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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA
EXPLORANDO O ENSINO DA MATEMÁTÍCA
ATIVIDADES
VOLUME II
BRASILIA
2004
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PRESIDENTE DA REPUBLICA
FEDERATIVA DO BRASIL
Luiz Inácio Lula da Silva
MINISTRO DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
Tarso Genro
SECRETÁRIO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
Francisco das Chagas Fernandes
SECRETÁRIO DA EDUCAÇÃO
TECNOLÓGICA
Antonio Ibanez Ruiz
DIRETORA DE ENSINO MÉDIO
Lúcia Helena Lodi
DIRETORA DO DEPARTAMENTO DE
POLÍTICAS EDUCACIONAIS
Jeanete Beauchamp
COORDENADORA-GERAL DE ESTUDOS E
AVALIAÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS
E PEDAGÓGICOS
Nabiha Gebrim
SELEÇÃO E ORGANIZAÇÃO
Ana Catarina P. Hellmeister
Déborah M. Raphael
ORGANIZAÇÃO GERAL
Suely Druck
REVISÃO
Ana Lucia Nogueira Junqueira
Silvana Cunha de Vasconcelos Castro
Suely Bechara
PROJETO GRÁFICO
Enrique Pablo Grande
Mariano Maudet Bergel
Luciana Cristina Ceron
Tiragem 33 mil exemplares
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA
Esplanada dos Ministérios, bloco L, sala 500
CEP-70.047-900 Brasília-DF
Tel. (61) 21048617/21048613
www.mec.gov.br
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Centro de Informação e Biblioteca em Educação (CIBEC)
E96e Explorando o ensino da Matemática : atividades : volume 2 / seleção e organização Ana Catarina
P. Hellmeister... [et al.] ; organização geral Suely Druck. - Brasília : Ministério da Educa-
ção, Secretaria de Educação Básica, 2004.
176 p.
ISBN 85-98171-14-X
1. Ensino de Matemática. 2. Educação matemática. 3. Atividades matemáticas. I.
Hellmeister, Ana Catarina P. II. Druck, Suely. III. Brasil. Secretaria de Educação Básica. IV.
Título.
CDU : 51:37
A Matemátíca está presente na vida cotidiana de
todo cidadão, por vezes de forma explícita e por ve-
zes de forma sutil. No momento em que abrimos os
olhos pela manhã e olhamos a hora no despertador,
estamos "lendo" na linguagem matemática, exerci-
tando nossa abstração e utilizando conhecimentos
matemáticos que a humanidade levou séculos para
construir. É quase impossível abrir uma página de jor-
nal, cuja compreensãoo requeira um certo conhe-
cimento matemático e um domínio mínimo da lingua-
gem que lhe é própria - porcentagens, gráficos ou
tabelaso necessários na descrição e na análise de
vários assuntos. Na sociedade atual, a Matemática é
cada vez mais solicitada para descrever, modelar e
resolver problemas nas diversas áreas da atividade
humana. Um médico que interpreta um
APRESENTAÇÃO
eletrocardiograma está utilizando um modelo mate-
mático; ao dar um diagnóstico, está utilizando o racio-
cínio matemático e empregando conhecimentos de
estatística. Um pedreiro utiliza um método prático para
construir ângulos retos que já era empregado pelos
egípcios na época dos faraós. Uma costureira, ao
cortar uma peça, criar um modelo, pratica sua visão
espacial e resolve problemas de geometria.
Apesar de permear praticamente todas as áreas
do conhecimento, nem sempre é fácil (e, por vezes,
parece impossível) mostrar ao estudante aplicações
interessantes e realistas dos temas a serem tratados
ou motivá-los com problemas contextualizados. O
professor, quase sempre,o encontra ajuda ou apoio
para realizar essa tarefa de motivar e instigar o alu-
no, relacionando a Matemática com outras áreas de
estudo e identificando, no nosso cotidiano, a presen-
ça de conteúdos queo desenvolvidos em sala de
aula. Para isso, é importante compartilhar experiên-
cias que já foram testadas na prática e é essencial
que o professor tenha contacto com textos de leitu-
APRESENTAÇÃO
ra acessível, que ampliem seus horizon-
tes e aprofundem seus conhecimentos.
Inserir o conteúdo em contexto mais
amplo, provocando a curiosidade do alu-
no, ajuda a criar a base para um aprendi-
zado sólido que só será alcançado atra-
s da real compreensão dos processos
envolvidos na construção do conhecimen-
to.o se trata, é claro, de repetir um
caminho que a humanidade levou sécu-
los para percorrer. No entanto, é preciso
incentivar o aluno a formular novos pro-
blemas, a tentar resolver questões "do
seu jeito". O espaço para tentativa e erro
é importante para desenvolver familiari-
dade com o raciocínio matemático e o
uso adequado da linguagem. Da mesma
forma que é possível ler um texto pala-
vra após palavra, sem compreender seu
conteúdo, é também possível aprender al-
gumas "regrinhas" e utilizar a Matemáti-
ca de forma automática.
Com o objetivo de ajudar o professor
nos vários campos apontados, reunimos
uma coletânea de artigos extraídos da
Revista do Professor de Matemática
(RPM) - uma publicação da Sociedade
Brasileira de Matemática (SBM), com
apoio da Universidade deo Paulo.
O material aqui apresentado suge-
re abordagem contextualizadas e o uso
de material concreto e apresenta uma
variedade de situações cotidianas em
que a matemática se faz presente. Ao
mesmo tempo, explora, em cada caso,
o conteúdo de forma rigorosa e siste-
mática, levanta problemas e indica so-
luções e, nesse processo, expõe os me-
andros do raciocínio matemático.
Os textos escolhidos estão distribu-
ídos em dois volumes e abordam con-
teúdos curriculares da 5
a
à 8ª série do
ensino fundamental.
No primeiro volume incluímos arti-
gos que tratam de História, Geografia,
Astronomia, situações do cotidiano, cul-
tura geral, crônicas e problemas. Enfim,
muito do que possa fornecer situações
com modelagem matemática, ligando a
Matemática ao desenvolvimento do co-
nhecimento humano de diversas áreas,
foi aqui reunido. Os artigos possibilitam
que o professor amplie sua visão e insira
os conteúdos matemáticos num contex-
to amplo e interdisciplinar, de modo que
possam ser utilizados para desenvolver
atividades interessantes junto aos estu-
dantes, explorando novas perspectivas
e permitindo um outro enfoque.
No segundo volumeo sugeridas
atividades em sala de aula, utilizando
materiais de fácil acesso (canudos, car-
tolina, jornal, barbante, etc.) ou explo-
rando situações do cotidiano em que a
matemática está presente. A atividade
lúdica está sempre ligada a conteú-
dos matemáticos, queo explorados
e aprofundados.
O professor e educador George
Polya (1887-1985), autor do livro A arte
de resolver problemas , afirmava, mui-
to adequadamente, que para ensinar é
preciso saber muito mais do que se ensi-
na, é preciso conhecer sua matéria, ter
interesse e entusiasmo por ela. Com es-
tes dois volumes esperamos comparti-
lhar com nossos colegas professores ex-
periências bem sucedidas em sala de
aula e, sobretudo, um pouco da beleza e
da riqueza da Matemática.
É com grande entusiasmo que a Se-
cretaria de Educação Básica e a Secre-
tária de Educação Profissional e
Tecnológica realizam este projeto, agra-
decendo a participação da comunidade
matemática, por meio da Sociedade Bra-
sileira de Matemática (SBM).
Introdução
Uma das grandes dificuldades no ensino da Matemática é a linguagem que pre-
cisa ser utilizada. Muitas vezes percebemos que os alunos compreendem a "idéia"
masoo capazes de manipular a linguagem. Outras vezes, o que é pior,
manipulam a linguagem de forma automática sem apreender seu significado.
Na coletânea de textos aqui apresentada descrevem-se atividades lúdicas
e instigantes a serem desenvolvidas em sala de aula, juntamente com suges-
tões de que conteúdos podem ser motivados, melhor entendidos, ou desco-
bertos pelos alunos no decorrer das atividades. Procura-se trabalhar com
objetos, jogos, materiais concretos, ou situações do cotidiano do aluno, mos-
trando que a Matemática está presente na compreensão e solução de proble-
mas do dia-a-dia.
O objetivo é fazer com que o aluno, diante de um problema concreto,
"traduza" a situação para a linguagem matemática e resolva o problema.
Percorrendo esse caminho, ficam mais claros a motivação dos conteúdos e o
papel da linguagem para expressar conceitos e guiar o pensamento lógico.
Vejamos alguns exemplos:
Atividades como Fechando o dominó e O jogo de dominós levam a
perguntas sobre fatos conhecidos do jogo de dominós, cujas respostas envol-
vem o estudo de paridade numérica, contagem e operações aritméticas.
O adivinho indiscreto descreve uma mágica intrigante, que estimula a
curiosidade dos alunos e, despertado o interesse em entender como a mági-
ca é possível, permite o estudo de representação na base dois, de maneira
interessante e agradável. O professor pode, inclusive, modificar a mágica
de modo a motivar o estudo de representação na base decimal ou em ou-
tras bases.
A Geometria, operações aritméticas e o cálculo de raízes aparecem jun-
tos em atividades como Origamis (dobraduras) e Nomogramas de papel.
A utilização de situações da realidade está em atividades como Você sabe
ler seu relógio de luz? ou Como é feita sua conta de luz e água? ou
Porque o parafuso é sextavado? entre outras.
A fatoração de um trinômio do segundo grau pode ser "visualizada" com o
material concreto e o quebra-cabeças da atividade Fatorando fisicamente.
No atividade ... probleminhas há problemas interessantes e instigantes,
que permitem ao professor apresentar aos alunos desafios que motivam o estu-
do de diversos conceitos matemáticos.
É importante que o professor tenha consciência de que o aprendizado da
Matemática no ensino fundamentalo pode ser alcançado apenas com ati-
vidades lúdicas e agradáveis, mas acreditamos que permear as aulas usuais
com aulas diferentes e motivadoras pode ser um diferencial no despertar
dos alunos para a beleza da Matemática e para a sua utilização prática,
cada vez mais indispensável no nosso mundo atual.
A Matemática e o caipira 1 1
Luiz MÁRCIO IMENES E JOSÉ JAKUBOVIC
A Geometria das chapas perfuradas 15
Luiz MÁRCIO IMENES
Origami e geometria 24
JOSÉ DE OLIVEIRA SIQUEIRA
28
Luiz MÁRCIO IMENES
Por que o parafuso é sextavado? 30
Luiz MÁRCIO IMENES E JOSÉ JAKUBOVIC
Um problema: resolução & exploração 35
LILIAN NASSER
A Geometria e as distâncias astronômicas na Grécia Antiga 39
GERALDO ÁVILA
O lado romântico da Geometria 47
HlDEO KUMAYAMA
Você sabe ler seu relógio de luz? 49
ERNESTO ROSA NETO
Como é feita sua conta de luz e água 51
HlDEO KUMAYAMA
Atividade ludo-pedagógica 53
MOZART CAVAZZA PINTO COELHO
Nem só Álgebra, nem só Aritmética 55
VlRGOLINA M. VIOTTO
Números
Assunto de aula "adição de números relativos" 59
O problema dos quatros "quatros" 61
Como e quando os alunos utilizam o conceito de proporcionalidade 62
LÚCIA A. DE A TINOCO
Regra de três composta 69
Uso inteligente da calculadora 73
HlDEO KUMAYAMA
Algarismos romanos. Uma aula diferente 76
MARCIA DE OLIVEIRA REBELLO E ROSÂNGELA JORTORA
Mágicas
Adivinhação 78
De ouvido 80
ALEXANDRE KLEIS
INDÍCE
O adivinho indiscreto 81
Polígonos de palitos de sorvete 83
Luiz MARCIO P.IMENES
Uma interpretação geométrica do MMC 85
MÁRIO LÚCIO CARDOSO E OTÂNIO AVES GONÇALVES
Como obter o MDC e o MMC sem fazer contas? 87
MARCELO POLEZZI
Raiz quadrada sem contas ou calculadora 90
JOSÉ LUIZ PASTORE MELLO
Nomogramas (calculadoras de papel) 93
MARCELO ESCUDEIRO HERNANDES
Artesanato e Matemática 98
Luiz MÁRCIO IMENES
Caleidociclos 106
INGO VALTER SCHREINER
Resolvendo fisicamente 1 1 2
ANA CATARINA P. HELLMEISTER E MARIA ELISA E. L. GALVÃO
Varetas, canudos, arestas e ... Sólidos geométricos 1 22
ANA MARIA KALEFF E DULCE MONTEIRO REI
O problema dos cinco discos: sorte ou sabedoria? 1 27
MA-TO FU E ROBERTO ELIAS
Uma lenda: Torre de Hanoi 1 32
RENATE WATANABE
Em que dia da semana foi proclamada a independência do Brasil? 136
PAULO SÉRGIO ARGOLO GONÇALVES
Dominós
Fechando o dominó 142
Alexandre Kleis
O jogo dos dominós (um desafio matemático?) 144
José Lafayette de Oliveira Gonçalves
O jogo dos quadradinhos 146
HELDER DE CARVALHO MATOS
O jogo do Nim - um problema de divisão 151
CARLOS ALBERTO V. DE MELO
A teoria matemática do jogo de Nim 1 53
INEZ FREIRE RAGUENET E MÁRCIA KOSSATZ DE BARRÊDO
Resta-um, Resta-zero, e a operação Nim 1 60
CARLOS AUGUSTO ISNARD, INSTITUTO DE MATÉMATÍCA PURA E APLICADA
O jogo de Euclides 1 63
JOÃO BOSCO PITOMBEIRA
Jogos de Sperner 1 67
JAIME PONIACHIK, ARGENTINA
... probleminhas da seção Problemas 1 71
Resposta dos probleminhas 176
IA Matemátíca
e o caipira
Luiz Márcio Imenes
José Jakubovic
Esta é uma divertida história
de um advogado que com-
pra um sítio e tem proble-
mas com o fornecimento de
água. A negociação da água
de uma nascente na propri-
edade de seu vizinho caipi-
ra envolve um interessante
diálogo sobre como a área
de um círculo varia com seu
raio: uma maneira interes-
sante e atraente de estudar
áreas, além de informar so-
bre o atrito da água nas pa-
redes de um cano.
Esta história tem dois personagens: o caipira e
o advogado e ela me foi contada por um amigo
do advogado. Passou-se há sete ou oito anos nas
proximidades deo Paulo.
Vai lá um dia em que nosso amigo advogado
resolve comprar um sitio, de poucos alqueires, com
a intenção de construir uma casa e nela passar
seus fins de semana. Comoo há nascente no
sitio, resolve mandar cavar um poço, quando fíca
sabendo que seu vizinho, um caipira que ali mora
há muito tempo, tem em sua propriedade uma nas-
cente com água boa e farta. Procura o vizinho e
faz a proposta:
Eu instalo um cano de uma polegada de
diâmetro na sua nascente, conduzo a água para o
meu sítio e lhe pago x reais por mês.
A proposta é aceita na hora.
Passa-se o tempo e o advogado resolve im-
plantar no sítio uma criação racional de porcos e,
para isso, vai precisar de mais água. Volta a pro-
curar o caipira e lhe propõe trocar o cano de uma
polegada por um outro de duas polegadas de diâ-
metro e pagar 2x reais pors a ele.
O caipira escuta a proposta,o dá respos-
ta imediata, pensa, e passados alguns minutos
responde que não aceita a proposta.
Mas, como? - pergunta o advogado. Tem
água sobrando, por queo me vende mais e as-
sim também ganha mais?
É que num tá certo, retruca o caipira, e explica com um gesto.
A água que você me paga
passa por aqui:
e vosmecê que me paga o
dobro.
Acontece que o cano que ocê vai ponha é assim:
Pois é, quem me paga a água que passa por aqui?
E a que passa por aqui?
Com a nossa linguagem a questão fica assim: um círculo de diâmetro 1
cabe 2 vezes num circulo de diâmetro 2 e ainda fica sobrando espaço:
Ou ainda: se o diâmetro de um circulo dobra, sua áreao dobra. Ela
"mais que dobra".
O que o caipirao tinha condições de perceber era que o pagamento correto
seria 4x (quando duas figuraso semelhantes a razão entre suas áreas é igual ao
quadrado da razão entre seus comprimentos correspondentes). Mas para per-
ceber que 2x é pouco, basta visualizar um cano dentro do outro.
Novamente a Matemática e o caipira.
Agora com o professor e o engenheiro
No texto anterior contamos a historinha do advogado e do caipira, em
que este último, usando intuição e bom senso,o aceita o novo paga-
mento proposto pelo advogado, em conseqüência da substituição de um
cano de 1 polegada por outro de 2 polegadas de diâmetro.
Na ocasião, afirmamos que seria correto o advogado pagar 4 vezes mais
ao caipira, porque receberia uma quantidade de água 4 vezes maior.
Após ler o referido artigo, o professor Lindolpho de Carvalho Dias cha-
mou nossa atenção para o seguinte: a área da seção de um tubo com 2 pole-
gadas de diâmetro é, de fato, igual a 4 vezes a área da seção de um tubo com
1 polegada de diâmetro. Mas o volume de água escoado pelo tuboo de-
pende apenas da área; deve-se considerar também o atrito da água nas pare-
des do cano. Esse atrito depende da área lateral do cano. Considerando fixo
o comprimento do cano, o atrito será função apenas do perímetro da seção
transversal, que é um círculo.
No caso do cano de 1 polegada de diâmetro, o perímetro da seção é igual
c polegadas e no caso do cano de 2 polegadas o perímetro é
polegadas. Em quatro tubos de 1 polegada a soma dos perímetros
é 4π polegadas. Portanto em um cano de 2 polegadas o atrito é menor do que
em quatro canos de 1 polegada.
O advogado paga x reais pela água que passa pelo cano de 1 polegada. Se
colocasse 4 canos de 1 polegada pagaria 4x. Colocando um só cano de 2
polegadas deverá pagar mais que 4x pois, como vimos, o atrito neste caso é
menor do que em quatro tubos de 1 polegada. Para determinar o valor corre-
to, o assunto exige conhecimentos de especialistas. Foi assim que procura-
mos o professor Dr. Carlito Pimenta, da Escola Politécnica da USP, que é
engenheiro hidráulico. Ele nos resolveu o problema, mas a resolução é de
difícil compreensão paras queo somos especialistas da área, quanto
mais para o caipira e o advogado. Vale a pena contar que muita Matemática
elementar entrou em cena: funções (de mais de uma variável), gráficos,
logaritmos, um pouco de Geometria, potências (de expoente cinco), raízes
quadradas etc.
Chega-se, por fim, à conclusão de que a vazão em um cano de 2 polega-
das é, aproximadamente, 6,4 vezes maior que em um cano de 1 polegada
(como é grande a influência do atrito neste processo!).
Nem o advogado, nem o caipira (e nem nós, autores deste artigo) imagináva-
mos que o cálculo correto do valor a ser pago necessitasse de tanta Matemática!
A Geometria das
chapas perfuradas
Luiz Márcio Imenes
Esta atividade, proposta pelo
prof. Luiz Márcio Imenes,
utiliza material existente no
cotidiano do aluno, chapas
perfuradas (cercas, portões,
forros, divisórias etc.) para
estudar vários tópicos de ge-
ometria como áreas e me-
didas. Além disso, trabalha
proporção para decidir qual
é a porcentagem de área
perfurada nas chapas de di-
ferentes formatos.
A porcentagem de área perfurada
Ao escrever este artigo tenho em mãos o ca-
tálogo de uma indústria que produz chapas metá-
licas perfuradas de vários tipos. Veja os desenhos
de alguns pedaços dessas chapas:
Essas chapasm usos variados em diversos
tipos de indústrias. Por exemplo,o empregadas
na fabricação de filtros. Você já deve ter visto um
filtro de ar do motor de um automóvel ou cami-
nhão. Alguns deleso deste tipo:
Elesm formato cilíndrico, e sua superfície lateral é feita com uma chapa
metálica cheia de furinhos, por onde passa o ar a ser filtrado.
Estas chapas tambémo usadas como peneiras nas indústrias que pro-
duzem minérios, carvão, papel, cimento, etc.
Dependendo do material a ser peneirado, os técnicos que trabalham com
isto optam por um ou outro tipo de furo. Decidem ainda qual o tamanho do
furo e o espaçamento entre eles. Observando os desenhos das chapas, você
percebe que, em alguns casos, a parte furada da chapa é maior que em
outros. A relação entre a área da superfície furada e a área da superfície
total da chapa, expressa em porcentagem, é chamada, por aqueles técnicos,
de porcentagem de área perfurada. Vejamos um exemplo. Na chapa se-
guinte os furos quadradosm lado 4mm e o espaçamento entre um quadrado
e outro é de 2mm.
Para calcular a porcentagem de área perfurada desta chapa, vamos con-
centrar a nossa atenção num pedaço dela, como por exemplo, o quadrado
ABCD, cujo lado mede 18 mm (confira). Sua área é 324 mm
2
.
No interior do quadrado ABCD temos 9 furos quadrados, logo a área da
superfície furada é: 9 X 4
2
mm
2
= 144 mm
2
.
Portanto a porcentagem de área perfurada desta chapa é:
Este resultado significa que, de cada 100 cm
2
de chapa, temos 44 cm
2
de furos.
Esta porcentagem p de área perfurada é um indicador de quão furada a chapa é.
Pedaços representativos da chapa
Para calcular p elegemos um pedaço da chapa: o quadrado ABCD. Perceba
queo era necessário usar aquele quadrado. Podemos raciocinar sobre qual-
quer pedaço que seja representativo da chapa como um todo, como por exemplo:
Exercícios
1. Calcule p escolhendo como pedaço representativo da chapa um daque-
les apresentados no texto.
2. Tente conceituar melhor o que é um pedaço representativo da chapa.
Pense em transformações (simetrias, translações).
A distância entre os centros dos furos
Observe as duas chapas seguintes. Em ambas, os furos quadradosm
lado de 10 mm. Na primeira o espaçamento entre os quadrados é de 3 mm e
na segunda é de 2 mm. Uma forma cômoda de caracterizar este maior ou
menor afastamento entre os furos é através da distância entre seus centros.
No primeiro caso esta distância é de 13 mm, e no segundo, de 12mm.
Esta é a linguagem usada pelos técnicos que trabalham nesta área: a cha-
pa fica definida por sua espessura, pelo tipo de furo (quadrado, circular, re-
tangular etc), pela disposição dos furos, pelo tamanho dos furos, pela distân-
cia entre seus centros, e pelo material de que é feita a chapa (ferro, cobre,
alumínio etc.).
A necessidade de resultados gerais
Às pessoas que trabalham neste ramo interessa a existência de resultados
gerais que permitam o cálculo da porcentagem/? com rapidez. Por esta razão,
o catálogo a que me referi está repleto de fórmulas e tabelas. Cada uma destas
fórmulas se refere a um tipo de furo: quadrado, retangular, circular, etc. Veja-
mos algumas delas e a sua justificativa. É evidente que no catálogoo consta
esta justificativa. Seus objetivoso outros.
A chapa de furos quadrados
Vamos indicar com / o lado do furo quadrado e com c a distância entre os
centros dos furos. Vamos raciocinar sobre o quadrado ABCD: seu lado é c, sua
área é c
2
. A área perfurada corresponde aos quatro quadradinhos de lado 1/2,
que juntos formam um quadrado de lado /. Logo a área perfurada é P.
Portanto a porcentagem p de área perfurada é:
Exercício
3. Calcule p para a chapa seguinte na qual / = 2,5 mm e c = 4 mm.
A chapa de furos retangulares
Na chapa de furos retangulares vamos indicar por / e L os lados do retângulo.
Seja c a distância vertical entre centros, e C a distância horizontal entre eles.
O restante deixo de presente para você: prove que a porcentagem p de
área perfurada é dada por
Exercícios
4. Calcule a porcentagem de área perfurada da chapa
seguinte, onde:
1=
1,6
mm,
L =
3,6 mm,
c
= 2,4 mm,
e C =
5 mm.
5. Mostre que a fórmula
referente às chapas de furos quadrados, é caso particular da fórmula
referente às chapas de furos retangulares.
A chapa de furos circulares em disposição reta
Na chapa da figura, seja d o diâmetro dos furos circulares e c a distância
entre seus centros.
Raciocinemos no quadrado ABCD. Seu lado é c, logo sua área é c
2
. A
parte furada corresponde aos quatro quartos de círculo de diâmetro d, logo a
área da parte perfurada é
Portanto:
Exercício
6. Calcule p para a chapa seguinte, onde d = 1 mm e c = 1,6 mm.
A chapa de furos circulares em disposição hexagonal
Nesta disposição os centros dos seis furos que circundam um furo qual-
quero vértices de um hexágono regular. Perceba que este hexágono é um
pedaço representativo da chapa toda.
O lado do hexágono destacado na figura é c. Pensando o hexágono como
justaposição de seis triângulos eqüiláteros de lado c, sua área é:
A parte furada, interior a este hexágono, é constituída de um círculo no
centro e mais seis terços de círculo, portanto, ao todoo três círculos de
diâmetro d. Logo a área perfurada é
Portanto:
Exercício
7. Calcule p para a chapa seguinte, onde d = 4 mm e c = 6 mm.
A chapa de furos oblongos
A forma oblonga dos furos, a que se refere o catálogo, é a reunião de um
retângulo com dois semi-círculos. O significado de /, L,c e C está indicado
na figura:
Agora prove que:
Novos problemas
E agora você pode inventar problemas, pensando em furos em forma de
losango, hexágono regular, triângulos eqüiláteros, elipses etc.
Além de jogar com a forma dos furos, você pode variar ainda a sua dispo-
sição, como fizemos com os furos circulares.
Vamos, aceite o desafio!
Encerramento
Para encerrar, duas palavrinhas.
Os conceitos envolvidos nestes problemaso acessíveis a alunos de 8
â
série do ensino fundamental: cálculo de áreas e porcentagens. Convido os
colegas que atuam neste nível de ensino a levá-los para suas aulas de Geo-
metria quando estiverem calculando áreas. Aposto que algum aluno aparece-
rá em sala com um pedaço destas chapas, e que a aula de Matemática dará
mais prazer a todos.
Agora a segunda palavrinha. O catálogo industrial, no qual aprendi estas
coisas que estão neste artigo, me foi presenteado por meu tio Eugênio, que
durante longos anos de sua vida trabalhou em indústrias metalúrgicas. Sem-
pre fazendo de tudo nelas, mas sempre usando Matemática na sua profissão.
Ao se aposentar entregou-me seus livros, revistas, catálogos e apontamen-
tos, dos quais se pode retirar muito material para artigos deste tipo, mostran-
do como a Matemática é importante na vida das pessoas. Ao tio Eugênio,
meu muito obrigado.
