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BR4900048
E15/850/B/M/V
MONSERRAT, J.
SECRETARIA DA AGRICULTURA, INDUSTRIA E COMERCIO
, PORTO ALEGRE, RS (BRAZIL), SECCAO DE ASSISTEN
CIA AO COOPERATIVISMO
COOPERATIVISMO E COOPERATIVAS ESCOLARES [HI
STORIA; RIO GRANDE DO SUL; BRASIL]
PORTO ALEGRE, RS (BRASIL)
1949 212 P. (PT) 11 ILLUS.
/G514
MICROECONOMIA; HISTORIA; COOPERATIVA ESCOLAR; C
OOPERATIVA; RIO GRANDE DO SUL
247
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J. MONSERRÁT
E
COOPERATIVAS;
E S C O LAR E S
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À memória de Salvador Monserrat e Maria Pin-
heiro Monserrat, pais e amigos, o preito de nossa
imorredoura gratidão.
Ao culto e abnegado magistério rio-grandense a
quem confiamos a educação de nossos filhos, a homenagem
do autor.
APRESENTAÇÃO
“J. MONSERRAT”
COOPERATIVISMO
E
COOPERATIVAS ESCOLARES
– Secção de Assistência ao Cooperativismo –
Secretaria de agricultura, industria e comércio
PORTO ALEGRE – RIO Grande do Sul – Brasil
1949
A Secção de Assistência ao Cooperativismo, edi-
tando êste primeiro trabalho de um de seus técnicos —
COOPERATIVISMO E COOPERATIVAS ESCOLARES
— não só cumpre mais uma das atribuições que lhe
foram delegadas pelo acôrdo que o Govêrno do Es-
tado manm com o Serviço de Economia Rural, do
Ministério da Agricultura, para difusão do sistema e
práticas cooperativistas no Rio Grande do Sul, co-
mo espera contribuir, de forma a mais positiva, para
a, organização de cooperativas escolares em nossas
instituições educacionais.
E' inegável que o Rio Grande ocupa a vanguarda
do movimento cooperativo brasileiro em quase todos
os setores de sua atividade econômica.
Conta, atualmente, com 320 sociedades, em pleno e
regular funcionamento, que se distribuem pelos quatro
quadrantes de seu território, levando à cidade e ao
campo, à serra e à planície os ensinamentos e as van-
tagens da Cooperação e reunindo, sob sua bandeira,
nada menos do que 100.000 produtores e consumidores
de tôdas as classes sociais e de tôdas as origens étnicas,
para realizarem um movimento econômico-financeiro
que atinge a Cr$ 1.200.000.000,00 anuais:
Entrementes, o COOPERATIVISMO ESCOLAR
que deveria constituir a primeira linha da ação cooperati-
vista, não conseguiu, ainda, expandir-se como se tor-
na necessário em nosso meio.
Os exemplo que temos são poucos e devem suas
tão auspiciosas realizações, mais à atividade isolada e à
boa vontade de uma ou outra professora, do que a um
trabalho prèviamente estudado e racionalmente
planificado.
Daí, a iniciativa dêste livro e as razões de sua
edição.
Seu autor, economista José Monserrat, antigo
funcionário desta Secção, hoje à frente do Serviço de
Divulgação e Propaganda, tem, aliada à sua comprovada
capacidade técnica, uma larga experiência do problema,
adquirida nos longos anos em que exerceu as funções de
Inspetor de Cooperativas, em Bento Gonçalves, centro de
próspera zona agrícola do Estado, o como ex-presidente
da Cooperativa dos Estudantes de Pôrto Alegre Ltda..,
entidade que, no gênero, honra nosso país.
Alicerçando, assim, seu trabalho, não só nos
mais reputados técnicos e pedagogos mas, também, no
trato das questões concretas, e trazendo à discussão
exemplos práticos e situações reais, o autor revela a
seriedade da matéria que estuda, detida e
criteriosamente, e a necessidade de exercitarmos a
ooperação desde os bancos escolares, como meio de
consolidar as realizações existentes e progredimos
cooperativamente.
As sugestões oferecidas no capítulo À Guisa de
um Plano de Fomento são oportunas e ressaltam me-
didas objetivas e capazes de, bem articuladas com as de
nossas autoridades educacionais, satisfazer uma
necessidade evidente, no movimento cooperativo
riograndense.
Cabe, pois, agora, pôr mãos a obra.
E, na execução desse trabalho, cremos, firme-
mente, que os nossos técnicos em educação e o bri-
lhante professorado gaúcho, a quem tão merecida-
mente, é também dedicado êste livro, não regateará
o seu concurso decisivo.
A educação é obra de cooperação, dizem os
mestres.
Eduquemos, pois, cooperando. E, cooperando,
lancemos os marcos de uma nova fase na história das
atividades cooperativistas do Rio Grande do Sul.
Rui Esteves Corrêa
Chefe da S. A. C.
COOPERATIVISMO
(Esbôço histórico sôbre o movimento cooperativo)
Há mais de um século, a mesma maçã que con-
denou Adão a comer o pão com o suor de seu rosto,
que revelou a Newton a lei da gravidade e a Páris
projetou na História, inspirou, também, a Fourier, com
a «lei da atração dos sentimentos» que afirmou des-
cobrir, o sistema de reivindicação econômica na
ordem social — O COOPERATIVISMO.
Conta Fourier que, achando-se num restaurante
em Paris viu o seu companheiro de mesa pagar por uma
maça produzida na sua terra 14 soldos, enquanto lá
custava, justamente 14 soldos, o cento. «Surpreso com
tal diferença, continua êle, comecei a suspeitar que
havia uma desordem fundamental no mecanismo
industrial, de onde nasceram minhas investigações que,
ao cabo de 4 anos, me fariam descobrir a teoria das
séries de grupos industriais e as leis do movimento
universal, malogradas por Newton».
Constatava-se, mais uma vez, a profunda
anomalia existente no mecanismo da produção,
distribuição e consumo da riqueza.
A GÊNESE DO MOVIMENTO
Valendo-nos de trabalhos de investigação e divul-
gação históricas que constituem parte da bibliografia
cooperativista, procuraremos dar uma noção da gê-
nese do movimento cooperativo e caracterizar-lhe os
seus fundamentos econômicos.
A Cooperação, em sentido amplo, surgiu, na sua forma
elementar, no momento preciso em que o ho-
mem, compreendendo a precariedade das ações isola-
das e distintas entre si, na busca dos elementos indis-
pensáveis à satisfação de suas necessidades, procurou
a colaboração de um semelhante para, juntos, enfren-
tarem as dificuldades, cada vez maiores, e conquistar
um meio diferente, empregando métodos diversos e
desconhecidos, pan realizar, assim, o benefício comum.
E, se nos reportarmos aos primeiros aglomerados
humanos, encontraremos, no período do próprio «no-
madismo», nuances mais ou menos imprecisas, mas
bastante indiciadoras de cooperação econômica, através
da ajuda mútua que se prestavam no pastoreio e o
auxílio recíproco no cultivo de primeiras lavouras, etc.
Mladenatz informa que, na Armênia, próximo ao
monte Ararat, onde, segundo o texto bíblico, foi o
berço da Humanidade, funciona ainda uma forma par-
18 J. MONSERRAT
ticular de cooperativa entre os leiteiros da localidade
e que data de tempos imemoriais.
Como formas históricas de tradição cooperativa,
o mesmo autor nos apresenta a «zadruga» sérvia e a
«mir» russa, citando como exemplo mais concreto o
«artel», cujas características muito se aproximam das
modernas cooperativas de trabalho. O «artel», que era
uma associação de pessoas, agrupando um número ili-
mitado de trabalhadores sem grandes recursos, basea-
va-se na mais estrita solidariedade de seus membros
e entre os mesmos reinava espírito familiar. Em reu-
nião geral era eleito o chefe, que se encarregava da
direção dos diversos serviços, que iam desde os tra-
balhos particulares aos das necessidades gerais da
«grei».
Na Grécia antiga, relata-nos Fábio Luz, «quase
tôdas as pessoas das classes média e baixa faziam
parte de associações de cunho cooperativo» e os «co-
légios» romanos também constituiam associações de
igual caráter.
Para Bórea, o exemplo remoto de associação dêste
gênero, deve ser buscado na Palestina. Na França,
considera êle como mais antigo as «Frutières», socie-
dades de queijeiros das regiões do Jura e Sabóia.
Na Alemanha, Otto Gierke, em seu «Direito Coo-
perativos», diz que «a cooperação é pré-alemã». Stau-
dinger viu, nas uniões religiosas, formações cooperati-
vas, pois nelas se abrigavam, em absoluta comunidade
de vida, aqles que fugiam das condições destrutoras
de tôda solidariedade, próprias da época.
Na América, os vestígios mais antigos datam da
civilização incaica.
A organização agrária do povo inca, ensina-nos
Horne, se baseava na exploração coletiva da terra. Era
o regime do «ayllú». O sistema incaico tendia a for-
COOPERATIVISMO 19
mar uma disciplina no trabalho e manter os incas em
constante atividade. A saudação «Ama Kella» — não
sejas preguiçoso — revela o espírito daquele povo.
Valdiki Moura nos informa que «trinta anos na-
tes do movimento de Rochdale, modestos grangeiros
de Connecticut haviam instalado uma cremaria coope-
rativa, e em 1785, isto sessenta anos antes, também
haviam alguns criadores organizado a primeira coope-
rativa pecuarista dêste hemisfério. Também três anos
antes dos temerários tecelões inglêses. Mr. Picket ha-
via montado em Wisconsin uma usina lacticinista ma-
nipulada cooperativamente».
No México, a história do «ejido» e da economia
«ejidal» nos impressiona como uma forma de organi-
zação social do trabalho agrícola profundamente en-
raizada no povo asteca e cujas bases de caráter asso-
ciativo e de integral solidariedade entre seus compo-
nentes vem incorporá-la à pré-história do movimento
cooperativo mexicano.
Condições semelhantes encontramos no Paraguai,
«onde os guaranis tinham o seu «tupambaé», no qual
se efetuavam os cultivos coletivos e pastava o gado,
conservando cada um seu «abambaé» (lote particular),
existindo, no seu regime agrário, muitos elementos
para uso comum, como os bois, os instrumentos, etc.»
A Colônia São José, instalada por Urquiza, em
1857, na margem do rio Uruguai, com cem famílias
suíças e savoianas, foi uma realização da maior
transcendência. Vale a pena conhecermos com alguns de-
talhes a colonização planificada dentro das normas de
uma sadia política agrária, como exemplo de um vi-
zinho próximo. Uma grande extensão de terras foi
dividida em lotes e entregue a cada família. Não cons-
tituia, porém, a colônia, partes isoladas, como ocor-
reu a ainda ocorre conosco. Tinha uma direção cen-
20 J. MONSERRAT
tral e uma área central reservada para os escritórios
de administração, a escola, a igreja, etc. Os membros da
colônia elegiam periòdicamente uma comissão de cinco
companheiros para discutir os interêsses gerais da col-
ônia, com competência para representar junto aos po-
deres públicos contra os desmandos da administração.
A ação individual tinha os limites impostos pelos di-
reitos e interêsses da coletividade. A organização im-
punha uma série de dificuldades para a venda de ter-
ras entregues aos colonos, a fim de evitar não a
especulação como a solução de continuidade, porque,
diziam, aquêles lotes deviam ser trabalhados como
convinha, racionalmente.
A Côlonia São José é ainda hoje um exemplo, diz
Horne.
Ali vivem os netos dos fundadores nas mesmas
concessões originais. A terra não se concentrou nas
mãos de um ou dois; os colonos não perderam suas
terras e nem conhecem dívidas. Suas explorações são
mistas, intensivas e integrais. Não existe luta nem pro-
letariado rural: os produtores se ajudam entre si nas
tarefas agrárias.
Aqui mesmo, no Brasil, Álvaro Ilgenfritz, estu-
dioso e culto colega de pregação cooperativista, em in-
teressante investigação histórica, descortinou no es-
fôrço dos negros alforriados das Minas Gerais, para
libertação de seus irmãos, formas expressivas de or-
ganização e, nos trabalhos subseqüentes, numa daque-
las tradicionais vilas, traços evidentes de método coo-
perativista.
Jean Gaumont, em «Histoire Générale de la Coo-
peration en France», citada por Luiz Amaral, escre-
veu uma página sôbre a organização agrícola, nos
primórdios da colonização brasileira, que merece uma
maior divulgação.
COOPERATIVISMO 21
Diz êle que, «em 1840 constituiu-se uma sociedade
com o fim de fundar no «Palmetar» (Brasil) uma,
colônia societária, de acôrdo com os dados de Charles
Fourier e, aprovados os estatutos, ela tratou de apelar
para as famílias de diferentes categorias e de associar
colonos, tudo sob a direção do doutor Arnaud, o qual
obtivera uma concessão de terras. Essa sociedade tomou
o nome de Union Industrielle. Tinha por fim consti-
tuir no Brasil, de acôrdo com as autoridades oficiais
daquele país novo, um centro de colonização proletá-
ria, que tentaria pôr em prática as teorias
fourieristas, pela orientação de uma ou mais comunas
agrícolas e industriais conforme o plano dado pelo Mestre.
Operários de tôdas as profissões deliberaram participar da
tentativa e se repartiram em três grupos, que deviam
embarcar em escalas sucessivas com destino à colônia.
Designado em Lyon para organizar aí um dêsses grupos de
emigrantes, Reynier se atirou à prebenda árdua e cheia de
responsabilidades, durante os anos de 1840, 1841, 1842 e
1843. O grupo, que êle recrutara em Lyon, atingiu nesse
último ano 75 pessoas, homens, mulheres e crianças, cuja
contribuição à sociedade consistia em 2.080 francos de
numerário e 3.150 francos de utensílios. Dessa soma, 1.500
francos foram consignados à Sociedade central, em Paris,
incumbida de organizar a viagem. Por eleição, foram
designados três diretores para conduzir ao Brasil os
emigrantes. Eram Michel Derrion, Joseph Reynier e Jamain.
O doutor Mure havia já partido para negociar com o
govêrno brasileiro as condições de concessão e da
ororganização da colônia societária. Derrion, promotor do
empreendimento, e que arregimentara os adesistas do
primeiro embarque, constituído sobretudo de parisienses,
embarcou com o primeiro grupo, seguido pouco depois por
Jamain, que conduzia o segundo. Reynier seria o terceiro a
partir, conduzindo os adesistas
22 J. MONSERRAT
lioneses. Foi, porém, retido pela noticia de que grave con-
flito surgira entre aquêles grupos, que se dividiam, parte
dos associados acompanhando o doutor Benoit Mure,
que instalara o falanstério d’Oliveira, na península de
Sahy, Província de Santa Catarina, e permanecendo o
resto em tôrno d’Arnaud, de Derrion, de Jamain, de
Rouffinei e de Joly, que obtinham uma segunda con-
cessão no «Palmetar» e tomavam posse dela em março
de 1843. Que resultou da tentativa da União Indus-
trielle? Após haver vivido alguns anos, conforme tes-
temunha o relatório do próprio Reynier, que refere ter
ela podido criar uma serraria mecânica dirigida por
Jamain, fracassou em seguida. Essa tentativa dos fou-
rieristas, conquanto uma pouco fora das tentativas
precedentes do Commerce Véridique, prevalece, toda-
via, no quadro do Cooperativismo, aparentando-se com
asrmulas diversas de cooperativas de produção».
«O negócio do Sahy, dirigido por Benoit Mure,
viveu mais. Em 1846, a 7 de abril, Derrion, então no
Rio de Janeiro, onde leciona para viver, pronuncia vi-
brante discurso no banquete de aniversário do nasci-
mento de Fourier. Recorda que, depois de muitas pro-
vações, a colônia do Sahy existe, e constitui vasto do-
mínio de duas léguas quadradas, òtimamente situado
e prestes a receber tôdas as tentativas mais ou menos
integrais que os homens ávidos de prática quiserem
realizar».
E, mais adiante, lemos a transcrição de uma no-
tícia de Jules Durval de que, por volta de 1845,
existia no Rio de Janeiro um órgão publicitário — O
Socialistadivulgador da teoria apregoada por Fou-
rier.
Essa tentativa de colonização foi assinalada, por
Saint Hilaire, em seu livro sôbre a Província de Santa
Catarina, onde comenta as ótimas condições locais, a
uma légua, apenas, da baía de São Francisco, e diz
COOPERATIVISMO 23
que, se não fôra o móvel da emprêsa pôr em prática
a utopia de Charles Fourier, o êxito da colonia estaria
garantido.
Em nossa terra êsses empreendimentos, se bem
que significativos, tiveram, como se viu, um caráter
restrito, limitando-se a um engenhoso expediente para
ibertar escravos e a mais uma experiência dos discí-
pulos de Fourier.
O que poderíamos alinhar como método caracte-
rístico e generalizado de trabalho cooperativo entre
nossa gente é o muxirão ou mutirão e à troca de dias
de serviço, como sistemas de trabalho exclusivamente
nossos, originados das necessidades dos meios rurais
brasileiros e que se têm conservado inalteráveis.
O mutirão ocorre quando o proprietário de meia
dúzia de hectares de terra quer levar a cabo as tare-
fas agrícolas de grande envergadura, como derruba-
das, roçadas, e, mais raramente, plantação e colheita,
o que nenhum dêles (agricultores pobres) seria capaz
de realizar isoladamente, entregues às suas próprias
fôrças.
A troca de dias de serviço é a permuta de um
trabalho por outro trabalho, constituindo, portanto,
um dos mais sintéticos exemplos de cooperação. Não
se restringe apenas à prestação de serviços pessoais
recíprocos. Implica, com freqüência, no uso de maqui-
nismos agrários, animais de tração e meios de trans-
porte, existindo, mesmo, localidades em que já foi
estabelecida a equivalência entre diversas espécies de
labor.
A primeira se caracteriza pelo seu aspecto festivo
e onde o encerramento do trabalho (mutirão) é sem-
pre motivo para regalada janta seguida de alegres
danças; a segunda, por não implicar, absolutamente,
24 J. MONSERRAT
em retribuição pecuniária ou de qualquer outra espé-
cie, que não a do trabalho pessoal.
* * *
Contudo, todo êsse movimento associacionista que
espertou com as manifestações gregárias do homem, é
visto, naturalmente, como simples decorrência da pró-
pria necessidade, que dêle z um ser eminentemente
social.
Não eram pròpriamente associações cooperativas,
pois não podia haver cooperação entre senhor e escra-
vo. E a escravidão e a servidão foram as bases da
economia pretérita.
O que se realizou na Idade Média não podemos
aproximar de doutrina cooperativa. Neste período da
História a economia se baseou no trabalho servil e nas
corporações de ofício, instituições estas de direito pú-
blico, com caráter compulsório para todos os membros
de uma mesma profissão, com funções específicas de-
legadas pelo Poder Público, e dispondo mesmo de atri-
buições legislativas.
O que ocorreu foi, exclusivamente, o fruto da ne-
cessidade, estimulado pelo exemplo das organizações
religiosas e premido pelo imperativo do amparo e
auxílio recíprocos, anàlogamente ao que Aristóteles já
observa no mundo das plantas e dos animais, tecido
todo êle e uma relação mútua de caráter cooperativo,
formando o que os naturalista chamam de simbio-
tismo.
Foi, pois, uma simbiose, natural e lógica, em face
de iguais problemas, o que aconteceu nas eras ante-
riores, e não a estruturação de um organismo autô-
nomo, livre e neutro, como se operou nos Tempos Mo-
dernos.
FATOS DECISIVOS
A Revolução Francesa foi sem dúvida um manan-
cial inesgotável para os estudos e pesquisas de ordem
econômica, social e política dos séculos subseqüentes.
E, se recuarmos um pouco aos dias brilhantes da
Grande Revolução, e procurarmos focar o evoluir do
movimento cooperativo, notaremos alguma coisa de
original na Declaração dos Direitos do Homem.
É que, ao lado da liberdade, da igualdade, do di-
reito à propriedade, de resistência à opressão, etc., não
se encontra, inscrito no seu texto, o direito de asso-
ciação, por mais espontâneo que êle se manifestasse no
meio social.
Apesar de ser uma insurreição essencialmente li-
beral, temeram, por certo, os seus legistas, que uma
tal garantia estimulasse o espírito associativo, o qual,
na ortodoxia dos teóricos da Revolução implicava na
limitação das liberdades individuais e, por conseqüên-
cia, num desvirtuamento imperdoável dos postulados
revolucionários...
As razões que presidiram essa omissão foram
aceitas com tal intransigência que não trepidaram em
proscrever, pelo famoso decreto Le Chapelier, de 1791,
a associação profissional, uma das mais democráticas
26 J. MONSERRAT
organizações da época; e ainda mais, confirmando sua
conceituação, estabeleceram, no Código Penal de 1810,
severas sanções para qualquer agremiação que reu-
nisse mais de vinte pessoas.
O mesmo aconteceu na Inglaterra. Sidney Webb,
escrevendo a História do Tradeunionismo, apresenta-
mos trechos da conclusão de um inquérito contempo-
râneo à promulgação do Código Francês, e onde se lê
que «nenhuma intervenção da legislatura pode dar-se
na liberdade de indústria ou na completa liberdade de
cada indivíduo dispor de todo o seu tempo e trabalho,
da maneira a nas condições que julgue mais vantajosa
para o seu próprio interêsse, sem violar princípios de
capital importância para a prosperidade e felicidade
geral..»
A par dessa incongruência «revolucionária», fren-
te à organização popular, as idéias de Smith e seus
discípulos, apregoando a liberdade econômica, encon-
traram ressonância nos meios da indústria nascente
e campo fértil à sua aplicação imediata entre as gran-
des massas, manifestamente alcoolizadas pelo entusias-
mo incontido da novidade.
Dadas as condições anteriores das atividades in-
dustriais que viviam asfixiadas pelo absolutismo dos
Luíses, o seu desenvolvimento, nesse clima de liber-
dade, foi rápido, aproveitando tão boas circunstâncias.
O advento dessa nova situação criou, nas relações
comerciais, o corolário lógico da livre concorrência, cu-
jos efeitos, exercendo a função de vasos comunicantes,
manteriam o equilíbrio nas oscilações dos preços, pro-
movendo, automàticamente, o aumento ou a diminui-
ção das utilidades, à medida que a lei da oferta e da
procura acusasse, na balança dos mercados, maiores
ou menores necessidades.
Esta inovação, como é natural, causou benefícios
e trouxe vantagens sem conta ao progresso dos povos.
COOPERATIVISMO 27
Mas, os benefícios e as vantagens do liberalismo
econômico, se promoveram o desaparecimento dos mon-
opólios de Estado e do regime servil do feudalismo,
e facilitaram o desenvolvimento da iniciativa humana,
originou, também, do bôjo de tôdas as suas realiza-
ções, como resultante da própria expansão industrial
e comercial e da livre disputa de mercados, o fenô-
meno quase desconhecido da concorrência.
O Estado absteve-se de tôda ingerência na eco-
nomia, abandonando a organização da produção e res-
tringindo sua ação a medidas mantenedoras da ordem
e da segurança social. Deixou, mesmo, as relações de tra-
balho, que «as corporações tanto zelavam», entregues
à solução dos próprios interessados, «intervindo pura
e simplesmente como órgão policiador, para garantir o
livre curso à lei da oferta e da procura», tão exaltada
por Bastiat, em «Harmonias Econômicas».
A medida, porém, que as posições econômicas se
iam definindo e as fábricas, impulsionadas com com-
bustível barato, ampliavam suas instalações e inicia-
vam a acúmulo de mercadorias, surgiu o jôgo dos pre-
ços e a corrida vertiginosa para o lucro.
Pressentindo os resultados dêsse jôgo concorre-
ncial, os estudiosos e filantropos da época encheram-se
de inquietação.
Percebiam, por certo, a aproximação da tempes-
tade, de que a desenfreada luta pelo lucro, de um lado,
e os disputadíssimos duelos por aumento de salários,
de outro, eram indícios claros.
A concorrência, descortinavam então, promoveria
a formação de outros monopólios, concentrações mais
poderosas e decisivas, e o cenário não mais seria ape-
nas uma ilha ou a velha Gália...
Êste período de ações e reações simultâneas não
se fez esperar, lançando os marcos definitivos de uma
28 J. MONSERRAT
nova era, donde surgiram os fundamentos de várias
concepções, as quais, com o perpassar dos tempos, se
foram lapidando, ajustando-se às injunções de novas
necessidades e de formas mais racionais de satisfazê-
las.
Staudinger, estudando as origens do cooperativis-
mo um moderno, escreve que a «cooperativa, em sentido
específico, se funda em condições históricas e econô-
micas mui precisas e determinadas. Deve-se o seu
aparecimento à extensão do capitalismo; ela é uma
reação pacífica, mas ativa, contra a pressão que êle
exerce no mecanismo econômico». Pois, via de regra,
a intermediação tem rosto de Jano e a mercância é
luta. Luta entre os contratantes para usufruir maio-
res vantagens do contrato; luta entre os competidores,
tanto para vender como para comprar. E a arma
usada neste combate diuturno é a da melhor oferta».
É certo que a competição econômica trouxe pro-
gressos incalculáveis à técnica da produção; mas não
é menos evidente que sendo a ganância a lei de sua
vida e de sua atividade, observamos, no seu processo,
a queima de produto em meio à subnutrição e a inci-
neração de lãs quando o frio é mais intenso...
Nestas condições, o aparecimento do Cooperativis-
mo, foi uma reação lógica contra os efeitos maléficos
da nova estrutura que avassalava o mundo.
A revolução industrial abriu as portas da moderna
«city» e dos grandes magazines, dando origem a situa-
ções desfavoráveis de vida as grandes massas da po-
pulação. O industrialismo congregou grandes núcleos
urbanos, formando cidades populosas e obrigando os
artezãos, pela concentração das grandes organizações
fabris e comerciais, a se inscreverem, sem mais ou-
tra alternativa, nas legiões do proletariado que emer-
gia e se avolumava.
COOPERATIVISMO 29
O advento da máquina e do aparelhamento in-
dustrial que, na medida do tempo, aperfeiçoava sua
engrenagem, aumentando os meios de produzir mais
e diminuindo as despesas da mão-de-obra, beneficiou
sòmente aos que a possuiam.
Contra êste aspecto particular da produção e da
distribuição dos artigos e manufaturas de consumo,
assim como para evitar os abusos do prestamista usu-
rário, nasceu intensa a necessidade de desenvolver o
sentido da solidariedade social, trazendo como resul-
tado o aparecimento dos primeiros esboços de uniões
econômicas devidamente estruturadas.
Não, por certo, na associação corporativa, de tão
tristes lembranças, mas na sociedade cooperativa.
* * *
Tragados, embora precàriamente, os lineamentos
da gênese dêsse grande movimento que, hoje num
contagiante e sadio egoísmo, se avoluma para a con-
quista de um maior bem-estar do homem e da socie-
dade, vejamos as idéias, os fracassos e as contribui-
ções dos Utopistas.
AS IDÉIAS, OS FRACASSOS E AS CONTRIBUIÇÕES
DOS UTOPISTAS
O Cooperativismo, pois, lança suas raízes profun-
das nos trabalhos e idealizações dos «Utopistas», ho-
mens que, inspirados nas más condições existenciais
da época, saíram a público anatematizando, com uma
critica sem precedentes, a ordem imperante e apre-
goando novos métodos de trabalho e distribuição da
riqueza.
Imaginando paraísos acreditavam que, pela asso-
ciação livre e espontânea dos cidadãos, seria possível
emancipar o homem das agruras do salariado e ofe-
recer-lhe, assim, tudo o que fôsse preciso ao cumpri-
mento de sua finalidade precípua, em uma atmosfera da
mais franca amizade e solidariedade social.
Deixando de lado Tomas Morus, Bacon, Campa-
nela et caterva, cujas fantasias apenas influiram nesse
processo no que interpretavam as inquietações de seus
contemporâneos e os sonhos de um mundo melhor,
demoremo-nos um pouco naqueles que ingressaram na
História batizados como os «Precursores de Coopera-
çã, muito embora suas concepções se assinalassem
com profundas marcas de velhas utopias.
Portadores de grande e viva imaginação, fizeram
verdadeiras profecias sôbre a organização do traba-
32 J. MONSERRAT
lho, direito de propriedade, desenvolvimento dos meios
de comunicação e tantos outros problemas que hoje,
em pleno século XX, estão sendo equacionados e postos
em execução.
Entre êles, os autores mais categorizados das cor-
rente ideológicas que daí se originaram, são unânimes
em destacar, na França, Charles Fourier, Louis Blanc,
Louis Guesde e Phellippe Bouchez e, na Inglaterra,
Robert Owen, William King, John Bellers e P. C.
Plockoly.
Para melhor apreciarmos o conteúdo das ideali-
zações e dos trabalhos dêsses homens e o papel im-
portantíssimo que desempenharam no processo evolu-
tivo da sociedade, daremos uma síntese biográfica de
Owen, King, Fourier e Louis Blanc, indiscutivelmente
os que maiores contribuições deixaram para os movi-
mentos posteriores.
É verdade que o fracasso de suas iniciativas che-
gou mais cedo do que os seus detratores haviam pre-
dito. E não era possível esperar-se outra coisa. Uma
organização popular e democrática, como foram os
frutos de suas elucubrações, exigia, forçosamente, uma
grande base de compreensão, disciplina e desinterêsse
pessoal e, além de não existir nenhuma dessas condi-
ções essenciais, a conjuntura econômica não era de
molde a propiciar o desenvolvimento de outras forças
que não estivessem ligadas aos interêsses do industrialis-
mo nascente.
Para esboçar os planos de suas concepções de um
novo edifício social tinham que ater-se às aspirações
de seu idealismo, porque não podiam apelar para a
história vivida, para a experiência do lutas anteriores,
uma vez que eram rebentos da própria revolução in-
dustrial em seus primeiros vagidos.
A máquina de fiar «Jenny» que desencadeou a «Revoluçăo
Industrial».
Projeto para um «Falanstério» conforme a «utopia» de Fourier.
COOPERATIVISMO 33
Era, como vimos, um clima favorável às disposi-
ções de Le Chapellier, do Código Penal e das reações
inglêsas a par da carência de preparo das populações
para o perfeito recebimento e assimilação das idéias
que, no dizer de Danton, «andavam correndo pelas
ruas enquanto os homens que mais precisavam se es-
condiam delas, estonteados com tanto embuste» e das
quais, mais tarde, Gide diria terem sido «como essas
frutificações extemporâneas da primavera, que as últi-
mas geadas destróem com facilidade, abortaram, mas
o movimento que elas iniciaram não se perdeu, foi re-
novado, 17 anos depois, pelos Pioneiros».
ROBERT OWEN
«Filantropo louco», «industrial progressista», «Re-
volucionário perigoso», etc.. são epítetos que encontra-
mos sempre a respeito dêste inglês genial e, aparen-
temente, contraditório.
Temperamentalmente socialista, sua existência —
1771 a 1858 — foi tôda ela de uma atividade e dina-
mismo impressionante, embora, ao que saibamos, nun-
ca tenha sido um militante político-partidário.
Iniciando-se como aprendiz, antes de 30 anos, em
1.º de janeiro de 1800, assumia a direção de uma fá-
brica de tecidos em New Lanark, onde despertou-lhe
interêsse o estudo da questão social. Sua fábrica tor-
nou-se cedo um lugar de aristocrática peregrinação,
recebendo a visita das grandes figuras da época, entre
as quais os reis da Prússia e da Holanda e de tzar
Nicolau I.
Que teria feito Owen para merecer a atenção de
tão selecionadas personalidades?
34 J. MONSERRAT
Simplesmente, antecipou de um século o que mais
tarde viria chamar-se legislação operária.
Em New Lanark as realizava já tudo o que figu-
raria nas exposições de economia social — habitações
com jardins para os operários, refeitório higiênicos,
bibliotecas, caixa econômica, etc., e nela:
reduziu o dia de trabalho do 16 para 10 horas;
recusou emprego para menores do 14 anos, crian-
do escolas para êstes;
suprimiu na multas então em uso.
Todavia, «desgostoso por não ver generalizadas
suas idéias pois seus colegas não o seguiram, nem o
Govêrno de S. M. deu importância ao seu programa
de reivindicações, voltou-se Owen para a associação
depois de se ter convencido da impotência dos dois
poderes — o Público e o Patronal — para servir ao
progresso social inglês».
Torna-se, então, o propugnador da associação co-
mo meio de resolver o problema social, «escandalizado
que estava com a diferença de tratamento entre a má-
quina morta e a máquina viva». A abolição do lucro
foi, para êle, o ponto capital para atingir o meio am-
bicionado. E, com o lucro, a concorrência. « O lucro
e a concorrência, afirmava Owen, são inseparáveis. Se
a concorrência é a guerra, o lucro é o saque». Por isto
combatia todos «os arranjos que criam o desejo infin-
dável de comprar barato e vender caro».
Concretamente, sua ação, no terreno da prática
associonista se revela em dois audaciosos empreendi-
mentos: as colônias «NEW Harmonies» e os «National
Equitables Labour Exchanges» (Armazéns de Troca).
A experiência das «comunities», ou colônias har-
mônicas, foi levada a efeito em Indiana, EE. UU., e a
COOPERATIVISMO 35
ela acorreram inúmeros e cultos cidadãos de todos os
recantos da América. Contudo fracassou. A base igua-
litária absoluta entre seus membros, com a proprie-
dade coletiva das terras e a ausência de realismo no
planejamento da colônia, a par das condições locais
do pioneirismo americano, não permitiram vida longa
a essa original e prematura experiência do coletivismo
agrário. Tentado novamente no México, teve o mesmo
im, o obstante a tradição do «ejído», existente nesse país.
O Armazém de Trocas, no entanto, foi a mais
utópica das tentativas para a emancipação econômica
de uma classe. Neste armazém o societário trocava
senhas de trabalho por mercadorias, avaliado o valor
destas senhas em horas de trabalho. Assim, se um
operário tivesse levado 10 horas para fabricar um par
de sapatos, por exemplo, sabia que, com aquela senha,
oderia receber qualquer mercadoria que exigisse aquê-
le mesmo tempo para sua elaboração. Recebia dessa
forma, o equivalente de seu trabalho — o lucro seria
eliminado e abolido o intermediário pelas relações di-
retas que se estabeleciam entre o trabalhador e o ar-
mazém.
O mecanismo dessa troca mesmo a substituição
da moeda, como medida de aferição, apesar de interes-
sante, é secundária, no caso. O mérito de tôda essa
niciativa reside na sua idéia essencial — a abolição do
lucro — em proveito dos próprios interessados.
Outra contribuição que Owen não pôde levar a
cabo foi a «Association of All Classes of All Nations»,
Associação de Tôdas as Classes de Tôdas as Nações,
que fundou em Londres, em 1835, para propagação de
suas idéias. Apesar de ter viajado por vários países
europeus visitado, entre outras figuras da época,
Metternich e Alexander von Humboldt, teve de regres-
36 J. MONSERRAT
sar convencido de que ainda não havia soado a hora
para a organização de uma cooperativa internacional
com sucursais em todos os cantos do globo, e a sua
Associação foi transformada numa sociedade cultural.
Nem por isto, contudo, se perdeu a iniciativa. Cêr-
ca de 70 anos mais tarde era constituída a Aliança
Cooperativa Internacional.
CHARLES FOURIER
Simultâneamente ao trabalho de Owen, no outro
lado do Canal da Mancha e nos EE. UU., em França,
um caixeirinho modesto se enchia de indignação e re-
volta vendo atirarem ao mar 20.000 quintais de arroz
que se deteriorava à espera de que essa gramínea al-
cançasse melhor cotação no mercado, enquanto na
cidade muitas crianças pediam esmolas.
Mais tarde, veio a «história da maçã» que foi a
decisiva. Verificando que a causa do agravamento do
custo dos bens de consumo era originada pela série
de intermediários que se interpunham entre o produ-
tor e o consumidor, concebeu a solução do problema
do barateamento dos preços das utilidades, na apro-
ximação de um ao outro, através dos Falanstérios.
O Falanstério idealizado por Fourier era um gran-
de casarão, com vários pavimentos, bem arejado, que
muito se aproxima aos modernos arranha-céus sa-
las de leitura, teatro, jardins, etc. Nêle tinham in-
gresso pessoas de qualquer classe social, pois have-
riam aposentos e acomodações para tôdas as bôlsas.
O Falanstério apresentava, assim, dupla vantagem:
conomia, porque a vida sob o mesmo teto traria
o máximo de confôrto com o mínimo de dispêndio;
COOPERATIVISMO 37
social, porque a vida sob o mesmo teto, substituiria,
pouco a pouco, por uma atração de simpatia, os sem-
timentos recíprocos que, sob o regime individual, «se
movem numa escala ascendente de ódios e numa es-
cala descendente de desprezo», como afirmava.
Até os serviços domésticos Fourier previra em
seus sonhos. O serviço particular de criadagem seria
feito pelo serviço coletivo e a emprêsa doméstica da-
ria lugar à emprêsa industrial, evolução a que che-
gamos hoje no pão, na lavanderia, na pensão a domi-
cílio, nas empsas para limpeza de casas, etc.
Foi o primeiro a proclamar que, o grau de emanci-
pação da mulher numa sociedade, é o barômetro na-
tural pelo qual se mede a emancipação geral, colocan-
do-a em igualdade absoluta com o homem, a quem
lança o apróbio de tê-la mantido em cativeiro milhares
de anos.
