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Presidente da República Federativa do Brasil
José Sarney
Ministro da Educação
Carlos Sant-Anna
Secretário-Geral
Ubirajara Pereira de Brito
Secretário de Ensino de Grau
João Ferreira Azevedo
Secretário Adjunto
Célio da Cunha
Coordenador de Articulação com Estados e Municípios
Nabiha Gebrim de Souza
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Subsídios para
BIOLOGIA
Autores Maria
Isabel Iório Soncini Miguel
Castilho Júnior
SUMÁRIO
Apresentação:
Repensando o ensino de Biologia e localizando problemas
Capitulo 1 - Método e conteúdo no ensino de Biologia
Aprender a aprender 13
Metodologia e conteúdo 15
Por que ensinar Biologia no Núcleo Comum
Que Biologia é essa? 18
Proposta de programa
Notas 26
Capitulo 2 - A construção de um conceito 2?
Técnicas e atividades Como
construir um conceito
Notas 45
Anexos 46
.A Questão Ambiental no Brasil
.0 Varão XYY: a elaboração de um mito 54
.0 Jogo da Sobrevivência 73
Capitulo 3 - Textos para consulta do professor
0 fenômeno vida 89
0 primeiro ser vivo
Sucessão ecológica 107
Estrutura e função nos ecossistemas 114
Ciclo de matéria e fluxo de energia 117
Cadeia e teia alimentar 134
Determinação de cadeias e redes alimentares
Pirâmides ecológicas-representação gráfica dos
ecossistemas 140
Relações entre seres vivos 146
A dinâmica das populações 159
Bibliografia 188
Comentada 189
Geral 191
APRESENTAÇÃO
Repensando o ensino de Biologia e localizando problemas
A sala de aula nos coloca frente a uma série de questões sobre o
ensino. Essa prática, esse dia a dia, nos leva a refletir sobre
as coisas que ensinamos, sobre o modo como ensinamos e sobre o
que pretendemos enquanto educadores.
Foi num desses mergulhos, no qual prática e teoria se eviden-
piam entrelaçadas, que alguns pontos sobre o ensino em geral e o
de Biologia, em particular, surgiram como fundamentais: a conce-
pção de ensino -aprendizagem que se estabelece na sala de aula e
a concepção de ciência e educação que permeia nossa prática. A
forma estanque e estática que, na maioria das vezes, assume o en-
sino do fenômeno vida, parece ser a expressão de uma concepção me
canicista do mundo e particularmente da Biologia.
0 fato de termos estabelecido para nós mesmos um rico movimen-
to, buscando na experiência prática e no estudo teórico possíveis
soluções para os problemas de ensino de Biologia que vivemos e ou
percebemos, possibilitou-nos a elaboração da proposta que aqui a-
presentamo3 a título de subsídio.
Em momento algum deixamos de considerar o contexto em que se
insere a educação no nosso país, as dificuldades em relação às
condições de trabalho dos professores: os baixos salários, o ex-
cessivo e exaustivo número de aulas, a falta de condições materi-
ais da maioria das escolas públicas, a dificuldade em estar se re-
ciclando e se atualizando. Questões quo, aliadas àquelas anterior
mente apontadas, têm interferido na relação de ensino-aprendiza -
gem.
E Evidentemente não podemos resolver todas essas questões, que
constituem ou devem constituir uma luta constante de todos os pro
fessores, Mas, com essa proposta,podemos e pretendemos levantar
10
problemas e apresentar sugestões para a melhoria do ensino de Bio-logia.no que
se refere a conteúdo, metodologia e método de trabalho. Ê nossa intenção
colaborar, desta forma, para a reflexão e superação das dificuldades enfrentadas
por professores, e alunos, frente à realidade do ensino no Brasil.
CAPÍTULO 1
MÉTODO E CONTEÚDO NO ENSINO DE BIOLOGIA
Aprender a Aprender
Se pensarmos a educação como um processo de construção e apropria
ção do conhecimento sistematizado, parece-nos essencial conceber
a aprendizagem como um processo fundamentado no desenvolvimento
de uma atitude para o aprender, de uma autonomia na busca do co-
nhecimento. Nesse sentido o papel do professor e do aluno care -
cem ser redimensinados, deixando o professor de ser tão somente
transmissor de conteúdos e os alunos, apenas receptores. Estamos
nos referindo a um processo de aprendizagem onde os alunos são
solicitados a criar explicações para os fenômenos em estudo, a
confrontar suas explicações com o observado e com outras explica
ções existentes, movimento que parece gerar a necessidade de in-
formações que substanciem seus argumentos, possibilitando a deci-
são sobre esta ou aquela explicação, sobre este ou aquele modelo.
Mas é claro que tal processo não se dá espontaneamente. É o
professor quem tem condições de orientar esse caminhar dos alu -
nos, criando situações e oferecendo informações que permitam a
elaboração de hipóteses pelos alunos, a verificação das mesmas e a
organização de ura modelo possível de ser conceituado. É ao pro
fessor também que cabe selecionar conteúdos passíveis de serem
com-preendidos pelos alunos, respeitando o momento do
desenvolvimento intelectual em que se encontram e promovendo um
avanço nesse desenvolvimento.
Pouco adianta iniciar o tema Citologia, fornecendo aos alunos
a definição de célula - "Célula é a unidade morfofisiológica dos
seres vivos". Temos nesta oração 2 conceitos - unidade morfofi -
siológica e seres vivos - que carecem ser compreendidos pelos a-
lunos para que eles possam, de fato, conceituar célula. Conceber
a célula enquanto unidade estrutural e funcional do organismo e
dos seres vivos requer o entendimento de sua dinâmica, requer a
compreensão de que o organismo não é apenas um conjunto de células
que funcionam isoladamente, no máximo agrupadas em tecidos, requer
a compreensão da interação entre as células desse organis-mo,
interação essa que interfere na dinâmica de. cada célula em
particular e permite que o organismo se mantenha integro. Por fim,
requer a compreensão de que a diversidade dos seres vivos espelha
a diversidade de manifestações de um mesmo fenômeno - a vida - e
que, portanto, algo de comum deve haver entre esses diversos, al-
go deve constituir a unidade entre eles.
Se negarmos esse processo impedimos que o aluno construa o con
ceito de célula e a única habilidade que lhe solicitamos ê a da
memorização, a retenção da informação por um curto período de tem
po.
A construção de um conceito implica no confronto das explica-
ções ou hipóteses existentes sobre determinado fenômeno, median-
te um problema acerca de tal fenômeno. Isto constituiu um
proces-so que culmina com a construção de um modelo possível de
ser con ceituado.
É aqui é necessário lembrar que' grande parte do nosso conheci-
mento é adquirido pela vivência; é um conhecimento intuitivo,
carregado de signos que evidenciam nosso universo cultural. Pois
esse universo é um rico acervo de explicações sobre os fenômenos
da natureza e nos parece ser este o ponto de partida ideal para
a transformação desse intuitivo em saber consciente, desse
conhe-cimento adquirido pela vivência em conhecimento
sistematizado.
Pala Jean Piaget (1):
"Compreender é inventar ou reconstruir através da reinvenção, e
será preciso curvar-se ante tais necessidades se o que se
pretende para o futuro é moldar indivíduos capazes de produ -zir
ou criar e não apenas repetir". E prossegue:
"...exigindo-se que toda verdade adquirida seja reinventada
pelo aluno, ou pelo menos construída e não simplesmente trans
mitida".
Metodologia e Conteúdo
Aproximadamente até a década de 70, a preocupação com o ensino
em geral estava centrada nos conteúdos e pouca atenção era
dispensada à metodologia. Tal situação se alterou por volta da dé-
cada de 70, quando a metodologia passou a atrair todas as aten -
ções havendo quem advogasse a tese de que "não importa o conteúdo
do, o que interessa é a metodologia". Atualmente percebe-se, entre
vários profissionais da educação, um repensar dessas duas proposi-
ções e a avaliação de que metodologia e conteúdo são indissociá-
veis; tão fundamental quanto definir quais conteúdos serão desen-
volvidos ao longo,do 2º grau é ter claro que tratamento daremos a
esses conteúdos, de sorte a garantir a apropriação do conhecimento
pelos alunos.
A decisão sobre o quê e como ensinar determinada área do conhe
cimento parece estar diretamente ligada ao modo como pensamos o
mundo e a ciência. Se concebemos a ciência como neutra e o mundo
como a somatória das partes que o constituem, construiremos um en-
sino em que a ciência é apresentada como um conjunto de fatos, hi
póteses e teoria, desvinculado do social, em que as teorias assu-
mem a dimensão de verdades absolutas, inalteráveis e onde se des-
considera o fato de que o conhecimento é produzido por indivíduos,
determinada época, em determinado contexto político-sócio-eco-
em d
nômico. Acontece que, alinhavando as hipóteses e os modelos cons-
truídos para explicar certo fenômeno, estão as idéias: as idéias
dos indivíduos que produzem o conhecimento e as idéias predominan-
tes no momento histórico em que tal produção ocorre. Se assim en-
tendemos a ciência e o mundo, apresentaremos as teorias como
mode-los e, portanto, passíveis de serem alteradas, desde que não
mais consigam responder aos problemas colocados. E atentaremos
ainda para que os conteúdos sejam distribuídos de modo a garantir
a com preensão do todo, ou seja, nos proporemos a partir do geral
e aná-lisar sua complexidade ate chegarmos ao particular.
No ensino da Biologia estabelecemos, por exemplo, a Citologia
como conteúdo programático porque, segundo a teoria celular em vi
gência, a célula é a unidade vital, fenômeno biológico que iremos
explorar. Mas não iniciaríamos um 2º Grau com este conteúdo, pois
ela representa a forma mais complexa do fenômeno vida, exigindo
que se tenha um nível de abstração mais elaborado para compreender
as intrincadas relações que ocorrem a nível celular.
Optamos por iniciar com Ecologia. A nosso ver as interações e-
xistentes neste conteúdo são de mais fácil compreensão, dado o ma
crocosmo em que o indivíduo se situa. Dessa forma, o primeiro pro
blema biológico a. ser resolvido com os alunos refere-se às intera
ções entre seres vivos e ambiente, seguido da origem e diversida-
de, até que conhecer a célula transpareça como um problema a ser
desvendado, para maior e melhor compreensão do fenômeno vida. E
mais ainda, que os alunos tenham um instrumental para poderem in-
vestigar tal problema.
Por que ensinar Biologia no Núcleo Comum
Esta é uma pergunta muito freqüente entre os alunos, e acredi-
tamos que também entre os professores. E é importante que seja co
locada pois, a cada reflexão, podemos encontrar respostas que per
mitam redirecionar o ensino de Biologia e redimensionar nosso pa-
pel de educadores.
Vamos mencionar alguns pontos que, no nosso modo de ver, justi-
ficam a inclusão de Biologia no Núcleo Comum, esperando colaborar
para a reflexão e não esgotar o assunto.
1- Em seu livro A Formação Social da Mente Vygotsky (2) chama a
atenção para o fato de que cada área do conhecimento possui um
código intrínseco, uma lógica interne. Por isso, cada uma delas
a-tua de forma específica na construção e no desenvolvimento do
pen-samento.
2- 0 ensino de Biologia, como o das demais áreas do conhecimen-
to, possibilita a contraposição entre o místico e o científico
nas explicações dos fenômenos naturais. Não se trata aqui de anu-
lar ou desrespeitar o universo cultural do aluno, e sim de trazer
a ele explicações que a ciência tem para tais fenômenos. Parece-
nos fundamental que o aluno se aproprie deste conhecimento; é fun
ção da escola socializar esse conhecimento. Parece-nos também que
a contraposição entre o místico e o científico traz à tona o fato
de que a ciência não tem resposta para tudo, sendo uma de suas ca
racterísticas a possibilidade de ser questionada e de se transfor-
mar.
3- Compreender o mundo e tentar superar problemas constituem
características da espécie humana. A curiosidade e a necessidade
são dois grandes móveis, que nos fazem caminhar em busca do conhe
cimento. A Biologia faz parte do conhecimento e os fenômenos bio-
lógicos são objeto de interesse dos indivíduos desde que iniciam
sua exploração do mundo. Cabe à escola assegurar que esse interes-
subsista.
4- Entendemos ser importante compreender que a vida se manifes-
ta de formas diversas, relacionadas entre si e com o meio; que to
das essas formas estão sujeitas a transformações que ocorrem no
tempo e no espaço; que tais transformações são fruto das intera-
ções entre organismos e ambiente, podendo ou não ser causa de no-
vas formas de interação.
5- Questões hoje polêmicas como as que dizem respeito ao impa-
cto ambiental - uso de inseticidas na agricultura, erradicação de
moléstias, utilização de aditivos, alimentares, desmatamento, bio-
tecnologia e tantas outras - só podem ser julgadas e devidamente
encaminhadas se tivermos conhecimento sobre a dinâmica dos ecos-
sistemas, dos organismos, enfim sobre o modo como a natureza se
comporta e como a vida se processa. Caso contrário corremos o ris-
co de nos alienarmos de tais questões ou de produzirmos discursos
vazios, sem qualquer base cientifica.
Que Biologia é essa?
Se pretendemos que o aluno seja capaz de compreender, refletir
e recriar, se concordamos que cada aluno traz consigo explicações
sobre, o mundo e que tais explicações devem constituir ponto de
partida para o ensino, temos que nos perguntar: "que Biologia é
essa que ensinamos?"
Se observarmos a maioria dos livros didáticos e atentarmos pa-
ra os programas desenvolvidos na maior parte das escolas de 2º
Grau, profissionalizante ou não, três pontos se sobressaem: 1) a
extensão e desarticulação dos conteúdos; 2) o tratamento eminente
mente descritivo e ahistórico dado a esses conteúdos; 3) a conce-
pção mecanicista dos programas.
Não nos parece possível tratar, no 2º Grau, de todo o conheci-
mento biológico já produzido. Também não nos parece correto tra-
tar esse conhecimento de forma descontextualizada e mecanicista
isto e, trata-lo como se fosse produzido por ninguém, em tempo
al-
gum, e se constituísse num conjunto de fatos-hipóteses-teorias
traçados linearmente. A própria história da Biologia nos mostra
que esse conhecimento não e estático e que sua construção não é
linear.
Torna-se necessário, portanto, selecionar conteúdos e escolher
uma metodologia coerente con os objetivos a que nos propomos en-
quanto educadores. Para tanto, é preciso que se estabeleçam crité-
rios, como por exemplo:
1- os conteúdos selecionados devem se adequar à faixa etária com
a qual se trabalha, isto é, devem conter conceitos possíveis de
serem construídos com os alunos e,,portanto, devem exigir opera-
ções mentais que eles possam realizar,
2- os conteúdos devem estar articulados de tal forma que os alu-,
nos compreendam que o fenômeno vida se caracteriza por um conjun-
to de processos organizados e integrados, quer ao nível de indiví-
duo, quer ao nível de organismos no ambiente.
3- o tratamento dado ao conteúdo deve propiciar a compreensão de
que o universo e composto por partes que agem interativamente e
que é esta interação que configura o universo como universo, a na
tureza como algo dinâmico, o organismo como um todo. A idéia de
que o universo se comporta como uma máquina, onde cada peça opera
isoladamente, tem sido a tônica no ensino de 3iologia e tem gerado
a incompreensão, o desinteresse e a falsa idéia de que ao estu-
dar cada parte o aluno estará apto a compor e compreender o todo.
0 exemplo abaixo elucida este aspecto:
Ao ensinarmos anatomia e fisiologia humana, muitas vezes enfa-
tizamos cada sistema ou aparelho isoladamente e apenas
isoladamen-te. É comum os alunos., quando não os professores
acabarem comparando o corpo humano a uma máquina. Isto significa
que a idéia a-presentada (intencionalmente ou não) foi de que cada
parte do cor; po humano funciona por si, quando na realidade o
que permite a in
tegridade do organismo, seu equilíbrio, são as interações entre os
diversos sistemas e aparelhos e a interação entre o organismo e o
meio. Orna disfunção de qualquer sistema ou aparelho, de um ór gão
que seja, representa um problema do organismo todo e não ape-nas
daquele órgão, sistema ou aparelho. Da mesma forma, alterações no
ambiente afetam o organismo - o aumento da temperatura am biental
pode alterar seu equilíbrio hídrico.
Portanto, ao estudarmos esse conteúdo é preciso que se dê ênfa-
se às interações, aos mecanismos de equilíbrio do organismo. Isto
não significa que o estudo de cada sistema ou aparelho seja dis-
pensável ou desnecessário. Pelo contrário, é importante que o alu-
no conheça, por exemplo, a maneira pela qual o alimento é trans-
formado no aparelho digestivo. Mas tão valioso quanto conhecer o
processo de digestão é compreender a relação do aparelho digestivo
com os demais sistemas e aparelhos do organismo, relação esta que
interfere no processamento dos alimentos e assegura a integri-dade
do corpo.
.Ainda nos parece importante garantir, do ponto de vista
metodo-lógico, a compreensão de que o conhecimento sobre a
fisiologia hu-mana (para ficarmos no nosso exemplo) não está
acabado; foi e vem sendo construído e, cobre um mesmo ponto, pode
haver diversos modelos teóricos. Embora muitos problemas sobre a
fisiologia humana estejam hoje elucidados (o papel das enzimas na
digestão, para ci-tar um), nem sempre estiveram e outros há ainda
em investigação. Sobre a memória e o pensamento, por exemplo,
existem hoje diferen-tes modelos; nenhum, porém, consegue
responder todas as questões que se colocam' sobre o processamento
de tais funções.
Proposta de programa
0 programa proposto compreende um conjunto de conteúdos
articu-lados, alinhavados pelo eixo Ecologia-Evolução, que
permite a com preensão de que a vida, interagindo com o ambiente,
se transfor -mou no decorrer do tempo e continua em
transformação.Dessa forma garantimos que o conhecimento
biológico construído em cada série e ao longo do 2º grau seja
contextualizado e tratado,de forma que a compreensão de um
fenômeno biológico seja, ao mesmo tempo, mó -vel para a resolução
de novos problemas a serem desvendados sobre tal fenômeno, num
movimento que consiste em esmiuçar o todo até chegar na sua
possível intimidade.
1ª série do 2º Grau
A dinâmica da Natureza
1) Níveis de Organização
2) Ecossistema
2a - Sucessão ecológica
2b - Elementos que compõem um ecossistema - fatores bióti-
cos e abióticos 2c - Ciclo de matéria
- H
2
0, C0
2,
O2, CA
++
2d - Fluxo de energia
fotossíntese e quimiossíntese
fermentação e respiração 2e
- Produtividade
3) Cadeia e Teia Alimentar
Hábitos alimentares
4) Representação gráfica dos ecossistemas
pirâmide de biomassa
pirâmide de energia
5) Relação entre seres vivos
5a - Harmônicas
simbiose
mutualismo
colônia
sociedade 5b -
Desarmônicas
canibalismo
predação
parasitismo
competição 5c -
Saprofitismo
6) Dinâmica Populacional
taxa de natalidade
taxa de mortalidade
superpopulação
extinção
migração
controle do crescimento populacional
disponibilidade de alimento, presença de parasitas es-
pecíficos e predação
espaço, disponibilidade de água, incêndio etc.
as populações humanas
além dos fatores naturais há aspectos culturais, so ciais, políticos
e econômicos que tornam a dinâmica das populações humanas
diversa daquelas exclusivamente naturais
impacto ambiental
22
2ª Série do 2º Grau
A diversidade era evolução
1) As idéias sobre a diversidade das espécies
1a - Criacionismo (fixismo)
lb - Catastrofismo (transformismo) lc -
Lamarckismo ( evolucionismo) 1d1-
Darwinismo (evolucionismo) 1d2-
Neodarwinismo e Neolamarckismo
2) As evidencias da evolução
2a - Paleontologia
2b - Embriologia
2c - Órgãos vestigiais
2d - Órgaos análogos e homólogos
2e - Semelhança de proteínas
3) Zoologia e Botânica - enfoque evolutivo
3a - Escala de tempo geológico
3b - Os primeiros seres vivos
3c - A vida no ambiente aquático
3d - A transição para o ambiente terrestre
3e - 0 domínio do ambiente terrestre e aéreo
4) 0 homem em evolução
4a - Os prováveis ancestrais
4b - A tese ambientalista, a antítese hereditária e a sín-
tese dialética na interpretação da evolução humana
4b1- Australopitecus
4b2 - Homo eretus 4b3-
Homo sapiens
fisiologia humana - digestão, circulação (
sangue,lin-
fa e aspectos imunológicos), respiração, excreção, repro-
duçao, sistema nervoso, endócrino.
Série do 2º Grau
A unidade da diversidade e a base molecular da vida
1) Citologia
1a - Célula, unidade dos seres vivos?
la1- Histórico e teoria celular
la
2
- Os virus e a teoria celular
lb - A dinâmica celular
lb1-, - Respiração e fermentação
lb2 - Fotossíntese e quimiossíntese
lb3 - Síntese proteica
lb4- Divisão celular: mitose e meiose
2) Genética
2a - Histórico do conhecimento 2b - A
herança mendeliana
2b1 - Contexto sócio-econômico-cultural da época
2b
2
- A elaboração da 1ª lei
2b3 - Características determinadas por 1 par de gens
alelos.
relação de dominância e recessividade
ausência de dominância
alelos múltiplos 2b4 -
A elaboração da 2ª lei
2b5 - Características determinadas por 2 ou mais pa-
5
res de gens.
di, tri e poli-hibridismo
interação gênica
24
epistasia e hipostasia
herança quantitativa 2b6 -A
herança relacionada ao sexo
herança ligada ao sexo
herança restrita ao sexo
2c - Genética Molecular
2c1- Herança citoplasmática 2c2 -
Linkage e mapa genético 2d -
Alterações cromossômicas
2d1 - Estruturais: deficiência, duplicação, inversão
e translocação
numéricas: aneuploidias e euploidias 2d2 -
Síndromes causadas por alterações no número de
cromossomos na espécie humana
Síndrome de Down (mongolismo)
Síndrome de Turner
Síndrome de Klinefelter 2d3 - 0 uso indevido
da ciência da Biologia na justi-
ficativa de fenômenos de natureza cultural, so-
cial e político-econômica
0 distúrbio genético na Síndrome XYY, apontado
como causa de comportamentos agressivos e violentos. 2e
- Biotecnologia
2e1, - Histórico
2e2 - Método
2e3 - Aplicações
2e4 - Questões éticas, morais e legais envolvidas
no desenvolvimento desta área do conhecimento.
É muito difícil encontrar os conteúdos que apontamos reunidos
em um único livro e traçados de forma a constituir um corpo de
conhecimento que parte do geral, analisa-o e caminha no sentido da
sua complexização, da sua particularização. Por isso, apresen-tamos
um conjunto de textos referentes ao todo o programa propos-to para
a li série do 2º Grau (3). Tais textos destinam-se ao professor
e pretendem ser apenas uma referência para o desenvolvimento do
programa proposto para a série em questão.Cabe ao professor a
decisão de utilizá-los e/ ou complementa-los e, para tanto,
apontamos, ao final do projeto, uma bibliografia.
Esperamos que esse conjunto de textos, aliado à exemplificação
de como construir conceitos nele contidos, concretize e explicite
as idéias que desenvolvemos ao longo deste trabalho, o sirva de o
rientação para os professores construírem seus programas e prepa-
rem suas aulas quanto aos demais temas propostos: a diversidade en
evolução; a unidade da diversidade e a base molecular da vida.
Notas deste capítulo
(1) PIAGET, Jean - Para Onde Vai a Educação, São Paulo - Livraria
José Olímpio Editora, 1984.
(2) VYGOTSKY, L.G. A Formação Socia da Mente, São Paulo, Livraria
Martins Fontes Editora, 1984.
(3) Ver os Textos de Consulta para o Professor.
CAPÍTULO 2
A CONSTRUÇÃO DE UM CONCEITO
Várias são as técnicas e atividades utilizadas pelos professores
em sala de aula. 2ntendemos que todas podem representar recursos
valiosos, desde que se tenha clareza do momento de sua aplicação
e de que nenhuma delas, por si só, propicia a autonomia suficien-
te para o aluno construir um conceito. É imprescindível a ação do
professor no direcionamento de qualquer técnica ou atividade que
vise a construção de conceitos.
Técnicas e atividades
Conteúdos diversos podem ser trabalhados com diferentes técni-
cas, com uma mesma técnica, ou ainda com uma combinação delas. É
desejável, entretanto, que se assegure uma dinâmica de aula capaz
de estimular o interesse dos alunos, de instigá-los a resolver os
problemas que devem emergir da própria atividade, organizada e o-
rientada pelo professor para a construção de um conceito. Por is-
so, é necessário variar as técnicas e as atividades de acordo com
os conteúdos e as habilidades que se pretenda desenvolver.
Por fim, se pretendemos que os alunos construam conceitos, é
importante partirmos das interpretações que eles trazem acerca dos
fenômenos em estudo. Tal situação nos permite conhecer seus
referenciais e organizar as atividades que viabilizem o confronto
dessas interpretações com os novos dados obtidos. Coloca-se assim,
para os alunos, um problema cuja superação exige mais informações
e uma mudança de referenciais. esse procedimento também permite
caminhar cor. elas no aprofundamento de conteúdos já apreendidos. É
importante ressaltar a necessidade da organização e sistematiza
ção dos conceitos que forem sendo construídos. S aqui entram en
cena dois grandes auxiliares do professor, desde que não sejam os
únicos: a lousa e o giz.
Abordaremos, a seguir, algumas técnicas e atividades que julga
mos adequadas ao desenvolvimento do programa proposto. longe de
nós pretender que sejam as únicas. Acreditamos que os professores
28
têm. competência e autonomia para julgar e decidir sobre aquelas que melhor atendam
aos seus objetivos,tendo em vista as condições materiais de que dispõem.,bem como
a população com que trabalhai».
Textos
Os textos podem ser usados como introdução ao estudo de um da-
do conteúdo, como síntese do conteúdo desenvolvido, ou ainda como
leitura complementar.
E aqui novamente é importante que se tenha critérios para sele
cionar. os textos, observando principalmente se há erros conceitu-
ais, se as idéias estão bem articuladas e fundamentadas, se a for
mulação das idéias torna o texto permeável aos alunos, se as in-
formações necessárias estão ali apresentadas, tomando como refe-
rência o objetivo que se pretende com aquele texto: introduzir,
sintetizar, aprofundar ou complementar o conteúdo trabalhado. É
fundamental lembrarmos que um texto contém O pensamento de quem o
escreveu e os olhos de quem o lê, ou seja, escrita e leitura con-
tém interpretações, por mais objetividade que se pretenda. Assim,
além dos critérios objetivos apontados acima, para selecionar um
texto é necessário que nos apercebamos da idéia que ele transmite.
0 que não significa censurar textos que apresentem filosofia di-
versa da nossa. Pelo contrário, é educacionalmente saudável que o
aluno compreenda diferentes interpretações sobre um mesmo tema e
que aprenda a fazer esse tipo de leitura. Mas é importante que o
professor tenha conhecimento disto para que possa discutir com os
alunos e promover tal aprendizado. Vamos tomar como exemplo os
textos presentes em livros de Biologia, sobre a disfunção cromos-
sômica XYY. A maioria deles apresenta esta síndrome de maneira
correta no que toca aos aspectos conceituais. Porem, ao caracteri-
zar os portadores da síndrome imputam-lhes um comportamento agres-
sivo e violento. Nesta afirmação está embutida a concepção da que o
comportamento humano é determinado geneticamente. Ao invés de
negarmos tal texto aos alunos é ciais valioso apresentá-lo, aten-
tamos para suas reações à informação e apresentar-lhes então um
outro texto, onde tal questão seja analisada. Oferecemos, assim,
a possibilidade do aluno, aprender a ler para além das palavras, a
prender a verificar se a idéia apresentada está suficientemente
argumentada, de poder se contrapor fundamentadamente ao que vê e
ouve e ir construindo un conceito.
Apresentamos, em anexo, un texto que analisa de maneira
contex-tualisaãa a questão acima exposta.(l)
Observamos ainda que a leitura de um texto constitui um recur-
so e não a aula. Assim, cabe ao professor problematizar o texto e
oferecer novas informações que encaminhem para a construção do
conceito pretendido.
Experimento
Embora constitua uma atividade que chama à observação e à in-
terpretação, nem sempre pode ser aplicado, É" o caso, por exemplo,
do estudo da evolução. Um aspecto importante a considerar ao se
propor um experimento é que ele não seja apenas um meio de consta-
tação ou ainda que "tenha que dar certo". Um experimento requer
um controle e seus resultados nem sempre são previsíveis. A impor
tância está justamente em interpretar os resultados que se obtém,
diante daquilo que se "esperava que acontecesse".
•Um experimento constitui uma técnica de investigação que deve
estar acompanhada de questões que permitam a reflexão, posterior
análise e organização dos dados obtidos e fornecimento de
informa-ções para que o conceito pretendido seja elaborado.
Os fenômenos da difusão, osmose, fermentação, ventilação dos
pulmões (na respiração) podem ser trabalhados desta forma, Experi-
mentos referentes a estes temas podem ser encontrados no laborató-
rio Portátil de Biologia, Grau, produzido pela ?UíI32C e editado
pela Editora Edart - São Paulo, em 1.977.
Debate
O debate é, sem dúvida, uma técnica interessante, que pode am-
pliar o universo do aluno, que estimula o desenvolvimento da capai
cidade 'de síntese, da argumentação, etc... Mas ele pode se
consti-tuir num imenso vazio, num monólogo. Não é possível
debater sobre o que se desconhece. Assim, o debate não pode ser
utilizado como introdução aos conteúdos que se pretenda
desenvolver ou como "substituto" de aulas expositivas.
A realização de um debate implica em um conjunto de atividades
preparatórias, e no conhecimento do tema sobre o qual se vai deba-
ter. Assim, após terem os alunos se apropriado do conhecimento so-
bre a dinâmica dos ecossistemas, por exemplo, é possível preceder
a um debate sobre impacto ambiental. Para tanto é necessário sele
cionar as questões que se pretende debater, por exemplo, agrotóxi-
cos ou efeitos da radioatividade ou poluição do ar e da água ou a
ditivos alimentares ou desmatamento, etc... A seguir é preciso
selecionar textos sobre o tema escolhido e/ou pedir aos alun03 que
leiam jornais e revistas e recortem artigos referentes ao tema. É
desevel elaborar um roteiro que aponte queses centrais, para as
quais os alunos devem estar atentos ao lerem os textos e
procederem à síntese. Podemos ajudá-los a organizarem seus dados,
elaborando com eles um arquivo. Isso facilitará a leitura poste-
rior, além de constituir um aprendizado sobre documentação. De
posse do conhecimento sobre a dinâmica dos ecossistemas e dos ele
mentos fornecidos pelos textos, os alunos poderão construir os ar
gumentos que sustentem suas opiniões. Agora é possível realizar o
debate. Excursão
A excursão pode ser um excelente recurso, em Biologia, dada a
riqueza de material que podemos encontrar e analizar no próprio
ambiente, á, certamente, mais valioso para os alunos estudar as
relações entre os cores vivos e o meio, os aspectos do comporta-
mento animal en uma excursão, onde podem observar detalhes quo se-
riam impossíveis de outra forma. Mas uma excursão precisa ser
pre-parada, caso contrário perde-se essa possibilidade de
explorar o ambiente. É preciso que o professor tenha claro o
porquê da excur-são, o que pretende explorar e como pretende fazê-
lo, para que possa orientar os alunos. 0 local em que se realiza
o estudo de-ve ser visitado con antecedência pelo professor, a fim
de que pos-sa se assegurar das condições existentes para o
desenvolvimento do estudo e do tempo que os alunos terão,
descontado aquele gasto em condução, se for o caso.
Visitado o local e verificado ó tempo disponível o professor
deve elaborar um roteiro, um texto, explicitando para os alunos o
que irão investigar, como proceder, e como registrar os dados obti-
dos. É importante que este texto seja distribuído aos alunos e se-
ja lido com eles, em classe, antes de realizar a excursão, para
que as dúvidas sejam esclarecidas, os materiais (caso haja neces-
sidade) providenciados e, para que 03 alunos possam se organizar
de sorte a que o tempo passado no local seja proveitoso.
Pode ocorrer que, já no local, realizando o trabalho proposto,
alguns alunos se apercebam de certos fenômenos que não estavam
"programados". Não há porque impedir que explorem esses fenômenos.
Caso o professor perceba que tal exploração tomará muito tempo, é
preferível que reorganize os grupos, de modo que os pontos progra
mados sejam cumpridos e aqueles imprevistos explorados. 0 coleti-
vo da classe será enriquecido com mais elementos acerca do ambien-
te em estudo.
Não há necessidade, e e absolutamente descabido, coletar mate-
rial, a menos que este material se constitua em animais mortos ou
folhas caídas, pois a necessidade de preservar o ambiente também
deve ser passada aos alunos como texto subliminar. O desenho ou a
fotografia cumprem muito bem o papel de guardar as imagens deseja-
das. Deve-se ainda atentar para que o local seja mantido limpo.
Os dados das observações devem ser registrados e, de volta a
sala de aula, organizados, analisados e interpretados. 0 material
32
coletado, nas condições acima referidas, pode ser classificado e
organizado de forma a se montar um museu.
Ê comum associar a idéia de excursão à idéia de grandes distân-
cias. Em verdade uma excursão independe da distância; basta exis-
tir um ambiente adequado ao objetivo proposto. Exploração
do ambiente
Esta técnica pode ser de grande valia nas situações em que uma
exemplificação, através de figuras ou materiais fixados, nao daria
ao aluno a idéia precisa do processo, ou quando a escola não conta
com outros recursos que possam ser usados pelo professor.
Em aula sobre a diversidade no reino vegetal, podemos levar a
classe ou grupo de alunos para uma volta em torna da escola e ve-
rificar as espécies vegetais encontradas, relacionando-as com os
fatores ambientais a que estão adaptadas.
Tal técnica só resolverá as questões propostas sobre a diversi-
dade se, após á atividade, houver um fechamento conceitual, enca-
minhado pelo professor, em classe. Aulas expositivas
Entre professores é uso corrente afirmar que uma aula
expositi-va é sempre cansativa, longa e desinteressante. É também
muito co mum recorrer a essa técnica quando se necessita
transmitir um con ceito.
Será que modificando uma dessas posturas não conseguiremos al-
terar a outra, de modo que uma aula expositiva seja a técnica ade-
quada para se concluir uma análise, ou dar o fechamento a um expe
rimento?
0 grande conflito que muitas vezes gera desinteresse na aula
expositiva e que ao invés do diálogo, criamos o monólogo; ao inves
da elaboração, criamos a simples definição de um conceito; ao inves
de organizadores do aprendizado, nos portamos como os donos da
verdade.
Quando verificados que na aula expositiva temos o momento cer-
to para incentivar o diálogo, podemos promover e discussão sobre
pontos polêmicos do conteúdo e criar uma dinâmica tal que a cons-
trução de determinado conceito aconteça de forma segura.
A aula expositiva é uma das técnicas utilizadas para o forneci-
mento de informações preparatórias para um debate na classe (por
exemplo, sobre a origem da vida na Terra), em que se contraponham
teorias principais. Se não fornecermos subsídios para o debate,
ele não acontecerá ou será apenas um confronto do saber intuitivo
dos grupos formados. Áudio-visual
Tanto quanto a aula expositiva, esta é uma técnica que pode
ser utilizada como complementação ou introdução de outra técnica
de ensino.
Na construção de um conceito, e de suma importância aliar qual-
quer forma de percepção de informações a um trabalho mental volta
do para o desenvolvimento de habilidades, o qual leva o indivíduo
a uma melhor compreensão do conteúdo proposto. Acreditamos que
não se justifica o uso de material audio-visual como forma exclu-
siva de se abordar qualquer conteúdo, visto que, por vezes, esse
material não transmite com suficiente clareza as idéias
necessári-as para a compreensão do conteúdo.
