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Cadernos de
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Tecnologia
e Trabalho
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A
o longo de sua história, o Brasil tem enfrentado o problema da exclusão social que
gerou grande impacto nos sistemas educacionais. Hoje, milhões de brasileiros ainda
não se beneficiam do ingresso e da permanência na escola, ou seja, não têm acesso a um
sistema de educação que os acolha.
Educação de qualidade é um direito de todos os cidadãos e dever do Estado; garantir o
exercício desse direito é um desafio que impõe decisões inovadoras.
Para enfrentar esse desafio, o Ministério da Educação criou a Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização e Diversidade – Secad, cuja tarefa é criar as estruturas necessárias
para formular, implementar, fomentar e avaliar as políticas públicas voltadas para os grupos
tradicionalmente excluídos de seus direitos, como as pessoas com 15 anos ou mais que não
completaram o Ensino Fundamental.
Efetivar o direito à educação dos jovens e dos adultos ultrapassa a ampliação da oferta
de vagas nos sistemas públicos de ensino. É necessário que o ensino seja adequado aos que
ingressam na escola ou retornam a ela fora do tempo regular: que ele prime pela qualidade,
valorizando e respeitando as experiências e os conhecimentos dos alunos.
Com esse intuito, a Secad apresenta os Cadernos de EJA: materiais pedagógicos para o
1.º e o 2.º segmentos do ensino fundamental de jovens e adultos. “Trabalho” será o tema da
abordagem dos cadernos, pela importância que tem no cotidiano dos alunos.
A coleção é composta de 27 cadernos: 13 para o aluno, 13 para o professor e um com
a concepção metodológica e pedagógica do material. O caderno do aluno é uma coletânea
de textos de diferentes gêneros e diversas fontes; o do professor é um catálogo de ativi-
dades, com sugestões para o trabalho com esses textos.
A Secad não espera que este material seja o único utilizado nas salas de aula. Ao con-
trário, com ele busca ampliar o rol do que pode ser selecionado pelo educador, incentivan-
do a articulação e a integração das diversas áreas do conhecimento.
Bom trabalho!
Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade – Secad/MEC
Apresentação
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Sumário
TEXTO Subtema
1. Encontro felizRelicostumes
6
2. A tecnologia que reduz o mercado de trabalho 8
3. Quem foi Santos Dumont?Diversidades regionais 10
4. O desemprego tecnológico Maturidade social 12
5. Revolução tecnológica destrói empregos, mas cria trabalhosMiscigenação15
6. Novas diferenças sociais Crítica social 16
7. Queremos saber Trabalhadores 19
8. Memória telefônicaultura suburbana 20
9. O relógio de ponto 23
10. Revolução industrial e mudança 24
11. Brasil: 500 anos inventando 28
12. Caminho errado 31
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13. Números do IBGE detectam a extinção de empregos Índios do Brasil 32
14. Ford e seus 25 “sistemistas” produzem um carro a cada 80 segundos 34
15. Mas quem tem acesso à tecnologia?Direitos civis 37
16. Feito para durar Origens dos trabalhadores 38
17. Tecnologia socialÍndios do Brasil 44
18. Aptidão 47
19. A peleja do cordel de feira com a Internet Olhos da alma 50
20. Technological overdoses Arte culinária 53
21. El imprescindible teléfono móvilArte culinária 54
22. Luzes mal distribuídasArte culinária 56
23. Admirável mundo novo Arte culinária 57
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Tecnologia e Trabalho
6
História da tecnologia
TEXTO
1
T
ecnologia é uma palavra de origem
grega, que tem um significado muito
abrangente: de uma forma geral, re-
presenta o encontro entre ciência e enge-
nharia.
O termo tecnologia pode incluir desde
as ferramentas mais simples, como as que
se usam para fabricar uma colher de ma-
deira, e processos como a fermentação da
uva, até as ferramentas e os processos mais
complexos já criados pelo ser humano, por
exemplo, a Estação Espacial Internacional
e a dessalinização da água do mar, respec-
tivamente. Freqüentemente, a tecnologia
entra em conflito com algumas preocu-
pações naturais de nossa sociedade, como
o desemprego, a poluição e muitas outras
questões como as ecológicas, filosóficas e
sociológicas.
Dependendo do contexto, a tecnologia
pode significar:
P As ferramentas e as máquinas que
ajudam a resolver problemas.
P Um método ou processo de constru-
ção e trabalho (tal como a tecnologia
de manufatura, a tecnologia de infra-
estrutura ou a tecnologia espacial).
P A aplicação de recursos para a reso-
lução de problemas.
P O termo também pode ser usado
para descrever o nível de conheci-
mento científico, matemático e téc-
nico de uma determinada cultura.
P Na economia, a tecnologia é o estado
atual de nosso conhecimento de como
combinar recursos para produzir os
produtos desejados (e nosso conheci-
mento do que pode ser produzido).
Tecnologia e economia
O equilíbrio entre as vantagens e as
desvantagens que o avanço da tecnologia
traz para a sociedade é muito tênue. A prin-
cipal vantagem é refletida na produção
industrial: a tecnologia torna a produção
maior e mais rápida e, ainda assim, o resul-
A união entre ciência
e engenharia produz a
alavanca que move o mundo
ENCONTRO
FELIZ
1•CA10T01P4.qxd 13.12.06 21:27 Page 6
tado final é um produto mais barato e com
maior qualidade.
Porém, as desvantagens que a tecnolo-
gia traz são de tal forma preocupantes, que
quase superam as vantagens. Uma delas é
a poluição, que, se não for controlada a
tempo, evoluirá para um quadro irreversí-
vel. Outra desvantagem se refere ao desem-
prego gerado pelo uso intensivo das má-
quinas na indústria, na agricultura e no
comércio. Esse tipo de desemprego, em que
o trabalho do homem é substituído pelo
trabalho das máquinas, chama-se “desem-
prego estrutural”.
História da tecnologia
A história da tecnologia é quase tão
antiga como a história da humanidade, des-
de quando as pessoas começaram a usar
ferramentas para caçar e se proteger.
Para serem criadas, todas as ferramen-
tas necessitaram, antes de tudo, utilizar um
recurso natural adequado. Assim, a história
da tecnologia acompanha a cronologia do
uso dos recursos naturais, desde as ferra-
mentas e fontes de energia mais simples às
ferramentas e fontes de energia mais com-
plexas. As tecnologias mais antigas con-
verteram recursos naturais em ferramentas
simples: a raspagem das pedras, e as ferra-
mentas mais antigas como a pedra lascada
e a roda, foram meios simples para a con-
versão de materiais brutos e “crus” em pro-
dutos úteis. Os antropólogos descobriram
muitas habitações e ferramentas feitas dire-
tamente a partir dos recursos naturais.
Tecnologia e Trabalho
7
Os implementos de tração
animal e rabiça (esq.) e as
modernas máquinas
motorizadas (dir.) têm
duas diferenças essenciais:
o custo de operação da
segunda só serve para os
grandes, e o primeiro
respeita mais o solo.
Fonte
P
Wikipedia – A Enciclopédia Livre.
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A
ntes de analisarmos a fundo a questão
dos empregos, é preciso ter uma base
de como os avanços tecnológicos in-
fluíram até hoje na vida do homem. Em seu
livro A Idade do Acesso, o americano Jeremy
Rifkin dividiu a história dos meios de pro-
dução em três períodos (Primeira, Segunda
e Terceira Revolução Industrial). A expres-
são "Revolução Industrial" talvez seja um
exagero no caso da terceira, pois atualmente
essas grandes mudanças englobam muito
mais do que a indústria. No caso da primeira
e segunda, a expressão ainda se aplica, pois
se tratava de épocas em que a sociedade e o
progresso da humanidade giravam em torno
de fábricas ou indústrias.
Inicio do século 20: cada peça
exigia um montador
Fábrica moderna, com
robôs substituindo operários
Foto: Iconografia
A TECNOLOGIA
QUE REDUZ O
MERCADO
DE TRABALHO
Tecnologia e desemprego
TEXTO
2
Tecnologia e Trabalho
8
Foto: Itamar Miranda / AE
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Tecnologia e Trabalho
9
Primeira Revolução Industrial
Na Primeira Revolução Industrial, a
energia movida a vapor foi usada para a
extração de minério, na indústria têxtil e na
fabricação de uma grande variedade de
bens que anteriormente eram feitos a mão.
O navio a vapor substituiu a escuna e a
locomotiva a vapor substituiu os vagões
puxados a cavalo, melhorando significati-
vamente o processo de transporte de
matéria-prima de produtos acabados. Subs-
tituindo, assim, muito do trabalho físico.
Segunda Revolução Industrial
A Segunda Revolução Industrial ocorre
entre 1860 e a Primeira Guerra Mundial. O
petróleo começou a competir com o carvão
e a eletricidade foi efetivamente utilizada
pela primeira vez, criando uma nova fonte
de energia para operar motores, iluminar
cidades e proporcionar comunicação instan-
tânea entre as pessoas. A exemplo da revo-
lução do vapor , o petróleo a eletricidade e
as invenções que os acompanharam na
Segunda Revolução Industrial continuaram
a transferir a carga da atividade econômica
do homem para a máquina.
Terceira Revolução Industrial
A Terceira Revolução Industrial surgiu
imediatamente após a Segunda Guerra
Mundial e somente agora está começando
a ter um impacto significativo no modo
como a sociedade organiza sua atividade
econômica. Robôs com controle numéri-
co, computadores e softwares avançados
estão invadindo a última esfera humana –
os domínios da mente. Adequadamente
programadas, essas novas "máquinas in-
teligentes" são capazes de realizar funções
conceituais, gerenciais e administrativas e
de coordenar o fluxo da produção, desde
a extração da matéria-prima ao marketing
e à distribuição do produto final e de
serviços.
Extraído do site www.ime.usp.br/~is/ddt/mac333/ projetos/
fimdos-empregos/revolucoes.htm
2•CA10T03P4.qxd 15.01.07 15:32 Page 9
O
14bis tem esse nome porque foi tes-
tado por Santos Dumont, acoplado
ao seu dirigível de nº 14. Dumont
preferiu chamá-lo de “bis”, em vez de dar
um novo número.
O relógio de pulso também foi criação
de Santos Dumont. Enquanto pilotava seus
dirigíveis, Dumont não tinha como acom-
panhar os segundos e minutos em que per-
manecia no ar com o relógio de bolso. O
aviador sugeriu então ao amigo relojoeiro
Cartier que adaptasse “alças” ao objeto. O
modelo do relógio foi chamado de “Santôs”
e existe até hoje.
Santos Dumont foi o primeiro aeronau-
ta a utilizar motores a petróleo em diri-
gíveis. Muitos inventores da época acre-
ditavam haver risco de explosão ao colocar
o motor em proximidade com o gás (hi-
drogênio) que preenchia os balões. Santos
Dumont provou que era possível a utiliza-
ção dos motores a petróleo nos balões.
Santos Dumont foi o único dentre seus
irmãos a não concluir curso superior. O
inventor nunca teve uma formação regular.
Era um esportista, como relatou um amigo
da época de estudos: “aluno pouco aplica-
do, ou melhor, nada estudioso para as ‘teo-
rias’, mas de admirável talento prático e
mecânico e, desde aí, revelando-se, em
tudo, um gênio inventivo”.
Em 1909 Santos Dumont apresen-
tou seu último invento aeronáutico: o
Demoiselle 20. Foi o primeiro ultraleve da
Invenções
TEXTO
3
QUEM FOI
SANTOS DUMONT?
QUEM FOI
SANTOS DUMONT?
Tecnologia e Trabalho
10
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Tecnologia e Trabalho
11
história, com apenas 115 kg, envergadura
de 5,50 m e comprimento de 5,55 m, era
acionado por um motor de 24 cavalo-
vapor. Santos Dumont publicou os planos
do Demoiselle 20 e permitiu que ele fosse
construído por algumas firmas. O apare-
lho foi copiado e tornou-se um modelo
popular.
Santos Dumont instruiu a primeira
mulher a voar sozinha em um dirigível
construído por ele. Após três “lições”, em
29 de junho de 1903, a jovem cubana Aída
D’Acosta decolou no nº 9 do inventor,
fazendo o percurso de Neuilly-Saint-James
ao campo de Bagatelle (Paris, França).
Alberto Santos Dumont nasceu em 20
de julho de 1873, em Minas Gerais, no sítio
de Cabangu, próximo à cidade que hoje
leva seu nome.
O jovem Alberto Santos Dumont foi alfa-
betizado por sua irmã Virgínia. Estudou
ainda em Campinas, no Colégio Culto à
Ciência, e, em São Paulo, nos colégios Kopke
e Morton e na Escola de Ouro Preto.
