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Presidente da República Federativa do Brasil
Fernando Henrique Cardoso
Ministro da Educação e do Desporto
Paulo Renato Souza
Secretário Executivo
Luciano Oliva Patrício
Secretária de Educação Especial
Marilene Ribeiro dos Santos
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Educação Especial
Deficiência Mental
SÉRIE
ATUALIDADES PEDAGÓGICAS
3
Ministerio da Educação e do Desporto
Esplanada dos Ministérios, Bloco L, 6° andar, sala 600
CEP 70047-901 - Brasília - DF
Fone: (061) 214-8651 - 226-8672
Fax(061) 321-9398
B823d Brasil. Secretaria de Educação Especial
Deficiência mental / organizado por Erenice
Natalia Soares Carvalho. - Brasília : SEESP, 1997
150 p. - (série Atualidades Pedagógicas; n. 3)
1. Deficiência mental
CDU 376.4
Série Atualidades Pedagógicas - n.3
Esta publicação foi realizada dentro do acordo
MEC/UNESCO
APRESENTAÇÃO
O Ministério da Educação e do Desporto lançou em 1995 a TV
Escola, um canal exclusivo, via satélite, para promover a
capacitação e atualização permanente dos professores.
No ano de 1997, a Secretaria de Educação Especial organizou,
entre outras, uma série composta de sete fascículos sobre
"Educação Especial - Deficiência Mental" para serem veiculados
no referido canal. Por entender essa série como um recurso valioso
na instrumentalização de professores para atuar com alunos
portadores de deficiência mental, a Secretaria de Educação Espe-
cial resolveu editar o material sob forma de livro.
Espera-se que este material possa fornecer subsídios aos
educadores que se dedicam ao trabalho com alunos portadores de
deficiência mental, transmitindo informações sobre as necessidades
especiais na educação desses alunos, bem como sobre os avaços
quanto à concepção da deficiência mental e às novas formas de
abordar a educação e a integração escolar e social deste alunado.
Marilene Ribeiro dos Santos
Secretária de Educação Especial
SUMÁRIO
FASCÍCULO 1 -A concepção de deficiência
A deficiência na humanidade 12
A concepção atual de deficiência 19
FASCÍCULO 2 - Deficiência mental
Conceito de deficiência mental 27
Incidência e diagnóstico 31
Prevenção 34
Questões educacionais e de cidadania 35
Anexos 45
FASCÍCULO 3 - O bebê com deficiência mental
•Aspectos de desenvolvimento 58
•Abordagem educacional - programa de estimula-
ção precoce 61
Serviços comunitários 65
•Trabalho interdisciplinar 66
FASCÍCULO 4 - Crianças de quatro a seis anos com deficiência mental
Aspectos de desenvolvimento 73
Educação infantil de quatro a seis anos 77
•Adaptações curriculares 78
•Questões de segregação/integração por meio
de modelo de atendimento 80
Serviços comunitários 81
Possibilidades de trabalho interdisciplinar 81
FASCÍCULO 5 - A criança de sete a onze anos com deficiência
mental
Aspectos de desenvolvimento 89
Educação escolar e questões de segregação/inte-
gração por meio de modelos de atendimento 92
•Adaptações curriculares 97
Serviços comunitários 98
Possibilidade de trabalho interdisciplinar 99
FASCÍCULO 6 - O adolescente com deficiência mental
Aspectos de desenvolvimento 107
Educação para o trabalho 115
•Segregação e integração pelos modelos de atendi-
mento 118
Adaptações curriculares 119
Serviços comunitários 121
Possibilidade de trabalho interdisciplinar 121
FASCÍCULO 7 - Adulto com deficiência mental
•Aspectos de desenvolvimento 129
Inserção no mercado de trabalho 138
•Constituição de família 142
•Segregação e integração pelos modelos de atendi-
mento 144
FASCÍCULO 1
A CONCEPÇÃO DE DEFICIÊNCIA
CURSO
Por que preparar professores para o atendimento educacional às
pessoas com deficiência mental?
Espera-se do educador, de um modo geral, que tenha os conheci-
mentos adequados sobre o que pretende ensinar, as habilidades neces-
sárias à organização e à transmissão do saber escolar aos seus alunos,
o conhecimento das metas educacionais, das relações estabelecidas no
âmbito da escola e a consciência das relações entre a escola e a socie-
dade.
Ao educador que se dedica ao trabalho com alunos portadores de
deficiência mental alguns requisitoso acrescentados: que conheça as
particularidades da educação desses alunos, suas potencialidades e ne-
cessidades especiais, bem como os avanços quanto à concepção da
deficiência mental e às novas formas de abordar a educação e a integração
escolar e social de seus portadores.
Esse curso tem a finalidade de contribuir para a preparação desse pro-
fessor, ressaltando, evidentemente, a Importância de suas características
pessoais de flexibilidade, comprometimento e criatividade, dentre outras,
que, associadas à competência técnica, estarão lhe capacitando para um
efetivo exercício profissional.
Como essa preparação será feita?
A preparação realizar-se-á por meio de uma série de sete programas
com informações mais detalhadas para que o professor possa aprofundar e
refletir sobre a temática da deficiência mental.
O conteúdo está organizado em sete fascículos que abordam os se-
guintes temas:
Fascículo 1
A concepção de deficiência
- A deficiência na humanidade
- A concepção atual de deficiência
Fascículo 2
Deficiência mental
- Conceito de deficiência mental
- Incidência e diagnóstico
- Prevenção
- Questões educacionais e de cidadania
- Anexos
Fascículo 3
O bebê com deficiência mental
- Aspectos de desenvolvimento
- Abordagem educacional - programa de estimulação precoce
- Serviços comunitários
- Trabalho interdisciplinar
Fascículo 4
Crianças de quatro a seis anos com deficiência mental
- Aspectos de desenvolvimento
- Educação infantil de quatro a seis anos
- Adaptações curriculares
- Questões de segregação/integração por meio de modelo de atendimento
- Serviços comunitários
- Possibilidade de trabalho interdisciplinar
Fascículo 5
A criança de sete a onze anos com deficiência mental
- Aspectos de desenvolvimento
- Educação escolar e questões de segregação/integração por meio de mo-
delos de atendimento
- Adaptações curriculares
- Serviços comunitários
- Possibilidade de trabalho interdisciplinar
Fascículo 6
O adolescente com deficiência mental
- Aspectos de desenvolvimento
- Educação para o trabalho
- Segregação e integração pelos modelos de atendimento
- Adaptações curriculares
- Serviços comunitários
- Possibilidade de trabalho interdisciplinar
Fascículo 7
Adulto com deficiência mental
- Aspectos de desenvolvimento
- Inserção no mercado de trabalho
- Constituição de família
- Segregação e integração pelos modelos de atendimento
FASCÍCULO 1
FASCÍCULO 1
OBJETIVOS
Este é o primeiro fascículo da Série Educação Especial e tem por
objetivo Instrumentalizar o professor para atuar com alunos portadores
de deficiência mental.
O fascículo visa a fornecer subsídios para que esses professores
alcancem os seguintes objetivos:
- entender a evolução do conceito de deficiência;
- identificar as raízes históricas das atuais atitudes sociais de discri-
minação e preconceito;
- analisar os antecedentes históricos das posturas segrega-
cionistas atualmente observadas pela comunidade escolar quanto à
educação da pessoa portadora de deficiência.
A deficiência na humanidade
Quando uma criança nasce com uma deficiência começa para ela e sua
família uma longa história de dificuldades.
o é apenas a deficiência que torna difícil a sua existência, mas a atitu-
de das pessoas e da sociedade diante de sua condição.
As seguintes indagações surgem naturalmente:
Como ser diferente numa sociedade altamente padronizada, que reco-
nhece as diferenças entre as pessoas, mas tem para todas elas uma expecta-
tiva de desempenho queo admite limitações ?
Como lidar com as atitudes sociais que adotam formas de classificação
para distinguir e separar as pessoas, categorizando-as entre duas posições
opostas - fortes e fracos, competentes e incompetentes, rápidos e len-
tos ou capazes e incapazes?
o perguntas complexas para serem respondidas e situações di-
FASCÍCULO 1
ficéis de vivenciar por parte das pessoas com deficiência e de suas famílias,
uma vez que a sociedade fundamentada nessas classificações exclui as pes-
soas e restringe as suas oportunidades na vida.
Ser portador de deficiência nunca foi fácil, nem "aceitável", com base
nos padrões de normalidade estabelecidos pelo contexto sociocultural.
Desde a Antigüidade até os nossos dias, as sociedades demonstram di-
ficuldade em lidar com as diferenças entre as pessoas e de aceitar as que
o portadoras de deficiência.
A humanidade tem toda uma história para comprovar como os cami-
nhos das pessoas com deficiênciam sido permeados de obstáculos, ris-
cos e limitações. Como tem sido difícil a sua sobrevivência, desenvolvimen-
to e convivência social.
Pessoas nascem com deficiência(s) em todas as culturas, etnias e-
veis socioeconómicos e sociais.
Em todos os tempos e épocas, sabe-se que pessoas nascem ou tornam-
se portadoras de deficiência: cegas, surdas, com limitações intelectuais ou
físicas, etc.
A forma de conceber a deficiência socialmente e de lidar com os seus
portadoresm variado ao longo dos séculos, bem como o seu atendimento.
As deficiênciasoo fenômenos dos nossos dias. Sempre existiram
e existirão.
Atualmente, os preconceitos ainda existem em diferentes graus, os mi-
toso perpetuados, as contradições conceituais prevalecem, assim como
as atitudes ambivalentes, as resistências, a inaceitação e as diversas formas
de discriminação.
o que seja um sinal dos tempos modernos, nem dos avanços do co-
nhecimento contemporâneo, nem da evolução dos costumes ou dos valores
essências do homem. Ao contrário,m raízes históricas e culturais. As
atuais posturas discriminativas fortaleceram-se no tempo, no equívoco com-
partilhado e transmitido culturalmente.
FASCÍCULO 1 -
As pessoas com deficiênciao tratadas com discriminação e preconcei-
to em nossos dias, em quase todas as culturas.
Os registros históricos comprovam que vem de longo tempo a resistência
para a aceitação social das pessoas com deficiência e demonstram como as
suas vidas eram ameaçadas.
Os dados históricos a seguir, compilados de Misés ( 1977 )
1
revelam essa
evidência:
Entre os romanos, no início da era cristã, os preceitos de Seneca (filósofo
e poeta romano nascido em 4 a. C. ) assim estabeleciam:
"Nós matamos os cães danados, os touros ferozes e indomáveis, de-
golamos as ovelhas doentes com medo que infectem o rebanho, asfixia-
mos os recém-nascidos mal constituídos; mesmo as crianças, se forem
débeis ou anormais, nós a afogamos: não se trata de ódio, mas da razão
que nos convida a separar das partes sãs aquelas que podem corrompê-
las. " (Sobre a Ira, I, XV)
As pessoas com deficiência eram vistas dessa forma e a ignorância cultu-
ral prevalecente gerava contra elas condutas hoje consideradas crimino-
sas contra elas.
Na Grécia antiga, onde a perfeição do corpo era cultuada, os portadores
de deficiência eram sacrificados ou escondidos, como relata o texto de Platão:
"Quanto aos filhos de sujeitos sem valore aos que foram mal constitu-
ídos de nascença, as autoridades os esconderão, como convém, num lu-
gar secreto que não deve ser divulgado. " (A República)
Por outro lado, entre os romanos e gregos antigos, havia divergências e
ambivalencias quanto às maneiras de ver e considerar os portadores de defi-
' 0 autor realiza um levantamento histórico detalhado da concepção da deficiência mental desde a
Antigüidade.
ciência. Enquanto em alguns lugares de Roma elas podiam ser mortas, em
outros eram submetidas a um processo de "purificação", para livrá-las dos
seus maus desígnios.
Na Idade Média os portadores de deficiência, os loucos, os crimi-
nosos e os considerados "possuídos pelo demônio" faziam parte de
uma mesma categoria: a dos excluídos. Deviam ser afastados do conví-
vio social ou, mesmo, sacrificados.
É importante lembrar, entretanto, que a Idade Média se estendeu por um
longo período da história da humanidade, marcado por diversos sentimen-
tos frente aos portadores de deficiência: rejeição, piedade, proteção e, até
mesmo, supervalorização. Esses sentimentos e atitudes eram radicais,
ambivalentes, marcados pela dúvida, ignorância, religiosidade e se ca-
racterizavam por uma mistura de culpa, piedade e reparação.
De um modo geral, as atitudes sociais se fazem acompanhar de
providências de ações e de cuidados.
Em razão dos sentimentos e conhecimentos de cada época da His-
tória, as pessoas portadoras de deficiência eram tratadas de uma ou de
outra maneira: abandonadas em locais de isolamento, prisões, ambi-
entes de proteção, hospitais, sendo todos esses atos justificados na
cultura local e no momento histórico.
Sabemos que a humanidade transmite o seu legado para as gerações
que se sucedem.
As convicções mudam, os conhecimentos se multiplicam e passam a
explicar de formas diferentes os diversos fenômenos.
Sobre a concepção de deficiência a História revela igual trajetória.
Santo Agostinho ( 354 - 430 d. C) atribuía à deficiência mental a culpa,
punição e expiação dos antepassados pelos pecados cometidos. A respeito
as crianças com deficiência, expressava:
"São às vezes tão repelentes que não têm mais espírito do que o
gado. " (Contra Julianum Pelagionum)
o Tomás de Aquino, seis séculos mais tarde, propõe outra explicação
para a deficiência:
FASCÍCULO 1
"... é uma espécie de demência natural, não é absolutamente um
pecado. "
Mesmos os doutores da Igreja tinham um entendimento contraditó-
rio e minimizado das pessoas com deficiência.
Temos talado até aqui, professor, em contradições entre os povos, entre
os pensadores e lembramos que a Idade Média cobre uma longa extensão
de anos. 0 seu período é compreendido, por consenso dos historiadores,
entre os anos de 476 (Queda do Império Romano do Ocidente) e 1453 (Que-
da do Império Romano do Oriente).
O período é longo e estamos nos referindo a locais e culturas variadas.
o diferentes, portanto, as diversas posições predominantes.
Em algumas culturas e épocas, os portadores de deficiência chegaram a
gozar de certos privilégios. Um exemplo dessa natureza durante a Idade Média
pôde ser visto na Inglaterra no século XIII, onde os portadores de deficiência
mental eram protegidos por lei, tendo direito a um tutor e a um curador para
cuidar dos seus bens, chegando mesmo a gozar da tutela do próprio rei. A
França, também, adotou essa prática por orientação do rei Felipe, o Belo.
Esse período exemplifica, ainda, algumas manifestações de valorização
dos portadores de deficiência. Em algumas localidades, eram considerados
possuidores de poderes sobrenaturais e protegidos pela comunidade.
A Idade Média reproduziu as mesmas contradições observadas na Anti-
güidade a respeito das deficiências.
Havia uma posição ambígua: por um lado, marca da punição divina, a
expiação dos pecados; por outro lado, a expressão do poder sobrenatural, o
privilégio de ter acesso às verdades inatingíveis para a maioria.
Recordando:
Do que foi relatado depreende-se que na Antigüidade e no período co-
nhecido como Idade Média, os portadores de deficiência eram vistos de
formas antagônicas:
FASCÍCULO 1
FASCÍCULO 1
- sacrificados, como um mal a ser evitado;
- privilegiados, como detentores de poderes;
- perseguidos e evitados, como possuídos pelo demonio ou por repre-
sentantes do mal;
- protegidos e isolados, como insanos e indefesos;
- lamentados, como reparadores de pecados cometidos contra Deus.
Todas essas formas de conceber e explicar a existencia dos portadores
de deficiência retratam como as diversas culturas, ao longo dos séculos,
m dificuldades de compreender as diferenças entre as pessoas e de lidar
com elas.
Mas, a história continua...
A fase do Renascimento, que sucedeu à Idade Média, trouxe mais pers-
pectivas humanísticas.
O portador de deficiência passou a ser visto de uma maneira mais natu-
ral, emborao mais aceitável. Ficou reconhecida a sua condição humana -
menos sobrenatural - embora essa visão ainda possa ser observada em nos-
sa época.
A deficiência passou a ser explicada por um prisma de causalidades na-
turais, embora passasse a ter um caráter patológico.o se trata de evolu-
ção, mas, fala-se em etiologias naturais, em visões médicas e concepções
mais racionais.
Esse pensamento permaneceu até ao advento da ciência, no século XVIII.
A concepção de deficiência e de seus portadores permaneceu marcada
por preconceitos, desvalorização e por incapacidade predominante.
A época foi caracterizada pela pergunta: deve-se buscar ajuda para os
seus males físicos e mentais em terapias e medidas educacionais?
As dúvidas fundamentavam-se nas idéias de degenerescencia herdadas
do século XVI, segundo as quais os portadores de deficiência mental eram
herdeiros de insuficiências humanas, como visto no texto de referência:
"Por seus pais, alguns, entre os imbecis, recebem um caráter here-
ditário, e são causas internas que são, então, responsáveis pela imbeci-
FASCÍCULO 1
lidade; daí decorre muitas vezes que, como os homens ativos e inte-
ligentes concebem seres semelhantes a eles, assim também os im-
produtivos concebem crianças de espírito embotado. "
A concepção de doença, de inadequação e insuficiência associada à
deficiência perpassa o século XVII.
A partir do século XVIII as tentativas educacionais se iniciam, quando o
médico Itard procedeu ao atendimento de Vítor, o menino selvagem encon-
trado nas florestas de Aveyron, na França.
Novamente a ambivalência prevalece, a despeito dos avanços científicos
que buscavam um entendimento mais adequado das deficiências.
É inesquecível a atitude dos nazistas que sacrificaram os portadores de
deficiência em razão da possibilidade de gerarem outros em iguais condi-
ções.
0 século XX chegou trazendo toda a herança das crenças, dos mitos,
dos preconceitos, da desvalorização, a despeito da evolução até então
alcançada.
As tendências segragacionistas marcaram o século, como expressam os
textos de referência:
"...esse caráter hereditário da deficiência mental, é preciso
identificá-la e tratá-la. Quanto ao tratamento a ser aplicado, a segrega-
ção em colônia parece, no atual estado dos conhecimentos, um método
ideal e perfeitamente satisfatório. "
No texto de referência, de 1912, é demonstrada com clareza, o teor do
entendimento equivocado e preconceituoso prevalecente no meio culto e
especializado da época:
"Todo deficiente mental e, sobretudo o imbecil leve é um criminoso
em potencial, que não tem necessidade de um meio ambiente favorável
para desenvolvere exprimir suas tendências criminosas... torna-se en-
tão indispensável que essa nação adote leis sociais que assegurem
FASCÍCULO 1
que esses incapazes não propagarão a sua espécie. "
Quando buscamos as raízes da discriminação social que ainda persiste
em nosso meio social e cultural, ela aí está: no passado, na História.
Quando se pensa na deficiência como uma doença, como um estado de
insuficiência humana, uma condição degradante, um mal a ser evitado, de
ondem essas idéias? Do passado!
A concepção atual de deficiência
Que concepção de deficiência prevalece atualmente?
Pode-se considerar que houve certa evolução na forma de se conceber a
deficiência e de se considerar os portadores de deficiência nos dias atuais.
Estamos, entretanto, vivenciando, ainda, uma fase assistencialista. A
pessoa deficiente é vista como aquela que precisa de ajuda e há os que se
dedicam a esse atendimento, conferindo-lhe um caráter muitas vezes carita-
tivo.
Os técnicos, mesmo os especializados,o vistos como beneméritos, e
as pessoas que se dedicam como voluntárias à causa dos portadores de
deficiência, as que criam as instituições e lutam pela sua manutenção, cos-
tumam ser exaltadas pelo seu espírito humanitário.
Pode-se falar em evolução na forma de conceber os portadores de defi-
ciência?
Julgamos que sim, se tomarmos a História como referência.
Que dificuldades ainda persistem?
Dentre os acertos e desacertos, as ambivalencias e contradições que
ainda marcam o comportamento e as atitudes frente à deficiência, alguns
pontoso consensuais:
- as pessoas com deficiência aindao identificadas e socialmente rotu-
ladas;
- tende-se a generalizar as suas limitações e a minimizar os seus
potenciais;
- a deficiência está sempreo presente e enfática para o seu porta-
FASCÍCULO 1
dor e para os que o cercam, que justifica os seus sucessos e fracassos, os
seus atos e realizações.
Mas, aos poucos, estamos evoluindo. A deficiência, por certo, vem per-
dendo a sua natureza maniqueísta, seu caráter de bem ou de mal, de luz ou
de trevas. Começa a ser vista como uma condição humana.
Os documentos de direitos humanos internacionais, os movimentos em
prol das minorias, os discursos ideológicos e políticos, as novas legisla-
ções, todos apontam para uma crescente evolução do conceito de deficiên-
cia e das reais condições de seus portadores como pessoas de direitos, com
necessidades de inserção e de integração social.
Os movimentos internacionais pelos direitos humanos, desenca-deados
desde o início do nosso século,m propiciado, de maneira crescente, uma
visão mais favorável e valorizada das pessoas com deficiência.
Ultimamente, os mitos começam a ser derrubados. Os portadores de
deficiência começam a acreditar mais em si mesmos e a lutar em causa
própria. Do respeito às diferenças passou-se ao direito de tê-las.
Mais importante do que respeitar as diferenças tem sido encontrar as
afinidades e as similaridades entre valores, expectativas, desejos, gostos e
convicções - tambémo comuns entre os seres humanos...
FASCÍCULO 1
VERIFICANDO SUA APRENDIZAGEM
Após leitura cuidadosa do texto, responda às seguintes questões, de
modo a verificar o seu entendimento do conteúdo do Fascículo.
1. Assinalar com um (V) as afirmativas verdadeiras e com (F) as fal-
sas:
a. ( ) desde a Antigüidade as pessoas com deficiênciao tratadas com
discriminação pela sociedade em que vivem;
b. ( ) em países desenvolvidos, as deficiênciaso ocorrem porque
esses países dispõem de recursos financeiros que impedem o seu apareci-
mento;
c. ( ) os preconceitos seculares que cercam as deficiências estão na
base das atuais atitudes de discriminação e desvalorização das pessoas com
deficiência;
d. ( ) os avanços tecnológicos atuaiso suficientes para acabar com
os preconceitos;
e. ( ) só o aprimoramento cultural pode minimizar preconceitos e dis-
criminações;
f. ( ) antigamente, a sociedade era mais receptiva às pessoas com de-
ficiência, em comparação com os tempos atuais;
g. ( ) todos os doutores da Igreja reconheciam o valor e os direitos
das pessoas com deficiência, antes e durante a Idade Média;
h. ( ) atualmente, os mitos sobre as pessoas com deficiência estão sen-
do derrubados, dando lugar a uma atitude de reconhecimento do direito des-
sas pessoas, e à necessidade de sua integração social.