Ongami e
geometria
José de Oliveira Siqueira
As dobraduras permitem um
trabalho lúdico com bonitos
resultados visuais eo aqui
utilizadas para comprovar
resultados de Geometria
Plana e para construções
geométricas.
E possível trabalhar períme-
tros, semelhança de triângu-
los e proporcionalidade.
Introdução
Todos nós, sem dúvida, já fizemos um barco,
um chapéu ou um avião de papel. Esta arte tem
um nome: origami. Origami é uma palavra de
origem japonesa, que significa "dobrar papel".
Desde 1876 esta arte faz parte do currículo esco-
lar japonês, e no Brasil, aos poucos, ela vai se
introduzindo no ensino.
O origami pode servir como um simples passa-
tempo nos momentos de lazer; pode ainda ser uti-
lizado como um recurso didático que colabora para
o desenvolvimento da criatividade e da habilidade
manual de crianças.
Para nós, professores de Matemática, o origami
oferece um farto material para descobertas teóri-
cas. É evidente que a teoria surge da observação de
fatos e da colocação de problemas. Um dos proble-
mas práticos do origami é dobrar um quadrado em
um número ímpar de retângulos congruentes. Você
já tentou dobrar um quadrado de papel em 3 retân-
gulos exatamente iguais? Parece fácil. Maso é.
Este artigo tem como objetivo resolver este proble-
ma particular e também generalizar o resultado para
que se possa dobrar um quadrado em um número
qualquer de retângulos congruentes.
Problema 1
Dividir um quadrado de papel em 3 retângu-
los congruentes, usando dobras de papel.
Solução: Pegue uma folha quadrada e siga as instruções:
(a) dobre o papel, fazendo A coincidir com D, e B coincidir com C. Desta
forma ficam determinados E e F, pontos médios de AD e BC;
(b) abra o papel, e agora faça D coincidir com F. Assim construímos um
triângulo retângulo com um cateto CF, e a soma do outro cateto com a
hipotenusa igual ao comprimento do lado do quadrado;
(c) chame de G o ponto de AB, que coincide com um ponto de AD na
nova posição.
Fazendo o mesmo para o segmento DC, podemos obter o ponto H:
Os pontos G e H assim obtidos dividem o lado AB em três segmen-
tos congruentes.
Vamos demonstrar esta afirmação, que é conhe-
cida como teorema de Haga.
Demonstração:
Os triângulos DGB e PDCo semelhantes. Portanto,
Como
então
No APDC, por Pitágoras, temos (PD)
2
= (PC)
2
+ (DC)
2
. Como
PC
+
PD
=
l,
Portanto, temos
Problema 2
Dividir um quadrado de papel em 5 retângulos congruentes usando
dobras de papel.
Deixamos a prova deste resultado por conta do leitor.
Problema 3
Dividir um quadrado de papel em 7 retângulos congruentes, usando
dobras de papel.
J, K, L, Mo pontos médios, respectivamente, de AE, BF, ED, FC.
Pedimos ao leitor, novamente, que demonstre este resultado.
Informamos aos leitores interessados que é possível demonstrar um resul-
tado geral que engloba todos os casos considerados: Sejam ABCD um qua-
drado e E e AB tal que
com m e n naturaiso nulos. Se dobrarmos o quadrado de modo que os
pontos E e C coincidam, então,
sendo F o ponto de encontro de AD e ED', onde D' indica nova posição
de D.
Luiz Márcio Imenes
Um problema prático da
compra de uma mesa, nesta
atividade, suscita a pergun-
ta: Quantas pessoas cabem
numa mesa redonda? Para
respondê-la, trabalha-se-
picos de geometria, como a
área de um quadrado inscri-
to numa circunferência,
comprimentos de arcos, etc
Fernando foi meu aluno em 1973. Encontramo-
nos outro dia, no casamento de um amigo co-
mum. Falávamos da vida, quando ele me contou
esta história.
Na época em que montava seu apartamento,
ele decidiu comprar uma mesa de tampo redon-
do. A que havia na loja era muito grande, mas o
vendedor lhe informou que no depósito havia outra
com 1,10 m de diâmetro. Com receio de que esta,
por sua vez, fosse pequena demais, ele pensou em
fazer alguns cálculos. Será que na volta desta mesa
caberiam, pelo menos, umas 6 pessoas?
Lembrou-se que na fórmula a ser usada apare-
cia o número n multiplicado pelo raio do círculo,
maso sabia se era 3πr,r ou 4πr. Foi então
que lhe ocorreu uma idéia. O quadrado circunscri-
to ao círculo de raio r tem lado 2r e perímetro Sr.
No caso do círculo de 1,10 m de diâmetro este pe-
rímetro é igual a 4,40 m.
O lado do quadrado inscrito no círculo ele
calculou com o teorema de Pitágoras (queo
havia esquecido):
Portanto, o perímetro do quadrado inscrito é igual a
A seguir, ele calculou a média aritmética destes dois perímetros:
Deste modo, obteve o perímetro aproximado (3,75 m) da mesa circular de
diâmetro 1,10 m. Estimando cerca de 60 cm para cada pessoa, ele concluiu que
caberiam 6 pessoas à volta da mesa.
Fernando sabia que a média aritmética dos perímetros dos quadrados
poderiao ser igual ao perímetro do círculo. Mas, para o que desejava,
esta era uma aproximação razoável.
Apenas como curiosidade, vejamos qual é o erro relativo desta aproximação.
Temos:
p = perímetro do círculo =
m = média aritmética dos perímetros dos quadrados =
Sem dúvida, o bom senso de Fernando funcionou bem!
Por que o parafuso
é sextavado?
Luiz Márcio Imenes
José Jakubovic
Nesta atividade os autores
usam parafusos e chaves de
fenda, presentes na realidade
dos alunos, para estudar ân-
gulos internos de polígonos.
E discutida a forma da cabe-
ça de um parafuso que per-
mite melhor funcionalidade
sob diferentes aspectos.
Pode-se pedir aos alunos que
tragam parafusos encontra-
dos em casa para concreti-
zar e enriquecer a atividade.
á deve ter visto parafusos destes tipos:
O mais comum é o primeiro, chamado pelos
mecânicos de sextavado. Repare que sua cabeça
(onde se encaixa a chave para apertá-lo ou
desapertá-lo) é um poliedro: trata-se de um prisma
regular hexagonal.
Certa vez vimos um parafuso especial de uma-
quina, cuja cabeça era um prisma regular triangular:
Por queo existem (pelo menos nunca vimos)
parafusos pentagonais ou octogonais?
Em todos estes tipos de parafusos o polígono
presente é sempre regular, e é fácil perceber a
razão disto. Seria inconveniente apertar e desa-
pertar um parafuso em cuja cabeça figurasse um
polígonoo regular. A chave precisaria ser es-
pecial para aquele parafuso e ela voltaria a se
encaixar na cabeça do mesmo, somente após uma
rotação de 360°.
Se o polígono da cabeça do parafuso é um qua-
drado, após uma rotação de 90°, o parafuso volta
à posição original, podendo-se encaixar outra vez
a chave para um novo giro.
Deste modo, com quatro giros de 90°, a rosca dá um passo.
No caso do parafuso triangularo necessários três giros de 120° para
completar uma volta na rosca.
Com o parafuso sextavado completamos um passo da rosca após seis
giros de 60° cada um.
Quando um mecânico está concertando um defeito qualquer numa máqui-
na - por exemplo, um automóvel - muitas vezes ele tem pouco espaço para
trabalhar (em geral em posições desconfortáveis). Por esta razão, dos três
parafusos apresentados, o mais cômodo é o hexagonal, pois é o que pode ser
apertado ou desapertado com giros menores (60°), isto é, com movimentos
mais curtos do braço.
Observe que este ângulo de giro a que estamos nos referindo é o ângulo
central do polígono regular.
A medida do ângulo central do polígono regular de n lados é:
e, se é conveniente que o ângulo central do polígono seja "pequeno" nos
parafusos, por queo usar polígonos com maior número de lados? Um
octógono, por exemplo? Neste caso, o ângulo de giro seria de apenas 45°.
Sem dúvida, sob este aspecto, o octógono é mais conveniente que o hexá-
gono. Entretanto há outros fatores que pesam no projeto de um parafuso.
Um octógono regular está mais próximo do círculo que o hexágono regular
O ângulo interno do hexágono regular mede 120°, e o do octógono regular,
135°. A chave usada para apertar ou desapertar um parafuso nunca se ajus-
ta perfeitamente à sua cabeça. Sempre existe uma folguinha. Com o uso, a
tendência da cabeça é sofrer um arredondamento (dizemos que a cabeça do
parafuso fíca espanada). Sob este aspecto o polígono mais adequado é o
triângulo (é o que mais se afasta do círculo, é o que tem o menor ângulo
interno: 60°).
Perceba que, numa linguagem pouco precisa, mas muito significativa, o
hexágono fica mais ou menos no meio termo quando consideramos estes dois
fatores: giro pequeno e dificuldade para o espaçamento.
Mas por queo um parafuso pentagonal? O pentágono é próximo do
hexágono. Sob aqueles dois aspectos apresentados, o pentágono possui pro-
priedades próximas das do hexágono.
Para compreender porqueo existem parafusos pentagonais, é preciso conside-
rar outro aspecto. No hexágono regular existem lados opostos paralelos, e o mesmo
o ocorre no pentágono regular.
Isto significa que a chave usada para o parafuso hexagonal tem, no encai-
xe, bordos paralelos, o que facilita o ajuste da chave à cabeça do parafuso.
Para parafusos pentagonais poderíamos ter dois tipos de chaves.
A primeira tem a desvantagem de "escapar" com facilidade e a segunda
só se encaixaria na cabeça do parafuso com este movimento:
eo com este:
o que é incômodo para o mecânico. A primeira das chaves pentagonaiso
apresenta esta desvantagem, mas como dissemos, "escapa" com mais facili-
dade da cabeça do parafuso.
Em resumo, no projeto de parafusos com cabeças prismáticas, o polígono
regular da base deve ser escolhido levando-se em conta:
1. seu ângulo central (giro pequeno);
2. seu ângulo interno (espanamento da cabeça);
3. existência de lados paralelos (encaixe da chave).
Estes critérios fazem do hexágono regular (parafuso sextavado) o polígono
mais adequado.
resolução & exploração
Lilian Nasser
Geometria mais prontidão
e criatividade para resolver
problemaso exploradas
nesta atividade que discute
o uso de um pedaço retan-
gular de vidro para obter pe-
daços triangulares, evitando
bolhas que há no vidro.
Introdução
Muito se tem propagado nos últimos anos sobre a
Resolução de Problemas como um método ideal
para desenvolver o raciocínio e para motivar os
alunos para o estudo da Matemática. O que ve-
mos em nossas salas de aula e nos livros-texto, no
entanto,o listas intermináveis de problemas,
quase sempre do mesmo tipo e que podem ser
resolvidos "conforme o modelo". É claro que isto
o propicia o desenvolvimento do raciocínio das
crianças e, ao invés de motivá-las, cria nelas, ati-
tudes negativas em relação à Matemática.
Na tentativa de reverter esta situação, o pro-
fessor pode desenvolver o processo ensino-apren-
dizagem sob a forma de desafios e, em aulas
especiais, propor problemas interessantes, que pos-
sam ser "explorados", eo apenas resolvidos.
"Explorar" um problema significa procurar so-
luções alternativas, além da natural, e analisá-lo sob
diferentes pontos de vista matemáticos. Assim, um
mesmo problema pode ter uma resolução aritméti-
ca e outra algébrica ou geométrica, ou pode ser
resolvido por uma estratégia (heurística), sem o uso
de algoritmos ou de conhecimentos matemáticos
específicos. É evidente que isso nem sempre será
possível com qualquer problema e, nas primeiras
séries, a "exploração" deve ser conduzida pelo pro-
fessor com cuidado especial. Problemas ideais para
serem "explorados"o os chamados "problemas
Um problema;
de processo", ou seja, aqueles queo podem ser resolvidos apenas pelo uso de
uma ou mais operações, mas requerem o uso de uma estratégia adequada.
Além disso, depois que o aluno "compreende" realmente o problema e sua(s)
resolução(ões), deve ser incentivado a explorar extensões e variações do mes-
mo problema, sugeridas no início pelo professor e, depois, pela própria turma.
Um exemplo
Para ilustrar essa tese, vejamos como pode ser "explorado" o seguinte
problema:
Para construir uma janela ornamental, um operário precisa de pe-
daços triangulares de vidro. Ele pretende aproveitar um vidro retangu-
lar defeituoso, com 10 bolhas de ar, sendo que não há 3 bolhas alinhadas
entre si, nem duas delas com algum vértice do retângulo, ou uma delas
com 2 vértices do retângulo.
Para evitar bolhas de ar no seu projeto
final, ele decidiu cortar os pedaços trian-
gulares com os vértices coincidindo ou com
uma bolha de ar, ou com um dos cantos do
vidro original. Quantos pedaços triangu-
lares ele cortou?
Inicialmente, o aluno deve entender como será cortado o vidro. É claro
que issoo é imediato com 10 bolhas! A estratégia a ser usada, então,
pode ser:
Resolver um problema mais simples
Tentando fazer os cortes nos casos de 1 bolha, 2 bolhas, 3 bolhas,..., q aluno
é levado a perceber que o número de triângulos depende do número de bolhas.
Observa-se que, para o mesmo número de bolhas, há mais de uma confi-
guração possível. Se o número de triângulos depende apenas do número de
bolhas, é preciso procurar algumas propriedades para cada caso.
Por exemplo, com 2 bolhas, temos:
A cada bolha é vértice de 4 triângulos. Será que em todas as configurações
isso acontece? Tente outras configurações para verificar.
A cada bolha é vértice de, no mínimo, quantos triângulos? E no máximo?
A cada canto do vidro original é vértice de quantos triângulos?
Tente relacionar algumas perguntas semelhantes para o caso de 3 bolhas.
Depois disso, a estratégia pode continuar da forma seguinte:
Procurar uma lei de formação e generalizar
Dependendo do nível dos alunos, eles percebem que uma bolha adicional
gera a transformação de um triângulo em 3 novos triângulos, isto é,o cria-
dos mais dois triângulos.
A partir disso, a lei de formação pode ser encontrada através da
Construção de uma tabela:
Concluímos, então, que a lei de formação é 2n + 2, e a resposta do proble-
ma é: 22 pedaços triangulares.
Solução Geométrica (a partir da 7ª série)
Como a soma das medidas dos ângulos internos de um triângulo é 180°, e
o número de triângulos independe da maneira como se decompõe o vidro, a
soma S das medidas dos ângulos internos de todos os triângulos é 180° vezes
o número de triângulos.
Por outro lado,
S = [soma das medidas dos ângulos em torno de cada bolha] + [soma das
medidas dos 4 ângulos retos dos vértices do vidro retangular]
Logo, o número de triângulos será:
Forma geral com n bolhas:
Exploremos, agora, algumas extensões do problema:
1) Resolva o mesmo problema com um vidro triangular.
2) Resolva o mesmo problema com um vidro em forma de pentágono.
3) Com n bolhas, considere o vidro original em forma de m-ágono. Você é
capaz de obter uma regra geral para o número de triângulos obtidos? (Ten-
te a solução geométrica. A resposta é 2n + m - 2.)
4) A resposta do problema seria diferente se o vidro original tivesse a
forma de um quadriláteroo regular?
5) Que aconteceria se, no lugar de triângulos, quiséssemos cortar o vidro em
forma de w-ágonos?
Observação final
Para que o professor possa levar seus alunos a "explorar" os problemas, ele
deve ter sempre, eo só durante a atividade de resolução de problemas, atitu-
des que criem neles espírito crítico e inovador. Exemplos de tais atitudes são:
- dar chance aos alunos de tentar estratégias de solução por si próprios;
- aproveitar as idéias dos alunos, mesmo queo levem à resposta certa
(não usar apenas o certo ou errado como parâmetros de correção);
- deixar que eles criem perguntas, visando à compreensão do problema (ao
invés de receber respostas prontas para perguntas queo fizeram);
-o mostrar soluções prontas e arrumadas, mas deixar que eles sintam
todo o raciocínio desenvolvido até chegar a elas. -
A Geometria e as
distâncias astronômicas
na Grécia Antiga
Geraldo Ávila
Qual é o mais distante: o
Sol ou a Lua? Quais os ta-
manhos da Terra, Sol e Lua?
A busca das respostas à es-
sas perguntas intrigantes
motivam o estudo de ângu-
lo, proporções ou relações
no triângulo retângulo.
Além disso, esta atividade
privilegia a interdiscipli-
naridade, discutindo o ciclo
lunar, eclipses, movimentos
da Lua e da Terra etc. sem-
pre dentro do contexto his-
tórico dos cálculos feitos
por Aristarco, Eratóstenes
e Ptolomeu.
Os tamanhos do Sol e da Lua e as distancias des-
ses astros à Terra já eram calculados na antiguida-
de, séculos antes de Cristo; mas poucas pessoas
sabem como eram feitos esses cálculos. Eles se
baseiam em idéias queo muito simples e geniais,
ao mesmo tempo em que estão intimamente liga-
das a noções fundamentais de Geometria - como
semelhança de triângulo e proporcionalidade -, ser-
vindo, pois, como excelente motivação ao estudo
dessa disciplina. Por isto mesmo essas questões
devem ser divulgadas, já que elas aindao apare-
cem nos livros de ensino fundamental e médio.
Qual o mais distante: o Sol ou a Lua?
Para constatar que o Sol está mais distante da
Terra que a Lua, basta observar atentamente as
várias fases da Lua. Se ela estivesse mais longe
des que o Sol, então, por simples análise de suas
várias posições relativamente ao Sol e à Terra (a
Figura 1 ilustra quatro dessas posições), concluí-
mos que ela estaria sempre iluminada pelo Sol quan-
do vista da Terra. Em particular,o haveria lua
nova! E haveria duas posições da Lua, em 1 e em
3, onde ela seria lua cheia - esta última em pleno
meio-dia, o que nunca acontece realmente. A hi-
pótese contrária, de que o Sol está mais distante da
Terra que a Lua, é a única compatível com as vári-
as fases da Lua, em particular com a ocorrência de
luas novas. Outro fato a corroborar esta hipótese é
a ocorrência de eclipses do Sol, que sóo possí-
veis com a Lua mais próxima da Terra que o Sol.
Quão mais distante?
A idéia de Aristarco
Para descobrir quão mais distante que a Lua se encontra o Sol, devemos
aprofundar um pouco mais nossa observação do ciclo lunar. O que vamos
descrever agora é o método que o sábio grego Aristarco de Samos (séc. III
a.C), da escola de Alexandria, usou para comparar as distâncias da Terra à
Lua e da Terra ao Sol.
Existem duas posições da Lua em sua órbita, o "quarto crescente" e o
"quarto minguante", quando o disco lunar apresenta-se, para um obser-
vador terrestre, com metade iluminada e outra metade escura (Figura 2).
Quando isso acontece, o triângulo Terra-Lua-Sol é retângulo, com ângulo
reto no vértice ocupado pela Lua. Qualquer pessoa pode fazer uma obser-
vação simples e notar que nessa configuração o ângulo a = LTS (Figura 3)
é muito próximo de 90°, indício de que o Sol está efetivamente muito mais
longe da Terra que a Lua. Esse fato é facilmente notado ao nascer e ao
r do Sol, evidentemente com a Lua em quarto crescente ou quarto
minguante (meia-lua), como ilustra a Figura 3. Aristarco teria medido
esse ângulo a, encontrando para ele o valor de 87°. Então, o ângulo
(3 = LTS seria de 3
o
. Basta agora construir um triângulo retângulo com
esses ângulos e verificar o valor da razão TS/TL, que é a mesma para
todos os triângulos a ele semelhantes. Aristarco verificou que essa ra-
o estava compreendida entre 18 e 20, de sorte que a distância da
Terra ao Sol é cerca de vinte vezes a distancia da Terra à Lua.
Voltemos a considerar o problema de medir o ângulo a (Figura 2). Na
verdade é mais fácil calcular esse ângulo do que medi-lo diretamente. Bas-
ta observar o tempo gasto pela Lua para completar uma volta em torno da
Terra e o tempo de passagem de minguante a crescente; com estes dados
uma proporção simples resolve o problema. O ciclo lunar dura 29,5 dias e,
ao que tudo indica, Aristarco teria observado que a passagem de minguan-
te a crescente durava 14,25 dias, um dia menos que a passagem de cres-
cente a minguante. Admitindo uma velocidade uniforme da Lua em sua
órbita, os ângulos descritos pelo seu raio vetoro proporcionais aos tem-
pos gastos nos deslocamentos correspondentes. Então, com referencia à
Figura 2, podemos escrever
donde podemos a = 86,57°, portanto,
É preciso que se diga que o resultado de Aristarco está muito longe do
valor correto, pois sabemos hoje que a distância da Terra ao Sol é cerca de
400 vezes a distancia da Terra à Lua. Em conseqüência, o ângulo a está
próximo a 89,86°, portanto muito perto de 90
o
! Os raios solares que se
dirigem à Terra à Luao praticamente paralelos. Istoe o problema de
explicar como Aristarco teria chegado ao calculo de a . Ao que parece,
a diferença que ele teria notado entre o tempo gasto pela Lua numa volta
completa em torno da Terra e o tempo para ir de minguante a crescente
se deve à peculiaridade do movimento da Lua naquela época.
Tamanhos do Sol e da Terra
Aristarco observou que o Sol e a Luam o mesmo "tamanho angular".
Em outras palavras, o ângulo 2a, sob o qual um observador terrestre vê o
Sol, é o mesmo sob o qual ele vê a Lua (Figura 4). Esse fato, aliás, é
comprovado pela observação de um eclipse total do Sol. Realmente, quan-
do ocorre tal eclipse, o disco lunar coincide com o disco solar, encobrindo-
o por inteiro.
Aristarco estimou o ângulo 2a da Figura 4 como sendo; na verdade ele
é de cerca de apenas 0,5°. Mas isto, como o leitor deve notar,o prejudica o
resultado que obteremos a seguir, baseado na semelhança dos triângulos TLL'
e TSS'. Esta semelhança nos permite escrever
isto é, os raios do Sol e da Lua estão entre si como as distancias TS e TL,
respectivamente. Mas, pelo que vimos anteriormente,
de sorte que SS' = 20 LL', segundo Aristarco, ou seja, o raio do Sol é
aproximadamente vinte vezes o raio da Lua.
Tendo em vista referências futuras, vamos resumir aqui resultados já obti-
dos. Sejam D
s
= TS (Figura 4) a distância da terra ao Sol, D
L
= TL a distância
da Terra à Lua, R
s
= SS' o raio do Sol, e R
L
= LL'o raio da Lua. Então:
Relações com o raio da Terra
Para relacionar as distâncias e os tamanhos do Sol e da Lua a raio da
Terra, Aristarco observou o que acontece durante um eclipse da Lua, quando
este satélite atravessa o cone de sombra da terra (Figura 5). Pelo tempo
gasto nessa travessia, ele calculou que o diâmetro do cone de sombra da
Terra, na altura da Lua, era 8/3 do diâmetro da Lua.
Na Figura 6, L, T, So os centros da Lua, da Terra e do Sol, respectiva-
mente; LH = R
L
, TC = R
T
e SA = R
s
o os respectivos raios; LD é o raio do
cone de sombra da altura da Lua, de sorte que LD = 8R
L
/3. Da semelhança dos
triângulos DFC e CEA resulta:
Mas
Substituindo estes valores na igualdade anterior,
Da seção anterior temos que
de sorte que a igualdade anterior pode ser escrita na forma
Daqui segue-se que
ou ainda
Então,
Deste modo, substituindo a = tg 1
o
= 0,017 e b = 20, podemos obter as
quatro grandezas, D
L
, D
s
, R
p
e R
L
, em termos do raio da Terra R
t
com os
dados de Artistarco:
Ao contrário, com os valores mais corretos a = tg 1/4° = 0,0044 e
b = 400, encontramos valores bem próximos dos valores modernos:
Os cálculos que vimos descrevendo encontram-se num livro de
Aristarco, intitulado Sobre os tamanhos e distâncias do Sol e da
Lua. Esta é a única obra de Aristarco que chegou até nós. Dela existe
uma primorosa edição comentada, com uma história da Astronomia Grega
até os tempos de Aristarco, devida ao eminente historiador da ciência,
Thomas Heath.
Eratóstenes e o raio da Terra
Pelo que vimos até agora, basta saber o raio da Terra para podermos
calcular os tamanhos e as distâncias a que se encontram o Sol e a Lua.
Foi Eratóstenes (276-196 a.C), outro sábio de Alexandria, quem fez o
cálculo do raio da Terra mais célebre da antiguidade. Era sabido que quando
o Sol se encontrava mais ao norte (solstício de inverno, para nós, habitan-
tes do hemisfério Sul), os raios solares caíam verticalmente, ao meio dia,
na localidade de Siene, hoje Assua, pois a imagem do Sol podia ser vista
refletida nos poços mais fundos daquela cidade. Ao mesmo tempo, em
Alexandria, os raios solares caiam inclinadamente, fazendo um ângulo
aproximado de 7,2° com a vertical (Figura 7), ou seja, 1/50 da circunfe-
rência completa, que é de 360°. Como os raios solareso praticamente
paralelos, isso significa que o ângulo central ACS também mede 7,2°. Pe-
la proporcionalidade entre arcos e ângulos,
Figura 7
onde R é o raio da Terra. Como a distância AS de Alexandria a Siene era co-
nhecida e igual a 5 000 estádios, podemos calcular a circunferência terrestre:
O valor atual, no equador, é de 6378 km, mostrando que o resultado de
Eratóstenes é bastante razoável.
Ptolomeu e a distância da Terra à Lua
O lado romântico
da Geometria
Hideo Kumayama
A construção de cai-
xas em formato de
coração utiliza o
comprimento da cir-
cunferência e a com-
paração de medidas.
No ano letivo de 2001, nas turmas de 8
a
série,
valendo-me da proximidade do dia das mães, re-
solvi propor a seguinte atividade:
Numa folha de papel cartão/cartolina, cons-
truir dois semicírculos com o diâmetro nos dois
lados consecutivos de um quadrado e recortar.
Os alunos ficaram perplexos com o resultado!
"Coração, professor!" Afirmaram.
Assim, eles aprenderam esse novo modo de
construir um coração! Uns dobraram uma folha
ao meio e construíram cartões com formato de
um coração.
Outros mais ousados queriam fazer caixas com
formato de coração e perceberam que era neces-
sário a medida do comprimento da folha para cons-
truir a parte lateral da caixa. A largura da folha
determinaria a altura da caixa.
De repente, Carina, balbuciou: "Comprimen-
to da circunferência mais dois lados do quadra-
do, professor!"
Carina fez duas caixas: numa delas partiu de
um quadrado de 146 mm e noutra partiu de um
quadrado de 150 mm, assim a caixa maior serviu
de tampa. Perguntei a finalidade da caixa e Carina disse que iria presentear
ae com um CD.
