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CONVÊNIO SECRETARIA EE ENSINO EE 1º EGRAUS/MEC
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FUNDAÇÃO CEARENSE DE PESQUISA E CULTURA
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PARTICIPAÇÃO! FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS
AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO RURAL BÁSICA NO NORDESTE BRASÍLEIRA
E
STUDOS
DE
C
ASO
:
ASPECTOS DA QUALIDADE DO ENSINO
R
ELATÓRIO
T
ÉCNICO
N
° 5
1982
ads:
EQUIPE TÉCNICA
F
UNDAÇÃO
C
ARLOS
C
HAGAS
A
NGELISA
F
AFFEI
J
ORGE
B
ERNARDETE
A
.
GATTI
(
COORDENADORA
)
CLÁUDIA
DAVIS
ENY
MARISA
MAIA
GUIOMAR
NAMO
DE
MELLO
MARY
JÚLIA
M
.
DIETZSCH
E
STUDOS
DE
C
ASO
: E
QUIPE
R
ESPONSÁVEL
ANGELISA
MAFFEI
JORGE
ANTONIO
FERREIRA
S
,
SOBRINHO
ELBA
SIQUEIRA
DE
BARRETO
MARIA
INES
SARTESCHI
DJRIGAN
MARIA
JO
OLIVEIRA
ALMEIDA
REGINA
STELLA
PEREIRA
NASCIMENTO
SUMARIO
1 INTRODUÇÃO - 01
2. DELINEAMENTO DOS ESTUDOS DE CASO - 04
2.1.
VARVEIS CONSIDERADAS IMPORTANTES - 04
2.2.
A SELEÇÃO DOS MUNIPIOS - VARVEIS QUE ORIENTARAM A ESCOLHA. - 05
2.3.
A SELEÇÃO DAS ESCOLAS E DOS SUJEITOS ENVOLVIDOS EM SUA DIMICA DE
FUNCIONAMENTO.' PROFESSORES, PAIS E ALUNOS - 07
2.4 TRABALHO DE CAMPO, - 09
3. APRESENTAÇÃO DOS ESTUDOS DE CASO - 11
3.1. OS MUNICÍPIOS DE OEIRAS E PIRIPIRI - 11
3.1.1.CARACTERIZAÇÃO - 11
3.1.2.INFRA-ESTRUTURA - 18
3.1.3.MANIFESTAÇÕES RELIGIOSAS E CULTURAIS - 19
3.1.4.CARACTERÍSTICAS DO ATENDIMENTO EDUCATIVO - 19
3.2. OS MUNICÍPIOS DE NOVA RUSSAS E MAURITI - 57
3.2.1.CARACTERIZAÇÃO - Z7
3.2.2.INFRA-ESTRUTURA - 43
3.2.3.MANIFESTAÇÕES RELIGIOSAS E CULTURAIS - 45
3.2.4.ATENDIMENTO EDUCATIVO - 45
3.3. OS MUNICÍPIOS DE LAJEDO E O JOAQUIM DO MONTE - 57
3.3.1.CARACTERIZAÇÃO - 57
3.3.2.INFRA-ESTRUTURA - 62
3.3.3.ATENDIMENTO EDUCATIVO - 66
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
ALGUMAS
QUESTÕES
PARA
REFLEXÃO
- 78
REFERENCIA BIBLIOGRÁFICAS - so
ANEXO I - 91
ANEXO II - 112
1, INTRODUÇÃO
O presente relatório tem como objetivo analisar os dados obtidos através do
emprego da metodologia do estudo de caso para uma avaliação de base sobre os
aspectos relativos ã qualidade do ensino em escolas rurais que deverão ser abrangidas
pelos insumos do projeto EDURURAL. Buscou-se com um estudo desta natureza uma
compreensão mais particularizada sobre o quotidiano dessas escolas, tanto na sua
inserção local, quanto aos múltiplos fatores mais abrangentes que sobre e l e influem.
Este enfoque deve ilu_ minar a compreensão sobre o desempenho dos alunos que estão
nestas escolas, e que foi objeto de outro relatório desta série , sob um ângulo mais
abrangente: o do aluno e o da escola situados em suas relações concretas.
A escola de uma metodologia implica sempre num compromisso entre o
objeto a ser conhecido, o nível e o tipo de conhecimento que se pretende alcançar.
Nesse sentido, ao propor um es_ tudo de caso, pretende-se apreender as múltiplas
variáveis que interferem no modo de operar da escola rural nos municípios observados.
Partiu-se portanto do pressuposto que uma compreensão mais aprofundada dos
resultados da ação pedagógica dessas escolas rurais não pode se bastar na análise
dos fatores intraesco-
lares mas deve ser buscada também e principalmente através
do
exame das relações reciprocas entre esses fatores e os que constituem as condições
sócio-econômicas, políticas e culturais em que tais escolas operam.
01
02
O "estudo de caso" consiste numa pesquisa monográfica e em
profundidade de um problema especifico através do exame do maior numero possível
de variáveis reciprocas entre esses fatores e os que constituem as condições sócio-
econômicas,políticas e culturais em que tais escolas operam.
O "estudo de caso
1
' consiste numa pesquisa monográfica e em
profundidade de um problema específico através do exame do maior número possível
de variáveis que nele interferem. Trata-se de uma abordagem qualitativa, um meio de
organizar os dados relativos ao fenômeno estudado como um todo. Baseia-se, então ,
no pressuposto que a obtenção de uma ampla variedade de dados sobre determinado
objeto facilita a compreensão dessa unidade na totalidade. Esta metodologia é pois
uma forma de abordar a realidade no conjunto das relações que a
constituem,procurando reu nir aquelas características que parecem melhor explicar o
objeto de estudo. Ao proceder deste modo o pesquisador enfatiza o processo de
mudanças observáveis num certo período de tempo.
Os estudos de caso, objeto deste relatório, e que foram propostos com o
objetivo de avaliar o modo de ser das escolas rurais, desenvolveram-se através da
observação sistemática, durante um mes, do funcionamento interno destas escolas e
suas in_ terrelações com o meio social local. Caracterizaram-se por uma
participação direta do observador no cotidiano da escola rural num certo período de
tempo por meio de frequentes contatos com os sujeitos nela envolvidos. Essa
participação implicou em observação, registro, descrição, análise e interpretação dos
dados obtidos. Mesmo admitindo que a observação seja sempre sele_ tiva e
limitada, caberia ao pesquisador orientá-la de forma a
apreender as informações que se mostrassem relevantes para a com_ preensão da
realidade, Aâotaram-se técnicas, de sondagem qualitativa como entrevistas
individuais e coletivas com pessoas que desempenham funções direta ou indiretamente
ligadas a vida da escola, conversas informais com elementos da comunidade e a pes-
quisa de documentos da burocracia educacional a nivel municipal e estadual. Foi
importante também a. obtenção de dados de ou_ tro nível que não apenas os coletados
através da ação direta do observador, uma vez que no estudo de caso enfatiza-se a
necessidade de incorporar informações do tipo econômico, administrativo e cultural
desde que referidas ao objeto em questão.
Desta forma o uso dessa, metodologia permite uma aborda
gem mais ampla e profunda dos fatores que constituem a realida
de ao invés de se deter na analise de traços isolados. Entretan_
to, apresenta limitações que devem ser ressaltadas. Segundo GO-
ODE ( p . 4 2 6 ) "o perigo básico no seu uso é a resposta do pesqui_
sador que chega a ter uma falsa sensação de certeza sobre suas
próprias conclusões". Ocorre comumente uma tendência a extrapo
lar os resultados, a partir da análise de casos especificos, em_
bora, por outro lado seja verdade que a profundidade do insight
dado pelo estudo de caso permitirá a formulação de hipóteses
consistentes. Nesse sentido, de um lado, buscou-se ampliar a ba_ se empirica
propondo "estudos de caso" das escolas rurais em di_ ferentes contextos sócio-
econômico-politiao-culturais, conforme será explicitado posteriormente. E de outro,
garantir a coerência e a integração dos dados obtidos através da explicitação de um
quadro teórico metodológico que. informou o pesquisador.
GOODE, William J. e HATT, Paul K. "Métodos em Pesquisa Social".
2. DELINEAMENTO DOS ESTUDOS DE CASO
2.1. VARIÁVEIS CONSIDERADAS IMPORTANTES
Foram destacados corno relevantes para a avaliação da"qua
lidade do ensino" das escolas rurais, os dados relativos a três
dimensões presentes no modo de ser dessas escolas:
1.Dimensão Institucional
2.Relações entre escola e o meio social local
3.Funcionamento interno das unidades escolares
Para orientar a observação do pesquisador se elaboraram
roteiros que detalhavam cada uma dessas dimenes em seus aspec
tos principais.
Para investigar a dimensão institucional como fator in
terveniente no modo de operar da escola rural propôs-se a coleta
desinformações junto ãs Secretarias de Educação, aos órgãos
municipais de educação e ãs escolas de forma a esclarecer o grau
de participação das diferentes instâncias nas decisões ad-
ministrativas e pedagógicas, especialmente as referentes ao pro
jeto EDURURAL (Roteiro 1). Solicitou-se também o levantamento de
dados quantitativos e qualitativos, junto aos órgãos municipais
COME) e ãs escolas, visando obter elementos sobre a organ_i_ zação
e a produtividade da rede municipal de ensino [Roteiro 2),
Quanto ã avaliação das relações entre a escola e o meio social
propôs-se como ponto de partida a caracterização sócio-econômica
da área, um elemento fundamental para compreender as condições de
existência das comunidades observadas [Roteiro 7). Foram
sugeridas também entrevistas com os pais dos alunos e com as
autoridades locais como o prefeito, outros representantes de
04
5"gãos públicos e de instituições civis- leigas . e religiosas(Ro-
teiros 4, 5 e 6). E, finalmente, quanto ãs condições de funcio-
namento interno das escolas propôs-se um inventário sobre cada uma
das unidades selecionadas que abrangesse os aspectos sicos,
administrativos e pedagógicos [Roteiro 3). Em relação ao
professor buscou-se obter dados sobre as suas condições profis-
sionais e de trabalho, o relacionamento com as famílias dos alu-
nos e a comunidade, assim como as expectativas e opiniões a res
peito do papel que a escola rural desempenha ou poderia desempe
nhar na história de vida da população a que serve. Em relação
aos alunos, procurou-se obter informações que permitissem uma
caracterização de suas condições de escolaridade Cidade/série--
repetência/evasão], de suas atividades extra-escolares (traba
lho) e também das aspirações e expectativas sobre a escola (Ro-
teiro 5 ) ,
0 emprego de roteiros tem como objetivo garantir uma cer
ta uniformidade na coleta de dados. o exige, entretanto, pro-
cedimentos padronizados ou formalizados. Um mesmo tipo de dado pode
ser obtido em diferentes fontes. 0 pesquisador deve contar com
sua sensibilidade e senso de observação para decidir o momento,
a oportunidade e a forma mais adequada para obter as informações
em que está interessado. Os roteiros que constituem o material
utilizado na pesquisa estão em anexo.
2.2. A SELÃO DOS MUNICÍPIOS - VARIÁVEIS QUE ORIENTARAM A ESCOLHA
Os critérios de escolha dos municípios para os estudos
de caso resultaram de uma combinação de fatores de ordem sócio-
econômica e educacional que garantissem a ua representatitiva
de em relação aos municípios beneficiados com os insumos do Pro
jeto EDURURAL, Assim, nos m unicí p i os que constituíram o campo
de observação dos estudos de caso esperava-se encontrar caracte
rísticas básicas de organização, comuns aos demais. Porém,os mu_
nicípios não deveriam estar incluídos entre os mais ou menos pri_
vilegiados, tanto nos aspectos econômicos quanto nos educacio-
nais, ou seja, deveriam ser municípios médios entre os demais .
Essas medidas objetivavam garantir uma base emrica que permi-
tisse a elaboração de hipóteses consistentes sobre o funciona-
mento das escolas rurais nos três Estados.
Os critérios foram assim definidos:
1. Fatores sócio-econômicos:
a)população: os municípios escolhidos deveriam apre
sentar uma população distribuída no intervalo de
20.000 a 50.000 habitantes;
b)população economicamente ativa: considerando que a
atividade econômica principal desses municípios se
concentra no setor primário, buscou-se garantir que
os municípios apresentassem uma porcentagem de cerca
de 50% da população trabalhadora, in cidindo nessa
área;
c)estrutura fundiária: a tendência geral observada
nos Estados sugere a concentração cada vez maior de
terra e consequentemente a expansão de minin dios onde
vive e trabalha a maioria da população. Os municípios
selecionados deveriam apresentar es_ tas
características.
2. Fatores educacionais:
a)a extensão da rede escolar: procurou-se escolher
municípios em que o atendimento educacional se es
tendesse até a 8a. série do 1º grau;
b)existência de escolas da rede municipal rural de
ensino com oferta de classes até a 4a. série do 1
9
grau. Como se constatou em várias localidades a
inexistência de alunos cursando a 4a. série na zona
rural, procurou-se assegurar a sua presença como um
fator importante na tentativa de compreender o
processo de escolaridade a que estão submetidos os
alunos na zona rural.
No Estado do Ceará foram selecionados os municípios de
Mauriti e Nova Russas; no Piauí, os municípios de Oeiras e Piri piri
e em Pernambuco, os municípios de são Joaquim do Monte e Lajedo .
2.3, A SELEÇÃO DAS ESCOLAS E DOS SUJEITOS ENVOLVIDOS EM SUA DI-
NÂMICA DE FUNCIONAMENTO: PROFESSORES, PAIS E ALUNOS.
Para selecionar as escolas rurais nos seis municípios
citados foram estabelecidos critérios flexíveis, isto é, passí-
veis de modificação pelo pesquisador, quando as condições locais não
correspondessem ãs informações que os determinaram.
Procurou-se, então, atender aos seguintes aspectos:
1. Distância da sede do município. Considerou-se que a
distância entre as escolas observadas e a sede do mu
nicípio seria um possível indicador de diferentes con
dições de vida.
2.Administração estadual ou municipal. Provavelmente, o
fato de estar subordinado a instâncias diversas po_ deria
acarretar formas de organização e funcionamento de
qualidade distinta,
3.A existência de classes de 2a. e 4a. séries do grau.
Como os estudos de caso se propunham a iluminar o
desempenho dos alunos nos testes de rendimento seria
importante observar o desenvolvimento do processo ensino-
aprendizagem, principalmente nessas clas ses .
4.Gerência de Projetos especiais diversos. Os programas
voltados para o ensino rural apresentam objetivos s
propostas muitas vezes discrepantes com as da rede
municipal, constituindo-se numa situão especí fica que
merece ser analisada tendo em vista a possi_ bilidade de
extensão dessas experiências.
5.Localização em diferentes subdistritos. 0 pesquisador
deveria garantir a presença de escolas em diferentes
subdistritos quando estes se caracterizassem por
condições sócio-econômicas e de densidade popula cional
diversas.
Finalmente, pressupondo que a melhor estragia para a
pesquisa seria o acompanhamento contínuo dos trabalhos pedagóg_i
cos determinou-se um número máximo de cinco escolas para inves-
tigação. Isto porque, considerando as distâncias entre elas e
as dificuldades de locomoção, a tentativa de observar um mero
maior poderia resultar em dados isolados e fragmentados.
Quanto ã seleção dos professores foi sugerido que se bus_
casse observar tanto os menos experientes quanto aqueles com
mais de cinco anos de atividade pedagógica. Supunha-se que o
tempo de exercício no magistério poderia estabelecer diferenças
no desempenho profissional, na forma de conceber a escola e nas
expectativas em relação ao seu papel.
Na seleção dos pais propôs-se a inclusão de sujeitos que
desenvolvessem diferentes formas de trabalho, garantindo nos
depoimentos a representatividade de todos os segmentos da popu-
lação beneficiados pela rede de ensino rural. Quanto aos alunos
procurou- se entrevistar, principalmente, os que cursavam as 2as.
e 4as. séries, sem maiores discriminações.
2 4 TRABALHO DE CAMPO
Os estudos de caso se desenvolveram durante um mês do
período letivo, mais precisamente em outubro de 1981.
Considerando que a inserção na realidade devia se pro-
cessar em etapas gradativas, partindo-se da análise das rela-
ções sociais mais gerais para a interação mais acurada com o
objeto particular da pesquisa, foi proposto o seguinte esquema
de trabalho:
1.Levantamento junto aos órgãos estaduais de educação dos
programas voltados para a melhoria da "qualidade do
ensino" na zona rural.
2.Levantamento detalhado sobre as condições sócio-eco-
nômicas das regiões estudadas [estrutura fundiária ,
produção, arrecadação] junto aos órgãos institucionais
dos municípios.
Levantamento de dados sobre o atendimento educacio-
nal no município, junto aos órgãos municipais de en-
sino (OME) e observação da dinâmica do seu funciona-
mento, enquanto instância responsável pela adminis
tração e supervisão das escolas rurais.
Observação sistemática de cinco escolas do município,
desde os aspectos de sua organização burocrática até
a descrição detalhada da ação pedagógica circunscri
ta a sala de aula.
!. APRESENTAÇÃO DOS ESTUDOS PE CASO
Os estudos de caso desenvolvidos nos seis municípios se_
lecionados estão apresentados neste relatório de forma sintéti-
ca, organizando-se os dados sócio-sconômicos e educacionais por
Estado, de modo a permitir as possíveis comparações em um con-
texto mais amplo.
Utilizamos para apresentação a seguinte ordem:
1. Estado do Piauí:
a)Municípios de Oeiras
b)Município de Piripiri
2. Estado do Ceará:
a)Município de Mauriti
b)Município de Nova Russas
3. Estado de Pernambuco:
a)Município de Lajedo
b)Município de São Joaquim do Monte.
3,1. OS MUNICÍPIOS DE OEIRAS E PIRIPIRI
3.1.1. CARACTERIZAÇÃO
Oeiras e Piripiri são antigas cidades do Estado surgidas
respectivamente em 1712 e em 1844. A história dos dois mu_
nicípios revela origens semelhantes. Ambos se constituíram a
partir do loteamento de terras que pertenciam a grandes fazendas.
Oeiras surgiu de uma das fazendas mais importantes da- re-
gião, a Cabrobó e Piripiri, das terras que o Padre Domingos de
Freitas doou para quem quisesse se estabelecer. Entretanto, em seu
processo de desenvolvimento revelam uma trajetória bem distinta.
Oeiras chegou a ser designada sede do governo (1715) mas a partir
de 1852, com a transferência da capital para Teresina passou a
viver maginalizada do processo político.
É possível então supor que o fato de se deslocarem daí
os quadros administrativos do Estado, tenha concorrido para o seu
esvaziamento, Piripiri, ao contrário parece em plena asce_n são:
sua localização estratégica a coloca como um dos principais
entroncamentos rodoviários do. Estado, cortada por três rodovias
federais em excelente estado de conservação. Piripiri é passagem
necessária entre Fortaleza e Teresina.
Localiza-se ao norte do Estado, pertencendo a microrre-
gião de Campo Maior, Oeiras situa-se na microrregião dos Bai-xões
Agrícolas Piauienses, no centro-sul do Estado.
0 efetivo populacional desses municípios está em torno de
50.000 habitant es (Quadros I e II).
QUADRO I
População residente, por situação de domicílio e sexo, no município de Pi-
ripiri.
T O T A L U R B A N A R U R A L
TOTAL HOMEM MULHER TOTAL HOMEM MULHER TOTAL HOMEM MULHER
55.010 26.961 28.049 29.497 14.057 15.440 25.513 12.904 12.609
FONTE: Fundação IBGE, Sinopse Preliminar do Censo Demográfico, 1980.Vol.1,
nº 7. Piauí.
