Tecnologia e Trabalho •
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Q
uando se considera que as novas tec-
nologias de informação e telecomu-
nicações, aliadas às novas técnicas
gerenciais, tendem a gerar desemprego nos
níveis médios da hierarquia empresarial, os
números não surpreendem.
De fato, as novas tecnologias não substi-
tuem abruptamente os empregos dos traba-
lhadores braçais por máquinas, como ocor-
reu na Revolução Industrial do passado. Elas
provocam, principalmente, um forte dese-
quilíbrio nas relações entre capital e traba-
lho, favorecendo enormemente o primeiro.
Depois dos processos de “reengenharia”,
que hoje não são mais restritos apenas às
indústrias, nota-se que os trabalhadores
“sobreviventes” tornam-se muito mais dó-
ceis quanto a reivindicações por aumentos
de salários, reposição de perdas inflacioná-
rias e novos benefícios. Isso explica as per-
das progressivas de poder aquisitivo, mes-
mo para os que continuam empregados.
Os demitidos, depois de um longo perío-
do de procura, vão acabar aceitando em-
pregos com remuneração inferior à que
recebiam anteriormente. Outros aceitarão
funções bem abaixo de suas qualificações;
e outros simplesmente abandonarão o
mercado de trabalho, seja para se tornar
autônomos, empresários informais ou
“desempregados permanentes”, vivendo à
custa de parentes. Isso explica a redução
drástica da renda “por domicílio”.
Outro dado revelador é que, “no con-
tingente de mulheres, o nível da ocupação
de 2003 permaneceu igual ao de 2002
(44,5%), que praticamente havia alcança-
do o de 1995 (44,6%), o mais alto desde o
início da década de 1990”. Como interpre-
tar isso? É simples, o trabalho feminino
está concentrado ou nas funções de menor
renda, ou em atividades pouco afetadas
pelas novas tecnologias, como as ligadas
ao preparo de alimentos, limpeza e conser-
vação, cuidado com doentes, deficientes,
crianças, idosos etc.
Mesmo a redução do trabalho infantil
pode ser relacionada aos programas gover-
namentais baseados na troca de “comida
por estudo”. Assim, no âmbito da econo-
mia da família, a criança na escola garante
a “cesta básica”, enquanto o adulto desem-
pregado passa a ocupar as funções que a
criança ocupava.
Isso não é perceptível na agricultura,
onde o trabalho infantil é complementar
ao do adulto e sempre foi uma fonte de
renda perfeitamente aceitável. Mas, nas
cidades, basta notar a substituição do
“tomador de conta” de automóveis infantil
pelo “flanelinha”, sempre um adulto.
Também notamos o progressivo “envelhe-
cimento” dos encarregados de transporte
de documentos e pequenos volumes. Sai o
“guarda-mirim” e entra o “moto-boy”.
Extraído do site www.midiaindependente.org/eo/blue/2004/
10/291926.shtml