vida
está sempre presente. Descobertas, aumentando meu respeito pela
Escola Nova, sobretudo por Anísio Teixeira e pelos professores que
se dispuseram a educar para o Brasil grande. Sem ele, sem eles, sem
os que depois, em São Paulo (e, acrescento eu, também no Rio de
Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, Salvador,
Fortaleza, Natal e tantas outras cidades brasileiras), deram seguimen-
to ao projeto, mesmo que tenham cometido muitos erros, eu certa-
mente não estaria aqui. E um sentimento de ter feito parte de algo
grande, de um projeto de país, de um sonho. E não apenas alguém
que se esforçou para fugir da fábrica. E entendi (continua ela), por-
que [...] não me convencia com o discurso crítico da esquerda contra
a escola pública daquela época. A crítica estava torta. A escola pública
entortou depois (Idem, pp. 18-19).
A trajetória de Anísio Teixeira em defesa da universidade pú-
blica e de instituições públicas de pesquisa ou de financiamento a
ela, como a Campanha de Aperfeiçoamento do Pessoal do En-
sino Superior (Capes), que sob sua condução se transformou em
órgão dinâmico para a formação de quadros de nível superior
para a sociedade brasileira, tem implícito um pressuposto: o de
que não há país capaz de sobrevivência digna sem instituições, sobre-
tudo universidades, capazes de produzir conhecimentos e propor
soluções próprias às questões que o afligem. Mas o que gostaria de
enfatizar, na sua defesa do ensino e da pesquisa, e que geralmente
não tem merecido suficiente destaque, é a liberdade de criação. Graças
a uma interlocução ativa dentro do pensamento social brasileiro,
com os nomes mais destacados da intelectualidade, Anísio colo-
cou a educação em sintonia com os avanços das demais ciências
humanas e sociais. Colocou-a também em permanente diálogo
com a arte, concebida no sentido antropológico, como defendia
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Mário de Andrade e não no sentido monumental que lhe conferiu,
por exemplo, Villa-Lobos. Em Salvador, no final da década de
1940, elaborou o Projeto Educação pela Arte e fez construir, sob
a liderança de Alcides da Rocha Miranda, um Centro Educativo
de Arte Teatral, destinado à dança e à música (Salmeron, 1999, p.
45). No Rio de Janeiro manteve constante interlocução com
Augusto Rodrigues e seus companheiros da famosa Escolinha de
Arte do Brasil, que constituía, como afirmou em meados de 1970,
uma das poucas e importantes inovações pedagógicas do país
(Costa, 1994, p. 3).
Com uma vida inteira dedicada à educação, Anísio provoca
em nós a indagação de como é possível persistir em meio a tantos
obstáculos? O homem que foi encontrado sem vida no poço do
elevador de um dos edifícios da praia do Flamengo, no início da
década de 1970, ofereceu às novas gerações sua defesa apaixona-
da da educação. Tratava-se de uma defesa iluminada pela imagina-
ção pedagógica e polida, como argumentava Florestan Fernandes
(1992), pela filosofia da educação e por uma compreensão aguda
da história da nossa sociedade. Deixava uma obra que não foi
revolucionária, como ensinou Antonio Candido (1980), mas ex-
pressão de um pensamento radical, que operou um significativo
deslocamento na direção da solidariedade e da justiça social. Na
última fase da sua vida, Anísio não era mais árvore, como preten-
dia, quando escreveu a Monteiro Lobato falando da secura feliz
de apenas existir, sem mais nada desejar (Vianna & Fraiz, 1986, p.
87). Tornara-se rizoma, escapando de todos os rótulos que tenta-
ram, em vão, capturá-lo: escolanovista, tecnicista, americanista, li-
beral, conservador, pioneiro, visionário, romântico, iluminista, co-
munista, reacionário. Finalmente, atravessou seu último deserto.
Mergulhou no Mistério!
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A compreensão da sociedade e da educação brasileiras
na obra de Anísio Teixeira
Anísio Teixeira forjou sua compreensão da sociedade e da
educação brasileiras por um múltiplo movimento que o colocou
não só em contato com a cultura erudita e, em decorrência, em
convívio com alguns dos maiores intelectuais brasileiros, mas tam-
bém com a gestão pública de ensino. Foram pelo menos 40 anos
de vida pública. É possível afirmar que a vida pública foi o meio
que encontrou para servir ao seu país e à sua gente. Sua maior
motivação era realizar uma grande obra de educação popular. Com
este objetivo estudou, escreveu, viajou com o intuito de conhecer
outras experiências pedagógicas, debateu incansavelmente no Con-
gresso e em associações diversas suas propostas de uma educação
para todos os brasileiros.
Não se tratava apenas de ensinar a ler e escrever, como pre-
tendiam várias campanhas de alfabetização no país fadadas ao fra-
casso por sucessivas décadas. Entendia ele que era urgente prepa-
rar toda a população para formas de trabalho em que o uso das
artes escolares fosse indispensável, bem como para uma forma de
governo que exigisse participação consciente, senso crítico, apti-
dão para julgar e escolher. Denunciou implacavelmente a seletividade
da nossa escola para o benefício de alguns privilegiados em detri-
mento de uma massa de deseducados que apenas sobrevivia sem
usufruir dos bens sociais destinados a poucos.
Ao participar do programa de televisão Falando francamente, con-
duzido por Arnaldo Nogueira, apresentador e também vereador
pela UDN, em 1958, Anísio Teixeira afirmou que o combate que se
agigantava contra ele nesse período nada tinha a ver com sua pessoa:
suas posições diante de certos problemas sociais é que eram comba-
tidas. Na ocasião já era diretor do Instituto de Estudos Pedagógicos
e empenhava-se na dinamização do Centro Brasileiro de Pesquisas
Educacionais e dos centros regionais. Comentou:
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Infelizmente, entre nós, a escola que se faz do povo não tem o mesmo
prestígio que a escola seletiva de classe média e da superior. A crise da
escola primária brasileira concretiza, a meu ver, todo o problema edu-
cacional brasileiro. É a transição entre a educação de poucos e a educação
de muitos e para muitos.
9
Essa defesa de uma escola primária para todos não era uma
novidade na sua vida de homem público. Como já citado, foi for-
jada sobretudo por ocasião da sua primeira experiência na gestão
do ensino público em Salvador, quando teve oportunidade de entrar
em contato com o pensamento de John Dewey, ao permanecer dez
meses no Teachers College, em Nova York, entre meados de 1928
e 1929. Dewey ofereceu a Anísio uma resposta programática para
questões educacionais com as quais estava lidando
10
.
As bases teóricas do pensamento de Anísio Teixeira
Suas bases teóricas de pensamento foram construídas em con-
tato com o pensamento de John Dewey, sobretudo sua concepção
de democracia e mudança social. Dewey, ao lado de Charles S. Peirce
(1839-1914) e William James (1842-1910), construiu uma visão de
mundo que ficou conhecida como pragmatismo. Esses intelectuais
trabalhavam em áreas de estudo próximas, mas distintas. Coube a
Dewey, George Herbert Mead (1836-1931) e seus colaboradores
criar uma teoria da educação baseada na experiência.
A concepção deweyana de democracia e mudança social está
centrada na criança. Sua perspectiva é a de que o enraizamento e as
direções que essa mudança assume estão postos na infância. Daí a
9
Participação de Anísio Teixeira no programa Falando francamente. Arquivo Anísio Teixeira,
Série Produção Intelectual, AT pi 58.05.29/2, CPDOC/FGV.
10
Em minha leitura, além do motivo citado, outros dois levaram Anísio a Dewey no fim da
década de 1920: a necessidade psicológica de conciliar contradições e conflitos da sua
experiência de vida, construindo um novo significado existencial e a necessidade
epistemológica de elaborar uma síntese que lhe proporcionasse uma nova visão de
mundo. Cf. Nunes, 2000: pp. 564-565.
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importância da função social da educação e de seu caráter demo-
crático, entendido como o processo pelo qual os indivíduos de-
senvolvem um interesse pessoal nas relações pessoais, na sua di-
reção e na formação de hábitos que permitam mudanças sem
criar desordens (Mills, 1966).
No livro Democracy and Education (1916), lançado no Brasil em
1936 com prefácio de Anísio Teixeira, Dewey apresenta sua con-
cepção de democracia e os meios de realizá-la (Dewey, 1959). Após
examinar as filosofias típicas da história da educação (platônica,
racionalista e idealista), mostra seu reducionismo do ponto de vista
dos objetivos educacionais por excluírem o desenvolvimento natu-
ral da criança e a eficiência da sociedade e da cultura sobre esse
desenvolvimento. É com essa referência que ele trabalha a correla-
ção entre interesse e disciplina, experiência e pensamento, pensamento
e educação, e chega ao cerne do trabalho escolar examinando pro-
blemas metodológicos, curriculares, epistemológicos e morais.
Na apresentação da obra, Anísio chama a atenção para o cará-
ter conciliatório e sintético do pensamento deweyano: “nem res-
tauração do passado nem imposição de um futuro ainda inexistente”
mas, diríamos nós, ação prudente, que não é bruta (e, portanto,
cega e ininteligente), nem repetição (e, portanto, preguiça)”. É uma
ação, como afirma, que revigora o que o passado tem de útil e
operante e readapta o que houve de novo e eficaz.
Notamos nesse livro que a concepção de democracia e de edu-
cação para a democracia parte de um aspecto central da obra
deweyana: a análise de como se pensa. A ênfase na particularidade
empírica do pensamento é relacionada com os conceitos e a situa-
ção problemática, bem como de ação. Ambos têm a função de
localizar o pensamento na prática e delimitá-lo no domínio do ho-
mem na natureza. Essa postura eleva o comportamento humano,
como salienta Mills, a um status de uma respeitabilidade filosófica
jamais alcançado dentro do pragmatismo e pelos seguintes motivos:
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Dewey inclui o epistemológico e o mental no pensamento e apre-
senta a ação num contexto ético. Desse ponto de vista, afasta-se de
outros pragmatistas como Peirce, cuja compreensão de ação, em-
bora ligada à mentalidade, é restrita às atividades de laboratório e de
James, que generaliza sua noção em determinada direção moral.
As fontes do modelo deweyano de comportamento e ação são
duas: uma psicologia do comportamento orientada biologicamente
e certos procedimentos da ciência física e experimental. Pela primei-
ra vez ele “naturaliza” a mente e delineia o pensamento como fun-
ção biológica, capaz de adaptar o homem ao meio. Adaptar não é
conformar. Lembremo-nos da plasticidade dos instintos (e, por
extensão do organismo) na sua concepção. Ao assumir a hipótese
darwinista e aplicá-la ao social, Dewey comete o equívoco de esta-
belecer uma continuidade entre o nível biológico e lógico. Provoca
também uma abertura na concepção de ajustamento que a formali-
za e, ao mesmo tempo, a indefine, por diluir a perspectiva da frag-
mentação e do poder das divisões sociais. Essa diluição contribui
não só para localizar na inteligência a resolução dos problemas hu-
manos, mas também para defender a educação no sentido de di-
fundi-la, além de uma política reformista das situações (Mills, 1966).
Da ciência física e experimental, ele retira o paradigma da inves-
tigação. Coloca a autoridade intelectual no experimento e faz uma
generalização do inquérito científico dos laboratórios para o inqué-
rito social, atribuindo-lhe usos políticos ao combinar método cientí-
fico e valores morais. Para Mills, Dewey utiliza de uma maneira
ambivalente a concepção de caráter social da ciência. É social no
sentido de inquérito coordenado, de pública quanto aos seus méto-
dos e resultados, e também é social no sentido de bem-estar. Essas
concepções distintas são borradas em contextos decisivos e a ciência
(tecnologia) aparece como reação ao individualismo egoísta e
pecuniário. Essa significação religiosa-social da ciência teve, no en-
tanto, uma razão histórica: até a Primeira Guerra Mundial, seu pres-
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tígio era grande em diferentes níveis de público e praticamente to-
dos obtinham algum retorno com seu avanço e crescimento, inde-
pendente do caráter diferenciado desse retorno. A guerra vai abalar
esse sucesso. Poderia essa distribuição diferencial ser contra os inte-
resses sociais? O método científico falhara? (Mills, 1966).
A polêmica em torno do papel da ciência só ganhará contorno
mais definido nas obras escritas por Dewey no final da década de
1930. O importante a ressaltar é que ele levou aos educadores a
mensagem de que a teoria social é um guia metodológico de inves-
tigação e planejamento. O sentido político dessa prática é a concep-
ção de múltiplos e simultâneos movimentos de reforma. Esse pro-
blema é primariamente intelectual. Diante de estruturas e situações
específicas de interação, o que se exige são inquéritos específicos que
permitam direcionar e compactar a força da importância de ganhar
certa compreensão dos problemas como eles aparecem e de enfatizar
a comunicação dos resultados obtidos pela pesquisa, o que funciona
como formação de opinião pública e reforça a ligação entre demo-
cracia e pensamento racional. Na raiz da concepção de teoria social
está também ancorado o desejo de “salvar” e construir a individua-
lidade. Nesse sentido, como uma linha transversal, a concepção po-
lítica do liberalismo de Dewey cruza com a reflexão psicológica,
base de todos os individualismos do laissez-faire (Mills, 1966).
Dentro dessa ampla perspectiva é que Dewey apresenta, em
Democracy and Education, os aspectos vocacionais. Para ele, vocação
significa atividade contínua que produz serviço para o outro e
empenha as aptidões pessoais em benefício da obtenção de certos
resultados. Se ele critica a oposição, na educação, ao reconheci-
mento dos aspectos vocacionais da vida, que acompanhariam a
conservação dos ideais aristocráticos, insurge-se também contra a
preparação profissional rigidamente adaptada ao regime industrial
existente. Esta adaptação daria às massas uma limitada e prática
educação técnica para profissões especializadas, exercidas sob a
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direção de terceiros. Essa concepção de educação vocacional sig-
nificaria a perpetuação da antiga divisão social, com seu respectivo
dualismo intelectual e moral. Ela também não se justificaria, inclu-
sive, pela dependência cada vez maior das ciências no trabalho
industrial e pelo modo como Dewey as concebe, isto é, o estudo
das ciências teria um papel fundamental no desenvolvimento do
caráter e do espírito. Ela deveria, em sua concepção, dar aos que
dispõem de menos oportunidades econômicas o desejo e as con-
dições para participar da direção social e a aptidão de se tornarem
senhores do seu destino na indústria (Dewey, 1959).
Encontrou em Dewey a resolução na defesa de um sistema
público de educação que permitisse a todos usufruírem dos benefí-
cios da igualdade no aparelhamento para futuras carreiras. Essa pro-
posta o afasta da perspectiva estreita tanto da educação confessional
quanto de certas “seitas” escolanovistas. Afasta-o também, e muito,
daquela imagem cristalizada com que certos comentaristas de es-
querda o apresentaram: a de idealizador de uma escola vocacional
para a classe trabalhadora, entendida como preparação profissional
direcionada para os interesses da indústria
11
.
No final da década de 1920, Anísio iniciou a divulgação das
obras de Dewey no Brasil, tarefa na qual persiste até a década de
1950. Uma das primeiras publicações de Dewey no nosso país
data de 1930. Reunia dois ensaios sob o título Vida e educação: um
sobre a teoria da educação sob a perspectiva da reconstrução da
experiência, e outro sobre o programa escolar e trabalhava as no-
ções de interesse e esforço, ambos antecedidos por uma apresen-
tação de Anísio que, à época, era professor de Filosofia da Educa-
ção na Escola Normal de Salvador. Esta obra foi publicada na
coletânea Biblioteca da Educação, editada pela Companhia Melhora-
mentos de São Paulo desde 1927, sob a direção de Lourenço
11
Ver, por exemplo, Madan Sarup. Marxismo e educação (abordagem fenomenológica e
marxista da educação). Rio de Janeiro: Zahar, 1980, pp. 138-140 e 149-64.
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Filho. Democracia e Educação só seria divulgado após o pedido de
demissão de Anísio da sua gestão pública no Distrito Federal. Nesses
dois trabalhos traduzidos para os educadores brasileiros já estão
presentes as concepções básicas que nortearam seu programa de
ação para a escola brasileira na década de 1930.
O pensamento de Dewey forneceu uma chave de leitura da
sociedade e da educação para Anísio Teixeira. Essa chave está an-
corada na categoria de reconstrução. Esta categoria permitiu que
o educador baiano elaborasse sua síntese e ingressasse no âmbito
de uma crítica filosófica moderna.
Reconstruction in Philosophy (1920) só foi traduzida no Brasil na
década de 1950, por Eugenio Marcondes Rocha e Jacob Thealdi,
sob a supervisão e correção de Anísio. Esse livro foi asperamente
criticado pelos contemporâneos de Dewey, de um lado, pela atitude
considerada amarga com relação aos sistemas do passado e, de outro
lado, pelo exagero romântico com que valorizava a filosofia
12
.
Em contraposição às críticas, os argumentos de Dewey sinali-
zavam a necessidade de uma revisão crítica do passado, uma vez
que seus sistemas refletiam uma visão pré-científica do mundo
natural, pré-tecnológica da situação da indústria e pré-democrática
da situação política. Sua proposta era a de reconstruir a teoria do
conhecimento com o propósito de verificar onde e como falha-
vam, em relação às condições modernas de vida, os sistemas filo-
sóficos do passado.
Sua hipótese era a de que as desordens e os transtornos que
originaram a crise em todos os setores da sociedade se deviam à
adoção, no trato de todos os problemas da vida, de processos,
instrumentos, materiais e interesses engendrados pelos pesquisado-
res em seus laboratórios especializados. O abalo teria atingido todas
as instituições criadas antes do advento da ciência, incluindo as prá-
12
Consultamos a tradução de Reconstruction in Philosophy. Arquivo Anísio Teixeira, Série
Produção Intelectual, AT Dewey, J. pi 00.00.00, 172 fls + 181 fls anexas, CPDOC/FGV.
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ticas religiosas. Para ele, o conflito anterior não acabou na vitória ou
derrota total dos contendores, mas num acordo recíproco pelo qual
foram delimitadas áreas de operação e jurisdição. As antigas insti-
tuições teriam ficado com a supremacia das questões morais e sociais,
cabendo às ciências a interferência no domínio prático da vida. No
entanto, esse acordo ruiu, pois as ciências, ao intervirem nesse domí-
nio, passaram também a intervir, indevidamente, nas áreas que, pelo
acordo anterior, não lhes estariam afetas, o que gerou insegurança,
incertezas, angústias e conflitos. Em outras palavras, as sociedades
tentaram obter vantagens práticas da aplicação científica, ao mesmo
tempo em que queriam manter intacta a autoridade dos velhos
postulados relativos à moral. Se, no princípio, houve uma trégua
inquietadora, o acúmulo das consequências advindas com a utilização
da ciência passou a disputar o campo dos valores. Dessa disputa sur-
giu a secularização.
Com base nessa hipótese, Dewey esboçou a proposta de re-
construir a filosofia para que esta repensasse a ciência, uma vez que
seu desenvolvimento não estava ainda amadurecido e não haviam
ainda sido investigadas as condições institucionais nas quais ele pe-
netrava. Essa tarefa de reconstrução da filosofia, que ele empreen-
deu no livro citado exigiu-lhe esforços contínuos no sentido de
reconstruir a própria atividade do pensamento, de suas bases ló-
gicas, de reconstruir as concepções morais e religiosas, de recons-
truir a concepção de cultura, de educação e democracia.
A categoria de reconstrução, no pensamento deweyano, cons-
tituiu para Anísio um tour de force. Por meio dela, a filosofia era
interpretada como um esforço contínuo de reconciliação e rea-
justamento entre a tradição e o conhecimento científico, entre as
bases culturais do passado e o presente que fluía numa grande
vertigem. Ou seja, Dewey permitiu a Anísio reintegrar o velho e
o novo por meio de uma crítica capaz de distinguir, selecionar,
pôr em relevo elementos fundamentais do momento histórico
vivido. Através de Dewey, Anísio pode abandonar a escolástica e
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abraçar perspectivas que o ajudassem a interpretar, valorizar e
orientar a própria vida.
Dewey mostrava-lhe que o moderno carecia de forma. Era
embrionário. Ainda não existia. Seria o produto de uma decidida e
paciente atividade conjunta de homens e mulheres de boa vontade,
provindos de todas as profissões e dedicados a essa tarefa por um
tempo indefinidamente longo. Essa tarefa exigiria uma erudição ca-
paz de abrigar o conhecimento não só de uma história da cultura,
mas também da ciência moderna. Anísio acompanhou seu trabalho
de pesquisa dos valores novos dos movimentos científicos,
tecnológicos e políticos do passado imediato e do presente. Mergu-
lhou na reinterpretação deweyana da história da filosofia baseada na
perspectiva de que ela não havia se desenvolvido de modo imparci-
al, nem livre de preconceitos; de que, ao exaltar as características do
pensamento rigoroso e das demonstrações rígidas, afastou muitos
indivíduos e atraiu outros que a ela se dedicaram, transformando-a
numa arma de luta de ideias entre grupos; de que havia ganho o
caráter de ubiquidade, presente em todos os cantos da vida social,
reclamando o estabelecimento de um completo sistema lógico.
Além da denúncia deweyana de uma tradição filosófica autori-
tária, fascinava Anísio a recuperação do sentido humano que ganha-
va a história da filosofia. Esse sentido se desdobrava na compreen-
são de que o papel de qualquer filosofia futura seria não só clarear as
ideias dos indivíduos quanto aos embates morais e sociais de seus
próprios dias, mas também de ajudá-los a tomar posição dentro
desses conflitos de modo a respeitar as aspirações humanas.
O que definia o problema específico da reconstrução filosófica
deweyana era o fato de que a ciência desenvolvida não havia trazido
alívio à situação humana. Esse alívio só viria se, ao lado da amplia-
ção do poder de manipular a natureza, o indivíduo ampliasse seu
poder para estabelecer novos ideais e fins e agisse de modo siste-
mático para realizá-los. Nessa ação, não poderia deixar de lado os
meios. Se trocasse os fins pelos meios, estaria incidindo no materia-
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lismo moral. Se enfatizasse os primeiros e esquecesse os segundos,
estaria caindo no sentimentalismo.
Para Dewey as mudanças sociais seriam o único meio de for-
jar novas personalidades. Por esse motivo para ele era importante
analisar as instituições à luz dos seus efeitos educativos e não sepa-
rar a política da moral. Por trás dessa postura existe a seguinte
questão: Que efeito certas disposições sociais, políticas ou econô-
micas teriam sobre o caráter?
