TP4 - Leitura e Processos de Escrita I - Parte I
Conhecimentos prévios interferem na produção de significado do texto?
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3- Leia você o poema, para toda a turma. Não se esqueça de preparar a leitura
em voz alta, conforme já sugerimos.
4- Ouça a opinião deles sobre o poema: gostaram ou não; é difícil ou não; é
simples ou não, etc.
5- Incentive-os a dizer o que sentiram e entenderam do poema.
6- Procure sempre ajudar os alunos a encontrarem no poema algum elemento
para “justificar” cada impressão apresentada sobre o texto. Não censure as opini-
ões, e tente fazê-los progredir na compreensão do poema.
Para isso, apresentamos a seguir algumas sugestões de pontos interessantes para
serem observados no poema. Mas não se preocupe em explorá-las todas: são
apenas pontos para orientar sua própria leitura e ajudá-lo a formular as perguntas
mais interessantes para a sua turma.
A) O poema é muito curto e, nas 3 estrofes, só apresenta um adjetivo (besta).
No entanto, temos a impressão de um juízo de valor em todo o texto, desde o
título. O diminutivo, seguido de um termo que tem valor adjetivo (qualquer), já
parece trazer um elemento negativo, que só vamos perceber com clareza no
último verso.
B) A estrutura do texto é bastante simples.
a) Na primeira estrofe, temos uma descrição de “dentro de casa”, onde estão as
mulheres. Note que todos os elementos dos dois primeiros versos são femininos e
plurais. Nesse ambiente de casa, há alguma coisa funcionando: a natureza
(bananeiras, laranjeiras, pomar) em harmonia com o universo feminino (casas,
mulheres), o que redunda em amor e canto. No entanto, a frase é nominal; construída
sem verbo: é uma cena estática, como uma fotografia.
b) A segunda estrofe tem 4 versos, 3 dos quais com a mesmíssima estrutura
(artigo indefinido, substantivo masculino comum concreto, verbo e advérbio), com
a variação única do núcleo do sujeito (homem, cachorro, burro). É uma cena “fora
de casa”, “na rua”, onde estão (naturalmente...) os elementos masculinos. Nos 3
versos, eles vão... aonde? A lugar nenhum! O verbo “vai”, sem complemento,
sugere um andar sem objetivo, sem rumo, que iguala os 3 animais. Por isso, vão os
3 tão devagar. É a mesma rotina da primeira estrofe, só que menos significativa,
ainda: é a rotina do “nada para fazer”. A novidade da estrofe fica por conta do
último verso, que inverte a posição do advérbio, que ganha nova conotação: as
janelas “olham com cuidado”, pelas frestas, abertas sem barulho, para não serem
notadas. Janelas, aqui, significa possivelmente as mulheres, que vigiam a rua com
curiosidade e vêem que a “liberdade” da rua não serve para coisa alguma para
quem não encontra objetivo na vida. Temos aí frases verbais, mas a “câmara lenta”
é incrível, criada pela falta de objetivo para fazer algo. Há um verbo de ação, mas
a ação do verbo é quase apagada, o movimento é quase nulo, seja pelo valor do
advérbio, seja pela repetição da estrutura, que sugere rotina e monotonia. (Veja
que os 3 elementos poderiam estar reunidos num período simples com sujeito
composto: Um homem, um cachorro e um burro vão devagar. Mas o poeta faz
questão de separá-los em períodos independentes, como se não fosse clara a liga-
ção entre eles. Ao contrário, na primeira estrofe nem há pontuação entre os termos