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Fevereiro de 2007 – Nº 14
CADERNOS
TEMÁTICOS
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EXPEDIENTE
Expediente
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Centro de Informação e Biblioteca em Educação (CIBEC)
Cadernos temáticos / Secretaria de Educação Pro ssional e Tecnológica.
v. 1, (nov. 2004). – Brasília : Secretaria de Educação Pro ssional
e Tecnológica, 2004–.
1. Educação pro ssional. 2. Práticas educativas. 3. Experiências
pedagógicas. I. Brasil. Secretaria de Educação Pro ssional e
Tecnológica.
CDU 377
Conselho editorial
Patrícia Barcelos, Solange Moreira Corrêa, Sandra Branchine e Cinara Barbosa
Coordenação editorial
Cinara Barbosa
Produção executiva
Patrícia Barcelos e Sandra Branchine
Pesquisa e diagnóstico
Juliana Amoretti
Produção de pauta
Sophia Gebrim
Reportagens e fotografias
Rodrigo Farhat e Marco Aurélio Fraga
Assistente de produção gráfica
Adriana Azambuja e Muriele Oliveira
Revisão
Denise Goulart
Diagramação
www.grifodesign.com.br
Impressão
Cromos
Impresso no Brasil
A exatidão das informações, os conceitos e opiniões
emitidos nos artigos científicos e nos resumos estendidos
são de exclusiva responsabilidade dos autores.
© 2007 Ministério da Educação
É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte.
Série Cadernos Temáticos
Tiragem: 10.000 exemplares
Ministério da Educação
Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica
Esplanada dos Ministérios, Edifício Sede, bloco L, 4º andar
70047-900 – Brasília/DF
Tel: (61) 2104-8127/9526
Fax: (61) 2104-9744
www.mec.gov.br
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SUMÁRIO
Sumário
Apresentação 5
Editorial 7
Reportagens 8
Estudantes formam cidadãos em Maceió 8
Flauta Mágica de Mozart celebra encontro de vozes em Alagoas 13
Voluntariado a serviço da comunidade 17
Equoterapia: método terapêutico de reabilitação 20
Artigos 23
Ensino, pesquisa e extensão: uma relação possível a favor da moradia 23
Estudo sobre agricultura de subsistência da comunidade de Caiana
dos Crioulos 31
Estudo bioquímico-físico dos efeitos das drogas no corpo humano:
uma proposta interdisciplinar 38
O consumo de cigarro entre os estudantes do ensino técnico 44
Educação ambiental: práticas pedagógicas integradoras 52
Escola indígena de Tabalascada: desafios educacionais e culturais
de um povo 58
O papel da agricultura urbana como instrumento de
desenvolvimento social 63
Os segredos da economia doméstica: origem, evolução
e perspectivas 70
Resumos Estendidos, Relatos de Experiência
e Práticas Pedagógicas 77
Basquetebol adaptado: uma forma de inclusão para os portadores
de deficiência mental 77
Proeja na EAFCeres: uma experiência de construção coletiva 79
Projeto integrado de pesquisa e extensão em saúde pública:
Igarapé Mata-Fome 82
Contatos 84
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Ablestock
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APRESENTAÇÃO
Apresentação
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
5
Professor e estudante,
com satisfação, apresento à Rede Federal de Educação Profissional e Tecnoló-
gica os números 11 a 15 dos Cadernos Temáticos. Este exemplar que você tem
em mãos trata de experiências e práticas pedagógicas realizadas por integrantes
das escolas junto às comunidades nas quais estão inseridas.
As matérias mostram uma parte da realidade dos Centros Federais de Educa-
ção Tecnológica, das Escolas Agrotécnicas Federais e das Escolas Vinculadas às
Universidades Federais dos estados de Alagoas, Goiás e Rio Grande do Sul.
Neste volume, destaco dois artigos: o estudo sobre agricultura de subsistência
da comunidade de Caiana dos Crioulos, das professoras Marize Cavalcante Souza
e Maria Betânea dos Santos, da Escola Técnica de Saúde da Universidade Federal
da Paraíba, e o documento sobre a inclusão de portadores de deficiência mental
por meio do basquetebol, de Paulo César Paulino, José Luiz Rodrigues e Luzia
Rodrigues Cardoso, docentes da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
A dois anos do centenário das primeiras escolas de educação profissional, os
Cadernos Temáticos tornam pública uma parcela da excelência das ações e pro-
jetos das atuais 153 escolas federais de educação profissional e tecnológica. A
o final de 2007, serão 205 unidades de ensino em todo o país, um crescimento
de mais de 32%.
Outra ação de relevo para a qualificação de recursos humanos e o fortaleci-
mento da pesquisa nas instituições federais foi a concessão, em 2006, de 295
bolsas de mestrado e doutorado e o investimento em dez grupos de pesquisa.
Um total de R$ 4,5 milhões estão sendo aplicados na parceria da Secretaria de
Educação Profissional e Tecnológica (Setec) com a Coordenação de Aperfeiçoa-
mento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
A expansão da rede, as ações do Proeja, da Escola de Fábrica, as bolsas do
Programa Institucional de Qualificação Docente (Piqdtec) e o investimento em
grupos de pesquisa estão elevando o nível da formação de profissionais no Brasil,
fortalecendo as economias locais e, também, as vocações nacionais.
Eliezer Pacheco
Secretário de Educação Profissional e Tecnológica do MEC
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Cinara Barbosa
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
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EDITORIAL
Editorial
Cadernos revelam sintonia
de escolas com realidades brasileiras
Os volumes 11 a 15 dos Cadernos Temáticos mostram experiências inova-
doras, práticas pedagógicas, pesquisas e resumos de artigos que contribuem
para o desenvolvimento da educação profissional e tecnológica no Brasil. São
uma pequena mostra da sintonia das 153 escolas da rede com as realidades
regionais do país.
Estimular, no cotidiano docente, a discussão de temas relevantes que per-
mitam a adoção de novas metodologias de ensino na rede federal de educação
tecnológica é um dos objetivos desses cadernos. Outro é mostrar as semelhanças
entre experiências realizadas por diferentes escolas, de distintas regiões. Essas
práticas podem, até mesmo, inspirar, mais tarde, novos projetos, em pontos dis-
tantes do país, desde que guardadas as singularidades históricas, socioeconômicas
e culturais das regiões.
Uma das metas iniciais da equipe responsável pela concepção e produção da
série Cadernos Temáticos foi contemplar todas as áreas profissionais. Perseguida,
mas, no entanto, nem sempre atingida, a proposta tornou-se viável quando seu
foco foi transferido para a publicação de experiências do maior número possível
de setores. É um recorte na realidade da educação profissional no Brasil; um
retrato desenhado por quem faz parte desse cenário: estudantes, pesquisadores,
professores e servidores.
Os editores
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
CIDADANIA
Estudantes formam cidadãos em Maceió
Atores da Escola Técnica da Ufal intervêem
no Denisson Menezes
Onze estudantes de Teatro da Escola Técnica Vinculada à Univer-
sidade Federal de Alagoas (ETV/Ufal) trabalham para formar cida-
dãos na Escola Municipal de Educação Básica Denisson Menezes, em
Maceió. Para isso, utilizam técnicas de interpretação, montagem cêni-
ca e processo criativo, nas manhãs das segundas, terças e quintas-fei-
ras. O trabalho envolve cerca de 20 alunos do ensino fundamental.
A oficina não tem a pretensão de formar atores, mas de despertar
as crianças para o mundo, de ajudá-las a descobrir um caminho, diz
a coordenadora do projeto, professora Nara Salles.
Os alunos da Escola Municipal de Educação Básica Denisson Me-
nezes aprovam o projeto. José Cícero dos Santos Silva, 14 anos, faz
a terceira série. Diz que gosta das práticas do teatro e de fazer arte.
Clécio Bezerra da Silva, 11, está no segundo ano. Apesar de aprovar
a experiência, ainda não teve coragem de contar a escolha para seus
pais. Tácio Ferreira Costa, 10, também da segunda série, é o mais
decidido dos três: “o teatro pode me ajudar a ser algo na vida”.
A oficina é mantida em parceria com o Pólo de Arte na Escola, da
Fundação Iochpe, e o Núcleo Transdisciplinar de Pesquisa em Artes
Cênicas e Espetaculares (Nace) da Ufal. O projeto tem duração de um
ano e termina com a montagem e as apresentações de um espetáculo.
Abrão Costa, Adriano Marinho, Ângela
Lira, Angélica Quintela Cavalcanti
Correa, Carlos Alberto Macedo da Silva,
Fabrício Alex Souza Barros, João Paulo
Alves de Araújo, Jonatha Albuquerque,
Solange dos Santos, Thalyta Kelli
Delmiro Pereira Lima e Williana dos
Santos Silva.
Fotos: Rodrigo Farhat
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
9
Reportagens
Durante as aulas, são trabalhadas expressão corporal e vocal, dinâ-
micas para integração do grupo e a construção da matriz identitária,
que é, segundo a professora Nara Sales, a história de vida de cada um
dentro do grupo e do bairro. Depois, pequenas cenas são construídas a
partir das histórias pessoais de cada um dos alunos.
Histórias de vida - Jonatha Albuquerque, 23 anos, e Carlos Alber-
to Macedo da Silva, 20, dois dos monitores do projeto, recebem bolsas
de iniciação científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de Alagoas (Fapeal) e da Ufal. O valor varia entre R$ 110 e R$ 600. A
de Jonatha é oferecida pela Pró-reitoria de Extensão da universidade e
a de Carlos Alberto, pela organização não-governamental Afroatitude.
Os recursos servem para pagar pequenas despesas do cotidiano.
Em 2000, Jonatha era aluno do segundo ano do ensino médio
no Centro Educacional Antônio Gomes de Barros (CEAGB), onde
a Gerência de Arte e Cultura, da Secretaria de Estado da Educação,
mantinha um projeto semelhante ao desenvolvido hoje no Conjunto
Denisson Menezes. Na época, ele não tinha perspectiva profissional e
não queria virar caixa de supermercado, como muitos de seus amigos.
Começou a fazer teatro e dança e foi atrás de um curso integrado
de teatro, oferecido pela professora Nara. Lá, descobriu o curso de
Formação do Ator da UTV/Ufal. Um ano mais tarde, já era aluno do
curso e tinha descoberto que gostaria de se tornar professor de teatro.
O passo seguinte foi o vestibular para a licenciatura na Ufal.
Carlos Alberto Macedo da Silva começou no teatro em 1999,
como seu colega Jonatha, quando estudante da sexta série na Escola
de Ensino Fundamental Manoel Simplício. O projeto ao qual estava
vinculado, no entanto, era mantido pela Coordenação de Ação Cultu-
ral da Secretaria de Estado da Educação. Ele não tinha, ainda, noção
do que era o mundo do teatro. Com as aulas, descobriu seu corpo e
começou a pensar sobre sua vida. A montagem do primeiro espetácu-
lo, chamado “A Primeira Guerra”, o levou a fazer “um paralelo entre a
família e o mundo moderno, baseado nos conflitos religiosos”. Desde
então, passou a lidar melhor com os dilemas com os quais se defronta
na vida e descobriu diferentes possibilidades de harmonização de suas
idéias com o cotidiano.
Hoje, Jonatha é professor de teatro em escolas de educação básica
da rede privada e Carlos Alberto gostaria de ajudar outras pessoas a
também descobrir a linguagem cênica.
Mercado está em expansão
Como professor de Teatro, Jonatha recebe um salário maior do que
o de seu pai, mas nem sempre foi assim. Bancário, seu pai acreditava
que Jonatha fosse morrer de fome. O irmão, militar, chegou a comen-
tar um dia com o pai que teriam que trabalhar muito para sustentá-lo.
Ironicamente, durante certo tempo, Jonatha foi o único em-
pregado em casa e era ele o responsável por pagar as contas. Ao
perceberem o mercado potencial para o profissional do teatro, os
familiares de Jonatha mudaram de idéia.
Em Alagoas, há trabalho para atores e professores de teatro em
escolas privadas e em campanhas educativas promovidas pelo De-
partamento Estadual de Trânsito (Detran) e o Sistema S (Sebrae,
Senai e Sesc), além de comerciais de TV.
A criação da matriz identitária de
auto-reconhecimento está relacionada
ao meio ambiente cultural e considera
sua subjetividade: qual é a história de
vida que há para ser contada, como
se move este cidadão na sociedade
e como é o imaginário deste homem
frente à sociedade.
Complexo educacional do estado de
Alagoas, com 13 escolas públicas.
O cina de formação de ator
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
A família de Carlos Alberto, ao contrário da de Jonatha, apro-
vou a escolha quando ele se matriculou no curso de Formação do
Ator da ETV/Ufal. Para ele, o mercado para o profissional da área
é amplo. “Perceber a dimensão da atividade do ator é o que falta às
pessoas”, diz. “É um trabalho que precisa de muita pesquisa”, reco-
nhece. Ele filosofa: “o artista é um pensador que deve refletir sobre
o mundo e transformar sua reflexão em cena”.
Sobre o potencial dos alunos da Escola Municipal de Educação
Básica Denisson Menezes, Carlos Alberto diz que é uma caixa de
surpresas que deve ser revelada por meio de jogos teatrais. “No fu-
turo, os estudantes que um dia foram moradores da Cidade de Lona
poderão vir a ser pintores, cantores ou dançarinos”, aposta.
A professora Nara Salles também acredita no amanhã: “Novos
Jonathas e Carlos Albertos podem surgir da experiência na Escola
Denisson Menezes”.
Estudantes têm de 12 a 65 anos
Apesar de não existir uma pesquisa sobre os estudantes do curso
de Formação do Ator da ETV/Ufal, a professora Nara Salles diz que
os alunos são homens e mulheres da periferia de Maceió, com idade
entre 12 e 65 anos.
São 155 matriculados no Curso de Formação do Ator e 350
na licenciatura em Teatro. O salário inicial médio da categoria fica
entre R$ 800,00 e R$ 1.000,00 para os atores e um pouco acima
dessa faixa para os professores.
O curso de Formação do Ator dura dois anos e meio e o de licen-
ciatura, quatro. São oferecidas 30 vagas para o primeiro e 45, para o
segundo. A concorrência não é grande. São cerca de dois candidatos
por vaga para o curso de Formação do Ator e o dobro para o de
licenciatura em Teatro.
A ETV/Ufal, que funciona no Espaço Cultural da Universidade,
não tem, ainda, um espaço adequado para apresentações cênicas e,
por meio de convênio com o Serviço Social do Comércio (Sesc),
utiliza o Teatro Jofre Soares.
A Ufal oferta três cursos de licenciatura – Teatro, Dança e Música
– e a ETV/Ufal, o curso técnico profissional de Formação do Ator.
Conjunto surgiu de
acampamento
O Conjunto Denisson Menezes fica ao
norte da cidade de Maceió, na Cidade Uni-
versitária. A área do terreno, de 90 mil metros
quadrados, foi doada pelo Governo do Esta-
do, em junho de 2000. O processo de urbani-
zação foi iniciado naquele ano e interrompido
mais tarde, por falta de recursos financeiros.
Depois, o conjunto foi escolhido para inte-
grar o Programa Habitar Brasil, do Banco In-
teramericano de Desenvolvimento (BID).
Das 554 famílias residentes no Conjunto
Denisson Menezes, a maioria (373) veio de
“O teatro pode
me ajudar a ser
algo na vida”
Tácio Ferreira Costa,
10 anos
No segundo semestre de 2006, a
Secretaria de Educação Profissional
e Tecnológica do Ministério da
Educação (Setec/MEC) liberou
R$ 80 mil para a construção
de duas salas de aula e três
laboratórios, destinados ao exercício
da cenografia, da dança e da
expressão cênica.
Outras informações sobre a escola
estão na internet (www.chla.ufal.
br/artes/teatro).
O Programa Habitar Brasil/BID
incentiva a geração de renda e o
desenvolvimento em assentamentos
de risco ou favelas das cidades
brasileiras. Objetiva, ainda,
melhorar as condições habitacionais,
com a construção de moradias,
de infra-estrutura urbana e de
saneamento básico, e recuperar áreas
ambientalmente degradadas.
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
11
Reportagens
Ablestock
acampamento de famílias sem teto, originárias de regiões canavieiras
do interior do estado. Durante cinco anos, essas pessoas viveram em
um acampamento conhecido como Cidade de Lona, na Avenida Dur-
val de Góes Monteiro, em terreno da Petrobras.
Segundo a coordenadora do Núcleo Temático da Assistência Social
(Nutas) da Ufal, Maria Lúcia Santos Moreira da Silva, uma das respon-
sáveis pelas pesquisas de avaliação de indicadores sociais no conjunto,
diante das condições de miséria em que se encontrava a comunidade,
a universidade começou a desenvolver ações de extensão envolvendo
várias áreas de ensino. Para a intervenção na comunidade, sete eixos
foram definidos: direitos civis; educação e saúde; educação sanitária e
ambiental; esporte, cultura e lazer; geração de trabalho e renda; mobi-
lização e organização comunitária; e segurança e comunicação.
Diagnóstico – Duas pesquisas sobre a comunidade foram reali-
zadas por uma equipe de estudantes do curso de Serviço Social, em
2001 e em 2005. Os dados revelaram que a relação estável aumentou
– as famílias abandonaram as lonas e passaram a viver em casas – e o
número de mulheres como chefes de família e o de indivíduos por fa-
mília cresceram. Em relação ao trabalho, foi observada uma elevação
de 8,46% de inserção no mercado formal, principalmente no cam-
po da construção civil, ampliado a partir da construção do conjunto.
Apesar de a inserção no mercado informal de trabalho ter diminuído
15,78%, devido ao fortalecimento do mercado formal, ainda existem
8,81% de pessoas vivendo de biscates e ajudas de terceiros.
Relacionada à renda, foi notada diminuição de 0,40% da parcela
da população que recebe até um salário mínimo e aumento de 0,36%
na faixa entre um e três mínimos.
No eixo educação, foi construída uma escola no conjunto e feitas
parcerias para a alfabetização de 150 jovens e adultos. Foram inseri-
dos, ainda, 25 jovens de 15 a 17 anos no programa “Agente Jovem” e
150 no programa de preparação para o exame supletivo.
Na faixa etária entre 7 a 14 anos, houve evolução na escolaridade,
com aumento de 31,41% de inserção na escola. Entre 15 e 18 anos,
também os números cresceram: 21,96% cursando o ensino funda-
mental; 0,52% com o fundamental completo e 3% no ensino médio.
Os 33,03% de analfabetos nesta faixa etária, detectada na pesquisa de
2001, não apareceram na amostra de 2005.
Saúde – A avaliação do eixo saúde mostrou que a instalação do
Programa Saúde da Família (PSF) na comunidade para identificação
e tratamento de doenças, em parceria com o Hospital Universitário,
facilitou a atenção básica à saúde e as internações.
O diagnóstico do eixo educação sanitária e ambiental revelou que
o aumento do acesso à água, instalação sanitária, coleta de lixo e ener-
gia elétrica elevou os percentuais para 100%.
O eixo segurança e comunicação apresentou pouca melhora, em-
bora tenha sido construído um box militar sem equipamento e poli-
ciais. O conjunto apresenta um grau elevado de violência, por várias
razões: muitas famílias de apenados, traficantes e violência exercida
por cabos eleitorais de políticos.
Os resultados obtidos no eixo direitos civis foram parciais, pois so-
mente as pessoas nascidas em Maceió conseguiram obter documen-
tos. A distância e a falta de recursos impediram que os nascidos em
outras cidades obtivessem certidões, o que resultou em dificuldade de
acesso das crianças à educação.
Ablestock
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
Em relação ao eixo esporte, cultura e lazer, a instalação do Centro
de Múltiplas Atividades e o investimento em reuniões, festas comuni-
tárias, grupos de capoeira, xadrez, futebol e danças reduziram a ocio-
sidade de crianças, jovens e adultos. Essas ações, entretanto, foram
descontinuadas.
No eixo relacionado à mobilização e organização comunitária, no-
tou-se que apenas 26,99% das pessoas participam de alguma forma
associativa, 75,28% resolvem os problemas individualmente e apenas
4,78%, coletivamente.
Trabalho final de curso
aborda intolerâncias
O projeto de conclusão da licenciatura em Teatro de Jonatha Al-
burquerque trata da aplicação das propostas de Jerzy Grotowski para
o desempenho de papéis junto aos estudantes do último módulo do
curso de Formação do Ator e envolve outros estudantes da ETV/
Ufal. Carlos Alberto Macedo, o colega de monitoria na Escola Denis-
son Menezes, e Magnum Angelo da Silva, 23 anos, são dois deles.
Magnum, aluno do quarto ano da licenciatura em Teatro, foi quem
fez a preparação corporal dos profissionais utilizados na montagem cê-
nica dirigida pelo colega. Carlos Alberto foi um dos 14 atores da peça.
Magnum focou seu trabalho, basicamente, no desenvolvimento de
exercícios psicofísicos, que envolvem respiração dinâmica de diferen-
tes níveis, junto aos atores. Ele conta que esses exercícios trabalham
a exaustão, pois, quando o corpo está cansado, é mais verdadeiro e
se liberta de comandos racionais. “O corpo tem que estar com uma
rotação, uma dinâmica diferente da do cotidiano”, explica.
Magnum também fez o curso de Formação do Ator. Em 1999,
estudava no CEAGB e participou de oficinas de teatro. Foi quando
montou o primeiro espetáculo sobre violência, que chamou de “Três
pontinhos”. Depois disso, não saiu mais do meio e hoje respira teatro
as 24 horas do dia. Além de aluno da Ufal e monitor da ETV/Ufal, é
agente cultural na Escola Pública Tavares Bastos e no Sesc, e também
dirige o Grupo de Estudos Teatrais Orientados (Geito).
Apocalipse – O texto de Georges Bourdokan, escolhido para
a montagem, trata dos bombardeios à cidade de Beirute nos anos
1980. “São ainda atuais, não?”, pergunta Jonatha. É uma leitura
dramática contemporânea, que faz uma crítica às religiões. Três ami-
gos, Rachid, Mussa e Farid, vêem Messias, Máhdi e Yhwh retorna-
rem à Terra e serem mortos por um religioso. Mussa passa a enten-
der, então, que nenhuma religião supera a amizade e os enviados
sempre chegam tarde demais.
O projeto foi realizado em três etapas: reunião de apanhado téc-
nico sobre o desempenho de papéis; aplicação didática da teoria; e
descrição da aplicação, do processo criativo e da montagem cênica.
Como aluno de artes cênicas, ele sentia falta de um aprofun-
damento centrado nos processos corporais, pois quando este era
realizado ficava distante do que necessitava para desempenhar os
papéis propostos pelos diretores. Como pretende se transformar em
professor e diretor de teatro, quer focar seu trabalho no teatro físi-
co, a partir da leitura das obras do autor polonês. Nesse estilo, uma
preparação corporal meticulosa é essencial.
Reportagem: Rodrigo Farhat
“No céu não
estamos, não,
mas do inferno
escapamos”
Ex-morador da
Cidade de Lona
Criança no Denisson Menezes
Grotowski prega o teatro pobre, no
qual todo o trabalho é centrado no
corpo do ator. Cenário e figurinos
não servem para apoiar a encenação
do ator, que deve ter o próprio corpo
como centro de sua atuação.
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Reportagens
Flauta Mágica de Mozart celebra
encontro de vozes em Alagoas
Coralistas de dez estados e da América Latina
apresentaram em Alagoas uma variedade de
repertórios líricos misturando música, teatro e dança
Quando o ex-estudante do Centro Federal de Educação Tec-
nológica de Alagoas (Cefet/AL), Felipe Oliveira, ingressou, aos
quinze anos, no coral da instituição não imaginou que anos mais
tarde seria ovacionado por mais de mil pessoas no Teatro Gustavo
Leite, palco da abertura do Encontro Internacional de Coros (En-
coral 2006), evento promovido pelo Cefet Alagoas, em Maceió. A
Flauta Mágica, de Mozart, uma das mais conhecidas e importan-
tes óperas do repertório do compositor, foi apresentada durante
a abertura do Encoral 2006 na forma de concerto, celebrando os
250 anos do compositor.
Para Felipe, freqüentar o coral foi essencial para despertá-lo para
a carreira de canto. “Para mim, foi espetacular porque eu descobri
dentro desta atividade artística a minha verdadeira vocação”, conta.
Fotos: Coretfal – Cefet/AL
ENCORAL 2006
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
Carreira de sucesso – A regente do Coral do Cefet (Coretfal),
Fátima Menezes, percebeu o talento de Felipe desde o seu ingresso
no coral. “Quando vimos o potencial do Felipe, demos todo o in-
centivo para que ele continuasse na carreira de canto”. E o estímulo
de Fátima mais a dedicação de Felipe deram resultado. Em 2005,
após desistir no quarto ano do curso de Medicina, Felipe passou em
primeiro lugar no curso de canto da Universidade Estadual Paulista
(Unesp). Neste ano, foi premiado em primeiro lugar em quatro
concursos nacionais de canto e também agraciado com o prêmio
“melhor intérprete de canção de concerto”, no Festival Internacio-
nal de Canto Lírico de Trujillo, no Peru. No começo de 2006, Felipe
foi selecionado pela Royal Scottish Academy of Music and Drama
(Academia Real de Música e Teatro), em Glasgow, Escócia, onde
estudará por três anos com uma bolsa de mestrado.
Encoral – Produzido pelo coral do Cefet de Alagoas (Coretfal
– Coralistas Associados), o Encoral 2006 reuniu grupos de corais do
Brasil e da América Latina. Durante três dias, 30 coros de Alagoas e
de mais 9 estados do país (Pernambuco, Minas Gerais, Pará, Rio de
Janeiro, São Paulo, Maranhão, Rio Grande do Norte, Sergipe e Cea-
rá), além de representantes do Uruguai e Argentina, apresentaram-se
nas cidades de Maceió, Arapiraca, Coruripe e Marechal Deodoro.
