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Cadernos de
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Economia solidária
e Trabalho
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o longo de sua história, o Brasil tem enfrentado o problema da exclusão social que
gerou grande impacto nos sistemas educacionais. Hoje, milhões de brasileiros ainda
não se beneficiam do ingresso e da permanência na escola, ou seja, não têm acesso a um
sistema de educação que os acolha.
Educação de qualidade é um direito de todos os cidadãos e dever do Estado; garantir o
exercício desse direito é um desafio que impõe decisões inovadoras.
Para enfrentar esse desafio, o Ministério da Educação criou a Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização e Diversidade – Secad, cuja tarefa é criar as estruturas necessárias
para formular, implementar, fomentar e avaliar as políticas públicas voltadas para os grupos
tradicionalmente excluídos de seus direitos, como as pessoas com 15 anos ou mais que não
completaram o Ensino Fundamental.
Efetivar o direito à educação dos jovens e dos adultos ultrapassa a ampliação da oferta
de vagas nos sistemas públicos de ensino. É necessário que o ensino seja adequado aos que
ingressam na escola ou retornam a ela fora do tempo regular: que ele prime pela qualidade,
valorizando e respeitando as experiências e os conhecimentos dos alunos.
Com esse intuito, a Secad apresenta os Cadernos de EJA: materiais pedagógicos para o
1.º e o 2.º segmentos do ensino fundamental de jovens e adultos. “Trabalho” será o tema da
abordagem dos cadernos, pela importância que tem no cotidiano dos alunos.
A coleção é composta de 27 cadernos: 13 para o aluno, 13 para o professor e um com
a concepção metodológica e pedagógica do material. O caderno do aluno é uma coletânea
de textos de diferentes gêneros e diversas fontes; o do professor é um catálogo de ativi-
dades, com sugestões para o trabalho com esses textos.
A Secad não espera que este material seja o único utilizado nas salas de aula. Ao con-
trário, com ele busca ampliar o rol do que pode ser selecionado pelo educador, incentivan-
do a articulação e a integração das diversas áreas do conhecimento.
Bom trabalho!
Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade – Secad/MEC
Apresentação
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Sumário
TEXTO Subtema
1. A revolução dos bichosRelicostumes
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2. A força está com elas 14
3. A parte de cada um Diversidades regionais 17
4. Assembléia na carpintaria Maturidade social 18
5. Construindo pontesMiscigenação 20
6. Solidariedade Crítica social 23
7. O rio e o oceano Trabalhadores 24
8. Mãos dadas Cultura suburbana 26
9. O estatuto da cooperativaa luta dos negros 27
10. Associação ou cooperativa? Ambiente de trabalho 28
11. Planejamento estratégico Identidade nacional 31
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12. O que é cooperação? Ambiente de trabalho 36
13. Receita de organização Índios do Brasil 38
14. AutogestãoImigração e culinária 42
15. Valores convergentes Direitos civis 44
16. Cooperativas problemas mais graves com a legislação 46
17. O banqueteÍndios do Brasil 49
18. Doce futuro no sertão do Piauí 50
19. A administração de uma cooperativa Olhos da alma 52
20. Construyendo una otra economía Arte culinária 54
21. Trabalho e cooperação na origem do ser humanoArte culinária 56
22. Social economy: a 3
_
rd
sector in economiesArte culinária 58
23. Passo-a-passo para abrir uma cooperativa Arte culinária 60
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TEXTO
1
CAPÍTULO I
O senhor Jones, proprietário da Granja do Solar, fechou o gali-
nheiro à noite, mas estava bêbado demais para lembrar-se de fechar
também as vigias. Com o facho de luz da sua lanterna balan-
çando de um lado para o outro, atravessou cambaleante o
pátio, tirou as botas na porta dos fundos, tomou um últi-
mo copo de cerveja do barril que havia na copa, e foi
para a cama, onde sua mulher já ressonava.
Tão logo apagou-se a luz do quarto, houve um
grande alvoroço em todos os galpões da granja. Corre-
ra, durante o dia, o boato de que o velho Major, um
porco que já se sagrara grande campeão numa expo-
sição, tivera um sonho muito estranho na noite
anterior e desejava contá-lo aos outros animais.
Haviam combinado encontrar-se no celeiro, assim
que Jones se retirasse. O velho Major (chamavam-
A REVOLUÇÃO
DOS BICHOS
Nesse livro o autor faz uma forte crítica à Revolução Soviética de
1917. Ao mesmo tempo, mostra as duras condições de trabalho
e de vida que geraram a revolta popular. O recurso de apresen-
tar personagens de animais que falam e se comportam como
humanos é muito usado na literatura e na cultura de massa. No
caso deste texto, quem são os porcos? Quem são os homens? Qual
será o destino da Granja dos Bichos? Procure o livro em uma
biblioteca e saiba o final dessa interessante história.
George Orwell
Sistemas políticos
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no assim, muito embora ele houvesse comparecido à expo-
sição com o nome de “Beleza de Willingdon”) gozava de
tão alto conceito, na granja, que todos estavam dispos-
tos a perder uma hora de sono só para ouvi-lo.
Ao fundo do grande celeiro, sobre uma espécie de
estrado, estava o Major refestelado em sua cama de
palha, sob um lampião que pendia de uma viga. Com
doze anos de idade, já bastante corpulento, era ainda um
porco de porte majestoso, com um ar sábio e benevolente, a
despeito de suas presas jamais terem sido cortadas. Os outros
animais chegavam e punham-se a cômodo, cada qual a seu
modo. Os primeiros foram os três cachorros, Ferrabrás, Lulu e Cata-
vento, depois os porcos, que se sentaram sobre a palha, em frente ao
estrado. As galinhas empoleiraram-se nas janelas, as pombas
voaram para os caibros do telhado, as ovelhas e as vacas deitaram-
se atrás dos porcos e ali ficaram a ruminar. Os dois cavalos de
tração, Sansão e Quitéria, chegaram juntos, andando lentamente e
pousando no chão os enormes cascos peludos, com grande cuidado
para não machucar qualquer animalzinho porventura oculto na
palha. Quitéria era uma égua volumosa, matronal, já chegada à
meia-idade, cuja silhueta não mais se recompusera após o nasci-
mento do quarto potrinho. Sansão era um bicho enorme, de quase
um metro e noventa de altura, forte como dois cavalos. A mancha
branca do focinho dava-lhe um certo ar de estupidez e, real-
mente, não tinha lá uma inteligência de primeira ordem,
embora fosse grandemente respeitado pela retidão
de caráter e pela tremenda capacidade de
trabalho. Depois dos cavalos, chegaram
Maricota, a cabra branca, e Benjamim,
o burro. Benjamin era o animal mais
idoso da fazenda, e o mais mode-
rado. Raras vezes falava e,
normalmente, quando o fazia,
era para emitir uma observa-
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Economia Solidária e Trabalho
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ção cínica – para dizer, por exemplo, que Deus lhe dera uma cauda
para espantar as moscas e que, no entanto, seria mais do seu agra-
do não ter nem a cauda nem as moscas. Era o único dos animais
que nunca ria. Quando lhe perguntavam por que, respondia não
ver motivo para riso. Não obstante, sem que o admitisse aberta-
mente, tinha certa afeição por Sansão; normalmente passavam os
domingos juntos no pequeno potreiro existente atrás do pomar,
pastando lado a lado em silêncio.
(...)
Quando o Major os viu bem acomodados e aguardando atenta-
mente, limpou a garganta e começou:
— “Camaradas, já ouvistes, por certo, algo a respeito do
estra-nho sonho que tive na noite passada. Entretanto, falarei do
sonho mais tarde. Antes, as coisas a dizer. Sei, camaradas, que
não estarei convosco por muito tempo e antes de morrer consi-
dero uma obrigação transmitir-vos o que tenho aprendido sobre
o mundo. Já vivi bastante e muito tenho refletido na solidão da
minha pocilga. Creio poder afirmar que compreendo a natureza
da vida sobre esta terra, tão bem como qualquer outro animal. É
sobre isso que desejo falar-vos.
— Então, camaradas, qual é a natureza da nossa vida? Enfren-
temos a realidade: nossa vida é miserável, trabalhosa e curta. Nasce-
mos, recebemos o mínimo de alimento necessário para continuar
respirando e os que podem trabalhar são forçados a fazê-lo até a
última parcela de suas forças; no instante em que nossa utilidade
acaba, trucidam-nos com hedionda crueldade. Nenhum animal, na
Inglaterra, sabe o que é felicidade ou lazer, após completar um ano
de vida. Nenhum animal, na Inglaterra, é livre. A vida de um animal
é feita de miséria e escravidão: essa é a verdade nua e crua.
(...)
O Homem é a única criatura que consome sem produzir. Não
dá leite, não põe ovos, é fraco demais para puxar o arado, não corre
o suficiente para alcançar uma lebre. Mesmo assim, é o senhor de
todos os animais. Põe-nos a trabalhar, dá-nos de volta o mínimo
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para evitar a inanição e fica com o restante. Nosso trabalho ama-
nha o solo, nosso estrume o fertiliza e, no entanto, nenhum de nós
possui mais do que a própria pele. As vacas, que aqui vejo à minha
frente, quantos litros de leite terão produzido este ano? E que acon-
teceu a esse leite, que deveria estar alimentando robustos bezerri-
nhos? Desceu pela garganta dos nossos inimigos. E as galinhas,
quantos ovos puseram este ano, e quantos se transformaram em
pintinhos? Os restantes foram para o mercado, fazer dinheiro para
Jones e seus homens. E você, Quitéria, diga-me onde estão os
quatro potrinhos que deveriam ser o apoio e o prazer da sua velhi-
ce? Foram vendidos com a idade de um ano – nunca você tornará a
vê-los. Como paga pelos seus quatro partos e por todo o seu traba-
lho no campo, que recebeu você, além de ração e baia?
Mesmo miserável como é, nossa vida não chega ao fim de modo
natural. Não me queixo por mim que tive até muita sorte. Estou
com doze anos e sou pai de mais de quatrocentos porcos. Isto é a
vida normal de um varrão. Mas, no fim, nenhum animal escapa ao
cutelo. Vós, jovens leitões que estais sentados à minha frente, não
escapareis de guinchar no cepo dentro de um ano. Todos chegare-
mos a esse horror, as vacas, os porcos, as galinhas, as ovelhas, todos.
Nem mesmo os cavalos e os cachorros escapam a esse destino. Você,
Sansão, no dia em que seus músculos fortes perderem a rigidez,
Jones o mandará para o carniceiro e você será degolado e fervido
para os cães de caça. Quanto aos cachorros, depois de velhos e
desdentados, Jones amarra-lhes uma pedra ao pescoço e joga-os na
primeira lagoa.
Não está, pois, claro como água, camaradas, que todos os males
da nossa existência têm origem na tirania dos seres humanos? Basta
que nos livremos do Homem para que o produto de nosso trabalho
seja somente nosso. Praticamente, da noite para o dia, poderíamos
nos tornar ricos e livres. Que fazer? Trabalhar dia e noite, de corpo
e alma, para a derrubada do gênero humano. Esta é a mensagem
que eu vos trago, camaradas: Revolução! Não sei quando sairá esta
Revolução, pode ser daqui a uma semana, ou daqui a um século,
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mas uma coisa eu sei, tão certo quanto o ter eu palha sob meus
pés: mais cedo ou mais tarde, justiça será feita. Fixai, camaradas
isso, para o resto de vossas curtas vidas! E, sobretudo, transmiti
essa minha mensagem aos que virão depois de vós, para que as
futuras gerações prossigam na luta, até a vitória.
(...)
“E agora, camaradas, vou contar-vos o sonho que tive a noite
passada. Não sei como explicá-lo. Foi um sonho sobre como será o
mundo quando o Homem desaparecer.”
Daí a três noites faleceu o velho Major, tranqüilamente, duran-
te o sono. Seu corpo foi enterrado no fundo do pomar.
Salientavam-se, entre os bichos, dois jovens varrões, Bola-de-
Neve e Napoleão, que o Sr. Jones criava para vender.
(...)
Muitos líderes ainda lutaram os porcos para neutralizar as menti-
ras espalhadas por Moisés, o corvo doméstico. Moisés, bicho de esti-
mação do Jones, era um espião linguarudo, mas também hábil na
conversa. Afirmava a existência de uma região misteriosa, “Monta-
nha de Açúcar”, para onde iam os animais após a morte. Essa monta-
nha estava situada em algum lugar do céu, pouco acima das nuvens,
segundo dizia Moisés. Na Montanha de Açúcar, os sete dias da sema-
na eram domingo, o campo floria o ano inteiro, e cresciam torrões
de açúcar e bolos de linhaça nas sebes. Os animais detestavam
Moisés, porque vivia contando histórias e não trabalhava, porém
alguns acreditavam na Montanha de Açúcar e os porcos tiveram gran-
de trabalho para convencê-los de que tal lugar não existia.
(...)
