ANAIS DO SEMINÁRIO INTERNACIONAL GESTÃO DEMOCRÁTICA
DA EDUCAÇÃO E PEDAGOGIAS PARTICIPATIVAS
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formatura de alfabetizados. Logo no começo do governo Lula, lá por setembro ou outubro, o Ministro
Cristovam, na sua cruzada de alfabetização estava comemorando o primeiro resultado das suas ações, e lá
fomos nós, saímos de Teresina 6h30 da noite, não sei se tarde ou noite, acho que já era noite, e depois de 1
hora de viagem chegamos a José de Freitas e a primeira coisa que eu achei bonitinha era que a formatura
iaser num ginásio de esportes, e ao invés de haver carros estacionados só havia bicicletas e carroças. Eu
falei, pronto, aqui é Brasil mesmo, aqui não tem frescura, e aí começou a solenidade, etc. O João de Deus
fala, a Secretária de Educação fala, me pediram para dizer algumas palavras e aí chama-se cada um pelo
nome, todo mundo bate palmas, todo mundo fica feliz. Um dos alfabetizandos pede a palavra, e aí,
Callegari, ele realmente deu um banho de realismo em todos nós. Vocês estão pensando que nós
aprendemos a ler? Isso aqui tudo é uma farsa, nós ficamos seis meses aqui nesse programa, mas a pobre da
professora sabia um pouquinho mais que a gente e faltava demais. Então, eu vim falar aqui em nome de
todo mundo porque eu quero agora uma decisão de vocês para ver se a gente pode realmente ser
alfabetizado e vamos planejar isso aqui para ver se dá certo. Se a gente salva esse tempo e esse dinheiro.
Gente, mas foi uma coisa linda, foi aquele banho, ninguém sabia o que falar. Pela primeira vez uma
cerimônia que devia celebrar alguma coisa, estava revelando a realidade. Por que eu estou contando esse
caso? Porque eu acho que talvez essa seja a questão mais séria quando se fala de políticas e de
planejamento. Aqui, nesse texto que vocês todos receberam, tem uma tentativa de descrever o que seria
uma política, uma política seria um conjunto de intenções, leis, decretos, pareceres do conselho,
resoluções, e ações dos poderes públicos para responder a demandas sociais. Então, política não é a ação,
não é a estrutura, não é o funcionamento. Política é a intencionalidade e a ação do Estado, do poder
público. Pois bem, dois exemplos clássicos na história da nossa educação.
O primeiro é essa questão da erradicação do analfabetismo. Estamos começando o século XXI, já pelo 6º
ano, e que eu me lembre, eu tenho 64 aninhos, que eu me lembre, todo mundo quer acabar com o
analfabetismo, todo mundo, todo presidente, todo ministro, eu me lembro muito bem do dia D da
educação do Marco Maciel, me lembro do Chiareli no tempo do Collor, que teve aquele tal de PNAC, Plano
Nacional de Alfabetização e Cidadania. Todo mundo quer acabar o analfabetismo, é a intenção, só que a
meta nunca é atingida. Pelo contrário, a gente teve até que inventar uma distinção entre analfabetismo
absoluto e analfabetismo funcional, porque se a gente fosse pegar a coisa como pegou esse cidadão
brasileiro lá do Piauí, cujo nome eu esqueci, mas se o Chagas quiser dar uma medalha para ele, se quiser
chamar ele para uma cerimônia, ele não tem papa na língua, ele é do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. A
gente soube inventar até um conceito, analfabetismo funcional. Poxa, quem não sabe escrever, quem não
sabe interpretar um texto pequeno não sabe ler mesmo, a coisa é mais simples, não vamos ficar enganando.
A gente tem no Brasil hoje mais ou menos 40% de analfabetos, não vamos esconder. Pode ser até que essas
distinções funcionem, mas para a pessoa não funciona não, se ele for atrás de emprego, ele vai ser barrado,
se ele for atrás de um diploma de ensino fundamental, ele vai ser barrado. Então, o que acontece, é a
distância entre a intenção e a meta dentro das políticas, ela vai se reproduzindo. Vai se aprofundando e aí eu
imagino, ou pelo menos é assim que eu concebo, aí entra um outro conceito, que não é o conceito de
política, mas é o conceito de planejamento, conceito de plano.
E o conceito de plano, de planejamento, em todas as áreas, na saúde, na educação, ele está justamente
solicitado, exigido, na medida em que as políticas não conseguem realmente fazer com que os objetivos
sejam atingidos. No meu entendimento são os três elementos que caracterizam o plano como uma política
especial, que são: primeiro a visão de totalidade. A política pode ser solta, pode ser fragmentada, diga-se
de passagem, a gente reclama muito disso, todo mundo mexe com a coisa; tem dez ministérios mexendo
com o mesmo assunto, mas não se vê a noção de totalidade. Diga-se de passagem: a posição da questão do