Ao considerar o papel do Estado à luz dessa preocupação,
Dewey criticou o dogma da soberania do Estado nacional. Ao
mesmo tempo em que o Estado se fortalecia, afirmava ele, multipli-
cavam-se as associações, como os partidos políticos, as sociedades
comerciais, as organizações científicas e artísticas, os sindicatos, as
igrejas, as escolas e os clubes. Esses agrupamentos seriam, na sua
perspectiva, verdadeiras unidades sociais, ocupando o lugar que, nas
teorias tradicionais, era dado ao indivíduo isolado ou à suprema e
simples organização política. O novo papel do Estado seria o de
coordenar esse pluralismo. Denunciava a crescente oposição entre a
reivindicação pela soberania do Estado territorial nacional e o cres-
cimento dos interesses internacionais. O internacionalismo já era,
quando escreveu Reconstruction in Philosophy, em sua visão, uma força.
O senso moderno de humanidade e democracia que Dewey
defende nessa obra coloca-se contra o assistencialismo e a atribui-
ção de uma finalidade que se esgota na organização. A organiza-
ção seria um meio para promover a associação. Ainda, a solução
democrática não se restringiria à democracia política, mas abran-
geria a democratização da cultura, o que abre espaço para a poe-
sia, a arte e a religião. Na utopia deweyana, quando a filosofia
cooperasse com o curso dos acontecimentos e tornasse claro e
coerente o significado dos pormenores diários, seria necessário
interpenetrar a ciência e a emoção, a prática e a imaginação. Na
promoção dessa articulação, assim como na revelação dos signifi-
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cados do cotidiano, estavam postos o problema e a tarefa da filo-
sofia em dias de transição.
A transição de um mundo pré-científico, pré-tecnológico e pré-
democrático para um mundo científico, industrial e democrático
colocava problemas relativos à alienação do sujeito dos quais Dewey
tinha aguda consciência. Ele reagia filosoficamente ao isolamento e à
fragmentação crescente da vida social, segundo Mills (1966), pro-
pondo a reinstauração de um tipo de sociabilidade perdida nas pe-
quenas vilas americanas rurais que conhecera em sua adolescência.
Nesse sentido, embora falasse muito do futuro, a continuidade im-
plícita na ideia de reconstrução poderia ter o sentido, assim o dedu-
zo, de adaptar os ideais de uma comunidade existente num passado
distante às condições do presente que vivia no começo do século
XX. Pode ser considerada uma espécie de fuga para o passado, mas
que não se identificava automaticamente à defesa de um ruralismo
retrógrado, como apontou Maria Alice Rezende de Carvalho (s/d)
ao analisar as respostas dos intelectuais europeus mediante o temor
ocasionado pela instabilidade de um mundo ameaçado pelo avanço
da urbanização e da industrialização. Numa mediação liberal, Dewey
procurou conciliar o valor convencional da democracia que existiria
(pelo menos hipoteticamente) nas pequenas e homogêneas comuni-
dades rurais americanas e o generalizado desejo de maior liberdade
expressa no pensamento moderno.
Se Dewey voltava-se para o passado, Anísio voltava-se para o
futuro em busca de uma democracia até então inexistente na soci-
edade brasileira. Esse movimento que se projeta em sentidos con-
trários tem seu ponto de intersecção na conciliação entre o antigo
e o novo, representada pela categoria de reconstrução, entendida
justamente como revisão da experiência anterior em qualquer campo
(seja ele filosófico, religioso, político, pedagógico), colocada a ser-
viço de novos ideais. Esse foco cognoscitivo é também afetivo.
Seu grau de abrangência permite não só uma reordenação da bio-
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46
grafia, mas também a redefinição da história das instituições de
que o sujeito participa projetando, nelas, outros significados.
A relação entre a vivência singular de Anísio e a interpretação
pedagógica deweyana pode ser defletida pela maneira como ele,
nos manuscritos escritos entre 1924 e 1936, apresenta a criança.
Num dos textos comenta a experiência infantil da seguinte forma:
Se nos limitarmos a observar o que a criança faz no momento e pelo
momento não chegaremos a perceber o sentido da sua atividade. [...]
Não ver a promessa contida em sentimentos e fatos que, tomados
em si mesmos, são repulsivos e estéreis, leva às extremas deprecia-
ções; como enxergar nas mais formosas e encantadoras manifesta-
ções infantis qualquer coisa que não sejam simples indícios e sinais
de um processo de desenvolvimento, conduz aos embevecimentos,
tão perigosos quanto os rigores de julgamento, porque uns e outros
importam em tomar por completo e total, o que é simplesmente
transicional e passageiro, [...] Para corrigir tais erros precisamos de
alguma coisa que nos habilite a interpretar e avaliar os elementos dos
sucessos e quedas da criança [...] à luz do amplo processo de cresci-
mento, de que fazem parte.
13
No cerne da experiência da criança, Anísio deixa implícito o
papel do educador e sua responsabilidade diante de um movi-
mento eivado de continuidades e descontinuidades. Até que ponto
Anísio fora constrangido pelos “embevecimentos”? Até que pon-
to vivera sua experiência com relação aos programas escolares
sob a perspectiva da compressão externa? Não pretendo simples-
mente colar a experiência infantil de Anísio à interpretação da ex-
periência infantil que Dewey propõe, mas apenas sugerir a possi-
bilidade de que qualquer síntese, mesmo a nossa, passa não só
pelas exigências que um texto objetivamente impõe, mas também
pelas inflexões ditadas por necessidades psicológicas e por objeti-
vos eleitos. Acreditava que reconhecer as possibilidades inscritas na
infância exige a revisão da ação do educador, no sentido de torná-
13
Anísio Teixeira. Texto sobre educação infantil. Arquivo Anísio Teixeira, Série Produção
Intelectual, [Teixeira, A.] pi 24/29.00.00/2, CPDOC/FGV.
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lo capaz não só de estabelecer as coordenadas necessárias à dire-
ção da atividade mental da criança, mas também de reinstalar na
experiência infantil a matéria de estudo que daí fora afastada como
um resultado definitivo e logicamente organizado.
Anísio assumiu a crítica que Dewey realizou tanto à Escola Tradi-
cional quanto à Escola Nova. A Escola Tradicional nunca teria sido
capaz de perceber que, junto ao objeto primário do seu ensino, pu-
dessem ser aderidas outras possibilidades de aprendizagem e que,
portanto, em uma simples lição de matemática – para citar um exem-
plo – o professor poderia também estar despertando na criança
complexos de inferioridade, medo de enfrentar obstáculos e
compotamento antissocial, se a condenasse e humilhasse em suas ob-
servações. Ao enfatizar a preparação da criança para responsabilida-
des e privilégios da vida adulta, o professor poderia fazê-la perder
impulso (pois a ela só interessa o presente), levá-la a adiar suas ativida-
des, numa irresistível tentação de protelar suas tarefas (já que o futuro
está longe), enquadrá-la num médio standard convencional e obrigá-la
à utilização dos falsos expedientes para manobrar penas e prazeres.
14
A Escola Nova, tanto quanto a Escola Tradicional, é uma cons-
trução. Pode permanecer nova só no nome, principalmente se pre-
tender reproduzir o ensino escolar como o ensino industrial, con-
cebendo-o exclusivamente como ciência aplicada, insistindo num
planejamento excessivamente detalhado, ou ainda descuidar dos
aspectos planejadores da atividade escolar, caindo no empirismo
rasteiro e na improvisação desprovida de conteúdo sob a justifica-
tiva de uma liberdade mal compreendida da criança.
É importante assinalar que o pensamento de Dewey ajudou
Anísio a desvencilhar-se da concepção de ligação estreita e rígida
entre processo produtivo e escolar. Esse movimento é orientado
por um afastamento calculado do modelo imposto pela psicolo-
14
Anísio Teixeira. Manuscrito sobre a escola, o conhecimento e a aprendizagem. Arquivo
Anísio Teixeira, Série Produção Intelectual, [Teixeira, A] pi 24/29.00.00/2, CPDOC/FGV.
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48
gia e uma aproximação que, em Anísio, é efetiva da filosofia e da
arte. Daí sua recusa à metáfora da escola como fábrica, na qual as
ordens de serviço seriam emitidas dos diretores, assistentes, inspe-
tores até atingirem o professor que executaria fielmente a tarefa.
Em consequência, também a crítica ao perigo representado pelo
endeusamento da ciência na organização e funcionamento escolar
como algo problemático, que dificultava a visão da escola em seu
conjunto. Nesse sentido, questionava as análises quantitativas de
traços, atividades, tanto na psicologia quanto no estudo da criança
e do currículo, que, adicionadas num todo, pressupunham uma
falsa visão da totalidade escolar, negando a filosofia e,
consequentemente o julgamento de valores. Dentro dessa pers-
pectiva, Anísio chega a estabelecer diferenças entre Thorndike e
Dewey. Uma delas, por exemplo, é o fato de que, para o primeiro,
aprender seria casar estímulos determinados com determinadas
respostas ou reações. Para o segundo, aprender, não seria reagir
conformadoramente sobre tais estímulos, mas reconstrutivamente.
15
No manuscrito sobre a escola, o conhecimento e a aprendiza-
gem, já citado, Anísio defende a necessidade da experiência, mas
combinada com o ensino de matérias regulares.
16
Concebe a Es-
cola Nova não como ruptura com a Escola Tradicional, mas como
a subsistência dos seus aspectos positivos e uma reformulação di-
dática. Procura definir, com precisão, sua concepção de trabalho
produtivo: “é o trabalho a que se entrega o espírito quando faz a
síntese entre antigas e novas representações, quando estabelece re-
lações entre elas a fim de criar uma unidade superior.
17
Aqui, como
Dewey, identifica o processo educativo como o próprio processo
de pensamento no sentido de reconstrução mental da experiência.
Essa recusa, em Anísio, de opor Escola Tradicional e Escola
Nova está simbolicamente carregada de sentido. Como lembra
15
Idem, ibidem.
16
Idem, ibidem.
17
Idem, ibidem.
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49
Jacques Le Goff, “novo” implica “nascimento”, “começo”. No
cristianismo, esse começo assume um caráter quase sagrado de
batismo. Mais do que um rompimento com o passado, acrescenta
Le Goff, o novo significaria seu esquecimento, sua ausência.
18
Não
é essa a proposta de Dewey. Como ele, Anísio prefere Escola
Progressiva à Escola Nova. Na sua experiência particular, a conci-
liação do antigo e do novo no campo religioso e filosófico esten-
deu-se, também, ao campo pedagógico.
Nem tudo fora descartado da velha pedagogia jesuíta. Dela
procurou resgatar, sob uma outra matriz filosófica, o saber social-
mente relevante do currículo humanista; o realismo construído pela
inserção histórica do ato educativo; a articulação entre fins e meios;
a valorização das atividades da sala de aula e do professor; a questão
da centralidade do sujeito, o que significava trabalhar o profundo
envolvimento da pessoa na ação educativa. Na pedagogia inaciana,
esse envolvimento é mais que psicológico: é também ético e prático,
no sentido de que deve converter-se em opções que construam o
compromisso com a realidade.
19
Quando em seus manuscritos sobre a escola, o conhecimento e
a aprendizagem, Anísio promove a valorização da experiência in-
fantil por meio da investigação e da experimentação, defende, tam-
bém, uma “renovação espiritual” na escola primária, que passaria
pelo fato de a criança não apenas receber o conhecimento, mas
desejá-lo e trabalhar pessoalmente pela sua conquista. Só essa atitude
formaria, em sua visão, o caráter humano.
20
Observa-se, assim, sob
a acepção da cultura moderna e da concepção do método científico
18
Jacques Le Goff. Antigo/Moderno. Enciclopédia Einaudi, c. 1, Memória-História, pp.
370-91. Porto. Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1984, p. 374.
19
Devo essa observação à análise que a professora Vera Candau empreendeu ao avaliar
a contribuição pedagógica da Ratio Studiorum à luz dos fundamentos da Ordem da
Companhia de Jesus e dos Exercícios Espirituais, em palestra dada na PUC-Rio, sobre
a importância da contribuição jesuítica na educação brasileira, em 27/09/1990.
20
Anísio Teixeira; AT [ Teixeira, A] pi, 24/29.00.00/2, op. cit., documento citado na nota 14/
SPDOC/FGV.
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50
deweyano, uma ponte com aspectos presentes na pedagogia inaciana.
Anísio despreza desta última os valores absolutos, o ritual religioso e
o que ela tem em termos de uma teoria da educação “pelo aborre-
cimento”, que procura habituar a criança a uma vida de esforço e
contrariedade, na medida em que se acredita que ambos possam lhe
fortalecer o caráter e a coragem de viver.
Ele assume a concepção deweyana de que a filosofia é a teoria
geral da educação. A discussão da democracia sob essas bases filo-
sóficas é, em seus textos no final da década de 1920, um discurso
bastante geral que só ganhará consistência a partir da sua experiência
de gestão da educação na capital do país, Rio de Janeiro, na década
de 1930. A interlocução de Dewey com os países socialistas, sua
crítica ao liberalismo e sua reflexão sobre o papel da religião só
seriam divulgadas publicamente por meio das obras traduzidas no
Brasil nas décadas de 1950 e 1960. No entanto, a correspondência e
alguns manuscritos indicam que Anísio teve acesso a grande parte
delas nas décadas de 1930 e 1940. Em síntese, a grande direção que
lhe ofereceu Dewey e que socializou mais amplamente, na década
de 1930, foi a concepção de que a educação pela qual valeria a pena
lutar seria aquela que libertasse, num progressivo movimento, tal
como ele o viveu, a capacidade individual para fins sociais cada vez
mais amplos, mais livres e mais frutíferos. Só um regime democrá-
tico poderia realizar tal tarefa.
Anísio Teixeira leu com afinco e constância John Dewey. Sua
fidelidade a essa leitura é longa e se desdobra nas suas publicações,
traduções e na sua própria prática política. Dewey foi sua grande
abertura para o mundo moderno, mas também seu grande limite.
E isso ocorreu por opção e pela formação intelectual, largamente
apoiada na ratio studiorum, e que lhe inculcou a unidade de concen-
tração, em predominância à extensão de leituras.
21
21
Padre Américo Maia S.J. A pedagogia da Companhia de Jesus. S/1, Boletim Bibliográ-
fico. Colégio São Luiz (Separata), 1977, pp. 38-40.
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51
Nos manuscritos de 1924 a 1936, nos livros que publicou nesse
período – Aspectos americanos da educação (1928), Educação progressiva (1934),
Em marcha para a democracia (1934), na tradução de dois ensaios de
Dewey reunidos em Vida e Educação (1930), Como pensamos e Democracia
e Educação _ sua preocupação foi não só divulgar o pensamento que
oferecia a base conceitual para um programa de educação para o país,
mas também dialogar consigo mesmo, com as ideias que colocava
em prática e com as críticas que recebia. O que se difundiu para um
público específico foram as bases lógicas, psicológicas e programáticas
da concepção de educação deweyana e o relato de suas realizações no
âmbito da gestão pública. Observado o conjunto nota-se um movi-
mento de depuração em que, com a passagem do tempo e graças às
influências da própria conjuntura, a discussão em torno do tema da
democracia no âmbito da escola e fora dela se sobrepôs às demais
questões. Nas obras de Anísio, seu objetivo é, de um lado, divulgar de
um modo didático o pensamento de Dewey e usá-lo como base
legitimadora para sua ação educacional.
John Dewey é herdeiro do legado liberal de Jeremy Bentham e
John Stuart Mill e não do liberalismo clássico de Locke, Smith ou
Montesquieu. Em Liberalism and social action (1935), apresenta clara-
mente suas críticas ao liberalismo clássico e ao distanciamento e, em
certos aspectos, à oposição que, dentro dele, é representada pelos
autores que abraça. Mais ainda: deixa explícita sua indignação com o
fato de, nos Estados Unidos, a influência de Locke ter sido
hegemônica e fornecer a doutrina necessária para os controladores
do sistema econômico.
22
Jeremy Bentham e John Stuart Mill são considerados aper-
feiçoadores da “escola clássica” de economia, que, na verdade, não
chegou a constituir uma escola no sentido corrente que este termo
assume. Se Bentham aceitava a concepção de livre iniciativa, tam-
22
John Dewey. Liberalismo e ação social. Tradução de Anísio Teixeira. Arquivo Anísio
Teixeira, Série Produção Intelectual, AT Dewey, J. pi 35.05,00, pp. 1-16.
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52
bém criticava a irresponsabilidade política dos liberais e afirmava
uma teoria que desembocava num sistema de reforma administrati-
va e legislativa, lançando um vigoroso movimento de mudança das
leis comuns e do judiciário, apoiado na ideia de que as consequências
são o único critério para avaliar qualquer ação organizada.
23
John Stuart Mill foi, segundo Perry Anderson, um pensador que
teve um curto-circuito na trajetória do seu próprio pensamento. Com
os levantes urbanos nas principais capitais da Europa, os embates
sanguinários da Comuna de 1848 e o afeto de Harriet Taylor, Mill
tornou-se receptivo a doutrinas favoráveis à propriedade comum.
Na edição revista de 1849 de Principles of Political Economy, declarou
que a visão dos socialistas como um todo era um dos mais valiosos
elementos do progresso humano, numa inversão rápida e radical do
seu próprio raciocínio político fundamental. Passou a considerar-se
um liberal e um socialista e morreu durante a elaboração de um
livro sobre o socialismo (Anderson, 1989).
John Dewey foi um contundente crítico do totalitarismo stalinista,
defendendo o liberalismo como guardião e instrumento de certos
valores universais. Essa crítica aparece em livros como Freedom and
Culture (1939), lançado numa conjuntura em que o dogmatismo e o
esquematismo conceitual predominavam entre os intelectuais sovié-
ticos. Na verdade, certas distorsões, como a tentação de transfor-
mar os esquemas evolucionistas de Marx e Engels – de cujo caráter
hipotético e inacabado esses autores tinham plena consciência – em
guias de pesquisa e verdades absolutas e intocáveis, já haviam ocor-
rido (Cardoso & Brignoli, 1979). Havia ainda o fato de que o lança-
mento desse livro foi realizado quando a Polônia era invadida pela
União Soviética, o que se configurou, aos olhos de Dewey, uma
ameaça às instituições democráticas livres.
Diante dessa ameaça, cabia à filosofia, mais uma vez, colocar
questões, em vez de proposições: pode a inteligência atualmente
23
Idem, pp. 1-3.
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53
existente e potencialmente disponível estar encarnada no meio
institucional em que o indivíduo pensa, deseja, atua? Qual a relação
de inteligência com opinião, sentimento e ação política? Como usar
os novos recursos da produção para fins sociais – o maior bem
para o maior número? Por que abdicamos da liberdade de expres-
são em momentos críticos? Em resposta a essas questões, Dewey
critica, em Freedom and Culture, o determinismo econômico marxista.
Perry Anderson (1989) apresenta Dewey como um intelectual
capaz de contundentes críticas ao liberalismo, às brutalidades e injus-
tiças do lassez-faire e de chegar a propor a socialização das forças de
produção existentes, como única forma de obter o livre desenvolvi-
mento individual. Ele não teria sido o único a fazer essa trajetória.
Junto com ele estariam Bertrand Russell e J. A. Hobsom, ambos
ingleses e afetados pela Primeira Guerra Mundial, além de John Stuart
Mill já citado. Da lição de Anderson recolhemos que Dewey é um
original filósofo, com importantes contribuições no campo da lógi-
ca e da epistemologia, pouco à vontade com a história do marxis-
mo e ancorado numa experiência histórica em que sua tentativa de
conciliar as tradições liberal e socialista foi um episódio relativamen-
te isolado. É desse ângulo que Anderson examina a crítica que Dewey
realiza contra os imperialismos britânico e japonês na China e norte-
americano no México, como também sua atuação irrepreensível no
desmascaramento dos Julgamentos de Moscou. Aponta também
sua fé na educação, que partilha com Russell e Mill e estava ligada a
uma concepção específica do intelectual como educador exemplar.
Em síntese, Anderson declara que o pensamento de Dewey é uma
exceção dentro do liberalismo norte-americano.
No âmbito da estratégia política, porém, o pensamento de Aní-
sio se distingue de Dewey, que acreditava no pleno êxito das refor-
mas educativas em países pouco desenvolvidos pelo que julgava
ausência de tradições culturais aí arraigadas. Anísio conhecia e de-
nunciou criticamente a força dessas tradições na sociedade brasileira.
Ao contrário de Dewey, que em nenhum momento indicou na sua
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54
vasta obra, quaisquer medidas de aferição de inteligência ou de es-
colaridade, Anísio aplicou-as, através de seus colaboradores, nas es-
colas da rede pública. Se Dewey permaneceu como pensador inde-
pendente, não se filiando a qualquer partido, para defender a refor-
ma do Distrito Federal, na década de 1930, Anísio chegou até a
redigir um programa partidário. Se Dewey nunca entrou na polêmi-
ca entre escola confessional e escola pública, Anísio participa ativa-
mente dela na década de 1950. Dewey forneceu a Anísio instrumen-
tos para pensar criticamente, pela ótica liberal, a sociedade capita-
lista, a Escola Tradicional e a Escola Nova. Dele, Anísio herdou
também o respeito ao pluralismo e a um pragmatismo, que temperou
com sua formação jesuítica e sua experiência na política regional.
A obra de Anísio Teixeira como provocação
Será que podemos realmente captar o significado da obra de
Anísio Teixeira? A prudência me impele pelo menos a destacar a
apropriação que podemos fazer de suas concepções no momento
atual, o que pode eventualmente sugerir alguns caminhos. Distin-
guia ele, em Educação no Brasil (1969), presentes efervescentes e
presentes estagnados. Nos primeiros o passado estaria vivo, entre-
abrindo o futuro. Nos outros, o presente seria depreciado em
nome do passado transformado em objeto de culto nostálgico e
paralisante. Com lucidez continuava: “Toda verdadeira crise hu-
mana é uma crise de compreensão do presente, (...). Cabe-nos (...)
tornar o presente compreensível, a despeito das contradições, por
intermédio do que chamamos cultura”.
24
O centro da nossa crise atual é a violência encarnada nas institui-
ções, com todas suas múltiplas faces e perigos: na família, onde muitas
situações revelam a desproteção de crianças, mulheres e idosos; na
escola, espaço de discriminação, de exclusão de classe, etnia e gêne-
24
Anísio Teixeira (1969, pp. 367-385).
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55
ro; no trabalho, urbano ou rural: a presença precoce da criança, os
índices alarmantes de acidentes, o esvaziamento das organizações
sindicais, a violação dos direitos e a desumanidade das relações, con-
dições e processos de trabalho; na política: a hegemonia da
globalização financeira que reduziu o papel dos estados nacionais
e o controle social democrático sobre o rumo do atendimento às
necessidades fundamentais dos indivíduos, a recolonização latino-
americana, a corrupção no trato da coisa pública.