Cabe aqui, mais uma vez, lembrar o professor para que tenha u-
ma preocupação com os critérios de escolha do material, a fim de
que este não se torne um simples passatempo, ou uma forma de
modi-ficar uma dinâmica de aula.
Quanto ao uso de áudio-visuais como recurso auxiliar na cons-
trução de conceitos,podemos utilizar um filme ou uma série de
slides,tendo o cuidado de observar a nítida diferença desses do is
tipos de recursos em relação à análise do conteúdo oroposto : o
filme pode possuir um texo próprio, enquanto que em slides o
texto é geralmente elaborado pelo professor.
Ao refletirmos sobre a análise que faremos do filme, temos de
levar em conta a mensagem implícita e explicita nele contida, de
34
forma a garantir a compreensão do contexto em que foi realizado,
a existência de conceitos errados e a ligação entre a mensagem
do filme com o conteúdo proposto. É de fundamental importância
que o professor assista ao filme antes de apresentá-lo à classe.
Nas séries de slides encontrados nas escolas e comum ver que
esses diapositivos obedecem uma ordem que nem sempre é a mais con
veniente para o desenvolvimento de atividades que levam à
constru-ção de um conceito. Cabe ao professor colocar os slides
numa or-dem que esteja de acordo com os passos propostos para
atingir um determinado objetivo.
Jogos
A exploração do aspecto lúdico é uma das técnicas que pode
facili-tar a elaboração de conceitos, desde que acompanhada de
subsídios para a interpretação do jogo.
Um dos cuidados necessários ao se aplicar um jogo é verificar
se as suas regras foram plenamente compreendidas e se o domínio
sobre os objetivos propostos está assegurado.
Com cada jogo deve-se levar em conta as habilidades que se pre-
-tende desenvolver - estímulo à memória, capacidade de transferên-
cia de conceitos já apreendidos, análise e interpretação de situa
ções problemas, relacionamento de situações - enfim, para se che-
gar a um objetivo, o jogo não deve ser baseado somente no fator
sorte.
Todo jogo proposto aos alunos deve conter algo que estimule à
superação de um problema, possibilitando o avanço para o passo se-
guinte; ou seja, o aluno deve se sentir desafiado pelo jogo e não
somente pelos outros participantes do jogo. logicamente o aspecto
competitivo se fará presente. Não há com que nos preocuparmos, se
nossa postura evidenciar que a competição é da natureza dos jogos
e não da vida.
Como exemplo podemos citar o Jogo de Sobrevivência (2), que
tem como objetivo geral a compreensão da dinâmica de um ecossite-
35
ma, através da variação nas diversas populações, variação esta
causada por diferentes fatores bióticos e abióticos. Como objeti-
vo mais específico do jogo o aluno terá condições de construir di-
versos conceitos, tais como cadeia alimentar, teia alimentar,
cau-sas da flutuação de diferentes populações, etc...
Através deste jogo podemos explorar as habilidades de análise
de uma determinada situação, para saber se haverá aumento ou
dimi-nuição na população de quatis; a de previsão de situações que
pos-sam alterar as populações, e até mesmo a elaboração de
situações para tentar resolver problemas encontrados no jogo,
como por exem-pio, a iminência de extinção da população de
quatis. Cabe ao professor selecionar as habilidades e conceitos
que pretende desen -volver com o jogo, levando em conta o que já
foi apropriado pelos
alunos.
Por fim, julgamos muito importante que o professor se assegure
da organização no registro de dados (marcações necessárias ao jo-
go), para que a interpretações sobre o desenvolvimento ou final do
jogo sejam compreendidas.
Como construir um conceito
Propomos que a construção de um conceito se baseie na integra-
ção entre a metodologia e a técnica ou atividade empregada para
tal fim. Nesse sentido a metodologia a ser utilizada é a proble-
matização, que parte do intuitivo do aluno e leva posteriormente
a um aprofundamento do embasamento conteudístico, até chegar ao
objetivo, que é a própria conceituação. As técnicas e atividades
empregadas para se conseguir a problematização podem ser as mais
variadas, de acordo com as nossas proposições em páginas ante -ri
ores.
Utilizaremos como exemplo o Jogo da Sobrevivência. Há pelo me-
nos três situações que, embora diversas, permitem a construção dos
conceitos desejados:
a - Os conceitos podem ser construídos apenas com a utilização do
jogo. Exemplo: conceito de teia alimentar,hábitos alimentares. b -
0 jogo fornece elementos para a construção de conceitos, mas
requer a aplicação de outros já desenvolvidos. Exemplo: ciclo da
matéria.
o- 0 jogo é usado corno meio para construir conceitos que requerem
interrelações de conceitos já elaborados, exemplo: dinâmica de po-
pülações.
A seguir damos una visão geral de como pode ser construído un
conceito (fig. l) e, em seguida, passaremos à sua exemplificação.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE ENSINO DE 2º GRAU
Fi
g
ura 1: Como construir um conceito
Tela alimentar e hábitos alimentares
Você pode começar perguntando aos alunos se na natureza todos
os seres vivos possuem un tipo restrito de alimento.
Anote as respostas no quadro negro.
A seguir, proponha aos alunos que montem todas as relações a-
liinentares possíveis, utilizando-se dos seguintes seres vivos:
frutos, aves e ovos, quati, cobra, gambá, onça e macaco.
É possível que alguns deles saibam quais seres vivos constituem
alimentos para outros. Mas é bem possível que alguns não conhe-çam
os hábitos alimentares de cada animal. Eles necessitam de in-
formações para realizar a relação proposta. Este é o momento ade-
quado para introduzir informações que sirvam para a construção
das relações alimentares e de subsídios para a elaboração do con-
ceito de hábitos alimentares. (Você pode obter essas informações
verificando a figura 2 do Jogo de Sobrevivência). (3)
Anote as relações formadas pelos alunos.
Pergunte aos alunos como explicam o fato de que determinados a-
nimais só comem carne, outros apenas vegetais e outros alimentam-
se de vegetais e animais (referencie-se nas cadeias montadas).
Discuta com os alunos as respostas dadas, baseando-se nas ada-
ptações dos animais aos diversos tipos de alimentação-dentes, apa-
relho digestivo, etc. elaborando, desta forma, o conceito de hábi-
tos alimentares.
Sistematize esse conceito, com os alunos, classificando os
ani-mais em herbívoros, carnívoros e onívoros, com base nas
caracte-rísticas adaptativas dos animais.
Uma outra pergunta poderá ser feita com a intenção de traba-
lhar o conceito de teia alimentar: os seres vivos das relações a-
limentares construídas podem se interrelacionar? Como?
Apresente, então, a teia alimentar da figura 2 (faça cartaz,
desenhe na lousa ou distribua cópias aos alunos, de acordo COM as
39
possibilidades da sua escola) para que os alunos possam compará-
la com as respostas dadas,
Faça, com os alunos, a leitura da figura para que possam enten
der o significado das setas. Conclua com eles que há uma interre-
lação e que a ela dá-se o nome de teia alimentar.
Relacione a teia apresentada com o ambiente onde ocorre (flo-
resta) e chame a atenção para o fato de que em ambientes diversos
teremos teias alimentares diversas, sempre levando em conta a
adap-ptação dos seres vivos ao ambiente. Ciclo de matéria
-Para se trabalhar esse conceito, você e/ou os alunos devera ter
em mãos a figura 2 do Jogo de Sobrevivência. (3/
Inicialmente, identifique a seguinte cadeia alimentar: frutos
----
> pássaros
---
>
cobra
----»
gambá
-----
>
onça.
Você irá agora fazer uma série de perguntas, sempre levando en
conta todas as respostas, sejam elas certas ou erradas, trabalhan-
do da melhor forma possível, de sorte que, ao passar de uma per-
gunta a outra, os alunos percebam a relação existente entre elas.
1-
N
O
organismo do pássaro, o que acontece com o fruto que co-
meu? Com as respostas dadas pelos alunos, você deve concluir com
eles que uma parte das substâncias dos frutos ficarão incorporadas
ao organismo dos pássaros.
2-
A
cobra, ao comer, indiretamente também está recebendo su
bstâncias dos frutos?
Faça novas perguntas semelhantes à pergunta 2, visando estabe-
lecer relações entre outros animais da cadeia e o fruto.
Ao estabelecer uma relação entre a onça e o fruto você pode
perguntar:
3-
0 que acontecerá com todos cs organismos desta cadeia ali
mentar? Você deve conduzir o processo perguntas/respostas, levan
do os alunos à conclusão de que, embora não ao mesmo tempo, os
componentes desta cadeia alimentar, como tudo que é vivo,.um dia
morrerão.
4- Após a norte de componentes desta cadeia alimentar, o que
poderá contecer con o organismo dos seres mortos? Como isto pode
acontecer?
Neste momento, dependendo das respostas dos alunos, você deve-
informá-los sobre a ação de alguns microorganismos (bactérias e
fungos) na decomposição de matéria orgânica e conduzi-los a con-
cluir que, ao morrer, os seres vivos sofrem um processo de
decom-posição (apodrecimento) causado por tais microorganismos,
muito abundantes na natureza.
5- Para onde irá a matéria orgânica decomposta?
6- Essa matéria orgânica incorporada ao solo pode ser aprovei-
tada por algum tipo de ser vivo? Qual ou quais?
Você deve concluir com os alunos que, por estar no solo, esta
matéria orgânica poderá ser incorporada novamente aos vegetais. A
seguir pode perguntar:
7- Os decompositores poderiam fazer parte da cadeia alimentar
inicial? Em que nível trófico se localizariam? (0 conceito de ní-
vel trófico já deverá ter sido construído).
Sempre com base nas respostas dadas, monte com os alunos um
caminho de setas, en que as substancias inicialmente contidas no
fruto percorram a cadeia alimentar, partindo do fruto e retornan-
do a ele, mostrando o caráter cíclico deste processo.
Construa na lousa a cadeia alimentar inicial e a cadeia ali-
mentar final (tendo agora os decompositores) e pergunte aos alu-
nos:
8- A qual das duas cadeias a célebre frase de Lavoisier: "Na
natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma", pode
ser aplicada?
Ao constatar que a frase pode ser aplicada à cadeia alimentar
41
com decompositores, informe aos alunos o nome do caminho percorri
do por estas substâncias na cadeia alimentar, que é ciclo de
maté-ria.
Para verificar se houve ou não a construção do conceito ciclo
da matéria, faça una pergunta final:
. 9- Na teia alimentar da figura 2 do Jogo da Sobrevivência o ci-
cio da matéria está representada de alguma forma?
Trabalhe as respostas levando os alunos a verificar que não e-
xiste ciclo da matéria já que não há decompositores envolvidos.
Construído o conceito da matéria, apresente aos alunos os ci-
clos do oxigênio, dióxido de carbono, água, etc.
Dinâmica de populações - coeficiente de crescimento
Na construção do conceito de coeficiente de crescimento de uma
população usamos o Jogo da Sobrevivência em sua íntegra.
0 conceito de coeficiente de crescimento foi escolhido ao acaso»
o jogo também se presta à construção de outros conceitos como taxa
de natalidade, taxa de mortalidade, imigração, emigração, etc.
Consideramos o jogo da sobrevivência o mais indicado para a
construção desses conceitos pois contem situações que poderiam
provocar flutuação no número de indivíduos de uma ou várias popu-
lações, o que permite aos alunos perceber o equilíbrio dinâmico
que ocorre num ecossistema.
Seria interessante que, antes da apresentação do jogo, você já
tivesse jogado sozinho com outros professores, a fim de perceber
as interferências que porventura pudessem aparecer.
Ao apresentar o jogo para os alunos, você deve:
A- Reunir os alunos em grupos de quatro elementos.
B- Distribuir a cada grupo o material necessário ao jogo: 4
FO-
LHAS REGIÃO, 1 TABELA de PORCENTAGEM(frente e verso) e 78 CARTÕES
SITUAÇÕES,separados em 2 maços e 1 cartão (1 maço com cartões do nº
1 ao 68; 1 maço com cartões do nº 70 ao 78 e o cartão nº 69).
42
C- Se possível, ler as instruções do jogo com os alunos.
D- Fixar o número de GERAÇÕES que quer atingir, dependendo do
tempo disponível.
E- Abster-se ao máximo de interferir na dinâmica do jogo,
exce-to para esclarecimentos quanto ao modo de jogar, dúvidas de
vocabulários, etc.
P- Ao terminar o jogo, recolher os CARTÕES SITUAÇÕES e as TABE-
(LAS de PORCENTAGENS, deixando com eles as FOLHAS REGIÕES
Agora passaremos à elaboração de algumas questões para a análi
se do resultado do jogo:
1. Se as Folhas Região apresentam áreas diferentes de uma mes
ma floresta, peça aos alunos de cada grupo para compararem entre
sí se a variação no número de quatis de cada região foi a mesma.
Em seguida, pergunte-lhes o porquê dessas variações em regiões
tão próximas.
Com as respostas, estabeleça com eles a idéia de que, apesar
da floresta ser um ecossistema dentre vários, podem ocorrer varia
ções regionais micro ou macroclimáticas que levem a tais altera-
ções populacionais.
2. Faça outra questão: o número de quatis no final do jogo é i-
gual ao número de quatis inicial? Por que?
Baseando-se nas respostas faça o levantamento de causas da va-
riação no número de quatis.
3. A variação na sua população foi positiva (população cres
ceu) ou negativa (população diminuiu)?
Anote ao respostas fornecidas pelos alunos; em seguida faça a
mesma pergunta estipulando um determinado intervalo de tempo:
4. A variação na sua população, entre 5º e 10º geração (por e-
xemplo), foi positiva ou negativa?
É bem provável que algumas respostas sejam alteradas, devido a
não consideração do intervalo de tempo na pergunta 3.
Construa com eles a idéia de que, sem um referencial temporal,
qualquer flutuação populacional não será bem compreendida.
43
5. Quais situações criaram condições para que a população de
quatis tivesse uma variação positiva?
liste as situações.
6. Quais situações criaram condições para que a população de
quatis tivesse una variação negativa?
Liste as situações.
7. Todas as situações que trouxeram uma variação positiva pode;
riam ter, de forma direta ou indireta, contribuído para o nasci
mento de quatis?
Verifique com os alunos as formas como essas variações contri-
buíram para um aumento na reprodução - abundância de alimentos,
ausência de competição, melhoria nas condições climáticas, etc.
8. Faça' a mesma pergunta e as mesmas considerações" en relação
às condições que levariam à morte dos quatis.
9. Peça aos alunos que façam o levantamento do número de,qua-
tis na 1ª geração e do número de quatis na última geração (não se
esqueça de que a última geração pode ser determinada por você).
10. A sua população final é maior, menor ou igual a população
inicial? Calcule a diferença.
Você poderá encontrar respostas com as três alternativas, com
diferenças positivas, negativas ou iguais a zero.
Uma nova pergunta adiantará mais os alunos para a construção
do conceito.
11. Baseando-se na diferença entre a população inicial e a fi
nal, a quantidade de nascimentos foi maior, menor ou igual ao nú
mero de mortes? Como chegou a esta conclusão?
Você deverá concluir com eles que, se a diferença foi positiva,
a quantidade de nascimentos é maior que a de mortes; se a diferen-
ça for negativa, a quantidade de nascimentos é menor que a quanti-
dade de mortes e, se for igual a zero, o número de nascimentos
corresponde ao número de mortes.
Neste momento, deverá informá-los de que a diferença entre a
44
população final e a população inicial, em determinado espaço de
tempo, é chamada de coeficiente de crescimento populacional e, se
for positiva, indica que a população aumentou; se negativa, a po-
pulação diminui e se for igual a zero a população manteve-se está
vel.
Relacione agora o conceito apresentado com o equilíbrio
dinâmi-co que ocorre num ecossistema, chamando atenção para o
fato de que em uma população que possua coeficiente de
crescimento igual a zero, o número de indivíduos sofre variações
no decorrer de tem po, conforme os dados obtidos durante o
jogo.
Motas deste capítulo
(1) Ver 0 Varão XYY: a Elaboração de Um Mito, texto anexo a este
capítulo.
(2) Jogo da Sobrevivência, anexo a este capítulo.
(3) Ver os Textos de Consulta para o Professor
Anexos
1- "A Questão Ambiental no Brasil" - uma entrevista sobre impacto
ambiental que pode orientar um debate sobre 'o tema, conforme su-
gestão feita à página 25 deste trabalho. Fonte: Revista de Ensino
de Ciências, nº 18, Agosto/88 - FUNBEC, São Paulo - 8.P.
2- "0 Varão XYY: A Elaboração de um Mito" - o texto apresenta a
trajetória da produção do mito XYY e sua desmitificação. Os tre-
chos aqui apresentados podem ser trabalhados com os alunos para e-
lucidá-los sobre o Uso indevido da ciência, conforme sugestão fei-
ta à página 24 deste trabalho. Ponte: La Biologia como Arma Soci-
ai. Reed PYERITZ, Herb SCKREIER, Chuck MADANSKY, Larry MILLER,
Jon BECKWITH -EDUSP, S.P.
3- 0 Jogo da Sobrevivência - Com a permissão da FUNBEC, apresenta
mos este jogo que julgamos excelente para o desenvolvimento de
conceitos sobre a dinâmica ambiental, especialmente para aqueles
envolvidos na dinâmica das populações. "Fica proibida a reprodu-
ção total ou parcial, por quaisquer meios, sem autorização escri-
ta da editora (FUNBEC)." Ponte: Ciências Ambientais. CECISP/FUN-
BEC.
Manifestamos desde já nosso interesse e esperança de que o MEC
e a FUNBEC reeditem este jogo, recurso de grande valia para pro-
fessores e alunos.
A Questão Ambiental no Brasil
Raul Ximenes Galvão
REC Como se deu o seu envolvimento com
ques-tões ambientais?
Raul
Bem, devido à minha formação gene
ralista fui envolvido desde os anos 70, pelas ques-tões
ambientais. O início de meu trabalho com químico
industrial me levou a estudar Economi-para pensar por
outros ângulos a questão da pclit ca industrial. E a
necessidade de ver a polític industrial dentro do social
me levou para as Ciên-cias Sociais, o que me fez
despertar para os assur tos ligados ao meio ambiente.
Participei do primeiro órgão governamental
voltado para os problemas ambientais, a SUSAI
(Superintendência de Saneamento Ambiental, da
Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo), onde
prevalecia uma visão preventiva em relação ã
questões ambientais. Posteriormente, esse órgãos foi
absorvido pela CETESB (Companhia de Tecno logia
de Saneamento Ambiental), cuja visão é prati camente
restrita à engenharia de controle.
Como assessor da Assembléia Legislativa do
Estado de São Paulo, participei da comissão d estudo
sobre a propriedade da terra no Vale d Ribeira, no
Estado de São Paulo, visando a prese-vação de
cavernas existentes na área;da comissão que analisou
os problemas ambientais causado pelo pólo
petroquímico de Cubatão, no litoral do Estado de São
Paulo, estudo este que deu início a movimento que
colocou em xeque a eficácia c política de controle
ambiental exercida pela CE TESB; da comissão que
examinou o acorde nu-clear Brasil-Alemanha para a
implantação de usi nas nucleares no Brasil.
Gostaria de esclarecer que não sou um tecno
crata na área de meio ambiente. Minha função como
assessor tem sido a de entrar em contar com a
realidade, visitando áreas onde existem o virão a
existir determinados empreendimento; contactar os
órgãos responsáveis pelas pesquisa e, posteriormente,
auxiliar as equipes técnicas r, formulação de projetos.
Faz parte dessa assessor não só avaliar os impactos
ambientais que ta. empreendimentos causaram ou
poderão causa mas também avaliar a atuação do
Estado ou os outros órgãos envolvidos nessas
questões.
REC Que exemplos você citaria de empreendi-
mentos que causaram profundas modificações no am-
biente em nosso país?
Raul — Antes de entrar nesse assunto, é ne-
cessária uma visão mais ampla do processo econômico
ocorrido no Brasil nos últimos vinte anos. Durante esse
período, na tentativa de viabilizar o capitalismo moderno
no país, foi adotado um modelo econômico
preponderantemente voltado à exportação e, para atingir
níveis de eficiência compatíveis com a economia
internacional, foram estabelecidas metas de produção
que utilizam pouca mão-de-obra, exigem grande
concentração de capital e se apropriam dos recursos
naturais sem nenhuma prudência ecológica. Isso pode
ser visto mais notadamente na agricultura e na indústria,
onde a importação de tecnologias desenvolvidas no
Hemisfério Norte e sua implantação no Hemisfério Sul,
em condições ambientais totalmente diversas, tanto do
ponto de vista físico como social, causou impactos
imediatos sobre o ambiente e sobre a qualidade de vida.
Esse modelo econômico gerou inúmeros em-
preendimentos que causaram modificações em todo o
território nacional, em graus e ritmos diretamente
relacionados com os processos de produção:
desmatamentos, ocupação desordenada das margens
dos rios de várias bacias hidrográficas, uso intensivo do
solo etc. Por ser minha preocupação central a faixa
costeira, citarei alguns empreendimentos localizados nos
ecossistemas es-tuarinos.
Nada mais lógico, dentro da lógica capitalista, do
que estabelecer pólos industriais voltados à exportação
em determinados estuários com profundidade adequada à
construção de cais de atracação e onde há água em
abundância para a operação das indústrias. Por essas
razões vemos, infelizmente, o modelo do complexo
industrial de Cuba-tão reproduzido ao longo da costa
brasileira.
Assim, acompanhando o litoral com rápida visão,
vamos encontrar degradação quase que total na Lagoa
dos Patos, no Rio Grande do Sul, causada por dejetos
industriais de todos os tipos. Na Baia de Criciúma, em
Santa Catarina, vemos o impacto ambiental causado pela
exploração de carvão. Já no estado de São Paulo está o
pólo petroquímico de Cubatão, que,tornou a Baia de
Santos a mais poluída do mundo. Na Baia de Todos os
Santos, na Bahia, encontramos altos índices de poluição
causados pelos pólos industriais de Ca-maçari e Aratu.
Continuando nossa viagem vem o pólo industrial de
Aracaju, em Sergipe, que começou com a Petromisa, da
Petrobrás, que lança ao mar cerca de 1 milhão e 300 mil
toneladas de cloreto de sódio por ano, causando a
destruição das condições biológicas que suportam a vida
nessa região.
No litoral de Alagoas há um pólo industrial que
produz soda a partir do sal-gema e lança no mar o
excedente de cloro, o que liquidou com os bancos de
camarão da região, com reflexos na depredação biológica
das Lagoas de Mundaú e Manguaba. E esse pólo vai ser
ampliado com a implantação de uma indústria para
produção de álcool, o que certamente causará forte
impacto social decorrente da apropriação de terras para o
plantio da cana-de-açúcar.
Uma das maiores agressões ao ambiente foi
realizada no litoral de Pernambuco para a construção do
porto de Suape: foi dinamitado o maior recife coralino do
Hemisfério Sul, o que ocasionou inclusive modificações
nas correntes marítimas da região. Esse porto foi criado
para tornar viável a instalação de um pólo industrial que,
até hoje, não se concretizou.
Agora, do meu ponto de vista, o maior atentado ao
ambiente é o que se fez ao Golfão Maranhense formado
pelas Baias de São Marcos e de São José. Esse estuário,
um dos maiores lares de reprodução e alimentação da
fauna marinha co Litoral-Norte do Brasil e íntegro até os
anos 80, passou a sofrer as conseqüências da construção
do Porto da Ponta da Madura, da Companhia Vale do Rio
Doce, e da instalação da ALCOA, multinacional do alumí-
nio, a quem foi entregue cerca de1/5 da ilha de
São Luiz. Só para se ter uma idéia, São Luiz recebe cerca
do 76 toneladas por dia de dióxido ce enxofre e de fluore-
tos provenientes dessa indústria.
Na Amazônia Oriental também foram Instaladas
três unidades de produção de alumínio, o que levou à
construção da hidroelétrica de Tucuruí. Isso numa época
em que se sabe que o alumínio é considerado "energia
enlatada" devido à enorme quantidade de energia
consumida em sua produção. Assim, para viabilizar um
processo altamente poluidor, pagamos não só o impacto
ambiental causado pela própria hidroelétrica, como
também a energia que move esses empreendimentos.
presente no setor da pesca. A pesca do camarão, por
exemplo, realizada do Amapá ao Ceará, é feita por barcos
de bandeira estrangeira ou por barcos de consórcios
nacionais e internacionais. São grandes barcos que
utilizam uma" tecnologia não apropriada, pois arrastam o
substrato da plataforma continental, com sério
comprometimento da reprodução biológica nessas áreas.
Ao arrastarem o camarão, arrastam também uma enorme
variedade e quantidade de peixes, fauna acompanhante
do camarão, que são devolvidos já mortos ao mar. É uma
pesca intensiva, altamente predatória, que pode acabar
com os estoques de camarão nessa região.
REC— Qual é a Importância ecológica dos
ecoss-temas estuarinos?
Raul — É imensa a importância desses ecos-
sistemas. No Brasil praticamente não existe o fenô-
meno da ressurgência, que é o encontro de duas
correntes marítimas e a subida do substrato oceâ-
nico para a superfície. Com isso, sobem os nutrien-
tes, o que favorece o florescimento do fitoplancto.
Inicio da cadeia alimentar que abrange todos os
níveis de consumidores da fauna marinha. Na costa
brasileira, o início da cadeia alimentar da fauna
marinha está nos estuários, que constituem tam-
bém seus lares de reprodução.
REC Em nenhum momento foram chamados es-
pecialistas para opinarem sobre a Implantação de pólos
Industriais nesses ecossistemas ?
Raul — Bom, a precedência sempre foi dada ao
aspecto econômico sobre qualquer outra visão. Todos
esses projetos são discutíveis sob o ponto de vista social.
Um caso típico é a Petromisa, em Aracaju, que joga ao
mar, a cada ano, milhões de toneladas de cloreto de
sódio, mas gerou apenas mil empregos e deslocou cerca
de 35.000 pescadores artesanais que viviam da coleta do
caranguejo uçá. Essas pessoas foram retiradas de sua
atividade principal e o sistema não foi capaz de gerar
empregos para absorvê-las, o que causou profunda
desestruturação social na área.
Bem, o uso intensivo de capital também está
REC — Você acha possível explorar racionalmente a
Floresta Amazônica ?
Raul — Bem, a minha experiência na Amazônia tem
sido no setor da pesca. E, no que diz respeito a isso, há
pontos delicados no equilíbrio ecológico da região,
principalmente nos igarapés. Toda a cadeia alimentar dos
peixes amazônicos se inicia com os peixes onivoros, que
vivem da vegetação marginal aos rios. Um caso típico é o
tamba-qui, que se alimenta de flores, frutos, besouros e
outros insetos que vivem nessa vegetação. Outro
exemplo é o peixe-boi, que desempenha papel importante
nesse ecossistema: pastando, ele prepara o pasto para
outras espécies de peixes; defecando,. fertiliza o fundo
dos rios e igarapés. Nos locais onde o peixe-boi está
sendo predado, a vegetação rasteira que se desprende
das margens, não tendo seu principal consumidor, entra
em decomposição, o que aumenta excessivamente o teor
de matéria orgânica na água. Isso favorece a proliferação
dos microorganismos, o que causa a diminuição da
quantidade de oxigênio dissolvido na água. impos-
sibilitando a ocorrência de outras espécies aquáticas.
Portanto, é preciso cuidado. A destruição do
igarapé de Coroados para a construção da Cidade
Universitária de Manaus é um pequeno exemplo: a
grama do campo de futebol do campus é sintética porque
o solo se transformou num areai e ali não há mais
possibilidade de plantio.
No Peru, a ocupação da Amazônia é feita dentro de
uma racionalidade bastante grande. Por exemplo: há um
limite populacional para a cidade de Iquitos, pois a base
da alimentação nessa região é, o pirarucu. Inclusive eles
fazem reposição dos
estoques de pirarucu, sendo que nós. que geramos a
técnica de criação do pirarucu, que não é fácil,
não temos a menor preocupação em repor os esto-ques
desse peixe.Hoje, os pirarucus encontrados nos mercados
de Manaus são filhotes. É bem pos-
sível que dentro em breve, eles desapareçam, já que o
consumo de peixe em Manaus é de 40 tonela-das por dia,
um dos maiores do mundo.
A ocupação da Amazônia tem que ser precedida de
um Zoneamento econômico-ecológico, dentro de uma
visão global de ocupação. Recente-
mente, tive a ocasião de participar de um projeto que visa
minimizar os impactos ambientais decor-rentes da
pavimentação de um trecho da BR-364, que liga Porto
Velho a Rio Branco. O BID (Banco.
Interamericano de Desenvolvimento), ao financiar esse
projeto, exigiu que se fizesse um estudo dos impactos
ambientais, para que não se repetisse, nesse trecho,o
que ocorreu entre Cuiabá e Porto Velho, onde, num dado
momento, a pavimentação atraiu um imenso processo de
exploração da área, numa ocupação desordenada que
colocou em risco várias populações indígenas e criou a
possibilidade de um desmatamento quase que total.
Então, pela pressão de ambientalistas do Congresso
Americano, o projeto da Porto Velho-Rio Branco só
recebeu financiamento a partir do momento em que se
deu início a um sério estudo do Zoneamento econômico-
ecológico da área e das medidas de proteção às
comunidades indígenas. Esse estudo ainda está em
andamento.
REC Como você vê a reforma agrária dentro da
política de melo ambiente?
RAUI — Totalmente conectadas. Aliás, a política de
estrutura fundiária, a industrial, a agrícola, a florestal, a de
pesca deveriam estar articuladas dentro de um processo
global, que levasse em consideração o inventário dos
recursos naturais e os relatórios dos impactos ambientais,
a priori. Normalmente, os impactos são calculados depois
da escolha de uma área para a implantação de um
empreendimento e não antes. Assim, deveria ser feito um
estudo dos usos que estão sendo dados a uma
determinada área, projetando usos futuros coerentes com
suas condições físicas e sociais. Depois, haveria
discussões com a comunidade cientifica e também com a
comunidade da região, que teria oportunidade de optar
entre aceitar ou não o processo de desenvolvimento.
No caso típico da Amazônia, teria que haver uma ampla
discussão sobre o que se faz. por exemplo, na Serra do
Navio, no Amapá, transformando uma ocorrência de
manganês numa imensa cratera lunar, sabendo que esse
manganês, vendido a preço de nada, hoje está aterrando
áreas já mineradas s Estados Unidos, formando a reserva
de manganês desse país para as gerações futuras.
REC — Existe, no Brasil, a preocupação da um
planejamento global para a ocupação de certas áreas?
Raul — Já existe. No Ministério do Planejamento há
um programa de Zoneamento econômico - ecológico, com
a formação de um banco de dados que possa orientar a
ocupação de diversas áreas do território nacional. Por
exemplo: o Zoneamento da faixa costeira para redefinir o
uso de algumas áreas, principalmente de ambientes que
ainda podem ser preservados, como a Saía de Cananéia,
no litoral de São Paulo, e a Baía de Caravelas, na Bahia.
Um segundo programa prevê o desenvolvimento de
um projeto de educação ambiental, a formação de
conselhos municipais dentro de uma visão de
planejamento participativo, a criação de reservas florestais
e a implementação das que já existem, com manejo da
flora e da fauna e com uma fiscalização educativa e
preventiva.
Há um terceiro programa, o de controle de poluição,
que funciona com uma perspectiva corretiva e, portanto,
parcial que, a meu ver, não funciona. É claro que deve
continuar, mas seria mais eficiente um apoio aos Estados
para que exerçam uma política de prevenção, prestando
atenção ao que antecede a implantação de uma indústria.
REC — O quo se fez no Brasil em termos de política
ambiental nos últimos vinte anos?
Raul — Na sociedade humana, a consciência em
torno da problemática ambiental se tornou bas-
tante séria a partir dos anos 50. principalmente devido à
explosão da primeira bomba atômica. O homem então
percebeu seu limite no planeta e a possibilidade de ele
próprio destruir a Terra.
Nessa época já havia no Brasil políticas setoriais
voltadas para o ambiente. O movimento de defesa da
Amazônia, por exemplo, que surgiu dentro da campanha
"o petróleo é nosso", com uma visão bastante
nacionalista de apropriação dessa área. Também já
existia uma política em relação ao uso do mar e das
faixas costeiras, ainda bastante militar, mas que, de certa
forma, também visava preservar o ambiente.
Posso citar também a FUNATURA (Fundação
Brasileira de Conservação da Natureza) com uma visão
bastante localizada em termos de defesa da fauna e da
flora, mas muito importante em termos de despertar a
consciência nacional.
A preocupação com o ambiente desde há muito
existe na área do Ministério de Minas e Energia,
principalmente no que se refere à construção das
hidroelétricas.
Data de 1970 o primeiro órgão de política ambiental
do Brasil — a SUSAM (Secretaria de Saneamento
Ambiental). Nessa época, era Secretário de Saúde do
Estado de São Paulo o Dr. Walter Leser, que inseriu o
problema ambiental na área de saúde e juntou, numa
única superintendência, o controle da poluição do ar, da
água e do solo e o controle dos vetores das doenças
endêmicas, que nada mais são do que doenças
decorrentes da degradação ambiental. Isto tudo
aconteceu antes da conferência de Estocolmo, realizada
na Suécia em 1972, que estipulou uma série de normas
internacionais em relação à política ambiental.
Não podemos esquecer o IBDF (Instituto Brasileiro
de Defesa Florestal), com ótimo corpo técnico,' mas sem
nenhum aparato de fiscalização e incapaz de conter os
desmatamentos, e a SEMA (Secretaria de Meio
Ambiente), com pouca capacidade operacional, mas que
criou várias reservas, estações ecológicas e áreas de
proteção ambiental.
Nesse quadro, é importante ressaltar o papel dos
agrônomos; a eles cabe o primeiro alerta sobre a
degradação do solo causada por tecnologias impróprias,
como o uso intensivo de agrotóxicos e máquinas
agrícolas,
Em termos de política ambienta! global, houve uma
tentativa quando da formulação de uma proposta
democrática para o Presidente Tancredo Neves. Ele deu
carta branca para que fosse elaborado um documento
onde se propunha a análise global do modelo econômico
brasileiro e discussão ampla de todos os processos de
decisão na área de meio ambienta.
Nesse documento, chamava-se a atenção pa-
ra a necessidade de parada de vários projetos e para a
realização de estudos aprofundados de vários ambientes,
como o cerrado e a floresta amazônica, antes de neles se
introduzir qualquer tipo de empreendimento. No caso da
Amazônia, por exemplo, já se sabe que o ambiente
aquático predominante nessa região é incompatível com
un animal das estepes indianas, como é o boi. Basta
lembrar que, na Amazônia, os herbívoros de grande
porte, como a anta e o peixe-boi, são aquáticos e até
mesmo a onça, o maior predador da região, tem boa
parte de sua subsistência calcada nos peixes dos
igarapés.
Esse documento, que inclusive consolidava as
preocupações trazidas pelos vários movimentos
ambientalistas existentes no Brasil, foi tachado de
antiindustrialista e, até certo ponto, descartado.
REC — Que propostas estão sendo levantadas para a
Constituinte em relação a política ambiental?
Raul — Em Curitiba houve um seminário onde
foram discutidos vários dispositivos constitucionais que
dizem respeito ao meio ambiente. Posso citar alguns. Por
exemplo: dispositivos que limitem a pessoas jurídicas ou
físicas brasileiras ou de nacionalidade estrangeira, mas
fixadas no Brasil, a exploração dos recursos naturais;
dispositivos que permitam aos trabalhadores de uma
empresa o conhecimento dos riscos de saúde causados
por certas funções; dispositivos que obriguem os órgãos
setoriais a se submeterem a uma orientação coerente com
a preservação do ambiente; dispositivos que permitam
conservar as características cênicas dos ambientes para
recreação e lazer.