Poderia ter provocado outros desdobramentos, como construir uma caixa
coração para transferir os bombons de uma caixa prismática de base retangu-
lar (daquelas que normalmente encontramos nos supermercados). Essa situa-
ção envolveria cálculo de volumes.
Uma outra atividade interessante: construir dois triângulos equiláteros in-
vertidos e concordar arcos de 60° (raio igual metade do lado) e arcos de 180°
(raio quarta parte do lado)!
Poderemos investigar muita geometria nessa romântica figura.
Você sabe ler
seu relógio de luz?
Este texto e o próximo per-
mitem uma atividade que
traz para a sala de aula as
"contas de luz e água", que
fazem parte do nosso cotidi-
ano, mas são, na verdade,
um grande enigma para a
maioria da população.
A compreensão da leitura do
relógio de luz está intima-
mente ligada à compreensão
do sistema posicionai. O tra-
balho aqui proposto pode ser
desenvolvido em sala de
aula desde a 5
a
série. Para
esta atividade sugere-se que
o professor peça aos alunos
que façam e tragam para a
escola a leitura dos relógios
de luz e contas de água de
suas casas.
Ernesto Rosa Neto
Com o racionamento de energia, para evitar uma
multa injusta, precisei entrar em contato com a
prestadora de serviço, que me pediu a leitura do
relógio, que se apresentava assim:
Liguei e passei a leitura feita para a pessoa
que me atendeu: 6184.
Ela me disse que precisava saber exatamente onde estava cada ponteiro.
Se o primeiro número 6 era exatamente 6 ou entre 6 e 7, mais perto de qual.
Eu lhe disse que decorara os relógios e poderia dar-lhe essas respostas. Ela
se admirou e perguntou onde - ficava o primeiro ponteiro. - "Fica entre o 6 e
o 7, mais próximo do 6". Numa escala de 0 a 10 fica no 1, entendeu? - "Claro,
disse ela!" "E o segundo ponteiro?" - Fica entre o 1 e o 2. Numa escala de 0 a
10 fica no 8. O terceiro fica entre o 8 e o 9 e na mesma escala fica no 4. O
último fica no meio, entre o 4 e o 5. - Caramba! Que memória boa o senhor
tem! - E, respondi-lhe," o raciocínio é péssimo, mas tenho uma memória foto-
gráfica fabulosa".
A posição do último ponteiro eu chutei, porque representava pouco, eu
o tinha um quinto algarismo para os décimos eo queria voltar ao reló-
gio poro pouco. Além do mais, as informações que deio estavam
rigorosas. Seria mais correto dizer que o primeiro número estava entre 6 e
7 e, numa escala de 0 a 1000, ficava no 184.
Incrível, as pessoas usam o sistema posicionai todos os dias, maso o
conhecem. Como será o treinamento dos atendentes? No boleto de cobran-
ça vem o desenho dos quatro relógios sem ponteiros, um campo para cinco
dígitos e o pedido: ... anote a posição dos ponteiros ou assinale os nú-
meros... A prática deve ter mostrado a eles que as pessoaso sabem
efetuar a leitura, por isso colocaram a opção do desenho: o sintético é mais
fácil que o analítico.
Como é feita sua conta
de luz e água
Hideo Kumayama
Os medidores de consumo de energia elétrica,
s e água, o hodômetro de um carro, as antigas
máquinas registradoras - que em muitos lugares
aindao usadas nos caixas de supermercados e
casas comerciais em geral, utilizam os princípios
do sistema de numeração decimal.
Farei aqui algumas considerações sobre a leitu-
ra dos medidores de consumo de energia elétrica.
A figura acima ilustra o esquema do mostra-
dor de um medidor, onde o consumo é dado em
kWh (quilowatt-hora). Esse esquema é cópia do
verso de uma conta de luz: seus quatro ponteiros
indicam, na ordem em que aparecem, os algaris-
mos 5-7-0-3. Portanto, para fazer a leitura
corretamente basta anotar, na ordem em que apa-
recem, um algarismo para cada ponteiro, toman-
do o de menor valor dentre os dois entre os quais
se encontra o ponteiro (ou o 9, se o ponteiro es-
tiver entre 0 e 9).
E preciso atenção especial quando determinado ponteiro está muito próxi-
mo do zero.
Neste caso, o ponteiro precedente também estará próximo de certo alga-
rismo. Na, ilustração seguinte, à esquerda, por exemplo, o ponteiro da direita
ou aindao atingiu o zero - e neste caso o ponteiro precedente tambémo
chegou no 3, e a leitura é 29 -, ou o ponteiro da direita já atingiu o zero, o da
esquerda está no 3, e a leitura é 30.
Por que, no caso do medidor de energia elétri-
ca, os sentidos de rotação dos ponteiroso
alternadamente para a direita e para a esquerda?
Muito simples: isso se deve ao fato de estarem li-
gadas entre si as engrenagens de um par de engre-
nagens adjacentes, de forma que elasm de girar em
sentidos contrários (veja a figura).
Por que um ponteiro à esquerda gira mais devagar ou parece mesmo
estar parado, em comparação com o ponteiro logo à sua direita? A explicação
aqui também é simples e é devida a um fato fundamental do sistema decimal
de numeração: dez unidades fazem uma dezena, dez dezenas fazem uma
centena etc. Assim, é preciso que um ponteiro dê uma volta completa para
que o ponteiro logo à sua esquerda passe de um algarismo ao seguinte; em
outras palavras, a velocidade de um dado ponteiro é dez vezes a velocidade
do ponteiro logo à sua esquerda.
A figura à esquerda ilustra um medidor de con-
sumo de água, e a leitura é 1 537,5 m
3
.
Atividade
ludo-pedagógica
Mozart Cavazza Pinto Coelho
Esta brincadeira envolve co-
nhecimento de potência e
deve ser proposta após o es-
tudo desse conceito. Desen-
volve a habilidade com
números e operações arit-
méticas.
Instrução
Completem os espaços nas frases seguintes
e, à medida que forem achando as respostas, li-
guem os pontos correspondentes às respostas na
folha anexa. No final formará uma figura. Que
FIGURA é essa?
Nem so Álgebra,
nem so Aritmética
Virgolina M.Viotto
Os problemas apresentados
aqui podem ser soluciona-
dos, utilizando sistemas (duas
equações lineares e duas in-
cógnitas) ou apenas uma
equação e uma incógnita
(que é a solução sugerida). É
interessante apresentá-los e
discutir as possíveis solu-
ções quando o aluno inicia
o estudo de equações linea-
res. Podem ser abordados
mais tarde enfatizando a idéia
de que o importanteo é
saber a regra, mas ter enten-
dido o raciocínio.
Este artigo se inspira na linha de que se pode en-
sinar Matemática, no primeiro grau, por meio de
dados simples tirados de fatos da vida cotidiana,
evitando que um Simbolismo exagerado leve à fuga
do concreto e ameace tornar as aulas enfadonhas.
Acreditamos que ao partir de situações con-
cretas, impedimos que o aluno se escravize às
operações e às regras, estimulando-o a refletir
sobre um problema, eo somente sobre que ope-
rações executar para resolvê-lo.
Nessa direção, apresentamos sugestão de novo
enfoque para 5 problemas que, nessa ou noutra
versão,o comumente estudados em sala de aula.
Tentaremos ainda mostrar, nos exemplos, como
um desenho da situação descrita em um problema
pode ajudar na busca da solução.
Exemplo 1
Calcular dois números, dadas sua soma e
diferença.
Sabendo que para determinar o menor deles
basta dividir por 2 a diferença dos números dados,
o estudante poderá sair-se bem em um exame. Mas
o que restará quando a regra tiver sido esquecida?
Nossa sugestão é apresentar o problema numa
situação concreta:
Mário e Roberto têm juntos 45 bolinhas.
Mário tem 7 bolinhas a mais do que Roberto.
Quantas bolinhas tem cada um?
Pode-se encenar o problema dando a dois alunos da classe 45 objetos
(bolinhas, feijões, ou o que estiver ao alcance) e pedir que eles os dividam
entre si, nas condições do problema. A classe toda será convidada a partici-
par e todas as sugestões serão analisadas. Eventualmente a classe percebe-
rá que, dando inicialmente ao Mário as 7 bolinhas que ele possui a mais do
que Roberto e, em seguida, repartindo em partes iguais as bolinhas restantes,
o problema estará resolvido.
(Posteriormente, pode-se dar ao problema um tratamento mais abstrato:
Se x for o número de bolinhas de Roberto,
O desenho pode ser um grande auxiliar no ensino de Matemática, mesmo
fora da Geometria.
Quem jáo viu o problema folclórico:
Exemplo 2
Um tijolo pesa um quilo mais meio tijolo. Quanto pesa um tijolo inteiro?
O seguinte desenho fala por si:
Se um quilo está no lugar de meio tijolo, meio tijolo pesa um quilo. Logo, o
tijolo inteiro pesa 2 quilos.
Exemplo 3
Se Paulo comprasse revistinhas de R$ 15,00 cada, ficaria com
R$ 10,00 sobrando. Se comprasse o mesmo número de revistinhas porém
de RS 18,00 cada, ficariam faltando R$ 2,00. Quantas revistinhas Paulo
pretende comprar?
Figura 2
Para trocar as revistinhas de R$ 15,00 por revistinhas de R$ 18,00, Paulo terá
que pagar R$ 3, 00 a mais por revistinha.o tendo dinheiro suficiente, poderá
tomar emprestados os R$ 2,00 que faltam e efetuar a troca (Figura 2). Como
tinha R$ 10,00, tomando emprestados mais R$ 2,00, ficará com R$ 12,00. Quantas
vezes R$ 3,00 estiverem contidos em R$ 12,00,o quantas revistinhas poderá
comprar, isto é, 4 revistinhas de R$ 18,00.
("Algebrizando": se x for o número de revistinhas,
Exemplo 4
Uma torneira enche um tanque em 7 horas. Outra o enche em 8 horas.
Abrindo ambas ao mesmo tempo, em quanto tempo o tanque estará cheio?
Se uma torneira enche o tanque em 7 horas, em uma hora encherá um sétimo
do tanque. A segunda torneira, em uma hora, encherá um oitavo do tanque. As
duas juntas, em uma hora, encherão
do tanque. Quantas vezez 15/56 do tanque estiverem contidos na unidade (tan-
que) serão quantas horas levarão ambas as torneiras para encher o tanque, isto é:
Ou seja, levarão 3 horas, ou 3 horas e 44 minutos.
Exemplo 5
Num quintal há galinhas e coelhos, ao todo 12 cabeças e 34 pés.
Quantos animais de cada espécie no quintal?
Ao todoo 12 cabeças:
Observação final
Durante muitos anos, no ensino fundamental, predominavam as seguin-
tes atitudes:
até a 5
a
série, problemas eram resolvidos com o uso, apenas, da Aritmética;
da 6
a
série em diante, com a introdução da Álgebra, os problemas passavam
a ser resolvidos, exclusivamente, por processos algébricos.
E nossa opinião que o raciocínio aritmético (nos exemplos, apoiado por
figuras) deva continuar sendo cultivado, mesmo após a introdução da Álge-
bra, ou seja, nem só Álgebra, nem só Aritmética.
Se cada animal tivesse dois pés, teríamos, ao todo, 24 pés, ou melhor, represen-
tamos duas pernas para as galinhas e as duas pernas trazeiras dos coelhos:
Maso 34s ao todo. Os 10 restantes, 2 a 2, correspondem a coelhos:
Números
Assunto da aula "adição de números relativos"
A primeira atividade "concre-
tiza" a noção de número ne-
gativo e a operação de adi-
ção com esses números. É
interessante para ser propos-
ta logo que os números ne-
gativos forem introduzidos.
A segunda pode ser propos-
ta desde a 5
a
série, como
um desafio. Ao longo do
ano pode-se propor aos es-
tudantes que tragam novas
soluções, discutam os casos
mais difíceis...
O público: cerca de 40 garotos de 11 a 12 anos.
Na classe, 5 fileiras de 8 carteiras.
No início da aula o professor pediu um pequeno
deslocamento das carteiras para que a cada fileira
correspondesse um corredor, como no esquema ao
lado. Em seguida, pediu que uma reta numerada fos-
se desenhada, com giz, no chão de cada corredor e
nela se representassem os números de - 10 a + 10.
O primeiro jogo que o professor ensinou foi o
seguinte:
- Um aluno coloca-se na marca do "0",
- Outro aluno dá uma instrução do tipo "ande -
3", o aluno que estava no "0" anda até " - 3".
- Outro aluno vai para o "0", a ordem "ande 5"
faz com que ele se desloque até +5.
- Rapidamente todos aprenderam o jogo.
A brincadeira seguinte envolvia 3 alunos de cada
fileira (os outros controlavam) e consistia no seguinte:
- um lº aluno se colocava na marca do zero,
- um 2º aluno dava as ordens,
- um 3º aluno registrava no quadro negro, dividido em 5 colunas, o que esta-
va sendo feito.
O 2º aluno dava ordens do tipo: "ande - 2 e depois ande - 4 e diga
onde parou".
O lº aluno executava as ordens e dizia: "- 6".
O 3º aluno escrevia:
(-2) + (-4) = (-6). Isto era repetido:
"ande - 3, depois + 5 e diga onde parou" - resposta: +2 - registrava-se:
(-3)+ (+5) = (+2)
A brincadeira continuou bastante tempo, com envolvimento total da classe.
(Disse-me o professor que, às vezes, dividia cada fileira em 2 times: um time
dando as ordens, e o outro executando e registrando os resultados. Quando al-
guém errava, os times trocavam de papel).
Uns 10 minutos antes de terminar a aula, o professor pediu silêncio, dizen-
do que agora era a vez de ele entrar na brincadeira.Desenhou no quadro
negro a reta numerada.
e perguntou à classe:
"Quanto é - 4 + 7?"
Foi muito interessante observar o movimento que os garotos faziam com
os dedos:
e o grito: +3.
Disse-me o professor que nas aulas seguintes sempre desenhava a reta
numerada no quadro negro mas, cada vez menos alunos precisavam mover
o dedo para chegar ao resultado de uma adição. Aparentemente, os alunos
o percebendo como efetuar as adições, sem que jamais o professor preci-
se dar a receita: "sinais iguais, soma e dá o sinal comum; sinais diferentes..."
O problema dos quatro "quatros"
A primeira vez que vi o problema dos quatro "quatros" foi como aluna de colégio.
O problema pedia que se escrevessem todos os números inteiros de 1 a
100 com quatro "quatros".
Já como professora de Matemática, e durante muitos anos, nem meus
alunos, nem eu, conseguíamos escrever 33 e 41 com quatro "quatros".
Mas, eventualmente, de tanto propor o problema, um aluno, um dia, trouxe
uma solução:
e anos mais tarde, outro descobriu que
Como e quando os
alunos utilizam
o conceito de
proporcionalidade
Lúcia A. de A. Tinoco
A seguir temos o relato de uma experiência rea-
lizada com alunos da 7- série trabalhando a noção
de proporção e apresentando as dúvidas, inter-
pretações e modos de resolver que ocorreram aos
alunos envolvidos. A proporcionalidade é um dos
conceitos matemáticos mais presentes na vida,
todas as pessoas passam por experiências que
possibilitam o contacto com algumas noções des-
se conceito ou, pelo menos, a constatação dao
aquisição de tais noções.
A partir da observação de medidas de gran-
dezas proporcionais, que variam em situações do
quotidiano dos alunos, o grupo do Setor Matemá-
tico do Projeto Fundão acredita que o conceito de
proporcionalidade pode ser construído.
O trabalho dessa equipe envolve atividades
com escala, receitas, merenda e outras coisas, ba-
seadas na vida real, todas orientadas no sentido
de levar o aluno a detectar os dados do problema
e organizá-los, de preferência em tabelas, para
melhor observar suas relações.
A experiência foi feita com turmas da 7
a
série
do ensino fundamental (12 a 14 anos).
Um primeiro exemplo de tais atividades
Entregar a cada aluno uma folha em branco a ser colocada num certo
canto da carteira.
Entregar outra folha na qual estejam desenhadas quatro figuras: A, B, C e
D (ver Figura abaixo). Destas, apenas duas, B e D, representam o tampo da
carteira com a folha no canto, em escalas, por exemplo, de 1/5 e 1/10. Na
primeira, A, a folha está com as dimensões proporcionais às da real, mas a
carteira não; e na terceira, C, a carteira está reduzida corretamente, mas a
folha não.
Discutir com os alunos as respostas a perguntas do tipo: qual (is) das figu-
ras podería(m) ser uma fotografia da carteira com a folha? Por quê?
A partir de respostas (em geral corretas), como "a segunda, porque, nes-
sa outra, a folha está muito comprida" e outras, os alunos passam a medir
todas as dimensões da figura real e dos desenhos. De início, essas medidas
o anotadas sem qualquer ordem e, aos poucos, os alunos sentem a neces-
sidade de alguma organização. Se for preciso, o professor sugere a utilização
de tabelas. A partir daí, concluem que:
) quando há proporcionalidade, toda vez que um número de uma situação
fica multiplicado (ou dividido) por um número c, o correspondente da outra
situação também fica multiplicado (ou dividido) por esse número c;
) a razão entre cada par de números correspondentes nas duas situações é
sempre constante.
Essas conclusões surgirão com maior facilidade, dependendo da familiari-
dade do aluno com a situação apresentada, e da simplicidade dos fatores de
proporcionalidade. Afirmamos, também, que a segunda conclusão é muito mais
difícil que a primeira, já que o conceito de razão é construído lentamente.
Um outro exemplo de tais atividades
- Apresentar aos alunos o problema:
Para preparar a tinta, um pintor mistura, a cada 4 latas de tinta
concentrada, 6 latas de água. Quantas latas de água são necessárias
para dissolver 8 latas de tinta?
De início, os alunoso deixados livres para resolver e discutir o proble-
ma. Depois, para melhor explorar a situação, o professor faz outras per-
guntas sugeridas pela tabela a seguir, que deve ser completada pelos estu-
dantes, pedindo a eles que explicitem, a cada linha preenchida, as opera-
ções que fizeram, perguntando, por exemplo: como foram obtidos os núme-
ros da 2- linha?
Observações quanto à reação dos alunos
O aluno queo tem nenhuma idéia de proporcionalidade poderá respon-
der 10 na 2
a
linha da 2
a
coluna: "Já que 4 + 2 = 6, então faço 8 + 2 = 10."
Para esse aluno, as quantidades só se alteram por meio de adições ou
subtrações. Eleo pensa em multiplicações. Para permitir que o aluno per-
ceba seu erro, pode-se apresentar a ele outra tabela, como:
A resposta na 2ª linha da 1
a
coluna, de acordo com o raciocínio aditivo, seria
0. Bastaria portanto, para indicar o erro, perguntar ao aluno se ele ficaria com
água pura.
O raciocínio multiplicativo, necessário à construção da proporcionali-
dade, só é adquirido pelos alunos a partir de muitas experiências, as mais
variadas possíveis, desde que iniciando por situações que envolvam fatores
simples (o dobro, a metade, ...).
Por exemplo, na primeira tabela, a 2
a
linha será obtida da, por meio da
multiplicação por 2, bem como a 3
a
linha, por meio da divisão da 1
a
por 2.
Além dos fatores envolvidos, o tipo de números que aparecem nos dados
ou nos resultados influi decisivamente no desempenho dos alunos. Ainda ob-
servando a primeira tabela, a dificuldade na 4
a
linha surge,o porque envol-
va fatores complicados (ela pode ser obtida da 3
a
por redução à metade), mas
porque a resposta é um número fracionário (3/2 ou 1,5).
Modelo aditivo X modelo multiplicativo
Embora reconhecendo que a decomposição dos dados em parcelas e a
utilização de multiplicações por fatores bem simples é suficiente para os
alunos resolverem a grande maioria dos problemas a eles apresentados,
deparamo-nos com duas questões, a saber:
(a) Os alunos, que resolvem os problemas de proporcionalidade pelo
modelo aditivo (decomposição em parcelas), sabem por que podem
fazer isso?
(b) É aconselhável levar esses alunos a resolver tais problemas pelo
reconhecimento da igualdade de duas razões?
A esse respeito, relataremos, a título de exemplo, entrevista feita com
aluna da 7
a
série, ao final do estudo do tópico de proporções.
Ressaltamos a importância do método de entrevista para melhor conhe-
cer o raciocínio do estudante, mas lembramos que o exemplo aqui apresenta-
doo deve ser encarado como um modelo a ser repetido. Outros alunos
darão outras respostas e outras respostas exigem novas perguntas.
E: entrevistador. A: aluna.
E - Resolva esse problema:
Numa creche, 4 litros de leite dão para preparar 22 mamadeiras iguais.
Quantas mamadeiras iguais a essas poderão ser preparadas com 10
litros de leite?
A dificuldade essencial, nesse caso, é reconhecer 10 como um múltiplo de
4: muitos alunos acreditam queo existe um número que multiplicado por 4
dê 10.
Tal dificuldade é contornada pelo uso do modelo aditivo.
55 mamadeiras
E - Explique o que você fez.
A - Se 4 litroso 22 mamadeiras, 4 + 4 = 8o 22 + 22 = 44 e 2o 11
mamadeiras, logo, 10 litroso 55 mamadeiras.
E - Por que você fez assim?
A - Porque é mais fácil.
E - É sempre possível resolver assim?
A - Depende do problema.
Para refletir sobre a questão, o entrevistador apresenta à aluna outro
problema.
Com 24 metros de brim, podem-se fazer 16 calças iguais. Quantas cal-
ças iguais a essas podem-se fazer com 15 metros do mesmo tecido?
A- No primeiro, eu multipliquei, e agora, de 24 para 15o posso multiplicar.
Então a resposta é 7.
E - O que você fez?
A-24 menos 16 dá 8. Então diminuí 8 de 15.
E - Observe o outro problema:
Com 24 metros de brim, podem-se fazer 8 calças iguais. Quantas cal-
ças iguais a essas podem-se fazer com 12 metros do mesmo tecido?
A - (corretamente) 4, porque 12 é a metade de 24.
E - Pelo método do problema anterior você teria: 24 menos 8 dá 12
e 12 menos 12 dá zero!
(A percebeu logo, e sozinha, que ainda estava errada).
E - Vamos tentar ver a razão constante. Na primeira situação ...
A - 24 metros e 16 calças
E - Se eu pedisse para você achar o pano gasto em cada calça, o que
você faria?
A - 24 dividido por 16.
E - Isso é
E - Agora na segunda situação: 15 metros e x calças. Qual é a conta?
A -o dá para fazer; euo sei quanto é esse x.
E - Faz de conta que você sabe.
A - Então é 15 dividido por esse x.
E - Então é , certo?
A - Certo.
E - (Apontando para
Issoo é o pano de cada calça?
A-É.
E - (Apontando o
Isso aqui também é?
A-É.
E - As calçaso iguais?
A - São.
E - Posso escrever um igual ao outro?
A - Pode.
Agora você pode resolver.
A (demonstrando dificuldade no produto "em cruz"):
Conclusões
As dificuldades apontadas inicialmenteo reais.
o se deve impor a solução dos problemas de proporcionalidade di-
reta pela igualdade de duas razões; a solução pela decomposição em par-
celas é válida (como outraso analisadas aqui).
O importante é que, ao utilizar qualquer método, o aluno saiba por que
pode utilizá-lo.
E importante que o aluno saiba que existe a solução rnais econômica da
proporção, para que possa optar por ela, se julgar necessário.
Regra de três
composta
Os problemas sugeri-
dos aqui trabalham o
raciocínio do aluno
para que ele apreenda
a idéia que está por trás
da regra de três. É inte-
ressante propor os
problemas e discutir di-
ferentes formas de
solucioná-los.
Apesar de a "regra de três composta" ser tratada
em textos didáticos e já ter sido discutida em vários
números da RPM, nossos leitores continuam con-
sultando-nos a respeito de problemas envolvendo
proporcionalidade, como os problemas A e B abai-
xo. Há vários modos de resolver esses problemas e
cada autor, bem como cada professor, acha, é claro,
que o "seu jeito" é o melhor. Voltamos ao tema, apre-
sentando duas soluções alternativas para cada um
dos problemas A e B, consideradas, é claro, como
as "melhores" pelos seus autores.
Problema A
21 pintores, trabalhando 8 horas por dia, pin-
tam um edifício em 6 dias. Nas mesmas condi-
ções, quantos dias serão necessários para que 9
pintores, trabalhando 7 horas por dia, pintem o mes-
mo edifício?
Resolução 1
Sempre é possível resolver esse tipo de pro-
blema com a chamada "redução à unidade", que
consiste no seguinte:
21 pintores, trabalhando 8 horas por dia, pintam
o edifício em 6 dias;
logo, 9 pintores, trabalhando 7 horas por dia, precisam de 16 dias para
pintar o edifício todo. Fácil,o é?
Resolução 2
Montando uma equação algébrica que exprime a dependência entre as
variáveis envolvidas no problema:
Sejam p o número de pintores, h o número de horas que eles trabalham
por dia e d o número de dias. O produto phd é o número total de horas
trabalhadas; logo, deve ser o mesmo nas duas situações descritas, isto é,
21x8x6 = 9x7xd,
Pronto, terminou o problema! Lembre-se: regra de três (simples), direta ou
inversa;o passe de uma equação algébrica simples e fácil de resolver.
Problema B
Se 10 máquinas, funcionando 6 horas por dia, durante 60 dias,
produzem 90 000 peças, em quantos dias, 12 dessas mesmas máquinas,
funcionando 8 horas por dia, produzirão 192 000 peças?
Resolução 1
Novamente, é possível resolver esse problema com a chamada "redu-
ção à unidade":
12 máquinas 8 horas por dia l dia 8 x 300 = 2 400 peças
Então, 12 máquinas, trabalhando 8 horas por dia, fazem 2 400 peças.
Logo, para produzir 192 000 peças serão necessários
Resolução 2
Montando uma equação algébrica que exprime a dependência entre as
variáveis envolvidas no problema:
Sejam m o número de máquinas, h o número de horas de funcionamento
por dia, d o número de dias, e p o número de peças produzidas.
Se k é o número de peças que cada máquina produz por hora, temos:
Substituindo na equação obtida as duas seqüências de valores dadas no
problema, temos:
VOCÊ SABE POR QUE FUNCIONA?
Considere os exemplos abaixo:
867
86 - 9 X 7 = 23
23o é divisível por 13, logo 867
também não.
36 546
3654-9x6 = 3510
351
- 9 X 0 = 351
35 - 9 X
1
= 26
23 é divisível por 13, logo 36 546
também é.
8281
828-9X1 =819
81-9x9 = 0
0 é divisível por 13, logo 8 281
também é.
77 741
7 774 - 9 X
1
= 7 765
776 - 9 X 5 = 731
73 - 9 X
1
= 64
64o é divisível por 13, logo 77
741 também não.