Coral São João (São Luís/MA)
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
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Reportagens
O espetáculo contou com a preparação vocal do Coretfal, da
maestrina Maria Augusta Monteiro, direção artística da maestrina
Fátima Menezes, direção musical e regência do maestro Almir Me-
deiros e direção cênica do professor Homero Cavalcante. A ópera
foi acompanhada pela Sinfônica Jovem da Paraíba.
Para Fátima, um dos aspectos importantes do evento é o inter-
câmbio cultural com coros de outros estados e países. “Pretendemos
perpetuar esta iniciativa em nosso estado para que possamos intera-
gir com outros grupos de corais”, explica.
Coretfal – O Coretfal – Coralistas Associados foi criado, em
1975, pela mãe de Fátima, a maestrina Maria Augusta Monteiro,
que em 1980 passou a regência à filha. A nova regente optou,
nas apresentações do Coretfal, pela MPB e folclore nordestino,
difundindo e valorizando esses segmentos em toda sua riqueza
rítmica e melódica. A instituição tem caráter cultural, sem fins
lucrativos, e tem como objetivo difundir a prática da música co-
ral na comunidade. No ano passado, a associação foi selecionada
como Ponto de Cultura, por meio do programa Cultura Viva, do
Ministério da Cultura.
Coral do Cefet/AL
Abaixo, detalhe da apresentação do Coral
Infantil do Colégio Madalena So a, de Maceió
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
Formado por alunos, ex-alunos, funcionários do Cefet e inte-
grantes da comunidade, o Coretfal, com 55 coralistas, já realizou
excursões para a Europa, onde foi premiado em segundo lugar na
categoria música popular e na quinta colocação na categoria fol-
clórica, concorrendo com 40 países, além de participar de vários
festivais de música no país inteiro, como a Semana da Música,
em Brasília (DF).
O Coretfal oferece para os alunos do Cefet/AL e comunidade
em geral oficinas de violino, viola, iniciação musical (para leitura
de partituras) e flauta doce. E foi justamente em uma das oficinas
(violino e viola) que a regente do Coretfal viu a possibilidade de
ir além das oficinas e partir para um projeto mais audacioso. “A
oficina de violino e viola foi um grande sucesso, com mais de 100
pessoas inscritas. Foi aí que vimos que temos em nossa comunida-
de pessoas com potencial para se tornarem músicos profissionais.
Nosso próximo passo será este: o de formar uma orquestra de
câmara no estado de Alagoas”, vibra a maestrina.
Banda na praça
“O homem sério que contava dinheiro parou, a rosa triste que
vivia fechada se abriu, e a meninada toda se assanhou para ver a
banda passar cantando coisas de amor...”. Será nos versos da música
A Banda”, do compositor Chico Buarque, que a comunidade de
Alagoas irá se inspirar para aplaudir a reativação da banda do Cefet/
AL neste semestre.
Segundo o diretor-geral do Ce-
fet Alagoas, Roland dos Santos
Gonçalves, há 15 anos a banda do
Cefet era referência na sociedade
alagoana. “Uma de nossas metas
em nossa gestão é reativar a ban-
da, o que será muito importante
para a nossa instituição e para o
estado de Alagoas”. A banda do
Cefet será composta por 60 com-
ponentes. De acordo com Roland,
o número de beneficiados será
maior. “A idéia é beneficiar três
aprendizes para cada instrumento,
em horários diferentes”, diz. Para
o diretor, a escola não é feita só de
matérias como a matemática. “A
nossa intenção é dar um atrativo
a mais e despertar, em nossos alu-
nos, o interesse pela música”.
Reportagem: Marco Fraga
Coral Sococo Amazônia do Pará em
apresentação na empresa Sococo, em Maceió
Coral do Cefet/AL e a Orquestra Sinfônica
Jovem da Paraiba com regência do
maestro Almir Medeiros (Cefet/AL)
interpretando a Flauta Mágica
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
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Reportagens
Voluntariado a serviço
da comunidade
Núcleo de Defesa Civil criado pelo Centro Federal
de Educação Tecnológica (Cefet/BG) realiza, há
dois anos, ações que estimulam a responsabilidade
social e o exercício da cidadania
Com o objetivo de conscientizar as comunidades em ações de
mobilização social – para os casos de enfrentamento de situações de
anormalidade – e a preparação de profissionais com perfis criativos
que saibam exercer atividades em equipe, o Cefet/BG criou o Nú-
cleo de Defesa Civil (Nudec).
O Nudec surgiu durante a gincana comemorativa ao dia do estu-
dante, em 2004. “Após uma tarefa realizada no corpo de bombeiros,
os alunos do Cefet/BG perceberam a importância da participação
de cada um em trabalhos voluntários, preventivos e algumas vezes
emergenciais”, explica a professora Elizabethe Pitt Giacomazzi, uma
das coordenadoras do Núcleo.
DEFESA CIVIL
Fotos: Divulgação Cefet/BG
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
Para Elizabethe, a criação e a consolidação do Núcleo de Defesa
Civil da instituição justifica-se pela necessidade de preparar profis-
sionais com perfis criativos e autônomos, que saibam exercer ativi-
dades em equipe. “Este tipo de ação, sendo desenvolvida dentro de
uma instituição de ensino, torna-se multiplicadora, pois nas escolas
convive-se diariamente com as “diferenças”, o que permite a inclu-
são social de cada indivíduo com suas particularidades”, coloca.
O Núcleo de Defesa Civil, formado por 40 alunos de nível mé-
dio e técnico, desenvolve diversas ações, como os programas de
reciclagem de lixo, uso racional da água, primeiros socorros, pre-
venção e combate a incêndio e doação de sangue. No ano passa-
do, os alunos recolheram quatro toneladas de material reciclável no
Cefet/BG. Logo após, foi iniciado um processo de conscientização
na comunidade escolar para a importância da separação do lixo em
cada ambiente da escola, facilitando o devido encaminhamento e
conseqüente preservação e conservação do meio ambiente.
Também sob a orientação dos professores e com o apoio do Cor-
po de Bombeiros, a instituição deu início, em junho de 2006, à
coleta da água da chuva e seu reaproveitamento. A captação da água
da chuva é realizada através de calhas direcionadas aos tanques de
armazenamento que não estavam sendo utilizados na instituição,
abastecendo a horta comunitária do Cefet/BG. Para 2007, a meta é
ampliar a coleta de água para abastecer a cantina do Centro Federal.
“Dessa forma, incentiva-se a implantação desses projetos que incor-
poram o conceito de sustentabilidade e otimização do uso da água,
não só aqui na escola, mas nos locais de atuação dos participantes
do projeto”, coloca Elizabethe.
Portadores de necessidades especiais
Atentos ao conceito de integração espontânea e cientes de que
alunos com necessidades educativas especiais estão matriculados na
rede regular de ensino, mas sem qualquer atendimento especializa-
do, o Nudec desenvolve atividades com um grupo voluntário da
instituição que atua como agente multiplicador preparado para con-
viver em sintonia com esses alunos.
Segundo Elizabethe, o objetivo é buscar, junto a esses alunos,
sua auto-valorização, o respeito às individualidades, à igualdade de
oportunidades e de fomentar a sua integração junto ao grupo escolar
de forma espontânea e gradual. “O Nudec aprimora o convívio com
deficientes físicos. Hoje já observamos uma harmonia de convívio
entre os alunos, servidores e alunos do Núcleo de Atendimento às
Pessoas com Necessidades Especiais (Napne) aqui da instituição”.
Em uma das atividades realizadas para os portadores de neces-
sidades especiais, os voluntários do Núcleo realizam o trabalho de
“ledores”, gravando livros ou trechos de revistas sugeridos pela
ADVBG (Associação dos Deficientes Visuais de Bento Gonçal-
ves) em CDs, além de realizar o trabalho de digitação de material
didático solicitado pela ADVBG para serem posteriormente dis-
ponibilizados às escolas e universidades que tenham alunos com
esse tipo de necessidade.
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
19
Reportagens
Doação de sangue
O grupo do Núcleo também participou, em 2006, de um semi-
nário desenvolvido pelo hemocentro municipal do Hospital Tac-
chini sobre doação de sangue e órgãos, com posterior visitação ao
banco de sangue do hospital. Segundo a enfermeira do Cefet/BG e
integrante do Nudec, Maria do Carmo Alves de Oliveira, a partir
dessa atividade houve uma mobilização da equipe que buscou des-
mistificar a doação de sangue, auxiliando a comunidade a doar san-
gue regularmente. “Conseguimos formar um grupo que doa san-
gue periodicamente e que incentiva a adesão de novos doadores. Já
organizamos cinco grupos de doadores integrados por servidores,
alunos e familiares”, diz Maria.
Para as integrantes do Núcleo de Defesa Civil, essas ações estão
despertando no grupo do Nudec e na comunidade valores como
simplicidade, criatividade, integridade, disciplina, espírito de equipe
e responsabilidade na área humanitária.
Reportagem: Marco Fraga
Ablestock
Curso de primeiros socorros desenvolvido
em parceria com o corpo de bombeiros
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
EQUOTERAPIAEQUOTERAPIA
Equoterapia: método
terapêutico de reabilitação
Escola Agrotécnica Federal de Ceres realiza, por
meio da equoterapia, atendimento gratuito a
portadores de necessidades especiais
Hipócrates de Loo (458 – 370 a.C.),
no seu livro das dietas, aconselhava a
equitação para “regenerar a saúde e
preservar o corpo humano de muitas
doenças, mas, sobretudo, para o
tratamento da insônia”. Além disso,
afirmava que “a equitação praticada
ao ar livre faz com que os músculos
melhorem o seu tônus.”
Andar a cavalo deixou de ser apenas uma atividade esportiva ou
de lazer. A prática da cavalgada proporciona vários benefícios para
quem a realiza. Estresse, problemas físicos e psicológicos podem
ser tratados através da equoterapia – método terapêutico de rea-
bilitação reconhecido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM)
desde 1997 e que vem sendo desenvolvido há um ano pelo Centro
de Equoterapia da Escola Agrotécnica Federal de Ceres (EAFCe),
no estado de Goiás.
Dentre outras patologias, o Centro de Equoterapia da EAFCe
atende praticantes com paralisia cerebral, deficiência mental, seqüe-
la de AVC (acidente vascular cerebral), autismo e também pessoas
que tenham dificuldade de aprendizagem e de atenção, depressão e
carência de socialização.
Fotos: Divulgação EAFCe
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
21
Reportagens
Para o responsável pelo projeto na EAFCe, André Luíz de Melo,
a equoterapia é um método terapêutico e educacional que visa ao
desenvolvimento biopsicossocial do praticante, proporcionando-lhe
– através de estímulos – a reabilitação motora e o desenvolvimen-
to cognitivo. “Além de estabelecer uma relação harmoniosa entre
o praticante, cavalo e equipe, a equoterapia proporciona estímulos
motores que melhoram a tonicidade muscular, consciência corporal,
elevação da auto-estima, equilíbrio e coordenação motora”.
Na opinião de Melo, esses estímulos são ocasionados pelo movi-
mento tridimensional provocado pelo cavalo ao andar, trotar ou ga-
lopar; fazendo com que o praticante seja deslocado para frente e para
trás, para esquerda e para a direita, para cima e para baixo, em sessões
que variam entre 30 e 40 minutos, realizadas uma vez por semana.
Atendimento – A equoterapia é oferecida gratuitamente às
pessoas que possuam algum tipo de necessidade especial. A EA-
FCe conta com cinco cavalos doados por criadores da região para
atender a 40 praticantes, não só de Ceres mas de cidades circunvi-
zinhas. Segundo Melo, os cavalos têm o perfil ideal para o traba-
lho equoterápico. “Os cavalos são dóceis, de meia idade, trotam,
andam e galopam ao mesmo tempo em que aceitam objetos e sons
variados durante a sessão, sem demonstrar reação que possa ofere-
cer risco ao seu praticante”.
Para que o centro de equoterapia fosse criado na escola, foi ne-
cessário cumprir algumas exigências de infra-estrutura e recursos
humanos estabelecidas pela Associação Nacional de Equoterapia
(ANDE-Brasil). Para isso, foi construído um picadeiro de areia co-
berto, um picadeiro de grama, pista de areia e chão batido. Além
disso, a ANDE-Brasil determina que haja, em um centro de equo-
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
terapia, profissionais das áreas da saúde, educação e equitação. Para
que esse grupo de profissionais fosse reunido, a EAFCe firmou uma
parceria com a Prefeitura Municipal de Ceres. “Percebemos a ne-
cessidade de se estabelecer parcerias para a criação do Centro de
Equoterapia. Para isso, despertamos o interesse da Prefeitura Muni-
cipal de Ceres em participar do projeto. O município forneceu uma
fisioterapeuta e uma fonoaudióloga para completar a equipe que já
é composta por um médico veterinário, uma pedagoga, uma psicó-
loga, dois equitadores, alunos bolsistas, voluntários e um professor
de educação física”, explica Melo.
Aprendizado lúdico através do cavalo
A procura pela equoterapia tem aumentado, e não somente por
quem necessita de cuidados especiais na área física ou psicológica.
As pessoas estão descobrindo o prazer e, principalmente, os bene-
fícios que andar à cavalo proporcionam à saúde física e mental”, co-
loca Melo. Para Melo, não há nenhum tratamento que transmita ao
praticante a quantidade de movimentos que o cavalo emite, pois em
apenas um minuto ocorrem de 1.800 a 2.200 estímulos na região
pélvica e coluna, e em torno de 40 a 45 mil estímulos numa sessão
de meia hora. Além disso, ele lembra que a relação praticante/cavalo
contribui – comprovadamente – para elevar a auto-estima e a socia-
bilidade daqueles que praticam a equoterapia.
Para a pedagoga do centro da EAFCe, Andréa Maria de Melo,
a equoterapia oferece inúmeras vantagens quando aplicada à edu-
cação, por exemplo. “A equoterapia ajuda a minimizar, de forma
lúdica e prazerosa, dificuldades que algumas crianças e adoles-
centes possuem, como baixa auto-estima, déficit de atenção e
percepção e dificuldade de sociali-
zação”, coloca Andréa.
Já a fisioterapeuta Leila Freitas
Marques ressalta um diferencial im-
portante entre a equoterapia e um
tratamento realizado numa clínica.
A equoterapia foge dos parâmetros
da fisioterapia convencional pratica-
da em uma clínica. Na clínica, o fi-
sioterapeuta controla toda a sessão e
na equoterapia o praticante se sente
o controlador”. Para Leila, o cavalo
é o estimulador sensorial e motor do
praticante. O fisioterapeuta conduz
a sessão de modo a facilitar a realiza-
ção dos movimentos que o paciente
necessita fazer. Segundo ela, as me-
lhorias proporcionadas pela equo-
terapia são muitas, como melhora
do equilíbrio e postura, aumento de
auto-estima, sensação de bem-estar e
estímulo das sensibilidades tátil, vi-
sual e auditiva.
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Artigos
Ensino, pesquisa e extensão:
uma relação possível a favor da moradia
KUNZE, Nádia C.; CONCIANI, Wilson
Centro Federal de Educação Tecnológica de Mato Grosso
Palavras-chave: Moradia; Habitação; Pesquisa.
RESUMO
O problema da falta de moradia no mundo, no Brasil e nos seus es-
tados não é um fato novo e tem suas origens no modo de produção
capitalista que quanto mais gera a acumulação do capital mais gera a
condição miserável daqueles que não o detém. Não havendo uma so-
lução definitiva que possa atender a todo o contingente sem moradia,
os programas habitacionais governamentais têm conseguido somente
soluções paliativas e atendimento parcial das demandas. A amenização
pode ser conseguida com o engajamento de setores da sociedade capa-
zes de propor e desenvolver ações eficazes à diminuição do déficit, é o
caso do Centro Federal de Educação Tecnológica de Mato Grosso. Por
intermédio de um projeto denominado “Moradia”, a instituição tem
desenvolvido, com os alunos dos cursos técnicos e tecnológicos da área
da construção civil, sob o amparo da relação ensino-pesquisa-extensão,
construções de casas à população de baixa renda no estado em regi-
me de mutirão, ao mesmo tempo em que favorece uma aprendizagem
compromissada com os problemas sociais.
Fotos: Wilson Conciani
Ablestock
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
Nádia Cuiabano Kunze é Pedagoga,
Mestre em História da Educação e
Coordenadora de Pós-Graduação,
Produção e Pesquisa do Cefet/MT.
Atualmente coordena um projeto de
pesquisa voltado à preservação do
acervo fotográfico do Cefet/MT como
um patrimônio histórico escolar e um
projeto de cooperação tecnológica
entre o Cefet/MT e a UFMT para a
construção da home page do Grupo
de Pesquisa História da Educação e
Memória do Instituto de Educação da
UFMT por alunos do Curso Superior
de Tecnologia em Desenvolvimento de
Sistemas para WEB.
Wilson Conciani é Engenheiro Civil,
Doutor em Geotecnia, Mestre em
Ciências de Engenharia Civil. Atua
como colaborador em projetos
de pesquisa da Embrapa, da
Universidade Federal de Campina
Grande e da Universidade Federal
Fluminense. No Cefet/MT ministra
aulas de Mecânica de Solos,
Fundações e Instrumentação de
Obras. Já ocupou a Diretoria de
Ensino e a Diretoria de Relações
Empresariais e Comunitárias do
Cefet/MT. Sua produção inclui a
orientação de 13 dissertações de
mestrado, uma tese de doutorado e
a publicação de mais de 80 artigos
técnico-científicos em congressos
nacionais, internacionais e revistas
especializadas.
Ablestock
Introdução
A moradia é uma necessidade básica e mínima para a sobrevi-
vência de qualquer ser humano. Além de ser um espaço que pode
lhe assegurar uma proteção enquanto abrigo diante das intempéries
climáticas, é um local que o permite ter uma vida privada com inti-
midade, isolamento e independência.
Esse ambiente possibilita, ainda, ao homem afirmar-se e produ-
zir a imagem almejada de si; desenvolver a relação “ser-ter”; apode-
rar-se do território, dos objetos que nele coloca e do modo que os
dispõe, considerando-o como um objeto de uso funcional, de valor
social e de símbolo; garantir uma temporária libertação das normas
sociais; realizar atividades domiciliares diárias com facilidade, fle-
xibilidade e liberdade, individualmente, ou em grupo; definir uma
interioridade e manifestar uma territorialidade (CABRITA, 1995,
apud BRANDÃO; HEINECK, 2005).
A habitação, por todas essas possibilidades favorecedoras do de-
sempenho de uma vivência digna no decorrer de uma existência,
é um anseio que o ser humano está sempre buscando atender e é,
também, um direito previsto no artigo 6º da Constituição Federal
Brasileira a ser-lhe assegurado sem quaisquer distinções. No entan-
to, ao longo dos tempos, tem sido denunciado constantemente pela
imprensa ou pelas pesquisas sociais e econômicas o vasto crescimen-
to de um contingente populacional desprovido dessa que é uma das
mais importantes condições primárias de vida.
Seja em escala mundial, nacional, regional, estadual ou muni-
cipal, considerável parte da população vive em sublares. Famílias
inteiras de quatro, cinco e até mais pessoas “amontoam-se” sem
privacidade em um ou dois cômodos ou barracos em situação de
excessiva precariedade; deletérios à saúde; destituídos de infra-es-
trutura, saneamento básico e higiene; localizados em favelas, corti-
ços ou locais clandestinos sem qualquer estruturação e, quando não,
“amontoam-se” nas próprias ruas, parques, praças e viadutos.
Essa é uma realidade manifestada no Brasil já faz algum tempo e
tem gerado preocupação aos gestores públicos de todas as instâncias de
governo, levando-os a implantar políticas habitacionais que ainda não
resolveram o problema da falta de moradia por todo seu território.
Segundo Metello et al. (2005), entre os anos de 1960 e 2003,
vários planos, programas e projetos para habitação popular de âm-
bito nacional fracassaram quanto aos seus objetivos por falta de
uma ação gerencial apropriada para a execução de uma política ha-
bitacional. No estado de Mato Grosso, a redução da porcentagem
de 73,3% da população, com renda até três salários mínimos, não
possuidora de casa, apontada pelo Instituo Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) no ano de 2000, foi o objetivo dos programas de
governo em prol da casa própria, implantados desde então, porém,
no tempo presente, o óbice persiste.
Talvez nem haja uma solução definitiva se, à luz de Karl Marx,
for feita a reflexão de que o problema da moradia popular é um
problema estrutural do modo de produção capitalista e que o seu
desenvolvimento na cidade ou no campo entra em contradição com
a possibilidade de o trabalhador urbano ou rural de baixa renda,
muito menos do desempregado, ser proprietário de um imóvel. Nas
palavras daquele filósofo alemão:
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
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Artigos
Qualquer observador isento percebe que, quanto mais maciça a centralização
dos meios de produção, tanto maior a conseqüente aglomeração de trabalha-
dores no mesmo espaço, que, portanto, quanto mais rápida a acumulação ca-
pitalista, tanto mais miserável a situação habitacional dos trabalhadores (apud
BENOIT, 2000, p. 149).
É bem verdade que essa análise do autor foi feita sobre o contex-
to europeu do século XIX, porém, olhando para os tempos atuais,
não seria viável afirmar a ocorrência de uma mudança nessa situa-
ção, visto que a luta do cidadão por um endereço para se dirigir e
começar a conquistar sua cidadania e dignidade continua e está bem
latente neste “novo” milênio. Por isso, não é ilícito inferir: quaisquer
que sejam os programas habitacionais governamentais implantados,
os mesmos não conseguirão atender a tanta demanda produzida
pelo capitalismo e, como diria Friedrich Engels (apud BENOIT,
2000, p. 151), não passarão de ilusões pequeno-burguesas da “bên-
ção da casa própria” ou ações altruístas.
Se esse problema gerado pelo modelo econômico vigente é
crônico e não tem solução definitiva, então, o que pode ser feito
para sua amenização?
Para Metello et al. (2005), por exemplo, o enfrentamento do
problema da falta de habitação no estado de Mato Grosso deve exi-
gir “uma ampla participação de toda a sociedade: governos, setor
privado, legislativo, judiciário, movimentos sociais, organizações
não-governamentais, universidades, agentes técnicos e entidades de
classe”. Nesta perspectiva, para a redução do déficit habitacional do
estado, a autora sugere o engajamento popular e dos “agentes de
retaguarda, como universidades (federal, estadual, privativa), cen-
tros de pesquisas e de qualificação profissional”, capazes de formar
quadros técnicos habilitados em desenvolver tecnologias alternati-
vas garantidoras de melhores resultados em termos de qualidade e
custos reduzidos nas habitações.
Sendo o Centro Federal de Educação Tecnológica de Mato Gros-
so (Cefet/MT) um desses “agentes de retaguarda”, como pode cola-
borar para a diminuição do contingente “sem teto” e “sem morada
decorosa” no estado de Mato Grosso, visto que oferece, dentre seus
cursos profissionais, o de nível técnico em Construções Prediais e o
de nível superior tecnológico em Controle de Obras? Como agir e o
que fazer, uma vez que se diz compromissado com a formação qua-
litativa de seu corpo discente ao tencionar muni-lo das competên-
cias e habilidades necessárias ao desempenho eficaz de sua profissão
na sociedade; uma vez que instiga seus educandos a uma atuação
profissional futura de modo consciente, crítico e responsável; uma
vez que objetiva formar profissionais pensantes e agilizadores de
mecanismos voltados à construção de um mundo com condições de
vida mais dignas à maioria de seus habitantes, enfim, uma vez que
vislumbra desempenhar seu papel educacional e social em benefício
do desenvolvimento local?
Uma resposta para tantos questionamentos é possível ser oferecida
por intermédio de um trabalho desenvolvido pela instituição, na área da
Construção Civil, denominado “Projeto Moradia”, abordado a seguir.
Ablestock
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
Projeto Moradia: breve histórico
No final da década de 1970, nesta época, o Cefet/MT estava
configurado como Escola Técnica Federal de Mato Grosso, profes-
sores do Curso Técnico de Edificações conceberam uma estratégia
de formação profissional orientada pelo princípio de que os “apren-
dizes” deveriam realizar exercícios práticos da profissão pretendida
no decorrer dos seus estudos para poderem ter bom desempenho
profissional no futuro.
Os planos das aulas práticas dos docentes, elaborados como pro-
jetos sociais assistencialistas, voltavam-se ao atendimento das neces-
sidades da comunidade local dita “carente” e assim os alunos reali-
zavam reformas e reparos de abrigos, asilos e creches, construção de
salas de aula, centros comunitários, entre outras.
Esse mecanismo didático, que na sua gênese objetivou a apli-
cação prática dos conhecimentos teóricos apreendidos e qualificou
todas aquelas atividades caritativas como sendo de extensão, alte-
rou-se a partir da década de 1980, quando houve uma expressiva
modificação da sua concepção filosófica norteadora e o mesmo
começou a desenvolver-se sob um novo paradigma fomentador
do desenvolvimento da tríade ensino-pesquisa-extensão, voltada
ao progresso dos conhecimentos científicos e tecnológicos cons-
truídos no seu âmbito.
Na ocasião, implantou o “Projeto Construções de Baixo Custo”,
originado das aulas da disciplina de Prática das Construções, do
Curso Técnico de Edificações, voltado à execução de construções
de casas com um material pouco conhecido na região, mas já muito
explorado: o solo-cimento e por onde se iniciaram as capacitações
dos professores para a pesquisa científica e tecnológica.
Com a adesão de mais docentes daquele curso ao sistema de
trabalho educativo em referência, este deu um salto qualitativo, a
partir da década de 1990, em conseqüência do aumento da quan-
tidade e qualidade das suas pesquisas e foram criados os grupos
de pesquisa em “Solos Tropicais” e em “Habitação Popular”. A
denominação “Projeto Moradia” lhe foi dada no mesmo período
e desde então vem propondo transformar projetos didáticos em
produtos a serem utilizados nas obras civis e desenvolver técnicas,
materiais e sistemas construtivos que atendam às demandas sociais
e tecnológicas, via pesquisa científica.