Afinal, a Revolução ocorreu muito mais cedo e mais facilmente
do que se esperava. Jones fora, no passado, um patrão duro, porém
eficiente. Agora estava em decadência. Desestimulado com a perda
de dinheiro numa ação judicial, dera para beber bastante além do
conveniente. Às vezes, passava dias inteiros recostado em sua cadei-
ra de braços, na cozinha, lendo os jornais, bebendo e dando a
Moisés cascas de pão molhadas na cerveja. Seus peões eram vadios
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e desonestos, o campo estava coberto de erva daninha, os galpões
necessitavam de telhas novas, as cercas estavam abandonadas e os
animais andavam mal alimentados.
Junho chegou, e o feno estava quase pronto para o corte. No
dia 23 de junho, um sábado, Jones foi a Willingdon e bebeu tanto
no Leão Vermelho, que só regressou ao meio-dia de domingo. Os
homens ordenharam as vacas de manhã cedo e saíram para caçar
lebres, sem se preocuparem com a alimentação dos animais. Ao
voltar, Jones foi dormir no sofá da sala com o News of the World
sobre o rosto; portanto, ao cair da tarde, os animais ainda não ha-
viam comido. Aquilo foi insuportável. Uma das vacas rebentou a
chifradas a porta do depósito e os bichos avançaram sobre o alimen-
to. Nesse momento, Jones acordou. Num instante, ele e seus ho-
mens estavam no depósito com os chicotes na mão, batendo a torto
e a direito. Isso ultrapassou a tudo quanto os animais famintos po-
diam suportar. De comum acordo, muito embora nada tivesse sido
anteriormente planejado, lançaram-se sobre seus verdugos. Jones e
os homens viram-se de repente marrados e escoiceados por todos
os lados. A situação lhes fugira ao controle. Jamais haviam visto os
animais portarem-se daquela maneira, e a súbita revolta de cria-
turas a quem estavam acostumados a surrar e maltratar à vontade,
apavorou-os. Em poucos instantes, desistiram de defender-se e
deram o fora. Um minuto depois, os cinco voavam pela trilha rumo
à estrada principal, com os bichos a persegui-los triunfantes.
A mulher de Jones olhou pela janela do quarto, viu o que acon-
tecia, reuniu às pressas alguns haveres dentro de uma bolsa de
pano e escapuliu da granja por outro caminho. Moisés levantou
vôo do poleiro e bateu asas atrás dela, grasnando ruidosamente.
Enquanto isso, os bichos haviam posto Jones e os peões para fora
da granja, fechando atrás deles a porteira das cinco barras. E assim,
antes de perceberem o que sucedera, a Revolução estava feita.
Jones fora expulso e a Granja do Solar era deles.
(...)
Em curto tempo, os bichos destruíram tudo quanto lhes recor-
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dava Jones. Napoleão conduziu-os de volta ao depósito de forra-
gem e serviu uma ração dupla de cereais para todo mundo, com
dois biscoitos para cada cachorro. Depois cantaram “Bichos da
Inglaterra” de ponta a ponta, sete vezes, uma atrás da outra, deita-
ram-se e dormiram como nunca.
(...)
Os porcos revelaram que durante os últimos três meses haviam
aprendido a ler e escrever, num velho livro de ortografia dos filhos
de Jones, que fora jogado no lixo. Napoleão mandou buscar latas
de tinta preta e branca e conduziu-os até a porteira das cinco barras
que dava para a estrada principal. Então, Bola-de-Neve (que era
quem escrevia melhor) pegou o pincel entre as juntas da pata,
apagou o nome GRANJA DO SOLAR do travessão superior e, em
seu lugar, escreveu GRANJA DOS BICHOS. Seria esse o nome da
granja daquele momento em diante. Depois disso, voltaram para as
casas da granja; Bola-de-Neve e Napoleão mandaram buscar uma
escada e ordenaram que fosse encostada à parede do fundo do
celeiro grande. Explicaram que, segundo os estudos que haviam
feito nos últimos três meses, era possível resumir os princípios do
Animalismo em Sete Mandamentos. Esses Sete Mandamentos, que
seriam agora escritos na parede, constituiriam a lei inalterável pela
qual a Granja dos Bichos deveria reger sua vida a partir daquele
instante, para sempre.
Com alguma dificuldade (pois não é fácil um porco equili-
brar-se numa escada de mão), Bola-de-Neve subiu e começou a
trabalhar, enquanto Garganta, alguns degraus abaixo, segurava a
lata de tinta. Os Mandamentos foram escritos na parede alca-
troada em grandes letras brancas que podiam ser lidas a muitos
metros de distância. Eis o que dizia o letreiro:
OS SETE MANDAMENTOS
1. Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo.
2. Qualquer coisa que ande sobre quatro pernas, ou tenha
asas, é amigo.
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3. Nenhum animal usará roupas.
4. Nenhum animal dormirá em cama.
5. Nenhum animal beberá álcool.
6. Nenhum animal matará outro animal.
7. Todos os animais são iguais.
— E agora, camaradas — disse o leitão Bola-de-Neve, deixan-
do cair o pincel, ao campo de feno! É uma questão de honra reali-
zar a colheita em menos tempo do que Jones e seus homens.
Nesse momento, porém, as vacas, que já vinham dando sinais
de inquietação, começaram a mugir. Havia vinte e quatro horas que
não eram ordenhadas e estavam com os úberes quase estourando.
Depois de alguma reflexão, os porcos pediram baldes e ordenha-
ram as vacas com relativo êxito, pois seus cascos adaptavam-se bem
à tarefa. Em breve obtinham cinco baldes de um leite espumante e
cremoso, que muitos bichos olharam com considerável interesse.
— Que vamos fazer com esse leite? — perguntou alguém.
— Jones às vezes misturava um pouco ao nosso farelo — disse
uma galinha.
— Não se preocupem com o leite, camaradas! — gritou Napo-
leão, postando-se à frente dos baldes.
— Nós trataremos desse assunto. A colheita é mais importante.
O camarada Bola-de-Neve os conduzirá.
Eu seguirei dentro de alguns minutos. Avante, camaradas! O
feno está à espera.
Os animais marcharam rumo ao campo de feno, para o início
da colheita, e quando voltaram, à tardinha, notaram que o leite
havia desaparecido.
(...)
George Orwell é o pseudônimo de Erick Arthur Blair (25-06-1903 a 21-01-1950). Nasceu em Bengala,
Índia inglesa, e morreu em Londres. Toda sua obra madura traduz seu desencanto com o stalinismo, que
ele considerava uma traição à causa socialista.
Fonte
P
A Revolução dos Bichos, de GEORGE ORWELL. Editora Globo, 2000., 1.ed.
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Organização social feminina
TEXTO
2
Foto: Mônica Zarattini / AE
Economia Solidária e Trabalho
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A FORÇA ESTÁ
COM ELAS
“Em Santa Fé um grupo de 26
amigas mantêm viva uma tradição
secular: o fabrico da farinha
de mandioca e do polvilho.”
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Economia Solidária e Trabalho
15
F
altava pouco para as três da manhã
quando o dia já havia começado para
Maria. Como faz há vinte anos, le-
vantou, coou o café e seguiu para o tra-
balho que só terminaria quinze horas de-
pois, às cinco da tarde. Precisa esse tempo
todo para, junto com doze colegas, des-
cascar uma “montanha” com 2 mil quilos
de mandioca que, depois de lavadas, rala-
das e torradas, se transformam em 150
quilos de farinha.
A dura rotina de Maria, porém, não
apaga de seu rosto o ar de alegria e felici-
dade, pelo simples fato de estar vivendo.
Maria Alves dos Santos, 47 anos, duas
filhas e três netos, foi desenganada pela
medicina, mas não se entregou, mesmo
tendo feito oito cirurgias e ter de conviver
com o mal de Chagas e a disritmia. Quan-
do a dor vence sua obstinação pela produ-
ção de farinha, ela pára e vai costurar em
casa. Mas, já que não pode carregar peso,
carrega a certeza de que o trabalho é o
melhor remédio para mantê-la de pé.
A história de Maria não é exclusiva,
há outras bem parecidas no seu grupo de
26 amigas que mantêm viva uma tradi-
ção secular: a fabricação da farinha de
mandioca e do polvilho. Enquanto traba-
lham, contam histórias, dão boas risadas
e vão tocando a vida. Juntas, formam a
Associação das Mulheres de Santa Fé,
cidadezinha com pouco mais de 7 mil
habitantes, a 260 km de Goiânia.
Incentivadas por uma freira dominicana,
há vinte anos as mulheres começaram a se
reunir para estudar os ensinamentos bíblicos
e acabaram criando a escola Troca de Saber.
Pensaram em alguma atividade que desse
dinheiro, e começaram a fazer colchas de
retalho. Sem recursos para iniciar a produ-
ção, buscaram doações na comunidade local
e receberam apoio de organizações interna-
cionais que doaram máquinas e tecido.
Mas, mesmo com toda a dedicação, a
tentativa esbarrou na falta de prática das
associadas e no fraco mercado para o
produto. Levavam até uma semana para
produzir uma colcha e, nos três primeiros
anos, não tiveram nenhum lucro. Foi então
Foto: Milton Michida / AE
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Texto 2 / Organização social feminina
que surgiu a idéia da farinha, já que todas
sabiam como se fazia. Em mutirão, cons-
truíram um rancho de palha e chão batido
e lá fincaram as raízes da associação.
Naquele tempo, a idéia de se trabalhar em
parceria era vista como subversiva, e elas
não contavam nem com a simpatia dos
próprios maridos. Contudo, a amizade
entre elas se fortaleceu, e a associação
ganhou respeito.
Convívio familiar
Assim, as mulheres de Santa Fé come-
çaram a tirar da farinha não só o sustento,
mas um ideal de vida. As jovens obstinadas
da década de 1980 casaram, tiveram filhos,
netos, mas não arredaram o pé do trabalho
comunitário. Como em um formigueiro,
cada uma sabe muito bem da sua missão,
num verdadeiro exemplo de como viver em
harmonia numa comunidade.
A primeira ata da associação é motivo de
orgulho para as mulheres da comunidade.
Agora as mulheres de Santa Fé que-
rem conquistar novos horizontes e para isso
procuraram ajuda de pessoas que enten-
dem de administração de empresa, pois o
lucro atual ainda é muito baixo. Para se ter
idéia, num determinado mês em que a re-
ceita líquida foi de R$ 150, o conserto de
um triturador custou-lhes R$ 210.
A receita é resultante da venda da
produção de farinha e polvilho. Cada asso-
ciada leva sua parte, em dinheiro ou
produto, e a associação fica com 10% da
produção para custear as despesas. A
prefeitura paga as contas de água e ener-
gia elétrica, num total de R$ 400. Como a
associação não tem terreno para o cultivo,
compra a mandioca de produtores da
região, a R$ 0,08 o quilo, ou então pega à
meia – produz e divide a farinha pela
metade com o produtor. A Maria na nossa
história, por exemplo, comprou uma carga
de mandioca por R$ 85,00. Três semanas
depois, recebeu 45 kg de farinha e 60 litros
de polvilho, que lhe renderam R$ 135,00.
Economia Solidária e Trabalho
16
Revista SEBRAE n. 7 nov.-dez./2002, seção "Uma história de vida",
disponível em http://www.sebrae.com.br/revistasebrae/07/index.htm
02•CA04T02P1 16.01.07 15:32 Page 16
Vida solidária
H
ouve um incêndio na floresta e enquanto todos os bichos cor-
riam apavorados, um pequeno beija-flor ia do rio para o incên-
dio levando gotinhas de água em seu bico. O leão, vendo aqui-
lo, perguntou para o beija-flor: “Ô, beija-flor, você acha que vai
conseguir apagar o incêndio sozinho?”. E o beija-flor respondeu:
“Eu não sei se vou conseguir, mas estou fazendo a minha parte”.
Fonte
P
“O beija-flor”, fábula de domínio público utilizada por Betinho como metáfora de solidariedade.
Extraído de http://www.riovoluntario.org.br/trofeu/trofeu2000.html
Economia Solidária e Trabalho
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A PARTE DE CADA UM
TEXTO
3
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Contam que na carpintaria houve uma vez uma estranha
assembléia.
Foi uma reunião de ferramentas para acertar suas diferenças.
Um martelo exerceu a presidência, mas os participantes
lhe notificaram que teria que renunciar.
A causa?
Fazia demasiado barulho; e, além do mais, passava todo o
tempo golpeando.
O martelo aceitou sua culpa, mas pediu que também fosse
expulso o parafuso, dizendo que ele dava muitas voltas para
conseguir algo.
Diante do ataque, o parafuso concordou, mas por sua vez,
pediu a expulsão da lixa. Dizia que ela era muito áspera no
tratamento com os demais, entrando sempre em atritos.
ASSEMBLÉIA
NA CARPINTARIA
Fábula sobre os dons de cada um e a vantagem das associações
Sistemas Políticos
TEXTO
4
Economia Solidária e Trabalho
18
Autor desconhecido
04•CA04T03P1 12/15/06 1:24 AM Page 18
A lixa acatou, com a condição de que se expulsasse o
metro que sempre media os outros segundo a sua medida,
como se fora o único perfeito.