Que regra os exemplos sugerem? Como provar que é verdadeira ou não?
da calculadora
Hideo Kumayama
Atividades envolvendo o uso
da calculadora podem con-
tribuir para motivar diversos
tópicos do conteúdo. Esta
atividade em particular trata
de "números grandes" e de
como contornar as limita-
ções impostas pela calcula-
dora.
E preciso que o estudante já
domine a notação de potên-
cia para descrever números
grandes. E interessante
enfatizar que a calculadora
é uma ferramenta com limi-
tações que podem ser con-
tornadas, se usarmos nos-
sos conhecimentos. Outra
possibilidade é explorar nes-
sa atividade números sur-
preendentes como: distân-
cia da Terra ao Sol, distân-
cia de Plutão ao Sol etc. O
professor de Ciências pode
ter boas sugestões de "nú-
meros grandes".
Introdução
Segundo uma conhecida lenda originária da
Índia, o rei Shirham recebeu de presente do grão-
vizir Sissa Bem Dahirum jogo de xadrez, inven-
tado por ele próprio. De imediato, o rei decidiu
retribuir essa dádiva, maso sabia como. As-
sim, o rei deixou a escolha da recompensa a cri-
tério do vizir, o qual pediu: Majestade, dê-me um
grão de trigo correspondente à primeira casa do
jogo de xadrez, dois grãos correspondendo à se-
gunda casa, quatro à terceira, e assim sucessi-
vamente, sempre dobrando o número de grãos,
até a 64
a
casa. O rei ficou espantado com a sim-
plicidade do pedido, porém mais surpreso ainda
ficou quando constatou queo conseguiria
satisfazê-lo, pois o número total de grãos no ta-
buleiro, a saber, 2
64
- 1, é um número imenso.
De fato, usando uma calculadora científica com
12 dígitos no visor, obtém-se para esse número
1,84467440733X 10
19
.
Esse exemplo é muito usado em aula, especi-
almente no estudo de progressões geométricas.
Porém os alunos muitas vezes se perguntam: Mas
o número 2
64
- 1o é inteiro? É possível, com a
calculadora determinar todos os algarismos des-
se número? A resposta é sim.
Primeiro observa-se que o resultado forneci-
do pela calculadora é
Uso inteligente
2
64
= 1,84467440737 X 10
19
= 18 446 744 073 700 000 000. Na realidade, isso
é uma aproximação do verdadeiro resultado, dada a impossibilidade de a cal-
culadora exibir todos os 20 algarismos desse número inteiro. Temos que nos
precaver ainda contra o fato de que o último 7 podeo ser exato; ele pode
ter sido aproximado para cima. (Por exemplo, se você preparar sua calcu-
ladora para trabalhar com 4 dígitos no visor, ela vai dar: 2
64
= 1,845 X 10
19
.
Alguém poderia erradamente concluir que o quarto algarismo de 2
64
é 5, quan-
do na realidade é 4, que foi aproximado para 5 porque o seguinte era 6 >= 5.)
Portanto, o que sabemos mesmo é que 2
64
= 1,84467440737 xxx xxx xxx. Nosso
objetivo é descobrir quaiso os 9 últimos algarismos desse número, sendo o
primeiro deles igual a 6 ou 7.
Uma forma de proceder é a seguinte.
A calculadora com 12 dígitos no visor consegue exibir todos os algarismos de
A primeira parcela é um inteiro terminado em 10 zeros e, portanto,o
vai influir nos últimos 9 algarismos da soma. Os números 2ab e b
2
podem ser calculados na calculadora, obtendo-se 2ab X 10
5
+ b
2
=
= 578 059 180 800 000 + 4 528 751 616. Neste ponto,o adianta fazer
essa soma na calculadora, porque a primeira parcelao cabe no visor.
Como porém estamos interessados apenas nos 9 últimos algarismos des-
se número, fazemos: 180 800 000 + 528 751 616 = 709 551 616. Conclui-
se finalmente que 2
64
= 18 446 744 073 709 551 616.
A propósito de exercícios, o leitor pode experimentar outras maneiras de
decompor 2
32
em parcelas. Verá que algumas funcionam melhor que outras.
Por exemplo, na decomposição 2
32
= 429 X 107 + 4 967 296, o quadrado da
segunda parcelao caberá no visor.
O que acontece, se só dispusermos de uma calculadora "do feirante",
com apenas 8 dígitos no visor? Neste caso, já 2
32
o cabe no visor, apare-
cendo 42,949672 e 4,2949672 X 10
9
.
Em primeiro lugar, deve ser lembrado que é perfeitamente possível calcu-
lar rapidamente potências nesse tipo de calculadora. Em seguida, pode-se
usar um procedimento análogo ao precedente, partindo de 2
16
= 65 536, para
determinar os 3 algarismos de 2
32
= 4 294967 xxx.
Por exemplo: 2
32
=(2
l6
)
2
= (65x 10
3
+ 536)
2
=4225x 10
6
+ 69 680 '10
3
+ 287296.
Aqui, a primeira parcela termina em 6 zeros e a segunda, em 4 zeros. De modo
que os 3 últimos algarismos de 2
32
o 296 e, portanto, 2
32
= 4 294 967 296.
Na calculadora de 8 dígitos no visor, o número 2
64
aparece como
1,8446744 X 10
19
= 18 446 74x xxx xxx xxx xxx,
e precisamos descobrir seus 13 últimos algarismos. Agora,o adianta de-
compor 2
32
como feito anteriormente, pois aparecerão números com mais de
8 algarismos.
Um caminho promissor é decompor 2
32
em 3 parcelas convenientemente
escolhidas e, em seguida, utilizar a fórmula
Esperamos que esses exemplos estimulem o leitor a usar inteligentemente
a sua calculadora, para superar as limitações desse instrumento.
Algarismos romanos.
Uma aula diferente
Márcia de Oliveira Rebello
Rosângela Tortora
Uma atividade lúdica que
explora a competitividade
natural entre as crianças,
por meio de um jogo, para
estudar os algarismos ro-
manos.
o deve existir um método "ótimo" para mi-
nistrar aulas, que torne todas elas interessantes
e que faça com que todos os alunos gostem e
aprendam Matemática.
Sabemos, porém, que, ocasionalmente, uma
aula diferente, por quebrar uma rotina, estimula o
interesse dos alunos e facilita o aprendizado.
O equivalente, em Matemática, à "palavra cru-
zada" foi pors aproveitado para ministrar, numa
5- série, uma aula de fixação sobre algarismos ro-
manos, aproveitando o gosto que crianças, na faixa
etária dos 11 anos,m por jogos competitivos.
Procedemos da seguinte maneira:
1. dividimos a classe em dois times;
2. colocamos as colunas "horizontais" e "verti-
cais" na parte central da lousa;
3. copiamos um quadro para cada time;
4. estabelecemos as regras do jogo:
a. cada aluno pode escolher arbitrariamente qual-
quer questão;
b. dada a partida, um primeiro aluno, de posse de
um giz, deverá ir à lousa, responder à questão que
escolheu, voltar ao seu lugar e entregar o giz ao
colega seguinte. Este poderá colocar a resposta
de uma outra questão, ou corrigir uma que julgue
estar errada; cada aluno, após colocar sua res-
posta no quadro, entregará o giz ao seguinte, que
deverá proceder da mesma forma;
c) o time que terminar primeiro de preencher seu quadro, corretamente,
será o campeão do dia.
Escreva com algarismos arábicos:
Horizontal
1. MMDCXXI
4. CDXXXV
8. DXLI
9. MMMXL
10. DLXXXVII
11. DCCVII
13. DCXXXVIII
14. XCII
17. CXII
18. CMXLVI
20. CCCXXIV
22. DLXXXIII
23. MMMXLII
24. MCMLXXIV
25.CMLII
Vertical
1. MMDL
2. DCXLVIII
3. MMCLXXV
4. XL
5. MMMCDLXXVIII
6. D
7. LXXXIX
9. CCCXLVI
12. DCCXCI
15. MMCCXXII
16. MMMCDLXXXIX
17. MCDII
18. CMLI
19. DCXXXVII
21. CCXXXV
Observação
Nenhum aluno deverá ir à lousa pela segunda vez, antes que todos os outros do seu
time tenham ido uma vez ao menos.
Mágicas
Adivinhação
Duas "mágicas" intrigan-
tes que levam ao estudo
do critério de divisibili-
dade por 9. A brincadei-
ra da caixa de palitos de
fósforos pode ser feita
pelo professor na sala de
aula e utilizada desde a
5
a
série.
Pede-se para alguém pensar em um número de
vários algarismos e somar esses algarismos.
Em seguida pede-se que a pessoa subtraia a
soma do número pensado.
A pessoa deve então ocultar um algarismo
desse último resultado obtido e informar o valor
da soma dos algarismos restantes. Com isso o
proponente da brincadeira "adivinha" o algaris-
mo que foi ocultado.
Exemplo
Número pensado: A = 6435879
A pessoa oculta, por exemplo, o algarismo 8 e
fornece a soma dos outros que é
6 + 4 +
3
+
5
+
3
+ 7 = 28.
Como a soma de todos os algarismos deve ser um múltiplo de 9*,
"adivinha-se" que o algarismo ocultado é 8, uma vez que 28 + 8 = 36.
Demonstração
A demonstração do resultado utiliza a representação decimal do número A:
De ouvido
Alexandre Kleis
Meu irmão faz uma brincadeira com uma caixa de fósforos muito curiosa.
Ele pega uma caixa, dessas comuns, e conta quantos fósforos há 40,
digamos. Dá a caixa a alguém e pede que este retire, às escondidas, um certo
número de palitos; em seguida, que some os algarismos deste número e repo-
nha esta quantidade de palitos. (Por exemplo, retira 25 palitos e repõe 2 + 5 =
7 palitos.), vem o surpreendente: pega a caixa, balança-a, ao lado do
ouvido, faz uma cena e vaticina: "Há 22 palitos na caixa!" (para o exemplo,
o que é certo: 40 - 25 + 7 = 22).
Notem: eleo viu nada,o teve nenhuma informação e, apenas pelo
som dos palitos dentro da caixa, descobre a quantidade deles.
O segredo é simples. Sejam x e IN e x a soma dos algarismos da representação
decimal de x. Ora, retirar x palitos e repor x palitos equivale a retirar x - x
palitos. Como se sabe, x e xm o mesmo resto quando divididos por 9, logo
x - x é múltiplo de 9. Deste modo, está se retirando sempre um número
múltiplo de 9 da caixa. Se ela contiver 40 palitos, teremos:
Tudo consiste então em se treinar o ouvido para identificar, pelo ruído, as cinco
possíveis respostas!
indiscreto
Esta "brincadeira" pode ser
apresentada a estudantes de
qualquer nível. No entanto,
para um estudante já famili-
arizado com a noção de po-
tência, é mais fácil explicar
em que se baseia a "mági-
ca". Uma proposta interes-
sante é só apresentar as ta-
belas com os números de 1
a 31 e sugerir aos estudan-
tes que eles mesmos colo-
quem os números de 33 a
63 nas tabelas.
Idéia para uma feira de ciências
Um visitante que se apresenta para o teste é
convidado pelo aluno "adivinho" a dizer, dentre as
seis listas abaixo, de 32 números cada, em quais
delas está a sua idade. Imediatamente o aluno adi-
vinha a idade.
Como? Basta somar os primeiros números das
listas que o voluntário apontou.
Por exemplo:
Pois bem, na primeira lista do adivinho estão
os números para os quais a
0
= 1, isto é, aqueles
que terminam em 1 quando escritos em base 2; na
segunda lista estão os números com a
1
= 1, ou seja,
aqueles, entre 1 e 63, quem 1 na segunda casa
da direita para a esquerda, quando escritos em base 2; na terceira lista estão
aqueles para os quais a
2
= 1, e assim por diante.
Eis as listas do adivinho.
Essas listas de números podem ser feitas em tiras, todas iguais, de car-
tolina, lembrando um baralho, para melhor manuseio e a soma dos primei-
ros números pode ser feita de cabeça. O aluno deve fazê-la bem. Talvez
seja melhor que dois alunos se encarreguem de fazê-la para conferir entre
si, antes de contá-la ao visitante.
É claro, agora, porque cada idade é igual à soma dos primeiros-
meros de cada lista em que ela esteja, não?
Talvez valesse a pena estender a tabela até 100 pelo menos, ou 127,
para atender os avós que venham visitar a feira. Quais as modificações
que precisam ser introduzidas?
Polígonos de palitos
de sorvete
Luiz Márcio R Imenes
Que tal levar os alunos à
cantina da escola ou à pada-
ria vizinha para comprar um
picolé? Depois é só usar os
palitos para estudar proprie-
dades de polígonos regula-
res e dos obtidos por trans-
formações deles.
Com palitos de sorvete e percevejos, os alunos
podem construir polígonos variados: quadriláteros,
triângulos, pentágonos etc.
Com este material simples, podemos trabalhar
conceitos, propriedades e idéias importantes. Ve-
jamos alguns exemplos.
1. Com exceção do triângulo, todos os demais
polígonos de palitosom rigidez. O quadri-
látero, o pentágono, o hexágono etc.o
deformáveis.
O de quatro lados pode ser um quadrado que se transforma num losango
(mais ou menos achatado). O de cinco lados pode ser um pentágonoo
regular, que se torna regular e depois pode ficaro convexo.
2. Como todos os palitosm o mesmo comprimento, cada um dos polígo-
nos construído é equilátero, isto é, tem todos os lados iguais. Mas, com
exceção do triângulo, a igualdade dos ladoso acarreta a igualdade
dos ângulos. Em outras palavras, excetuando o triângulo, um polígono
equiláteroo é necessariamente equiângulo.
3. Esta transformação do polígono de palitos preserva a igualdade de seus
lados. Preserva também o seu perímetro, maso conserva sua área.
4. A rigidez do triângulo de palitos tem a ver com esta propriedade: os três
lados determinam o triângulo.
A ausência de rigidez dos demais polígonos corresponde ao seguinte: um
polígono, com quatro lados ou mais,o fica determinado apenas pelos
seus lados.
5. A rigidez do triângulo tem muitas aplicações práticas. Ela explica a pre-
sença dos triângulos nas estruturas, de madeira ou ferro das construções.
Explica também a travessa usada nos portões.
tesoura de telhado
portão com travessa
Enfim, este material simples permite explorar muitas idéias interessantes.
Ele pode ser usado no trabalho de sala de aula ou nas feiras de ciências.
geométrica do MMC
Mário Lúcio Cardoso
Otânio Alves Gonçalves
As duas atividades propos-
taso interessantes para o
aluno "visualizar" o MDC e
o MMC. Podem ser apre-
sentadas sem dizer ao alu-
no que se trata de MDC e
MMC, deixando que ele
mesmo faça a descoberta e
se pergunte porque o méto-
do funciona.
Após a leitura do artigo do professor Zelci Clasen
de Oliveira, na RPM 29, sobre uma interpreta-
ção geométrica do MDC, ficamos pensando so-
bre a possibilidade de uma interpretação geomé-
trica também para o MMC.
Após algumas tentativas encontramos uma
maneira de achar o MMC de dois números natu-
rais m e n, sem efetuar operações e utilizando
apenas a contagem. O método é o seguinte:
1) Tomemos um retângulo ABCD de lados m e n.
O retângulo deverá estar subdividido em qua-
drados unitários.
2) Partindo de um dos vértices do retângulo, tra-
çamos as diagonais dos quadrados unitários
observando a seguinte ordem:
a) traçamos a diagonal do quadrado que tem o
vértice coincidente com o vértice escolhi-
do do retângulo.
b) traçamos, a partir do vértice no qual para-
mos, as diagonais dos quadrados quem
um ângulo oposto pelo vértice com o qua-
drado anterior ou, na ausência desse qua-
drado, traçamos a diagonal do quadrado ao
lado e a partir do vértice onde paramos.
c) As diagonais dos quadrados unitários de-
vem ser traçadas até que se chegue a um
dos outros vértices do retângulo ABCD.
Uma interpretação
d) Contamos quantos quadrados tiveram suas diagonais traçadas. O-
mero encontrado é o MMC de m e n.
Exemplos:
MMC de 5 e 10 (iniciando, por exemplo, em A).
Observe que 10 quadrados tiveram suas diagonais traçadas.
MMC de 3 e 5 (iniciando, por exemplo, em C).
Observe que 15 quadrados tiveram suas diagonais traçadas.
MMC de 4 e 6 (iniciando, por exemplo, em D).
Observe que 12 quadrados tiveram suas diagonais traçadas.
O método se baseia nos fatos: ao partirmos de um vértice do retângulo e
chegarmos a um outro vértice desse mesmo retângulo, traçamos diagonais
de um número de quadrados que corresponde a um múltiplo tanto de m quan-
to de n; parando no primeiro outro vértice do retângulo ABCD, estamos de-
terminando o mínimo dentre os múltiplos comuns de m e n.
Como obter o MDC e o
MMC sem fazer contas?
Marcelo Polezzi
As duas atividades propos-
taso interessantes para o
aluno "visualizar" o MDC e
o MMC. Podem ser apre-
sentadas sem dizer ao alu-
no que se trata de MDC e
MMC, deixando que ele
mesmo faça a descoberta e
se pergunte porque o méto-
do funciona.
Há algum tempo atrás tive a oportunidade de ler
dois artigos interessantes na RPM, os quais tra-
tam de encontrar métodos geométricos para cal-
cular o MDC e o MMC entre dois números. Fi-
quei entusiamado e percebi que poderia produzir
um novo método, espantosamente simples, que
permitisse obter, quase ao mesmo tempo, o MDC
e o MMC.
O método baseia-se essencialmente em um ar-
tigo que publiquei, que traz uma fórmula explícita
para o MDC e o MMC entre dois números. Meu
objetivo agora é mostrar como se obtém o MDC
e o MMC, usando apenas contagem.
O método
1. Considere um retângulo de lados, com medi-
das inteiras a e b, dividido em quadradinhos
unitários.
2. Trace uma das diagonais do retângulo, mar-
cando-a nos pontos queo vértices de algum
quadradinho unitário.
3. Conte em quantas partes esses pontos divi-
dem a diagonal: esse número d é o MDC(a,b).
4. Trace linhas verticais (horizontais), passando
por cada um dos pontos que você marcou, unin-
do dois lados opostos do retângulo. Conte o
número de quadradinhos unitários existentes
em qualquer um dos d retângulos determinados por essas linhas verticais
(horizontais): esse número m é o MMC(a,b)-
A figura a seguir ilustra o procedimento para a = 12 e b = 21.
A diagonal está dividida em três partes iguais, logo, 3 = MDC(12, 21).
O número de quadradinhos existentes em qualquer um dos três retângulos
é 7 X 12, logo 84 = MMC(12, 21).
Justificativa
Se d = MDC (a,b), existem inteiros u e v
tais que a = du e b = dv, com u e v primos
entre si.
Considerando um sistema de eixos ortogonais
com a origem num dos vértices do retângulo,
como na figura, a equação da reta que contém
a diagonal considerada é
Logo, pertencem à diagonal os pontos (0, 0); (u,v) pois
(du, dv) = (a, b), ou seja, d+ 1 pontos de coordenadas inteiras, igualmen-
te espaçados.
Para verificar queo apenas esses os pontos da diagonal com coordena-
das inteiras, suponha que (p, q) pertença à diagonal e tenha coordenadas
inteiras. Então,
o que implica qu = vp e, sendo MDC(u, v) = 1, vem que q = rv e p = ru, com
0 < r < d.
Logo, a diagonal fica dividida em d pedaços iguais.
Como os d+ 1 pontoso igualmente espaçados, os d retângulos obtidos no
item 4m a mesma área m. Logo, md = ab, o que mostra que m = MMC(a, b),
e m é também o número de quadradinhos contido nos retângulos.
Observação
Se o interesse for calcular apenas o MMC, basta traçar uma linha ver-
tical, passando pelo ponto descrito no item 2 que seja o mais próximo do
vértice superior atingido pela diagonal e contar os quadradinhos existentes
no menor retângulo determinado por essa linha vertical.
Raiz quadrada sem
contas ou calculadora
José Luiz Pastore Mello
O artefato proposto aqui é
bastante simples e interes-
sante. Os alunos podem
construí-lo em uma sala de
aula como parte da ativida-
de. Pode ser apresentado ao
estudante que já conhece a
noção de raiz quadrada ou
pode servir como motivador
dessa definição. Uma vez
que a atividade de "extrair a
raiz quadrada", utilizando o
artefato esteja dominada, é
natural a curiosidade como
o artefato funciona?
Tudo está baseado no
Teorema de Pitágoras e,
com um pouquinho de estí-
mulo, o aluno pode tentar
descobrir isso sozinho.
Introdução
Vamos construir, usando papel milimetrado, pa-
pel transparente, régua e compasso, calculadoras
para o cálculo de raiz quadrada. Apresentaremos
também justificativas para seu funcionamento.
Construção
1. Marque numa folha de papel milimetrado dois
eixos ortogonais e uma unidade de medida.
Considerando que os valores do eixo das or-
denadas nos darão o resultado da raiz quadrada,
deve-se escolher a escala de acordo com os ob-
jetivos do cálculo e da precisão desejada.
Numa folha de papel transparente desenhe
uma linha reta graduada usando a mesma unida-
de usada no sistema de eixos e faça um furo a
Fixe o furo no ponto F = (
1
/
4
0) marcado no sistema de eixos ortogonais.
A calculadora para estração de raiz quadrada está pronta!
Escolha um número no papel transparente, por exemplo o 9, e seja P o ponto
correspondente a esse número. Gire a reta no sentido anti-horário, até que a
abcissa de P seja igual ao número escolhido, 9: a ordenada de P será a raiz
quadrada do número, no caso o número 3.
Você sabe por que o artefato funciona? Um modo de justificar é:
Pelo teorema de Pitágoras no triângulo
obtemos a igualdade
que implica
2. Um outro mecanismo para extração de raiz quadrada pode ser construído
do seguinte modo:
Desenhe em papel milimetrado uma reta horizontal graduada de 0 a 100,
que será o diâmetro de uma
circunferência de raio 50.
Trace linhas verticais de
cada ponto da gradação até
a circunferência. Desenhe
numa tira de papel transpa-
rente uma reta graduada
com escala 10 vezes maior
que a utilizada no papel
milimetrado e fixe a origem
da tira na origem do siste-
ma, no papel milimetrado.
O mecanismo está pronto. Para calcular a raiz quadrada de um número
indicado na reta horizontal, basta girar a tira de papel transparente até o
ponto da circunferência que encontra a vertical que passa pelo número esco-
lhido. A raiz quadrada do número estará indicada na tira de papel transparen-
te, no ponto de encontro com a circunferência.
A explicação do funcionamento pode ser feita usando-se uma das rela-
ções métricas do triângulo retângulo: c
2
= am ou . No nosso caso,
como a = 100, c seria igual a 10 vezes a raiz quadrada do número m, o que
é corrigido pela escolha da escala na tira de papel transparente.
Nomogramas
(calculadoras de papel)
Marcelo Escudeiro Hernandes
Um computador de papel! Existe?
Um computador de papel?
Esta atividade, além de exer-
citar os alunos na constru-
ção de gráficos e marcação
de pontos no plano, permite
efetuar geometricamente
adição ou multiplicação de
dois números.
Tanto a Álgebra como a Ge-
ometria podem ser utilizadas
para mostrar por que o-
todo funciona.
A atividade, que pode ser ex-
plorada até no ensino médio
com equações de retas, pode
ser desenvolvida no ensino
fundamental, trabalhando
medidas no trapézio, cálculo
da hipotenusa de um triângu-
lo retângulo etc.
Introdução
Facilitar cálculos sempre incentivou a pesqui-
sa e construção de máquinas ou métodos que di-
minuíssem os esforços e permitissem maior rapidez
e exatidão em operações. Assim foi com o ábaco,
as barras de Napier, réguas de cálculo, ... até os
computadores de hoje.
Entre esses métodos estão os chamados
nomogramas, queo tipos de gráficos onde o
resultado de operações é encontrado, utilizando
uma régua ou qualquer outro instrumento que per-
mita o traçado de um segmento de reta.
Existem nomogramas para operações elemen-
tares como adição, multiplicação, médias,
hipotenusa de um triângulo retângulo, e outros.
Adição
Vejamos o exemplo de um nomograma
simples para adição de dois números reais.
Tome três eixos A, B, C, paralelos,
eqüidistantes e perpendiculares a uma reta
r dada. Seja d a distância entre eles. Gra-
duamos os eixos com uma mesma unidade
e marcamos 0 nos três eixos numa mesma
horizontal. Nos eixos A e C, marcamos o
número n (ou -n) a n unidades da origem.
No eixo B, marcamos 2n (ou -2n) a n
unidades da origem. Veja a figura a seguir.
Para determinar a soma de dois números a e c, marcamos a no eixo
A e c no eixo C. A soma a + c será determinada pela interseção da reta
que une os pontos a e c com o eixo B.
Veja os exemplos:
1+3=4
-3 + 2 = -1
-1 + (-1) = -2
Por que isso funciona? A explicação é bem simples e pode tomar dois
enfoques distintos, um algébrico e outro geométrico. Vejamos, inicialmente, o
apelo algébrico:
Suponha que queremos encontrar a soma de dois números reais a e c.
Consideremos a reta que passa pela origem dos três eixos como sendo o eixo
x, e o eixo B como sendo o eixo y.
Assim, a reta que liga a com c é a reta que passa pelos pontos (-d, a) e
{d, c). Sua equação é:
No eixo B, a
a + c
unidades da origem, está marcado o número a + c.
Claramente, pode-se encontrar também a diferença de dois números e
e f usando essa mesma construção. Basta marcar e no eixo B, f no eixo
A, e ler a diferença d no eixo C, dada pela interseção desse eixo com a
reta que passa por e e f. De fato, teríamos f+ d = e, donde, d = e - f.
Para a argumentação geométrica, chamemos os pontos correspondentes
aos números a e c de P
a
e P
c
Observemos que há apenas três posições
distintas para esses pontos:
a) P e P estão no mesmo semiplano determinado pelo eixo x.
OP é a base média do trapézio P
c
P
c
DD' e, portanto, mede
O número que aparece na posição P é o dobro desse, isto é,a+ c.
b) P e P
c
estão em semiplanos distintos em relação ao eixo x.
CP é a base média do triângulo P CP .
c) Um argumento semelhante aos anteriores pode ser usado se um dos
pontos, P
a
ou P
c
, estiver no eixo x.
Cálculo da Hipotenusa
Vejamos a construção de um nomograma que fornece a hipotenusa de um
triângulo retângulo se forem dados os catetos.
Como (hip)
2
= (cat
1
)
2
+ (cat
2
)
2
, precisamos realizar uma adi-
ção e, portanto, podemos tomar o modelo já visto. Mas, como
queremos somar quadrados de números, dessa vez nos eixos A
e C escrevemos o número n a n
2
unidades da origem e no eixo
B escrevemos o número n a n
2
/2 unidades da origem.
