E, à noite, a lamparina-esmalte com azeite ! Sem uma
voz que vá ao pé da tua loisa, Ansiosa, perguntar se
queres alguma coisa, Cobrir-te, dar-te as boas noites
... Sem ninguém ! Ai de ti ! ai de ti ! minha segunda
Mãe !
Dobra em meu coração o sino da Saudade.
Aqui, no meio desta fria soledade,
Evoco a Coimbra triste, em seu aspecto moiro :
Entro, chapéu na mão, em tua Casa de Oiro,
Em frente a um canavial, cheio de rouxinóis,
Que era nervoso de mistério, ao pôr-dos-sóis,
Vejo o teu Lar e a ti, tão pura, tão singela,
E vejo-te a sorrir, e vejo-te à janela,
Quando eu seguia para as aulas, manhã cedo,
Ansiosa, olhando dentre as folhas do arvoredo,
Olhando sempre até eu me sumir, a olhar,
Que às vezes não me fosse um carro atropelar.
Vejo o meu quarto de dormir, todo caiado,
Donde ouvia arrulhar as pombas no telhado ;
Oiço o relógio a dar as horas vagamente,
Devagar, devagar, como os ais dum doente ;
Vejo-te à noite, pelas noites de Janeiro,
Na sala a trabalhar, à luz do candeeiro,
Mais vejo o Emílio, indo a tactear, quase sem vista,
Mas que lembrava com seus olhos de ametista,
Meio cerrados, como ao sol uma janela,
Que lindos olhos ! uma pomba de Ramela!
E andava à solta pela casa, não fugia,
Que aos livres ares o casulo preferia.