Nesse momento, entrou o carpinteiro, juntou o material e
iniciou o seu trabalho. Utilizou o martelo, a lixa, o metro e o
parafuso.
Finalmente, a rústica madeira se converteu num fino
móvel.
Quando a carpintaria ficou novamente só, a assem-
bléia reativou a discussão.
Foi então que o serrote tomou a palavra e
disse:
“Senhores, ficou demonstrado que temos
defeitos, mas o carpinteiro trabalha com
nossas qualidades, com nossos pontos valio-
sos. Assim, não pensemos em nossos pontos
fracos, e concentremo-nos em nossos pontos
fortes.”
A assembléia entendeu que o martelo era forte, o parafu-
so unia e dava força, a lixa era especial para limar e afinar
asperezas, e o metro era preciso e exato.
Sentiram-se então como uma equipe capaz de produzir
móveis de qualidade.
Sentiram alegria pela oportunidade de trabalhar juntos.
Ocorre o mesmo com os seres humanos. Basta observar e
comprovar.
Quando uma pessoa busca defeitos em outra, a situação
torna-se tensa e negativa; ao contrário, quando se busca com
sinceridade os pontos fortes dos outros, florescem as melho-
res conquistas humanas.
É fácil encontrar defeitos, qualquer um pode fazê-lo.
Mas encontrar qualidades... isso é só para os sábios!!!!
Economia Solidária e Trabalho
19
Extraído de www.paralerepensar.com.br/assembleia_na_carpintaria.htm
04•CA04T03P1 16.01.07 15:41 Page 19
C
erta vez, dois irmãos que moravam em fazendas vizinhas, sepa-
radas apenas por um riacho, entraram em conflito. Foi a primei-
ra grande desavença em toda uma vida trabalhando lado a lado,
repartindo as ferramentas e cuidando um do outro.
Durante anos percorreram uma estreita, porém, comprida estra-
da que corria ao longo do rio para, ao final de cada dia, poder atra-
vessá-lo e desfrutarem um da companhia do outro. Apesar do cansa-
ço, faziam-no com prazer, pois se amavam. Mas agora tudo havia
mudado. O que começara com um pequeno mal entendido finalmen-
te explodiu numa troca de palavras ríspidas, seguidas por semanas
de total silêncio.
Numa manhã, o irmão mais velho ouviu baterem à sua porta. Ao
abri-la, um homem com uma caixa de ferramentas de carpinteiro na
mão, disse:
– Estou procurando trabalho, talvez você tenha algum serviço para
mim.
– Sim! – disse o fazendeiro – tenho um trabalho para você. Olhe
aquela fazenda além do riacho. É de meu vizinho, na verdade, meu
irmão mais novo. Brigamos e eu não o suporto mais. Está vendo
aquela pilha de madeira perto do celeiro? Quero que você construa
Vidas solidárias
TEXTO
5
Economia Solidária e Trabalho
20
Duas fábulas sobre a
magia de fazer boas obras
CONSTRUINDO
PONTES
Ilustração Alcy
05•CA04T04P1 16.01.07 16:01 Page 20
uma cerca bem alta ao longo do rio para que eu não mais
precise vê-lo.
– Acho que entendi a situação – disse o carpinteiro. – Mostre-me
onde estão o martelo e os pregos que farei um trabalho que o deixará
satisfeito.
Como precisava ir à cidade, o irmão mais velho ajudou o carpin-
teiro a encontrar o material e partiu. O homem trabalhou duro duran-
te todo o dia medindo, cortando e pregando.
Já anoitecia quando terminou a obra, ao mesmo tempo em que o
fazendeiro retornava. Porém, seus olhos não podiam acreditar no que
viam. Não havia cerca alguma! Em seu lugar tinha uma ponte ligando
um lado ao outro do riacho. Era realmente um belo trabalho, mas,
enfurecido, o fazendeiro exclamou:
– Você é muito insolente em construir esta ponte depois de tudo
que lhe contei!
No entanto, as surpresas não haviam terminado. Ao erguer os
olhos para a ponte de novo, viu o irmão aproximando-se da outra
margem, correndo com os braços abertos. Cada qual ficou imóvel por
alguns instantes de seu lado do rio, quando, num impulso, correram
um em direção do outro, abraçando-se e chorando quando se encon-
traram no meio da ponte. Emocionados, viram o carpinteiro arruman-
do suas ferramentas para partir.
– Não, espere! – disse o mais velho – Fique conosco mais alguns
dias, tenho mais trabalho para você.
Então o carpinteiro respondeu:
– Adoraria ficar, mas, tenho muitas outras pontes para construir.
ATÉ O FIM
O velho carpinteiro tinha planos de largar o trabalho de constru-
ção de casas e viver uma vida mais tranqüila com a família. Claro que
iria sentir falta do salário, mas preferia se aposentar.
Economia Solidária e Trabalho
21
05•CA04T04P1 16.01.07 16:01 Page 21
O patrão sentiu em saber que perderia um de seus melhores
empregados, então, pediu-lhe que construísse uma última casa como
um favor especial. O carpinteiro concordou, mas não era difícil obser-
var que seus pensamentos não estavam concentrados no trabalho.
Ele não se empenhou no serviço e usou mão-de-obra e materiais de
qualidade inferior. Foi um jeito lamentável de encerrar a carreira.
Quando o terminou, o patrão, depois de inspecionar a casa,
pegou a chave da porta principal e a entregou ao carpinteiro dizen-
do “Esta é a sua casa, é meu presente pra você”.
Que choque! Que vergonha! Se o carpinteiro soubesse que esta-
va construindo sua própria casa, teria feito completamente diferen-
te, não teria relaxado. Agora ele iria morar numa casa construída de
qualquer jeito por ele mesmo.
Assim acontece conosco. Construímos nossas vidas de modo
distraído, reagindo mais do que agindo, colocando menos em vez
de colocar o melhor. Nos assuntos importantes não empenhamos
nosso melhor esforço. Então, em choque, olhamos para a situação
que nós mesmos criamos e vemos que estamos morando na casa
que nós mesmos construímos. Se soubéssemos, teríamos feito de
modo diferente...
Pense como o carpinteiro pensaria se soubesse que estava
construindo a sua própria casa. Pense sobre sua casa. Cada dia
você martela um prego novo, coloca uma armação ou levanta
uma parede. Construa sabiamente. É a única vida que você cons-
truirá. Mesmo que tenha somente mais um dia de vida, este dia
merece ser vivido com graça e dignidade. Na placa essá escrito:
A vida é um projeto de faça você mesmo”. A vida de hoje é o
resultado de atitudes e escolhas feitas no passado. A vida de
amanhã será o resultado de atitudes e escolhas feitas hoje.
Texto 5 / Vidas solidárias
Economia Solidária e Trabalho
22
Extraído do site www.metaforas.com.br
05•CA04T04P1 16.01.07 16:01 Page 22
“Solidários, somos gente;
Solitários, somos peças.
De mão dadas, somos força;
Desunidos, impotência.
Isolados, somos ilha;
Juntos, somos continente.
Inconscientes, somos massa;
Reflexivos, somos grupo.
Organizados, somos pessoas;
Sem organização, somos objetos de lucro.
Em equipe, ganhamos, libertamo-nos;
Individualmente, perdemos, continuamos
presos.
Participando, somos povo;
Marginalizando-nos, somos rebanho.
Unidos, somos soma;
Na massa, somos número.
Dispersos, somos vozes no deserto;
Agrupados, fazemo-nos ouvir.
Amontoando palavras, perdemos tempo;
“Com ações concretas, construímos
sempre”.
Economia Solidária e Trabalho
23
SOLIDARIEDADE
Um chamado à união
Causas coletivas
TEXTO
6
Extraído de http://www.gdfsige.df.gov.br/Modelos/Mod16/
Default.Asp?EW=114&CL=422&EF=sq_cliente=422&IN=930
06•CA04T07P1 12/15/06 1:01 AM Page 23
Filosofia social
TEXTO
7
Economia Solidária e Trabalho
24
07•CA04T06P1 12/15/06 12:54 AM Page 24
Economia Solidária e Trabalho
25
Diz-se que, mesmo antes de um rio cair no oceano ele
treme de medo.
Olha para trás, para toda a jornada, os cumes, as
montanhas, o longo caminho sinuoso através das flo-
restas, através dos povoados, e vê à sua frente um
oceano tão vasto que entrar nele nada mais é do que
desaparecer para sempre.
Mas não há outra maneira.
O rio não pode voltar.
Ninguém pode voltar.
Voltar é impossível na existência.
Você pode apenas ir em frente.
O rio precisa se arriscar e entrar no oceano.
E somente quando ele entra no oceano é que o medo
desaparece.
Porque apenas então o rio saberá que não se trata de
desaparecer no oceano, mas tornar-se oceano.
Por um lado é desaparecimento e por outro lado é
renascimento.
Extraído de http://www.artemanhas.iter.com.br/rio
_e_oceano/rio_e_o_oceano.htm
07•CA04T06P1 12/15/06 12:54 AM Page 25
“...Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.”
Extraído do livro Alguma Poesia, 1930.
MÃOS DADAS
Carlos Drummond de Andrade
Vida solidária
TEXTO
8
Economia Solidária e Trabalho
26
Ilustração: Alcy
08•CA04T08P1 12/15/06 12:50 AM Page 26
Xxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxXxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxxXxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxx
Foto: Xxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxx
XXXXX
Xxxxxxxxxx
TEXTO
x
Economia Solidária e Trabalho
27
É
o documento que determina as fun-
ções dos diversos setores da coopera-
tiva. Ele contém as normas gerais de
administração, objeto, funcionamento e
outras tantas regras do interesse dos coo-
perados.
Antes da Lei cooperativista 5.764 de
1971, havia um modelo padrão de Estatu-
to. Depois da Constituição de 1988, são as
assembléias das cooperativas que definem
os seus estatutos. Mesmo assim, alguns
itens devem, obrigatoriamente, constar nos
Estatutos, como:
Nome da cooperativa, tipo de enti-
dade, prazo de duração, sede e foro,
área de ação, objeto da sociedade e fixa-
ção do exercício social.
Os direitos e deveres dos associados, a
natureza de suas responsabilidades e
as condições de admissão, demissão, elimi-
nação e exclusão destes e, as normas para
sua representação nas assembléias gerais.
O capital mínimo, valor da cota-parte,
o número de cotas-partes a ser subscri-
to pelo associado, o modo de inte-
gralização, bem como as condições de
sua retirada. A forma de devolução das
sobras ou rateio das perdas apuradas.
O modo de administração e fiscali-
zação, estabelecendo os respectivos
órgãos e definindo suas atribuições, a repre-
sentação ativa e passiva da sociedade em
juízo e fora dele, o prazo de mandato, bem
como o processo de substituição dos adminis-
tradores e conselheiros fiscais.
As formalidades de convocação das
Assembléias e a maioria necessária
para sua instalação, seu funcionamento e
a validade de suas deliberações.
Os casos e formas de dissolução da
sociedade e destino do patrimônio nes-
ses casos.
Casos de reforma nos estatutos, e quan-
do este entra em vigor.
O ESTATUTO DA
COOPERATIVA
Organização social
Extraído e adaptado do texto Curso Básico de Cooperativismo da
Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares e Autogestão
da Universidade Federal do Ceará.
1
4
5
6
7
2
3
TEXTO
9
09•CA04T10P1 21.01.07 21:22 Page 27
ASSOCIAÇÃO
OU COOPERATIVA?
Economia Solidária e Trabalho
28
Organização do trabalho
TEXTO
10
Segundo a lei 5.764, de 16/12/71, a cooperativa
é: “uma sociedade de pessoas, com forma e
natureza jurídica próprias, de natureza civil,
não sujeita a falência, constituída para
prestar serviços aos associados”
U
ma cooperativa é uma associação vo-
luntária de, no mínimo, 20 pessoas,
sem fins lucrativos, porém com fins
econômicos, que exercem uma mesma ati-
vidade para realizar objetivos comuns. Para
tanto, contribuem eqüitativamente para a
formação do capital necessário adquirindo
cotas e aceitando assumir de forma iguali-
tária os riscos e benefícios do empreendi-
mento. É regida pelo princípio democráti-
co: “cada pessoa um voto”. Os excedentes
ou sobras são distribuídos na proporção do
trabalho de cada cooperado.
A cooperativa é ao mesmo tempo uma
entidade social (um empreendimento fi-
nanciado, administrado e controlado co-
letivamente) a serviço de seus associados
e uma empresa, que tem que ser eficiente
e eficaz.
As empresas cooperativas baseiam-se
em valores de ajuda mútua, solidariedade,
democracia e participação. Tradicional-
mente, acreditam nos valores éticos de
honestidade, responsabilidade social e
preocupação com seus semelhantes.
Quando montar
Uma cooperativa pode ser a solução
toda vez que:
Houver um mínimo de 20 trabalha-
dores envolvidos no processo e com
interesses comuns ou semelhantes; e,
naturalmente, consumidores para os
seus produtos.