Sob as novas orientações desses grupos de pesquisa foram exe-
cutados alguns programas de extensão com significativa relevância
social, a exemplo dos projetos “Cáritas”, “Michelin” e “Albergados”,
que construíram casas, respectivamente, para os “sem-teto” do mu-
nicípio de Rondonópolis/MT, no ano de 1997, para os trabalhado-
res das plantações Michelin, no município de Itiquira, no ano de
1999, e para os albergados da Penitenciária Agrícola de Palmeira,
no município de Cuiabá, no ano de 2000. Os mesmos se realizaram
com a marcante e efetiva participação do público-alvo, sob a forma
de mutirão, e durante todo o processo de trabalho caracterizado
como educacional ocorreram diversas capacitações dos envolvidos.
Alunos do Cefet/MT realizando estudos do
solo durante a construção de uma casa, no
Município de Barra do Bugres/MT
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
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Artigos
Nesses trabalhos, professores e alunos engajados realizaram
pesquisas científicas aplicadas à realidade concreta produzindo e
ampliando os conhecimentos relativos ao controle tecnológico de
obras. Do ponto de vista dos objetivos alcançados, o Cefet/MT pro-
porcionou moradia a mais de 100 famílias, com a construção de
aproximadamente 100 residências.
Além dessas ações didáticas de maior envergadura, o Proje-
to Moradia tem desenvolvido, também, as de dimensões menos
abrangentes e os seus recursos mantenedores advêm do Cefet/MT,
das empresas apoiadoras de desenvolvimento de tecnologias e das
organizações não-governamentais (ONGs) financiadoras das pes-
quisas em contraparte de assistência técnica ou consultoria dos
seus pesquisadores.
Recentemente, já estruturado como linha de pesquisa, pleiteou
um financiamento do Programa Habitare
1
, da Financiadora de Es-
tudos e Projetos (Finep), via projeto intitulado “Estudo do Espaço
e de Componentes para Moradias de Interesse Social”
2
, tendo sido
contemplado e obtida a contrapartida pela Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de Mato Grosso (Fapemat).
Projeto Moradia:
uma experiência de ação para
diminuição da carência habitacional
O desenvolvimento das pesquisas e estratégias de ação do Pro-
jeto Moradia tem sido orientado à efetivação da relação ensino-
pesquisa-extensão no âmbito do processo de ensino-aprendizagem
dos cursos profissionais da área da Construção Civil oferecidos no
Cefet/MT, de modo que seus alunos e professores tenham con-
dições de propor soluções de caráter científico e tecnológico aos
problemas advindos da área.
A extensão, em específico, é entendida no projeto como um
mecanismo por onde se consegue disseminar aos diversos setores
da sociedade os conhecimentos elaborados e sistematizados e deles
receber uma retroalimentação – informações relativas às suas reais
necessidades, anseios e aspirações (SILVA, 1997) –, além de um
saber peculiar também útil àquele processo citado inicialmente.
Dentre as carências da sua área de atuação, a mais incisiva é,
sem dúvida, a falta de moradia, e, como dito no início desta re-
flexão, se não há como saná-la em definitivo, que se possa, en-
tão, amenizá-la. Nesse sentido, afora aquelas ações impetradas em
tempos anteriores, nos dias atuais o projeto está implementando
um plano de extensão caracterizado como cooperação tecnológica
firmada entre o Cefet/MT e a Prefeitura Municipal de Barra do
Bugres para a construção de casas à população de baixa renda no
bairro Jardim Alvorecer.
Esse município, que se localiza a oeste do estado, a 171 metros
de altitude, entre o encontro do rio dos Bugres e rio Paraguai, está
distante 168 km da capital Cuiabá, possui uma área de 7.187 km
2
1. Programa de Tecnologia de Habitação
– Habitare mantido pela Finep, cujo
objetivo geral é contribuir para o avanço
do conhecimento no campo da tecnologia
do ambiente construído, apoiando
pesquisas científicas, tecnológicas e de
inovação, visando ao atendimento das
necessidades de modernização do setor de
habitação e contribuir para o atendimento
das necessidades habitacionais do país
(FINEP, 2006).
2. É o primeiro projeto de instituições
de pesquisa mato-grossenses em
desenvolvimento no Programa Habitare.
Foi aprovado no Edital 5, em dezembro de
2003, com contrato assinado em 2004 e
prazo de conclusão em outubro de 2006.
Seu objetivo geral é desenvolver projetos,
materiais e componentes construtivos para
habitações sociais seguindo a abordagem
de sistemas abertos e integrados,
que possam flexibilizar os processos
construtivos para redução do custo de
construção, além de propiciar espaços de
moradia com maior conforto, durabilidade
e adaptabilidade ao longo de sua vida
útil. O Cefet/MT é a instituição executora,
tendo a UFMT e a UFCG como co-
executoras. O Prof. Dr. Wilson Conciani,
da Área de Construção Civil do Cefet/MT, é
o coordenador geral do projeto. O Prof. Dr.
Douglas Queiroz Brandão é o coordenador
pela UFMT. Pela UFCG, a coordenação é
feita pelo Prof. Dr. Heber Carlos Ferreira
(SEMINÁRIO, 2005).
Ablestock
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
e uma população estimada em 31.095 habitantes (IBGE, 2006).
Suas atividades econômicas estão baseadas na pecuária, agricultura
e na indústria de álcool e açúcar, móveis e laticínios e têm explora-
do seu potencial turístico, com a instalação de pousadas, pesquei-
ros e, principalmente, com a realização do festival de pesca, con-
siderado uma das festas de destaque no cenário mato-grossense
(Associação Mato-grossense dos Municípios, 2006).
Apesar de refletir na mistura das cores das águas que margeiam,
também, as terras dos índios Umutina, toda a beleza de um ce-
nário pertencente à região amazônica não está isento de possuir
habitantes desprovidos de um local decente para morar.
A definição da execução das ações do Projeto Moradia nesse mu-
nicípio ocorreu em vista da existência desse fato que gera nessa loca-
lidade um déficit habitacional, da disponibilização de infra-estrutura
por parte da sua prefeitura, da intenção desta em organizar adequa-
damente a moradia dos futuros residentes do bairro Jardim Alvore-
cer, das condições ambientais locais favoráveis ao desenvolvimento
das pesquisas da área e da sua razoável distância de Cuiabá, que
permite aos alunos e professores do Cefet/MT realizarem viagens de
curta duração com baixo custo de deslocamento.
Na figura 1, por exemplo, pode ser observado o pri-
meiro motivo, dentre aqueles elencados acima, que de-
monstra como é a atual habitação de um futuro mora-
dor da casa a ser construída em regime de mutirão por
seus familiares e alunos dos cursos de Construções Pre-
diais e Controle Tecnológico de Obras do Cefet/MT.
A seleção dos contemplados pelo Projeto Moradia foi
realizada pelas assistentes sociais municipais baseando-se
na menor renda familiar, no maior número de compo-
nentes, na presença de menores e/ou idosos, nas condi-
ções sanitárias indevidas e nas situações de risco social das
famílias sem teto do município. Além disso, buscou-se
por famílias que, de algum modo, pudessem participar
das atividades de edificação das suas futuras casas, pois o
Projeto Moradia objetiva, também, com esta rotina, pro-
porcionar aos atendidos a construção da sua auto-estima
e a iniciação a essa atividade profissional.
Dentre as metas executadas pelo projeto, o levanta-
mento/diagnóstico da situação habitacional da popula-
ção contemplada é uma das mais imprescindíveis. Logo
após inicia-se o processo de construção das casas con-
forme o cronograma previsto. Nesse momento destaca-
se a importância da atuação dos professores envolvidos
junto aos membros da comunidade assistida para o en-
gajamento dos mesmos na execução das atividades.
Na figura 2, por exemplo, o professor do Cefet/
MT, João Manoel Mischiatti Farto, orienta jovens da
comunidade Jardim Alvorecer a produzir os tijolos de
solo-cimento que serão empregados na construção das
Figura 1. Habitação atual de um contemplado
com casa a ser construída, via Projeto
Moradia, no Município de Barra do Bugres/MT
Figura 2.
Aula de fabricação de solo-cimento
para membros da comunidade envolvidos nos
trabalhos do Projeto Moradia no Município de
Barra do Bugres/MT
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
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Artigos
casas. Suas aulas acontecem no Centro de Referência
em Assistência Social (CRAS) do município e nelas
jovens e adultos de ambos os sexos aprendem as di-
versas profissões da área de construção civil. Esses
trabalhos fornecidos são procurados devido à possi-
bilidade de profissionalização em cursos de qualifica-
ção com duração em torno de cem horas.
Já os alunos participam ativamente do processo
de construção da casa, no qual aprendem as técnicas
de construção de uso dos materiais de gerenciamento
da obra e de liderança no serviço. Todo o aprendiza-
do se dá de modo integrado, articulando-se teoria e
prática em aulas motivadas.
Na figura 3 vê-se o aluno Carlos, do Módulo
Execução de Obras, do Curso Técnico em Cons-
truções Prediais, trabalhando em conjunto com a
comunidade para construção de uma casa. Esta já
é um protótipo de pesquisa que será monitorada
pelos alunos de iniciação científica. Os populares
participantes da construção são os futuros morado-
res da casa em construção e fornecem informações
sobre o desempenho técnico, o conforto ambiental
e as adaptações necessárias aos pesquisadores.
Durante todas as etapas da obra os alunos reali-
zam, também, o estudo das condições do solo, bus-
cando desenvolver novos sistemas de fundações para
a Habitação de Interesse Social. Na fase inicial, os
seus modelos de fundações são testados e o desem-
penho, avaliado. Em geral, essas pesquisas produzem
monografias e artigos técnico-científicos. No ano de
2005, os alunos do Curso Superior de Tecnologia em
Controle de Obras do Cefet/MT publicaram cerca de
vinte artigos em congressos especializados.
Na figura 4 os alunos do Curso Superior de Tec-
nologia em Controle de Obras, Marlo Roberto de
Paiva Lopes, Inês Vieira Serpa, Wilson Pimenta da
Silva e Nelson Barbiero, estão estudando dados sobre
o solo onde são construídas as casas.
À medida que os trabalhos vão apresentando os
primeiros resultados alguns alunos se reconhecem e
vêem como é possível mudar realidades, sensibilizam-se e se en-
gajam em movimentos populares, na pesquisa e na atividade ex-
tensionista visando tornarem-se cidadãos e profissionais com um
diferencial, postura esta que dificilmente seria aflorada fora do
contexto de um projeto de ensino-pesquisa-extensão.
Atualmente, o processo de construção das casas no Jardim Alvo-
recer, no município de Barra do Bugres, encontra-se com 75% das
metas atingidas e com previsão de término em novembro de 2006,
quando mais quatro famílias estarão beneficiadas com moradia.
Figuras 3 e 4. Alunos do Cefet/MT e membros
da comunidade construindo uma casa, no
Município de Barra do Bugres/MT
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
Considerações finais
O Projeto Moradia do Cefet/MT tem buscado incessantemente
garantir aos alunos nele engajados a união entre os ensinos profis-
sional, da tecnologia, da pesquisa e da responsabilidade social que
não podem existir dissociados. No seu entendimento, tal vínculo
não pode ser discursado em sala de aula, mas contemplado no tri-
pé ensino-pesquisa-extensão. Por este, uma instituição formadora
dos profissionais conscientes e atuantes tem a oportunidade de le-
var à comunidade os conhecimentos de que é detentora, os novos
conhecimentos que produz com a pesquisa, e que normalmente
divulga com o ensino, e, também, de oferecer aos seus alunos um
ensino escolar formal e sistemático complementado com a estra-
tégia do desenvolvimento das habilidades profissionais adquiridas
na realidade existente.
Neste sentido, o Projeto Moradia vem planejando, estruturan-
do e executando programas de extensão que possam garantir re-
sultados positivos ao seu trabalho educativo-formativo na área da
construção civil, além de contribuir para a diminuição do crônico
problema da falta de moradia no Brasil e, em específico, no estado
de Mato Grosso.
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO MATO-GROSSENSE DOS MUNICÍPIOS. (AMM). Site dos
municípios. Disponível em <http://www.amm.org.br/amm/constitucional/documento.
asp?iId=32370 >. Acesso em: 10 agosto 2006.
BRANDÃO, D. Q.; HEINECK, L. F. M. O significado do morar: dimensões
fundamentais e interpretações teóricas. In: Anais I Seminário mato-grossense de
habitação de interesse social, 1., 2005, Cuiabá, Anais ..., Cuiabá: Cefet/MT, 2005. 1
CD-ROM.
BENOIT, H. Entrevista. A luta popular por moradia. Revista Crítica Marxista. São
Paulo, nº 10. 2000. p. 149-166. Disponível em <http://www.unicamp.br/cemarx/
criticamarxista/ENTREVISTA.pdf>. Acesso em: 20 agosto 2006.
CABRITA, A.M.R. O Homem e a casa: definição individual e
social da qualidade da habitação. Lisboa: Laboratório Nacional
de Engenharia Civil /Departamento de Edifícios, 1995. 181 p.
(Coleção Edifícios).
FINANCIADORA DE ESTUDOS E PROJETOS. (Finep).
Programa Habitare. Disponível em < http://www.finep.gov.br/
programas/habitare.asp>. Acesso em 14 agosto 2006.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.
(IBGE). Estatísticas do século XX. Disponível em < http://www.
ibge.gov.br/>. Acesso em 10 agosto 2006.
METELLO, Pauline Santos et al. Os programas habitacionais
no Brasil: uma análise e resultados. In: Anais I Seminário mato-
grossense de habitação de interesse social, 1., 2005, Cuiabá, Anais
..., Cuiabá: Cefet/MT, 2005. 1 CD-ROM.
METELLO, P. S. et al. Programa habitacional em Mato Grosso:
uma análise atual. In: Anais I Seminário mato-grossense de
habitação de interesse social, 1., 2005, Cuiabá, Anais ..., Cuiabá:
Cefet/MT, 2005. 1 CD-ROM.
SILVA, O. D. da. O que é extensão universitária? Integração-
ensino-pesquisa-extensão. Revista da Informática. Rio de Janeiro,
nº 3, p. 9-148. 1997.
SEMINÁRIO MATO-GROSSENSE DE HABITAÇÃO DE
INTERESSE SOCIAL, 1. 2005, Cuiabá. Anais do I seminário
mato-grossense de habitação de interesse social. Cuiabá: Cefet/
MT, 2005. I CD-ROM.
Atual situação da edi cação de uma
casa construída, no Município de
Barra do Bugres/MT
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Artigos
Estudo sobre agricultura de subsistência
da comunidade de Caiana dos Crioulos
SILVA, Icléia. C. H. ; SOUZA, Marize C.; SOUZA, Maria B. dos S.
Escola Técnica de Saúde da UFPB
Palavras-chave: Comunidade de Caiana; Agricultura de Subsistência; Fonte de Renda.
RESUMO
A prática do cultivo da terra teve inicio quando o homem sentiu que, plan-
tando, poderia viver melhor. O descobrimento da agricultura, a domesti-
cação dos animais e o aperfeiçoamento de alguns instrumentos de trabalho
possibilitaram a organização da vida comunitária e o homem passou a viver
em agrupamentos permanentes, retirando da terra sua principal fonte de
renda. Estudo quantitativo, com o objetivo de identificar os principais ti-
pos de agricultura de subsistência da comunidade de Caiana dos Crioulos,
a pesquisa foi desenvolvida através de um questionário com perguntas fe-
chadas. A análise dos dados nos proporcionou identificar o feijão, o milho
e a fava como principais agriculturas de subsistência. Além disso, podemos
conhecer as maiores dificuldades para a manutenção dessa agricultura, so-
bretudo pela falta de participação ativa por parte do poder público. Atra-
vés desses resultados, foi possível compreender como os participantes da
pesquisa ainda utilizam práticas e métodos rudimentares para sua sobrevi-
vência e de sua família. Acreditamos que a participação efetiva dos poderes
públicos possa incentivar uma maior produção de subsistência, haja vista a
falta de alternativa do pequeno agricultor daquela comunidade.
Marize Souza
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
Introdução
Tendo em vista o crescimento populacional e a busca de rique-
zas, o homem, através da história, tem ocupado os vários espaços
terrestres no processo de colonização. Muitas áreas foram invadidas
e outras negociadas com o intuito de distribuição para os menos
privilegiados, com a finalidade de tornarem-se áreas para moradia
e como auxílio de trabalho e fonte de renda para as famílias sem
terra para plantar, para que os mesmos tivessem oportunidade de
desenvolver um bom trabalho em pequenas propriedades, além da
melhoria de suas necessidades básicas. Esses pequenos agricultores
vivem do que chamamos agricultura de subsistência, ou seja, plan-
tam apenas o necessário para a manutenção de sua família e o que
sobra é vendido na feira do município mais próximo.
A idéia de desenvolver a pesquisa surgiu, em primeiro lugar, pelo
fato de ser filha de agricultor, permitindo, assim, um convívio maior
com esta realidade, acentuando-se ainda mais por ocasião de uma
visita, com uma amiga, à comunidade de Caiana para a realização
de sua pesquisa de doutorado, que pretendia estudar a atuação das
parteiras curiosas daquela região.
Objetivos
Identificar os principais tipos de agricultura de subsistência da
comunidade de Caiana dos Crioulos;
Relacionar as principais dificuldades da agricultura de subsistên-
cia da comunidade de Caiana dos Crioulos;
Buscar, através de orientações, a partir dos resultados obtidos,
soluções que favoreçam a melhoria na agricultura de subsistência
da comunidade de Caiana dos Crioulos.
Materiais e métodos
A comunidade de Caiana dos Crioulos está localizada no município
de Alagoa Grande – Paraíba, a cerca de 12 km, na direção sul, numa
área bastante elevada, numa região íngreme de 1.443 hectares, segundo
o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2000).
No município de Alagoa Grande, tivemos, ao longo de décadas,
áreas de agressão à natureza e esgotamento dos recursos naturais.
Os solos de terra roxa, classificados atualmente como argissolo, que
são solos riquíssimos, de acordo com a nova classificação brasileira
de solos da Embrapa (Empresa Brasileira de Produtos Agropecuá-
rios) (GONÇALVES, 2004), restringem-se mais precisamente ao
vale do rio Mamanguape.
Este município tem dado grande contribuição para a história
da Paraíba e do Brasil, com sua cultura, sua história, sendo palco
de grandes movimentos político-sociais. É terra natal da líder sin-
dical (mártir) Margarida Maria Alves, tendo hoje uma das maiores
áreas de assentamento de trabalhadores e trabalhadoras rurais do
estado da Paraíba. A cultura tem Jackson do Pandeiro como filho,
entre tantas outras manifestações artísticas como Banda de Pífanos,
Coco-de-Roda, repentistas etc.
Maria Betânea dos Santos Souza é
mestre em Enfermagem de Saúde
Pública pela UFPB e professora do
curso Técnico em Enfermagem da
ETS/UFPB, vinculada à UFPB.
Marize Souza Cavalcante é
graduada em Geografia, professora
municipal de ensino médio do
município de Alagoa Grande/PB.
Fotos: Ablestock
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
33
Artigos
Caiana dos Crioulos é uma comunidade remanescente de qui-
lombos, já reconhecida pelo Ministério da Cultura, com cerca de
130 famílias. O nome “Caiana” deriva de uma espécie de cana-de-
açúcar chamada cana-caiana (Alagoa Grande está numa região, até
bem pouco tempo, canavieira), e dos “Crioulos”, por tratar-se de
uma comunidade negra.
A população da comunidade de “Caiana dos Crioulos” (segundo
Censo IBGE, 2000) é constituída basicamente por negros remanes-
centes de quilombos que, segundo Freire (1998), teriam vindo no
século XVIII do município de Mamanguape, oriundos de um navio
negreiro que aportou na Baía da Traição, destinado aos engenhos da
várzea paraibana. Ainda de acordo com Freire (1998), nem mesmo
os mais antigos moradores de Caiana dos Crioulos sabem quando e
como lá chegaram os seus primeiros habitantes.
Instalados em terras próprias, seus papéis, suas escrituras ou usuca-
pião de posses esclareçam, talvez, a sua origem ou a data de sua emigra-
ção para este município (CELSO MARIZ, in: FREIRE, 1998).
Caiana dos Crioulos, como é designado este agrupamento de in-
divíduos, negros em sua maioria, que mantém entre si uma relação de
parentesco em que se destaca a cooperação, é uma designação que se
estabeleceu a partir da década de 1970. Anteriormente, apenas “Caia-
na”. Compreende dois núcleos populacionais: “Caiana do Agreste” e
“Caiana dos Crioulos”.
Atualmente, a comunidade de Caiana dos Crioulos conta com
uma escola, com quatro salas de aula que recebe as crianças da loca-
lidade e, de algum modo, encurta as distâncias entre elas e o roçado,
facilitando a formação básica daquelas que conseguem vencer os de-
safios e realizar o sonho de aprender a ler.
Na maioria das vezes, os filhos são obrigados a deixar a escola para
ajudar no cultivo da lavoura, que é seu principal meio de sobrevivên-
cia. Como essa comunidade é formada de pequenos agricultores sem
qualquer recurso tecnológico mais avançado, a sobrevivência é retirada
basicamente da lavoura. As dificuldades vivenciadas na atualidade por
Caiana estão promovendo o êxodo de muitas famílias.
A agricultura é a principal atividade econômica da comunidade,
seja em plantio de subsistência, vendendo os excedentes na feira sema-
nal do município, seja trabalhando em usinas de outros municípios.
No segundo caso enquadra-se a maioria dos homens da comunida-
de. Em geral, eles passam quinze dias à disposição do empregador,
voltam para um final de semana e retornam às plantações por outro
período de quinze dias.
Na entressafra da cana-de-açúcar um percentual significativo
dos homens viajam para o Rio de Janeiro e São Paulo em busca
de emprego. Outros que procuram manter seus pequenos plantios
estão presentes em Caiana no inverno para o “encaminhamento”
dos roçados, que são assumidos pela mulher e filhos até a sua volta
no próximo inverno.
As lavouras de cada família estão localizadas em terras aforadas
quase todas dentro do perímetro dos dois assentamentos do Instituto
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), que tem como
objetivo capacitar os pequenos produtores a desenvolverem o siste-
ma de cooperativismo nas áreas de assentamento.
Trata-se de um estudo exploratório de caráter quantitativo. A
pesquisa foi realizada na comunidade rural Caiana dos Crioulos,
no município de Alagoa Grande/PB. A população foi constituída
por todos os moradores daquela comunidade e a amostra, forma-
da por todos que se encontravam presentes nos dias determinados
pela pesquisadora.
Participaram do estudo 40 famílias, com membros de ambos os
sexos. Para a coleta de dados foram aplicados questionários com
perguntas fechadas. O período da coleta de dados foi de 20 de abril
a 18 de maio de 2004, sempre à tarde, antes das reuniões do grupo
de mães daquela comunidade, duas vezes por semana. Os resultados
foram apresentados em forma de tabelas e figuras, através de trata-
mento estatístico.
Resultados e discussão
De acordo com os resultados, podemos observar que a maioria
dos sujeitos participantes está na faixa etária entre 40 e 49 anos e
34 são casados. Acreditamos que este último fato ocorra devido à
necessidade do homem do campo em constituir família para ajudar
na manutenção do lar.
Dos sessenta sujeitos participantes, 23 são analfabetos, seguidos
de dezessete com ensino fundamental incompleto. Esses dados con-
firmam o baixo índice de alfabetização do povo brasileiro, sobretu-
do do homem do campo, devido a uma série de dificuldades, tais
como: falta de escola, transporte para a cidade mais próxima, além
da necessidade de ajuda constate no plantio e colheita da lavoura
para subsistência da família.
De acordo com as respostas do sujeitos participantes, constata-
mos que, dos sessenta entrevistados, 32, ou seja, 52% têm renda
mensal menor que um salário mínimo. Esses dados confirmam
o que muitas vezes ouvimos falar sobre o Brasil ser um
país de contrastes. As diferenças sociais e econômi-
cas dividem o país em dois mundos distintos: o
Brasil que apresenta aspectos que se aproximam
do primeiro mundo e o Brasil que conserva
muitos traços de mundo subdesenvolvido.
Constatamos ainda que 27 sujeitos parti-
cipantes, ou seja, 45% informaram ter en-
tre quatro a seis filhos. Apesar da redução
significativa do número de filhos por casal
no Brasil, as comunidades rurais ainda apre-
sentam uma prole considerada. Acreditamos
que o fato ocorra devido à falta de esclareci-
mento com relação aos meios contraceptivos,
além da necessidade dos pais de mão-de-obra
para ajudar na agricultura.
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
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Artigos
Na tabela 1 observamos que os sujeitos da pesquisa plantam, em
sua maioria, lavouras invernosas, que são aquelas que se particulari-
zam por serem plantadas nos períodos chuvosos. O milho, o feijão, a
fava e a mandioca são geralmente plantados em um mesmo terreno.
Na tabela 2 observamos que, além das plantações da tabela an-
terior, os sujeitos participantes plantam, sobretudo, banana, segui-
da de manga, verduras, abacaxi e laranja. Esses dados confirmam a
necessidade de uma renda suplementar, pois, como vimos, a maio-
ria dos entrevistados recebe até um salário mínimo e tem entre
quatro a seis filhos.
