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ISSN 1809-4694
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EXPEDIENTE
Expediente
Conselho editorial
Ivone Maria Elias Moreyra, Patrícia Barcelos,
Solange Moreira Corrêa, Sonia Ana C. Leszczynski
Coordenação editorial
Cinara Barbosa
Produção Executiva
Cinara Barbosa e Sandra Branchine
Reportagens e Fotografias
Rodrigo Farhat
Revisão
Lunde Braghini
Impressão e Projeto Gráfico
Gráfica e Editora Qualidade
Impresso no Brasil
A exatidão das informações, os conceitos e opiniões emitidos
nos artigos científicos e nos resumos estendidos são de
exclusiva responsabilidade dos autores
2006 Ministério da Educação
É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde
que citada a fonte
Série Cadernos Temáticos
Tiragem: 5.000 exemplares
Ministério da Educação
Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica
Esplanada dos Ministérios, Edifício Sede, bloco L, 4º andar
70047-900 – Brasília/DF
Tel: (61) 2104-8127/9526
Fax: (61) 2104-9744
www.mec.gov.br
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Centro de Informação e Biblioteca em Educação (CIBEC)
Cadernos temáticos / Secretaria de Educação Pro ssional e Tecnológica. –
N. 9, (fev. 2006). – Brasília : Secretaria de Educação Pro ssional
e Tecnológica, 2004-.
1. Educação Pro ssional. 2. Práticas Educativas. 3. Prática Pedagógica.
4. Experiências Pedagógicas.
CDU 377
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Cinara Barbosa
SUMÁRIO
Sumário
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7
Editorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
Reportagens
Da sala de aula para o mundo virtual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .10
Línguas diferentes para pessoas diferentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14
Estudantes aprendem a usar o computador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19
Cefet/ MG incentiva atividades transdisciplinares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21
Artigos
Como Contextualizar os
Conceitos Abstratos de Biologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Marlise Alves Vieira de Araújo
Times Virtuais Colaborativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
Antonio J.C. Pithon, Marina R. Brochado e Marcelo C. Pereira
Ferramenta de Auxílio ao Aprendizado de
Phrasal Verbs para Estudantes da Língua Inglesa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Jorge Antônio Monteiro Corrêa de Oliveira e Robson Ytallo Silva de Oliveira
O Legado Deixado por Mario Ghizi . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Luiz Cláudio G. Gomes
Banda de Música, Espaço Transdisciplinar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Ronaldo Ferreira de Lima
O Lúdico e o Movimento Como Atividade Educativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
Leopoldo Gil Dulcio Vaz
A Leitura do Corpo como um
Instrumento Metodológico na Educação Profissional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
Mônica Braga Marçal
Relatos de Experiência e Práticas Pedagógicas
Design, Interdisciplinaridade e Contextualização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
Áurea Luiza Quixabeira Rosa e Silva Rapôso e João Luiz do Nascimento Maia
A Cultura Oral e o Projeto Ciência Viva, Viva a Ciência . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Carla Maria Abido Valentini
Mário Quintana por Ele Mesmo:
uma Leitura Facilitada e uma Homenagem ao seu Centenário . . . . . . . . . . . . . . 62
Elisa C. de Miranda
Introdução ao Estudo da História da África e
Cultura Afro-brasileira, na Perspectiva da Lei 10.639/2003. . . . . . . . . . . . . . . . 65
Éder Coutinho e Neila G. Silva
City Tour em Língua Espanhola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
Jane da Silva Amorim
Práticas de Educação Musical
Oficinas de Extensão para a Comunidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
Ana Maria de Castro Souza
Contatos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .70
Foco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .72
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
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Arquivo
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
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APRESENTAÇÃO
Apresentação
Professor,
A equipe da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do MEC
produziu mais cinco volumes dos Cadernos Temáticos sobre a educação
profissional. Neste número sobre linguagem e criatividade, a equipe de co-
municação da Setec foi buscar em Belém, no Pará, em Boa Vista, em Rorai-
ma, e em Manaus, no Amazonas, para produzir matérias sobre os aspectos
do trabalho realizado pelas escolas da rede federal de educação técnica e
tecnológica.
Para mencionar alguns artigos deste volume, destaco os relacionados à
leitura do corpo como instrumento metodológico, de Mônica Braga Marçal,
do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) do Ceará, e ao lúdico
e o movimento como atividade educativa, do professor Leopoldo Gil Dul-
cio Vaz, do Cefet Maranhão. Também cito as práticas de educação musical
propostas por Ana Maria de Castro Souza e Adriana Clairefont Melo Cou-
ceiro, da Escola de Música da Universidade Federal do Pará, e a banda de
música como espaço transdisciplinar, relato de Ronaldo Ferreira de Lima,
professor da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Relacionados ao aprendizado de línguas estrangeiras, constam dois
artigos neste volume: ferramenta de auxílio ao aprendizado de phrasal ver-
bs, de Jorge Antônio Monteiro Corrêa de Oliveira e Robson Ytallo Silva de
Oliveira, do Cefet Paraíba, e laboratório vivencial em espanhol, de Jane da
Silva Amorim, professora do Cefet de Roraima.
Em 2007, ano em que publicaremos os volumes de números 11 a 15
dos Cadernos Temáticos, a rede federal de educação técnica e tecnológica
terá crescido 29%. O Brasil terá, então, em vez das atuais 144 escolas, 186
instituições formadoras, diferentes experiências poderão ser publicadas pela
Setec para mostrar a diversidade da realidade brasileira.
A expansão da rede – ao lado do Proeja, que integra os ensinos médio e
técnico para jovens e adultos, e da Escola de Fábrica, que capacita trabalha-
dores dentro das empresas – ampliará o número de vagas para formação de
profissionais, fortalecerá municípios, estados e, principalmente, vocações
regionais do país. Afinal, educação e trabalho são condições essenciais na
formação das cidadanias participativas.
Boa leitura.
Eliezer Pacheco
Secretário de Educação Profissional e Tecnológica do MEC
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Arquivo
EDITORIAL
Editorial
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
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A Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica
do MEC tem o prazer de trazer ao público brasileiro
mais cinco volumes dos Cadernos Temáticos, no mesmo
momento em que a Casa Civil da Presidência da Repú-
blica encaminha ao Congresso Nacional projeto de lei
para a criação de escolas de formação profissional. Nes-
sas publicações, reportagens, práticas pedagógicas e re-
latos de experiências mostram o fortalecimento da rede
federal de educação técnica e tecnológica.
As novas instituições que estão sendo criadas pelo
Governo Federal estão incluídas na primeira etapa do
plano de expansão da rede federal de educação profis-
sional e tecnológica. A estratégia prevê, nos próximos
dois anos, a criação de 33 unidades descentralizadas dos
Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets), de
cinco escolas técnicas e de quatro agrotécnicas. O inves-
timento do Governo Federal para implementação dessas
instituições será de R$ 57 milhões.
As escolas técnicas federais serão criadas nos estados
do Acre, Amapá, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do
Sul e Rondônia. As agrotécnicas serão instaladas em Bra-
sília (DF), Marabá (PA), Nova Andradina (MS) e São
Raimundo das Mangabeiras (MA) e as 33 unidades de
ensino descentralizadas serão instaladas em 17 estados.
A escolha das localidades seguiu três critérios: unida-
des federadas sem instituição federal de educação pro-
fissional; regiões interioranas do território nacional; e
periferias dos grandes centros urbanos.
A rede federal de educação tecnológica, que hoje tem
144 unidades de ensino, possuirá ao final de 2007 cer-
ca de 186 unidades, com um crescimento de 29%. Em
2009, quando todos os novos cursos estiverem em fun-
cionamento, estima-se que seja superada a marca de 300
mil matrículas nos cursos técnicos, superiores e de edu-
cação de jovens e adultos, exatamente no ano em que a
rede completará um século. Em termos percentuais, o
total de matrículas deverá ser ampliado em mais de 30%
em relação aos números de 2006.
Parte da produção atual das escolas da rede está aqui, nas
páginas desses cinco volumes dos Cadernos Temáticos.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
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– Aí, :) Pq Vc naum vai hj lá na eskl? Qd vc vai?
– Oie, hj soh vo lá mais tarde e vc?
– Jah avisei p Felipe q n qro fik a tarde td lá! :( Vc vai ficah?
– Naum, soh vo ficah teh cinco h!
– Vlew, B-jinhux
– Bjuuuus
Rafael, Bruna e Felipe são brasileiros e falam português,
apesar de não parecer. No diálogo acima, travado por meio
de um programa de troca instantânea de mensagens, eles
disseram mais ou menos isso:
Rafael – Por que você não irá à escola hoje?
Felipe – Só irei lá mais tarde. E você?
Rafael – Já avisei ao Felipe que não quero ficar toda a tarde lá. E
você?
Bruna – Só ficarei até às cinco horas!
Rafael – Beijinhos.
Bruna – Beijos.
Ao perceber a fascinação dos jovens por novas tecnologias
e formas de comunicação, a professora do Centro Federal de
Educação Tecnológica do Rio de Janeiro (Cefet Rio) Regi-
na Viegas, de 38 anos, teve a idéia de usar essas novas lin-
guagens para trocar informações e aumentar o interesse dos
estudantes por sua disciplina.
Da sala de aula
para o mundo virtual
Internet auxilia alunos do Cefet/Rio a aprender Geografia
Linguagens
Linguagens
Alunos no pátio do Cefet/RJ
Fotos: Cinara Barbosa
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006-
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Ela relembra que tudo começou durante as aulas de
Geografia Urbana em agosto de 2004. Os estudantes do
terceiro ano do ensino médio estavam discutindo globali-
zação e lhe pediram indicações de páginas na Internet para
compreender melhor o tema. Eles decidiram fazer uma
pesquisa para coletar páginas e links na rede e acabaram
descobrindo uma nova maneira de aprender.
A maioria dos alunos do curso utiliza a Internet em casa
ou no próprio Cefet, que mantém um quiosque multimí-
dia, no pátio da escola. Lá, eles podem checar mensagens de
correio eletrônico, navegar na rede, imprimir documentos e
utilizar outros recursos de informática.
A utilização de páginas e portais na Internet, como o
Orkut, os blogs e os flogs, aplicada à melhoria do ensino da
Geografia, ajudou os estudantes no aprendizado da matéria
e no exercício da sociabilidade”, diz a professora Regina.
A primeira página da rede utilizada pelos estudantes foi
o flog de seus alunos, o CBolados, utilizado para a postagem
de fotos. Logo as situações vividas pelos alunos no Cefet
Rio foram parar na rede. Foi o que aconteceu quando vi-
sitaram o Centro de Pesquisa da Eletrobrás (Cepel). As
fotos feitas por um dos estudantes imediatamente foram
colocadas no ar. Depois, alguém teceu um comentário sobre
a imagem, outro respondeu e, assim, desapressadamente, as
experiências do dia-a-dia passaram a ser perpetuadas.
O segundo passo foi a criação de um blog pela professora
Regina Viegas. No espaço, ela passou a postar endereços de pá-
ginas, textos e a comentar assuntos discutidos em sala de aula
durante a semana. Os alunos podem checar o conteúdo no blog,
perguntar e até fazer comentários. “Normalmente, vou disse-
minando o assunto aos poucos, para instigá-los e para que eles
possam ir descobrindo e fazendo suas próprias pesquisas. O
blog acabou se tornando uma extensão da sala de aula e depois
foi transformado em um grupo de discussão do Yahoo”, diz.
Felipe Pedrosa Romão e Pablo Alves Dutra, estudan-
tes do curso de Informática do Cefet Rio, são alguns dos
“donos” do Cbolados. Têm 17 anos e ainda vivem com
os pais. Fascinados pela Internet, postam mensagens e fo-
tos todos os dias no flog. Logicamente, também têm uma
conta no Orkut e outra no MSN. Felipe diz ter mais de
200 amigos no Orkut, enquanto Pablo admite estar ligado
a 50. No portal de relacionamentos, participam de várias
comunidades. Felipe diz ser membro dos grupos do Cefet
Rio, do Vascão RJ e da Limp Bizkit, uma banda de música.
Criou uma comunidade, certa vez, de uma garota da turma
– “a Marcela, muito maneira”. As comunidades do Pablo
são relacionadas à informática e aos jogos Age of Empires
e Doom. Ele também está na comunidade do Senhor dos
Anéis. Precavido, tem dois perfis no site, “um oficial e ou-
Os documentos na Internet têm referên-
cias internas para outros documentos,
geralmente destacados graficamente,
chamados de hiperlinks ou links.
Essas referências indicam os atalhos no
hipertexto. Dessa forma, os arquivos com
as informações ou ilustrações podem ser
lidos de forma não seqüencial. Acionados
por um clique do mouse, os links abrem
novos documentos de texto ou imagem.
Fotoblog é uma variação do we-
blog. Enquanto este é um diário de
anotações, o outro tem apenas fotos
e legendas. Como nos webblogs, nos
fotologs, as pessoas também podem
interagir, fazendo comentários sobre as
imagens enviadas.
Existem diversos endereços que
oferecem serviços de flogs na internet.
Há desde os gratuitos até os pagos, em
todas as línguas. Conheça alguns:
http://fotopages.com/
http://my-expressions.com/
http://www.fotologbr.com.br/
http://www.splinder.com/
Blog é a abreviação de weblog. São,
geralmente, diários pessoais, mas
podem, contudo, tratar de qualquer
tema. Uma de suas vantagens é per-
mitir que os usuários publiquem seus
textos livremente, sem a necessidade
de saber como utilizar a linguagem
de construção de páginas na internet.
A enciclopédia virtual Wikipedia
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Weblog)
diz, inclusive, que os blogs educativos
são grande atrativo como ferramenta
educacional usada para o registro de
idéias de professores e alunos.
Saiba o endereço de alguns:
http://blog.nominimo.com.br/
http://blogsearch.google.com/
http://www.belaembsb.blogspot.com
http://www.blogcatalog.com/
http://www.flogao.com.br/cbolados
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Tá ligado?
Além dos blogs e dos flogs, os alunos do terceiro ano do
ensino médio da disciplina de Geografia do Cefet do Rio
utilizam ainda como forma de linguagem e comunicação o
Yahoo Grupos, o Orkut e o MSN.
O Yahoo Grupos também é destinado à discussão de temas
relacionados à Geografia, mas nada impede que alguém envie
um comentário ou outro sobre a última partida de futebol,
um livro lido recentemente ou um filme que tenha assistido e
gostado, ou não. Já o MSN é o local exato para comentários
livres como esses e também os de caráter pessoal. Regina conta
que alguns alunos já tinham cadastro e outros passaram a ter
e combinaram de se adicionar no MSN. Dessa forma, podem
até marcar encontros, como o que ocorreu após o vestibular
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), em
outubro de 2005. “Marcamos com antecedência de nos co-
nectarmos após a prova pra comentá-la”, contou Regina. Ela
explica que quando está on-line, muitas vezes tira as dúvidas
dos estudantes e que sempre procura dirigir a conversa para
questões relacionadas à sua disciplina.
Orkut – O Orkut é um portal de relacionamento que
permite a busca de perfis pessoais, promove o reencontro
de velhos amigos e a criação de comunidades de interes-
ses. Os alunos passaram a freqüentar dois grupos desse
ambiente, o do Cefet Rio e o da Geografia. “Obviamente,
a grande maioria deles já conhecia o portal. É um espa-
ço democrático e produz muitas histórias divertidas e até
mesmo constrangedoras”, comentou Regina. Ela conta que
postaram na comunidade do Cefet do Rio no Orkut, certa
vez, uma mensagem que dizia “odeio o professor fulano de
tal”. O fato acabou originando muitas opiniões. “Foi uma
situação delicada, que pode ocorrer com qualquer um”, re-
velou Regina. Como quem posta uma mensagem no Orkut
é quem pode retirá-la, ela contou que preferiu comentar a
atitude em sala de aula com os alunos, chamando a atenção
para o fato de que se todos tinham o direito de expressar
uma opinião também deveriam ter cuidado em como fazê-lo.
Noutra vez, postaram comentários sobre “a menina da
mochila de rodinha”, acerca de uma colega de 15 anos que
andava com uma bolsa dessas cor-de-rosa pela escola. Dis-
tro alternativo”. Como gosta de Role Playing Games (RPG),
as comunidades criadas por ele estão relacionadas ao jogo.
Com todas essas conexões reais e virtuais, os dois sempre
conhecem muitas pessoas pela rede.
Felipe tem sua visão peculiar sobre o Brasil: “Acho que temos
como melhorar”. Ele não revela como se pode fazer o país crescer,
mas sonha com mais empregos para os jovens. Para Pablo, o futu-
ro do Brasil passa pela melhoria da distribuição de renda no país.
RPG é um jogo de faz-de-conta.
O Jogo de Interpretação de Papéis
permite que o participante assuma um
papel e conte histórias sobre a vida
de um personagem. Sua proposta é
mais contar uma história que vencer.
Os temas são variados e podem tratar
de vampiros e lobisomens a feitos
heróicos.
Viegas diz que a WEB ajuda no
aprendizado e na sociabilidade
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seram que aquilo era ridículo e até que ela era retardada. A
garota soube dos comentários e não gostou. Seus colegas
– até os que a achavam sua postura ridícula –, no entanto,
partiram em sua defesa: “Ela pode fazer o que quiser e tem
o direito de ser como desejar”. A confusão foi dissipada
com jogo de cintura de todos os envolvidos.
Viagem sem volta
O uso de novas tecnologias é um caminho sem volta,
garante a professora Regina Viegas: “Já que os jovens vão
utilizá-las de uma maneira ou de outra, deve-se usá-las de
maneira civilizada e democrática”.
Ela conta que percebeu o aumento da motivação com a
matéria que leciona e também da sociabilidade entre seus
alunos, depois que passou a incentivar o uso da rede entre
os estudantes. Tudo isso acaba contando pontos para o su-
cesso dos futuros profissionais, que aperfeiçoam na rede sua
comunicação, a instantaneidade, a rapidez de raciocínio, sem
contar os novos relacionamentos que são formados.
A professora Regina acredita na eficácia de uma pedago-
gia transdisciplinar, que agregue áreas como geografia, his-
tória, português e literatura. Como a navegação na Web já é
multidisciplinar, basta ao professor otimizar o processo.
Novilíngua – Como no romance 1984, de George Orwell,
no ambiente da Internet, há um novo idioma sendo usado.
Não tem o autoritarismo da Novilíngua, mas as palavras são
abreviadas e outras até crescem de tamanho para se aproximar
mais do som da fala, quase como onomatopéias. Para a profes-
sora Regina Viegas, essa nova linguagem é, de certa forma, a
marca do grupo e só os que pertencem à tribo, a entendem.
O mais famoso dos livros de George Orwell foi escrito em
1949 para mostrar como o mundo caminhava para o oposto
dos sonhos de fraternidade e solidariedade dos socialistas.
No romance, o mundo está dividido em três estados: Eurá-
sia, Lestásia e Oceania, que vivem em guerra permanente.
No mundo imaginário de Orwell, teletelas (a Internet?
As organizações empresariais por detrás de portais como o
Orkut e o MSN?) permitem que o Grande Irmão vigie to-
dos os cidadãos e mantenha um sistema político marcado
pela opressão e pela construção de um idioma totalitário, a
Novilíngua, que, acabada, impediria a expressão de qualquer
opinião contrária ao Partido.
Não foi somente George Orwell que temeu o futuro do
homem frente à máquina. Aldous Huxley escreveu sobre uma
sociedade de pessoas despersonalizadas, em Admirável Mundo
Novo, em 1932, e Fritz Lang mostrou a alienação do homem-
máquina no filme Metrópolis, de 1926. Mais recentemente,
em 1999, Larry e Andy Wachowski abordaram as inquietações
do homem diante da informática, no filme Matrix.
Segundo enciclopédia livre Wikipédia,
a World Wide Web, Web ou WWW, é
uma rede de computadores na Internet
que fornece informação em forma de
hipertexto. Para acessar uma informa-
ção, o usuário utiliza um navegador que
descarrega os documentos e as páginas
dos servidores de Internet e os mostra
na tela do computador. O usuário então
segue os links da página, em busca de
outros documentos, ou envia informa-
ções de volta ao servidor.
Colaborou: Cinara Barbosa
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
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Cefet/SC é pioneiro na educação de surdos na rede federal
Línguas diferentes
para pessoas diferentes
André, Karine e Marcelo são surdos. Antes de descobrirem
a unidade de São José do Centro Federal de Educação Tecno-
lógica de Santa Catarina (Cefet/SC), na qual cursam o ensino
médio bilíngüe, vivenciaram muitas dificuldades em salas de au-
las para ouvintes: André desenhava para passar o tempo; Karine
descobriu um professor que a ajudava a fazer os exercícios; e
Marcelo tentava, em vão, se comunicar com os colegas.
A unidade de São José, criada em 1988, é a única escola da
rede federal de educação profissional tecnológica a manter um
setor para atendimento ao estudante surdo. O coordenador
do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação de Surdos
(Nepes) do Cefet/SC, Vilmar Silva, estima em 80% o percen-
tual de surdos fora da escola em Santa Catarina. Ele explica
que o surdo que assume sua identidade é o que está nas ruas.
O surdo só é visto pelos ouvintes quando manifesta sua lín-
gua, que é vísuo-espacial”, diz. Os surdos que não assumem
sua identidade, que têm famílias que os vêem e tratam como
deficientes, ficam escondidos dentro das casas.
Linguagem Surda
Linguagem Surda
No Brasil, há 5.750.809 pessoas com
problemas relacionados a surdez, das
quais 519.460 têm até 17 anos de
idade e 276.884 estão entre os 18 e os
24 anos, segundo o Censo Demográfico
de 2000 do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
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Na escola catarinense, as matérias são ensinadas por
professores surdos, por professores ouvintes, com o au-
xílio de um intérprete, ou por professores ouvintes que
dominam a Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Paulo César Machado é professor ouvinte de Biologia na
unidade de São José. Formado pela Universidade Federal de
Santa Catarina (Ufsc), tomou contato com a cultura surda
em 1990, no próprio Cefet. “Quando tive o primeiro aluno
surdo, fiquei desesperado”, relembra. Depois, outros alunos
surdos entraram na escola e os professores da instituição fo-
ram atrás de alternativas para a educação desses estudantes.
Paulo, hoje, mais seguro, ensina Biologia para estudantes ou-
vintes e também para surdos, com o auxílio de um intérprete.
Ele está se aperfeiçoando na questão e sua dissertação de mes-
trado, em Psicopedagodia, na Universidade do Sul de Santa
Catarina (Unisul), tratou da aprendizagem do aluno surdo.
Sua tese de doutorado, que prepara na Ufsc, será sobre a ques-
tão da imagem e da apropriação do conceito pelo aluno surdo
dentro da Biologia. “Meu maior desafio é me aproximar da
construção dos conceitos pelos surdos”, revela.
Deonísio Schmitt também é professor da unidade de São
José. Ensina Libras, Ciências e Refrigeração e Ar-Condicionado.
Surdo, enfrentou vários problemas na escola. “A sociedade na
qual eu vivia era de ouvintes. Achava o mundo ouvinte estranho.
Quando descobri o mundo dos surdos, achei tudo diferente.
Era pequeno ainda e tinha entre 4 e 5 anos”, conta.
