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PANORAMA SOCIOLÓGICO
DO BRASIL
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PUBLICAÇÕES
DO
CENTRO BRASILEIRO DE PESQUISAS EDUCACIONAIS
SÉRIE
III LIVROS-FONTE VOL. II
BRASIL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS
CENTRO BRASILEIRO DE PESQUISAS EDUCACIONAIS
Rua Voluntários da Pátria n.° 107
Rio de Janeiro, D. F. 1 9 5 8
EXEMPLAR
2089
A. CARNEIRO LEÃO
Da Academia Brasileira - Do instituto de França
I>a Academia das Ciências de Lisboa Da Real
Academia Espanhola Do Instituto Internacional de
Sociologia Da Associação Latino-Americana de
Sociologia Doutor "Honoria Causa" em Filosofia e
Letras pela Universidade de Paris,
PANORAMA SOCIOLÓGICO
DO BRASIL
(CURSO REALIZADO EM FRANCÊS, NA SORBONNE, NO
ANO LETIVO DE 1950-1951 E REESCRITO EM PORTUGUÊS)
Carta-Prefácio da edição francesa de
GEORGE DAVY
INEP .MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA
DO CURRICULUM VITE DO AUTOR
Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito
de Recife e Doutor em Filosofia.
Diretor (Decano) da Faculdade Nacional de Filosofia da Universi-
dade do Brasil desde 1945.
Da Academia Brasileira de Letras.
Do Instituto de França (Sucessor de John Dewey).
Da Academia das Ciências Morais e Políticas de França.
Da Real Academia Espanhola.
Da Academia das Ciências de Lisboa.
Do Instituto Internacional de Sociologia.
Do Instituto Americano de Direito Internacional.
Da Associação Latino-Americana de Sociologia.
Da Sociedade de Geografia de Lisboa.
Do Instituto Arqueológico Geográfico e Histórico de Pernambuco.
Da Sociedade Estímulo de Belas Artes de Buenos Aires.
Doutor Honoris Causa em Filosofia e Letras pela Universidade de
Paris.
Doutor Honoris Causa pela Universidade -autónoma do México.
Membro Honoris Causa das Universidades. Argentinas de Buenos
Aires, La Plata, Cordoba, Tucuman, Cuyo, Litoral.
Professor visitante nas Universidades de Vanderbilt, Virgínia, Lui-
siânia, Pensilvânia, em 1948.
Conferencista nas Universidades de Colômbia, Tulane (Estados
Unidos); de Montevideu, Uruguai; de Buenos Aires, de La Plata,e de
Cuyo na Argentina, entre 1941 e 1949.
Professor visitante da Universidade de Paris (Sorbonne) em 1950.
Conferencista nas Universidades de Bordeaux, Toulouse e Montpel-
lier, na França, em 1954.
Presidente do 2.° Congresso Latino-Americano de Sociologia, reali-
zado no Rio de Janeiro, em 1953.
Membro Honoris Causa da Sociedade Boliviana de Sociologia.
Membro Honoris Causa do Instituto Argentino de Sociologia.
Presidente Honoris Causa da Conferência de Educação em Quito
.(1951).
Vice-Presidente de honra do 4.° Congresso latino-americano de
Sociologia, reunido no Chile, em julho de 1957.
Presidente' dos Institutos de Cultura Brasil-Perú e Brasil-Uruguai.
Vice-Presidente do Instituto de Cultura Brasil-Chile.
Vice-Presidente do Instituto de Cultura Brasil-Grécia.
Vice-Presidente do Instituto de Cultura Brasil-Guatemala.
Da Society for the Advancement of Education (Washington).
Da National Education Association de Washington.
Da Academy of Politicai Sciences (New York).
Da National Geographical Society (Washington)
Da Rural Sociological Society (Kentucky).
Da American Sociological Society (New York City).
Da "American Association for lhe Advoncement of Sciences"
(Estados Unidos).
Do Instituto Peruano de Sociologia.
Da Sociedade Chilena de Sociologia.
Da Sociedade Venezuelana de Sociologia.
Da Associação Brasileira de Higiene Mental.
Do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais.
Da Sociedade Brasileira de Direito Internacional.
Da Associação Brasileira de Educação.
Da Sociedade Brasileira de Sociologia.
Da Sociedade Brasileira de Antropologia e Etnografia.
Da Associação Brasileira de imprensa.
Da Associación Internacional de Prensa.
Do Instituto de Cultura Brasil-Estados Unidos.
Do Instituto de Cultura Brasil-Argentina.
Do Instituto Brasil-Holanda.
Do Instituto Brasil-Finlândia .
Do P. E. X. Clube do Brasil.
Membro da Sociedade Brasileira de Cultura Inglêsa.
Membro da Comissão Organizadora da Conferência Interestadual de
Ensino em 1921.
Convidado Especial do Congresso Científico de Washington, em
1940.
Membro da Missão Cultural Brasileira no Uruguai, em 1941.
Designado pelo Governo Brasileiro para representante do Brasil
no 1.° Congresso da UNESCO cm Londres, em 1945.
Delegado do Brasil no Congresso da UNESCO no México, em 1947.
Convidado e hóspede do Departamento de Estado e de cinco Uni-
versidades norte-americanas. em 1948.
Delegado do Brasil no Congresso de Filosofia na Argentina, em
1949.
CONDECORAÇÕES
Grande Oficial da Ordem do Mérito da República do Peru.
Grande Oficial da Ordem do Libertador da Venezuela.
Oficial da Legião de Honra da França.
Oficial da Ordem do Leão Branco da Tcheco-Eslováquia.
Oficial da Ordem do Mérito do Chile.
* * *
Diretor Geral de Instrução Pública no Rio de Janeiro de novembro
de 1922 a novembro de 1926.
Fundador no Distrito Federal, da Escola Portugal e de 20 Escolas
com os nomes das 20 Repúblicas Americanas.
Ex-Secretário de Estado de Educação e Justiça no Estado de Per-
nambuco. Etc. Etc.
TENDÊNCIAS E DIRETRIZES DA ESCOLA SECUNDARIA
prefácio de I. L. Kandel, da Columbia University esgotado
293 págs. Rio, 1936.
INTRODUÇÃO A ADMÍNISTRAÇÃO ESCOLAR 516 págs.
Cia. Editora Nacional deo Paulo, 1939.
A SOCIEDADE RURAL, SEUS PROBLEMAS E SUA EDUCA-
ÇÃO prefácio de Artur Neiva 368 págs. editora "A
Noite" esgotado, Rio, 1940.
FUNDAMENTOS DE SOCIOLOGIA 349 págs. (depositário Li-
vraria Francisco Alves), Rio, 1940.
A EDUCAÇÃO NOS ESTADOS UNIDOS 100 págs. esgotado
Rio, 1940.
IDEAIS E PREOCUPAÇÕES DE UMA ÉPOCA 236 págs.
esgotado Rio, 1941.
MEUS HERÓIS (Ilustração de Armando Pacheco) 262 págs.
Sociedade Editora "A Noite", Rio, 1942.
ASPECTOS BRASILEIROS DE EDUCAÇÃO Rio, 1942.
PLANEJAR E AGIR 227 págs. prefácio de Gilberto Freire
Rio, 1942.
ESTUDOS 150 págs. esgotado Rio, 1943.
A EDUCAÇÃO PARA O APÓS-GUERRA Tipografia do Jornal
do Comércio 115 págs. Rio, 1944.
PENSAMENTO E AÇÃO 58 págs. Rio, 1945.
A EDUCAÇÃO PARA UM MUNDO DEMOCRÁTICO Serviço
de Documentação do Ministério da Educação e Cultura 188
págs. Rio, 1945.
O SENTIDO DA EVOLUÇÃO CULTURAL DO BRASIL 226
págs. prefácio de Lourenço Filho Edição da Comissão
Brasileira do Instituto de Cooperação Intelectual, Rio, 1946.
DISCURSOS NA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS
Bedeschi Rio, 1946.
INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR 2.
a
edição
aumentada, Cia. Editora Nacional-o Paulo, 1947.
A ÁREA CULTURAL E A TENDÊNCIA PARA O INTERNA-
CIONALISMO Separata das Atas do 1.° Congresso Nacional
De Filosofia, Argentina, 1949.
AS FACULDADES DE FILOSOFIA E A CULTURA BRASI-
LEIRA Tip. da Universidade do Brasil Rio de Janeiro,
1949.
ADOLESCÊNCIA, SEUS PROBLEMAS E SUA EDUCAÇÃO
258 págs. prefácio de H. Piéron, do Collège de France
Editora Nacionalo Paulo, 1950.
VISÃO PANORÂMICA DOS ESTADOS UNIDOS 234 págs.
Imprensa Nacional Rio 1951.
A AÇÃO PSICO-SOCIAL NA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
60 págs. Rio, 1952.
NABUCO E JUNQUEIRO (prefácio de Júlio Dantas, da Acade-
mia das Ciências de Lisboa) 112 págs. Lelo & Irmão
Edit. Porto, 1953.
INTRODUÇÃO À ADMÍNISTRAÇÃO ESCOLAR 3.
a
edição
Cia. Edit. Nacional,o Paulo, 1953.
FUNDAMENTOS DE SOCIOLOGIA 3.
a
edição, 216 págs. Edit.
Cia. Melhoramentos deo Pauloo Paulo, 1955.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL edição do I. B. E.
C. Rio de Janeiro, 1958 e edição da Universidade de Coimbra,
Coimbra, 1958.
VÍTOR HUGO NO BRASIL prefácio de Robert Garric, no prelo.
O CULTO DA AÇÃO EM VERHAEREN (no prelo)
PRESENÇA DE PORTUGAL (a publicar)
A PAZ PELA ESCOLA (a publicar)
ATUALIDADE DE VÍTOR HUGO (em preparação)
EM FRANCÊS:
HOMMAGE AU ROI ALBERT, Rio, 1920.
HOMMAGE A LA MISSION UNIVERSITAIRE FRANÇAISE -
Rio, 1924.
LA PENSÉE FRANÇAISE Rio, 1925.
L'ENSEIGNEMENT DES LANGUES VIVANTES (une expe-
rience brésilienne) 1.ére édition 120 págs. Rio, 1934. 2.ème
édition 160 pags. 1937.
PANORAMA SOCIOLOGIQUE DU BRÉSIL 156 pags. préface de
G. Davy de 1'lnstitut de France, de 1'Académic Royale de la Bel-
gique et Doyen de la Faculte des Lettres de Paris Presses
Universitaires de France, Paris, 1953.
LA PENSÉE ET L'ACTION DANS L'UNIVERSITÉ AU BRÉSIL
Rio, 1955.
PRESENCE DE LA FRANCE (a publicar).
EM INGLÊS:
EVOLUTION OF EDUCATION IN BRAZIL The Journal of
the National Education Association Washington, D. C. 1921.
EDUCATION IN BRAZIL Educational Yearbook of the Interna-
tional Institute of Teachers College, Columbia University New
York, 1925.
TEACHERS ASSOCIATIONS IN BRAZIL Reprinted from Edu-
cational Yearbook of the International Institute of Teachers
College, Columbia University New York, 1935.
TEN YEARS OF EDUCATION IN BRAZIL Reprinted from
Educational Yearbook of the International Institute of Teachers
College, Columbia University New York, 1936.
PROBLEMS IN RURAL SOCIETY AND RURAL EDUCATION
IN BRAZIL Reprinted from Educational Yearbook of the In-
ternational Institute of Teachers College, Columbia University
New York, 1938.
THE MEANING OF LIBERAL EDUCATION IN THE TWEN-
TIETH CENTURY IN BRAZIL Reprinted from Educa-
tional Yearbook of the International Institute of Teachers College.
Columbia University New York, 1939.
PROBLEMS OF ADULT EDUCATION IN BRAZIL Reprinted
from Educational Yearbook of the International Institute of
Teachers College, Columbia University, New York, 1940.
EDUCATIONAL SISTEMS IN BRAZIL Reprinted from Interna-
tional Yearbook of the International Institute of Teachers College,
Columbia University, New York, 19-12.
PROBLEMS OF RURAL SOCIETY IN BRAZIL Reprinted from
Rural Sociology n.° 9, 2 June 1944. North Caroline, U. S. A., 1944.
EDUCATION FOR POST-WAR Tip. Jornal do Comercio. Rio,
1944.
EDUCATION IN BRAZIL The middle of the Twontieth Century
in Brazil Reprinted of Brazil, Portrait of Half a Continent,
1951.
SOCIOLOGICAL SURVEY OF BRAZIL preface of Pitirim Soro-
kin (Harvard University) (no prelo).
EM ESPANHOL:
LA EDUCACIÓN FÍSICA Y LA ADAPTACIÓN SOCIAL Sepa-
rata de la Revista Argentina Viva Cien Años, Buenos Aires,
1942.
EL SENTIDO DE LA SOCIOLOGIA EN LAS AMÉRICAS
Sobretiro de la Revista Mexicana de Sociologia, Ano V. Vol.,
n. 1, México D. F., 1943.
PENSAMIENTO Y ACCIÓN 188 págs. de la Colección Jornadas
Editora, El Colégio de México, México D. F., 1944.
FUNDAMENTOS DF. SOCIOLOGIA - 298 págs Editorial America-
na, Buenos Aires, 1945.
KL SENTIDO DE LA EVOLUCIÓN .CULTURAL DEL BRASIL
201 págs. Editorial Americalee, Buenos Aires, 1946.
CLOVIS BEVILACQUA (un jurista sociólogo), edición de la Uni-
versidad Autonoma de México Presentación por el Doctor
Luis Recasens Siches, 1948.
ADOLESCENCIA SUS PROBLEMAS Y SU EDUCACIÓN
256 págs., prefácio de Henri Piéron del Collège de France, Union
Tipográfica Editorial Hispano-Americana, México, D. F., 1952.
ADMINISTRACIÓN ESCOLAR SU IMPORTANCIA PARA LA
OBRA EDUCATIVA Union Tipográfica Editorial Hispano-
Americana, México, 1954.
NICARÁGUA BRASIL Nicarágua, 1955.
PANORAMA SOCIOLÓGICO
DO BRASIL
ÍNDICE
Carta-Prefácio de Georges Davy 7
Prólogo do Autor 11
CAPÍTULO I
A Sociologia nas Américas e no Brasil
Introdução 14
Sociologia disciplina do currículo escolar 16
Meio urbano e meio rural 20
O Regime de trabalho e a saúde no campo 22
O problema da família 24
Inteligência e cultura 26
Mobilidade social 27
Um grave problema 33
Racismo e meio cultural 36
Conclusão 39
CAPÍTULO II
O Advento dos estudos sociológicos nas Américas e no Brasil
Introdução 41
As diretrizes sociológicas, no Prata e no Brasil 45
Pensadores, filósofos e sociólogos nas Américas e no Brasil .... 49
Obras brasileiras de sociologia (inclusão de seus estudos nos
diferentes níveis de ensino) 51
Conclusão 67
CAPÍTULO III
Regionalismo e Internacionalismo na America c no Brasil
Introdução 69
"Área de cultura", sua significação e importância 70
Ecologia Humana 71
A Despreocupação dos senhores rurais 78
A política educacional que nos convém 80
Conclusão 82
CAPÍTULO IV
Evolução político-social das Américas
Introdução 87
O sentido da colonização latino-americana 87
O sentido da colonização anglo-americana 89
Contrastes e confrontos 90
Feição educacional c cultural numa e noutra América 94
A orientação escolar na América latina e o espírito emancipador
no Continente 105
Causas de nossa dualidade educacional 110
Conclusão 112
CAPITULO V
Pensamento c ação Fatos sociológicos:
Introdução 115
Dualismo anacrônico 116
O momento é de ação 127
A responsabilidade da escola 131
O panorama das Américas 138
Conclusão 142
CAPÍTULO VI
A Sociedade Rural e seus Problemas no Brasil:
Introdução 1-1-4
A civilização e os trópicos 14S
Civilização, cultura e raça 150
Fatôres de inferiorização 153
A Dieta 155
A Habitação 158
A vestimenta e o regime de trabalho 162
Ação criadora do brasileiro 164
O problema da educação rural 170
O problema do professor 174
Conclusão 175
Bibliografia 177
Índice de Nomes
APÊNDICE
Trechos de algumas críticas sôbre a edição francesa deste livro .. 199
À MEMÓRIA DE GEORGES DUMAS
HOMENAGEM DE
A. CARNEIRO LEÃO
CARTA-PREFÂCIO DA EDIÇÃO FRANCESA
Meu caro Diretor e Amigo:
Quisestes uma apresentação do vosso livro "Panorama
Sociologique du Brésil" ao público francês. Mas haverá
necessidade de tal apresentação se recordarmos o acolhimento
que conquistaram, o ano passado, na "Sorbonne" as seis ma-
gistrais lições nele hoje reunidas e das quais aqueles que tive-
ram o privilégio de ouvi-las (e eu fui um desses privilegiados)
o esquecerão jamais nem a eloquência convencedora nem a
admirável segurança que elas atestaram da nossa língua e de
tudo quanto nos ensinaram sobre o vosso prestigioso país!
Saudando ems o eminente colega brasileiro, convidado pela
Universidade de Paris, sabíamos que sábio, que administrador
(cuja passagem nos altos postos de direção brasileira dera o
surto mais fecundo às instituições de ensino da sua pátria)
tínhamos o prazer e a honra de receber. Ouvindo-vos, porém,
sentimos quanto o nosso hóspede, vindo de terras longínquas,
estava próximo des pelo espírito e pelo coração e ficamos
comovidos pelas homenagens que rendestes à nossa cultura, aliás
o visivelmente presente e familiar em vós.
Como os nossos sentimentos pelo vosso país correspondem
aos vossos pelo nosso, gostaríamos que esta homenagem tomasse
a forma de um dom de algo da vossa própria cultura e que o
sociólogo que sois trouxesse, precisamente, vistas sociológicas
sobre a estrutura e a cultura do Brasil.
Em que lugar do mundo as meditações sociológicas pode-
o surgir mais naturalmente do que na Universidade do Brasil,
no Rio de Janeiro? Nesse Rio que nos oferece o espetáculo do
homem entre duas grandes forças da natureza recostada a
uma a floresta em face a outra — o mar e criando,
de maneira humana, dessa fusão admirável de raças e de
culturas, esse tipo original o brasileiro.
Nesse Rio de Janeiro que nos oferece este outro espetáculo
sociológico de uma cidade criada pelo homem, portador do
destino do Brasil, cidade de uma rara beleza, cativante e ma-
A. CARNEIRO LEÃO
jestosa, cidade de pé diante do Oceano, cercada de pequeninas
ilhas pitorescas, cidade que ergue para ou sua alta estatura
traçada na escala das frondes altaneiras e dos rochedos abruptos,
dos quais ela recebe o abraço até em seu próprio seio,o
bem que se fica a esperar um Julio Romains brasileiro capaz
de fixar a Floresta na Cidade o que no ponto de vistao
menos sociológico, faria " pendant" ao Exército na Cidade de
nosso Jules Romains francês.
Vosso livro nos mostra o homem do Brasil, construindo
a cidade e o campo. E que belo capitulo rural este campo vos
inspira, e como o homem ali viu e edificou pouco a pouco seu
destino adaptando-se à natureza riquíssima mas toda a con-
quistar, a tornar-se favorável à vida; natureza que parece que-
rer que seu habitante mereça, apesar das intempéries do seu
clima, as colheitas do solo e as riquezas do sub-solo. E como
nesse meio o homem é amigo do homem,o raro imprevidente,
mas sempre generoso e hospitaleiro, demasiado equilibrado para
entregar-se aos antagonismos raciais ou às agressividades inter-
nacionais; demasiado curioso e transbordante de simpatia hu-
mana para fechar-se às correntes do exterior e recusar os bene-
fícios de culturas ou de técnicas mais antigas!
O sociólogo que sois, a um tempo adestrado nos melhores
métodos científicos e forte da experiência do administrador que
manejou, diretamente, a realidade social, mas em quem as
urgências da prática nunca adormeceram o filósofo e o mora-
lista, nos apresenta uma análise singularmente evocativa de
todos os problemas, a um tempo diversos e idênticos, que si-
tuam o meio urbano e o meio rural em suas condições e em
suas exigências próprias. Eoo apenas os problemas,
como também os homens. Eis aqui o operário brasileiro mais
inteligente e mais hábil do que constante em seu modo de vida.
nem sempre considerando o trabalho como um bem, maso se
escusando nunca quando se trata de ajudar a um camarada e
generoso e pronto a pagar pelos outros. Eis aqui também
o trabalhador rural, cujas modinhas graves e nostálgicas, como
a natureza circundante, interrompem o sonho que prossegue pela
noite em fora, cantando ao luar, no terreiro da sua rústica
morada, esse homem de quem dizeis possuir uma riqueza ines-
timável que os europeus jáo conhecem: o tempo.
E mais adiante, eis-nos diante do pescador heróico que
afronta o alto mar, em sua jangada construída de troncos de
árvores, amarrados uns aos outros, com sua pequenina vela
açoitada pelos ventos. Ele permanece dias a pescar, cercado
pelos tubarões vorazes e retomando em seguida o caminho da
praia familiar, coberta de coqueirais. Iá êle desperta e dorme
•'não, afirmais, como Chateaubriand. ao ruído da tempestade,
mas ao murmúrio dos nossos mares tranquilos e ao ritmo melo-
dioso dos nossos palmeirais cantantes."
E como esses contrastes flagrantes nos introduzem no
âmago das relações entre a cidade e o campo, perante o des-
povoamento da zona rural e das migrações internas que, na
orla e, por vezes, no coração das cidades, fazem surgir, ge-
ralmente, no flanco das colinas e em face do sol purificador,
estes conjuntos de favelas, onde as criaturas errantes vivem
socialmente fora da sociedade oficial e, no entanto ventu-
roso Brasil! sem malefício para ninguém.
Disposições recíprocaso pacíficas eo humanas, entre
elementoso diversos, contribuem para eliminar inteiramente
qualquer discriminação de raça ou de classe. Ao lado dos
problemas sociais as doutrinas sociológicas,o vivas eo
numerosas em um país que guardou o culto de Augusto Comte,
nos valem um capítulo de bibliografia critica particularmente
instrutiva. Depois o grande teórico que sempre fôstes e o
administrador do ensino público, que tendes sido, nos traça em
linhas mestras um quadroo menos elucidativo da educação e
da cultura nas duas Américas. Nesse capítulo nos patenteais
as razões e a maneira pelas quais elas foram influenciadas em
suas relações com as metrópoles. É assim que nos mostrais
como, na América saxônia, a civilização se formou sôbre o
modêlo das liberdades municipais à inglêsa e como na América
latina, ao contrário, ela foi a obra dos senhores, rurais. E
que reverência pela cultura vamos encontrar neste Brasil em
que o diploma de bacharel exercia verdadeira fascinação! Quem
estranhará, depois disso, que tenhais orgulho das vossas Aca-
demias ?!
É pela cultura, declarais, eo pela raça, que nos conside-
ramos povos latinos. Mas foi, sobretudo, de ideias francesas,
acrescentais, que nossa cultura se nutriu sem impedir nem de
leve a originalidade do nosso crescimento.
o admitindo, com acerto, em nenhum plano rifem
econômico nem cultural estreitezas individualísticas, pensais
nada perder des mesmos nesse inteligente e pacífico abrir
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
A. CARNEIRO L E Ã O
de horizontes. Daí o universalismo político de que fazeis honra
a vosso país e o espírito de arbitragem, de solidariedade e de
cooperação queo suas consequências manifestas.
A mesma sabedoria equilibrada vos inspira fortes páginas
sobre a parte respectiva do pensamento e da ação, as quais
explicam e esclarecem a vossa obra de reformador escolar.
o tenho a intenção de vos resumir senão unicamente de
provocar a leitura do vosso livro. Mas me condenaria a mim
mesmo seo acentuasse o interesse,o seguro eo variado,
do vosso último capítulo, sobre a sociedade rural brasileira.
Que impressões pitorescas dos regimes de vida, dos tipos de
homens e dos gêneros de habitações nos sabeis dar?!
Porque tanto quanto nas explicações em que sois mestre
como sociólogo, atrais nas discrições em que os vossos dons
de observador deixam, sem cessar, lugar à vossa sensibilidade
de poeta e à vossa preocupação de moralista.
No Brasil, dizeis concluindo, a diversidade de ambientes
natural e social, — é de tal natureza, apesar da unidade
política do país, que ela determina uma variedade sociológica
considerável. Dessa variedade, em verdade, nada vos escapou.
E a vossa última palavra é. sem dúvida, a do grande educador,
que tendes sido, acima de tudo e sobretudo, quando escreveis:
"O esforço civilizador que a escola fará há de ser uma das
iniciativas mais importantes para conciliar todas as regiões (de
um território imenso como o nosso) por mais dissemelhantes
que elas sejam, unindo-as numa aspiração comum para o pro-
gresso".
Que me seja permitido, ao terminar, reter com gratidão a
parte que quisestes reconhecer, neste vosso esforço civilizador.
à influência da nossa cultura francesa. O pensamento devoto
que tivestes, de dedicar vosso livro ao grande obreiro do inter-
câmbio intelectual franco-brasileiro. a nosso saudoso colega,
Georges Dumas, é uma prova evidente desse fato e vai direta-
mente, ficai, certo, ao coração da nossa querida Sorbonne.
GEORGES DAVY
Membro do Instituto de França: da Acade-
mia de Ciências Políticas e Morais; ria
Academia Real da Bélgica; Doven da Fa-
culdade de Letra da Universidade de Paris:
Doutor "Honoria Causa" pela Universidade de
Bruxelas; Professor "Honoris Causa" pela
Universidade do Brasil. Diretor da "Fundação
Thiers."
PRÓLOGO DO AUTOR
Panorama Sociológico do Brasilo é tratado de Sociologia
nem interpretação da vida social brasileira e americana, mas
alguns aspectos dos fatos sociológicos peculiares à civilização
e às culturas radicadas e desenvolvidas deste lado do Atlântico.
Examinando-os ter-se-á, assim o espero, uma visão das caracte-
rísticas do homem, dos grupos sociais, dos estados americanos
em seu esforço contínuo, para o progresso. Ver-se-á quanto a
lição da Europa, através sobretudo da França, contribuiu
para cimentar uma cultura pujante na América Latina, quanto
a mesma Europa por intermédio da Inglaterra e também da
França, influiu para a arquitetura da América anglo-saxônia.
Dessa leitura ressaltará a explicação da comunhão entre raças
e entre crenças diversas, harmonizadas no denominador comum
das nacionalidades americanas. Centro de difusão dos povos
mais díspares: do Ocidente e do Oriente da Europa, como da
Ásia, da África e da Oceânia, as Américas, em seu labor
constante de aculturação e de assimilação plasmam, paciente
mas firme e definitivamente, os caracteres, os sentimentos, as
tradições, os ideais mais diversos em uma unidade de sentir,
de pensar e de agir.
Cada nação da América possui uma feição própria, que
o anula, antes enriquece e revigora o aspecto comum de
americanidade.
O interamericanismo consciente e vigilante que se edifica,
há mais de meio século, fazendo, para certos efeitos, da Amé-
rica inteira uma unidade, é a prova desse espírito de união,
de entendimento e de compreensão entre povos. Certoo nos
propusemos estudar o fenômeno em todas as suas modalidades.
Nossa intenção é muito modesta. Quisemos, em rápido curso
de seis lições, examinar, em companhia de professores e de
estudantes da Universidade de Paris, no coração da França,
a quem tanto devemos e a quem tanto amamos, alguns aspectos
da evolução do Novo Mundo. Como brasileiroo podíamos
A. CARNEIRO LEÃO
escapar à tentação ou, melhor, ao imperativo da nossa formação
e da nossa cultura, de nos determos muito mais na apresentação
no estudo do Brasil. Estamos persuadidos, porém, de que
esse fato, dentro dos objetivos traçados,o nos inibiu de
darmos de todo o continente uma visão rápida mas precisa e
verdadeira. Cremos, todavia, que a nossa mensagem, mensa-
gem de admiração e de estima à inteligência francesa será
compreendida e sentida como um gesto de afeição do meio cultu-
ral americano e, especialmente, brasileiro, pelo ambiente univer-
sitário francês.
Agradecemos sensibilizados a honra e o prazer de pro-
fessar na Sorbonne, no "Salão Luís Liard",o evocativo
dessa grande e inesquecível figura da cultura universal, bem
como aos professores e aos estudantes, cuja assiduidade e
simpatia às nossas aulas das sextas-feíras tanto nos comoveram.
Agradecemos ao Magnífico Reitor, Jean Sarrailh, que pre-
sidiu à inauguração do curso do professor brasileiro, dando-lhe
em seguida, na própria Sorbonne uma inesquecível recepção
com a presença de muitas das maiores figuras da ciência e das
letras francesas.
Agradecemos ao Doyen Georges Davy as desvanecedoras
palavras proferidas em nossa primeira lição, apresentando-nos
ao seleto auditório ali reunido, assim como os sensibilizadores
cumprimentos que, publicamente, nos dirigiu no final do nosso
curso. Agradecemos, ainda, ao mesmo Doyen Georges Davy,
o prefácio queo generosamente escreveu no pórtico da
edição francesa deste livro, assim como a Paul Angoulven, pre-
sidente de "Presses Universitaires de France", pela distinção
que nos fêz, incluindo-o entre os trabalhos editados pela famosa
editora francesa.
* * *
Agora, por solicitação do meio universitário brasileiro
e português e, aceitando desvanecedoras proposições passamos
para a nossa língua o que havíamos escrito em francês ou ao
francês adaptado.o podemos chamar rigorosamente uma
tradução porque já muita coisa aqui contida havíamos publi-
cado em nossa língua e a muitas outras imprimíramos uma
feição mais adequada a trabalho para circular em Portugal
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
e no Brasil. Assim, sem trairmos o que havíamos feito para
meios estrangeiros, por intermédio da alta tribuna da Uni-
versidade de Paris, apresentamos um panorama de fatos socio-
lógicos americanos e brasileiros senão com maior amplitude,
com maior espírito crítico. Aliás estas edições portuguesa
e brasileira devemos uma aos insistentes pedidos do grande
mestre Joaquim de Carvalho, ornamento da tradicional e que-
rida Universidade de Coimbra, e outra a Anísio S. Teixeira,
ilustre Diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagó-
gicos. (*)
A. C. L.
(*) NOTA: A pequena introdução acima reproduz o que havíamos
escrito para a edição francesa. Como devíamos, porém, uma explicação
aos leitores das edições portuguesas acrescentamos os quatro períodos
finais.
CAPÍTULO I
A SOCIOLOGIA NAS AMÉRICAS E NO BRASIL
INTRODUÇÃO
Poucas matérias sem prestado tanto a dissertação, a
debates eruditos, a discussões apaixonadas, quanto a Sociologia.
Pouco importa que Augusto Comte espírito eminente-
mente positivo, empolgadoo só pelas preocupações filo-
sóficas mas também pela reconstrução da sociedade acen-
tuasse o aspecto positivo da nova ciência, porque o que em
geral predominou em sua sociologia foi a parte especulativa.
o era pois de admirar que o fundador do positivismo
capitulasse a sociologia no domínio da física social; e, embora
tendo-a apresentado como a ciência da realidade, esperando que
ela se encaminhasse pela experimentação científica, a subordi-
nasse à arquitetura do seu sistema filosófico, uma como espé-
cie de filosofia da sociedade. Podia-se admitir ainda que
Spencer, Lilienfield e Schaefle, entre outros, a considerassem
um capítulo da Biologia, que Gabriel Tarde a contivesse no
fenômeno psicológico. À medida, porém, que as ciências do
homem e da sociedade progridem e a Sociologia se enriquece
o se concebem mais as dissertações abstraías, meramente
sectárias. O Doyen Georges Davyz esta justa observação:
"Temo mais do que o excesso da complexidade e do detalhe o
excesso do dogmatismo. Ce que je crains plus que 1'excès de
la complexité et du détail, c'est l'excès du dogmatisme." (1)
Quando vemos, sob a pretensão de que a Sociologia é filo-
sofia social, levantarem-se escolas irreconciliáveis, percebemos
a inanidade de estudos dessa natureza, a menos que se tenha
por escopo o desenvolvimento das habilidades dialéticas do
espírito, o queo seria aliás uma novidade.
(1) Davy (Georges Éléments de Sociologie, p. VIII, Librai-
rie Delagrave, Paris, 1924.
Para prová-lo aí estão as pelejas memoráveis entre Tarde
e Durkheim. (2) O primeiro absorve a Sociologia na psicolo-
gia individual como um fenômeno interpsíquico, (3) e o se-
gundo dá-lhe por objetivo fatos sociais, tratados como coisas.
o vai nessa observação nenhuma diminuição do valor da
obra considerável de Emile Durkheim, cuja grande virtude foi
buscar com uma riqueza de documentação, uma persistência e
um calor notáveis, estabelecer os limites da sociologia como
ciência. (4) Ambos embarafustam por um cipoal de con-
ceitos e de argumentos, cujo valor filosófico pode ser ponde-
rável, mas cuja importância cientifica no tratamento de uma
ciência da realidade c evidentemente discutível.
Aliás as definições se multiplicam. Aí está Ardigó, para
quem a Sociologia é uma espécie de teoria natural da justiça
social, ao lado de Del Vecchio para quem a Sociologia se su-
bordina à Filosofia do Direito. Aí está Croce, a considerar
os fatos sociológicoso como matéria de experiência mas como
determinações filosóficas.
Aí está Le Gentile concebendo a Sociologia uma ciência
particular, existindo fora da realidade, pois a realidade é espírito
e a Sociologia considera a realidade como natureza, compreen-
dida e dividida na multiplicidade de seus elementos, fundamen-
talmente estranha à ordem e à unidade do espírito. (5)
(2) Vide: Mac-Lean y Estenós (Roberto) Sociologia, pág. 56,
Lima, Peru, 1938.
(3) Sôbre o célebre debate entre Tarde e Durkheim, e, sobretudo,
para se compreender quanto os pontos de vista filosóficos podem distan-
ciar aparentemente dois pensadores, cuja finalidade é idêntica, pois
ambos insistem sôbre aspectos de uma só e mesma realidade: "'As re-
lações entre indivíduos", diríamos entre socii. basta lermos com aten-
ção as páginas concisas c convincentes de Raul A. Orgaz, em sua " Intro-
ducción a la Sociologia", págs. 24, 25, 26 e 27. Vide ainda a respeito:
Charles Blondel Introduction à la Psychologie Collective Colin,
Paris.
(4) Vide: Durkheim Les Règies de la Méthode Sociologique
Félix Alcan, Paris, 1932, e Azevedo (Fernando) Princípios de
Sociologia Companhia Editora Nacionalo Paulo.
(5) Para êsse e outros conceitos vide: Renato Treves Sociolo-
gia y Ciencia Social Editora Losada S. A. Buenos Aires, 1941.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
A. CARNEIRO LEÃO
Aí está Hans Freyer a afirmar precisamente o contrário,
isto é, que a Sociologiao é nenhuma ciência do espírito. Seu
objeto é o homem, seu corpo, sua alma, seu destino, sendo,
então, a realidade social uma resultante da vontade humana. (6)
Percebe-se em Freyer a visão nítida da Sociologia como
ciência da realidade, obscurecida, entretanto, para o comum
dos mortais, pela nebulosidade da sua expressão e da sua
argumentação metafísica.
Nesse gosto poderíamos evocar horas inteiras discussões
filosóficas, tiradas intermináveis, capituladas de Sociologia. A
amostra parece-nos, no entanto, suficiente para que tenhamos
horror aos debates que nos conduzem à conclusão de que Socio-
logia é Metafísica ouo existe. Sobretudo se à tal confusão
se juntar a disparidade na conceituação da sociologia, do
social...
SOCIOLOGIA DISCIPLINA DO CURRÍCULO ESCOLAR
O que se busca com o estudo da Sociologia nos Estados
Unidos da América do Norte, em certa corrente, no Brasil, nos
centros de pesquisas, no México (7) e pela América Latina
em fora, é o conhecimento do sociológico, resultante da infe-
rência de princípios e de métodos com base na observação e na
experiência.
Evidentemente uma sociedade que constrói na realidade
como a sociedade norte-americanao se podia contentar com
uma sociologia filosofia social. Porque, como escreve James
Bryant Conant: "Não é no domínio do pensamento abstrato,
nem no da arte, nem no da poesia, que participamos para o
desenvolvimento da civilização. É provando que podemos edi-
ficar na realidade um tipo de sociedade que se aproxima estri-
tamente daquela com que sonham os idealistas, uma sociedade
caracterizada ao mesmo tempo pelo máximo de liberdade indi-
vidual e pelo mínimo de distinção de classe." Uma sociedade
(6) Vide: Poviña (Alfredo) La Sociologia como Ciencia de
la Realidad. Córdoba (R. A.) Imprenta de la Universidad, 1939.
(7) Vide: Mendieta y Nuñez (Lucio) The Integration of So-
cial Research in the Americas, Reprinted from " American Sociological
Review". Volume VII, n. 2, April 1942.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
dêsse gêneroo podia deixar de fundamentar-se na experiên-
cia da vida social em movimento. (8)
A afirmativa de Medina Echavarría, de que a Sociologia
é, em seu sentido mais íntimo, a expressão de uma época
crítica (9), de uma época vacilante em sua estrutura social,
o parece longe de justificar-se em nossa América. É exato
queo esperamos pela crise universal, proveniente de duas
guerras mundiais, para sentirmos a importância dos estudos
sociológicos em seu aspecto objetivo. A própria vida em mu-
tação contínua, a própria sociedade em constante crise de rea-
justamento, num mundo cuja dominante é a fusão permanente
de raças, de meios sociais e de culturas, as mais díspares, bas-
taria para justificar o acêrto do autor da "Sociologia Contem-
porânea". Inumeráveiso os estudos dos sociólogos ameri-
canoso apenas da América inglesa como da América latina
para os quais o Novo Mundo constitui um campo inestimável
de elaboração de uma sociologia da realidade social, das mais
ricas e das mais proveitosas.
Veremos a seguir a contribuição que trouxeram sociólogos
da Argentina, do Brasil, do Chile, de Cuba, do Peru, do México,
da Venezuela... e compreenderemos que tanto nas pesquisas de
campo quanto nas monografias ao estudarmos a vida dos grupos
de determinadas regiões e de suas respectivas culturas obtivemos
exemplos concludentes. E uma vez que a Sociologia é o estudo
dos fatos sociais, orientado nos princípios e nos métodos que
permitem explicá-los e utilizá-los para compreender e condu-
zir a vida em sociedade, disciplina alguma será mais ne-
cessária à formação da juventude da hora atual. É o
caso no Brasil, de Euclides da Cunha em "Os Sertões";
de Afonso Arinos em "Pelo Sertão"; de Oliveira Via-
na em "Populações Meridionais do Brasil" e "Povo Bra-
sileiro"; de Lourenço Filho em "Juazeiro de Padre Cícero";
de Gustavo Barroso em ''Terra do Sol" e em "Heróis e Ban-
didos"; de Gilberto Freire em "Casa Grande e Senzala";
(8) Vide: sôbre o mesmo ponto de vista: "Lacourt-Gayet
(Robert) L/Amerique cette inconnue, La Revue des Deux Mon-
des, ler Décembre, 1950, Paris, e Raid A. Orgaz em La Ciência Social
Contemporánea, págs. 115 e 116. Cabaut y Cia. Buenos Aires, 1932.
(9) Vide: Medina Echavarría (José) Sociologia Contempo-
ránea, págs. 11 e 12. La Casa de España en América 1940.
A. C A R N E I R O L E Ã O
"Sobrados e Mucambos" e "Nordeste"; de Roy Nash em "A
Conquista do Brasil"; de Djacir Meneses em "Outro Nordes-
te"; de Fernando Azevedo em "Cultura Brasileira" e em "Ca-
naviais e Engenhos na Vida Política do Brasil"; de Odorico
Pires Pinto em "Os Portugueses e as construções indígenas"; de
Roger Bastide em "Nordeste Místico"; de Lucien Marchai em
"Le Mage du Sertão", de Donald Pierson entre outras em
suas pesquisas sôbre raças e culturas na Bahia e des
mesmos em "Sociedade Rural e seus Problemas". Na Argen-
tina temos: de José Ramos Mejia "Multitudes Argentinas", de
Augustin Alvarez "La Herencia Moral en los Pueblos Ameri-
canos", de Octavio Bunge "Nuestra América" de José Ingenie-
ros, "Evolucion de las Ideas Argentinas", de Suaiter Martinez
"Patria de Ayer e de Hoy"; no Chile de Augustin Venturino
"Sociologia Chilena" e "Sociologia General Americana"; no
Peru de Mac Lean y Estenós "Sociologia Peruana"; no-
xico de Mendieta y Nuñez seus múltiplos trabalhos no Instituto
Indianista; na Venezuela, de Rafael Mendonza "Origenes de
la Sociologia Venezolana", etc. etc...
Aquela luta mental e aquelas tiradas brilhantes a que nos
referimos acima,o podem evidentemente constituir matéria
de currículo escolar. Se a Sociologia fôr, porém, o estudo dos
fatos sociais, orientados nos princípios e nos métodos capazes
de explicá-los e utilizá-los na compreensão e na direção da
vida em sociedade, nenhuma disciplina mais necessária à edu-
cação da juventude nesta hora da civilização complexa em
que vivemos. Arredá-la da escola procurando distrair a aten-
ção dos moços da observação dos fatos sociais, substituindo,
por exemplo, o estudo de Sociologia, ciência da realidade, pela
preocupação de um mundo irreal, para nós, ao entrarmos na
segunda metade do século XX, é repetir a atitude do avestruz,
escondendo a cabeça entre as asas parao ver o que se passa
em derredor. Com essa visão da matéria nenhuma outra dis-
ciplina se nos afigura mais importante e mais útil nos cursos
secundários e nas escolas de formar professores. Que se aban-
donem a especulação filosófica, os debates de teorias, aos espe-
cialista, aos filósofos, em suas cátedras de Filosofia nas univer-
sidades. Aliás mesmo nessas, o que tem predominado por aqui
ou é o tratamento da Sociologia como estudo complementar, ou
a sua limitação a exposições e confrontos de escolas. É verda-
de que, com a reorganização da educação no Estado de Pernam-
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
buco, em 1928, pors elaborada, (10) na qual criamos a
cadeira de "Sociologia Experimental", no Instituto de Educação
do Distrito Federal, em 1932, (11) com a instalação da Escola
Livre de Sociologia e Política deo Paulo, em 1933, com a
fundação da Escola de Filosofia e Letras do Distrito Federal,
em 1935, com o aparecimento da Faculdade Nacional de Filo-
sofia da Universidade do Brasil, em 1939, com as demais Fa-
culdades de Filosofia, criadas pelos Estados e por particulares
em vários pontos do país. e com as tentativas esparsas de algu-
mas escolas normais paulistas e da Escola Técnica de Assistên-
cia Social, essa matéria se vai encaminhando, no Brasil, ao
estudo da realidade social, com maior ou menor segurança e
sem abandono da parte doutrinária.
Como o exame dos fatos sociais e das relações efetivas dos
socii em suas interações tende a tornar-se dia a dia mais acen-
tuado, a Sociologia recorre de maneira crescente aos métodos e
aos princípios em aplicação das ciências naturais.
Pouco importa que a dificuldade de precisão de um lado,
e, de outro, os preconceitos que encerram os fenómenos sociais
como princípios éticoso permitam conclusões e interpretação
e que tenham o rigor próprio aos estudos dos fenómenos
naturais.
Contudo é incontestável que a equação pessoal tem uma
grande importância na observação e na interpretação dos fe-
nómenos sociais. (12) Quase sempre o julgamento é aí sen-
timental. A parcialidade do sentimento e a arbitrariedade
da vontade tendem a inutilizar a verdade com o predomínio do
convencional.
E aí está o maior obstáculo à construção de uma sociologia
realmente científica, obstáculo com que temos de contar sobre-
(10) Vide: Mendieta y Nuñez (Lucio) The Integration of Social
Research in the Americas, p. 170 Reprinted from " American
Sociological Review", vol. VII. n. 2 April 1942.
(11) Vide: A. Carneiro Leão "A Organização da Educação
em Pernambuco", Recife, 1929 e " Planejar e Agir", Rio, 1941.