A globalização econômica tem revelado a tirania do dinheiro e
também da informação, o crescimento da miséria, a crise de identi-
dades e a manutenção da injustiça social. Se o centro da crise atual é
a violência que cresce, diante da ausência de sentido para se estar no
mundo, o mais grave é o quanto ela está instalada dentro de nós. Em
maior ou menor grau também estamos impregnados pela cultura
do consumismo, pela atitude de negação ou resignação diante do
sofrimento alheio, também temos banalizado o sofrimento huma-
no, apreendendo-o de forma dissociada da injustiça que acarreta.
A crise do presente na educação contemporânea não é apenas
problema dos que não a possuem, mas de todos, sobretudo dos
próprios educadores.A pedagogia atua apenas sobre o humano. A
ela interessa constituir aquele grupo humano com o qual qualquer
projeto futuro pode contar.” (Gonzaga Teixeira, 2000, p. 106). Aque-
les que realmente se dedicam e acreditam. A utopia está justamente
aí nesse sentir-se. Nessa perspectiva, a utopia não tem alvo externo:
enraíza-se nesse fazer parte, nessa companhia, nessa socialização das
nossas experiências mais íntimas tanto na escola quanto no trabalho
(idem, pp. 105-107 e 128). Nessa socialização de experiências, a ne-
gação e a recusa ao reconhecimento do nosso sofrimento no traba-
lho e na escola constitui importante obstáculo ao reconhecimento
do sofrimento dos que estão sem trabalho e sem escola (Dejours,
1999, p. 46). É possível que se alegue que esse sofrimento não é algo
novo e sempre existiu. De fato, o novo não está na iniquidade, na
injustiça ou no sofrimento imposto ao outro. Está no fato de que
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56
hoje essa imposição pareça razoável, justificada. A novidade está,
como denuncia Christophe Dejours, na banalização das condutas
injustas que constituem a trama (Dejours, 1999, p. 139). Como per-
tencer, sem dialogar com o mundo que nos cerca? Como dialogar,
sem realizar a crítica ao nosso próprio modo de pensar? Anísio dizia
que o pensamento é o ato mais vigiado de todos.
A violência internalizada, mas velada, de confinarmos ideias ou
pessoas a julgamentos e rótulos antecipados e definitivos, vítimas de
nossos preconceitos e de avaliações equivocadas e parciais sobre as
ações humanas precisa ser combatida.
A utopia não aceita seres humilhados, diminuídos, amputados. A
pedagogia mais próxima da utopia é a que coloca à disposição de cada
ser humano toda a cultura humana (Gonzaga Teixeira, 2000, p. 137).
É pela pedagogia que a utopia atua sobre a política e a economia.
(Gonzaga Teixeira, 2000, p. 6).
Nessa direção, a obra de Anísio Teixeira é um convite para
que resgatemos o sentido da qualidade da educação no que tem
de substantivo, ou seja, enquanto conjunto de transformações so-
ciais que visam eliminar privilégios, hierarquias e desigualdades, o
que se faz decisivo e urgente, na medida em que a face menos
explícita da autonomia que a escola brasileira goza hoje quanto ao
seu projeto pedagógico, garantida pela atual Lei de Diretrizes e
Bases (1996), é a que institui os estabelecimentos de ensino como
alvo de concorrência e escolha dos pais. Essa escolha, no entanto,
está condicionada pela desigualdade de acesso aos recursos mate-
riais e simbólicos, provocando diferentes escolarizações. A afir-
mação neoliberal de uma educação de qualidade oculta o fato de
que a alguns está destinada uma educação de maior qualidade que
a outros (Silva, 1996, p. 83).
Apenas o senso de futuro permite uma apreciação mais refi-
nada do real com o intuito de descortinar as possibilidades. Nos-
sas dificuldades se instalam no largo caminho das mediações. O
discurso neoliberal pode parecer sedutor, impregnando as políti-
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57
cas globalizadoras e projetos semelhantes em vários países. Não
podemos esquecer, no entanto, que tais políticas e projetos não
são propriamente idênticos, pois inexiste – e a análise histórica
mostra isso – correspondência perfeita entre as reformas preten-
didas e as executadas, mesmo quando as opções políticas se en-
contram subordinadas à orientação global. O peso das tradições
culturais nacionais, os constrangimentos próprios de cada contex-
to de escolarização, o trabalho de reinterpretação dos atores no
campo escolar em cada nível, desde o mais alto centro de decisão
até a sala de aula não podem ser menosprezados. Talvez fosse
oportuno considerar não propriamente a globalização das políticas
educacionais, mas sua hibridização (Zanten, 2000).
O que se espera da pesquisa em educação nesse momento é
que transforme em problema o que é tomado como fato estabe-
lecido, distinguindo expectativas de comportamentos (políticos,
sociais, culturais e pedagógicos) de desempenhos efetivos, sacu-
dindo a atitude acomodada, pouco ou nada crítica, dedicada ex-
clusivamente a aprimorar o que já existe, identificando em nossa
prática compartilhada os consensos que entravam o avanço da
produção do conhecimento daqueles que o facilitam. Espera-se
da pesquisa a crítica como dispositivo que avalia as alegações do
conhecimento e que se transforma, no plano da política, num dis-
positivo prático, mas não estreito, de solução de problemas e de
neutralização da ação perniciosa dos maus governantes. Cabe à
pedagogia da pesquisa recusar o monopólio do pensamento crítico
em qualquer instância e difundir atitude crítica para toda a vida
social. Assim, entendo, se define a militância do pesquisador.
Cabe-nos resgatar da obra de Anísio o diálogo entre a ciência e
a arte, que é também o diálogo entre a demonstração e a transfigu-
ração, a intuição poética e o discernimento crítico, as emoções e o
pensamento. Que é também a possibilidade de percepção do mun-
do em sua gloriosa novidade. Que desperta o entusiasmo criativo e
ajuda a elevar o indivíduo a um nível mais alto de existência. Endos-
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58
so a perspectiva de que a união da cultura artística e da cultura cien-
tífica, num mundo de degradação ambiental, social e psíquica, é o
eixo de uma nova educação (Costa, 1994, p. 17). É um diálogo que
não tenta a derrota do oponente, mas a expansão do seu ponto de
vista. É um diálogo que amplia a experiência estética e que coloca
em destaque a nossa genuína capacidade criativa, não só no nível do
resgate da beleza, que faz parte da existência humana, mas também
nas suas “implicações ético-políticas, porque quem fala em criação,
fala em responsabilidade da instância criadora com a coisa criada
(...). Essa escolha ética não emana de uma enunciação transcendente,
de um código de lei, mas do próprio movimento de criação” (Costa,
1994, p. 13), que precisa ser cultivado, respeitado.
Como é atual, a defesa que, desde a década de 1930, Anísio faz
do diálogo da ciência com a arte! Tanto a liberdade de pensamento
quanto a liberdade de criação apontam para uma escola que,
desestabilizada no seu papel de agência de controle e punição social,
se torne um ateliê de todos os talentos humanos. Um ateliê no qual
se pratique uma disciplina na qual ocorra, como dizia Augusto
Rodrigues, “(...) a junção de todas as forças no sentido de ordená-
las. Portanto, disciplina em função (...) da obra feita. Não é só olho.
É mão, é tudo. Até os poros do corpo em função, em equilíbrio (...)
uma disciplina em que a gente esteja com tal acuidade que não atente
contra o material que estamos trabalhando, e que o material nos diga
também o que podemos fazer” (1983, p. 48-49). Confesso que essa
forma de entender a disciplina me agrada quando penso no pesqui-
sador. Não prescindimos do rigor teórico, mas ousamos com a
nossa imaginação. Comprometemos a nossa fidelidade exclusiva-
mente à construção dos nossos objetos à sua necessidade social.
Assim, com Anísio, a pesquisa como apreensão criativa do mundo,
a pesquisa como modo de educar e educar-se. Nesse ponto, o pen-
samento de Anísio antecipa e se aproxima da tematização do diálo-
go em Paulo Freire. A meta ainda é a maioridade do povo brasi-
leiro, não só pela valorização da cultura popular, mas também pela
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59
sua transformação em instrumento efetivo de construção da sua
autonomia, entendida como um valor da educação.
A obra de Anísio Teixeira é resultado da eleição da educação
como foco de trabalho. Sua motivação em torno desse foco tor-
na-se um campo de significados justamente pela sua persistência.
Um homem apaixonado, como afiança Augusto Rodrigues, “não
está doente, apenas acelera seu processo interno” (Idem, ibidem).
A paixão não se explica: vive-se! Entre o passado de Anísio e o
nosso presente há sucessivas camadas de pensamento interpostas e
que, de formas diferentes e variadas, acolheram o que pensou,
escreveu e concretizou em obras que se apresentam, ainda, à frente
do nosso próprio tempo. O Anísio que se torna referência está
entre nós no resgate da memória e da história da nossa sociedade
e da nossa educação; na generosa militância da cultura e no exercício
digno da política; no diálogo da ciência com a arte; em projetos de
educação que integrem a cultura e o trabalho; na força que nos
move na defesa de que a educação não é privilégio!
Anísio Teixeira escrevia para participar do debate intenso so-
bre a educação e por esse motivo os depositários privilegiados do
seu pensamento são as revistas e boletins de circulação rápida. A
maioria dos livros surge, como afiança Marisa Cassim (2007), nos
vazios administrativos. Eles revelam aspectos da sua luta cotidiana
e uma reflexão sobre problemas que permanecem na agenda de
discussões e na pauta das reivindicações das políticas públicas em
nosso país. Ao apresentá-los ao leitor procuro responder às se-
guintes perguntas: Que problemas Anísio trata e permanecem na
agenda contemporânea da educação brasileira? O que teria Anísio
Teixeira a nos dizer sobre eles? Como afirma Marisa Cassim na
apresentação de Educação não é privilégio (2007, p. 17):
Anísio Teixeira escreveu centenas de artigos, conferências e relatórios.
Livros foram poucos, apenas doze com cerca de quarenta anos de
vida pública. No entanto, o esforço atual de reedição da obra de
Anísio Teixeira concentrou-se inicialmente nos livros por serem es-
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ses, na maioria dos casos, os depositários privilegiados dos trabalhos
que o autor, por alguma razão, selecionou.”.
Assim, seu primeiro livro foi lançado no final de seu mandato
como diretor da Instrução Pública da Bahia, em 1928. Seu segun-
do livro foi publicado depois da sua exoneração como diretor da
Instrução Pública no Distrito Federal, em 1936. Mais dois livros,
entre 1956 e 1957, foram publicados sob grave pressão política
que quase resultou no afastamento dos cargos que ocupava. Os
demais livros foram publicados no final de todos os mandatos.
Os originais de Ensino superior no Brasil foram por ele entregues à
editora, mas só seriam publicados em 1989. Recentemente a edi-
tora da UFRJ vem reeditando a obra em livros de Anísio Teixeira
em coleção, sob minha organização, com o objetivo de apresen-
tar uma perspectiva atualizada da sua reflexão, situando no âmbito
das diferentes conjunturas históricas as polêmicas que se fizeram
presentes através deles.
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Deserto, ardente metáfora de Deus?
Deus, ardente metáfora da vacuidade
Vacuidade, ardente metáfora de Deus
Deus, ardente metáfora do deserto?
Escolham
Escolham bem
Tudo será apenas metáfora
Daquilo que nos queima a pele
Daquilo que povoa o nosso imaginário
(nossos deuses não foram sempre
interpretações daquilo que nos deu
o máximo prazer ou daquilo
que nos fez o maior mal?)
Jean-Yves Leloup
Desertos
O viajante constrói com seus próprios passos o itinerário. Aní-
sio afirma em um dos seus livros que as sombras é que põem relevo
às luzes e cores da existência. Em minha narrativa sobre sua vida e
obra, com o intuito de divulgar, de um modo despretensioso, sua
prática intelectual, política e educadora para as novas gerações inte-
ressadas nos desafios da educação contemporânea, deixo algumas
de minhas impressões desse combate entre luz e sombra. Na luz:
suas iniciativas e realizações, seu compromisso com a educação como
serviço, a concepção teórica e a imaginação pedagógica que lhe dão
suporte, a vontade do poder como arte. Na obscuridade: as renún-
cias, os sofrimentos, os equívocos, as dúvidas, as perdas.
Mais uma vez sou grata pela oportunidade de me surpreender
com uma ou outra passagem dos seus livros que não havia ante-
riormente percebido ou dado devida importância, de participar
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da sua luta na ação cotidiana pela palavra justa, no sentido da
pertinência conceitual, da gramática política e da justiça social. Mais
uma vez atravessamos desertos: o deserto do corpo que envelhece
ou adoece; o deserto da inteligência que, aprisionada pelo que sabe,
empobrece a vida; o deserto das relações onde reina o
distanciamento e a solidão; o deserto da fé, quando se perdem
todas as crenças e não há mais apoio para nossas representações; o
deserto do luto. O ser banido, excluído, também é uma forma de
deserto. Como diz Jean-Yves Leloup: “A provação do deserto é a
provação da maturidade”. (1998, p. 19)
Atravessar o deserto é abandonar as referências que nos habi-
taram. É perder as ilusões. Essa travessia se faz no cotidiano, o
mais difícil de todos os exercícios. É sobre seu cotidiano como
homem público que trata Anísio quando escreve seus textos, em
seguida transformados em livros. Neles, o que me provocou foi
algo quase inapreensível, que faz de sua obra um núcleo de refle-
xão sempre aberto, sempre original. Por trás da obra, o homem.
Sua personalidade fascinava os amigos e fascina quem se debruça
sobre seu arquivo pessoal. Concordo integralmente com Hermes
Lima quando aponta, nele, a sabedoria. Antes de quaisquer das
notáveis realizações que empreendeu, ele tomou para si mesmo –
e a favor das novas gerações – a educação como um ato interior,
um compromisso honesto em que cada problema precisava ser
profundamente considerado, a despeito da opinião pública, pelo
que simplesmente era, sem projeções ou julgamentos.
Há quem veja na herança de Anísio Teixeira uma tradição desa-
fortunada e realce junto com sua luta o fracasso político diante dos
oponentes. Assim proceder é realizar um julgamento condicionado
pelas conjunturas nas quais atuou. A possibilidade histórica que apon-
tou com sua obra, não pode ser menosprezada. E essa possibili-
dade está ainda em nosso horizonte. Hoje, mais do que nunca, a
força das circunstâncias, seja no âmbito mais geral da sociedade, seja
no âmbito dos nossos locais de trabalho e estudo, nos convida a
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repensar a democracia e esta não é viável, como ensinou Giovani
Sartori (1994), se nós, cidadãos, não a compreendermos. Daí a
notável insistência de Anísio em seus livros, debruçando-se vezes
seguidas e de diferentes ângulos sobre esta temática. Ele sabia que
os cidadãos que compreendiam não podiam desaparecer.
A democracia encarna um projeto, o que é importante por três
motivos: porque tem uma finalidade; porque a incerteza dos seus
resultados não diminui o fato de que os resultados incorporados
foram mesmo precedidos e promovidos por ideias e ideais com-
patíveis; porque cabe à educação popular promovê-la.
Como afirmado na apresentação de Educação é um direito, a
complexidade de pensar e exercer a democracia hoje, obriga-nos
– como adverte Sartori – a distingui-la enquanto conjunto de ide-
ais normativos e práticas históricas. No coração do que uma de-
mocracia pode ou não pode ser está a discussão do consenso e do
conflito. Há consensos que a facilitam e outros que a entravam.
Precisamos de sabedoria para separar uns dos outros. O consenso
desejável é aquele formado por uma opinião pública autônoma, o
que apenas se torna possível com uma educação não doutrinária,
que trabalhe na direção da emancipação intelectual e conte com
uma estrutura ampla e diversa de centros de influência. A autono-
mia e a autorresponsabilidade criam condições para nossa felici-
dade e se isso não ocorre é preciso inventariar nossas motivações.
Se percebermos, por exemplo, que não podemos ser livres por-
que tememos a liberdade, essa percepção já traz maior liberdade.
A maior lição de vida que tenho aprendido com Anísio Teixeira
é a de que não importam necessariamente os problemas, mas sim
o que fazemos com eles. Onde alguns viram obstáculos, ele viu
também oportunidades. Apesar das críticas contundentes, Anísio
nunca se arvorou a julgar, mesmo seus adversários, porque reco-
nhecia no outro o que sabia e vivia. Acolhia e repelia numa atitude
madura de quem sabia que havia um preço a ser pago pelo livre-
arbítrio, assumindo as incertezas, os riscos, as carências da vida. De
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onde vem a constante esperança de Anísio? Da confiança na natu-
reza humana. Ela se torna, hoje, um critério orientador da ação
existencialmente positivo que o professor necessita mais do que
ninguém. Numa carta que Anísio Teixeira escreveu de Paris a Cle-
mente Mariani, em 14/12/1946, afirma:
Quanto mais vivo mais percebo que a natureza humana não é boa
nem má, mas que faz uma diferença enorme o confiarmo-nos nela ou
o desconfiarmo-nos dela. Os latinos preferem desconfiar e criaram
com isto a confusão e a corrupção. Os anglo-saxões preferem confiar e
estabeleceram, no mundo, o que há mais próximo de uma possível
arte de governar homens, o que há de mais próximo de uma possível
ordem humana. Daí minha convicção: taticamente devemos confiar
na natureza humana. Ainda é a regra mais sábia.
Confiar na própria natureza é dizer sim ao objetivo maior que
traçamos para nós mesmos na vida. Anísio acreditou e entregou ao
mundo seus talentos laboriosamente cultivados. A inteligência em
Anísio vem da sua presença em relação ao mundo interno e externo.
Viveu, através da vida pública, uma espiritualidade produzida pela
sua inquietação e dúvidas. A definição da espiritualidade nele está
ancorada naquilo que o mobiliza. E o que o torna extraordinário é a
intensidade da defesa da democracia e da educação para a demo-
cracia, que constituiu o motivo central do devotamento de sua vida,
apesar dos banimentos da vida pública a que foi submetido.
Ele teve coragem para questionar os padrões culturais e sociais
transmitidos pela educação que recebeu e a humildade de liberar-se
da aprovação dos outros. Sua ênfase no presente permitia que atra-
vessasse a dor e a frustração, abdicando das ilusões, embora em
certos momentos parecesse ingênuo e crédulo. É que a espiritualidade
do deserto, como afirma Leloup (1998), é a da infância com seu
olhar inocente.
Suas palavras ainda têm força quando incitam a educação a cul-
tivar no aprendiz a curiosidade, a firmeza de não ceder à autoridade
externa sem ter forjado, na experimentação dos acertos, dos erros e
da reflexão sobre eles, sua própria convicção. Sem abandonar a fé,
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que transferiu da religião para a ciência, aprendeu a construir, como
rocha, sobre o terreno movediço dos acontecimentos e das disputas
político-ideológicas. Transformou em abundância tudo o que to-
cou, sendo não apenas crítico, mas ativo propositor de soluções
para os problemas que enfrentou. Sua fé e esperança sustentaram,
por mais que o momento se mostrasse difícil o esforço pedagógico,
buscando com paciência a verdade dentro e fora de si mesmo, para
encontrar a saída do labirinto dos mal-entendidos. Sua luta, tanto no
plano pessoal quanto coletivo, foi pela superação da alienação, das
meias verdades, das sutis distorções, das confusões, da prática ativa
da crueldade que paralisa a realização de uma vida mais plena na
qual as instituições democráticas e a educação democrática têm pa-
pel insubstituível. Ele trouxe à luz as agendas ocultas dos podres
poderes religiosos e políticos, afirmando a educação como direito
humano e social, como exercício da nossa dignidade.
[...] Anísio tem razão. Antes de reconstruir a educação do mundo é
preciso ensinar a ler à Bahia, que é um pedaço do mundo. Ele volta à
Bahia, vai com Mangabeira lançar as bases dum sistema educativo lá,
o qual sistema educativo levará a breca logo que o Mangabeira deixar
o governo e a Bahia recair nas unhas da reação católica, apostólica,
romana. Destruirão toda a obra de Anísio, como fizeram no Rio –
mas ficarão tocos enterrados e esses tocos brotarão in partibus. E cosi
va il mondo – lentíssi (m) amente, por meio de avanços ideológicos e
recuos pragmáticos, mas sempre com pequeninos ganhos. Anísio
mostrou sua grandeza de alma trocando o brilho da sua atuação
pessoal na Unesco por um precário esforço educativo numa cova de
cacos (e cocos) que tem o nome de Bahia.
25
Anísio, ao ler a carta escrita por Lobato a Artur Coelho, da
qual esse trecho foi extraído, chorou.
25
Sem assinatura. Crítica ao livro Aspectos americanos de educação (?), de Anísio
Teixeira. Arquivo Anísio Teixeira, Série Produção Intelectual, AT S. Ass. pi 28/36.00.00,
CPDOC/FGV.
Clarice Nunes é mestra em educação pela Fundação Getulio Vargas e doutora em
educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. É professora titular
aposentada de história da educação e pesquisadora da Universidade Federal Fluminense.
Atua na área de educação, com foco em temas como história da educação, educação
brasileira, formação docente, política educacional e Anísio Teixeira.
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Mestres de amanhã
26
Creio, no exame do tema que nos ocupa, que não me cumpre
exprimir apenas ansiedades e esperanças a respeito dos mestres de
amanhã, mas procurar antecipar, em face das condições e da si-
tuação de hoje, o que poderá ser o mestre dos dias vindouros. E
entre os homens buscarei, sobretudo, caracterizar os mestres do
ensino comum, do ensino destinado a todos, ou seja, na fase con-
temporânea, os mestres da escola primária e da escola secundária.
Deixarei de considerar o mestre de nível universitário, pois
este não está a passar pelas mesmas mudanças, que começa a atin-
gir o mestre da escola comum e, de certo modo, se está também
a mudar, é muito mais dentro de linha que não apresenta ruptura
com a situação anterior, mas a desenvolve e aperfeiçoa.
É o mestre da escola elementar e da escola secundária que está
em crise e se vê mais profundamente atingido e compelido a mudar
pelas condições dos tempos presentes. E por quê?
Porque estamos entrando em uma nova fase da civilização
chamada industrial, com a explosão contemporânea dos conheci-
mentos, com o desenvolvimento da tecnologia e com a extrema
complexidade consequente da sociedade moderna.
26
Educação e o mundo moderno. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 2006, pp. 187-200.
Originalmente publicado na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio de Janeiro, v.
40, n. 92, pp. 10-19, out-dez. 1963.