2. Completar as lacunas selecionando as palavras dispostas dentro
dos parênteses que tornam as sentenças verdadeiras:
(doença - privilégios - exterminados - humanísticas - contraditó-
rios - segregados - bem - mal - integração)
FASCÍCULO 1
a. A Idade Média, por ser um período muito extenso, caracterizou-se por
atitudes e posturas com re-
lação às pessoas portadoras de deficiência;
b. Em certos locais e épocas da Idade Média as pessoas com defici-
ência podiam ter e em outros serem
c. 0 Renascimento trouxe atitudes mais
para com as pessoas portadoras de deficiência.
d. No período do advento da ciência, a deficiência passou a ser vista
como uma e,o mais como um fenômeno so-
brenatural.
e. No início do século, as pessoas com deficiência eram considera-
das enfermas ou portadoras de um mal degenerativo, devendo ser
em ambientes próprios e reserva-
dos para o seu atendimento.
f. Atualmente, as sociedades estão evoluindo nas atitudes frente às
pessoas com deficiência, deixando de ver a condição dessas pessoas
por um prisma de ou de
g. A das pessoas com deficiência à so-
ciedade está muito preconizada em nossos dias.
Conferindo suas respostas
Agora verifique se as suas respostas estão de acordo com os con-
teúdos do Fascículo:
1- questão:
a.
V
FASCÍCULO 1
b. F
c. V
d. F
e. V
f. F
g. F
h. V
2- questão:
a. contraditórias
b. privilégios - exterminadas
c. Humanísticas
d. doença
e. segregadas
f. bem - mal ( ou mal - bem )
g. integração
FASCÍCULO 1
BIBLIOGRAFIA
AMARAL, L.A. Pensara diferença/deficiência. Brasília: CORDE, 1994.
DUNN, LM. Crianças excepcionais - seus problemas, sua educa-
ção. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1975. 2 vol.
FERREIRA, J.R. A exclusão da diferença: a educação do portador de
deficiência. Piracicaba: Unimep, 1994.
GIBELLO, B. A criança com distúrbios de inteligência. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1986.
GLAT, R. Somos iguais a você - depoimentos de mulheres com deficiên-
cia mental. Rio de Janeiro: Agir, 1989.
KIRK, S. A. & GALLAGHER, J. Educação da criança excepcional.o
Paulo: Livraria Martins Fontes Ed., 1987.
LANG, J.-L. A infância inadaptada. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
LUCKASSON, R.A. Mental retardation: definition, classification and
systems of support. Washington: American Association on Mental
Retardation, 1992.
MISÉS, R. A criança deficiente mental - uma abordagem dinâmica. Rio
de Janeiro: Zahar, 1977.
FASCÍCULO 2
DEFICIÊNCIA MENTAL
FASCÍCULO 2
OBJETIVOS
Este é o segundo fascículo da série Educação Especial e tem por objetivo
instrumentalizar o professor para atuar com alunos portadores de deficiên-
cia mental.
0 fascículo visa a fornecer subsídios para que esses professores alcan-
cem os seguintes objetivos:
- compreender conceito de deficiência mental atualmente adotado;
- conhecer as etiologias mais freqüentemente associadas e sua pre-
venção;
- identificar questões educacionais relevantes na área.
Conceito de deficiência mental
A definição de deficiência mental atualmente adotada foi proposta pela
Associação Americana de Retardo Mental - AAMR em 1992, sendo aceita
internacionalmente e preconizada nos textos e documentos ofi-
ciais em nosso país.
A deficiência mental é definida na Política Nacional de Educação Especial
do MEC como:
"funcionamento intelectual geral significativamente abaixo da mé-
dia, oriundo do período de desenvolvimento, concomitante com limita-
ções associadas a duas ou mais áreas da conduta adaptativa ou da capa-
cidade do indivíduo em responder adequadamente às demandas da soci-
edade, nos seguintes aspectos: comunicação, cuidados pessoais, habi-
lidades sociais, desempenho na família e comunidade, independência
na locomoção, saúde e segurança, desempenho escolar, lazer e traba-
lho."
1
(p.15)
1
A Secretaria de Educação Especial do MEC adota essa definição para efeito de diagnóstico e carac-
terização dos portadores de deficiência mental, conforme consta na sua Politica de Educação
Especial, publicada em 1994 e,nos Subsídios para organização e funcionamento de servi-
ços de educação especial - Área de deficiência mental, 1995.
FASCÍCULO 2
Para melhor compreensão do conceito, passaremos a explicar mais
detalhadamente os seus pressupostos, a partir de cada aspecto men-
cionado na definição:
- "funcionamento intelectual geral significativamente abaixo da média"
Considera-se nesse aspecto que as pessoas diagnosticadas como
portadoras de deficiência mental deverão apresentar resultados de Ql
iguais ou inferiores a 70 - 75 pontos em testes psicométricos de inteli-
gência, validados e normatizados, tendo sido aplicados em condições
adequadas por profissionais competentes.
Tais resultados devem, ainda, levar em conta as diferenças culturais,
sociais, lingüísticas, familiares e educacionais e considerar as alterações
motoras, sensoriais e emocionais da pessoa avaliada.
De acordo com a definição, entretanto, o índice do Ql, exclusivamente,
o constitui condição suficiente para diagnosticar uma pessoa como porta-
dora de deficiência mental, uma vez que outros aspectos devem ser conside-
rados;
- "oriundo do período de desenvolvimento"
Para que se considere uma pessoa como portadora de deficiência men-
tal, a idade de início da deficiência deverá situar-se antes dos dezoito anos
de idade, ou seja, aparecer durante o curso de seu desenvolvimento. Essa
idade limite está convencionada consensualmente na proposta da AAMR;
- "concomitante com limitações associadas a duas ou mais áreas da
conduta adaptativa ou da capacidade do indivíduo em responder adequada-
mente às demandas da sociedade nos seguintes aspectos... "
A definição da AAMR enfatiza que outros aspectos precisam coexistir,
para que uma pessoa seja identificada como portadora de deficiência men-
tal.
Esses aspectos referem-se às 10 (dez) áreas de habilidades
adaptativas discriminadas na definição, sendo que, o mínimo de 02
(duas) precisam estar defazadas para que o diagnóstico seja definido.
FASCÍCULO 2
Para uma melhor compreensão dessas habilidades, passamos a escla-
recer o seu significado no comportamento prático:
- comunicação
Diz respeito às habilidades para compreender e expressar informações
por meio de palavras - faladas ou escritas -, linguagem gestual, digital e de
sinais, toque, gestos, expressões corporais, etc, e para compreender as
emoções e as mensagens das outras pessoas;
- auto-cuidado
Refere-se às habilidades que asseguram a higiene pessoal, a alimenta-
ção, o vestuário, o uso do sanitário, etc;
- vida familiar
Diz respeito às habilidades necessárias para uma adequada fun-
cionalidade no lar, no cuidado com os pertences, com o ambiente domésti-
co, os cuidados com os bens da família, a participação nos trabalhos do-
mésticos, no convívio e nas relações familiares, dentre outros aspectos;
- vida social
Diz respeito às trocas sociais na comunidade, ao respeito e às relações
com vizinhos, colegas, amigos e membros da comunidade, compartilhar e
cooperar, respeitar limites e normas, fazer escolhas, controlar impulsos, re-
sistir às frustrações, etc;
- autonomia
Refere-se às habilidades para fazer escolhas, tomar iniciativa, cumprir
planejamento, atender aos próprios interesses, cumprir tarefas, pedir
FASCÍCULO 2
ajuda, resolver problemas, defender-se, explicar-se, buscar ajuda quando
necessária, etc;
- saúde e segurança
Diz respeito às habilidades para cuidar da saúde, evitar doenças, cuidar
da segurança, evitar perigos, seguir leis de trânsito e outras que visem ao
bem-estar e à saúde, desenvolver hábitos pessoais adequados, comunicar
necessidades, pedir ajuda, etc;
- funcionalidade acadêmica
Refere-se às habilidades relacionadas à aprendizagem dos conteú-
dos curriculares propostos pela escola quem relação com a qualida-
de de vida da pessoa, como ler, escrever, calcular, obter conhecimentos
científicos, sociais, relativos à sexualidade e outros, que permitem mai-
or funcionalidade na vida, independentemente do nível escolar alcança-
do;
- lazer
Diz respeito às habilidades para desenvolver interesses e participar de
atividades de entretenimento individual e coletivo, de acordo com a idade e
com o ambiente cultural e comunitário, comportar-se adequadamente, com-
partilhar, retomar, completar, pedir ajuda, cooperar, etc, na realização des-
sas atividades;
- trabalho
Refere-se às habilidades para realizar um trabalho em tempo parcial ou
total, comportando-se apropriadamente, cooperando, compartilhando, con-
cluindo as tarefas, tomando iniciativas, administrando bem o salário, acei-
tando a hierarquia e as próprias limitações e dos demais, realizando ativida-
des independentes, etc
A Fig. 1 demonstra esse modelo funcional da deficiência mental.
Para uma compreensão completa dos seus pressupostos considera-se,
FASCÍCULO 2
ainda, a importância dos apoios que a pessoa pode receber, de modo a res-
ponder com mais eficiência às expectativas sociais do meio comunitário. A
existência ou ausência desses apoios, portanto, podem aumentar ou reduzir
as limitações funcionais da pessoa com deficiência mental, de um modo
global, ou em dadas situações.
Fig. 1
Modelo Funcional de Deficiência Mental
Recordando:
Para que uma pessoa seja
diagnosticada como portadora de
deficiência mental, 03 (três) con-
dições precisam ser considera-
das:
- um Ql igual ou inferior a 70-75
pontos;
- limitações em duas ou mais ha-
bilidades adaptativas;
- idade de início da deficiência até
os 18 (dezoito) anos.
Fonte: AAMR, 1992
Incidência e diagnóstico
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, 10% (dez por cen-
to) da população brasileira é composta de pessoas portadoras de defici-
ência, das quais 05% (cinco por cento)o portadoras de deficiência
mental. Em dados atuais, essa cifra corresponde a 750.000 (setecen-
tas e cinqüenta mil) pessoas.
Esse número é muito expressivo e reflete a necessidade de se pensar a
deficiência mental na sociedade, e de que modo essa população específica
tem sido atendida nos seus direitos e necessidades.
Ao se pensar na etiologia da deficiência mental, até mesmo para
buscar-se formas de prevenir ou de reduzir a sua incidência, encontra-
FASCÍCULO 2 -
mos 04 (quatro) tipos de fatores causais, sendo esses fatores interativos
e cumulativos:
- fatores biomédicos
Dizem respeito a processos biológicos. Dentre eles destacam-se os
problemas metabólicos (fenilcetonúria), as síndromes genéticas e ano-
malias cromossômicas (síndrome de Down), síndromes endocrinológicas
(hipotireoidismo), síndromes morfológicas (microcefalia), síndromes neu-
rológicas (distrofia muscular), doenças infecciosas, intoxicação,
traumatismos crânio-encefálicos, tumores, transtornos mentais, etc;
- fatores sociais
Dizem respeito à interação familiar e social e relacionam-se à situação
de extrema privação ambiental e à ausência de interação social e familiar;
- fatores comportamentais
Estão associados a comportamentos potencialmente causais, tais como
a síndrome da criança maltratada, golpeada, seviciada, abusada ou negli-
genciada. Tanto os aspectos emocionais podem estar envolvidos como os
traumas crânio-encefálicos decorrentes;
- fatores educacionais
Estão associados aoo atendimento das exigências de apoio e suporte
que certas crianças necessitam para o seu desenvolvimento intelectual e
das habilidades adaptativas.
Muitas causas de deficiência mentalo desconhecidas. Para se ter uma
idéia, estudos recentes revelam que 50% (cinqüenta por cento) das causas
de deficiência mental dos tipos menos graveso desconhecidas e entre as
mais agravadas, 30% (trinta por cento)m a sua origem desconhecida.
0 interesse em se conhecer as causas da deficiência mental deve-se
FASCÍCULO 2
à importância em se detectar as possíveis limitações que ela possa vir a
provocar nas pessoas e, principalmente, identificar os meios para sanar es-
sas causas ou, mesmo, evitá-las.
Durante muito tempo, e até mesmo em nossos dias, a deficiência mental
tem sido vista como uma doença, uma enfermidade incurável.
Atualmente, conhecimentos científicos comprovados e novas descober-
tasm revelado que:
- nem sempre as síndromes biomédicas provocam deficiência mental;
- a condição etiológica pode ser tratável e o seu conhecimento prévio
permite procedimentos que minimizam deficiências que viriam a ocorrer;
- pessoas com deficiência mental podem ter saúde perfeita, assim como
outras podem apresentar graves problemas biomédicos, sendo que a maio-
ria situa-se entre esses dois extremos;
- etiologiao é "sinônimo" de deficiência mental, uma vez que pessoas
com uma mesma condição etiológica podem ouo vir a apresentar defici-
ência mental;
- as pessoas com deficiência mentalo apresentam incompetência ge-
neralizada, possuindo muitas capacidades e habilidades que permitem o seu
desenvolvimento e ajustamento às demandas do seu meio físico e social;
- a saúde física de uma pessoa com deficiência mental influencia a sua
funcionalidade, mas outros fatores também participam, tais como, a nature-
za do ambiente em que vive - exigências, expectativas -, bem como os efei-
tos e o impacto exercido pelas suas limitações intelectuais e adaptativas.
Para uma melhor compreensão do modelo multidimensional, a
AAMR (1992) propõe uma Ficha de Diagnóstico da Deficiência Mental, en-
contrada no anexo do presente trabalho.
FASCÍCULO 2
Fig. 2 - Passos do Processo de Diagnóstico, Classificação e Sistemas de Apoio
Dimensão 1
Funcionamento intelectual e
habilidades adaptativas.
Dimensão 2
Considerações psicológicas,
emocionais
Dimensão 3
Física, saúde, etiologia
Dimensão 4
Considerações ambientais
Passo 1
Diagnóstico
Determina a elegibilidade para apoio.
Pessoa DM se:
- Ql 70-75 ou abaixo;
- limitações em 2 ou mais habilidades adaptativas;
- aparecimento antes dos 18 anos.
Passo 2
Classificação e Descrição
Identifica forças, fraquezas e as necessidades
de apoio.
- descreve as forças e as fraquezas do indivíduo
com relação às considerações psicológicas e
emocionais;
- descreve a saúde geral da pessoa e indica a
etiologia da condição;
- descreve o ambiente atual de colocação da pessoa
e o ambiente favorável ao seu desenvolvimento.
Passo 3
Perfil e Intensidade do Apoio Necessário
- Identifica as necessidades de apoio nas quatro
dimensões consideradas.
Fonte: AAMR, 1992.
Prevenção
0 conhecimento das causas da deficiência mental é importante para a
sua prevenção. Muitas ações poderiam ser desencadeadas de modo a evitar
a ocorrência de deficiências:
- programas de prevenção contra as drogas e o álcool e vacinação da
e contra certas doençaso exemplos de medidas dirigidas aos pais e à
FASCÍCULO 2
comunidade que visam evitar o aparecimento das deficiências. Caracteri-
zam o que se denomina prevenção primária;
- programas de dieta para crianças que nasceram com fenilcetonúria e
programas de estimulação precoceo exemplos de ações que reduzem a
duração ou revertem os efeitos de problemas já existentes que podem re-
sultar em deficiência. Caracterizam o que se denomina prevenção secundá-
ria;
- programas de educação especial, de qualificação profissional para
pessoas com deficiência e programas de reabilitação,o exemplos de
ações que reduzem as conseqüências dos problemas gerados pelas
deficiências e melhoram o funcionamento da pessoa. Caracterizam o
que se denomina prevenção terciária.
O ideal é que se possa realizar a prevenção primária, ou seja, ações
junto aos pais e à sociedade para evitar o aparecimento das deficiências que
possam ser evitadas.
Adotar medidas de proteção à criança e à suae contra doenças pro-
vocadoras de deficiências, orientação para reduzir casamentos consanguí-
neos, acompanhamento pré-natal, cuidados médicos no momento do parto
e apoio ao recém-nascido, prevenção de acidentes e traumatismos, vacina-
ção, prevenção de carências nutricionais e afetivas, controle do uso do álco-
ol e de drogas por parte da mãe, eliminação de perigos ambientais, melhoria
da nutrição dae e da criança,o exemplos de medidas de prevenção
primária, ou seja, de evitação do aparecimento de deficiências.
O trabalho de prevenção deve incluir a família, a escola, os serviços de
saúde, os órgãos de comunicação e outros que envolvam a socieda-
de visando a divulgação das informações e a mudança de atitude so-
cial.
Questões educacionais e de cidadania
Durante muito tempo acreditou-se que as pessoas com deficiência men-
talo aprendiam os conteúdos acadêmicos ensinados na escola. Por essa
razão, a sua educação era pautada na crença de que só teriam acesso a
FASCÍCULO 2
aprendizagens relacionadas a atividades da vida diária (auto-cuidado e se-
gurança), algumas habilidades sociais, de lazer e de trabalho supervisiona-
do, ou pouco mais. Aprendizagem acadêmica? Nem pensar!
Como decorrência natural da falta de oferta do conhecimento, muitos
tornaram-se sub-realizados na escola ou engrossaram as fileiras dos cha-
mados incompetentes curriculares antes mesmo de terem acesso a esses
currículos.
A convicção atual de que as pessoas com deficiência mental apresentam
diferentes condições de aprendizagem e de que outros fatores, além do inte-
lectual, estão presentes e interferem na sua funcionalidade acadêmicam
contribuído para que o sistema educacional compreenda melhor a diversida-
de de possibilidades dos alunos e procure oferecer um ambiente mais favo-
rável à sua aprendizagem.
Por outro lado, a comunidade escolar está presenciando alunos porta-
dores de deficiência mental alcançando níveis escolares nunca antes imagi-
nados, porque sistemas de apoio organizados e adaptações curriculares ade-
quadas estão permitindo o seu acesso a uma aprendizagem efetiva e pro-
gressiva.
Quem imaginaria, há tempos atrás, que uma pessoa com deficiência
mental poderia concluir a 8ª série do ensino fundamental? No entanto, essa
tem sido uma realidade. Por esforço do aluno e de sua família e pelo com-
prometimento da escola com o seu aprendizado esse resultado tem sido
possível.
Evidentemente, as pessoas com deficiência mentalo muito diferentes
entre si, (como, aliás,o todas as pessoas na sociedade!). A escolarização
desses alunos e os níveis que virão a alcançar dependerão de muitos fato-
res: o grau de suas limitações intelectuais e adaptativas certamente desem-
penham um relevante papel nas suas expectativas de realização escolar.
Mas outros fatoreso significativamente relevantes. Os resultados
educacionais dependem, ainda, de como o ambiente escolar favorece o
acesso ao currículo e organiza e adapta esse currículo de modo a ser
desenvolvido pelo aluno.
O sucesso escolar do aluno com deficiência mental, portanto, de-
FASCÍCULO 2
pende de suas condições pessoais e das condições escolares, ou seja, da
interação aluno x ambiente.
Uma outra situação tem mudado no panorama nacional e internacional.
o mais se defende que o lugar de pessoa com deficiência mental estudar é
na escola especializada.
Experiências educacionais bem sucedidas estão revelando que os alu-
nos com deficiência mental podem e devem estudar nas escolas regulares, e
que um adequado sistema de apoio educacional é suficiente para lhe dar
acesso ao currículo e apropriação do saber escolar.
Se o aluno portador de deficiência mental tem competência curricular
suficiente para avançar até níveis mais elevados de ensino, que as oportuni-
dades lhes sejam facultadas!
Por outro lado, sabe-se que alguns alunos com deficiência mental apre-
sentam condições agravadas e limitações que abreviam as suas possibilida-
des escolares. É importante que uma avaliação realistica e competente in-
vestigue essas possibilidades de modo a adequar a oferta educacional e o
apoio necessário.
Em todas as situações,o se pode perder de vista a importância de
propiciar para o aluno um ambiente social estimulador, livre de segregação,
um ambiente queo reforce as suas limitações, mas desafie o desenvolvi-
mento e a aprendizagem de novas habilidades.
Mesmo os alunos com limitações intelectuais e adaptativas mais acentu-
adas mostram-se, muitas vezes, surpreendentes nas suas realizações.
Minimizar o seu potencial e generalizar as suas limitações pode levar a uma
lamentável perda de tempo e de oportunidade de estimulação do desenvolvi-
mento e da aprendizagem.
A escola especializada pode ser uma importante fonte de recursos para
alguns alunos que precisam estudar nas suas dependências e uma
signigificativa fonte de apoio para os que se encontram atendidos na
escola regular e necessitam de apoio especializado.
As salas de recursos e o atendimento itinerante, dentre outros, constitu-
em formas de atendimento especializado importantes para os alunos que
estão matriculados em escolas regulares.
FASCÍCULO 2
Cada vez mais se amplia a concepção de que as pessoas com deficiência
mentalm potencialidades e habilidades que as "credenciam" para uma
vida social e comunitária de qualidade. As respostas sociais a essa realidade
aindao alcançaram o nivel suficiente para facilitar a integração efetiva
dessa população específica, mas o processo está em andamento.
Legislações pertinentes e movimentos de luta e de apoio às pessoas
com deficiência mental caminham no sentido de lhes oportunizar o exercício
de seus direitos de cidadão.
Viver bem e em sadia interdependênciao depende somente da pessoa
portadora ouo de deficiência, mas da aceitação e das oportunida-
des de reciprocidade do outro e dos grupos sociais.
lntegração e participaçãoo processos que se retroalimentam e podem
gerar atitudes individuais, grupais, comunitárias e societais de maior
receptividade, se forem intentadas!...
FASCÍCULO 2
VERIFICANDO SUA APRENDIZAGEM
Após leitura cuidadosa do texto, responda às seguintes questões, de
modo a verificar o seu entendimento do conteúdo do Fascículo.
1. Assinale com (V) as afirmativas corretas e com (F) as falsas:
a. ( ) para que uma pessoa seja diagnosticada como portadora de de-
ficiência mental, três condiçõeso necessárias: um Ql igual ou inferior a
70-75 pontos, limitações em duas ou mais habilidades adaptativas e idade
de início do nascimento até os dezoito anos;
b. ( ) as pessoas com deficiência mental podem ter áreas de desenvol-
vimento e de habilidades preservadas, sem limitações;
c. ( ) segundo a Organização Mundial de Saúde, metade da população
brasileira é portadora de deficiência;
d. ( ) as deficiências sempre resultam de lesões no cérebro;
e. ( ) fatores comportamentais e educacionais podem ocasionar defi-
ciências;
f. ( ) muitas causas de deficiênciaso desconhecidas;
g. ( ) as pessoas com deficiência mentalo todas iguais;
h. ( ) pessoas com deficiência mental podem se escolarizar
com bons resultados se receberem o apoio devido.