Aos catetos 3 e 4 corresponde a hipotenusa 5, e aos catetos
8 e 5 corresponde a hipotenusa = 9,4
Detalhando PR tem 9 unidades
a R corresponde o número 3.
QS tem 16 unidades, a S
corresponde o número 4.
MT tem 25/5 = 12,5 unidades, a T correspon-
de o número 5.
Multiplicação
Para a multiplicação de dois números positivos pode-se usar novamente o mes-
mo tipo de nomograma, lembrando que, se x . y = z então log x + log y = log z,
qualquer que seja a base do sistema de logaritmos. Nesse caso, para marcar os
números nos eixos A e C, fixamos a origem em cada eixo e marcamos o número
n a uma distância igual a log n unidades dessa origem. No eixo B marcamos o
número n a uma distância igual a 1/2 log n unidades da origem. Uma figura,
praticamente igual à de cima, mostrará por que tal nomograma funciona.
Artesanato e
Matemátíca
Luiz Márcio Imenes
Nesta atividade o autor Luiz
Márcio Imenes novamente
nos presenteia com muita
Geometria ,utilizando ma-
deira, pregos e linha. Além
de oferecer um resultado fi-
nal muito bonito que servirá
para decorar salas e corre-
dores da escola, o autor
propõe o jogo da constru-
ção das diagonais de um
polígono, no qual certas re-
gras deverão ser obedeci-
das. Com isso estuda-se o
número de diagonais de um
polígono, quantas partem de
cada vértice, etc. Os alunos
perceberão que sem méto-
do e matemática a constru-
ção fica muito mais difícil,
senão impossível.
Como foi que aconteceu
Há uns dez anos, um aluno, cujo nome infeliz-
menteo recordo, apareceu na escola com algu-
mas peças de seu artesanato. Trabalhando com
madeira, pregos e linhas de várias cores, ele com-
punha paisagens, figuras humanas e motivos geo-
métricos. Lembro-me de um Cristo na Cruz, que
me impressionou bastante. Foi a primeira vez que
vi esse tipo de artesanato. Depois disso vi muitos
outros trabalhos na mesma linha (sem trocadilho!).
Figura 1
Certo dia, folheando um livro, vi o desenho de
um decágono regular e suas 35 diagonais:
A Figura, que parece um bordado, me trouxe à
lembrança o artesanato de meu ex-aluno. As duas
coisas cruzaram-se, e veio a idéia de juntar o ar-
tesanato com a Matemática. Antes de fazer a pro-
posta aos alunos, resolvi brincar um pouco. E aí
tive a companhia dos filhos. Brincando, fui descobrindo coisas interessantes.
Trabalhando com os alunos, foram aparecendo idéias mais interessantes ain-
da. Apresentei essas idéias a diversos colegas professores, em diferentes
cursos, e eles contribuíram com novos problemas, novas situações e novas
idéias. Esse relato tem portanto muitos autores. Posteriormente vim a desco-
brir queo há nada de original nessas idéias. Elaso apresentadas em
publicações antigas e já foram exploradas por muitas outras pessoas.
Entretanto, a ausência de originalidade, em nada diminuiu o prazer da
descoberta (ou re-descoberta).
O Jogo das diagonais
Tenho proposto essa atividade aos alunos na forma de um jogo. Apresento-
a também como uma atividade artesanal envolvida com a Matemática.
Os materiais necessários são: um pedaço de madeira, de forma quadrada,
com aproximadamente 30 cm de lado; de 15 a 24 pregos com cabeça, de
comprimento aproximado 15 mm; um rolo de linha colorida para construir as
diagonais; e uns 3 m de linha de outra cor para representar os lados do polígono.
Convém usar uma linha resistente.o necessários ainda um martelo e ins-
trumentos de desenho: compasso, transferidor e régua.
O primeiro passo é desenhar sobre a tábua um polígono regular de n lados.
É preciso que, numa mesma classe, apareçam polígonos com diferentes núme-
ros de lados. Para isso estipulo que, para cada aluno: n = 15 + algarismo das
unidades do dia do seu aniversário. (Por exemplo, para os alunos que aniversa-
riam nos dias 7, 17 ou 27 temos n 15 + 7 = 22). Com esse critério resulta:
15 =< n =< 24 e, em geral, numa classe com cerca de 30 alunos, temos 10 polígonos
diferentes. Essa variedade é importante, como você perceberá mais adiante.
Para desenhar o polígono o aluno começa desenhando uma circunferên-
cia com aproximadamente 10 cm de raio. A seguir divide-a em n partes
iguais, desenhando ângulos centrais de medida 360°/n. Quando o quociente
360°/no é inteiro, fazemos aproximações. Se, por exemplo, n = 23 resulta
360°/23 (15,6)° Ou arredondamos esse valor para 15°30 min, ou desenha-
mos um ângulo central com 15° e o outro com 16°, alternadamente. Pequenas
aproximaçõeso prejudicam a estética desse artesanato.
Tendo dividido a circunferência em n partes iguais, nos pontos de divisão,
o aluno fixa os pregos. É importante que esses fiquem bem firmes. Se depois
um deles se soltar, o trabalho estará perdido.
O passo seguinte é construir, com a linha, as diagonais do polígono. Nes-
se momento apresento as quatro regras do jogo.
1ª Regra: é preciso construir todas as diagonais do polígono. Se ficar faltan-
do alguma,o valeu.
2ª Regra: ladoo é diagonal e por isso, quando estiver construindo as
diagonais,o é permitido passar a linha de um prego para um de seus
vizinhos.
3ª Regra:o vale construir a mesma diagonal duas vezes, isto é,o vale ir
e vir pelo mesmo caminho.
4ª Regra: tambémo vale, num dado momento, amarrar a linha num prego,
cortá-la, amarrá-la novamente em outro prego, e prosseguir com o trabalho.
A linha só pode ser cortada quando a última diagonal tiver sido construída.
Agora, mãos à obra. Amarre a linha num prego qualquer e comece. Antes de
prosseguir a leitura desse artigo vocêo gostaria de executar essas idéias?
Posso lhe garantir que vale a pena!
Algumas observações:
1. Dependendo das circunstâncias, peço aos alunos que preparem, em casa,
a tábua com o polígono regular desenhado sobre ela e os pregos já fixados
também. Com isso, evita-se uma barulheira danada!
2. Essas idéias podem ser trabalhadas só com material de desenho, sem a
madeira, os pregos, a linha e o martelo. Isso facilita as coisas por um
lado, mas cria algumas dificuldades, como veremos logo mais. Além dis-
so, sem pregos e linha, desaparece o artesanato...
O procedimento dos alunos
Passo a relatar algumas das observações que faço, quando os alunos
iniciam a construção das diagonais com a linha.
Alguns se põem a construí-la sem um critério definido. Puxam a linha de
um prego a outro qualquer e deste a um outro, caoticamente, sem qualquer
preocupação com rotina, lei de formação, ou tática de construção. Logo per-
cebem que assimo.o muitas diagonais e daí a pouco estão perdidos,
sem saber o que já está feito e o que falta fazer. Desmancham tudo e come-
çam novamente.
Outros alunos, desde o início, preocupam-se em fazer as construções,
seguindo alguma regra, alguma lei de formação. Alguns optam por esgotar as
diagonais que partem de um certo vértice e também acabam desistindo.
No fim de pouco tempo, a maioria dos alunos chega à seguinte regra de
construção: partindo de um primeiro prego (aquele em que ele amarrou a linha)
e caminhando sempre num mesmo sentido, constrói-se a menor diagonal, que
o foi construída ainda. Assim por exemplo, se n = 18, passa-se a linha de
um prego a outro, nessa seqüência: 1-3-5-7-9-11-13-15-17-1, e estamos
de volta ao prego 1. Como a diagonal 1-3 já está construída, vai-se de 1 a 4.Em
4, a menor diagonal aindao construída é 4 - 6. A seqüência agora, então é:
4-6-8-10-12-14-16-18-2-4.
Com as construções realizadas, todas as diagonais menores desse polígono
estão prontas. Essas diagonais menoreso obtidas, pulando-se um só vértice.
Prosseguindo, a seqüência é: 4-7-10-13-16-1-5-8-11- etc.
Mais algumas observações
3. A tática que estamos apresentandoo é exclusiva. É possível construir
as diagonais do polígono por outros caminhos. Entretanto, razões estéticas
recomendam a construção descrita. O bordado resultante apre-
sentará um bonito relevo.
4. Nesse processo todo, é importante poder errar, voltar atrás, tentar outro
caminho, poder desmanchar e começar de novo. É bem menos trabalhoso
fazer isso com a linha do que desenhando: Se necessário, leia novamente a
observação 2.
5. É preciso estar atento, percorrendo a classe. Alguns alunos se esquecem
das regras do jogo e passam pela mesma diagonal duas vezes, ou ligam um
prego a seu vizinho.
Alguns terminam, outros chegam a um beco sem saída
Uma das regras do jogo estabelece que todas as diagonais precisam ser
construídas. Inevitavelmente aparece a pergunta:
- Professor, como sei que já fiz todas?
- Descubra um jeito!
Espontaneamente ou, quando necessário, conduzidos pelo professor, a maior
parte dos alunos acaba percebendo que, se por exemplo, n = 20, de cada
prego devem partir 17 diagonais. Nem sempre generalizam esse resultado
com facilidade, concluindo que o número de diagonais que partem de cada
vértice é igual a n - 3. Mas, devagar, chegam a essa conclusão.
Depois de algum tempo, alguns alunos comunicam que completaram o
trabalho, enquanto outros reclamam porqueo conseguem completar a obra.
Chegam a um prego eom como continuar: todas as n - 3 diagonais que
partem dele estão construídas, e ainda existem diagonais a serem construídas!
Voltam atrás, desmancham parte do trabalho, seguem por outro caminho e,
o demora muito, estão novamente num beco sem saída.
Por quê?
Criado o clima, faço um levantamento da situação, perguntando o número
de lados que tem o polígono de cada um dos que conseguiram terminar e o
daqueles queo estão conseguindo. No primeiro grupo aparecem 19,23,15
etc, e, no segundo, 20, 22, 16 etc. Às vezes nem é preciso dirigir muito.
Alguns percebem essas coisas sozinhos e a notícia corre pela classe.
Nesse ponto é natural que todos se perguntem: por que é que se n é ímpar
a brincadeira dá certo, e quando par, não?
Custa um pouco para que todos entendam o que está acontecendo, mas
devagar, e com ajuda do professor, chegam.
Se n é par, o número de diagonais que partem de cada vértice, que é
n - 3, é ímpar. Vamos pensar assim: quando nos dirigimos a um determi-
nado prego, pela primeira vez, chegamos e partimos, construindo 2
diagonais. Quando voltamos a ele, construímos mais 2 (jáo 4 diagonais).
E assim por diante, o número de diagonais construídas vai aumentando de
2 em 2 : 6, 8, 10, etc. Como n - 3 é ímpar, haverá um momento em que só
uma diagonal estará faltando. Quando voltarmos a esse prego, a última
diagonal será construída, sem que se possa sair dele, respeitando as re-
gras do jogo. Eo adianta desmanchar e procurar outro caminho. Em
algum prego isso acontecerá necessariamente.
Moral da história: o jogo proposto e impossível quando n é par!
Veja bem: o jogo é impossível, o artesanato, não.
Desrespeitando uma das regras do jogo, é possível completar a constru-
ção das diagonais. Pode-se, por exemplo, amarrar a linha no prego, dar o,
cortá-la, amarrá-la num outro e prosseguir, até que nova impossibilidade apa-
reça. Repete-se o processo até construir todas as diagonais.
Para finalizar o trabalho, com o outro fio de linha, os alunos constroem os
lados do polígono regular.
O artesanato terminou, mas a Matemática envolvida nele mal começou!
Porém, antes de propor novos problemas, vale a pena explorar um pouco
mais o que já foi feito.
Quando n é ímpar, o número de diagonais que partem de cada vértice é par.
Desaparece então a impossibilidade verificada quando n é par. Vamos fixar
atenção no prego em que amarramos a linha para começar a construção. Na
seqüência, o número de diagonais construídas, que partem dele, é: 1,3,5,7 etc.
É só no vértice de partida que isto acontece. Nos demais, a seqüência é: 2,4,6,
8 etc. Isso permite concluir que a última diagonal deve terminar justamente
onde começou a primeira! É gostoso ver nos alunos, para os quais n é ímpar, a
reação a essa conclusão:
É mesmo, isso aconteceu com o meu trabalho!
Número de diagonais do polígono
Durante esse processo, os alunos perceberam que o número de diagonais que
partem de cada vértice é igual a n - 3. Pergunto a eles:
Quantas diagonais tem o seu polígono?
Cada um faz as contas para o seu caso particular. Nem todos percebem a
necessidade da divisão por 2: ao multiplicarem n por n - 3, contaram cada
diagonal duas vezes.
Para que percebam o erro, basta sugerir que façam o mesmo raciocínio para
um quadrado ou pentágono. Enfim, raciocinando com base na atividade desenvol-
vida, errando, percebendo contradições, acabam chegando ao resultado geral:
onde d é o número de diagonais do polígono.
Na construção que fizeram, com prego e linha, desenharam um polí-
gono regular (razões estéticas!). Vale a pena perguntar:
A fórmula obtida vale para um polígono convexoo regular?
Novos problemas
Peço aos alunos que observem os diferentes trabalhos. Em alguns deles,
no centro da figura aparece uma "rodelinha", um núcleo vazio. Em outras
issoo ocorre. Qual a explicação, por que isto acontece?
Logo percebem que, quando n é par existem vértices simétricos em relação
ao centro e por isso algumas diagonaiso diâmetros, passam pelo centro.
Quando n é ímpar, nenhuma diagonal é diâmetro. Daí a "rodelinha".
Outros problemas: quando n é par quantaso as diagonais que passam pelo
centro? Quando n é ímpar, quantaso as diagonais mais próximas do centro?
As respostas, queo respectivamente, n/2 e n, aparecem com algu-
ma facilidade.
Agora uma outra questão um pouco mais exigente: isso que estamos cha-
mando de "rodelinha", é, na verdade, um polígono. Demonstre que ele é re-
gular e tem também n lados.
E mais problemas
O artesanato construído pelos alunos é uma arte de linhas retas, e entretanto
vemos ali uma série de "circunferências" concêntricas. Observe bem as duas
últimas figuras. Na verdade essas "circunferências"o polígonos regulares com
muitos lados. Mas podemos pensar nas circunferências inscritas nesses polígonos.
A simples observação dos bordados dá a impressão de que o espaçamento entre
essas circunferências é constante. Com outras palavras, a sensação visual é de
que os raios dessas circunferências parecem formar uma progressão aritmética.
Será isto verdadeiro?
Como você, soltando a imaginação, a gente vai longe...
Como já disse, essa é uma arte de linhas retas. Quantos segmentos de
reta há em cada um daqueles trabalhos? Dois modos de exprimir a resposta:
Quantos triângulos podemos visualizar naquele emaranhado de linhas?
E quantos quadriláteros, pentágonos, etc? E quantos polígonos podem ser
vistos ali?
Mais algumas observações
6. Como você, o tema é rico, podendo ser explorado em diferentes níveis, com
diferentes graus de profundidade. Tenho trabalhado com ele no ensino médio.
Outros colegas o exploram no ensino fundamental: é preciso apenas alguma
sensibilidade para perceber até onde é possível avançar.
7. Aqui foram propostos alguns problemas Outros ainda poderiam ser apre-
sentados, dentro do mesmo tema. Gostaríamos entretanto, que os colegas
leitores da Revista nos escrevessem, propondo outros problemas, motiva-
dos a partir do artesanato aqui construído. Pensem ainda em outras liga-
ções desse tema com outros campos da Matemática.
Para que serve a Matemática, professor?
Em 1982, quando nascia a Revista do Professor de Matemática, na Seção
"Para que serve", preocupada em apresentar as aplicações da Matemática,
escrevemos o seguinte:
"...vivemos num mundo extremamente utilitarista, onde as coisas têm sempre
que servir a um fim material específico. No entanto, o homem continua gos-
tando de fazer certas coisas que não têm utilidade imediata, no sentido
utilitarista do termo. A arte é um exemplo disto."
As vezes, na Matemática, estudamos certos assuntos, resolvemos certos
problemas, simplesmente com a intenção de vencer desafios, brincar com a
Matemática, divertir-nos com ela. Esta dimensão também deve ser mostra-
da ao aluno: é possível sentir prazer, brincando com a Matemática ".
Penso que o artesanato construído com pregos e linha, e os problemas cria-
dos a partir dele, revelam com bastante força a fecundidade de um casamento
entre Matemática e Arte!
Caleidociclos
Ingo Valter Schreiner
A construção de caleidociclos
é interessante do ponto de vis-
ta artístico e leva ao estudo de
Geometria Plana e Espacial.
Para alunos do ensino funda-
mental, além da parte lúdica e
criativa, é possível trabalhar
com ângulos, triângulos, áreas
e medidas
Num curso sobre o ensino de Geometria nos en-
sino fundamental e médio, realizado em Panambi
- RS, em setembro de 1984, o professor Luiz
Márcio P. Imenes mostrou aos participantes dois
caleidociclos.o conhecia esse material, que me
fascinou tanto do ponto de vista geométrico como
do ponto de vista artístico. Os dois caleidociclos
eram decorados com motivos de Maurits C.
Escher (1898-1972), um artista gráfico dos Paí-
ses Baixos. Ao girar os caleidociclos de dentro
para fora ou de fora para dentro, apresentam-se
ao espectador ciclos de figuras diferentes.
A compreensão do funcionamento e a cons-
trução desses caleidociclos podem ser usadas
como aplicações interessantes e divertidas da
Geometria Espacial.
A Construção de um Caleidociclo
Para acompanhar este artigo, monte um
caleidociclo, observando as instruções a seguir:
1) Material necessário: régua, esquadro, tesoura,
lápis, borracha, cola e cartolina (ou qualquer
papel um pouco mais grosso que o comum).
2) Sobre a cartolina desenhe esta malha de
triângulos:
Nesta construção a precisão é importante. Ob-
serve que, com exceção de alguns, os triângulos
da malhao isósceles, de base a, e altura relati-
va à base é a também. Os demais triânguloso
retângulos, tendo catetos iguais a a e all.
O valor de a depende do pedaço de cartolina disponível.o convém, por
razões práticas, fazer a menor do que 4 cm.
3) Recorte segundo a linha de traço forte.
4) Nas linhas de traço fino você fará dobraduras. Nas linhas verticais dobre
o desenho para dentro e nas inclinadas dobre para fora. Um detalhe prá-
tico: antes de dobrar convém vincar a cartolina. Isto pode ser feito com a
régua e uma faca sem ponta.
5) Após as dobraduras, a parte hachurada do desenho receberá cola, fican-
do, por isso, dentro do caleidociclo. Cole A' sobre A, B' sobre B e C"
sobre C.
Assim procedendo você obtém um conjunto de seis tetraedros em cadei-
ra. Eles se ligam por uma aresta comum.
6) Agora forme um elo, articulando o pri-
meiro tetraedro com o último. Cole D'
sobre D e E' sobre E. Está pronto o
seu caleidociclo. Espere a cola secar
antes de brincar com ele.
4 Faces, 4 Giros
O caleidociclo que você construiu é composto de seis tetraedros. Mas é
possível construir outros, com maior número de tetraedros. De um modo
geral, um caleidociclo é formado por um número par 2k de tetraedros, sen-
do que k {3, 4, 5, ...}. No seu caleidociclo k= 3.
Tais tetraedroso congruentes e suas faceso triângulos isósceles
congruentes, de base a e altura relativa à base x.
Os 2k tetraedros têm, dois a dois, uma aresta de medida a em comum.
Com esta cadeia, como você viu, for-
mamos um ciclo fechado. Podemos gi-
rar este ciclo num sentido ou noutro,
como mostram as setas duplas.
Girando aparece um "buraco" estrelado no centro do caleidociclo. Em certo
momento este buraco desaparece. Nesse instante tetraedros vizinhosm suas
faces superpostas. Nessa posição, note que o "contorno" de seu caleidociclo é
um hexágono regular. Observe ainda que, nessa posição, você está vendo uma
face de cada um dos seis tetraedros. Girando, reaparece o "buraco" estrelado,
até que, novamente, ele desaparece. Nessa nova posição revelam-se outras
seis faces dos tetraedros.
Faça uma marca numa destas faces e gire o caleidociclo. Perceberá que
ela reaparece depois de quatro giros.
A relação entre a e x
Na posição em que o "buraco" desaparece, a metade das arestas de medi-
da a está contida num mesmo plano . As arestas restantes, quem esta
medida,o perpendiculares a P. Nesta posição, podemos definir o contorno do
caleidociclo como sendo sua intersecção com o plano π. Este contorno é um
polígono regular convexo quando k=3 ou k=4, e um polígono regular estrela-
do quando k >= 5. É no centro deste polígono que, nesta posição, coincidem
alguns vértices dos tetraedros.
k = 3 k = 4
K=5
A intersecção do plano P com
cada tetraedro é um triângulo
isósceles de lados a, x e x.
Como o número de tetraedros
é 2k resulta:
Fica óbvio nesse momento porque k deve ser maior do que 2. Usando a lei
dos cossenos no triângulo acima, temos: a
2
= x
2
+ x
2
- 2.x.x.cos (3, donde:
Esta expressão permite calcular a, em função de x, para qualquer
caleidociclo constituído de 2k tetraedros, com k Є {3, 4, 5,...}.
Na tabela seguinte apresento os valores de a, (3 e a (em função de x),
para k= 3, 4, 5, 6.
A Planificação
Num caleidociclo o número de faces triangulares é igual a 4 x 2k= 8k.
Como as arestas de medida ao comuns a dois tetraedros, podemos pensar
assim: juntando dois triângulos isósceles iguais pelas suas bases, obtemos um
losango (onde uma diagonal é a; a outra é 2x).
Portanto a planificação da caleidociclo é constituída de 4k losangos de
diagonais a e 2x. Os lados comuns destes losangos serão as outras arestas
(diferentes de a) dos tetraedros.
Na construção do caleidocicloo esqueça de deixar as partes que rece-
berão cola. Outro detalhe prático: levando em conta a espessura da cartolina,
é aconselhável tomar a ligeiramente menor que
(aproximadamente 2%).
Enfeitando Fica Mais Bonito
Como escrevi no início deste artigo, os primeiros caleidociclos que vi, eram
decorados com motivos do artista Maurits C. Escher. Se quiser enfeitar o
seu, poderá pintar cada faixa de losangos com motivos e cores diferentes.
Girando o caleidociclo, de cada vez aparecerá um desenho diferente.
Resolvendo
fisicamente
Ana Catarina P. Hellmeister
Maria Elisa E. L. Galvão
As atividades apresentadas
podem ser aplicadas na 6
a
série, na modelagem de re-
solução de equações de 1º
grau, usando peças coloridas
de cartolina ou papel craft.
Na 5
a
série pode ser usada
na modelagem das opera-
ções algébricas.
Na 8
a
série pode ser utili-
zada na modelagem e "vi-
sualização" da fatoração
dos trinômios do segundo
grau. Além de motivar o es-
tudo dos conteúdos menci-
onados, as atividades pro-
postas desenvolvem a cria-
tividade e o questionamen-
to na busca de soluções
para problemas.
Introdução
O objetivo deste artigo é relatar nossa experi-
ência de trabalho com professores de Matemática
do Ensino Fundamental II da rede pública, envolvi-
dos no Programa de Educação Continuada (PEC),
um projeto conjunto da Secretaria de Educação do
Estado deo Paulo e da Universidade deo
Paulo - USP, além de nossa experiência em ofici-
nas do Centro de Ensino de Matemática da USP.
A aceitação e o envolvimento dos professores
participantes, e a decisão de aplicação do materi-
al concreto na sala de aula nos estimularam a di-
vulgar mais amplamente o trabalho.
O objetivo das atividades propostas é, inicialmente,
a modelagem, com o uso de peças coloridas de car-
tolina, de expressões algébricas do primeiro e se-
gundo graus. A seguir, usa-se esse material para
modelar a resolução de equações do primeiro grau e
a fatoração de trinômios do segundo grau.
Uma observação deve sempre ser feita quan-
do se trabalha com material concreto: O profes-
sor precisa estar atento quanto à necessidade dos
alunos em usá-lo, pois, para aqueles queo ne-
cessitam de atividades com esse material para
compreensão do processo algébrico, a insistência
pode ser desmotivadora.
Material utilizado
Um conjunto de fichas de cartolina em duas
cores (que representaremos aqui em branco e cin-
za), constituído por:
Quadrados pequenos (1 X 1) - que representarão a unidade 1. Os qua-
drados brancos representarão as unidades positivas, e os cinza, as unida-
des negativas.
Retângulos - com um dos lados com a mesma medida 1 dos quadrados
pequenos e o outro lado com uma medida qualquer, queo seja um
múltiplo inteiro da unidade escolhida. Os retângulos brancos correspon-
derão à incógnita x e os cinza, ao seu oposto —x.
Quadrados grandes - cujos lados devem ter a mesma medida escolhida
para o ladoo unitário do retângulo anterior; também em duas cores, o
branco representando x
2
e o cinza o seu oposto -x
2
.
Para as atividades propostas neste artigo, é necessário que os alunos
dominem as operações com números inteiros, de preferência com repre-
sentação concreta, de modo análogo ao aqui utilizado.
Atividade 1
Trabalhamos inicialmente com a modelagem para expressões algébricas,
ou seja, vamos escolher o conjunto de peças que representará cada uma
dessas expressões, como nos exemplos a seguir:
Podemos efetuar adição
(-3x + 4) + (2x
2
+ 3x - 5), observando que as peças de cores diferentes
representam quantidades opostas e "se anulam" aos pares.
O resultado, portanto, será 2x
2
- 1:
Para efetuar a diferença
(-3x + 4) - (2x
2
+ 3x - 5), uma das formas de trabalhar pode ser somando a
expressão oposta, ou seja, usando que
(-3x + 4) + (2x
2
+ 3x - 5) = (-3x + 4) + + (-2x
2
- 3x + 5),
e teremos (-3x + 4) - (2x
2
+ 3x - 5) = -2x
2
- 6x + 9:
Podemos também modelar as várias possibilidades para o produto, usan-
do as representações:
Atividade 2
Usando a propriedade uma igualdade se mantém se efetuamos opera-
ções iguais em ambos os lados, modelamos a solução de uma equação do lº
grau, como nos exemplos abaixo.
É importante que cada operação efetuada em ambos os lados da igualda-
de seja acompanhada de sua representação simbólica para que, após muitos
exemplos, o estudante participante apreenda as propriedades usadas e se
liberte do material concreto, passando a resolver as equações algebricamente.
Vários professores que aplicaram a atividade em sala de aula relatam que, de
fato, é isso que acontece.
Exemplo 1.