Em 1910, Santos Dumont anunciou
sua intenção de parar de voar. Ele começa-
va a sentir os sintomas da esclerose múlti-
pla que o perseguiria até o final da sua
vida. Seu avião Demoiselle foi vendido a
um piloto aspirante que, mais tarde, seria
um dos maiores ases da Primeira Guerra
Mundial: Roland Garros.
O dirigível número 6
contornaria a Torre Eiffel
na disputa do Prêmio Deutsch
vencido pelo inventor brasileiro.
Em um de seus primeiros balões,
Santos Dumont instalou o
primeiro motor embarcado em
uma aeronave.
Extraído do site www.santosdumont.14bis.mil.br
Campo de Bagatelle, Paris,
1906: o 14 bis em seu
histórico primeiro vôo.
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O DESEMPREGO
Relações no trabalho
TEXTO
4
Tecnologia e Trabalho
12
TECNOLÓGICO
Lauro A.
Monteclaro
César Jr.
Ilustração: Alcy
4•CA10T16P4.qxd 15.01.07 15:43 Page 12
O
problema mais grave destes pri-
meiros anos do terceiro milênio
talvez seja a ameaça do chamado
desemprego tecnológico – o desemprego
gerado pela combinação da utilização em
grande escala da tecnologia de informáti-
ca e telecomunicações, aliada às novas
técnicas como meio de aumentar a pro-
dutividade das empresas, com a conse-
qüente redução da mão-de-obra.
Os estudiosos do problema costumam
se dividir em dois grupos com opiniões
divergentes. De um lado, os pessimistas
que pensam que a automação eliminará
rapidamente os empregos industriais e os
de serviços. Consideram que o desem-
prego global atingiu seu nível mais alto
desde a década de 1930, com mais de 800
milhões de pessoas no mundo desempre-
gadas ou subempregadas.
Essas idéias costumam ser refutadas
pelos otimistas, que acreditam que a ativi-
dade econômica mudaria da produção de
bens para a prestação de serviços. O fim do
emprego rural seria seguido pelo fim do
emprego industrial, em benefício do
emprego do setor de serviços. E este consti-
tuiria a maioria esmagadora das ofertas de
emprego. A nova economia aumentaria a
importância das profissões com grande
conteúdo de informação e conhecimentos
em suas atividades. As profissões adminis-
trativas, especializadas e técnicas cres-
ceriam mais rápido que qualquer outra, e
constituiriam o cerne da nova estrutura
social.
Assim, de acordo com o partido “oti-
mista”, não há nada com o que se preocu-
par: depois de um período de ajustes, o fim
de empregos nos setores convencionais
seria compensado por uma grande oferta
de colocações. Essas colocações, no entan-
to, exigiriam alta qualificação profissional.
A solução, portanto, seria simples: aumen-
tar o nível de escolaridade e a capacitação
técnica da população.
Infelizmente, não é o que se observa no
dia-a-dia, e os números demonstram que
o partido “pessimista” tem razão. Até mes-
mo os “otimistas” concordam que para tudo
dar certo é necessário haver um “espetácu-
lo do crescimento” em termos globais: se
os governos não forem capazes de intervir
para reduzir as jornadas de trabalho, as
conseqüências seriam aquelas descritas
pelos “pessimistas”.
Vamos analisar como cada país deverá
agir para se inserir na nova economia. A
partir de discursos de empresários e econo-
mistas, o que fica claro é o seguinte:
• É necessário o aumento de produtivi-
dade mesmo à custa do aumento do
desemprego, pois o superávit gerado
poderá ser usado para criar novos
empregos.
Alegam que a expansão do comér-
cio global faria com que essa com-
petição entre nações não tivesse
Tecnologia e Trabalho
13
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como resultado uma “soma zero”,
ou seja, o aumento da riqueza glob-
al. Na realidade, faria com que o
superávit obtido por cada país fosse
maior a cada ano, de modo que to-
dos ganhariam.
É aí que está o problema. Porque o
que se observa é o seguinte:
As empresas se valem das novas tecnolo-
gias para transferir empregos de seus
paí-ses para outros onde a mão-de-
obra é mais barata.
O superávit obtido é investido, cada vez
mais, em tecnologias substitutivas de
mão-de-obra em seus próprios países.
• Os governos são cada vez mais impo-
tentes para influir sobre qualquer de-
cisão importante que envolva a eco-
nomia global.
Ora, uma das condições absolutamente
necessárias para o aumento da demanda é
o aumento da renda das populações. Mas o
quesito básico para a inserção de qualquer
país pobre na economia global acaba sendo
o de sua população permanecer pobre. Se
os salários e benefícios aumentarem, o país
deixará de ser competitivo e sua população
voltará imediatamente à “exclusão”.
Para os países ricos sobra a opção de
transferir seus cidadãos de empregos com
altos salários para empregos terceirizados,
temporários, de meio período, contratados
por projeto etc. Em todos os casos há
redução de salários e/ou benefícios. Então
fica a pergunta: se a renda nos países ricos
deve cair e nos países pobres deve se man-
ter baixa, de onde virá o aumento da de-
manda? Apenas o consumo de luxo será ca-
paz de gerá-la?
Por outro lado, toda a pressão política
que vem sendo feita, tanto em países ricos
quanto nos subdesenvolvidos, é no sentido
de uma menor interferência do Estado na
economia. Quanto “menos governo” me-
lhor. Por toda parte se fala em desregula-
mentação, em flexibilização das leis traba-
lhistas etc. Outra pergunta: de onde virá
uma possível reação capaz de reduzir as
jornadas de trabalho e não o emprego?
Apesar de haver um aumento das exigên-
cias em termos de educação e treinamento, a
maioria dos profissionais apenas consegue
manter em parte sua renda. De outro lado,
um pequeno grupo passou a obter salários
cada vez maiores e os empresários de suces-
so fizeram fortunas inimagináveis.
O aumento das desigualdades gera con-
flitos sociais de todo tipo. É urgente reequi-
librar as sociedades para evitar os confli-
tos. Quem poderá fazer isso? Os governos
e partidos políticos atuais? Será possível
fazê-lo por meios pacíficos e institucionais?
Essas são de fato as perguntas mais
importantes, cuja capacidade de resposta
dependerá futuro das novas lideranças
políticas e sociais.
Tecnologia e Trabalho
14
Extraído do site www.espacoacademico.com.br/036/36ccesar.htm
Revista Espaço Acadêmico – Nº. 036 – maio de 2004
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Renato Pompeu
O
s avanços tecnológicos das últimas três
décadas destruíram uma grande massa
de empregos permanentes e de carreiras
estáveis, mas criaram muitos trabalhos temporá-
rios. A robotização e a informática tornaram
desnecessária grande parte da mão-de-obra
que havia sido imprescindível no setor da pro-
dução nos períodos anteriores. Os operários
e funcionários administrativos foram sendo
substituídos por equipes cada vez mais
enxut
as, que trabalham com equipamentos
de altos níveis de produtividade e qualidade.
No Brasil isso se refletiu na queda rela-
tiva do número de empregos com carteira
assinada no setor de produção, tanto nas
fábricas como nas seções administrativas.
Está acabando a era do emprego estável,
com férias e descanso semanal remunera-
dos, com direito a indenização no caso de
dispensa sem justa causa.
Mas isso não significa necessariamente
que as pessoas fiquem sem oportunidades de
renda. Está surgindo um novo tipo de traba-
lhador, em especial no setor de serviços, que
tem renda por tarefas executadas. Esse tra-
balhador, ao contrário do antigo, não tem
uma profissão fixa em que se especializa e se
qualifica, seguindo uma carreira: uma jovem,
por exemplo, pode passar um tempo como
faxineira, ou como cabeleireira, depois tra-
balhar em algum lugar como auxiliar admi-
nistrativo temporária, em seguida, como
babá ou acompanhante de pessoa idosa, ou
como modelo de publicidade para pequenas
empresas, ou para calendários. É a era em
que a grande massa de trabalhadores garan-
te a sua renda pulando de bico em bico.
TEXTO
XX
Tecnologia e Trabalho
15
Foto: FBar
Relações do trabalho
TEXTO
5
Desenvolvimento diminuiu empregos e gerou novas profissões
Oficina de informática da Casa
Água e Vida para moradores de
baixa renda de Garulhos,
9 de agosto de 2006.
REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA DESTRÓI
EMPREGOS, MAS CRIA TRABALHOS
Texto escrito por Renato Pompeu, escritor e jornalista.
5•CA10T17P4.qxd 15.01.07 15:46 Page 15
Acesso à tecnologia
TEXTO
6
Tecnologia e Trabalho
16
A
informática facilitou a vida dos tra-
balhadores, mas ao mesmo tempo
aumentou as diferenças entre as
classes sociais. Quem não sabe utilizar um
computador ou desconhece um vocabulá-
rio mínimo de inglês – a língua mais falada
na Internet – está condenado a perder boas
oportunidades de emprego. Para evitar que
as portas se fechem aos mais pobres e
menos escolarizados, um projeto governa-
mental começou a tomar forma em Mato
Grosso, em 2003, e está espalhado por todo
o país. Trata-se do programa Comunidade
Brasil, que monta centros de informática
para comunidades carentes.
Como funcionam os telecentros
Cada telecentro é equipado, no míni-
mo, com dez computadores, um servidor,
uma impressora e um scanner, que ficam à
disposição de qualquer pessoa que queira
utilizá-los, sem custo algum. Três morado-
res do local são treinados para ajudar os
usuários a se conectar à Internet, a realizar
trabalhos escolares e a organizar cursos via
web em diversas áreas de interesse.
Estágio difícil
De acordo com os relatórios do Ins-
tituto Euvaldo Lodi (IEL), que coloca estu-
dantes para estagiar em empresas, cerca de
NOVAS
DIFERENÇAS
SOCIAIS
Quem não sabe usar um
computador hoje está condenado
a perder bons empregos
Ilustração: Alcy
6•CA10T11P4.qxd 15.01.07 15:52 Page 16
60% dos candidatos a estágio de nível
médio são analfabetos em informática. O
teste para medição de conhecimentos é
composto por dez perguntas simples como:
“Você sabe ligar um computador?” Quem
não consegue responder pelo menos cinco
questões é considerado analfabeto em in-
formática e aconselhado a procurar um
curso para se atualizar. O fator renda está
associado ao desconhecimento de noções
de informática, pois quase 90% dos candi-
datos a estágio em nível médio não têm
computador em casa. A situação se inverte
no topo da pirâmide escolar: só 3% dos
candidatos a vagas em nível superior são
analfabetos digitais. Desse universo, cerca
de 90% possuem computador em casa.
A estudante Carla Cristina Amaral
Abreu, de 20 anos, moradora de Luziânia,
Mato Grosso, teve dificuldade para conseguir
estágio por causa da falta de conhecimentos
de informática. Não havia computador na
escola de ensino médio onde estudava: no
IEL ficou sabendo que todas as vagas ofere-
cidas exigiam noções de informática. A estu-
dante fez um curso de quatro meses no Senac
e obteve colocação rapidamente. “Sem o
curso, jamais teria conseguido a vaga”, diz.
A utilização da informática facilita mui-
to a vida. O que antigamente levava horas
para fazer – principalmente enfrentando
filas – hoje se faz em segundos pela Inter-
net. Cerca de 70% dos serviços do governo
federal são oferecidos na rede mundial de
computadores. O mais conhecido é a decla-
ração de rendimentos pela Receita Federal.
A Internet é a maior biblioteca do mun-
do. Em poucos minutos é possível reunir
informações suficientes para a realização de
um bom trabalho escolar e dados importan-
tes para a execução de tarefas profissionais.
A comunicação por e-mail permite a trans-
ferência de uma quantidade enorme de co-
nhecimento de um ponto a outro do planeta.
Conversas pela rede mundial de computadores
são muito mais baratas do que por telefone.
Desigualdade em números
Hoje no Brasil, apenas um percentual
reduzido da população, em torno de 10%,
tem contato com microcomputadores e In-
Tecnologia e Trabalho
17
A maioria fica de fora
Veja como estão distribuídos os inter-
nautas no Brasil e no mundo, em %
6•CA10T11P4.qxd 15.01.07 15:52 Page 17
ternet, seja no trabalho ou em casa. Por esse
motivo há um esforço coletivo envolvendo
governo, empresas privadas e organizações
não-governamentais (ONGs) para resolver
esse problema, como o CDI (Comitê para
Democratização da Informática, www.cdi.
org.br). O CDI foi uma das primeiras orga-
nizações a atacar a exclusão digital na Amé-
rica Latina. Criado em março de 1995, já
capacitou milhares de pessoas de baixa ren-
da em dez países.
Cerca de 90% dos atendidos são brasi-
leiros, espalhados por dezenove Estados.