2. Assinale a 2- coluna de acordo com a 1ª , segundo as áreas de
habilidades adaptativas:
( A ) habilidades sociais
( B ) habilidades de comunicação
( C ) funcionalidade acadêmica
( D ) vida familiar
a. ( ) habilidades quem a ver com a aprendizagem escolar, com os
conteúdos relativos à leitura, escrita e cálculo;
FASCÍCULO 2
b. ( ) habilidades necessárias ao bom funcionamento doméstico, cui-
dados com o ambiente do lar e segurança, e conservação dos bens familia-
res;
c. ( ) habilidades relativas à boa convivência social e comunitária, re-
lacionamentos interpessoais e adequação comportamental;
d. ( ) habilidades de compreender o que lhe comunicam e de se ex-
pressar com as demais pessoas.
Conferindo suas respostas
Agora, verifique se as suas respostas estão de acordo com os conteúdos
contidos no Fascículo:
1- questão:
a. V
b. V
c. F
d. F
e. V
f. V
g. F
h. V
2- questão:
a. C
b. D
c. A
d. B
FASCÍCULO 2
Bibliografia
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BRASIL. Oportunidades de trabalho para portadores de deficiência: um
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Rio de Janeiro: Zahar, 1977.
NOT, L. A educação dos deficientes mentais. Rio de Janeiro: Livraria
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UNIVERSIDADE DEO CARLOS. VIII Ciclo de estudos sobre deficiên-
cia mental.o Paulo: UFSCar, 1995.
ANEXOS
ANEXOS
Fig. 3 - Ficha de Diagnóstico da Deficiência Mental (AAMR, 1992)
ANEXOS
Fig. 4 - Classificação e Descrição
Dimensão I: Funcionamento Intelectual e Habilidades Adaptativas
Descreve os pontos fracos e fortes do indivíduo no funcionamento
intelectual, com base nos testes ou em observações. Indica a fonte.
ANEXOS
ANEXOS
Dimensão II: Considerações Psicológicas / Emocionais
Descreve os pontos fortes e fracos da pessoa usando as observações do
comportamento, as avaliações clínicas ou diagnose formal (ex. DSM - IV).
Indica a fonte.
Pontos Fortes
Fonte
Pontos Fortes
Fonte
Dimensão III: Considerações Físicas / Saúde / Etiologia
Especifica a diagnose relativa à saúde, etiologia primária e fatores
contribuintes, baseado nas observações comportamentais, avaliação
clínica ou diagnose formal (Ex. CID -10).
Diagnose relativa à saúde
Etiologia Primária
Fatores Contribuintes
ANEXOS
Dimensão IV: Considerações Ambientais
Descreve a extensão em que a vida, o trabalho e o ambiente educacional
do indivíduo favorecem ou restringem oportunidades para a integração
comunitária, integração social (família e amigos) e bem-estar mate-
rial (salário, moradia, posses).
•Trabalho
Pontos Fortes
Pontos Fortes
Educação
Pontos Fortes
Pontos Fortes
Fonte
Fonte
Fonte
Fonte
ANEXOS
Ambiente Favorável (Ótimo)
ANEXOS
Fig. 5 - Perfil e Intensidade do Apoio Necessário
Nome: Data
Especifica a função do apoio, a atividade específica e o nível de intensidade
necessário em cada uma das áreas/Dimensões.
Os Níveis de Intensidade são: I - Intermitente; L - Limitado; E - Extensivo;
P - Pervasivo.
Dimensão I: Funcionamento Intelectual e Habilidades Adaptativas
Dimensão/Área
Comunicação
Autocuidado
Vida Familiar
Vida Social
Uso Comunitário
Autonomia
Func. Acadêmica
Trabalho
Saúde/Segurança
Função do Apoio
Atividade
Nível de Intensidade
ILEP
ANEXOS
FASCÍCULO 3
O BEBÊ COM DEFICIÊNCIA MENTAL
FASCÍCULO 3
OBJETIVOS
Este é o terceiro fascículo da série Educação Especial e tem por objetivo
instrumentalizar o professor para atuar com alunos portadores de deficiên-
cia mental.
0 fascículo visa fornecer subsídios para que esses professores al-
cancem os seguintes objetivos:
- desmistificar a noção de incurabilidade da deficiência mental;
- reconhecer a importância da prevenção secundária da deficiência men-
tal;
- conhecer os procedimentos educacionais do programa de estimulação
precoce.
O Bebê com deficiência mental
Durante muito tempo acreditou-se que a deficiência mental fosse uma
doença.
O nascimento de uma criança com problemas era visto com preocupa-
ção, tristeza e compaixão, como se o seu destino estivesse selado e marcado
de dores, limitações e dependência por toda a vida.
Será que esses sentimentoso apenas do passado? Sabemos que não.
Mesmo em nossos dias, tal concepção caracteriza o pensamento de fa-
miliares, vizinhos e amigos dos que nascem com alguma deficiência
ou que venham a adquiri-la ao longo do seu desenvolvimento.
Do mesmo modo, as pessoas com deficiência mentalm sido vistas
como doentes, portadoras de enfermidades incuráveis devidas a gens "fra-
cos" transmitidos por herança.
Para o bebê que nasce com deficiência ou que apresenta risco de vir
a desenvolvê-la, as perspectivaso vistas de forma muito negativa pela
sociedade.
FASCÍCULO 3
Tais perspectivaso frutos do desconhecimento sobre descobertas ci-
entíficas quem sendo feitas nos últimos anos e sobre os procedimentos
educacionais e de saúde que previnem muitas deficiências e/ou os seus
efeitos.
As descobertas científicas revelam que nem toda deficiência mental
é ocasionada por doenças, e que nem toda pessoa com deficiência
mental é portadora de enfermidades.
Ao contrário, muitas pessoas com deficiência mental gozam de saúde
perfeita e, em grande número de casos, nem mesmo os profissionais
especializados conseguem identificar as causas de sua deficiência.
Mesmo a criança que nasce com uma doença grave ou vem a adoecer
na mais tenra ¡dadeo terá, necessariamente, deficiência mental.
É necessário desvincular a deficiência mental do conceito de doença.
Uma outra concepção errônea, compartilhada durante séculos pela soci-
edade é a da incompetência generalizada.
Supunha-se, até recentemente, que uma pessoa com deficiência mental
apresentasse limitações em todas as áreas de desenvolvimento e em todas
as suas realizações presentes e futuras.
Os avanços científicos e a prática educacionalm revelado o contrário,
ou seja, que as pessoas com deficiência mental possuem muitas capacida-
des e habilidades pessoais que permitem o seu ajustamento às exigências
do meio físico e social.
Tais concepções levam-nos aos seguintes pressupostos, quando pen-
samos em bebês portadores de deficiência ou que sejam considerados
"de risco" ( susceptíveis de vir a manifestá-las):
- condições inadequadas ou adversas no partoo indicadoras "de
risco", maso determinam que a criança virá a ter deficiência;
- muitas doenças maternas ou infantiso causadoras de defici-
ência mental, a exemplo da rubéola e da meningite, dentre outras, mas
oo necessariamente determinantes, devendo a família evitar a
FASCÍCULO 3
atitude de considerar e tratar a criança como portadora de deficiência a
partir do momento em que adquire a doença.
Algumas causas biomédicaso potenciais, ou seja,o possivelmente
geradoras de deficiência mental, devendo ser evitadas ou, quando já
adquiridas, tratadas com atenção e urgência, maso existe um fatalis-
mo biomédico, ou seja, na ocorrência da doença, a deficiência acontece-
, fatalmente.
Evitar doenças ou tratá-las, portanto, é muito importante. Considerar
doenças como sendo deficiências, é uma outra questão, que deve ser vista
com o devido cuidado.
E quanto às crianças que nascem, realmente, com deficiência ou que
apresentam um risco alto de vir a adquiri-la?
Por certo, nascem freqüentemente crianças com problemas físicos ou
mentais; outrasm a adquirir deficiências no momento do parto ou nos
primeiros anos de vida.
Já está comprovado que muitas deficiências pré-natais, perinatais ou
Pós-natais podem ser evitadas.o sendo isso possível, muitas podem
ser identificadas precocemente e tratadas de modo a evitar maiores da-
nos ao desenvolvimento da criança e a sua integração familiar e social.
Os programas de prevençãom essa finalidade, ou seja:
- evitar ou minimizar o aparecimento de deficiência(s) nas crianças;
- evitar que crianças vulneráveis à aquisição de deficiências ( alto
risco ) venham a desenvolvê-las, ou seja, reduzir a vulnerabilidade dos
fatores de risco;
- apoiar e estimular o desenvolvimento de crianças com deficiências já
instaladas.
Casoo seja possível evitar ou minimizar a ocorrência da(s)
deficiência(s) nas crianças, medidas educacionais precisam ser tomadas
para facilitar o desenvolvimento cognitivo, socioafetivo e psicomotor dessas
crianças.
FASCÍCULO 3
Aspectos de desenvolvimento
Há crianças que nascem com problemas que poderão gerar limitações
no seu desenvolvimento em diferentes áreas e intensidades variadas.
Esses problemaso de origem biomédica e se diferenciam dos outros
tipos de problema pela natureza de seus sinais e sintomas, pelas formas de
tratamento e pelas possibilidades de intenvenção no sentido de gerar ouo
deficiências nos seus portadores, sendo elas de maior ou menor gravidade.
Muitos resultam em deficiência mental.
A literatura especializada revela, ainda, queoo apenas os fatores
biomédicos queo origem à deficiência mental. Privação ambiental/cultu-
ral extrema, de contato com o mundo físico e social, problemas de restrição
significativa no relacionamento familiar e social, além de maltratos, abusos,
violência ou negligência com as crianças, também colaboram para o apare-
cimento de deficiência mental.
A deficiência mental está associada, ainda, à falta de apoio necessário
ao desenvolvimento e à aprendizagem da criança e ao seu ajustamento e
adaptação familiar, social e comunitária.
Em todos os casos, duas conseqüências apresentam-se inevitavelmente
quando a deficiência mental vem a ocorrer
1
:
- limitações na capacidade intelectual, basicamente na inteligência
conceitual e prática/social;
- limitações em certas habilidades adaptativas.
Sabe-se hoje que, independentemente das causas da deficiência men-
tal, certos fatores contribuem para o desenvolvimento da criança, para a
formação de sua personalidade, e estabelecem uma perspectiva de maior
integração familiar, comunitária e social:
- atitude de aceitação da deficiência por parte da família;
- intervenção devida e tratamento pertinente às suas causas e ma-
nifestações;
1
Limitações indicadas pela Associação Americana de Retardo Mental - AAMR (1992)
FASCÍCULO 3
- oferta de oportunidades de participar do ambiente físico, social e co-
munitário;
- apoio adequado para melhorar o comportamento funcional da criança
frente às demandas do ambiente;
- encorajamento para o convívio social, para a manifestação da
criatividade e da iniciativa;
- atitudes favoráveis à formação da auto-imagem e do auto-concei-
to, dentre outros.
A literatura especializada enfatiza que as etapas de desenvolvimento in-
fantil obedecem a uma seqüência similar aos mesmos princípios e pressu-
postos, tanto para crianças consideradas "normais"como para as portado-
ras de deficiência.
Desse modo, considera-se que todas as teorias de desenvolvimento e de
aprendizagem, atualmente em vigor,o válidas para todas as crianças.
Para efeito dos estudos desse Fascículo, estamos considerando os be-
s na faixa etária do nascimento aos 03 (três) anos.
Os estudos da Psicologia Evolutiva enfatizam que essa fase caracteriza-
se por mudanças rápidas e profundas no desenvolvimento infantil.
As aquisições referentes à linguagem oral e à coordenação dos grandes
movimentos que permitem caminhar, correr e saltar,o adquiridos nessa
fase.
Esse período também compreende importantes relações da criança com
a sua família, envolvendo elementos psicologicamente significativos de emo-
ção e afetividade.
O desenvolvimento cognitivo, impulsionado pelas relações afetivo-
emocionais e psicomotoras, evolui com a mediação da linguagem e das
possibilidades de interação entre a criança e o seu meio físico e social.
A criança inicia o desenvolvimento de sua identidade e as respostas à
pergunta quem sou eu ? encontrarão ressonância em seus primeiros
anos de vida.
Esse contexto cognitivo, socio-afetivo e psícomotor é o mesmo para
todas as crianças, sejam elas portadoras ouo de deficiência, daí a
FASCÍCULO 3
grande importância de organizar programas educacionais que levem em conta
o apenas as limitações da criança, mas suas possibilidades e considerem
os interesses e perspectivas próprias de sua faixa etária.
Para os bebês considerados de alto risco ou que apresentem deficiênci-
as já identificadas, os programas devem considerar as suas necessidades
individuais, uma vez que diferem entre si quanto às limitações e capacidades
potenciais.
As etiologias, quando identificadas, servem, também, como referência
para a definição dos programas de estimulação, emborao devam ser en-
caradas como rigorosamente prognósticas. É muito difícil afirmar que pos-
sibilidades ou dificuldades futuras um bebê terá, considerando que a sua
pouca idade pode confundir as mais sofisticadas previsões.
Você, professor, já deve ter visto quantas vezes profissionais das
áreas de educação e saúde afirmaram que uma criançao iria andar, falar
ou ler quando crescesse, e a criança, desafiando todas as perspectivas, de-
senvolveu essas habilidades, muitas vezes guiada pelo esforço persistente e
pelo encorajamento de seus familiares.
Um aspecto que precisa ser considerado é que a criança com deficiên-
cia, como as demais, precisa de jogos e brinquedos, de explorar o ambiente
com toda a sua riqueza de estímulos, de ter desafiada a sua curiosidade, seu
interesse e vontade de compartilhar, com as demais crianças e com os adul-
tos.
Deve-se cuidar para que as terapias e diversos programas de atendi-
mentoo lhe subtraiam as oportunidades de brincar e ser criança.
Crianças gostam de festas, presentes e passeios, precisam de movimen-
to, ação e de incentivo para o seu crescimento e desenvolvimento har-
monioso. Palavras, músicas, recreação, aplausos, sorrisos, brinquedos,
etc.o mediadores importantes para a sua evolução humana. Assim acon-
tece para todas as crianças, independentemente de serem portadoras ouo
de deficiência.
Crianças com deficiência precisam ser vistas como seres e de ne-
cessidades, como todos os demais e, à medida que forem alcançando
progressos no seu desenvolvimento e aprendizagem, mais passos da-
FASCÍCULO 3
o em favor de novas conquistas e possibilidades.
Uma referência importante para se trabalhar com uma criança nessa fai-
xa etária é verificar o que as demais gostam de fazer, e observar a participa-
ção das crianças com deficiência mental.
Dar-lhes oportunidade de brincar com os irmãos, colegas, vizinhos des-
perta e cria muitas situações de estímulo e realização.
As famílias de crianças com deficiência mental precisam procurar entre
os amigos e pessoas da comunidade oportunidades de compartilhar, trocar
experiências com os pais e informar sobre as condições dos filhos, sem
excluir as referências ao portador de deficiência. Desse modo pode torná-lo,
também, motivo do interesse dos demais, para que se familiarizem com ele
e possam incluí-lo na comunidade.
Para muitos professores, a possibilidade de trabalhar com bebês de zero
a 03 (três) anos é muito remota, porque nem todos os Estados e cidades
possuem esse programa de atendimento, a despeito da grande importância
que tem para o desenvolvimento das crianças.
Seu efeito preventivo é mundialmente reconhecido e comprovado por
todos os que delesm se beneficiado.
Abordagem educacional - programa de estimulação precoce
O conceito de estimulação precoce refere-se às ações que proporcionam
às crianças experiências que favorecem o seu desenvolvimento integral
de modo a atingir o máximo de seu potencial.
O programa de estimulação precoce realiza-se com crianças na faixa de
zero a 03 (três) anos de idade e consiste em uma prática internacionalmente
adotada, destinada a crianças que apresentam:
- distúrbios ou atraso no desenvolvimento;
- susceptibilidade de virem a apresentar deficiências (crianças con-
sideradas de alto risco)
2
;
2
Refere-se à influência de certos fatores somáticos e/ou ambientais, de ocorrência principalmente
nos períodos pré-natal, peri e pós-natal, que podem provocar déficits no desenvolvimento motor,
sensorial, mental e afetivo-emocional na criança. Esses fatoreso denominados de alto risco e
deixam a criança vulnerável ao aparecimento de deficiências ou atrasos no desenvolvimento..
FASCÍCULO 3
- desenvolvimento dentro dos padrões de normalidade
3
.
De um modo geral, na realidade brasileira, o programa de educação pre-
coce tem se aplicado a crianças que apresentam síndromes ou condições
biomédicas comumente associadas à deficiência mental, às crianças porta-
doras de deficiências sensoriais (visual e auditiva), deficiência física, múlti-
plas deficiências e às crianças de alto risco.
O programa de estimulação precoce fundamenta-se teoricamente nas
teorias do desenvolvimento infantil que abordam o desenvolvimento cognitivo,
psicomotor e socio-afetivo, e nas concepções teóricas e pesquisas sobre
carência afetiva, privação cultural e ambiental, dentre outros.
Defende os seguintes pressupostos:
- importância do papel dae como mediadora da estimula-
ção da criança nos primeiros anos de vida;
- a influência da carência/privação afetiva infantil como um fator
desencadeante de déficits do desenvolvimento cognitivo e emo-
cional;
O programa de estimulação precoce considera, também, os seguintes
pressupostos oriundos de várias ciências - biomédicas, psicológicas, soci-
ológicas e pedagógicas:
- a estimulação psicossocial nos anos iniciais incentiva o desenvol-
vimento global da criança, notadamente o seu desenvolvimento de co-
municação e linguagem;
- a excessiva estimulação ambiental tem efeitos negativos sobre o
desenvolvimento infantil;
- um ambiente adequadamente estimulador favorece o processo evolutivo
da criança, podendo acelerar o seu ritmo de desenvolvimento cognitivo. (0
ambiente estimulador compreende a oportunidade de exploração do meio
físico e social da criança, de desenvolvimento do esquema corporal e das
3
Desconhecemos experiências brasileiras de utilização do programa de estimulação precoce para
crianças consideradas "normais", mas em alguns países desenvolvidos essa experiência é realizada.
FASCÍCULO 3
relações espaciais e temporais, de aceitação e integração no ambiente fami-
liar, dentre outras experiências significativas para o seu processo evolutivo);
- a atmosfera emocional adequada da família constitui um fator
estimulador do desenvolvimento infantil. (Uma atmosfera emocional inade-
quada pode incluir variáveis tais como: perda ou ausência dos pais, tensões
interpessoais excessivas na família, alcoolismo paterno e/ou materno, vio-
lência doméstica, carência econômica significativa, etc);
- a carência cultural e a carência de estimulação ambiental nos pri-
meiros anos de vida podem prejudicar o desenvolvimento da capacida-
de cognitiva e constituir um dos fatores etiológicos de deficiência men-
tal;
- observa-se maior incidência de fatores de alto risco nos primeiros
anos de formação e de vida da criança - no período pré-natal, perinatal
e nos primeiros dias/ anos de vida, em decorrência de doenças infantis
e de situações agravantes tais como: a ocorrência de desnutrição,
maltratos, isolamento, falta de higiene e cuidados, falta de estimulação
ambiental, dentre outros;
- as capacidades e habilidades das crianças necessitamo apenas
de um ambiente rico em estimulação para o seu desenvolvimento, mas,
também, de reforços positivos e de participação por parte dos familia-
res;
- quanto mais cedo a criança com deficiência ou em situação de
risco/ vulnerabilidade for diagnosticada e atendida em programas de
estimulação precoce, tanto melhor será o prognóstico dos seus resul-
tados;
- a determinação dos fatores de alto risco envolve os denominados
deficits neuropsicomotores, a carência/privação alimentar (notadamente
a carência proteica), a prematuridade, a anoxia perinatal e a desidratação,
dentre outros. Envolve, também, os fatores culturais, familiares e ambientais
já abordados;
-o identificadas, também, na concepção de alto risco, as "mães
de alto risco": as que apresentam problemas crônicos de saúde, anor-
malidades genéticas, história de gravidez interrompida ou partos prematu-
FASCÍCULO 3
ros, as dependentes de drogas e as de nivel socioeconômico carentes, as
que sofrem de transtornos psicológicos e psiquiátricos bem como as que
adotam comportamentos e atitudes prejudiciais ao desenvolvimento e à edu-
cação da criança (excessivo uso de poder e controle, espancamento e mal-
trato da criança, etc), e
- atenção especial tem sido dada à escolha e uso adequado dos méto-
dos, técnicas, procedimentos e instrumentos adequados para a avaliação e a
detecção das crianças a serem atendidas nos programas de estimulação
precoce.
O caráter preventivo do programa de estimulação precoce está pre-
sente nas seguintes características e recomendações, tanto antes como
depois de sua faixa de atuação.
Em relação à prevenção primária:
- assistência pré-natal;
- prevenção de fatores de risco perinatal;
- orientação aos familiares quanto ao aleitamento materno, à sua
função de mediadores de estimulação da criança, fortalecimento de la-
ços afetivos, de propiciar integração e bem-estar familiar, etc;
- cuidados e observações sobre o crescimento da criança e incenti-
vo ao seu desenvolvimento normal e saudável, independentemente no
nível socioeconômico da família.
Em relação à prevenção secundária:
- detecção dos fatores de risco o mais cedo possível (desnutrição,
maltratos com ae e por parte da mãe, problemas de gravidez e
parto, toxicomania dos pais, paternidade irresponsável, conflitos e
desajustes significativos no lar, doenças na gestação, etc);
- identificação de problemas peri e neonatais;
- identificação de fatores presentes no período inicial do desenvolvimen-
to: distúrbios de comportamento, condições orgânicas e psicológicas, den-
tre outras;
- participação em programas de atendimento o mais cedo possível,
em face de fatores de risco, com a participação ativa da família na exe-
cução do programa.
FASCÍCULO 3
Em relação à prevenção terciária:
- atenção continuada e permanente diante dos fatores de risco persis-
tentes e aos seus efeitos no desenvolvimento da criança, propiciando-lhe
atendimento;
- identificação e diagnóstico precoce da(s) possíveis deficiência(s) da
criança e o seu atendimento o mais cedo possível;
- envolvimento da família como co-autora e co-executora do pro-
grama.
Os procedimentos de atendimento envolvem exercícios e atividades
realizados pelo técnico na presença de membros da família, adotando
um modelo demonstrativo, de modo a permitir a repetição dos exercíci-
os/atividade no lar, conforme as orientações e recomendações técnicas.
As atividades do programa obedecem à avaliação do desenvolvimento e
do ritmo de desempenho da criança, de acordo com as expectativas de
realização da outras crianças de sua faixa etária.
As referências avaliativaso as escalas de desenvolvimento infantil,
considerando as áreas de crescimento físico, desenvolvimento psico-
motor, cognitivo, socioafetivo e de comunicação e linguagem.
O programa, de um modo geral, realiza 2 (duas) ou 3 (três) sessões
semanais, iniciando-se sob a forma de atendimentos individuais, que podem
vir a ser intercaladas com sessões de pequenos grupos, quando a criança já
está mais crescida.