O empreendimento dessas pessoas tiver
uma finalidade mercantil, isto é, visar a
um mercado como, por exemplo, pro-
dução, prestação de serviços, compra
10•CA04T09P1 16.01.07 16:19 Page 28
de determinados bens ou mercadorias,
comercialização de determinados pro-
dutos etc.;
Todo o grupo tiver entendido os princí-
pios e fundamentos do cooperativismo e,
sobretudo, a mudança comportamental, e
interrelacionamento grupal.
Quando o empreendimento envolver
poucas pessoas, talvez a melhor solução
seja montar uma empresa. Quando o em-
preendimento, envolvendo muitas pessoas,
tiver uma finalidade mais social, a melhor
solução pode ser a associação.
Associações e cooperativas
Comparando associações e cooperati-
vas, o que se deve ressaltar é que as duas
iniciativas têm finalidades completamente
distintas. A associação tem como finalidade
a promoção, educação e assistência social
Economia Solidária e Trabalho
29
Cooperativa de artesanato
de sisal e cortume no
município de Valente (BA)
10•CA04T09P1 16.01.07 16:19 Page 29
e, nesse sentido, cumpre um importante
papel. A finalidade da cooperativa, mesmo
que tenha as mesmas intenções da associa-
ção, é viabilizar o negócio produtivo.
Por isso, quando se deseja reunir
pessoas e levar adiante uma atividade so-
cial, o certo é fazer a associação. Quando
se pretende desenvolver uma atividade
comercial de forma coletiva e retirar dela
o próprio sustento, a forma mais adequa-
da é a cooperativa.
Duas grandes vantagens:
1 – Os associados são os “donos” da ini-
ciativa e, portanto, também dos ganhos
e do patrimônio da mesma. Com isso,
têm mais possibilidade de se afirmarem
economicamente, sem depender dos
patrões ou do Estado.
Na associação, os associados não são
efetivamente os seus “donos”. Eles são os
que mandam, mas tanto a atividade quan-
to o patrimônio e os ganhos eventualmen-
te obtidos, pertencem à sociedade.
2 – Como as cooperativas se destinam a
beneficiar exatamente as pessoas que
desenvolvem a atividade produtiva das
mesmas, essas pessoas podem receber
pagamento por isso, sem que haja víncu-
lo empregatício, porque assim seriam
empregados de si mesmos.
Na associação, caso os associados
desenvolvam uma atividade produtiva e
recebam pagamento por isso, continuam
sendo associados, mas são também
empregados da associação, com todas as
obrigações e direitos. No entanto, quan-
do a associação comercializa os produtos
deixados pelos associados em consigna-
ção, essa regra não se aplica, pois a asso-
ciação estará somente prestando um ser-
viço aos associados (contanto que isso
esteja previsto no estatuto). É o caso das
associações de artesãos.
As associações têm, portanto, duas
desvantagens em relação às cooperativas:
1 – No caso de sobra de dinheiro, este
não pode ser distribuído entre os associa-
dos: tem que ser direcionado para a ati-
vidade-fim da associação.
2 – São menos profissionais, pois como
não recebem pagamento por seu traba-
lho, não têm muito tempo para correr
atrás de negócios para a associação.
No entanto, as associações têm duas
vantagens para grupos que querem comer-
cializar seus produtos, que estão começan-
do e ainda não se sentem seguros para
fundar uma cooperativa:
1 – O gerenciamento é mais simples.
2 – O custo de registro é menor.
Texto 10 / Organização do trabalho
Economia Solidária e Trabalho
30
Fontes
P
Como montar cooperativas populares – passo a passo para
a legalização de cooperativas, elaborado por Sandra Mayrink Veiga e
revisto e modificado por José Celso Carbonar, in: Mance, Euclides
(org); Como organizar redes solidárias, e Cooperativismo – uma
revolução pacífica em ação, de Sandra M. Veiga e Isaque Fonseca;
e Associações – como constituir sociedades civis sem fins lucrativos,
de Sandra M. Veiga e Daniel Rech.
10•CA04T09P1 16.01.07 16:19 Page 30
A
organização e o bom funcionamento
de um empreendimento, seja micro-
empresa, associação ou cooperativa,
depende de um bom planejamento. Para
isso é necessário que seja feito um Plano de
Negócios, que é uma forma de projetar no
futuro o desenvolvimento do nosso negó-
cio, para diminuir as possibilidades de ris-
cos que todo empreendimento apresenta.
Antes de tudo, é fundamental conhecer
o ambiente em que nosso empreendimento
vai atuar, ou seja, quais são as ameaças e as
oportunidades que oferece ao nosso negó-
cio. Esse ambiente pode ser dividido em
duas partes:
P 1. Ambiente externo – tudo o que aconte-
ce fora do alcance do nosso empreendimen-
to como: acontecimentos políticos, trocas
de governos ou políticas econômicas, trans-
formações tecnológicas, mudança de hábi-
tos de consumo, etc. Tanto podem ser locais
como globais, e podem afetar nosso empreen-
dimento de forma positiva, como oportuni-
dades, ou de forma negativa, como ameaças.
P 2. Ambiente interno – são as característi-
cas e condições do nosso empreendimento
e das pessoas que dele fazem parte. Tanto
as positivas, que são as nossas forças, como
as negativas, as fraquezas. Sobre essas
características devemos interferir, tanto
para corrigir possíveis fraquezas, quanto
para aumentar os pontos fortes.
Modelo para a elaboração
de um plano de negócios
Aqui estão os itens que normalmente
fazem parte de um Plano de Negócios, com
uma breve descrição das informações que
devem ser colocadas em cada um.
PLANEJAMENTO
ESTRATÉGICO
Organização empresarial
TEXTO
11
Economia Solidária e Trabalho
31
11•CA04T15P1 16.01.07 18:49 Page 31
1. Resumo
Faça aqui um resumo geral do empre-
endimento que o grupo deseja montar.
Por ser um resumo, deve ser o último tó-
pico a ser feito.
2. O empreendimento
Apresente-o com clareza e objetivida-
de (utilize no máximo três páginas). Pro-
ve que você tem um bom empreendimen-
to! Escreva sobre os itens abaixo:
P O objetivo do empreendimento.
P Os produtos/serviços que serão ofe-
recidos.
P Quem serão os consumidores dos pro-
dutos/serviços.
P Quem são os empreendedores (coo-
perados, associados, etc.).
P O que será preciso fazer para o
empreendimento começar a funcio-
nar e crescer (equipe, ponto, organi-
zação interna, etc.).
P Qual será o excedente/sobra gerado
pelo empreendimento.
P Quais as necessidades de financiamento
e empréstimo. Quando e em que o di-
nheiro conseguido será utilizado.
Nos próximos tópicos você (ou o gru-
po) falará sobre os objetivos do empreen-
dimento que pretende abrir, por que pre-
tende abrir, como será sua organização e
as pessoas que irão trabalhar:
a) Identificação do empreendimento
Aqui você precisará escolher a identi-
dade do empreendimento, quem o forma-
rá, como ele será. Veja o que deve ser
informado:
P o nome do empreendimento e sua lo-
calização;
P o número do CNPJ (Cadastro Nacio-
nal de Pessoa Jurídica), inscrições es-
taduais e municipais, se existirem;
P dados pessoais dos membros;
P como o empreendimento pode ser
classificado? Será cooperativa, asso-
ciação, microempresa ou ONG?;
P como será dirigido o empreendimen-
to? Explique quem serão os diretores
e quem poderá assinar documentos e
contratos. Como os Conselhos serão
formados e como irão funcionar?.
b) Definição do empreendimento
Descreva o seu empreendimento, dei-
xando bem claro para que ele está sendo
criado.
Diga resumidamente como o empre-
endimento será montado: o local escolhi-
do, o setor de produção ou prestação de
serviços, os tipos de produto e serviço que
serão oferecidos.
Se o empreendimento já existe, conte
um pouco sobre a sua história, os momen-
tos mais difíceis, os desafios, as vitórias e
as mudanças importantes. Informe tam-
Texto 11 / Organização empresarial
32
Economia Solidária e Trabalho
11•CA04T15P1 16.01.07 18:49 Page 32
bém como é a venda dos produtos que já
tem.
Este tópico é fundamental para que o
leitor entenda o que é o empreendimento
e sinta que ele está bem planejado. Por
isso, não aumente nem diminua suas van-
tagens. A dica é utilizar bom senso e ser
realista. Isso mostrará que você (ou seu
grupo) está preparado e com os pés no
chão para montar o empreendimento.
c) Equipe
Fale rapidamente sobre os associa-
dos/cooperados e sobre os principais fun-
cionários (quando e se houver). Qual é a
formação, quais são os conhecimentos e
as experiências de cada um? Quais serão
as tarefas de cada um quando o empre-
endimento começar a funcionar?
Para o leitor do seu plano, um empre-
endimento organizado por pessoas sem
experiência e sem capacidade não é um
bom negócio. Por isso, mostre o contrá-
rio: que todos da equipe são capazes e
têm motivação e garra para alcançar os
objetivos propostos.
d) Motivação e boas oportunidades
Motivação e boas oportunidades são
decisivas para o sucesso de um empreen-
dimento. Com certeza, quem estiver ava-
liando o plano de negócios estará “de
olho” nesses itens.
Relate neste tópico de onde vem a
motivação do grupo, porque escolheu
esse tipo de empreendimento. Essa deci-
são veio de um sonho, de um desejo cole-
tivo?
Todos da equipe estão motivados o
suficiente para enfrentar os desafios e
dificuldades que virão? Sejam realistas.
Falem resumidamente sobre o que faz o
empreendimento ser uma boa oportuni-
dade (como vantagens em relação a pro-
dutos concorrentes, inovações, boa locali-
zação, etc.). Mostre que ele tem grandes
chances de dar bons resultados e que
todos estão determinados a vencer.
3. Produtos e serviços
Descreva aqui as principais caracterís-
ticas do produto ou serviço que você irá
oferecer. Fale rapidamente sobre sua quali-
dade, as vantagens que ele possui em rela-
ção aos produtos dos concorrentes e sobre
sua imagem no mercado (como ele será
visto pelos clientes?).
Nos próximos tópicos você informará
sobre:
a) Tecnologia e processo
Aqui você deve falar sobre o processo
de fabricação do produto ou serviço e
sobre a tecnologia utilizada.
Antes de tudo, informe como se dá a
fabricação do produto, desde a matéria-
Economia Solidária e Trabalho
33
11•CA04T15P1 16.01.07 18:49 Page 33
prima até o produto final, que será ven-
dido ao consumidor.
No caso do ramo de serviços, expli-
que passo a passo, como o serviço será
prestado. Se o empreendimento for do
ramo do comércio, fale sobre o processo
de compra e venda de mercadorias.
Dê informações sobre fornecedores,
distribuidores e sobre a mão-de-obra em-
pregada. Diga se alguma tecnologia espe-
cial será utilizada e de onde ela vem.
b) Benefícios e vantagens competitivas
Vantagem competitiva é aquilo que o
seu produto tem que o produto dos con-
correntes não tem. É o que faz dele espe-
cial no mercado.
Pense: Por que o cliente escolherá o
produto do seu empreendimento e não o
do concorrente? Fale sobre os benefícios
que trará ao consumidor, principais van-
tagens e características.
c) Preços
Faça uma análise dos gastos com a
produção, pesquise quanto as pessoas es-
tão dispostas a pagar pelo produto/servi-
ço, veja qual é o preço de mercado. Só
depois dê um preço ao produto/serviço.
Diga se haverá alguma vantagem so-
bre os preços comuns de mercado. Haverá
alguma promoção? No futuro você muda-
rá o preço?
4. Análise de mercado
É fundamental para empreendedores
saberem tudo sobre o mercado em que o
empreendimento vai entrar. Isso ajudará
a tomar decisões, enxergar boas oportu-
nidades e criar estratégias para vencer
desafios e ameaças.
Para preencher os próximos tópicos
você precisará conseguir informações
sobre:
a) Setor (ramo)
Consiga dados objetivos e coerentes.
Esta parte do Plano é muito visada por
investidores e financiadores.
Neste tópico é preciso mostrar, com
clareza, porque é vantajoso abrir um
empreendimento em determinado setor.
Descreva todas as características do
ramo em que seu empreendimento vai
atuar. Fale sobre sua importância na região,
se existem muitos concorrentes, sobre
como as pessoas vêem o tipo de produto/
serviço que você venderá, quando as pes-
soas procuram por ele, etc.
Analise os riscos que o setor pode
apresentar. O governo faz algum tipo de
controle na produção? Pagará algum
imposto especial pelo produto? Existe
matéria-prima na região para a fabrica-
ção do produto? O setor está em baixa
ou em alta? Existe alguma tecnologia
melhor do que a do empreendimento? As
Economia Solidária e Trabalho
34
Texto 11 / Organização empresarial
11•CA04T15P1 16.01.07 18:49 Page 34
vendas serão afetadas por fatores geográ-
ficos, como temperatura, estações do ano,
tempo?
b) Clientela
A satisfação do cliente deve ser a
razão de ser do empreendimento. E para
satisfazer o cliente precisamos primeiro
conhecê-lo. A Pesquisa de mercado ajuda-
rá nisso. Só por meio dela será possível
criar estratégias, melhorar seu produ-
to/serviço para agradar o cliente e calcu-
lar o quanto irá vender.