QUADRO II
População total urbana e rural. Estado do Piauí e Município de Oeiras, 1960/1980.
POPULAÇÃO TOTAL POPULAÇÃO URBANA POPULAÇÃO RURAL
ANU
PIAUI OEIRAS PIAUI OEIRAS PIAUI OEIRAS
1960 (a) 1.263.368 39.948 303.209 6.017 960.159 33.931
1970 tb) 1.734.894 41.576 561.110 9.608 1.173.784 31.969
1980 (c) 2.188.450 48.312 931.204 13.059 1.256.946 35.253
FONTES: a) Censo Demográfico - 1960 - IBGE
b)Censo Demográfico - 1970 - IBGE
c)Sinopse Preliminar do Censo Demográfico - 1980 - FIBGE
Piripiri tem um c e n t r o
po p u l oso e d e s d e 1980 ap r e s e n t a
um maior contingente populacional na zona urbana (Quadro__l) ..Ina
ta-se da quinta maior cidade do Estado do Piauí em pop u l açã o.
A P o pu l a çã o Economicamente A t i v a ( P E A ) n e s s e s municí-
pios concentra-se nas atividades ligadas ao setor primário. Em Oeiras, 78% dos trabalhadores
dedicam-se a agricultura e em Piripiri, 64%, evid enc iando as sim a importância d e s s a atividade
para a economia dos municípios, principalmente como fator de ab_ sorção de m ão - d e - o b r a.
O b s e r v a - s e p e l o s Quadros III e IV, que os s e t o r e s s e c u n d ár io e t er ciário t ê m p o s i ç ã o
pouco e x p r e s s i v a , t a n t o como f o n t e de emprego qu a n t o na economi a da
região.
QUADR0 III
Distribuição da P.E.A, segundo setores de atividades - Oeiras CPD 1970
.POPULAÇÃO ECONOMICAMENTE ATIVA
T O T A L SETOR PRIMÁRIO SETOR SECUNDÁRIO SETOR TERCIÁRIO
POPULAÇÃO TOTAL
ABS
-
% ABS
' TOT. FEA
ABS
' TOT. PEA
ABS
TOT. PEA
41.576 12229 29,0 9618 23,0 78,0 921 2,0 8,0 1690 4,0 14,0
FONTE: Censo Demográfico 1970 - FIBGE
QUADRO IV
Distribuição da P.E.A, segundo setores de atividades e sexo. Piripiri CPD
1975.
ATIVIDADES HOMENS MULHERES TOTAL
Agricultura-Pecuaria, Silvicultura, Extrativis
mo Vegetal, Caça e Pesca.
Atividades Industriais.
Comércio de Mercadorias
Prestação de Serviços.
Transportes, Comunicação, Armazenagem.
Atividades Sociais.
Administração Pública.
Outras Atividades.
Subtotal
7.465 106 7
.57
1
1.417 83 1
.50
0
574 45
61
9
237 716
95
3
254 15
26
9
91 313
40
4
178 5
18
3
129 157
28
6
10.345 1.440 11
.78
5
T O T A L 14.100 14.545 28.645
FONTE: SIPLAM- Sistema de Informações para o Planejamento Municipal.
As principais cu l t uras produzidas nos municípios são ar
roz, milho, mandioca, feijão, algodão e banana. Em Piripiri, de
s e n v o l v e m - s e também a t ividades a grí c o l a s que p r e ssup õem uma
transformação industrial para a u tiliz a çã o, como a e x t r a ç ã o de cana-de-açucar,
carnaúba e babaçu. E s s e s produtos são cultiva-
dos em pequena escala e sobretudo a exploração do babaçu é pre
dominantemente extrativa . .....
A pecuária exerce função importante dentro do setor pri-
mário em ambos os municípios sendo que o rebanho bovino consti
tui o de maior valor. Os rebanhos caprino e ovino vêm sofrendo uma
redução que se explica, segundo a opinião de especialistas pela
ausência de uma política que incremente o desenvolvimento dessas
atividades em todo o Estado do Piauí.
Quanto a receita municipal, os dois municípios mostram
uma acentuada dependência financeira em relação ã União. As
transferências do governo federal representam a maior parcela na
arrecadação total. Isso acarreta sem dúvida, uma subordina ção ao
poder central e uma pequen a autonomia administrativa.
A estrutura fundiária desses municípios segue a tendên-
cia geral, observada no Estado como um todo. Segundo os estudos
realizados pela Fundação Centro de Pesquisas Econômicas e So-
1 ciais do Piaui (CEPRO), com base nos
dados de. Censos agropecuários do IBGE, o grau de concentração
da" posse de terra no Piauí, se mantém em nível elevado, o que v e m
concorrendo para uma fragmentação d crescente da peq u e na
propriedade. Em Oeiras e Piripiri predominam os minifúndios 10
ha) e as pequenas propriedades (10 a 100ha), conforme se pode
verificar nos Quadros V e VI.
Piauí, Carta CEPRO, Teresina, nºs 1 e 2 Jan/Agosto 1978.
QUADRO V
Quantidade e área dos estabelecimentos rurais. Oeiras - Piauí - 1970/1975.
E S T A B E L E C I M E N T O
GRUPOS DE ÁREA (ha] 1 9'. 7 0 2 9 7 5
ESTABELECIMENTO % ESTABELECIMENTO %
Menos de 10 154.077 70,7 154.613 71,3
10 - 100 45.386 20,8 44.453 20,5
100 - 1000 16.096 7,4 16.184 7,5
1000 - 10000 1.297 0,6 1.332 0,6
10000 e mais 37 0,0 52 0,0
Sem declaração 1.099 0,5 70 0,1
FONTE: FIBGE - Censo Agropecuário de 1975 - Piauí.
QUADRO VI
Quantidade e área dos estabelecimentos rurais. Piripiri (PI-1975]
CLASSES DE ÁREA TOTAL DE ÁREA TOTAL ESTABELECIMENTOS ÁREA
(ha) ESTABELECIMENTOS (ha) % %
T O T A L 6.498 110.282 100 100
01 a menos de 10 5.795 6.975 89 6
10 a menos de 100 458 17.661 7 16
100 a menos de 1000 216 59.571 3 54
1000 a menos de 10000 14 26.064 0 23
FONTE: IBGE. Censo Agropecuário. Piaui. 1975.
A e s t r u t u r a fundiária, tal como
r
se caracteriza, gera com s eq u ên c i a s
r e l a t i v a s , princ ipalm e n t e , ãs formas de t rab a l ho no cam p o. Os minifúndios ,
gera lm en te p o u c o produtivo s a c a b a m por cumprir duas f u n ç õ e s b á s i c a s : reserva de
m ã o - d e - o b r a para os la_ tifúndios e núcleos de lavouras temporárias que provê o mercado
urbano* . Por conseguinte,os médios e grandes propr ie tário s em-
* Piaui - Carta CEPR0 (7)1, jan/julho 1981. p. 12
pregam os trabalhadores rurais sob o regime de arrendamento , par_
ceria ou num sistema como os do "ocupante" próximo ao colonato.
Os pequenos proprietários e trabalhadores rurais dispõem de fer-
ramentas rudimentares e utilizam técnis tradicionais para o cul tivo
da terra, alcançando uma produtividade limitada. Os insumos
advindos dos programas de assistência técnico-financeira dos
órgãos do setor agrícola (EMATER, Secretaria de Agricultura ,
Projeto Sertanejo, CIDAPI, etc), beneficiam principalmente os grandes
e médios proprietários. Nos últimos anos, em decorrência da seca,
a situação dos trabalhadores rurais ainda tem se agravado mais.
Os planos de emergência, em troca de alguns dias de
trabalho por semana, pagam salários muito baixos. As obras que
realizam, tais como construções de estradas e açudes, acabam mais uma
vez por privilegiar os estabelecimentos maiores. A construção de
açudes em terras particulares tem concorrido para acele-rar o
processo de fechamento das propriedades por meio de cercas, o que
também privatiza o açude.
0 depoimento abaixo, de um agricultor de Piripiri cara
cteriza bem esta situação.
"0 bruto chega e o sabe abrir a porteira
Chega no duma cerca morto de sede; então ele
fica esperando, um dia, dois, sentindo aquela
água, com vontade de beber e não pode atraves-
sar. Os grande diz que não cercou o açude, cercou
o que é dele. 0 açude ficou dentro, preso. Como
é que o bichin h o pode ir beber lã?
Tem que morrer de sede no pé do arame."
______________________
f !
Piauí - Carta CEPRO (7) 1, jan/julho 1981, p. 12.
3.1.2. INFRA-ESTRUTURA
O Município de Oeiras liga-se a Teresina através de
duas rodovias federais. A rodovia Transamazônica e a "Oeiras--
Simplício Mendes" revestem-se de grande significação para a eco-
nomia local, pois além de ligarem dois poios econômicos do Esta
do atravessam áreas de produção agrícola acentuada. Piripiri ,
conforme mencionado, é um importante entroncamento rodovia
rio, passagem para as capitais do Ceará e do Piauí.
No entanto a locomoção para a zona rural dos municípios
é dificultada tanto pela falta de estradas quanto de transpor-
tes. Para deslocar-se até a sede do município a população rural
dos mesmos utiliza caminhões e automóveis que fazem o sistema de
lotação; ou ainda utiliza-se de animais ou caminha a até al-
cançar as estradas por onde trafegam os ônibus municipais.
Quanto ao abastecimento d'água e a energia elétrica em
ambos os municípios observa-se um razoável atendimento à zona
urbana e a mais absoluta precariedade desses serviços na zona
rura1.
Nesta, frequentemente a p op u l a ç ã o se abastece de água
dos rios ou poços que, por vezes, distam até 10km dos povoados.
Em relação aos serviços de saúde, embora o serviço mé_
dico, na sede dos municípios, apresente melhor nível de atendi
mento, a zona rural é praticamente desassistida. Em Oeiras, jun
to ãs populações do interior, uma considerável incidência
da doença de Chagas, considerada ao lado da desnutrição, a res-
ponsável por altas taxas de mortalidade na região. A doença en-
démica mais frequente na população de Piripiri é a tuberculose.
Considerando as precárias condições de vida das populações ru-
rais, a falta de recursos e equipamentos rios hospitais consti-
tui-se num problema de difícil superação a curto prazo.
3.1.3. MANIFESTAÇÕES RELIGIOSAS E CULTURAIS
A religiosidade das populações que residem nas zonas
urbanas e rurais desses municípios é um traço marcante em sua
cultura. As comemorações das datas mais significativas para a
religião católica como Semana Santa, o. Natal ,E ainda as festas
dos santos padroeiros costumam congregar os diferentes segmentos da
população. É frequente que os festejos se prolonguem por uma semana
com atividades que vão desde as procissões, missas , leilões, até
"desafios" e danças.
A festa da padroeira de Oeiras (Nossa Senhora da Vitória],
de grande movimentação popular, é precedida de uma novena, com
peregrinação da imagem pelas diversas residências da cidade. A
festa da padroeira de Piripiri consegue mobilizar por volta de
-10.000 pessoas. E indiscutível o poder de liderança da igreja
junto ãs comunidades rurais, exercendo um papel assisten cialista
junto aos mais pobres.
3.1.4. CARACTERÍSTICAS DO ATENDIMENTO EDUCATIVO
No setor educacional, os municípios de Oeiras e Piri-
piri- contam com uma rede escalar dee 2º graus, organizada sob
a forma de Complexos Escolares. Esta forma de organização surgiu
em
:
consequência da reestruturação das antigas escolas primárias e
ginásios estaduais, conforme as exigências preconizadas pela Lei
5.692/71. Com sede na zona urbana dos municípios,
os Complexos dispõem de serviços de direção, coordenação pedagó
gica e administrativa.
Em 1981, conforme se pode Constatar pelos Quadros VII e
VIII a matrícula geral na rede pública de 1 º grau, nos municípios
de Oeiras e Piripiri, remontava a respectivamente 10.397 e 10.875
alunos.
QUADRO VII
Matrículas no 1º grau estadual urbano/rural. 1981 - Piripiri.
M A T R Í C U L A S
SÉRIE
URBANA RURAL
1a. 1.877 2.181
2a. 1.603 824
3a. 1.038 503
4a. 561 214
5a. 621 --
6a. 472
7a. 371 --
8a. 300 --
T O T A L 6.843 4.032
QUADRO VIII
Ensino de 1' grau - u nid a d es e s c o l a r e s , salas de aula e matrícula , por zonas rural e
urbana - Oeiras. 1979/1981.
NÚMERO DE UNIDADES NUMERO DE SALAS DE AULA NÚMERO DE MATRICULAS
ANO URBANA RURAL URBANA RURAL URBANA RURAL
1979 09 165 56 193 3.372 6.965
1980 09 139 56 174 3.359 6.486
19 81 09 166 59 190 3.636 6.761
FONTE: O.M.E. Oeiras, 1981.
A tendência á concentração de população na zona urba-
na, que se verificara, anteriormente, no município de Piripiri
(Quadro I) deve influenciar a distribuição de matrículas entre
as "escolas da cidade" e do "interior". Essas últimas não alcan
çam sequer a metade do número total de matrículas, sendo que a
maioria se concentra nas 1as. séries e apenas 4% dos alunosatin
gem a 4a. série. Embora haja uma diferença populacional a ser
considerada, entre as zonas urbana e rural, esta última ainda é
a que apresenta maior déficit de escolarização. -
Em Oeiras,quanto ã distribuição de matrículas,dá-se um
movimento contrario ao de Piripiri. Na zona rural, observa-se
cerca do dobro de sujeitos matriculados em relação ao contingente
da zona urbana, porém, a grande concentração de alunos se mantêm
nas séries iniciais.
Da mesma forma que Piripiri o déficit de escolarização
ainda é maior no interior.
En ambos os municípios cabe ao governo municipal a res_
ponsabilidade de gerir a quase totalidade da rede de escolas ru
rais. A administração estadual mantêm poucas escolas rurais.
0 número de prédios escolares que funcionam na zona ru_
ral.é muito reduzido. Em geral, as escolas funcionam na casadas
professoras, em áreas improvisadas com capacidade para menos de 20
alunos. A comunidade frequentemente assume o ónus de abrigar os
alunos do rede pública. As classes funcionam em galpões, salas
construídas pela população, espaços cedidos por instituições como
a igreja.
Muitas vezes é o próprio professor às suas expensas que
constrói a sala de aula como alternativa para isolar-se do movi_
mento que a presença de alunos, em sua casa, provoca.
Tanto em Oeiras (90%) quanto em Piripiri (75%) verifi-
ca-se uma grande percentagem de escolas multi-seriadas Nessas
classes atendem-se alunos, em geral, até a 3a. série. Acontece
também, nas escolas com duas salas, agruparem-se os alunos de sé_
ries proximas Mo. e 2a., 3a. e 4a.). Portanto, uma das dificul_
dades que se impõem ao trabalho docente é a de lidar com alunos
de diferentes níveis de conhecimento.
Considerando as limitações do orgão municipal de ensino
para exercer a supervisão administrativa ou pedagógica das escolas
rurais, medidas fundamentais para o seu funcionamento , como a
determinação do número de vagas oferecidas no início do período
escolar, a organização das classes ou tempo de duração dos
períodos de aula ficam em geral, a critério do professor e nos
limites de suas condições materiais de vida.
Outras ofertas de ensino nos municipios
Oeiras e Piripiri contam com uma unidade de 2ºgrau fun
cionando na sede de ambos os municípios. 0 ensino supletiva de-
sempenha papel importante nessas regiões com uma oferta de cursos de
1a. à 4a. série que constituem os Programas de Educação Integrada
(PEI), e de 5a. a 8a., o Esquema 3, diretamente ligados ao
Departamento de Ensino Supletivo do MEC. Recebem todo o material
didático para professores e alunos bem como orientação para o
desenvolvimento dos programas. 0 MOBRAL também oferece cursos de
alfabetização, desenvolve atividades culturais e de assistência
à comunidade como programas de saúde, incentivo ao artesanato,
realização de festas e feiras de arte.
Planos especiais para a educação rural
A prioridade conferida ã educação rural pelas diretri zes
da política educacional do país condicionou o surgimento de vários
projetos federais e provocou maior interesse da parte da
administração estadual no assunto. Várias intervenções estão sen
do realizadas através de programas como Polonordeste, Promuni-cípio,
Prorural, Pronasec e mais recentemente, o EDURURAL. Este último,
objeto da presente avaliação encontra-se em sua fase ini ciai de
implantação. 0 EDURURAL privilegia a qualidade do ensino.
Portanto prioriza a elaboração de material didático, a capa_ citação
derecursos humanas, a assistência técnico-pedagõgica a rede
municipal de ensino, o desenvolvimento da proposta curricular
para as séries iniciais, o reforço a uma infra-estrutura que permita
a melhoria dos serviços da Campanha Nacional de"Ali mentação Escolar
(CNAE) do Piauí e a expansão da rede física.
Órgão municipal do ensino
A Secretaria de Educação implantou com recursos dos pro_
jetos especiais, principalmente, do Promunicípio, os Órgãos Mu-
nicipais de Educação CONE) em quase todo o Estado do Piauí.A fi
nalidade destes é dar assistência administrativa e pedagógica às
escolas da zona rural.
As condições de organização e funcionamento do OHE nos
municípios de Oeiras e Piripiri o, em tudo, semelhantes. Pos-
suem uma equipe, em geral, constituída de um coordenador, que
responde pelas atividades do órgão junto ao prefeito e a Secretaria
de Educação, professores-assistentes, responsáveis pola supervisão
pedagógica e controle burocrático das escolas rurais
e uma secretária, responsável pelos serviços de datilografia co_ mo
preparo das folhas de pagamento dos professores, preenchimen_ to
de quadros de matrícula e movimento escolar (frequencia, evo são,
transferência]. Comumente tais funcionários têm formação a nível
do 2º grau.
A grande maioria das atividades dos OMEs se realiza na sede
dos municípios. Em geral, resume-se no controle burocrático da
rede. Encarregam-se de orientar o preenchimento dos diárias de
classe, introduzidos recentemente nas escolas rurais. No diário
devem ser registrados os dados de identificação dos alunos
(nome-idade-série), frequência ãs aulas, conteúdos das aulas e o
média das notas mensais. Considerando a dificuldade dos professores
para realizar o cálculo das médias mensais, os supervisores do
OME SG encarregam da tarefa.
Quanto S orientação pedagógica, o trabalho desenvolvi-
do pelos OMEs deixa muito o desejar. Quando se procura oferecer
orientação pedagógica aos professares, esta se resume na elaboração
dos planejamentos bimensais- dos conteúdos e atividades a serem
desenvolvidos na escola. Os técnicos do óro municipal , via de
regra, recebem uma assistência insuficiente da supervisão
estadual para elaborar esses planejamentos.
A possibilidade de realizar reuniões pedagógicas com os
professores rurais são escassas,- face ãs dificuldades de des
locamento para todos os elementos envolvidos com a escol a,sejam
técnicos ou docentes. Então, o encontro com os professores se da
por ocasião do pagamento msnsal. 0 momento é pouco favorável,
considerando o-s inúmeros interesses que o professor procura sa-
tisfazer em sua visita à sede do município: ida ao dentista, mê-
dico, à feira, receber pagamento, Isto tudo dentro de um horário
limitado pois dependem de um transporte quase sempre único que os
levará próximo de casa.
Outra função desenvolvida pelo OME É a organização é
multiplicação de treinamentos proporcionados pela Secretaria de
Educação.
Recentemente, foi realizado no Município de Piripiri o
treinamento para uso da cartilha "Lendo a Vida" elaborada pelos
técnicos de currículo do Piauí. Ao treinamento compareceram todos
os professores municipais.