Também estão sendo levantados dispositivos que
tornem possível socorrer as vítimas do processo predador
da ocupação de certos espaços: os índios, os
seringueiros, os castanheiros, os pescadores artesanais,
os pequenos lavradores, enfim, todos aqueles que
sobrevivem no trato direto com a natureza.
Gostaria de contar o que aconteceu aos pes-
cadores-agricultores de Alcântara, no Maranhão. Era uma
população negra, cerca de 10.000 pessoas que viviam do
trabalho comunitário: produziam os alimentos necessários
para a sobrevivência e pescavam. Dividiam o resultado tio
trabalho e o excedente era vendido ou trocado pelo que
não produziam. Num dado momento, a terra onde viviam
teve que ser desocupada para a criação de uma base de
foguetes e cada pai de família ganhou um titulo de
propriedade num outro local, onde não era possível a
sobrevivência com o tipo de trabalho que sabiam fazer.
Resultado: venderam suas terras e foram morrer de fome
em São Luís. O mesmo aconteceu com os 30.000
pescadores artesanais que viviam na área hoje ocupada
p9la ALCOA. Maranhão.
Agora, os pescadores são extremamente
conscientes do processo de degradação por que passam
e fazem uma série de reivindicações: querem uma parte
das multas que o governo aplica aos navios com
vazamento de petróleo e uma parte dos "royalties"
absorvidos pelo Estado na exploração do petróleo da
plataforma continental; querem ser reconhecidos como
agentes de produção, pois são responsáveis pela oferta
de 60% do pescado que abastece o país; querem que se
faça a memória das artes de pesca, tais como á arte dos
cortadores de vela, dos construtores de cerco, dos
construtores de saveiros e de todas as demais práticas
tradicionais.
REC — Há países onde existe realmente uma políti-
ca ambientai eficiente?
Raul — O Peru é um exemplo. Lá, entre outras
coisas, estão fazendo todo um processo de recupe-ração
da agricultura pré-colombiana desenvolvida pelos incas e
que sustentava uma população maior do que aquela que
hoje existe nesse país. Essas plantações feitas nos
tabuleiros do altiplano foram, durante 400 anos de
ocupação pelos espanhóis, gradativamente substituídas
pelas plantações ao longo dos vales dos rios, que foram
sendo assoreados pelo desaparecimento da vegetação
de suas margens. Isso diminui o fluxo das águas, que
deixaram de atingir a costa, conduzindo à desertificação
das áreas costeiras. No Peru, existe uma organização
que faz mapeamentos ecológicos e nada é feito sem que
antes ela seja consultada.
Outro exemplo é a União Soviética. Lá, a ocupação
da Sibéria não deu muito certo, apesar de todos os
estudos realizados pela Academia de Ciências Mas o
Lago Baikal, que representa 20% das reservas mundiais
de água-doce do planeta e 80% das reservas, da União
Soviética, é mantido em condições de potabilidade e
reprodução biológica, com transparência de mais de
quatro metros, graças ao controle das indústrias localiza-
das às margens de cerca de 335 rios.
REC Quo $lgntf!cado tom, para um cidadão, en-
gajarse na luta pela preservação das baleias e de outros
animais que nem fazem parte do ambiente onde ele vive?
Raul — Qualquer ataque a um dos elementos de um
ambiente desestrutura toda a teia alimentar onde esse
elemento se insere.
Um exemplo são os castanheiros plantados na
Amazônia pela indústria Ford. Os castanheiros cresceram
e deram flores, mas não deram frutos. Depois da análise
dos organismos existentes na área, descobriram que o
castanheiro e outros vegetais são indispensáveis para a
formação de um determinado tipo de fungo que alimenta
uma espécie de formiga. Para formar esse fungo, as
formigas pegam alguns elementos de vários tipos de árvo-
res, entre eles alguns da flor do castanheiro. Ao entrarem e
saírem da flor, fazem a polinização. No momento em que
foram plantados na região apenas castanheiros, em
detrimento de outras plantas, essas formigas
desapareceram e o castanheiro perdeu seu agente
polinizador.
Outro exemplo é o plantio de soja na Província de
Buenos Aires, que levou ao uso intensivo de Inseticidas,
causando o desaparecimento da águia dos pampas, que
comia cerca de sete ratos por dia. Com a ausência das
águias, os ratos dominaram o ambiente. Por outro lado, a
derrubada da mata para o plantio da soja fez com que o
barbeiro, que linha seus hábitos de vida entre os animais
da mata. adquirisse hábitos domiciliares e aí começaram a
aparecer casos de doença de Chagas na Argentina.
Com relação à baleia, em particular, devo dizer que
de pouco adianta defendê-la sem defender também a
integridade dos ecossistemas estua-rinos, onde floresce o
fitoplancto, indispensável à vida das baleias.
REC Você acha possírel realizar programas de
educação ambientai em ambientes carentes?
Raul — Eu acho que sim. No Maranhão, por
exemplo, foi construído um conjunto residencial altamente
agressivo, como é tradição do BNH. Para construir com
eficiência e rapidez, destruíram toda a vegetação e
deixaram as casas a descoberto, submetidas ao sol
causticante e a ventos violentos. Pois os moradores desse
conjunto, depois de algumas discussões sobre esse
ambiente, vieram com a idéia de plantar árvores frutíferas
regionais em
todas as ruas, cada quadra com um tipo de fruta,
Inclusive para permitir o intercâmbio que leva à
conversação e à amizade. Além disso, ao invés de
encanamento para a distribuição de água, o que seria
custoso, optaram pelo tradicional chafariz, que também
serve como ponto de encontro.
ção do "verde pelo verde", sem lembrarem que dentro do
verde tem que viver o ser humano.
Nas cidades é lógico que o homem sofre todos os
tipos de impactos: a poluição atmosférica, os ruídos, as
radiações ionizantes causadas por milhares de
equipamentos de raios X, além das bombas de cobalto
concentradas nos hospitais. Sem falar na parte
psicológica, nos efeitos emocionais causados pelo viver
com medo até do vizinho, onde não há conservação das
praças e outros pontos de lazer, onde a paisagem muda
completamente a cada cinco anos, tudo levando a um pro-
cesso de não socialização e à perda da identidade cultural.
REC— O qua podemos fazer como cidadãos para
melhorar a qualidade de vida ?
Raul — Acho que devemos exercer plenamente o
direito à cidadania.Um caso típico é a saúde no trabalho.
Os trabalhadores das empresas de transporte urbano,por
exemplo, devem reivindicar melhores condições de
trabalho. Para isso, precisam estar cientes das doenças
profissionais a que estão sujeitos, dos riscos que correm
guiando um ônibus oito horas por dia num centro urbano.
Gostaria de contar o que acontece com os
trabalhadores das indústrias de alumínio. Esses homens
sofrem uma queima total da pele nas unidades de
produção de eletrodos e não podem mais se expor ao sol.
Os que trabalham nas câmaras eletrolíticas são
submetidos a temperaturas extremamente elevadas e
sofrem eletrólise dos elementos do sangue, o que provoca
queda de pressão violenta, o que os obriga a ingerirem,
de meia em meia hora, pastilhas de cloreto de sódio com
mais alguns Ingredientes, que fazem subir a pressão.
Então, esses trabalhadores sofrem picos de baixa e alta
pressão de meia em meia hora em cada jornada de
trabalho e, em quatro ou cinco anos, estão imprestáveis.
Os que trabalham com manganês têm deposição desse
elemento no sistema nervoso central e, depois de cinco
anos de trabalho, estão com total desequilíbrio motor.
REC — Quando falamos em ecologia, a tendência é
pensar na natureza. E os centros urbanos, como se
Inserem na questão ambiental?
Raul — Gostaria da lembrar que é preciso cuidado
com os indivíduos que querem a preserva-
REC - Qual é o papel dos professores na formação do
uma consciência ecológica nos jovens?
Raul — O jovem precisa ser recuperado, pois já
sofreu um processo de desinformação muito grande. E
deve ser levado para um modo sadio de vida. Eu vejo, por
exemplo, os jovens da Sociedade Brasileira de
Espeleologia: com 14 anos eles já começam a explorar
cavernas, num ato de coragem maravilhoso e onde podem
ver ocorrências realmente fantásticas da natureza. A nível
psicológico, esses jovens se realizam, se equilibram. En-
tão, eu acho que o contato com a natureza é uma forma
muito significativa de educação voltada para o respeito ao
ambiente.
Do meu ponto de vista, a preocupação maior tem
que ser com a criança, principalmente no momento em
que ela toma contato com o ambiente. Acho que esse é o
verdadeiro momento de se introduzir a dimensão
ambiental no ser humano, de trabalhar o uso dos sentidos
para a percepção da beleza das plantas, do céu, do cheiro
da chuva, o momento em que se pode facilitar o raciocínio
dentro de uma perspectiva ampla e vejo a educação
ambiental disseminada nas diferentes disciplinas da
formação escolar da criança. A observação científica, por
exemplo, se daria a partir da observação do sol, das
estações do ano com as ocorrências vegetais, de uma
observação sistemática de tudo que cerca a criança e
muito desenho de coisas naturais.
Também vejo a necessidade de uma visão bastante
ampla da educação ambiental por parte dos professores,
que deveriam ter oportunidades de se informar sobre
essas questões e estudá-las no contexto das diferentes
disciplinas.
Revista de Ensino de Ciência, nº 18 - Agosto 1987.
O Varão XYY: A Elaboração de um mito (trechos)
Reed Pyeritz, Herb Schreier, Chuck Madansky, Larry Miller, Jon Be-
ckwith.
O estudo das origens do comportamento agressivo, criminoso e
antissocial é um dos aspectos do proceder humano que continuamen-
te tem absorvido o interesse dos cientistas *. No final do século
XIX, o criminólogo italiano Cesare Lombroso propôs a existência
de uma correlação entre o aspecto físico e o comportamento
delitu-
oso (6,7). Suas teorias, que alcançaram ampla circulação e popula-
ridade, incluiam propostas às autoridades judiciais para a detec
ção de criminosos bastante específicos; segundo Lombroso (via
Ellis): "os ladrões têm o olhar astuto, sobrancelhas cerradas,
testa ampla e orelhas salientes... o olhar dos assassinos é frio,
seus olhos são vítreos e injetados de sangue, os cabelos são
abun-
dantes, as mandíbulas potentes, as orelhas largas e os lábios del-
gados" (8, p,32). De modo geral, como indica Haller: "o criminoso
tende a possuir um cérebro primitivo, um índice cefálico anormal,
braços longos, pés preênseis, barba rala e corpo delgado, incisi
vos de grande tamanho, nariz chato, olhar furtivo e crânio angulo
so"(2, p.15). Esta orientação da "antropologia criminal" foi ado
tada mais tarde pelo antropólogo de Harvard, Ernest Hooton, que
sustentava ser "a delinqüência determinada pela herança racial do
indivíduo"(1, p.179) e a existência de uma conexão entre atos cri
minosos e traços físicos.
Com o aparecimento da Genética Moderna, nos começos do século
XX, muitos cientistas propuseram argumentos mais explicitamente
hereditários para a explicação do comportamento delituoso e, ain
da que Francis Galton, fundador da eugenia, houvesse proposto
tais idéias no século XIX, a redescoberta das leis de Mendel, em
1900, parecia trazer mais peso a essas teses. Pretendendo apoiar-
se no conhecimento genético, Harry Laughlin, da Oficina de Regis
tro Eugenésico de Cold Spring Harbor (Nova York), afirmava que u-
ma parte considerável da população dos Estados Unidos era geneti-
camente deficiente, e que nela estavam incluídos indivíduos que
mostravam "debilidade mental, criminalidade e decência" e outras
taras (2, p.133). Lewis Terman, que contribuiu para a introdução
da avaliação da inteligência de Binet nos Estados Unidos, acredi-
tava firmemente que a qualificação QI tinha uma base genética,
sustentando que "todos os débeis mentais são, no mínimo, crimino-
sos em potencial"(10, p.ll)'. A prestigiosa publicação Harvard Law
Review apoiou a argumentação genética com toda sua força, afirman-
do que "o latrocínio é comum entre os delinqüentes natos..." (11,
p.123)
0 conceito de criminalidade hereditária ganhou ainda mais vi-
gor com a publicação, em 1912 e 1916, de 2 livros que tratavam da
demonstrar a transmissão genética de toda a classe de caracterís-
ticas socialmente indesejáveis em 2 famílias de má reputação, os
Jukes e os Kallikaks (12,13). Henri Goddard, outro dos adeptos
da qualificação QI, propôs em seu estudo da família Xallikak que
Man-tin Kallikak havia sido, ao mesmo tempo, originário de dois
ramos familiares, um bom e outro mau, e que na descendência de sua
rela-ção com uma débil mental havia "pobres, criminosos,
prostitutas e bêbados", enquanto que a que teve com sua esposa
estava formada por "cidadãos trabalhadores e respeitosos da lei."
Praticamente todos os cientistas antes citados foram membros
do movimento eugenésico, que teve uma significativa influência na
política social dos começos do século XX. Seus partidários se ex-
pressaram com êxito em apoio às leis de esterilização que se pre-
sumia impediriam a contaminação de acervo genético. 0 preâmbulo
da primeira destas leis, aprovada em Indiana em 1907, dizia: "con
siderando que o papel da herança é da maior importância na trans-
missão da delinqüência, da idiotice e da imbecilidade..."(3, p.10
-11). Durante as décadas seguintes, trinta e três dos Estados
nor-te-americt.nos aprovaram leis de esterilização, a metade das
quais
incluia disposições para a castração de delinqüentes sexuais e,
pelo menos seis Estados, permitiam a esterilização para uma gama
de delitos muito mais ampla. Embora a maior parte das esteriliza-
ções legais tenha afetado casos de debilidade mental ou loucura,
também ocorreram casos com presos comuns (14, p.135).
Como consequência da reação contra a ideologia eugenésica na-
zista, e também pelo incremento da atenção dedicada às causas so-
ciais e econômicas determinantes do comportamento antissocial, a
argumentação em favor da base biológica da conduta criminal debi-
litou-se durante as décadas de 40 e 50, e a antiga discussão não
voltou a aparecer até os fins da década de 60. Ressurgiu revesti-
da- da linguagem dos últimos descobrimentos biológicos e médicos.
Por exemplo, em 1967, três médicos dedicados à investigação psico-
química escreveram em uma carta publicada pelo Jornal da associa-
ção Médica Americana (15, p. 895):
É importante dar-se conta de que apenas uma parte dos habitan-
tes dos bairros pobres tenha tomado parte nos abortos...Ha al-
go especial que distinga o violento morador destes bairros de
seus pacíficos vizinhos?
Existe evidência procedente de várias fontes...de que a parti-
cipação no comportamento violento e agressivo de pacientes es-
tudados exaustivamente...
É necessário levar a cabo uma intensa investigação, assim como
estudos clínicos dos indivíduos que cometem atos de violência. As
razões genéticas foram ressuscitadas uma vez mais por H.J.
Eysenck que propôs em 1564 que "...algum gene, cromossomo ou outra
estrutura, poderia constituir a base física pela qual se esta-
beleceram as diferenças entre os delinqüentes e os que não o são"
(16, p. 61). Notavelmente, e durante o ano em que se formulou es-
ta sugestão, a complexidade crescente da tecnologia genética, e
em particular a capacidade de examinar e distinguir cromossomos
humanos, permitiu uma nova "descoberta" o chamado "cromossomo
56
criminoso", enquanto um certo número de cientistas consideram que
os varões que são portadores de um cromossomo Y extra (varões
XYY) estão predestinados ao comportamento delinqüente. As Origens
do Mito XYY (**) 0 primeiro caso XYY foi descoberto durante o
desenvolvimento de uma investigação destinada à busca de
anormalidades cromossômi-cas (2Q);. durante os anos seguintes
foram publicados mais alguns casos, sem que fossem relacionados
com problemas de comportamento até 1965. Nesse ano, Patrícia Jacobe
e seus colaboradores informa-ram sobre a existência de uma
proporção excessiva de varões XYY nos indiduos subnormais
reclusos em uma instituição escocesa, destinada àquelas pessoas
que mostravam "inclinações perigosas, violentas ou criminosas". 0
resultado de suas investigações foi publicado em um artigo com o
provocativo título de "Comportamento agressivo, subnormalidade
mental e o varão XYY" (21). A este seguiram-se uma serie de
estudos, também restritos as prisões, mani-cômios ou instituições
para retardados mentais que, em sua maior parte, não contavam
com populações-controle. Baseando-se no fato de que Jacobs e
seus colaboradores terem observado que os varões XYY eram mais
altos, em média, que os varões XY alguns investiga dores
reduziram seu campo de ação exclusivamente aqueles pacientes ou
reclusos de elevada estatura. Estes trabalhos resultaram em
pretensões ainda mais provocativas que as que do primeiro in-
forme. Um 1957 um grupo de investigadores britânicos considerou
"racional sugerir que o comportamento antissocial se deve à pre-
sença de um cromossomo Y extra" (22, pag. 815) e, cm 1959, outro
grupo dinamarquês concluía que "os pacientes de cariótipo XYY têm
uma marcada inclinação a mostrar desvio de personalidade e delin-
qüência" (23, p. 955) . A publicação destes "resultados" mutualmente
consistentes deu à "síndrome XYY" un aspecto de autenticidade
científica.
57
Apesar da inexistência de qualquer evidencia que estabelecesse
uma relação entre o cariótipo XYY e o comportamento antissocial,
os sugestivos títulos e as conclusões extraídas dos estudos cita-
dos deram ampla difusão às pretensões neles expostas. Por sua vez,
a publicidade deu asas à impressão geral do público de que tal re-
lação existia de fato. Ao mesmo te:.po em que apareciam artigos de
ficção na imprensa popular, incluindo um publicado na Newsweek in-
titulado "Criminosos Congênitos" (24), o mito XYY foi também rapi-
damente incorporado aos textos de ensino secundário e universitá-
rio, como se se tratasse de um fato incontroverso. For exemplo, em
um texto recente de Biologia de bacharelado aparecia a seguin-te
frase: "outra condição anormal resulta da fecundação de um óvu-Io
X normal por um espermatozóide YY, originado por falta de dis-
junção durante a espermatogênese. Daqui provém os varões XYY, cuja
altura geralmente passa de 1.80 a e que são muito agressivos" (25,
p. 185).
Nos Estados Unidos, o mito XYY censolidou-se ainda mais quando
se informou, erroneamente, que Richard Speck, o assassino de oito
estudantes de enfermagem em Chicago, em 1968, era um varão XYY. A-
pesar dos repetidos cariótipos mostrarem que Speck era um varão
XY (25), a retratação que apareceu depois da publicação do artigo
original recebeu pouca, atenção, sendo crença geral que a pretensão
inicial era correta. For exemplo, um texto comum de psiquiatria,
aparecido em 1972, apresentava uma fotografia de Speck com a
seguinte inscrição: "sua defesa legal (a de Speck) se apoio no
fato de que a sua constituição genética era -XYY. Tem se publicado
que os indivíduos portadores destes genes são de alta estatura,
mentalmente atrasados, têm acne e se comportam de forma agressiva''
(27, p. 711). Inclusive foi publicada uma novela popular intitula
da o Homem XYY" (28), cujo protagonista, um indivíduo XYY, acaba do
sair do cárcere a pronta serviços, como ladrão à polícia se-
58
creta britânica.
Além da copia acolhida que desfrutou o mito XYY, a suposição
de que os varões XYY predestinados a levar uma vida de comrorta-
mento antissocial teve conseqüências diretas. Ao menos em dois
dos Estados Unidos (Massachusetts e Maryland), os adolescentes
reclusos en instituições para delinqüentes juvenis foram examina-
dos, para verificar se possuiam ou não um cromossomo extra. Em
Maryland, após grandes debates judiciais, foi resolvido que tais
informações não poderiam ser dadas aos tribunais de menores (29),
posto que, dadas as crenças comuns, poderiam influir nas senten-
ças. S ainda mais, em certas instituições, os reclusos XYY foram
tratados com hormônios sexuais femininos para que recuperassem o
comportamento "normal" (30,31).
Bentley Glass, antigo presidente da associação Americana Para o
Progresso da Ciência, ansiava ver chegar o dia em que uma com-
binação de amniocentese e aborto nos permitisse "livrar-nos de
...aqueles anormais sexuais tais como os do tipo XYY (32, p. 28).
De fato, existe pelo menos: um caso conhecido de uma mãe que optou
pelo aborto ao saber que seu feto era XYY, e depois que seu
médico lhe disse que "de momento se conhecia pouco sobre o
prognose do caso" (18, p. 150). Referindo-se aos varões XYY, Ash
ley Montagu sugeriu que deveríamos considerar seriamente.. .se não
seria desejável conhecer o cariótipo de todas as crianças já no
momento do nascimento ou pouco depois...Providos de tal infor
mação, poderia ser possível estabelecer em um tempo curto as me-
didas adequadas, preventivas ou de outro tipo" (33, P. 49).
Apesar de tudo, depois de passados vários anos da publicação
do primeiro artigo e de terem aparecido outros duzentos trabalhes
de investigação sobre o tema XYY, o estado de coisas é tal que a
revisão mais recente e exaustiva sobre o tema conclui que "a fre-
quineis com que os varões XYY mostram um comportamento antisso-
cial, provavelmente não é diferente daquela que apresentam as
59
pessoas que não são XYY, e têm os mesmos antecedentes e classe so-
ciai" (17, p. 188). Há muito pouco tempo, Asley Montagu corrigiu
as suas falsas impressões anteriores: "imediatamente se elaboram
todos tipos de conclusões prematuras e injustificadas...Está cla-
ro que um cromossomo Y extra não é um cromossomo "de violência",.
A história da anomalia XYY constitui em si mesmo, uma lição de co-
mo não se deve extrair conclusões relacionadas à causa, a partir
das condições associadas" (34, p. 220).
gomo chegamos a uma situação tal, em que uma investigação tão
fortemente financiada tenha caído em descrédito em sua maior par-
te? Como aconteceu que as conclusões errôneas propostas por tan-
tos onvestigadores tivessem um impacto social tão imediato e ex-
tenso? Para contestar essas perguntas devemos analisar tanto a na
tureza da própria investigação em sí, como o meio social e
políti-co em que essa investigação se desenvolveu. Uma inspeção
na inves-tigação põe a claro uma série de defeitos de base: erros
metodoló-gicos, uso de categorias subjetivas na definição de
agressão e comportamento antissocial, e falhas no momento de
distinguir asso-ciação e correlação de causas. Nos próximos itens
revisaremos estes problemas, sugerindo logo que a atmosfera dos
anos 50 pode ter desempenhado certo papel na criação do mito XYY.
Erros Metodológicos
A metodologia empregada na grande maioria dos estudos sobre o
cariótipo XYY padece de defeitos sérios (17, 18 e 15). Em geral,
os estudos carecem de controles suficientes e as conclusões se ba-
seiam em dados escassos. A maior parte das investigações levadas
a cabo sobre o cariótipo XYY podem ser classificadas em 3 tipos,
cada uma delas estando afetada por sérias limitações; estes tipos
são: estudos de prevalência, estudos de incidência, estudos re-
trospectivos, estudos prospectivos e estudos de caso.
O Marco Social da Investigação sobro o Cariótipo XYY.
Como ocorre com qualquer outra atividade científica, a investi
gação sobre o cariótipo XYY não teve lugar em um vazio social. Cs
cientistas, como membros da sociedade, empregam a investigação e
a desenvolvem, submetidos a todo tipo de influências sociais e as
suas teorias são portadoras de uma marca social indelével. As teo
rias científicas como tais, não podem se considerar nem éticas
nem politicamente neutras pois, direta ou indiretamente, indicam
uma concepção de mundo que tem conseqüências sociais específicas.
A investigação sobre casos XYY, e o clima social dos últimos anos
da década de 60, ilustram plenamente a ação recíproca que existe
entre a ciência e seu âmbito social.
Pode se identificar três tendências relacionadas entre si, que
têm tido influência sobre o curso da investigação sobre o carióti
po XYY: a apresentação com os problemas ocasionados pela delin-
qüência e a violência; o aumento dos trabalhos médicos voltados
para a alteração do comportamento; e o empenho em determinar a ba-
se genética do comportamento humano. A inquietude causada pela
violência e delinqüência estava determinada pela "onda de crimes"
dos últimos anos 60 e os tumultos ocorridos nos guetos de várias
cidades; tais acontecimentos pareciam prognosticar um aumento da
desordem e um afastamento da ordem social. Talvez se possa
acentu-ar mais o grau de preocupação pública existente dizendo
que, entre 67 e 69, se criaram 3 comissões presidenciais para
investigar estes problemas. Ademais, incrementou-se o fundo
monetário disponível para a investigação e para o financiamento de
aspectos práticos da execução da lei, particularmente através da
Administração do Apoio a Execução da lei (LEAA) do Departamento de
Justiça. Esta fonte de financiamento constituí o vínculo mais
evidente entre o caso XYY e as corrente sociais, visto que boa
parte da investigação sobre o cariótipo XYY foi subvencionada pela
LEAA e pe-Io Centro de 2studos sobre o Crime e a Delinqüência, do
Instituto Nacional de Saúde Mental. Pode-se afirmar que a
investigação so-
61
bre o cariótipo XYY foi canalizada, de certa forma, até aqueles
aspectos da anormalidade que puderam proporcionar informação rela
cionadas às causas da violência. Esta influência tem sido reconhe-
cida explicitamente por uns poucos investigadores. Jarvik e cola-
boradores manifestaram que "a preocupação, popular e fundamentada,
com a violência... tem estimulado a investigação não só dos meios
de compreensão da agressão como também de seu controle"; os auto-
res continuam argumentando que "a investigação aplicada e oriente
da para a diminuição de uma violência desnecessária e excessiva"
deveria seguir um enfoque biológico baseado na descoberta da anor-
malidade XYY (42, p.675).
A segunda tendência, o aumento do esforço médico referente à
alteração do comportamento, teve conseqüências importantes com
respeito à investigação sobre o cariótipo XYY, ainda que menos di-
retas. Ao final da década de 60, depositou-se maior confiança na
eficácia da medicina no tratamento de problemas sociais (como al-
coolismo), individuais (como a tensão) e educativos (como a disci-
plina escolar, através da síndrome da hiperatividade) (52 e 53).
Alguns ainda supuseram que o problema da violência seria passível
de solução, mediante psicocirurgia (54 e 55). No contexto de um a-
vanço no campo da medicina, pareceu a alguns que a investigação
sobre cariótipo XYY proporcionava um acesso natural aos problemas
da agressão e delito. Se a "causa" de algum tipo de agressão fos-
se verdadeiramente a presença de uma anomalia genética, poderia
ser considerada uma doença e, como tal, ser tratada médica e cien-
tificamente, ao invés de se procurar encontrar soluções sociais
para o problema.
A terceira tendência, o esforço orientado para a determinação
da base genética do comportamento, contribuiu também para formar ura
ambiente propício ao desenvolvimento das teorias referentes ao caso
XYY. À ciência denominada "genética do comportamento" flores-
ceu nos últimos anos da década de 60 e se concentrou
principalmen-te no problema da herança da inteligência. A
controvérsia sobre a qualificação do QI, que começou a atrair a
atenção pública em 1969, contribuiu para dar respeitabilidade
científica e social à genética do comportamento e valorizar a
aplicação desta "ciência" aos problemas de comportamento, tais
como aprendizagem (56). Assim, a atribuição da agressividade a um
cromossomo extra dava con sistência a outros conhecimentos
científicos e sociais.
Aparece então uma série de teorias e tendências que se apoiam
mutuamente. 0 financiamento da investigação sobre o cariótipo XYY
foi obtido, graças à preocupação com os crimes e inquietação soci-
ai, a confiança na medicina e a popularidade da genética do com-
portamento. Ao mesmo tempo, as teorias sobre o cariótipo XYY pare-
ciam apontar para a solução de alguns problemas de delinquência, o
que não apenas se considerava concordante com outras pretensões
científicas, mas também os submetia a controle médico. As conse-
qüências sociais das teorias sobre o cariótipo XYY manifestam-se
claramente quando se as examina da seguinte maneira: se o crime e
a agressividade têm na realidade uma base biológica, a influência
dos fatores sociais, como a pobreza e a opressão que se associam
ao delito, podem ser ignoradas, propondo-se em troca uma solução
de tipo médico. Assim, permanecem no anonimato inquietantes pro-
blemas de injustiça social e não se questiona a validade da ordem
social; um problema de natureza social pode ser encoberto, disfar-
çando-o como um trabalho científico.
0 Cariótipo XYY, os Cientistas e o Público
A investigação sobre o cariótipo XYY representa um episódio la-
mentavel na história da Ciência, contituindo uma área de estudos
cheia de erros metodológicos dos tipos mais elementares, invalida
da pela atuação preconceituosa dos pesquisadores e pelo uso inade-
quado dos conceitos genéticos.. Embora toda ciência padeça de van
maior grau 3e subjetivismo do que se faz crer ao público, este ra-
63
mo está particularmente afastado disso. Cremos que esta situação
pode ter sido inevitável se consideramos vários dos fatores qua
tiveram importância no desenvolvimento da investigação sobre o ca
riótipo XYY. Que são: primeiro, a diretriz marcada pelo enfoque o-
ginal de Jacobs e suas descobertas; segundo, a atmosfera social
60 e terceiro, a orientação doe investigadores,* esta área de
trabalho por seu interesse como forma de acesso aos problemas
sociais.
Esta história nos levou a uma situação em que é mais difícil,
se não impossível, levar ao término estes estudos, de forma ética,
inclusive no que se refere ao tratamento das questões menos polê-
micas dos varões XYY. Além disso, apesar de se" ter corrigido al-
guns dos equívocos iniciais, a continuidade da investigação sobra
a relação entre o cariótipo XYY e o delito, ou outros tipos de
comportamento "anormais", tende a dar credibilidade ao conceito
base genética do comportamento antissocial como explicação de
muitos problemas sociais. Suspeitamos que a publicidade que tem
rodeado a investigação sobre o cariótipo XYY, teve influência na
elaboração da seguinte teoria lida nos jornais por cerca de 60 mi-
lhões de norte-americanos, e que foi a resposta da famosa jorna-
lista Ann Landers a um pedido de ajuda por parte de um pai deses-
perado, cujo filho, que "tomava drogas", encontrava-se internado
em um reformatório (57): "na atualidade se sabe que o fator gené-
tico pode ter influência predominante sobre problemas do comporta-
mento. Algumas crianças herdam sistemas nervosos frágeis, enlou-
quecem e não correspondem ao carinho paterno nem à ajuda técnica.
Não se sinta culpado. Fez tudo que estava a seu alcance. Um anjo
não poderia ter feito mais,"
Está claro que tanto a investigação sobre o cariótipo XYY, como
aquela, de âmbito mais geral, sobre a origem do delito e da a-
gressividade são, por sua própria natureza, assuntos de grande
im-portfincia social e que despertam o interesse público. O mito
XYY
foi amplamente propagado, com as conseqüências sociais já descri-
tas: no entanto, aqueles cientistas que reconheceram as falhas da
investigação não manifestaram suas opiniões publicamente ou limi-
taram suas críticas às revistas especializadas (por exemplo, 58,
60 e 17), as quais permanecem encobertas pelo pó das bibliotecas,
sem alcançar jamais o mundo exterior, mesmo que se mantenham em
vigor as teorias primitivas. Isto não e ,surpreendente pois os ci-
entistas sempre têm se mostrado pouco dispostos a criticar seus
colegas de público, inclusive quando os problemas em debate
influ-enciam a política social. No começo do século, por exemplo,
os ge-neticistas criticaram amplamente as teorias eugenéticas,
mas seus ataques ficaram restritos às revistas científicas,
enquanto se a-provavam leis de esterilização, de proibição de
casamento entre indivíduos de diferentes raças e a Lei de
Restrição da Imigração, de 1924 (61, 64).
Pensando nestes precedentes, nós, como membros do grupo Ciên-
cia para o Povo, começamos a protestar em 1974 contra o programa
de estudo do cariótipo XYY de recém-nascidos, executado por pes-
quisadores da Faculdade de Medicina de Harvard, numa maternidade
de Boston. Neste estudo se evidenciaram os defeitos e problemas
que presentavam muitos dos estudos prospectivos, incluindo o efei-
to sobre a educação da criança, causado pelo conhecimento de seu
cariótipo XYY por parte dos pais. Levamos um protesto a uma comis-
são de Harvard, destacando a ausência de consenso baseado em in-
formações reais, a possibilidade de estigmatização da criança e,
como o esboço do estudo citado fazia com que qualquer das conclu-
sões obtidas com respeito ao parâmetro de comportamento dos indi-
víduos XYY carecesse de sentido. Acreditávamos que estudos seme-
lhantes acarretam riscos muito maiores que seus duvidosos benefí-
cios e não nos preocupávamos somente com o dano que poderia cau-
sar nas crianças e famílias implicadas no projeto, mas também vis-
lbrávamos a possibilidade de finalmente atrair a atenção públi-
65
ca sobre a história da investigação do cariótipo XYY (65, 68, 41
e 19).
A resposta de grande parte da comunidade científica foi de for-
talecer a defesa do referido estudo e, ainda que muitos cientistas
tenham reconhecido os sérios defeitos do programa, preocupava-os
mais o precedente que poderia ser aberto cota a paralização de um
estudo científico. O resultado foi que um comitê de Harvard não
chegou a um acordo por divisão de opiniões, e outro rejeitou
nossa queixa. No entanto, durante os debates mantivemos contato
com os meios de comunicação e demos uma conferência para a
impren-sa. A publicidade impeliu outros grupos com propósitos
cívicos a participar da controvérsia e, finalmente, a pressão
exercida fez com que os pesquisadores considerassem seu trabalho
terminado. A ventilação do assunto XYY também teve como
conseqüência a parali-zaçao de todos os demais programas de
investigação de varões XYY recém-nascidos de que temos notícia.
Finalmente, os argumentos de batidos com respeito ao estudo de
Boston, deram lugar, nos últi-mos anos, a um certo numero de
artigos jornalísticos que tem contribuído para desmitificar o
mito XYY (69-74).
No entanto, e apesar dos insignificantes sucessos da investiga
ção sobre o cariótipo XYY e do dano que tem causado, continua ha-
vendo financiamentos para trabalhos neste campo e bem poderá ocor-
rer a tentativa de revitalização do mito XYY no futuro. Como tí-
nhamos assinalado, as idéias sobre as origens biológicas da
delin-quência tendem a reaparecer de vez em quando e por isto, os
cientistas conscientes da existência destes problemas, devem
manter-se alertas e aceitar a responsabilidade de cooperar com os
cidadãos para desmascarar as implicações e as funções sociais de
tais trabalhos. * As fontes de informações deste artigo foram as
obras de 1 a 5,
citadas na bibliografia a seguir. ** As revisões mais recentes
sobre o tema referem-se aos itens 17,
18 e 19 da bibliografia a seguir.
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E. : "A chromosome link to crime is doubted", The " New York Times,
12 de setembro' de 1976, pag. 18.
Sobre os autores:
Reed PYERIITZ é residente no hospital Peter Bent Brigham, de Bos-
ton.
Herb SCKREIER é psicólogo infantil no colégio Fernald e na Clíni-
ca Sanitária de Boston Oeste.
Chuck MADANSKY é estudante pós-graduado de Virologia na Faculdade
de Medicina da Universidade de Massachusetts (Worcester). Larry
MILLER é estudante do terceiro ano de Medicina na Faculdade de
Medicina de Harvard (Cambridge, Massachussetts). Jon BECKWITH
ensina e pesquisa no Departamento de Micrologia e Ge nética
Molecular da Faculdade de Medicina de Harvard.