TEXTOS SELECIONADOS
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Na realidade, o nosso esforço pela educação do homem, até
muito recentemente, não chegou a ultrapassar os objetivos de
prepará-lo para uma sociedade muito mais singela do que a socie-
dade hodierna. Tomando o exemplo das sociedades desenvolvidas,
que chegaram, como no caso da América do Norte, a oferecer
educação a todos até os 18 anos, a escola elementar e a secundária
constituíram-se escolas intelectualmente desambiciosas, destinadas
a oferecer uma educação capaz de formar os jovens para o con-
vio político, social e econômico, de uma sociedade de trabalho
competitivo mas, ao que se acreditava, relativamente singela e ho-
mogênea. A criação mais original da sociedade americana nesse
campo foi a da comprehensive school de nível secundário, com a flexi-
bilidade dos seus currículos e a concentração na mesma escola de
alunos os mais diversos nas aptidões, nas opções de estudo, na
inteligência e nos objetivos escolares.
Esta escola, que resistiu ao severo estudo e análise de Conant
27
,
representa, na realidade, uma inovação em seus aspectos fundamen-
tais. Constitui uma antecipação, se considerarmos que sua filosofia
importa em reconhecer certa unidade da cultura contemporânea, a
despeito da sua aparente diversidade, e a equivalência das diferentes
carreiras a que se iriam devotar seus alunos.
Correta, assim, na sua estrutura, não creio, entretanto, que te-
nha conseguido realmente oferecer uma educação à altura do de-
safio dos nossos tempos. O que os nossos tempos pediam era
uma forte educação intelectual para o jovem moderno, a despeito
das diferentes aptidões que possuísse, dos diferentes interesses que
revelasse e das diferentes carreiras a que se destinasse. A escola
compreensiva reuniu todos os jovens na mesma escola e, para lhe
dar a impressão de uma educação comum, diluiu o conteúdo dos
diferentes programas a fim de lhes emprestar uma equivalência,
que só por essa diluição se fazia verdadeira.
27
Em The American High-School Today. Nova York: McGraw-Hill, 1959.
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Entremente, que se passava com a civilização contemporânea?
Entrava ela em fase de desenvolvimento científico até certo ponto
inesperado, levando-a na indústria à automação, na vida econômi-
ca a um grau espantoso de opulência e na vida política e social a
um desenvolvimento de meios de comunicação de tal extensão e
vigor que os órgãos de informação e recreação viram-se subita-
mente com o poder de condicionar mentalmente o indivíduo, trans-
formando-o em um joguete das forças de propaganda e algo de
passivo no campo da recreação e do prazer.
O desenvolvimento contemporâneo no campo dos processos
de comunicação já foi comparado com o correspondente ao da
descoberta da imprensa, que gerou também, conforme sabemos,
um período de certa degradação na difusão do conhecimento se-
melhante ao que se observa hoje com a utilização dos meios de
comunicação em massa.
A verdade é que cada novo meio de comunicação, ao surgir,
não produz imediatamente os resultados esperados mas, muitas
vezes, a difusão do que há de menos interessante, embora mais
aparentemente popular, na cultura comum.
Não é apenas isso. Cada meio novo de comunicação alarga o
espaço dentro do qual vive o homem e torna mais impessoal a
comunicação, exigindo, em rigor, do cérebro humano, compreen-
são mais delicada do valor, do significado e das circunstâncias em
que a comunicação lhe é feita.
Se partirmos do período da simples comunicação oral de pes-
soa a pessoa, que se conheçam mutuamente no pequeno meio
local, para a comunicação com o estranho e, depois, para a comu-
nicação escrita ainda entre pessoas que se conheçam (correspon-
dência) e, a seguir, para a comunicação escrita pelo texto e livro e
pelo jornal, ainda locais, e, afinal, pelo telégrafo, pelo telefone, pelo
cinema, pelo rádio, pela televisão, pela comunicação estendida a
todo o planeta, que faz subitamente o homem comum não apenas
o habitante de sua rua, sua cidade, seu Estado, sua nação, mas
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literalmente de todo o planeta e participante de uma cultura não
apenas local e nacional mas mundial, podemos ver e sentir o grau
de cultivo mental necessário para lhe ser possível submeter a infor-
mação, que lhe é assim trazida de todo o mundo, ao crivo de sua
própria mente, a fim de compreendê-la e absorvê-la com o mes-
mo sentido de integração com que recebia a comunicação local e
pessoal do seu período paroquial de vida.
Não somente assim a comunicação se fez assim universal no
espaço, mas também, com os novos recursos técnicos, estendeu-
se através do tempo, podendo o homem em uma simples sessão
de cinema visualizar as civilizações ao longo da história como su-
cede nos grandes espetáculos modernos em que a cultura antiga é
apresentada de forma nem sequer sonhada pelos mais ambiciosos
historiadores do mundo.
Toda essa imensa revolução dos meios de comunicação não
poderia deixar de criar, em sua fase inicial, antes a confusão do que
o esclarecimento, sobretudo porque esses meios não foram sequer
conservados na posse dos grupos responsáveis pela educação do
homem, como se a escrita e a imprensa, por exemplo, de certo
modo se mantiveram, mas se fizeram recursos para a propaganda
e a diversão comercializada, quando não para o condicionamento
político e ideológico do homem.
A educação para este período de nossa civilização ainda está
para ser concebida e planejada e, depois disto, para executá-la,
será preciso verdadeiramente um novo mestre, dotado de grau
de cultura e de treina que apenas começamos a imaginar.
Desde que surgiu a cultura escrita na história humana jamais
faltaram guardiões, tanto quanto possível competentes, para conser-
vá-la e defender-lhe, por vezes excessivamente, sua pureza. Quando
afinal surgiram as universidades, o engenho humano tudo fez para
resguardar-lhes a liberdade a fim de que o saber humano pelos que
soubessem fosse conservado e cultivado.
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Ao ampliar-se a universidade pelas escolas de cultura comum
para todos, o preparo do mestre – ou seja, o guardião e transmis-
sor da cultura – se fez até o começo do nosso século como razo-
ável proficiência. Tanto quanto possível era ele o transmissor de
uma cultura cuja significação e limites conhecia e, sobretudo, era o
mais importante transmissor dessa cultura, estando em seu poder
comandar até certo ponto a formação do educando.
Com a expansão dos meios de comunicação, o mestre perdeu
esse antigo poder, passando a ser apenas um contribuinte para a for-
mação do aluno, que recebe, em relativa desordem, por esses novos
meios de comunicação, imprensa, rádio e televisão, massa incrível de
informações e sugestões provenientes de uma civilização agitada por
extrema difusão cultural e em acelerado estado de mudança.
A universidade conservou, a despeito de tudo, um certo con-
trole dessa cultura extremamente difusa e em explosiva mudança,
graças à alta qualidade dos seus professores e à vigorosa instituciona-
lização de sua independência e liberdade, mas as escolas de cultura
geral do homem comum ficaram com os mestres preparados mi-
nistrar a cultura muito mais simples e paroquial do século passado.
Bem sei que o preparo destes mestres se faz cada vez mais longo e
nos países mais desenvolvidos já está francamente exigindo graus
universitários. A tarefa, entretanto, é bem mais difícil e complexa.
Recentemente, na Inglaterra, fez-se uma experiência de ensino
universitário – o colégio universitário de Keele, que me parece me-
recer aqui uma referência. Como sabemos o University College of
North Staffordshire surgiu em 1950, com a intenção de criar um
novo tipo de ensino universitário. Não irei descrever em detalhe a
experiência de Keele, mas apenas comentar o primeiro ano de estu-
dos desse novo colégio universitário, que constitui um exemplo do
tipo global de cultura que seria necessário ao homem moderno. O
propósito desse ano inicial, chamado de fundamentos, é o de rever,
discutir e ilustrar os fundamentos, a herança, as conquistas e os proble-
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mas da civilização ocidental. Tomo do relatório sobre o progresso
dessa experiência, no Educational Yearbook de 1959, a seguinte for-
mulação de objetivos desse primeiro ano de estudos:
O curso começa levando os estudantes, pela contemplação dos céus, à
luz da astronomia e da física moderna, a um sentimento de espanto,
maravilha e beleza. Não somente o estudante de arte mas também o
cientista vê sob essa nova luz a fé e os métodos do físico, numa
súmula de progresso científico a partir de Kepler, Galileu e Newton até
as mais excitantes especulações da moderna cosmologia. Acompa-
nhando os passos da inquirição humana, desde a indagação de Olbert
“Por que a noite é escura?” até a teoria da criação contínua, sentir-se-á o
estudante a reproduzir essa “extraordinária aventura da mente huma-
na” no seu esforço de imaginar e descobrir a natureza do universo.
Segue-se o geólogo com a descrição da história da terra durante os três
bilhões de anos ou mais que antecederam o aparecimento do homem.
O geógrafo, depois, estuda o clima e os fatores do meio ambiente. O
biólogo introduz os seres vivos e analisa as teorias da origem e da
evolução do homem. Já aí os estudantes terão atingido a dose de
humildade suficiente para apreciar as conquistas das primeiras civiliza-
ções, que lhes serão apresentadas pelos professores de saber clássico,
pelo filósofo, pelo teólogo e pelo historiador. Daí prossegue o curso
introduzindo o estudante na consideração das características e dos
problemas da civilização ocidental numa era industrial, conforme os
veem os historiadores, os geógrafos, os cientistas políticos, os educa-
dores e os economistas. A perspectiva já então é a dos dias de hoje,
projetada sob esse fundo histórico, a fim de levar o estudante a sentir
e apreciar os muitos e sérios problemas que hoje nos defrontam. A
terceira parte do curso se detém nas realizações criadoras do homem –
a língua, a literatura, as artes, a música, a arquitetura, as matemáticas, as
ciências e a tecnologia e, por fim, o próprio homem e sua crença são
estudados por filósofos, psicólogos, teólogos e biólogos.
28
28
“The course begins by enhancing the studentes sense o Wonder, awe and beauty by the
contemplation of the heavens as seen through the eyes of modern astronomy and physics.
Not only the arts student, but the scientist also sees in a new light the faith and methods
of the physcist after an outline of the progress from Kepler, Galileo and Newton to the
exciting speculations of modern cosmology. Tracing the steps in the argument from Olbert´s
question ‘Why is it dark at night?’ to the theory of continuous creation is ‘ an imaginative
adventure of the mind’ much appreciated by students newly released from the advanced-
level, syllabus. The geologist follows an account of the history of the earth during the
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Atrevo-me a considerar que este deverá ser amanhã o progra-
ma de educação comum do homem moderno e não apenas, como
em Keele, a introdução aos estudos de nível superior. Com os
recursos técnicos modernos, estamos em condições de oferecer a
cada jovem, antes de terminar o nível secundário de estudos, um
quadro da cultura contemporânea, desde seus primórdios até os
problemas e complexidades dos dias presentes. Não teremos to-
dos os professores especializados com que conta Keele para sua
experiência, mas, com os recursos da televisão, do cinema e do
disco podemos levar todos os jovens a ver e ouvir, ou pelo menos,
a ouvir, esses especialistas e, a seguir, com o professor da classe,
desdobrar, discutir e complementar as lições que grandes mestres
desse modo lhe tenham oferecido.
Mesmo assim, entretanto, será imensa a tarefa do professor
secundário e grande deve ser o preparo, para que possa conduzir
o jovem nessa tentativa de dar à sua cultura básica a largueza, a
segurança e a perspectiva de uma visão global do esforço do ho-
mem sobre a terra.
Os meios modernos de comunicação fizeram do nosso planeta
um pequenino planeta e dos seus habitantes vizinhos uns dos outros.
Por outro lado, as forças do desenvolvimento também nos aproxi-
maram e criaram problemas comuns para o homem contempo-
3 000 000 000 years or so before the emergence of man, and geographer describes and
discusses climate and other environmental factors. The biologist introduces living things
and discusses theories of the origin and evolution of man. By n. 31, students have
reached a sufficient rate of humility to appreciate the achievement of early civilizations
as presented by classicist, philosopher, theologian, and historian. The next group of
lectures plunges straight into the characteristics and problems of Western society in an
industrial age, as seen by historians, geographers, political scientists, members of the
education department and economists. The outlook is that today with sufficient historical
background to give perspective and an appreciation of the many problems now facing us.
The third group is concerned with the creative achievements of man – language, literature,
art, music, architecture, mathematics and science, and technology. There is a section on
the study of man himself and his belief by philosophers, psychologists, sociologists,
theologians and biologists.”
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râneo. Tudo está a indicar que não estamos longe de formas inter-
nacionais de governo. Se a isto juntarmos a explosão de conhecimen-
tos e as mudanças que os novos conhecimentos, com suas
consequências tecnológicas estão a trazer, podemos imaginar até que
ponto as forças do costume, dos hábitos e das velhas crenças e
preconceitos vão ser destruídas e quanto vai o homem depender de
sua cultura formal e consciente, de seu conhecimento intelectual, sim-
bólico e indireto, para se conduzir dentro da nova e desmesurada
amplitude de sua vida pessoal. São portanto de assustar as responsa-
bilidades que aguardam o mestre de amanhã. Sabemos o que se
conseguiu, no passado, com a educação de grupos seletos de estu-
dantes. Alguns estabelecimentos de educação secundária na Europa
– refiro-me sobretudo ao esforço de educação seletiva acadêmica
da França e Alemanha e à educação intelectual e de caráter das English
public schools – conseguiram dar, em nível secundário, formação hu-
mana significativa para a compreensão das civilizações clássicas e do
seu ideal de homem culto. A nossa tarefa é hoje muito mais difícil.
Primeiro porque precisamos fazer algo semelhante para todos e não
apenas para alguns e segundo porque já não estaremos ministrando
a cultura clássica mas a complexa, vária e, sob muitos aspectos,
abstrusa cultura científica moderna.
Diante dos novos recursos tecnológicos, ouso crer ser possível
a completa reformulação dos objetivos da cultura elementar e se-
cundária do homem de hoje e, em consequência, alterar a formação
do mestre para essa sua nova tarefa.
Que haverá hoje que nos possa sugerir o que poderá vir a ser a
escola de amanhã? Perdoem-me que lhes lembre as transformações
operadas nos grandes empreendimentos que dirigem a informação
e as diversões modernas: a imprensa, o cinema, o rádio e a televisão.
Entregues à iniciativa privada e dominadas pelo espírito de compe-
tição, o jornal, a revista, a produção de filmes e as estações de rádio
e televisão fizeram-se grandes serviços técnicos e desenvolveram
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profissionais especializados, dotados de extrema virtuosidade, que
se empenharam em se por à altura dos recursos tecnológicos e do
grau de expansão da cultura moderna. Algo de semelhante será o
que irá suceder com a escola, com a classe e com o professor. Se a
biblioteca, de certo modo, já fizera o mestre um condutor dos estu-
dos do aluno e não propriamente um transmissor de cultura, os
novos recursos tecnológicos e os meios audiovisuais irão transfor-
mar o mestre no estimulador e assessor do estudante, cuja atividade
de aprendizagem deve guiar, orientando-o em meio às dificuldades
da aquisição das estruturas e modos de pensar fundamentais da cul-
tura contemporânea de base científica em seus aspectos físicos e
humanos. Mas do que o conteúdo do conhecimento em permanente
expansão, cabe-lhe, com efeito, ensinar o jovem aprendiz a aprender
os métodos de pensar das ciências físico-matemáticas, biológicas e
sociais, a fim de habilitá-lo a fazer de toda sua vida uma vida de
instrução e estudos.
Talvez se possa dizer, embora represente uma grande simplifi-
cação, que a educação até há pouco tempo oferecida pela escola
não passou, no nível elementar, da aprendizagem das artes de ler e
escrever, como instrumento de comunicação e de trabalho, segui-
da de uma iniciação medíocre á vida cívica de sua nação; no nível
secundário, do preparo do adolescente para as ocupações que re-
querem certo nível técnico e para a continuação dos seus estudos
em nível superior,e no nível superior, do preparo do profissional
de nível superior e o de scholar ou pesquisador. Fora disto, há que
notar que as universidades se constituíram elas próprias centros de
pesquisa, de descoberta do conhecimento e de sua expansão.
Ora, somente este grupo último de pesquisadores está efetiva-
mente de posse dos instrumentos e dos objetivos da cultura cien-
tífica em que estamos imersos e que nos conduz, sem dela termos
real e efetiva consciência. O próprio Scholar e pesquisador, embo-
ra seja o maior contribuinte dessa cultura moderna, só raramente
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tem dela consciência adequada, pois o grau de especialização do
seu trabalho o obriga a tal concentração de esforços e de interesse,
que lhe dificulta, se não impede a visão global dessa cultura.
O fato, contudo, de estar, mais empenhado em descobrir, em
aumentar o saber do que no saber existente propriamente dito fá-
lo o que há de mais próximo em nossa sociedade do que deveria
ser cada um dos membros dessa sociedade. Longe de mim julgar
possível que cada um de nós venha a ser um pesquisador no sen-
tido acadêmico. Nem seria possível, nem resolveria a dificuldade
da sociedade contemporânea.
De certo modo, o que estou a insinuar é talvez até mais amplo,
embora não me pareça tão difícil. Se a experiência de Keele pode
constituir exemplo do que se deveria fazer para dar ao cidadão do
nosso tempo a Weltanschauung da cultura contemporânea, convém re-
cordar que isto representaria somente a aquisição de uma visão ade-
quada ao nosso tempo. Embora extremamente importante, esta vi-
são não lhe bastará, se dela não emergir a atitude e o propósito pro-
fundos de se fazer um eterno estudante cujo interesse permanente e
vivo seja o de aprender sempre e mais. E nisto lembrará ele o pesqui-
sador. Mas, enquanto este é um empenhado em um pequeno campo
de conhecimento e devotado a ampliá-lo, o cidadão comum é um
homem comum empenhado em compreender e em agir cada vez
mais lucidamente e mais eficientemente em sua ocupação e em sua
vida global, pois lhe cumpre sentir-se responsável pela sua sociedade.
Acaso já refletimos que se considerarmos utópica essa aspira-
ção, teremos lavrado a nossa condenação à civilização científica que
o homem está criando, mas será incapaz de dirigir e comandar? O
que nos leva a considerar utópico esta imaginada integração do ho-
mem com sua criação científica é a situação ainda dominante na
educação oferecida pela escola.
H. G. Wells, um dos reconhecidos profetas dos primeiros tem-
pos de nosso século, proclamou, na década de 1920, que nos achá-
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vamos então em um páreo entre educação e catástrofe. Já na outra
década venceu a catástrofe, de que somente agora parece vamos
emergindo. O nosso otimismo, entretanto, não pode ser grande,
pois, se sentimos nos entendimentos recentes um alvorecer de sa-
bedoria política, o que por certo nos conforta, por outro lado, no
campo da educação, cumpre-nos registrar apenas alguns significa-
tivos progressos no preparo de novos cientistas. Na educação co-
mum do homem comum os progressos são os mais modestos. O
homem comum está caminhando para ser o escravo como o en-
tendia Aristóteles, ou seja, o homem que está na sociedade mas
não é da sociedade. O progresso científico está na sela e conduz o
homem nenhum de nós sabe para onde.
Ou melhor, todos sabemos, pois ninguém desconhece que se a
educação é cada vez mais fraca, o anúncio e a propaganda são cada
vez mais fortes e a nossa sociedade – sobretudo nos países em que
já se fez afluente – é uma sociedade cujo objetivo se reduz o de
consumir cada vez maiores quantidades de bens materiais. Conse-
guimos condicionar o homem para essa carreira de consumo, in-
ventando necessidades e lançando-o num delírio de busca ilimitada
de excitação de falsos bens materiais.
Ora, se o anúncio logrou isto obter foi porque os meios de
influir e condicionar o homem se fizeram extremamente eficazes.
Não será isto uma razão para não considerar utópico o nosso
desejo de formar um homem capaz de ser responsável pela sua
sociedade, não seu joguete, ou seu escravo no sentido aristotélico?
Para isto, ouso pensar, tudo estaria em formar um mestre, esse
mestre de amanhã, que fosse um pouco do que já são hoje certos
jornalistas de revistas e páginas científicas, um pouco dos chamados
por, vezes injustamente, popularizadores da ciência, um pouco dos
cientistas que chegaram a escrever de modo geral e humano sobre a
ciência, um pouco dos autores de enciclopédias e livros de referên-
cia e, ao mesmo tempo, mais do que tudo isto. O mestre de amanhã
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teria com efeito de ser treinado para ensinar basicamente as discipli-
nas do pensamento científico, ou sejam, a disciplina do pensamento
matemático, a do pensamento das ciências sociais e, com funda-
mento nessa instrumentação da inteligência contribuir para que o
homem ordinário se faça um aprendiz com o desejo de continuar
sempre aprendendo, pois sua cultura não só é intrinsecamente dinâ-
mica mas está constantemente a mudar-lhe a vida e a obrigá-lo a
novos e delicados ajustamentos. Por que não será impossível este
mestre? Porque são extraordinários os recursos tecnológicos que terá
para se fazer um mestre da civilização científica, podendo para isto
utilizar o cinema como forma descritiva e narrativa e a televisão
como forma de acesso a mestre maiores do que ele. O mestre seria
algo como um operador de recursos tecnológicos modernos para
apresentação e o estudo da cultura moderna e como estaria, assim,
rodeado e envolvido pelo equipamento e pela tecnologia produzida
pela ciência, não lhe seria difícil ensinar o método e a disciplina inte-
lectual do saber que tudo isso produziu e continua a produzir. Sua
escola de amanhã lembrará muito mais um laboratório, uma oficina,
uma estação de televisão do que a escola de ontem e ainda de hoje.
Entre as coisas mais antigas, lembrará muito mais uma biblioteca e
um museu do que o tradicional edifício de salas de aulas. E, como
intelectual, o mestre de amanhã, nesse aspecto, lembrará muito mais
o bibliotecário apaixonado pela sua biblioteca, o conservador de
museu apaixonado pelo seu museu, e, no sentido mais moderno, o
escritor de rádio, de cinema ou de televisão apaixonado pelos seus
assuntos, o planejador de exposições científicas, do que o antigo
mestre-escola a repetir nas classes um saber já superado.
Não se diga que estou a apresentar observações que somente
se aplicam a sociedades afluentes. O caso dos países subdesenvol-
vidos não é diverso, porque os recursos tecnológicos da propa-
ganda e do anúncio também já lhe chegaram e não lhe será pos-
sível repetir a história dos sistemas escolares, mas adaptar-se às
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formas mais recentes da escola de hoje. Está claro que concreta-
mente seu problema é diverso. Sua luta não é ainda para coman-
dar a produtividade, mas para chegar à produtividade. Sua busca
pelos bens materiais é muito mais imediata e dispensa os esforços
da Madison Avenue. Paradoxalmente, entretanto, o espírito do
anúncio e da propaganda lhe chegam antes de haver podido mu-
dar sua estrutura social para se fazer uma sociedade científica de
alta produtividade. E, por isto mesmo, o anúncio ainda é mais
tragicamente irônico. Somos pela propaganda condicionados para
desejar o supérfluo, para atender necessidades inventadas, antes de
haver atendido às nossas reais necessidades.