Informe aqui qual será o consumidor
do produto/serviço. Diga onde ele está,
qual é o seu perfil (idade, sexo, condição
financeira e social, estilo de vida), quais
são suas necessidades e comportamentos.
Calcule também a quantidade de possí-
veis consumidores e seu alcance regional
e nacional.
Mostre que existe um mercado con-
sumidor para o produto ou serviço e o
que fará para atendê-lo.
Dica: Pesquise informações em órgãos
como o IBGE, na internet, ou mesmo
fazer uma pesquisa por conta própria.
(Procure um modelo de questionário para
suas pesquisas).
c) Fornecedores
Fale sobre as empresas escolhidas
para fornecer a matéria-prima para a
fabricação do produto ou para o desen-
volvimento do serviço. Cite também os
fornecedores de máquinas, equipamentos
e outros materiais. Diga onde estas em-
presas estão localizadas, porque foram
escolhidas, quais os pontos fracos e fortes
de cada uma, qual o nível de qualidade
dos produtos.
Muita atenção na escolha do fornece-
dor. Eles afetam diretamente na qualidade
dos produtos/serviços e no bom desem-
penho do empreendimento.
d) Concorrência
Informe aqui quais são os principais
concorrentes, onde estão localizados,
quais são os pontos fortes e fracos de cada
um e qual é o espaço que os produ-
tos/serviços do empreendimento ocupam
no mercado.
Quais as vantagens e desvantagens
que eles têm em relação ao produto/
serviço oferecido pelo empreendimento?
Como distribuem e anunciam os produ-
tos/serviços?
Economia Solidária e Trabalho
35
Fontes
P
Como montar cooperativas populares – passo a passo
para a legalização de cooperativas, elaborado por Sandra Mayrink
Veiga e revisto e modificado por José Celso Carbonar, in: Mance,
Euclides (org.); Como organizar redes solidárias, e Cooperativismo
– uma revolução pacífica em ação, de Sandra M. Veiga e Isaque
Fonseca e Associações – como constituir sociedades civis sem fins
lucrativos, de Sandra M. Veiga e Daniel Rech.
11•CA04T15P1 16.01.07 18:49 Page 35
TEXTO
x
Economia Solidária e Trabalho
36
Convívio social
A
s palavras cooperação e cooperar
não são estranhas. Você já deve ter
cooperado alguma vez com um
doente, mendigo ou com algum trabalho
em comunidade. Você também já deve ter
solicitado a colaboração de algumas pesso-
as em momentos de dificuldades ou para
realizar um trabalho de interesse coletivo.
Cooperar é agir em comum ou indivi-
dualmente de forma solidária; quando
todos ajudam a encontrar saídas para os
problemas, trocando idéias e experiên-
cias. A cooperação acontece quando um
grupo contribui com suas energias para a
realização de tarefas de interesse comum.
A base da cooperação é a vida em
grupo, nele aprendemos a cooperar. A
cooperação substitui a dominação e faz
aparecer a responsabilidade e o equilíbrio.
Numa comunidade, a partir dos interes-
ses das pessoas, elas podem cooperar mais
com determinado grupo do que com ou-
tro. Por isso, devemos entender que cada
grupo tem sua importância e que devemos
respeitar a identidade de cada um.
A cooperação e o individualismo
A vida em cooperação é um aprendi-
zado. Tem gente que tem muita dificulda-
de de conviver com outras pessoas, se es-
sas tivessem poder, decidiriam as coisas
sozinhas e da sua maneira. Essas pessoas
ainda têm um grau de individualismo
muito grande. O individualismo está pre-
sente na história do cooperativismo.
Antigamente as pessoas eram mais
isoladas, distantes e fechadas em seus
lares, ninguém queria participar de nada,
era cada um na sua, não havia esforço pa-
ra se unir. O primeiro trabalho do coope-
rativismo foi romper com o isolamento.
Uma maneira disfarçada de individualis-
mo é a dependência. Há grupos de coope-
rados que deixam tudo para o coordena-
O QUE É
COOPERAÇÃO?
O individualismo é o maior
obstáculo às tarefas comunitárias
TEXTO
12
12•CA04T11P1 16.01.07 16:36 Page 36
dor realizar, achando que todos os proble-
mas vão ser resolvidos sem compromisso
e responsabilidade de todos. Quando os
membros de um grupo não assumem
responsabilidades, não compreendem
que as mudanças são conquistas coleti-
vas, acabam se afastando do grupo.
Enquanto que a pessoa que coopera sabe
dividir, gosta de agir com o grupo, é
otimista, contribui com novas idéias e
chega junto com a turma. A pessoa indi-
vidualista tem dificuldade de contribuir,
dar, repartir e dividir. O individualista
pensa que só os melhores vencem.
Você já ouviu o dito: “É tempo de
murici, cada um por si”. O que você acha
da frase?
Economia Solidária e Trabalho
37
Participantes de mutirão da casa própria realizado aos domingos na Vila Curuçá, periferia de São Paulo.
Extraído e adaptado do texto: Curso Básico de Cooperativismo da
Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares e Autogestão
da Universidade Federal do Ceará.
Foto: Vidal Cavalcante / AE
12•CA04T11P1 16.01.07 16:37 Page 37
Que coisa é essa de cooperativa que as
pessoas andam falando por aí?
C
ooperativa é a união de pessoas para
criar um tipo de empresa que perten-
ce a todos os associados. A cooperati-
va é formada pela cooperação de seus
sócios. É a cooperação e o trabalho de todos
os sócios unidos para um único objetivo.
E agora? Você quer construir uma co-
operativa com seus companheiros? Que tipo
de cooperativa você quer construir?
Tipos de cooperativa
São muitos os tipos de cooperativa, va-
mos conhecer os básicos:
A – Cooperativa de crédito
Empresta dinheiro aos seus sócios com juros
menores que os do mercado, para que pos-
sam produzir mais ou implementar alguma
nova atividade. É organizada com base na
poupança de seus cooperados.
B – Cooperativa de consumo
São as que distribuem produtos ou serviços
aos seus sócios, buscando as melhores con-
dições, os melhores preços e a melhor qua-
lidade. Na maioria dos casos são iniciativas
de consumidores urbanos que se organizam
para fazer compras comunitárias (alimen-
tos, roupas, eletrodomésticos, etc.) direta-
mente dos produtores, evitando os interme-
diários.
C – Cooperativas habitacionais
Existem três tipos:
1 – As formadas por pessoas que se reúnem
com o objetivo de construir casas em muti-
rão. Elas têm duração determinada, até o
último sócio ter a sua casa.
2 – As que são formadas por grupos de pro-
fissionais, técnicos e trabalhadores da cons-
trução civil, que constroem casas para si e
para o público em geral.
3 – As que se dedicam ao financiamento da
O que é cooperativismo?
TEXTO
13
Economia Solidária e Trabalho
38
RECEITA DE
ORGANIZAÇÃO
Cooperativismo é uma forma de organização democrática que congrega
pessoas para realizar um empreendimento que gere trabalho e renda,
direcionado para melhorar a qualidade de vida das pessoas envolvidas.
13•CA04T12P1 16.01.07 16:54 Page 38
construção de casas para sócios ou para
outras pessoas que o desejarem.
D – Cooperativa educacional
É organizada por professores, por pais de
alunos ou por professores e pais de alunos
juntos. Tem por objetivo organizar seus
associados de modo a gerenciar e promo-
ver a educação de seus alunos/filhos de
forma cooperativista.
E – Cooperativa de produção
São as que têm como objetivo transformar
bens e produtos a partir da mão-de-obra de
seus cooperados. Dentre elas se destacam:
as cooperativas agropecuárias; de pesca; de
artesanato; de costura; de apicultura, etc.
Essas cooperativas vendem seus produtos
diretamente ao consumidor ou aos grandes
centros de distribuição e atacadistas, evitan-
do os intermediários. Podem também ofere-
cer serviços na área de produção, pesquisa,
assistência técnica, administrativa, social e
educacional aos seus cooperados.
F – Cooperativa de trabalho
São agrupamentos de trabalhadores de
uma ou mais profissões, que oferecem
suas atividades profissionais ao mercado
de trabalho. O objetivo é colocar a mão-
de-obra dos seus sócios de maneira mais
vantajosa e negociar preços de forma
organizada, sem intervenção de patrões
ou empresários.
Economia Solidária e Trabalho
39
Foto: Monalisa Lins / AE
Cooperativas podem atuar nos mais diversos campos. Na foto, integrantes
da cooperativa de costureiras em Santo André (grande São Paulo).
13•CA04T12P1 16.01.07 16:54 Page 39
Princípios do cooperativismo
Princípios são normas que orientam
nossas ações. É um compromisso assumido
por meio de uma relação de confiança ou
de forma regulamentada.
O cooperativismo é uma ação coletiva,
tendo alguns princípios baseados em valo-
res morais, culturais e sociais.
P
Primeiro princípio
Livre acesso e adesão voluntária
As cooperativas são organizações vo-
luntárias abertas a todas as pessoas dispos-
tas a utilizar os serviços e aceitar as respon-
sabilidades inerentes à sua condição de
associado, sem discriminação de gênero,
raça, classe social, posição política ou reli-
giosa.” Apesar da adesão ser livre e cons-
ciente, o profissional deve satisfazer as
necessidades do mercado. Aderir é compro-
meter-se, é participar, é transformar-se.
P
Segundo princípio
Controle, organização e gestão democrática
As cooperativas são organizações de-
mocráticas controladas pelos seus mem-
bros, os quais participam ativamente da
definição de suas políticas e na tomada de
decisões. Homens e mulheres, eleitos para
representar a sua cooperativa, res- pondem
por suas responsabilidades, frente aos asso-
ciados. Nas cooperativas, os associados têm
igual direito de voto (um associado, um
voto).” Ao associar-se a uma cooperativa, o
cooperado torna-se dono do capital e auto-
gestor dos negócios. Todos os associados
são solidários nas suas responsabilidades
como membros da cooperativa, nos ganhos
e nas perdas.
P
Terceiro Princípio
Participação econômica dos seus associados
“Os associados contribuem de maneira
eqüitativa e controlam de maneira demo-
crática o capital da cooperativa. Usualmen-
te, recebem uma compensação limitada, se
for possível, sobre o capital subscrito como
condição de fazer parte da cooperativa. Os
associados contribuem com a cooperativa,
distribuindo as sobras existentes prioritaria-
mente da seguinte maneira:
1. no desenvolvimento da cooperativa por
meio da criação de reservas, as quais, pelo
menos uma parte, deve ser indivisível;
2. beneficiando os associados em proporção
às suas transações com a cooperativa; e
3. no apoio a outras atividades da coope-
rativa, segundo decisão da assembléia
dos associados.” A Assembléia Geral
deverá distribuir as sobras segundo as
operações que cada associado manteve
com a cooperativa durante o ano.
P
Quarto princípio
Autonomia e independência
As cooperativas são organizações autôno-
mas, de ajuda mútua, controladas por seus
associados. Caso entrem em acordo com
outras organizações (inclusive governos) ou
busquem capital de fontes externas, devem
Texto 13 / O que é cooperativismo?
Economia Solidária e Trabalho
40
13•CA04T12P1 16.01.07 16:54 Page 40
realizar essas iniciativas somente na medi-
da em que possa ser assegurado o controle
democrático por parte dos associados, man-
tendo a autonomia da cooperativa.”
P
Quinto princípio
Educação, capacitação e informação
As cooperativas devem oferecer educação e
capacitação a seus associados, dirigentes elei-
tos, gerentes e empregados, de tal maneira
que contribuam eficazmente no desenvolvi-
mento de suas cooperativas. As cooperativas
informam também ao público em geral – prin-
cipalmente aos jovens e aos formadores de
opinião – sobre a natureza e os benefícios do
cooperativismo.” Como donos, os coopera-
dos têm de estar preparados para geri-la e
como trabalhadores têm de estar constante-
mente se reciclando para que venham a ser
os melhores da área.
P
Sexto princípio
Cooperação entre cooperativas
As cooperativas servem aos seus associa-
dos e fortalecem o movimento cooperativis-
ta trabalhando de maneira conjunta por
meio de estruturas locais (centrais), regio-
nais (federações), nacionais (confedera-
ções) e internacionais.” Este princípio lhes
proporciona força política e econômica de
vital importância para sua sobrevivência.
P
Sétimo princípio
Compromisso com a comunidade
A cooperativa trabalha para o desenvol-
vimento sustentável da sua comunidade
por meio de políticas definidas por seus
associados.”
Economia Solidária e Trabalho
41
Foto: Leonardo Rodrigues / AE
Cooperado opera embaladeira de leite em cooperativa de indústria de laticínios em São Pedro/SP.
Extraído e adaptado do texto Curso Básico de Cooperativismo da
Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares e Autogestão
da Universidade Federal do Ceará.
13•CA04T12P1 16.01.07 16:54 Page 41
A
sociedade cooperativa funciona por
meio de um princípio chamado de
autogestão, que é a gerência da coo-
perativa pelos próprios cooperados. Isso
significa que eles tomam decisões e con-
trolam permanentemente a cooperativa.