No Falanstério não só o consumo era provido em
comum. A área de 40 quilômetros que deveria circun-
dá-lo, seria explorada coletivamente para o abasteci-
mento de seus habitantes e se constituiria numa socie-
dade por ações, de sorte que a propriedade privada
permaneceria.
Os resultados seriam divididos entre os fanlanste-
rianos de forma bastante original 4/12 ao capital,
5/12 ao trabalho e 3/12 ao talento.
Fourier pregou, também, o regresso à terra, na
sua «Teoria dos Quatro Movimentos», mas não livre
e anàrquicamente, e sim distribuídos em Falanstérios,
instalados em lugares «tecnicamente» escolhidos, de
forma que, a cultura da terra, seria um eterno «cul-
tivar de jardin.
O trabalho atraente foi outra visão extraordiná-
ria do caixeirinho sem eiras. «O trabalho, dizia êle,
38 J. MONSERRAT
nas sociedades civilizadas como nas escravagistas, con-
tinua como uma condenação, uma maldição». Queria
que o homem trabalhasse não por necessidade, desejo
de lucro ou obrigação imposta por terceiros, mas com
o mesmo prazer com que corre a uma festa.
E isto seria possível, afirma Fourier.
substituindo o trabalho industrial pelo agrícolas;
pela divisão do trabalho em pequenos agrupa-
mentos, e
garantindo um mínimo de subsistência a cada um.
«Nenhum reformador social, nos fala Totomianz,
alardeou uma imaginação tão desenfreada como Fou-
rier, que sonhava em transformar a água do mar em
potável e colhêr laranjas no Polo Norte, que predisse
a abertura do Canal de Suez e imaginou uma comu-
nicação interna para o seu Falanstério que recorda o
telefone moderno. E Engels afirma que, onde Fou-
rier aparece mais profundo, é na sua concepção da
História e quando afirma «que a sociedade está em
perpétuo movimento».
WILLIAM KING
Grande foi a obra dêste precursor. Médico, em
Brighton, grangeou logo a simpatia e a benquerença
dos pobres e humildes dessa vila, tornando-se ardo-
roso propagandista da associação. Fundou a revista
«The Co-operator», e publicou inúmeros trabalhos de
cunho prático e útil ao soerguimento das populações
laboriosas. No primeiro número de seu mensário, pu-
blicado em 1.º de maio de 1828, inscreveu as seguintes
sentenças: « o saber e a união são uma fôrça; aa
COOPERATIVISMO 39
dirigida. pelo saber, é felicidade; a felicidade é o fim
da criação». Sua filosofia era idealística e otimista.
«É impossível, dizia êle, que só haja Senhores, pois,
em trabalho, todo o dinheiro seria inútil». Levantou
e defendeu a tese de que todo o capital é produto do
trabalho e de que só a cooperação pode emancipar a
pessoa humana da exploração. A sua associação de
consumo de Brighton foi a primeira experiência in-
glêsa dêste gênero e serviu de base à constituição de
dezenas de outras, antes mesmo da cooperativa dos
Probos Pioneiros de Rochdale.
King interessou-se grandemente pelo ensino entre
as classes trabalhadoras e apregoava que as coopera-
tivas deviam criar bibliotecas, cursos de leitura, etc.
Dizia êle em um de seus escritos: «A escola atual
ocupa-se em cultivar a inteligência das crianças e de-
sinteressa-se pela alma infantil. Com a cooperação,
porém, será mister organizar a escola a fim de que não
forme mente homens cultos, mas, também, homens
ativos e e bom caráter».
É atribuído ao «The Co-operator», cuja tiragem
ascendia a vários milhares de exemplares, grande in-
fluência no sistema rochdaleano. Sua associação de
Brighton, fundada em 1827, teve pouca duração, in-
felizmente.
LOUIS BLANC
Natural de França, onde exerceu, por largo tem-
po, 812 a 1882, intensa atividade política, é conside-
rado como o principal teórico do Socialismo de Estado
pois, em seus escritos, apresentava, na agremiação dos
trabalhadores em «oficinas nacionais», a fórmula «mais
favorável à emancipação econômica de uma classe e
40 J. MONSERRAT
o meio ideal de uma luta pacífica contra a ordem im-
perante».
Preconizando, para o Estado, atribuições de pla-
nificação econômica ressaltava, todavia, que a assis-
ncia estatal a essas associações se restringiria ao
início da sociedade que, depois de consolidada, deveria
gozar de completa autonomia.
Como tribuno de grandes recursos tomou parte
ativa na Revolução de 1848, chegando, mesmo, a in-
tegrar o Govêrno Provisório. Nessa oportunidade tin-
giu o movimento associacionista que se avolumava em
França de uma «tonalidade política, até então desco-
nhecida, e da qual, daí por diante, dificilmente tem se livrado».
Sua ação foi muito objetiva, dizem seus biógrafos.
"Enquanto Fourier vivia em altas elucubrações, a
busca de uma fórmula integradora para o bem-estar
social, Louis Blanc imiscuia-se entre o povo semeando
suas idéias». Esta a razão principal porque, não obs-
tante o fracasso de suas iniciativas, arregimentasse
prosélitos que, persistentemente, voltavam com novas
tentativas, dadas as soluções locais e imediatas que
sugeria seu plano.
Escreveu vários panfletos e livros entre os quais
teve grande repercussão a obra «Organização do Tra-
balho» — 1840 — onde debateu e divulgou suas con-
cepções político-econômicas sôbre o direito do trabalho.
A «oficina nacional» que fundou em Paris, em
1848, para a efetivação de suas teorias reformistas,
logo logrou êxito. Agrupou cêrca de 2.000 membros
e tinha por finalidade a fabricação de uniformes para
a Guarda Nacional. Instalada na antiga prisão do Cli-
chy, serviu de exemplo para mais de uma centena de
associações de trabalhadores urbanos.
COOPERATIVISMO 41
Referindo-se a Louis Blanc, escreve Totomianz:
«Segundo o seu projeto, estas associações deviam de-
dicar-se, a princípio, sòmente a algumas indústrias,
com o concurso e sob o contrôle do Estado e os be-
nefícios realizados deveriam ser repartidos em partes,
na seguinte ordem:
aos membros da sociedade, a proporção do
tempo de trabalho de cada um;
para socorrer os inválidos e os desocupados;
para amortizar os empréstimos do Estado;
para auxiliar novas iniciativas associacionistas.
Apregoando a «honra do trabalho» como suces-
sora da «honra militar», via, nessa mística, uma maior
contribuição à produtividade do que a própria concor-
rência mercantilista. E, por meio dela, perava que
as associações de trabalhadores oderiam substituir
com facilidade as emprêsas dustriais e agrícolas.
Desta maneira, o Estado, uxiliando-as, não teria ne-
cessidade de recorrer à edidas de violências nem de
confiscação».
Afora os conceitos sôbre a necessidade e os re-
ltados da associação como elemento retificador da
trutura econômica, a grande, a inestimável herança
ue legou ao movimento cooperativista moderno, re-
side na criação do fundo coletivo e indivisível conce-
bido por Buchez, e com que dotou os «ateliers natio-
naux», organizados sob sua inspiração, e que hoje
constitui parte integrante de inúmeras legislações, in-
clusive a nossa.
ROCHDALE E ESTRUTURAÇÃO DO MOVI-
MENTO COOPERATIVO
OS PIONEIROS
Embora tenham surgido muitas controvérsias e
disputas em tôrno do berço onde se depurou, e se
consolidou tôda a imensa fertilidade dos Utopistas, a
«Rochdale Equitable Pioneer’s Society», é reconheci-
da hoje como um marco ZERO das realizações e ex-
pansão do cooperativismo. Pois «se não foi ela quem
imaginou êste sistema, a ela cabe a honra de ter sido
a primeira a estruturá-lo e tragar-lhe os seus princí-
pios fundamentais».
A Cooperativa dos Probos Pioneiros de Rochdale
nasceu da mesma forma que as agremiações econô-
micas que a antecederam, impelida pelos efeitos da
expano do industrialismo inglês.
As dificuldades econômicas que já vinham de
longe, como vimos, encontraram, nos 28 tecelões, um
grau maior de necessidade e a experiência do fracasso
das associações de Brighton, sedimentou-se aí, indi-
cando que havia alguma coisa a corrigir.
E, assim, em 21 de dezembro de 1844, foram aber-
tas as portas do andar térreo de um velho casarão do
44 J. MONSERRAT
Beco do Sapo, com um capital de 28 libras, subscritas
por: James Smithiers, William Cooper, John Collier,
Miles Ashworth, James Tweedale, John Heill, John
Holt, Charles Howarth, David Brooks, Samuel As-
worth, William Mallalien, James Daley, John Bent,
John kershaw, John Scowcroft, James Staudring, Jo-
seph Smith, Robert Taylor, James Wilkinson, Georges
Healy, James Maden, James Manock, Willian Taylor,
Benjamin Reedmac, John Garside, James Bramford e
Ana Tweedale.
Os estatutos redigidos por Charles Howarth — o
Arquimedes da Cooperação — são considerados como
um manifesto, verdadeiro programa da cooperação.
Vale a pena conhecê-los, pois constituem a base
dos princípios fundamentais desta doutrina, não
aceitos no mundo inteiro como reconhecidos no batis-
mo legal de quase tôdas as legislações.
«A Sociedade tem por objeto conseguir um bene-
fício pecuniário e melhorar as condições domésticas
e sociais de seus membros, reunindo um capital divi-
dido em ões de uma libra que permita pôr em
prática o seguinte:
abrir um armazém para suprimento de gêneros,
vestuários, etc.;
construção ou compra de casa para os sócios;
produzir artigos de consumo imediato a fim de
dar emprêgo aos sócios desempregados;
comprar ou arrendar terras para os sócios;
constituir colônias autônomas e auxiliar a orga-
nização de outras cooperativas;
organizar campanhas pró-temperança.
Para a execução dêsses tão nobres objetivos fo-
ram estabelecidas as seguintes normas:
1 — Pagamento à vista.
2 As vendas se realizarão ao preço corrente na
praça.
COOPERATIVISMO 45
3 Distribuição dos resultados «pro-rata» às com-
pras de cada um.
4 — Juros reduzidos ao capital.
5 Todos os sócios gozarão de igual direito, qual-
quer que seja o sexo, idade, profissão e quotas
que possuir.
6 — Cada sócio terá direito a um voto e sòmente a
um.
7 — Neutralidade política e religiosa.
8— Contabilidade metódica, revisada periódicamente,
e balanço à disposição dos sócios.
Trimestralmente seria feita a distribuição dos re-
sultados depois de atender a:
a) gastos de administração;
b) Juros ao capital;
c) amortização das existências;
d) percentagem destinada ao fundo social indivivel;
e) 2,5% para manter escolas, bibliotecas, etc.
O êxito dos Pioneiros não tardou. Lutas, incom-
preensões e o sarcasmo público com que foram brin-
dados em seus primeiros passos, ao invés de arrefecer
os ânimos, retemperou a vontade daqueles homens e o
s ligou ainda mais, cimentando, num mesmo bloco, so-
cialistas, cartistas, conservadores e cooperadores para
a dificação de sua iniciativa.
Na base democrática das resoluções definitivas sò-
mente serem tomadas pelas assembléias, das vendas
à dinheiro e ao preço corrente na praça, puderam, em
pouco tempo, multiplicar o capital e os resultados.
Com a distribuição dos lucros na proporção das
operações de cada associado e o pagamento de um
juro reduzido às quotas, vincularam, de forma ainda
mais concreta, o cooperador e a sua Casa, despertan-
do-lhe maior interêsse pelo desenvolvimento e progres-
so da organização.
Fiéis a essas normas e não medindo sacrifícios
para cumpri-las, em breve sua ação proveitosa e exem-
46 J. MONSERRAT
plificadora tomava vulto, estimulando a constituição
de outras cooperativas não só na Inglaterra, mas, ul-
trapassando os limites de sua pátria, influenciava po-
derosamente as classes necessitadas de outros países.
Não cessa aí, todavia, a herança legada pelo Pio-
neiros.
Com a constituição de outras entidades em Lan-
cashire, Yorkshire, cedo compreenderam êles a impos-
sibilidade das cooperativas de consumo realizarem, efi-
cientemente, suas finalidades, enquanto vivessem isso-
ladas, entocadas em seus bairros e cidades.
Se os consumidores podiam prescindir dos arma-
zéns varejistas, ingressando naquelas organizações, elas
contudo, não poderiam, de forma alguma, ampliar seus
objetivos, beneficiar, de maneira mais concreta e va-
riada, as mensas necessidades de seus membros, con-
tinuando ada uma em seu canto, como irmãos de uma
família desunida suas vantagens seriam sempre
reduzidas e limitadas.
Além disso, percebiam claramente que, mesmo au-
mentando o volume de seus negócios, não lhes seria
possível dispensar os fornecimentos dos atacadistas,
os quais, era de presumir-se, não tardariam a criar-lhes
dificuldades, como fregueses sem maiores tradi-
ções e garantias que o entusiasmo e a idéia mesma
de progredir e emancipar-se.
Afigurava-se, também, a êstes homens, que po-
deria ocorrer amanhã, eliminando sómente um
intermediário, que viessem, na verdade, apenas
substituí-lo, para recomeçar de outra forma o que
desejavam destruir — a concorrência.
Estas apreensões concretizaram-se mais
tarde quando os Pioneiros resolveram instalar um
armazém para fornecimento por atacado aos seus
vários postos e às sociedades congêneres das
vizinhanças, as quais,
COOPERATIVISMO 47
sem, disporem de maiores recursos, experiência e or-
ganização, dificilmente podiam suprir-se convenientemen-
te.
As medidas práticas que o próprio trabalho quo-
tidiano ia sugerindo, convenceram-lhes, logo depois do
fracasso dêsses fornecimentos, que «idéia federativa
deriva, em forma natural, do principio estrutural mesmo
do sistema cooperativo e que, para substituir aos ata-
cadistas e todos os demais intermediários, as cooperativas de
consumo precisavam constituir entre si federações regionais e
nacionais, organizadas sob os mesmos princípios que as
próprias sociedades constituintes ».
Esta magnífica e oportuna observação extraída das
entranhas de uma experiência diuturna, levou a Abraham
Greenwood a propugnar e ver todo o seu esfôrço coroado de
êxito com a fundação, em 1864, de uma sonhada Wholesale
— Cooperativa de Consumo do Norte da Inglaterra para o
Fornecimento por Atacado — e, com ela, iniciar a produção de
manufaturas, artigos diversos e a importação direta de
produtos de além-mar, para satisfazer, o mais integralmente
possível, às necessidades de consumodos cooperativistas
inglêses.
A A.C.I.
As idéias de Rochdale, em sua aceitação, e as
iniciativas por elas inspiradas em todos os qua-
drantes da terra, necessitavam, no entanto, de uma
codificação, de uma síntese, capaz de estruturar o
movimento que se ampliava, dando a unidade ne-
cessária à sua corporificarão doutrinária.
Já o principio da distribuição dos resultados,
a reposição do capital nos justos têrmos de elemento de
48 J. MONSERRAT
uso na criação da riqueza e a concepção de que não
se deve produzir simplesmente para o mercado, mas
para satisfazer, primordialmente, as necessidades dos
grupos organizados, constituia, por si só, as pre-
missas básicas de um novo sistema que vinha
revolucionar o modus imperandi da caça ao lucro e
da concorrência, sem se observar a situação que se
criava com a concentração cada vez maior do
trabalho fabril e do assalariamento das populações.
A necessidade de dar feição orgânica ao mo-
vimento, através de um centro de irradiação e disci-
plinamento cooperativo, pela propaganda e o
incentivo do intercâmbio de relações entre as
organizações cooperativistas, foi sentida,
inicialmente, entre outros, por M. de Boyve, que
formulou uma proposição tendente a constituí-lo,
durante o Congresso das Cooperativas Inglesas,
realizado em Plymouth, no ano de 1886.
A Aliança Cooperativa Internacional, não
obstante, só foi fundada dez anos mais tarde, em
Londres, num dia de setembro de 1895.
De acôrdo com estatuto, então aprovado:
«A Aliança Cooperativa Internacional,
continuando a obra dos Pioneiros de Rochdale,
persegue com toda a independência e com seus meios
próprios, a substituição do regime atual de
concorrência entre os comércios privados, por um
regime cooperativo da comunidade, baseado na ajuda
mútua dos cooperados associados.
A A.C.I. tem por fim:
a) – o estabelecimento dos princípios e métodos
cooperativos;
b) – o desenvolvimento da Cooperação em todos
os países ;
c) – o estreitamento das relações amistosas entre os
membros da Aliança;
Fotografia tirada em 1865, na qual aparecem treze dos
fundadores da «Rochdale Equitable Pionerr’s Society».
A famosa casa de Toad Lane (Beco do Sapo), atual-
mente transformada em Museu Cooperativo.
COOPERATIVISMO 49
d) — a defesa, dos interêsses do movimento cooperativista
e a dos consumidores em geral;
e) — fornecer informações e estimular os estudos
concernentes à Cooperação;
f) — o desenvolvimento do intercâmbio de produtos e
mercadorias entre as organizações ooperativas
dos di versos países.
A Aliança não se ocupa de política nem de reli-
gião. Considera a cooperativa como um terreno neutro, no
qual as pessoas de opiniões as mais variadas e das crenças
mais iversas podem encontrar-se e trabalhar em comum.
Tal neutralidade, sôbre a qual repousa a unidade do
movimento cooperativista internacional, deve ser observada
em tôdas as ocasiões, como em tôdas as suas publicações e na,
atividade de todos os seus órgãos.
Nos trabalhos, iniciais a orientação da A.C.I., ontudo,
tendia mais, ou melhor, quase que exclusivamente, para o
cooperativismo de consumo, possìvelmente porque, na
realidade, o movimento rochdaleano se desenvolvia nesse
setor.
E, ao sistema cooperativo estruturado em Rochdale
para defesa dos consumidores, veio se juntar, na segunda
metade do século XIX, o trabalho de Hermann Schulze-
Delitzsch e Frederico Guilherme Raifeisen, na Alemanha, uigi
Luzzati e Leone Wollemborg, na Itália, criando as Caixas
Rurais e Bancos Populares e, desenvolvendo, com a instalação
e propaganda dêsses organismos de crédito, as cooperativas
agrícolas, cujos métodos de trabalho, aprovisionamento e
venda em comum já eram conhecidos até mesmo na América,
como vimos em Capítulo anterior
As crises periódicas, moléstia endêmica da ordem
capitalista, e a Primeira Guerra Mundial, dêste século, foram, a
pouco e pouco,acentuando as contradições
50 J. MONSERRAT
evidentes entre as classes sociais e aflorando, de forma
mais aguda, a necessidade de organização dos homens
no sentido de equacionar os problemas que se avolumavam
nos setores da produção e do crédito popular.
Frente ao crescimento da organização cooperativa e
à sua frutificação nos mais variados setoresda atividade
humana, e «sentindo a necessidade de conhecer-se como, e
até que ponto, os princípios rochdaleanos eram aplicados
pelas cooperativas existentes», a delegação francesa
apresentou, ao Congresso da A. C. I., levado a efeito em
Viena, em 1930, uma proposta nesse sentido.
Aprovada a proposição francesa, foi nomeada
uma Comissão Especial para estudar o assunto e,
oportunamente, apresentar seu relatório.
Êste documento da Comissão Especial, embora
baseado no estudo e investigação dos arquivos,
manifestos, estatutos, atas, etc., de Rochdale, em
depoimentos de Miles, um dos veteranos da sociedade dos
Pioneiros, e de uma filha de James Smithies, também um
dos 28 tecelões, conforme nos informa Poisson, não foi
aprovado pelo Congresso de Londres, em 1934. Sòmente
após um reestudo feito pela Direção da A.C.I., é que o
Relatório daquela Comissão foi aprovado, contra dois
votos, pelo Congresso realizado em Paris, a 7 de setembro
de 1937, onde achavam-se representados mais de 30
países, através de 500 delegados.
Desde esta data memorável para a universalidade
cooperativista, ficou reconhecido e aceito por todos, como
Princípios Fundamentais do Cooperativismo, Os
consagrados naquele conclave e que estudaremos,
sucintamente, a seguir.
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO
COOPERATIVISMO
I — Adesão Livre.
Conhecido como «princípio da porta aberta», si-
gnifica que o ingresso é livre em uma cooperativa, in-
dependentemente de raça, côr, ideologia política, con-
fissão religiosa, etc., ressalvadas, é claro, as condições de
idoneidade. Esclarecendo êste princípio, a Comissão Especial
concluiu que a adesão livre não implica, necessàriamente, que
seja voluntário êsse ingresso e que o fato do Poder Público
poder torná-lo compulsório não desnatura o caráter próprio de
sociedade cooperativa. A êste respeito os autores divergem.
Enquanto uns vêem, na liberdade de contratar, o elemento útil
e indispensável à ação cooperativa, nos têrmos ditados pelos
Pioneiros, outros, aceitando o sentido evolutivo da concepção
cooperativista e o processo dinâmico das relações sociais,
concordam com a filiação obrigatória, «uma vez que o Estado
respeite a sua autonomia, o contrôle democrático de seus
membros e a estrutura federativa, partida esta debaixo para
cima e não por imposição de governantes para gover-
nados» — Fauquet.
52 J. MONSERRAT
II — Contrôle Democrático.
O Cooperativismo é a expressão econômica da de-
mocracia e o ambiente de liberdade que êste sistema
propicia é clima indispensável ao seu perfeito funcionamento.
Por isto, na prática cooperativa, os Pioneiros ob-
servaram a «igualdade» entre os sócios, o «voto singular» e a
«administração plural».
A direção se deve compor de órgãos coletivos de
deliberação, execução e contrôle e a sua escolha deverá ser a
expressão da vontade social, apurada em sufrágio direto e
secreto, tendo cada associado um só voto, qualquer que seja a
sua participação no capital da sociedade.
III — Devolução dos Resultados «Pro-Rata» Às Ope-
rações de Cada Sócio.
O lucro para quem contribuir para formá-lo.
Êste é, sem dúvida, o «princípio de ouro» desta
instituição. Devido ao «intelectual» dos Pioneiros
Charles Howarth — constitui a pedra angular da cooperação e o
seu ponto diferencial máximo no concêrto dos sistemas de
associação econômica.
Gide vê, neste princípio, «o segredo do êxito alcançado
pelo cooperativismo no mundo e a razão porque concretiza
econômicamente e sem luta o aumento da capacidade aquisitiva
dos associados, beneficiando não só êstes como a sociedade
onde laboram; pois, até então, todos os benefícios do
associacionismo eram repartidos em função do capital que
representava o poder e a capacidade de satisfazer às
necessidades individuais».
COOPERATIVISMO 53
Ora, as necessidades de consumo sendo comuns à
gregos e troianos, devem marcar as oscilações e a
respectiva retribuição de parte do organismo social
que tem de caber a cada um, na medida em que se de-
senvolve o processo de produção e ostodos mais
consentâneos à debelação dessas necessidades.
IV — Juro Limitado ao Capital.
Ao capital, como um dos fatôres da produção, cabe
desempenhar a sua função também na sociedade cooperativa.
Por isto se justifica a sua remuneração.
Todavia, integrando-se na engrenagem cooperativista,
servirá apenas de lubrificante à eficiência da máquina e não de
máquina de eficiência.
Os juros que se lhe atribuam não devem ser altos, pois,
se assim acontecer teremos, dentro de uma sociedade de pessoas,
com caráter sui-generis, o aspecto capitalístico das emprêsas
comerciais, num hibridismo condenável e contraproducente à
«subordinação do útil à moral». que procura consagrar, no
cumprimento de seus elevados objetivos.
V — Neutralidade Política e Religiosa.
Êste ponto merece um esclarecimento especial. Assim
se manifestou sôbre êle o Comité Especial, no Congresso A.C.I.:
«A neutralidade não significa renúncia das responsabilidades
que têem os cooperados de defender os legítimos interêsses de
seu sistema econômico ante os Poderes Públicos. E essa
responsabilidade é tanto maior quanto a cooperação não se
identifica com nenhum grupo ou partido político, em par-
54 J. MONSERRAT
ticular». E mais adiante afirma: «A neutralidade im-
plica no reconhecimento da devoção completa do movi-
mento à comunidade, baseada na melhoria econômica
e social, independente da significação que uma idéia,
política ou religiosa, possa ter para qualquer um de
seus membros».
Deve ser tomado, portanto, como independente da
política partidária e nunca como organismo neutro,
no sentido que nos ensinam as ciências físicas e na-
turais.
VI — Vendas a Dinheiro.
Este princípio que melhor poderíamos chamar de
norma fundamental, apresenta dupla vantagem na prá-
tica cooperativista: social educa o associado; eco-
nômica — consolida o organismo social.
Repetto, defendendo êste princípio integrante da
lei argentina, alinha um argumento de ordem finan-
ceira que merece ser divulgado, mormente aqui, onde
o sistema das vendas a crédito é polvo insaciável:
«Numa cooperativa é necessário, para que as coisas
marchem bem, que o seu capital gire 5 ou 6 vêzes du-
rante o exercício social. Como, pois, poderia girar 5 ou
6 vêzes durante o ano, o capital, se seus sócios ad-
quirissem mercadorias a crédito? Com que dinheiro
renovaria o estoque dos artigos de consumo que se
esgotam ràpidamente, como açúcar, arroz, café, etc.?
Para repor seus estoques e mantê-los em condições de
atender seus associados, só o pagamento à vista resolve,
satisfatóriamente, a situação, pois a ninguém se
lhe ocorre, certamente, que a cooperativa, para tanto,
peça dinheiro emprestado aos Bancos...».
COOPERATIVISMO 55
Na Inglaterra, as cooperativas de consumo sinte-
tisaram a sua vasta experiência na seguinte conclusão:
«O Crédito, que pode ser útil ao comércio ordinário,
encarece o preço das mercadorias em 25%, o que si-
gnifica que, se não houvesse o crédito, poderíamos
consumir mais um quarto do que gastamos hoje para
viver».
VII — Fomento ao Ensino.
Uma escola que se abre é uma prisão que se fe-
cha, afirmou célebre pensador. E os Probos Pioneiros
de Rochdale não esqueceram que o êxito da obra que
realizavam necessitava alicerçar-se nas amplas e só-
lidas bases da educação popular — daí os 2,5% dos
resultados anuais que destinavam à manutenção de
escolas e bibliotecas.
O «Comité de Paris», além de exaltar êsse prin-
cípio epropor a sua mais estrita observância pelo Movimento,
conclui que, nos estatutos das cooperativas, devem ser
regularmente destinadas percentagens das sobras líquidas para
o fomento do ensino, dando prioridade, é claro, aos
cooperadores, a fim de que possam, conscientemente,
conseguir o seu ideal.
CONCEITO E DEFINIÇÃO
Desta exposição, onde se caracteriza, a cada pas-
so, como fatôres essenciais do processus cooperativistas,
a necessidade e a união de esforços como meios de
satisfazê-la, decorre, naturalmente, a conceituação do
cooperativismo, a definição do organismo que lhe serve à
efetivação dos seus princípios e o caráter que assumem
suas atividades.
Sem nos alongarmos demasiadamente neste
ponto, podemos fixar-lhe o conceito, dizendo que o
cooperativismo é um sistema de organização econômica
em que o homem exercita livre e disciplinadamente sua
atividade, tendo em vista não apenas simplesmente a
satisfação pessoal, imediata egoísta de suas neces-
sidades mas, pela ação conjunta, o conjunto de neces-
sidades do meio em que trabalha e onde elas (suas
necessidades) se encontram integradas.
Sua divisa, um por todos e todos por um, escla-
rece perfeitamente.
O sentido da solidariedade que origina nos con-
firma que «aquêle que trabalha por todos, trabalha,
trabalha também por êle próprio». E a consciência que
inspira esta realidade dá-lhe foros de um movimento reti-
ficador e a vitalidade e o vigor indispensáveis para que
58 J. MONSERRAT
possa alcançar seus propósitos de bem-estar, demo-
cràticamente.
Sem ser anticapitalista, stritu-sensu, luta para
colocar o capital no seu justo pôsto, como lubrificante
à eficiência da máquina e não como máquina de eficiência.
Sem ser politico ou confessional, compreende a
política como uma necessidade para o exercício das
aspirações populares e a religião, como um sentimento, uma
questão de foro íntimo, da exclusiva vontade de cada um de
seus membros, entre os quais exige respeito e compreensão
recíproca.
Sem cogitar os méritos das fronteiras nacionais, êle
prega o trabalho e a cooperação entre os homens das mais
distantes latitudes e reconhece a universalidade dos
problemas econômicos, para sugerir a solução cooperativa.
Assim, o cooperativismo, torna-se, aos nossos
olhos, um movimento pacífico de reivindicação social na
ordem econômica, que reune, coordena e disciplina os
agrupamentos humanos que se abrigam à sua sombra e,
através do sistema que decorre da adoção de seus princípios,
organiza a economia em bases realmente democráticas e
oferece oportunidade ao desenvolvimento das relações de
produção, em consonância com as necessidades do
consumo, e das inteligências nacionais, em sua constante
evolução.
* * *
Daí a definição do organismo que a vivifica e lhe
enriquece constantemente os conhecimentos com a ex-
periência da luta quotidiana, plasmando seu espírito e
dando-lhe o dinamismo e a resistência capaz de fazê-lo
sobreviver a todos os embates por que tem passado.
COOPERATIVISMO 59
Muitas são as definições com que os estudiosos
situam a sociedade cooperativa.
No entanto, pelo que acabamos de sentir, a co-
operativa é uma emprêsa econômica e uma instituição
econômico-social. E, como tal, temos de compreendê-la e
defini-la.
Como emprêsa podemos dizer que «a sociedade
cooperativa é uma associação de pessoas, que organiza
em comum uma emprêsa de natureza econômica para
prover, primordialmente à satisfação de necessidades
individuais dos que a compõem, e com o fito de partilhar,
entre êles, as vantagens da supressão do intermediário».
— A. Gredilha.
Como instituição, ela se nos apresenta como a
associação que forja e dinamisa a idéia da subordinação
dos interêsses individuais aos supremos interêsses da
comunidade, submetendo o sentido do útil ao da moral
social.
Uma e outra, contudo, não constituem manifesta-
ções separadas ou descontínuas. Ao contrário, coexis-
tem. E, justamente de sua coexistência e de sua si-
multaneidade ou não, na vida dessa sociedade, é que
teremos, ou não, a exata expressão cooperativista do
sistema.
Pois, é através dessa conjugação, desta coincidên-
cia da emprêsa e da instituição, agindo simultânea-
mente, que a cooperativa promove não apenas as van-
tagens materiais momentâneas que nascem da asso-
ciação de esforços, mas também aquelas com que visa
corrigir a injusta distribuição atual da riqueza e dar
um conteúdo social à atividade do homem, para que
cumpra, sem vacilações, a sua grande tarefa na vida.
A NATUREZA CIVIL OU MERCANTIL DA
SOCIEDADE COOPERATIVA
Finalmente, a natureza jurídica da sociedade co-
operativa depende, como é óbvio, do caráter de seus
objetivos. Na conformidade como concretise suas fi-
nalidades, ela será civil ou mercantil. Não será, pois, como
efetivamente não o é, a lei que declara civil ou mercantil uma
sociedade. E, no caso específico da cooperativa, o artigo 38, do
Decreto 22.239, apenas enumera as de um e outro caráter, tendo
em vista as diversas categorias pelas quais distribuiu, a título de
exemplificação, e suas respectivas, atividades econômicas.
Entretanto, independente de seu caráter civil ou
mercantil «... são sociedades de pessoas e não de capitais, de
forma jurídica sui-generis...» na límpida conceituação do artigo
2.º, daquele Decreto. E é justamente êste aspecto peculiar e
comum a tôdas elas que promove confusões sôbre a natureza das
cooperativas e das sociedades não comerciais.
A distinção, por isto mesmo, se impõe, não só pela
necessidade de um perfeito esclarecimento teórico de
uma situação, como, e principalmente, para os efeitos
62 J. MONSERRAT
práticos das relações de direito daí decorrentes e bas-
tante diversas.
As cooperativas de natureza civil não estão su-
jeitas ao instituto da falência, visto não realizarem o
que, em nosso direito, é reconhecido como ato de co -
mércio. Chegadas a esta situação deve ser declarada a
insolvência da sociedade, de acôrdo com o que
determina o Código Civil — artigos 1.554 e seguintes,
aplicáveis à espécie — a qual se processará nos têrmos
do Código Processual respectivo.
Exemplifiquemos:
Uma cooperativa de consumo será sociedade civil
sempre que operar, exclusivamente, com seus associa-
dos, e mercantil quando transacionar com pessoas es-
tranhas ao seu quadro social.
As organizações vitivinícolas enquanto apenas
beneficiarem o vinho elaborado por seus associados se -
rão de natureza civil, transformando-se em mercantil no
momento em que passarem a industrializar a uva.
Assim, as de produtos suínos, trigo, carne, etc., uma vez
que o seu objetivo seja a industrialização da matéria-
prima produzida por seus associados, pois os atos
praticados por uma emprêsa industrial são considerados
atos de comércio pelo nosso direito, mesmo que essa
emprêsa seja de ordem cooperativa.
ENSAIO ESTATÍSTICO INTERNACIONAL DAS
SOCIEDADE COOPERATIVAS
Sob êste título, o Bureau Internacional do Traba-
lho, deu à publicidade, meses antes de irromper a Se-
gunda Guerra Mundial, um interessantíssimo e opor-
tuno informe, onde condensa, em números, o pujante
movimento cooperativista no Mundo.
Embora não seja, como se lê na sua introdução,
um trabalho perfeito, é, sem dúvida, uma contribuição de
inestimável valor e nos dá uma idéia bastante aproximada
da expansão do cooperativismo no Mundo, Já naquela
época.
Os dados que transcrevemos referem-se, como se
pode observar, a uma síntese estatística e constituem o
quadro final que reune o número de sociedades e de seus
associados, cujas informações foram colhidas entre:
55 países para as de consumo
28 ,, ,, ,, ,, habitação
56 ,, ,, ,, ,, profissionais não-agrícolas
89 ,, ,, ,, ,, agrícolas
16 ,, ,, ,, ,, diversas
64 J. MONSERRAT
Além disso advertimos que:
Nas de consumo, incluem-se os dados referentes
às universitárias, às mistas, etc.
Nas de habitação, foram computadas também as
de crédito do lar.
Nas cooperativas agrícolas estão compreendidas
as de crédito e de seguros mútuos.
Nas classificadas com «diversas» acham-se incluí-
das as não compreendidas nos grupos aludidos e reu-
nem os tipos relativamente raros, como as cooperati-
vas sanitárias, telefônicas, etc.
MOVIMENTO COOPERATIVO NO MUNDO
Grupos geográficos N.º de Coop. Associados Dados de
ÁFRICA :
Consumo ........... . 46 16.397
Prof. não agrícolas. 28 2.764
Agrícolas .......... ... 3.529 312.750
TOTAL:....... 3.598 331.911 (3.483)
AMERICA:
Consumo ........... 4.061 585.808
Habitão ............ 10.078 5.002.248
Agrícolas ............ 28.289 7.474.272
Prof. não agrícolas. 7.208 1.444.474
Diversas ................ 6.080 168.124
TOTAL: ..... 51.251 14.674.426 (45.724)
ÁSIA:
(menos a U.R.S.S.)
Consumo ............ 988 330.155
Habilitação .......... 377 17.624
Prof. não agrícolas. 13.968 2.160.556
Agrícolas ............. 15.222 12.350.036
Diversas .......... ..... 9 2.095
TOTAL: ........... 167.554 14.860.466 (156.570)
U. R. S. S.:
Consumo ........... 24.113 39.200.000
Prof. não agrícolas. 15.577 2.032.350
Agrícolas ............. 246.905 19.156.921
TOTAL: ............ 286.595 60.389.271 (286.595)
EUROPA:
(menos a U.R.S.S.)
Consumo ............ 19.426 18.621.180
Habitão ............ 10.747 3.261.163
Prof. não agrícolas. 20.171 5.289.478
Agrícolas ............ 246.435 24.995.552
Diversas ............... 3.544 253.296
TOTAL: 300.323 52.470.589 (247.981)
OCEANIA:
Consumo ................. 169 131.167
Habitão ................ . 277 127.319
Agrícolas ................. . 745 275.794
TOTAL: ............. 1.191 584.280 (1.191)
TOTAL GERAL: ...... 810.512 148.260.953 (741.543)
MOVIMENTO
COOPERATIVO
DISTRIBUIÇÃO GEOGRAFICA DAS COOPERATIVAS
Regiões e Estados Nº de Nº de Capital
NORTE: Cooperativas Associados
Acre ....... ..... ........ 8 375 335.530,00
Ama ........ .. ....... 3 208 351.295,00
Amazonas ............. 6 2.378 299.609,00
Guaporé ................. 1 23 264.200,00
Pará ...... .. .. .......... 76 4.713 1.477.668,00
Rio Branco ....... .....
Total Norte ............. 94 7.697 2.708.297,00
NORDESTE:
Maranhão ............... 21 3.524 477.921,00
Piauí .................... ... 19 1.940 753.824,00
Alagoas .. ... .......... 101 10.918 12.192.712,00
Ceará ............. ...... 85 10.947 7.935.432,00
Fernando Noronha ...