São escolas auto-sustentáveis, em que o
aluno paga uma mensalidade simbólica, de
10 reais, por um curso com duração de três
meses.
*para a revista Desafios do Desenvolvimento, abril de 2005
Texto 6 / Exclusão digital
Tecnologia e Trabalho
18
Internet no Brasil
5,46
20,51
32,58
9,59
17,58
6,89
Ensino
básico
Ensino
médio
(comp.)
Ensino médio
(incomp.)
Ensino
superior
(comp.)
Ensino
superior
(incomp.)
Pós-
graduação
Outros
7,36
13,6 milhões
de pessoas, 8% da população,
acessam a Internet de seus
próprios computadores.
OS ACEITOS NA FESTA
Pesquisa feita em 49,1 milhões de domicílios mostra
a diferença entre ricos e pobres no acesso à tecnologia
Com microcomputador
Sem microcomputador
Com acesso à Internet
ATÉ 10 SALÁRIOS
MÍNIMOS
ATÉ 20 SALÁRIOS
MÍNIMOS
38.129,6 mil
1.511,1 mil
3.413,9 mil
2.134,3 mil
1.377,8 mil
418,5 mil
Veja o perfil do internauta brasileiro por grau
de instrução, em %.
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Tecnologia e Trabalho
19
Letra e música: Gilberto Gil, 1976
Acesso à tecnologia
TEXTO
7
Queremos saber
O que vão fazer
Com as novas invenções
Queremos notícia mais séria
Sobre a descoberta da antimatéria
E suas implicações
Na emancipação do homem
Das grandes populações
Homens pobres das cidades
Das estepes, dos sertões
Queremos saber
Quando vamos ter
Raio laser mais barato
Queremos de fato um relato
Retrato mais sério
Do mistério da luz
Luz do disco voador
Pra iluminação do homem
Tão carente e sofredor
Tão perdido na distância
Da morada do Senhor
Queremos saber
Queremos viver
Confiantes no futuro
Por isso se faz necessário
Prever qual o itinerário da ilusão
A ilusão do poder
Pois se foi permitido ao homem
Tantas coisas conhecer
É melhor que todos saibam
O que pode acontecer
Queremos saber
Queremos saber
Todos queremos saber
Gege Edições Musicais Ltda (Brasil e América do Sul)
Preta Music (Resto do mundo) in O Viramundo
Ilustração: Alcy
QUEREMOS SABER
7•CA10T25P4.qxd 15.01.07 16:00 Page 19
A tecnologia
não pára de
mudar a vida
das pessoas
Tecnologia e cotidiano
TEXTO
8
Tecnologia e Trabalho
20
8•CA10T26P4.qxd 12/16/06 4:30 PM Page 20
Renato Pompeu
A
história do telefone é um bom exem-
plo das mudanças provocadas na vida
das pessoas nos últimos dois séculos.
Com efeito, a história do telefone pas-
sou por diversos estágios desde a sua inven-
ção na segunda metade do século 19. No
início, só era possível ligar de um telefone
para outro e só na segunda metade do sécu-
lo 19 é que foram instaladas as primeiras
redes urbanas de telefones, com cada assi-
nante podendo ligar para qualquer outro
assinante. No decorrer das décadas foram
sendo sucessivamente instaladas, já no sécu-
lo 20, as redes interurbanas, inter-regionais
e em escala mundial.
Os aparelhos também foram mudando.
Um dos primeiros modelos foi o telefone a
magneto, no qual se movimentava uma
manivela para acionar à distância a cam-
painha de outro telefone. Esse modelo foi
usado até a Segunda Guerra Mundial nas
comunicações durante as batalhas, com o
uso do chamado telefone de campanha.
Na passagem do século 19 para o sécu-
lo 20, surgiu o chamado telefone manual.
Por esse sistema não era possível ligar dire-
tamente de um aparelho para outro; era
necessária a mediação de uma telefonista.
O telefone não tinha nem disco, nem tecla-
do, nem manivela: erguendo-se o fone em
uma casa ou escritório, acionava-se auto-
maticamente a mesa de uma telefonista em
alguma estação - e lá vinha a frase que se
tornou célebre: “Número, faz favor?” A pes-
soa dizia o número e a telefonista comple-
tava a ligação, acionando o telefone dese-
jado.
Esse sistema se manteve até recente-
mente nas ligações interurbanas e interna-
cionais.
O telefone manual era tão entranhado
nos hábitos da população que foi objeto de
versos de canções populares, como o céle-
bre “Telefone ao menos uma vez para o 34-
4333, e ordene ao seu Osório que nos traga
um guarda-chuva aqui para o nosso escri-
tório”, de Noel Rosa, e o não menos céle-
bre “Pennsylvania 6-500”, consagrado pelo
americano Glenn Miller; ambas as canções
dos anos 1930.
Depois de dominar durante décadas, o
telefone manual foi substituído após a
Segunda Guerra Mundial pelo telefone a
disco, que prescindia da telefonista, inicial-
mente, nas ligações locais. A pessoa disca-
va o número desejado, mas ainda tinha de
discar para a telefonista se quisesse fazer
uma ligação interurbana ou internacional.
Tecnologia e Trabalho
21
8•CA10T26P4.qxd 15.01.07 15:59 Page 21
Nos anos 1980 surgiu o telefone a tecla-
do, em que a ligação é mais rápida, menos
complicada, com menos riscos de erro (o
chamado “engano”) e mais segura. O telefo-
ne acoplou-se na mesma época à Internet.
Mais alguns anos e, com o celular, come-
çou uma verdadeira revolução permanente
na telefonia. Com ele é possível ligar-se à
internet, e à televisão; localizar alguem em
qualquer lugar do mundo; baixar músicas e
filmes, tirar fotografias, etc.
Essa sucessão de avanços primeiramen-
te graduais, por meio de estágios tecnoló-
gicos de grande duração, seguida do atual
período de grande instabilidade e eferves-
cência tecnológicas reflete o andamento,
nos dois últimos séculos, das revoluções
tecnológicas, que primeiro se deram por
meio de sucessivos patamares estáveis até
chegar ao atual patamar instável.
Primeiro, na passagem do século 18 para
o 19, houve a introdução da máquina a
vapor. Depois, já na segunda metade do sécu-
lo 19, surgiram o petróleo, a eletricidade e a
química pesada. Na primeira metade do sé-
culo 20, surgiram o fordismo e o taylorismo,
ou seja, a linha de montagem e a cronome-
tragem de ações regulares no interior das
fábricas. Foi nesse estágio do fordismo e do
taylorismo que se desenvolveu o comunis-
mo, com sua planificação centralizada e au-
sência de concorrência.
Entretanto, se é possível planejar a
indústria, a agricultura e o comércio, não é
possível planejar o desenvolvimento tecno-
lógico, que no capitalismo se dá pela con-
corrência. Quando o patamar relativamen-
te estável do fordismo e do taylorismo foi
substituído pelo atual patamar eminente-
mente instável da robótica, computadori-
zação, bioengenharia e química fina, a im-
possibilidade de um planejamento central
e único para as mudanças levou à derroca-
da do comunismo.
Texto 8 / Tecnologia e cotidiano
Tecnologia e Trabalho
22
Texto escrito por Renato Pompeu, escritor e jornalista.
8•CA10T26P4.qxd 15.01.07 15:59 Page 22
É quase dia, a cama não esquenta,
e ela pensa no relógio de ponto.
O jantar, mal engoliu, ainda o sente,
e ela pensa no relógio de ponto.
O café, meio fraco, o pó, quase não deu,
e ela pensa no relógio de ponto.
O tecido tão macio, linha, tesoura,
e ela pensa no relógio de ponto.
A máquina de costura a contragosto,
resmungando…
e ela pensa no relógio de ponto.
O marido, os filhos, tudo certo, mas nem tanto,
e ela pensa no relógio de ponto.
A dor da unha encravada, o teto alto da fábrica,
e ela pensa no relógio de ponto.
O dinheiro do gás, a regra atrasada,
e ela pensa no relógio de ponto.
O futebol insuportável, a vizinha de saia curta,
e ela pensa no relógio de ponto.
O choro do caçula, o doce de banana,
e ela pensa no relógio de ponto.
O tecido macio, a regra atrasada, o teto alto, o
marido, o doce
de banana, o café fraco, e a máquina de costura
resmungando...
O sono e o relógio de ponto.
Fonte: DEDIC Escreve – poesias e contos © Mobitel s/a – p. 55 – 2005.
Tecnologia e Trabalho
TEXTO
12
Tecnologia e cotidiano
TEXTO
9
23
O RELÓGIO DE PONTO
Rosene Mara Monteiro de Toledo
Ilustração: Alcy
9•CA10T04P4.qxd 15.01.07 16:02 Page 23
A
invenção mais notável do começo da
Revolução Industrial foi obra do
operário inglês James Watt. Ele não
criou a máquina a vapor, ele a aprimorou.
Em 1765, ele criou a primeira máquina a
vapor realmente eficaz. A idéia básica era
colocar o carvão em brasa para aquecer a
água até que ela produzisse muito vapor. A
máquina girava por causa da expansão e da
contração do vapor posto dentro de um
cilindro de metal. As máquinas a vapor ti-
nham muitas utilidades. Retiravam a água
que inundava as minas subterrâneas. Mo-
vimentavam os teares mecânicos, que pro-
duziam tecidos de algodão. Com isso, a
Inglaterra se tornou a maior exportadora
mundial de tecidos. Nas primeiras décadas
do século 19, as máquinas a vapor equipa-
ram navios e locomotivas. A Inglaterra, a
França, a Alemanha e os EUA instalaram
milhares de quilômetros de ferrovias e
desenvolveram espetacularmente as indús-
trias de ferro e de máquinas.
REVOLUÇÃO
INDUSTRIAL E
MUDANÇA
Tecnologia e Trabalho
24
Desenvolvimento tecnológico
TEXTO
10
Acervo Iconographia
A indústria, por natureza,
é a depositária final de toda
a tecnologia produzida
pelo homem, não importa
para que setor tenha sido
desenvolvida
Setor de
produção de tear
de fábrica de rede,
São Bento, PB.
10•CA10T02P4.qxd 15.01.07 16:05 Page 24
A máquina a vapor
As primeiras máquinas a vapor foram
construídas pelos gregos antigos, mas nun-
ca foram muito usadas. Na Inglaterra, du-
rante o século 18 foram desenvolvidas as
primeiras máquinas a vapor economica-
mente viáveis. Retiravam a água acumula-
da nas minas de ferro e de carvão e fabri-
cavam tecidos. Graças a essas máquinas, a
produção de mercadorias aumentou muito.
E os lucros dos proprietários de fábricas
cresceram na mesma proporção. Por isso,
os empresários ingleses começaram a inves-
tir na instalação de indústrias. As fábricas
se espalharam rapidamente pela Inglaterra
e provocaram mudanças tão profundas,
que os historiadores atuais chamam aquele
período de Revolução Industrial. O modo
de vida e a mentalidade de milhões de
pessoas se transformaram numa velocida-
de espantosa. O mundo novo do capitalis-
mo, da cidade, da tecnologia e da mudan-
ça incessante triunfou.
As carruagens viajavam a 12 km/h e os
cavalos, quando se cansavam, tinham de
ser trocados durante o percurso. Um trem
da época alcançava 45 km/h e podia seguir
centenas de quilômetros. Assim, a Revolu-
ção Industrial tornou o mundo mais veloz.
Efeitos na sociedade
Na esfera social, o principal desdobra-
mento da revolução foi a tranformação
nas condições de vida nos países indus-
triais em relação aos outros países da
época, havendo uma mudança progressi-
va das necessidades de consumo da popu-
lação conforme novas mercadorias foram
sendo produzidas.
A Revolução Industrial alterou profun-
damente as condições de vida do traba-
lhador braçal, provocando inicialmente
Tecnologia e Trabalho
25
1733
John Kay inventa a
lançadeira volante.
1740
Benjamin Huntsman desen-
volve o processo de pro-
duzir aço tipo crucible.
1767
James Hargreaves inventa a
spinning jenny
, que permi-
tia a um só artesão fiar 80
fios de uma única vez.
Linha do
tempo
1768
James Watt inventa a
máquina a vapor.
1769
Richard Arkwright inventa a
water frame
(corte de pre-
cisão com o emprego de
um filatório hidráulico).
1779
Samuel Crompton inventa a
mule
, uma combinação da
water frame
com a
spinning
jenny
com fios finos e
resistentes.
1785
Edmond Cartwright
inventa o tear
mecânico.