(12) Vide: Delgado de Carvalho (Carlos) Sociologia Experi-
mental Gráfica Sauer. Av. Mem de Sá Rio de Janeiro, Brasil,
1934.
Nota: Possuímos, hoje, no Rio de Janeiro um Instituto de Geografia
e de Estatística que é um verdadeiro núcleo de pesquisas no domínio da
Geografia Humana e da Sociologia Aplicada.
tudo no Brasil onde o que é de ordem afetivao raro tem
razão sôbre a própria razão.
A diferença entre a verdade ou a certeza objetiva objeto
da ciência e a crença, convicção subjetiva, está em que a se-
gunda se relaciona a fenómenos de sentimento, inseparáveis da
pessoa e a primeira é comum a todos os homens.
A verdadeo se concebe fora da vida social. Pode ser
controlada, verificada por todos, enquanto a convicção, a crença,
o subjetivoo fenómenos pessoais, cuja afirmação prescinde
de prova. (13)
o se pode negar que a crença, o subjetivo sejam fôrças
soberanas, capazes de fazer face à evidência e dela triunfar
muitas vezes. Mas se pretendermos construir uma sociologia
que seja ciência, devemos construí-la com base na experiência
e nos métodos lógicos.
Num livro recente "A Sociologia da Vida Rural" (14)
T. Lynn Smith, professor dessa matéria na Universidade da
Flórida, nos Estados Unidos da América do Norte, nos dá um
compêndio de sociologia da realidade social para uso da juven-
tude. Aí encontramos os fatos essenciais e os princípios-
sicos derivados da aplicação do método científico no estudo
das relações sociais rurais, apresentados com propriedade.
Êsse livro mostra a direção que se pode imprimir ao es-
tudo da sociologia. Seu objetivo é a sociedade rural, as ca-
racterísticas apreciadaso específicas, embora os métodos de
estudo, o processo de tratá-los devam ser idênticos aos aplicados
no exame da sociedade urbana.
MEIO URBANO E MEIO RURAL
Qual o critério de diferenciação entre meio rural e meio
urbano, entre vida rural e vida urbana?
Será o valor numérico, a densidade da população?
Se o ponto de vista do número, da densidade da população
foi de importância capital outrora, e pode ainda ser em certos
(13) Vide: Carneiro Leão (A.) Fundamentos de Sociologia,
3.
a
edição, Capítulo XXVII. S. Paulo. Companhia Melhoramentos de
S. Paulo, 1956.
(14) Vide: Lynn Smith (T.) Th? Sociology of Rural Life
(revised edition) Harper & Bros, New York and London, 1947.
A. CARNEIRO LEÃO
meios europeus e latino-americanos, jáo o será, por si, de
modo algum, em grande porção dos listados Unidos da Ame-
rica do i\orte, por exemplo.
Nao se nos afigura dificil perceber que um núcleo de
duas mil almas, ainda que vivendo no campo,o se possa cata-
logar entre os meios rurais enquanto outro de dez, de cem,
o possa.
Daí a necessidade de examinarmos os fatores de difen-
ciação entre meio rural e meio urbano. E, de tato, no estudo
de tais fatores que os sociólogos terão de buscar as causas
pelas quais em cada um desses meios as ações e reações hu-
manas tem aparecimento, desenvolvimento, repercussão e con-
sequências diversas. i\ao ha prova mais clara da impossibi-
lidade de compreensão das ações sociais sem situa-las em seu
ambiente. Por isso é de grande importância observar os fa-
tores de diferenciação entre o meio urbano e o meio rural, (l5)
E precisamente nessa diferenciação que seo encontrar as
razões pelas quais em cada um desses meios as ações e reações
humanas tem compreensão, repercussão e consequências diversas.
A vida dos " socu", suas relações com o ambiente natural
e com os outros "socu" variam profundamente conforme evo-
luem no campo ou na cidade .
No campo o homem, embora viva muito dentro de casa,
está em intimidade direta com a natureza absorvente, sofren-
do-lhe imediatamente o influxo. As modificações mais simples
no ambiente natural refletem-se prontamente nos indivíduos.
Esses dependem intimamente do equilíbrio mesológico. As
alterações atmosféricas e hidrográficas, as mudanças de es-
tação repercutem com intensidade em seus organismos, alte-
rando-lhes, modificando-lhes os planos e até a vida. Uma
inundação, uma seca, uma geada atuam, decisivamente, sôbre
a atividade de cada qual e de todos. Eles estão expostos como
o seria possível na cidade, à ação das modificações naturais.
No Brasil as secas e as inundações constituem verdadei-
ras calamidades, tanto umas quanto outraso bastante fre-
quentes em certas regiões eo se suponha que suas desas-
trosas consequências consigam desencorajar os habitantes que
(15) Vide: Sorokin (P.) Zimmerman Principies of Rural-
Urban Sociology e os mesmos autores e mais Galpin en " A systematic
Source Book in Rural Sociology", V. I. Vide também: A. Carneiro
Leão Fundamentos de Sociologia.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
A. C A R N E I RO LEÃO
as sofrem; (16) não, eles reconstroem suas cabanas de argi-
la, (17) cobertas de palha, sobre as mesmas margens dos
mesmos rios tantas vezes desencadeados, e voltam aos seus de-
sertos logo que uma chuva benfazeja os faça reverdecer.
Todos estão expostos à influência das modificações na-
turais em uma medida inconcebível nas cidades. Nos meios
rurais, a ocupação se faz na agricultura, na criação ou nas
pequenas industrias extrativas ou consagradas à transformação
das matérias primas regionais. Por isso mesmo aí o regime
de trabalho é específico. A ocupação no meio rural liga-se
à agricultura, à criação, às pequenas industrias extrativas ou
de transformação das matérias primas regionais.
Na cidade a manufatura domina.o os trabalhos de
transformação da matéria prima exportada do campo. "C'est
l'cri d'Usine en mal d'enfant", como dizia Jean Rictus. (18)
E a diferença de ocupaçãoo é apenas referente ao gênero
de trabalho mas à maneira de executá-lo.
No campo o homem trabalha ao ar livre e passa o resto do
tempo em casa. Na cidade trabalha em recintos fechados e vive
fora do lar.
E aqui surge o problema da saúde, que apresenta diferenças
capitais entre o meio rural e o meio urbano.
O REGIME DE TRABALHO E A SAÚDE NO CAMPO
Era e ainda é corrente a idéia da superioridade do campo
sôbre a cidade no ponto de vista das condições de saúde das
respectivas populações. O ar livre do campo, o trabalho fora
dos recintos fechados, a permanência da mulher no lar consti-
tuíam razões indiscutíveis de superioridade. Entretanto uma
observação mais atenta da vida na cidade moderna, cuja higiene
pública e particular se aperfeiçoou enormemente, onde tudo
é fiscalizado, desde a composição química da água potável até
(16) Vide: Carneiro Leão (A.) Sociedade Rural, seus Pro-
blemas e sua Educação Editôra "A Noite", Rio, 1940.
(17) Vide: Hilgard Sternberg Enchentes e Movimentos Cole-
tivos no Vale do Paraíba, em Dezembro de 1948, Rio. 1949.
(18) Vide: Rictus (Jean) Les Soliloques du Pauvre (dessins
de Steinlen) pág. 112, Quarante-troisième mille, Eugène Rey, Libraire-
Editeur, Paris, 1921.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
à qualidade da alimentação, na qualo faltam médicos, nem
hospitais, nem assistência, mostra que a superioridade se desloca
francamente do meio rural para o meio urbano.
O importante no caso é precisar as ameaças à saúde mais
comuns neste ou naquele meio.
As últimas estatísticas feitas no Brasilo por mil ha-
bitantes anualmente as cifras seguintes:
Nascimentos 42,3
Mortes 23,0
enquanto na França os nascimentos eram de 21 e as mortes
de 13,8.
No Brasil a percentagem de nascimentos e de mortes
difere muito de região a região. As estatísticas feitas nas
grandes cidadeso por mil habitantes no triênio 1947-1949:
Rio de Janeiro (capital do país)... Nascimentos 25.
Mortes 13.
o Paulo (capital do Estado deo Paulo).. . Nas-
cimentos 26. Mortes 10.
Porto Alegre (capital do Estado do Rio Grande do Sul) ...
Nascimentos 28. Mortes 15.
Fortaleza (capital do Estado de Ceará) ... Nascimen-
tos 46. Mortes 25.
Recife (capital do Estado de Pernambuco)... Nasci-
mentos 44. Mortes 25.
Salvador (capital do Estado da Bahia)... Nascimen-
tos 36. Mortes 20.
Belém (capital do Estado do Pará)... Nascimentos 36.
Mortes 17.
Belo Horizonte (capital do Estado de Minas Gerais)...
Nascimentos 37. Mortes 25. (*)
Nas principais cidades do Brasil, especialmente no Rio
de Janeiro e emo Paulo, patenteia-se a influência dos fa-
tores conhecidos que contribuem para rebaixar o nível da na-
talidade das populações urbanas nos países de civilização oci-
dental ; os casamentos, menos frequentes, se realizam muito
mais tarde e pratica-se a limitação voluntária dos nascimentos.
(*) Dados fornecidos pelo "Laboratório de Estatística do Instituto
Brasileiro de Geografia c Estatística" (I. B. G. E.) em 1957.
Emborao tenhamos estatísticas rigorosas sob tal assunto
podemos afirmar que a mortalidade nas zonas rurais é ligeira-
mente superior à das zonas urbanas, fato amplamente compen-
sado pelos nascimentos muito mais numerosos no campo.
O que importa no caso é precisar as ameaças mais caracte-
rísticas à saúde num e noutro meio.
As moléstias típicas no campo e relativamente raras na
cidade são: tifo, malária, verminose e, em certas localidades
do Brasil, moléstia de Chagas (19) ou "Tripanossomíase ame-
ricana", "úlcera de Bauru" (*), chamada alhures "leishma-
niose". Na cidade predominam antes: a tuberculose como
consequência dos ambientes confinados, trabalhos excessivos e
alimentação mal cuidada e insuficiente sífilis e certas mo-
léstias mentais.
Houve muito, até certa época, quem supusesse estar o
campo mais sujeito a determinadas moléstias mentais, sobretudo
nas mulheres, em virtude da vida de isolamento em que viviam.
Cientificamente a afirmaçãoo tem fundamento. (20) A
opinião mais ou menos corrente é da maior percentagem de
loucos na cidade por paralisia geral, por alcoolismo, por entor-
pecentes. Hoje no Brasil constitui verdadeira calamidade o
hábito de fumar maconha (vegetal cuja plantação está rigoro-
samente proibida pelas nossas leis.) Poder-se-ia ainda indicar,
como mais característico da cidade, a maior percentagem de
loucos solteiros, isto é, de indivíduos cuja vida decorre fora da
família. Esse fato de vida isolada, muito mais acentuada nas
cidades,o é causa apenas de perturbação mental mas de
divórcios, uniões extra-legais, nascimentos ilegítimos, suicídios,
em muito maior número na cidade. (21)
O PROBLEMA DA FAMÍLIA
Os problemas do casamento, da família, das relações entre
os cônjuges e entre os filhos, da percentagem de nascimentos e
da mortalidadeo diferentes nos dois meios.
(*) Bauru Nome de uma cidade de S. Paulo, na qual essa
doença foi estudada por Gaspar Viana, discípulo de Osvaldo Cruz.
(19) Pena (Belisário) Saneamento do Brasil, Rio 1918 e
Amarelão e Maleita,o Paulo, 1924.
(20) Vide: Sorokin and Zimmerman Principies of Rural
Urban Sociology, pág. 256.
(21) Vide: Sorokin and Zimmerman Obra cit., pág. 279; vide
também K. Jaspers Psychopathologie générale pág. 578.
A. CARNEIRO LEÃO
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
Em regra, no campo, o casamento realiza-se mais cedo e é
relativamente mais generalizado, pois de modo algum se tolera
a união extra-legal, constituindo a simples enunciação de amor
livre verdadeiro atentado à moral. Nas cidades verifica-se um
grande número de uniões livres e de nascimentos ilegítimos, en-
contrando-se muitas crianças abandonadas, filhas de pais des-
conhecidos e, muitas outras, com pai e mãe, mas atiradas à carga
do Estado. No campo, no Brasil,o sóo se abandonam os
filhos como também se eles se tornam órfãos, os vizinhos, os
amigos os adotam, imediatamente, como a coisa mais natural do
mundo.
O conceito de respeito no convívio entre os sexos difere de
modo considerável do meio rural para o meio urbano. Naquele
é mais estreito, mais conservador, influenciado ainda pelos prin-
cípios primitivos do patriarcado, do domínio do chefe da fa-
mília sôbre a mulher e sôbre os filhos. A diferenciação das
idades é mais acentuada. Os moços vivem entre si mais ou
menos separados dos mais velhos, assim como os dois sexos
mantêm-se a conveniente distância um do outro. Na cidade os
próprios pais evoluem e adaptam-se às ideias da geração dos
filhos. Eles pensam com razão que mais vale adaptar-se do
que serem absorvidos.
No campo a família é mais numerosa. Os filhos vivem
muito mais ajustados ao ambiente familiar, à religião, aos-
bitos, às atitudes, às tradições e até aos preconceitos, às simpa-
tias e aos ódios dos pais e dos avós. No Brasil era assaz
conhecido o ódio de morte cultivado de geração a geração entre
famílias matutas ou sertanejas.o os casos, por exemplo, dos
Pires e dos Camargos (1) no Sul, dos Araújos e dos Maciéis,
dos Soares e dos Calangros no Nordeste. Era alguma coisa
no gênero da "vendeta" córsica. Aquele que matava era morto;
iam-no buscar até nas prisões. Hoje tais atitudes desaparecem,
começam a compreender a brutalidade odiosa e apelam para a
justiça.
O número de filhos é relativamente maior no ambiente
rural e a percentagem de falecimentos de crianças, sobretudo
pela assistência contínua dae de família, no lar, muito menor.
1) Vide: Costa Pinto (L. A.) Lutas de Famílias no Brasil,
Cia. Editora Nacional. S. Paulo, 1949.
A. CARNEIRO LEÃO
Nas grandes cidades as espeluncas exterminadoras e a
ausência das mães que trabalham fora do lar prejudicam os
filhos,o apenas na saúde mas no próprio destino. Que
faz a criança em um quarto onde ela é perturbada e perturba?
Ae está em suas ocupações, entrará dentro em pouco fati-
gada, enervada, as palmadas, os bofetões choverão às menores
travessuras.
A rua é um refúgio para o pequeno deserdado; ei-lo à
busca de colegas em miséria para comportamentos deforma-
dores. Reunidos, eles perceberão os seus infortúnios, tra-
çando planos para evitá-los e ensaiando atitudes que muitas
vezes os conduzem longe demais. Aliás, neste sentido, nos
últimos anos, a ausência crescente das mães no cuidado domés-
tico às crianças e aos adolescentes, nas grandes cidades do Brasil,
está constituindo uma verdadeira ameaça à educação da geração
que surge.
INTELIGÊNCIA E CULTURA
No tocante à inteligênciao nos parece ser ela mais alta
no meio urbano, ou, melhor, ser o homem rural da inteligência
inferior à do homem urbano. As diferenças existenteso
atestam inferioridade biológica ou psicológica intrínseca do
homem do campo. Existem, eo é possível ocultar, diferenças
acentuadas, resultantes das diferenças de ambiente e de vida.
Várias estatísticasm procurado demonstrar diversidade
o só no nível como na qualidade da inteligência. O proble-
ma é, no entanto, principalmente de cultura.
O ambiente cultural do campo é um, da cidade outro. O
campo, mais isolado, sofre maior pressão do passado, maior
influência das idéias adquiridas, das atitudes familiares, das
tradições.
Na cidade, a influência de inúmeros fatores sobre a ação
da família, a interação entre os indivíduos de diferentes ori-
gens, de nível de cultura dissemelhante, de raças diversas, de
vários credos políticos ou religiosos dá uma outra acuidade à
inteligência, tornando-a mais pronta, mais profunda.o se
trata, pois, de um problema hereditário, problema de inteligên-
cia, propriamente, mas antes cultural.
Na cidade a educação é superior à ministrada no campo.
Melhores mestres, maiores preocupações intelectuais, mais in-
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL.
tensa interação, mais viva sugestão do ambiente tornam ali a
vida mental muito mais alerta. As oportunidades de apren-
dizagemo de todos os instantes.o o jardim público e o
museu, os clubes, o cinema, o ambiente familiar e social os
incentivadores de conhecimento e, portanto, fatôres diretos de
desenvolvimento mental.
MOBILIDADE SOCIAL
Outro problema, cuja diferença é manifesta nos dois meios,
é o da mobilidade, horizontal e vertical, isto é, a mudança de
meio, como de profissão, de religião, de nível social.
A primeira é incomparavelmente menor no campo. É
comum, mesmo nos países em formação e por consequência de
instabilidade, movimento, mudança muito menores, a permanên-
cia de duas e mais gerações no mesmo local, numa só fazenda,
num só engenho.
Em nossa América, na cidade a transferência de casa,
de bairro, de região é dia a dia mais comum. Em nosso país,
em crescimento continuo, tendendo a uma grande instabilidade
o é raro verificar que três e quatro gerações habitam a
mesma localidade. É verdade que a crise financeira atual e o
desenvolvimento industrial atraem os habitantes do interior em
proporções perigosas para a estabilidade da sociedade rural e
para o equilíbrio da sociedade urbana.
Há alguns anos a vida urbana se caracterizava pela paixão
da mudança; trocava-se de casa pelo prazer de mudar, de
buscar meio diferente. No Rio de Janeiro precipitavam-se
todos dos arrabaldes para os quarteirões marítimos, para a pro-
ximidade das praias. "Copacabana" tornou-se o sonho de qua-
se todos os "cariocas". Hoje porém a dificuldade de moradia,
que se acentua de maneira alarmante com o crescimento verti-
ginoso da população, impõe aos brasileiros o gosto da esta-
bilidade e modifica inteiramente a situação.
Quanto à mudança de profissão, de nível social, de reli-
gião, a cidade supera infinitamente o meio rural. Os exemplos
de indivíduos que estiveram em duas, três e mais profissões e
ascenderam de nível ou mudaram de religiãoo faltam no meio
urbano.
Muito frequentes são, portanto, nas cidades, essas modi-
ficações constantes, consequências da mobilidade dos socii, que
3
A. CARNEIRO LEÃO
lhes alteram a situação econômica, a posição social e a atitude
no interior do grupo, levando-os a encarar diferentemente os
diversos problemas políticos, econômicos e sociais do meio.
Por exemplo: o operário brasileiro é, em regra, inteligente
e habilidoso, mas a constânciao é seu forte, sua virtude
dominante, e êle está longe de considerar o trabalho como um
bem. Temos um grande número de "João faz tudo", isto é,
que faz todos os ofícios. Nos países de grande luta pela
vida esse tipo de trabalhador desaparece, entre nós, todavia,
êle é ainda numeroso e a sua grande habilidade leva-o a se
tirar,o raro, muito bem de muitas dificuldades. E é pena,
porque aqueles que se especializamo operários notáveis.
Chefes de indústrias emo Paulo e no Rio confessam que
o melhor operário de suas fábricaso mulatos. Ora essas
indústrias empregam alemães, japoneses, italianos, que são, em
regra, excelentes operários. Mas. no Brasil, é a exceção, uma
exceção brilhante que se poderá generalizar quando tivermos
resolvido o grave problema da educação vocacional, comprome-
tída peta rigidez do nosso ensino médio, podendo então cuidar-se
a sério da orientação profissional, porque a formação de
operários qualificados é ainda muito precária em nosso país.
Contudo já podemos acalentar esperanças. Há já alguns anos
a "Fundação Getúlio Vargas" criou um gabinete de orien-
tação profissional sob a direção de Mira y Lopez, antigo
fundador do "Instituto de Orientação Profissional de Barce-
lona", e a "Confederação Nacional das Indústrias" (Senai)
organiza, sob largos planos e com recursos consideráveis, ser-
viços dos quais esperamos resultados positivos.
Uma das qualidades melhores de nosso operário é a sua
generosidade. Acompanhado por um grupo de camaradas, em
um "Café", em um tramway, êle está sempre pronto a pagar
pelos outros. Êle é um tanto boémio, um tanto artista e
coloca sempre o supérfluo acima do necessário. Em suma
possui qualidades que lhe podem assegurar uma vida digna e
venturosa.
No campo, as famílias têm, de ordinário, a mesma menta-
lidade, a mesma religião, os mesmos costumes, o mesmo con-
ceito oral a respeito de determinadas práticas e de determi-
nados delitos. Há aí maior homogeneidade racial. Na cidade
há maior número de raças, de religiões, de hábitos, de atitudes,
maior heterogeneidade no grupo. Desse modo, no campo a
pressão, a crítica social, é muito mais rigorosa, o atentado a
certos princípios morais muito mais severamente punido.
Na cidade pode-se discutir, por exemplo, o valor do casa-
mento, a possibilidade do amor livre... o que, só enunciado, no
campo constituiria um escândalo.
Durkheim diz, com razão, que a maior homogeneidade de
costumes, raças, religiões, etc, estabelece a maior reação ao
crime, a maior pressão social. À medida que a heterogeneidade
cresce, a simpatia, a sociabilidade, o altruísmo decrescem.
Quanto mais perto de nós, mais próximo da nossa mentalidade,
maior harmonia e maior possibilidade da vida em comum.
Já vimos que, no Brasil, o meio rural se distingue por uma
certa tendência à estagnação. Entregue a si mesmo, êle esta-
cionará a princípio e depois retrocederá em seus moldes de
cultura, de pensamento, de ação. É no intercâmbio entre comu-
nidades rurais e urbanas que se desenvolve a cultura e o pen-
samento evolui. Porque a cultura no meio rural mostra-se
muito mais conservadora. A ação do passado sobre o presente
é, ali, muito mais constante e mais viva e muito mais insis-
tente a manutenção de certos padrões, a conservação de deter-
minados aspectos de cultura. Uma consequência talvez inespe-
rada. está no fato de que as revoltas, os levantes nos meios
rurais brasileiros foram marcados pelo desejo da volta ao pas-
sado. "Pedra Bonita" e "Canudos"o atestados evidentes
de que uma se empenhava pela volta do "Sebastianismo" e o
outro pelo retorno à Monarquia.
O meio urbano, pelas suas características de heterogenei-
dade, pela maior mobilidade, maior velocidade na interação
entre os "socii", elabora uma cultura mais dinâmica e muito
mais notável. As cidadeso centros renovadores por exce-
lência, enquanto o campo e o sertãoo antes defensores in-
transigentes das tradições e dos núcleos de coesão nacional
muito mais vigilantes. O meio urbano, impressionado por di-
versos fatores: imigração e emigração contínuas, mobilidade
constante dos "socii" doutras comunidades e doutras culturas
atenua o espírito de "apela" e dá vistas mais amplas, mais
cosmopolitas. O que se, é que em sua obra cultural o
campo se distingue por maior espontaneidade, por uma inspi-
ração haurida na natureza.o os poetas bucólicos, os cria-
dores de obras de imaginação, enquanto na cidade floresce uma
cultura mais realista, mais internacional.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
O rural é regional, local, peculiar; o urbano é geral, inter-
nacional, universal.
No sertão brasileiro as noites de luaroo luminosas
quanto as mais luminosas da terra. Os homens se reúnem
diante de sua pequena choupana, ou dentro de sua casinha e
cantam acompanhados por um "Triângulo" uma "Harmônica"
e uma "Viola". É um espetáculo único, porque tudo se trans-
figura dentro daquela atmosfera de doçura, de inocência e de
saudades. (22)
Seus cantoso evocativos e nostálgicos. O sertanejo
jamais é exuberante; é grave como a natureza que o circunda.
Mesmo essa alegria passageira, que os campônios franceses
manifestam nas festas de suas aldeias ou nas comezainas dos
festins de casamento, o "sertanejo"o a conhece. Como
sempre foi sóbrio ignora tais formas de prazer. Ele possui
porém uma riqueza inestimável que os europeus e os ameri-
canos do norte desconhecem: "o tempo". Se passamos diante
de sua porta, ao cair da noite, êle nos saúda afetuosamente,
mesmo se nunca nos viu. E, melhor: convida-nos a
sentar e oferece-nos uma xícara de café. Ses lhe per-
guntamos: "Que fazíeis?o raro êle nos responde: "es-
tava maginando". O que equivale confessar: divagava, dava
soltas à imaginação... E se continuarmos a nossa palestra
nos enterneceremos ouvindo-lhe as idéias honestas quandoo
ingênuas ou místicas, exigindoo pouco da vida e do mundo.
o parece exagero confessar o papel importantíssimo repre-
sentado pelos meios rurais na longevidade das nações. A
França muito deve às suas cidades mas queo deve ela aos
homens da gleba?
Foi precisamente o meio rural, com seu espírito conser-
vador, da língua, dos ideais, das tradições, do gosto dos ante-
passados, que manteve integral, através dos tempos e da domi-
nação estrangeira, a alma da Polónia, da Tcheco-Eslováquia, da
Finlândia, até à última conflagração. Sem êleo se teria
mantido o fogo sagrado da nacionalidade e essas naçõeso
ressurgiriam como ressurgiram, vitoriosamente, dentro de sua
própria personalidade no dia da libertação. Aliás é o caso
também da Irlanda, país agrícola, pátria do "Home sweet
(22) Vide: Entre outros, Barroso (Gustavo) Terra do Sol
e Carneiro Leão (A.) Sociedade Nitrai.
A. C A R N E I RO LEÃO
A. CARNEIRO LEÃO
rio, e o Rio de Janeiro, Capital do país, para onde imigrou um
número considerável de negros, depois da Proclamação da Re-
pública,o os pontos nos quais se encontram, de preferência,
o baixo espiritismo, os "candomblés" (*), os "xangôs" e as
"macumbas", centros de feitiçaria. Nos meios rurais essas prá-
ticaso raríssimas ou inexistentes. Aliás a feitiçaria sempre
existiu. Todas as literaturas assinalam sua presença. A Bíblia
mostra-se severa para os que a praticam. Em certa época os
feiticeiroso condenados à morte. No Brasilo se trata
todavia de feitiço. E aqui o fato curioso é que o homem é
quem tem o primeiro papel. Hoje essa prática se tornou uma
espécie de atração mercantil, frequentada geralmente por visi-
tantes estrangeiros.
No ponto de vista da estética já vimos como a arte no
campo é, em geral, rica de manifestações espontâneas: é o
folclore (23) feito de cânticos para endeusar a raça, a energia
do homem, a beleza da terra, a frescura da água. A arte da
cidade é diferente. Evolui de acordo com as preocupações e os
sentimentos nos diversos meios sociais. Como exemplos ex-
pressivos de arte urbana contemporânea assinalamos a obra de
JEAN
RIctus,
do homem sem teto; de QUINQUELA MARTIN,
descrevendo, com o pincel, as grandes fundições modernas, a
frenética movimentação nos portos; do escultor IRRURTIA, es-
culpindo monumentos representativos da indústria, do trabalho
em geral, de VERAHEREN, cantando as cidades tentaculares,
numa glorificação visível da vida nas usinas e nas fábricas; de
CÂNDIDO PORTINARI fixando o vigor e a fôrça no trabalhador
do campo e das ruas...
O esforço da civilização deve ser para aproximar a vida
do meio rural da vida do meio urbano, avançando um e puri-
ficando o outro. Certamenteo se aproximarão tanto que
se confundam, mas o campo, à medida que ser ajustando à
civilização da cidade er adquirindo maior facilidade de co-
municação, tornará a vida dos "socii" no meio rural mais
confortável e mais alegre.
(*) Nota: O "candomblé" é um sincretismo religioso no qual
encontramos os mitos negros em mistura,o raro, com imagens do
catolicismo. Vide Artur Ramos "O Negro Brasileiro" Companhia
Editora Nacional,o Paulo, 1940.
(23) Vide: Câmara Cascudo Contos Tradicionais do Brasil.
Liv. Progresso, Salvador, Bahia 1955, e Barroso (Gustavo) Ao Som
da Viola, Rio, 1949.
Nenhuma manifestação do espírito humano permite melhor
do que a arte fazer sentir o problema moral. Estudando-se a
arte no campo e na cidade percebe-se imediatamente as dife-
renças fundamentais.
No campo os motivos são, de ordinário, muito mais natu-
rais e muito mais sãos. Esse fatoo se explica unicamente
pela oposição entre o campo e a cidade, mas porque o ambiente
de civilização é mais ou menos refinado. A arte atinge sempre
o apogeu nas cidades as mais evoluídas e nas épocas de maior
prosperidade, quando os homens usufruem maior lazer e dis-
põem de meios para aproveitá-lo melhor. Daí vem a concepção
moral da arte urbana, que é muito mais a da satisfação e do
prazer dos sentidos, enquanto a arte rural é principalmente
recreativa. É incontestável que os períodos do apogeu artístico
o também os de maior relaxamento dos costumes. Assim
tem sido em todas as épocas em que a arte se desenvolveu nas
cidades justamente porque ela floresceu quando o homem, ha-
vendo já realizado suas aspirações materiais, ses a buscar
prazeres estéticos para evadir-se. Uma tal sensação do direito
que se possui para a satisfação pessoal, o gôzo da vida, vem
muitas vezes acompanhada de tais desejos; patenteia-se então
que uma decadência progressiva de costumes induz o homem a
colocar-se acima do bem e do mal.
UM GRAVE PROBLEMA
A civilização deve esforçar-se para aproximar a vida dos
campesinos da dos homens da cidade. Uma tal aproximação
o conseguirá nunca uma identificação completa, nem essa
pode ser a intenção, mas à medida que a vida no campo se
aproxime da vida da cidade e adquira maiores facilidades de
comunicações a existência dos campesinos tornar-se-á menos
áspera e menos triste, e eles dificilmente sucumbirão à ten-
tação de emigrar para as cidades.
O êxodo do campo para a cidade torna-se um problema
gravíssimo no Brasil. Empresas de transportes facilitam-no
colocando caminhões à disposição (por preços relativamente
módicos) daqueles que querem partir. Nesses caminhões,
conhecidos como " Paus-de-Arara", espremem-se numerosas fa-
mílias, compostas de velhos, moços e crianças, algumas peque-
ninas quem nos braços maternos durante todo o trajeto.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
Bravas criaturas queo levam com elas senão esperança e
boa vontade e que sóo encontrar desenganos! O pior é que
elas trazem para a cidade a mesma maneira de julgar os homens
e as coisas, que tinham no sertão. Viam-se já acolhidas como
nos seus ambientes de braços abertos. Haviam-lhes contado
o belas histórias! E eis que, após fadigas inimagináveis so-
fridas dentro do caminhão, como sardinhas em latas, alimen-
tadas com bananas e água fresca, encontram-se diante do trágico
problema do alojamento. Nem uma porta se abre, tudo está
repleto. Diante daquelas pobres fisionomias desfeitas, daquela
debilidade evidente, daquele aspecto doente, nenhuma fábrica,
ninguém as aceita para trabalhar... É a odisseia angustiosa
em busca da vida.
As cidades tentaculares e os campos alucinantes de Flandres
tiveram seu cantor...s esperamos ainda aquele que dirá
a triste epopeia do abandono de nossos sertões, aguardamos so-
bretudo, aquele que lhes dará remédio. Mas como dizemos
nós: "Deus é brasileiro e tudo se arranjará na terra do Sol".
Algumas pranchas e os recém-vindoso construir, nas cerca-
nias e nos montes da cidade, pequenas barracas para se abri-
garem.o Sebastião do Rio de Janeiro é uma cidade cer-
cada de montanhas, de colinas que surgem em todos os cantos
de rua, cobertas de vegetação, de árvores, de flores e de um
número incalculável de cabanas improvisadas, nas quais se
acotovela uma parte da população paupérrima; população mes-
tiça: brancos, negros, mulatos, mamelucos e cafuzos, famílias
honestas de trabalhadores na proximidade ou em mistura com
perigosos egressos das prisões. Vivem ali quase quinhentas mil
almas a pesarem dentro dos três milhões da Capital do país.
Esses conglomerados humanos chamam-se "favelas". É aí que
sem refugiar os sertanejos recentemente chegados. Eles
se apressam em plantar as suas tendas. Os terrenos perten-
cem ao Estado ou a particulares.o importa. Numa noite
os "barracos" (como eles denominam) construídos de tábuas
surgem e se multiplicam como cogumelos. Ao nascer do Sol
eles estão prontos e se tornam "tabou". É impossível demo-
li-los. Numerosas famílias com inumeráveis filhos já se en-
contram instalados. A cozinha compõe-se de seis tijolos para
fazer o fogo. Acima o céu, defronte o mar, atrás as árvores;
a única peça é feita de algumas tábuas mal ajustadas e de
um teto de velhas caixas de madeira, de ferro ou de zinco,
A. C A R N E I R O L. E Ã O
e algumas, raríssimas, de telhas. Goza-se então de um dos
mais belos panoramas do mundo. O clima é clemente o que
lhes permite dispensar muita coisa que julgamos tantas vezes
indispensáveis. E aí está porque os habitantes das "favelas"
nuncao amargos. Cantam, riem, tagarelam, discutem, bri-
gam, por vezes trabalham, razoavelmente, eo se sentem
infelizes.
Certa vez um "chauffeur" de táxi habitante de uma
dessas "favelas" durante todo o tempo que estivemos em seu
carro, procurou provar-nos a alegria de viver em tais ambientes,
o só pelas vantagens do ar, da luz e do Sol, mas ainda pela
liberdade de movimentos e de atitudes de que gozavam, fora
do tumulto da cidade e livres da angústia, após o trabalho, de
serem obrigados a viajar pendurados nos transportes coletivos,
superlotados e incertos.
Mas, terão eles o direito de se instalar em terrenos que
lheso pertencem? Não, mas arrogam-se tal direito. É a
lei do primeiro ocupante e as autoridades fecham os olhos.
Se um particular "ranzinza" rabujento reclama,
a imprensa, da direita, da esquerda, do centro, levanta-se em
defesa dos "pobres" habitantes das "favelas". O Rio de Janeiro
adotou-os generosamente, embora esdrúxulamente, pois, per-
guntam, aonde iriam estes homens, estas mulheres, estas crian-
ças? Eles necessitam ter onde morar. Evidentemente o "seu
espírito de iniciativa" deu-lhes o êxito esperado. Eles perma-
necerão ali até que as casas operárias, em construção pelo
Governo, estejam terminadas. Algumas já estão prontas e es-
peremos que pouco a pouco aqueles "barracos" desaparecerão.
Coisa bastante curiosa é que a maior parte dessa gente prefere
choupanas. Agora mesmo a "Cruzadao Sebastião", que
edifica arranha-céus para favelados, começa a sentir a pouca
simpatia de todos eles em trocarem seus "barracos" e suas
existências libérrimas pelos apartamentos com disciplina e fis-
calização. No entanto, aí a vida lhes será muitas vezes pre-
ferível à de tantos milhares de operários que moram nas zonas
suburbanas gastando, às vezes, três horas para ir ao traba-
lho e três horas para voltar. Os "trens", os "ônibus", os
'' tramways", na hora da investida, nos momentos da grande
afluência, desaparecem envolvidos por verdadeiros enxames hu-
manos, dentro dos quais os pobres trabalhadores que lá vivem
m de sofrer terrivelmente.
* * *
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL.
A. CARNEIRO LEÃO
Servindo-nos dos métodos que trabalham a sociologia, exa-
minando os diferentes problemas da estrutura e da mobilidade
social, entramos decisivamente na apreciação dos fatores de
comportamento humano. As condições ou elementos que in-
fluenciam e fundamentam a conduta do homem podem reduzir-se
a três categorias: a) inatas ou bio-psicológicas, b) geográfi-
cas, c) culturais.
A primeira inclui todo o equipamento do homem, sua na-
tureza original; a segunda reúne os diversos elementos do meio
natural, em cuja estrutura nem sempre é estranha a ação
humana; a terceira compreende o ambiente cultural, produzido
pelo próprio homem e sob cuja influência êle tem vivido de
uma a outra geração. Deste modo sentimos que a hereditarie-
dade está condicionada, abalada e modificada pelos dois pode-
rosos fatores meio natural e meio cultural. Em se tratando
das sociedades crescidas no ambiente físico do nosso Con-
tinente, sob a ação contínua do fator cultural mutável, no
qual se atritam elementos das mais variadas procedências, fácil
é compreender os problemas que se nos antolham.
RACISMO E MEIO CULTURAL
A observação e a experiência nos mostram, com um rigor
científico inconstestável, como se processa a estruturação e a
conduta das sociedades nas Américas. Por toda a parte aí
a herança cultural está em constante mudança na forma, no
conteúdo, nas variações e nas tendências. Ela se submete a
uma transformação constante de substância e de forma. Nesse
capítulo antropólogos, psicólogos e sociólogos estão trabalhando
de braços dados para a compreensão de fenómenos sociais até
agora obscurecidos ou adulterados por interpretações cerebrinas.
Foi, sobretudo, no meio americano, que as novas interpre-
tações do predomínio do ambiente cultural, condicionado pelo
ambiente físico, veio ferir de morte,o só a discutida supe-
rioridade mental do homem da cidade sobre o homem do campo,
mas a pretensão das teorias racistas. O problema é de cultura
sob a influência do meio natural. O ambiente cultural do campo
é um, da cidade outro. O campo mais insulado sofre, como
vimos, maior pressão do meio físico, das idéias adquiridas, das
atitudes familiares, das tradições.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
Na cidade a interação entre "socii" de diferentes origens,
de gênero e de nível de cultura dissemelhantes, de raças diver-
sas, de vários credos políticos ou religiosos, torna a inteli-
gência mais pronta e mais profunda.
Depois, melhores mestres, maiores preocupações inte-
lectuais, contactos mais intensos c mais constantes, mais viva
pressão faz ali, a vida mental muito mais alerta. A here-
ditariedade, as condições bio-psíquicas valem apenas como o
potencial, cujo desenvolvimento se fará num sentido ou nou-
tro, conforme a atuação do meio natural e do meio cultural.
Como prova dessa verdade basta assinalar, de acordo com as
estatísticas citadas por Pitirim Sorokin e Zimmerman que, na
Russia, os moços, eliminados dos cursos secundários, eram, em
maior proporção, filhos da cidade.
O maior hábito de vida social, a maior atração pelas dis-
trações, a maior tolerância no meio familiar urbano por certos
deslizes do jovem, o anseio incontido de liberdade, foram pro-
vavelmente as causas do abandono mais frequente da vida de
estudante pelos rapazes da cidade. Assim a percentagem maior
da permanência dos jovens do meio rural nos cursos superiores
pode ser interpretada por qualquer razão menos por serem eles
mentalmente inferiores.
No tocante ao racismo a mesma inconsistência se jáo
estivesse provada, nos meios científicos europeus, o laboratório
sociológico americano encarregar-se-ia de demonstrá-la experi-
mentalmente. Boas e Wissler, no domínio da antropologia, fi-
zeram obra convincente nesse sentido e quanto à psicologia po-
demos ir buscar contribuições valiosas em favor dessa tese
com os próprios homens de ciência da Europa. Se "as diferen-
ças fundamentais dos tipos hereditárioso frequentemente in-
significantes ao lado das diferenças oriundas do tipo de civiliza-
ção e do nível de cultura'', segundo escreve Piéron (24), con-
m acentuar que, ante as diferenças encontradas entre os
descendentes de uma raça e os descendentes de outra,o se
pode concluir pela inferioridade irremediável dessa ou daquela.
Nossa América, de um extremo a outro, é um campo
vivo de experiência. No México, emo Domingos, no Haiti,
(24) Vide: Piéron (Henri) Psicologia do Comportamento
pág. 247 Companhia Editora Nacional.o Paulo, 1935, Brasil.
Vide: Boas (Franz) Antrhopology and Modem Life, Norton, N.
York, 1928.
em Cuba, em Guatemala, na Colômbia, no Equador, na Bo-
lívia. no Peru, no Paraguai, no Brasil (25), nos Estados Uni-
dos, por toda parte, os exemplos pululam. Tanto em relação
aos mestiços quanto aos descendentes das pretendidas raças
superiores:, as provaso múltiplas e flagrantes.
É impossível estabelecer nestas páginas a longa lista daque-
les que negros, índios, mulatos, cafuzos, mamelucos se
distinguiram nas mais altas atividades mentais.
Enquanto vemos "índios" de "quatro costados", como Be-
nito Juarez, presidindo, com dignidade e habilidade invulgares,
os Estados Unidos do México, Poti Filipe Camarão
influindo decisivamente para a restauração do domínio portu-
guês no Nordeste brasileiro; enquanto vemos nos Estados Uni-
dos negros, como Booker T. Washington de valor mental e
moralo alto, e no Brasil pretos como Cruz e Sousa, filho de
dois escravos e cuja inteligência e sensibilidade privilegiadas
fizeram-no o maior poeta simbolista do nosso país; André Re-
bouças professor da Escola Politécnica do Rio de Janeiro,
um dos maiores matemáticos brasileiros do seu tempo e o pro-
fessor José Hemetério dos Santos conquistando, em plena es-
cravidão. uma cátedra de mestre, em renhido concurso, o padre
José Maurício, compositor sacro inesquecível; enquanto vemos
isto encontramos nórdicos alemães genuínos filhos de
pais alemães, em certos meios brasileiros, tais como Teófilo
Otôni, Friburgo. Teresópolis, Petrópolis caipirizados como
o caboclo mais rude daquelas regiões brasileiras. Quanto aos
mulatos: Luis Gama filho de uma preta-mina e de senhor
branco vendido por seu pai aos dez anos, aos dezoito foge,
engaja-se como soldado, passa seis anos nas fileiras, deixando
o Exército para empreender o esforço titânico que o tornou
um homem relativamente culto e um modelo de virtudes cívicas
e morais; Tobias Barreto filósofo de impressionante perso-
nalidade e cultura; Machado de Assis, o mais perfeito escritor
nacional o Anatole France do Brasil; José do Patrocínio, um
dos nossos maiores jornalistas de todas as épocas; Teodoro
Sampaio, geógrafo e filólogo brasileiro dos mais notáveis; Ju-
liano Moreira, homem de ciência, de coração e de caráter,
(25) Vide: Roquete Pinto Antropologia Brasiliana, págs. 51/53
Companhia Editora Nacionalo Paulo. Vide: Wissler (Clark)
Man and Culture, Crowell, Co. N. York, 1928.
A. C A R N E I R O L E Ã O
patenteiam, aqui, as reservas e as possibilidades dos tipos ra-
ciais de valores mais contestados.
Esse ambiente cultural que explica experimentalmente, se
assim podemos dizer, o problema da diferenciação sociológica,
da diferenciação mental, da harmonia social na heterogeneidade
de raças, é o mesmo que facilita e condiciona a estruturação,
a radicação e a generalização da democracia em nossa América.
A democracia no sentido antes de regime de vida do que de
sistema político, de processo de viver dentro do qual há oportu-
nidade igual para todos, oportunidade somente restringida pelas
aptidões e pelos próprios limites individuais, no qual a liberdade
de pensar e de agir se mede apenas pelos imperativos dos
interesses gerais, em que a solidariedade e a cooperação cons-
cientes e consentidas fundamentam a conduta social e política
dos homens. Democracia, na qual se o "indivíduo consegue
meios para a libertação de sua inteligência, para a expressão
total dos seus valores, a sociedade lhe fornece os elementos para
compreender os interesses de sua pátria em conflito e se ajustar,
na estrutura social, como unidade eficiente."
CONCLUSÃO
Nenhum clima mais propício à radicação e ao desenvolvi-
mento dessa cultura, capaz de assimilar pela força do prestígio
duma vida sem peias, tornando cada pátria uma unidade
espiritual suficientemente enérgica para construir, com durabi-
lidade, do que o clima mental, social e moral de nossa América.
No Novo Mundo, à exceção de determinados meios norte-ame-
ricanos,o existem tradições nem de castas e nem mesmo de
classes, definidas e inconciliáveis. Em nenhuma parte da terra
encontraríamos campos mais adequados ao estudo e à com-
preensão da mobilidade social como força construtiva de socie-
dades que ascendem, se modificam e aperfeiçoam. Assim as
sociedades se organizam, desenvolvem e progridem, acolhendo
os filhos de todas as plagas, os fiéis de todos os credos, os
representantes de todas as etnias, os portadores de todas as
culturas, nesse cadinho de nacionalidades, capaz de uma assi-
milação e de uma aculturação em que os elementoso dife-
renças sociais e culturais, condicionadas pelo meio físico eo
dirigidas pelos menores ou maiores afastamentos dos termos
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
A. CARNEIRO LEÃO
médios de traços antropológicos, por pigmentos, morfologias
cranianas, índices cefálicos barreiras intransponíveis de
superioridades e inferioridades de raças, sob o imperativo abso-
luto da hereditariedade biológica.