O programa de estimulação tem apresentado resultados muito favorá-
veis ao desenvolvimento e à melhoria de vida das crianças e de suas famíli-
as, conforme avaliações técnicas realizadas e depoimentos documentados
por profissionais e familiares.
Serviços comunitários
Como foi dito anteriormente,o poucos os Estados e cidades brasilei-
ras que dispõem do programa de estimulação precoce.
Em face da diversidade de condições técnicas, econômicas, políti-
co-administrativas e outras, nas regiões brasileiras, apenas nos gran-
des centros, o programa de estimulação precoce é ofertado por parte
FASCÍCULO 3
dos órgãos governamentais ou pela iniciativa privada.
o existe em nosso País, e em outros países em desenvolvimento, uma
política de prevenção de deficiências organizada, embora todos reconheçam
a sua importância social e econômica.
Programas de estimulação precoce certamente manteriam nos cofres
públicos muitos recursos que hojeo gastos com pessoas jovens e adultas
queo tiveram a oportunidade de um atendimento adequado nas fases
iniciais de seu desenvolvimento, em momentos propícios à aprendizagem
de habilidades básicas e fundamentais para a aquisição de novos conheci-
mentos.
As crianças com deficiência mental e suas famílias, por outro lado, dei-
xam de auferir os grandes benefícios que esse programa traz para todos os
que dele participam.
As grandes cidades brasileiras já se mobilizam para a criação desse pro-
grama, e outras ampliam os que dispõem de modo a atingir um número cada
vez maior de crianças que o procuram.
Os programas de estimulação precoce começaram a ser oferecidos pela
área de saúde. Foi nesse setor que eles foram criados, seja em clínicas par-
ticulares ou públicas.
Os sistemas educacionais passaram a assumir essa tarefa apenas na
década de 1980, quando a abordagem do programa deixou de ser apenas
clínica, exclusiva de profissionais da área biomédica, para ser uma preocu-
pação de profissionais da educação, que também dispunham de conheci-
mentos para contribuir com o desenvolvimento das crianças e apoiar as
suas famílias.
Trabalho interdisciplinar
O programa de estimulação precoce é desenvolvido, geralmente, por
profissionais de várias áreas de formação: médicos, psicólogos, profissio-
nais de serviço social, pedagogos, psicopedagogos, professores de educa-
ção especial, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, en-
fermeiros e ortópticos, dependendo das necessidades da criança e dos re-
FASCÍCULO 3
cursos locais disponíveis.
Em algumas situações é possível um trabalho interdisciplinar e de equi-
pe, mas em em outras situações, a criança é submetida a atendimentos
variados e por parte de profissionais sem que haja um trabalho integrado e
comunicativo.
Atualmente, em algumas localidades no País, o sistema de ensino pres-
ta esse atendimento na escola pública, sob a responsabilidade de equipes de
educação especial.
0 programa de estimulação precoce utiliza os conhecimentos de diver-
sas áreas das ciências, tais como Psicologia Clínica, do Desenvolvimento e
da Aprendizagem, Medicina em suas múltiplas especializações, Pedagogia,
Fonoaudiologia, Fisioterapia, etc. para estruturar a sua proposta de atendi-
mento ou o seu currículo.
Essa interdisciplinaridade tem sido defendida porque muitos casos de
deficiência envolvem limitações e comprometimentos em diversas áreas do
desenvolvimento.
A realidade dos sistemas educacionais, entretanto,o é de dispor des-
ses recursos e o trabalho é feito por profissionais da educação devidamente
treinados para o seu exercício.
Os recursos da comunidade podem ser buscados para suprir as
necessidades de melhor conhecimento da criança e fundamentar a sua
programação educacional.
o se pode, entretanto, deixar de atender às crianças poro se dispor
de equipe interdisciplinar.
O importante é oferecer um atendimento que traga os benefícios que se
possa oferecer, de acordo com a realidade local, desde que o trabalho
seja realizado sob correta orientação.
FASCÍCULO 3
VERIFICANDO SUA APRENDIZAGEM
Após leitura cuidadosa do texto, responda às seguintes questões de modo
a verificar o seu entendimento do conteúdo do Fascículo.
1. Assinale com um (V) as afirmações verdadeiras e com (F) as fal-
sas:
a. ( ) a deficiência mental é uma doença incurável;
b. ( ) a ciência vem desmistificando muitos preconceitos sobre a defi-
ciência mental;
c. ( ) todas as pessoas com deficiência mentalm atraso global no
desenvolvimento;
d. ( ) algumas crianças com deficiência mentalo portadoras de do-
enças que devem ser tratadas para evitar piores conseqüências;
e. ( ) prevenção de deficiências evita a ocorrência de crianças com de-
ficiências ou reduzem os riscos das queo vulneráveis ao seu aparecimen-
to;
f. ( ) um trabalho de estimulação precoce bem desenvolvido ajuda a
criança a alcançar um melhor desenvolvimento cognitivo, socioafetivo e
psicomotor;
g. ( )o existem princípios ou regras próprias para crianças com de-
ficiência, diferentes das que regem o desenvolvimento das crianças consi-
deradas "normais";
h. ( ) o programa de educação precoce existe em todo o território bra-
sileiro;
i. ( ) a família é co-participante no programa de estimulação precoce,
ou seja, trabalha junto com os profissionais que fazem o atendimento.
2. Assinale com um ( X ) as respostas que dizem respeito ao progra-
ma de estimulação precoce:
a. inicia-se a partir do nascimento até aos três anos de idade;
b. evita-se que a família participe parao interferir no atendi-
mento;
FASCÍCULO 3
c. quando se fala em alto risco, tanto pode-se pensar na criança
como na mãe;
d. quanto mais cedo uma criança for atendida pelo programa,
melhoro as suas perspectivas futuras;
e. a existência de uma equipe interdisciplinar é imprescindível
para a realização de um programa de estimulação precoce.
Conferindo suas respostas
Agora, verifique se as respostas que você deu estão de acordo com as
informações constantes no Fascículo:
1-questão:
a. F
b. V
c. F
d. V
e. V
f. V
g.
v
h. F
i. V
2- questão:
a. X
b.o assinalar o X
c. X
d. X
e.o assinalar o X
Casoo tenha dado alguma resposta de acordo com essa chave de
correção, releia o texto e veja se a sua compreensão do conteúdo
corresponde ao que foi exposto.
Retorne à questão e veja se houve dúvidas.
Releia quantas vezes necessitar para fixar os seus conhecimentos.
FASCÍCULO 3
Bibliografia
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PÉREZ-RAMOS, A.M. de Q. & PÉREZ-RAMOS, J. Estimulação precoce:
serviços, programas e currículos. Brasília: Ministério da Ação Social,
Coordenadoria Nacional para a lntegração da Pessoa Portadora de Defi-
ciência, (CORDE), 1992.
FASCÍCULO 4
CRIANÇAS DE QUATRO A SEIS ANOS COM
DEFICIÊNCIA MENTAL
FASCÍCULO 4
OBJETIVOS
Este é o quarto fascículo da série Educação Especial e tem por obje-
tivo instrumentalizar o professor para atuar com alunos portadores de
deficiência mental.
Este fascículo visa a fornecer subsídios para que esses professores al-
cancem os seguintes objetivos:
- compreender especificidades comportamentais da criança de quatro
a seis anos portadoras de deficiência mental;
- compreender as similaridades do seu comportamento e desenvol-
vimento com relação às demais crianças não-portadoras de deficiência;
- caracterizar as necessidades educacionais dessa população espe-
cífica.
Aspectos de desenvolvimento
O desenvolvimento das crianças de quatro a seis anos de idade portado-
ras de deficiência mental realiza-se segundo os mesmos princípios das de-
mais crianças nessa faixa etária, portanto, as bases biopsicossociais que
regem o desenvolvimento e a aprendizagem das criançaso os mesmos,
seja ela portadora de deficiência mental ou não.
A perspectiva desenvolvimentista defende queo se pode traçar um
perfil típico de desenvolvimento das pessoas com deficiência mental, nem
características específicas padronizadas de sua personalidade ou de seu
comportamento.
A forma como uma criança cresce e se desenvolve depende de vari-
ados fatores individuais, sociais e ambientais. O fato de ter o seu desen-
volvimento cognitivo alterado por qualquer causaso coloca todas as
crianças com deficiência mental no mesmo patamar de limitações e de
capacidades.
Expliquemos melhor.
Para se compreender o desenvolvimento das crianças com deficiên-
cia mental alguns pressupostos precisam ser considerados:
-o várias e diferenciadas as causas que a originam e muitos os
fatores interrelacionados que contribuem para o seu aparecimento. Es-
FASCÍCULO 4
tudos e pesquisas atuais apontam para etiologias multifatoriais e para a
intercausalidade. Com isso pretende-se dizer que muitas causas estão na
origem da deficiência mental e que essas causas interagem como uma rede,
geradora de limitações do funcionamento cognitivo;
- as causas identificadas como biológicas estão associadas a deficiênci-
as mentais mais agravantes. Muitas síndromes estão associadas à deficiên-
cia mental e podem claramente ser identificadas como determinantes das
limitações cognitivas das crianças. Enfermidades, infecções, lesões, intoxi-
cações, estão entre os fatores determinantes de deficiência mental, em dife-
rentes graus de intensidade;
- a literatura especializada tem revelado que as causas biológicas
oo as únicas nem as mais freqüentes entre as etiologias da defici-
ência mental. As estatísticas de prevalência revelam menor contribuição
de fatores etiológicos de natureza orgânica;
- os recursos científicos atuaiso insuficientes para identificar e
diagnosticar muitos casos de deficiência mental. Nos casos avaliados
clinicamente, cerca de 30-40% (trinta a quarenta por cento)o consti-
tuídos de etiologias desconhecidas;
- a deficiência mental pode ser causada, também, por fatores educa-
cionais, sociais e comportamentais e os seus efeitoso diversos, de
mais graves a menos acentuados, tanto no desenvolvimento como na
aprendizagem da criança;
Como se pode observar, a deficiência mental deve-se a causas diver-
sas queo costumam aparecer isoladas e funcionam de forma interativa.
Os seus efeitoso depender da gravidade com que esses fatores
etiológicos agem na personalidade da criança e no seu desenvolvimen-
to.
Convém lembrar que, para uma pessoa ser considerada portadora
de deficiência mental, é necessário que seja avaliada em sua funcionalidade
cognitivo-intelectual e adaptativa. Essa funcionalidade dependeo apenas
de condições individuais, mas, também, das demandas e exigências do seu
meio físico e social e da quantidade e qualidade do apoio que recebe para
atender a essas solicitações ambientais.
Desse modo, o fato de uma criança ser portadora de uma enfermi-
FASCÍCULO 4
dade ou de uma síndromeo a leva, necessariamente, a desenvolver uma
condição de deficiência mental.
Recordando.
Admite-se cientiticamente, em nossos dias, que:
- existe uma complexidade causai na origem da deficiência mental, ob-
servando-se a ação de fatores múltiplos e interativos na sua causalida-
de;
- limitações na investigação diagnostica apontam para a necessidade
de uma compreensão global, funcional e ecológica da deficiência men-
tal, que deve considerar o funcionamento da pessoa na comunidade
em que vive.
0 funcionamento adaptativo de uma pessoa com deficiência mental pode
ser influenciado, portanto, por vários fatores, dentre eles a educação, a mo-
tivação, as características de personalidade, as oportunidades sociais e as
condições médicas gerais.
Se considerarmos que o curso do seu desenvolvimento é o mesmo das
demais pessoas de sua faixa etária, as diferenças observadas no desempe-
nho e no comportamentoo depender das habilidades adaptativas, das li-
mitações cognitivas, dos fatores educacionais, motivacionais, de personali-
dade e das oportunidades favoráveis do meio sociocultural.
0 fator orgânico tem importância parcial, ao ser que a dimensão do
quadro clínico justifique graves limitações funcionais para a criança.
De um modo geral, as limitações mais definidas na deficiência men-
tal correspondem à inteligência conceitual, responsável pela aquisi-
ção do conhecimento e da aprendizagem e à inteligência prática e
social, que definem a competência social do indivíduo.
Para uma criança na faixa dos quatro aos seis anos, os desafios à
inteligência conceitual aindao atingiram um grau elevado e as de-
mandas curriculares da escolao menos acadêmicas do que nas séries
subseqüentes. Na fase de pré-escola, o currículo é constituido de atividades
mais lúdicas, socializadoras, psicomotoras e estimulam as condutas de auto-
cuidado, os jogos simbólicos, as expressões verbais, a criatividade, as atitu-
des de cooperação, etc.
FASCÍCULO 4
Esse período corresponde a um momento em que todas as crianças es-
o em plena aquisição das habilidades sociais. A competência social das
crianças com deticiência mental, também está em fase de desenvolvimento
e merece a atenção da família e da escola para os limites que devem ser
exercitados, a exemplo das demais, crianças não-portadoras de deficiência.
Nesse aspecto, a criança com deficiência mentalo se distingue muito
das demais e sua participação nas brincadeiras e atividades familiares, esco-
lares, comunitárias e sociais ocorrem de maneira natural e realizadora, den-
tro das expectativas do seu grupo etário.
A eficiência intelectual e cognitiva da criança, de um modo geral, está
associada à sua comunicação e linguagem, às funções perceptivo-motoras,
memória, atenção, bem como às suas possibilidades criativas.
Esse período do desenvolvimento é muito favorável à aquisição dessas
habilidades, razão pela qualo se pode perder a oportunidade de incenti-
var, favorecer e estimular todas as oportunidades de aprendê-las.
Resultados de pesquisa revelam a importância das expectativas dos adul-
tos para favorecer ou desfavorecer o desenvolvimento e o desempenho de
crianças. Desse modo, baixas expectativas podem resultar em baixo desem-
penho escolar, que podem estar dissociados da deficiência mental.
As crianças com deficiência mental constituem um grupo heterogêneo.
Suas limitações cognitivas e adaptativas variam, influenciando todas as
suas possibilidades futuras, as formas como serão vistas e tratadas,
bem como as expectativas quanto ao seu desenvolvimento e aprendiza-
gem.
Resultados de pesquisas científicas indicam alguns aspectos que devem
ser considerados sempre que pensarmos no quanto as crianças com defici-
ência mental podem ser diferentes entre si:
- cerca de 85% das pessoas com deficiência mentalm um menor
grau de comprometimento intelectual. Apresentam resultados em testes de
nível mental correspondente a um Ql entre 50-55 e 70, conforme os psicó-
logos avaliam. As crianças pré-escolares com esse nível podem desenvol-
FASCÍCULO 4
ver habilidades sociais e de comunicação eficientes e funcionais, ter um pre-
juízo mínimo nas áreas sensório-motoras e podem comportar-se da maneira
típica das crianças de sua idade não-portadoras de deficiência;
- aproximadamente 10% das pessoas com deficiência mentalm um
nível intelectual mais limitado (mensurado pelos testes de inteligência) que
correspondem a um Ql entre 35-40 e 50-55. Nesse nível, as crianças pré-
escolares podem adquirir habilidades sociais e de comunicação, necessitan-
do de apoio e de acompanhamento mais constante para a sua aprendizagem
e desenvolvimento;
- cerca de 5% das pessoas com deficiência mental apresentam um nível
intelectual gravemente comprometido, obtendo nos testes de inteligência
um Ql abaixo de 35-40. Durante os primeiros anos da infância, essas crian-
ças adquirem pouca (ouo adquirem) fala comunicativa e apresentam pre-
juízos substantivos no desenvolvimento sensório-motor. Podem beneficiar-
se de estimulação multissensorial e de comunicação, requerendo um ambi-
ente estruturado favorável à sua aprendizagem e ao seu desenvolvimento,
com apoio e acompanhamento constantes.
A literatura revela, entretanto, que os testes de inteligênciaoo sufi-
cientes para diagnosticar uma criança como portadora de deficiência men-
tal. Considera-se que as habilidades adaptativas também precisam estar al-
teradas, bem como indicadores de alterações no desenvolvimento precisam
estar presentes (Associação Americana de Retardo Mental, 1992).
Vimos, ainda, como os fatores motivacionais, de personalidade e
ambientais desempenham um papel importante no desenvolvimento e
nas realizações da criança. Desse modo, os resultados do Ql devem ser
considerados, maso constituem a única e mais importante referência
para a identificação da deficiência mental.
Educação infantil de quatro a seis anos
A educação oferecida em pré-escolas configura um atendimento educa-
cional pretendido para as crianças em geral, na faixa etária dos quatro aos
seis anos.
FASCÍCULO 4
Seu modelo educacional e a proposta pedagógica adotada preconizam
o desenvolvimento cognitivo, socioafetivo e psicomotor da criança,
enfatizando as interações com o meio, que permitem a edificação/constru-
ção evolutiva das estruturas lógicas do pensamento, como apregoam Piaget,
Wallon, Vigostsky e outros.
A prática pedagógica da pré-escola incentiva atividades lúdicas e
estimula a criança à ação, à descoberta e à participação ativa no seu
ambiente físico e social.
O currículo educacional destina-se ao desenvolvimento global da crian-
ça, sendo os seus objetivos, conteúdos e atividades inspirados nas teorias
do desenvolvimento e da aprendizagem infantil.
Os modelos educacionais consideram o significado da infância e
suas formas peculiares de pensar, agir e sentir. Relevam as formas como
adquirem conhecimentos, valores morais e como estabelecem as tro-
cas com o seu meio. Do mesmo modo, consideram a dinâmica de suas
relações com os pares e com os adultos, enfim, o movimento evolutivo
de sua personalidade.
Tal modelo é ideal para qualquer criança, com ou sem deficiência,
sendo, portanto, indicado para a educação das crianças com deficiência
mental.
Adaptações curriculares
As crianças de 4 a 6 anos com deficiência mental devem freqüentar
as escolas regulares. Como vimos, o currículo escolar dessa faseo
comporta atividades de cunho acadêmico acentuado, que dificulte ou
inviabilize a sua participação na escola comum, junto aos seus pares
não-portadores de deficiência.
Do mesmo modo, o currículo contém todas as propostas de desen-
volvimento e aprendizagem queo adequados e esperados para todas
as crianças, independentemente de seu nível intelectual.
As adaptações curriculares permitem o atendimento às necessida-
des específicas do aluno com deficiência mental.o se trata de elabo-
rar um programa paralelo, mas de ajustar a programação regular ado-
tada para os demais alunos, uma vez que a maioria das crianças com
deficiência mental pode-se beneficiar de um currículo regular adaptado.
Alguns aspectos devem ser considerados ao se realizar as adaptações
curriculares na pré-escola:
FASCÍCULO 4
- a necessidade e a pertinência dessas adaptações para o aluno, de
acordo com o seu nivel de competencia curricular e de suas necessidades
especiais;
- a adequação constante dessas adaptações às mudanças observadas
no comportamento e desenvolvimento do aluno;
- a análise do contexto escolar e familiar que possam favorecer e
possibilitar as mudanças adaptativas.
As medidas e procedimentos mais usuais que caracterizam as adapta-
ções curriculares são, dentre outros:
- criação de condições físicas, ambientais e materiais para o aluno na
pré-escola;
- colocação do aluno nos grupos com os quais possa melhor traba-
lhar;
- adoção de métodos e técnicas de ensino-aprendizagem específi-
cos para o aluno, quando necessário, de modo a permitir-lhe a apreen-
o dos conteúdos curriculares sem prejuízo para as atividades regula-
res;
- propiciação de apoio regular ou especializado para a realização
das atividades em que encontre dificuldades;
- introdução de atividades individuais complementares, quando ne-
cessário, para possibilitar ao aluno alcançar os objetivos comuns aos
demais colegas;
- adequação dos conteúdos, objetivos e critérios de avaliação às
condições do aluno e às suas reais possibilidades de realização;
- adequação do tempo às condições do aluno, às suas necessida-
des frente ao processo ensino-aprendizagem e ao desenvolvimento de
suas habilidades.
Na pré-escola as adaptações curriculareso mais reduzidas, por-
que o currículo naturalmente preconiza o desenvolvimento do aluno,
respeitando o seu ritmo próprio e, também, porqueo enfatiza a apren-
dizagem de conteúdos, mas sim a realização de atividades variadas,
lúdicas, de interesse para a criança, favorecedoras de seu desenvolvi-
mento global.
Por essa razão, a educação infantil oferecida em pré-escolaso tem
seriação nem, portanto, reprovação.
FASCÍCULO 4
Questões de segregação/integração por meio dos modelos de atendimento
O período correspondente à educação infantil é muito propício à
integração/inclusão escolar do aluno, exigindo, como vimos, poucas adap-
tações curriculares.
As crianças, nessa faixa etária,o muito receptivas às diferenças umas
das outras e se integram no lúdico, no brinquedo, na fantasia, sem precon-
ceitos e discriminações.
Infelizmente, os modelos de atendimento educacional aindao predo-
minantemente segregativos na maior parte do País, em face da tradição na-
cional de se colocar as crianças em instituições especializadas, como se o
padrão deficiência-escola especializada ou deficiência-educação espe-
cial fosse estático, verdadeiro e intransponível.
As experiências de inclusão escolar das crianças com deficiência mental
nos programas de educação infantilm se revelado satisfatórias, a despeito
do despreparo das escolas regulares para o seu atendimento e das atitudes
preconceituosas da comunidade escolar frente a esses alunos.
Observa-se resistência de educadores e de pais à perspectiva
integracionista, porque desconhecem os benefícios desse atendimento
para o desenvolvimento, a socialização e a aprendizagem dos alunos,
bem como das atitudes receptivas e solidárias que podem ser desperta-
das frente à diversidade social.
Nas grandes cidades já se pratica a educação inclusiva, estando os edu-
cadores conscientes do preceito constitucional de que a educação de
crianças com deficiência deve realizar-se preferencialmente na rede re-
gular de ensino (art. 208, inciso III).
O mesmo, entretanto,o ocorre nos recantos do País, onde a pos-
sibilidade de acesso à educação de pessoas com deficiência mental é
incipiente, mesmo em escolas especializadas.
A educação inclusiva tem sido prejudicada pelas seguintes razões,
dentre outras:
- inadequação na capacitação de professores/educadores, tanto
especializados como do ensino regular;
- insuficiência ou inexistência de profissionais especializados (profes-
FASCÍCULO 4
sores itinerantes ou de salas de recursos) para orientar a comunidade esco-
lar ou para apoiar, quando necessário, a aprendizagem e a integração social
dos alunos com deficiência mental;
- muitos educadores preferem a educação segregada poro aceitarem
ouo acreditarem nas propostas inclusivas, ou desconfiarem de sua efici-
ência;
- alguns professores receiamo conseguir lidar com os alunos
portadores de deficiência em ambiente integrado;
- alguns professores especializados preferem o ambiente mais protegi-
do das escolas segregativas e enfatizam a eficiência e a necessidade do
trabalho técnico especializado, minimizando as influências favoráveis que o
ambiente inclusivo propicia.