10•CA10T02P4.qxd 15.01.07 17:31 Page 25
um intenso deslocamento da população
rural para as cidades, criando enormes
concentrações urbanas. A população de
Londres cresceu de 800.000 habitantes em
1780 para mais de 5 milhões em 1880, por
exemplo. Durante o início da Revolução
Industrial, os operários viviam em condi-
ções horríveis se comparadas às condições
dos trabalhadores do século seguinte. Ten-
do um cortiço como moradia, ficavam
submetidos a jornadas de trabalho enor-
mes, que chegavam até a oitenta horas por
semana. O salário era medíocre (em torno
de 2,5 vezes o nível de subsistência) e
tanto mulheres como crianças também
trabalhavam, recebendo um salário ainda
menor.
A produção em larga escala e dividida
em etapas iria distanciar cada vez mais o
trabalhador do produto final, já que cada
grupo de trabalhadores passava a dominar
apenas uma etapa da produção, mas sua
produtividade ficava maior. Como sua
produtividade aumentava, os salários reais
dos trabalhadores ingleses aumentaram em
mais de 300% entre 1800 e 1870. Devido
ao progresso ocorrido nos primeiros noven-
ta anos de industrialização, em 1860 a
jornada de trabalho na Inglaterra já se
reduzia para cerca de cinqüenta horas
semanais (dez horas diárias em cinco dias
de trabalho por semana).
Horas de trabalho por semana para
trabalhadores adultos nas indústrias têxteis:
Movimento ludista
Reclamações contras as máquinas in-
ventadas após a revolução para poupar a
mão-de-obra já eram normais. Mas foi em
1811 que o estopim estourou e surgiu o
movimento ludista, uma forma mais radical
de protesto. O nome deriva de Ned Ludd,
um dos líderes do movimento. Os ludistas
chamaram muita atenção pelos seus atos.
Invadiram fábricas e destruíram máquinas,
que, segundo os ludistas, por serem mais
eficientes que os homens, tiravam seus
trabalhos, requerendo, contudo, duras ho-
ras de jornada de trabalho. Os manifestan-
tes sofreram uma violenta repressão, foram
condenados à prisão, à deportação e até à
forca. Os ludistas ficaram lembrados como
"os quebradores de máquinas".
Anos depois, os operários ingleses mais
experientes adotaram métodos mais efici-
entes de luta, como a greve.
Movimento cartista
Em seqüência veio o movimento cartis-
ta, organizado pela Associação dos Operá-
rios, que exigia melhores condições de
trabalho, como:
Tecnologia e Trabalho
26
1780
em torno de 80 horas
por semana
1820
67 horas por semana
1860
53 horas por semana
Texto 10 / Desenvolvimento tecnológico
10•CA10T02P4.qxd 15.01.07 16:05 Page 26
particularmente a limitação de oito
horas da jornada de trabalho
• regulamentação do trabalho
feminino
• extinção do trabalho infantil
• folga semanal
• salário mínino
Além de direitos políticos, como o esta-
belecimento do sufrágio universal, a extin-
ção da exigência de propriedade para se
integrar ao parlamento e o fim do voto
censitário. Esse movimento se destacou por
sua organização e por sua forma de atua-
ção, pela via política, chegando a conquis-
tar diversos direitos políticos para os traba-
lhadores.
As trade unions
Os empregados das fábricas também
formaram associações denominadas trade
unions, que tiveram uma evolução lenta em
suas reivindicações. Na segunda metade do
século 19, as trade unions evoluíram para
os sindicatos, forma de organização dos
trabalhadores com um considerável nível de
ideologização e organização, pois o século
19 foi um período muito fértil na produção
de idéias antiliberais que serviram à luta da
classe operária, seja para obtenção de con-
quistas na relação com o capitalismo, seja
na organização do movimento revolucioná-
rio cuja meta era construir o socialismo
objetivando o comunismo. O mais eficiente
e principal instrumento de luta das trade
unions era a greve.
Fonte
P
Wikipédia, a enciclopédia livre.
Site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Industrial
Tecnologia e Trabalho
27
Enterro do
sapateiro
Martinez, morto
durante a greve
de 1917, em
São Paulo.
Acervo Iconographia
10•CA10T02P4.qxd 15.01.07 16:05 Page 27
Invenções
TEXTO
11
Tecnologia e Trabalho
28
Das armas primitivas dos índios aos aviões de Santos Dumont,
a criação brasileira numa exposição
BRASIL: 500 ANOS
INVENTANDO
Crianças moradoras do Jardim Ângela na periferia da zona Sul visitam a mostra
do redescobrimento no Parque do Ibirapuera. Na foto, Espaço Barroco.
Foto: Sebastião Moreira / AE
11•CA10T05P4.qxd 15.01.07 16:14 Page 28
Tecnologia e Trabalho
29
Q
uando se fala em invenção, a gen-
te logo imagina alguém cheio de
idéias malucas, num laboratório
onde a qualquer momento alguma coisa
pode explodir, não é mesmo? E quem não
gostaria de conhecer um desses invento-
res e pedir que ele criasse, quem sabe,
uma máquina que resolvesse todos os
nossos problemas? Afinal, idéias geniais é
que não faltam na cabeça das pessoas.
E isso nem é de hoje! Na exposição 500
Anos de Inventiva no Brasil, que percorreu
o país em 2001 como parte das comemora-
ções pelo aniversário de 500 anos do Brasil,
foi possível conhecer as invenções realiza-
das desde que a nossa terra foi descoberta.
Os nossos inventos começam com o so-
nho dos portugueses de desbravar o oceano
Atlântico. Para isso, os navegadores precisa-
vam enfrentar o que chamavam de Mar
Tenebroso – onde imaginavam existir serpen-
tes e monstros marinhos – para encontrar um
caminho marítimo para as Índias. Antes de
começar a aventura, foi preciso criar vários
instrumentos de navegação para ajudar os
marinheiros a determinar a localização do
barco e a guiá-lo pelo oceano.
Em vez de chegar às Índias, a esquadra
de Pedro Álvares Cabral chegou a um lugar
que mais tarde se chamou Brasil. Ao desem-
barcar, os portugueses encontraram os ín-
dios, habitantes nativos daquela bela terra,
e se surpreenderam com as suas invenções:
com argila, fibras trançadas, madeiras e
ossos, eles faziam desde belos enfeites para
o corpo até eficientes armas de guerra!
No início da colonização, os portugue-
ses forçaram os índios a trabalhar como
escravos, mas eles acabaram substituídos
pelos negros africanos. Trazidos à força nos
porões de navios negreiros, os africanos tra-
balharam na agricultura, principalmente
nas fazendas de cana-de-açúcar, e na mine-
ração. Para realizar essas atividades, os por-
tugueses trouxeram instrumentos como a
moenda de três cilindros verticais, utiliza-
da nos engenhos do açúcar.
O Demoiselle,
trigéssima obra aeronáutica
de Santos Dumont, é o
primeiro avião como
conhecemos hoje
Acervo Iconographia
11•CA10T05P4.qxd 13.12.06 22:23 Page 29
Tecnologia e Trabalho
30
Na virada do século 19 para o 20, as
cidades e a população brasileira cresceram
muito e as invenções se voltaram para o
transporte e o saneamento: para o trans-
porte porque as pessoas precisavam se des-
locar rapidamente de um lado a outro da
cidade; e para o saneamento porque havia
a epidemia de peste bubônica, uma grave
doença transmitida por ratos. A doença,
porém, não era a única preocupação da
época: por causa do sucesso do cultivo de
café, moças e rapazes que haviam enrique-
cido passaram a valorizar mais a aparên-
cia. Roupas e adereços precisavam estar na
moda. Só que alguns modismos eram bas-
tante curiosos...
Em 1907, o brasileiro Santos Dumont foi
notícia no mundo todo por ter voado com o
seu Demoiselle, no céu parisiense (em fran-
cês, demoiselle quer dizer senhorita), assim
chamado por sua leveza e graça. Dois anos
depois, aprimorou o modelo e estabeleceu
um recorde de velocidade: 96 quilômetros
por hora a 200 metros de altura! Até então,
quem imaginava que o homem poderia
voar? Vendo do chão, as pessoas devem ter
ficado muito espantadas!
E você? Ficaria de queixo caído se visse
um trem que levita? Ou se soubesse que
bambus podem se tornar formidáveis equi-
pamentos para deficientes físicos? Pois é:
essas são algumas invenções brasileiras
recentes que foram apresentadas ao públi-
co na exposição.
Texto 11 / Invenções
No final do século 19,
a moda e os costumes
europeus foram
copiados. Na foto,
pedestres caminham
pelas ruas do Rio
do Janeiro.
Acervo Iconographia
Extraído do site http://cienciahoje.uol.com.br/materia/view/2864
11•CA10T05P4.qxd 13.12.06 22:23 Page 30
Tecnologia e Trabalho
31
Acervo Iconographia
CAMINHO ERRADO
Tecnologia e transporte
TEXTO
12
Foto: Sebastião Moreira / AE
A matriz de transportes
urbanos brasileira, privilegia
a pior opção – a individual
São Paulo ontem...
…e hoje
Nos horários de pico, entre
as 7 e as 9 horas da manhã,
e as 18 e as 20 do anoitecer,
os ônibus e automóveis
provocam congestionamento
de até 150 quilômetros das
vias urbanas. São Paulo tem
hoje um carro para cada 2
habitantes.
Bondes na Praça da Sé,
em 1922, quando São Paulo
tinha cerca de 580 mil
habitantes
12•CA10T23P4.qxd 12/16/06 4:33 PM Page 31
Tecnologia e desemprego
TEXTO
13
NÚMEROS DO IBGE
DETECTAM A EXTINÇÃO
DE EMPREGOS
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
2003 indica que o desemprego da Era da
Informação já está presente no Brasil
Tecnologia e Trabalho
32
Por Lauro Monteclaro
Ilustração: Alcy
13•CA10T18P4.qxd 15.01.07 16:16 Page 32
Tecnologia e Trabalho
33
Q
uando se considera que as novas tec-
nologias de informação e telecomu-
nicações, aliadas às novas técnicas
gerenciais, tendem a gerar desemprego nos
níveis médios da hierarquia empresarial, os
números não surpreendem.
De fato, as novas tecnologias não substi-
tuem abruptamente os empregos dos traba-
lhadores braçais por máquinas, como ocor-
reu na Revolução Industrial do passado. Elas
provocam, principalmente, um forte dese-
quilíbrio nas relações entre capital e traba-
lho, favorecendo enormemente o primeiro.
Depois dos processos de “reengenharia”,
que hoje não são mais restritos apenas às
indústrias, nota-se que os trabalhadores
“sobreviventes” tornam-se muito mais dó-
ceis quanto a reivindicações por aumentos
de salários, reposição de perdas inflacioná-
rias e novos benefícios. Isso explica as per-
das progressivas de poder aquisitivo, mes-
mo para os que continuam empregados.
Os demitidos, depois de um longo perío-
do de procura, vão acabar aceitando em-
pregos com remuneração inferior à que
recebiam anteriormente. Outros aceitarão
funções bem abaixo de suas qualificações;
e outros simplesmente abandonarão o
mercado de trabalho, seja para se tornar
autônomos, empresários informais ou
“desempregados permanentes”, vivendo à
custa de parentes. Isso explica a redução
drástica da renda “por domicílio”.
Outro dado revelador é que, “no con-
tingente de mulheres, o nível da ocupação
de 2003 permaneceu igual ao de 2002
(44,5%), que praticamente havia alcança-
do o de 1995 (44,6%), o mais alto desde o
início da década de 1990”. Como interpre-
tar isso? É simples, o trabalho feminino
está concentrado ou nas funções de menor
renda, ou em atividades pouco afetadas
pelas novas tecnologias, como as ligadas
ao preparo de alimentos, limpeza e conser-
vação, cuidado com doentes, deficientes,
crianças, idosos etc.
Mesmo a redução do trabalho infantil
pode ser relacionada aos programas gover-
namentais baseados na troca de “comida
por estudo”. Assim, no âmbito da econo-
mia da família, a criança na escola garante
a “cesta básica”, enquanto o adulto desem-
pregado passa a ocupar as funções que a
criança ocupava.
Isso não é perceptível na agricultura,
onde o trabalho infantil é complementar
ao do adulto e sempre foi uma fonte de
renda perfeitamente aceitável. Mas, nas
cidades, basta notar a substituição do
“tomador de conta” de automóveis infantil
pelo “flanelinha”, sempre um adulto.
Também notamos o progressivo “envelhe-
cimento” dos encarregados de transporte
de documentos e pequenos volumes. Sai o
“guarda-mirim” e entra o “moto-boy”.
Extraído do site www.midiaindependente.org/eo/blue/2004/
10/291926.shtml
13•CA10T18P4.qxd 15.01.07 16:16 Page 33
UM CARRO A CADA
80 SEGUNDOS
Substituição de mão-de-obra
TEXTO
14
FORD E SEUS 25 “SISTEMISTAS” PRODUZEM
Linha de montagem do Ford KA na
Ford Company do Brasil em São
Bernardo do Campo, São Paulo.