O maior problema enfrentado pelos surdos é que a socie-
dade os obrigava à oralização. Por isso, os surdos não se de-
senvolviam. Na cultura surda, Deonísio encontrou sua iden-
tidade. “Com os surdos, fui aprendendo. No início, usava a
Libras escondido. Não sabia o que se passava em sala de aula
e minha mãe ficava em cima, forçando-me a estudar. O pro-
fessor ouvinte falava, falava, falava e eu lá, no canto, surdo.
Comecei a fazer leitura labial. Então, o professor se virava
para escrever algo no quadro-negro...”, rememora.
Deonísio estudou como ouvinte até a oitava série. Em 1995,
inscreveu-se para o curso de Telecomunicações no Cefet/SC e
chutou todas as questões da prova. Não foi selecionado para o
curso escolhido, mas conseguiu, como segunda opção, ingressar
na turma de Refrigeração e Ar-Condicionado. Em sua época,
o Nepes já existia e lá fez cursos paralelos, como de Informá-
tica, por exemplo. No Nepes, tinha, ainda, apoio pedagógico.
Como Paulo César, também continuou os estudos e hoje cursa
o programa de mestrado da Ufsc. Sua dissertação será sobre a
história dos surdos em Santa Catarina.
Kelly Machado Pinho da Rosa é intérprete. Aprendeu Li-
bras quando tinha 9 anos com uma amiga surda. Naquela
época, nem imaginava que essa competência lingüística, mais
tarde, lhe garantiria um lugar no mundo do trabalho. De-
A Libras é a língua natural dos surdos,
reconhecida pelo governo brasileiro como
meio legal de comunicação e expressão.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
16
Histórias surdas
pois, como testemunha de Jeová, conheceu outros surdos
no Salão do Reino. Foi se aperfeiçoando. Fez cursos de in-
térprete e hoje é pedagoga pela Universidade do Estado de
Santa Catarina (Udesc). Envolveu-se tanto com o mundo
surdo que até seu primeiro beijo foi surdo.
Kelly, que trabalha no Cefet desde outubro de 2004,
diz que tem que ser expressiva para interpretar: “tenho que
transmitir os sentimentos dos surdos. Os movimentos têm
que ser bruscos e intensos, quando o professor está bravo e
sério, ou mais leves e tranqüilos, quando o sentimento do
professor é mais sereno”, conta. Ela diz que escuta a bagunça
dos estudantes. “Para mim, cada surdo tem voz”, confirma.
O coordenador do Nepes, Vilmar Silva, lembra que não
se deve definir o surdo a partir daquilo que ele não tem e sim
pelo que ele possui: a Língua Brasileira de Sinais (Libras), a
cultura e a identidade surdas. Formado em Matemática, com
mestrado em Educação pela Ufsc, Vilmar está preparando
sua tese de doutorado sobre educação de surdos.
Ele viveu desde criança com surdos. Tem cinco na família,
três irmãos e duas cunhadas. Aprendeu a Libras há oito anos.
Conhece com propriedade o mundo surdo. Ele explica que a
cultura é construída pela partilha e pela interação e que o ser
humano, para se desenvolver, tem que interagir. Como a troca do
surdo com o ouvinte é fragmentada, não tem qualidade para o
seu desenvolvimento, o surdo tem que buscar outros pares - sur-
dos e intérpretes -, para se socializar e trocar conhecimentos.
Ele fala que o surdo vive uma dupla exclusão, pela lógica
da lingüística e pela do capital. Como eles não falam a língua
dominante são, por isso, excluídos do mercado. “A sociedade os
enxerga como deficientes”, diz. Os surdos sempre defenderam
escolas para surdos e salas de surdos em escolas de ouvintes. Ele
reclama da falta de políticas públicas para os estudantes surdos:
“quando se pensa em inclusão, imagina-se igualdade para todos,
de forma homogeneizante. Imagine um cego em uma sala de aula
de Libras!, provoca. O Ministério da Educação tem que pensar a
inclusão desses grupos sociais com eles e não para eles”.
Adversidades - Andre Boff Taborda, Karine Inês Ferreira
Cardoso e Marcelo Brustolin concordam com as palavras de
Vilmar. Os três viveram muitas dificuldades no mundo dos
ouvintes, tentando interagir com eles.
Karine estudou com ouvintes até a sétima série. Era di-
fícil se desenvolver. “Sofri muito com isso. Não sabia o que
eram aquelas frases escritas no quadro-negro. As pessoas
sempre falavam em inclusão, mas eu me sentia sozinha. Não
entendia nada. Eu ia para o Instituto de Audição Terapia da
Linguagem (Iatel) e um professor ouvinte fazia os exercícios
para mim. Nas provas, eu sempre estava em grupo. Por isso,
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
17
História do Nepes começa em 1991
nunca fui reprovada. Os professores ouvintes eram rígidos
com meus colegas ouvintes, mas comigo faziam corpo mole.
Não aprendi nada naquela época. Um surdo não pode viver
nesse meio. Quando estudava numa escola particular, não sabia
a língua de sinais e era muito oralizada. Então, descobri os sur-
dos e comecei a conversar com eles. Percebi que tinha valor”.
Marcelo estudou com ouvintes até 2001. “Não tinha co-
municação. Eram todos oralizados. Muitos alunos me aju-
davam, mas era tudo cruzado. Era difícil. Fui reprovado na
sexta série. Eu era péssimo em Português. Em Ciências, era
pior ainda. Matemática, para mim, era mais fácil. Hoje, me
encontrei, pois o professor oraliza e o interprete traduz”.
André entrou no Cefet/SC em 2001. Quando estudava
com ouvintes, era o único surdo. Sentava-se na última fileira
e ficava olhando para o vazio. Sinalizava para o professor
que queria ir para frente da sala. “Ele ficava ali, oralizando.
Enquanto isso, eu desenhava. Ia conversar com os ouvintes
e não conseguia entendê-los. Ficava muito magoado”. Desde
que entrou para o curso do Cefet/SC, André se desenvolveu
bastante. Hoje, inclusive, sonha com uma profissão: quer
trabalhar com informática e também com fotografia.
A história de lutas dos surdos no Cefet/SC é antiga. De
1991 a 1994, o curso técnico de Refrigeração e Ar-Condi-
cionado unia os conhecimentos teóricos e práticos em nível
técnico e médio. A grade curricular era composta por disci-
plinas de formação geral e profissionalizantes. Entretanto,
conta o coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em
Educação de Surdos (Nepes), Vilmar Silva, a concepção de
ensino era oralista: “para permanecer no curso técnico, os
estudantes surdos deveriam desenvolver a fala”, rememora.
De 1995 a 1998, o Cefet/SC ofereceu o curso pré-técni-
co especial, destinado, exclusivamente, a alunos surdos que
estivessem no ensino fundamental nas redes públicas esta-
dual e municipal. Durava quatro anos e pretendia, ainda, de-
senvolver a fala nos alunos surdos. A partir de 1996, o curso
foi ampliado e passou a oferecer qualificação profissional
nas áreas da indústria, serviços e artesanato. Com mais de
60 surdos na unidade de São José, os educadores do Nepes
começaram a repensar sua concepção sobre a educação de
surdos. Como explica Vilmar, os surdos mostraram, “com
sua práxis, que sua educação deveria sair dos moldes clínicos
para se aproximar de visão sócio-antropológica da surdez”.
De 1999 a 2000, o Nepes abriu o curso de Instalações
Elétricas Prediais e Desenho Técnico, para adolescentes e
adultos surdos sem o ensino fundamental. Os programas
dos cursos articulavam teoria, prática e também Libras. Nes-
sa época, o Nepes passou a ofertar cursos de Libras para pro-
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
18
fessores, pais e surdos, instrutores, monitores e intérpretes,
em parceria com os movimentos sociais surdos da Grande
Florianópolis e com a Federação Nacional de Educação e
Integração de Surdos (Feneis).
Nos dois anos seguintes, os profissionais do Nepes ela-
boraram uma proposta de ensino fundamental para jovens e
adultos surdos, em convênio com a Central Única dos Tra-
balhadores (CUT) e abriram um curso de educação de jo-
vens e adultos bilíngüe, com profissionalização em desenho
técnico, de nível fundamental.
A partir de 2003, o Nepes passou a oferecer turmas de
ensino médio bilíngüe, educação de jovens e adultos bilín-
gües, atividades de pesquisa - tradução, escrita de sinais e
material didático para surdos - e também atividades de ex-
tensão na Universidade do Vale do Itajaí, Universidade do
Estado de Santa Catarina (Udesc), Universidade Federal de
Santa Catarina (Ufsc), Prefeitura de São José e Fundação de
Ciência e Tecnologia do Estado de Santa Catarina.
MEC promove exame de capacidade em libras
O Ministério da Educação abrirá em julho de 2006 ins-
crições para o primeiro exame nacional de proficiência em
língua brasileira de sinais (Libras) para surdos e ouvintes.
O exame será aplicado em agosto, em todas as capitais. O
exame é fundamental para o cumprimento do Decreto nº
5.626, de 22 de dezembro de 2005, que regulamenta a Lei
nº 10.436, de 24 de abril de 2002. O documento prevê a
Libras como disciplina curricular obrigatória nos cursos de
formação de professores para o exercício de magistério, em
nível médio e superior. Todos os cursos de licenciatura e de
pedagogia estão obrigados a oferecer a disciplina. A medida
é extensiva aos de fonoaudiologia. O decreto dá prazo de dez
anos para as instituições de ensino superior se adequarem à
exigência.
Com o exame de proficiência, os professores têm o certi-
ficado de que estão aptos a ministrar a disciplina.
www.sj.cefetsc.edu.br/~nepes
www.feneis.org.brt
Saiba mais
Cinara Barbosa
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
19
Alunos carentes da zona rural estão aprendendo informática
no Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do
Norte (Cefet/RN). O curso está sendo realizado no Vale do
Açu, fruto do esforço de professores da instituição para elevar
o índice de inclusão digital dos brasileiros. Com a experiência,
os professores do Cefet mostram ser possível ajudar famílias
de agricultores e, ao mesmo tempo, ressaltar a importância de
essas comunidades estarem em contato com a tecnologia.
O trabalho já formou mais de cem estudantes de quarta a
oitava séries do ensino fundamental no espaço criado para dar
formação inicial e continuada a famílias de agricultores.
Renata Bezerra tem 14 anos e é estudante da oitava série
na Escola Estadual Posto Agropecuário, na cidade de Ipangua-
çu. A iniciação no aprendizado de informática garantiu-lhe a
primeira oportunidade para fazer um estágio num projeto de
produção de mel, uma parceria do Cefet e a Petrobras. O pai de
Renata está desempregado e a bolsa de R$ 80 que ganha auxilia
Alunos da zona rural aprendem informática no Cefet/RN
Estudantes aprendem
a usar o computador
Computação
Computação
A microrregião do Vale do Açu fica no
Oeste do estado do Rio Grande do Norte.
É constituída pelos municípios de Açu,
Alto do Rodrigues, Carnaubais, Ipangua-
çu, Itajá, Jucurutu, Pendências, Porto do
Mangue e São Rafael.
A desigualdade tecnológica, a falta
de acesso à informação e a pouca
infra-estrutura disponível para o
desenvolvimento solidário de conheci-
mento são fatores que colaboram para a
marginalidade de parcelas da sociedade
brasileira.
Divulgação MEC
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
20
as despesas da família. Ela diz que “não tinha a mínima idéia da
importância do computador. Agora, como bolsista do projeto
do mel, posso ajudar minha mãe e meu pai a comprarem man-
timentos para a casa”.
O aluno Vladimir de Souza, de 11 anos, está na sexta série.
Para ele, o curso representou a primeira oportunidade de conta-
to com a máquina. O garoto ficou estimulado a aprender mais
sobre informática. “Eu nunca tinha tido contato, mas sempre
via as pessoas mexendo. Foi importante para mim, porque eu
desejava crescer. Não aprendi muito, mas o necessário”, diz.
A diretora da escola, Vera Lúcia Rodrigues, afirma que o
curso é um começo para a qualificação dos futuros profissio-
nais da região. “Estamos com grande expectativa. As crianças
não tinham nem perspectiva de ver um computador, pegar um
mouse, digitar o teclado. Sem qualificação, o profissional fica
muito discriminado, todo mundo é peão”, diz.
Abrangência – O Vale do Açu reúne 15 municípios. O coor-
denador do Centro Tecnológico e Comunitário, Paulo Leiros,
destaca que a capacitação profissional é essencial para manter
as pessoas nas regiões de origem. “Muitas vezes, eles saem à
procura de emprego, quando não existe demanda na região e
o objetivo do projeto é conseguir fixar esses jovens em suas
cidades de origem”, revela.
De acordo com a diretora de Políticas e Articulação Insti-
tucional de Educação Profissional do MEC, Ivone Maria Elis
Moreyra, o ensino tecnológico deve estar integrado com as
necessidades comunitárias e o objetivo primeiro dessas insti-
tuições é contribuir para que o desenvolvimento local se dê na
perspectiva da qualificação profissional. “Esse é o papel dessas
instituições”, destaca.
Além de informática, cursos de educação sanitária, ambien-
tal, comunitária e cooperativismo já foram oferecidos à co-
munidade. O centro tecnológico foi criado há dois anos e já
qualificou mais de 260 pessoas. Cursos de zootecnia e horti-
frutigranjeiros também devem ser oferecidos no futuro.
Alunos
aprendem
sobre energias
renováveis
Outro projeto do Cefet/RN,
iniciado em março de 2006,
envolve 20 estudantes
carentes da escola, que
estão sendo capacitados em
energias renováveis. São
jovens na faixa dos 17 a 21
anos de idade, que cursam
o ensino médio ou já se
formaram.
O curso, que terá duração
de sete meses e carga
horária de 590 horas, é
resultado de uma parceria
entre o Cefet/RN e o
Instituto de Desenvol-
vimento Sustentável e
Energias Renováveis
(Ider), uma organização
não governamental.
O Cefet cede a sala de aula
e os laboratórios; e o Ider,
além de ser responsável
pela oferta do curso, fornece
material didático, uniforme
e alimentação para os
alunos. Além disso, eles
recebem uma ajuda de
custo de R$ 120.
Do programa, constam
diferentes disciplinas,
como eletricidade básica;
empreendedorismo; energia
eólica e biomassa; energias
renováveis; enegia solar
fotovotaica e térmica; meio
ambiente e desenvolvimento
sustentável; e planejamento
urbano.
Colaboraram: Sandra Fontella e Ana Júlia Silva de Souza
André Vilaron
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
21
No Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas
Gerais (Cefet/MG), os professores e estudantes estão
mexendo com os paradigmas da educação, e misturando
literatura e teatro, jornalismo e sexualidade, poesia e tec-
nologia. Em 2006, várias publicações foram lançadas e
espetáculos foram montados, como resultado de ativida-
des transversais.
A professora de Língua Portuguesa e Literatura Brasi-
leira, Maria Imaculada Angélica Nascimento, por exem-
plo, trabalhou a questão do barroco com a encenação do
livro Boca do Inferno, de Ana Miranda, e as professoras
Eliza Maria Farias, Márcia Cristina Feres, Maria das Gra-
ças Martins de Araújo e Maria Salete Guimarães Morei-
ra levaram a discussão sobre a sexualidade para fora da
sala de aula. Em outra vertente, o estudante Daniel Bilac
Pianchão do Carmo editou, com seus colegas de Cefet,
um jornal cultural que já está em sua terceira edição; e o
professor Rogério Barbosa da Silva estuda a relação entre
poesia e tecnologia.
A sala de aula vira palco
Cefet/MG incentiva atividades transdisciplinares
Cultura
Cultura
Sem encontrar explicações racionais
para o mundo e com o fortalecimento da
igreja católica, o século XVII retomou a
religiosidade do período medieval e o an-
tropocentrismo do século XVI, levando o
pensamento humano a oscilar entre dois
pólos: Deus x homem; espírito x matéria;
céu x terra, explica Imaculada.
Esses conflitos se manifestam por meio
do barroco, inicialmente na Itália, no
final do século XVI. Suas características
aparecem, a princípio, com mais nitidez
nas artes plásticas e, principalmente, na
arquitetura, pelo dinamismo das estrutu-
ras, excessiva ornamentação, predomínio
de formas curvas, dramaticidade das
cenas e contrastes de luz e sombra.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
22
A professora Maria Imaculada Angélica Nascimento ex-
plica que o projeto Boca do Inferno começou em junho de
2005, quando ensinava literatura para as turmas do primei-
ro ano do ensino médio e cursos técnicos. Eles estudavam
o barroco e ela pediu aos alunos que encenassem alguns
trechos do livro. Antes disso, tinham lido dois sermões
do padre Antônio Vieira e alguns poemas de Gregório de
Matos. Viram, dessa maneira, como as características do
barroco funcionavam na escrita. “Os estudantes gostaram
da novidade”, relembra.
Com a encenação, ela esperava apenas que eles assimi-
lassem melhor as idéias do movimento, mas o resultado foi
surpreendente e motivou uma apresentação no auditório
do Cefet/MG para toda a comunidade.
Marcela Pereira Costa, de 17 anos, estudante do ensi-
no médio integrado ao curso de Química, aprovou a idéia.
Durante a leitura do livro de Ana Miranda, “pudemos en-
tender as contradições do barroco”, conta. “O pessoal da
turma preferiu os clichês, mas trabalhamos o conflito entre
o claro e o escuro, o carnal e o espiritual do barroco com
um jogo de luzes”, diz. Eles fizeram um jogo de oposição
entre as faces religiosas e carnais de Gregório de Matos.
Cada ator representava uma face do religioso. “O público
conseguiu perceber isso, claramente”, lembra. Foi tudo fei-
to às pressas, a apresentação foi pensada e preparada com
um dia de antecedência. “Por isso, tivemos que ser muito
criativos”, revela Marcela. Numa das cenas, ela era a face
religiosa de Gregório e sua colega Bárbara Gonçalves Men-
des, a parte homem. Então, as luzes das lanternas ilumi-
navam ora o rosto de uma ora o de outra, intercaladas por
expressões como “Puta que pariu” e “Ave Maria cheia de
graça’. O jogo de luz deu a dramaticidade necessária e, ain-
da, serviu para mostrar as contradições do poeta baiano.
As encenações ficaram tão interessantes – outros es-
tudantes trabalharam com metateatro e encenaram uma
peça dentro da outra – que a professora Imaculada pensou:
“Isso não pode restrito à sala de aula”. Então, pediu a oito
dos grupos que preparassem um espetáculo para toda a
escola, apresentado, no dia 27 de março, no auditório do
Cefet/MG. Participaram estudantes de Edificações, Quí-
mica e Turismo. “A proposta ultrapassou minha idéia ini-
cial. Achei que fosse resultar em um trabalho de sala de
aula, com pouca pesquisa histórica, mas eles chegaram a
alugar figurinos e montaram cenários criativos”, diz.
Da experiência ficou a certeza de que a encenação com-
pleta o ensinamento. “Eles estão construindo o saber. Têm
a teoria no papel, mas constroem o saber dentro do corpo”,
ensina a professora Imaculada.
Gregório de Matos e Guerra nasceu na
Bahia, em 1636, e morreu em Recife
60 anos depois. Maior poeta barroco
brasileiro, ao lado do padre Antônio
Vieira, escreveu poemas líricos, satíri-
cos, eróticos e religiosos.
Viveu uma vida boêmia. Criticou tudo e
todos, da igreja ao governo, dos ricos e
poderosos aos pobres. Ganhou o apelido
de Boca do Inferno por sua língua ferina
e debochada. Por trás de seus poemas
satíricos, estão retratados os vícios
sociais, morais e políticos da sociedade
colonial do Brasil seiscentista.
Acabou expulso do país por sua irreve-
rência. “Ele foi a encarnação do espírito
contraditório e das tensões do barroco”,
diz Imaculada.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
23
Conheça a poesia do Boca do Inferno
Neste mundo é mais rico o que mais rapa:
quem mais limpo se faz, tem mais carepa;
Com sua língua, ao nobre o vil decepa.
O velhaco maior sempre tem capa.
Mostra o patife da nobreza o mapa:
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.
A flor baixa se inculca por tulipa;
Bengala hoje na mão, ontem garlopa:
Mais isento se mostra o que mais chupa.
Para a tropa do trapo vazo a tripa,
E mais não digo, porque a Musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.
(Gregório de Mattos. Poemas escolhidos. Ed. de José Miguel Wisnik.
São Paulo: Cultrix, 1975. p.40)
Contemplando nas cousas do mundo desde o seu
retiro, lhe atira com o seu apage, como quem a nado
escapou da tormenta
Olha a parada
Daniel Bilac Pianchão do Carmo, de 19 anos, estudou
informática no Cefet/MG. Não chegou a concluir o curso,
mas deixou sua marca na escola. Hoje na Escola de Artes
Visuais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
ele foi chamado, em 2004, pelos colegas do grêmio estudan-
til para montar um jornal por seu interesse pelo desenho.
Cheguei e vi que o grêmio não tinha uma estrutura para
suportar a produção de um jornal. As pessoas não tinham tem-
po e tampouco condições. As prioridades eram outras”, reme-
mora. Para sair do impasse, chamou alguns colegas do Cefet e
lançaram o primeiro número de A Parada, com uma tiragem de
mil exemplares. O folhetim tinha oito páginas, diagramadas
em formato tablóide e impressas em preto e branco.
A escolha do título da publicação foi inusitada. “Não tí-
nhamos um nome para o jornal. Contei pro pessoal minha
idéia de produzi-lo de forma independente e o único mem-
bro do grêmio que tinha pensado algo a respeito do assunto
disse textualmente: ‘o pessoal vai trazendo as paradas e a
gente junta as paradas naquela outra parada ali (e apontou
para uma gaveta). Quando tivermos muitas paradas, a gente
junta tudo e publica a parada’”. No primeiro número, um
pouco de tudo foi editado, de música a política, de anotações
de xadrez a medicina alternativa. O Cefet bancou a impres-
são e o jornal foi lançado no dia 27 de outubro de 2004.
Chegada a hora da segunda edição, eles começaram a jun-
tar as paradas, o material. “Dessa vez, fizemos um projeto”,
diz Bilac. Com 12 páginas e tiragem de 3 mil exemplares,
o segundo número foi lançado nos dias 1º, 2 e 3 de junho
de 2005. A novidade foi a coletânea de textos de ficção em
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
24
torno da mariposa azul e outras histórias e algumas páginas
impressas em cores. A diagramação foi mais ousada, com
mais brancos. As ilustrações jogavam mais com os textos e o
jornal deixou de ter um caráter de variedades, de almanaque,
para ser um periódico dirigido à literatura e às artes visuais.
No terceiro número, a diagramação mudou completa-
mente. O jornal lembra mais um livro. Tem poucas páginas
divididas em colunas. O tema, em contrapartida, gira em
torno do cotidiano urbano, da crítica social e da prosti-
tuição. O título da edição é Fuligem. A tiragem de 5 mil
exemplares foi lançada nos dias 22, 23 e 24 de março de
2006, no Cefet. O jornal, dessa vez, atingiu um público
maior e foi distribuído em outros pontos da cidade, como
centros culturais, cafés e livrarias. O Cefet/MG deu todo
o apoio, desde o começo da publicação, por intermédio da
Seção de Atividades Culturais (SAC).
Deu no terceiro número de A Parada
Quem veio antes: o ovo ou a galinha?”
“É claro que foi o ovo, basta olhar a marmita de
cada brasileiro: primeiro não tem nada, depois um ovo frito
e, no fim de uma carreira promissora, um pedaço de frango
(ou de galinha, como queiram).
