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dedução de teoremas. Este sistema constitui-se, então, no modelo capaz de gerar
e classificar os saberes geométricos, os quais, uma vez “provados”, passam a ser
considerados como “verdadeiros” e inquestionáveis. A Geometria escolar,
baseada no modelo euclidiano, também passa a agregar conhecimentos tidos
como universais e absolutos, como se pré-existissem às culturas dos professores e
estudantes.
Outra característica marcante no ensino da Geometria, influenciada também
pelo sistema euclidiano, é a linearidade. Os Parâmetros Curriculares Nacionais
(BRASIL, 1997), nesta direção, destacam que a concepção linear ainda está muito
presente nas práticas pedagógicas desta área ao privilegiar o trabalho centrado
na seqüência: ponto, reta, linhas, figuras planas e, posteriormente, os sólidos
geométricos. Tal seqüência se contrapõe, geralmente, às experiências
vivenciadas pelos estudantes na exploração do espaço em que vivem. Desde
cedo, as crianças manipulam muitos objetos geométricos (como bolas, caixas,
latas) e, posteriormente, centram sua atenção às figuras geométricas planas,
vértices e arestas que os compõem, mostrando o quanto a seqüência estipulada
pela escola caminha na direção oposta à da vida.
Buscando justamente romper com as marcas da linearidade e aridez que ainda
caracterizam muitas práticas pedagógicas na área da Educação Matemática,
principalmente na Geometria, enfatizamos a relevância de uma educação
geométrica capaz de auxiliar nossos estudantes no entendimento do ambiente
que os cerca, aguçando sua percepção para examinar e organizar o próprio
espaço que habitam. Como enfatiza Fonseca et al. (2001), antes de freqüentarem
a escola, os estudantes já exploram o espaço e detêm um conhecimento sobre o
mesmo – através de suas brincadeiras e da própria construção de brinquedos, de
passeios realizados e também quando auxiliam seus familiares em alguma
atividade de trabalho – cabendo a você, professor ou professora, ampliar e
sistematizar estes saberes para que “a criança melhore sua percepção espacial,
visual e tátil, identificando as características geométricas desse espaço,
apreendendo as relações espaciais entre objetos nesse espaço” (IBIDEM, p. 47).
Você, professor ou professora, poderia então se questionar: Por que ensinar
Geometria nos anos iniciais do Ensino Fundamental? Qual é a relevância de uma
educação geométrica? Para sinalizar algumas respostas, no sentido de
aprofundarmos uma discussão e reflexão sobre nossas próprias práticas
pedagógicas, acompanhamos Fonseca et al. (2001) quando problematizam tais
questões. Para as autoras, além da dimensão utilitária como a resolução de
problemas da vida cotidiana, o estudo da Geometria se torna importante também
como meio de facilitar as percepções espaciais dos estudantes, contribuindo
para uma melhor apreciação das construções e dos trabalhos artísticos, tanto dos
seres humanos quanto da natureza.
Finalizamos destacando a relevância de proporcionarmos práticas pedagógicas
centradas no estudo e na exploração do ambiente que nos cerca, fazendo uso,
então, de conhecimentos geométricos. Para isto, além de enfocarmos os saberes
presentes nos livros didáticos, poderemos enfatizar, analisar e problematizar
aqueles gerados pelos próprios estudantes e seus familiares nas diferentes
práticas sociais que produzem e que envolvem noções geométricas. Desta forma,
estaremos inserindo na escola, não só outros saberes matemáticos que
enriquecem nossas práticas pedagógicas, mas, principalmente, elementos da
cultura e da vida de nossos estudantes.