Tecnologia e Trabalho
34
Foto: Robson Fernandjes / AE
14•CA10T19P4.qxd 15.12.06 14:13 Page 34
Tecnologia e Trabalho
35
P
ara produzir quatro portas de três
modelos de carros não muito sofisti-
cados são necessárias 250 peças. A
combinação entre componentes e cores
pode resultar em 1.700 modelos diferentes
de portas do Fiesta hatch, Fiesta sedã e
EcoSport. Mas a Ford não precisa se preo-
cupar com nenhum detalhe dessa comple-
xa operação. O trabalho é todo feito pelos
255 funcionários da Faurecia, um dos for-
necedores que trabalham ligados à linha de
montagem em Camaçari, na Bahia – os cha-
mados “sistemistas”.
Desde a inauguração, em 2001, a fábri-
ca da Ford na Bahia recebeu milhares de
pesquisadores, estudantes e executivos da
indústria automotiva do Brasil e do exte-
rior. Somente no ano passado foram 1.400
visitas, a maior parte de grupos.
Todos querem conhecer o modelo de
produção já diferente daquele que o pró-
prio fundador da companhia, Henry Ford,
pai da linha de montagem, inventou há
um século. Cinco anos depois da insta-
lação da fábrica, a invenção foi renova-
da, com opção de atrair os principais for-
necedores para perto da linha de montagem.
A flexibilidade do método permitiu à
empresa ultrapassar a capacidade da fábri-
ca, feita para produzir 250.000 automó-
veis por ano. São 912 veículos por dia –
um a cada 80 segundos – em três turnos
de jornadas de 42 horas semanais, execu-
tadas por 8.500 trabalhadores. Os da Ford
somam 3.800. O restante é dos 25 forne-
cedores que dividem o mesmo espaço.
Outra curiosidade que leva tantos visi-
tantes até Camaçari é entender como foi
que a Ford conseguiu instalar uma fábrica
de carros a mais de 4.000 quilômetros do
principal centro fornecedor de autopeças e
onde também está o maior mercado con-
sumidor de veículos do país. E ainda em
um lugar onde os operários nem sequer
sabiam como era uma linha de montagem.
Novas relações
Hoje já existe um toque de conhecimen-
to automotivo na cultura baiana. O ritmo
frenético dessa indústria alterou parte dos
costumes locais, como o tradicional Car-
naval de uma semana inteira. Quem traba-
lha na Ford só tem três dias de folia.
Mas a fábrica vai parar sexta-feira e
14•CA10T19P4.qxd 15.12.06 14:13 Page 35
Tecnologia e Trabalho
36
sábado próximos, véspera e dia de São
João. A multinacional americana entendeu
que precisa respeitar essa cultura. “Para o
baiano, o dia de São João é sagrado”, diz
Vagner Galeote, diretor de compras da Ford
na América do Sul, que fica em Camaçari
porque é ali que se concentra hoje a maior
parte da movimentação de compras da
montadora no Mercosul.
Para ele, atrair os fornecedores para
dentro da fábrica foi o segredo do sucesso
do projeto da Ford. Um fabricante de peças
não faria um investimento para construir a
própria estrutura num local onde não exis-
te mais do que uma montadora, explica
Galeote. “Para uma fábrica de alternadores
dar certo, por exemplo, não se pode pensar
em volumes de produção anual inferiores a
500.000 peças, afirma”.
Com tantos fornecedores juntos, mistu-
rar culturas de multinacionais de países dis-
tintos foi a maior dificuldade, na opinião
do executivo. “Aqui dentro temos culturas
de americanos, japoneses, franceses. O
maior desafio foi padronizar o que não
necessariamente era padrão em cada uma
dessas empresas”, diz.
Just in time
No caso das portas, a francesa Faurecia
conta com a sua própria linha de monta-
gem, que está ao lado da linha da Ford.
Ambas funcionam simultaneamente para
que cada carro encontre suas respectivas
portas com o acabamento pronto. O mesmo
ocorre com painéis, bancos e outros con-
juntos que seguem uma linha de produção
que funciona em ziguezague. Como resul-
tado, a Ford fica dispensada de manter o
caro estoque de peças.
Na Bahia, a Ford tem 240 robôs e um
dos mais altos índices de automação entre
fábricas brasileiras. Nas áreas de estampa-
ria e cabine não existe mão-de-obra huma-
na. Braços mecânicos colocam as placas de
aço nas prensas e um verdadeiro balé de
robôs toma conta de todo o setor de mon-
tagem de cabines.
Adaptado de texto do jornal Valor Econômico
(http://revistaautoesporte.globo.com)
Texto 14 / Transformações Climáticas
14•CA10T19P4.qxd 15.12.06 14:13 Page 36
MAS QUEM
TEM ACESSO À
TECNOLOGIA?
Foto: Flávia Perin / AE
Apropriação
TEXTO
15
Tecnologia e Trabalho
37
A
ntes de responder à pergunta, é im-
portante levar em consideração que,
apesar dos avanços na agricultura
brasileira, a estrutura agrária ainda é ex-
tremamente concentrada. Dos 4,6 milhões
de agricultores do país, cerca de 4,1 milhões
são agricultores familiares, com pouca terra
e acessos limitados a créditos, conhecimen-
tos e tecnologias. Os outros 500.000 agri-
cultores são os que têm mais terra, maior
acesso à tecnologia e produzem mais. Essa
desigualdade histórica explica por que os
avanços tecnológicos, em sua maioria,
ainda são realidades distantes da maioria
dos produtores rurais. "O desenvolvimento
de uma tecnologia é geral, não leva em con-
sideração se vai ser usada por um grande
ou pequeno produtor. O desenvolvimento
final dela é que vai focar o mercado", expli-
ca um economista de São Paulo, especia-
lizado no agronegócio.
Fonte
P
www.agco.com.br/%5CNoticia%5CRepositorio%5C24_dest_col-
heitadeira2.jpg (acesso em 08 de maio de 2006)
No Brasil ainda predomina a agricultura familiar.
15•CA10T21P4.qxd 15.01.07 16:18 Page 37
Para conhecer a herança do
confeiteiro francês Nicolas Appert,
basta olhar para as prateleiras
do supermercado mais próximo
da sua casa!
Tecnologia alimentícia
TEXTO
16
Tecnologia e Trabalho
38
FEITO PARA
DURAR
16•CA10T_alimentos 12/16/06 4:52 PM Page 38
A
conservação de alimentos surgiu com a civilização. En-
tretanto, todos os processos utilizados até o final do
século 18 foram desenvolvidos de forma totalmente
empírica, sem nenhum conhecimento ou embasamento teórico
e, normalmente, utilizando ou simulando processos existentes
na natureza (secagem, defumação, congelamento). Nessa
época, já se sabia que as frutas e algumas hortaliças podiam
ser conservadas em açúcar e certas hortaliças toleravam o
vinagre. Porém, todos esses procedimentos conservavam os
alimentos por pouco tempo e nem sempre dava certo.
O avanço científico
Foi somente no início do século 19, que o confeiteiro
francês, Nicolas Appert (1749-1841), depois de 15 anos de
experimentos, desenvolveu um processo que não era baseado
em nenhum fenômeno natural já conhecido.
Foi para resolver as questões práticas do dia-a-dia de sua
confeitaria, que ele teve a genial intuição de que se colocasse
os alimentos previamente fervidos em garrafas de vidro
grossas (como as usadas para o champagne) com algum
líquido e lacrando-as com rolha de cera, conseguiria uma
prolongação da vida de prateleira destes alimentos. Supôs que,
como no vinho, a exposição ao ar estragava a comida. Assim,
se a comida fosse colocada num recipiente que vedasse a
entrada do ar, ficaria fresca e com boa qualidade. Funcionou.
Tecnologia e Trabalho
39
16•CA10T_alimentos 12/16/06 4:52 PM Page 39
Colocando em prática suas descobertas em escala in-
dustrial, em 1802, ele instalou nas cercanias de Paris a
primeira fábrica de conservas do mundo, que empregava cerca
de 50 funcionários. Encomendou a um vidreiro garrafas com
gargalos mais largos que os habituais e deu início à sua
produção.
Amostras com comidas preservadas pelo método de
Appert foram enviadas para o mar por mais de quatro meses.
Carnes e vegetais estavam entre os 18 diferentes itens em
recipientes de vidro; todos retiveram seu frescor e nenhuma
substância passou por mudanças substanciais.
Seu método conseguiu crescente sucesso comercial, e foi
utilizado por Napoleão Bonaparte no abastecimento de suas
tropas e na marinha mercante, para as longas viagens
transatlânticas. Em 1809, o ministro de Administração Interna
da França, Conde Mantalivet, providenciou um prêmio de 12
mil francos franceses para que Appert tornasse públicas suas
descobertas.
Assim, em 1810, foi publicado o livro "A Arte de Conservar
Todas as Substâncias Animais e Vegetais", em que ele descrevia,
detalhadamente, o processo de conserva de mais de 50 ali-
mentos. Muito rapidamente, traduções foram publicadas em
outros países, como Alemanha, Inglaterra, Bélgica e Estados
Unidos. Logo após a publicação do método Appert, surgiram vá-
rias fábricas de conservas tanto na França quanto no exterior.
Louis Pasteur
Na época, Appert acreditava que a preservação do ali-
mento devia-se a ausência de ar no interior do frasco. Esta
hipótese foi derrubada por Pasteur algumas décadas depois,
em 1864, ao provar que os pequenos seres vivos que já haviam
sido identificados por Leeuwenhoek em 1675 eram res-
ponsáveis por deteriorações nos alimentos e doenças no ho-
mem. As pesquisas de Pasteur demonstraram que o efeito da
temperatura na preservação dos alimentos era na realidade
Texto 16 / Tecnologia alimentícia
Tecnologia e Trabalho
40
16•CA10T_alimentos 15.01.07 16:25 Page 40
Tecnologia e Trabalho
41
sobre os microrganismos, observando que uma temperatura
de 62-63ºC mantida por um período de uma hora e meia era
suficiente para eliminar os microrganismos presentes nos
sucos de frutas. Este processo, que recebeu o nome de
pasteurização, provocou uma grande alavancagem na qua-
lidade dos vinhos franceses, principal indústria do país na
época, concedendo a Pasteur um grande prestígio junto ao
governo da França.
O processo de preservação criado por ele, em sua home-
nagem, foi batizado de pasteurização, englobando todo aquele
método que depende de um tratamento térmico para com-
bater a deterioração do alimento. É, até hoje, o mais utilizado
na indústria de conservas.
As primeira latas de conserva
No mesmo ano em que Appert publicou o seu livro, 1810,
Peter ou Pierre Durand (discute-se se era inglês ou francês)
recebeu uma patente do Rei George III pela idéia de preservar
comida em "garrafas ou outros vasilhames de vidro, potes ou
recipientes de estanho, ou outros materiais adequados".
O alto preço das latas era atribuído à baixa demanda de
mercado e do método artesanal de fabricação e envasamento.
Louis Pasteur inventou
a pasteurização, utilizada
até hoje pela indústria
de alimentos.
16•CA10T_alimentos 15.01.07 16:25 Page 41
O
curioso da história do abri-
dor de latas é que ele só foi
inventado mais de 45 anos
depois das primeira latas de conser-
vas, que surgiram em 1813.
Isto aconteceu porque as pri-
meiras latas possuíam grossas pare-
des de ferro que para serem abertas
exigiam o uso do cinzel e do marte-
lo (e no caso dos soldados com a
ponta da baioneta ou o tiro do fuzil).
O abridor de latas surgiu em
1858, quando as latas se tornaram
mais leves, e foi inventado por Ezra.
Warner, de Waterbury, no estado
norte-americano de Connecticut. Era
um aparato volumoso e impressio-
nante, que se parecia, em parte com
uma baioneta e em parte com uma
foice. Introduzia-se sua grande folha
curva na borda da lata e empregan-
do a força, fazia-se com que ela des-
lizasse sobre toda a lateral. Uma dis-
tração poderia gerar sérios acidentes.
O abridor tal como utilizamos
hoje, com uma roda cortante que
gira ao redor da borda da lata, foi
inventado pelo americano Willian
Lyman, que o patenteou em 1870. A
Star Can Opener Company, de San
Francisco, aperfeiçoou o aparelho de
Lyman, agregando-lhe uma roda
dentada, denominada roda alimen-
tadora, graças à qual a embalagem
girava pela primeira vez em sentido
contrário à roda. Este princípio bási-
co segue sendo utilizado até hoje e
foi a base do primeiro abridor de
latas elétrico, patenteado em 1931.