Tabela 2 – Distribuição das principais agriculturas
de subsistência plantadas e comercializadas pelos
sujeitos participantes. Caiana dos Crioulos
– Alagoa Grande – PB (2004)
Agricultura de subsistência
comercializada
%
Abacaxi 11 18,3%
Banana 24 40,0%
Manga 12 20,0%
Laranja 07 11,7%
Verduras 13 21,7%
Fonte: Pesquisa in loco (2004)
Tabela 1 – Distribuição das principais agriculturas de
subsistência cultivadas pelos sujeitos participantes,
apenas para consumo. Caiana dos Crioulos
– Alagoa Grande – PB (2004)
Agricultura de subsistência %
Macaxeira* 25 41,7%
Feijão 57 95,0%
Mandioca* 21 35,0%
Milho 52 87,0%
Batata doce 12 20,0%
Fava 48 80,0%
Inhame 11 18,3%
Cana-de-açúcar 06 10,0%
Fonte: Pesquisa in loco (2004)
* A Macaxeira (sinônimo de Aipim) é comercializada in natura para consumo.
A Mandioca, por sua vez, é a variedade utilizada somente para se produzir farinha.
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Quanto à criação de animais, na tabela 3 registramos um per-
centual de 38 participantes, correspondente a 63%, que afirma-
ram ter criação de muares. Acreditamos que este percentual deva-
se à necessidade de transporte, para se locomover e transportar
a agricultura de subsistência para ser comercializada, já que a
distância entre a comunidade e o município de Alagoa Grande é
de cerca de 12 km.
No tocante às principais dificuldades para o plantio da agri-
cultura de subsistência, na tabela 4, todos citaram a falta de
orientação técnica para o plantio correto, seguido da escassez de
chuva, solo íngreme, falta de recurso financeiro e falta de sub-
sídio do governo municipal, além da dificuldade de locomoção
para a cidade mais próxima.
Tabela 3 – Distribuição da criação de animais dos
sujeitos participantes. Caiana dos Crioulos
– Alagoa Grande – PB (2004)
Animais %
Caprino 12 20,0%
Suíno 16 26,7%
Bovino 08 13,3%
Muares 38 63,3%
Eqüinos 07 11,7%
Fonte: Pesquisa in loco (2004)
Tabela 4 – Distribuição dos sujeitos participantes
quanto as principais dificuldades para manutenção
da agricultura de subsistência. Caiana dos Crioulos
– Alagoa Grande – PB (2004)
Dificuldades %
Escassez de chuva 56 93,3%
Solo íngreme 55 91,7%
Falta de recurso financeiro 57 95,0%
Falta de subsídio do gov. municipal 58 96,7%
Falta de orientação téc. para o plantio
correto
60 100,0%
Dificuldade de locomoção para cidade
mais próxima
57 95,0%
Falta de maquinário agrícola 40 66,7%
Falta de recursos humanos 45 75,0%
Falta de poços artesianos 28 46,7%
Fonte: Pesquisa in loco (2004)
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Artigos
Considerações finais
Na comunidade de Caiana dos Crioulos, a grande maioria reti-
ra da agricultura de subsistência os meios necessários ao sustento,
à sobrevivência.
Mesmo com muita dificuldade, Caiana dos Crioulos constitui-
se numa constelação de pequenas unidades produtivas, autônomas,
baseadas no trabalho familiar, na cooperação simples entre diferen-
tes grupos domésticos e no uso comum dos recursos naturais.
No tocante à estrutura familiar, percebemos uma grande quan-
tidade de indivíduos casados e a predominância de alta taxa de
analfabetismo.
Dentre as culturas da região, o destaque é para a produção de
banana e, na agropecuária, a criação de muares vem em primeiro
lugar, talvez pela dificuldade de transporte para se locomover até
a cidade mais próxima.
Ao estudar a comunidade de Caiana dos Crioulos no tocante
à agricultura de subsistência, entendemos que, apesar das adver-
sidades, os pequenos agricultores daquela comunidade procuram
retirar da terra o sustento para sua família. O que tem feito de
Caiana um povo sobrevivente às condições mais adversas são suas
raízes, sua cultura, os laços de sangue, os valores, costumes e cren-
ças; sua fé, suas festas, sua música e sua dança, que mantêm vivas
a esperança e a alegria.
REFERÊNCIAS
ATLAS GEOGRÁFICO DA PARAÍBA – Estado da Paraíba – Universidade Federal de
João Pessoa. 1985.
BRASIL. Ministério da Agricultura. Levantamento exploratório de solos do estado
da Paraíba II: Interpretação para uso agrícola dos solos do estado da Paraíba. Rio de
Janeiro: MA/CONTAP/USMD/BRASIL, 1972, 670 p.IL (MA.Boletim Técnico, 15.
Série Pedologia, 8).
FREIRE, J. A. Alagoa Grande: sua história. João Pessoa: Idéia, 1998. 332 p.
GONÇALVES, J. L. C. Classificação da capacidade de uso das terras nos municípios
de Alagoa Grande e Alagoinha (PB) através de sensoramento remoto. 2004. 172 p.
Dissertação Mestrado – Universidade Federal da Paraíba, Areia.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE – 2000).
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Fotos: Ablestock
RESUMO
Este trabalho pretendeu promover discussões e reflexões sobre o uso de drogas en-
tre os jovens da cidade de Senhor do Bonfim, na Bahia. Numa abordagem conjun-
ta e sob várias óticas, o conteúdo pôde ser explorado quase que em sua totalidade,
o que resultou em benefícios à comunidade escolar por superar a fragmentação
dos conteúdos. Realizou-se uma pesquisa com estudantes da 2ª série do ensino
médio da cidade de Senhor do Bonfim para observar a incidência do consumo
de drogas entre esse público. Com os resultados da pesquisa em mãos, pôde-se
desenvolver um trabalho interdisciplinar junto aos professores de Português, Bio-
logia, Física e Química para desvendar os efeitos das drogas no sistema nervoso
central. Os estudantes tomaram conhecimento de conceitos como: hiperonímia,
hiponímia, ligações nervosas, campo elétrico, meios hipotônicos e hipertônicos,
substâncias químicas psicoativas, migrações iônicas e sistema límbico. Dentre os
resultados apresentados, podemos citar a realização de palestras, confecção de grá-
ficos e apresentações artístico-culturais que foram organizadas pelos alunos da
Escola Agrotécnica Federal de Senhor do Bonfim/BA (EAFSB) para os demais
alunos entrevistados e toda a comunidade escolar, evidenciando-se conhecimentos
consolidados a partir desse projeto interdisciplinar e apresentando números e da-
dos colhidos acerca do uso de drogas na cidade, através da entrevista.
Estudo bioquímico-fisico dos efeitos das drogas
no corpo humano: uma proposta interdisciplinar
SANTOS, Vagson L. de C.; FERREIRA, Edna M. de O.
Escola Agrotécnica Federal de Senhor do Bonfim/BA
Palavras-chave: Interdisciplinaridade; Drogas; Comunidade.
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Artigos
Introdução
Dentre os problemas sociais enfrentados no Brasil, o aumento do
consumo de drogas entre os jovens tem preocupado devido aos pro-
blemas que o acompanham, pois, segundo Minayo (1998), o uso
de drogas está relacionado ao aumento na violência e no número de
jovens que ficam fora da escola. Dentre os fatores que levam um jo-
vem a se envolver com drogas, Baus (2002) destaca fatores sociais, a
exemplo da classe socioeconômica, que leva à falta de conhecimento
sobre os efeitos reais que as drogas podem causar em nosso organis-
mo. Essa falta de conhecimento pode contribuir para o consumo e
a iniciação no mundo das drogas, além de trazer prejuízos financei-
ros e sociais à comunidade, já que o aumento no número de jovens
usuários de drogas acarretará preocupação futura com a geração de
programas de inclusão, e eles poderão ser os excluídos do amanhã.
Diante desse quadro, foi realizado um trabalho de pesquisa junto
a jovens estudantes da cidade de Senhor do Bonfim com dois obje-
tivos principais: 1) desenvolver uma prática pedagógica interdisci-
plinar com o intuito de que eles compreendessem o funcionamento
do sistema nervoso central, a partir de um estudo sobre “como” os
estímulos nervosos percorrem nosso corpo; “quais os efeitos” que
as drogas podem causar em nosso organismo e “de que forma” essas
substâncias podem levar à dependência; e 2) descobrir o percentual
de estudantes da 2ª série do ensino médio de escolas da rede pública
e privada que já tinham entrado em contato com algum tipo de
droga, em especial, álcool, cigarro e maconha.
Essa pesquisa se tornou relevante pelo fato de alertar a sociedade
bonfinense para um problema, que, até agora, tinha ficado à margem
de discussões levantadas pelo poder público e privado em nossa ci-
dade; de nos ter dado ferramenta poderosa para levantar discussões
sobre o tema na sala de aula junto aos nossos alunos, que tiveram
oportunidade de acompanhar e participar ativamente do processo de
pesquisa. Ao tomar contato com os dados coletados, foi possibilitado
ao aluno um embasamento prático para a problemática no ambiente
escolar. Dessa forma, pudemos desenvolver um trabalho pedagógico
interdisciplinar que foi realizado com estudantes da 3ª série do ensino
médio na EAFSB, aplicado pelos professores de Português, Mate-
mática, Física, Química e Biologia, o que propiciou um ambiente
de aprendizagem significativa acerca de conceitos científicos que de-
veriam ser concebidos, já que eles estavam atrelados a uma realidade
vista e vivida pelos estudantes. Nosso trabalho de pesquisa gera, dessa
forma, uma perspectiva diferente frente a esses problemas enfrenta-
dos pela maioria das escolas de nosso país, visto que
as instituições educacionais, do ensino fundamental à universidade, incum-
bidas de preservar e recriar o patrimônio cultural planetário, continuam a
fortalecer o modelo da fragmentação e da disciplinarização, supondo que
apenas as competências tecno-científicas são suficientes para resolver as
condições de um mundo globalizado (CARVALHO, 2003, p. 29).
É importante frisar que o conhecimento científico é uma conquis-
ta de todos, sendo preciso ampliar a possibilidade de seu entendimen-
to a um número cada vez maior de pessoas, sendo imprescindível que
esse conhecimento seja transmitido, conforme Tatsch (2003), não de
Vagson Luiz de Carvalho Santos
é professor de Física da EAFSB,
mestrando em Física Aplicada,
pela Universidade Federal de
Viçosa/MG (UFV), realiza pesquisas
em eletromagnetismo, materiais
magnéticos e Física Matemática.
Edna Maria de Oliveira Ferreira é
professora de Língua Portuguesa
da EAFSB, mestranda em Educação
Agrícola pela Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro (UFFRJ).
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40
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
forma imposta, mas estimulada, de maneira a construir um sentido,
pois, assim como Gadoti (2000), acreditamos que uma educação vol-
tada para o futuro será sempre uma educação mais comprometida
com a transformação social do que para a transmissão cultural. Dessa
forma, este projeto tem ainda a oportunidade de oferecer aos estu-
dantes da EAFSB a possibilidade de ver a ciência como um objeto
de estudo bem próximo a eles. Segundo Feynman (1999), para a
maioria, “ciência” é um empreendimento impessoal, desapaixonado
e totalmente objetivo. Estamos então fazendo parte de um processo
de mudança no paradigma atual do ensino das ciências, uma vez que,
conforme Nóbrega (2003), é necessário um esforço especial para que
esse distanciamento do público frente à ciência seja reduzido.
Resultados e métodos
O público-alvo de nosso trabalho foram estudantes que estavam
cursando o ensino regular e que já tinham um certo grau de matu-
ridade para responder a um questionário a respeito de um tema tão
polêmico. Resolvemos, então, realizar a pesquisa com estudantes da
2ª série do ensino médio, sendo que a maioria deles estaria na faixa
etária de 16 a 18 anos.
O trabalho de levantamento de dados foi desenvolvido com o au-
lio de estudantes da 3ª série do Ensino Técnico em Agropecuária,
que foram escolhidos mediante critérios levantados anteriormente
pelos pesquisadores envolvidos. Esses estudantes nos auxiliaram na
pesquisa de campo e na contagem dos resultados. Após a escolha
da equipe de apoio, fizemos um levantamento das escolas públicas
e particulares que ofereciam ensino médio na cidade de Senhor do
Bonfim para fazer uma seleção, através de sorteio, de seis escolas,
sendo três públicas e três particulares.
Entramos em contato com as escolas sorteadas a partir de uma
solicitação de utilização de espaço expedida pela direção-geral da
Escola Agrotécnica Federal de Senhor do Bonfim. Todas as escolas
aceitaram as condições da pesquisa, uma vez que ela não exporia o
nome da escola e dos alunos, nem diferenciaria a rede de ensino,
particular ou pública.
Foi marcada uma data para a aplicação do questionário anterior-
mente elaborado pelos professores pesquisadores, e foi solicitado às
escolas envolvidas que preparassem um espaço propício para que os
pesquisados pudessem responder a seus questionários sem se senti-
rem vigiados ou constrangidos.
A pesquisa foi feita mediante questionário anônimo auto-aplicado,
que nós achamos ser a metodologia mais adequada e segura para a cole-
ta de dados, e, ainda, pelo fato de, segundo Baus (2002), a maioria dos
pses na América utilizar este tipo de metodologia. Na data marcada
para a entrevista, visitamos as escolas e foi realizado um sorteio, através
da caderneta de chamadas, de 60 alunos das segundas séries de cada es-
cola. Os estudantes se dirigiram ao espo preparado para o preenchi-
mento de um questionário, que foi distribuído no mesmo instante para
os 60 alunos sorteados. Após o preenchimento, os estudantes foram
orientados a dobrar o questionário de forma uniforme, para não haver
identificação de estudante ou escola. O questionário deveria ser então
depositado em uma urna que foi passada entre os estudantes.
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
41
Artigos
Foram entrevistados, ao todo, 347 estudantes, sendo 134 homens
e 213 mulheres, que tinham idades que variavam entre 15 e 19 anos
(13 estudantes sorteados estavam fora da idade do público-alvo de
nossa entrevista). Dentre esses, 64,84% já haviam tido contato com
algum tipo de droga, dos quais 88% tinham tomado contato com
álcool, 26,22% já haviam experimentado cigarro e 16,44% tinham
utilizado maconha pelo menos uma vez. Notou-se ainda que entre
os jovens que já haviam utilizado maconha, 37,84% eram mulheres,
62,16% eram homens; 62,16% usaram a droga mais de uma vez e
27% disseram que continuariam fazendo uso de maconha.
Do total pesquisado, 76,66% disseram já ter lido ou estuda-
do sobre os efeitos que as drogas causam em nosso organismo,
11,53% disseram nunca ter se interessado em saber sobre o assunto
e 11,81% afirmaram que já haviam se interessado em saber sobre
o assunto, mas não tinham tido oportunidade. Dentre os usuários
de maconha, 62,2% nunca tinham se interessado em saber sobre os
efeitos das drogas no organismo.
A tabela abaixo mostra de forma mais clara o resultado a respeito
do consumo de drogas entre os jovens pesquisados:
Tabela 1 – Número de jovens que já haviam utilizado algum tipo de droga.
Nº de jovens pesquisados
Jovens que
tiveram contato
com álcool
Jovens que
tiveram contato
com cigarro
Jovens que utilizaram maconha
347 37
Homens Mulheres
198 59
Homens Mulheres
134 213 23 14
A partir da análise dos dados obtidos na pesquisa, que foi rea-
lizada pelos professores de Matemática e Sociologia, a professora
de Língua Portuguesa realizou um trabalho de sensibilização com
os estudantes da 3ª série do Ensino Técnico em Agropecuária da
EAFSB, fazendo uma análise semântica do texto ‘Os Cinco Senti-
dos’, de Bartolomeu Queirós, que tem como temática as sensações
humanas e analisou músicas apreciadas pelos jovens e que trazem
mensagens de apologia ao consumo de drogas. Iniciou-se então um
debate, entre os estudantes, diagnosticando a quantidade de conhe-
cimento dos alunos sobre o tema em questão.
Depois dessa atividade, os estudantes foram divididos em gru-
pos de pesquisa, aos quais foram entregues temas das áreas de
Biologia, Química e Física para uma pesquisa teórica sobre o fun-
cionamento do sistema nervoso; quais caminhos são percorridos
e de que forma os estímulos exteriores chegam até nosso cérebro.
Para a realização dessa pesquisa, utilizamos reportagens de alguns
artigos de revista, escolhidos pelos professores (GAGE, 2003; IZ-
QUIERDO, 2003; FIELDS, 2005).
Na disciplina de Física, foram dadas algumas aulas expositivas
no intuito de trabalhar os conceitos de partícula portadora de carga
elétrica, íons, campo elétrico, potencial elétrico, diferença de po-
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
tencial elétrico e corrente elétrica. A importância do entendimento
desses conceitos reside no fato de que eles seriam necessários para
um melhor entendimento da leitura do material de pesquisa que os
alunos foram encorajados a fazer, procurando textos em revistas,
jornais e na internet que falassem sobre a transmissão de estímulos
nervosos dentro do corpo humano.
Depois do entendimento sobre o funcionamento do sistema ner-
voso, os estudantes começaram um estudo sobre como as substân-
cias presentes em drogas influenciam na produção de hormônios e
como essa influência pode causar dependência química, o que foi
conseguido, também, com a pesquisa em artigos retirados de revis-
tas científicas (HALL, 2003; NESTLER, 2004).
Durante o andamento das atividades, pudemos perceber que
os conhecimentos adquiridos extrapolaram a sala de aula, fazendo
com que o tema em debate fosse discutido pelos estudantes nos
corredores da escola. Diante disso, vimos a oportunidade de formar
grupos de debate e tirar os nossos estudantes da escola, num pro-
jeto intitulado “A Escola vai à Comunidade”, fazendo com que eles
interagissem com alunos de outras escolas de nossa cidade, trocando
experiências e falando a respeito do tema estudado.
Conclusão
Diante dos resultados, pudemos concluir que o consumo de dro-
gas entre o público-alvo de nossa pesquisa apresentou índices preocu-
pantes, em especial em relação ao uso de álcool, que teve o maior per-
centual de consumidores. Esse fato gera preocupação, pois, segundo
Pechansky (2004), o consumo de álcool está relacionado à queda no
desempenho escolar, problemas familiares e mortes violentas. Nota-
mos ainda que o percentual de jovens envolvidos com o consumo de
maconha, apesar de ser o menor dentre as drogas pesquisadas, é bas-
tante alto, considerando-se os malefícios causados, já que, de acordo
com Beatriz Tavares (2001), a maconha é uma droga também asso-
ciada a um baixo desempenho escolar, a comportamentos de risco na
vida sexual e social e ao aumento da violência.
O número de estudantes que não conheciam o efeito das drogas
no corpo humano foi significativo, reforçando a idéia de que o tema
deveria ser abordado constantemente pelos professores, pais e comu-
nidade. Atitudes assim podem trazer conseqüências positivas para a
sociedade e reduzir sensivelmente o número de casos de jovens envol-
vidos com drogas, já que, como foi apresentado na pesquisa, dentre
os jovens usuários de drogas, 62,2% nunca tinham ouvido falar sobre
as conseqüências do uso constante de substâncias psicoativas.
Um dos resultados mais positivos que tivemos de nosso trabalho
de pesquisa foi a divulgação realizada pelos estudantes da EAFSB
que, além de conscientizar uma grande quantidade de jovens dessa es-
cola a respeito de como o sistema nervoso funciona e das substâncias
que atuam no cérebro quando utilizamos algum tipo de droga, trouxe
informações sobre o número de jovens usuários de álcool, cigarro e
maconha na cidade de Senhor do Bonfim para que a comunidade to-
masse conhecimento e se mobilizasse diante desse problema social.
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Artigos
REFERÊNCIAS
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among school students, Brazil. Rev. Saúde Pública, 2002. vol. 36, nº 1, p. 40-46.
CARVALHO, E. A. Dualismo e Alienação: intelectuais perderam a capacidade de
contestação e capitularam frente a valores supérfluos. Rev. Scientific American, 2003.
nº 12, p. 29.
FEYNMAN, R. P. Física em seis lições. São Paulo: Ediouro, 1999.
FIELDS, D. Memórias que ficam. Rev. Scientific American, 2005. nº 34, p. 60-67.
GADOTTI, M. Perspectivas atuais da educação. São Paulo: Perspec., 2000. vol. 14,
nº 2, p. 03-11.
GAGE, F. H. A auto-recuperação cerebral. Rev. Scientific American, 2003. nº 17,
p. 40-47.
HALL, S. S. A busca pela pílula da inteligência. Rev. Scientific American, 2003. nº
17, p. 48-57.
IZQUIERDO, I.; VIANNA, M. R. M.; CAMMAROTA, M. e IZQUIERDO, L. A.
Mecanismos da memória. Rev. Scientific American, 2003. nº 17, p. 99-104.
MINAYO, M. C. de S. e DESLANDES, S. F. A complexidade das relações entre drogas,
álcool e violência. Cad. Saúde Pública, 1998. vol. 14, nº 1, p. 35-42.
NESTLER, E. J. e MALENKA, R. C. Cérebro viciado. Rev. Scientific American,
2004. nº 23, p. 56-63.
NÓBREGA, F. G. A ameaça do analfabetismo científico. Rev. Galileu, 2003. nº
139, p. 18-19.
PECHANSKY, F., SZOBOT, C. M. e SCIVOLETTO, S. Alcohol use among
adolescents: concepts, epidemiological characteristics and etiopatogenic factors. Rev.
Bras. Psiquiatria, 2004. vol. 26 suppl. 1, p. 14-17.
TATSCH, F. G. Mediação e Ciência: o conhecimento científico e a construção de um
sentido. Rev. Scientific American, 2003. nº 10, p. 27.
TAVARES, B. F., BERIA, J. U. e LIMA, M. S. de. Prevalência do uso de drogas e
desempenho escolar entre adolescentes. Rev. Saúde Pública, 2001. vol. 35, nº 2, p.
150-158.
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
RESUMO
Este estudo é do tipo descritivo, para o qual foi utilizado, como instrumento
de medida, um questionário auto-administrado, válido e fiável para se cum-
prir o objetivo proposto, qual seja o de descrever as características dos alunos
consumidores de cigarro no Cefet/PB.
A pesquisa foi realizada sobre uma amostra de 442 sujeitos, com idade média
de 23 anos, representativa dos 1.442 alunos dos cursos técnicos modulares,
pertencentes aos dois centros: João Pessoa e UNED de Cajazeiras. Foram
aplicadas a estatística descritiva, inferencial e análise de correspondência. Os
resultados mais relevantes mostram que os alunos que nunca fumaram cigar-
ros representam 92,5% dos sujeitos; entre os que já provaram, 7,5%; os que
fumam atualmente representam 2,3%. Com relação ao tempo em que fumam,
50% o fazem num período que vai de 1 a 5 anos, e 40% de 6 a 10 anos. Para
a dimensão quantidade de cigarros que fumam ao dia, 60% fumam de 1 a 5
cigarros por dia e 30% fumam meia carteira nesse mesmo espaço de tempo.
Como conclusão, já se pode antecipar que, com relação ao consumo de ta-
baco, o número de estudantes do Ensino Técnico Modular do Cefet/PB que
provaram e fumam atualmente é baixo, sendo as características que o definem:
ter mais de 31 anos, estar casado, trabalhar e ter curso profissional concluído.
O consumo de cigarro entre os
estudantes do ensino técnico
GOMES, Maria J.
Centro Federal de Educação Tecnológica da Paraíba
Palavras-chave: Estudante; Cigarro; Ensino Técnico Modular.
Fotos: Ablestock
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
45
Artigos
Introdução
O grande consumo de tabaco na sociedade de hoje talvez este-
ja relacionado com a acessibilidade ao produto, o baixo preço, o
grande investimento publicitário para empresas de cigarro e a sua
disponibilidade a qualquer hora do dia em supermercados, bares
etc. (MONTERO et al., 2001).
De todos os hábitos nocivos, o tabagismo é, sem dúvida, o que
mais afeta a longevidade. Metade das pessoas que fumam morre di-
retamente por causa do vício e, desse número, 50% morrem a uma
mediana idade, perdendo assim de 20 a 25 anos de vida. Os efeitos
prejudiciais do cigarro sobre a saúde pública são evidenciados em
mais de 70.000 estudos (SALVADOR-CARULLA, 2004).
Os distúrbios orgânicos associados ao hábito de fumar não se
manifestam somente na fase adulta. Estudos transversais revelam
que os adolescentes fumantes tendem a apresentar níveis mais ele-
vados de pressão arterial (LOPES et al., 1996), alterações desfavo-
ráveis no perfil de gordura (MARTINS et al.; SILVA, 1996), mais
uso de medicação e aumento de visitas médicas (HOLMEN et al.,
2000) que os não fumantes.
Talvez as pesquisas que demonstram a influência negativa do
tabagismo para a saúde sejam uma das grandes responsáveis pela
mudança para melhor, no sentido deste movimento global, que de-
monstram a forte intenção de se organizarem políticas públicas para
beneficiar o combate ao fumo.
A partir, então, do que abordamos anteriormente, trazemos
como objetivo geral para este trabalho descrever as características
do consumo de cigarro dos alunos do Cefet/PB.
Levando em consideração os estudos realizados e os dados com
os quais esses contribuem sobre o consumo de cigarro em estudan-
tes no Brasil, foi eleito realizar uma pesquisa descritiva no Nordeste
do país, uma vez que há escassez de trabalhos nesta região, prin-
cipalmente em se tratando de estudantes do estado da Paraíba. A
escolha dos alunos do Ensino Técnico Modular como população de
estudo se deu tendo em vista o grande interesse, para este estudo, de
visualizar as condições socioeconômicas da comunidade em ques-
tão. E, por fim, pelo fato de o ensino profissionalizante no Brasil,
como em outras partes do mundo, ser pouco pesquisado com rela-
ção à temática “estilo de vida”.
Metodologia
Este estudo é do tipo descritivo, cuja construção teve como ins-
trumento de medida um questionário auto-administrado, válido e
fiável para o objetivo proposto.
