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Presidente da República
José Sarney
Ministro da Educação
Jorge Bornhausen
Secretário-Geral
Aloisio Sotero
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A EDUCAÇÃO NAS
MENSAGENS
PRESIDENCIAIS
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS
Diretor-Geral
Pedro Demo
Diretora de Estudos e Pesquisas
Acácia Zeneida Kuenzer
Diretor de Planejamento e Administração
Carmo Nunes
Diretora de Documentação e Informação
Magda Maciel Montenegro
Coordenadora de Editoração e Divulgação
Janete Chaves
Organização da Edição
Paulo Martinez Medeiros
Pesquisa Documental
Margarida de Souza Queiroz
Paulo Martinez Medeiros
Atualização Ortográfica
Catarina de Carvalho Guerra
Mabel Alves de Faria Mônica
Matthke Braga
Revisão
Cláudia Caputti Pereira Marlow
Santos de Paula Maria de Nazareth
H. Barbosa Soares
Capa
Ana Maria Boaventura Macedo
Projeto Gráfico
Cláudio Dallago
Serviços Editoriais Auxiliares
Merby Maria Amorim de Sousa
INEP — Coordenadoria de Editoração e Divulgação Via
N-2, Anexo I do MEC, sala 139 Caixa Postal 04/0366
70312-Brasilia, DF Fone: (061)223-5561
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO
NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS
A EDUCAÇÃO NAS
MENSAGENS
PRESIDENCIAIS
(1890-1986)
V.l
Brasilia
1987
A EDUCAÇÃO nas mensagens presidenciais (l890 1986).
Brasilia, INEP, 1987. 2v. anexos.
I. Mensagens Presidenciais. 2. Educacão. I. INEP.
CDU 328.132.7:37(81)
SUMARIO
7 Apresentação
9 Introdução
A Educação na Mensagens Presidenciais (1890-1986)
13
Deodoro da Fonseca
17
Floriano Peixoto
23
Prudente de Morais
29
Campos Sales
33
Rodri
g
ues Alves
37
Afonso Pena
43
Nilo Peçanha
47
Hermes da Fonseca
59
Venceslau Brás
65
Delfim Moreira
69
Epitácio Pessoa
85
Artur Bernardes
101
Washin
ton Luís
121
Getúlio Var
g
as
155
Eurico Gas
p
ar Dutra
197 Getúlio Vargas
237 Café Filho
251 Juscelino Kubitschek de Oliveira
347 Jânio
Q
uadros
353 João Goular
t
379 Humberto de Alencar Castello Branco
391 Artur da Costa e Silva
403 Emílio Garrastazu Médici
435 Ernesto Geisel
485 João Figueiredo
521 José Sarne
y
529
Anexos
APRESENTAÇÃO
A nação brasileira encontra-se, nos dias de hoje, numa encruzilhada da qual
depende seu futuro como democracia e pais desenvolvido. Cremos que um projeto
de desenvolvimento deve enfrentar corajosamente os problemas nacionais e, para
tanto, impõe-se sabermos conciliar o progresso econômico e social.
No campo da educação, o Brasil caminha no sentido de assegurar o ensino de
primeiro grau para todas as crianças na faixa etária de 7 a 14 anos, bem como
introduzir cursos profissionalizantes que as qualifique para o trabalho. Esse
objetivo não deve ficar como intenção de um ou outro governo, deve tornar-se
uma realidade ao alcance de todos.
Ademais, há que levar-se em consideração as exigências de um mundo que, dentro
em breve, chegará ao ano 2000. Nossa juventude deve ser preparada para entrar
no mundo do trabalho, para produzir e dominar uma tecnologia de ponta, pois, do
contrário, não ficaremos à altura das necessidades do Brasil de aman.
Acreditamos, com isso, poder superar a defasagem existente entre o
desenvolvimento econômico e o baixo nivel de instrução em nosso Pais. A
operacionalização dessa proposta requer uma legislação, no campo do ensino,
capaz de viabilizar o projeto da Nova República, que envolve outros setores
igualmente fundamentais.
Estando reunida a Assembléia Nacional Constituinte que elaborará a nova Carta
Magna do Pais, este trabalho lhe é especialmente dedicado. A nova Constituição irá
restabelecer os principios que nortearão a legislação ordinária, assim como os direitos
e as garantias do cidadão, entre outros elementos. Isso exigirá, ainda, grande
esforço no periodo pós-Constituinte, para que seja repensado todo o sistema de
ensino do País. E da maior importância que
todos os que vivem as dificuldades dos dias de hoje, quer sejam professores
do primeiro-grau, quer do segundo grau e os das escolas de nível superior, e
ainda todos aqueles que trabalham na área de educação, dêem suas opiniões.
Só um exame profundo, à luz da história, poderá estabelecer as novas bases do
ensino no Brasil. Foi pensando nisso que o Ministério da Educação solicitou,
à direção do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais-INEP, a
formação da equipe que elaborou o presente trabalho.
São fontes primárias de pesquisa como estas, extraídas de nossa História,
especialmente do período republicano, que ajudarão a todos os interessados
na busca de soluções dos problemas com que se defronta a educação brasileira
nesses últimos anos.
Esperamos que a história seja o principal elemento a orientar os pesquisadores
e estudiosos, para que a reforma, há tanto esperada, possa alcançar a
formulação de uma nova escola, cujo papel fundamental consiste em formar
um novo cidadão brasileiro, respeitadas a nossa identidade cultural e as
condições de bem-estar de nossa sociedade.
Jorge Bornhausen
Ministro da Educação
INTRODUÇÃO
-As MENSAGENS PRESIDENCIAIS substituíram, após a Proclamação da
República, a FALA DO TRONO. Estas mensagens são uma prestação de contas
do Poder Executivo, apresentadas pelo Presidente da República ao Poder
Legislativo, e, conseqüentemente, a toda a Nação. Cada mensagem é, também,
acompanhada de uma declaração de intenções do Governo para o ano eno
em curso. Através delas, é possível observar o grau de interesse do Governo da
República, em determinado período, com relação a certos problemas do País,
bem como as políticas propostas e seus objetivos. Contudo, houve atos que,
mesmo significativos, deixaram de constar dos textos das mensagens
presidenciais.
Tais mensagens são, sem dúvida, uma das fontes primárias de pesquisa no
setor, embora muito pouco conhecidas, especialmente em suas
particularidades.
Para o presente trabalho, adotamos o critério de extrair delas só o que se
refere à educação, no que diz respeito ao âmbito do que hoje corresponde ao
Ministério da Educação. Ao mesmo tempo, fazemos, abaixo, dada a relevância
intrínseca, algumas observações sobre pontos da legislação que fugiram aos
comentários dos Excelentíssimos Senhores Presidentes da República.
Assim, educação, no seu amplo sentido, é uma preocupação de todos os
cidadãos interessados no futuro do País.
Esperamos, com esta modesta contribuição, ajudar os trabalhos de todos os
que estão envolvidos com a educação no Brasil, especialmente neste momento
de transição sócio-política com a elaboração da nova Carta Magna.
NOTAS SOBRE AS MENSAGENS
Na mensagem da abertura do Congresso Constituinte, em 15 de novembro de
1890, o chefe do Governo Provisório, Marechal Deodoro da Fonseca, refere-se
à instrução pública com um ideal a ser concretizado, abrangendo o País de
norte a sul, de leste a oeste, mostrando também que, no breve período de
existência do regime republicano, "foi-lhe dada nova e mui diversa
orientação". Isto representou a criação da Secretaria de Estado dos Negócios
da Instrução Pública, Correios e Telégrafos, por meio do Decreto nº 346, de
19 de abril de 1890, bem como pelo Decreto nº 981, de 08 de novembro de
1890, que reformou a instrução primária e secundária e tomou outras
medidas.
Após a aprovação da Constituição de 1891, o Congresso Nacional reorganizou
os serviços de Administração Pública, mediante a Lei nº 23, de 30 de outubro
de 1891. Com essa reestruturação, extinguiu-se a Secretaria de Estado dos
Negócios da Instrução Pública, Correios e Telégrafos, enquanto suas
atribuições, no que concerne à educação, passaram à responsabilidade do
Ministério da Justiça e Negócios Interiores (art. 491etra d e art. 59). Com data
de 06 de dezembro de 1892, pelo Decreto n91.160, foi regulamentada a
Secretaria de Justiça e Negócios Interiores, quando se tomaram importantes
decisões, no que diz respeito à educação, instrução secundária e superior.
Na mensagem presidencial de 1891, do Marechal Deodoro da Fonseca,
igualmente encontramos referências sobre a educação, que explicitam,
claramente, os objetivos do Governo de então nessa área.
No entanto, em todo o período da Primeira República, isto é, até 1930,
muitas mensagens nada contêm sobre educação.
Após a Revolução de 1930, inexistem registros de mensagens presidenciais ao
Poder Legislativo. Explica-se: o Congresso Nacional ficou fechado nos anos de
1931 e 1932. Em 1933 houve uma mensagem do Governo Provisório ao
reunir-se a Assembléia Nacional Constituinte. Assim, o Presidente da
República voltou a dirigir mensagens ao Congresso Nacional somente em
1935, como obrigação expressa da nova Constituição.
Com o advento do Estado Novo, a 10 de novembro de 1937, o Congresso foi
novamente fechado. Não mais tivemos mensagens presidenciais durante dez
anos. O processo de redemocratização do Brasil, coroado, após a II Guerra
Mundial, com a promulgação da Constituição de 1946, permitiu que, somente
em 1947, o Presidente - Marechal Eurico Gaspar Dutra - viesse a endereçar
uma mensagem ao Congresso Nacional.
Desde então, até os dias de hoje, (1986) e anualmente, foi adotado o
procedimento salutar de enviar mensagem presidencial. Todavia, o fato de
ocorrerem interrupções na remessa de mensagens, pelos motivos já referidos,
não significa que a legislação educacional se tenha mantido estagnada.
A 14 de novembro de 1930, pelo Decreto nº19.402, foi determinada a
organização do Ministério da Educação e Saúde Pública que, ao ser criado,
assumiu todas as atribuições do Ministério da Justiça e Negócios Interiores, no
que se referia à educação e saúde, bem como algumas outras da alçada do
Ministério das Obras Públicas.
Pelo Decreto n919.560, de 05 de janeiro de 1931, que regulamentou o
Ministério da Educação e Saúde Pública, foi criada a Diretoria-Geral de
Informações Estatísticas e Divulgação. A partir desta data, o Ministério
passou a ter o domínio sobre os dados referentes à educação no País e a
divulgá-los, de forma sistemática, com os comentários adequados.
O Conselho Nacional de Educação, hoje Conselho Federal de Educação, também
foi estruturado por iniciativa do Governo Provisório da República, pelo Decreto
19.850, de 11 de abril de 1931. Ainda em 1931, tivemos uma reforma do ensino
universitário (Decreto n° 19.980, de 1º de maio de 1931) que sofreu alterações em
1932, por meio do Decreto n° 21.241, de 04 de abril de 1932.
Mais adiante, o Congresso Nacional aprovou a Lei nº 378, assinada pelo então
Presidente Getúlio Vargas, a 13 de janeiro de 1937, dando nova organização ao
Ministério da Educação e Saúde Pública. Entre os objetivos da nova estrutura do
Ministério, estabeleceu-se a criação do Instituto Nacional de Pedagogia,
denominado, posteriormente, Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos. Data
deste período a reforma do ensino secundário, com o Decreto n94.244, de 09 de
abril de 1942.
Estes foram alguns dos atos, na área da educação, baixados pelo Governo
Provisório, de 1930 a 1934, e pelo Estado Novo, de novembro de 1937 até
setembro de 1946.
A demonstrar esse histórico de procedimentos do Governo, incluímos nesse
trabalho, via Anexos, os textos constitucionais e algumas das leis de maior
significação para a educação brasileira, por ordem cronológica.
Eis que os leitores e estudiosos da matéria encontrarão, nesta obra de pesquisa, o
teor das questões educacionais expressas nas mensagens presidenciais, as
disposições de leis ordinárias e tudo o que consta a respeito de Educação em todas
as Constituições do Brasil, desde a do Império (1824) até a Emenda
Constitucional n° 24, de l° de dezembro de 1983 (Emenda Calmon), cuja
execução foi regulamentada pela Lei nº 7.348, de 24 de julho de 1985.
Ao decidir o Ministério da Educação, por iniciativa do Ministro Marco Maciel, ao
final de sua gestão, fazer a presente publicação e torná-la acessível, pela forma de
distribuição adotada, ou seja, enviando-a às autoridades e organismos da área
educacional, senhores constituintes, incluindo as universidades, escolas de
educação e escolas normais, fíca expresso o desejo de contribuir para um maior
conhecimento da história da educação no Brasil, objetivando, com isso, o
aperfeiçoamento e adequação de nossas leis ás realidades e ás exigências de
nosso povo.
Manuel Deodoro da Fonseca
Presidência de 15.11.1889 a 24.2.1891 (Governo Provisório)
1890
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da Republica,
Marechal Manuel Deodoro da Fonseca, na abertura do Congresso Constituinte
Alcançada, assim, a vitória, banido para sempre do seio da América um regime
antagônico com a sua hegemonia, com a sua aspiração de liberdade, com as
tendências das civilizações que se formavam e desenvolviam após a grande
revolução que definiu os dogmas dos direitos de homem, cumpre-nos voltar
vistas solicitas e patrióticas para a conquista realizada, para a obra que, embora
finda, há de ir recebendo, com o tempo, com a observação dos fatos, com o
conhecimento exato das circunstâncias e das necessidades reais do País, com o
aperfeiçoamento da educação popular e política das classes e dos partidos, com
as expansões que forem tendo as nossas riquezas, as nossas indústrias, os
retoques e as reformas indispensáveis à sua consolidação.
Até ontem, a nossa missão era fundar a república; hoje, o nosso supremo dever
perante a pátria e o mundo è conservá-la e engrandecê-la. Não se mudam
instituições para persistir em defeitos inveterados ou para causar simples
deslocação de homens. Nas revoluções em que preponderam os principios
sobre que repousa a trilogia sagrada do direito, da justiça e da liberdade, os
povos visam, antes de tudo, melhorar de condição, fortalecer o império das leis
e reivindicar o papel que lhes cabe no governo da sociedade. Por igual,
cogitamos do momentoso problema da instrução pública, a que tem sido dada
nova a mui diversa orientação.
Devendo a República levar a todos os pontos dos seus domínios territoriais
os elementos de progresso material que armem as populações para a luta pela
vida e pela pátria, indispensável é esclarecer-lhes, de par, o entendimento, que
deve ter horizontes amplíssimos e claros.
1891
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República,
Marechal Manuel Deodoro da Fonseca, na abertura da 1ª Sessão Ordinária da
1º legislatura
Anteriormente ao atual regime, a constituição do ensino público se fizera sem
espirito sistemático e sob acanhados moldes.
Dado o advento da República, forma de governo em que a difusão do ensino
se impõe com o caráter de suprema necessidade, cuidou o Governo Provisório
de organizá-lo sob novas bases, por modo completo e harmônico, desde a
escola primária até os institutos superiores, proporcionando aos estudos a
orientação que o espirito moderno e as condições de nossa existência politica
imperiosamente exigiam.
Certo é que algumas corporações docentes ofereceram reparos quanto aos
novos planos de ensino dos respectivos institutos. Tais divergências, porém,
versaram mais sobre o desenvolvimento e extensão dos cursos do que quanto
aos principios gerais que constituem o sistema da reforma. Entretanto, seria
prematura qualquer alteração nesse sentido: convém deixar que funcionem
todos os aparelhos desse vasto mecanismo, observando-o atentamente em seu
conjunto: a experiência irá então relevando as alterações que porventura se
tornarem de mister.
Seria arriscado estrear a execução de reforma de tal magnitude, deturpando-a,
constangindo-a, reduzindo-lhe as proporções. O que cumpre é praticá-la com
critério, e nessa prática obviar os inconvenientes que aparecem, respeitados
sempre tanto o seu caráter geral como a orientação que presidiu à sua
elaboração.
Realizando as mais adiantadas aspirações liberais, essa nova constituição do
ensino fez justiça particular. Não è a menos vantajosa de sua providência a
que proclamou a libertação do ensino.
Floriano Vieira Peixoto
Presidência de 23.11.1891 a 15.11.1894
1892
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Vice-Presidente da República,
Marechal Floriano Vieira Peixoto na abertura da 2
a
sessão ordinária da 1
a
legislatura
O Governo tem-se desvelado em difundir a educação popular e a instrução pública,
e aguarda da vossa sabedoria a necessária cooperação para a efetividade desse
grande empenho.
O desenvolvimento da indústria acentua a necessidade de prover com a máxima
brevidade, e eficazmente, ao ensino profissional, tão descurado entre nós. O
Instituto para esse fim ultimamente criado, pelo Decreto nº 722, de 30 de janeiro,
não poderá iniciar sua importante função sem que concedais ao Governo os
recursos necessários, afim de ser instalado convenientemente.
O comércio, integrante da vida industrial, não possui ainda um instituto de
instrução e aplicação, no qual se preparem e eduquem os cidadãos que se
destinam aos variados e proveitosos ramos mercantis.
Será, pois, medida relevante habilitardes o Governo a criar um liceu comercial,
cujos fins, estou certo, compensarão largamente quaisquer despesas decretadas.
A expansão das artes não é ainda no Brasil tanta quanto possa desejar um povo
verdadeiramente culto e progressista; e seguro estou de que não olvidareis esse
assunto do qual são inseparáveis a criação e manutenção do teatro nacional,
medida aliás por tanto tempo aspirada e discutida.
Espera o Governo que a vossa intuição sobre esta matéria dotá-los-á de meios de
criar e prover tão útil instituição.
O serviço de correios e telégrafos foi desempenhado com regularidade; prossegue
o desenvolvimento da rede telegráfica em nosso território, tendo sido concluida a
linha de Goiás a Mato Grosso, e dadas as providências concernentes à construção
das de Belém a Manaus, de Cuiabá a Corumbá e deste a outros pontos que
convém ligar.
Reputando de necessidade inadiável a mudança da Capital da União, o Governo
trata de fazer seguir para o planalto central a comissão que deve proceder à
demarcação da área e fazer sobre a zona os indispensáveis estudos.
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Vice-Presidente da República,
Marechal Floriano Vieira Peixoto, na abertura da 3
a
sessão ordinária da 1ª
legislatura
Cooperando, como de seu dever, para o desenvolvimento da instrução pública, o
Governo promulgou, pelo Decreto nº 1159, de 3 de dezembro do ano findo, o
Código das disposições comuns às instituições de ensino superior dependentes do
Ministério da Justiça e Negócios Interiores; e, como complemento, elaboram-se
atualmente os estatutos especiais de cada Faculdade.
Para verificar os resultados esperados da reforma do Ginásio Nacional,
estabelecida no Decreto nº 1194, de 28 de dezembro último, removendo as
dificuldades que apresentava o regulamento anterior quanto às exigências para
admissão e freqüência do curso, entendeu o Governo não utilizar-se da
autorização conferida pela Lei nº126 A de 21 de novembro de 1892, tanto mais
quanto, à vista de numerosas reclamações que lhe foram endereçadas, julga de
necessidade que continue a subsistir a antiga organização do Ginásio em internato
e externato.
Carece o Governo, para esta medida de benéficos efeitos, de ser habilitado com os
meios indispensáveis para ocorrer à manutenção dos dois estabelecimentos.
O Instituto Profissional, criado pelo Decreto nº 722, de 30 de janeiro de 1892, tão
necessário ao desenvolvimento da indústria, ainda não foi instalado por falta dos
precisos recursos orçamentários.
Pelo mesmo motivo não pode ainda o Governo prover à criação do Instituto
Comercial, que a expansão econômica do país reclama inadiavelmente.
O novo serviço da estatística do ensino primário, secundário e normal da
República, cometido à União, não pode igualmente traduzir-se em realidade, por
falta de crédito; como também não foi possível iniciar-se a construção do
projetado edifício da Escola Nacional de Belas-Artes, nem lançarem-se as bases
para a organização do "Teatro Nacional".
1894
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Vice-Presidente da República,
Marechal Floriano Vieira Peixoto, na abertura da 1
a
sessão ordinária da 2
a
legislatura
A instrução pública, difundida pelos estabelecimentos de ensino oficial e
outros de iniciativa particular, progride regularmente, sendo que um dos
extematos do Ginásio Nacional já se acha convertido em intemato, de acordo
com a lei ultimamente votada.
Prudente José de Morais Barros
Presidência de 15.11.1894 a 15.11.1898
1895
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República,
Prudente José de Moraes Barros, no dia 3 de maio de 1895 na 2ª sessão ordinária
da 2ª legislatura
No que diz respeito à instrução pública, acham-se a cargo do Governo da
União, como sabeis, os institutos de ensino superior e de belas-artes, o
Ginásio Nacional e o Pedagogium, destinado a constituir-se o centro impulsor
da instrução primária.
Dos melhoramentos de que carecem esses estabelecimentos, alguns pertencem
à alçada do Poder Executivo, que procurará atendê-los nos limites dos
recursos orçamentários; outros, porém, só poderão ser levados a efeito
mediante prévia autorização do Congresso Nacional. Entre estes últimos,
mencionei os que se referem aos estatutos da Escola Politécnica, os quais
estão sendo elaborados pela respectiva congregação, e à transferência da
Escola de Minas de Ouro Preto para outra localidade.
1896
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República,
Prudente José de Morais Barros, na abertura da 3ª sessão da 2ª legislatura
0 desenvolvimento da Instrução Pública deve merecer vossa especial atenção.
Votastes o ano passado duas leis autorizando o Poder Executivo a reformar os
estatutos das Faculdades de Direito e os da Escola Politécnica do Rio de
Janeiro, os primeiros de acordo com um novo plano em que os três cursos
foram convertidos em um só de ciências jurídicas e sociais, restabelecida a
freqüência obrigatória, e os últimos calçados sobre projeto elaborado pela
respectiva Congregação. Estas reformas, convertidas nos Decretos nº
s
2221, de
23 de janeiro e 2226, de 1 de fevereiro deste ano, satisfazem necessidades que
há muito tempo se acentuavam no regime do ensino desses cursos superiores.
Como, porém, em grande parte, os estatutos das Faculdades de Direito
alteraram o sistema adotado pelo Código do ensino superior, conviria, para
manter a uniformidade daqueles cursos, que se fizessem no referido Código as
necessárias alterações, a fim de evitar-se a anormalidade da conservação de
sistemas opostos em instituições que devem obedecer à mesma orientação
escolar e administrativa.
A instrução secundária reclama providências eficazes. Sobre dois pontos
essenciais convém fixar-se a atenção dos poderes públicos: a simplificação dos
programas de estudo e dos métodos de ensino e a exeqüibilidade do exame de
madureza. São idéias triunfantes em todos os paises, onde a instrução tem
merecido particular cuidado, o ensino objetivo ou intuitivo e prático, com
exclusão, tanto quanto possível, de teorias sem aplicação imediata à vida
social, e a substituição dos exames finais parcelados pelo exame integral ou
de conjunto no fim dos cursos, no qual se trata unicamente de verificar de
modogico e exato o estado de desenvolvimento intelectual do candidato e a
sua aptidão para freqüentar os cursos superiores.
O rebaixamento do nivel da instrução secundária, devido principalmente ao
atual processo de exames, exige remédio urgente.
Em virtude das disposições em vigor, a exigência dos atestados de exame de
madureza, instituído pelo Decreto nº 981, de 8 de novembro de 1890, só no
ano de 1898 se tomará efetiva para a admissão à matricula nos cursos
superiores. O sistema, porém, adotado nesse Decreto encontra na prática
resistências que é preciso eliminar. As modificações a realizar no sentido de
tornar viável o exame de madureza são intuitivas e já foram indicadas em
projeto submetido o ano passado à vossa consideração. Resta, pois, que doteis
os estabelecimentos de instrução secundária da União com esse
melhoramento, de cuja vantagem para o ensino público não é licito duvidar.
1897
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República,
Prudente José de Morais Barros, na abertura da 1ª sessão da 33 legislatura
Duas questões de ensino público reclamam primordialmente o vosso solicito
cuidado.
Sobre as bases que formulastes na Lei nº 314, de 30 de outubro de 1895,
forarn calcados os atuais estatutos das Faculdades de direito, unificando-se os
cursos jurídicos então existentes e restabelecendo-se o regime de freqüência
obrigatória.
Será de incontestável utilidade que se ampliem aos outros estabelecimentos de
ensino superior as salutares disposições daqueles estatutos, na parte que lhes é
aplicável.
Para modificar nesta conformidade o Código de 3 de dezembro de 1892,
carece o Governo de autorização legislativa, que solicito.
A outra questão refere-se aos títulos de habilitação para a matricula nos
cursos superiores da República.
A partir do ano letivo de 1898, deverão os candidatos apresentar o cerificado
de aprovação em exame de madureza; mas. o processo instituído para os
exames dessa natureza pelo Decreto nº 1652, de 15 de janeiro de 1894, sobre
ser inexeqüível na prática, desvirtua inteiramente o caráter dessas provas, nas
quais, como sabeis, cogita-se de constatar o desenvolvimento intelectual dos
estudantes e a sua aptidão para iniciar os estudos de ordem mais elevada.
Deste assunto já vos ocupastes em sessão recente; confio que não deixareis de
habilitar o Poder Executivo a prover a esse respeito.
Nos termos do art. 2º § 3° da lei do orçamento vigente, extintos os cursos
anexos às faculdades de direito, foram considerados em disponibilidade os
respectivos lentes. Conviria que vos pronunciásseis sobre o modo por que
deverão ser aproveitados os serviços desses funcionários.
O Pedagogium, em virtude do § 1º do artigo citado, foi entregue ao Governo do
Distrito Federal, que assumiu a sua administração.
1898
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República,
Prudente José de Morais Barros, na abertura da 2ª sessão da 3ª legislatura
Não foi o Governo autorizado ainda a rever o Código de ensino superior para
uniformizar, como é indispensável, o regime dos cursos de instrução superior.
Usando da autorização consignada no art. 2º 2º da Lei nº 490, de l6 de
dezembro último, expedi o regulamento anexo ao Decreto nº 2857, de 30 de
março para o Ginásio Nacional e o ensino secundário. Sem eliminar deste
ensino os estudos clássicos, estabeleceu-se um regime de cursos simultâneos,
um propedêutico ou realista e outro clássico ou humanista, coordenados de
modo que aos candidatos não se negasse a cultura clássica, nem se tornasse
esta obrigatória àqueles que não a quisessem ou pudessem procurar,
limitando-se nesse caso ao estudo das matérias que constituem o curso
propedêutico.
O exame de madureza acha-se, finalmente, regulado em condições de
satisfazer os seus fins pedagógicos, tendo sido o respectivo processo cercado
de todas as garantias de fiscalização necessárias para evitar os abusos que
desprestigiaram o regime dos exames parcelados.
Na reforma atendeu-se a dois pontos capitais, de cuja fiel execução, é de
esperar, resultará o levantamento do nível da instrução.
Refiro-me à simplicidade das provas oferecidas e julgados em conjunto, com a
determinação do maximum e minimum exigiveis do candidato, e à exclusão
do professorado do ensino secundário das funções de julgar nos exames.
Estou convencido de que a última providência, principalmente, será remédio
eficaz para melhorar-se o ensino secundário.
Entretanto, devo observar que o êxito da reforma dependerá de medidas
complementares, para as quais peço a vossa atenção.
São elas: fixar definitivamente o número de cadeiras que devam funcionar no
Ginásio Nacional, sem as quais o atual plano de estudos não terá execução
conveniente; e suprimir o regime de exceção dos exames parcelados, que, em
virtude do disposto no citado art. 2º § 4º da Lei nº 490, têm de perdurar até
o ano de 1900.
Manuel Ferraz de Campos Sales
Presidência de 15.11.1898 a 15.11.1902
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República, Manuel
Ferraz de Campos Sales na abertura da 2º sessão da 4
a
legislatura
Pelo Decreto nº 3890, de 1º de janeiro último, promulgou o Governo o Código
dos Institutos Oficiais de Ensino Superior e Secundário, dependentes do Ministério
da Justiça e Negocios Interiores.
O Código antigo, de 3 de dezembro de 1892, tinha sido expedido, como norma
geral, para todas as Faculdades e Escolas Superiores; porém atos posteriores do
Congresso e do Poder Executivo, subtraíram ao seu regime, em pontos capitais, as
Faculdades de Direito e a Escola de Minas, além de que a reforma das Faculdades
de Medicina, em 1893, e a da Escola Politécnica, em 1896, vieram por sua vez
derrogar muitas das disposições que lhes eram aplicáveis.
Assim mutilado, restringido a uma parte limitada da vasta e complexa
organização dos institutos de ensino, o Código de 1892 deixara de ser uma
consolidação das disposições comuns a todos os estabelecimentos.
Não havia razão, entretanto, para se regular diversa ou separadamente o
processo de atos escolares de igual natureza das Faculdades da República; pelo
contrário, era da maior vantagem para o serviço que todos os dispositivos de
caráter geral fossem uniformizados e unificados em um regulamento comum.
Assim entendeu também o Congresso Nacional, que já na Lei nº 652, de 23 de
novembro de 1899, art. 39n9 V, autorizara o Governo a rever os regulamentos das
Faculdades de Medicina e da Escola Politécnica, adotando o regime que mais
conveniente julgasse ao ensino, e que no art. 3º nº 1I, da Lei nº 746, de 29 de
dezembro do ano passado, ampliou aquela autorização à revisão do Código de
1892, fazendo-o compreender as disposições comuns a todos os estabelecimentos,
e à revisão dos regulamentos especiais, restringindo-os ao que fosse peculiar aos
institutos respectivos.
Foi o que fez o Poder Executivo.
Encontrareis amplamente desenvolvidas no relatório do Ministro da Justiça e
Negócios Interiores as outras modificações feitas pelo novo Código na
regulamentação do ensino.
Resta-me apenas, sobre este assunto, afirmar a minha convicção de que a
reforma trará reais benefícios à organização e elevação do ensino.
Francisco de Paula Rodrigues Alves
Presidência de 15.11.1902 a 15.11.1906
1903
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República,
Francisco de Paula Rodrigues Alves, na abertura da 1
a
sessão da 5
a
legislatura
A instrução pública, que sempre se recomenda aos poderes públicos, exige
agora pelas suas precárias condições maior solicitude.
A última reforma, decretada em 1901, acha-se ainda submetida à vossa
apreciação. Deste fato, por si só, lhe advém caráter provisório. Além disso, a
reforma não tem sido observada rigorosamente, porque pareceram atendiveis
algumas das reclamações que ela ocasionou. No meu conceito, tal estado de
verdadeira incerteza, evidentemente prejudicial ao ensino, não deve continuar,
para que se não agravem os males que já experimentamos.
A organização vigente tem deixado de produzir efeitos correspondentes aos
esforços empregados para melhorar esse importante serviço. Será preferível
substituí-la por outra, francamente liberal, em que constituindo um centro
universitário, se congreguem harmonicamente os institutos oficiais de ensino
superior e secundário que funcionam na Capital Federal, na dependência
direta do Governo da União.
Em obediência ao Decreto legislativo nº 968, de 2 de janeiro do corrente ano, foi
reorganizado o Instituto Nacional de Música pelo Decreto nº 4779, de 2 de
março.
O Instituto Benjamin Constant voltou a reger-se pelo Decreto de 17 de maio
de 1890, na conformidade da Lei n° 957, de 30 de dezembro de 1902, para
cuja execução expedi o Decreto n° 4770, de 9 de fevereiro próximo findo.
1905
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República,
Francisco de Paula Rodrigues Alves, na abertura da 3ª sessão da 5ª legislatura
A instrução pública em todas as suas diferentes fases continua a reclamar a
vossa atenção esclarecida. É um serviço que interessa vivamente ao progresso
do país e não funciona com a necessária ordem e proveito. O ensino superior
ressente-se de falhas que conheceis; as disciplinas indispensáveis para a
admissão nos seus cursos não estão sendo bem ensinadas e os exames têm sido
facilitados de tal forma que convém rever a legislação para dar moldes mais
proveitosos a um serviço de tanta importância.
1906
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República,
Francisco de Paula Rodrigues Alves, na abertura da 1ª sessão da 6ª legislatura
Em Mensagem anterior ponderei: "A instrução pública, em todas as suas
diferentes fases, continua a reclamar a vossa atenção esclarecida. É um serviço
que interessa vivamente ao progresso do país e não funciona com a necessária
ordem e proveito. O ensino superior ressente-se de falhas que conheceis; as
disciplinas indispensáveis para a admissão nos seus cursos não estão sendo bem
ensinadas e os exames têm sido facilitados de tal forma que convém rever a
legislação para dar moldes mais proveitosos a um serviço de tanta
importância. "
Estou ainda convencido da necessidade de adotar providência que normalize
esse ramo da administração pública, a fim de que se não agravem cada vez
mais os males produzidos pela organização atual.
Afonso Augusto Moreira Pena Presidência
de 15.11.1906 a 14.6.1909
Manifesto inaugural do Presidente da República Afonso Augusto Moreira Pena,
eleito para o quatriênio de 1906 a 1910
A criação e multiplicação de institutos de ensino técnico e profissional, muito
podem contribuir também para o progresso das indústrias, proporcionando-
lhes mestres e operários instruídos e hábeis. As escolas de comércio, que
começam a ser instituídas em diversas cidades comerciais, vêm satisfazer a
uma grande necessidade do país, e convém que sejam auxiliadas e animadas.
Sem comércio ativo e próspero, só lentamente poderemos conseguir a
acumulação de capitais indispensáveis ao incremento dos diversos ramos da
atividade econômica.
É preciso, pois, proporcionar à nossa mocidade meios de se aparelhar para
exercer com inteligência e proveito a nobre profissão que tão profícua
influência tem no mundo moderno.
Do conjunto dos problemas que reclamam mais prontamente os cuidados do
poder público no Brasil, destaca-se evidentemente o da instrução, nos seus
variados ramos.
Nas democracias, em que o povo è responsável pelos seus destinos, o
esclarecimento e educação do espírito dos cidadãos constituem condição
elementar para o funcionamento normal das instituições.
A reunião, na Capital da República, de um Congresso de Instrução, em que
ilustres e competentes cidadãos têm discutido as questões mais elevadas e
práticas do ensino, é fato animador e que demonstra quanto a opinião se
preocupa com este interessante objeto. A manifestação de opiniões
autorizadas na indicação de reformas proveitosas, é de inestimável valor para
guiar o poder público.
Neste assunto, a nenhum espírito escapará a necessidade premente de
modificações sérias e delas cuidarei com a máxima atenção, procurando pôr
cobro à confusão e incerteza que reinam no meio de decisões e normas
contraditórias e obscuras, de conseqüências deploráveis em tão melindrosa
matéria.
1907
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República, Afonso
Augusto Moreira Pena, na abertura da 2ª sessão da 6ª legislatura
Dentre esses problemas, um dos mais importantes é, sem dúvida, o da
instrução pública, que nos últimos anos, forçoso é dizê-lo, tem vivido num
regime de vacilações e incertezas, cujas deploráveis conseqüências avultam e se
acentuam cada dia.
Normalizar esse ramo do serviço público é uma necessidade que se impõe; e eu
espero e confio que para isto não poupareis esforços, discutindo e votando uma
reforma séria e capaz de satisfazer as exigências do ensino moderno. Devemos
cuidar com especial atenção do ensino profissional e técnico, tão necessário ao
progresso da lavoura, do comércio, indústrias e artes.
1908
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República, Afonso
Augusto Moreira Pena, na abertura da 3ª sessão da 6ª legislatura
O problema da instrução pública continua a reclamar a vossa esclarecida
atenção, É assunto que deve constituir constante preocupação, não podendo,
dado o caso de confusão em que se acha, ser descurado pelos poderes
públicos.
Renovo, por isso, o que disse o ano passado: "normalizar esse ramo do serviço
público é uma necessidade que se impõe; e eu espero e confio que para isso não
poupareis esforços, discutindo e votando uma reforma séria e capaz de satisfazer
as exigências do ensino moderno ".
Ni]o Procópio Peçanha
Presidência de 14.6.1909 a 15.11.1910
1910
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República, Nilo
Procópio Peçanha, na abertura da 2
a
sessão da 7
a
legislatura
Não me é licito deixar sem reparo as condições em que se acha atualmente o
ensino. A anarquia que continua a subsistir em matéria de instrução reclama dos
poderes públicos as mais urgentes e patrióticas providências. Não há, quer para o
Estado, quer para o individuo, interesse superior ao que se relaciona com a
elevação do nivel moral e intelectual da coletividade. As instituições docentes e
os aparelhos científicos que possuimos não correspondem infelizmente a esse
ideal.
Estando, porém, o caso afeto à deliberação do Senado, é de esperar seja o pais, em
breve, dotado de uma lei, que, corrigindo as imperfeições da legislação vigente,
corresponda às nossas alterões e às verdadeiras necessidades do ensino.
ESCOLAS PROFISSIONAIS
Não menos úteis serão à população infantil das cidades as escolas de artífices, que
satisfazem uma necessidade de ordem econômica e social, preparando o
brasileiro para as funções da vida prática, criando em cada Estado núcleos de
operários válidos, inteligentes e ao mesmo tempo sofrendo a tendência para o
emprego público, para as profissões liberais, que declinam sensivelmente ao
embate de uma concorrência desesperada, prejudicando atividades que seriam
mais proveitosas em outras aplicações. Dessas escolas acham-se instaladas a do
Piaui com 51 alunos, a do Maranhão com 74, a do Rio Grande do Norte com 100,
a da Paraíba com 117, a de Pernambuco com 120, a de Alagoas com 70, a do
Espirito Santo com 129, a do Estado do Rio de Janeiro com 131, a do Paraná
com 170, a de Mato Grosso com 77 e a de Goiás com 33, constituindo a do Rio
Grande do Sui, representada pelo Instituto Técnico Profissional, um dos
melhores institutos do seu gênero no pais.
Nos demais estados, o Governo instalará em breves dias institutos idênticos.
Hermes Rodrigues da Fonseca Presidência
de 15.11.1910 a 15.11.1914
Manifesto inaugural do Presidente da República, Marechal Hermes Rodrigues da
Fonseca, eleito para o quatriênio de 1910 a 1914
Como da justiça, urge cuidar seriamente da instrução, tornando-a instrumento
proficuo do nosso desenvolvimento moral e material.
Para isso, é necessário reorganizar o ensino, principalmente, no sentido de: dar
autonomia ao ensino secundário, libertando-o da condição subalterna de mero
preparatório de ensino superior; organizá-lo de maneira a fazê-lo eminentemente
prático, a fim de formar homens capazes para todas as exigências da vida social,
ao mesmo tempo que aptos, caso queiram, para seguir os cursos especiais e
superiores; criar programas que desenvolvam a inteligência da juventude e não que a
aniquilem por uma sobrecarga de estudos exageradamente inútil e, por isso, antes
nociva do que proveitosa; estabelecer a plena liberdade do ensino no sentido de
qualquer indivíduo ou associação poder fundar escolas com os mesmos direitos e
regalias das oficiais; e, assim autônomo o ensino secundário, exigir o exame de
admissão para o ingresso aos cursos superiores; dar às escolas de ensino superior
completa liberdade na organização dos programas dos respectivos cursos, nas
condições de matrícula, no regime dos exames e disciplina escolar e na
administração dos patrimônios que tiverem; formar professores bons e convencidos
da sua eminente função, para que é preciso interessá-los no ensino, de maneira que
se não sirvam, como até aqui, do título do professor para mero reclamo c melhor
exploração de profissões especiais; instituir, enfim, em matéria de ensino a maior
liberdade sob conveniente fiscalização: esses são, parece, os pontos capitais sobre
que deva assentar uma boa e liberal organização do ensino, capaz de produzir
resultados proveitosos.
Enquanto, porém, o Poder Legislativo não decretar a reforma do ensino
secundário e do superior, o meu governo fará cumprir rigorosamente o atual
Código sem vacilações e sem condescências de qualquer espécie.
Particular atenção dedicarei ao ensino técnico profissional, artístico, industrial
e agrícola que, ao par da parte propriamente prática e imediatamente
utilitária, proporcione também instrução de ordem ou cultura secundária,
capaz de formar o espírito e o coração daqueles que amanhã serão homens e
cidadãos.
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República,
Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca, na abertura da 3ª sessão da 7ª legislatura
Dentre as autorizações que me concedestes, no fim da sessão do ano passado, para
reorganizar vários serviços, destaca-se a que se refere à instrução superior e
secundária mantida pela União. Era um dos problemas que mais interessavam à
opinião pública que, não mais podendo tolerar o estado de extrema decadência e
miséria a que tinham baixado, no pais, os estudos superiores e secundários,
exigia uma completa remodelação desses serviços a que tão de perto se ligam o
desenvolvimento e a grandeza da República.
No meu manifesto inaugural apresentei os pontos capitais sobre que devia
assentar uma boa e liberal organização do ensino.
Tomando em conta aquelas indicações, concedestes-me, não uma autorização vaga
e geral, da qual se pudesse dizer que envolvia delegação de prerrogativa vossa,
mas, sim, uma autorização precisa, em termos explícitos, dentro dos quais
deveria o Governo organizar esse serviço; e, para felicidade da missão que me
confiastes, os principios traçados na vossa determinação coincidiam com aqueles
que eu antes sugerira. Não era bastante a reforma pura e simples do que existia;
era necessário dotar o ensino com uma organização nova, inteiramente liberta
dos preconceitos e dos prejuízos de que a pedagogia nacional se vinha libertando
aos poucos, sem ter, todavia, a coragem de os alijar de vez: foi visto isto o que
bem compreendestes ao traçar a autorização concedida e a isto foi que me ative
no desempenho da incumbência recebida.
Com a data de 5 de abril promulguei a lei orgânica do ensino superior e do
fundamental e com ela baixaram os respectivos regulamentos espeiciais.
Tenho fundada esperança de que a nova organização dará excelentes frutos, sendo
que já não é pouco o fato de retirar de tal maneira a intervenção do poder público
e entregá-lo à consciência esclarecida das congregações, as quais, de ora em
diante, não mais poderão dividir com o Governo a responsabilidade da decadência
ou da desmoralização do ensino. A elas cabe o futuro e o que este produzir a elas
tão-sòmente será devido.
ENSINO AGRONÔMICO
O Governo tem empenhado esforços no sentido de dar execução dentro dos
limites das dotações orçamentárias ao Decreto nº 8.319, de 20 de outubro de 1910,
relativo ao ensino agronômico, certo do dever de vulgarizar a instrução profissional
no seio das classes rurais.
O assunto é de natureza a despertar o mais vivo interesse por parte dos poderes
públicos, como principio essencial à reorganização da agricultura e dos ramos de
indústria que lhe são correlativos.
Já se acham criadas a Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária, que
terá sede na Capital da República, três escolas médias ou teórico-práticas, o Posto
Zootécnico Federal, quatro aprendizados agricolas e uma estação experimental
para cana-de-açúcar, acrescendo que além desses institutos, uns já estabelecidos,
outros em via de organização, promove o Governo a criação de outros animado do
desejo de estender a todos os estados os benefícios do ensino técnico da
agricultura e das indústrias rurais.
Precisamos, em primeiro plano, de instituições práticas, de cursos ambulantes que
instruam os homens do campo no manejo dos instrumentos agrários, processos
modernos de cultura e de beneficiamento de suas colheitas, na criação dos animais
domésticos e no aproveitamento racional dos produtos da lavoura. Impõe-se
também à atenção do Governo a necessidade imperiosa de formar profissionais
para o magistério, para a direção dos laboratórios, das estações experimentais e
dos postos zootécnicos de que carecemos, para o exercício da medicina veterinária
e os serviços atinentes à policia sanitária e para orientar e dirigir a grande e a
média propriedade, transformando os seus métodos de trabalho.
Nos termos do Decreto n°8.516, de 11 de janeiro de 1911, expedido de
conformidade com a lei orçamentária, foi considerada para todos os efeitos legais,
escola média ou teórico-prática de agricultura, subvencionada pelo Governo
Federal, o Instituto de Agronomia e Veterinária, mantido pela Escola de
Engenharia de Porto Alegre.
O Governo Federal deu execução ao dispositivo orçamentário que o autorizava a
avocar o Instituto Agrícola da Bahia, tendo sido celebrado, a 15 de fevereiro
próximo passado, o respectivo acordo, de que resultou o Decreto nº 8.561, da
mesma data.
Foram criadas, respectivamente, por força dos Decretos nº
s
8.584, de 1 de mao de
1911, e 8.607, de 8 de março, do mesmo ano, a Escola Agrícola da Bahia e o
aprendizado agrícola que lhe fíca anexo, procedendo-se, em seguida, à
reorganização dos mesmos, sendo que o primeiro desses estabelecimentos
começou a funcionar dentro das normas traçadas pelo novo regulamento.
Deverão funcionar igualmente, no corrente ano, a Escola Média ou Teórico-
Prática do Rio Grande do Sul, a Escola de Agricultura, do mesmo tipo, anexa ao
Posto Zootécnico Federal, o Aprendizado Agrícola da Bahia,
e é de esperar que entrem também em atividade outros estabelecimentos, a cuja
instalação se está procedendo.
O Posto Zootécnico Federal, estabelecido em Pinheiros, tem quase concluídas as
suas instalações e, quanto à Escola Superior de Agricultura e Medicina Ve-
terinária, está o Governo interessado em instalá-la no mais curto prazo possível.
Merece especial cuidado do Governo a criação de campos de demonstração em
diversos estados, mormente em alguns do norte, com os cursos ambulantes que
lhes correspondem e, para esse efeito, já dispõe de alguns instrutores agrícolas
contratados e espera obter outros que possam dar a esse ramo de ensino
agronômico a feição prática que lhe é peculiar.
1912
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República,
Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca, na abertura da l
a
sessão da 8ª legislatura
INSTRUÇÃO PUBLICA
A organização do ensino decretada a 5 de abril do ano passado, de acordo com as
explícitas bases da autorização legislativa vai produzindo animadores resultados,
apesar de insuficiente o tempo decorrido para a implantação de um regime
inteiramente novo, que modificou profundamente os velhos e gastos moldes da
legislação anterior.
Era natural que a recente organização, saindo fora dos antigos hábitos de reforma,
que se limitavam a retoques em pontos às vezes secundários do regime existente,
produzisse certa estranheza, dando lugar a críticas mais ou menos veementes.
Mas, o fato positivo è que mais forarn os aplausos do que as censuras que ela
recebeu da parte dos competentes, em cups ânimos suscitou vivas esperanças de
eficaz regeneração do ensino entre nós.
"A reforma decretada a 5 de abril", escreveu o provecto professor Pacifico Pereira,
"foi recebida com grandes esperanças pelos que se interessam pela causa superior
da instrução nacional. "
Para demonstrar que essas esperanças não foram vãs, bastará citar o que se está
passando na Faculdade de Medicina desta Capital, onde, pelo testemunho dos
próprios mestres, o ensino médico quase tinha desaparecido, e onde renasceu agora,
graças à nova organização, mais brilhante e mais proveitosa do que nunca. Assim é
que aquela Escola, de tão gloriosas tradições, onde nos últimos tempos, a par de
uma afluência extraordinária de alunos, quase que se não estudava, gastando-se o
tempo em exames, defesas de teses e paredes de estudantes, reduzido assim o
período letivo a três e até dois meses em um ano, transformou-se agora
inteiramente, realizando-se os cursos, sem interrupção, de maneira a poderem os
professores esgotar os seus programas, coisa que há muito se não dava, conforme fez
público um dos mais eminentes mestres, o qual salientou o fato de ser, depois de
28 anos de magistério, a primeira vez que lecionava o programa completo de sua
cadeira, em meio de desusada concorrência de estudantes.
Um dos pontos primordiais que a organização atual teve em vista foi o de libertar o
ensino secundário ou fundamental da condição de mero preparatório para o
ingresso aos cursos superiores, exigindo para esse efeito o exame de admissão ou de
vestíbulo. Deu este exame os melhores resultados: primeiro, porque a sua simples
exigência produziu uma notável seleção entre os candidatos à matricula, nas escolas
superiores, assim è que na Escola de Medicina, onde no ano de 1911 matricularam-
se, na 1
a
série, mais de 800 estudantes, este ano, pela simples exigência do exame de
admissão, inscreveram-se tão-somente pouco mais de 250 candidatos; segundo,
porque, pela seriedade com que foi feita essa prova, mais escolhida tomou-se a
turma dos que alcançaram entrada nas escolas, sendo que, na de medicina desta
Capital, daqueles duzentos e tantos inscritos quase 50% foram inabilitados.
Ora, se de acordo com o conselho de Reinack "a reforma mais útil nos tempos
presentes seria dificultar o acesso às academias ", não pode restar dúvida de que a
atual organização do ensino, quando não fosse digna de louvores por outros
motivos, devia ser por ter realizado esse objetivo.
E o que se deu na Escola de Medicina desta Capital deu-se igualmente nos outros
institutos de ensino aos quais em boa hora a concedeu completa autonomia
didática e administrativa.
Bem razão tive, pois, quando na última Mensagem escrevi: 'Tenho fundadas
esperanças de que a nova organização dará excelentes frutos, sendo que já não
é pouco o fato de retirar de tal matéria a intervenção do poder público e
entregá-lo à consciência esclarecida das congregações, as quais, de hora em
diante, não mais poderão dividir com o Governo a responsabilidade da
decadencia ou da desmoralização do ensino. A elas cabe o futuro e o que
este produzir a elas tão-sòmente será devido".
1913
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República,
Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca, na abertura da 2ª sessão da 8
a
legislatura
A organização do ensino consubstanciada no Decreto de 5 de abril de 1911
continua a produzir animadores resultados, mostrando em muitos pontos a
excelência do regime adotado, especialmente na parte que confere plena
autonomia didática e administrativa às congregações dos Institutos e o direito de
fazer, pelo exame vestibular, a seleção entre os candidatos aos estudos especiais
e superiores.
Graças ao sábio mecanismo instituido pela nova organização do ensino os
corpos docentes dos institutos têm podido, sem as dificuldades anteriores,
mas, facilmente e de acordo com as suas únicas inspirações, alterar os seus
regulamentos modificando a seriação das matérias, estabelecendo quanto
julgam útil ao bem do ensino, inclusive a criação de novas cadeiras, sobre
cujo assunto a intervenção do Governo é limitada ao caso de aumento de
despesas à conta do erário público.
Os exames de admissão, este ano, como no anterior, deram os melhores
frutos, mercê da seriedade e honesto rigor com que as congregações
procederam, cientes da grande responsabilidade que nesse caso, como
nos outros do ensino a elas agora confiado, pesa sobre essas doutas
corporações.
1914
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República,
Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca, em 03 de maio de 1914, na 3
a
sessão da
8
a
legislatura
ENSINO AGRONÔMICO
De acordo com o disposto no art. 53 da Lei nº 2.842, de 3 de janeiro de 1914,
foram suspensos no corrente ano vários estabelecimentos de ensino agronômico,
sendo mantidos os que já estavam funcionando regularmente e aqueles cuja
instalação já se achava em estado adiantado.
A Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária, criada pelo Decreto nº
8.319, de 30 de outubro de 1910, foi definitivamente instalada a 4 de julho de
1913, no antigo palacete do Duque de Saxe, adaptado especialmente para esse
fim, tendo sido iniciadas as aulas do seu curso fundamental com 64 alunos.
Atualmente a Escola conta, além de 32 ouvintes, 97 alunos matriculados no
curso fundamental e no 1º ano dos cursos especiais de engenheiros agrônomos e
médicos veterinários.
Tornando-se necessária a remodelação do regulamento da Escola, principalmente
para diminuir o avultado pessoal docente, que concorre para tornar grandemente
dispendiosa a manutenção deste estabelecimento, resolveu o Governo prover
interinamente os cargos de lentes do 1
o
. ano dos referidos cursos até que lhe
concedais a precisa autorização para que seja levada a efeito a aludida reforma.
Continuam funcionando regularmente as escolas médias ou teórico-práticas do
Rio Grande do Sul e de Pinheiro.
Quanto à Escola da Bahia, viu-se o Governo obrigado a suspender os seus
trabalhos até ulterior deliberação, pelos motivos expostos no Decreto n°
10.855, de 15 de abril próximo findo.
Se, por um lado, não ficaram privados de continuar os seus cursos os respectivos
alunos, visto como poderão ser transferidos para a escola anexa ao Posto
Zootécnico, por outro lado essa medida acarreta não pequena economia para os
cofres da União, uma vez que o Governo só será obrigado a despender
anualmente, com o pessoal da mesma Escola, a importância
de 14:800$, correspondente ao pagamento de dois lentes e um professor,
únicos funcionários que, de acordo com o respectivo regulamento, gozam de
vitaliciedade, acrescendo ainda que essa despesa poderá desaparecer logo que
eles sejam aproveitados em cargos equivalentes.
Dos aprendizados agrícolas criados e mantidos pela União já se acham
instalados em boas condições o de Barbacena, em Minas Gerais, com 118
alunos; o de S. Lut das Missões, no Rio Grande do Sul, com 34 alunos; o de
S. Bento das Lages, na Bahia, om 32, e o de Satuba, em Alagoas, com 31. O de
Tubarão, em Santa Catarina, o deIgarapé-Açu no Pará, o de Guimarães, no
Maranhão e de S. Simão, em S. Paulo, continuam em instalação, de acordo
com as plantas e orçamentos aprovados.