Escolas rurais: organização e condições de funcionamento
0 estudo de caso no Município de Piripiri compreendeu a
visita a 7 escolas rurais e no Município do Oeiras, a 5 escolas.
Algumas observações gerais podem ser feitas sobre as escolas em
ambos os municípios quanto:
1.Condições de criação das escolas
2.Aspecto físico
3.Condições de manutenção e limpeza
4.Organização: duração da jornada escolar, oferta de
ensino-trabalha pedagógico.
As escolas o criadas, geralmente por iniciativa de
políticas locais, ou por solicitação das professoras, quando o
número de alunas se aproxima de 25. Ocorre também o desdobramento de
classes numerosas muitas vezes por- iniciativa da' professo_ ra que
indica um parente para assumir a nova turma. Quando a es_ cola
funciona na casa da professora, isso acarretará a. criação de outra
escola na casa da professora recém-indicada. A inter
venção dos políticos é fundamental paro que haja reconhecimento
daadministração municipal.
Os prédios escolares existentes apresentam condiçõesde
instalação física muito superiores as das escolas que funcionam em
residências ou galpões. A escola instalada na casa da profe_s_
sora segue o padrão de construção das moradias locais: casas de
pau-a-pique, barreadas, com chão de terra pisada, cobertas de telha
ou palha.
Observa-se uma grande diferença no que diz respàto ao
aspecto sico dos prédios de administração estadual e da muni-
cipal dos localizados na zona urbana e rural dos municípios. Em
bora, as poucas unidades escolares rurais mantidas pelo Estado
pareçam abandonadas quanto a sua conservão, geralmente tratam
-se de construções mais apropriadas com uma melhor distribuição
do espaço e equipadas. Entretanto, o contraste mais evidente se
dã entre aquelas que funcionam na "cidade" e as do "campo". En-
quanto os grupos escolares, nos povoados mais desenvolvidos ,
contam com mobiliário e material escolar que atende ãs suas ne-
cessidades, as escolas rurais s-e mantêm em condições de miria,
recebendo unicamente giz e quadro-negro .
As condições de manutenção e limpeza são comumente muito
prerias. Nos novos prédios escolares pode ou não haver ins
talaçõcs sanitárias. Porém, mesmo quando existem, tais instalações
não são utilizadas por falta d'ãgua disponível nas escolas.
0 transporte de água para o preparo da merenda ou para
beber é feito com a ajuda dos alunos. 0 problema de abasteci
mento d'ãgua, em unidades escolares de maior porte, acarreta d_i_
ficuldades quanto a preservação da higiene e da saúde.
Os únicos funcionários das escolas rurais são cm geral
os próprios professores. Cabe a eles mesmos a preparação da me-
renda. Somente nas escolas com várias classes encontram-se me-rend
eira s.
Conforme mencionado, os critérios de organização de
classes e da jornada escolar ficam a nível de decisão da pró
pria professora.
:
-
Na tentativa de evitar a formação de classes multi-se-
riadas as professoras estabelecem 3 o até 4 turnos de funcionamento
para a escola. Não obstante, sem qualquer justificativa aparente,
algumas escolas estabelecem apenas -ts horas de dura_ çao por
período. Considerando uma série de fatores que interferem para
tornar esta duração ainda mais exígua, tais como: atra sos e
faltas dos alunos e professores, preparo da merenda, feria_ dos
constantes, etc., o que reata de tempo hábil para o trabalho
pedagógico é bem inferior ao estabelecido oficialmente.
Os professores recebem instruções no sentido de obede-
cer a faixa etária de 7 a 14 anos no ato da matrícula. Porém, é
frequente encontrar alunos maiores de 14 anos nos documentos de
controle burocrático (diários de classe) . Isto ocorre não apenas
face as repetências mas quando o aluno, mesmo alcançando a série
máxima oferecida, deseja continuar estudando. Encontram-se também,
alunos com menos de 7 anos na condição de ouvintes.
Normalmente, não são registradas nos diários as faltas
dos alunos com a justificativa deo prejudicá-los, uma vez que
faltam para trabalhar na roça. A frequência dos alunos é muito
irregular impedindo a realização de um trabalho pedagógico con-
tínuo e sistemático.
Os critérios para a classificação de alunos variam de
professor para professor nas escolas de classe única. Nos dois
municípios é comum se desdobrar a 1a. série em ano fraco e
forte. No ano fraco ficam as que estão indo a escola pela pri
meira vez. Espera-se que aprendam a escrever o nome e a Carta
doABC [em anexo]. No lº ano forte terão como programa de estudo a
tabuada e a caligrafia. Assim, quando não houver repetências
os alunos passarão obrigatoriamente dois anos na la. sério.
0 métod o mais utilizado para o trabalho pedagógico é
o expositivo, com ênfase nos processos de memorização.
0 processo de alfabetização se inicia pelo reconheci-
mento e a pia das letras do alfabeto. Os alunos têm muita di-
ficuldade para "tirar da lousa" os exercícios, uma vez que o de
senvolvimento da coordenação motora não se completou. Parece ha
ver uma crença geral de q u e os alunos serão capazes de dominar
conteúdos e adquirir habilidades em função de muita repetição .
Raramente se solicita que reelaborem o ensinado ã sua maneira
mesmo em situação de avaliação. Os critérios utilizadas para
aprovar ou reprovar os alunos são geralmente vagos e variam de
professor para professor. Quando os alunos se saem mal nos exer
cicios de verificação da aprendizagem, os professores culpam--nos
alegando desinteresse e faltas em demasia. 0 exame dos cadernos
dos alunos evidencia a falta de sistematização dos conteú dos, a
inexistência de uma sequência lógica entre estes e o pou co que
recebem em termos de informação. Os professores utilizam o material
distribuído pelos OMS e os livros didáticos que pos suem para
salecionar os exercícios dos alunos. Embora já tenham
recebido o treinamento não dispõem ainda da cartilha "Lendo a
Vida" para os trabalhos de falfabetizaçao.
Fará trabalhar com classes diferentes a professora, em
geral, passa lição para um grupo enquanto os outros aguardam
distraídos. So quando chega ao ou grupo é que consegue man
ter a todos, razoavelmente ocupados.
- Os professores que atuam na zona rural são os que apre_
sentam vel de qualificação mais baixo. Usualmente cursaram o
primário completo ou incompleta, numa escola da própria região.
Observa-se pelos dados apresentados nos Quadros IX e X
que a situação dos que lecionam na zona urbana e privilegiada ,
quanto a capacitação profissional.
QUADRO IX
Número de professores por qualificação e dependência administrativa. Piripiri.
FEDERAL ESTADUAL MUNICIPAL PARTICULAR TOTAL GERAL
URB. RUR. URB. RUR. URB. RUR. URB. RUR. URB. RUR.
Primário Incomp. 12 12
Primário Completo 04 -- 42 46
Ginásio Incomp. 06 06
Ginásio Completo 01 01
Pedag. Incompleto 03 -- 01 04
Pedag. Completo -- 20 206 04 -- -- 32 238 24
Logus II -- 01 -- 03 -- 05 09
Outros -- 01 07 03 07 46 01 15 50
T O T A L 22 213 17 .. 07 113 33 253 152
FONTE: Est./Piauí/SE. C0DER. Assistência Técnica ao Ensino Municipal - ATEM.
QUADRO X
Corpo docente segu
Ensino de 1' Grau. Corpo docente segundo a qualificação. Oeiras. 1980/1981
QUALIFICAÇÃO 1 9 I 3 0 1 9 6 1
URBANO RURAL URBANO RURAL
1
9
grau incompleto --
180
--
167
2º grau completo --
04
--
28
2º grau
138 26 158 29
3
9
grau
29
34
--
FONTE: O.M.E. Oeiras, 1981. Complexo Escolar de Oeiras. 1981.
Em 1981, 5 2% d o s p r o f e s s o r e s da z o n a rural de O e i r a s tinham primário
in c o m p le to e a p e n a s 12% conseguiram fazer a habi li ta çã o para o m a g is t ér i o a nível de 2º
grau.
Os programas r eg u l a r e s de t re i n a m e nt o em serviço dese_n_
v o l v i d o s nos dois mun i cíp ios para su prir as d e f i c i ê n c i a s do pre_
paro do c o r p o d o c e n t e são o L o g u s II e o C u r s o de s u p l ê n c i a - de
2
9
grau p a t r o c i n a d o p e lo EDURURAL. .
Em Piripiri, conforme indica o Q u a d r o e x p o s t o (Q ua d ro
IX) havia em 1981 a p e n a s 5 p r o f e s s o r e s municipais com o Lo g u s
II c o m p l e t o . Em ou t u b r o , s e g u n d o os d a d o s da coordenação do
L o g u s havia 46 p r o f e s s o r e s - m e s t r e s c u r s a n d o a 4a. etapa do pro jeto que se iniciou
em 19 8 0 e tem d o i s a n o s e meio de d u r a ç ã o .
uma série de d i f i c u l d a d e s para os professores fre
quentarem e s t e s c u r s o s de t r e i n a m e n t o que vão d e s d e a l o c o m o ç ã o
e permanencia até a f a l t a d o s prê-requisitos n e c e s s á r i o s para
acompanhar a sua p r o p o s t a p e d a g ó g i c a . Como o nível b á s i c o de
preparo dos p r o f e s s o r e s é o primário rural e o L o g u s II é um
curso de su plê n cia de 2º grau que inclui c o n t e ú d o s de formação pedagógica, não é de
admirar que as l ac u na s de c o n h e c i m e n t o des
ses professores os impeçam de seguir até-o final da proposta Ocorre
em Piripiri, que face a essas dificuldades, os alunos--mestres
que têm possibilidade, se inscrevem tamm no Curso de Suplência
de 1
9
grau. Portanto, as propostas de treinamento nem sempre se
revelam adequadas se considerarmos as condições de for mação da
maioria dos professores: 1º grau incompleto.
Situação profissional
Segundo depoimentos dos professores que trabalham tanto no
Município de Oeiras quanto de Piripiri, o salário que recebem,
mesmo acrescido de complementação oriunda dos projetos especiais
não chega a alcançar a metade do salário mínimo da re gião. A
Prefeitura de Oeiras paga de acordo com as informações obtidas
através dos docentes, Cr$800,00 e a de Piripiri Cr$... . 623,00.
Esta condição salarial concorre para que os professores não se
percebam como categoria profissional. A questão salarial por si
so, determinante do precário exercício profissional do professor na
zona rural, acrescenta-se ainda a forma de contratação a que está
submetida por parte da administração munici pal. 0 contrato firmada
por portaria municipal não garante esta bil idade no emprego e nem
direito à aposentadoria. Esta última prerrogativa é tão longínqua
para a maioria que nem chega a ser enunciada uma vez que existe
constante rotatividade de professo_ res face as mudanças
políticas locais.
A quase totalidade dos professores municipais é contra_
tada por portaria municipal, recebe rias e tem direito aos ser
viços do INAMPS. casos de professores, mais antigos,que têm
registro em carteira profissional. A situação dos professores
rurais em termos de ví n c u l o empregatício é bastante precária,
acarretando instabilidade e submissão ao poder politico dominan_
te no local.
Os salários variam de acordo com a formação. Os profes
sores leigos, contratados pelo município recebem salários muito
inferiores. Acrescenta-se uma complementação salarial, subsidia_
da por alguns dos projetos especiais e pelo salário família que,
por vezes, ultrapassa os vencimentos pagos pelo município.
Considerando a baixa remuneração que recebem dedicam-
-se também, a serviços de outra natureza, além de suas obriga
ções domesticas, como trabalho no roça, no comércio ou como cos
tureiras e bordadeiras.
Esses dados que retratam a profissão de professor pri-
rio municipal no interior do Nordeste como algo absolutamente
desestimulante, parecem incongruentes com as observações sobre
as influências políticas presentes na indicação para exercer o
cargo.
As motivações que possivelmente tornam ainda atraente o
exercício da profissão se esclarecem a partir da própria dinâmi ca
da existência desses professores.
Geralmente, constituem parte de uma camada média rural
se considerarmos os limites estreitos que caracterizam os ganhos
da população como um todo. Ser professor garante o atendimento
médico através do INAMPS, percebido como de melhor qualidade que
os demais existentes na região (Funrural, Posto de Saú de
Municipal). Representa uma possibilidade de acessos a recursos
urbanos mais modernos uma vez que se cria um canal legítimo de
comunicação com as instâncias administrativas municipais. As
forças dominantes da política local usando estratégias de"fa vores"
e "clientelismo" fazem desse professor um dos seus repre
santantes. Em contrapartida, oferecem um espaço para negociação,
do qual os professores se utilizam sempre nos limites restritos
dados pela situação. Assim, é possível que o professor mais pres
tigiado obtenha dos políticos municipais o transporte de merenda
até a sua escola, maiores garantias de permanência no emprego,
promessas de nomeação para parentes e amigos. Por outro lado,
apegar de .perceber suas condições profissionais como absolu tamente
insatisfatórias os professores não têm qualquer autonomia que
lhes permita reivindicar qualquer dos seus direitos pro
fissionais.
Os depoimentos abaixo de professores do Município de
Oeiras retratam bem essa situação:
"Desde 1980 que recebemos a mesma coisa. 0 ano
passado eles prometeram pagar as . férias e no
final do ano, a coordenadora do OME disse que não
ia pagar porque uns ensinavam e ou ..tros não
ensinavam. Um dia falou a prometeram' falar com o
prefeito. Has ela disse 'vá, que você vai
encontrar seu pé'".
"Pretendo deixar a escola porque o quebra--
cabeça é demais e o ganho é o pouco. Achava
que trabalhando de roça que dava mais..."
"0 meu sofrimento é grande. Hoje - andei
quatro léguas a para estar aqui... para re
ceber uma ninharia."
Em geral, os professores valorizam a escola como algo
importante na vida dos alunos mas têm dificuldade em objetivar
essa valorização. Expressam-se de forma generalizada ou restrin
gem as finalidades da educação ao ato de aprender a ler e escre
ver. Têm assim uma concepção imediatista e utilitária do papel
da escola mas que se poderia até chamar de realista visto que
este é o papel mais importante que a escola consegue desempenhar
nestas condições.
Paio & alunos
Os pais dos alunos que constituem a clientela da esco_
la rural no interior do Nordeste enfrentam condições de existên cia
em tudo semelhantes. Trabalhando na agricultura, como pro-
prietários de minifúndios, posseiras, parceiros ou moradores
Raramente frequentaram a escola e quando o fizeram foi o suficiente
para aprender a assinar o nome para dar o "voto". Presen temente,
face ãs dificuldades decorrentes do longo período de estiagem,
muitos se encontram em frentes de trabalhos distantes,
construindo estradas e açudes ou emigraram. Por vezes, foi
possível conversar com os mães dos alunos. Das entrevistadas, a
ocupação apontada como principal foi a doméstica. Forem, é comum
se dedicarem, a título de complementação da renda familiar a outras
atividades como costura, bordado e até empregos na prefeitura. 0
nível de escolaridade é o mesmo dos maridos co momostram os
relatos abaixo do pais do Município de Oeiras:
"Na escola do mato estuda-se um mês e passa
10 sem estudar. Eu aprendi a assinar o
nome. Meu marido lê um pouquinho."
(Colônia)
"Eu frequentei dois anos do Mobral e conse
gui aprender a botar o nome. A mulher fre-
quentou escola mais so veia aprender o nome no
Mobral porque tava interessada em pegar o
título para votar."..
(Oitis)
OS motivos que lavam a procurar a escala para seu a fi-
lhos estão imediatamente relacionados com a aquisição de um ins
trumental (ler e escrever) que facilite as relações com o mundo
urbano, como por exemplo, a necessidade de obter documentação ,
crédito rural, etc... Os objetivos em relação ã escolarização dos
filhos são, portanto, limitados. Os pais de Oeiras assim ex-
pressam suas opiniões:
"Eu mando, precisa trabalhar, mas precisa de
um pouco de execução de leitura."
(posseiro )
"Para aprender a saber ler, porque tá acatado
que s tamos caminhando para uma tem
porada que quem num souber ler o A num compra
nem uma caixa de fósforo..."
(dona-de-casa )
"Espero que aprendam a assinar o nome efa-
zer qualquer conta.. bom. A gente não po de
querer mais porque é pobre."
(posseiro)
0 relacionamento entre pais e professores parece não causar
maiores problemas. Muitas vezes, quando as escolas funcionam em
propriedades divididas entre a mesma família têm inclusive relações
de parentesco. Isto não significa que os pais não pressionem o
professor quando este falta frequentemente ou-abrevia o período
escalar. Em geral, o fazem diretamente mas em situações mais
difíceis chegam a recorrer ao OME.
A comunicação professor/família em geral é espontânea.
Raramente acontecem reuniões formais. Em Piripiri, nas chamadas
escolas-capela que funcionam em instalações da igreja, a situação é
diferente. Sob orientação dos padres, as reuniões costumam
acontecer com certa frequência. Têm uma proposta e uma fi-
nalidade religiosa mas prestam-se também ã discussão dos proble mas
educacionais das crianças.
Alunos
Pelas observações efetuadas, nestes rrmnicípios, os alu
nos atendidos pela escola rural estão comumente numa faixa etária
superior ã convencionada para cursar as quatro séries iniciais.
Ingressam por volta dos dez anos de idade e entre os que permanecem
alg uns têm até dezoito anos de idade.
As condições de vida a que estão submetidos concorrem
para dificultar sua aprendizagem e para exclusão do sistema es-
colar. Enfrentam
1
problemas semelhantes: ausência prolongada pela
necessidade de trabalhar, falta de material escolar mínimo como
o caderno, o lápis, o livro. Na maioria das escolas observadas, o
número de alunos frequentando os aulas ara inferior o 50% dos
matriculados.
As crianças nem sempre gostam de ir à escola, a não ser
nas ocasiões em que merenda. Os pais em geral valorizam a es
cola como forma de ascensão social. SG acabam obrigando os filhos
a trabalharem em detrimento do comparecimento às aulas ê porque as
necessidades de sobrevivência são prementes.
Como profissão para o futuro tanto os pais como as cri
anças não vislumbram quase outras alternativas além do trabalho na
roça. Para as meninas, que em geral, frequentam mais assídua
mente ãs aulas, ainda existe a alternativa de ser professora.
A leitura e a escrita são valorizadas também como pos-
sibilidade de manter o contato com parentes através de cartas ,
principalmente os que emigram para centros urbanos distantes.
3.2, OS MUNICÍPIOS DE MOVA RUSSAS E MAURITI
3.2.1. CARACTERIZAÇÃO
0 Município de Nova Russas se originou da fazenda "Cur_
tume" cujos proprietários fizeram doão de um terreno para cons
trução de uma capela em 1876. Isto contribuiu para a formação de um
povoado o qual se denominou Nova Russas . A inauguração da Estação
Ferroviária da Viação Cearense- tro-u-xe maior desenvolvimento para a
região que passou, em 1922 a categoria de Município.
Mauriti atraiu uma população de agricultores face â co
nhecida fertilidade de suas terras que, no passado, já tinham si
doobjeto de disputa entre tribos indígenas. Sua colonização in_i_
ciou-se em 1704 por iniciativa de grandes proprietários. A criação
do Município deu-se en 1890.
Ambos os municípios a partir- de "sua instauração, apre-
sentam uma história que permite supor a existência de disputas
politÍ"c"as intensas ou, pelo menos, uma situação de muita insta-
bilidade. Por diversas vezes, os municípios foram extintos e re
criadospara, finalmente, em 1948 serem elevados â comarca de
primeira entrãncia. Hoje, o município de Mauriti é considera do
como comarca de 2a. entrãncia.