A pesquisa foi realizada sobre uma amostra de 442 sujeitos (mar-
gem de erro de 4% e uma margem de confiança de 95,5%). O tipo
de amostra eleito foi o probabilístico estratificado e por conglome-
rado com fixação proporcional. Em concreto, por estrato de popu-
lação e por conglomerado de grupo técnico. A idade média é de
Josély Maria de Figueirêdo Gomes
é professora de Educação Física
no Cefet/PB (Centro Federal de
Educação Tecnológica da Paraíba),
com Doutorado realizado na
Universidade de Granada, Espanha,
na linha de pesquisa Atividade
Física para a Saúde.
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
23 anos, representativa dos 1.442 alunos
do Ensino Técnico, pertencentes aos dois
centros de educação profissional: sede
em João Pessoa e Unidade Descentrali-
zada de Ensino de Cajazeiras (UNED de
Cajazeiras), de todos os cursos técnicos.
Os resultados deste trabalho formam
parte de um trabalho mais amplo (Tese
de Doutorado), para o qual se utilizou,
como fonte de coleta de dados, um ques-
tionário composto de 46 perguntas, em
sua maioria fechadas, sobre diversas vari-
áveis relacionadas com o estilo de vida e
com a prática de Educação Física no en-
sino médio desses escolares. Neste trabalho específico, foram aplica-
das três perguntas fechadas com relação ao consumo de cigarro, sem
considerar as inferências e a análise de correspondência realizada.
O trabalho de campo foi realizado entre os meses de novembro
de 2003 e janeiro de 2004. Os questionários eram anônimos e fo-
ram preenchidos pelos alunos, individualmente, dentro do período
letivo. De acordo com os objetivos estabelecidos anteriormente, as
variáveis para este estudo estão relacionadas com o consumo de ci-
garro dos alunos do Ensino Técnico do Cefet/PB.
Resultados e discussão
Com relação à dimensão que caracteriza o consumo de cigarro, os
dados mais representativos são (tabela 1): os alunos que nunca prova-
ram cigarro apresentam uma porcentagem de 92,5% e os que já pro-
varam, 7,7%. Aprofundando-se nos dados dos alunos que provaram,
5,2% antes fumavam e agora não e 2,3% fumam atualmente; quanto
ao tempo de consumo do cigarro, 50% fumam de 1 a 5 anos e 40%,
de 6 a 10 anos; com respeito à quantidade de cigarros consumidos
por dia, 60% fumam de 1 a 5 por dia e 30%, meia carteira por dia.
Tabela 1Características quanto
ao consumo de cigarro
Características quanto ao consumo
de cigarros
Freqüência Porcentagem (%)
Grupo de
consumo de
cigarro
Fumo atualmente 10 2,3
Antes fumava agora não 23 5,2
Nunca fumei 409 92,5
Quanto
tempo fuma
Menos de 1 ano 1 10
De 1 a 5 anos 5 50
De 6 a 10 anos 4 40
Quantos
cigarro fuma
ao dia
De 1 a 5 / dia 6 60
Meia carteira / dia 3 30
1 carteira / dia 1 10
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Artigos
A seguir, os resultados de algumas variáveis sócio-demográficas
que condicionam o hábito de ter provado o cigarro. Os dados mais
representativos são (tabela 2): os homens (9,30%) provaram o ci-
garro mais que as mulheres (4,89%); os alunos com mais de 31
anos (38,88%) são os que mais provaram o cigarro; os alunos de
João Pessoa (8,53%) provaram mais cigarro que os alunos de Ca-
jazeiras; os casados (28,2%) são os alunos que mais provaram o
cigarro, assim como os alunos do turno na noite (8,8%); os alunos
com o ensino profissional concluído (12,5%) são os que mais pro-
varam o cigarro; também apresentam essa mesma característica os
alunos que trabalham (11,04%); e os que possuem renda igual ou
superior a R$ 1.800,00 (16,36%).
Tabela 2 – Distribuição do consumo de cigarro, segundo
algumas características sócio-demográficas (%)
Características sócio-demográficas
Consumiu
tabaco
Não
consumiu
tabaco
NX2
Gênero
Homens 9,30 90,69 258
,58
Mulheres 4,89 95,11 184
Idade (anos)
Até 25 anos 3,55 96,45 197
,000
c= ,315
De 21 a 25 anos 9,14 90,56 197
De 26 a 30 anos 3,44 96,56 29
Mais de 31 anos 38,88 61,12 18
Lugar de residência
João Pessoa 8,53 91,47 340
,85
Cajazeiras 3,85 96,08 102
Estado civil
Solteiro 5,47 96,52 402
,000
c= ,239
Casado / separado / divorciado 27,5 75,00 39
Turno
Manhã 8,3 91,66 132
,305Tarde 4,27 95,73 117
Noite 8,8 91,2 193
Nível de estudios
Ensino médio 6,5 93,5 400
,01
c= ,142
Formação profissional 12,5 87,5 32
Curso universitário 30 70 10
Situação laboral
Trabalha 11,04 88,96 163
,016
c= ,135
Não trabalha 5,07 94,93 276
Renda
100 a 480 reais 3,54 96,47 113
,034
c= ,148
490 a 1.000 reais 7,27 92,73 165
1.100 a 1.700 reais 8,77 91,22 57
Mais de 1.800 reais 16,36 83,6 55
Fonte: GOMES, M. J. (2005). Hábitos de Actividad Física y Salud en estudiantes de la Enseñanza Técnica del CEFET de Paraíba, Brasil. Granada, 2005. 454p. Tese Doutorado
– Universidade de Granada, Espanha.
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
Com respeito às dimensões do consumo de cigarro relacionado
com a freqüência do consumo de álcool, a estatística inferencial que
relaciona as duas dimensões é muito significativa (,000) e o tamanho
da relação medido pelo coeficiente de contingência é ,251. Este resul-
tado nos levou a aprofundar mais nesta direção através de uma análise
de correspondência (gráfico 1).
Gráfico 1 – Grupo de consumo de cigarro
correlacionado com o consumo de álcool
Com relação às dimensões do consumo de cigarro relacionado
com o consumo de álcool (se bebeu álcool alguma vez), os dados
mais representativos são: 100% dos alunos que fumam atualmente
e deixaram de fumar já provaram álcool (tabela 3).
Tabela 3 – Grupo de consumo de cigarro
relacionado com ter bebido álcool
Grupo de consumo
de cigarro
Bebeu álcool alguma vez
X
2
Sim Não
Fumo atualmente 100 -
x
2
= 17,953;
gl = 2;
sig. asintótica = ,000
c = ,198
Deixou de fumar 100 -
Nunca fumei 63,81 36,19
Fonte: GOMES, M. J. (2005). Hábitos de Actividad Física y Salud en estudiantes de la Enseñanza Técnica del
CEFET de Paraíba, Brasil. Granada, 2005. 454p. Tese de Doutorado – Universidade de Granada, Espanha.
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
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Artigos
Podemos apreciar, segundo a profundidade no gráfico das dife-
renças de categorias de respostas, que os alunos que fumam atual-
mente bebem habitualmente; os que nunca fumaram só bebem em
ocasiões especiais e os que deixaram de fumar bebem mais nos finais
de semana, o que significa que o hábito de fumar tem correspon-
dência com o hábito de beber.
Ainda que o número de consumo de cigarros no Brasil seja alar-
mante (35 milhões, OMS, 2003), o país é reconhecido internacio-
nalmente como pioneiro na adoção de medidas para o combate ao
tabagismo (restrição total de publicidade, proibição de fumar nos
transportes públicos, a utilização de fotos ilustrando os males cau-
sados pelo cigarro etc.). Essas, entre outras medidas, talvez sejam
as ações responsáveis por situar o Brasil no topo da lista dos países
mais comprometidos com o combate ao tabagismo. A boa notícia é
que, segundo a Secretaria da Receita Federal no Brasil, o consumo
de cigarro teve uma redução de aproximadamente 5,8% de 1999 a
2000 (Ministério da Saúde, Brasil, 2001).
Na população estudada, embora o objetivo da pesquisa não
seja classificar os tipos de fumadores, podemos dizer que a maioria
– (60%) dos entrevistados – pode ser considerada fumantes ocasio-
nais, já que fumam de 1 a 5 cigarros diários.
Segundo revisão de Díez-Gañán et al. (2002), a prevalência de
fumadores ocasionais na população, em geral maior de 16 anos,
oscila entre 6% na Finlândia, 7% no Canadá, e alcança 18% entre
os jovens universitários dos EUA. Tenta-
mos favorecer possíveis comparações en-
tre este estudo e outros no Brasil, consi-
derando os conceitos operacionais mais
parecidos ao adotado neste estudo.
Neste trabalho, as inferências entre
as variáveis que incluem o consumo de
cigarro não foram, muitas vezes, sig-
nificativas, devido ao baixo índice de
fumadores nesta população. Encon-
tramos uma porcentagem de 2,3%
para os alunos que fumam e de
7,5% para os que já provaram. Ou-
tros estudos com alunos do ensino
médio no Brasil mostram dados
superiores ao nosso, com rela-
ção aos alunos que fumam atu-
almente: Santa Catarina, 6,8%
(DE BEM, 2003); Blumenau,
6,5% (NOVAIS, 2002); e São
Paulo, 50% (SCIVOLETTO
et al., 1999).
As características sócio-demográficas que apresen-
taram certo nível de significação dizem respeito à relação entre o
ato de já ter provado cigarro com a idade, o estado civil, o nível
de estudo e situação laboral, além da renda mensal. Justificar cada
25 - VERSO - 11:59:10 05/04/2007 -
50
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
um dos encadeamentos desta relação seria tarefa difícil, até porque
esta relação não é marcante para quem fuma atualmente e sim para
quem provou. Com relação à idade, alunos mais velhos tiveram
mais tempo para vivenciar esta experiência – a grande maioria dos
alunos, hoje, são jovens (média 23 anos), o que nos leva também a
considerar que as pessoas de gerações passadas fumavam mais.
As pesquisas apontam, ainda, para uma diminuição do consumo
de cigarro em vários países do mundo (VON EYBEN; ZEEMAN,
2003); o estado civil, nível de estudo e situação laboral têm relação
com o fator idade, já que os alunos com mais idade são os que, em
maior proporção, estão casados, separados ou divorciados, traba-
lham, já concluíram algum curso profissional ou universitário e têm
melhores rendas.
O baixo nível de fumantes entre os alunos do Cefet/PB é sur-
preendente comparado com outras populações escolares, principal-
mente em outros países. Ao se comparar, entretanto, com a popu-
lação escolar, no Brasil, ainda que tenhamos um índice mais baixo,
em alguns casos, os dados se aproximam daqueles encontrados nos
países de muitos fumantes. Não podemos ignorar também o baixo
índice de escolaridade na região em estudo – Nordeste – e a diversi-
dade de aspectos socioculturais da população brasileira.
Ainda que o hábito de fumar no presente estudo apresente índi-
ces baixos, é muito importante a manutenção de políticas de rejei-
ção à prática do fumo, associada a uma outra de apoio àqueles que
devem ou querem livrar-se desse vício. Os dados do Brasil, de uma
forma geral, são mais positivos com relação à restrição ao hábito
de fumar que em outros países como
Espanha, Portugal, EUA etc., e isso
pode ser conseqüência de normas
impostas pelos órgãos públicos com
relação ao ato de fumar, considerado
um vício potencialmente prejudicial
à saúde. Talvez esses dados já sejam
um reflexo positivo das medidas ado-
tadas pelo Brasil, hoje. Nesse país é
notável uma melhora na postura
adotada pelos cidadãos fumantes,
que costumam respeitar as normas,
e também são crescentes os espaços a
eles destinados, o que difere de for-
ma expressiva de uma época antiga
quando os não-fumantes eram pra-
ticamente obrigados a suportar a fu-
maça dos usuários do cigarro ou reti-
rar-se do ambiente. Assim mesmo, é
importante destacar a influência das
particularidades de cada região brasi-
leira (religião, clima, leis para inibir
o uso do cigarro etc.), o que pode
diferenciar dos resultados alcançados
em diferentes regiões.
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51
Artigos
Conclusão
O número de estudantes do
Ensino Técnico Modular do Ce-
fet/PB que provaram e fumam
cigarro é, atualmente, baixo, e as
características que os definem os
apresentam como: usuários com
idade superior a 31 anos, estarem
casados, trabalharem, terem cur-
so universitário ou profissional e
terem maior renda mensal. Con-
cluímos, ainda, que o hábito de
beber tem correspondência com o hábito de fumar; o consumo de
cigarro mais freqüente mostrou um número que varia, em relação
ao período, de 1 a 5 anos, e no que se refere à quantidade de unida-
des consumidas, de 1 a 5 cigarros por dia.
REFERÊNCIAS
DE BEM, M. F. Estilo de vida e comportamento de risco de estudantes trabalhadores
do ensino médio de Santa Catarina, 2003. Tese Doutoral. Universidade de Santa
Catarina, Brasil.
DÍEZ-GAÑÁN, L.; RODRÍGUEZ-ARTALEJO, F.; BANEGAS, J.; GUALLAR-
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
RESUMO
O artigo analisa as inter-relações da educação ambiental (EA) nas práticas pedagógi-
cas integradoras. Como metodologia utilizou-se a pesquisa participante, que partiu
de um Diagnóstico Ambiental do Bairro da Várzea – Recife/PE, realizado junto com
os alunos do Módulo II do Curso Superior de Tecnologia em Sistema de Gestão Am-
biental do Cefet/PE, no 2º semestre letivo de 2005. Essa pesquisa teve por objetivo:
diagnosticar os problemas socioambientais do bairro da Várzea na cidade do Recife e
identificar as potencialidades de ação da comunidade. Através dos resultados encon-
trados, elaborou-se uma proposta de intervenção interdisciplinar de EA, sob o título
“Nem todo lixo é lixo”, a qual foi executada com a comunidade, no dia 11 de março
de 2006, na Escola Municipal Rodolfo Aureliano. Os resultados da intervenção fo-
ram avaliados de forma interdisciplinar no próprio local da ação. Destaca-se que a
avaliação realizada foi caracterizada pela desestabilização epistemológica dos alunos
na passagem de um conhecimento teórico resultante dos conteúdos de ensino para
um conhecimento mais elaborado que relaciona teoria e prática, sistematizado atra-
vés do diálogo entre os conteúdos de ensino, a pesquisa realizada e as práticas inte-
gradoras em nível de extensão. Pode-se concluir, após o processo de restabelecimento
do equilíbrio epistemológico dos alunos, que as inter-relações da educação ambiental
(EA) nas práticas pedagógicas integradoras estão relacionadas à construção de um
conhecimento teórico-prático que possibilita o desenvolvimento de novos valores in-
dividuais e coletivos, os quais são ancorados nas habilidades, atitudes e competências,
elaboradas como resultante do diálogo entre ensino, pesquisa e extensão.
Educação ambiental: práticas
pedagógicas integradoras
GUIMARÃES, Edilene; VALENÇA, Marcos.
Centro Federal de Educação Tecnológica de Pernambuco
Palavras-chave: Educação Ambiental; Práticas Pedagógicas Integradoras; Projeto Interdisciplinar.
Ablestock
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Artigos
O trabalho tem por objetivo compreender as inter-relações da
educação ambiental (EA) nas práticas pedagógicas integradoras.
Quanto à abordagem, escolheu-se a pesquisa qualitativa, por inter-
pretar fenômenos subjetivamente e ter no processo e seu significa-
do os mais importantes pontos de abordagem. Optou-se por uma
pesquisa participante, a qual tem a finalidade de intervir em uma
situação insatisfatória, mudar condições percebidas como transfor-
máveis, onde pesquisador e pesquisados assumem, voluntariamen-
te, uma posição reativa.
A abordagem qualitativa parte do fundamento de que há uma relação di-
nâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre
o sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e
a subjetividade do sujeito. O conhecimento não se reduz a um rol de da-
dos isolados, conectados por uma teoria explicativa; o sujeito-observador é
parte integrante do processo de conhecimento e interpreta os fenômenos,
atribuindo-lhes um significado. O objeto não é um dado inerte e neutro;
está possuído de significados e relações que sujeitos concretos criam em
suas ações (CHIZZOTTI, 1995: 79).
Com relação às concepções filosóficas, escolheu-se uma aborda-
gem fenomenológica, por se propor a investigar as atividades prá-
ticas e triviais dos atores sociais e compreender o sentido que os
atores atribuem aos fatos e acontecimentos da vida diária.
A fenomenologia considera que a imersão no cotidiano e a familiaridade com
as coisas tangíveis velam os fenômenos. É necessário ir além das manifestações
imediatas para captá-las e desvelar o sentido oculto das impressões imediatas.
O sujeito precisa ultrapassar as aparências para alcançar a essência dos fenôme-
nos (CHIZZOTTI, 1995: 80).
Quanto aos procedimentos metodológicos, partiu-se de um
diagnóstico ambiental do bairro da Várzea, Recife/PE, realizado
junto com os alunos
1
do Curso Superior de Tecnologia em Sis-
tema de Gestão Ambiental do Cefet/PE, no decorrer da discipli-
na Estratégias de Educação Ambiental, no 2º semestre letivo de
2005. Salienta-se que esta disciplina está localizada no Módulo II,
sob o título “Educação Ambiental”, o qual tem como competên-
cia profissional: elaborar, implantar e implementar Programas de
Educação Ambiental.
O projeto desenvolvido pela disciplina Estratégias de Educa-
ção Ambiental teve como objetivo geral: diagnosticar os proble-
mas socioambientais do bairro da Várzea, na cidade do Recife,
e identificar as potencialidades de ação da comunidade. Des-
taca-se que o bairro da Várzea é um Sítio Histórico que abriga
monumentos do patrimônio cultural e ambiental de Pernambu-
co, localizando-se às margens do rio Capibaribe, e faz parte da
unidade de vizinhança do Cefet/PE.
Especificamente, pretendeu-se: levantar os dados históricos e o
patrimônio cultural do bairro da Várzea; levantar se existem áreas
de preservação ambiental; identificar as escolas públicas e privadas,
as organizações comunitárias, religiosas e governamentais que atu-
am na área e verificar se elas desenvolvem programas de EA com a
comunidade; identificar se a comunidade já participa de programas
de EA; verificar o interesse da comunidade em participar de progra-
mas de EA; analisar a percepção ambiental da comunidade.
Edilene Guimarães é mestre em
Educação pela Universidade de
Pernambuco (UFPE). Professora do
Curso Superior de Tecnologia em
Sistema de Gestão Ambiental do
Cefet/PE nas disciplinas de Núcleos
de Pesquisa: Ecologia e Gestão
Socioambiental de Ecossistemas
NE; Movimentos Sociais e Educação
Ambiental; e de Educação
Profissional do Cefet/CE.
Marcos Valença é mestre em
Educação pela Universidade de
Pernambuco (UFPE). Professor do
Curso Superior de Tecnologia em
Sistema de Gestão Ambiental do
Cefet/PE nas disciplinas de Núcleos
de Pesquisa: Ecologia e Gestão
Socioambiental de Ecossistemas
Nordestinos e Movimentos Sociais e
Educação Ambiental.
1. Alunos do Módulo II – Educação
Ambiental: Annara Marinho, Bruno
Augusto Aguiar, Davi Emmanuel
Lippel, Dayanne Rouseide, Elielton
Albuquerque, Fabiano Oliveira,
Fabrícia Moura, Gabriel M. da
Silva, Gabriela Figueiredo, Gabriela
Valones, Geisiane Mª Gomes, Gleidson
Moura, Gustavo Amorim, Hannah
Stella Amaral, Jaqueline Maria
Augusta, Klaus Maciel, Leandro
Barros, Leonardo de Albuquerque,
Lídia de Freitas, Lívia Lima, Marcela
Clementino, Maria Izabella da Silva,
Mayana Bandeira, Mércia Micheline,
Nathalia Amanda Santos, Poliana
Barbosa, Rafaella Cavalcanti, Rebeka
Ximenes, Sérgio Ricardo J. Soares,
Simone Mendonça, Thayse Natália
Batista, Viviam Patrícia da Fé,
Zhandor Lehandro.
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Na coleta dos dados utilizaram-se os seguintes instrumentos:
pesquisa bibliografia em livros, jornais, revistas e internet; análise
de documentos, como relatórios técnicos, mapas, ortofotos e ca-
dastros; mapeamento dos monumentos históricos e das principais
organizações localizadas na área, observação direta com registro em
diário de campo e fotográfico; aplicação de questionários estrutura-
dos com questões fechadas e abertas
2
.
Através dos resultados encontrados no diagnóstico ambiental,
elaborou-se uma proposta de intervenção interdisciplinar de EA,
sob o título “Nem todo lixo é lixo”, como trabalho de conclusão
do Módulo II (TCM), o qual foi executado com a comunida-
de, no dia 11 de março de 2006, na Escola Municipal Rodolfo
Aureliano, localizada no bairro da Várzea, envolvendo práticas
pedagógicas integradoras das disciplinas Estratégias de Educação
Ambiental, Desenvolvimento e Meio Ambiente, Comunicação
em Educação Ambiental, Procedimentos Pedagógicos em Meio
Ambiente, Saúde e Saneamento Ambiental; Biologia da Conser-
vação, Sistema de Informações Geográficas, Projeto Interdisci-
plinar de Educação Ambiental
3
.
A disciplina Projeto Interdisciplinar consta em todos os módu-
los profissionais do curso e tem por objetivo desenvolver nos alu-
nos uma visão interdisciplinar em ações relacionadas à Educação
Ambiental, Política Ambiental, Proteção Ambiental e Qualidade
Ambiental, além de ser responsável por realizar o diálogo entre as
outras disciplinas do módulo e a coordenação da elaboração e exe-
cução do projeto escolhido.
As práticas pedagógicas integradoras foram desenvolvidas pelos
alunos sob orientação dos professores, através de oficinas, pales-
tras, mini-cursos, exposições de materiais, manifestações culturais e
apresentação de relatórios de pesquisas ambientais, realizadas pelas
monografias dos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) e pelo
Programa de Iniciação Científica – Pibic/Cefet/PE. Nota-se que a
integração se deu além da interdisciplinaridade, interpenetrando na
relação ensino, pesquisa e extensão.
O tema “lixo” surgiu da análise da percepção ambiental da co-
munidade apreendida através das observações diretas realizadas no
dia 8 de outubro de 2005 e através dos 109 questionários, aplicados
no dia 17 de dezembro de 2005, no entorno da Praça da Várzea,
com tabulação realizada pelos próprios alunos em sala de aula, pre-
sente no diagnóstico ambiental.
Na tabulação dos questionários o lixo foi identificado como um dos
principais problemas de meio ambiente existentes na comunidade:
O lixo, inclusive sua não reciclagem, e o esgoto são os principais pro-
blemas apontados. Há outros: poluição do ar, queimadas de lixo e
madeira, desmatamento e escassez de árvores; depredação das áreas de
lazer e descaso com a comunidade, carência no controle de animais em
locais públicos e privados, insuficiência na manutenção e fiscalização
das áreas públicas; poluição das águas por resíduos sólidos e efluentes,
poluição do solo, sonora e presença de vetores. A violência, a existên-
cia de menores de ruas e de favelas, desigualdade social e preconceito
também foram identificados como problemas ambientais da área (Ta-
bulação Questão 1) (grifos nossos).
2. Questionário originário do Projeto
de Pesquisa Pibic/Cefet/PE/2005, sob
o título “A percepção ambiental de
moradores de comunidades carentes
– a ZEIS Brasilit”, da bolsista Cássia
Milena Souza da Silva e orientação da
profª MSc Edilene Rocha Guimarães.
3. Professores do Módulo II
– Educação Ambiental: Edilene
Guimarães, Jessé Sena, Marco Aurélio
Florêncio, Marcos Valença, Tereza
Dutra, Vânia Carvalho, Verônica
Sarmento, Virgínia Lúcia Gouveia.
Palestras realizadas na Escola
Municipal Rodolfo Aureliano,
Bairro da Várzea, Recife/PE
Fotos: Edilene Guimarães
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Artigos
Quando perguntamos se conheciam alguém em
sua comunidade que faz alguma coisa que seja ruim
para o meio ambiente, tivemos a seguinte resposta:
Conhecem pessoas que jogam lixo na rua, no rio, nas ca-
naletas, em terrenos baldios, oficinas que despejam óleo no
esgoto aberto e indústrias que poluem o rio; outros indi-
víduos que matam e prendem pássaros em gaiolas, batem
em animais, não cuidam das plantas e realizam queimadas
(Tabulação Questão 1) (grifo nosso).
Na questão invertida, se conheciam alguém em sua
comunidade que faz alguma coisa que ajude a melho-
rar o meio ambiente, o “cuidado” com o lixo apareceu
em destaque:
Apontam ações como coleta seletiva do lixo, plantações de
mudas, zelo pelas plantas e pela praça, participação em cam-
panhas de conscientização, acompanhamento de crianças abaixo do peso,
castração de animais de rua para ter certo controle de natalidade, economia
de água; escolas e padre que fazem a educação ambiental (Tabulação Ques-
tão 2) (grifo nosso).
Leonardo Boff explicita que:
Não se trata de pensar e falar sobre o cuidado como um objeto independen-
te de nós. Mas de pensar e falar a partir do cuidado como é vivido e se es-
trutura em nós mesmos. [...] O cuidado somente surge quando a existência
de alguém tem importância pra mim. Passo então a dedicar-me a ele; dis-
ponho-me a participar de seu destino, de suas buscas, de seus sofrimentos e
de seus sucessos, enfim, de sua vida (BOFF, 1999: 89 - 91).