Acha-se quase concluída a montagem da Estação Experimental de Campos, da
qual muito depende o desenvolvimento da indústria açucareira daquela região.
O seu edifício principal foi inaugurado a 19 de novembro do ano próximo
findo.
Vão em bom andamento os trabalhos de instalação da Fazenda Experimental
de Angra, que se destina especialmente à cultura da cana-de-açúcar, para
cujo estudo se fundaram dois campos de experiência, que funcionam com bons
resultados.
A Estação Experimental da Escada, em Pernambuco, começa a prestar à
lavoura do estado relevantes serviços. Publica mensalmente um boletim em
que fornece aos interessados os resultados de suas pesquisas e observações
científicas, relativas à moléstia das canas, escolha de sementes e qualidades,
tempo de plantio e colheita.
Prosseguem as obras dos edifícios precisos à instalação da Escola Permanente
de Laticínios de Barbacena, que, situada na zona leiteira por excelência,
promete grandes benefícios aos criadores de Minas, devendo em breve ter
lugar a sua inauguração. Aparelhada com os mais modernos maquinismos,
poderá ela então ministrar, com proveito, o ensino prático do fabrico de
queijo e da manteiga, desenvolvendo assim uma indústria de que não temos
tirado os resultados que eram de prever, por falta de instrução técnica
daqueles que a ela se dedicam.
A Estação Sericícola de Barbacena apresenta animador desenvolvimento,
podendo afirmar-se que essa indústria está destinada a constituir um imenso e
proveitoso campo de atividade do trabalho nacional.
A fábrica de seda colônia Rodrigo Silva emprega nos seus tecidos os fios
obtidos na Estação.
Embora precise aumentar a sua aparelhagem, já dispõe o estabelecimento dos
recursos necessários a encaminhar suas experiências, observações e estudos.
Distribuiram-se, durante o ano passado, pelos interessados 109.120 mudas de
amoreira e 1.500 gramas de óvulos de bombyxmori, o que representa milhares de
óvulos.
A Estação de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sui, acha-se com a sua
instalação quase completa, devendo, em breve, iniciar os seus trabalhos.
Os cursos ambulantes, cuja importância não desconheceis, exigem, para que
possam dar resultados convenientes, não só um pessoal muito escolhido entre os
profissionais de competência especial para o ensino que se tem em vista, como
recursos que facilitem o transporte do material agrícola correspondente a
montagem e a desmontagem das máquinas e aparelhos modernos aplicáveis ao
serviço dos nossos lavradores.
Na impossibilidade de serem contemplados esses recursos no futuro orçamento,
será preferível a supressão completa da verba destinada ao ensino ambulante a
manter-se o pessoal sem os elementos essenciais ao bom desempenho de sua
missão.
Estão quase terminadas as obras de remodelação por que tem passado este
estabelecimento.
A seção antropológica e etnográfica, bem como a de zoologia e anatomia
comparada, com as suas instalações quase concluídas, oferecem um aspecto geral
dos mais atraentes, comparável com os dos bons museus da Europa. A sala
destinada ao museu escolar, munida de bons mostruários apropriados aos
pequenos museus de instrução colegial, será um excelente repostitório de objetos
de história natural, poderoso elemento de ensino para os alunos das nossas
escolas públicas e particulares.
Recomendáveis são os serviços prestados à agricultura nacional pelos laboratórios
da entmologia agrícola, fitopatologia e química vegetal do Museu, já respondendo
a numerosas consultas que de todos os pontos do país lhe são dirigidas por
intermédio da Defesa Agrícola e relativas a assuntos agrários, já procedente a
exames e pesquisas sobre doenças de várias espécies vegetais, especialmente no que
diz respeito ao café, mate, árvores frutíferas e plantas forrageiras.
Não só na seção de antropologia, como a de zoologia e botânica foram
enriquecidas, durante o ano findo, com numerosos espécimes, uns oferecidos por
particulares, outros comprados a colecionadores.
A biblioteca do museu, acrescida de muitos volumes, brochuras e revistas, tem
tomado considerável incremento, permutando com estabelecimentos científicos
nacionais e estrangeiros as obras de que pode dispor.
Tem sido enriquecida com um grande número de espécies exóticas a flora
brasileira do Jardim Botânico, que conta atualmente cerca de 30.000 espécies.
Estão sendo executados vários melhoramentos no museu e nos herbários deste
estabelecimento.
O laboratório de fisiologia vegetal, além de estudos e pesquisas, está
organizando uma lista da flora do Brasil e outra das plantas do jardim, as
quais muito devem facilitar aos interessados o conhecimento de nossa
natureza vegetal.
Correram regularmente durante o ano próximo findo os trabalhos a cargo
deste Serviço, achando-se já pacificamente localizados em povoações
indígenas quase todos os Guaranis, em S. Paulo, os Caingangas no Paraná, e os
Bororós, em Mato Grosso.
No propósito de auxiliar a ação do Serviço, estão criados vários postos de
atração e pacificação de tribos, ainda bravias, nos Estados do Amazonas, Pará,
Maranhão, Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Paraná, Santa
Catarina e Mato Grosso.
A localização de trabalhadores nacionais começará a realizar-se com
regularidade quando estiverem estabelecidos convenientemente os centros
agricolas nos diversos Estados da República.
Acham-se em fundação os centros agricolas do Maranhão, Piaui, Paraíba,
Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Rio Grande do Sul, e paralisados, por
falta de verba, os trabalhos do Ceará e Rio Grande do Norte.
Venceslau Brás Pereira Comes Presidência
de 15.11.1914a 15.11.1918
1915
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República,
Venceslau Brás Pereira Gomes, na 1ª sessão da 9ª legislatura
Com a respectiva exposição de motivos, apresentada pelo Ministro da Justiça e
Negócios Interiores, fiz expedir o Decreto nº11.530, de 18 de março próximo
findo, reorganizando o ensino secundário e superior na República.
Esta reforma, que entrou desde logo em execução, vos será submetida, conforme
determinado o art. 3º da Lei nº 2.924, de 5 de janeiro último, que não só a
autorizou, mas também, nas mesmas condições, as da Escola Nacional de Belas-
Artes e do Instituto Nacional de Música.
1916
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República,
Venceslau Brás Pereira Gomes, na 2ª sessão da 9ª legislatura
Dependente ainda de vossa aprovação está, desde já produzindo bons resultados
o Decreto nº 11.530, de 18 de março de 1915, pelo qual foram reorganizados o
ensino secundário e o superior na República.
Restabeleceu-se o antigo rigor nos exames de preparatórios em todo o Brasil, de
sorte que diminuiu de mais de 60% o número dos matriculados nas academias
do Rio de Janeiro, S. Paulo e Recife. Dos que escapavam das primeiras provas,
ainda muitos foram eliminados pelo exame vestibular, que constitui um segundo
crivo, para apurar as incompetências e repeli-las dos cursos superiores.
Segue rigoroso e normal o processo de equiparação dos institutos aos congêneres
federais. Graças a uma disposição inserta na Reforma do Ensino, foi possível
enfrentar o problema inadiável da construção cio edificio para a
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, que será pago com as rendas do
pròprio instituto, mediante um crédito de réis 3.000.000$, aberto pelo
Banco da República. Também com o produto da própria renda, não mais
distribuida quase totalmente entre os professores, o Colégio Pedro II
concluirá as obras do edificio do Externato.
Foi reorganizada, com proveito para o ensino e sem aumento de despesa, a
Escola Nacional de Belas Artes, que teve novo regulamento expedido com
o Decreto nº 11.749, de 13 de outubro de 1915.
O regimento interno, de que trata o art. 48, letra f, do aludido regulamento,
foi aprovado pelo Ministério da Justiça e Negócios Interiores, em portaria de
21 de janeiro do corrente ano.
Pelo Decreto n° ll.748, de 13 de outubro último, e em virtude da
autorização constante do art. 3º § 6º da Lei nº 2.924, de 5 de janeiro de 1915,
foi reorganizado o Intituto Nacional de Música, dando-se-lhe novo
regulamento, sem aumento de despesa.
1917
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República,
Venceslau Bras Pereira Gomes, na 3
a
sessão da 9
a
legislatura
Iuaugurou-se em 1916 o sistema de bancas oficiais para examinarem em
preparatórios os alunos dos colégios particulares. Deu excelente resultado.
O Conselho Superior do Ensino timbrou em colocar em cada uma das bancas
pessoa competente e severa, não residente na localidade em que funcionava o
instituto, do que resultou o indispensável rigor, igual ou maior do que o
observado nos ginásios oficiais.
O Governo deplora o falecimento do Dr. Oswaldo Cruz, benemérito saneador
do Rio de Janeiro e glória legítima da medicina brasileira.
Deu-lhe substituto um dos seus mais brilhantes discípulos Dr. Carlos Chagas.
1918
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República,
Venceslau Bras Pereira Gomes, na 1ª sessão da 10ª legislatura
Num país em que o ensino profissional era deficiente, as leis em vigor
incrementaram o bacharelismo, já superabundante, pelo nivelamento dos bons e
dos maus institutos secundários e superiores. Criou-se até a indústria dos
diplomas.
O Governo enfrentou o problema que se lhe antolhava com maior prudência e
energia. Dificultou as formaturas, instituiu um critério de seleção entre
academias, restabeleceu os concursos para o provimento dos cargos no magistério
oficial, criou segunda prova para apurar a cultura fundamental e interviu na vida
das Faculdades oficiais todas as vezes que as notas conferidas não sagravam o
verdadeiro mérito.
A prudência e o espírito de justiça, com que sempre agiu, deram-lhe tal prestígio
que, pela primeira vez, no Brasil se pôs em execução uma reforma do ensino sem
haver vaias aos diretores, atritos entre estudantes e a policia, incompatibilidade
entre o Governo e a mocidade estudiosa. Entretanto, a reforma elevou de dois a
sessenta por cento, logo no primeiro ano, o
Regulando a concessão de auxílios a escolas nos estados, expediu-se o Decreto nº
13.014, de 4 de maio de 1918, e para sua execução foram dadas instruções, em
Portaria de 5 de junho seguinte.
Conforme o disposto no aludido decreto, o Governo Federal auxiliará com a
quantia de 1:800$, anuais, a manutenção de cada escola fundada pelos governos
dos estados, depois da publicação desse ato, e destinados, precipuamente, ao
ensino da língua portuguesa e de geografia e história do Brasil, em municípios
constituídos por antigas colônias de europeus, hoje emancipadas.
Um inspetor, nomeado, em comissão, visita as escolas subvencionadas, e, em
relatórios trimensais, dá o seu parecer, circunstanciado, sobre a eficácia ou
deficiência do ensino ministrado nos novos institutos. Escusado é encarecer a
importância e o alcance das medidas constantes do aludido Decreto nº 13.014, de
4 de maio de 1918, expedido em virtude da autorização contida no Decreto
legislativo nº 3.361, de 26 de outubro de 1917.
Pelo art. 18 da Lei nº 3.6 74, de 7 de janeiro último, ficou o Poder Executivo
autorizado a manter, durante o corrente ano, os serviços criados pelo Decreto nº
13.014, de 4 de maio de 1918, como auxilio à nacionalização do ensino primário
nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. O auxílio será dado
na proporção das escolas subvencionadas, no corrente ano, em cada um dos
citados estados, e mais a 60, que poderão ser acrescidas no próximo exercicio,
sendo a subvenção de 20 para cada Estado. Foi concedido, para tal fim, o
crédito de 869.-025$, conforme o disposto no § 2º do dito art. 18 da Lei
3.674,de 7 de janeiro de 1919.
Com diversas modificações, feitas pelo Poder Legislativo, continua em vigor o
Decreto nº 11.530, de 18 de março de 1915, que reorganizou o ensino superior e
o secundário na República. Parece de urgente necessidade a aprovação definitiva
desse ato pelo Congresso, afim de que se possa entrar em um regime de perfeita
estabilidade, que muito concorrerá para que se obtenha todos os proveitosos
resultados da aludida reforma.
Epitácio da Silva Pessoa
Presidência de 16.7.1919 e 15.11.1922
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República,
Epitácio da Silva Pessoa, na abertura da 3ª sessão da 10ª legislatura
O Decreto nª 11.530, de 18 de março de 1915, constitui presentemente a lei
básica do ensino secundário e superior da República. Cumpre dar seguimento ao
projeto de lei que está em discussão na Cámara dos Deputados e que aprova
definitivamente, com emendas, esse ato do Poder Executivo.
Merece a atenção do Congresso Nacional a questão dos acréscimos periódicos de
vencimentos, regulados simultanemaente pelo Código do Ensino de 1892 e pelo
de 1901. Conviria restringir, em todos os ministérios, o limite máximo de tais
gratificações adicionais, que só devem ser concedidas por tempo de exercicio
efetivo no magistério, descontados, além das faltas e licenças, quaisquer serviços
prestados em outros cargos, mesmo eletivos.
No antigo regime o professor, logo que atingia um certo número de anos de
serviço, era compulsoriamente jubilado. Renovava-se assim com freqüência o
pessoal docente : mestres fatigados e já sem estimulo eram substituídos por
moços cheios de vigor e emulação, curiosos dos progressos da ciência e
empenhados em transmiti-los aos seus discípulos.
Votada a Constituição atual, esta medida não se pode manter. Mas a fixação de
um limite, além do qual cesse a concessão às gratificações adicionais, poderá até
certo ponto supri-la.
Outro assunto que se recomenda aos cuidados do Poder Legislativo é o processo
de equiparação dos estabelecimentos de ensino secundário e superior no Distrito
Federal e nos Estados. Para evitar os abusos provenientes das facilidades de
equiparação, cumpre exigir, entre as condições imprescindíveis a esse regime, a
constituição de um patrimônio avultado. Só assim acautelaremos o ensino
público, em todo o pais, contra as explorações, cada vez mais freqüentes e
rendosas, postas em prática por institutos que pleiteiam, sem a precisa
idoneidade, as vantagens legais do aludido regime.
BIBLIOTECA NACIONAL
A Biblioteca Nacional continua a funcionar com regularidade e proveito.
INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT
O Governo tem em mãos a reforma do Instituto, onde os serviços são defeituosos
e as despesas excessivas. Basta considerar que, em 1919, ele custou ao Tesouro
505:648 $ 226, e foi de 4:213$ 735 a despesa anual com a assistência de cada
aluno.
O Conselho Administrativo dos Patrimônios do Ministério da Justiça, por
indicação oficial, deliberou construir a segunda ala do edificio por conta do
patrimônio do estabelecimento e, portanto, sem ônus para os cofres públicos.
Será um grande melhoramento.
INSTITUTO DOS SURDOS-MUDOS
Cada aluno deste Instituto acarreta para o Estado a despesa de 5:353$467.
A construção do edifício em que o Instituto funciona custou ao seu
patrimônio a quantia de 1.120:592$500, obtida com a venda de apólices que
rendiam os juros de 5% ao ano.
Sendo de 2.000.000$ o valor do terreno e do prédio, os juros, que entrariam
para os cofres do patrimônio, se tal valor estivesse empregado em apólices, se
elevariam a 100:00$000.
Se considerarmos como despesas esses juros, que deixam de reverter para o
patrimônio, chegaremos à conclusão de que sobre a importância de 8:383$
770 a despesa de cada aluno.
Entre os fatores que concorrem para tornar tão elevados os gastos da
repartição de que se trata, figura, em primeiro plano, o número exagerado de
funcionários e empregados, que é superior ao dos alunos.
Seria melhor, à vista do exposto, que o Congresso Nacional subordinasse o
Instituto dos Surdos-Mudos à direção do Conselho Administrativo dos
Patrimônios, fazendo-lhes doação de duas mil apólices.
Nada justifica a instalação atual desse estabelecimento num prédio suntuoso,
muito mais apropriado a uma escola superior do que a um serviço de
assistência pública. Transferi-lo para outro local, é providência que se me
afigura acerta, e, então, com o rendimento das apólices doadas pelo
Congresso, o dos imóveis que possui o Instituto e o das suas próprias oficinas,
poderia este substituir por si mesmo, e exonerar, assim, o Tesouro de
tamanho encargo. Confiada ao Conselho Administrativo dos Patrimônios a
direção, continuaria o Ministério do Interior e superintendê-la, sem as
desvantagens do regime atual.
ESCOLA NACIONAL DE BELAS ARTES
Não obstante o vulto da despesa, é necessário concluir o edifício da Escola
que permanece inacabado até hoje e onde certas aulas, como a de pintura,
funcionam em lugares absolutamente impróprios.
INSTITUTO NACIONAL DE MÚSICA
Custeado pelo seu próprio patrimônio, e pelo empréstimo que realizaram os
demais patrimônios do Ministério do Interior, conforme deliberação do
respectivo Conselho, está em construção o grande edifício destinado à
instalação deste Instituto, o qual deverá estar concluído até o fim do ano
vindouro.
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República,
Epitácio da Silva Pessoa, na abertura da 1ª sessão da 11ª legislatura
Continua em vigor, embora profundamente alterado, e ainda que pendente de
vossa aprovação, o Decreto n° 11.530, de 18 de março de 1915, que regula o
ensino superior e secundário.
É medida que se impõe a votação de uma lei geral, permanente, definitiva.
Providências parciais, modificações de caráter transitório, como as que foram
ultimamente votadas, em dezembro do ano passado e janeiro deste ano, cada
vez mais complicam e embaraçam a execução de um plano integral de ensino.
O Decreto nº 14.343, de 7 de setembro de 1920, criou a Universidade do Rio
de Janeiro, com o intuito de estimular a cultura das ciências, estreitar entre os
professores os laços de solidariedade intelectual e moral, e aperfeiçoar os
métodos de ensino.
Constituiu-se a Universidade com a Escola Politécnica, a Faculdade de
Medicina e a Faculdade de Direito do Rio de Janeiro.
O seu regimento está aprovado desde dezembro último.
Conviria talvez ampliar o regime universitário aos Estados, que possuem
institutos oficiais ou equiparados de instrução superior. Além de preparar a
unidade do ensino, a reforma influiria para a abolição do regime das
equiparações, que vai sendo cada dia mais nocivo.
Mantém o Congresso o auxilio que, desde junho de 1918, vem concedendo
aos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, para manutenção
de escolas primárias nos núcleos formados pela imigração de origem européia.
Estas escolas, em número de 404, estão assim distribuídas:no Estado do
Paraná 116, no de Santa Catarina 168, e no do Rio Grande do Sul 120.
A sua instalação, por conta dos Estados, não se fez sem grandes dificuldades,
de que ainda se ressente a fiscalização, exercida por três inspetores nomeados
pelo ministro da Justiça e Negócios interiores.
A prática revelou sensíveis lacunas nas instruções expedidas, em 5 de junho de
1918, que vão ser modificadas e completadas, para maior eficiência do ensino
e melhor aproveitamento da subvenção.
Cumpre, entretanto, refletir se esta basta para resolver o problema da
nacionalização do ensino primário nesses Estados, onde há municípios em que
só se falam linguas estrangeiras e onde centenas de escolas particulares só
ensinam em lingua estrangeira, ou se não seria conveniente assentar, de vez,
que o ensino primário no pais só poderá ser ministrado a crianças de certa
idade, na nossa lingua.
ENSINO AGRONÔMICO
No estado atual da produção agricola, seria esforço vão pretender
sistematizá-la em nosso meio sem o concurso da escola, dos institutos de
pesquisa e dos campos de aplicação.
A concorrência estrangeira tanto se tem expandido, sob tal influência, na
reprodução, melhoramento e cultura racional das plantas úteis, que devemos
sem mais hesitação seguir-lhe o exemplo, com o vigor e a continuidade
necessária para recuperarmos o tempo perdido em longo período de indecisão
e inércia.
A importância econômica e social da agricultura toca a todas as classes, e
como os fatores que mais diretamente a representam ressentem-se, em geral, de
profundos desequilíbrios e grandes deficiências, é óbvio que a instrução
agropecuária, sintetizada no ensino agronômico, não se deve restringir a uma
classe exclusiva, seja a dos grandes proprietários, a dos médios e pequenos
cultivadores, ou a dos simples operários, mas abranger todas quantas
colaborem na solução do problema da economia rural.
A instrução agronômica não pode, em realidade, afastar-se da sistematização
pedagógica adotada em todos os ramos de ensino: será superior, média e
elementar, e abrangerá nesses amplos limites a escola superior, as escolas
médias, os aprendizados agricolas, os cursos ambulantes de agricultura e
indústrias rurais, os cursos, práticos e abreviados, destinados à formação de
operários, e, paralelamente com esse conjunto, embora constituindo serviço
especial, a assistência prestada à infância desvalida, objetivo a que se proem
os patronatos agricolas.
Acrescem a essas medidas meios outros de vulgarização da ciência
agronômica, como sejam as conferências, os comícios, as exposições e a
imprensa agrícola, veiculo por excelência de vulgarização em todos os centros
científicos e práticos de trabalho. Entre todas sobressaem as estações
experimentais e os campos de demonstração, sob cuja ação imediata, exercida
com caráter regional em todas as grandes zonas culturais do território, se
difundirão as boas práticas agrárias e os processos racionais de beneficiamento
dos produtos agrícolas e da indústria rural
Nessas linhas gerais, que assinalam o caminho seguido na remodelação do
ensino agronômico, procurou o Governo utilizar a experiência adquirida em mais
de um decênio e atender, dentro das possibilidades de adaptação, às lições dos
paises mais adiantados, que são por sua vez os nossos maiores e mais fortes
concorrentes nos principais mercados consumidores.
Faltam-nos ainda alguns órgãos que entram na composição do plano esboçado.
Há necessidade também de completar alguns dos já instituídos, entre os quais
releva salientar a Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária, que
reclama instantemente localização apropriada.
A idéia da fundação de escolas médias ou teórico-práticas, dado o caráter
regional destes intitutos e, portanto, a sua influência sobre a produção
agropecuária e as indústrias rurais compreendidas nas diversas zonas
climatéricas do pais, reclama a vossa atenção, porque sem tais escolas deficiente
e improdutivo será qualquer plano de ensino agronômico.
Não pode o Governo da União, sob sua responsabilidade exclusiva, prover a
todas as necessidades deste ensino. Tanto para disseminar com êxito pelas
diversas regiões agrícolas os elementos indispensáveis à nossa reconstituição
econômica, quanto para incrementar a produção pelos meios indiretos que a
experiência vem sancionando, seria acertado provocar e estimular a cooperação
assídua e efetiva dos governos locais, de acordo com os recursos de cada um
A Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária foi reorganizada pelo
Decreto nº 14.120, de 20 de março de 1920. Anexou-se o curso de química
industrial ao seu programa, que, deste modo, passou a constituir-se de três
ordens de estudos do mais elevado grau: o de engenharia agronômica, o de
medicina veterinária e o de química industrial.
Para o perfeito funcionamento desses cursos instalaram-se novos laboratórios e
adquiriu-se parte do material no estrangeiro.
A matrícula dos alunos vai em franco crescimento. Urge, pois, aumentar as
instalações da Escola, cujas estreitas dimensões representam na atualidade o
maior estorvo ao seu desenvolvimento.
Entre as alterações introduzidas pela última reforma cumpre assinalar: a divisão
da cadeira de agricultura em três - agricultura geral, agricultura especial e
fruticultura, horticultura e viticultura -;ada cadeira de zootecnia em geral e
especial, e a criação das cadeiras de geologia agrícola, e de inspeção e
conservação de carnes, leite e produtos de origem animal e aplicação do frio à
indústria animal.
Estabeleceu-se também um campo de cultura e demonstrações agricolas em
Deodoro, no qual passaram a ser dadas as aulas práticas do 4º ano do curso
de engenheiros agrônomos.
O curso de química industrial, cuja importância é escusado encarecer,
inaugurou-se com freqüência auspiciosa e tende a tornarse instrumento
precioso nas diversas aplicações da química às indústrias nacionais. Do mesmo
modo, foi muito freqüentado o curso de medicina veterinária, dado com o
rigor indispensável à formação de técnicos perfeitamente habilitados para os
misteres dessa profissão.
Dai a conveniência de reformar-se a legislação federal que regula o assunto.
O concurso de preparação profissional, que este estabelecimento vinha
dispensando ao desenvolvimento das indústrias e ao progresso agrícola do pais,
foi quase nulo este ano, por falta de matrículas nos cursos. Situado a grande
distância da cidade, a freqüência rareia pela concorrência de cursos mais
acessíveis, qual o da Escola Politécnica. Acresce que os cursos desta Escola,
como os da Escola Superior de Agricultura, diplomam os seus alunos, ao passo
que o Instituto de Química não confere graduação de espécie alguma.
O Instituto conseguiu terminar alguns trabalhos científicos, que se acham em
via de publicação.
Por sua escassa difusão nas diversas zonas do país e, mesmo, pela ação
negativa dos seus programas, demasiado vastos e teóricos, os aprendizados
agrícolas têm exercido influência pouco perceptível no preparo de
trabalhadores para as fainas da lavoura. Cumpre reformar esses
estabelecimentos, no sentido de dar-lhes feição mais prática e sujeitá-los a
fiscalização rigorosa e assídua.
Em virtude do Decreto nº 8.319, de 20 de outubro de 1910, que criou o
ensino agronômico, fundaram-se entre nós as primeiras estações
experimentais.
Tais institutos, imprescindíveis à transformação da economia rural de qualquer
região, não tinham produzido, ou por deficiência de técnicos ou por falta do
material necessário, resultados apreciáveis.
Merecem, entretanto, ser mencionadas as tentativas que, de 1916 a esta parte,
recomendam o labor da Estação Geral de Experimentação de Campos. Ensaios
de aperfeiçoamento da cana-de-açúcar, pela reprodução sexual, estão sendo ali
convenientemente desenvolvidos e abrindo caminho à solução de um dos nossos
mais interessantes problemas econômicos. Para chegar-se aos tipos chamados
puros, estudos originais de excepcional importância foram empreendidos com
êxito completo.
A mesma Estação está se empenhando no combate sistemático a uma nova
praga de grande virulência, aparecida em 1912 na Usina Laranjeiras, e cuja
propagação se faz temida. Essa praga já foi identificada pelos especialistas do
Instituto Biológico de Defesa Agrícola do Ministério da Agricultura, como o
Tomaspis paraná, Distant, parasita perigosíssimo pelos estragos que produz.
O Governo não tem poupado esforços para completar o aparelhamento das
estações existentes, e provê, neste momento, a instalação de outras nas regiões
mais necessitadas do seu concurso.
A grande utilidade dos patronatos agricolas, onde se transformam em elementos
úteis à sociedade centenares de menores retirados da ociosidade e do vicio,
aconselha a sua multiplicação.
Mantidos pelo Governo existem atualmente oito, dos quais funcionam os
seguintes: Visconde de Mauá, Pereira Lima, Wenceslau Braz e Casa dos Ottoni, em
Minas Gerais; Monção, em São Paulo; e Annitapolis, em Santa Catarina. Estão
sendo montados os de Vidal de Negreiros, na Paraíba, e Barão de Lucena, em
Pernambuco.
Além desses, subvenciona o Governo os patronatos Campos Salles, Delfim
Moreira e Muxambinho, no Estado de Minas Gerais, e no Estado do Rio Grande
do Sul, o de igual nome, subdividido nas seções de Bento Gonçalves, Cachoeira,
Santa Rosa, Bagé, Alegrete, Julio de Castilho, Caxias, Rio Grande, Santa Maria,
Porto Alegre e Viamão.
Estão em via de ser instalados: Outeiro, no Pará; Teresina, no Piaui; Senador
Pompeu, no Ceará; Taquaritinga e Jaboticabal, em São Paulo; Pelotas, no Rio
Grande do Sul, e Itabuna, na Bahia.
A lotação atual dos patronatos em atividade e em instalação é de 1.630
menores.
Considerada a lotação média de 100 alunos para cada patronato a instalar, vê-se
que, no corrente exercicio, poderão ser amparadas pelo Serviço de Povoamento
2.330 crianças de 10 a 16 anos, além dos menores de 16 a 18 anos que os cursos
complementares subordinados ao Serviço de Indústria Pastoril podem socorrer.
Os menores ocupam-se em trabalhos agricolas e profissionais, cujos produtos se
destinam ao consumo dos estabelecimentos ou ao melhoramento das instalações.
O trabalho útil dos menores é devidamente remunerado. A remuneração
recolhe-se à Caixa Econômica em cadernetas individuais.
Os menores desligados dos patronatos e cursos complementares são colocados em
trabalhos adequados à sua profissão, mediante a assistência do Serviço de
Povoamento.
CURSO DE APERFEIÇOAMENTO NO ESTRANGEIRO
Fruto de feliz iniciativa pedagógica, o curso de aperfeiçoamento no
estrangeiro de tal modo vem correspondendo à expectativa do Governo, que
representa empenho especial deste ampará-lo com o maior interesse.
Criado em maio de 1918, forarn, de então a 1920, enviados aos Estados
Unidos, França, Suíça e Inglaterra 92 alunos dos nossos institutos de ensino
profissional.
Da primeira turma, composta de 26 alunos, regressaram 17, que se
especializaram respectivamente em entomologia e zoologia agricolas, algodão
e cereais, fruticultura, química industrial e indústria de óleos vegetais, física
agricola e máquinas, agricultura geral, zootecnia, química industrial,
principalmente açúcar, grandes culturas e máquinas agricolas, indústria
algodoeira, laticínios, patologia comparada e bacteriologia, silvicultura,
fitopatologia, trigo e química açucareira.
Os restantes ou continuaram a cursar por conta própria outras especialidades,
ou encontraram nas oficinas e laboratórios das escolas que freqüentavam, e
mesmo em indústrias particulares, situações pessoais tão vantajosas que
resolveram não voltar.
ESCOLA WENCESLAU BRAZ
O Governo deseja aparelhar a Escola Normal de Artes e Ofícios Wenceslau
Braz, com sede nesta capital, de modo que ela possa dar exato cumprimento
à função que lhe toca na organização do ensino profissional de ambos os
sexos. Avocada pelo Governo logo depois de instalada pela Prefeitura do
Distrito Federal, faltavam-lhe, no momento, alguns dos elementos essenciais à
estrutura geral do seu programa de formar, mediante instrução técnica
adequada, professores, mestres e contra-metres para os institutos oficiais e
certos misteres profissionais. Uma escola dessa natureza carece de oficinas e
de material de trabalho correspondente, sob pena de faltar, pelo empirismo
dos métodos, à sua missão.
ESCOLAS DE APRENDIZES ARTÍFICES
É força remodelar, com espirito prático, as escolas de aprendizes artífices, e
pô-las em condições de fornecer às indústrias nacionais, manuais ou
mecânicas, os elementos especializados de que necessitam.
O ensino profissional, para ser eficaz, deve apoiar-se na estreita vinculação da
prática com os conhecimentos técnicos, consultar a vocação ou preferência de
cada aluno e ser ministrado de modo tão completo quanto possível. Só assim
chegaremos a formar bons operários e proporcionar-lhes oportunidade de
completar, por uma instrução industrial de ordem mais elevada, a capacidade
que tenham adquirido.
Entre os fatores mais influentes da capacidade educativa das escolas de
aprendizes artífices, ocupa o primeiro lugar o de mestre de oficinas. Deste
depende em grande parte o êxito que se propugna. Não basta que seja prático,
é preciso ainda que esteja em condições de saber transmitir ao aluno a
instrução. Ora, alguns dos atuais instrutores não sabem sequer as primeiras
letras e ignoram, portanto, os principios pedagógicos mais rudimentares.
Outra dificuldade é a impaciência dos aprendizes, que só mui raramente
concluem os cursos do ofício em que se matriculam. Essa impaciência é,
muitas vezes, acoroçoada pelos próprios pais, geralmente pessoas urgidas de
necessidade, e que têm pressa de ver os filhos começarem cedo a perceber
salários. Daí resulta que, logo após o segundo ano, os aprendizes deixam as
escolas pelas oficinas particulares, que lhes retribuem os serviços. Eis aí uma
das principais razões da exígua população escolar de tais estabelecimentos,
decrescentes de ano para ano, como ainda em 1920 se observou.
Vários meios podem ser lembrados para atalhar o grave inconveniente. Dois
especialmente merecem ser indicados: a precedência de contrato entre o pai
ou tutor do aluno para admissão à matrícula, e o abono de diárias aos alunos,
como estatuía o regulamento anterior ao Decreto nº 13.064, de 12 de junho
de 1918, e se pratica atualmente em quase todas as escolas profissionais
mantidas pelo Governo dos Estados Unidos.
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República,
Epitácio da Silva Pessoa, na abertura da 2
a
sessão da 11
a
legislatura
É o ensino público, em todos os seus graus, elemento básico e primordial da
grandeza e prosperidade da Nação. Do preparo eficiente dos cidadãos
dimanam a regularidade e perfeição de todos os serviços, o aproveitamento
das riquezas naturais do solo, o desenvolvimento da fortuna nacional, em
suma, o progresso e o renome da Pátria sob todos os aspectos - material,
intelectual e moral.
O Governo da União não pode nem deve conservar-se impassível ante os
prejuízos decorrentes da falta desse preparo. Urge providenciar contra os
efeitos do analfabetismo dominante em muitos Estados da República, os
quais, por falta de recursos próprios, estão deixando sem remédio eficaz esse
grande mal e contribuindo, assim, para agravar cada vez mais o nosso atraso
social e politico.
O Congresso Nacional, compreendendo essa necessidade, autorizou o Governo,
no orçamento votado em dezembro para este exercicio, a entrar em acordo
com os Estados sobre o assunto. A Conferência Interestadual de Ensino
Primário, que aqui se reuniu o ano passado, chegou a conclusões que
merecem o estudo e a meditação dos poderes públicos.
Quanto ao ensino secundário e superior, o Decreto nº 11.530, de 18 de
março de 1915, não obstante os excelentes serviços que prestou, está
atualmente modificado por leis posteriores em grande número de suas
disposições, e já não corresponde ás necessidades presentes nem ao
regime universitário inaugurado em 1920.
Os Decretos n
os
14.343, de 7setembro, e 4.572, de 23 de dezembro de 1920,
adstritos à faculdade limitada que a lei do ensino então vigente concedera ao
Governo, instituíram o regime universitário somente na Capital da República;
convém, entretanto, que ele se amplie a alguns Estados, onde já funcionam e
florescem institutos de ensino superior, federais e equiparados, de reputação
tradicional e notória idoneidade, e estabeleça, por esta forma, salutar
concorrência entre os meios científicos e literários do pais.
INSTITUTO DOS SURDOS-MUDOS
Não tendo o Congresso aceitado até hoje a sugestão que lhe fiz em 1920 de
subordinar o Instituto dos Surdos-Mudos à direção do Conselho
Administrativo dos Patrimônios, continua ele a ser administrado diretamente
pelo Governo, com todos os inconvenientes que apontei na Mensagem
daquele ano.
O regulamento do Instituto é ainda o de 1911, que não está mais em
condições de preencher os seus fins. A prática aconselha que, em vez do
sistema oral puro, se adote o misto no ensino do curso literário, pois só 10%
dos alunos têm aptidão para assimilar o conhecimento das disciplinas
ensinadas por aquele método.
Quando se construiu o novo edificio do Instituto, tinha-se em vista atender à
educação dos surdos-mudos de ambos os sexos. Até agora só os do sexo
masculino se aproveitam do beneficio. O edifício do Instituto foi feito com
recursos do seu patrimônio e em terreno de sua propriedade. Esses valores
representam donativos de várias pessoas, que, ao fazê-los tinham, de certo, o
pensamento de favorecer aos doentes sem distinção de sexo.
INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT
A reforma do Instituto Benjamin Constant impõe-se como medida de
necessidade.
O programa de ensino vigente, instituido pelo Decreto nº 9.116, de 1911, tem
provado mal.
Os alunos são obrigados a aprender matérias, para as quais lhes falecem gosto ou
aptidão, e que de nada lhes servirão na vida prática. O estudo das especiliadades,
como o da música, por exemplo, não se pratica convenientemente, porque o
acúmulo de matérias não permite a organização de horário satisfatório.
É preciso simplificar o curso, e organizar o ensino de outra forma. Os alunos não
devem receber todos indistintamente o mesmo ensino, como atualmente
acontece. Deve-se, antes de tudo, ter em atenção a classe da sociedade de onde
vêm e para onde tém de voltar, a vida a que se destinam, o grau de inteligência de
que são dotados, e outras circunstâncias. Certamente o Instituto deve proporcionar
a todos instrução suficiente e educação perfeita; mas convém lembrar que nem
todos os educandos possuem a mesma capacidade educativa, e os verdadeiros
talentos são exceções, tanto entre os cegos como entre os videntes. Não se poderá
fazer de qualquer deles, indiferentemente, um artista, um homem de letras ou um
sábio. Há mister, pois, subdividir o ensino, de modo que a todos se dê instrução
geral, substanciosa e prática, mas se reserve para os mais aptos ensino mais amplo
e elevado.
Não é possível que o mesmo ensino e a mesma educação convenham a meninos,
dos quais uns vão ser humildes operários e outros devem seguir o magistério. Não
pode ter necessidade de certos conhecimentos literários e científicos o cego que se
destina a vassoureiro, empalhador ou afmador de pianos. Com o atual regime de
obrigatoriedade de todas as matérias do curso literário, sucede que alunos, que só
têm aptidão para a música ou para os ofícios, e que poderiam deixar o Instituto
no fim de quatro ou cinco anos, são obrigados a permanecer, com grave ônus do
Tesouro, oito ou mais anos para aprender letras e ciências, das quais não precisam e
para as quais lhes mingua jeito.
O quadro dos ofícios ensinados no Instituto é pequeno e insuficiente. As
contingências da cegueira restringem a atividade do cego a umas tantas
ocupações, dentro das quais, ainda assim, eles têm que lutar
desvantajosamente com a concorrência dos videntes. Por isso a vida
profissional do cego em todos os paises é difícil e precária.
Outro grande defeito da organização atual está no modo de prover os
lugares de professor. As cadeiras vagas ou novamente criadas são
preenchidas, independente de concurso, pelos repetidores cegos, ex-
alunos do instituto, mediante proposta do diretor. Dada a hipótese,
porém, de existir na classe dos repetidores cegos mais de um candidato
a cada uma das cadeiras vagas, com igualdade de habilitações, serão elas
providas por concurso, no qual poderão tomar parte os referidos repetidores.
Ora, estes não são distribuidos metodicamente por todas as cadeiras, nem
nomeados por concurso ou mediante provas de competência na matéria da
cadeira a que são adjuntos; de sorte que um repetidor pode ser nomeado
professor de lingua ou ciência, que não a que ele repete e para a qual nunca
demonstrou capacidade!
Exposição apresentada à Nação pelo Presidente da República, Epitácio da Silva
Pessoa
UNIVERSIDADE DO RIO DE JANEIRO
A Universidade do Rio de Janeiro foi também uma criação do atual Governo.
Constituida com a Escola Politécnica, Faculdade de Medicina e Faculdade de
Direito, continua a funcionar regularmente, embora necessite de uma
reorganização geral do ensino, que lhe permita preencher melhor os seus altos
fins de "estimular a cultura das ciências, estreitar entre os professores os laços
de solidariedade intelectual e moral, e aperfeiçoar os métodos de ensino ".
INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT
Foi instalada nesse estabelecimento uma lavanderia mecánica e construiu-se um
prédio ao lado do edificio, para a residência do diretor, correndo esta despesa
e parte daquela pelas rendas patrimoniais do estabelecimento.
INSTITUTO OSWALDO CRUZ
Instalou-se o hospital das doenças tropicais, destinado às pesquisas e estudos do
Instituto Oswaldo Cruz.
Construíram-se também aí um edifício destinado aos serviços de
medicamentos oficiais e a seção de clínica aplicada e o do Instituto
Vacinogênico, incorporado pelo Governo, com a reorganização dos
serviços sanitários do pais, ao Instituto Oswaldo Cruz.
ENSINO PRIMÁRIO
Convocada pelo Ministério da Justiça, reuniu-se, nesta capital, a Conferência
Interestadual do Ensino Primário, que chegou felizmente a conclusões práticas,
consubstanciadas na lei, com que o Governo hoje se encontra armado para
enfrentar esse magno problema nacional, e pela qual foi autorizado:
"A entrar em acordo com os estados, a fim de ser estabelecido um regime de
subvenção destinado a difundir o ensino primário com as seguintes bases:
a} os estados acordantes se comprometem a aplicar, pelo menos, 10% de sua
receita na instrução primária;
b) a subvenção da União variará de 10 a 60% da importância despendida pelo
estado acordante;
c) a subvenção será relativa às escolas primárias e às normais julgadas em
condições de equiparação ao tipo que a União adotar;
d) a fiscalização desse serviço competirá à União e aos estados facilitando
estes a ação daquela;
e) a fiscalização, por parte da União, poderá ser confiada a fiscais de
nomeação do Ministério da Justiça e Negócios Interiores, com a
gratificação de que trata o Decreto nº 13.014, de 4 de maio de 1918;
f) para ocorrer às despesas resultantes da execução deste dispositivo o Governo
poderá abrir créditos não excedentes ao máximo de 300.000$, por estado
acordante. "
INSTITUTO DE MÚSICA
Foi concluído e inaugurado o novo edifício do Instituto Nacional de Música,
obra feita a expensas da renda patrimonial desse estabelecimento, com um
auxílio de 300:000$ dado pelo Governo.
ESCOLAS DE BELAS ARTES
O desenvolvimento do ensino das belas artes e o interesse de se realizar a
grande exposição de belas-artes comemorativa do Centenario levaram o
Governo a fazer a remodelação do edificio da Escola, de forma a aumentar o
número de salas de aulas e ateliers e preparar melhor as galerias de quadros.
Essa obra já se acha quase concluida.
OBRAS REALIZADAS OU EM ANDAMENTO
As principais obras realizadas e iniciadas pelo Ministério durante o Governo
foram as seguintes: Instituto Vacinogênico em terrenos do Instituto Oswaldo
Cruz.
Artur da Silva Bernardes
Presidência de 15.11.1922 a 15.11.1926
1923
Mensagem apresentada no Congresso Nacional pelo Presidente da República, Artur
da Silva Bernardes, na abertura da 3
a
sessão da 11ª legislatura
85
Problema capital para a vida do país, o do ensino está a reclamar a constante
atenção dos poderes públicos.
O ensino primario a cargo dos Estados precisa ser desenvolvido pelo concurso
da União.
Não há dúvida que o assunto oferece dificuldades de ordem prática e de
ordem financeira.
O Governo procura remover as primeiras, organizando um plano de
entendimento com os estados, no qual deve predominar, a par da
disseminação das escolas, a eficiência da respectiva fiscalização e a
uniformidade dos programas de ensino.
As dificuldades financerias só permitirão lançar as bases e iniciar a execução
de um programa metódico, à semelhança do que se faz com a profilaxia rural,
de modo que possa ser desenvolvido todos os anos, até atingir em breve prazo
a generalização do ensino em todo o território nacional.
O ensino profissional e técnico, a cargo do Ministério da Agricultura, è objeto
de referências em outra parte desta mensagem.
No ensino secundário e superior, cuja reforma se elabora com meditado
estudo, para que possa satisfazer às aspirações do pais, é preocupação
fundamental o método para a escolha rigorosa de professores competentes, o
processo para tornar eficiente o ensino e a melhor seriação dos cursos.
O concurso em bases modernas, a substituição, no ensino direto, dos
professores, após longo exercicio do magistério, a obrigação efetiva deste
exercício, a obrigatoriedade da freqüência em certos casos, a supressão dos
acessos sem exame, a supressão dos exames parcelados de preparatórios, a
modificiação dos exames vestibulares, o estabelecimento de regras que tornem
mais rigorosos os exames em geral, a fiscalização mais imediata, mais constante
e mais rigorosa dos estabelecimentos de ensino e da execução dos respectivos
programas, a coordenação dos esforços e das diretrizes por um aparelho de
direção e de observação capaz de imprimir ao ensino em geral a eficácia
visada - são outras tantas questões que se impõem ao espírito do reformador,
que, por isso mesmo, precisa, antes de reformar, estudar os defeitos da
organização atual e perscrutar-Ihe as causas, para removê-las.
O Governo não tem a preocupação de reformas radicais, senão a de melhorar
as instituições existentes, de acordo com a observação e a experiência e com o
único intuito de promover a reabilitação do ensino, infelizmente muito
decadente entre nós.
ENSINO AGRONÔMICO
O ensino agronômico, que constitui um dos mais importantes fatores da
prosperidade econômica do país, acha-se atualmente representado pelos
seguintes estabelecimentos:Escola Superior de Agricultura e Medicina
Veterinária, Aprendizados Agrícolas de Satuba, em Alagoas; Juazeiro e S.
Francisco, na Bahia; Barbacena, em Minas Gerais, e S. Luiz de Missões, no Rio
Grande do Sul; Estações de Experimentação de Campos, no Estado do Rio de
Janeiro, e de Escada, em Pernambuco; Estação de Pomicultura, em Deodoro, e
Estação Sericícola, em Barbacena, achando-se em organização as Estações de
cacau, em Goitacases, no Estado do Espírito Santo, e em Ilhéus, na Bahia.
Devem ser instaladas, brevemente, duas de fumo, na Bahia e no Pará. Alguns
estabelecimentos se ressentem ainda da ausência de melhoramentos
indispensáveis ao seu perfeito funcionamento.
Entre os estabelecimentos subvencionados pelo Governo, diversos se acham em
situação de não poder atingir os fins a que se propõem, por falta de orientação
pedagógica e de elementos materiais indispensáveis às exigências de cursos
especializados.
Não é, pois, tão lisonjeira, como fora preciso, a condição do ensino
agronômico e, embora a situação financeira não permita ampliações e
reformas que acarretem grandes dispêndios, mister se toma completar o que
está iniciado, promovendo a coordenação dos elementos de que já dispõe,
corrigindo a dispersão em que se mantêm e tomando efetiva a fiscalização,
único meio de garantir a execução do programa a que deve obedecer.
O Ministério da Agricultura está interessado no desenvolvimento da cultura do
fumo, tendo encetado útil e sistemática propaganda a favor desse ramo de
produção, promovendo estudos demonstrativos de novas práticas de cultura.
A cultura do trigo tem merecido a maior atenção do Governo que está
organizando um plano completo de ação em seu favor, reconhecendo-lhe a
capital importância para a economia nacional.
A pomicultura, que promete ao Brasil inigualável situação, mormente quanto
à produção de frutas tropicais, constitui atualmente assunto de minuciosas
investigações no que concerne aos processos de colheita, embalagem,
conservação e comércio.
Para a utilização metódica de nossas plantas têxteis constituiu o Ministério uma
comissão de especialistas nacionais, cujas conclusões oportunamente vos serão
submetidas.
Dentro do programa de prestar auxilio à produção nacional, outras medidas
serão postas em prática, tais como as que se referem à borracha e ao cacau,
solicitadas diretamente do Congresso Nacional pelos produtores e atualmente
sujeitas ao exame do Ministério.
CURSOS DE APERFEIÇOAMENTO NO ESTRANGEIRO
A resolução do Governo de instituir os cursos de aperfeiçoamento técnico e
profissional no estrangeiro para os alunos que houverem completado sua
instrução industrial, agrícola e veterinária em estabelecimento nacional oferece
à mocidade saida desses institutos o meio mais seguro de robustecer, prática e
experimentalmente, os conhecimentos adquiridos em seu tirocinio,
proporcionando, igualmente, ao pais, profissionais competentes nos diversos ramos
de sua atividade produtora.
Já se contam em elevado número os que, após o estágio de dois anos na Europa e
nos Estados Unidos, voltaram ao Brasil animados a prestar a colaboração
inteligente de sua capacidade técnica. Mais sólidos, porém, seriam os resultados
auferidos, se houvessem sempre sido adotadas medidas capazes de conseguir
rigorosa seleção dos preferidos para tais cursos e providências atinentes a uma boa
fiscalização sobre o aproveitamento dos mesmos.
PATRONATOS AGRICOLAS
Com o intuito de dar assistência, proteção, educação cívica, física e profissional
aos menores desvalidos, a União mantém, além dos cursos complementares anexos
ao Posto Zootécnico de Pínheiro e à Fazenda-Modelo de Santa Mônica, os
patronatos agrícolas "Manoel Barata", no Pará; "Barão de Lucena", em
Pernambuco; "Casa dos Ottoni", "Pereira Lima", "Wenceslau Braz " e " Visconde
de Mauá '', em Minas Gerais; "Monção " e "José Bonifácio ", em São Paulo, e
"Annitapolis", em Santa Catarina, achando-se em via de instalação os seguintes:
"Vidal de Negreiros", na Paraíba; "Diogo Feijó", em São Paulo, e "Visconde da
Graça, no Rio Grande do Sul.
Subvenciona ainda outros institutos congêneres; "Campos Salles", anexo à Escola
de Agricultura e Pecuária de Passa Quatro, "Delphim Moreira ", anexo à Chácara
da Conceição, em Silvestre Ferraz, ambos em Minas Gerais, e "Rio Grande do Sul",
anexo à Escola de Engenharia de Porto Alegre.
A lotação dos patronatos oficiais é de 2.550 educandos e a dos
subvencionados de 435 menores. Por deficiência de verba orçamentária,
aquela lotação não poderá, todavia, ser atingida no corrente exercício.
Não é possível desconhecer a utilidade de tais estabelecimentos, que livram
anualmente do vício e da miséria centenas de menores. Seria justo, portanto, que
maiores recursos fossem destinados a tão útil instituição, cujo desenvolvimento
merece os melhores cuidados do Governo.
ENSINO PROFISSIONAL E TÉCNICO
Problema de capital relevância para a nossa vida econômica, o ensino
profissional técnico requer uma ação firme e continuada dos poderes
públicos, pois que nos faltam ainda dois elementos essenciais, que não
podem ser improvisados de um momento para outro - instalações
apropriadas e pessoal docente habilitado.
As Escolas de Aprendizes Artífices, mantidas pelo Governo Federal nos
diversos Estados, funcionam regularmente, apresentando, nos cursos diurnos
matricula de cerca de três mil alunos. Com a merenda, há pouco instituida, é
de esperar que esse número acuse sensível aumento. Nos cursos noturnos a
matrícula já atinge a mais de dois mil alunos.
De certo tempo a esta parte, vem sendo consignada no orçamento verba
destinada à construção de novos prédios e reconstrução dos já existentes.
Desta maneira, tem-se conseguido melhorar as instalações de diversas escolas,
notadamente das que funcionam em São Luis do Maranhão, Paraíba, Natal,
Aracaju, Campos, Florianópolis e São Paulo.
Por outro lado, a prática adotada de contratar profissionais já especializados
no Instituto Parobé, quer para a orientação das novas instalações, quer para
a direção de algumas oficinas, está concorrendo grandemente para o
aperfeiçoamento dos métodos de ensino e melhor funcionamento dos
trabalhos escolares.
Na reforma que está sendo estudada, o Governo pretende, entre outras
medidas, imprimir à Escola Wenceslau Braz a feição, que ela deve ter, de
verdadeira escola normal destinada a fornecer pessoal docente idôneo aos
estabelecimentos de ensino profissional técnico do pais, acentuar e
desenvolver o caráter prático do ensino, de sorte que, ao terminar o curso,
esteja o aluno em condições de ganhar facilmente a vida na oficina particular
e, finalmente, tratar com especial interesse da educação da mulher,
estabelecendo nas escolas já existentes seções especiais, onde ela possa
adquirir conhecimentos úteis de economia doméstica e, ao mesmo tempo,
habilitar-se para o exercicio das atividades de caráter industrial e comercial
compatíveis com o seu sexo.
1924
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República, Artur
da Silva Bernardes, na abertura da 1
a
sessão da 12
a
legislatura
Está em preparo a reforma do ensino público dentro dos restritos moldes da
autorização legislativa.
Os múltiplos problemas que tém preocupado a atenção do Governo não lhe hão
permitido, como ele próprio desejava e deseja, dar mais rápida solução à
momentosa reforma, cujas dificuldades não podem ser desconhecidas e cuja
complexidade demanda escrupuloso exame e detido estudo.
Além de estar o ensino público secundário, superior e técnico, a cargo da União,
confiado a diversos Ministérios, o que dificulta o problema e impede a unificação
de direção e superintendência geral, como seria conveniente, está o ensino primário
confiado aos estados e, sem a intervenção da União para a sua difusão, seria
ineficiente qualquer reforma do ensino em geral.
Este é o ponto mais melindroso da questão, para que sua solução não venha
produzir efeito negativo, tendo-se em vista a necessidade de uma ação harmônica
entre a União e os estados, e as nossas possibilidades financeiras.
Apesar disso, o Governo, compenetrado dos seus deveres em assunto de tão vital
importância para o futuro da nacionalidade, não descura de promover a reforma,
em seus diferentes aspectos.
Em matéria de ensino primário, já alguma coisa vem sendo feita pela União,
de alguns anos para cá.
Manteve ela, durante o ano findo, a subvenção concedida aos Estados do Paraná,
Santa Catarina e Rio Grande do Sul, para o custeio de escolas primárias, criadas
especialmente para a nacionalização da infância, nas zonas de imigração européia.