Serviços comunitários
No Brasil, os programas de educação infantilo oferecidos por es-
colas particulares, em sua maioria. Dentre essas, poucas recebem alu-
nos com deficiência mental e, quando o fazem, desconhecem as formas
de atender às suas necessidades especiais ou ignoram essas necessi-
dades.
o, portanto, na maior parte do país, mesmo nas grandes cida-
des, pré-escolas públicas suficientes para crianças, sejam elas portado-
ras ou não, de deficiência.
Numerosas escolas especializadas filantrópicas, sem fins lucrativos
oferecem esse atendimento às crianças com deficiência desde a primei-
ra infância, a exemplo de instituições tradicionalmente conhecidas, como
APAE e Pestalozzi, dentre outras, quem assumido a responsabilidade
do poder público na educação de pessoas com necessidades especiais
desde o início do século.
Atualmente, as políticas governamentais apontam para um maior
incentivo à oferta de escolarização para crianças pré-escolares, o que
melhora a expectativa de vagas para as que apresentam necessidades
especiais.
Possibilidades de trabalho interdisciplinar
No âmbito das instituições escolares, o trabalho interdisciplinar é
FASCÍCULO 4
mais encontrado nas instituições especializadas. Muitas dispõem de equi-
pes interdisciplinares constituídas, principalmente, de professores, psicólo-
gos, fonoaudiólogos e profissionais de serviço social. Essa situação, entre-
tanto,o é possível no interior do País, onde alguns desses profissionais
oo acessíveis na própria comunidade.
Quando se pensa em escola regular, o trabalho interdisciplinaro tem
sido possível. As escolaso dispõem de equipes, ao ser de professores,
e pouco se cogita até mesmo sobre a sua necessidade.o é raro ouvir a
afirmação que, se uma criança necessita de um aparato técnico especializa-
do para a sua educação, a escola regular certamenteo é o local mais
indicado para oferecê-la.
Entende-se que muitas crianças pré-escolares com deficiência mental
podem ser beneficiadas com o programa curricular comum, sem a necessi-
dade de um trabalho interdisciplinar de vários profissionais. É o que ocorre
com as que apresentam uma deficiência menos agravante.
A prática pedagógica regular e a atenção docente para as necessi-
dades particulares dessas crianças, podem ser suficientes na sua edu-
cação escolar.
Outras crianças, no entanto, necessitarão de apoio profissional,
como ocorre em casos onde alterações orgâncias podem coexistir com
a deficiência mental, requerendo tratamento clínico. A interdisci-
plinaridade, portanto, tem a sua indicação e deve levar em conta a di-
versidade da condição das crianças com deficiência mental e de suas neces-
sidades específicas. Por outro lado, deve-se levar em conta a disponibilida-
de local dos profissionais.
FASCÍCULO 4
VERIFICANDO SUA APRENDIZAGEM
Após leitura cuidadosa do texto, responda às seguintes questões,
de modo a verificar o seu entendimento do conteúdo do Fascículo:
1. Assinalar com um ( V ) as afirmativas verdadeiras e com ( F ) as
falsas:
a. ( ) as causas da deficiência mental devem-se apenas aos fatores
biológicos que surgem desde cedo na vida da criança;
b. ( ) há pessoas com deficiência mental sem comprometimento bio-
lógico, mas resultante de etiologias educacionais, sociais e comportamentais;
c. ( ) para que uma criança seja considerada portadora de deficiência
mental precisa-se levar em conta sua funcionalidade cognitiva e adaptativa,
as exigências do meio ambiente e a quantidade e a intensidade de apoio que
necessita para desempenhar-se na vida diária.
2. Assinalar com ( X ) as afirmativas verdadeiras:
A perspectiva desenvolvimentista defende que:
a. ( ) é possível traçar um perfil típico de desenvolvimento da pessoa
com deficiência mental;
b. ( ) pode-se identificar características típicas de sua personalidade e
do seu comportamento;
c. ( ) o desenvolvimento e a aprendizagem da pessoa com deficiência
mental obedece aos mesmos princípios e seqüência evolutiva das demais
pessoas;
d. ( ) as limitações cognitivas e adaptativas das crianças com deficiên-
cia mentalo se deve apenas às razões que deram origem à sua deficiência,
mas a fatores biopsicossociais que influenciam o seu desenvolvimento como
um todo.
FASCÍCULO 4
3. Complete as lacunas com as palavras selecionadas dentro dos pa-
rênteses:
A educação das crianças de quatro a seis anos deve ser realizada nas
escolas ,o necessitando ocorrer em
escolas . É possível realizar-se uma
curricular eficiente para esses alunos porque na
pré-escola os conteúdoso compostos de mais atividades recreativas, es-
pontâneas, criativas, lúdicas, ou seja, menos
do que as séries escolares que se seguem.
Por outro lado, o desenvolvimento das crianças dessa faixa etária, salvo
as que apresentam problemas biomédicos significativos, é
ao das demais crianças.
(especializadas - adaptação - acadêmicas - similar - regulares)
Conferindo suas respostas
Agora, verifique se as suas respostas estão de acordo com os con-
teúdos do Fascículo:
1ª questão
a.(F)
b.(V)
c.(V)
d.(V)
e.(F)
2ª questão
a.( )
M )
c.(X)
d.(X)
3ª questão
Seqüência das palavras : regulares - especializadas - adaptação -
acadêmicas - similar.
FASCÍCULO 4
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UNIVERSIDADE DEO CARLOS. VIII Ciclo de estudos sobre deficiên-
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FASCÍCULO 5
A CRIANÇA DE SETE A ONZE ANOS
COM DEFICIÊNCIA MENTAL
FASCÍCULO 5
OBJETIVOS
Este é o quinto fascículo da série Educação Especial e tem por objetivo
instrumentalizar o professor para atuar com alunos portadores de deficiên-
cia mental.
0 fascículo visa fornecer subsídios para que esses professores al-
cancem os seguintes objetivos:
- compreender especificidades comportamentais da criança de sete a
onze anos com deficiência mental;
- compreender as similaridades do seu comportamento e desenvolvi-
mento com relação às demais crianças não-portadoras de deficiência;
- caracterizar as necessidades educacionais dessa população espe-
cífica.
Aspectos de desenvolvimento
Nesse estudo sobre as crianças de 07 (sete) a 11 (onze) anos de
idade portadoras de deficiência mental, defende-se os pressupostos
baseados na perspectiva desenvolvimentista.
Essa perspectiva enfatiza que existe uma similaridade básica entre o de-
senvolvimento das crianças com deficiência mental e as queoo porta-
doras de nenhuma deficiência. Os estudiosos da linha desenvolvi-
mentista consideram que o crescimento cognitivo das crianças com
deficiência mental ocorre com base nos seguintes pressupostos:
- é processado pelos mesmos estágios cognitivos por que passam
as outras criançaso portadoras de deficiência;
- existe uma estrutura de inteligência própria de cada nível de de-
senvolvimento, sendo essas estruturas similares em todas crianças;
- as estruturas intelectuais das crianças respondem aos fatores do
ambiente físico e social por meio de padrões similares.
Desse modo, entende-se que as crianças com ou sem deficiência
mental obedecem a uma seqüência similar de desenvolvimento,m
uma estrutura similar de inteligência e reagem, estruturalmente, de maneira
similar às influências ambientais.
FASCÍCULO 5
Essa concepção considera, no entanto, a influência do tipo de. limitação
cognitiva. Defende que etiologias diversas podem influenciar em alguns ou
nos três pressupostos mencionados acima, como ocorre com certas
etiologias organicamente determinadas, que podem configurar um quadro
muito agravado e comprometedor de deficiência mental.
No geral, o funcionamento cognitivo das crianças com deficiência men-
tal apresenta-se defasado no que diz respeito à inteligência conceitual e à
inteligência prática social, de forma variada. Assim, os aspectos sociais,
de comunicação, lingüísticos, acadêmicos e outros associados a essas for-
mas de inteligência, poderão estar atrasados ou alterados em diferentes graus,
de acordo com a intensidade da limitação intelectual existente.
Nas fases iniciais do desenvolvimento cognitivo a inteligência da criança
opera por etapas eminentemente corporais, perceptivas, sensorio-motoras.
Manifesta-se pela gestualidade e através das ações que realiza no ambiente
físico e social que a cerca.
Dos 7 (sete) aos 11 (onze) anos, o desenvolvimento cognitivo torna-se
mais complexo e as demandas ambientais aumentam. Em resposta, as es-
truturas intelectuais da criança se desenvolvem gradativamente, de modo a
responder às exigências cada vez maiores do ambiente circundante.
Com relação às crianças com deficiência mental, observa-se um atraso
progressivo dessas etapas sucessivas. Esse atraso progressivo, por sua
vez, depende das limitações da criança queo devidas a certos fatores:
- etiologia;
- amplitude e intensidade da deficiência;
- estimulação ambiental;
- respostas afetivas da criança e de sua família à sua condição inte-
lectual;
- influência de fatores psicossociais e culturais;
- acesso a atendimentos educacionais, etc.
FASCÍCULO 5
Queremos enfatizar com isso que as crianças com deficiência mental
o diferentes entre si e que seu funcionamento na vida diária depende de
outros fatores queo além da condição individual.
Por exemplo, algumas crianças com deficiência mental podem apresen-
tar dificuldades em habilidades de comunicação tais como:
- atraso no aparecimento da fala;
- transtornos na articulação e no ritmo;
- dificuldade para a aquisição da linguagem, dentre outras.
Apesar disso,o se pode afirmar que essas característicaso típicas
de crianças com deficiência mental, uma vez que podem ocorrer, também,
em crianças não-portadoras de nenhuma deficiência.
Por um lado, verifica-se que crianças com deficiência mental muito
acentuada, como as que apresentam um Ql abaixo de 25 (em testes
validados e adequadamente administrados), terminam por apresentar
uma considerável defasagem em várias áreas do seu desenvolvimento
e do seu desempenho. Às vezeso chegam a adquirir habilidades como
as de linguagem funcional.
Por outro lado, crianças com leve defasagem no nível intelectual
podem atingir um bom nível de desenvolvimento global, permitindo a
aquisição da leitura e da escrita, a aprendizagem de conteúdos acadê-
micos e habilidades de linguagem semelhantes às do padrão considera-
do normal.
Esses exemplos demonstram como as habilidades cognitivas e socio
adaptativas contribuem, em parte, para o desenvolvimento da lingua-
gem.
Situações similareso vistas com relação ao desenvolvimento
psicomotor. As habilidades psicomotoras podem estar preservadas ou,
apenas, superficialmente atingidas nas crianças que apresentam leve
defasagem no desenvolvimento cognitivo. Os seguintes aspectos po-
dem ser avaliados como normais, na maior parte dessas crianças:
- coordenação global e motora-fina;
- atenção;
- memória;
- relações espaciais e temporais;
- esquema corporal, etc.
FASCÍCULO 5
Há circunstâncias, entretanto, em que o comportamento psicomotor pode
estar muito comprometido na criança com deficiência mental, por influência
do déficit cognitivo mais acentuado ou por fatores etiológicos de maior gra-
vidade. De um modo geral, esses fatores etiológicos, quando mais graves,
costumam ser de natureza orgânica, tais como, lesões cerebrais, tumores,
síndromes genéticas, etc.
Nesses casos, faz-se necessário desenvolver um programa de reeduca-
ção psicomotora que estimule o desenvolvimento e propicie a aquisição de
melhores padrões psicomotores, de acordo com as condições apresentadas
pela criança.
Os déficits na inteligência prática e social terminam resultando em limi-
tações nas habilidades sociais, tais como:
- fazer amigos;
- estabelecer trocas em situações de jogos sociais;
- demonstrar afeição e aceitação;
- fazer escolhas do seu interesse;
- interagir socialmente, etc.
Esses exemploso úteis para demonstrar que, em qualquer grupo
de crianças com deficiência mental, observa-se grande variabilidade in-
dividual, no desenvolvimento, no comportamento, na aprendizagem,
enfim, na personalidade como um todo.
o se tem embasamento científico para generalizar ou estabelecer
padrões típicos de personalidade. As crianças com deficiência mental
o muito diferentes entre si, da mesma maneira como todas as pesso-
as nesse mundoo únicas e singulares.
Educação escolar e questões de segregação/integração por meio dos
modelos de atendimento
A forma de atendimento educacional fornecido às crianças entre
07(sete) e 11 (onze) anos de idade pode variar muito.
FASCÍCULO 5
Quando portadoras de uma deficiência mental mais leve, muitas vezes
vindas da pré-escola, podem ingressar em escolas inclusivas, iniciando
um programa de alfabetização em classes comuns do ensino regular. Embo-
ra mais lentas, essas crianças avançam e podem obter um bom desempe-
nho acadêmico.
Em situações como essas, podem receber, se necessário, atendi-
mento especializado complementar, oferecido por um professor, em salas
de recursos em sua própria escola ou de uma escola próxima que ofereça
esse serviço.
0 que é uma sala de recursos ?
"Um local com equipamentos, materiais e recursos pedagógicos es-
pecíficos à natureza das necessidades especiais do alunado, onde se
oferece a complementação do atendimento educacional realizado em
classes do ensino comum. O aluno deve ser atendido individualmente ou
em pequenos grupos, por prof essor especializado, e em horário diferen-
te do que freqüenta no ensino regular. " (BRASIL, 1994, p.21).
Esse apoio deve ser oferecido em horário contrário ao das aulas nor-
mais, parao prejudicar as atividades regulares.
A atividade consiste, geralmente, em reforçar os conteúdos ministra-
dos pelo professor na sala comum e na realização de atividades psicomotoras,
de linguagem e outros, quando necessários. Há situações em que as crian-
ças com nível intelectual menos comprometido costumam necessitar, ape-
nas, de apoio para a sua integração. Esse apoio consiste em orientações aos
pais, aos professores e outros membros da comunidade escolar, sendo esse
atendimento prestado nas salas de recursos ou por meio de um professor
especializado itinerante.
0 atendimento itinerante é definido como:
"Trabalho educativo desenvolvido em várias escolas por um docente
especializado, que periodicamente trabalha com o educando portador de
necessidades especiais e com o professor de classe comum, proporcio-
FASCÍCULO 5
nando-lhes orientação, ensinamentos e supervisão adequados. " (BRA-
SIL, 1994, p. 20)
De um modo geral, as crianças que apresentam uma defasagem
cognitiva leve conseguem levar adiante a sua progressão acadêmica,
um avanço escolar que lhes permite concluir as séries iniciais do ensi-
no fundamental, com pequena defasagem de idade/série, em relação aos
demais colegas não-portadores de deficiência .
Para esse resultado ser obtido, algumas adaptações curriculares devem
ser realizadas, além de condições favoráveis de aprendizagem.
Uma criança que tenha passado por programas de estimulação pre-
coce, freqüentado a pré-escola, que tenha sido encorajada e motivada
pelos familiares e professores e tido acesso a adaptações curriculares
apropriadasm maior probabilidade de atingir todo o seu potencial de
aprendizagem escolar.
Sabemos, entretanto, que embora a maior parte das crianças com
deficiência mental apresente deficiências mais leves, algumas convivem
com deficiências mais acentuadas e que, em face de suas necessidades
especiais,o conseguem estudar em uma classe comum do ensino
regular, mas podem ser indicadas para classes especiais na rede re-
gular de ensino, mesmo que seja por um período transitório, até que
possam atingir condições que lhes permitam o ingresso nas classes
comuns, como é desejável.
0 que entendemos por classe especial?
"sala de aula em escolas de ensino regular, organizada de forma
a se constituir em ambiente próprio e adequado ao processo ensi-
no-aprendizagem do alunado da educação especial. Nesse tipo de
sala especial, os professores capacitados, selecionados para essa
função, utilizam métodos, técnicas e recursos pedagógicos
especializados e, quando necessário, equipamentos e materiais di-
dáticos específicos." (BRASIL, 1994, p. 19 )
Nessa condição, os alunos de classes especiais podem seguir um
currículo adaptado, estudar com um professor especializado e com co-
legas também portadores de deficiência mental.
FASCÍCULO 5
Essas classes especiaiso podem constituir um local onde os alunos
fiquem retidos, sem progressão acadêmica, mas um local onde possam se
preparar para o ingresso na classe comum ou em outros programas inclusi-
vos.
A despeito das críticas a esse modelo de atendimento, sua prática é
muito difundida em todo o País, como uma forma parcial de inclusão esco-
lar, em que as crianças estudam em classes separadas, mas convivem com
os demais colegas da escola nos momentos de lazer, passeios, entrada e
saída do turno escolar, nas comemorações, etc.
Os que defendem as classes especiais argumentam que o número
de alunos na sala é mais reduzido, que existe maior disponibilidade por
parte do professor, que o programa pode ser mais ajustado às necessi-
dades do aluno, que os comportamentos adaptativos podem ser me-
lhor adquiridos sob a orientação do professor, dentre outros.
Além das alternativas da classe comum e da classe especial, outras
possibilidades existem para atender à situação de outras crianças
que, em face do agravamento de sua condição individual, estudam
em instituições segregadas, destinadas apenas aos portadores de de-
ficiência mental ou de múltiplas deficiências. Geralmente, as crianças
com essa defasagem cognitiva mais intensa e abrangente ou que apre-
sentam múltiplas deficiências encontram-se nessas condições por cau-
sas orgânicas e constituem um número mais reduzido entre os porta-
dores de deficiência mental.
O argumento em favor dessa forma de atendimento fundamenta-se no
fato da criança sero comprometida que estaria sem condições de auferir
benefícios do currículo adaptado, vindo a necessitar de um currículo
individual para a sua educação.
Os que defendem essa forma de atendimento alegam, também, que
as escolas especializadas dispõem de equipamentos, materiais, ambi-
entes e recursos humanos especializados que a escola comumo tem
acesso. Podem contar, inclusive, com equipe multidisciplinar, composta
por professores, pedagogos, psicólogos, fonoaudiólogos e outros, prin-
cipalmente nas grandes cidades do país.
FASCÍCULO 5
As escolas especializadas deveriam ser de indicação restrita apenas para
àquelas crianças impedidas de inclusão escolar na rede regular de ensino.
Mesmo assim, quando indicadas, deveria ser pelo tempo mais transitório
possível.
De um modo geral, entretanto, essas recomendaçõesoo ob-
servadas e, treqüentemente, podem-se encontrar crianças indevidamente
matriculadas e mantidas nessa forma socialmente mais restritiva de atendi-
mento nas instituições especializadas.
Na maioria das vezes esse fato acontece por consentimento da própria
família, pelas seguintes razões:
- receio ou resistência frente às alternativas inclusivas, por represen-
tar uma forma ainda desconhecida de atendimento;
- comodidade, uma vez que deixando a criança em tempo parcial ou
total na instituição, ela estará cuidada e atendida por pessoal qualifica-
do;
- desconhecimento das reais potencialidades dos filhos para atingir
melhores níveis de escolaridade;
-o reconhecimento dos benefícios auferidos pela inclusão esco-
lar;
- receio frente ao preconceito e discriminação por parte da comuni-
dade escolar da escola comum;
- reconhecimento da inflexibilidade do sistema educacional para
atender às diferenças individuais;
- receio pelo despreparo dos professores do ensino regular para
atuar com crianças portadoras de deficiência, etc.
A escolha por modalidades segregativas de atendimento nas esco-
las especializadas ou em programas destinados apenas a portadores de
deficiênciao freqüentes, mesmo em países desenvolvidos.
Pelas razões mencionadas e por outras desconhecidas ou incon-
fessas, muitas crianças estão segregadas, desnecessariamente, em am-
bientes restritivos e pouco favoráveis ao seu desenvolvimento e apren-
dizagem, ficando privadas do convívio com as demais crianças.
FASCÍCULO 5
Muitas vezes, essas escolhaso resquícios sociais de preconcei-
to, discriminação, conservadorismo ou desconhecimento dos benefíci-
os auferidos pelas perspectivas inclusivas.
Adaptações curriculares
As adaptações curriculares nessa faixa de escolarizaçãoo mais
abrangentes e dependem das necessidades individuais identificadas dos alu-
nos, o que se faz mediante uma avaliação psicopedagógica eficiente.
As adaptações curriculareso visam a adaptação da criança ao currí-
culo, mas o inverso: ajustar o currículo às necessidades específicas da cri-
ança.
Por um lado podemo constituir alterações expressivas na programa-
ção regular, de tal modo que todos os alunos da sala possam delas se
beneficiar, portadores ouo de deficiências.
Por outro lado, podem ser adaptações significativas, para permitir a
participação do aluno nas atividades curriculares comuns e possibilitar
o alcance dos objetivos definidos em cada etapa educativa.
Essas adaptações curriculares e de acesso ao currículo podem in-
cluir:
- a criação de condições físicas, ambientais e materiais para o aluno
na sua unidade escolar de atendimento;
- a propiciação de melhores níveis de interação e comunicação com
as pessoas com as quais convive na comunidade escolar;
- as adaptações metodológicas e didáticas: situar o aluno onde pos-
sa melhor trabalhar, adotar métodos e técnicas de ensino-aprendiza-
gem específicas para o aluno, quando necessário, sem prejuízo para as
atividades curriculares;
- a utilização de técnicas, procedimentos e instrumentos de avalia-
ção distintos da classe, se necessário, sem alterar os objetivos da avali-
ação e seu conteúdo;
- a introdução de atividades complementares para o aluno alcançar
os objetivos comuns dos demais colegas. Essas atividades podem ser
realizadas na própria classe, na sala de recursos ou por meio do professor
FASCÍCULO5
itinerante, devendo envolver o professor da sala regular na sua programação
e/ou execução;
- a introdução de atividades complementares específicas para o aluno,
para atender a necessidades diversas que ele tenha diferentes das do resto
da turma;
- a supressão de atividades ou objetivos educacionais queo pos-
sam ser atingidos ou realizados pelo aluno e que lhe restrinjam a participa-
ção ativa. Substituir essas atividades e objetivos por outros acessíveis, sig-
nificativos e básicos para o aluno;
- a adoção de um tempo para o cumprimento dos objetivos, conteú-
dos e critérios de avaliação, que sejam exeqüíveis para o aluno (respei-
tar o ritmo próprio ).
Para os alunos que apresentam limitações intelectuais mais graves,
os currículos regulares muitas vezes nem podem ser adaptados, exigin-
do um currículo próprio, ajustado às potencialidades e limitações do
aluno.
Nesses casos, às vezes é necessário adotar exclusivamente ou par-
cialmente atendimentos individualizados.
Serviços comunitários
Para a faixa etária dos 07 (sete) aos 11 ( onze ) anos, os serviços
comunitárioso basicamente serviços de educação, saúde e alguns pro-
gramas de esporte e lazer.
De um modo geral, nas grandes cidades, as escolas públicas dis-
põem de classes especiais, salas de recursos e professores itinerantes
para os alunos que dela precisam. Os alunos com indicação para clas-
ses comuns do ensino regular, também encontram essa oportunidade.
A situação, entretanto, é diversificada, existindo um grande percentual
de crianças com deficiência mental sem atendimento no País. As pequenas
cidades e as áreas ruraiso as mais atingidas pela falta de acesso à educa-
ção.