O objetivo principal da autogestão é
o desenvolvimento econômico e social da
cooperativa, sendo que cada cooperado é
responsável pelas decisões. É ele que, co-
mo dono e usuário da sociedade, define
como quer que os serviços sejam presta-
dos. Porém, para que possa decidir corre-
tamente, precisa estar preparado para
participar das decisões.
A assembléia geral dos associados
As decisões são tomadas nas reuniões
gerais dos cooperados, chamadas de assem-
bléia geral. Ela é o órgão supremo, com
poderes para tomar toda e qualquer decisão,
dentro dos objetivos da cooperativa.
A assembléia geral é o encontro onde
são discutidas as grandes questões e toma-
das as grandes decisões; é a oportunidade
em que se manifesta, na prática, o caráter
democrático da cooperativa: pelo voto.
A Assembléia Geral é comumente con-
vocada e presidida pelo presidente da coo-
perativa. Mas também pode ser convocada:
Por 1/5 dos associados, quando o presi-
dente não atender à solicitação dos
associados.
Pelo Conselho Fiscal, se ocorrerem mo-
tivos graves e urgentes.
O princípio de funcionamento
da cooperativa
Organização social
TEXTO
14
Economia Solidária e Trabalho
42
AUTOGESTÃO AUTOGESTÃO AUTOGESTÃO
Foto: Sérgio Castro / AE
Trabalhadores de cooperativa
de motoristas e cobradores
votam em assembléia geral
14•CA04T13P1 16.01.07 17:01 Page 42
Tipos de assembléia
Assembléia geral ordinária
Realizada, obrigatoriamente, uma vez
por ano, dentro dos três primeiros meses
após o final do exercício social. Nessa oca-
sião são apresentados, discutidos e apro-
vados assuntos específicos como:
• Prestação de contas da Diretoria.
Eleger ou destituir os membros do Con-
selho de Administração (Diretoria) e do
Conselho Fiscal.
• Dar a destinação às sobras líquidas;
Fixar o pró-labore ou verba de repre-
sentação para o presidente.
Outros assuntos desde que constem no
Edital de Convocação.
As deliberações da Assembléia Geral
Ordinária devem ser aprovadas pela maio-
ria simples (metade mais um) dos votos
dos presentes.
Assembléia geral extraordinária
Realizada a qualquer momento, desde
que haja necessidade. Nesses casos, são
tratados assuntos como:
• Reforma do Estatuto Social.
Contratação de empréstimos que de-
pendem da oneração (empenho) dos
bens imóveis (prédio, terrenos, etc.) da
cooperativa.
Fusão, incorporação ou desmembra-
mento (divisão) da cooperativa; mu-
dança do objeto da cooperativa.
Economia Solidária e Trabalho
43
Com relação às assembléias,
a lei determina e deve
constar nos Estatutos que:
a Assembléia Geral deve ser convocada com
antecedência mínima de dez dias, por meio de
Edital de Convocação (avisos), fixados nos
locais mais freqüentados pelos associados e
publicados em jornal de grande circulação;
para que seja instalada em primeira convoca-
ção, é necessário que haja “quorum”, ou seja,
é necessária a presença de pelo menos 2/3
(dois terços) dos associados;
não sendo realizada em primeira convocação,
pode ser realizada em segunda ou terceira
convocação e no mesmo dia da primeira, com
um intervalo mínimo de uma hora entre elas,
desde que o Estatuto permita e conste no res-
pectivo edital de convocação;
para a instalação da segunda convocação é
necessária a presença da metade mais um dos
associados. Já em terceira e última convoca-
ção, com no mínimo dez associados.
Decisão sobre a dissolução da sociedade.
Decisão sobre qualquer assunto relati-
vo à cooperativa, que não seja regula-
mentado pelo Estatuto, desde que cons-
te no Edital de Convocação.
As deliberações da Assembléia Geral
Extraordinária são aprovadas pelos votos de
2/3 (dois terços) dos associados presentes.
1
2
Extraído e adaptado do texto: Curso Básico de Cooperativismo da
Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares e Autogestão
da Universidade Federal do Ceará.
14•CA04T13P1 16.01.07 17:01 Page 43
VALORES
CONVERGENTES
N
os primórdios do capitalismo, as
relações de trabalho assalariado
levaram a tal grau de exploração
do trabalho humano que os trabalhado-
res, mulheres e homens, começaram a or-
ganizar-se em sindicatos, associações e
cooperativas como forma de defender e
conquistar direitos e ter uma alternativa
à exploração.
Entretanto, o capitalismo transformou
tudo, inclusive o trabalho humano, em
mercadoria. As demais formas de produ-
ção (comunitárias, artesanais, individuais,
familiares, cooperativadas, etc.) passaram
a ser tratadas como “atrasadas”.
A atual crise do trabalho assalariado
derruba de vez a idéia capitalista de trans-
formar tudo e todos em mercadorias. Mi-
lhões de trabalhadores perdem seus em-
pregos, amplia-se cada vez mais o trabalho
precário, sem garantias de direitos. Assim,
as formas chamadas “atrasadas”, que,
deveriam ser reduzidas, aumentam. Claro,
pois é preciso absorver todos os desempre-
gados, e hoje eles constituem mais de 50%
dos trabalhadores.
Nesse cenário surge a Economia Soli-
dária, que, de imediato, propicia a sobre-
vivência e a melhora da qualidade de vida
de milhões de pessoas em diferentes
partes do mundo. As experiências, basea-
das nas mais diferentes práticas de reci-
procidade, como as dos povos indígenas
de diversos continentes e os princípios do
cooperativismo, foram aperfeiçoadas e
recriadas de acordo com as características
de cada povo e de cada lugar.
Apesar dessa diversidade, há vários
pontos de convergência como:
A valorização social do trabalho humano.
A satisfação plena das necessidades de
todos.
O reconhecimento do lugar fundamen-
tal da mulher e numa economia funda-
mentada na solidariedade.
A busca de uma relação de respeitosa com
a natureza.
A valorização da cooperação e da soli-
dariedade.
Os valores centrais da Economia Solidária
Economia solidária
TEXTO
15
Economia Solidária e Trabalho
44
Cooperação e respeito
são a base da
Economia Solidária
15•CA04T14P1 16.01.07 17:05 Page 44
são o trabalho, o saber e a criatividade
humana e não o capital-dinheiro.
A Economia Solidária busca outra quali-
dade de vida e de consumo, e isso re-
quer a solidariedade entre os povos de
todo o mundo.
Economia Solidária e Trabalho
45
Texto editado e adaptado por Página Viva a partir de
http://www.coordinationsud.org/Abong1/article.php3?id_article=152
Pesca de tainha na praia do Santinho, em Florianópolis, SC. Nessa forma tradicional de pesca, qualquer
pessoa pode ajudar a puxar a rede, recebendo em troca de sua colaboração uma parcela do peixe capturado.
Exemplo de colaboração
Foto: Ricardo Mori
15•CA04T14P1 16.01.07 17:05 Page 45
1
Não renovação de 1/3 do Conse-
lho de Administração, perpetuan-
do grupos de poder.
2
Não renovação de 1/3 do Conse-
lho Fiscal, perpetuando conivên-
cias fiscais junto com o grupo de
poder.
3
Não formação do Fundo de Reser-
vas – FR e do Fundo de Assistên-
cia Técnica, Educacional e Social –
FATES.
4
Não aplicação correta do Fundo
de Assistência Técnica, Educacio-
nal e Social – FATES, em benefício dos
cooperados.
5
Assembléias Gerais viciadas e lesi-
vas, produzindo decisões nocivas
à sociedade.
6
Dirigentes que colidem com os
interesses da sociedade.
7
Atos cooperados entre cooperati-
vas dirigidas pelo mesmo grupo,
em que numa o presidente é A e o
vice-presidente é B e na outra coope-
rativa temos o inverso, o presidente é
B e o vice-presidente é A.
8
Não distribuição das Sobras Líqui-
das, nem respeito à proporciona-
lidade em seu rateio quando existe.
9
Indução da não consolidação das
Sobras Líquidas, para não ter que
se proceder a distribuição das mesmas,
criando artifícios contábeis para san-
gria dos “recursos sobrantes” por
meios desonestos.
10
Não distribuição das sobras de
contratos aos cooperados que
neles trabalharam.
11
Seleção de prestadores de ser-
viços às cooperativas por “acei-
tação” de comissões, admitidas e
COOPERATIVAS
PROBLEMAS MAIS GRAVES COM A LEGISLAÇÃO
Leis e regras
TEXTO
16
Economia Solidária e Trabalho
46
16•CA04T16P1 12/14/06 11:59 PM Page 46
embolsadas pelos dirigentes, contra-
tando serviços sem a seleção pelo tri-
nômio: Menor Preço x Melhor Quali-
dade x Suporte mais profissional no
pós venda, e com base em 3 orçamen-
tos ou propostas legítimas de presta-
ção de serviços.
12
Empresas de fachada, ou mes-
mo “maquiadas”, em nome de
dirigentes emitindo notas fiscais frias,
que não correspondem a nenhum ser-
viço concretamente prestado à coope-
rativa, para absorver os recursos so-
brantes e promover o desvio do di-
nheiro da sociedade. Estas cooperati-
vas apresentam quase sempre “prejuí-
zos suportáveis”. Há, inclusive, emis-
são de notas fiscais “superfaturadas”.
Presença de grandes probabilidades
de sonegação fiscal.
13
Ausência proposital da promo-
ção da Educação Cooperativis-
ta e das Práticas Operacionais da Roti-
na da Cooperativa, segundo as leis
aplicáveis, de modo a manter hegemo-
nia de gestão e de domínio, sobre os
demais cooperados “leigos”.
14
Enriquecimento acelerado de
dirigentes, em 2 ou 3 anos,
por procedimentos não éticos, onde se
acumulam grandes patrimônios, ao
passo que a sociedade mantém-se em
regime recessivo ou de prosperidade
tímida. Presença de grandes probabili-
dades de sonegação fiscal.
15
Dirigentes embolsando as co-
missões de venda, de contra-
tos, que são fechados em nome da
sociedade, em que recursos da coope-
rativa foram utilizados comercialmen-
te para fins de desenvolvimento de
negócios. Inevitavelmente os pedidos
de serviços, ou trabalho, são canaliza-
dos para ação executiva dos dirigentes
que já são remunerados, por parte dos
demais sócios cooperados, para geren-
ciar a cooperativa. Tal comissionamen-
to deveria ser aplicável às ações
comerciais de qualquer cooperado, o
qual tem direito de negociar, também,
os serviços da cooperativa e ter seu
devido comissionamento com as ven-
das de serviços.
16
Transformação da cooperati-
va em “agência de emprego”
em que dirigentes fazem o agencia-
mento de mão-de-obra em condições
desfavoráveis aos cooperados, nos
processos de terceirização, ou de
prestação de serviço, impondo con-
dições extremas de abuso ao traba-
Economia Solidária e Trabalho
47
16•CA04T16P1 12/14/06 11:59 PM Page 47
lho. São cooperativas que transgri-
dem as leis aplicáveis.
17
Abertura de cooperativas por
empresas: indústria, serviços e
escritórios, com o único objetivo de
“redução do custo Brasil”, escapando
do excesso de imposto e taxas inciden-
tes nas empresas mercantis, mas que
se tornam cooperativas que transgri-
dem as leis aplicáveis.
18
Negligenciamento à assistên-
cia securitária e previdenciá-
ria dos sócios cooperados pela não
constituição de um Sistema mínimo de
Amparo aos mesmos, que propiciaria
uma maior segurança social, com o
uso de fundos adequados. Em alguns
casos, parte do Sistema de Benefícios,
quando existente, abrange certos
benefícios “inócuos” e que possuem
custo representativo que onera a carga
de despesas da cooperativa, sem reci-
procidade.
19
Contumaz busca do anonima-
to, em que dirigentes promo-
vem a operação da cooperativa em
endereços de “camuflagem”, para
fugir das fiscalizações dos poderes
públicos constituídos, de modo a man-
ter o “status quo” das atividades e pre-
servar interesses fora dos objetivos e
dos princípios do Cooperativismo.
20
A não devolução da cota-
parte do capital social ao só-
cio-cooperado que saiu dos quadros da
cooperativa.
Texto 16 / Leis e regras
Economia Solidária e Trabalho
48
COOPERADO, VERIFIQUE SE
SUA COOPERATIVA ESTÁ ISENTA
DESTAS OCORRÊNCIAS!
Fonte
P
Mídia Independente
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2002/06/29908.shtml
É livre a reprodução para fins não comerciais, desde que o
autor e a fonte sejam citados e esta nota seja incluída.
16•CA04T16P1 12/14/06 11:59 PM Page 48
P
ara a grande assembléia de bichos, che-
garam representantes de toda parte.
Queriam conhecer e falar com o
Grande Espírito, criador e mantenedor da
vida. Pensando que a reunião poderia
demorar vários dias, cada um trouxe comi-
da dentro de um pote de barro. Tinha todo
tipo de pote: pintado, com alças, com
tampa, sem tampa, redondo, oval, com
desenhos, simples.