Em 1923, foram em número de 461 as escolas subvencionadas, assim
distribuidas:Paraná, 116;Santa Catarina, 190;Rio Grande do Sul, 155. As
matriculas foram: Paraná, 4.334: Santa Catarina, 8.005; Rio Grande do Sul, 4.066.
A freqüência assim se discrimina: Paraná, 3.087; Santa Catarina, 6.671 ; Rio
Grande do Sul, 3.210. Freqüência média: Paraná, 26; Santa Catarina, 35; Rio
Grande do Sul, 20. Porcentagens da freqüência: Paraná, 71%; Santa Catarina,
83%; Rio Grande do Sul, 79%
Não obstante a campanha movida por elementos reacionários, empenhados em
perturbar a obra da nacionalização da infância, continuam essas escolas a prestar
serviços sem dúvida apreciáveis, especialmente no Estado de Santa Catarina, onde
a freqüência média, por escola, atingiu, como dissemos, a 837c dos matriculados.
É de notar, entretanto, que houve sensível decrescimento em relação ao ano
letivo anterior, cujos dados estatísticos revelaram 18.219 alunos matriculados e
14.424 freqüentes; sendo, então, em número de 450 as escolas que funcionavam.
Vários fatores concorreram para esse decrescimento, esforçando-se, para removê-
los, as autoridades estaduais e federais que têm a seu cargo a direção do ensino
público.
O resultado obtido demonstra, porém, o acerto com que agiu o Congresso
Nacional, incluindo na autorização concedida ao Poder Executivo, para
reformar o ensino, a faculdade de ampliar a esfera de ação do Governo
Federal quanto ao ensino primário, no sentido de dar ás escolas
subvencionadas uma organização sistemática que as torne mais eficientes para
os fins que determinaram a sua criação.
1925
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República, Artur
da Silva Bernardes, na abertura da 2ª sessão da 12ª legislatura
Absorventes preocupações, a que se teve de consagrar a pasta da Justiça,
impossibilitaram, no decurso do ano de 1924, a decretação da reforma do ensino,
nos termos da autorização que havíeis outorgado ao Governo. Funcionaram, por
esse motivo, de acordo com o Decreto nº 11.530, de 1915, os institutos de ensino
secundário e superior, continuando suspenso o provimento de lugares vagos, de
substitutos, em conseqüência do que dispunha aquela autorização legislativa.
Retardada, embora, a elaboração da reforma continuava o Governo ouvindo o
parecer de profissionais de reconhecida competência nos diversos ramos do ensino,
examinando as sugestões que espontaneamente solicitara e que recebera de
grande número de pessoas e instituições, reunindo, em suma, todos os elementos
cujo estudo se fazia mister, para que a remodelação empreendida resultasse uma
obra capaz de corresponder à sua elevada finalidade e à expectativa da opinião
culta do país.
Posto se achasse definitivamente concluída desde meados de janeiro último, a
reforma, para a qual renovastes, em relação ao corrente ano, a autorização
anterior, só foi dada a publicidade em 7 de abril próximo findo. Essa demora
resultou de conveniências de ordem administrativa, entre as quais a de não
perturbar os exames de 2
a
época, os exames vestibulares e o regime de
matriculas então vigente.
Foi, assim, que baixou com o nº 16.782-A e a data de 13 de janeiro último, o
Decreto que estabelece o concurso da União para a difusão do ensino
primário, organiza o Departamento Nacional do Ensino e reforma o ensino
secundário e superior a cargo do Ministério da Justiça.
O novo regime está, ainda, na fase inicial de sua organização e execução.
Quaisquer considerações sobre os resultados de sua aplicação carecem de
fundamento, porque è demasiadamente cedo para se poder ajuizar do êxito
de uma obra que apenas se inaugura. Certo, a crítica, poucas vezes
construtora e disposta sempre a demolir, encontrará, na reforma do ensino,
amplo terreno para o exercicio de seu fácil processo de apreciação. Espíritos
cultos, porém, têm, com imparcialidade e elevação de vistas, se manifestado
favoráveis à mesma, reconhecendo-lhe orientação capaz de produzir os dois
fins essenciais que a ditaram: a eficácia e a moralização do ensino secundário
e superior.
Tais objetivos constituem, com efeito, os principios fundamentais a que se
subordina todo o sistema da reforma. As exigências impostas para o ingresso
de alunos nas escolas superiores, visando elevar o nivel cultural dos
candidatos; a prescrição da seriação para os cursos de humanidades; o
processo, novo em nosso meio, para os exames pelas juntas nomeadas para os
institutos secundários que o requererem; o rigor nos concursos para a seleção
do professorado; a efetividade das aulas; a freqüência dos alunos; a exigência
dos trabalhos práticos; a discriminação e a distribuição das cadeiras; todo o
mecanismo da nova organização, enfim, gira em torno daqueles propósitos
principais, sem esquecer a preocupação da educação moral e civica da
mocidade, inteiramente descurada, até agora, com grave dano para o futuro
da pátria.
Além dos estabelecimentos de ensino secundário e superior, em seus
diferentes ramos, a reforma abrangeu os de instrução artistica, profissional, o
que revela o intuito de os encadear, na medida do possível, ao mesmo regime
uniformizando e sistematizando institutos que viviam sem outra ligação a
não ser a subordinação comum ao mesmo departamento administrativo.
ENSINO PRIMÁRIO
A Conferência Interestadual de Ensino Primário, reunida, em 1921, nesta
Capital, por iniciativa do Governo da União, aprovou uma série de conclusões
em que sugeria medidas de grande alcance em prol da difusão e da
nacionalização do ensino popular no pais.
Desde então, cessaram as controvérsias e desapareceram as dúvidas que ainda
havia, no tocante à legalidade e à necessidade da interferência da União em tal
matéria. Se fosse possível levar a cabo todas as providências aconselhadas por
aquela assembléia de especialistas, teríamos resolvido um problema de mais
alta importância para a nacionalidade.
Infelizmente, as condições financeiras do país não permitem a realização do
programa por ela traçado. O Decreto nº 16.782-A, que reorganizou o ensino,
consagra, apenas, os pontos essenciais desse programa, regulando o processo
do acordo entre a União e os estados para a criação e manutenção de escolas
primárias rurais subvencionadas pelo Governo Federal, como inicio da
cooperação da União, que poderá ser ampliada e desenvolvida em melhores
oportunidades.
A União terá a seu cargo o pagamento aos professores e a fiscalização superior
do ensino. Caberá aos Estados fornecer casa para o funcionamento das escolas
e o material escolar necessário. Ê condição principal obrigarem-se os estados a
não reduzir o número de escolas existentes no seu território e a aplicar 10%,
no mínimo, de sua receita, na instrução primária e normal. Os acordos
regularão, consoante às condições especiais de cada estado, os demais pontos e
detalhes da organização e funcionamento das escolas subvencionadas.
A reforma do ensino veio, portanto, concretizar e dar o impulso inicíal a urna
obra que deve ser mantida com perseverança e ampliada, de ano para ano.
Em 1924, funcionaram, regularmente, as escolas primárias que a União
mantém, desde 1918, nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do
Sul, como auxilio para a nacionalização da infância nos núcleos formados
pela imigração européia.
Essas escolas, em número superior a 400, apresentaram, naquele ano,
matrículas e percentagens de freqüência sensivelmente maiores que as do
anterior. Subordinadas, doravante, ao regime criado pela reforma do ensino, é
de crer produzam resultados ainda mais animadores, que compensem os
sacrifícios feitos pela União com o seu custeio.
ENSINO ARTISTICO
Pelo Decreto nº 16. 753, de 31 de dezembro último, foi aprovado o novo
regulamento do Instituto Nacional de Música.
De há muito se fazia sentir a necessidade da reorganização desse
estabelecimento;por isso que, na vigência do regime anterior, não lhe era
possível amoldar-se às modernas exigências do ensino, e, tampouco,
acompanhar os progressos obtidos pelos melhores institutos congêneres de
outros paises.
Severo espirito de economia presidiu à elaboração dessa reforma. Verifica-se
que a despesa com o pessoal, apesar das alterações feitas, é menor que a
correspondente ao quadro antigo, circunstância que permite a execução
imediata do novo regime, dentro das verbas votadas para o exercicio
corrente.
Devemos solicitar vossa atenção para a Escola Nacional de Belas Artes. O
desenvolvimento do ensino artistico e, especialmente, o das artes decorativas no
pais, a organização definitiva do museu, que, sendo riquíssimo, permanece, há
muitos anos, fechado à visita pública, e várias outras questões e lacunas, que
resultam do exame do que presentemente existe em relação a esse ramo do ensino,
tornam oportuna e conveniente uma remodelação completa da mesma, a bem dos
foros de nossa cultura.
1926
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República, Artur
da Silva Bernardes, na abertura da 3ª sessão da 12ª legislatura
A reforma do ensino, no seu primeiro ano de execução, vai produzindo
resultado satisfatório, deixando prever que corresponderá aos intuitos que a
inspiraram.
O sistema dos exames parcelados fe: baixar consideravelmente o nivel do
preparo da mocidade para os estudos superiores, influindo prejudicialmente
nestes. Desde anos, vinha vigorando entre os estudantes a preocupação
exclusiva de arranjar o atestado dos preparatórios para o ingresso nas escolas
superiores, e nestas o objetivo de conquistar o diploma prevalecia sobre o de
adquirir os conhecimentos necessários para o exercicio da profissão.
Chegamos a possuir um edificio educativo somente de fachada. sendo
diminuta a proporção dos estudantes que tém saído nos últimos anos das
escolas secundárias e superiores com o preparo correspondente aos
certificados que recebem.
O problema da instrução é o mais relevante para qualquer povo. A cultura
geral é a base do progresso moral e econômico. Descurar o ensino ou sofismá-
lo, em qualquer dos seus graus, è empecer o progresso da nação.
Nem se diga que a tendência moderna é para menosprezar a cultura literária,
fazendo-a ceder o passo ao aprendizado prático das ciências aplicadas.
Certamente à tecnologia cabe lugar relevante na educação dos povos que
marcham na dianteira da civilização, mas fora erro afirmar que o estudo das
humanidades deve ser hoje considerado desperdicio de tempo. Nos paises
tidos como ' práticos ' ' e que se assinalam pelo seu grande desenvolvimento
industrial, é onde, exatamente, vemos cultivados, com mais apreço e
profundeza, os estudos clássicos. Apenas deixaram de constituir o programa
quase exclusivo da educação intelectual, conservado, porém, no quadro desta,
honroso lugar.
A reforma do ensino secundário força os jovens a se deterem mais tempo no
estudo e assimilação das humanidades e inclui no curso a educação moral e
civica e o estudo da filosofia. Eram duas falhas inexcusáveis. Mal se concebe,
por exemplo, que as escolas secundárias e superiores venham formando, há
decênios, a inteligência das novas gerações na ignorância da lógica, que ensina
a dirigir as operações do pensamento na aquisição dos conhecimentos e na
verificação dos erros.
Abrangeu, além disso, a reforma não só os problemas secundários e
superiores, mas a seleção do professorado, o método e gradação do ensino e
apuração das habilitações por processo novo de julgamento das provas. Este
processo reduziu os inconvenientes que decorrem da condescendência ou
prevenção dos examinadores, mas ainda não è perfeito, porque deixa grande
parte ao arbitrio na apreciação das provas. Entretanto é o sistema, por ora,
mais recomendado.
Adiante voltaremos ainda ao assunto.
ENSINO SECUNDÁRIO E SUPERIOR
Já tivemos ensejo de vos referir, nesta e na anterior mensagem, os principais
objetivos visados pela reforma do ensino superior e secundário, levada a efeito
pelo Decreto n° 16.782-A, de 13 de janeiro do ano findo.
Em sintese, o que inspirou essa reforma foi o desejo de moralizar e tornar
eficiente o ensino, pela ampliação dos estudos propedêuticos de humanidades,
pelo rigor nos exames, pela freqüência obrigatória e pelo rejuvenescimento e
seleção do professorado.
Era evidente que uma legislação nova, com semelhante finalidade, havia de
despertar a oposição de quantos preferissem, de acordo com seus interesses
pessoais de momento, permanecer sob o regime antigo, que foi revogado
precisamente porque se reconheceu não mais corresponder às exigências do
ensino, e tampouco aos nossos foros de cultura.
Estudantes que se julgaram prejudicados por uma reforma, cujo fim precípuo
consiste em assegurar-lhes o êxito em suas profissões, recorreram ao Poder
Judiciário, ao encontro de cujas manifestações acorreu o Governo, expedindo o
Decreto nº 17.016, de 24 de agosto, que facultou aos alunos matriculados nos
cursos superiores a continuação de seus estudos de acordo com o regime anterior.
Afora essa providência, com que o Governo procurou acatar, como lhe cumpria,
a opinião do mais alto tribunal judiciário do pais, a reforma foi aplicada sem
quaisquer perturbações durante o ano letivo findo, resolvendo-se sempre de
acordo com o princípio da eqüidade, ou com o espirito da nova lei, as dúvidas e
situações imprevistas, inevitáveis nos períodos de transição de um para outro
regime.
O modo pelo qual se efetuaram os exames nas duas últimas épocas respectivas
constituiu a melhor prova de que a reforma já está perfeitamente compreendida
e em plena execução.
Para dotar os estabelecimentos de ensino secundário e superior de todos os
requisitos modernos, de laboratórios, museus e demais aparelhamento didático,
que se torna preciso, o Governo terá de fazer sacrifícios pecuniários não
pequenos. O aumento que a lei determinou nas taxas e emolumentos escolares
tem por fim apenas minorar este ônus, embora seja evidente que não se pretende
mercantilizar o ensino, transformando os institutos federais em fontes de renda.
Se, portanto, o custeio desses estabelecimentos é feito com os recursos do
Tesouro, auferidos mediante a contribuição de todo o pais, nada mais razoável
do que pedir um pequeno aumento de contribuição àqueles que mais de perto e
diretamente se vão beneficiar com os melhoramentos de toda a natureza
introduzidos nas escolas oficiais.
Longe de dificultar o ingresso nas faculdades aos estudantes pobres, a nova lei
criou, para estes, cinco lugares gratuitos, em cada ano do curso, dos quais três
serão preenchidos por escolha dos próprios alunos da turma.
Em suma, a vigente organização do ensino não está isenta de defeitos e senões,
que a experiência há de revelar mas é forçoso convir em que, rigorosamente
executada, há de concorrer para a elevação do nivel cultural do pais.
ENSINO ARTÍSTICO
A Escola Nacional de Belas Artes e o Instituto Nacional de Música, embora
compreendidos na organização do ensino decorrente do citado Decreto nº 16.782-
A, continuam a reger-se pelos regulamentos que vigoravam por ocasião da
reforma.
O do Instituto Nacional de Música é recente, pois data de dezembro de 1924.
Carece, entretanto, de ligeiras modificações que o harmonizem com as
disposições da lei geral.
A Escola Nacional de Belas Artes, porém, obedece ainda hoje a um
regulamento elaborado há mais de um decêndio e que, por isso mesmo, longe
está de corresponder à orientação que inspirou a atual reforma e ás exigências
do moderno ensino artístico.
A própria instalação material da Escola, não obstante a imponência exterior
de seu edifício, deixa muito a desejar, sendo sensível a falta de um prédio
especial para pinacoteca, no qual possam ser conservadas e expostas, com as
devidas precauções, as inestimáveis preciosidades que existem nas galerias do
instituto.
Doações e legados valiosos - entre os quais o que fez recentemente o
brasileiro José Luiz Fernandes, falecido em Paris - enriquecem o patrimônio
da Escola e tornam insuficiente o espaço de que se dispõe, o qual é o
estritamente necessário para o funcionamento dos cursos.
Além dessas providências que interessam à parte material, impõe-se a
conveniência de uma reforma nos cursos, nos quadros e nas vantagens do
professorado, que não estão de acordo com os demais institutos federais de
ensino.
Tais providências exigem, porém, demorado estudo e importam em inevitável
aumento de despesa. Por esse motivo, o Governo julgou preferível não as
realizar no ano transato, na certeza de que um mais atento exame das
necessidades a remediar só poderá resultar vantajoso para o nosso ensino
artístico.
ENSINO PRIMÁRIO
A vigente lei do ensino autoriza o Governo da União a celebrar acordos com
os dos estados, para criação e manutenção de escolas nos respectivos
territórios.
Ninguém desconhece a relevância de tal medida, há muito propugnada com
ardor por quantos desejam ver o pais livre do flagelo do analfabetismo.
Empenhando em dar-lhe execução desde logo, o Governo Federal dirigiu aos
dos estados uma consulta circular sobre a possibilidade de se celebrarem
aqueles acordos, na forma dos arts. 24 a 27 do Decreto nº 16.782-A, de 13 de
janeiro de 1925.
Vários estados responderam manifestando imediato apoio à idéia; alguns,
porém, formularam ponderações sobre a interpretação que se deva dar a esses
dispositivos e outros fizeram sentir que no momento não poderiam realizar o
acordo, ou por falta de dotação orçamentária em que se enquadrasse a despesa, ou
porque suas condições financeiras não permitam novos encargos.
O atento exame dessas respostas induziu o Governo da União a guardar
melhor oportunidade para dar inicio à execução do grande desideratum,
apesar do seu sincero desejo de vê-lo transformado em realidade.
Acresce a circunstância de que a lei orçamentária de 1825, revigorada para o
corrente ano, não consigna créditos com que a União possa ocorrer às despesas
provenientes de seus compromissos quanto à disseminação do ensino popular,
sendo insuficiente a importância cuja aplicação fora autorizada pelo Governo na
resolução acima referida.
Por esses motivos, o Governo Federal limitou-se a manter as escolas
subvencionadas existentes nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do
Sul, destinadas à nacionalização da infância em núcleos coloniais de origem
européia, nos termos do Decreto nº 13.014, de 1918.
Washington Luís Pereira de Souza
Presidência de 15.11.1926 a 24.10. 1930
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República,
Washington Luis Pereira de Souza, na 1ª sessão da 13ª legislatura
Em 1888, havia 8.157 escolas, com uma matricula de 258.800 alunos, e, em
1926, se encontram 25.000 escolas com a matricula de 1.455.000 alunos.
Além das escolas especializadas do Exército e da Marinha, havia, apenas em
1888, as Academias de Direito de São Paulo e do Recife, as Faculdades de
Medicina do Rio de Janeiro e da Bahia, a Escola Politécnica do Rio de
Janeiro e a de Minas Gerais, em Ouro Preto.
Hoje, permanecem os mesmos institutos, porém, com maior capacidade e
melhor eficiência, e mais as Escolas de Direito de Manaus, do Pará, do
Maranhão, do Ceará, da Bahia, de Niterói, do Distrito Federal, de Minas
Gerais, do Paraná, de Porto Alegre, e mais as Escolas de Medicina de Porto
Alegre, do Paraná, de Belo Horizonte, de São Paulo, Mackenzie e Escola
Politécnica de Belo Horizonte, do Paraná, de Porto Alegre, de Juiz de Fora;
mais 13 escolas de Farmácia e Odontologia. Tinhamos seis, temos hoje 35.
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República,
Washington Luís Pereira de Souza, na abertura da 2
a
sessão da 13
a
legislatura
Sc uma apreciação de conjunto sobre a atual situação do ensino público no
pais não se pode afirmar que atingimos, neste particular, a um grau de
aperfeiçoamento em que possamos servir de modelo, não há, entretanto,
razões que autorizem a descrer no julgar as coisas da instrução. Na realidade
muitos dos males île que nos ressentimos ainda não encontraram solução
mesmo nos paises mais adiantados da velha Europa.
O desenvolvimento do ensino no Brasil sofreu tão grande impulso no periodo
republicano, e administrativamente foi tão modificado, que nao pode causar
admiração terem sido decretadas no assunto numerosas reformas. A situação
criada pela instituição de novas normas pedagógicas e pela fundação de grande
número de institutos de ensino equiparados aos oficiais exigia esse constante
remodelamento da legislação, para atender a circunstâncias novas.
É incontestável que o governo tem contribuido para que a vida escolar dos
institutos de ensino em todo o território da República, assim quanto ao
desenvolvimento dos cursos, como quanto aos serviços de exames, decorra
num ambiente de perfeita calma, indispensável ao progresso do ensino.
A lei. restabelecendo o regime dos exames parcelados no curso secundário,
pode ter execução, convenientemente regulamentada, sem determinar o
abandono do sistema de exames seriados, estatuido no Regulamento do
Ensino vigente.
Com relação ao ensino superior, as providências governamentais regularizaram
completamente a situação financeira dos institutos de ensino, satisfeitos os
compromissos decorrentes da promulgação do Decreto nº l6. 782-A, de 13 de
janeiro de 1925, que reformou o ensino.
Não se pode negar que a condição primordial para o progresso do ensino é a
colaboração sincera e efetiva do professorado. Assegurada a idoneidade da
professor pela seleção dos processos de escolha dos membros do magistério,
deve-se confiar na capacidade das congregações e procurar interessá-las
diretamente no problema do ensino, fazendo-as até certo ponto responsáveis
pela orientação que seguirem A adoção definitiva dos princípios
universitários traria aos corpos técnicos maior liberdade de iniciativa nos
assuntos atinentes ao ensino. U indispensável é escolher o molde adaptável as
conveniências do nosso pais, estabelecendo a forma de colaboração neste
particular entre o governo da União e os dos estados.
A aplicação do Regulamento do Ensino vigente tem demonstrado, em muitos
pontos, a necessidade de modificações, aconselhadas pela experiência no
sentido de melhora-lo. e no mesmo interesse de aperfeiçoamento cumpre
instituir novas medidas pedagógicas, para atender a numerosas exigências que
ainda não foram satisfeitas.
ESCOLA DE APRENDIZES ARTÍFICES
Acentua-se cada vez mais o desenvolvimento das escolas de aprendiz es artifices,
pois. desde que foram iniciados os trabalhos de remodelação, tem aumentado
o número de estabelecimentos beneficiados com edificios novos e amplos.
montagem de maquinas modernas e distribuição de técnicos diplomados por
institutos congêneres.
O ensino foi sistematizado pela recente consolidação, que assegura o
desenvolvimento da aprendizagem nacional dos ofícios correlativos e
uniformiza o plano de ação dos respectivos diretores.
ESCOLA NORMAL DE ARTES E OFICIOS WENCESLAU BRAZ
Cada vez mais se acentua a preferência que, da parte do público, vai
merecendo esta casa de educação, onde se formam professores e mestres em
diversas profissões.
Com o fim de garantir uma grande eficiência em aulas e oficinas, foi limitada a
matricula que atingiu a 303 alunos. No ano anterior matricularam-se 257,
sendo 189 apenas o número de alunos em 1925.
Fez o governo construir o novo pavilhão para as oficinas femininas e ampliou
as instalações das oficinas masculinas de trabalho de madeira e de metal.
Melhorou, deste modo, o ensino prático das diversas profissões, permitindo
um tirocinio técnico mais apurado e um preparo profissional mais perfeito.
ESCOLA DE MINAS DE OURO PRETO
No ano letivo de 1926 e 1921, foi matriculado. nas diferentes séries dos cursos de
Engenharia de Minas e Civil e Quimica Industrial, desse Estabelecimento, um total
de 128 alunos, sendo de 94 o número de aprovações cm exames finais, ou seja,
uma percentagem de 73,4%. Receberam o diploma de engenheiros de minas e civil
11 alunos, e concluiram o curso de química industrial dois alunos.
Com a dotação especial de 350 contos a essa Escola, em comemoração do 50°
aniversário de sua fundação, construiram-se os pavilhões destinados aos novos
gabinetes de Física, Petrografia e. Laboratório Químico de Mineralogia e
Laboratório de Metalografia Microscópica, e adquiriram-se os respectivos
aparelhamentos, ficando ultimada a construção do Observatório Astronômico.
1929
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República,
Washington Luís Pereira de Souza, na abertura da 3ª sessão da 13ª legislatura
O Ensino Secundário e Superior continua a reger-se pelas disposições do
Decreto n° 16.782-A de 13 de janeiro de 1925.
Por decreto de 10 de setembro de 1928, passou a depender do Ministério da
Justiça e Negócios Interiores, subordinada ao Departamento Nacional do
Ensino, a Escola de Minas de Ouro Preto, anteriormente sujeita ao Ministério
da Agricultura.
Na Mensagem do ano findo, foi feita referência à necessidade de estabelecer a
autonomia didática das Congregações, adotando-se o regime universitário na
organização dos institutos de ensino superior, e, na conformidade deste ponto
de vista, foi convertido em lei o projeto que estabelece as condições de
criação das universidades nos estados.
Por essa lei, desenvolvida em competente regulamentação, foi conferida a
essas universidades e Faculdades de se organizarem didaticamente pela forma
que julgarem mais conveniente, ficando os respectivos Conselhos incumbidos
de estabelecer o que disser respeito às disciplinas dos cursos, seriação,
programas de processos de exames.
Tém esses institutos independência econômica, cabendo-lhes formar o seu
patrimônio e manter a sua adminstração.
É de esperar que a escrupulosa aplicação da nova lei por parte dos estados,
onde se vierem a insituir universidades, satisfaça às aspirações do professorado
superior, promovendo o livre desenvolvimento desses institutos de ensino e
favorecendo, de modo eficaz, o progresso da nossa cultura.
Entrou em vigor, no corrente ano, a nova seriação estabelecida para o curso
secundário no Colégio Pedro II e nos institutos a ele equiparados, de acordo
com o Decreto n° 18.564, de 15 de janeiro de 1929, tendo sido adotadas as
providências necessárias para a imediata adaptação do ensino nesses institutos
às normas desse decreto.
O Governo tem promovido ininterruptamente a melhoria das instalações de
todos os institutos de ensino, inclusive os de ensino artistico e profissional.
ENSINO PROFISSIONAL E TÉCNICO
As 19 escolas de aprendizes artífices, federais, mantêm seus cursos diurnos e
noturnos de aperfeiçoamento para operários, com uma freqüência animadora e
que tem crescido sensivelmente, graças aos trabalhos de remodelação por que
vêm passando.
Em 1928, as escolas de aprendizes foram dotadas de aparelhos, máquinas e mais
material imprescindível ao bom funcionamento de suas oficinas e aulas.
Dentro dos recursos orçamentários, foram executadas obras de melhoramento e
ampliação dos edifícios em que funcionam as escolas do Amazonas, Maranhão,
Ceará, Natal, Paraíba, Bahia e Rio de Janeiro. Ainda não foram totalmente
concluidos os edifícios das de Natal e Paraíba, sendo que no corrente ano
ficará completamente terminado o edifício dessa última escola, de acordo com o
projeto organizado pela remodelação do ensino profissional técnico.
A escola de Pernambuco continua a funcionar no plano posterior do Ginásio
Pernambucano.
O Governo do Estado do Paraná ofereceu um prédio, em ótimas condições de
situação e de higiene, para nele funcionar a respectiva escola de aprendizes
artífices. Logo que termine o expediente de doação, essa escola deverá
transferir-se para o prédio oferecido.
ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA E MEDICINA VETERINÁRIA
A grande vantagem da mudança da Escola de Niterói para o Rio de Janeiro
evidenciou-se logo pelo aumento da matrícula em 1928. Enquanto que em
1927, ainda em Niterói, ela era, em todos os seus cursos, de um total de 6 9
alunos, no Rio de Janeiro, só a matricula, nos primeiros anos dos cursos, atingiu o
número de 74, com um total, em toda a matrícula do ano, de 114.
Foi feita a instalação completa do Curso de Química Industrial Agrícola, que foi
também dotado, para maior eficiência, de mais um auxiliar técnico para a
cadeira de Quimica Analítica; mais a instalação do Laboratório de Óleos; a
remodelação completa da Subestação Elétrica da Light and Power; e iniciaram-
se as obras do Hospital Veterinário.
INSTITUTO BIOLÓGICO DE DEFESA AGRÍCOLA
O Instituto Biológico de Defesa Agrícola, ademais de estudos científicos sobre
insetos e fungos perniciosos às lavouras, atendeu a múltiplas consultas a
respeito de doenças e pragas de várias culturas, tendo indicado os meios
práticos, adequados, por evitá-las ou combatê-las. Outrossim, aplicou salutares
medidas de vigilância sanitária vegetal, para defender-nos da importação de
perigos exóticos, e impedir a exportação de produtos agricolas (mormente
frutos), contaminados de doenças e insetos nocivos.
1930
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República,
Washington Luís Pereira de Souza, na abertura da 1
a
sessão da 14
a
legislatura
Urge remodelar o quadro do pessoal do Departamento do Ensino, fixando-lhe
as atribuições, a fim de normalizar o serviço, dando-lhe maior eficiência, a
regularizar a situação dos atuais funcionários, que servem a titulo provisório.
O serviço dos institutos de ensino, sob a jurisdição do Departamento, nesta
capital e nos estados, decorreu com normalidade, observadas as prescrições
legais.
Nos institutos de ensino superior e secundário, equiparados aos oficiais, a
fiscalização se efetuou regularmente pelos respectivos inspetores.
É necessário aperfeiçoar as condições de fiscalização por parte dos inspetores,
de modo que se tome mais eficiente do que atualmente, exigindo-se-lhes
freqüência assidua aos institutos que fiscalizam, acompanhando de perto as
condições da respectiva vida escolar.
E medida de alto alcance não serem permanentes esses inspetores.
Desempenhando durante anos seguidos a função fiscalizadora sobre o mesmo
instituto, observase com freqüência que se estabelecem laços de amizade entre o
inspetor e os diretores e professores do instituto fiscalizado, e daí concessões e
afrouxamento na fiscalização. A medida aconselhável seria a designação de um
prazo certo para a duração das funções de cada inspetor, não podendo ser
renomeado, logo após, o mesmo inspetor para fiscalizar o mesmo instituto.
Essa medida, aliás, já mereceu a aprovação do Governo e figura na
regulamentação da lei relativa às universidades dos estados, cujos inspetores são
nomeados por um biênio, não podendo ser renomeados para o biênio
imediatamente posterior.
A fim de facilitar a função fiscalizadora dos inspetores e tornar perfeitamente
explícitos, quanto às suas informações, os relatórios que devem apresentar ao
Conselho Nacional do Ensino, foi organizado, no Departamento, um modelo
impresso com a especificação das informações exigidas, devendo os inspetores
anexar aos seus relatórios as respostas ao questionário desse modelo.
O serviço de exames iniciou-se e terminou dentro da época legal em todo o
território da República.
Para os exames do curso secundário, foram expedidas, pela Diretoria Geral deste
Departamento, as convenientes instruções, publicadas no Diário Oficial por
ocasião da abertura das aulas, no começo do ano letivo.
Como no ano passado, os exames parcelados realizaram-se, no Distrito Federal,
exclusivamente, no Colégio Pedro II, e nos estados, não só nos ginásios
equiparados, como ainda nos institutos particulares que obtiveram a concessão
de juntas examinadoras. Quanto os exames realizados nos institutos particulares
de ensino secundário, o Departamento providenciou nas "Instruções "para que
só fossem submetidos a exames os alunos neles respectivamente matriculados.
CONSELHO NACIONAL DO ENSINO
O Conselho Nacional do Ensino reuniu-se nas épocas legais, em fevereiro e julho,
tendo realizado na primeira reunião 15 sessões e na segunda 13. Constituíram
objeto de deliberação 77 pareceres das diferentes comissões na reuno de
fevereiro e 67 na reunião de julho.
O Conselho homologou a proposta da Congregação da Escola Politécnica da
Universidade do Rio de Janeiro, modificando a seriação dos cursos da referida
Escola. A nova seriação acaba de ser aprovada por decreto do Governo de 6 de
janeiro último.
Foi publicado e distribuído o Anuário do Departamento, referente aos anos de
1926 e 1927, contendo as atas das sessões do Conselho Nacional do Ensino e os
atos legislativos, decretos do Governo e avisos referentes ao ensino. Já
está organizado e acha-se em impressão na Imprensa Nacional o Anuário
referente ao ano de 1928.
Foram numerosos os professores estrangeiros e vultos eminentes nas ciências e
nas letras que estiveram nesta capital, durante o ano findo. O Departamento
tomou as medidas necessárias para que fossem condignamente recebidos nos
institutos de ensino as referidas personalidades, que foram obsequiadas e
cercadas das devidas atenções.
A Diretoria Geral do Departamento autorizou a entrega das quotas
pecuniárias aos diversos institutos, recomendou aos diretores respectivos que
as referidas quotas fossem aplicadas em melhoramentos permanentes nos
edifícios ou em material para os laboratórios ou clinicas desses institutos,
devendo os diretores oportunamente prestar contas do emprego das quantias
recebidas.
Distribuido o saldo de 1928, ficou na conta corrente de avisos um saldo de
242$ 756. Os juros correspondentes ao tempo em que esteve depositado, na
conta corrente de avisos o saldo de 1928, importaram em 3:842$ 144, sendo
no primeiro semestre 1:997$444 e no segundo 1:844$ 700, os quais foram
creditados na conta de 1929.
Durante o exercicio de 1929, as despesas realizadas, por conta das rendas
próprias do Departamento, obedeceram ao estipulado no orçamento
organizado por esta Diretoria Geral, aprovado a 15 de fevereiro de 1929.
ESCOLA POLITÉCNICA
Durante o período de 1929, a ordem e a disciplina na Escola Politécnica não
sofreram alteração; o orçamento foi rigorosamente observado e os diversos
serviços escolares se executaram com perfeita regularidade.
A administração da Escola manteve sempre, com o Departamento Nacional do
Ensino e com a Reitoria da Universidade, as relações oficiais estabelecidas em
lei, para a completa normalidade e necessária harmonia dos negócios do
ensino.
Os representantes da Congregação, quer no Conselho Nacional do Ensino,
quer no Conselho Universitário, compareceram assiduamente às respectivas
sessões, tomando parte no estudo dos vários assuntos submetidos ao juizo
dessas corporações.
A congregação reuniu-se 19 vezes durante o ano. Em suas sessões ordinárias
estudou medidas tendentes ao melhoramento do ensino; escolheu seus
representantes no Conselho Nacional do Ensino e no Conselho Universitário;
elegeu comissões examinadoras de concursos para provimento de cadeiras e
para obtenção de docência livre; assistiu às provas orais e às defesas de teses
que se processaram no correr do ano e procedeu ao julgamento dor
candidatos; examinou e aprovou os programas dos cursos e os dos exercícios
práticos finais, exercendo, igualmente, as demais atribuições que lhe competem
nos termos da legislação em vigor.
Realizou, além disso, duas sessões públicas, sendo uma em homenagem aos
professores desaparecidos no desastre do Santos Dumont, e a outra, solene, para
a colação de grau aos engenheiros formados no ano letivo de 1928 e distribuição
dos prêmios escolares. Entre as medidas tendentes ao melhoramento do ensino
neste instituto, estudou também a Congregação, por indicação do Diretor da
Escola, uma proposta de modificação na seriação das matérias dos cursos e nas
exigidas para o exame vestibular. Examinada por uma comissão especial que,
sobre o assunto, emitiu seu parecer, foi a matéria amplamente discutida na
Congregação e por esta aprovada apenas contra um voto.
A nova seriação, decretada pelo Governo a 6 de janeiro último, deve entrar em
vigor no ano letivo corrente.
Foram abertas, a 9 de maio, pelo prazo de seis meses, nos termos da lei, as
inscrições de concurso para provimento das cadeiras vagas de Estatística,
Economia Politica e Finanças, Astronomia Esférica e Prática, Geodésia e
Construção de Cartas Geográficas, Docimasia e Metalurgia, com desenvolvimento
da Siderurgia. Estas inscrições se encerraram a 9 de novembro, achando-se
inscritos: para a cadeira de Estatística, um só candidato; para a de Astronomia,
três, e para a de Docimasia e Metalurgia, também três.
As dificuldades de se realizarem as provas destes concursos, nas épocas de exames,
e a impossibilidade de efetuá-las no periodo das férias escolares determinaram o
seu adiantamento para o mês de abril.
Tiveram início a 17 de setembro as provas do concurso para o provimento efetivo
da cadeira de Química Orgânica, Descritiva e Analítica, cuja inscrição já havia sido
encerrada com dois candidatos aceitos. As diversas provas dos dois concorrentes
foram normalmente prestadas perante a Congregação, que procedeu afinal ao
julgamento dos candidatos.
FACULDADE DE MEDICINA DO RIO DE JANEIRO
A Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro ministrou, do modo mais eficiente, a
cultura médica e cirúrgica a seus alunos, dando aos professores os melhores
elementos para o ensino.
Falam eloqüentes e documentadamente não só a simples enumeração dos
melhoramentos, reformas, aperfeiçoamentos, criações de diversos serviços,
relatórios dos professores sobre o ano letivo, como os algarismos relativos ás
despesas feitas com o ensino e boa organização e vida da Faculdade, em geral.
Para que esta Faculdade esteja sempre ao nível da era médica contemporânea,
e de todos os progressos que em toda parte vai realizando a Medicina, estão
todos os professores sempre alertas, quer com as próprias iniciativas, quer com
o que a experiência alheia vem trazendo ao patrimônio comum da ciência
médica, por dever de consciência e para que não se fraude a confiança que nela
depositam os poderes públicos da Nação.
Fizeram-se criações, remodelações, melhoramentos, ampliações e outras obras
na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, velha e nova, durante os anos de
1927,1928,1929 e começo de 1930, durante a administração do professor
Dr. Abreu Fialho.
Na velha Faculdade (Rua de Santa Luzia)
Pintura geral do exterior e interior do prédio (alugado) e outros reparos
urgentes e indispensáveis foram feitos em todo o edifício;
Divisão do extenso salão do antigo Laboratório Central das Clínicas em três
repartições isoladas, para o trabalho separado de cada uma das seções do novo
Laboratório de Pesquisas: seções de bacteriologia, sorologia, imunologia;
anatomia patológica macroscópica e microscópica; parasitologia; reparação do
material antigo, aquisição de novo ¡novas instalações de água, luz, esgotos;
Construção de um pequeno biotério para as necessidades do Laboratório de
Pesquisas;
Instalações da 1ª cadeira de Anatomia humana, com anfiteatros de ferro,
ambulantes, de tipo moderno, cercando as mesas de dissecção, dando os
professores e assistentes as lições de demonstração, e os alunos assistindo
comodamente; mesas de ardôsia, para dissecção e estudo de peças anatômicas
preparadas; microscópios; aparelho de projeção; armários e arquivos de aço,
etc;
Criação de um organismo central para recebimento, conservação e
distribuição eqüitativa de cadáveres às diferentes cadeiras que funcionam no
Instituto de Anatomia;
Construção de novos e grandes depósitos para conservação de cadáveres;
Aquisição de novas fontes de requisição de cadáveres, para ensino e estudo da
Anatomia, graças às determinações do Sr. Provedor da Santa Casa de
Misericórdia às administrações dos hospitais de Cascadura e Nossa Senhora
das Dores, o que permitiu aquele estudo em cadáveres de mulher, o que há
muitos ano se não fazia;
Criação do serviço de identificação antropométrica dos cadáveres, com a sua
respectiva instalação: balança, caixa de Bertillon, mesa antropométrica
(modelo do Prof. Fróes da Fonseca), máquina fotográfica etc;
Instalação do novo serviço de cirurgia, chamada experimental, em animais de
laboratório, como estudo intermediário entre o cadáver e o homem vivo
(técnica cirúrgica no vivo), com mesas de operação, autoclaves, anfiteatro,
instalações novas de água fa motor elétrico) e gás;
Transformação do antigo Laboratório Central das Clínicas em Laboratório de
Pesquisas.
pela primeira vez, funciona em nossa Faculdade de Medicina este importante
serviço subsidiário das diversas clínicas. Na sua seção de Bacteriologia,
Sorologia, Imunologia, em um ano, foram realizados 1.698 exames, executadas,
por assim dizer, todas as pesquisas complementares requisitadas e julgadas
necessárias à elucidação dos diversos casos clínicos.
Foram iniciados, para terapêutica das doenças infecciosas, estudos sobre
corantes derivados da anilina. O laboratório auxiliou a composição de teses de
doutoramento, baseadas em pesquisas originais.
Na seção de Parasitologia, foram realizados, no mesmo espaço de tempo, 110
exames e pesquisas sobre leishmaniose e tracoma (procura do bacilo de
Noguchi), sobre entameba histolitica.
Na seção de Anatomia Patológica Macroscópica e Microscópica, foram
executadas 53 necrópsias, exames histológicos em 293 peças remetidas pelas
diversas clinicas, trabalho arquivado em fichas e relatórios, alguns dos quais
documentados com fotografias, resultando dessas pesquisas 1.300 lâminas, que
se acham em arquivo próprio.
Como se vê, são importantes os serviços prestados às clínicas da Faculdade
pelo Laboratório de Pesquisas.
Instalação completa da sala de necrópsias da seção de Anatomia Patológica do
Laboratório de Pesquisas com duas excelentes mesas de necrópsias, serra
mecânica, bom instrumental e outros acessórios;
Aquisição de um frigorífico elétrico, para conservação de cadáveres destinados
às necrópsias na seção de Anatomia Patológica de Laboratório de Pesquisas,
excelente modelo, talvez o melhor existente na capital para esse gênero de
trabalho;
Adaptação de dois locais destinados à Caixa Beneficente Miguel Couto e Club
Atlético (associações estudantis).
Na Santa Casa de Misericórdia (Clinicas da Faculdade):
Remodelação completa da 2
a
cadeira de Clinica Médica, inteiramente
aparelhada para o ensino, com ambulatório, laboratório, raios X e outros
importantes subsídios para educação clinica dos estudantes. É das mais bem
montadas clinicas da Faculdade;
Remodelação completa da Clinica Oftalmológica, com seu novo ambulatório e
demais seções médico-cirúrgicas da especialidade, todas aparelhadas com o que
de mais moderno, necessário e útil existe para o diagnóstico e tratamento das
doenças oculares e altas pesquisas, para ensino e estudo integral e perfeito da
especialidade, rivalizando com as melhores congêneres;
Nova e grande sala de operações de alta cirurgia e outras, com anfiteatro para
assistência dos alunos aos atos operatórios, construída e equipada, conforme os
últimos ensinamentos, inteiramente moderna, destinada aos três professores
de Clinica Cirúrgica, em dias alternados;
Sala de operações, de esterilização, de curativos, com os seus pertences e
instalações, serviço autônomo do professor da 3ª cadeira de Clínica Cirúrgica;
Sala de operações, de esterilização, de curativos, com as suas respectivas
instalações para cirurgia geral da 2ª cadeira de Clinica Cirúrgica, anexo à qual
funciona um curso de vias urinárias, aprovado pela Congregação, e que pela
primeira vez e nessas condições se faz na Faculdade. Serviço necessário e
importante, autônomo, do professor da cadeira. Possui a melhor mesa de
operações no gênero, modelo de Braasch, e que parece ser a única existente no
Rio de Janeiro;
Sala de operações, de esterilização, de curativos, e respectivas instalações,
serviço autônomo do professor da 1ª cadeira de Clínica Cirúrgica;
Criação do curso de vias urinárias, anexo à 2ª cadeira de Clinica Cirúrgica;
Criação e instalação do laboratório da 1ª cadeira de Clínica Cirúrgica;
Criação do ambulatório para a 2Q cadeira de Clinica Médica;
Criação do ambulatório para a 1ª cadeira de clínica Médica;
Novas instalações e melhoramentos na Clinica Dermatológica e Sifiligráfica;
Novas e completas instalações para a 1ª cadeira de Clínica Cirúrgica, em
construção à parte, em terrenos da Santa Casa da Misericórdia, com
ambulatório, raios X, etc., o que junto aos outros melhoramentos,
anteriormente citados, transforma a cadeira num quase insiituto. Obras já
muito adiantadas;
Aquisição de um novo aparelho ambulante de raios X, ao serviço das diversas
clinicas, para atender aos pacientes que se não podem locomover.
Na Faculdade nova da Praia Vermelha e dependências:
Anfiteatro novo, na sala de aulas da Clínica Psiquiátrica, sala que foi
totalmente reformada, com gabinete particular do professor e outros
melhoramentos;
Instalação do laboratório da cadeira de Quimica Orgânica e Biológica, que até
pouco tempo funcionava juntamente com a de Química Mineral (crédito
especial);
Nova e moderna aparelhagem para a I
a
cadeira de Fisiologia;
Instalação do laboratório da 2ª cadeira de Fisiologia (recebida uma parte, a outra
em andamento);
Novo e completo material para a cadeira de Farmacologia, que assim toma novo e
moderno rumo, facilitando a resolução dos problemas de farmacodinâmica, que é
disciplina experimental, aplicada às clínicas, ficando a cadeira habilitada para
excelente curso experimental em 1930;
Criação de uma sala de conferências, convenientemente preparada, com
exaustores, escurecimento automático, com o melhor aparelho de projeção de
Zeiss, grande modelo, para qualquer espécie de projeção, e outro aparelho
aperfeiçoado de projeção cinematográfica. Ê a melhor sala de conferências da
capital, senão a única;
Instalações do novo laboratório de Farmácia Quimica, em sala nova, cadeira que
funcionou pela primeira vez em 1929 (Faculdade de Farmácia);
Instalação moderna de uma sala de aulas da cadeira de Prótese Dentária, com 24
carteiras aperfeiçoadas e bancos respectivos, para trabalho manual dos alunos, e
outros melhoramentos e aparelhagem (Faculdade de Odontologia);
Instalação de material moderno para a cadeira de Ortodontia (Faculdade de
Odontologia);
Instalação de material moderno para a cadeira de Terapêutica (Faculdade de
Odontologia);
Novas instalações e material moderno para a cadeira de Técnica Odontológica
(Faculdade de Odontologia).
No Hospital de São Francisco de Assis, onde funcionam algumas clínicas da
Faculdade de Medicina:
Instalação na cadeira de Terapêutica de modernos aparelhos de Fisioterapia;
Construção, em terrenos desse Hospital, do moderno pavilhão da Clinica de
Doenças Tropicais, excelente e completamente instalado para o estudo clinico e
especificado daquelas doenças infecciosas e parasitárias, que vai ser feito, em
conjunto, pela primeira vez, em enfermarias especialmente preparadas para tal
fim;
Reforma completa do serviço de Clinica Pediátrica Médica e Higiene Infantil, posta
ao nivel dos melhores serviços congêneres, posto que, em proporções modestas,
com boxes para contagiantes, camas para doentinhos de doenças
comuns, cozinha dietética para preparo de alimentos e dietas destinados às
crianças, banheiros e aparelhos sanitários próprios para crianças, laboratório de
pesquisas, aparelhos de fisioterapia etc.
COLÉGIO PEDRO II
No correr do ano de 1929, os trabalhos do Colégio Pedro II, quer no internato,
quer no externato, se fizeram com a habitual normalidade. Não houve exame
de admissão nem transferência de alunos, para ele, por determinação do
Governo. A matricula ficou em 346.
Não fora a decisão governamental, relativamente a matrículas, e, certo, o
número de alunos ascenderia ao máximo regulamentar, tal é a procura que o
Colégio Pedro II tem, já por seu renome, já pela modicidade de suas pensões.
INSTITUTO NACIONAL DE MÚSICA
O Instituto Nacional de Música funcionou regularmente.
Foi feita a restauração do grande órgão deste Instituto.
Com um componente de 75 figuras, entre professores, ex-alunos laureados e
alunos, realizou a orquestra do Instituto dois concertos sinfônicos, sob a
regência do Maestro Francisco Braga, professor catedrático de contraponto e
fuga, instrumentação e composição, sendo um a 2 de setembro e outro a 18 de
outubro.
Realizaram-se cinco exercícios públicos de alunos, 15 íntimos, para escolha dos
que devessem figurar naqueles.
Em 6 de setembro, realizou-se uma sessão solene para entrega de diplomas e
medalhas aos alunos laureados no ano escolar de 1928.
ESCOLA NACIONAL DE BELAS ARTES
O ensino neste estabelecimento, no ano findo, foi ministrado sem o atropelo
dos últimos anos, tendo desdobramento em turmas das cadeira práticas e
teórico-práticas contribuido para melhorar os cursos deste Instituto.
Há urgente necessidade de remodelação desta Escola, dando-se ainda maior
elevação e maior eficiência ao ensino, modificando-se a seriação e criando-se
cadeiras novas, tais como, entre outras, as de Urbanismo e Arte Decorativa,
como exigem as condições atuais do desenvolvimento da nossa cultura
artística.
A convite da Comissão Municipal de Belas Artes de Rosário de Santa Fé,
República Argentina, o Conselho Superior de Belas Artes resolveu incumbir-se
de enviar trabalhos dos nossos artistas, para o que distribuiu convites e
organizou uma exposição prévia.
Apesar da exigüidade do tempo, corresponderam a esse convite 72 artistas com 72
trabalhos, tendo excedido à expectativa o êxito da representação brasileira.
O júri do aludido certame não só premiou vários concorrentes brasileiros,
como adquiriu alguns dos trabalhos enviados.
Como é de suas atribuições, o Conselho organizou a 36ª Exposição Geral de Belas
Artes, que teve brilho excepcional.
A respectiva Comissão Organizadora, interessando-se vivamente pelo seu êxito, e
os membros dos júris das diversas seções, tomando a acertada deliberação de uma
rigorosa seleção nos trabalhos apresentados, conseguiram um conjunto harmonioso
e apreciável, correspondendo ao intuito dessas exposições, que é a educação
artistica do povo.
A nota interessante desse certame foi o auxílio particular. Com efeito, além dos
prêmios de animação constantes da lei orçamentária, na importância de 11000$,
concorreram com prêmios em dinheiro os Srs. Jorge de Souza Freitas, Alfredo
Lage, Procópio Ferreira, Casa Minerva e Sociedade Anônima "O Malho".
O Conselho Municipal votou um projeto, instituindo um prêmio de 15:000$,
para artistas expositores, naturais desta capital, o qual tomou a denominação
de "Prêmio da Cidade".
O Governo de Pernambuco criou um prêmio de 10000$ para o artista
pernambucano, cujos trabalhos, no Salão Oficial, o mereçam, a juizo do
Conselho Superior de Belas Artes.
Tal qual, como em anos anteriores, a Comissão Organizadora promoveu
conferências durante o periodo em que funcionou a Exposição, convidando, para
esse fim, os professores Fléxa Ribeiro, Adalberto Mattos, Raul Pederneiras,
Heloisa Alberto Torres e os Srs. Paulo Filho e Luiz Edmundo, que as realizaram,
com franco sucesso, ás quintas-feiras.
INSTITUTO NACIONAL DE SURDOS-MUDOS
Abertas as aulas, como preceitua o art. 13 do Regulamento, no dia 2 de março,
funcionou o Instituto Nacional de Surdos-Mudos com regularidade até 20 de
novembro, tendo havido, no decorrer do ano letivo, dois pequenos períodos de
férias, de 23 a 30 de junho e de 15 a 31 de julho.
Os programas adotados no ensino das disciplinas, que constituem o curso
literário deste Instituto, foram os mesmos dos anos anteriores.
Durante o ano de 1929, foi freqüentado por 69 alunos internos, os quais
cursaram as aulas e as oficinas com assiduidade e aproveitamento.
Foram desligados 14 alunos, ficando, portanto, 55 alunos, que passam para o
ano de 1930. O art. 60 do Regulamento determina que o Governo poderá
mandar admitir 40 alunos internos; por conseguinte, houve um excesso de 29
alunos.
O ensino profissional foi ministrado com regularidade e relativa eficiência nas
duas únicas oficinas: a de encadernação e ade sapateiro.
INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT
O Instituto Benjamin Constant, para cegos, iniciou seus cursos a 1º de abril,
com 104 alunos; durante o ano forarn admitidos 18, fazendo um total de 122,
assim classificados:alunos, 65;alunas 57.
Retiraram-se oito alunos: um por enfermidade, uma por incapacidade, dois por
ausência definitiva e quatro por terem terminado os estudos, findando o ano
com 114 alunos (62 alunos e 52 alunas).
Funcionaram cinco oficinas e a aula de trabalhos de agulha e outros artefatos.
Em virtude de autorização que deferiu o pedido para o encerramento dos
cursos antes do periodo regulamentar, os exames começaram a 9 de dezembro
e terminaram a 19 de mesmo mês, com toda a regularidade. Somente não
houve exame da cadeira de violoncelo e contrabaixo, porque o único aluno,
que a freqüenta, devido a moléstia, perdeu o ano, pelo elevado número de
faltas.
No edifício, foram executadas as obras exigidas pelo Departamento da Saúde
Pública, sendo satisfeitas as despesas com os recursos consignados na
respectiva verba.
As obrigações afetas à Secretaria são múltiplas, e um único funcionário nela
existente não pode dar cumprimento às exigências do serviço, devido ao
grande aumento de trabalho e acréscimo de expediente.
ESCOLA QUINZE DE NOVEMBRO
A Escola Quinze de Novembro continuou a merecer, em 1929, a mesma
atenção do Governo.
MOVIMENTO DE ALUNOS
Passaram de 1928 para 1929...................................................................... 417
Forarn desligados durante o ano................................................................. 119
Foram matriculados durante o ano ..............................................................97
Passaram para 1930....................................................................................395
Dos que se ausentaram, 34 haviam completado a idade legal e obtiveram
caderneta de reservista no próprio estabelecimento. Numerosos deles acham-se
empregados e vários prosseguem estudos em escolas mais adiantadas. Alguns foram
colocados em modestos empregos na Escola.