Com tal visão de sua finalidade, guiada pelos métodos-
gicos e servindo-se de um campo de demonstração inesgotável,
a Sociologia, no Brasil e em toda a América, está fadadao só
a evidenciar o seu valor como ciência, mas a atestar a urgên-
cia de sua inclusão nos currículos das nossas escolas. A condi-
ção única é que ela nem se transforme em um amontoado de
fatos soltos nem em uma filosofia sectária, sem base nem ligação
com a realidade social.
CAPÍTULO II
O ADVENTO DOS ESTUDOS SOCIOLÓGICOS
NAS AMÉRICAS E NO BRASIL
INTRODUÇÃO
A Sociologia surgiu, no Brasil, com a obra de Augusto
Comte. Os centros de seus estudos foram principalmente as
Faculdades de Direito de Recife e deo Paulo.
No Recife quantos moços!: José Higino, Aníbal Fal-
cão, Martins Júnior, Sílvio Romero, Laurindo Leão, Clóvis
Bevilácqua, Artur Orlando apaixonavam-se, ainda nos ban-
cos académicos, pela filosofia e pela sociologia do criador do
positivismo.
Augusto Comte, em nosso país, como na maior parte das
nações americanas, de norte a sul,z escola e conquistou o
coração e a inteligência dos estudiosos, pois os nossos cultores
do Direito e da Filosofia, no último quartel do século XIX,
eram, em grande maioria, seus discípulos. Sua influência foi
tamanha que os apóstolos e os construtores da República bra-
sileira de 1889, saídos das escolas jurídicas e das escolas mili-
tares, moldaram as diretrizes nacionais nos ditames positivistas.
O fato era lógico. Nossa juventude de então, herdeira dos
ideais proclamados pelos enciclopedistas, dos quais seus avós
e seus pais foram os pregadores, entusiasmava-se agora por
um sistema filosófico que buscava acomodar a estruturação
política do Estado dentro das altas aspirações da dignidade hu-
mana. Sc seus ascendentes, inspirados por essa filosofia, fo-
ram os orientadores e dirigentes das revoluções republicanas
de 1817 e de 1824, em Pernambuco, ela, conduzida pelo posi-
tivismo, queria, agora que aqueles ideais se realizavam,
ser construtora e guia da República.
Augusto Comte transformara a filosofia do século XVIII
na filosofia positiva, fundamentada nos postulados científicos
da época. E nenhum espírito, inflamado pelos ideais de liber-
A. C A R N E I R O LEÃO
dade e de construção política, poderia permanecer insensível, no
Brasil como na América, a uma filosofia, cujas leis, para o
comportamento social, esteavam-se em todas as liberdades:
liberdade de culto (separação entre o temporal e o espiritual),
liberdades civis e políticas: de associação, de greve pacifica, de
expressão do pensamento (falado ou escrito), de profissão, de
testar, de subordinação do progresso material ao progresso moral
e da força ao Direito, pregando o amor, o espírito de serviço, o
viver para outrem... como princípios fundamentais de con-
duta na sociedade. Seria errôneo taxar de materialismo gros-
seiro um sistema filosófico esteado em postulados que iam
até à candura de proclamar a viuvez eterna para o cônjuge
sobrevivente. Entre os propagandistas do novo regime, entre
os demolidores do trono, entre os entusiastas da emancipação
libertadores de escravos e pregadores da República esta-
vam, em grande número, cultores assíduos do Positivismo."
O Governo republicano, sobretudo o Governo Provisório,
no seio do qual se sentia o influxo de Miguel Lemos e Teixeira
Mendes - logo depois chefes do "Apostolado Positivista" em
nossa pátria foi influenciado em linha direta pela filosofia do
criador da religião da humanidade. Naquele meio e naquela
hora culminaram duas figuras, militar uma Benjamim Cons-
tant Botelho de Magalhães, civil a outra Júlio de Castilho
líderes ambos do novo regime. O primeiro foi o primeiro
Ministro da Instrução Pública no Brasil, o segundo, hábil orien-
tador político em seu Estado natal. O tema de nossa bandeira
"Ordem e Progresso" emerge da doutrina positivista,
e um Estado brasileiro O Rio Grande do Sul precisa-
mente sob a égide de Júlio de Castilho, e, depois de sua morte,
de Borges de Medeiros, durante mais de trinta anos foi condu-
zido dentro dos postulados da filosofia de Comte. Mas, em
nosso Continente,o foi apenas no Brasil que o Positivismo
influiu decisivamente, na vida política do povo. No México sua
influência se mostrou ainda mais ampla e mais acentuada. Nes-
se país o Positivismo faz-se o instrumento da ordem, imperando
ern seguida, com misturas de evolucionismo "spenceriano",
Porfírio Dias. em cujas mãos fortes se mantém o governo sobre
a nação inteira.No Brasil o governo positivista se circunscreve
apenas a um Estado.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
A dissimilitude da ação política do Positivismo entre-
xico e Brasil advémo só do fato de naquela República
haverem misturado o Positivismo com o evolucionismo, da di-
tadura estender-se ali a toda a União, enquanto no Brasil de-
zenove Estados, o Distrito Federal e o Governo nacional se ins-
piravam na Democracia americana, como também pelo caráter
do Ditador e pela Índole do povo mexicano muito menos con-
ciliadora do que a índole da nossa gente. Para prova de que
apesar da lição política e do desejo de ordem social nos impres-
sionamos espiritualmente, se assim nos podemos expressar,
pela parte mística do Positivismo, basta assinalar que chegamos
ao ponto de instituir, em nosso país, a religião positivista
Religião da Humanidade com igreja, ritos, sacerdotes e, o
que é mais importante ainda, fiéis, no Rio de Janeiro e, du-
rante certo período, no Recife.
Onde se viu entusiasmo mais vivo e mais completo pelo
positivismo integral? Mesmo em França a feição religiosa do
Positivismo,o obstante a fidelidade comovedora de Pierre
Laffitte,o conseguiu repercussão aproximada. No Brasil
ainda hoje, na Capital da República, na Rua Benjamim Cons-
tant, os positivistas, vêm, todos os domingos, ao "Templo
da Humanidade" (*) ali erguido, ouvir a prédica (ia escre-
vendo o sermão) de seu sacerdote.
A constância pelo culto positivista por parte de um grupo
de brasileiros, persiste em nossos dias, mesmo longe das nossas
fronteiras. Paulo Carneiro, cujo coração e cuja inteligência
o sempre um duplo valor a tudo quanto empreende, inspirou
(*) Nota: Semanalmente encontram-se nos jornais do Rio de
Janeiro, notas como esta do "Jornal do Comércio" de 4 de abril de 1954:
" Igreja Positivista"
Será realizada hoje, às 10 horas, no Templo da Humani-
dade, na Rua Benjamim Constant, 74 (Glória) uma conferên-
cia, sobre a "Apreciação do Culto Público".
Sumário: O culto público é representado p:lo " Quadro
Sociolátrico", que resume a adoração universal da Humani-
dade. Ele idealiza os seis laços fundamentais, os três estados
preparatórios e as quatro funções normais da sociedade. O
ato positivista de treze meses (e um dia complementar) é
assim preenchido por estas treze festas mensais Os laços
fundamentaiso Humanidade, Casamento, Paternidade, Fi-
liação, Maternidade e Domesticidade Feiticismo, Politeísmo
e Monoticismo, tais os estados preparatórios Mulher, Sa-
4
A. CARNEIRO LEÃO
a fundação em Paris, para perpetuar a memória do pai do
"Positivismo", de "La Maison de Augusto Comte". Ali se en-
contra uma fonte de documentos preciosos sobre a obra e a
vida de um dos mais nobres pensadores que a humanidade já
possuiu.
Em Recife, nos primeiros anos deste século,o havia
comemoração nacional em que seo ouvisse a palavra de
Luciano de Sousa Pinto, um jovem de vinte e poucos anos
que conseguira, por influência paterna, convicção e calor bas-
tantes para a conversãoo só da família, em cujo seio nada
faltava para a consagração do culto à humanidade, nem mesmo
Clotilde prenome de uma de suas irmãs mas inúmeros
adeptos que o admiravam e o seguiam.o era assim de
estranhar que o pensamento do filósofo francês ocupasse um
lugar de relevo no pensamento, nas preocupações e nos estudos
dos brasileiros. Sendo então esse filósofo o padrinho da nova
ciência, aquele que a reconheceu, perfilhou e lhe deu um nome,
o podia deixar de decidir de sua orientação no Brasil.
Convém todaviao esquecer que a ação positivista em
nossa mocidadeo se deveu unicamente a Augusto Comte.
Emile Littré e Stuart Mill exerceram também considerável
influência. Foi principalmente a Littré que se filiou Clóvis
Bevilácqua, um dos nossos maiores juristas de todos os tempos.
A verdade é que na época de nada valeu a reação de
pensadores já libertos do Positivismo, como Tobias Barreto,
professor de Filosofia do Direito na Faculdade de Direito
de Recife, pregador do pensamento alemão, no Brasil, na
penúltima década do século passado, entusiasta de Rodolfo
Von Jhering, (1) de Noiré e de Haeckel, um dos espíritos
cerdócio.Patriciado e Proletariado: eis as funções normais
Os dias da semana consagram os sete grandes cultos da
evolução ocidental ou as sete ciências.
Será orador: o Sr. Augusto Beltrão Pernetta.
E mais: " Realiza-se amanhã, às 20 horas, no Templo
da Humanidade, na Rua Benjamim Constant, 74 (Glória), uma
cerimónia fúnebre comemorativa da morte de Clotilde de Vaux,
a inspiradora e colaboradora de Augusto Comte na fundação
do positivismo.
Será orador o Sr. Venâncio F. Neiva."
(1) Vide: Bevilácqua (Clóvis) História da Faculdade de Di-
reito de Recife (11 de agosto de 1827 a 11 de agosto de 1927)
Livraria Francisco Alves, Rio de Janeiro, 1927.
mais vigorosos da nossa história intelectual, combatendo o Po-
sitivismo e negando a existência da Sociologia. Pouco depois
os jovens brasileiros interessam-se, também, por Spencer. Esse
filósofo constituira-se, com oportunidade, o intérprete e defen-
sor da situação social de seu tempo. A civilização de base in-
dustrial e a organização política inglesa, norte-americana e, de
certo modo, francesa fizeram de Spencer o perscrutador e o
defensor da filosofia da vida e da civilização dessa época, o
líder do pensamento, no derradeiro quartel do século XIX e
primeiros dias do século XX.
Era assim que a sociologia de Augusto Comte: "fenômeno
natural, subordinado às leis físicas do Cosmo e da vida" (2)
se transformava com Spencer em uma sociologia fundamentada
na Biologia. A obra de Darwin vinha possibilitar a construção
do evolucionismo e a elaboração da sua sociologia. Nós, en-
tretanto, continuávamos a atingir a Sociologia por intermédio da
Filosofia, sobretudo da Filosofia do Direito. Aí está, sem-
vida, a razão pela qual a Sociologia, como disciplina escolar,
z seu aparecimento inicial, no Brasil, nas escolas de Ciências
Jurídicas e Sociais, como um ramo apendicular da Ciência do
Direito.
AS DIRETRIZES SOCIOLÓGICAS NO PRATA
E NO BRASIL (3)
As considerações expostas se nos afiguram suficientes
para explicar a razão por que, enquanto na Argentina já sur-
giam obras, no domínio da Sociologia, inspiradas diretamente no
espetáculo da vida real do meio, no Brasil, o que se fazia no
campo sociológico trazia um cunho inapagável de especulação
filosófica. Dir-se-ia que a preocupação especulativa retardava
nos brasileiros o amor, senão a possibilidade da observação, da
análise, da visão da realidade.
Alberdi, um dos maiores pensadores argentinos, afirmava,
aí pelos fins da primeira metade do século XIX, que o dever
da América era agir eo imaginar, e que os filósofos sem
(2) Vide: Leão (Laurindo) Estudos de Filosofia do Direito.
pág. 236.
(3) Vide: Zem Felde Proceso Intelectual del Uruguay,
pág. 201.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
A. C A R N E 1 R O L E Ã O
contacto com a vida se perdiam na Metafísica. "O papel da
América nos trabalhos atuais da civilização do mundo, dizia êle,
tem de ser positivo, a abstração purao deve mais tomar raí-
zes na América. Os Estados Unidos mostraram que a tradição
de um desenvolvimento filosóficoo é indispensável para che-
gar-se ao desenvolvimento político e social. Eles construíram
uma nova ordem social, que nada deve à .Metafísica.o há
país menos metafísico do que os Estados Unidos, nem povo que
sugira maiores motivos de especulação aos povos filosóficos
com seus admiráveis progressos práticos" (4).
Na Argentina destacava-se então em sociologia a obra de
Domingos Faustino Sarmiento. Sua visão das realidades so-
ciais argentinas e a predominância dada por êle ao coletivo
sobre o individual, impressionam e surpreendem. Em que pese
a afirmativa de Ingenieros (nesse particular mais preocupado
com a filosofia social do que com os fatos sociais) Sarmiento
foi um pioneiro da pesquisa sociológica, um precursor da socio-
logia aplicada argentina c americana. Suas investigações,
no referente às influências regionais, étnicas, económicas e
culturais, fizeram desse pensador original e poderoso um van-
guardista do pensamento sociológico do seu tempo, no Novo
Mundo.o importa lhe faltassem então a oportunidade, os
métodos e os processos para trabalhos de campo e conclusões
rigorosamente científicas. Porque seus livros: "Facundo",
chefe de clã, sempre em revolta contra o poder constituído;
" Recuerdos de Província" e "Conflitos y Harmonias de las
Razas en América"o atestados evidentes do seu valor de
pioneiro. Eo só Sarmiento. Com êle, ao lado dele, e,
depois dele, aparecem outros sociólogos realistas. Esteban
Echeverria, considerado por Ingenieros o precursor da socio-
logia argentina; Vicente Fidel Lopez e Bartolomeu Mitre, so-
ciólogos e historiadores; Alberdi, autor das "Bases", pensador
e político singular, todos esses escritores argentinos, aos quais
se iam aliar J. V. Lastarria, chileno e Andrés Bello, venezuela-
no,o contemporâneos de Sarmiento. Em seguida chegam
Francisco e José Maria Ramos Mejia, sobretudo o último, com
"Las Multitudes Argentinas'', Carlos Octávio Bunge com
''Nuestra América", J. A. Garcia com "La Ciudad Indiana",
(4) Vide: Ingenieros (José) La Evolución de las Ideas Argen-
tinas (Libro II), La Restauración, pág. 671.
e o próprio José Ingenieros com "La Evolución de las Ideas
Argentinas", explicação luminosa dos fatos sociais de uma
época, através da análise da interação cultural como provas
eloquentes da existência de um pensamento sociológico pragmá-
tico no estudo e na interpretação da civilização, da cultura e
da vida argentinas. Um confronto entre o pensamento e a
obra sociológica argentina e brasileira parece indispensável
para explicar as diferenças sensíveis de orientação. De um
lado porque naquele tempo, enquanto o Brasil vivia dias tran-
quilos, a Argentina, debatia-se no despotismo ou na anarquia.
A fascinação sobre nós, brasileiros, erao grande que nos
fazia deixar por vezes os nossos próprios interesses na penum-
bra.s nos embriagávamos de sonhos. Era um estado de
ventura do qual as consequências ofereciam alguns inconve-
nientes. O resultado foi o nosso desdém pelo material, pelo
quotidiano, pelo utilitário que nos envolviam sem nos interessar.
Certo, em todo o continente latino-americano essa forma de
inteligência imperou sempre, mas a desventura da pátria argen-
tina levou a sua elite mental, sobretudo homens de idéias forças,
como Sarmiento, Alberdi, Echeverria, Fidel Lopez, Mitre, a
auscultarem as causas das desditas, estudá-las, compreendê-las,
proclamá-las, ferreteá-las.
s vivíamos em plena especulação mental, enquanto na
Argentina, no Uruguai, no Chile, sob a liderança dos exilados
argentinos e a vaga dos emigrados europeus das revoluções
socialistas de 1848 e 1849, a inteligência culta ocupava-se com
o exame dos fatos sociais para uma oportuna solução nacional.
Saint Simon e Lerroux, socialistas utópicos estimulavam
as inteligências a sentirem o fenômeno social; todavia as
agruras da vida politica conduziam os pensadores argentinos ao
contacto premente com a realidade. A ditadura de Don Juan
Manuel de Rojas, que se manteve no poder naquela República
de 1829 a 1852, exilou a maior parte dos intelectuais da épo-
ca (5). Esses, num surto de reação admirável,o permane-
ceram inativos. Um estudo atento das realidades naturais e
sociais do seu pais revelou os verdadeiros interesses argentinos.
Daí a obra da sua elite mental contra o ditador, na Argentina,
enquanto foi possível e, depois, no Chile e no Uruguai.
(5) Vide: Carneiro Leão (A.) Palavras de Fé (Ensaios de
História da América) Liv. Alves, Rio 1929.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
Foi assim que vimos homens capazes de sondarem as
causas das desventuras da pátria, estudá-las, compreendê-las.
E fizeram melhor: paladinos da liberdade e da justiça,
combatidos, asfixiados em suas terras, vários deles foram aos
Estados Unidos, à Europa adquirir a experiência que ainda
lhes faltava. Nenhum descanso para os patriotas senão de-
pois da queda do Ditador e depois do ressurgimento da demo-
cracia argentina, organizada pela "Constituição de 1853", cons-
tituição modelar, filha dileta de suas aspirações e de seus ideais.
s nos encontrávamos bem longe de semelhantes agruras.
Vivíamos em plena segurança no segundo Império: nenhum
direito fundamental do homem livre era sequer discutido, ne-
nhuma liberdade de palavra cerceada.
O contraste entre Brasil de um lado e Argentina, Uru-
guai e Chile de outro advinha das condições diferentes de
ambientes sociais e culturais. Enquanto nessas repúblicas o
pensamento se inspirava na realidade da vida, no Brasil inicia-
va-se um movimento de ideias que o advento do Positivismo
viria canalizar. Em nosso país, como já dissemos, foi após o
conhecimento de Augusto Comte que surgiram os trabalhos de
cunho sociológico.o foi porém sem causas reais que a So-
ciologia se impôs como disciplina à parte para preocupação dos
pensadores. Uma sociedade de base agrária e comercial per-
turbava-se com o desenvolvimento da civilização industrial que
começava a imperar. O fato levaria as grandes inteligências ao
estudo dos fenômenos sociológicos.
A convicção de que, pelo fato sociológico fundamental
da interação razão de ser da própria existência social,
as mais agudas mentalidades de um dado momento se dedicam
sempre ao estudo e ao cultivo dos fenômenos mais importantes
de seu tempo, explicaria, por si, o acontecimento. Real-
mente parece que os espíritos eleitos sentem mais vivamente
que os demais para onde vai soprar o vento e qual a direção
a seguir pela sociedade, em cujo seio evoluem. Seus cuidados
e seus esforços caminham, mais cedo ou mais tarde, para o
estudo em busca da solução dos problemas apenas latentes.
Por isso, em momento de esplendor, de tranquilidade social,
as maiores inteligências se dedicam às elocubrações mentais e
à produção estética capazes de satisfazerem o lazer de uma
sociedade rica e despreocupada. Em época de misticismo,
A. CARNEIRO LEÃO
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
como na Idade Média, os espíritos mais altos se tornam sa-
cerdotes, guias de almas; na hora da renovação, como no Re-
nascimento, fazem-se artistas, criadores de beleza e de vida;
no momento de reação espiritual, como na Reforma e na
Contra Reforma, proclamam-se intérpretes do credo esco-
lhido, moralistas, reacionários, ou revolucionários. E aí está
a explicação de que nas sociedades civilizadas, atingido deter-
minado nível de cultura, para todas as crises, por mais violentas
e aparentemente inesperadas, exsurgem os homens necessários,
os líderes sociais e políticos, adequados e aptos a tomarem, com
êxito, em suas mãos, os destinos atribulados de seu grupo. Isso
na esfera do pensamento como na esfera da ação.
PENSADORES, FILÓSOFOS E SOCIÓLOGOS, NAS AMÉRICAS
E NO BRASIL
Era pois natural que, no Brasil, fosse nas "Escolas de
Ciências Jurídicas e Sociais" Faculdades de Direito
que a Sociologia aparecesse e era lógico fosse ela estimulada
pelas especulações filosóficas, preocupadas com a interpretação
dos fenômenos da inteligência, com a compreensão da vida na
sociedade. Daí seu advento, dentro do Positivismo e do evo-
lucionismo filosóficos. Daí sua evolução posterior. Já Lau-
rindo Leão, professor de Filosofia do Direito na "Faculdade de
Ciências Jurídicas e Sociais" de Recife, de 1890 a 1931, li-
bertado de Augusto Comte, aceitava a concepção de Durkheim,
considerando os fatos sociais sujeitos a leis próprias, condi-
cionadas pelas leis cósmicas, vitais, psíquicas e sociais.
"Sociologia, escreve Laurindo Leão, é a filosofia social
que estuda as leis gerais das ciências sociais, convergentes para
a explicação da sociedade. Tem uma base, como toda a
filosofia científica ou fenomenista. que é a teoria da relatividade
do conhecimento. Tem um objeto que é a classificação das
ciências sociais para chegar à coordenação das suas leis. Tem
uma missão que é a explicação da sociedade, a fim de queo
a embaracem e, ao contrário, auxiliem a sua conservação e
desenvolvimento". (6) Como se,o obstante reconhecer
um objeto próprio e uma missão especial, Laurindo Leão cata-
(6) Vide: Laurindo Leão Estudos de Filosofia do Direito
págs. 141 e 142, Imprensa Industrial Recife 1904.
A. CARNEIRO L E A O
Ioga a Sociologia mais como filosofia do que como ciência. Ele
mesmo acentua seu caráter de ciência abstrato-social para uns.
de ciência concreta, para outros, de filosofia para terceiros. (7)
Foi Silvío Romero, saído da chamada "Escola de Recife"
(núcleo de pensadores e de escritores) que, sob a égide de
Tobias Barreto, criou um centro cultural, de relativa ori-
ginalidade, aí pelo ano de 1870, em Pernambuco, quem pri-
meiro tentou, em nosso meio, a principio saturado do pensa-
mento de Comte, Littré, Mill, Spencer e, em seguida, de
Noiré e de Haeckel, uma sociologia liberta do predomínio da
especulação, num esforço sincero para o estudo do fato social.
Foi Sílvio Romero quem primeiro determinadamente adotou,
no Brasil, os métodos de pesquisas sociológicas, inspirados na
escola de Frederico Le Play. Já desprendido do Positivismo
e do evolucionismo, Silvio Romero aplicou aos estudos socio-
lógicos brasileiros o método monográfico.
Dada a fisionomia de nossa inteligência e de nossa cultura
a evoluçãoo podia ser diferente. Educados e seduzidos
pelo pensamento francês e pela cultura política inglesa os nossos
modeloso jorrariam de outras fontes.
o foi diversa a evolução da Sociologia em Norte Amé-
rica. Ao contrário, ali essa evolução se opera de modo seme-
lhante. Lester Ward é o primeiro sociólogo norte-americano.
A exemplo dos primeiros sociólogos brasileiros, êle se inspira
a princípio cm Comte, em seguida em Spencer. Ward passa
das Ciências Naturais às Ciências Sociais, de botânico a positi-
vista, de positivista a evolucionista, de evolucionista a monista.
Mas nem seu biologismo, nem suas filosofias comprometem sua
concepção psicológica da Sociologia. Sente-se nele o contacto
assíduo com Gabriel Tarde. Sua obra é monumental:o ampla
eo profunda que lhe dá a reputação de Aristóteles norte-
americano. Ela consta de duas partes: "Sociologia Pura" e
"Sociologia Aplicada". A primeira define a posição dessa
ciência, é antes uma filosofia social do que uma sociologia. A
segunda pretende a aplicação e compreende três partes: mo-
vimento, realização, melhoramento. (8)
(7) Vide: Laurindo Leão Estudos de Filosofia do Direito
pág. 195.
(8) Vide: Ward (Lester F.) Dynamic Sociology, or Applied
Social Science, in two volumes, D. Appleton and Company, 1924 e Applied
Sociology Gim and Company, 1906.
Datam, todavia, de após a "Guerra de Secessão" as pri-
meiras tentativas para a construção de uma investigação socio-
lógica pragmática, nos Estados Unidos. Aliás esse nome, só
pouco depois aparece com William James. Basta assinalar o
caráter dos surveys (investigações) iniciados após luta tre-
menda, para se patentear o objetivismo dos homens que os
empreenderam. As necessidades da construção econômico-so-
cial, consequentes àquela grave perturbação no seio desse povo,
conduziram seus pensadores aos inquéritos e às pesquisas, no
sentido de sondarem a realidade nacional. Daí veio a inesgo-
tável produção no domínio das pesquisas, das análises, dos es-
tudos, dos livros de sociologia geral e aplicada nesse país.
Contudo sem estar batizado o fato já existia, já se fazia
"pragmatismo".o é pois fora de propósito que chamemos
de pragmática a obra de investigação dos homens de 1870.
Assim, repetimos, as origens do aparecimento da Sociologia
o filosóficas mas a generalização de seus estudos é objetiva,
advém da necessidade do conhecimento e da interpretação de
fatos sociais ameaçadores ou, pelo menos, inexplicados e com-
plexos. O advento dos surveys, após a "Guerra de Secessão"
nos Estados Unidos, como da escola monográfica na França,
foi bem a resposta a tal estado de espírito. Em nosso país
foram, certamente, a predominância do filosófico e do espe-
culativo e a nossa tendência pelo abstrato, em épocas de sere-
nidade de nossa vida político-social, que nos detiveram, por largo
tempo, em caminhos diferentes.
OBRAS BRASILEIRAS DE SOCIOLOGIA
(INCLUSÃO DE SEUS ESTUDOS NOS DIFERENTES NÍVEIS DE
ENSINO)
Teixeira de Freitas, nosso jurista, um dos maiores do
Novo Mundo, é um exemplo de nosso amor pela especulação
filosófica, pela alta manifestação jurídica, pela aplicação dos
elevados princípios do Direito ao meio brasileiro, nem sempre
precedido do exame rigoroso das realidades sociais e nacionais.
Somente na "Organização Nacional" e no "Problema Nacional
Brasileiro" de Alberto Torres, se começa a encontrar a visão
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
sociológica francamente realista da nossa vida. Eo teria
influído decisivamente para tais estudos, a penetração pelo
interior brasileiro e as pesquisas de Osvaldo Cruz, Carlos
Chagas, Artur Neiva, Gaspar Viana, Belisário Pena, Antonio
Fontes, toda essa plêiade de homens de ciência, descobrindo
a realidade social do Brasil? Contudo se as obras de aná-
lise da vida brasileira se ressentiram até então de objetividade
para o conhecimento da nossa vida social, os nossos estudos
sociológicos, nas derradeiras décadas, marcharam seguramente
para uma orientação objetiva. Assim iniciamos mais tarde
os estudos de Sociologia os encorajamos e os intensificamos
nestes últimos tempos, de maneira definitiva. Pois, já os in-
cluímos nos currículos das escolas normais, dos institutos de
educação, das escolas secundárias, em certos estabelecimentos de
ensino especializado, nas "Faculdades de Filosofia", de "Filo-
sofia, Ciências, Letras e Educação" e agora na " Escola Naval",
como prenúncio de sua inclusão nas demais escolas militares do
Brasil. (9)
Assim os estudos da Sociologia, que até 1927 se limitavam
às "Faculdades de Ciências Jurídicas e Sociais" e apenas cir-
cunscritos ao fenômeno cio Direito, alargaram-se grandemente.
Data de 1926 a criação da primeira cátedra de Sociologia, aliás
no curso secundário, no "Colégio Pedro II", estabelecimento
de ensino oficial. Em seguida, ou seja, em 1928, as reformas
de educação cm Pernambuco, pors realizada, e, no Distrito
Federal, elaborada por Fernando Azevedo, incluíram no currí-
culo da escola de formar professores primários a cátedra de
Sociologia. A propósito, na exposição de motivos da reforma
que elaboramos em Pernambuco, escrevíamos então: "A So-
ciologia é indispensável ao programa de uma escola normal.
Mas se se tratar apenas de uma sociologia doutrinária, um es-
tudo das razões, do conceito, da definição dessa matéria...
iremos apenas arranjar mais um motivo para torneios verbais.
A sociologia imprescindível a uma escola de formar professores,
é a que trate de problemas sociais, sobretudo contemporâneos,
(9) O " II Congresso Latino-Americano de Sociologia", promovido
pela Associação Latino-Americana de Sociologia, realizado no Rio de
Janeiro e emo Paulo, em julho de 1953, sob a nossa presidência,
dentre as suas resoluções apresentou uma que aconselhava todas as escolas
militares a incluírem em seus currículos o estudo da " Sociologia".
A. CARNEIRO LEÃO
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
que promova e realize sondagens do meio social" (10) Porque,
concluímos: "Se a escola continua a descurar os fatos sociais,
ao esclarecer a juventude sobre os problemas correntes, ire-
mos ver demagogos e aventureiros audazes procurarem inter-
pretá-los a seu talante, confundindo tudo, envenenando a opi-
nião pública para dominarem."
Nossa preocupação pela cultura sociológica de fundamento
experimental vera porém de mais longe, pois ao reorganizarmos
os programas para a educação primária, quando Diretor-Geral
de Instrução Pública, no Distrito Federal, em 1925,o só
pregamos uma orientação do ensino sob os ditames da Socio-
logia como escrevemos na introdução: "Acreditamos que a
Sociologia operará no ensino uma revolução maior do que a
Psicologia porque sem esquecer o conhecimento da natureza hu-
mana, do comportamento do individuo, ela há de influir para
formar a personalidade capaz de reagir contra os distúrbios so-
ciais. contribuindo para o equilíbrio, fazendo-se um elemento
conscientemente ativo da sociedade". E continuávamos: "Res-
pondendo às necessidades sociais os programas escolareso de
conduzir à formação da infância e da juventude para tornar a
vida do país mais harmoniosa, mais próspera e mais feliz. Daí
a urgência crescente de aproximar a escola da vida real, fazer
com que dentro da classe se aprenda a viver e seja a vida de
todos os dias o material com que a escola trabalhe... Assim,
quando transmitimos pelo programa o culto da saúde, hábitos
sadios, horror às doenças e processos acessíveis de defesa, es-
tabelecidos numa educação higiência meticulosa, completada por
uma cultura física racional; quando buscamos ensinar a agir
com utilidade, interessando a escola na escolha da profissão
adequada a cada qual e a cada meio; quando procuramos orientar
a educação cívica e moral na direção dos deveres de uma demo-
cracia e da confraternidade entre os homens; quando que-
remos adotar os métodos mais ativos, mais práticos e mais
acessíveis à preparação das novas gerações estamos contri-
buindo para fazer da escola um fator de equilíbrio social." (11)
Outros Estados brasileiros foram adotando, também, em
seus currículos a Sociologia, embora o fato de só obterem pro-
(10) Vide: Carneiro Leão (A.) A Organização da Educação
no Estado de Pernambuco, Recife, 1929 e Planejar e Agir, Rio, 1942.
(11) Vide: Carneiro Leão (A.) Programas para a educação
primária -- Rio, Brasil, 1925.
A. C A R N E I R O LEÃO
fessôres alguns anos depois retardasse o início do seu ensino.
Foi o caso do próprio Distrito Federal que,o obstante criar
a cátedra, em 1928, como dissemos, somente em 1932 a pôde
ministrar. Em 1933o Paulo inclui essa matéria em sua
"Escola Normal". Nos cursos superiores a Sociologia surge
como disciplina autônoma, a partir de 1933 na "Escola Livre
de Sociologia e Política" de S. Paulo e em 1934 na "Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras" da Universidade do mesmo
Estado.
A "Escola Livre de Sociologia e Política" com professôres
brasileiros e a colaboração de mestres norte-americanos, de
Lowrie a Donald Pierson, tem feito um trabalho excelente, na
órbita da Sociologia, notadamente na pesquisa de campo. A
"Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras", com Fernando
Azevedo e os professores franceses Arbousse e Roger Bastide,
desenvolve a cultura sociológica e realiza pesquisas.
A "Universidade do Distrito Federal", fundada por Anísio
Teixeira, Secretário de Educação e Cultura e Pedro Ernesto
Prefeito do Distrito Federal em 1935, (12) entrega a Gil-
berto Freyre o ensino da Sociologia que êle fundamenta nos
"surveys". e quando êle deixa a cátedra cabe-nos continuar o
seu trabalho na direção iniciada.
Hoje as demais Faculdades de Filosofia, pelo Brasil em
fora, continuam ou, pelo menos,m o dever de persistir na
mesma direção.
Por outro lado, nossa bibliografia sociológica até há pouco
inexistente se vai tornando promissora. A primeira obra de
exposição, aparecida a seguir à inclusão dessa matéria, nos
cursos secundários, ou seja há mais de vinte e cinco anos pas-
sados, foi a "Introdução à Sociologia Geral", de Pontes de
Miranda. Em seguida vêm: "Sociologia", "Práticas de So-
ciologia", "Sociologia Educacional", "Sociologia Experimen-
tal", de Carlos Delgado de Carvalho, "Princípios de Sociologia"
e "Sociologia Educacional" de Fernando Azevedo, "Funda-
mentos de Sociologia" de nossa autoria, "Formação da So-
(12) Essa Universidade foi extinta em 1939. Em 1952 foi criada
com o mesmo nome uma Universidade, subvencionada pela Municipalidade
c da qual faz parte a " Faculdade de Filosofia do Instituto La-Fayette"
com a designação de Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da
Universidade do Distrito Federal.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
ciologia" de Almir de Andrade, "Sociologia Geral", de Gilberto
Freyre e outras, de maior ou menor valor.
Ao lado dessas obras de objetivos, acentuadamente didáti-
cos, continuaram e continuam a aparecer livros de estrutura
sociológica, estudando fatos e problemas sociais, alguns real-
mente notáveis. Nessa corrente, entre os primeiros e os me-
lhores,o obstante suas intenções políticas, estão os livros já
referidos, de Alberto Torres "Organização Nacional" e
"Problema Nacional Brasileiro". Nesses estudos o autor pro-
cura interpretações e soluções políticas fundamentadas na visão
social dos nossos problemas, vistos e examinados dentro do
ambiente natural e do meio cultural das zonas urbanas e rurais.
No exame de nossos problemas o primeiro, porém, a en-
carar a vida brasileira em seus variados aspectos por ângulos
legitimamente sociológicos foi Sílvio Romero em seu "Brasil
Social", É pelo estudo dos fatores étnicos, pelo resultado da
fusão dos sangues que circulam em nossas veias, plasmando a
personalidade nacional, que Sílvio Romero procura chegar ao
conhecimento e à explicação científica de nosso sentimento, de
nosso caráter, de nossa cultura, de nossa civilização, de nossa
vida, em suma. Em sua monografia sobre o problema do alemão
no sul do Brasil êle se mostra observador atilado e seguro. Sua
análise do quisto étnico, quisto constituído pelo insulamento
dessa raça no seio de nosso povo, pela manutenção de uma
cultura diversa dentro da cultura brasileira, pela dificuldade
e perigo da ausência de miscigenação, conduzindo à impos-
sibilidade de assimilação e aos problemas subsequentes, é uma
obra de sociologia, digna do nosso respeito e dos nossos
aplausos.
Ainda hoje ela é atual e merecedora de nossa reflexão por
nos mostrar como o quisto étnico se manteve intacto, guar-
dando uma cultura diferente, à margem da cultura brasileira
e a elao raro hostil. As duas grandes guerras provaram-nos
o acerto das conclusões de Sílvio Romero, patenteando que a
assimilação dos germanos em nossa cultura, em Santa Catarina
e no Rio Grande do Sul, era efetivamente nula. Basta assi-
nalar que, apesar das medidas tomadas pelo governo desde 1917,
os alemãeso mantiveram o ensino do Português, da Geogra-
fia e da História do Brasil, em suas escolas e se o mantiveram
nada foi conseguido de eficaz. Na construção da nossa História
possuímos algumas obras de orientação nitidamente socioló-
A. CARNEIRO L E Ã O
gica.o elas a de Capistrano de Abreu, mostrando a evo-
lução cultural brasileira através do predomínio de determinadas
culturas, alguns períodos, como a do couro, por exemplo; a de
Manuel de Oliveira Lima: em "Pernambuco e seu Desen-
volvimento Histórico", em "América Latina e América Inglêsa",
em "Dão João VI no Brasil", em "Evolution de la Nationalité
Brésilienne" pelo flagrante que nos dá da evolução cultural e
social de cada época e de cada meio examinado; a de João
Ribeiro pela caracterização das "áreas de cultura" registadas
sempre no evolver de nossa nacionalidade, no espaço e no
tempo; a de Roquete Pinto pela luz que projeta sobre pro-
blemas étnicos e culturais brasileiros.
A determinação consciente e voluntariamente sociológica
de nossa evolução e de nossa existência como povo já surge
com Euclides da Cunha. Esse escritor foi o vanguardeiro da
plêiade de sociólogos que vem buscando interpretar o fenô-
meno brasileiro pelo estudo do nosso homem, dentro dos impe-
rativos históricos e mesológicos. "Os Sertões" — seu livro
capital constituem uma obra de sociologia regional aplicada.
Neles, através de um trecho especifico da natureza nordestina,
Euclides analisa a raça, o ambiente físico, a "área de cultu-
ra", as condições ecológicas e inúmeros fatôres marcantes
da vida e do meio de boa porção do Brasil. Escrito em
estilo vivo e candente, transportando em flagrantes foto-
gráficos trechos da terra e instantâneos da gente, cuja feição
dominante é o inesperado, o ignorado, o contraditório, "Os
Sertões" lograram um êxito sem paralelo em nossas letras.
A originalidade da forma, o frescor literário e a bravura
cias idéias, como o imprevisto da adjetivação e a força do
epíteto pictórico, influíram de maneira definitiva para ta-
manho êxito. Todavia, ainda que importante esse aspecto
do livro, sua força maior, aquela que o perpetuará em nossa
literatura como uma de suas obras capitais, assenta sôbre um
aspecto tangível do quadro natural e cultural do sertão. Eucli-
des da Cunha, talvez mais por intuição do que por orientação
científica, tratou nesse livro os problemas sociológicos de modo
original e,o raro, examinou-os com o rigor dos métodos obje-
tivos. O condicionamento da vida humana, da cultura ao meio
natural e social está bem apresentado. Suas fraquezas advêm
de certa interpretação literária, na qual o homem de ciência foi
superado pelo artista deixando-se levar pela imaginação e pelo
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
talento verbal. É o caso da explicação de certos fenômenos
(diga-se. em sua defesa, pouco conhecidos então) como sua
apreciação da hemeralopia pelas reações da luz dos sertões
baianos, quando a verdadeira causa residia na "avitaminose"
das populações, durante as prolongadas estiagens. Sua obra
é porém magistral e merece figurar como precursora da obra
de "Oliveira Viana". "As Populações Meridionais do Brasil"
desse escritor, publicadas em capítulos na "Revista do Brasil" e
depois em volume, em 1920, marcaram uma orientação socioló-
gica francamente científica no estudo da evolução da vida
brasileira, nas regiões do sul do Brasil. Nesse trabalho pro-
curou o conhecido sociólogo explicar os fatores do desenvol-
vimento de nossa civilização e de nossa cultura, desde a expan-
o e a conquista do nosso território, servindo-se da pesquisa.
É verdade que o problema das raças ocupa lugar de relevo na
sua interpretação dos fenômenos brasileiros, no período de nossa
penetração pelo interior e de nossa conquista.o raro sen-
te-se nêle uma certa influência das idéias de Gobineau e de
Lapouge, embora sem a intransigência nem o dogmatismo da-
queles dois escritores. Seu racismo quase se resume à afir-
mação de que as qualidades desbravadoras de audácia, de ini-
ciativa, de persistência, de domínio, de capacidade de construção
o devidas à alta percentagem de sangue ariano dos primitivos
colonos portugueses, descendentes de alanos e suevos, de tez
de leite e de olhos azuis. É exato que o próprio Oliveira
Viana assinala a importância construtiva dos colonos vindos
da "extremadura", descendentes de outras etnias morenos
e de olhos castanhos ou pretos.
Em outra obra sua: "Evolução do Povo Brasileiro"
publicada em 1922, já se sente modificação nas idéias, e seus
livros posteriores tornam-se mais atuais, notadamente "Raça
e Assimilação", no qual o pensamento central se inspira muito
menos no fator étnico do que no meio cultural e no nível de
civilização.
Os derradeiros trinta anos estão sendo férteis em estudos
de sentido sociológico de valor variável, mas indicadores de
uma orientação científica definida, no exame e na explicação
da evolução brasileira.
Com tal espírito apresentam-se os livros de Caio Prado
"Retrato do Brasil" e "Paulística", apreciando determinados
aspectos da evolução cultural da nossa gente; os trabalhos de
A. C A R N E I RO L E Ã O
Alfredo Ellis Júnior que, apesar de às vêzes parciais nas
conclusões,o elucidativos em muitos aspectos da civilização
paulista. "Os Primeiros Troncos Paulistas" e "Raça de Gi-
gantes"m muito de interessante e sugestivo no estudo do
problema da formação das populações deo Paulo, à luz do
ambiente natural, da dieta, da habitação, do regime de vida.
"Raça de Gigantes" parece, à primeira vista, um título um
tanto enfático para quemo conhece, em nossa história, a
epopeia dos Bandeirantes. Eram eles os desbravadores «la
floresta virgem, na qual cada folha escondia uma potência,
isto é, um perigo; eram eles os conquistadores do deserto,
no qual o próprio ar se tornava ameaçador... Era bem ama
raça de gigantes que afrontava a hostilidade feroz da terra.
As forças desencadeadas entre "Titãs" e "Gigantes"o
ofereciam um aspecto mais avassalador que o mistério em que
penetrava aquele pequeno grupo de homens. Eles faziam cer-
tamente menos ruído, mas todos: "Gigantes", "Titãs" e
"Homens" tinham o mesmo prodigioso fator de ação: — a
ambição do poder.
Obra capital na interpretação da formação brasileira é,
hoje, "Casa Grande e Senzala" de Gilberto Freyre. Trata-se
aqui de uma apresentação sociológica vigorosa feita sobre a
evolução nacional, estudando a terra, as áreas de cultura e seus
imperativos culturais na miscigenação mais espetacular e mais
impressiva de três etnias dispares. Esse livro, completado por
"Sobrados e Mucambos" e "Nordeste", do mesmo autor, nos
dá uma interpretação flagrante do estado de coisas do nosso
país, de seus progressos e de suas dificuldades e deslizes, de
seus êxitos e de suas falências, das condições antropológicas e
sociológicas, atordoantes para o estrangeiro desprevenido que
nos visita.
Mas, quantos outros trabalhos de brasileiros de real valia
exsurgem nessa corrente ?!