Mas para dar um ar mais mítico e filosófico à questão:
no início existia o Vazio e a Fome. Da união deles surgiu
Necessidade. A Necessidade gerou o Trabalho e este, após
algum tempo, fez surgir o Ovo. O Ovo criou Força e esta
gerou mais Trabalho. Então o Trabalho, que cresceu,
conseguiu finalmente, e com um resignado e humilde sorriso
no rosto, gerar o frango (ou a Galinha, dá na mesma).
Depois... depois já é tarde, e a vida e a história acabam sem
tempo pra um final feliz.”
David Francisco Lopes Gomes
Sobre afeto, sexo e saúde
O adolescente pergunta. Este é o título do livro que resul-
tou de uma série de discussões sobre sexualidade realizadas,
em 2001, entre estudantes e professores do Cefet/MG. Pu-
blicado em 2005 pela editora da instituição, a obra aborda a
aids, as doenças sexualmente transmissíveis e a sexualidade.
Abarca, ainda, temas como drogas, iniciação sexual, erotis-
mo, orgasmo e prazer, masturbação, gravidez e contracepção,
homossexualidade e aborto.
Lançada no dia 8 de março de 2006, a publicação resul-
tou da parceria entre o Programa Eros e os alunos. Tudo
começou com a leitura do livro Depois daquela viagem, de
Valéria Piassa Polizzi, e de apresentações e discussões ocor-
ridas em aulas de português. O evento de encerramento dos
debates, chamado de Afetividade, sexualidade e saúde, foi
marcado por debates, sessões de cinema comentado, oficinas
e apresentações culturais.
“Pelo fato de o trabalho ter sido direcionado por pergun-
tas formuladas, em sua maioria, por adolescentes, a partir da
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
25
leitura de um livro que conta a trajetória de uma jovem com
aids, vítima de violência, a abordagem de aspectos negativos
ligados à sexualidade é predominante. Reafirmamos, porém,
que a sexualidade e as relações afetivas fazem parte do que há
de mais saudável, prazeroso, positivo e vital ao ser humano,
repercutindo em todos os demais aspectos, atividades e eta-
pas da existência”, dizem as autoras.
Programa Eros – O Programa Eros foi criado em 1996
no Cefet/MG. Coordenado pela Seção de Assistência ao Es-
tudante (SAE), sua equipe é formada por assistentes sociais,
por uma psicóloga e uma bióloga, que atuam em diferentes
setores da instituição. Sua proposta é contribuir com a for-
mação humana integral do estudante.
A idéia é criar espaços de problematização e diálogo sobre
a sexualidade humana; prevenir problemas relacionados à se-
xualidade, como disfunções sexuais, DST/aids, gravidez não
planejada, aborto, assédio sexual; abordar os preconceitos no
campo da cultura e da sexualidade; e capacitar os professores
para lidar com as manifestações da sexualidade na sala de aula.
Professor rima poesia com tecnologia
O professor Rogério Barbosa da Silva é um poeta con-
temporâneo, daqueles que trabalham com diferentes mí-
dias. Além de um dos editores da revista Ato, publicação
do Cefet/MG que revela autores inéditos e publica outros
já conhecidos, ele ainda pesquisa os signos da invenção na
poesia, tema de sua tese de doutorado.
Ele orienta, ainda, alunos de iniciação científica dos en-
sinos superior, médio e técnico do Cefet, que têm bolsas
do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq).
Uma parte desse trabalho é desenvolvimento natural
de sua tese de doutorado em literatura comparada e outra
está relacionada aos trabalhos desenvolvidos no Laborató-
rio de Pesquisas em Leitura e Cognição, coordenado pelos
professores Heitor Garcia Carvalho e Inês Gariglio. Nesse
laboratório, eles reúnem pesquisadores da instituição e es-
tudam as relações entre linguagem, tecnologia e ensino.
Um de seus orientandos, Danilo Marçal Peixoto, do
curso de Engenharia, pesquisa as imagens tecno-poéticas,
os textos e hipertextos em suportes eletrônicos. A idéia do
projeto é fazer um levantamento das propostas de criação
poética em ambientes eletrônicos, como o computador e
o vídeo, assim como o estudo dos textos tecno-poéticos
resultantes, para refletir sobre as relações estabelecidas
nesses meios entre o plano estético e o domínio técnico-
científico. A outra aluna, Izaura Lemos Cardoso, do curso
técnico de Mecânica, pesquisa as relações entre imagem e
tecnologia da poesia em computador.
O segundo número da revista foi lançado
nos dias 14 e 25 de março, em Belo
Horizonte, com apoio do Cefet/MG, da
Lei Estadual de Incentivo à Cultura,
dos Supermercados Rex e da livraria
Scriptum.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
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ARTIGOS
Artigos
Artigos
Cinara Barbosa
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
27
Como Contextualizar os
Conceitos Abstratos de Biologia
ARAÚJO, Marlise A.V.
Colégio Pedro II U.E. HUMAITÁ II
Palavras-Chave: Experiência Didática, Aprendizagem de Ciências, Didática da Biologia.
RESUMO
Foi desenvolvida uma nova metodologia utilizando imagens animadas e sof-
twares com simuladores simples para estimular a compreensão de conceitos
abstratos em Biologia. O objetivo foi verificar a eficácia dessa metodologia
para a aquisição de conceitos abstratos em ciências da natureza, tal como a
produção de energia celular e a sua relação com aspectos cotidianos, como a
saúde humana. Os dados obtidos das avaliações revelaram que, em comparação
com o grupo controle, os alunos submetidos à proposta do novo método de
aprendizagem alcançaram níveis mais elevados de proficiência. Verificou-se
também a inadequação da logística escolar para adotar este tipo de prática
pedagógica.
Introdução
Por que estudamos Biologia? Por que ensinamos Biologia? O que
esperamos, ao final do ensino médio, quanto ao saber adquirido da
Biologia? Qual a importância desse saber para o cidadão?
Na vida cotidiana, de modo geral, as pessoas utilizam alguns com-
portamentos básicos aprendidos ou não na escola, tais como cuidados
com a higiene, com a alimentação e com o saneamento básico. Nesse
nível de atuação é desnecessária a compreensão dos conceitos abstra-
tos tais como teoria da evolução, biologia celular e molecular, entre
outros que, hoje, são o cerne da Biologia. No entanto, quando se trata
de compreender a importância da preservação ambiental frente ao risco
de extinção de espécies, ou mesmo de compreender as conseqüências
metabólicas do usos de determinadas substâncias químicas, tais como
pílulas anticoncepcionais, anabolizantes ou outras drogas, torna-se ne-
cessário o uso de conceitos e saberes de diversas áreas do conhecimento,
bem como a competência para contextualizá-los de forma integrada.
Numa pequena enquete realizada com alunos do ensino médio
de uma escola pública observou-se que aproximadamente 70% dos
mesmos achavam a Biologia uma matéria importante, mas menos da
metade a classificou como interessante, com exceção dos conteúdos
sobre o corpo humano e sobre o meio ambiente. Menos de 30% disse-
ram compreender por que precisavam estudar citologia, e quase 80%
afirmaram que não se lembrariam de quase nada após o vestibular.
Avaliações prospectivas revelaram que existe uma correlação signi-
ficativa entre a aquisição do saber escolar e o contexto no qual se dá a
construção da maturidade cognitiva. Projetos escolares contextualiza-
dos, organizados em se respeitando os interesses dos alunos, têm sido
apontados como eficazes para gerar o saber efetivo, útil para futuras
intervenções. No entanto, é freqüente que as avaliações desses proje-
tos escolares sejam restritas às necessárias para dar notas aos alunos.
Os objetivos, em geral, são medidos frente à aquisições imediatas de
competências e conhecimentos. Por isso faltam dados para avaliar o
Marlise A.V. Araújo é profes-
sora de Biologia do Colégio
Pedro II, Humaitá II, doutora
em microbiologia ambiental
pela UFRJ. Desenvolveu
trabalhos de análise de risco
ambiental com bactérias
geneticamente modificadas
e integrou uma equipe de
desenvolvimento de vacinas
recombinantes na Fiocruz.
É preciso utilizar
diferentes ferramentas
e estratégias peda-
gógicas integradoras
para possibilitar ao
aluno a compreensão
de conceitos abstratos,
seus signifi cados e sua
aplicação nas práticas
cotidianas.
Divulgação Pedro II
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
28
impacto destas práticas pedagógicas na aquisição do saber que modi-
fica a atuação do indivíduo como cidadão autônomo.
Bachelard (1938) mostrou a inadequação da apresentação dos
conceitos científicos dentro de uma concepção tão orgânica e fechada
em si mesma que não permita criticar o senso comum. Ainda hoje é
possível verificar a dificuldade dos alunos em transportar seus conhe-
cimentos escolares sobre ciências naturais para suas atitudes cotidia-
nas. Os exames vestibulares e o Enem registram o grande número de
alunos que têm dificuldade para compreender os conceitos abstratos
apresentados nas disciplinas que tratam das ciências da natureza. A
nossa análise, mencionada acima, ratificou esses dados, mostrando
que o percentual maior é dos alunos que apresentavam dificuldade em
integrar conceitos abstratos como os de produção de energia celular.
Em face desse resultado, analisamos o contexto escolar no qual se
realiza atualmente o aprendizado de Biologia.
Os cursos de Biologia habitualmente utilizam uma metodologia
que aborda os conteúdos em seqüências lineares, do simples para o
complexo, com contextualizações fragmentadas, repletos de informa-
ções desvinculadas da realidade do aluno. Para buscar uma proposta
pedagógica alternativa, organizamos uma experiência didática para
avaliar a uma nova metodologia de aquisição de conceitos abstratos e
complexos (como o da energia celular). A teoria celular de produção
de energia biológica foi contextualizada, utilizando como referência
o interesse do aluno pela estética do próprio corpo. A metodologia
foi baseada no aprendizado a partir de problemas (DEWEY, 1963;
BARBIER et al, 1996) e em ensaios realizados com simulações digi-
tais simplificadas e imagens animadas.
Os objetivos principais da experiência pedagógica foram:
1. melhorar as estratégias didáticas para ensinar conceitos abstra-
tos em biologia;
2. verificar o impacto do uso de softwares educativos com simula-
ções simplificadas para estimular a aprendizagem dos conceitos bási-
cos em ciências da saúde;
3. estudar o uso de material digital como suporte para desenvol-
ver a capacidade de trabalhar com formas múltiplas de representação
da linguagem.
Metologia e Análise dos Dados
O tema escolhido foi: “Como desenvolver um corpo ideal”. A par-
tir desse tema foram propostos vários problemas para serem desen-
volvidos pelos diferentes grupos:
1. Como a concepção de beleza evoluiu ao longo do último século?
2. Qual a constituição física ideal para praticar diferentes tipos de
esporte?
3. Qual é a relação entre a dieta alimentar e a morfofisiologia das
fibras musculares?
4. Como os fatores genéticos podem influenciar a capacidade do atleta?
5. Como as células musculares obtém sua energia a partir da
alimentação?
Exame Nacional do Ensino
Médio realizado pelo MEC.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
29
Os alunos foram organizados em dois grupos: grupo-teste e gru-
po-controle. Cada grupo foi organizado em subgrupos que sortearam
entre si os temas de trabalho. Cada grupo trabalhou sobre as diferen-
tes situações-problema, buscando relacionar o funcionamento meta-
bólico ao desempenho muscular ou à qualidade estética do corpo. O
grupo-controle utilizou somente os recursos bibliográficos habituais
e as informações obtidas em aulas expositivas. O grupo teste utili-
zou também sites específicos da Internet e um software com simula-
ções simplificadas sobre respiração celular e metabolismo energético
(Eduardo Galembeck; Bayardo B. Torres).
Foi realizada uma avaliação inicial para levantar um possível co-
nhecimento prévio dos conceitos em estudo. A avaliação final utilizou
apresentações orais, textos preparados pelos sub-grupos e um tes-
te individual com questões-problema contextualizadas em situações
similares, mas nunca idênticas às estudadas. Os resultados obtidos
(figura 1) revelaram que 48% do grupo exposto à nova metodologia
didática obteve 8 sobre 10 na média das avaliações, contra apenas
16% dos alunos do grupo controle.
1- Descrever as estruturas e o funcionamento do sistema muscular.
2- Explicar o papel dos nutrientes na construção das estruturas e na produçãode
energia.
3- Explicar o mecanismo de produção de energia celular.
4- Capacidade de utilizar a linguagem gráfica par representar os fenômenos bio-
lógicos.
5- Capacidade de interpretar as imagens do simulador digital.
6- Capacidade de compreender a lógica dos sistemas de busca na internet.
7- Percentual de alunos que alcançaram 80% de acertos em todos os testes.
FIGURA 1. resultados obtidos an-
tes da aplicação da metodologia
FIGURA 2. resultados obtidos após
a aplicação da metodologia
Considerações Finais
Os resultados obtidos demonstraram que houve um aumento sig-
nificativo da aprendizagem e da aquisição das competências desejadas.
A avaliação feita pelos alunos que participaram da experiência revelou
dois fatores como sendo fundamentais para o sucesso alcançado: (1)
o prazer de resolver problemas utilizando procedimentos dinâmicos;
(2) a facilidade de compreender o funcionamento de sistemas quan-
do se tem acesso a imagens animadas com esquemas visuais de alta
qualidade, analisadas com a orientação dos professores. As opiniões
dos alunos levantadas nas enquetes realizadas (dados não mostrados)
revelaram que a grande maioria deles se sente motivada em estudar os
conteúdos escolares quando esses são trabalhados de maneira contex-
tualizada, enfocando seus interesses cotidianos, em procedimentos
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
30
Referências
BACHELARD,G. La formation de l’esprit scientifique. Paris: Librairie Philosophique J.Vrin, 1938.
BARBIER J.M. Savoir theoriques et savoir d’action. Paris: Presses Universitaire de France, 1996.
DEWEY, J. Experience and education. New York: Collier Books, USA, 1963.
GALEMBECK, Eduardo; TORRES, Bayardo B. Bioquímica, Softwares educacionais, 2000 Em: www.unicamp.br/ib/bioquimica/ensino.
dinâmicos como os abordados nessa metodologia. Esses dados nos
levam a sugerir que os programas de Biologia privilegiem os conceitos
relacionados às questões mais importantes para a formação do cida-
dão, tais como saúde, meio ambiente e biotecnologia, com enfoques
nos problemas relevantes para a população (principalmente os que
são veiculados pela mídia). Outra observação relevante é a forma de
abordagem dos temas. A contextualização na vida real do educando
não deve prescindir de trabalhar com o conhecimento estruturado e
referenciado à história, seja da técnica ou da ciência.
A dinâmica de trabalho empregada durante este projeto revelou a
inadequação da estrutura escolar. Aulas organizadas em jornadas de 50
ou 90 minutos, distribuídas em horários separados e estanques, com
disciplinas que abordam assuntos desconectados entre si, dificultam
a realização de trabalhos multidisciplinares e a integração dos conhe-
cimentos abordados ao longo do curso escolar. É preciso considerar
que ter tempo para imersão nas informações e para esgotar discussões
pertinentes é fundamental para que surjam as concepções alternati-
vas dos alunos. Da mesma forma, o tempo para promover embates
metodológicos é imprescindível para a transformação das concepções
intuitivas e o desenvolvimento do raciocínio lógico-dedutivo.
Times Virtuais Colaborativos
PITHON, Antonio J.C.; BROCHADO, Marina R.; PEREIRA, Marcelo C.
Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro
Palavras-chave: Times virtuais, Computer Supported Cooperative Work (CSCW).
RESUMO
O trabalho virtual modifica profundamente os hábitos arraigados do trabalho em
equipe. As equipes virtuais transmitem e recebem informações entre locais distan-
tes por meio do uso intensivo da Tecnologia de Informação. As pessoas vivenciam
a experiência de não estarem fisicamente juntas no local de trabalho, enquanto
as tarefas são realizadas. Essa nova forma de trabalhar ultrapassa os conceitos do
espaço e do tempo. Nesse contexto, as inovações na área de comunicação e a in-
formática geram novos comportamentos e novos estilos organizacionais resultante
dos novos meios de disseminação do conhecimento e de novas interações sociais.
Assim, essas inovações nos serviços de redes de comunicação vêm, potencializando
o trabalho cooperativo, especialmente o baseado em CSCW (Computer Suppor-
ted Cooperative Work – Trabalho Cooperativo Suportado por Computador). Este
artigo apresenta uma análise da abordagem de CSCW em um ambiente virtual
colaborativo desenvolvido por dois grupos de trabalho separados pela distância,
um grupo no Brasil e outro em Portugal, que desenvolveram um trabalho coo-
perativo referente à solução do problema de controle de insumos necessários à
fabricação de balcões frigoríficos destinados ao comércio de alimentos localizado
em Portugal. Especificamente para esse ambiente estudado foram consideradas as
seguintes atividades básicas: discussão: espaço para debate, formular perguntas e
apresentar sugestões; links: espaço para incluir endereços Web, fomentando a pes-
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
31
Introdução
Vivemos numa era de profundas mudanças nos campos político,
econômico, tecnológico, social e nos valores pessoais. A alta comple-
xidade e velocidade das informações, a interdependência dos fenô-
menos, o desenvolvimento de uma economia que supera e derruba
fronteiras e regionalismos, um elevado desenvolvimento tecnológico,
a alta complexidade entre as empresas e uma crescente exigência dos
consumidores podem ser citados como aspectos da época contempo-
rânea. A velocidade de transmissão das informações derruba barreiras
antes existentes (TROPE, 1999).
A busca da flexibilidade nas organizações passa a ser uma neces-
sidade, a partir da constatação de que a rigidez estrutural das orga-
nizações tradicionais não é mais condizente com a realidade atual.
Esse novo formato de organização, composto por pequenos grupos
de trabalho que não compartilham do mesmo espaço físico, pode ser
modificado rapidamente em resposta às demandas provocadas pelo
ambiente. A agilidade com que esses grupos podem ser criados e des-
feitos possibilita a utilização dos indivíduos mais capazes de agregar
valor a uma determinada tarefa, independentemente da localização de
qualquer desses indivíduos.
É nesse contexto de tecnologia e globalização que se abre espaço
para o surgimento de um novo tipo de equipe: a equipe virtual. Essas
equipes estão sendo utilizadas cada vez com maior freqüência tendo
em vista a necessidade de informações e respostas mais rápidas, ope-
racionalizando inclusive as fusões e as pressões por diminuição de
preços e prazos.
O trabalho virtual muda profundamente hábitos arraigados de traba-
lho em equipe. As equipes virtuais transmitem e recebem informações en-
tre seus membros através do uso intensivo da Tecnologia de Informação.
Os times virtuais vivenciam a experiência de não estarem fisicamen-
te juntos no local do trabalho, enquanto as tarefas são realizadas. Esta
forma suscita a possibilidade de que os membros do grupo nunca ve-
nham a se comunicar diretamente (PITHON, 2004). Essas equipes
são constituídas geralmente por pessoas com diferentes formações
ou pontos-de-vista, que interagem de forma cooperativa trocando in-
formações e compartilhando experiências, com o fim de cumprir um
conjunto de requisitos (MORAES ; ZORZO, 2000). Sendo condi-
ção necessária para trabalhar nesse ambiente organizacional, a colabo-
ração, a troca de informação, a capacidade de comunicação, o respeito
às diferenças individuais, o exercício da negociação, são requisitos im-
portantes para o trabalho cooperativo, principalmente aquele baseado
em Computer Supported Cooperative Work (CSCW).
Assim, o principal objetivo desse artigo é relatar a experiência viven-
ciada por dois times virtuais de trabalho, um no Brasil, em torno da
disciplina de Trabalho Colaborativo em Projetos de Inovação Tecno-
lógica do Curso de Mestrado em Tecnologia do Cefet/RJ, e outro em
quisa; mural: área virtual destinada para recados à comunidade; material: espaço
para disponibilizar arquivos de interesse do grupo de trabalho; lista dos membros:
lista de todos os membros devidamente registrados no espaço virtual.
Antonio J.C. Pithon doutor
em Engenharia de Produção
e Sistemas pela Universidade
do Minho, Portugal; linhas de
pesquisa: Trabalho Cooperativo
e Empresas Virtuais.
Marina, R. Brochado é doutora
em Engenharia de Produção
pela COPPE/UFRJ; linhas de
pesquisa: Cerâmica Verme-
lha, Trabalho Cooperativo e
Engenharia de Transporte.
Marcelo C. Pereira é mestrando
em Tecnologia do Cefet/RJ;
linhas de pesquisa: Cerâmica
Vermelha e Trabalho Coope-
rativo.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
32
Revisão da Literatura
O CSCW pode ser definido como a disciplina de pesquisa para o estu-
do das técnicas e metodologias de trabalho em grupo, e das formas como
a tecnologia pode auxiliar o trabalho (GREENBERG, 1991; PITHON,
2004). Os sistemas CSCW fornecem suporte para as pessoas interagirem
cooperativamente. Com isso, possibilitam o aumento do potencial dos
grupos de trabalho envolvidos na realização das tarefas comuns (ELLIS
et al., 1991). Nesses sistemas os participantes do grupo não necessitam
trabalhar nem em um mesmo local, e/ou nem ao mesmo tempo.
O termo groupware apareceu quase como sinônimo de CSCW, porém
groupware é o software que suporta ou viabiliza o trabalho cooperativo. Os
sistemas groupware utilizam o computador para dar suporte a grupos de
pessoas empenhadas em um ambiente compartilhado.
Cooperar é acima de tudo um ato social e, portanto, requer todos
os tipos de interações humanas, desde a fala até a linguagem de sinais,
passando pela escrita e pelas expressões faciais. Dessa forma, o traba-
lho cooperativo pode ser definido como toda e qualquer atividade que
é desenvolvida em conjunto por várias pessoas, formando grupos e em
que ocorra interação entre elas para alcançarem um objetivo comum
(BORGES, 1995).
O trabalho cooperativo envolve troca de informações diferenciadas
pelos participantes do grupo, essa troca pode ocorrer entre indivíduos,
ou entre indivíduo e grupo, e vice-versa, sendo a comunicação entre es-
ses um ponto-chave para que a cooperação ocorra. Desse modo, a pos-
sibilidade e a facilidade no compartilhamento e na troca de informações
são fundamentais para o sucesso de uma aplicação groupware.
Ambientes cooperativos distribuídos permitem que um grupo de
usuários ou de aplicações dispersas geograficamente possam utilizar
vários recursos computacionais para que a solução de problemas pos-
sa ocorrer conjuntamente, tornando-se mais eficiente. Como exem-
plo contemporâneo desses ambientes, pode-se citar os grupos virtuais
de trabalho. Nesses ambientes a comunicação pode ser organizada e
acontecer com os participantes localizados no mesmo local ou em
locais diferentes. Quando o grupo encontra-se no mesmo local, a co-
municação ocorre de maneira face-a-face ou através de sistemas de
suporte a reuniões (e.g.:, a fala é um exemplo da comunicação face-
a-face). A figura 1 apresenta a matriz tempo x lugar que exprime as
formas de comunicar entre os membros do grupo.