Nova Russas esta localizada no região dos Sertões Cea-
renses, ao norte do Estado e se divide em nove distritos Ara_
renda,Canindezinho, Ipaporanga, Major Simplício, Nova Betânia,
Sacramento, Santo Antonio, São Pedro, e a sede do município
enquanto Mauriti localiza-se na região do Coriri, ao sul do Es-
tado, e é constituído de seis distritos: Coité, Umburanas, Mara_
guá, Anauá, Mararupá e a sede.
A população atual dos dois municípios 5 de aproximada-
mente 40.000 habitantes (Quadros I e II).
QUADRO I
População recenseada, por situação de domicílio, no município de Nova Russas (CE). 1970 e
1980.
ANO TOTAL URBANA RURAL
1970
1980
44.030
46.771
11.400
16.730
32.630
30.041
FONTE: Censo Demográfico 1970. Sinopse Preliminar do Censo Demográfico 1980.
QUADRO II
População recenseada do município de Mauriti (CE), por situação de domicílio
em 19 80.
T O T A L U R B A N A R U R A L
36.085 7.698 28.387
FONTE: Sinopse Preliminar do Censo Demográfico 1980.
Os dados referentes a Nova Russas revelam um decréscimo
do contingente populacionnl da zona rural e se compararmos períodos
de 1970 e 1980. A explicação possível para o fato po de ser
pensada com base no agravamento da situação econômica,fa ce ao
longo período de estiagem no interior do Ceará. Assim, os
agricultores desempregados tenderiam a abandonar a região, bus-
cando outros mercados de trabalho.
Quanto à distribuição da população observa-se que os
dois municípios apresentam uma grande concentração na zona ru-
ral, residindo mais de- 65% do total dos seus habitantes. Con
sequentemente, predominam as atividades econômicos ligadas ao
setor primário, que absorve a maior parte da população economi-
camente ativa.
Os produtos de cultura permanente que mais contribuem para
a arrecadação dos municípios são o algodão e a banana. Entre as
culturas temporárias responsáveis pela"subsisncia da maioria dos
trabalhadores rurais destacam -se o milho,feijão, ar-roz, mandioca e mamona.
Em geral, são exploradas nas pequenas e dias propriedades,
empregando_a .mão-de.-a.b.ra. dos parceiros e moradores.
A pecuária tem uma importância significativa para a ar
recadação dos dois municípios. Segundo os dados do Quadro III ,
verifica-se que a comercialização do godo bovino representa 15%
do total do Imposto de Circulação de Mercadorias (CIM) arrecada
do em outubro de 1981, em Mouriti.
QUADRO III
Principais produtos comercializados no mis de setembro de 1981*
PRODUTOS QU
Algodão em rama
Algodão em rama para ou tros
Estados.
ANTIDADE
51.4 87
16.800
UNIDADE
Kg Kg
VALOR
1.034.766,00
1.080.000,00
ICM
165.562,56
110.880,00
Couro de boi salmourado. 10.000 Kg 400.000,00 64.000,00
Bovinos abatidos 053 unidade 413.000,00 66.080,00
Bovinos em pi 001 unidade 7.000,00 1.120,00
Suínos abatidos 012 unidade 20.000,00 3.200,00
Mamona 1.500 Kg 30.000,00 3.300,00
T O T A L 2.984.766,00 414.142,56
FONTE: Arquivo da Coletorial Estadual de Mauriti.
* Setembro de 1981: mis em que foi realizada a pesquisa.
Da mesma f o r m a , em N o v a R u s s a s , conforme os d a d o s de 1977, i o
gado b o v i n o que a p r e s e n t a o maior valor no rebanho animal.
QUADRO IV
Produção animal em 1977 no município de Nova Russas.
P R O D U Ç Ã O A N I M A L
REBAINHOS QUANTIDADE [Cabeças] VALOR EM CR$1.000
Bovinos 23.779 39.770
Asininos 2.992 898
Muares 886 1.240
Equinos 2.128 2.554
Suínos 19.364 6.080
Caprinos 8.964 1.255
Ovinos 22.132 3.098
Galinhas 82.074 2.052
Perus 669 50
Patos, Marrecos e Gansos 2.376 59
FONTE: CEPA.
De sua criação ocupam-se os latifundiários, utilizando
conforme informações do EMATER-CE de métodos tradicionais e do
trabalho de "moradores", "parceiros" e "meeiros".
Em Nova Russas, como se pode constatar pelo Quadro V ,
mais da metade do número de estabelecimentos rurais têm até 20 ha,
caracterizando -portanto o predomío de minifúndios.
QUADRO V
Quantidade e área dos estabelecimentos rurais. Nova Russas (CE) 1975
CLASSE DE AREA (Ha) NUMERO DE ESTABELECIMENTOS
Menos de 10 649
10 a menos de 20 480
20 a menos de 50 515
50 a menos de 100 244
100 a menos de 500 261
500 a menos de 1.000 33
1.000 a menos de 5.000 07
5.000 a menos de 10.000
fiais de 10.000 --
Estabelecimentos sem Declaração "
T O T A L 2.189
Considerando as dificuldades que enfrenta o pequeno
produtor para melhorar a produtividade da sua terra, frequente-
mente trabalha também nas propriedades maiores como "parceiro "
ou"meeiro " .
A situação econômica do Município de Mauriti, tomados os
dados referentes ã evolução da arrecadação do ICM (1978,1979, 1980 e
1981) revelam não só um decréscimo acentuado dos valores
arrecadados, como características de instabilidade econômica.
QUADRO IV
Evolução da arrecadação do ICM (100%) - Mauriti.(CE). 1978/1981
MESES 1978 1979 1980 1981
Janeiro 169.477,80 966.414,78 235.975,38 368.901,60
Fevereiro 94.612,92 1.183.309,47 368.901,60 310.324,61
Março
473.303,83 71.534,01 436.927,49 328.806,04
Abril 442.693,53 552.459,11 248.262,72 692.677,35
Maio 179.257,05 335.020,48 285.002,90 314.712,08
Junho 487.335,25 179.632,50 322.552,42 344.862,20
Julho 462.793,17 402.867,15 231.812,80 443.569,98
Agosto 269.693,71 554.615,70 629.492,41 272.887,68
Setembro 1.418.876,12 1.453.703,40 916.433,32 653. 132,16
Outubro
Novembro
Dezembro -
T O T A L 3.998.041,90 5.998.041,90 3.399.610,75 3.731.873,70
FONTE: Arquivo da Coletoria' Estadual de Mauriti.
Os valores referentes a 1981, se comparados, mês a mês
acusam uma variação por vezes cerca de três vezes maior ou menor
entre períodos subseqúentes (março, abril, maio -julho/agos-to/setembro).
Segundo depoimento do funcionário da Coletoria, a longa estiagem
é responsável pela queda nas arrecadações. 0 ano de 1979 se
destaca porque foi do estiagem moderada e devido à fertilidade
do solo em Mauriti houve uma melhor produção.
De acordo com os dados do Censo Econômico de 1975 (IBGE),
no que diz respeito ao valor da produção agropecuária
(Cr$27.191.000,00) Mauriti se destaca se comparada a Novo Russas
(Cr$18.261 .000,00 ), o mesmo ocorrendo em relação à produção
industrial (Mauriti-Cr$7.026.000,00/Nova Russas-Cr$2.805.000,00)
Entretanto, sobre o valor da Receita Comercial e de Serviços , Nova
Russas apresenta uma arrecadação superior a Mauriti (Cr$..
32.038.000,00e Cr$l 2 . 8 93 . 000, 00 respectivamente), o que parece
indicar a existência de um centro comercial mais dinâmico no pri
meiro município.
Em Mauriti, o comércio é constituído principalmente
por mercearias, algumas bem abastecidas com gêneros de primeira
necessidade e outras, de menor expressão que se dedicam a venda de
bebidas. A feira da cidade atrai comerciantes e compra_ dores de
outros municípios como Juazeiro do Norte, Crato e de estados
vizinhos. Os principais produtos comercializados são os gêneros
alimentícios, artigos de vestuário e utensílios domésti_ cos.
Uma parte da população, principalmente de mulheres e
criaas, tanto em Mauriti quanto em Nova Russas, se dedicam-a
atividades artesanais como croché, rendas e bordados.
Entretanto, tais atividades se desenvolvem numa relação
de trabalho de extrema exploração. 0 trabalho é feito sob
encomenda, recebendo o artesão, a matéria-prima e um pagamento
muito inferior ao valor do que produz. Em Novo Russas recebem as
crocheteiros Cr$30,00 por novelo de linha trabalhada.
3.2.2. INFRA-ESTRUTURA
0 Município de Nova Russas é servido por uma rodovia
federal e duas estaduais, que fazem a ligação com as cidades de
Fortaleza, Cariri, Crateús, Sobral e outros grandes centros co-
merciais do Estado do Ceará e do Piauí.
0 Município de Mauriti é precariamente atendido,no que
diz respeito aos transportes. Para fazer a ligação com Fortaleza
apenas uma empresa de ônibus funcionando em dias alternados.
Para se alcançar o município, em geral são utilizados
transportes que se destinam a outras cidades, como por exemplo,
Milagres. Entretanto, 5 necessário descer num entroncamento da
rodovia BR-116, tentando encontrar alguma condução que se diri-
ja a Mauriti.
0 transporte para o interior dos municípios 5 ainda mais
precário,. Em Mauriti, as estradas que ligam a sede do mun_i_ cípio
aos distritos e povoados são do piçarra isto ê, de barro vermelho
batido e para alcançar algumas dessas localidades,como Marag, é
necessário penetrar pelo Estado da Paraíba, atravessando dois de
seus municípios porque não há estrada para alcan çá-la pelo Ceará.
Na ocasião das chuvas, no inverno, como se costuma chamar, o
acesso a certas regiões como São Miguel é im-prat icável.
0 abastecimento d'água o energia atende razoavelmente ã
zona urbana dos municípios. A sede de Novo Russas conta com dois
reservatórios que abastecem a cidade e a sede de Mauriti , além
da água encanada tem esgotos externos para escoar a água das
ruas, evitando a contaminação. A zona urbana dos dois municípios
conta com rede de energia elétrica. No entanto, os distritos do
interior so ressentem da mesma precariedade de serviços que já
foi observada quanto aos transportes. Utilizam poços ou agua dos
poucos rios ou lagoas perenes para se abastecer. Pa_ ra suprir a
deficiência de energia elétrica empregam lamparinas ou candeeiro
a querosene, uma vez que o preço do gás o torna ina_
cessível para a maioria da população.
Quando ao atendimento módico, o Município de Mauriti
conta com os serviços do INAMPS, FUNRURAL, uma maternidade, pos to
de saúde e um laboratório de análises clínicas. Em Nova Russas
quatro unidades responsáveis pelos serviços de saúde. Co mo é
possível inferir, as condições de saúde no interior são ainda mais
agravadas face o inexistência do abastecimento d'água e de esgotos
que permita garantir um certo nível de higiene. Em geral conta-se
com Postos de Saúde nos distritos rurais, ma s equi pados
precariamente.
3.1.3. MANIFESTAÇÕES RELIGIOSAS E CULTU RA IS
As comemorações religiosas são de fundamental impor-
tãnciana vida cultural dos municípios. Em Mauriti as festivida-
des que mobilizam a população giram, principalmente, em torno das
festas de padroeiras dos diversos distritos e do cumprimento do
ritual religioso católico: balizados, casamentos, missas, etc.
Algumas associações e clubes, nesse município, como o Ro-taru,
Maçonaria e instituições estudantis são responsáveis por
iniciativas culturais.
3.2.4. ATENDIMENTO EDUCATIVO
Os Municípios de Mauriti e Nova Russas contam com uma
rede de ensino de 1º e 2º graus.
0 "Centro Educacional e Comunitário Adauto Leite" loca_
lizadona sede do Município de Mauriti com instalações amplas e
modernas oferece o 1º grau completo e o curso pedagógico até a 3a.
série do grau. Entretanto, a estrutura do curso de grau,
neste centro, permite supor outros critérios, que não o
de atendimento aos interesses da população, presentes em sua or-
garíização. As séries iniciais (de 1a. ã 4a.) são de responsabi-
lidade da rede particular de ensino, incluindo Maternal e Jardim de
Infância e funcionam num prédio público. Cabe ao Estado a
oferta de ensino a partir da 5a. série. Ora, considerando as
condições de instabilidade cio-econômica já constatada no Mu-
nicípio, agravadas pelo problema da queda constante na produção
agrícola é possível inferir que apenas o segmento privilegiado
da população se beneficia desta oferta de ensino.
A rede estadual mantém na sede duas outras escolas de
1ºgrau e a m u n i c i p a l , uma.
Seg"ndo informações da Coordenadoria do Órgão Municipal
de Ensino COME) o número de escolas de grau (completo e
incompleto) no Município atinge a cento e quatro unidades (104)
a maioria na zona rural.
No Município de Nova Russas conforme se observa pelo
Quadro VII, o maior mero de unidades escolares também se loca_
liza na zona rural, num total de 277.
QUADRO VII
Ensino de 1
9
Grau. Número de escolas segundo as esferas administrativas.1978
ESTADUAL MUNICIPAL PARTICULAR T O T A L
URBANA RURAL URBANA RURAL URBANA RURAL URBANA TOTAL
08 13 49 264 02 59 277
FONTE:.Secretaria de Educação do Ceará.
As escolas, em ambos os municípios, estão instaladas ,
predominantemente, na casa das professoras. Apesar de enfrentarem
condições de vida adversas e da precariedade da oferta de
serviços nas localidades rurais, observa-se que é sobre a popu-
lação rural que recai, em boa parte, o ónus de manter a rede mu
nicipalde ensino. A existência do prédios escolares, construídos
com esta finalidade, em geral, decorre de doações e iniciativas
populares. Caso contrário, recorre-se a casa da professora,
acomodando os alunas em cômodos improvisados e mal equipa — dos.
A deficiente manutenção dos poucos prédios escolares em
funcionamento impede sua plena utilização.
Em Mauriti, por exemplo,
1
uma das escolas do distrito de
Umburanas, distando apenas nove quilómetros (9 km) da sede , possui
duas salas de aula mas uma delas pode ser aproveitada porque não
ha carteiras em condições de uso pelos alunos.As duas salas são
separadas por cortina de fazenda e o quadro-negro incrustado na
parede encontra-se em péssimo estado. Em geral,a ad__ ministração
municipal fornece giz e material para o controle bu_ rocrático:
diários de classe, fichas de matrícula.
Esta mesma situação se repete em relação as demais uni-
dades escolares. A improvisação domina o cenário educacional na
zona rural desde os arranjos que transformam salões de jogos e
capelas em escola até os critérios de organização das classes e
nomeação dos funcionários.
0 órgão municipal de ensino (OME) tanto em Mauriti quan-
to em Nova Russas cumpre funções eminentemente burocráticas ,
procurando garantir, ao menos, um certo controle estatístico so
bre os dados como matrícula, repetência e evasão dos alunos.
As dificuldades de transporte e comunicação impedem que se
realize a supervisão pedagógica das escolas rurais. Na ocasião do
pagamento, os professores recorrem ao OME para discutir suas
dificuldades e por vezes recebem um planejamento que raramente
conseguem compreender ou adaptar ãs suas classes.
0 "OME" funciona também, como intermediário, na organi_
zão dos treinamentos locais, que acontecem na sede dos municí
pios.
Estas iniciativas se ressentem das mesmas característi
cas de improvisação que são comuns à organização do ensino pri-
mário rural. Apesar de contarem com uma grande dose de boa vontade
dos professores, empenhados na busca de alguma melhoria , tais
iniciativas se colocam de formo a sacrificar tanto os docentes
quanto os próprios alunos.
Em Mauriti, por exemplo, o treinamento de professores
leigos determinado pelo PRORURAL (Programa da Secretaria Estadual
de Educação) teve seu início marcado e adiado por duas vezes. De
19 de outubro passou para 26, e finalmente aconteceu a 3 de novembro
(1981). Isto acarretou o fechamento das escolas no período
anterior ao treinamento, uma vez que as professoras cuidavam dos
afazeres domésticos pois ficariam 20 (vinte)di as ausentes. As que
residiam em localidades mais distantes alugaram casa na sede de
Mauriti, desde a semana anterior a 19 de outubro, reunindo-se
em grupos de três ou quatro para diminuir as despesas de aluguel.
Portanto, se considerarmos o período que antecede e o
período estipulado para o treinamento pode-se afirmar que durante
mais de trinta dias grande número de escolas rurais estiveram
fechadas.
0 ONE de "Maurici, para desempenhar suas funções" de ad
ministração da rede municipal do ensino, conta com a participação de
cinco elementos, incluindo a coordenadora. A escolha des ses
funcionários atende a critérios políticos imediatistas que, por
sinal, afetam toda a organização escolar a ponto de impedir que
seconheça o número total de professores da rede, face ao constante
movimento de demissões e admissões que ocorrem a sabor dos
interesses da prefeitura.
Escolas rurais: organização e condições físicas de funcionamento
No Município de Mauriti, o estudo de caso compreendeu
avisita a 3 (três) escolas, escolhidas primeiramente, segundo o
critério de distância da sede. Uma das escolas por estar locali_
zada em lugar de difícil acesso precisou ser substituída (Sítio
Extrema - funcionando na casa do professor).
As escolas visitadas foram criadas por iniciativa de
pessoas da comunidade. Tanto o terreno, quanto a constrição do
Grupo de Umburanas foram resultado de doação do fazendeiro Fur
tado Leite, uma vez que seus filhos e as demais crianças do dis_
trito não contavam com local para aprender. 0 grupo municipal
de Maraguá esta instalado num local sem qualquer condição de fun_
cionamento e com apenas 1 sala de aula. Ha uma expectativa da
população sobre a construção de um prédio escolar, através do
Projeto EDURURAL, uma vez que funcionários da Secretaria já es-
-
tiveram no local tomando as primeiras providências. 0 grupo mu-
nicipal de São Miguel funcionava num salão de jogo adaptado. A
partir de 1991 foi transferido para um novo prédio ainda não
inaugurado. Apesar das condições precárias de funcionamento, es
tas unidades escolares ainda apresentam certas vantagens quando
comparadas ã situação da grande maioria instalada na casa das
professoras. Contam, ãs vezes, com um quadro de funcionários ma_
is completo, o que diminui sobremodo as atribuições dos profes-
sores. A presença da diretora garante alguma orientação no modo de
organizar a escola e o trabalho de merendeiras e serventes concorre
para que o período dedicado às aulas não seja sistematicamente
abreviado. Entretanto, convém ressaltar que muitas ve_ zes, a
diretora acumula funções em mais de uma unid ad e escolar ou é a
responsável pela supervisão pedagógica do distrito.
No Município de Nova Russas foram escolhidas para o
trabalho de campo, 3 (três) escolas das seguintes localidades:
1.Timbauba - funcionando na casa da professora
2.São Pedro - funcionando na casa da professora
3.Ipaporanga - funcionando em prédio próprio - grupo es
colar.
A criação das "salas de aula" depende diretamente da
interferência dos políticos da rego. Sua existência e manuten
ção decorrem das negociações entre os representantes dos distritos
[vereadores] e o poder municipal (prefeito). Sendo assim, ocorre com
certa frequência a mudança de local das "escolas" e
consequentemente das professoras.
Sobre o funcionamento das classes, na casa das profes—
soras, observa-se a mesma situação de inadequação apontada an
teriormente. Da mesma forma, em Nova Russas, é a família da pro_
fessora ou a população que acaba por construir uma sala de aula
que permita alguma privaticidade para os trabalhos escolares Nenhuma
das escolas visitadas, nesse município, contava com a presença de
uma diretora.