Parba .................... 94 18.007 5.435.858,00
Pernambuco ............. 244 48.980 26.340.339,00
Rio Grande do Norte. 54 10.032 2.018.166,00
Total Nordeste .......... 618 104.465 55.154.204,00
LESTE:
Bahia .................. .. 164 20.699 0.056.545,40
Sergipe ......... .......... 27 1.430 2.440.491,00
Distrito Federal ...... ... 154 18.863 16.471.323,00
Esrito Santo ........... . 21 4.047 1.649.151,00
Minas Gerais ........ ... 151 26.669 28.984.391,00
Rio de Janeiro ........... 159 12.234 22.844.499,00
Total Leste ................ 676 83.942 81.436.400,40
SUL:
Paraná ............ ...... 160 31.329 15.467.892,00
Rio Grande do Sul .. 311 59.186 47.835.517,00
Santa Catarina ......... 123 16.972 5.192.128,00
o Paulo .................. 698 94.949 84.433.068,00
Total Sul: .............. ... 1.292 202.436 152.928.605,00
CENTRO OESTE:
Goiás ........................ 16 646 627.010,00
Mato Grosso .... ..... ... 20 1.056 .366.250,00
Total Centro Oeste .. 36 1.702 93.260,00
TOTAL GERAL ...... 2.716 400.242 8.220.766,40
(*) Estatísticas recentemente dada à publicidade pelo serviço de Economia
Rural, do Ministério da Agricultura.
Convém esclarecer que êstes dados são incompletos e se re-
ferem a pouco mais de 50% das Cooperativas existentes.
MOVIMENTO SOCIAL – ECONOMICO E FINANCEIRO DAS COOPERATIVAS DO RIO
GRANDE DO SUL
EXERCICIO SOCIAL - 1947
N.º de
COOPERATIVAS
N.º de
ASSOCIADOS
CAPITAL
CONSUMO:
Doméstico ...........
Universitária ..........
TOTAL ............
PRODUÇÃO
Animal ....................
Mineral ...................
Vegetal .....................
TOTAL ...............
DIVERSAS:
TOTAL..................
CRÉDITO:
Luzzatti ....................
Raiffeinsen ...............
TOTAL..................
2.º GRAU:
Federação ................
Centrais.......................
Produção..................
Crédito ..................
TOTAL ................
TOTAL GERAL ........
43
1
44
-----
40
104
144
-----
2
2
------
9
39
48
------
1
2
1
4
--------
243
-----
34.835
597
35.432
----------
10.471
18.589
29.060
---------
2.321
2.321
-------
8.035
20.033
28.068
---------
5
136
48
189
---------
87.035
----------
61.174.806,10
30.150,00
69.204.956,10
-------------------
20.319.683,40
26.713.831,20
47.133.524,60
----------
415.500,00
415.500,00
---------
2.311.420,00
2.311.420,00
---------
500.000,00
5.021,500,00
946.500,00
6.468.000,00
------------
117.533.470,70
-------------------
(*) Estes dados referem às cooperativas em rigoroso funcionamento em 1947.
MOVIMENTO SOCIAL – ECONOMICO E FINANCEIRO DAS COOPERATIVAS DO RIO
GRANDE DO SUL
EXERCICIO SOCIAL – 1947
VALORES
PATRIMONIAIS
FUNDOS
VENDAS
SOBRAS
EMPRÉSTIMOS
15.993.447,40
11.895,90
16.005.342,30
----------------
35.621.433,20
28.650.757,10
64.272.190,30
---------------
500.104,00
500.104,00
--------------
2.156,121,50
5.022.576,16
7.178.697,70
----------------
49.272,00
8.100.389,30
1.668.493,40
9.718.154,70
-----------
7.674.489,00
----------------
13.605.304,20
157.195,80
13.772.500,00
-----------------
32.609.096,00
20.139.450,55
28.400.360.15
---------------
41.577,90
41.577,90
------------
871.889,80
6.267.001,81
7.139.791,61
------------
2.287.794,60
4.077.963,50
1.200.000,00
7.564.757,10
-------------
56.918.986,76
----------------
141.287.708,89
273.848,50
141.561.556,39
-----------------
367.601.733,60
195.615.833,86
563.217.567,50
----------------
1.198.912,00
1.198.912,00
-------------
647.260,00
102.221.056,20
102.869.216,20
----------------
828.847.252,00
------------------
3.625.572,70
3.122,30
3.628.705,00
---------------
17.358.021,80
-
21.294.706,10
38.652.727,90
-----------------
10.702,40
10.702,40
---------------
69.341,80
1.877.175,60
1.947.017,40
----------------
44.289.152,70
----------------
50.056.818,30
101.588.465,68
151.645.283.98
32.080.752,90
32.080.752,90
----------------
183.726.036,88
---------------------
PERATIVO NO BRASIL EM 1947 (*)
DISTRIBUIÇÃO ESPECÍFICA DAS COOPERATIVAS
NO BRASIL
Classificação N.º de N.º de Capital
Cooperativas Associados
CONSUMO:
Doméstico .............. .... 691 1 33.199 53.702.037,00
Escolar ................ ...... 599 73.869 679.280,40
Profissional ....... ........ 16 2.299 59. 290.357,00
Total. . ........ 1.266 209.367 59.290.357,00
CRÉDITO:
Total ............ 315 79.584 42.220.126.0000
PRODUÇÃO:
Animal ........... 262 23.952 43.883,177,00
Mineral ....... .. 2 69 631.710,00
VegetaL ........ 779 77.140 103.036.303
Total ............ 1.043 101.161 147.551.190,00
DIVERSAS:
Total ......... .... 58 6.478 10.100.220,00
2.º GRAU:
Central ..................... 23 3.437 15.145.473,00
Federação ................... 11 215 16.913.400,00
Total ............. 34 3.652 32.058.873,00
TOTAL GERAL ..... ... 2.716 400.242 298.220. 766,40
Rio Grande do sul
RESUMO DO MOVIMENTO COOPERATIVISTA NO QÜINQÜENO 1943/ 1947
NOTA – No «movimento econômico-financeiro» exceptuam-se as cooperativas de Crédito.
O número de cooperativas refere-se, apenas às cooperativas em rigoroso funcionamento.
ANOS
Nº de
Coope-
rativas
N.º de
Asso-
ciados
C
APITAL
F
UNDOS
VALORES
PATRIMONIAS
V
ENDAS
1943 152 47.711 38.435.327,00 21.992.054,77 35.657.296,92 170.751.113,23
1944 166 47.531 45.916.236.10 24.294.366,76 47.687.514,56 200.411.855,84
1945 192 57.894 70.783.041,20 34.453.090,19 54.550.925,69 394.632.712,50
1946 212 78.223 91.286.847,30 45.414.999,39 71.225.819,66 692.307.279,51
1947 243 87.035 56.918.986,76 56.918.986,76 97.674.489,00 838.847.252,00
COOPERATIVAS ESCOLARES
Laissez l’enfant, par lui-même, voir
entrende, trouver, tomber, se reveler
et se tromper.
Pestalozzi:
PRIMEIRA PARTE
O Cooperativismo Escolar
e a Escola Moderna.
Panorama geral, e sua po-
sição em nosso meio.
A COOPERATIVA ESCOLAR COMO INSTRUMENTO
DE EDUCAÇÃO
Em uma cooperativa, dentro de sua característica
marcante associação de esforços , união de fracos
— quer vejamos o homem como produtor ou consumi-
dor, a idéia geratriz do barateamento do custo das
utilidades, da elevação do padrão de vida e a neces-
sidade de educar a coletividade, pela supressão do, in-
termedrio, pela distribuão dos resultados entre os
que contribuiram para êles e pela criação de escolas
e bibliotecas, sobressai não só um conteúdo econômico,
mas o postulado admirável da moral solidarista, na
divisa que se entende em tôdas as línguas e pode se
exercitar em todos os regimes — UM POR TODOS
E TODOS POR UM.
E como realizar tão importante trabalho?
Como criar o substratum a uma ação persistente e cada
vez mais ampla, profunda e dinamizadora, capaz de estabelecer as
premissas básicas do nosso efetivo desenvolvimento sócio-
cultural?
Justamente aprimorando e estimulando na juventude o
sentido elevado da subordinação, do útil à moral social.
Estabelecendo o alicerce, os fundamentos sôbre os quais os nossos
filhos sintam e compreendam, ao
74 J. MONSERRAT
ingressar na luta pela vida, que «aquêle que tem me-
nos, deve ter o direito de viver melhor e aquêle que
tem mais, deve trabalhar com segurança». Mostrando
-se à juventude de nossas escolas que, ao egocentrismo
dissolvente, deve-se opor os ensinamentos altruísticos do Sermão
da Montanha, Inspirando-lhe o sentido hu- mano e objetivo da
sempre nova e oportuna parábola do feixe de varas.
E nada mais fácil para que a criança entenda e assimile
um ensinamento do que fazê-la viver e sentir no seu aprendizado.
E uma cooperativa, apresentando-se sob o duplo aspecto
de emprêsa econômica e de instituição social, é um elemento ideal
para essa efetivação.
Sob o primeiro, vamos encontrar a organização atuando na
esfera da ação produtora para atingir o justo pro; sob o segundo,
com o objetivo de interêsse social, vê-la-emos estabelecendo a
hierarquia dosvalores humanos e corrigindo a imperfeita
distribuição da riqueza.
Daí, as suas ligações com a Êtica e com a Política, cujos
rudimentos a escola moderna vem ministrando a seus alunos,
dentro de métodos e fórmulas apropriados.
Na Ética, ela vai buscar as normas destinadas a impedir
que o homem continue sendo o lôbo do homem, pelo respeito e
compreensão que preconiza com os postulados da autonomia, da
liberdade, da neutralidade e do estímulo à educação; na Política,
procura, numa escala progressiva, substituir a doutrina
individualista do «laisser-faire» pela sua concepção retificadora,
com a abolição do lucro, a igualdade de direitos que estabelece
entre seus membros e a distribuição dos resultados
roporcionalmente às operações dos que realmente contribuiram
para êle, pois já afirmava Gide
COOPERATIVISMO ESCOLAR 75
que, «enquanto a cooperativa fôr entendida apenas
como um negócio (uma transação) será sempre um
mau negócio».
* * *
Observamos na vida que a solidariedade e o
auxílio mútuo são as manifestações de uma lei
imperecível. E se constata a sua existência em tôda a
parte. Não só entre os homens nos vários estágios da
civilização, como entre os irracionais e os vegetais, e
entre uns e outros. Já Aristóteles percebera que o
mundo das plantas e dos animais era tecido tôdo êle de
uma relação mútua de caráter cooperativo, o que levou
o grande Kropotkine afirmar «que o auxílio mútuo é o
verdadeiro fundamento de nossas concepções éticas, é
coisa que parece bem evidente. Quaisquer que sejam
nossas opiniões sôbre a origem primitiva do sentimento
ou do instinto do auxílio mútuo — quer lhe seja dada
uma causa biológica ou uma causa sobrenatural —
fôrça é reconhecer sua existência, até mesmo nos mais
baixos graus da escola dos sêres; e daí — nós pode-
mos seguir uma evolução ininterrupta, apesar dos
obstáculos antepostos por grande número de fôrças
contrárias, através de todos os graus do desen-
volvimento humano até a época atual».
As leguminosas fixam o azôto atmosférico e
revitalizam as terras de onde o homem extrai seus ali-
mentos. A química associa e transforma elementos que
a física regula, a engenharia multiplica, a economia
disciplina, a administração controla e a moral preside.
Há, em tudo, uma sinfonia que relaciona e
encaminha, incessantemente, o indivíduo na roda da
História, ligando interêsses, aperfeiçoando métodos, re-
novando fórmulas, revisando conceitos, enfim,
educando-o para a vida.
76 J. MONSERRAT
E aqui chegamos à tese cooperativista — educar
para a vida.
Chegamos a interseção onde se confundem tôdas
as correntes do pensamento humano. Onde o matéria-
lista sente a vibração do espiritualista, onde o idealista
compreende o cepticismo do realista e, a tábua rasa da
convicção de uma mesma necessidade, a todos reune,
porque todos sabem que devemos respeitar-nos — amar-
nos uns aos outros, — como queria Jesus.
E é justamente neste ponto que o cooperativismo
escolar se situa, como uma escola ao lado de outra escola,
no dizer de Profit, Cattier, Tirado Benedi, Fabra Ribas,
Fábio Luz F.º e tôda uma gama de escritores, sociólogos e
pedagogos, dos mais variados matizes.
Mas, educar para a vida, importa, naturalmente,
numa orientação. Exige o estabelecimento de
princípios e normas extraídos da mais intensa observação
para o seu adestramento educativo e objetivação didática
eficiente.
Entra-se, então, no domínio da Pedagogia.
E aí veremos, sem maiores dificuldades, que o
conceito moderno de educar não mais se restringe à
estreita concepção da Escola Tradicional, onde a
visualização da criança estava sempre fora do meio
ambiente, fora do complexo cultural que a envolve.
Outrora, viam nela um entezinho em formação, cujos
defeitos era necessário modificar de maneira gradual e
sistemática, dentro de um esquema prèviamente
elaborado, de acôrdo com o tipo ideal que deveria ser o
adulto.
Era o prepará-lo para ser ADULTO.
E a escola seria, então, até certo ponto, como que
o filtro mágico para tôdas as correções, sem investigar
suas procedências psíquicas e biológicas e sem a mais
leve observação das tendências e inclinações da criança.
COOPERATIVISMO ESCOLAR 77
E, os métodos a empregar, seriam todos de ordem
coercitiva, estariam todos ao sabor de um mestre nem
sempre capaz, sopitando-se assim, a espontaneidade
infantil.
É aquela situação de que nos fala Tirado
Benedi, «quando la vieja didáctica se limitava al
suministro de conocimientos por procedimientos
mecanicos y verbalisticos y por el simples ejercicio de
la memorizacíon; la cooperación no desempeña aun
papel alguno; la colaboración de los alunos y el trabajo
escolar organizado por equipos no se concebian
siquiera».
Quantos recalques, sopitados ainda hoje, foram
adquiridos com os grãos de milho? Quantas caligrafias
se deformaram com os milhares de «linhas» de castigo,
por uma indisciplina inocente qualquer?
Numa leitura que fizemos há tempos, seu
autor, ao comentar certas interpretações freudianas,
relatava diversos casos de complexos e processos de
despersonalização cuja origem fôra descobrir nos
martírios sofridos pelos seus pacientes, no período
escolar. Um, recordam-nos bem, tinha tal idiossincrasia
pelo feijão preto, que nem podia vê-lo...
Pode ser que haja exagêro em tudo isto; no
entanto, vale como uma advertência...
Lourenço Filho, estudando êste longo período
da história da educação, observa que nêle «agia-se de
fora para dentro e a atitude da criança não poderia ser
outra que a de estrita obediência e conformidade».
Acompanhando a marcha do tempo, a
Pedagogia, ao sôpro das novas concepções dêste século,
investe para a especulação psicológica e, ante o terreno
da realidade econômica que somos obrigados a
palmilhar, altera e transforma os fundamentos
científicos da arte de educar, integrando-a como
instrumento de uma eficiente propedêutica.
78 J. MONSERRAT
Passa a escola a nortear-se no sentido da forma-
ção da personalidade da criança, espreitando e orien-
tando suas tendências, corrigindo-lhe respeitosamente as
manifestações de indisciplina e abrangendo um raio de
ação mais amplo na condução de seu comportamento.
Abandona-se a velha escola tradicional, que ensi-
nava, e inicia-se a transição para a escola nova, que
educa.
Não mais pela coação e imposição de fórmulas
padronizadas mas, agindo num clima de liberade e
respeito, de modo a desenvolver, sem temores, as in-
clinações individuais.
Pois, «a criança em vez do ser imperfeito que
convém modificar, alterar, domesticar, quase, é, ao
contrário, admirável organização, cheia de recursos
naturais para sua própria evolução do estado infantil para
o estado adulto. Antes de tudo, tem a criança
características próprias, inerentes ao seu estágio de
desenvolvimento que lhe ficam tão bem como lhe fi-
cariam mal as do adulto. Características que fazem dela
um indivíduo sui-generis, de fisionomia própria e não, de
maneira alguma, um adulto pequeno e imperfeito. O feitio
particular da criança, como criança, torna-se não
simplesmente aceitável mas, ainda, utilizável, do ponto-
de-vista educativo», como adverte a professôra Maria dos
Reis Campos.
O objetivo altera-se, também, e a escola não mais
educa, hoje, a criança, para ser adulto, mas para viver
entre adultos, amanhã, uma vida em constante mutação.
O professor deixa a palmatória e o grão de milho
e torna-se o amigo, o orientador dos alunos na passa-
gem da sua própria vida social, para a trepidante vida
social dos adultos; «deixa seu lugar diante de um grupo
de alunos, para se colocar no meio de um grupo de
COOPERATIVISMO ESCOLAR 79
crianças». Por isto os métodos devem ser, conseqüen-
temente, o reflexo dessa nova situação.
Nestes conceitos admiráveis paira o espírito da
Nova Escola que, não obstante suas ramificações pelas
diversas correntes filosóficas do pensamento contem-
porâneo para assimilar, de cada uma, sua idéia central, pode
ser assim caracterizado:
I — É preciso que a criança exercite livremente
sua atividade.
II — Não é sòmente a capacidade intelectual da
criança que se deve desenvolver.
III A escola deve ser o local onde o trabalho
conjunto de professôres, alunos e institui-
ções se destine à formação de uma gera-
ção cada vez melhor que a precedente.
Estas as razões por que as escolas se tornam hoje,
em todos os quadrantes da terra, centros onde a ju-
ventude aprende verdadeiramente a viver; o ambiente onde
deve encontrar, todos os dias, algúma coisa nova para fazer
ou algum motivo de estímulo à sua imaginação fértil e
criadora, pois «escuela y vida han de ser una sola cosa.
Aquella debe ser um pedazo de esta», apregoa Rude.
Como levar a efeito, concretamente, êstes tão no-
bres objetivos?
Como proporcionar à escola meios práticos para
preparar a infância para a vida?
Não resta mais dúvida que desenvolvendo, em sua
didática, tôdas as formas para o aprimoramento da
personalidade imanente em cada indivíduo, estimulando o
espírito de iniciativa do educando, dentro do maior
objetivismo possível.
80 J. MONSERRAT
E, conforme têm verificado os nossos incansáveis
pesquisadores, a escola só tem atingido esta sua pré-
cípua finalidade, proporcionando ao aluno meios de agir e realizar.
Por isto a escola hodierna não se reduz mais, sim
plesmente, à aula.
Cercam-na um conjunto de instituições que apare-
cem, na entrosagem educacional, como parte integrante do
ambiente escolar, porque, precisamente, não representam outra
coisa que aspectos reais da vida quotidiana. São as organizações
que circunscrevem as aulas e com elas se articulam por intermédio
de seus programas e propósitos, nos quais a criança tem papel
saliente, quer na elaboração dos planos de trabalho quer na
execução dos mesmos.
Referindo-se ao assunto, diz a emérita educacio-
nista Maria dos Reis Campos, «que êstes institutos, como agentes
educativos, se integram perfeitamente no quadro das atividades
escolares. São recebidos pelos alunos com o melhor dos interêsses
e servem sensivelmente aos objetivos educacionais modernos —
fazer que os alunos vivam, levando-os à aquisição de
conhecimentos, hábitos, conceitos, disposições de espírito e de
idéias, formando de melhor maneira sua mentalidade».
E é entre estas instituições que vamos encontrar a
COOPERATIVA ESCOLAR como instrumento eficien-
tíssimo para a criança exercitar o self-governement no trato de
questões relacionadas com a vida futura, bem como para preparar
uma, geração melhor que a precedente, numa escala ascendente de
ensinamentos econômicos e de aprendizagem prática dos deveres e
necessidade de solidariedade social.
Não serão vãs, para o nosso meio, reproduzir aqui as
impressões registradas em obras e relatórios de publicistas e
educadores, sôbre os resultados do coope-
Vista da famosa Colônia Cooperativa de Freidorf (Suíça)
fundada por Jaeggi.
COOPERATIVISMO ESCOLAR 81
rativismo exercitado nas escolas. Alguns trechos, bus-
cados aqui e ali, contêm observações e verificações que
falam com uma clareza meridiana dos benefícios sem
conta que trazem, para a formação da mentalidade in-
fantil, a disciplina, espontânea e a compenetração que
aflora da prática cooperativa.
É do relatório de um Inspetor de Ensino
Primário, de França, o seguinte instantâneo citado por M.
Ritter: «o valor moral pode se desenvolver em tal grau
(nas cooperativas escolares) que vimos um filho de
ladrão, cujo pai estava preso, devolver, altivamente, ao
presi-dente de sua cooperativa, uma carteira encontrada
no caminho: «Quis desmentir, disse êle, o provérbio — tal
pai tal filho». Ainda no mesmo trabalho encontramos um
depoimento de François Dabrowsky: «Se, por acaso,
penetramos numa classe de cooperadores, pode-
remos ouvir crianças, com ar muito sério, dizer que
decidiram, em assembléia geral, o pagamento de uma
quotização regular para chegar à realização de proje-
tos unanimemente elaborados. Essas crianças, pergunta o
ilustre educador, que logo serão homens, não con-
seguiram, dessa forma, apreender o sentido do prin-
cípio do impôsto»? E, a seguir, com uma exclamação
bastante expressiva, diz: «Como as assembléias de ho-
mens se assemelham pouco a tais reuniões de crianças!
Como a vida em sociedade seria melhor e menos agitada
pelos atritos e humilhações, se a fada cooperativa ti-
vesse chegado mais cedo !»
Bastante razão, pois, tinha o velho mestre Profit
quando afirmava; «a cooperação escolar não pode ser uma
emprêsa meramente comercial — ela é obra de educação.
Presente esta diferença essencial que a distingue das
demais sociedades, a cooperativa não é uma entidade
superposta à escola ou fora da escola — é a própria escola
socialmente organizadas».
82 J. MONSERRAT
São do ilustre pedagogo paulista Fernando de Aze-
vedo as expressões que, como um depoimento de irre-
futável valor, se tornam indispensáveis neste arrazoado: «A
escola primária, que se converte em verdadeira comunidade
de vida e de trabalho, permite o estudo e a aplicação de tôda
uma série orgânica de experiências e processos sugeridos
pela experiência direta da vida. A associação cooperativa é
um dêsses processos normais de formação na escola
renovada segundo o método experimental e o espírito de
finalidade social; e, de tôdas as instituições que podem
contribuir para o desenvolvimento do espírito de cooperação
ela é, por certo, uma das mais eficazes pela sua própria natu-
reza e pela possibilidade de interessar a totalidade dos
alunos. Só a experiência e o trabalho, sob as formas mais
expressivas da vida cívica, econômica e social, podem dar à
educação um fundamento sólido, moderno e prático. Na
escola nova, que é, por sua essência, um laboratório prático
de pedagogia, as cooperativas escolares, como aliás tôdas as
instituições com que se manifesta e afirma a vitalidade
social da escola, assumem um papel preponderante».
ORIGEM,FORMAÇÃOE DESENVOLVIMENTO DAS
COOPERATIVAS ESCOLARES E SUA VINCULAÇÃO
À ESCOLA MODERNA
Dados os lineamentos do cooperativismo e, com
a devida vênia do nosso infatigável e culto magistério, um
pálido traçado do conceito e dos objetivos da Escola Nova ou
Progressiva, vejamos agora alguma coisa sôbre a origem,
formação e desenvolvimento das cooperativas escolares, e, por
êste meio, procuremos estabelecer o liame prático que víncula,
a essa moderna concepção do ensino, a cooperativa escolar.
Embora Cattier nos relate o trabalho do Prof. Da-
browski organizando, em 1906, por incumbência dos Poderes
Públicos, cooperativas nas escolas polonesas destinadas ao
suprimento de livros e merendas aos alunos, a receber
economias do corpo discente, manter oficinas de
encadernação, constituir bibliotecas, etc., o berço, o Rochdale
do cooperativismo, como instituição escolar, deve-se ao
espírito francês, da iniciativa do Inspetor de Ensino Primário,
Prof. B. Profit.
É, pois, a êle que vamos recorrer para contar a
história de um feito que se projeta como fator de extraordário
valor educativo.
Após a Primeira Guerra Mundial, as Municipali-
84 J. MONSERRAT
dades de França passaram por um longo período de
dificuldades e aperturas financeiras.
Tinham de construir edifícios, hospitais, residên-
cias, refazer estradas e vias de comunicação, etc., atin-
gidas pelos bombardeios das máquinas infernais.
Falar, naqueles momentos, da necessidade do equi-
pamento das escolas seria uma redundância. Sem pos-
sibilidades, o erário público nada podia fazer numa fase em
que a criança mais precisava, para recompor o quadro em que
vivia e vislumbrar, com otimismo, a perspectiva que se lhe
oferecia naquele tremendo após guerra.
Assim, uma vez que não podiam contar com o Con-
selho Municipal, os professôres do distrito de Saint Jean
D’Angely pensaram em interessar os próprios alunos no
reaparelhamento da casa onde passariam uma boa parte de sua
existência, através da COOPERAÇÃO. Pressentiam que,
integrando-os nessa árdua tarefa, haveriam não só de encontrar
trabalho adequado para êles, como uma grande contribuição
material para a escola e, assim, ainda melhor educá-los.
Da realização imediata dessa idéia foi que se ori-
ginou, orgânicamente, o cooperativismo escolar, no sentido
econômico-pedagógico, como é por todos os tra-
tadistas conhecidos.
Les Petites Abeilles foi o nome de batismo que
recebeu a pequena célula de Profit, — expressiva de-
nominação escolhida pelos próprios cooperadores.
Não foi fácil, todavia, a empreitada. No entanto, a
abnegação dos mestres e a orientação que lhe imprimiram logo
nos primeiros tempos, permitiu que, dez anos após o
lançamento da semente, Profit, em uma conferência
pronunciada em 1929, sôbre os progressos dêsse
empreendimento, depois de relatar com entusias-
mo a proliferação de sua iniciativa pelos demais Depar-
tamentos franceses e os resultados materiais que, na-
COOPERATIVISMO ESCOLAR 85
quela época, ascendiam, no seu conjunto, a 500 milhões
de francos, assim se referisse:
«Os resultados que permitiram transformar
nossas escolas não foram logrados pelas virtudes de uma
palavra mágica. Para fazer com que os alunos con-
sentissem em realizar um pequeno sacrifício e a que
trabalhassem por uma idéia, era preciso interessá-los e
criar-lhes novos motivos de satisfação. E, a maior dessas
satisfações, era, para êles, verem-se tratados como
homens e não como crianças. No momento, pois, em que
eram julgados bastante maiores para reunir re-
cursos, deveriam ser o suficientemente razoáveis para
empregá-los e dirigi-los. O maior prazer que se lhes
proporcionava era o do reconhecimento dêste direito. Para
o exercício, porém, dêste direito era necessário
estabelecer regras, criar uma associação, votar estatutos e
regimentos, efetuar reuniões, tomar deliberações, etc. o
que demonstrou-nos ser de grande conveniência».
Prosseguindo sempre em constante progresso,
êste movimento, já antes da Segunda Guerra Mundial,
podia contar com 13.000 cooperativas disseminadas por
todo o território francês, englobando um volume de
negócios estimados em mais de UM BILHÃO de fran-
cos anuais. Nesse período as cooperativas escolares
organizaram nada menos que 337 museus, 200 insta-
lações de higiene, 76 projetores cinematográficos,
inúmeras bibliotecas, etc., generalizando novos métodos
educativos e facilitando, financeiramente, o custeio do
ensino e ampliando, consideràvelmente, a aparelhagem
didática.
Na mesma época, ao influxo das mesmas
necessidades oriundas da hecatombe de 1914, e ante os
primeiros resultados conhecidos do empreendimento
francês, a Alemanha lança mão de igual expediente em
Neukoln, Breslau e Barkenhoff, criando e desenvolven-
do granjas-cooperativas escolares que funcionavam em
86 J. MONSERRAT
terras doadas às escolas e cujos trabalhos eram entre-
gues aos próprios alunos. Cada grupo de seis a dez
colegiais recebia áreas de 50 metros quadrados para
o cultivo de legumes, hortaliças, etc. orientados e diri-
gidos pelos professôres assistentes; além dêste traba-
lho agrícola, faziam, também, trabalhos manuais, com o
que, a par do «rendimento» pròpriamente dito, iniciava-
os imperceptìvelmente no estudo das ciências natu-
rais e na aprendizagem de um serviço útil e
cooperativo.
Na Suíça de Pestalozzi e Fallemberg, temos o
exemplo elouqüente do trabalho educativo do Dr. Bern-
hard Jaeggi, o criador do Seminário Cooperativo de
Freidorf, que, inspirado na obra daqueles educadores-
filósofos, iniciou forte campanha propugnando e fo-
mentando a cooperação nas escolas como meio de
«fundamentar o ensino em comunidade e a educação
para a comunidade».
O interessante em Freidorf é que o ensino
prático do Seminário é ministrado na cooperativa de
consumo local, onde os alunos têm a seu cargo todo o
serviço de venda.
Em Bilthoven, na Holanda, inaugurava-se,
tempos depois, a Comunidade das Crianças, destinada a
proporcionar o desenvolvimento da personalidade e o
livre curso dos talentos e habilidades infantis. Seu
propósito fundamental era educar o indivíduo como
membro da comunidade: respeito e ajuda mútua,
intercâmbio de serviços e profundo senso de
responsabilidade.
Da Inglaterra vem-nos o exemplo dos
admiráveis Young Farmer’s Clubs, cujas atividades e
função educativa têm prestado também relevantes
serviços às crianças do Tio Sam.
As cooperativas alcançaram, na Espanha, posição
de destaque entre as instituições circunescolares, mes-
mo no tempo de Afonso XIII, embora tenha sido com
COOPERATIVISMO ESCOLAR 87
o advento da República e, especialmente, depois da pro-
mulgação do Regulamento da Lei de Cooperativas, em 2 de
outubro de 1931, que hajam, efetivamente, ocupado seu lugar na
educação dos espanhóis.
Mercê desta regulamentação ficou estabelecido o ensino
e a prática da cooperação em tôdas as escolas primárias,
institutos de segundo grau, Escolas Normais e Universidades do
país, em cujo meio os eminentes pedagogos Antônio Ballesteros,
Santiago Hernandez e Fabra Ribas desenvolveram um notável
trabalho.
Na U.R.S.S. é obrigatória a prática cooperativa nas
escolas e, como informa Fábio Luz F.°, com idên-
tica estruturação e finalidade educativa das existentes no mundo
ocidental, haviam, já em 1932, 50.000 dessas instituições.
Nos países balcânicos é tradicional o movimento
cooperativo nas escolas. Desde 1920 vem sendo objeto de
primorosas realizações. Na Checoslováquia é célebre a
demonstração dos pequenos cooperadores de uma vila distante,
reconstruindo e modernizando, com seu próprio esfôrço, o velho
edifício escolar que ameaçava ruir. E Cattier quem nos conta a
história das cooperativas das escolas primárias de Fedlina e Vel-
Vselisy concorrendo para minorar a situação de miséria dos
povoados de suas sedes: a primeira, organizando a in-
dustrialização artística da madeira, e a segunda, criando uma
pequena cerâmica que hoje constitui notável fábrica de loucas
checas. Na Rumânia e outros países do Oriente europeu a
legislação há muito reconhece na cooperativa escolar um
elemento que é não só preciso manter como fomentar
desenvolver, mais pelo seu caráter educativo do que pelos
benefícios econômicos que possam prodigalizar.
* * *
88 J. MONSERRAT
Ainda com o mesmo sentido docente e caráter
compulsório vamos encontrar, na regulamentação da
Lei mexicana promulgada pelo presidente Lázaro Cár-
denas, em 15 de fevereiro de 1937, um texto cheio de
compreensão da utilidade désse sistema. Realmente os
consideranda dêsse Decreto refletem bem o grande de-
sejo que empolga o povo azteca de dar «unidad de criterio y
de ación en la enseñanza del cooperativismo escolar, para
que el alumno comprenda, através de prácticas constantes y
encauzadas del sistema, sus ventajas, tanto en el aspecto
docente como en el integral del mismo».
E tanta é assim que lemos:
Art. 1.º — En todas las escuelas que dependan de la
Secretaria de Educación Pública y en las partícula-
res incorporadas, deberan estabelecerse cooperativas
escolares que comprenderán todas las modalidades ne-
cessarias dentro del medio en que tengan de actuar.
Art. 2.º — De acuerdo con lo preceptuado en la
Ley General de Sociedades Cooperativas en vigor, las
cooperativas escalares tendrán una finalidad exclusivamente
docente; se integrarán com maestros, alumnos y empleados
y se regirán por las disposiciones que dicte la Secretaria de
Educación Pública.
Art. 3.º — Son finalidades de las cooperativas es-
colares:
I — Desenvolver la práctica de la asociación, el
espíritu de iniciativa y organizador; reali-
zar el trabajo produtivo y socialmente útil;
mostrar sus ventajas;
II — Crear nuevas fuentes de produción y distri-
buición que beneficien a da colectividad, or-
ganizando cooperativas post-escolares;
III Fomentar la idea de la provisn al servi-
via de la colectividad.
COOPERATIVISMO ESCOLAR 89
Art. 4.º — Todos los alumnos y maestros de los
planteles educativos mencionados en el artículo 1.º, tié-
nen la obligación de pertenecer a la cooperativa *) de
su escuela; sin más restriciónes y prerrogativas que las
que este Reglamento señala.
Art. 30 — La administración de las cooperativas
escolares estará a cargo de la Assemblea General, quien
delegará parte de sus funciones en los Consejos de
Administracion y de Vigilancia.
Art. 45 - En todas las escuelas se integrará un
Consejo de Asesores, *) además de los Consejos de Ad-
ministración y de Vigilancia, en el fungirá como
presidente el Director de la Escuela con la cooperación de
los profesores de la misma, procurando que estos se eli-
jan de entre los que tengan a su cargo materias afines con
las actividades de la cooperativa, y de los padres de
alumnos que asistan a la propria escuela. Podrán formar
parte de este Consejo personas extrañas a los padres y
maestros, quando sus conocimientos y su pré-
paración técnica se estimen provechoso para la coope-
rativa.
Art.50 — Siendo una finalidad del coopera-
tivismo escolar la criación de nuevas fuentes de
producción y distribución que beneficien a la colectividad
y la organización de las cooperativas post-escolares; al
terminar sus estudios en una escuela y haber alcanzado su
graduación los socios de la Cooperativa Escolar, podrán
organizarse cooperativas post-escolares.
Art. 57 — Las cooperativas escolares constitui-
rán federaciónes*).
Art. 58 — Las federaciónes de cooperativas es-
colares se organizarán en confederaziones, y estas, a su
vez, integrarán la Confederación Nacional de Coopera-
tivas Escolares.
__________
*) O «negrito» é do autor.
90 J. MONSERRAT
Aliás, o objetivo do regulamento de Cárdenas, co-
mo vimos, foi a generalização sistematizada de fatos
que se enraizam nos ensinamentos da Cooperativa de
Ensino Técnico Industrial e Comercial constituída em 1926
e que organizou, mais tarde, a célebre Exposição
Permanente e a venda de 80. 000 artigos fabricados pelos
alunos das escolas técnicas e na Sociedad Cooperativa Casa
del Estudiante Indigena, fundada em 1928 e com cuja
ajuda muitos e muitos estudantes puderam concluir seus
estudos e adquirir os primeiros instrumentos para iniciar sua
vida profissional, como se lê do Relatório de Colombain.
Perseguindo idêntico interêsse, o Govêrno
venezuelano, por decreto presidencial nº 297, de 23 de
dezembro de 1943, complementou a legislação
cooperativista vigente com a aprovação do Regulamento das
Cooperativas Escolares. Inspirado, por certo, nas grandes
necessidades do ensino para o mundo moderno e nos
exemplos de outros povos, o legislador interveio dire-
tamente no assunto. Tornou compulsória a constituição de
cooperativas «em todos os estabelecimentos federais de
educação primária, normal, secundária e nos de ensino
técnico-industrial e de artes e ofícios e nos estaduais e
municipais dêstes ramos» e, como o mexicano, criou um
Serviço de Registro dessas entidades, no Ministério da
Educação Nacional — Conselho Técnico Consultivo de
Cooperativas Escolares; reconheceu a soberania das
assembléias e a administração dos próprios alunos,
assistidos pelo Conselho de Assessores no qual colocou um
colegial ao lado dos representantes dos pais dos alunos e do
corpo docente; disciplinou a formação dos recursos e
distribuição dos resultados; limitou o valor máximo da
quota-parte em 5 bolivares, determinando, além do Fundo
de Reserva, a criação de fundos sociais destinados à
Previdência Social, Ação Cultural e Educação
Cooperativista e Fomento com
COOPERATIVISMO ESCOLAR 91
10% dos resultados anuais e mantendo o princípio de
Howarth para os 60% restantes; previu a organização de
federações e da Confederação Nacional das Coope-
rativas Escolares, reservando-lhe uma regulamentação
especial; finalmente, cumpre ressaltar que, como no
México, as cooperativas escolares venezuelanas não podem
fornecer mercadorias a pessoas não-associadas e seus preços
deverão acompanhar os do comércio da localidade e, ainda,
como no estatuto azteca, tem um capítulo especial para a
organização de cooperativas post-escolares, dando a mesma
definição e objetivos.