O Jogo da Sobrevivência
CECISP-FUNBEC
As "peças do jogo da sobrevivência" são populações de animais
que vivem numa floresta: aves, quatis, gambás, gaviões, onças, ca
cacos, cobras, etc. 0 homem também participará, mas o personagem
central será o quati, pequeno carnívoro que se alimenta principal
mente de aves e ovos, embora também coma frutos. Dentre estes pre
fere o milho, chegando a invadir plantações para obtê-lo.
Cs gambás são mamíferos que se alimentam de frutos, vermes, pe
quenos mamíferos, aves e cobras. Seus hábitos, alimentares são,
portanto, semelhantes aos dos quatis e como ambos habitam a mesma
região, competem pelo alimento.
As onças da região alimentam-se de macacos, capivaras, porcos
do mato e, também, de gambás e quatis. Embora agressivas, evitam
o homem, escondendo-se ou emigrando ao notarem sua presença.
0 gavião e a cobra, personagens, secundárias do jogo, alimentam
se de pequenos mamíferos e aves. A cobra também gosta muito de o-
vos frescos.
Todos os animais enunciados são freqüentemente atacados por pa-
rasitas causadores das mais variadas doenças. As relações entre
essas populações podem ser representadas através da teia alimen-
tar da figura que acompanha este texto.
O homem não foi incluído nessa teia, embora interfira sobre to
dos esses animais; ele os caça pelos mais diversos motivos, desde
a procura de alimento até o simples esporte.
0 material do jogo
Este jogo foi elaborado para 4 participantes. Cada equipe pre-
cisará de 4 FOLHAS REGIÃO (representam regiões da mesma floresta,
vizinhas umas das outras), 2 TABELAS de PORCENTAGEM (cálculo da
variação de indivíduos na população) e 78 CARTÕES-FATORES (repre-
sentam acontecimentos que podem beneficiar ou prejudicar a popu-
lação de quati3 de cada jogador, isto é, farão con que a popula-
ção aumente ou diminua.
Cada vez que um jogador sortear um cartão, isto representa u-
aa GERAÇÃO na FOLHA REGIÃO deste jogador.
Na escala vertical da FOLHA REGIÃO deve-se registrar o número
de quatis de cada GERAÇÃO.
Na escala horizontal, serão registradas as gerações.
Como jogar
1- Todos os jogadores iniciarão o jogo com uma população de
15 quatis na primeira geração.
2- 0 primeiro jogador retirará um cartão branco, lera o tex-to
e decidirá se a variação é positiva ou negativa, isto é, se sua
população de quatis vai aumentar ou diminuir, (cartões bran-cos
- nº 1 ao 68).
Por exemplo, suponha que você retirou o seguinte cartão-fa-
tor:
Chuvas fortes destruíram as flores e frutos da região
Variação: 10%
Para chegar a uma decisão correta é necessário observar a te-
ia alimentar esquematizada na folha-região (fig. 2). Ela mostra
que os frutos servem de alimento para os gambás, macacos, pássa-
ros e quatis. Portanto, sua população de quatis ficou
prejudica-da com esse acontecimento e a variação será negativa.
Consultanto agora a tabela de porcentagens você verá que a
população perdeu dois quatis. Como, inicialmente, havia 15 qua-
tis, a segunda geração terá 13. Será preciso, então, marcar es-
Be ponto na folha-região e uni-lo ao ponto inicial.
Vejamos outro exemplo:
Calor e chuvas prolongadas aumentaram a população de rãs, que
atraíram novas cobras para a região.
Variação: 10%,
Para decidir se a variação é positiva ou negativa, você deve-
rá observar novamente a teia alimentar.
1) Que animais ficaram diretamente prejudicados com a vinda de
novas cobras para a região?
2) Esses animais servem de alimento para os quatis?
3) Sua população de quatis deve aumentar ou diminuir?
3- Cada jogador que retirar um cartão branco deverá seguir o
procedimento 2 e marcar, na folha-região, o número de indivíduos
que sua população passou a ter. Quando o maço terminar, os car-
tões brancos deverão ser embaralhados e formar um novo maço.
4- Sempre que uma população ultrapassar 70 quatis, o número
excedente deverá emigrar para a área onde houver menor número
desses animais. O jogador que receber os emigrantes deverá regis-
trar imediatamente essa variação na geração seguinte. (No caso
de duas ou mais áreas terem a mesma população, recebera os emi-
grantes aquela que estiver mais próxima da sua vez de jogar).
5- Quando a região que receber os quatis não comportar todos
os emigrantes, o excesso deverá ir para o segundo jogador que ti-
ver menos quatis.
6- Se a emigração de quatis completar as outras três regiões
e ainda sobrarem indivíduos, os excedentes não terão para onde e-
migrar e "morrerão". Esse número devera ser abatido da população
da qual se originaram.
7- Quando uma região ficar com menos de três quatis, essa po-
pulação será considerada extinta. O jogador só voltará a partici-
par quando sua região receber imigrantes.
75
8- Quando uma população tiver 70 quatis e houver aumento fia po-
pulaçao, o jogador deverá desprezar o cartão que determinou o au-
mento e retirar o cartão azul (nº 70 a 78).
9_ Quando todas as populações tiverem 70 quatis e houver
aumen-to da população, o jogador devera desprezar o cartão que
determinou o aumento e retirar o cartão preto (nº 69).
10 - O jogo terminará quando uma das populações atingir a últí-
ma geração.
11- Terminado o jogo, ps pontos marcados na folha-região deve-
rão ser unidos, a fim de se obter a curva que representará c de-
senvolvimento de cada população de quatis.
Quem ganha o jogo
O jogo terminará quando uma das populações atingir a última se
ração e a jogada for concluída, Nesta ocasião deve ser feita a
contagem para verificar quem perdeu menos pontos: este será o ven-
cedor.
As regras seguintes estabelecem como é feita a contagem.
A) A primeira população que atingir a marca de 35 indivíduos
não perde pontos. As demais populações perdem 30, 50 e 80 pontos,
segundo G ordem em que atingiram essa marca. Atingir primeiro si-
gnifica fazê-lo em menor número de gerações; o aluno que joga an-
tes de v::cê pode atingir a marca de 35 indivíduos na 5ª geração,
por exemplo, enquanto você, embora jogando depois, também pode fa-
zê-lo na 5
a
geração. neste caso ambos empataram. A contagem de
pontos para esse ítem, será a mesma para os dois.
3) Cada vez que uma população se extingue, perde 150 pontos.
C) Cada vez que uma população voltar a ter menos de 35 indiví-
duos, perde 50 pontos.
D) Assim que o jogo terminar, o número de indivíduos que fal-tar
para que a população atinja os 70 indivíduos deve ser multipli-
76
cado por dois e o total contado como pontos negativos.
E) Ao final da partida, o jogador,que estiver na 40ª. geração
não perderá ponto. 0 mais próximo perderá 50 pontos, o outro SO e
o mais 'distante, 120.
Fig. 2 — A tela alimentar do Jogo da Sobrevivência.
FOLHA-REGIÃO
N ú me r o de q u a t i s
TABELA DE PORCENTAGENS
RECORTE ESTA TABELA
Q
UE CONTINUA NO VERSO.
TABELA DE PORCENTAGENS
CARTÕES-FATORES
ESTES SÃO OS CARTÕES-FATORES. RECORTE-OS E FORME OS
MAÇOS DE CARTÕES QUE UTILIZARÁ DURANTE O JOGO.
Surgiu uma nova nascente na região.
"
Uma árvore caiu no leito de um riacho da região e
os detritos acumulados fizeram com que esse curso
de água se desviasse para outra área.
Variação: 10%
1
Variação: 25%
2
Uma nuvem de gafanhotos destruiu os milha-rais das
vizinhanças da mala.
Uma nova espécie vegetal estabeleceu-se na região.
Seus frutos contêm uma substância que aumenta a
fertilidade dos quatis.
Variação: 30% (35 ou mais indivíduos) 25%
(menos de 35 indivíduos)
3
Variação: 25%
4
Chuvas intensas alagaram grande parto da
região, cobrindo a vegetação.
Os gambás, prejudicados por fatores ambientais,
diminuem a competição com os quatis; muitos
gambás morreram, outros emigraram.
Variação: 30% (35 on mais indivíduos) 25%
(menos de 35 indivíduos)
5
Variação: 40% (35 ou mais indivíduos) 50%
(menos de 35 indivíduos)
6
Um temporal destruiu a maioria dos frutos da região.
Uma seca na zona das nascentes dos rios
diminuiu o suprimento de água na região.
Variação: 10%
7
Variação: 20%
6
Uma indústria açucareira. que poluía os rios da
região com substâncias tóxicas para os animais,
encerrou suas atividades.
Morcegos, que se alimentam de frutos, competindo
com as aves, deixaram a região.
Variação: 40%
Variação: 20%
9
10
Um longo período de estiagem prejudicou a
vegetação.
Um raio causou um incêndio na mata, exterminando
plantas e animais.
Variação: 30% (35 ou mais ind duos) iví
25% (monos de 35 indivíduos)
Variação: 25%
11 12
Um inverno rigoroso afastou muitas onças e
gambás da região.
Um inverno rigoroso prejudicou a formação de frutos.
Variação: 40%
Variação: 10%
13 14
A região atravessou um longo período de verão e isso
favoreceu a frutificação.
Um verão muito longo favoreceu a eclosão dos ovos.
Isso se deu numa ocasião em que o número de
gambás da região era muito reduzido.
Variação: 30%
Variação: 40% (35 ou mais indivíduos) 50%
(menos de 35 indivíduos)
15 16
Chuvas intensas nos meses de verão favoreceram o
desenvolvimento de insetos, que atraíram aves
insetívoras para a região.
Chuvas intensas nos meses de verão favoreceram o
desenvolvimento de insetos que se alimentam de
frutos.
Variação: 25% (35 ou mais indivíduos) 40%
(menos do 35 indivíduos)
Variação: 10%
17 18
Calor e chuvas prolongadas aumentaram a população
de rãs, quo atraíram novas cobras para a região.
Calor e chuvas prolongadas aumentaram a po-pulação
do sapos, que se alimentam de inseto? frugivoros.
Variação: 10%
Variação: 10%
19 20
Novas cobras, atraídas para a região. favoreceram
a população do gambás.
O uso contínuo do DDT nos milharais próximos à
mata prejudicou as aves que buscavam alimento
nessas plantações.
Variação: 25%
Variação: 20%
21 22
I
Uma epidemia prejudicou gambás, e macacos. Muitas
onças emigraram.
Roedor de outras regiões invadiram os mi- es
lharais.
Variação: 30%
Variação: 2C%
23 24
Roedores, que se alimentam de milho, emi-
graram para outras regiões, prejudicando as
populações de cobras e de gambás.
Roedores, que se alimentam de milho, foram
destruídos por aves de rapina. Isso prejudicou as
populações de cobras e gambás.
Variação: 25% (35 ou mais indi víduos)
40% (menos de 35 indivíduos)
Variação: 25%
25
26
Roedores invadiram os milharais e tornaram--se
presas fáceis para as cobras da região.
Uma doença destruiu os milharais da região.
Variação: 20%
Variação: 50% (35 ou mais ind duos) iví
30% (menos de 35 indivíduos).
27 28
Grande número de macacos foram aprisionados
pelo homem. Esse fato acarretou emigração de onças.
A população de cobras foi prejudicada pela ação
predatória das aves de rapina. Isso prejudicou a
população de gambás.
Variação: 30%
Variação: 30%
29 10
Macacos, uma das principais presas das onças,
imigraram para a região, atraídos pela
abundância de frutos.
Aves, introduzidas pelo homem, adaptaram-se bem à
região.
Variação: 10%
Variação: 10%
31
32
Culturas de algodão, vizinhas à mala, foram
substituídas por milharais. que atraíram novas
populações de aves para a região.
As últimas enchentes dos rios da região au-
mentaram a fertilidade do solo.
Variação: 50% (35 ou mais indivíduos) 80%
(menos de 35 individuos)
Variação 30%
33
34
É época de imigração das aves . Chuva ortes destroiram as flores e frutos ca s f
região.
Variação 25% (35 ou mais indivíduos) 40%
(menos de 35 indivíduos}
Variação: 10%
35 i 36
Uma seca prolongada prejudicou a vegetação, que
fornecia alimento para muitas aves.
Um raio provocou um incêndio na floresta
destruindo vegetais e animais.
Variação: 25%
Variação 25%
37 38
Granizo destruiu flores e frutos, que são alimentos
de muitas aves..
As queimadas provocadas pelo homem preju-dicaram
a vegetação.
Variação: 10%
39
V ação: 20% ari
40
Parasitas destruíram certas espécies vegetais, cujos
frutos eram o alimento de muitas aves
Parte da mala foi derrubada pelo homem, em busca de
áreas de cultivo
Variação: 10%
Variaçâo: 30% (35 ou mais indi uos) víd
25% (menos de 35 indivíduos)
41 42
Um grupo de caçadores matou muitas aves da
região.
A criação de uma indústria numa cidade próxima à
região atraiu os colonos, que abandonaram a cultura de
milho. Onças entraram na região.
Variação: 50% (35 ou mais indivíduos) 30%
(menos de 35 indivíduos)
Variação: 20%
43 «4
Uma epidemia prejudicou a população de qua-tis.
É época de emigração de muitos pássaros da região.
Variação: 50% (35 ou mais indivíduos) 30%
(menos de 35 indivíduos)
Variação: 25%
4S | 49
Uma estrada está sendo construída na região. Os
trabalhadores c suas máquinas estão prejudicando
flora e fauna locais.
Cobras que se alimentam de ovos -invadiram a região.
Variação: 10%
Variação: 10%
47 48
Terminou a época da frutificação de muitas
plantas.
Chuvas intensas "lavaram" o solo, retirando
minerais e prejudicando a vegetação.
Variação: 10%
Variação: 10%
49 50
Chuvas oportunas favoreceram a vegetação e isso
aumentou a população de aves. que chegaram à
região atraídas pelo alimento abundante.
Grande parte da mata foi utilizada para plantio de
milho, o qual além de ser alimento para os quatis, atraiu
grande número de aves de outras regiões.
Variação: 20%
Variação: 50% (35 ou mais indivíduos) 80%
(menos de 35 indivíduos)
51 52
Falta de alimento provocou emigração de grande
número de aves da região, ao mesmo tempo que
uma epidemia se alastrou pela população de quatis.
No início da época de nidificação e postura, um grande
número de aves imigrou para a região.
Variação: 40% (35 ou mais indivíduos) 50%
(menos de 35 indivíduos)
Variação: 10%
53 54
O homem caçou gambás da região e afugentou
muitas onças.
Os guardas-florestais impediram a caça de aves
na região.
Variação: 30%
Variação: 10%
55 56
Uma doença dizimou os filhotes das onças.
Chuvas violentas afastaram as onças da região.
Variação: 20%
57
Variação: 30%
mata aumentou muitas onças.
região
Variação: 20% Variação. 20%
59 60
A falta de alimento provocou emigração de onças.
Sendo época de modificação, muitas aves mi-gratórias
invadiram a região.
Variação: 20% Variação: 25% (35 ou mais indivíduos) 40%
(menos de 35 indivíduos)
61 61-
Os quatis passaram a levar vantagem sobre os
gambás na competição pelo alimento. Os gambás
morreram ou emigraram, atraindo muitas onças para
outra região.
Macacos, atraídos pelo alimento, invadiram a região e
as onças deixaram de atacar os qua-tis.
Variação; 25% (35 ou mais indivíduos) 40%
(menos de 35 indivíduos)
Variação: 25%
63
64
É época de frutificação do milho cultivado por colores em
áreas vizinhas à mata.
Os gaviões passaram a atacar cobras que se alimentam
de ovos.
Variação: 40% (35 ou mais indivíduos) 50%
(menos de 35 indivíduos)
Variação: 30%
65
66
As últimas enchentes dos rios da região aumentaram a
fertilidade do solo.
Bandos de macacos, que se alimentavam ca frutos,
sairam da região. As onças também emigrarem.
Variação: 30% Variação: 20%
67
68
Sua região esta superpovoada e os quatis não podem
emigrar. Esta situação faz com que: as fêmeas descuidem
dos filhotes; surja cani-
balismo entre os quatis; aumentem muito as brigas entre
os adultos. A natalidade cai a
zero. SUA POPULAÇÃO DIMINUI PARA 35 QUATIS.
A superpopulação aumenta o número de lutas A superpopulação de sua região determina di-enlre os quatis
machos. Isso determina a emi- minuição da natalidade e aumenta a mortali-gração de oito indivíduos. Diminua
esse núme- dade dos adultos. Diminua doze indivíduos da' ro da sua população.
sua população.
70 71
A superpopulação determina o abandono dos Sua região está superpovoada. Aumentam as filhotes recém-
nascidos. Morrem doze indiví- lutas entre os quatis machos e dez indivíduos duos. Diminua esse número da sua
popul o. emigram. Diminua esse número da sua popu- açã
fação.
72 73
Sua região está superpovoada. A fertilidade Sua região está superpovoada. As fêmeas de dos quatis cai a zero
e aumenta a taxa de quatis deixam de cuidar da prole. Morrem dez mortalidade dos adultos. Morrem oito indiví-
indiv uos. Diminua esse número da sua popu-duos. Diminua esse número da sua popula- lação. íd
ção.
74 | 75
Sua região está superpovoada e a quantidade A superpopulação provoca emigração de mais de alimento não é
suficiente para tantos qua- dez quatis da sua região para a que apresen-tis. Emigram mais dez quatis para a
região tar menor número de indivíduos. Diminua esse menos povoada. Diminua esse número da sua
número da sua população, população.
76 ] 77
A superpopulação dos quatis muda o com- portamento
das fêmeas, que deixam de cuidar dos filhotes. Morrem
doze q tis. ua
78
CAPÍTULO 3
TEXTOS PARA CONSULTA DO PROFESSOR
O fenômeno vida
tão pouco turva-se a lágrima nordestina
apenas a matéria vida era tão fina..."
(Caetano Veloso, 1979)
Definir a vida é tão impossível quanto alcançar o infinito,
ta-manha a complexidade de aspectos que este fenômeno
compreende. Mas se pretendemos explorá-lo é preciso estabelecer
algum referen-ciai e, para tanto, limitar a gama de aspectos a
serem considerados.
Vamos definir vida, do ponto de vista biológico, como um siste-
ma organizado e integrado, capaz de auto-reprodução, que
responde a estímulos do ambiente e que interage com esse
ambiente através de um ciclo de matéria e de um fluxo de
energia.
Se pensarmos na diversidade desses sistemas não nos escaparão
questões sobre a origem da vida, como e quais condições teriam
permitido o desenvolvimento da vida na Terra; sobre a maneira pela
qual se diversificou e vem se diversificando; sobre o fato de
peixes gerarem sempre e tão somente peixes; sobre o que há de co-
mum na imensa diversidade do3 sistemas vivos.
0 texto que se segue apresenta algumas idéias sobre a origem
da vida, com ênfase na teoria hoje mais aceita, elaborada por
Opa-rin e Haldane em 1942 -e comprovada experimentalmente por
Miller, em 1945.
Idéias sobre a origem da vida
Maria Isabel I. Soncini 3eatriz
Helena de Assis Pereira
Na ciência, as teorias estão sempre sujeitas a uma constante
reavaliação, que se dá através de novas descobertas ou pelo apare
cimento de uma idéia diferente para explicar o mesmo fenômeno. A
questão do aparecimento da vida na Terra é um interessante exem-
plo disto.
As principais teorias sobre a origem da vida, aventadas ao lon-
go da história, partem de pressupostos distintos. Até meados do
século XVII, a questão mantinha-se à margem da ciência: a vida te
ria surgido graças a um evento supranatural. Embora até hoje esta
seja una idéia prevalescente para algumas pessoa3, não constitui
uma hipótese plausível no meio científico.
A partir daquele século, uma nova concepção começa a se crista
lizar: a da geração espontânea ou abiogênese. Se alguém se negas-
se a acreditar que, da carne em putrefação, surgiam vermes, esta-
ria contrariando o bom senso e a experiência. Bastava olhar para
o lixo, o esterco, on a matéria podre, para concluir que a vida
sempre surgira na Terra espontaneamente. Con os trabalhos de Redi,
no século VIII, Spallanzani, no século XVIII e, nais tarde, con os
de Pasteur, no século XIX, ficou provado que os vermes provinham
de ovos depositados sobre a carne; que qualquer ser vivo é o-riundo
de uma "semente" presente na matéria em putrefação e que os
microorganismos vindos do ar podem ser eliminados se o material,
por eles contaminado for fervido ou esterilizado.
Se, por um lado, tais trabalhos trouxeram à luz o fato de que
seres vivos formam-se somente a partir de outros seres vivos (bio-
gênese) e de que a matéria en putrefação constitui un meio rico
em alimentos, favorável ao desenvolvimento dos microorganismos que
ali se instalam, por outro lado fizeram ressurgir a dúvida so bre
,a origem da vida.
Em fins do século XIX,a hipótese de panspermia(fecundação da
Terra)de Arrhenius,famoso por seus trabalhos no CAMPO da química,
provocou nova polêmica. Para ele,a vida teria aparecido na Terra
por meios de esporos e microorganismos provindos do espaço.Estes
seriam transportados de sistema planetário em sistema planetário e
teriam uma ou mais vezes atingido a Terra. Esta hip6tese,contu-
do, desloca o problema para outro lugar. Se a vida não surgiu em nosso planeta,mas
veio de fora, como teria ela aparecido em outro local do universo? A questão
permaneceu sem resposta até o apare cimento de uma nova idéia. Foi na década de
20, do nosso século, que o inglês J.B.S.Haldane e o russo A.I.Oparin formularam
uma te-oria sobre a origem da vida que ainda é. a mais aceita nos dias de
hoje.
Segundo o que se supõe, há cerca de 4,5bilh3es de anos, os pla-netas do
Sistema Solar se formaram e, 1,5 bilhão de anos após, a vida microscópica teria
emergido, conforme evidências fósseis de algas e bactérias. Nessa época, a Terra
não possuía este céu a-zul que vemos nos dias abertos. Provavelmente, deveria ter
uma a-parência leitosa em virtude da cortina de gases que envolvia nos-so planeta.
Os principais gases que compunham a atmosfera eram o metano, a amônia, o
hidrogênio e o vapor d'água. De acordo com os trabalhos de Oparin e Haldane,
nessa atmosfera especial, deno-minada redutora por não possuir oxigênio livre, os
gases eram constantemente submetidos a raios ultra-violetas, descargas elétricas e
alta temperatura.Figura 1: Síntese abiogênica
metano • CH4
hidrogênio - H2
amônia • NH3
vapor d'água - H2O
NH2
RAIOS ULTRAVIOLETAS aminoácido - R - C - COOH
H
açúcar -(CH20)
n
EVOLUÇÃO PRÉ-BIOLÓGICA
EVOLUÇÃO BIOLÓGICA
4.500
FORMAÇÃO FORM O Ã
DA DAS
TERRA ROCHAS E OCEANOS
?3000
VIDA MAIS
ANTIGAS
EVIDÊNCIAS
FÓSSEIS
( MILHÕES DE ANOS )
4.000
Continuamente sujeitos a tais condições, eles reagiram,compos -
tos foram quebrados e átomos rearranjados, surgindo as moléculas
orgânicas. A este primeiro passo na evolução da matéria viva, da-
mos o nome de síntese abiogênica - formação de aminoácidos, açú-
cares, bases nitrogenadas.
Faltava, entretanto, submeter esta idéia ao crivo do laborató-
riOi Em 1953, o estudante S. Miller, da Universidade de Chicago,
realizou um experimento que se tornou clássico.Uma mistura dos ga
ses metano, amônia,hidrogênio e vapor d' água, representativos da
atmosfera primitiva da Terra, circulava através de um aparelho
que continha uma solução aquosa. Continuamente submetidos a faís-
cas elétricas, simuladoras das descargas presentes na antiga at-
mosfera, os gases entraram em reação. A solução mudou de cor e
sua análise demonstrou a existência de aminoácidos (figura 2).
Figura 2: Experimento de Miller
água contando
aminoácios no fim
do experimento
0 passo seguinte da teoria foi o que se
convencionou chamar de
evolução pré-biológica. Segundo Cparin e Haldane, à medida que
nosso planeta se resfriava o vapor d'água ia so condensando e for
Neste sistema fechado, a água estava
em ebulição no balão menor. O vapor
d'água circulava passando pelo balão
maior, de onde arrastava moléculas
dos gases ai presentes. Ao sair do
balão. a mistura gasosa era
submetida a descargas elétricas e, em
seguida, resfriada, voltando ao balho
menor. O ciclo repetiu-se durante
cerca de uma semana.
água am
abulição no Inicio
do experimento
recolhimento
mava a primeira cobertura de água quente ao redor da Terra. Esse
oceano primitivo teria constituído a chamada "sopa primordial" -
um caldo quente, nutritivo, rico em compostos orgânicos - onda a
vida teria aparecido. Segundo a teoria, nesse caldo os compostos
continuaram a reagir, tanto entre si quanto com a água; aparece-
ram moléculas mais complexas como proteínas e nucleotídeos, que
formariam mais tarde sistemas coloidais. A vida emerge no instan-
te em que um desses sistemas e capaz de ,realizar duas funções bá-
sicas: manter-se e reproduzir-se.
Vamos nos deter na síntese pré-biológica e tentar acompanhar a
polêmica que foi novamente levantada em torno da questão sobre a
origem da vida.
Os experimentos de síntese de compostos orgânicos, sob simula-
ção das condições primitivas da Terra, constituem um dos fatores
que permitiram à teoria de Oparin-Haldane se solidificar como a
mais aceita. Entretanto, não é só a partir desses compostos que é
possível obter aminoácidos em laboratório.
Além do clássico experimento realizado por Miller, muitos ou-
tros foram levados a cabo nos últimos trinta anos. 0 astrofísico
Carl Sagan e seus colaboradores na Universidade de Cornell, EUA,
conseguiram sintetizar aminoácidos a partir de uma mistura de me-
tano, amônia, vapor d'água e gás sulfídrico, sob irradiação ul -
tra-violeta (fig.3). Parece que esta fonte de energia teve impor
tante papel em épocas passadas na Terra.
Figura 3: Experimento de Sagan
Irradiação
ultravioleta
CH
4
(metano)
NH
3
(amôn ia)
H
2
O (água)
H
2
O (ácido sulfídrico)
tempo
decorrido
NH
2
H-C -COOH
H
aminoácido outros
compostos
FASE INICIAL FASE FINAL
DO EXPERIMENTO DO EXPERIMENTO
Sob a ação da irradiação ultravioleta (u.v), decorrido
algum tempo, os compostos iniciais tiveram seus
elementos rearranjados, formando novos compostos,
entre eles, os aminoácidos. Observe que os elementos
componentes dos aminoácidos (C, H, O, N) são os mes-
mos que compõem os gases presentes na fase inicial do
experimento.
93
Miller e Urey, ainda na década de 50, dedicaram-se à investi-
gação das etapas químicas através das quais se sintetizam
aminoá-cidos sob irradiação ultravioleta.
Em seus experimentos observaram que, na sequência de formação
e desaparecimento dos diversos compostos intermediários (compos-
tos instáveis), a concentração de amônia diminui e seus átomos de
nitrogênio (N) aparecem formando moléculas de ácido cianídrico
(composto estável). Observaram, ainda, que a partir do ácido cia-
nldrico e do formaldeído, outro composto estável formado durante
o experimento,o processo se desenvolve lentamente, culminando com
a formação de aminoácidos.
Esta síntese de aminoácidos, a partir de ácido
maldeído, é conhecida como síntese de Strecker.
Figura 4: Síntese de Strecker
Irradiação
ultravioleta
H
2
CO (formaldeído) HCN
(ácido cianídrico) NH
3
(amônia) H
2
O (água)
tempo
decorrido
NH
2
H - C - COOH
N aminoácido outros
compostos
FASE INICIAL FASE FINAL
DO EXPERIMENTO DO EXPERIMENTO
Nota que o aminoácido é composto da C, H. O, N,
elementos presentes na fase inicial do experimento, or-
ganizados de forma diversa — ácido cianídrico (contendo
H, C, N). formaldeído (contendo H, C, O) e água
(contendo H, 0).
Mas até onde estes dados nos levam? Pelo que tem sido discuti-
do recentemente por alguns membros da comunidade cientifica, po-
demos retornar, de outra forma, à idéia de Arrhenius.
Em fins da década de 70, os astrônomos Fred Hoyle e Chandra
Wickrarnasinghe, da College University, EUA, aventaram uma nova
possibilidade para o surgimento da vida em nosso planeta. Sua con
cepção baseia-se na análise da presença de aminoácidos em meteo-
ritos, na constituição química de cometas e nas recentes desco -
bertas sobre o meio interestelar.
Dentre os tipos de meteoritos conhecidos, aqueles denominados
condritos carbonáceos têm especial importância para esta questão.
Estes corpos possuem uma grande quantidade de carbono em sua
constituição, tanto sob a forma de aminoácidos como de outros
compostos orgânicos, Além disto, considera-se que os condritos
carbonáceos sejam as mais antigas acumulações de material sólido
do Sistema Solar. Acredita-se que muitos meteoritos sejam restos
de cometas. Assim, para os dois astrônomos, tanto os cometas
quan-to os meteoritos poderiam ter sido importantes agentes de
dispersão de matéria pré-biológica, em épocas passadas de nosso
planeta E' talvez ainda o sejam para qualquer outro local do
universo. É importante frisar que o desencadeamento do processo
que levou ao aparecimento da vida na -erra esteve condicionado a
uma serie de características presentes em nosso primitivo
planeta. Portanto, s hipótese de Hoyle-Wickramasinghe mas conduz à
suposição de que,
se um meteorito que contenha substâncias pré-bióticas se chocar
com um certo planeta, a vida, tal como a conhecemos aqui na Terra,
poderia emergir. Mas isto aconteceria se tal planeta apresentasse
as mesmas condições da Terra primitiva e se o desenvolvimento da
vida se processasse nos mesmos moldes que o terrestre.
Figura 5: Meteorito de Orguell
Meteorito de Orguell
Encontrado na Vila de Or
guell, perto de Toulouse,
França, na noite de 14 de
maio de 1864. Foram encon
trados vinte fragmentos des-
te tipo de meteorito, conhe
cido como condrito carbo-
náceo. O exame posterior
desses fragmentos revelou a
existência de aminoácidos e
de outros compostos à base
reduzido
DE carbono (C).
Mas de onde teriam vindo esses aminoácidos presentes nos mete-
teoritos? Para Hoyle e Wickramasinghe, o meio interestelar poda.
ser um importante "ninho" de formação de uma série de compostos.
Sabemos que o Sistema Solar faz parte de uma galáxia, denominada
Via láctea. A galáxia é um gigantesco conjunto de estrelas, gás e
poeira cósmica, Em algumas regiões do espaço, dentro da galáxia,
há enormes "nuvens" de gás e poeira cósmica, chamadas nebulosas
(figura 6). As análises espectrográficas de várias regiões do
céu revelaram, nós últimos anos, a presença de uma série de
compostos inorgânicos e orgânicos (entre ele3, o formaldeido e o
ácido cianídrico). Uma estrela ou um sistema planetário se forma,
de acordo com o que se pensa atualmente, a partir da condensação
do gás e da poeira presentes nas nebulosas.
A condensação e conseqüente aumento da densidade se dá pela a
tração gravitacional mútua entre as moléculas e as partículas de
uma região da nebulosa. Com a condensação, ocorre um aumento da
pressão e da temperatura internas nessa região; a temperatura a_
tinge vários milhões de graus e as colisões entre as moléculas são
mais freqüentes, favorecendo o fracionamento de moléculas e a
recombinação de suas partes. Para os dois astrônomos, substâncias
orgânicas pré-bióticas se formariam nesse processo de colap-so
gravitacional das nebulosas e seriam agrupadas nos grãos de
poeira cósmica.
Figura 6: Nebulosa Cabeça de Cavalo
Nebulosa Cabaça do Cavalo A protuberância
escura, próxima ao centro da loto, tem 10 anos-luz de
tamanho (90 trilhões do quilômetros) e dista 1.000 anos-
luz da Terra. Faz parte de uma nebulosa maior, também
escura, que se pode observar na parte inferior desta
fotografia. Atrás da nebulosa escura, observam-se as 96
bordas da um nebulosidade clara, iluminadas por uma das estrelas que
compõem a constelação das Três Manas.
Os cometas e meteoritos seriam, assim, os meios pelos quais a
matéria orgânica pré-biológicos, formada nas nebulosas,
chegaria a outros locais da galáxia.
Estas idéias são ainda recentes e necessitam maior confirma-
ção. A teoria de Cparin-Haldane é ainda a mais aceita. Entretan-
to, as novas idéias tem um papel importante: o de propiciar uma
reflexão a respeito da teoria predominante, levantando questões
sobre suas implicações, Se as hipóteses de Hoyle-Wickramasinghe
(ou outras de natureza semelhante) se confirmarem, o aparecimento
da vida na Terra deixaria de constituir um evento único, po-
dendo ter ocorrido não so em nosso planeta como também em outros
locais do universo.
Revista de Ensino de Ciências. nº 18, agosto/37.(FUNBEC, São Pau
Lo, SP)
O primeiro ser vivo(+)
Segundo o experimento de Urey-Mlller, na comprovação de que re-
ações químicas lentas e continuas poderiam ter acontecido há mi-
lhares de anos atrás, originando moléculas complexas orgânicas,e
a constatação da presença de aminoácidos em meteoritos, nos leva
a refletir sobre um grande e enigmático evento, que ê o surgimen-
to do primeiro ser vivo.
Vários campos de pesquisas procuram explicar esses processos, e
as características dos organismos deles resultantes. Dentre es-ses
campos destacamos a Bioquímica, o estudo de materiais extra-
terrestres e a geologia, enquanto paleontologia.
Ao analisamos a possibilidades da existência do vida em outros
planetas do sistema solar, devemos ter em mente que as condições
iniciais do surgimento dos astros eram praticamente comuns a to-
dos eles nas, con o decorrer do tempo, ocorreram transformações
causadas principalmente pela posição desses astros en suas orbi-
tas en torno do sol. Essas condições variam muito quando
consideramos a temperatura do planeta, a exisncia 'de atmosfera,
pressão atmosférica e a presença de água no estado líquido,
fatores esses essenciais para o desenvolvimento de vida.
Não devemos incorrer no erro, baseado talvez numa falsa preten-
são, de que a Terra é o planeta escolhido para o desenvolvimento*
de vida, pois a consideração que fizemos até agora refere-se ape-
nas ao sistema solar, que é um ponto minúsculo dentro de sua
galá-xia.
Lembramos que,para os milhares de astros que apareceram na mes-
ma época que a Terra,podem ter ocorrido condições diversas às do
sistema solar, assim como também é estaticamente possível o sur-
gimento de condições semelhantes ás da Terra.Por enquanto, essa
comprovação é impossível, já que a estrela mais próxima do sis-
tema solar acha-se a 4,4 anos-luz de distância.
Acompanhando a hipótese formulada por Urey-Miller, na formação
do que poderíamos chamar de "protótipo" do ser vivo (ccacerva-do),
temos que levantar alguns problemas em relação à obtenção de
alimento e energia por esse primeiro organismo, à sua subsistên-
cia.
Orna das linhas que se poderia sugerir é que esse organismo pio-
neiro não dependesse de outro ser vivo para obter alimento ( auto-
trofisino), conseguindo, através da fotossíntese, transformar com-
postos de baixo teor energético ( CO2 e H2O - dióxido de carbono e
água) em compostos com alto teor energético,utilizando-se da e-
nergia radiante do sol.
Através de estudos bioquímicos, verificamos que o processo ã
fotossíntese é formado por uma série de reações químicas muito
complexas em sua sequência, para que pudesse ter ocorrido em
organismo tão simples quanto este.