Texto 16 / Tecnologia alimentícia
Tecnologia e Trabalho
42
O Abridor de Latas
O Abridor de Latas
16•CA10T_alimentos 12/16/06 4:52 PM Page 42
O americano Gail Borden foi um pioneiro no enlatamento
de alimentos. Em 1856, produziu, com sucesso, o leite con-
densado em lata e lhe foi concedida uma patente do processo. A
demanda para o leite condensado foi pequena no início, mas,
durante a guerra civil americana (1861-1865), passou a ser
consumido em larga escala.
A guerra civil contribuiu significativamente para a po-
pularização dos alimentos enlatados de uma forma geral. O
exército tinha de ser alimentado, para isso, o governo fez
contratos com diversas empresas de conservas. No final da
guerra, estes soldados retornaram para casa cheios de elogios
para os alimentos seguros, portáteis, e armazenáveis. Sob
circunstâncias difíceis, os povos aprenderam que os alimentos
enlatados, tais como o leite condensado, podem ser saborosos
e nutritivos. A invenção de abridores de lata práticos, no fim
século 19, tornou-as mais fáceis de abrir e mais convenientes
para consumidores.
Em 1868, primeiramente nos Estados Unidos e depois na
Europa, as latas feitas a mão foram substituídas pelas feitas a
máquina.
Hoje, há máquinas específicas para o preparo e envase de
cada tipo de enlatado e conserva, cada um com seus distintos
processos e diferentes tempos de cocção, segundo os micro-
organismos que devem ser eliminados. As conservas, sobretudo
os enlatados, são encontrados em toda parte, disponibilizando
aos consumidores alimentos seguros, saudáveis e de qualidade.
Extraído do site www.correiogourmand.com.br/info_culturagastronomica_11.htm
Tecnologia e Trabalho
43
16•CA10T_alimentos 15.01.07 16:34 Page 43
T
ecnologia social compreende produ-
tos, técnicas ou metodologias reapli-
cáveis, desenvolvidas na interação
com a comunidade e que representem
efetivas soluções de transformação social.
É uma proposta inovadora que consi-
dera a participação coletiva no processo
de organização, desenvolvimento e im-
plementação de determinado programa.
Baseia-se na disseminação de soluções
para problemas de alimentação, educa-
ção, energia, habitação, renda, recursos
hídricos, saúde, meio ambiente, dentre
outras.
As tecnologias sociais podem aliar
sabedoria popular, organização social e
conhecimento técnico-científico. O que
realmente importa é que sejam efetivas
e reaplicáveis, propiciando desenvolvi-
mento social em escala.
Bons exemplos de tecnologia social:
o clássico soro caseiro (mistura de 2
colheres, das de sopa, cheias de açúcar e
1 colher das de chá, rasa, de sal com 1
litro de água, que combate a desidrata-
ção e reduz a mortalidade infantil); as
cisternas de placas pré-moldadas que
atenuam os problemas de acesso a água
de boa qualidade à população do semi-
árido nordestino, entre outros.
Foto: Rodrigo Lobo / JC / AE
TECNOLOGIA SOCIAL
Desenvolvimento sustentável
TEXTO
17
Tecnologia e Trabalho
44
Os países buscam produtos, técnicas ou sistemas que funcionem
efetivamente e promovam desenvolvimento social em escala
Cisternas de placas
pré-moldadas: soluções
localizadas, baratas
e eficientes
17•CA10T22P4.qxd 15.12.06 14:25 Page 44
O que é uma cisterna de placas?
A cisterna de placas é um tipo de reser-
vatório para água, cilíndrico, coberto e
semi-enterrado, que permite a captação e o
armazenamento de águas das chuvas, apro-
veitadas a partir do seu escoamento nos
telhados das casas por calhas de zinco ou
PVC. A cisterna de placas permite o arma-
zenamento de água para consumo humano
em reservatório protegido da evaporação e
das contaminações causadas por animais e
dejetos trazidos pelas enxurradas.
O tamanho da cisterna varia de acordo
com o número de pessoas da casa e do
tamanho do telhado. A experiência tem
provado que ela pode garantir água potável
para a família beber e cozinhar durante oito
meses. É fácil preparar profissionais como
os pedreiros, capazes de chefiar o mutirão
que constrói uma cisterna, e é perfeitamen-
te possível que todas as casas a possuam.
A cisterna muda para melhor a vida
das mulheres e das crianças, que não mais
precisarão buscar água longe de casa; mu-
da para melhor a saúde de todos, especial-
mente a das crianças e dos idosos.
Cofres de água
Chover, até que chove. O problema é
que a chuva se concentra no início do ano
e é rapidamente absorvida pelo solo. Nos
outros meses, os brasileiros que moram no
semi-árido sofrem com a seca. Uma solu-
ção para evitar o desperdício de um bem
tão precioso como a água é a construção de
cisternas, recipientes feitos com placas de
cimento pré-moldadas, capazes de guardar,
de seis a oito meses, toda a água da chuva
que cai dos telhados. São como cofres, que
guardam a água poupada. O programa
“Um Milhão de Cisternas para o Semi-
árido”, uma iniciativa liderada pela Articu-
lação do Semi-Árido (ASA), fórum compos-
to de 750 organizações da sociedade civil
da região, surgiu em 2002 para divulgar a
tecnologia e estimular sua implantação. O
custo de cada cisterna sai por volta de
1.400 reais e armazena 16.000 litros de
água, o suficiente para abastecer uma famí-
lia de cinco pessoas durante seis a oito
meses. O programa tem a participação do
governo federal e já beneficiou 58.000
famílias.
O sucesso do programa depende, des-
de o princípio, da participação popular. Isso
porque quem decide quais serão as famí-
lias beneficiadas é uma comissão local,
também responsável pela organização dos
cursos de capacitação e dos trabalhos de
mutirão, administração e prestação de con-
tas. Nesse processo, 2.000 pedreiros já
foram treinados para construir cisternas.
Nos cursos, os pedreiros, além de apren-
derem as técnicas de armazenamento e
manejo da água da chuva, são treinados a
passar seus conhecimentos para outras
pessoas, multiplicando assim o número de
interessados em usufruir desse grande bene-
Tecnologia e Trabalho
45
17•CA10T22P4.qxd 15.01.07 16:36 Page 45
fício. Também aprendem os procedimentos
técnicos para a localização das cisternas e a
definir o volume de água a ser armazenada
com base nos cálculos de dimensão e na
área de captação.
A associação também tem o projeto
Uma Terra, Duas Águas, ainda em constru-
ção, que envolve quatro pontos: reforma
agrária, terras regularizadas, água para
consumo humano e água para produção de
alimentos básicos. Um projeto-piloto já foi
realizado em Acauã, alto sertão da Paraíba,
que beneficiou 130 famílias. A idéia é espa-
lhar o programa pela região.
Extraído do site www.cliquesemiarido.org.br
Tecnologia e Trabalho
46
MÃOS A OBRA!
1
Primeiro o traçado da cisterna…
2
… escavando e colocando
as placas laterais
3
… fixando
as placas laterais
4
… impermeabilizando
as paredes externas
5
… agora é só chover, ô cabra!
17•CA10T22P4.qxd 15.01.07 16:36 Page 46
Tecnologia e Trabalho
47
O homem e a máquina
TEXTO
18
Luis Fernando Verissimo
A
bre a porta. Entra o Senhor Pacheco.
Bom dia, Senhor Pacheco. Sente-se, por favor. Temos
uma ótima notícia para o senhor.
Sim, senhor.
Como o senhor deve saber, Senhor Pacheco, contratamos
uma firma de psicomputocratas para fazer testes de aptidão
nos dez mil empregados desta firma. Precisamos nos atualizar.
Acompanhar os tempos.
APTIDÃO
Ilustração: Alcy
18•CA10T9P4.qxd 15.12.06 16:07 Page 47
Tecnologia e Trabalho
48
Sim, senhor.
Os dez mil testes foram submetidos a um computador, há
dois minutos, e os resultados estão aqui. O senhor é o primeiro
a ser chamado porque o computador nos forneceu os resulta-
dos em rigorosa ordem alfabética.
Mas o meu nome começa com P.
Hum, sim, deixa ver. Pacheco. Sim, sim. Deve ser por
ordem alfabética do primeiro nome, então. Este computador é
de quarta geração. Nunca erra. Como é seu primeiro nome?
Xisto.
Bom, isso não tem importância. Vamos adiante. Vejo aqui
pela sua ficha que o senhor está conosco há vinte e oito anos,
Seu Pacheco. Sempre na seção de entorte de fresos. O senhor
nunca falhou no serviço, nunca tirou férias, e já recebeu nosso
prêmio de produção, o Alfinete de Alumínio, dezessete vezes.
Sim, senhor.
O senhor começou na seção de entorte de fresos como faxi-
neiro, depois passou a assistente de entortador, depois entorta-
dor, e hoje é o chefe de entorte.
Sim, senhor.
Me diga uma coisa, Senhor Acheco...
Pacheco.
Senhor Pacheco. O senhor nunca se sentiu atraído para
outra função, além do entorte de fresos? Nunca achou que
entortar não era bem sua vocação?
Nunca, não Senhor.
Pois veja só, Senhor Pacheco. O computador nos revela que
a sua verdadeira vocação não é o entorte de fresos e sim o bis-
toque de tronas!
Texto 18 / O homem e a máquina
18•CA10T9P4.qxd 15.12.06 16:07 Page 48
Tecnologia e Trabalho
49
Sim, senhor.
O senhor é um bistocador de tronas nato, segundo o com-
putador. Não é fantástico? E ainda tem gente que critica a tec-
nologia. O senhor era um homem deslocado no entorte de fre-
sos e não sabia. Se não fosse o teste, nunca ficaria sabendo.
Claro que essa situação vai ser corrigida. O senhor, a partir
deste minuto, deixa de entortar.
Sim, senhor.
Quanto o senhor ganha conosco, Senhor Pacheco, depois
de vinte e oito anos? Mil, mil e duzentos?
Quinhentos, não contando os alfinetes.
Pois, sim. E sabe quanto ganha um iniciante no bistoque
de tronas? Mil e quinhentos! Não é fantástico?
Sim, senhor.
Só tem uma coisa, Senhor Pacheco. Nossa firma não traba-
lha com tronas. Pensando bem, ninguém trabalha com tronas,
hoje em dia.
Olha, tanto faz. Não é mesmo? Eu estou perfeitamente satis-
feito no entorte, faltam só vinte anos para me aposentar e...
Senhor Pacheco, então a firma gasta um dinheirão para
descobrir a sua verdadeira vocação e o senhor quer jogá-la
fora? Reconheço que o senhor tem sido um chefe de entorte
perfeito. Aliás, o computador não descobriu ninguém com apti-
dão para o entorte. Vai ser um problema substituí-lo. Mas não
podemos contestar a tecnologia. O senhor está despedido. Por
favor, mande entrar o seguinte, por ordem alfabética, o Senhor
Roque Lins. Passe bem.
Sim, senhor.
Sai o Senhor Pacheco. Fecha a porta
Extraído do livro O nariz – Coleção Para Gostar de Ler, volume 14.
São Paulo: Ática, 2005.
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Vou lhe contar, cidadão,
Uma história bem brejeira
Que começou numa feira
Pelas bandas do sertão
E de forma bem ligeira
Chegou à terra inteira
Causando admiração.
Severino Rio Grande
Fazia muito cordel
Falava até de bordel
Assim a arte se expande
De soldado, coronel,
Matuto, arranha-céu,
Falava até de Gandhi.
Com ele não tinha manha,
Sofria mas agüentava,
Sabia que a dor passava,
Pois foi até na Alemanha
Com tudo ele rimava
E o povo se admirava
É um homem de façanha
Seus cordéis ele vendia
Numa feira bem pequena
Era sempre a mesma cena
Com risada e cantoria
Desde o tempo da galena
Era uma mensagem plena
De amor e alegria
Desenvolvimento tecnológico
TEXTO
19
Tecnologia e Trabalho
50
Walter Medeiros
A PELEJA DO
CORDEL DE FEIRA
COM A INTERNET
19•CA10T12P4.qxd 15.12.06 16:14 Page 50
Tecnologia e Trabalho
51
Com uns tipos manuais
Muitos impressos fazia
E assim ele vivia
Querendo um mundo de paz
Mas ninguém compreendia
Quando dizia que um ida
Ia sair nos jornais.
Pois aquele cordelista
Danou-se pra capital
Foi morar no areal
Ali bem perto da pista
Sua cidade natal
Soube um dia, afinal,
Que se tornou jornalista.
Mexendo com linotipo
Telex e off set
No fax pintou o sete
Sem falar no teletipo
Fazia até enquete
Só não comia gilete
Pois não achava bonito.