O Chile, ao que estamos informados, embora não
disponha de uma legislação específica nem considere
compulsório o ingresso dos alunos nas cooperativas de suas
escolas, estabeleceu, em 1927, quando reorganizou a
educação pública do país, que «adelante las escuelas serán
consideradas y organizadas como comunidad de trabajo, en
las cuales los maestros, los padres y los alumnos
coordinarán sue esfuerzos hacia la cooperación y la
solidariedad». Enquanto isto, Reyes Moncada afirmava que
«a cooperação deve ser ensinada e difundida como qualquer
outra disciplina, como se ensina o comércio, a agricultura,
os ofícios mecânicos».
Por informação, há pouco divulgada pelo órgão da
imprensa cooperativista francesa, «Le Monde Cooperatif», a
província argentina de Buenos Aires incorporou o
cooperativismo como prática e disciplina escolar. Diz a
notícia: «A Câmara de Deputados da Província de Buenos
Aires vem de adotar uma lei tornando obrigatório o ensino
da cooperação nas escolas privadas e públicas da Província
para os alunos de ambos os sexos, determinando, também,
que as direções das escolas providenciem a criação de
cooperativas escolares, buscando a colaboração das
sociedades cooperativas de adultos, pais dos alunos e
mestres».
92 J. MONSERRAT
Nos EE. UU. o cooperativismo, quer como disci-
plina escolar quer como instrumento para as escolas
dos diversos graus realizarem seus elevados objetivos,
foi iniciado em virtude da crise econômico-financeira
que assolou a república norte-americana no ano de 1932.
As inúmeras publicações oficiais e trabalhos de
divulgação que narram a gênese dêste movimento entre
os americanos, principalmente os de Fábio Luz Fº, e Val-
diki Moura que viajou cêrca de dois anos naquele país, relatam
que, impelidos a abandonar os estudos, pela falta de recursos,
um grupo de doze estudantes resolveu alugar uma velha casa
nos arredores do «Texas Agricultural and Mechanical
College». Com móveis emprestados e algum material
arranjado com o próprio senhorio, deram um aspecto aceitável
à vivenda. Os gastos eram rateados e não faltavam mesmo
aquêles que saldavam suas obrigações com víveres recebidos
dos sítios de seus pais e parentes. Êles próprios faziam grande
parte dos serviços caseiros, como limpeza, lavagem de pratos,
assoalhos, etc. Êste movimento do Texas não tardou a irradiar-
se pelo país e ampliar sua ação por outros setores, tais como o
de completo fornecimento de material didático aos associados,
bibliotecas, clubes de recreio, etc.
Alguns dados extraídos de trabalhos dêsses publi-
cistas patrícios nos mostram do quanto é capaz a co-
operação no meio estudantil, quando orientada e dirigida no
bom sentido.
Em 1936, o Texas contava já com 700 estudantes
residindo em apartamentos modernos, com uma economia
mensal de 50% sôbre os gastos idênticos nas redondezas.
Na Universidade de Washington, em 1937, isto é, 5
anos depois, a organização dos estudantes possuia 20.000
dólares em instalações e realizava um volume de transações
que ascendia a 100.000 dólares. A da
COOPERATIVISMO ESCOLAR 93
Califórnia dispunha de quatro edifícios dotados de to-
dos os requisitos aconselhados para vivendas coletivas,
que forneciam abrigo e alimentação para 510 alunos,
pelo preço de 15 dólares mensais.
Ao estalar a última guerra, havia dez organi-
zações cooperativas só em Seattle e, em seu conjunto, o mo-
vimento cooperativo universitário norte-americano agru-
pava em mais de 160 entidades cêrca de 100.000 mem-
bros, girando mensalmente com mais de 50.000 dólares.
Hoje, êstes dados, foram triplicados.
O movimento educativo de Antigonish, no Canadá,
ao que divulga «Informaciones Cooperativas», do B.I.T.,
realizou uma verdadeira revolução no meio dos pesca-
dores e mineiros das províncias marítimas do país, sob
o impulso da Universidade de São Francisco Xavier.
Começando pela educação através de palestras,
boletins e publicações fartamente difundidas e
discutidas em Clubes de Estudo, chegou à organização
cooperativa daqueles trabalhadores, transformando, em
bases sólidas, uma imensa e abandonada região.
O sucesso de Nova Escócia não tardou a se
estender a outras localidades, até atingir Colônia de
Lourdes e Newfoundland, sempre sob a orientação
daquela Universidade e a vigilante adoção de seus
métodos e processos educativos.
Arrematando suas impressões sôbre êste
trabalho de tanta envergadura, diz o ilustre itinerante
com muito acêrto: «Quem quiser promover a
reconstrução econômica do povo em base cooperativa,
deve considerar e adotar o programa que domina os
pensadores do Antigonish».
Apesar de a escola primária não dispor de uma
legislação em que vigore, especificamente, a coopera-
tiva, como instituição obrigatória, o clima em que vive
o aluno vem sendo, pouco a pouco, impregnado de um
calor de profunda solidariedade. As longas viagens em
94 J. MONSERRAT
grupo, os trabalhos por equipe e a manutenção dos
museus e bibliotecas escolares, etc., se bem não ofere-
çam grande margem ao trato dos assuntos e questões
que emergem do funcionamento da cooperativa escolar,
são, contudo, elementos de estímulo e predisposição
cooperativista para aquêles que, egressos dêsses esta-
belecimentos, se incorporam ao grande mundo univer-
sitário da Norte América.
No Uruguai, a Universidade Cooperativa Po-
pular, mantida pela Associação Cooperativa Uruguaia,
constituída em 1933.
Na república dos incas, além do ensino prático
nas escolas rurais, funciona, desde 1940, o Instituto
Cooperativo do Peru.
O Equador, ministra o ensino da Cooperação,
na Escola de Estudos Econômicos e Sociais e na Facul-
dade de Jurisprudência e Ciências Sociais, da
Universidade Central de Quito, e na Faculdade de
Ciências Econômicas, da Universidade de Guaiaquil.
Nos programas de ensino das escolas primárias
da Colômbia, as cooperativas escolares desfrutam de
uma posição de relêvo entre as demais instituições.
Dispõe, ainda, êste país, do conceituado Instituto de
Estudos Cooperativos de Cauca, pertencente à
Universidade de Popayan, cuja Faculdade de Ciências
Econômicas, desde 1941, conta uma cátedra especial de
Cooperativismo.
Nas repúblicas da América Central, principalmen-
te em Costa Rica, Cuba e Panamá, se esboça um
bem urdido trabalho de propaganda, dirigido por res-
peitáveis educacionistas, no sentido de dotar seus paí-
ses com legislações educacionais especiais e onde a co-
operativa escolar, sem favor algum, represente o pa-
pel destacado que ocupa hoje nos quadros do sistema
educativo do México, Argentina, Venezuela, Peru e
de alguns Estados do Brasil.
O COOPERATIVISMO ESCOLAR NO BRASIL
Em nossa terra, o Profit brasileiro é o ilustre
técnico patrício Fábio Luz Filho. E, inegàvelmente, a
êste intrépido batalhador, devemos o trabalho de
pioneiro em caminho tão juncado de dificuldades e in-
compreensões. Pois, embora em 1938, Fernando Aze-
vedo tivesse aflorado o problema ao assumir a dire-
ção de Instrução Pública do Distrito Federal e inau-
gurado, em sua brilhante gestão, o grande movimento
renovador da escola pública carioca, a êle, ao velho
Fábio, devemos as campanhas iniciadas no Rio, após a
Revolução de 30, através de conferências, livros e
artigos publicados na imprensa, com profunda e be-
néfica repercussão em outros unidades do país.
Semente tão boa não tardou a dar seus
primeiros frutos.
São Paulo, Paraná, Bahia, Santa Catarina, Per-
nambuco e outros Estados do Nordeste começaram,
então, «plantar carvalhos», certos de que nada de útil,
duradouro e eficiente poder-se-ia fazer para o coope-
rativismo indígena sem a semeadura bem lançada nos
canteiros de multiplicação da juventude.
Acreditamos que, nessa laboriosa faina, tenha ha-
vido, e haja ainda, forte reação a vencer; que muitos
96 J. MONSERRAT
obstáculos tiveram de remover êstes cooperativistas
que se atiraram à luta branca de articular a base, ali-
cerçar com solidez a estrutura cooperativa. Os hiatos
que se verificam na observação dêsse movimento em
diversos Estados indiciam as diversas contramarchas
que, por certo, teve de sofrer o trabalho de nossos
colegas de outras regiões, premidos, sem dúvida, pela
incompreensão de uns e a demasiada compreensão de
outros... O caso é que, dentro de um processo de de-
senvolvimento contínuo ou intermitante, vendo
progredir e prosperar iniciativas tão meritórias ou
passar de períodos de grande interêsse ao de
marasmos enervantes ou de lamentáveis retrocessos,
o cooperativismo escolar no Brasil, visto no seu todo,
como de resto o sentido exato de nossas necessidades
nacionais, já criou raízes tão profundas que essas
paradas, êsses hiatos aparentemente tão prejudiciais,
vêm constituindo como que os altos, os «bivaqueios»,
da poderosa coluna que marcha irresistivelmente para
seus destinos, convicta de que atingirá sua meta no
serviço da Pátria.
Desejávamos passar em revista tôdas as mani-
festações e trabalhos levados a efeito nos Estados,
onde temos notícia da existência de cooperativas es-
colares.
Infelizmente, não obstante a persistência com que
há quase um ano buscamos dados e informes, não nos
foi possível coligir maiores informações do que aque-
las que alinhamos agora com grata satisfação. Aliás,
é perfeitamente compreensível esta lacuna, embora nos
faltem argumentos para justificá-la.
País enorme, onde equações e problemas funda-
mentais desafiam arrojadas soluções, ainda o dispõe
daquela rêde informativa capaz de proporcionar aos
curiosos de nossas iniciativas, fontes onde possam, sem
maiores dispêndios, saciar sua sêde de conhecimentos
e divulgar fatos e experiências úteis ao trabalho ne-
Um ângulo das magníficas instalações da Cooperativa Escolar
do Grupo Escolar 1.º de Maio, desta Capital, que sob a orienta-
ção da Prof. Edelvira Rosa, diretora daquele educantário, realiza
movimentos de venda que ascendem a Cr$ 100.000,00 anuais.
Flagrante de uma aula do 1.º período do Curso Ginasial art. 91
da Cooperativa de Ensino «instituto Dr. Jorge
Salis Goulart».
Ministério da Agricultura
Secretaria-Geral
BINAGRl — Biblioteca Nacional de Agricultura
PROJETO PNUD/FAO/BR/72/020
SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÃO
E DOCUMENTAÇÃO AGRÍCOLA
COOPERATIVISMO ESCOLAR 97
cessário à formação de um expressivo movimento co-
operativista no Brasil.
Esta debilidade que, entre outras, reconhecemos
neste esfôrço é, a nosso ver, compensada pela verac-
dade das informações e por seu cunho profundamente
realístico, o que, sob outros aspectos, vem confirmar
a oportunidade e a justeza do punhado de idéias que,
à guiza de um plano de fomento ao cooperativismo es-
colar no Estado, lançamos com êste livro, na esperança
de que ecoe, favoràvelmente, no meio do abnegado ma-
gistério rio-grandense.
DISTRITO FEDERAL
Por ordem cronológica cabe, ao Distrito Federal, o
papel de iniciador do cooperativismo nas escolas pú-
blicas.
Na cidade maravilhosa foi promulgada a primeira
legislação especifica sôbre o assunto, como parte in-
tegrante do regulamento que reformou o ensino pri-
mário na Capital da República. Mas não ficou no texto
da lei êsse trabalho, pois, além dêsse fato, ocorreu, tam-
bém, na metrópole, a primeira tentativa de aplicação
prática do sistema, o obstante hoje as notícias serem
paradoxalmente escassas.
No primeiro caso, temos o admirável trabalho do
pedagogo brasileiro, Fernando de Azevedo, levando à
sanção do então Governador Municipal o decreto n.º
2.940 em 22 de novembro de 1928, e no qual, entre
outras medidas que retificavam a orientação do ensino
e o entrosava corajosamente dentro do espírito pro-
pressista da escola moderna, estabelecia a obrigatorie-
dade da organização de cooperativas escolares “como
meio educativo do espírito de cooperação e para auxi-
liar aquisição de material didático”.
No segundo, pouco tempo depois, a iniciativa da
“distinta Inspetora Escolar, Dona Loreto Machado,
98 J.MONSERAT
constituindo uma cooperativa de consumo escolar, no
Grupo Escolar Nilo Peçanha”, na autorizada informa-
ção de Fábio Luz Filho, e onde pronunciou uma de
suas brilhantes conferências de propaganda coopera-
tivista.
SÃO PAULO
Partindo do Rio, como dissemos, êsse movimento
logo encontrou eco em São Paulo, onde, na cidade de
Cruzeiro, ainda sob a orientação e assistência pessoal
de Fábio Luz, foi fundada em agôsto de 1933, a pri-
meira Cooperativa Escolar do Brasil, na vigência do
decreto nº 22.239, seguindo-se a Cooperativa Escolar
de Produção e Consumo de Itagaçaba, justamente no
dia consagrado ao culto da Bandeira Nacional. Refe-
rindo-se a êstes acontecimentos aquêle técnico diz da
satisfação com que foi recebida a idéia e o apoio pres-
tado pelas autoridades educacionais do Estado, e do
Município, bem como do auxílio material concedido à
novel Cooperativa pela Cooperativa de Lacticínios, da
localidade.
Com tão auspicioso início coube ao D.A.C. pau-
lista prosseguir na catequese, em cujo trabalho, cumpre
ressaltar, entre o de outros técnicos, a dedicação e o
esfôrço do ilustre escritor Silveira Peixoto, àquela
época chefiando a Seção de Propaganda. Sistematizou
SS. com rara habilidade uma forte campanha em prol
do cooperativismo escolar, editou uma série de ótimas
publicações sôbre a matéria, levando a efeito um sem
número de palestras e conferências a respeito, além
de artigos publicados nos mais destacados órgãos da im-
prensa paulista e em revistas especializadas do país.
Foram criadas cooperativas em Grupos e Escolas
e, quando estivemos, em 1944, pudemos verificar
que, em suas estatísticas, já ascendiam a mais de uma
entena o registro dessas instituições. Posteriormente,
COOPERATIVISMO ESCOLAR 99
segundo nos informa o D.A.C., houve uma das tais
pausa com o cortejo típico e conseqüente no descenso
das atividades cooperativas.
Mas, em março de 1947, com a criação do Serviço
de Cooperativismo Escolar e entregue sua direção à
proficiência técnica da Prof. Lavína Scheibel, equacio-
nou-se novamente o problema e inaugurou-se um novo
período, com o saneamento das pseudo-cooperativas
que se desviaram com a ausência de assistência e fis-
calização permanentes, provenientes da falta dos re-
cursos orçamentários que exige tão importante traba-
lho. Atualmente, êsse Departamento, com maior dotação
de verbas, voltou a distribuir, gratuitamente, às
cooperativas, livros de atas, livro para registro de
estoques, títulos nominativos, fichas de matrículas, im-
pressos para balancetes, impressos diversos, sugestivos
cartazes de propaganda, etc.
Além dêste trabalho de assistência direta, o D.A.C.
paulista está reorganizando as antigas cooperativas e
fazendo fiscalizações in loco.
Hoje, das cooperativas desde então registradas,
72 já vêm funcionando regularmente, e as restantes,
como nos informa aquêle Departamento, estão sendo
objeto de estudos para reorganização e respectiva
adaptação à legislação vigente.
PERNAMBUCO
O cooperativismo escolar no Leão do Norte está,
de muito, sob a direção de uma insigne educadora,
Dna. Nair Andrade, que, à testa da Inspetoria de Co-
operativas Escolares do D.A.C. pernambucano, vem de-
senvolvendo um trabalho de inestimável valor à edu-
cação da mocidade nordestina, uma vez que Recife é
por todos os títulos, o centro cultural daquela região
brasileira.
Por nímia gentileza de seu atual diretor, Dr. Clé-
100 J. MONSERRAT
lio Lemos, recebemos um resumo histórico do Coope-
rativismo Escolar naquele Estado e de cujo conteúdo não
nos sentimos no direito de furtar nossos leitores, pois vale
como uma grande experiência para nós outros.
“Em Pernambuco, o cooperativismo escolar deve sua
iniciativa e realização a Agamemnom Magalhães, então
interventor do Estado, e a José Arruda de Albuquerque,
diretor do D.A.C naquela época, homem de cultura e ação
que nunca soube medir sacrifício em favor da causa pública.
A êle,coube tôda a organização inicial. E as linhas-mestras
ainda perduram evidenciando a qualidade da boa semente.
Trabalho inicial
Nada se constrói sem base, sem alicerce. No caso, era
preciso formar ambiente. Iniciou-se a campanha com
publicações diárias, entrevistas, conferências etc. Visitas
repetidas a tôdas as escolas, explicando em linguagem
simples, acessível, as vantagens do cooperativismo escolar.
Mostrando à criança o poder da cooperação. Ensinando
como se formava, como se organizava uma pequena
cooperativa de consumo.
Mais fácil, mas cômodo, teria sido ir ao aluno através da
professôra. Mas, não se economiza energia quando se tem
idealismo pela causa abraçada,quando se precisa uma
adesão absolutamente franca, inteiramente espontânea.
A todos os setores de atividade encaminhamos também
a nossa palavra de fé e entusiasmo. Atendendo um convite
do Rotary Club, fizemos uma explanação do nosso plano de
trabalho. Pelo rádio, pela imprensa, prosseguimos sem
interrupção. A idéia interessou as partes, ganhou
repercussão, fêz afinal o terreno desejado. Estavam vencidos
os primeiros obstáculos.
COOPERATIVAS ESCOLARES 101
Face educativa
Visando o capítulo educativo, parte essencial do
problema, o D.A.C., teve a preocupação de conservar no
possível as linhas principais de todo o mecanismo. Fêz das
cooperativas escolares miniaturas verdadeiras das
cooperativas dos adultos. Simplificou, facilitou o processo
de organização sem modificar os traços básicos de uma
organização cooperativa. Todo o material de trabalho foi
carinhosamente preparado tornando acessível à mentalidade
infantil: Livro de Matricula, Caixa, tombo, pequenos recibos
para quotas-partes e jóias, propostas de associados, etc.
Processo inteligente de adaptação, não de transformação.
A diretoria de cada Cooperativa organizada entre os
próprios meninos. No aluno que se via na contingência de
orientar uma sessão ordinária, presidir uma assembléia,
encerrar uma sessão, iria despertando enorme capacidade de
iniciativa. O espírito de liderança, o sentido de
responsabilidade, da economia, do auxílio recíproco, teriam
desdobramento progressivo.
O D.A.C., tomou a si o encargo de assistir as
assembléias, de orientar, de pacientemente ensinar a
normalização dos livros, distribuindo o serviço ,fixando as
responsabilidades.
Chegamos, assim, à manhã de 10 de novembro de 38,
quando instalamos solenemente no Grupo João Barbalho as
vinte primeiras cooperativas. Fizemos, então, o nosso apêlo
ao magistério. Apesar da fiscalização direta e contínua do
D.A.C., nenhuma cooperativa poderia funcionar sem o
auxílio de uma professôra responsável em cada Grupo.
Continuamos alargando o campo de atividade, fundando
outras cooperativas. Da capital, passamos ao interior. Há
hoje 74, agrupando um total de 12.480 associados”.
102 J. MONSERRAT
Resumo das operações realizadas pelas Cooperativas
Escolares de Pernambuco em maio de 1948
Número do cooperativas ....................... 74
mero de associados ............. .... 12.480
Cr$
Capital subscrito ................... ................... ....... 25.502.20
Capital realizado .................. ............. ............... 23.705.50
Capital a realizar ............. .................. ............... 1.796,70
ATIVO
Cr$
Associados C/Capital ........................... .1.796,70
Artigos Escolares .................. ......... 111.167,80
Caixa .......................... ........ ........... 15.035,60
D.A.C. e Banco Auxiliar ...................... 47.847,90
Despesas Gerais ................................ 1.347.20
Impressos & Objetos de Ec-
critório ..................... ...... 1.052.90
Diversas Contas ............ ...................... 14.933.70
Contas de Empréstimos ......... ............ .131 502.00
Total Cr$ ........ .... 324.683,80
PASSIVO
Cr$
Capital ............... ..................... ...... 25.502,20
ias .......... .... ................................. 2.199,30
Fundo de Reserva ............................. .94.183,70
Auxilio do Govêrno .............. ........... 22.950,70
Coop. Agropecuárias ............ ............ .8.229,70
D. A. C ................................ ....... .... 27.319,10
Diversas Contas ............................. ....14.817,10
Conta de Empréstimos ................... .. 131.502,00
Total Cr$ ....... .... ... 324.683,80
COOPERATIVAS ESCOLARES 103
PARAÍBA
O quadro estatístico do Movimento Social e Fi-
nanceiro das Cooperativas Escolares da Paraíba é bastante
expressivo.
Devido à bondade do sr. Joaquim Costa, diretor do
D.A.C. paraibano, recebemos, ainda, diversas informações
interessantes a respeito do cooperativismo nas escolas da
terra de João Pessoa.
Através delas soubemos que, o inicio dessa prática
cooperativa, parte de 1938, quando foram constituídas as
cooperativas escolares Duarte Silveira, Otília Maranhão e D.
Pedro II, na capital do Estado. Com marchas e
contramarchas, êste movimento, dez anos após, já contando
com 31 instituições, constituiu a Federação das
Cooperativas Escolares da Paraíba, em 30 de outubro de
1947, para cuja presidência foi eleito o Prof. P. Antônio
Fragoso, prestigioso educador naquele Estado. A F.C.E.P.
veio substituir o próprio D.A.C. na tarefa de adquirir em
grosso o material de consumo escolar e fornecer às
federadas o que lhes é necessário ao cumprimento de suas
finalidades.
Julgamos de sumo interêsse resssaltar o beneficio que a
Federação vem prodigalizando, pois, “quanto aos preços,
êstes estão estandardizados, ou seja, há uniformidade de
preços, custando o material em Cabedelo o mesmo que
custa em Cajaseiras, duas cidades extremamente colocadas:
aquela no litoral e esta no extremo norte do Estado”.
Outra informação que reputamos de grande alcance à
consolidação do cooperativismo escolar, é a notícia da
realização de tríduos, isto é, reuniões na Capital, após o
término do ano letivo, dos diretores de Grupos e
Estabelecimentos onde estão sediadas as cooperativas,
presidentes, gerentes e orientadores dessas instituições para,
nesse período, formar a MESA RE-
104 J. MONSERRAT
DONDA do Cooperativismo Escolar, como trabalhos
preliminares dos Congressos Regionais programados.
Também, na Paraíba, essa modalidade cooperativa é
superintendida, por um serviço especializado, sendo a
responsável pelo seu trabalho a distinta técnica Dna.
Dulcelina Leal da Silva.
Do desenvolvimento alcançado pelas cooperativas, e de
sua grande perspectiva, com a fundação da Federação que,
como órgão autônomo, terá muito mais possibilidades para
gestionar fundos e tomar outras iniciativas em prol dos
benefícios da cooperação dizem bem os dados que a seguir
transcrevemos e relativos ao mês de junho de 1948.
Número de cooperativas ....................... .......... 31
mero de sócios ..................................... .... 4.789
Capital ............................ ............. ..... Cr$ 8.794,10
Fundos ......... .... ..... ......................... Cr$ 5.618,80
Fornecimentos feitos pela Federação Cr$ 43.981,50
Vendas efetuadas pelas cooperativas Cr$ 17.841,00
CEARÁ
O Cooperativismo Escolar nesse Estado é ainda
incipiente, conforme esclarece o ilustre Diretor do D.E.C.
cearense.
Iniciada, por esta repartição, em 1942, intensa
campanha pela adoção do cooperativismo nas escolas, foi
constituído, naquela época, com 53 associados, a
Cooperativa Escolar dos Estudantes da Associação dos
Empregados no Comércio de Crato, e levadas a efeito outras
iniciativas nesse sentido. Contudo, houve, posteriormente,
por motivos vários, uma quebra de continuidade nesse
trabalho, estacionando um movimento que tendia a tomar
um alentado impulso.
COOPERATIVAS ESCOLARES 105
Agora, volta seu dinâmico diretor, Sr. Roberto Bezerra
de Menezes, a cargo, com um interessante plano de
reorganização, ao D.E.C., da Seção especializada em
Cooperativismo Escolar, para execução de um trabalho
coordenado com o das autoridades educacionais do Estado,
destinado a orientar a peleja pela boa causa e garantir os
recursos indispensáveis às suas elevadas finalidades.
Não obstante essa lamentável interrupção, a propaganda
e a divulgação impressa vêm sistemàticamente percutindo a
mesma tecla, com a perseverança característica do laborioso
povo cearense. E, além do Boletim mensal, distribuído
gratuitamente, e onde sempre encontramos bem redigidos
artigos sôbre o cooperativismo escolar, o D.E.C. editou um
projeto de estatuto que muito facilita o trabalho dos
interessados em possíveis iniciativas particulares.
SANTA CATARINA
Em Santa Catarina, o grande animador do
Cooperativismo Escolar, foi o nosso saudoso amigo Dr.
Paulo Monteiro de Barros que, aqui no extremo meridional
do Brasil, já deixara o traço indelevel de sua capacidade de
luta e de realização prática.
Organizador da Diretoria de Economia e Assistência ao
Cooperativismo, do Estado vizinho, foi êle quem, no
testemunho do atual diretor do D.E.A.C., abriu a picada para
o trabalho prático, e, por certo, árduo, de levar às escolas
catarinenses o apostolado da cooperação, em companhia do
incansável Prof. João Gonzaga.
Vale como uma modesta homenagem a êste emérito
mestre a transcrição das informações que nos prestou o seu
diretor, Sr. Alcides Abreu: “O Professor João Gonzaga - a
grande alma do cooperativismo es-
106 J. MONSERRAT
colar-percorreu todo o Estado em função de propaganda e
organização. Seu trabalho mereceu a citação especial do
Serviço de Economia Rural, do Ministério da Agricultura.
Centralizou na D.E.A.C. o serviço de contabilidade, visitou
amiudadas vêzes o interior do Estado em trabalhos de
fiscalização e adotou medidas tendentes a estabilizar o
movimento”.
Hoje, Santa Catarina, conta com 46, cooperativas em
pleno e regular funcionamento, tendo sido a primeira
unidade da Federação que, após o Decreto Municipal do
Distrito Federal em 1928, legislou supletivamente sôbre a
matéria. Êsse decreto, a titulo de divulgação, publicamos na
íntegra, no Apêndice.
RIO GRANDE DO NORTE
Dentro do panorama do cooperativismo escolar,o Rio
Grande do Norte ocupa, hoje,uma posição deveras singular
e estranhamente incompreensível.
Embora vizinho de Pernambuco e Paraíba, Estados
cujos movimentos oferecem uma bela perspectiva,
principalmente o primeiro que constitui o centro cultural do
Nordeste; apesar de, há poucos anos, ter tido um auspicioso
surto de desenvolvimento neste setor, sob a orientação do
saudoso Prof. Francisco Veras Bezerra e a colaboração de
Dna. Nair Andrade, a terra potiguar, ainda que pasmem os
céus, suspendeu, oficialmente, conforme portaria de 19 de
fevereiro de 1944, da direção do Departamento de
Educação, o funcionamento das cooperativas escolares,
então existentes.
Êste fato, porém, que tanto se assemelha a outros de que
se ouve falar, como sempre e felizmente tem acontecido,
não passou em branca nuvem nem foi aceito
conformadamente por tôdas as entidades atingidas. E, para
gaudio dos cooperativistas, um mo-
COOPERATIVAS ESCOLARES 107
Desto mestre-escola sertanejo Prof. Raimundo Guerra
atendendo às vantagens inestimáveis da instituição de seus
alunos, para o Grupo Escolar que dirigia, ousou argumentar
melhor e obteve licença para que a cooperativa prosseguisse
em suas atividades, integrando o município de Parelhas
entre os que contam com um instrumento de alto interêsse
pedagógico para educar seus filhos.
Dom José Delgado, no entanto, patrocina agora, com a
organização da Cooperativa Escolar Diocesana de Caicó,
com sede no Ginásio Diocesano Seridoense, uma nova fase
a,qual,contando com o apoio do D.A.C. norte-riograndense,
saberá reintegrar o cooperativismo ao seio da atividade
escolar do Estado, coroando de êxito os esforços de seu
atual diretor Sr. Juvino dos Anjos, para que o Departamento
de Educação reestude o assunto e cerre fileiras em prol de
uma cooperativa em cada escola.
Ainda, por gentileza dêste titular, recebemos um recorte
do jornal “A República”, que se edita naquele Estado, e
onde foi divulgado um balancete da Cooperativa Diocesana.
Por êle soubemos que, já em fins do ano passado, isto é, em
três meses apenas de funcionamento, agremiava 454
associados, com um capital de Cr$ 5.820.000 e que, naquele
período, vendera a significativa importância de Cr$
4.719,90.
É,sem dúvida, uma auspiciosa “rentré”.
BAHIA
Na Boa Terra, a instituição cooperativa nas
esco- las, data de 1940.
Deve-se sua iniciativa ao Agrônomo Renato Muniz
Fiuza que, bem compreendendo a necessidade, de inculcar à
criança dos salutares hábitos de colaboração e espírito de
solidariedade a fim de que, na idade
108 J. MONSERRAT
adulta, impregne seus atos do sentido mais humano e
social de que se revestem e exigem, dia a dia, as relações
entre os homens, promoveu a constituição da Cooperativa
Escolar Gustavo Dutra, no município de Serrinha.
Com a criação do D.A.C., em junho de 1941, foi dado
início ao trabalho de articulação dêsse Serviço com o das
autoridades educacionais. A principio, estas, descrendo das
providências sugeridas, não fugiram à regra então vigente ao
colocar tôda a espécie de obstáculos ao plano para cujo
êxito lhes era solicitada a indispensável colaboração.O
próprio Grupo de Serrinha chegou a devolver “de ordem
superior”copioso material didático e de propaganda que o
Departamento enviara como doação à sua Cooperativa
Escolar.
Mesmo, assim, não esmoreceram os colegas bahianos.
Em fins de 1941, duas outras sociedades romperam a
muralha chinesa e, no ano seguinte, mais sete ingressaram
nas hostes cooperativistas.
Com á assunção, porém, do Prof. Aristides Novis, à
Pasta de Educação, novos ventos sopraram pela Bahia. Foi
promulgado, em agôsto de 1943, um decreto-lei instituindo
a obrigatoriedade da constituição de cooperativas em todos
os estabelecimentos de ensino mantidos pelo Estado,
ganhando, finalmente, a batalha, os arautos da boa causa.
Como resultado, já em dezembro do mesmo ano, os
registros oficiais acusavam a existência de 41 organizações,
para encerrar o exercício de 1944 com 98 cooperativas,
agremiando 15.459 alunos que realizaram um movimento de
Cr$65.346,00.
Após tão rápido crescimento, houve um colapso.
Falta de verba, de continuidade no trabalho de contrôle
ou, talvez, novas incompreensões, o fato é que o Boletim do
D.A.C., n° 14, informa uma redução para 46 cooperativas as
quais, no ano de 1945, reali-
COOPERATIVAS ESCOLARES 109
zavam um movimento de venda de Cr$ 35.342,00, co-
mo sobrevivência de tão inexplicável epidemia.
Recentemente, contudo, novo surto de entusiasmo
agitou êsse setor na terra do cacau. Wladimir Guimarães,
empenhando-se em retomar a trilha tão bem iniciada, em
Relatório publicada, há pouco, no número 51, e
“COOP”,afirma, para satisfação de todos nós, a existência
de 110 cooperativas escolares “na sua maioria em
funcionamento regular e prestando inestimáveis serviços a
seus associados”.
Nesse Estado, nos têrmos do decreto-lei nº12.903, de
19 de novembro de 1943, que modificou o regulamento
baixado com o decreto que instituiu a obrigatoriedade do
cooperativismo nas escolas públicas, passou a ser
consignada, no orçamento, a verba de Cr$ 40.000.00
destinada a aquisição de material escolar para suprimento
às cooperativas. Com esta importância anual, o D.A.C.
distribui artigos indicados pelo Departamento de
Educação, de uma forma bastante original. A primeira
fatura é sempre entregue como “doação”, devendo o
produto de sua venda ser levado a crédito do Fundo de
Reserva da sociedade.
Outra informação digna de nota é a que trata da
estrutura da D.A.C. Além do depósito permanente do
material didático, há um Serviço Especializado em
Cooperativismo Escolar dirigido por uma funcionária
técnica, a semelhança do que ocorre em Pernambuco, São
Paulo e outras unidades da Federação, naturalmente com
as vantagens que decorrem dêste fato.
* * *
Finalmente, não podemos omitir, nessa resenha, a
primeira tentativa de cooperativização do ensino em
nosso país, levada a efeito com a constituição da CO-
110 J. MONSERRAT
OPERATIVA DE EDUCAÇÃO E CULTURA ESCOLA
NORMAL E GINÁSIO DE ALAGOINHA, em 5
de outubro de 1941.
Surgindo, modestamente, com um capital de Cr$
80.000,00 subscrito por 56 associados, não tardou em
duplicar o quadro social e ampliar seus recursos, prestigiada
que foi, desde o primeiro momento, pelo povo alagoiense
que não regateou assinar listas de contribuição, assistir
festivais em beneficio das obras de construção do edifício
escolar e apoiar, de tôda a forma a concecussão dessa
esplêndida iniciativa.
Desde que inaugurou seus cursos, esta escola
cooperativa diplomou, aproximadamente, uma centena de
professores primários que hoje, por certo, se espraiam pelo
interior nordestino levando as luzes de seu conhecimento no
trabalho de alfabetização e incorporação das populações
sertanejas à grande massa dos que têm de lutar,
patriòticamente, pela emancipação e progresso de tão vasto
território.
Em sugestiva reportagem sôbre êste benemérito
empreendimento, a “Revista da Caixa de Crédito
Cooperativo” revela uma série de experimentos levados a
têrmo com o mais completo êxito, principalmente, no que se
refere às bases organizativas e de funcionamento.
Reproduzimos, aqui, mais alguns trechos colhido dêste
trabalho, na esperança de que esta publicidade possa ser útil
ao movimento cooperativista e a outras iniciativas
semelhantes, por êste Brasil afora.
“A Cooperativa mantém o ensino préprimário, primário
e normal, deligenciando esforços para instalar, quanto antes,
os cursos ginasial e comercial. Não distribui retôrno nem
juros ao capital. As sobras são distribuídas na seguinte base:
60% para o Fundo de Consolidação, destinado a responder
pelos gastos de reparos e conservação de móveis e imóveis,
aquisição
COOPERATIVAS ESCOLARES 111
de nova aparelhagem, ampliação dos serviços e
consolidação do patrimônio geral; 30% para o Fundo de
Assistência Escolar, para custeio de tôdas as despesas
relacionadas com seu título; os 10% restantes são lançados
na conta do Fundo de Reserva Legal”.
A orientação administrativa, desviando-se do caráter
mercantil de que está se revestindo, lamentàvelmente, o
ensino particular em nosso meio, reserva, anualmente, cêrca
de 25% da matrícula para ser distribuida entre jovens
indicados pela Prefeitura Municipal, Departamento de
Educação do Estado, Centro Operário local e pelo próprio
Conselho Administrativo da sociedade. Além dessa elevada
percentagem de alunos que freqüentam-na, gratuitamente, a
Cooperativa mantém um regime de estudo sob a forma de
contrato de crédito, parcial ou total, em conta corrente
resgatável sem juros e a longo prazo, depois de concluidos
os estudos.
Outra manifestação de cunho profundamente social, diz
respeito à maneira com que esta entidade encara o problema
angustiante da educação dos filhos de famílias numerosas. À
mais de uma dezena dessas famílias a cooperativa concede
abatimentos especiais que variam de 20 a 80% sôbre o valor
das taxas escolares. É verdade que esta orientação já tomou
vulto; no entanto, o benefício dêsse abatimento ascende, na
maioria dos nossos estabelecimentos, aquela percentagem
com que, a cooperativa de Alagoinhas inicia êsse preceito
assistencial.
Sôbre o mecanismo dessa sociedade, o repórter de
“Cooperativismo”, aludindo à formação do capital social e à
modalidade da respectiva integralização depois de
mencionar que o mesmo se constitui de quotas-partes no
valor de Cr$100,00 e que, cada sócio deve subscrever, no
mínimo, uma série de 10 quotas, ressalta, com muita
objetividade, o caráter rotativo do
112 J. MONSERRAT
quadro social e os efeitos daí decorrentes. Os pais, pela
natureza não mercantil da instituição e da rotatividade
associativa, ao integralizarem, com módicas mensalidades,
as quotas subscritas não fazem outra coisa que uma
economia forçada nesse período. E com ela, não só
garantem a educação de sua prole, como também colaboram
na de outras crianças e jovens, no exercício de uma função
eminentemente social e, se amplamente generalizada, de
conseqüências incalculáveis. Acresce, ainda, constituir uma
ótima modalidade de seguro, feito com recurso dos próprios
interessados e por êles mesmo dirigido, independentemente
da ingerência de poderosas companhias de cujas vantagens
são, sempre, as maiores favorecidas.
E isto ocorre porque, a devolução do capital
integralizado, dá-se, precisamente, no momento em que,
terminado o curso, abandonado os bancos escolares, já com
o pergaminho que vai facilitar ao estudante o ingresso numa
escola superior, o pai retira-se, também, da sociedade,
levando consigo aquela economia com a qual o filho poderá
fazer frente ao custeio das primeiras despesas numa
Faculdade ou adquirir instrumento de trabalho, senão quiser
prosseguir seus estudos.