Os critérios de organização de turmas, do período esco lar,
as decisões para suspensão das aulas e até a transferência dos
locais de trabalho correm por conta do bom senso e princi— palmente
das dificuldades que o cotidiano escolar e doméstica apresentam.
Uma das escolas, a de Lagoa do Barro, em Ipaporanga que funciona em
prédio com 1 sala de aula, adota turnos, de duração diferente. 0 1º
turno, que funciona na parte da manhã , abrange um período de
quatro horas diárias e o turno,de três horas, sem que haja uma
justificativa razoável. Das 4 professoras, lotadas nesse grupo 2,
responsáveis pelas primeiras séries resolveram o problema de horário
e espaço transferindo as classes para suas moradias. A outra
escola observada em Ipaporanga , tem quatro salas de aula e funciona
também à noite com razoável número de alunos de. 5a... série. Possui
maior numero de depen_ dências como secretaria, biblioteca e
banheiros.
Tanto no Município de Mauriti quanto em Nova Russas,
ainda se está longe de uma solução para o problema da distribui-ção
a do preparo da merenda.
Em geral, são os próprias professores que arcam com as
despesas relativas ao transporte da merenda, pagando o uso de
animais ou carros ou ainda, recorrem aos "favores" de políticos
locais. A segunda alternativa, por vezes, provoca uma demora
relativamente superior a que seria desejável para a conservação
dos alimentos. Foi possível observar em Nova Russas a entrega
dos alimentos em deterioração e a reação da professora que pare_
ce indicar uma certa familiaridade com p o problema:
"Na hora de fazer a gente lava bem. Se abrir
.
o pacote, cria mais bicho ainda."
A observação do trabalho pedagógico permite constatar a
ênfase nos procedimentos que facilitam a memorização.
As aulas consistem em cópia ou repetição em voz alta de
conteúdos a serem assimilados. Isto ocorre também em relação ao
processo de alfabetização. As classes iniciais se ocupam da
cópia das letras do alfabeto ou da recitação das chamadas famí-
lias de letras (combinação de diferentes vogais com a mesma con
soante).
A professora privilegia os conteúdos que domina com mais
facilidade.
Os exercícios o copiados de livros didáticos e fre-
quentemente a professora não demonstra segurança em sua resolu
ção. Não se consegue observar, assistindo ãs aulas ou verifican
do os cadernos dos alunos uma ordenação lógica dos conteúdos en
sinados.
Nas escolas rurais do Município de Nova Russas ainda se
emprega a palmatória quando se quer pressionar os alunos a estu
darem ou obter disciplina.
Para trabalhar com classes diferentes as professoras
usam, por vezes, duas lousas onde passam exercícios diferentes
e distribuem os alunos pelo espaço da sala de modo a se consti-
tuírem grupos homogéneos.
Os critérios usados paro avaliação ficam inteiramente a
nível da decisão de cada professora. Algumas indicam que para
alcançar o 1
9
ano, o aluno da classe de alfabetização deverá ser
capaz de "... fazer o nome e fazer números". Outros exigem que
seja capaz "... de copiar, separar sílabas, montar, contar e co_
nhecer antônimos". 0 mesmo ocorre em relação ãs outras séries .
Nao uniformidade de critérios e não se percebe, objetivamente o
que será avaliado.
As professoras que atuam na zona rural dos dois municí_
pios são, em grande maioria leigas, isto ê, cursaram o primeiro grau
incompleto numa escola da mesma região, são contratados pe la
prefeitura e de. acordo com suas declarações recebem em Mau-riti,
Cr$450,00 e em Nova Russas, Cr$600,00 mensais. Aque les q ue têm
formação de grau completo, nesse último município,chegam a
receber Cr$1.000,00 mensais.
Esta condição salarial absolutamente insatisfatória
ain-da é agravada pela instabilidade funcional que o tipo de
contra to estabelecido acarreta. A rotatividade de professores é
inten sa e obedece a critérios políticos conforme foi colocado
anteriormente.
Não é permitido ao professor manter concomitantemente,
contrato com a administração estadual e municipal para lecionar.
Em Mauriti, uma professora que fora contratada também pelo Estado,
depois de receber treinamento da Secretaria de Educação e que na
época contava com onze anos de serviço foi pressionada a
abandonar o cargo de docente no Município. Geralmente, os pro
fessores percebem como aspecto mais vantajoso do exercício pro-
fissional, a garantia de atendimento médico através dos servi-
ços do INAMPS. Entretanto, com o salário que recebem dedicam--se
a outras atividades como costura, comércio e trabalhas na ro ça.
Assim, suas condições de vida pouco diferem dos demais moradores
da região. São casadas ou filhas de agricultores , enfren_ tando as
mesmas dificuldades que decorrem da situação de ca_ rência
sócioeconômica no campo.
Consideram que a escola rural tem um papel a cumprir, e
esboçam uma concepção desse papel prático-utilitária:
"Escola boa ou má serve p'ra aprender aquele
pouquinho para escrever e ler uma cartinha.
maior valor ao estudo."
(Prof. de 1a. série - Nova Russas]
0 relacionamento com os pais dos alunos, quase sempre,
moradores nas proximidades, antecede a escolarização das crian-
ças e desenvolve-se sem maiores formalidades.
Os pais procuram a escola num a tentativa de garantir um
certo conhecimento que facilite as relações com a sociedade
urbana mais abrangente, como ocorre quando se torna necessário
obter crédito, documentação, ou emigrar.
Como explica um pai de aluno do Município de Nova Russas:
importante a escola. Quando chega uma car_
ta, um documenta não precisa estar ocupando
outra pessoa para ler."
Mesmo constatando o longo período de escolaridade exi-
gido para que se aprenda a ler e escrever, os pais mantêm os fi
lhos na escola, por vezes, até a custo de sacrifícios pessoais.
Os depoimentos abaixa retratam bem a situação:
"Eu mesmo tenho cinco crianças, três,assim,
eles já querem estudar mas eu já tenho as outra
vou gastando, as condições é pouca. Mi nha
filha, eu vou pelejar, com aquela mais v_e_ lha
com aquela outra, deixa, vocês ainda estão
muito novinho."
(Nova Russas -mãe de aluno)
, hoje em d i a a gente trabalhando por
cima de pau e peira então a gente tem que com-
prar papel, lápis. 0 pai não dá, as vezes não faz
força pelo filho, a mãe que faz, como eu, faço
mesmo. Peleja e compro."
(Nova Russas - mãe de aluno)
A maioria dos pais é analfabeta em Nova Russas. Procu-
ravam se desculpar do fato, alegando as"dificuldades que enfren
taram alguns anos atrás para estudar. As poucas escolas exis
tentes, em geral longínquas, ainda eram pagas.
Como os pais,uma das professoras entrevistadas relata
os obstáculos que precisou enfrentar:
"... Ê, agora está muito bom; porque com es_
se ano de seca, mas tem escola, ou ruim ou boa,
ou elevada ou não, mas tem. E no meu tem po era
um sofrimento. Eu caminhava seis quilô metros
pra poder fazer o quinto ano. E era pago ..."
As condições de vida dos alunos que constituem o clien
tela da escola rural são, em geral, precárias. Poucos são os pais
proprietários, que possuem um estabelecimento rural com
área maior que 25ha e se beneficiam do chamado plano de emer—
gência. A situação considerada mais grave I a dos "moradores" ,
trabalhadores sem terra que não têm qualquer seguraa e estão
submetidos inteiramente ao patrão.
As famílias são numerosas e todos trabalham na lavoura-
desde pequenos. As grandes propriedades empregam os moradores e
arrendatários
Os planos de crédito rural e auxílio técnico acabam be
neficianda mais os médios e grandes proprietários, como relata
um pai de aluno no Município de Nova Russas:
"0 maior problema de tudo é que aqui para po
bre não tem nada. 0 que vem para pobre o rico
tira para ele. Por exemplo, como vem esse au-
xílio do governo, uma ajudinha pequena. Esses
negócio de dinheiro que aparece, o pobre não
acha para ele não. D rico vai e tira e o pobre
o . E, por exemplo, se o pobre tem que tira
precisa que o rico uma carta a ele , como eu
que trabalho nas terras alheia,se fos se
preciso tirar, era preciso que ele me desse uma
carta, para ele fazer uma grita."
Provavelmente, o agricultor entrevistado se refere à
exigência do Banco do Brasil para fornecer o chamado empréstimo de
custeia, para lavoura e pecuária a trabalhadores sem terra.So
licita-se qualquer documento, como a carta de anuência fornecida
pelo dono da terra, que prove ser o requerente, lavrador,Apa
rentemente é uma norma que não ofereceria maiores dificuldades
para ser cumprida. Entretanto, considerando o autoritarismo de
que se revestem as relações de trabalho e a própria conjuntura
política local não é difícil prover que se possa tornar mais um
instrumento de submissão e paternalismo.
0 quadro econômico que caracteriza a vida dos professo
res, pais e alunos e reflete-no cotidiano escolar, precisa ser
ressaltado para que se possa compreender as condições do funcio
namento dessa escola o as perspectivas limitadas de mudanças
3.5. OS .MUNICÍPIOS DE LAJEDO E SÃO JOAQUIM DO MONTE
3.3.1 . CARACTERIZAÇÃO
. Os Municípios de Lajedo e São Joaquim do Monte surgiram na
segunda metade do século XIX (1852 e 1891 respectivamen-te)e foram
elevados à categoria de Município, o em 1949 e o em 1928. Ambos
se localizam na região do Agreste Meridional de Pernambuco, que
apresenta condições favoráveis a agricultura e consequentemente
aos adensamentos demográficos. Entretanto, em 1980, a região
apresentou a mais baixa taxa de crescimento popu_ lacional e na
maioria dos municípios de constatou perda de população.
Como se pode observar pelos Quadros I e II, ambos os
Municípios têm umo população de cerca de 20.000 habitantes com maior
concentração na zona rural.
QUADRO I
São Joaquim do Monte
POPULAÇÃO RESIDENTE
1970 19 60 URBANA RURAL
20.158 18.252 4.541 13.711
FONTE: Sinopse Preliminar do Censo Demográfico 19 80.
Densidade demográfica: 1970 - 72,5 hab/km
2
; 1980 - 65,4 hab/km
QUADRO II
Lajedo
POPULAÇÃO RESIDENTE
1960 19 70
Urbana 3.302 7.336
Rural 15.426 14.142
Total 18.728 21.478
FONTE: Anuário Estatístico de Pernambuco. Fundação de Informações para e De-senvolvimento de
Pernambuco. 1980.
Os d a d o s do Município de São Joaquim do M o n t e indicam
um decréscimo do c o n t i n g e n t e p o pul acio nal se comparados os pe-
r í o d o s do 1970 e 1980, e c o n s e q u e n t e m e n t e da d e n s i d a d e demogrã-fica. No Município de Lajedo
constata-se um ligeiro crescimento da população total e n t r e 19 6 0 e 1970, m a s um movimento d o s mora
d o r e s no sentido ru r al / u rb a n o .
A e v a s ã o de po p u l a ç ã o , pri n cip al m ent e n a s áreas rurais
pode SE explicar face às condições, que o capitalismo vem gerando
no campo: diminuição de terra para a lavoura; decréscimo do número
de empregos, pauperização do pequeno proprietário pela re dução das
unidades do produção (minifúndios) que mal garantem a subsistência. A
população economicamente ativa dedica-se a ativi dades no setor
primário. 0 quadro econômico se caracteriza em São Joaquim do Monte e
em Lajedo, pela presença da pecuária, cul turas temporárias como
feijão, mandioca, tomate e milho e culturas industriais como o
algodão, o agave e o caroá.
No primeiro desses Municípios observa-se incremento à
produção agrícola ligada a fruticultura (maracujá, laranja, man-ga e
caju), uma vez que esta produção vem sendo absorvida pela brica
Maguari situada em Bonito.
A pecuária é predominantemente explorada nas médias e
grandes propriedades, enquanto os pequenos proprietários vivem so
bretudo da lavoura de subsistência.
Quanto à estrutura fundiária ambos os Municípios se ca
racterizam pela presença dos minifúndios. Em Lajedo e São Joa
quim do Monte, aproximadamente 80% dos estabelecimentos rurais
tem menos de 20ha (dados do INCRA - 1977)-
Os latifúndios, embora constituam a minoria dos imóveis
rurais existentes, englobam quase todo a área dos Municípios. Os
grandes e médios proprietários que se dedicam à agricultura, uti
lizam mão-de-obra disponível através do regime de parceiros. Dis
põem de capital para investimento em suas propriedades e podem se
utilizar com facilidade do crédito rural. Sendo assim, empregam
tecnologia que concorre para maior produtividade de suas ter_ ras. .
Os minifúndios se ressentem do uso de técnicos rudimen-
tares de plantio, decorrentes das próprias condições econômicas
de seus proprietários que os impossibilita de obter financiamento
e acesso a outras práticas. Geralmente utilizam a mão-de-obra
familiar e considerando a baixa produtividade de suas terras ,
buscam trabalho assalariado em outras propriedades.
Em São Joaquim do Monte, como predominam as fazendas de
criação de gado e estas absorvem pouco mão-de-obra, o pequeno agri
cultor torna-se um marginalizado e emigra.
No Município de Lajedo observa-se o envolvimento de todos
os membros da família no trabalho da lavouro, exceto as crianças
menores de seis anos. As famílias que contam com maior mão -de-obra
masculina poupam o trabalho das mulheres na roça. Elas se dedicam
não aos afazeres domésticos e trabalhos manuais, co mo também da
raspagem da mandioca e do ensacamento da farinha As atividades
comerciais, em São Joaquim do Monte acontecem prin cipalmento nas
feiras locais e próximas do Município, como Bonito, onde se
encontra a fábrica Maguari. São Joaquim conta com aproximadamente,
cinquenta casas comerciais de pouca expressão , quanto a absorção
de mão-de-obra ou quanto à contribuição na arrecadação .
Em Lajedo, a comercialização dos produtos agrícolas se
dá diretamente entre o produtor e o comprador ou através dos ar-
mazéns de estivas para onde o trazidas e vendidas o intermédia
rios. 0 armazenamento desses produtos e feito em sacos ou em silos
de ferro galvanizado- no caso dos grandes produtores. Face à
precariedade de condições para o armazenamento de sua produção , o
pequeno proprietário procura se desfazer dela, o mais rápida
mente possível, contribuindo para rebaixar os preços.
Em São Joaquim do Monte, não existe indústria. Em Lajedo
existem dois estabelecimentos de beneficiamento de milho e di
versas pequenas indústrias de transformação da mandioca.
Os dados dos Quadros III e IV referentes à. arrecadação
nos dois Municípios estudados, permitem constatar que a maior par
ticipação nas finanças municipais cabe ao repasse de verbas fe-
derais e estaduais, configurando portanto uma situação de dependência
econômica.
QUADRO III
São Joaquim do Monte
ARRECADAÇÃO TOTAL (Cr$)
ESPECIFICAÇÃO 1978 197S 19 80
Federal 4.254.437,00 6.881.431,00 12.859.360,00
Estadual 251.883,00 458.824,00 1.476.124,00
Municipal 215.610,00 300.988,00 591.989,00
Outros 31.703,00 43.535,00 270.693,00
FONTE: Prefeitura de São Joaquim do Monte.
QUADRO IV
Município de Lajedo. Receita arrecadada por principais fontes no período 1977/
/1979.
Em São Joaquim do Monte,84% da arrecadação municipal pro
vêm de fontes federais, enquanto em Lajedo, mais de 50% da recei to
tem a mesma origem.
3.3.2. INFRA-ESTRUTURA
0 Município de São Joaquim do Monte é ligado por estrada
de rodagem a Recife. Esta estrada que passa por Camocim de São
Félix, Bonito e Bezerro coloca o município em comunicação com to
do o Estado. Dentro do município, o transporte é feito comumente
por carros particulares.
0 Município de Lajedo está ligado a Recife por rodovia
que atravessa importantes centros comerciais como Garanhuns e Ca
ruaru. Conto também com outras estradas asfaltadas que fazem a
ligação com os municípios vizinhos.
Geralmente, o acesso aos distritos e povo ad os na zona
rural se faz por estradas de terra batida. AÍ, o transporte mais
comum de passageiros ê através de carros-de-boi.
Para alcançar a sede do município a população rural usa
os "lotações", principalmente nos dias de feira, uma vez que não
se conta com ônibus nas localidades do interior.
Quanto ao abastecimento d'água o problema nos dois muni
cípios ê mais grave na zona rural. A sede do Município de São Joaquim
do Monte conta com um reservatório d'água para abastecer 50% da
população urbana e que, no período em que se realizou este
trabalho, estava praticamente seco. 0 abastecimento, tem sido feito
por carros-tanques da SUDENE. No meio rural, entretanto, agrava-se
a situação se considerarmos que nos períodos de seca os rios
temporárias, barreiros e grande parte dos açudes desaparecem,
obrigando o população a procurar água em locais distantes.
Em Lajedo, a população urbana se abastece com água de
barragem próxima, porém, de péssima qualidade. Aqueles que dispõem
de maiores recursos financeiros para obter água de melhor qualidade
compram-na nos caminhões vindos de Garanhuns. Os moradores da zona
rural cavam fossas nos terrenos argilosos [barreiros) para reter e
conservar por algum tempo as águas da chuva Não utilizam filtras
ou qualquer outra forma de purificação da água. A energia elétrica
atende, primordialmente, da mesma forma que se observa em relação
aos demais serviços, ãs populações da zona urbana. As comunidades
rurais carecem de eletricidade. Em Lajedo, até 1977, apenas 3,4% do
total de estabelecimentos rurais dispunha desse serviço e, pelo
que foi possível observar, a situação em 1981 não se alterou
substancialmente uma vez que os gastos com a extensão da rede
elétrica correm por conta dos próprios proprietários.
Quanto ao atendimento medico, o Município de São
Joaquim
do Monte conta apenas com uma unidade hospitalar, mantida através
de convênios com FUSAN e FUNRURAL com uma capacidade de trin_ ta e
três leitos. Considerando o efetivo populacional do município
(20.000 habitantes) torna-se evidente a insuficiência dos ser_ viços
oferecidos.
Lajedo dispõe de seis unidades hospitalares, dois postos
de saúde, um laboratório e uma maternidade. Os casos que pre_ cisam
de cuidados médicos mais exigentes são encaminhados a Gara_ nhuns,
cujo hospital mantêm convênio com a Prefeitura local.
Em função das precárias condições de infra-estruturados
dois municípios, impedindo que se alcance um nível mínimo de hi-
giene necessário ã preservação da sde, a população em geral ,
apresenta um estado nutricional comprometido, com elevada inci-
dência de doenças endémicas e altas taxas de mortalidade, princi
palmente infantil.
Manifestações religiosas e culturais
0 Município de Lajedo, durante o mês de outubro, apre-
sentou uma intensa programação cultural, promovida pelo MOBRAL ,
Rotary Clube, Lions Clube, Clube Comercial e Prefeitura Munici— pal.
As datas festivas, como Dia da Criança, do Professor e do
Funcionário Publico foram comemoradas com atividades na escola
que vão dos discursos ao forró e ainda almoços e jantares nos
clubes. 'Além dessas comemorações, o MOBRAL promoveu a "Semanada
Cultura" que se estendeu de 25 a 31/10. Nessa ocasião, aconteceu a
apresentação da banda musical da cidade, de violeiros, repen-
tistas, concurso de doces e grupos folclóricos. 0 MOBRAL parece
ser o grande incentivador das festividades. Segundo informações de
pessoas que atuam neste órgão:
"Nos promovemos muitas festas com a finalida
de de ajudar e incentivar o alfabetizador e o
aluno. E também promover o dobrai. Elevar sempre e
mostrar que o dobrai é tudo. A gente pro move
muito festa com essa finalidade: conhecer bem
profundo o que é o Mobral."