"Outro Nordeste" de Djacir Meneses é uma espécie de
completação de "Nordeste" de Gilberto Freyre. Djacir Me-
neses, nesse livro, descreve a vida do sertão nordestino, da zona
seca do Brasil, e, por processos similares, situa o problema da
nossa evolução e da nossa vida. Ao lado da ação ecológica,
com as suas predominantes físicas, aparecem os aspectos cultu-
rais . a mentalidade do sertanejo, influenciada pela natureza e
sacudida por grupos sociais disseminados, fugidios, místicos.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
No tocante ao misticismo o brasileiro como o francês, possui o
gosto do maravilhoso, e as suas manifestações de piedade,-
xime quando se trata de milagres,o deixam de surpreender.
o há muito tempo o ruído corria que um padre de pro-
víncia Padre Antônio curava doentes. Imediatamente
de todos os pontos do Brasil partiram peregrinos,o fervorosos
quanto oo os peregrinos de Lourdes. Prontamente empresas
de transportes puseram seus caminhões à altura da "bolsa" des-
ses viandantes. Devemos acrescentar que algumas empresas
ofereceram a seus operários, gratuitamente, seus próprios cami-
nhões. E toda essa pobre gente, apertada em viaturas sem
coberta, partiam em mistura com paralíticos, cegos, doentes
graves. A, a Esperança e a Caridade os acompanhavam:
era um espetáculo único. Padre Antônio por sugestão curava
algumas vezes mas consolava sempre. Comoo havia hos-
pedarias, os peregrinos dormiam ao ar livre. Padre Antônio,
ante aquela multidão, trabalhava sem descanso, das cinco horas
da manhã à meia-noite. Como cada peregrino obtinha sua
audiência particular o lugarejo enchia-se dia a dia mais. As
autoridades religiosas fechavam-se em prudente silêncio e as
autoridades civis imitavam-nas. Mas é de supor que. afinal
umas e outras agiram porque do dia para a noite, após meses
de peregrinação, os jornais cessaram de estampar fotografias
e notícias sensacionais: Padre Antônio foi transferido para
uma outra paróquia e a grande esperança coletiva desvaneceu-se.
Fato semelhante já tem ocorrido em outras ocasiões e nou-
tros lugares do nosso país.
No ponto de vista da mentalidade do homem do campo
em geral, como do sertanejo em particular já contávamos tra-
balhos de valor variável, caracterizados todos pela preocupação
de fixar a psicologia de um povo, agitado dentro de uma natu-
reza incerta, oscilando entre a fertilidade mais promissora e a
esterilidade e hostilidade, transitórias ou permanentes, mais
cruéis e desalentadoras.o típicos dessa tendência, entre
outros, "Terra do Sol", "Heróis e Bandidos" de Gustavo Bar-
roso, e "Juazeiro do Padre Cícero" de Lourenço Filho: "Len-
das e Narrativas" de Afonso Arinos; "Os Cangaceiros" de
Carlos D. Fernandes; "Menino de Engenho"; "Banguê",
"Pedra Bonita" de José Lins do Rêgo; "Beatos e Canga-
ceiros"' de Xavier de Oliveira. A força dos ambientes físicos e
culturais dessas regiões é tamanha queo nos faltam obras de
5
A. CARNEIRO LEÃO
bons escritores a seu respeito. Citemos alguns mais. "O Negro
Brasileiro" de Artur Ramos; "Rondônia" de Roquete Pinto;
"Realidade Brasileira" de Afonso Arinos de Melo Franco; (*)
"Raízes do Brasil" de Sérgio Buarque de Holanda; "Terra e
Povo do Ceará" de Sílvio Júlio; "Memórias de um Senhor
de Engenho" de Júlio Belo; "A Geografia da Fome" de
Josué de Castro; "Estudos Brasileiros de População" de Castro
Barreto; "Marcha para o Oeste" de Cassiano Ricardo; "Brasil
de Oeste" de Francisco Paula Aquiles, "Vaqueiros e Cantado-
res" de Câmara Cascudo e "Poemas" de Ascêncio Ferreira.
Escritores estrangeiros nos trouxeram também uma cola-
boração preciosa. No passado, entre os ingleses, Henry Kos-
ter, com seu "Traveis in Brazil" (Viagens no Brasil), tradução
e notas de Luís da Câmara Cascudo; Maria Graham no "Jour-
nal of a voyage to Brazil residence there 1821-1822, (Via-
gem ao Brasil e residência ali de 1821-1822) Cunninghame
Graham (R. B.) com seu "Brazilian Mystic-beinq the Life and
Miracles of Antonio Conselheiro" ("A Mística Brasileira
vida e milagres de Antônio Conselheiro) ; entre os norte-ame-
ricanos: Orville Derby com suas "Contribuições para a Geo-
logia do Baixo Amazonas" e o seu "Itinerário do Rio de
Janeiro às Minas de Ouro Preto". John Casper Branner com
"O Problema das Secas no Nordeste do Brasil", Ruediger
Bilden com "Brazil, Laboratory of Civilization" (Brasil, La-
boratório da Civilização), "Race in Latin America with Special
Reference to the Development of Indigenous Culture" (Raça
na América Latina com especial referência ao desenvolvimento
da cultura indígena) ; Roy Nash com "The Conquest of Brazil"
(A Conquista do Brasil) ; Donald Pierson com "Os Afri-
canos na Bahia", "A Composição Étnica das Classes da So-
ciedade Baiana" e "Brancos e Pretos na Bahia"; entre os
suíços, Louis Agassiz com "Viagem ao Brasil"; entre os ale-
mães, Von Spix e Von Martins, com "Através da Bahia",
tradução e notas de Pirajá da Silva e Paulo Wolf; e Ma\i-
miliano, Príncipe de Wied com "Viagem ao Brasil", tradução de
Edgard Sussekind de Mendonça e Flávio Poppe de Figueredo;
entre os franceses Elisée Reclus com "Estados Unidos do
Brasil", tradução do Barão de Ramiz Galvão, Jean Baptiste
(*) Sobrinho do autor de Lendas e Narrativas Afonso Arinos.
Nota do autor.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
Debret, com "Viagem Pitoresca e Histórica do Brasil", tra-
dução de Sérgio Milliet; J. Maurício Rugendas, com "Viagem
Pitoresca através do Brasil"; Charles Ribeyrolles com "Brésil
Pittoresque" e, ultimamente, Jacques Lambert com "Le Brésil,
Structure et Institutions Sociales et Institutions Politiques"',
Lucien Marchai, com "Le Mage du Sertão", (*) Roger Bas-
tide com "Nordeste Místico".
Algumas das obras mencionadas apresentam um caráter
científico, outraso sugestivas, coloridas e vivazes. Todas
visivelmente preocupadas com o fator sociológico.s pró-
prios publicamos um livro, resultado das nossas observações,
nossas experiências, nossas sondagens de campo, tentando apre-
sentar o complexo das nossas sociedades em variadas áreas de
cultura do nosso território. Nesse livro "Sociedade Rural
seus Problemas e sua Educação", (13) com prefácio de Artur
Neiva, procuramos fotografar a nossa vida rural, na zona
da mata e no sertão, principalmente, no sertão, da maneira
mais flagrante que nos foi dado conseguir. Pelo material
examinado assinalamos a complexidade estonteante da vida bra-
sileira, a seriedade dos problemas a enfrentar e a resolver em
nossos meios rurais. Uma conclusão pareceu-nos impor-se
imediatamente: a injustiça da afirmativa de possuirmos uma na-
tureza excepcionalmente dadivosa e um homem em geral lerdo
senão incapaz. "A realidade é outra, escrevemos na intro-
dução dêsse livro, pois se em considerável extensão do Brasil
a terra é boa e em plantando dará nela tudo", há muito terreno
imprestável e muito solo necessitado de trabalho especial e
penoso. Há manchas de terras ótimas, mas há também imen-
sidão de terras sáfaras e de terras produtivas ao preço de can-
seiras sem conta.
(*) Nota: Trata-se de um romance histórico,o inteiramente
exato nas minúcias. Muitos fatos foram aí introduzidos pela imaginação
do autor. Fatos esses aliás cm sua maioria verossímeis, pois há um
acordo bastante lógico entre a documentação e o texto do " Mage du
Sertão". Um grande símbolo domina êsse livro: a energia incom-
parável do sertanejo. Êsse sertanejo, cognominado "jagunço"
(nome dado especialmente ao cangaceiro de Canudos) é a vitória sobre
o Sol, na frase do General Bitencourt, vitória sobre a fome e sobre
a sede. É êle o tipo simbólico, por excelência, da resistência assom-
brosa a toda a hostilidade da terra. Queo daria êsse homem bem
dirigido, numa obra de construção humana?
(13) Carneiro Leão (A.) "Sociedade Rural, seus Problemas e
sua Educação" A NOITE Editora, 1940.
falta de comunicações e de transporte desencoraja os mais
decididos. Extensões imensas sobre as quais se encontram
as moradias, distantes umas das outras, quase todas afastadas
do pequeno centro em que está a escola. Vimos crianças de
dez, onze e doze anos caminhando a pé oito quilômetros para
irem à escola e oito quilómetros para voltarem a casa quantas
vezes sob chuva torrencial ou sob sol abrasador! Quatro horas
de marcha todos os dias. E depois de tamanho esforço po-
der-se-á exigir de uma criança estudos seguidos? No entanto
aí está o homem do campo: reserva legítima da nacionalidade
encarando de frente o espírito dissolvente das cidades cosmo-
politas. Naturalmente, os centros urbanosm uma missão
renovadora a" realizar, mas queo seja em detrimento do
direito de viver das populações rurais.
No domínio da ficção temos obras que nos trouxeram uma
colaboração inestimável à interpretação dos fatos sociais.o
nos esqueçamos de que muitas vezes o romance tem importância
maior do que uma obra científica.
Êle torce, modifica a opinião coletiva, conduzindoo
raro a reformas imediatas. A literaturao é uma palavra,
senão uma força com a qual devemos contar.
Os romances sobre os jangadeiros, relatando a vida he-
róica desses pescadores, que afrontam o oceano sobre frágeis
jangadas, construídas de seis ou sete pedaços de madeira, ou
de troncos de pequenas árvores, de cerca de vinte centímetros
de diâmetro cada qual,o indiscutivelmente empolgantes. Uma
pequena vela as conduz mar afora, mar povoado de tubarões,
em companhia dos quais os jangadeiros permanecem às vezes
dias e noites até que a colheita de peixes lhes permite tornar
às suas praias, cobertas de coqueiros. Suas casaso feitas de
folhas ou, melhor, das palmas dessas elegantes e nostálgicas
árvores, amigas. E' dentro delas, ou em frente delas, que esses
pescadores vivem as horas passadas fora do mar. Eles ador-
mecem ou acordamo como Chateaubriand, ao ruído da tem-
pestade, mas ao balbucio, ao sussurro dos nossos mares tranqui-
los e ao ritmo melodioso dos nossos coqueirais cantantes. Quem
pôde contemplar as praias do Brasil, principalmente do Nor-
deste, guarda, para sempre, a visão dos paraísos sonhados. É
talvez tal esplendor que leva os jangadeiros a amarem a vida
áspera e monótona, a discorrer-lhes descuidosa, do nascimento
até à morte.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL.
Mesmo em Sociologia a beleza e a poesiam os seus
direitos. É uma compensação para todos os desencorajamentos
e um complemento a todas as venturas.
Dentre os romances brasileiros sobre a vida dos jangadei-
ros temos cenas realistas e dolorosas, magistralmente escritas
por Jorge Amado em "Terra do Sem fim", e como antídoto a
tais agruras, as páginas românticas de uma doçura envolvente
de nossa irmã Sílvia Carneiro Leão em "White Shore of Olin-
da" "A praia branca de Olinda", escritas em inglês e, agora
em nossa língua em próxima edição da Livraria José Olímpio.
A vida da gleba tem também seus cantores: José Américo
de Almeida, em seu romance "Bagaceira", nos dá um quadro
real, da rude existência em certos ambientes agrários. Mário
Sette, em seu "Senhora de Engenho", nos evoca a linda
paisagem desses núcleos de vida simples e produtiva, José Lins
do Rêgo, em "Banguê", "Menino de Engenho" e "Usina" nos
faz viver a vida real das zonas açucareiras. Graça Aranha,
em "Chanaan", nos oferece atordoante impressão dos conflitos,
dos problemas, das tragédias da zona rural brasileira. Esse
livro é um misto de realismo arrepiante, tocado tantas vezes
por um sopro de poesia bíblica comovente. Raimundo de
Morais fixa em, "Planície Amazônica" aspectos da vida no
Amazonas, região que êle conheceu em suas frequentes e prolon-
gadas viagens, na qualidade de comandante de "Gaiola". (*)
"A Amazônia, a Terra e o Homem" de Araújo Lima; "A
Amazônia Misteriosa" e "A Amazônia que eu vi" de Gastão
Cruls; "Inferno Verde" de Alberto Rangel, nos narram, cada
qual a seu modo, e todos de maneira empolgante, a epopéia do
homem dentro de uma natureza feraz e feroz. É a Amazónia,
com seus. mistérios inquietadores, suas atitudes desconcertantes
que vence as energias mais atrevidas, pois sabemos que a essas
zonas ardentes de repente os Andes mandam o ar frio dos
seus cimos gelados. É que aí é mister contar com o poder
das forças naturais...
Agora, se quisermos conhecer outro aspecto da vida rural
brasileira, abram-se os livros: "Ruínas Vivas", "Tapera" e
"Alma Bárbara" de Alcides Maia. Neles as plagas do Sul
(*) Nota: Chama-se "Gaiola", na Amazônia, aos pequenos barcos
que fazem a cabotagem nos rios daquela imensa região brasileira
A. CARNEIRO LEÃO
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
desenrolam as ondulações verdes das suas campinas, sob ou
ilimitado dos pampas. É a terra rica, generosa, esplendidamente
pastoril. O vaqueiro, o simples vaqueiro, ostenta, ali, atitude
de herói antigo. Sem nenhuma dúvida a cavalo êleo en-
contra rival senão no árabe, de quem talvez descenda, pois
uma parte dos portugueses que colonizaram o território nacional
guardavam em suas veias sangue de mouros, de berberes e de
árabes. Essa gente considerava a lei da hospitalidade como
coisa sagrada, talvez mais sagrada do que o direito de asilo
na Idade Média. Cunninghame Graham assinalou que o bra-
sileiro do sertão está sempre pronto a lavar em sangue qualquer
afronta, desde que o inimigoo esteja sob seu teto ou sob
sua proteção.
De Norte a Sul do interior do Brasil a hospitalidade do
povo éo comovedora que os exemplos que se poderiam citar
o seriam acreditados em parte alguma, exceto entre muçulma-
nos que a praticam largamente. A tendência dos nossos serta-
nejos à vida contemplativa é devida principalmente a seus lon-
gínquos avós que legaram a seus descendentes suas qualidades
e seus defeitos, unidos em amáveis paradoxos. É assim que
a energia, o espírito batalhador e o fraco pelo sonho e pela
inação "por sombra e água fresca" no dizer popular en-
contram-se na mesma criatura.
Nosso vocabulário guardou vestígios evidentes da sua he-
rança árabe. O vocábulo "Oxalá" se Deus quiser per-
tence hoje à nossa língua, mas é de origem árabe "In-sha-
allah". Sem nenhuma pretensão filológica para acompanhar
a evolução deste vocábulo, que passou pelos séculos, perdendo
letras, reencontrando-as, tomando outras, mas guardando ainda
sua bela sonoridade, podemos patentear que entre as expressões
de origem árabe, pors conservadas, há algumas cuja signi-
ficação corresponde às características da nossa raça: o fatalismo
e a resignação diante da vontade suprema. Assim a palavra
árabe "Maktub" estava escrito queo bem define a
mentalidade árabe, tem o seu equivalente em "que remédio?"
ou "Tinha de acontecer", ou ainda em "Estava escrito", para
justificar a desgraça presente que, para "Allah"o é senão
um passado acontecido desde sempre: "Estava escrito". Os
gaúchoso duvidam disso,o fatalistas e religiosos.
Simões Lopes Neto em seus trabalhos: "Contos Gauches-
cos", "Lendas do Sul" e "Terra Gaúcha" nos mostra a exis-
tência impetuosa do homem dos pampas, sua bravura e sua
paixão pela terra fértil que retribui cem vezes aquilo que lhe dão.
A obra de Manuelito Orneias "Gaúchos e Beduínos"
está cheia de evocação nostálgica de tradições encantadoras, que
nos fazem penetrar na intimidade dos filhos dos pampas.
Érico Veríssimo, com seu sugestivo romance: "O Tempo
e o Vento" nos abre as portas da movimentada história do Rio
Grande do Sul, regiãoo amplamente favorecida pelo des-
tino que o estrangeiro, que pisa seu solo, nele se fixa defi-
nitivamente.
Os pampas, como as demais regiões do Brasil,m seu
sortilégio. Goza-se, até à vertigem, a embriaguez do espaço, do
silêncio e da solidão. Sem fadiga caminha-se léguas e léguas
na imensidão atraente, na perseguição teimosa de horizontes que
recuam sempre. Um pouco de melancolia paira sôbre essas
terras uniformes nas quais,o podendo cantar por entre as
folhagens das árvores, o vento é triste, quandoo se mostra
bravio como o "minuano", ou selvagem como o "siroco" do
deserto, que desmonta inteiramente as frágeis arquiteturas das
dunas. Mas que pode o vento dos pampas sobre os eivais infi-
nitos que se curvamo docemente à sua passagem?
E agora voltemos ao Nordeste: "Terra de Sol" de
Gustavo Barroso nos dá uma impressão quase visual de uma
natureza hostil, calcinada de luz. em que a vida se mantém
pela energia tenaz dos seus habitantes.
Os livros de Franklin Távora "O Cabeleira" e "Lou-
renço", de Rodolfo Teófilo "Os Brilhantes"o des-
crições de fatos que parece exsurgirem da lenda. O de Carlos
D. Fernandes "Os Cangaceiros" nos apresenta páginas
coloridas dos bandidos típicos do Nordeste. Sua história é a
dos chefes de bando da Sicília e da Córsega: um revoltado,
muitas vezes contra uma injustiça da qual êle se considerava
a vítima, um criminoso cujos atos sua consciência justificava.
Perseguido êle foge pela imensidade do "sertão" e parao
morrer de fome requisitava, com atrevimento incrível, víve-
res e dinheiro. Sua reputação se espalhava, se estendia, se
comunicava como ondas artezianas. Atraídos pela lenda que
A. CARNEIRO L E Ã O
se formava em torno dele criminosos evadidos, românticos em
luta contra a lei, aventureiros sem trabalho, admiradores de
seus feitos, contados, aureolados, amplificados, juntavam-se a
ele, formando bandos, bastante incômodos para os pobres habi-
tantes daquelas zonas, mas ilustrativos e eloquentes para os
sociólogos. Um ponto de honra comum ligava uns aos outros:
o horror à traição que era, aliás, castigada com crueldade.
Eles reservavam para os pobres uma certa e talvez calculada
benevolência porque, vindo de onde vinhamo deixava de ser
apreciada. Prendê-los, julgá-los, condená-los, eis, eviden-
temente, o que se desejava fazer. Mas issoo era fácil. Ulti-
mamente vimos quanto um bandido da Sicília deu que fazer à
autoridade local. E, pelos anais judiciários do começo do-
culo, sabemos quanto um bando o "Bando Bonot" pôde,
em uma cidade como Paris, oferecer resistência a uma polícia
admiravelmente organizada. Por aí pode-se imaginar queo
seria o interior longínquo, de população extremamente dissemi-
nada e despoliciada, do Nordeste brasileiro! A segurança de
nossos bandidos estava quase garantida pela extensão dos deser-
tos dentro dos quais eles se escondiam. O mimetismo fa-
zia-se cúmplice. A pele acinzentada pelo sol e pela poeira e
as vestimentas "cáqui" tinham ar da terra e da vegetação
vala e ressequida que os cercava. Eles ficavam assim perfeita-
mente invisíveis, mesmo às objetivas "zeiss". E, protegidos
pela indiferença, pelo temor ou pela prudência das populações
desarmadas e abandonadas, viviam matando, racionando, ao bel-
prazer das suas necessidades ou dos seus caprichos. O governo
tomou medidas que podem ser qualificadas de enérgicas e hoje,
pode-se afirmar, esses bandos se extinguiram.
CONCLUSÃO
Procurando mostrar o advento da Sociologia e dos estudos
sociológicos no Brasilo só recordamos a luta, os esforços
para construí-los com a experiência e levá-los aos currículos das
nossas escolas dos graus e dos tipos mais distintos, como fomos
além, buscamos apontar a magnífica contribuição dos nossos
pensadores, ensaístas e até de escritores de ficção para atingir-
mos os nossos objetivos,
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
Diante da extensão e da gravidade dos problemas que se
apresentam ao mundo devemos continuar a dar importância
predominante a esses estudos e facilitar a tarefa daqueles que
deles se ocupam. Se se tivesse prestado atenção às conclusões
que ela poderia e pode sugerir, quantas calamidades teriam evi-
tado os homens de responsabilidade, quantos sofrimentos teriam
sido ignorados pelos grupos sociais, quantos cataclismos se
teriam afastado das nações e do mundo!
A. CARNEIRO LEÃO
CAPÍTULO III
REGIONALISMO E INTERNACIONALISMO NA
AMÉRICA E NO BRASIL
INTRODUÇÃO
No Brasil é fácil conciliar o regionalismo e o internaciona-
lismo. O espírito brasileiro está sempre aberto às influências
estrangeiras. Sua tolerância natural leva-o a compreender e a
amar as grandes conquistas intelectuais, sociais e morais que
lhem de fora e a aceitar pontos de vista queoo sempre
os seus, permanecendo entretanto fiel à sua personalidade.
Hoje, nas organizações políticas federativas, o funciona-
mento do Estado já habilitou o indivíduo à idéia de pertencer a
vários meios diferentes. Membro de sua povoação, cidadão de
sua cidade, de sua província, de seus país, o homem aceita e
estima os laços que o prendem aos âmbitos culturais e sociais, do
Estado e da Federação eo estranha a soma de deveres por
êle devida a cada qual, nem a sua função de "socius" cons-
ciente e ativo das quatro sociedades com direitos e obrigações
correspondentes a todas elas. Um esforço mais eo lhe será
difícil sentir-se ligado a um outro meio mais largo e mais
universal: à sociedade das nações.
Um dos objetivos essenciais do momento em que vivemos
é ajustar a atitude do homem ao seu grupo imediato e aos grupos
mais amplos, nacionais e internacionais. Atingindo-o teremos
contribuído substancialmente para a causa da paz. "Amo mais
minha família do que a mim próprio, minha pátria mais do
que a minha família e a humanidade mais do que a minha
pátria", dizia Fénelon. E Fénelon foi um grande francês.
Assim, estabelecer o entendimento e a compreensão entre
os indivíduos e entre os povos,o significa desconhecer o
regional, maso esquecer que o todo é a resultante plena
A. CARNEIRO LEÃO
e harmoniosa das partes. "Cada povo tem leis que lheo
próprias e impõe às leis gerais o matiz de seu particularismo,
porque tem necessidades que somente êle experimenta e, acomo-
dando o direito estranho à sua organização da vida, dá-lher
e feição particulares". Tirar pois o máximo das peculiaridades
regionais, sem procurar impô-las ou levá-las a prevalecer sobre
a nacionalidade ou sôbre a universalidade, é obra de sabedoria.
Ao invés de se repelirem o regional e o internacional aliam-se
e completam-se.
"ÁREA DE CULTURA". SUA SIGNIFICAÇÃO
E IMPORTÂNCIA
O problema que se impõe é o da "área de cultura".
Antes de tudo fixemos o conceito, a importância, os limites
de "área de cultura".
Temos por "área de cultura" a zona de um território
ou de um país com características específicas, representadas nas
tradições, nos costumes, nos hábitos, no regime de vida. Cultu-
ra aquio significa apenas apuro de saber nem mesmo desen-
volvimento mental cujo valor no caso seria insuficiente.
Do ponto de vista psicológico a cultura a que nos referimos
é uma espécie de comportamento total. (1) Ainda assim sob
esse único aspecto se nos apresenta limitada. A cultura que
nos importa é mais ampla: antropológica, sociológica, resultante
da ação global do homem-físico, mental, moral e social. É
a soma de atividades, é todo o equipamento material eo
todos os fatores imateriais do grupo. Abrange a vida do in-
divíduo em relação a si, no passado e no presente, e em relação
ao grupo, atual e pretérito. Caracteriza-se pelo conjunto de
tradições e práticas morais, religião, usos, técnicas, literatura,
arte, organização política e jurídica, tudo, afinal, quanto cons-
titui seus padrões de vida.
É mister admitir que estas tradições e estas práticas variam,
segundo as latitudes e segundo as épocas, e jamais condenar
as do vizinho pela simples razão de que elasoo as nossas.
Pascal pretendia que os homens ignoravam a moral porque esta
variava no tempo e no espaço e que se a moral tivesse sido
(1) Vide: WISSLER (Clark) An Introduction to Social
Anthropology, pág. 342 -- Holt and Co. -- N. York -- 1929.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
realmente organizada, elao teria sofridoo prodigiosas me-
tamorfoses. De fato como admitirmos uniformidade nesse
conceito quando nos recordamos de como se banhavam nas
praias as avós e agora se banham as netas? Quase que hoje
o imoral seriam aqueles enormes casacos de lã que escondiam
até os pescoços e as longas calças que cobriam até os pés.
Então porque nos revoltarmoso facilmente ante a atitude
de outros países e de outras gerações e crer que possuímos o
absoluto em Arte, em Política, em Direito?
O necessário é procurarmos compreendero apenas o
que nos parece longe de nós, mas o nosso próprio meio, e, talvez,
o nosso próprio "Eu".
ECOLOGIA HUMANA
Ecologia Humana é o sistema de relações íntimas entre o
homem, a terra, a planta, os animais, os outros homens da
mesma região, queo vida e fornia à "área de cultura" (2).
o essas relações que, por analogia com as relações entre
plantas e entre animais, no tocante ao meio Ecologia Vegetal
e Ecologia Animal constituem a Ecologia Humana.o tais
relações, elevadas pela escola sociológica de Chicago (embora
ali com interpretação mais estrita) à categoria de ciência, que
começam a conduzir os estudiosos da Sociologia nos Estados
Unidos, pela observação e pela localização dos agregados hu-
manos, à orientação das correntes imigratórias.
Para viver em qualquer região torna-se indispensável
assim um bom comportamento ecológico dos indivíduos e dos
grupos, tanto mais fácil quanto mais naturais forem suas re-
lações com o clima, a vegetação, a fauna.
É universalmente conhecida a ação das grandes altitudes
sobre os indivíduos que as habitam. As modificações que a
diferença de pressão atmosférica produzem sobre o homem,
as adaptações que requerem no regime de trabalho, pela ne-
cessidade de condicionar resistências físicas e fisiológicas, à
ação do clima e das imposições fisiográficas,o fatos incon-
testáveis (3).
(2) Vide: Radhakamal Mukergee, Regional Sociology, The Cen-
tury Co. N. York, 1926.
(3) Vide: Caneiro Leão (A.) Fundamentos de Sociologia,
3.ª Edição, Cap. II
A. CARNEIRO LEÃO
Os climas frígidos e os climas tropicais impõem exigências
marcadas sem a satisfação das quais a vida humana degenera
e se estiola. A dieta, a vestimenta, a habitação, e o regime
de trabalho atuam, de maneira decisiva, para a boa expan-
o do homem nos variados meios físicos. É verdade que
a capacidade de acomodação do ser humano se vai tornando
prodigiosa,o porém ao ponto de desconhecer ou descurar a
importância do influxo do meio físico e do meio cultural na
adaptação e no ajustamento dos indivíduos e dos grupos. Para
aconselhar ouo a emigração de grupos humanos para certas
regiões é mister conhecê-los em seu habitat de origem (4),
conhecer-lhes a cultura. É mister verificar se o clima, as plan-
tas, os animais da nova regiãoo ouo favoráveis às re-
lações com os recém-vindos.
Segundo René Martial, a França busca, em certa medida,
praticar tal doutrina. Para sua colonização na África, ela pro-
cura enviar de preferência franceses de pele morena e olhos
negros, (5) (6) filhos de zonas do país de diferenciação menos
violenta em vegetação e em fauna, com as regiões africa-
nas. (7) A reação à luz e ao calor se faz melhor ou pior
conforme o pigmento, conforme a retina, e a acomodação ao
meio natural se torna mais fácil ou mais difícil, segundo o mundo
vegetal e animal difere menos ou mais dos meios de origem.
O Brasil é, neste caso, um exemplo frisante. O português
que colonizou o nosso território, descendente em parte de Ber-
beres, de Mouros, de Árabes, está feito para resistir ao clima
dos trópicos, como sua ação nas índias já o havia provado.
o possuindo prejuízo de raça, unia-se facilmente aos indíge-
nas e, mais tarde, aos escravos negros. Daí justamente a nu-
merosa descendência mestiça, a enorme percentagem de mulatos
e mamelucos em nossa população.o foram outras as razões
(4) Vide: Mukergec (R.) Op. Cit., pág. 51 Century Co.
N. York, 1926.
(5) Vide: Carneiro Leão (A.) Fundamentos de Sociologia,
3.
a
Edição. Cap. II.
(6) Vide também: Gilberto Freyre O Ecumênico e o Regional
em Sociologia. Aula taquigrafada da Universidade do Distrito Federal
1935.
(7) Vide: Martial (René) Traité de l''Immigration et de la
Greffe Inter-racial. Librairie Larose. Impremerie Féderal. Belgique
e L'Immigration Continentale, et Transcontinentale. Baillière, Paris,
1935.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
porque nos séculos XVI e XVII a população aumentou relativa-
mente muito no Nordeste e no Leste, isto é, nos Estados do
Maranhão, do Piauí, do Ceará, do Rio Grande do Norte, da
Parai ha, de Pernambuco, de Alagoas, de Sergipe, da Bahia;
nemo pouco foram outras as razões porque a indústria da
cana de açúcar se tornou a riqueza do país durante mais de dois
séculos. A capacidade de adaptação do português ao clima e
às condições de vida explicam todos os êxitos.
No tocante à mestiçagem o exemplo de Jerónimo de Albu-
querque ficou célebre. Êle teve uma centena de filhos com as
escravas e as favoritas que o acompanhavam.
Todos esses descendentes de brancos e negros mulatos
de brancos e indígenas mamelucos de negros e indí-
genas cafuzos adaptam-se admiravelmente às rudes con-
dições das terras do Brasil, pois de um modo geral toda a
penetração, nos oito milhões e meio de quilômetros quadrados de
nosso território, foi devida à grande resistência do português
e dos seus descendentes.
Os homens que conquistaram o deserto e as florestas vir-
gens: os "Bandeirantes" eram, em sua maioria: mamelucos
filhos de portugueses e de indígenas. Os "sertanejos" do inte-
rior longínquo do Nordeste são, em grande percentagem,
"mamelucos".
A extração da borracha na Amazônia, o drama senão a
tragédia da conquista dessa imensa região brasileira, foi obra
dos homens do Nordeste, isto é, de Alagoas e Pernambuco ao
Ceará: homens morenos: mulatos, mamelucos, cafuzos e bran-
cos, bronzeados pelo Sol. Somente tais homens afrontariam
esses climas, climas que pelo abandono em que permaneciam,
eram dos mais ameaçadores da terra. Somente tais homens
trabalhariam em condições sanitáriaso más, sem nenhuma
compensação, sem nenhum dos recursoso necessários à vida.
Tivemos ocasião de patentear, no interior do Estado de
Pernambuco, que, descendentes de holandeses, sem o menor
traço de miscigenação, haviam perdido inteiramente a energia
de seus ancestrais.
Naquelas paragens, menos resistentes, menos aptos ao tra-
balho penoso do que os "mamelucos", do que os negros, os
cafuzos e os mulatos, descansados e indiferentes a tudo, eles
A. CARNEIRO LEÃO
viviam em grande miséria. Sabemos entretanto que os ho-
landeses deram na história provas constantes de uma vitalidade,
de uma coragem, de uma audácia, de um espírito de organização
e de uma capacidade de resistência raros. O clima e as con-
dições de vidam sido ali um rude adversário: é mister subme-
ter-se ou demitir-se "se soumettre ou se demettre".
O problema é de aclimatação pela dieta, pelo vestuário,
pela habitação, pelo regime de trabalho, pela acomodação da
cultura do imigrante com a cultura do novo meio. (8) Eo
se diga que a facilidade de comunicação, o entrelaçamento
dia a dia maior entre os povos, a interação internacional cres-
cente possa ou deva anular tais diferenças. As exigências e
possibilidades de terreno e de clima, as imposições de tradições
e de costumes, os regimes adequados de trabalho e de vida
sofrerão certamente modificações mais ou menos importantes,
segundo a intensidade das forças interiores, nunca entretanto
até à uniformização universal. Aliás a uniformização, se pos-
sível, seria o empobrecimento da civilização e a limitação da
cultura, plasmadas por um só modelo e, portanto, por mais alto
que fosse, incapaz de satisfazer as aspirações das diversas
comunidades humanas em seu afã milenar pelo progresso. O
necessário é aproveitar a cultura estranha sem sufocar ou matar
a própria, mas ao contrário, corrigindo-a, ampliando-a, aperfei-
çoando-a, enriquecendo-a.
Ter-se-á assim de exigir, de um lado, aproveitamento inte-
ligente do ambiente natural e, de outro, adaptação do ser
humano a seu meio fisico, desenvolvimento de sua capacidade de
fixação, de habilidade de exploração com o consequente des-
pertar de uma vida social variada e progressiva. Sobretudo
porque essa preocupação regionalo dispensa a internacional,
ao contrário, leva-lhe elementos próprios, enriquecedores do
patrimônio geral da humanidade, tornando-se, deste modo, um
fator incontestável de progresso, um elemento de compreensão e
de harmonia entre o regional e o internacional.
Es o repetimos:o é possível adaptar os indivíduos
ao meio físico e ajustá-los ao meio social seo se leva em
conta as "áreas de cultura" em que eles vivem.
(X) Vide: Carneiro Leão (A.) Sociedade Rural... Parte
2.» Cap. IV -- Edit. "A Noite" Rio 1940.
Mas se as "áreas de cultura" para se sustentarem e pro-
gredirem necessitam ser conhecidas, respeitadas, revigoradas,
reconstruídas sempre pelas gerações que se sucedem,o resta
dúvida que sua manutenção, sua renovação e sua riqueza de-
pendem também das relações entretidas umas com as outras,
estabelecidas, alimentadas, desenvolvidas, numa intercomunica-
ção inteligente e contínua.
Considerar os indivíduos de uma "área de cultura" sem
atentar nas necessidades e nas solicitações dessa área é despre-
zar as carecterísticas do agregado humano que a habita, mas,
por outro lado, isolar uma área, fechar os seus filhos em um
compartimento estanque é provocar um desajustamento que
conduzirá à involução senão à desordem, sobretudo num país
imenso como o Brasil.o nos esqueçamos todavia, que
construir currículos, visando a "área de cultura",o significa
combate à ação de ambientes mais arejados e mais amplos.
A "área de cultura" é uma etapa forçada e sempre à vista.
mas nunca pretexto para o combate ou o simples desconheci-
mento dos demais ambientes dentro dos quais o homem se for-
ma e evolui.
A orientação nacional, condicionando as exigências e os
aspectos regionais, atesta, com evidência, a conciliação pos-
sível e benéfica entre os objectivos das "áreas de cultura", dos
pequenos meios com as zonas mais vastas das nacionalidades.
Desde que tais preocupaçõeso sejam restritivas de menta-
lidade,o se façam criadoras de rivalidades e de complexos,
o fenômeno é utilíssimo.
o precisamos de grandes explanações nem de delongas
para compreendermos que um conhecimento seguro da situação
é necessário se quisermos obter um ajustamento eficaz.o
devemos pois negligenciar nem o meio natural nem a "área de
cultura".
Convém todavia ressaltar que a "área de cultura", apesar
de participar do meio natural e do meio social, de resultar dire-
tamente dos dois ou, melhor, de ser condicionada por ambos.
nem sempre se confunde com os meios geográficos e adminis-
trativos. Há "áreas de cultura" que ultrapassam áreas admi-
nistrativas ou geográficas e áreas geográficas ou administra-
tivas que contêm mais de uma "área de cultura".
6
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
No Brasilo raro sentimos a falta de critério no esta-
belecimento das áreas administrativas. Muitas vezes um inte-
resse faccioso, um simples desejo de aumentar o número de
municipalidades num Estado tem sido suficiente para a alte-
ração dos limites administrativos. E mesmo se assimo fôsse
pareceria difícil conter em fronteiras artificiais fatos naturais.
Quantas "áreas de cultura" participam de zonas de dois
municípios limítrofes, de dois Estados vizinhos, e até de dois
países, cujas fronteiras vivem em perfeita comunhão, com
hábitos, costumes, tradições, aspirações análogas senão idênticas?
Seo houver propaganda perturbadora, divisora, separa-
dora de cada município, de cada estado, ou de cada país,
pugnando pela dissociação, a tendência para o ajustamento dos
"socii", seja qualr a parte em que vivam, se realizará e se
afirmará naturalmente. A ação social como processo de aco-
modação se fará de modo espontâneo. Sempre houve, é exato,
na interação constante dos povos, núcleos de irradiação de cul-
tura, que, por condições especiais, em dado momento, influí-
ram nos usos e costumes, na literatura e na arte, nos padrões
morais de outras gentes. Em todos os tempos conhecemos a
influência destes focos de irradiação: Egito, Grécia, Roma,
Paris...
Se eles se fizerem modelos,o para imitação servil ou
absorção, mas para estímulo, se se tornarem fontes de estudo,
de informação, de métodos de trabalho e de vida, sua ação
será propulsora inestimável de progresso social e humano. Ao
invés de anularem individualidades as impulsionarão, as con-
duzirão.
O de que necessitamos é de fugir da imitação artificial
e servil, inspirada em motivos políticos ou em obsessões in-
telectuais ou morais, processados por grupos dominantes de
homens de pensamento ou de estado, fanáticos ou inescrupulo-
sos. Tais fatos perturbadores da vida de certos paíseso mais
ou menos transitórios. Desde queo dominem a massa,o
se radiquem no cerne do povo, seus efeitos se apagarão.
Exemploso nos faltam na história das nações modernas.
É o caso relativamente recente dos estados alemães, fugindo do
modelo latino, no século XVIII, para entrar no círculo francês
e sua repulsa a tal influência, a partir do fim daquele século
e do início do século seguinte pela ação de Lessing, de Goethe,
de Klopstock e, sobretudo, depois da derrota de Iena, buscando
A. CARNEIRO LEÃO
A. CARNEIRO LEÃO
Novo atestado do fato encontramos na Polónia e na Tche-
co-Eslováquia, as quais,o obstante o retalhamento de seus
estados soberanos, mantiveram suas tradições, seus costumes,
sua língua, ou sejam suas "áreas de cultura", vivas e alertas
para, afinal, pelo milagre dessa força ressurgirem à vida na-
cional independente.
Os casos indicados bastariam para nos fazer rir dos que
pregam brasilidade, proclamam o advento de um espirito bra-
sileiro, buscam interessar nossa inteligência pelas nossas coisas,
intensificar o nacionalismo pela volta a uma cultura outrora
oportuna, mas fora de moda atualmente.
Ainda sentimos o tremendo equívoco da Itália fascista,
universalizando em todos os cursos e para tôdas as carreiras o
estudo do latim no intuito infantil de ressuscitar o Império
Romano. Aliás o Brasil no passado, na Colônia como no
Império, fundamentando sua cultura na língua do Lácio dis-
tante,o visava outra finalidade senão identificar nossa elite,
o com os objetivos nacionais mas com os estrangeiros e lon-
gínquos. Despreocupados do ambiente natural, alheios às
"áreas de cultura", em que viviam com seus escravos, explo-
rando suas terras, na preocupação mais ou menos exclusiva do
proveito econômico, para melhor poderem fazer sua cultura e
a cultura dos filhos no modelo da Europa sua pátria espiritual.
Nessa época tinham por si o estado incipiente do mundo
brasileiro, o deslumbramento da vida intelectual européia, uma
organização econômico-social que permitia tamanho alheamento
de nossas coisas, a inexistência de uma sociologia aplicada à
sociedade, o desconhecimento integral dos meios naturais e de
suas possibilidades, a escassez de elementos ponderáveis da
massa popular capaz de deliberar livremente.
A DESPREOCUPAÇÃO DOS SENHORES RURAIS
Até o começo do século a mentalidade dominante em nossos
ambientes ricos era a deserção do país. Embora com exagero
declarava, de contínuo, A. de Siqueira: "o ideal do brasileiro
é viver longe do Brasil e às custas dele". Daí, a consequên-
cia inevitável depois: a multidão de famílias abastadas, senhoras
de terras férteis e imensas, despojadas de suas propriedades,
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
à cata, pelas cidades e capitais, de empregos públicos ou ocupa-
ções parasitárias. Eo é outra a causa das dificuldades eco-
nômicas brasileiras e sul-americanas. (10)
O adágio, "pai, senhor de engenho (*) ou fazendeiro, filho
doutor e neto pobre", expressa com nitidez a realidade.
É sempre melancólico patentear a vaidade das coisas hu-
manas. Os antigos palácios senhoriais do Império noso
muitas vezes dolorosa impressão, files aindao numerosos,
mas hoje completamente despojados do seu antigo esplendor,
transformados pouco a pouco em habitações coletivas, barulhen-
tas e sujas, dentro das quais pulula uma população heteróclitica.
É difícil passarmos diante de uma delas sem nos determos
e meditarmos sôbre tudo (manto o tempo leva e quanto o
tempo traz. Pode-se imaginar facilmente o ponto de vista
do poeta:
"Efface ce sejour, ô Dicu de ma paupière:
Ou rends le moi semblable à celui d'autrefois
Quand la maison vibrait comme un grande cour de pierre
De tous ces cours joyeux qui battaient sous ses toits." (11)
Afastai essa impressão, ó Deus! de meus olhos, tornai-a
semelhante à impressão de outrora, quando o lar vibrava como
um grande coração de pedra, no qual batiam todos aquêles ale-
gres corações.
Pode-se ver também a impressão do sociólogo. Podemos
contemplar essas casas senhoriais apertadas em ruas imundas
e estreitas. Outrora imensos e magníficos jardins as cercavam.
Mas, seus proprietários empobreciam-se, a família dispersava-se,
os belos parques iam sendo loteados, as casas vendidas, mutila-
das, desfiguradas, transformavam-se em hotéis, em pensões, de
primeira, de segunda, de terceira ordem, e finalmente, de queda
em queda, de decadência em decadência, se tornavam habita-
ções coletivas.
(10) Vide: Encina Nuestra Inferioridad Económica San-
tiago de Chile, 1912.
(*) Nota: Engenho: estabelecimento agrícola, destinado à cultura
da cana e à fabricação do açúcar.
(11) Vide: Lamartine La vigne et la maison, Bible de l'Hu-
manité.
A. CARNEIRO LEÃO
Os belos quartos de outrora iam sendo parcimoniosamente
divididos em quatro, em cinco, em seis compartimentos cada
qual. Os belos e amplos salões em dez. onze ou doze e mais,
de sorte que o número de cômodos se multiplicava para abrigar
famílias de pequenos funcionários, de obreiros modestos. To-
davia as enormes janelas sempre abertas distribuíam ar e
luz à vontade. Sob esse aspecto a espelunca brasileira apre-
senta grandes vantagens sôbre as espeluncas dos países frios.
Atualmente a maior parte dessas tristes moradiaso
desaparecendo para, em seu lugar, serem construídos edifícios
de dez, doze, dezoito e vinte andares.
A POLITICA EDUCACIONAL QUE NOS CONVÉM
A crise de construção que assola o Rio de Janeiro e, de
certo modo, as capitais dos Estados brasileiros, provocou
uma queda no desespero de construir e, em consequência, no
frenesi de demolir. Percebeu-se, afinal, que as velhas casas de
pedra desafiavam o tempo e a picareta demolidora, que se
punha muito mais tempo em destruí-las do que em construir
os novos e inestéticos imóveis de cimento armado. Conserta-
ram-se e adaptaram-se vários desses velhos solares em casa de
saúde e em hotéis.
Nossa despreocupação, seo nosso desprezo pelo meio em
que nasceram e viveram nossos antepassados, vai entregando a
mãos estrangeiras as nossas indústrias e grande parte de nossas
terras: as melhores fontes de nossa riqueza. Eis aí a expli-
cação da penúria da nossa técnica, da fraqueza de nossa estru-
tura econômica, e mesmo de nossa economia flutuante e boêmia,
a formação defeituosa de nossa juventude, a ignorância de
nossos problemas, nosso urbanismo excessivo e o abandono de
nossos meios rurais.
Se dantes a elite se limitava a uma formação acadêmica, o
fenômenoo era estranhável, mas hoje, a continuação dessa
política cultural nos pareceria, pelo menos, anacrónica. (*)
Felizmente uma reação se faz mesmo entre a juventude, que,
sem desprezar a cultura geral, mais ordenada atualmente, se
entrega melhor às técnicas e às ciências.