Alguns aspectos devem ser levados em consideração como impres-
cindíveis nessa nova forma de trabalho cooperativo, para viabilizar o
sucesso. A seguir, alguns desses itens são mencionados:
- estabelecer relacionamento de confiança: sem confiança mútua,
entre e dentro dos times, é impossível a realização de uma tarefa efi-
Portugal, em parceria com os alunos do curso de Engenharia Indus-
trial da Universidade do Minho. Na experiência, integraram-se conhe-
cimentos utilizando as ferramentas de groupware, visando uma solução
para o problema de controle de insumos necessários para as linhas de
montagens de balcões frigoríficos de uma empresa portuguesa.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
33
Mesmo lugar Diferentes lugares
Síncronos (mesmo tempo) Face a face
Videoconferência
Ferramentas de Chat
Assíncrono (tempos diferentes) Sistemas de suporte a reunião
e-mail
Grupos de discussão
Ferramentas de Workflow
FIGURA 1. MATRIZ TEMPO X LUGAR
Criação e Descrição das Equipes
Foram criados para esta experiência dois grupos: grupo A brasi-
leiro e grupo A português. O grupo A brasileiro era composto por
cinco alunos, sendo três alunos do curso de Mestrado em Tecno-
logia e dois alunos de Iniciação Científica. Os cinco alunos portu-
gueses eram todos do curso de Engenharia Industrial. Após a defi-
nição dos grupos, partiu-se para a definição dos objetivos comuns
de cada grupo. Estabelecido assim, coube ao grupo A brasileiro a
elaboração de uma metodologia para normalização e codificação de
peças industriais, que pudessem ser aplicadas na empresa portugue-
sa fabricante de balcões frigoríficos. Coube ao grupo A português
a especificação e o mapeamento do fluxo do processo produtivo da
cerâmica vermelha brasileira. Porém, por reconsideração dos grupos,
restabeleceu-se que o grupo A em Portugal agiria como um agente
virtual do grupo A brasileiro. Desse modo, a experiência ficou redu-
zida à elaboração por parte do grupo A brasileiro em conjunto com
o grupo A português de uma metodologia de implantação de códi-
gos de barra para toda a linha de produção da indústria portuguesa
de balcões frigoríficos, vinculando-a aos demais setores de suporte
e operação da empresa. Diversas bases da metodologia em questão
estavam amparadas e em acordo com as normas de codificação re-
gidas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), e
pelo Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e
ciente. Confiança é uma condição indispensável para a otimização
deste sistema de cooperação;
- estabelecimento claro das funções dos membros do time: sem
esse entendimento e senso de propósito, os times não alcançam os
resultados que poderiam alcançar;
- tecnologia de suporte: para viabilizar o trabalho à distância, é
necessária uma infra-estrutura de comunicação que suporte todos os
tipos de tarefas e interações necessárias para a realização de trabalhos
e de integração das equipes. As ferramentas que os times virtuais usa-
ram nesta experiência estão descritas na seção seguinte;
- aproveitar as vantagens do local de trabalho: por melhor que seja
o ambiente de interação dos times virtuais, é necessário o relaciona-
mento face-a-face pelo menos em algumas ocasiões, seja para firmar
um relacionamento de confiança, seja simplesmente para conhecer
fisicamente com quem se trabalha. Por trás de toda essa rede tecnoló-
gica, sempre existirão seres bem humanos, com seus sentimentos de
curiosidade, entendimento, humor e respeito.
Te m p o
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
34
Plano da Experiência
A experiência teve início em setembro de 2004 e terminou em
dezembro do mesmo ano, pois esse período compreende o início e o
término do trimestre letivo da disciplina de mestrado que viabilizou
este intercâmbio. Inicialmente foi criado um grupo de discussão na
Internet pelo site <http://br.groups.yahoo.com/> do Yahoo, deno-
minado CefetUM, <http://br.groups.yahoo.com/group/cefetum/>,
que os participantes após serem registrados utilizavam para compar-
tilhar arquivos, coordenar reuniões, manter contato com o grupo e
discutir sobre tópicos pertinentes ao projeto em questão, passando
então a ser esse endereço o nosso banco de dados. Essa forma de
comunicação assíncrona, onde os participantes não estão ligados ao
mesmo tempo, foi importante para superar a diferença de fuso ho-
rário entre os grupos e seus pares. Com a utilização dos softwares
descritos na seção 4, as aulas e reuniões de trabalho foram ministra-
das on-line. No ambiente utilizado foram consideradas as seguintes
atividades básicas:
-discussão: espaço para debate, formulação de perguntas e apresen-
tação de soluções;
- links: espaço onde foram incluídos endereços Web, fomentando
a pesquisa;
Qualidade Industrial), e em consonância com o objetivo traçado
para a tarefa.
Na seção seguinte, são mostradas as ferramentas de groupware sín-
cronas e assíncronas utilizadas pelos membros das duas equipes virtu-
ais, na realização do experimento, de acordo com a figura 1.
Ferramentas Colaborativas
Para realização dessa experiência foram utilizadas ferramentas de
groupware síncronas e assíncronas. Na comunicação síncrona, os parti-
cipantes dos grupos de trabalho estão trocando mensagens simulta-
neamente através da Internet. As ferramentas utilizadas nessa moda-
lidade foram o MSN Messenger (figura 2) e o Skype (figura. 3).
Inicialmente estava prevista somente a utilização do MS Messen-
ger, mas por problemas de configuração do servidor do Cefet/RJ, que
não permite a utilização do recurso de voz, fomos obrigados a utilizar
o Skype para superar esta falha. O Skype tem como característica
principal ser um programa peer-to-peer (P2P), isto é, cada máquina
está conectada diretamente com a outra máquina, sem haver a neces-
sidade direta de um servidor. Essa característica confere ao Skype uma
melhor qualidade de voz. Porém, como desvantagem, pode-se citar a
ausência de câmera.
Na comunicação assíncrona, os participantes vão atuar colabora-
tivamente, trocar idéias, mas não ao mesmo tempo. Nesse caso, o
assunto em discussão não exige uma solução imediata, mas exige pro-
postas e as opiniões podem ser gerenciadas e armazenadas pelo siste-
ma. A principal ferramenta utilizada na comunicação assíncrona pelos
grupos foi o e-mail.
FIGURA 2. MSN
MESSENGER
FIGURA 3. SKYPE
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
35
- mural: espaço disponibilizado para alocação de arquivos de inte-
resse do grupo de trabalho;
- lista de membros: lista de todos os membros devidamente foto-
grafados e registrados no espaço virtual.
A figura 4 apresenta o número de interações efetuadas pelo grupo
brasileiro com o grupo português, durante as atividades colaborativas.
O mês de setembro foi dedicado ao entrosamento entre os grupos
brasileiro e português com relação ao uso adequado das ferramentas
colaborativas descritas na seção 4, a fim de que todos os membros
do grupo após um período de testes estivem num mesmo nível de
aprendizado. Também nesse período os alunos foram orientados a
marcarem as reuniões em datas e horários específicos a fim de superar
o problema de fuso horário, que nesse período do ano chega a ser de
quatro horas a menos em relação à hora portuguesa. A experiência
teve início de fato no mês de outubro, quando a troca de informa-
ções foi muito intensa, prolongando-se com menor intensidade nos
meses de novembro e dezembro. Todas as mensagens trocadas entre
os membros do grupo no decorrer da experiência eram lidas pelos
professores orientadores dos grupos brasileiro e português, com o
objetivo de avaliar a evolução da experiência e também de identificar
possíveis problemas técnicos que estivessem atrapalhando o bom an-
damento da experiência, problemas esses nem sempre evidentes para
os membros do grupo.
FIGURA 4. ATIVIDADES NO CEFETUM
Resultados e Discussões
Por se tratar de uma experiência inédita tanto no Brasil como em
Portugal, envolvendo simultaneamente, dois grupos de trabalho, com
aplicação de uma gama diversa de softwares, isto é, dois softwares síncro-
nos (MSN Messenger e Skype) e um software assíncrono (e-mail), os
resultados superaram as expectativas.
Como pontos positivos deste trabalho cooperativo podemos citar:
- estabelecimento de uma aproximação cordial e produtiva entre os
grupos, baseada nos melhores princípios sociais do relacionamento;
- perfeito engajamento entre o domínio da tecnologia e o conheci-
mento das ferramentas de colaboração;
- ampla troca de conhecimentos pertinentes a cada cultura;
Facilidade com a língua;
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
36
Conclusão
Um dos aspectos fundamentais para o bom desenvolvimento de
um trabalho em grupo é a colaboração entre seus membros. No tra-
balho colaborativo, é fundamental que as atividades sejam discuti-
das em conjunto, ainda que as tarefas sejam divididas por subgrupos
ou entre indivíduos, o todo só será coerente se as partes estiverem
afinadas. Todos os membros devem ter conhecimento e “colaborar
no desenvolvimento de cada parte do projeto. São formadas verda-
deiras parcerias, dado que, por definição, tudo que se realiza tem
um objetivo comum. Durante o exercício, essa colaboração ficou
muito aquém das expectativas.
A colaboração abre um espaço de crescimento e valorização po-
sitiva para os indivíduos, pois além de obter resultados diferencia-
dos em relação com àqueles obtidos mediante esforço individual, a
relação entre os membros do grupo opera sobre uma dependência
construtiva em termos de valorização do outro, que induz um cui-
dado e uma identificação coletiva dentro de uma rede distribuída de
dimensões mundiais.
Com o andamento das tarefas, ancoradas primeiramente na con-
ceituação de CSCW e posteriormente nos conceitos de normaliza-
ção, as equipes estranhas entre si conduziram momentos de intensa
produtividade com respeito a informação, conhecimentos e apren-
dizados, deixando explícita a condição da inexorável necessidade dos
atributos da confiança – conceito às vezes olhado com desconfiança
– objetivamente exercitados nesses relacionamentos pessoal-profis-
sional dentro e entre as equipes.
Referências
BORGES, M.R.S. Suporte por Computador ao Trabalho Cooperativo. Jornada de Atualização: Congresso Nacional da SBC.
Canela: Brasil, 1995.
ELLIS, C.A.; GIBBS, S.J.; REIN, G.L. Groupware: Some Issues and Experiences. Communications of the ACM,
34(1), 1991.
GREENBERG, S. Personalizable groupware: Accommodating Individual Roles and Group Differences. In: Proceedings of
2nd European Conference on Computer Supported Cooperative Work, 1991.
TROPE, A. Organização Virtual: Impactos do Teletrabalho nas Organizações. Rio de Janeiro: Qualitymark Editora, 1999.
MORAES, I., ZORZO, A. Uma Arquitetura Genérica para Aplicações Colaborativas. Relatório Técnico n° 6, 2000.
PITHON, A.J.C. Projeto Organizacionbal para a Engenharia Concorrente no âmbito das Empresas Virtuais. Tese de Douto-
rado, Universidade do Minho. Portugal: 2004.
- aspectos culturais relativos às diferentes competências devido ao
gap de conhecimento e experiência existente entre os alunos de mes-
trado brasileiros e os alunos de graduação portugueses.
Os principais pontos negativos foram:
- falta de apoio e informação da empresa portuguesa em não forne-
cer todas as informações necessárias ao projeto, acarretando aos dois
grupos o não-cumprimento completo da tarefa planejada. Isto é, não
foi alcançada visualização do plano por parte da direção da empresa
de refrigeração;
- interrupções externas, como queda de rede, tanto no Brasil como
em Portugal.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
37
O Idioma Universal
Aspectos do Processo de Ensino da Língua Inglesa
Com a globalização, esse idioma universal se tornará um artefato
indispensável a todos que desejam ingressar no mercado de trabalho.
Destacam-se no estudo do inglês, conceitos sobre phrasal verbs
que várias vezes recebem muita resistência dos estudantes do idioma,
ainda que sejam muito utilizados por nativos.
Esse estudo visa subsidiar uma nova metodologia para melhorar a
qualidade da relação ensino–aprendizagem no estudo da língua ingle-
sa. Essa nova metodologia é constituída de um software que possui
vários recursos a ela associados.
Phrasal verbs são expressões idiomáticas formadas a partir da com-
binação entre verbos, preposições e advérbios, cujo significado não se
dá a partir de sua construção gramatical ou das palavras individuais
que as compõem. O que as torna um conteúdo de difícil assimilação
Introdução
O inglês apresenta cerca de 500.000 palavras e 300.000 termos
técnicos, sendo o idioma com o maior vocabulário do mundo. Diver-
sos motivos ocasionaram a popularização do idioma inglês como a
expansão do império comercial britânico, seguida do domínio políti-
co-econômico dos Estados Unidos.
Além de tudo, a língua inglesa tem sofrido certas modificações
durante os últimos cinco séculos, tornando-se uma língua mais flexí-
vel. É possível utilizar uma mesma palavra representando diferentes
significados denotando o que se chama de polissemia.
Podem-se estabelecer três grupos de pessoas que falam inglês: os
nativos; os que têm o inglês como uma segunda língua; e os que
aprendem com algum propósito, seja ele administrativo, profissional,
educacional, ou seja, como uma língua estrangeira.
“Esperanto do mundo globalizado, o inglês é considerado requisito
básico para os profissionais de empresas médias e grandes” (AQUINO,
2004). O número total de falantes de inglês no mundo chega a apro-
ximadamente 580 milhões. É possível afirmar que 75% dos e-mails e
60% dos telefonemas no mundo são efetuados no idioma inglês.
RESUMO
O conhecimento da língua inglesa tem se tornado indispensável devido à globaliza-
ção. Uma de suas maiores dificuldades está na assimilação e estudo de phrasal verbs,
que são particularidades de combinações de verbos e expressões do idioma. Este
trabalho visa a subsidiar uma nova metodologia de ensino sobre phrasal verbs, com
base no desenvolvimento de um aplicativo que reunirá dicionário, lições, simulados
e jogos, utilizando-se de recursos áudio-visuais. Pretende-se, assim, obter um maior
grau de satisfação no aprendizado desse conteúdo durante estudo da língua inglesa.
Ferramenta de Auxílio ao Aprendizado de
Phrasal Verbs para Estudantes da Língua Inglesa
OLIVEIRA, Jorge C. de; OLIVEIRA, Robson Y.
Centro Federal de Educação Tecnológica da Paraíba
Palavras-chave: Língua Inglesa, Phrasal Verb, Aplicativo.
Jorge C. de Oliveira é graduado
no Curso Superior de Tecnolo-
gia em Telemática pelo Centro
Federal de Educação Tecnoló-
gica da Paraíba. Trabalha no
Centro de Estudos e Sistemas
Avançados do Recife – Cesar,
com desenvolvimento/teste
de software. Principal linha
de pesquisa: Engenharia de
Software / Software Educativo.
Robson Y. Oliveira é graduado
no Curso Superior de Tecnolo-
gia em Telemática pelo Centro
Federal de Educação Tecnoló-
gica da Paraíba. Trabalha no
Centro de Estudos e Sistemas
Avançados do Recife – Cesar,
com desenvolvimento/teste
de Software. Principal linha
de pesquisa: Engenharia de
Software / Software Educativo.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
38
Parte 1 Parte 2 Parte 3 Significado
Phrasal Verb to put up with aturar, tolerar
Função Sintática verbo preposição preposição
Significado colocar para cima com
Phrasal Verb to give up - desistir
Função Sintática verbo preposição -
Significado dar para cima -
Phrasal Verb to make believe - fingir
Função Sintática verbo verbo -
Significado fazer, construir acreditar -
Metodologia de Estudo de Phrasal Verbs
Várias metodologias vem sendo experimentadas na perspectiva de
se obter êxito no ensino de phrasal verbs, tais como:
- assimilação por meio de exercícios;
- memorização a partir de livros;
- consulta a dicionários;
- convívio com nativos – intercâmbio;
- filmes, músicas ou qualquer outro entretenimento.
O trabalho com exercícios e memorização em livros muitas ve-
zes desestimula o aluno, por ser uma maneira cansativa de armazenar
informações. Além disso, encontrar livros especializados não é uma
tarefa simples. É praticamente impossível identificar os phrasal verbs
mais significativos dentro da imensa lista disponibilizada pelos di-
cionários. O intercâmbio, estratégia de integração cultural, é inviável
financeiramente para a maioria dos estudantes. Os recursos audiovi-
suais de nada terão validade sem a devida orientação, pois são meros
complementadores, que auxiliam na fixação do assunto.
Quando esses métodos são trabalhados individualmente, os resul-
tados se mostram geralmente insatisfatórios.
Interatividade
Em se tratando de pessoas, pode-se definir interatividade como a re-
lação de comunicação entre indivíduos ou grupos. Contudo, obtém-se
um sentido mais abrangente, abstrair-se as partes envolvidas na comuni-
cação, levando a crer que interatividade seja qualquer tipo de sintonia.
Sintonizar seres, sejam eles inanimados ou não, torna a troca de informa-
ção entre eles mais eficaz. Tem-se, portanto, que metodologias associadas a
interatividade se mostram possuidoras de resultados mais satisfatórios.
Melhoria da Qualidade de Ensino do Idioma
A partir das metodologias indicadas no tópico sobre “O estudo
de phrasal verbs” e o conceito de interatividade, surge a possibilidade
de integração entre esses dois elementos, que seria mais eficiente na
promoção do processo de ensino-aprendizagem de phrasal verbs.
O uso associado de recursos de multimídia, orientação metodológica,
um dicionário de phrasal verbs e interatividade compõem a proposta de uma
metolodogia que visa contribuir com a qualidade da assimilação do idioma.
que, apesar de ser comumente utilizado pelos nativos, é ignorado por
aqueles que estudam o idioma.
A seguir alguns exemplos são mostrados no quadro:
Arquivo
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39
O sistema proverá, ainda, uma interface amigável, visando à facili-
dade de uso por parte dos alunos e professores.
O software estará preparado para receber novas funcionalidades, tra-
balhando perfeitamente em ambiente Linux ou Windows e baseado
no sistema de licença General Public License (GPL).
Phrasal Verbs Auxiliar System (PVAS)
Abordando a nova metodologia de ensino de phrasal verbs, aqui
proposta, surge a idéia interativa que mais se adequa à contempora-
neidade, que envolve a inclusão da educação no mundo digital. Um
software que se propõe a levar a promover a devida interatividade de
todos os recursos já citados.
O Phrasal Verbs Auxiliar System (PVAS) é um sistema que constará de
um acervo de phrasal verbs, que poderão ser utilizados através de aulas
interativas, jogos e/ou dicionário.
O PVAS será dividido em duas abordagens distintas, assim existin-
do dois níveis de acesso, um para o professor e outro para o aluno.
No nível de professor, o aplicativo permitirá a criação ou a utili-
zação de templates de ensino interativo, compostos de aula expositória
e exercícios práticos, com os quais o aluno poderá dar maior consis-
tência a seu conhecimento. O sistema manterá as informações dos
usuários, permitindo, dessa maneira, que o aluno possa consultar a
qualquer momento o seu desempenho.
Também estarão disponíveis para o aluno, jogos que contribuirão
no seu crescimento de aprendizado. O sistema armazenará os melho-
res desempenhos nos jogos. Ainda nesse nível de acesso, constará um
sistema de dicionário que possui equivalências escritas e pronúncias
nativas das palavras e expressões em inglês, português, francês e su-
porte para outros idiomas. A tradução será feita a partir da palavra ou
expressão em inglês para o idioma desejado. A adição de novas pala-
vras ou expressões será possível no nível de acesso de professor.
O professor poderá solicitar um relatório de acompanhamento de
qualquer aluno em qualquer momento, com informações sobre o de-
sempenho nas avaliações e nos jogos.
A seguir tem-se o diagrama de casos de uso do PVAS, na figura 1:
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40
Considerações Finais
Diante do exposto, pretende-se levar o ensino de phrasal verbs a
qualquer estudante da língua inglesa de uma maneira mais intuitiva
e didática, para que, assim, o mesmo possa obter o domínio dessas
expressões idiomáticas.
Referências
SOARS, L.; SOARS J. Headway (upper-intermediate). Longman.
AQUINO, R. Idiomas para carreira. São Paulo: Universia Brasil. Disponível em: <http://www.universiabrasil.net/materia_
imp.jsp?id=5739>. Acesso em:10 dez. 2004.
O Legado Deixado por Mario Ghizi
GOMES, Luiz Cláudio G.
Centro Federal de Educação Tecnológica de Campos
Palavras-chave: Artes Decorativas, Escola de Aprendizes Artífices.
RESUMO
O presente artigo é resultado de nossa pesquisa que resgata a breve e rica história
da linguagem visual e escultórica na Escola de Aprendizes Artífices de Campos
através do mestre Mario Ghizi Para tanto, nos baseamos em fontes alternati-
vas, tais como: entrevistas com informantes, jornais de época e, principalmente,
imagens fotográficas identificadas ao longo do processo de investigação. Consi-
deramos que tal procedimento pode nos conduzir a uma visão de conjunto do
fenômeno muito mais interessante que apenas uma fonte de dados conseguiria
alcançar. A finalidade desse modelo de escola era a formação através do ensino
prático e conhecimentos específicos necessários aos menores que pretendessem
aprender um ofício, em oficinas que fossem convenientes e necessárias ao estado
onde funcionasse a escola, atendendo, na medida do possível, às especialidades das
indústrias locais. O curso de Artes Decorativas, que tinha por finalidade dar aos
alunos aprendizes noções de pintura, desenho, escultura e estucagem, foi implan-
tado na Era Vargas e permaneceu até o final daquele período. O professor Ghizi
foi o responsável pelo curso durante a existência do mesmo e esteve à frente de
importantes trabalhos no campo das artes. Como mesmo resultado da pesquisa
encontro o ambiente escolar registrado em imagens dentro de um universo artís-
tico bem delimitado e rico em criatividade e originalidade.
Introdução
O ensino oficial das profissões está prestes a completar seu cente-
nário na cidade de Campos dos Goytacazes. Em função disso, e além
da inexistência de um trabalho que trate do assunto, acreditamos ser
oportuno nossa contribuição com o presente artigo.
Foi em 1906, que o então presidente do estado do Rio de Janeiro,
o campista Nilo Peçanha, determinou a criação da Escola Profissional
em Campos, sua cidade natal. A falta de professores e mestres prepa-
rados, instalações e maquinários inadequados, além da inexistência
de programas e ciclos acadêmicos definidos, foram definitivos para
a curta vida daquela instituição, criadas para “educar” os menores
desvalidos, que durou pouco mais de um ano.
O projeto de ensino profissional técnico retorna em 1909, quando
Nilo Peçanha, já como presidente da república, assina o decreto que
institui 19 escolas de aprendizes artífices em várias capitais brasileiras e
uma na cidade de Campos, a referida cidade natal do chefe da nação.
Luiz Cláudio G. Gomes é mestre
em Educação pela Universida-
de Federal Fluminense (UFF)
e pesquisador de imagens e
Designer Gráfico pela Universi-
dade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ).
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
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As Escolas de Aprendizes Artífices
A história registrava a marca de desprestígio social do trabalho
manual, em face de sua relação com a atividade exercida pelos escra-
vos, quando o Presidente Nilo Peçanha, em seu discurso, afirmou
que o Brasil do século XIX havia saído das academias e que o do
século XX sairia das oficinas.
O ensino adotado nas escolas de aprendizes artífices era voltado
para a formação de operários e contramestres, os quais deveriam en-
contrar-se em condições de atender às exigências da indústria mo-
derna – com máquinas constantemente aperfeiçoadas –, sobretudo
em função de sua instrução, atividade e moral.