Comemoram-se também as datas cívicos e religiosas. Se-
gundo depoimento de professores ligados ã administração munici-
pal, setembro, data do Independência, é o ponto alto dessas ati-
vidades. 0 "mês da Pátria" como ê chamado requer trabalhos de pre_
paração para os desfiles que acontecem na sede e nos povoados.Os
pais que têm maiores recursos compram as fardas necessárias para os
alunos se apresentarem e parece que a iniciativa agrado a todos:
"Vão as autoridades. A gente vai e desfila .
Inclusive, houve belíssimos desfiles na
zona rural esse ano."
Se por um lado, as comemorações frequentes devem cumprir
um papel importante como alternativa de lazer para a população do
município, por outro, acarretam, segundo se pode observar, a re
dução do período letivo, "oficialmente" interrompido em nome dos
preparativo s.
Em São Joa quim do Monte, parece que as comemorações giram
em torno do ritual religioso. Porém, mesmo quando se trata de
acontecimentos circunstanciais como a morte de um cidadão ,
assassinado por rixas antigas, a escola deixa de funcionar para os
alunos presenciarem o enterro.
3.3.3. ATENDIMENTO EDUCATIVO
Os Municípios de Lajedo e São Joaquim do Monte contam com
uma rede de ensino de e graus. As unidades escolares de
grau [uma, e três respectivamente) estão localizadas na zona
urbana.
A maioria dos estabelecimentos de ensina, nesses municí_
pios, localiza-se na zona rural e oferece classes até a 4a.série,
As escolas da zona rural são mantidas em sua quase totalidade pe
lo município, funcionando em prédios de sua propriedade.
Este aspecto merece ser ressaltado. Enquanto nos demais
municípios estudados (Ceara, Piauí) a rede escolar municipal pa-
rece funcionar predominantemente em prédios cedidos ou adaptados
em Pernambuco, nos Municípios de Lajedo e São Joaquim do Monte ,
os dados apontam numa direção contrária.
Em Lajedo, segundo informações obtidas, junto ã Prefei-
tura Municipal, das 89 salas de aula em funcionamento em 1980 ,
42% encontram-se em prédios municipais e 12% o de responsabili
dade estadual e federal. Em o Joaquim do Monte, dentre as 42
unidades escolares existentes apenas 9 [nove:) funcionam em casa
cedida ou do professor.
Quanto â distribuição a evolução das matrículas, no Mu-
nicípio de Lajedo, vem se observando uma menor expansão na zona
rural, provavelmente como consequência do movimento migratória
campo-cidede (Quadro II). Conforme os dado s da tabela a seguir ,
reduziu-se o mero de alunos matriculados na zona rural,se com-
pararmos os períodos de 1979 e 1980.
QUADRO V
Lagedo
MODALIDADE DO ENSINO DE 1
9
GRAU ZONA URBANA ZONA RURAL
1979 1980 1979 1980
1a. a 4a. séries 917 998 3.141 2.872
-Nos dois municípios, observa-se que a grande concentração de al u n o s se n a s primeiras
sé r i e s do primeiro grau, indic a n d o um alto í ndi ce de r e p e t ê n c i a e e v a s ã o .
Em 1981, no Município de São Joaquim do Monte foram aten didos 2.231 a l u n o s
de la. a 4 a . s é r i e s , a s s i m d i s t r i b u í d o s :
la. série: 1.14 8 .
2a. s érie: 583
3a. série: 299
4a. série: 201
T otal : 2. 231 a lu n o s .
0 mesmo se p o d e observar a t r a v é s d o s d a d o s de L a j e d o
para o período de 1978:
la. série: 2 . 7 3 7
2a. sé rie : 786
3a. s é r ie : 565
4a. s érie: 496
T o t a l: 4.584
Verifica-se que , em ambos os munic ípios, mais de 70%
dos alunos encontram-se nas séries iniciais.
O Órgão Municipal de Ensino
No Estado de Pernambuco, a secretaria de Educação e Cul_
tura apresenta uma estrutura de supervisão.administrativa e pe
dagógica mais moderna que a dos demais estados (Ceara, Piauí) .
Mantêm uma equipe de supervisão, a nível estadual que, através
dos 13 (treze) departamentos regionais de educação (DERE) dis
tribuídos por todo o Estado oferece assessoria aos órgãos muni-
cipais de ensino. 0 fluxo de informações d e v e seguir, portanto,
o seguinte esquema:
SEEC = DERE = OME = ESCOLAS MUNICIPAIS
0 Óro Municipal de o Joaquim do Monte pertence ao
DERE de Vitória de Santo Antão e o de Lajedo, ao DERE de Gara-
nhuns.
Os OMEs estão constituídos por cinco elementos: um co-
ordenador, dois supervisores e dois professores â disposição da
merenda e algumas vezes o contratados funcionários para servi
ços de datilografia e documentação. Esses funcionários têm, no
mínimo, formação a nivel de grau e recebem uma complementação
salarial de fontes diversas (EDURURAL, PRODERU ) .
Entretanto, apesar da organização mais completados ser
viços de supervisão técnico-pedagõgica da Secretaria, os órgãos
i
intermediários como DME e DERE enfrentam uma série de dificulda des
para o desenvolvimento do seu trabalho.
Em São Joaquim do Monte, o esquema funciona precaria-
mente. 0 encontro entre as equipes do DERE e do OME ê efetuado
uma vez em cada mês, O deslocamento para o município, sede do DERE, é
um fator que causa transtornos, dado, o custo das" passagens de
ônibus e constitui razão de queixa da maior parte da equipe. 0
mesmo acontece com as relações entre os professores oas escolas
rurais e os supervisores lotados no OME. As reuniões a -contecem
também, mensalmente, coincidindo com o dia do pagamento. Se o
momento não parece oportuno, face ãs inúmeros incumbências de que o
professor rural geralmente, tenta dar conta, quando se desloca para a
sede; por outro lado, parece ser a uni ca ocasião possível. As
dificuldades de deslocamento são ainda maiores entre a zona rural e o
urbana dos municípios e se os professores ficam praticamente
impedidos de se movimentar, os funcionários do OME também não contam
com veículo para se fazer transportar até a zona rural.
Assim, os professores recebem uma orientação muito gené_
rica quanto ao conteúdo das disciplinas, a organização das provas
e o preenchimento de formulários do dados burocráticos. A mesma
sistemática se constata em Lajedo. As reuniões são mensais e em
geral participam os noventa e seis professores (96] que atuam na
zona rural. Neste momento se faz uma supervisão direta ao
professor.. A visito as escolas rurais também são esporádicas e
dependem da possibilidade de utilizar o carro da prefeitura.
■. i
Segundo depoimento dos supervisores do DME de Lajedo
como estratégia para oferecer uma assistência pedagógica mais
efetiva aos professores rurais, procuram, nessas ocasiões, discutir
problemas que afetam, de modo geral, a todas as escolas. Assim,•
organizam planejamentos que facilitem o trabalho com as classes
multi-seriadas, orientam as reuniões com pais e a siste
matica de avaliação dos alunas. É possível supor, dadas as cir-
cunstancias que interferem nestes encontros entre supervisores/
/professoras que tudo se resume numa distribuição de diretrizes e
planos, em geral, como se pode constatar, mal compreendidos e mal
aplicados.
Escolas rurais: organização e condições de funcionamento
No Município de o Joaquim do Monte foram visitadas
quatro escolas e em Lajedo, duas escolas, escolhidas, segundo o
critério de distância da sede. As escolas funcionam em instala-
ções próprias e pertencem à rede municipal de ensino.Possuem de
uma a duas salas, banheira, cozinha.
Em Lajedo, os escolas funcionavam até a aproximadamen
te, seis anos atrás, em locais improvisados ou na casa das pro-
fessoras. Portanto, constata-so um empenho da parte do municí
pio, em oferecer instalações mais adequadas para as unidades es
colares. Em São Joaquim do Montei algumas escolas foram cons-
truídas com verba do programa Polonordeste. Essas unidades pos-
suem, geralmente, um alojamento anexo para a zeladora. 0 fato de
contarem com instalações sanitárias não significa, poder usa -las
adequadamente, o que se explica face Ss condições precárias de
abastecimento de água nos dois municípios. Assim, mesmo a água
utilizada para beber ê transportada com auxílio dos alunos, de
locais próximos e por vezes, não recebe qualquer tratamento .
Q material escolar mínimo exigido para o trabalho do-
cente como giz e papel chega às escolas através do órgão munici
pal de ensino. 0 programa Polonordeste vem contribuindo, para
as escalas de São Joaquim do Monte, com a distribuição de material
didático mais específico como atlas e dicionário. 0 material
utilizado pelos alunos como lápis, cadernos e livros nem sempre
é doado e quando isto acontece, a quantidade se mostra
insuficiente. Cabe, finalmente, aos próprios alunos adquirirem--no
.
0 OME participa da aquisição e distribuição dos livros
didáticos. Através de convênio com o Banco de Livros, se obtém
parte do material necessário. Has, frequentemente, o OME se in-c-mbe
de suprir as faltas, adquirindo cartilhas ou livros de Por tuguês
e Matemática disponíveis no comércio local. Como as verbas são
restritas, o critério de seleção do material se pauta em
primeira instância pelos preços. Portanto, é comum encontrar na
mesma classe, duas ou mais cartilhas diferentes em uso, ou
segundo observações das supervisoras, livros "incompletos", o
que obriga a professora a criar exercícios, para o que não está
preparada. Mesmo considerando que as cartilhas passam, eventual
mente, seguir uma orientação semelhante na apresentação dos
conteúdos, o fato de trabalhar com materiais diferentes deve se
constituir num fator que dificulta a organização do trabalho pe
dagógico. Assim, quando os alunos têm possibilidade de arcar com o
ónus da compra do material didático, as professoras costumam se
responsabilizar diretamente por sua aquisição.
Mo. Município de Lajedo, observa-se em algumas escolas,
uma estratégia singular para resolver a questão do material:
"Livro, eles alugam pela caixa. Daí,eles pa
gam pouco - Cr$5,00 e recebem o livro durante o
ano todinho e depois devolvem."
(Prof. de Lajedo - 1.a./2a. séries)
As escolas que funcionam em dois turnos obedecem um pe_
ríodo de quatro horas aulas, as de três turnos, reduzem-no para
três.
A merenda não chega a todas as escolas. É necessário
funcionar em prédio próprio e manter instalações e equipamentos
adequados, para o depósito e a preparação dos alimentos. Em ra-
zão desses critérios, estabelecidos pela Campanha Nacional de
Alimentação Escalar, apenas 10 (dez) escolas rurais de Lajedo
são atendidas. Quando entre escolas próximas, uma delas preenche
as exigências mencionadas, esta serve como sede para estoca gem
e distribuição da merenda.
6 comum encontrar-se classes muiti-seriadas. Os profes
sores procuram agrupar os alunas que estão cursando ries sub-
sequente (classe alfabetização/1a. série ou 2a., 3a., 4a.).
Em Lajedo, a série inicial se desdobra em duas etapas:
classe de Cartilha e 1a. série. Observa-se que para facilitar o
trabalho com alunos de diferentes níveis, o professor procura
distribuí-las pelo espaço da sala, formando grupos homogéneos.
Quando as professoras precisam se afastar, geralmente
por motivo de doença, por mais de quinze dias, o ONE providencia
um substituto. Entretanto, quando não há interessadas em le cionar
no local onde so deu a vaga, a classe costuma ficar som aula por
longos períodos. Considerando as distancias entre as escolas
rurais e a sede dos municípios, torna-se difícil obter algum
controle sobre a frequência do docente. Em Lajedo, o OME solicita
ao professor que comunique sua ausência e reponha as aulas aos
sábados.
Quanto aos critérios que orientam a matrícula, segundo
informações dos professores, quando não vagas em número sufi_
ciente, o atendidos aqueles que se apresentaram em primeiro lu
gar. Daí, é possível deduzir que não se estabelecem prioridades
para a organização das turmas. Frequentam as classes de 1a. a 4a.
séries, alunos que estão muito acima da faixa etária que
constitui o obrigatoriedade escolar (7-14 anos).
Entretanto, as condições cie vida dos alunos, que impõem
o trabalho prematuro (desde os sete anos) e consequentemen_ te a
interrupção sistemática das aulas, justificam plenamente a
flexibilidade das exigências relativas ã idade. Encontram-se , nas
primeiras séries, alunos de até 14 anos e nas séries finais este
limite se estende até 18 anos ou mais de idade.
Os supervisores, que atuam no órgão municipal de ensino,
procuram orientar o trabalho pedagógico através da distribu-ição
dos conteúdos apresentados nos livros didáticos, por perío_ dos
mensais. Cabe ao professor adaptá-las, desdobrando num pla-
nejamento semanal de atividades, conforme a sua capacidade e o
nível dos alunos.
As listas de atividades que os professores desenvolvem
em classe, diariamente, indicam uma certa dificuldade para rea-
lizar a adaptação.
Os conteúdos são repetitivos sem que com isto se esteja
promovendo a compreensão ou a sistematização. Por exemplo , num
período de três meses, consta do rol de atividades diárias de
professores responsáveis pelas classes de Cartilha o mesmo
objetivo, ensinar "alfabeto- maiúsculo D minúsculo, juntar le-
trás, formar sílabas, contagem de 1 a 30, ordem crescente e de-
crescente. "
Alguns professores usam o todo expositivo para apre-
sentar um novo conteúdo. Mas, uma grande maioria se limita a
passar exercícios na lousa, copiados do livro adotado e a corri_
gí-los.
Não se observa uma sequência entre os exercícios apre-
sentados, que permita inferir uma ordenação lógica do t rabalho
pedagógico. Assim, numa classe do alfabetização, os exercícios
do dia, foram apresentados nesta ordem: separar as sílabas de
palavras, ligar os palavras iguais, escrever os números pares de
1 a 30, escrever os números de 1 a 50, somar as continhas [adição
simples total até 9).
Os professores têm dificuldade para explicitar os cri-
térios que adotam para avaliação dos alunos. Ao serem questiona_
dos sobre o mínimo exigido para aprovação ao final da 1a. série,
assim SG expressaram:
"Precisa aprender a escrever sem ver a pala
vra, contar, somar até a subtração e algaris-
mo, tudo, as unidades. Isso de Matemática. De
Português, é saber ler mesmo corretamente."
[Lajedo - 1a. série)
"Escreva o nome, leia algumas palavras e os
números de 1 a 50, conheça as cores e tenha no
ção dos órgãos dos sentidos."
[São Joaquim do Monte - 1a. série)
"Assinar o nome, escrever o nome do grupo,
do município e da mãe."
[São Joaquim do M onte - 1a. série)
Os professores que lecionam nas escolas rurais têm ge-
ralmente nivel baixo de qualificação. Entretanto, num dos muni-
cípios estudados percebe-se um incentivo da administração municipal
no sentida do aperfeiçoamento do pessoal docente. Em Laje do, das
noventa e seis professoras rurais (96), sessenta e cinco são leigas.
Porém, mais da metade de professores deste grupo (34) cursaram o
Pro-Leigo e atualmente estão frequentando o Logus II. Em São
Joaquim do Monte, dos sessenta e sete (67) pro_ fessores rurais,
70% tem formação a nível de primário incompleto e apenas 13%
possuem o segundo grau.
A forma de contratação e o salário dos professores des_
ses municípios de Pernambuco se comparada â dos demais estados
(Ceará, Piauí) revela uma situação privilegiada, não obstante , o
maior salário pago a uma professora corresponde ao mínimo da região
(Cr$7.128,00 - 1981).
No Município de Lajedo, para fins salariais, os profe_s
sores são categorizados em três níveis de acordo com a formação
(nível II, IV e VI). Os do nível VI são os professores com hab_i_
litação para o magistério e recebem o salário especificado
(Cr$7.128,00). Os professores do nível IV são os leigos que melhor
se classificaram no concurso e recebem de Cr$ 3. 000, 00 a
Cr$3.500,00. As professoras iniciantes, leigas e que não estudam,
recebem Cr$1 . 560,00 .
A exigência para alcançar os níveis salariais superiores
decorre da qualificação do professor. Alguns professores são
contratados sob regime de CLT (qualificados) e os demais sob con_
trato administrativo municipal. Recebem férias e assistência mé_
dica mas não têm direito a 13º salário.
Frequentemente, as professoras dedicam-se ainda a ativ_i_
dades de plantio em sua própria roça. São casadas ou filhas de
agricultores com pequenas propriedades, que se dedicam ã planta-
ção de culturas temporárias. Alguns ainda trabalham como emprega_
dos em atividades comerciais.
Percebem a escola como importante na trajetória de vida
dos seus alunos e justificam:
"... porque ele vai ter mais um certo co_
nhecimento, não vai ser mais aquela criança que
era, quando nada conhecia. E daí, pode ir con-
tinuando nu estudo dele e daí ele poderíeis tar
de ser, assim, uma pessoa capacitada."
[Lajedo -Prof. 1a. série)
"... sem essa escola eles não e s t u davam e
não aprendiam a ler."
(Lajedo - Cartilha)
"... único meio de melhorar a vida."
(o Joaquim do Monte)
Embora muito vagas, as respostas revelam uma crença na
escola como capaz de interferir para que se alcance melhoria na
qualidade de vida, apesar de toda a negação que a própria reali-
dade coloca para tais aspirações. Entretanto, não se exige muito
dessa escola. Aprender a ler e a escrever é considerado sufi-
ciente para enfrentar a vida.
Os pais consideram que:
"Os filhos devem aprender a ler e escrever: É
muito triste ser pobre e analfabeto.Tudo fica
difícil."
(Pai - São Joaquim do Monte)
" ... a escala e de boa qualidade quando en-
sina a ler e contar e quando a professora sabe
disciplinar não deixando 'virar brincadeira'".
(Pai - São Joaquim do Monte)
t É possível que o fato de ser analfabeto traga realmen-
te, maiores dificuldades quando o agricultor precisa recorrer ao
mundo urbano para suas transações comerciais. Se antes, estastran_
sacões se baseavam na palavra dada, hoje, o moderno traz consigo a
exigência da leitura. Portanto, dominar a leitura e a escrita pode
ser visto como um caminho para decifrar os símbolos que regam o
mundo moderno.
A situação de vida dos pais é muito semelhante. Trabalham
na terra, em sua roça e na dos outros. Não podem dispensar a'"ajuda
dos filhos, mesmo considerando importante frequentar as aulas.
Segundo depoimento de uma professora:
"Os pais pegam as crianças e levam assim para
o trabalho, ou que seja, assim, na roça , ou
para raspar mandioca na casa de farinha ,
raspando mandioca e não frequentam a escola."
"Eu mesmo reconheço muitos deles aqui mesmo
que estudavam comigo e já desistiram por causa
disto: de tanta falta que tem porque vao traba
lhar, para ganhar o dinheiro."
(Lajedo - Prof. 2a. série)
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS: ALGUMAS QUESTÕES PARA REFLEXÃO A A
O objetivo dos "Estudos de Caso" mencionado na introdução
deste relatório ressalta a importância de se captar o rodo de ser
e operar da escola rural através de suas relações mais amplas:
sócio-econômicas, políticas e culturais. A descrição desses
aspectos, presente nas sínteses sobre os seis municípios do
interior dos Estados do Ceará, Pernambuco e Piaui so se justifica na
medida em que se colocarem tais variáveis como instrumento para
desvendar o papel que a escola rural desempenha, hoje , na
reprodução social do homem do campo. Parte-se então, do pressu
posto que os condições de organização e funcionamento das escolas
devem ser apreendidas nas articulações com a conjuntura so-cio-
política imediata que decorrem, por sua vez, das diretrizes da
político nacional. Os municípios estudados apresentam caracte
rísticas sócio-econômicas muito semelhantes. Constituem o quadro
de uma mesma realidade, a interior do Nordeste, que se caracteri za
por uma precariedade econômico constante.