Também, portanto, teremos de ter novas escolas e novos
mestres, embora venham a ser eles aqui mais os iniciadores do
método científico nas escolas do que os simples adaptadores das
escolas das sociedades afluentes já em pleno domínio da produ-
ção e do progresso científico.
Como marchamos, entretanto, para uma situação idêntica,
cumpre-nos esforçarmo-nos para queimar as etapas e construir a
sociedade moderna com uma escola ajustada ao tipo de cultura
que ela representa.
Todas essas considerações nascem de uma atitude de aceitação
do progresso científico moderno, de aceitação das terríveis mu-
danças que este progresso está impondo à vida humana e da cren-
ça de que ainda não fizemos em educação o que deveria ser feito
para preparar o homem para a época a que foi arrastado pelo seu
próprio poder criador. Todo o nosso passado, os nossos mais
caros preconceitos, os nossos hábitos mais queridos, a nossa agra-
dável vida paroquial, tudo isto se levanta contra o tumulto e a
confusão de uma mudança profunda da cultura, como a que
estamos sofrendo. Contudo, a mocidade está a aceitar esta mu-
dança, é verdade que um tanto passivamente, mas sem nada que
lembre a nossa inconformidade. A mudança, todos sabemos, é
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irreversível. Só conseguiremos restaurar-lhe a harmonia, se conse-
guirmos construir uma educação que a aceite, a ilumine e a conduza
num sentido humano.
O desafio moderno é sobretudo este: conseguir que todos os
homens adquiram a disciplina intelectual de pensamento e estudo
que, no passado, conseguimos dar aos poucos especialistas dota-
dos para essa vida intelectual. O conhecimento e a vida adquiriram
complexidade tamanha que só uma autêntica disciplina mental
poderá ajudá-lo a se servir da ciência, a compreender a vida em
sua moderna complexidade e amplitude e a dominá-la e submetê-
la à uma ordem humana.
Ao alvorecer da vida de pensamento racional que deu origem
à nossa civilização ocidental, os primeiros professores tiveram em
Sócrates seu mais significativo modelo. Nada menos podemos
pedir hoje ao professor de amanhã. Os mestres do futuro terão
de ser familiares dos métodos e das conquistas da ciência e, desde
a escola primária, iniciar a criança e depois o adolescente na arte,
sempre difícil e hoje extremamente complexa, de pensar objetiva
e cientificamente, de utilizar os conhecimentos que a pesquisa lhe
está a trazer constantemente e de escolher e julgar os valores, com
que há de enriquecer sua vida neste planeta e no espaço que está
em vésperas de conquistar. Reunindo, assim, funções de preceptor
e sacerdote, e profundamente integrado na cultura científica, o mestre
do futuro será o sal da terra, capaz de ensinar-nos, a despeito da
complexidade e confusão modernas, a arte da vida pessoal em uma
sociedade extremamente impessoal.
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Ciência e arte de educar
29
A arte de educar – a educação –, nos últimos cem anos, passou
por um desenvolvimento que se caracteriza por uma revisão de
conceitos e de técnicas de estudo, à maneira, dir-se-ia, da transfor-
mação operada na arte de curar – a medicina – quando se emanci-
pou da tradição, do acidente, da simples “intuição” e do empirismo
e se fez, como ainda se vem fazendo, cada vez mais científica.
Todos sabemos que isto se deu com a medicina devido aos
progressos dos métodos de investigação e de prova. O desenvol-
vimento das ciências que lhe iam servir de base e das técnicas cien-
tíficas de que iria cada vez mais utilizar-se e, mesmo, apropriar-se,
levaram a medicina a um progresso crescente, com a aplicação
cada vez mais consciente de métodos próprios de investigação e
de prova. São desse tipo – claro que sob os influxos dos progres-
sos mais recentes ainda de outras ciências – os desenvolvimentos
que desejamos suscitar na educação, com o cultivo, nos centros de
pesquisas, que se estão fundando no Brasil, de métodos próprios
de investigação e prova no campo educacional.
Como a medicina, a educação é uma arte. E arte é algo de
muito mais complexo e de muito mais completo que uma ciência.
Convém, portanto, deixar quanto possível claro de que modo as
artes podem se fazer científicas.
Arte consiste em modos de fazer. Modos de fazer implicam
no conhecimento da matéria com que se está lidando, em méto-
dos de operar com ela e em um estilo pessoal de exercer a ativida-
de artística. Nas belas-artes, ao estilo pessoal chegamos a atribuir
tamanha importância que, muitas vezes, exagerando, considera-
mos que a personalidade artística é tudo que é necessário e sufi-
29
Anísio Teixeira. Ciência e arte de educar. In: A educação no mundo moderno. Rio de
Janeiro: Editora da UFRJ, 2006, pp. 67-86. Palestra apresentada na sessão de encerra-
mento do I Seminário Interestadual de Professores, realizado em janeiro de 1957, em São
Paulo, pelos Centros Regionais de Pesquisas Educacionais. Originalmente publicada na
revista Educação e Ciências Sociais, v. 2, n. 5, pp. 5-22, ago. 1957. [N. da E.]
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ciente para produzir arte. Não é verdade. Mesmo nas belas-artes,
o domínio do conhecimento e o domínio das técnicas, se por si
não bastam, são, contudo, imprescindíveis à obra artística.
A educação pode, com alguns raros expoentes, atingir o nível
das belas-artes, mas, em sua generalidade, quase sempre, não che-
ga a essa perfeição, conservando-se no nível das artes mecânicas
ou práticas, entendidos os termos no sentido humano e não no
sentido de maquinal, restritivo apenas quanto ao belo estético.
O progresso nas artes – sejam belas ou práticas – se fará um
progresso científico, na medida em que os métodos de estudo e
investigação para esse progresso se inspirem naquelas mesmas regras
que fizeram e hão de manter o progresso no campo das ciências, ou
seja, as regras – para usar expressão que não se precisa definir – do
“método científico”.
A passagem, no campo dos conhecimentos humanos, do
empirismo para a ciência foi e é uma mudança de métodos de estu-
do, graças à qual passamos a observar e descobrir de modo que
outros possam repetir o que observamos e descobrimos e, pois,
confirmar os nossos achados, que assim se irão acumulando e le-
vando a novas buscas e novas descobertas. Se esta foi a mudança
que originou os corpos sistematizados de conhecimentos a que cha-
mamos ciência, um outro movimento, paralelo ao das ciências e
dele consequente mas, de certo modo autônomo, foi o da mudança
das “práticas” humanas pela aplicação do conhecimento científico.
Ao conhecimento empírico correspondiam as práticas empíricas,
ao conhecimento científico passaram a corresponder as práticas ci-
entíficas. Com efeito, as práticas fundadas no que a ciência obser-
vou, descobriu e acumulou e, por seu turno, obedecendo aos mes-
mos métodos científicos, se transformaram em práticas tecnológicas
e desde modo renovadas, elas próprias se constituíram em fontes
de novos problemas, novas buscas e novos progressos.
Com o desenvolvimento das ciências físicas e matemáticas e,
depois, das ciências biológicas, as artes da engenharia e da medi-
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cina, obedecendo em suas “práticas” às regras científicas da obser-
vação, da descoberta e da prova puderam frutificar nos espan-
tosos progressos modernos. Algo de semelhante é que se terá de
introduzir na arte de educar, a fim de se lhe darem as condições de
desenvolvimento inteligente, controlado, contínuo e sistemático, que
caracterizam o progresso científico.
Não se trata, pois, de criar propriamente uma “ciência da
educação”, que, no sentido restrito do termo, como ciência au-
tônoma, não existe nem poderá existir; mas de dar condições
científicas à atividade educacional, nos seus três aspectos funda-
mentais – de seleção de material para o currículo, de métodos de
ensino e disciplina, e de organização e administração das escolas.
Por outras palavras: trata-se de levar a educação para o campo
das grandes artes já científicas – e de dar aos seus métodos, pro-
cessos e materiais a segurança inteligente, a eficácia controlada e a
capacidade de progresso já asseguradas às suas predecessoras
relativamente menos complexas.
Está claro que essa inteligência da arte de educar a afasta radi-
calmente das artes predominantemente formais, como a do direi-
to, por exemplo, com a qual, aliás, temos, como país, uma irresistível
inclinação a identificar a educação. Com efeito, embora não caiba
aqui a análise aprofundada dessa inclinação, os sinais são muito
evidentes de que ainda consideramos educar antes como uma arte
dominantemente formal, à maneira do direito
30
, do que uma arte
material, à maneira da medicina ou da engenharia.
Fora essa tendência distorciva, mais entranhada quiçá do que o
imaginamos e que importa evitar, a introdução de métodos científi-
cos no estudo da educação não irá determinar nada de imediata-
mente revolucionário. As artes sempre progrediram. Mas, antes do
método científico, progrediram por tradição, por acidente, pela pres-
30
Também o direito não é uma arte puramente formal, mas não faltam os que o julgam
algo de meramente convencional, se não de arbitrário.
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são de certas influências e pelo poder “criador” dos artistas. Com o
método científico, vamos submeter as “tradições” ou as chamadas
“escolas” ao crivo do estudo objetivo, os acidentes, às investigações
e verificações confirmadoras e o poder criador do artista, às análises
reveladoras dos seus segredos, para a multiplicação de suas desco-
bertas; ou seja, vamos examinar as rotinas e variações progressivas,
ordená-las, sistematizá-las e promover, deliberadamente, o desen-
volvimento contínuo e cumulativo da arte de educar.
Não se diga, entretanto, que tenha sido sempre este o entendi-
mento do que se vem chamando de ciência da educação, à qual
aludimos com as devidas reservas. Pelo contrário, o que assistimos
nas primeiras décadas deste século e que só ultimamente se vem
procurando corrigir foi a aplicação precipitada ao processo
educativo de experiências científicas que poderiam ter sido psico-
lógicas, ou sociológicas, mas não eram educacionais, nem haviam
sido devidamente transformadas ou elaboradas para a aplicação
educacional.
De outro lado, tomaram-se de empréstimo técnicas de medida
e experiência das ciências físicas e se pretendeu aplicá-las aos fenô-
menos psicológicos e mentais, julgando-se científicos os resultados,
porque as técnicas – tomadas de empréstimo – eram científicas e
podiam os tais resultados ser formulados quantitativamente.
Houve, assim, precipitação em aplicar diretamente na escola
“conhecimentos” isolados de psicologia ou sociologia e, além dis-
to, precipitação em considerar esses “conhecimentos” verdadeiros
conhecimentos.
A realidade é que não há ciência enquanto não houver um cor-
po sistemático de conhecimentos, baseados em princípios e leis ge-
rais, que lhe deem coerência e eficácia. Aí estão as ciências matemá-
ticas e físicas com todo seu lento evoluir até que pudessem florescer
nas grandes searas das tecnologias, que correspondem à sua apli-
cação aos problemas práticos da vida humana. Logo após vem o
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ainda mais lento progresso das ciências biológicas e a agronomia, a
veterinária e a medicina como campos de aplicação tecnológica.
Para que as “práticas” educativas possam também beneficiar-se
de progresso semelhante, será preciso antes de tudo que as ciências
que lhe irão servir de fontes se desenvolvam e ganhem a maturidade
das grandes ciências já organizadas. Até aí, há que aceitar não só que
o progresso seja lento mas também algo incerto e, sobretudo, não
suscetível de generalização. Antes, porém, progredir assim, tateando,
sentindo os problemas em toda sua complexidade, mantendo em
suspenso os julgamentos, do que julgar que podemos simplificar a
situação, considerá-la puramente física ou biológica e aplicar mé-
todos e técnicas aceitáveis para tais campos, mas inadequados para
o campo educativo, pela sua amplitude, variedade e complexidade.
Convém insistir, realmente, na distinção entre o campo da ciên-
cia e do conhecimento em si e o campo da aplicação do conheci-
mento e da prática ou da arte. Bastaria, talvez, dizer que a ciência é
abstrata, isto é, que busca conhecer seu objeto num sistema tão am-
plo de relações, que o conhecimento científico, como tal, desborda
de qualquer sistema particular, para se integrar num sistema tão ge-
ral, que nele só contam as relações dos conhecimentos entre si; e que
a “prática” é um sistema concreto e limitado, em que aqueles conhe-
cimentos se aplicam com as modificações, alterações e transforma-
ções necessárias à sua adaptação à situação. Por isto mesmo, não
produz a ciência, não produz o conhecimento científico, por si mes-
mos, uma regra de arte, ou seja, uma regra de prática.
Leis e fatos, que são os produtos das ciências, ministram ao
prático não propriamente regras de operação, mas recursos inte-
lectuais para melhor observar e melhor guiar sua ação no campo
mais vasto, mais complexo, com maior número de variáveis da
sua indústria ou da sua arte. A velha expressão “na prática é dife-
rente” é um modo simples de indicar essa verdade essencial de
que a ciência é um recurso indireto, é um intermediário e nunca
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uma regra direta de ação e de arte. A ciência é uma condição – e
mesmo uma condição básica – para a descoberta tecnológica ou
artística, mas não é, ou ainda não é essa descoberta. Quando se
trata de tecnologia das ciências físicas, o processo prático não che-
ga à exatidão do processo de laboratório, mas pode chegar a graus
apreciáveis de precisão. Todavia, se a tecnologia reporta-se a um
processo de educação, podemos bem imaginar quanto as condi-
ções de laboratório são realmente impossíveis de transplantação
para a situação infinitamente mais complexa da atividade educativa.
Não quer isto dizer que ciência seja inútil, mas que sua aplicação
exige cuidados e atenções todo especiais, valendo o conhecimento
científico como um ingrediente a ser levado em conta, sem perder
de vista, todos os demais fatores.
Em educação, muita coisa se fez em oposição a esse princípio
tão óbvio, com a aplicação precipitada de conhecimentos cientí-
ficos – ou supostamente científicos – diretamente como regras de
prática educativa e a transplantação de técnicas quantitativas das
ciências físicas para os processos mentais, quando não-educativos,
importando tudo isto em certo descrédito da própria ciência.
Para tal situação concorreu, sem dúvida, o fato de nem sem-
pre haverem sido as “práticas educativas” as fornecedoras dos
“dados” do problema, como deverá ser, se tivermos de contar
com a ciência para nos ajudar a progredir na arte de educar. E em
segundo lugar, concorre certa impaciência dos resultados posi-
tivos que aflige tanto – hélas!- as ciências sociais ou humanas que
servem de fonte e base a uma possível arte de educar menos
empírica e mais científica.
Com efeito, tais ciências não nos irão dar regras de arte mas
conhecimentos intelectuais para rever e reconstruir, com mais inte-
ligência e maior segurança, as nossas atuais regras de arte, criar, se
possível, outras e progredir em nossas “práticas educacionais, isto
é, nas práticas mais complexas da mais complexa arte humana.
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Tudo, na realidade, entra nessa prática. A nossa filosofia, con-
cebida como o conjunto de valores e aspirações, as ciências bioló-
gicas, psicológicas e sociais, todas as demais ciências como conteú-
do do ensino, enfim, a cultura, a civilização e todo o pensamento
humano em seus métodos e em seus resultados. Prática desta natu-
reza e desta amplitude não vai buscar suas regras em nenhuma
ciência isolada, seja mesmo a psicologia, a antropologia ou a soci-
ologia; mas em todo o saber humano e, por isto mesmo, será
sempre uma arte em que todas as aplicações técnicas terão de ser
transformadas, imaginativa e criadoramente, em algo de plástico e
sensível suscetível de ser considerado antes sabedoria do que saber
– opostos tais termos um ao outro no sentido de que a sabedoria
é, antes de tudo, a subordinação do saber ao interesse humano e
não ao próprio interesse do saber pelo saber (ciência) e muito
menos a interesses apenas parciais ou de certos grupos humanos.
Mas toda essa dificuldade não será pretexto para que o educa-
dor se entregue à rotina, ao acidente ou ao capricho, mas estímulo
a buscar cooperar na transição da educação do seu atual empirismo
para um estado progressivamente científico.
Dois problemas diversos avultam nessa transição. O primeiro,
é o do desenvolvimento das ciências – fonte da educação. Assim
como as ciências matemáticas e físicas são as ciências fonte princi-
pais da Engenharia, assim como as ciências biológicas são as ciên-
cias-fonte principais da medicina, assim a psicologia, a antropolo-
gia e a Sociologia são as ciências-fonte principais da educação.
Enquanto estas últimas não se desenvolverem até um mais alto
grau de maturidade e segurança, não poderão dar à educação os
elementos intelectuais necessários para a elaboração de técnicas e
processos que possam constituir o conteúdo de uma possível “ci-
ência de educação”. E este é o segundo problema. Porque ainda
que as ciências-fonte quanto à educação estivessem completamen-
te desenvolvidas, nem por isto teríamos automaticamente a edu-
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cação renovada cientificamente, pois, conforme vimos, nenhuma
conclusão científica é diretamente transformável em regra opera-
tória no processo de educação. Todo um outro trabalho tem de
ser feito para que os fatos, princípios e leis descobertas pela ciência
possam ser aplicados na prática educacional.
Na própria medicina, com efeito, atrevo-me a afirmar, os prin-
cípios e leis da ciência servem antes para guiar e iluminar a obser-
vação, o diagnóstico e a terapêutica, não se impondo rigidamente
como regras à arte médica, regras de clínica, regras imperativas da
arte de curar.
A ciência oferece, assim, a possibilidade de um primeiro desen-
volvimento tecnológico, que fornece à arte melhores recursos para a
investigação dos seus próprios problemas e, deste modo, sua melhor
solução. Num segundo desenvolvimento também tecnológico, ofere-
ce recursos novos para o tratamento e a cura, mas a arte clínica conti-
nua sendo uma arte de certo modo autônoma, a ser aprendida à
parte, envolvendo métodos próprios de investigação e análise, de re-
gistro dos casos, de comparações e analogias, de experiência e tirocí-
nio, em que, além de um conteúdo próprio mais amplo do que os
puros fatos científicos, sobressaem sempre o estilo pessoal do médi-
co, sua originalidade e seu poder criador. A ciência, aliás, longe de
mecanizar o artista ou o profissional, arma sua imaginação com os
instrumentos e recursos necessários para seus maiores voos e audácias.
Ora, o mesmo é o que há de ocorrer no domínio da educação,
da arte de educar. Neste, o campo precípuo ou específico – ateliê,
laboratório ou oficina – é a sala de aulas, onde oficiam os mestres,
eles próprios também investigadores, desde o jardim de infância
até a universidade. São as escolas o campo de ação dos educadores,
como os hospitais e as clínicas são o dos médicos.
Os especialistas de ciências autônomas são grandes contribuintes
para a chamada ciência médica, como serão para a que vier a se cha-
mar de ciência da educação, mas nenhum resultado científico, isto é, o
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conhecimento de cada ciência, mesmo ciência básica ou ciência-fonte,
é por si um conhecimento educacional ou médico, nem dará direta-
mente uma regra de ação médica ou educacional. Tais conhecimentos
ajudarão o médico ou o educador a observar melhor, a diagnosticar
melhor e, assim, a elaborar uma melhor arte de educar.
Tomemos uma ilustração qualquer. Sejam, por exemplo, os
testes de inteligência, que se constituíram, por certo, um dos mais
destacados recursos novos da “ciência” para a técnica escolar. Para
que servem eles? Para diagnosticar com maior segurança limites
de capacidade de aprender do aluno. Se os tomarmos apenas para
isto, aumentaremos sem dúvida os nossos recursos de observação
e conhecimento do aluno e melhor poderemos lidar com as situa-
ções de aprendizagem, sem perder de vista as demais condições e
fatores de tais situações.
Se, porém, ao contrário, tomarmos esse recurso parcial de
diagnóstico mental como uma regra educativa e quisermos
homogeneizar rigidamente os grupos de Q.I. idêntico ou aproxi-
mado e proceder uniformemente com todos seus componentes,
não estaremos obedecendo à complexidade total da situação prá-
tica educativa e muito menos a nenhuma ciência da educação, pois
esta não reconheceria tal classificação como válida, reconhecendo
hoje que a situação é totalmente empírica, incluindo fatores entre
os quais o Q.I. é apenas um no complexo da situação aluno-pro-
fessor-grupo-meio em que se encontra o aprendiz.
Nem por isto será, entretanto, inútil o conhecimento do Q.I.,
pois a alteração da capacidade de aprender do aluno passa, em
face dos dados do Q.I., a ser vista e estudada sob outra luz.
A ciência, assim, como já afirmamos, não oferece senão um
dado básico e jamais a regra final da operação. Esta há que ser
descoberta no complexo da situação de prática educativa, em que
se encontrem professor e aluno, levando-se em conta todos os
conhecimentos científicos existentes, mas agindo-se autonomamente
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à luz dos resultados educativos propriamente ditos, isto é, a for-
mação, o progresso, o desenvolvimento humano do indivíduo em
questão, ou seja, o aluno.
Nesta fase é que vimos entrando ultimamente. Há um real
amadurecimento entre as ciências especiais, fontes da educação,
superados os entusiasmos das primeiras descobertas. Com relação
aos testes de inteligência, até o nome vem sendo hoje evitado, pre-
ferindo-se o nome de testes de aptidões diferenciais, pois já se
reconhece que estamos longe de medir o famoso g ou fator geral,
mas medimos apenas uma série de aptidões decorrentes da cultu-
ra em que se acha imersa a criança e não inteiramente independen-
te da educação anterior. Não é isto nenhum descrédito para os
testes chamados de inteligência, mas pelo contrário, um progresso,
uma nova precisão.
Prejudicial, talvez, foi antes o excessivo entusiasmo anterior. A
precipitada aplicação de produtos ainda inacabados de “ciência” à
escola parece haver exacerbado certos aspectos quantitativos e
mecanizantes, conduzindo ao tratamento do aluno como algo
abstrato a ser manipulado por critérios de classificação em grupos
supostamente homogêneos, dando ao professor a falsa esperança
de poder ensinar por meio de receitas, muitas das quais de cientí-
ficas só tinham a etiqueta.