Observem na tabulação da questão 6 como os temas “lixo” e “re-
ciclagem” são salientados, apresentando um percentual de 57,80%
nas respostas relacionadas ao que o respondente estaria disposto a
fazer para ajudar a melhorar o meio ambiente (cuidar):
Palestras realizadas na Escola Municipal Rodolfo
Aureliano, Bairro da Várzea, Recife/PE
Respostas Questão 06
Quant. %
Separar o lixo para ser reciclado 63 57,80*
Economizar água 31 28,14
Economizar energia e gás 34 31,19
Não jogar lixo nas ruas, avenidas, terrenos
baldios, canais ou rios
31 28,44
Ajudar a plantar e a cuidar de árvores dentro de
sua comunidade
50 45,87
Fazer campanhas contra empresas que poluem 45 41,28
Participar de movimentos para preservar o meio
ambiente
44 40,37
Pagar taxa para despoluir a natureza 35 32,11
Ajudar na educação ambiental na comunidade 35 32,11
Participar de atividades culturais dentro da
comunidade
39 35,78
Consertar algum produto quebrado para
reaproveitar
24 22,02
Cuidar das praças e espaços de lazer 15 13,76
Não jogar esgoto da casa na rua 1 0,92
Outros - -
*acima de 50%
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Isabel Cristina de Moura Carvalho esclarece que:
A EA surge em um terreno marcado por uma tradição naturalista. Superar
essa marca, mediante a afirmação de uma visão socioambiental, exige um
esforço de superação da dicotomia entre natureza e sociedade, para poder
ver as relações de interação permanente entre a vida humana social e a vida
biológica da natureza (CARVALHO, 2004: 37).
Ao responder à última e décima questão – depois de tudo o que
você me falou, há condições de me dizer o que é meio ambiente?
–, identificamos que a percepção ambiental dos entrevistados após
responder todo o questionário pode ser expressa como uma visão
sistêmica socioambiental:
De um modo geral, é a natureza em que vivemos e tudo o que está à nossa
volta, aspectos do dia-a-dia. Também o que não é natural, o que é criado e
inserido pelo homem e influencia no natural. É tudo de bom para o plane-
ta; é vida, saúde, bem-estar, lazer, tudo que está interligado ao nosso habitat
(Tabulação Questão 10).
Para compreender essa visão sistêmica buscamos Enrique Leff:
O ambiente, como sistema complexo, articula os valores culturais das comuni-
dades – que definem suas necessidades e valorizam seus recursos para satisfa-
zê-las –, a produtividade dos recursos naturais dos ecossistemas que habitam,
a produtividade tecnológica de seus processos de trabalho e a produtividade
social que provém das formas de organização produtiva de cada comunidade e
suas formas de articulação com a economia de mercado (LEFF, 2001: 176).
Esta percepção socioambiental sistêmica, apresentada como re-
sultado final das respostas ao questionário, foi incorporada às prá-
ticas pedagógicas integradoras desenvolvidas na proposta de inter-
venção interdisciplinar de EA, sob o título “Nem todo lixo é lixo”.
Abaixo estão explicitadas as práticas realizadas:
Diante desses resultados, planejaram-se as práticas pedagógicas
integradoras visando à transformação da percepção ambiental ad-
vinda do senso comum, a qual relacionava de forma linear o lixo aos
problemas ambientais, para uma compreensão sistematizada cons-
truída através do diálogo entre o saber popular, o conhecimento
técnico e científico, a cultura e a arte.
Destaca-se que o questionário foi estruturado visando, além da
coleta de dados, à própria educação ambiental da pessoa responden-
te. Observem a predominância da percepção ambiental naturalista
que os entrevistados apresentavam ao responder à primeira questão
sobre: para eles, o que faz parte do meio ambiente?
Palestras realizadas na Escola
Municipal Rodolfo Aureliano, Bairro
da Várzea, Recife/PE
Quant.
%
Quant.
%
Quant. %
Matas*
100 91,74
Praia*
83 76,15
Cidades*
60 55,05
Rios*
101 92,66
Minerais*
78 71,56
Favelas
50 45,49
Água*
100 91,74
Energia*
61 55,96
Lixo
45 41,28
Animais*
97 88,99
Homens e mulheres*
60 55,05
Esgoto
48 44,04
Ar*
96 88,07
Índio*
70 64,22
Outros
10 9,17
Solo/terra*
98 89,91
Planetas
48 44,04
Mar* 89 81,65 Estrelas 50 45,87
*acima de 50%
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Artigos
Ablestock
Teatro de fantoches: o lixo e o meio ambiente;
Mini-curso: Agenda 21;
Mini-curso: a arte do lixo;
Oficinas de reciclagem: papel e plástico;
Oficina: coleta seletiva no Recife;
Exposição sobre saúde e saneamento;
Palestra: Política dos 3 Rs – Reduzir, Reaproveitar e Reciclar;
Palestras: higiene, alimentação e saúde;
Manifestações culturais: maracatu, grupo de percussão, grupo
de dança;
Apresentação de pesquisas ambientais.
Os resultados da intervenção na Escola Municipal Rodolfo Aurelia-
no foram avaliados de forma interdisciplinar no próprio local da ação,
pelos alunos e professores em conjunto, ao final da intervenção. Des-
taca-se que a avaliação realizada foi caracterizada pela desestabilização
epistemológica dos alunos na passagem de um conhecimento teórico
resultante dos conteúdos de ensino para um conhecimento mais elabo-
rado, que relaciona teoria e prática, sistematizado através do diálogo
entre os conteúdos de ensino, a pesquisa realizada sobre o diagnóstico
ambiental do bairro e as práticas integradoras em nível de extensão.
A Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, que dispõe sobre a edu-
cação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental
e dá outras providências, em seu artigo 1º define que:
Art. 1º: Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos
quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida
e sua sustentabilidade (grifo nosso).
Salientamos que após o processo de restabelecimento do equilí-
brio epistemológico dos alunos durante a avaliação interdisciplinar,
identificou-se que os alunos desenvolveram os processos individuais
e coletivos que resultaram na construção de valores sociais, conhe-
cimentos, habilidades, atitudes e competências, conforme a exigência
presente no artigo 1º da Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999.
Assim, pode-se concluir que as inter-relações da educação am-
biental (EA) nas práticas pedagógicas integradoras estão relaciona-
das à construção de um conhecimento teórico-prático que possibilita
o desenvolvimento de novos valores individuais e coletivos, os quais
são ancorados nas habilidades, atitudes e competências, elaboradas
como resultante do diálogo entre ensino, pesquisa e extensão.
REFERÊNCIAS
BOFF, L. Saber cuidar: ética do humano - compaixão pela terra. Petrópolis, Rio de
Janeiro: Vozes, 1999.
BRASIL. Presidência da República. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre
a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras
providências. Brasília, 1999.
CARVALHO, I. C. de M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. São
Paulo: Cortez, 2004.
CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 2ª ed. São Paulo:
Cortez, 1995.
LEFF, E. Saber ambiental, sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. 2ª
ed. Petrópolis: Vozes, 2001.
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
RESUMO
A educação para as escolas indígenas em Roraima tem em seu bojo
as conquistas pautadas nos movimentos sociais, e neste cenário o es-
tado possui um potencial étnico bastante significativo; cada comu-
nidade é representada por lideranças que, por sua vez, contribuem
no processo educativo. Nesse sentido, a experiência se constitui na
escola indígena Joaquim Pinto Souto Maior, da comunidade de
Tabalascada, localizada no município do Cantá, que solicitou uma
orientação pedagógica para a construção do Projeto Político-Peda-
gógico. Mediante a solicitação, prontificamo-nos a fazer um trabalho
conjunto que culminou em uma troca de experiência didático-peda-
gógica entre nós e os educadores da comunidade. O nosso objetivo
é mostrar a possibilidade de contribuir com ações pedagógicas sem
fazer qualquer imposição de valores dos sistemas educativos.
Escola indígena de Tabalascada: desafios
educacionais e culturais de um povo
MONTYSUMA, Hilda M. F.; MATOS, Maristela B. de; SANTOS, Roseli B. S.
Centro Federal de Educação Tecnológica de Roraima
Palavras-chave: Educação; Indígenas; Projeto.
Fotos: Maristela Bortolon
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
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Artigos
Hilda Maria F. Montysuma é
professora da Universidade Estadual
de Roraima, com habilitação em
Pedagogia e especialização em
Supervisão Escolar. Pós-graduada
em Metodologia do Ensino pela
Faculdade de Ciências e Letras
“Plínio Augusto do Amaral”,
Amparo/SP, e Metodologia do
Ensino Superior pela Universidade
Federal do Acre. Mestrado em
Metodologia do Ensino Superior
pela Universidad de Matanzas
“Camilo Cienfuegos”, Matanzas
– Cuba. Doutora em Ciências
Pedagógicas pela Universidade
Pedagógica “Juan Marinello”,
Matanzas – Cuba.
Maristela Bortolon de Matos é
professora, graduada em Educação
Física pela Universidade do
Amazonas, com especialização
em Metodologia do Ensino pelas
Faculdades Integradas de Fátima
do Sul/MS. É mestre em Ciências
da Educação Superior pela
Universidad de Matanzas “Camilo
Cienfuegos” – Cuba.
Introdução
O referido artigo trata de uma abordagem educativa e cultu-
ral, portanto, demonstra, durante o seu transcurso, a importância
da troca de experiência e as viabilidades para desenvolver um
trabalho conjunto. Nesse sentido, faz uma análise reflexiva sobre
as questões culturais e sociais que envolvem os sujeitos da apren-
dizagem e comunidade como um todo, pois trata-se de uma so-
licitação de apoio pedagógico para a construção do Projeto Po-
lítico-Pedagógico para a comunidade. No diálogo estabelecido
entre a equipe pedagógica e a comunidade, houve a necessidade
de se saber mais sobre as ânsias dos educadores. Buscou-se, en-
tão, fazer uma breve interpretação do contexto e das dificuldades
existentes, sobretudo da cultura e da interferência dos sujeitos
exógenos e dos meios de comunicação da sociedade envolvente.
Portanto, o objetivo do artigo é tentar transmitir para os edu-
cadores que é possível contribuir com ações pedagógicas sem
impor valores que são pertinentes à nossa cultura, mesmo que
a proposta pedagógica exija a sistematização dos elementos que
devem por ela ser contemplados como forma de organização.
Esta ação tornou-se mais um aprendizado em vez de uma con-
tribuição para construção de um PPP na Maloca de Tabalascada.
Contribuindo com o Projeto
Político-Pedagógico: uma troca
de experiência na Maloca
O estado de Roraima é formado por uma população indígena es-
timada de 34.294 habitantes
1
. Destacam-se como principais grupos
étnicos: Macuxí, Wai-Wai, Taurepang, Waimiri-Atroari, Ianomami,
Yekuana, Ingarikó e Wapichana, este último pertence ao tronco lin-
güístico Aruák, constitui o segundo maior grupo de Roraima, com
6.500 habitantes
2
.
A comunidade de Tabalascada, localizada no município do Can-
tá, região da Serra da Lua, é composta pela etnia Wapichana, po-
rém, existem alguns matrimônios com membros do grupo étnico
Macuxi, considerado o maior grupo do estado.
Dentro dessa comunidade funciona a Escola Joaquim Pinto Sou-
to Maior, que atendia a 165 alunos no ensino fundamental e na edu-
cação de jovens e adultos – EJA, com um diretor e 16 professores.
Tanto a população urbana como a rural recebe uma grande in-
fluência dos diferentes grupos étnicos, o que torna difícil definir
quem é ou não indígena. Entretanto, essa relação torna-se desequi-
librada em conseqüência da carga de preconceitos e da dominação
da cultura dos não-índios. Essa imposição deixaria de ser negativa
se o indígena, ao assimilar outros valores, não fosse pressionado a
rejeitar sua identidade, portanto, faz-se presente a análise de que
“[...]a identidade está vinculada também a condições sociais e ma-
teriais, envolve o exame dos sistemas classificatórios que mostram
como as relações sociais são organizadas e divididas”. Contudo, a
1. População indígena – Censo de
2000. FONTE: www.socioambiental.
org/website/pib/portugues/
quonqua/odeestao/quvivonde.htm,
Boa Vista-RR, 30/05/03.
2. Ibid. Essa etnia também é
encontrada na Guiana Inglesa, com
uma população de 4.000 índios.
Ablestock
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
valorização identitária da comunidade para os educadores possui
elementos potencializadores na vida social, devendo haver respeito
e integridade.
A determinação de um modelo escolar para as comunidades in-
dígenas sem levar em consideração as formas de organização do
grupo étnico culmina por impor uma “escola para o indígena” e não
uma “escola indígena”.
Ainda que a orientação pedagógica tenha sido solicitada pelos
próprios líderes da comunidade e que tenhamos a preocupação de
não impor nenhuma forma de pensar, isso nos levou a refletir sobre
a real a necessidade de um documento formalizado e até que ponto
somos capazes de não interferir impondo a lógica da cultura do não-
índio, como a estrutura Projeto Político-Pedagógico – PPP.
Aproveitando o momento de construção do PPP com a comu-
nidade, foi possível questionar sobre a escola que temos e a escola
que queremos, para encontrar as linhas norteadoras que irão in-
dicar os meios de revigorar o arcabouço cultural, uma vez que os
métodos utilizados, por tradição, já não apresentam eficiência. A
escola, nesse caso, apresenta-se como um recurso de resistência em
defesa de seus valores.
Durante nossa participação como equipe pedagógica, ficou evi-
dente a influência que a cidade de Boa Vista, capital de Roraima,
exerce sobre a população Wapichana, comunidade Tabalascada. Essa
interferência tem chegado principalmente por meio da rádio, te-
levisão e contato direto com a sociedade não-indígena, visto que
a Maloca localiza-se a 22 km da capital e a 8 km do município
do Cantá/RR. Isso traz como conseqüência, principalmente para
os mais jovens, a influência cultural sem levar em consideração os
valores que são peculiares dos moradores, pois alguns termos utili-
zados pelos meios de comunicação da cultura dominante como “o
índio civilizado e aculturado” leva alguns indivíduos a questionar
sua identidade.
As lideranças da comunidade não estão alheias a esses proble-
mas. Em uma luta de resistência, vêem a escola como instrumento
para revitalizar a cultura e os valores, que não se restringem ao sim-
ples repasse da história oral pelos mais velhos. Partindo do entendi-
mento de que a cultura é um processo dinâmico, não é pertinente o
isolamento do índio com a cidade, pois da inter-relação com o meio
urbano deverá nascer uma re-significação da sua identidade.
Na construção do PPP e das oficinas pedagógicas da escola, per-
cebeu-se que a comunidade já tinha incorporado, no processo edu-
cativo, conceitos e valores exógenos, a partir do momento que não
questionava o modelo de documento, currículo e proposta pedagó-
gica, que eram próprios das escolas de não-índios.
O projeto pedagógico deve fazer parte da realidade de todas as
escolas, sendo possível constatar sua existência nas atividades reali-
zadas no decorrer do período letivo, nos detalhes do dia-a-dia, ou
seja, na prática escolar, independente de estar ou não formalizada
em um documento.
Roseli Bernardo é
professora do Cefet/RR, com
habilitação em Geografia
pela Universidade Federal
da Paraíba, bacharelado
em Ciências Sociais, com
habilitação em Antropologia
pela UFRR. Pós-graduada
em Metodologia do Ensino
Superior pela Universidade
de Patrocínio e mestrado em
Ciências da Educação pela
Universidad de Matanzas
“Camilo Cienfuegos”, Matanzas
– Cuba. Desenvolve trabalhos
sociais de colaboração junto
às etnias Makuxí, Wapichana
e Taurepang nas malocas das
comunidades de Tabalascada,
Maloca do Ouro e Bananal.
Crianças indígenas aprendem a
desenvolver trabalhos manuais
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
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Artigos
Segundo Fausto Mandulão,
Quando a criança nasce, é uma extensão da mãe que a amamenta e a pro-
tege. A criança é socializada pela família e nas relações cotidianas da aldeia.
Ela aprende fazendo, experimentando, imitando os adultos. As crianças
acompanham os pais e os seus brinquedos são miniaturas dos instrumentos
que posteriormente ela irá utilizar em sua vida de adulto. Neste sentido, po-
demos inferir que a forma de ensinar nas comunidades indígenas tem como
princípios inseparáveis a construção do ser, pela observação, pelo fazer, tes-
tado dentro de um contexto real. Ela vai aprendendo os valores do que é ser
Macuxí, ser um Wapichana; ao mesmo tempo que adquire habilidades para
enfrentar desafios do seu mundo.
Frente às novas exigências educacionais, de que todas as escolas
devem construir seu PPP, as lideranças da comunidade Tabalascada
se interessaram em registrar suas experiências em um Projeto Po-
lítico-Pedagógico com características próprias, que atendessem às
expectativas da comunidade. Entretanto, essa organização não par-
tia, ainda, das necessidades intrínsecas do grupo étnico, mas como
exigência das instituições governamentais.
Retomando as palavras de Fausto Mandulão, qualquer inter-
venção externa junto à comunidade Wapichana deve partir do re-
conhecimento de que a educação dos povos indígenas deve estar
relacionada a um conhecimento múltiplo, totalizador e bastante
complexo em que necessariamente não se limite a profissionais
mediados pela aplicação meramente didática, como vinha aconte-
cendo no modelo tradicional.
Nesse sentido, iniciamos com um levantamento, por meio de
diagnóstico, sobre o que já existia na comunidade em termos de or-
ganização didático-pedagógica e constatamos que na prática ocor-
ria, sistematicamente, através de oficinas, um trabalho de revitaliza-
ção da cultura e dos valores, que anteriormente eram transmitidos
oralmente pelos mais antigos.
Nas escolas não-indígenas, constituem “imposições” e desafios a
participação da comunidade no planejamento, na operacionalização
integrada dos temas transversais, entre outros. Por outro lado, na
comunidade Tabalascada, agir coletivamente faz parte do estilo de
vida do indígena. A pesca, a caça, o trabalho na roça, as decisões
políticas nunca acontecem de maneira individual. Essa consciência
grupal é transplantada para a escola onde as atividades são realiza-
das, aglutinando espontaneamente todas as lideranças, pais de alu-
nos, professores, alunos e funcionários.
Em se tratando especificamente das oficinas, ainda que a esco-
la vincule diretamente com a revitalização dos valores Wapichana,
coube a nós construir com eles uma maneira de estabelecer vínculo
com as áreas específicas do conhecimento numa perspectiva inter-
disciplinar, prazerosa e enfocando elementos curriculares, destacan-
do o cognitivo, as habilidades, as formas e normas de relação com o
mundo, a criatividade etc.
A maioria das oficinas utiliza recursos da própria região (cola-
res, cestas, anéis, trançados, pomares, hortas, plantas medicinais,
cocares, avicultura etc.), e também por meio delas os mais jovens
aprendem como coletar materiais sem agredir a natureza.
Interior da escola indígena de Tabalascada
Hora da refeição na escola de Tabalascada
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
A exemplo, na oficina de colares, os alunos aprendem a identifi-
car, coletar e selecionar as sementes mais adequadas, paralelamen-
te, desenvolvem também conhecimentos relacionados a geografia,
ciências naturais, matemática, língua materna e estrangeira (língua
portuguesa), história, habilidades manuais etc.
Nessas oficinas, apesar de apresentarem uma organização do
ponto de vista operacional, não foi possível verificar a intencionali-
dade do ensino dos conhecimentos antes mencionados, confirman-
do o que diz Bartolomeu Meliá: “Descrever a educação indígena no
Brasil seria quase como descrever o dia-a-dia de todas as aldeias, de todas
as comunidades indígenas, que simplesmente vivendo, estão se educando”.
Sendo que todo o trabalho realizado nas oficinas tem um significa-
do concreto, articulado com o seu viver, de conteúdos práticos.
O ethos do povo Wapichana traz impresso um modelo de demo-
cracia e de eqüidade digna de ser imitada pelos não-indígenas. Esse
fato se constata nas escolhas dos diretores, professores, Tuchauas
e demais lideranças que são eleitos pela comunidade por meio de
decisão coletiva.
É importante que se eliminem os estereótipos de que o sujeito
não quer ser índio porque usa celular ou desfruta na comodidade
de alguns eletroeletrônicos. Ainda que ele venha a viver em grandes
centros urbanos, jamais deixará de ser índio e de ter igual direito de
oportunidades ao não-índio. Portanto, as escolas indígenas devem
ter sua autonomia garantida para que possam discernir sobre o que
é valioso para sua comunidade, não uma autonomia “imposta”, vin-
culada à troca, como condição para suas conquistas.
Conclusão
A referida orientação pedagógica desenvolveu-se através de
encontros marcados pela comunidade, nos quais foram dispo-
nibilizados materiais pertinentes à fundamentação e orientações
necessárias à construção do PPP. O trabalho conseguiu atingir o
objetivo, pois, após conhecimento da realidade da Escola Joaquim
Pinto Souto Maior e da comunidade indígena de Tabalascada, foi
desenvolvida a orientação sem uma intervenção direta na cons-
trução do PPP. O trabalho desenvolveu-se através de trocas de
experiência; a equipe pedagógica solicitada pela comunidade não
impôs exigência alguma perante a escola, ouviu as dificuldades e
sugeriu que o PPP fosse construído conforme as reais condições e
necessidades do grupo: “Vocês conhecem suas necessidades, nosso
papel é contribuir na sistematização das idéias para organizá-las
no PPP”. Durante a participação do grupo foram transmitidos
alguns elementos já discutidos na comunidade, como concepções
de mundo e homem.
Cenas da comunidade
indígena de Tabalascada
REFERÊNCIAS
População indígena – Censo de 2000. FONTE: Boa Vista/RR, 30/05/03. www.
socioambiental.org/website/pib/portugues/quonqua/odeestao/quvivonde.
htm,MANDULÃO, F. S. Educação na visão do professor indígena, mimeo, 2001.
MELIÁ, B. Educação indígena e alfabetização. Loyola: São Paulo, 1979, p. 93.
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
63
Artigos
O papel da agricultura urbana como
instrumento de desenvolvimento social
SOUSA, Ildeane M. T.; TEIXEIRA, Marco A. de C. M.
Centro Federal de Educação Tecnológica do Piauí
Palavras-chave: Agricultura Urbana; Hortas Comunitárias; Desenvolvimento Social.
RESUMO
O presente trabalho pretende destacar o relevante papel da agricul-
tura urbana como instrumento de desenvolvimento social para a
população partícipe, bem como traçar o perfil dos horticultores do
bairro Dirceu Arcoverde através da caracterização socioeconômica
e ambiental da atividade exercida por eles. Para tanto, a metodolo-
gia seguiu o levantamento do referencial teórico referente ao tema,
além da aplicação de 54 (40% do total de famílias contidas na Horta
Itararé) questionários junto aos horticultores da referida horta. Dos
resultados preliminares já encontrados, tem-se a confirmação das
hortas como única fonte de renda para a família de 44% dos entre-
vistados, a geração de menos de um salário mínimo para cerca de
42%; a maior parte dos horticultores apresentam melhoria no pa-
drão alimentar com o consumo das hortaliças; a maioria dos entre-
vistados utiliza produtos químicos no cultivo, embora não freqüen-
temente; poucos fazem uso de equipamentos de proteção individual
e cerca de 57% dos entrevistados desconhecem ou pouco sabem a
respeito de Sistema Orgânico de Produção e seus benefícios.
Fotos: Ildeane Machado
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
Introdução
O conceito de agricultura urbana é ampliado quando são anali-
sadas as contribuições de sua prática para o meio ambiente e para
a saúde humana (DIAS, 2000, apud MACHADO; MACHADO,
2002) por constituir importante forma de suprir os sistemas de ali-
mentação urbanos, relacionando-se com a segurança alimentar e o
desenvolvimento da biodiversidade.
Tendo em vista os aspectos positivos proporcionados pela agri-
cultura urbana, torna-se interessante a incorporação dessa atividade
no planejamento e gestão das cidades como alternativa para enfren-
tar a pobreza, a insegurança alimentar e outras problemáticas que
“caminham” junto com o crescimento das cidades. Em Teresina isso
vem sendo feito através da implantação de hortas comunitárias em
áreas de extrema pobreza, resgatando a dignidade da população en-
volvida na atividade.
Nessa perspectiva, o presente trabalho visa destacar o relevante
papel da agricultura urbana como instrumento de políticas públicas
de desenvolvimento social. Nesse sentido, faz-se necessária a análise
desses fatos através da caracterização física, socioeconômica e am-
biental da área de estudo, a Horta Itararé, escolhida devido à sua
extensão (9,2 ha), considerada uma das maiores, e por sua localiza-
ção estratégica, dentro do bairro mais populoso de Teresina (Dirceu
Arcoverde), buscando traçar o perfil do horticultor.
A agricultura urbana e
o processo de urbanização
A agricultura foi, para a espécie humana, uma forma de escapar
da própria extinção.
Foi a agricultura que garantiu a sobrevivência da espécie humana, eliminan-
do definitivamente o risco de sua extinção. Possibilitou, ainda, sucessivos e
contínuos aumentos da população, o que ocorre até os dias atuais. Além de
garantir a sobrevivência da espécie humana, a agricultura libertou o homem
da necessidade de ser nômade, permitindo o florescimento de comunidades
que, com o tempo, se tornaram cidades (PATERNIANI, 2001, p. 305).
O crescimento desordenado das cidades brasileiras resultou em
complexos problemas, já que não houve, paralelamente, a preocu-
pação com a infra-estrutura nem com as características naturais do
meio. Para Motta (1999), as conseqüências deste processo inade-
quado de crescimento são comuns às grandes cidades.
Falta de condições sanitárias mínimas em muitas áreas, ausência de serviços
indispensáveis à vida das pessoas nas cidades; ocupação de áreas inadequa-
das; destruição de recursos de valor ecológico; poluição do meio ambiente;
habitações em condições precárias de vida (MOTTA, 1999, p. 18).
O processo de ocupação em Teresina, até a década de 1940,
ocorreu lentamente e de forma concentrada. Na década de 1960,
houve um acelerado processo de urbanização devido ao aumento do
fluxo migratório de pessoas do campo para a cidade, assentando-se
de forma não planejada na zona sul da cidade. A década de 1980 foi
marcada pelas lutas sociais, principalmente em prol da moradia. Na
concepção de Lima (1990),
Recipiente utilizado para
armazenar água na horta
Ildeane Machado Teixeira de Sousa é
tecnóloga em Gestão Ambiental.
