A CIVILIZAÇÃO FLUMINENSE
fora assentado no diploma de Tordezilhas. A baixada, em consequência,
é esse início significativo que se consolida na montagem dos engenhos
da baia e dos pontos de pesca. O Rio de Janeiro está, então, na linha
dessa empresa política, econômica e, por que não concluir, também social,
porque desde logo principiara a elaboração de sociedade mestiça, soli-
dária, de que Araribóia seria o elemento graduado a dar-lhe garantia
e eficiência. Com o Rio de Janeiro, Cabo Frio, São Lourenço, Angra
dos Reis, Mangaratiba, Parati, Maricá, Saquarema, Araruama, São Pedro
da Aldeia, Barra do São João, Macaé, São João da Barra, toda essa
vasta linha de centros urbanos, que assinalam presença humana de tipo
ocidental, importando, igualmente, em exercício de soberania.
O caminho da serra começou em 1565, com Magé, seguido por
Meriti, Inhomirim, Iguaçu, Macacu. Campos dos Goitacazes prende-se
à experiência da Capitania de Paraíba do Sul. O caminho da Paulicéia,
marca-o Paraíba do Sul, Campo Alegre (Resende), São João do Prín-
cipe (São João Marcos). O caminho das Minas tem em Vassouras
e Cantagalo seus núcleos mais importantes. A rede urbana, significando,
do litoral às fronteiras com as Minas e com a Paulicéia dos bandeirantes,
significando, insisto, a presença da sociedade que enfrentava a natureza
e a estava dominando, importava também no sucesso de uma política
que estava criando área humanizada, essencial à conquista do hinterland
da colônia. O litoral estava possuído efetivamente. As várias incur-
sões de franceses haviam sido contidas. O litoral era a porta de entrada
para o Oeste. Os outros núcleos, aqueles já erigidos no primeiro sertão,
completavam a linha de frente que ia dar segurança à penetração, à
expansão, ao ato dramático e admirável da formação da nossa base física.
Entendo que os núcleos fluminenses, e aqui fica uma tese proposta
aos historiadores fluminenses, têm, assim, uma participação de alto sen-
tido no episódio da criação de nossa base física, o continente Brasil.
Porque, insisto, se a «raça de gigantes», de S. Paulo, realizou a façanha
da penetração do Oeste, a segurança desse Oeste processou-se pela
existência dos núcleos fluminenses, de que o Rio de Janeiro era parte
integrante. O caminho velho, para S. Paulo, fora sucedido pelo Ca-
minho Novo, para o acesso às minas, que do litoral fluminense recebiam
o essencial — braços, alimentos, e por onde se comunicavam com mer-
cados de consumo. O açúcar, o anil, o tabaco e os gêneros alimentícios
compunham o fundamental em termos de economia. Havia, porém, co-
mércio intenso ao longo dos dois caminhos, o que valia para a perma-
nência da ocupação, um tanto indisciplinada e sem a continuidade de-
sejável .
A conquista partiu, portanto, do litoral. Com a decadência das
Minas, no entanto, abrira-se nova' diretiva — é que delas, os que lhe
fugiam à decadência, atingiram o vale do Paraíba do Sul, iniciando-lhe
a colonização. Os centros urbanos, cumprindo, com os engenhos, pontos
de referência ponderável para caracterizar o processo de formação flu-