Os bichos puseram-se a rezar e refletir,
mas nada do Grande Espírito. Passou
tempo. Deu fome. Cada um se dirigiu para
o seu pote. A onça só tinha trazido piracuí,
a cutia só pimenta, o jacaré só tucupi, o
macaco só farinha, o veado só trouxe água
e assim por diante. Cada um se satisfez e
voltaram a rezar e a refletir. Continuaram
assim durante três dias. Estavam cansados
de esperar, cansados de comer sempre a
mesma coisa e começaram a se irritar uns
com os outros. Até duvidaram do Grande
Espírito, pois este não aparecia.
No terceiro dia, o filhote da onça foi
brincar com o filhote da cutia e disse:
– Vamos misturar a pimenta de vocês
com o nosso piracuí…
Dito e feito. Foi tão gostoso! Eles fica-
ram alegres e os outros filhotes chegaram
com farinha, tucupi, água…
As mães, vendo aquilo, em dois tempos
arrumaram uma grande mesa, onde todos
os potes de comida foram colocados. Todo
mundo veio e fizeram o maior banquete,
bonito e alegre. Nesse dia, nesse banquete,
conheceram o Grande Espírito.
Uma fábula em que personagens
bichos servem de bom exemplo
para os homens
Sistemas cooperativos
TEXTO
17
Extraído e adaptado da Cartilha da Rede Fitovida, publicada no site
www.midiaindependente.org
O BANQUETE
Economia Solidária e Trabalho
49
17•CA04T23P1 12/14/06 11:50 PM Page 49
Q
uem chega a Picos, cidade encrava-
da no centro do Piauí, no Semi-árido,
não imagina o quanto é doce e nobre
o trabalho que por lá se desenvolve. O calor
na estiagem – entre junho e novembro – fre-
qüentemente atinge picos (trocadilho inevi-
tável com o nome da cidade) superiores a
40ºC. Muita gente pode achar que nada
resiste a tal temperatura. Engano. Poucos
sabem, mas hoje a região é a maior produ-
tora de mel do país e responde por mais de
90% do mel produzido no Piauí.
Desde meados da década de 1970, os
pequenos agricultores de Picos já se dedi-
cavam à apicultura, vendendo a produção
para empresas. Famílias cultivavam abe-
lhas de maneira rústica, sem se preocupar
com conhecimentos técnicos ou possibili-
dade de tornar o negócio mais profissional
e lucrativo.
Com o PROMEL (Projeto Nordeste de
Geração de Trabalho e Renda e de Promo-
ção do Desenvolvimento Regional Susten-
tável com Foco na Cadeia Produtiva do
Mel), o panorama mudou. Sua primeira
ação é a implementação da CASA APIS
(Central de Cooperativas do Semi-árido),
que abrange Picos e mais 30 cidades de
Pernambuco, Piauí e Ceará.
A empreitada visa basicamente a orien-
tar a organização dos produtores para me-
lhorar produção e renda. O diferencial do
DOCE FUTURO NO SERTÃO DO PIA
No Semi-árido, o Projeto PROMEL aperfeiçoa
atividade que já existia rusticamente – apicultura
Produção conjunta
TEXTO
18
Economia Solidária e Trabalho
50
18•CA04T19P1 21.01.07 21:38 Page 50
projeto é sua concepção “ao avesso”, como
o apicultor Waldiná de Moura explica: “É
da base para cima, nós é que decidimos
tudo”.
Não foi fácil. Como bem diz Waldiná,
“a cultura do sertão é individualista, na
seca vale o salve-se quem puder”. As
principais figuras que andam recriando
as cores do sertão são os Agentes de
Desenvolvimento Regional, pessoas que
pertencem à comunidade, com trânsito e
diálogo fácil entre os apicultores. No
projeto trabalham 11 deles, atendendo
em torno de 500 famílias. Tiveram cur-
sos, treinamento; e, capacitados, espa-
lham o que sabem.
De “jegue motorizado”
Visitando famílias, acompanhando o
trabalho, dando cursos e palestras, os
agentes incentivam práticas aparente-
mente simples, mas muito eficazes. O re-
sultado? A produção aumentou em quan-
tidade e qualidade. Hoje, a maioria das
famílias participantes extrai do mel a prin-
cipal fonte de renda.
Toda semana o agente e apicultor
Dionísio de Souza monta em seu “jegue
motorizado” (a moto é o jegue do novo
sertão) e vai visitar o pessoal de São João
da Canabrava. Depois de muito trabalho,
Dionísio viu a produção de sua região au-
mentar. De acordo com ele, a cultura dos
apicultores muda gradativamente, de
acordo, inclusive, com o nível de preser-
vação do meio ambiente: “Nós precisa-
mos da natureza, sem ela as abelhas
passam fome”, diz.
Na época das chuvas, de dezembro a
maio, a florada da caatinga é variada, pro-
pícia para as abelhas – e para os apiculto-
res. Conservar esse ecossistema é básico,
as pessoas agora sabem que práticas
ecologicamente corretas garantem boas
safras e bons lucros.
Economia Solidária e Trabalho
51
Extraído de Brasil: Almanaque da Cultura Popular. Ano 7, n. 81,
dezembro de 2005.
18•CA04T19P1 16.01.07 17:16 Page 51
Conselho de administração ou diretoria
Diz a Lei 5.764/71: “A cooperativa é
administrada por um Conselho de Admi-
nistração ou Diretoria, composto exclusi-
vamente de associados, com mandato
nunca superior a quatro anos. É obrigató-
ria a renovação de, no mínimo, 1/3 (um
terço) dos seus componentes, ao final de
cada mandato”.
Do Conselho de Administração serão
indicados os membros da Diretoria Execu-
tiva, composta de tantos participantes
quantos forem estabelecidos na estrutura
organizacional da sociedade, tendo as suas
atribuições estabelecidas no estatuto da
cooperativa.
Quem são os Membros do Conselho?
Normalmente, dependendo de cada coope-
rativa, os membros são: o presidente, o vice-
presidente, o secretário e os conselheiros.
Quais as principais Funções do
Conselho de Administração?
Programar os planos de trabalho e os
serviços da cooperativa.
• Elaborar o orçamento anual e estabe-
lecer normas administrativas e financeiras.
• Contratar o gerente e o contador e
designar o diretor executivo, se for o caso.
• Deliberar sobre a entrada e a saída de
associados, depois de ouvirem a Comis-
são de Ética.
• Fazer cumprir a legislação cooperati-
va, trabalhista e fiscal e as determina-
ções do Estatuto e da Assembléia Geral.
• Definir as funções de seus membros.
Conselho fiscal
É o órgão encarregado de fiscalizar a
administração da cooperativa. É formado
por seis elementos associados, sendo três
efetivos e três suplentes, eleitos pela
Assembléia Geral para um período de um
ano, sendo permitida a reeleição de apenas
dois membros.
Suas principais funções são:
• Promover a verificação das contas da
administração, examinando e dando
parecer nas prestações de conta da so-
ciedade.
• Examinar livros, documentos, balan-
ços, balancetes e reclamações dos as-
sociados.
Organização social
TEXTO
19
Economia Solidária e Trabalho
52
1
2
A ADMINISTRAÇÃO DE
UMA COOPERATIVA
19•CA04T18P1 16.01.07 18:58 Page 52
• Verificar o cumprimento das leis fis-
cais, trabalhistas e cooperativistas.
• Convocar o gerente, o contador e o
Conselho de Administração para escla-
recimentos, quando necessário(s).
• Participar ativamente dos trabalhos
da cooperativa.
Gerência da Cooperativa
A gerência é um órgão que pode
existir ou não na administração da coope-
rativa. Quando a Assembléia Geral decide
pela sua existência, a gerência executa as
decisões do Conselho de Administração.
O gerente é nomeado pelo diretor execu-
tivo ou presidente, se for o caso, e é
apenas um empregado, pois se não for do
interesse da cooperativa mantê-lo, poderá
ser dispensado a qualquer tempo.
A gerência deve cumprir as seguintes
funções:
• Assessorar a diretoria executiva.
• Organizar com o assessoramento do
contador as rotinas dos serviços contá-
beis, determinar pagamentos e recebi-
mentos, admitir e demitir empregados.
• Distribuir, gerir, coordenar e contro-
lar os trabalhos de seus auxiliares, bem
como os negócios da cooperativa.
Preparar orçamento anual para aprova-
ção do Conselho de Administração.
• Informar a diretoria executiva, bem
como aos associados, o desenvolvimen-
to das atividades da sociedade coopera-
tiva.
O gerente, assim como o contador, são
“peças-chave” para o sucesso da coopera-
tiva. Eventualmente, o gerente pode ser
um sócio que, nestas condições, perde o
direito a votar na Assembléia Geral e a ser
candidato a cargos eletivos.
Assessoria técnica
Quando necessária, é contratada
fora dos quadros da cooperativa e
funciona junto ao Conselho de Adminis-
tração e aos associados, assessorando na
elaboração do planejamento, na contra-
tação e aplicação de linhas de crédito,
na definição e uso de tecnologias neces-
sárias ao funcionamento da cooperativa,
e no acompanhamento, avaliação e
controle da execução do plano de ação
anual. Também pode ter participação
importante na elaboração e execução
das diversas formas de capacitação da
cooperativa.
As Universidades da Rede UNITRA-
BALHO oferecem apoio para a criação e
consolidação de cooperativas por meio
das Incubadoras de Empreendimentos
Solidários.
Economia Solidária e Trabalho
53
3
4
Texto produzido pela Fundação Unitrabalho.
19•CA04T18P1 16.01.07 18:59 Page 53
A
nte el fracaso socioeconómico del
modelo capitalista y comunista, hay
quien ha formulado alternativas
científicas, modelos económicos rigurosos
para sustituir y mejorar un siste-
ma que no respeta al hombre
ni a la naturaleza. El peli-
gro de sobreexplotación
del planeta y el control
del poder económico
en manos de unos
pocos nos lleva indis-
cutiblemente hacia la
pobreza, no sólo eco-
nómica sino también
humana. Y cuando un
modelo roza el extremo de
su necesidad de dar la vuelta a
aquello que no funciona; a estos movi-
mientos se les tilda de irrealizables por lo
utópico, pero son el camino para que se
produzca la verdadera evolución.
Presentamos en este artículo algunas inici-
ativas actuales que basan su hacer y exis-
tencia en una alternativa económica y soci-
al que sitúe al ser humano en el lugar que
le corresponde.
Son propuestas socioeconómicas de
vanguardia que van desde modelos econó-
micos como la Empresa Integrada a estruc-
turas concretas como la Red de Economía
Solidaria, las empresas basadas en el
Comercio Justo o los Clubs de Trueque.
Intentos que basan sus principios y funcio-
namiento en el respeto al ser humano, el
entorno y la armonización de
intereses. Devolviendo el
poder de decisión y gesti-
ón a la persona, inte-
grando a sus miem-
bros para recuperar el
derecho de autogesti-
ón y, por tanto, la
libertad y la concien-
cia de que es posible
crear y evolucionar en
sinergia con los demás y
la naturaleza.
La Empresa Integrada
La Empresa Integrada es un modelo
socioeconómico integral y humanista
revolucionario (economía solidaria) que
nos ha legado el español José Luis Monte-
ro. Él ha trabajado 35 años para sintezar
un sistema que corrigiese los errores del
actual modelo socioeconómico, adecua-
do para el ser humano y coherente con la
forma en que la naturaleza ha concebido
la apropiación de recursos.
CONSTRUYENDO UNA OTRA ECONOMÍA
Mar Lana
Economia alternativa
TEXTO
20
Economia Solidária e Trabalho
54
20•CA04T20P1 12/14/06 11:18 PM Page 54
La economía solidaria – quiere promover un
desarrollo duradero integrando las necesida-
des de las generaciones actuales y futuras.
Está basada en la tolerancia, la libertad, la
democracia, la transparencia, la equidad y la
apertura hacia el mundo.
Tiene como objetivo favorecer la expansión de
cada ser humano y permitir que cada uno
equilibre lo mejor posible, a lo largo de su
vida, el tiempo dedicado a la formación, a una
actividad remunerada, al voluntariado y a la
vida familiar o personal.
La economía solidaria participa concretamen-
te en la lucha contra las causas de la exclu-
sión y la pobreza y no únicamente sobre sus
consecuencias.
Para que nadie pierda su condición
de ser que decide, en la Empresa Integra-
da todos los miembros son socios de la
misma. Ahora el fundamento del poder
empresarial está en el riesgo o grado de
responsabilidad y compromiso que cada
uno asume, no en la propiedad de los
medios. Ejerciendo el poder de decisión la
persona o comunidad a quien afecte el
problema, de tal manera que el que arries-
ga o se involucra, decide.
(…)
“Sólo una revolución convincente,
libre y eficaz puede ser digna del ser
humano. Hoy se habla de libertad, pero
la primera liberación que el hombre nece-
sita es liberarse del poder de las cosas.