Funcionaram regularmente todas as classes do curso primário, em número de 12, e
as diversas oficinas.
INSTITUTO SETE DE SETEMBRO
O Instituto Sete de Setembro (Abrigo de Menores) continua a prestar os
serviços que a lei lhe destinou.
O movimento de internação de menores, no periodo de janeiro a dezembro do ano
findo, foi o seguinte:
Internados..................................................................................................847
Desligados................................................................................................ 701
Existentes em janeiro de 1929...................................................................406
Menores que permaneceram atendendo às internações e aos desligamentos 146
Total de menores verificado em janeiro de 1930....................................... 552
Foi ai inaugurado um curso primário, com instalação de quatro salas de aula, tendo
sido ministrada a instrução a uma média de 240 menores.
Funcionou, regularmente, a aula de música, com uma freqüência aproximada de 70
menores.
'Getúlio Dornelles Vargas
Presidência de 3.11.1930 a 29.10. 1 945
1933
Mensagem apresentada á Assembléia Constituinte pelo Chefe do Governo
Provisório, Getúlio Dornelles Vargas, no ato de sua instalação
Se o problema do trabalho escravo teve solução, ainda que defeituosa e tardia, o
mesmo não aconteceu com o da educação popular, quase completamente
esquecida, até no seu aspecto mais elementar, o ensino primário. No projeto da
Constituição de 1823, fora ele encarado de frente e praticamente, estabelecendo-se
a criação obrigatória de aulas públicas nos termos, e liceus nas sedes de todas as
comarcas. A Constituição outorgada eliminou, porém, essa sábia disposição, que,
adotada e cumprida, teria, pelo menos, evitado os males do analfabetismo.
Em resumo, o Império encerrou a sua atividade, deixando insolúveis os dois
maiores problemas nacionais: o da organização do trabalho livre e o da educação.
Ao balancear, na primeira parte desta Mensagem, as realizações do regime
monárquico, deixei acentuado que o pais, de pois de meio século de vida política
independente, estava ainda com os dois problemas capitais da sua organização para
resolver: o trabalho e a educação. Apresenta-se, agora, o ensejo de abordar o
segundo - a educação - pois do primeiro já tratei no capítulo reservado às
atividades do Governo Provisório, através do Ministério do Trabalho, Indústria e
Comércio, nova Secretaria criada juntamente com a de Educação e Saúde Pública,
refletindo ambas a preocupação de encarar seriamente a solução desses dois
importantes problemas nacionais.
Julgo inteiramente oportunas, e devo transcrevê-las, as considerações que o magno
assunto me sugeriu, quando, em recente discurso pronunciado na capital da Bahia,
procurei focalizá-lo em toda sua complexidade, relevância e aspectos:
"Todas as grandes nações, assim merecidamente consideradas, atingiram nível
superior de progresso, pela educação do povo. Refiro-me à educação, no
significado amplo e social do vocábulo: física e moral, eugênica e cívica,
industrial e agrícola, tendo, por base, a instrução primária de letras e a
técnica e profissional.
Nesse sentido, até agora, nada temos feito de orgânico e definitivo. Existem
iniciativas parciais em alguns Estados, embora incompletas e sem
sistematização. Quanto ao mais, permanecemos no domínio ideológico das
campanhas pró-alfabetização, de resultados falhos, pois o simples
conhecimento do alfabeto não destrói a ignorância nem conforma o caráter.
Há profunda diferença entre ensinar a ler e educar. A leitura é ponto inicial
da instrução e essa, propriamente, só é completa quando se refere à
inteligência e à atividade. O raciocínio, força máxima da inteligência, deve ser
aperfeiçoado, principalmente por sabermos que o trabalho manual também o
exige, pronto e arguto. Não deixa de haver certo fundo de verdade na
afirmação do psicólogo: "O homem que conhece bem um ofício possui, só
por esse fato, mais lógica, mais raciocínio e mais aptidão para refletir do que o
mais perfeito dos retóricos ".
A instrução que precisamos desenvolver, até o limite extremo das nossas
possibilidades, è a profissional e técnica. Sem ela, sobretudo, na época
caracterizada pelo predomínio da máquina, é impossível trabalho organizado.
A par da instrução, a educação: dar ao sertanejo, quase abandonado a si
mesmo, a consciência dos seus direitos e deveres; fortalecer-lhe a alma,
convencendo-o que existe solidariedade humana; enrijar-lhe o físico pela
higiene e pelo trabalho, para premiá-lo, enfim, com a alegria de viver,
proveniente do conforto conquistado pelas próprias mãos.
No Brasil, o homem rude do sertão, sempre pronto a atender aos reclamos da
Pátria nos momentos de perigo, é matéria-prima excelente e, se vegeta
decaído e atrasado, culpemos a nossa incúria e imprevidência. Por vezes, o seu
aspecto é miserável, mas, no corpo combalido, aninha-se a alma forte que
venceu a natureza amazônica e desbravou o Acre. Em algumas regiões, vêmo-
lo quebrantado pelas moléstias tropicais, enfraquecido pela miséria, mal
alimentado, indolente e sem iniciativa, como se fosse um autômato. Dai a esse
espectro farta alimentação e trabalho compensador; criai-lhe a capacidade de
pensar, instruindo-o, educando-o, e rivalizará com os melhores homens do
mundo. Convençamo-nos de que todo brasileiro poderá ser um homem
admirável e um modelar cidadão. Para isso conseguirmos, há um meio,
uma só terapêutica, uma só providência: -é preciso que todos os brasileiros
recebam educação.
Relembrai o exemplo do Japão. O imperador Mutuzahito, certo dia, baixou
um édito determinando "fosse o saber procurado no mundo onde quer que
existisse, e a instrução difundida de tal forma que em nenhuma aldeia restasse
uma só família ignorante e que os pais e irmãos mais velhos tivessem por
entendido que lhes cabia o dever de ensinar os seus filhos e irmãos mais
moços".
O imperador foi obedecido. O milagre da instrução, em pouco mais de 40 anos,
de 1877 a 1919, com que a exportação e a importação do país
centuplicassem; o Japão vencia a Rússia e entrava para o rol das grandes
potências.
É dever do Governo Provisório interessar toda a Nação, obrigando-a a
cooperar, nas múltiplas esferas em que o seu poder se manifesta, para a
solução desse problema.
Anda em moda afirmar-se que a educação é corolário da riqueza, quando o
contrário expressa maior verdade. Exemplificam com o caso dos Estados
Unidos, onde a difusão do ensino primário consome orçamentos anuais que
atingem cerca de 26 milhões de contos da nossa moeda, e concluem que,
entre nós, a questão é insolúvel pelo vulto das despesas que exige,
incompatível com a nossa carência de recursos. Em resumo, sustentam: -
educação completa só pode existir em nações opulentas. A argumentação é
sofistica. A nossa vitória, nesse terreno, consistirá em começarmos como a
grande nação americana começou, e continuarmos, resolutos e tenazes, como ela
prosseguiu, até o fastigio de noje.
A verdade é dura, mas deve ser dita. Nunca, no Brasil, a educação nacional foi
encarada de frente, sistematizada, erigida, como deve ser, em legitimo caso de
salvação pública.
E oportuno observar. Aos Estados coube velar pela instrução primária; quase
todos contraíram vultosos empréstimos, acima das suas possibilidades financeiras.
Da avalanche de ouro com que muitos se abarrotaram, abusando do crédito, qual
o numerário distraído para ampliar ou aperfeiçoar o ensino? Esbanjavam-no em
obras suntuárias em organizações pomposas e, às vezes, na manutenção de
exércitos policiais, esquecidos de que o mais rendoso emprego de capital é a
instrução.
Sem a necessidade de vastos planos de soluções absolutas, porém, impraticáveis
na realidade, procuremos assentar em dispositivos eficientes e de aplicação
possível todo o nosso aparelhamento educador.
A instrução, como a possuímos, é lacunosa. Falha no seu objetivo primordial:
preparar o homem para a vida. Nela devia, portanto, preponderar o ensino que
lhe desse o instinto da ação no meio social em que vive. Ressalta, evidentemente,
que o nosso maior esforço tem de consistir em desenvolver a instrução primária
e profissional, pois, em matéria de ensino superior e universitário, nos moldes
existentes, possuímo-lo em excesso, quase transformado em caça ao diploma. O
doutorismo e o bacharelato instituíram uma espécie de casta privilegiada, única
que se julga com direito ao exercicio das funções públicas, relegando, para
segundo plano, a dos agricultores, industriais e comerciantes, todos, enfim, que
vivem do trabalho e fazem viver o pais.
É óbvio que para instruir é preciso criar escolas. Não as criar, porém, segundo
modelo rígido, aplicável ao país inteiro. De acordo com as tendências de cada
região e o regime de trabalho dos seus habitantes, devemos adotar os tipos de
ensino que lhes convêm: nos centros urbanos, populosos e industriais - o técnico
profissional, em forma de institutos especializados e liceus de artes e ofícios; no
interior - rural e agricola, em forma de escolas, patronatos e intematos. Em
tudo, com o caráter prático e educativo, dotando cada cidadão de um oficio que
o habilite a ganhar, com independência, a vida ou transformando-o em um
produtor inteligente de riqueza, com hábitos de higiene e de trabalho,
consciente do seu valor moral.
Atingimos o ponto onde os pessimistas habituaram-se a encontrar dificuldades
de tôda sorte. Refiro-me aos recursos indispensáveis para organizar e manter
semelhante aparelho educativo, cujo desenvolvimento pode ser graduado de
acordo com as possibilidades financeiras do país.
Nesse terreno, mais do que em qualquer outro, convém desenvolver o espírito
de cooperação, congregando os esforços da União, dos Estados e dos
Municípios. Quando todos, abstendo-se de gastos suntuários e improdutivos,
destinarem, elevada ao máximo, uma percentagem fixa de seus orçamentos
para prover as despesas da instrução, teremos dado grande passo para a
solução do problema fundamental da nacionalidade. Comprovando o interesse
do Governo Provisório, a respeito, é oportuno ressaltar que o decreto
destinado a regular os poderes e atribuições dos Interventores determina que
os Estados empreguem 10%, no minimo, das respectivas rendas na instrução
primária e estabelece a faculdade de exigirem até 15% das receitas municipais
para aplicação nos serviços de segurança, saúde e instrução públicas, quando
por eles exclusivamente atendidos.
Concertada a cooperação dos poderes públicos federais, estaduais e
municipais, restaria apenas atribuir à União o direito de organizar e
superintender, fiscalizando-os, todos os serviços de educação nacional.
A ação isolada dos governantes não basta para transmudar, em realidade
fecunda, empreendimento de tal alcance e tamanha magnitude. É preciso
criar uma atmosfera propícia e acolhedora, permitindo a colaboração de
todos os brasileiros nesta obra eminentemente nacional.
O Governo Federal pretende instalar a Universidade Técnica, verdadeira
cidade e colmeia do saber humano, de onde sairão as gerações de professores e
homens de trabalho, capazes de imprimir à vida nacional o sentido realizador
das suas aspirações de expansão intelectual e material".
ENSINO PRIMÁRIO
Devemos repetir que educar não consiste somente em ensinar a 1er. O
analfabetismo é estigma de ignorância, mas a simples aprendizagem do
alfabeto não basta para destruir a ignorância. A massa de analfabetos, peso
morto para o progresso da nação, constitui mácula que nos deve envergonhar.
É preciso confessá-lo corajosamente, toda a vez que se apresentar ocasião.
Cumpre fazê-lo aqui, não para recriminar inutilmente, mas apenas para nos
convencermos de que o ensino è matéria de salvação pública.
Quero referir-me, evidentemente, ao ensino primário, básico para qualquer
processo de instrução. Substituindo as palavras pela evidência dos algarismos,
restrinjo o comentário sobre a sua tremenda deficiência e desorganização aos
dados e confrontos estatísticos mais recentes.
Sobre o ensino primário, os informes obtidos pelo Ministério da Educacão
correspondendo a 1931, assinalavam o seguinte movimento:
Ensino geral, 20.918 escolas públicas e 7.632 particulares, com 54.337
professores, 2.020.931 alunos matriculados, 1.564.522 freqüentes e 122.458 que
terminaram o cuno. Além dessas, havia mais 620 escolas de ensino semi-
especializado e especializado, com 3.960 professores, 59.416 alunos
matriculados, 49.521 em frequência e 4.980 que concluiram o curso.
Levando em conta somente o que diz respeito aos alunos dos cursos primários de
ensino geral, que é o assunto precípuo destas considerações, verificam-se os
seguintes resultados proporcionais, de acordo com os elementos definitivos de
1931: habitantes - por escola 1.448, por docente 763, por aluno matriculado 21,
por aluno freqüente 27, por aluno que concluiu o curso 338; alunos por escola:
matriculados 71, freqüentes 55, que concluíram o curso 4; de 1.000 alunos
matriculados, foram freqüentes 774 e chegaram ao final do curso 61; de 1.000
alunos freqüentes, foram aprovados apenas 78 nos exames finais.
Nas condições atuais, a capacidade teórica do nosso aparelho escolar, para o
ensino primário, não pode ir além de 10% da massa demográfica. Segundo o
cálculo de 40 milhões para a nossa população, deveríamos contar 4 milhões
de educandos. As estatisticas, consignando a matricula de mais de 2 milhões,
demonstram um desenvolvimento superior a 50% da população total, como
curva representativa do estudo das primeiras letras.
Não é tão favorável, no entanto, como poderia parecer, à primeira vista, a
significação exata desse índice.
Os dados estatísticos vêm contrabalançá-lo, patenteando dolorosas surpresas: de
todos os alunos matriculados apenas 77% auferem, de fato, os benefícios da
escola e conseguem a completa educação do primeiro grau, ainda assim tão falha e
desigual, na insignificante quota de 6% Os restantes que freqüentam as escolas
não vão, em geral, além do segundo periodo de estudos.
De modo mais frisante, pode-se determinar que, entre 1.000 brasileiros aptos para
receberem a educação cultural elementar, 513 não ingressam na escola e dos 487
retantes 110 matriculam-se, mas não freqüentam os cursos; 178 freqüentam o
primeiro ano de estudos, não chegando bem a 1er; 85 freqüentam somente até o
segundo ano, alfabetizando-se muito superficialmente; 84 vão um pouco além,
mas não chegam a concluir os estudos; e apenas 30 adquirem integralmente a
instrução elementar comum, assim mesmo em condições de grande desigualdade
de aproveitamento e reconhecida eficiência, atinente à profundidade do ensino,
que não se prolonga, em média, além de três anos, com todas as lacunas
pedagógicas da maior parte das escolas do interior.
DISTRIBUIÇÃO DAS ESCOLAS DE ENSINO PRIMÁRIO
Unidades políticas da Federação Públicas Particulares Total
Amazonas........................................
Bahia ..............................................
Ceará..............................................
Espírito Santo.................................
.
Goiás ..............................................
Maranhão .......................................
.
Mato Grosso...................................
.
Minas Gerais ..................................
.
Pará................................................
.
Paraíba...........................................
.
Pernambuco .................................
Piauí ...............................................
Rio Grande do Norte ......................
328 377
348
1.543
752 778
204 403
186
2.607
593 427
1.143
1.469
145
1.536
264
3.073
958
3.535
315
80
586
170
93
531
133
68
18
401
113
813
295
113
121
550
7
488
211
1.443
313
1.576
52
11
914
547
441
2.074
885
846
222
804
299
3.420
888
540
1.264
2.019
152
2.024
475
4.516
1.271
5.111
367
91
21.064 8.106 29.170
Diante da realidade destas cifras, não cabem conjeturas otimistas. Não é
possível ensinar sem escolas. O número das existentes está muito aquém
das necessidades.
O problema da educação do povo continua a ser, ainda e sempre, o nosso
magno problema. No momento em que se vai reorganizar a vida política
do país, torna-se de evidente oportunidade lembrá-lo e trazê-lo à
consideração da Assembléia Nacional Constituinte, que, certamente,
procurará dar-lhe solução completa e definitiva. Não temos o direito de
postergar indefinidamente essa solução. A dolorosa verdade ai está,
desdobrada perante a nação, desafiando, com toda a trama da sua
complexidade angustiante, a nossa maior soma de boa vontade e energia.
ENSINO SECUNDÁRIO E SUPERIOR
O ensino secundário, nos seus diversos graus, comporta orientação semelhante.
Entre nós, falhava pelo caráter de exclusiva preparação para o ensino superior.
A função de natureza educativa, que lhe é essencial e consiste em preparar a
inteligência e o espírito crítico para o estudo e solução dos problemas impostos
pela vida, foi sempre relegada a segundo plano.
Tendo em vista corrigir essa deficiência, o Governo Provisório elaborou a
reforma que se acha em vigor e que tem por fim integrar o ensino secundário na
sua verdadeira finalidade, isto é, na função de formar a mocidade para agir, com
eficiência, no meio em que tiver de aplicar a sua atividade.
A remodelação foi radical e atingiu, também, ao ensino superior, estabelecendo
as bases do regime universitário. O Conselho Nacional de Educação, instituído
simultaneamente, deverá atuar como órgão coordenador e orientador de toda
atividade oficial concernente aos problemas de educação.
As principais modificações da reforma introduzida na organização do ensino
secundário podem ser apreciadas nas seguintes enunciações:
a) revisão e remodelação dos problemas e planos de ensino;
b) maior duração do período letivo, que passou a ter sete anos, ao invés de cinco
e seis;
c) maior desenvolvimento na parte educativa;
d) seriação mais racional das matérias e melhor graduação do ensino;
e) divisão do curso em duas partes: a primeira de cinco anos, comum e
fundamental, e a segunda, de dois anos, constituindo a indispensável
adaptação dos candidatos aos cursos superiores e dividido em três seções,
com as matérias respectivas agrupadas de acordo com a orientação
profissional do estudante, sem prejuizo das destinadas à cultura geral,
extensivas às três seções.
Cuidou-se, ainda, do selecionamento do professorado e da uniformização dos
métodos pedagógicos.
As vantagens da reforma são evidentes e a sua execução já produziu, nestes
três anos, resultados plenamente satisfatórios.
ATIVIDADE DA NOVA SECRETARIA
Criado pelo Decreto nº 10.402, de 14 de novembro de 1930, o Ministério da
Educação e Saúde Pública entrou logo em atividade.
No decurso de 1931, enquanto se procurava completar a estrutura
administrativa do novo departamento, várias foram as iniciativas levadas a
efeito para reorganizar e imprimir maior eficiência aos serviços de educação e
saúde públicas.
Assim, no que diz respeito ao ensino, criou-se, pelo Decreto nº 19.850, o
Conselho Nacional de Educação, estabelecendo-se as bases estatutárias que
devem presidir o regime universitário introduzido no sistema educacional
brasileiro.
O Decreto nº 19.852 deu nova organização à Universidade do Rio de Janeiro,
ampliando-lhe as possibilidades com a inclusão, no respectivo quadro, da
Escola de Minas de Ouro Preto, da Escola Nacional de Belas Artes e do
Instituto Nacional de Música, e pelo concurso de várias instituições culturais
independentes, tais como o Instituto Oswaldo Cruz, o Museu Nacional, o
Observatório Nacional, o Serviço Geológico e Mineralógico e outros
estabelecimentos que, em virtude dos mandatos universitários, passaram a
cooperar no desenvolvimento do ensino superior, facilitando os cursos de
especialização e aperfeiçoamento.
Em relação ao ensino secundário, cumpre citar a reforma promulgada pelo
Decreto nº 19.890, à qual já nos referimos pormenorizadamente. Completou-
se essa reforma com disposições complementares aprovadas pelos decretos n
os
20.496 e 20.630, o último dos quais modificou as condições para o registro
provisório de professores.
O ensino comercial passou pela reforma consubstanciada no Decreto nº
20.158, de 30 de junho de 1931, que fixou novos padrões relativos à
organização dos cursos, e as exigências indispensáveis para o reconhecimento
oficial dos institutos destinados à preparação de candidatos às atividades
profissionais de caráter comercial.
Ainda no ano de 1931, deram-se novos regulamentos ao Museu Nacional, ao
Departamento de Medicina Experimental (Instituto Oswaldo Cruz);
promulgou-se o ato que permitiu o ensino religioso nas escolas e aprovou-se
oficialmente o acordo que, visando a simplificação ortográfica, fora firmado
entre a Academia Brasileira de Letras e ade Ciências de Lisboa, e regulou-se
o serviço de radiodifusão educativa.
Por iniciativa e sob o patrocínio do Governo, reuniu-se, nesta Capital, em
setembro último, a Conferência Nacional de Proteção à Infância, com a
presença dos representantes oficiais de todas as unidades federativas. Com subido
empenho e alto descortino, revelando ao mesmo tempo notável interesse pelo
complexo problema, a Conferência realizou obra de inestimável mérito,
consubstanciando, em cláusulas precisas, sugestões práticas a indicar aos poderes
públicos os métodos e diretriz a seguir na obra de proteção da infância brasileira.
1935
Mensagem apresentada ao Poder Legislativo pelo Presidente da República, Getúlio
Dornelles Vargas, no dia 3 de maio de 1935
O Ministério da Educação e Saúde Pública não dispõe ainda de organização que lhe
permita atuar, com segurança e proveito imediato, em todos os setores da vida
nacional, onde a sua intervenção, em matéria de ensino e processos educativos, se
faz necessária e urgente. Fundado em fins de 1930, com a reunião de numerosas
repartições pertencentes a outros Ministérios, foi submetido sucessivamente a
diversas reformas parciais, visando melhorar e ampliar os serviços a seu cargo.
Algumas dessas reformas verificaram-se já nos últimos dias do Governo Provisório.
Não houve, assim, tempo de recolher os ensinamentos da experiência, através das
medidas postas em prática, para apli-los em proveito da maior eficncia dos
serviços.
Por outra parte, as atribuições do Ministério, a partir de sua criação, foram-se
ampliando consideravelmente, tanto em conseqüência dos atos do Governo
Provisório, como por força da Constituição Federal, que veio tomar mais
profunda e dilatada a sua atuação.
Cumpre, ainda, acentuar que essa atuação não se exerce apenas em dois
setores, como parece à primeira vista, mas em três, tecnicamente distintos — a
educação popular, a saúde pública e a assistência social - exigindo cada qual
atividades especiais, todas visando uma única finalidade - a cultura do homem
brasileiro.
Tão superior e complexo objetivo somente se poderá atingir desenvolvendo
vasto programa de ação.
Ajustado a esse programa, bem definidas as suas funções, selecionados os
elementos já reunidos, rearticulados outros que lhe são indispensáveis e
aproveitadas as experiências reconhecidamente úteis, poderá, então, esse
Ministério estruturar-se em moldes racionais e definitivos.
O plano de remodelação está em estudos e será submetido oportunamente à
consideração do Poder Legislativo. Orienta-o a preocupação predominante de
criar um aparelho capaz de funcionar como instrumento eficiente do
aperfeiçoamento da raça brasileira e destinado a ser, em verdade, o ministério
da cultura nacional.
EDUCAÇÃO NACIONAL
A Constituição Federal, em dispositivos claros e precisos, encarou de frente o
problema da educação nacional.
Não podia, evidentemente, descer a detalhes ao estabelecer as atribuições
conferidas à União e aos Estados. Delimitou, entretanto, essas atribuições e
ao mesmo tempo fixou os lineamentos gerais do plano nacional de educação,
compreensivo do ensino de todos os graus e ramos, comuns e especializados.
Ao Conselho Nacional de Educação deu, ainda, o texto constitucional com-
petência para elaborar o referido plano, a fim de ser submetido à aprovação
do Poder Legislativo. Conhecida a relevância dos interesses que o assunto
envolve, pelo seu alcance e repercussão na vida do pais, é de esperar que, em
breve, possa todo o nosso aparelhamento de ensino orientar-se decisivamente
dentro dos rumos que forem traçados para a solução de problema tão
importante e urgente.
O Ministério da Educação e Saúde Pública já dispõe de um departamento, a
Diretoria Nacional de Educação, criada pelo Decreto nº 24.439, de 21 de
junho de 1934, cujas atividades se estendem ao exame das condições
materiais e didáticas dos educandários, às questões ligadas à formação e
recrutamento do professorado, à organização e revisão dos programas de
ensino, à elaboração de testes para os cursos secundários e comerciais e à
fiscalização dos processos educativos e de instrução, em todo o pais. A ação que
esse departamento está destinado a exercer só resultará, entretanto,
completamente proveitosa, quando existir o plano de educação nacional
previsto e mandado elaborar pela Constituição Federal.
Ensino Superior
É cada vez maior o número de estudantes que buscam as profissões liberais. Dai
o desenvolvimento crescente do ensino superior, a ponto de se tornarem
insuficientes os estabelecimentos existentes, estimulando isso a fundação de
novos institutos.
O incremento do ensino superior não pode constituir, por enquanto, motivo de
alarma. Estamos ainda longe de alcançar o grau de saturação que, noutros
paises, vem transformando os profissionais diplomados numa classe parasitária
e sem aproveitamento econômico. Ê indispensável, entretanto, elevar cada vez
mais a qualidade do ensino, por ser ele o principal instrumento de formação das
nossas elites intelectuais e dos técnicos das profissões de maior
responsabilidade na vida social.
REGIME UNIVERSITÁRIO
A organização universitária vem se desenvolvendo normalmente.
A última iniciativa que lhe diz respeito é a fundação da Universidade Técnica
Federal.
Agrupando, sob essa denominação, a Escola Politécnica, a Escola de Minas e a
Escola Nacional de Quimica, de modo a formarem um único sistema, ao qual
deverão ser anexados oito institutos de pesquisas técnico-cientificas, teve em
mira o Governo atender às crescentes necessidades da nossa organização
industrial, cujo progresso necessariamente depende da qualidade e abundância
dos elementos técnicos aproveitáveis. Buscou, assim, ampliar as possibilidades
abertas aos estudantes de engenharia e carreiras afins e facilitar, ao mesmo
tempo, aos empreendimentos de caráter industrial, condições de êxito que só a
formação profissional em institutos dessa natureza poderá assegurar.
Promulgada a Constituição Federal, julgou-se, porém, mais acertado aguardar,
antes de qualquer providência executiva, a fixação do plano nacional de
educação, no qual naturalmente se enquadrará essa nova forma de organização
universitária.
Ensino Secundário
O Decreto nº 24.439, de 21 de junho de 1934, estabeleceu o processo de
inspeção dos estabelecimentos de ensino secundário oficialmente
reconhecidos, criando a Superintendência do Ensino Secundário, que passou,
desde 29 de maio de 1933, a exercer todos os atos até então atribuídos ao
Departamento Nacional do Ensino.
Demonstrada a necessidade da manutenção desse serviço em caráter
permanente, regulamentou-se o decreto referido, expedindo-se o de nº
24.734, de 14 de julho de 1934.
Até dezembro de 1934, eram em número de 379 os estabelecimentos de
ensino secundário fiscalizados pelo Ministério da Educação e Saúde Pública,
assim distribuídos pelo Distrito Federal e pelos estados: Amazonas,2; Pará,
4;Maranhão, 3; Piauí, 3; Ceará, 7; Rio Grande do Norte, 3; Paraíba, 4;
Pernambuco, 21 ; Alagoas, 2; Sergipe, 3; Bahia, 14; Espírito Santo, 6; Rio de
Janeiro, 24; Distrito Federal, 60; São Paulo, 119; Paraná, 9; Santa Catarina, 6;
Rio Grande do Sul, 22; Minas Gerais, 59; Mato Grosso, 5; Goiás, 3.
Ainda no mesmo ano, foram apresentadas à Inspetoria Geral do Ensino
Secundário 64 petições de reconhecimento para um número igual de
educandários, compreendendo:Pará, 2;Maranhão, 3; Ceará, 1;Pernambuco, 6;
Bahia, 2; Espírito Santo l;Rio de Janeiro, 2; São Paulo, 29; Paraná, 1; Santa
Catarina, 1 ¡Minas Gerais, 8;Mato Grosso, 1.
Atingiu a 65.788 o número de estudantes matriculados, em 1934, nos
estabelecimentos de ensino secundário, sob inspeção federal, distribuídos da
seguinte forma: Amazonas, 603; Pará, 1.124; Maranhão, 803;Piaui, 501;
Ceará, 1.203;Rio Grande do Norte, 454; Paraíba, 612;Pernambuco, 3.848;
Alagoas, 472;Sergipe, 537;Bahia, 3.159;Espírito Santo, 661 ¡Rio de Janeiro,
4.388;Distrito Federal, 11.493; São Paulo, 18.691 ¡Paraná, 2.206;Santa
Catarina, 534; Rio Grande do Sul, 4.227; Minas Gerais, 9.051 ; Goiás, 381.
Dos 65.788 estudantes matriculados nos estabelecimentos já referidos
pertenciam ao sexo masculino 54.601 e ao sexo feminino 11.187.
0 número de cursos noturnos, sob regime de inspeção, não passou de 7, em
1934, com um quadro de matrículas de 1.215 alunos.
Ensino Comercial
Estimulado por diversos fatores e principalmente pela necessidade cada vez
mais urgente de possuírem quantos empregam a sua atividade no comércio
conhecimentos especiais, o ensino comercial vai adquirindo considerável
incremento.
Existem atualmente, em todo o país, 248 estabelecimentos dessa categoria,
assim distribuidos: Amazonas, 3; Pará, 5;Maranhão, 2; Ceará, 5; Rio Grande do
Norte, 2;Piauí, l;Sergipe, 1; Alagoas, 1; Bahia, 4;Paraíba, 2; Pernambuco,
8;Espírito Santo, 3;Goiás, l;Mato Grosso, 2.Distrito Federal, 43;Rio de
Janeiro, 10; São Paulo, 99;Minas Gerais, 30;Paraná, 3; Santa Catarina, 5; Rio
Grande do Sul, 18.
Desses institutos, 126 mantêm o curso de admissão, 175 o propedêutico, 30
o de secretariado, 25 o de guarda-livros, 113 o de perito-contador e 14 todos
os cursos, inclusive o superior, de administração e finanças.
A matrícula geral atingiu a 32.014 alunos, sendo 5.560 nos cursos de admissão,
16.724 nos cursos propedêuticos, 459 nos de secretário, 671 nos de guarda-
livros, 8.333 nos de perito-contador e 267 nos demais cursos.
A Inspetoria Geral do Ensino Comercial, incumbida de fiscalizar esse ramo do
ensino, vem se desempenhando satisfatoriamente das suas atribuições.
Ensino Industrial
Pelo Decreto n°. 24.558, de 3 de julho de 1934, deu-se nova organização ao
aparelho diretor do ensino industrial. Buscou-se atender por melhor forma às
exigências do nosso desenvolvimento industrial, no que concerne ao preparo de
operários artífices, instruídos em boas condições técnicas e aptos para trabalhar
utilmente.
O Decreto referido teve em vista promover mais intima relação entre o Estado e
as organizações industriais, com o objetivo de melhorar a adaptação da
aprendizagem prática dos ofícios às indústrias locais. Prevê, ainda, o
estabelecimento de bolsas escolares e a criação de internatos nos educandários
das capitais, para permitir aos operários do interior, onde o ensino industrial não
está amplamente difundido, o ingresso e freqüência nas seções de
especialização.
A União mantém, em cada Estado, exceto no Rio Grande do Sul, uma escola de
aprendizes artífices, e, no Distrito Federal, a Escola Normal de Artes e Oficios
Wenceslau Braz, destinada ainda à formação do pessoal docente das demais.
A matrícula nas escolas de aprendizes artífices ascendeu, em 1934, a 5.458
alunos, e na Escola Wenceslau Braz, a 307. A produção industrial desses
estabelecimentos atingiu cerca de 459.-900$000.
Mensagem apresentada ao Poder Legislativo pelo Presidente da República, Getúlio
Dornelles Vargas, no dia 3 de maio de 1936
Em primeiro lugar, será feito, de modo sumário, o relato das ocorrências que, no
ano de 1935, se apresentam mais dignas de nota.
ADMINISTRAÇÃO GERAL
As atividades de administração geral do Ministério da Educação e Saúde
Pública decorreram de forma normal e satisfatória.
A situação do pessoal fixo e variável, compreendendo trabalhadores e diaristas,
foi objeto de detido estudo, que ainda continua a ser feito, tendo em vista
verificar as deficiências existentes quanto à distribuição de funções e disparidade
de remuneração.
Exame semelhante se procede quanto ao material, que, sendo complexo e
numeroso, apresenta dificuldades de padronização, que deverão ser removidas com
vantagens de economia, rapidez e ordem para o serviço.
Procede-se ainda à remodelação dos serviços de contabilidade.
SERVIÇOS DE EDUCAÇÃO
Atividades de Direção
Segundo a organização vigente, são órgãos diretores dos serviços de educação a
Diretoria Nacional de Educação, na Secretaria de Estado, e, no conjunto das
repartições ministeriais, a Inspetoria Geral do Ensino Superior, a Inspetoria Geral
do Ensino Secundário, a Inspetoria Geral do Ensino Comericial, a Inspetoria Geral
do Ensino Emendativo e a Superintendência do Ensino
Industrial, não se achando ainda instaladas a Inspetoria Geral do Ensino
Superior e a Inspetoria Geral do Ensino Emendativo.
DIRETORIA NACIONAL DE EDUCAÇÃO
Criada pelo Decreto nº 24.439, de 21 de junho de 1934, a Diretoria Nacional de
Educação vem procurando as suas finalidades essenciais, não só no tocante às
investigações e pesquisas dos assuntos técnicos de educação, mas também no que
se refere à parte puramente administrativa e de inspeção do ensino.
Duas seções técnicas conseguiram, em menos de um ano de regular
funcionamento, focalizar assuntos de relevante importância, tais como:
a) Realização de um inquérito sobre a situação dos professores do ensino
secundário, para servir de base à regulamentação dos contratos a que se refere
o art. 53 do Decreto nº 21.241, de 4 de abril de 1932. b) Inquérito sobre a
organização do ensino secundário em colaboração com as
inspetorias regionais do Distrito Federal. c) Inquérito sobre o regime
alimentar nos intematos do Distrito Federal. d) Lançamento debases para
um inquérito sobre programas do curso
secundário fundamental. e) Plano de um estudo experimental sobre iluminação
e ventilação das salas
de aula.
f) Estatística da distribuição, por sexo e idade, dos alunos do curso
secundário.
g) Estabelecimento das condições materiais e didáticas dos cursos secundários
complementares.
h) Pesquisas sobre a aplicação de 20% das rendas estaduais nos serviços de
educação. i) Estudo sobre as condições de eficiência do ensino
primário no pais.
INSPETORIA GERAL DO ENSINO SECUNDÁRIO
O ensino secundário continua a ter desenvolvimento compatível com as
possibilidades gerais do pais. A partir de 1932, periodo inicial da reforma
elaborada em 1931, o número de educandários reconhecidos pelo Governo
Federal foi o seguinte: em 1932, 277;em 1933, 315; em 1934, 382;e, em
1935, 440. Este ano atingirá, provavelmente, a meio milhar. A esse aumento
corresponde elevação proporcional do número de matrículas: 52.280, em
1932; 60.247, em 1933; 65.354, em 1934; e 79.835, em 1935. Indaga-se-á,
possivelmente, a esse progresso de algarismos correspondeu melhoria positiva
nos métodos de ensino e no rendimento escolar. Seria
precipitado responder pela negativa, sem embargo das conhecidas deficiências
do ensino secundário, que vem exigindo constante atenção dos poderes
públicos. Ampliou-se, certamente, o circulo da cultura média geral, não
podendo, entretanto, dizer-se que esta se haja aprofundado e sistematizado. A
vida de ginásio afigura-se, ainda, à maioria dos estudantes, estágio forçado e
pouco agradável. Domina-os a preocupação de passar o mais depressa possível
ao curso superior, onde, infelizmente, só uma restrita minoria consegue obter
formação profissional completa e eficiente.
Procurando corrigir os efeitos dessa errônea concepção das finalidades do
curso propedêutico, providenciou-se para a instalação das chamadas classes
complementares nos estabelecimentos oficiais, equiparados e sob inspeção
permanente, e nos cursos anexos às escolas superiores.
Outras medidas foram e continuam sendo postas em prática. Ativou-se o
registro de professores, mediante mais rigorosa fiscalização de títulos e
aptidões. Negou-se inspeção permanente a quase uma centena de
estabelecimentos, por falta do cumprimento de exigências legais.
INSPETORIA GERAL DO ENSINO COMERCIAL
O número de escolas de comércio que, em 1926, atingira apenas a 26, com 911
alunos, eleva-se, hoje, a 236, com 24.349 alunos. O ensino tornou-se popular
e vem interessando vivamente às classes médias, desejosas de obter melhor
preparação técnica.
Além de exercer ação fiscalizadora sobre os cursos de comércio, a Inspetoria
Geral do Ensino Comercial tem procurado sugerir métodos de ensino,
promovendo, também, inquéritos sobre o resultado da aplicação desses
métodos.
SUPERINTENDÊNCIA DO ENSINO INDUSTRIAL
Esse departamento exerceu proveitosa ação coordenadora sobre as escolas
profissionais mantidas pela União, cuidando da sua remodelação material e
organizando planos de trabalhos educativos, que muito deverão contribuir
para a racionalização desse ramo de ensino.
Serviços Escolares
ENSINO SUPERIOR
Universidade do Rio de Janeiro
Os institutos congregados sob título de Universidade do Rio de Janeiro
tiveram funcionamento regular.
É de assinalar que a Faculdade de Medicina passou a contar com amplas e
modernas instalações no Hospital Estácio de Sá, onde se localizaram a 39
cadeira de clinica cirúrgica, a 39 cadeira de clinica médica, a cadeira de
propedêutica cirúrgica e a cadeira de clinica ginecológica.
Inaugurou-se a Maternidade, em edificio especialmente construido para tal
fim. Esse melhoramento veio satisfazer imperiosa necessidade do ensino, pois
que permite aos alunos do 6º ano a prática da clinica obstétrica, de que até
então se viam privados. Atende, igualmente, os reclamos da assistência social,
visto dispor de mais 120 leitos destinados a parturientes.
Universidade Técnica Federal
Não foi ainda instalada a Universidade Técnica Federal, pelo fato de ter o
Governo resolvido ampliar o plano relativo a essa parte do ensino superior.
Dentro da definição legal da Universidade Técnica Federal, figuram,
presentemente, a Escola Politécnica e a Escola Nacional de Quimica.
A Escola Politécnica teve as suas instalações melhoradas mediante obras de
remodelação, que não pertubaram a normalidade dos trabalhos escolares.
Na Escola Nacional de Quimica, também se fizeram obras destinadas a assegurar-
lhe melhores condições didáticas e mais completo equipamento técnico.
Faculdade de Direito do Recife e Faculdade de Medicina da Bahia
Esses institutos funcionaram normalmente.
A Faculdade de Medicina da Bahia foi inspecionada por um engenheiro do
Ministério, que verificou as suas grandes necessidades materiais.
Faculdade de Medicina de Porto Alegre
Este estabelecimento foi incorporado à Universidade de Porto Alegre, mediante
acordo firmado entre o Governo Federal e o Governo do Estado do Rio Grande do
Sul.
ENSINO SECUNDÁRIO
As duas seções do Colégio Pedro II, internato e externato, ministraram
instrução, no ano findo, em três turnos de aulas, a 2.333 alunos. Cursos
facultativos de grego e história da América foram mantidos paralelamente ao
curso fundamental e aos cursos livres de língua e literatura italiana.
ENSINO PROFISSIONAL
A reorganização material das escolas de aprendizes artifices, mantidos pela
União nos Estados, prosseguiu, em 1935, malgrado as restrições financeiras
do momento.
É assim que, em Recife, foi inaugurado um conjunto de seis edifícios, em
terreno doado pelo governo estadual, com a superfície aproximada de 7.000
metros quadrados. Trata-se de uma construção ampla, confortável, cobrindo
3.004 metros quadrados de área, e em condições de atender perfeitamente
às exigências da moderna escola profissional.
No Paraná, levantou-se outro edifício, abrangendo 2.252 dos 5.258 metros
quadrados de terreno oferecido pelo governo estadual.
Planejou-se novo prédio para o instituto existente no Piauí, sendo logo
iniciadas as obras dos pavilhões e corpo central. A construção, dispondo de
uma área de 3.158 metros quadrados, oferecida também pelo governo do
Estado, ficará concluída este ano e cobre 880 metros quadrados.
Nos 19 estabelecimentos dessa natureza existentes no pais, matricularam-se
5.596 alunos, mantendo uma média de freqüência de 6 7% e produzindo
mercadorias no valor de 560:265$000.
A Escola Normal de Artes e Ofícios Wenceslau Braz, no Distrito Federal,
aposentou uma matricula de 239 alunos, na maioria pertencentes ao sexo
feminino.
ENSINO EMENDATIVO
Instituto Benjamin Constant
Apesar de possuir instalações materiais deficientes, este estabelecimento
desenvolveu útil atividade, difundindo em todo o Brasil milhares de alfabetos
pelo sistema Braille, proporcionando trabalho aos cegos e buscando
aperfeiçoar-lhes a instrução especializada.
Instituto Nacional de Surdos-Mudos
Novos programas foram aprovados pela congregação, para o ensino de
linguagem, constituindo notável avanço prático no domínio da pedagogia dos
surdos-mudos, adapatada às peculiaridades do nosso meio.
O cinema educativo passou a exercer papel saliente no ensino, associado a
exercícios de redação, que muito contribuíram para o desenvolvimento
mental dos alunos.
O ensino profissional foi reorganizado, mantendo-se a orientação já seguida em
anos anteriores.
Serviços Extra-Escolares
INSTITUTO OSWALDO CRUZ
Durante cinco exercícios consecutivos, a atividade cientifica da casa fundada por
Oswaldo Cruz permaneceu estacionaria pela exigüidade de recursos financeiros e
mateirias. Dotada agora de maiores possibilidades, a tradicional instituição amplia
as suas pesquisas valiosíssimas sobre questões de zoologia médica, bacteriologia,
protozoologia, histopatologia, fisiologia, química e física biológica, etc,
interessando particularmente à patologia humana e à animal. Essas pesquisas
foram, em boa parte, divulgadas nas Memórias do instituto e em ¡ornais e revistas
técnicas, constituindo trabalhos originais, com merecida repercussão nos círculos
científicos especializados.
Para a colheita de material e estudos de patologia regional promoveram-se
diversas excursões, no Distrito Federal e nos Estados do Rio de Janeiro, São
Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e mesmo em países vizinhos, como a Argentina
e o Paraguai, todas com os melhores resultados e sem ônus para o Tesouro
Nacional, devido à espontânea colaboração de particulares e instituições
científicas nacionais e estrangeiras.
O instituto colaborou ainda, eficientemente, nos trabalhos de outras
instituições de ensino e assistência médica.
E digno de menção o seu concurso à obra do Centro Internacional de Leprologia,
cujos trabalhos se executam, em grande parte, com o auxilio do seu pessoal e nos
seus laboratórios, onde continua a exercer a sua atividade um técnico da
Sociedade das Nações, que se dedica, particularmente, a pesquisas sobre a
terapêutica da lepra. O Hospital de Doenças Tropicais, do instituto, prestou
assistência gratuita a mais de duas centenas de internados e a milhares de
consultantes, prosseguindo, com eficiência, o curso de aplicação do ensino de
biologia, que há vinte e cinco anos vem prestando assinalados serviços. Vinte e
dois estagiários servem-se dos laboratórios do estabelecimento, entre eles
estrangeiros vindos de diversos países.
Os serviços industriais apresentaram apreciável rendimento, atingindo ao valor de
l.608:347$000.
Como expressão do prestigio internacional do instituto, é oportuno registrar
o convite da Real Sociedade de Medicina de Londres a um de seus técnicos, o
Dr. Magarino Torres, para expor os seus estudos originais sobre alastrim.
MUSEU NACIONAL
As suas atividades prosseguiram, realizando 13 excursões, publicando algumas
monografias e catalogando novos espécimes vegetais, cujo número Já ascende
a 29.613. Na seção de geologia foi inaugurada a coleção sistemática de
mineralogia geral, a mais completa do Brasil.
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL
Iniciou, no ano último, a sua atividade sobre a conservação dos monumentos
nacionais, aplicando em obras dessa natureza, na cidade de Ouro Preto, a
verba orçamentária de 100:000$ para esse fim consignada.
OBSERVATÓRIO NACIONAL
Trabalhos de imediata utilidade e outros puramente especulativos foram
desempenhadas com proficiência por este estabelecimento, no decorrer do ano
findo.
CASA DE RUY BARBOSA
Tem sido preocupação do Governo conservar a Casa de Ruy Barbosa tal como
serviu de ambiente à vida do grande brasileiro, preparando-a ao mesmo tempo
para ser transformada em museu e centro de estudos. Iniciaram-se os
trabalhos relativos à publicação das suas obras completas, continuando a
fazer-se, também, a catalogação da biblioteca, bem como o inventário e
classificação dos manuscritos.
BIBLIOTECA NACIONAL
Aumenta a visitação pública às valiosas coleções da Biblioteca Nacional, que,
no ano findo, atendeu 81.977 leitores, fez aquisição de livros e documentos
raros sobre o Brasil, e editou mais três volumes dos seus Anais e dois da
coleção Documentos Históricos.
Estatística Educacional
Está normalizado o andamento da estatística do ensino, cuja elaboração ficou,
pelo convênio de 1931, sob a responsabilidade da União, dos Estados e
Distrito Federal. A parte que competia ao Governo Federal vem sendo
regularmente levantada desde 1932. Quanto a dos Estados - estatísticas do
ensino primário geral - executada, em começo, com sensíveis imperfeições e
grande lentidão, começa a apresentar resultados satisfatórios. O Ministério da
Educação e Saúde Pública vem prestando às administrações estaduais toda a
assistência necessária, facilitando até aos respectivos funcionários estágios de
aperfeiçoamento, mediante participação direta nos trabalhos que lhe cumpre
executar.
Declaração do Presidente Getúlio Dornelles Vargas sobre o Ano Nacional da
Educação, em 13 de junho de 1936
Já disse que, para o meu governo, 1936 é o ano da educação. Noutras palavras,
isso significa afirmar que, no corrente ano, será elaborado o Plano Nacional de
Educação, iniciando-se, ao mesmo tempo, importantes trabalhos destinados a
remodelar, ampliar e melhorar todo o sistema educativo da União. Por outro lado,
desenvolver-se-á, com maior amplitude, a colaboração do Governo Federal com os
serviços de educação mantidos pelos governos e por todas as instituições de
caráter privado. O sistema educacional brasileiro deverá ter em vista,
principalmente, a elevação do nível intelectual de todas as camadas sociais e o
desenvolvimento do ensino técnico-profissional, preparando o homem para o
trabalho, modelando-lhe o caráter, dando-lhe consciência moral e tornando-o útil
e capaz de atuar como fator eficiente do engrandecimento da nacionalidade.
1937
Mensagem apresentada ao Poder Legislativo pelo Presidente da República, Getúlio
Dornelles Vargas, no dia 3 de maio de 1937
Era conhecida, de longa data, a necessidade de uma sistematização das
questões educacionais.
A instabilidade e o caráter dispersivo da legislação federal, vigente até 1930,
dificultavam, entretanto, qualquer entendimento entre a União e os Estados, no
sentido de imprimir-lhes diretrizes seguras e organização homogênea. A Carta
Constitucional de Julho de 1934 veio, finalmente, outorgar ao poder central a
preeminência de ação que lhe faltava, proporcionando, com a quota educacional,
os meios financeiros indispensáveis à realização da reforma iniciada.
Ê natural que obra de tamanho vulto e de alcance incalculável, na hora presente,
levante controvérsias doutrinárias ou criticas de minúcia. O tempo e a
experiência se incumbirão de mostrar o que realmente comporta
aperfeiçoamento e bem assim as demasias a corrigir.
Não é ocioso ressaltar a complexidade do problema, cuja solução foi ajustada,
pela primeira vez, a um plano orgânico e amplo, não restrito a este ou àquele
setor nem limitado à instrução num dos seus ramos, mas aplicado a todo o
campo educacional.
A reforma atualmente em execução requer, por isso, continuadores, aos quais
caberá a missão de aperfeiçoá-la, de modo a transformar as nossas instituições
educativas em instrumento eficiente do progresso social e econômico do país.
ORGANIZAÇÃO
Decorridos os primeiros anos de trabalhos, verificou-se que os elementos
aglutinados, a princípio, para a formação do novo Ministério, reclamavam
organização mais completa e sólida, ajustados a uma finalidade funcional. Com
esse objetivo o Governo apresentou ao Poder Legislativo, em 1935, um ante-
projeto, que, largamente discutido, obteve aprovação ao encerrar-se o ano de
1936, e foi, a seguir, sancionado.
Iniciou-se, imediatamente, a execução da reforma, distribuídas as tarefas
pelos antigos e novos órgãos dentro do esquema seguinte:
a) Os órgãos de direção, formando a Secretaria de Estado, encarregam-se de
mobilizar e coordenar o pessoal e os materiais necessários aos serviços.
Instalações provisórias estão sendo feitas, enquanto não se conclui o
edifício próprio, já projetado, com capacidade para abrigar os
departamentos de direção e controle.
b) Os órgãos de execução, das diferentes modalidades, isto é, serviços
intermediários constituídos pelas delegacias de educação e de saúde; serviços
relativos à educação; serviços relativos à saúde e os serviços auxiliares, de
obras, de transportes e gráfico, estão sendo devidamente organizados. Os
existentes, na medida nacessária, se remodelam, e instalam-se os novos,
conjugando-se de uns e outros os elementos formadores e preparando a
respectiva regulamentação.
c) Finalmente, promove-se o funcionamento dos órgãos de cooperação.
Satisfeitas as exigências da lei, instalou-se, em 16 de fevereiro último, o
Conselho Nacional de Educação, que entrou logo no exercício das suas
atividades. O outro órgão, isto é, o Conselho Nacional de Saúde, será
instalado assim que o Poder Legislativo haja aprovado o projeto de lei que o
institui e lhe foi encaminhado em fins de 1935.
SERVIÇOS DE EDUCAÇÃO
Plano Nacional de Educação
A idéia de se dar à educação nacional uma lei única, compêndio dos princípios
e das disposições estruturais da educação, nos seus vários aspectos e
modalidades, deverá converter-se em realidade ainda este ano.
Há quase três meses, o Conselho Nacional de Educação está elaborando o
projeto do plano nacional de educação que, dentro em pouco, terá de ser
submetido ao exame e à aprovação do Poder Legislativo.
Decretada esta lei, a educação nacional atingirá, certamente, a sua etapa
decisiva, para produzir os resultados esperados.
Pesquisas Pedagógicas
O problema da escolao é uma queso somente de número, mas, sobretudo, de
qualidade. Para apurá-la, torna-se indispensável ativar as pesquisas pedagógicas,
elementos de primeira ordem na organização da escola de todas as categorias.
O Governo, com esse fim, solicitou e obteve do Poder Legislativo a criação do
Instituto Nacional de Pedagogia, cuja instalação já está iniciada.
Merece especial referência o problema da literatura infantil, incluido no seu
programa de atividades. Para cuidar do assunto, criou-se, em abril do ano passado,
com caráter permanente, a Comissão de Literatura Infantil, agora integrada no
referido Instituto e a qual já levantou, em parte, o catálogo, com critica, da nossa
incipiente literatura infantil; abriu concursos para estimular a produção de bons
livros didáticos e examina, atualmente, as obras estrangeiras que merecem ser
traduzidas.
Ensino Superior
UNIVERSIDADE DO BRASIL
Caberei à União ministrar o ensino superior, de modo permanente e a título de
demonstração, por intermédio da Universidade do Brasil.
Instituída, por um dispositivo legal, a partir de janeiro deste ano, entraram na
sua composição os estabelecimentos de ensino das antigas Universidades do
Rio de Janeiro e Universidade Técnica Federal, a saber: Faculdade de
Medicina, Faculdade de Direito, Faculdade de Odontologia, Escola de Minas,
Escola Politécnica, Escola Nacional de Química, Escola Nacional de Belas
Artes e Instituto Nacional de Música.
Estes estabelecimentos funcionaram com regularidade no ano passado,
havendo recebido os melhoramentos reclamados com maior urgência,
notadamente obras, ou instalações, na Escola Politécnica e na Faculdade de
Medicina.
Reconhecendo a necessidade de suprir as deficiências das escolas existentes e
de incorporar á Universidade do Brasil novos estabelecimentos de ensino e de
pesquisa, como, por exemplo, a Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras e a
Faculdade de Politica e Economia, o Governo iniciou, para isso, o estudo da
sua composição intelectual e material.
Trabalham na realização do plano da Cidade Universitária, desde 1935,
educadores, engenheiros e arquitetos, plano esse que abrangerá todos os
elementos componentes da Universidade do Brasil, exceto os que, pela sua
natureza especial, devam ter outra localização.
A execução de obra tão necessária reclama lei especial, já em estudos no
Poder Legislativo, com base no projeto enviado pelo Poder Executivo.
ESTABELECIMENTOS FEDERAIS ISOLADOS
Os estabelecimentos federais de ensino superior mantidos nos Estados, a titulo
de ação supletiva da União, Faculdade de Medicina da Bahia, Faculdade de
Medicina de Porto Alegre, Faculdade de Direito do Recife, Faculdade de
Direito do Ceará, Escola Politécnica da Bahia, exerceram normalmente as suas
atividades.