A finalidade dessas escolas era a formação através do ensino prá-
tico e dos conhecimentos específicos necessários para os menores
que pretendessem aprender um ofício, em oficinas que fossem con-
venientes e necessárias ao estado onde funcionasse a escola, aten-
dendo, na medida do possível, as especialidades das indústrias locais
(CUNHA, 2000, p.63).
Um dado que confirma as observações quanto à formação prática,
de base artística, desenvolvida nas escolas de aprendizes artífices, é
a forma distinta que era feita entre “professores [e seus adjuntos]
e mestres [e seus contramestres]”. As “aulas” – do curso primário
e de desenho – eram de responsabilidade do “professor”, enquanto
as “oficinas”, do “mestre”. Os professores eram normalistas (para o
curso primário) e especialistas da disciplina (para o curso de dese-
nho) (BRASIL, 1909), ao passo que os mestres vinham de estabele-
cimentos produtivos, e eram, enfim, práticos.
A parte teórica do curso, por assim dizer, restringia-se ao estudo
de desenho. Isso pelo fato de o desenho ser a única disciplina que
mantinha relação direta na concepção prática para a realização do
artefato. Base necessária para o aprendizado do ofício, concepção ar-
tística indispensável para a boa confecção do objeto manufaturado.
Reformas em Campos
Poucos eram os alunos que concluíam seus cursos nas escolas do
trabalho, que se “diplomavam” como registrado em documentos de
época. Os principais motivos eram a pobreza e a necessidade dos jo-
vens adolescentes de trabalhar e ajudar nas despesas da família, tão
logo fosse possível adquirir algum conhecimento suficiente para en-
caminharem-se ao exercício inicial de uma profissão.
A Constituição de 1937 reedita o Decreto nº 7566, de 25 de
setembro de 1909, do presidente Nilo Peçanha, destinado à prepa-
ração pré-vocacional e profissional ”às classes menos favorecidas da
fortuna”. Busca-se a incorporação do proletariado a uma nova ordem
comparada ao industrialismo do início do século XX ou à industriali-
zação dos anos 30 e 40, deixando clara uma ideologia assistencialista
e do trabalho como recurso disciplinador.
No Estado Novo, na defesa da escola do trabalho, o discurso ufanista
revalorizava o trabalho e o trabalhador para a grandeza da nação. Impunha-
se ao país uma virtude trabalhista que deveria dar cara nova aos métodos
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e processos educativos através das atividades práticas, com predisposição
manual e de amor ao trabalho. Era defendido o discurso liberal da escola
ativa através dos novos métodos e processos de atividade produtiva.
Como seria de se imaginar, a “técnica de construção do povo” é ob-
servada em vários aspectos na vida cotidiana. Além das ações que se re-
ferem ao mundo do trabalho, na ótica da educação, a reforma do ensino
secundário, executada após a Revolução de 1930 pelo Ministro Francis-
co Campos e depois pelo Ministro Gustavo Capanema, em 1940:
[Reforma Francisco Campos] O ensino profissionalizante acabou por se situar,
assim, como uma espécie de ‘mal necessário’ do mundo moderno, discriminado e
marginalizado dentro do sistema; uma educação limitada e delimitada para aqueles
cujas carências econômicas impedissem o prosseguimento dos estudos, lançando-os
precocemente no mundo do trabalho (XAVIER, apud: ROCHA, 1997, p. 95).
Os anos 1930 são testemunho das mudanças ocorridas na ges-
tão do ensino profissional técnico. Fica claro, a partir de 1934, não só a
importância crescente desse tipo de ensino, mas também o processo
de mudança na sua função. Se antes a preocupação era solucionar os
problemas urbanos e ter as escolas profissionais com sua formação
voltada para o artesanato e com base na arte, a partir de agora seu ob-
jetivo maior é a formação de uma mão-de-obra realmente necessária, com
formação de base científica, voltada para a indústria.
As justificativas dadas através do decreto de 1934, para as modi-
ficações necessárias no órgão que cuidava da formação profissional
e na própria concepção que se tinha para este tipo de ensino, já ha-
viam colocado as diretrizes básicas que se projetava para as Escolas
de Aprendizes Artífices. Não foi por acaso que se evitou fazer alusão
ao nome das escolas. Já não se tinha em mais mente aquela escola que
“pretendia ser apenas uma solução moral, ou ideológica, para os pro-
blemas sociais; nem tão pouco [sic] o projeto de ensino era aquele que
formaria um artesão, ciente dos ‘mistérios’ artísticos de seu ofício”.
A realidade do país era outra, com forte inclinação para formação de
mão-de-obra para a indústria, com conhecimentos especializados que
atendessem às novas exigências técnicas (ROCHA, 1997, p. 135).
A Constituição de 1937 foi a primeira a tratar do ensino indus-
trial e com destaque. No entanto, o faz reeditando o decreto de cria-
ção das Escolas de Aprendizes Artífices, do Presidente Nilo Peçanha,
destinando a formação profissional “às classes menos favorecidas da
fortuna”. Para Franco, considerando as diferenças conjunturais, tanto
em 1909 como em 1937 se buscou incorporar o proletariado a uma
nova ordem, com o industrialismo do início do século ou a industria-
lização das décadas de 30 e 40. Os processos históricos são distintos,
“mas a matriz ideológica do assistencialismo e do trabalho como re-
curso disciplinar é recorrente”.
O final dos anos 1930 é tomado pelo otimismo pedagógico que, coerente
com sua filosofia, tenta superar a situação de origem desfavorecida dos alu-
nos, através do “novo”: novos métodos, novos valores, novas matérias etc.
Nesse período, o país saía de uma concepção de ofício, com o domí-
nio da atividade laboral acompanhada em todas suas etapas, para uma
concepção que restringia o aprendizado do ofício e introduzia o domí-
nio das técnicas, com o trabalho parcelarizado e o domínio da máquina.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
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Atelier de Artes Decorativas
Com motivos predominantemente egípcios, o atelier de artes decorati-
vas foi fotografado de um modo muito peculiar. Uma fotografia em plano
geral com uma composição dispersa dos elementos. É possível perceber
que o atelier dispunha de um amplo espaço, suficiente para comportar
um grande número de alunos. No entanto, o êxodo escolar foi sempre um
problema ao longo da história das escolas de aprendizes artífices, a ponto
de não se garantir a presença de mais de sete alunos em um dia especial
como o da fotografia. À época, a impressa campista reproduzia o senso
comum sobre o grande problema que afligia as escolas do país:
[...] a liberdade de criação que lhes é dada, não correspondem [sic] ao interesse
dos professores, não auxiliam o corpo docente, tornando-se rebeldes na freqüência
e até deixando a Escola antes que estivessem preparados (Monitor Campista, 13
de dezembro de 1936)
A fotografia da aula no atelier de artes decorativas é matematica-
mente simétrica com o traçado perpendicular de uma linha horizontal
em sua parte inferior interceptada por uma vertical ao centro. A verti-
calidade, nesse caso, ostenta a relação de cima para baixo; em sua base,
sentado, o professor é o único autorizado a olhar diretamente para o
obturador da máquina que os fotografa. Ao lado direito do mestre a
ousadia de um aprendiz virando-se para trás sem que aquele o visse,
para olhar o fotógrafo, talvez em um ato ingênuo, sem saber que esse
A Escola de Aprendizes Artífices de Campos
Na Escola de Aprendizes Artífices de Campos inicia-se o curso de
Artes Decorativas, sob a responsabilidade do professor Mario Ghizi,
que por lá esteve até o final daquela escola, em 1942. O curso de
Artes Decorativas, que tinha por finalidade dar aos alunos aprendizes
noções e pintura, desenho, escultura e estucagem, foi implantado na
era Vargas e permaneceu até o final daquele período.
O professor Mario Ghizi foi o responsável pelo curso durante
a existência do mesmo e esteve à frente de importantes trabalhos
no campo das artes escultóricas, ficando registrado para sempre no
imaginário do povo campista quando perpetuou sua obra através dos
apóstolos da catedral de São Salvador. As duas obras foram erguidas
no frontão da catedral e os jornais da época destacavam com admira-
ção o mestre: “Impressionou-nos a obra de maneira agradável. Suas li-
nhas fortes, vigorosas, a naturalidade fisionômica, a expressão de vida
que há em seu olhar e efeito do conjunto, denunciavam a competência
técnica do executor do trabalho”, noticiava o Monitor Campista, em
13 de dezembro de 1936.
Ghizi foi também responsável pela criação de carros alegóricos, com
influência déco, que desfilaram no carnaval campista no final dos anos 30.
Falar do mestre Ghizi é falar de seu único aluno “diplomado”. Tra-
ta-se de Antônio Jones que, como tantos outros, era de origem muito
humilde, mas que, diferente daqueles, conseguiu superar as dificuldades
que a vida lhe apresentava. A imensa maioria dos alunos da escola de
aprendizes artífices no país não concluía seus cursos. Quase sempre a ne-
cessidade de contribuir com a família, através de algum recurso financei-
ro, tirava-lhe prematuramente dos bancos escolares. (GOMES, 2003)
Fotos: Divulgação Cefet Campos
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gesto assim se perpetuaria. Do mesmo modo que nas fotografias do
saguão da escola, com os painéis e o quadro do Presidente Getúlio
Vargas e da exposição da seção de artes Decorativas, o professor Mario
Ghizi está parcimoniosamente sentado com alunos à sua volta. Nesse
caso, o professor é figura central, mas não se apresenta em primeiro
plano, dando, assim, uma certa equidade ao ambiente escolar. Sejamos
justos. A difusão de elementos – objetos, aprendizes e professor – na
composição daquele ambiente, assim como o amor que Ghizi tinha
por seu trabalho, denota uma relação de cercania entre os atores que
compunham o cenário das aulas de Artes Decorativas na Escola de
Aprendizes de Campos. O trabalho era produtivo, mesmo com todas
as adversidades encontradas por esse tipo de profissional, refletida na
imprensa da época, quando as artes em si não constituíam um traba-
lho “para enfrentar a vida”, como descrito no Monitor Campista em
13 de dezembro de 1936: “É que dali dos seus vários departamentos
de ensino técnico podem sair, não apenas rapazes aptos para enfrentar a vida
de amanhã, mas, até, grandes artistas” (grifo nosso).
No geral, todos parecem estar trabalhando em peças já concluídas.
Mesmo o aluno de pé, trabalhando à mesa, demonstra pouca “concen-
tração” e, cabisbaixo, faz pose para a fotografia.
O ambiente é arejado e adequadamente recebe luz tanto à esquerda
quanto à direita, dando a impressão de ter sido muito bem preparado
por seu responsável. As peças modeladas em gesso e os quadros de-
terminam grande disciplina e organização através de suas disposições
simétricas e perfeitamente alinhadas. O ambiente é limpo, pelo menos
nesse dia em que foi fotografado.
Esculturas de Mario Ghizi
Mario Ghizi era mestre de Artes Decorativas e veio do Institu-
to Parobé, do Rio Grande do Sul, no início da década de 1930. A
primeira seqüência de fotografias mostra Ghizi e a estátua que fez
– provavelmente de 1942 – sob encomenda para a sepultura de um
aluno da Escola Industrial de Florianópolis, morto acidentalmente
por um colega quando fazia ronda noturna na escola, onde também
funcionava o serviço militar. Na ocasião, Mario Ghizi lecionava na es-
cola de Florianópolis. O mestre de Artes Decorativas esteve na escola
de Campos de 24 de março de 1932 a 24 de julho de 1940.
Um trabalho de atenção percebe nas “entrelinhas” da imagem, as-
pectos aspectos que parecem, a princípio, insignificantes. Material
utilizado, circunstância da fotografia, confrontamento com outras
fontes como a imprensa periódica. Detalhes que poderiam contribuir
para situar cada uma das fotografias analisadas.
O professor Mario Ghizi, diretor técnico do athelier de Artes Decorativas da Esco-
la de Aprendizes Artífices está trabalhando em quatro estátuas [trabalhou somente
em duas] dos evangelistas que deverão completar o grupo de seis [são quatro] para
o alto da catedral. É um trabalho grandioso encomendado pelo Monsenhor Uchoa,
e que tem merecido os melhores elogios, este serviço artístico [...] recomendo o
professor e ao mesmo tempo o referido estabelecimento de ensino técnico dirigido
pelo Dr. Paulo Araújo (jornal A Noite do Rio de Janeiro, 1936).
O confrontamento de notícias da imprensa periódica com foto-
grafias e depoimentos pode nos dar importantes informações e nos
Único aluno diploma-
do em Artes Decorati-
vas pela escola cam-
pista, Antonio Jones
(que depois passou a se
chamar Antonio Jones
da Silva) posa frente
à estrutura feita com
madeira, cruzeta, ara-
me e tela que servirá
de base para a mode-
lagem da estátua “O
aprendiz de ferreiro”.
Durante muitos anos
a estátua permaneceu
nas dependências do
antigo prédio onde
funcionou a escola e
foi um ícone daquela
escola, servindo inclu-
sive para ilustrar o
livreto Cinqüentenário
da Escola Técnica de
Campos (1959, p. 36).
Adequadamente na
vertical, a fotografi a
valoriza não apenas o
conjunto da obra como
o próprio aprendiz. An-
tonio Jones aparece nas
duas fases (fase inicial
e fase fi nal do traba-
lho) desta seqüência de
fotografi as como uma
importante presença
no contexto escolar. A
preocupação, talvez do
mestre, em relacionar o
aprendiz no início e no
nal da realização da
escultura demonstra
uma séria preocupação
com a completude da
atividade acadêmica
no ensino da prática
profi ssional. Com o
costumeiro ar de serie-
dade que encontramos
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
45
nos registros fotográ-
cos de todo o período
da escola de aprendizes
de Campos, o aluno
simula seu próprio
trabalho. Trabalho
esse que muito prova-
velmente contou com
valiosa participação
do mestre Mario Ghizi.
O contraste entre o
escuro do fundo e o
brilho do conjunto em
primeiro plano realça
a qualidade aparente
das atividades desen-
volvidas naquela seção
da escola.
ajudar a montar os quebra-cabeças. Em matéria intitulada “O que se
faz na Escola de Aprendizes Artífices”, no Monitor Campista de 13
de dezembro de 1936, é possível reconhecer o momento histórico
e estabelecer relações factuais e datadas entre o que foi escrito e a
imagem fotográfica que ficou registrada do professor Mario Ghizi
em seu atelier, em finais daquele ano. A estátua de 2,4 metros de al-
tura, que aparece na fotografia, é uma das quatro que ornamentam o
frontão da catedral de Campos. A imprensa local esteve no ambiente
escolar e registrou aquela passagem com riqueza de detalhes, como,
por exemplo, na explicação sobre cada uma das estátuas:
[Elas] são modeladas em barro, formadas em gesso e depois fundidas em cimen-
to e areia. São Lucas tem ao lado uma pequena cabeça de boi, como símbolo da
força, da resignação. São João tem na mão esquerda um livro aberto; com a direita
empunhada uma caneta e aos pés vê-se uma águia de asas abertas, para desferir o
vôo que é símbolo da sabedoria (Monitor Campista, 1936).
O professor Mario Ghizi apóia-se na estátua do apóstolo João e,
do lado esquerdo, um menino também toca a obra. É a única foto-
grafia encontrada com dedicatória: “Ao Abílio com toda estima”, as-
sinada pelo mestre. Seria Abílio o menino que aparece na fotografia
descalço? Seria ele um dos aprendizes de Artes Decorativas? Pistas
e indícios...
Carros Alegóricos
O professor Mario Ghizi, juntamente com Francisco Arueira,
criou carros alegóricos para o Club Tenentes de Plutão, que desfi-
laram no dia 21 de fevereiro de 1939. Um dos carros, com cavalos
alados à frente, se intitulava Triunfo de Vênus. No outro, um mau
presságio: alguns meses antes de estourar a Segunda Guerra Mundial,
o carro Paz com um canhão à frente levava a “inquietação de velho
mundo. Em segundo plano, um anjo da paz abrindo as asas sobre o
globo do mundo”, conforme escrito atrás da cópia dessa fotografia.
Alunos Montam Guarda na Escada
A pintura realizada no hall de entrada da escola não foi feita
diretamente sobre a parede, mas sobre algum suporte que serviu
para o cenário que cobriu todo esse espaço. Isso é possível de ser
notado, principalmente, na borda direita da porta que dá acesso à
escada. No lado inferior esquerdo dos alunos é possível ler as se-
guintes inscrições: “Decoração executada pelo Prof. Mario Ghizi e
seus alunos”.
Os painéis com traços fortemente influenciados pelo futurismo
recebem as alegorias das engrenagens que simbolizavam – e ainda
estão no imaginário de muitos nos dias atuais – o progresso através
da industrialização. Os homens fortes representam o vigor e a “su-
perioridade” muito presente em vários cantos do planeta, inclusive
no Brasil através do governo de Getúlio Vargas. A representação
pictórica do homem sequer corresponde ao biotipo do trabalhador
brasileiro. Essa demonstração de força do homem superior esteve
sempre muito associada aos regimes autoritários.
Consta que na década de 1930, Getúlio Vargas visitou a cida-
de por duas ocasiões; a primeira, em julho de 1936, e a segunda
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Considerações Finais
Os anos 1930 são testemunho das mudanças ocorridas na gestão
do ensino profissional técnico. Fica claro, a partir de 1934, não só a
importância crescente desse tipo de ensino, mas também o processo
de mudança na sua função. Se antes a preocupação era solucionar os
problemas urbanos e ter as escolas profissionais com sua formação
voltada para o artesanato e com base na arte, a partir de agora seu
objetivo maior é a formação de uma mão-de-obra realmente necessá-
ria com formação de base científica, voltada para a indústria. Nesse
sentido a formação através das artes fica bastante comprometida e
cursos como o de Artes Decorativas perdem vigor e não sobrevivem
às demandas de uma nova sociedade formada para a guerra.
A antiga Escola de Aprendizes Artífices de Ghizi e Jones deu lu-
gar à Escola Industrial, que, por sua vez, passou a se chamar Escola
Técnica e, mais tarde, Escola Técnica Federal. Ao longo desses anos,
a única forma de expressão artística que a instituição dispunha era a
disciplina de Educação Artística. Hoje, e agora intitulada Cefet, te-
mos resgatado a importância e deixado o legado do professor Ghizi
aflorar, não somente pela força de uma reforma curricular, mas pela
demanda expressiva e crescente na região por atividades programa-
das com interesse pelas artes gráficas e visuais.
Referências
A NOITE do Rio de Janeiro, 1936(?).
BRASIL. Decreto 7.566, de 23 de setembro de 1909.
CINQÜENTENÁRIO da Escola Técnica de Campos (1909-1959). Campos: Escola Técnica de Campos, 1959.
CUNHA, L. A. O ensino de ofício nos primórdios da industrialização. São Paulo: Editora Unesp, Barsília (DF): Flacso, 2000.
FRANCO, M. C. A escola do trabalho: história e imagens. Niterói (RJ): tese de concurso para professor titular de Educação
e Trabalho. Faculdade de Educação (UFF),1993.
GOMES, L. C. G. Seu passado não nega. Cayana. Campos dos Goytacazes: Cefet Campos, ano 1, n. 1. p. 7-8. ago 2003.
MONITOR CAMPISTA, 13 de dezembro de 1936.
MONITOR CAMPISTA, 07 de setembro de 1938.
em agosto de 1938. Muito provavelmente esse momento fo-
tografado corresponde a uma dessas visitas feita a Campos
(Monitor Campista, 1936 e 1938).
Banda de Música, Espaço Transdisciplinar
LIMA, Ronaldo F. de
Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Palavras-chave: Música, Transdiciplinaridade, Aprendizado.
A abordagem transdisciplinar é hoje bastante discutida na área edu-
cacional. Incorpora-se a essa discussão um antigo problema da escola
tradicional: a questão da mediação didática. Em geral, a escola se preo-
cupou mais em suprir os alunos com conteúdos disciplinares, desconec-
tados uns dos outros, e menos em contextualizar esses conhecimentos
e colocá-los de forma sinérgica em cenários complexos. Assim, foram
assimilados, muitas vezes, conhecimentos disciplinares, fragmentados
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
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e descontextualizados. O prefixo “trans”, segundo Nicolescu (2000,
p.15), significa “o que permeia as disciplinas através das diferentes
disciplinas e além de qualquer disciplina”. O enfoque transdisciplinar,
portanto, ultrapassa a compreensão daquilo que é multidisciplinar e in-
terdisciplinar. A abordagem transdisciplinar possibilita, portanto, a lei-
tura e a compreensão do mundo de modo contextualizado, global. Con-
textualizar, na educação, significa levar em conta o ambiente concreto
no qual o educando está inserido. A educação, nesse sentido, deverá ser
considerada não como um simples ajuste do indivíduo à sociedade, mas
como um mecanismo cultural capaz fazer enxergar a complexidade hu-
mana. É preciso reconhecer a educação transdisciplinar não só como um
recurso metodológico, mas como uma escuta sensível da sonoridade do
mundo. É dessa perspectiva que se toma a música como acontecimento
dessa escuta.
A música é, em essência, uma forma de expressão complexa, capaz
de fazer dialogar saberes, constituindo-se assim num precioso exemplo
de abordagem transdisciplinar. Ela abriga na sua estrutura fundamentos
transversalizantes oriundos de várias áreas de conhecimento: física, ma-
temática, biologia, ciências humanas. O ensino musical contribui para
uma aprendizagem mais integrada e totalizadora. É o caso da música
atonal, rótulo designado aos vários estilos da música moderna européia
da primeira metade do século XX, uma outra forma de organização so-
nora que dispensava a hierarquia de notas e acordes no discurso sonoro.
A música atonal, ao transversalizar as tonalidades e nutrir-se de blocos
sonoros e mesclas, tanto quanto de acordes híbridos, mestiços e múl-
tiplos, pode muito bem servir de metáfora para representar outro de-
senho social a ser visualizado no mundo atual. A música atonal possui
uma organização sonora não causal, sem efeito previsível, ao contrário
do tonalismo centralizador. Transpõe o princípio hamônico-funcional
da causalidade tonal pela sístase, processo criativo que junta as partes.
Ou seja, apresenta a idéia do todo organicamente ligado, mesmo no
âmbito da aparente desordem sonora.
É nesse sentido que destaco as bandas de música como espaços
transdisciplinares, grávidos de cultura, verdadeiras escolas de vida.
Elas têm constituído lugares de preservação de uma cultura de integra-
ção do homem ao seu espaço social, com base na sensibilidade potencial
que se edifica a partir de uma experimentação coletiva.
As disciplinas compartimentadas e especializadas se mostram fe-
chadas, rígidas, sem comunicação, insuficientes para fazer emergir um
pensamento complexo. Mais do que disciplinar, a alegria de conviver
em música, de se expressar em música, permite uma leitura da vida de
espectro aberto, mais próximo de uma decifração complexa do que é
“tecido em conjunto”.
Nessa direção, destaco uma expressão que me foi anunciada por
Humberto Carlos Dantas, conhecido como “Bembém”, mestre da Fi-
larmônica 24 de Outubro, da cidade de Cruzeta, no Seridó norte-rio-
grandense: “aprender o primeiro som é descobrir o mundo”. Ao lado
das leituras e dos instigantes argumentos de músicos e pensadores da
complexidade, essa metáfora se transformou particularmente em ope-
Ronaldo F. de Lima é clari-
netista, professor da Escola
de Música da Universidade
Federal do Rio Grande do
Norte. Pesquisador do Grupo
de Estudos da Complexidade
(GRECOM). Pós-graduando em
Ciências Sociais na UFRN.