0 desenvolvimento econômico do país, direcionado pelos
interesses do grupo agrário-industrial se caracteriza pelo estímulo
a industrialização e a não alteração da estrutura agrária . Em
todos os municípios observados predominam as propriedades do tipo
minifúndios, embora em termos de área global estas ocupem a menor
área das regiões. Na verdade, o que se constata ê que a política
agrícola, na prática, tem gerado formas de trabalho e
76
condições de existência indiferenciadas sobre certas aspectos en
tre parceiros, arrendatários, minifundistas e trabalhadores ru-
rais.
Segundo VILA R DE CARVALHO todas sofrem o desamparo da
legislação social, os efeitos do seca, a exploração do grande pro
prietário e do intermediário. Neste contexto, marcado pelo agra-
vamento dos problemas sociais, os incentivos a modernização da
produção agrícola como o crédito rural acabam por beneficiar ain_ da
mais os que detêm o poder econômico local, uma vez que a sua obtenção
depende da propriedade legal da terra e da previsão de sua
rentabilidade econômica. Isto acarreta, conforme foi explic_i_ tada
na decorrer do trabalho, maior submissão ao grande proprietário,
que serve de avalista junto ao banco. Diante de tal depen_ dência
econômica, que submete a maioria da população rural, difi cilmente
possibilidades para uma participação política independente. Daí
porque as reivindicações dos agricultores se colocam no mesmo espaço
das do grande proprietário: irrigação, crédito rural, estradas,
melhoria salarial e ajuda do governo
1
,per manecendo oculta a questão
principal. A tensão social, acentuada pelo prolongamento da seca, que
acarreta uma instabilidade econô mica ainda mais grave, procura-se
responder com soluções imediatistas. As frentes de emergência, criadas
com a finalidade de mi nimizar as condições de miséria da
população, ficam longe de pro_ piciar uma assistência efetiva.
Segundo um lavrador de Oeiras:
Num achando vantagem na emergência por que
estão dizendo que quando sair o inverno vão
liberar o pessoal para a roça. Na emergência são
três dias, mas esses três dias não coo pera
porque o dinheiro não dá nem para pagar a
-
CARVALHO, Vilar Abdias. Temas de Ciências Humanas 7. A Questão Nordeste no
Estado Nacional.
bóia. "
(Posseiro )
Mesmo assim, insuficientes até como medida assistencia-
lista, as frentes de emergência conseguem se tornar objeto de dis
puta potica.- Geralmente, cabe a cada lider político dos municí_
pios cerca de 50 a 100 vagas nas "frentes", que evidentemente ,
o distribuídas a partir de critérios subjetivos.
Soluções tais como: a questão do crédito rural e dos
planos de emergência servem de exemplo para revelar a complexida_
de que se enfrenta ao tentar interferir na melhoria das condiçães
de vida dessas populações. Relações de força absolutamente desi-
guais entre grandes proprietários e lavradores impedem que bene-
fícios, os mais irrisórios, chegem ao destinatário.
Assim, com base nas observações feitas pelos estudos de
caso, percebe-se que, em decorrência do quadro econômico e político
determinadas "características" como a instabilidade, a arbi
trariedade e o imediatismo parecem impregnar, também, toda a dinâmica
das relações sociais locais. É possível que se alcance uma melhor
compreensão da organização das escolas rurais e da qualidade do
ensino oferecido, buscando na sua analise captar em que aspectos e
como, essas características se manifestam.
A questão da "instabilidade" que decorre, em última ins
tância, das precárias condições econômicas que afetam a vida dos
trabalhadores rurais, perpassa desde os critérios de matrícula e
controle de frequência dos alunos até a forma de contratação e
salário dos professores. Resulta da falta absoluta de recursos
para investir na produção agrícola, a impossibilidade de planeja
mento dessas atividades que garanta, por exemplo, a freqncia
regular ãs aulas. Planta-se o que é imediatamente possível para
assegurar a sobrevivência. As culturas temporárias se sobrepõem, não
só* no espaço, quanto no tempo. Daí a incapacidade revelada por
todos os planos educacionais oficiais de adequar o calendário
escolar ao agrícola, apesar da denúncia reiterada do problema.
Apenas em condições muito especiais, projetos como o
"Caldeirão", no município de Piripiri (Piaui) com verbas sufici-
entes para racionalizar a produção agrícola e criar uma cooperativa,
conseguem impedir o afastamento constante dos alunos, cuja força de
trabalho usualmente não pode ser dispensada pela famí-1 ia .
Apesar das orientações administrativas em contrário, as
professoras que, afinal, compartilham da mesma situação de exis-
tência, elas próprias trabalhando na roça sempre que se faz ne-
cessário, evitam assinalar as faltas no diário de classe, a não ser
que a ausência do aluno se prolongue por mais de dois meses
consecutivos. Isto parece indicar que um período de faltas de
sessenta (60) dias é percebido como "normal" ou é o que comumen-te
ocorre e que a experiência do professor registrou como tal.
Da mesma forma, a exigência de matrícula na faixa dos 7 aos
14 anos passa a ser ignorada. São usados varios recursos pa ra
manter o aluno na escola: omissão do registro de nascimento (que,
por vezes, não existe mesmo) ou a frequência como ouvinte, medidas
que revelam um certo bom senso do professor. Por que excluir os que
insistem em permanecer na escola apesar das reprova_ ções,
afastamentos e das limitadas possibilidades de adquirir co
nhecimentos ?
Entretanto, é preciso considerar que esta condição de
instabilidade caracterizada pela interrupção constante das aulas
praticamente impossibilita um trabalho pedagógico sistemático Se,
conforme constatado na observação das aulas, o professor mos_ tra
dificuldade em propor uma sequência logicamente ordenada dos
conteúdos que pretende ensinar, pode-se esperar que, em termos de
assimilação desses conceitos as faltas ainda concorram para maior
fragmentação nos conhecimentos dos alunos.
Segundo depoimento dos professores um fator que leva a
frequência até a triplicar, é a oferta de merenda. Embora, a fi-
nalidade da escola não seja a de nutrir os alunos, diante do qua_
dro de carência absoluta, procura-se resolver a s necessidades pri_
mordiais e imediatas. Inegavelmente, a alimentação I das mais
importantes.
0 problema da evasão é mais frequente, ainda, entre os
alunos que moram distante dos escolas. 0 fato de precisar se des
locar, diariamente, caminhando numa temperatura elevada, apenas
"com as palavras de Cristo" e o estômago vazio (Piripiri) para,
finalmente, receber o pouco concorre para desestimular a perma
nencia na escola.
Esta evasão que ocorre no decorrer de todo o ano letivo
acaba por mascarar, por sua vez, a necessidade de vagas nas re-
giões onde existem escolas.
Outro fator que reflete a instabilidade geral se percebe
por exemplo, no horário das aulas. Os alunos vão chegando em
diferentes momentos: além da questão das distâncias, muitas ve-
zes, ninguém conta com relógio nem o próprio professor.Além dis-
to, reduzir o horário diário ou suspender as aulas, depende mui_ to
mais de problemas imediatos dos envolvidos na escola do que de
qualquer planejamento pedagógico. Por exempla, as escalas que
eventualmente funcionam a partir das 17 horas oferecem um período
de duas horas face, inclusive as condições insuficientes de
iluminação.
Então, até se pode colocar em discussão a noção que o tempo
adquire nestas regiões. Considerando os feriados, as faltas de alunos
e professores, os 3trasos na chegada, os adiantamentos nas saídas,
o que resulta de tempo para o trabalho pedagó_ gico na zona rural
fica muito distanciado que, oficialmente , se instituiu, e do que
concretamente seria necessário ao ensino. Da mesma forma, a idade
dos alunos parece não constituir problema. Se apresentam, a nivel
da 3a. série, a idade de treze (13) anos que indica, de um ponto de
visto "urbano", a defasagem idade/série, ao invés de se perceber o
fato como insucesso, muito pe lo contrário, percebe-se como
positivo no medida em que o aluno pertence ao grupo minoritário dos
que foram capazes do alcançar este grau de ensino.
Um outro elemento da organização escolar que decididamente
não corresponde ao padrão oficial é o critério de seriação que
orienta a formação das classes. Dificilmente, o professor con segue
estabelecer com alguma precisão as diferenças entre o fato de
cursar por exemplo, a 2a. ou o 3a. serie.
Um exame das anotações diárias dos alunos permite cons-
tatar que os conteúdos trabalhados são idênticos. Então, é possí_ vel
concluir que o fato de ter sido ou não promovido, não acorre
ta maiores consequências uma vez que, no ano seguinte, continuarão
juntos na mesma classe, participando das mesmas atividades . £
preciso, entretanto ressaltar que se observam diferenças entre o
vel de conhecimento dos alunos das primeiras ries e os da
quarta série. Observando-se os dados sobre a condição de traba-
lho dos pais desses alunos, percebe-se que a seletividade tamm
se assenta nos determinantes econômicos.
No estudo de caso realizado no município de Nova Russas,
constatou-se, conforme indica o quadro abaixo, que os alunos
cursando a 4a. série provêm das famílias melhor situadas eco_
nomicamente, o que, embora o estabeleça grandes diferenciações
permite supor maior facilidade para organização familiar.
SÉRIE SITUAÇÃO DOS PAIS LOCALIDADE
4a.
Proprietários Lagoa do Barro
la.
Moradores Lagoa do Barro
la.
Empregados na "Emergência" Timbaúba
la.
Agricultor sem
terra Pescador
Trapiá
Influenciando diretamente as condições de funcionamento das
escolas rurais coloca-se a existência ou não de prédios esco_
lares. Mesmo considerando que a proposta de construção deprédios
ê uma tentativa formal de interferir na "qualidade do ensino" ,
não se pode desconhecer que o funcionamento na casa da professora
ou em locais improvisados concorre para que a instabilidade ge_ ral
se apresente de maneira mais radical. Competindo com a rotina
doméstica, o trabalho pedagógico que se desenvolve no âmbito da
própria moradia da professora sofre ainda mais, as limitações
conjunturais. A falta de espaço, de equipamento, de ventilação,
enfim a precariedade dessa infra-estrutura doméstico-escolar cor
responde de certa forma, ao que se observa nas comunidades rurais em
matéria da oferto de serviços. A solução prejudica a todos, a ponto
da professara, Ss suas expensos, tomar a iniciativa de construir uma
sala de aula independente. Entretanto, nota-se que, face à
acentuada desigualdade nas relações de força que dominam o cenário
político dessas regiões, facilitando a arbritra-riedade das decisões
administrativas, nem sempre as construções de prédios existentes
face ã sua localização e condições de manu_ tenção, parecem
atender às necessidades da população.
A questão do material didático, sob condições tão pro-
blemáticas de funcionamento, merece uma análise a parte. Inexiste,
até o momento em que foram realizados os estudos de caso, ma_ terial
didático suficiente para o trabalho pedagógico, apesar das equipes
técnicas das Secretarias Estaduais terem elaborado carti lhas para a
zona rural. Tem-se a impressão que as escolas munici pais recebem o
material que sobra depois de atendidas as estaduais. Conforme
mencionado procura-se contornar o problema, ape lando para as fontes
disponíveis (Banco do Livro, FENAME) o que acarreta, na melhor das
hipóteses, uma variedade de livros, que dificulta muito a ação do
professor. Atribuir ao aluno a obrigação de adquirir esse material
significa acrescentar despesas que, por vezes, concorrem para
afastá-lo das aulas.
Segundo o depoimento dos pais não há condições financei_
ras nessas famílias para comprar sequer lápis e papel. Portanto, na
tentativa de suprir as deficiências de material didático, é
preciso considerar que, antes mesma do livro-texto faltam os ins
trumentos básicos para que os alunos consigram escrever.
É. importante considerar-se ainda que nenhuma proposta de
melhoria da "qualidade do ensino" pode ser eficiente se des-
considerar a situação profissional do professor. Recebendo salá-
rios irrisórios e enfrentando condições de trabalho adversas ,
dificilmente se percebe como categoria profissional. Em geral ,
aceitam a incumbência de dar aulas porque dentro do quadro de to_
tal dependência econômica e política é a possibilidade que se
apresenta como o mais próxima de usufruir de certos recursos ur-
banos como o do atendimento médico.
Entretanto, esta condição de dependência é responsável
pela instabilidade que marca a o incipiente "carreira" do ma-
gistério na zona rural. Para exercer a função de professor ê ne-
cessária, via de regra, a indicação dos políticos locais. Qualquer
modificão nos quadros políticos pode resultar na substitu-ição dos
professores. Portanto, se o salário ê insatisfatório di ficilmente
se pode pensar numa "carreira"estruturada. Este comportamento
autoritário acaba por gerar consequências que podem até
invalidar os esforços de reciclagem desenvolvidos pelos técnicos
das Secretarias de Educação. Isto porque não se consegue ga rantir
que os professares mais experientes e -que receberam uma certa
assistência pedagógica permaneçam por mais de cinco anos em
atividade. Os professores estão insatisfeitos com suas condições
de trabalho, e afirmam - "não vale a pena, ganha muito pouco de-
mais". 0 máximo que se consegue pagar a um professor municipal é o
mínimo (salário) da região. Mesmo admitindo a falta de recursos do
poder municipal, a tão propalada valorização da Educação
pode ser questionada- a partir da desvalorização do seu agente
principal.
Um outro aspecto que merece sor ressaltado, diz respeito
à formação do professor e aos esforços desenvolvidos para o seu
aperfeiçoamento. As propostas de treinamento devem ser pensa das a
partir da constatação de que o nível de escolaridade se re sume
aos quatro ou cinco primeiros anos do grau, cursados em escolas
rurais talvez mais precárias ainda do que hoje se observa. Assim,
antes mesmo do domínio de metodologias específicas, o professor
carece de conhecimentos sobre o próprio conteúdo que viu ensinar.
Evidentemente, a não assimilação dos conceitos bási cos, em
Português e Matemática, pelo menos, impedem que se estabeleça
relações entre estes e inclusive se perceba a ordenação lógica de
apresentação que facilitaria sua apreensão pelos alunos. Pode-se
observar, em uma aula sobre potenciação para a 4a.
série que a professora reproduzia, na lousa, certos
conteúdos co_
piados do material de um dos cursos de treinamento e os alunos
anotaram nos cadernos. Ficou explícito que ninguém, nem mesmo a
própria professora entendeu o que era potenciação. Isto concorre
também para que não se consiga detectar as dificuldades dos alunos.
Todo o processo de ensino-aprendizagem é muito pouco sistematizado.
Até mesmo em relação às atividades de alfabetização , que aparentam
ter sido mais intensamente orientadas, o professor entende .que
deve fazer um período preparatório, mas não parece perceber a relação
disto com a escrita e a leitura. Então, o período preparat orio
pode se reduzir a dois ou três exercício s ini ciais e
imediatamente seguidos da cópia do alfabeto.
Talvez, o mais adequado a fazer em relação ã reciclagem
dos professores, fosse a retomada dos conteúdos fundamentais
das disciplinas sicas, partindo-se do pressuposto que podem ter
sido incorporados tão mecanicamente quanto os ensinam.
A expectativa dos pais em relação ã escola se coloca no
mesmo espaço ideologicamente concebido pelos dirigentes políticos.
Repete-se o discurso sobre a escola como estratégia de melhoria e
at"e de ascensão, apesar da realidade demonstrar a sua
insignificância na trajetória de vida dos sujeitos. Porém,as pró_
prias condições precárias de vida no campo concorrem para que os
limites entre o rural e o urbano sejam ténues. Em períodos de
maior carência, emigra-se para retornar quando as condições pare_
cem favoráveis. Alguns trabalhadores chegam a permanecer seis me ses
nos grandes centros e seis, na roça. Cada vez mais recorre--se ao
mundo urbano na busca dos recursos necessários para sobre_ viver no
rural (assistência técnica, crédito...) Nesta subordinação do
rural ao urbano, dominante, é q u e também se pode entender a
valorização desta escola tão precária pela população No bojo desse
mecanismo é que se a invasão dos papéis e das letras no meio
rural. A exigência de leitura se intensifica, uma vez que esta é a
chance para decoficar o m und o moderno.
A ausência de autonomia política impede es sa s populações
de formularem um projeto próprio para uma nova escol a,levando al
guns a uma posição de conformismo em relação à sua oferta:
"espero que aprendam a assinar o nome e fazer
qualquer conta... bom. A gente o pode
querer mais porque é pobre."
outros, porém conseguem perceber as insuficiências e denunc iam
"Agora, eu não boto a culta na minha cabeça
porque o tinha pra aprender, o. Desde o tem
po da minha avó que não ligavam, não me deram foi
papel, mas cabeça pra pensar eu tinha e von_ tade,
sabe!"
Em suma, as iniciativas mais bem intencionadas de con
tribuir para modificar este quadro de ineficiência do ensino ru
ral se defrontam com a questão social e econômica. Corre-se en
tão o risco, face as caractesticas estruturais que definem a
probletica educacional discutida, de recorrer a soluções tam
bem paliativas e imediatistas. Cada interveão em relação à es
cola deverá ser pensada e planejada em função do seu contexto ,
caso contrário ela jamais se efetivará- em seus objetivas revela
dos. .
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARRETO, Elba Siqueira de Sã. 1981. Estudo de caso das escolas
rurais do Município de Piripiri. São Paulo, Fundação Carlos
Chagas .
BRASÍLIA [Distrito Federal). 1979. "Educação para o meio rural:
ensino de 1
9
grau." Política e Diretrizes de Ação.
BRASÍLIA (Distrito Federal). 1979. Subsídios para o planejamen to
da Educação no meio rural. Departamento de Documentação e
Divulgação.
CALDEIRA, Clóvis. 1960. Menores no Meio Rural: Trabalho e esco-
laridade. CBPE-INEP. Rio de Janeiro. Ministério da Educação
e Cultura.
CARVALHO, Abdias Villar. 1980. A Questão Nordeste no Estado Na-
cional. Temas de Ciências Humanas (7):99-113. São Paulo. Li-
vraria Editora Ciências Humanas Ltda.
DEMO, Pedro. 1980. A Pobre Educação Pobre: alguns problemas da
falta de verbas. Revista Educação e Sociedade (10): o Paulo.
Livraria Cortez Editores.
DIAZ, Bordenave J. & WERTHEIN, Jorge. 1982. Educação Rural no
Terceiro Mundo. Rio de Janeiro. Paz e Terra.
G00DE, William J. S HATT, Paul Kitchner. 1973. Métodos em Pes-
quisa Social. São Paulo. 4a. edição. Editora Nacional.
ANEXO I
ROTEIRO DE ENTREVISTAS
ROTEIRO 1
DADOS E OBSERVAÇÕES SOBRE O FLUXOGRAMA: Secretaria de Educação-
Município-Escola (e agentes que mediam esse fluxo)
1. Junto à Secretaria
1.1 Plano Estadual de Educação
-prioridades
-lugar da educação rural
1.2 P l a n o ( s ) Es p e c ial ( i s) para a Ed u c a ç ã o Rural
-Do E s t a d o
-Dos P r o j e t o s especiais/MEC/Governo Federal
-A r t ic u l a ç ã o ( o u não) d e s s e s p l a no s .
1.3 L o c a l i z a ç ã o do município a s e r estudado nos P r o j e t o s do
SE
- como a SE caracteriza e que tipo de ações propõe
1.4 0 fluxo "oficial" em termos do fluxograma que está no pa_
pel
-quem planeja
-quem decide
-quem implementa
-como as informações/decisões devem ser passadas e trazidas
de volta
1.5 Como prevê a alocaçáo de recursos do EDURURAL
-Construção/equipamento
*
-Treino de professores
-Material
2 . No âmbito da QUE
2.1 0 que chega da SE
- por meio de que canais
por meio de agentes.