Tratou-se, ainda assim, de lhes dar mais conveniente organização. Novo
edificio para a Faculdade de Direito do Ceará está sendo construido pelo
governo estadual, que pretende doá-lo à União.
Trabalha-se na elaboração dos projetos de dois hospitais de clinicas, um para a
Faculdade de Medicina de Porto Alegre e outro para a Faculdade de Medicina da
Bahia. Terminados os estudos, serão iniciadas as obras.
INSTRUÇÕES ESTADUAIS E LIVRES
Desenvolvem-se satisfatoriamente, em todo o pais, as instituições estaduais e
livres de ensino superior. Sobre elas o Governo exerce a fiscalização necessária,
auxiliado de maneira eficiente pelo Conselho Nacional de Educação.
Três universidades estão reconhecidas e dotadas de estatutos : a de Minas Gerais, a
de São Paulo e a de Porto Alegre.
Além dessas, existem ainda, no pais, 33 estabelecimentos de ensino superior,
estaduais e livres, também reconhecidos, sendo 12 de direito, cinco de medicina,
12 de odontologia e farmácia, três de engenharia e um de música.
Ensino Secundário
COLÉGIO PEDRO II
As duas seções, o internato e o externato, do Colégio Pedro II, funcionaram com
regularidade, ministrando ensino secundário, nos cursos fundamental e
complementar. Nos edificios de ambas as seções foram realizadas obras diversas
de restauração.
Planeja-se a remodelação do Colégio Pedro II, visto tratar-se de estabelecimento
padrão de ensino secundário no pais, que deve dispor de organização, sob todos
os pontos de vista, modelar.
Em virtude do novo regulamento em preparo, os dois setores ora separados
serão fundidos num só, reforçando-se as disposições disciplinares com o fim
de obter mais alto rendimento educacional.
Organiza-se, ao mesmo tempo, um projeto de conjunto para os edificios, com
localização única e apropriada.
COLÉGIOS RECONHECIDOS PELA UNIÃO
Além do Colégio Pedro II, que é a escola secundária mantida, como modelo, pela
União, estabelecimentos, em número cada vez maior, estaduais, municipais e
particulares, ministram o ensino secundário.
Funcionam, atualmente, em todo o território nacional, sob inspeção federal,
427 colégios, em muitos dos quais já se instalaram as classes do curso
complementar. A fiscalização desses estabelecimentos ficará, de agora em
diante, a cargo das delegacias federais de educação distribuídas por oito
regiões.
ENSINO PROFISSIONAL
Constitui objeto de especial interesse a organização do ensino profissional nos
seus vários ramos: industrial, comercial, doméstico e agrícola.
Tal ensino, entre nós, ainda è incipiente e retardado. Não se compreende que
isso aconteça num pais sabidamente necessitado, qual o nosso, de elementos
de trabalho em condições de assegurar a melhoria da produção.
ENSINO INDUSTRIAL
As escolas industriais, que a União mantém em 19 Estados, bem como a
Escola Normal de Artes e Ofícios Wenceslau Braz, destinada ao ensino
industrial normal, funcionaram regularmente, no ano passado, distribuindo
ensino a cerca de 4.000 alunos.
Prosseguindo-se no programa de remodelação das escolas industriais, instalou-
se, em 1936, a do Paraná, com sede condigna, dotada da aparelhagem
mecânica necessária e de conveniente mobiliário, e foi atacada a construção
do novo edificio para a escola do Piauí, além dos melhoramentos, mais ou
menos vultosos, levados a efeito noutros estabelecimentos federais.
As 19 atuais escolas de aprendizes artífices localizadas nos diferentes Estados
(salvo no Rio Grande Sul) e a Escola Normal de Artes e Ofícios Wenceslau
Braz passarão a constituir liceus industriais modelares, a que se deve juntar o
projetado para o Estado do Rio Grande do Sul.
Em todos esses estabelecimentos ministrar-se-á o ensino industrial de primeiro
grau - preparação de operários - sendo que os localizados em grandes centros
receberão instalações para o ensino industrial do segundo e terceiro graus -
preparação de contramestres e mestres.
Os liceus terão tantos cursos quantos se façam necessários, de acordo com as
exigências do meio. Preparam-se os projetos de construção ou de remodelação
dos seus edifícios. O do Liceu Wenceslau Braz entrou em obras e se destina a
substituir as instalações atuais por um conjunto de prédios que deverão ficar
concluidos dentro de um ano.
Cuidase, simultaneamente, da elaboração de regulamentos apropriados a cada
um dos estabelecimentos e de contratar professores estrangeiros para o ensino
de especialidades pocuo vulgarizadas no pais.
ENSINO COMERCIAL
Apesar de não existirem estabelecimentos oficiais, o ensino comercial acha-se
bastante desenvolvido entre nós, devido ao esforço da iniciativa particular.
As escolas reconhecidas, com uma freqüência de cerca de 28.000 alunos, são
atualmente em número de 236 e a sua fiscalização passará agora a ser feita, com
maior eficiência, pelas delegacias federais de educação.
ENSINO DOMÉSTICO E ENSINO AGRÍCOLA
Nos estudos ultimamente realizados sobre a organização do ensino
profissional, foi dado lugar de relevo a essa primeira modalidade de
preparação e, no corrente ano, serão assentados os projetos de realização da
União neste setor do problema educacional.
Quanto ao ensino agricola, materia afeta à competência do Ministério da
Agricultura, dele se cogitará em outro lugar da presente Mensagem.
ENSINO PRIMÁRIO
Foram prestados auxílios financeiros, no ano passado, respectivamente, de
216:000 $ e de 342.000$, ao Estado do Paraná e ao Estado de Santa Catarina,
para o custeio das escolas nas zonas de grande imigração.
Utilizando os novos recursos postos à sua disposição, o Governo poderá,
daqui em diante, atuar mais energicamente no sentido de difundir e
nacionalizar o ensino primário.
O órgão administrativo que se incumbirá dessa tarefa já foi instalado e
exercerá ação imediata, de acordo com os governos locais.
ENSINO EMENDATIVO
O ensino emendativo, de aplicação difícil e restrita, também vai receber
ampliações, abrangendo os fisicamente anormais, os retardados de inteligência e os
inadaptados morais.
Destinados aos primeiros, já existem o Instituto Benjamin Constant e o
Instituto Nacional de Surdos e Mudos. Em ambos se fizeram, no correr do ano
passado, valiosos trabalhos de pesquisa pedagógica, cogitando-se,
presentemente, de remodelar as suas instalações.
Relativamente ao ensino dos anormais da inteligência, a ação do poder
público se exercerá de acordo com as normas fixadas pelo Instituto Nacional
de Pedagogia, em conexão com o Serviço de Assistência a Psicopatas.
O ensino dos inadaptados morais está ainda a cargo do Ministério da Justiça e
foi tratado no capitulo referente a esse departamento de Estado.
Educação Física
A partir deste ano, o Ministério da Educação e Saúde entrará a atuar no setor
da educação física, quer escolar, quer extra-escolar. Já se acha elaborado o
anteprojeto de oficialização das atividades desportivas. Intervindo nesse setor
da educação, o poder público o fará de modo a disciplinar, num sentido
uniforme e científico, a cultura física dos escolares e o exercicio dos esportes
em geral.
Bibliotecas e Livros
As duas bibliotecas mantidas pelo Ministério da Educação e Saúde, a Nacional
e a Casa de Ruy Barbosa, tiveram, no ano passado, avultada freqüência.
Cogita-se de introduzir melhorias consideráveis nesses estabelecimentos, com
o fim de satisfazer melhor as necessidades dos estudiosos.
Planeja-se, por outro lado, o processo de estimular e amparar, em todo o pais,
a fundação ou ampliação de bibliotecas, de natureza popular ou de caráter
especializado.
O Ministério da Educação e Saúde procurou, pelos meios ao seu alcance,
incentivar a produção de livros e editou, por iniciativa própria, diversas
publicações: Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Boletim do Museu
Nacional, Anais da Biblioteca Nacional, Documentos Históricos e Autos
da Devassa da Inconfidência Mineira
Merece também referência a grande edição das Obras completas de Ruy
Barbosa, cujo plano foi recentemente organizado, estando a sair os primeiros
tomos.
Com a instalação do Serviço Gráfico poderá iniciar, em breve, a publicação da
Enciclopédia Brasileira, a cargo do Instituto Cairu.
Cinema Educativo
O amparo especial dispensado ao cinema visa aproveitá-lo como instrumento
educativo e se exerce, indiretamente, através da censura e da obrigatoriedade
do filme nacional, em todos os programas exibidos no país. Para dar,
entretanto, ao problema, solução conveniente, instalou-se o Instituto
Nacional de Cinema Educativo, que, num ano de funcionamento, já produziu
numerosas cintas, destinadas umas ao ensino e outras à cultura popular.
Radiodifusão Educativa
No ano passado, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro doou à União as suas
instalações, e por intermédio dessa estação entrou o Ministério da Educação
e Saúde a executar programas de radiodifusão educativa.
Procede-se, agora, à organização desse serviço, que passou a ter órgão próprio,
criado por lei, estando já adiantada a montagem de uma estação radioemissora
de 25 kw, que substituirá a estação atual, de pequena potência.
Teatro Nacional
A Comissão de Teatro Nacional, instituída em caráter permanente, entrou a
funcionar com as seguintes incumbências: aprovar os planos das temporadas
nacionais, estudar a literatura dramática, aproveitar o esforço dos grupos de
amadores, abrir concursos de obras e cenários, examinar o problema da
edificação de teatros e auxiliar a montagem de grandes espetáculos.
Solenidades Cívicas
No programa das suas atividades, o Ministério da Educação incluiu as
comemorações e solenidades de caráter cívico, promovendo, em 1936, as
seguintes: Hora da Independência, Centenário de Carlos Gomes, Centenário de
Benjamin Constant, Centenário de Quintino Bocaiuva, Centenário de Pereira
Passos, repatriamento dos restos mortais dos inconfidentes.
Existe o firme propósito de levar adiante essa campanha de educação
patriótica, quer dentro das escolas, quer em forma de cerimônias populares,
sempre com a alta finalidade de manter bem vivos os sentimentos da unidade
pátria e de reverência à memória dos seus heróis.
Conferências Públicas
Sob o patrocínio e iniciativa do Ministério, realizaram-se numerosas
conferências, no decorrer do ano, versando os seguintes temas: As grandes
diretrizes da educação e os nossos grandes mortos.
Mantendo a mesma orientação, e desenvolvendo os temas já tratados, além de
outros novos de interesse cultural, pretende-se estender a todo o país essa
forma de ação educativa.
Exposições
É propósito do Governo continuar promovendo exposições de artes plásticas
e industriais, não só na capital da República, mas, igualmente, nos centros
populosos dos Estados.
No ano passado, realizaram-se as seguintes: Salão Nacional de Belas Artes,
exposição de trabalhos industriais das escolas da União, em Belo Horizonte, e
de livros e documentos sobre o domínio holandês, na Biblioteca Nacional.
Proteção do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Em 1936, instituiu-se o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,
para organizar o tombamento, conservação e defesa do nosso patrimônio
artístico e de interesse histórico.
Foram tomadas, desde então, diversas iniciativas: catalogação dos bens de
valor artístico e histórico pertencentes à União; tombamento de outros, não
pertencentes à União e situados no Distrito Federal, Minas Gerais, Bahia e
Paraíba; projeto de lei, regulando a proteção do patrimônio histórico e
artístico nacional; levantamento de vários exemplares preciosos de
arquitetura.
Essas atividades continuarão, agora, em caráter permanente. Já haviam sido
feitas, em Ouro Preto, importantes obras de restauração de vários
monumentos, antes mesmo da criação do Serviço.
O aparelhamento de que o Estado dispunha para resguardar o patrimônio
histórico e artístico será acrescido com a instalação do Museu Nacional de
Belas Artes.
Elaboração Cientifica
A investigação cientifica carece, entre nós, de sistematização, sendo
indispensável, para isso, recursos especiais que permitam ampliar os
institutos existentes e criar novos. Tanto o Instituto Oswaldo Cruz como o
Museu e o Observatório tiveram atuação profícua em 1936.
INSTITUTO OSWALDO CRUZ
Ativou as indagações científicas, fazendo 108 comunicações, sobre vários
problemas da biologia aplicada à medicina, e as investigações novas sobre a
leishmaniose; manteve permanente cooperação com instituições estrangeiras;
editou diversas publicações; imprimiu maior eficiência ao curso de aplicação;
incrementou a preparação de produtos medicinais.
Com o aumento e restauração das suas instalações dispendeu-se a quantia de
500.000$, planejando-se, para o corrente ano, novas obras e aplicação de
recursos que lhe assegurem funcionamento cada vez mais eficiente.
MUSEU NACIONAL
Os elementos técnicos desse Instituto foram utilizados na realização de
numerosos estudos sobre a gênese dos nossos depósitos diamantiferos e as grutas
calcáreas de Minas Gerais. Manteve, além disso, os cursos e publicações de sua
especialidade.
OBSERVATÓRIO NACIONAL
Ampliou consideravelmente os seus trabalhos de ordem cientifica, em matéria de
astronomia e geofisica
Deverá passar, em breve, por uma fase de remodelação pessoal e material.
Estatística Educacional
No campo da estatística educacional, o Departamento respectivo realizou ou
seguintes trabalhos: apuração final da estatística do ensino primário em 1933,
compreendendo o preenchimento de 1.101 quadros; revisão e crítica das
contribuições estaduais referentes a 1934; apuração, a título provisório, dos
dados gerais da estatística do ensino primário, tanto de 1934 como de 1935;
estatística das bibliotecas em 1934.
Deu o Ministério o seu patrocínio à I
a
Exposição Nacional de Educação e
Estatística, instalada nesta capital, por iniciativa da Associação Brasileira de
Educação.
Eurico Gaspar Dutra
Presidência de 31.1.1946 a 31.1.1951
1947
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República,
General Eurico Gaspar Dutra na abertura da sessão legislativa
Os problemas de educação merecem consideração primacial, pois que a eles se
acham diretamente ligadas as possibilidades do êxito da democracia em nosso
País, sendo certo que a prática de seus postulados só poderá ser plenamente
alcançada quando se alicerçar numa opinião pública consciente e esclarecida
por sólida e generalizada educação.
Por muito que tenhamos progredido durante os últimos anos, devemos
reconhecer que o nosso sistema educativo ainda está longe de ser, como
devera, poderoso instrumento assegurador da igualdade de oportunidades.
No aparelhamento e na qualidade do seu sistema educativo è que os povos
civilizados encontram o mecanismo seguro para a valorização do seu potencial
humano e a sua integração produtiva na vida da coletividade.
Cotejando os mais recentes dados do nosso crescimento demográfico com os do
nosso movimento escolar, verificamos que sobre uma população total estimada,
para 1946, em cerca de 46 milhões e 700 mil habitantes, contamos com perto de
23 milhões e 200 mil menores de 18 anos; assim, quase 50% de nossa população
está, pela sua idade, a exigir que o Estado atenda ao seu direito a uma educação
sadia e construtiva, que os habilite, de futuro, a colaborar eficientemente para a
prosperidade e grandeza do Pais.
Sobre este amplo fundo demográfico, o quadro de nossas realidades culturais e
educativas é, ainda, acanhado e diminuto.
ENSINO PRÉ-ESCOLAR
Dos citados 23 milhões e 200 mil menores de 18 anos, pouco mais de 10
milhões e 100 mil estão na idade pré-escolar até 6 anos. Rudimentar e incipiente
é o aparelhamento do nosso sistema educativo para esse período tão delicado,
mas básico, de formação da mentalidade infantil; contamos em todo o Pais com
1.098 unidades escolares pré-primárias, 2.043 professores e 64.502 matrículas.
Com a crescente industrialização do País e o conseqüente afastamento do lar das
mães operárias, a multiplicação de escolas maternais e de jardins de infância
torna-se necessidade imperiosa, principalmente nos grandes centros urbanos.
ENSINO PRIMÁRIO
Para cerca de 5 milhões e 800 mil crianças entre os 7 e 11 anos, idade mais
apropriada para a formação de hábitos e aquisição das técnicas fundamentais da
cultura, dispomos de 89.419 professores primários, ministrando ensino
em 40.235 unidades escolares e cerca de 3 milhões e 300 mil alunos. Estes
dados, que, à primeira vista, não parecem indicar uma situação muito
desfavorável, estão longe de corresponder às necessidades reais de nossa
população escolar e, o que é ainda mais grave, acusam um progressivo
declínio nos últimos cinco anos. Assim, o total de unidades escolares, que em
1942 chegava a 43.975, vem gradualmente diminuindo de ano para ano, com
uma redução no último qüinqüênio de 3.740 unidades, fato estranhável ante o
crescimento contínuo da população em idade escolar primária.
Fenômeno idêntico se registra no movimento de matrículas em nível
primário; este, que em 1941 atingira o total de 3 milhões, 347 mil e 642, vem
decrescendo, anualmente, até acusar, em 1945, a cifra de 3 milhões, 295 mil e
291, isto é, com uma diminuição de 52.351 matrículas.
A situação torna-se ainda mais grave ao verificarmos que de 3 milhões, 295
mil e 291 crianças matriculadas em nossas escolas primárias em 1945, apenas 2
milhões, 333 mil e 696 tiveram uma freqüência média regular e somente 1
milhão, 522 mil e 412 obtiveram aprovação nos exames de promoção.
Tomando por base a freqüência real dos escolares e não os dados inseguros da
matricula, que muitas vezes não se positivam, temos que cerca de 3 milhões e
500 mil futuros cidadãos brasileiros estão privados dos benefícios de uma
escolaridade sistemática e relegados ao analfabetismo ou ao semi-
analfabetismo, justamente nos anos mais propícios à aprendizagem das
técnicas e lastros fundamentais da cultura, isto é, dos 7 aos 11 anos.
Esta a situação verificada no importante setor do ensino primário em janeiro
de 1946.
Em face disso, e não obstante achar-se o ensino primário sob a alçada direta
das autoridades estaduais e municipais, procurou o Governo da União
movimentar seus serviços, a fim de desenvolver um vigoroso combate a tão
desoladora situação, valendo-se de todos os recursos de que podia dispor.
Até o início do ano findo, 50% da estimativa da taxa de Educação e Saúde
não havia recebido emprego especifico e era incorporada à Receita Geral da
União, de modo que o Fundo Nacional de Ensino Primário nada auferia dessa
taxa. Para corrigir essa situação, foram expedidos os atos necessários, com o
que dobrou o valor da referida taxa, ficando 75% da arrecadação prevista
destinada ao Fundo Nacional de Ensino Primário, para a ampliação e
melhoria do sistema escolar primário em todo o Pais, mediante convênios por
firmar entre a União e os Estados.
Além disso, no próprio exercício transato, foi recuperada, para o Fundo
Nacional de Ensino Primário, a dotação de 31 milhões de cruzeiros, com o
fim de se dar inicio imediato aos acordos previstos pelo Convênio Nacional
de Ensino Primário.
Ao órgão federal orientador dos problemas pedagógicos foi confiada a missão de
selecionar os tipos mais apropriados e econômicos de prédios escolares, para as
zonas rurais, e de distribuir, eqüitativamente, os novos recursos disponíveis entre
as unidades da Federação, mediante acordos bilaterais.
Com essa primeira etapa do trabalho planejado, já estão previstas perto de 1.200
novas escolas rurais, das quais pouco mais da metade em construção, estando
algumas em vias de acabamento.
Dispondo já no corrente ano de uma verba de 14 7 milhões e 800 mil cruzeiros,
o plano do Governo Federal é de ampliar a sua ação para a construção de mais 2
mil escolas e estender sua ação supletiva também á criação de 40 escolas
normais para a formação de professores rurais, integrados nas condições de vida
e nos problemas especificos e imediatos das zonas em que se processará sua
atividade docente. A falta de um professorado primário, recrutado entre as
próprias populações rurais e preparado especialmente para enfrentar os
problemas do meio, era, até hoje, uma das mais graves lacunas do nosso sistema
escolar primário e uma das principais causas do analfabetismo que grassa em
nosso meio rural.
Assim, muito devemos esperar desse empreendimento do Governo Federal, visto
que mais de 4 milhões e 100 mil crianças, entre 7 e 11 anos, se acham
localizadas nas zonas rurais, onde o nosso sistema escolar tem sido, até aqui, da
escassa penetração.
Além dessa atuação direta da União, através de órgãos estatais, outras
suplementares deverão ser exercidas por certas entidades paraoficiais, como o
Serviço Social da Indústria (SESI), o Serviço Social do Comércio (SESC).
ENSINO SECUNDÁRIO
A desproporção entre o nosso aparelhamento escolar e as exigências sempre
crescentes do nosso desenvolvimento demográfico se acentua e agrava à medida
que subimos na escala das idades e dos respectivos graus de ensino.
Temos atualmente no pais mais de 7 milhões e 200 mil adolescentes entre os 12 e
18 anos - em idade, portanto, de receber educação do segundo grau. A tendência
universal de nossos dias é estender as oportunidades educativas de segundo grau
aos adolescentes de todas as camadas sociais, a fim de elevar o padrão médio de
cultura geral das populações e permitir uma habilitação profissional mais
condizente com as novas técnicas de trabalho.
Entretanto, o nosso aparelhamento de educação secundária ainda se acha
estruturado nos velhos moldes de um ensino clássico, rígido e uniforme, que
lhe tolhe as possibilidades de fácil adaptação às novas realidades sociais.
Mesmo quantitativamente, está ele incapacitado de se tornar a escola das
grandes massas adolescentes, em continuação á obra de lastreação da cultura
realizada pela escola primária. Apesar disso, è acentuada a procura das escolas
secundárias, ambiente natural para a expansão e o enriquecimento da
personalidade; assim, enquanto, em 1932, se registravam, apenas, 56.208
matrículas nos estabelecimentos de ensino secundário de todo o Pais, em
1943 essa matricula ascendia a 213.520 e em 1946 ultrapassou 260 mil.
Mas, para atendermos a esse crescente desejo de educação secundária por
parte de nossos adolescentes, dispomos unicamente de 15.804 professores,
distribuídos por uma rede escolar diminuta e de reduzidíssima capacidade. As
nossas 1.183 escolas secundárias, em geral deficientemente instaladas e mal
aparelhadas acham-se superlotadas com os 260 mil adolescentes matriculados
em seus cursos.
A nossa rede escolar secundária deveria ser pelo menos duplicada, bem como
os efetivos do seu corpo docente, para poder atender à crescente procura das
novas gerações.
Entretanto, quase 7 milhões de jovens brasileiros acham-se prematuramente
privados de qualquer influência educativa sistemática. Para corrigir essa
situação que, sobre representar grave injustiça social, significa desperdício de
vulto do potencial humano do nosso Pais, pretende o Governo levar avante
campanha incentivadora desse nivel de ensino, para a qual precisará contar
com o apoio e a colaboração do Congresso Nacional.
Não bastará, porém, ampliarmos a rede de nossas escolas secundárias. Será
preciso, também, estudar o barateamento de suas taxas de matricula, afim de
torná-las mais acessíveis ao maior número possível de adolescentes de todas
as camadas sociais. A realização deste imperativo democrático de elevada
significação social, exigirá a atuação decidida dos Poderes Públicos, tanto de
forma direta, pela criação de ginásios e colégios federais, como indireta e
supletiva, mediante convênios com os poderes estaduais e municipais, bem
como entidades particulares. Alem disso, far-se-á mister reajustar as
finalidades de nossas escolas secundárias e os seus programas às novas
realidades sociais que estamos vivendo. Será necessário dar-lhes maior
amplitude, maior flexibilidade e um sentido social mais compreensivo e
dinâmico. Por fim, é urgente que se intensifique o preparo técnico e
profissional dos novos professores secundários, o que já se iniciou nas
Faculdades de filosofia do País; urge dotar estas instituições de mais amplos
recursos para as pesquisas metodológicas do ensino secundário e para a prática
de ensino tecnicamente dirigida. É do trabalho, competência e dedicação do
professorado secundário que, em última análise, dependerá o êxito de
qualquer iniciativa dos Poderes Públicos.
ENSINO AGRÍCOLA
No setor do ensino agrícola, muito há que fazer, pois não tem ele acompanhado o
progresso do Pais, sendo patente a nossa grande deficiência de técnicos em
agricultura e pecuária. O nosso trabalhador agrícola e pecuarista chegou a ponto
de saturação na sua capacidade de produção empírica. Torna-se imperioso para a
economia nacional substituir os velhos métodos rotineiros pelas novas técnicas e
pela introdução em larga escala de recursos mecânicos que lhes ampliem a
produtividade e melhorem a qualidade e conseqüentemente o valor econômico da
produção.
O ponto de partida para esta radical transformação terá de ser necessariamente o
ensino agrícola bem organizado e aparelhado. É urgente atender-se à sua
ampliação e aperfeiçoamento qualitativo, desde o seu grau elementar até o
superior. Os primeiros passos neste sentido já foram dados com a promulgação da
Lei Orgânica do Ensino Agrícola e com a próxima inauguração da Universidade
Rural, construída no km 47 da rodovia Rio-São Paulo, a qual deverá estar em
pleno funcionamento em 1948. Para o tratamento sério do problema que se
impõe, mister se faz uma ampla cooperação da União com Estados, Municípios e
particulares.
ENSINO INDUSTRIAL
No campo do ensino industrial, tal cooperação vem sendo obtida pois dos 67
estabelecimentos orientados pela União, apenas 23 são federais, havendo 33
estaduais e os restantes municipais ou privados. Das 14.190 matrículas efetuadas
no ano findo, 5.390 correspondem às escolas técnicas da União.
Outros programas de ensino industrial estão atribuidos a uma entidade oficiosa, o
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), destinada a organizar e
administrar escolas de aprendizagem em todo o País, o qual já possui 77
estabelecimentos ou cursos independentes, com um total de 15.768 alunos.
ENSINO COMERCIAL
Analogamente, no setor do ensino comercial, desenvolve-se uma ação
fiscalizadora, por parte do Governo, a que se juntarão as atividades de outra
entidade oficiosa já constituida, o Serviço Nacional de Aprendizagem
Comercial (SENAC).
Paralelamente a essas atividades e tendo em vista o incentivo do ensino
técnico agrícola e do industrial, foram feitos, no inicio do ano findo, acordos
com entidade especializada norte-americana; por esses convênios, contribuirá
anualmente o Governo brasileiro com 10 milhões de cruzeiros por setor, e a
mencionada entidade com 5 milhões. A tais recursos se juntarão os dos
Estados, que, mediante acordos parciais se enquadrem no plano geral previsto.
Na parte agrícola já aderiram 14 unidades da Federação, pretendendo-se, na
primeira fase, o estabelecimento de 80 centros de treinamento. Na parte
industrial já se iniciaram vários cursos, devendo os melhores alunos seguir para
os Estados Unidos, onde terão cursos de especialização, inclusive os de
formação de professores.
Assim, reconhecendo estar o País em um estágio preliminar de
desenvolvimento do ensino técnico, vem o Governo pondo em prática várias
medidas no sentido de incrementá-lo e melhorá-lo, particularmente no tocante
à agricultura e à indústria. Outras providências ainda se farão necessárias,
avultando o reexame dos programas, para dotá-los de maior objetividade e
flexibilidade.
ENSINO SUPERIOR
Voltando agora as vistas para o ensino superior, é de salientar a preocupação
do Governo em estimular a instituição de Universidades, dando-lhes um
regime de autonomia, com apoio financeiro substancial por parte dos Poderes
Públicos, a exemplo do que fora feito com a Universidade do Brasil, na
Capital Federal.
A criação das Universidades não se deve limitar aos aspectos formalisticos,
persistindo o conjunto como um simples agrupamento de escolas sem o
sentido próprio, e sem o ambiente que favorece a formação da mentalidade
necessária;ao contrário, cumprirá aproveitar ao máximo as vantagens
didáticas, orgânicas e funcionais do conjunto, e, ao mesmo tempo, criar o
campus indispensável à elevação do nível cultural, à prática de atividades
extracurriculares úteis do ponto de vista social e à formação do espírito
universitário.
Não bastará, entretanto, a preparação do meio, que, aliás, se completa com o
aparelhamento material adequado; urgirá ainda uma revisão geral do plano de
ensino superior, não só no tocante ao aspecto quantitativo, tendo em vista o
acréscimo de novos cursos aos poucos existentes, que já não correspondem às
necessidades do País, mas também, sob o aspecto qualitativo, adotando
programas e sistemas de ensino mais objetivos, associados à prática real e à
pesquisa.
Dessa forma, será possível incentivar a formação de nossas elites culturais e
corpos técnicos, tendo como ponto de partida as 322 escolas superiores
existentes, onde se eleva o número de matrículas a 25.387 e o de professores a
4.823.
ENSINO SUPLETIVO
Outro ponto importante è o ensino supletivo, pois que 55% da população do País
com mais de 18 anos é constituída de analfabetos.
Levando em conta a necessidade de minorar essa situação, reservou o Governo,
para esse fim, a quarta parte dos recursos do Fundo Nacional de Educação, e
pretende dar andamento a programas corretivos com a brevidade que lhe
permitam as contingências gerais, já tendo para isso elaborado o "Plano de
Alfabetização de Adultos".
EDUCAÇÃO FÍSICA
Não pode ser omitida, outrossim, a preocupação do Governo no tocante aos
problemas de educação física, manifestada através de centros de formação de
professores e do estímulo às atividades desse setor. Tal problema continuará a
receber a atenção que merece, como um dos fatores de melhoria dos índices
desfavoráveis de robustez de nossa população.
1948
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República,
General Eurico Gaspar Dutra, na abertura da sessão legislativa
Condição da própria sobrevivência dos principios democráticos em nosso
pais, os problemas de educação continuam a merecer do Governo a atenção
que taxativamente impõem os dispositivos constitucionais.
No intuito de fornecer subsídios técnicos ao Poder Legislativo, designamos
uma comissão de quinze especialistas em educação e administração escolar,
para proceder à elaboração de um anteprojeto de "Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional", na qual deverão ser não só definidas as linhas
fundamentais de nossa política educacional, mas também adaptados aos
postulados e princípios do regime democrático e federativo, reinstaurado no
país, a legislação e o aparelhamento técnico do ensino.
Já foi ultimado o esboço desse anteprojeto, elaborado pela referida Comissão,
o qual se arrimou a vasto repositório de dados estatísticos, inquéritos, estudos
e contribuições de entidades de classe e nomes consagrados de nossa cultura
educacional. Dada a relevância do assunto, o trabalho deverá ser largamente
difundido e analisado, antes de ser remetido ao Congresso.
Enquanto tal lei não se torne realidade, continuamos a aparelhar os diferentes
setores do sistema educacional, dentro dos recursos técnicos e financeiros
disponíveis, procurando, tanto quanto nos é permitido, incrementar não só o
ensino humanístico, mas também o técnico-profissional, de cuja falta tanto se
ressentem as nossas atividades econômicas.
ENSINO PRIMÁRIO
No tocante ao ensino primário, incentivou-se o desenvolvimento da rede
escolar, visando diminuir o déficit de matrículas que de ano para ano mais se
acentuava, tendo chegado mesmo à elevada percentagem de 90% em alguns
municípios, onde faltam, na maioria dos casos, professores, prédios, material
didático e conseqüente estímulo para a aprendizagem.
A ação supletiva da União neste campo é, pois, imperativa, tendo-se em vista a
insuficiência das rendas dos Estados para tão dispendiosas tarefas. Nesse
sentido, o Governo desenvolve largo programa de construções escolares, que
consistiu inicialmente no financiamento de 2.270 prédios para escolas rurais.
Desses, mais de 500 já se acham terminados e mais de 1.000 em fase
adiantada de construção, convindo esclarecer que, nos núcleos de população
estrangeira, foram localizadas mais de 200 escolas, sendo que igual número
estamos construindo nas regiões de fronteira. No corrente ano, com os
recursos já destinados a esse fim, cerca de 2.000 classes, com residência para
professores, serão construídas, beneficiando diretamente as zonas que delas
carecem.
O alcance dessa providência é fácil de ser medido desde que se saiba ter sido
apurado, em levantamento recente, que cerca de 300 municípios do país não
dispõem de um único prédio público especialmente destinado a escola
primária.
ENSINO NORMAL
A ação supletiva do Governo federal estende-se também ao ensino normal, pois
não é mais animadora a situação do país nesse setor, de tanta significação para a
formação educacional de nosso povo.
Também nesse ramo o índice geral de matrículas, pelas razões antes apontadas, é
insignificante. Dai a insuficiência de professores diplomados, condição essencial
para a eficiência do ensino.
Das 388 escolas normais existentes, 80% são mantidas por instituições
particulares. É imprescindível, pois, a assistência do Governo federal aos Estados.
Para suprir essas deficiências, efetiva-se largo plano de construção de escolas
normais, para a formação de professores rurais.
Já se acha prevista a construção de 40 dessas escolas, 30 das quais deverão
iniciar-se imediatamente.
Completam a ação do Governo federal, no campo do ensino primário normal, os
cursos de especialização e aperfeiçoamento, que vêm sendo realizados pelo
Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos e que beneficiarão professores e
diretores de escolas de vários Estados.
Para o corrente ano, serão admitidos, nos cursos e seminários do Instituto, 120
professores e 50 diretores de escolas normais.
ENSINO SECUNDÁRIO
A par de deficiências já conhecidas, verifica-se que o ensino médio não atende,
também qualitativamente, aos reclamos de nossas necessidades culturais, não só
por falta da flexibilidade indispensável à sua execução, mas também pela própria
definição de suas finalidades, que não se limitam apenas ao preparo para
ingresso nos cursos superiores, como durante muito tempo foi conceito
prevalecente em nosso país.
Embora seja a ação do Governo federal bastante limitada nessa esfera de
atribuições, esforçamo-nos por aperfeiçoar o funcionamento das instituições
incumbidas de administrar o ensino secundário, suprindo deficiências, vícios de
há muito observados, e, enfim, incrementando atividades particulares, até que
seja promulgada a "Lei de Diretrizes e Bases".
E de registrar, neste ensejo, como indice auspicioso, o rápido crescimento da
matricula nos últimos anos.
Esse progresso tem sido, no entanto, desigual nas várias regiões do país.
Atendendo a essa circunstância, providencia o Governo a execução de um
plano de desenvolvimento do ensino secundário, que consistirá em auxílios
diretos e indiretos, mediante a realização de acordos com os Estados,
Territórios, Municípios e particulares, para construção, reconstrução e
apropriado equipamento didático de escolas destinadas a zonas ainda carentes
de tal progresso.
ENSINO SUPERIOR
Em relação ao ensino superior, a cooperação do Governo federal se fez sentir,
no ano passado, sob vários aspectos: apoio e incentivo às Universidades, não
só mediante contribuições financeiras, mas também pelo desenvolvimento de
condições materiais e técnicas, essenciais ao cumprimento integral e eficiente
de suas finalidades.
Assim, foram realizadas obras de vulto na Universidade do Brasil, a fim de
abrigar condignamente a sua Faculdade de Direito; deu-se início à construção
do grande hospital de clínicas da Faculdade de Medicina de Porto Alegre e da
escola de enfermagem, anexa ao hospital de clínicas da Bahia, centro de
estudos que deverá ser em breve inaugurado.
Será consubstanciada no anteprojeto da "Lei de Diretrizes e Bases " a revisão
do plano do ensino superior, que se propõe aperfeiçoar as normas que o
disciplinam e, ao mesmo tempo, integrá-lo nas suas precípuas finalidades.
ENSINO INDUSTRIAL
A rede de ensino industrial, composta hoje de apenas 71 estabelecimentos,
não obstante o seu gradativo desenvolvimento, ainda está muito longe de
atender às necessidades da nossa formação econômica e da mão-de-obra
qualificada, reclamada pela indústria brasileira.
Em 1947, foram executadas obras de ampliação nas Escolas Técnicas de
Curitiba, Salvador e Recife e iniciada a construção de novos prédios para as
Escolas de Cuiabá e Maceió. No corrente exercicio, está previsto o
alargamento da rede federal de estabelecimentos, com maior número de
prédios adequados às suas finalidades.
Também estão sendo realizados estudos com o propósito de tornar positiva a
cooperação do Governo federal, nesse campo de realizações, bem como no
sentido de renovar-se o acordo que celebramos com os Estados Unidos, o que
tornará possível dar maior incremento às atividades da Comissão Brasileiro-
Americana de Ensino Industrial.
Merece agui registro especial a contribuição do Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial, que já mantém em pleno funcionamento e
devidamente equipados 22 estabelecimentos de ensino, além de estar
promovendo a construção de 17 outros edifícios, cujas obras se acham bem
adiantadas. Prevêem-se, para 1948, 26 novas escolas.
ENSINO AGRICOLA
Tem o Governo diligenciado intensificaras atividades do ensino agrícola, segundo
os ditames da lei orgânica respectiva, aprovada pelo Decreto-lei nº 9.613, de 20 de
agosto de 1946. Para esse fim, obtiveram-se dotações orçamentárias que
possibilitarão o preenchimento de cargos de professores de cultura especializada
ou geral, de acordo com as exigências de cada instituto. A matricula em tais
estabelecimentos elevou-se a 2.105 alunos, em 1947, a comparar com a cifra de
1.753 alunos, em 1946.
Ademais, a Comissão Brasileiro-Americana de Educação das Populações Rurais,
criada em virtude de acordo celebrado com o Governo dos Estados Unidos da
América, em 20 de outubro de 1945, vem mantendo centros de treinamento em
fazendas de criação, estabelecimentos de ensino e estações experimentais, pelos
quais já passaram 410 trabalhadores e professores rurais, e onde se acham
atualmente matriculados 1.227 alunos-trabalhadores.
Nas Escolas e Cursos da Universidade Rural, matricularam-se, em 1947, 1.352
alunos. Foram instituídas, ainda, no ano passado, mais 35 bolsas de estudos,
sendo 14 para a Escola Nacional de Agronomia e 21 para a Escola Nacional de
Veterinária. Em 4 de julho de 1947, realizou-se a solenidade da inauguração de
10 novos edifícios da Universidade Rural, no km 47 da rodovia Rio -São Paulo. A
transferência da Universidade para suas novas instalações já foi levada a efeito e,
naquele local, estarão em funcionamento, no corrente ano, tanto os seus cursos,
como diversos órgãos de pesquisas, cujas atividades se articulam estreitamente
com o ensino de agronomia e veterinária.
ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS
Desejo, finalmente, dar-vos conta dos expressivos resultados que estamos obtendo
no primeiro ano de execução da Campanha de Alfabetização de Adultos,
destinada a libertar grande número de patrícios da situação marginal em que se
encontram, impossibilitados de cooperar na atividade econômica do pais e de
participar de sua vida civica, por alta de rudimentares elementos de cultura.
Nunca antes se tentara, entre nós, esforço tão amplo, e tão sistematicamente
organizado, com o fim de desenvolver a educação popular.
Tendo sido prevista a instalação de 10.000 classes no ano findo em todo o
país, acharam-se, entretanto, em funcionamento, ao encerrar-se o exercicio,
10.288 mantidas pelo poder público, além de 3.000 outras que foram
instaladas por iniciativa particular.
A matricula nas referidas classes excedeu a 500.000 alunos; 585.000 cartilhas
foram impressas e espalhadas por todas as unidades da Federação.
Distribuiram-se também 700.000 publicações de matéria adaptada ao nivel
dos neo-alfabetizados, para que, uma vez alcançado o propósito primário da
campanha, se logrem efeitos culturais mediatos, talvez ainda mais
significativos para a Nação.
1949
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República,
General Eurico Gaspar Dutra, na abertura da sessão legislativa
Tem o Governo devotado especiais cuidados á Educação no quadro geral de
nosso progresso e, sobretudo, na consolidação do regime politico.
Cremos que, sem cometer injustiça, se pode afirmar que, no triênio
transcorrido, tem-se diligenciado, com realismo impar e senso prático, por dar
solução conveniente e duradoura ao magno problema.
Dir-se-á, talvez, que agora a Nação se acha preparada para receber e fazer germinar
as sementes das grandes campanhas de educação de adultos e adolescentes
analfabetos e de recuperação do homem do campo, e que o sucesso da empresa
está menos em quem a promove do que na resposta popular alcançada. Não há,
porém, como deixar de reconhecer, singelamente, que tais campanhas nunca se
tinham promovido no Brasil, ou pelo menos com a intensidade e os frutos
colhidos.
Se eram desfavoráveis as condições enfrentadas por outros Governos para
realizar algo de positivo no setor da educação pública, - subsistem elas,
decorrentes, que são, tanto das costumeiras carências do erário, como
também de outras concausas emergentes. Na verdade, essas mesmos
empecilhos, de um modo geral, também agora existem e nem por isso se
deixou de incentivar a política de cooperação intergovernamental, que se
deseja fique como expressão autêntica do atual Governo.
A obra que em três anos se realizou no setor educacional ainda está, por certo,
muito longe de atender ás necessidades mínimas do país. Seus índices revelam,
ainda assim, a extensão do caminho percorrido, mesmo que sejam confrontados
com os que se referem a períodos mais longes de governos anteriores. Na verdade,
nunca dedicaram os orçamentos da União quantitativos tão generosos a essas
questões fundamentais como a partir de 1946. Nunca se exerceu com tanta
vigilância a ação supletiva da União nos Estados, como agora se faz - tanto no
que se refere ao ensino primário e rural, como no que diz respeito ao ensino
técnico e superior. No setor da educação primária, inaugurou-se mesmo uma
forma de empreendimento conjunto, para melhor atacar o problema, que não mais
poderá ser esquecida ou relegada: a cooperação administrativa dos dois niveis de
governo - o federal e o estadual - foi posta à prova com tal sucesso pela
experiência dos dois últimos anos, e frutificou tão amplamente, que até parece
deva ser o processo definitivo pelo qual se poderão corrigir debilidades das
finanças de Estados, para custear certos ideais de bem-estar público, inscritos nas
suas Constituições em harmonia com a Carta Magna.
DEMOCRATIZAÇÃO DO ENSINO
O ideal da democratização do ensino, tendência predominante nos paises de
cultura européia desde a Primeira Grande Guerra, ainda não logrou até hoje
lançar, no Brasil, raízes profundas que produzissem efeitos duradouros. A
educação em nossa terra ainda não permite, com efeito, ao indivíduo,
independentemente de condições sociais, perfeita realização de sua
personalidade, a par de uma soma de conhecimentos técnico-profissionais
capazes de garantir-lhe a existência e de situá-lo como valor real entre as
forças produtivas da nação.
Visando à consecução desses objetivos, tanto a União como alguns Estados
fizeram, sem espirito de sistema, tentativas em determinados campos do
ensino. Cedo, porém, as experiências se frustraram, principalmente pela falta de
ambiente social favorável, reduzindo-se a movimentos descontínuos e
dispersos, que não tinham forças para subsistir ou prevalecer. E essa foi a
situação em que, por exemplo, permaneceu o ensino primário, muito embora
já em 1930 se proclamasse a necessidade da intervenção direta ou indireta do
Governo Federal para solução do grave problema.
Entretanto, a despeito de disposições legais que se anunciavam auspiciosas, o
problema educacional se manteve, até há bem pouco tempo, praticamente
com as caracteristicas anteriores.
A promessa feita na Constituição de 1934 não logrou concretizar-se, pois o
Plano Nacional de Educação, previsto naquele Estatuto, foi relegado ao
esquecimento. Ao contrário, desenvolveu-se em seguida uma política
educacional, que se fundava em postulados autoritários e antidemocráticos,
deformando a pouco e pouco os próprios fundamentos do tradicional
humanismo brasileiro.
Em relação ao ensino secundário, idênticos eram os males que se observavam.
Até 1934, orientou-se o ensino médio visando especialmente à formação da
elite intelectual do país; constituía um fim em si mesmo, embora se destinasse
a permitir matricula, dos que o houvessem completado, nos cursos superiores.
Era uma tendência a refugar, pois não se asseguravam às classes menos
favorecidas possibilidades de ascensão intelectual. Tais perspectivas, porém,
como já se disse, logo também se desvaneceram e o problema passou a ser
estudado em harmonia com as diretrizes da Carta de 1937, o que vale dizer, à
base de principios que não correspondiam ao ideal de democratização do
ensino.
As reformas de 1942 e 1943 representaram a esse respeito um real
aperfeiçoamento, pois facilitavam maior articulação entre o primeiro ciclo
secundário e os cursos técnicos, e, especialmente, a possibilidade da ascensão
até a universidade, através dos cursos profissionais. Entretanto, as
contingências da ordem politica reinante e as inevitáveis influências do
espírito centralizador e burocrático que lhe eram inerentes dominaram a
execução de tais reformas, prejudicando as possibilidades de melhoria de
nosso ambiente educacional.
Desde que se admita em nosso pais que a solução do problema educacional
condicionará a própria sobrevivência dos principios democráticos, logo se
compreenderá por que se tem empenhado o Governo em estruturar um
sistema educacional, cujas características marcantes se acomodem fielmente
aos postulados da Constituição de 18 de dezembro.
O sistema educacional consagrado pelos Constituintes de 1946 repousa, com
efeito, na oportunidade, que facilita a qualquer brasileiro - pobre ou rico,
da cidade ou dos campos - de escalar, até ao último degrau, a chamada
"escada educacional", com a única restrição dos limites de seu talento e de
seus dotes pessoais.
Desdobrando tais premissas, o Governo procurou planejar uma educação
básica que permita a qualquer indivíduo verdadeiramente capaz ascender da
escola primária, através da secundária, è educação superior e participar das
classes dirigentes do país, escolhido assim sem atenção a privilégios de
qualquer natureza.
LEI DE DIRETRIZES E BASES
O ano que acaba de findar foi assinalado, no campo das atividades educacionais,
por um acontecimento de especial relevância: o encaminhamento ao Congresso
Nacional do anteprojeto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
A iniciativa resultou do propósito de contribuir para o cumprimento do
dispositivo constitucional, tendo o Executivo solicitado para tanto a
colaboração dos mais autorizados expoentes de nossa cultura pedagógica.
Representará essa lei, na evolução das nossas instituições de ensino, uma etapa
de decisiva significação: será a fundação da política educacional brasileira, em
conformidade com as inspirações democráticas consagradas na Constituição, e
incorporará um rico manancial doutrinário e de experiência para a reestruturação
do aparelhamento didático, dotando-o de plena eficiência. Vazada nos moldes
gerais, explicitamente preconizados pela Carta de 18 de setembro, que
estabeleceu a necessidade de uma nova política de educação, com objetivos
definidos, a coberto da influência de sistemas filosóficos contrários às tradições
nacionais, há de ser uma lei que, a exemplo dos estatutos ingleses, necessitará
mais de desenvolvimento do que de reformas. Será um flexível conjunto de
prinpios, de bases, de limites e de faculdades criadoras : uma verdadeira
constituição do ensino, que suscitará e modelará os sistemas estaduais, cujas leis
deverão obedecer ao seu espírito.
Com essa Lei fundamental complementar, a primeira de ensino a ser entre nós
elaborada estritamente em moldes democráticos, è de esperar que cesse de vez o
interminável processo das sucessivas reformas que temos suportado. O Governo
reuniu e sistematizou abundante material de estudo, ouviu entidades dedicadas
ao problema, e, apôs árduos e intensos trabalhos, que duraram mais de um ano,
ultimou o anteprojeto. Este foi publicado para
receber sugestões, tendo sido objeto de análises e apreciação de numerosos
especialistas. Desse exame aberto resultaram algumas alterações que nos
pareceram aconselháveis, mas que. de nunhum modo, se chocam contra as
normas gerais e o sistema a que obedeceu o esquema.
Preliminarmente, sua diretriz fundamental é a implantação de um sistema
contínuo e articulado de educação para todas as classes, desde o ensino
infantil até o superior. Renova-se, destarte, revestida de fortes garantias, a
esperança que a Constituição de 1934 despertara e que as circunstâncias
sacrificaram.
Outra grande vitória, que, por certo, sobreleva à recuperação da autonomia na
órbita do ensino - que é corolário natural aa própria Federação -, é a
unicidade do sistema educacional brasileiro, que será alcançada em todas as
órbitas estaduais, segundo o princípio da equivalência pedagógica e não mais
conforme o falso princípio da uniformidade pedagógica A unidade pela
diversificação, ao contrário da unidade pela simples uniformização, foi a
norma que prevaleceu em harmonia com as características da vida nacional.
Reconheceu-se, no anteprojeto, a necessidade da interferência do Estado na
educação nacional, já que se trata de um pressuposto que promana de
objetivos superiores, tais como: conservação da unidade nacional,
funcionamento do regime democrático e redistribuição social dos indivíduos.
Estabeleceu-se também com cuidado o sistema de fiscalização profissional,
cuja necessidade se impõe, num país onde o direito de exercicio das
profissões se baseia em diplomas concedidos por estabelecimentos de ensino;
não pode o público prescindir de um minimo de segurança quanto à
competência dos profissionais.
Ao lado da autonomia dos sistemas locais e da flexibilidade das escolas, a
unidade do aparelho escolar ficará assegurada, tanto pelos objetivos comuns
atribuídos à educação nacional como pela identidade de mínimos
morfológicos funcionais impostos aos sistemas locais. A função unificadora
será exercida por três entidades centrais: o Ministério da Educação, cujas
atribuições deverão ser sobretudo de estímulo e assistência técnica, e não de
simples vigilância; o Conselho Nacional de Educação, ao qual é conferido
papel de acentuado relevo; e a Conferência Nacional de Educação, cuja ação
persuasiva será, em dúvida, valiosa e eficaz.
É atribuída à escola primária uma finalidade de integração social, não só
através da iniciação nas chamadas técnicas elementares, senão também por
meio de noções de civismo, principios e atitudes morais.
Relativamente à educação de grau médio, o anteprojeto concilia os dois
sistemas - o cultural e o utilitário -, permitindo a circulação entre um e outro,
e assegurando, outrossim, ao diplomado por escola profissional, acesso ao
colégio universitário e daí à escola superior.
São conhecidas as deficiências de nossos cursos de formação técnica. Eis por
que o anteprojeto, de acordo com a lição da nossa própria experiência e da
melhor doutrina, amplia o alcance modesto das escolas profissionais de
qualquer gênero, prevendo que nelas se ministrem disciplinas de natureza
cultural, com as quais se evitarão os inconvenientes de possíveis deformações
profissionais.
O ensino superior é definido como de caráter seletivo, objetivando o
desenvolvimento da alta cultura e da pesquisa cientifica. O respectivo sistema,
tal como é previsto no projeto, baseia-se na autonomia das escolas isoladas e na
autonomia ainda mais ampla das universidades. Sem invadir o campo da
autonomia didática, administrativa e financeira, o projeto cuidou, entretanto,
de traçar nitidamente os limites que a circunscrevem.
Dispõe ainda o anteprojeto sobre numerosos aspectos ligados à definição das
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, tais como : providências para prevenir
vícios, inclusive a displicência e a comercialização do ensino, e animar uma
atividade escolar mais intensa em alguns Estados; caracterização das
responsabilidades relativamente ao direito à educação e ao dever de educar, às
relações entre a educação e a família, e à iniciativa privada; variedade de cursos
para atender às diferenças entre os indivíduos e à diversidade de suas aptidões
ou de seus interesses culturais; normas para a execução do principio de
gratuidade e diretrizes práticas para sua progressiva ampliação, mediante regras
ordenadoras da atividade educativa do pais, nas suas diversas esferas.
O sistema de fiscalização intensiva descerá a minúcias sobre as condições de
reconhecimento das escolas, o processo de escolha dos seus professores, a
organização dos currículos e o regime de aulas e de provas, assegurando uma
vigilância, por parte do Governo, que impossibilitará seja a autonomia usada
perniciosamente.
Estas considerações mostram à sociedade a repercussão que esse diploma legal
terá na vida brasileira : seus dispositivos dizem respeito, em verdade, a
problemas fundamentais de nossa formação e prescrevem rumos e normas
segundo os quais poderá processar-se a renovação da mentalidade nacional e o
aperfeiçoamento cultural e civico das novas gerações.
Dirijo-vos, pois, um apelo insistente e grave, para que, nesta sessão legislativa,
reserveis o melhor de vosso tempo, do vosso patriotismo e das vossas luzes ao
exame desse anteprojeto de Lei de Diretrizes e Bases do Ensino, pois não será
exagero afirmar que seremos julgados no futuro pelo que fizermos em favor
do povo brasileiro ao lhe ministrar a educação que merece e tem o direito de
reclamar.
Enquanto a discussão e votação do anteprojeto da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional são aguardadas confiantemente pela opinião pública do
pais, o Governo Federal vem envidando esforços no sentido de aparelhar o
sistema educacional vigente com o máximo disponível de recursos técnicos e
financeiros.
Ensino Primário
A atuação supletiva da União no setor primário - indispensável num pais de
tão elevados índices de analfabetismo - tem sido nos últimos anos deveras
relevante. A discriminação de competência, que nos foi legada pela
Constituição de 1891, havia, de certo modo, entorpecido essa atuação e o seu
ímpeto de realizações e empreendimentos, em virtude de uma estrita
concepção do federalismo. A Constituição de 1934 tentou remediar o mal,
mas o fez timidamente. Caberia à Constituição de 1946 estabelecer um
quadro geral dentro do qual se tomaria possível essa obra de intima
cooperação administrativa entre os vários niveis de governo.