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rador cognitivo, correspondente na música a um fragmento temático,
célula emergente, rica em possibilidades musicais.
A história da formação do músico instrumentista do interior nor-
te-rio-grandense está relacionada com a própria história das bandas de
música. Parte de um dos versos da música A Banda, de Chico Buarque de
Holanda, ainda denuncia a importância que as bandas têm para o Seridó
norte-rio-grandense, possibilitando o acesso à cultura e à profissiona-
lização, em regiões onde a perspectiva profissional aponta, sem deixar
opções, para atividades relacionadas à agricultura ou à olaria. Mesmo na
emergência da seca, comum ao interior nordestino, que impõe uma vida
de carência material e de espaços para o desenvolvimento de atividades
culturais, no caso da cidade de Cruzeta parece haver um clima propício
que tem feito com que os jovens dessas cidades procurem na música
um instrumento de natureza socializante, de elevação espiritual eleva-
ção essa que emana da própria música.
Ao entrevistar o mestre Bembém, na cidade de Cruzeta, no verão
de 2004, percebi seu contentamento ao falar entusiasticamente sobre
os jovens dessa localidade. Ele relacionava a descoberta da sonoridade
musical à descoberta do mundo. Busquei compreender a dimensão de
tal afirmação. Assim então pude engendrar alguma conjectura quando
me afastei da circunscrição dessa afirmação e fiz uma digressão até a
minha infância, quando então iniciava meus estudos musicais.
Por volta do ano de 1970, comecei a estudar música na banda dos
escoteiros do Alecrim, conhecido bairro de Natal. Como toda escola-
banda, inicialmente tive aulas de solfejo musical para, logo em segui-
da, iniciar o estudo da clarineta, instrumento por mim escolhido sem
uma motivação específica. O primeiro som aprendido e articulado
demonstrou que em alguns semitons acima ou abaixo, havia um novo
som e, vizinho a esse novo som, existia outro, agudo ou grave. Logo,
essas sucessões de sons formavam escalas que por sua vez, originavam
outras escalas. As escalas possibilitam criar melodias. As primeiras es-
calas aprendidas foram as de: Dó maior e Lá menor, as quais logo as-
sociei, respectivamente, ao sentimento de alegria e tristeza. Essa asso-
ciação de sentimentos aos modos maior e menor é geralmente comum
na cultura ocidental. Ainda sem conhecimento teórico para decifrar
o descrito numa partitura musical, foi possível, por comparação, de
ouvido (escutando rádio, disco, observando outros músicos), tocar
na clarineta melodias simples do repertório popular e folclórico.
Mesmo sem conseguir ainda ler a partitura, a forma como eu to-
cava, intuitivamente, denotava a presença de elementos que ultrapas-
savam a emissão sonora das notas musicais. A música inseria-se numa
conjuntura; a qual era indissociável de um contexto cultural mais am-
plo. Ao tocar Carinhoso, de Pixinguinha, além da fascinação rítmica
e melódica que esse choro proporcionava, descobri que existia uma
história, um compositor que se relacionava com outros compositores
num determinado recorte temporal e social. Existia uma nota que,
por sua vez, possibilitava a melodia, os acordes, a música, o compo-
sitor, o intérprete, o ouvinte, o lugar, a história, e assim por diante.
Com efeito, tratava-se da complexidade humana.
Banda de Acari-RN
(Arquivo particular
do mestre Humberto
Dantas)
Filarmônica Hermann
Gmeiner de Caicó-RN,
sob a condução do
mestre Ubaldo.
(Arquivo particular do
mestre Ubaldo Medei-
ros)
Cruzetas 1
Ronaldo Lima
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A partir dessa reflexão, na minha maneira de perceber, entendi
o que quis dizer o mestre Bembém. Assim, ao iniciar-se na música
existe um mundo a ser descoberto, desvelado.
Bembém relaciona, numa mesma convergência, o aprendizado
musical e a descoberta do mundo. Isso só se torna possível porque
a música ultrapassa, no caso da comunidade de Cruzeta, o âmbito
do fazer musical técnico. Trata-se de uma educação para o sensível
que proporciona mudanças e interfere nos padrões de comporta-
mentos locais.
Para este mestre, é a preocupação com a “humanização” que o
mobiliza diante dos aprendizes, ativos, ávidos em compartilhar
suas aprendizagens com os novos colegas. Humanizar, aqui, não
possui conotação de adestramento, catequese; mas, antes, desejo
de contribuir para o auto-reconhecimento dos futuros músicos
como pessoas de destino planetário, sujeitos de direitos civis e
políticos, que se relacionam com os outros e com o mundo.
Segundo constatamos nas falas dos aprendizes, a relação entre
eles e o mestre ultrapassa a tradicional relação professor-aluno. Eis
então um dos motivos pelos quais utilizamos a expressão “mestre
de banda”, em detrimento de regente ou simplesmente professor.
Por regente, entende-se o profissional que rege e conduz um
grupo musical na busca da melhor performance possível. O mes-
tre, nesse caso, excede as funções de um regente; ensina a tocar
todos os instrumentos, compõe e arranja para a própria banda e
orienta os aprendizes para o exercício da cidadania. Como profes-
sor, também inicia o aprendiz na música, mas possui uma atuação
transdisciplinar, lidando com saberes diversos e não somente com
conhecimentos específicos, técnico-musicais.
Observo nos depoimentos dos aprendizes da Filarmônica 24 de
Outubro a identificação não da figura de um professor, regente ou
pai, mas de um educador. Educador no sentido em que coloca Jiddu
(apud MUNDURUKU, 2000, p. 94), ou seja, a pessoa que “cumpre
ajudar o aluno a compreender a complexidade de seu ser integral”.
Se a ciência e a tecnologia revolucionaram os modos de nos
relacionarmos com o mundo, paradoxalmente nos afastaram de
nós mesmos. Na aurora do século XXI urge mobilizarmo-nos na
construção de um novo tempo. Se for verdadeira, no mundo atual,
a premissa de que um novo sujeito refunda-se na civilização das
idéias, também é crucial o entendimento sobre a necessidade de
investir numa nova sensibilidade.
Referências
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1997). Motivation, n° 24, 1997.
MUNDURUKU, D. O banquete dos deuses. São Paulo: Angra, 2000.
NACHMANOVITCH, S. Ser criativo. São Paulo: Summus, 1993.
NICOLESCU, B. et al. Educação e transdisciplinaridade. Brasília: Unesco, 2000.
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O Lúdico e o Movimento
como Atividade Educativa
VAZ, Leopoldo Gil D.
Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão
Palavras-chave: Aprendizado, Prática Físico-Educativa, Lúdico.
Introdução
A limitação da possibilidade crítica expressa na recente produ-
ção teórica da educação física brasileira (GAYA, 1994; TAFFAREL;
ESCOBAR, 1994; BRACHT, 1995) pode ser explicada pela au-
sência da categoria “atividade” no sentido marxista, explicativa das
mudanças trazidas pelo modo de produção capitalista, pois a ati-
vidade lúdica do homem, entendida como toda atividade humana,
aparece como um sistema incluído no sistema de relações da socie-
dade, não existindo em absoluto fora destas relações (TAFFAREL;
ESCOBAR, 1994). Para essas autoras, quando se analisa a ativida-
de, temos que assinalar que a atividade objetiva gera não somente
o caráter objetivo das imagens senão também a objetividade das
necessidades, das emoções e dos sentimentos. Argumentações como
as que vem sendo utilizadas por alguns autores explicam-se pela
não consideração da Educação Física como produção não material
que, em determinados estágios e pela influência de certos fatores
próprios do sistema capitalista, sofre o mesmo processo de privação
das suas qualidades sensíveis sofrido pela produção material.
Ghiraldelli Junior (1990) servindo-se de Marx – Capítulo Sexto (Iné-
dito) de O Capital – diferencia dois tipos de produto: (a) aquele que é de
fato o produto material, e que tem todas as possibilidades de se integrar à
lógica do valor de troca e se transformar em mercadoria à medida que se
instauram relações sociais capitalistas; e (b) aquele que é o produto não
material, e que, pela sua própria natureza, coloca resistência à sua integra-
ção no âmbito das relações sociais capitalistas à medida que não se adapta
à forma de mercadoria tão confortavelmente como o primeiro (p. 199).
Para esse autor, o produto material é produzido para consumo posterior.
Quanto ao produto não material, aparece uma nova divisão: existem aque-
les que podem ser consumidos posteriormente, como o livro, o quadro,
mas existem aqueles que são essencialmente consumidos no ato de pro-
dução, como o trabalho clínico do médico, a aula do professor, a efetiva-
ção na Educação Física do movimento corporal humano (em forma de
aula, jogo, desporto, espetáculo, etc.). Aqui, nesse segundo caso, é que o
capitalismo e seu processo de mercadorização encontram mais resistência
e só as vencem, dentro de certas medidas, alterando profundamente o
produto em suas qualidades mais íntimas.
O nosso problema se concentra justamente nesse tipo de produ-
to não material que se consome no ato de produção. O movimento
corporal humano da Educação Física é singular, realizá-se e, concomi-
tantemente, vai sendo consumido por praticantes e assistentes. Não
Fotos: Arquivo
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pode ser reproduzido de forma alguma. Um jogo, uma dança, etc.,
são situações históricas onde transcorrem subjetividades e relações
objetivas particulares que jamais poderão se repetir.
Pergunta-se, então, o que é Educação Física? A pergunta pelo
que é a Educação Física pode ser interpretada como uma busca do
ser da Educação Física, da essência. Mas o que é, então, a essência
de algo ou de uma prática social? Bracht (1995) coloca, como Hei-
degger, que a essência da Educação Física seria aquilo que a define
enquanto tal e concomitantemente a distingue de outras práticas ou
fenômenos. Identidade é tomada como aquelas características que
distinguem a educação física enquanto uma prática social específica,
portanto conjunto de características que definem seu estatuto pró-
prio e ao mesmo tempo a diferenciam (BRACHT, 1992). Buscando
uma definição de termos básicos que delimitem, num primeiro mo-
mento, concretamente, um campo/objeto, esse autor advoga a utili-
zação do termo educação física para se referir à “prática pedagógica
que tem tematizado elementos da esfera da cultura corporal/movi-
mento” (BRACHT 1995, p. 35).
A Corporeidade como Objeto da Educação Física
No entendimento de Alves (1997), as ações humanas se manifestam
e se expressam corporalmente. Quando se pensa na multidimensionalida-
de do sujeito, volta-se o olhar, em primeiro lugar, para a corporeidade.
Santin (1987, 1990, 1992, 1996) afirma que a corporeidade, sob
o ponto de vista filosófico, não corresponde a um elemento mensu-
rável, mas a uma imagem que construímos na mente. Após consul-
tar dicionários e manuais, conclui que os mesmos são ambíguos ao
definir o que seja corporeidade: “a qualidade do ser corpóreo”, ou
“aquilo que constitui o corpo como tal”, ou simplesmente, como “a
idéia abstrata do corpo”. Portanto, “a corporeidade seria a proprie-
dade básica que nos garante a compreensão do corpo” (SANTIN,
1990, p. 137). Em sua analise, parte de três atitudes para buscar
os aspectos filosóficos da corporeidade: uma, ontológica, em que a
corporeidade significaria exatamente aquilo que constitui o corpo
como tal (SANTIN, 1990, p. 137); outra, epistemológica, onde
a corporeidade é tomada como a concretude espaço-temporal do
corpo humano enquanto organismo vivo, a partir das descobertas
das ciências experimentais, sendo assumida essa tarefa pela biologia,
pela genética, pela anatomia e pela fisiologia (SANTIN, 1990, p.
137-138); e uma terceira, que chama de fenomenológica, não está
preocupada nem em garantir as bases ontológicas, nem construir
uma epistemologia objetiva e rigorosa da corporeidade, mas ten-
tar descrever as imagens de corporeidade que o imaginário humano
construiu ao longo da história da humanidade, incluídas também as
imagens metafísicas e científicas. Tenta-se captar as possíveis im-
plicações culturais, sociais, educacionais, políticas e ideológicas que
tais imagens geraram nos indivíduos e na sociedade. A corporeidade,
portanto, sob o ponto de vista dessa atitude, não se constitui num
elemento mensurável, ela é apenas a imagem construída na mente
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a partir da maneira como os corpos são percebidos e vivenciados
(SANTIN, 1990, p. 138). Conclui que o importante não é de-
finir corporeidade, mas compreender as diferentes corporeidades
que inspiram e determinam o tratamento dos corpos humanos, de-
senvolvidos pelas culturas humanas, em geral, e pelas atividades da
Educação Física, em especial.
Para Bracht (1992), a materialidade corpórea foi historicamente
construída e, portanto, existe uma cultura corporal, resultado de
conhecimentos socialmente produzidos e historicamente acumu-
lados pela humanidade. Já Pereira (1988, apud DAÓLIO, 1995)
fala de uma cultura física como toda a parcela da cultura universal
que envolve exercício físico, como a educação física, a ginástica, o
treinamento desportivo, a recreação físico-ativa, a dança, etc. Betti
(1992) lembra que Noronha Feio já se referiu a uma cultura física
como parte de uma cultura geral, que contempla as conquistas ma-
teriais e espirituais relacionadas com os interesses físico-culturais
da sociedade. Já Kofes (1985) afirma que o corpo é expressão da
cultura, portanto cada cultura vai se expressar através de diferentes
corpos, porque se expressa diferentemente enquanto cultura.
Cunha (1982) considera que a transformação da realidade ob-
jetiva é um processo material onde se entrechocam contradições de
vária ordem, que se torna imperioso superar e resolver, na linha da
construção do homem por si mesmo. Para esse autor, a Educação Fí-
sica possui um objeto específico: as condutas motoras. Ao se referir
à Cultura Física e Cultura Desportiva, afirma que esta advém da-
quela, entendendo por Cultura Física o aspecto criativo, subjetivo,
original da pessoa, manifestado através da conduta motora do in-
divíduo. Do ponto de vista antropológico, Cunha (1982, p.62,63)
considera Cultura Física a maneira como os homens exprimem a
sua conduta motora, em conformidade com a tradição e o modo de
expressão grupal ou societária:
Se a Cultura, na acepção usada neste passo, é o conjunto de comportamentos
e de modos de pensar, próprios de uma sociedade, a Cultura Física não pode
compreender-se desinserida de um clima gregário que preservou e perpetuou
determinados valores e determinadas técnicas corporais. (...)
Daí que a Cultura Física, sob o ângulo de visão de que nos ocupamos agora,
apresente os seguintes elementos culturais: usos e costumes, crenças, a lingua-
gem, as tradições, a música, a dança, os padrões de comportamentos, etc. – e seja,
por isso, o veículo transmissor de uma das feições, da conduta motora, que vão
dar originalidade às Atividades Corporais de um povo. (...)
E, dessa forma, é possível descobrir na Cultura Física a história motora de uma
comunidade e daqui partir em demanda da cultura e das estruturas sociais. A
motricidade surge sempre carregada de sentido. Afinal, porque é ela a estar em
jogo em qualquer atividade humana. (...)
... a cultura desportiva (...) representa um domínio da cultura física que sinteti-
za as categorias, as instituições e os bens materiais, criados para a valorização da
atividade física, nos quadros da pedagogia, do lazer ou da competição, com o fim
do aperfeiçoamento biopsicológico e espiritual do homem... (p. 62-63)
O termo Cultura Corporal tem duplo sentido: no primeiro, se
pressupõe uma técnica sobre o corpo, com a palavra cultura signi-
ficando sinônimo de treinamento, adestramento do corpo; é nesse
sentido que termos como culturismo e fisioculturismo são utiliza-
dos. O sentido de Cultura Corporal parte da definição ampla de
Cultura e diz respeito ao conjunto de movimentos e hábitos corpo-
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rais de um grupo específico (DAÓLIO, 1995). Para esse autor, é
evidente que o conjunto de posturas e movimentos corporais repre-
senta valores e princípios culturais. Ao falar das técnicas corporais,
serve-se de Mauss, que as definiu como as maneiras de se comportar
de uma sociedade; esse antropólogo francês considerou os gestos e
os movimentos corporais como técnicas próprias da cultura, passí-
veis de transmissão através das gerações e imbuídas de significados
específicos: “... Técnicas corporais culturais, porque toda técnica é
um hábito tradicional, que passa de pai para filho, de geração para
geração”. Só é possível falar em técnica, por ser cultural (MAUSS,
apud DAOLIO, 1995, p. 26)
Soares (1987, p.36), ao refletir sobre o esporte, considerando-o
objeto do aparelho cultural num contexto de análise althusseriana,
verifica que essa atividade está sempre a serviço das ações e relações
sociais subjetivas de aprendizagem dos “saberes práticos” (“des sa-
voir fair”). Essas ações e relações são veiculadas através de sua prá-
tica, e, geralmente, estão em consonância e no contexto da proposta
da classe dominante, com igual disseminação de chauvinismo de
primeira ordem:
Então, poderíamos usar de mediação para a transformação, negando um objeto
para substituí-lo por outro, ou seja, será negando totalmente o modelo-padrão
de esporte elitista que daremos um salto para sua democratização ? Acreditamos
que não. Adotando uma linha de pensamento Luckácsiana, não será através da
ruptura com a cultura burguesa, em sua totalidade, que se fará emergir uma nova
cultura. Mas, com a revisão crítica da cultura burguesa se resgatarão os elemen-
tos culturais válidos para qualquer situação de mudança.
Atividade deve ser entendida como uma forma de apropriação
da realidade e de modificação dessa, que mediatiza a ação humana
na natureza. É, portanto, uma propriedade inerente à vida e que
se torna humana quando consciente. A atividade produz a consci-
ência e essa se apresenta como uma linguagem psíquica que revela
ao sujeito o mundo que o rodeia (GOELLNER, 1992). Entende
ser relevante, ao discutir a apropriação do conhecimento, abordar a
questão da internalização, que nada mais é do que a reconstituição
interna de uma operação externa, e que não se dá apenas numa tran-
sição simples da atividade externa para o plano interior da consci-
ência, mas na formação do próprio plano; daí ser possível afirmar
que a construção do conhecimento e da cultura se dá, a princípio,
num plano social e posteriormente, num plano individual. Serve-
se de Marx para afirmar que a prática é a base do conhecimento
humano, um processo que no decorrer do seu desenvolvimento faz
surgir tarefas cognitivas que originam a percepção e o pensamento:
a atividade humana, na sua forma inicial e básica é sensorial, prática,
com o que os homens se põem em contato prático com o mun-
do circundante, experimentam em si mesmos as resistências desses
objetos e atuam sobre eles, subordinando-se às suas propriedades
objetivas (GOELLNER, 1992, p. 290).
Silva (1985) entende ser a prática o processo capaz de servir
para transformar a natureza e as relações entre os homens; devendo
se orientar por um conhecimento que sirva de luz para o operar e
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Considerações Finais
Marx, nos Fundamentos da Crítica à Economia Política, já afir-
mava que “economizar tempo de trabalho é aumentar o tempo livre,
isto é, o tempo que serve ao desenvolvimento completo do indiví-
duo. O tempo livre para a distração, assim como para as atividades
superiores, transformará naturalmente quem dele tira proveito num
indivíduo diferente”.
Ao se indagar qual a importância do lúdico e do movimento no
processo educacional, quer-se saber qual é a importância das ativi-
dades que se realizavam no tempo do não-trabalho, pois é na práti-
ca das atividades lúdicas e do movimento – atividades recreativas e
desportivas culturais – que o homem conforma seus pontos de vista,
seus juízos, suas convicções. Durante a atividade desenvolve suas
capacidades de homem, sua iniciativa, sua individualidade. É nela
que se dá a assimilação das normas de vida em comum, com a apro-
ximação dos jovens com a riqueza material e espiritual criada pelas
gerações precedentes.
É na corporeidade que se situa o ponto central de encontro do
homem consigo mesmo. Ela é “a presença e a manifestação do ser
humano...”. (SANTIN, apud ALVES, 1997, p. 939). Daí ser a cor-
poreidade a condição primeira para que se reinstaure a presença do
ser humano (ALVES, 1997).
Referências
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X Congresso Brasileiro e Ciências do Esporte, Goiânia, 20 a 25 de outubro de 1997. Goiânia: CBCE: UFGO, 1997.
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DAÓLIO, J. Os significados do corpo na cultura e as implicações para a Educação Física. Revista Movimento, Porto Alegre,
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SOARES, A. J. G. Reflexões sobre as dimensões do esporte. Revista Artus, Rio de Janeiro, nº 20, dezembro de 1987.
agir da prática. A unidade teórico-prática deve se constituir numa
totalidade dialética, a qual não privilegia nenhuma isoladamente. A
prática é fundamental, pois é no concreto das relações sociais que o
homem transforma e se transforma.
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A Leitura do Corpo como um Instrumento
Metodológico na Educação Profissional
MARÇAL, Mônica B.
Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará
Palavras-chave: Educação profissional , Leitura do corpo, Postural corporal.
Introdução
O corpo humano é forma. E esta forma está em constante trans-
formação ao longo da vida de um indivíduo. Falar de leitura do corpo
é falar da capacidade de perceber as transformações corporais, assim
como do exercício de compreendê-las.
Ler o corpo do outro é a prática de observá-lo de forma intencional
e atenta, e através dessa observação, poder chegar a um conjunto de
informações coerentes sobre a realidade corporal observada.
A leitura do corpo como prática pedagógica traz ao educando no-
vos elementos de autoconhecimento, facilitando a construção da sua
identidade profissional; ao educador traz melhores possibilidades de
atingir os objetivos propostos no programa da sua disciplina.
Em uma formação profissional, o perfil exigido pelo mercado de trabalho
inclui, muitas vezes, além do conhecimento inerente ao campo proposto, a
exigência de uma postura corporal que imponha a marca de uma personali-
dade bem definida e consciente da responsabilidade que lhe é exigida.
Diante disso, propomos aqui alguns pontos importantes de refle-
xão sobre a leitura do corpo como meio de favorecer ao aluno pos-
sibilidades de adquirir esses outros requisitos também exigidos pelo
mercado de trabalho e quase sempre negligenciados pelas escolas de
formação profissional.
Leitura do Corpo e Sua Inserção no Meio Científico
Foi o naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882) quem deu ao
estudo das expressões humanas e da leitura do corpo uma característica
eminentemente científica, em seu livro L’expression des émotions chez l’homme
et les animaux, de 1872. Ele observa as expressões e as transformações
corporais dos homens e dos animais na vivência cotidiana das emoções.
A utilização de técnicas de leitura do corpo nas ciências humanas
origina-se mais especificamente nos estudos de Freud sobre o caráter
humano. Foi a partir de um de seus discípulos, Wilhelm Reich, que a
observação das expressões e posturas do corpo passa a ter uma maior
importância dentro do processo terapêutico.
Reich inspira outros bons terapeutas corporais que vão eles pró-
prios desenvolver novas técnicas de leitura do corpo. Além do próprio
Wilhelm Reich, estão entre os mais estudados : Alexander Lowen,
John Pierrakos e Stanley Keleman.
A leitura do corpo também é estudada, embora mesmo que raramente
utilizem este termo, pelas ciências da comunicação. Normalmente é
utilizado o termo expressão corporal para definir não somente a prática
como também as técnicas de leitura e observação do corpo do outro.