GLOSARIO
Arriesgar. arriscar
Errores. erros
Hablar. falar
Hacia. prep. em direção a
Involucrar. envolver
Nadie. ninguém
Quitar. tirar
Riesgo. risco
Rozar. roçar
Sinergía. sinergia, esforço ou ação
conjunta, cooperação
Sino. conj. mas
Sólo. somente, unicamente
Tildar. acentuar, marcar
Trueque. troca, permuta
http://www.enbuenasmanos.com
http://www.reasnet.com/adh/mundo.htm
Economia Solidária e Trabalho
55
¿Es posible un mundo solidario?
20•CA04T20P1 12/14/06 11:18 PM Page 55
Homens com tochas espantam animais que são abatidos pelos outros caçadores.
A
o longo da História, os homens cria-
ram várias formas de sobrevivência
de acordo com as suas necessidades
e o meio em que viviam, até chegar ao está-
gio atual da nossa sociedade. Uma caracte-
rística foi fundamental para a nossa sobre-
vivência: a cooperação.
O trabalho em cooperação desenvol-
veu o pensamento e a fala, permitindo a
evolução cada vez maior do homem. Esse
processo levou milhares de anos.
O trabalho humano começa com a
fabricação de instrumentos. Inicialmente
os instrumentos eram feitos de ossos,
pedra e madeira. Bem mais tarde foram
descobertos os metais.
O ser humano sempre dependeu da
companhia e da ajuda dos seus semelhan-
TRABALHO E COOPERAÇÃO
NA ORIGEM DO SER HUMANO
Desenvolvimento social
TEXTO
21
Economia Solidária e Trabalho
56
21•CA04T17P1 12/14/06 11:05 PM Page 56
Economia Solidária e Trabalho
57
tes para poder sobreviver. No início, o que
era necessário para se viver, era consegui-
do principalmente através da coleta de
frutos, raízes e da caça e pesca de ani-
mais, que era feita e partilhada por todos.
O sucesso dos que faziam a caça
dependia da inteligência e destreza
manual, bem como da capacidade de tra-
balhar em conjunto e confiar uns nos
outros.
Durante milhares de anos, os homens
viveram como nômades, circulando pelos
lugares em busca de alimento. Com a
descoberta da agricultura alguns grupos
puderam se fixar numa região e por lá
permanecer, tendo condições de produzir
mais alimentos, através da irrigação e de
outras técnicas de plantio.
Texto produzido pela Unitrabalho para uso em atividades de
formação do Programa Nacional de Economia Solidária.
Cena típica de uma comunidade de aproximadamente 6.000 anos atrás.
21•CA04T17P1 12/14/06 11:06 PM Page 57
SOCIAL ECONOMY
Movimentos sociais privados
TEXTO
22
Economia Solidária e Trabalho
58
SECTOR IN
ECONOMIES
RD
A
3
22•CA04T24P1 12/14/06 10:49 PM Page 58
Economies may be considered to have
three sectors:
1
The business private sector, which is
privately owned and profit motivated;
2
the public sector which is owned by
the state and provides services in the
public interest;
3
the social economy, that embraces a
wide range of community, voluntary
and not-for-profit activities.
Sometimes there is also reference to a
fourth sector, the informal sector, where
informal exchanges take place between fam-
ily and friends.
The third sector can be broken down
into three sub-sectors; the community sec-
tor, the voluntary sector and the social enter-
prise sector:
The community sector includes those
organisations active on a local or
community level, usually small, modest-
ly funded and largely dependent on vol-
untary, rather than paid, effort. Examples
include neighbourhood watch, small
community associations, civic societies,
small support groups, etc.
The UK’s National Council for Voluntary
Organizations describes the voluntary
sector as including those organizations
that are: formal (they have a constitu-
tion); independent of government and
self-governing; not-for-profit and operate
with a meaningful degree of volunteer
involvement. Examples include housing
associations, large charities, large com-
munity associations, national campaign
organisations, etc.
According to the UK government’s defini-
tion, the social enterprise sector in-
cludes organisations which “are business-
es with primarily social objectives whose
surpluses are principally reinvested for
that purpose in the business or in the
community, rather than being driven by
the need to maximise profit for share-
holders and owners”. Examples include
cooperatives, building societies, devel-
opment trusts and credit unions.
The social economy spans economic
activity in the community, voluntary and
social enterprise sectors. The economic
activity, as with any other economic sector,
includes: employment; financial transactions;
the occupation of property; pensions;
trading; etc.
The social economy usually develops
because of a need to find new and innovative
solutions to issues (whether they be socially,
economically or environmentally based) and
to satisfy the needs of members and users
which have been ignored or inadequately
fulfilled by the private or public sectors.
By using solutions to achieve not-for-
profit aims, it is generally believed that the
social economy has a distinct and valuable
role to play in helping create a strong, sus-
tainable, prosperous and inclusive society..
Fonte
P
Wikipedia – A Encliclopédia Livre
Economia Solidária e Trabalho
59
22•CA04T24P1 12/14/06 10:49 PM Page 59
PASSO-A-PASSO
PARA ABRIR UMA
COOPERATIVA
N
o Brasil, para se constituir uma
cooperativa são necessárias, no
mínimo, vinte pessoas físicas, con-
forme Lei 5.764, de 16/12/1971. Essas
pessoas precisam ter um interesse econô-
mico em comum e, para viabilizar esse in-
teresse, estar dispostas a constituir um
empreendimento próprio, onde cada pes-
soa tenha apenas um voto e o resultado
seja distribuído proporcionalmente à par-
ticipação de cada cooperante. Sugere-se
os seguintes procedimentos para proce-
der-se a constituição e legalização de uma
cooperativa:
Para montar uma
cooperativa, há leis que
devem ser obedecidas e
regras respeitadas.
Mas o mais importante
é haver um forte
interesse comum para
que o empreendimento
dê certo.
Organização social
TEXTO
23
Economia Solidária e Trabalho
60
23•CA04Txx_passos 16.01.07 17:33 Page 60
Economia Solidária e Trabalho
61
Fase preparatória – 1
1. Reunir um grupo de pessoas interessa-
das em criar a cooperativa, com as se-
guintes finalidades:
P Determinar os objetivos da cooperativa.
P
Escolher uma comissão para tratar das
providências necessárias à criação da
cooperativa, com indicação de um
coordenador dos trabalhos.
2. Realizar reuniões com todos os inte-
ressados em participar, a fim de veri-
ficar as condições mínimas necessárias
para a viabilidade da cooperativa, pro-
curando respostas aos seguintes questi-
onamentos:
P
A necessidade é sentida por todos os
interessados?
P
A cooperativa é a solução mais adequa-
da? Ou uma associação poderia ser o
primeiro passo?
P
Já existe alguma cooperativa nas re-
dondezas que poderia satisfazer aos in-
teressados?
P
Os interessados estão dispostos a entrar
com o capital necessário para viabilizar
a cooperativa?
P
O volume de negócios é suficiente para
que os cooperantes tenham benefícios?
P
Os interessados estão dispostos a ope-
rar integralmente com a cooperativa?
P
A cooperativa terá condições de
contratar pessoal qualificado para
administrá-la e um contador para fa-
zer a contabilidade da cooperativa,
que tem características específicas?
3. Participar de um curso sobre Cooperati-
vismo:
Há uma legislação a ser respeitada e
uma doutrina e princípios internacionais
a serem seguidos, para evitar o surgimen-
to de falsas cooperativas, que frustram o
quadro social e criam inúmeros transtor-
nos ao movimento cooperativista.
Fase preparatória – 2
A comissão elabora ou examina uma
proposta de Estatuto, contendo, entre ou-
tros, os seguintes itens:
P
Denominação, sede, foro, área de ação,
prazo e ano social.
P
Objetivos sociais.
P
Associados: admissão, direitos, deveres
e responsabilidades – demissão, elimi-
nação e exclusão.
P
Regras do capital social.
Fase preparatória – 3
Assembléia Geral – definição, convo-
cação e funcionamento; assembléia geral
ordinária; assembléia geral extraordiná-
ria e eleições:
P
Conselho de Administração/Diretoria
P
Conselho Fiscal
P
Livros e Contabilidade
P
Sobras, perdas, fundos e balanço geral
P
Disposições gerais e transitórias.
23•CA04Txx_passos 12/14/06 10:21 PM Page 61
Texto 23 / Organização social
Fase preparatória – 4
A comissão realiza reuniões com todos
os interessados para distribuição e discus-
são da proposta de estatuto.
A comissão convoca todas as pessoas
interessadas para a assembléia geral de
constituição da cooperativa.
Realização da assembléia geral de
constituição da cooperativa, com a partici-
pação de todos interessados, no mínimo 20
pessoas físicas.
Documentos necessários para registro
na Junta Comercial (algumas exigências
podem variar de Estado para Estado):
P
Estatuto Social – 3 vias
P
Ata de Constituição – 3 vias
P
Lista Nominativa – 3 vias
P
Cartão de protocolo
P
Requerimento
P
Guias bancárias: DARF e GARE
P
Ficha FCN 1 (cooperativa)
P
Ficha FCN 2 (cooperado)
P
Xerox autenticado do CPF e RG de cada
cooperado
Dificuldades e soluções mais comuns em
autogestão de empreendimentos solidários
Dentre as dificuldades dos empreen-
dimentos de Economia Solidária, podem
ser citadas:
P
Descapitalização: a falta de capital
inicial para organizar empreendimen-
tos de produção, comércio e serviço.
P
O crédito disponível, em geral, é para
investimento fixo e não para capital
de giro.
P
O crédito recebido, muitas vezes não é
disponibilizado e gerido corretamente,
acabando por desorganizar o grupo.
P
Problemas com a inadimplência e fragi-
lidades na dimensão ética vinculada ao
financiamento.
P
A necessidade de responder a exigên-
cias legais que não são compatíveis
com as condições da socioeconomia
solidária.
P
Desconhecimento da legislação em
debate sobre cooperativismo, micro-
empreendimentos e temas congêneres,
e pouca interferência sobre a alteração
dessas leis.
P
Desconhecimento das cadeias produti-
vas nas quais os empreendimentos soli-
dários estão inseridos.
P
Falta de conexão dos empreendimen-
tos solidários em cadeia produtiva; difi-
culdade de articulação das experiências
existentes e de sua integração econô-
mica.
P
Desorganização na gestão do processo
produtivo, envolvendo custos, produ-
ção, capital de giro, cobrança e aspec-
tos burocráticos.
P
Falta de conhecimento do mercado
para definição de estratégias de produ-
ção e comercialização.
Economia Solidária e Trabalho
62
23•CA04Txx_passos 16.01.07 17:33 Page 62
P
A falta de formação básica e capacita-
ção técnica dos trabalhadores para de-
senvolvimento e qualificação da pro-
dução, gestão, marketing, etc.
P
Pessoas inadequadas ocupando posi-
ções estratégicas (administração, orga-
nização, contabilidade etc.), o que difi-
culta o sucesso dos empreendimentos.
P
Dificuldades na contabilidade e gera-
ção de balanços, prejudicando a trans-
parência nas finanças.
P
Falta de um planejamento eficiente que
permita alcançar melhores resultados.
P
Ausência de uma identidade comum
aos empreendimentos, produtos e
serviços da socioeconomia solidária e
de sua representação por meio de
uma logomarca nacional.
P
A cultura de organização solidária que
está se desenvolvendo ainda não está
bem elaborada, havendo situações em
que a cultura capitalista de organiza-
ção é adotada acriticamente.
P
O poder do sistema hegemônico tam-
bém permeia, em graus variados, gran-
de parte das organizações da economia
informal.
P
As fragilidades metodológicas e de ca-
pacitação para o desenvolvimento sus-
tentável experimentada pela maioria
dos empreendimentos.
P
Dificuldades de socializar a maioria
das experiências: falta de comunica-
ção, informação, intercâmbio e trans-
parência entre os empreendimentos
existentes.
P
A falta de qualificação e aprimoramen-
to tecnológico dos empreendimentos;
P
O machismo disseminado na socieda-
de e a dificuldade em admitir que ele
existe, acorbetado em diversas práticas
cotidianas consideradas normais;
P
A dependência financeira, a falta de
profissionalização, formação e infor-
mação das mulheres.
P
A noção arcaica de que o poder é algo
passível de ser tomado, fazendo depen-
der dessa tomada qualquer transfor-
mação substantiva das esferas econô-
micas, políticas e culturais.
P
Perder o controle sobre o eco, nas mídi-
as, das ações. Embora se tenha autono-
mia no exercício do poder, perde-se o
controle sobre a força que as mídias
exercem na opinião pública veiculando
mensagens sobre tal exercício.
Economia Solidária e Trabalho
63
Extraído do texto Orientação básica para organização de
empreendimentos econômicos solidários de autogestão – EES
Cooperativas. Osmar de Sá Pontes Jr. ([email protected]), Francisco
José Wanderley Osterne ([email protected]) – Universidade Federal
do Ceará – UFC – Fortaleza-CE - Janeiro de 2004
23•CA04Txx_passos 12/14/06 10:21 PM Page 63
eja_expediente_Solidária_2375.qxd 1/26/07 3:32 PM Page 64
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