Eis aí uma forma de socialização do ensino de
eficiência pràticamente provadá e que o distante município
bahiano de Alagoinhas lança, “como uma idéia de
sertanejo” à apreciação e ao estudo de quantos se interessam
pelo problema educacional do Brasil.
Os jovens diretores da Cooperativa do Grupo Escolar Voluntá-
rio da Pátria, desta Capital, reunidos com sua assistente, Prof.
Maria Paula Pacheco, examinam a situação da sociedade.
A Cooperativa Escolar Voluntários da Pátria em plena atividade.
O COOPERATIVISMO ESCOLAR NO RIO
GRANDE DO SUL
O cooperativismo escolar no Rio Grande do Sul,
com algumas honrosas exceções, não expressa o que
poderia ser levado a efeito, neste setor, em prol da
educação da juventude gaúcha.
E isto porque, apesar de, atualmente, entre os
5.229 estabelecimentos de ensino primário municipal
e estadual, penas 150 Grupos Escolares contarem em
suas instituições, com uma cooperativa, estas, em gran-
de mero, não funcionam de acôrdo com as finalida-
des educativas que lhe deram origem.
Constituem, antes, uma dependência, um comprar
timento “estanque” que mantém sempre em dia um
pequeno estoque de material escolar para venda aos
alunos e fornecimento de boas e sauveis merendas
a melhores preços, do que uma organização onde êles,
além dêsses suprimentos, possam adquirir conhecimen-
tos e técnicas novas, qualidades e disposições à prática
da solidariedade, conceitos mais objetivos e hábitos
mais nobres para o trabalho social, hojeo úteis e
indispensáveis à juventude
Esta impropriedade, contudo, de forma alguma
114 J. MONSERRAT
desfigura ou inutiliza as possibilidades que, dêsses
embriões, podem advir.
Talvez, até certo ponto, tenha sido melhor que
assim houvesse acontecido entre nós. Pior seria, sem
dúvida, se ocorresse o contrário, se a àrvorezinha,
bem plantada e bem nascida, se deformasse depois...
Aliás, é fato comprovado que, em certas circunstâncias,
é mais fácil retificar efeitos e conduzir suas posteriores
manifestações pelo bom caminho, que prever seus
resultados dentro de cálculos sabidamente variáveis e
aleatórios.
E a observação, a experiência e a opinião de muitos
mestres nos levam a crer que seria mais difícil “instalarem-
se”, hoje, sem um preparo prévio, cooperativas em nossos
Grupos e Escolas, que retificar seu mecanismo atual,
colocando-as sob as normas e diretrizes convenientes para o
bom funcionamento de uma verdadeira cooperativa e,
através dêste trabalho, multiplicar a semeadura.
Dizemos assim porque acreditamos que os nossos
professôres sabem, perfeitamente, que a maioria das
sociedades juvenis que dirigem não são cooperativas, são
“lojinhas”, “postos de abastecimento escolar”. E, ainda
mais, acreditamos também que êles desejam, de bom grado,
colocar essas instituições na senda dos princípios e da
prática cooperativista.
Haja visto a iniciativa da emérita Prof. Olga
Acauan Gayer, diretora do modelar INSTITUTO DE
EDUCAÇÃO, desta Capital, aceitando nossa colabora-
ção e determinando estudos e a feitura de um Plano
para execução no ano letivo que se inicia, bem como
a da ilustre diretora do Grupo Escolar Venezuela,
Prof. Zilda Pinto, onde, atendendo um seu gentil con-
vite, realizamos, perante o distinto corpo docente da-
quele educandário, uma palestra de propaganda a fim
COOPERATIVAS ESCOLARES 115
de que, em março próximo, com a inauguração dos
cursos, a Cooperativa inaugure, também, suas ativi-
dades, em moldes realmente cooperativistas,
Pela sua oportunidade e pelo que representa de
prático e objetivo temos a satisfação de inserir, no
pêndice, o Plano de Organização para a Cooperativa
Escolar do Instituto de Educação, elaborado pela Prof.
Elfa Freda que ocupa, tão credenciadamente, a Asis-
tência da Cadeira de Instituições, daquela Escola-pa-
drão do Estado.
* * *
Desta situação, constatamos a existência de:
-organizações realmente cooperativas;
-cooperativas que se desviam de seus verdadeiro
objetivo;
- cooperativas de rótulo.
No primeiro caso, aliás de número reduzido, há
exemplos edificantes.
Na Escola Normal Olavo Bilac, de Santa Maria, a Prof.
Alda Saldanha Teixeira, quando na sua direção, promoveu a
constituição e orientou, por vários anos, a cooperativa
daquele estabelecimento, com ótimos resultados não só
econômicos como, muito especialmente, para a objetivação
do ensino, às futuras mestras.
Nesta Capital, entre outros, temos um trabalho digno de
nota.
Referimo-nos à Cooperativa do Grupo Escolar Vo-
luntários da Pátria.
Meritória iniciativa da Prof. Amélia Pôrto Pe-
reira, diretora daquele educandário, entregue à dedi-
cação e proficiência da Prof. Maria Paula Pacheco,
esta entidade, desde a sua fundação, em 1947, vem se
116 J. MONSERRAT
orientando conforme as regras clássicas preconizadas
pelos seus idealizadores - o entrosamento das ativi-
dades da cooperativa com o exercido das disciplinas
escolares.
Visitando essa instituição tivemos o prazer de constatar
a grande ingerência dos alunos na vida da cooperativa, onde,
assim, ela se torna, mais do que um fator de economia, um
elemento de educação para a vida.
O entusiasmo e a compreensão de grande número de
jovens estudantes e a infatigável assistência da Prof. Maria
Paula, fizeram-nos verificar de visu o que de útil e
realmente proveitoso pode-se esperar da prática ativa do
cooperativismo pelas crianças.
Em uma ampla sala acha-se instalada a Coope-
rativa. Seus serviços distribuem-se por duas seções:
a de material escolar - livros, cadernos, lápis, fa-
zendas para uniformes, etc. - e a de merenda e cafè-
zinho, devidamente aparelhadas e atendidas, em gran-
de parte, pelos próprios alunos.
Alunos e professôres, reunem-se em sua sede nos
recreios e horas vagas e aproveitam “a folga” para adquirir
os instrumentos de estudo e fazer sua alimentação
suplementar. Todo o movimento é feito à vista e controlado
quase sempre pelos membros da Diretoria que, sob as vistas
discretas da assistente, tomam suas notas e colocam o
dinheiro na caixa que êles mesmos construiram, na aula de
trabalhos manuais.
As últimas eleições, relatou-nos a assistente, foram
muito disputadas. A assembléia realizou-se com a presença
da quase totalidade dos sócios, o processo de votação foi
secreta e a apuração dos resultados foi fiscalizada e as
cédulas computadas por membros escolhidos pelo plenário.
COOPERATIVAS ESCOLARES 117
Um registro interessante e digno da maior obser-
vação é a forma com que os trabalhos de levanta-
mento do inventário e confecção do balanço foram feitos
no ano passado. Articulado com o ensino do
e 5º anos, os problemas de cálculo do retôrno e a or-
ganização dos quadros dos “credores”, depois de ex-
plicados em aula, estiveram todos a cargo dos alunos.
Já por ocasião do ato constitutivo, a assistente,
percorrendo aula por aula, deu amplos esclarecimentos aos
alunos, fazendo-os, depois, lavrarem a respectiva ata e
redigirem os estatutos. Dá gôsto ver os erros de
concordância e os “digo” daquela peça admirável.
Os apartes e as explicações dos sócios em assembléias
valem por um depoimento contra as resistências que, por
ventura, possam continuar existindo nos meios
educacionais, ainda apegados às velhas fórmulas das
declamações padronizadas para festas de fim de ano.
A preocupação dos meninos em ajudar e ser útil à
cooperativa, é outra manifestação capaz de constituir, por si
só, um elemento para valiosa observação e experimentação
pedagógica.
A disciplina que gera as “compras a dinheiro” é um
aspecto que denota as possibilidades de uma educação mais
perfeita e mais ampla.
Dentro de uma situação onde o sacrifício dos pais para
educar seus filhos é cada vez maior, os ensinamentos que
essa prática incute, objetiva e insensìvelmente, nos
colegiais, vai muito além de uma série de preleções e
propaganda sôbre a previdência e a poupança. Parece-nos
mesmo superior a um exemplo focado em aula, pois, na
cooperativa, êles vivem e sentem a ação. O discernimento
alia-se à execução de um ato sem o qual o desejo inicial da
criança seria, por certo, maior e obrigá-la-ia a cometer o
gasto supérfluo.
118 J. MONSERRAT
O senso de responsabilidade e de cumprimento
das obrigações contraídas, tenham a dimensão e o va-
lor que tiverem, encontram, nesta instituição, um óti-
mo meio de exercitar-se e criar as bases para o res-
peito a compromissos que o homem terá de assumir
amanhã.
Vejamos a subscrição de quotas-partes e os seus
efeitos na psicologia infantil.
A criança, ao subscrever sua quota de capital percebe
que, colaborando com suas colegas, assume um
compromisso e passa a sentir-se obrigada a atender,
mensalmente, à prestação estatutária que não entendia bem
ao redigir o estatuto. E, a compenetração dêsse dever se
verifica, na espontaneidade com que vai integralizando sua
parte e no interêsse para que todos procedam igual.
Nesse Grupo Escolar soubemos que, em dezembro,
quando do cálculo do retôrno, havia associados que ainda
não tinham suas quotas-partes integralizadas. De acôrdo
com os estatutos nada lhes coube, embora, como os demais
houvessem feito sempre suas compras na Cooperativa.
Resultado: muitos, ao verificarem “o prejuízo”
decorrente de suas impontualidades, prontificaram-se a
pagar as prestações atrasadas, mas os sócios pontuais
fizeram, democràticamente, valer a letra dos estatutos.
Uma lição, uma grande lição que não poderia ser
dada com mais eficiência do que na cooperativa.
O sentido de honestidade e de exatidão das contas se
elabora nesse aprendizado onde as boas iniciativas e a
capacidade de dirigir e liderar seus companheiros encontra
campo raso para ensaiar seus primeiros passos.
O conceito do valor da organização e de sua fun-
ção indispensável ao êxito de um empreendimento qual-
COOPERATIVAS ESCOLARES 119
quer, a criança aprende e assimila vivendo assuntos de
economia e administração. Nas compras e nas vendas de
mercadorias ela pode observar uma série de fenômenos que
a predispõe a, mais tarde, compreender melhor o mecanismo
dos preços e os crimes dos açambarcamentos, para oferecer-
lhes, então, na lembrança dos tempos escolares, a solução
cooperativa para seus problemas.
* * *
Visitamos, também, escolas nas quais a instituição
cooperativa não sincroniza com as finalidades educativas
com que a Escola Moderna vê as funções do cooperativismo
escolar. Nestas, as atividades da cooperativa são orientadas
no sentido puramente econômico. Auxilia notadamente a
aula de trabalhos manuais e a escola, entregando, por outro
lado, aos alunos, todo o artigo de uso e consumo escolar por
melhores preços.
Não têm estatuto. Não têm administração regu-
lar eleita pelos alunos. Não assembléia dos sócios.
A ingerência do aluno se realiza de uma forma passiva
— êle auxilia nos serviços da cooperativa porque a
professôra o designa. Diáriamente os 3º, 4º e 5º anos
fornecem alunos, escolhidos em escala, que ficam à
disposição da professôra assistente para fazerem as
vendas e anotarem as operações, durante os expe-
dientes dos turnos da manhã e da tarde, acompanhan-
do-a quando faz as compras e informando-lhe dos pre-
ços em diversas fontes.
Articulada com a aula de Trabalhos Manuais, a
Cooperativa fornece aos alunos fazendas, linhas, etc, e
recebe, confeccionados por êles, peças de uniformes, roupa
branca, toalhas, babeiros, etc. que vende aos colegiais,
pagando àqueles pequenas quantias por êsse
120 J. MONSERRAT
trabalho, a título de estímulo. Efetivamente é uma
grande realização integrar o aluno em trabalho re-
produtivo, ainda mais quando êste não só oferece
vantagens materiais imediatas, como também vai des-
pertando na criança o sentido da produção.
Nestas condições, a cooperativa tem resultados e a
escola é beneficiada. Há algumas cooperativas que, com
êstes excedentes, tornam-se grandes beneméritas da
Biblioteca Escolar, e, não raro, suprem o Grupo com uma
porção de coisas úteis que, dificilmente, o Estado lhes
poderia fornecer no momento preciso.
Constituem-se com «empréstimos» da Caixa Es-
colar e vivem com os resultados do movimento de
vendas.
Assim, não há cooperação. A falta de quotização entre
os alunos, a falta de reuniões onde cada um possa ver, sentir
e manifestar o seu sentimento gregário numa entidadezinha
que lhes pertence, não dá margem a que êles pratiquem a
solidariedade e venham a compreender que todo aquêle
resultado que, em algumas delas, ascende a muitas dezenas
de milhares de cruzeiros, é fruto do esfôrço conjugado de
todos, unidos pelos laços da cooperação orgânica. Há um
trabalho. O aluno realiza uma tarefa de grande adestramento
físico ao costurar uma calcinha, ao aprender a fazer uma
casa e pregar o botão no lugar certo mas falta, em tôda essa
engrenagem, o elemento psíquico que deve concorrer na
elaboração consciente de um ato de cooperação.
Há um trabalho, dissemos. Um trabalho objetivo e
mecânico de fazer alguma coisa, porém, não há a
simultaneidade da elaboração subjetiva que predisponha a
criança a voltar, espontâneamente, ao “taller”, a entender
que aquêle beneficio advém do trabalho de um por todos e
todos por um. Pode ser amanhã um balconista, uma boa
costureira, mas não será um bom
COOPERATIVAS ESCOLARES 121
cooperativista. Poderá se formar um artífice capaz de
desenvolver sua técnica, porém, não adquirirá êle os hábitos,
conceitos e disposições de espírito para aquela compreensão
do ideal de ser útil aos outros, sendo também útil a si
próprio, pelo exercício da Cooperação, na sociedade
cooperativa.
O objetivo, pois, de uma cooperativa escolar não é
apenas fornecer meios para que se aprenda a fazer uma
coisa. Uma Cooperativa Escolar se propõe, além de facilitar
êsses meios, criar, ou melhor, aprimorar, na criança, o
espírito gregário e de iniciativa para que amanhã, com as
aptidões e os conhecimentos adquiridos na escola, possa
orientar-se no mundo social dos adultos e levar-lhe,
plasmada em seu cérebro, a idéia de união e de trabalho
cooperativo, uma noção mais exata de seus direitos e de
suas obrigações na vida com seus semelhantes.
* * *
Finalmente, constatamos, também, que há cooperativas
que não passam de «lojinhas»...
Apesar de absorverem o trabalho de um professor nada
mais oferece ao aluno do que o fornecimento de livros e
material escolar. As crianças não se apercebem da
instituição e nela vêem uma pequena livraria e barzinho
onde vão buscar um lápis por 0,50 e merendas e balas mais
baratas.
Tornam-se, assim, prejudiciais aos próprios alunos.
Mostram à criança uma imagem deformada e dá qual,
pelo hábito de vê-la nessas condições e nela simplesmente ir
comprar, adquirem um conceito falso do que seja realmente
uma cooperativa.
A ausência de uma legislação específica que exija
o relato periódico do trabalho da cooperativa, como
122 J. MONSERRAT
elemento de educação, impede o conhecimento de muitos
fatos e iniciativas que, hoje, infelizmente, ignoramos.
Não que os dispositivos de uma lei regulamentar sejam,
por si só,o “abra-te, sésamo” dêsse tesouro inexaurível, mas
porque, precrevendo regras e disciplinando a vida da
instituição, concorreria com valiosas informações para os
trabalhos de pesquisas e orientação e, conseqüentemente,
para maior eficiência e objetividade das diretrizes
educacionais do nosso povo.
Neste sentido, pois, é o objetivo dêste trabalho.
Um punhado de idéias, fruto da observação de nossas
necessidades e da consciência de que a vida vincula-nos a
um sério compromisso para com nossos semelhantes e cujo
cumprimento exige trabalhemos e desenvolvemos nossas
faculdades para que ela deixe de ser “a teimosia de viver”,
como canta o nosso folclore.
* * *
Examinando o funcionamento dessas instituições
escolares e comparando-o com o que se depreende dos
dados e informes obtidos nos Departamentos de Assistência
ao Cooperativismo de outros Estados, verificamos o muito
que ainda nos resta fazer para alcançarmos, neste setor, o
trabalho neles desenvolvido.
É verdade que já dispomos de um aparelhamento
educacional de inestimável valor; que, a partir da criação da
Secretaria da Educação, o Rio Grande do Sul vem
realizando um plano que o situa entre os vanguadeiros do
ensino em nossa Pátria.
Construiu várias centenas de edifícios, dotando-os de
confôrto da arquitetura moderna e do material necessário ao
ensino. Reestruturou e ampliou, consideràvelmente, o
número de escolas criando, oficializan-
COOPERTIVAS ESCOLARES 123
do e reconhecendo ginásios, escolas para formação de
professôras e técnico-profissionais, não na Capital
como em diversas cidades do interior, de modo a que
possamos hoje contar, entre os estabelecimentos
públicos estaduais, com
838 Grupos Escolares e Escolas Isoladas;
7 Escolas Normais, e um modelar Instituto de
Educação;
1 Escola de Educação Física (formação de professôres
especializados);
7 Ginásios, tendo à frente o tradicional “Júlio de
Castilhos”, desta Capital;
4 Escolas Técnicas~Profissionais, sendo uma em
Pôrto Alegre, exclusivamente feminina.
e uma população escolar que se eleva, no computo to-
tal, incluindo escolas municipais e particulares, a nada
menos de 500.000 alunos.
Auxilia e tem assistido, materialmente, o ensino
particular. Legislou, atualizando a vida interna das
escolas e determinando direitos e obrigações do ma-
gistério público, cujo efetivo alcança, neste exercício,
cêrca de 7.000 professôres.
Todo êste imenso trabalho, no entanto, requerendo
energia, perseverança e capacidade realizadora, como aliás
tôda a iniciativa destinada a lançar as bases de uma obra
fecunda, voltou-se, logo, para o que realmente se mostrava
mais essencial no momento, deixando, talvez,
propositadamente, para uma etapa posterior, atender aos
detalhes que dão maior consistência e teor qualitativo à
ação, mas que, reconheçamos, nem sempre podem ser
levados a efeito simultâneamente, como seria de desejar.
Compreendendo êste fato e a oportunidade que
agora se depara, já se esboça,em nossos meios edu-
124 J. MONSERRAT
cacionais, um movimento tendente a integrar a Co-
operativa Escolar no concêrto das atividades didáticas e,
assim, dar um conteúdo educativo às instituições
existentes e as que venham a se constituir.
Atendendo à necessidade de coordenar êste
extraordinário material existente para a prática cooperativa,
apresentamos um plano que visa oferecer algumas
sugestões, inspiradas na experiência do que vem se
realizando no Brasil desde 1928.
* * *
no setor universitário a situação do Rio Gran-
de é bem diversa.
Se, para o fomento do Cooperativismo nas escolas
primárias, êle tem de buscar incentivo e calor no exem-
plo edificante das arrojadas e fecundas iniciativas de
outras unidades do País, no meio acadêmico êle tor-
nou-se catedrático...
A Cooperativa dos Estudantes de Pôrto Alegre
Ltda. — C.E.P.A.L. — ainda que não realize um mo-
vimento de negócios com o mesmo volume das co-
irmãs norte-americanas, situa-se num plano bastante
significativo.
Somos suspeito para nos deter nessa instituição.
Fomos um de seus fundadores e tivemos a honra de
ocupar-lhe a presidência durante o seu primeiro exercício
social, o que, através do desempenho dessa
responsabilidades, nos facilitou conhecer de visu o
problema palpitante do preço do livro e material escolar, das
questões editoriais e da importação de obras e tratados
indispensáveis ao estudo em nossas Faculdades e Escolas
superiores.
Possivelmente, reside, nesta vivida experiência
cooperativa que, o “teórico” de então, registrasse inde-
COOPERATIVAS ESCOLARES 125
level,em seu subconsciente, a constatação da necessi-
dade da prática planificada do cooperativismo em nos-
sas escolas e se arraigassem algumas convicções que
ora manifesta.
Sôbre a C.E.P.A.L., tão cara aos estudantes gaú-
chos e que tem merecido sempre, de seus colegas
platinos, pernambucanos, bahianos, cariocas, paulistas,
paranaenses, etc. que, periòdicamente a visitam, as
mais lisonjeiras palavras de admiração e entusiasmo,
transcrevemos a autorizada impressão que Valdiki Mou-
ra registrou em reportagem Publicada no número de
novembro de «COOPERATIVISMO».
“Já dediquei muitos esforços ao desenvolvimento
do cooperativismo escolar, desde quando, na direção
do D.A.C. bahiano,l ancei a campanha no Estado. Ob-
tive uma lei que tornou obrigatória a organização das
cooperativas escolares nos estabelecimentos públicos
de ensino. Escrevi breve trabalho, dirigido especial-
mente ao professorado e aos pais de alunos. Na Fa-
culdade de Ciências Econômicas e na Escola Politéc-
nica fiz preleções de catequese. Afinal, na Escola
Agronômica, consegui fôsse instalada uma cooperativa
de estudantes. De tudo colhi decepções, que não m
ao caso tratar agora.
Tendo assim uma acidentada experiência do assunto,
rumei para a C.E.P.A.L., certo de que iria acrescentar
alguma coisa ao meu fichário, felizmente, porém, os
denodados estudantes gaúchos não me decepcionaram. Vi,
de fato, uma cooperativa de universitários em pleno e
eficiente funcionamento. Grande estoque de livros didáticos
tomava literalmente as, prateleiras. Relações efetivas com as
casas editôras, lhes asseguram rápida renovação dos
estoques.
Sôbre tôdas as vendas, a Cooperativa abona um
desconto especial aos associados, ficando o custo do
126 J. MONSERRAT
livro muito acessível,porque é também sob especiais
condições que êle é obtido do livreiro editor ou impor-
tador. O mais notável, porém, desta sociedade de es-
tudantes, é a publicação, sob sua responsabilidade, duma
grande série de fascículos mimeografados, contendo matéria
lecionada nas aulas ou simples apontamentos e guias de
cursos. Até o momento da visita, haviam sido feitas 41
publicações, versando finanças direito civil, comercial e
penal, equações diferenciais ordinárias; teoria das funções
analíticas; química biológica, analítica e industrial; pontos
de veterinária, de geografia, de educação, de hidrografia,
de astronomia, de taquigrafia, de mecânica racional, de
geografia, de prótese bucofacial e clínica odontológica, de
materiais de construção, além de programas dos cursos.
Estas publicações mimeografadas, de atraente apresentação,
custam preços relativamente baixos.
Sabemos das dificuldades na aquisição de livros
didáticos, especialmente pelos alunos de menores recursos.
Outras obras são escassas pela sua raridade. Impressiona,
por isso, favoràvelmente, que tantos óbices sejam vencidos
com a simples edição de publicações modestas, mas que
atingem a seus objetivos culturais.
Visitei, portanto, uma cooperativa de estudantes, onde
excepcionalmente não havia cigarros nem guloseimas.
Gostei da rapaziada séria e objetiva que lá estava. E
gostaria, ainda, que os universitários do Brasil repetissem o
exemplo dos seus colegas gaúchos, que tanto contribuiu
para me infundir novo alento e convencer-me de que não há
motivo para desesperar.”
Constituída, entre professôres e estudantes dos
cursos secundários e superiores, a 15 de novembro de
1944, e dirigida sempre por alunos de nossas Facul-
COOPERATIVAS ESCOLARES 127
dades, vem desenvolvendo, paulatinamente, sua ação
proveitosa para a juventude de nossas escolas.
Alguns dados extraídos de seu último Relatório
indicarão bem melhor sua situação e as perspectivas que lhe
aguardam:
Vendas
Ano
Associados
Capital
Livros, etc. Pontos (*)
Total (**)
1944...
1945...
1946...
1947...
1948...
128
355
487
597
788
6.400,00
17.200,00
25.080,50
30.150.00
37.985,00
98.585,40
200.435,50
244.316,60
299,165,30
fundação
11.806,00
9.743,00
29.531,90
8.469,20
110.371,40
210.178,50
278.848,50
307.634,50
No início de suas atividades, a C.E.P.A.L. recebeu todo
o apoio moral e material do então Interventor Federal no
Estado, Cel. Ernesto Dorneles que, percebendo, claramente,
as necessidades do estudante, o alto custo do livro e o
alcance desta instituição para o desenvolvimento e
popularização da cultura entre a mocidade doou, em nome
do Estado, a importância de Cr$ 120.000.00 com os quais
ela pôde não só facer face às despesas de instalações e
realizar as primeiras compras, como, também, enfrentar
galhardamente a incompreensão de alguns interessados e a
luta que lhe moveram.
Outra doação, que muito contribuiu para o êxito desta
emprêsa, foi o gesto fidalgo de um dos industriais.
__________
(*) Os Pontos não têm retôrno. O fornecimento é feito ao
preço de
custo, mais 10%.
(**) Incuído o retôrno sobre aquisição de livros e material escolar,
entregue no ato do pagamento á vista e na base de 15%.
128 J. MONSERRAT
mais progressistas do Estado, o Sr. A. J. Renner. S.S., pôsto
ao corrente da iniciativa dos estudantes, além de aplaudi-la
e, sem alarde, entusiasmá-los à prosseguir nos afanosos
trabalhos de organização, justamente num período em que
tudo faltava, entregou, à C.E.P.A.L., os recursos necessários
à aquisição de um ótimo mimiógrafo, permitindo-lhe, com
esta ajuda, que inaugurasse, simultâneamente, e com todos
os benefícios daí decorrentes, a seção de livros, a de
material escolar e a seção editôra.
Êstes dados, a relação dos Pontos publicados e as
fotografias que ilustram êste trabalho, dispensam maiores
comentários.
Dois aspectos das instalações da Cooperativa Escolar dos Estudantes de Pôrto Alegre Ltda. — C.E.P.A.L.
INSTITUIÇÕES CULTURAIS
Outra não é a perspectiva que oferece o movi-
mento cooperativista gaúcho no setor do ensino e da
difusão cultural.
Se bem que não estejam enquadrados no esque-
ma dêste Capítulo, uma referência, por mais rápida
que seja, será sempre útil e proveitosa, quando o que
se deseja e se pretende, sem vaidade nem prurido de
nos fazermos presente, é divulgar, propagar nossas
realizações no campo da formação de uma intelectua-
lidade arejada, permeável e capaz de assimilar as so-
luções da época em que vivemos; relatar os êxitos e
os fracassos de nosso trabalho, para que sirvam, no
intercâmbio que devemos estreitar entre os quadros
do cooperativismo nacional, de experiência é estímulo
à novas iniciativas, e historiar fatos que possibilitem
a mais íntima ligação que já se torna indispensável
entre todos os movimentos regionais, quer inspirados
pelos serviços oficiais, quer como frutificações de ma-
turidade do pensamento econômico de nossos homens,
em tôdas latitudes.
Em quatro pontos distintos de seu território, as-
sinalando regiões de conformação e fisionomia econô-
130 J. MONSERRAT
mico-social bem características, revelando, mais uma vez, o
caráter universalista da organização cooperativa, se esboça
uma expressiva incursão em campo ainda muito pouco
trabalhado no panorama brasileiro, com os Ginásios
Cooperativos instalados em Pôrto Alegre, Pelotas, Passo
Fundo e Rosário do Sul. Os primeiros já em pleno
funcionamento e os dois últimos, na fase de instalação,
aguardam o início das aulas dêste ano letivo, para inaugurar
seus cursos e abrir, com êles, maiores perspectivas e
oportunidades, principalmente aos jovens que empregam
suas atividades diárias na conquista do pão nosso de cada
dia e que, por isto mesmo, não podem fazer seus estudos,
com alguma economia, senão à luz dos cursos noturnos.
Daí, o grande sentido que vislumbramos nessas
iniciativas, a fecunda colaboração que êsses organismos
cooperativas vêm prestar à educação, no Estado, quer pelos
resultados práticos que possam proporcionar em seus
municípios, quer pelo exemplo concreto que suas
frutificações venham demonstrar nas respectivas zonas com
a benéfica influência na criação de outros estabelecimentos
congêneres, em comunas onde não haja ginásios.
Para um país onde o ensino de grau secundário não
pôde, até agora, ser instituído gratuitamente e, assim,
extensivo a todos, como seria de desejar, e que, por vêzes,
tornar-se rendosa emprêsa, empreendimentos desta ordem
constituem, sem dúvida, uma alternativa que deve merecer,
de todos nós, que aspiramos, sinceramente, ao crescente
desenvolvimento da cultura e que tanto compreendemos e
sentimos a necessidade do aproveitamento de vocações que
se perdem à míngua de recursos materiais, o aplauso e o
apoio decidido de que carecem sempre as instituições novas
e de caráter experimental, em seus primeiros passos.
COOPERATIVA DE ENSINO «INSTITUTO DR.
JORGE SALIS GOULART»
Pela elevada significação que desperta o traba-
lho que vêm realizando os pelotenses no âmbito cul-
tural, em moldes cooperativistas, abrimos, neste Ca-
pitulo, uma página para divulgação de suas ativida-
des, no desejo de levar, aos interessados e estudiosos
da questão, o conhecimento de algo inédito no gênero,
em nosso Estado, e capaz de sugerir soluções ao pro-
blema do ensino secundário, no hinterland rio-gran-
dense, especialmente naquelas localidades ainda não
aquinhoadas pela iniciativa oficial ou particular.
É uma entidade ainda nova Contudo, em um ano
apenas de existência indica suas grandes possibi-
lidades.
Se, ao referir-nos aos bahianos de Alagoinhas,
mostramos o aspecto econômico da organização e a
tenacidade daqueles bravos sertanejos, podemos ofere-
cer, agora, com o relato do programa que está sendo
executado no Princesa do Sul, o complemento neces-
rio à perfeita compreensão do assunto.
Ressentindo-se do grande mal que assola o co-
operativismo brasileiro — falta de recursos próprios e
132 J. MONSERRAT
de crédito a longo prazo esta Cooperativa dispõe,
e lança mão, do melhor dos recursos que tais em-
preendimentos pode almejar a disposição, o ânimo
e a capacidade de trabalho e sacrifício dos que moure-
jam em sua colmeia.
Professôres e alunos ali desejam ser um único
corpo disciplinado e consciente da obra que estão
onstruindo com o lenho de Rochdale.
O método de ensino adotado, a eficiência do perfeito
entrosamento das corporações estudantis, docentes e
administrativas e o regime estabelecido pelo seu
regulamento escolar constitui um passo agigantado no
campo da experimentação pedagógica e mais uma
credencial a obrigar-nos sua divulgação, neste livro
dedicado ao culto magistério rio-grandense.
Fundada, em setembro de 1947, por iniciativa de
um grupo de abnegados cooperativistas, veio ela subs-
tituir a antiga Escola Livre de Comércio, ampliando
seus objetivos, dando-lhes um caráter econômico-edu-
cacional sui-generis e estendendo seu raio de ativi-
dade escolar aos setores do ensino secundário, normal
e técnico profissional.
Dentro de seu Plano Geral de Trabalho, pôs em
funcionamento, no ano letivo do 1948:
— Curso Noturno de Alfabetização de Adultos;
— Curso Primário;
— Cursos Secundários — art. 91 e ginasial;
— Curso Prático de Comércio;
— Curso de Rádio Técnico,
com a expressiva freqüência de 195 estudantes que, crescerá
de importância, se nos lembrarmos constituir Pelotas, além
de centro econômico da vasta zona sul do Rio Grande, um
núcleo universitário de pri-
COOPERATIVAS ESCOLARES 133
meira ordem, com seus tradicionais Ginásios, Escolas
Técnicas e Normais e as Faculdades de Direito, Farmácia e
Odontologia, Ciências Econômicas e o modelar Instituto
Agronômico do Sul.
Entregue à direção dêsse educandário cooperativo, ao
culto e dinâmico Prof. Celso Sellas, a êle recorremos para
informar-nos da orientação e do sentido que os órgãos
dirigentes da entidade vêm imprimindo na condução de seus
trabalhos e destacarmos as razões do êxito que já se
vislumbra em tão complexa prática cooperativista.
Diz-nos o seu ilustre presidente:
«Nossa instituição faz o possível para desenvolver a
Escola Progressiva, aceitando o ecletismo dos sistemas
Decroly-Dewey-Claparede. Igualmente a educação
cooperativista é mantida em tôdas as ocasiões e em tôdas as
circunstâncias. Os nossos alunos são na maioria,
cooperativistas, pois devemos exceptuar apenas os que
freqüentam os cursos primários, em vista da idade. A
iniciativa dos alunos é aproveitada, desenvolvida e orientada
num firme cunho de cooperação. Combatemos,
decididamente, os complexos de inferioridade, muito mais
ainda em nossa escola cujos alunos, em grande parte,
pertencem às classes mais humildes. Todo, o trabalho, quer
em benefícios dêles mesmos, através de seus grêmios, quer
em benefício da Cooperativa, é feito em cooperação, pelos
alunos, professôres e outros cooperativistas.
Desta maneira, educamos, nossos alunos através
da vida para a própria vida social que hão de viver.
Assim, o mensário — «A FOLHA ESTUDANTIL» —
tem a ajuda dos professôres e dos membros dirigentes
da Cooperativa. O CONJUNTO CÉNICO que, com
tanto êxito, vem promovendo festas e representações
134 J. MONSERRAT
artísticas, é composto ùnicamente de estudantes e a sua
apresentação pública obteve o mais franco sucesso, tendo a
crítica aplaudido unanimemente o trabalho encenado.
Mantém, ainda, os alunos, um CLUBE ESPORTIVO e uma
BIBLIOTECA com a estreita colaboração dos Professôres,
na maioria, também, juvens e entusiastas do ideário
cooperativo.
A Direção, segundo o regulamento escolar, depois de
admitidos os professôres de acôrdo com as leis de ensino e a
legislação cooperativista, é eleita pelos sócios (alunos e
professôres) para os respectivos cargos, por um período de 3
anos. Entre as funções eletivas contam-se os diretores e
subdiretores das Unidades Escolares, Comissões
Pedagógicas, secretaria, tesouraria, etc. Ao contrário do que
ocorre comumente, o Conselho de Disciplina, interpretando
os princípios de equidade e solidariedade cooperativista, é
composto de alunos e professôres, em número igual, muito
embora os primeiros só possam ser eleitos para estas
funções quando maiores de 18 anos, com mais de um ano de
freqüência e de comportamento e aplicação exemplares.
Também outros cargos, dentro das condições anteriores,
são ocupados por alunos. Os Diretores de Disciplina,
igualmente eleitos, são os responsáveis pela ordem das
aulas, na ausência dos respectivos professôres, e os porta-
vozes dos colegas na defesa de seus interêsses junto às
autoridades escolares, cujas pendências são sempre
resolvidas, harmoniosamente.
Êste sistema de ensino onde a cooperação a liberdade, a
disciplina auto-assinalada e a livre iniciativa dos alunos têm
campo para, amplamente, manifestar-se causou excelente
impressão ao Sr. Prefeito Municipal, Dr. Joaquim Duval,
que, na demorada visita feita à Cooperativa, afirmou “ser
esta instituição
COOPERATIVAS ESCOLARES 135
uma grande resposta àqueles que julgam não ser possível a
prática de um tão elevado padrão educacional com a nossa
juventude, que dizem de natureza anárquica e afeita a
incongrências, pois ali se provava bem o contrário”.
Soubemos, por outro lado, confirmando essas diretrizes,
que a vida dessa sociedade deve-se, exclusivamente, aos
200 juvens que a freqüentam e a auxiliam de tôdas as
formas possíveis. Como ela não pode fazer despesas nem
manter funcionários, o telefone é pago por subscrição,
mensalmente, arrecadada entre os alunos e professôres e, as
próprias classes de-aula, foram construídas e são
consertadas com o concurso dos estudantes, assim com os
serviços de secretaria e tanto outros indispensáveis ao
funcionamento desse organismo.
O Professor é pago à razão de Cr$ 10,00 por aula e os
cargos de administração não são remunerados o que espelha
a profunda compreensão do experimento que realizam e o
elevado grau de espírito público de todos quanto ali
cumprem com um dever livremente aceito. A anuidade dos
estudantes se dilui no pagamento de alugueis, luz e algum
material escolar.
Atualmente, a Cooperativa conta com 300 associados,
que subscreveram 120 quotas-partes, do capital social, no
valor de Cr$ 100,00 cada uma, de sorte que tôda esta
míngua de recursos é coberta pela dedicação dos mestres e o
trabalho de uma juventude que muito promete.
Com um material dessa natureza, a propaganda é feita
pela fôrça mesma que emana da conjugação do sentimento
de solidariedade cooperativa e da contração ao estudo. Daí,
os resultados colhidos, pelos seus alunos do art. 91, nos
exames prestados no Colégio Pelotense, quando a grande
maioria venceu, ga-
136 J. MONSERRAT
lhardamente, as rigorosas provas a que se submete-
ram.
Cremos, por isto, que êste empreendimento já deitou
raízes. Com um ano de vida, apenas, estende sua sombra a
duas centenas de jovens ávidos de aprender, e, se contar
com um auxílio material do Poder Público, irá mais cedo a
muito longe, no árduo trabalho de ensinar e educar.