Mônica B. Marçal é douto-
randa em Théâtre et Arts du
Spectacle – Université Paris III
(Sorbonne Nouvelle) Bolsista
Capes . Pesquisadora em Corpo
e Formação Corporal em Artes
e professora de Expressão
Corporal do Curso Superior de
Artes Cênicas do Cefet/CE.
Fotos: Arquivo
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Leitura do Corpo e Preparação para o Mercado de Trabalho
Ler o corpo é um exercício perceptivo. Para um educador, aprender
a ler os movimentos, posturas e expressões corporais de si mesmo
e do outro pode vir a ser um meio de facilitar a aprendizagem num
processo de profissionalização.
O texto propõe então uma reflexão sobre esses benefícios levados
ao aluno em formação profissional, tentando sensibilizar os educado-
res para a importância de se preparar também o aluno para assumir
posições e posturas corporais mais coerentes, que lhes serão úteis
para sua inserção no mercado de trabalho.
Ler o corpo é perceber, e “perceber é identificar o mundo e a ação
presente”.
Para a prática da leitura do corpo como instrumento a ser utilizado
pelo educador, faz-se necessário, a princípio, o desenvolvimento em si
mesmo da prática da empatia. Entendendo-se por empatia a definição
de Decety (BERTHOZ i JORLAND, 2004, p.57) de que a empatia
se caracteriza por dois componentes primários: 1) Uma resposta afe-
tiva na direção do outro a que, algumas vezes implica numa partilha
de seu estado emocional; e 2) a capacidade cognitiva de sentir a pers-
pectiva subjetiva da outra pessoa.
O educador deveria estar consciente de que a comunicação entre o
que ele tem como proposta de ensino e o que o aluno percebe de sua
exposição é resultante de um processo interativo entre o educador e o
educando nas suas capacidade perceptivas e empáticas.
A maioria das pessoas sofre das dificuldades impostas nas relações
cotidianas justamente por ter sua capacidade perceptiva obstruída par-
Os profissionais da comunicação, como Corraze(1996), entre ou-
tros, utilizam mais comumente o termo comunicação não verbal. Neste
trabalho a autora não o emprega, porque sua utilização implica na
prioridade à comunicação entre o indivíduo e o mundo e não à per-
cepção de si e do outro, que é o ponto primordial do nosso estudo.
A diferença entre comunicação não verbal e percepção de si e do
outro é que aquela supõe uma mensagem a ser decodificada pelo ob-
servador/receptor enquanto que esta supõe uma capacidade de com-
preensão da realidade do outro e de si mesmo, anterior a qualquer
comunicação verbal ou não verbal. Somente uma percepção clara e
profunda de si e do outro poderá transformar a comunicação.
Então comunicação não verbal, para a autora, é o resultado da percep-
ção. A importância dada aqui à percepção é devida à compreensão de
que os sinais emitidos durante uma “comunicação” são passíveis de
serem mal decodificados, se a capacidade perceptiva do emissor e/ou
do receptor estiver bloqueada ou obnubilada por outros fatores.
Atualmente são as ciências neurológicas que fornecem as melhores res-
postas e possibilidades de se entender as expressões e posturas do homem.
E é através de pesquisas recentes em neurofisiologia que encontramos a
pertinência de se utilizar a leitura do corpo como instrumento na pratica
educativa. As reflexões metodológicas de leitura do corpo expostas neste
texto estão baseadas nas teorias desenvolvidas por estes estudos.
Ver estudos de Jean-Fran-
çois Lyotard e Maurice
Merleau-Ponty
Definição dada por Alain
Berthoz (BERTHOZ ;
JORLAND,2004) no texto
Physiologie et changement de
point de vue, p. 251-275.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
57
Uma Proposta Metodológica de Leitura do Corpo
A autora tem a fenomenologia como base de sua metodologia de
leitura do corpo. Utiliza o trabalho de redescoberta da percepção e da
propriocepção como meios de favorecer esta aprendizagem.
A fenomenologia é então a base do desenvolvimento da percepção.
Ter uma atitude fenomenológica é ter a capacidade de fazer “épochè”,
isto é, fazer um parêntese e perceber a realidade presente sem utilizar
parâmetros de julgamentos nem comparações à experiências anterio-
res. Simplesmente estar presente diante do outro.
Merleau-Ponty (1945) explica que a fenomenologia se interessa
pela intenção, pela consciência e pela essência do homem e Macedo
(2000, p. 43) escreve que “fenômeno [...] significa o que se mostra,
o que se manifesta, o que aparece.” Então ler o corpo do outro é per-
ceber esse outro diante de si e estar atento ao que “diz” seu corpo.
Um educador, mesmo não possuindo uma formação diretamente
ligada à leitura do corpo, pode, em observando a si mesmo, perce-
bendo sua postura corporal e as posturas corporais de seus alunos,
contribuir mais profundamente no processo de formação profissional
no qual está inserido. Os itens abaixo relacionados, propõem pistas
metodológicas para uma primeira experiência em leitura do corpo:
– perceber o corpo como meio de expressão;
– procurar ler os sinais emitidos por esse corpo;
– identificar os sentimentos e impressões percebidos;
– favorecer a troca de impressões percebidas entre o educando e o educador;
– estar consciente do que o seu próprio corpo transmite e inspira no outro;
– eliminar as impressões pré-concebidas e as pré-avaliações;
– analisar juntamente com o educando as posturas corporais que
facilitariam o desenvolvimento das técnicas profissionais estudadas.
– dirigir sua observação para a descrição fenomenológica da reali-
dade corporal do educando e possibilitar a concientização da impor-
tância de uma postura assertiva para o mercado de trabalho.
Referências
CORRAZE, J. Les communications non-verbales. Paris: Collection Le Psychologue, PUF, 5° Edition, 1996.
BERTHOZ, A.; JORLAND, G.; Empathie. Paris: Odile Jacob, 2004.
MERLEAU-PONTY, M. Phénoménologie de la perception. Paris: Gallimard, 1945.
KELEMAN, S. Anatomia Emocional. São Paulo: Summus, 1992.
MACEDO, R. S. A etnopesquisa crítica e multirreferencial nas ciências humanas e na educação. EDUFBA, 2000.
Propriocepção é um subs-
tantivo originado do adjetivo
proprioceptivo criado pelo
fisiologista inglês Charles
Sherrington (1857-1952)
para explicar a capacidade
humana de receber estímulos
organizados no interior do
seu próprio corpo.
cial ou totalmente por vivências anteriores. Merleau-Ponty (1945) em
seus estudos sobre a fenomenologia da percepção dá ênfase à necessidade de
se perceber de forma clara e coerente as ações do outro e de si mesmo.
A maturação perceptiva deveria ser um dos objetivos a ser alcan-
çado no processo de educação escolar desde as primeiras classes, e
a “educação somática”(Keleman, 1992), deveria estar incluída nos
objetivos pedagógicos dessas escolas.
Tendo maturidade perceptiva, isto é, percebendo a realidade como
se apresenta e não utilizando experiências anteriores para a análise
dessa realidade, o indivíduo conta então com uma existência cotidiana
cada vez mais consciente, com respostas mais eficazes aos diversos
desafios e situações da vida.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
58
RESUMOS ESTENDIDOS,
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
& PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
Resumos Estendidos,
Relatos de Experiência
& Práticas Pedagógicas
Resumos Estendidos,
Relatos de Experiência
& Práticas Pedagógicas
Cinara Barbosa
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
59
Design,
Interdisciplinaridade e Contextualização
APÔSO, Áurea Luiza Q. R. e Silva; MAIA, João Luiz do N.
Centro Federal de Educação Tecnológica de Alagoas
Criado em 2002, o Curso Superior de Tecnologia em Design
de Interiores da Coordenadoria de Design do Centro Federal de
Educação Tecnológica de Alagoas objetiva, em seu traçado, a for-
mação profissional de um tecnólogo em design de interiores apto a
projetar ambientes internos residenciais e/ou comerciais; especifi-
car materiais de revestimento e acabamento, bem como mobiliário
e demais objetos componentes do espaço projetado, conforme o
tipo e especificidade do projeto; apresentar os projetos graficamen-
te à mão livre, com instrumento e com programas de computador;
acompanhar a execução dos projetos, no desempenho das funções de
desenhista, projetista de interiores, assistentes à gerência de obras
de interiores e promotor de vendas.
Visando a trabalhar a interdisciplinaridade e a contextualização
no ensino–aprendizagem do design, o curso estrutura-se de forma
que cada um dos seus seis semestres priorize um objetivo principal
a ser alcançado:
1º semestre 2º semestre 3º semestre 4º semestre 5º semestre 6º semestre
Atelier de
Plástica:
Introduzir a
representação
gráfica e as
normatizações
de desenho
técnico como
forma de
comunicação
e expressão de
uma idéia e/ou
sentimento
(percepção),
através da
observação e
de métodos,
para auxiliar
na elaboração
de projetos de
interiores
Atelier de
Projeto e
Psicologia:
Reconhecer
e identificar
aspectos do
comportamen-
to e da perso-
nalidade hu-
mana e como
as variações
cromáticas
podem inter-
ferir neles,
constatando
e vivenciando
a partir da
montagem de
micro espaços
Atelier de
Projeto e
Filosofia:
Desenvolver
processos de
criação de
interiores que
contemplem os
requisitos do
belo e do fun-
cional, através
de um conhe-
cimento mais
amplo, do uso
de materiais e
da apresenta-
ção gráfica
Atelier de
Projeto e
Antropologia:
Criar interio-
res voltados
à diversidade
cultural, à
universalidade
e ao particular,
dotando-os
com requisi-
tos técnicos
e de conforto
ambiental
Atelier de
Projeto e
Sociologia:
Desenvolver
a responsabi-
lidade social,
patrimonial,
ética e utili-
zá-las como
princípios
indispensáveis
na vida e na
profissão
Atelier de
Projeto e Pro-
duto: Particula-
rizar o produto
e sua comuni-
cação visual no
contexto do
ambiente proje-
tado, realizando
sua confecção
com responsabi-
lidade ambiental
e sustentabili-
dade
Tendo como foco principal as demandas de mercado, usa-se
como ferramentas de alcance da interdisciplinaridade e da contex-
tualização as disciplinas agregadoras que, capitaneadas pelo Ate-
lier de Projeto, responsável por apontar o(s) tema(s) de estudo
Alunos do Curso Supe-
rior de Tecnologia em
Design de Interiores em
montagem do traba-
lho fi nal do Atelier de
Plástica (2003).
Fotos: Áurea Quixabeira
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
60
do semestre, conduzem ao objetivo proposto. Nesse sentido, os
temas trabalhados nos semestres, em geral, encontram-se vincu-
lados a projetos de extensão, parceria e integração com empresas
da área nos setores de comércio, serviços e afins, estreitando o
vínculo com a comunidade local.
Em 2003, os alunos participaram da 1ª Mostra Classe A de
Arquitetura e Design, assinando o ambiente Loft de Casal, em
exposição durante 01 (um) mês e, posteriormente, publicação
em periódico local, a Revista Salada Magazine. No concurso para
o espaço vitrine da loja Lúmina – Iluminação Planejada, voltado
para os alunos formandos, com o tema Eclipse, uma aluna assinou
a vitrine do mês de novembro de 2004. Ao término do primeiro
semestre de 2005, as alunas do curso expuseram as luminárias
projetadas no Atelier de Projeto e Produto, com a parceria realiza-
da junto à empresa Iluminart, que avaliou e orientou os projetos
quanto à viabilidade de execução e especificação de componen-
tes, em visita ao laboratório, durante a elaboração do projeto. O
projeto das luminárias tinha como objetivo o estudo da luz para
elaboração de uma luminária de tipo pendente para uso em uma
sala de jantar. Os mock ups das luminárias ficaram em exposição
na vitrine durante todo os meses de julho e agosto.
Utiliza-se também a prática de trabalho conjunto com outras
instituições de ensino, realizando projetos comuns e complementa-
res (arquitetura/design de interiores), promovendo assim um profí-
cuo intercâmbio e rica troca de experiências tanto do corpo discente
como do corpo docente de ambas as instituições envolvidas.
A prática da interdisciplinaridade e da contextualização é veri-
ficada através do processo de avaliação do ensino–aprendizagem,
que ocorre sob a forma de defesa pelo aluno do(s) trabalho(s)
produzido(s) no semestre, perante uma banca composta por todos
os professores atuantes no período, cuja finalidade consiste em ave-
riguar se houve a apreensão do que foi discutido em sala de aula e
transformado em uma proposta prática, exeqüível e adequada ao(s)
tema(s) definido(s). Ao término da apresentação dos trabalhos, o
corpo docente se reúne e analisa cada trabalho de forma coletiva,
opinando sobre o conjunto; em seguida, de forma individualizada,
cada professor recorta do trabalho os assuntos pertinentes à sua
disciplina e faz a sua avaliação. Vale ressaltar que algumas discipli-
nas não participam dessa forma avaliativa, devido à especificidade
e/ou possível inadequação ao tema corrente, apesar de o professor
participar da banca e também tecer comentários.
Embora a experiência não seja necessariamente inédita, seus re-
sultados com certeza são únicos e específicos da experiência de cria-
ção e produção, vivenciada em cada turma do Curso, validando a
prática da interdisciplinaridade e da contextualização desenvolvida
pelo corpo docente e discente, ampliando os horizontes e abrindo
novas perspectivas para o aprender a ser, saber e fazer.
Trabalho fi nal do Ate-
lier de Plástica – uni-
dade aparador (2003).
Alunos e professor em
montagem da vitri-
ne de exposição das
luminárias do Atelier
de Design e Produto na
Loja Iluminart (2005).
Vitrine da Loja Ilumi-
nart (2005).
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
61
A Cultura Oral e o Projeto
Ciência Viva, Viva a Ciência
VALENTINI, Carla M. A.; ALMEIDA, Eliane D. de; BEZERRA, Francisco de A.; BOTH, Luiz;
SANCHES, Maria U. C.; PINTEL, Elvirinha S.
Centro Federal de Educação Tecnológica de Mato Grosso
O curso técnico de química do Cefet/MT há oito anos possui toda
sua estrutura física no campus do Bairro Bela Vista, em uma área da
Reserva Ecológica Massairo Okamura que foi recuperada por proces-
so de revegetação com espécies nativas do cerrado. Como a formação
técnica e científica dos nossos alunos depende também de sua forma-
ção humana e social, e tendo em vista toda a problemática ambiental
que estamos vivendo, vimos a importância de implantar uma ação que
tivesse o objetivo despertar nas pessoas o interesse por uma ciência
viva, real e crítica. Assim surgiu o projeto Ciência Viva, Viva a Ciência
que é o resultado da soma de muitas experiências e sonhos de educa-
dores e alunos do curso.
O projeto Ciência Viva, Viva a Ciência divide-se em três segmen-
tos. “Plante essa idéia”, um deles, enfoca a educação ambiental. Tem
por objetivo mostrar — por meio de trilhas que percorrem as árvores
características do cerrado, teatro, e cultivo de plantas medicinais e
aromáticas em canteiros feitos com garrafas pet — a importância da
preservação dos nossos ecossistemas. “Construa essa idéia” trabalha
o reaproveitamento e a reciclagem de materiais, tanto para trabalhos
artísticos, alimentação alternativa, como para a confecção de materiais
para o desenvolvimento de experimentos de ciências. “Experimente
essa idéia”, terceiro segmento, por meio de mostras de experimentos
de ciências da natureza feitos a partir de materiais de baixo custo,
quer provocar nos alunos expositores e nos alunos visitantes a neces-
sidade de investigar, explicar e criticar situações do cotidiano.
Antes de implantarmos o segmento “Plante essa idéia”, buscamos
com a comunidade local do bairro Bela Vista, em questionários apli-
cados pelos alunos, o conhecimento dessa população sobre as plantas
medicinais. Depois de implantado o projeto, e no decorrer do exercício
da prática das atividades pelos alunos do curso de química, pudemos
perceber especificidades e nuances do nosso próprio grupo, comuni-
dade e região mato-grossense. Percebemos dentro de nossa própria
escola o conhecimento informal sobre a função de certas plantas, por
parte de alguns alunos. Eles tinham adquirido o conhecimento com
pais, avós, enfim, familiares. Partimos então para uma nova questão:
“Por que não incorporar o conhecimento informal sobre plantas me-
dicinais, tendo em vista inclusive a forte presença cultural indígena de
nossa região, a fim de cruzar com nossas informações formais?”.
Foi dessa forma que com uma filmadora, máquina fotográfica e mui-
ta curiosidade fomos entrevistar algumas pessoas que os próprios alu-
nos e colegas apontaram como conhecedoras do assunto. Uma delas foi
Fotos: Carla Valentini
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
62
dona Betinha, avó de uma aluna do curso, uma cuiabana que demons-
trou um desembaraço enorme ao nos ensinar sobre o que aprendeu com
sua avó e bisavó. Também conversamos com Isidoro, raizeiro do Mer-
cado do Porto, um local muito visitado pela comunidade local. Depois
foi Fátima, uma índia que veio há onze anos de uma tribo bacaeri, e que,
infelizmente, já esqueceu muitos ensinamentos de sua etnia.
Também falou conosco o Sr. Shojhim, um japonês que apesar de mui-
to tempo no Brasil conserva as mesmas tradições do Japão, especialmente
quanto ao uso do bambu, e, por fim, irmã Pascoalina, uma freira que faz
um trabalho com plantas medicinais e bioenergética com a população.
Essa coleta inicial de depoimentos de aprendizados oriundos de uma
tradição oral (etnobotânica) tem servido mais ainda para estimular o
conhecimento dos alunos e a conscientização de que os estudos cien-
tíficos requerem não só estudo e pesquisa, mas sensibilidade e atenção
para o que está à nossa volta, como nossa cultura e meioambiente.
Mário Quintana por Ele Mesmo:
Uma Leitura Facilitada e uma
Homenagem ao seu Centenário
MIRANDA, Elisa C. de
Escola Agrotécnica Federal de Alegrete/RS
Uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos professores de
Língua Portuguesa e pelos pais é a falta de interesse pela leitura por
parte dos alunos, ou antes, a aversão por essa atividade tão essencial
para aprofundar os conhecimentos e na própria formação do ser hu-
mano. Na tentativa de minimizar um pouco esse problema, elabora-
mos uma proposta, que pode ser apenas um início. Mas ao colocá-la
em prática, vimos que pode dar certo: a união dos recursos das artes
cênicas com a literatura.
Essa técnica não é nova, muito já se fez na interpretação de textos
narrativos. Nossa proposta foi trabalhar textos em versos. Escolhe-
mos, para começar, o poeta alegretense Mário Quintana. Justificamos
nossa escolha, por vários motivos: o primeiro é que realmente quem
lê sua obra fica fascinado, encantado, surpreendido, porque ele sempre
consegue mexer com a gente, tirar-nos de nossa acomodação; segundo,
porque se aproxima o centenário de seu nascimento e queremos home-
nageá-lo; e, terceiro, por ser um autor que deve ser lido por todos.
Outro motivo que nos levou à realização desse projeto é a neces-
sidade de desenvolver em nossos alunos valores como a sensibilidade,
a compreensão, a humanização, de que está impregnada toda a obra
de Quintana. Por outro lado, consideramos que é direito do aluno ter
acesso à literatura, à arte, à cultura. Além de tudo isso, temos certeza
de que a escola passa a ser um lugar muito mais atraente, pois o aluno
participa mais, consegue se comunicar muito mais e essa experiência
torna inesquecível essa fase de vida escolar. Para colocar em prática
Fotos: Divulgação EAF Alegrete Cinara Barbosa
Agradecimentos:
professores, administrativos
e alunos do curso de química
do Cefet/MT; Rosilene Rodri-
gues Maruyama (estagiária
Unic); Brindes Excelentes;
ABQ-MT; Casa do Adubo;
Empaer/MT; UFMT.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
63
esse projeto, que integra as atividades culturais e artísticas, envolvemos
alunos do ensino médio da escola Agrotécnica Federal de Alegrete.
Para dar início chamamos o colega e amigo Cláudio Corrêa, do Ce-
fet São Vicente/RS, que possui experiência com teatro, para realizar
uma oficina. Cláudio procurou desenvolver algumas técnicas que au-
xiliassem a interpretação, especialmente aquelas que visavam à desini-
bição. Isso foi realizado em três dias consecutivos, durante três horas,
após as aulas. Em seguida, foram distribuídos os textos selecionados.
Foi dado o tempo necessário para que os textos fossem memorizados
pelos alunos que iriam participar do trabalho. Houve, é claro, vários
ensaios, para aperfeiçoar a expressão oral, principalmente.
A coreografia foi criada por Cláudio e pelo grupo de alunos, visando
sempre facilitar a compreensão do texto. Acreditamos que essa criação
coletiva acrescentou maior valor ao trabalho, pois o mesmo foi pensado,
em seus detalhes, por todos. Quanto à seleção de textos, essa não foi
fácil. Os textos que gostaríamos de incluir, mas como não fosse possível,
tivemos que colocar apenas aqueles que, a nosso ver, poderiam transmitir
melhor aquilo que entendemos ser a essência da poesia de Quintana.
A princípio, uma coisa que nos preocupou foi encontrar um elo,
uma ligação, por mínima que fosse, entre os textos selecionados, já que
não se tratava de encenar um texto narrativo. Depois de muito pensar,
achamos que entre os textos que mostram as mais variadas faces desse
feiticeiro da palavra, o que poderia ser mostrado, antes de tudo, era o
seu lado de enfant terrible, o menino levado, que ria daqueles que não
o entendiam ou que tentavam atrapalhar sua trajetória, “atravancar o
seu caminho”. Assim, a ligação encontrada foi o Poeminha do Contra.
Essa marca da poesia de Quintana pode ser sentida também em outros
poemas, como em Cocktail Party, onde diz: “Estou triste porque vocês
são burros e feios/ E não morrem nuca.../ Minha alma assenta-se no
cordão da calçada/ E chora...”. O mesmo ocorre também no poema
Da vez primeira em que me assassinaram, quando diz: “Vinde, corvos,
ladrões de estrada!/ Desta mão avaramente adunca,/ Ninguém há de
arrancar-me a luz sagrada!/”. Em muitos poemas podemos sentir a
requintada ironia daqueles que já mencionamos.
Escolhemos também alguns poemas que se refere a coisas, ao mes-
mo tempo tocantes e risíveis, como Elegia em que se lê: “Há coisas
que a gente não sabe nunca o que fazer com elas.../ Uma velhinha
sozinha numa gare,/ Um sapato preto perdido do seu par: símbolo/
da mais absoluta viuvez./ As recordações das solteironas/ (...) Nós
precisamos convir que poucos teriam a capacidade de dizer, com mais
propriedade, sobre a ternura que tudo isso nos desperta.
Não poderíamos deixar de apresentar o seu lado gaúcho, alegreten-
se, que ama a natureza, nos seus aspectos mais característicos como
em Tão Lenta, Serena e Bela”, em que fala da vaca, o que ocorre
também em Os Arroios, ou mesmo trazendo aspectos surpreendente,
inesperados como Os Grilos.
O aspecto de sua paixão confessa por Porto Alegre, lugar em que
viveu grande parte de sua vida, também foi incluído no trabalho, com
o poema O Mapa , onde revela o grande fascínio que a cidade exercia
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
64
sobre si como demonstra em “E há uma rua encantada/ que nem em
sonhos sonhei...”
