LeituraS
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Por Edmir Perrotti*
Pequeno município do interior de São
Paulo, Iepê vem há tempos trabalhan-
do para se tornar uma Cidade-Leitora.
Com isso, já está obtendo resulta-
dos que o destacam em avaliações
estaduais e nacionais de Educação.
Afinal, ter domínio do código escrito
é, sabidamente, condição essencial e
primeira de aprendizagem. Daí que
apostar na leitura é tiro certo.
Todavia, cidades-leitoras não são obra
do acaso, nem se constituem por ma-
gia, milagre ou decreto. Elas resultam
de uma história, de visões e de opções
políticas por educação de qualidade,
por inclusão de todos nos circuitos do
conhecimento e da cultura.
Não nascemos leitores. A formação
de leitores é uma tarefa de vida toda.
Ler não é um simples fato biológico.
Apesar de envolver visão, neurônios
e outros aspectos fisiológicos, é um
ato eminentemente cultural, é pro-
dução de significados. Daí implicar,
necessariamente, opções e ações
políticas, mobilização pública, além
de recursos que vão dos materiais
aos saberes e competências diversas
e especializadas. As cidades-leitoras
somente podem ser formadas nesse
movimento dinâmico e permanente
envolvendo, além dos próprios leito-
res, autoridades, famílias, instituições
culturais como bibliotecas, casas de
cultura, escritores, livreiros, editores,
educadores, agentes culturais e inú-
meros outros mediadores.
Os sistemas educativos têm um papel
central em tais processos. Assim, do
ponto de vista das redes escolares,
além da prioridade às aprendizagens
necessárias à inclusão e apropriação da
cultura da escrita, há que se orientar e
preparar as equipes pedagógicas para
atuarem nesse sentido. E, por equipes
pedagógicas, entenda-se os quadros
ligados direta e indiretamente à Edu-
cação, de autoridades postadas nas
Secretarias de Educação aos profes-
sores. Pecam as iniciativas centradas
exclusivamente nestes últimos. O ato
educativo não é fenômeno isolado.
O nascimento das cidades-leitoras
Especialista em políticas públicas de promoção à leitura e
implantação de bibliotecas reflete a respeito da experiência de Iepê
dicionais, como também, as telas dos
computadores, o visor dos celulares,
os outdoors nas ruas e muitos outros
veículos contemporâneos que alte-
ram a escrita e nossas relações com
ela. Por outro lado, como no nosso
tempo as mensagens escritas agregam
outras linguagens, é preciso estabele-
cer conexões entre linguagem escrita
e as linguagens orais, audiovisuais,
gestuais, num processo dinâmico de
mobilização e conexão multimidiática.
Atentos à especificidade e às exigências
de cada tipo de linguagem, é preciso
colocá-las, todavia, em relação umas
com as outras.
Neste século XXI precisamos colocar
nossos estudantes em contato con-
tínuo e vivo com as mais variadas
fontes do conhecimento. Precisamos
criar espaços múltiplos e dinâmicos de
leitura e informação, na escola e fora
da escola. Precisamos criar oportuni-
dades diversificadas de aprendizagem,
possibilitar experiências culturais
alargadas aos estudantes nas chama-
das “sociedades do conhecimento”.
Nesse sentido, as crianças e os jo-
vens de Iepê não aprendem apenas
a reconhecer os signos e utilizá-los
para realizar seus deveres escolares;
eles os utilizam nas mais diferentes
situações cotidianas, em interações
que se espalham da escola para a vida
e desta para a escola, num movimen-
to permanente de conhecimento e de
reconhecimento do outro. A palavra e
o mundo, como queria Freire, se con-
jugam. Vive-se e respira-se, no dia-a-
dia de Iepê, a experiência da escrita em
suas variadas manifestações.
Iepê permite vôos e sonhos altos a
seus habitantes e a nós todos. Mais
que um exemplo, um desafio é lan-
çado! Que tal, caro leitor, sua cidade
tornar-se, ela também, leitora?
“O ato educativo não
é fenômeno isolado.
Insere-se numa trama
constituída por
diferentes agentes
educativos com
diferentes formações
e funções.”
* Edmir Perroti, professor aposentado da Universidade de São Paulo com mestrado e doutorado em Ciências da Comunicação,
assessorou projetos de promoção à leitura em diversas prefeituras, como as de Jaguariúna (SP) e São Bernardo do Campo (SP).
Insere-se numa trama constituída
por diferentes agentes educativos com
diferentes formações e funções.
O conhecimento não nos chega de
pronto; é fruto de esforços e aproxi-
mações permanentes e indispensáveis.
Daí demandar a adoção de políticas
de formação continuada em leitura,
tendo por alvo, como dissemos, os
quadros profissionais que atuam na
Educação. É preciso envolvê-los, tor-
ná-los leitores, antes de mais nada.
Sem isto, não haverá solução.
Além disso, é preciso uma consciência
clara de que não é possível formar
leitores na atualidade sem consi-
derar que a escrita vem ganhando
contornos específicos de nossa épo-
ca. Se continuamos a ler em livros,
jornais, revistas, lemos também em
outros e novos suportes que abrem
possibilidades até então inexistentes
para a escrita. Num mundo onde
espocam mensagens de todo lado, é
preciso aprender a ler os suportes tra-