Ao imaginarmos a obtenção de alimento desse ser vivo, que não
seja de forma autótrofa, evidenciamos a outra maneira de se con-
seguir matéria prima, que é o heterotrofismo, segundo o qual este
organismo obteria alimento do próprio meio em que se encontra-va.
É evidente que, quando supomos as transformações que ocorreram no
caldo primitivo, favorecendo o surgimento de uma forma mo. lecular
organizada, estamos considerando esse processo atuante em
algumas moléculas e não em todas, estando, portanto, tais for mas
organizadas mergulhadas neste caldo, do qual poderiam obter
substâncias que lhes fornecessem matéria prima para posterior
obtenção de energia, permitindo o metabolismo desse primeiro ser
vivo.
Para conseguir energia, esse primeiro organismo deveria
reali-zar um processo metabólico de aproveitamento das
substâncias a-bundantes no seu meio. Essa forma de obtenção de
energia deveria ser a fermentação, posto que na ausência de
dióxido de carbono (CO ) e oxigênio (CL) livre na atmosfera,
seria impossível outras formas de obtenção de energia e alimento
como, por exemplo, respiração e fotossíntese.
Ao se reproduzir, esse organismo primitivo aumenta o seu núme-
ro no ambiente e consequentemente diminui a oferta de alimento,
para sua população. Com isso, o caldo primitivo iria se extin-
guir e, teoricamente, essa forma de vida também, desde que não
o-corressem transformações que permitissem a formação de indiví-
duos diferentes, que pudessem se utilizar de outros compostos na
obtenção de alimento e energia.
Os primeiros seres vivos,. durante a fermentação, foram aos
poucos modificando a composição da atmosfera, principalmente em
relação ao metano (CH4 ) e amônia (NH3), com posterior enriqueci-
mento de nitrogênio molecular (N2) e gás carbônico (CO2). Qual-
quer transformação que pudesse ocorrer com estes organismos, pos-
sibilitando a utilização destes compostos (N2 e CO2) para forma-
ção de matéria prima, poderia permitir-lhes serem selecionados
pelo meio, por estarem adaptados a uma nova forma de obtenção de
alimento (organismos fotossintetizadores). Uma prova de que isto
pode ter acontecido é a presença de um desses organismos fotos-
sintetizadores em rochas com até 2 bilhões de anos, corresponden-
do ao período pré-cambriano.
Dá-se o nome de estromatólitos a essas estruturas, compostas
originalmente por carbonato de cálcio e, por analogia, muito se-
melhantes às atuais cianofíceas (algas azuis). (McAlester, Histó-
ria Geológica da Vida).
Aos poucos, esses organismos foram modificando a composição
da atmosfera, com formação de outros gases até então inexisten-
tes (p. ex. o oxigênio, 0 ) e, com essas transformações, permiti.
ram a permanência no ambiente de organismos que se utilizam des-
se gás para obtenção de energia (respiração).
Assim, nos primórdios da vida na Terra, tivemos diversas condi-
ções que propiciaram a instalação de comunidades, que foram se
transformando e transformando o ambiente, permitindo, através
dessas relações, que esses seres vivos pudessem se organizar e
com isso chegar a uma maior adaptação em relação ao meio em que
viviam (A.Lee Mc Alester - História Geológica da Vida).
Figura 7: Estádios do desenvolvimento da vida, a partir da
matéria inanimada.
Fonte:Histria Geológica da Vida -Mo Alester
Níveis de Organização
Quando verificamos que a partir de moléculas poderia ter havido
uma organização em termos de estrutura, podemos supor que, pa-ra
que desse aglomerado surgisse ura organismo unicelular, teriam
acontecido processos metabólicos interativos entre as moléculas,
possibilitando a sua complexidade.
Se chegarmos à conclusão que este processo não aconteceu uma
só vez, poderemos aventar a hipótese de que a cada nova complexi-
zação haverá uma nova forma de organização.
Quando olhamos para um protozoário verificamos que, apesar de
ser un organismo unicelular, esta única célula realiza todas as
funções vitais, nuca demonstração clara de que nem sempre o orga-
nismo mais complexo é o mais adaptado.
Num próximo passo de organização, podemos notar a existência de
células que foram se agrupando, sem ainda constituírem uma uni
dade que chamaremos posteriormente de tecido»
A esponja (filo Porifera) é um animal, que hesitamos em classi-
ficar de metazoário (animal formado por am conjunto de células),
por constatarmos que suas células, apesar de agrupadas, guardam. uma
individualidade muito grande entre si, formando praticamente uma
colônia de células.
Quando afirmamos que num ser vivo ocorre a existência de teci-
dos, estamos nos referindo a um conjunto de células, geralmente
com a mesma forma e função e, obrigatoriamente, com a mesma ori-
gem embrionária, quo já não mantém mais essa individualidade, pos-
to que, principalmente no caso de animais,sua forma (células) é
dada por estar submetida a pressões mecânicas de outras células
e/ou líquidos, que favorecem a execução de sua função especifica.
No reino animal verificamos um exemplo deste acontecimento. Na
água-viva (filo Celenterado) temos não só a ocorrência de célu-
as especializadas, como também a presença de tecidos organizados
(revestimento externo e interno), realizando funções específicas.
Se os tecidos de un ser vivo puderem, de alguma forma, intera-
gir, vamos encontrar um grau maior de complexidade e, portanto,
teremos um agrupamento de tecidos responsáveis por uma determina-
da função, ao qual chamaremos de órgão. 2?a escala evolutiva ani-
mal verificamos facilmente a ocorrência destes níveis de organiza
ção quando observamos, em planaria (filo Platelminto), a presença
de órgãos fotossensíveis (ocelos) que demonstram haver uma asso-
ciação entre o tecido epitelial e o tecido nervoso.
Ao ocorrer uma interação entre tecidos especializados, podere-
mos pensar que uma nova transformação poderá acontecer na forma-
ção de um outro nível de organização. Essa nova transformação,que
aumentará a complexidade do organismo, se dará quando vários ór-
gãos puderem se integrar na execução de uma determinada função.
Denominaremos esse nível de organização de sistema ou aparelho.Ca-
be aqui uma sistematização quanto ao uso dessas duas terminologi-
as:
A si st ema nos referimos quando temos uma associação ou intera
ção de órgãos ou fatores, em que não exista um início ou um fim
do processo executado por estes órgãos: sistema circulatório, sis-
tema nervoso, ecossistema.
Com aparelho nos referimos à associação ou interação de ór -
gãos ou fatores, onde exista um início e um fim do processo
execu-tado por estes órgãos - aparelho digestivo, aparelho
urinário.
Em platelmintos já achamos esse tipo de associação,na forma de
sistema nervoso primitivo que permite ao animal uma melhor in
teração com o meio em que vive.
No decorrer dos filos do reino animal, não excluindo por isso
o reino vegetal, notamos que outros seres vivos possuem ura número
maior de sistemas ou aparelhos que, por se associarem, acabara
dan-do cada vez mais um sentido de maior complexidade, formando o
que podemos chamar de organismo. Este nível de organização mostra
que
sua conceituação ocorre no sentido conteúdo ----> continente, em
que uma situação inversa não será aceita. -Por exemplo: ao citar-nos
que um organismo é uma forma de organização onde ocorre a in-
teração de vários sistemas e/ou aparelhos, não quer dizer que uma
ameba, que é um ser unicelular, não seja um organismo, pois nem
todos os organismos são formados por tecidos, órgãos ou sistemas.
Ao apresentarmos um determinado ser vivo como um organismo, es-
tamos levando em conta que tal organismo está classificado entre
os seres vivos de acordo com critérios pré-estabelecidos. a indi-
vidualizarão máxima nesta classificação está a nível de ESPÉCIE
conceituada como o ser vivo que na reprodução pode originar indi-
víduos potencialmente férteis.
Até então, o nosso foco de abordagem tratou das interações que
ocorrem dentro do indivíduo. Passarmos agora a centrar nossas a—
tenções em interações que ocorrem entre indivíduos e interações
que ocorrem entra indivíduos e o ambiente, aumentando mais ainda
a complexidade de seu relacionamento e, com isso, vindo a criar
outros níveis de organização.
A partir do momento em que consideramos as relações entre orga-
nismos da mesma espécie, visamos qualquer forma de relacionamento
(alimentar, reprodutiva, etc.) que esteja acontecendo em um de-
terminado tempo e espaço, Com isto, podemos conceituar a idéia de
que o conjunto de indivíduos de mesma espécie, ocupando um deter-
minado local em um certo período,, constitui uma POPULAÇÃO.
Esta população (por exemplo, a humana) deve estar sofrendo a
ação e agindo também em outras populações da mesma região,
forman-do un conjunto de maior complexidade que é a COMUNIDADE •
Todas as formas de relacionamento vistas anteriormente estão
por conta somente dos seres vivos, sem considerarmos a interação
destes com o ambiente. É impossível imaginarmos que um determinado
ser vivo, enquanto indivíduo, população ou comunidade, possa ter
a sua subsistência independente de fatores ambientais, visto que
ocorrem transformações no ambiente causadas por estes seres
vivos, assim como o ambiente influencia processos dos seres vivos
(alimentação, reprodução, etc..). A esta integração tão íntima e
completa damos o nome de ECOSSISTEMA.
Seria falha nossa acharmos que um ecossistema é uma relação
que envolve sempre numerosos e diversos indivíduos, em regiões
muito extensas. Sabemos que numa poça de água de chuva temos, se-
guncio nosso critério, seres vivos (bactérias, protozoários, vege-
tais, etc.) agindo de forma ativa através do seus metabolismos na
composição dessa peça, e fatores ambientais tais como calor,
umidade, luminosidade, etc.., agindo sobre esses nesses seres vi-
vos.
Então, na conceituação de ecossistema não estamos nos preocu-
pando cora a dimensão, mas com a existência ou não dessa relação.
Se esta relação estiver existindo numa poça, num aquário, num
deserte ou numa floresta, devemos entender que chegamos a um con-
junto de ecossistemas, onde o grau máximo de integração e comple-
xidade entre seres vivos e ambientes foi alcançado, ao qual deno-
minamos BIOSFERA ou MUNDO .
Fonte: Biologia, Cesar e Sezar
(*) Os tantos não identificados foram escritos por Maria Isabel
Iório Soncini e/ou Miguel Castilho Júnior. Os autores usados
como base/referência são citados ao longo do texto.
Figura 8
Sucessão ecológica
Será que o mundo ou a biosfera em que nos localizamos sempre foi
assim?
Sea entrar na discussão das teorias vigentes que tentam respon-
der essa pergunta (fixismo ou evolucionismo), optamos por conside-
rar que todas as comunidades existentes em um ecossistema sofre-
ram modificações e modificaram o ambiente, estabelecendo, nestas
alterações, uma série de eventos que chamaremos de sucessão ecoló-
gica.
Quando reportados uma determinado regido a um determinado tem-
po, estamos fazendo referencia, logicamente respeitando a devida
temporalidade, a regiões que nem sempre possuiram o mesmo tipo e
número de seres vivos, e nem sempre o mesmo macro e microclima.
poderiam desaparecer, assim como comunidades recentes poderiam
ter surgido e se estabelecido neste local, demonstrando que os e-
cossistemas estão sempre se transformando, numa dinâmica que por
vezes é perceptível até em alguns meses. Fará termos uma prova
concreta de que isto aconteceu e acontece é só verificarmos as re-
servas petrolíferas em países árabes,, que se encontram a dezenas
de metros sob o solo do deserto, onde em outras épocas deveria ha
ver uma intensa vida animal e vegetal em sua superfície. Outra
forma de verificarmos esse acontecimento, num tempo bem mais cur-
to, ê colocarmos um vaso de barro com flores fora de casa e obser-
vareios as alterações sofridas com o decorrer do tempo.
Para que possamos entender o que aconteceu com o petróleo ou o
que vai acontecer com o vaso de flores, ou com o caso de uma ilha
vulcânica que acabou de surgir do solo marinho, devemos ter bem
claro alguns conceitos como: Habitat, Nicho Ecológico, Produção
107
Primária Bruta (PPB), Produção Primária Liquida (PPL).
HABITAT - quando temos um determinado ser vivo, adaptado a um
determinado ambiente, dizemos que este ambiente é o seu habitat.
Isto é de fundamental importância quando temos necessidade de
lo-calizar qualquer ser vivo na biosfera.
NICHO ECOLÓGICO" Se consideramos um determinado habitat, por
exemplo un campo; onde temos vários animais herbívoros, poderíamos
supor que deveria haver uma competição alimentar entre eles.
Quando observamos mais de perto vemos que, dentre esses herbívo-
ros, alguns comem folhas de árvores, outros comem arbustos e ou-
tros ainda pastam. Se colocarmos uma "lente de ausento" em nossa
observação, verificamos que mesmo os animais que pastam podem di-
ferir em relação ao tipo de alimento: uns preferem brotos e fo-
lhas frescas, outros folhas mais maduras e outros consomem folhas
secas. Coloquemos agora nossa observação em um microscópio" e
veremos que os animais que se alimentam, por exemplo, de folhas
secas possuem diferenças entre sí, quanto ao horário de pastagem,
período de maior atividade, época de reprodução, etc...
Com isso, verificamos que determinado ser vivo, seja ele vege-
tal ou animal, possui 'um determinado modus operandi no espaço fí-
sico por ele ocupado, qua se traduz em hábitos alimentares, hábi-
tos de reprodução, período de maior atividade, posição da raiz,
secreção de substâncias, etc... A esse modus operandi denominamos nicho
ecológico.
PRODUÇÃO PRIMÁRIA BRUTA - é a quantidade de energia radiante
transformada em energia química, durante a fotossíntese, armaze-
nada nas moléculas de glicose.
PRODUÇÃO PRIMÁRIO LÍQUIDA - quantidade de energia química in-
corporada nos tecidos após a respiração (R).
Resumindo: teremos uma compreensão melhor da PPB e PPL quando
colocamos da seguinte forma: Produção Primaria Bruta = Produção
Primária líquida + Respiração (PPB = PPL + R).
Com essa equação podemos visualizar a quantidade de energia
disponível num ecossistema, pois a produção primária líquida cor-
responde à disponibilidade energética que poderá passar para o ní-
vel trófico seguinte (consumidores primários).
A sucessão ecológica nos ecossistemas
Neste tópico vamos exemplificar uma série de eventos, aconte-
cendo de forma variada, em alguns ecossistemas.
Em uma rocha nua, por exemplo uma ilha vulcânica que acatou de
surgir,não temos,no momento de seu surgimento,nenhuma condição
ambiental que favoreça a instalação de qualquer comunidade.
Com o passar do tempo, essa rocha esfria e pode permitir a fi-
xação de uma primeira comunidade, a qual denominamos pioneira ou
ecesis.
Cabe aqui uma pequena reflexão sobre o tipo de ser vivo que po-
deria constituir essa comunidade pioneira; deveria ser uma comuni-
dade autótrofa ou heterótrofa? Essa comunidade deveria ser forma-
da por seres vivos que exigissem uma variedade de nutriente gran-
de ou pequena? Como sobreviveria essa primeira comunidade na au-
sência de outros seres vivos? Algumas considerações podem ser fei-
tas.
Sempre que imaginarmos qualquer comunidade para colonizar ini-
cialmente um ambiente tão inóspito como uma rocha, deverá ser um
tipo de ser vivo que não dependa inicialmente de outro para con-
seguir seus nutrientes. Então, essa primeira comunidade deverá
ser um produtor e, portanto, um ser autótrofo.
Resolvida a primeira questão, quanto ao tipo de comunidade ini-
ciai nessa sucessão, deveremos ter em mente que, para instalar-se,
esse ser vivo requer um mínino para sua fixação e nutrição. Não
havendo solo disponível esse produtor não poderia ser um vegetal
com raizes ou estruturas semelhantes a raízes, posto que não have
ria substrato para sua fixação. Então, poderíamos imaginar que es-
te produtor seria una forma de vida (sigas) que pudesse se fixar
por um outro mecanismo que não raízes. Havendo a fixação, resta
saber como esta alga obteria nutrientes suficientes para que, a-
través da fotossíntese, pudesse elaborar seus alimentos. Sabemos
(vide ciclo do Nitrogênio) que, para um vegetal poder sintetizar
(por exemplo, proteínas) necessita de compostos nitrogenados
(NO,) que não haveria nesta rocha, pois não contaria com substratos
que as bactérias nitrificantes pudessem utilizar. Portanto es-ses
primeiros organismos colonizadores poderiam ser cianofíceas
(algas azuis), já que estes seres vivos possuem a propriedade de
transformar nitrogênio atmosférico (N
2
) em produtos nitrogenados
(NO3) ).
Já começa a existir um pequeno acréscimo na biomassa da ilha,
com algum tipo de produtos orgânicos sendo formados. A existência
das cianofíceas propicia a instalação de outro ser primitivo, como
por exemplo, fungos simbiônticos que, em associação com algas,
formariam uma nova estrutura de vida, os líquens.
Este novo organismo produz uma secreção no seu metabolismo,
que é corrosiva para a rocha, causando com isto uma desagregação
de partículas rochosas, dando início ao que poderíamos chamar de
solo (convém ressaltar que essa modificação na estrutura rochosa
se dá num processo contínuo e muito lento).
Com o aparecimento do solo a ilha fornece agora condições para
o. aparecimento de formas de vida mais evoluídas, que necessita-
riam de maiores requisitos para sua instalação.
Tendo alimento disponível, a ilha poderá ser visitada por ou-
tros animais (pássaros, moluscos, mamíferos aquáticos, etc...)
que poderão trazer em seus bicos, patas e -excrementos estruturas
de reprodução de vegetais e animais coco ovos, esporos e/ou se:semen-
tes. Como o solo ainda não contém nutrientes necessários para o
desenvolvimento de sementes, os esporos, que não necessitam de muito
substrato, podem se desenvolver e com isso surgirem briófitas
(musgos) e pteridófitas (samambaias, avencas, etc...) que, com seu
ciclo vital, fertilizam e aumentam ainda mais essa camada
superficial da rocha.
Notamos que» com o decorrer do tempo, o aumento de biomassa no
solo torna possível a fixação de vegetais maiores e o ecossistema
vai se tornando cada vez mais complexo com o aparecimento gradati-
vo de animais,estabelecendo uma intrincada e dinâmica teia
alimen-tar.
Quando, nesta ilha,as diversas comunidades entram em equili-brio,
dizemos que neste ecossistema atingimos o clímax da sucessão, podendo
situar inclusive, entre os vegetais, a floresta como
a comunidade clímax ou climácica.
Outros exemplos de sucess3o ecológica podem ser observados nu-
ma lagoa ou floresta já instalada.
Figura 9: Sucessão
ecológica no
lago,levando ao
estabelecimento de
uma comunidade
clímax do tipo flo-
resta (segundo Bu-
chsbaum, modificada)
Fonte: Amabis e
Martho - Curso
Bá-sico de
Biologia, v.3 -
Genética,evo-
luçao e ecologia.
Ed. Moderna.
Figura 10: Um esquema de sucessão secundária
Ponte: Cesar e Sezar, Biologia, São Paulo, Atual Editora, 1S3S
Fazendo-se uma análise de sucessão ecológica, observamos que:
1. A comunidade pioneira é sempre um produtor.
2. Uma comunidade modifica o ambiente físico, permitindo a
ins-talação de outra comunidade.
3. Pode ocorrer ou não a substituição ordenada e gradual de u-
ma comunidade por outra até atingir a comunidade climácica.
4. Quando não ocorrer mais a substituição de comunidades por
outras mais aptas a explorar o meio, estamos nos referindo a uma
comunidade clímax, onde teremos uma estabilização na diversidade
e composição das espécies.
5. À medida que ocorre o desenvolvimento da sucessão, a teia a-
limentar torna-se cada vez mais complexa, devido ao aparecimento de
novos nichos ecológicos.
6. Quanto maior a diversidade dos componentes bióticos, mais
estável e o ecossistema.
7. O equilíbrio, a que nos referimos em itens anteriores, na
comunidade climácica não é estático mas sim dinâmico, onde a va-
riação na população está sempre ocorrendo, de modo a manter es-
tável a teia alimentar e consequentemente o ecossistema.
(Extraído de Biologia 3 -Genética,Evolução e Ecologia, de César e
Sezar, SP, Atual Editora, 1986).
Estrutura, e função nos ecossistemas
0 conhecimento da estrutura dos ecossistemas não nos leva à
compreensão da dinâmica de uma comunidade biótica e, portanto, do
funcionamento da Natureza. A biologia tradicional focaliza a es-
trutura e a estuda, como se fosse possível, separadamente da fun-
ção. A conseqüência desta postura é a memorização de detalhes da
organização da Natureza, sem relação com sua dinâmica e, portanto,
a incompreensão das freqüentes transformações que ocorrem, das
quais fazemos parte e às quais estamos sujeitos.
Quando vista sob esta óptica torna-se fundamental que se enten
da os fluxos de matéria e energia na biosfera e os movimentos po-
pulacionais, procurando estabelecer relações com sua estrutura.
(Odum, Ecologia, p.64).
No texto anterior vimos que a matéria apresenta vários níveis
de organização, entre eles aquele a que denominamos ecossistema.
Este último compreende elementos bióticos (vivos) e abióticos (não
vivos) que se interrelacionam.
Pois bem, se vamos agora conhecer o ecossistema é fundamental
que tenhamos noção do que seja um sistema. Podemos dizer que temos
tua sistema quando estamos diante de um conjunto de partes articu-
ladas entre si, partes que 3e interdependem. Isto significa dizer
que cada parte não existe isoladamente, não existe por si e que,
portanto, um sistema não é uma somatória de partes, mas sim o re-
sultado de uma interação dos diversos elementos que o constituem.
Como poderemos, então, conceituar um ecossistema? Qual a natu-
reza das relações existentes entre seus elementos?
Vamos voltar nossa atenção para alguns ambientes conhecidos
tais como, floresta, rio, mar, lago, campo e cerrado Em todos e-
les podemos distinguir fatores bióticos (seres vivos) e fatores a-
bióticos (luz, água, solo, vento e ar. entre outros), Estes fato-
res constituem as partes que, operando de maneira coordenada, com-
põem um ecossistema. Tais ambientes, no entanto, são bastante di-
versos uns dos outros. Por
que? A resposta imediata que nos ocorre é a quantidade de chuvas,
a temperatura média, as plantas e os
animais manifestando-se diferentemente nos diversos ambientes.
Não que essa primeira resposta esteja errada, mas ela é acenas
parte da resposta. Pois, neste caso, cabem as seguintes questões:
E por que chove mais na floresta que no campo? Por que as árvores
do cerrado apresentam espaçamento maior que aquelas da floresta?
E outras.
Responder a estas questões implica em olharmos atentamente ao
modo como fatores bioticos e abióticos interagem em cada um cos
casos, de sorte a "produzir" tais sistemas distintos.
Pois é exatamente esse o nosso ponto de partida, o nosso fio
da meada — a interação entre fatores bioticos e abióticos de un
dado ambiente, seja ele qual for.
Vamos nos aproximar mais ainda e verificar a natureza da inte-
ração entre elementos bióticos e abióticos de um ecossistema, de
sorte a irmos construindo o conceito de ecossistema.
Em todos os ambientes (ecossistemas) ha un ciclo de matéria e
um fluxo de energia, isto é, qualquer que seja o ecossistema con-
siderado (rio, lago, floresta, campo) a matéria circula por ele,
passando da porção não biológica para a biológica- do sistema e re
tornando sempre ao ambiente. Exemplificando, o oxigênio molecular
atmosférico (porção não biológica do sistema), é assimilado pelas
plantas e animais (porção biológica do sistema) nos seus proces-
sos respiratórios. Através da fotossíntese realizada pelos vege-
tais o oxigênio molecular é reposto na atmosfera (porção não bio-
lógica do sistema).
Já para a energia não podemos estabelecer um ciclo; certamente
a energia transita pelo ecossistema, pois de acordo com a física
a realização de qualquer trabalho requer utilização de energia. É
necessário, então, retomarmos as duas leis básicas da termodinâmica
ca para que possamos compreender como transita a energia nua ecos
sistema: l) a energia pode ser transformada, nunca criada ou des-
truída; 2) em qualquer transformação ha liberação de energia por
dissipação de calor, uma forma de energia não assimilável pelos
seres vivos. Assim podemos dizer que, conforme a energia transita
pela porção biológica do sistema, parte dela vai sendo dispersa
sob forma de calor e que, portanto, não há reaproveitamento de e-
nergia. Dizemos, então, que a energia flui unidirecionalmente (da.
fonte ao último consumidor) e que é necessário haver uma fonte
constante de reposição de energia no ecossistema. Este último fa-
to torna o ecossistema um sistema aberto. Exemplificando: o sol é
a fonte externa constante de energia. Os vegetais são capazes de
assimilar essa energia radiante e transformá-la em energia quími-
ca (energia de ligação), através do processo fotossintético. Sn
outras palavras, os vegetais utilizam a energia radiante e cons-
tróem moléculas. Os animais, ao se alimentarem, estão consumindo
parte dessa energia, agora na forma química (moléculas alimenta-
res). Sim, parte dela, pois uma parte da energia química "produzi^
da" pelos vegetais foi consumida por eles mesmos nos seus proces-
sos fisiológicos, como a respiração, por exemplo. Um segundo con-
sumidor, que se alimenta do primeiro, estará obtendo uma quantida-
de de energia menor que obtida pelo primeiro, pois este já utili-
zou, como as plantas, "parte da energia em seus processos fisioló-
gicos. Observe que, à medida que a energia flui pela parte bioló-
gica do sistema, sua disponibilidade diminui.
Pois bem, já podemos agora conceituar um ecossistema. Podemos
dizer que um ecossistema é um sistema aberto, composto por
elemen-tos bióticos e abióticos que interagem através de um ciclo
de matéria e de um fluxo unidirecional de energia.
Ciclo de matéria e fluxo de energia
Da energia solar que atinge a atmosfera terrestre (15.3.1C
cal/m /ano), aquela assinalada pelos vegetais corresponde a uma '
parcela de 1 a 5% Aqui temos a primeira transformação no ecossis-
tema: esta energia (radiante) e convertida em energia química, pe-
Io processo da fotossíntese. Nesse processo, os vegetais utilizam
dois compostos de baixo teor energético, dióxido de carbono (CO
2
)
e água, (H2O), e sintetizada compostos de alto teor energético, co-
mo por exemplo, a glicose (C6H1O6) e o ATP (adenosina trifosfa-
to). Embora a fotossíntese envolva uma série-complicada de reações
químicas, e possível entendê-la, num primeiro momento, como um
processo em que os elementos constituintes do dióxido de carbo-no
(carbono e oxigênio) e da água (hidrogênio e oxigênio) são rea
grupados de maneira diversa resultando, por exemplo, num terceiro
composto, a glicose. Para que tal trabalho se efetive os vegetais
necessitam energia e enzimas. As enzimas são materiais produzidos
pelos seres vivos que catalizam as reações químicas nos organis--
mos, ou seja, as enzimas alteram a velocidade das reações quími-
cas. No caso da fotossíntese atuam várias enzimas, promovendo a
separação dos elementos formadores de dióxido de carbono e da á-
gua e o rearranjo desses mesmos elementos.Mas não basta a ação d
das enzimas para romper as ligações entre carbono e oxigênio do
dióxido de carbono e entre hidrogênio e oxigênio da água e fazer
novas combinações.É preciso que se forneça uma quantidade de ener-
gia maior que aquela que mantém tais elementos ligados. Pois bem,
essa energia inicial vem do sol,é a que denominamos energia radian-
te.Os vegetais utilizam a energia radiante nos processos de rompi-
mento das ligações químicas da água.A energia é transferida aos
hidrogênios da molécula de água, que se desprendera do oxigênio. Cs
hidrogênios, agora energizados, combinam-se con uma série de
substâncias, os receptores da hidrogênios, que compõem uma cadeia
Ao longo dessas reações em cadeia, os hidrogênios liberam a ener-
gia recebida que é, então, utilizada na síntese de um composto
chamado ATP. A energia radiante, agora, está armazenada na forma
de ATF (energia química). Este composto, cujas ligações são rompi
das por enzimas específicas,cede a energia contida em suas liga-
ções para que se efetive o rompimento das ligações do dióxido de
carbono. Agora, carbono, hidrogênio e oxigênio, provindos da água
e do dióxido de carbono, se recombinam, formando, por exemplo, a
glicose, Desse conjunto de reações sobra oxigênio molecular, que
é liberado para a atmosfera. Dessa forma, a energia radiante foi
transferida finalmente para a molécula de glicose, que constitui
o alimento produzido.
Este é o motivo pelo qual os vegetais obtêm compostos de alto
teor energético, como a glicose, a partir de compostos de baixo
teor energético, como o dióxido de carbono e a água. Besta forma
podemos dizer que, na fotossíntese, os vegetais transformam a e-
nergia química (agora contida nas ligações dos elementos que com
põe a glicose) e produzem moléculas (a glicose, por exemplo).
Representação esquemática da fotossíntese ( + )
c6
H
12
U
6
+
60
2
+
6H
2° glicose
Oxigênio água (1 mole (6
molé- (5 mo-cula)
culas) lécu-
las)
118
6CO
2
+
dióxido de
12H2O
água
CALOR
carbono (12 mo- radian-
(6 molécu- léculas) te
las)
O início da investigação do processo fotossintético data d.e
1772. Através da utilização de carbono, hidrogênio e oxigênio ra
dioativos e da análise dos compostos envolvidos nesse processo,
foi possível identificar os produtos dessa reação, bem como o rea-
grupamento dos elementos que dela participam. Assim constatou-se
que, além da glicose, formam-se oxigênio molecular e água. Identi-
ficou-se, também, que esse oxigênio molecular é formado a partir
da água e é este o oxigênio liberado para a atmosfera. Tal fato
merece atenção especial, pois há uma idéia generalizada (cuja ori-
gem não conseguimos identificar com clareza) de que o oxigênio so
lecular, resultante da fotossíntese, provém do dióxido de carbono.
Na transformação de energia radiante em energia química há li-
beração de calor, forma não assimilável pelos seres vivos e, por-
tanto, "perdida" pelo sistema biológico. Assim, do percentual as.
similado pelos vegetais, apenas uma parte da energia radiante é
convertida em energia química, em moléculas. 3ssas moléculas, por
sua vez, são utilizadas pelos vegetais em seus processos vitais,
tais como crescimento, reposição de células mortas, excreção e
respiração etc. Em todos esses processos ocorre liberação de e-
nergia na forma de calor, o que implica em diminuição da energia
disponível para a porção biológica do sistema. Por isso a quanti-
dade de energia química (moléculas) disponível para um consumidor
direto do vegetal é aproximadamente igual a l0% dos 5%. assimilados
pela fotossíntese. Ao se alimentar do vegetal esse consumidor
utilizará parte das moléculas como combustível, no processo de
respiração, de onde obterá energia para asas processos vitais.
Nesta reação (combustão) ocorre liberação de calor. O restante da
energia (energia armazenada nas ligações químicas) esta disponível
para o consumidor deste consumidor.
A fotossíntese é então um processo em que os vegetais produzem
alimento, e a energia utilizada para iniciar o processo é a ener-
119
gia radiante. Em outras palavras, podemos dizer que a fotossíntese
e um processo em que os vegetais transformam energia radiante am
energia química; afinal, o alimento 'reduzido é constituído, co-mo
vimos, de elementos reagrupados, cujas ligações são alternante
energéticas.
Mas, de que maneira os seres vivos (animais e vegetais) obtem
energia para seus processos vitais?
0 alimento produzido pelos vegetais, i utilizado pelos consu.-r._i
dores, possui ligações altamente energéticas. Uma força dos seres
vivos conseguirem energia é desmontar tais ligações, de sorte que a
energia aí contida seja liberada e utilizada em seus processos
fisiológicos.
Existem, basicamente, dois processos de obtenção de energia pe-
los seres vivos; a fermentação e a respiração.
1. Fermentação
Os conhecimentos atuais sobre fermentação desenvolveram-se gra-
dativamente. Os povos mais primitivos já se utilizavam do processo
de fermentação: tribos nômades deveriam saber que, sob certas
condições, o leite coalha ou se transforma em queijo. Hoje sabemos
que essas modificações do leite resultam, am parte, da fermen-
tação realizada por certas bactérias, durante séculos, o homem
produziu bebidas alcoólicas a. partir de sucos de frutas fermenta-
das, sem saber a razão do processo, Essa descoberta só aconteceu
no fim do século XVIII. Um cientista francas, Antonio Lavoisier,
fundador da Química Moderna, descobriu que a fermentação da glico-
se produzia dióxicido de carbono e álcool. louco depois, em 1310,
um outro grania químico francês, Joseph Louis Gay-Lussac, mostrou,
em uma equação química, as quantidades de dióxido de carbono e de
álcool produzidas a partir da glicos2e( + ):
120
(duas moléculas de álcool etílico)
(duas moléculas de dióxido de car-
bono) .
Sm 1850, na França, a indústria de vinhos enfrentava sérias di-
ficuldades porque o produto começou a se estragar, sem causa apa-
rente. 0 imperador Napoleão III chamou Louis Pasteur para estudar o
problema. Pasteur sabia que a fermentação que produzia o vinho
estava associada à atividade de levedos e, ao procurar resolver o
problema, descobriu que certas bactérias também realizava." fermen-
tação; era sua atividade que estragava o vinho, porque produziam
vinagre (ácido acético) em lugar de álcool. Pasteur sugeriu aos
industriais que aquecessem o vinho por algum tempo, para, destruir
as bactérias. Apesar do espanto causado pela proposta, o problema
foi resolvido o o processo, que passou a ser conhecido como pas-
teurização, e hoje largamente usado.
Durante muitos anos houve vivas discussões sobre o que seria o
processo da fermentação. Pasteur o definiu como "vida sem ar". A-
creditava que fosse o modo de vida dos organismos em ambientes
anaeróbicos, isto é, ambientes com pouco ou nenhum oxigênio. Se-
gundo ele, só células vivas poderiam realizar fermentação. Em
1897, dois anos depois da sua morte, Eduard Buchner, químico ale-
mão, fez acidentalmente uma grande descoberta. Havia acrescentado
açúcar a extratos de levedo para preservá-los (0 uso de açucar na
preservação de compostos e geléias já era conhecido). Os extratos
não continham células vivas mas, para surpresa de Buchner, começa-
ram a fermentar. Concluiu, então, que continham alguma substancia
(uma enzima), que permitia a fermentação.
Era experiências posteriores, Buchner verificou que uma hora de-
pois de ter acrescentado o açúcar, a mistura começava a despren-
der bolhas de gás carbônico, atividade que prosseguia por vários
dias. Concluiu que uma enzima de levedo podia catalizar a reação,
mesmo depois de ter sido removida a célula. Sua descoberta, mos-
trando que as enzimas agem fora da célula, motivou outras pesqui-
sas, tornando possível separar, identificar e explicar como muitas
enzimas estão envolvidas no processo.
Hoje sabemos que muitas enzimas estão envolvidas no processo
de fermentação e não apenas uma, como pensava Buchner. Cs levedos
contêm doze ou mais enzimas, cada uma cataliza uma determinada e-
tapa de fermentação.
A fermentação é uma fonte de energia.
Há vários tipos de fermentação, mas vamos discutir apenas a
fermentação alcoólica, esquematizada a seguir(+):
A fermentação começa com o uso de ATP para fornecer energia de
ativação às reações posteriores. Quando um grupo fosfato do ATP
combina-se com a glicose, o composto resultante passa a tomar par-
te nas reações enzimáticas.