Procuramos incluir também alguns poemas em que fazem metalin-
guagem sobre a própria poesia e o seu fazer poético, como Emergên-
cia, onde se coloca “Quem faz um poema abre uma janela/ (...) Quem
faz um poema salva um afogado.” Ou ainda em Instrumento, em que
diz: “Impossível fazer um poema/ neste momento./ Não, minha filha,
eu não sou a música/ – sou o instrumento.”
Devemos confessar que aquilo que mais nos atrai em Mário Quin-
tana são as suas imagens que emocionam profundamente, e podería-
mos citar inúmeras, mas vamos citar apenas algumas que podem ser
encontradas no programa e que são realmente incomparáveis.
Em primeiro lugar, citamos aquelas apresentada no poema que fala
na vaca: “A vaca, se cantasse,/ que cantaria?/ (...) Cantaria o gosto
dos arroios bebidos de madrugada,/ Tão diferente do gosto de pedra
do meio-dia!/Cantaria o cheiro dos trevos machucados./ Ou, quando
muito,/ A longa, misteriosa vibração dos alambrados...”(...)
Outro poema que chama a atenção para as imagens é Os Arroios:
Os arroios são rios guris.../ Vão pulando e cantando por entre as
pedras/ (...) Dão vau aos burricos, às belas morenas, curiosos das per-
nas das belas morenas.../ E às vezes vão tão devagar que conhecem o
cheiros e a cor das flores/ que se debruçam sobre eles nos matos que
atravessam/ e onde parece quererem sestear.”
Consideramos também insubstituíveis as imagens em Os Grilos:
Os grilos abrem frinchas no silêncio/ Os grilos trincam as vidraças
negras da noite/ E o silêncio das vastas solidões noturnas/ é uma rede
tecida de cricrilos...(...)”.
Um outro poema de grande poder de comunicação é O Velho no
Espelho, impossível deixá-lo de fora, porque nele, especialmente,
Quintana revela a fragilidade do homem diante da passagem do tem-
po: “... quem é esse/ que me olha e é tão mais velho do que eu?...”
O também já citado soneto Da Vez Primeira Em Que Me Assas-
sinaram, achamos impossível deixar fora, considerando a profunda
humanidade que nele transparece: “Da vez primeira em que me assas-
sinaram/ Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.../ Depois, de cada vez
que me mataram/ Foram levando qualquer coisa minha...”
O Deus Vivo é um poema que nos sacode, puxa a nossa orelha, faz-
nos ver o que existe ao nosso redor, principalmente quando diz: “Deus
está no inferno.../ É preciso que lhe emprestemos toda a nossa força /
Todo o nosso alento / para trazê-lo ao menos à face da Terra / E depois
sentá-lo à nossa mesa / e dar-lhe do nosso pão e do nosso vinho.”
Fazem parte também do trabalho os poemas O Adolescente e Bi-
lhete com Endereço que mostram o poeta muito humano, reconhe-
cendo o apelo do amor e da adolescência.
Escolhemos para integrar nosso trabalho dois textos em que o
poeta tenta se definir, onde se revela um crítico de si mesmo Auto-
retrato e Eu Sou Aquele.
Fechamos a seleção com o poema Esperança. Todos os poemas
fazem parte do programa e estão impressos, com capa e tudo.
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
65
O trabalho transformou-se num recital poético em que o texto era
desvendado através de uma ferramenta poderosa, a magia da lingua-
gem teatral, repercutindo muito bem, em toda comunidade escolar,
por isso fomos convidados a participar de vários eventos na região,
tendo dado abertura ao Seminário de Informática da Escola, ao Con-
gresso de Leituras da Escola Cidadã, às festividades de aniversário do
Teatro João Pessoa, de Rosário do Sul, e participado do Seminário
promovido pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Ve-
readores de Alegrete. Foi também levado às Feiras do Livro de Porto
Alegre e de Alegrete.
Referências
QUINTANA, M. Apontamentos de História Sobrenatural. 4ª. ed. Rio de Janeiro: Globo, 1987.
QUINTANA, Mário. Os Melhores Poemas de Mário Quintana. 4ª. ed. São Paulo: 1988.
Introdução ao Estudo da História
da África e Cultura Afro-Brasileira,
na Perspectiva da Lei 10.639/2003
COUTINHO, Éder; SILVA, Neila G.
Centro Federal de Educação Tecnológica de Pelotas/RS
A temática da cultura afro-brasileira foi levantada no ano de 2003,
na primeira edição do Colóquio de Educação e Folclore. Uma iniciativa
da supervisão Escolar fluiu da proposta político-pedagógica da Escola
Estadual de Ensino Fundamental Dr. Augusto Duprat e teve por fina-
lidade instrumentalizar os docentes (da pré-escola até a 8ª série) para
proceder a uma abordagem qualificada tanto da temática da discrimina-
ção étnico-racial quanto da valorização da cultura afro-brasileira.
Era objetivo geral levantar, de forma sistemática (curricular), a questão
da discriminação étnico-racial e da falta de valorização da cultura afro-
brasileira e, especificamente, gerar situações de confronto entre hipóte-
ses formadas e evidências histórico-geográficas que desse origem a novas
idéias, com a aplicação do aprendido a novas situações problemáticas,
observando, registrando e classificando as informações, como também
coletar material de pesquisa sobre o tema para a biblioteca da escola.
No que concerne à metodologia, as atividades tiveram duas dire-
ções. Uma, na formação de professores, incluindo seminários, ofici-
nas, textos e publicações; e, outra, na informação e formação para os
alunos, através de vídeos, palestras e pesquisas, entre as quais enfati-
za-se o bom desenvolvimento da Oficina de Cultura Ambiental, que
tratou teoricamente da abordagem de que uma postura de conheci-
mento científico pode ser atingida à partir de utilização de conheci-
mentos do cotidiano popular. A cultura de crenças que está presente
nos hábitos da população, como por exemplo: o pano em cima dos
alimentos, a cruz de sal em cima do balcão da pia em dia de chuva,
ou a ação de não tirar lixo para rua após o anoitecer entre outras.
Fotos: Arquivo
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
66
Acredito que essas atitudes comuns e freqüentes, têm uma grande
potencialidade motivadora de desenvolvimento de aprendizado e que
passa desapercebida enquanto tal.
Em decorrência dessa oficina, nos anos seguintes várias atividades
foram desenvolvidas, as quais estão sendo descritas a seguir:
– Em 2003: atividade de exposição de trabalhos, livros e imagens
no saguão da Escola Dr. Augusto Duprat; oficinas e palestras para os
professores; apresentação do vídeo “Quando o Crioulo Dança” para to-
dos os alunos da 1ª até a 8ª série. O marco do projeto, nesse ano, foi a
definição de folclore e a construção de um mapa conceitual que pudes-
se caracterizar a cultura popular daquela comunidade como elemento
do folclore impregnado pela cultura afrodescendente. O projeto tratava
ainda do interesse do pesquisador em testar no campo das Ciências
Sociais possibilidades plenamente atestadas, da ferramenta heurística
“V de Gowin” e de teorias que constituem o trabalho, marco teórico
preliminar “El concepto de flujo y sus implicaciones, en un grupo de
alumnos de nivel medio tecnico de química. Olavarria, Argentina.no
campo das Ciências Sociais essa possibilidade foi plenamente atestada.
– 2004: ainda somente na Escola Dr. Augusto Duprat, mais
uma edição de êxito do projeto intitulado “A redescoberta da Áfri-
ca”, envolvendo as áreas de Ed. Artística, História e Geografia. As
embaixadas e consulados contatados deram apoio seja pelo que nos
disponibilizaram via Internet, seja por materiais (fitas de vídeo, car-
tazes, revistas e folhetos) enviados pelo correio. O envolvimento e a
dedicação dos alunos surpreenderam os professores e a coordenação,
chamando a atenção da mídia local, tanto dos jornais quanto da TV
Câmara e TV Furg de Programas Comunitários.
– 2005: O projeto transforma-se em uma ação regional, tendo
como ponto comum a Lagoa Mirim, a fim de realizar-se em todos
os municípios que têm interação com a temática, passando a ocorrer,
então, em todo o município de Pelotas, tendo o Cefet/RS como local
estratégico para essa gestão. Em 18 de março, realizou-se uma oficina
pedagógica com professores, alunos e cidadãos, sem cobrança de ta-
xas, mas com cobrança de comprometimento de levarem a suas esco-
las materiais e métodos para o desenvolvimento dessas aprendizagens.
Corresponderam os municípios de São Lourenço do Sul, Santa Vitó-
ria do Palmar e Arroio Grande, dando ênfase à finalidade de construir
uma proposta pedagógica regional que atenda ao cumprimento da
Lei 10.639/2003. Destaca-se que nos municípios de Arroio Grande
e Santa Vitória do Palmar houve uma aceitação imediata na educação
continuada de professores e na qualificação de estudantes de magis-
tério, bem como de cidadãos da sociedade civil interessados nessa
temática. Como resultado da oferta educativa, o projeto conquistou
o primeiro lugar e o Troféu Assers, como destaque de participação
no Encontro de Educação Mercosul-Conosur y Países Associados,
ocorrido nos dias 20, 21 e 22 de agosto no Colégio Industrial Otto
Krause da Ciudad Autônoma de Buenos Aires.
- 2006: Têm-se agora, nesta atividade realizada na área interna-
cional das Prefeituras de Santa Vitória do Palmar e Chui, e da Inten-
CADERNOS TEMÁTICOS Nº 9 FEV. 2006
67
dência de Rocha o encerramento da busca empírica de conhecimentos
populares para a constituição de material conteudístico que venham
dar condições de cumprimento da Lei 10639/03 com assuntos desta
Região do Extremo Sul do Brasil.
Com este trabalho objetiva-se desenvolver uma ação de quatro
anos, segundo o mapa conceitual idealizado para isso, no qual estru-
tura-se folclore por definição e por expressão, sendo que a expressão
dá-se por crenças, costumes, lendas e canções, itens que serão desen-
volvidos nos próximos anos.
City Tour em Língua Espanhola
AMORIM, Jane S.
Centro Federal de Educação Tecnológica de Roraima
A pesquisa e a prática pedagógica desta experiência realizada com
alunos do módulo II do Curso Técnico em Turismo, que contavam
com 80 h/a de estudo do idioma espanhol, tiveram por base o enun-
ciado do desenvolvimento de competência para “aplicar as habilidades
de interação comunicativa da língua espanhola para compreender e
expressar-se oralmente e por escrito em situações relacionadas com a
área de Turismo e Hospitalidade”.
O objetivo geral era “comunicar e compreender idéias e intenções am-
pliando a competência comunicativa em língua espanhola como língua
estrangeira, em situações de expressão oral e escrita apresentadas ao alu-
no”. Os objetivos específicos foram “expressar-se oralmente e por escrito,
formal ou informalmente, de maneira que lograsse transmitir com corre-
ção, uma mensagem em língua espanhola” e “fazer uso dos conhecimen-
tos adquiridos em sala de aula, permitindo-lhes expressar mensagens que
tiveram como propósito, evitar ou obter uma determinada conduta”.
Algumas atividades foram realizadas antes da realização do city tour,
como sorteio dos pontos a serem visitados e qual metodologia seria uti-
lizada. Optou-se por realizar-se um city tour pelo Centro Histórico de
Boa Vista/RR e a metodologia utilizada seria a pesquisa bibliográfica.
Em seguida, formaram-se os grupos utilizando a dinâmica das afini-
dades – “Se eu pudesse escolher o ponto a ser descrito escolheria...”
– conduzida pela professora. Em outro momento tiveram que elaborar e
apresentar um folheto informativo do Centro Histórico de Boa Vista.
Para que essa atividade fosse concretizada necessitou-se de alguns sa-
beres tais como: elementos básicos do idioma espanhol necessário à pro-
dução de pequenos textos descritivos, como também, de história regional,
geografia, planejamento, informática, ecologia e práticas de guiamento.
Todos estes saberes foram avaliados quando da execução dessa atividade.
Terminada essa fase, todos os grupos elaboraram um folheto des-
critivo em língua espanhola e no dia do city tour cada grupo fez sua
apresentação, in loco, dos monumentos que fazem parte do Centro
Histórico de Boa Vista.
Fotos: Jane Amorim
Descrição do centro
hirtórico de Boa Vista
feita pelo grupo de
alunos
Professores e alunos
que participaram do
city tour
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Diante do exposto, e compartilhando com as teorias de que só se fala
uma língua falando-a e que os conhecimentos prévios dos alunos consti-
tuem um material valioso para que possamos desenvolver de forma eficaz
um processo comunicativo no idioma em estudo, podemos declarar que
um dos enfoques comunicativos para gerir o processo ensino-aprendiza-
gem de línguas estrangeiras seria o enfoque por tarefas, utilizado nessa
atividade, pelo menos em cursos com fins específicos, pois o mesmo
orienta o aluno a encarar a si próprio como responsável, autocondutor e
independente na construção do seu conhecimento.
Práticas de Educação Musical
Oficinas de Extensão para a Comunidade
SOUZA, Ana Maria de C.; COUCEIRO, Adriana C. M.
Escola de Música da Universidade Federal do Pará
As oficinas de instrumento musical da Escola de Música têm
como finalidade oportunizar a comunidade o acesso à educação mu-
sical através de instrumentos em caráter de experiência, desenvol-
vendo as habilidades e descobrindo as potencialidades, sem neces-
sariamente o indivíduo estar inserido em cursos oficiais. Também
servem como preparação do participante para o ingresso nos cursos
profissionalizantes ofertados.
Um dos objetivos das oficinas é servir de campo de estágio para
os alunos do curso técnico profissionalizante, e que possam atuar
no ensino em grupo para turmas de iniciação musical propostas por
instituições não governamentais, particulares ou públicas.
Cada instrumento tem suas características específicas para o iní-
cio da aprendizagem é que pode variar de três a dezoito anos de
idade ou mais, assim como verificar através de avaliação individual
as aptidões para esse ou aquele instrumento.
As oficinas de iniciação ao violino para crianças pequenas aten-
dem desde os três anos de idade, e baseiam-se em alguns métodos
(japonês, alemão e russo), que são adaptados à realidade brasileira,
com canções da nossa região.É um método de observação e repeti-
ção. Os alunos recebem orientações do professor, em conjuntos de
até quatro crianças, sendo que um de seus responsáveis deve parti-
cipar das aulas e treiná-las em casa.
As crianças iniciantes são agrupadas em turmas por faixa etária,
e podem dar continuidade até completar nove anos de idade para
entrada no curso básico, desenvolvendo-se em módulos I, II,III.
Um dos responsáveis (pai ou mãe) acompanha a criança às au-
las e observa toda a metodologia de ensino aplicada pelo professor,
que tem a comunicação gestual como referência, facilitando assim a
orientação de seu filho em casa na prática das lições.
Fotos: Escola de Música da Univ. Fed. do Pará
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O material didático utiliza-se de melodias simples, como canti-
gas de roda, canções americanas, folclore popular e é desenvolvido
através da observação e repetição nos primeiros módulos. A parte
rítmica envolve a contagem numérica para marcar o tempo dos com-
passos (binário, ternário e quaternário).
A escrita musical inicialmente é feita com desenhos, fato que
despertou o interesse dos pais para o estudo do instrumento como
prática, não só para acompanhar os filhos.
O piano serve de base musical para ajudar à audição e memoriza-
ção das melodias assim como dar segurança como acompanhamen-
to. As avaliações são realizadas em grupo na sala de aula e/ou em
apresentações públicas.
O estímulo do trabalho em grupo, a presença dos pais – nas aulas
e acompanhando em casa –, a metodologia aplicada, a empatia com
o professor, conduzem a resultados satisfatórios e evolutivos.
Os resultados extrapolam a aprendizagem musical, no momento
em que os alunos apresentam-se em público. Observa-se o desen-
volvimento da disciplina, da integração, da responsabilidade, do es-
pírito coletivo, da prontidão, do prazer de tocar, do comportamento
adequado para o palco e principalmente da educação musical alcan-
çada. Como já se observou,
Alguns trabalhos são grandes demais para que possamos dar conta deles so-
zinhos, ou simplesmente é mais divertido realizá-los com amigos... por meio
do apoio, do conforto, do humor e do feedback, ou até mesmo do desafio, da
crítica e da oposição que nos oferecem, eles são o mais perfeito eliminador de
bloqueios (NACHMANINOFF, 1993, p. 92).
As oficinas de iniciação ao teclado, utilizando a música brasileira,
atendem pessoas acima de 10 anos sem limite superior de idade.
As aulas são em grupo de até 10 participantes, sendo que a escola
oferece os instrumentos e o material didático. As avaliações são em
grupo e com apresentações em público, tendo formato semestral e
carga horária de 1 (uma) hora/semana. O material didático foi or-
ganizado pelos professores e foram recolhidos da música brasileira
regional e folclórica, nacional e internacional em foi de apostilas.
Em depoimento de uma aluna de 70 anos de idade, escrito à
Direção da Escola de Música, reivindicando a continuidade das ofi-
cinas de teclado eletrônico, lê-se:
Sou aluna de teclado desta casa de Música, e me considero privilegiada por
estar participando junto com outros alunos deste aprendizado eloqüente, ma-
ravilhoso que só nos dá prazer.Esta casa é a casa da arte, do saber, da cultura,
da sensibilidade, da magia, do amor, da paz.Tudo isso e mais é o que a músi-
ca nos dá e é também o que o mundo precisa (PATELLO, Carta à Direção,
11/09/2005).
Diante dessas palavras, valorizando a importância da música de
forma educativa, na vida das pessoas, acreditamos que além da mis-
são da Escola de Música de preparar tecnicamente e artisticamente
a criança, o jovem e o adulto para o mundo profissional, podemos
também ter o compromisso, de despertar o interesse pela música na
primeira infância, assim como oportunizar conhecimentos e poten-
ciais do ser humano enquanto houver vida.
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CONTATOS
Contatos
AL
DESIGN, INTERDISCIPLINARIDADE
E CONTEXTUALIZAÇÃO
Áurea Luiza Quixabeira Rosa e Silva Rapôso
João Luiz do Nascimento Maia
Centro Federal de Educação Tecnológica de Alagoas
Rua Barão de Atalaia, s/nº - Centro
Maceió / AL CEP: 57020-510
Telefone: 82 326-4351
Fax: 82 326-4351 / 221-9786
E-mail: [email protected] Home Page: www.cefet-al.br
CE
A LEITURA DO CORPO COMO UM INSTRUMENTO
METODOLÓGICO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
Mônica Braga Marçal
Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará
Av. 13 de Maio, 2081- Benfica
Fortaleza /CE CEP: 60040-531
Telefone: 85 288-3666/288-3676/288-3675
Fax: 85 288-3711
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MA
O LÚDICO E O MOVIMENTO
COMO ATIVIDADE EDUCATIVA
Leopoldo Gil Dulcio Vaz
Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão
Av. Getúlio Vargas, 4- Monte Castelo
São Luís /MA CEP: 65025-001
Telefone: 98 218-9002
Fax: 98 218-9001
E-mail: [email protected] Home Page: www.cefet-ma.br
MT
A CULTURA ORAL E O PROJETO
CIÊNCIA VIVA, VIVA A CIÊNCIA
Carla Maria Abido Valentini
Eliane Dias de Almeida
Francisco de Aquino Bezerra
Luiz Both
Maria Ubaldina Costa Sanches
Elvirinha Strobel Pintel
Centro Federal de Educação Tecnológica de Mato Grosso
Rodovia BR 364, Km 329- Vila São Vicente da Serra
Cuiabá/MT CEP: 78106-000
Telefone: 65 341-2133 / 341-2105
Fax: 65 341-2113
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PA
PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO MUSICAL
OFICINAS DE EXTENSÃO PARA A COMUNIDADE
Ana Maria de Castro Souza
Adriana Clairefont Melo Couceiro
Escola de Música da Universidade Federal do Pará
Av. Conselheiro Furtado, 2.007- Cremação
Belém /PA CEP: 66040- 100
Telefone: 91 242- 6233
Fax: 91 242- 6833
PB
FERRAMENTA DE AUXÍLIO AO
APRENDIZADO DE PHRASAL VERBS
PARA ESTUDANTES DA LÍNGUA INGLESA
Jorge Antônio Monteiro Corrêa de Oliveira
Robson Ytallo Silva de Oliveira
Centro Federal de Educação Tecnológica da Paraíba
Av. 1º de Maio, 720- Jaguaribe
João Pessoa /PB CEP: 58015-905
Telefone: 83 208-3000
Fax: 83 241-1434/ 241-4407/ 241-4293
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RJ
COMO CONTEXTUALIZAR OS
CONCEITOS ABSTRATOS DE BIOLOGIA
Marlise Alves Vieira de Araújo
Colégio Pedro II
Campo de São Cristóvão, 177 – 3º andar
Rio de Janeiro / RJ CEP: 20921-440
Telefone: 21 3891-1009
Fax: 21 2580- 1007
E-mail: [email protected] Home Page: www.cp2.g12.br
O LEGADO DEIXADO POR MARIO GHIZI
Luiz Cláudio Gonçalves Gomes
Centro Federal de Educação Tecnológica de Campos
Rua Doutor Siqueira, 273- Parque Dom Bosco
Campos dos Goytacazes/RJ CEP: 28030-130
Telefone: 22 2733-3244 / 2733-3255
Fax: 22 2733-3079
E-mail: [email protected] Home Page: www.cefetcampos.br
TIMES VIRTUAIS COLABORATIVOS
Antonio J.C. Pithon
Marina R. Brochado
Marcelo C. Pereira
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Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro
Av. Maracanã, 229- Maracanã
Rio de Janeiro /RJ CEP: 20271-110
Telefone: 21 2568-8890 / 2569-4637
Fax: 21 2204-0978
E-mail: [email protected] Home Page: www.cefet-rj.br
RN
BANDA DE MÚSICA, ESPAÇO TRANSDISCIPLINAR
Ronaldo Ferreira de Lima
Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Av. Senador Salgado Filho, 1559- Tirol
Natal /RN CEP: 59015-000
Telefone: 84 4005-2600 /40052636
Fax: 84 4005-9728
E-mail: [email protected] Home Page: www.cefetrn.br
RR
CITY TOUR EM LÍNGUA ESPANHOLA
Jane da Silva Amorim
[email protected]; janeamorim@cefetrr.edu.br
Centro Federal de Educação Tecnológica de Roraima
Av. Glaycon de Paiva, 2496- Pricumã
Boa Vista /RR CEP: 69303-340
Telefone:95 626-4929
Fax: 95 626-5140
E-mail: cefetrr@cefetrr.edu.br Home Page: www.cefetrr.edu.br
RS
INTRODUÇÃO AO ESTUDO
DA HISTÓRIA DA ÁFRICA E CULTURA
AFRO-BRASILEIRA, NA
PERSPECTIVA DA LEI 10.639/2003.
Éder Coutinho
Neila G. Silva
Centro Federal de Educação Tecnológica de Pelotas/RS
Praça XX de Setembro, 455- Centro
Pelotas /RS CEP: 96015-360
Telefone:53 3284-5005
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MÁRIO QUINTANA POR ELE MESMO:
UMA LEITURA FACILITADA E UMA
HOMENAGEM AO SEU CENTENÁRIO
Elisa C. de Miranda
Escola Agrotécnica Federal de Alegrete
Rodovia RS 377, Km 27- 2º Distrito Passo Novo
Alegrete /RS CEP: 97541-970
Telefone:55 422-1655 / 422-1294 / 422-3303
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FOCO
Foco
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