fissional na escola, em termos de seu caráter de distribuição
desigual do saber e da qualidade do saber reproduzido, é ine-
gável o valor do "certificado escolar", ã medida em que abre
as portas para o exercício das funções intelectuais no mercado
de trabalho e confere as habilidades, comportamentos e conheci-
mentos minimamente necessários para a aquisição de competência
através do exercício profissional.
Até aqui tratou-se da educação para o trabalho dos
que a adquirem através do sistema escolar; torna-se necessário
analisar o que ocorre com os excluídos, que no Brasil se cons-
tituem em aproximadamente 92% da população escolarizável. A es-
tes, não é permitida a aquisição do saber sobre o trabalho na
escola; quando muito, adquirem através de alguns anos de esco-
laridade as habilidades básicas de leitura, escrita e cálculo.
Estes, aprendem o trabalho trabalhando, ou seja, na prática.
Que aprendizado é esse?
Independentemente de sua condição subalterna, de mero
executor de tarefas parciais pré-determinadas pela divisão téc-
nica do trabalho, o trabalhador se defronta com questões con-
cretas que a sua prática cotidiana lhe coloca, as quais ele
tem que resolver. Neste processo, através da observação dos
companheiros, da ação dos instrutores, de treinamentos eventu-
ais, ele vai experimentando, analisando, discutindo, refletindo,
descobrindo e, desta forma, desenvolvendo um conjunto de modos
próprios de fazer e de explicar esse fazer, que extrapola o âm-
bito do próprio trabalho, a partir das necessidades determina-
das pela vida em sociedade. Assim, o trabalhador vai elaboran-
do um saber eminentemente prático, fruto de suas experiências
empíricas, que, sendo parciais em função da divisão técnica do
trabalho, originam um saber igualmente parcial e fragmentado.
Por outro lado, ã medida que esse trabalhador não tem acesso
ã escola e, portanto, aos princípios teóricos e metodológicos
que explicam sua prática, o saber por ele produzido reveste-se
de reduzido nível de sistematização teórica, permanecendo ao
nível do senso comum. Como mostra Gramsci, este saber se apre-
senta como uma concepção genérica, composta por elementos difu-
sos e dispersos, comuns a certa época e a certo ambiente popu-
lar; em decorrência, "o homem ativo de massa atua praticamen-
te, mas não tem uma clara consciência teórica desta sua ação
que, não obstante, ê um conhecimento do mundo na medida em que
o transforma" (Gramsci, 1981, p. 18). Ou seja, não obstante
seu caráter fragmentado, o saber produzido desta forma reveste
-se de poder explicativo e de caráter utilitário, na medida