Marco Antônio de Castro Marques
Teixeira é Prof. MSc. Engenharia de
Produção pela Universidade do Rio
Grande do Norte (UFRN).
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
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Artigos
a década de 80 se constitui o marco do acirramento das contradições e con-
flitos sociais. A cidade cresce em todas as direções (...). O crescimento de
Teresina se assenta num processo constante de valorização de terras urbanas
ociosas e de expulsão de setores populares cada vez mais para a periferia
(LIMA, 1990, p. 14 - 15).
Tendo em vista o fluxo migratório campo/cidade, a pobreza e a
miséria das vilas e favelas, a pouca oferta de trabalho, entre outros
fatores que contribuem para um baixo índice de qualidade de vida,
destacam-se as hortas comunitárias, implantadas nesses locais na
tentativa de amenizar a situação caótica em que está mergulhada a
população da periferia de Teresina.
Agricultura urbana como
alternativa de desenvolvimento
A contribuição da agricultura urbana para o meio ambiente ur-
bano verifica-se na mudança da performance ecológica da cidade,
criando um microclima adequado, conservando o solo, minimizan-
do o lixo, promovendo a reciclagem de nutrientes, melhorando o
manejo da água e da biodiversidade. A limpeza de áreas destinadas
ao acúmulo de lixo e entulhos, como os terrenos baldios e os quin-
tais domésticos, para posterior utilização no plantio de hortaliças
proporciona melhoria considerável ao ambiente local, diminuindo a
proliferação de vetores causadores de doenças.
Outra contribuição da agricultura urbana que merece destaque
é quanto à economia. Esse tipo de atividade oferece oportunidade
a jovens, adultos e até crianças e idosos a adquirirem renda para o
sustento da família, excluindo a possibilidade de aumento no núme-
ro de pessoas marginalizadas por falta de empregos.
Portanto, políticas públicas voltadas para o incentivo e a imple-
mentação da agricultura urbana podem favorecer e promover o de-
senvolvimento local das periferias de grandes e pequenas cidades.
Teresina está entre as muitas cidades que apostaram na agricultura
urbana como alternativa de desenvolvimento através da implanta-
ção de hortas comunitárias.
Política de agricultura
urbana em Teresina
Um interessante exemplo da importância do papel da agricultura
urbana em políticas públicas é o Projeto de Hortas Comunitárias em
Teresina, que faz parte de um conjunto de ações de enfrentamento
à pobreza realizadas com o objetivo de garantir meios, capacidade
produtiva e de gestão a grupos comunitários para a melhoria de suas
condições gerais de subsistência, elevação do padrão da qualidade
de vida e sua organização social.
Vale ressaltar que o Projeto de Hortas Comunitárias foi premiado
como semifinalista entre os melhores “Programas de Gestão Públi-
ca e Cidadania”, realizado pela Fundação Getúlio Vargas/Fundação
Ford, em 1996. No encontro da Organização das Nações Unidas
que aconteceu em abril de 2000, em Quito, capital do Equador,
Irrigação dos canteiros
Horta sob rede de energia
elétrica de alta tensão
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
somente Brasília e Teresina represen-
taram o país no evento cujo objetivo
era divulgar as iniciativas geradoras
de trabalho e renda no setor de agri-
cultura urbana.
A produção de hortaliças é feita
de forma intensiva, sendo a horta
conduzida por várias famílias que ex-
ploram seus lotes de forma individu-
al. O poder público interfere na assis-
tência técnica, no acompanhamento
e na manutenção dos equipamentos
do poço tubular, cerca de proteção e
consumo de energia elétrica. Como
característica desse tipo de produção,
cultivam-se poucas espécies com tec-
nologia apropriada, visando produ-
tividade e produtos de melhor qualidade biológica. Concentra-se
basicamente em três culturas folhosas: cebolinha (Allium schoeno-
prasum), coentro (Coriadum sativum) e alface (Lactiva sativa).
Linhas de transmissão da CHESF
Metodologia
A coleta dos dados secundários foi feita com base em pesquisa
bibliográfica – livros, revistas, jornais, entre outras fontes – em
órgãos como Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agrope-
cuária); SDU (Superintendência de Desenvolvimento Urbano e
Meio Ambiente) e AMI (Associação de Moradores do Itararé).
Os dados foram fundamentados também em pesquisa documental
– nos Censos de Vilas e Favelas, Censos do IBGE (Instituto Brasi-
leiro de Geografia e Estatística) e relatórios obtidos junto à SDR
(Superintendência de Desenvolvimento Rural) –, bem como na
utilização da internet.
A pesquisa direta foi realizada através da aplicação de questioná-
rio junto aos horticultores do bairro Dirceu Arcoverde no intuito de
se identificar o perfil socioeconômico, bem como o relacionamento
com as questões ambientais: manejo do solo, utilização de agrotóxi-
cos e cultivos orgânicos.
O universo da pesquisa consiste nos horticultores da Horta Ita-
raré que produzem no referido bairro. Sendo assim, de um total de
135 famílias, tirou-se uma amostra de 40%, tamanho satisfatório
para obtenção de um resultado o mais aproximado possível ao uni-
verso total. A aplicação do questionário ocorreu durante o mês de
abril, no local de produção dos horticultores, o que tornou viável
uma analogia entre a teoria pesquisada e a prática desenvolvida.
Buscou-se abordar, no questionário, perguntas relacionadas
ao grau de instrução, fonte de renda e comercialização das horta-
liças. No tocante à variável ambiental, explorou-se questões so-
bre tipos de proteção ao solo, uso de agrotóxicos e conhecimento
de cultivos orgânicos.
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
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Artigos
A figura 2 permite-nos admitir que a maior parte dos horticultores
possui idade acima de 50 anos, correspondendo a 67%, enquanto 24%
encontram-se dentro da faixa etária de 41 a 50 anos, 7% de 31 a 40 anos,
2% de 20 a 30 anos e 0% de 0 a 19. Assim, a atividade agrícola funciona
como uma terapia aos idosos, ocupando-os e tornando-os ativos.
Quanto ao grau de instrução, pode-se extrair da figura 3 que 30%
dos horticultores não possuem instrução, isto é, nunca freqüentaram
uma escola; 11% são apenas alfabetizados e a maioria (cerca de 53%)
chegou a iniciar o ensino fundamental, mas não o concluíram. Se-
gundo o gráfico, pequena parcela dos horticultores (6%) concluiu o
ensino fundamental ou o ensino médio.
Figura 3 – Grau de instrução dos horticultores
Figura 1 – População amostral dividida por sexo
Figura 2 – População amostral dividida por faixa etária
Ablestock
Resultados e discussões
A análise dos dados demonstrou que a maioria dos horticultores é
do sexo feminino, correspondendo a 65%, sendo apenas 35% a parti-
cipação masculina na atividade, como mostra a figura 1.
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A figura 4 revela que 42% dos horticultores admitem receber
menos de um salário mínimo mensal com o trabalho das hortas,
30% afirmam conseguir de 1 a 2 salários mínimos na atividade
e 28% auferem mais de 2 salários mínimos nas hortas. Vale res-
saltar que a renda auferida nessa atividade depende do tamanho
do lote pertencente ao horticultor, além da dedicação de cada um
ao trabalho.
Apesar dos entrevistados não verbalizarem o uso de agrotóxi-
cos no combate a pragas, doenças e ervas daninhas, que, segundo
eles, é uma prática proibida pelos técnicos, ao serem solicitados
sobre o nome do “veneno” utilizado obteve-se como respostas
os seguintes agrotóxicos: Decis, Diazenon, Malathion e Nitrosil.
Portanto, há uma contradição por parte dos horticultores, já que
utilizam agrotóxicos sem, contudo, admitirem verbalmente. Isso
denota o baixo nível de conhecimento sobre tais produtos. Sendo
assim, 74% dos horticultores utilizam agrotóxicos em seus culti-
vos e apenas 26% não usam nenhum tipo de defensivo químico,
como mostra a figura 5.
Quanto à disposição final das embalagens dos agrotóxicos, 100%
dos horticultores lançam no lixo comum ou mesmo em qualquer lu-
gar dentro da horta, conforme figura 6, não havendo nenhuma preo-
cupação com a toxidade desses produtos.
Figura 4 – Renda, em salário mínimo, dos horticultores
Figura 5 – Uso de agrotóxicos pelos horticultores
Embalagem de agrotóxico
(malation) dentro da horta
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
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Artigos
Figura 6 – Destino final das embalagens dos agrotóxicos
Conclusão
É inquestionável a contribuição da agricultura urbana para as
pessoas que participam direta e indiretamente dela. Por outro lado,
a análise dos resultados da pesquisa permite expor os problemas
encontrados na atividade no que se refere ao baixo nível educacional
dos horticultores; à baixa renda gerada; à falta de participação em
cursos ou palestras de organização social; à dificuldade no finan-
ciamento da produção; ao baixo interesse dos horticultores pelas
questões ambientais e à dificuldade das famílias de se organizarem
em uma associação ou cooperativa.
Sendo assim, deve haver um investimento maior no trabalho so-
cial no sentido de promover a formação de uma consciência coopera-
tiva e solidária no trabalho comunitário. Faz-se necessário, também,
uma maior participação da equipe técnica responsável pela orientação
dos horticultores em motivá-los a comparecer, no intuito de fornecer-
lhes desde educação básica até informações técnicas sobre a atividade
por eles exercida. O conjunto dessas medidas, somado à divulgação
da qualidade dos produtos a serem cultivados, poderá trazer resulta-
dos que impliquem a melhoria da renda dos horticultores.
REFERÊNCIAS
DIAS, J.A.B. Produção de plantas medicinais e agricultura urbana: horticultura brasileira,
2000. In: MACHADO, A. T.; MACHADO, C. T. Agricultura urbana/Documentos.
Planaltina, DF: Embrapa cerrados, 2002.
LIMA, A. J. de. Favela COHEBE: uma história de luta por habitação popular, 1990.
In: FAÇANHA, A. C. A evolução urbana de Teresina: agentes, processos e formas
espaciais na cidade. 1998.
MOTTA, S. Urbanização e meio ambiente. Rio de Janeiro: Abes, 1999.
PATERNIANI, E. Agricultura sustentável nos trópicos. Estudos Avançados, São Paulo:
IEA. v. 15, nº 43, p. 303-305, 2001.
Ablestock
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
Os segredos da economia doméstica:
origem, evolução e perspectivas
OLIVEIRA, Ana C. M. de
Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão/SE
Palavras-chave: Economia Doméstica; Conhecimento; Profissão.
RESUMO
A economia doméstica não é apenas um conjunto de conhecimentos
de ordem prática, os quais as donas de casa devem possuir para pre-
pararem, empiricamente, os alimentos, confeccionarem e repararem as
roupas, cuidarem dos filhos e executarem as tarefas caseiras obedecendo
a uns tantos ditames, regras e praxes rotineiros. O objetivo deste tra-
balho é apresentar os segredos da economia doméstica, tal como seu
surgimento, origem, evolução, o profissional de economia doméstica,
o campo de atuação e suas perspectivas para o século XXI. Os dados
apresentados revelaram a importância do conhecimento científico e do
profissional em economia doméstica para o desenvolvimento da esco-
la, família e sociedade. O estudo da economia doméstica é de grande
complexidade porque a escola e a família fazem parte da sociedade e
os fenômenos que aí se verificam, como todos os fenômenos sociais,
são muito complexos, por isso, para a sua solução adequada e eficiente,
é necessário o conhecimento de noções científicas especializadas e de
uma técnica especial no que diz respeito à economia doméstica.
Ablestock
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
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Artigos
Introdução
Ao longo dos séculos XVIII e XIX, a história da educação em
sua dimensão educativa cria uma sociedade que educa cada um ao
seu tempo: homens, mulheres, crianças, jovens e adultos (LOPES,
2001; GALVÃO, 2001), na qual o campo científico tem uma im-
portância muito grande no mundo social que os envolve, dando
contribuições para o progresso da ciência (BOURDIEU, 2004).
A educação, que se pretendia ser igual para os dois sexos, na
realidade diferenciava-se nos seus objetivos. “A intenção da educa-
ção era preparar o homem para as tarefas relacionadas à produção
e a mulher para o serviço doméstico e o cuidado com marido e os
filhos” (SAVIANI, 2004).
Assim surge a “cadeira de Economia Doméstica com o intuito
de atender aos anseios da mulher” (CAMARGO, 2000). A econo-
mia doméstica formalmente veio a existir em 1909, como resultado
de mudanças sociais que tiveram lugar com o advento da revolução
industrial. Era um campo de conhecimento referente às funções da
família, buscando eficácia científica nas tarefas cotidianas da casa em
função da melhoria da qualidade de vida das famílias.
A economia doméstica lida com conhecimentos científicos te-
órico-práticos que se relacionam ao que se concebe como esfera
reprodutiva, àquela esfera onde se dá a reprodução social dos seres
humanos, através da socialização, cuidados com higiene, saúde, ha-
bitação e alimentação.
Historicamente, a economia doméstica tem sido uma profissão
cujos fenômenos de interesse são originados nas ciências naturais e
sociais e como profissionais são influenciados por conhecimentos
das duas ciências e extraem idéias das disciplinas de Química, Socio-
logia, Arte, Biologia, Filosofia, Antropologia, Física e Economia.
Diante do exposto, nasceu a necessidade de se conhecer melhor
a história da economia doméstica no campo do conhecimento e da
profissão, partindo do seu surgimento, sua origem, sua evolução,
resgatando o profissional de economia doméstica, seu campo de
atuação e suas perspectivas para o século XXI. Assim, buscamos
conhecer e examinar se o campo do conhecimento e da formação
profissional da economia doméstica acompanhava o cotidiano fa-
miliar no que diz respeito às necessidades de alimentação, habita-
ção, higiene e saúde.
O surgimento da economia doméstica
A economia doméstica surgiu em 1909, com o advento da re-
volução industrial e no momento em que as famílias mudaram para
cidades e assim membros da família puderam trabalhar em fábricas
e mudar o seu modo de vida. A mudança significativa foi que as
famílias tiveram mais tempo juntas, quando homens, mulheres e
crianças uniram a força do trabalho.
Durante este período de mudanças sociais, a taxa de divórcio
disparou. Crianças foram levadas a acreditar serem descuidadas,
Ana Carla Menezes de Oliveira
é supervisora pedagógica da
Escola Agrotécnica Federal de
São Cristóvão/SE, pedagoga
com habilitação em supervisão
pedagógica, especialista em
metodologia do ensino superior.
Aluna especial do mestrado
em educação, pesquisando
sobre a trajetória da economia
doméstica no âmbito do ensino
técnico profissional, através
da linha de pesquisa história,
sociedade e educação.
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
anormais e irresponsáveis. De fato, há muitas semelhanças entre as
mudanças sociais do século XIX e as mudanças observadas hoje.
Mudanças sociais, suas causas e efeitos tornaram-se uma área de
interesse para estudantes e para a população em geral.
A maior preocupação da sociedade era que o lar e as famílias
estavam deteriorando-se. Esta instituição era vista como provedora
do cuidado, criação e formação necessários ao bem-estar das pes-
soas na sociedade. Muitas acreditaram que se as famílias falissem, a
sociedade poderia também falir, uma vez que lares e famílias foram,
não muito distante, os provedores de tipos de habilidades e influên-
cias éticas, isso no passado. A responsabilidade por tais instruções
inevitavelmente recaíram para as escolas. Entretanto, as escolas não
pareciam ser capazes de remediar a situação. Assim, desde 1925, por
dez anos consecutivos, pessoas de vários campos educacionais parti-
ciparam de conferências para discutir a criação de uma nova profis-
são que eles chamaram Home Economics – Economia Doméstica.
Os participantes dessas conferências acreditavam que economia do-
méstica tinha um importante papel na sociedade. Em seu ponto de
vista, os conferencistas diziam que a profissão poderia ajudar lares
e famílias a desenvolver a ética e tornar o ser humano livre, eram
participantes conscientes da melhoria da sociedade.
A “cadeira de Economia Doméstica surgira no panorama de
ensino como trabalhos manuais”. Colocada no currículo secundá-
rio pela Reforma Capanema, até então era vista como um curso de
economia doméstica, fazendo parte do ensino técnico-profissional,
que fora regulamentado pelo Ministério de Agricultura, Indústria e
Comércio, em dezembro de 1909. A Superintendência da Educação
Profissional e Doméstica, criada pelo Decreto nº 1.604, de 13 de
agosto de 1934, subordinada à Secretaria da Educação e Saúde
Pública, com sede no Instituto Profissional Feminino da capital de
São Paulo, possuía um número relativamente alto de matrículas de
alunas distribuídas por várias seções, porém, a de economia domés-
tica começou a funcionar somente em 1912, sendo logo esquecida.
Reapareceu, em 1930, graças à reforma geral dos cursos profissio-
nalizantes em São Paulo. A partir daí, uma série de entraves im-
pediu uma boa imagem do curso de economia doméstica, que só
a consegue quando decretos do governo estadual paulista aplicam
mudanças, em 1930, na legislação do ramo de ensino profissional.
O grande salto para valorizar a educação doméstica se deu a partir
do que consagrara o Código de Educação, em 1933, que levou o
curso a se estender às escolas profissionais secundárias femininas
com o intuito da formação das “futuras donas-de-casa”.
O Plano Nacional de Educação, de 1937, do Ministério da Edu-
cação e Saúde, em 1934, previa a existência de um ensino doméstico
reservado para meninas entre 12 e 18 anos. Tratava-se de um ensino
feminino, contendo, em um dos ciclos, o preparo das mulheres para
a vida no lar e, em outro, a formação de professores pela Escola Nor-
mal Doméstica (SCHWATZMAN; BOMENY; COSTA, 1984). No
tempo de Capanema, a partir da promulgação da Lei Orgânica do
Ensino Secundário, em 1942, foi incluído o ensino de economia do-
méstica em todas as séries dos cursos ginasial, clássico e científico.
Fotos: Ana Carla Menezes de Oliveira
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
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Artigos
A origem e evolução
A economia doméstica pode ser entendida como uma ciência e
uma arte cujo domínio envolve o cuidado da casa e da família. É
ciência porque supõe conhecimento de nutrição racional, higiene da
família e da casa, noções de administração e finanças do lar. Utiliza-se
de muitos princípios básicos da economia geral, tais como a divisão
do trabalho e do consumo coletivo. Como arte inclui idéias artísticas,
estéticas, como o gosto no decorar e aparelhar a casa, e também a
apresentação cuidadosa das mais simples tarefas da vida cotidiana.
Na Antigüidade, a família se encarregava da confecção de sua
própria roupa, sendo que as atividades de fiar, tecer e tingir tecidos
constituíam as funções mais importantes dentro de uma casa. Na
Idade Média, o artesanato imperava e as pessoas produziam para o
seu próprio consumo. Com o desenvolvimento do comércio e da
indústria, a maior parte daquelas atividades tipicamente caseiras são
hoje realizadas nas fábricas: a conservação de frutas e verduras, a
confecção de roupas, a fabricação do pão, do sabão e de muitos ou-
tros produtos. Os serviços que são oferecidos em hotéis, restauran-
tes, salões de beleza, lavanderias etc. contribuem para simplificar o
trabalho de casa. O progresso da indústria de artefatos domésticos,
da alimentação e vestuário impôs uma revisão de valores e contribu-
íram para o desenvolvimento das ciências domésticas.
A preocupação com a família, a solução racional de seus proble-
mas e a preocupação com a educação do indivíduo para uma vida
melhor constituem o objetivo da economia doméstica. Outra de suas
finalidades é o melhoramento das comunidades e, conseqüentemen-
te, a evolução da sociedade. Em sentido amplo, as ciências domésticas
abrangem o estudo das leis, princípios e idéias relacionadas com as
condições físicas do homem e de seu habitat. De outro lado, estuda
também a natureza do homem como ser social em relação aos fatos
ecológicos e estéticos. Para atenuar esses problemas que envolvem as
famílias modernas e para ajudá-las a acompanhar o desenvolvimento
em todos os setores de conhecimento humano, surgiu a necessidade
de se criar escolas especializadas em economia doméstica.
Em nível universitário, a economia doméstica visa educar, orien-
tar, pesquisar e entender conhecimentos aplicáveis a uma vida mais
saudável, mais conveniente e mais agradável, aumentando os poten-
ciais de conhecimento humano, melhorando as condições de vida
no âmbito da família e da comunidade, em prol de uma sociedade
mais evoluída e mais feliz.
A evolução da economia doméstica em outros países, como Es-
panha, Portugal e França, está num estágio muito avançado, muitas
vezes o ensino é ministrado em nível universitário e os cursos ultra-
passam os quatro anos superiores. Oferecem, na maioria das vezes,
cursos de pós-graduação em nível de mestrado. Nos Estados Uni-
dos, o profissional é bastante considerado e as escolas de economia
doméstica atraem grande número de pessoas. Os cursos existem há
quase um século, possibilitando e incentivando as pesquisas que se
baseiam em princípios científicos, humanísticos e artísticos. Espa-
nha, Portugal e França também consideram importante a economia
doméstica, dando-lhe, além de valor prático, o caráter científico pe-
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
culiar às áreas de estudo que merecem atividades de pesquisa. Exis-
tem escolas de economia doméstica em Portugal, Índia, Inglaterra,
Escócia, País de Gales e Irlanda, onde antes esses cursos eram vistos
com desprezo, até mesmo por pessoas com maior nível de instru-
ção. Como ciência, para atender ao homem e ao meio, a economia
doméstica alastrou-se pelo mundo inteiro, tornando-se conhecida
na sua propagação do aperfeiçoamento humano e atualização da
família para uma vida melhor com a natureza e seus recursos.
O profissional de economia
doméstica e o campo de atuação
O economista doméstico não é um profissional voltado só para
as atividades domésticas da casa, é um profissional que tem funções
no comércio, na indústria, em escolas, creches e até no setor de ha-
bitação familiar. O economista doméstico é o profissional cuja for-
mação está voltada para o cotidiano familiar no que diz respeito às
necessidades de alimentação, habitação, higiene e saúde, consumo
e vestuário. Para tanto, este profissional aprende como administrar
e organizar este cotidiano e a orientar as famílias no sentido de lhes
propiciar melhores condições de vida.
Cabe ao economista doméstico informar sobre aspectos relativos
à natureza técnica e científica dos princípios de alimentação, higiene
e saúde, vestuário e habitação, assim como despertar a consciên-
cia crítica dessas famílias sobre os aspectos políticos, econômicos e
sociais embutidos na forma como esses conteúdos são tratados no
contexto da sociedade moderna globalizada.
O economista doméstico é o responsável por planejar e super-
visionar programas sociais nas áreas de saúde, alimentação, vestuá-
rio, economia familiar e direitos do consumidor. Há, inclusive, uma
grande procura por especialistas em economia doméstica com boa
visão administrativa em empresas de médio e grande porte.
No setor de alimentação, no Brasil, o economista doméstico é
quem irá planejar os cardápios para os trabalhadores e cuidar das
condições de higiene em que são mantidos os alimentos e os refei-
tórios. Além disso, é ele quem orienta sobre a melhor maneira de
aproveitar os alimentos, reduzindo desperdícios e garantindo a qua-
lidade do que é consumido. Já nas indústrias, o papel do economista
doméstico é interpretar as necessidades do consumidor e contribuir
para o aperfeiçoamento de produtos. Para dar conta das tarefas, o
economista doméstico precisa ter formação multidisciplinar.
O economista doméstico pode controlar a qualidade dos produtos
antes e depois de seu lançamento; informa às famílias e comunidades
sobre alimentação, habitação, higiene e saúde; dá orientação na compra
de bens e na contratação de serviços, de acordo com o orçamento e as
necessidades da família; implanta e acompanha os processos de corte,
modelagem e lavagem de roupas, zelando pelo melhor aproveitamento
e pela conservação dos tecidos, podendo trabalhar em confecções, hos-
pitais e em grandes lavanderias; ajuda a desenvolver produtos alimen-
tícios, definindo métodos de manipulação, armazenamento e conserva,
conferindo critérios nutritivos e de higiene, a validade e o peso e cria
cardápios nutritivos e balanceados e de custo mínimo.
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Artigos
O profissional de economia
doméstica do século XXI
Segundo Laranjeira (1997), a dinâmica das atuais transforma-
ções que vêm ocorrendo no mundo do trabalho, face à inserção
do país na economia globalizada, baseada na inovação tecnológica,
competitividade, integração e enxugamento das unidades produti-
vas, tem destruído e polarizado os postos de trabalho, isto é, tem
acirrado o problema do desemprego, subemprego, emprego frag-
mentado e precário. Em função do modesto crescimento econômico
e da baixa elasticidade produto-emprego, as estruturas econômicas
brasileiras têm tido uma dificuldade crescente para sustentarem seus
níveis de ocupação, gerando-se uma nova forma de desigualdade:
“os empregados e os excluídos dos empregos”. Esse processo é re-
forçado pela política de estabilização recessiva e pela abertura co-
mercial mal preparada, que têm conduzido a uma reformulação sem
políticas industriais e sociais compensatórias, ou seja, à adoção de
um modelo antiprodução e antiemprego que favorece o capital es-
peculativo. Este modelo impõe uma realidade de exclusão no mun-
do do trabalho, além de exigir um novo perfil
do profissional: com qualificação, experiência e
know-how em todas as áreas de atuação, além de
ser empreendedor, perspicaz, criativo, crítico e
dinâmico (BERTELLI, 1998).
O profissional de economia doméstica,
neste limiar do século XXI, está enfrentando
os problemas decorrentes das transformações
do mundo do trabalho, que exigem, além da
qualificação, experiência, know-how, capacida-
de de relacionamento, conhecimentos gerais
e contextuais e competência em várias áreas
(multifuncionalidade).