Substituir cada tira branca por 2 quadradinhos brancos e verificar se existe
igualdade. A negação significa que x = 2o é a solução da equação.
Voltando à representação original, retirar duas tiras brancas de cada
lado, mantendo, portanto, a igualdade e obtendo:
Retirar um quadradinho branco de cada lado obtendo x = 1, que é a solução
da equação.
= D
Voltar à configuração inicial e substituir cada tira branca por um quadradinho
branco e verificar a igualdade.
Exemplo 2.
2x-2 = -x + 4
Acrescentar duas unidades positivas em cada lado, mantendo, portanto, a
igualdade e obtendo:
2x-2 + 2 = -x + 4 + 2 ou
2x = -x + 6.
Acrescentar uma tira branca em cada lado, obtendo:
2x + x = -x + 6 + x ou 3x = 6 ou
x = 2, que é então a solução.
Voltar à configuração inicial e substituir cada tira branca (cinza) por dois
quadradinhos brancos (cinza) e verificar a igualdade.
Exemplo 3.
Acrescentar 2 tiras brancas em cada lado, obtendo:
Retirar 2 quadradinhos brancos de cada lado, obtendo:
Voltar à configuração inicial e substituir as tiras, representando -x por 3
quadradinhos cinza (por quê?) e verificar a igualdade.
Sugerimos ao leitor que resolva, modelando como nos exemplos, outras
equações do lº grau cujas soluçõeso números inteiros.
Atividade 3
Nesta atividade, observando um modelo físico, os participantes podem
investigar a fatoração de um trinômio do 2- grau ax
2
+ bx + c, com a, b e c
inteiros cuja decomposição resulta em uma expressão do tipo (ax +p)(x + q)
com p e q inteiros. O objetivo é levar à percepção das propriedades que
permitam fatorar tais expressões no nível simbólico.
Para realizar a atividade, estabelecemos o seguinte:
Um trinômio do 2º grau da forma ax
2
+ bx + c com a, b e c inteiros
e a > 0 pode ser fatorado se, e somente se, for possível formar um
retângulo com as peças que o representam. As dimensões do retângu-
lo formado representam os fatores do trinômio.
Dessa forma, voltamos à estrutura do produto modelado nos exemplos 1,
2 e 3 da Atividade 1.
Por exemplo, os fatores de x
2
+ 3x + 2 podem ser encontrados construindo-
se um retângulo com uma peça que representa x
2
, três peças que represen-
tam x e duas peças que representam as unidades positivas.
X
2
+ 3X + 2 = (X+1)(X + 2)
Vejamos mais alguns exemplos:
1. O trinômio x
2
+ 6x + 9 pode ser fatorado construindo-se o quadrado ao
lado. Observe que trinômios quadrados perfeitos podem sempre ser re-
presentados por peças que formam um quadrado. Logo,
x
2
+ 6x + 9 = (x + 3)
2
.
2. O trinômio x
2
- 3x +2 pode ser fatorado, construindo-se o retângulo:
Logo,
X
2
-3X + 2 = (X-1)(X-2).
3. 2x
2
+ 4x - 6 = (2x - 2)(X + 3).
No próximo exemplo usamos, para formar o retângulo, a convenção de que
peças de cores diferentes se "anulam": 4x foi representado por 6x + (-2).
Depois de muitos exemplos, os alunos que participam da atividade devem
estar aptos para responder à questão:
Se ax
2
+ bx + c = (ax + p)(x + q), quais as relações que existem entre
os números p, q e c ? E p, q e b?
Em seguida devem usar essas relações para fatorar algebricamente ou-
tros trinômios e estarão prontos para resolver equações do segundo grau,
usando a fatoração para recair em equações do primeiro grau.
Por exemplo, para resolver a equação 2x
2
+ 4x - 6 = 0 (exemplo 3),
fazemos 2x
2
+ 4x - 6 = (2x - 2(x+ 3)) = 0 e então 2x - 2 = 0 ou x + 3 = 0;
logo, x = 1 ou x = -3.
arestas e...
Sólidos geométricos
Ana Maria Kaleff
Dulce Monteiro Rei
Usando canudinhos colo-
ridos e barbante é possível
construir sólidos geométri-
cos que levam alunos, des-
de a 6
a
série, a visualizar
propriedades, a se concen-
trar numa tarefa, a criar
imagens e a intuir soluções
de problemas.
A imagem concreta de-
lidos, polígonos e arestas
facilita o entendimento e
é essencial para o estudo
futuro da Geometria Pla-
na e Espacial.
As dificuldades apresentadas pelos alunos na
visualização de sólidos geométricos e a desmo-
tivação que muitos estudantes apresentam nas
aulas de Geometria Espacialm levado os edu-
cadores a buscarem meios para facilitar o ensino
das propriedades geométricas dos sólidos e para
tornar esse ensino mais atrativo e motivador.
Na nossa prática escolar temos utilizado ma-
teriais concretos para a construção de estruturas
que representam "esqueletos" de sólidos geomé-
tricos construídos por meio de suas arestas. Os
materiais de nossa preferência para as constru-
çõeso pedaços de canudos de plástico, unidos
por meio de um fio de linha e varetas finas de
madeira unidas por anéis elásticos.
Sugerimos a utilização de canudos plásticos de
refrigerantes, em três cores (ou diâmetros) dife-
rentes, um carretei de linha um pouco mais gros-
sa do que a linha usada para empinar pipas, pali-
tos "para churrasco", anéis elásticos, e uma agu-
lha grossa. Nos esquemas que seguem, indicare-
mos por -> o sentido em que a linha deve ser
inserida num canudo vazio e indicaremos por =>
o sentido em que ela dever ser inserida num ca-
nudo já ocupado por algum pedaço de linha.
Varetas, canudos,
Atividade 1
Construção de um tetraedro regular
O material a ser utilizado na atividade a seguir é um metro de linha, seis
pedaços de canudo de mesma cor e comprimento (sugerimos 8 centímetros).
Tome o fio de linha, passe-o através de três pedaços de canudo, construindo
um triângulo e feche-o por meio de um. Agora, passe o restante de linha por
mais dois pedaços de canudo, juntando-o e formando mais um triângulo com
um dos lados do primeiro triângulo. Finalmente, passe a linha por um dos lados
desse triângulo e pelo pedaço que ainda resta, fechando a estrutura com um.
Essa estrutura representa as arestas de um tetraedro regular, e as etapas inter-
mediárias de sua construção estão representadas na Figura 1.
Temos observado que alguns mais habilidosos, ao fazerem essa construção,
oo o nó indicado para a obtenção do primeiro triângulo, utilizando o pedaço
de linha sem interrupções para a construções do esqueleto do tetraedro. Isso
demonstra que tais alunos perceberam que os nós, apesar de facilitarem a
construção, podem ser evitados.
Nas construções das estruturas é importante obser-
var que, para se dar firmeza aos vértices de uma estru-
tura, é necessário reforçá-los, passando o fio de linha
mais de uma vez por cada pedaço de canudo, ligando-o
aos outros dois. O esquema apresentado na Figura 2
ilustra essa situação.
Atividade 2
Construção de um octaedro regular
Para essa atividade,o necessários dois metros de linha, doze pedaços
de canudo de mesma cor e comprimento (novamente sugerimos a medida de
8 centímetros).
Com pedaços de canudos e o fio de linha, construa quatro triângulos e os
una, dois a dois, conforme o esquema apresentado na Figura 3.
Atividade 3
Construção de um icosaedro regular
Para essa atividade,o necessários três metros de linha, trinta pedaços de
canudo de mesma cor e comprimento (sugerimos a medida de 7 centímetros).
Construa quatro triângulos, seguindo o esquema da figura 4 e os una
obtendo uma pirâmide regular de base pentagonal, como a desenhada na
figura. Repita essa construção, obtendo mais uma pirâmide. Una cada uma
das pirâmides através dos vértices das bases, por meio de pedaços de ca-
nudos, de tal forma que em cada vértice se encontrem cinco canudos.
Atividade 4
Construção de um cubo e de suas diagonais
Serão necessários doze pedaços de canudo da mesma cor e medindo 8 cm,
seis canudos de outra cor ou de diâmetro menor do que o anterior, e mais um
canudo de cor diferente das demais.
Com pedaços de canudo da mesma cor construa um cubo de 8 cm de
aresta. Para isso, passe o fio através de quatro canudos e passe a linha nova-
mente por dentro do primeiro canudo, construindo um quadrado. Consideran-
do um dos lados desse quadrado e passando a linha por mais três canudos,
construa mais um quadrado. Observe que ainda faltam dois canudos para
completar as arestas do cubo. Prenda-os de maneira a completá-lo. Se você
o conseguir realizar essa tarefa, observe o esquema da Figura 5.
Figura 5
Os alunos observarão que a estrutura construídao tem rigidez pró-
pria, pois os seus ladoso ficam por sis perpendiculares à superfície da
mesa. Então é necessário que os levemos a conjecturar em como tornar
essa estrutura rígida. Nesse processo, notamos que os alunos observam
que, se construirmos triângulos nas faces dessa estrutura ou no seu interior,
ela se enrijecerá. Dando continuidade a esse raciocínio, sugerimos ao aluno
a tarefa seguinte:
Figura 6
Figura 7
Agora, com pedaços de canudo de cor (ou diâmetro) diferente da
usada para representar as arestas do cubo, construa uma diagonal em
cada face, de modo que em cada vértice que determina a diagonal che-
guem mais duas diagonais. Que estrutura você construiu?
Observe a Figura 6. Assim procedendo, o aluno construirá um tetraedro
formado por seis diagonais das faces do cubo.
A seguir, com um pedaço de canudo de cor diferente das anteriores, cons-
trua uma diagonal do cubo.
Devemos levar o aluno a observar que essa diagonal formará com uma
das arestas do cubo e com uma das diagonais da face, um triângulo retân-
gulo. Essa construção é muito útil para ilustrar aplicações do Teorema de
Pitágoras, pois a maioria dos alunosm problemas para visualizar situa-
ções como essa.
Temos verificado que os alunos percebem que, após as atividades anteri-
ores, já construíram quatro dos cinco poliedros regulares de Platão (ver RPM
15, p. 42) e a questão se é possível construir o dodecaedro pode surgir natu-
ralmente. Apesar de ser uma tarefa trabalhosa, os alunos se propõem a cons-
truir essa estrutura, porém, preferencialmente, em grupo eo como uma
tarefa individual.
O problema dos
cinco discos: sorte
ou sabedoria?
Ma-To Fu
Roberto Elias
Essa atividade pode ser pro
posta a alunos de todos os
níveis. O que está em evi-
dência aqui é o raciocínio.
Como resolver um proble-
ma? Nossa sugestão é ex-
plorar todas as possibilida-
des de distribuição dos dis-
cos, fazer experiências em
sala de aula, talvez uma com-
petição... Após familiarizar os
alunos com o problema, é o
momento de organizara in-
formação: analisar soluções
propostas pelos alunos, en-
contrar "furos", encontrar a
solução mais eficiente...
Neste artigo queremos mostrar uma curiosidade
sobre o antigo problema dos cinco discos. A mais
bela apresentação desse problema se encontra em
O homem que calculava. Nele é contada uma
lenda em que três príncipes muito sábios e conhe-
cedores da Matemática pretendiam casar com a
princesa Dahizé, filha do rei Cassim.
A prova dos cinco discos foi proposta por um
grande sábio da corte para decidir qual dos três
pretendentes era o mais inteligente.
Foram mostrados aos príncipes cinco dis-
cos, sendo dois pretos e três brancos, todos de
mesmo peso e tamanho. Em seguida vendaram-
lhes os olhos e, ao acaso, foi pendurado às
costas de cada um dos três um disco. Disse o
rei: "Cada um de vós será interrogado particu-
larmente e aquele que descobrir a cor do disco
que lhe coube por sorte, será declarado o ven-
cedor. O primeiro a ser interrogado poderá ver
os discos dos outros dois, ao segundo será per-
mitido ver o disco do terceiro, e o terceiro terá
que formular a resposta sem ver nada. Aquele
que der a resposta certa terá que justificá-la".
Aconteceu então que o príncipe Camozã quis
ser o primeiro. Viu os dois discos dos seus adversá-
rios e errou. Em seguida, sabendo que Camozã havia
errado, o príncipe Benefir se prontificou em ser o se-
gundo, mas também errou. Aradim, o terceiro prín-
cipe, acertou com absoluta segurança. Qual foi a res-
posta do príncipe Aradim e como ele descobriu?
Esse é o problema dos cinco discos. Malba Tahan dá uma inteligente
solução a esse problema, em que conclui também que Aradim foi conside-
rado o mais inteligente entre os três príncipes.
Eis a solução de Malba Tahan: o príncipe Aradim afirmou que o seu
disco era branco e justificou da seguinte maneira: "Se Camozã (o primeiro
a falar) tivesse visto dois discos pretos, ele obviamente teria acertado.
Como ele errou, conclui-se que viu dois discos brancos, ou um preto e um
branco. Na hipótese de Benefir ter visto em minhas costas um disco
preto, ele (usando o mesmo raciocínio que fiz com relação a Camozã)
teria acertado. Logo, ele só pode ter visto um disco branco e, portanto, o
meu disco é branco".
A curiosidade que pretendemos apresentar é que, sob o ponto de vista
matemático, Aradimo é mais inteligente que Camozã ou Benefir. Com
efeito, basta calcularmos as probabilidades de acerto de cada um dos três
príncipes, levando em conta que todos eleso sábios.
As possíveis distribuições dos discos
Sejam b = (disco branco) e p = (disco preto). Por simplicidade escrevemos
X = Camozã,
Y =Benefir e
Z = Aradim
Então a ordem em que os príncipes se apresentaram para serem interro-
gados pode ser representada por uma terna ordenada (X, Y, Z).
A título de exemplo, perguntamos quantas maneiras diferentes podem X
possuir disco branco, Y possuir disco preto e Z possuir disco preto? Isto é, de
ocorrer (b, p, p).
Sabemos que existem três discos brancos b , b
2
e b
3
e dois discos pretos
p
1
e p
2
Por uma simples contagem, obtemos seis maneiras diferentes de
ocorrer (b, p, p), a saber:
É claro que o número total de maneiras em que podem ser distribuídos os
discos aos príncipes é A
5,3
= 60. Descrevendo esses casos, obtemos:
a) Se os conjuntos unitários de um espaço amostrai finito Um todos a
mesma probabilidade, então a probabilidade de um evento A qualquer de U
será dada por:
onde n{A) é o número de elementos do evento A e n(U) é o número total
de elementos do espaço amostrai U.
b) Nas mesmas condições de a), se A
1
A
2
..., A
n
o eventos disjuntos
entre si,
Como o problema afirma que a escolha dos discos é feita ao acaso, se-
gue-se que o espaço amostrai associado ao problema satisfaz as condições
necessárias para a validade de a) e b).o é difícil verificar também que o
problema admite uma estratégia que maximiza a probabilidade de vitória de
cada concorrente e garante, com probabilidade 1, a existência de um vence-
dor, que certamente será único uma vez que o processo termina no momento
em que um dos concorrentes acertar a cor do seu disco. Como os concorren-
tes supostamenteo sábios, é razoável admitir que eles seguirão a melhor
estratégia em cada situação e portanto teremos
onde P{X), P(Y) e P(Z) são, respectivamente, as probabilidades de vitória de
X, Y e Z.
A estratégia é ótima e a correspondente probabilidade de vitória de X
Se XV\r dois discos pretos nos seus adversários, saberá que restam três
discos brancos. Responderá então com absoluta segurança que possui um
disco branco. Assim o evento E
7
lhe é favorável. Caso X veja dois discos
brancos, saberá que restam dois discos pretos e um disco branco. Logo
responderá possuir disco preto, contando com a probabilidade 2/3 de acer-
tar. Conseqüentemente, o evento E
2
lhe é favorável e o evento E
1
lhe é
desfavorável. Suponhamos agora que X tenha visto um disco branco e um
disco preto em seus concorrentes. Concluirá que restam dois discos bran-
cos e um disco preto. Logo, deverá responder que possui um disco branco,
contando com a probabilidade 2/3 de acertar. Segue que os eventos E
3
e E
4
lheo favoráveis e o evento E
6
lhe é desfavorável.
Em resumo, usando essa estratégia, X irá acertar, na hipótese de ter ocor-
rido qualquer um dos eventos disjuntos E
2
, E
3
, E
4
ou E
7
e irá errar se houver
E
1
, E
5
ou E
6
. Segue-se, então, que:
Isto mostra que a probabilidade de vitória do príncipe Camozã, o primeiro
candidato, é de 70%, contando com a sua sabedoria.
Conclusão
Vimos que a probabilidade de o príncipe Camozã responder correta-
mente a respeito da cor do seu disco é de 70%, restando assim apenas 30%
de probabilidade para que os outros dois príncipes tivessem chance de se-
rem apenas interrogados.
Considerando ainda que Aradim só seria interrogado caso Benefír (o se-
gundo interrogado) também errasse, pode-se mostrar que ele é o que teria a
menor chance de ser escolhido como noivo de Dahizé.
No entanto, Aradim é possuidor de muita sorte, pois os dois primeiros
concorrentes erraram. Mas, sem sombra de dúvidas, ou ele é o menos sábio
entre todos ou faltou-lhe coragem para protestar quando os dois outros pas-
saram à sua frente.
Só para completar, a probabilidade de Benefir acertar é de 20%, e a
probabilidade do príncipe Aradim acertar é de apenas 10%.
NR
A rehabilitação de Aradim
O leitor atento poderáo concordar com a conclusão desta história
afinal, o rei dissera que os príncipes deveriam justificar a resposta correta.
Fica a pergunta sobre o que o rei entendia por "justificar".
Seria aceitável, em caso de dúvida, uma adivinhação educada, isto é, uma
opção pela alternativa mais provável? Ou seria necessária uma explicação
lógica de como se chegou à única alternativa correta possível? Neste caso,
quais seriam as probabilidades de vitória de cada um dos três concorrentes?
Renate Watanabe
Após a criação do mundo, em um mosteiro es-
condido na índia, o Grande Criador colocou uma
placa de bronze e nela fixou três bastões cober-
tos de diamantes. Em um dos bastões, em ordem
decrescente de tamanho, colocou 64 discos de
ouro. E assim disse aos monges: "Transfiram esta
pilha de discos para outro bastão, movendo,
ininterruptamente, um disco de cada vez, e nunca
permitindo que um disco fique acima de um me-
nor. Quando terminarem esta tarefa, e os 64 dis-
cos estiverem em outro bastão, este templo se
reduzirá à, e com um estrondo de trovões o
mundo acabará."
Dizem os sábios que o mundo foi criado há 4
bilhões de anos aproximadamente e os monges,
desde a criação, estão movendo os discos, na ra-
o de um disco por segundo.
Será que veremos o mundo acabar?
É muito difícil imaginar os movimentos feitos
com uma pilha de 64 discos.
Imaginemos uma pilha com 1 disco:
Uma lenda:
Torre de Hanoi
Esse interessante jogo é
apresentado de forma
lúdica, como uma história
ocorrida em um mosteiro na
índia. Mostra a necessidade
da construção de um méto-
do para resolver problemas:
partindo de casos mais sim-
ples, discutir possíveis gene-
ralizações.
Estuda-se o jogo para 1 dis-
co, 2 discos, 3 discos e 4
discos, e tenta-se obter uma
solução para um número
qualquer de discos. Discu-
te-se o processo de genera-
lização, que podeo ser
válido, mostrando-se vários
exemplos.
Também trabalha com or-
dem de grandeza, discutin-
do, por exemplo, quanto
tempo é - em segundos, mi-
nutos, horas, dias ou anos -
o número 2
64
.
Para 1 disco, a transferência se dá com 1
movimento:
Dois discos
Para 2 discos, a transferência se dá com 3 movimentos.
Três discos:
m
4
=15.
Já se pode ver como deslocar n discos, com um menor número de movi-
mentos possível: inicialmente, movem-se n - 1 discos para o bastão de trás,
com m
n-1
movimentos; em seguida, move-se o n-ésimo disco para o outro
bastão da frente, com 1 movimento; finalmente movem-se os n - 1 discos do
bastão de trás para o da frente, com m movimentos. Tem-se:
Façamos uma tabela com o número de discos e o número de movimentos
mínimo para mudá-los de um bastão para outro:
Quatro discos:
Precisamos descobrir o valor de m
64
, porque m
64
segundos após a criação
do mundo ele acabará, e já se passaram 4 bilhões de anos!
Observando a segunda linha da tabela, vemos que os seus números são, a
menos de 1, 2, 4, 8, 16, 32, 64, ou seja, 2
1
, 2
2
, 2
3
, 2
4
, 2
5
, 2
6
, o que nos leva a
fazer a seguinte conjetura:
Esta sentença é verdadeira para n = 1, 2, 3 ,4 5, 6, mas será verdadei-
ra sempre?
Tentemos demonstrá-la por indução.
Seja S o conjunto dos números naturais n tais que, n discoso movidos
com 2
n
-1 movimentos.
1) 1 e 5, pois para 1 disco necessitamos de 1 = 2
1
- 1 movimentos.
2) Vamos supor que k e S, isto é, k discoso removidos com 2
k
- 1
movimentos.
Vamos provar que k + 1 e S, isto é, que m
k+1
= 2
k+1
- 1.
Para remover k + 1 discos passamos, inicialmente, k discos para o bastão
de trás com m
k
movimentos; em seguida, com 1 movimento, o (k + 1)
-ésimo disco vai para o outro bastão da frente; com m
k
movimentos, os k
discos de trás passam para o bastão da frente. Isto é,
e isto mostra que k + 1 e S.
O princípio da indução nos garante que n discos podem sempre ser remo-
vidos com 2" - 1 movimentos e, em particular, m
64
= 2
64
- 1.
E assim, ficamos sabendo que 2
64
-1 segundos após a criação do mundo, ele
terminará. Com um pouco mais de Matemática, ficaremos sabendo se isto
ocorrerá logo.
Façamos alguns cálculos. Quantos segundos tem um ano?.
Resposta:
Exagerando, vamos supor que os monges façam 2
25
movimentos por ano
(na verdade fazem uns 2 milhões a menos). Com isso, o mundo acabará em
Passaram-se até hoje 4 bilhões de anos, ou seja, 4 . 10
9
anos.
Podemos ficar tranqüilos - faltam mais do que 508 bilhões de anos
para os monges terminarem sua tarefa - isto, supondo que eleso
errem no caminho.
Os bastões com 7,8 ou 9 discos constituem um brinquedo conhecido como
"Torre de Hanoi"
(4)
, inventado pelo matemático francês Edouard Lucas (1842-
1891) e já vendido como brinquedo em 1883. Um folheto o acompanhava,
contando a lenda acima. E. Lucas demonstrou um teorema conhecido como
"teste de Lucas", que lhe permitiu provar, entre outros fatos, que 2
127
-l é um
número primo e este foi, até 1952, o maior número primo conhecido.
Em que dia da semana
foi proclamada a
independência do Brasil?
Paulo Sérgio Argolo Gonçalves
Segunda-feira? Terça-feira?... Sábado? Domingo?
A atividade sugerida trata de
com um problema prático
bastante concreto: saber em
que dia da semana caiu 07
de setembro de 1822. O
professor pode introduzir o
assunto com problemas
mais simples, do tipo: que
dia da semana foi 1º de ja-
neiro deste ano? E 1
a
de
dezembro do ano passado?
Pode "personalizar" o pro-
blema, pedindo a cada alu-
no que calcule em que dia
da semana nasceu.
A solução para estas per-
guntas vai mostrar o cami-
nho a ser seguido, o racio-
cínio matemático envolvi-
do. O conteúdo tratado é
divisão de números inteiros
e restos destas divisões.
Apesar do conteúdo ser
simples, é ao tentar resol-
ver os problemas propos-
tos, que surge uma grande
riqueza de possibilidades.
Como utilizar o que já co-
nhecemos para resolver
problemas reais, envolven-
do matemática? Existem-
rios caminhos possíveis?
Introdução
Seria fácil responder à pergunta do título se o
ano tivesse exatamente 364 dias. Como 364 é di-
visível por 7, ano após ano, os mesmos dias do
s cairiam nos mesmos dias da semana.
Um ano, porém, tem, aproximadamente, 365,25
dias. Este é o motivo por que, adotando 365 como
o número de dias de um ano, a cada 4 anos é
necessário fazer uma correção através de um ano
bissexto, de 366 dias.
Mas esta correção aindao é suficiente pois,
para manter o calendário em sincronia com as
estações do ano, este deveria ter 365,242199 dias.
Por este motivo, o papa Gregório XIII, em 1582,
promulgou o calendário gregoriano, ainda em uso
nos dias de hoje, onde os anos bissextoso as-
sim caracterizados:
anos bissextos são os correspondentes a núme-
ros divisíveis por 4, mas não por 100, exceto os
divisíveis por 400, estes, também, bissextos.
Daremos inicialmente a regra prática que per-
mite determinar o dia da semana de qualquer data
entre 01/01/1800 e 31/12/2100. Na segunda parte
do artigo justificaremos esta regra.
A regra prática
Usaremos uma tabela em que a cadas corresponde um número. Para
os anos bissextos serão usados os números entre parênteses.
Uma outra tabela associará os dias da semana com os números inteiros de 0 a 6:
1º caso:
datas de 01/01/1900 a 31/12/1999
Vamos determinar a soma A + B + C + D, onde
A é o número formado pelos dois últimos algarismos do ano dado.
B é a parte inteira do quociente da divisão de A por 4.
C é o dia dos dado.
D é o número da primeira tabela correspondente aos dado.
Em seguida dividimos A+ B + C + D por 7, achando um resto inteiro entre
0 e 6. A segunda tabela mostra como associar o resto com o dia da semana.
Exemplo:
18 de outubro de 1956
Temos: A = 56
5=14 (quociente de 56 por 4)
C 18
D = 1 (correspondente a outubro)
Logo, a data foi uma quinta-feira.
2º caso:
datas de 01/01/2000 a 31/12/2099
Acrescentamos 6 à soma definida no lº caso. O restante
mesmo. Por exemplo: 20 de fevereiro de 2040.
A =40
5=10
C=20
D = 3 (corresponde a fevereiro em ano bissexto)
acréscimo = 6
A data será, portanto, uma segunda-feira.
3
a
caso:
datas de 01/01/1800 a 31/12/1899
Agora acrescentamos 2 à soma definida no lº caso.
Exemplo: 7 de setembro de 1822
A =22
B = 5 (quociente na divisão de 22 por 4)
C=7
D = 6
acréscimo = 2
Logo, a Proclamação da Independência do Brasil ocorreu num sábado.
Justificativa da regra prática
Vamos nos limitar a uma justificativa para o período de 01/01/1900 a
31/12/1999, pois, adotando roteiro análogo, poderá o leitor completar as
lacunas que permanecerem e assim desfrutar um agradável entreteni-
mento aritmético.
No que segue, usaremos sempre as letras A, B, C e D, como foram defi-
nidas acima.