Cada molécula de glicose reage com duas moléculas de ATP, for-
.mando um composto com seis carbonos e o dois grupos de fosfatos. Es-
tes não vêm do ATP e sim de ura composto inorgânico. Até este non
to o organismo não ganhou energia alguma; ao contrário, gastou
porque usou duas moléculas de ATP. Nas etapas seguintes vão ocor-
rer reações que fornecerão energia à célula.
Em seguida, cada uma das "metades da glicose" libera energia
que será usada para formar novos ATP.Duas novas moléculas de ATP
resultam da combinação dos grupos fosfatos, cedidos pelas "metades
de glicose", com duas moléculas ADP. Ao perder esses grupos, as
duas metades transformam-se em duas moléculas de ácido pirúvi-co.
Este se parte para dar dióxido de carbono e álcool, completan-do o
processo de fermentação.
Note que cada molécula de glicose usa duas moléculas de ATP pa-
ra iniciar a fermentação. Note também que cada célula de glicose
produz quatro moléculas de ATP,durante o processo. Assim, para ca
da molécula de glicose há um saldo de dois ATP. 0 mais importante
nessa sequência de transformações ê tornar disponível para cada
célula, na forma de ATP, a energia da glicose.A quantidade de e-
nergia conseguida ê relativamente pequena,mas pode ser usada fa-
cilmente. Quando a glicose é fermentada pelo levedo produz-se ATP
suficiente para que ele se mantenha vivo, cresça e se divida.
A fermentação da glicose é realizada era todos os organismos a-
tuais, incluindo o homem, de uma maneira muito semelhante à fer-
mentação alcoólica realizada pelos levedos. A sequência de rea-
ções que leva à formação de ácido pirúvico é sempre a mesma. As
diferenças surgem depois desta etapa. As enzimas dos levedos
transformam o ácido pirúvico em dióxido de carbono e ácido acéti-
co. Outros organismos, como o homem e certas bactérias,' formam á-
cido lático ( o ácido que existe no leite coalhado) a partir do á-
cido pirúvico; por exemplo, durante um exercício físico violento,
nossos músculos formam ácido lático a partir da glicose.
Além da glicose, outros compostos orgânicos podem ser usados
como substrato inicial de fermentação mas, apesar da grande varie
dade de produtos iniciais o finais, o processo é basicamente o
mesmo. Sempre se realiza sea a participação de oxigênio. É uma sé-
123
rie de reações, cada una catalizada por uma enzima diferente. 0
resultado final é o ganho de energia para o organismo na forma de
ATP.
2. Respiração
A importância do oxigênio na liberação da energia dos alimen-
tos foi observada principalmente por Louis Pasteur, em 1861. Ele
criou levedos em meios de glicose com e sem oxigênio. Com a mesma
quantidade de açúcar, o número de levedos em presença de oxigênio
era vinte vezes maior.
Os resultados da experiência de Pasteur podem ser agora intei-
ramente explicados. Realizando a fermentarão na ausência de
oxigê-nio, os levedos so liberam parte da energia química
armazenada nas moléculas de glicose. Na presença de oxigênio,
podem realizar respiração e liberar toda a energia química
armazenada no açúcar. Respiração é O processo pelo qual o
oxigênio é usado pelas células vivas para liberar energia química
armazenada nos alimentos.
Na fermentação, uma molécula de glicose transforma-se em duas
moléculas de ácido pirúvico e há saldo positivo de duas moléculas
de ATP. Has a maior parte da energia continua retida nos produtos
do ácido pirúvico (álcool ou ácido lático). A respiração decompõe
completamente a glicose, até formarem-se dióxido de carbono e á-
gua, como mostra a equação (*):
glicosee a célula conse-
gue 38 moléculas de ATP.
A identificação das etapas de respiração celular foi uma das
maiores descobertas da bioquímica moderna.. Nos últimos 40 anos,
os bioquímicos verificaram que este processo inclui um grande nú-
mero de reações, cada uma delas controlada por uma enzima diferen-
te. Essas reações podem ser subdivididas em dois. grupos principa-
is: em um. deles a glicose perde os átomos de carbono, que serão
liberados como dióxido de carbono; era outro, os átomos de
hidrogê-nio da glicose são transferidos para o oxigênio, formando-
se água.. Ambos ocorrem simultâneamente.
Para que você compreenda o processo, vamos ver primeiro como
se dá a formação de CO2. Usaremos a glicose como exemplo, mas as
principais transformações são sempre as mesmas, qualquer que seja
o alimento.0 caminho do carbono na respiração.
A primeira etapa da respiração é idêntica à fermentação. Sem
usar oxigênio, cada molécula de glicose forma,duas moléculas de á-
cido pirúvico. Nesta fase, não há liberação de dióxido de carbono:
cada molécula de ácido pirúvico contém três átomos de carbono.
A liberação de gás carbônico na respiração começa com as trans-
formações do ácido pirúvico. Primeiro o ácido pirúvico é decompos-
to em uma molécula de C0
2
e uma molécula com dois carbonos (2C),
que é uma forma ativada do ácido acético. Em seguida, em uma série
de reações, esta substância é decomposta formando mais duas
moléculas de C02. Esta série de reações constitui o ciclo de Xre-
bs e é esquematizada abaixo(+):
Ciclo de Krebs:
1. 0
c
o
m
p
o
s
t
o
2
C
c
o
mbina-se com o composto 4C
para dar um composto 6C.
2. 0 composto 6C perde uma mo
lêcula de CO
2
e dá um com- .
posto 5C.
3. 0 composto 5c perde uma
mo-lécula de CO
2
e dá um
com-posto 4C.Depois de
várias modificações,este
composto está pronto para
combinar--se com outro
composto 2C e recomeçar o
ciclo.
125
Antigamente pensou-se que o ciclo de Krebs explicasse apenas as
transformações dos carboidratos na respiração; porém, pesqui-sas
mais recentes mostraram que o ciclo de Krebs também explica a
quebra de gorduras e proteínas, como se pode ver no esquema abaixo
(*):
Os lipídeos são desdobrados nas mesmas substancias 2C (ácido a
cético ativo). As proteínas são transformadas em aminoácidos e es
tes darão as mesmas substancias 3C, 2C e 5C
0 caminho do hidrogênio na respiração está relacionado às reações
que liberam energia.
A liberação de energia só ocorre durante a transferência de hi
drogênios para o oxigênio.
Quando hidrogênio e oxigênio combinam-se para formar água, li-
bera-se grande quantidade de energia, uma vez que a mistura des-
ses dois gases é altamente explosiva. Na respiração, a reação en-
tre eles ocorre de maneira tal que faz da liberação de energia um
processo útil para a vida. Na respiração a energia é liberada de
um modo controlado. 0 hidrogênio não se combina com o oxigênio
di-retamente, mas sim através de etapas. Em cada etapa do seu
trajeto en direção ao oxigênio, ele se combina com uma
determinada substância - um "receptor de hidrogênio". Quando isso
acontece, parte da energia total é liberada e armazenada em
moléculas de ATP. Depois de todas as etapas de transfencias, os
átomos de hi drogênio combinam-se com o oxigênio e termina o
processo de libe-ração de energia.
Como você sabe, um átomo de hidrogênio tem um próton e um elé-
tron. Em algumas etapas da transferência de hidrogênio, os pró-
tons e os elétrons seguem juntos, como átomos de hidrogênio.Em
outras etapas, porém, prótons e elétrons separam-se; os primeiros
permanecem em solução e somente os elétrons são transferidos de
um aceptor para outro. À liberação de energia está sempre relacio-
nada à transferência da elétrons, .Na etapa final, quando os elé-
trons passam para o oxigênio, recombinam-se com os prótons para
formar os átomos de hidrogênio da água.
Como se dá a transferência de elétrons do ácido pirúvico para
127
o oxigênio? Eles são transportados por uma série de enzimas
conhe-cidas genericamente como cadeia respiratória.
Cadeia Respiratória (*)'
Para cada 2 elétrons (que se combinam como uma molécula de oxi-
gênio e 2H para formar H2O) são formadas três moléculas de ATP.
Como, para cada molécula de glicose que inicia o processo, são
asadas 6 moléculas de oxigênio (12 átomos), temos: 12 átomos de
oxigênio x 3 moléculas de ATP para cada átomo = 36 AT?
36 ATP + 2 ATP (etapa da fermentação) = 38 ATP (»)
Através da respiração e da fermentação os seres vivos transfe-
rem a energia do alimento para compostos capazes de armazenar es-
ta energia, como o ATP. A energia armazenada nas ligações quími-
cas do ATP será utilizada em todos os processos vitais.
Aqui é importante compreendemos que respiração, fermentação e
fotossíntese são processos distintos e não processos contrários,
como tem sido difundido. A fotossíntese é um processo de produção
de alimento; a respiração e a fermentação são processos do obten-
ção de energia, onde a fonte ê o alimento, seja ele produzido (no
caso de vegetais) ou adquirido (no caso dos animais).
Se analisarmos, agora, o trânsito de alguns materiais entre se-
res vivos e ambiente, tomando como referência os 3 processos men-
cionados, poderemos observar que tais materiais ciclam, passando
da porção abiótica para a biótica do sistema e retornando para a
abiótica
Ciclo do Carbono
atmosfera
morte
\ /
combustíveis fosseis
(petróleo, carvão)
Na forma de CO2 (dióxido de carbono) o carbono I assimilado pe loa vegetais,
através da fotossíntese. Nesse processo ocorre um rearranjo dos elementos
constituintes do CO2 , juntamente com os
da
H
2
O, formando-se o alimento glicose
(C6H12O6). Na forma de gli-cose o carbono é transferido para os animais através da
alimenta ção. No processo da respiração, vegetais e animais degradam a
glicose (C6H12O6 ), obtendo energia e liberando para a atmos-fera o carbono
na forma de CO
2
. Ao morrerem, animais e vegetais
são decompostos por bactérias e fungos que, através da fermenta-
ção, liberam CO2 para a atmosfera. Os resíduos dos animais e ve-
getais produzirão os combustíveis fósseis (petróleo e carvão), e
cuja queima libera CO2 , que é restituído à atmosfera. Este últi-
mo processo não: mais ocorre pois a velocidade da extração desse
recurso energético tem impedido sua reposição na natureza e as
condições ambientais, que garantem sua formação, não mais exis -
tem.
Ciclo do Oxigênio
Na atmosfera temos oxigênio livre (O2), oxigênio combinado com
carbono, formando CO2, vapor d'água que contém oxigênio (H20).
0 oxigênio livre é utilizado pelos seres vivos no processo da
respiração. Neste processo o alimento é queimado en presença de o
xigênio, havendo liberação de energia. CO2 e H
2
0 são resíduos des-
te processo. Na forma de CO2 e H
2
O o oxigênio volta à atmosfera.
130
Outra maneira do oxigênio retornar a atmosfera e, desta vez como oxigênio livre, é
através da fotossíntese. Aqui o CO2 é assimila-do pelos vegetais, o alimento é
produzido e o oxigênio molecular resultante do processo é devolvido à atmosfera.
Animais e vegetais utilizam água, retirando-a de poças, rios, lagos, do solo. A
água é am composto necessário à vida. A água contém oxigênio que, desta forma,
passa da porção abíctica para a porção biótica do sistema. Através da
transpiração, por exemplo, a água contendo oxigênio retorna à parte abiótica do
sistema.
0 ciclo do oxigênio é bastante complicado pois este elemento é utilizado e
liberado pelos seres vivos em diferentes formas de combinação química, Mas as vias
aqui apresentadas são suficientes para que possamos compreender o trânsito deste
material pelo ecos-sistema.
Ciclo da Água
embora a água apresente um
ciclo independente dos seres vivos, conforme podemos
observar 1:0 esquema acirra, a nos intereses o ci-
clo do qual fazem parte os seres vivos, do qual trataremos agora.
À água, na forma líquida, entra para a porção 'biológica do sistema
através da absorção pelos vegetais e da ingestão direta ou in-direta
(água contida nos alimentos) pelos animais. Utilizada nos
processos metabólicos, é também subproduto de alguns desses pro-
cessos, como a respiração e a transpiração, que restituem-na à
atmosfera. 0 processo de decomposição dos organismos também libe-
ra égua para a atmosfera. Pela condensação, a água atmosférica
passa ao solo, mares, rios, lagos, de onde é retirada pelos seres
vivos.E o ciclo recomeça.
Ciclo do Nitrogênio
atmosfera
O nitrogênio atmosférico passa a parte 'biológica do sistema ao
ser fixado por bactérias do solo ou associadas às raízes de legu-
minosas. A fixação compreenda a incorporação do nitrogênio na for
ma de amônia. A amônia metabolizada pelas bactérias é convertida
no íon amônio que pode ser absorvido pelos vegetais. Há porém ou-
tras vias de obtenção do nitrogênio. Bactérias do tipo nitrosomo-
nas e as nitrobactérias podem metabolizar a amônia, liberando ni-
tritos e nitratos, sendo estes últimos facilmente utilizados pelos
vegetais.
Ao se alimentarem dos vegetais, os animais obtêm o nitrogênio.
Tela norte e decomposição de animais e vegetais o nitrogênio
volta ao solo na forma de amônia. A ação das bactérias nitrosomo-
nas e das nitrobactérias, seguida da ação das bactérias denitrifi-
cantes, restitui o nitrogênio molecular à atmosfera
(*) Nesta fase é desnecessário e indesejável apresentar aos alunos
o modelo químico.
Cadeia e teia alimentar
Como vimos nos textos anteriores, os vegetais constituem a ba-se
de qualquer ecossistema, os produtores, posto que são eles que
conseguem assimilar a energia radiante e convertê-la em energia
química (produzem alimento), que será parcialmente utilizada pe-
los próprios vegetais e parcialmente disponível para os consumido
res destes.
Pois bem, essa taxa assimiladora total dos produtores de um e-
cossistema é chamada produtividade primária bruta. É representada
pela quantidade total de matéria orgânica fixada por tempo e por
área. Ao respirarem, os vegetais utilizam parte dessa matéria or-
gânica e armazenam o restante, constituindo a produtividade primá
ria líquida, ou seja, o alimento potencialmente disponível aos
consumidores destes vegetais, chamados consumidores primários. Es
tes, por sua vez, poderão servir de alimento a outros animais e
assim por diante. Podemos dizer, então, que a energia alimentar
dos produtores é transferida para vários outros organismos, no a to
de comer e ser comido. A esta transferência dá-se o nome de Cadeia
Alimentar. Vamos tomar um exemplo e, s partir dele, caracterizá-la:
CAPIM
-------- »
COELHO
----------- »
JAGUATIRICA
Nesta cadeia os produtores estão representados pelo capim.Os
consumidores primários estão representados pelo coelho, um herbí-
voro, ou seja, um animal que se alimenta exclusivamente de vege-
tais por ter o organismo adaptado a este tipo de alimentação. A
jaguatirica aparece como representante dos consumidores secundá-
rios. Este animal é carnívoro, isto é, alimenta-se exclusivamente
de outros animais, pois seu organismo é adaptado a este tipo
de. alimentação.
Vemos, assim, que a cadeia alimentar é
composta de
níveis tró-
ficos, isto é, níveis alimentares, sendo o primeiro deles e dos
produtores (vegetais). Os consumidores primários compõem o se-
gundo nível trófico e os consumidores secundários, o terceiro
nível alimentar e assim por diante.
E aqui poderíamos perguntar: as relações alimentares na natu-
reza são sempre lineares? Os consumidores primários são sempre
herbívoros? São apenas estes os níveis tróficos?
Comecemos por esclarecer que há organismos adaptados a um
ti-po
exclusivo de alimento (vegetal ou animal) e ha organismos cu-jo
aparelho digestivo é adaptado a processar alimentos de origem
vegetal e animal (são conhecidos como onivoros).este último é,por
exemplo, o caso do homem. Podemos nos alimentar tanto de animais
como de vegetais e,portanto,nos comportarmos como consumidores
primários, secundários, terciários etc...
Assim como nós, outros animais têm essa adaptação.
1.
FRUTO
-----------
» GAMBÁ
------------- »
ONÇA
2.
FRUTO
----- »
AVE
----------------- GAMBÁ -----
ONÇA
Na primeira cadeia o gambá comporta-se como consumidor prima
rio; já na segunda aparece como consumidor secundário.
Assim, um mesmo animal pode comportar-se como consumidor
pri-nário, secundário, terciário, excessão feita aos herbívoros
cujo aparelho digestivo, é adaptado para um tipo exclusivo de
ali-mentação: vegetais.
Dizer que na natureza as relações alimentares são lineares e
o mesmo que afirmar que cada organismo possui um único tipo de
alimento, o que não corresponde a verdade. Pasta lembrar que o
equilíbrio de un ecossistema se dá, também, através da competi-
ção pelo alimento entre os organismos que o compõem.
Parte da rede alimentar de uma floresta
Jogo da Sobrevivência- FUNBEC/MEC.
Assim, na natureza as interações alimentares entre os orga-
nismos são bem mais complexas que aquelas vistas nas cadeias a-
limentares. Constituem verdadeiras redes, a que denominamos teias
alimentares. Podemos dizer que cada teia alimentar de um dado e-
cossistema se liga a várias outras cadeias, formando uma rede ou
teia alimentar.
Mas, se a relação básica entre os indivíduos de um determina-
do ecossistema é uma relação alimentar e se,através dessa rela -
ção, a matéria cicla e a energia flui, nossa caracterização das
teias alimentares parece estar incompleta, pois até então não fi-
cou evidente de que maneira os materiais retirados do meio, na
forma de alimento, que transitam pela porção biológica do sistema,
retornam ao ambiente.
Vamos lembrar os ciclos biogeoquímicos que já conhecemos. Em
todos eles a decomposição da organismos mortos é uma via de re-
torno dos materiais ao ambiente. Essa decomposição e resultado
da ação de bactérias e fungos que, ao utilizarem tais organismos
como fonte de alimento, causam sua decomposição. Por isco, tais
bactérias e fungos são chamados de decompositores. Os de-
coupositores representam o último nível trófico. A energia que
obtém é suficiente para mantê-los vivos; não ha armazenamen-to '
que possa ser transferido para qualquer outro ser vivo, de sorte
quo, com eles, temos o ponto final do fluxo energético e o
reinicio do ciclo da matéria em um ecossistema.
Determinação de cadeias e redes alimentares
Extraído de John Phillipson
Um certo número de diferentes métodos tem sido empregado na
determinação de cadeias alimentares e redes alimentares, tia al-
guns casos a observação direta e suficiente para uma primeira a-
proximação. Podemos verificar que alguns afídios, por exemplo,
são restritos a certas espécies de planta, e também podemos ver
que muitos deles, são alimento para larvas de escaravelhos. Entre
tanto, os afídios também podem ser alimento para um pequeno pás-
saro, o qual, por sua vez, pode ser apanhado por um falcão. A ob-
servação, portanto, não é satisfatória, porque nunca se poderá
estar certo se todas as ligações possíveis na cadeia alimentar
foram observadas. Uma segunda maneira é coletar representantes
de todas as espécies que ocorrem num determinado habitat, e ana-
lisar o conteúdo do tubo digestivo. Desde que um número
suficien-temente grande de indivíduos de cada espécie for
examinado, é possível estabelecer, até certo ponto, quais os
animais que se alimentam de outros. A análise dos restos em tubos
digestivos re-quer que o pesquisador seja bem versado na
nomenclatura das dife rentes espécies, não so como organismos,
mas como partes, Embora seja possível identificar partes duras,
tais como epiderme de plantas, frústulas de diatomáceas e partes
do esqueleto de vários animais, como é possível identificar sucos
de plantas, flui dos do corpo de animais sem partes duras do
esqueleto? É necessá-rio lembrar que os fluidos e os tecidos
moles são mais prontamen-te digeridos que os elementos mais duros
e podem ser ingeridos e assimilados tão rapidamente que raramente
apareciam como dieta.
Recentemente, têm sido empregados métodos que superam algumas
das objeçõe3 levantadas quanto à análise do tubo digestivo.
137
DEMPSTER (1960) estudou os predadores do besouro Phytodecta oli-
vacea, usando o teste da precipitina. Nesse caso, coelhos aprisi-
onados foram inoculados com extrato livre de células do besouro.
Como se poderia esperar, anticorpos foram produzidos no soro do
sangue .do coelho. Cerca de 5Cal de sangue foram retirados de ca-
da coelho, glóbulos e lipídios foram removidos e o soro resultan-
te foi esterilizado, congelado e guardado. Seguindo-se à produ-
ção do anti-soro, uma amostra dos possíveis predadores do besouro
foi trazida para o laboratório e identificada. Esfregaços des-
see animais foram feitos, esmagando-se em papel de filtro, ou o
animal todo ou seu tubo digestivo, e secando-se o papel rapida-
mente em petóxido de fósforo; os esfregaços foram extraídos por
24 horas em solução salina, centrifugados e o líquido sobrenadan-
te usado para teste. Esse teste foi feito retirando-se um pequeno
volume (0,02ml) do3 extratos em uma série de tubos capilares,
seguidos por um volume igual de anti-soro, que tinha sido recons-
tituído com água destilada. Depois de um período de 2 horas, à
temperatura ambiente, os tubos foram examinados; a presença de
Phytodecta, na refeição, foi demonstrada, pela formação de um pre
cipitado branco de antígeno e anticorpo na interface dos dois lí-
quidos. Por esse método foi verificado que dez espécies de preda-
dores alimentavam-se regularmente do besouro.
Pode parecer que tal método é vagaroso, mas deve ser notado
que, mesmo quando um animal-presa possui um exo-esqueleto, ele
não pode ser identificável na análise do tubo digestivo. Este
ponto é bem ilustrado pelo trabalho de Reynoldson e seus colegas
(Reynoldson e Young, 1963; Young, Morris e Reynoldson, 1964). A-
nálises do conteúdo do intestino do verme Dendrocoelum lacteum
sugeriram que seu principal alimento eram vermes oligoquetos,
que foram identificados pela presença de cerdas não digeridas no
intestino. Entretanto, experimentos de laboratório demonstraram
138
que Asellus (crustáceo, isópode) era ingerido preferencialmente a
vermes oligoquetos, embora somente os fluidos do corpo e tecidos
moles fossem ingeridos. 0 paradoxo aparente foi resolvido le
vando-se a efeito testes de precipitina em Dendrocoelum recente-
mente apanhado. On soro de coelho, anti-Aséllus foi usado, em
conjunção com esfregaços de Dendrocoelum, o que mostrou, sem dú-
vida, que esse verme alimentava-se extensivamente de Asellus.
Um quarto método, que tem sido utilizado na determinação das
relações alimentares dos vários organismos, utiliza isótopos ra-
diativos. Odum e Kuenzler (1963) aplicaram essa técnica no estudo
de uma cadeia alimentar terrestre. Fósforo-32 foi usado para
"marcar" um certo número de indivíduos de uma espécie de plantas,
pulverizando as folhas. Seguindo-se à "marcação", foram tomadas
amostras dos animais que viviam nas proximidades das plantas e
determinada a quantidade de P32, em cada uma das espécies de ani-
mal. Qualquer animal que apresentasse radiatividade deveria de-
pender direta ou indiretamente das plantas "marcadas", como fonte
inicial de alimento. Os animais que removiam mais ativamente o
material da planta, o que foi demonstrado pelo seu máximo inicial
de radiatividade, foram pequenas formas como o grilo (Oecan-
thus) e a formiga (Dorymyrmex). Herbívoros maiores, como o gafa-
nhoto (Melanoplus) vieram a seguir; e finalmente os predadores
tais como as aranhas, que se alimentavam desses herbívoros, atin-
giram seu máximo de radiatividade. Portanto, um método que "mar-
que" efetivamente a fonte primária de alimento e permita que a
transferência subseqüente desse material seja acompanhada, pode
ser de grande valor no isolamento das cadeias alimentares.
(Extraído de Ecologia energética - John Phillipson. São Paulo.
Companhia Editora Nacional e Editora da Universidade de São Pau-
lo, 1969)
Pirâmides ecológicas - representação gráfica dos ecossistemas
John Phillipson
Quanto mais se investiga uma determinada rede alimentar, mais
complexa ela se torna. A representação esquemática torna-se tão
complicada que é difícil evidenciar certas ligações e reter uma
apreciação completa do sistema. Existe, portanto, uma tendência
para a produção de representação generalizada ou modelos de re -
des alimentares, antes mesmo que investigações detalhadas sejam
feitas.
Figura 11 - Parte da rede
alimentar de um ria -cho, em
Gales. (Baseado em
Jones,1949.
Cortesia de J.Anim. E-
col.) - Stonefly,Caddis,
Mayfly, Blackflies e Md
ges são diferentes gêne-
ros e espécies de mos —
cas. Rhyacophila e Bae-
tis são gêneros de mos-
cas.
Um modelo simplificado de uma rede alimentar em um riacho, que
inclui o exemplo inicial de cadeia alimentar, Navicula - Bae-tis -
Rhyacophila, é dado na figura 11.Nessa figura, baseada no
trabalho de Jones (1949), foram agrupados animais com os mesmos
hábitos alimentares e predadores. Apesar do agrupamento, o modelo
ainda e complexo, em virtude das muitas interconexões. É também
difícil comparar a rede alimentar em uma situação com outra,
uma vez que espécies diferentes estão envolvidas em cada caso.
Entretanto, Elton (1927) verificou que
".,. os animais da base da cadeia alimentar são relativamente
abundantes, enquanto que aqueles do fim da cadeia alimentar
são relativamente poucos em número, existindo um decréscimo
progressivo entre "os dois extremos".
Essa pirâmide de números, como foi denominado, é encontrada
em comunidades animais de todo o mundo, e a ocorrência geral de
tal fenômeno proporciona um denominador comum pelo qual as
diferentes comunidades podem ser comparadas. Para propósitos
compara tivos gerais, é permissível ignorar a composição de
espécies das redes alimentares e agrupar aqueles organismos que
têm hábitos similares. 0 procedimento geral ao construir uma
pirâmide de números é agrupar e contar todos os autótrofos e
chamá-los de produtores; então são agrupados os organismos que
se localizam um degrau abaixo dos produtores na rede alimentar,
ou seja, os herbívoros, que são contados e denominados
consumidores primários. Os organismos que estão localizados a
dois ou três degraus abaixo dos produtores primários são
tratados igualmente. Esses carní-voros são denominados
consumidores secundários e consumidores terciários,
respectivamente. Uma nomenclatura alternativa é produtores,
herbívoros, carnívoros e carnívoros exclusivos. A figu-ra!2
mostra em diagrama os principais tipos de oirâmides de núme-ros
que podem ser esperados ha natureza.Na figura 12A os produto-res
são pequenos e, se têm de suportar os herbívoros relativamen-te
grandes que deles se alimentam, devem ser numerosos. Na figura
12B os produtores são grandes, por exemplo, árvores, e aqui uma
planta apenas pode suportar muitos herbívoros; entretanto, a lém
do nível dos produtores o aspectos de pirâmide é aparente.
Pirâmides de números,-invertidas, aparecem somente quando redes
alimentares parasíticas são consideradas. Esta situação é apre-
sentada na figura 120.
141
Figura 12 - Pirâmide de números A - quando os
produtores primários são pequenos B - quando os
produtores primários s3o grandes C - uma rede
alimentar planta/parasita
A informação apresentada dentro de uma pirâmide de números
permite-nos estabelecer o número de herbívoros suportados por um
certo número de plantas, etc. Existem certas dificuldades com es-
se método. Se compararmos dois ecossistemas diferentes, conside-
rando quantos animais um certo número de plantas pode suportar em
cada sistema, pouca informação poderá ser tirada, se uma dia-
tomácea é igualada com uma arvore, ou um elefante com um rato.
Essa dificuldade tem sido parcialmente superada usando-se o peso
(biomassa) dos organismos ao invés de números. Se esse procedi-
mento for seguido, a estrutura resultante £ denominada pirâmide
de biomassa. A figura 13 mo3tra tais exemplos. Podem ser constru-
idas duas formas de pirâmides de biomassa. Se os produtores su-
portam os herbívoros e os herbívoros suportam os carnívoros, a
pirâmide de biomassa é aquela que se deveria esperar, pois de que
maneira um peso menor de produtores poderia suportar um peso
maior de consumidores? Entretanto, a pirâmide de biomassa para o
Canal da Mancha sugere que tal fato pode acontecer. Esse aparente
paradoxo pode ser explicado.
Os dados para a construção de pirâmides de números e de biomas
sa são obtidos por amostragem da flora e fauna e os números e/ou
pesos dos diferentes tipos de alimentação são determinados. Esses
resultados deverão ser expressos, por exemplo, como números por a
cre, ou pêso por metro cúbico. A partir dessa informação a pirâmi-
de que convém ao caso é construída. Mas o período de amostragem
tem duração limitada, que pode variar de muitos minutos no caso
de amostragem de algas microscópicas, a uma semana ou mais no caso
de amostragem de uma floresta. Assim, pirâmides de números e
biomassa indicam somente a quantidade de material presente em um
curto período de tempo.
Figura 13 - Pirâmides de biomassa. Uma pirâmide
direita para um campo (old field) da Geórgia, EUA;e uma
pirâmide invertida para o Canal da Mancha. Fonte: Odum,
1959 - Corte -sia de W.B. Saunders, Filadélfia.
A quantidade de material presente em um determinado instante,
no tempo, é conhecida como standing crop, que ,não indica a
quanti-dade total de material produzido, ou a razão de produção do
material. Um exemplo simples explicará este ponto. Todos sabemos
que muitas árvores podem viver uma centena de anos ou mais, e
também sabemos que muitas algas microscópicas podem viver somente
poucos dias. Para que a espécie a que ambas as. plantas pertençam
sobrevi-
-se; no entanto, uma árvore pode levar suas primeiras
sementes, enquanto que uma levar menos que um dia para se
reproduzir, cinco anos pode ainda estar crescendo, sem ter
uma semente enquanto, no mesmo período, uma alga
microscópica indivíduos e pode originar milhões de
indivíduos e o peso total pode igualar árvore. Uma e
exceder àquele de uma árvore.Uma estimativa do standing
crop de árvores é a medida dos materiais orgânicos que ela
acumulou du-rante um longo tempo, enquanto que a estimativa
do standing crop da alga é a medida dos materiais orgânicos
durante um período de tempo muito curto.Em nenhum caso a
razão de acumulação foi leva-da em conta.Portanto,a razão
de produção (produtividade), muito mais que o standing
crop, é a caractestica importante quando se estuda o
funcionamento de ecossistemas.Pirâmides de número e
biomassa tem, portanto, suas limitações. Elas nos informam
sobre a quantidade de material orgânico presen-te em um
dado momento,mas não dão indicação das velocidades do
processo (turnover time).Se o
retornarmos aos exemplos de pirâmi-des de
biomassa,(figura 13), constataremos que a
quantidade total de material produzido
pelas plantas, por ano, no Canal de Mancha
excede de muito a quantidade indicada pela forma
do standing crop. Um terceiro tipo de pirâmide
ecológica, que soluciona muitas das objeções
levantadas em relação às pirâmides de números e
às de biomassa, é a pirâmide de energia
apresentada na figura 14,on-de cada barra
representa a quantidade total de energia
utilizada pelos diferentes tipos de hábitos
alimentares, em um metro quadra do, em período de
tempo determinado (um ano). Esse método de ex-
pressar dados tem muitas vantagens e
supera a dificuldade encontra-da com a
pirâmide de números, que representa
organismos individu-ais tão diferentes
como narcisos e baleias pela mesma
unidade, ou seja, 1.Também evita a
dificuldade encontrada na pirâmide de bio-
massa, onde se pode, por exemplo, dar o valor lg para o molusco
Ensis (valor calorífico sem a concha, 3.500cal/g peso seco) com
lg do crustáceo copépode Calanus hyperboreus (aproximadamente
7.400 cal/g peso seco).
Figura 14 -Pirâmides de energia
para Silver Springs, Flórida,
EUA (Baseado em Odum,1957.Cortesia
de Ecol.Monogr.)
Do que foi escrito até agora deveria ficar evidente que unida-
des de energia proporcionam um conceito unificador, um meio de
ex-pressar a produtividade de um organismo ou de todos os
organismos dentro do ecossistema. Ainda mais, esse conceito
permite comparações da produtividade de regiões tão diferentes
como desertos ou florestas tropicais, cumes de montanhas e leitos
oceânicos. (Extraído de Ecologia Energética de John Phillipson.
op. cit.)
Relações entre seres vivos
Para que haja a manutenção do equilíbrio dinâmico existente na
natureza, há necessidade de uma troca de matéria e energia entre
seres vivos-ambiente e seres vivos-seres vivos. A relação entre
seres vivos e ambiente já foi verificada nas unidades anteriores
dessa proposta.
Quando tratamos das relações entre organismos, sejam elas har-
mônicas ou desarmônicas, verificamos ser essa interação uma das
formas com que o ambiente consegue manter-se em equilíbrio.
Aproveitamos este tópico para tecer alguns comentários sobre
algumas expressões muito comuns, que se traduzem em conceitos er-
rados sobre as relações ditas "nocivas" ou "úteis" para o homem.
Quando nos referimos a relações harmônicas, estamos citando re
lações entre seres vivos, sejam eles da mesma espécie ou de espé-
cies diferentes,nas quais,se não ocorrer vantagem para pelo menos
um deles, não ocorrerá desvantagem ou prejuízo para nenhum dos in
divíduoa envolvidos. Dentre as relações harmônicas algumas podem
ser citadas:
Simbiose: A sobrevivência, crescimento e reprodução da estrutu
ra orgânica formada por essa relação, ou de um dos indivíduos com-
ponentes, depende obrigatoriamente da existência da própria rela-
ção. Podemos citar dois casos, para ilustrar as afirmações acima:
o de líquens, cuja existência depende obrigatoriamente da intera-
ção entre algas (sejam elas procariontes ou eucariontes) e fungos.
Esta estrutura orgânica desaparecerá a partir do momento em que um
dos indivíduos dessa relação desaparecer. Outro exemplo, é o fato
de possuirmos bactérias fermentadoras no intestino grosso, o que
possibilita um melhor aproveitamento de produtos da digestão e a
elaboração de substâncias, como por exemplo a vitamina li.
146
A simbiose pode ter importante papel ecológico. É o que aconte-
ce com os vegetais que vivem em associação com bactérias fixado-
ras de nitrogênio, o que enriquece o solo em elementos nitrogena-
dos. Um amieiro de dois metros fixa de 0,25 a 0,50 kg de nitrogê-
nio por ano, graças às bactérias simbióticas que vivem nas nodosi-
dades de suas raízes, As árvores que possuem nodosidades fixado-
ras de nitrogênio são freqüentemente espécies pioneiras nos solos
pobres. É o que se dá com o amieiro que coloniza precocemente os
aluviões das morenas no Alaska. A simbiose com os cogumelos, for-
mando micorrizos nas raízes, explica a existência de florestas em
solos podzólicos, onde os nitratos se formam, lentamente, sendo ra-
pidamente eliminados por lixiviação. (Roger Dajoz, Ecologia Geral)
Mutualismo: é uma relação muito semelhante à simbiose, tendo
como característica diferencial a não obrigatoriedade da interação
para que haja a sobrevivência das espécies envolvidas. Ex.: Anu e
boi estabelecem entre sí uma relação de mutualismo quando, ao
pou-sar sobre o dorso do animal, o pássaro extrai de sua pelo os
car-rapatos. 0 boi se livra da presença incômoda dos ácaros é o
passa-ro consegue alimentação, pois o carrapato é um dos tipos de
alimento que ingere.
Nas duas formas de relações acima descritas, verificamos que os
indivíduos integrantes da relação são de espécies diferentes.
