No que se refere às concepções de desenvolvimento e aprendizagem, o
construtivismo piagetiano é o mais freqüentemente citado. Constatam-se também outras
influências, sobretudo do sócio-interacionismo.
Os fundamentos teóricos acima descritos muitas vezes ocupam boa parte dos
documentos. Se essa postura mostra uma busca de fundamentação para explicitar, jus-
tificar ou informar a prática, ela mostra, também, as formas de apropriação da teoria pelos
autores das propostas.
Assim, há documentos que apresentam fundamentos consistentes e coerentes entre
si, bem como com seus objetivos, diretrizes e encaminhamentos metodológicos. Além
disso, esses documentos buscam, na teoria, formas de compreender e explicitar a
diversidade das práticas existentes. Ressalte-se que, em algumas das propostas analisadas,
isso aparece de forma bastante simples e clara. Por outro lado, em alguns documentos,
embora os fundamentos teóricos sejam explicitados de forma aprofundada e consistente,
não guardam coerência com o restante da proposta, dicotomizando-se, desse modo, teoria
e orientações para a prática. Muitos deles, entretanto, na tentativa de embasar teoricamente
o trabalho pedagógico, apropriam-se de diversos e, por vezes, antagônicos discursos
teóricos: misturam e superpõem autores, sem a diferenciação de suas concepções
epistemológicas, tratam superficialmente e até banalizam produções teóricas, copiam
fragmentos de textos, sem a devida citação de suas fontes. Como exemplo, constatou-se a
utilização inadequada de termos como: "construtivismo", "sócio-interacionismo",
"educação democrática e transformadora", "criança cidadã", "professor/educador
mediador", entre outros. Corre-se o risco, assim, de que essa abordagem superficial venha
a fomentar práticas pedagógicas sem consistência.
Nas visitas para avaliação da implementação, pôde-se confrontar o discurso
textual, presente nas propostas, com o discurso dos técnicos dos diversos órgãos. Cons-
tatou-se, em alguns casos, uma grande coerência entre esses discursos: as falas dos
diferentes profissionais estão impregnadas dos pressupostos filosóficos da proposta. Em
outros, pôde-se verificar que alguns dos referenciais teóricos apontados no documento não
foram ainda incorporados pela equipe responsável pela implementação da proposta,
evidenciando-se a utilização, no papel, de um discurso acadêmico, sem a sua real
compreensão.
No que se refere à prática pedagógica desenvolvida nas instituições, não se pôde
perceber em que medida a maior ou menor apropriação dos fundamentos teóricos pelas
equipes técnicas tem reflexos no cotidiano, uma vez que esse é também influenciado por
outros fatores. Assim, quando os profissionais de educação infantil conhecem a proposta
(já que muitos sequer tiveram acesso a ela), incorporam-na de diferentes maneiras. Há
aqueles que desenvolvem uma prática coerente com os pressupostos norteadores da
proposta, embora utilizem-na enquanto um receituário. A maioria, entretanto, na tentativa
de se apropriar dos fundamentos preconizados, distorce-os ou se utiliza de alguns
fragmentos, misturando-os às suas próprias concepções. Outros, ainda, na perspectiva de
resistirem ao que lhes foi imposto, têm sua prática norteada por referenciais diversos
daqueles da proposta. Predomina, assim, uma prática pedagógica