(*) Vide: Boll (Marcel et André) L'Élite de Demain, págs. 54
e 55, Calman Levy.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
Cada "área de cultura" deve possuir sua orientação socio-
lógica, fundada sôbre a realidade ambiente e sôbre a filosofia
da vida do grupo respectivo. Esta orientaçãoo é uma
limitação. Elao compromete em nada a mobilidade crescente
dos "socii", quer no sentido horizontal, para outras regiões,
quer no vertical, para outras profissões ou outras culturas.
Comoo se compromete seu ajustamento aos âmbitos mais
largos da nação e da sociedade internacional.
É pela vinculação das comunidades regionais umas às outras
que se constituem as comunidades nacionais e, pelo ajusta-
mento dessas, que se constrói a sociedade internacional. O
ajustamento dos indivíduos aos grupos mais estritos é a maior
garantia do equilíbrio entre os grupos mais largos da nação
e do mundo.
Uma vez que desapareça o conceito de nacionalismo exclu-
sivista, separador, fonte de conflitos, que se forme o indivíduo
para seu meio, cuja finalidade seja representar seu papel
construtivo dentro de seus recursos e possibilidades no sentido
do progresso nacional e do bem-estar humano, a política regio-
nal, de olhos voltados para as "áreas de cultura",o poderá
ser senão benéfica.
O espírito regional como o internacional, o regionalismo
como o internacionalismom seu lugar e seu objetivo na
formação do homem de amanhã. O esquecimento do primeiro
acarretaria a perda dos valores inerentes às peculiaridades lo-
cais, o empobrecimento do todo; o combate ao segundo, a so-
brevivência dos exclusivismos, das barreiras, das ilusões peri-
gosas e lamentáveis de superioridade, os conflitos e as guerras.
Ou o homem limita sua preocupação regionalista ao
assinalamento, ao aproveitamento, ao desenvolvimento de ca-
racterísticas especiais, de elementos próprios e exclusivos às
localidades visando ao progresso do ambiente em que vive,
oferecendo nova contribuição à vida nacional e internacional,
ou arrisca-se a fechar-se num circulo estreito e irrespirável na
comunhão mundial, dia a dia mais avassaladora.
Ou o homem transforma as rivalidades regionais, os nacio-
nalismos vesgos e vazios num espírito de cooperação, de enten-
dimento, de boa vontade para a ventura de todos ouo
haverá lugar para a civilização.
A. CARNEIRO L E Ã O
A partir de 1929 as Nações foram tomadas pelo pânico de
uma economia suicida, aferrolhada de portas adentro, uma
forma de loucura nativista estarrecedora. Cada qual que pro-
curasse comprar o mínimo e vender o máximo, vender o pro-
duto comum em suas terras e produzir os produtos, até então
buscados e trazidos de outros países, aspirando constituírem-se
autarquias em todas as esferas da vida social.
O resultadoo poderia ser outro: a ruína de produtos
de certos Estados que assim perdiamo só a possibilidade de
sustentar milhões de criaturas ocupadas em seu cultivo como
também seu poder de compra no estrangeiro, criando o mal-
estar econômico-social por toda parte. A incineração de ri-
quezas e valores indispensáveis à vida: no Brasil o café, nou-
tros países a, noutros o trigo, denota as consequências.
Ao lado do problema econômico, ou estimulado por êle,
logo apareceram os regimes de violência, o tabu do Estado,
as místicas racistas, o desplante, a propaganda do primado da
força, a loucura coletiva, a luta, a destruição.
Enquanto os povoso compreenderem queo será nunca
do empobrecimento de uns que outros aproveitarão, mas do
enriquecimento ou pelo menos da satisfação de todos que todos
o de lucrar,o será possível nada de estável.
A história aí está para nos convencer de que o progresso
da civilização e da culturao tem fronteiras, ao contrário,
desde o homem da caverna êle resulta da caravana imensa e
ininterrupta, filha de todos os sangues, de todas as regiões, de
todos os credos e de todas as épocas.o é possível nos
fecharmos à comunicação dos outros povos, nem desdenharmos
os benefícios que, através do espaço e do tempo, os homens de
todas as origens nos trouxeram,o raro a preço de sofrimentos
inauditos.
CONCLUSÃO
O regionalismo e o nacionalismo só se compreendem e
justificam como fatores de cooperação e de solidariedade em
proveito de uma obra mais larga no plano internacional.
Só a direção das gerações que surgem formará uma
tal mentalidade, só ela poderá salvar a civilização e a cultura.
Só uma política de entendimento entre os indivíduos e
entre os povos conseguirá triunfar,
Só a livre expressão do pensamento, a livre crítica e a
liberdade de crer e de agir, limitadas apenas pelo respeito aos
direitos alheios, garantirão a atmosfera internacional, indis-
pensável ao bem-estar e à harmonia entre os homens.
Tal é a política que a América busca seguir há mais
de meio século. A "Organização dos Estados Americanos",
outrora "União Pan-Americana" visando criar uma mentalidade
continental, pela elaboração de um direito internacional ameri-
cano, a determinação da arbitragem obrigatória em caso de dis-
córdia, o auxílio mútuo e a certeza de que a agressão a um dos
membros da "União" constitui uma agressão aos demais, marca
eloquentemente, numa evolução lenta mas segura, a visão po-
sitiva do internacionalismo.
O grave litígio entre a Argentina e o Chile que durou
quase três quartéis de século de 1847 a 1920 cessou
com os famosos "Pactos de Mayo" que são, como disse
Oliveira Lima, "a honra eterna de uma civilização".
Em 1898 o Chile e a Argentina, a propósito dos limites
entre suas fronteiras, iam entrar em guerra. Ao apêlo de um
bispo o clero dos dois países pregou o apaziguamento. En-
frentando os nacionalistas exaltados o Presidente Errazuriz.
entendeu-se com o Governo argentino e a paz foi decidida.
Para celebrá-la, uma estátua de Cristo foi fundida com o
bronze dos canhões e edificada no cimo dos Andes com a
seguinte inscrição: "Estas montanhas desmoronarão e se
transformarão em poeira antes que os habitantes do Chile e
da República Argentina esqueçam os compromissos contraídos
aos pés do Cristo". Foram essas duas nações americanas que
assinaram o pacto sôbre a arbitragem obrigatória e a limitação
dos armamentos. O primeiro tratado desse gênero conhecido
na história dos povos.
Foi ainda a América, pela voz de Rui Barbosa, quem
afirmou, em Haia e na Faculdade de Direito de Buenos Aires,
os direitos dos neutros e os princípios de igualdade entre as
nações, grandes e pequenas; (12) princípios estes que a codi-
(12) Vide: Barbosa (Rui) Deuxiènie Conférence Internatio-
nale de la Paix, La Haye, 15 Juin-18 Octobre 1907. Actes e Documents
t. I et II, Ministère des Affaires Étrangères, Imprinierie Nationale, La
Haye, 1907.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
A. CARNEIRO LEÃO
ficação do Direito para os Estados americanos consagrou
definitivamente. (13)
Essa codificação é uma idéia americana, iniciativa do
Brasil. Foi o pernambucano José Higino, professor de Direito
na Faculdade de Direito de Recife, quem primeiro a propôs:
"Lembro-me ainda, como se fôsse ontem, dizia Victor Maurtua,
embaixador do Peru em nosso País, da iniciativa do delegado
brasileiro à segunda conferência pan-americana realizada no
México. Eu evoco essa figura venerável José Higino
grande, magro, com a serena gravidade do sábio, com o olhar
calmo do homem justo e bom, que se ergue no meio da sala
do palácio histórico de Juarez e pronuncia tal um profeta,
suas previsões e seus desejos relativos à organização jurídica
americana." (14)
A evolução desse pensamento de concórdia persiste confir-
mado pelos fatos. Em 1947 as vinte e uma Repúblicas ameri-
canas assinavam, no Rio de Janeiro, um tratado de assistência
recíproca; em 1948 em Bogotá, elas votaram o estatuto das
nações continentais, reunindo as regras esparsas e estabelecidas
durante os sessenta anos de pan-americanismo realizador e cons-
tituindo, assim, a "Carta dos Estados Americanos".
Nessa orientação o Brasil tem sido um exemplo. Basta-nos
recordar aqui os trinta e dois tratados de arbitragem para a
solução pacífica de questões de fronteiras (em alguns casos
com prejuízo manifesto de nossos direitos) que contamos em
nosso ativo. Nossa solidariedade e nossa cooperação continuam
com os outros povos do Continente. O "Condomínio", que
demos espontâneamente à República Oriental do Uruguai, na
lagoa Mirim e no rio Jaguarão, (15) para intensificar nossas
relações com aquele paiso atestados evidentes desse espírito
de fraternidade continental e humana. Tudo isso mostra como
tôdas as vezes que se sentiu a necessidade de solidificar a
união e de defender a paz, a política do Brasil e da América,
nos últimos cinquenta anos, foi a da cooperação e do entendi-
mento entre os povos. Essa atitude do nosso país e das demais
(13) Vide: Alvarez (A.) Droit International Américain, Paris,
1910.
(14) Vide: Maurtua (Victor) Discurso pronunciado na reunião
de juristas americanos no Rio de Janeiro, em 1921.
(15) Vide: Araújo Jorge (A. G.) Introdução às Obras do
Barão do Rio Brasco, pág. 197.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
nações do Novo Mundo, esse interamericanismoo significa
uma limitação continental, é mister repetir, mas um passo deci-
sivo para a união definitiva entre todas as nações da terra que
guardarão, entretanto, suas características regionais.
Os horizontes mundiais continuaram ameaçadores. A
aceleração aterradora do progresso, n,o espaço e no tempo,
impõe uma modificação da mentalidade humana.
Mas o espírito humanoo pareceo pronto nemo
alerta como fora de desejar, nem os homens responsáveis pelo
nosso destino se convenceram ainda que a guerra e a pazo
distenderão suas asas senão no plano internacional.
Escolherá a razão as fôrças construtivas?
Fará a paixão o jogo das forças destrutivas?
Dois caminhos se oferecem "à angústia contemporânea"
um que conduz ao Canaã sonhado, outro ao Apocalipse:
Guardemos a fé na consciência humana que pode c deve
preparar um mundo novo, no qual sem dúvida, os deveres se
multiplicarão, no qual o trabalho e o esforço serão, esperemo-lo,
o quinhão de todos eo constituirão nem um castigo nem
uma tarefa extenuante; no qual todos, enfim, terão direito,
o apenas aoo cotidiano, mas aos frutos e às flores da
terra. Issoo se poderá esperar senão numa atmosfera na-
cional revigorada por um acordo internacional. Quanto ao
regionalismo êle permanecerá o que é: — a fonte de alegrias
intimas, simples e puras, às quais, mesmo em nossa época,
seria imprudente desdenhar, porque em uma sociedade inter-
nacional, ainda que muito bem organizada, as forças do senti-
mento guardarão seu soberano prestígio e deixarão às "áreas
de cultura", a parte que lhes cabe na edificação do mundo.
E elas assimo de nos oferecer as recordações que nos acom-
panhamo intimamente pelo caminho da vida e se agarramo
desesperadamente em nossa alma que acabamos por lançá-la no
papel e, muitas vezes, por eternizá-las em páginas preciosas e
comoventes.
A igrejinha, cujos sinos embalaram a nossa meninice em
cuja vizinhança acolhedora crescemos e nos fizemos homens,
é significativa e salutar seo nos limitam o espírito ao espaço
de quarteirões, assim como o solo natal, seo nos envenena-
ram pelo nativismo, constitui paras uma doce e nostálgica
poesia, a aguçar a nossa sensibilidade e a nossa simpatia
humana.
A união do regionalismo, do nacionalismo e do internacio-
nalismo, eis a garantia do entendimento e da paz entre os
homens.
Esperemos que a criação da "Organização das Nações
Unidas" e da "Unesco" afirme e perpetue, afinal, a consecução
desse grande ideal.
o essas as aspirações e as esperanças do Brasil e de
toda a América, cuja política e cujo comportamento se dirigem.
com convicção e ansiedade, para sua definitiva realização.
A. CARNEIRO LEÃO
CAPÍTULO IV
EVOLUÇÃO POLÍTICO-SOCIAL DAS AMÉRICAS
INTRODUÇÃO
Para a compreensão exata do sentido da evolução político-
social das Américas é mister uma visão panorâmica de sua
evolução histórica. Apesar da contiguidade continental e da
similitude de destinos, os caracteres diferem mais entre anglo-
americanos e íbero-americanos do que entre íbero-americanos
e franceses, italianos, espanhóis e portuguêses. Basta assinalar
os elementos, as causas, a orientação e os processos de uma
e de outra colonização. Enquanto uma vinha diretamente do
espírito particularista anglo-saxão, a outra saía de dois países
de governos absolutos, em pleno esplendor de seu prestigio e
de sua fôrça. Enquanto uma visava à possibilidade de uma
vida mais autônoma, mais conforme aos ideais morais e reli-
giosos de cada grupo, a outra nascia impulsionada pelo espírito
de aventura, por uma das imaginações mais ambiciosas de que
temos notícia na história dos povos.
O SENTIDO DA COLONIZAÇÃO ÍBERO-AMERICANA
Espanhóis e portuguêses, aportados ao Novo Mundo, na
ânsia de conquista e de fortuna,o queriam senão explorar o
máximo. A preocupação dominanteo era a adaptação ao
ambiente natural,o era a aclimatação no meio americano,
o era a construção de novas pátrias, mas a exploração das
riquezas, a conquista do ouro para voltarem à terra natal,
respeitados e poderosos. O que porventura empreendiam em
defesa de sua adaptação e de seu ajustamento, ditava-o o ins-
tinto de conservação.
Estávamos nos primeiros dias do século XVI. Espanha
e Portugal eram as duas nações mais importantes de todos os
continentes. A primeira pelo seu poderio invencível, senhora
de quase dois terços do mundo conhecido de então, a segunda,
gloriosa pelas descobertas notáveis e pela posse das riquezas
fabulosas da Índia.
A notícia das descobertas de um novo mundo assanhou um
sem número de espíritos ambiciosos e ardentes...
Particulares e governos porfiavam na mesma preocupação.
Tratava-se de regiões longínquas e selvagens que deviam abas-
tecer de ouro e especiarias as metrópoles e fornecer recursos
a nobres empobrecidos e a burgueses audazes. Caminhavam
todos com objetivos de exploração pronta e valiosa. Chegados,
porém, à América, as dificuldades da conquista, a luta contra
o indígena, a necessidade de trabalhar para viver os foi ra-
dicando, os foi obrigando à permanência prolongada. Para
sobreviver necessitavam vencer a natureza, possuir braços, ca-
pazes de explorar a agricultura, a criação, e as minas. Com
eles vieram logo sacerdotes de várias ordens: dominicanos
e franciscanos, a princípio, e, depois, jesuítas, agostinhos e
outros.
Imediatamente se estabelece entre civis e religiosos uma
luta tremenda, ora aberta, ora surda. Aqueles pensam prin-
cipalmente em explorar, em enriquecer. Estes desejam, acima
de tudo, conquistar almas, cristianizar gentios e europeus. E
a sociedade caminha entre os dois pólos. Um conduz para o
trabalho, despreocupado da sorte do homem nessas regiões, do
melhor ajustamento à nova vida, da melhor preparação para
viver. O outro, alheio às realidades, às imposições culturais do
meio, às necessidades num mundo selvagem, só cuida de fornecer
ensinamentos religiosos, difundir uma preparação teórica, aca-
dêmica, mística, sem aplicação senão para o culto. Certo, há
tentativas de uma educação profissional, mas apenas fornecida
pelos franciscanos, a princípio quase limitada aos indígenas e
mais tarde estendida aos negros e mestiços. Para os filhos de
espanhóis e portugueses a educação é religiosa e acadêmica.
Os colégios, os seminários, as universidades, durante mais de
duzentos anos, limitam seus ensinamentos à leitura, escrita,
conta, lógica, retórica, teologia, jurisprudência e medicina. "Em
mais de uma Universidade do Continente hispano-americano, os
A. CARNEIRO LEÃO
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
discípulos poderiam dizer, já no último quartel do século
XVIII, como D. Diego de Torres dizia de Salamanca (famosa
universidade de Espanha) que, depois de frequentá-la quinze
anos, soube, por acaso, da existência das matemáticas". (1)
Isso quando já possuíam os anglo-americanos a determinação
clara dos objetivos da educação superior, como os traçados por
Thomas Jefferson, nos quais se propugnavamo só o cultivo
das ciências físicas e matemáticas, mas os estudos capazes
de promoverem os interesses da agricultura, das indústrias e
do comércio. (2)
Os latinos-americanos transportavam-se para regiões des-
conhecidas e, graças à sua coragem, à sua audácia, ao seu sa-
crifício, à sua capacidade de resistência, buscavam atingir os
tesouros escondidos. Propunham-se explorar em proveito das
Metrópoles, todas as riquezas possíveis.
Os anglo-americanos (pelo menos nos primeiros núcleos,
os mais marcantes da primeira fase da colonização) buscavam
um lugar tranquilo para a prática de sua religião e maior li-
berdade de movimentos. Uns contavam em sua imigração
unicamente, ou quase unicamente, varões; os outros compu-
nham-se de famílias inteiras, de verdadeiras comunidades ligadas
por interesses culturais e ideais morais e religiosos, que se
exilavam em terras desconhecidas com a intenção de viver
em sociedade organizada. Basta essa diferenciação para expli-
car, de uma parte, a mestiçagem no continente íbero-americano,
e, de outra, a perseguição, o quase extermínio dos autóctones e
o desprezo do negro pelo anglo-americano.
O SENTIDO DA COLONIZAÇÃO ANGLO-AMERICANA
Nos Estados Unidos o objetivo precípuo da colonização
foi a construção de pátrias livres, com poder público instituído,
cultura organizada, culto religioso garantido. Mesmo quando,
como um protesto à rigidez de uma seita: dos puritanos, em
Massachussets, dos "quakers", em Filadélfia, dos calvinistas,
J
(1) Vide: Ramos (Juan P.) História de l'Instrución Primaria
en la República Argentina, pág. 6 Buenos Aires, 1910.
(2) Vide: Jones (Artur J.) A Educação dos líderes, p. 18,
tradução de P. Lemme, T. Newlands, M. L. Sá Pereira Comp. Editora
Nacionalo Paulo.
A. CARNEIRO LEÃO
em Nova Amsterdã (logo depois Nova Iorque) fundava-se
Rhode Island e surgiam Connecticut, Pensilvânia e Maryland,
o processo de colonizaçãoo se alterava. Só muito mais
tarde, em pleno século XIX, a expansão para o Oeste, pela
descoberta do ouro, emprestou, por pouco tempo ainda assim, e
em limitadas zonas, à colonização norte-americana esse caráter
de exploração razão do desbravamento e da conquista da
América espanhola e da América portuguêsa.
Por sua vez a diferença no carácter da imigração acentuou
diferenças sensíveis na luta e nos métodos de vida e de ação.
Enquanto a colonização anglo-americana se fazia de modo mais
estável, mais regular, menos dolorosa, a latino-americana se
ressentia, sobretudo em certas regiões do Brasil, como nos
países hispano-americanos, de um caráter de aventura, de agres-
sividade, de sofrimentos inauditos. Uma era mais construção
social e outra mais desbravamento, ambas lutavam pela adapta-
ção, mas uma batalhava contra forças cósmicas e massas hu-
manas mais terríveis. A diferença nos processoso podia
deixar de implicar diversidade na trajetória e nos resultados.
CONSTRASTES E CONFRONTOS
Nas regiões de colonização inglêsa os grupos marchavam
organizados e unidos. Onde eles penetravam, penetrava o
poder público, o culto livremente instituído.
Nas regiões de colonização latina espanhola e portuguê-
sa eram indivíduos ou grupos que se internavam. O poder
público, a igreja e a escola dificilmente os alcançavam.o
importa, para o resultado geral que, em determinados casos,
tivéssemos a transplantação de famílias, de sociedades organi-
zadas, disciplinadas, como alguns donatários no Brasil e alguns
"adelantados" nas plagas hispano-americanas, nem tivessem os
anglo-americanos alguns bandos de exploradores sem entranhas.
A verdade é que a política colonizadora na América inglesa
foi uma, e. na América latina, foi outra. Daí a disparidade
no ponto de partida, na construção de toda a evolução cultural,
social e política nas duas partes do Continente. Assim os obje-
tivos e os processos diferentes de colonização, os métodos distin-
tos de vida e de organização social determinaram a construção
de sociedades díspares. Precisamos acentuar, de início, sob
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
pena de injustiça, que a obra latino-americana esteve longe de
ser apenas guerreira e exploradora, como a anglo-americana nem
sempre foi liberal. Ao lado da luta pela conquista do solo e,
em certas zonas, como no México e no Peru, das riquezas cedo
acumuladas, começou um esfôrço de adaptação ao meio físico
altamente eloquente.
Os conquistadores espanhóis trazem e plantam as espé-
cies agrícolas mais diversas. Aclimatam e criam os animais,
as aves, os pássaros. Transformam e enriquecem a flora e a
fauna do novo mundo com os exemplares mais típicos e mais
úteis do velho. É um exemplo significativo dessa visão da
necessidade de equilíbrio ecológico a expedição de Benalcazar,
levando de Quito à Cundinamarca, ao invés de um exército
conquistador, uma vara de porcos de criação.
O carinho com que trazem as sementes, o cuidado com
que fazem as semeaduras e a alegria e as festas com que
assinalam as primeiras colheitaso sintomáticos e expressivos
em toda a América latina.
No Brasil, as duas maiores indústrias agrícolas cana-de-
açúcar a princípio e, depois, café vieram de outras plagas.
A civilização norte-americana, afinal, construía-se no mo-
delo do municipalismo inglês. O espírito de associação, de
cooperação e de solidariedade constituía a matriz da vida social.
A latino-americana se estabelecia numa jurisprudência
diferente, inspirada num idealismo agressivo. Um senhor, imi-
grado, de posse de imensos latifúndios, estabelecia aqui o seu
mundo. Parentes, aderentes, apaniguados, escravos formavam
sua grei. Às vezes, e muitas vezes, mesmo, tornavam-seo
fortes que o poder público da Metrópoleo os alcançava, nem
os ousava atacar. Isolados eles cresciam independentes, em
atitude constante de desafio. Habituados ao conhecer von-
tade superior à sua eram verdadeiros potentados em seus
domínios.
No Brasil, por exemplo, a civilização era obra dos senho-
res rurais. As fazendas e os engenhos de açúcar bastavam-se
a si mesmos. Da matéria prima às manufaturas, faziam tudo,
fabricavam tudo. À exceção de armas de fogo, pólvora, ferro,
máquinas e sal, tudo mais os senhores produziam para toda sua
gente. A própria justiça, pela distância em que se encontrava,
em regra, o "Poder Público", era o senhor rural quem a minis-
trava. O municipalismoo existia, e quando apareceuo
7
conheceu o regime do "self government" escola de associa-
ção, de cooperação, de solidariedade.
Era o senhor mais forte da região quem governava com
poderes discricionários, do seu feudo vizinho, mesmo quando já
parecia existir uma organização política e um poder público
municipal. É o que se dá no Brasil como até certos limites
em Hispano-América.
Tanto as "Capitanias" no Brasil, como os "Adelantazgos",
na América espanhola,o podiam produzir situações diversas.
As "Capitanias" eram as jurisdições territoriais, concedidas aos
reinóis, pelo Governo da metrópole, para serem exploradas em
benefício deles e del-Rei. Donatário era o título do nobre a
quem se conferia cada uma dessas jurisdições. "Adelantazgos"
eram as jurisdições territoriais, concedidas pelos reis espa-
nhóis aos poderosos senhores que, durante a guerra secular
contra os mouros, se encarregavam de reconquistar, com seus
próprios recursos, as cidades e os territórios ocupados por
esses. "Adelantado" era o título que lhes cabia em virtude
de tal direito. Esse regime estendeu-se aos conquistadores da
América espanhola e daí as expressões terem passado para de-
signar o feudo e seu detentor.
Quando a política de divisão de terras por personalidades
privilegiadas desapareceu iniciaram-se os governos absolutos,
emanados diretamente das Metrópoles. Esses governoso vi
savam, porém, à formação de novas pátrias, senão à exploração
mais direta, mais segura e mais eficiente das riquezas em be-
nefício da corte espanhola, como da côrte portuguesa. A si-
tuação dos territórios continuou quase a mesma, a vida dos
senhores rurais e de seu mundo pouco se modificou. A preo-
cupação das Metrópoles católicas era o ouro, a prata, as pe
drarias das minas, os dízimos, os quintos e a fidelidade à reli-
gião católica. Essa fidelidade era tamanha que, no Tratado
de Comércio e Navegação de 26 de fevereiro de 1810, entre a
Grã-Bretanha e o Rei D. João VI de Portugal, Brasil e Algar-
ves, ficou estal>elecido taxativamente que nenhum inglês se
poderia naturalizar brasileiro sem abraçar a religião Católica
Apostólica Romana. (3)
(3) Vide: Koster (Henry) Viagens ao Nordeste do Brasil,
pág. 556. tradução c notas de Luís da Câmara Cascudo. Brasiliana,
v. 221. Comp. Editora Nacional S. Paulo.
A. CARNEIRO LEÃO
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
Ainda assim, em vários pontos das colônias latino-ameri-
canas, o luxo era grande. Em Lima, denominada a capital dos
reis, para receber o Duque de la Palata, em 1682, os habitantes
da cidade calçaram com barras de prata, no valor de dezessete
milhões de libras esterlinas, duas das principais ruas pelas
quais teria de passar o visitante e, em 1715 corriam pelas ruas
da mesma cidade quatro mil carruagens. (4) "Bastará assi-
nalar, escreve a respeito Oliveira Lima, que o luxo da Virgínia,
o centro de maior esplendor nas colónias inglesas da época
o podia sofrer comparação com o fausto da capitania do
ouro, e, sobretudo, que se recorde que a conquista do Oeste, a
qual nos Estados Unidos foi a característica do século XIX,
constitui no Brasil uma obra começada pelos nossos pioneiros
no século XVI e que, no século XVIII, já atingira seu têrmo
possível. Aliás, na segunda metade da fase colonial, a vida
mental na América hispânica foi movimentada e expressiva.
No século XVIII, os concursos para professor da "Universidade
Mayor de San Marcos", em Lima, no Peru, eram aconteci-
mentos impressionantes, com partidários que se digladiavam
por uns ou por outros candidatos." (5)
É queo havendo lugar na monótona existência colonial
para lutas políticas, escreve Vicente Quesada, a propósito
do fenômeno na América espanhola, tôda a atividade se con-
centrava naquelas disputas académicas. (6)
No Brasil, em Pernambuco, na segunda metade do século
XIX, o concurso realizado por Tobias Barreto na Faculdade de
Direito de Recife, foi um acontecimento social no qual os es-
tudantes tomaram partido apaixonadamente. Era o tempo das
opiniões imutáveis. Hoje, apesar da abundância de distrações,
certos concursoso deixam de ser animados; na sala o público
se manifesta, sente-se passar a tempestade e depois tudo se
acalma, porque ninguém ignora que, mesmo na terra, há muitos
chamados e poucos escolhidos.
(4) Vide: Quesada (Vicente C.) La Vida Intelectual en la
América Española, págs. 213 e 214 La Cultura Argentina, Buenos
Aires, 1917.
(5) Vide: Oliveira Lima América Latina e América Inglêsa,
págs. 17 e 47, Garnier Rio.
(6) Vide: Quesada, obr. cit. pág. 214 e Oliveira Lima Obr. cit.
pág. 60.
A. CARNEIRO LEÃO
FEIÇÃO EDUCACIONAL E CULTURAL NUMA E NOUTRA
AMÉRICA
A esse brilho resultante da cultura literária, filosófica e
até jurídica, faltava o conhecimento das Ciências Políticas, His-
tóricas e Naturais, embora o seminário fundado por Azeredo
Coutinho em 1800, em Pernambuco, contasse entre as discipli-
nas de seus cursos: Desenho, Matemática, Física, Química,
Mineralogia e Botânica, e o Areópago de Itambé, criação de
Arruda Câmara doutor por Montpellier, na França e si-
tuado entre Pernambuco e Paraíba, fôsse, na mesma época, um
centro de investigações científicas e de estudos filosóficos capaz
de impressionar a Tolenare.
A secular preocupação académica nos dera uma inteligên-
cia verbal tirando-nos a capacidade e o gosto para uma educação
política acorde às nossas necessidades e às nossas realidades. E
está precisamente aqui a grande diferença de mentalidade, re-
sultante, de um lado, da diferença de origem e da fatalidade
histórica, e, de outro, da orientação educacional, pois data de
1750 a criação, por influxo de Benjamim Franklin, da "Aca-
demia Americana", de preocupações científicas, técnicas e acen-
tuadamente americanas. Basta recordar, do ponto de vista dos
imperativos históricos, que era inteiramente proibido por lei
expressa, na parte hispânica do continente, imprimir ou vender
livros, tratando de assuntos referentes à América, sem ordem
expressa do Conselho das Índias. (*) A América se fazia
assim para os espanhóis imigrados e seus descendentes um
campo de exploração, uma fonte de recursos para gáudio da
Metrópole e de seus filhos. As preocupações eram taxativa-
mente, a vida metropolitana, o meio metropolitano, as coisas
e os homens metropolitanos. Para os inglêses mais ou menos
expatriados, ao contrário, tornava-se, a nova pátria, o objeto
de seus cuidados e desvelos. A vida em comunidade, desde o
primeiro momento, com a preocupação de ordem e de boa
administração, nas colônias anglo-americanas (como já eviden-
ciamos) e a existência aventurosa, individualista, latifundiária
dos latino-americanos, constituíram parte magna na diversidade
da formação política das duas porções do continente.
(*) Nota: Vide: Tit. 24 Ley I, 21 Septiembre 1556, citado
por Araújo (Orestes) em "História de la Escuela Uruguaya", p. 29:
Montevideo, 1905
A. CARNEIRO LEÃO
sem ocupado uma dessas profissões vis e de classificarem-se os
mestiços detentores do título de bacharel ou doutor. A impor-
tância da cultura académica era tal que vinte anos de ensino de
um ramo jurídico, numa universidade hispano-americana, da-
vam direito ao título de "Conde de Leis". (7) No Brasil o
mesmo sabor de fidalguia. o mesmo orgulho era conferido pelo
diploma acadêmico. Ficou célebre, cm Recife, e já durante o
Império, quando um juiz insistindo em chamar, em pleno Tri-
bunal, o professor Lourenço Trigo de Loureiro, "Senhor
Lourenço Trigo de Loureiro", este, ao terceiro chamado, repli-
ca, irritado: "Doutor, doutor Lourenço Trigo de Loureiro, a
lei mo deu, só a lei mo tira".
A posse desses títulos era a grande aspiração. Daí a fun-
dação, por toda parte, de universidades, faculdades, academias,
seminários, e colégios.
A colonização anglo-americana aindao havia começado
e já em Santo Domingo, em 1539, inaugura-se a Universidade
deo Tomás; no México, em 1551, cria-se a Universidade
do México; em Lima, também, em 1551, funda-se a Univer-
sidade Maior deo Marcos; as mais antigas universidades
do continente americano. Em seguida outras universidades
aparecem. No México em Mochocã, Guadalajara, Chiapa,
Iucatã; no Alto Peru, Chuquisaca (universidade famosa pela
ação que exerceu no espírito revolucionário da América do
Sul) ; no Chile: a Universidade deo Filipe; na Argen-
tina : a Universidade de Córdoba.
À exceção da Universidade do México e da Universidade
.Maior deo Marcos, criação do governo, as demais foram
iniciativas dos religiosos: dominicanos, jesuítas e franciscanos.
O Brasilo instala ensino superior senão mais tarde e
parcamente. A Universidade de Coimbra, em Portugal, cons-
tituiu, por muito tempo, o nosso verdadeiro foco de cultura
superior. O que tivemos cedo foi a instalação de colégios para
ensino secundário. O superior dava-se nos seminários instituí-
dos a princípio para a formação de sacerdotes,o obstante
tivéssemos podido contar por alguns anos, no início do século
XIX, com a instituição magnífica O Seminário de Olinda
de Azeredo Coutinho, em Pernambuco.
(7) Vide: Labarca (A.) História de la Enseñanza en Chile,
pág. 44 Chile, 1935.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
No entanto o nosso amor pelas letras, pelos títulos acadêmi-
cos começou em nossa terra mais ou menos ao mesmo tempo
em que surgiu nas colónias hispano-americanas. Os livros
europeus, sobretudo os proibidos, o pensamento europeu, so-
bretudo o mais perigoso, penetravam na colônia de Portugal.
As revoluções, abortadas no Brasil colonial,o contemporâneas
dos primeiros esforços pela emancipação das colónias espanho-
las e seus autoreso intelectuais, homens de pensamento, como
em todo o mundo hispano-americano de então. O 1710, em
Olinda, Pernambuco, foi idéia de um senador Bernando
Vieira de Melo; a Inconfidência Mineira de 1789, trama-
ram-na magistrados, estudantes e poetas; a revolução pernam-
bucana de 1817, que deu existência, por cinco meses, a uma
república composta das comarcas, hoje Estados de Ceará, Rio
Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas, empreende-
ram-na homens cultos, sacerdotes e oficiais brasileiros.
A origem cultural, as fontes ideológicas das nossas revolu-
ções foram as mesmas das revoluções nas terras da América
espanhola. E coisa curiosa: aspirações culturais análogas,
cultura literária e filosófica equivalente, paixão acadêmica si-
milar e estruturação das instituições de ensino superior diversa.
Enquanto a América espanhola instituía a Universidade como
estabelecimento padrão, essencial à formação de sua cultura e
de sua civilização, o Brasil contentava-se com os colégios, mais
de nível secundário, do que superior, com os seminários, cuja
finalidade, ao lado da formação de sacerdotes, era administrar
conhecimentos literários, filosóficos e, às vêzes, científicos. O
fato de muitos brasileiros irem conquistar sua láurea acadêmica
em Coimbra e, depois, nas Universidades francesas, como
Montpellier,o justifica a ausência das universidades no
Brasil. O fenômeno só se pode explicar, de um lado, pela
enorme extensão de nosso território, no qual a consciência
regionalista, muito viva, exigiria logo a criação de várias uni-
versidades: em Pernambuco, na Bahia, no Rio de Janeiro,
em Minas, emo Paulo e, de outro lado, sobretudo nos
últimos tempos da Colónia e depois da Independência, em vir-
tude de nossa fascinação pela França, então sob o regime
napoleónico das Faculdades.
Onde outra interpretação para tamanha disparidade? Se
a época da conquista e desbravamento das terras latino-ameri-
canas correspondem ao chamado período de ouro da literatura
espanhola,o parece muito diverso o conceito que devêramos
ter da literatura portuguêsa naquela época. Camões já havia
fixado o maior momento da vida lusitana, com a publicação dos
"Lusíadas". Além disso, no último quartel do século XVI, o
século da descoberta do Brasil, a desgraça do Rei aventureiro,
D. Sebastião, atirara Portugal no domínio da Espanha, por
longos sessenta anos. Era de esperar que a feição cultural
espanhola,o amiga das universidades, influísse decisivamente
para a criação da universidade ou das universidades brasileiras.
Nada disso no entanto aconteceu. É verdade que. em 1789, em
plena época colonial, os inconfidentes mineiros planejavam, caso
a revolução vencesse, a criação de uma universidade. Nos pri-
meiros dias do século XIX Bernardino Uchoa e Monsenhor
Muniz Tavares repetiram, sem melhor sorte, o mesmo planeja-
mento, em Pernambuco.
Em 1823, já após a Independência, no alvorecer do Pri-
meiro Império, a Constituinte, logo dissolvida, por D. Pedro I.
gizou a criação de duas universidades, uma no Norte, em
Olinda, e outra, no Sul, emo Paulo. Infelizmente nenhuma
das tentativas logrou êxito. Todavia já contáramos uma ins-
tituição cultural de largas finalidades, inaugurada cm 1800: o
seminário de Olinda, de Azeredo Coutinho, já referido, no
qual se estudavam Latim, Grego, Francês, Geografia, Retórica,
História Universal, Filosofia. Desenho, História Eclesiástica,
Teologia, Moral, Matemática, Física, Mineralogia e Botânica.
Esse seminário, apesar de seu nome modesto, foi capaz de
transformar as condições do ensino e a vida intelectual da capi-
tania de tal modo que os sacerdotes e os leigos de lá saídos se
tornaram pouco depois fatores preponderantes das revoluções
de 1817 e de 1824, (8 e 9).
Maso só no Brasil, em toda a América latina havia,
por parte de certos mestres, quandoo de instituições de ensino,
a preocupação do estudo das Ciências Exatas, das Ciências-
sicas e naturais. O padre Celis, em Lima, o bispo Córdoba em
Bogotá, entre outros, porfiavam pela organização de um ensino
mais moderno, mais útil, mais científico. O fato era, porém,
exceção. A secular preocupação acadêmica nos dera uma in-
(8) Vide: Alfredo de Carvalho Notas dominiciais (tradução)
pág. 120.
(9) Vide: Carvalho (Alfredo) Estudos Pernambucanos.
págs., 197 e 259, A Cultura Acadêmica Editora, Recife, 1907.
A. CARNEIRO LEÃO
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
teligência verbal, retardando-nos a capacidade e gosto para uma
educação acorde às nossas necessidades.
Nossa primeira universidade, a "Universidade do Rio de
Janeiro" data de 1920, quando o Presidente Epitácio Pessoa
reúne as Faculdades de Direito e de Medicina, a Escola Poli-
técnica e a Escola de Minas de Ouro Preto e algumas institui-
ções complementares sob a direção de um conselho universitário
e de um reitor. Essa universidade transformou-se em 19.36 na
"Universidade do Brasil" absorvendo, em 1939, parte da Uni-
versidade do Distrito Federal, criada em 1935, de vida efêmera
mas perfeitamente identificada com os objetivos reais das uni-
versidades modernas. Hoje possuímos 17 universidades: seis
federais do Brasil, do Paraná, de Minas, do Rio Grande do
Sul, da Bahia e do Recife, uma estadual a deo Paulo,
sete federalizadas, isto é, consideradas de responsabilidade fe-
deral e com as despesas pagas pelo governo federal e três parti-
culares, entre as quais se encontram a do Distrito Federal,
subvencionada pela Prefeitura, e a Universidade Católica.
Quando o regente de Portugal, que depois se tornou
D. João VI, fugindo das tropas de Napoleão, se estabelece no
Brasil, funda, na Bahia e no Rio de Janeiro, escolas de Medicina
(Escola Médico-Cirúrgica na Bahia, Escola Médica no Rio)
uma Academia Militar, depois Escola de Engenharia, hoje
Faculdade Nacional de Engenharia, uma Academia de Belas-
Artes, atualmente Escola Nacional de Belas-Artes, o Museu
Nacional, o Jardim Botânico, a Biblioteca e a Imprensa Régia.
Numerosos franceses: sábios, artistas, o acompanhavam.
Entre esses, Debret nos legou obras notáveis, reproduzidas
em litografia, representando paisagens, ruas e cenas da época,
que gozam atualmente de grande mérito.
Só em 1827 se criaram os cursos juridicos: uma Faculdade
de Direito, em Olinda, hoje em Recife (Pernambuco) e outra
Faculdade de Direito emo Paulo. (10)
o importa muito (se importa realmente alguma coisa)
essa diversidade na estruturação dos cursos superiores entre
o Brasil e as colónias hispano-americanas. Em toda a Amé-
rica latina, com universidade ou sem universidade, desde
(10) Vide: Bevilácqua (Clovis) História da Faculdade de Di-
reito de Recife, Liv. Alves, Rio, 1927, e Vampré (Spencer) Memórias
para a História da Academia de Direito de S. Paulo, S. Paulo, 1924.
A. CARNEIRO LEÃO
cedo, a cultura intelectual, o academicismo e a fascinação pelo
diploma de bacharel, licenciado ou doutor, tornaram-se domi-
nantes. Nesse particular a ação francesa foi universal em
nossos países.
É pela cultura eo pela raça, ques nos conside-
ramos povos latinos. (*) A mentalidade greco-latina prolon-
gou-se através da França do Mediterrâneo ao Brasil.
o importa que a América espanhola se tenha mantido
intelectualmente fiel à Espanha cuja literatura foi brilhante
desde o século XVI porque seu espírito filosófico e político
era, em boa percentagem, francês. Quanto ao Brasil, basta
evidenciar que, no último quartel do século XVIII, "O lirismo
adquiriu em Minas Gerais um sentimento natural e uma ex-
pressão quase romântica de vibração pessoal, que tornaram sua
poesia colonial decididamente superior ao convencionalismo
neo-clássico da Metrópole". (11)
Os movimentos de idéias na França repercutiram ali
infalivelmente. O romantismo francês e, através da língua
francesa, o alemão e o inglês,o renovadores prodigiosos da
literatura brasileira e, de certo modo, de toda a literatura latino-
americana. É todavia no pensamento político e filosófico que
as analogiaso mais flagrantes. J. J. Rousseau e os enci-
clopedistas enchem a mentalidade de nossos homens de pen-
samento durante toda a primeira metade do século XIX. Gran-
de parte da segunda é dominada pela filosofia de Augusto
Comte. O positivismo reina soberano pelo menos em quatro
nações do Continente: México, Cuba, Chile, Brasil. A Re-
pública Argentina que, como escreve Sarmiento, tenta realizar
os últimos resultados da civilização européia, desde os pri-
meiros dias da independência, se torna, com o Uruguai, logo
após a queda de Rosas, sansimoniana, isto é, através dos revo-
lucionários, fugidos da Europa depois das revoluções de 1848,
dos livros importados, inflama-se no novo pensamento revo-
lucionário europeu.o as obras de Cousin, Villemain, Quinet,
Michelet, Jules Janin, Mérimée, Nizard... que inspiram a
juventude no Prata. A política, a filosofia, o direitoo
conduzidos em todo o mundo latino-americano pelas idéias
(*) Nota: Do contrário como explicar que negros, filhos de ne-
gros puros, como o ilustre Prof. José Hemetério dos Santos, afirmasse,
em Discursos solenes:s os latinos?!
(11) Vide: Oliveira Lima América Latina e América Inglesa.
sansimonianas e pelo positivismo de Augusto Comte.o só
a interpretação da vida, como a visão politica, nutre-se na ideo-
logia dos dois filósofos- franceses.
Nas colônias anglo-americanas o panorama é outro. Quan-
do a colonização se inicia naquelas terras, a literatura inglêsa,
embora contando nomes ilustres, ainda se prepara para o grande
surto. A Inglaterra esforça-se para impor-se como nação
poderosa.
Um século havia decorrido do início da colonização es-
panhola e portuguesa no continente americano; o Renascimento
florescia na Europa quase inteira. As lutas religiosas, porém,
sobressaltavam e dividiam a gente anglo-saxônia, intensificando
em seu espirito a consciência da liberdade de pensamento e de
ação. Desse modo os colonos anglo-saxões chegam à América
desprendidos dae pátria, senão hostis à sua atuação. Sua
preocupação é uma escola que, embora fôsse inglesa em essência,
dirigida por ingleses expatriados e por seus descendentes ime-
diatos, constitui uma reação ao espírito de intolerância, preo-
cupando-se com a formação da mentalidade social e moral
nas novas terras. Nem mesmo aquelas colónias construídas por
Companhias escaparam à regra geral. O governo na Colônia
possuía grande liberdade de ação ajustadora.
A colonização latino-americana preparava-se na Metró-
pole e ditava-se pelo seu gosto, suas preocupações e suas leis.
O guante metropolitano, imposto por monarcas absolutos, deter-
minava então o que podia e devia ser lido nas colónias. A
inquisição na América espanhola (porque no Brasil elao
chegou propriamente a funcionar) muito podia para forçar a
observância das determinações eclesiásticas. Já em 1556 os
registos de carregamento dos navios para a América eram deter-
minados nesse particular de modo mui severo. A lei número
VII daquele ano dizia: "Nossos Vice-Reis, presidentes e ouvi-
dores tenham grande cuidado e ordenem aos oficiais reais que
nas visitas aos navios verifiquem se não levam livros proibidos,
conforme os expurgatórios da Santa Inquisição, fazendo entrega,
todos aqueles que os tiverem, aos arcebispos, bispos ou outras
pessoas encarregadas do Santo Ofício". As ordens que vinham
da Espanha e de Lima eram muito minuciosas e referiam-se a
livros heréticos, trazidos dentro de pipas e de caixas.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
A. CARNEIRO LEÃO
Como os livros, as escolas, estabelecidas no mundo hispano-
americano, obedeciam a análoga preocupação religiosa. Aliás
o mesmo se deu nesse particular nos Estados Unidos, embora
a imposição se fizesse por autoridades da própria colônia. As
escolas da primeira fase colonial em todas as regiões dominadas
por uma seita eram fiscalizadas. Rhode Island e Connecticut
luram protestos a essa ordem de coisas e Maryland deveu sua
tolerância à situação de minoria absoluta em que se encontrava
a religião católica naquela parte do Continente, com o seu
objetivo de conquistar adeptos.