Com relação à “ciência” do ato de aprendizagem o mesmo
novo desenvolvimento se pode observar. Compreende-se melhor
que “aprender” é algo de muito mais complexo do que se poderia
supor e francamente uma atividade prática a ser governada, se pos-
sível, por uma psicotécnica amadurecida e não pela psicologia. Ora,
quanto isto nos distancia das “leis” de aprendizagem, em que se
ignoravam, além de muito mais, as relações professor-aluno-cole-
gas e se imaginava o aprendiz como um ser isolado e especial que
operasse abstratamente, como abstratas haviam sido e não podiam
deixar de ser as experiências de laboratório que haviam conduzido
às supostas leis de aprendizagem!
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Para essa precipitada aplicação na escola de resultados frag-
mentários e imaturos da ciência, concorreu também – e merece
isto registro especial – uma peculiar prevenção, digamos assim, da
ciência para com a filosofia, ou um dissídio entre uma e outra, de
alcance e efeito negativos. Explico o que desejo significar.
Como toda ciência, foi primeiro a Filosofia e como seu pro-
gresso geralmente se processou com o distanciamento cada vez
maior daquela filosofia originária, pode parecer e parece que ciên-
cia e filosofia se opõem e os conhecimentos serão tanto mais cien-
tíficos quanto menos filosóficos.
Ora, tal erro é grave, mesmo em domínios como da Matemá-
tica e da física. E em educação é bem mais grave. Com efeito, se
historicamente o progresso das ciências se fez com seu distanciamento
dos métodos puramente dedutivos da filosofia, não quer isto dizer
que as ciências não operem realmente sobre uma filosofia. Seu afas-
tamento foi antes um afastamento de determinada filosofia exclusiva-
mente especulativa, ou melhor “livremente” especulativa, para a ade-
são a uma nova filosofia de base científica. Como esta nova filosofia
foi quase sempre uma filosofia implícita e não explícita, o equívoco
pôde se estabelecer e durar.
A realidade é que filosofia e ciência são dois pólos do conheci-
mento humano, a filosofia representando o mais alto grau de co-
nhecimento geral e a ciência tendendo para o mais alto grau de
conhecimento especial. Entre ambas tem de existir um comércio
permanente, a ciência se revendo à luz dos pressupostos e conceitos
generalizadores da Filosofia. Neste sentido, a filosofia nutre perma-
nentemente a ciência com suas integrações e visões de conjunto e a
ciência nutre a filosofia, forçando-a a combinações e sínteses mais
fundadas, menos inseguras e mais ricas.
Não se trata do quase equívoco de que a filosofia elabora os fins
e a ciência os meios, mas da verdade de que ambas elaboram, criti-
cam e refinam os fins e os meios, pois uns e outros sofrem e preci-
sam sofrer tais processos de crítica e revisão, a ciência criando muitas
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vezes novos fins com suas descobertas e a filosofia criticando per-
manentemente os meios à luz dos fins que lhe caiba descobrir e
propor à investigação científica.
A não-existência dessa cooperação ou interação entre a ciên-
cia e a filosofia, levou a chamada “ciência da educação” a não
“ter” filosofia, o que corresponde realmente a aceitar a filosofia
do status quo e a trabalhar no sentido da tradição escolar, a que
efetivamente obedeceu, agravando em muitos casos, com a efi-
ciência nova que lhes veio trazer, os aspectos quantitativos e me-
cânicos da escola, que lhe teriam de parecer – et pour cause – os
mais científicos aspectos da escola.
Hoje, felizmente, estamos bem mais amadurecidos e os estu-
dos de educação não desdenham das contribuições que lhes terá
de trazer a Filosofia, também ela cada vez mais de base científica,
e começam a ser feitos à luz da situação global escolar e de suas
“práticas”, que urge rever e tornar progressivas em face dos co-
nhecimentos que vimos adquirindo no campo das ciências especi-
ais, ciências-fonte da educação – principalmente a Antropologia, a
Psicologia e a Sociologia – não já para aplicar na escola, direta-
mente, os resultados da investigação científica no campo destas
ciências, mas para – tomando tais resultados como instrumentos
intelectuais – elaborar técnicas, processos e modos de operação
apropriados à função prática de educação.
Os Centros de Pesquisas Educacionais
31
se organizam, assim,
num momento de revisão e tomada de consciência dos progres-
sos do tratamento científico da função educativa e, por isto mes-
mo tem certa originalidade. Pela primeira vez, busca-se aproximar
uns dos outros os trabalhadores das ciências especiais, fonte de
uma possível “ciência” da educação e os trabalhadores da educa-
ção, ou seja, dessa possível “ciência” aplicada da educação. Esta
31
Referência aos Centros Regionais de Pesquisas Educacionais, criados pelo Instituto
Nacional de Estudos Pedagógicos (Inep). [N. da E.]
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aproximação visa, antes de tudo, levar o cientista especial, o psicó-
logo, o antropólogo, o sociólogo, a buscar no campo da prática
escolar seus problemas. Note-se que os problemas das ciências
biológicas originaram-se e ainda hoje se originam na medicina.
É preciso que as ciências sociais, além de outros problemas que
lhes sejam expressamente próprios, busquem nas atuais situações de
prática educativa vários e não poucos problemas, que também lhes
são próprios.
Como na medicina ou na engenharia, não há stricto sensu, uma
ciência de curar nem de construir, mas, artes de curar e de construir,
fundadas em conhecimentos de várias ciências. Assim os problemas
da arte de educar, quando constituírem problemas de psicologia, de
sociologia e de antropologia, serão estudados por essas ciências es-
peciais e as soluções encontradas irão ajudar o educador a melhorar
sua arte e, deste modo, provar o acerto final daquelas soluções ou
conhecimentos. Ou, em caso contrário, obrigar o especialista a no-
vos estudos ou a nova colocação do problema. A originalidade dos
centros está em sublinhar especialmente essa nova relação entre o
cientista social e o educador. Até ontem o educador julgava dispor
de uma ciência autônoma, por meio da qual iria criar simultanea-
mente um conhecimento educacional e uma arte educacional. E o
cientista social estudava outros problemas e nada tinha a ver direta-
mente com a educação. Quando resolvia cooperar com o educa-
dor, despia-se de sua qualidade de cientista e se fazia também educa-
dor. Os centros vêm tentar associá-los em uma obra conjunta, po-
rém com uma perfeita distinção de campos de ação. O sociólogo, o
antropólogo e o psicólogo social não são sociólogos-educacionais,
ou antropólogos-educacionais, ou psicólogos-educacionais, mas
sociólogos, antropólogos e psicólogos estudando problemas de sua
especialidade, embora originários das “práticas educacionais”.
Os educadores – sejam professores, especialistas de currículos,
de métodos ou de disciplina, ou administradores – não são, repita-
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mos, cientistas, mas, artistas, profissionais, práticos (no sentido do
practitioner inglês), exercendo, com métodos e técnicas tão científicas
quanto possível, sua grande arte, seu grande ministério. Serão cientis-
tas, como são cientistas os clínicos; mas sabemos que só em lingua-
gem lata podemos efetivamente chamar o clínico de cientista.
Acreditamos que esse encontro entre cientistas sociais e educa-
dores “científicos” – usemos o termo – será da maior fertilidade e,
sobretudo, que evitará os equívocos ainda tão recentes da aplicação
precipitada de certos resultados de pesquisas científicas nas escolas,
sem levar em conta o caráter próprio da obra educativa. Com os
dados que lhe fornecerá a escola, o cientista irá colocar o “proble-
ma” muito mais acertadamente e submeter os resultados à prova da
prática escolar, aceitando com maior compreensão este “teste” final.
Tenho confiança de que bem esclarecida e estudada essa posi-
ção, de que estou a tentar aqui os fundamentos teóricos, ser-nos-á
possível ver surgir o sociólogo estudioso da escola, o antropólogo
estudioso da escola, o psicólogo estudioso do escolar, não já como
esses híbridos que são, tantas vezes, os psicólogos, sociólogos e
antropólogos educacionais, nem bem cientistas nem também edu-
cadores, mas como cientistas especializados, fazendo verdadeira-
mente ciência, isto é, Sociologia, Antropologia e Psicologia, e aju-
dando os educadores, ou sejam os clínicos de educação, assim
como os cientistas da biologia ajudam os clínicos da medicina.
Parece-me não ser uma simples nuance a distinção. Por outro
lado, isto é o que já se faz, sempre que se distingue o conhecimento
teórico, objeto da ciência, da regra prática, produto da tecnologia e
da arte. A confusão entre os dois campos é que é prejudicial. É
preciso que o cientista trabalhe com o desprendimento e o “desinte-
resse” do cientista, que não se julgue ele um educador espicaçado a
resolver problemas práticos, mas o investigador que vai pesquisar
pelo interesse da pesquisa. Seu problema originou-se de uma situa-
ção de prática educacional, mas é um problema de ciência, no sen-
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tido de estar desligado de qualquer interesse imediato e visar estabe-
lecer uma teoria, isto é, o problema é um problema abstrato, pois
abstração é essencial para o estudo científico que vise a formulação
de princípios e leis de um sistema coerente e integrado de relações.
Os chamados estudos “desinteressados” ou “puros” não são mais
do que isto. São estudos das coisas em si mesmas, isto é, nas suas
mais amplas relações possíveis. As teorias científicas do calor, da luz,
da cor ou da eletricidade são resultados do estudo desses fenôme-
nos em si mesmos, desligados de qualquer interesse ou uso imedia-
to. No fim de contas, a teoria é, como se diz, a mais prática das
coisas, porque, tendo sido o resultado do estudo das coisas no as-
pecto mais geral possível, acaba por se tornar de utilidade universal.
Assim terão de ser e nem poderão deixar de ser os estudos
dos cientistas sociais destinados a contribuir para o progresso das
práticas educativas, pois, do contrário, estariam os cientistas apli-
cando conhecimentos e não procurando descobri-los. Armados
que sejam os problemas originários “da” prática educacional mas
não “de” prática educacional, deve o pesquisador despreocupar-
se de qualquer interesse imediato e alargar seus estudos até os mais
amplos limites, visando descobrir os “fatos” e suas relações, den-
tro dos mais amplos contextos, para a eventual formulação dos
“princípios” e “leis” que os rejam.
Tais “fatos”, “princípios” e “leis” não irão, porém, fornecer ao
educador, repitamos, nenhuma regra de ação ou de prática, mas
ideias, conceitos, instrumentos intelectuais para lidar com a experi-
ência educacional em sua complexidade e variedade e permitir-lhe
elaborar, por sua vez, as técnicas flexíveis e elásticas de operação e os
modos de proceder inteligentes e plásticos, indispensáveis á con-
dução da difícil e suprema arte humana – a de ensinar e educar.
Cientistas e educadores trabalharão juntos, mas, uns e outros,
respeitando o campo de ação de cada um dos respectivos grupos
profissionais e mutuamente se auxiliando na obra comum de desco-
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brir o conhecimento e descobrir as possibilidades de sua aplicação.
O método geral de ação de uns e outros será o mesmo, isto é, o
método “científico” e, nesse sentido, é que todos se podem consi-
derar homens de ciência. O educador, com efeito, estudando e re-
solvendo os problemas da prática educacional, obedecerá às regras
do método científico, do mesmo modo que o médico resolve, com
disciplina científica, os problemas práticos da medicina: observando
com inteligência e precisão, registrando essas observações, descre-
vendo os procedimentos seguidos e os resultados obtidos, para que
possam ser apreciados por outrem e repetidos, confirmados ou
negados, de modo que sua própria prática da medicina se faça tam-
bém pesquisa e os resultados se acumulem e multipliquem.
Os registros escolares de professores e administradores, as fi-
chas dos alunos, as histórias de casos educativos, ou descrições de
situações e de pessoas constituirão o estoque, sempre em cresci-
mento, de dados, devidamente observados e anotados. Tais da-
dos irão permitir o desenvolvimento das práticas educacionais e,
conforme já dissemos, suscitar os problemas para os cientistas,
que aí escolherão aqueles suscetíveis de tratamento científico, para
a elaboração das futuras teorias destinadas a dar à educação o
status de prática e arte científicas como já são hoje a medicina e a
engenharia. No curso destas considerações, insistimos – pela ne-
cessidade de demonstração de nossa posição – na analogia entre
medicina e educação. Não sirva isso, contudo, para que se pense
que a prática educativa possa alcançar a segurança científica da
prática médica: não creio que jamais se chegue a tanto. A situação
educativa é muito mais complexa do que a médica. O número de
variáveis da primeira ainda é mais vasto do que o da segunda.
Embora já haja médicos com o sentimento de que o doente é um
todo único e, mais, que esse todo compreende não só o doente
mas o doente e o “meio”, ou seu “mundo”, o que os aproxima
dos educadores, a situação educativa ainda é mais permanente-
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mente ampla, envolvendo o indivíduo em sua totalidade, com to-
das as variáveis dele próprio e de sua história e de sua cultura e da
história dessa cultura, e mais as da situação concreta, com seus
contemporâneos e seus pares, seu professor e sua família. A práti-
ca educativa exige que o educador leve em conta um tão vasto e
diverso grupo de variáveis, que, provavelmente, nenhum procedi-
mento científico poderá jamais ser rigorosamente nela aplicado.
Ainda o mais perfeito método de aquisição, digamos, de uma
habilidade, não poderá ser aplicado rigidamente. O educador terá
de levar em conta que o aluno não aprende nunca uma habilidade
isolada; que, simultaneamente, estará aprendendo outras coisas no
gênero de gostos, aversões, desejos, inibições, inabilidades, enfim
que toda a situação é um complexo de “radiações, expansões e
contrações”, na linguagem de Dewey, não permitindo nem com-
portamento uniforme nem rígido.
É importante conhecer todos os métodos e recursos já expe-
rimentados e provados de ensinar a ler, mas sua aplicação envolve
tanta coisa a mais, que o mestre, nas situações concretas, é que irá
saber até que ponto poderá aplicar o que a ciência lhe recomenda,
não no sentido de negá-la, mas, no sentido de coordená-la e articulá-
la com o outro mundo de fatores que entram na situação educativa.
Sendo assim, podemos ver quanto a função do educador é
mais ampla do que toda a ciência de que se possa utilizar. É que o
processo educativo identifica-se com um processo de vida, não
tendo outro fim, como insiste Dewey, senão o próprio crescimen-
to do indivíduo, entendido esse crescimento como um desenvol-
vimento, um refinamento ou uma modificação no seu comporta-
mento, como ser humano. Em rigor, pois, o processo educativo
não pode ter fins elaborados fora dele próprio. Seus objetivos se
contêm dentro do processo e são eles que o fazem educativo.
Não podem, portanto, ser elaborados senão pelas próprias pesso-
as que participam do processo. O educador, o mestre é uma delas.
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Sua participação na elaboração desses objetivos não é um privilé-
gio, mas a consequência de ser, naquele processo educativo, o par-
ticipante mais experimentado e, esperemos, mais sábio.
Desse modo, a educação não é uma ciência autônoma, pois não
existe um conhecimento autônomo de educação, mas é autônoma ela
própria, como autônomas são as artes e, sobretudo, as belas-artes,
uma delas podendo ser, ouso dizer e mesmo pretender, a educação.
A “ciência“ da educação, usando o termo com todas as reser-
vas já referidas, será constituída, na frase de Dewey, de toda e
qualquer porção de conhecimento científico e seguro que entre no
coração, na cabeça e nas mãos dos educadores e, assim assimilada,
torne o exercício da função educacional mais esclarecido, mais
humano, mas “verdadeiramente educativo” do que antes.
Os Centros Educacionais foram criados para ajudar a aumentar
os conhecimentos científicos que assim possam ser utilizados pelos
educadores – isto é, pelos mestres, especialistas e administradores
educacionais – para melhor realizarem sua tarefa de guiar a formação
humana, na espiral sem fim do seu indefinido desenvolvimento.
O seminário que ora se encerra foi um primeiro contato entre
os professores e mestres que trabalham nas classes e os que traba-
lham no Centro. Esta aproximação tem um sentido: o de associar à
pesquisa educacional o mestre em sua classe. Na classe é que se rea-
liza a função educativa. E dentro da classe, na cabeça, no coração e
nas mãos do aluno. Todo o trabalho do Centro visa, em última
análise, tornar mais rica, mais lúcida e mais eficaz essa ação educativa.
Nada podemos fazer sem o professor e a pesquisa educacional não
pode prescindir do seu concurso.
Se o trabalho do mestre se libertar do caráter de trabalho de
rotina, de acidente ou de capricho e começar ele a registrar por
escrito seu esforço, a manter fichas cumulativas, descritivas e inte-
ligentes dos alunos, casos-história de experiências educativas, todo
esse material poderá ser nos Centros estudado, para tornar possí-
vel ajudar aos mestres em sua tarefa que continuará autônoma e,
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além disto, mais consciente, mais controlada e mais suscetível de
ser repetida e, deste modo, de se acumular e progredir. Não será
de desejar que sejam os pesquisadores no Centro um estado-mai-
or a elaborar planos para serem cumpridos por autômatos ou
semi-autômatos, mas um grupo de colegas a estudar com os mes-
tres os problemas escolares, com o objetivo de conseguir conheci-
mentos para que todo o magistério possa conduzir com mais au-
tonomia sua grande tarefa. Não terá o Centro regras nem receitas
a oferecer mas buscará ajudá-lo no instrumental intelectual indis-
pensável à execução de uma das belas-artes e a maior: a de educar.
A educação que nos convém
32
Nunca será demais insistir nas condições em que se começou a
considerar conveniente e necessária, no curso do século XIX, e só
então, a educação universal e gratuita para todos, entre os países
chamados civilizados, e as condições correntes, já nestes meados
do século XX, para empreendimento semelhante entre os países
chamados subdesenvolvidos.
Uma primeira fase do movimento de instrução para o povo,
no Ocidente, teve origem religiosa. Buscava tornar efetiva e genera-
lizada a leitura direta da Bíblia na língua nacional ou de cada povo,
bem como no livre exame e interpretação dos textos, como reivin-
dicação da Reforma Protestante. A generalização, contudo, do mo-
vimento não se deu senão quando o Estado julgou ser de seu dever
dar a todos um mínimo de educação, considerado indispensável à
participação dos indivíduos na obra comum nacional.
A ampliação dos deveres do Estado até esse empreendimento
de natureza cultural se deu, entretanto, em período de progresso
econômico e social ainda relativamente lento e, o que é mais impor-
tante, como alvo em si mesmo ou a reivindicação máxima da épo-
32
Anísio Teixeira. In: A educação e a crise brasileira. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ,
2005, pp. 203-224.
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ca. Os povos porfiavam, em verdadeira emulação política, por essa
conquista, que fornecia ao pensamento das elites e às aspirações das
massas algo como uma nova mística – a mística da educação popu-
lar. As nações passaram a se classificar, entre si, tanto mais civilizadas
quanto mais escolarizadas fossem suas populações.
A obra de educação escolar comum, para todos, se fazia, assim,
tendo em vista aparelhar o homem – todos os homens – com o
instrumento do esclarecimento existente na época, a leitura, a fim de
habilitá-lo, por este modo, à participação na vida cívica e cultural do
seu país. Toda outra educação escolar, além dessa comum, era espe-
cializada, fosse a profissional de nível médio ou superior, para al-
guns, pelo Estado, ou a das classes ricas pela escola secundária, quase
sempre privada, especializada esta senão pelo conteúdo, pelo espíri-
to de “classe” que a inspirava. Observamos, assim, que a educação
comum não visava propriamente á vida econômica ou de produ-
ção do país a que servia, mas, sim, a um propósito de esclarecimen-
to, de educação geral e, quando muito, de formação cívica, repu-
tados, entretanto, na época, como essenciais à existência da nação,
no nível de vida em que se achava, ou a que aspirava.
Pouco importa que, depois, esta escola pública se tenha feito um
instrumento de singular significação econômica, com o desenvolvi-
mento da civilização industrial. Desejamos acentuar é que no início
obedecia mais à filosofia humanitarista ou, quando muito, cívica.
A escola primária comum, para todos, seguiam-se escolas com-
plementares, que, estas sim, tinham propósitos práticos e se destina-
vam, deliberadamente, à preparação pré-profissional ou profissio-
nal, considerando-se a continuação da cultura geral somente aconse-
lhável, senão devida, para a chamada elite, que mais não era do que
as classes abastadas ou semi-abastadas, que poderiam suportar o
ônus de prolongar a educação dos filhos além dos anos mínimos da
escola primária, sem imediato propósito prático ou econômico.
Temos, pois, até os começos deste século, a educação popular
primária como necessidade política, nas nações ditas civilizadas, e
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a educação pós-primária como apanágio, nelas, das suas chama-
das elites, ministrada geralmente em escolas privadas, ou como
modesta formação profissional complementar, considerada eco-
nomicamente indispensável, pelo Estado, para certo grupo de alu-
nos, supostamente bem-dotados, das escolas primárias, sem pos-
sível acesso às escolas secundárias, privadas, por falta de recursos.
Ao ingressarem no século XX, essas mesmas nações se viram,
assim, graças ao movimento precedente, com um sistema escolar
que só caberia desenvolver, e ampliar, em face das necessidades novas,
que os novos tempos vinham trazer-lhes. O hábito da escola havia
sido estabelecido, a previsão de recursos para sua manutenção defi-
nitivamente implantada e, o que é mais, as consequências práticas da
educação escolar reconhecidas como muito mais importantes do
que as previstas, antes, de simples obra humanitária de esclarecimen-
to. O desenvolvimento de técnicas industriais de trabalho viera tor-
nar a escola indispensável como instrumento de eficiência econômi-
ca, e não apenas política, por mais importante que esta pudesse ser.
As reivindicações populares em educação, quanto aos países a
que nos referimos, se fizeram sentir, no sentido de estender a edu-
cação comum a maior número de anos e de alargar as oportuni-
dades das classes de menores recursos, dando-lhes ingresso possí-
vel a todos os tipos de escolas existentes, por isto que a educação
deixou de ser uma necessidade espiritual ou de luzes, para se fazer
uma condição sine qua non da vida econômica e de trabalho da
civilização industrial e moderna, a que tais países haviam chegado.
O mesmo tipo de civilização, que encaramos, por outro lado,
veio impor modificações na escola em si mesma, à luz dos novos
característicos do trabalho moderno, em período de progresso
econômico e social já agora muito mais acelerado.
Foi isso, ao que nos parece, o que ocorreu com os países desen-
volvidos. Já nos países subdesenvolvidos, como é, de modo geral, o
nosso caso, a evolução das necessidades sociais foi, até certo ponto,
a mesma, mas sem o acompanhamento da evolução do sistema
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escolar, que se encontra ainda num simples esboço. Decorre daí que
entramos em confusão e contradição, porque atingimos a consciên-
cia de necessidades equivalentes às dos povos mais desenvolvidos
em nossa época, mas, desaparelhados de verdadeiras escolas, estamos
a querer implantá-las com a filosofia de épocas anteriores.