Quando essas relações adquirem um caráter de protocooperação, en-
tre indivíduos da mesma espécie, caracterizamos uma colônia ou uma
sociedade. A diferença básica reside no fato de uma colônia ser
composta por diversos indivíduos, que formam apenas uma estru-
tura, onde a individualidade, principalmente em relação às funções
executadas, não é muito clara.Quando nos referimos a sociedade,
falamos de indivíduos que apresentam funções bem definidas e não
mantém uma estrita dependência dos outros indivíduos para sua
sobrevivência. Como exemplo de colônias, podemos citar as es-
147
ponjas (filo Porífera) e os corais e água-viva (filo Celentera
ta), e como sociedade, o exemplo claro dos animais sociais (a-
belhas, formigas, cupins etc).
Ao falarmos sobre relações DESARMONICAS e refletirmos sobre o
sentido da palavra, fica claro que, nestas relações, um indivíduo
leva uma nítida vantagem sobre outro ou outros. Dentre essas rela
ções destacamos a predação e o parasitismo' entre indivíduos de
espécies diferentes; o canibalismo, entre indivíduos de mesma es-
pécie e a competição, entre indivíduos de mesma espécie ou entre
indivíduos de espécies diferentes.
Pode-se definir o predador como um organismo livre que pro
cura um alimento vivo. 0 parasita não leva vida livre. Ao menos
em um estágio de seu desenvolvimento, acha-se ligado à super -
ficie (ectoparasita) ou ao interior ( endoparasita ) de um ser
vivo que ê a espécie hospedeira. 0 predador mata sua presa para
comê-la. 0 parasita não mata seu hospedeiro. Na verdade, a dis
tinção entre parasitas e predadores nem sempre é tão clara na
natureza. Há formas de transição difíceis de classificar. Assim,
nos insetos com metamorfose completa existem parasitóides, que se
comportam a principio como parasitas, respeitando os órgãos vi-
tais do hospedeiro, depois, no fim de seu desenvolvimento, compor
tam-se como predadores, comendo o hospedeiro.
Um predador ou um parasita podem subsistir às expensas de uma
ou várias espécies. Distinguem-se:
Espécies polífagas que atacam grande número de espécies. Mui-
tos mamíferos e insetos predadores são polífagos. Alguns insetos
fitófagos podem subsistir às expensas de plantas muito numerosas.
Na América do Norte, a lagarta de Pyrausta nubilabis ataca mais
de 200 espécies vegetais. 0 cabrito montes da Córsega come mais
de uma centena de plantas diferentes, mas procura sobretudo o me-
dronhoiro e o citiso (Cytisus triflorus), desprezando as conífe-
ras (Pfeffer, 1967).
148
Espécies olífagas, que vivem às expensas de algumas espécies
freqüentemente vizinhas umas das outras. O doríforo come a batata
e algumas outras plantas, quase todas pertencentes à família das
solanáceas. A tênia equinococa vive à custa do homem, do porco,
de diversos carnívoros e roedores.
Espécies monófagas, que só subsistem às expensas de um único
hospedeiro. A monofagia é a regra para muitos insetos parasitas. O
gorgulho Anthonomus pyri está preso à pereira, o bicho-da-seda à
moreira. Entre os vertebrados os exemplos de monofagia são mais
raros." 0 mais curioso e sem dúvida o milhafre da Everglades (Ros-
trhamus sociabilis plumbeus), localizado numa pequena região da
Flórida, que tem uma única presa: o caracol Pomatia caliginosa.
Como conseqüência de uma mudança de regime, uma espécie pode
adaptar-se a outro hospedeiro. É um caso particularmente frequen-
te entre os insetos fitófagos, que viviam"primitivamente em plan-
tas selvagens e que se adaptaram a plantas cultivadas. A vinha, em
estado natural, tem poucos inimigos. Hoje em dia é atacada por
insetos que viviam nos epílobos, nos Galium, etc... A adaptação
pode ser tão completa que se formam raças biológicas monófogas es
treitamente presas ao novo hospedeiro. É o caso da altisa Haltica
lythri, que vive nas Litráceas e nas Enoteráceas, formando também
uma raça presa à vinha, a subespécie ampelóphaga.
Para que o parasita possa desenvolver-se é preciso que o está-
gio receptivo do hospedeiro e o estágio agressivo do parasita se
manifestem ao mesmo tempo. Se o hospedeiro está ausente,
inacessí-vel ou em estágio não-receptivo o parasita não poderá
desenvolver. se. Esta noção foi designada por Thalenhorst (1950)
com o nome de coincidência.
0 estudo da coincidência entre os insetos fitófagos e suas
plantas hospedeiras foi particularmente desenvolvido, principal-
mente por motivou práticos, Um exemplo pode ser encontrado no an-
tonoma da macieira. Este gorgulho põe os ovos nos botões jovens
149
de flores e suas larvas desenvolvem-se nos frutos em crescimento.
A observação do desenvolvimento dos botões e folhas de macieira
permitiu definir diversos estágios. 0 período de aparecimento des-
ses estágios é função da temperatura, podendo portanto variar li-
geiramente de ano para ano. l.!ostrou-se que o período de postura do
antonoma esta em estreita relação con certos estágios do desen
volvimento dos botões, ou seja, há coincidência fenológica (*) en
tre a postura do gorgulho e o desenvolvimento da planta hospedei-
ra. 0 máximo de postura do antonona é caracterizado pela redução
cromática das células mães dos grãos de pólen e, do ponto de vis-
ta morfológico, pelo aparecimento das escamas internas dos botões,
que se tornam visíveis exteriormente. Os raros ovos (caracterizado
pela abertura das escamas mais internas, deixando ver os botões
florais), dão larvas que despontam demasiado tarde, sendo ex-
pelidas da flor por ocasião do desabrochar do botão. A coincidên-
cia entre a postura do antonoma e o desenvolvimento dos botões é
tão estreita que o exame dos diversos estágios fenológicos dos bo-
toes serve de indicação para anunciar os tratamentos inseticidas
feitos pelas estações encarregadas dos avisos agrícolas.
Deve haver também uma coincidência fenológica entre duas espé-
cies animais quando uma vive às expensas da outra. O díptero Epis-
trophe balteata, parasita de pulgões, entra em piapausa durante o
inverno na Europa Central e durante o verão em Israel e, nesses
períodos, os pulgões desaparecem nas mencionadas regiões. A coin-
dência tem de ser muito profunda no caso de um parasita cujo ciclo
compreenda vários hospedeiros intermediários. 0 grande número de
ovos postos por estas espécies permite compensar as enormes perdas
que acontecem como conseqüência da freqüente falta de coin
cidência com os diversos hospedeiros.
( + ) A fenologia é o conjunto das observações referentes à ação da
temperatura sobre a data dos fenômenos biológicos.Estas
obser-vaçBes são muito precisas nos vegetais. A data da
floração de certo número de plantas é regularmente anotada
cada ano em nu-merosas localidades, o que permite traçar
mapas fenológicos.
Competição
A competição interespecífica pode ser definida como a procura
ativa, por membros de duas ou mais espécies, de um mesmo recurso
do meio. Alguns autores têm um concepção mais larga da competição
que, segundo eles, corresponde a toda interação desfavorável en-
tre duas espécies. É possível distinguir então a competição dire-
ta da competição indireta. No primeiro caso uma espécie afeta a
outra exclusivamente por sua presença, no mais das vezes lançando
produtos tóxicos no meio. As duas espécies podem ou não utilizar
os mesmos recursos alimentares. 2sta competição direta "de mão ú-
nica" é chamada por Odum (1959) amensalismo e seguiremos este au-
tor não igualando-a a competição verdadeira. So consideraremos a-
qui o caso em que as duas espécies disputam um mesmo recurso do
meio, alimentos, local de postura, etc.., isto é, a competição in
direta no sentido de Kendeigh. 0 conceito de competição é reserva
do por Labeyrie aos fenômenos que aparecem quando ocorre a utili-
zação de uma mesma fonte limitada de energia por indivíduos dife-
rentes. Há concorrência quando dois indivíduos disputam abrigos
ou lugares de posturas. Finalmente, deve-se distinguir a competi-
ção ativa (ou interferência de Elton e Miller, 1954) quando uma
das espécies, por seu comportamento, impede que a outra tenha a-
cesso ao alimento ou aos locais cobiçados (isto é freqüente entre
os vertebrados superiores, particularmente nas aves de comporta-
mento complexo, mas existe também entre os invertebrados, como as
libélulas); e uma competição passiva (exploração de Elton e Mi-
ller), que é certamente a mais difundida, na qual o comportamento
não intervém para impossibilitar o acesso dos competidores ao re-
curso cobiçado. Esta abundância de definições mostra que a compe-
tição é um fenômeno complexo ainda mal conhecido em detalhes. Dar
win já reconhecera sua importância e, para certos autores a
compe-tição, juntamente com o conceito de nicho ecológico, que e
conseqüência dela, constitui um dos problemas fundamentais da
ecologia
Influência da competição sobre a distribuição geográfica
A influência da competição sobre a distribuição geográfica é
particularmente clara no caso das espécies introduzidas acidental
mente em regiões onde não existiam antes. Quando as espécies in-
troduzidas são mais robustas, mais prolíficas que as espécies in-
dígenas, podem eliminar pouco a pouco estas últimas. Ê o caso da
gramínea Spartina townsendi que, pouco a pouco, suplantou nós Io-
dos litorâneos da Europoa Ocidental a espécie vizinha S. stricta.
Nos Estados Unidos dois himenópteros, Cephus tabidus e Cephus py-
gmaeus, cujas larvas se desenvolvem no colmo do trigo, foram in-
troduzidas acidentalmente no fim do século XIX. A C. tabidus foi
gradativamente expelida da parte norte de sua área de distribui-
ção pelo C. pygmaeus, que põe mais precocemente e cujas larvas e-
liminam os ovos da primeira espécie.
Muitos marsupiais australianos regrediram ou desapareceram di-
ante da concorrência dos coelhos e dos carneiros. Na Inglaterra o
esquilo indígena Sciurus vulgaris foi foi aos poucos suplantado
lias Midlands e no sul da Inglaterra por uma espécie americana in-
troduzida, S. carolinensis.
Influência da competição sobre a distribuição nos diversos bióto-
pos de uma mesma localidade.
As espécies ecologicamente vizinhas que vivem numa mesma re-
gião são freqüentemente alopáticas, apesar das aparências, porque
ocupam biótopos diferentes. No meio terrestre podem ser encontra-
dos numerosos exemplos que ilustram esta conseqüência da competi-
ção. Quando as três espécies de picanços do gênero Dendrocopus co
abitam, cada uma delas explora uma parte diferente das árvores:
uma procura o alimento noa troncos; outra nos ramos grossos e ou-
tra nos raminhos. O rato de esgoto Rattus surmuletus expulsou o
rato negro Rattus rattus, que se refugiou nos celeiros das casas
enquanto o primeiro povoava as adegas e os esgotos. Quando duas
espécies que tem regime alimentar quase idêntico coabitam, são
possíveis várias soluções: ou cada uma não ocupa senão uma parte
do habitat, ou são ambas bastante raras, ou ainda uma espécie pode
ser muito abundante que a outra. Nos dois últimos casos a com-
petição alimentar parece evitada pela fraca densidade das popula-
ções.
Também no meio aquático podem achar-se exemplos de coabitação
em biótopos vizinhos. Connell (1961) mostrou que a distribuição
dos baianos (crustáceos cirrípedes) dos gêneros Chthamalus e Bala
nus nas costas da Escócia é devida, em parte; à competição. Os a-
dultos de Chthamalus fixam-se no rochedo acima do nível médio da
maré baixa e os Balanus abaixo. Ora, as larvas planctônicas do
primeiro encontram-se muito mais abaixo do nível médio das marés,
mas não podem fixar-se nesse nível porque são eliminadas, em con-
seqüência da competição com as dos Balanus, que tomam o lugar.
Quando aparecem fenômenos de competição, a espécie mais espe-
cializada, que tem o nicho ecológico mais estreito, é a que domina
e elimina as outras. A análise das relações entre os diversos
roedores escavadores americanos da família dos geomiídeos confirma
esta idéia (Miller, 1964). As diversas espécies de geomiídeos,
alopátricas, excluem-se mutuamente e não formam populações mistu-
radas. Sua distribuição é essencialmente condicionada pela profun-
didade e textura do solo, assim como pela competição interespecí-
fica. A espécie Geomys bursarius é a mais exigente, estando confi-
nada nos solos arenosos profundos e eliminada dos solos demasiado
duros (argilas compactas e cascalhos). A espécie menos exigente,
Thomonys talnoides, pode ser encontrada em solos de natureza muito
variada. Entre essas duas Cratogeomys castanops e Thomomys bot-tae têm
exigências intermediárias. A observação mostra que as qua tro
espécies não coabitam. As relações entre elas podem ser des-
critas por meio de um sistema de nichos ecológicos estabelecidos
com fundamento em duas variáveis: a profundidade e a textura do
solo. Quando duas espécies tendem a coabitar, a que tem o nicho
mais largo é eliminada pela que tem o nicho mais estreito
A presença de espécies mais competitivas pode, como mostram
estes exemplos, reduzir o nicho ecológico potencial das espécies.
0 mesmo fenômeno se verifica no reino vegetal. Muitas plantas a-
parentemente calcífugas suportam, em cultura pura, quantidades
de cálcio muito variadas. Na natureza são confinadas em seu habi-
tat pela concorrência das outras espécies. A. Gigon deu uma de-
monstração experimental deste fato. Nos alpes dos Grisons, na
Suiça, existem duas associações vegetais bem delimitadas: uma o
Nardetum, caracterizada pela gramínea Nardus stricta. desenvol-
ve-se nos solos silicosos de pH inferior a 6; a outra, o Sesle-
riosemperviretum, cuja espécie principal é Sesleria coerulea,
encontra-se en solos calcáreos ou dolomíticos de pH superior a
7. Ora as experiências feitas em monocultura mostram que pelo
menos quatro espécies do Nardetum podem germinar mais ou menos
bem no solo silicoso. Entretanto em monocultura não se notam mo-
dificações importantes na vitalidade de Nardus stricta e Sesle-
ria coerulea, cultivados num solo inabitual, em cultura mista N.
stricta elimina pouco a pouco S. coerulea dos solos silicosos e
S. coerulea elimina N. stricta dos solos calcáreos. Falta evi-
dentemente descobrir a razão desta eliminação, que deve ter cau-
sas fisiológicas.
0 fenômeno inverso, isto é, a extensão do nicho ecológico na
ausência de competidores, é claro nas ilhas. Estas constituem
freqüentemente meios mais simples que os continentes, e nelas o
número de nichos disponíveis é menor. Em tais condições parece
que muitas espécies ocupam nas ilhas um nicho muito maior que nos
continentes. Este fato foi evidenciado, por exemplo, mas
154
aves como a galinha-d'água da ilha de Wake (Rallus wakersis), a
Porzanula palmeri da ilha Laysan (estas duas espécies foram
recen-tenente extintas) e as Gallirallus da Nova Zelândia. Estas
aves são onívoras e atacas principalmente os ovos das outras
espécies, o que constitui um regime alimentar desconhecido nas
espécies con-tinentais próximas. 0 freqüente desaparecimento de
espécies insulares como conseqüência da introdução de espécies
concorrentes po de explicar-se pela simplicidade do habitat, que
impede os deslocamentos dos nichos ecológicos, fenômeno que nos
continentes é a conseqüência mais freqüente da competição
interespecífica.
Influência da competição sobre a morfologia e a produtividade dos
vegetais
A competição interespecífica entre os vegetais manifesta-se da
mesma maneira que a competição intra-específica (modificações
plásticas, redução da fertilidade e dos efetivos). Além disso,
constata-se muitas vezes que uma espécie dominante elimina pouco
a pouco uma espécie dominada ou pelo menos reduz fortemente a vi-
talidade desta. Em uma cultura mista, associando o trigo (varieda-
de Estrela de Choysy) com três variedades de ervilha forrageira,
verifica-se que a variedade C, vigorosa e de grandes grãos, abafa
praticamente o trigo prescoce. A competição faz-se com relação à
luz, sendo o trigo demasiado obscurecido para poder realizar uma
fotossíntese suficiente. Entretanto, os três grupamentos possíveis
fornecem colheitas praticamente idênticas, o que indica a
existên-cia de certa auto-regulação.
A influencia da competição sobre a evolução das espécies e das
biocenoses.
A competição pela luz pode ser um fator de evolução das associa-
ções vegetais. Assim a germinação de uma espécie florestal de baixo
de outra espécie mais exigentes de luz é um fenômeno constante. Na
floresta de Fontainebleau, nas superfícies queimadas, a bétula
(Bétula verrucosa) é a primeira a colonizar o solo nu. 0 pinheiro
silvestre aparece debaixo da cobertura das jovens bétulas alguns
anos depois. Ao final de aproximadamente 20 anos as bétulas são do-
minadas, ficam sem luz e morrem. Os carvalhos (Quercus sessiliflo-
ra e Q. pedunculata) instalam-se progressivamente em baixo dos pi-
nheiros. Finalmente a faia, que e uma espécie de lugar sombrio, a-
caba pouco a pouco por eliminar todas as outras árvores. Deve-se
notar que a eliminação das bétulas pelos pinheiros é facilitada
pelo políporo de bétula (Ungulina betulina), cogumelo parasita que
ataca maciçamente as árvores dominadas.
A competição influi sobre a evolução das espécies, particular-
mente quando são simpátricas em uma parte de sua área geográfica.
Nesse caso a competição dá origem à aquisição de particularidades
morfológicas, ecológicas ou etológicas divergentes, o que permite
às duas espécies explorar o meio de maneiras diferentes. Compreen-
de-se assim a razão pela qual duas espécies parcialmente simpátri-
cas são mais diferenciadas em sua área comum do que nas regiões on
de não entrem em contato. Este fenômeno, chamado "divergência dos
caracteres" é conhecido desde Darwin. Foi assinalado entre os ins£
tos, peixes, anfíbios, aves e mamíferos, assim como em duas plan-
tas de flores. A divergência dos caracteres constitui o começo de
uma diversificação adaptativa que é uma das causas da evolução das
espécies. Assim, nas ilhas Galápagos os pássaros da família dos Ge-
ospizíneos, mais conhecidos pelo nome de tentilhões de Darwin, pu-
deram colonizar meios muito numerosos e se adaptaram a regimes ali-
mentare3 muito variáveis. Duas espécies vizinhas, Geopiza fuligio-
nosa e G. fortis, alimentam-se de sementes. 0 comprimento do bico
está em relação com o tipo de sementes que estes pássaros procuram.
156
Lack (1951) estudou o comprimento do bico destas aves em quatro i
lhas: a ilha Daphne, na qual só existe G. fortis. a ilha Crossman,
onde só existe C. fuligionosa e as ilhas Charles e Chatham onde as
duas espécies coabitam. Verifica-se que nas ilhas Daphne e
Crossman, o comprimento do bico mais freqüente nas duas espécies
é de 10 mm. 2m contraposição, nas ilhas Charles e Chatham as duas
espécies evoluíram diferentemente. G. fortis tem o bico mais com-
prido e G. fuligionosa tem o bico mais curto. A seleção natural,
provocada pela competição alimentar, eliminou os indivíduos de G.
fortis com um bico de comprimento inferior a 10 mm e os G. foli-
gionosa com bico de comprimento superior a 9 mm.
Canibalismo: Não levando em conta o aspec,to cultural no caso
do homem, o canibalismo é uma prática entre os animais, causada
por fatôres ambientais, que levam os indivíduos de uma população a
eliminar outros indivíduos da mesma população.
Dos fatores ambientais já estudados em casos de canibalismo em
ratos, temos como fatores preponderantes a limitação de espaço e
de alimento. Em experimentos realizados com ratos, onde os colocaram
num espaço restrito, com alimentação proporcional ao núme-ro de
individuos,verificou-se que após algumas gerações,apesar do
alimento ser suficiente para todos,surgiu uma competição violenta a
nível de espaço físico,que determinou o canibalismo entre esses
animais, como um dos efeitos causados pela falta de espaço.
A partir do momento em que o número de indivíduos diminuiu e o
espaço físico se tornou compatível com o número de habitantes, o
canibalismo deixou de existir. Outra experiência, agora tendo a
quantidade de alimento como fator gerador de competição, foi rea-
lizada e os resultados foram os mesmos, ou seja, a partir do mo-
mento em que o número de indivíduos cresceu e a alimentação foi
mantida na mesma quantidade, a competição alimentar determinou mu
danças no comportamento dos animais, que desenvolveram o caniba-
lismo. A partir do momento em que a quantidade de alimento é leva
157
da uma proporcionalidade em relação ao número de indivíduos(o es-paço
físico não foi limitado),o canibalismo cessou.
Todas as relações discutidas até agora,nos dão uma boa visão de
como se operacionaliza na natureza o controle populacional,tão
indispensável num ecossistema. Com isso,achamos que determinadas
idéias sobre animais "nocivos" e "úteis" se tornam carentes de
fundamentação, quando verificamos a importância para o ambiente de
seres vivos parasitas e predadores, e que essa conceituação er-rtfnea
é decorrência da finalidade que atribuímos a esses organismos e não
daquilo que representam na biosfera.
Optamos por considerar o saprofitismo como um tipo de relação a
parte, pois no senso estrito da palavra, não temos 2 seres envolvidos
e sim um ser vivo se alimentando de outro ser vivo (morem
decomposição. 0 fato é de suma importância para o ambiente, pois aí
reside um dos passos do retorno da matéria para o ecossis-
3endo os fungos e as bactérias os grandes agentes destas
transformações. (Extraído de Ecologia Geral, de Roger Dajoz.)
A dinâmica das populações
A dinâmica das populações é uma parte da ecologia atualmente
em pleno desenvolvimento. Seu estudo suscita pesquisas muito nume
rosas e polemicas não menos numerosas. As concepções antagônicas
das diversas escolas chocam-se com violência. As discussões são
particularmente vivas entre os ecologistas mais ou menos teóricos,
que estudam as populações no laboratório e procuram deduzir delas
modelos matemáticos, e os ecologistas práticos, que só aceitam as
pesquisas feitas em campo.
Você conhece a palavra população e já deve tê-la usado muitas
vezes. Sabe que quando falamos na população do Brasil, por exem-
plo, estamos nos referindo às pessoas que vivem neste país. Mas a
palavra população não é usada somente para pessoas. Podemos nos
referir à população de onças de uma floresta, à população de sa-
pos de um brejo ou à população de pés de milho de um milharal.
Quando nos referimos a uma população, mencionamos a espécie de
indivíduos que estamos considerando e a área onde vivem. Muitas
vezes também mencionamos o número de indivíduos que a compõem. E,
como esse número varia no decorrer do tempo, também dizemos qual é
o momento considerado. Por exemplo: a população de Brasília, em
1975, era de 500 mil pessoas.
População é o conjunto de indivíduos de uma mesma espécie que
vive em determinada área, em certo momento.
As populações possuem certo número de características, tais co
mo a distribuição espacial dos indivíduos, a densidade, a estrutu
ra, os coeficientes de natalidade e de mortalidade, as relações
de interdependência entre os indivíduos, etc... Noutras palavras,
as populações são entidades reais, que têm sua própria organiza-
ção e não se confundem com simples justaposição de indivíduos in-
dependentes uns dos outros. Esta concepção, adotada por numerosos
autores (cf. por exemplo Allee e col. 1949: Odum e Odum, 1959;
Naumov. 1963; Petrusewics, 1966), permite explicar como é possí-
vel fazer-se a regulação do número de indivíduos, graças à inter-
venção simultânea de fatores extrínsecos (os fatores do meio) e
de fatores intrínsecos (pertencentes à própria população).
A distribuição espacial dos indivíduos
Os indivíduos que constituem uma população podem apresentar di
versos tipos de distribuição espacial, que "traduzem suas reações
em face de influências diversas, tais como a procura do alimento,
de condições físicas favoráveis, ou as reações de competição. 0
conhecimento do modo de distribuição dos seres vivos é útil
quando se quer avaliar a densidade da população por amostragem. No
caso de indivíduos agrupados a superfície de amostragem deverá
ser maior.
A distribuição dos indivíduos poderá ser: uma distribuição uni
forme, quando o número de indivíduos de cada levantamento é cons-
tante e igual à média;, uma distribuição ao acaso e uma distribui-
ção contagiosa, quando a densidade é tanto maior quanto for a ten
dência dos animais à agregação, (figura 73)
Figura 73 - esquema dos tipos de distribuição possível
para os diversos indivíduos de uma população.
A distribuição uniforme é rara na natureza, sendo muitas vezes
devida à intensa competição entre os diversos indivíduos. Os pei-
xes carnívoros, os peixe-espinhos que escolhem um território e
têm um caráter muito individualista, parecem ter uma distribuição
uniforme. Um dos melhores exemplos de distribuição uniforme é o
Lamelibrânquio Tellina tenuis que vive na areia das praias da Man-
cha. As razões da distribuição uniforme deste espécie são obscu-
ras (Holmes, 1950).
A distribuição ao acaso só se encontra nos meios homogêneos e
nas espécies que não têm nenhuma tendência à agregação. Os ovos
dos insetos distribuem-se em geral ao acaso, assim como as larvas
jovens deles saídas. Mas, quando as larvas são mais velhas, ten-
dem a se agrupar. As modificações na densidade das populações afe-
tam sua distribuição, que deixa de fazer-se ao acaso. Quando os
pulgões se multiplicam em um campo, sua distribuição torna-se do
tipo contagioso.
A distribuição contagiosa ou por grupos é de longe a mais di-
fundida. É devida a variações, freqüentemente pequenas mas impor-
tantes para o ser vivo, nas características do meio ou então é de
vida ao comportamento desses seres vivos. Os grupos podem ser dis-
tribuídos ao acaso ou grupados. Foi muito estudada a distribuição
das árvores na floresta. No caso de uma floresta mono-específica,
os diversos indivíduos apresentam-se geralmente em agregados, de
início; mas, com o tempo, chega-se a uma distribuição mais regu-
lar, acompanhada da diminuição da densidade, o que é conseqüência
da competição intra-específica. Esta estrutura espacial regular
caracteriza, por exemplo, as florestas de pinheiros silvestres ou
de faias. Nos povoamentos mistos as espécies dominadas são geral-
mente distribuídas em "buquês" (distribuição contagiosa) e as que
são dominantes tem uma distribuição regular.
A densidade
A densidade de uma população é o número de indivíduos presentes
por unidade de superfície ou de volume. É importante determina-la
porque a ação de uma espécie em um ecossistema depende em grande
parte de sua densidade.
0 crescimento das populações
0 crescimento de uma população é devido essencialmente a dois
fenômenos opostos, a natalidade e a mortalidade, aos quais é pos-
sível acrescentar a emigração e a imigração.
Seja N o efetivo de uma população. Chama-se coeficiente de
crescimento a relação
e coeficiente de crescimento por indiví
duo a relação . Assim, no caso de uma população de paramécios
cujo efetivo inicial é de 100 indivíduos e de 200 ao fim de uma
hora, o coeficiente é de 100/1 = 100 por hora e o coeficiente de
crescimento por indivíduo de 100/100x1 = 1 por indivíduo e por ho
ra.
Da mesma maneira define-se o coeficiente de natalidade e o co-
eficiente de mortalidade. Seja dN a produção de novos indivíduos
numa população. 0 coeficiente de natalidade d é b = dN/dt. Igual-
mente se dN é o número de indivíduos mortos, o coeficiente de mor
talidade d é d = dN/dt. A diferença r = b — d representa o coefi-
ciente de crescimento de uma população isolada, na qual não são
possíveis nem a emigração nem a imigração
Teoricamente, o desenvolvimento de uma população que dispõe de
recursos alimentares ilimitados e de espaço igualmente ilimitado
exprimi-se por uma curva exponencial, admitindo-se que o coefici-
ente de crescimento r seja constante.
É evidente que na natureza as coisas se passam de maneira dife
rente. Primeiramente, o coeficiente r não é geralmente constante,
a fecundidade e a mortalidade variam com as condições do meio e a
idade dos animais e, por fim, o alimento e o espaço não existem
nunca em quantidades ilimitadas.
0 matemático francês Verhulst, em 1345, lançou a hipótese de
que o crescimento das populações humanas é representado por uma
curva em forma de S, chamada curva logística. Esta curva evidencia
a exsitência de uma densidade máxima de população. Foi redes-
coberta por Pearl (1925), que a aplicou ao crescimento de todas as
populações animais que dispõem de recursos alimentícios em
quantidade fixa mas renovável (é evidente que no caso de recursos
alimentícios não renováveis a densidade da população, depois de
haver atingido o máximo, declinará e acabará por se anular).
O sex ratio
Outro fator importante da evolução das populações é a relação
dos sexos ou sex-ratio. Este último raramente é igual à unidade.
Na maioria das vezes um dos sexos está melhor representado que o
outro. Nos vertebrados encontra-se com frequência ligeira predomi-
163
nância dos machos no nascimento. Em uma população de ratos almis-
carados do Wisconsin há igualdade dos sexos no nascimento e três
semanas depois a relação dos machos para as fêmeas é de 14C para
100 (Beer e Traux, 1950). Sm contraposição, as numerosas popula-
ções de esquilos Sciurus carolinensis e S. niger têm predominân-
cia de fêmeas (Allen, 1943 em Smith, 1966).
As flutuações das populações em condições naturais
"Quando se contempla a natureza, é preciso apreender bem as
observações que acabamos de fazer. Convém não esquecer
nun-ca que cada ser organizado se esforça sempre por se
multi-
licar, que cada um deles sustenta uma luta durante um cer o
período de sua existência, que os jovens e os velhos es tão
inevitavelmente expostos à incessante destruição, quer
durante cada geração, quer em certos intervalos. Basta que
um destes freios se afrouxe, que a destruição cesse mesmo
que,seja por pouco tempo, e o número dos indivíduos de uma
espécie se elevará rapidamente a uma quantidade prodigiosa."
DARWIN, "A origem das espécies".
p
I- 0 poder de expansão da matéria viva
Esta noção foi claramente expressa por Darwin na "Origem das
espécies". A bactéria Bacillus coli divide-se de 20 em 20 minutos.
Neste ritmo, bastariam 36 horas para que este organismo unicelu-
lar recobrisse a superfície da Terra com uma camada contínua. Um
paramecio poderá produzir, em alguns dias, uma massa de
protoplas-ma igual a 10.000 vezes o volume da Terra. Entre os
vertebrados, um peixe como o bacalhau põe vários milhões de ovos.
Para um pássaro que só põe 5 a 6 ovos por ano a descendência de um
casal seria de 10 milhões de indivíduos em 15 anos. Darwin fez um
cálculo
análogo relativo ao elefante: "ao fim de 740 ou 750 anos haveria
19 milhões de elefantes vivos, todos descendentes de um mesmo ca-
sal".
0 aumento do número dos indivíduos, se nada houvesse para
freá-Io, seria feito em progressão geométrica. É esta potência de
expansão que corresponde à noção de potencial biótico, definida
por Chapmann (1930). É preciso, por conseguinte, opor à taxa de
cres-cimento potencial a taxa de crescimento real de uma
população. As-sim, na Camargue, entre os flamingos, cuja
população conta cerca de 8.000 indivíduos, nasceram 2.500
filhotes em 1957, ou seja, uma porcentagem de aumento de 3l%. Os
nascimentos foram nulos em 1958, tendo sido de 600 filhotes em
1959 (taxa de crescimento de 7,5fc). A taxa potencial é de 50% se
admitirmos que cada casal põe um ovo por ano. 0 exemplo de Pieris
brassicae mostra quais po cem ser os fatores que limitam o
crescimento das populações. Os fatores de mortalidade deste
Lepidóptero atuam da seguinte maneira:
doença das lagartas: 59,17%
parasitismo das lagartas por Apanteles glomeratus: 34,38%
lagartas comidas pelos pássaros: 4,25%
doença das crisálidas: 2,7%
parasitismo das crisálidas por Pteromalus puparum: 0,14%
número de imagos nascidos: O,32%
0 estudo preciso das causas de mortalidade é necessário quando
é imperioso predizer a evolução de uma população. Foram elabora-
das tabelas de sobrevivência, particularmente para um certo núme-
ro de insetos florestais destruidores. Morris (1957) apresentou a
seguinte tabela para Choristoneura fumiferana, que vive no abeto
no Canadá:
Tabela 1: Fatores de mortalidade
dx em
Fatores de mortalidade dx % de
1x
parasitas .................................
Ovos ................ 200outros .....................................................
total ......................................
Larvas Jovens . 170 dispersão ................................
parasitas
doenças
outros ......................................
total .......................................
parasitas
outros
total .........................................
Imagos ............. 2.5 diversos ......................... ........... 200,5
1
0
5
2
0
1
0
3
0
1
5
1
36
8
0
13.6
4
0
6
.8
2
0
10,2
3
0
30,6
9
0
0,35
Larvas adultas. 34
Crisálida ....... 3,4
1
0
Sex ratio 1:1, mortalidade 99% sobreviventes 1%
Neste quadro, "x" representa a idade do animal, indicada pelo
estágio de desenvolvimento, uma vez que se trata de um inseto cujo
crescimento faz-se por estágios; lx corresponde ao número de
indivíduos no começo de estágio (aqui por exemplo a postura é de
200 ovos); dx corresponde à mortalidade durante o intervalo de
tempo x. Este quadro mostra que, para uma postura de 2C0 ovos, há
apenas duas imagos sobreviventes; a mortalidade é portanto de 99%.
0 estágio mais vulnerável é o das larvas jovens, porque nelas a
mortalidade chega a 80%.
Supondo-se uma espécie que tenha um sex ratio 'igual a 1, é pre
ciso supor as seguintes mortalidades para se ter um efetivo esta-
cionário:
para 20 filhotes por fêmea: mortalidade de 90%;
para 200 filhotes por fêmea: mortalidade de 99%;
para 20C0 filhotes por fêmea: mortalidade de 99,9%.
II- As flutuações das populações naturais
As considerações precedentes mostram-nos que as populações na-
turais tem flutuações relativamente reduzidas, com referência às
que seriam teoricamente possíveis. Podemos valer-nos de alguns e-
166
0,55
1
5
0
,9
2
5
xemplos para tornar mais exatas a natureza e a extensão dessas
flutuações.
A. Flutuações irregulares que ocorrem em intervalos muito longos.
Estas flutuações aparecem de modo imprevisível. O sável ameri-
cano, Alosa sapidissima, e um bom exemplo. Em 1900, a pesca deste
peixe chegava perto de 2.000 toneladas por ano. A pesca intensiva,
a poluição das águas, a construção de barragens diminuíram de 98%
as capturas. Mais tarde a espécie voltou a ser abundante, no mo-
mento em que se esperava sua extinção total e, em 1944, foram pes-
cadas 2.500 toneladas. Hoje em dia esta espécie começa novamente
a se tornar rar (Walford, 1950 em Vibert e Lagler, 1961).
No Oceano Pacífico, e mais precisamente na região da Grande
Barreira do nordeste da Austrália, assim como nas ilhas Marianas e
no Tahiti assiste-se, desde 1966, à proliferação dá estrela-do-mar
Acanthaster planci. Esta espécie, até aqui pouco abundante (menos
de um indivíduo por metro quadrado) e passando quase despercebida,
atinge agora a densidade de um indivíduo por metro qua drado. Como
se alimenta dos pólipos que constituem a parte viva dos recifes
coralíneos, esta estrela-do-mar provoca grandes prejuízos.
Acredita-se que ela "limpou" quarenta quilômetros de reci-fes em
menos de 3 anos na ilha de Guam. Os esqueletos das Madrépo-ras
que continuam a existir são facilmente destruídos pela erosão, a
tal ponto que certos autores puderam predizer — talvez com um
pouco de pessimismo — a próxima eliminação de numerosos atóis. Os
peixes afastam-se dos recifes, o que reduz consideravelmente o
rendimento da pesca para as populações do Pacífico, que vivem es-
sencialmente co mar. Nenhuma das hipóteses levantadas para expli-
car a súbita proliferação da estrela-do-mar (eliminação de um de
seus predadores, o gastrópode Charonia tritonis, cuja concha é
procurada por causa do nácar, aumento do teor da água do mar em
DDT, tendo como conseqüência rupturas de equilíbrios, influência
da queda de substâncias radioativas) parece satisfatória.