Assim, tanto numa parte quanto na outra, do hemisfério
ocidental, tanto na América latina quanto na América inglêsa,
a educação era privilégio da igreja e, sobretudo, nos primeiros
tempos, empreendida para o serviço da religião e do Estado.
"One jamais falte um certo número de pessoas bem qualificadas
para servir a Deus, na Igreja e no Estado", era o objetivo pri-
mordial do ensino nas colónias anglo-americanas.o só a
escola primária tinha tais finalidades. Quer na Nova Ingla-
terra, quer na Virgínia (os dois primeiros núcleos de coloni-
zação inglesa no Continente) a criação do "College", entre a
escola secundária e a escola superior, primeiro passo para a
fundação das primeiras universidades de "William and Mary"
e de "Harvard"o teve outro escopo senão a preocupação
de fazer sacerdotes e homens tementes a Deus.
"O objetivo do primeiro '"College", conforme estabeleceu
o pedido de dotação da "Assembleia Geral", dirigido ao Rei,
era o de que "a Igreja na Virgínia pudesse ter um seminário
para os ministros do Evangelho e que a juventude fôsse piedo-
samente educada nas letras, nas boas maneiras e na fé cristã,
propagada entre os indígenas do Oeste para a glória de Deus
onipotente" (12)
Em Nova Inglaterra as escolas de gramática e o "Harvard
College"o tinham, por sua vez outro objetivo além da for-
mação de fiéis e de pastores.
Na América latina, pelo aspecto da sua colonização,
a educaçãoo se poderia processar do mesmo modo que na
América inglesa. Os colonos inglêses em sua maioria dese-
javam a preparação do povo para cultuar o seu Deus, direta-
mente, pela leitura da Bíblia. Os latino-americanos davam
(12) Vide: Jones (Arthur J.) ob. cit., pág. 165.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
educação aos filhos da elite de acordo com as aspirações da
elite metropolitana e, muitas vêzes, como no Brasil, na própria
Metrópole, deixando o povo na ignorância. É assim que mal
havia terminado a conquista e os Reis da Espanha já criavam
as universidades do México e de Lima em 1551, concedendo
aos que nelas se formassem as mesmas vantagens dadas aos di-
plomados por Salamanca, na Metrópole. Os privilégios univer-
sitários, tinham estipêndios relativamente elevados, pagos pelo
tesouro real. Enquanto isso, os preceptores de gramática,
(mestres-escolas) estavam sujeitos a rendas eventuais e de di-
ficílima percepção.
Para compreender a desigualdade, o carinho pelo professor
de Universidade e o descaso pelo professor primário, preceptor
do povo, basta a seguinte determinação oficial da "Recopilación
de Ias "Leyes de Indias" de 1627: "Mandamos a los vice-reyes
e gobernadores que en caso de nombrar preceptores de gramá-
tica para algunos pueblos de sus jurisdiciones, no hagan pagar,
no paguen los salários de nuestra caja real, y ordenen que sean
moderados, y los preceptores personas competentes y nafurales
de estos nuestros reinos y de nuestras índias, y se paguen de
tributos de índios vacos, ó de otros efectos que no sean de la
real hacienda". (13) Entretanto, quinze anos depois, em 1624,
os colonos inglêses da Nova Inglaterra chegados apenas há vinte
e três anos nas terras de América publicam uma lei obrigando
pais e sacerdotes a ensinarem a ler aos filhos e discípulos, com-
pletando-a, cinco anos mais tardo, com a determinação taxativa
de que tôda a cidade de cinquenta famílias nomeasse um pro-
fessor de leitura e escrita...
A educação do filho do povo jáo era, pois, na América
inglesa, do interesse exclusivo da família, mas do próprio
Estado. (14) A diferença de concepção e de comportamento
no ponto de vista da educação pública nas duas porções do
continente explica-se facilmente. A ação em benefício das es-
colas primárias foi sempre escassa na América latina, uma vez
que a finalidade católicao era, como entre os protestantes,
fornecer ao povo possibilidades de ler a Bíblia, de tirar os en-
(13) Vide: Recopilación de las Leyes de índias, 17 Febrero
1627, V. I. pág. 27.
(14) Vide: Carneiro Leão (A.) A Educação nos Estados Uni-
dos, pág. 17. Tipografia do " Jornal do Comércio" Rio de Janeiro,
1940.
A. CARNEIRO LEÃO
sinamentos religiosos diretamente dos Evangelhos, tal como no
caso dos anglo-americanos.
Os jesuítas, afirma-o Orestes Araújo, tratando do Uru-
guai, quase limitaram sua obra educativa à catequese e à
preparação da elite (15). E acrescenta esse autor tex-
tualmente :
"Durante el regimen colonial la instrucción de la infancia
no fué considerada como un problema social à cuya solución
debian contribuir las autoridades y el pueblo. sino como un
simple factor moral que se dejó librado al Clero, el cual à
su vez lo restringia en benefício de unos pocos, de manera que
la acción de los jesuítas primero e de los franciscanos des-
pués se hizo sentir entre las classes acomodadas (ricas) exclu-
sivamente, y esto en Montevideo, pues en atonto à las pocas
publicaciones que à la sazón existian, fueron contadas las que
en aquellos tiempos lograron disponer de alguna escuela, y aún
ésta sin una acertada dirección pedagógica". (16)
Todavia tanto numa parte quanto na outra do continente
(América latina, como inglêsa) a educação era privilégio da
Igreja. Em tôda a América latina,o notáveis os nomes
dos sacerdotes educadores. No Brasil Azpicuelta Navarro,
José de Anchieta, Manuel da Nóbrega e Antônio Blasquez,o
os primeiros professôres dos indígenas e dos filhos dos reinóis.
Em 1556 funda-se o primeiro colégio dos jesuítas em Piratinin-
ga,o Paulo, sob a direção do Padre José de Anchieta.
Em 1556, o Padre Manuel da Nóbrega funda outro colé-
gio, na Bahia. O terceiro organiza-o o mesmo Nóbrega, em
1567, no Rio de Janeiro, sendo o quarto instalado em Olinda,
em Pernambuco, no ano de 1576.
Os jesuítas, é verdade, tiveram outros campos de ação
na América latina. No começo do século XVII eles funda-
ram uma espécie de Estado que permaneceu célebre com c no-
me de Missões do Paraguai. Eles reuniram cerca de quarenta
mil famílias (17) às quais ensinaram agricultura; a maior
parte das terras eram aí cultivadas em comum e tudo parecia
(15) Vide: Araújo (Orestes) História de La escuela Uru-
guaya. Tomo I.
(16) Vide: Araújo (Orestes) Ob. cit. Tomo I, p. 9 Dornalcche
y Reyes Montevideo, 1905.
(17) Deberle "Histoire de 1'Amérique du Sud", pág. 73.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
prosperar. Esse pequeno Estado dentro do Estado durou cento
e cinquenta anos, até à expulsão dos jesuítas em 1769.
Os mestres, a princípio,o apenas sacerdotes. Depois
podem ser leigos, com licença expressa do "Cabildo".
A expulsão dos jesuítas, dois séculos depois, vem retardar
por vários anos a incipiente educação no continente latino-
americano. Nao dos jesuítas estavam os nossos maiores
e melhores colégios. Os governos, é exato, logo depois da
expulsão, iniciaram um trabalho em prol da educação da ju-
ventude, mas mestreso se improvisam e a crise permaneceu
por longo tempo. Foi o que se deu no Brasil depois de 1772
quando o Marquês de Pombal, expulsando a "Ordem" de
Portugal, Brasil e Algarves, tentou, teóricamente, organizar o
sistema escolar brasileiro.
A ORIENTAÇÃO ESCOLAR NA AMÉRICA LATINA
E O ESPIRITO EMANCIPADOR NO CONTINENTE
O fato de ser o ensino assim religioso e severa a proibição
de livros heréticos, poderia parecer queo havia cultura nem
existiam inteligências capazes de sentir as belezas do pensa-
mento filosófico e de identificar-se com o sentido revolucioná-
rio. Inúmeros foram os centros de estudos dirigidos por sacer-
dotes dentro dos quais se formaram homens de pensamento e de
ação aptos a atenderem e conduzirem, no momento oportuno, o
facho da revolução. Em todos os pontos do Continente en-
contramos homens educados em colégios de jesuítas, em semi-
nários e universidades eclesiásticas, inflamados pela idéia de
emancipação. As obras dos enciclopedistas, o "Contrato So-
cial" de Rousseau eramo familiares quanto a Bíblia a certos
espíritos latino-americanos.
No Brasilo faltam sacerdotes inspiradores e chefes de
revoluções. É Capistrano de Abreu quem escreve: "Sem o
bispo Azeredo Coutinhoo surgiria a geração idealista de
1817". (18) A "República Pernambucana" naquele ano, a
"Confederação do Equador", em 1824, contém entre os seus
heróis e os seus mártires, pelo menos cinco grandes figuras
(18) Vide: Abreu (Capistrano de) Um visitador do Santo Ofí-
cio, p. 14.
A. CARNEIRO LEÃO
de sacerdotes: Vigário Pedro de Sousa Tenório, Padre João
Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro, Frei Miguelinho, Padre
Roma e Frei Caneca.
Na Argentina, o Colégio Montserrat, fundado em Córdoba,
em 1559, foi um centro de idéias liberais. E é da "Universi-
dade católica de Chuquisaca" que sai a Revolução de Maio
nos espíritos de Castelli e de Moreno.
o é difícil compreender uma tal mentalidade. Em nossa
América, todo o baixo clero era então nacionalista e queria
a emancipação da pátria. Daí o escândalo causado naqueles
que, no estrangeiro,o nos conheciam e viam, por tôda parte,
entre os nossos sacerdotes "maçons", pois a maçonaria era
paras uma instituição revolucionária, maso anticlerical.
Seu fim era a independência das diversas pátrias futuras eo
o combate à religião ou à Igreja. Buscávamos aliar o ideal
religioso ao ideal maçónico.
Em Pernambuco, em 1912, conhecemos dois franceses que,
chegados ao Brasil há poucas semanas, interessavam-se muito
pelos costumes de nosso povo. Um era ateu, socialista e maçon;
o outro católico praticante, ambos intolerantes. Um dia, à pas-
sagem de uma procissão eles nos pediram algumas explicações:
O homem que sustentava a imagem da Virgem era muito
idoso e os dois franceses admiraram-se do esforço por êle
feito, de cabeça descoberta, sob um sol implacável.s lhes
respondemos tratar-se de um velho crente que era também
membro in fluente da maçonaria. O espanto dos dois franceses
transformou-se em estupor. A mesma indignação os confun-
dia, os unia de repente. Nós, porém, nunca pudemos saber,
com precisão, se era o católico ou o livre pensador o mais
escandalizado. No Brasil muitas das mais altas figuras de
nosso pensamento e de nossa politica, até o fim do segundo Im-
pério, eram maçons.o foi outro o motivo da crise entre
o governo e Dom Vital, bispo de Olinda, brasileiro, de men-
talidade européia, educado na Europa e identificado com a
concepção de uma maçonaria carbonária e inimiga do clero.
o é diverso o estado de espírito em tôda a nossa América.
Da França chegam ao Novo Mundo as doutrinas da Revolução,
escreve Garcia Calderon. E acrescenta: "Na Enciclopédia
se acha a origem intelectual das inquietações sul-americanas",
diria melhor: latino-americanas.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
o é de estranhar que a independência latino-americana
seja a resultante mais do esforço intelectual que uma expressão
nacional instintiva, a consequência das imposições da nacio-
nalidade, das forças naturais e sociais conjugadas e alertas. Daí
talvez mesmo as razões do desassossego e das lutas posteriores.
A inteligência, o idealismo e a formação cultural da elite,
saturada do "Contrato Social", da obra dos enciclopedistas, da
Revolução Francesa,o encontravam a realidade correspon-
dente no ambiente deserto e inculto de nossa América. Co-
piavam o que havia de melhor lá fora eo buscavam indagar
se aquilo era realmente o de que necessitávamos, o de que se-
riamos capazes.
A decepção era a resultante lógica da falta de correspon-
dência entre o ideal e a realidade. As lutas, as guerrilhas, os
pronunciamentos, a batalha entre o homem culto e a barbaria,
entre a cidade e o pampa, eram inevitáveis.
Quando vem a independência, a ação é principalmente da
cultura francesa. Bolívar é filho espiritual de Rousseau. É
uma espécie de Emílio. Sua influência na independência e na
construção das nações hispano-americanas éo grande quanto
era possível num mundo imenso, inculto e inquieto. Tal qual
Emílio, Bolívar, em companhia de um preceptor, viaja o mundo,
aprende o que deseja, vive sua vida de acordo com sua natu-
reza e seus ideais. É o libertador, mas falta-lhe um terreno
propício num mundo movediço, sem fundações suficientemente
fortes para uma edificação sólida e permanente.
Depois de Bolívar é a instabilidade,o as revoltas, os
tateios, a separação de várias partes, que êle queria unidas,
em pequenas repúblicas, desagregadas e estranhas.
O Brasil, em cujo solo existe o mesmo fervor revolucio-
nário, o mesmo entusiasmo pelos enciclopedistas, a mesma ânsia
de liberdade, consegue manter a unidade na diversidade mais
tremenda de climas, de natureza, de preocupações, por causas
francamente explicáveis pela nossa história.
A vinda da Corte de Portugal, fugindo de Bonaparte,
quase inverteu os papéis entre Colônia e Metrópole. O Brasil
elevou-se de pronto a sede do governo. Dali emanavam as
ordens para todo o reino, ali estava domiciliada a família real,
ali se fazia a administração, se encontravam os representantes
das outras nações. Dez anos desse estado de coisas e se nos
tornou insuportável a idéia de voltarmos à situação de colô-
nia, governados pela Metrópole. Se nos habituamos, porém,
a considerar a estada da côrte como um fato normal brasi-
leiro, também nos acostumamos à presença do Príncipe D.
Pedro. Pareceu-nos assim perfeitamente lógica que a separa-
ção do Brasil de Portugal fizesse do Príncipe o nosso pri-
meiro Imperador. Um Imperador e Imperador de sangue real,
acima das contendas vulgares dos partidos, era a melhor so-
lução para a ordem e a harmonia interiores, enquanto uma
monarquia na América era a melhor segurança para a Europa
absolutista da época. De um golpe satisfazia o Brasil dois
profundos interesses: a emancipação do país e a tranquilidade
da Europa no tocante à atitude e ao futuro da nação que
nascia.
E foi, de fato, o que se deu. Mas, foi realmente grande
a diferença entre o Brasil e as demais repúblicas latino-ameri-
canas em virtude da diferença de regime?
A diferença entre o Império do Brasil e as Repúblicas
hispano-americanas parece muito menos de substância que
de oportunidade, de organização e de forma. O Imperador,
sobretudo o segundo (porque o governo do primeiro foi efê-
mero) com o prestígio de monarca constitucional com quem
ninguém pretendia ou ousava competir, sensato, atento à ordem
e ao bem-estar de seu Império, e a elite impressionada
forma de governo, imponente e estável, foram as fôrças deci-
sivas na manutenção de uma situação muito diversa da situação
das Repúblicas hispano-americanas. Enquanto nessas repúbli-
cas as ambições, os descontentamentos, a turbulência natural da
vida aventurosa, principalmente fora das capitais, se manifes-
tavam em pronunciamentos, distúrbios, instabilidade, no Brasil
o regime parlamentar, em moldes ingleses, oferecia ao Impe-
rador D. Pedro II, a oportunidade de satisfazer a sofreguidão,
o espírito de luta, a ambição dos nossos políticos. A política do
Brasil, feita por dois partidos Liberal e Conservador dava
ao monarca a possibilidade de, todas as vezes que os ânimos
se exaltavam demasiado contra o partido que estava no poder,
chamar o outro e desafogar a nação. Evitava a revolução indo
êle em pessoa ao encontro dos que a poderiam desencadear.
Desse modo obtivemos as maiores conquistas político-sociais do
Império: do "Ventre livre" à "Abolição do braço escravo",
A. CARNEIRO LEÃO
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
calmamente, sem refregas, quando mesmo nos Estados Unidos
a emancipação da escravatura provocara a guerra sangrenta da
"Secessão" e ameaçara a unidade nacional.
Cinquenta anos desse regime muito fizeram pela nossa
reputação de nação organizada, tranquila, construtora. Sua
ação foio notável que, durante quarenta e um anos de
1889 a 1930 e salvo a revolta da armada em 1892, que
se prolongou, mas sem êxito, as raríssimas revoluções que ti-
vemos foram facilmente dominadas e os governos se sucederam
sempre de modo legal e pacífico. Issoo quer dizer que es-
capássemos à mentalidade revolucionária. As diferenças reais
de temperamento, de educação política, foram sempre menores,
muito menores do que as estabelecidas pelas condições de re-
gime. O atestado mais eloquente desse fato, isto é, do pres-
tígio do regime, foi a manutenção da unidade nacional na
imensidão territorial do Brasil. A língua e a religião foram
forças poderosas para tamanha vitória. Mas, unidade de lín-
gua e de religião possuíam as colônias hispano-americanas e
a unificação foi ali impossível.
A guerra contra os holandeses, que durou muitos anos,
os seminários na Colônia e nos primeiros dias do Primeiro
Império e as Faculdades de Direito de Pernambuco e de
S. Paulo, nas quais, a partir de 1828, se reunia a juventude
inteligente e ardorosa de todas as regiões do país, concer-
tando, entusiàsticamente, o espírito de unidade nacional, também
foram fatores de unificação.
Mas, em todas as regiões de nossa América, os mesmos
fatos se repetiram. As futuras nações hispano-americanas ba-
teram-se várias vezes contra estrangeiros intrusos e grande
foi, no seio de quase todas elas, a influência nucleadora das
universidades. Todavia nada disso influiu para deter a onda
vitoriosa do separatismo e da subdivisão das pátrias. Parece-
nos assim que, embora só por sio fôsse o Império sufi-
ciente para galvanizar a nacionalidade, o foi, entretanto, como
coroamento das demais forças unificadoras referidas. Sem a
colaboração do Império e sem o seu prestígio, nos albores da
formação de nossa nacionalidade, o território brasileiro teria
sido, provavelmente, dividido em várias repúblicas.
A. CARNEIRO LEÃO
CAUSAS DE NOSSA DUALIDADE EDUCACIONAL
Aí estão a mentalidade, a cultura, a direção das nacionali-
dades, vestidas pelo figurino europeu, mais aqui, menos ali,
até os primeiros dias deste século.
Naturalmente por toda parte aparecem pensadores nacio-
nais que procuram reagir contra a excessiva absorção de nossa
vida pelas idéias e pelos ideais estranhos. Suas vozes, porém,
morrem, sem eco bastante forte para imprimir direção nova
à nossa cultura e à nossa política.
Essa absorção de cultura e essa sede de imitação politico-
social repercutem em todas as esferas.
No período colonial, quando nos considerávamos um pro-
longamento das metrópoles distantes, a política era absolutista,
a economia colonial extrativa, parasitária, a educação religiosa,
o culto sectário, fanático, exclusivista. Eis aí os fatores pre-
ponderantes na diretriz da política educacional que perpetua
as nossas fraquezas e as nossas vacilações.
A religião, preocupada cm catequizar o indígena, conver-
ter o negro e solidificar o culto católico no coração dos senho-
res, inspira, desde os primeiros tempos, a educação intelectua-
lista desses e, à exceção de certos ofícios, ministrados pelos
franciscanos aos filhos do povo, escasso e ignorante, a ins-
trução que se dá é dominada por preocupações especulativas.
Os primeiros os senhores fascinados pela lição da Europa,
a principio no pensamento da Idade Média, e, depois, do Renas-
cimento,o aspiram senão a cultura acadêmica, às carreiras
liberais, à leitura do livro europeu, ao consumo dos produtos
europeus, à vida européia. Seu idealo é a Agricultura e
muito menos o Comércio ou a Indústria. Contudo na agri-
cultura ainda, às vezes depois de obtido o diploma de bacharel,
ou doutor, a elite nacional ingressa para definhar e empobre-
cer-se. Os segundos os filhos do povo pelo desejo de
se qualificarem melhor,o encontram outro processo senão a
obtenção do diploma acadêmico, a conquista de uma cultura
intelectualista. As aspirações dominantes e generalizadas, se-
o universalizadas,o sempre o emprego público e a polí-
tica. Em geral há pletora nas funções de administração e ple-
tora por gente queo se preparou devidamente para tais
misteres. A cultura especulativa, teórica, filosófica, deu o
A. CARNEIRO LEÃO
e, quando muito, ao ensino profissional elementar, para uma
profissão manual, um ofício. A outra rígida, com a obsessão
do latim e das matérias clássicas. A preocupação intelectua-
lista éo absorvente na América latina que, mesmo o ensino
elementar para o povo se manteve, até há pouco, de letras
(escola primária de letras, ensino primário de letras, como
rezavam os programas) e o ensino profissional, quando sai dos
rudimentos manuais e dos ofícios,o raro cai na obsessão
acadêmica.o é difícil, estudando um programa de escola
profissional, no Brasil, encontrar-se um predomínio acentuado
na parte referente às matérias gerais, cuja orientação e cujos
objetivos em nada se preocupam com as atividades manuais e
mecânicas fornecidas no mesmo curso.
A dualidade é mais ou menos geral em todos os países
latino-americanos. Em todos eles, ora a tendência é para o
predomínio de um ensino secundário acentuadamente acadê-
mico, como no Brasil e até certo ponto no Peru e na Colômbia,
ora principalmente científico, como na Argentina, no Chile e
no Uruguai. É verdade que, nestes últimos anos esboça-se
uma mudança de atitude. Na Colômbia, no Peru, no Chile, na
Argentina, no México, no Uruguai, no Brasil com a Reforma
Campos, sente-se um movimento já definido ou em via de de-
finição para adaptar a estrutura e a orientação da educação
secundária às necessidades atuais da civilização e da cultura nas
pátrias jovens da América. Na própria França a Reforma
Langevin e o projeto de reforma buscam ajustar também o
ensino secundário às necessidades atuais do povo francês. (1)
Contudo a rigidez de curso, a unidade de plano na escola se-
cundária, é ainda predominante em quase todos os países latino-
americanos.
CONCLUSÃO
Ensaiamos nesta análise incompletar em evidência as
causas que tornaram a evolução da cultura e da civilizaçãoo
diversa entre as duas Américas. Os imperativos históricos
examinados nestas páginas, explicam as diferenças de com-
portamento das duas,o só na luta titânica suportada por uma
e por outra para subsistirem e avançarem, como também nas
(1) Vide: Gal (Roger) La Reforme de 1'enseigncment et les
classes nouvelles, 1946.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
diferenças de objetivos e nas esperanças que as estimulam e
conduzem. Cada uma delas estabelecia um programa de des-
bravamento e de conquista da civilização acorde a seu regime
de vida, suas tradições, suas aspirações, sua finalidade.
Os anglo-americanos, em boa parte expatriados da me-
trópole, sem o desejo do retorno, e sem o anseio de enriquecer
a pátria longínqua,o procuravam nem riquezas fáceis nem
motivos de glórias. Seus desígnios consistiam em viver em
associação, em cooperação contínua para construírem um
mundo capaz de lhes assegurar uma vida digna, compatível
com a liberdade que aspiravam. Impelidoso só pelo espí-
rito particularista, como também pelo senso profético do
pragmatismo e da ação prática eles erigiam, como objetivo in-
dispensável à vida, a construção do patrimônio material sôbre
o qual devia repousar o bem-estar da coletividade. Por isso
a preocupação fundamental da educação para a elite como para
o povo era a de uma orientação prática em que predominaria a
feição técnica. Convém, porém,o esquecer que todos ou
quase todos punham sua fé religiosa acima de tudo.
Os puritanos, por exemplo, impunham-se pela sua resis-
tência moral ante o sofrimento e pela sua austeridade intran-
sigente. Foram eles os rudes pioneiros, enérgicos e honestos,
duros com os outros e consigo mesmos. Sua influência foi,
durante longo tempo, preponderante sobre a formação da men-
talidade norte-americana.
Os latino-americanos, ligados à Metrópole pelos laços que
supunham indissolúveis, guardavam a nostalgia da pátria dis-
tante. Hipnotizados pela conquista do ouro, buscavam a ri-
queza, o aparato, as honrarias, o brilho da inteligência. Daí
a preocupação por uma formação acadêmica que os enobrecia
e à qual eles permaneciam vinculados mesmo depois de ajus-
tados à nova pátria. Foram ambiciosos, pessoais, é verdade,
mas seus descendentes, guardando aqueles traços, tiveram tam-
m grandes virtudes de coração, as quais fazem a vida mais
doce e permitem à América latina contribuir de maneira pre-
ciosa e sincera para a compreensão universal.
Hoje, quando o espírito americano une todas as nações
das Américas, quando os interesses anglo-americanos e latino-
americanos se acomodam às regras de um código de Direito
Internacional americano, e que o desejo de uma política de "boa-
vizinhança" se torna uma realidade, as grandes diferenças de
atitudes desses povos se deverão atenuar sem se apagarem
completamente.
Para os anglo-americanos, uma educação incluindo um
pouco mais de cultura geralo poderá senão ser salutar. Para
os latinos-americanos o remédio estará na conquista de uma
técnica que utilizará, valorizando-o, seu pendor especulativo,
seu ideal filosófico. Somente assim, por uma maior identidade
de gostos e de cultura, se chegaráo apenas ao perceber
o que nos pode separar, mas a compreender e a apreciar tudo
quanto nos deve unir, o que já constituirá um grande passo
para a colaboração e o entendimento internacionais.
A. CARNEIRO LEÃO
CAPÍTULO V
PENSAMENTO E AÇÃO FATOS SOCIOLÓGICOS
INTRODUÇÃO
Dentre os grandes problemas de nossa época um existe
que, exatamente à luz da sociologia aplicada, se distingue
mais particularmente pela sua importância vital: é aquele que
diz respeito às relações entre a ação e o pensamento e as
consequências decorrentes para a vida dos grupos humanos,
no presente e no porvir. Hoje a sabedoriao está em separar
o pensamento da ação, o conhecimento especulativo da experiên-
cia vivida, mas, ao contrário, em torná-los solidários, estabele-
cendo entre ambos a coordenação indispensável.
Pensamento e ação (1)o fatos sociológicos e é nesse
aspecto que eles devem ser estudados e interpretados. Toda
relação entre os povos, toda atitude na política interna das
nações, e todo impulso para a construção do "amanhã" de-
verão contar com a união indispensável do pensamento e da
ação. É a consciência dessa verdade que é mister estabelecer
e propagar e aí está a alta missão das universidades. Por
seu grande prestígio, elas podem facilmente assegurar a aliança
das ciências, da filosofia, das letras e das técnicas. Só assim
a ação e o pensamento se encontrarão unidos sob suas formas
mais elevadas.
Todavia a separação entre ambos é ainda muito marcada
nos povos latinos em geral e nas nações latino-americanas em
particular. E, se apesar de todas as tentativas de vinculação,
elas sem mantendo separadas, através dos séculos até aos
nossos dias, é que entre os partidários dessa separação se
encontram notáveis homens, apoiados no prestígio da tradição.
(1) Vide: Gurvitch (Georges) La vocation actuelle de la So-
ciologie, pág. 353 e Durkheim (Emile) Les Règies de la Méthode
Sociologique, 2.
a
edição, p. XI.
A. CARNEIRO LEÃO
Certo o pensamento isolado soube dar ao mundo prodígios.
Mas o passado passou e nossa época tem exigências outrora
imprevisíveis. Seja comor os velhos preconceitos persistem
tenazes. A situação privilegiada, à qual licenciados e doutores,
embora mal preparados, conseguiram alçar-se em detrimento do
especialista, diplomado em uma profissão, manual ou mecâ-
nica, muito tem contribuído para a manutenção de tal estado
de espírito.
Em compensação em nossos dias entoam-se hosanas rui-
dosas em honra do "novo ídolo": — a ação e, parece que
as carreiras liberais caíram definitivamente de seu pedestal.
Na realidade essa transformação é devida à natureza imediata
das necessidades' econômicas ou na suposição de que as vitó-
rias científicaso decisivas e salvadoras; ai de nós, porém,
o urgente é a união entre ação e pensamento conquista ainda
bem longe de realizar-se.
DUALISMO ANACRÔNICO
A educação liberal e a educação utilitária constituem as
trincheiras que separam as classes e mantêm entre elas uma
falta de solidariedade incompreensível.
A educação liberal nasceu na Grécia. Tem seu berço
em Atenas. Seu conceito se desprende do adjetivo que a qua-
lifica . Fixado esse adjetivo na educação por Aristóteles, há
quase dois mil e trezentos anos, com a significação de livre e
generoso, logo se implantou e generalizou no mundo grego:
educação liberal,o servil, livre, libertadora do homem, de
suas faculdades, de sua inteligência, de sua sensibilidade.
Educação liberal que liberta o espírito das coisas vulgares
da vida. Cultiva-o, dirige-o no sentido da autonomia de mo-
vimentos e de atitudes. (2)
Pela conquista do belo, do verdadeiro, do justo o homem
devia formar-se uma liberdade de sentimento e de pensamento
capaz de fazê-lo uma força construtiva. O fim dessa educa-
ção era torná-lo apto a pensar, a sentir, a querer por si mesmo,
iluminado pela luz de sua própria razão. Era levá-lo a cons-
(2) Vide: Carneiro Leão (A.) Reação Brasileira, pg. 5. n. 47
novembro de 1943 Rio de Janeiro.
truir uma sociedade, um Estado, cujo lema fosse liberdade
individual dentro de uma ordem segura. Para êle o estudo
da ciência, as elucubrações da filosofia, o domínio da estética;
para êle os postos de comando, o reino da verdade e da beleza,
os deleites da vida.
As próprias belas-artes, seo fossem aprendidas apenas
para gôzo íntimo, com o fito de educar o gosto, de modo a
tornar o indivíduo capaz de compreendê-las e senti-las, quando
executadas pelo escravo, eram consideradas inferiores, servis,
catalogadas como educação manual. Constituíam unicamente
material para os profissionais servirem à classe superior.
Daí a distinção entre belas-artes e artes industriais, artes
superiores e artes inferiores, separando as atividades e dividindo
a arte. Distinção inspirada em dolorosa metafísica de casta,
"desigualdade, escreve Anatole France, (3) queo foi nem
mais justa nem mais feliz que tantas outras desigualdades, in-
troduzidas sistematicamente entre os homens e queo pro-
m da natureza! Essa separaçãoo foi menos prejudicial,
na prática, às artes que ela julgava superiores do que àquelas
que ela julgava inferiores. Porque se as artes industriais
foram empobrecidas e aviltadas, se caíram das solenes ele-
gâncias da arte para os grosseiros caprichos do luxo e perde-
ram o gosto e o sentimento de embelezar as coisas necessárias
à \ ida, as belas-artes, entretanto, isoladas e privilegiadas, foram
expostas aos perigos do isolamento e ameaçadas da mesma
sorte de iodos os privilegiados, que é de arrastar uma existência
importuna e. E fomos ameaçados destes dois monstros: "o
artista queo é artesão, o artesão queo é artista". En-
tretanto, continua France: "eleso semelhantes, um a outro
pela função. Eleso colaboradores. A obra do ourives, do
oleiro, do esmaltador, do fundidor de estanho, do ebanista, do
jardineiro pertencem às belas-artes tanto quanto a obra do
pintor, do escultor, do arquiteto, a menos que se pense que
o ourives Benevenuto Cellini, o oleiro Bernard Palissy, o esmal-
tador Pénicaud, o cinzelador e o fundidor de estanho Briot, o
ebanista Boule, o jardineiro Le Nôtre, parao falar senão dos
antigos,o realizaram obra de uma arte realmente bela."
(3) Vide: Anatole France " Vers Les Temps Meilleurs", V. I
pág. 34 et 35, Editions d'Art Edouard Pelletan, Paris, 1906.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
A. CARNEIRO LEÃO
Mas em Atenas o pensamento imortal se opunha ao sentido
prático das coisas e Aristóteles tinha sobre o artesão ideias
muito diversas das de Anatole France. Era que, desde Atenas,
a experiência, a realização de utilidades, considerada contingente
e suspeita, contrapunha-se ao desinteresse, ao pensamento su-
perior e imortal. Identificados com as ocupações práticas, os
interesses utilitários apartavam-se irremediavelmente do co-
nhecimento intelectual, produto de manifestações imateriais e
eternas. Por isso só à classe superior competia a direção dos
negócios públicos, a guarda, a defesa e a administração do
Estado, a magistratura, o sacerdócio, todas as profissões
dignificadoras da criatura humana. Quanto às classes dos
escravos e dos "metecos" cabia, à primeira, o labor na lavoura,
nas minas, nos ofícios, nas estradas, nas demais obras de
utilidade pública; à segunda, o trabalho no comércio, na in-
dústria, nas oficinas.
É que a democracia ateniense existia apenas para uma
classe, a cujo seio ninguém de fora penetraria. O casamento
com a mulher ou com o varão ateniense permanece vedado
aoo ateniense. O exemplo de Péricles, impossibilitado,
apesar de sua posição singular em dado momento de Atenas, de
desposar Aspásia, pelo fato de ser ela estrangeira, retrata ni-
tidamente a situação. E da distância invencível de destinos
sociais surge a muralha separadora entre os tipos de educação
dos diferentes grupos humanos. Para a classe privilegiada ha-
via os estudos desinteressados, o cultivo da inteligência, as es-
peculações da filosofia, a beleza da arte; para as outras, as
profissões de utilidade, as quais, por ministradas à gente des-
prezível. se tornavam desprezíveis. A barreira intransponível
entre os dois tipos de educação liberal e utilitária veio
assim da inconciliabilidade dos destinos desses compartimentos
estanques que eram as classes na velha Atenas.
Tal era a realidade que nos transmitiu a história. É
porém permitido acreditar que os sonhos da Grécia entreviram
um pouco mais de justiça, um pouco mais de harmonia, porque
a mitologia grega abre outros horizontes,o bem contemplados
nestas afirmações de Michelet: "O que mais faltou a Apolo
foi o trabalho. Êle ensaiara e se fizera mesmo pedreiro, mas
suas mãos demasiado finas se teriam perdido para a lira
porque elaso poderiam mais sentir as cordas delicadas".
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
"A outros êle deixou os labores mais duros, o suor; a
carreira aoss alados de Hermes, a luta aos braços de Hér-
cules, as obras desprezadas da grande peleja contra a terra. Há
cem heróis na Grécia.o há porém senão um cujas proezas
o "trabalhos". Coisa estranha e que estupidifica. A Grécia
possui um sensoo forte, uma razãoo maravilhosamente
razoável, que, contra seus próprios preconceitos, o desprezo das
atividades que ela julga servis o "trabalhador" é, precisa-
mente, seu grande herói divinizado. (4) Por outro lado os
gregos honram igualmente os dois heróis do poema homérico:
Aquiles, o homem de ação. capaz de fazer as coisas, e Ulisses,
o homem sábio, capaz de dizer as coisas, o que todaviao
o impede de construir o seu navio, e, até mesmo, o seu leito.
o parece outra a causa de persistir, até aos nossos dias,
privilegiada, seletiva, adstrita às aristocracias da raça, do san-
gue, do dinheiro, e até por uma interpretação pouco científica
e unilateral da inteligência, a educação liberal, cuja finalidade
era consagrada à dignidade humana, a realçar o espiritual, a
tornar o homem livre e generoso.
As necessidades materiais de nossa época tendem a rea-
bilitar a educação manual, a aprendizagem mecânica e a ins-
trução visando o trabalho de utilidade imediata; as duas
formaçõeso continuam porém menos separadas como se
desejassem persistir em se ignorarem.
Pouco importa que o conceito de educação mudasse no
espaço e no tempo, que se tornasse mais tarde para muitos
sinônimo de disciplina mental, que o vocábulo liberal, livre, se
transmudasse em subordinação, escravização do espírito, da
inteligência, à exclusividade fatal de determinadas atividades.
Pouco importa que a educação liberal se tivesse de obter
dentro dos muros fechados da escola, cerrados para a realidade
da vida.
A verdade é que seu conceito permanece fomentador do
dualismo educacional, separador do abstrato e do concreto,
mantenedor da contraposição com a educação utilitária, vincula-
da às imposições da vida corrente.
Outrao é a razão do advento, como regalia de classe,
das artes liberais; outrao é a causa da proclamação da
supremacia e da nobreza da educação liberal, cujo escopo se
(4) Vide: Michelet Bible de l'Humanité.
A. CARNEIRO LEÃO
tomou, acima de tudo, o reino do intelectualismo, do academi-
cismo, de uma inteligência reduzida à abstração e ao raciocínio.
Mas o industrialismo se intensifica, as Ciências Físicas e
Naturais triunfam, a ciência aplicada e a técnica marcham de
mãos dadas, construindo um mundo novo, e a ascensão das
massas torna necessário oferecer oportunidade de educação
igual para todos; será então um contrasenso fechar a inteligên-
cia em uma forma de saber brilhante e indispensável, mas,
circunscrito a aspectos unilaterais quanto às necessidades e aos
interesses do indivíduo e às solicitações da sociedade.
Desgraçadamente o preconceito contra a produção das
utilidades que deviam sustentar o homem, alimentá-lo, ves-
ti-lo, fornecer-lhe os meios materiais da existência, insistiu em
conservar a escola secundária, em grande parte do Oci-
dente, como recinto reservado à grei dos escolhidos por situa-
ção social. As classes pobres poderão chegar, mas com
dificuldades enormes.
Depois da primeira guerra mundial, em um de seus belos
discursos, Edouard Herriot, inspirado em uma das mais belas
sentenças de Cristo, dizia: "Deixai subir as criancinhas".
Herriot pretendia fazê-las todas, independentemente de con-
dições sociais e econômicas, atingir à educação secundária desde
que possuíssem aptidões (5).
Desde os fins do século XVIII as instituições libertadoras
inglesas e norte-americanas, os ideais igualitários dos homens
de 1789, na França,o conseguiram, durante todo o século
passado, modificar de modo sensível esse conceito da educa-
ção. No fundo a preocupação era preparar para a admínis-
tração da coisa pública, para o lazer, situando socialmente o
indivíduo. Em virtude da sobrevivência de tal disposição do
espírito as indústrias e o comércio eram ocupações quase avil-
tantes. Apenas o agricultor, ou, antes, o grande senhor de
terras que plantava e colhia, ou criava por sua conta, podia,
ao lado dos possuidores de diplomas, conquistar foros de
"bom tom".
Pouco a pouco, porém, o dinheiro, o talento, o acaso
ajudando, todos quantos pudessem ascender na escala socialo
tardariam, êles também, a considerar a educação utilitária, como
(5) Vide: Herriot (Edouard) Créer, Payot & Cie, Paris,
1919.
deprimente e os estudos para as carreiras liberais como indis-
pensáveis.
O "transfer" ou a concepção de que o que se aprendia
em determinados estudos, em exercícios mentais específicos,
em certas disciplinas, seria transferido para a conquista fácil
do saber em outros domínios, para maior acuidade da inteligên-
cia, de qualquer inteligência, para a melhor orientação do
comportamento do homem na vida, desabou sem remissão, dian-
te dos progressos efetivos da psicologia experimental. De
acordo com essa psicologia os valores disciplinareso limi-
tados (6). A transferênciao se realiza senão quando se
apresentam em duas ou mais matérias de ensino elementos
idênticos em conteúdo e em forma. Foram, pois, os pro-
gressos dessa ciência que deram o tiro de misericórdia na
teimosia daqueles que se aferravam à afirmação da existência
de matérias capazes, só por si, de se constituírem em um
"abre-te sésamo" da inteligência, da classificação do indivíduo
na sociedade, da segurança de suas atitudes e de seu triunfo.
O erro vinha, sobretudo, da separação e incompatibilidade esta-
belecidas pela velha filosofia entre pensamento e ação.
O pensamento era desinteressado, superior, característico
das classes nobres, feitas para comandar. A ação era utilitária
própria à classe inferior, destinada a servir.
O indivíduo pensa para agir e age porque pensa. Para
que êle esteja dentro de seu tempo e de seu meio e a atividade
do pensamento sirva a esse tempo e a esse meio é mister a
vida seja sentida e conduzida no sentido adequado.
Assimo podemos reconhecer separação e muito menos
incompatibilidades definitivas.
Estamos em presençao apenas de um problema filosófico
como de um imperativo biológico.
Lincoln costumava dizer: "Se o Todo-Poderoso tivesse
tido a intenção de criar duas categorias de homens, os queo
fariam senão trabalhar e os que se limitariam a comer, aos pri-
meiros só teria dado braços e aos segundos, maxilares".
Na vidao há funções separadas, isoladas, contrapostas,
inconciliáveis. Todas se ligam e harmonizam para o equilíbrio
da sociedade. Se Platão e Aristóteles consideravam inferior a
(6) Vide a propósito: Thorndike (E. L.) The Psychology
of Learning New York 1914.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
A. CARNEIRO LEÃO
utilidade econômica era porque a vida social, relativamente
rudimentar de então,o exigia nem preparação, nem cultura,
nem grande inteligência para a conquista dessa utilidade. (7)
Quando, porém, o prodigioso progresso das ciências aplicadas
realiza o conforto material, orgulho dos dias presentes, é absur-
do persistir no velho conceito. "Sem dúvida existem tarefas
de uma variedade infinita, afirmou Camille Julian, umas ma-
nejando a matéria bruta, outras, ideias puras: mas tanto umas,
quanto outras comportam penas e alegrias, esforços de inte-
ligência e de vontade e todas unidas entre sio igualmente
úteis". (8) É mister tanta inteligência e tanta cultura para
trabalhar com maquinismos de precisão, fabricar máquinas,
montá-las, dirigi-las, quanto para discutir sistemas filosóficos e
fazei pesquisas em ciências puras. O necessário é que a ação
física exterior se integre na ação mental interior, ao seja
conduzida pela inteligência. Era para se ficar surpreendido
ao saber-se que até ao século XVIII os médicos gozavam de
maior consideração do que os cirurgiões seo se soubesse
que diante da mentalidade dominante o falo era inevitável por-
que estes faziam "obra manual", trabalhavam com "as mãos".
Assim o médico tinha de olhar o cirurgião do alto de sua impor-
tância. O cirurgião pôs-se, porém, a ascender, eo desmesu-
radamente que, dentro de um século, se tornou uma espécie
de demiurgo, reabilitando por seus milagres, o trabalho das
mãos." A respeito citemos Valery: "Cirurgião Cirurgião
obra manual... Mas queo se faz com ao ?"
"Quando eu pensei um pouco na chirurgia, escreve Valery,
pus-me a pensar neste órgão extraordinário, no qual reside
quase todo o poder da humanidade... Direi até que uma
relação reciproca das mais importantes deve existir entre nosso
pensamento e esta maravilhosa associação de propriedades sem-
pre presentes, que nossao nos anexa. O escravo enriqueceu
seu senhor eo se limitou a obedecê-lo. Basta para demons-
trar esta reciprocidade de serviços (entre pensamento e ação)
considerar que nosso vocabulário mais abstrato está cheio de
termos queo indispensáveis à inteligência, mas queo lhe
(7) Vide a propósito: Dewey (John) Democracia e Educação
tradução de Anísio Teixeira e Godofredo Rangel Companhia Ed.
Nacionalo Paulo.
(8) Vide: Julian (Camille) Leçon d'ouverture au Collège de
France, Revue Bleue, n.ºs. 18 e 19. Paris, 1921.
puderam ser fornecidos senão pelos atos ou pelas funções mais
simples cia mão". (9) Como pois continuarmos a manter
barreiras entre pensamento e ação, entre profissões e entre
classes ?