2.20 que tem chegado do EDURURAL (o u o que ainda não chegou)
2.3Grau de conhecimento do EDURURAL
2.40 que mandam para a SE
2.5Se tem supervisora, orientadora, etc., o que faz, vai ãs
escolas, para que? [ver se é apenas administrativo ou também
pedagógico).
3. No âmbito da escola
3.1Quem é o elemento da burocracia do ensino [SE ou OMEs) , com
quem tem contato
3.2Esse elemento vem à escola ou é o professor que vai ae ela
3.30 contato é para
-fins estritamente burocráticos
-fins de receber pagamento
3.4 Observar como se de fato a influência da burocracia
(ou sua ausência)
ROTEIRO 2
DADOS A SEREM LEVANTADOS JUNTO AO ONE (ou a completar na escola)
- Quantitativos
-nº de escolas
-nº de professores
-nº de alunos total
-nº de alunos/escola/série/idade
-outros . .
- De rendimento
-taxas de matrícula no início de 81 e no momento da co_l_eta
de dados
-taxas de aprovação, reprovação, evasão do ano passado (80)
- Burocráticos
-existência de escrituração e controle
-existência de documentação sobre admissão, licença, afasta-
mento, demissão, etc., de professores e funcionários.
3 - ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO DA ESCOLA
I - Informações Preliminares
Nome da escola Estado
Município Distrito
LocalidadE
II - Estrutura e Funcionamento
1) Dependência administrativa da escola e programas de
assistência ao ensino.
Estadual
Municipal
Federal
Particular (por exemplo, iniciativa do dono da fazenda)
Programas atuantes na escola (Prodasec, Polonordeste ,
etc . )
Especificar a participão das diferentes entidades man_
tenedoras da unidade escolar, bem como dos programas de assis-
tência ao ensino. Por exemplo, edifício escolar do Estado, pro-
fessoras pagas pela prefeitura, salário complementado pelo EDU-
RURAL etc.
2) Descrever as características físicas da escola. Núme_
ro de dependências, material de construção, material escolar
(carteiras, mesas, lousa, giz e outros recursos).
3) Histórico escolar
A criação da escola ou extensão do numero de séries ou
cursos tem a ver com solicitações diretas da populaçã o local?
Que setores da população fizeram tais solicitações? Qual a in-
terferência de particulares e/ou políticos (fazendeiros, comer-
ciantes, donos de indústria) na criação e manutenção da escola?
4) Oferta de ensino na escola:
Número de classes por serie
Distribuição das séries por período
Classes isoladas com várias series na mesma sala. Quantas
nesse caso? Até que série abrangem.
Outros cursos funcionam no mesmo prédio escolar, tais co
mo MOBRAL?
5] Pessoal lotado na escola
5.1. Diretor
- Formação escolar. Treinamento em serviço.
• Como foi indicado para o cargo.
-Vínculo empregaticio (efetivo, contratado, pres_
tacão de serviço, outro).
-Experiência profissional anterior. Especificar o
tempo e a natureza das funções que exercia antes)
-Salário que recebe. Fontes.
5.2. Funcionários administrativos:
Vice-diretor, ou auxiliar de direção, secretário , es_
criturário, servente, merendeiro, outros.
Especificar o cargo, o tempo de serviço e a maneira como
foram indicados para trabalhar na escola. Verificar sarios e
fontes de pagamento dos salários.
Verificar relação número de funcionário X atendimento das
necessidades da escola. Preparo dos funcionários para as fun-
ções e adequação do cargo ãs funções que exercem de fato.
5.3. Professoras
Numero de professoras por série.
Para cada uma delas indicar a rie em que leciona, a
formação que recebeu [escolaridade e treinamento), a maneira co_
mo foi indicada para o emprego, tempo de experiência no magisté
rio, funções que exercia anteriormente.
Verificar se há professoras regentes de classe e auxilia-
res. Outros arranjos. Tipo de vínculo empregatício . Salário(es-
pecificar as fontes que complementam). Outros benefícios
sociais a que têm direito. Lecionam em mais de um turno? Em mais
de um curso? Por exemplo Supletivo? Exercem outras tarefas
remuneradas fora da escola?
Ha substitutas? Qual o seu papel? Sao chamadas em caso
de falta da professora? Ficam na escola exercendo outras tare-
fas?
Ha condições de controle de frequência das professoras?
Como é feito? 0 numero de faltas ê grande? E o de licenças
afastamentos? Por períodos grandes ou pequenos? Quem concede os
afastamentos ?
Descrão do relacionamento entre professoras. Diretora
X professora.
Verificar a mobilidade das professoras. Se prom da mes
ma região. Se m de outro lugar, com que caractesticas. Se
tendem a se deslocar para outras cidades ou regiões em que cir-
cunstâncias?
Como ê sua família. Em geral o que fazem os maridos ou
pais? Como se arranjam com os filhos e o trabalho.
Quais os problemas de comunicação e transporte que encon_
tram para lecionar.
OBS.: As informações sugeridas podem ser colhidas em diferentes
níveis de profundidade. Seria interessante ter uma ideia mais
geral a respeito de todo o quadro de pessoal da escola, e em es
pecial do quadro docente.
Nas entrevistas individuais com algumas das professoras
ou diretora aprofundar aspectos o bem explorados na caracte-
rização geral da escola.
6) Composição das classes
6.1.Nas classes multisseriadas verificar os arranjos in-
ternos que são feitos. Se a professora divide em turmas e
dá au la primeiro para uma turma, depois para outra e assim
sucessiva mente. Nesse caso o que fazem os alunos que
não estão tendo aula. Se e dada a mesma aula para todos.
Outras possibilidades . Quantos alunos existem nessas
classes?
6.2.Nas classes de série única, verificar critérios de
classificação dos alunos, com atenção especial às
primeiras séries? Existem primeiras séries fracas, médias,
fortes ou outros arranjos? Das primeiras séries fracas os
alunos são promovidos paro as médias, fortes? Quantos anos
passam cursando a primeira série? Nesses casos mudam de
professora? Ha alguma diferença na programação das
primeiras séries fracas para as primeiras séries fortes, por
exemplo?
7) Matrícula, Transferência, Evasão.
As vagas oferecidas pela escola são em numero suficiente
para atender à população?
Quais as sérias em que problema de vagas? Quando não
vagas em número suficiente quais os critérios usados para
selecionar os alunos.
Ha muitas crianças que nunca frequentam a escola na re-
gião?
Qual a porcentagem de alunos que se transferem da escola Em
geral eles levam ou trazem documentação? Quais os motivos mais
frequentes das transferências?
Que porcentagem de alunos abandona as aulas e volta?
Quais os motivos mais frequentes? .
Que porcentagem de alunos desiste de estudar? Vai para os
cursos supletivos ou outros?
Que escrituração existe na escola que registre matrícu-
las, presença, rendimento? Quem faz a escrituração? Quem ori-
enta.
8) Relações da escola com o OME.
Ha supervisora que visita a escola?
Que tipo de orientação ela dá, ou é dada pelo OME? E so
administrativa? Entra na parte pedagógica?
As professoras acatam o que vem como orientação pedagògi_
ca? Entendem? Tem condição de pôr em prática?
0 que chega até a escola via OMEs ou por outras vias?
Material didático: livros ou textos mimeo grafados de uso
da professora. Cartilhas, livros, cadernos de uso dos alunos ?
Outros materiais.
Especificar o material e os livros
1
usados nas diferentes
series. No caso do material não ser doado, especificar o que os
alunos compram, o que falta.
É suficiente? Em que época do ano chega o material na es_
cola?
Merenda - Como chega até a escola? Quem complementa?Quem
prepara? Observar também na própria escola o tempo do período
escolar que é reservado à hora da merenda e recreação.Quem su-
pervisiona .
9) Descrição do trabalho didático-pedagógico
9.1. Planejamento
Professoras fazem, não fazem. Periodicidade: no iní
cio do ano, mensal, semanal, outro.
-Se faz, como, quem orienta, põe no papel, encaminha
, discute.
-Observar relação entre o planejamento, se existe, e o
que é dado em sala de aula.
9.2. Avaliação
-Como fazem [aplica -provas, quem elabora,etc).
-Com que periodicidade.
-Elaboração da professora, diretora, OMEs.
-Ac h a m que faz avaliação rigorosa, benevolente.
-A que atribuem a alta taxa de reprovação.
10) Descrição do trabalho didático-pedagógico específico -
Como alfabetiza: . material/método; . tempo;
período preparatório, duração.
-Que critérios adota para passar um aluno da la. para a 2a.
série?
-Que conteúdo da na 2a. série?
-Que critérios adota para passar para a 3a.?
-Que conteúdo da na 3a.?
-Que critérios adota para passar para a 4a.?
-Que conteúdos dá na 4a. série?
11) Relação escola/pais
A professora conhece os pais de seus alunos? E a direto-
ra?
• Como é o relacionamento?
-Acontece quando, como e por quê?
-Ha reuniões de pais na escola? Descreva.
-Sabe em que e como eles trabalham?
-Acha que se interessam pela escolarização das crianças?
-Quais acha que sejam os maiores problemas das famílias da
região?
-Acredita que a escola contribui de algum modo para a vida
dessas pessoas?
-0 conteúdo e a forma como são transmitidos atendem às
necessidades da vida desses alunos teria sugestões?
-Quais as diferenças que existem entre esta escola em
que dá aula e outras da região?
-Existem diferenças entre estas escolas da região e aque_ la
em que estudou?
Associação de Pais e Mestres [ou trabalhos comunitários com
caráter semelhante)
-Existe na escola?
-Quem compõe a diretoria?
-Como são eleitos?
-Que tipo de pais são os mais atuantes?
-Que atividades são promovidas com maior frequência? Com que
objetivos?
-Cobrá-se taxa da APM. Quanto, em que ocasião, que pro-
porção paga?
-Em que é empregado o dinheiro da APM?
12* Dificuldades sentidas pela professora 1.
Dela, professora
-Quanto ã sua capacidade/experiência/formação.
-Quanto ãs condições de trabalho (inclusive instala-
ções físicas e localização da escola)
-Quanto aos alunos (comportamento, idade,características
psicoculturais, pobreza, etc).
-Quanto ao relacionamento com a família.
-Quanto ao relacionamento com a burocracia do ensino .
-Quanto ã assistência recebida.
2, Que ela percebe nos alunos
-Quanto aos conteúdos, espacialmente a alfabetização
tipos de dificuldades para aprender.
-Quanto ao tipo de material ou a sua ausência/carência .
Item a ser sondado em entrevista.
- Quanto às limitações decorrentes de suas condições de
vida.
3. Acha-se satisfatoriament e assistida e apoiada pelas
instâncias superiores, ou nã o.
,. .Por que [explorar b e m ) .
4. Qu a nt o ao s e u salário e o u t r o s be n ef í ci o s trabalhis~
tas.
13* Expectativas e o pin iõ es
Como percebe, ou que opinião tem sobre:
-o aluno ;
-a escola na vida desse aluno
-a escola na região;
-a qualidade desta escola;
-a sua adequação aos alunos e ã região;
-porque os pais e os alunas procuram a escola;
-a escola é importante para eles? Por quê?;
-acha que eles estão certos?
-sua situação (status, prestigio), na comunidade.
0 que esperaria ou desejaria:
-para melhorar a escola;
-para melhorar sua situação;
-para melhorar sua região.
Item a ser sondado em entrevista.
ROTEIRO 4
ROTEIRO DE ENTREVISTA COM PAIS
- O entrevistado
. o que faz como trabalho [explorar ao máximo na tentativa de
saber como faz, para quem, com quem aprendeu-, etc..,)
-.A família
. quantos filhos (reside junto, trabalha junto)
. cônjuge (reside a trabalha justo)
. outros membros da família
. outros que moram junto
. outros que trabalham junto
. onde mu l h e r e filhos aprenderam seus trabalhos (casada agri
cultura, associações, etc...)
. descrever o dia-a-dia
- A escola
. quem foi à escola, quanto tempo, o que aprendeu, por que foi
.
. se foi à escola, as diferenças entre a escola que frequentou
e a atual.
. por que parou.
. por que manda os filhos à escola
. o que espera que aprendam na escola, para que isso serve
. conhece a escola
. conhece a professora
. costuma ir ã escola (ou conversar com a professora) (ou é a
professora quem vem)
. conversa o q
. o que acha da escola
. o que acha da professora
. o que tem na escola/o que falta
. o que acha que poderia mudar para ficar melhor (merenda,ma-
terial, prédio,professora, o que se ensina, como ensina) ,
horário época do -ano.
. quem acha que resolveria esse problema.
- 0 que seus filhos acham da escola
. é fácil/difícil
. gostam de ir ã escola - por quê
-Os filhos se saem bem na escola
-Vao continuar, até quando, por quê
-Acha que tem escolas em numero suficiente, precisa mais
-Escolas são de boa qualidade .
o que é uma escola boa
. o que acha da escola da cidade
-Acha que existe uma preocupação em melhorar as escolas . quem
está preocupado
-Quais os maiores problemas que o senhor vê nesta região (ex-
plorar)
-Pretende continuar na região - por quê .
e os filhos
-0 que pretende para seus filhos
-Migração
. Veio de outra região, qual, quando, por quê (história da mo-_
bilidade)
. Nasceu na região, por quê não saiu
. projeto de sair ou ficar
t
. pessoas da família ou conhecidos que estão na cidade, in-
fluência disso no projeto
. experiência de ter vindo para a cidade e ter voltado, como,
por quê, quando
- Lazer
. 0 que faz quando não trabalha
. aos domingos
. tipos de atividades culturais de que participa (feira, festas,
etc) . . contato com rádio ou TV (em casa ou outro lugar)
- Condições materiais de vida (exceto trabalho)
. alimentação
. tipo de moradia .
tipo de vestuário
. presença de certos índices de conforto (luz elétrica, rádio,
TV ou outros)
- Saúde
. saúde/doença na família (histórico)
. saúde/doença na região (endemias, etc) (ao nivel do fato e
da representação) . recursos a que recorre (posto, medico,
curandeiro, etc). . remédios e outros recursos
ROTEIRO 5
Informações junto ao(s) aluno(s). Sugestão: entrevista em grupo
1.Sexo, idade e série
2.Escolaridade
-repetência, séries e motivos
-Abandonos periódicos, motivos
-Volta ã escola, motivos
3. Trabalho
-Formal: qual, para quem, durante quanto tempo,salário,etc.
-Informal: qual, para quem, durante quanto tempo,salário. etc.
-No que pretende trabalhar no futuro
4. Aspirações e expectativas
-Gosta da escola, não gosta, por quê
-Acho que a escola é boa, não, por quê
-Para que serve a escola (presente e projeto futuro)
-0 que acha que devia m u d a r e melhorar na escola.
ROTEIRO 6
ROTEIRO DE ENTREVISTA COM PREFEITO
e outros elementos não diretamente ligados Às escolas
-Levantar um pouco da história da pessoa para melhor situá-la.
-Com que recursos financeiros trabalha,
-Quais os problemas da região.
-Como são alocados os recursos.
-Quais as principais reivindicações da população.
-Como tem feito para atendê-las (o que pode ser feito)
-ESCOLA
. Quantas escolas tem o município.
- quantos professores
• a população esta satisfeita com a atual situação do ensino;
quais são os pontos positivos apontados pela população ;
quais são os pontos negativos; por que acha que acontece o
que pode ser feito (o que tem feito)
*
ROTEIRO 7
ESCOLA/MEIO SOCIAL LOCAL
1. Caracterização só ci o- ec onô mi ca da área ~ Da d os b á si c os
1. Ca r a c te r ís t ic a s físicas
a)extensão
b)clima
c)relevo
d)vegetação
2 . População
a)distribuição da população nas z o n a s rurais e urbana
densida de demográfica
b)estrutura etária e sexo
c)população economicamente ativa
d)migração
3. Estrutura produtiva e mercado de trabalho
a) estrutura fundiária e sistema produtivo
.tamanho das propriedades/tipo de uso do solo
.o que se produz
.práticas de comercialização
.relações de produção
b) industria, corcio e servos
4. Infra-estrutura
a)habitacão
b)transportes
c)saneamento
d)energia
e)saúde (atendimento hospitalar e recursos humanos)
5. Caractesticas do atendimento educativo
-mero de escolas, de salas de aula e de professores
-população alfabetizada
-taxa de analfabetismo
-taxa de escolarização
-Indice de evasão e repetência
-matrícula e atendimento a populão em idade escolar
6. "Outros meios de educação"
-igreja
-radio
Fontes das informações:
1. Informações oficiais
-Dados do IBGE ( P N A D , e t c )
-Secretarias do Estado
-Prefeitura
Centrevistas
- DME
2. Agentes - entrevistas
-fazendeiro [o grande)
-o coronel "manda-chuva" da região
-seus "capangas
-professoras
-supervisoras
- padre
- medico
C curandeiro
-gerente do banco
-comerciante/atravessador
-associações [sindicatos, cooperativas)
-delegado
. aluno s
. pais do aluno (família)
. parteira
. benzedeira, pai-de-santo , farmacêutico
. feirante, feira
3. Observações rio pesquisador
-dispoisção física do município
-dieta alimentar
-transportes
-vestuário
-educação não-formal
-constituição da família e relações internas (casamento)
-lazer/folclore
-comunicações
-cultos religiosos
-o cotidiano
-velório - agente funerário.
4. As relações de poder político e econômico
ANEXO II
CARTA DO ABC
MINÚSCULAS
PROIBIRA CARTA
MONOSSÍLABOS
A
e
í
o
u
Ba
be
bi
bo
bu
C
A
.. .. CO
cu
Ca
ce
ci
ço
çu
Da
de
di
do
du
Fa
fe
fi
fo
fu
Ga
gue
gui
go gu
..
ge
gi
•■
..
Ha
he
hi
ho
hu
Ja
je
ji
jo
ju
La
le
li
lo
lu
Ma
me
mi
mo
mu
Na
ne
ni
no
nu
Pa
pe
pi
po
pu
Qua
que
qui
quo
..
Ra
re
ri
ro
ru
rra
rre
rri
rro
ru
5a
se
si
so
su
ssa
sse
ssi
sso
ssu
Ta
te
ti
to
tu
Va
ve
vi
vo
vu
Xa
xe
xi
xo
xu
Za
ze
zi
zo
zu
SECUNDA CAUTA
TERCEIRA CARTA
_ 6 —
QUARTA CARTA
QUINTA CARTA
- a
SEXTA CARTA SÉTIMA CAUTA
Estas mesmas terminações com a letra m para
ser usado antes de p e b
OITAVA CAUTA NONA CARTA
OS CINCOS SONS DE X
ch
-- xadrez, xarope, lixo.
SS — próximo auxilio trouxe:
S -~ explicar, exposição , exclamou.
Z — exame exercício, exemplo.
qç — fixo, crucifixo , reflexo,
SINAIS DE PONTUAÇÃO
Vírgula .........................................................,
Ponto.............................................................
Ponte e Vírgula . . . . . ;
Dois Pontos..................................................:
Ponto de interrogação ..............................?
Ponto de exclamação !
Reticências................................................... ...
Travessão.....................................................
Aspas............................................................ "
Parentesis ;.................................................. ()
SINAIS ORTOGRÁFICOS
Agudo............................................ ´
Circum! . . ....
Acentos
Gravo . . ....
Til.................................................. .
Cedilha......................................................... ç
Traço de União.,.......................................... -.
Trema...........................................................
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