Panorama da Educação Ambiental no Ensino Fundamental
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Educação Ambiental. Isso significa que um trabalho educativo
deve provocar a manifestação dos conhecimentos e das
concepções da natureza que vão sendo construídos no dia-a-
dia nas relações sociais tecidas nos espaços da casa, da escola,
do trabalho e do lazer.
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O segundo passo seria no sentido de questionar essas
relações, permitindo que as pessoas reflitam sobre o dinâmico e
contínuo processo de transformação e impacto no mundo natural.
As situações domésticas servem como ótimos exemplos e
exercícios para instigar essa reflexão. Dessa forma, as práticas
sociais cotidianas passam a ser questionadas e a natureza
compreendida além da dimensão de um objeto, de uma
mercadoria. O questionamento leva o estudante a decodificar o
aprendido e estimula a leitura e a interpretação da natureza como
um fenômeno sócio-histórico e cultural.
Para a leitura e a compreensão da realidade ambiental mais
próxima, sugerimos como proposta metodológica a construção
permanente de um mapeamento ambiental.
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O mapeamento
representa:
um inventário e um registro permanente da situação ambiental do bairro e
da cidade em seus múltiplos aspectos como saneamento, energia,
transporte, tipos de moradia e materiais de construção, flora, fauna, recursos
minerais, indústria e comércio, organização social do trabalho, serviços de
saúde, patrimônio histórico, artístico e arquitetônico, áreas de lazer,
agricultura, pecuária, hábitos alimentares e crenças (Meyer, 1991: 43-44).
O mapeamento representa uma referência constante no
processo de ensino-aprendizagem, além de servir como fonte de
registro e banco de dados, em que o professor pode extrair os
conteúdos programáticos para planejar as aulas.
Uma vez construído, o mapeamento permite fazer vários
recortes e análises da relação de diferentes atores sociais com a
natureza. Os elementos culturais são fundamentais no processo
de elaboração do mapeamento. A cultura marca a diferença entre
nós humanos e eles animais e faz a mediação entre os seres
humanos e a natureza.
As práticas educativas em Educação Ambiental apelam
basicamente para cursos e campanhas informativas restritas ao
espaço escolar, explorando pouco as excursões, os trabalhos de
campo e as situações cotidianas. A predominância do ouvir reforça
obsoletas idéias, ou seja, aprende-se apenas ouvindo. Atualmente,
as mais variadas linguagens são fundamentais no processo
educativo, principalmente aquelas que permitem a interação e a
experimentação. O dinamismo do mapeamento como um fazer
diário possibilita três constatações.
A primeira: a natureza não se apresenta dada, pronta. Ela se
constrói no dia-a-dia por meio das diversas relações que os seres
humanos vão estabelecendo com o meio.
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A segunda constatação:
precisamos aprender a conviver com a natureza. Isso implica
estabelecer outro tipo de contrato. Um contrato natural no qual a
natureza deixe de ser cenário, paisagem e fonte inesgotável de
recursos.
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A mudança de um paradigma (natureza objeto para
5.5.
5.5.
5. Paulo Freire afirma que a casa
é o ambiente das primeiras
leituras e que a leitura da palavra
deve possibilitar a releitura do
ambiente. Ver Paulo Freire, A
importância do ato de ler: em três
artigos que se completam, São
Paulo, Cortez/Autores Associa-
dos, 1983.
6.6.
6.6.
6. Sobre mapeamento ambiental
ver Mônica Meyer, Educação
Ambiental: uma proposta
pedagógica, Em Aberto,
Brasília,10(49), jan./mar., 1991, p.
41-46.
7.7.
7.7.
7. O historiador Keith Thomas
apresenta uma análise das
diferentes maneiras e modos de a
sociedade inglesa se relacionar
com o mundo natural, dos
séculos XVI ao XIX, que contribuí-
ram para uma construção
permanente de concepções de
natureza. Ver Keith Thomas, O
homem e o mundo natural, São
Paulo, Companhia das Letras,
1988.
8.8.
8.8.
8. Ver MichelSerres, O contrato
natural, Rio de Janeiro, Nova
Fronteira, 1991.