Mas com aquele seu dom
Muita coisa ele fazia
Sempre tinha uma poesia
Recitada em bom tom
Tinha saudade da tia
e qualquer hora do dia
escutava acordeon
Os anos foram passando
o tempo não vai pra trás
e aquele nosso rapaz
ia se adaptando
a tudo que a vida traz
nada nunca é demais
e foi se modernizando.
A maquininha Olivetti
Que usou anos seguidos
Inda tinha nos ouvidos
Qual serpentina e confete
Mas a marca dos sabidos
Que ganhou novos sentidos
Agora era a Internet.
Nem mesmo questionou
A nova moda lançada
E de forma enviesada
Seus cordéis lá colocou
Foi uma festa danada
A homepage lançada
Que ao mundo lhe levou
19•CA10T12P4.qxd 15.12.06 16:14 Page 51
Pois agora na Internet
O cordel vai mais distante
Basta somente um instante
E a história se repete
São Gonçalo do Amarante
Paris, Itu, num berrante
Todo mundo se derrete
Sempre aparece questão
Sobre esse novo meio
Mas é somente esperneio
De gente falando em vão
Basta fazer um passeio
Sem cavalo e sem reio
Para entender o bordão.
Quando veio pra cidade
Severino não deixou
Na terra que lhe criou
A sua habilidade
Foi com ele e ele usou
O dom que Deus lhe legou
Pra sua felicidade.
Se é por falta de cordel
Pra seus versos pendurar
Confesso que vou mandar
Desenhar assim ao léu
Depois vou fotografar
E no site publicar
Ao lado do meu farnel.
Do jeito que alguém fala
Do cordel que foi pra web
Com certeza não concebe
Algo que chegou à sala
Do pequenino casebre
Que não pode criar lebre
Mas tem um micro na mala
Por que o computador
Pode chegar ao sertão
E na Internet não
Tem lugar pra rimador?
É uma aberração
Grande discriminação
Que ele não tolerou.
Acho que dei o recado
Quem quiser diga o contrário
Pois em todo abecedário
Tem alguém inconformado
E nesse rimar diário
Quero o futuro no páreo
Mas não esqueço o passado.
Tecnologia e Trabalho
52
Texto 19 / Transformações no Trabalho
Walter Medeiros: [email protected]
Extraído do site http://paginas.terra.com.br/arte/ cordel
19•CA10T12P4.qxd 15.12.06 16:15 Page 52
Tecnologia e cotidiano
TEXTO
20
Tecnologia e Trabalho
53
TECHNOLOGICAL OVERDOSES
Randy Glasbergen
20•CA10T24P4.qxd 04.01.07 09:58 Page 53
H
oy tanto en Europa como en Latinoa-
mérica el teléfono móvil se ha trans-
formado en un elemento impres-
cindible para la vida de las personas, tanto
chicos como adultos. Y su uso habitual ha
cambiado los modos de comunicación dia-
rios, que son más por motivos personales
que profesionales.
La posesión de un teléfono móvil era
símbolo de riqueza y ascenso social. Ese
escenario cambió rápidamente en América
Latina, al mismo tiempo que el capital
privado irrumpía en las telecomunicacio-
nes. Millones de personas de ingresos mo-
destos accedieron en los últimos años a su
primer teléfono, que fue un celular.
Según la Unión Internacional de las
Telecomunicaciones (UIT), en 1990 había
100.000 líneas de telefonía móvil en
Latinoamérica, y en 1999 la agencia de la
ONU calculó que eran 38 millones. Hoy,
expertos del sector privado, aseguran que
120 millones de celulares resuenan bajo el
cielo latinoamericano.
Brasil tenía apenas cinco millones
cuando se privatizaron las telecomunica-
ciones en 1998, y sólo entre enero y agosto
incorporó al mercado otras 5,2 millones.
Este año, las líneas celulares superaron los
40 millones, un millón más que las fijas.
Una de las causas de este fenómeno es
que la telefonía móvil se abarató nota-
blemente mediante las “tarjetas prepa-
gas”, única modalidad para que muchos
latinoamericanos pobres pudieran acceder
a un teléfono. A esto se sumó el surgi-
miento de un mercado informal de teléfono
móvil de usados y robados, incluso en pues-
tos callejeros.
En algunos países, como Brasil y Uru-
guay, adoptar la telefonía móvil permitió
superar la histórica brecha entre la de-
manda y la oferta del servicio, notable-
mente en zonas rurales.
Tecnologia de comunicação
TEXTO
21
Tecnologia e Trabalho
54
EL IMPRESCINDIBLE
TELÉFONO
MÓVIL
21•CA10T13P4.qxd 13.12.06 23:42 Page 54
Tecnologia e Trabalho
55
Oficina de bolsillo
Un teléfono móvil dice ahora muy
poco sobre la condición social o económica
de quién lo porta. Para un amplio sector
de la población, és un artículo de primera
necesidad: electricistas, fontaneros, alba-
ñiles, pintores y trabajadores informales
hacen del celular su oficina móvil y pueden
así ser llamados en cualquier momento,
donde estén, para pequeños servicios. Para
ellos es un instrumento de trabajo.
Los delincuentes también aprovechan
esta tecnología
El celular prepagado, ideal para la
acción clandestina, es indispensable para
el narcotráfico en Brasil. Tanto que las
autoridades establecieron un registro obli-
gatorio de usuarios.
Hoy es tan común el uso del teléfono
móvil que la imagen ya no tiene mucho
que ver con tener o no, sino con el tipo y
marca de teléfono móvil que se posee.
Texto adaptado de La Revista (Uso livre): www.publispain.com/
revista/el-imprescindible-telefono-movil.htm
El teléfono móvil se
ha transformado
en un elemento
imprescindible para
la vida de las
personas.
Opinión: “Yo lo hago y les aseguro que como el
más común de los mortales hace 10 años, no lo
necesito. Que en situaciones es útil, no lo dudo,
que genera dependencia tampoco. Una escalera
también es útil en algunos momentos y no la
llevamos por la calle. Respeto a quienes lo llevan
pero les animo a tratar de dejarlo una temporada
y sopesen si les interesa la comunicación telefóni-
ca inmediata o su tiempo libre. Por cierto puedo
pagarlo y no tengo tecnofobia, utilizo Internet:
televisión, DVD, MP3… No utilizarlo es una opción
libre.
¿Se puede vivir sin móvil?
21•CA10T13P4.qxd 13.12.06 23:42 Page 55
O
consumo de energia elétrica para
iluminação no mundo não é igual-
mente distribuído pela superfície da
Terra, como se pode observar pelo mapa
acima
*
. Ao lado de concentração de con-
sumo há espaços vazios significativos.
O continente africano, por exemplo, pos-
sui pontos de grande consumo no extremo
norte e no extremo sul, além de pontos ao
longo do litoral, mas seu interior, apesar de
povoado, tem consumo reduzido. A região
da Amazônia internacional, na América do
Sul, possui pequeno contingente populacio-
nal apesar da imensidão da área, e, ao con-
trário, os Estados Unidos, o Canadá, a Euro-
pa e o Japão apresentam uma luminosidade
muito grande. China e Índia também se
destacam, mas não em proporção à gran-
deza de suas populações. Podemos afirmar
que os países mais desenvolvidos do mundo
são os que mais consomem energia elétrica
para iluminação.
Extraído da revista Desafios do Desenvolvimento – Ano II,
nº 11 – Junho de 2005.
*
O mapa em questão é uma montagem, pois o planeta Terra não permite captar
imagem noturna, simultaneamente, em toda a sua superfície.
LUZES MAL DISTRIBUÍDAS
Acesso à tecnologia
TEXTO
22
Tecnologia e Trabalho
56
Aumento do consumo
de energia elétrica
Entre 1994 e 2004
Fonte: Ipedata/Eletrobras
Foto: Nasa
36,4%
72,1%
40,3%
36,8%
42%
é o aumento
registrado
no período
Indústria Comércio Residencial Outros
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Tecnologia e Trabalho
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Projeção
TEXTO
23
S
erá admirável o nosso novo mundo? A quem serve esta civi-
lização que se diz moderna e funcional e, ao aparato das
técnicas, sacrifica o espírito?... O espírito, considerado reali-
dade menor, o espírito tolerado, quando não reprimido... Qual o
lugar do homem, numa sociedade dominada pela máquina? Qual
o caminho para o indivíduo que reivindique a liberdade interior
e o direito à sua... individualidade, à sua singularidade? Para o
indivíduo que queira caminhar pelos próprios pés? Aldous
Huxley, um dos maiores escritores contemporâneos, descreve,
em Admirável Mundo Novo, com fantasia e ironia implacável, a
sociedade futura totalitarista. Simplesmente, o universo que o
grande romancista inglês anima pertence, de certo modo, aos
nossos dias. Quase já não pode considerar-se uma ameaça:
tomou corpo. O que empresta à leitura dessa obra uma força trá-
gica invulgar. Mundo novo? Mundo intolerável? Mundo inabitá-
vel? Mundo de onde se deve fugir, de qualquer maneira? Ou
mundo a reconstruir – pedra por pedra? Com uma pureza recon-
quistada? Aldous Huxley deixa esse montinho de problemas que
o leitor poderá – se quiser e souber... – resolver...
Capítulo primeiro
Um edifício cinzento e atarracado, de apenas trinta e quatro
andares, tendo por cima da entrada principal as palavras:
Centro de Incubação e de Condicionamento de Londres-
Central e, num escudo, a divisa do Estado Mundial:
ADMIRÁVEL
MUNDO NOVO
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COMUNIDADE, IDENTIDADE, ESTABILIDADE
A enorme sala do andar térreo estava virada ao norte. Apesar
do verão que reinava no exterior, apesar do calor tropical da pró-
pria sala, apenas fracos raios de uma luz crua e fria entravam
pelas janelas. As batas dos trabalhadores eram brancas, e as suas
mãos, enluvadas em borracha pálida, de aspecto cadavérico. A
luz era gelada, morta, espectral, apenas dos cilindros amarelos
dos microscópios ela recebia um pouco de substância rica e viva,
que se espalhava ao longo dos tubos como manteiga.
– Isto – disse o diretor, abrindo a porta – é a Sala da
Fecundação.
No momento em que o diretor da Incubação e do Condicio-
namento entrou na sala, trezentos fecundadores, curvados sobre
os seus instrumentos, estavam mergulhados naquele silêncio em
que apenas se ousa respirar, naquela cantilena ou assobio incons-
ciente com que se traduz a mais profunda concentração. Um
grupo de estudantes recém-chegados, muito novos, rosados e
imberbes, comprimia-se, possuído de uma certa apreensão e tal-
vez de alguma humildade, atrás do Diretor. Cada um deles leva-
va um caderno de notas, no qual, cada vez que o grande homem
falava, rabiscavam desesperadamente. Bebiam a sua sabedoria
na própria fonte, o que era um raro privilégio. O D.I.C. de
Londres-Central empenhava-se sempre em conduzir pessoalmen-
te a visita dos novos alunos aos diversos serviços.
“Unicamente para lhes dar uma idéia de conjunto”, explica-
va-lhes ele, pois era necessário, evidentemente, que possuíssem
um simulacro de idéia de conjunto, já que se desejava que fizes-
sem inteligentemente o seu trabalho. Era conveniente, porém,
que essa idéia fosse o mais resumida possível se se quisesse que,
mais tarde, eles fossem membros disciplinados e felizes da so-
ciedade, dado que os pormenores, como se sabe, conduzem à
virtude e à felicidade, e as generalidades são, sob o ponto de
vista intelectual, males inevitáveis. Não são os filósofos, mas
sim aqueles que se entregam às construções de madeira e às
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coleções de selos, que constituem a estrutura da sociedade.
– Amanhã – acrescentou, dirigindo-lhes um sorriso cheio de
bonomia, mas ligeiramente ameaçador – começarão a trabalhar
seriamente e não terão tempo para perder com generalidades.
Daqui até lá ...
Daqui até lá era um privilégio. Da própria fonte para o cader-
no de apontamentos. Os rapazes rabiscavam febrilmente.
Alto, tendendo para a magreza, mas direito, o diretor cami-
nhou pela sala. Tinha o queixo alongado e dentes fortes, um
pouco proeminentes, que mal conseguia cobrir, quando não fala-
va, com os lábios grossos, de curva acentuada. Velho ou novo?
Trinta anos? Cinqüenta? Cinqüenta e cinco? Era difícil dizer. Isso
também não tinha importância alguma; nesse ano de estabilida-
de, nesse ano de 632 de N.F., não ocorria a ninguém fazer tal
pergunta.
-– Vou começar pelo princípio – disse o D.I.C. E os estudan-
tes mais zelosos anotaram o fato nos cadernos: “Começar pelo
princípio”.