167'
B. Flutuações regulares
1. Flutuações com período de vários anos; O caso mais conheci-
do é o de certos mamíferos e aves das regiões árticas. Os perío-
dos de abundância dos animais de peles são bem conhecidos graças
às estatísticas estabelecidas pela Companhia da Baía de Hudson,
que anotou regularmente cada ano o número de peles que lhe eram
levadas pelos caçadores. No caso da lebre variável e do lince as
ocilações têm um período de 9,6 anos. O ciclo de abundância da le-
bre precede, em geral, o do lince de 1 a 2 anos. Como o índice a-
limenta-se às expensas da lebre, suas flutuações acham-se eviden-
temente ligadas às de sua presa (Figura 87)
Figura 87 - Flutuações periódicas das popula-
ções da lebre variável Lepus americanus e do
lince Felis canadensis, de acordo com o núme-
ro de peles recebidas pela Companhia da Baía
de Hudson (MacLulich, 1937).
Para muitos autores a regularidade dos ciclos de 9,6 anos da
lebre variável e do lince teria origem cósmica e estaria mais ou
menos ligada a um ciclo de origem solar. Esta opinião parece re-
forçada pelo fato de que uma espécie marinha, o salmão atlântico
canadense (Salmo salar), apresenta os mesmos máximos periódicos
todos os 9 ou 10 anos. Outro exemplo de flutuações de causa
conhe-cida nos é dado pro Dorst (1956). Ao longo das costas do
Peru, ob
168
serva-se uma transgressão das águas quentes para o sul, conhecida
pelo nome de Niño. As águas quentes recobrem regularmente as á-
guas frias aproximadamente de 7 em 7 anos, em 1917-1918, 1925,
1932, 1939. A temperatura das águas aumenta imediatamente 5 graus
ou mais, a salinidade modifica-se, o plancto morre e carrega a á-
gua com os produtos de sua decomposição. Os peixes morrem por sua
vez e as aves marinhas, não tendo mais nada para comer, dispersam
se e emigram para longe. A mortalidade é importante por causa da
anemia dos animais subalimentados-, do parasitismo. Os cormorões
são muito mais atingidos que as aves palmípedes e os pelicanos,
porque pescam na superfície enquanto as outras aves pescam nas á-
guas mais profundas, não modificadas pelas águas quentes, que per-
manecem superficiais.
2. Flutuações sazonais - o plancto dos lagos apresenta varia-
ções sazonais muito importantes. Sm um lago do Ohio, nos Estados
Unidos, as flutuações do fitoplancto estão ligadas às do zooplan-
cto. Assim é que, em 1948, uma importante população de cladóceros
manteve durante todo o verão o fitoplancto em um nível muito bai-
xo, ao passo que, em 1949, este último teve um máximo estivai mui-
to acentuado, conseqüência da redução dos cladóceros (figura 90).
A abundância dos mosquitos estudados na Colômbia,, por Bates, apre-
senta flutuações estacionais de importância variável conforme as
espécies. Algunas têm efetivos aproximadamente estáveis, enquanto
outras variam de maneira significativa (figura 91).
Figura 90 - Variações sazonais da abundância do zoo -
plancto e do fitoplancto no lago reservatório de
Atwood (Chio, Estados Unidos). - 0 fitoplancto,
depois de um surto primaverial, em 1948",permanece
em seguida pouco abundante durante todo o verão.
Nesse tempo o zooplancto mostra um máximo em
junho e outro em agosto. Em 1949, um surto de
zooplancto, em maio, foi seguido pela permanên -
cia de uma forte densidade durante todo o verão.
0 fitoplamcto tem seu máximo no verão. 0 fito -
plancto tem seu máximo no verão, porém em 1948,
tinha sido dizimado por uma população de Ciadóce-
ros (segundo Wright. 1954).
Figura 91 - Flutuações estacionais da abundância
de duas espécies de mosquitos na Colômbia. 0
número de insetos indicado corresponde às cap-
turas efetuadas, cada noite, em uma armadilha
(segundo Bates, 1945).
C. Flutuações irregulares em torno de um valor médio, em interva-
los muito curtos.
Na Inglaterra, a garça cinzenta Ardea cinerea apresenta dimi-
nuição de efetivos, que aparecem, depois dos invernos rigorosos.
As populações reconstituem-se em seu nível normal um ou dois anos
mais tarde, de tal maneira que a espécie se conserva em torno de
um valor médio. Na Holanda, os melharucos Parus major e Parus
ater apresentara variações de abundância irregulares, em torno do
valor médio.
D. Aumento brutal das populações introduzidas em um novo meio.
Um "lugar vazio" colonizado por uma nova espécie permite que
esta tenha uma expansão muito rápida. Einarsen pode seguir as flu-
tuações numéricas do faisão introduzido na Ilha Protection, ao
largo do Estado de Washington, nos Estados Unidos. A cada ano foi
feito um recenseamento, na primavera e no outono, de 1937 a 1942.
Dois machos e cinco fêmeas soltos na ilha, en 1937, deram uma po-
pulação que teve, de início, um crescimento lento mas depois,
bruscamente, muito rápido. Cada ano, no outono, manifestava-se
una baixa, devida à mortalidade natural. Sen dúvida, teria sido
atingido um patamar se os faisões não tivessem totalmente
extermi-nados en 1942.
As Causas das Flutuações das Populações
0 crescimento de uma população
Tomaremos como exemplo o coleópetero Tribolium confusum. A cur-
va de crescimento experimental coincide com a curva logística de
Verhulst. A população atinge o máximo de 650 indivíduos quando a
quantidade de farinha é de 16 gramas, e de 1.750 indivíduos con
64 gramas de farinha. Evidencia-se assim a existência de uma carga
biótica máxima do meio, agindo o alimento como fator limitante. 0
crescimento da população é mais lento que o crescimento da quan-
tidade de alimento disponível, A taxa de crescimento diminui pou-
co a pouco quando a população aumenta, noutras palavras, esta ta-
xa é função decrescente da densidade (figura 93).
Figura 93 - Crescimento no laboratório de duas
populações de Tribollum confusum, uma em 54
gramas de farinha, outra em 16 gramas (Gause,
1934).
Crescimento de duas populações em competição pelo mesmo nicho eco-
lógico.
A primeira experiência destinada ao estudo da competição foi
devida a Gause. As espécies utilizadas foram dois protozoários ci-
liados: Paramecium caudatum e P. aurelia, cultivados em meio con-
finado, tamponado com pH fixo e alimentados com fornecimentos re-
gulares de bactérias Bacillus pyocyanus (no meio de cultura esco
lhido as bactérias não se multiplicam). Cada espécie de paramécio
cultivada isoladamente tem uma curva de crescimento sigmoide típi-
ca: a população mantem-se num nível que é aproximadamente função
da quantidade de alimento fornecida (figura 94). Quando as duas
espécies são reunidas na mesma cultura entram em competição e P.
aurelia acaba, ao fim de duas semanas, por eliminar completamente
P. caudatum. Nas condições da experiência somente a espécie que
tem a mais elevada taxa de crescimento intrínseco (no caso P. au-
relia) subsiste, Além disso, Gause mostrou a existência, em um
meio confinado, de uma sensibilidade de P. caudatum com relação
aos produtos do metabolismo, ao passo que P aurelia reage pouco.
Se a experiência é feita num meio renovado e não mais num meio
confinado, o resultado é inverso, isto é, assiste-se ao progresso.
vo desaparecimento de P. aurelia. Isto mostra bem a complexidade
dos processos em ação nos fenômenos de interações entre espécies.
Figura 94 - Competão entre duas escies vizinhas,
que têm os mesmos nichos ecológicos. Em culturas
separadas Paramecium caudatum P. aurelia têm
curvas de crescimento sigrmoi des normais; em
cultura mista, p. caudatum é eliminado (Gause,
1934).
Se as espécies reunidas são Paramecium caudatum e P. bursaria
concentra-se no fundo e nas paredes do tubo de cultura, ao passo
que P. caudatum permanece na parte livre. Estes dois nichos ecoló-
gicos são suficientemente diferentes para que seja evitada a com-
petição, embora a fonte de alimento seja a mesma para as duas es-
pécies.
Outros autores obtiveram com metazoários resultados semelhan-
tes aos de Gause. Assim, Crombie pôs
:
em competição, em tua meio
renovado, dois coleópteros que vivem na farinha, Tribolium confu-
sum e Oryzaephilus surinamensis; a primeira espécie elimina a se-
gunda ao fim de alguns meses em emiò homogêneo. Be acrescentarmos
finos tubos de vidro ao meio de cultura, a fim de diversificar os
nichos ecológicos, as duas espécies coabitam.
Crescimento de duas populações que contêm uma espécie predadora e
uma espécie presa.
Nas experiências de Gause a presa é o paramécio Paramecium cau-
datua e o predador é um outro ciliado, Didinium nasutum. Foram
realizados três tipos de experiências. No primeiro caso o tubo de
cultura contém somente o predador e sua presa. "este meio muito
simples e limitado no espaço, os Didinium destroem rapidamente a
totalidade dos paramécios e acabam morrendo de fome. No segundo
caso o tubo de cultura contém, a mais, um sedimento constituído
por aveia. Os Didinium multiplicam-se a princípio ligeiramente e
a população de paramécios é reduzida. Depois, estes últimos refu-
giam-se no sedimento de aveia, onde se multiplicam ao abrigo de
seu predador, que acaba por desaparecer. A terceira expêriencia e
mais complexa e mais de acordo com as condições naturais. Reali-
zam-se imigrações de Didinium em intervalos regulares num meio que
contém paramécios e o sedimento de aveia. Observam-se então
flutuações regulares das duas espécies. Estas flutuações só ocor-
rem quando o poder de destruição do predador é limitado ou quando
a imigração regular das espécies pode produzir-se (figura 95).
Figura 95 - Crescimento em cultura mista de Paramecium
caudatum e de seu predador Didinium nasutum.. Em cima, em
meio homogêneo sem imigração. No meio, em meio hete-
rògeneo sem imigração. Em baixo, em um meio homogêneo
com imigrações periódicas.(Gause, 1934).
As Pesquisas na Natureza
As pesquisas feitas no laboratório em modelos simples e as te-
orias matemáticas delas extraídas são interessantes por si mes-
mas, mas teu um valor estreitamente limitado, porque as condições
do meio sã; muito diferentes na natureza e no laboratório. A
simplificação realizada neste último elimina muitos fatores,
cuja influência pode ser preponderante nos ambientes naturais.
As teorias que tentam explicar as flutuações das populações
nos ambientes naturais podem classificar-se em três grupos:
1. Para alguns autores (Bodenheimer, 1928; Uvarov, 1931) os
fatores bióticos climáticos desempenham papel preponderante. Os
fatores bióticos (parasitas, inimigos, doenças, etc.) só têm pa
pel secundário. Este ponto de vista é retomado de modo quase i-
gual por Andrewartha e Birch (1954) e por Thompson (1955).
2. Para outros autores os únicos fatores que podem controlar
as populações são os qualificados como dependentes da densidade,
isto é, aqueles cuja ação se faz sentir com uma intensidade que
e função da densidade da população. As teorias que entram nesta
categoria encontram apoio nos trabalhos de Lotka e de Volterra,
sendo devidas a Nicholson, Smith, Salomon e outros.
3. Uma posição intermediária é a de Milne (1957), que admite
a ação de fatores independentes da densidade (fatores climáticos
e físico-químicos, alguns fatores bióticos), de fatores imperfei-
tamente dependentes da densidade (predação, parasitismo, competi-
ção interespecífica) e de um único fator perfeitamente dependen-
te da densidade, a competição intra-específica.
A noção de fatores dependentes e de fatores independentes da
densidade foi apresentada pela primeira vez por Howard e Fisk
(1911
), que distinguiram entre as causas de mortalidade os fatores
catastróficos, cuja ação é independente da densidade, dos fa-
tores facultativos, os quais têm uma ação que aumenta com 1 den-
sidade. Thompson foi o criador dos termos dependente e indepen-
dente da densidade.
Para expor os principais resultados obtidos nas pesquisas
sobre a? flutuações das populações, tomaremos por base para a
discussão as noções de fatores dependentes e fatores independen-
tes da densidade, examinando-as a medida que surgir a necessida-
de
Os fatores dependentes da densidade
A existência destes fatores parece bem estabelecida, ao me-
nos em certos casos, sendo difícil de negar. Estes fatores po-
dem agir sobre a taxa de crescimento de uma população de três
maneiras diferentes:
1. A taxa de crescimento pode diminuir quando a densidade au-
menta. 3ste caso parece muito geral e permite explicar a relati-
va estabilidade das populações animais. A diminuição da natali-
dade quando a densidade da população aumenta foi observada. tanto
no laboratório quanto na natureza. Na drosófila, a baixa da fe-
cundidade é consequência indireta da densidade, porque as moscas
entram em competição pelo alimento e pelos locais de postura.
Walker (1967) estudou o himenóptero parasita Nasonia vitripennis e
seu hospedeiro, o díptero Phaenicia sericata. Quando a densidade
do parasita torna-se excessiva uma proporção mais elevada de
seus descendentes e destruída. Os fatores dependentes da den-
sida de pertencem, neste caso, a duas categorias: uns atuam so-
bre o comportamento, outros têm ação patológica.As modificações
do comportamento são, a principio, a. retenção dos ovos pe-ia
fêmea, quando o número de hospedeiros e insuficiente; depois a
redução do numero de fêmeas em favor dos machos, como conse-
cuencia da falta de fecundação dos ovos. Neste himenóptero há,
partenogênese arrenótoca e o sexo esta a disposição da fêmea,
que pode fecundar ou não seus ovos COT. a provisão de espermato-
zoides que tem em sua espermoteca. Um ovo não defundado dá um
macho, um ovo fecundado, uma fêmea. A ação patológica consiste
sobretudo no aumento da mortalidade larvária devida à morte dos
hospedeiros nus albergam mais de uma larva. 3stes fatos, descri-
tos, por Walker, encontram-se em muitos himenópteros parasitas.
Le Gay Brereton (1962) estudou populações de Tribolium, penei-
rando periodicamente a farinha para retirar os ovos. Foi assim e
vitando o canibalismo, que era considerado como a causa da dimi-
nuição da fecundidade. Quanto maior a densidade da população me-
nor a porcentagem de ovos que se rompem. Estas pesquisas lembram
as de Christian (1961), o qual mostrou que, quando o número de
ratos aumenta excessivamente nas gaiolas de criação onde o ali-
mento é dado à vontade, os filhotes morrem nas vias genitais da
mãe. A reprodução normal só recomeçará quando o número de ratos
tiver voltado a um valor que depende do espaço e não da quantida-
de de alimento. Strecker e Emlen (1953) descreveram, igualmente
no rato, um fenômeno de involução dos órgãos genitais da fêmea
em indivíduos que vivem nas gaiolas superpovoadas.
A densidade da população pode modificar a idade da puberdade
nos mamíferos. 0 arganaz Clethrionomys rutilus, da taiga do norte
da U.R.S.S., mostra diferenças significativas a este respeito 0
número de indivíduos que atingem a maturidade sexual no ano de
seu nascimento diminui quando a densidade da espécie no as? de
maio é elevada. Patos semelhantes foram encontrados em outros ma-
mííeros diferentes dos roedores, como o elefante da África que
pode alcançar a idade da puberdade aos 11 ou 12 anos, ou então,
aos 19 anos conforme suas populações sejam mais ou menos densas.
Além disso, o nascimento de filhotes e mais frequente (um cada
quatro anos) no primeiro caso que no segundo (um cada sete anos) A
taxa de crescimento anual pode assim pas?ar de 6 ou 6,5%, para uma
densidade de 4,5 elefantes por milha quadrada, a 8 ou 9%, pa-ra
uma densidade de 2,2 por milha quadrada.
2. Por vezes a taxa de crescimento permanece aproximadamente
constante até a população atingir uma grande densidade, depois
diminui bruscamente. Este fato encontra-se nas espécies que
apre-
sentam violentas flutuações, como os lemmings ou ceros lepidópte-
ros destruidores das folhas de arvores florestais.
3. Finalmente, a taxa de crescimento pode apresentar um máxi-mo
para valore? médios da densidade. Assim, em algumas aves, como as
gaivotas, o número de filhotes por casal aumenta com a densidade
das aves na colônia, decrescendo logo depois de ter passado por
um máximo.
A influência da densidade sobre a taxa de crescimento da popu-
lação pode ter um efeito de retardamento. O cervídeo Odocoileus
hemionus, do platô de Kaibab no Arizona, aumentou rapidamente a-
pós a proibição da caça e a eliminação de seus predadores. Quando
a capacidade- limite do meio foi alcançada os animais passaram a
morrer de fome. A queda brutal da população não foi seguida
pelo aumento dos efetivos. 3stes, ao fim de 15 anos, só chegavam,
no máximo a 10% do que eram . Este efeito retardado é devido à
interação entre ODOCOILEUS e
a vegetação, porque esta não voltou
a brotar imediatamente depois da redução dos efetivos do Cerví-
deos.
Os principais fatores dependentes da densidade são os seguin-
tes.
A. A competição-Em algumas espécies os adultos alimentam-se,
em parte, às expensas dos filhotes e com isso limitam suas pró-
prias populações. É o caso das percas (Perca fluviatilis) de di-
versos lagos da Sibéria ocidental, onde 80% do alimento dos indi-
víduos de grande tamanho e constituído pelos jovens da espécie.
Estas adaptações permitem a espécie sobreviver a custa do plan-
cto, quando não na outras espécies de Deixes, porque só os filho-
tes podem comer o plancto (Nikolsky, 1963).
Em alguns casos a competição pode chegar a tal amplitude que o
número de indivíduos desce abaixo do que seria autorizado pela
capacidade biótica do meio. É o que acontece com Lucilia cuprina,
mosca que vive nos cadáveres. A mortalidade é muito grande nas
larvas, entre as quais só poucos indivíduos sobrevivem. As flu—
tuações deste tipo de populações foram realizadas experimental-
mente por Nicholson.
A competição intra-específica pode produzir efeitos fisioló-
gicos conhecidos pelo nome de doença de choque, principalmente
nos roedores. Quando a densidade é demasiado grande a doença a-
carreta a baixa da fecundidade e aumento da mortalidade, o que
faz as populações retornarem ao nível normal. Quando as condi-
ções de clima, alimento e terreno são favoráveis, os arganazes
multiplicam-se rapidamente e ocupam aproximadamente todo o ter-,
reno disponível, com uma forte densidade, porque o domínio vital
é pequeno. Os contatos entre os indivíduos são então freqüentes
e determinam, por causa da intolerância dos animais com relação
a seus congêneres, batalhas repetidas e um mau estado
fisiológico do sujeito (estado de choque), caracterizado, entre
outras coisas, por perturbações supra-renais, hipofisárias e hi-
poglicemia. Alem disso, a superpopulação favorece a infestação
de parasitas nos animai3, que se tornam mais sensíveis por causa
de seu mau estado. Assim sendo, a população vai decrescer e o
equilíbrio será restabelecido quando a densidade tornar-se sufi-
cientemente fraca para que cada casal possa instalar-se de novo
em seu território, sem demasiado contato com os vizinhos.
B. A predação e o parasitismo - As interações predador-presa
dependem muitas vezes da densidade. 0 papel da predação como fa-
tor limitante é evidente. Na Bonasa umbellus (ave do grupo dos
Galináceos) calcula-se que 39% dos ovos e 63% dos filhotes são
perdidos, a maioria por causa dos predadores. 0 papel da preda-ção
e igualmente evidente entre os mamíferos . Os rebanhos de Ovis
dalli são controlados pelos lobos no Alasca. Entre os inse-tos
muitas espécies "nocivas" são controladas por predadores. Na
Córsega, as lagartas da processionária do carvalho foram
bruscamente destruídas pelo carábico Calosoma sycophanta.
Quando as presas se tornam abundantes, a fecundidade dos pre-
didore? aumenta, dando em resultado flutuações de populações,
observadas tanto no laboratório quanto na natureza. Se a influên-
cia da presa sobre o predador é evidente, a do predador sobre a
presa nem sempre é visível. Co. efeito, o predador captura mais
freqüentemente os indivíduos doentes e melhora assim a qualidade
média dos sobreviventes. Além disso, a ação sobre a presa só se
faz sentir quando as duas espécies têm aproximadamente o mesmo po
tencial biótico, No caso contrario a pequena taxa de reprodução
do predador não lhe permite, limitar eficazmente a pululação de
sua presa. Assim, os pássaros insectívoros não podem por si sós
entravar o desenvolvimento dos insetos. Noutras palavras, quando,
numa coação de predação o predador tem um potencial biótico muito
inferior ao da presa, sua ação tende a ser constante, independen-
temente da densidade.
Holling (1961), estudando os efeitos da predação sobre os inse-
tos, concluiu, que o número de presas mortas aumenta geralmente
com a densidade, pelo menos até certo nível. Depois, os predadores
parecem "saturados" e sua ação torna-se praticamente independente
da densidade da presa. As vezes, o grupamento das presas as-segura
a estas eficaz proteção contra seus inimigos, como aconte-•ce na
larva do tentredo Neodiprion sertifer. Este animal vive em grupos
mais ou menos densos. O ataque pelos pássaros e pequenos mamíferos
é freado porque as larvas exsudam pela boca substâncias resinosas
que as impedem de serem atacadas, fazendo fugir os inimigos.
Quando as larvas isoladas são atacadas não produzem substâncias
resinosas em quantidade suficiente para afugentar os inimigos.
Entre as aves, muitas espécies são mais abundantes quando a
quantidade de alimento é mais considerável. Na Holanda, os melha-
rucos são mais numerosos nas florestas de arvores copadas que nas
florestas de coníferas, porque estas lhes oferecem menos recursos
alimentícios (Tinbergen, 1946). Conforme Lack (194.;) observou,
duas espécies vizinhas que coabitam têm geralmente regimes alimen-
182
tares diferentes. Se o alimento não fosse um fator limitante não
se compreenderia a razão dessa diferenciação.
Nos 'peixes, Nikolsky (1953) resumiu os efeitos dos aumento ou
da diminuição da quantidade de alimento. 0 aumento da quantidade
de alimento provoca a aceleração da taxa de crescimento, o apare-
cimento mais rápido da maturidade sexual e do período de reprodu-
ção, aumento da fecundidade, redução do canibalismo com relação
aos filhotes, aumento do número de ovos férteis postos pelas fê-
meas, redução da variação do tamanho entre os indivíduos da mesma
idade e aumento do teor de gorduras do organismo. A redução da
quantidade de alimento disponível acarreta o retardamento do cres-
cimento, o aparecimento mais tardio da maturidade sexual, a redu-
ção da fecundidade, o aumento do canibalismo e da mortalidade dos
filhotes, o aumento da variabilidade do tamanho nos indivíduos de
mesma idade e a diminuição da quantidade de gorduras de reserva.
As doenças constituem igualmente um fator dependente da densi-
dade. No caso da mixomatoxe, doença do coelho devida a um vírus, a
propagação fez-se muito mais rapidamente nas populações densas,
onde quase todos os animais morreram, que nas populações disper-
sas. Com efeito, a doença e transmitida de um animal a outro por
insetos vetores, como os mosquitos e as pulgas, que têm pequeno
raio de ação. A doença não pode, portanto, estender-se a não ser
que os coelhos sãos entrem em contato com os coelhos contaminados.
Segundo Lack, as doenças teriam papel desprezível na regulação
da densidade das populações de aves.
Os fatores independentes da densidade
Muitos autores recusam-se a atribuir aos fatores independentes
da densidade um papel na regulação das populações. Esta posição
parece-nos exagerada porque não leva em conta os resultados obti-
dos nos estudos auto-ecológicos, resultados que mostram a ação da
temperatura, da iluminação, etc.., sobre a duração da vida, a fe-
cundidade e muitas outras características dos animais. O que se
pode dizer é que a ação dos fatores climáticos é importante e di-
reta sobre os pecilotpermicos, sendo freqüentemente indireta e me
nos importante sobre os homotérmicos, que dispõem de mecanismos
fisiológicos aperfeiçoados, que os tornam relativamente indepen-"
dentes do meio exterior.
A ação das baixas temperaturas sobre as populações animais já
foi descrita muitas vezes. Assim, a onda de. frio de fevereiro de
1956, na Camargue, afetou as populações de muitas espécies.
Os fatores climáticos podem ter uma ação retardada e não ime-
diata. Nas florestas de coníferas do norte da Europa, um verão
fa-vorável permite abundante produção de pinhas e de sementes no
ano seguinte. Os quebra-nozes, que dispõem de abundante alimento,
põem então 4 ovos, em média, em lugar de três, na primavera se-
guinte. Há, portanto, um intervalo de 2 anos entre o aparecimento
do fator climático favorável e a multiplicação da ave.
A ação das ondas de frio sobre a densidade das aves foi
estuda-da quantitativamente por Ferry e Frochot, no caso dos
melharucos das florestas da Costa de Ouro (figura 101).
Figura 101 - Ação do frio sobre a densidade dos
melharucos em uma
/
floresta da Costa do Ouro.
Os índices quilométricos abundância (IKA) são
proporcionais à densidade absoluta (Ferry e
Frochot, 1958)
Os pecilotérmicos são muito ciais sensíveis as variações climá-
ticas. Cada ano no outono, a queda das populações d insetos é
muito mais considerável que a das aves e dos mamíferos.
Segundo Andrewartha e Birch, 78% das variações anuais das popu-
lações podem correlacionar-se com as variações dos fatores meteo-
rológicos, o que deixa poucas probabilidades para outras causas de
variações, dados os erros de amostragem. Para estes autores de ve-
se rejeitar o dogma dos fatores dependentes da densidade, porque
ignora a existência das variações da taxa de reprodução no tempo
(influência da3 variações sazonais e das outras modificações do
meio), assim como a heterogeneidade do ambiente.
0 número de lugares disponíveis é outro exemplo de fator inde-
pendente da densidade. Em uma floresta, o número de buracos nas
árvores convenientes para a nidificação dos pássaros não depende
da abundância destes últimos, sendo esse número que regulará a
densidade dos pássaros. A mortalidade devida à ação dos predadores
é mais elevada nos ratos almiscarados que não conseguiram es-
tabelecer-se em um território, do que entre os que possuem um do-
mínio (Errington, 1955). A mortalidade é igualmente mais elevada
no lagópede Lagopus scoticus que não encontrou habitat conveniente
(Jenkinse col., 1963).
Conclusão
Que é possível concluir desta discussão relativa dos fatores
que regulam a densidade das populações? É possível distinguir — em
função de suas reações aos diversos fatores ecológicos — de um
lado, os hometérmicos (aves e mamíferos) e, de outro lado, os
pecilotérmicos (invertebrados e principalmente os insetos, que fo
ram mais estudados, enquanto que, entre os vertebrados, os mais
estudados foram os peixes). Os primeiros têm em geral pequena fe-
cundidade, grande longevidade, sendo lentas a renovação de seus e-
fetivos. A aquisição da homotermia torna-os, além disso, relativa-
mente independentes das condições climáticas, em todo caso muito
mais que os pecilotérmicos. Os segundos têm fecundidade elevada,
longevidade mais curta e na maioria dos casos grande número de ge-
rações anuais.
Nos homotérmicos são sobretudo os fatores bióticos dependentes
da densidade que, em geral, influenciam a regulação das popula-
ções. A competição intra-específica será muitas vezes um fator es-
sencial, como acontece entre as aves que disputam os locais conve-
nientes para a nidificação. A aquisição, por parte de muitos homo-
térmicos, de um comportamento social complexo atua como meio limi-
tadoí" do volume da população, eliminando os indivíduos excedentes.
As interações predador-presa podem também ser interpretadas segun-
do este esquema. Somente os predadores que têm um potencial bióti-
co igual ao de suas presas podem manter-se em nível constante e
muito baixo. Compreende-se assim por que as aves insetívoras são
impotentes por si só para reduzir as pululações de insetos fitófa-
gos.
Os pecilotérmicos são muito mais dependentes dos fatores climá-
ticos. Quando o clima é favorável, seu rápido desenvolvimento per
mite-lhes pulular em pouco tempo. No final do período favorável, a
ação combinada do clima, dos predadores e das doenças reduz ra-
pidamente suas populações.
É evidente que a separação entre os fatores dependentes e fato
res independentes, da densidade não tem valor absoluto. Uma obser-
vação de Benassy (1357) mostra bem a ligação entre estes dois ti-
pos de fatores. A taxa de parasitismo do himenóptero Prospaltella
berlesei sobre a cochonilha Pseudaulacpsis pentagona depende da
posição da cochonilha nos ramos da árvore, sendo mais considerá-
vel no lado sombreado que no lado ensoralado. Para Solomon (1957),
nas regiões de clima relativamente estável e favorável à
multipli-cação dos organismos, os fatores bióticos desempenham o
papel es-
sencial, Nas regiões de clima menos favorável, com pronunciado pe-
ríodo invernal, os fatores climáticos têm papel determinante. Es-
tas constatações mostram a exatidão da concepção de Bodenheimer
(1955), para o qual nenhum dos fatores, tais como o alimento, a
predação, a competição , é independente' do clima. "Estudar o
equi-líbrio dinâmico de uma espécie sem levar em consideração seu
meio climático é um processo absolutamente anticientífico".
Finalmente, a complexidade do ecossistema tem influência.
Quan-to mais complexos forem os ecossistemas, mais elevado e o
número de espécies que interferem e mais estáveis são as
populações. Nos ecossistemas simples, onde há poucas espécies
presentes e onde as cadeias alimentares são curtas, aparecem
flutuações importantes e rápidas. Toda modificação quantitativa
em um dos níveis tróficos repercutirá violentamente nos níveis
superiores, porque as espécies não tem possibilidade de escolher
outras fontes alimentares. Na trunda, ecossistema simples, de
curtas cadeias alimentares encontram-se flutuações de populações
particularmente espetaculares
Noutras palavras, quanto mais complexos os ecossistemas maior ten
dência apresentam à estabilidade, isto é, a uma independência cada
vez mais acentuada com relação às perturbações de origem exter-
na. Esta tendência à estabilidade é chamada homeostasia. Pode ser
comparada à formação progressiva entre os animais mais evoluídos
de um meio interior, cuja composição se mantém constante apesar
das variações do meio exterior. (Extraído de Ecologia Geral, de
Roger Dajoz.)
BIBLIOGRAFIA
Bibliografia Comentada
ALVE3, Rubem. Histórias de Quem Gosta de Ensinar. 3ão Paulo,
Cortez Editora e Editora Autores Associados, 1984.
Através de parábolas, Rubem Alves vai expondo e analisando
pontos nevrálgicos da Educação, tais como estrutura do ensino,
função da escola, relação ensino-aprendizagem. Numa linguagem
simples, nos convida a refletir sobre estes pontos e sobre o
nosso papel de educadores. ASIMOV, Isaac. 5reve História de.
la Biologia. Buenos Aires,
Editorial Universitária de Buenos Aires, 1975.
Ao longo de suas 250 páginas, a construção do conhecimento
biológico é apresentada de forma contextualizada, evidenciando-
se os fatores que interferiram nas investigações dos fenômenos,
na elaboração de teorias e na alteração das mesmas. 0 aspecto
dinâmico da ciência da Biologia fica, assim, retratado.
CHISHOLM, Anne. Ecologia: uma estratégia para a sobrevivência.
São Paulo, Zahar Editores, 1974.
Anne Chisholm apresenta diversos problemas relacionados ao
impacto ambiental, analisados por ecologistas que, além da aná-
lise, apontam possíveis caminhos para a superação destes proble-
mas. DAJOZ, Roger. Ecologia geral. São Paulo, Editora Vozes
Ltda. e
Editora da Universidade de São Paulo, 1972.
Embora seja un livro de difícil leitura, é importante para o
estudo da estrutura e dinâmica da natureza, pois além de abran-
ger todos os aspectos relacionados a esse tema, apresenta as in
terpretações de diferentes estudiosos sobre as relações
existen-tes num ecossistema.
D0RST, Jean. Antes que a Natureza Morra. São Paulo. Editora Edgar
Blücher Ltda e Editora da Universidade de 3ão Paulo,
1973.
Numa abordagem multidisciplinar, Jean Dorst analisa e chama à reflexão sobre
as ações que ferem o equilíbrio da natureza,
189
gerando o impacto ambiental. Em sua analise evidencia-se a base
científica e a dimensão político-sócio-econômica. MC ALESTER,
A, Lee. História Geológica da Vida. São Paulo, editora Edgar
Blucher Ltda, 1971.
Mc Alester trata do surgimento e da evolução da vida, consi-
derando-a como produto e causa de alterações no ambiente. Por
ser esta sua concepção, elementos de diversas áreas da ciência,
tais como Física, Química, Astronomia e Geologia, além da 3iolo
gia, constituem ferramentas imprescindíveis na elucidação do fe-
nômeno en questão.
ODUM, Eugene P. Ecologia. São Paulo, Livraria Pioneira Editora,
1977.
Numa linguagem acessível, Odum expõe os princípios básicos
da Ecologia, focalizando em particular a dinâmica dos ecossiste-
mas, oferecendo-nos uma visão da perfeita integração dos proces-
sos que ocorrem no ambiente.
PHILLIPSON, John. Ecologia -nergética. São Paulo, Companhia Edi-
tora Nacional e Editora da Universidade de São Paulo, 1969. 0
livro apresenta uma abordagem dos ecossistemas, de seus e-
lementos constituintes, referenciada no fluxo energético, nas
transformações da energia que transita pela porção biótica dos
ecossistemas. REVISTA CIÊNCIA E CULTURA. São Paulo, 33PC.
Revista de edição mensal, apresenta artigos de divulgação
cientifica de diversas áreas do conhecimento. Artigos sobre Edu-
cação e Ciência, por vezes, compõem o corpo da revista. REVISTA
CIÊNCIA HOJE. São Paulo, SBPC.
Revista de edição mensal: apresenta artigos de divulgação
cientifica, colaborando para a atualização do conhecimento.
REVISTA DE ENSINO DE CIÊNCIAS. São Paulo, FUNBEC.
Revista de edição trimestral, dirigida a professores de Cien
cias e Matemática. Os artigos publicados dizem respeito à atua-
lização de conhecimento? e à sugestão da atividades a serem de-
190
senvolvidas em sala de aula, nas áreas de Biologia, Química,
Fí-
sica e Matemática.
VÁRIOS AUTORES. Scientific American. A Biosfera, São Paulo, Edi-
tora Polígono e Editora da Universidade de São Paulo, 1974.
Textos sobre a dinâmica da Biosfera: Ciclos da matéria e Flu-
xo de Energia. O livro apresenta, ao final da análise da dinâmi-ca
da biosfera, textos relativos à "Produção Humana de Energia
como um Processo na Biosfera" e "Produção Humana de -Materiais
como um Processo na Biosfera". VYG0T3XI, L. 3.. A Formarão
Social da Mente. São Paulo, Livraria
Martins Pontes editora Ltda., .1954.
Neste livro Vygotsky apresenta sua concepção sobre o desen-
volvimento ontogenético das funções superiores: a memória e o
pensamento. Durante o desenvolvimento do livro são apresentadas
as situações de investigação, procedimento e método, que permi-
tem a Vygotsky a interpretação do processo de desenvolvimento
dessas funções. 0 livro discute a relação desenvolvimento-apren
dizagem, evidenciando o papel da aprendizagem no desenvovimento
da memória e do pensamento.
Bibliografia Geral
ARATANGY, Lidia Rosemberg: TOLEDO FILHO, Silvio de Almeida; RO
TA PESSOA, Oswaldo. Biologia Aplicada à Educação. Projetos e Te
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