Na Mensagem que vos dirigi em 1947, por ocasião da abertura de vossos
trabalhos, arrolei os dados numéricos mais significativos a respeito do
problema do ensino primário em nossa terra. Longo foi o rol de deficiências
que eles exprimiram e, à primeira vista, dir-se-ia uma situação que desafiava a
operosidade do administrador nacional. Vale talvez reavivar a lembrança desse
quadro para que se possa aquilatar o alcance das realizações de um biênio.
Ao fazermos um balanço da situação, em fins de 1946, verificamos que, para
cerca de 5.800.000 crianças entre sete e 11 anos - idade mais apropriada
para a formação de hábitos e aquisição das técnicas fundamentais da cultura -,
dispunhamos apenas de 89.419 professores primários, ministrando ensino em
40.235 unidades escolares a cerca de 3.300.000 alunos. Esses dados estavam
longe de corresponder às necessidades reais de nossa população escolar e (o
que é mais grave) acusavam mesmo um progressivo declínio. Assim, o total de
unidades escolares, que em 1942 chegava a 43.975, vinha gradualmente
diminuindo de ano para ano, chegando tal redução, no último qüinqüênio, a
3.740 unidades, fato estranhável ante o crescimento continuo da população
em idade escolar primária.
Fenômeno idêntico se registrava no movimento de matrículas em nível
primário. Este, que em 1941 atingira o total de 3.34 7.642, vinha decrescendo,
anualmente, até acusar, em 1945, a cifra de 3.295.291, isto é, uma I
diminuição de 52.351 matrículas.
A situação nos pareceu ainda mais grave ao verificarmos que, de 3.295.291
crianças matriculadas em nossas escolas primárias em 1945, apenas 2.333.696
tiveram uma freqüência média regular e somente 1.522.412 obtiveram
aprovação nos exames de promoção.
Tomando por base a freqüência real dos escolares e não os dados inseguros da
matrícula, que muitas vezes não se positivam, verificamos que cerca de
3.500.000 futuros cidadãos brasileiros estavam privados dos benefícios de uma
escolaridade sistemática e relegados ao analfabetismo ou ao semi-
analfabetismo, justamente nos anos mais propícios à aprendizagem das
técnicas e lastros fundamentais da cultura.
Era uma situação tanto mais alarmante quanto é certo que para enfrentar o
problema, dispunha o Governo Federal de recursos especiais para lhe custear
as atividades. No entanto, esse Fundo Nacional do Ensino Primário, criado em
1942, reformado em 1944 e regulamentado em 1945, jamais teve a necessária
aplicação.
Os acréscimos das dotações com que o Congresso o reforçou têm agora
permitido ao Governo mobilizar recursos de vulto para a execução de
iniciativas de amplas proporções e real interesse coletivo. Assim, foram
instaladas 10.416 classes de educação de adultos, em 1947, e 14.110, no ano
findo, com matrícula superior a um milhão de brasileiros, em todo o território
nacional; iniciou-se a construção de mais de 4.000 escolas rurais, com
residências anexas para professores, inclusive nas zonas de fronteira e de
colonização estrangeira, e, dessas escolas, mais de 1.000 se acham concluídas.
Realizaram-se convênios com os Estados para a construção de dezenas de
escolas normais regionais e ginásios nas zonas que deles mais careciam.
Criaram-se cursos de aperfeiçoamento no Rio de Janeiro e em vários Estados
para professores primários. Forneceram-se subvenções e auxílios substanciais
aos estabelecimentos de ensino de grau médio e superior e introduziram-se
melhoramentos importantes nas condições materiais dos que se encontram sob
a responsabilidade do Governo Federal.
Muito ainda nos resta fazer no setor do ensino primário, pois que,
lamentavelmente, apesar de nossos esforços, para uma população infantil em
idade escolar que oscila entre 5 milhões e meio e 6 milhões, a capacidade de
matricula ainda não se eleva a 3 milhões e meio.
É certo que a solução do problema está vinculada a fatores e circunstâncias
inerentes ao estágio econômico e social do pais, que reflete o grau de
progresso material atingido. No entanto, se o Governo Federal não levar a
cabo uma decisiva campanha de ensino, o Brasil se debaterá indefinidamente
num circulo vicioso já que é óbvia a dependência do progresso material em
relação ao nivel de educação do povo.
Acresce que também não é possível esperar possam todos os Estados atender,
dentro de suas possibilidades financeiras, à premência dos esforços que neste
setor precisam ser despendidos. A intervenção do Governo Federal é, pois, de
caráter necessário, e singular seria que permanecesse indiferente ao problema.
Com efeito, segundo os dados estatísticos, há unidades federativas que
deixam de atender a 75% de sua população em idade escolar; em outras, o
déficit teórico varia entre 60% e 70%; raras apresentam índices inferiores a
50%. Esta desoladora realidade, todavia, não se exprime apenas em dados
percentuais: os números absolutos também são eloqüentes. Minas Gerais, por
exemplo, teoricamente conta com quase 400.000 crianças fora das escolas; a
Bahia apresenta igual situação, conquanto sua população seja apenas a metade
do grande Estado mediterrâneo; em Pernambuco, há mais de 200.000
crianças, e no Ceará e em São Paulo, cerca de 200.000, que também esperam
pela sua oportunidade escolar.
¿igualmente desanimador o movimento de matrícula na órbita municipal, o
que demonstra ser profundo e extenso o mal, reclamando para sua solução
recursos e prazos que estão fora de nosso alcance imediato. Para isso, aliás,
muito contribui a fraca densidade demográfica de, pelo menos, 500
municípios brasileiros. Lembre-se mesmo que, em 20 municipios, 90% das
crianças em idade escolar não estão matriculadas no curso primário; em 142
municipios, esse déficit varia de 80 a 90%; em 245, oscila entre 70 e 80%; em
220, entre 60 e 70%; em 180, entre 50 e 60%; abaixo de 50%, encontram-se
apenas 675.
A crise de assistência educacional se apresenta, contudo, com aspectos ainda
mais sombrios nas regiões rurais. De fato, das crianças matriculadas no curso
primário, 36% pertencem aos núcleos rurais, 50% às zonas urbanas e 12%às
zonas distritais. Concorrem para essa situação, além dos fatores gerais e
especificos decorrentes da rarefação demográfica e do baixo nivel social e
econômico, a falta de prédios adequados e a insuficiência de professores
habilitados. Convém mesmo lembrar-vos que, de acordo com o último
inquérito realizado, de 28.302 prédios escolares destinados ao ensino
primário, apenas 4.927 pertenciam aos poderes públicos e somente 70%
destes haviam sido construidos especialmente para fins escolares.
Seguido de um toque de reunir dirigido a todas as forças construtivas da
Nação - de que resultou adotar o Governo, nesse setor, uma política de
ampla assistência supletiva da União aos Estados -, foi por mim lançado o
grito de alarma em discurso que pronunciei na Bahia, durante a campanha
presidencial, descrevendo tal estado de coisas. Afirmei, então, que "à União
deveriam caber fortes encargos no incremento da educação popular, tendo em
vista a insuficiência das rendas tributárias dos Estados para tão onerosa tarefa
". Não era apenas um juizo emitido à vista de uma situação: era e
continua a ser um programa de ação que sempre me pareceu irrecusável, e agora
me proponho levar avante.
De acordo com essa orientação, teve início, a partir de 1946, a construção de
unidades escolares nas zonas rurais, de fronteira e de colonização, que forarn
aumentando no último biênio, de maneira a permitir que a colaboração
financeira e técnica da União produzisse os mais promissores frutos. A tímida
tentativa de 1946, que visava à construção de 28 escolas por Estado, é hoje a
campanha vitoriosa que firmou acordos para construção de 4.360 prédios
escolares, dos quais mais de 1.000 se encontram inteiramente concluidos e já em
funcionamento ; mais de 2.000, em fase final de acabamento, sendo que mais de
500 estarão ultimados por ocasião da abertura das aulas do corrente ano letivo.
Além desses prédios, firmaram-se acordos para a construção de 100 pequenos
grupos escolares, que já estão em adiantada fase de construção.
Julgo o alcance dessa política plenamente demonstrado nas realizações em
apreço e nos benefícios que delas se vêm colhendo em todo o pais. Atualmente,
não há município do Brasil - e poucos distritos estarão em situação diversa -
que não disponha, pelo menos, de uma escola rural, em construção ou já
funcionando em prédio próprio, construído em obediência aos requisitos da
pedagogia moderna.
Campanha de Alfabetização de Adultos
O plano de ensino supletivo para adolescentes e analfabetos, lançado em 1947,
alcançou plenamente, no período já transcorrido, os seus principais objetivos.
Graças aos seus serviços, vão sendo recuperadas, para as atividades construtivas e
para as responsabilidades da vida cívica, consideráveis massas de nossa
população que, estagnadas pelo analfabetismo, viviam em situação marginal,
propicia às influências dissolventes e negativas.
São convincentes e auspiciosos os resultados já obtidos, qualquer que seja o
aspecto pelo qual se analise a Campanha. A convocação da solidariedade coletiva,
feita pelo Governo, em beneficio dessa causa, foi correspondida com
excepcionais demonstrações de espirito de cooperação de todos os grupos
sociais.
As repercussões do movimento ultrapassaram mesmo as nossas fronteiras,
despertando interesse em instituições educativas e órgãos de pesquisa, que foram
unânimes em reconhecer a importância e a significação do empreendimento
ensaiado no Brasil. Recentemente, em sua última conferência mundial, a
Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO)
apontou como digno de imitação o trabalho que se efetuou entre nós, escolhendo
o Brasil para sede, no correr deste ano,
de uma reunião especial dedicada ao estudo do assunto. Finalmente,
publicações especializadas do estrangeiro também se tém referido com
entusiasmo à obra empreendida, o que demonstra a atenção com que a vêm
acompanhando, tanto do ponto de vista cultural, como do administrativo. A
Campanha de Educação de Adultos apresenta, em verdade, três aspectos de
iniciativa inteiramente singular: como empreendimento pedagógico, como
movimento de educação social e, finalmente, como obra de cooperação
interadministrativa, experiência que ainda não fora tentada no pais em bases
tão amplas e completas.
Em 1947, os cursos se elevaram a 10.416, ao passo que em 1948 funcionaram
mais de 13.000 com auxilio federal, mediante acordos com os Estados, os
Territórios e o Distrito Federal, não sendo computadas as classes que
espontaneamente se criaram graças à operosidade de organizações culturais,
instituições religiosas, empresas comerciais e industriais, ou ainda, por
voluntários individuais. O movimento estatístico, que está sendo apurado
pelos boletins mensais de freqüência de cada uma das classes, ainda não
concluído, permite afirmar que a matrícula geral de ensino supletivo em todo
o país excedeu a meio milhão de alunos, em 1947, e se aproximou de 700.000
em 1948. Sabendo-se que antes não excedia a 100.000, o movimento anual de
todos os alunos de classes de ensino supletivo do pais, inclusive os dos
patronatos e instituições semelhantes, calcula-se que os adultos diretamente
beneficiados, neste primeiro biênio, foram em número superior a um milhão.
Para esse empreendimento impar, contou o Governo, em 1948, não somente
com 25% dos recursos do Fundo Nacional de Ensino Primário, consignado no
orçamento, na importância de Cr$ 28.250.000,00, senão também com uma
dotação especial de Cr$ 17.000.000,00, que, no mesmo orçamento, o Poder
Legislativo destinou aos trabalhos de educação de adultos. Os gastos, em
1947, foram de Cr$ 26.655.75 7,20 e os de 1948 atingem cerca de 40 milhões,
o que se explica pelo maior número de classes em funcionamento, bem como
pelas providências tomadas para dotá-las com melhor aparelhamento técnico,
essencial ao programa da Campanha.
Ensino Normal
A ação supletiva da União no campo do ensino primário, além da ampliação da
rede nacional de estabelecimentos dedicados a esse fim, projeta-se, também,
no plano do ensino normal e completa-se com as oportunidades de
aperfeiçoamento e especialização que oferece a professores e diretores de
escolas nos Estados.
Não desconheceis, por certo, que o déficit de professores diplomados é
especialmente elevado:das escolas normais existentes, mais de 80% são
mantidas por instituições particulares; assim, não basta construir o prédio
para a escola; cumpre também auxiliaros Estados nos seus programas de
formação de professores.
Graças aos recursos concedidos pelo Congresso, estão sendo firmados acordos
para construção de 45 novas escolas normais, que muito contribuirão para
atenuar as graves deficiências que se observam neste tão importante domínio
das atividades educativas.
Tal como o programa dos estabelecimentos rurais, a distribuição e a localização
dessas escolas normais obedecem à prioridade das necessidades regionais. É de
notar, ainda, uma circunstância excepcional: é a primeira vez que a União
dilata sua ação supletiva ao ensino normal, mantendo cursos de especialização
e aperfeiçoamento para professores e diretores de escolas, além de cursos
regionais com a mesma finalidade.
Ensino Médio
Os estudos realizados para a elaboração do anteprojeto de Lei de Diretrizes e
Bases redundaram em amplo inquérito sobre a situação do ensino médio no
Brasil e em relação à crise por que ele vem passando em todos os países.
Relacionaram-se, destarte, em todos os seus aspectos, as deficiências,
deformações e falhas que o viciam, assim como as causas históricas e
influências que têm atuado sobre o mesmo.
Quando se começa a considerar o assunto, impressiona, desde logo, dadas as
limitações de nosso meio, o aumento extraordinário, nos últimos tempos, do
ensino secundário, comercial, normal, industrial, doméstico e artístico.
De pouco mais de mil, em 1932, acolhendo cerca de 120.000 alunos, o número
de escolas desses ramos se eleva hoje a 4.000 e o de alunos a 600.000. No
ensino secundário, propriamente dito, os estabelecimentos ascenderem de
pouco mais de duas centenas a uma cifra superior a mil.
E forçoso reconhecer, porém, que nesse aumento de iniciativas, a participação
dos empreendimentos oficiais foi mínima, cabendo à cooperação privada mais
de 80% do total de escolas e alunos. Cumpre, ainda, corajosamente registrar
que, pela extensão e variedade de aspectos sociais que apresenta o Brasil, os
órgãos federais, excessivamente centralizados, não raro exerceram, até 1946,
com sua atitude predominantemente fiscalizadora, ação de completo
desestímulo.
Todas essas falhas só poderão ser erradicadas, em definitivo, atraves de nova
conceituação do ensino médio.
No anteprojeto da Lei de Diretrizes e Bases, procurou-se estabelecer uma
conciliação feliz entre os dois sistemas - o cultural (ensino secundário) e o
utilitário (ensino profissional) -, atenuando-se a rigidez que porventura
caracterize cada um.
O traço predominante que esta solução oferece é a possibilidade de circulação
entre um e outro sistema, assegurando a ascensão até à universidade, através
dos cursos profissionais, dos que se não tenham beneficiado com um curso
secundário regular. Consagra-se, destarte, a orientação realmente democrática,
por que tanto vimos trabalhando e que deve informar a educação brasileira.
Ensino Industrial
Registraram-se, no ano findo, sensíveis progressos no desenvolvimento e na
execução do programa do ensino industrial.
A rede de escolas industriais e escolas técnicas compõe-se de 73
estabelecimentos, dos quais 24 são federais, 31 são equiparados e 18 são
reconhecidos; 38 são de nivel industrial e 35 de nível técnico.
Empenha-se o Governo em dotar as escolas técnicas de edifícios modernos,
que satisfaçam todos os requisitos do ensino que ministram. Em Maceió,
acaba de ser lançada a pedra fundamental do novo edificio da Escola
Industrial, que terá capacidade para 600 alunos e abrangerá uma área de
12.206 metros quadrados. Edifício moderno, terá todas as dependências
necessárias ao ensino teórico e prático, além de instalações para alunos
internos, auditório, ginásio coberto e amplo campo para esportes. A sua
construção está orçada em Cr$ 15.400.000,00.
O novo edificio da Escola Industrial de Cuiabá, em inicio, também de linhas
modernas, terá capacidade para 500 alunos. Sua área total é de 8.028,94
metros quadrados e a sua construção está orçada em cerca de Cr$
10.000.000,00. O projeto consigna todos os elementos indispensáveis ao
funcionamento de uma escola profissional moderna.
Outra construção, iniciada há pouco, è a Escola Industrial de Florianópolis. Sua
capacidade será de 1.500 alunos, dispondo de instalações modernas para salas
de aula, oficinas, ginásio, auditório e de dependências amplas para
administração, refeitório, dormitórios para 166 leitos, vestiário, etc. O
orçamento atinge Cr$ 15.189.396,00 e a área total de construção è de 12.764
metros quadrados.
A Escola Técnica de Natal terá também novo edificio para suas instalações.
Não se recomendando a ampliação do edificio onde funciona, atualmente, no
centro da cidade, desapropriou-se extensa área no bairro do Tirol e nela foi
projetado, em condições vantajosas, o novo edificio, com capacidade para 600
alunos, cuja construção, orçada em Cr$ 16.000.000,00, se iniciou em
dezembro último.
Na Escola Industrial de Fortaleza prossegue a construção do pavilhão de
ensino, com dois pavimentos, capacidade para 800 alunos e area de
3.396m
2
. Ampliase o corpo principal do edificio da Escola Técnica de
Curitiba para instalação de novas oficinas, salas de estudo e de estar,
dormitórios, vestiários, enfermarias, etc.
Nas escolas sediadas no Distrito Federal, Vitória, Manaus, Salvador e Recife
estão sendo executadas obras de ampliação ou se constroem pavilhões para
oficinas, salas e outras dependências. Em Belo Horizonte, retomou-se a
construção da Escola Técnica, paralisada há mais de dois anos e insistentemente
reclamada pelo desenvolvimento industrial que se processa naquela Capital. O
edifício terá quatro pavimentos e capacidade para 500 alunos.
Não se limitou o Governo a construir novos edifícios ou ampliar os existentes.
Melhora, renova e amplia as atuais instalações das escolas e adquire novos
equipamentos. No exercício passado, cerca de Cr$ 8.000.000,00 foram
despendidos na aquisição de máquinas operatrizes, aparelhos, utensílios de
oficinas e de laboratórios e materiais diversos, a serem distribuídos pelas
diferentes escolas.
Para 1949, estão previstas, entre outras, as seguintes providências:
continuação do aparelhamento das oficinas e laboratórios escolares;
organização de novos tipos de séries metódicas; e prosseguimento no
programa de construções.
Está sendo objeto de estudos a adoção de uma política de cooperação com os
governos estaduais, municipais e instituições privadas, visando oferecer
assistência técnica e financeira em beneficio do desenvolvimento do ensino
industrial.
Ensino Superior
São igualmente expressivas as realizações do Governo no setor do ensino
superior.
Entre as providências por que se traduziu a assistência do Governo às
universidades do país, cooperando para o desenvolvimento das mesmas,
citamos: a criação das universidades do Recife e da Bahia, sob o regime de
autonomia; a inauguração do majestoso Hospital de Clínicas de Salvador, cujas
instalações foram concluídas nos dois últimos anos, tendo o Governo
adquirido, igualmente, todo o seu equipamento, que é, sem dúvida, o mais
moderno do país. Suas enfermarias dispõem de 700 leitos. Acha-se também em
fase final de construção, que por muito tempo esteve paralisada, a escola de
enfermagem, anexa ao Hospital.
Apesar de dispor do necessario crédito, concedido pelo Congresso, em 1936, o
Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina de Porto Alegre continuava
apenas em projeto. Tomaram-se providências para que, em 1947, fosse
iniciada a sua construção, e, no ano passado, lançaram-se as fundações do seu
monumental edifício de 15 pavimentos, com capacidade para 540 leitos, além
de ambulatórios para 500 doentes.
Vultosos foram, também, os auxílios concedidos para a construção do
Hospital de Clínicas da Universidade de Curitiba e para a Cidade Universitária
de Minas Gerais.
Ensino Rural
Além das escolas de ensino superior de agronomia e veterinária mantém o
Governo escolas de iniciação agrícola, escolas agrícolas e escolas agrotécnicas,
destinadas à formação de técnicos nos diversos misteres agricolas. O
aparelhamento material dessas escolas tem sido objeto de especial cuidado, e,
em 1948, nelas se realizaram, á conta de dotações do Orçamento da União,
obras de readaptação e ampliação avaliadas em Cr$ 9.233.793,00. Nos dois
últimos anos equipararam-se, outrossim, esses estabelecimentos agricolas, o
que permitirá a ampliação de suas áreas de cultura, tendo em vista o auto-
abastecimento, pelo menos, de produtos regionais.
A Superintendência do Ensino Agrícola e Veterinário mantém 14 escolas em
12 Estados da União. Em 1946, a freqüência nesses estabelecimentos era de
1.513 alunos e, em 1948, foi de 2.203. Verificou-se, destarte, em dois anos do
atual Governo, um aumento de 790 alunos, o que representa um acréscimo de
50% da freqüência.
A fim de tornar esses estabelecimentos centros de atração das populações
vizinhas, neles se realizam semanas ruralistas, durante as quais se utilizam o
cinema, o rádio, demonstrações práticas, palestras educativas e exposições
regionais, como meios capazes de esclarecer e orientar o homem do campo na
melhoria de suas condições de vida e de seus métodos de trabalho. Dentro
desse programa, cumpre mencionar que, nos dois últimos anos, houve 17
semanas ruralistas em diversos pontos do território nacional.
Na realização das semanas ruralistas e no aparelhamento dos estabelecimentos
federais de educação rural, tem sido valiosa e eficiente a cooperação da
Comissão Brasileiro-Americana de Educação das Populações Rurais, criada em
virtude do acordo assinado entre o Governo do Brasil e o Governo dos Estados
Unidos da América, a 20 de outubro de 1945 e ratificado em 2 de abril de
1946. Para a execução das finalidades previstas nesse acordo, instalaram-se 34
centros de treinamento, sendo 20 em cooperação com estabelecimentos
federais, quatro com estabelecimentos estaduais e 10 em colaboração com
organizações particulares. Concluiram, em 1947, os cursos
dos Centros de Treinamento 624 rapazes e moças, e, em 1948, foram em
número de 792 os alunos que terminaram os cursos de tratoristas,
trabalhadores rurais, práticos em veterinária e agricultura, economia
doméstica e normalista rural.
Concederam-se, também, em 1948, auxílios no total de Cr$ 4.400.000,00 à
Escola Superior de Agricultura e Veterinária do Paraná, à Escola de Agricultura
de Pernambuco, à Escola de Agronomia do Ceará, à Escola de Agricultura de
Lavras, à Escola Superior de Agricultura de Minas Gerais, à Escola Superior de
Veterinária de Minas Gerais, à Escola Fluminense de Medicina Veterinária, à
Escola Técnica de Agricultura do Rio Grande do Sul e à Fábrica-Escola de
Laticínios Cândido Tostes.
Desde 1º de fevereiro de 1948, encontrava-se a Universidade Rural, com todos os
órgãos que a integram, em pleno funcionamento nas suas novas e magníficas
instalações, no km 47 da rodovia Rio-São Paulo.
Nos diversos cursos da Universidade Rural foram matriculados, em 1948, 972
alunos, sendo 141 em agronomia, 87 em veterinária e 744 nos cursos de
Aperfeiçoamento, Especialização e Extensão. Além dos cursos normais de
agronomia e veterinária, funcionaram, em 1948,13 cursos regulares e 24 cursos
avulsos.
A transferência da Universidade Rural para suas novas instalações vem
possibilitando não só maior eficiência do ensino, principalmente de ensino
prático, senão também grande desenvolvimento das atividades universitárias em
gera!. Assim é que, em 1948, teve lugar a Primeira Semana do Fazendeiro da
Universidade Rural, com o objetivo de proporcionar aos lavradores e criadores
do Distrito Federal e do Estado do Rio a possibilidade de aperfeiçoar seus
conhecimentos, por meio de cursos rápidos sobre diversos assuntos de interesse
imediato para a melhoria de sua lavoura e criação.
Em 29 de outubro 1948 também se inauguraram no km 47 da rodovia Rio-São
Paulo obras diversas destinadas a completar a instalação da Universidade Rural
e de outras dependências do Centro Nacional de Ensino e Pesquisas
Agronômicas. Essas obras, nas quais foi aplicada a importância total de Cr$
26.275.818,30, são as seguintes: aviário e praça de desportos na Escola
Agrícola Ildefonso Simões Lopes, abastecimento de gás para as dependências do
Centro Nacional de Ensino e Pesquisas Agronômicas, compreendendo usina,
equipamento e rede de distribuição; instalação de campo para o ensino
experimental e demonstrativo da cadeira de Horticultura e Silvicultura da Escola
Nacional de Agronomia; abastecimento de energia elétrica para as dependências
do Centro Nacional de Ensino e Pesquisas Agronômicas; edificio, sede e
pavilhão industrial do Instituto de Óleos; 15 residências para diretores,
professores e funcionários do Centro Nacional do Ensino e Pesquisas
Agronômicas; edifícios de armazém, bar e açougue;
serviço de esgoto e respectiva rêde de coletores; almoxarifado geral do Centro
Nacional de Ensino e Pesquisas Agronômicas; ginásio e centro de desportos da
Universidade Rural.
Cidade Universitária
Após 12 anos de controvérsias sobre a localização da cidade universitária da
Universidade do Brasil, adotou o Governo Federal medidas para a solução do
assunto, tendo tido prosseguimento os serviços preliminares que vinham sendo
realizados para o aproveitamento das ilhas unificadas.
No orçamento de 1948, figuraram créditos para atender à desapropriação dos
terrenos aluviais da Ilha do Fundão, e outros trabalhos imprescindíveis.
No exercício corrente, além de dotações orçamentárias para a continuação
dos serviços, na importância de Cr$ 20.000.000,00, está previsto crédito para
inicio da construção do Hospital de Clinicas, do Instituto de Neurologia e do
Instituto de Puericultura.
Até que se ultime a construção do Hospital de Clínicas, o que se verificará
dentro de três ou quatro anos, preparam-se, de acordo com entendimentos
entre o Governo e a Reitoria da Universidade, as enfermarias do Hospital São
Francisco de Assis, para servirem provisoriamente ao ensino das clinicas da
Faculdade Nacional de Medicina.
Autorizou-se, também, a titulo precário, a instalação da Reitoria da
Universidade do Brasil, e de quatro unidades universitárias que não possuem
edificios próprios, no antigo Hospital de Psicopatas da Praia Vermelha,
concedendo-se à Universidade do Brasil, para as primeiras adaptações,
significativos auxílios financeiros.
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República,
General Eurico Gaspar Dutra, na abertura da sessão legislativa
Tem sido ponto por mim reiteradamente salientado em Mensagens anteriores a
importância de que se revestem os problemas educacionais para os povos ainda
em formação, como o Brasil. Daí o interesse com que se tem aplicado a resolvê-
los o Governo, e principalmente o vivo empenho com que procurou vitalizar os
objetivos de um programa orgânico de desenvolvimento educacional, cuja
observância se vem pondo em prática na medida das possibilidades financeiras.
O binômio Democracia-Educação tornou-se, por outro lado, imperativo, e obra
empreendida no interior do Brasil, quer nos domínios do ensino primário-rural,
quer nos do ensino normal, visa, confessadamente, acudir a essa necessidade.
Os resultados já obtidos revelam índices animadores, sobretudo com referência a
essa difusão do ensino primário, em que mais intensamente se concentrou o
esforço federal, embora se tratasse de competência tradicionalmente privativa
dos Estados.
Já foram, todavia, amplamente esclarecidos, em outros documentos da ação
governamental, os motivos que levaram o Governo da União a alargar, na
opinião de muitos, imoderadamente, sua ação supletiva. Agora, cabe unicamente
citar fatos e ocorrências.
ENSINO PRIMÁRIO
O problema de ensino primário no Brasil tem sido, talvez, desde os tempos
coloniais, questão sempre discutida, embora de solução sempre adiada. Longa é a
série de documentos, planos e projetos atinentes à educação popular, alguns até
com quase um século. Isto se explica pelo fato de que, no Brasil,
ao contrário do que acontece em outros paises - onde a iniciativa privada,
coletiva ou individual, muito realiza - a educação primária, em sentido amplo
ou restrito, vem sendo, sobretudo, empreendimento dos Governos.
Acresce, ainda, que, já no Ato Adicional de 1834, os Poderes Centrais foram
dispensados dessa preocupação administrativa, porque se consagrara, então, a
autonomia das Províncias no fomentar a educação de base, e legislar sobre
ela. A consolidação das instituições republicanas não modificou tal situação, já
que não seria conveniente nem possível retirar aos Estados federados
prerrogativa e ônus que lhes vieram das antigas Províncias. Por conseqüência, a
desigual capacidade econômica das Unidades da Federação, a baixa densidade
demográfica dos núcleos de populações localizadas no interior, as condições
precárias de transportes e comunicações, e a enorme variedade topográfica
das zonas rurais, tudo constituía entrave superior à capacidade das
administrações regionais.
Desde o início do atual Governo, reconheci a insuficiência do sistema de
educação primária, salientando mesmo, em minha primeira Mensagem ânua, o
fato alarmante de as unidades escolares, que em 1942 chegavam a 43.975,
estarem diminuindo, gradualmente, numa redução alarmante, que atingiu
mais de 3.500 unidades num qüinqüênio, regressão que se acusava também,
conforme as estatisticas apuradas, em extraordinário coeficiente de evasão
escolar.
Esse fenômeno era sobremaneira grave, pois atingia principalmente as zonas
rurais do pais: enquanto nas grandes cidades ou centros mais populosos do
litoral apenas 16% da população em idade escolar ficavam à margem do
sistema educacional, os números relativos a todo o Brasil indicavam que cerca
de 60% dessa população não eram atingidos pela rêde escolar existente.
Em verdade, até 1945, condições tão precárias provinham, principalmente, do
fato de não possuir o Brasil escolas rurais.
Estas, quando existiam, eram pobres e mal instaladas, operadas por
professores desprovidos de formação pedagógica. As dificuldades de ordem
geográfica, social e econômica, fizeram com que o sistema educacional
primário do Brasil, pouco diferenciado qualitativa e tecnicamente, na praia
como no sertão, nas pequenas como nas cidades maiores, se tornasse quase
inócuo e despertasse muito pouco interesse à população rural.
Em conseqüência, eram expressivos os dados estatísticos referentes ao
assunto: em 1889, havia nas escolas primárias 250 mil alunos para cerca de 3
milhões de habitantes em idade escolar ou 18 para cada grupo de mil
habitantes, índice onze vezes menor que os apresentados pelos paises mais
avançados; em 1937, o aludido índice alcançou a 70, com a matrícula de 3
milhões e meio de alunos, mantendo-se nessa marca até fins de 1946. A partir de
1947, todavia, os esforços governamentais tornaram possível observar-se
substancial melhoria nos índices de matricula, que se expressam hoje em cerca
de 4 milhões, à base de 80 por grupo de mil habitantes.
Resultados imediatos como os que ora vos apresento só poderiam ser obtidos
através de um regime de cooperação com os governos estaduais. Partindo dessa
premissa, iniciou o Governo, em 1946, a ampliação da rede escolar de ensino
primário e normal, e de aperfeiçoamento do professorado em cursos locais e no
Distrito Federal. Apraz-me salientar que, até 1949, já foram assinados acordos
para a construção de 6.160 prédios, dos quais 3.000 já estão inteiramente
concluidos e em funcionamento regular. Mas 1.500 estão em vias de concluo,
dos quais a maior parte começará a funcionar por ocasião da abertura do
corrente ano letivo.
Hoje, balanceando dados e cifras, podemos verificar que a soma dos esforços do
Governo central, na Colônia, no Império e na República, não se aproxima, nem de
longe, do que temos realizado nestes quatro anos no setor do ensino primário.
Os beneficios oriundos dessa politica cobrem todo o território nacional, de tal
modo que, em fins de 1949, já eram raros os municipios brasileiros onde, pelo
menos, uma escola rural mo estivesse concluída, valendo mesmo assinalar que,
em algumas regiões, pela primeira vez, se levantava uma escola de alvenaria para
o ensino primário, como foi o caso do Território do Acre, contemplando pela
primeira vez em 1947.
Embora adstrito a caracteres de padronização, o tipo de construção obedece às
condições de clima, e oferece a singularidade de possuir residência contígua para
o professor, dotada de recursos modernos, em contato com os quais o aluno
rural se familiariza com uma casa confortável, diferente de sua choupana. Vale
ainda ressaltar que o regime de distribuição dessas escolas abrange não apenas a
população rural brasileira, senão também os habitantes das zonas de fronteiras e
colonização. Para os colonos estrangeiros, o sistema apresenta caracteristicas
diferentes, baseadas no grau de cultura e peculiaridades técnicas do alienígena,
colimando, principalmente, a nacionalização do ensino, para prevenir a formação
de quistos raciais no país.
Não se limita, porém, a escolas rurais o plano governamental; estende-se
também a ponto de abranger a construção de grupos escolares, muitos dos quais
já se acham em fase de conclusão. Em 1948 e 1949, foram distribu idos, entre os
Estados e Territórios, 220 grupos escolares, dotados de 4 ou 5 salas de aula, área
coberta para recreio, secretaria, pequena biblioteca, gabinete dentário, e até
residência para o diretor. Com tal iniciativa visou o Governo atender às
populações das pequenas cidades, verdadeiras comunidades rurais do nosso
hinterland, onde as escolas de mais de uma classe geralmente não dispõem de
boas instalações.
São estas as conquistas que o Governo realizou, mobilizando o Fundo
Nacional do Ensino Primário, que, embora criado em 1942, só veio a ser
utilizado pela atual Administração. Quero, neste ponto, esclarecer que tudo
conseguimos sem recorrer a nenhum sistema rìgido de controle central.
Assinado o Convênio, o Governo Federal transfere ao órgão educacional
competente os necessários créditos de sua conta no Banco do Brasil. A
transferência é feita em prestações, e depende do fiel cumprimento, por parte
das autoridades locais, do espirito e letra do Convênio. Se o crédito
permanece inutilizado no Banco do Brasil, as prestações cessam, o que
representa a sanção aplicada pelo Governo Federal. Seus três fiscais visitam
cada escola em construção e apresentam relatório sobre o término e qualidade
das obras. Na distribuição e administração dos fundos, cabe a
responsabilidade ao Governo estadual, mediante a cooperação do prefeito de
cada Município, que, notificado no momento em que se efetua a transferência
do crédito, adquire autoridade para dirigir-se ao Governo estadual, exigindo
que os termos de Convênio sejam sincera e cabalmente respeitados.
Temos a convicção de que a lisura, a simplicidade e o equilíbrio com que
funciona hoje o sistema elaborado pelo Ministério da Educação e Saúde, numa
perfeita entrosagem dos três níveis de Governo, assegurarão continuidade aos
nossos esforços, de tal modo que, ao mudarem os dirigentes do país, não sejam
abandonadas as escolas que ainda deixarmos em fase de construção.
CAMPANHA DE EDUCAÇÃO DE ADULTOS
O movimento denominado Campanha de Educação de Adultos, iniciado em
1947, teve a maior expansão no ano que findou, tanto em número de escolas
para adolescentes e adultos analfabetos, quanto em novas iniciativas
destinadas a aprofundar sua benéfica atuação.
No ano inicial da Campanha, funcionaram 10.416 cursos, ou escolas, com
auxilio federal; em 1948, esse número se elevou a 14.359; no último
exercício, atingiu 15.200. Em todos os municípios do pais, esteve presente,
em matéria de ensino popular, a ação supletiva do Governo Federal, sendo de
notar que as unidades escolares, em mais de um terço, se localizaram em
zonas rurais. Esses dados traduzem, com efeito, excepcional rendimento
escolar, que frutificou em um milhão de alfabetizados.
Quero salientar mais uma vez os efeitos do alcance social que apresenta para o
pais esse grande movimento de educação popular. Em verdade, atingindo a
todos os municipios, a Campanha está concorrendo de muito para o
esclarecimento e estimulo das aspirações culturais de toda a comunidade
nacional, cujo índice de analfabetismo, nas idades de 15 e mais anos, segundo o
recenseamento de 1940, ainda era infelizmente de 55%.
Respondendo a esse fenômeno tão grato, o Governo Federai tem distribuído,
gratuitamente, várias publicações educativas, destinadas tanto à aprendizagem
de leitura e escrita, como à difusão de conhecimentos sobre higiene, civismo e
preparação profissional, cujo número, no triênio de 1947-1949, orça por quatro
milhões. Por outro lado, no ano findo, o Serviço de Educação de Adultos pôs em
prática duas iniciativas de grande alcance: a realização de um programa de
ensino visual, por meio de projetores, para dia-filmes; e a edição de um jornal
mural para ser afixado em escolas,bricas, feiras, mercados e outros locais.
Foram distribuídos 1.500 desses aparelhos e 12.000 dia-filmes, e remetidos às
unidades federadas, para distribuição, em todos os municípios do pais, 225 mil
exemplares do jornal.
Além dos resultados evidenciados por essa iniciativa governamental, realizada
com a cooperação de todas as unidades federadas, há a assinalar o trabalho
desenvolvido, voluntariamente, não só por indivíduos, como por igrejas,
associações cívicas e culturais, órgãos paraestatais, e empresas comerciais e
agricolas. A esses voluntários foram distribuídas, nos três anos da Campanha,
mais de 300 mil publicações educativas, sendo de estimar que, só com o seu
auxílio, tenham sido alfabetizados mais de cem mil pessoas.
Os serviços da Campanha de Educação de Adultos foram custeados com uma
parte dos recursos anuais do Fundo Nacional do Ensino Primário, e, ainda, e em
1948-1949, com dotações especiais de Cr$ 17.000.000,00, que lhes foram
consignadas no Orçamento para cada um desses exercícios. Dessa maneira, os
auxílios programados para os Estados, Territórios e Distrito Federal, visando ao
ensino supletivo, montaram, em 1947, a Cr$ 24.318.900,00; no ano seguinte,
atingiram o total de Cr$ 37.095.330,00; sendo que, no exercicio que vem de
terminar, se elevaram a Cr$ 39.211.120,00.
Para o exercicio de 1950, pensa o Governo desenvolver os serviços da
Campanha, não só em extensão, mas também em profundidade, de acordo, aliás,
com o plano geral aprovado desde o inicio do movimento. Dentro de tal
orientação, foi projetado um plano de missões regionais de educação de adultos, a
ser realizado através da cooperação entre serviços dos Ministérios da Educação e
da Agricultura. Estuda-se ainda o desenvolvimento da distribuição gratuita de
publicações educativas, o funcionamento de bibliotecas circulantes, e maior
extensão dos serviços educativos de radiodifusão e de ensino visual
Esses novos processos educativos, que tendem a facilitar a recuperação de
grandes massas populares, ainda desprovidas dos mais rudimentares instrumentos
de cultura, baseiam-se em trabalhos similares realizados por outros paises, ou em
experiências já aqui promovidas, na conformidade de
principios e sugestões elaborados pelo Seminário Interamericano de
Alfabetização e Educação de Adultos, reunido em Petrópolis, em agosto
último, por iniciativa conjunta da UNESCO e da Organização dos Estados
Americanos, sob os auspícios do Governo brasileiro.
É sobremodo honroso ressaltar que, durante a referida convenção, uma
centena de técnicos e especialistas, oriundos de todos os paises americanos, e
ainda de paises da Europa e da Ásia, tiveram ocasião de examinar,
pormenorizadamente, os planos da campanha brasileira, os processos de sua
administração, a orientação técnica e os resultados já conseguidos. Em
seguida a exame em que nenhum subsídio e informação lhes foi sonegado não
hesitaram em recomendá-los como exemplo a ser seguido por todas as nações,
nas quais o problema do analfabetismo se apresente em condições similares às
de nosso pais. Este julgamento, aliás, tem sido empossado em recentes
publicações da UNESCO e organizações pedagógicas estrangeiras, unânimes
em apontar a Campanha da Educação de Adultos, que o Brasil vem
desenvolvendo, como a maior experiência no gênero até agora empreendida
em todo o mundo.
ENSINO NORMAL
Pouco valor teria o grande esforço do Governo Federal em prol do ensino
primário, se, além da base física do sistema, que é o prédio escolar e seu
equipamento material, não favorecesse ainda o conjunto de qualidades e
condições pedagógicas que resultam do professor e da orientação educacional
dos sistemas regionais de ensino.
Assim como os prédios escolares, conquanto ofereçam certas caracteristicas
comuns, devem adaptar-se às condições regionais também os processos de
ensino, embora tenham um substrato nacional e pedagógico comum, devem
atentar na localidade e na região a que se destinam. A educação elementar
objetiva o melhoramento da vida do povo, atuando imediatamente sobre o
meio natural e social. Não seria possível satisfazer a essas condições, a não ser
através de sábia politica nacional, que conciliasse inclinações, aspirações,
costumes e hábitos locais.
Para evitar o erro do passado, quando se pretendia moldar o homem das
diferentes regiões do pais segundo os padrões mentais e morais do cidadão das
grandes cidades, o Governo viu-se na contingência de formar professores
especializados. Partindo dessa preliminar, estudou a situação quantitativa e
qualitativa do corpo docente do ensino primário no Brasil, chegando, como
era de esperar, às mais desanimadoras conclusões. Verificou-se que, tanto
quanto o ensino primário, estava igualmente o ensino normal a exigir a ação
supletiva do Governo da União.
O exame dos dados estatísticos dos últimos anos ressalta um acentuado déficit de
professores diplomados. Antes de 1945, as estatísticas demonstravam que cerca de
35% dos professores primários em exercicio não eram formados. Estados havia,
como o Amazonas, Goiás, Maranhão, Ceará, Pará, Paraná, Pernambuco, Piaui, Rio
Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, cujo número de professores
não diplomados excedia o de diplomados.
Urgia, pois, a ampliação de recursos para que o programa do Governo não corresse
o risco de se tornar responsável pelos males sociais que certamente se agravariam.
Até 1945, dispunhamos apenas de 388 escolas normais, e, dessas, mais de 80%
eram mantidas por instituições particulares, sendo que poucas funcionavam em
prédios adequados ou especialmente construidos.
Tal fenômeno chamava pela necessidade de não se restringir a ação do Governo
Federal unicamente à construção de prédios escolares para o ensino primário. Isto
posto, decidiu-se, após prolongados estudos, levar avante a construção de escolas
normais rurais, projetadas inicialmente em número de 45.
Complementarmente, temos recebido, na Capital do pais, equipes de professores e
técnicos de educação que, vindos dos Estados, travam conhecimento com as novas
conquistas pedagógicas, com os objetivos e propósitos da educação nacional, e com
o programa de ação supletiva da União. Tais professores e técnicos, de volta aos
Estados, passam a orientar e dirigir o ensino primário e normal, exercendo
influência fecunda sobre os sistemas regionais de educação.
ENSINO SECUNDÁRIO
Em relação ao ensino secundário, vimos obtendo resultados promissores, com a
série de medidas moralizadoras adotadas pelo Governo, entre as quais cumpre citar
a reforma dos regulamentos e do sistema de inspeção, bem como o auxilio para
construção e ampliação de cerca de 260 ginásios, em todo o pais.
Procurando melhorar a situação do estabelecimento padrão de ensino secundário
- Colégio Pedro II, Externato e Internato - realizou o Governo vasto programa de
reforma da suas instalações, onde se despenderam cerca de OS 1.000.000,00. Além
disso, foi aprovado pelo Governo o projeto do novo Internato do Colégio Pedro
II, cuja construção será iniciada no exercício corrente. Trata-se de amplo edifício
de linhas modernas que, além de
satisfazer plenamente às exigências da administração e do ensino, contará com
um grande auditório e praças de esportes. Está sendo estudada, no momento,
a ampliação do prédio onde funciona o Externato Pedro II, de sorte a
possibilitar maior matricula e a aparelhar melhor as suas salas de aulas e
laboratório.
ENSINO SUPERIOR
Revestem-se, outrossim, de grande importância as providências que o Governo
vem tomando para melhorar e ampliar as instalações dos estabelecimentos de
ensino superior. Além do Hospital de Clinicas da Faculdade de Medicina da
Universidade da Bahia, inaugurado em novembro de 1948, prosseguimos na
construção, iniciada no ano findo, do Hospital de Clinicas da Faculdade de
Medicina de Porto Alegre, e, por meio de substanciais contribuições,
auxiliamos a construção de outro hospital desse tipo, para a Universidade do
Paraná, bem como o pavilhão de patologia da Escola Paulista de Medicina.
Concedeu também a União recursos à Universidade da Bahia para o início da
construção de novo edifício para a Escola Politécnica e para a sede da
Reitoria, enquanto, através do Serviço Nacional de Tuberculose, está
construindo um hospital de Tisiologia, estando projetadas unidades
semelhantes nas Universidades do Brasil e do Rio Grande do Sul e um
dispensário na Escola Paulista de Medicina. Para a Universidade do Brasil, foi
recuperada, através de obras de vulto, grande parte do palácio, onde esteve
instalado o antigo Hospício de Alienados na Praia Vermelha e que, de
completamente arruinado, é hoje um dos mais belos edifícios da Capital
Federal, nele já se encontrando instalada, com magnificência, a Reitoria da .
Universidade, e breve devendo instalar-se a Escola Nacional de Educação
Fisica e outras unidades universitárias.
Estimulou ainda o Governo Federal, mediante auxilio, a continuação das
obras das Cidades Universitárias de Minas Gerais e da Universidade Católica de
Porto Alegre; e autorizou a execução do projeto da Cidade Universitária do
Recife, cuja construção poderá ser iniciada.
Nas ilhas unificadas de Bom Jesus e adjacentes, na Baía da Guanabara,
começam a tomar vulto os trabalhos preliminares para construção da Cidade
Universitária da Universidade do Brasil, erguendo-se os primeiros edifícios, que
representam os resultados práticos dos longos estudos empreendidos pelo
Governo.
Tudo isso faz parte de uma politica firmemente seguida e que alcançou a sua
máxima expressão na federalização, que se vai processando, das principais
universidades brasileiras, quase todas elas, aliás, criadas no meu Governo.
Realizado esse plano, a juventude de todas as regiões do Brasil encontrará nas
universidades federais de Recife, Bahia, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do
Sul, como já encontra na universidade estadual de São Paulo, as mesmas
oportunidades de formação superior que até agora somente lhe eram
possibilitadas na Capital Federal.
ENSINO INDUSTRIAL
No sentido de desenvolver o ensino industrial, a que se acha ligado o progresso
das indústrias nacionais, está o Governo construindo novos, amplos e modernos
edifícios para as escolas de Fortaleza, Natal, João Pessoa, Belo Horizonte,
Cuiabá e Florianópolis, enquanto amplia e reforma as de São Luís, Teresina,
Recife, Salvador, Vitória e Curitiba, bem assim, a Escola Técnica Nacional,
sediada no Distrito Federal.
Ao mesmo passo, adquire novos equipamentos para melhorar as instalações das
suas oficinas e laboratórios, tendo despendido, para tal fim, nos dois últimos
anos, cerca de Cr$ 16.000.000,00.
ENSINO RURAL
Já vos dei conta da nova orientação que o Governo vem imprimindo ao ensino
profissional de agricultura e veterinária, de acordo com as disposições da Lei
Orgânica de Ensino Agricola.
A execução dos programas estabelecidos por essa Lei vem incrementando
substancialmente a atividade do Governo em tão importante setor
educacional. Assim, os 12 estabelecimentos subordinados à Superintendência
do Ensino Agricola e Veterinário foram em 1949 freqüentados por 1.942
alunos em regime de internato. Nesses estabelecimentos, realizaram-se 13
semanas ruralistas, com o objetivo de torná-los centros de atração para os
agricultores da região onde funcionam.
Foi preocupação constante do Governo, em 1949, a melhoria das instalações e
do equipamento das Escolas de Iniciação Agrícola, Agrícolas e Agrotécnicas.
Enviaram-se numerosas máquinas e utensílios, inclusive tratores, a essas Escolas,
visando à maior eficiência do ensino, tendo-se levado a efeito, dentro de um plano
geral de ampliação das instalações escolares, obras de reforma, reconstrução,
adaptação e construção de novas unidades.
Efetivando na prática o regime de cooperação com os Estados, instalou o
Governo federal uma Escola Agrotécnica em Santa Teresa, no Estado do
Espirito Santo, mediante acordo com o Governo do Estado. Pelo mesmo
regime, ultimam-se a Escola Agrotécnica de Muxambinho e a Escola de
Iniciação Agricola de Machado, ambas no Estado de Minas Gerais, e a Escola
Agricola de Lavras de Mangabeira, no Estado do Ceará.
Terminada em 30 de junho a vigência do Acordo entre os governos dos
Estados Unidos da América e do Brasil, pelo qual fora instituida a Comissão
Brasileiro-Americana de Educação das Populações Rurais, - continuaram, no
entanto, as atividades dessa Comissão a ser exercidas diretamente pelo
Ministério da Agricultura. Mantiveram-se, destarte, em 1949, 29 centros de
treinamento, sendo 10 em cooperação com repartições federais, dois com
serviços estaduais e oito com entidades particulares (colégios e associações
religiosas).
Para prosseguimento e ampliação desses trabalhos, que tão grandes benefícios
vêm prestando às populações do interior, assinou o referido Ministério, em
novembro do ano findo, acordo com a Legião Brasileira de Assistência, com o
qual se visou: - ao preparo do pessoal para atender às necessidades do
programa de educação das populações rurais, proporcionando-lhes meios para
aperfeiçoar as várias técnicas de trabalho agricola; à organização de Centros
de Treinamento; e à organização de Missões e Semanas Ruralistas, a fim de
levar, de fazenda em fazenda, orientação no sentido do aumento e
diversificação da produção e do consumo de produtos agrícolas, da
introdução de novos hábitos de alimentação e de higiene, e, finalmente, de
estimulo à vida social.
Assegurou-se ainda, pelo referido convênio, a elaboração de pesquisas
referentes às condições de vida e capacidade da produção do trabalhador
rural, nas diferentes regiões do país, aperfeiçoamento dos métodos de
trabalho e elevação do nivel de vida rural.
Finalmente, quero referir-me ao segundo ano de funcionamento da
Universidade Rural, que, em suas novas e excelentes instalações, no Km 47 da
Rodovia Rio-São Paulo, vem se desenvolvendo no sentido de tornar efetiva
adaptação dos corpos docente e discente às novas condições de vida e de
trabalho em ambiente rural.
Inauguraram-se complementarmente, em 29 de outubro último, o Hospital de
Veterinária e o Edifício das Clínicas da Escola Nacional de Veterinária: - o
primeiro, com uma área construída de 1.392m
2
dotado de amplas instalações
e moderna aparelhagem; - o segundo, com uma área construida de 5.450 m
2
,
dispondo também de aperfeiçoado aparelhamento, assim como de 40
dependências, 24 laboratórios, anfiteatro, museu, farmácia, estufas, etc. Com
a inauguração desses novos melhoramentos, ficou ultimada a instalação da
Escola Nacional de Veterinária.
Concluíram-se numerosas obras ainda naquele local, em obediência ao plano
de instalação dos serviços do Centro Nacional de Ensino e Pesquisas
Agronômicas, entre as quais vale salientar: - o asfaltamento de 4.700 m de
um trecho rodoviário interno; - desaterro e limpeza do lago Açu; - serviços
diversos de terraplenagem, num total de 340.000m
3
; - abastecimento de
energia elétrica para novas dependências, perfazendo 6.400 m de linhas
aéreas; - construção de um pavilhão de piscicultura; - e início das obras de
adoção das águas do rio Guandu, para irrigação de 205 ha de terra.
Getúlio Dornelles Vargas
Presidência de 31.1.1951 a 24.8.1954
1951
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República,
Getúlio Dornelles Vargas, na abertura da sessão legislativa
As tarefas de estimular e orientar o desenvolvimento educacional do País devem
ser articuladas com as medidas tendentes a resolver os problemas de elevação do
nivel de vida e a corrigir as carências de toda a ordem, decorrentes tanto de nossa
crise de crescimento, quanto das pertubações provenientes da conjuntura
mundial. É necessário, além disso, adotar neste setor, assim como em outros, o
princípio de igualdade de oportunidades para todos, básico em nossa época, e à
luz do qual o processo educativo passa a ser considerado instrumento não só de
conservação, mas, também, de renovação e de progresso, dada a possibilidade
que abre de acesso aos mais capazes de qualquer origem às funções de elevada
categoria.
É a utilização sistemática de forças de sentido econômico e a mobilização, em
grande escala, do potencial humano, que podem criar condições modificadoras
dos estados graves de carência, matrizes principais dos fenômenos de
desorganização social.
Um grande pais é, em última análise, uma comunidade de homens de forte
capacidade de iniciativa individual e de vivo espirito de cooperação. Sem o
desenvolvimento dessas duas qualidades, a solução dos desequilíbrios sociais passa
a depender, integralmente, de um Estado hipertrófico e onipresente, que deverá
tudo prever, de quem todos esperam tudo e ao qual se opõem óbices pela
proposição de problemas particulares, que não podem ser enquadrados em
esquemas de soluções gerais.
A escola é instrumento insubstituível na formação dessas duas qualidades,
sobretudo a escola que vá além da simples alfabetização e prepare o homem para
a solução dos problemas do meio onde vive. Sem esse instrumento, ou com sua
existência em grau escasso, ocorre a desigualdade de oportunidades, alarga-se a
área de injustiças e de insatisfações.