O ENSINO E OS FERROVIÁRIOS
O ensino dos filhos de ferroviários tem sido sem-
pre um problema de difícil solução para todos quanto
estudam a questão educacional no país.
É que a própria natureza do trabalho exigido
dêsses dedicados servidores da rêde fundamental de
ossos transportes, não dificulta a nobre tarefa,
como requer, também, um grande número de estabe-
lecimentos sem a correspondente freqüência, na maio-
ria dêles. Por outro lado, a multiplicidade de peque-
nos agrupamentos e, não raro, certa mobilidade do
pessoal, prejudicam a eficiência desejável.
E, como não bastassem tais fatôres, acresce,
ainda, oproblema do magistério para atender êsses
núcleos.
Como conseguir centenas de professôres dispos-
tos a abandonar o confôrto e as comodidades, já não
dizemos de uma cidade, mas de uma vila, ou mesmo,
de um povoado colonial, para residir meses a fio,
num lugar ermo, entre meia dúzia de famílias com
um padrão de vida muito diverso e sem qualquer re-
curso?
Como proporcionar, a êsses abnegados mestres,
condições que lhe permitam trabalhar com entusias-
138 J. MONSERRAT
mo e desenvolver suas atividades didáticas com as
melhores disposições de ânimo?
Realmente é uma questão complexa.
E, para bem avaliá-la, basta atentarmos, no ma-
pa das Escolas Ferroviárias do Estado, onde se acham
localizadas essas células, que sentiremos, então, as
dificuldades que encerra levar a escola aos filhos dos
"tucos" e dos trabalhadores das "pedreiras", por exem-
plo, que mourejam ao longo da via férrea e onde
apenas o silvo de uma locomotiva quebra, de longe em
longe, o silêncio bucólico da paragem.
Educar as crianças que aí vivem, desviar, com paciência
e carinho, o que lhes sugere a monotonia da paisagem e a
pobreza do lar evitando os complexos de inferioridade,
impregnando-as com hábitos de higiene e estimulando,
nesses espíritos em formação, idéias de trabalho e
solidariedade, otimismo e desejo de conquistar, com seu
esfôrço pessoal, um lugar ao sol, é serviço de assinalada
relevância e altamente proveitoso à nacionalidade.
Mas, como levar a efeito êsse trabalho com eficiência e
sem maior ônus que o requerido, normalmente, para tais
emprêsas?
Eis aí a grande interrogação que foi possível responder,
sem evasivas ou vulgares fantasias, com o concurso
prestimoso da organização que Manuel Ribas estruturou e
consolidou, disciplinando os recursos dos próprios
ferroviários cooperativados.
Aqui caberia um estudo mais profundo. A relação que
se estabelece entre essa economia coletiva, fundada na
Cooperativa e a educação ministrada aos filhos e pais
ferroviários bem que enseja e merece um exame mais
detalhado e minucioso, pelo que apresenta de inédito e
comprovadamente possível em nosso meio, além das
conseqüências novas que origina.
COOPERATIVAS ESCOLARES 139
Considere-se, apenas, a influência benéfica do processo
usado frente a um mundo cheio de feridas mal pensadas e os
resultados de uma sistemática diferente à tradicional forma
de objetivar a educação; observe-se, ligeiramente, o que
contém êsse trabalho estafante de ensinar e orientar a
criança num ambiente de solidariedade e para nêle iniciar
sua atividade produtiva que, sem delongas nem exaustivas
cogitações psicológicas, poderemos antever uma
mentalidade acanhada, vasia e incongruente trasvasar, em
pouco tempo, vida e humanismo.
Se, como apregoa a moderna pedagogia, as crianças
devem brincar com cubos cujas dimensões não permitam
que uma delas, sòzinha, possa movimentá-los sem o auxílio
de outras, para incutir-lhes, esde a tenra idade, o sentido da
ajuda mútua e da dependência social, a orientação que aqui
se observa não tem caráter diferente. Apenas os "sócios" é
que diferem...
E, quando a criança entender que a presença de um
professor, em lugar tão triste e isolado, gizando um quadro
negro e contando fatos e histórias tão interessantes, dentro
de uma sala ou entre os canteiros do Clube Agrícola,
representa o fruto da economia de seus pais, amealhadas
com "as sobras líquidas" dos parcos "ranchos" adquiridos na
comparativa, raciocinará, por certo, um pouco
diferentemente de nós outros em sua idade...
Essa, a nosso ver, a maior contribuição que uma
grande entidade possa oferecer ao movimento roch-
daleano e é, precisamente, esta, a que a COOPERA-
TIVA DE CONSUMO DOS EMPREGADOS DA V.F.
R.G.S. está fornecendo-lhe sem alardes, modesta mas
eficientemente.
* * *
140 J. MONSERRAT
Trabalho de tanto interêsse social vem sendo realizado
através de uma vasta rêde de pequenos estabelecimentos,
instalados junto às turmas que atendem os serviços de
conservação da linha e em meio dos centro de adensamente
ferroviário, compreendendo o ensino primário e o
profissional.
Naquele, registramos a existência de:
21 Aulas de Alfabetização de Adultos,
96 Escolas Primárias e
4 Grupos Escolares,
com uma freqüência que se eleva a 4.000 alunos, dos
quais mais de 200 são operários que procuram alfabetizar-
se. Só nessa rêde funcionam, efetivamente, 137 professôres,
na maioria, pertencentes à própria classe, fato que empresta
forte traço de unidade ao ensino e se ajusta perfeitamente à
formação de uma sólida mentalidade ferroviária, à
semelhança do que se observa nos setores industriais e
agrícolas das grandes civilizações contemporâneas.
Assim, a par do exemplo paterno, o ambiente escolar
prossegue na influência complementar, no trabalho
necessário àquela formação, consolidando o sentido
gregário de uma atividade profissional, de sorte que,
amanhã, tanto as funções de planificação e contrôle, como
as mais humildes tarefas, poderão ser exercidas por
elementos originários do próprio meio.
Esta orientação, aliás, encerra, para muitos estudiosos
da matéria, mística aconselhável à perfeição e presteza do
trabalho a executar.
No entanto, atendendo ao baixo índice cultural da
grande parte do proletariado da linha e ao ambiente rural
que cerca essas Escolas Primárias foram criados,
paralelamente, os Clubes Agrícolas. E, atual-
COOPERATIVAS ESCOLARES 141
mente, em quase tôdas as unidades escolares existe um
Clube, onde a petizada aprende os segredos da germinação e
do cultivo das plantas, ocupando as horas de ócio na
produção de uma série de hortaliças e frutas para uma
alimentação sadia e que, doutra forma, seria pràticamente
impossível conseguir.
No setor do ensino profissional não difere o quadro que
assistimos.
Há 27 anos, mantém e dirige, em Santa Maria, a
ESCOLA TÉCNICO-PROFISSIONAL “HUGO TAYLOR”
cuja fama já ultrapassou as fronteiras do país e projeta-se
como uma das mais importantes obras de cooperação,
existentes na América. De sua modelar organização
saíram muitas centenas de artífices e especialistas em
máquinas, marcenaria, mecânica de máquinas, instalações
elétricas, tipografia, encadernação, etc. de que tanto carece a
florescente indústria rio-grandense e o que, por si só,
atestaria a benemerência da obra dos bravos ferroviários.
De outra parte, o ensino das filhas e espôsas de seus
associados não foi descurado. Seis CURSOS DE CORTE E
COSTURA, distribuídos pelos principais centros da
V.F.R.G.S., funcionam regularmente, com uma freqüência
média de 210 alunas
Além dessas instituições, ressalta, entre as atividades
educacionais da Cooperativa, uma original modalidade de
assistência que visa contribuir para o prosseguimento dos
estudos iniciados em suas escolas ou em outros
educantários.
Celebrando contratos com 107 estabelecimentos
particulares, abrangendo desde o ensino primário ao de grau
superior, ela oferece aos associados um abatimento de 50%
sôbre as taxas e anuidades escolares e para o qual concorre,
de seus fundos, com 30%.
142 J. MONSERRAT
Desta maneira proporcionou não só o estudo dos cursos
primários e profissionais, como também auxilia o ingresso
nos currículos secundários e nas escolas superiores,
ensejando meios ao aproveitamento dos que, realmente,
queiram seguir uma carreira liberal ou técnica.
Dentro dêsse plano de efetivo beneficio à mocidade
foram concedidas, em 1948, 3.000 matrículas em cursos
primários e cêrca de 1.000 nos cursos de ensino secundário,
normal colegial e superior, de estabelecimentos particulares.
A administração geral e o contrôle dêsses serviços,
supervisionada, naturalmente, pelo Conselho Adminis-
trativo, é atribuição do Departamento de Ensino a cuja
frente se encontra o ilustre e devotado marista Ir. Stanislau,
homem simples e sem preconceitos, que vem se impondo ao
respeito e à estima de todos quanto o conhecem.
A orientação pedagógica imprimida a êste
Departamento obedece, em linhas gerais, ao plano de ensino
elaborado pelas autoridades educacionais do Estado, embora
goze de plena autonomia.
Neste sentido, aproveitando o período de férias
escolares, reune, anualmente, o magistério da Cooperativa e,
durante o tempo necessário, realiza debates, palestras,
cursos intensivos de didática, etc. com real proveito para o
melhor desenvolvimento do ensino. Assim, não só
estabelece um clima propício ao intercâmbio cultural, como
conhece e divulga, entre o elemento diretamente
interessado, as dificuldades e necessidades de cada unidade
escolar e as formas e expedientes empregados pelos
professôres para dirimi-las e satisfazê-las.
* * *
COOPERATIVAS ESCOLARES 143
Uma idéia ainda mais exata da amplitude dêsse
aparelhamento e do quanto êle vem contribuindo para
atender o problema educacional do Estado, podemos colhêr
passando em revista algumas cifras dispendidas nesse setor.
Apreciando o último Relatório do Conselho de
Administração, presidido pelo ilustre ferroviário Dr. J.
Negreiros Bueno, observamos que a Cooperativa dispõe de
duas fontes de receita, onde vai buscar os recursos
necessários e, pelas quais, distribui os encargos de seu
Departamento de Ensino.
Havendo realizado um convênio com a V.F.R.G.S.,
desde 1931, goza de um abatimento de 75% nas tarifas de
transportes de mercadorias feitos por ela ou a ela destinados
e que constitui a rubrica “Economia de Frete”, de seu
balança.
Pois bem, só com o resultado dessa percentagem a
Cooperativa mantém sua ótima rêde de Escolas Primárias,
Aulas de Alfabetização de Adultos e ainda auxilia, seus
associados, com 30% das anuidades escolares.
Desde aquêle ano, quando lhe foi feita a concessão de
abatimento nos fretes, a Cooperativa inverteu Cr$
9.571.868,90, e ainda recebeu, durante êsse período, do
Govêrno do Estado, subvenções que ascenderam a
Cr$ 928.000.00.
Pelo Fundo de Beneficência, constituído por 40% das
sobras líquidas apuradas nos balanços anuais, a Cooperativa
mantém a Escola Técnico-Profissional “Hugo Taylor” e
concede, também, aos associados, um auxílio de 30%, para
o estudo de grau secundário de seus filhos. Assim, da
mesma forma que ocorre com o emprêgo da verba
“Economia de Frete”, no ensino primário, êste Fundo
permite, ao pai de um aluno, pagar apenas 50% das
mensalidades, pois, pelo
144 J. MONSERRAT
regime de contrato, os estabelecimento particulares dão um
desconto de 20% para os cooperativa dos ferroviários.
O Fundo de Beneficência, além dos pecúlios pagos por
morte ou invalidez - Cr$ 4.286.359,30 - e das imobilizações
nele lançadas - Cr$ 3.450.010,30 - dispendeu em 25 anos -
1922 a 1947 - com o ensino técnico-profissional e
intelectual a apreciável soma de Cr$ 22.009 196,30 e, com o
auxílio para o prosseguimento dos estudos de filhos de
associados em ginásios e colégios universitários, Cr$ 674.
182,60.
Nestas condições, a Cooperativa, com apenas 40% dos
resultados líquidos de suas atividades econômicas,
empregou, através do Fundo de Beneficência, a expressiva
soma de Cr$ 22.683.378,90, além dos Cr$ 9.571.863,90 que
os transportes de suas mercadorias proporcionou
economizar em beneficio dos associados, num total geral
que se eleva a Cr$ 32.255.242,80.
Desta elevada quantia se depreende que a Cooperativa
dos ferroviários vem empregando, no setor do ensino, a
média anual de Cr$ 1.290.209.71.
O professorado ferroviário reunido com os Diretores da Coope-
rativa, após o Congresso Pedagógico de 1948.
Formandas em “Corte e Costura”, de 1948, com o paraninfo da
turma, Sr. Manuel Vitorino de Oliveira, Diretor Industrial da
Cooperativa dos Ferrovrios.
CENTRO DOS ESTUDOS COOPERATIVOS
Completando êste panorama temos, ainda, como
órgão cultural e de representação do pensamento co-
operativista no Estado, o CENTRO DE ESTUDOS
COOPERATIVOS DO RIO GRANDE DO SUL.
Criação de um pugilo de jovens entusiastas do ideário
rochdaleano, seus fundadores inscreveram no estatuto
social, como normas fundamentais para os trabalhos dessa
agremiação cultural os seguintes objetivos, cuja execução
será de grande proveito à formação de um sólido movimento
cooperativo no Estado:
Art.2º - O Centro congregará as pessoas que se dedicam
ao estudo e à prática do cooperativismo com o fim de, em
comum, investigar os fenômenos econômicos, debater
pontos controvertidos, referentes á doutrina, legislação e
prática do sistema.
Art.3º - Para atingir seus fins, o Centro desen-
volverá o seguinte programa de ação:
a) promover reuniões em sua sede, privativa em-
tre seus membros, para trocarem idéias e de-
baterem os assuntos julgados oportunos;
146 J. MONSERRAT
b) — efetuar reuniões públicas em sua sede, ou fora dela,
para divulgação de temas cooperativistas, por meio
de conferências, palestras e sabatinas;
c) — fazer estudos, investigações e inquéritos, acêrca de
como se vem praticando o Cooperativismo no
Estado, no resto do país e no estrangeiro, a
observância dos princípios doutrinários, a
interpretação da legislação peculiar, e as causas e
efeitos, os êxitos e insucessos das iniciativas de boa
vontade e da boa fé;
d) — pugnar por um movimento de caráter nacional, no
sentido de uma observância uniforme, por parte das
Cooperativas, dos princípios doutrinários que a
prática consagrou e estão universalmente
reconhecidos;
e) — manter relações de intercâmbio de idéias e informes
com os serviços públicos de assistência e
fiscalização de Cooperativas e com êles colaborar
quando possível e solicitado;
f) — celebrar convenções regionais ou congressos esta-
duais de cooperativismo, entre Cooperativas
exclusivamente, ou entre elas e pessoas
especializadas;
g) — favorecer o ensino do Cooperativismo, mantendo
aulas de história, doutrina e prática, contabilidade
aplicável, etc.
h) — sugerir a quem competir e propugnar pelo desen-
volvimento do cooperativismo escolar, pela criação
de cátedras de cooperativismo nas Es-
COOPERATIVAS ESCOLARES 147
colas Normais, nos cursos técnicos de Economia e
Finanças nas Faculdades de Ensino Superior, e pela
fundação de uma escola especializada para a
formação de técnicos;
i) — publicar, quando possível, monografias a respeito de
assuntos cooperativos;
j) — concorrer, pela propaganda, para extirpar erro,
abusos e praxes nefastas, na prática e
funcionamento das cooperativas;
k) — sugerir aos Poderes Públicos a necessidade da
estabilidade da legislação orgânica do
Cooperativismo;
l) — comemorar o “Dia Cooperativo Internacional”, no
primeiro sábado de julho;
m) — estabelecer relações de cordialidade e intercâmbio
com Institutos internacionais e Associações
nacionais e estrangeiras
Contrariamente ao que seria de prever para um
instituto desta natureza, sua atividade não se resu-
miu a reuniões em recintos fechados, as mais das vê-
zes impregnados da esterilidade das discussões teó-
ricas.
Constituído em julho de 1947, já no primeiro ano
de seus trabalhos promoveu no Estado a I SEMANA
DO COOPERATIVISMO, entre 28 de junho e 3 de
julho pp., convidando para fazerem os discursos de
abertura e encerramento os eméritos técnicos patrí-
cios Drs. Fábio Luz Filho e Valdiki Moura, expres-
es ilustres da velha guarda e da moderna geração
cooperativista.
148 J. MONSERRAT
Durante seis dias agitou, com um programa bem
elaborado, os problemas de cooperação organizada,
promovendo excursões ao interior do Estado, palestras,
conferências e festejando o DIA COOPERATIVO
INTERNACIONAL, com uma extraordinária concentração
bem no seio da zona de maior densidade cooperativista e na
sede da maior cooperativa vinicola da América — a
Cooperativa Vinícola Garibaldi Ltda.— em Garibaldi.
Lançou, também, nesse dia, a sua primeira Mensagem
ao Rio Grande cooperativo e que transcrevemos, neste
trabalho, por tratar-se de um documento que constitui um
novo marco, em nosso movimento, cuja história data de
1903, quando o Revdo. Pe. Theodoro Amstad S. J. com a
fundação da Caixa Rural de Nova Petrópolis, no município
de Caí,t tornou êste Estado o pioneiro do cooperativismo
raiffeiseano no Brasil.
M E N S A G E M
“O de Estudos Cooperativos do Rio Grande do Sul, ao
encerrar, neste primeiro sábado de julho, data universalmente
consagrada ao DIA COOPERATIVO INTERNACIONAL a 1ª
SEMANA DO COOPERATIVISMO, com que comemorou a
efeméride, dirige-se a todos os cooperativistas do Estado,
enviando-lhe a sua saudação e a sua palavra de fé nos altos
destinos do ideário cooperativista.
Na plena convicção de que os problemas sociais e econômicos
da coletividade humana necessitam hoje, mais do quem nunca, de
uma solução justa e aquanime para a satisfação das populações
rurais e urbanas de Pátria; e
CRENDO, firmemente, que, a colaboração entre os homens,
na esfera privada, e entre os Estados, na órbita internacional, é
condição indispensável a tranqüilidade construtora das grandes
iniciativas e a eficiente realização dos ideais de PAZ E DE
PROGRESSO porque tanto têm lutado os organismos e
instituições cooperativas do Mundo, sob a égide da bandeira
arcorizada da Aliança Cooperativa Internacional:
CERTO de que, no exercício exato dos princípios e normas
norteadoras do sistema cooperativo reside um dos fatores de
alevantamento moral e de reintegração dos valores humanos,
dispersos e frágeis na voragem da caça ao lucro;
CONFIANTE na fôrça indestruível que emerge da união de
produtores e consumidores e se desenvolve no sentido benéfico da
substituição de uma ordem social subvertida pelos abusos de uma
situação absorvente e prejudicial aos interêsses da coletividade;
CIENTE e consciente das necessidades que impulsionam a
vida atribulada de nossos patrícios e das perspectivas pouco
animadoras que nos aguardem;
SENTIDO que nossa Pátria extremecida precisa,
urgentemente, da compreensão que gera o respeito e do respeito
que origina o ato nobre das mãos dadas entre seus filhos, para sua
prosperidade para sua grandeza e para sua felicidade.
CONCLAMA a todos os homens de boa vontade a estudarem
os problemas e necessidades do Brasil, a organizarem-se
cooperativamente, em seus setores de trabalho.
CONCLAMA, ainda, a todos os cooperativistas rio-
grandenses a propagarem os ideais da cooperaão onde quer que
estejam, pois se declara convencido que o sistema cooperativista
proporciona a melhor base de uma organização mundial, capaz de
garantir o direito de liberdade, de segurança, de justiça social e de
paz universal.
GARIBALDI, 3 de julho de 1948.
XXVI DIA COOPERATIVO INTERNACIONAL”
SEGUNDA PARTE
Organização
Estrutura e
Funcionamento
OS PROBLEMAS ORGÂNICOS DAS COOPERA-
TIVAS ESCOLARES
Na própria conceituação que flui da legislação
cooperativista (*) a Cooperativa Escolar é uma sociedade
constituída em um estabelecimento de ensino entre seus
alunos ou entre êstes e professôres, com o objetivo
primordial de inculcar nos estudantes a idéia do
cooperativismo e ministrar-lhes os conhecimentos práticos
da organização e funcionamento desta modalidade
cooperativa e, acessòriamente, proporcionar-lhes vantagens
econômicas.
Pela natureza institucional que daí decorre, coerente,
aliás, com a boa doutrina, ela tem uma finalidade educativa,
motivo por que o Estado, reconhecendo-a como tal,
promove o seu fomento e isenta-lhe do pagamento de todo e
qualquer tributo.
Constitui, por isto, uma categoria especial, um
compartimento à parte dentro do quadro das atividades
cooperativistas, mas cuja função é básica para a solidez e
eficiência do movimento, como é óbvio.
Nestas condições, tem ela problemas específicos
___________
(*) Decretos ns. 22.289, de 19-12-32 e 581, de 1º-8-38, revigorados
pelo Decreto-lei nº 8.401, de 19-12-45.
154 J. MONSERRAT
de organização, estruturação e funcionamento que devem
ser estudados e discutidos de acôrdo com a situação objetiva
do meio escolar onde vai atuar.
Para melhor apreciá-los, agrupamo-los conforme a
ordem e o caráter de que se revestem.
RESISTÊNCIA
Os publicistas que têm tratado do cooperativismo são
unânimes em afirmar que, tôda a vez que a idéia cooperativa
é lançado no meio escolar, encontra sempre séria
resistência, atribuindo-a, principalmente, a três fatôres:
a) — a incompreensão de alguns pais e professôres;
b) — a preferência pela Caixa Escolar;
c) — a má interpretação da gratuidade do ensino.
Realmente estas constatações, além de exatas, se
observam em todo o mundo. Cattier, verifica-as em França,
Ballesteros na Espanha, Fabra Ribas na Colômbia, Valdiki
Moura na Bahia, etc. O Rio Grande não poderia constituir
exceção.
Com predominância de um ou outro fator, mas sempre
com a presença de uma incompreensão ou preferência, a
reação se manifesta aqui ou ali.
Analisemos, sucintamente, êstes fatôres.
A incompreensão manifestada por alguns pais prende-
se,as mais das vêzes, ao temor com que vêem uma
organização de meninos manipulando e dirigindo valores.
No seu acendrado zêlo enxergam, neste fato, oportunidade
para que se desenvolva, em seus filhos, o espírito de
ganância ou a prática de atos que lhes
COOPERATIVAS ESCOLARES 155
podem levar a precocidades perigosas. Suas resistências,
não raro, originam-se do respeito a preconceitos
transmitidos de geração a geração, o que faz com que
persistem em suas arraigadas convicções patriarcais.
Felizmente, êstes argumentos não resistem a uma
crítica, mesmo superficial.
Sob a orientação direta de um assistente especializado
se esvai o perigo e os receios perdem sua razão de ser, ainda
mais se considerarmos que “oportunidades” não faltam...
Ao contrário do louvável temor dos pais é, justamente,
no trato de “questões diferentes”, no contato com realidades
que a criança adquire, naturalmente, um sentido de honra
mais profundo, do que, muitas vêzes, nas melhores
preleções. Não devemos expô-las a perigos, é certo, mas não
é menos exato, também, que o maior prejuízo está em
alheiá-las do conhecimento dos rudimentos de problemas
que, amanhã, poderão confundi-las e mesmo perdê-las.
Lembremos ainda a história do “menino comportado”
dos tempos de outrora, que poucos dêles triunfaram na vida
prática, porque nela ingressaram levando consigo a timidez
modelada nos bancos escolares e, assim, não resistiram aos
traumas psíquicos oriundos das novas situações e das
enérgicas exigências da sociedade e viram embotadas tôdas
as lições ouvidas e aprendidas em horas a fio de estudos e
leituras de pura memorização.
Quanto à incompreensão que se tem observado no meio
de alguns professôres, atribui-se mais a uma justa precaução
contra a intromissão na vida escolar, de pessoas estranhas ao
magistério e que, pelas funções que desempenham nos
serviços oficiais, teriam determinada ingerência no
mecanismo da cooperativa.
156 J. MONSERRAT
Possivelmente vejam na ação fiscalizadora dos técnicos
cooperativistas uma porta sempre aberta e fácil à invasão da
“seara alheia” ou motivos constantes para desviar atenções
que se devem concentrar no estudo e contrôle das
disciplinas escolares.
E, realmente, assim pode ser. A divisão e a
responsabilidade do trabalho requerem, sem maiores
justificativas, a tranqüilidade necessária à perfeição da obra.
No entanto, que dessa premissa tão verdadeira não distile o
absoluto que impeça o intercâmbio de idéias e experiências
entre atividades que se devem completar na cooperativa
escolar - ao professor, a instituição; ao técnico, a sua
estrutura econômica - no simbolismo das duas linhas
paralelas e sôbre as quais possa deslisar, comme il faut, o
elevado objetivo do cooperativismo na escola.
Por isto, dizemos: aos velhos e zelosos pais, aos
impenitentes tradicionalistas, um trabalho de esclarecimento
e catequese será sempre a melhor solução; enquanto que,
para os professôres - guardiões intemeratos de seu templo -
um entendimento, uma delimitação prévia de atribuições
constituirá o mais eficiente “desarmamento do espírito”
dessa compreensível intransigência. Pois o essencial, o
fundamental, como diz Ballesteros, “é que se organize e
funcione uma verdadeira cooperativa em cada escola” para
realizar e prodigalizar seus grandes ensinamentos. O resto é
forma, convenção que se estabelece, com a maior ou menor
facilidade, se a base e o objetivo são bem conhecidos e
almejados por todos.
Já a debatida tese do acúmulo de trabalho hoje não mais
existe. As escolas têm, via de regra, um assistente, para
atender, exclusivamente, esta instituição, mesmo porque, na
verdade, acumular esta função com a regência de uma aula
não seria possível. O
COOPERATIVAS ESCOLARES 157
caso das Escolas Isoladas são exeções que tendem a
diminuir, de sorte que podemos dispensá-las, em nossa
passagem.
* * *
A preferência pelas Caixas Escolares é outra ra-
zão com a qual ouvimos muitos professôres justificar
sua resistência, seguida, não raro, do argumento de
que a multiplicidade de instituições tumultua a ativi-
dade escolar.
Ousamos contradizer a questão da preferência le-
vantando a preliminar que nasce do argumento da
multiplicidade de instituições.
A instalação de tôdas as instituições recomenda-
das é aconselhável do ponto-de-vista educativo?
Pode essa multiplicidade tumultuar a vida
escolar?
Julgamos que não. E vamos buscar as razões
desta negativa no fato inconteste das próprias con-
tingências que ditaram a necessidade de modelar o
conceito, os métodos eas práticas da velha escola,
às condições de um mundo que evolui.
A ciência é dinâmica e, na medida de suas veri-
ficações, imprime formas diferentes à execução prá-
tica das verdades ou sistemas por ela constatados.
Ora, se o processo evolutivo da sociedade, a escola
se resumisse aos conceitos fundamentais que a ca-
racterizaram em outro tempo assimilação de um
programa e transmissão do conhecimento pelo mestre
— não tardaria a tornar-se um corpo obsoleto e im-
profícuo. Não precisamos arrazoar esta afirmativa,
ela é evidente. Com a diversidade e o progresso cada
vez, maiores na atividade humana, como educar uma
criança omitindo-lhe práticas ou condensando-as em
sutis simplificações?
158 J. MONSERRAT
Não é possível. Os mestres nos ensinam que a
educação parte do simples para o complexo e nunca
de maneira inversa. Daí a simplicidade das institui-
ções, até mesmo nas suas formas mais variadas. Cada
uma delas, sem maiores complicações, reporta-se a
necessidades presentes, sem esquecer o seu encadea-
mento com o mundo futuro em que a criança vai viver.
Em cada uma delas, por isto mesmo, o menino deve
encontrar os motivos que lhe forrem dos elementos
úteis de que amanhã precisará.
Daí os Clubes Escolares, a Liga dos Amigos da
Natureza, o Banco Escolar, o Clube Agrícola, a Caixa
Escolar, o Pelotão da Saúde, etc. de que nos falam
unanimemente os pedagogos das mais variadas latitudes. A
complexidade da vida não apenas “recomenda”, determina,
exige hoje a variedade dos elementos de educação.
Depois, como e por que tumultuar?
E a administração escolar, que faz, senão distribuir
trabalho, coordenar esforços, controlar a atividade,
promover o respeito e a disciplina?
O tumulto é um efeito que não se manifesta onde há
organização, método de trabalho, sentido de
responsabilidade. E o nosso magistério, sem favor algum,
em qualquer posição que o observemos, vamos encontrar
sempre fiel, a êsses princípios.
Logo, é frágil o motivo invocado, da mesma forma
como não são sólidas as razões de preferência pela Caixa
Escolar.
A Caixa Escolar, analisando bem, se nos afigura aquela
prudente concessão ao passado, que se verifica em todos os
períodos de transição. A substituição violenta ocasionaria
um “golpe” muito forte, talvez pesassem alguns pedagogos;
sejamos mais prudentes,
COOPERATIVAS ESCOLARES 159
talvez dizessem outros, e a Caixa Escolar permane-
ceu, se bem que, na prática, fôssem ratificadas muitas
de suas manifestações “caritativas”,a fim de se evi-
tar na criança o hábito de receber, sem dar coisa al-
guma.
Não foram poucas as vêzes que ouvimos dizer “a nossa
Caixa não cria mendigo”, porque, sempre o que se dá, vem
acompanhado de uma obrigação que impõe ao aluno um
trabalho de proveito comum e onde êle não se sinta
humilhado ou possa permanecer em posição de inferioridade
entre seus colegas.
Comparando estas instituições, veremos que:
— não são incompatíveis, mas também.
— não se completam.
Não são incompatíveis porque suas finalidades não
colidem. Não se completam porque a cooperativa abrange as
finalidades assistenciais da Caixa de forma ativa e
abarcando a totalidade dos alunos da escola, enquanto esta
as realiza de forma passiva e restrita.
Esta diferença, se outras não houvessem, bastaria para
demonstrar como são fracos os argumentos da preferência, e
o que, do ponto-de-vista pedagógico, pode interessar mais à
educação.
Em “Palavras ao Professorado e aos Pais de Alunos”,
Valdiki Moura focou o aparente paralelismo argüido,
apontando as vantagens da Cooperativa sôbre a Caixa
Escolar.
Registrando, apenas, o esquema dêsse confronto,
deixamos seu desdobramento, que êste técnico fêz com tanta
perícia, para que possa servir ainda mais ao cooperativismo
escolar, servindo de tema a possíveis debates e discussões
entre os cultores da matéria.
160 J. MONSERRAT
CAIXA ESCOLAR
a) — a Caixa é de ação unilateral;
b) — a Caixa sistematiza o parasitismo;
c) — a Caixa é de estrutura autoritária;
d) — a Caixa imobiliza dinheiro;
e) — a Caixa tem financiamento constante;
f) — a Caixa não tem assistência oficial.
COOPERATIVA
a) — a Cooperativa é de ação ampla e uniforme;
b) — a Cooperativa desenvolve o espírito de iniciativa;
c) — a Cooperativa é de feição democrática;
d) — a Cooperativa promove economias;
e) — a Cooperativa dinamiza seus recursos;
f) — a Cooperativa tem-na em todo o sentido,
* * *
Finalmente, no que tange à gratuidade do ensino, foram
os franceses que, na explicação de Lapie, interpretaram
errôneamente a subscrição de pequenas quotas entre os
alunos, para organizar sua cooperativa, como modalidade
sul-generis de pagamento de uma taxa escolar revestida de
outra roupagem. O primeiro impulso foi de “rebelião” logo,
porém, cederam à evidência de seus benefícios e
compreenderam, perfeitamente, o sentido da organização e
não mais incomodaram os mestres que sacrificavam as
horas de lazer no seu incansável apostolado.
Entre nós, felizmente, êste aspecto da resistência não
tem sido observado. A êle, até hoje, não ouvimos referência.
Foi uma má interpretação, comum, aliás, em qualquer
iniciativa. Mencionamo-lo apenas como
Expressivo flagrante do Clube Agrícola da Escola Ferroviária de Caroara.
COOPERATIVAS ESCOLARES 161
uma manifestação colhida no repositório do cooperativismo
escolar.
INSTITUCIONAL
Sob êste titulo desdobramos os diversos problemas que
se referem à constituição e às atividades da cooperativa
escolar.
Estudando nossa legislação, vimos que, a exemplo do
que acontece em outros países, ela concede, a essas
cooperativas, como já frisamos, uma situação especial, sui-
generis que a põe a coberto de determinadas exigências, sem
as quais não, é possível o funcionamento de uma sociedade
cooperativa formada entre adultos.
Assim, o ponto básico do instituto do contrato - a
capacidade cívil dos contratantes - não é, na cooperativa
escolar, motivo de cogitação.
Observemos o que diz a Lei de Cooperativas, quando a
enumera entre as categorias principais e trata de seu
funcionamento;
Art.34 - As cooperativas escolares pode-
rão constituir-se nos estabelecimentos, públicos
e particulares, de ensino primário, secundário,
superior, técnico ou profissional, entre os res-
pectivos alunos, por si ou com o concurso de
seus professôres, pais, tutores ou pessoas que
os representem, com o objetivo primordial: de
inculcar aos estudantes: a idéia do cooperativis-
mo e ministrar-lhes os conhecimentos práticos
da organização e, funcionamento de determina-
da modalidade cooperativa e, acessòriamente,
proporcionar- lhes vantagens econômicas pecu-
liares à modalidade preferida (Decreto 22.239).
162 J. MONSERRAT
Conseqüentemente, a aquisição da personalidade
jurídica não se justifica nem lhe é condição para funcionar.
Prosseguindo no exame da legislação, vamos ver que, mais
tarde, em 1938, quando depois de revogado, durante ano e
meio, o Decreto nº 22.239, foi revigorado com pequenas
atualizações e criado o registro obrigatório, a fiscalização e
assistência do Poder Público, o Decreto-lei nº581, que
contém esta matéria, estabelece;
Art. As cooperativas escolares ins-
truirão o pedido de registro com uma cópia do
ato constitutivo, um exemplar dos estatutos e
uma relação dos associados, documentos êstes
com assinatura de sete ou mais fundadores e
autentificados pelo diretor do instituto de en-
sino.
Parágrafo único — Ficam as cooperativas
escolares isentas do pagamento de impostos e
de selos.
Dessas disposições se infere que o legislador, sem
dispensar seu registro e contrôle “para efeito de assistência
técnica e fiscalização às cooperativas, bem como estatística
e informação”, reservou-lhe uma situação especial, coerente
com a boa doutrina, solucionando o problema do
suprimento da capacidade de representação da cooperativa
ao entregá-la à direção do respectivo estabelecimento ou,
naturalmente, a uma pessoa que ela indicar.
Contornando o impasse que se apresentava, foi
dispensado o arquivamento dos documentos de constituição
em Cartório, e transferida, ao Diretor do educandário, a
responsabilidade de autenticação dos mesmos e a orientação
posterior da sociedade de seus alunos.
COOPERATIVAS ESCOLARES 163
Não resta dúvida que outra não foi a intenção do
legislador, pelo que se pode deduzir, do que o
reconhecimento de direito de sua condição de instrumento
educativo. Pois, se o aspecto docente da educação está sob a
vigilância da própria escola não se compreende que nela
pudesse vivificar um organismo estanque à política
educacional, ainda mais quando êle “é a fôrça democrática
que atua na primeira etapa biológica do indivíduo,
predispondo-o á receptividade das idéias superiores, que as
futuras oportunidades da vida irão prodigalizar a todos”.
Êste problema, portanto, não tem razão de ser. Nossa
legislação o disciplinou de forma inteligente e sem deixar
margem à controvérsia ou interpretações sofísticas.
As questões relativas à sua constituição e
funcionamento, por conseguinte, assumem caráter particular
e distinto das demais sociedades, mesmo congêneres.
Nada de modelos rígidos, prèviamente elabora-
dos, prontos para Serem preenchidos como fórmulas de
requerimentos oficiais, solicitando, “entrar no gôzo de
minhas férias regulamentares...” Deixemos os leitos de
Procusto para as modelações em “séries”, estudemos
atentamente o meio, como apregoa Dewey e a êle
adaptemos a prática da cooperativa escolar.
Contudo, como na fúria das padronizações que se
verifica em certos casos, não caíamos no oposto, deixando-
nos levar pela displicência, porque tanto um como outro,
incidem no mesmo êrro de se divorciarem das condições
objetivas de cada ambiente.
Forneçamos as normas gerais, o arcabouço ideal de
conformidade com o que a experiência tem mostrado ser
mais eficientes proveitoso, entreguemos, ao discernimento
da criança, para que o desenvolva
164 J. MONSERRAT
como deseje. E se, por acaso, não lhe fôr possivel, se não
puder, por si mesma, resolver estas questões, então virá em
seu auxilio, discretamente, o assistente que, com ela,
removerá os obstáculos, na sua grande missão de
compreender e educar.
Os projetos de estatuto e outros materiais constantes do
Apêndice, por isto mesmo, servem apenas como roteiro,
com o qual os professôres podem ter uma idéia mais ou
menos precisa do assunto.
