A partir disso, Vattimo propõe uma pista renovadora sobre o
sentido atual da relação sociedade/tecnologia/imagem, ao afirmar
que "o sentido em que hoje se move a tecnologia não é tanto o
domínio da natureza pelas máquinas, mas sim o desenvolvimento
específico da informação e comunicação num mundo como ima-
gem" . Faz-se então possível uma revalorização cognitiva da ima-
gem, e, com isso, sua recolocação no campo da educação, já não
como mera ilustração da verdade contida na escrita, mas como dis-
positivo de uma produção de conhecimento específica. E forte-
mente específica, já que a reivindicação cognitiva da imagem pas-
sa, paradoxalmente, pelo assunto da crise da representação.
M. Foucault dedicou seu livro As palavras e as coisas a exa-
minar essa crise. A análise começa com a leitura de um quadro
de Velázquez, As meninas, sobre o qual nos propõe três pistas.
Primeiro, embora estejamos diante de um quadro no qual o pin-
tor nos contempla, o que de verdade vemos é o inverso do qua-
dro que o pintor pinta, e é nesse inverso que nós somos visíveis.
Segundo, o que podemos dizer sobre o quadro não discursa so-
bre o que vemos, pois "a relação da linguagem com a pintura é
infinita. Não porque a palavra seja imperfeita, mas porque uma
é irrecuperável na outra. O que se vê não se aloja, jamais cabe
no que se diz" . Terceiro, a essência da representação não é aquilo
que se mostra, mas a profunda invisibilidade a partir da qual
vemos, apesar do que nos querem fazer acreditar os espelhos, as
imitações, os reflexos, os truques visuais. Já não dispomos, como
no pensamento clássico, do deciframento da semelhança em seu
jogo de signos, em sua capacidade de aproximação e imitação,
de analogia ou empatia, para tornar o conhecimento possível.
Nem dispomos tampouco daquela hermenêutica da escrita do-
minante desde o Renascimento, que, num reenvio de linguagens
- da Escritura à Palavra -, coloca num mesmo plano as palavras
e as coisas, o ato, o texto e o comentário.
33
VATTIMO, G. La sociedad transparente. Barcelona, Paidos, 1990, p. 95.
34
FOUCAULT, M. Les mots et les choses. Paris, Gallimard, 1996, p. 25.