Nem o predomínio dos intelectuais nem o reverso da me-
dalha — a supremacia dos manuais e mecânicos poderá ser
defendida nem mesmo compreendida pela ciência.
insustentável resulta o conceito de carreiras nobres e de
carreiras úteis, o último vocábulo empregado em sentido depre-
ciativo. Todaso necessárias, úteis e nobres, porque indis-
pensáveis à existência e à ventura da comunidade. Recorde-
mos "o gesto augusto do semeador".
A manutenção de quaisquer diferenças ou de quaisquer
pechas, longe de constituir elemento de conciliação e de equilí-
brio, será motivo infalível de desajustamento e de luta.
A preocupação reacionária, na ordem do dia em certos
meios, de fazer dominar a educação de caracter técnico pro-
fissional é também um erro. A organização de "Universidades
Técnicas'', ou de "Universidades de Trabalho", se se inspira
no desejo de distinção, de separação, éo restritiva,o anti-
científica,o anti-social,o anti-humana quanto a organização
de universidades para estudos exclusivamente acadêmicos.
E as designações "Universidade de Trabalho" e "Uni-
versidade Técnica" estão corretas?
Então a universidade, cujo nome designa justamente o
conjunto dos estudos para a preparação do homem em todos os
ramos do conhecimento, o progresso e a elaboração da ciência
e das técnicas,o é de trabalho,o é técnica? (10)
Sente-se aí a volúpia da desforra dos cognominados, até há
pouco, depreciativamente, utilitários, contra os ex-privilegiados,
chamados intelectuais ou acadêmicos.
o é todavia possível supor que, em cursos de Medicina,
de Direito, de Ciências puras,o se trabalhe,o se exija e
ministre técnica!
Nem mesmo nas faculdades de Filosofia e Letras se pode
prescindir das pesquisas, dos arquivos, das investigações, dos
instrumentos, requeridos para os trabalhos comparativos de
civilizações e de culturas.
(9) Vide: Valery (Paul) Variété, pág. 55 Gallimard, Paris, 1944.
(10) Vide: Carneiro Leão (A.) Tendências e Diretrizes da
Escola Secundária Rio 1936.
9
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
A. CARNEIRO LEÃO
Para o estudo das línguas vivas, vejamos o que escreve
Ferdinand Brunot sôbre a importância dos instrumentos de
um manejo delicado: "A descoberta da fonética experimental,
tal qual a criou o Abade Rousselot, nos torna mais exigentes
ainda com seus instrumentos de precisão que trazem à análise
da linguagem contemporânea a exatidão dos exames micros-
cópicos, fazendo-nos ver, com os nossos olhos, sôbre gráficos,
nos quais tudo pode ser numerado e calculado, as diferenças
infinitamente pequenas a separarem o linguajar, em aparência
o semelhante, de dois compatriotas, mostrando-nos assim
como a sucessão de fenômenos imperceptíveis vem, após gera-
ções, chegar sensivelmente transformados ao ouvido, tal como
a fonética histórica nos apresenta centenas. Esta nova fonética
nos faz sentir o imenso vazio (impossível de remediar pelas
induções) deixado à ciência pelo desaparecimento das gerações
sobre as quais se pudesse observar a modificação progressiva
dos fonemas, dos quaiso conheceremos nunca nem o estado
inicial nem o estado final" (11).
o ainda exemplos eloquentes: no Direito Penal os ins-
trumentos para medir a sensibilidade, o nível de inteligência,
as condições emocionais; na Economia Política o estudo dos
climas e a Estatística; na História a colaboração de determinadas
ciências experimentais, como a aplicação de processos químicos
para a leitura dos palimpsestos; na Sociologia o estudo expe-
rimental dos fatos ecológicos em regiões diferentes, em meios
físicos diversos, dos processos de vida dissemelhantes ou con-
traditórios, das áreas de cultura distintas.
Atestadoso faltam de conexão dia a dia mais estreita
entre estudos técnicos, utilitários e estudos acadêmicos. Fron-
teiras definitivas, linhas divisórias, impenetráveis, entre umas e
outras, só equívocos poderão acarretar.
Como admitir ainda a separação permanente entre homens
de pensamento e homens de ação, homens que meditam e ho-
mens que realizam, uma formação de exclusividades intelectuais
e outra de exclusividades práticas?
Como tolerar o divórcio, o dualismo conflagrador ?
Sobretudo porque estamos correndo o risco de que a ação,
na hora em que vivemos, se julgue autônoma, primando sôbre
a inteligência e o pensamento.
(11) Vide: Brunot (Ferdinand) Histoire de la Langue Fran-
çaise, t. I, p. VI.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
Renan, recebendo Lesseps na Academia Francesa, em
1885, afirmava que a "Companhia" tinha um "fraco'' pelos
homens de ação. Cultivastes o mais difícil dos gêneros, dizia
êle a Lesseps, um género há muito abandonado em nosso meio:
a grande ação. Se Cristóvão Colombo vivesse hoje em nosso
meios o faríamos membro da Academia. Quem estará bem
certo de aqui entrar é o general que conquistar a vitória. Eis
aí um candidato a quemo "chicanaremos" quanto ao valor
de sua prosa e que nos parecerá imediatamente uma figura
perfeitamente académica. "Nós o elegeremos por aclamação
sem nos inquietarmos com seus escritos". (12) Renan mos-
trou-se um bom profeta.
Eo nos parece duvidoso que a adolescência e a juven-
tude sejam fascinadas pela ação, numa época em que o mo-
vimento, o trabalho realizador ocupa lugar primacial na evo-
lução da civilização e da cultura. A ação, seus triunfos, o
espetáculo do progresso material encantam o homem. E, no
entanto, jamais houve perigo maior separando o pensamento
da ação, esta ação que possui atualmente o poder das fôrças
naturais. É portanto no interesse da harmonia social e da
solução dos problemas sociológicos que se impõe o dever de
identificá-los, porque, assim como outrora era o intelectual que
se proclamava o eleito, o pensamento puro que se arvorava em
supremacia, hoje facilmente a ação se reserva o melhor julga-
mento e o mais alto destino. Se o mal de ontem era grande, o
mal de hoje nos parece maior, muito maior. Se no passado,
em um mundo de economia elementar, de vida social simples,
de necessidades humanas rudimentares, de progresso mecânico
e industrial inexistente, de classes mais ou menos estanques
e acomodadas, o mal do desentendimento, da presunção de su-
perioridade do pensamento era relativamente pequeno, agora,
diante da complexidade do mundo presente, da complicação das
diretrizes econômicas dos Estados, da insatisfação das classes,
do primarismo de determinados regimes políticos, do perigo da
inabilidade e da ignorância dos dirigentes, julgados oniscientes
e infalíveis pelo fanatismo insciente das massas trabalhadas pela
demagogia, pela emoção, o desentendimento é muitas vezes
(12) Renan (Ernesto) Reponse de Renan au Discours de M.
Lesseps à 1'Academie Française Recueil des Discours, 1880, 1889,
pág. 15, Fertnin-Didot, Paris, 1890.
A. CARNEIRO L E Ã O
mais ameaçador. Máxime porque a hora é de ação frenética e,
o há negar,o raro de grande beleza heróica.
A elite magnífica que, em aviões a jato, a milhares de
quilómetros à hora, destrói, em minutos, instalações, fábricas
e cidades, que o engenho humano levou anos e anos para pla-
nejar e construir, comparada à elite mental em seus aspectos
visíveis, mostra-se infinitamente superior. Entretanto que será
dela e des se, dominada por imposições do momento pre-
sente, insistir em afastar-se do pensamento, desprezá-lo, certa
de que sua intuição, sua habilidade e sua energia física e moral
serão suficientes para tudo prover?
Assusta-nos encontrarmos na pedagogia de educadores
facciosos, no género de Ernest Krieck, de Theodor Wilhelm,
de Baeumler a afirmação de que o intelectualismo "Intelleckt
Bestie" que negou a dependência do homem em relação à
raça e à história, coloca o ser humano numa atmosfera artifi-
ciosa, sonegando à educação toda a base real. (13) Pois
o intelectoo é mais o senhor senão o servo. E que seo
procure compreender e muito menos expressar, mas sentir,
sintonizar com orgulho, ódio, sentimento de destruição tudo
quanto contrarie as aspirações de domínio.
Urgente e imediata é a compreensão de uma política so-
ciológica, capaz de reunir o pensamento à ação, tornando-os
inseparáveis e complementares. Se talo se der, o des-
crédito crescente do pensamento inoperante, num mundo em
vertigem de realização, será fatalo apenas ao pensamento,
mas à ação e à existência da civilização e da cultura.
Ciências, filosofias, letras, artes, todos estes esplendores
queo a alma da terra, nada poderão opor à torrente de bru-
talidade que ameaça a civilizaçãoo penosamente edificada
pela caravana humana, cuja comovedora energia jamais se
fatigou no decorrer paciente dos séculos.
Os bravos que passeiam seus raios pelas paragens este-
lares vêem naturalmente as coisas do alto, deo alto que os
raquíticos habitantes da terra lhes parecem ainda mais raquí-
ticos.o homens de ação e de ação desenfreada esses intré-
pidos aviadores sobre os quais repousa o destino dos povos.
(13) Vide: Baeumler (Dr. Alfredo) Professor der Philosophie
und Politischen Padagogik an der Universitat Berlin Internationale
Zeitschrit fiir Erziehung pág. 287 Heft 4, Berlin, 1939.
PANORAMA SOCIOLÓGICO i>o BRASIL
Ouve-se por vezes dizer, que os seus raios todo-poderosos farão
mais pela construção de um mundo melhor do que fizeram
quatro mil anos de Filosofia.
É querer curar o mal com o pior. Esperamos que o pen-
samento intervenha e que apenas a sombra das grandes asas
sôbre a terra baste para convencer os homens de que é tempo de
se tornarem razoáveis.
O MOMENTO É DE AÇÃO
Se o momento é de ação e de ação esclarecida, pronta,
fulminante, devemos procurar saber qual a função do pensa-
mento, qual seu haver efetivo na construção do mundo atual.
o será de esclarecimento, de previsão, sua finalidade?
Terá êle, em realidade, previsto e esclarecido?
Terá iluminado suficientemente a estrada desconhecida na
qual se embarafustam as nações?
Terá percebido que essa estrada pode conduzir ao abismo?
o poderá prever as consequências dos acontecimentos
para evitar o pior?
E se êleo tem o dever de predizer o futuro tem pelo
menos o dever de prepará-lo. Infelizmente somos forçados
a confessar que raramente êle conseguiu o êxito que se esperava.
Homens lúcidos, espíritos avisados fizeram algumas vêzes
apelos que deveriam convidar à prudência. Em 1831, já Saint-
Marc Girardin lançava esta patética interrogação: "A Euro-
pa, ai de nós! Terá ela que dividir em duas partes a sua
herança: à Rússia seu solo e à América seu espirito?"
Os apelos perderam-se sempre no clamor das nações e, é
necessário dizê-lo, o próprio Pensamento muitas vezes julgou
o Pensamento... e os profetas foram sempre suspeitos...
Como houve porém um número respeitável de grandes pen-
sadores que já tiveram nas mãos as rédeas do governo, temos
o direito de perguntar, como se adaptaram eles a esta súbita
mudança de atmosfera e se, em consequência, seus atoso se
puseram algumas vezes em contradição com suas idéias.
o estamos muito convencidos do que afirma Siegfried:
"Os Latinos, quanto a eles, dispõem de um sistema de "desa-
trelagem" {"debravage") maravilhoso que dissocia consciente-
A. CARNEIRO LEÃO
mente a ação do pensamento, permitindo a este colocar-se, sem
o intermédio de nenhuma atmosfera ambiente, ante a própria
realidade." (14)
Dever-se-á tomar essa afirmação ao pé da letra?
Melhor seria que o pensador tivesse levado uma vida me-
nos indiferente às realidades ambientes e que o homem de
Estado mais esclarecido, quanto à árdua tarefa que o esperava,
pudesse assim,o apenas escapar intacto aos golpes vibrados
pelos acontecimentos do dia, mas evitar os desastres que amea-
çam a coletividade. Urge fazer o pensador meditar com
mata justeza em relação às realidades correntes e o homem de
ação agir com mais discernimento e mais sabedoria diante da
vida de todos os dias e o terra a terra. É essa tôrre de marfim,
em que se tem acastelado o pensamento, a maior inimiga de sua
projeção construtora, a maior causa do desconhecimento de
sua existência, e,o raro, da desconfiança com que o cercam
os homens de ação que dêle mal se apercebem. Nem tem outra
origem o desprezo do homem comum, do homem da rua, da
grande massa pelos intelectuais, considerados antes ociosos,
parasites do trabalho alheio.
Aliás se dentro da esfera intelectual encontramos a desu-
nião, o desentendimento, as oposições, os ataques, os menos-
prezos,o podemos estranhar rivalidades em setores disse-
melhantes?
É de todos os dias a luta entre os cultores de ciências dis-
tintas, de letras diversas, de artes diferentes. Aqueles que
cultivam as ciências exatas, que se engolfam no pensamento
abstrato, na especulação pura,o raro desprezam os cultores
das ciências de base concreta; os filósofos, filiados ao espiritua-
lismo, combatem como sacrílegos os materialistas, os monistas,
os positivistas, os evolucionistas, os fenomenistas, os quais, por
sua vez, digladiam-se entre si com maior ou menor acri-
mônia. Tornou-se clássica a luta entre antigos e modernos.
Ainda hoje encontramos os que julgam inferiores, pertencentes
a outra espécie, todos quantoso conhecem ouo aparentam
saber a língua de Cicero.
(14) Vide: Sigfried (André) L'âme des peuples, pags. 46 c 47,
Hachette Paris, 1950.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
Seria edificante a respeito ouvirmos a voz de um dos
maiores espíritos da França, herdeira inconteste da cultura
greco-latina: PAUL VALERY. "La querelle dite des "hu-
manistes", escreve Valery, n'est que le combat des simulacres
de culture. L'impression qu'on éprouve devant Vusage que
l'on fait de ces malheurcuses LANGUES DEUX FOIS
MORTES est celle d'une étrange falsification. Ce ne sont
plus véritablement des langues ni des littératures dont on
s'occupe. ces langues semblent n'avoir jamais été parlé que
par des fantômes. Ce sont, pour l'immense majorité de ceux
qui font semblant de les étudier, des conventions bizarres dont
l'unique fonction est de constituer les difjicultés d'un examen...
Sans doute on ne sait plus ni le latin des jésuites ni celui des
docteurs en philologie. On sait un latin, ou, plutôt, on fait
semblant de savoir un latin dont la version du baccalauréat est
la fin dernière et definitive. l'estime, pour ma part, que
mieux vaudrait rendre l'enseigment des langues mortes en-
tièrement facultatif, sons épreuves obligatoires, et dresser seule-
ment quelques éleves à les connaitre asses solidement, plutôt
que de les contraindre en masse à absorber des parcelles inassi-
milables de languages qui n'ont jamais existé... Je croirai à
l'enscignement des langues antiques quand j'aurai vu, en che-
min de fer, un voyageur sur mille tirer de sa poche un petit
Thucydide ou un charmant Virgile, et s'y absorber, foulant
aux pieds jounaux et romans plus au moins policiers". (15)
Ou em nossa língua:
"A querela, dita "das humanidades", escreve Valery,o
é senão um combate de simulacros de cultura. A impressão
que temos diante do uso que se faz dessas mal-aventuradas
"línguas", duas vezes mortas, é de uma estranha falsificação.
o é mais, em verdade, de línguas nem de literaturas que
nos ocupamos. Essas línguas, parece, nunca terem sido faladas
senão por fantasmas. Elas são, para a imensa maioria daque-
les que "fazem de conta" que as estudam, bizarras convenções,
cuja única função é constituir dificuldades de um exame...
Sem dúvidao se sabe mais nem o latim dos Jesuítas nem o
latim dos doutores em Filologia. Sabe-se um latim, ou melhor,
finge-se saber um latim cuja finalidade definitiva é a versão
(15) Vide: Paul Valery Varieté III IV.
a
édition págs.
296-297 Gallimard Paris, 1936.
A. C A R N E I R O L E A O
para o bacharelado. Eu julgo, por mim, que melhor valeria
tornar o ensino das línguas mortas inteiramente facultativo,
sem provas obrigatórias, Preparando-se, apenas alguns alunos
para conhecê-lo sólidamente e não os obrigando em massa a
absorver parcelas de linguagem que nunca existiram... Acre-
ditarei no ensino das línguas antigas quando vir no trem um
viajante, dentre mil, tirar do bolso um pequeno Thucydide, ou
um encantador Virgílio e absorver-se em sua leitura, atirando
fora jornais e romances mais ou menos policiais..."
o obstante, a objurgatória lançada por um dos mais lu-
minosos escritores da pátria da paixão clássica, aindao há
muito se encontrava mesmo em França, quem chamava bestial
o ciclo B do curso secundário, porque neleo se incluía o
latim.
Entretanto hoje o chamado "humanismo" deve ser muito
mais representativo no estudo das línguas vivas modernas, nas
quais os sentimentos, as emoções, as atividades, as habilidades,
os gostos, o processo de vida, as interações sociais, as ideias
do homem de nosso tempoo interpretados, sentidos, co-
nhecidos.
O latim e o grego eram intérpretes do "humanismo" no
passado, quando, no correr da Idade Média e no alvorecer das
línguas nacionais balbuciantes e inexpressivas, eles exprimiam
tudo quanto então fazia parte da vida e das aspirações humanas.
Querer ainda agora identificar humanismo e clássicos parece
o absurdo quanto identificar as aspirações do passado às
aspirações do presente.
Diante de tamanha incompreensãoo parece difícil
explicar o divórcio entre os que pensam e os que agem. Diante
de tamanha incompreensãoo parece estranho que os ho-
mens de ação tenham até por diletantes os cultores do pensa-
mento. À parte as exceções fatais, o julgamento é profun-
damente injusto.
o sem conta os intelectuais que se esgotam e estiolam na
obra de cogitação, de meditação.o obstante,o raro,
muitos deles,o forças perdidas por falta de relações com
a vida corrente, na qual mantêm os pés, mas de onde desviam
voluntária e desdenhosamente as cabeças.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
A RESPONSABILIDADE DA ESCOLA
E a responsabilidade da escola é imensa.
O ensino em grande parte tem sido mera cristalização do
saber. Ninguém exprimiu melhor o fato do que JEAN
EDOUARD SPENLÉ Reitor da Universidade de Dijon,
quando dizia: "Déjà l'ancienne Université du Moyen-Âge
était trop exclusivement orientée vers la pensée spéculative et
vers les discussions de la pure logique. En s'attachant à
construire uniquement un poiais d'idées et d'abstracions, elle
s'était de plus en plus mise en opposition avec les besoins du
monde réel... Et ainsi toutes les forces nouvelles qui allaient
transforma- 1'Europe; la " Découverte du Nouveau-Monde", la
"Renaissance", la "Reforme''; les grandes découvertes de la
science et le nouvel esprit de la philosophie moderne, tout cela
s'est fait en dehors d'elle, tout cela a été ignoré ou même
condamné par ses Docteurs.
"dons ce prodigieux mouvement des esprits qui a marque
le XVIII siècle, en France, ou peut dire que les Universités
ne sont plus rien, comine de son côté, ce mouvement n'est
rien pour elles. Jamais on ne vit dissociation plus complète,
entre l'Université et la société française... C'est alors que
l'esprit nouveau fit -irruption dons l'histoire avec la Révolution
française. Filie de la Philosophie et de la Science du XVIII
siècle, elle devait, necessairement marquer une attitude hostile
à l'endroit des anciennes unversités. Celles-ci répresentaient
non seulement la routíne dogmatique et professionelle, la resis-
tance à la science et à l'esprit philosophique nouveau mais elles
constituaient une veritable féodalité de l'enseignement, une
corporation que s'était isolée de plus en plus de la société datis
laquelle elle vivait" (16)
Em português: "Já a antiga universidade da Idade-
dia era orientada de maneira demasiadamente exclusiva na
direção do pensamento especulativo e das discussões de pura
lógica. Persistindo em construir unicamente um palácio de
(16) Vide: Internationale Zeitschrift fiir Erziehung ("Revue In-
ternationale de Pedagogie", International Education Review), Berlin,
1936, Heft 3, págs. 164 a 168.
A. CARNEIRO LEÃO
idéias e de abstrações, ela se colocou cada vez mais em oposição
às necessidades do mundo real... E assim todas as forças
novas que iam transformar a Europa: "A descoberta do
Novo Mundo", "o Renascimento", "a Reforma", as grandes
descobertas da ciência e o novo espírito da filosofia moderna,
tudo isso fêz-se fora dela, tudo isso foi ignorado ou mesmo
condenado por seus Doutores.
"Nesse prodigioso movimento dos espíritos que marcou o
século XVIII, em França, pode-se dizer que a Universidade
o foi nada, como de seu lado esse movimento nada repre-
sentou para ela. Nunca se assistiu à dissociação mais com-
pleta entre a Universidade e a sociedade francesa... Foi
então que o espírito novo fez irrupção na história com a
Revolução de 1789. Filha da Filosofia e da Ciência do século
XVIII ela devia, necessáriamente, marcar uma atitude hostil
para com as antigas universidades. Essas representavamo
só a rotina dogmática e profissional, a resistência à ciência e
ao novo espírito filosófico, mas constituíam um verdadeiro
feudalismo no ensino, uma corrupção que se havia insulado
cada vez mais da sociedade na qual vivia.
No mesmo espírito acentua Louis Liard: "Si l'Univer-
sité restait sourde aux voix sorties d'elle-même comment aurait-
elle entendu les voix de l'extéricur? Elles parlaient pourtant
haut ces voix du dehors, et disaient des paroles non encore
proférées, l'indépendence absolue de la raison humaine, son
droit à tout examiner, même les choses de la religion et de
la foi. Avec Montesquieu, avec Jean Jacques Rousseau, avec
d'Alembert, Diderot, Voltaire et les Enciclopédistes, les scien-
ces de la nature gagnaient du champ sur Ies reserves intangibles
de naguère; les problèmes Mathématiques, les méthodes expe-
rimentales. sans avoir produit encore des fruits comparables
à ceux du XIX siècle commençaient à montrer leur fecondité.
C'était par tout, dans toutes les directions, 1'esprit de la science
et une nouvelle orientation de 1'esprit humain. Cet air nouveau
circule autour de l'Université de Paris sans pénetrer en elle."
"Quel contraste entre l'état de la science et celui de l'enseigne-
ment! En ce siècle qui eut des mathématiciens comme
Leibnits, Newton, Bernoulli, Euler, D'Alembert et Taylor, sont
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
faites dons le domaine de la nature les découvertes initiales de
fontes les sciences modernes, la gravitation et le système du
monde, les lois de 1'optique, de la chaleur rayonnante et de la
chaleur latente, la mésure du calorique, les premières lois de
l'electricité... enfin, chose sans précédent et d'une portée in-
calculable, l'homme et la société deviennent objects de science
et, en tout cela, l'Université de Paris n'est pour rien et fait
plus grave, tout cela West presque rien pour elle...
La Faculté de Droit semble ignorer que les sciences mora-
les sont nées". (17)
E, repitamos, traduzindo, as considerações de Liard: "Se
a Universidade permanecia surda às vozes saídas dela própria
como poderia então ouvir as vozes vindas do exterior? Elas
entretanto falavam bem alto, estas vozes de fora, e diziam
palavras aindao proferidas: a independência absoluta da
razão humana, seu direito de tudo examinar, mesmo as coisas
da religião e da. Com Montesquieu, Jean Jacques Rousseau,
d'Alembert, Diderot, Voltaire e os enciclopedistas, as ciências
da natureza ganhavam terreno sôbre as reservas intangíveis de
há pouco; os problemas relativos ao homem, à sociedade eram
propostos com a mesma liberdade que os problemas matemá-
ticos; os métodos experimentais, sem terem produzido ainda
frutos comparáveis aos do século XIX, começavam a mostrar
sua fecundidade. Manifestava-se em toda parte, em todas
as direções o espírito da ciência e uma nova orientação do es-
pírito humano. Estes novos ares circulam em torno da Uni-
versidade de Paris sem nela penetrarem. Que contraste entre
o estado da ciência e o do ensino! Neste século que contou
matemáticos como Leibnitz, Newton, Bernoulli, Euler, D'Alem-
bert e Taylor,o realizados no domínio da natureza, as des-
cobertas iniciais de tôdas as ciências modernas a gravitação
e o sistema do mundo, as leis da óptica, do calor irradiante e
do calor latente, a medida do calórico, as primeiras leis da
eletricidade... enfim, coisa sem precedentes e de uma incal-
culável importância: o homem e a sociedade tornam-se obje-
tos da ciência e para nada disso influiu a Universidade de
Paris e o que é ainda pior nada disso te/e importância
para ela...
(17) Vide: Liard (Louis) L'Université de Paris, págs. 21 e
28, Librairie Renouard, Paris 1909.
A. C A R N E I
RO
L E Ã O
A Faculdade de Direito parece ignorar que as ciências
morais nasceram."
E o panorama descrito por êsses dois mestres é universal.
Quem conhece a história da América latina tem bem nítido
diante dos olhos o espetáculo de um pensamento autodidata
meditando e agindo, fazendo a independência, construindo as
pátrias, e as universidades, as escolas oficiais, ajoujadas a uma
filosofia bolorenta e ineficaz, uma meia ciência dogmàticamente
sob o guante da censura metropolitana, alheia às realidades
naturais e sociais.
Esse apêgo ao passado, esse vaguear por esferas teimosa-
mente fóra do mundo,o podia deixar de contribuir para a
intensificação do desentendimento que, salvo casos raríssimos,
devia sempre crescer entre a vida e o pensamento. O governo
continua assim presa fácil dos ignorantes audazes, os quais, na
primeira esquina, receosos da crítica, desandam na perseguição
e na campanha de descrédito contra o pensador, contra o inte-
lectual. Demais, para facilitar sua açãoo faltam inte-
lectuais cuja repugnância em agir. cuja incompatibilidade com
a arena, cujo terror pelos afazeres cotidianos, quando na admi-
nistração, os tornam incapazes de se moverem ou os levam a
meios movimentos, a movimentos em falso, com evidente male-
fício para a causa a defender.
O milagre grego,o decantando pela cultura acadêmica,
e realmente milagre no sentido do brilho intelectual, da beleza
e da arte, da pureza das cogitações mentais,o conseguiu sal-
vaguardar a harmonia nacional, o futuro da velha Grécia, de-
fender seus autênticos valores em virtude da separação ali
permanente entre a ação e o pensamento. Exceto raros, como
Péricles (e quanto teve êle de sofrer por seu valor mental e
moral!) os governos gregos eram cm regra exercidos pelos me-
díocres, estranhos, quandoo hostis à sensibilidade, ao pen-
samento.
Qual a sorte de seus filósofos, de seus artistas, de seus
varões virtuosos?
Qual o destino de Sócrates?
Qual o fado de Temístocles, de Aristides, de Alcibíades,
de Trasíbulo, de Demóstenes, de Eurípedes, de Afialto, de
Nícias, de Fócion?
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
Qual a sorte de Tucídídes, de Fídias, de Ésquilo, de
Platão, de Aristóteles?
E o que mais impressiona é o exame das causas das per-
seguições, ou penalidades contra os puros valores mentais e
morais da velha Hélade.
É o caso daquele cidadão grego queo sabendo escrever
eo conhecendo a pessoa a quem se dirigia pede-lhe para
gravar na ostra, em suas mãos vingadoras, o nome de Aristides.
Como se tratasse do próprio Aristides e esse lhe perguntasse
a razão porque desejava o ostracismo de tal homem, recebe
como resposta: "estou farto de ouvir chamá-lo o justo."
No entantoo faltam exemplos expressivos para o mundo
quando o pensamento abandona sua concha e exsurge na vida
pública, atuando sôbre os acontecimentos.
Zola, deixando o convívio familiar de seus "Rougon
Macquart" e mergulhando na atmosfera de tempestade das
ruas e dos quartéis, em momento de pânico nos arraiais da
justiça humana, batendo-se contra a ação mesquinha e mistifi-
cadora que condena Dreyfus inocente, para sofrer, êle, o grande
homem, no apogeu de uma das glorificações literárias mais
autênticas das letras francesas, a mais tremenda campanha de
difamação e de insultos e vencendo, afinal, é um atestado
flagrante da potência do espírito, quando se decide a agir. É
que... "Il fut un moment de Ia conscience humaine" êle
foi um momento da consciência humana, como disse Ana-
tole France. E podemos completar: consciência humana ativa
e realizadora eo contemplativa e inerte... Poiso há
negar ter sido à ação desse homem de pensamento, desse in-
telectual legítimo, desse genuíno representante da cultura de seu
país, de seu grande povo. e de sua época, que se deveu a rea-
bilitação mais famosa da justiça e do equilíbrio, numa das mais
difíceis pelejas desencadeadas sôbre a terra pela paixão.
Bela lição da capacidade reabilitadora do pensamento con-
traposta ao exemplo, tantas vezes repetido, do desfalecimento
dos intelectuais, de seu conformismo, de suas aptidõeso
só para suportar mas até para servir e saudar ao importa
o que, ao importa que ídolo, contanto que suas comodidades
e suas conveniências e egoísmos sejam satisfeitos.
Estão equivocados (e Zola o demonstrou à saciedade) os
que supõem privilégio dos alheios ao pensamento a capacidade
A. CARNEIRO LEÃO
de influir sôbre os fatos comezinhos como sôbre os aconteci-
mentos culminantes.
Nunca o mundo teve necessidade maior da direção esclare-
cida do pensamento vivo. Nunca a ação clamou mais aguda-
mente pela clarividência do espírito. É que nos achamos bem
longe daqueles dias felizes cuja voltao nos seria possível
desejar, mas cuja harmonia entre as forças que se separam e
combatem era perfeita.
No alvorecer da civilização a ação e o pensamento cami-
nham juntos e solidários. O homem que inventou a roda
iniciador da civilização mecânica de nossos dias patenteou
quanto a ação e o pensamento se vincularam.
Pensando realizar, vencer as dificuldades da vida mate-
rial êle teve o gesto feliz de descobrir aquilo que iria revo-
lucionar as comunicações, facilitar a existência rude dos ho-
mens rudes de então. Naqueles dias a existência simples e
rudimentar tornava o pensamento e a ação parcelas de um
mesmo todo — a vida. À medida que a civilização ascendeu, a
cultura se alcandorou, a existência do homem ganhou comple-
xidade, o pensamento marchou por um caminho e a ação por
outro. Daí a falência. Quer dominasse a ação, como na
cavalaria da Idade Média, quer dominasse o pensamento, como
na era dos intelectuais, o mal fêz-se palpável. E os dois
mundos começaram a distanciar-se e a combater-se, ora surda,
ora abertamente. Ainda no despontar da Idade Média é belo
o esforço providencial daquele "patrício" inspirado, que .seria
mais tardeo Bento, reaproxímando e identificando a ação
ao pensamento.
o foi emo sua luta nem seu triunfo contra a repulsão
física do patriciado no tocante aos trabalhos manuais consi-
derados vis.
o é que mandemos os doutôres cavar a terra ou empu-
nhar o martelo ou a foice. Pedimos, sobretudo, aos jovens.
o esqueçam nunca que tudo quanto aprenderam de nada
valerá seo lograrem tomar a vida material e espiritual de
seus filhos, de seu próximo, mais fácil, mais afetuosa, mais
feliz.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
Certo, elesom responsabilidade nos acontecimentos
presentes. Nessa idade, apenas desabrochando para o mundo,
ninguém os responsabilizará pelas atitudes acumuladoras de
elementos para a tempestade ora desencadeada e ameaçando
tudo submergir.
A culpa é do passado, a culpa é dos homens dos fins do
século XIX, dos homens do primeiro decénio do século XX,
que insistiram em permanecer na tôrre de marfim de seus
sonhos e desvarios.
Que poderiam esperar aqueles que se serviam do pen-
samento e da cultura para fins egoísticos, para se evadirem
da terra, alheios, por vocação e por desígnio, a tudo quanto
se passasse em torno, no afã de construção, enfim, da vida de
todos nós?
Que poderiam esperar os intelectuais, orgulhosos das idéias
mais ou menos aceitáveis que haviam aprendido, das frases
mais ou menos belas que sabiam escrever, ou dizer, em voz
alta, na cátedra, ou na tribuna popular, se nada faziam no
sentido de uma construção realmente objetiva, capaz de reunir
o útil ao moral?
A falta vem de longe. Ela cresce singularmente atraves-
sando os séculos. A pequena bola de neve tornou-se uma
avalanche e os que forem por ela sepultadoso serão senão
vitimas.
É mister que o pensamento, o espírito nos tire da situação
em que nos precipitou.
É mister que realize uma revisão integral de seus objetivos,
que salve a inteligência pelo seu conteúdo de moralidade e de
justiça e que a ciênciao seja aviltada pela crueza de suas
aplicações.
Ao espírito cumpre redimir o espírito.
É mister que o pensamento se inquiete com o real, sem
alienar o ideal. Possa empreender uma revisão integral de
seus fins, inspirado na moralidade e na justiça e reabilitar a
ciência em risco de aviltar-se pelo horror de suas aplicações.
Possa o pensamento inquietar-se com a realidade, permanecendo
fiel a si mesmo e persuadindo os homens de que, sem ideal,o
se pode preparar o futuro e que este ideal deve precisamente
tender a deixar às crianças de hoje um mundo melhor do
que aquele que seus pais receberam.
A. CARNEIRO LEÃO
O PANORAMA DAS AMÉRICAS
Na história das Américas encontramos os diversos ele-
mentos que confirmam largamente o que acabamos de examinar.
Na América latina, e portanto no Brasil, no período colo-
nial e, mais tarde, em sua vida politica independente, a sepa-
ração entre intelectuais e homens de ação era acentuada.
Na América inglêsa, desde os primeiros dias de sua colo-
nização, os imperativos históricos e culturais impuseram a
união do pensamento e da ação, a associação do trabalho ma-
nual e mecânico com a preparação intelectual.
Na América latina os primeiros colonos, proprietários da
terra,o desdenhavam a ação. Logo cedo porém seus filhos
ganharam a obsessão pelo diploma universitário. Com o tempo
tal afastamentooz senão crescer. A caça ao diploma
tornou-se uma verdadeira paixão e pouco a pouco foi a pletora
nas profissões liberais. A política atraía, prendia, guardava os
mais audaciosos. Um grande número de advogados, de médi-
cos, de engenheiros, fazem-se candidatos às funções de governo.
Os privilegiados buscam as sinecuras e tudo se lhes afigura
excelente, no melhor dos mundos e dos tempos. Mas a verdade
de ontem transforma-se no erro de amanhã, o que se foi per-
cebendo quando os problemas econômicos se apresentaram bru-
talmente às nações. Um abismo separava o pensamento da
ação. As profissões manuais negligenciadas, mal dirigidas, a
técnica desprezada,o contribuíam para a prosperidade dos
nossos países. No entanto em 1750, quando as Universidades
hisp:mo-americanas, os colégios no Brasil e as Universidades de
Coimbra e de Salamanca, preparavam os estudantes hispano-
americanos e brasileiros para as profissões liberais, formando
intelectuais, funcionários públicos e políticos, a "Academia
americana", fundação de Franklin, em Filadélfia, já se ocupava
da educação técnica da juventude.
A América inglesao crê na virtude soberana do diplo-
ma ... Ela conta, por certo, menos oradores eminentes, me-
nos latinistas distintos, menos dialetas sutis do que a América
latina, mas construiu uma civilizarão forte, organizada e sin-
ceramente democrática.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
Poder-se-á dizer que sua cultura geral é inferior à dos
demais países do Continente, que sua técnica limita talvez as
inteligências especulativas, que sua realização sem limites dá
à máquina a predominância sôbre a inteligência, mas sua ver-
tiginosa civilização, dita material, lhe deixou em grau admirável
o ideal e a.
A religião na América inglesa jamais conduziu à vida
contemplativa e à renúncia, ao contrário, exigiu sempre uma
concentração de energia capaz de enriquecer a vida individual
e a vida coletiva. Seu fim foi sempre preparar uma civilização
em que o espírito e a fé tomariam parte na conquista do bem-
estar material. O próprio sacerdote católicoo escapa ao
poder assimilador da atmosfera americana. Esse sacerdote,
que luta para preservar seu grupo religioso de uma americani-
zação demasiado rápida, tornou-se por sua vez perfeitamente
americano, em seu modo de viver e de conceber a vida. É
como homem de negócio que êle administra sua igreja. (18)
Os grandes acumuladores de negócios e de milhões, ho-
mens de ação frenética, reservam grande parte de suas fortu-
nas para fundações nacionais e internacionais em prol da paz,
para o desenvolvimento da cultura, para a defesa da saúde em
seu país e, o que é admirável, fora dele.. . Esses generosos
donativos a países estrangeiroso produto da ação, mas de uma
ação conjugada ao pensamento, inspirada pelo que o homem
possui de mais alto espiritualmente.
Os esforços para o fornecimento de víveres e de recursos
de todo o gênero à Europa, após a guerra, denotam a união
sagrada do pensamento e da ação?
Criticam-se os norte-americanos por julgarem os homens
pelo que produzem. Certamente tal capacidade de produção
leva a uma seleção dos melhores, cuja importância eles reco-
nhecem e aplaudem. Seleção todavia buscada no campo das
realizações materiais como das conquistas mentais e morais.
Criticam-lhes a pouca importância dada por eles ao pouco
de tradição que possuem. O queo é exato, pois numerosos
exemplos poderiam desmentir julgamentoo apressado. Eles
o maior valor ao presente e ao futuro que ao passado. Res-
(18) Vide: Siegfried (André) Les États Unis d'aujourd'hui,
p. 50.
10
peitam o passado e a tradição, maso lhes permitem consti-
tuírem-se obstáculos à atividade e ao progresso.
Criticam-lhes os preconceitos de raça. Tais preconceitos
o existem senão no Sul dos Estados Unidos. Todavia é pre-
cisoo esquecer que, apesar das injustiças passadas e de certa
separação em determinadas relações humanas, os operários
negros conquistam, nesse país um nível de vida muito superior
ao dos operários brancos, mestiços ou pretos da América la-
tina e da Europa em geral. Eles habitam casas confortáveis e
bem mobiliadas, quase todos possuem rádios, muitosm um
automóvel e se vestem como os burgueses norte-americanos
abastados. Seus filhoso bem cuidados, estudam em bons
colégios e frequentam as universidades: no Norte, no Leste
e no Oeste com os brancos, no Sul, em geral, nos colégios e nas
universidades dos negros: é o caso de Washington, da Loui-
siana, do Tennesse e de outros estados do sul.
Essa separação se atenua todos os dias. A justiça federal
reconheceu o direito aos negros de se matricularem nos colé-
gios e nas universidades dos brancos do Sul todas as vezes que
o Estadoo possua um colégio ou uma universidade para
os negros. Nos outros pontos do país eles podem frequentar
as mesmas escolas.
Acresce ainda que ultimamente a "Suprema Côrte" deci-
diu que o juramento feito à Constituição Federal, estabele-
cendo a igualdade de todos perante a lei, obriga, como conse-
quência, os Conselhos Estaduais de Educação ao levarem
em conta determinações de separação, estabelecidas pelas Cons-
tituições de alguns Estados. "Federal courts, dizem as publi-
cações, are upholding the Negroes rights to attend State sup-
ported universities and colleges for whites when the Negroes
universities and colleges in a given State do not offer the
courses the Negrões want..." E ainda: "The legal question
involved is this: in a university board legally right in its posi-
tion that its oath to uphold a State constitution (The State
Constitution) calls for segregation ; the Federal Constitution
requires equality under law. The majority of lawyers with
whom a local newspaper requires discussed this matter took
the view that such a board is in reality governed by its oath to
uphold the Federal Constitution, which takes precedence over a
State constitution where the two are in conflict."
A. CARNEIRO LEÃO
"As Côrtes Federais, dizem as publicações, garantem os
direitos dos negros frequentarem os mesmos colégios e as
mesmas universidades dos brancos sempre que os colégios e as
universidades dos negroso oferecerem os cursos que eles
desejam... "E mais ainda: "Essa questão legal implica em
que os Boards of Education" "Conselhos de Educação" em-
bora tenham por juramento de obedecer à Constituição do Es-
tado, essa constituiçãoo pode agir contra as determinações
da Constituição Federal, que exige a igualdade de todos perante
a lei. A maioria dos advogados com os quais os jornais dis-
cutem tal assunto adotam o ponto de vista de que o Conselho
está na realidade obrigado por seu juramento a obedecer à
Constituição Federal, porque essa tem prioridade sôbre a Cons-
tituição estadual todas as vezes que as duas entrarem em
conflito."
Para mostrar a política estabelecida hoje nos Estados
Unidos contra a separação racial nos estabelecimentos de en-
sino nos Estados sulistas, basta apresentar o exemplo do Tri-
bunal Federal que ordenou à Universidade da Virgínia ma-
triculasse Gregory Hayes Swanson na Escola de Direito e a
Senhorita Joan L. Harris na Escola de Medicina. A verdade
é assim que as novas gerações norte-americanas estão acen-
tuando a tendência de suprimir essas distinções humilhantes.
Um plano anunciado pelo "Departamento de Estado" modifica
profundamente a situação do negro nos Estados Unidos.
É assim que os cursos especializados do exército estarão
abertos a todos os elementos qualificados, sem limite de matrí-
cula para os negros, sendo as promoções feitas exclusivamente
segundo o merecimento. A medidao foi ainda aplicada,
mas, só o fato de haver sido proposta e estabelecida, prova a
tendência atual norte-americana para efetuar grandes mudan-
ças em tal sentido. (19)
È fato significativo! — A "Universidade George Was-
hington" em Washington D. C, onde já existe uma excelente
universidade para pretos, acaba de determinar a entrada de
pretos ao lado dos brancos nos seus diferentes cursos. E os
negros ricos nos Estados Unidosoo raros, entre eles en-
(19) Vide: Carneiro Leão (A.) Visão Panorâmica dos Estados
Unidos, pág. 82, Civilização Brasileira, Editora, Rio, 1950.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
A. CARNEIRO L E Ã O
contram-se numerosos advogados, médicos, engenheiros, jorna-
listas. Enfim os pretos anglo-americanoso se sentem infe-
lizes e duvidamos muito que um único queira mudar de na-
cionalidade.
A fusão do pensamento e da ação na América inglesa per-
mitiu encarar com segurança e resolver com felicidade pro-
blemas difíceis.
Aí estão as razões por que a questão social é, nessa repú-
blica, menos grave que em qualquer outro país, as diferenças
de classes menores e o problema econômico menos com-
plexo. (20)
CONCLUSÃO
Nenhum ambiente há de ser mais propício à preparação
de um mundo melhor do que a Universidade. Pode-se muito
esperar desse centro do pensamento e da ação, inspirando-se na
Filosofia, nas Ciências, nas Letras, nas Artes e nas Técnicas.
Há de ser nela, pela sua função e pelo seu destino de reunir
Filosofia, Ciências, Letras, Artes e Técnicas, de vincular o pen-
samento à ação, de planejar, organizar e agir que se estruturará
o futuro já à nossa vista.
Há de ser do contacto permanente, da colaboração coti-
diana entre pensadores e realizadores que se formará a menta-
lidade capaz de resistir à impossibilidade da existência de dois
mundos: um que medite e o outro que atue, mas da construção
de um só universo no qual imaginação, meditação e atividade,
pensamento e ação se conjuguem e unifiquem em bene-
fício da vida e da harmonia entre os homens.
Há de ser pela compreensão do pensamento e ação como
fatos sociológicos, determinadores da conduta entre os socii,
entre os povos, que se estabelecerá a ordem e a tranquilidade
na terra.
Essa mentalidadeo será impossível em nossa América,
nem... no mundo.
(20) Vide: Varagnac (André). Découverte de 1'Europe,
L'Âge Nouveau, n. 56, pág. 106. Décembre, 1950.
CAPÍTULO VI
A SOCIEDADE RURAL E SEUS PROBLEMAS
NO BRASIL
INTRODUÇÃO
Com uma extensão de perto de nove milhões de quiló-
metros quadrados, o Brasil é, na América, o pais de menor
densidade de população e de mais variados meios físicos,
culturais e sociais.