A educação popular até o século XIX era, como já dissemos,
mais uma necessidade espiritual, humanitária, digamos assim, do
que econômica e, portanto, podia ser ineficiente e podia se fazer
de qualquer modo, como de qualquer modo se podia fazer a edu-
cação religiosa. Não digo isto em sentido pejorativo. Trata-se da
natureza das coisas. Se se visa em educação apenas à ilustração, à
capacidade de esclarecimento, a uma ampliação da capacidade
normal das pessoas de ver e sentir as coisas, por menos que se
faça, tudo será útil, e, então, o que importa é dar a quantos se possa
um pouco desse bem supremo, indefinido e indefinível. É a isto
que chamo a concepção “mística” da educação, sem dúvida do-
minante em todo ou quase todo século XIX. Escola passa a ser
um bem em si mesmo, como tal sempre boa, seja pouca ou inade-
quado ou mesmo totalmente ineficiente. Algo será sempre apren-
dido e o que for aprendido constituirá um bem.
Tal concepção conserva-se a dominante entre nós, embora já
superada nos países que primeiro a instituíram, pois eles, tendo
desenvolvido suas escolas com semelhante filosofia, já as haviam
transformado no curso da própria evolução escolar, para que elas
pudessem responder pelas novas necessidades de nossa época, isto
é, as de atender o ensino às novas “condições de trabalho e não
apenas ao esclarecimento, ou ilustração, ou emancipação social.
Mas, se conservamos ainda a concepção perempta ou, se quise-
rem, insuficiente, do século XIX, por outro lado, não conservamos
as condições dominantes naquele século, mas temos as mesmas ne-
cessidades dos países desenvolvidos, precisando nos educar para
novas formas de trabalho e não apenas formas novas de compre-
ender o nosso papel social e humano. Mesmo porque – e isto é a
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grande novidade de nosso século – essas formas novas de compre-
ender o nosso papel social e humano, que os povos desenvolvidos
tiveram que aprender laboriosamente pelos hábitos de leitura, os
povos chamados subdesenvolvidos, como o nosso, estão a apren-
der pelos novos processos de comunicação visual e oral que o rádio
e o cinema trouxeram e, muito mais fáceis de difusão do que a
escola, logo se implantaram e generalizaram.
A função propriamente emancipadora de que se fez a escola
popular, no século XIX, a pioneira, está hoje absorvida pelo rádio e
pelo cinema, que prescindem praticamente da capacidade de leitura
dos indivíduos. Bem sabemos que a comercialização desses dois
meios de comunicação vem determinando que sua ação seja não
propriamente “educativa”, no sentido melhor dessa palavra, mas,
muitas vezes, prejudicial. Isso, entretanto, não impede que essa ação
seja “socialmente emancipadora”, criando a oportunidade de parti-
cipação do analfabeto no debate geral e público da Nação, como a
imprensa o fazia, antes, para os que aprendiam a ler na escola.
O analfabetismo, em face disto, já não é a famosa cegueira do
século XIX, mas simplesmente uma inaptidão, grave somente quando
o próprio trabalho, o próprio ganha-pão, exige que seja remediada.
Daí, então, a educação – e quando falo em “educação com-
preenda-se “educação escolar” – precisar de ser tanto num país
subdesenvolvido quanto, hoje, nos países desenvolvidos, eficiente,
adequada e bem distribuída, significando por estes atributos que:
seja eficaz, isto é, ensine o que se proponha a ensinar e ensine bem;
ensine o que o indivíduo precisa aprender, e, mais, seja devida-
mente distribuída, isto é, ensine às pessoas algo suficientemente
diversificado nos seus objetivos para poder cobrir as necessidades
do trabalho diversificado e vário da vida moderna e dar a todos
os educandos mais oportunidades de trabalho.
A educação se faz, assim, necessidade perfeitamente relativa, sem
nenhum caráter de bem absoluto, sendo boa quando eficiente, ade-
quada e devidamente distribuída. Deste jeito, já não nos convém
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qualquer educação dada de qualquer modo. Esta já é a que recebe-
mos em casa e pelo rádio e pelo cinema. A educação escolar tem de
ser uma determinada educação, dada em condições capazes de torná-
la um êxito, e a serviço das necessidades individuais dos alunos em
face das oportunidades do trabalho na sociedade.
A contradição entre estas novas “necessidades educativas” e o
velho conceito místico e absoluto de escola – bem-em-si-mesmo –
é que está a levar o Brasil para sua atual conjuntura educacional, de
diluição e inorganicidade progressiva de suas escolas. Sob o impac-
to, rigorosamente idêntico, senão mais grave que o das nações de-
senvolvidas, da nova consciência social das necessidades educativas
por parte dos indivíduos, ricos ou pobres, estamos a enganá-los, a
uns e outros, com a ampliação puramente aparente das oportunida-
des educativas, multiplicando os turnos das escolas que chegamos a
ter organizadas e que assim ficam desorganizadas, e improvisando
escolas sem as condições imprescindíveis ao seu funcionamento e,
portanto, intrinsecamente desorganizadas. E não só isto, o que já
seria terrível! Também estamos a multiplicar escolas do mesmo tipo,
sem levar em conta aquela distribuição educacional de que já fala-
mos, importando isso em educar número excessivo de pessoas na
mesma coisa, com o que criaremos outro mal educacional. A relati-
vidade do novo conceito educacional ensiná-nos, com efeito, não só
que a educação deve ser eficiente para ser boa, como que deve ser
adequada ao indivíduo e adequada às necessidades do trabalho, sem
o que, longe de resolver, agrava o problema que se propõe a resol-
ver, isto é, o preparo diversificado dos indivíduos e distribuição
adequada pelos diferentes setores do esforço econômico nacional.
Mas não é somente essa a contradição profunda do movi-
mento educacional brasileiro. Outra contradição, um tanto mais
sutil, permeia-lhe o descaminho.
Vimos que, no século XIX, a educação escolar assumira dois
nítidos aspectos, o de educação popular mínima para todos e de
educação pós-primária para alguns. E os alguns, salvo os das poucas
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escolas públicas e gratuitas deste nível, eram os das classes abastadas
e semi-abastadas, que aí recebiam uma educação que sua “classe”
reputava boa e satisfatória. Por este fato, os indivíduos das classes
não favorecidas foram levados a julgar que a educação de nível
secundário os levaria automaticamente a participar das condições
daquelas classes. E a reivindicação popular se vem orientando no
sentido de se dar acesso a todos às escolas de nível médio e superior.
Entre os países civilizados, entretanto, assim que as escolas de
nível médio e superior deixaram de ser escolas de “classe” para se
tornarem escolas acessíveis a todos, logo se transformaram e pas-
saram a obedecer a filosofia educacional totalmente diversa. Antes
de tudo, diversificaram-se em currículos e métodos, no nível mé-
dio, a fim de atender à imensa variedade de capacidade e aptidões,
e no nível superior se fizeram técnicas e especializadas para a for-
mação, segundo as aptidões, dos quadros técnicos e científicos de
que necessitavam aqueles países. A antiga educação clássica, unifor-
me e literária, se fez residual e para os ricos que a desejassem, ou os
poucos pobres altamente dotados, que dela pudessem viver. Sen-
do tipicamente uma educação para os que já tinham com que vi-
ver, tal educação só poderia servir aos pobres quando estes fos-
sem tão excepcionais, que pudessem usar a educação clássica não
para seu próprio deleite, mas para ganhar a vida. Ora, sabemos
como são poucos os que a podem ganhar com o latim e o grego
da educação clássica...
O mesmo não aconteceu, porém, nos países não desenvolvi-
dos. Aqui estamos a receber em um ensino secundário de tipo
intelectualista – pois não me atrevo a chamá-lo de clássico nem
humanístico – uma tal massa de alunos, que, mesmo quando fos-
sem bem educados, não poderia ser absorvida pela Nação com
tão uniforme formação. E no ensino superior estamos a fazer o
mesmo com escolas de pseudoformação especializada e de in-
compreensível uniformidade de currículos, a despeito do aumen-
to considerável de matrícula. Amplas camadas populares já estão
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entre nós a buscar o Ensino Médio e Superior na suposição de
conquistarem, por este modo, e automaticamente, as classes mais
altas e, como conservamos as escolas no seu mesmo caráter ante-
rior de escolas de “classe”, vamos mantendo o conceito, já supe-
rado entre os países desenvolvidos, isto é, o de que a educação
escolar é um processo de formação para as classes de lazer ou de
trabalhos leves e, consequentemente, de “passagem” de classe para
os menos favorecidos que a conseguirem frequentar.
A escola é hoje, deve ser, sem dúvida, um processo de
redistribuição dos indivíduos segundo suas aptidões, pelos dife-
rentes escalões do trabalho moderno; mas não há nenhuma escola
e, muito menos, nenhuma escola uniforme e única, pela qual se
possa passar de uma “classe” para outra. O próprio conceito de
escola de “classe” desapareceu para se passar a considerar todo o
sistema escolar como um sistema contínuo, pelo qual todos se
educam até o nível primário e daí, por seleção de capacidade de
aptidões, alguns ou muitos prosseguem no nível médio e superior,
em escolas tão variadas e flexíveis quanto possível, para atender à
variedade de aptidões dos candidatos à educação, sem distinção
de classe nem de situação econômica.
A educação limitadamente humanística dada na velha escola de
elite não só não se presta para toda essa nova população escolar,
como lhe pode ser prejudicial.
Estamos, assim, nestes meados do século XX, inspirando a
nossa expansão educacional com os conceitos de educação bem-
em-si-mesmo e educação para lazer, há um século pode-se dizer
superados, e daí a contradição perigosa da conjuntura atual, em
que a própria educação escolar, longe de resolver o problema que
se propõe, está a criar um novo problema – o dela própria.
Diante de tal conjuntura, cumpre-nos, antes de tudo, se tem
qualquer valor a nossa análise, uma campanha de esclarecimento,
destinada a desfazer os dois conceitos errôneos, que, ao nosso ver,
dominam a mentalidade contemporânea e inspiram na realidade
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prática, a política educacional brasileira: a) a concepção mística, ou
mágica da escola, pela qual toda e qualquer educação tem valor
absoluto e, por conseguinte, é útil e deve ser encorajada por todos
os modos; b) a concepção de educação escolar como um proces-
so de passar ao nível da classe média e ao exercício de ocupações
leves ou de serviço, e não de produção. O esclarecimento impõe-
se e urge porque essas duas concepções explicam, entre muitos
outros, os seguintes “absurdos” de nossa realidade educacional:
a progressiva simplificação do ensino primário, com a redução de
horários para alunos e professores e a tolerância cada vez maior ao
exercício de outras ocupações pelos mestres primários;
a redução do currículo da escola primária a um corpo de noções e
conhecimentos rudimentares, absorvidos pela memorização e a
elementaríssima técnica da leitura e escrita;
a situação incerta e imprecisa da nossa formação do magistério pri-
mário, na qual se revela uma compreensão vaga e insegura da escola
primária; o que, por sua vez, gera ate tolerância generalizada pelo
professor leigo, reputado, às vezes, melhor que o diplomado;
a improvisação crescente de escolas primárias sem condições adequadas
de funcionamento e sem assistência administrativa ou técnica;
a perda crescente de “importância social” da escola primária, em vir-
tude de não concorrer especialmente para a “classificação” social dos
seus alunos;
a substituição das suas últimas séries pelo “curso de admissão” ao
ginásio, buscado como processo mais apto àquela desejada
“reclassificação social”;
a procura crescente do curso secundário, a despeito da ineficiência dos
seus estudos, dos horários muito reduzidos e de professores im-
provisados ou sobrecarregados em virtude das expectativas que gera
de determinar a passagem para as ocupações de tipo classe média;
a improvisação crescente de escolas superiores, sobretudo aquelas
em que a ausência de técnicas específicas permite a simulação do
ensino, ou o ensino simplesmente expositivo, como as de econo-
mia, direito e filosofia e letras; a audácia desse movimento vai ga-
nhando terreno até mesmo no campo da medicina, em que é mais
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alta e melhor a nossa tradição acadêmica, e onde já se notam as
improvisações perigosas;
a complacência por campanhas educativas mais sentimentais do que
eficientes, no campo da educação de adultos, da educação rural e do
chamado bem-estar social;
a ausência de planejamento econômico e financeiro e a insinuação,
implícita, de que se pode fazer educação sem dinheiro, surgindo,
então, as campanhas de educandários gratuitos e a ideia ainda mais
generalizada de que toda a educação pode ser gratuita, para quem
quiser, do nível primário ao superior, sejam quais forem os recursos
fiscais e em que pese a deficiência per capita da nossa “riqueza nacio-
nal”, das mais pobres do mundo;
irritação social crescente contra o “custo da educação”, contra o “cus-
to de livros”, contra as despesas no período escolar, como se tudo
isto fosse simples atividade espiritual que nada deveria custar;
perfeita tolerância ao fato de “estudar e trabalhar”, com redução
crescente das atividades de estudo, pois estas, ao que parece, não
podemocupar” o tempo do estudante, que tem coisas mais
importantes a fazer;
Poderíamos continuar a alinhar outros fatos, ou desdobrar os
apresentados em outros tantos, como, por exemplo, os relativos
ao currículo secundário, reconhecidamente absurdo pela impossi-
bilidade de ensinar todas aquelas matérias, mesmo com professo-
res ótimos, no tempo concedido, mas ainda assim tranquilamente
aceito em sua ineficiência, porque a educação sempre foi isto, uma
espécie de atirar-no-que-viu-e-matar-o-que-não-viu, não se con-
cebendo que haja exigência de tempo, espaço, equipamento, traba-
lho e dinheiro acima de um minimum minimorum, que torne a educa-
ção sempre possível e para toda a gente. Somente a concepção de
educação como uma atividade de caráter vago e misterioso é que
poderia levar-nos a aceitar essa total inadequação entre meios e
fins na escola e a isto é que chamo a concepção mágica da educação,
que me parece a dominante em nosso meio, como pressuposto
inconsciente e base da nossa política educacional.
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Não desconheço – e já o salientei – que essa concepção, em
diferentes graus de intensidade, permeou muito da situação edu-
cacional do século XIX, mesmo nos países civilizados. Qual, as-
sim, a gravidade de tal fé em educação? Não é este um estado de
sentimento e de crença altamente interessante e capaz de dar ao
movimento educativo brasileiro seu impulso dinâmico e continu-
ado? Começa-se assim e, depois, de aprende e se faz cada vez
melhor, descobrindo-se e redescobrindo-se o processo lógico da
atividade puramente espontânea e imprecisa. Assim foi em todos
os países e assim também será no nosso...
Ocorre, porém, que, ao contrário dos demais países, o Brasil
oficializou e legalizou esse processo de ilusionismo ou, se quise-
rem, de magia educacional, cristalizando-o, assim, em um sistema
institucionalizado, sancionado e cheio das mais interessantes
consequências individuais e sociais. Longe de um começo que evo-
luiria, ele se tornou um fim e sua tendência é para se perpetuar e,
mais, se agravar, pois dia a dia tomamos maior audácia para gene-
ralizar os nossos passes de magia ou fregolismo educacional.
E eis porque a posição brasileira é tão grave e perigosa. Não
podemos modificar por ato de força a mentalidade popular bra-
sileira em educação, como não podemos modificar a crença de
muitos no uso, por exemplo, da prece para chover; mas já chega-
mos àquele estágio social em que não legislamos sobre a obrigação
de preces públicas contra flagelos climáticos.
Em educação há que fazer o mesmo. Toda essa educação de
caráter mágico pode ser permitida, pode ser deixada livre; mas não
deve ser sancionada com consequências legais. Esse é o primeiro
passo para dar a essas tentativas seu caráter de tentativas, o aspecto
dinâmico pelo qual elas poderão vir a progredir até o estágio lógico
ou científico da educação, em que meios adequados produzirão fins
desejados e a escola poderá entrar no processo de evolução caracte-
rístico de todas as atividades humanas em nossa época.
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A escola primária, entre nós, encontra-se, aliás, nessa situação.
Não se dá ao seu diploma nenhum valor especial e, por tal motivo,
chegou ela a ser progressiva. Se, hoje, está perdendo esse caráter, é
que as escolas de nível secundário não obedecem ao mesmo regime
e, tendo como alto prêmio seu diploma, estão atraindo os alunos
antes de terminarem eles o curso primário, que assim se separa e se
desvaloriza socialmente.
É indispensável que a escola secundária tenha a mesma finali-
dade geral educativa que possui a escola primária, sem outro fim
senão o dela própria. Só assim, como a escola primária, ela será,
quando tentativa, uma tentativa com as vantagens e incertezas de
uma tentativa e, quando organizada e eficiente, uma escola real-
mente organizada e eficiente, dando os frutos de sua eficácia.
Então, sim, a mentalidade mágica em educação ganhará con-
dições para evolver para a mentalidade empírica e daí para a men-
talidade lógica ou científica; então, e por conseguinte, a instituição
ganhará efetivamente sua dinâmica de transformação e progresso.
Como, porém, conciliar esse regime de liberdade de tentar e
experimentar com as consequências legais da educação, numa so-
ciedade em que, dia a dia, se precisa de mais conhecimento para o
exercício das ocupações e profissões?
Não serei eu quem vá inventar um dispositivo para solver uma
conjuntura, que, como já disse, foi também, a seu tempo, a das
nações chamadas desenvolvidas ou civilizadas. Temos é que ver
como saíram elas de situações semelhantes à nossa de agora.
Ora, a lição que essas nações nos ministram é a de que não se
pode corrigir a conjuntura senão por um processo de exames pa-
ralelos ao processo escolar, e organizado e dirigido por autorida-
des estranhas à escola ou autoridades de escolas de nível acima da
escola examinada.
Tal processo paralelo pode evolver até um sistema de classifi-
cação de escolas, em substituição ao de exames formais, com acei-
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tação dos diplomas pelo mérito implícito na classificação; mas
será sempre um processo paralelo e independente, pelo qual se
julguem as escolas.
Esse regime é a consequência lógica das condições diversas e
variadas em que a escola surgiu ou tinha que surgir, ante a solicita-
ção social da comunidade. Ou ali implantaríamos, imediatamente,
uma escola perfeita – que é, obviamente, impossível-, ou permiti-
mos uma livre “tentativa” de escola e sujeitamo-la à verificação a
posteriori, por um sistema, a princípio, de exames e, depois, caso se
processe a necessária evolução, de “classificação” das escolas pelo
seu mérito e eficiência.
A solução nada tem de drástica e não falta, na própria conjun-
tura brasileira, bem analisada, elementos que a aconselhem e até a
solicitem, a despeito das generalizadas e superadas concepções de
educação-milagre e educação-diploma-de-classificação-social.
Os exames do “Artigo 91” e os exames vestibulares ou de
introdução ao ensino superior são germes desse regime de exa-
mes para julgamento a posteriori do resultado da escola de nível
inferior. O exame de admissão ao ensino secundário é um germe
de julgamento a posteriori da escola primária.
Os defeitos ou ineficácia, em alguns casos, de tais exames, são
perfeitamente explicáveis. Nos exames de admissão ao secundário,
o vício congênito está na autorização indiscriminada da sua elabora-
ção e julgamento pelos próprios interessados nos estabelecimentos
em que ingressam os alunos contribuintes. Ora, tais exames, depois
de devidamente elaborados, podiam ser processados nos estabele-
cimentos de ensino pelos seus próprios professores, mas apenas
quando o estabelecimento, pelo seu crédito, fosse procurado por
número de candidatos superior ao da matrícula possível e, em face
disto, não lhe fosse prejudicial o caráter seletivo do exame. E nos
exames vestibulares, para melhorá-los, bastaria que somente pudes-
sem ser eles processados nos estabelecimentos oficiais. Se, além dis-
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to, viessem a ser elaborados com melhor técnica e visassem a apurar
antes o que os candidatos sabem, do que o que não sabem, a melho-
ra seria ainda mais significativa. Não se pode é negar a relativa serie-
dade com que são feitos nas escolas oficiais e mesmo em algumas
escolas particulares. Também os exames do “Artigo 91”; depois que
passaram a ser feitos nos melhores colégios oficiais, têm apresen-
tado resultados mais interessantes.
Há, pois, já um princípio de regime de exames paralelos e
independentes da escola em julgamento e que, se generalizado e
aperfeiçoado, pode transformar-se no mecanismo legal pelo qual
se ajuste a mentalidade popular do país, em educação, à situação
do desenvolvimento progressivo a que a devemos conduzir.
Dentro de um ambiente assim, de liberdade e estímulo à mu-
dança, que tipo de escola devemos esperar ver formar-se, pelo
desenvolvimento de todas as tentativas e ensaios de escolas, em
condições as mais diversas, espalhadas por todo o país?
Devemos esperar que a mentalidade da Nação, sob impacto
das mudanças sociais e da extrema difusão de conhecimentos da
vida moderna, venha, gradualmente, a substituir seus conceitos edu-
cacionais, ainda difusos e místicos, pelos novos conceitos técnicos
e científicos, e a apoiar uma reconstrução escolar, por meio da
qual se estabeleça para os brasileiros a oportunidade de uma edu-
cação contínua e flexível, visando prepará-los para a participação
na democracia, ideal político herdado do século XIX, e também
para a participação nas formas novas de trabalho de uma socie-
dade economicamente estruturada, industrializada e progressiva.
Essa educação, nas primeiras cinco séries, comum e obrigatória
para todos, prosseguirá em novos graus, no nível médio, para os
mais capazes e segundo suas aptidões, visando, como a de nível
primário, sua preparação para o trabalho nas suas múltiplas modali-
dades, inclusive a do trabalho intelectual, mas não somente para este.
A continuidade da escola – em seus diferentes níveis – vai
emprestar-lhe o caráter de escola para todos, sem propósito de
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classificação social, dando a cada um o de que ele mais necessitar e
segundo sua capacidade, com o que melhor se distribuirá e se
redistribuirá a população pelas diferentes variedades e escalões de
trabalho econômico e social, de acordo com as necessidades reais
do país em geral e de suas regiões em particular.
Esse sistema de educação popular, abrangendo de 11 a 12
séries, ou graus, permitirá, quando completo ou integralmente or-
ganizado, que o aluno se candidate, após a última série ou grau, ao
ensino superior pelo regime de concurso, mas não visa seu curso
ao preparo para esse exame, pois terá finalidade própria, signifi-
cando, nos termos mais amplos, a “educação da criança”, na escola
primária, e a “educação do adolescente”, na escola média, para o
tipo e as necessidades da sociedade em que participam e vivem.