* * *
O primeiro passo, pois, será a predicação a todos
os alunos. Nesta oportunidade, a «cooperativa» po-
deria constituir ótimos motivos para centros de inte-
rêsse e testes que revelariam não o grau de com-
preensão dos meninos, como ainda a sua disposição
pela prática cooperativista, manifestações de grande
alcance para a orientação e os métodos a serem em-
pregados pela organização nascente. Teria, no ter-
reno escolar, a mesma função dos inquéritos sugeri-
dos pelos economistas para o trabalho preliminar em
qualquer emprêsa econômica.
Isto feito, preparado o ambiente psicológico propício à
perfeita receptividade da idéia e dados aos alunos o objetivo
fundamental e os princípios e normas pelas quais a
sociedade deveria constituir-se e funcionar, viria o Ato de
Constituição.
Em uma ou várias assembléias secionais, de acôr-
do com os níveis de adiantamento e as condições do
meio, seriam apresentados anteprojetos de estatuto
redigido por êles mesmos, na base das explicações re-
cebidas e discutidos amplamente. Aprovado êste do-
cumento lei orgânica da cooperativa passaría-
mos à eleição dos membros dos Conselhos de Admi-
COOPERATIVAS ESCOLARES 165
nistração e Fiscal, em escrutínio secreto, controlado e
fiscalizado sempre pelos sócios. Computados os votos,
seriam declarados eleitos os vencedores e lavrada uma ata
do desenrolar dos trabalhos que, como o estatuto, ficaria a
cargo dêles mesmos.
A “cerimônia de posse” poderia ser, então, levada a
efeito na mesma ocasião ou numa data de festa escolar,
como parte integrante do programa comemorativo.
Para não nos alicerçarmos, exclusivamente, em
trabalhos e experiências alienígenas, relembramos, dentre
outros, o do Grupo Escolar Voluntários da Pátria, como
exemplo de sua exeqüibilidade.
O funcionamento, nas mesmas condições, é simples, e
só aparenta ser um pouco trabalhoso, talvez, no início das
operações sociais, enquanto não fôr bem entrosado o
conhecimento teórico da cooperação com a sua aplicação
prática.
Os alunos e, especialmente, os diretores da cooperativa;
deverão ter tôdas as oportunidades para exercitar seu espí-
rito de iniciativa e viver os encargos das responsabilidades
de «gestão». Periòdicamente devem reunir-se, examinar a
situação da sociedade e tomar as providências que julgarem
necessárias. Cada um terá suas atribuições consignadas no
estatuto para o conhecimento geral dos sócios, afora as
distribuídas pelo Conselho ou por sugestão do Assistente em
trabalhos não previstos e que surgirão freqüentemente.
Atenderão e despacharão os pedidos, farão os registros de
entrada e saída de mercadorias e, acompanhados do
Assistente, efetuarão as compras ou encaminharão as faturas
à Federação das Cooperativas Escolares.
Noutro sentido, todos os alunos serão interessados na
verificação e coleta dos preços vigorantes na praça, para o
que, tomarão suas notas em papéis apro-
166 J.MONSERRAT
priados, que lhes possam oferecer uma noção de
ordem e disciplina no trabalho.
Atividade que reputamos de fundamental importância
no funcionamento dessas sociedades, nos estabelecimentos
de ensino primário, é a que vincula a cooperativa aos
trabalhos da aula, em seus diversos anos, principalmente nos
três últimos que congregam meninos de 9 a 12 anos, em
média. Sem falarmos no ótimo “centro de interesses” que
pode proporcionar, há o que se liga ao exercício da didática
pròpriamente dita.
Conexo aos problemas de Aritmética, temos os cálculos
das quotas-partes, a sua subscrição e as integralizações
parciais, o cômputo dos resultados e do retorno - regra de
três simples - noções de percentagens, despesas totais com a
compra de artigos e mercadorias diversas. Em matéria de
Linguagem, há possibilidade de entrosá-la com cartas
solicitando admissão ou demissão de sócios, nos casos do
último ano. Completar frases sôbre a organização, rascunhos
de atas, relatórios, memorandos, etc., com reais proveitos
não só para ampliar seus conhecimentos, como para
esclarecer o aluno sôbre fatos que se realizam na
cooperativa e nos quais êle veria apenas o seu aspecto
mecânico. Nos Estudos Sociais e Naturais, havendo um
mundo a revelar às crianças, a sua articulação com motivos
e práticas cooperativos não tem limites, e pode atingir os
mais diversos graus de discernimento. A História, a
Geografia, etc. são fontes que podem ser ilustradas, com
interêsse e bastante proveito, com fatos e acontecimentos
ocorridos noutros lugares, e que êles, hoje, vivem na sua
instituição. O sentido da ajuda mútua na natureza e a sua
necessidade no meio social; o valor do livro, a bibliotecas, o
museu, com o trabalho coletivo de coleta, etc. são aspectos
que os alunos podem sentir melhor, uma vez
COOPERATIVAS ESCOLARES 167
que se lhes expliquem, com a devida oportunidade,
e se
aliem êsses esclarecimentos aos fatos concretos,
que
costumam haver na cooperativa.
Por isto seús objetivos devem ser claros, e incluir, entre
os que digam respeito compras e fornecimentos do mais
variado material escolar, aquêles que se refiram à atividade
didática da escola. E aqui está o grande trabalho de
assistência, orientando a «Comissão Relatora» do
anteprojeto nesse sentido, de acôrdo com a direção do
estabelecimento.
Na formação do capital há, também, um campo vasto à
educação dos alunos. A quotização, o fundo comum para a
aquisição do que precisa para estudar, oferece um sem
número de ocasiões para o menino apreender uma série de
coisas úteis e compreender o valor da associação, das
pequenas economias e o resultado da união em beneficio de
todos e de cada um em particular.
Desaconselhável, por isso, a organização de uma
cooperativa sem a quotização, em dinheiro pelos sócios. As
quotas, com valor pequeno que seja, dez, vinte ou cinqüenta
cruzeiros, e uma pequena jóia, não se tornam difíceis de
recolher, ainda mais quando podem ser pagas em parcelas
mensais. As doações e os empréstimos são úteis, utilíssimos
até, porém, tornam-se fatôres negativos no momento em que
passam, a ser vistos pelos alunos como indispensáveis,
como elementos sem os quais nada pudessem fazer.
No fim de cada período escolar ou do ano letivo, com o
qual deve coincidir o «exercício social» da cooperativa,
reune-se a assembléia geral dos sócios para conhecer do
movimento da sociedade e dos resultados verificados no
balanço, levantado com a presença dos membros do
Conselho Fiscal, eleitos nas mesmas condições da Diretoria.
168 J. MONSERRAT
Os sócios têm direitos iguais, e os resultados, depois de
retiradas as percentagens para os fundos sociais, serão
distribuídos, como retôrno, na proporção das compras de
cada um. As mais das vêzes os estatutos das cooperativas
escolares dividem os resultados, mandando deixar 50% em
fundos e distribuir os 50% restantes entre os sócios.
Verificamos, também, que a quase totalidade dos
alunos, ao desligar-se da escola por término do curso,
transferência, etc., deixa suas quotas para a sociedade.
Medida interessante que amplia o capital comum e
autônomo, revela compreensão e vincula o ex-aluno à
instituição, com tôdas as vantagens que dela advêm.
A contabilização é, finalmente, parte de suma
importância na organização e funcionamento da entidade.
Em estabelecimento de grau secundário ela pode e deve ser
feita exclusivamente pelos próprios alunos, orientados pelos
contadores da Seção de Assistência ao Cooperativismo e,
sua escrituração, obedecerá, em linhas gerais, à de uma
congênere de consumo, ao passo que, nas cooperativas
instaladas em Grupos Escolares, deve ser simplificada a
ponto de uma pessoa leiga na arte dêsses registros, e sem
maiores possibilidades de assistência constante, poder
escriturar as operações com ordem e método, à vista dos
alunos. Para estas, há o Diário-Caixa, interessante criação de
Silveira Peixoto, o grande animador do cooperativismo
escolar da Paulicéia, ou o Razão, de autoria do contador
Augusto Castro Marques, conceituado técnico do D.A.C da
Bahia ,e que, sem dificuldade, qualquer um dêles, pode ser
levada a efeito mesmo por um aluno adiantado.
Êste setor, no entanto, deve ficar a cargo da Se-
ção de Assistência ao Cooperativismo, cujo corpo té-
cnico poderá fornecer, para cada caso concreto, uma
COOPERATIVAS ESCOLARES 169
solução, tendo em vista a realidade do trabalho a
executar.
Além dos livros de contabilidade que êstes técnicos
sugerirem, observando, naturalmente, as condições
peculiares da entidade, as cooperativas deverão ter um Livro
de Atas para as reuniões das Assembléias Gerais e outro
para as sessões da Diretoria e do Conselho Fiscal, com os
termos de abertura e encerramento, devidamente lavrados,
datados e assinados pelo seu Presidente.
* * *
Constituída a cooperativa, o seu presidente organizaria,
então, o processo para registro da sociedade.
Nesta tarefa, extrairia, do respectivo livro de atas, em
três vias, cópia fiel da ata de constituição, datilografando-a
integralmente, inclusive com as assinaturas apostas, dataria
e firmaria seu nome. A êste documento seriam anexados,
também em três vias, cópias do estatuto, desde que o mesmo
não estivesse contido na ata, quando, então, deveriam ser
assinados pelos mesmos sócios que firmaram aquela peça;
por fim juntariam uma relação nominal dos associados,
contendo a idade, residência, nacionalidade e número das
quotas-partes subscritas por cada um,com o respectivo valor
total.
Terminado êste trabalho, o presidente da cooperativa
deveria solicitar ao Diretor do educandário a autenticação
dos documentos de registro, o que deveria fazer rubricando
tôdas as fôlhas do processo, como expressa aprovação de
sua autoridade educacional, para o funcionamento da
sociedade e responsabilidade pela condução dos trabalhos
que venha a desenvolver.
Isto pôsto, o presidente redigiria dois requeri-
mentos: um, para o Sr. Diretor do Serviço de Econo-
170 J. MONSERRAT
mia Rural, do Ministério da Agricultura; outro, para
o Sr. Secretário da Agricultura, Indústria e Comércio,
encaminhando a respectiva documentação e solicitando
o indispensável registro.
* * *
Uma vez constituída a sociedade e requerido o seu
registro, viria o trabalho de instalação.
Uma sala, se possível, ou mesmo um bom recanto de
corredor, serviria para o inicio de suas atividades.
Aí, então, teríamos a maior tarefa. A falta de
experiência, aliada ao desejo muito compreensível de ver
funcionando a instituição, acarreta sempre dificuldades,
quando não prejuízos, na escolha e compra de material
didático ou sugere o abuso do crédito, as mais das vêzes
fácil nessas ocasiões de entusiasmo, mas sempre ruinosos ao
desenvolvimento econômico da entidade.
Por isto, um bom professor-assistente, deve,
inicialmente, conter o impulso infantil de “comprar” e fazer
a Diretoria agir com prudência, organizado, primeiro, os
serviços internos da Cooperativa.
Arrecadar as jóias de admissão e as primeiras
prestações do capital subscrito, esclarecendo sempre que,
sem recursos próprios, tudo se torna mais difícil e
dispendioso; preencher as Fichas de Matrícula e ordená-las
numa caixa de madeira, na falta de um “fichário de aço”;
escriturar tôdas as entradas de numerário e registrar os
pagamentos, guardando, por ordem cronológica, os
comprovantes, e dar comêço à uma escrituração metódica.
Simultâneamente à êste serviço preliminar, virão as
prateleiras, os armários, o balcão, a disposição do pequeno
bar que deve ser articulado com a Sopa Escolar, o Copo de
Leite e outras iniciativas assistenciais
COOPERATIVAS ESCOLARES 171
da Escola, ou da própria Cooperativa, e, muito
especialmente, o levantamento estatístico das necessidades
dos associados no que diz respeito ao material escolar, pois,
só após conhecidos quais os livros, cadernos e demais
instrumentos de estudo e as respectivas quantidades, é
aconselhável processar as compras.
Chamamos a atenção para êste levantamento, menos
por pruridos “economísticos” do que pela pequena
experiência adquirida na administração da C.E.P.A.L.
A falta de conhecimento das necessidades de nossos
associados levou-nos, certa vez, a permitir a compra de
cêrca de cem exemplares de uma obra de medicina, quando
a turma daquele ano não alcançava a cinqüenta acadêmicos
e a editôra distava apenas trezentos metros de nossa sede.
A sorte que pudemos trocá-los em tempo por outros de
mais fácil escoamento. Do contrário, teríamos empregado
uma boa soma, sem outro resultado que encher os vãos das
prateleiras e dislumbrar a vista em suas lombadas impressas
em dourados...
E, neste trabalho, os diretores e conselheiros poderão
prestar um grande serviço, coletando, em suas aulas, os
dados e informes precisos, às primeiras faturas.
Como numa cooperativa não se faz comércio, as
compras devem ser orientadas, exclusivamente, no sentido
de satisfazer necessidades e nunca de “criá-las” com as
novidades e os engodos das “matérias plásticas”...
Tôdas as “criações” nestas sociedades, devem ser
imunes ao vírus mercantil e revestir-se, sempre, de uma
finalidade altamente social.
No caso da administração do BAR escolar, é
extraordinária esta sua função.
Pode, mesmo,a Cooperativa, investindo no terreno
172 J.MONSERRAT
da nutrição, tornar-se de grande utilidade na tarefa de
corrigir as deficiências que se observam, infelizmente, em
nossos costumes, criando hábitos a uma alimentação, se não
ideal, pelo menos, menos carecedora de elementos de valor
nutritivo.
Em vez de balas, guloseimas e refrescos a base de
essências, de que tanto abusa a nossa petizada, poderá
oferecer, aos associados, para merenda, um copo de leite,
bolos, frutas, mate gelado, etc.
Ainda sôbre as compras, sugerimos a adoção do regime
de concorrência para os abastecimentos da Cooperativa.
Com a prática dessa modalidade, não só o aluno adquire
um hábito que será muito útil na vida do futuro cidadão,
como aprenderá selecionar e se capacitar a uma escolha
mais econômica e eficiente; primeiro, porque, comprando
em quantidade, haverá mais possibilidades de usufruir
maiores vantagens; segundo porque, os fornecedores,
sentindo o critério competitivo dos pedidos de preços, serão,
forçosamente, compelidos a serem mais módicos em suas
pretensões.
Êste problema, contudo, só terá sua solução para as
cooperativas, quaisquer que sejam seus objetivos, na
associação de 2º grau, isto é, na organização de uma
cooperativa de cooperativas, como veremos adiante.
O recebimento do material, entrementes, exige,
também, cuidados especiais.
Não basta dispô-los bem empilhadinhos nas prateleiras,
à vista dos associados, e mantê-los ao abrigo do sol e da
poeira, prevenindo-os contra os ataques das traças
insaciáveis...
Precisa, antes do mais, registrar sua entrada em fichas
específicas, consignando nelas todos os dados
individualizadores de cada mercadoria, inclusive
quantidade, custo unitário e total da fatura, bem como
COOPERATIVAS ESCOLARES 173
anotar tôdas as saídas, de sorte a facilitar, em qualquer
momento, saber-se, com exatidão, qual o estoque existente
dêste ou daquele artigo e seus preços de custo e de
fornecimento aos associados.
Dois ou três associados, conforme o movimento da
cooperativa, poderão, sem grande esfôrço, manter êsse
contrôle, com efetivo proveito para ambos.
Dêle se depreende, conseqüentemente, o
sentido de
ordem, disciplina e previdência administrativa de que
tanto necessitamos.
* * *
A questão do estabelecimento de normas para os
preços de venda, por sua vez, é matéria controvertida e
constitui problema de grande interêsse na ordem
cooperativista.
Duas são as modalidades preconizadas:
— venda ao preço da praça e
— venda ao preço de custo, adicionado de uma taxa de
serviço convencionada pela administração.
Examinemos cada uma destas práticas.
A venda ao preço da praça aparece, nas
atividades
cooperativistas, como a forma tradicional de suas
operações, oferecendo as seguintes vantagens:
não chama a si, e ainda mais,a ira do comércio;
— garante, com o excedente das despesas normais (taxa de
serviços), o giro de uma soma maior de valores,
promovendo, assim, um maior rendimento da circulação;
— possibilita, à cooperativa, demonstrar, no fim do exercício,
e de forma concreta, a economia total e líquida,
proporcionada aos associados, fazendo-os senti-la;
educa o associado, pois o retôrno dá-lhe uma noção
muito objetiva de poupança;
— aumenta as importâncias a serem levadas a crédito dos
Fundos estatutários, consolidando, desta forma, o
patrimônio social.
174 J. MONSERRAT
Neste sistema de vendas, as desvantagens surgem das
vantagens apresentadas pelo outro,e vice-versa.
Estudemos, pois, a modalidade das vendas ao preço de
custo majorado apenas por uma taxa de serviço,
convencional e flexível, e discutamos, ligeiramente, suas
vantagens.
Neste caso temos:
Preço de custo + Taxa de serviço = Preço autônomo de venda.
.
Efetivamente, seria muito interessante, do ponto-de-
vista da economia cooperativa, se essa igualdade pudesse
ser, realmente, levada a prática em nosso meio.Teríamos,
até certo ponto, resolvida a debatida e transcendente questão
da formação dos preços, uma vez que o exemplo,
simplesmente o exemplo, de uma vantagem imediata, seria
mais convincente que tôda a ciência de uma imensa
biblioteca ou, a pequena espera de um balanço anual...
Poderíamos, tòricamente, contar com a compreensão geral
dos consumidores e a sua cooperativização em massa.
No entanto, tal não sucede.
Vivemos num regime de concorrência e o
cooperativismo não constitui uma economia estanque dentro
do cenário econômico do país.
As vantagens, por isto mesmo, se desfariam, como
bolhas de sabão, ao sôpro da primeira reação dos possíveis
prejudicados.
Mesmo o aumento, digamos substancial, de associados,
em face dêsse beneficio à bôca do cofre, pouco adiantaria se
as Editôras e os Senhores livreiros resolvessem, de um
momento para outro, em represália, boicotar a cooperativa,
negando-se a fornecer-lhes os pedidos ou não enviando as
mercadorias no tempo preciso.
COOPERATIVAS ESCOLARES 175
Além dêsse fato, de suma importância para o
funcionamento regular da sociedade, acresce ainda que,
aceitando a hipótese da viabilidade do “preço autônomo”,
ela teria um desenvolvimento econômico muito lento-
significando um retrocesso progressivo - e, o que é mais
sério, não exerceria a sua função educativa.
O desenvolvimento lento adviria, fatalmente, da
redução de recursos para o giro comum da emprêsa frente às
organizações comerciais, cujos fundos, aumentando,
periódicamente, dão-lhes a solidez necessária à competição
comercial, quando aparece um concorrente mais ousado, e
acarretaria uma estagnação no seu processo evolutivo,
depois de certo tempo, como tem ocorrido com as
cooperativas que distribuem 90% do retôrno.
Visto, agora, pelo ângulo doutrinário, observamos que a
tentadora miragem do resultado imediato se, de um lado,
oferece menos despesa ao estudo no instante de comprar um
livro, por outro desnatura o espírito da instituição e, com
essa incoerência, ao invés de educar o jovem dentro de uma
ordem que inculque hábitos de previdência e solidariedade,
vai estimular o desenvolvimento do egoísmo que se
acoberta em cada um dêles.
Ora, é da essência do cooperativismo contribuir,
com o pouco de muitos, com muito para todos. Situa-se,
assim, como uma fôrça aglutinadora à serviço da moral
social. E o elemento material com que conta para atingir tão
elevados objetivos reside, justamente, na distribuição da
diferença entre o preço de custo de uma mercadoria e o seu
preço de venda no mercado, ou seja, em linguagem
cooperativista, nas sobras, nos resultados do exercício, e por
ocasião do balanço.
Lembremos as possibilidades que nos sugerem os
serviços prestados à classe ferroviária pela sua coope-
176 J. MONSERRAT
rativa, com apenas 40% das sobras anuais, e teremos o
melhor e o mais preciso argumento em favor da adoção da
venda ao preço da praça.
* * *
Concedido o registro e o certificado comprobatório, a
Cooperativa passaria a enviar à Seção de Assistência ao
Cooperativismo, mensalmente, para efeitos de estatística e
orientação técnica, o balancete do mês anterior e,
anualmente, cópias do Relatório apresentado pela Diretoria,
Balanço Geral, Demonstrativo da Conta de Resultados e do
Parecer do Conselho Fiscal.
Estas disposições legais parecem à primeira vista, como
às vêzes se ouve argüir, exigências descabidas, em se
tratando de organização de alunos de nossas escolas
primárias.
Não somos desta opinião. Ao contrário, julgamos um
juízo apressado tal conceito, pois se observarmos mais
detidamente esta determinação da Lei, não tardaremos em
compreender o sentido disciplinador e, conseqüentemente,
educativo, dessa medida, além das vantagens sociais para o
movimento cooperativo nacional e os decorrentes dos
trabalhos estatísticos daí provenientes, capazes de informar,
periòdicamente, com relativa eficiência, do estado, da
situação de organismos tão fundamentais à educação
moderna.
Dentro do conjunto de efeitos didáticos que uma
cooperativa oferece, a obrigatoriedade da remessa de
documentos e informes contábeis a uma repartição
especializada, e fora do ambiente pròpriamente educacional,
concorre não só para dar ao aluno uma noção do complexo
que envolve a organização que gira com valores, como
adverte-lhe ainda da função social que realiza, através da
publicidade de experiências e
O venerando técnico do Dr. Adolfo Gredilha e os
economistas Srs. Rui Corrêa, Chefe da S.A.C., e
Paulo Onófrio, Vice-presidente do Centro de Es-
tudos Cooperativos do Rio Grande do Sul, quando,
por ocasião da I SEMANA DO COOPERATIVIS-
MO, prestavam a homenagem do C.E.C. à memó-
ria do Pe. Teodoro Amstad S. J., o pioneiro do
cooperativismo do Estado.
COOPERATIVAS ESCOLARES 177
intercâmbio de conhecimentos e práticas, entre as diver-
sas entidades que constituem a rêde dessas instituições,
nos estabelecimentos de ensino de uma cidade, região
ou Estado.
Por outro lado, mostrar-lhe seu trabalho não está sendo
observado apenas em sua escola, mas que elementos de
outros setores da atividade pública acompanham sua gestão
e vivificam a ação da cooperativa, de onde viria,
naturalmente, o espírito de emulação entre essas sociedades,
na execução de seus programas de realizações, com evidente
vantagem não só material como educativa, uma vez que, a
aceleração do trabalho, implicaria numa série de iniciativas
e esforços coletivos, sempre benfazejos ao aprendizado e à
criação de líderes.
ECONÔMICO
Êste problema liga-se, intimamente, à organização
superior das cooperativas de cada escola, isto é, á federação
destas sociedades para constituir a cúpula do movimento e
nela encontrar a solução para o seu perfeito abastecimento,
pela compra, direta nas fontes produtoras, e com todas as
vantagens pecuniárias dessas transações, ou pela criação de
uma oficina tipográfica própria ou grandes contratos com
emprêsas editoras, para a confecção de livros e materiais
didáticos, operações estas pràticamente impossíveis a uma
cooperativa isolada.
Aliás, quando tratamos, no início dêste livro, da obra
dos Pioneiros de Rochdale e do grande cabedal de
ensinamentos que nos legaram, citamos a constatação de
Mladenatz, de que uma cooperativa traz, em si a idéia
federativa como complemento lógico à sua atividade
integral. Não será, pois, estranhável que o problema
econômico das cooperativas escolares,
178 J. MONSERRAT
mutatis mutandis, seja equacionado e resolvido pela aliança
dessas entidades primárias, para formarem, também, a sua
entidade central específica.
Reconhecemos a dificuldade dêsse movimento e as
resistências que haverá de encontrar. No entanto, se nos
afigura muito mais eficiente do que o sistema que hoje está
sendo abandonado, e pelo qual, os Serviços de Assistência
às Cooperativas, em alguns Estados, adjudicaram a si a
tarefa de fornecer às sociedades escolares, isoladamente.
A própria questão do capital, a mobilidade e presteza no
atender aos pedidos e a ausência de burocracia nos trabalhos
de rotina, além das lutas periódicas por verbas, operações de
crédito suplementar, etc. advertem-nos das vantagens
indiscutíveis de um órgão específico e autônomo, para
superintender a compra por atacado e distribui-la conforme
as necessidades de cada filiada. As experiências da Paraíba
e do Paraná são deveras ilustradoras e nos indicam o melhor
caminho a seguir.
Por isto, restringimos a função do Estado à promoção
da iniciativa, ao estímulo moral e ao auxilio financeiro
indispensável ao êxito do empreendimento e à rigorosa
fiscalização ulterior, bem como a indicação de pessoal para
trabalhos especializados de contabilidade, orientação técnica
e prestação de serviços outros julgados necessários pela
administração dêsse órgão central.
A GUISA DE UM PLANO
Feliz ou infelizmente, para execução de uma idéia
necessitamos sempre de dar o primeiro passo dentro da
órbita legislativa e, nela, usarmos do bisturi que surge do
bôjo de um regulamento, para cortarmos o cordão umbelical
que nos acorrenta à velha rotina.
Parece que, sem um decreto, sem uma lei coercitiva
para isto ou aquilo, as coisas perdem a gravidade com que
devemos entender as nossas obrigações.
Não sei, mas êste furor legiferante que observamos na
vida brasileira tem tal poder e emana tanta fôrça que, até os
menos apegados a êste proconceito burocrático, sentem-se
prêsa fácil de seus tentáculos, embora compreendam que,
com êle ou sem êle, os fatos poderiam se suceder
normalmente, se o quiséssemos.
I — Por isto, nosso plano para a adoção do coo-
perativismo nas Escolas do Rio Grande do Sul, não podendo
fugir à regra teria seu início com uma lei suplementar, e um
regulamento de acôrdo, aliás, com as faculdades de nossa
legislação substantiva.
Vejamos, primeiramente, o que há, a êste respeito,
no Estado.
180 J. MONSERRAT
O atual Regimento Interno das Escolas Primárias do
Estado, aprovado pelo Decreto nº 7.920, de 30 de agôsto de
1939, conservando o espírito das disposições sôbre Caixas
Escolares, inseridas no Art. 46, do Regimento Interno dos
Estabelecimentos de Ensino Público do Estado, aprovado
pelo Decreto nº 3.903, de 14 de outubro de 1.927,
determinando, também, a obrigatoriedade do funcionamento
de uma Caixa Escolar em cada Grupo ou Escola Isolada,
diz:
Art. 77- Recomenda-se, ainda, a criação das
seguintes instituições:
a) — Circulo de Pais e Mestres;
b) — Auditório;
c) — Clubes Escolares;
d) — Liga dos Amigos da Natureza;
e) — COOPERATIVA ESCOLAR; (*)
f) — Merenda;
g) — Pelotão de Saúde;
h) — Museu;
i) — Clubs de ex-Alunos, etc.
§ 1º — Estas instituições deverão obedecer em sua
organização, às diretrizes traçadas pela
Diretoria Geral de Instrução Pública.
§ 2º — Quando a instituição que se pretende organizar
não tiver sido regulamentada pela Diretoria
Geral de Instrução Publica, só se instalará em
caráter definitivo, depois de aprovadas as suas
bases por essa Diretoria e autorizando o seu
funcionamento.
§3º - .... ..................... ...................... ...................
_____________
(*) O «negrito» é do autor.
COOPERATIVAS ESCOLARES 181
Art. 78 - As instituições deverão ser cria-
das, de acôrdo com as necessidades do ensino
(*) e do meio em que funciona a escola.
A lei e o regulamento específico que sugerimos, como
ponto de partida dêsse trabalho, poderia ser, ante o exposto,
uma simples decorrência do texto transcrito, um ato normal
na vida dos órgãos administrativos do Estado.
Baseado na oportunidade (Art. 78) e na autoridade que
lhe confere os parágrafos do Art.77 e nas atribuições da
própria Secretaria de Educação e Cultura, a feitura e
aprovação dêsse documento seria, pois, pouco exigente em
matéria de tramitação burocrática.
Todavia esta facilidade é aparente.
Havendo sido as atribuições da antiga D.G.I.P.
transferidas para o Departamento de Ensino Primário e
Normal que, por fôrça da reestruturação dos serviços e
quadros daquela Secretaria foram distribuídas, em face da
descentralização, entre as várias Superintendências que
passaram a orientar o ensino primário, normal e artístico
com funções correspondentes a cada ramo do ensino, e
ainda criadas superintendências para o ensino secundário,
técnico-profissional e de educação física, por uma questão
de ordem e disciplina administrativa, cada uma delas
deveria baixar um regulamento...
Além disso, que no caso não dificultaria uma justa
solução, há a considerar o caráter de obrigatoriedade da
instituição e a natureza compulsória do ingresso dos
estudantes matriculados nas diversas escolas do Estado, que
torna o problema da autoridade passível de controvérsia
protelatória. Acresce, ainda, o sentido planificador da
iniciativa, com o seu ulterior
____________________
(*) O «negrito» é do autor.
182 J.MONSERRAT
desdobramento e complexidade, solicitando a criação
de um quadro de professôres especializados e de normas
orgânicas pelas quais se norteariam êstes trabalhos técnicos.
Estas as razões que justificariam, talvez, uma lei
supletiva em têrmos gerais semelhantes às promulgadas no
Distrito Federal, em Santa Catarina, na Bahia, no Pará e a
em tramitação no Ceará.
Nessa lei seria consubstanciada:
1) — Obrigatoriedade da criação de cooperativas
escolares em todos os estabelecimentos de
ensino primário, normal, secundário e técnico-
profissional, uma vez que evidenciada está a
sua grande utilidade nas escolas.
2) — Compulsoriedade para todos os alunos, dada a sua
função eminentemente educativa.
3) — Prescrição para que a constituição, registro e
funcionamento dessas instituições obedeça à
legislação vigente sôbre sociedades
cooperativas, não só por fôrça de lei, como
para dar unidade e contrôle técnico ao
movimento.
4) — Criação de uma cadeira sôbre COOPERATI-
VISMO nas escolas normais rurais, de
formação de professôres, técnico-profissionais
e nos cursos das Faculdades de Ciências
Econômicas, Contábeis e Atuariais e de
Agronomia, satisfazendo uma necessidade
manifestada não só pelas maiores autoridades
na matéria, como refletidas em conclaves
cooperativos internacionais e nos levados a
efeito, por várias vêzes, em território nacional,
inclusive em nosso Estado, onde funcionou,
com largo proveito, a Escola Técnica de
Cooperativismo, sob a direção do ilustre
cooperativista Dr.Adolpho Gredilha.
COOPERATIVAS ESCOLARES 183
5) — Organização de um quadro de professôres assis-
tentes e de cursos de extensão cultural para os
interessados.
6) — Aprovação de um regulamento referente a esta lei.
7) — Criar, na S.A.C., um Serviço de Cooperativas
Escolares.
II - O regulamento a que se refere a lei projetada, seria
elaborado por uma Comissão constituída de técnicos da
Secretaria de Educação e Cultura e da Secção de Assistência
ao Cooperativismo, da Secretaria da Agricultura, Indústria e
Comércio, tomando por base as condições objetivas do
ensino,as necessidades evidentes da cooperação organizada
no meio escolar e o material disponível.
Entre outros aspectos que a Comissão julgasse
conveniente focar, a redação dêsse regulamento observaria,
no seu desenvolvimento, os seguintes pontos:
1) — Conceituação da cooperativa escolar, dentro da
tradição doutrinária - econômico-educativa.
2) — Estabelecer as normas gerais de constituição,
registro e funcionamento, prescrevendo:
a) — a retificação da estrutura e funcionamento das
atuais cooperativas que vêm operando sem a
observância dos princípios cooperativistas,
disciplinados pela legislação em vigor;
b) — delimitar o ingresso à alunos e professores;
184 J. MONSERRAT
c) — estabelecer o registro dessas instituições na
S.A.C., da Secretaria da Agricultura, Indústria
e Comércio, e a ela ficarem tècnicamente
subordinadas;
d) — prescrição de objetivos mínimos, cuidando
sempre em entrosá-los com as necessidades do
ensino e da escola;
e) — administração e fiscalização pelos próprios
alunos;
f) — assistência permanente de um professor
especializado;
g) — declarar obrigatória a determinação de
percentagens a serem reservadas para a
constituição da Federação das Cooperativas
Escolares do Estado;
h) — o fornecimento aos associados e
exclusivamente a dinheiro.
3) — Regulamentar a missão dos professôres
assistentes dando-lhes autonomia no seu
trabalho, investindo-os da representação da
cooperativa no suprimento da incapacidade dos
alunos e exigindo-lhes a confecção de
relatórios periódicos com as observações sôbre
a atuação dos alunos associados.
4) — Prever a constituição da Federação de
Cooperativas Escolares que agruparia tôdas as
instituições, para compras em comum.
5) — Estabelecer concursos anuais de monografias
sôbre o assunto, entre os alunos e entre
assistentes e professores.
COOPERATIVAS ESCOLARES 185
III — Inicialmente, as medidas propostas seriam
realizadas, partindo-se da retificação das cooperativas
existentes, através de:
a) — convocação dos professôres assistentes com
exercício na Capital e arredores, para uma série
de palestras sôbre e teoria e a prática do
cooperativismo escolar;
b) — organização de um plano para a escrituração
contábli das cooperativas escolares, em têrmos
simples e fàcilmente compreensíveis, pelos
técnicos da S.A.C.;
c) — Distribuição de farto material de propaganda e
divulgação ao professorado, alunos e demais
interessados.
Posteriormente, o mesmo processo sugerido na alínea a)
seria levado a efeito, simultâneamente, em vários
municípios do interior e abrangeria, também, a retificação
das atuais cooperativas escolares existentes naquelas
localidades e a organização de outras,principalmente na
zona rural, tão necessitada de meios e instrumentos
destinados a elevar o índice cultural dos nossos pequenos
agricultores.
IV — Uma vez realizado e consolidado êste
movimento retificador, a S.A.C., por seu Serviço de
Cooperativas Escolares poderia iniciar, com o concurso da
Secretaria de Educação e Cultura, aproveitando a
experiência do trabalho efetuado e as observações das
necessidades e condições das cooperativas em
funcionamento, a organização da Federação das
Cooperativas Escolares de forma a habilitá-la a atender,
convenientemente, ao suprimento de material escolar,
fazendas de uniforme, etc., dentro de um curto espaço de
tempo.
186 J. MONSERRAT
O Estado, para auxiliar a execução dêste plano, e os
municípios, para a organização das cooperativas nas escolas
sob suas jurisdição ou em sua área, poderiam, sem grandes
sangrias para o Erário Público, conceder doações que
permitissem, a essas instituições escolares, adquirir e pagar
à vista as primeiras faturas.
Outro auxílio estatal que não seria difícil à Federação
receber dos Poderes Públicos prende-se a questão do
pessoal. Três ou quatro funcionários, sem maiores ônus para
a Federação, poderiam ficar a sua disposição, o que,
redundaria não só em uma economia efetiva, como em
valioso apoio para a boa organização e eficiente
funcionamento da entidade.
A P ÊN D I C E
PLANO DE ORGANIZAÇÃO DA COOPERATIVA
ESCOLAR DO INSTITUTO DE EDUCACÃO
Elaborado pela Prof.ELFA FREDA.
Assistente da Cadeira de Instituições Es-
colares, do Instituto de Educação de Pôrto
Alegre.
1.º A Cooperativa Escolar do Instituto de Educação
de Pôrto Alegre tem como objetivo principal cooperar na
ação educativa:
a) - dando ao aluno, mediante práticas eficazes, a
compreensão do valor da solidariedade, do auxilio
mútuo e do trabalho em colaboração;
b) - dirigindo-lhe as tendências para a economia,
previdência e probidade;
c) - aprimorando-lhe as qualidades do espírito e do caráter
através a formação de hábitos e atitudes:
senso de responsabilidade, espírito de iniciativa,
capacidade de direção, domínio de si próprio,
boas maneiras, etc.;
d) - alargando-lhe as experiências através de atividades
escolares em cujo desenvolvimento concorram
associadas as disciplinas do programa.
190 J. MONSERRAT
2º Para que preencha as suas finalidades é ne-
cessário:
a) - colocar esta instituição dentro dos intetrêsses do
aluno, apresentando situações capazes de
despertar-lhe o sentido de sua necessidade;
b) - contar com a colaboração eficiente dos professores.
FASE PREPERATÓRIA
(atividades previstas)
3º Como preparação do ambiente, relizar-se-ão;
a) - reuniões de professôres para estudo e debate do
assunto;
b) - palestras aos alunos, em linguagem acessível, nas
quais se mostrem as vantagens da fundação da
Cooperativa;
c) - exposição de cartazes, nas salas de aula e nos
corredores da escola, com frases sugestivas e
indicações precisas;
d) - apresentação de material de leitura de caráter
informativo, que se ajuste ao nível mental das
classes, e através do qual se ofereçam recursos
necessários à mais perfeita compreensão do
assunto;
e) - visitas a Cooperativa de consumo.
COOPERATIVAS ESCOLARES 191
PROBLEMAS A ATENDER NA ORGANIZAÇÃO DA
COOPERATIVA:
Instalação
a) - Local;
b) - Mobiliário;
c) -Material de consumo escolar a ser adquirido;
d) - Livros destinados à escrituração;
e) - Material de expediente.
Funcionamento
A) A administração e fiscalização.