As escolas especializadas filantrópicasm procurado atender a essa
demanda nas regiões de menor oferta de ensino, embora o seu número
FASCÍCULO 5
o seja suficiente para dar a todos a oportunidade à educação.
Onde elas estão atuando, procuram atender, ao máximo, crianças
portadoras de deficiência que procuram os seus serviços, independen-
temente da adequação desse atendimento, ou seja, da possibilidade de
a criança se beneficiar da perspectiva inclusiva.
Às vezes essas escolas segregativaso as únicas oportunidades de
atendimento educacional disponíveis na comunidade.
Possibilidade de trabalho interdisciplinar
As possibilidades de trabalho interdisciplinar variam de acordo com a
tipologia das escolas.
As instituições especializadas, de um modo geral, dispõem de equi-
pe interdisciplinar, até mesmo porque as condições das crianças
indicadas para essa forma de atendimento requerem um aparato técni-
co mais sofisticado.
Nesses casos, as condições ambientais favorecem a interdis-
ciplinaridade.
Nas escolas regulares as equipeso constituídas apenas de pro-
fessores, ou mesmo de um orientador educacional e só eventualmente
de um psicólogo.
A interdisciplinaridade termina sendo, quando ocorre, entre as discipli-
nas escolares que buscam uma melhor transversalidade entre os com-
ponentes curriculares. De um modo geral, a interdisciplinaridadeo
costuma ocorrer nas escolas, uma vez que os professores dedicam-se
ao seu trabalho de maneira independente, sem maior entrosamento.
Quando as crianças, seja de escolas segregadas ou inclusivas,o aten-
didas por outros profissionais da comunidade (médico, psicólogo,
fonoaudiólogo, etc.) esses atendimentos são, também, isolados,o
compartilhados com os profissionais da escola.
As condições prevalecentes no País, portanto,o indicam a prática da
interdisciplinaridade, porqueo, na maioria da vezes, nem mesmo
profissionais disponíveis na comunidade.
FASCÍCULOS
VERIFICANDO SUA APRENDIZAGEM
Após leitura cuidadosa do texto, responda às seguintes questões, de
modo a verificar o seu entendimento do conteúdo do Fascículo:
1. Assinalar com um ( V ) as afirmativas corretas e com ( F ) as
falsas:
a. ( ) a perspectiva desenvolvimentista defende que as crianças com
deficiência mental aprendem e se desenvolvem de maneira diversa das de-
mais crianças;
b. ( ) os estudos sobre o desenvolvimento consideram que, depen-
dendo das causas da deficiência mental, se forem orgânicas, alguma dife-
rença no desenvolvimento pode ser observada;
c. ( ) a inteligência conceitual está associada à aprendizagem dos con-
teúdos curriculares de caráter mais acadêmico, por isso, a criança pode vir a
apresentar algumas dificuldades;
d. ( ) a inteligência socialo ajuda a criança a aprender na escola.
2. Assinalar com ( X ) as proposições corretas:
a. ( ) a inteligência da criança na fase inicial do desenvolvimento é mais
sensório-motora, mais corporal e perceptivo-motora;
b. ( ) a linguagemo é beneficiada pelas habilidades cognitivas;
c. ( ) a criança portadora de deficiência mental na faixa de sete a onze
anos de idadeo precisa freqüentar escola, porqueo vai mesmo apren-
der;
d. ( ) o desenvolvimento inteletual da criança com deficiência mental
realiza-se mais lentamente do que o da criançao portadora de deficiência.
3. Preencher as lacunas com as palavras selecionadas nos parênte-
ses:
As crianças de sete a onze anos de idade com deficiência mental
apresentam graus de comprometimento intelectual.
FASCÍCULO 5
Dependendo da gravidade de suas limitações essas crianças podem ser
atendidas em escolas ou especializadas. Para as
crianças com limitações leves, as classes comuns nas escolas regulareso
mais indicadas, enquanto que as crianças com maiores
podem se beneficiar mais das classes
, mesmo que seja transitoriamente. As crian-
ças com deficiência mental podem necessitar de currículos
para a sua educação, como, também, do apoio
de professores ou de salas de
( regulares - recursos - limitações - diferentes - adaptados - especi-
ais - itinerantes )
4. Preencher as lacunas com sim ou não, de acordo com os exem-
plos de adaptações curriculares:
a. deixar os alunos fazerem tudo o que desejarem na sala de aula
b. criar condições físicas, ambientais e materiais para oportunizar ao
aluno a aprendizagem dos conteúdos curriculares ;
c. colocar os alunos com deficiência separado dos outros, para lhes
ensinar só o que podem aprender ;
d. supressão de atividades que o alunoo seja capaz de aprender,
mesmo com apoio ;
e. acrescentar atividades complementares para o aluno com defici-
ência mental, de modo que ele possa atingir os objetivos dos demais
alunos da turma
Conferindo suas respostas
Agora, verifique se as suas respostas estão de acordo com os
conteúdos do fascículo:
FASCÍCULO 5
1ª questão
a.(F) b.(V)
c.(V) d.(F)
2ª questão
a.(X) b.( )
c.( ) d.(X)
3ª questão
seqüência das palavras : diferentes - regulares - limitações -
especializadas - adaptados - itinerantes - recursos.
4ª questão
a.o b. sim
c.o d. sim
e. sim
FASCÍCULO 5
Bibliografia
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UNIVERSIDADE DEO CARLOS. VIII Ciclo de estudos sobre deficiên-
cia mental.o Paulo: UFSCar, 1995.
O ADOLESCENTE COM
DEFICIÊNCIA MENTAL
FASCÍCULO
FASCÍCULO 6
OBJETIVOS
Este é o sexto fascículo da série Educação Especial e tem por objetivo
instrumentalizar o professor para atuar com alunos portadores de deficiên-
cia mental.
O Fascículo visa fornecer subsídios para que esses professores alcan-
cem os seguintes objetivos:
- compreender a adolescência como uma etapa evolutiva do portador de
deficiência mental;
- identificar problemas específicos do adolescente com deficiência
mental de modo a preveni-los;
- conhecer as alternativas educacionais destinadas aos adolescen-
tes com deficiência mental;
- identificar as adaptações curriculares necessárias a essa popula-
ção específica.
Aspectos de desenvolvimento
A adolescência é um período evolutivo caracterizado pelas mudan-
ças físicas próprias da fase pùbere mas, também, por mudanças
psicossociais importantes para o indivíduo.
As mudanças corporaiso relativas ao crescimento da estatura e dos
órgãos, às alterações hormonais, ao aparecimento dos caracteres sexuais
secundários ( pêlos, alteração da voz nos rapazes, crescimento dos sei-
os nas moças, etc. ), dentre outras.
As mudanças psicossociais dizem respeito à redefinição da imagem cor-
poral, da identidade pessoal e dos valores, bem como à busca de iden-
tificação com os seus pares, ao sentimento de independência, dentre
outros.
Você já deve ter observado como o período de adolescência altera o
humor, os interesses e as atitudes de grande número de jovens que
vivenciam essa fase. Pais, irmãos, professores espantam-se, muitas ve-
zes, pelas transformações sofridas pelas crianças que conheceramo
FASCÍCULO 6
dóceis e gentis e que passam a se comportar de forma desajeitada,
negativista, oposicionista e, às vezes, indelicada com os demais.
Superar os desafios dessa fase com ganhos para a personalidade
requer compreensão e aceitação de suas particularidades e paciência
com o jovem que está crescendo e definindo-se como pessoa.
Nem todo adolescente, entretanto, apresenta conflitos ou transforma-
ções radicais no seu comportamento. Considere-se que as diferenças indivi-
duais estão presentes em todas as etapas do desenvolvimento.
Embora a adolescência obedeça a uma série de fatores sociocul-
turais e ocorra de forma diferenciada entre as pessoas individualmente
e entre as diversas culturas, é inegável que certos padrões comporta-
mentais caracterizam o seu comportamento, de um modo geral, em
diversas culturas, podendo-se considerar algumas manifestações qua-
se como universais. Pode-se falar em padrões típicos da sociedade
ocidental, como será considerado neste Fascículo.
Será que o adolescente com deficiência mental apresenta as mes-
mas características de um adolescente sem deficiência mental?
Geralmente, supõe-se que o portador de deficiência mental é uma
eterna criança. Familiares, vizinhos, amigos, enfim, a comunidade,o
levados a pensar que o adolescente é uma criança crescida, compor-
tando-se como tal.
Essas expectativas muitas vezes modelam o comportamento do ado-
lescente de tal modo que passam mesmo a manifestar comportamen-
tos infantis queo recebidos como normais, tendendo a se repetirem.
Analisando por esse referencial, os adolescentes infantis teriam no
ambiente um grande precipitador para a origem e a manutenção de
seus comportamentos infantis.
Deficiênciao significa infância "permanente".
Os estudiosos do desenvolvimento colocam uma questão que é funda-
mental para a compreensão do adolescente com deficiência mental:
- Será que as pessoas com deficiência mental enquadram-se no
arcabouço desenvolvimentista?
FASCÍCULO 6
Dito de outra maneira:
- Será que os princípios biopsicossociais que regem o desenvolvimento
das pessoas com deficiênciao os mesmos das demais pessoas?
Perguntam-se, ainda:
- Será que existe um padrão típico de desenvolvimento das pessoas com
deficiência, características específicas típicas de sua personalidade ou do
seu comportamento ?
Essas questõesm preocupado os estudiosos do desenvolvimento,
porque a sua definição traz clareza sobre as formas como os adolescentes
com deficiência expressam suas limitações e seus potenciais, aspiram e
atingem os seus objetivos, realizam a sua carreira acadêmica e operam no
seu meio físico e social. Do mesmo modo, fundamentam as expectativas
familiares e sociais sobre o seu comportamento e suas realizações como um
todo.
Certos aspectos precisam ser analisados para que se compreenda me-
lhor essa questão:
1. nem todas as causas de deficiência mentalo orgânicas ou afetam a
saúde de seus portadores;
2. a literatura especializada enfatiza que a deficiência mental sem causa
orgânica está associada a menores limitações intelectuais de seus portado-
res;
3. os estudiosos defendem que as pessoas com deficiência mental sem
causa orgânica possuem a mesma estruturação cognitiva básica que as pes-
soaso portadoras de deficiência.
Os especialistas, portanto, organizam duas categorias para os portado-
res de deficiência mental para efeito de manifestações associadas ao desen-
volvimento: as pessoas com deficiência mental de etiologias orgânicas e as
de etiologias não-orgânicas.
Existem, ainda, controvérsias entre os especialistas. Dois grupos distin-
guem-se:
- um defende que todas as pessoas com deficiência mental, a despeito
da etiologia, percorrem os mesmos estágios de desenvolvimento e possuem
a mesma estrutura subjacente de inteligência das demais pessoas;
FASCÍCULO 6
- outro supõe a existência de uma estruturação cognitiva diversa nas
pessoas com deficiência mental de origem orgânica, devido aos danos cau-
sados pelas próprias alterações biológicas.
Essa questão permanece aberta até que se chegue a uma resposta com-
provada do ponto de vista científico.
A perspectiva desenvolvimentista, considerando as duas posições ante-
riores, assume que as pessoas cornou sem deficiência mental apresentam
as seguintes características:
- seqüência similar de desenvolvimento;
- estrutura similar de inteligência;
- padrões de reações similares às demandas do ambiente.
o ignora, entretanto, o tipo de causalidade.
As pessoas com etiologias orgânicas podem diferir das que apre-
sentam etiologias não-orgânicas e essas diferenças podem afetar um,
dois ou os três aspectos mencionados.
Pessoas com deficiência mental também vivenciam a fase da ado-
lescência.
O modelo adotado pela American Association on Mental Retardation -
AAMR ( 1992 ) alerta para o caráter multidimensional úa etiologia da defici-
ência mental e sua intercausalidade, ou seja, mesmo nas etiologias
biomédicas, precisam ser considerados os fatores sociais,
comportamentais e educacionais contribuintes ou determinantes.
0 fator orgânicoo é o único ou mais importante causador da
deficiência mental.
O tipo de causalidade pode contribuir para uma variedade de situa-
ções relativas a:
FASCÍCULO 6
- manifestações comportamentais;
- limitações ou possibilidades individuais;
- expectativas pessoais e sociais;
- facilidades ou dificuldades para lidar com as demandas ambientais.
Para os adolescentes com deficiência mental, as mudanças físicas e suas
repercussões socioafetivas podem ter diferentes conotações, dependendo
de muitos fatores, dos quais se destacam:
- a faixa etária em que se encontram (o consenso dos psicólogos
desenvolvimentistas situam a adolescência na faixa dos doze aos vinte e
cinco anos de idade);
- a gravidade das limitações cognitivas e adaptativas;
- as demandas ambientais - mais ou menos desafiadoras - e as pos-
sibilidades de atendê-las nas diversas áreas da atividade humana;
- o apoio recebido da família, dos profissionais e da comunidade em
que vive;
- a assistência profissional à família;
- as condições físicas, afetivo-emocionais e de saúde;
- a intercorrência de outras deficiências;
- as atitudes de aceitação ou rejeição da família;
- a discriminação e o preconceito social, ou seja, as condições soci-
ais e culturais favoráveis;
- a qualidade das relações interpessoais na família, na escola e na
comunidade;
- as oportunidades de acesso educacional adequado e de outros
atendimentos necessários.
Os adolescentes com deficiência mental podem apresentar diferentes
comportamentos e possibilidades de realizações.
Se a adolescência pode representar uma fase de conflitos e turbu-
lências para pessoas consideradas normais, para os adolescentes com
deficiência mental algumas dificuldades podem se multiplicar e assumir
FASCÍCULO 6
repercussões mais agravantes nos níveis individual e familiar.
Analisemos alguns desses problemas:
Tendência a ignorar ou "psicologizar" a adolescência
Essa situação é freqüente para pessoas com ou sem deficiência. Para
essa população específica, a situação torna-se mais agravante.
Ao se pensar que a pessoa adolescente com deficiência mental é uma
criança, ignora-se a fase evolutiva em que se encontra e as necessidades
emocionais, afetivas, sociais, morais, intelectuais e outras, próprias dessa
fase. 0 processo de amadurecimento do jovem fica, consequentemente, pre-
judicado pela falta de estimulação e de oportunidades para o seu desenvolvi-
mento, aprendizagem e integração social.
Quando as pessoas que convivem com portadores de deficiência
mental ignoram as suas fases de desenvolvimento e o seu processo de
amadurecimento, tendem a considerá-las como "eternas crianças". Essa
percepção equivocada pode influenciar a auto-imagem do adolescente,
que pode vir a comportar-se de acordo com a expectativa de
"infantilização" dos que o cercam, com prejuízos significativos à forma-
ção de sua personalidade e identidade, estabelecimento de papéis fami-
liares, comunitários, sociais e profissionais.
A noção de incompetência embutida nessa postura de infan-
tilização induz às atitudes de excessiva proteção e cuidado, à minimização
das potencialidades, habilidades, criatividade, independência e iniciativa pes-
soal do adolescente com deficiência mental.
Considerá-lo completamente diferente das demais pessoas é incor-
rer no erro de acreditar que existem regras e princípios próprios ao
desenvolvimento e ao comportamento dos portadores de deficiência
mental, posição contrária aos conhecimentos científicos atualmente dis-
poníveis.
Aconselhável, portanto, para pais, professores e outros que se rela-
cionam com adolescentes portadores de deficiência mental, é procurar
informar-se sobre essa fase evolutiva, buscando compreender a ado-
lescência de um modo geral. A partir desses conhecimentos, buscar
FASCÍCULO 6
referências para melhor compreender e agir com os adolescentes portado-
res de deficiência.
Quanto à "psicologização" da pessoa com deficiência, corre-se o risco
de considerar todas as suas manifestações comportamentais decorrentes
da adolescência - aquelas mais confusas, conflitantes e atritadas - como
decorrências "próprias" da deficiência mental.
Fica difícil compreender a adolescência, "tolerar" os comportamentos
dela decorrentes, aceitar as formas variadas de rebeldia, oposição e as con-
tradições peculiares a essa fase evolutiva.
Na confusão pode-se pensar:
- deficientes mentaiso assim mesmo ...
E, não:
- adolescentes costumam expressar-se assim...
Tendência a considerar a perspectiva de incompetência generalizada
para a pessoa com deficiência mental
Sabe-se que os portadores de deficiência mental divergem muito quan-
to às suas capacidades, limitações e condições de desenvolvimento, princi-
palmente quanto aos seguintes aspectos:
- nível intelectual;
- capacidade de aprender, reter e transferir aprendizagem;
- nível das habilidades adaptativas;
- condições físicas e etiológicas;
- vivências e perspectivas sociais.
o obstante essas ponderações, prevalece a noção de incompe-
tência generalizada com relação à pessoa com deficiência mental.
Admitir que ela seja capaz de pensar, escolher, tomar iniciativa, pro-
duzir, manifestar desejos, sentimentos e conviver socialmente de ma-
neira harmoniosa, só tem sido possível para os que convivem com
pessoas portadoras de deficiência que apresentam boas condições físi-
cas, psicológicas e adaptativas.
Estudos recentes, entretanto,m demonstrado a influência de fatores
FASCÍCULO 6
o intelectivos no seu comportamento e nas suas realizações, dentre eles,
os fatores motivacional e de personalidade.
Dentre eles, o auto-conceito exerce um importante papel. É influenciado
pelas experiências de vida e pode ser minimizado pela inadequação intelec-
tual percebida, bem como pela estigmatização pervasiva à qual o indivíduo
com deficiência mental tem sido submetido.
Os resultados de pesquisas sobre a auto-imagem das pessoas com defi-
ciência mental (citadas em Zigler & Hodapp, 1993, p. 134) revelam que uma
das conseqüências de ser identificado como deficiente mental é o rebaixa-
mento das metas e aspirações, uma interpretação consistente com a litera-
tura sobre a expectativa de sucesso.
A formação do auto-conceito da pessoa com deficiência pode ser
prejudicada pelas experiências repetidas de insucesso e pelos efei-
tos do preconceito.
A motivação é um fator efetivo que contribui para realizações bem
sucedidas. Desse modo, duas pessoas que tenham limitações intelectu-
ais similares podem ter tipos e níveis diferenciados de realizações em
face de suas inclinações pessoais e de sua motivação.
Esses autores assinalam certos déficits comportamentais e condi-
ções circunstanciais que podem acontecer a qualquer pessoa:
- freqüentes experiências negativas de vida;
- medo de tentar tarefas ou vivenciar situações novas;
- maior dependência para resolver problemas;
- história e alta expectativa de fracasso.
Erroneamente, essas experiênciaso associadas à deficiência men-
tal.
Um aspecto a ser considerado é que o funcionamento de uma pes-
soa com deficiência mental pode ser favorecido pelos tipos e intensida-
des de apoio que recebe ( AAMR, 1992), a exemplo do desempenho,
que pode ser favorecido pelo apoio recebido.
FASCÍCULO 6
Outro aspecto relevante para o funcionamento da pessoa com deficiên-
cia mental é a qualidade do ambiente em que se desenvolve, aprende e vive.
Ao favorecer o desenvolvimento e a aprendizagem, o ambiente estabele-
ceu dinamicamente demandas que podem estar acima das possibilidades ou
que podem ser compatíveis com as limitações da pessoa portadora de defi-
ciência.
A AAMR (1992) enfatiza que a identificação de uma pessoa como porta-
dora de deficiência mental deve considerar limitações em duas ou mais de
10 (dez) áreas de habilidades adaptativas incluídas no seu modelo, evidenci-
ando que nem sempre as pessoas com deficiência mental apresentam limi-
tações em todas essas áreas.
Tendência a considerar a deficiência mental como uma doença
Observa-se que algumas pessoas com deficiência mental apresen-
tam condições físicas muito favoráveis, assim como outras podem apre-
sentar graves problemas biomédicos. As evidências demonstram que a
maioria situa-se entre esses dois extremos.
A sua funcionalidade física vai depender dos seguintes fatores:
- condições de saúde;
- demandas ambientais;
- limitações intelectuais e adaptativas.
Abandonando a idéia de que todo adolescente com deficiência men-
tal tem problema de saúde, bem como defasagem global no desenvolvi-
mento, fica viável compreender a heterogenidade que caracteriza essa
população específica e a diversidade de suas perspectivas de desenvol-
vimento.
Educação para o Trabalho
Durante séculos, a sociedadeo pensou em trabalho para pessoas com
deficiência mental.
FASCÍCULO 6
A noção de incompetência generalizada ou a associação da deficiência
com doença mental inviabilizaram qualquer atividade produtiva ou vínculo
empregatício, devido às exigências de habilidades técnicas e sociais, além
das responsabilidades requeridas pela atividade profissional.
Desde que os portadores de deficiência mental começaram a ser siste-
maticamente atendidos pelos sistemas educacionais, foram iniciados os pro-
gramas de trabalho destinados aos adolescentes e adultos.
Os primeiros programas consistiam em oficinas pedagógicas. A Política
Nacional de Educação Especial do Ministério da Educação / Secretaria de
Educação Especial (1994) define oficina pedagógica como:
"ambiente destinado ao desenvolvimento das aptidões e habilidades
de portadores de necessidades especiais, por meio de atividades
laborativas orientadas por professores capacitados, onde estão disponí-
veis diferentes tipos de equipamentos e materiais para o ensino/aprendi-
zagem, nas diversas áreas do desempenho profissional. " (p.21)
As oficinas pedagógicas, portanto,m como objetivo o treinamento de
habilidades e atitudes, eo consiste em uma atividade profis-
sionalizante, embora tenha essa meta em perspectiva.
Um outro programa predominante no País e que pode ser visto como
"um passo adiante" do programa de oficinas pedagógicas no aspecto
profissionalizante, é o denominado oficinas protegidas, oficinas supervisio-
nadas ou, ainda, núcleos cooperativos.
Esse programa é definido por Canziani (1995) como:
"organização, voluntária ou não, sem fins lucrativos, com o objetivo
de desenvolver um programa de habilitação e reabilitação para adoles-
centes e adultos portadores de deficiência, provendo-os com um empre-
go remunerado, dentro da própria oficina (ou em nível competitivo quan-
do apresentar condições para tal), por meio de trabalho de subcontrato
e/ou outro tipo de produção, visando independência e emancipação rela-
tivas. " (p.29).
FASCÍCULO 6
Esse programao dispõe, no Brasil, de legislação trabalhista específi-
ca.
Outras atividadesm sendo desenvolvidas, desde a década de 80, com
vistas a profissionalizar o portador de deficiência mental:
- a qualificação profissional por meio dos cursos profissio-
nalizantes que tem sido realizada para os que apresentam menos limita-
ções intelectuais e adaptativas;
- a colocação no mercado competitivo com apoio, que representa um
tipo de medida tomada principalmente pelos sistemas educacionais, que ter-
minao sendo priorizada, porque pareceo ser da competência do
setor educativo, mas, do setor de trabalho.
Supõe-se haver uma tendência de algumas organizações não-go-
vemamentais, a exemplo da APAE e da Pestalozzi de alguns Estados,
assumir programas de profissionalização.