Num pais de grandes desníveis sociais e econômicos, como o nosso, um dos mais
fecundos investimentos para a elevação de nossa riqueza e, em conseqüência, de
nosso padrão de vida, é a educação das massas.
Os objetivos da obra de educação pública deverão ser a elevação do rendimento
funcional do aparelhamento escolar existente, assim como o aceleramento da
multiplicação das oportunidades educacionais para o povo.
Cumpre promover a continuidade do crescimento do sistema educacional do Pais,
que tanto impulso tomou depois de 1930. Os dados estatísticos mostram que
quase duplicou, entre 1932 e 1946, o número de unidades escolares, pois
passaram, nesse periodo, de 29.948 e 54.480, enquanto o discipulado nelas
incluido subiu de 2.274.213 para 4.461.328 alunos.
Esses são indices animadores do nosso progresso educacional, que, se teve sua
causa, em parte, na própria transformação da estrutura social e econômica
do Pais, não deixou, também, de experimentar a ação disciplinadora e
estimuladora do Estado.
As reformas do ensino secundário e do ensino superior, ocorridas em 1931,
começaram a dar nova disciplina estrutural ao nosso sistema educativo. A
criação, nesse ano, do Ministério de Educação e Saúde, por sua vez, equipou a
Administração Federal com um órgão especializado no tratamento das
questões de ensino.
Ao deixar o Governo, em 1945, a organização do sistema escolar já havia
assumido sua feição atual, por intermédio das leis orgânicas relativas a quase
todas as modalidades de ensino. As últimas dessas leis, as do ensino normal e
do ensino primário, foram promulgadas em 1946, mas o estudo de sua
elaboração iniciou-se antes desta data.
As condições presentes exigem não só o aperfeiçoamento da estrutura do
sistema escolar, mas, também, a extensão da rede de instituições educativas,
em todos os seus ramos e. especialmente, nos graus primário e médio.
A primeira dessas tarefas está afeta, em face da competência que a
Constituição atribui à União de fixar as bases de diretrizes da educação
nacional, ao Congresso, o qual, na sua sabedoria, dará ao magno problema a
solução mais conveniente e consentânea com as necessidades nacionais.
A segunda importa, antes de tudo, na multiplicação das escolas elementares e
normais, rurais e urbanas, que constituem, indiscutivelmente, as bases do
sistema de educação popular.
Ainda que a execução dessa parte seja fundamentalmente competência das
outras esferas político-administrativas, a experiência já provou, neste
particular, a fecundidade da interferência federal sob a forma de cooperação
e de auxilio aos quais devem ser intensificados e estendidos.
Julgo caber ao Governo Federal a função precipua de, pela assistência técnica
e financeira, assegurar condições para que os Estados, os Municipios e os
particulares possam dar a máxima contribuição para a melhoria do nivel
educacional do povo.
Os recursos para tal obra devem resultar da colaboração da União, dos
Estados e dos Municipios, e, mesmo, de entidades particulares, numa
convergência perfeita de esforços.
Apreciável avanço, neste particular, foi a criação em 1942 do Fundo Nacional
de Ensino Primário, que, desenvolvido por lei de 1946, possibilitou a efetiva
cooperação com os Estados na construção de prédios para escolas,
especialmente rurais, em todo o território nacional.
Na medida em que as presentes dificuldades o permitam, deve-se cuidar
imediatamente da ampliação de recursos financeiros para um "Fundo Nacional de
Educação", assim como concitar o Distrito Federal, os estados e os municipios,
não só ao cumprimento dos preceitos constitucionais relativos à matéria, como a
uma política no sentido de ampliarem os investimentos constitucionais em
educação.
EDUCAÇÃO NO NIVEL MÉDIO
A expansão educacional iniciada depois de 1930 teve sua tradução mais
expressiva no crescimento do ensino secundário, acompanhado, em menor
escala, mas também significativamente, pelas outras modalidades de ensino
médio.
No que concerne ao ensino secundário, havia, no pais, em 1932, 394 unidades
escolares, nas quais se matricularam 56.208 alunos. Em 1946, revela a estatística
a existência, entre nós, de 1.344 unidades escolares com a matricula total de
279.508 alunos.
Na ampliação considerável do ensino secundário, está implicita uma modificação
essencial de suas funções sociais e educativas, no sentido de sua democratização.
No passado, através de reduzido número de escolas secundárias, realizava-se,
como principal, a função de preparar os educandos para o ingresso nas escolas
superiores. As reformas, neste campo de ensino, preocupavam-se, por isso, em
melhorar a maneira por que essa função preparatória se exercia, dando ao ensino
secundário o caráter de formação educativa de finalidade selecionadora de
elites.
O papel dessas reformas foi, em grande parte, frustrado pela considerável
procura de educação secundária, em conseqüência da qual outras funções
não previstas passaram também a dar sentido a essa modalidade de ensino.
Cumpre, agora, atentar melhor para essas outras funções, quais sejam as de
distribuir ou encaminhar os adolescentes, já possuidores de certa educação geral,
para as carreiras comerciais, industriais e rurais, o que deverá ser feito pela melhor
articulação da escola secundária com as de outros tipos, sem que isso importe,
contudo, restrição ou prejuizo do seu papel seletivo. Serviços de orientão
educacional e profissional serão fatores valiosos para a obtenção desses
resultados.
Algumas novas escolas secundárias oficiais já poderiam servir de campo
experimental para mudanças necessárias à democratização do ensino
secundário e à ampliação de suas funções.
Uma política de bolsas de estudos para jovens bem dotados de famílias de
menores recursos econômicos ou de numerosos filhos, deve ser lançada em
termos tais que reduza a dificuldade que muitos pais encontram para a
educação de sua prole.
Também deve ser estudada, como processo de ampliação e barateamento do
ensino, a possibilidade de uma política de financiamento da construção de
escolas secundárias particulares, em troca de facilidades para o povo, isso nos
casos em que não seja aconselhável mantê-las diretamente.
ENSINO TÉCNICO
A tarefa de estimular o desenvolvimento do ensino secundário no sentido de
uma educação acessível ao maior número e que prepare os adolescentes para
a participação mais completa na vida coletiva deve correr parelha com o
impulsionamento do ensino técnico.
Em face de vastos recursos inexplorados, a opção que está proposta ao nosso
homem é a de, ou usar os processos primitivos de trabalho, ou mobilizar os
recursos técnicos de nossa era. Sendo esta última a solução que evidentemente
se impõe, ela só poderá ser adotada, entretanto, pela preparação de
especialistas de nivel médio e de nível superior, Abaixo do nivel universitário,
mas já exigindo conclusão de curso ginasial, devemos manter numerosos
cursos em escolas técnicas.
Há anos, promovi a ampliação da rede de ensino profissional, criando novas
unidades em vários Estados, e melhorando os edifícios das existentes ou
construindo outros. Urge, agora, equipar tais unidades escolares com
laboratórios, oficinas e campos de demonstração, e torná-las conhecidas e
reputadas. Dai sairão homens para as funções de condução de serviços, ou de
controle de produção, situados entre engenheiros e operários.
Para complemento da ação da rede federal de estabelecimentos de ensino
industrial, e para atendimento rápido da necessidade de preparar grandes
equipes de operários qualificados e aperfeiçoar mestres da indústria, foi
instituído, em 1942, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial.
A atividade desse órgão sem dúvida confirmou o acerto de sua criação,
impondo-se, assim, a sua permanência com as modificações que se
evidenciarem aconselháveis e oportunas.
ENSINO SUPERIOR
A tração para as carreiras liberais não conduziu as nossas escolas superiores
para o caminho da formação de profissionais da ciência pura, nem se
multiplicaram, com elas, no grau desejado, as oportunidades dos cursos técnicos
superiores destinados ao preparo de especialistas para a agricultura, a indústria, o
comércio e as obras públicas. É evidente, entretanto, que a evolução do Brasil
nos conduz a esses caminhos. Ê preciso prestigiar, vivamente, o crescente
movimento de formação de universidades autônomas, adequadamente
constituídas. Não se deve esquecer que a universidade nasceu como uma
corporação autônoma de professores e estudantes, - de homens que
amadurecem no saber e dos que nele se iniciam. É com esse sentido que as
universidades se vêm desenvolvendo há longos séculos em todos os paises. Não
são repartições, nem os professores um grupo de funcionários comuns.
O ideal seria que as universidades não fossem consideradas, especificamente,
como pertencentes a nenhuma esfera do Governo, nem enquadradas em nenhum
dos três poderes clássicos, para se constituirem num poder à parte -o dos
pesquisadores e servidores do conhecimento humano, com estatuto, e fundos
próprios, mantidos pelas contribuições dos Governos Federal, Estaduais e
Municipais e pelas doações das empresas e de indivíduos de alto espirito vico.
Já que se processou a federalização de escolas superiores, em escala tão ampla,
com o apoio do Congresso, devemos utilizar tal circunstância para um
encaminhamento dessas instituições e o seu progressivo ajustamento ao sentido
institucional como é da natureza da própria vida universitária.
CONDIÇÕES DA EDUCAÇÃO NACIONAL
O ataque frontal aos problemas educacionais do Pais, dada a sua extensão e
extrema complexidade, está a reclamar um levantamento das condições da
educação nacional, como base para um eficiente programa de ação.
Faz-se indispensável verificar o que há em nosso sistema escolar e em nossos
hábitos pedagógicos de bem-sucedido e de frustrado, que necessidades estão
sendo atendidas ou postergadas e que influências renovadoras se devem estimular
neste campo.
Será de toda a valia conhecer-se, precisamente, o tipo de contribuição efetiva que
está dando ao vasto interior do pais, predominantemente agrário, a escola que
nele já conseguimos manter.
Há, além disso, o problema da evasão dos matriculados, tanto na escola primária
quanto na secundária, do qual se conhecem as causas mais gerais, de ordem social
e econômica, mas que carece de exame detalhado que permita a fixação das
linhas práticas de sua solução.
Para o conhecimento desses e de outros problemas da educação nacional, é
necessário reunir os dados já apurados, coligir novos elementos através de
inquéritos e pesquisas especiais, analisá-los e sistematizá-los a fim de que, das
discussões de politicos e educadores, sociólogos e economistas, surjam as
indicações para o planejamento continuo da educação nacional.
1952
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República, Getú
lio Dornelles Vargas, na abertura da sessão legislativa
Em discurso que pronunciei por ocasião do almoço que me foi oferecido em 28
de julho do ano passado, na Universidade do Brasil, disse:
"Prestigiar a cultura, sob todas as suas formas, constituiu sempre preocupação
constante do meu Governo. Num dos discursos da última campanha eleitoral,
tive oportunidade de salientar não ter sido por acaso que a evolução politica
do Brasil, após a Revolução de 1930, coincidiu com o renascimento da sua
vida intelectual e como surpreendente despertar do impulso criador no sentido
da brasilidade, na literatura e nas artes. É que essas manifestões esplêndidas
da vida popular e a orientação governamental que presidi brotaram das
mesmas fontes e se irmanaram nas mesmas aspirações.
As forças que provocaram o movimento revolucionário do modernismo na
literatura brasileira, que se iniciou com a Semana da Arte Moderna de 1922, em
São Paulo, foram as mesmas que precipitaram, no campo social e politico, a
Revolução vitoriosa de 1930. A inquietação brasileira, fatigada do velho
regime e das velhas fórmulas, que a rotina transformara em lugar-
comum, buscava algo de novo, mais sinceramente nosso, mais visceralmente
brasileiro. Por outro lado, a evolução econômica do mundo, o progresso técnico
e industrial, a ascensão do proletariado urbano como força ponderável na
decisão dos fatos politicos estavam a exigir nova estruturação da sociedade e
novas leis, capazes de atender com eficiência a essas necessidades.
Uns e outros fatores que congregaram para forjar o movimento, que aos poucos
se dilatou, criou raízes e, finalmente, amadureceu, determinando, de um lado. a
renovação dos valores literários e artísticos, de outro lado, a renovação dos
valores políticos e das próprias instituições. Na verdade, o movimento
modernista, nas letras e nas artes brasileiras, foi um impulso revoluciorio
que cresceu e extravasou, com o foi o movimento político causador da
Revolução de 1930.
Mas, passados os primeiros instantes e obtidas as primeiras conquistas, um e
outro se fundiram num movimento mais amplo, mais geral, mais completo,
simultaneamente reformador e conservador, onde foram limitados os excessos,
polidos os extremos sempre cheios de asperezas, e harmonizadas as tendências
mais radicais e divergentes.
Eis por que assistimos, de 1930 para cá, a um magnífico surto das letras
brasileiras, em que uma plêiade numerosa de valores novos trouxe a sua
colaboração e o seu entusiasmo criador e renovador a todos os departamentos de
cultura. O romance, o conto, a poesia, a pintura, a escultura, a música, o teatro,
as ciências sociais, as disciplinas físicas e biológicas - se enriquecem com
preciosas contribuições. Pode-se dizer que nunca foi tão pujante a vida
intelectual do Brasil e em nunhum periodo da nossa história se tornaram tão
difundidas e apreciadas no estrangeiro, através de traduções, exposições e
criticas, as obras dos nossos escritores, dos nossos artistas e dos nossos
cientistas.
Não podia o meu Governo desligar-se de tão intensas e expressivas
manifestações da cultura nacional; tampouco poderão estas ser explicadas
independentemente dele. Os fenômenos sociais, culturais e políticos formam um
todo inseparável, e cada qual só se compreende em função do conjunto.
Fossem outras as condições culturais e intelectuais do Brasil, entre 1930 e
1945, e teria sido outra, inevitavelmente, a orientação do meu Governo. Mas a
recíproca é também verdadeira. As expansões criadoras do sentimento e da
inteligência brasileira não teriam podido tomar o rumo que tomaram, se não
tivessem encontrado no meu Governo a simpatia, a compreensão, o apoio
ptidiano, o estímulo e a liberdade, que nunca lhes neguei.
on
fixo.................................................................................................................
O Governo se empenha, neste momento, em resolver um dos problemas
fundamentais que vos dizem respeito:o do livro didático e técnico. Esse
problema não interessa apenas às universidades, mas também à mobilização
cientifica e tecnológica indispensável ao nosso desenvolvimento econômico. A
maioria dos estudantes não pode adquirir os livros necessários, tanto mais
quanto, nos cursos superiores, são poucos os livros em português e os
importados custam preços inacessíveis. As medidas que o Governo pretende
tomar visam à mais ampla e freqüente publicação de livros didáticos
superiores e científicos nacionais, tradução dos livros estrangeiros
fundamentais, concessão de facilidades às reitorias, à direção das faculdades e
às organizações estudantis para a importação de livros técnicos e científicos,
bem como maior desenvolvimento das bibliotecas universitárias e escolares.
A união íntima e profunda entre a cultura e a política é uma condição
imprescindível do progresso social. Pois, se é a cultura que estabelece o
contato entre a política e a vida, entre os homens de Estado e as realidades
sociais que eles se propõem satisfazer, por outro lado, é a politica, são as
instituições e os atos de Governo que criam o ambiente indispensável às
expansões da cultura e permitem a livre eclosão das forças sociais, criadoras de
valores espirituais e morais. Onde não existe essa cooperação, essa harmonia
entre o Estado e a cultura, não pode haver vitalidade no Estado nem
progresso na civilização.
A cultura em si é sempre a expressão mais alta da vida popular, representa
tendências, aspirações, cristalizações de valores, necessidades de vida, que
buscam afirmar-se, expandir-se, renovar-se. A cultura é o próprio povo vivendo
intensamente, criando obras de arte e de pensamento, dando forma e
expressão aos seus costumes e tradições. A inteligência parte do real para
projetar-se no mundo das idéias e das formas, refletindo o meio em que vive e
do qual se nutre. Por isso mesmo, tudo o que criamos, nas letras, nas artes,
nas ciências, na política, tem um fim social e uma causa social: e tanto por
esta como por aquele, penetramos no campo da ordem política, que não pode
divorciar-se da cultura, mas tem o dever de ampará-la de todos os modos,
proporcionando-lhe os meios eficazes de desenvolvimento.
As energias criadoras do povo, que se expandem através dos seus usos e
costumes, da literatura, das suas artes e ciências, e que se cristalizam no
esforço de educar e instruir as gerações novas - grande e sagrada missão das
universidades - constituem o material humano que serve de conteúdo à
paisagem politica e que exige do Governo muito mais que a tolerância
indiferente, ou o mero apoio material: exige a preocupação cotidiana, a
colaboração íntima e profunda, o estímulo, a inspiração, e, acima de tudo, a
liberdade".
Estas palavras configuram objetivos básicos que tenho procurado atingir
através da ação governamental na esfera da educação e da cultura.
Passo agora, a dar-vos conta das atividades do Governo e do que se projeta no
setor da educação e da cultura.
No setor do ensino, os serviços do Ministério da Educação e Saúde se
desenvolveram em ritmo crescente, atendendo às responsabilidades da União em
suas atribuições supletivas ao esforço educacional dos Estados e no
melhoramento do seu próprio sistema educativo.
A federalização das escolas superiores, em obediência ao ato legislativo,
transferiu à responsabilidade federal número não pequeno de escolas desse nivel,
fundadas pela iniciativa privada e estadual, nos pontos mais diversos do País.
Determinou a lei uma expansão, de certo modo inesperada e, sem dúvida, não
planejada, do sistema federal do ensino superior, expansão que se não reduzirá à
manutenção do professorado superior já existente nessas escolas e que terá de se
estender à remodelação material, ao reaparelhamento técnico e cientifico e a
medidas de toda ordem no sentido de erguer tais escolas ao nivel e ao espirito
de um autêntico ensino universitário.
A federalização dessas escolas superiores decorreu, aliás, de uma situação de
crescimento espontâneo das necessidades de ensino de grau superior, que
conduzierem particulares a procurar atendê-las do modo que lhes fosse possível,
até que a Lei nº 1.254, de 4 de dezembro de 1950, entregou à responsabilidade
federal esses institutos de ensino.
A conseqüência lógica da mudança operada pelo referido diploma legal terá que
ser o esforço de ajustar essas escolas às necessidades emergentes, integrando-as
ao mesmo tempo no todo estruturado que deve constituir o ensino universitário
nacional.
As atividades em beneficio da educação nacional desenvolveram-se
basicamente no quadro da legislação orgânica, iniciada em meu anterior
período de Governo.
Essa legislação realizou com proveito a disciplinação dos principais ramos de
ensino constitutivos do sistema escolar do Pais, não apresentando os atos
legislativos posteriores o caráter de uma obra estruturada que lhe modificasse os
lineamentos fundamentais, aperfeiçoando-o.
A revisão do conjunto, que deverá alterar para melhor toda a legislação vigente,
definindo, entre outras coisas, as atribuições federais em matéria de ensino, de
acordo com a Constituição, será a lei de bases e diretrizes da educação nacional,
que, porém, ainda não foi votada.
Seria de desejar que, dentro do espírito de prudência que deve presidir as
deliberações relativas a assuntos de tamanha importância, fosse quanto antes
equipado o Governo com o instrumento indispensável à orientação de sua
ação administrativa, que será essa ali.
É verdade que o anteprojeto que se encontra no Congresso Nacional, enviado
pelo Governo anterior, vem sendo objeto de controvérsias acesas quanto a
alguns de seus pontos básicos. Em vista disso, o próprio Governo, se for
julgado oportuno, submeterá ao Congresso alterações ao referido anteprojeto,
de modo que venha o Pais a dispor de uma legislação adequada à disciplinação
do crescimento do sistema educacional.
O que, de qualquer modo, se faz mister è que a expansão inevitável do sistema
escolar não ocorra de modo desordenado e acidental, por meio de medidas que
não se integrem numa orientação geral definida, o que, ao invés de fazê-lo
satisfazer às necessidades do Pais, criará outros tantos problemas imediatos e
futuros, de difícil solução.
A lei de bases e diretrizes deverá estabelecer uma legislação fundamental e
única para todo o ensino, seja federal, estadual, municipal ou privada, criando
a possibilidade de um desenvolvimento harmonioso, com a liberdade e
responsabilidade de execução assegurados aos Estados, sob a inspiração,
coordenação e limitação da lei básica federal.
Espera, assim, o Governo que da colaboração entre o Executivo e o
Legislativo resulte a lei que os interesses mais altos da continuidade do
progresso nacional reclamam.
ENSINO SUPERIOR
Foram apreciáveis as realizações do Governo no setor do ensino superior.
Dado o grande interesse nacional em relação aos estudos de fisica nuclear,
recomendei a construção de um Instituto, anexo à Escola Nacional de
Engenharia, onde pudessem trabalhar os cientistas nacionais que integram o
Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, de conformidade com o acordo
assinado entre esse Centro e a Reitoria da Universidade do Brasil.
Realizaram-se várias obras em diferentes unidades da Universidade do Brasil,
destacando-se as seguintes:
a) na Faculdade Nacional de Medicina - acabamento da Casa do Estudante;
instalação da 3ª Cadeira de Técnica Operatória e do Restaurante dos
Estudantes;
b) na Escola Nacional de Química - reforma geral do Pavilhão de
Laboratórios; construção de oficinas; inicio das obras de construção do
edificio que acomodará a cadeira da Escola;
c) na Faculdade Nacional de Odontologia - obras gerais no antigo prédio;
conclusão da construção do novo edifício;
d) no Palácio Universitário - construção da Casa de Força; instalação de
incinerador; recuperação da ala esquerda, para a instalação das Faculdades de
Farmácia e de Arquitetura; construção do depósito e oficinas da Diretoria de
Obras e Planeiamento; ampliação da Oficina Gráfica, com a instalação de
Seção de Encadernação;
e) no Instituto de Psiquiatria - construção do Pavilhão de Medeiros;
recuperação do Pavilhão Magnan;
f) na Faculdade Nacional de Farmácia - construção do Pavilhão de
Laboratórios, para cinco cadeiras; obras de instalação da Faculdade no Palácio
Universitário e de acréscimos no Pavilhão de Microbiologia;
g) na Faculdade Nacional de Ciências Econômicas - reforma e adaptação do
prédio, para instalação da Faculdade, à rua Marquês de Olinda;
h) na Escola de Enfermeiras Ana Néri - obras gerais;
i) na Escola Nacional de Música - instalação de elevador e obras gerais;
j) na Escola Nacional de Engenharia - obras de reforma e acréscimo do
edifício da Escola, com mais dois pavimentos;
k) na Faculdade Nacional de Filosofia - obras de adaptação para a
instalação do restaurante de alunos; construção de um anfiteatro; reformas
gerais;
l) na Escola Nacional de Belas-Artes - recuperação da cúpula e telhados;
pintura de salas;
m)na Faculdade Nacional de Direito - reparos gerais;
n) no Instituto de Neurologia - construção dos Pavilhões de Neurocirurgia,
Recuperação Funcional, Neurologia Infantil, Fisiologia Experimental, do
Anfiteatro e do Pavilhão de médicos e enfermeiros; reforma do Ambulatório
; instalação da Biblioteca.
Tiveram prosseguimento, com intensidade, os trabalhos do Escritório Técnico da
Cidade Universitária do Brasil, com a utilização da verba de Cr$ 43.900.000,00
consignada em 1951.
Dos edificios já em construção, merece destaque, por sua importância
didática e social, o Hospital de Clinicas da Faculdade Nacional de Medicina.
Obra de invulgar complexidade, visto abranger assistência médica em
ambulatório e enfermaria, bem como ensino e pesquisa, o seu projeto foi
elaborado e está sendo desenvolvido pelas equipes de arquitetos e engenheiros
do Escritório Técnico.
Em situação periférica em relação à Cidade Universitária, o Hospital de
Clinicas está sendo erguido à margem da Avenida Brigadeiro Trompowsky,
com o objetivo de facilitar o acesso das grandes massas diárias de doentes e
seus acompanhantes ou visitas, sem que precisem atravessar outros setores da
Universidade.
Foi, ainda, no ano de 1951, dada plena execução à Lei n° 1.254, de 4 de
dezembro de 1950, que estabeleceu o sistema federal do ensino superior,
com a nomeação dos professores catedráticos, dos diretores dos
estabelecimentos de ensino, do pessoal docente auxiliar e do pessoal
administrativo das escolas que passaram a integrar a rede federal.
Cumpre assinalar a instalação da Comissão de Aperfeiçoamento do Pessoal de
Nivel Superior, que veio concretizar o pensamento do Governo,
consubstanciado no Decreto n°29.741, de 11 de julho do ano findo, com a
finalidade de suprir as deficiências graves do nosso equipamento técnico e
cientifico. O desenvolvimento do Pais, a feição industrial moderna que vem
rapidamente adquirindo, e os problemas de organização que dai decorrem,
estão a exigir um rendimento correspondente do pessoal de nível superior.
O nosso ensino de nivel superior, se atendia, em parte, à formação de pessoal
de rotina para as diversas atividades profissionais, não estava aparelhado para
fornecer, com a urgência necessária, equipes de especialistas capazes desse
trabalho de inovação e de pesquisas. E a urgência era tão grande que não
poderia aguardar o lento resultado de uma politica escolar nesse sentido.
O problema estava a exigir a mobilização de elementos humanos que
pudessem ser colocados, por meio de treino intensivo, dentro e fora do Pais,
ao nivel dessas tarefas de cúpula.
Os estudos e trabalhos que, no Brasil, estarão a cargo da Comissão foram
iniciados nos principais paises ocidentais, logo após a terminação da Segunda
Guerra Mundial.
Não será feito, assim, um traballio sem precedentes, mas, antes, será dado
tardio inicio a uma das necessidades mais urgentes do momento, que è a de
balancear o nosso capital humano, cientifico e profissional, e estudar e
planejar os meios de ampliá-lo, enriquecê-lo e melhorá-lo.
Por outro lado, a nova cooperação intelectual que a Organização das Nações
Unidas vem desenvolvendo no mundo, por si e pela UNESCO, e que as Nações
Membros também vêm, individualmente, estimulando como uma das mais altas
formas de auxilio mútuo de compreensão internacional, oferece um campo
propicio à expansão cultural e permite que o Brasil, ao examinar as suas
necessidades de formação profissional e cientifica, não se restrinja somente aos
recursos locais, mas elabore seus planos segundo uma perspectiva ampla, dentro
dos recursos internacionais que lhe vêm sendo oferecidos pelo sadio espírito de
amizade, que une as Nações Ocidentais.
Para a elaboração do plano de trabalho, é necessário que se proceda,
preliminarmente, a um levantamento das necessidades do Pais, em matérias de
pessoal especializado, profissão por profissão e setor por setor, a fim de colher
os elementos necessários ao empreendimento.
Se, por este modo, será feito o inventário dos recursos profissionais existentes no
Pais e levantado o mapa de suas deficiências, por outro lado não deve ser
esquecido que a grande necessidade do nosso tempo não é, tão-sòmente, a desse
quadro técnico-profissional, mas, sobretudo, a do quadro de cientistas
propriamente ditos, pois estes é que irão elaborar os conhecimentos novos, com
os quais será edificada a nossa emancipação econômica e técnica.
A Comissão incumbida de levar a efeito a campanha terá tarefa longa e árdua,
como é a de levantar o quadro de nossas necessidades, em recursos humanos, no
campo da técnica e da ciência, e procurar preenchê-lo adequada e
abundantemente. É toda a obra do ensino superior do Pais que terá de ser
ampliada, enriquecida e estimulada, nos seus fins e nos seus meios. Só a
formação de especialistas, em todos os setores fundamentais das ciências, nos
mais altos centros universitários do estrangeiro, poderá fornecer os elementos
indispensáveis ao êxito da tarefa, não bastando, portanto, mobilizar os recursos
educacionais existentes no Pais.
A politica educacional do Governo procura assim prestigiar o trabalho
universitário e o de alta especialização. O respeito à autonomia universitária e ao
livre desenvolvimento da cultura superior orienta os seus propósitos, pois se há
uma lição a tirar dos acontecimentos contemporâneos é a de que uma Nação
moderna só pode sobreviver na medida em que a sua produção intelectual
mantiver um padrão de qualidade superior, o que só se pode obter num clima de
liberdade de pensamento e de pesquisa.
ENSINO SECUNDÁRIO
O ensino secundário foi objeto de providências eficazes, como a simplificação
dos programas, que a prática do ensino vinha indicando ser indispensável.
Independentemente de uma reforma ligislativa de fundo, no sistema de
\
ensino secundário, foi possível realizar um desbastamento prudente nas diversas
matérias, remediando o excesso de conteúdo que sobrecarregava a mente dos
estudantes. Esse trabalho foi cometido à instituição mais indicada para realizá-lo:
O Colégio Pedro II, nosso colégio padrão. A experiência do próximo período
letivo exprimirá o acerto da medida, que visou à adaptação do currículo à
capacidade mental dos jovens, aos quais importa menos acumular nações
numerosas e exaustivas do que assimilar idéias fundamentais mais solidamente
meditadas.
Cuidou-se, ainda, do desdobramento do Externato do Colégio Pedro II, na
Capital da República, para instalação de novas seções nas zonas norte e sul da
cidade. No presente ano deverão ser instaladas as novas dependências daquele
estabelecimento, ampliando, assim, o Governo Federal sua assitência aos
estudantes pobres desta Capital. A nova dependência, na zona sul, terá, este ano,
capacidade para admitir 700 alunos, número que em 1953 poderá ser levado para
1.500. A dependência na zona norte da cidade poderá ministrar o ensino
secundário, já no corrente ano, a 2.000 estudantes.
É importante consignar que esse empreendimento foi planejado sem aumento dos
recursos globais previstos para o Ministério da Educação e Saúde.
Além disso, tiveram prosseguimento as obras do novo edifício do Internato do
Colégio Pedro II, edifício que, quando concluído, terá capacidade para admitir o
triplo dos estudantes que atualmente ali recebem instrução secundária.
Outrossim, com o objetivo de dotar o Colégio Pedro II de prédios e instalações
modernos, condignos com a sua condição de colégio padrão, foi dado andamento
ao projeto de construção do edifício-sede nas desapropriações dos imóveis
enumerados no Decreto nº 20.552, de 24 de janeiro de 1946.
O Governo Federal incrementou, no ano de 1951, a orientação e fiscalização dos
estabelecimentos particulares de ensino e incentivou a expansão dos
educandários de grau médio, podendo registrar o funcionamento de 78 novos
ginásios, que performam, assim, o número de 1.660 estabelecimentos de ensino
secundário.
Estuda-se a criação de bolsas de estudo para o ensino secundário em todo o
território nacional. O Decreto nº 29.396, de 27 de março de 1951, estabeleceu a
gratuidade do ensino desse tipo, ideal que cumpre buscar sem desfalecimento. É
dever do Estado proporcionar à população o acesso gratuito ao ensino
secundário e, na falta de instituições disseminadas convenientemente por todo o
território do País, cumpre-lhe incentivar por todos os modos, principalmente com
as bolsas de estudo, a aspiração dos que, menos favorecidos, se mostram,
entretanto, capazes de ultrapassar a instrução
primària adquirida, A ascenção das massas aos bens da civilização material deve
ser acompanhada de uma elevação correspondente de seu nível de educação,
pois disso dependem o equilíbrio e a harmonia de sua integração social.
A assistência ao estudante tem merecido especial atenção dos poderes públicos.
A instalação de um restaurante estudantil no Distrito Federal e a criação de uma
rede de cooperativas, tão eficaz em outros setores, encontra no domínio escolar
excelente campo de aplicação. Com um sistema cooperativo bem organizado,
são colocados à disposição do estudante, a preços acessíveis, os livros e todo o
material escolar de que necessita, e ao mesmo tempo se estimula o senso de
solidariedade e cooperação tão importante, hoje mais do que nunca, na
formação das novas gerações.
ENSINO PRIMÁRIO E ENSINO NORMAL
No setor do ensino primário, continuou o Governo Federal a prestar sua
contribuição, hoje indispensável, para a solução do grave problema da educação
de nossas massas, especialmente as rurais, promovendo convênios com os
Estados, para auxiliar a construção de prédios escolares e escolas rurais, além
do crescente esforço nos cursos de atualização e aperfeiçoamento dos
professores primários.
As estatísticas revelam a existência, nas zonas rurais do País, de uma população
de quase dois milhões e meio de crianças de 7a 11 anos que não são atingidas
ou atraídas pelo sistema escolar, que não buscam a escola, ou, se o fazem,
encontram, na deficiência de instalações adequadas, o empecilho para a
matrícula.
De norte a sul, nas grandes cidades ou nos centros de fraca densidade
demográfica, nos núcleos industriais ou nas regiões agropastoris, nas zonas de
colonização ou fronteiriças, a população em idade escolar não é absorvida pela
rede do sistema oficial ou particular. Fica, assim, de ano para ano, apesar dos
esforços dos educadores e administradores, aumentando o contingente de
crianças que fazem parte do que se chama, usualmente, de "déficit escolar", ou
seja, a massa de alunos que não encontra oportunidade para aprender a 1er,
escrever e contar.
Somando-se os dados referentes ao País inteiro, temos uma cálculo muito
otimista, cerca de seis milhões de crianças em idade escolar, das quais talvez
apenas a metade tenha conseguido matricular-se. Há, portanto, um déficit -que
precisa ser progressivamente anulado.
Certamente, a existência de um sistema escolar que possa abrigar toda a
população infantil será conseqüência da solução de múltiplos problemas que
nos afligem: transportes, sanemaneto, irrigação, fomento à agricultura,
imigração. Assim, a repressão do déficit exigirá simultaneamente a inversão
de bilhões de cruzeiros no reaparelhamento dos transportes e vias de
comunicações, no saneamento das zonas derrotadas pela malária e verminoses,
no fomento da produção das utilidades fundamentais á vida.
De outro lado, verifica-se ser praticamente impossível, ainda que teoricamente
defensável, que os Estados resolvam dentro de seus reduzidos recursos
orçamentários, a grave situação em que se debate o ensino primário brasileiro.
Sem prédios adequados, sem professorado tecnicamente habilitado, sem
material escolar, será difícil o encaminhamento de uma solução.
Verifica-se, ainda, que há Unidades Federadas que não atendem teoricamente
a 75% de sua população em idade escolar; outras apresentam déficit teórico
entre 60 a 707c, bem poucos Estados apresentam déficit inferior a 50%. A
verdade é que o quadro realmente desolador, no que diz respeito ao ensino
primário.
Será preciso, além disso, não deixar que os dados percentuais possam iludir. Os
números absolutos são bem mais expressivos e demonstram o verdadeiro
panorama da situação: Minas Gerais, por exemplo, teoricamente, apresenta
quase 400 mil crianças fora das escolas: a Bahia, mais de 400 mil;
Pernambuco, mais de 200 mil; Ceará e São Paulo, cerca de 200 mil cada um.
Para analise do movimento de matrícula pelos municípios, verifica-se que a
situação é bem séria e exige tempo e grande soma de recursos para o
encaminhamento de solução apenas satisfatória. Contribui para isso, entre
outros fatores, a fraca densidade demográfica de, pelo menos, 500
municipios. É exemplo frisante o fato de 20 deles apresentarem déficit
superior a 90%: isto é, mais de 90% das crianças em idade escolar não estão
matriculadas no curso primário; em 142 municipios, esse déficit varia de 80 a
90%; em 245, oscila entre 70 e 80%; em 220, entre 60 a 70%; em 180, entre 50
a 60%; e abaixo de 50, contamos 6 75. Sobre os demais, faltam elementos.
Pelo exame da matricula escolar, chega-se à conclusão de que a zona rural, por
onde se distribuem cerca de 30 milhões de brasileiros, está sofrendo uma
acentuada crise de assistência educacional. Com efeito, apenas 38% das
crianças matriculadas no curso primário pertencem às zonas rurais, enquanto
cerca de 70% das crianças brasileiras ali se encontram.
Tudo isso é, em parte, reflexo da carência de prédios escolares adequados e da
falta de professores habilitados, para aludirmos apenas a dois importantes
aspectos. De acordo com um inquérito ficou apurado que dos 28.302 prédios
escolares destinados ao ensino primário apenas 4.927 pertencem aos poderes
públicos, e desses somente 70% foram construidos especialmente para fins.
escolares. Mas ainda: 360 municipios não dispunham, até bem pouco, de um
único prédio especialmente construido para o ensino primário.
Bem significativa è a precária situação do professorado primário. Dos 78.000
professores em exercicio em 1943, 31.000 não possuiam formação adequada.
Nessa época, não eram portadores de diplomas de normalista 90% dos
professores no Território do Acre, 74% de Santa Catarina, 65% do Rio Grande do
Sul, 60% do Paraná, 59% do Maranhão, 58% do Pará, 57% do Rio Grande do
Norte, 56% de Goiás e Ceará, 54% de Pernambuco, 51 % do Piaui e Parba,
49% do Espirito Santo e 43,5% de Alagoas.
Para enfrentar a situação, o Ministério da Educação e Saúde, através do Instituto
Nacional de Estudos Pedagógicos, está com a responsabilidade de fazer executar
um plano de ampliação da rede de ensino primário e normal e de aperfeiçoamento
do professorado, em cursos locais e no Distrito Federal, através de acordos
fixados com os Estados.
A ampliação da rede escolar é tarefa da maior importância. Ê imprescindível
seja estabelecida a base fisica do sistema escolar primário.
A localização dos prédios tem sido objeto do maior cuidado, a fim de que os
benefícios dessa nova politica educacional se façam sentir sobretudo nos núcleos
rurais. O tipo de construção obedece às condições de clima e oferece a
singularidade de possuir cada um deles, contigua, a residência da professora,
dotada de recursos modernos.
O regime de distribuição dessas escolas abrange não apenas a população rural
brasileira, mas os habitantes das zonas de fronteiras e de colonização. Para os
colonos estrangeiros, a escola apresenta caracteristicas diferentes, baseando-se no
grau de cultura e peculiaridade técnicas do alienígena. Mas a nacionalização do
ensino é o objetivo visado.
O planejamento, além das escolas propriamente ditas, inclui, por outro lado,
a construção de grupos escolares, muitos dos quais já se acham em adiantada
fase de construção.
Mas todo esforço para desenvolver e aperfeiçoar a educação primária não
produzirá certamente, os efeitos desejados se, ao mesmo tempo e com igual
intensidade, a administração não promover as medidas que procurem tornar o
ensino normal capaz de influir poderosa e eficazmente na mentalidade dos novos
professores.
Muito pouco valerão programas novos e guias didáticos para o professorado;
reduzida influência terá o material pedagógico abundante; escassa penetração
terão as portarias e comunicados sobre as modernas técnicas de ensinar;
raramente produzirão efeitos práticos e regulamentos e as leis que disciplinem
as normas dentro das quais se processará o movimento educacional, sem o
magistério. Se não houver a participação ativa do professor que corporifique e
traduza as concepções básicas da reforma, todas as tentativas, certamente, não
passarão de meros acidentes na história da educação de um povo. Todavia, não
basta lutar pela formação de novo pessoal docente. É preciso que não seja
descurado o aperfeiçoamento do magistério existente, a fim de que ele seja
também conclamado a participar do movimento reformador.
Dentro dessa ordem de idéias, o Ministério da Educação e Saúde procura, no
momento, auxiliar a ampliação da rede de ensino normal com a construção de
45 novas escolas, distribuídas pelo interior, nas zonas desservidas.
Para a melhoria dos padrões didáticos existentes, o aludido Ministério iniciou
o trabalho dos Guias Didáticos para o Ensino Primário e em breve publicará
os seus resultados para a orientação do professorado.
Campanha de Educação de Adultos
Intensificou-se a Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos
Analfabetos, que, como nos anos anteriores, vem sendo realizada segundo o
plano estabelecido, mediante acordos interadministrativos celebrados com os
Estados, os Territórios e o Distrito Federal.
Na conformidade dos acordos firmados, foi feita a distribuição dos auxilios
em um total de Cr$ 43.952.115,00, dos quais Cr$ 9.998.100,00 correram à
conta da verba orçamentária especifica e os restantes Cr$ 33.954.015,00 à
conta da quarta-parte do Fundo Nacional do Ensino Primário.
Obrigaram-se os Estados, os Territórios e o Distrito Federal a instalar o maior
número possível de cursos na zona rural dos municipios, tendo em vista que,
por menos favorecida comumente na distribuição da escola primária, deveria
tal zona apresentar maior número de adolescentes e adultos sem instrução.
No ano de 1951, foi elevado para 17.000 o total dos cursos de educação de
adultos, sendo mantida, dessa forma, a progressão ascendente do número de
cursos, que vinha sendo observada desde o começo da Campanha.
Com o fim de se debaterem e ficarem bem esclarecidos os objetivos e os
processos da Campanha, em todas as minúcias, bem como para exame e
discussão de particularidades apontadas pela experiência adquirida no
desenvolvimento dos trabalhos de educação de adultos, tém sido promovidas,
antes o inicio de cada ano letivo, reuniões de delegados dos Estados, dos
Territórios e do Distrito Federal. Em 1951, realizou-se a V Reunião dos
Delegados.
Para os trabalhos da Campanha, a produção das publicações de ensino
editadas atingiu, em 1951, a 1.011.010 exemplares.
O Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (IBECC) ofereceu, no ano
findo, 100.000 exemplares de números de seu jornal - Leitura de Todos, para
serem distribuidos pelos Serviços de Educação de Adultos dos Estados e
Territórios.
ENSINO INDUSTRIAL
No processo de industrialização de paises novos, não é só a mobilização
crescente de capitais nacionais e estrangeiros que constitui providência de
primero plano. É igualmente essencial a formação paralela de técnicos de nivel
superior e médio e o treinamento de operários qualificados.
A experiência de paises fortemente industrializados é a de que mais de 70%
desse tipo de trabalhadores são preparados no próprio trabalho, durante a
produção fabril.
Também tem sido essa a tradição entre nós, dada a contingência do emprego
precoce de menores, à busca de um pequeno salário para ajuda do orçamento
de suas familias, em geral muito pobres.
Todavia, mesmo em paises muito evoluídos, a aprendizagem no trabalho não
exclui uma parte de ação escolar de tempo parcial, realizada em concomitância
com o exercicio do emprego.
Tendo em vista este quadro de necessidades imperiosas, foi criado, em 1942, o
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), como organismo
sistematizador de aprendizagem.
A natureza da função desse aparelho, destinado a agir na intimidade do
processo industrial, pelas formas mais diferentes, para atender à imensa
variedade de necessidades e situações da produção fabril, e entrosado na função
tipicamente privada dos empregadores de contratar o trabalho de operários e
menores aprendizes, implicou dar-lhe condição de autonomia e de entregar o seu
custeio e a sua administração às próprias entidades industriais.
Ao atingir dez anos de experiência deste sistema, parece inquestionável o acerto
dessa politica.
Nesse periodo, tornou-se possivel ao SENAI, graças à sua plascidade, a
execução de um plano de 91 escolas de tipo industrial, que cobre todo
o Pais, alcançando sua matricula 19.353 alunos.
Tais unidades se acham localizadas, em maior número, nos núcleos industriais
mais densos, como é natural. Assim é que 20 escolas estão no Estado de São
Paulo, 13 no Distrito Federal e no Estado do Rio e Janeiro, 9 no Estado de
Minas Gerais, 8 no Rio Grande do Sul, 5 no Paraná e Santa Catarina e 5 no de
Pernambuco.
Entretanto, todos os demais Estados já possuem, pelo menos, uma unidade
escolar do SENAI, com exceção apenas dos Estados do Amazonas e Piaui,
onde se processam, no momento, entendimentos para construção dos seus
prédios próprios.
Os investimentos em prédios e equipamentos em todas essas escolas ascendem
ao montante de Cr$ 337.837.180,10. Algumas dessas unidades situam-se
entre as de maior porte no continente sul-americano.
Paralelamente a esse movimento, promoveu o SENAI trabalho de grande
envergadura, que foi o de preparar uma grande equipe de professores, de
instrutores e de administradores especializados em ensino industrial, o que é
de fundamental importância, tendo-se em vista tratar-se de tarefa lenta e
paciente, a reclamar muitas vezes o encaminhamento de homens ao
estrangeiro para um treino custoso e difícil.
Diferentes cursos industriais, em número de 57, foram organizados e acham-se
em funcionamento, para a maioria dos quais teve a instituição de elaborar e
imprimir material didático, constante de livros, cadernos de classe e desenhos
de oficinas, inteiramente adaptados às condições peculiares do operário
brasileiro.
Possui, agora, o Pais uma estrutura de treinamento de mão-de-obra de grande
valor, reiteradamente louvada por autoridades e especialistas estrangeiros,
como uma das realizações mais adequadas e oportunas para o
desenvolvimento de paises em fase de industrialização.
Certamente, foi com base nesse julgamento que o programa de assitência
técnica da ONU deliberou enviar cem professores, instrutores e
administradores de paises latino-americanos para um ano de estágio no SENAI.
A matéria foi objeto de acordo assinado em novembro do ano findo, no
Ministério das Relações Exteriores, entre a Organização Internacional do
Trabalho e o Governo Federal.
É legítimo afirmar que está o Brasil em considções de alargar gradualmente as
suas possibilidades de preparo dos nossos homens num dos setores mais
importantes de criação de riqueza, com base na aparelhagem que construiu
pertinazmente nestes dez anos.
A criação de cursos de curta duração, em projeto nas escolas do SENAI, e a
implantação de uma politica de bolsas para os jovens operários que devem
realizar cursos de duração mais longa, constituirão dois métodos valiosos para
essa política de expansão.
A fim de melhorar os equipamentos e as instalações dos estabelecimentos de
ensino industrial, da rede federal, foi realizada distribuição de maquinaria para
as oficinas de dezessete escolas, na importância de Cr$ 7.999.998,00, ou seja, o
total da dotação orçamentária.
Foram prosseguidas as obras de construção de novos prédios escolares e de
ampliação de reparo de escolas, numa despesa total de Cr$ 21.403.222,10.
Prestimosa colaboração vem sendo prestada pela Comissão Brasileiro-Americana
de Educação Industrial ao Ministério de Educação e Saúde, mediante a
promoção de viagens, aos Estados Unidos, de professores e técnicos e o
fornecimento de instalações e equipamentos importados daquele Pais.
O plano para 1952 traduz o propósito de assegurar maior rendimento anual das
escolas, no que se refere à formação de artífices e técnicos e, entre outras, prevê
as seguintes providências:
a) elaboração de programas de cultura geral perfeitamente entrosados com as
oficinas; b) instituição dos Conselhos Consultivos da Indústria nas Escolas, para
melhor conhecimento das necessidades de mão-de-obra e meios de satisfazê-las;
c) instalação de serviços de orientação educacional nas Escolas, a iniciar-se em
abril; d) realização de cursos intensivos na Escola Técnica Nacional, para
aperfeiçoamento de mecânicos de automóvel, radiotécnicos, eletricistas e
carpinteiros navais, com alunos recrutados dentre os diplomados nas várias
escolas oficiais do Pais; e) realização de cursos itinerantes para professores das
escolas da rede;f) concessão de prêmios de estágios nas fábricas para os
melhores alunos dos cursos técnicos.
INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT
O Instituto Benjamin Constant é o educandário nacional para cegos e
ambliopes, mantido pelo Governo Federal.
Sua finalidade é ministrar a menores cegos e ambliopes, de ambos os sexos, nas
idades entre 14 e 16 anos, educação compatível com as suas condições
peculiares; promover a educação pré-escolar dos alunos; manter cursos para
reeducação de adultos cegos e ambliopes; habilitar professores na didática
especial de cegos e amblipes; realizar pesquisas médico-pedagógicas relacionadas
com as anomalias da visão e com a prevenção da cegueira; e promover, em todo o
Pais, a alfabetização de cegos ou orientar tecnicamente esse trabalho,
colaborando com estabelecimentos congêneres, estaduais ou locais.
O Instituto Benjamin Constant desenvolveu, no ano de 1951, intensa
atividade, avultando a inauguração do Ambulatório de Prevenção da Cegueira
(Clinica de Olhos).
Forarn atendidos 1.821 pessoas, portadoras de moléstias oculares, e
realizaram-se 160 operações oculares, sendo examinadas no Ambulatório
todas as pessoas desprovidas de recursos, os funcionários do Ministério da
Educação e Saúde, encaminhados pela Seção de Assistência Social, e os alunos
da Universidade do Brasil. Do primeiro grupo foram numerosos os doentes
provenientes do interior, e muitos internados no Instituto para possibilitar o
seu tratamento, com o que foram evitados vários casos de cegueira.
No momento, são praticadas tentativas de tratamento cirúrgico pela
simpatectomia periarterial da carótida primitiva e da carótida interna, nas
atrofias do nervo ótico e nas uveítes rebeldes a todo tratamento. É de
salientar que, pela primeira vez no mundo, tal operação é realizada com essas
indicações.
Levaram-se a efeito, com bons resultados, experiências com histoterapia.
Aguarda o Instituto os meios necessários para a instalação, ainda este ano, do
Banco de Olhos, que é uma necessidade urgente, dada a alta percentagem
existente de lesões córneas, em que há indicação de queratoplastia.
Ministraram-se cursos para médicos, acadêmicos de medicina e enfermeiras.
Organizou-se um Curso de Higiene Ocular destinado a professores e assistentes
sociais, o que foi freqüentado por 40 pessoas.
Foram, periodicamente, examinados os alunos da Classe de Conservação da
Visão, tendo sido controlada cuidadosamente a sua acuidade visual.
O ensino regular foi ministrado nos seguintes cursos: Jardim de Infância,
Adaptação à 1ª Série, Primário Elementar, Primário Complementar, Ginasial,
Musical e Profissonal, tendo a matricula atingido um total de 233 alunos.
Aos alunos da Classe de Conservação da Visão, matriculados nas diversas séries
do Curso Primário, foram ministradas as várias disciplinas constantes do
programa, no quadro negro, oralmente e em caderno de cor apropriada, com
caracteres ampliados, a fim de lhes ser poupada a visão.
A Imprensa Braille, que é a imprensa do cego no Brasil, além de haver
atendido às necessidades do Instituto Benjamin Constant, durante o ano de
1951, quanto ao fornecimento de livros para diversos cursos, prestou
considerável cooperação a estabelecimentos congêneres e a entidades
assistenciais. A Imprensa Braille produziu 32 volumes. Foram fornecidos
2.496 livros aos Estados de Amazonas, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro,
São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e ao Distrito Federal
1953
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República,
Getúlio Dornelles Vargas, na abertura da sessão legislativa
O Governo prosseguiu na ação estimuladora do desenvolvimento da educação
e da cultura, assegurando recursos a órgãos especializados, de caráter público
ou privado, dentro das possibilidades do Tesouro.
É digna de nota e incentivo a recente transformação operada, entre nós, no
modo de ver os problemas de educação e de cultura. Procura-se relacioná-los com
o estágio econômico e social do País. Efetivamente, em matéria de educação e
cultura, urge uma revisão dos métodos e práticas até aqui adotados, no sentido
de dotar o Pais de um arcabouço institucional ajustado às suas peculiaridades
sociais e necessidades de desenvolvimento.
ENSINO SUPERIOR
Ampliou-se consideravelmente a rede de estabelecimentos de ensino superior com
o reconhecimento federal de numerosas escolas, embora muito haja ainda que
fazer para que rendam o que delas se espera. Neste ponto, merece referência
especial a instalação da Escola Brasileira de Administração Pública, da Fundação
Getúlio Vargas, nos moldes mais avançados, e a da Escola de
Administração de Empresas, que a mesma Fundação pretende levar a termo no
corrente ano, em São Paulo.
Iniciou suas atividades, no ano findo, a Comissão de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nivel Superior, que o Governo criou pelo Decreto n929.741, de 11
de julho de 1951. Preliminarmente, a Comissão propôs-se atingir os seguintes
objetivos:
1. fazer o levantamento geral das necessidades nacionais, em técnicos e
pessoal de qualificação superior, nos diversos setores, bem como estudar
nosso sistema de ensino superior; e
2. promover o aperfeiçoamento do sistema de formação e de especialização do
quadro técnico, cultural e cientifico de nível superior, através de
assistência aos estabelecimentos de ensino e da concessão de bolsas de
estudo, no Pais e no estrangeiro.
A CAPES executa suas atividades sob a forma de projetos que abrangem os
diversos problemas a resolver. Do programa em execução, salienta-se o
Inquérito sobre deficiência de pessoal de nível superior que objetiva proceder
ao balanço das necessidades de pessoal para as diversas especialidades, sob os
pontos de vista da quantidade, variedade e qualidade e apontar as falhas e o
modo de saná-las, à luz de um Estudo da situação econômica do Brasil; de um
Censo Universitário, para completar as falhas dos dados colhidos nas
repartições de estatística; de um Levantamento da situação do ensino
superior, para organizar um dossiê sobre cada um dos estabelecimentos
arrolados, e de um Levantamento das escolas superiores existentes no País,
que, realizado em colaboração com a Diretoria do Ensino Superior e com o
IBGE, já resultou num cadastro dos estabelecimentos de ensino superior,
segundo o qual funcionavam, em dezembro ultimo, 263 dessas escolas, 49 das
quais no Distrito Federal e 52 em São Paulo.