Nesse sentido, como afirma Leite (1996), a
principal tarefa das escolas públicas para a en-
trada no mercado de trabalho, seria desenvolver
a “treinabilidade”, que pressupõe o desenvolvi-
mento de habilidade cognitiva e de atividade
científica voltadas para as relações interpessoais
e para a capacidade de comunicação, desenvol-
vimento da auto-disciplina e responsabilidade e
domínio da língua nativa. Esses componentes
de empregabilidade também exigem que o pro-
fissional de economia doméstica tenha uma de-
finição clara de qual é o seu campo de trabalho
e de como deve ser a sua prática profissional,
centrando seu foco de atuação no dia-a-dia das
famílias e no desenvolvimento de conhecimen-
tos e habilidades que possam dar suporte ao
funcionamento das mesmas.
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REFERÊNCIAS
Arquivo da Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão.
BERTELLI, L.G. Os profissionais do século XXI. Folha de São Paulo, Cad. Dinheiro,
p. 2.
BOURDIEU, P., 1930-2002. Os usos da ciência por uma sociologia clínica do campo
científico. São Paulo: Editora Unesp, 2004, p. 21.
CAMARGO, M. A. J. G. de. Coisas velhas: um percurso de investigação sobre cultura
escolar (1928-1958). São Paulo: Editora Unesp, 2000.
DICIONÁRIO DAS PROFISSÕES. Revista Atualizada e ampliada. Volume I. 3ª
Edição. São Paulo, 1981.
LARANJEIRAS, S. M. A realidade do trabalho no final doa século XX: novos
problemas, novas soluções. In: Encontro Anual da ANPOCS, 21. Caxambu/MG, 1997.
LEITE, M. P. A qualificação reestruturada e os desafios da formação profissional.
CBRAP; nº 4, p. 79-96, 1996.a
LOPES, E. M. T. e GALVÃO, A. M. de. História da Educação. Rio de Janeiro, 2001,
p. 26.
SAVIANI, D. O legado educacional do século XX no Brasil. Campinas/SP: Autores
Associados, 2004.
SCHWATZMAN, S; BOMENY, H. M. B; COSTA, V. M. R. Tempos de Capanema.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.
IX Semana Acadêmica de Economia Doméstica. I Encontro Mineiro de Economistas
Domésticos. IX Encontro da ANEED. “O profissional de economia doméstica rumo
ao novo milênio”. Universidade Federal de Viçosa, 1998.
XV Congresso Brasileiro de Economia Doméstica. III Encontro Latino-Americano de
Economia Doméstica. A reorganização do trabalho no século XXI. Recife, 1999.
Considerações finais
Entendemos que tudo que foi apresentado sobre a economia do-
méstica foi de grande valia e serviu para verificar que a economia
doméstica, no campo do conhecimento e profissional, não deveria
trabalhar apenas em função dos afazeres do lar, mas, sobretudo, seu
papel deveria ser desenvolvido dentro da comunidade não só fa-
miliar, mas como um todo. Durante a organização deste trabalho,
notamos, através dos dados coletados e conversas com pessoas en-
volvidas com a economia doméstica, que essas pessoas devem re-
ceber conhecimentos associados à teoria e à prática, precisam estar
envolvidas com a comunidade e o mercado de trabalho.
Assim, verificamos também que o profissional de economia do-
méstica era preparado “para prestar assistência técnica em órgãos
públicos e privados, orientando programas ligados à área de saúde,
vestuário e têxteis, alimentação e nutrição, arte e habitação e exten-
são”. Esse profissional deve ser preparado para atender à família, à
escola e à comunidade como um todo, a fim de que possa propor
alternativas para transformar a realidade comunitária. Será necessá-
rio preparar esse profissional para realizar todas as outras funções,
seja na área de extensão, prestação de serviços ou como profissional
autônomo. Essas tarefas iniciais desenvolverão nos profissionais de
economia doméstica hábitos, habilidades e atitudes, aspectos indis-
pensáveis para o desempenho da profissão.
Concluímos que apesar de a escola não formar mais profissionais
nessa área, os já existentes entenderam que essa profissão é muito
rica e que as pessoas envolvidas com essa área souberam ler nas
entrelinhas e descobrir o real valor do economista doméstico para a
comunidade e para a família.
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Resumos Estendidos, Relatos de Experiência e Práticas Pedagógicas
Basquetebol adaptado: uma forma de inclusão
para os portadores de deficiência mental
PAULINO, Paulo C.; RODRIGUES, José L.; CARDOSO, Luzia R.
Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Cornélio Procópio
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de
10% da população mundial apresenta algum tipo de deficiência. No
Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no
censo realizado no ano de 2000, estima que o Brasil possua 24,5
milhões de pessoas portadoras de necessidades especiais, ou seja,
14,5% da população, sendo que 2.848.684 pessoas são portadoras
de deficiência mental.
A deficiência mental, segundo a Associação Americana de
Deficiência Mental (AAMR), é o estado de redução notável do
funcionamento intelectual significativamente inferior à média, as-
sociado às limitações em pelo menos dois aspectos do funciona-
mento adaptativo: comunicação, cuidados pessoais, competências
domésticas, habilidades sociais, utilização dos recursos comunitá-
rios, autonomia, saúde e segurança, aptidões escolares, lazer e tra-
balho. A deficiência mental não tem cura, portanto o importante
é estimular as potencialidades do portador e sua autonomia nas
atividades da vida diária (AVD).
Fotos: Paulo Cesar Paulino
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
A partir da participação do curso de Especialização em Atividade
Motora Adaptada da Faculdade de Educação Física da Universidade
Estadual de Campinas, ministrado pelo professor José Luiz Rodrigues,
surgiu o interesse em aliar a experiência como técnico de basquetebol à
luta pela inclusão de pessoas com deficiência mental. A visita à Associa-
ção de Reabilitação Infantil Limeirense (ARIL), reconhecida pelo tra-
balho realizado nas áreas de inclusão esportiva e profissional forneceu
subsídios para propor e executar o presente projeto.
Após apresentação e discussão do projeto na UTFPR – Campus
Cornélio Procópio, o primeiro passo foi visitar a Escola de Educação
Especial Procopense e propor o trabalho de inclusão com os deficien-
tes mentais, por meio do Basquetebol Adaptado. Com o aceite da
instituição, o passo seguinte foi o estabelecimento de parcerias com
outros segmentos da Universidade, como a orientação educacional, a
assessoria de projetos sociais, os professores, os servidores e um grupo
de alunos do primeiro ano do Curso Técnico, além da comunidade
local e regional
1
como a Madeireira Morumbi e Arena Esportes.
O projeto foi implantado em setembro do corrente ano, acreditan-
do-se que com o Basquetebol Adaptado os alunos do projeto além da
inclusão social e esportiva seriam beneficiados com os ganhos fisioló-
gicos que a atividade física proporciona. Foram realizadas as seguintes
atividades: anamnese e condição física dos alunos junto aos profissio-
nais da EEEP e autorização dos responsáveis; avaliação física dos alu-
nos; exercícios físicos e técnicos buscando desenvolver as capacidades
físicas e os fundamentos básicos do basquetebol; jogos partindo do
individual para pequenos grupos e grandes grupos; prática da mo-
dalidade adaptada; apresentação de palestra pelos alunos do Ensino
Técnico em eventos internos, divulgando o projeto e sensibilizando a
comunidade para a questão da inclusão.
As principais mudanças nas regras básicas do basquetebol fo-
ram: altura do aro de 3,05 m de altura para 2,90 m; aumento do
diâmetro do aro de 45 cm para 65 cm; extinção da regra de tempo,
passando para jogo passivo; extinção do rebotes nos lances livres;
permitir a volta da bola após a ultrapassagem do meio da quadra;
permissão para drible com as duas mãos; e permissão para até dois
passos antes e após os dribles.
Os resultados parciais evidenciam uma notável evolução dos alunos
em pouco mais de um mês, inclusive nas suas próprias ações na escola
que freqüentam no período matutino. Segundo relato da Diretora e
do professor de Educação Física, os mesmos estão com a auto-estima
fortalecida e demonstram maior autonomia nas atividades da vida
diária. Os alunos do Ensino Técnico, envolvidos no projeto, além da
excelente formação profissional, estão aprendendo a conviver com a
diversidade e contribuindo para o processo de inclusão.
O projeto recebeu apoio das seguintes pessoas: Vanderley Flor da Rosa (Projeto Tecnep), Marilu
Martens Oliveira (revisão do texto), Marcelina Teruko Fujii Maschio (Assessoria de Projetos Sociais),
Joelson Maschio (Coordenador do Ensino Médio), Paulo Cézar Moselli (Gerente de Ensino), Eurico
Pedroso de Almeida Júnior (Diretor do Campus), José Gomes, Edison Tadeu Torres de Oliveira,
Vilma Aparecida de Oliveira D’ Andréa, Gaspar Milléo do Prado, Bruna Padilha, Luiz Renato
Gasola Margarido, Nathanna Querubim Amorielli e Rodrigo Servinhago.
1. A Associação Regional de
Basquetebol de Iracemápolis-SP
(www.arbasquete.com.br - presidente
Enyo Correia), a Liga Regional de
Basquetebol Centro Oeste Paulista-
SP (www.lbc.org.br - presidente
André Luiz de Almeida) e a Liga
Metropolitana de Basquetebol de
Londrina-PR (www.lmblondrina.
com.br - presidente Marival Antonio
Mazzio Junior) foram consultados
para a possibilidade de implantação
de uma categoria que atendesse às
pessoas portadoras de deficiência
mental e estão analisando o projeto.
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Resumos Estendidos, Relatos de Experiência e Práticas Pedagógicas
Comerciantes, motoristas, donas de casa, agentes de saúde e
outros formam a primeira turma do Proeja no Curso Técnico em
Agroindústria integrado ao ensino médio na modalidade de jovens
e adultos da Escola Agrotécnica Federal de Ceres, Goiás. A turma é
composta por 25 alunos que variam entre 19 e 50 anos, provenien-
tes de Ceres e outras cidades do Vale do São Patrício. Esse público
foi selecionado através de entrevista que procurou levantar a afini-
dade de cada candidato com a área e o real interesse pelo curso.
O projeto vem sendo gestado desde julho de 2005, com o ob-
jetivo de atender às reais necessidades de um público que retorna à
escola com anseios bem específicos. A equipe de professores e servi-
dores da instituição foi sensibilizada através de discussões e palestras
para que o programa fosse bem entendido e assimilado por todos.
Nesse sentido, foram considerados os aspectos legais, pedagógicos,
técnicos, sociais e políticos do Proeja.
A comissão responsável pela elaboração da proposta curricular
buscou, durante todo o tempo, a estruturação de um programa que
incorporasse as experiências trazidas pelos alunos e a interdiscipli-
naridade entre os conteúdos ministrados. Assim, foram levantados
princípios básicos que norteiam o currículo:
Proeja na EAFCeres: uma
experiência de construção coletiva
BOAVENTURA, Geísa A.R.
Escola Agrotécnica Federal de Ceres/GO
Fotos: Geísa Boaventura
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
Valorização dos saberes/potencialidades dos educandos.
Abordagem centrada nos elementos da vida cotidiana.
Estruturação de conhecimentos e alternativas de sobrevivência.
Desenvolvimento de atividades que promovam a autovalori-
zação do indivíduo.
Currículo desenvolvido a partir de eixos norteadores vincula-
dos à produção.
Conteúdos e metodologias contextualizadas.
Valorização da experiência de trabalho dos educandos na re-
lação trabalho-educação.
Sistematização do conhecimento coletivo.
Segundo Morin (2005), “o ser humano é a um só tempo físico,
biológico, psíquico, cultural, social, histórico. Esta unidade complexa da
natureza humana é totalmente desintegrada na educação por meio das
disciplinas, tendo-se tornado impossível aprender o que significa ser hu-
mano. É preciso restaurá-la, de modo que cada um, onde quer que se
encontre, tome conhecimento e consciência, ao mesmo tempo, de sua iden-
tidade complexa e de sua identidade comum a todos os outros humanos.
Desse modo, a condição humana deveria ser o objeto essencial de todo o en-
sino. É possível, portanto, reunir e organizar conhecimentos dispersos nas
ciências da natureza, nas ciências humanas, na literatura e na filosofia,
colocando em evidência o elo indissolúvel entre a unidade e a diversidade
de tudo que é humano”.
Nesse sentido, pensar um curso integrado é valorizar a dimensão
humana do indivíduo, concebendo um currículo em que as áreas de
conhecimento interajam mutuamente através dos saberes comuns,
de uma metodologia partilhada e de uma avaliação coletiva. A fi-
nalidade principal do currículo é a formação integral do educando
por meio de uma política pública que proporcione formação básica
sólida vinculada à educação profissional. Essa formação contribui
para a integração social do educando, o que compreende o mundo
do trabalho sem resumir-se a ele, permitindo também a continuida-
de dos estudos.
Pensando nessa formação integral e integrada, temos desenvolvi-
do um trabalho que permite ao aluno sentir-se valorizado enquanto
pessoa, na sua formação profissional e
no pleno exercício da cidadania e da res-
ponsabilidade social.
Minha vida foi cheia de lutas, mas
sempre encarei todas com muito otimismo.
Todos nós temos um tempo marcado para
buscar e assumir um papel na sociedade.
Estou descobrindo o meu tempo no curso
de Agroindústria. Esse curso é muito im-
portante em uma época em que a tecnolo-
gia não pára. - Ivonete Ferreira Novaes
(dona de casa, aluna)
Estou fazendo o Proeja, estou gostando
muito. A minha expectativa é grande em
relação ao curso, estou amando ter volta-
do à sala de aula depois de algum tempo.
Vou me esforçar ao máximo para sair daqui
1.
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
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Resumos Estendidos, Relatos de Experiência e Práticas Pedagógicas
com os meus objetivos realizados, pois
esse curso veio de encontro com aquilo
que esperava, uma oportunidade para
voltar a estudar e aprender algo que
acrescentasse na minha vida profissio-
nal. - Rosemira Dantas Pereira (au-
xiliar de serviços gerais, aluna)
Eu trabalho como agente de saú-
de no município de Uruana-GO há
nove anos. Já faz alguns anos que eu
não freqüento a escola. Estou motivado
para retornar aos estudos. Não poderia
deixar de aproveitar esta oportunida-
de, principalmente por estar em uma
escola-modelo, exemplo em nossa região,
no Vale do São Patrício. Nunca se viu
uma escola de tão grande competência,
professores, administrativos e toda a es-
cola. Sinto-me honrado em fazer parte dessa família, onde o progresso e
o sucesso estão muito bem representados. - Admilson Soares de Sousa
(agente de saúde, aluno)
A partir da história de vida de cada sujeito-aluno, desenvolve-
mos, ao longo do primeiro mês de aula, o projeto “Memória e Iden-
tidade”, dentro do eixo Identidade e Cultura. As atividades foram
organizadas em conjunto por toda equipe de professores, buscando
resgatar a história individual e coletiva, a partir do enfoque de cada
área de conhecimento.
O curso teve início no último dia 14 de agosto e terá dois anos e
meio de duração. São cinco semestres de 400 horas cada, totalizan-
do 2.000 horas, mais 270 horas de prática orientada (visitas técni-
cas, atividades de campo), além de 160 horas de estágio curricular.
Ao final do curso, os alunos receberão o diploma de técnicos em
agroindústria e, concomitantemente, a conclusão do ensino médio.
O egresso do curso de Agroindústria tem a possibilidade de atuação
profissional nas áreas de processamento de leite, frutas, hortaliças,
cereais e oleaginosas e carnes.
O material didático utilizado vem sendo construído pela própria
escola com o objetivo de conceber textos e atividades adequados ao
trabalho proposto, sempre contemplando os eixos que perpassam a
matriz curricular, a saber: Identidade e Cultura, Desenvolvimento
Regional, Processo Produtivo e Tecnologias, Gestão e Planejamen-
to, Segurança Alimentar e Qualidade de Vida.
Sabemos da necessidade de desenvolver conteúdos reconhecidos
como nucleares para a formação básica do ensino médio. No entan-
to, não podemos nem devemos reproduzir o que os livros didáticos
propõem, já que o trabalho é desenvolvido numa perspectiva inter-
disciplinar e verdadeiramente integrada.
Temos perseguido a meta principal do programa, que é a pro-
fissionalização com elevação de escolaridade. Para não perder
esse foco, a escola tem investido na capacitação de seus profissio-
nais através de especialização e cursos de formação. Além disso,
a equipe de professores do programa tem se reunido quinzenal-
mente para avaliar o andamento do curso e redirecionar as práti-
cas coletivas e individuais.
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
Projeto integrado de pesquisa e extensão
em saúde pública: Igarapé Mata-Fome
CRISTO, Solange C. A. de; PEREIRA, Maria de N. R.; SAMPAIO, Danielle L.; SENA, Ymira T. S.
Centro Federal de Educação Tecnológica do Pará
O grupo de pesquisa em Saúde Coletiva do Curso de Tecno-
logia em Saúde Pública do Cefet/PA, formado em abril de 2005,
vem desenvolvendo ações extensionistas junto à comunidade Bom
Jesus I, que habita as margens do Igarapé Mata-Fome, e está lo-
calizada na periferia de Belém. Essas ações estão formalizadas no
Protocolo de Integração das Instituições Formadoras, do qual fazem
parte: Universidade do Estado do Pará, Universidade Federal do
Pará, Centro de Ensino Superior do Pará, Universidade da Amazô-
nia, Universidade Federal Rural e Cefet/PA. No ano de 2005, houve
inúmeras reuniões a fim de elaborar um projeto de pesquisa e exten-
são voltado para uma área de difícil acesso, onde a população vive
em condições precárias de moradia, educação, saúde e saneamento
causadas pela ocupação desordenada da área e, principalmente, pelo
descaso público com relação aos serviços básicos não ofertados na
comunidade. Em contrapartida à atual e real situação dessa popu-
lação, o igarapé foi um recurso muito viável para a alimentação das
pessoas que residiam em suas margens, pois possuía peixes e árvores
frutíferas em grande fartura, o que acabava atraindo cada vez mais
pessoas para a região, ocasionando posteriormente a escassez de tais
Fotos: Solange Cristo
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
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Resumos Estendidos, Relatos de Experiência e Práticas Pedagógicas
recursos e agravando as condições ambientais da área, tendo por
conseqüência o fato de hoje o igarapé ter-se tornado impróprio para
a manutenção da qualidade de vida humana. A partir de março de
2006, através do projeto do curso de Saúde Pública, que prevê ativi-
dades de educação em saúde para esta comunidade, foi iniciada ação
na localidade voltada especialmente para as mulheres, visto que são
as que mais participam dentre a população local, e onde se desenvol-
veu cinco encontros com os seguintes temas: Lixo; A importância
do Preventivo do Câncer de Colo Uterino – PCCU; DST/AIDS e
Gravidez na adolescência. Após esse primeiro contato sólido com
a comunidade, observou-se que a população é carente de informa-
ções, assim como de espaços onde as suas necessidades possam ser
ouvidas e acolhidas, no sentido de possibilitar que a própria comu-
nidade busque alternativas de enfrentamento. No entanto, para que
os objetivos desse projeto sejam realizados com eficiência, está se
realizando a informatização e a sistematização dos dados já coleta-
dos sobre cada família, incluindo questões sobre saúde, ambiente,
renda e lazer, para que as próximas ações do projeto e dos serviços
de saúde na área sejam baseadas na realidade daquela população.
Mapa de localização do município de Belém/PA
LEGENDA
Mancha urbana
Limite municipal
Hidrografia
Área de estudo
Basecartográ ca - IBGE
1: 1.0000 C
Projeção UTM Datum SAD 69
Imagem Landsat 7 ETM+2002
Composição colorida
RGB - Bandas 345
Programa ILWIS 3.2
42 - VERSO - 11:59:10 05/04/2007 -
CONTATOS
Contatos
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CADERNOS TEMÁTICOS Nº 14 FEV. 2007
AL
Flauta Mágica de Mozart
celebra encontro de
vozes em Alagoas
Fátima Menezes
Roland dos Santos Gonçalves
Centro Federal de Educação
Tecnológica de Alagoas
Rua Barão de Atalaia, s/nº
Centro – Maceió/AL
CEP: 57020-510
Tel.: (82) 3336-2873
Home page: www.cefet-al.br
Estudantes formam
cidadãos em Maceió
Nara Salles
Escola de Formação de
Ator/Atriz da UFAL
Espaço Cultural da UFAL,
Praça Sinibu, 206, Maceió/AL
CEP: 57020-720
Tel.: (82) 3326-7337
BA
Estudo bioquímico-físico
dos efeitos das drogas
no corpo humano: uma
proposta interdisciplinar
Vagson Luiz de Carvalho Santos
Edna Maria de Oliveira Ferreira
Escola Agrotécnica Federal
de Senhor do Bonfim
Estrada de Igara, km 4
Zona Rural – Sr. do Bonfim/BA
CEP: 48970-000
Tel.: (74) 3541-3676/3382
Fax: (74) 3541-3676
GO
Equoterapia: método
terapêutico de reabilitação
André Luiz Melo
Proeja na EAFCeres:
uma experiência de
construção coletiva
Geísa d´Ávila R. Boaventura
Escola Agrotécnica
Federal de Ceres
Rodovia GO 154, km 3
Zona Rural – Ceres/GO
CEP: 76300-000
Tel.: (62) 3307-7100
Fax: (62) 3307-7111
Home page: www.eafce.gov.br
MT
Ensino, pesquisa e extensão:
uma relação possível
a favor da moradia
Nádia Cuiabano Kunze
Wilson Conciani
Centro Federal de Educação
Tecnológica do Mato Grosso
Rua Professora Zulmira
Canavarros, 95 – Centro
Cuiabá/MT – CEP: 78005-390
Tel.: (65) 3264-5635/3314/3500
Fax: (65) 3322-6539
E-mail:
PA
Projeto integrado de pesquisa
e extensão em saúde pública:
Igarapé Mata-Fome
Solange Conceição A. de Cristo
scacristo@yahoo.com.br
Maria de Nazaré R. Pereira
nazarodrigues@yahoo.com.br
Ymira Thainara Sousa Sena
ymirat@yahoo.com.br
Danielle Leal Sampaio
danielle_lealsampaio@yahoo.
com.br
Centro Federal de Educação
Tecnológica do Pará
Av. Almirante Barroso, 1155
Marco, Belém/PA
CEP: 66093-020
Tel.: (91) 3201-1798/1796
Fax: (91) 3226-9710
Home page: www.cefetpa.br
PB
O consumo de cigarro entre os
estudantes do ensino técnico
Maria Josély de F. Gomes
Centro Federal de Educação
Tecnológica da Paraíba
Av. 1º de Maio, 720
Jaguaribe – João Pessoa/PB
CEP: 58015-430
Tel.: (83) 3208-1000 / 3255-0220
Fax: (83) 3241-1434
Home page: www.cefetpb.br
Estudo sobre agricultura
de subsistência da comunidade
de Caiana dos Crioulos
Maria Betânea dos Santos Souza
betaneasantos@yahoo.com.br
Marize Souza Cavalcante
Escola Técnica de Saúde
Centro de Ciências da Saúde
Cidade Universitária
Campus I - Castelo Branco
João Pessoa/PB
CEP: 58051-900
Tel.: (83) 3216-7400
Fax: (83) 3216-7189
PE
Educação Ambiental: práticas
pedagógicas integradoras
Edilene Rocha Guimarães
Marcos Moraes Valença
Centro Federal de Educação
Tecnológica de Pernambuco
Av. Prof. Luiz Freire, 500
Curado, Recife/PE
CEP: 50740-540
Tel.: (81) 2125-1600/1604
Fax: (81) 3271-2338
Home page: www.cefetpe.br
PI
O papel da agricultura
urbana como instrumento de
desenvolvimento social
Ildeane Machado T. de Sousa
Marcos Antonio de Castro
Marques Teixeira
Centro Federal de Educação
Tecnológica do Piauí
Praça da Liberdade, 1597
Centro, Teresina/PI
CEP: 64000-040
Tel.: (86) 3215-5224
Fax: (86) 3215-5206
Home page: www.cefetpi.br
PR
Basquetebol adaptado: uma
forma de inclusão para os
portadores de deficiência mental
Paulo Cesar Paulino
paulino@utfpr.edu.br;
gadir@utfpr.edu.br
José Luiz Rodrigues
Luzia Cardoso Rodrigues
luziacardoso@utfpr.edu.br
Universidade Tecnológica
Federal do Paraná
Campus Cornélio Procópio
Av. Alberto Carazzai, 1640
Cornélio Procópio/PR
CEP: 86300-000
Tel.: (43) 3520-4000
Fax: (43) 3520-4010
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RR
Escola Indígena de Tabalascada:
desafios educacionais e culturais
de um povo
Hilda Maria Freire Montysuma
Maristela Bortolon de Matos
Roseli Bernardo S. Santos
Centro Federal de Educação
Tecnológica de Roraima
Av. Glaycon de Paiva, 2500
Pricumã, Boa Vista/RR
CEP: 69309-210
Tel.: (95) 3626-4929
Fax: (95) 3626-5140/5540
RS
Voluntariado a serviço
da comunidade
Elizabethe Pitt Giacomazzi
Centro Federal de Educação
Tecnológica de Bento Gonçalves
Av. Osvaldo Aranha, 540
Bairro Juventude
Bento Gonçalves/RS
CEP: 95700-000
Tel.: (54) 3455-3231/3200
Home page: www.cefetbg.gov.br
SE
Os segredos da economia
doméstica: origem,
evolução e perspectivas
Ana Carla Menezes de Oliveira
Escola Agrotécnica Federal
de São Cristovão
Rod. BR 101, km 96 - Povoado
Quissamã - São Cristovão/SE
CEP: 49100-000
Tel.: (79) 3214-5099/1074
Fax: (79) 3214-6210
Home page: www.eafsc.gov.br
EM FOCO
Em Foco
Crianças participam de ocina de teatro em Maceió
ETV Universidade Federal de Alagoas
Rodrigo Farhat
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