O que será essa educação não será a lei que o vai dizer, mas a
evolução natural do conhecimento dos brasileiros relativamente à
criança e ao adolescente, de um lado, e de outro, da civilização mo-
derna e industrial em que a escola vai iniciar as crianças e, depois, os
jovens brasileiros. Essa escola mudará e transformar-se-á como muda
e se transforma toda atividade humana baseada no conhecimento e
no saber. Progrediremos em educação, como progredimos em agri-
cultura, em indústria, em medicina, em direito, em engenharia – pelo
desenvolvimento do saber e dos profissionais que o cultivam e o
aplicam, entre os quais se colocam e muito alto os professores de
todos os níveis e ramos.
Aceitos que fossem tais princípios gerais ou – por que não
dizê-lo? – a filosofia de educação neles implícita, restaria prover a
máquina administrativa para gerir o sistema de liberdade e pro-
gresso que à base deles se instituiria. Nesta máquina, o importante
será a articulação entre a consciência leiga do país, que define
suas aspirações educacionais, e a consciência profissional, que lhe
indica o processo para atingi-las e sugerir as revisões necessárias
das próprias aspirações gerais, naturalmente difusas, embora vi-
gorosas e sinceras.
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Permitam-me que reproduza aqui as sugestões que apresentei
alhures para a organização administrativa do sistema escolar brasi-
leiro, dentro da fundamentação que venho apresentando.
A organização da educação no Brasil está a exigir uma revisão corajosa
dos meios até agora ensaiados para sua implantação. Nenhuma siste-
matização rígida lhe pode ser aplicada, em virtude das proporções da
tarefa e das condições profundamente desiguais a que necessariamente
está sujeita sua execução, para ser realidade e ter eficiência, com
progressividade tanto quanto possível assegurada.
Cumpre criar um mecanismo simples e dinâmico, capaz de se adap-
tar às contingências mais diversas e de trabalhar com os recursos mais
desiguais; por isto e para isto, dotado de força própria, de autonomia
e de responsabilidade, a fim de se desenvolver indefinidamente. E é
o que se conseguirá e só se conseguirá entregando às comunidades a
responsabilidade pela educação. Em vez das centralizações, sejam
federal ou estaduais, a educação passa a ser, primordialmente, de
responsabilidade local.
Dir-se-á que as tradições dos nossos governos locais, entretanto, não
são de ordem a nos animar nessa transferência. Dominados pela
burocracia, embora de recente incremento, e pelo eleitoralismo, seria
lícito admitir que não fosse grande a vantagem alcançada. Algo mais
ter-se-ia de fazer para dar à transposição de responsabilidade sua
força estimuladora e criadora.
Sugeriríamos, assim, a criação de pequenos Conselhos Escolares lo-
cais, constituídos por homens e mulheres de espírito público, e não
propriamente partidário, dos munícipes.
Tais conselhos iriam administrar um Fundo Escolar municipal – ou-
tra sugestão de não menor alcance –, a ser instituído com os recursos
provenientes dos 20% da receita tributária do município constituci-
onalmente determinados, e com os auxílios estaduais e federal para
a educação, decorrentes por seu turno das correspondentes porcenta-
gens constitucionais de aplicação exclusiva. Dotados de poder finan-
ceiro e governamental, seriam tão importantes e tão desejados quan-
to o poder municipal (prefeito e Câmara) enriquecendo a comuna
com um novo órgão representativo, singelo e fecundo, para expres-
são das aspirações locais. Os conselhos nomeariam o administrador
local da educação e os professores, exercendo deste modo verdadeiro
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poder de governo e tomando sobre os ombros toda a responsabi-
lidade da educação local.
Na pluralidade de poderes locais, assim instituída, onde estaria a
força de controle e unificação indispensável ao mínimo de coesão e
unidade da educação nacional?
Tal força de controle e unificação competiria ao Estado, que a exerce-
ria por intermédio de um Conselho semelhante aos conselhos locais e
um Departamento de Educação. O poder supremo desse estadual
seria o de regulamentar o exercício da profissão do magistério, o de
distribuir os auxílios estaduais para a educação e o de manter seu
sistema próprio de escolas, isto é, as de formação do magistério e as
de nível superior.
Mediante a regulamentação do exercício da profissão de magistério, o
Estado daria a todas as escolas aquele mínimo de unidade essencial ao
êxito do sistema escolar. Somente o Estado poderia conceder licença
para o exercício do magistério. Como lhe caberia licenciar, também lhe
caberia regulamentar o preparo do magistério. Com o poder, assim, de
formar o professor e de lhe conceder, provisória ou permanente, a
licença para o exercício do magistério, estaria o Estado armado não
somente para impedir qualquer extravagância ou excesso local, como
para orientar e estimular o poder local a fim de lhe ser possível o mais
perfeito desempenho de suas funções de administrador responsável
das escolas.
Poderá julgar demasiado radical essa sugestão.
Vejo-lhe, entretanto, tal força renovadora, sinto-a tão criadora de
estímulos novos e novas energias, descubro-lhe tamanhas
virtualidades, que não me parece haver nenhum perigo em sua im-
plantação imediata. Será a imediata multiplicação de autonomias e
responsabilidades estimulantes e estimuladas, capaz de promover a
mudança de clima necessária, indispensável à efetiva reconstrução
educacional brasileira.
Poder-se-ia, contudo, graduar a execução, concedendo-se a autono-
mia somente aos municípios mais adiantadas e condicionando-se a
extensão da medida renovadora ao fato de alcançarem as rendas lo-
cais um mínimo orçamentário capaz de dotar o conselho escolar do
suficiente para a manutenção de certo número de classes primárias.
Desde que fosse temporária essa limitação, poder-se-ia admitir essa
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prudência, que, entretanto, apenas conservaria o Estado com a res-
ponsabilidade por escolas de que dificilmente se poderá fazer o me-
lhor administrador.
Sou por isto mesmo favorável à implantação generalizada do novo
sistema, ficando ao Estado a responsabilidade pela formação do
magistério em todos os graus e seu respectivo licenciamento, pela
supervisão e inspeção dos sistemas locais de educação e pela distri-
buição equitativa dos recursos estaduais pelos sistemas municipais
de educação.
_____
Constituídos os órgãos de administração das escolas e dotados
os mesmos dos recursos oriundos das porcentagens constitucionais
para a educação, quais seriam as regras fundamentais para sua ação e
desempenho de suas atribuições?
1) A constituição dos Conselhos – tudo aconselha que sejam peque-
nos – de seis a nove membros – e gratuitos. O primeiro em cada
município seria nomeado pelo prefeito, com aprovação pela Câmara
dos Vereadores e mandatos de seis anos, renováveis, pelo terço, de
dois em dois anos. Deste modo, os primeiros conselheiros deveri-
am ser nomeados para dois, quatro e seis anos de exercício. Daí por
diante, o próprio conselho constituiria as listas tríplices dos nomes,
entre os quais o prefeito deveria escolher os novos conselheiros.
2) A administração do Fundo de Educação – Constituído pela per-
centagem constitucional da receita tributária municipal e pelos auxíli-
os dos governos estadual e federal, e outros recursos, o Fundo será
administrado pelo Conselho, que nisto terá de obedecer a certas re-
gras básicas, dentre as quais convém ressaltar as seguintes:
- No custeio do serviço de educação não poderá ser despendida
importância superior a 80% dos recursos anuais do Fundo, ficando
20% reservados compulsoriamente para as construções do sistema
escolar, por meio de aplicação direta ou de empréstimos a serem
custeados por essa porcentagem.
- Dessa verba de custeio, somente 60% poderão ser gastos com
pessoal, não podendo o gasto com pessoal administrativo exceder
de 5% do total do gasto com pessoal.
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- Para critério de salários e despesas outras de custeio, inclusive mate-
rial, proceder-se-á do seguinte modo: Dividir-se-á o montante reser-
vado ao custeio pelo número de crianças a educar. Esse número
compreenderá as crianças em idade escolar que não recebem educação
em casa ou em escolas particulares e que residam em área de suficiente
concentração demográfica para poderem frequentar escolas. O quoci-
ente obtido irá constituir o limite do que poderá ser gasto com cada
criança, de modo que, somadas todas as despesas, o custeio de uma
classe corresponda ao resultado da multiplicação daquele quociente
pelo número de alunos matriculados e frequentes. O salário do pro-
fessor, o custo da conservação do prédio ou do aluguel, o material
didático e os salários dos vigias ou serventes deverão corresponder
àquele total, que é o limite do que poderá ser gasto por classe.
Pode-se logo ver que haverá extrema diversidade de níveis materiais
de educação, mas o importante do princípio é a preeminência da
criança e do seu número sobre todos os demais elementos da escola.
Primeiro, há que dar educação a todos e depois é que surgirão os
problemas de salários e de níveis materiais de educação.
- O Conselho Escolar Municipal não poderá nomear professores ou
quaisquer autoridades educacionais sem licença para o magistério ou
certificado de habilitação, e um e outro só poderão ser expedidos
pelo Conselho Estadual de Educação. Será por esse meio que se
assegurará a unidade da educação e sua qualidade.
A licença para exercer o magistério deveria ser temporária, por dois,
três e cinco anos e renovável, podendo sempre serem exigidas novas
provas para essa renovação. Por tal meio, o professorado estará em
constante aperfeiçoamento e jamais constituirá obstáculo ao pro-
gresso do ensino.
- O não cumprimento de qualquer dos princípios acima menciona-
dos determinará a imediata intervenção do Conselho Estadual de
Educação, que avocará a si a administração do sistema local de es-
colas. A organização do Conselho Estadual de Educação e do seu
órgão executivo – Departamento de Educação – obedecerá às nor-
mas constantes do projeto elaborado para o estado da Bahia. (Vide:
“Projeto de Lei Orgânica do Ensino da Bahia”, publicado na Seção
de Documentação da Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. 20, n.
51, jul./set. 1953).
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Como se vê, o estado, pelo seu Conselho e Departamento de
Educação, mantém o sistema de escolas normais e escolas de de-
monstração dos demais níveis e exerce o poder de supervisão e assis-
tência técnica e financeira aos múltiplos sistemas locais de educação.
O governo federal exercerá atividades semelhantes à do esta-
do e ainda em nível mais alto. Também aí um conselho será seu
órgão supremo, competindo-lhe organizar um departamento de
educação para exercer a assistência técnica e financeira aos estados,
os quais, por sua vez, as estenderão aos municípios.
Este será o aparelho administrativo da educação. Seu funciona-
mento técnico dependerá do preparo que se puder dar ao profes-
sor e dos quadros especializados que se organizarem para assisti-lo.
O ensino particular será livre, sujeitos seus alunos ao exame de
estado, para a validez dos seus resultados.
Encaminhada, assim, a escola brasileira para sua reconstrução
gradual e progressiva, pela revisão dos pressupostos em que ainda
hoje se baseia, a ser obtida pela fertilização mútua das ideias leigas e
das profissionais e técnicas, das tradições conservadoras e das mo-
dernas necessidades, por atender, no jogo de forças entre o conse-
lho e o executivo técnico, em cada municipalidade, criados os ór-
gãos complementares de sua direção e desenvolvimento, nos es-
tados e na União, todos articulados e harmônicos entre si, mas per-
feitamente descentralizados, há toda razão de esperar que se resolva
o impasse de contradições educacionais em que se debate a Nação e
que procuramos aqui, mais uma vez, focalizar, em breve análise.
A maior contradição a meu ver consiste em que, na medida
do amadurecimento da consciência nacional para as necessidades
educativas, nessa medida se agrava a situação educacional, pelas
facilidades e simulações com que estamos ludibriando aspirações
cada vez mais vigorosas e conscientes, pode-se dizer que de todo
o povo brasileiro.
Essa consciência e esse vigor deviam ser postos à prova por
meio de um regime de realismo e de verdade nas escolas, a fim de
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retirarmos daquela consciência e daquele vigor as energias necessá-
rias aos esforços, sacrifícios e dispêndios indispensáveis ao êxito e
ao desenvolvimento da escola. Em vez disto, um regime de for-
malidades e aparências vem iludindo o povo, dando-lhe a impres-
são de que suas escolas, como cogumelos, podem cobrir o País de
um momento para outro e surgir logo – prontas e acabadas –
dessa cabeça de Minerva que vem sendo a cabeça “concessionária e
equiparadora” do governo federal. As energias quebram-se, assim,
ante tais facilidades, e o que podia dar nascimento a um vigoroso e
rigoroso movimento educacional vem gerando a degradação cres-
cente de nosso sistema escolar.
Acredito – e o afirmo repetindo – que essa máxima contradi-
ção venha a se desfazer com o regime de liberdade e de verdade
que se estabelecerá pelo plano sugerido. As escolas criadas nas con-
dições do possível passariam, de início, apenas a aspirar competir,
entre si, para a formação dos seus alunos, que seriam julgados pe-
rante examinadores especiais ou de escolas de outro nível. Pouco a
pouco tais exames iriam permitir classificar as escolas, pelo grau de
eficiência atingido, e dar-lhes autonomia para o próprio julgamento
e avaliação dos seus alunos.
A liberdade de ensino e o julgamento de sua eficácia por orga-
nismos independentes não deviam ficar somente nisso. O próprio
ensino superior não poderia ou não deveria dar o direito ao exercí-
cio profissional. Diplomados os brasileiros, mesmo em escolas su-
periores, deveriam passar por um regime de exames perante os
órgãos de direção das respectivas profissões, para conquistar o di-
reito final de exercício da profissão – como a concursos já se sub-
metem para ingresso nos cargos públicos correspondentes aos seus
diplomas, que, entretanto, para isso não são julgados bastantes.
No momento em que o país impõe, por todos os modos a
ampliação de oportunidades educativas, o meio único que vejo
de não coartar justos anseios, mas de impedir suas perigosas
consequências – é este de restaurar a liberdade de iniciativa edu-
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cacional, mas ao invés de lhes dar qualquer privilégio ou direito,
submetê-las ao teste eficaz do julgamento a posteriori dos alunos
e, ainda depois disto, não lhes dar o direito ao exercício profissional
senão depois de um segundo e novo julgamento pelos seus pares,
nos órgãos de classe.
Liberdade e responsabilidade em vez de regulamentação e
privilégio é a minha sugestão para a conjuntura educacional em
que nos debatemos.
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1900 - Nasce na cidade baiana de Caetité, a 12 de julho de 1900, filho de
Deocleciano Pires Teixeira e Ana Spínola Teixeira.
1907 - Inicia os estudos primários com os jesuítas no Colégio São Luiz.
1914 - Ingressa no Colégio Antônio Vieira, em Salvador, onde fez o curso
secundário.
1922 - Torna-se Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de
Direito da Universidade do Rio de Janeiro.
1924 - É nomeado, a 9 de abril, Inspetor Geral de Ensino da Secretaria do
Interior, Justiça e Instrução Pública da Bahia.
1925 - A Inspetoria Geral de Ensino transforma-se em Diretoria Geral de Instru-
ção. Acompanha D. Augusto Álvaro da Silva em viagem à Europa e tem
a oportunidade de observar seus sistemas escolares.
1926 - Inaugura a Escola Normal de Caetité.
1927 - Realiza a primeira viagem aos EUA, em abril, comissionado por lei, para
estudos de organização escolar.
1928 - Publica Aspectos americanos de educação: relatório sobre suas observações na
América do Norte. Volta aos EUA para um curso de dez meses no Teacher’s
College da Columbia University, de New York.
1929 - Exonera-se do cargo de Diretor Geral de Instrução da Bahia. Publica pelas
Edições Melhoramentos Vida e educação, o livro de John Dewey, tendo
como prefácio o estudo de sua autoria “A pedagogia de Dewey: esboço da
Teoria da Educação de John Dewey”. Gradua-se como Master of Arts,
especializado em Educação pelo Teacher’s College da Columbia University.
1931 - É nomeado membro da Comissão do então Ministério da Educação e
Saúde Pública, encarregada dos estudos relativos à reorganização do en-
sino secundário no país.
33
Esta cronologia está baseada na que foi apresentada pela Revista Brasileira de Estudos
Pedagógicos, v. 55, n. 121, jan./mar. de 1971, pp. 105-109. Foram feitos pequenos
acréscimos e alterações.
CRONOLOGIA
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1932 - Publica Educação progressiva, pela Companhia Editora Nacional, São Paulo.
Assume a cátedra de Filosofia da Educação no Instituto de Educação do
Rio de Janeiro e, mais tarde, na Escola de Educação da UDF, na qual
permanece até o momento de sua saída da Diretoria da Instrução Pública.
Assina o Manifesto dos pioneiros da educação nova, ao lado de outros intelectuais
educadores. Casa-se a 7 de maio com dona Emília Telles Ferreira.
1934 - Publica Em marcha para a democracia: à margem dos Estados Unidos e
Educação progressiva: uma introdução à filosofia da educação, pela Editora
Guanabara, Rio de Janeiro.
1935 - Exerce o cargo de reitor da Universidade do Distrito Federal durante a
ausência deste até provimento do cargo de Vice-Reitor. É nomeado se-
cretário de Educação e Cultura do Distrito Federal. Em 1º de dezembro
pede demissão do cargo por motivos políticos.
1937 - Nasce sua primeira filha, Marta Maria. Com a chegada do Estado Novo,
é banido da vida pública e recolhe-se no interior da Bahia.
1939 - Nasce sua segunda filha, Ana Cristina. Muda-se para Salvador e, junto
com os irmãos Jaime e Nélson, gerencia a Sociedade Importadora e Ex-
portadora (Simel), empresa de exportação de minérios e importadora de
locomotivas e material ferroviário.
1941 - Nasce seu terceiro filho, Carlos Antonio.
1943 - Nasce seu quarto filho, José Maurício.
1946 - É convidado por Julian Huxley para Conselheiro de Educação da Orga-
nização Educacional Científica da ONU, sediada em Londres. Exerce a
função de Conselheiro para o ensino superior da Unesco (1946-1947).
1947 - Convidado pelo governador Otávio Mangabeira, exerce o cargo de secre-
tário de Educação e Saúde do Estado da Bahia (1947-1951).
1951 - Torna-se Secretário Geral da Campanha de Aperfeiçoamento do Pessoal
de Ensino Superior (Capes), a convite do ministro Ernesto Simões Filho,
permanece no cargo de 1951 a 1964.
1952 - Integra a Diretoria do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (Inep),
entre 1952 e 1964. Publica A educação e a crise brasileira.
1954 - Publica A universidade e a liberdade humana, pelo Serviço de Documentação do
Ministério da Educação e Cultura, Rio de Janeiro.
1955 - Profere aula inaugural na Universidade do Rio Grande do Sul: “O espírito
científico e o mundo atual”.
1956 - Publica A educação e a crise brasileira, pela Cia. Editora Nacional, Rio de
Janeiro. Comparece ao Primeiro Congresso Estadual de Educação Primária
em Ribeirão Preto, onde pronuncia conferência “A escola pública, univer-
sal e gratuita”. Comparece à 1ª Conferência Internacional de Pesquisa Edu-
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cacional, realizada em fevereiro nos EUA, por iniciativa da Unesco, onde
apresenta um informe sobre o CBPE.
1957 - Inaugura o Centro Regional de Pesquisas Educacionais do Recife. Publica
Educação não é privilégio e se vê envolvido numa luta sem tréguas contra as
autoridades eclesiásticas católicas.
1958 - É o Presidente de Honra da Sessão de Encerramento do Congresso
Estadual dos Estudantes de São Paulo. Contra ele vem a público o Memorial
dos Bispos Gaúchos. Em apoio ao educador os intelectuais e cientistas
sociais lançam um novo manifesto: Mais uma vez convocados.
1959 - Inaugura-se a Casa do Brasil, na Cidade Universitária de Paris, para cuja
construção e funcionamento contribui de maneira decisiva como diretor
do Inep.
1960 - Viaja para o Chile para participar da reunião do Conselho de Educação
Superior das Repúblicas Americanas. É publicada a edição comemorativa
do seu 60º aniversário: Anísio Teixeira: pensamento e ação, pela Editora
Civilização Brasileira, reunindo estudos e depoimentos sobre sua obra.
1962 - Seu filho José Maurício morre em acidente de automóvel. Torna-se
membro do Conselho Federal de Educação, com mandato de seis anos.
1963 - Participa de nova reunião do Conselho Superior nas Repúblicas America-
nas, na Cidade do México. Ministra, durante quatro meses, um Curso de
Conferências na Universidade de Colúmbia, nos Estados Unidos, como
professor convidado, após o que foi agraciado com a “Medalha de Honra
por Serviços Relevantes”, pelo Teacher’s College daquela Universidade,
em homenagem sua obra de educador. É eleito Reitor da Universidade de
Brasília (1963-1964).
1964 - É perseguido por infundadas difamações e injustamente processado no
Brasil sob a acusação da prática de peculato.
1967 - Retorna à Editora Nacional como consultor para assuntos educacionais e
aí permanece até 1971. Dedica-se também às atividades do Conselho
Federal de Educação.
1969 - São publicados seus dois últimos livros: Educação no Brasil e Educação no
mundo moderno, ambos pela Cia. Editora Nacional, São Paulo.
1971 - Candidato a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, sai da Fundação
Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, para visitar o acadêmico Aurélio
Buarque de Holanda, na praia do Flamengo, e desaparece. Dias depois,
em 11 de março, é encontrado morto no poço do elevador do edifício.
Dezoito anos depois de sua morte, foi publicado o livro Ensino Superior no Brasil:
análise e interpretação de sua evolução até 1969.
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34
Esta bibliografia está baseada na que foi apresentada pela Revista Brasileira de
Estudos Pedagógicos, v. 55, n. 121, jan/mar de 1971, pp. 109-125. Para sua confecção
foram feitos levantamentos nos anos de 1960, 1962, 1968 e 1971 e acrescentadas as
reedições dos livros de Anísio Teixeira promovidas pela Editora da UFRJ.
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22. CPDOC/FGV.
Textos selecionados
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CPDOC/FGV.
______. Manuscrito de um programa de partido político. Arquivo Anísio Teixeira,
Série Produção Intelectual, AT [Teixeira, A] pi 37/46.00.00, CPDOC/FGV.
______. Esboço de um trabalho distinguindo a função dos políticos e pensa-
dores de um lado e dos técnicos de outro, dentro da atividade educacional
nacional. Arquivo Anísio Teixeira, Séria Produção Intelectual, AT [Teixeira, A.]
pi 00.00.00/17, CPDOC/FGV.
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Este volume faz parte da Coleção Educadores,
do Ministério da Educação do Brasil, e foi composto nas fontes
Garamond e BellGothic, pela Sygma Comunicação,
para a Editora Massangana da Fundação Joaquim Nabuco
e impresso no Brasil em 2010.
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