Vejamos a tabela dos meses:
Janeiro
Usando a regra prática, descobriremos que o dia lº de janeiro de 1900 caiu
numa segunda-feira. Este é um fato que será usado para a construção da
tabela.
Ao dia 1, portanto, está associado o número 2 (de 2
a
f), o mesmo aconte-
cendo com os dias 8, 15,22 e 29, todos do tipo 7k+1. Isto é, se o dia dos
for do tipo
7k+1, a ele estará associado o número 2(1 + 1).
Analogamente, se o dia for do tipo
7h 4 - 2, a ele estará associado o número 3 (2 + 1);
7k + 3, a ele estará associado o número 4 (3 + 1);
7k + 6, a ele estará associado o número 0 (sábado);
7k + 0, a ele estará associado o número 1 (domingo).
Uma possível regra prática para janeiro de 1900 seria: divida o dia dos
por 7 e acrescente 1 ao resto da divisão, ou, o que é mais simples: some 1 ao
dia do mês o resto da divisão por 7 (do resultado) dará o dia da
semana. Esta é a razão do 1 ao lado de janeiro.
Fevereiro
Observe que do dia 01/01 a 28/01 existem 4 semanas completas, sobran-
do ainda 3 dias de janeiro (os dias 29, 30 e 31). Portanto à data C de
fevereiro de 1900 devemos somar 1+3 (1 que já vem de janeiro, mais 3 por
causa dos dias 29, 30 e 31) e dividir o resultado por 7 para que o resto da
divisão dê o dia da semana.
(Observe:
31/01—31 + 1 =32 = 4x7 + 4 — 4ªf.
01/021 +
1
+ 3 = 5 5
a
f.)
Isto explica o porquê da parcela 4 ao lado de fevereiro.
Março
Fevereiro tem 4 semanas completas (em anoso bissextos). Portanto a
mesma regra de fevereiro de 1900 serve para março de 1900: some 4 ao dia
C de março de 1900 e divida o resultado por 7.
Abril
Março tem 31 dias, isto é, 4 semanas completas mais 3 dias.
À data C de abril de 1900 deve-se somar a parcela 4 + 3(4, que já vinha de
março, e mais 3, por causa dos dias 29, 30 e 31 de março).
Mas o resto da divisão de C + 7 por 7 é igual ao resto da divisão de C por 7.
Daí, o 0 na tabela, ao lado de abril.
Maio
Abril tem 30 dias, isto é, 4 semanas mais 2 dias.
Basta somar 2 a cada dia C de maio de 1900 e dividir o resultado por 7.
O resto dará o dia da semana.
Esta é a razão do 2 ao lado de maio.
Junho
Maio tem 4 semanas e mais 3 dias.
Ao dia C de junho de 1900 devemos somar 2 + 3 (2 é a parcela que vinha
de maio e 3, por causa dos dias 29, 30 e 31 de maio).
Isto explica o 5 ao lado de junho.
O leitor saberá justificar, para l900, os números ao lado dos outros meses.
Seja agora um ano TV,o bissexto, entre 1900 e 2000, cujos dois últimos
algarismos formem o número A.
Entre 1 de janeiro de 1900 e 1 de janeiro do ano TV, transcorreram A anos, sendo
B (parte inteira do quociente de A por 4) o número de anos bissextos. A quanti-
dade de dias nesse período foi 366 B + 365 (A - B) = 365 A + B = 364 A + A + B
Já que 364 A é divisível por 7, o resto da divisão de 365 A+B por 7 é igual
ao resto da divisão de A + B por 7. Para determinarmos o dia da semana em
que caiu um dia C de ums qualquer do ano TV, basta encontrar o resto da
divisão por 7 da soma A+ B + C + D.
Suponhamos agora o ano N, bissexto.
Entre 1 de janeiro de 1900 e 1 de janeiro do ano TV, transcorreram A anos
dos quais B - 1 foram bissextos. A quantidade de dias nesse período foi:
366 (B -1) + 365
[A
- (B -
1)]
= 365 A + B -1 = 364 A + A + B - 1
O resto da divisão deste número por 7 é igual ao resto da divisão de
A + B ~ 1 por 7. Assim, para localizarmos o dia da semana em que caiu um
dia C de janeiro ou fevereiro do ano TV, basta achar o resto da divisão por 7
da soma A+B + C + D \. Esta é a razão dos números entre parênteses,
ao lado de janeiro e fevereiro, na tabela dos meses.
Se a data Co pertencer a janeiro ou fevereiro, será necessário calcular o
resto da divisão por 7 do número (A+B-l) + (C + D+ l), sendo o acréscimo
1 devido ao fato de fevereiro ter um dia a mais em um ano bissexto. Mas,
(A+B + -l)
+
(C
+
D+l) = A+B
+
C
+
D
Portanto, para meses diferentes de janeiro e fevereiro a tabelao sofre-
rá qualquer alteração.
Queremos ainda mencionar que, embora tenhamos apresentado um
método válido para o período de 01/01/1800 a 31/12/2099, o leitor poderá
com algumas modificações necessárias localizar dias da semana para ou-
tros períodos de tempo.
Fechando o dominó
Alexandre Kleis
Estas atividades usam o jogo
de dominós para motivar o
estudo de contagem, múlti-
plos, divisores e paridade de
números naturais.
A simples construção de um
jogo de dominós, usando
cartolina ou papel cartão é
um exercício de contagem or-
ganizada para decidir, por
exemplo, quantas e quais pe-
ças precisam ser cons-
truídas,ou quantas vezes um
determinado número apare-
ce nas peças.
A construção pode ser feita
mesmo na 5
a
série. O de-
safio da construção dos
"quadrados mágicos" com
as peças de dominó exerci-
tam a criatividade e as ope-
rações aritméticas.
"Fechando o dominó" envol-
ve observação, contagem e
paridade.
Estas atividades podem ser
utilizadas desde a 5ª série,
mas serão úteis e lúdicas
também para alunos até da
8ª série.
O problema
Meu irmão estava jogando dominó com alguns
amigos, quando um deles "fechou" o jogo. Encer-
rado assim, sem ninguém "bater", cada dupla con-
tou seus pontos (a soma dos números das pedras
que sobraram). Um jogador disse "22" e outro fa-
lou "15". Aí um amigo de meu irmão protestou:
o pode! Se o jogo foi fechado e uma dupla
tem um número par de pontos, a outra tam-
m tem. Ou então as duasm números ím-
pares de pontos.
De fato, analisando o jogo, descobriram um
"gato": uma pedra colocada erroneamente, lá
no meio.
Meu irmão ficou curioso. Por que a paridade
das somas de pontos tinha de ser a mesma? Seu
amigo lhe deu uma resposta queo o convenceu
jogava há anos dominó e sempre fora assim.
O que segue é uma explicação que encontrei
para esta dúvida.
A explicação
O dominó é um jogo formado por 28 peças,
como as da figura:
Dominós |
Nelas aparecem todas as combinações possíveis dos números de 0 a 6,
dois a dois, inclusive com repetição. Cada número aparece 8 vezes.
Creio que todos os leitores conhecem as regras do jogo.
Um exemplo de jogo fechado é o seguinte:
Êste jogo se diz "fechado" porque todas as pedras que contêm o "3" já
estão na mesa e, em conseqüência, ninguém mais tem como jogar.
Em um jogo fechado, os números nas duas extremidades são iguais.
De fato, todos os números, salvo os das pontas, aparecem aos pares, pela
própria regra do jogo. Portanto, um jogo fechado que começa com 3, por
exemplo, terá 6 ocorrências do 3 "internamente" e o último 3 disponível terá
que estar, necessariamente, na outra ponta.
Como conseqüência, a soma de todos os números (na mesa), em um jogo
fechado, será par.
Observando que a soma total dos pontos em um jogo de dominós é
5=8 (0+1+2 + 3 + 4 + 5 +6) e, por-tanto, par, vê-se que, em um jogo fechado,
sobra, ao todo, um número par de pontos nas mãos das duas equipes adversárias.
Isto significa que cada uma das equipes terá um número par de pon-
tos (dando uma soma par), ou cada uma das equipes terá um número ímpar
de pontos (dando também uma soma par). O queo pode acontecer é que a
soma dos pontos de uma equipe seja par e da outra, ímpar, pois neste caso a
soma total seria ímpar, o que já vimoso pode acontecer.
Outra observação
Com uma definição adicional, podemos tirar mais uma conclusão.
Definição. Uma pedra é ímpar quando a soma de seus números for impar.
Por exemplo, 3 : 2 é uma pedra ímpar.
Conclusão. Em um jogo fechado, a quantidade de pedras ímpares, na
mesa, é par.
De fato, já vimos que em um jogo fechado, a soma dos pontos, na mesa, é
par. Ora, uma soma par deve ter um número par de parcelas ímpares.
O jogo de dominós
(um desafio matemático?)
José Lafayette de
Oliveira Gonçalves
Um jogo muito antigo e conhecido por muitos estudantes e professores é o
jogo de dominós. Ele é constituído por 28 peças retangulares e pode ser con-
feccionado com retângulos, por exemplo, de 6 cm x 3 cm, divididos em 18
quadradinhos de 1 cm x 1 cm. A marcação dos pontos em cada peça deve
obedecer a uma certa estética:
As peças de dominóm sido usadas em sala de aula, nas séries iniciais,
para efetuar e fixar pequenas somas. Por exemplo:
O próprio jogo de dominós é desafiante. O mais comum é o que envolve
4 jogadores, divididos em duplas. Cada jogador recebe 7 peças, e torna-se
vencedora aquela dupla em que um dos parceiros consegue colocar todas
as suas peças antes dos demais jogadores. Jogadores hábeis observam as
peças à medida queo sendo jogadas e descobrem rapidamente quais
ainda estão nas mãos do parceiro ou dos adversários, permitindo-lhes ela-
borar estratégias que os levam à vitória.
Podemos também utilizar os dominós para apresentar aos nossos alunos
alguns desafios interessantes:
1. Com as 8 peças: (0 e 0); (0 e 1); (0 e 2); (0 e 3); (1 e 1); (1 e 2); (2 e 2)
e (2 e 3), formar um quadrado, de modo que as somas ao longo das linhas
horizontais, verticais e ao longo das duas diagonais sejam todas iguais a 5.
Um pouco mais difícil é o seguinte desafio:
2. Com as 8 peças: (1 e 1); (1 e 2); (1 e 3); (1 e 4); (2 e 3); (2 e 4); (3 e 4) e
(3 e 5), formar um quadrado, de modo que as somas ao longo das linhas
horizontais, verticais e ao longo das duas diagonais sejam todas iguais a 10.
3. Trocando apenas as peças (1 e 1) e (3 e 5) pelas peças (0 e 2) e (4 e
4), repetir o desafio acima.
4. Finalmente, com as 18 peças:
(0 e 0); (0 e 1); (0 e 2); (0 e 3); (0 e 4); (0 e 5);
(l e
1);
(l e 2); (l e 3); (l e 4); (l e 5); (l e 6);
(2 e 2); (2 e 3); (2 e 4); (2 e 6); (3 e 3) e (3 e 4),
formar um quadrado, de modo que as somas ao longo das linhas horizon-
tais, verticais e ao longo das duas diagonais sejam todas iguais a 13.
O jogo dos
quadrinhos
Helder de Carvalho Matos
Esta atividade utiliza o jogo
de quadradinhos, que é bas-
tante conhecido em algumas
regiões. Caso os alunoso
o conheçam, o professor
pode apresentá-lo e ensiná-
los a jogar.
A atividade estabelece estra-
tégias para se ganhar o jogo
e pode ser aplicada, com
adaptações em qualquer-
rie da 5ª a 8
a
.
O jogo de quadrinhos é muito conhecido e
o simples que pode ser explicado em pou-
cas palavras. Ele é jogado num quadricula-
do de pontos como ilustra a Figura 1.
Cada jogador marca uma aresta unindo
dois vértices na mesma horizontal ou na
mesma vertical (Figura 2).
Figura 2
Figura 3
e toda vez que um dos jogadores, ao colocar
uma aresta, completar um circuito fechado,
ele tem direito (e obrigação) de marcar nova
aresta (é importanteo confundir "circuito
fechado"com "quadrinho unitário" ou, sim-
plesmente, "quadrinho". Embora todo qua-
drinho seja um circuito fechado, este pode
ser mais geral que um simples quadrinho,
como ilustra a Figura 3).
Figura 4
Ganha o jogador que fechar o maior número
de quadrinhos, e o jogo termina quando o qua-
driculado original ficar reduzido apenas a qua-
drinhos. Para facilitar a contagem, os jogadores
marcam os quadrinhos queo fechando com
sua inicial. Por exemplo, se Herculano joga com
André, o jogo pode terminar com a vitória de
André (Figura 4)
O jogo de quadrinhos é largamente jogado
em fundos de salas de aulas, sobretudo quando
a aula fíca muito chata... E foi depois de muito
jogar em tais circunstâncias que acabei desco-
brindo como prever, em qualquer jogo, qual dos
dois jogadores ganhará (ou, pelos menos empa-
tará) o jogo.
Daremos algumas definições preliminares.
Diremos que o jogo se encontra numa situação
quase final, quando no quadriculadoo exis-
tirem quadrinhos com três arestas, mas um tal
quadrinho forçosamente se formará com o
acréscimo de qualquer nova aresta (Figuras 5 e 6). Chamaremos corredor a
uma seqüência de quadrinhos que serão fechados por jogadas sucessivas de
um mesmo jogador (Figura 6).
Figura 5
Figura 6
Quando um jogo se encontra em situação quase final,
como ilustra a Figuras 6, ele consiste exclusivamente de
corredores, e qualquer aresta adicional precipita o fecha-
mento de quadrinhos ao longo de um corredor. Vamos enu-
merar os corredores em ordem crescente (mais
precisamente, não-decrescente) de seu tamanho. Por ta-
manho de um corredor entendemos o número de qua-
drinhos que ele produz com os fechamentos sucessivos.
No caso da Figura 7, C
1
= C
2
= 1, C
3
= 2 e C
4
= 5.
Figura 7
Vamos supor, como é natural, que cada jogador proceda da maneira ao
entregar quadrinhos; e se for obrigado a entregar alguns, que entregue o
menor número possível, isto é, que entregue o corredor que tenha menos
quadrinhos a fechar. Chamaremos esse procedimento de perda mínima. Ve-
remos, logo adiante, que tal procedimentoo assegura vitória, ou mesmo
empate; mas permite prever quem vai ganhar (ou empatar) o jogo.
Observemos agora que o jogador que fechar o último corredor (o de-
mero r), fecha também os de números r - 2, r - 4, ..., e o outro jogador
fechará os corredores r - 1, r 3, r - 5, ... Há dois casos a considerar,
conforme r seja par ou ímpar.
lº caso: r par. O jogador que fechar o último corredor ganhará um número
de quadrinhos igual a
Vamos colocar esses dois casos a lado, em colunas, o que nos permite
comparar as somas S
1
e S
2
Isto permite constatar, facilmente, que o jogador que terminar o jogo sempre
levará vantagem e certamente ganhará se r for impar, pois neste caso, S
1
é
estritamente maior que S
2
Portanto, a estratégia para ganhar (ou, pelos menos,
empatar) o jogo é assegurar-se de fechar o último corredor.
Quando, ainda no ensino médio, eu me divertia com o jogo de quadrinhos, acabei
percebendo a necessidade de ganhar o último corredor parao perder o jogo. E
acabei descobrindo também que se o número de vértices for ímpar, então ganha
ou empata o primeiro jogador (o que começa o jogo); ao passo que se o
numero de vértices for par, então ganha ou empata o segundo jogador.
Para estabelecermos esse resultado, vamos considerar o jogo já em situa-
ção quase final, quando então vale a seguinte fórmula de Euler generalizada*:
A+r= V+R-2,
onde A é o número de arestas, r o numero de corredores, V o número de
vértices e R o número de regiões. As Figuras 6 e 7 ilustram jogos com uma
única região cada um, que é o plano todo. Já as Figuras 8 e 9 mostram jogos
com três regiões cada um: R., R
2
e R
3
Para determinar quem ganha o último corredor e, portanto, ganha ou em-
pata o jogo, vamos primeiro supor que R = 1 quando o jogo chega a uma
situação quase final. Isto significa que no quadriculadoo há circuitos fe-
chados. Então, a fórmula de Euler nos.
A +r= V-\.
Temos de examinar duas hipóteses, conforme V seja ímpar ou par, e cada
uma delas comporte dois casos.
1- hipótese: V é impar. Então A + r é par, daí os dois casos seguintes:
Caso 1a: A e r ambos pares. Disto decorre que foi o segundo jogador quem
colocou a última aresta (pois A é par), levando o jogo à situação quase final.
Portanto, é o primeiro jogador que entregará o primeiro corredor ao segundo;
e como r é par será o primeiro quem fechará o último corredor, ganhando ou,
pelo menos, empatando o jogo.
Caso lb: Atr, ambos ímpares. Então, foi o primeiro jogador quem colocou
a última aresta (pois A é impar), levando o jogo à situação quase final. Em
* Essa fórmula é uma conseqüência simples da fórmula de Euler para grafos planos
(veja-a nag 143 do livro Teoria e Modelos de Grafos de Paulo O. Boaventura
Netto. Editora Edgard Blücher, 1979)
conseqüência, o segundo jogador entregará o primeiro corredor ao primeiro
jogador; e como r é impar, o primeiro jogador fechará o último corredor,
ganhando o jogo, pois neste casoo há empate.
2ª hipótese: V par. O raciocínio aqui é inteiramente análogo ao da 1
a
hipótese, com dois casos a considerar. A única diferença é que agora
quem ganha ou empata o jogo é o segundo jogador.
Falta examinar o caso em que R > 1. Ora, quando o jogo começa, R=l,
pois só temos uma região, que é o plano todo. E, se R permanecer igual a 1
até a situação quase final, um dos jogadores é o favorecido; como acabamos
de ver, trata-se do primeiro, se V for ímpar e do segundo se V for par. Se um
dos jogadores decide fechar um circuito, ele altera a paridade de V+ R - 2,
na situação quase final, portanto altera a paridade da soma A + r na fórmula
de Euler e, repetindo os argumentos já usados, o anteriormente favorecido
passa a ser o desfavorecido. Mas lembremos que, pelas regras do jogo, o
próprio jogador que fechou um circuito é obrigado a colocar uma nova aresta,
o que novamente altera a posição dos jogadores, restabelecendo as previsões
originais. Isto completa a demonstração do teorema em todos os casos.
O jogo do Nim - um
problema de divisão
Carlos Alberto V. de Melo
Este antigo jogo chinês exer-
cita a operação de divisão,
além do raciocínio dedutivo
e busca de estratégias de vi-
tória. Um aluno de 5ª série
pode ser sempre um vence-
dor, se entender a Matemáti-
ca envolvida no jogo.
Existe um jogo de palitos, tradicionalmente fa-
moso, proveniente da China e chamado JOGO
DO NIM.
O jogo, disputado por dois jogadores, é esta-
belecido da seguinte forma:
1. a quantidade de palitos deve ser um número
ímpar;
2. cada jogador retira, por sua vez, uma determi-
nada quantidade de palitos, sendo que esta
quantidade deve ter um limite mínimo e um
máximo, previamente fixados;
3. perde aquele que retirar o último palito.
Com o advento e a popularização dos micro-
computadores, este jogo passou a fazer parte
do repertório de brincadeiras que se podem fa-
zer com estas máquinas.
Certa vez, um aluno do ensino médio quis saber
se existe um método ou fórmula para ganhar do
computador, acrescentando que, se a fórmula fos-
se muito difícil,o seria necessário explicá-la.
Estupefato ele ficou com a resposta: se ele for
o primeiro a jogar, sempre poderá ganhar pois o
método que lhe dará a vitória é simplesmente um
problema de divisão. Assim, qualquer aluno de 5ª
série poderá ser um grande vencedor.
Vejamos, então, o método:
Suponhamos que nosso jogo conste de 29 pa-
litos, e que possamos retirar no mínimo 1 (um) e
no máximo 4 palitos.
O primeiro a jogar fará mentalmente a divisão:
Temos, então, 5 grupos de 5 palitos, restando 4.
Dos 4 palitos que restam, separamos 1 (um) palito. Tudo isto mentalmente.
Esquematizando, para melhor visualizar, temos a seguinte situação:
Então, o primeiro jogador retira 3 palitos, e daí em diante, seja qual for a
quantidade que o segundo retirar, o primeiro retirará o que faltar para 5.
Logicamente, o primeiro jogador vencerá.
Outras variantes deste jogo podem ser feitas, a critério da imaginação do
professor que quiser utilizá-lo como um bom estímulo para ensinar ou recor-
dar contas de divisão.
Impertinência:
Você só ensina ou também trabalha?
A teoria matemátíca
do jogo de Nim
Inez Freire Raguenet
Márcia Kossatz de Barrêdo
O Jogo
Em sua forma original, NIM é um jogo para dois
participantes, que chamaremos de jogador A e joga-
dor B. Colocamos sobre uma mesa 3 pilhas de obje-
tos de qualquer tipo, ou então, usamos palitos de fós-
foro. Dispomos sobre a mesa 3 filas com um núme-
ro arbitrário de palitos, sendo que, no início, duas filas
o podem ter o mesmo número de palitos.
Por exemplo:
1ª fila (7 palitos)
2
a
fila (4 palitos);
3
a
fila (2 palitos).
Jogar NIM consiste em, após retiradas sucessi-
vas dos palitos de cima da mesa, alternando de jo-
gador para jogador, conseguir deixar o último palito
para seu oponente retirar, pois a derrota se dá para
aquele que retira o último palito. Estas retiradas só
podem ser feitas em uma das filas de cada vez, e o
jogador precisa tirar pelo menos um palito. Tam-
m é permitido que o jogador retire todos os pali-
tos de uma fila em sua vez de jogar.
O fato interessante é que se na sua vez de
jogar você conseguir deixar uma certa configu-
ração de palitos na mesa - de modo que, se de-
pois disso você jogar sem erro, seu oponenteo
possa ganhar, independentemente das jogadas que ele faça -, esta configu-
ração será chamada uma combinação segura.
Em linhas gerais, a demonstração deste fato consiste em mostrar que se o
jogador A deixa uma "combinação segura" de palitos na mesa, então B, no
seu próximo movimento, seja ele qual for,o poderá deixar uma combinação
segura. Além do mais, após o movimento de B, o jogador A novamente pode-
rá deixar uma nova combinação segura e continuar o jogo.
Como determinar a combinação segura
Suponha que a primeira fila tenha P palitos, a segunda S, e terceira, T
palitos. Escreva estes números P, Se Tem notação binária e disponha-os em
3 linhas horizontais de tal modo que as casas das unidades se correspondam.
Por exemplo:
P = 9 palitos, S = 5 palitos, T= 12 palitos
Teremos: 9 = 1.2
3
+ 0.2
2
+ 0.2 +1.2°, isto é, P = 1001 em notação binária.
Usando o mesmo raciocínio, temos, em notação binária, S= 101 e T= 1100.
Disposição:
P 1001
S 101
T 1100
casa das unidades
Se a soma dos algarismo das casas correspondentes de P, S e T for igual
a 0 ou 2 (i.e., congruente a 0 mod 2) então esta será uma combinação segura.
No caso:
P 1001
S + 101
T 1100
2202 (está é uma combinação segura)
Observe que, dados dois números em notação binária, podemos determi-
nar um terceiro que dê uma combinação segura, e de maneira única. Basta
escrevê-lo de tal forma que, ao somarmos as casas correspondentes, obte-
nhamos 0 ou 2.
Por exemplo: dados, já em notação binária, P = 100 e S = 11; podemos
determinar T da seguinte forma:
P 100
S + 11
T ???
XYZ
onde X, Y, Z só podem ser 0 ou 2. Neste caso, por uma fácil verificação, T= 111.
o esqueça que T é dado em notação binária, logo, só pode ter os alga-
rismos 0 ou 1.
Em outras palavras, se P, S e T formam uma combinação segura, en-
o quaisquer dois deles determinam o terceiro.
Observações:
1) Como toda regra tem sua exceção, tambémo combinações seguras:
a) P= 1,S=T=0;
b) P = S=T= 1.
2) Uma combinação segura particular é aquela em que duas filasm o
mesmo número de palitos (P = S), e a terceirao tem nenhum (T = 0),
com exceção de P = S=l e T=0.
Enunciaremos agora os dois teoremas que ensinam você a ganhar.
Como ganhar no jogo de NIM
Teorema 1: Se o jogador A deixa uma combinação segura na mesa, então B
o conseguirá deixar outra combinação segura na sua vez de jogar.
A demonstração é fácil: basta ver que B pode mexer em apenas uma fila
de palitos e tem que retirar pelo menos um. Sabendo-se que, dados os núme-
ros de palitos de duas filas, determina-se unicamente o número de palitos da
terceira e considerando-se a A deixou uma combinação segura, qualquer mo-
vimento que B faça desmanchará esta combinação segura. Logo, o jogador B?
o poderá deixar uma nova combinação segura.
Teorema 2: Se o jogador A deixa uma combinação segura na mesa e B
retira palitos de uma certa fila, então A poderá recompor uma combina-
ção segura retirando palitos de uma das filas restantes.
Antes da demonstração, veja um exemplo. Suponha que A deixou a se-
guinte combinação segura na mesa:
9 palitos P 1001
5 palitos ou seja S + 101
12 palitos T 1100
2202
(é uma combinação segura)
Suponha, também, que B retira 2 palitos da 1
a
fila. Restam:
7 palitos P 111
5 palitos ou seja S + 101
12 palitos T 1100
1312
(não é uma combinação segura)
Se o jogador A quer deixar uma combinação segura, é claro que ele terá
que retirar palitos da 3
a
fila, que contém 12 palitos. Vamos determinar o-
mero de palitos que devem restar na 3
a
fila (T) para que A consiga uma
combinação segura (observe que T tem que ser menor que 7).
Dados:
P 111
S + 101
T ???
XYZ.
Ora, para que PSTseja uma combinação segura, temos as seguintes pos-
sibilidades para XYZ:
XYZ= 000 (incompatível com o problema)
XYZ = 202 (incompatível também)
XYZ = 220 (idem)
XYZ = 200 (idem)
e outras.
Prosseguindo neste raciocínio, concluímos que o único valor de XYZ com-
patível com o problema é 222; portanto, T = 0010, ou seja, 2 palitos. Assim,
o jogador A tem que retirar 10 palitos da 3ª fila para obter novamente uma
combinação segura.
Agora, a demonstração do teorema 2.
Primeiramente, suponha que o jogador A deixou na mesa uma combina-
ção segura. Daí, B escolhe uma das filas, por exemplo, a primeira, e retira um
certo número de palitos dela. Observe que, quando um número diminui, a
mudança que ocorre em sua representação binária, olhando da esquerda para
a direita, é algum 1 que passa para 0 (caso contrário, o número estaria au-
mentando). Considere este primeiro algarismo no qual ocorre mudança de 1
para 0. Decorre do fato de o jogador A ter deixado uma combinação segura,
que na casa correspondente ao algarismo que sofreu mudança, apenas um
número dos dois restantes (P, S ou T) vai conter o algarismo 1 (nunca os dois
ao mesmo tempo).