Alguns países, como EUA e Espanha,m adotado o que hoje se
considera o modelo mais eficiente de profissionalização para o portador
de deficiência mental: o emprego apoiado. Seus objetivos e procedi-
mentoso os seguintes:
- obter um emprego remunerado, no mercado comum;
- treinar o portador de deficiência no próprio local de trabalho, de
acordo com as tarefas a serem realizadas;
- integrar no trabalho e na sociedade as pessoas com deficiência(s)
de quaisquer níveis ou graus, em consonância com o princípio de nor-
malização;
- manter o trabalhador no posto, mediante um acompanhamento
sistemático de suas atividades.
O modelo de emprego apoiado conta com um "preparador laborai" que
se dedica à preparação, ao apoio e ao acompanhamento do trabalhador no
desempenho de suas atividades profissionais, aos contatos com a empresa
empregadora durante a fase prévia e de execução do programa e ao acom-
panhamento à família do portador de deficiência.
Fundamental para o sucesso do programa, a entidade empregadora deve
estabelecer relações com o trabalhador e com o preparador laboral para a
realização do trabalho.
FASCÍCULO 6
Importante ao se tomar providências quanto ao trabalho de portadores
de deficiência mental, é resguardar os seus direitos como trabalhador, con-
siderando os seguintes aspectos:
- saúde e segurança no trabalho;
- orientação vocacional ou consideração dos seus interesses profis-
sionais;
- participação nos órgãos de classe;
- adequação ao trabalho;
- adaptação de equipamentos para permitir a execução da tarefa;
- condições de locomoção e acesso ao trabalho.
Segregação e integração pelos modelos de atendimento
Ao atingir a adolescência o portador de deficiência mental já se en-
contra em um nível escolar mais adiantado. É o que se espera, caso as
providências para favorecer o seu ambiente e condições de aprendiza-
gem tenham sido tomadas.
Há 20 (vinte) anoso se investia na educação das pessoas com defici-
ência mental porqueo se acreditava em sua competência acadêmica/
curricular.
Em muitos estabelecimentos escolares sua educação se destinava a
realizar atividades de estimulação ao desenvolvimento global, de aquisi-
ção de habilidades de autocuidado e de lazer.
Mesmo a alfabetizaçãoo era propiciada em muitas localidades,
porque se achava que o seu nível cognitivo do portador de deficiência
mentalo alcançava a aquisição das habilidades de leitura e escrita.
O currículo escolar mais adotado, estranhamente, era o de pré-es-
cola porque se deixava de considerar a idade cronológica para enfatizar
a idade mental.
Por essa razão, a infantilização da pessoa com deficiência mental
atingia todos os níveis, até o curricular.
Na adolescência as seguintes situaçõeso encontradas:
- atendimento em oficinas pedagógicas em instituições espe-
cializadas governamentais e não- governamentais, com poucas pers-
FASCÍCULO 6
pectivas de ingressar no mercado competitivo em razão da falta de oferta de
emprego e de programas de apoio;
- atendimento em oficinas protegidas, enquanto aguardam uma oportu-
nidade de ingresso no mercado;
- emprego no mercado competitivo, sem apoio sistematizado. Mui-
tos perdem o emprego e voltam para as oficinas.
0 programa de emprego apoiado aindao foi adotado de forma siste-
mática no Brasil.
Quanto à escolarização, as seguintes situações podem ser identificadas:
- alunos permanecem em instituições especializadas sem programa
definido ou perspectivas de terminalidade acadêmica;
- alunos em classes especiais nas escolas regulares, com poucas
perspectivas de integração em face da divergência de idade entre eles e
os demais colegas, geralmente crianças de 1ª a 4ª série. Quanto aos
programas curriculares, eles dependem da iniciativa do professor e, de
um modo geral,o visam progressão escolar;
- alunos em programas de ensino supletivo, integrados ou em tur-
mas do ensino regular noturnos, geralmente, programas de educação
de adulto;
- alunos em classes do ensino regular de 5
a
a 8ª séries, em classes
comuns do ensino regular, geralmente com apoio de professores de
salas de recursos ou professores itinerantes (situações restritas àque-
les com menos limitações intelectuais e adaptativas).
Adaptações curriculares
A escolarização de pessoas com deficiência mental depende, dentre ou-
tros aspectos, de suas limitações cognitivas e adaptativas. A demanda esco-
lar em termos de currículo aumenta a cada série e a complexidade dos
conteúdos passam a exigir do aluno mais capacidades e habilidades
acadêmicas.
FASCÍCULO 6
Por outro lado, é reconhecido que o apoio oferecido ao aluno melhora a
sua funcionalidade acadêmica.
As adaptações curriculares constituem uma eficiente forma de apoio para
o aluno e, muitas vezes,o necessárias por toda a sua vida escolar, parcial
ou em todas as disciplinas.
As adaptações curriculares mais eficienteso as que melhor se
ajustam às necessidades e potencialidades do aluno e devem tomar
como base o currículo regular de ensino.
Podem ser reduzidas, sem alterações expressivas na programação re-
gular, e possibilitar que todos os alunos da sala possam delas se beneficiar.
Podem, ainda, ser mais acentuadas, para atender a condições específi-
cas necessárias, de modo a obter maior participação do aluno com deficiên-
cia nas atividades curriculares comuns.
Essas adaptações curriculares e de acesso ao currículo podem in-
cluir:
- a criação de condições físicas, ambientais e materiais para o aluno
na sua unidade escolar de atendimento;
- a propiciação de melhores níveis de interação e comunicação com
as pessoas com as quais convive na comunidade escolar;
- adaptações metodológicas e didáticas: situar o aluno onde possa
melhor trabalhar, adotar métodos e técnicas de ensino-aprendizagem
específicas para o aluno, quando necessário, sem prejuízo para as ati-
vidades curriculares;
- a utilização de técnicas, procedimentos e instrumentos de avalia-
ção distintos da classe, se necessário, sem alterar os objetivos da avali-
ação e seu conteúdo;
- a introdução de atividades complementares para o aluno alcançar
os objetivos comuns dos demais colegas. Essas atividades podem ser
realizadas na própria classe, na sala de recursos ou por meio do profes-
sor itinerante, devendo envolver o professor da sala regular na sua pro-
gramação e/ou execução;
- a introdução de atividades complementares específicas para o alu-
no - diversificadas - que possam atender a necessidades diversas do
resto da turma;
- a supressão de atividades ou objetivos educacionais queo possam
FASCÍCULO 6
ser atingidos ou realizados pelo aluno e que lhe restrinjam a participação
ativa. Substituir essas atividades e objetivos por outros acessíveis, significa-
tivos e básicos para o aluno;
- a adoção de um tempo para o cumprimento dos objetivos, conteú-
dos e critérios de avaliação, que sejam exeqüíveis para o aluno (respei-
tar o ritmo próprio ).
Há um número reduzido de alunos com deficiência mental, cuja gravida-
de,o acentuada, incapacitam-nos funcionalmente para atividades essenci-
ais da vida, tais como: a comunicação, a autonomia e a própria sobrevivên-
cia. Para esses alunos, os currículos regulares muitas vezes nem podem ser
adaptados, exigindo um currículo próprio, ajustado às potencialidades e li-
mitações do aluno.
Nesses casos, às vezes é necessário adotar exclusivamente ou par-
cialmente atendimentos individualizados.
Serviços comunitários
Serviços específicos para adolescentes com deficiência mentalo
o oferecidos em grande quantidade no País.
Os sistemas educacionais prevêem a sua escolarização sem a preo-
cupação de separar programas específicos para essa faixa etária, ao
ser os programas de iniciação para o trabalho.
As organizações não-govemamentais demonstram interesse em
cobrir algumas áreas de atendimento, mais voltadas para o trabalho ou
o lazer.
Talvez a impressão que permanece na família e na escola de que a
idade mental é prevalecente no comportamento, na aprendizagem e na
personalidade da pessoa com deficiênciao tenha despertado para a
criação de programas específicos para essa fase evolutiva.
Possibilidade de trabalho interdisciplinar
As instituições especializadas costumam dispor de equipe
interdisciplinar para os alunos com deficiência mental, sejam crianças
ou adolescentes.
FASCÍCULO 6
A interdisciplinaridade é favorecida pelas condições de trabalho, que re-
úne esses profissionais para estudos de caso, diagnósticos, reavaliações,
orientação familiar, etc.
Nas escolas regulares a interdisciplinaridade tende a ocorrer entre as
disciplinas curriculares, embora a prática revele a sua quase inviabilidade,
uma vez que cada professor só se reúne com os demais de sua própria
disciplina para troca de idéias e experiências.
Tal situação dificulta as adaptações curriculares e a tomada de decisões
conjuntas na busca de melhor transversalidade entre os componentes
curriculares.
Quando os adolescentes de escolas segregadas ou inclusivaso
atendidos por outros profissionais da comunidade (médico, psicólogo,
fonoaudiólogo, etc.) esses atendimentoso geralmente isolados,o
compartilhados pela escola.
FASCÍCULO 6
VERIFICANDO SUA APRENDIZAGEM
Após leitura cuidadosa do texto, responda às seguintes questões, de
modo a verificar o seu entendimento sobre o conteúdo do Fascículo:
1. Assinale com ( V ) as afirmativas corretas e com ( F ) as falsas:
a. ( ) A adolescência é uma etapa evolutiva que se caracteriza por mu-
danças físicas, orgânicas e psicossociais muito expressivas e importantes
para o indivíduo.
b. ( ) Tanto as pessoas com deficiência mental como as demais, pas-
sam por essa fase evolutiva.
c. ( ) As pessoas com deficiência mental demoram mais a entrar na
adolescência e na fase de puberdade.
d. ( ) Algumas pessoas com deficiência nunca chegam a atingir a ado-
lescência e a fase pùbere.
e. ( ) As pessoas com ou sem deficiência mental podem ter problemas
e conflitos sérios na adolescência, em face de suas características pessoais
e familiares.
f. ( ) As pessoas com deficiência mentalm menos problemas relaci-
onados à adolescência do que as demais pessoas.
2. Assinalar com um ( X ) as afirmativas verdadeiras:
Alguns aspectos favorecem ou desfavorecem o desenvolvimento dos
adolescentes com deficiência mental, tais como:
a. ( ) oportunidade de freqüentar escola e outros programas de que
necessitam;
b. ( ) o fato de se esconder a sua deficiência das demais pessoas;
c. ( ) a atitude de aceitação da deficiência por parte da família;
d. ( ) a possibilidade de receber apoio adequado nas áreas de suas
necessidades;
e. ( ) a possibilidade de receber apoio generalizado, independentemente
de suas necessidades específicas.
3. Assinale com um ( X ) os pressupostos defendidos pela perspectiva
desenvolvimentista:
a. ( ) há comportamentos típicos dos portadores de deficiência men-
tal;
FASCÍCULO 6
b. ( ) as pessoas com deficiência mental apresentam diferenças "qua-
litativas" com relação às demais pessoas;
c. ( ) a seqüência de desenvolvimento de pessoas com deficiência men-
tal obedece aos mesmos princípios das demais;
d. ( ) as etiologias orgânicas podem interferir no processo de desen-
volvimento, maso modificar os princípios que o regem.
4. Numerar a 2ª coluna de acordo com a 1ª , considerando as
decisões tomadas com relação à pessoa com deficiência mental:
( 1 ) tendência a psicologizar a sua adolescência;
( 2 ) atitude de ignorar a sua adolescência;
( 3 ) tendência a considerá-la como globalmente incompetente;
a. ( )o adianta colocar na escola porqueo aprende;
b. ( ) proteger e cuidar para queo sofra desnecessariamente;
c. ( ) considerar que "só tem tamanho";
d. ( ) só deixar fazer aquilo em que for capaz demonstrar capacidade;
e. ( ) considerar que suas mudanças comportamentais devem-se so-
mente à deficiência mental.
Conferindo suas respostas
Agora, verifique se as suas respostas correspondem ao conteúdo cons-
tante do Fascículo:
FASCÍCULO 6 '
Bibliografia
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UNIVERSIDADE DEO CARLOS. VIII Ciclo de estudos sobre deficiência
mental.o Paulo: UFSCar, 1995.
FASCÍCULO 7
ADULTO COM
DEFICIÊNCIA MENTAL
FASCÍCULO 7
OBJETIVOS
Este é o sétimo fascículo da série Educação Especial e tem por obje-
tivo instrumentalizar o professor para atuar com alunos portadores de
deficiência mental.
O fascículo visa fornecer subsídios para que esses professores alcan-
cem os seguintes objetivos:
- compreender o adulto com deficiência mental na perspectiva
desenvolvimentista;
- identificar fatores que interferem na sua segregação ou integração
social;
- conhecer as formas de sua inserção e permanência no mercado de
trabalho.
Aspectos do desenvolvimento
Que padrões de comportamento caracterizam a fase adulta ? Quan-
do se começa a ser adulto ?
Questões como essasm sido levantadas pelos estudiosos
desenvolvimentistas e demonstram a preocupação em delimitar
referenciais de comportamento que permitam uma análise da fase adul-
ta e as expectativas individuais e socioculturais que a caracterizam.
Vejamos algumas respostas.
"O indivíduo é adulto quando a sociedade diz que ele é." ( Stone &
Church, 1972 ). Essa definição evidencia a base sociocultural da con-
cepção de ser adulto e demonstra a relevância das expectativas sociais
como critérios para a sua identificação.
Na sociedade ocidental o período da adolescência tem sido "prolonga-
do". Os psicólogos desenvolvimentistas, consensualmente, admitem situá-
la na faixa dos 12 (doze) aos 25 (vinte e cinco) anos, como limites aproxima-
dos (Osório, 1989). Para esse autor, os seguintes aspectos caracterizam o
FASCÍCULO7
final da adolescência e o início da fase adulta:
- estabelecimento da identidade pessoal e sexual;
- possibilidade de firmar relações sociais estáveis;
- capacidade de assumir compromissos profissionais e de manter-se
(independência econômica );
- autonomia e capacidade de definir um sistema de valores próprio.
O adulto com deficiência mental é o foco desse estudo. O parâmetro de
análise adotado tem como base o modelo de desenvolvimento da pessoa
não-portadora de deficiência, conforme preconizada pela perspectiva
desenvolvimentista.
Consoante essa perspectiva, as pessoas com deficiência mental obe-
decem aos mesmos princípios das demais quanto aos padrões estrutu-
rais e funcionais de desenvolvimento, aprendizagem e comportamen-
to.
A perspectiva desenvolvimentista tem considerado cada vez mais a
importância de fatores não-cognitivos no funcionamento das pessoas
com deficiência mental na comunidade em que vivem. Ressalta a impor-
tância dos seguintes aspectos:
- influência familiar;
- interferência do ambiente sócio- cultural;
- possibilidade de receber apoio profissional adequado;
- fatores motivacionais e de personalidade, etc.
Essa concepção é avançada porque evidencia mudança nas expec-
tativas e na maneira de ver e tratar as pessoas com deficiência mental;
corrige a forma errônea de considerá-las, em princípio, como doentes
ou portadoras de condições orgânicas limitantes; deixa de enfatizar ape-
nas as condições físicas e de saúde, passando a ver essas pessoas
como um todo integrado e harmônico com possibilidades de ajustes e
compensações como os demais.
o se pode negar as etiologias orgânicas de uma parcela dos portado-
res de deficiência mental. Elas existem, mas constituem uma minoria.
A literatura especializada demonstra que as etiologias educacionais,
comportamentais e sociais representam um grande percentual de
determinantes de deficiência mental. Revela, ainda, que 50% (cinqüenta
FASCÍCULO 7
por cento) dos casos de deficiência mental, antes denominada leve,m
causas desconhecidas.
Estamos, portanto, lidando com fenômenos ainda desconhecidos e nada
nos garante que essas causas obscuras levem as pessoas a um estado de
incompetência, como tradicionalmente a sociedade preconizava.
As pessoas com deficiência mental podem, portanto, desenvolver um
papel social de maneira mais ou menos eficiente na comunidade. As razões
podem estar associadas a muitos fatores, inclusive às expectativas que a
família e a comunidadem com relação ao seu desempenho.
Como é ser adulto com deficiência mental, em face do que foi exposto
até aqui ?
A perspectiva desenvolvimentista, que embasa esse estudo, indica
que se tome como referência o adulto não-portador de deficiência para
abordar a questão formulada.
O primeiro ponto de análise nos coloca diante da seguinte indaga-
ção: as pessoas com deficiência mental podem ser consideradas adul-
tas a despeito da idade cronológica ?
Retomemos alguns requisitos, principalmente os mencionados por
Osório (1989) para efeito dessa análise:
1. A natureza do desenvolvimento cognitivo do adulto com
deficiência mental
Tomando como referência a teoria do desenvolvimento cognitivo de
Piaget, a pessoa com deficiência mentalo chega a atingir a fase das
operações formais que possibilita ao indivíduo o exercício das faculda-
des intelectuais superiores, ou seja, a capacidade de julgamento, gene-
ralização, a lógica do raciocínio indutivo-dedutivo, etc.
Nosso sujeito, portanto,o atinge o máximo do desenvolvimento
cognitivo que as pessoas sem deficiência mental podem alcançar.
Se formos adotar a maturidade intelectual como ponto de referência para
a maturidade da personalidade ou como critério para ser considerado adul-
to, as pessoas com deficiência mental seriam tidas, a priori, como imaturas,
FASCÍCULO 7
infantis, enfim, não-adultas.
Vimos anteriormente que a perspectiva desenvolvimentista desvincula a
análise do desenvolvimento da pessoa com deficiência mental de sua di-
mensão exclusivamente cognitiva. Essa perspectiva se orienta por uma con-
cepção que leva em conta aspectos familiares, afetivo-emocionais,
motivacionais, socioculturais e as possibilidade de receber apoio adequado,
dentre outros.
Pesquisas sobre motivação e personalidade citadas por Zigler & Hodapp
(1993) revelam a importância de considerar a pessoa com deficiência men-
tal dentro de uma perspectiva holística, integral e, da mesma forma, o ambi-
ente que a influencia.
Explicando melhor.
Qualquer análise que leve em conta o desenvolvimento de uma pessoa
com deficiência mental deve evitar a abordagem isolada de suas limitações
ou capacidades de realização. Isso é válido para todas as pessoas.
As pesquisas revelam que as expectativas de metas e aspirações costu-
mam ser reduzidas quando se trata de pessoas com deficiência mental. A
família, a escola e a sociedade, como um todo,o costumam pensar em
expectativa de sucesso, se o sujeito for portador de deficiência mental. O
que isso significa? Que as baixas expectativas levam a baixas realizações. A
ciência confirma isso. Confirma, também, que o desenvolvimento ocorre
defasado quando a sua expectativa é baixa. Essas pesquisaso válidas
para quaisquer pessoas,o apenas as portadoras de deficiências.
Se voltarmos à questão de poder ser adulto "apesar" da deficiência men-
tal, podemos dizer, sem pretensão de concluir, que o funcionamento adulto
na sociedade depende de condições pessoais e de expectativas socioculturais.
Desse modo, se as limitações intelectuais e adaptativas da pessoa com
deficiência mental forem as únicas referências válidas, é possível que, até
mesmo para a sua família, venham a ser vistas como eternas crianças!
Se, por outro lado, concebermos a pessoa na sua totalidade, vivenciando
capacidades e limitações funcionais, como todos os seres humanos,o
importando o grau de limitações, a pessoa será vista como adulta, ao tempo
FASCÍCULO 7
dos adultos, de acordo com os parâmetros adotados pelos demais, sem a
"tirania" do critério exclusivamente cognitivo.
2. Estabelecimento da identidade sexual
Uma forma simplificada de definir identidade sexual seria "viver e
sentir-se bem com a própria sexualidade." É difícil definir identidade
sexual, mesmo porque o conceito pode se confundir com maturidade
sexual. Tanto um quanto o outrom aspectos subjetivos que fogem a
uma limitação rigorosa do campo de compreensão.
Espera-se, genericamente, que as pessoas sejam capazes de definir
a sua identidade sexual no período de transição da adolescência para a
fase adulta, a partir de então, amadurecendo cada vez mais o exercício
pleno de sua sexualidade.
Essa vivência implica, de um modo geral, em autoconfiança, capa-
cidade de amar, sentir-se bem como homem ou mulher e na aptidão
para assumir a paternidade/maternidade de modo responsável.
As pessoas costumam passar por períodos de incerteza, conflitos,
insegurança e ambigüidades na vivência de sua sexualidade, até atingi-
rem a esperada maturidade sexual, o que estamos definindo como exer-
cício pleno da sexualidade.
Requerer que a pessoa com deficiência mental "cumpra" esses re-
quisitos para ser considerada adulta exige que os demais também pas-
sem por esses "crivos" socialmente e cientificamente delimitadores.
Defende-se na atualidade, para todas as pessoas, um programa de
educação sexual por parte das agências educativas, porque é reconhe-
cido que as famíliaso estão preparadas eficientemente para exercer
esse papel. Muitos pais reconhecem as limitações e dificuldades de sua
própria sexualidade e sentem-se constrangidos ou impotentes para ori-
entar devidamente os filhos nessa área.
A situação torna-se mais difícil quando se reconhece que, também os
professores, muitas vezes, colocam-se na mesma posição dos pais e decla-
ram as suas limitações como orientadores eficientes. Esse é um problema
social.
FASCÍCULO 7
Novamente sem tentar concluir, consideramos que o critério de estabe-
lecimento da identidade sexualo pode ser um demarcador rígido para se
considerar uma pessoa portadora de deficiência mental como adulta ou não.
3. Definição da identidade pessoal
Tomemos novamente o referencial científico.
A pesquisa realizada por Glat (1989) revelou a influência que a percep-
ção das outras pessoas exercem sobre o autoconceito e a identidade pessoal
do portador de deficiência mental..
Como a autora define identidade pessoal? Ela define nas palavras de
Pollak (1987, in Glat, 1989, p. 15): "a imagem de si, para si, e para os
outros". Na mesma linha, reafirma o conceito de identidade pessoal nas
palavras de Paulinelly & Tamayo (1968, in Glat, 1989. p. 15): "relação do
indivíduo consigo mesmo, da experiência de sua corporalidade, bem como
da relação com seu meio social."
Identidade pessoal, portanto, comporta imagem de si na relação com o
outro.
Sabemos que a imagem social prevalecente a respeito das pessoas com
deficiência mental é influenciada pelos preconceitos e discriminações que,
durante séculos, marcaram a vida e a forma como eram vistas culturalmen-
te.
Hojeo podemos dizer que todos os preconceitos e discriminações
foram eliminados, nem podemos afirmar que o fenômeno da deficiência
mental esteja completamente conhecido.
O que ocorre ? A sociedade oferece para a pessoa com deficiência men-
tal impregnada de menosvalia, de baixas expectativas, enfim, minimizado.
Como a formação da identidade pessoal carece da percepção do outro,
conseqüentemente, a auto-imagem e o auto conceito dos portadores de de-
ficiência mental podem estabelecer-se desvalorizados, minimi-
zados e impregnados de sentimentos de inferioridade.