– Isto aqui – apontou – são as incubadoras. – E, abrindo uma
porta de proteção térmica, mostrou-lhes os suportes de tubos empi-
lhados uns sobre os outros e cheios de tubos de ensaio numera-
dos. – O fornecimento semanal de óvulos. Mantidos – explicou – à
temperatura normal do sangue, enquanto os gametas masculinos
– abriu outra porta – devem ser conservados a trinta e cinco graus,
em vez de trinta e sete. A temperatura total do sangue esteriliza.
Carneiros envoltos em termogênio não procriam.
Sempre apoiado às incubadoras, forneceu-lhes uma curta
descrição do moderno processo da fecundação, enquanto os lápis
rabiscavam ilegivelmente as páginas, de um lado para o outro.
Falou-lhes primeiro, evidentemente, da introdução cirúrgica –
Esta operação é suportada voluntariamente para bem da socie-
dade, sem esquecer que proporciona uma gratificação equiva-
lente a seis meses de ordenado. Continuou com uma breve expo-
sição da técnica de conservação do ovário, separado em estado
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vivo e pleno desenvolvimento; fez considerações sobre a tempe-
ratura, a salinidade e a viscosidade ótimas; aludiu ao líquido em
que se conservam os óvulos destacados e chegados à maiorida-
de, e, conduzindo os seus alunos às mesas de trabalho, mostrou-
lhes como se retirava esse líquido dos tubos de ensaio; como o
faziam cair gota a gota sobre as lâminas de vidro para repara-
ções microscópicas especialmente aquecidas; como os óvulos que
ele continha eram examinados sob o ponto de vista dos caracte-
res anormais, contados e transferidos para um recipiente poroso;
como – e conduziu-os então a observar a operação – esse reci-
piente era imerso num caldo tépido contendo espermatozóides
que aí nadavam livremente à “concentração mínima de cem mil
por centímetro cúbico”, notou ele, e como, ao fim de dez minu-
tos, o recipiente era retirado do líquido e o seu conteúdo nova-
mente examinado; como, se ainda aí restassem óvulos não fecun-
dados, o mergulhavam uma segunda vez e, em caso de
necessidade, uma terceira; como os óvulos fecundados voltavam
para as incubadoras; aí os Alfas e os Betas eram conservados até
a sua definitiva colocação em provetas, enquanto os Gamas, os
Deltas e os Ípsilons eram retirados apenas ao fim de trinta e seis
horas, para serem submetidos ao processo Bokanovsky.
– Ao processo Bokanovsky – repetiu o diretor. E os estudan-
tes sublinharam essas palavras nos cadernos.
Um ovo, um embrião, um adulto: o processo normal. Mas um
ovo bokanovskyzado tem a propriedade de germinar, de proliferar,
de se dividir: de oito a noventa e seis rebentos, e cada rebento se-
tornará um embrião perfeitamente formado, e cada embrião num
adulto normal. Desenvolvem-se assim noventa e seis seres huma-
nos onde antes apenas se desenvolvia um só. O progresso.
– A bokanovskyzação – concluiu o D.I.C. – consiste essencial-
mente numa série de travagens do desenvolvimento. Detemos o
crescimento normal e, embora pareça paradoxal, o ovo reage pro-
liferando.
"Reage proliferando." Os lápis atarefaram-se.
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O diretor estendeu o braço. Num transportador de movimen-
to muito lento, um suporte cheio de tubos de ensaio entrava numa
grande caixa metálica e um outro saía. Havia um ligeiro ruído de
máquinas. Os tubos levavam oito minutos a atravessar a caixa de
uma ponta à outra – explicava-lhes –, ou seja, oito minutos de
exposição aos raios X duros, que é, aproximadamente, o máximo
que um ovo pode suportar. Um pequeno número morria; dos ou-
tros, os menos influenciados dividiam-se em dois; a maioria proli-
ferava em quatro rebentos, alguns em oito. Eram então todos
novamente enviados para as incubadoras, onde os rebentos come-
çavam a desenvolver-se; depois, ao fim de dois dias, eram subita-
mente submetidos ao frio e à interrupção de crescimento. Os
rebentos dividiam-se, por sua vez, em dois, quatro, oito; depois,
tendo proliferado, eram submetidos a uma dose de álcool quase
mortal e, como conseqüência, de novo proliferavam, sendo em
seguida deixados em paz, rebentos de rebentos de rebentos, pois
toda e qualquer suspensão de crescimento era então, geralmente,
fatal. Nessa altura, o primitivo ovo tinha muitas probabilidades
de se transformar num número de embriões entre oito e noventa
e seis, “o que é, devem concordar, um prodigioso aperfeiçoamen-
to em relação à Natureza. Gêmeos idênticos, mas não em peque-
nos grupos de dois ou três, como nos antigos tempos da reprodu-
ção vivípara, quando um ovo se dividia, por vezes acidentalmente,
mas sim por dúzias, por vintenas, de uma só vez”.
– Por vintenas – repetiu o diretor, abrindo largamente os bra-
ços, como se fizesse ricas ofertas a uma multidão.
– Por vintenas.
Mas um estudante foi bastante tolo para perguntar em que
consistia a vantagem.
– Meu caro amigo! – O diretor voltou-se vivamente para ele.
– Então não vê? Não vê? – Levantou a mão e tomou uma atitude
solene. – O processo Bokanovsky é um dos máximos instrumen-
tos da estabilidade social.
– Homens e mulheres conformes ao tipo normal, em grupos
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Uniformes. Todo o pessoal de uma pequena fábrica constituído
pelos produtos de um único ovo bokanovskyzado. Noventa e seis
gêmeos idênticos fazendo trabalhar noventa e seis máquinas idên-
ticas! – A sua voz era quase vibrante de entusiasmo. – Pela pri-
meira vez na história, sabe-se perfeitamente para onde se cami-
nha. – E citou a divisa planetária: “Comunidade, Identidade,
Estabilidade.” – Grandiosas palavras. Se pudéssemos bokanovsky-
zar indefinidamente, todo o problema estaria resolvido. Resolvido
por Gamas do tipo normal, por Deltas invariáveis, por uniformes.
Milhões de gêmeos idênticos. O princípio da produção em série
aplicado, enfim, à biologia. Mas, infelizmente – o diretor agitou a
cabeça –, não podemos bokanovskyzar indefinidamente.
Noventa e seis, tal parecia ser o limite; setenta e dois, uma
boa média. Fabricar com o mesmo ovário e os gametas do mesmo
macho o maior número possível de grupos de gêmeos idênticos
era o que melhor se podia fazer – um melhor que, infelizmente,
nada mais era que um menos mal. E mesmo isso já era difícil.
– Porque, na Natureza, são necessários trinta anos para que
duzentos óvulos atinjam a maturidade. Mas a nossa tarefa é esta-
bilizar a população neste momento, aqui e agora. Produzir gême-
os a conta-gotas durante um quarto de século, para que servirá
isso?
Evidentemente, isso não serviria para nada. Mas a técnica
de Podsnap tinha acelerado imenso o processo da maturação.
Podia-se obter pelo menos cento e cinqüenta óvulos maduros no
espaço de dois anos.
– Fecunde-se e bokanovskyze-se, ou noutros termos, multi-
plique-se por setenta e dois, e obter-se-á uma média de quase
onze mil irmãos e irmãs em cento e cinqüenta grupos de gêmeos
idênticos, todos da mesma idade, em perto de dois anos. E, em
casos excepcionais, podemos obter de um único ovário mais de
quinze mil indivíduos adultos.
Fez sinal a um rapaz louro, de rosto rosado, que, por acaso,
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passava nesse momento: – Senhor Foster. – O rapaz de rosto rosa-
do aproximou-se. – Pode indicar-nos a máxima produção obtida
de um só ovário, senhor Foster?
– Dezesseis mil e doze, aqui, neste centro – respondeu o se-
nhor Foster sem nenhuma hesitação, falando muito depressa.
Tinha olhos azuis e vivos e um evidente prazer em citar algaris-
mos. – Dezesseis mil e doze em cento e oitenta e nove grupos
idênticos. Mas, é claro, tem-se feito muito melhor – continuou
com vigor – em alguns centros tropicais. Cingapura tem freqüen-
temente produzido mais de dezesseis mil e quinhentos e
Mombaça atingiu já os dezessete mil. Mas eles são injustamente
privilegiados. É ver como um ovário de negra reage ao líquido
pituitário! É espantoso, quando se está habituado a trabalhar com
materiais europeus. Ainda assim – acrescentou, rindo (mas o bri-
lho da luta notava-se no seu olhar e o levantamento do queixo
era um desafio), ainda assim temos intenção de os ultrapassar, se
for possível. Trabalho neste momento num maravilhoso ovário de
Delta-Menos. Tem apenas dezoito meses certos. Mais de doze mil
e setecentas crianças já, quer decantadas, quer em embrião. E ele
ainda produz mais. Havemos de conseguir vencê-los!
– Ora aí está o estado de espírito que me agrada! – excla-
mou o Diretor, dando uma palmada nas costas do senhor Foster.
– Venha conosco e faça aproveitar a estes garotos dos seus conhe-
cimentos de especialista.
Trecho do livro Adimirável Mundo Novo,de Aldous Huxley.
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Expediente
Comitê Gestor do Projeto
Timothy Denis Ireland (Secad – Diretor do Departamento da EJA)
Cláudia Veloso Torres Guimarães (Secad – Coordenadora Geral da EJA)
Francisco José Carvalho Mazzeu (Unitrabalho) – UNESP/Unitrabalho
Diogo Joel Demarco (Unitrabalho)
Coordenação do Projeto
Francisco José Carvalho Mazzeu (Coordenador Geral)
Diogo Joel Demarco (Coordenador Executivo)
Luna Kalil (Coordenadora de Produção)
Equipe de Apoio Técnico
Adan Luca Parisi
Adriana Cristina Schwengber
Andreas Santos de Almeida
Jacqueline Brizida
Kelly Markovic
Solange de Oliveira
Equipe Pedagógica
Cleide Lourdes da Silva Araújo
Douglas Aparecido de Campos
Eunice Rittmeister
Francisco José Carvalho Mazzeu
Maria Aparecida Mello
Equipe de Consultores
Ana Maria Roman – SP
Antonia Terra de Calazans Fernandes – PUC-SP
Armando Lírio de Souza – UFPA – PA
Célia Regina Pereira do Nascimento – Unicamp – SP
Eloisa Helena Santos – UFMG – MG
Eugenio Maria de França Ramos – UNESP Rio Claro – SP
Giuliete Aymard Ramos Siqueira – SP
Lia Vargas Tiriba – UFF – RJ
Lucillo de Souza Junior – UFES – ES
Luiz Antônio Ferreira – PUC-SP
Maria Aparecida de Mello – UFSCar – SP
Maria Conceição Almeida Vasconcelos – UFS – SP
Maria Márcia Murta – UNB – DF
Maria Nezilda Culti – UEM – PR
Ocsana Sonia Danylyk – UPF – RS
Osmar Sá Pontes Júnior – UFC – CE
Ricardo Alvarez – Fundação Santo André – SP
Rita de Cássia Pacheco Gonçalves – UDESC – SC
Selva Guimarães Fonseca – UFU – MG
Vera Cecilia Achatkin – PUC-SP
Equipe editorial
Preparação, edição e adaptação de texto:
Editora Página Viva
Revisão:
Ivana Alves Costa, Marilu Tassetto,
Mônica Rodrigues de Lima,
Sandra Regina de Souza e Solange Scattolini
Edição de arte, diagramação e projeto gráfico:
A+ Desenho Gráfico e Comunicação
Pesquisa iconográfica e direitos autorais:
Companhia da Memória
Fotografias não creditadas:
iStockphoto.com
Apoio
Editora Casa Amarela
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro. SP, Brasil)
Tecnologia e trabalho / [coordenação do projeto
Francisco José Carvalho Mazzeu, Diogo Joel Demarco,
Luna Kalil]. -- São Paulo : Unitrabalho-Fundação
Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho ;
Brasília, DF : Ministério da Educação. SECAD-Secretraria de
Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2007,
-- (Coleção Cadernos de EJA)
Vários colaboradores.
Bibliografia.
ISBN 85-296-0064-9 (Unitrabalho)
ISBN 978-85-296-0064-2 (Unitrabalho)
1. Livros-texto (Ensino Fundamental) 2. Tecnologia
3. Trabalho I. Mazzeu, Francisco José Carvalho.
II. Demarco, Diogo Joel. III. Kalil, Luna. IV. Série.
07-0405 CDD-372.19
Índices para catálogo sistemático:
1. Ensino integrado : Livros-texto :
Ensino fundamental 372.19
eja_expediente_Tecnologia_2384.qxd 1/26/07 3:33 PM Page 64
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