Agora, A escolhe este número e coloca zero na casa onde o algarismo 1
estiver, tomando o cuidado de alterar ouo os algarismos à direita desta
casa neste mesmo número (de 0 para 1, ou de 1 para 0) de modo a obter
novamente uma combinação segura.
Para ilustrar:
(combinação segura) (combinação segura)
O que aconteceu na verdade foi que o jogador A deixou na mesa o núme-
ro de palitos cuja representação binária é o número resultante das alterações
feitas por ele ao armar uma nova combinação segura.
No caso:
14 palitos 14 palitos 2 palitos
4 palitos B joga 4 palitos A joga 4 palitos
10 palitos -» 6 palitos -» 6 palitos
(combinação segura) (combinação segura)
Qualquer que seja a próxima jogada de 5, por um raciocínio análogo,o
impedirá A de fazer uma nova combinação segura, retirando os palitos de
maneira conveniente. Deste modo, o jogador A fatalmente ganhará o jogo,
observando as seguintes propriedades e estratégias.
1 - Suponha que o jogador A, ao deixar uma combinação segura na mesa,
retira todos os palitos de uma certa fila. Então, certamente as outras duas
filas terão o mesmo número de palitos.
II - Suponha que o jogador B retira todos os palitos de uma das filas. Então,
as duas outras terão números diferentes de palitos e, assim, o jogador A
poderá igualá-las, deixando na mesa uma combinação segura.
III - Suponha que, anos após alguma das filas ter seu número de palitos
reduzido a zero, o jogador B deixe uma das filas restantes com apenas 1
palito. Então, basta A tirar todos os palitos da outra fila, deixando que
aquele último seja retirado por B e, conseqüentemente, fazendo com que
B perca o jogo.
IV - Suponha que, tendo uma das filas seu número de palitos reduzido a zero, o
jogador B "zera" outra fila. Então, basta A deixar apenas um palito na fila
restante, fazendo também com que B perca o jogo.
V - Suponha que o jogador A deixou alguma fila com apenas um palito.
Então, ocorre uma das três possibilidades."
a) as duas outras filasm um palito cada uma;
b) as duas filasom nenhum palito;
c) as duas outras filasm números diferentes de palitos uma da outra,
as quais, por sua vez,o serão 0 ou 1 simultaneamente.
158
Resumindo: O jogador que conseguir manter uma combinação segura
na mesa ganha o jogo. Assim sendo, se a primeira disposição dos palitos na
mesa formar uma combinação segura, a primeira pessoa a jogar vai des-
manchar esta combinação segura. Logo, o segundo a jogar terá a sorte de
poder recompor uma combinação segura e, seo errar, ganha o jogo. Da
mesma forma, se a primeira disposição dos palitos na mesao formar
uma combinação segura, o primeiro a jogar poderá e, novamente, seo
errar, ganha o jogo.
Portanto, ganhar (ou não) depende da probabilidade de se ter uma combi-
nação segura na primeira disposição dos palitos na mesa. E, também, de
entender este artigo.
Ref.: Charles L. Bouton - Armais of Mathematics, ser. II, vol. 3, N° 1, Oct. 1901, p. 35
(Nim, a game with a Complete Mathematical Theory).
Resta-um, Resta-zero,
e a operação Nim
Carlos Augusto Isnard
Instituto de Matemática Pura
e Aplicada
Uma variante do jogo do NIM é praticada nas
praias brasileiras, com os palitos substituídos por
pontos marcados na areia queo sendo apaga-
dos pelos jogadores. O jogo se inicia com seis fi-
las horizontais que tem respectivamente 6,5,4,3,
2 e 1 pontos.
Este jogo é, às vezes, chamado de Resta-um.
Os praticantes do jogo conhecem de memó-
ria as "combinações seguras" como P, S, T iguais,
1, 2, 3 ou 1, 4, 5 ou 3, 5, 6 ou n, n, 0 (n > 2) etc.
O artigo anterior apresenta uma interessante ca-
racterização matemática dessas combinações se-
guras, através da representação dos números na
base 2.
Mesmo havendo uma quantidade arbitrária de
filas, a disposição na base 2, descrita pelos auto-
res, serve ainda para caracterizar as combinações
seguras: a combinação será segura quando a soma
dos algarismos de cada casa for par, isto é, quando cada coluna vertical tiver
uma quantidade par de algarismos 1. Existe uma exceção a esta regra, que
ocorre quando nenhuma fila horizontal tiver mais do que um ponto: uma quan-
tidade ímpar de filas com um só ponto é obviamente uma combinação segura
para o Resta-um.
O Resta-zero é outro jogo, cujas regraso as mesmas do Resta-um,
exceto pela definição do vencedor: na regra do Resta-zero o vencedor é
quem conseguir apagar o último ponto. As combinações seguras do Resta-
zerom uma caracterização simples:o as mesmas do Resta-um, sem a
exceção desagradável no caso em que nenhuma fila tem mais do que um
ponto. É óbvio que uma quantidade par de filas de um só ponto é uma combi-
nação segura para o Resta-zero.
No filme O ano passado em Marienbad o jogo aparece várias vezes
com cartas de baralho no lugar de pontos ou palitos, iniciando-se com a
combinação 7, 5, 3, 1, que é uma combinação segura porque
ou porque na base 2 temos
O jogo de Euclides
João Bosco Pitombeira
O momento ideal para apli-
cação desta atividade é du-
rante o estudo do máximo
divisor comum, embora pos-
sa ser utilizada para reforço
dos cálculos aritméticos. A
compreensão do algoritmo
de Euclides para determina-
ção do MDC é a inspiração
para o jogo. Pode-se, depois
da compreensão do jogo,
propor perguntas do tipo:
Sempre se chegará ao zero?
Se um dos números é zero, o
outro será o quê?
Quando o aluno perceber
que a resposta a essa última
questão é "o MDC do par ini-
cial", ele ficará curioso para
compreender o processo. En-
o é interessante salientar a
proximidade com o algoritmo
de Euclides.
Descrição do jogo
o dois os jogadores - cada um escolhe,
secretamente, um número natural não-nulo. Su-
ponhamos que um jogador escolheu o número
31, e o outro jogador, o número 7. Um dos
jogadores é sorteado para iniciar o jogo. Ele
receberá o número escolhido pelo colega e de-
verá subtrair do maior número, 31, um múlti-
plo não-nulo do menor, (k7 = 7, 14, 21 ou 28)
de modo que o resultado ainda seja positivo.
O segundo jogador receberá o novo par de-
meros 31 - k7, 1 e repetirá o processo, subtra-
indo do maior número um múltiplo do menor, e
assim por diante.
Ganhará o jogo quem obtiver primeiro o
número 0.
Especificando: os números escolhidoso 31 e
7. O lº jogador poderá devolver para o colega os
pares de números:
Suponhamos que ele devolva o par 7 e 10.
Nesse caso, o segundo jogador só terá uma al-
ternativa: responder com o par de números 7 e 3.
Será a vez, novamente, do primeiro jogador que poderá escolher: 3 e 4
ou 3 e 1.
Se jogar {3, l},osegundo jogador jogará {1,0} e será o vencedor.
Se jogar {3,4}, o segundo jogador será obrigado a jogar {3,1} e, na jogada
seguinte, o primeiro jogador ganhará o jogo.
Euclides?
o é difícil ver, e o professor pode chamar a atenção dos alunos para
esse fato, que o jogo termina com o par {n, 0}, onde n é o maior divisor
comum dos dois números escolhidos inicialmente.
De fato, se denotarmos por a e b os números escolhidos e um número
dividir a e b, este número também dividirá a-kb e b. Reciprocamente,
se um número dividir a - kb e b, este número também dividirá a e b.
Portanto, os divisores comuns de a e b e os de a - kb e bo os mesmos
e, conseqüentemente,
Tambémo é difícil ver por que o jogo se chama jogo de Euclides -
basta observar o algoritmo de Euclides para o cálculo do maior divisor co-
mum de dois números:
onde, em cada passagem, do maior número subtrai-se um múltiplo do menor
(no jogo, esse múltiploo é necessariamente o maior possível).
A estratégia para ganhar
Como foi feito, para o jogo do NIM, apresentaremos resultados matemáti-
cos do jogo de Euclides, o que permitirão dizer quem vencerá o jogo, caso
ambos os jogadores joguem corretamente.
Surpreendentemente aparecerá o número áureo
e o seu papel será decisivo para definir o vencedor do jogo - um jogo que só
envolve números inteiros! (Esse número r aparece ao dividirmos um seg-
mento na razão áurea, ao estudarmos os números de Fibonacci, e em outras
partes da Matemática.)
Nomenclatura
Dado um par {a, b}, com a > b, os pares {a - b, b}, {a - 2b, b}, ...,
{a - qb, b}, com a - qb > 0, chamam-se pares derivados de {a, b}.
Assim, {24,7}, {17,7}, {10,7}, {3,7}o os pares derivados de {31,7}.
Se a - qb > 0 e a - (q + 1)b < 0, {a - qb, b} chama-se par derivado
mínimo de {a, b}. No exemplo, {3,7} é o par derivado mínimo de {31,7}.
Observe que, dentre todos os pares derivados de um par {a, b}, com a > b,
os números do par derivado mínimoo b s o resto da divisão de a por b.
Se {a -qb,b) for o par derivado mínimo, diremos que o par {a - (q - 1 )b, b}
é o par anterior ao par derivado mínimo.
Observe, mais uma vez, o exemplo. Dado o par {31,7}, o 1° jogador tem
apenas duas opções significativas:
ele escolhe o par derivado mínimo {3, 7};
ou
ele escolhe o par anterior ao par derivado mínimo, isto é, {10,7}, obrigando
o adversário a jogar {3, 7}.
Qualquer outra escolha daria estas mesmas duas opções ao adversário.
Qual das duas é a melhor?
É possível provar que se um jogador receber um par de números {a, b} com,
naquela jogada eleo poderá ganhar o jogo e terá como única opção de-
volver o par {a - b, b} que tem a razão
Portanto é sempre vantajoso para um jogador escolher aquele par cuja
razão é menor do que 2 e passá-lo ao adversário. Este, na sua vez,o
ganhará o jogo e será obrigado a devolver um par com razão maior do que 2.
E, agora, o fato decisivo:
Se um jogador receber um par {a, b} com
ele terá uma estratégia que lhe garantirá a vitória, pois poderá sempre impe-
dir que o adversário ganhe o jogo no lance seguinte. Como o jogo tem um
número finito de lances, necessariamente haverá uma vez em que o jogador
receberá um par de números com um número múltiplo do outro, o que lhe
dará a vitória.
Em resumo: Se o jogo começar com um par {a, b} com a > b, o primeiro
jogador terá uma estratégia que lhe garantirá a vitória se e somente se
ou se a e b forem iguais. Nos casos restantes, o segundo jogador é quem
terá uma estratégia que lhe garantirá a vitória.
Jogos de Sperner
Jaime Poniachik
Argentina
Este jogo de fichas brancas e
pretas pode ser utilizado des-
de a 5ª série para incentivar
contagem e identificação de
números pares e ímpares.
Pode-se levar os alunos a dis-
cutirem estratégias de vitória e
possíveis generalizações do
jogoo apresentadas.
1. Impactos
Em uma tira com n casas, dois jogadores al-
ternam-se, colocando nas casas uma ficha de cada
vez. Um coloca fichas brancas, o outro, pretas,
sempre em casas que estiverem vazias. A partida
acaba quandoo existirem mais casas vazias.
Contam-se, então, os "impactos". Há impacto
quando duas casas vizinhas tiverem fichas de co-
res distintas. Se, no final, a quantidade de impac-
tos for ímpar, o Branco ganha a partida; se for
par, ganha o Preto. O diagrama mostra uma parti-
da terminada. Os impactos estão marcados com
estrelas. Houve 5 impactos. Branco ganhou.
O Branco começa. Qual é a estratégia vencedora?
Resposta
O jogo dos impactoso é mais do que a apre-
sentação lúdica de um resultado matemático bas-
tante conhecido, o "Lema de Sperner", aplicado,
em nosso caso, a um segmento. Diz o lema:
Em um segmento, dividido em segmentos me-
nores, marcamos o extremo esquerdo com 0, o
direito com 1 e cada ponto de divisão intermediá-
no com 0 ou 1. Dizemos que um segmento é "bom", se os seus extremos
estiverem marcados com números distintos.
a) Demonstra-se que o número de segmentos bons é ímpar.
b) Demonstra-se que os segmentos bons do tipo (0,1)o um a mais do que
os segmentos bons do tipo (1,0).
A demonstração é muito simples e engenhosa:
Contam-se os segmentos bons, indo da esquerda para a direita. O 1 que
estiver mais à esquerda fecha o primeiro segmento bom que é do tipo (0, 1).
O próximo segmento bom deverá ser do tipo (1,0).
E, sucessivamente, os segmentos bons irão se alternando entre os de um
e de outro tipo. O último será do tipo (0 1).
Daí concluí-se que a quantidade de segmentos bons é ímpar, e que há um
segmento a mais do tipo (0,1) que o do tipo (1,0).
Observações: Se os extremos do segmento inicial receberem ambos o mes-
mo rótulo, a quantidade de segmentos bons será par e haverá tantos segmen-
tos de um tipo quanto do outro.
Voltemos ao jogo dos impactos. Para ganhar, o Branco apenas precisa as-
segurar que os extremos tenham fichas de cores distintas. Isso é fácil: ele joga
fichas, à vontade, nas casas internas e, assim que o Preto colocar uma ficha em
uma das extremidades, o Branco coloca sua ficha na outra extremidade.
2. Impactos em duas carreiras
As mesmas regras poderiam ser usadas em tabuleiros mais complexos.
Por exemplo:
Qual é a estratégia para ganhar?
3. Corolário do lema de Spener
Uma linha contínua que começa subindo e termina descendo tem um
número ímpar de extremos (máximos e mínimos).
4. Jogo do sobe-desce
Numa tira de n casas escrevem-se os números 1, 2, 3, ..., n da
seguinte maneira: cada jogador escreve um número por vez numa casa
livre, número que até entãoo tenha sido usado. A partida termina quan-
do todas as casas estiverem preenchidas. Se resultar uma quantidade
ímpar de extremos, a vitória será do primeiro jogador; se a quantidade for
par, ganhará o segundo. O diagrama mostra uma partida acabada:
Jogando em um tabuleiro quadriculado, a partida anterior ficaria assim:
Qual a estratégia para ganhar?
5. Notícia histórica
O Lema de Spener completo refere-se à triangulação de triângulos, equi-
valente ao que foi nossa segmentação de segmentos. Ele diz:
Um triângulo, cujos vértices estão marcados com os números 1, 2 e 3, é
dividido em triângulos, e os novos vérticeso numerados com esses três
algarismos, respeitando a seguinte condição de fronteira: todo novo vértice
que cair em um lado do triângulo maior levará um dos algarismos dos extre-
mos desse lado. Demonstra-se que pelo menos um dos triângulos da partição
está numerado com três algarismos distintos. E mais, o número total desses
triângulos é ímpar.
A partição deve ser tal, que dois triângulos pequenos quaisquer ouom
ponto comum, ou somentem um vértice comum, oum um lado comum.
Emannuel Sperner (1905-1980) foi um matemático alemão, que
em 1928 demonstrou o lema da partição do triângulo (e, em geral, do
simplexo n-dimensional). Um lema é, em Matemática, uma proposi-
ção simples que antecede um teorema. O de Sperner antecede o
teorema do ponto fixo.
(Para maiores detalhes e extensões veja Yu Shashkin. Pontos fixos. Editora Mei,
Moscou, 1991.)
...probleminhas da
seção PROBLEMAS
Um senhor de idade deixou o se-
guinte testamento:
"Deixo 1/3 da minha fortuna para
minha única filha e o restante para
a criança que ela está esperando,
se for homem; deixo 1/2 da minha
fortuna para minha única filha e o
restante para a criança que ela está
esperando, se for mulher."
Após sua morte nascem gême-
os: um casal. Como deve ser di-
vidida a fortuna?
Eu tenho três bolas: A,B e C. Pintei
uma de vermelho, uma de branco e
outra de azul,o necessariamente
nesta ordem. Somente uma das se-
guintes afirmações é verdadeira:
A é vermelha
Bo é vermelha
Co é azul
Qual é a cor de cada bola?
"Embora eu esteja certo de que meu
relógio está adiantado 5 minutos, ele
está na realidade, com 10 minutos
de atraso. Por outro lado, o relógio
do meu amigo está realmente 5 mi-
nutos adiantado.s marcamos um
encontro às 10 horas e cada um de
s planeja chegar pontualmente e
em cima da hora. Quem chegará
em primeiro lugar? Depois de quan-
to tempo chegará o outro?
4. Pedro e Paulo apostam uma corrida:
Pedro corre a metade do tempo e
anda a outra metade.
Paulo corre a metade da distância
e anda a outra metade.
Se ambos correm e andam, respec-
tivamente, com as mesmas veloci-
dades, quem chegará primeiro?
5. Qual é o número que dividido por 2,
3, 4, 5 e 6 tem para resto, respecti-
vamente 1, 2, 3, 4 e 5?
6. Numa família, cada filha (moça)
tem o mesmo número de irmãos e
irmãs e cada filho homem tem duas
vezes mais irmãs do que irmãos.
Quantas filhas (moças) e filhos (ho-
mens) há nesta família?
7. Qual é a área maior?
8. A média das idades dos elemen-
tos de uma equipe de uma feira de
ciências é 14,625. Qual é o menor
número de elementos que podem
constituir a equipe?
No Jardim dos Números, os alga-
rismos a e b passeavam a uma ve-
locidade constante. Às 14:00 h já
tinham percorrido ab metros, às
14:42 h ba metros e às 15:00 h a0b
metros. Sabendo que no número
a0b o algarismo das dezenas é zero,
mas o das centenas não, a que ho-
ras começou o passeio?
10. Um destacamento de soldados pre-
cisa atravessar um rio muito pro-
fundo e sem pontes. Eles pedem
ajuda a dois meninos que estão pas-
sando pelo rio num barco. Porém,
o barco éo pequeno que nele só
cabem os dois meninos ou um sol-
dado de cada vez. Como eles fize-
ram para todos os soldados atra-
vessarem o rio?
11. Num círculo formado por 10 pes-
soas cada pessoa escolhe um-
mero e revela esse número aos seus
vizinhos no círculo. Cada pessoa diz
em voz alta a soma dos números
dos seus 2 vizinhos. A figura mos-
tra os números ditos em voz alta.
Qual foi o número escolhido pela
pessoa que disse o número 7?
12. Num hotel para cães e gatos 10%
dos cães julgam queo gatos e 10%
dos gatos julgam queo cães. Após
cuidadosas observações conclui-se
que 20% de todos os hóspedes pen-
sam queo gatos e que os restan-
tes pensam queo cães. Se no ho-
tel estão hospedados 10 gatos,
quantoso os cães hospedados?
13. No ano que vem fevereiro terá
cinco domingos. Qual foi o ano em
que isso aconteceu pela última vez?
14. Num cercado pintinhos estão per-
seguindo besouros de 6 patas. Se
o total de patas no cercado é 140,
as quantidades dos besouros e dos
pintinhoso dadas por números
primos e há pelo menos um be-
souro para cada pintinho, quantos
o os besouros?
15. Em um torneio de tênis participam
n jogadores. Todos os jogoso
entre dois jogadores e todoso eli-
minatórios. Quantas partidas serão
jogadas até ser definido o campeão?
16. Calcule, sem usar calculadora, a
área sombreada, sendo:
a = 0,8667899776
e b = 0,1332100224.
17.0 produto de dois números queo
o primos entre si é 6 435. Qual é
o máximo divisor comum desses
dois números?
18. O Asterix e o seu companheiro
Obelix estão a explorar um país
muito pequeno no qual apenas
existe uma estrada (em linha reta)
que liga as três cidades que pre-
tendem visitar: Amix, Berlix e
Celtix. Ao chegarem à cidade de
Amix avistam dois sinais com as
seguintes indicações: "Berlix 5
km" e "Celtix 7 km". Caminham
mais alguns quilômetros e chegam
a Berlix, onde, com espanto,
Obelix encontra dois sinais com as
indicações: "Amix 4 km" e "Celtix
6 km". Ao comentar com Asterix
o sucedido, este responde-lhe:
"Não te preocupes! Sabe-se que
numa das cidades todos os sinais
m indicações erradas, noutra to-
das as indicaçõeso corretas e
na outra uma indicação é correta
e a outra errada". Por fim, ao che-
garem a Celtix avistam mais dois
sinais: "Amix 7 km" e "Berlix 3
km". Quaiso as verdadeiras dis-
tâncias entre as três cidades?
19. Joaquim deve transportar alguns
sacos para um depósito, recebendo
R$ 0,20 por quilo transportado. Os
sacos podem pesar 30,40 ou 50 kg,
e ele demora 8, 12 ou 20 minutos
para transportá-los, respectivamen-
te. Qual é a quantia máxima que o
Joaquim poderá ganhar em exata-
mente uma hora de trabalho?
20. Para fazer de cabeça: Se uma gar-
rafa e a sua tampa custam R$110,00
e a garrafa custa R$100,00 a mais
que a tampa, quanto custa a tampa?
21. Três atletas disputavam o melhor
tempo para uma corrida de 100
metros. Enquanto um corria, outro
cronometrava. No final, o cronôme-
tro de Marcelo registrava 10,7 se-
gundos, o de Roberto, 10,8 segun-
dos e o de Eduardo, 10,9 segundos.
Eduardo deu os parabéns ao ven-
cedor. Qual foi a classificação?
22. Redesenhar as figuras ao lado,
mexendo apenas um palito, para
tornar corretas as igualdades.
23. Vovó tem 17 netos entre meninos e
meninas. Dos meninos, 4/9m olhos
azuis. Quantaso as meninas?
24. Quando passeavam numa cidade,
três estudantes de Matemática ob-
servaram que o condutor de um au-
tomóvel infringiu o código de es-
trada. Nenhum dos estudantes se
recordava do número de matrícula
(que tinha quatro algarismos), mas
cada um deles notou uma particu-
laridade de tal número. Um deles
notou que os dois primeiros alga-
rismos eram iguais. O segundo re-
parou que também os dois últimos
eram iguais. E, por último, o terceiro
garantia que o número de matrícu-
la era um quadrado perfeito.
É possível determinar o número de
matrícula do automóvel conhecen-
do-se apenas esses dados? Justifi-
que sua resposta.
25. Antônio e Bento, dois gêmeos, se-
guiam o leito de uma ferrovia e co-
meçaram a atravessar uma ponte
estreita na qual havia espaço ape-
nas para o trem. No momento em
que completavam 2/5 do percurso
da ponte, ouviram o trem que se
aproximava por trás deles. Antônio
começou a correr de encontro ao
trem, saindo da ponte praticamente
no instante em que o trem entrava.
Bento correu no sentido oposto a
Antônio, conseguindo sair da ponte
praticamente no instante em que o
trem saía. Quando os irmãos se re-
encontraram, passado o sufoco, o
irmão que gostava de Matemática
(o outro amava) observou:
Corremos à velocidade de 15 km
por hora, e portanto sei cal-
cular a velocidade do trem!
Calcule a velocidade do trem. Jus-
tifique sua resposta!
26. Determine o número fantasma de
seis algarismos que está escondi-
do na última linha. Nas outras li-
nhas há também números de seis
algarismos e ao lado de cada um
deles está anotado quantos alga-
rismos há em comum com o-
mero fantasma:o B (bom) se
estão colocados na mesma posi-
ção no número fantasma e R (re-
gular) se estão no número fantas-
ma, mas em posição diferente.
135246
579680
260481
B
2
2
2
6
R
0
2
2
0
27. Encontre o menor número ABCDEF,
formado pelos algarismos 1,2,3,4,
5 e 6, sem repetição, tal que o-
mero AB seja divisível por B, o
número BC seja divisível por C,
CD seja divisível por D, DE seja
divisível por E, e EF seja divisí-
vel por F.
28. Qual é a altura do gigante, sabendo-
se que a sua cabeça mede 30 cm
de comprimento, incluindo natural-
mente o pescoço. As pernaso
duas vezes mais compridas que a
cabeça e seu meio tronco, e o sujei-
to todo é um metro mais comprido
que a cabeça e as pernas juntas.
29. Como o médico me recomendou
caminhadas, todo dia de manhã dou
uma volta (com velocidade cons-
tante) na quadra em que resido. Mi-
nha mulher aproveita para correr
(com velocidade constante) em vol-
ta do quarteirão. Saímos juntos e
chegamos juntos. Ela percorre a
quadra no mesmo sentido que eu e
me ultrapassa duas vezes durante
o percurso. Se ela corresse no
sentido contrário ao meu, quantas
vezes ela cruzaria comigo?
30. Um industrial produz uma-
quina que endereça 500 envelo-
pes em 8 minutos. Ele deseja
construir mais uma máquina de
tal forma que ambas, operando
juntas, endereçarão 500 envelo-
pes em 2 minutos. Determine o
tempo que a segunda máquina
sozinha deve gastar para ende-
reçar 500 envelopes.
probleminhas
1. 1/4 para a filha; 1/4 para a neta;
1/2 para o neto.
2. A: azul;
B: vermelha;
C: branca.
3. Meu amigo; depois de 20 minutos.
4. Pedro; ele percorre, correndo, mais
do que a metade da distância.
5. 59 (chamando o número procurado
de n, n + 1 será divisível por 2,3,4,
5 e 6).
6. 4 moças e 3 homens.
7. Altura do triângulo de base 30: 20;
altura do triângulo de base 40: 15.
As áreaso iguais.
8. 8.
9. 13:48 h.
10.O menino A fíca na margem opos-
ta á margem na qual estão os sol-
dados e o menino B leva o barco
até os soldados. O primeiro solda-
do atravessa o rio e o menino A traz
o barco de volta. Os dois meninos
atravessam o rio, o menino A fíca,
e o menino B leva novamente o bar-
co até os soldados. O segundo sol-
dado atravessa o rio e ...
11. 1.
12. 70.
13. 1976.
14. 19.
15. n - 1 jogadores devem ser elimi-
nados, logoo necessárias n - 1
partidas.
16. 0,7335799552.
17. 3.
18. Amix-Berlix: 5 km
Berlix-Celtix: 2 km
19. R$ 44,00.
20. R$ 5,00.
21. 1º Roberto,
2º Eduardo,
3º Marcelo.
23. 8.
24. Sim, é 7 744.
25. 75 km/h.
26. 170 289.
27. 361 524.
28. 2,9 m.
29. 4.
30. 8/3 min.
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