FASCÍCULO 7
Glat (1989) argumenta, ainda:
"... em qualquer grupo social em que se compartilha um conjunto de
valores em relação ao qual os indivíduos são situados, cada um é perce-
bido e tratado pelos outros de acordo comas características presumíveis
da categoria social à qual pertence. Quando alguém é rotulado como
portador de um determinado estigma, sua identidade pessoal se desen-
volve em conformidade com o papel que lhe é atribuído. " ( p. 18)
Confirma que o autoconceito da pessoa com deficiência mental é
aquele que a sociedade lhe tem devolvido.
Esse critério tambémo poderia ser rigorosamente adotado para
definir uma pessoa como adulta. No máximo, poderia representar,
conceitualmente, um adulto com baixa auto-estima.
4. Possibilidade de estabelecer relações sociais estáveis
0 que foi dito no item anterior sobre formação da identidade pessoal
serve de base para as reflexões sobre o estabelecimento de relações
sociais estáveis.
A pessoa com deficiência mental encontra na sociedade, geralmen-
te, um "espelho" que lhe dá uma imagem de insuficiência e incapacida-
de. Suas relações interpessoais podem estar afetadas por esse contex-
to, seja por sua própria decisão ou reação natural, seja pela disponibili-
dade do outro. Vejamos o que diz Goffman (1982 ):
"Um indivíduo que poderia ser facilmente recebido na relação social
quotidiana, possui um traço que pode se impor à atenção e afastar aque-
les que ele encontra, destruindo a possiblilidade de atenção para outros
atributos seus. Ele possui um estigma, uma característica diferente da
que havíamos previsto...". ( p. 14 )
Analisando esse trecho, podemos inferir o seguinte:
- a pessoa com deficiência mental poderia, potencialmente, ser acei-
FASCÍCULO 7
ta como integrante do seu grupo social, mas o estigma - nesse caso, a defi-
ciência mental - interpõe-se à sua integração social;
- a pessoa pode passar a ser evitada pelos demais, tendo diminuídas as
suas oportunidades de participação e interpretar aleatoriamente os motivos
de sua exclusão social por caminhos queo lhes leva objetivamente às
causas;
- os atributos estigmatizantes podem levar a pessoa com deficiência
mental a generalizar o desvio e o estigma que lheso socialmente atri-
buídos, de modo a impregnar com ele toda a sua personalidade.
Como estamos vendo, o estigma, por si, já dificulta as relações so-
ciais importantes para a pessoa com deficiência mental. No seio da fa-
mília e entre os amigos, o estigma pode ter um efeito diferente, porque
as relações afetivas funcionam como atenuantes. Mas a conseqüência
limitadora da minimização continua a marcar direta e indiretamente as
suas relações interpessoais e a formação da identidade pessoal.
Mais uma vez, as limitações cognitivas afetam a pessoa com defici-
ência de formas diversas. Suas representações sociais jogam um papel
mais importante para a pessoa atingida do que as limitações objetiva-
mente existentes.
0 significado do estigma, entretanto, pode ser forte na origem da
discriminação e do preconceito, mas perde força como requisito para
indicar o status de adulto.
Uma pessoa com deficiência mental pode ser vista como adulta,
portadora de deficiência e ser excluída como tal.
4. Capacidade de assumir compromissos profissionais e manter-se
economicamente
As possibilidades atuais de acesso e permanência em um emprego cer-
ca-se, antes de tudo, de aspectos políticos, econômicos e sociais. As condi-
ções individuaiso importantes, mas não, únicas.
A expectativa social e individual de trabalhar vem antes de qualquer
atitude de arrumar um emprego e nele poder permanecer.
FASCÍCULO 7
Para a pessoa com deficiência mental o sentimento de competência para
arrumar emprego é prejudicada pelos aspectos sociais que atingem a sua
capacidade individual.
A idéia alimentada, mesmo pela família, de queo pode ouo deve ter
acesso ao trabalho tem muita influência no seu querer e no seu fazer.
Desenvolver habilidades para o trabalho e aprender uma profissão de-
pendem tanto de oportunidades ambientais, como da extensão das limita-
ções intelectuais e adaptativas da pessoa e determinam, em parte, a sua
funcionalidade no contexto físico e social.
Mais uma vez, as expectativas, a motivação, as relações familiares e
sociais, além das oportunidades educacionais/ambientais podem favorecer
ou dificultar as realizações das pessoas com deficiência mental e interferir
no seu caminho para tornar-se e ser vista como adulta.
5. Aquisição de um sistema de valores pessoais
Se analisarmos do ponto de vista cognitivo, a estruturação de valores
inicia-se na infância e prossegue até à adolescência. Nessa fase, os valores
aprendidos passam por um questionamento e o jovem termina por definir
um padrão próprio de valores.
Definir uma moral própria, entretanto, depende da capacidade da
pessoa para operar intelectualmente, mediante um nível formal de
cognição, como define Piaget.
Se as estruturas formais de inteligênciao necessárias para o esta-
belecimento de uma moral autônoma, entende-se que as pessoas com
deficiência mental encontrarão um obstáculo de natureza cognitiva para
a evolução de seu pensamento moral.
Vimos anteriormente, que o critério cognitivoo tem sido o único
adotado para se entender e tratar as questões da pessoa com deficiên-
cia mental.
Seu status de adultoo poderia, em princípio, basear-se unica-
mente nas possibilidades de adquirir moral autônoma, mesmo porque atin-
FASCÍCULO 7
gir esse nivel moralo depende apenas de capacidade intelectual, mas,
também, da influência de fatores sócio-culturais. Essa questão depende de
mais aprofundamento do que o que pode ser oferecido nesse estudo.
Passaremos a resumir alguns pontos tratados até aqui, para efeito de
organização das idéias expressas e de seu melhor entendimento.
A maior parte dos critérios queo adotados para caracterizar uma pes-
soa como adulta deixa os portadores de deficiência mental em condição de
desvantagem.
Na definição da identidade pessoal e sexual pudemos verificar a impor-
tância exercida pelo outro como elemento de espelho e de interação. Do
mesmo modo, depreendemos a importância do outro e a sua disponibilida-
de para tornar possível o estabelecimento de relações interpessoais.
Vimos ainda que a pessoa com deficiência mental tem dificuldade em
definir um padrão moral e autônomo de valores. Na verdade, a família tem
influência significativa na sistematização desses valores e autonomia, assim
como o próprio sistema escolar. O grau em que serão vivenciados os valores
e a autonomia dependerá da eficiência das oportunidades familiares, educa-
cionais e sociais.
Finalmente, pensar a pessoa portadora de deficiência mental como adul-
ta, implica em considerar que a sua maturidadeo deixa de ocorrer como
efeito natural e determinante da deficiência. Seu amadurecimento pessoal e
ajustamento social, sofrem interferências significativas de outras condições,
sejam físicas, de saúde, ambientais, de personalidade, dentre outras. A força
das restrições que lheso impostas é que definem a intensidade das influ-
ências de todos esses determinantes.
Inserção no mercado de trabalho
Anualmente, milhares de pessoas com deficiência deixam as escolas do
País sem nenhuma expectativa de arrumar emprego.
Algumas nem chegam a deixar as escolas, passando anos e anos como
FASCÍCULO 7
alunas, como seo houvesse finalização para as suas atividades escolares.
Na prática, isso acontece muitas vezes, nas escolas públicas, particulares e
filantrópicas. Eternos alunos...
O mercado de trabalho é o sonho de muitas pessoas com deficiência
mental e de suas famílias. Seu acesso, entretanto, é dificultado por diversas
razões:
- o índice geral de desemprego na população;
- os sentimentos de superproteção de algumas famílias;
- a concepção de incompetência generalizada com relação à deficiência
mental;
- o preconceito e a discriminação social;
- as limitações cognitivas e adaptativas da pessoa com deficiência;
- a falta de oportunidade de capacitação e qualificação profissional para
os portadores de deficiência;
- a exigência de diplomação para cursar os programas profissio-
nalizantes, etc.
Os programas profissionalizantes de grande parte das instituições
governamentais e não-govemamentaiso do tipo oficinas protegidas,
também denominadas oficinas supervisionadas ou núcleos cooperativos.
Definem-se como (Canziani, 1985):
"organização, voluntária ou não, sem fins lucrativos, com o objetivo
de desenvolver um programa de habilitação e reabilitação para
adolescentes e adultos portadores de deficiência, provendo-os com um
emprego remunerado, dentro da própria oficina (ou em nível competitivo,
quando apresentar condições para tal), por meio de trabalho ou
subcontrato e/ou outro tipo de produção, visando independência e
emancipação relativas. " (p. 29)
Essas oficinaso estão, ainda, amparadas por legislação trabalhista
específica e têm, na grande maioria das vezes, um caráter de instrução.
FASCÍCULO 7
Embora tenham uma exigência de produtividade, os seus integranteso
considerados aprendizes, e o pagamento pelo trabalho realizado costuma
ser apenas simbólico. Boa parte dessas oficinas sobrevivem da própria
produção e os aprendizes terminam sendo, também, os seus "mantenedores".
As pessoas com deficiência mental podem ficar anos seguidos nas ofici-
nas, sem a possibilidade de adquirir o status de empregado (legalmente
estabelecido) e sem perspectivas de ingressar no mercado competitivo.
As possibilidades de integração socialo mínimas, uma vez que todos
os integranteso portadores de deficiência, com raras exceções.
Outro programa que visa à profissionalização denomina-se oficinas pe-
dagógicas e tem sido definido como segue:
"ambiente destinado ao desenvolvimento das aptidões e habilidades
de portadores de necessidades especiais, através de atividades
laborativas orientadas por professores capacitados, onde estão disponí-
veis diferentes tipos de equipamentos e materiais para o ensino/aprendi-
zagem, nas diversas áreas do desempenho profissional. " (BRASIL, 1994,
P-21)
0 programa de oficinas pedagógicas constitui um item de maior com-
plexidade. Criadas nas instituições educacionais com objetivos pedagógi-
cos, essas oficinas, em grande parte do País,m retido alunos queo
mais apresentam condições de progressão escolar.
Por interesse da família ou da escola, esses alunos, que nem chegam a
ser considerados aprendizes, permanecem anos e mais anos comoo
concluintes dos programas escolares.
Por outro lado, as oficinas funcionam como protegidas e perdem seus
objetivos pedagógicos. 0 número de alunos adolescentes e adultos aumen-
ta a cada ano, uma vez que entram eom perspectivas de saída. Por essa
razão, as escolas bloqueiam vagas para crianças em fase escolar e terminam
por assumir um modelo pseudoprofissio-nalizante.
Tais medidas subestimam os portadores de deficiência, promovem a
FASCÍCULO 7
segregação e dificultam o seu crescimento pessoal, ao mesmo tempo que
o os despertam para a busca e para a conquista de reais alternativas
profissionalizantes.
As oportunidades de ingressar no mercado competitivom existido para
um número reduzido de pessoas com deficiência mental.
Uma minoria, concluinte do curso de ensino fundamental, consegue pas-
sar em concurso público e ser contratada por empresas públicas. Um núme-
ro muito reduzido, também, consegue contratação em empresas particula-
res. Os programas de apoio existentes nas instituições governamentais e
não-govemamentaiso incipientes eo dispõem de recursos humanos
suficientes para atender à demanda.
o se tem conhecimento no Brasil de uma política de governo,
estadual ou federal, que ofereça condições de preparação e acesso ao
trabalho para portadores de deficiência mental e outros portadores de
deficiência.
o há dúvida de que o aspecto principal da transição à idade adulta
seja o trabalho, para uma pessoa portadora ouo de deficiência.
De um modo geral, todo jovem procura um emprego que lhe propicie
dinheiro, amizade, auto-estima, desenvolvimento e estimulação (Schroeder,
1993). Para a pessoa com deficiência mental, essa oportunidade é simi-
larmente importante, embora as suas perspectivas sejam mais reduzi-
das.
Atualmente, há um forte movimento nos países desenvolvidos com
a finalidade de retirar as pessoas com deficiência das oficinas e promo-
ver-lhes o ingresso no mercado competitivo. Trata-se dos programas
de emprego apoiado. Essa alternativa profissionalizante foi criada nos
Estados Unidos, com amparo na legislação federal desde 1984 - 1986.
A legislação garantiu apoio financeiro e a implantação dos programas
em âmbito nacional.
O modelo de emprego apoiado visa à integração profissional das
pessoas com deficiência no ambiente de trabalho comum. Sua
metodologia baseia-se, principalmente, na intervenção de um profissional
especializado, o preparador laboral, e no desenvolvimento de estratégias
FASCÍCULO 7
específicas no ambiente de trabalho para facilitar a sua execução. O progra-
ma tem os seguintes objetivos:
- obter um emprego real e remunerado;
- formar o trabalhador nas tarefas próprias de sua função e no seu local
de trabalho;
- integrar a pessoa com deficiência no trabalho e na sociedade, mesmo
as mais gravemente comprometidas;
- manter o trabalhador em seu posto, mediante um acompanhamento
sistemático de sua atividade profissional.
0 programa de emprego apoiado conta com três elementos funda-
mentais: o preparador laboral, o trabalhador apoiado (portador de defi-
ciência) e a entidade empregadora.
0 preparador laboral tem um papel preponderante, porque lhe cabe
preparar o trabalhador apoiado e acompanhá-lo e orientá-lo em suas
atividades profissionais. Dedica-se, ainda, a prestar orientações à enti-
dade empregadora e a dar assistência à família do trabalhador apoiado.
O sucesso do trabalho depende, em grande parte, de sua competência
profissional.
0 Brasilo dispõe dessa oportunidade profissionalizante, embora
o programa seja conhecido no meio especializado, mesmo porque já
vem sendo aplicado, com sucesso em países desenvolvidos.
Espera-se que medidas sejam tomadas para a sua implantação ime-
diata em nosso país.
Constituição de família
A sociedade espera que o indivíduo adulto constitua uma família
dentro do seus padrões culturais, em que os membros mantenham:
residência conjunta, colaboração econômica, satisfação mútua das ne-
cessidades afetivas, co-participação de interesses e trabalho, etc. Espe-
ra, ainda, que o casal possa procriar e cuidar, responsavelmente, dos filhos,
educá-los para a integração e o bem estar-social.
FASCÍCULO 7
Ao pensarmos em casamento para as pessoas com deficiência mental,
esses parâmetros culturais estão presentes. As expectativas da união com
base na consciência social, na reciprocidade e na visão de bem comumo
está excluída dos portadores de deficiência enquanto cidadãos.
Sabe-se de casamentos entre pessoas portadoras de deficiência mental
e pessoas sem deficiência. A despeito do preconceito e do constrangimento
de familiares e amigos, esses casamentoso bem-sucedidos. Os casos
conhecidoso locais, em número reduzido e os cônjuges portadores de
deficiênciaso pessoas com limitações intelectuais e adaptativas leves. Esses
exemploso válidos para ilustrar apenas essa situação específica, eo
outras que possam ocorrer.
A dificuldade de registro dessas experiência é grande, porque trata-se de
questões íntimas das famílias, queo desejam se expor ao conhecimento
público. Desse modo, pouco se encontra na literatura que possa servir de
orientação, sendo os casos mencionados, apenas ilustrativos.
Quanto a casamento entre duas pessoas com deficiência, a literatura
especializada traz algumas contribuições. As conclusões ponderam que:
- o casamento deixa a desejar, no que diz respeito à criação de uma
identidade conjugal, nunca chegando a dispensar supervisão e apoio de ter-
ceiros, sejam profissionais ou familiares;
- a questão de independência econômica é raramente (ou nunca) resol-
vida, em face das restrições do mercado de trabalho e devido às regras de
competitividade e exigências de desempenho do trabalhador;
Assumpção & Sprovieri (1987) relatam resultados de pesquisa com 08
(oito) casais portadores de deficiência mental e afirmam que os casamentos
o foram bem-sucedidos, sendo desfeitos no período máximo de 03 (três)
anos. As causas principais da dissolução foram a não-satisfação das neces-
sidades afetivas e a impossibilidade de se estruturarem de forma indepen-
dente economicamente.
Quanto aos filhos, os casais foram incapazes de suprir as suas necessi-
dades básicas e de fornecer-lhes modelos de identificação necessários à
FASCÍCULO 7
formação de sua personalidade. Para os autores, o controle da natalidade é
imprescindível.
Rebolho & Rebolho, em pesquisa realizada com mulheres portadoras
de deficiência mental, revelaram que 48% (quarenta e oito por cento) de
suas famíliaso percebem as filhas como mulheres, 21% (vinte e um por
cento) consideram-nas crianças e 15% (quinze por cento) referem-se a elas
como "deficientes mentais". Com relação a casamento, 52% (cinqüenta e
dois por cento) dos familiares revelam-se contra.
Os assuntos referentes à sexualidadeo pouco discutidos no país, em
face das restrições decorrentes da própria cultura nacional. Com relação aos
portadores de deficiência, tanto pais como professores relatam suas dificul-
dades em abordar esse tema com portadores de deficiência mental.
As atitudes mais freqüentes são: ignorar a sexualidade, negar informa-
ções a respeito do assunto, negligenciar os atrativos pessoais parao des-
pertar ou para desencorajar a atração intersexual, desestímulo a quaisquer
manifestações sexuais, entre outras.
A questão da sexualidade requer, ainda, muitos estudos e discussões
interdisciplinares. Aspectos significativos e de natureza ética, tais como a
esterilização dos portadores de deficiência, a possibilidade de casamento, a
procriação, a expressão da sexualidade, a educação sexual, orientação fami-
liar, doenças sexualmente transmissíveis, entre outras, carecem de maior
aprofundamento e de definições de estratégias para a aplicação e a difusão
efetiva dos conhecimentos.
Segregação e integração pelos modelos de atendimento
Em um passado mais remoto, as pessoas com deficiência mental eram
vistas como pacientes da área médica e seu tratamento era realizado onde
melhor pudesse solucionar seus problemas clínicos. As internações em
ambientes segregados, mesmo em manicômios, aconteciam por serem con-
sideradas uma forma apropriada de intervenção.
Mais recentemente, a perspectiva médica deu lugar às preocupações
FASCÍCULO 7
com o atraso no desenvolvimento, devendo ser tratado por urna equipe
interdisciplinar que incluísse médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, entre
outros, para minimizar os déficits nas diversas áreas e melhorar o desenvol-
vimento integral da pessoa.
A perspectiva atualmente aceita defende a visão holística do portador de
deficiencia mental, ou seja, a sua consideração como um ser integral. Os
profissionais, a familia, os amigos, enfim, a comunidade como um todo,o
potenciais colaboradores para o seu aprimoramento individual, de modo a
adquirir um bom funcionamento no meio físico e social.
O modelo, portanto, é ecológico e funcional, no qual todos os elementos
do ambienteo possíveis co-participantes.
A idéia é de inserção social e de interdependência, ou seja, dependermos
uns dos outros para mútuo aprimoramento.
A integração, em todos os sentidos e momentos, é a palavra de ordem. O
apoio profissional e institucionalo potencialmente importantes, devendo
acontecer de forma apropriada e quando necessários. De qualquer modo,
todo apoio deve facilitar a integração na comunidade.
No nível educacional, os apoios devem permitir um avanço na inclusão
escolar, introduzindo o portador de deficiência mental, ao máximo, nas ativi-
dades que favoreçam o seu relacionamento social e evitando programas
segregativos. As adaptações curriculareso indispensáveis, na perspectiva
inclusiva.
A prestação de serviços nas diferentes áreas deve considerar o contexto
menos restritivo possível e atuar como um complemento, apenas quando
houver insuficiência ou inadequação dos apoios naturais existentes e quan-
do promover o desenvolvimento de habilidades adaptativas.
O contexto, o ambiente, a comunidadeo objetos de uma grande
reconsideração. Constituem o espaço natural e mais favorável ao desenvol-
vimento e à inclusão, porque favorecem à integração.
O apoio individual oferecido para superar limitações ou para favorecer a
aquisição de habilidades adaptativas pode ter lugar na família, em enti-
dades públicas ou particulares, em outros ambientes e programas
FASCÍCULO 7
comunitários, desde que melhorem o funcionamento do indivíduo e sejam
realizados de modo a suprimir a dependência de medidas especializadas,
passando a ser substituídos por apoios mais naturais, menos intrusivos e
mais eficazes.
A nova concepção "aposta" na pessoa com deficiência mental.
FASCÍCULO 7
VERIFICANDO SUA APRENDIZAGEM
Após leitura cuidadosa do texto, responda às seguintes questões, de
modo a verificar o seu entendimento do conteúdo do Fascículo.
1. Assinalar com um ( V ) nas proposições verdadeiras e com um ( F )
nas falsas:
a. ( ) Segundo Osório (1989 ) os requisitos da idade adulta levam em
conta a formação da identidade pessoal, sexual, a capacidade de estabelecer
relações sociais estáveis, a independência e a autonomia de valores;
b. ( ) a perspectiva desenvolvimentista considera os aspectos
cognitivos como os mais relevantes para o funcionamento da pessoa com
deficiência mental;
c. ( ) uma pessoa com deficiência mental pode ser considerada adul-
ta;
d. ( ) o estigma é um conceito social,o tendo nenhuma influência
na formação do auto-conceito do indivíduo portador de deficiência.
2 Assinalar com ( X ) as proposições verdadeiras:
a. ( ) as dificuldades para as pessoas com deficiência mental arrumar
emprego dizem respeito aos preconceitos quanto à sua competência, à pos-
sível superproteção de sua família ou falta de oportunidade de capacitação
profissional;
b. ( ) oficinas pedagógicas e protegidaso programas que promo-
vem a integração social das pessoas com deficiência mental;
c. ( ) o emprego apoiado é uma forma eficiente de integração social
por meio do trabalho;
d. ( ) o Brasil já sistematizou legalmente o emprego apoiado.
FASCÍCULO 7
3. Completar as lacunas de acordo com as palavras selecionadas nos
parênteses:
(ambiente - integral - institucional - adaptações - instrusivas - integração -
interdependência - funcionamento)
O modelo ecológico e funcional preconiza que as pessoas com defi-
ciência mental devem ser vistas de uma maneira e
receber apoio generalizado do , seja profissional, seja
. Os apoios mais adequadoso os que promovem a
da pessoa e visam ao seu melhor
na comunidade. Defende a entre as pessoas, de modo
que, de forma cooperativa, todos possam se aprimorar. Defende a ado-
ção de curriculares no ambiente escolar, para facilitar
a inclusão do aluno. O apoio profissional deve ser substituído, na medida do
possível, por formas mais naturais e menos
Conferindo suas respostas
Agora, verifique se as suas respostas estão de acordo com os con-
teúdos do Fascículo:
1- questão
a.( V )
b.( F )
c.( V )
d.( F )
2- questão
a.( X )
M )
c.( X )
d) (X)
3- questão
seqüência das palavras: holística - ambiente - natural - integração -
interdependência - adaptação - invasivas - entrosamento.
FASCÍCULO 7
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