A administração e a fiscalização serão exercidas;
I — Pela Assembléia Geral que é o órgão soberano da
administração da sociedade.
II — Pela Diretoria, composta de membros escolhidos
entre os sócios e eleitos pela Assembléia Geral.
III — Pelo Conselho Fiscal eleito em Assembia
Geral com o fim de exercer assídua fiscalização
sôbre os negócios da sociedade.
OBSERVAÇÃO: Tôdas as atividades funcionais serão,
explicitamente, reservadas aos alunos.
B) A Cooperativa deverá contar ainda com a colaboração
de:
a) - uma professôra de ação extensiva que:
192 J. MONSERRAT
I - oriente e estimule o trabalho diário no intuito de
alcançar os objetivos visados;
II - sirva de elemento de ligação entre a Escola e a
Cooperativa e entre esta e o Departamento de
Assistência ao Cooperativismo;
III - que, cooperando com a Escola, procure sempre
que surgir oportunidade, estabelecer correlação
entre as atividades desta instituição e o programa
da classe;
IV - que assista aos trabalhos de Assembléia dos
alunos.
b) - com duas professôras auxiliares (uma para cada
turno) que:
I - assinem e orientem o trabalho da escrita
II- contribuam para o bom funcionamento da
sociedade, estimulando e auxiliando os serviços;
III - acompanhem o inventário mensal dos bens da
Cooperativa.
C) Horário:
A secção de venda funcionará sómente nas horas do
folga ou pausa, devendo o associado fazer a encomenda do
que desejar ao entrar na escola e retirá-la por ocasião do
recreio ou pausa.
Haverá no local um quadro de aviso para
indicação do horário de funcionamento.
Visto do belo edifício da Escola Técnico-Profissional “Hugo Taylor”, em Santa Maria, mantida
Cooperativa de Consumo dos Empregados da V.F.R.G.S.
COOPERATIVAS ESCOLARES 103
D) Distribuição de atividades entre os alunos;
Dentro de uma escala rotativa, serão distribuídas certas
atividades aos sócios a fim de interessá-los nos aspectos
concretos da vida da Cooperativa, como:
a) – operações de compra venda;
b) – contrôle;
c) – guarda do material em estoque, etc.
E) Organização interna:
O Estatuto da Cooperativa será elaborado por uma
comissão composta dos líderes da Escola Secundária é da
Escola de Professôres sendo discutido e aprovado em
Assembléia Geral.
Nêle se fixarão as normas que deverão regular a vida
desta instituição.
Os alunos das classes primárias cooperarão na
organização interna, apresentando;
a) – regras para serem afixadas à porta da Cooperativa,
contendo princípios como êstes;
as vendas se farão exclusivamente aos associados;
as vendas serão feitas sòmente a dinheiro,
os artigos que interessarem apenas a determinados
sócios, só serão adquiridos por encomenda, etc.
b) – listas de preços do material didático, as quais serão
colocadas em lugar de destaque, para
conhecimento dos associados.
MODÊLO DE ATA DE CONSTITUIÇÃO DE UMA
COOPERATIVA ESCOLAR
Aos ....... .......... dias do mês de .................... ........do
ano de mil novecentos e ......................................... .......,na
cidade de ..... , Estado do Rio Grande do Sul, às .. .. horas,
em uma das salas do Grupo Escolar ........................ .......... ,
reuniram-se, em assembléia geral, com o fim de constituir
uma sociedade cooperativa escolar, os alunos e professôres
(nome, idade, residência, nacionalidade e número de quotas
subscritas).
Foi aclamado para presidir a reunião o (aluno ou
prefessor) ... ......... que convidou os senho-
res .............. ......... para fazerem partes da mesa e a mim,
................... ......... ......... , para secretariar a sessão. A
seguir o senhor presidente declarou aberto os trabalhos e
informou que os fins da reunião era constituir uma
cooperativa escolar, nos têrmos da legislação em vigor, com
o objetivo de congregar alunos e professôres do Grupo
Escolar ....... ......... ......... para a defesa de seus
interêsses econômicos e, sobretudo, agir como processo
experimental educativo, na formação do futuro profissional,
integrado no sistema cooperativo, determinando a mim,
secretário, que procedesse a lei
196 J. MONSERRAT
tura do projeto de estatutos que deverão reger a vida da
sociedade e as relações dos associados entre si.
Lidos e discutidos os estatutos foram os mesmos
submetidos a votação e aprovação, sendo aprovados (por
unanimidade ou por ............... votos), como demonstração
da vontade dos presentes de formar a sociedade
(Os estatutos podem ser transcritos aqui. Se não o
forem, tanto êles, como esta ata, devem ser assinados por
sete fundadores, no mínimo, e na mesma data da
constituição da cooperativa.)
Em vista desta declaração o senhor presidente declarou,
definitivamente, constituída a COOPERATIVA DO
GRUPO ESCOLAR ........................... ..... ,
convidando os presentes a procederem a eleição dos
membro da Diretoria e do Conselho Fiscal, assim como os
suplentes dêstes. Procedida a eleição verificou-se terem sido
eleitos para constituir a Diretoria: Presidente, ................;
Vice-presidente, ......... Diretor-Gerente, .............. ;Diretor-
Secretário, .................. ... ;Diretor-Tesoureiro, ...................;
suplentes .................... , ..............................................Para
o Conselho Fiscal, ............................... como.......membros
efetivos .................. , ........ .... e .......................... , e para
suplentes .............. , ....... ....e ............ ............... O senhor
presidente, logo após proclamou-os eleitos e empossou-os
nos respectivos cargos, passando a assembléia a ser dirigida
pelo presidente eleito. Assumindo êste a direção dos
trabalhos agradeceu sua eleição e, concedendo a palavra a
quem dela quisesse fazer uso e como ninguém a solicitasse e
nada mais houvesse a tratar, encerrou a sessão e mandou
que eu ...........................................................................
secretário, lavrasse a presente ata a qual, lida e jul-
COOPERATIVAS ESCOLARES 197
gada conforme, vai assinada pelos membros da mesa e
pelos associados
ass.) membros da mesa
associados
.... ............................ ..................... ...........
.... ............................ ..................... ............
.... ............................ ..................... ............
.... ............................ ..................... ............
.... ............................ ..................... ............
.... ............................ ..................... ............
.... ............................ ..................... ............
PROJETO DE ESTATUTOS PARA UMA
COOPERATIVA ESCOLAR
Elaborado com a colaboração da ilustre
Professôra Elfa Freda, Assistente da
Cadeira de “Instituições Escolares” do
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, desta
Capital.
CAPÍTULO I
Do nome, sede, área de ação e duração
Art. - Fica fundada, nesta data, entre os alunos (e
Professôres) do ........................................... (nome da unidade
escolar), município de................................................ , Estado do
Rio Grande do Sul, abaixo assinados, e os que de futuro
forem regularmente admitidos, a Cooperativa Escolar
............................................... , que se regerá pela legislação em
vigor, nos têrmos dêstes estatutos, tendo:
I - Sede e administração na própria escola;
II - Área de ação limitada ao edifício escolar;
III -Prazo de duração indeterminado e o exercício social,
começando em ............. de ................................... ... e
terminando em ................. de.... .............. .... .
200 J. MONSERRAT
CAPITULO II
Dos fins da sociedade
Art 2 - A Cooperativa tem por fim:
a) - dar aos alunos a compreensão do valor da
solidariedade, auxílio mútuo e do trabalho em
cooperação;
b) - formar e cultivar hábitos de economia, pré-
vidência e responsabilidade;
c) - facilitar aos associados a aquisição de material
escolar;
d) - concorrer para melhorar o equipamento material
e pedagógico da escola;
e) - promover, com a autorização da direção da
escola, palestras e concursos sôbre o
cooperativismo;
f) - realizar a venda de trabalhos manuais feitos
pelos associados, na respectiva classe,
CAPITULO III
Do capital social
Art 3 - O capital da Cooperativa, dividido em quotas-
partes de Cr$ .......... , varia com o número de associados e
de quotas subscritas, mas não pode ser inferior a
Cr$ ...........
§ 1º - As quotas-parte são indivisíveis.
§ 2º- Os associados poderão subscrever no mínimo
uma e no máximo ............ quotas.
COOPERATIVAS ESCOLARES 201
§ 3 -As quotas-partes subscritas poderão ser pagas de
uma só vez ou em prestações mensais de 20%,
independentemente de aviso.
§ 4 -A transferência só poderá ser feita a outro
associado, com a autorização da Assembléia
Geral e após o pagamento da taxa de 5%.
§ 5 -Quando o associado fôr demissionário ou excluído
só poderá receber seus créditos após a aprovação
do balanço do exercício no decorrer do qual
deixar de fazer parte da Cooperativa
Art. 4° - Quando a retirada de associados provocar a
redução do capital abaixo do mínimo fixado nesta capítulo,
far-se-á a sua retenção até que aquêle valor seja
reestabelecido.
Art. 5º - No caso de atraso no pagamento das
prestações do capital será cobrado uma taxa de mora de 6%.
Art. 6º - O capital não renderá juros.
Art. 7° - Será permitida aos alunos a integralização
das quotas-partes em material ou em serviços prestados à
Cooperativa, a juízo da Diretoria.
Art. 8º - Todo o associado receberá um Título
Nominativo, em forma de caderneta, onde será anotado o
movimento de sua conta de capital.
202 J. MONSERRAT
CAPÍTULO IV
Das operações sociais
Art. 9 -A Cooperativa adquirirá todo o material escolar
necessário a seus associados, preferencialmente, das fontes
produtoras.
Art. 10 -As mercadorias serão escrituradas no livro de
estoque pelos associados para isso indicados pela Diretoria,
ouvida a professôra-conselheira.
Art. 11-Os fornecimentos de mercadorias serão feitos:
a) - exclusivamente aos associados;
b) - mediante pagamento à vista;
c) - com a apresentação do Título Nominativo;
d) - unicamente no decorrer das folgas ou recreios.
CAPITULO V
Dos associados - seus deveres é direitos
Art. 12 - Sòmente poderão fazer parte da Cooperativo
os alunos (e professôres)do ...............................................
(nome da unidade escolar).
Art. 13 - Cada associado se obriga:
a) - subscrever, no mínimo, uma quota-parte do
capital social;
COOPERATIVAS ESCOLARES 203
b) - pagar a jóia de admissão no valor de Cr$ ..... , que
se destina, inicialmente, às despesas de instalações;
c) - efetuar, na época marcada, os pagamentos devidos;
d) - observar as disposições dos estatutos e as delibera-
ções dos órgãos administrativos;
e) - contribuir, com o seu exemplo e dedicação, a fim de
que a Cooperativa cumpre as altas finalidades para
que foi fundada;
f) - cumprir, fielmente, as incumbências que lhe forem
confiadas,
Art. 14 - São direitos do associado:
a) - tomar parte nas assembléias gerais;
b) - votar e ser votado;
c) - assistir, sem voz deliberativa, as reuniões da
Diretoria;
d) - utilizar-se de todos os serviços da Cooperativa;
e) - participar das sobras liquidas;
f) - sugerir providências e iniciativas que concorram ao
desenvolvimento do organismo social, sujeitando-se
às deliberações tomadas pela Diretoria sobre essas
sugestões;
g) - pedir, por escrito, sua demissão, justificando-a;
h) - receber as percentagens dos trabalhos manuais que
fizer na respectiva classe, e que forem vendidos pela
Cooperativa.
_________
(*) A jóia não poderá ser superior, ao valor de uma quata-parte.
204 J. MONSERRAT
Art. 15 - Será excluído do quadro social o associado
que:
a) - concluir o seu curso;
b) - fôr desligado da escola;
c) - deixar de comprar durante um exercício social,
salvo justificativa aceita pela Diretoria;
d) - deixar de cumprir seus deveres de associado;
e) - tiver procedimento censurável, a juízo da
Diretoria, com recurso para a assembléia geral.
Art. 16 - Os alunos serão admitidos por proposta de
dois associados e, ao serem aceitos pela Diretoria, receberão
o Título Nominativo assinado pelo Presidente e pelo
Diretor-Secretário.
CAPÍTULO VI
Da administração e fiscalização
Art. 17 - A Cooperativa será administrada e fiscalizada
pelos seguintes órgãos:
a) - Assembléia Geral;
b) - Diretoria;
c) - Conselho Fiscal.
a) - DA ASSEMBLÉIA GERAL
Art. 18 -A Assembléia Geral dos associados —
que pode reunir-se ordinária ou extrordinàriamente
COOPERATIVAS ESCOLARES 205
- é o órgão máximo da Cooperativa, dentro da lei e dos
estatutos, e rege-se pelas seguintes normas:
1) - é, habitualmente, convocada e dirigida pelo
Presidente;
2) - os editais de convocação devem especificar os
assuntos a deliberar, sendo afixados na sede da
Cooperativa e publicados no jornal escolar;
3) - a convocação será feita com oito dias de
antecedência;
4) - funcionará, vàlidamente, com a presença de um
têrço de associados na primeira convocação, à
hora marcada e, com qualquer número, meia
hora depois, mas sempre com a presença da
professôra-conselheira:
5) - as deliberações serão tomadas por maioria de
votos, exceptuados os casos previstos nestes
estatutos;
6) - cada associado terá um só voto, qualquer que
seja o número de suas quotas-partes;
7) - a Diretoria poderá exigir o Titulo Nominativo
para o associado ter ingresso no recinto da
sessão;
8) - a votação será simbólica (levantando-se os que
aprovam), mas as decisões sôbre exclusão,
recursos, destituição e eleição para cargos
sociais serão sempre tomadas por votação
secreta;
206 J. MONSERRAT
9) - das ocorrências das assembléias serão lavradas,
em livro próprio, atas circunstanciadas que,
depois de aprovadas, serão assinadas pela mesa,
por uma comissão designada pela assembléia e
pelos associados que o quiserem;
10) - em caso de empate nas votações, haverá nova
eleição.
Art. 19 - A assembléia geral ordinária se reunirá em
............, para fins de eleição e posse dos membros da
Diretoria e Conselho Fiscal e, em ..................................... ,
para prestação de contas da administração, discussão e
aprovação do Relatório da Diretoria. *)
Art. 20 - As demais assembléias serão sempre
extraordinárias e poderão ser convocados pela Presidência,
pelo Conselho Fiscal, pela professôra-conselheira ou por
20% dos associados.
Art. 21 - Tôdas as deliberações tomadas pelas
assembléias serão submetidas à Direção da escola e será
rigorosamente proibida a discussão de assuntos políticos,
religiosos e de caráter racial.
b) DA DIRETORIA
Art. 22 - A Diretoria da Cooperativa, eleita nualmente,
será constituída e um:
Presidente
Vice-presidente
Diretor-Secretário
Diretor-Gerente
Diretor-Tesoureiro
e dois suplentes.
___________
*) A primeira assembléia poderá ser realizada em março e a
última nos últimos dias de aula, do respectivo estabelecimento.
COOPERATIVAS ESCOLARES 207
Art. 23 - A Diretoria se reunirá sempre que fôr
necessário e deliberará por maioria de votos e com a
presença de metade e mais de um de seus membros em
exercício, tendo o Presidente o voto desempate.
Art 24 - Compete à Diretoria:
a)- cumprir e fazer cumprir os estatutos;
b)- regular os serviços gerais da Cooperativa;
c)- admitir, excluir e dar demissão aos associados;
d)- aprovar compras;
e)- manter os associados ao par dos negócios sociais;
f)- acompanhar o balanço e apresentar o Relatório
anual à assembléia;
g)- estabelecer regras para disciplinar o movimento
social;
h)- tomar, mensalmente, contas ao Diretor-Tesoureiro.
Art. 25 - Cabe ao Presidente:
a)- convocar e presidir as sessões;
b)- superintender todos os encargos de seus
companheiros de Diretoria;
c)- assinar papéis e documentos da Cooperativa com o
Diretor a que estiver afeto o assunto;
d)- expedir as instruções e regras baixadas pela
Diretoria;
e)- dar o máximo exemplo de cooperação e contração
ao trabalho.
208 J. MONSERRAT
Art.26 -Compete ao Vice-presidente: auxiliar o
presidente, substituí-lo em seus impedimentos e, particular-
mente, cuidar dos arquivo da sociedade.
Art. 27 - É atribuição do Diretor-Secretário:
a) - lavrar e ler as atas das reuniões de Assembléia
Geral e da Diretoria;
b)- fazer o registro dos associados;
c)- fazer, assinar, com o Presidente, e expedir tôda a
correspondência da Cooperativa;
d) - ter sob sua guarda os livros e documentos de
secretaria.
Art. 28 - Cumpre ao Diretor-Gerente:
a) - fazer, com a assistência da professôra-conselheira,
as compras deliberadas pela Diretoria;
b) - organizar as listas de preços;
c) - manter o armazém da Cooperativa sempre em
ordem;
d) - sugerir, à Diretoria, as renovações dos estoques;
e) - apresentar balancetes mensais à Diretoria e
dirigir a feitura do balanço.
Art. 29 - Ao Diretor-Tesoureiro, cabe:
a) - receber do Caixa o produto das vendas diárias;
b) - levar o diário de vendas;
c) - guardar, no cofre da escola, todo o númerário
em seu poder, no fim do dia;
d) - efetuar os pagamentos ou fornecer dinheiro, quan-
do autorizado pelo Presidente.
COOPERATIVAS ESCOLARES 209
Art. 30 - Aos suplentes caberá, além de assistir as as
reuniões de Diretoria, substituir qualquer um dos Diretores,
por, solicitação do Presidente, e auxiliá-los em tudo o que
fôr necessário ao bom andamento da sociedade.
Art. 31 - Haverá dois Caixas, um para cada turno; que
poderão ser ou não os suplentes da Diretoria, cabendo-lhes;
a) - dar entrada de mercadorias, vendê-las e
registrar as respectivas importâncias;
b) - conferir o dinheiro recebido e entregá-los
diáriamente ao Diretor-Tesoureiro;
c) - auxiliar nos serviços gerais da Cooperativa.
c) DO CONSELHO FISCAL
Art. 82 - O Conselho Fiscal será composto de três
membros efetivos e igual número de suplentes, eleitos,
anualmente, pela assembléia geral, não podendo ser
reeleitos
Art. 33 - Compete-lhe, especialmente, e com a
assistência da professôra-conselheira:
a) - verificar, semanalmente, o movimento da Coope-
rativa;
b) - examinar, mensalmente, os livros e balancete;
c) - dar parecer sôbre as contas anuais apresentadas
pela Diretoria e opinar sôbre o Relatório;
d) - convocar a Assembléia Geral ou a Diretoria,
quando necessário.
210 J. MONSERRAT
CAPITULO VII
Da representação da Cooperativa e da
Professôra-Conselheira
Art. 34 - À Direção da escola cabe a representação
ativa e passiva da Cooperativa.
Art. 35 - Nos seus trabalhos diários, a Cooperativa
será assistida pela professora-conselheira, a fim de que, com
sua orientação, melhor possa cumprir a função técnico-
pedagógica do cooperativismo escolar.
Art. 36 - À professôra-conselheira, cabe:
a) — acompanhar todos os trabalhos da Cooperativa,
coordenando as funções específicas dos
administradores;
b) — contribuir para o bom funcionamento da
sociedade estimulando e auxiliando a
rganização de seus serviços;
c) ensinar e orientar os trabalhos de escrita;
d) assistir ao Inventário e aos levantamentos mensais
do estoque;
e) — estabelecer a ligação entre os trabalhos da classe
que se relacionem com o funcionamento da
Cooperativa e esta.
CAPÍTULO VIII
Das sobras o dos fundos sociais
Art. 37 — Em 30 de novembro será realizado o
Balanço Geral da Cooperativa, cujas sobras serão as sim
distribuídas:
COOPERATIVAS ESCOLARES 211
a) - 20% para o Fundo de Reserva;
b) - 30% para constituir o Fundo de Desenvol-
vimento;
c) - o restante será distribui do entre os associados -
como retorno - na proporção das compras que
houverem feito.
§ único - Os cálculos para a distribuição do retôrno
serão efetuados pelos próprios associados com a
colaboração da professôra da classe, desde que êsses
cálculos envolvam assuntos familiares ao aluno.
Art 38 - O Fundo de Reserva que se destina a atender
às perdas eventuais da sociedade, será constituído:
a) - pela jóia, de admissão;
b) - pela percentagem a ele destinada no artigo 37;
c) - por doações;
d) - pelos créditos não reclamados e outros eventuais.
Art. 39 - O Fundo de Desenvolvimento que se destina
a ampliar as atividades sociais e reunir recursos para atender
as necessidades dos associados, será formado:
a)- pela percentagem a êle atribuído no artigo 37;
b)- por 25% dos resultados das vendas de trabalhos
confeccionados pelos associados, na aula de
Trabalhos Manuais;
c)- pelo produto de festivais, jogos desportivos,
espetáculos teatrais levados a efeito para êste fim.
212 J. MONSERRAT
Art. 40 - Êstes fundos são indivisíveis mesmo em caso
de dissolução da Cooperativa e o ex-associado não terá
direito algum sôbre ele.
CAPÍTULO IX
Disposições Gerais
Art. 41-Para reformar os presentes estatutos ou para
dissolução da Cooperativa será necessário uma Assembléia
Geral Extraordinária que reuna, em primeira convocação,
feita com 15 dias de antecedência, dois terços dos
associados; em segunda, com 8 dias de antecedência,
metade mais um dos associados, e a última, com 5 dias de
antecedência com qualquer número.
Art. 42 - A Cooperativa se dissolverá:
a) - por fechamento ou fusão da escola;
b) - quando o número de associados reduzir-se a
menos de sete.
Art. 43 - No caso de dissolução o ativo líquido será
entregue à escola.
LISTA NOMINATIVA
COOPERATIVA ESCOLAR .......................................................
Nome Nacionalidade Idade Residência
Número de
Quota
s subscritas
1
2
3
4
5
__________________________________ , _________ de ___________________de 19 ___
_____________________________________________
Presidente
_______________________________________________
Diretor Secretario
TÊRMO DE ABERTURA
Êste livro, contendo .................. .......... fôlhas, numeradas por
páginas, de ............ a ........................., e por mim rubricadas, servirá
de ............................................................................... da Cooperativa
Escolar .................................. , constituída em ........... /........../.........,
entre os alunos (e professôres) do Grupo Escolar .....................................
.................................................................
................................... , .................... ,de ..................... de 19 ........
...................................................
Presidente
TÊRMO DE ENCERRAMENTO
Contém êste livro ................... fôlhas, numeradas e ru-
bricadas de acôrdo com o «Têrmo de Abertura», servindo de
.................................................................................................. da Cooperativa
Escolar ...............................
................................... , .................... de ................ de 19 ..........
.......................................................
Presidente
OBS: - O “Têrmo de Abertura poderá ser lavrado na capa
interna do respectivo livro enquanto que, o “Termo de Encerramento”,
será lavrado na última página.
FICHA DE ESTOQUE
COOPERATIVA ESCOLAR ........................................................................................................................
Artigo .................................................................................................................
Autor – Fabricante ............................................................................................................
Fornecedor .............................................................................................
Quantidades Preço Unitário
Data
ano
_________
Aquisição
Consignação
Doação
Venda Saldo Custo Venda
TÍTULO NOMINATIVO
COOPERATIVA ESCOLAR ................................................................................
Nome do associado.........................................................................................................
Nacionalidade .................................................................................................................
Idade................................................................................................................................
Residência........................................................................................
Admiso em.......... /.........../ .........
Exclusão em .... / ......... /..........
Demissão
............................., ................. de .................. de 19 .....
................................................. .....................................................
Presidente Associado
.........................................................................................
Diretor Secretario
N.° de Ordem
CONTA DE CAPITAL
.......................
Data
19.......
Débito Cédito
. . . . ......... quotas subscritas . . . . . . .
. . . . 1.ª prestação . . . . . . .
. . . . 2.ª prestação . . . . . . .
. . . . 3.ª prestação . . . . . . .
...... 19..........
.............
maiores e impresso no verso a conta de capital, servirá de FICHA DE MATRICULA
DECRETO MUNICIPAL N.° 2.940
Distrito Federal, 22 de novembro de 1928.
Art. 585 - Como meio educativo do espírito de
cooperação e para auxiliar a aquisição de material di-
dático, será organizada em cada escola primária, por
iniciativa do diretor e sob a sua superintendência, uma
associação cooperativa de consumo, de que farão parte
todos os alunos.
§ único A compra de material para as expo-
sições e para os trabalhos escolares que os alunos de-
vem executar, também poderá ser feita ou auxiliada
por êsse meio, revertendo em favor da cooperativa os
lucros obtidos com a venda dos trabalhos.
Art. 586 — Será móvel o capital da associação e
constituída de ações de pequeno valor.
§ 1.° Será limitado o número da ações de ca-
da sócio.
§ 2.° Ao aluno a quem falta a quantia neces-
ria para adquirir, será doada uma ação.
218 J. MONSERRAT
Art. 587 — A cooperativa manterá para venda, com
abatimento, aos alunos, um pequeno depósito de material
didático, em que poderá empregar até a metade do seu
capital, destinada a outra parte à aquisição de jogos,
brinquedos, material para trabalhos e alimentação.
Art. 588 — A secção da Caixa Escolar subscreverá
30% das ações da cooperativa para aquisição de merenda,
que será vendida aos alunos por preços inferiores aos
correntes e adquirida, de preferência, nas escolas
domésticas e profissionais.
Art. 589 — A cooperativa será administrada por uma
Diretoria, constituída por alunos dos 4° e 5° anos,
escolhidos pelo professôres dentre os mais distintos e
capazes.
§ único — A Diretoria da cooperativa, orientada no seu
trabalho pelos professôres da escola, manterá escrituração
regular e prestará contas de sua gestão aos associados.
DECRETO N° 945
Sôbre cooperativas escolares
O Doutor Nereu Ramos, Interventor Federal no
Estado de Santa Catarina
D E C R E T A :
Art.1° — A organização das cooperativas escolares é
obrigatória nos Institutos de Educação, nos Cursos
Complementares e nos Corpos Escolares, e facultativa nas
Escolas Isoladas.
Art.2° — As cooperativas escolares deverão pedir, por
intermédio do Departamento de Educação, o registro na
Diretoria de Economia e Assistência ao Cooperativismo, a
quem ficarão subordinadas tècnicamente.
§ único — As cooperativas escolares instruirão o
pedido de registro com uma cópia do ato constitutivo, um
exemplar dos estatutos e uma relação dos associados,
documentos êstes, com assinatura de sete ou mais
fundadores e autentificados pelo diretor do estabelecimento
de ensino.
220 J . MONSERRAT
Art. 3°— As cooperativas escolares se regerão pelo
Decreto federal n.° 22.239, de 19 de dezembro de 1932,
revigorado pelo Decreto-lei federal n.° 581, de 1° de agôsto
de 1938.
§ único — Tôda a modificação feita na legislação
federal relativa às cooperativas escolares será, auto-
màticamente incluída nos estatutos dessa associação
escolar.
Art 4.° — Fica aprovado o estatuto anexo ao presente.
Decreto e destinado a regular a organização e
funcionamento das cooperativas escolares.
Palácio do Governo, em Florianópolis, 25 de já-
neiro de 1941.
NEREU RAMOS
IVO d’AQUINO
DECRETO-LEI N.° 12.849
Dispõe, taxativamente, sôbre a
criação de Cooperativas Escolares
nos Estabelecimentos de Ensino,
mantidos pelo Estado, e dá outras
providências.
O Interventor Federal no Estado da Bahia, na
conformidade do disposto no art. 6°, n.° IV, do Decreto-lei
n° 1.202, de 8 de abril de 1939
D E C R E T A :
Art. 1.° — É obrigatório nos Estabelecimentos Oficiais
de Ensino, mantidos pelo Estado, a organização de
Cooperativas Escolares.
Art. 2.°— As Cooperativas Escolares, que ficarão do
ponto-de-vista técnico, subordinadas ao “Departamento de
Assistência ao Cooperativismo”, da Secretaria da
Agricultura, Indústria e Comércio do Estado, requererão o
seu respectivo registro no referido Departamento, por
intermédio da Diretoria Geral do Departamento de
Educação.
§ único — As Cooperativas Escolares instruirão os
seus requerimentos de registro, com uma cópia do ato
constitutivo, e uma relação dos associados, docu-
222 J. MONSERRAT
mentos êstes, habilitados com as assinaturas de, pelo
menos, sete dos fundadores, autenticados pelo diretor do
respectivo estabelecimento de ensino.
Art. 3.° — As Cooperativas Escolares reger-se-ão
pelo Decreto Federal nº 22.239, de 19 de dezembro de
1932, revigorado pelo Decreto-lei n581, de 1.° de agôsto
de 1938.
§ único — Tôda e qualquer modificação feita na
legislação federal e relativas às Cooperativas Escolares,
será automàticamente incluída nos estatutos dessa
associação escolar.
Art. 4.° — Dentro do prazo de trinta dias, após a
publicação dêste Decreto-lei, serão adaptadas ao regime
cooperativista as Caixas Escolares, por ventura criadas e em
função em qualquer das escolas sujeitas aos efeito dêste
Decreto.
Art. 5.° — No mesmo prazo acima prescrito, o
Govêrno aprovará os Estatutos reguladores da organização
e funcionamento das Cooperativas Escolares.
Art. 6.° — O presente Decreto entrará em vigor na
data da publicação dos aludidos Estatutos,
Art. 7.° —Revogam-se as disposições em contrário.
Palácio do Govêrno o Estado da Bahia, 4 de
agôsto de 1943.
RENATO ALEIXO
Interventor Federal
ARISTIDES NOVIS
Secretário de Educação e Saúde
DECRETO SOBRE A ORGANIZAÇÃO DE COOPE-
RATIVAS ESCOLARES NO ESTADO DO PARÁ
O Interventor Federal, usando das atribuições que lhe
confere o art. 6°, item V, do Decreto-lei n° 1. 202, de 8 de
abril de 1939, combinado com o art. 2. ° do Decreto-lei n°
8.219, de 26 de novembro de 1945:
Considerando que o cooperativismo escolar é um
dêsses processos normais de formação, na escola renovada,
segundo o método experimental e o espírito de finalidade
social;
Considerando que as cooperativas escolares são
dinâmicas e estimuladoras das energias morais, de-
senvolvendo em todos os alunos cooperados não sòmente o
senso de responsabilidade individual, como também o
sentido de uma solidariedade social que amanhã êles
compreenderão na vida prática;
Considerando que o ensino do cooperativismo já é
doutrina obrigatória nos cursos das escolas elementares e
secundárias de alguns países, também adotado em vários
Estados da União,
224 J. MONSERRAT
D E C R E T A :
Art. 1.° — Ficam autorizados os diretores dos
stabelecimentos de ensino primário mantidos pelo Estado a
rganizar cooperativas escolares nestes estabelecimentos.
Art. 2.° As cooperativas escolares que ficarem
do ponto-de-vista técnico dependentes do Serviço
de Assistência ao Cooperativismo
,
requererão o seu res-
pectivo registro no Serviço de Economia Rural, por
intermédio do S.A.C.
§ único — As cooperativas instruirão os seus
equerimentos de registro com uma cópia do ato constitutivo
uma relação dos associados, documentos êstes habilitados
om as assinaturas de, pelo menos, sete dos seus fundadores,
utenticada pela diretoria do respectivo estabelecimento de
nsino.
Art. 3.° — As cooperativas escolares reger-se-ão pelo
Decreto federal n.º 8.401, de 19 de dezembro de 1945, que
evigorou o Decreto-lei n
º
581, de 1.° de agôsto de 1938 e a
ei n.° 22.239, de 19 de dezembro de1933, que dispões sôbre
organização, funcionamento e fiscalização das sociedades
ooperativas no território nacional.
§ único — Tôda e qualquer modificação feita na
egislação federal e relativa às cooperativa escolares será
utomàticamente incluída nos estatutos dessas associações
scolares.
Art. 4.° — Dentro do prazo de 30 dias, após a
ublicação dêste Decreto-lei, serão adaptadas ao regime
ooperativista as caixas escolares porventura cria-
COOPERATIVAS ESCOLARES 225
das e em função em qualquer das escolas sujeitas aos
efeitos dêste Decreto.
Art. 5° — Os serviços prestados pela professôra
orientadora da cooperativa serão considerados de uti-
lidade pública e, como tal, justo título de preferência
para respectiva promoção, sem prejuízo do que, a
respeito estatui o Regulamento de Ensino Primário,
baixado com o Decreto 22, de 5 de fevereiro de
1944.
Art. 6° — O Governo aprovará os Estatutos re-
guladores de organização e funcionamento das cooperativas
escolares.
BIBLIOGRAFIA
Amaral, Luiz
Historia Geral da Agricultura Brasileira, 1.° vol. — C.
E.N. — São Paulo, 1930.
Tratado Brasileiro do Cooperativismo — Imprensa Grá-
fica da “Revista dos Tribunais” — São Paulo, 1938.
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F., 1940.
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nomica — México, D.F., 1941.
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Tratado de la Cooperación Imprensa Gadola Bue-
nos Aires, 1927.
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Les Cooperativos Scolaires Revue dos Etudes Coo-
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Les Coopératives Scolaires Revue des Etudes Coo-
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Historia de los Pioneiros de Rochdale Libreria y
Editorial de la F.A.C.C, — Buenos Aires, 1944.
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A Escola Nova Cia. Melhoramentos de São Paulo
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Teoria e Prática das Sociedades Cooperativas, 3.ª edição
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Historia de las Doctrinas Cooperativas Editorial
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La Republica Cooperativa — Editorial Cervantes —
Barcelona, 1921.
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La Cooperación Escolar — Editorial Losada S. A. —
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Instituições Escolares — Gaspar Silva & Cia., editor
— Rio, 1936.
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Lecciones sobre Cooperación — Libreria y Editorial de
la F.A.C.C. — Buenos Aires, 1944.
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La Cooperación — Editorial Optima — Bogotá, 1941.
Rude, Adolpho
La Escuela Nueva y sus Procedimientos Didácticos —
Editorial Labor S.A., 4ª edición — Buenos Aires, 1939.
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— Cooperativas, Talleres, Huertas y Granjas Escolares —
Editorial Atlante S.A. — México, 1940.
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Democracia Econômica — C.E.N. — São Paulo 1942.
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— Diretrizes Cooperativistas — Editôra Brasiliense Limi-
tada — São Paulo, 1946.
Werbasse, J. P.
— Democracia Cooperativa — Editorial Atalaia
Buenos Aires, 1945,
Í N D I C E
Págs.
Apresentação ..................................................................... 9
COOPERATIVISMO
Prólogo .................................................................................. 15
A Gênese do Movimento .................................................. 17
Fatos Decisivos ................................................................ 25
As Idéias, os Fracassos e as Contribuições dos Utopistas 31
Roberto Owen …........................................................… 33
— Charles Fourier …...................................................... 36
— William King ........................................................ 38
— Louis Blanc .............................................................. 39
Rochdale e a Estruturação do Movimento Cooperativo
— Os Pioneiros ........................................................... 48
A A.C.I. ............................................................... 47
Princípios Fundamentais do Movimento Cooperativismo 51
Conceito e Difinição ........................................................... 57
A Natureza Civil ou Mercantil da Sociedade Cooperativa 61
Ensaio Estastico Internacional ........................................ 68
Movimento Cooperativo no Mundo
Movimento Cooperativo no Brasil
Movimento Cooperativo no Rio Grande do Sul
Resumo do Movimento Cooperativo no Rio Grande do
Sul no qüinqüênio. 1943/47
COOPERATIVAS ESCOLARES
PRIMEIRA PARTE
Págs
A Cooperativa Escolar como Instrumento de Educação.............. 73
Origem, Formação e Desenvolvimento das Cooperativas
Escolares e sua Vinculação à Escola Moderna ........................... 83
O Cooperativismo Escolar no Brasil ............................................. 95
Distrito Federal ................................................................... 97
São Paulo ............................................................................ 98
— Pernambuco ......................................................................... 99
— Paraíba ............................................................................... 103
— Ceará ................................................................................. 104
Santa Catarina ................................................................... 105
Rio Grande do Norte ......................................................... 106
— Bahia ................................................................................ 107
Cooperativismo Escolar no Rio Grande do Sul ........................ 113
Instituições Culturais ............................................................ 129
Cooperativa de Ensino “Instituto Dr.Jorge Salis Goulart” ...... 131
O Ensino e os Ferroviários ................................................... 137
Centro de Estudos Cooperativos .......................................... 145
Mensagem do C.E.C ............................................................ 149
SEGUNDA PARTE
Problemas Orgânicos das Cooperativas Escolares ............... 153
— Resistência ....................................................................... 154
— Institucional ..................................................................... 161
— Econômico ........................................................................ 177
A Guisa de um plano ........................................................... 179
A P Ê N D I C E
Plano de Organização da Cooperativa Escolar do Instituto
de Educação – Prof Elfa Freda ............................. 189
Modêlo de Ata de Constituição .......................................... 195
Projeto de Estatutos para uma Cooperativa Escolar ......... 199
Modêlo de uma Lista Nominativa
Modêlo de Têrmos de Abertura e Encerramento
Modêlo de Fichas de Estoque
Modêlo de Título Nominativo e Ficha de Matrícula
Legislação supletiva:
Distrito Federal .......................................................... 217
— Santa Catarina ..................................................... 219
— Bahia ............................................................................... 221
— Pará ............................................................................. 223
Bibliografia ................................................................... 226
Índice .................................................................................. 229
Livros Grátis
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