Ao lado desses projetos de escopo geral, empreendeu a CAPES estudos
especiais sobre a situação do ensino da medicina, mediante convênio com a
Associação Médica Brasileira, o qual deverá estar concluido até 30 de julho
próximo; sobre a situação do ensino da engenharia, arquitetura e química,
mediante convênio com a Associação Brasileira de Normas Técnicas, e sobre o
ensino de engenharia sanitária, em cooperação com o Serviço Especial de
Saúde Pública (SESP) e com o Institute of Inter-American Affairs (IIAA).
Além disso, a CAPES elaborou um projeto de intercâmbio com universidades e
entidades educacionais estrangeiras, de que já resultou o contato com 143
universidades francesas, italianas, canadenses, británicas e norte-americanas e
com 16 associações de educação e institutos científicos.
O objetivo central do Governo, em matéria de ensino superior, é dar-lhe um
cunho mais funcional, isto é, orientá-lo para preparar, antes de tudo, os
quadros de que carece a economia brasileira, ao invés de formar, sem plano
algum, especialistas, certamente sempre úteis, mas nem sempre os mais úteis,
dentro de uma escala de prioridade das necessidades de crescimento do País.
ENSINO SECUNDÁRIO
Durante o exercício passado foram instaladas duas novas seções do Colégio
Pedro II, que assegurarão ensino médio, com o mais elevado padrão, a cerca de
3.000 alunos. Além disso, em todo o País, abriram-se 115 novos ginásios.
ENSINO COMERCIAL
Foram também adotadas medidas tendentes a promover a expansão e o
aperfeiçoamento do ensino comercial. Dentre elas, cumpre destacar o
programa de seminários de orientação técnico-pedagógica do ensino
comercial, que vem sendo levado a termo pelo Ministério da Educação e
Saúde em colaboração com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial.
ASSISTÊNCIA FEDERAL AO ENSINO
O Governo Federal, através do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, do
Ministério da Educação e Saúde, prestou, durante o exercício anterior, ativa
assistência financeira e técnica às entidades locais de ensino, orientando-as para a
descentralização, como o recomenda a Carta Magna, dentro de um sistema de
acordos com os Estados, os Territórios e o Distrito Federal, o qual conserva a
iniciativa e a responsabilidade das unidades e concorre para a ampliação e elevação
dos seus padrões de ensino, sem prejuízo da progressiva integração do sistema
nacional.
Enquanto pelos estudos e inquéritos do INEP, o Governo assegura orientação
uniforme e proficua a todo o ensino nacional, estende também sua ajuda material
aos Estados, cooperando com eles num sistemático programa de construção de
educandários que, tendo começado por escolas isoladas para zonas rurais, abarca
hoje grupos escolares, escolas normais e centros regionais de educação,
interessando a educação média em todos os seus ramos. Além disso, vem o INEP
cuidando do equipamento e da manutenção desses prédios, com o que poderá levar
sua influência à melhoria dos padrões de funcionamento das escolas.
Em 1952, forarn concluidas 1.010 escolas isoladas, 102 grupos escolares e 5
escolas normais, em todo o País, com a ajuda e assistência do Governo
Federal, prosseguindo a construção, sob o mesmo regime, de mais 936 escolas
isoladas, 167 grupos escolares e 41 escolas normais e centros regionais de
educação. Foram ainda assinados convênios para a construção de 173 escolas
normais, 131 grupos escolares, 11 centros regionais de ensino médio e para a
ampliação de 11 escolas normais. Finalmente, um plano lançado no exercicio
passado abrange a construção de mais 10 grandes escolares, 79 grupos de tipo
médio e 467 escolas rurais.
Este esforço deve prosseguir e mesmo intensificar-se. Basta considerar que o
Estado de São Paulo, a mais rica das unidades da Federação, careceria ainda de
10.000 salas para atender a toda a sua população em idade escolar, em regime
de meio-dia para cada turma, o que implicaria investimento da ordem de 1
bilhão de cruzeiros.
Não obstante dispor o Pais de cerca de 600 escolas normais, perdura o
problema dos quadros para o ensino, especialmente no que toca ao preparo
dos professores para as referidas escolas. Para resolvê-lo, o Governo Federal,
através do INEP, concedeu, no exercicio anterior, aos serviços educacionais
dos Estados, 211 bolsas para o aperfeiçoamento de professores, enviou
missões pedagógicas aos Estados, organizou seminários e cursos de renovação
pedagógica, distribuiu livros e material escolar aos educandários, inclusive
particulares.
Deve-se, especialmente, aprofundar e estender a experiência do
empreendimento tentado, já em 1952, na Bahia, onde funcionou um centro
estadual de preparo do professorado normal. Para o corrente ano, o INEP
projeta outro centro idêntico - o Instituto do Professor Primário de São
Paulo.
Completando o sistema, criar-se-ia, no Rio de Janeiro, um centro nacional de
preparo de professores e especialistas de educação, para abastecer os centros
regionais. A criação de tal centro já está em estudos, com a colaboração da
UNESCO e do Instituto dos Negócios Interamericanos.
De futuro, porém, o aperfeiçoamento do magistério deverá obedecer a plano
mais amplo e sistemático, partindo desde a formação dos professores.
Torna-se recomendável, também, o estudo do melhor meio de aperfeiçoar o
professor primario já em serviço, evitando-se, sempre que possível, seu
deslocamento para a Capital Federal, conservando-o em seu próprio meio.
para furtá-lo a desajustamentos prejudiciais e, sobretudo, estendendo o
programa de aperfeiçoamento a camadas bem mais consideráveis do
magistério.
Outro aspecto da ação do Governo no terreno educacional foi a aprovação da
Campanha do Livro Didático e de Manuais de Ensino, visando, inicialmente, à
elaboração de guias ou manuais para os professores que não dispõem de
oportunidade para a frequência a cursos de aperfeiçoamento e não tiveram uma
formação profissional nas Faculdades de Filosofia.
A reforma iniciada, porém, não tenhamos ilusões, só lentamente produzirá seus
efeitos. Trata-se de operar uma transformação radical na delimitação do que deve
ser ensinado e na adoção de métodos de ensino.
EDUCAÇÃO RURAL
A Campanha Nacional de Educação Rural, iniciada experimentalmente, em
1951, teve considerável incremento em 1952. Seu objetivo consiste em minorar
os males do abandono de nossos ruricolas, levando até eles educadores, médicos
sanitaristas, assistentes sociais. Fundou Centros Sociais Rurais e Missões Rurais,
instalou Centros de Treinamento para a formação de professores e líderes rurais,
firmou 17 acordos com várias administrações estaduais e organizações
governamentais ou particulares, cívicas e religiosas.
EDUCAÇÃO DE ADULTOS
A Campanha de Educação de Adultos, sob a superintendência do Departamento
Nacional de Educação, desenvolveu intensa atividade no ano de 1952.
O reconhecimento da importância dos serviços que a Campanha vem prestando
já ultrapassou as fronteiras do nosso País e a experiência brasileira continua a
figurar como uma das mais vastas e de resultados mais positivos que já se
realizaram no mundo. Os processos que adota tém sido consagrados em
recomendações aprovadas por congressos internacionais, o que demonstra o seu
alto mérito.
Planejada, para 1952, a instalação de 17.000 cursos de alfabetização de adultos e
adolescentes, variando seu número em cada município, segundo o índice de
analfabetos na população adulta; graças à valiosa colaboração de pessoas e de
instituições, que, voluntariamente, se filiaram ao programa do Governo, o
número dos cursos, que tiveram funcionamento efetivo, superou aquele
inicialmente fixado.
Estados, como o de São Paulo, não se limitaram ao número programado, tanto
que, ao invés de 2.000, funcionaram em terras bandeirantes, no ano passado,
3.000 cursos, sendo de realçar a economia realizada nesse Estado,
graças ao apoio do público, ali tão sensível às iniciativas patrióticas, o qual se
traduziu no elevado número de 1.500 professores voluntários de 3.000 classes
instaladas. Isto permitiu que se empregasse o saldo da respectiva verba no
desenvolvimento do ensino de iniciação profissional para os recém-
alfabetizados, tendo-se criado cursos para tal fim em 20 escolas rurais,
construídas pelo Ministério da Educação e Saúde, naquele Estado.
Não se preocupou o Ministério da Educação e Saúde apenas com essa
iniciativa de adestrar as populações das zonas rurais, através de Centros de
Iniciação Profissional - unidades educativas para o preparo básico de
adolescentes e mesmo de adultos - em São Paulo, pois estendeu suas vistas
além desse Estado com a instalação desses centros, também, em Pernambuco
(20 unidades), no Ceará (15), em Sergipe (8), no Território do Amapá (4) e de
1 centro em cada um dos seguintes estados: Mato Grosso, na Base Fluvial do
Ladário; Rio Grande do Norte, no Patronato de Ponta Negra, sediado em
Natal; e no Espírito Santo, através da Campanha de Alfabetização e
Assistência Social de Cachoeiro de Itapemirim.
Justo è realçar o papel que a imprensa escrita e falada de todo o País vem
desempenhando na campanha contra o analfabetismo. Mais de 200.000
centímetros quadrados foram cedidos, gratuitamente, por 1.663 jornais de
todas as unidades da Federação, para a propaganda do movimento, e ainda
alto-falantes e 230 estações radiodifusoras cooperaram efetivamente, para
tanto, em 1952. Tal colaboração da imprensa fez com que se pudesse
desdobrara campanha contra o analfabetismo, através dos seguintes aspectos,
de execução autônoma, embora conexos e solidários em seus objetivos: o da
realização governamental direta e o da cooperação popular.
ENSINO INDUSTRIAL
É uma das maiores preocupações do meu Governo a formação do nosso
operário. No ano de 1952, as escolas federais de ensino industrial receberam
Cr$ 9.997.000,00 para equipamentos, Cr$ 26.800.000,00 para construções.
Mas ainda há muito que fazer em matéria de expansão e eficiência desse
sistema de ensino.
Para o ano corrente, planeja-se a instalação de uma rede de cursos artesanais
dentro da área de influência da Hidroelétrica do São Francisco e da bacia
petrolífera do Salvador, e estuda-se a instalação de uma Escota de Formação e
Treinamento de Professores do Ensino Industrial no Estado de São Paulo,
unidade da Federação onde mais se avoluma a indústria e onde é mais
premente a necessidade de mão-de-obra de maior qualificação.
Iniciou o SENAI a publicação dos resultados de pormenorizada pesquisa
sobre as causas da evasão de alunos, verificada em suas escolas de
aprendizagem; tal pesquisa foi realizada, simultaneamente, no Distrito Federal e
nas cidades de São Paulo, Recife e Porto Alegre, e abrangeu, além de pequeno
número de alunos dos cursos vocacionais, 935 aprendizes de oficio e aspirantes à
indústria eliminados e 75 concludentes de curso que serviram de grupo de
controle.
Feita segundo as mais modernas normas cientificas, essa pesquisa demonstrou
que o fenômeno observado resulta, quase exclusivamente, da influência de
fatores sociais e econômicos que escapam às medidas ao alcance de um
estabelecimento educacional como o SENAI. Provou-se, em última instância, que
o problema da evasão escolar - inclusive de outros sistemas de estabelecimentos
de ensino - não pode ser resolvido isoladamente, mas apenas mediante a
promoção de mudanças simultâneas e articuladas nos vários setores da vida
nacional e na atitude das elites dirigentes.
Por si mesma, a iniciativa dessa pesquisa já representa, entretanto, uma
inequívoca mudança na maneira como os problemas da escola vêm sendo
encarados em nosso País.
ENSINO EMENDATIVO
No terreno do ensino emendativo, a cargo de dois institutos oficiais - o
Instituto Benjamin Constant e o Instituto Nacional de Surdos-Mudos -
ocorreram apreciáveis progressos, tendo-se adotado medidas que muito
contribuíram para um assistência mais efetiva àqueles que carecem do
ensino especializado para atender às suas condições peculiares de cegos e
surdos-mudos.
MATERIAL ESCOLAR
A campanha do barateamento do livro escolar, iniciada em 1951 com a
organização da Cooperativa Distribuidora de Material Escolar do Distrito
Federal, tomou maior vulto em 1952, com a criação de novas unidades.
Em julho, foi constituída a Cooperativa de Belo Horizonte. Com o apoio do
Governo do Estado do Rio de Janeiro, a campanha foi levada a Niterói,
Petrópolis, Campos e Paraíba do Sul, onde já foram constituídas as respectivas
cooperativas locais. No Estado de São Paulo, a campanha oferece boas
perspectivas, com a próxima instalação das cooperativas na sua capital e nas
cidades de Campinas, Ribeirão Preto e Pinhal.
1954
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República,
Getúlio Dornelles Vargas, na abertura da sessão legislativa
No setor de Educação e Cultura, o Governo estimulou uma tomada de
contato mais direto com as condições objetivas do Pais. Com a colaboração de
educadores e especialistas, realizaram-se estudos e levantamentos de que
resultaram medidas de relevo já em execução. Apraz-me observar que as
atividades do novo Ministério têm sido proveitosas e organicamente
orientadas, como se verá através da exposição que, a seguir, será procedida.
ENSINO SUPERIOR
Intensificaram-se as relações entre o Ministério da Educação e Cultura e as
Universidades, através da inspeção federal, que se estendeu a cerca de 200
estabelecimentos de ensino superior, promovendo-se uma cooperação
profícua com aqueles estabelecimentos de ensino.
Foi autorizado o funcionamento de quatro Faculdades de Ciências
Econômicas e o reconhecimento de nove. Além disso, vale assinalar a
autorização para funcionamento e o reconhecimento de mais 42 entidades de
ensino superior.
Em observância à diretriz de assistência ás escolas, mediante subvenções
concedidas à base de acordos assinados com o Ministério, foram aplicados os
recursos da verba anual de Cr$ 28.000.000,00, esperando-se, com a dotação
orçamentária prevista para o corrente exercicio, um aumento substancial na
assistência aos estabelecimentos de ensino superior, mantidos por entidades de
caráter privado.
Prosseguem as atividades da Escola Brasileira de Administração Pública,
mantida pela Fundação Getúlio Vargas e pela ONU. No ano transato foi
diplomada pela referida Escola a primeira turma de Técnicos de
Administração, contribuindo, assim, para a renovação e a melhoria de nossos
quadros de administradores.
ENSINO SECUNDÁRIO
A Diretoria do Ensino Secundário colaborou com o Poder Legislativo na
organização de um projeto de lei que altera alguns pontos fundamentais da Lei
Orgânica do Ensino Secundário, tendo em vista dar a esta caráter menos
acadêmico e mais flexível, sem prejuízo da eficiência didática.
A fim de apoiar o desenvolvimento de um vasto esforço no sentido de acelerar a
solução dos problemas ligados ao ensino secundário, instalou-se a Campanha de
Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário, órgão que deverá promover
a recuperação do ensino secundário e dar melhor aproveitamento à rede escolar
e aos equipamentos existentes em todo o País.
Considerada indispensável dentro do esquema de providências essenciais a um
movimento de profundidade em beneficio do Ensino Secundário no País, a
instituição do Fundo Nacional do Ensino de Grau Médio foi objeto de estudos
especiais, tendo sido elaborado um anteprojeto sobre a matéria que deverá ser
encaminhado ao Legislativo, no mais breve prazo.
Dos estudos realizados com o objetivo de verificar-se o modo mais eficiente que
deve assumir a participação direta do Poder Público na criação e manutenção
de colégios particulares, sobretudo daqueles localizados no interior do Pais,
evidenciou-se a conveniência de ser instituída uma entidade de direito privado,
sob a forma de Fundação, com capacidade para recolher recursos do Poder
Público e de particulares e promover a sua aplicação com a liberdade e a
autonomia que esse tipo de organização proporciona.
Os estatutos da Fundação deverão ser aprovados, em breve, dela participando o
Ministério da Educação e Cultura como um dos seus fundadores.
Ao lado das providências destinadas, diretamente, à melhoria do ensino,
organizou o Ministério um plano de concessão de bolsas aos alunos bem dotados
e sem recursos para custear seus estudos. Esse plano, que entrará em vigor já no
corrente ano, prevê: a) a concessão de 400 bolsas, aproximadamente, com
recursos do pprio Ministério; e b) o lançamento de uma campanha popular
destinada a obter recursos para a concessão de cerca de 5.000 bolsas, atraindo
para o programa o interesse da opinião pública.
Aliás, encontra-se em curso, na Câmara dos Deputados, um projeto de lei sobre
o assunto, que resultou de estudos conjuntos do Ministério interessado e da
Comissão de Educação e Cultura dessa Casa do Congresso.
Tendo em vista melhorar os niveis da inspeção secundária, foi organizado um
curso e estágio para Inspetores do Ensino Secundário, com a duração de
quatro semanas, bem como elaborado um plano para a descentralização dos
trabalhos de inspeção no País, dividindo-se este em inspetorias regionais e
secionais.
Tomando conhecimento do apelo de autoridades públicas e privadas do
município de Leme, no Estado de São Paulo, para criar-se, naquele município
um Centro de Educação, tendo por núcleo o Ginásio, com caráter de escola
secundária integral, afinada com as atividades sociais da comunidade, o
Ministério passou a coordenar os esforços solidários do Município, do Estado e
do Governo Federal, com o objetivo de imprimir à experiência que se vai
realizar naquela localidade um sentido pioneiro de educação secundária
renovada, em que sejam atendidas as principais reivindicações da pedagogia
contemporânea.
Com base em proposta apresentada pela Congregação do Colégio Pedro II,
procedeu-se à adaptação do texto regimental às normas vigentes, como ainda à
disciplinação de critérios relativos a exames de revalidação de estudos feitos no
estrangeiro e a concurso para ingresso no magistério oficial, cujas normas, até
então, estavam contidas em textos esparsos. Essas medidas consubstanciam-se
no Regimento baixado pelo Decreto n° 34.742, de 2 de dezembro de 1953.
O Colégio Pedro II dispõe agora, pela primeira vez, desde a sua fundação, ao
tempo do Império, de um Conselho Departamental que funcionará como
órgão consultivo da Diretoria do estabelecimento.
Medida que constitui um dos mais largos passos no sentido de democratização
do ensino médio, removendo óbices que, até então, impediam a livre
circulação dos educandos entre os diversos cursos especializados, foi, sem
dúvida, a instituição do sistema de equivalência entre os cursos de grau médio,
consagrada na Lei nº 1.821, de 12 de março de 1953, cuja regulamentação já
se consumou.
No setor de estudos, pesquisas e levantamentos, há a registrar os resultados
dos trabalhos da Campanha de Inquéirto do Levantamento do Ensino Médio e
Elementar (CILEME), entre os quais salientamos a conclusão do projeto-piloto
referente ao estudo do aluno do curso médio; a revisão dos testes aplicados
em Salvador, na Universidade da Bahia, de modo a permitir sua aplicação em
outras universidades brasileiras, em articulação com a Diretoria do Ensino
Secundário; o preparo e execução de um projeto para aplicação experimental
a candidatos a exame de madureza no Estado de São Paulo; e a celebração de
acordos para a elaboração de manuais destinados a professores secundários,
relativos às seguintes matérias: História Geral, História do Brasil, Portugs,
Francês e Química.
ENSINO COMERCIAL
No que diz respeito ao ensino comerical, cumpre observar que o ano letivo se
iniciou em 1953, com 621 escolas sob inspeção federal.
Em várias cidades fundaram-se Centros de Estudos Pedagógicos, mediante a
reunião dos professores das escolas existentes. Sendo o magistério comercial,
sobretudo nas cidades do interior, constituido de autodidatas, irá beneficiar-se
com o funcionamento desses verdadeiros centros de estudo, em que os professores
de maior qualificação e melhor formação profissional oferecerão aos colegas
ensejo para o seu aperfeiçoamento.
ENSINO RURAL
Merecem menção as atividades da Campanha de Educação Rural.
Cumpre assinalar o florescimento dos Clubes de Lavradores que permitiu, por
exemplo, o aumento da produção de fumo, como conseqüência do emprego da
adubação pelos compostos orgânicos, de escolha de boa semente, de orientação
técnica na semeadura, no transplante, no combate às pragas, operações essas
realizadas pela Missão Rural em colaboração com os técnicos do Instituto
Agronômico do Leste.
Ampliou-se consideravelmente, nesse periodo, o programa de construções de
fossas sanitárias pelos próprios ruricolas e, bem assim, a Campanlia de reforma
dos regimes alimentares, de melhoria das habitações rurais e abertura de poços e
cisternas. Encontram-se em fase de instalação várias Missões Rurais, nos Estados
do Ceará, do Maranhão e do Rio Grande do Sul.
A Campanha manteve cursos, de vária natureza, em Palmeira dos índios, no
Estado de Alagoas; Barra, no Estado da Bahia; Messejana e Sobral, no Ceará;
Barreira, Ilha Bela e Santos, em São Paulo. No Centro Rural de Treinamento de
Técnicos de Educação de Base, foi realizado um curso de alto padrão teórico e
prático e um curso técnico de Educação de Base para profissionais titulados -
médicos, agrônomos, assistentes sociais e enfermeiras.
No Ceará, funcionam cinco Centros Artesanais de Indústria Rural. No Estado de
Minas Gerais funciona um Centro, criado junto à Escola Caio Martins. Ainda no
Estado de Minas Gerais foi instalada uma Colônia de Pescadores, na cidade de
Pirapora, e criada uma Colônia Agropastoril, para fixação dos deslocados
nordestinos no Vale do Carinhanha.
No setor da assistência técnica a professores, mediante estágio e
aperfeiçoamento, foram realizados cursos de diferentes objetivos nos Estados
da Bahia, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e no Distrito
Federai.
Entre os governos dos Estados Unidos da América e do Brasil, firmou-se um
acordo que tem por objetivo estimular e ampliar o intercâmbio de idéias e de
processos pedagógicos, no campo da educação rural.
Para a execução do convênio, está prevista a cessão, por parte do Institute of
Inter American Affairs, de um corpo de especialistas para a colaboração
necessaria.
ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS E ADOLESCENTES
O Ministério da Educação e Cultura celebrou acordos para instalação e
funcionamento de 17.000 classes de alfabetização de adolescentes e adultos,
com Estados e entidades, no valor de Cr$ 29.750.000,00. Funcionaram 100
centros de iniciação profissional, com os quais foram despendidos Cr$
5.000.000,00 e seis centros de preparação social de operários, com aplicação
de recursos no valor de Cr$ 1.000.000,00, incluindo auxílios aos círculos
operários já existentes no País.
A freqüência efetiva, em vigor no fim do ano, correspondeu, no qüinqüênio, à
média de 82% da matrícula geral, o que indica ter sido a evasão escolar de
18% naquele período. A evasão, que vinha aumentando de exercício para
exercício, caiu nos dois últimos anos letivos: assim, foi de 16% em 1947, de
20% em 1948, de 23% em 1949, de 18% em 1950 e de 15% nos anos de 1951 e
1952.
A experiência dos Centros de Iniciação Profissional colheu os mais
promissores resultados, tendo sido distribuídos 100 dessas unidades no ano
transato.
ENSINO INDUSTRIAL
No campo do Ensino Industrial, são dignas de nota as seguintes atividades:
seminários de todos os Diretores das Escolas Técnicas Industriais do
Ministério da Educação e Cultura, para examinar vários problemas
administrativos e técnico-pedagógicos do Ensino Industrial, principalmente os
resultantes da regulamentação da Lei nº 1.821, de 12 de março de 1953;
prosseguimento e conclusão do curso tipo "comando"e supervisão de
trabalhos na Indústria de Fundição de Belo Horizonte; atualização das
instruções sobre o funcionamento dos cursos regulares e nova regulamentação
dos cursos extraordinários do Ensino Industrial; seminários de três semanas
de duração, para candidatos à Orientação Educacional e Profissional a serem
contratados pela Comissão Brasileiro-Americana de Educação Industrial;
seminários de uma semana para técnicos e professores que deverão ministrar
cursos de férias a mais de 350 professores do ensino industrial oficial e
particular; convênio firmado com o Instituto Tecnológico da Bahia, para
assistência especializada à Escola Técnica de Salvador; subvenção às escolas
salesianas de Manaus, Niterói e Cuiabá, para desenvolvimento do ensino
artesanal; ampliação das bases do convênio existente com a Secretaria do
Trabalho, Indústria e Comércio de São Paulo, para divulgação, nesse Estado,
do método de supervisão T. W.I.; concessão de bolsas de estudo a alunos dos
cursos técnicos, no Distrito Federal; concessão de bolsa para funcionário da
CBAI a fim de ir aos Estados Unidos da América aperfeiçoar-se na técnica de
recursos audiovisuais e da aparelhagem industrial.
ENSINO EMENDATIVO
Mereceu atenção especial do Ministério o ensino emendativo. Foram ou estão
sendo tomadas as providências seguintes:
- instituição de comissão destinada a estudar a regulamentação do
Decreto-lei nº 5.395, de 20 de outubro de 1943, que dispõe sobre o
aproveitamento de indivíduos de capacidade reduzida;
- atualização dos Regimentos do Instituto Benjamin Constant e do Instituto
Nacional de Surdos-Mudos, tendo em vista a nova orientação dada ao ensino
emendativo dos respectivos deficientes Sensoriais. O novo Regimento do
primeiro já foi aprovado pelo Decreto n°34.700, de 25 de novembro de 1953;
- regulamentação do ensino profissional e musical do Instituto Benjamin
Constant e do ensino comercial e de belas-artes do Instituto Nacional de Surdos-
Mudos, tendo em vista habilitar os respectivos deficientes Sensoriais a se
apresentarem capacitados ao exercicio das respectivas profissões;
- determinação de obras imediatas no Instituto Benjamin Constant e no
Instituto Nacional de Surdos-Mudos, os quais já se encontram externamente
restaurados;
- providências para que se conceda o direito de voto ao indivíduo cego,
como grande passo para a sua recuperação social.
Finalmente, considerando o grande número de deficientes Sensoriais, existentes,
100.000 cegos e 50.000 surdos-mudos, tem-se interessado o Ministério em apoiar
a realização de cursos para professor especializado de
surdos-mudos, a fim de que fique o Pais suprido do pessoal técnico
necessário, neste domínio.
EDUCAÇÃO EXTRA-ESCOLAR
Cabe também registrar a reestruturação da Divisão de Educação Extra-
Escolar, cujo novo regimento foi aprovado pelo Decreto nº 34.078, de 6 de
outubro de 1953.
Entre as atribuições que foram conferidas ao órgão reestruturado incluem-se as
relações do Ministério com as entidades estudantis e a assistência cultural à
mocidade escolar, pois que faltava a essas atribuições a necessária base
funcional, de vez que nenhum órgão existia naquela Secretaria de Estado
incumbido do estudo e encaminhamento dos assuntos de interesse
universitário ou estudantil.
Já no último trimestre de 1953, fez sentir-se a eficácia dessa providência, com
a intensificação das atividades da Divisão. As iniciativas de caráter educativo
extra-escolar, nesse ano, consistiram em inquérito sobre os melhores livros de
literatura juvenil, na realização da 1ª Exposição Filatélica Nacional de
Educação e, paralelamente, em um concurso de composições sobre a influência
da História Pátria na Filatelia, a que concorreram estudantes de várias regiões
do Pais, bem como na realização de concursos de monografias e de desenhos
juvenis sobre vultos históricos nacionais.
OUTRAS PROVIDÊNCIAS
Com o objetivo de simplificar o processamento do registro de diplomas
expedidos pelos estabelecimentos de ensino, o Ministério da Educação e
Cultura colaborou no preparo de um projeto que se encontra já em fase de
estudos no Senado Federal e que, uma vez convertido em lei, permitirá o
registro dos diplomas em curto prazo, facultando, outrossim, o exercicio
profissional, a titulo precário, aos concludentes do curso, mediante a
apresentação de documento comprobatório da regularidade da vida escolar.
No desdobramento do programa de construções escolares dos Estados, que
representa a continuidade da assistência financeira que a União vem prestando
aos estados e municípios, por intermédio do Instituto Nacional de Estudos
Pedagógicos, foram concluidos, no ano transato, 195 convênios para
construção, melhoria ou equipamento de prédios escolares, no montante de
Cr$ 121.800.000,00.
Foram concluidos os trabalhos preliminares para o inicio da construção da
Casa do Brasil, na Cidade Universitária de Paris, tendo seguido para aquela
cidade o funcionário encarregado da administração das obras. O projeto
deverá ficar pronto em 1955 e está orçado em Cr$ 15.000.000,00.
LIVRO DIDÁTICO
Dedica-se acuradamente o Ministério ao estudo do problema da melhoria e do
barateamento do livro didático. Neste sentido, vem procedendo a um amplo
inquérito junto a todos os setores interessados, visando a conhecer os diversos
ângulos da matéria entre nós.
Está sendo examinada a possibilidade de serem utilizadas as editoras oficiais,
especialmente as que integram a Superintendência das Empresas Incorporadas
ao Patrimônio da União, para edição de livros didáticos, a pro reduzido.
Também está contribuindo o Ministério para atenuar os reflexos do problema
entre os escolares, através da Cooperativa Distribuidora de Material Escolar, que
distribui material escolar e de ensino com desconto de 20% sobre o preço
corrente no mercado, tendo o movimento de vendas atingido a Cr$
1.150.365,00, no ano transato.
Contribuição importante e da maior relevância para o problema do
barateamento do livro didático é, sem dúvida, a exclusão do regime de licença
prévia para a importação do papel destinado ao livro. A aludida providência, que
mais uma vez foi objeto de reivindicações das empresas editoras de livros e dos
órgãos técnicos do Ministério da Educação e Cultura, terá repercussão
igualmente favorável em relação ao livro estrangeiro em virtude de terem sido
abolidos os ônus que sobre os mesmo incidiam.
João Fernandes Campos Café Filho
Presidência de 24.8.1954 a 8.11.1955
1955
Mensagem apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República, João
Fernandes Campos Café Filho, na abertura da sessão legislativa
Nos últimos vinte anos, houve sensível desenvolvimento em todos os graus do
ensino, na proporção, aproximadamente, de noventa por cento no ensino
primário, quinhentos por cento no ensino médio e oitenta por cento no ensino
superior. Este crescimento não obedeceu, porém, a uma distribuição que
correspondesse às necessidades nacionais, quanto à natureza das escolas, à sua
localização e à forma por que estão sendo mantidas.
Relativamente ao ensino primário, tanto no Distrito Federal quanto nas grandes
cidades do interior, o aumento da população urbana foi proporcionalmente
superior ao que se verificou em unidades escolares. Nas zonas rurais, o problema
ainda apresenta aspecto mais grave.
O aumento dos estabelecimentos educativos de grau médio atingiu proporções
que colocaram o Brasil em situação sem precedentes, embora a escola secundária
não esteja em condições de atender às necessidades dos alunos que a procuram,
além de não os preparar convenientemente pra a vida.
O desenvolvimento do Pais não foi acompanhado de uma renovação de conteúdo
no ensino industrial. Desta forma, nem sempre as escolas industriais, com sua
atual estrutura, estão ajustadas aos verdadeiros reclamos do pais, que precisa
cada vez mais de um número sempre crecente de técnicos de nível médio. E
preciso encontrar um meio de aumentar as matrículas nos ramos de ensino
médio que conduzem ao exercício profissional de natureza técnica ou agrícola.
Por outro lado, as atuais condições sociais e culturais do país exigem maior
número de profissionais de nível superior. As escolas tradicionais não estão
aparelhadas para acolher o total de candidatos que a elas se dirigem e novos
estabelecimentos vão surgindo para receber os que sobram do número limitado
de vagas das Faculdades. Assim, as escolas superiores estão espalhadas por todo o
território nacional, criando problemas novos para os quais precisa ser
encontrada pronta solução.
A federalização das Universidades e escolas superiores representou uma
sobrecarga das verbas destinadas à educação, prejudicando, de certo modo, a ação
governamental em outros setores do ensino. No orçamento de 1954, 47% das
verbas de educação foram destinados ao ensino superior e no orçamento para
1955 é quase idêntica a situação, com 44%. A federalização não modificou a
situação anterior quanto à carência de professores, à deficiência de instalações e
à insuficiência de vagas para os candidatos à matricula.
Em todos os graus e ramos do ensino, o rápido desenvolvimento verificado
encontrou a estrutura escolar desaparelhada, no que se refere a instalação,
professores habilitados e pessoal administrativo competente. Estes fatos
ocorrem com maior intensidade no ensino secundário e no superior.
Não desconhecendo a extensão de tais problemas, o Governo tem procurado
aparelhar-se para enfrentá-los, revendo e atualizando planos, amparando
iniciativas e fixando normas para as atividades que se devem desenvolver.
No campo do ensino primário, prevalecem, entre outros, os seguintes
objetivos: estimular a criação de novos estabelecimentos, de modo a que se
reduza ao minimo possível a percentagem da população infantil sem escolas;
cooperar com os Estados para o preparo de professores em número que
corresponda às necessidades regionais; ampliar e intensificar a ação do
Ministério da Educação e Cultura no que se refere à cooperação com os
governos locais para a construção de prédios destinados a escolas,
especialmente na zona rural; cooperar com os Estados para a realização de
estudos, levantamentos e pesquisas a fim de ajustar o ensino primário às reais
condições de cada zona do país.
Relativamente ao ensino médio, as diretrizes governamentais compreenderão:
providências no sentido de oferecer à juventude uma educação integral, que
atenda às características do novo tipo de aluno que hoje se inscreve na escola
média;participação do Governo Federal na criação e manutenção de escolas,
especialmente das que são ou se destinam a ser mantidas por fundações,
cooperativas, associações, etc; intensificação dos cursos de aperfeiçoamento
de mestres; promoção de largo programa de assistência ao magistério;
ampliação da concessão de bolsas de estudo a alunos destituídos de recursos;
descentralização das atividades do Ministério da Educação e Cultura, no que
se refere ao ensino médio, de modo que possibilite assistência direta do
Governo Federal, às escolas, aos professores e aos alunos; reorganização do
sistema de fiscalização.
A ação do Governo, no setor do ensino superior, tem em vista: consolidar a
rede de escolas já existentes, especialmente das que são mantidas pela União,
com o fim de aumentar-lhes a matrícula, elevar cada vez mais o nível de seus
professores, e, conseqüentemente, a qualidade do próprio ensino disciplinar a
distribuição das verbas aplicadas em subvenções a estabelecimentos mantidos
pelos Estados e entidades particulares, de forma que se permita o aumento e
a melhoria das escolas de caráter técnico e cientifico.
ENSINO PRIMÁRIO
Embora no campo do ensino primário a ação da União assuma caráter
meramente supletivo, é pensamento do Governo Federal ampliar tanto
quanto possível sua cooperação com os governos estaduais e municipais na
solução desse importante problema. É interessante frisar que, tendo iniciado o
trabalho pela construção de escolas isoladas para as zonas rurais, o programa do
Ministério da Educação e Cultura se estende hoje a grupos escolares, escolas
normais e centros regionais de educação.
Para que se avaliem o vulto e o âmbito desse programa, é bastante ressaltar que,
além da ampliação de 30 escolas já existentes, foram construídas ou planejadas
6.95 7 escolas rurais, 651 grupos escolares e 68 escolas normais.
No ano de 1954, foram concluídas 482 escolas rurais, achando-se em construção
668 e programado para breve o inicio de 261; concluíram-se 110 grupos
escolares, achando-se em construção 180 e mais 60 serão brevemente iniciados.
Visando ao aperfeiçoamento do professorado de curso primário, de escolas
normais e de pessoal da administração de serviços de educação, foram
organizados cursos e estágios para professores primários, para professores de curso
normal e pessoal da administração dos serviços da educação primária.
Educação de Adultos
Foi planejada a instalação de 15.300 cursos de ensino primário supletivo,
levando-se em conta o índice de analfabetismo de cada região e as possibilidades
de cooperação oferecidas por entidades oficiais e particulares.
Procedeu-se também à distribuição de farto material de ensino, de controle e de
propaganda.
Educação Rural
A Campanha Nacional de Educação Rural vem atingindo sua finalidade
especifica, que é levar a educação de base ao meio rural, ajudando crianças,
adolescentes e adultos a compreenderem os problemas peculiares ao meio em que
vivem, a formarem uma idéia exata de seus deveres e direitos individuais e
cívicos, bem como a participarem eficazmente do progresso econômico e social
da comunidade a que pertencem.
As Missões Rurais e os Centros Sociais da Comunidade são os eficientes meios de
que a Campanha lança mão para realizar seu objeto.
A instalação de Centros de Treinamento de Professores e de Auxiliares Rurais é
medida de evidente significação para o preparo de professores e auxiliares rurais
que possam colaborar nos programas da educação de base.
Estão sendo também organizados Centros de Treinamento de Cooperativismo
de Jovens Locais e Centros de Orientação de Lideres Locais. Os primeiros têm
por objetivo educar os moços dentro do regime cooperativista, incentivando-
lhes o amor à terra e a fixação na zona rural. Com os Centros de Orientação de
Líderes Locais, tem-se em vista o preparo da comunidade, em geral, e
especialmente da juventude, numa contribuição para levantar o padrão de
vida das populações das zonas respectivas.
O trabalho mais importante, porém, é o dos Centros de Treinamento de
Educadores de Base, através de cursos de alto padrão didático e prático,
destinados à preparação de pessoal para as funções de chefia, planejamento e
orientação da Campanha Nacional de Educação Rural.
ENSINO SECUNDÁRIO
Medidas especiais vêm sendo adotadas visando à expansão e melhoria do
ensino secundário.
Foi iniciado um processo de descentralização administrativa, através de
Inspetorias Seccionais, instaladas nas capitais e em cidades do interior em
colaboração com as autoridades estaduais.
Cuidando de aprimorar o sistema de inspeção aos estabelecimentos de ensino
secundário, promoveu o Ministério da Educação e Cultura o aperfeiçoamento
do pessoal do quadro de inspetores, realizando estágios e cursos.
Para o aperfeiçoamento de professores, haverá três tipos de cursos: cursos de
orientação para candidatos que se destinam ao magistério no interior e que
devem prestar exames de suficiência para o exercício docente; cursos de
aperfeiçoamento para professores já em exercicio; cursos de orientação para
professores de ciências e outras disciplinas que exigem laboratórios ou
oficinas.
Em 1954, realizaram-se cursos de aperfeiçoamento para professores na Capital
Federal, em São Paulo, em Porto Alegre e em Friburgo, os quais beneficiaram
930 candidatos.
Em janeiro deste ano, tiveram inicio Cursos de Aperfeiçoamento para
Professores no Distrito Federal, em São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte,
Fortaleza, Goiânia, João Pessoa, Florianópolis, Juiz de Fora, Friburgo e São
José dos Campos, com a freqüência de 1.495 interessados.
Já se encontra em funcionamento, sob os auspícios do Ministério da
Educação e Cultura, a Fundação do Ensino Secundário - entidade que conta
com o auxílio do Poder Público e com a participação de elementos
representativos das classes conservadoras - e que se destina a auxiliar a rede de
ensino secundário, mediante a concessão de bolsas de estudo.
Mas o acontecimento de maior importância no campo do ensino médio foi a
promulgação da Lei nº 2.342, de 25 de novembro de 1954. Esse diploma legal,
que dispõe sobre a cooperação financeira da União com o ensino de grau médio,
institui um fundo correspondente a um décimo da cota federal destinada à
educação e cultura, para atender aos problemas do ensino médio, que são, em sua
quase totalidade, os problemas do ensino secundário. Tais problemas poderão,
assim, encontrar solução racional e definitiva.
Na conformidade do disposto na referida lei, as dotações consignadas ao fundo
serão aplicadas, sob regime de acordos e convênios, na concessão de bolsas de
estudo, no aperfeiçoamento e difusão do ensino de grau médio e em auxílio aos
colégios para manutenção, obras e equipamentos, tudo na forma que for
estabelecida no regulamento que está sendo elaborado por uma comissão
designada para esse fim.
Acham-se em andamento medidas concretas para a reforma do ensino
secundário, a fim de tomá-lo mais objetivo e mais consentâneo com os reais
necessidades do pais.
Os estabelecimentos particulares de ensino, objetivando facultar os estudos aos
candidatos desprovidos de recursos financeiros, além de cumprirem a normal
legal vigente, relativamente à reserva de cinco por cento de matrículas gratuitas
para alunos pobres e bem dotados, resolveram criar oportunidades educacionais
para um maior número de estudantes, oferecendo gratuidades acima daquele
limite da Lei.
Com o advento da citada Lei nº 2.342, de 1954, os necessitados de auxilio,
que ainda não foram atendidos pelas oportunidades existentes, poderão ser
contemplados com bolsas de estudo que lhes permitam a realização do curso.
Colégio Pedro II
Vem sendo aplicado, com reais vantagens, o novo Regimento do Colégio Pedro
II, estatuto que em grande parte reorganizou a vida e a administração daquele
estabelecimento de instrução, criando novos órgãos de real utilidade para o
ensino e para a administração, tais como os Departamentos Didáticos e o
Conselho Departamental.
Tanto o intemato quanto o Externato do Colégio Pedro II apresentaram, em
1954, grande acréscimo no número de matrículas.
Providências especiais foram determinadas relativamente à rápida conclusão
das obras do Internato do Colégio Pedro II, as quais são imprescindíveis para
que o estabelecimento possa atender aos numerosos alunos que nele se
matriculam anualmente.
Concluído o novo edifício, a capacidade de matrícula ficará elevada para
1.000 alunos e o custo de cada discente ficará reduzido à metade do atual
Cumpre salientar que a elevação do número de matriculas a esse índice
permitirá a concessão de 600 bolsas a estudantes de todos os Estados do
Brasil, conforme planejamento já elaborado.
ENSINO COMERCIAL
Foi realmente apreciável o esforço desenvolvido no sentido de estimular a
expansão e eficiência do ensino comercial. Ótimos os resultados obtidos,
tendo sido fundados e instalados novos cursos técnicos do comércio, em
vários pontos do país.
A expansão desse ramo de ensino trará grandes benefícios ao interior, onde
foram instituídos novos educandários, muitos deles em localidades até então
desprovidas de qualquer escola de grau médio.
Incentivaram-se ainda a criação e o funcionamento de Centros de Estudos
Pedagógicos nas comunidades em que existem escolas de comércio, a fim de
que os problemas do ensino possam ser debatidos diretamente pelos
educadores nas localidades em que exercem o magistério, de modo a que se
obtenha maior rendimento dos seus esforços.
ENSINO INDUSTRIAL
A expansão e o desenvolvimento do ensino industrial vêm constituindo
preocupação constante do Poder Público, tendo em vista a deficiência de
técnicos devidamente habilitados para o exercicio de atividades ligadas ao
progresso do pais.
De tal circunstância resultou interesse maior pelo ensino industrial, cuja
expansão se faz sentir em todo o país com a criação de novas escolas desse
tipo.
O Governo Federal procurou introduzir nos estabelecimentos integrantes de
sua rede de ensino o Serviço de Orientação Educacional e Profissional, como
dinâmica de integração do esforço escolar com o mundo ocupacional
no ámbito da produção.
Esse Serviço trata de encaminhar os jovens para os diferentes cursos de ensino
industrial, tendo em vista as suas aptidões e interesses profissionais. Ao final do
curriculo escolar, proporciona-lhes informes sobre oportunidades de trabalho.
Visando melhor atender às conveniências do magistério do ensino industrial, o
Governo regulamentou, pelo Decreto nº 36.268, de 1º de outubro de 1954, o
funcionamento dos Cursos Pedagógicos do Ensino Industrial, destinados não só
a preparar novos professores e aperfeiçoar os atuais docentes e diretores de
escolas industriais, mas, ainda, a cuidar da formação de novos diretores.
Os planos de desenvolvimento do ensino industrial foram ampliados em todo o
país, pela ajuda técnica e financeira às entidades oficiais e particulares.
ENSINO AGRICOLA E VETERINÁRIO
A partir dos meados de 1954, foram adotadas as seguintes diretrizes para o
ensino agrícola e veterinário : desenvolvimento da educação extensiva, que se
propõe atingir o habitante rural, de qualquer idade ou sexo, no seu próprio
ambiente de trabalho; prática de aprendizado de agricultura em função das
próprias atividades agrícolas, evitando-se o processo de caráter exclusivamente
livresco e verbalístico; instalação de centro social rural, junto a cada um dos
estabelecimentos de ensino, no sentido de congregar alunos, professores,
funcionários e membros da própria comunidade então beneficiada pela
constante intercomunicação de todas as suas partes; inclusão da educação
feminina, para a vida rural, nos programas de trabalho do Ministério da
Educação e Cultura, nos quais até agora vinham preponderando fortemente as
iniciativas relacionadas com a educação masculina; introdução da aplicação de
testes de nivel mental e vocacionais para a agricultura, antes das provas de
conhecimentos gerais a que se submetem os candidatos aos cursos regulares das
escolas, com o objetivo de corrigir-se o erro de uma apuração unilateral que tem
determinado ocorrência de um número muito maior de matriculados de origem
urbana do que de origem rural; retificação gradativa e oportuna das edificações
escolares, as quais, via de regra, não têm obedecido a normas adequadas para fins
educacionais, seguindo-se nova orientação quanto às construções e aos projetos;
inclusão do ensinamento das indústrias rurais nas escolas do Ministério da
Agricultura, tendo em vista que o desenvolvimento in loco das indústrias dos
produtos de origem vegetal e animal é um dos pontos básicos para obtenção de
melhor situação em nossa vida rural e do melhor equilibrio entre a cidade e o
campo.
ENSINO SUPERIOR
Além da ação exercida pela União, através das Universidades e Faculdades
federalizadas, destinou-se, em 1954, para auxilio ao ensino superior, o total
de Cr$ 181.587,400,00 sendo Cr$ 82.700.000,00, mediante acordos com os
estabelecimentos; Cr$ 48.887.400,00 como auxílios fixos, resultantes de leis
especiais, e Cr$ 50.000.000,00, como auxílio à Universidade de São Paulo.
A ação do Governo Federal se fez sentir ainda no campo do ensino superior,
através da Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel
Superior, instituida pelo Decreto nº 29.741, de 1951.
Sempre dentro de um critério revisionano, que lhe assegura a permanente
readaptação dos planos em função das indicações fornecidas pela experiência
do trabalho e pelas modificações de circunstâncias, realizou-se um programa
que compreende levantamento e pesquisas, cooperação com os centros de
ensino superior do pais, formação de pessoal especializado, planejamento e
documentação sobre material educativo.
Em 1954, a Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel
Superior empenhou-se em desenvolver o seu plano de melhoria das condições
de ensino e pesquisa nos centros universitários do pais, pondo em execução
uma série de projetos relativos a contratos de professores e técnicos
estrangeiros e nacionais, para atividades de ensino e pesquisa e formação e
aperfeiçoamento de pessoal docente superior, junto das instituições
universitárias.
A Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel Superior
prosseguiu nos seus estudos e levantamentos destinados a conhecer as
disponibilidades de pessoal de nivel superior, sua distribuição e suas
deficiências quantitativas e qualitativas, avaliadas em função da situação
econômica, social e cultural de cada região, estudando igualmente as
condições de organização e funcionamento dos estabelecimentos de ensino de
nivel superior nos diversos Estados da Federação.
A mesma Campanha colaborou, por várias formas, na realização de cursos de
aperfeiçoamento pós-graduado ou de formação especializada, além de haver
concedido 178 bolsas e auxilios de vários tipos, assim discriminados:
formação e aperfeiçoamento no pais, 86; aperfeiçoamento no estrangeiro, 92.
Cidade Universitária
O conjunto arquitetônico, destinado ao principal centro de ensino superio do
pais, com capacidade para 30.00 estudantes, apresenta-se em adiantada fase
de construção, sob a responsabilidade de um Escritório Técnico, criado no
Departamento Administrativo do Serviço Público, por força do Decreto-lei no
7.217 de 30 de dezembro de 1944.
Na grande ilha universitária, localizada entre a ponta do Caju e a Ilha do
Governador, em frente ao Instituto Oswaldo Cruz, prosseguem as obras de
construção de três importantes unidades.
Já se encontra em pleno funcionamento o Instituto de Puericultura, com
16.000 metros quadrados de área e constituído de três blocos interligados: o
primeiro corresponde ao Ambulatório, com capacidade para atender a 400
crianças, em dois turnos; o segundo é o Hospital, dotado de 5 enfermarias, com
170 leitos; o terceiro constitui o Abrigo Maternal, Banco de Leite Materno e
Pupileira, com 72 leitos.
A maior obra da Cidade Universitária será o seu Hospital de Clinicas, em
adiantada fase de construção e capaz de atender a mais de 60% de todo o
ensino médico.
O terceiro edifício, também em construção, destina-se à Faculdade Nacional de
Arquitetura, que nele disporá de 53.000 metros quadrados e das mais completas
instalações.
Por outro lado, prosseguem ativamente as obras de construção do conjunto
projetado para o ensino de engenharia.
EDUCAÇÃO FISICA
A educação física tem merecido a atenção do Governo, que tudo vem fazendo
para torná-la uma prática realmente atraente, útil e vantajosa para a mocidade.
A criação de Centros de Educação Física constituiu objeto de estudos do
Departamento Nacional de Educação, possibilitando a elaboração de um
plano para promover a instalação dos referidos Centros, medida que será
de alto valor e significação para a juventude.
ENSINO EMENDATIVO
No que tange ao ensino emendativo, os educandários mantidos pelo Governo
Federal desempenharam as suas atividades normais, esforçando-se por
proporcionar aos cegos e surdos-mudos a educação de que carecem.
O Instituto Nacional de Surdos-Mudos promoveu a ampliação do setor pré-
primário, aumentando consideravelmente o número de matrículas de
meninos e meninas e ampliando também seu setor feminino.
Esse Instituto matriculou cerca de 600 alunos internos no ensino
fundamental, profissional e médio, além de 230 normalistas, entre as quais
bolsistas de diversos Estados.
O Instituto Benjamin Constant realizou o Curso de Professores e Inspetores
de Cegos, freqüentado por bolsistas vindos de várias unidades da Federação.
Foi fundado no Instituto Benjamin Constant o Museu Pedagógico, com
amostras procedentes de Paris, Londres e Nova York, constituídas por
aparelhos destinados a possibilitar o desenvolvimento do trabalho
profissional e intelectual dos cegos.
Procurando ajustar o programa de merenda escolar à realidade nacional, a
Comissão Nacional de Alimentação procedeu a um levantamento da situação
em todas as unidades da Federação. Verificou-se que as merendas eram
fornecidas a menos de 10% dos escolares brasileiros e que os cardápios
oferecidos em sua maioria não atendiam a requisitos de ordem técnica nem de
natureza econômica.
Foi estudado então um programa de merenda que se ajustasse à realidade
brasileira, o qual, além de atender às necessidades nutritivas mais prementes
das crianças, possa regular-se por bases da mais rigorosa economia.
Também se cuidou, detalhadamente, dos processos de administração,
distribuição e controle das merendas, mais condizentes com o nosso meio,
visando, sobretudo, ao seu emprego em ambiente rural.
Mediante convênio firmado entre a Comissão Nacional de Alimentação e o
Fundo Internacional de Socorro à Infância, já foram adquiridas 4.400.000
libras de leite em pó, desembarcadas nos diversos portos do país.
Na região da Amazônia, a Comissão Nacional de Alimentação elaborou, em
colaboração com a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da
Amazônia e com os governos dos Estados e Territórios da região, um
programa que se traduzirá na prestação de assistência alimentar a cerca de
250.000 crianças.
Médicos e dietistas viajaram pela Amazônia, instruindo colegas, professores e
autoridades sobre os objetivos e métodos do programa de assistência. Foram
realizados cursos intensivos para professores e administradores de merenda
nas cidades de Belém, Macapá, Manaus, Porto Velho, Boa Vista, Cuiabá e São
Luis do Maranhão.
No Nordeste, as merendas foram distribuídas principalmente nos Estados de
Pernambuco e Bahia, sendo contemplados cerca de 150.000 escolares.
Foram transportadas aproximadamente 12 toneladas de alimentos para
distribuição aos escolares nordestinos, além de 50 conjuntos para a instalação de
cantinas nas zonas mais necessitadas.
De Fortaleza, seguiram para os respectivos destinos cerca de 500 tambores de leite
em pó ali estocados pelo FISI e distribuídos na região.
LIVRO DIDÁTICO
Com o objetivo de propiciar ao ensino os elementos de que necessite para sua
eficiência e de oferecer aos estudantes condições para que possam aproveitá-lo
devidamente, vem sendo dispensada especial atenção ao problema do livro
didático.
Se é certo que o Estado não pode impor a adoção de determinadas obras, não é
menos exato que incumbe ao Poder Público zelar pelo aparecimento de melhores
livros didáticos, cuidando, outrossim, de reduzir as despesas dos estudantes com a
aquisição de livro e de material escolar.
Os gastos relativos aos livros e ao material escolar em geral podem ser reduzidos
sensivelmente com a adoção de providências que repercutem sobre as condições
de sua produção e distribuição.
O Ministério da Educação e Cultura já iniciou a execução de um programa de
edição de livros escolares. Inicialmente, serão editadas pelo Governo as obras de
referências, que são as de uso universal e de utilidade permanente. A confecção de
originais de dicionários e atlas já foi contratada com instituições e professores de
notória capacidade.
Uma comissão de técnicos foi designada para estudar as condições de distribuição
que possam concorrer para o barateamento do livro e do material escolar, tendo
concluido os seus trabalhos com a indicação de várias providências que
possibilitem a utilização progressiva dos benefícios do cooperativismo.
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