Possuindo uma população de 60 milhões de habitantes,
duas cidades apenas atingem 3 milhões: Rio de Janeiro, Ca-
pital da República eo Paulo, Capital do Estado deo
Paulo. (1)
A exceção do Estado deo Paulo, em que o crescimento
apresenta relativo equilíbrio entre as cidades do litoral e as
do interior, os demais Estados da Federação desde que nos
afastemos das zonas litorâneas apresentam-nos sempre pe-
quena densidade de população. Quase quarenta por cento
da população total do país se distribuem por três Estados
e um município: Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais,
o Paulo e Distrito Federal, isto é a cidade deo Sebastião
do Rio de Janeiro, Capital do Brasil.
A densidade da população total da República era de 6.2
habitantes por quilómetro quadrado em 1950, enquanto em
1940o passava de 4.9.
Apesar da ausência de imigração entre 1940 e 1950 a
população do Brasil cresceu considerávelmente. É que o nível
da natalidade subiu e o da mortalidade desceu. Tínhamos em
(1) Nota: Em 1940 o Rio de Janeiro possuía exatamente 1 781 567
almas eo Paulo, Capital do Estado do mesmo nome 1 308 000.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
1940 precisamente 40000 549 habitantes (2) e, em 1950,
52 000250. (3)
Densidade da
Em 1940: população
(hab. Km2)
1 Rio de Janeiro 43,58
2 Alagoas 33,30
3o Paulo 29.08
4 Pernambuco 27,08
5 Paraíba 25,43
6 Sergipe 25,16
7 Espírito Santo 17,51
8 Rio Grande do Norte 14,65
9 Ceará 14.07
10 Santa Catarina 12.40
11 Rio Grande do Sul 11.64
12 Minas Gerais 11.50
13 Bahia 7.40
14 Paraná 6.18
15 Maranhão 3.57
16 Piauí 3.33
17 Goiás 1.25
18 Pará 0.29
19 Mato Grosso 0.27
20 Amazonas 0.24
Em 1950 a situação era:
1 Rio de Janeiro 55.44
2 Alagoas 38.51
3o Paulo 37.08
4 Pernambuco 35.11
5 Paraíba 30.54
6 Sergipe 30.66
7 Espírito Santo 21.16
8 Rio Grande do Norte 18.41
9 Ceará 17.73
10 Santa Catarina 16.70
11 Rio Grande do Sul 15.64
12 Minas Gerais 13.34
13 Bahia 8.64
14 Paraná 10.63
(2) Vide: Mortara (Giorgio) Aspectos Gerais da População
do Brasil, Conferência realizada na Escola do Estado-Maior. Serviço
Nacional de Recenseamento, Rio, 1946.
(3) Em fins de 1953 a estimativa era de 57 000000 de habitantes,
este ano 1957, de 60 000 000, calculando-se para o Rio de Janeiro e
o Paulo 3 000 000.
A. CARNEIRO L E Ã O
15 Maranhão 4.78
16 Piauí 424
17 Goiás 1.97
18 Pará 0.95
19 Mato Grosso 0.42
20 Amazonas 0.33
Ao lado de tamanha disparidade no povoamento das di-
versas regiões do país evidencia-se uma diferença ainda mais
acentuada em relação ao solo, à morfologia geográfica e ao
clima. Às grandes extensões de desertos arenosos sucedem-se
extensões consideráveis de alagadiços. É o Nordeste, é Mato
Grosso, é a Amazônia. De onde se verificao haver uma
zona rural no Brasil, mas muitas zonas rurais, variadas e
incomparáveis, correspondendo cada qual a um tipo de sociedade
distinta, a uma área cultural diferente. Do "seringueiro" ex-
plorador da hévea do Amazonas ao matuto da região da
mata e ao sertanejo (habitante do interior longínquo, sêco,
calcário, quase sem vegetação) ao caipira deo Paulo ou ao
caboclo do Centro-Oeste e do extremo Norte, ao gaúcho do
Sul,o diferenças desconcertantes.
As condições do meio físico, as mais variáveis, a situação
do meio social, a mais diversa, o regime de vida e de tra-
balho, o mais dissemelhante, criam sociedades que nem por
se dizerem rurais variam menos e se parecem mais. Entre p
matuto do Nordeste, o homem do sertão, o vaqueiro, o criador,
o garimpeiro de Mato Grosso, de Minas Gerais, da Bahia, o
ervateiro do Paraná, o seringueiro do Pará, do Amazonas e do
Acre, o pescador das pequenas povoações marítimas, a distância
é enorme.
As condições do ambiente natural, a maneira como se
orientou a economia nas diferentes sociedades influíram pode-
rosamente para o aspecto da vida coletiva do Brasil.
Nada mais expressivo dessa diversidade de meios do que
uma rápida visão panorâmica da economia das várias regiões
do país. (4)
A evolução cultural resulta diretamente da vida associativa
do grupo. Essa reflete as condições físicas e químicas do solo.
(4) Vide: Evaristo Leitão, Rómulo Cavina e João Soares Pal-
meira "O Trabalhador Rural Brasileiro" Departamento de Esta-
tística e Publicidade. Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio
Rio de Janeiro. 1937.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
Os relevos influindo nas vias de comunicações, o clima e a
fertilidade, facilitando ou dificultando a produção atuam, de
maneira decisiva, na construção e no progresso sociais.
Daí a interpretação errônea que, até há bem pouco, se dava
ao problema brasileiro, às diretrizes da nossa civilização. A
opinião corrente era que possuímos um território de fertilidade
de Canaã. A frase de Pero Vaz de Caminha, escrita há mais
de quatrocentos anos, "A terra é boa, em se plantando dará
nela tudo" (5)z escola e quando era escassa a semeadura e
a colheita minguava, o culpado era o homem incapaz, vadio,
preguiçoso.
Os brasileiros que nos estudavam com espírito realista,
sem pontos de vista preconcebidos, eram poucos, e, em regra,
fixados apenas num aspecto do complexo problema de nossa
geologia, de nossa antropologia, de nossa sociologia, de nossas
"áreas de cultura", de nossa evolução econômico-social.
Complicando ainda o caso persistia a convicção generali-
zada, como verdade científica, da impossibilidade da vida no
clima de imensa porção do território. O Brasil era a pri-
meira experiência de uma civilização nos trópicos. A tempe-
ratura escaldante do Norte e do Nordeste, as endemias comuns
em grande porção do interior, desfaziam as veleidades dos
otimistas. Por outro lado, cm contraposição a tais conceitos,
ouvíamos, desde o berço, repetido como axioma, o louvor à
riqueza maravilhosa de nossa terra, à pujança sem par de nossa
raça, à inteligência de nossa gente.
Como compreender o contraste, como atinar com a reali-
dade, como descobrir o caminho a perlustrar para um conhe-
cimento exato des mesmos, de nossas possibilidades, de
nossos defeitos, de nossas virtudes?
Para muitos a salvação estava no Sul. Havia de ser o
frio, o clima temperado deo Paulo, Paraná, Santa Catarina e
Rio Grande do .Sul que viria construir a economia e a grandeza
nacionais. Esqueciam-se os que assim pensavam da civili-
zação plantada em Pernambuco e na Bahia, do começo da
Colónia ao fim do Segundo Império. As crónicas dos visitantes
estrangeiros estão cheias da riqueza dos senhores rurais dessas
épocas.
(5) Vide: Cortesão (Jaime) A Carta de Pero Vaz de Cami-
nha Edição Livros de Portugal, Rio.
Esquecem-se os que assim pensam que, durante certo
período de nossa vida econômica, foi a borracha da Amazônia
explorada pelo cearense, pelo homem do Nordeste em geral,
que constituiu percentagem apreciável das rendas nacionais.
Esquecem-se os que assim pensam que o clima deo Paulo
o foi suficiente para evitar a proliferação do caipira (6),
do Jeca-Tatu (7), fatigado e triste, elemento de pouca valia
econômica na terra roxa dos cafezais.
A CIVILIZAÇÃO E OS TRÓPICOS
Será a região tropical do Brasil incompatível com a grande
civilização?
Não, a altitude em tôda essa faixa imensa do nosso
território é um modificador prodigioso da latitude. E ainda
mais: ali as condições do solo, a direção dos ventos e das
correntes oceânicas, a proximidade ou o afastamento das gran-
des massas de água, doce ou salgada, modificam o clima de uma
região, sem embargo de sua posição astronômica. Qualquer
serra no interior do Nordeste, do Centro-Oeste e até do Norte,
altera profundamente as condições do clima. Na serra do
Ibiapaba, a três graus de latitude Sul, domina uma temperatura
suave. "Os dias no povoado da Serrao breves, porque as
primeiras horas do Sol cobrem-se com as névoas queo con-
tínuas e muito espêssas. As noites, com sero dentro da
zona tórrida,o frigidíssimas em todo o ano e no inverno.
com tanto rigor que igualam os grandes frios do Norte (*),
e só se pode passar com a fogueira sempre ao lado"; assim fa-
lava. há quase três séculos o padre Antônio Vieira.
Na Serra de Baturité, que tive ocasião de visitar em
dezembro de 1865, escreve o Barão Homem de Melo, o via-
jante, deparando um clima em tôda parte fresco e amenís
simo, sente-se transportado às regiões mais rigorosas da zona
temperada,o obstante estar a três graus de latitude sul.
(6) Vide: Monteiro Lobato Urupês Editora Brasileira, S.
Paulo, Brasil.
(7) Simbolização do matuto, do caipira deo Paulo, criado por
Monteiro Lobato, escritor paulista, autor de extensa c valiosa obra sôbre
a vida e os costumes da gente do interior do Brasil. Nota do autor.
(*) Refere-se certamente ao norte da Europa.
A. CARNEIRO LEÃO
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
No planalto de Garanhuns, em Pernambuco, oito graus ao
sul do equador, sente-se frio à noite em qualquer estação,
encontrando-se em tal zona o mesmo clima do Oeste deo
Paulo e do Sul de Minas Gerais. No Tombadouro do Ca-
valcanti, em Goiás, entre treze e quatorze graus, goza-se um
clima sempre temperado, sendo as noites frias". (8)
Por toda a região tórrida do Norte, do Nordeste e do
Centro (Agassiz assinala a amenidade do clima de certas
regiões amazônicas a apenas um grau de latitude) a altitude,
as águas e os ventos tornam o clima francamente favorável
à vida e à civilização.
Jamais esqueceremos a excursão que, em companhia de
um amigo fizemos da Cachoeira de Paulo Afonso à cidade
de Garanhuns, em pleno verão. Saídos pela manhã de auto-
móvel, da ''Cidade da Pedra", após havermos visitado a
Cachoeira, atravessamos, vestidos de linho branco, uma vasta
região da "caatinga" (9) semi-árida. O calor durante o dia
era grande e o ar morno e quase desagradável em certa parte
da viagem. Ao atingirmos o planalto de Garanhuns, às vinte
horas e meia, a temperatura começou a mudar rápidamente.
Às vinte e duas horas ela descera tanto, que, à falta de coisa
melhor nos forramos de jornais e, ainda assim, chegamos à
cidade, às duas horas da madrugada, transidos de frio. Ha-
víamos passado de uma temperatura máxima à sombra de cêrca
de trinta e dois graus centígrados à mínima de doze graus.
em automóvel aberto e em trajo de verão.
Certo, nas planícies, ao nível do mar, em igual latitude a
temperatura é mais constante e mais quente. Nem por isso,
entretanto, podemos concluir pela inadaptabilidade do homem
civilizado em tais regiões se a engenharia sanitária, a higiene, a
dieta, a vestimenta e o regime de trabalho estiverem de acôrdo
com as condições do meio e da vida.
A verdade é que para a higieneo existem zonas irre-
mediavelmente doentias, regiões inabitáveis, condenadas ao
deserto porque delaso se possam remover ou afastar males,
cuja proliferação o clima apenas favorece.
(8) Vide Homem de Melo (Barão) "Subsídios para a orga-
nização da Carta Física do Brasil", pág. 2 — Rio, 1876.
(9) Assim chamamos, no Nordeste do Brasil, à zona semi-árida
entre a mata e o sertão.
Muito justa é a respeito a observação de Clemow quando
escreve:" na predominância de certas doenças há três fatôres
essenciais: o parasito, o homem, o veículo transmissor. Se
um deles está ausenteo há doença". (10)
O grande higienista Artur Neiva mostrou experimental-
mente como, em certas regiões do Brasil, apesar da presença
do homem opilado, da existência evidente do elemento infector,
do veículo transmissor poluir o solo, o ciclo evolutivo do
verme era interrompido pela secura do clima e pela ação puri-
ficadora do sol abrasador,o permitindo a transmissão,o
consentindo na possibilidade da endemia.
Outro atestado evidente do fato está na malária, que na
região do Madeira ao Mamoré, antes da ação direta de Osvaldo
Cruz, dizimava sem remissão e, após o saneamento dos terrenos,
desceu a proporções ínfimas consentindo, afinal, na terminação
do empreendimento até então comprometido.
Em 1940 o Governo federal empreendeu grandes trabalhos
de saneamento nos arredores do Rio de Janeiro, precisamente
na "Baixada Fluminense", (*) conseguindo secar os terrenos
alagadiços e transformá-los em campos apropriados à cultura.
Hoje ali, onde outrora se estendia imenso lençol de lama-fétida,
contempla-se, uma planície em boa parte habitada c culti-
vada. (11)
CIVILIZAÇÃO, CULTURA E RAÇA
Em seguida ao preconceito do clima surgiu o preconceito
da raça.o faltava mesmo quem nos insinuasse que emo
Paulo era o imigrante italiano e em Santa Catarina o alemão os
fatores mais apreciáveis da prosperidade daquelas zonas bra-
sileiras.
Se o primeiro conceito do clima era erróneo, o segundo
da raça ainda era em proporção maior.
(10) Vide: Mukerjee (Raxdhakamal) Regional Sociology, p. 51,
The Century Co. New York and London, 1926.
(*) Nota: Parte baixa, alagadiça, do Estado do Rio.
(11) Infelizmente a retirada dos japoneses que colonizaram essas
terras, retirada proveniente da Conflagração de 1939-1945;z desapa-
recer quase por completo a lavoura que ali se desenvolvia.
A. C A R N E I R O L E Ã O
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
O meio natural condiciona o desenvolvimento da inteli-
gência como condiciona o crescimento físico, o bom funciona-
mento da vida. É o terreno favorável ouo à existência hu-
mana, propício ouo ao progresso mental como à evolução
biológica.o as condições climatológicas, topográficas, van-
tajosas ou prejudiciais ao florescimento da vida humana, às
faculdades superiores do homem.
A hereditariedade importa como potencial. É o campo.
apropriado ou não, à ação estimuladora do crescimento e do
progresso.
O meio natural vale como o terreno cuja ação física e
químicao deve ser perturbadora. Amboso condições e
o fatôres. O meio naturalo atua sôbre a inteligência. A
hereditariedadeo desenvolve o nível mental. A inteligência
se desenvolve pelo contacto, pela interação dos indivíduos entre
si. tornando-se tanto mais aguda quanto maior o convívio,
mais intensa a comunicação.
Inúmeroso hoje os estudos de antropólogos, de soció-
logos, e de psicólogos eminentes que acentuam, com fundamen-
tação científica, quanto as diferenças fundamentais dos tipos
hereditárioso frequentemente insignificantes ao lado das
diferenças oriundas do tipo de civilização e do nível de
cultura. (12)
No fundo o problema é de ordem cultural, resulta das
condições de meio e das possibilidades de ação e de vida rea-
lizadora. É o caso do alemão, em Teófilo Ottoni. no Estado
de Minas Gerais, e até em Petrópolis, em Teresópolis, e em
Friburgo, no Estado do Rio de Janeiro, descendo, na segunda
e terceira geração, por influência ambiente, à situação lamen-
tável dos caipiras analfabetos e ociosos, no meio do
êle vive.
Se a raça fôsse realmente o Fator da maior rapidez
progresso emo Paulo e Paranáo se compreende como
decaísseo facilmente em Minas Gerais e no Estado do Rio,
arrastada pelo meio. Seria condutora eo conduzida. "Duco
non ducor" devia SCI então seu lema. Nemo pouco se ati-
naria com as razões do caso assinalado por Fritz Muller,
(12) Vide: Piéron (Henri) Psicologia do Comportamento
(tradução do francês). p. 247 e Carneiro Leão (A.) Adolescência e sua
educação, Capítulo XIII.
A. CARNEIRO LEÃO
alemão genuíno, filho da raça eleita por excelência, segundo a
doutrina racista, que. escrevendo de Santa Catarina a .sou irmão
Hermann Muller. afirmava: Entre os meus discípulos é
ano, o melhor é um preto de puro sangue africano o poeta
Crus e Sousa; (*) compreende tudo facilmente e tem tal ânsia
de aprender como nunca encontrei, raro mesmo cm nosso clima
frio. Esse negro representa, para mim, mais um reforço à
minha velha opinião, contrária ao ponto de vista dominante,
que, no negro, um ramo por toda parte inferior e incapaz
de desenvolvimento racional por suas próprias forças; quando
em apoio disto se alega que no seu habitáculoo atingiu
nenhum grau elevado de civilização, e por isso se deve ter
como incapaz. esquece-se que há dois mil anos poderiam gre-
gos e romanos ter dito o mesmo dos nossos antepassados. S
Burmeistero achou nenhum interesse mais elevado no seu
trato com os negros, também, eleo teria sido mais feliz com
os jornaleiros da Pomerânia e do Maclemhurgo. Conheço en-
tre negros uma quantidade <!e fisionomias nobres e expressivas
como dificilmente se encontraria entre caucasianos vivendo em
situação social igualmente deprimida, e se essa situação, cm
geral, condiciona uma grande imperfeição moral, observei,
contudo, com frequência, Instantes vestígios indiscutíveis de
um sentimento profundo e delicado" (13)
No mesmo sentido um dos nossos homens de ciência, Ro-
quete Pinto, Comentando os estudos do português Silva Correia
re a adaptabilidade dos lusos, sua capacidade de realização
no clima das índias, chega entre outras às seguintes conclu-
1.° a raça branca (nórdica, alpina, mediter-
rànea)o degenera nas regiões intertropicais senão
por causas que também degradam as outras raças;
2.° nas regiões cm que o meio cultural e o
meio social degradam os mestiços, os brancos europeus
também se degradam (14).
(*) O grifo é nosso
(13) Vide: Roquete Pinto Ensaios de Antropologia Brasiliana,
págs 51-53, Cia. Edit. Nacional.o Paulo. 1933
(l4) Vide: Roquete Pinto - Ensaios de Antropologia Brasiliana,
pág.40 e Radhakamal Mukerjee Regional Sociology, p. 51 New
York and London The Century Co. 1926.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
Quanto ás condições e possibilidades da raça brasileira ou
melhor dos tipos dominantes nas zonas quentes do Pais. nada
autoriza, como já assinalamos, conclusões pessimistas. O des-
bravamento e a construção do Amazonas e do Acre foram
a resultante nos últimos sessenta anos, da energia do bra-
sileiro nordestino.
Os dois fatores apresentados como impedimento ao pro-
gresso brasileiro o clima e a raça repousam, em meros
preconceitos, sem nenhuma fundamentação cientifica.
FATORES DE INFERIORIZAÇÃO
A realidade é outra. Se em considerável extensão do
Brasil a terra é boa, muito terreno existe necessitado de tra-
tamento especial e penoso. Há manchas ótimas de terra em
quantidade inapreciável. mas há também imensidão de terras
produtivas ao preço de canseiras sem conta. É necessário irmos
ao sertão do Nordeste, para compreendermos o sentido de
"um copo d'água dado em meu nome vos será pago ao cêntu-
plo". Este símbolo divino o sertanejo o toma ao pé da letra
porque a água é para êle, muitas vezes, mais preciosa que o
ouro. Essa águao raro falta no verão e numerososo
aqueles que laxem léguas de marcha para encontrar alguns
litros. A propósito é comovente a recordação que guardamos
de uma das nossas entradas pelo sertão. Viajávamos em um
pequena "chevrolet" que afrontava corajosamente a hostilidade
das pedras, dos chique-chiques e dos espinhos. Mas o sol abra-
sava e êle jáo podia de sede. Paramos então à porta de
uma cabana e uma velhinha que ali se encontrava saudou-nos
assim: "Louvado seja Deus que traz os senhores por e
terras? Em que lhes posso servir?"
"Um pouquinho de água para nosso motor", respondemos.
Estávamos em plena estiagem a água era rara. mas a velhi-
nha correu para buscar os últimos jarros que lhe restavam
guardando apenas uma pequena porção para a refeição da noite.
s lhe quisemos pagar, a velhinha zangou-se. Após grande
habilidade acabamos convencendo-a a receber algumas frutas
que trazíamos em nosso automóvel.
A. C A R N E I RO LEÃO
A região percorrida era como vimos, inabitável no estio;
o é todavia, senão quando a seca é integral, que as popu-
lações se decidem a emigrar, voltando, às primeiras chuvas,
como as andorinhas na primavera.
Todos os continentesm seus desertos e a grande ferti-
dade de Canaão é comum. Existirá algum pais no mundo
que possa dispor de um soloo rico quanto o solo francês?
Sua fertilidade proverbial permanente é inesgotável graças a
um labor inteligente e contínuo.
o faltam, pelo Brasil, terrenos de camada arável escas-
síssima, como sobram regiões de demasias asfixiantes. Nem o
clima só por si, nem o homem, no sentido de valor positivo de
vida e de ação, mostram-se contrários ao estabelecimento, na
maioria absoluta do território, de um alto tipo de civilização e
cultura. O problema é, num meio imune de endemias, cuidar
da alimentação, da habitação, da vestimenta e do regime de
trabalho e de vida.
Começam a ser orientados construtivamente os estudos so-
bre o interior brasileiro. Inestimável nesse campo foi a cru-
zada de Osvaldo Cruz. foram as excursões científicas de in-
vestigação de seus companheiros e discípulos: Gaspar Viana,
Carlos Chagas, Belisário Pena, Antônio Fontes, Artur Neiva,
Rocha Lima. Recentes, mas crescentes e valiosas, estão sendo
as pesquisas de unia geração de jovens sociólogos e homens de
ciência brasileiros, tais como Roquete Pinto, Gilberto Freyre,
Oliveira Viana, Djacir Meneses, Alfredo Élis Júnior, Cassiano
Ricardo, Paulo Aquilles, Josué de Castro, Castro Barreto e
muitos outros. Artur Ramos, por exemplo, consagrou sua
vida ao estudo desses problemas e morreu trabalhando neles
cm detrimento de sua saúde precária.
Nossa obra é uma obra de civilização. Sem resolvermos o
problema da nutrição, o problema do conhecimento e do domínio
da terra, o problema do trabalho nada se terá conquistado de
definitivo.
Podemos afirmar, escudados em grandes autoridades, que
a maior parte das doenças, das endemias que nosm avas-
saladooo autóctones, foram importadas em épocas diver-
sas de nossa história. (15)
(15) Vide: Rocha Pombo História do Brasil, v. I pág. 441.
J. Fonseca Saraiva, Editor, Rio. Brasil e Wappeeus A Geografia
Física do Brasil, p. 176, Rio 1884.
Quanto à alimentação, à dieta, o problema é grave e
convém examiná-lo de perto.
A DIETA
De 1928 a 1930 fizemos várias e longas investigações pelo
sertão da Bahia e Alagoas, em todo Pernambuco até aos li-
mites da Paraíba e do Ceará servindo-nos de uma variedade
de meios de transporte que nos permitiu conhecer certas minú-
cias por vezes importantíssimas. Começamos por estrada de
ferro, depois por via fluvial, em seguida a cavalo, a "carro de
boi" e enfim em "Chevrolet".
Ainda hoje guardamos a lembrança de uma viagem, da
capital da Bahia à de Pernambuco, através do interior dos dois
Estados, dos quais muitas regiõeso essencialmente agrícolas
e outras áridas como o deserto. Nossa primeira etapa foi
Petrolína. (16) onde o bispo Dom Malan nos recebeu de bra-
ços abertos. Porque êle era francês e porque por êle, um
pouco da alma da França palpitava em nosso sertão,o pude-
mos, em Paris, no seio da Sorbonne, deixar passar em silêncio
sua obra civilizadora naqueles confins do Brasil. Dom Malan
possuía uma bela cultura, mas nele o pensamento aliava-se à
ação. Êle foi uma grande força espiritual impulsionada por
excepcional capacidade de realização. Fundou um Colégio Se-
cundário e uma Escola Normal para a formação de professores
primários apropriados ao sertão. Construiu a "Catedral de
Petrolina" e para decorá-laz vir de França magníficos
vitrais. É um encanto ver a bela catedral levantar-se domina-
dora naqueles ermos.
A ação de Dom Malan no interior foi miraculosa. Êle
muito mereceu da França e muito mereceu do Brasil.
Nessa viagem percorremos em automóvel setecentos qui-
lómetros, distantes de qualquer estrada de ferro dezenas de
léguas. As autoridades regionais que encontrávamos pelo ca-
minho nos acolhiam com a tocante simplicidade patriarcal, ca-
racterística dos habitantes do sertão. "A casa é sua" nos
(16) Petrolina, cidade situada à margem do Rioo Francisco,
com uma população de dez mil habitantes, nos confins do Estado de
Pernambuco, limitada com o Estado da Bahia.
11
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
A. CARNEIRO LEÃO
diziam todos e bem o sentíamos, porque tudo convergia ime-
diatamente em torno de nós. As refeições que nos ofereciam
eram ricas em carne vaca, porco, carneiro, cabrito mas
ausência completa de legumes, de verduras e de frutas. Daí
o prazer que mostravam (pessoas relativamente abastadas)
Prefeitos, Magistrados, em cujas casas nos hospedávamos ou
descíamos para almoçar ou jantar, quando os presenteávamos
o com peras ou maçãs, mas com bananas e laranjas, trazidas
de Salvador, em quantidade bastante para uma excursão de
vários dias. Invariavelmente a sobremessa era servida com a
denominada "Trezentos e sessenta e cinco dias" por ser a de
uso diário no almoço e no jantar, isto é: bananada ou goiabada
de Pesqueira, à qual,o raro, se adicionava um pouco de
queijo do sertão.
A verdade é que na zona rural, quer a cultura seja agrí-
cola quer seja pecuária, quase nunca há espaço para a plan-
tação de verduras ou de frutas.
A monocultura foi, numas terras, a causa primordial da
ausência de frutas, legumes frescos, cereais, e noutras, pela
falta ou pela perseguição ao gado, a razão imediata da escassez
de leite e de manteiga.
Os motivos encontram-se, em regra, no predomínio do
latifúndio e na ausência consequente das pequenas propriedades.
A prova está no fato deo Paulo, enquanto a pequena pro-
priedade dominava, conseguir uma alimentação muito mais ra-
cional para seus habitantes. "O regime nutritivo do paulista,
escreve Alfredo Élis Júnior,o teria sido dos fatôres que
menos concorreram para a prosperidade da gente do planalto".
o resta dúvida que a ânsia de dilatar plantações de cana-
de-açúcar e mais tarde de café, levou os senhores de engenho
e fazendeiros no inicio de tais indústrias, ao cederem terreno
para o cultivo de outras lavouras. Daí a injustiça flagrante
em se concluir que a maior lentidão de movimentos, o ar de
fadiga, estampado tantas vezes no rosto do caboclo ou do ma-
tuto, na cidade ou no campo, resulta da inferioridade da raça,
da vagabundagem, ou da indolência.
O problema complica-se pela influência, em determinadas
zonas e, sobretudo, em certas estações do ano das enchentes no
Amazonas e das secas no Nordeste, além das doenças de carên-
cia, somente ultimamente conhecidas e reveladas.
É elucidativa a respeito a seguinte página de Euclides da
Cunha nos Sertões, escrita há mais de meio século: " Uma
moléstia extravagante completa a desdita do sertanejo, a
"hemeralopia". Esta falsa cegueira é paradoxalmente feita
pelas reações da luz nasce dos dias claros e quentes, dos
firmamentos fulgurantes, do vivo ondular dos ares em fogo e
sôbre a terra nua. E' uma pletora do olhar. Mal o sol se
esconde no poente a vítima nada mais. Está cega. A
noite afoga-a de súbito, antes de envolver a terra. E na
manhã seguinte a vista extinta lhe revive, acendendo-se no
primeiro lampejo do levante para se apagar, de novo, à tarde,
com intermitência dolorosa. Renasce-lhe com ela a energia.
Ainda seo considera vencido. Restam-lhe para desalterar
e sustentar os filhos os talos tenros, os mangarás das bromélias
selvagens". (17)
Basta fixar o alimento, então, do sertanejo "mangarás"
das bromélias selvagens para explicar-se, hoje, com os re-
centes estudos das avitaminoses, tratar-se de desnutrição, de
falta absoluta de vitaminas.
No referente ao beribéri, considerado até há pouco na
Amazônia uma calamidade climática, sabe-se agora quanto
contribui para êle a carência da vitamina B. Essa doença atinge
especialmente os comedores de arroz descorticado, pois a vi-
tamina B, hidrossolúvel, existe principalmente na cutícula dos
cercais, e em particular do arroz.
Hoje, nas grandes cidades, essas noções alimentares seo
tornando notórias, mas, há alguns anos passados, elas eram
ignoradas e ainda hoje no sertão constituem uma sorte de
alquimia tenebrosa e inquietante.
O Governo brasileiro criou porém um "Instituto de Ali-
mentação" para estudar o regime alimentar nas diferentes
regiões e nas diferentes classes sociais a fim de ajudar o ho-
mem a alimentar-se racionalmente. Devemos assim conseguir
melhorar a saúde, a energia e a capacidade de realização de
nosso povo nessas regiões até agora abandonadas.
(17) Mangará ponto terminal da in florescência das bromélias,
dentro do qual se encontram os botões das flores prestes a desabrocharem.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
A. CARNEIRO LEÃO
A HABITAÇÃO
Ao atentarmos na habitação o problemao parece muito
menos importante. Cada povo, em cada região, (*) segundo
os próprios instintos de defesa, constrói sua casa de acordo
com as imposições do clima, a distribuição da água, a fertilidade
do solo, o frio ou o calor.
Todo meio natural necessita de um tipo determinado de
habitação. Só assim o homem pode viver nos ambientes na-
turais mais diversos, defendendo-se das mais violentas modi-
ficações climáticas.
Aqui, diante da variedade enorme de climas, nossas habi-
taçõeso podem ser as mesmas na Amazônia, no Nordeste, no
Paraná, no Rio Grande do Sul. Em nosso país, conforme a
região, os materiais disponíveis e as possibilidades, as habita-
ções pobres foram ou são:
1.°) palafita à margem dos grandes rios, lagos e
pântanos;
2.°) mucambo de palha ou sapé;
3.°) mucambo de taipa coberto de palha ou de zinco;
4.°) casa de taipa coberta de telha;
5.°) casa de madeira coberta de madeira;
6.°) casa de pau-a-pique coberta de zinco, palha ou
madeira.
(*) Nota: No dia 14 de julho de 1941, uma "Assembléia Geral
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística" fixou para o estudo
do Brasil as cinco "Regiões Naturais" seguintes:
Primeira: Região Norte, seja o Território Federal do Acre e os Es-
tados do Amazonas e do Pará;
Segunda: Região Nordeste, compreendendo duas partes: Nordeste
ocidental Estados do Maranhão e do Piauí; e Nordeste oriental
Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas;
Terceira: Região Leste, compreendendo duas partes Leste Seten-
trional com os Estados de Sergipe e Bahia e Leste meridional com os
Estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Estado do Rio e Distrito Fe-
deral (ou Cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro) ;
Quarta: Região Sul, com os Estados deo Paulo, Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul;
Quinta: Região Centro-Oeste, com os Estados de Goiás e Mato-
Grosso.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
As casas de gente abastada, outrora construídas em tipo
colonial, com pátio e muros suficientemente espessos, passaram
a pertencer, mesmo na parte tropical mais bem definida, a todas
as arquiteturas, algumas belas com grandes e aprazíveis jardins.
Nas regiões do interior e em alguns quarteirões de certas
cidades, nas quais os terrenos aindao se valorizaram, as
casaso sempre térreas e, coisa estranha, construídas umas
sôbre as outras, paredes meias, numa incompreensível econo-
mia de espaço. Essas casaso compridas e estreitas,o
tendo janelas ou portas senão para a frente e para os fun-
dos. (18)o é raro encontrarem-se no sertão casas desse
tipo na mais lamentável falta de ar e de luz em zonas de tanto
sol e tanta luz! Os quartos de dormir estão situados no
centro e desprovidos de janelas. Essas casaso construídas
de tijolos e cobertas de telhas, o queo as impede de serem
feias, alinhadas todas à margem do caminho ou dos lados das
ruas quase sempre estreitas. Atrás e na frente nem uma
árvore, nem um arbusto, mas pequeno pátio cimentado para
lavar e estender roupa.
As casas desse último tipoo infelizmente muito numero-
sas no Brasil: elaso habitadas por pequenos funcionários,
por comerciários, gente de salário mais ou menos certo. Assim
as casinhas do chão de terra batida, cobertas de palha, com
janelas abertas aos quatro ventos, inundadas de ar e de luz
o superiores em condições de higiene à casa de tijolo, coberta
de telhas, de que falamos acima. E há pior. Como é o caso
das casas do interior do Estado de Minas Gerais, nas quais
Carlos Chagas e Belisárío Pena (19) acharam, nas frestas
das paredes, "barbeiros" nome vulgar do "Triatoma Me-
gista" inseto domiciliário, transmissor da "Tripanossomíasc
americana" ou "Moléstia de Chagas", assim chamada por
haver sido descoberta por esse nosso patrício, que lhe estabele-
ceu a profilaxia. (20)
Outro tipo de habitação perniciosa é a do seringueiro, (21)
à margem dos rios ou dos igarapés, mal coberta,o raro sem
portas, infestada de mosquitos.
(18) Vide: Carneiro Leão (A.) Sociedade Rural, ob. cit. pág. 89.
(19) Vide: Belisário Pena — O Saneamento do Brasil, pág. 140 e
seguintes, Rio, 1918.
(20) e (21) Vide: Carneiro Leão (A.) Sociedade Rural, pág.
81 e 88.
A. CARNEIRO LEÃO
Num estudo sobre as três maiores e mais devastadoras
endemias do Brasil malária, amarelão, "moléstia de Cha-
gas", esta última, senão em número de infestados, na qualidade
da infecção assinala Belisário Pena a relação direta com a
habitação. E aponta os remédios. Para evitar a "ancilostomía-
se" (opilação) lembra a fossa sanitária, uso de água limpa,
mostrando como realizar as duas medidas salvadoras. Para
evitar a malária aconselha a construção da casa em ponto
inacessível aos mosquitos (anofelinos), isto é, em lugar seco
e descampado, de sorte que num raio de, pelo menos, cem
metroso haja mato fechado, nem água estagnada; para evi-
tar a moléstia de Chagas, recomenda uma boa alimentação,
janelas em todos os compartimentos e paredes lisas, sem so-
lução de continuidade. "São condições essas, conclui o hi-
gienista, de higiene rudimentar, a que devem obedecer as
construções rurais em todo o Brasil." Aliás o problema da
habitaçãoo é apenas nosso. Encontramo-lo, com todas as
suas consequências, em vários outros países da América la-
tina: Argentina, Bolívia, Colômbia, Peru, Venezuela, Gua-
temala, México...
Na República Argentina,o faltam exemplos da serie-
dade do caso. "Nas províncias do Norte, o problema da casa
é pavoroso", escreve Alfredo L. Palácios. E continua: "O
Albergue dos pobres constitui um foco de infecção, além da
desgraça que representa no ponto de vista espiritual... (22)
Os trabalhadores do bairro dos Ejidos e da Barranca, do arroio
Furiñango vivem em cavernas, cavadas na terra a poucas qua-
dras da capital da Catamarca, na mais desesperadora miséria.
Observam-se a tristeza e a resignação dessa pobre gente que re-
cebe salários de fome e queo goza de uma só vantagem da
civilização... Todas as aldeias e zonas rurais de La Rioja
e de Catamarca estão cobertas de habitações que consternam:
construções de folhas, lonas, adobe, latas, papéis, amontoam-se
nos subúrbios das capitais". (23)
Quanto às endemias, além de Alfredo L. Palácios, Artur
Neiva, em seus trabalhos sobre "Leishmaniose Tegumentária
Americana" e "Excursão Científica ao Norte da Argentina"
(22) e (23) Vide: Palácios (Alfredo L.) Pueblos Desampa-
rados, Buenos Aires, 1942.
como nas cidades de Jujui, Córdoba, Tucumã... testemunha
o só a existência em larga escala da "Leishmaniose", ou
"Úlcera de Bauru", como chamamos emo Paulo, mas tam-
m do bócio, da malária e do tracoma. (24)
Além dessas endemias, largamente estudadas nos meios
rurais brasileiros e americanos, pelo mundo médico e científico
de nossa América, há outras menos conhecidas maso menos
nocivas. Entre elas deve-se salientar a "Oncocercosis", extre-
mamente generalizada em várias regiões dos Estados Unidos,
do México e da América Central. Basta dizer que mais de
quarenta mil indígenas do México e da Guatemala sofrem
dessa doença, cuja gravidade está demonstrada na percentagem
considerável de casos fatais, pois, cinquenta a sessenta por
cento dos enfermos ficam num estado de perturbação visual
que,o raro, termina pela cegueira. A calamidade é tal que
o "Instituto Indigienista do México" no receio de uma pro-
pagação ainda maior, apelou para o "Departamento Sanitário
Pan-americano". (25)
Outra endemia, cuja presença vem sendo assinalada rela-
tivamente há pouco tempo em nossa América, é a "Brucelose",
antes conhecida pelo nome de "Febre de Malta" por ter surgido
e em grande escala nessa Ilha. Estando, no entanto, provado
que ela existe sem febre e queo é nem foi privativa de
Malta, essa designação perdeu sua razão de ser. Sendo, então,
o germe isolado por Bruce (médico do exército inglês a serviço
na ilha) ela passou a chamar-se "Brucelose".
Nessa doença os sintomaso os mais variados, mais
complexos, mais terríveis. O fato é, que, no México, na
América Central e em certos pontos dos Estados Unidos da
América do Norte, a "Brucelose" se disseminou de modo assus-
tador. No Brasil, para cerca de sessenta milhões de habitantes,
há uma estimativa (poro haver estatística precisa a res-
(24) Vide: Artur Neiva e B. Barbará — " Leishmaniose Te-
gumentária Americana" e "Excursão Científica ao Norte da Argentina"
Imprensa Nacional Rio de Janeiro, 1941.
(25) Boletim Indigienista do Instituto Indigienista Inter-Americano.
V. II, n.° 2, junho de 1942, págs. 5 e 6, México.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
peito) de perto de seis milhões de infectados, (*) ou sejam
dez por cento da população geral. Essa doença é transmi-
tida pelo leite cru, coalhadas, queijos frescos e pela carne
mal passada de vaca, de cabra, de porco. Felizmente o
médico e cientista Genésio Pacheco do 'Instituto Osvaldo
Cruz" descobriu uma vacina, cujo efeito curativo está sendo
decisivo. Preparada e aplicada, por outro médico, seu so-
brinho Genésio Pacheco da Veiga (cujo espírito de serviço é
admirável em atender gratuitamente à pobreza mais atacada
em tais circunstâncias) é de esperar que, aliando-se a tal
esforço uma eficaz profilaxia, esse mal desapareça enfim do
Brasil e de toda a América.
A VESTIMENTA E O REGIME DE TRABALHO
No que toca à vestimentao fomos racionais até há
pouco. Basta, para disto nos convencermos, contemplarmos as
gravuras de Debret ou de um outro trabalho de qualquer es-
critor ou artista de então. Mesmo em temperaturas, à som-
bra, de 32, 35 e mais, acima de zero. nossos avós, nossos pais,
escravos do protocolo e da tradição, só saíam de "sobrecasaca".
de "fraque" ou de "jaquetão", chapéu de "côco" de feltro, cola-
rinho alto duríssimo e de luvas, desfazendo-se em suor mas
guardando convenientemente o sorriso.
Apenas há 30 anos passados um médico jamais visitaria
um cliente vestido de linho branco. Êle envergaria sempre o
seu "fraque" de boa lã inglêsa.
Foi a partir de 1920 ou 1925 que esses hábitos decaíram
e desapareceram afinal. Hoje os jovens es próprios olha-
mos, senão sarcàsticamente, com um certo dó para as velhas
gravuras de outrora.
É mister acompanhar a moda es a acompanhamos, aliás
no caso, em nosso benefício. Assim hoje nos vestimos de
acôrdo com as condições climáticas, as estações e as diversas
regiões do território.
(*) Nota: "Os infectados devem ser em número muito maior.
porque esses estudos e esses exameso recentes e inúmeroso os
doentes pelo nosso imenso Brasil, que nada sabem a respeito, além de
que muitos outros, pelos padecimentos que sofrem, estão longe de se
suporem atingidos por tal enfermidade.
A. C A R N E I RO L E Ã O
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
Na zona rural, porém, sobretudo para o trabalhador do
campo, quanto à vestimenta, o costume é diferente, variando
segundo as condições do meio natural.
O mesmo nem sempre poderemos dizer no referente ao re-
gime de trabalho.
A vida no campo, é exato, já por si representa uma
vantagem quando se refere a regime de trabalho. Quer se
trate de agricultura, de criação ou de indústrias extrativas ou
derivadas, o homem vive muito mais ao ar livre, em contacto
com a natureza, do que na maioria absoluta das profissões
urbanas. Em alguns meios, como no Nordeste, nas plantações
de cana-de-açúcar e de algodão, é muito comum verem-se os
trabalhadores de dorso nu, durante o dia inteiro, fixando a
vitamina D pela ação direta do sol. Se a cachaçao lhes
corrói o organismo e a alimentaçãoo é péssima, eles con-
seguem com relativa alegria, viver e sustentar os seus.
Certas regiões do Brasiloo ainda favoráveis à vida
do homem e ai é preciso confessar, o regime de trabalho deixa
muito a desejar.
No Nordeste, entre 3 e 8 graus de latitude sul, e, mais ao
Norte, entre 2 a zero graus, o calor é extenuante, o homem
trabalha em condições insuportáveis para o europeu.
Sem nenhuma organização, na qual as regras estabelecidas
considerem o clima, a higiene, as necessidades do trabalhador,
seu relativo bem-estar e a retribuição equitativa, correspondente
aos seus esforços e à sua produção, nunca se poderá exigir do
matuto e do sertanejo mais do que elesm dado até agora.
Examinemos as várias atividades desses centros: Os se-
ringueiros da Amazônia vivem à mercê de uma natureza em
formação, ameaçados de perigos de toda espécie, inclusive doen-
ças várias. Um teto de folhas, colocado sobre quatro estacas,
sem paredes, lhes serve de habitação. E,o parece necessário
dizer, eles nunca estão acompanhados de suas famílias, juntan-
do-se a solidão a todo aquele infortúnio. É esse um dos mais
ingratos ofícios do mundo.
O "garimpeiro", esse trabalha para resultados aleatórios.
Parte em busca de ouro, diamantes e outras pedras preciosas,
que nem sempre encontra.
No Nordeste, no Leste e no Centro vemos o trabalhador
da gleba,o raro em trabalhos provisórios, com salários in-
A. CARNEIRO LEÃO
certos o vaqueiro, o tropeiro, o pequeno criador, o mascate
percorrendo regiões quase desertas para vender ou comprar
miçangas, miudezas, quinquilharias.
Toda essa pobre gente, sobre quem paira, como um trá-
gico destino, secas devastadoras, inundações catastróficas, ca-
minha a pé léguas e léguas ou se serve de transportes primi-
tivos : carros de boi, burricos, balsas, pirogas.
AÇÃO CRIADORA DO BRASILEIRO
Fora do Brasil, e até mesmo dentro de suas fronteiras
(apesar de tratarmos de países de imigração, com algumas
centenas de milhares de braços estrangeiros pelas regiões do
sul), talvez muita gente suponha que a maior realização, o
coeficiente econômico mais alto venha do trabalho do aliení-
gena. Puro equívoco. Emo Paulo o italiano tem sido
um elemento inestimável no trabalho do campo, mas mesmo ai,
depois de 1930, a entrada desse, como de outros imigrantes
estrangeiros, a princípio em virtude das dificuldades estabeleci-
das por alguns países e depois pela restrição determinada pelo
nosso governo (26) à entrada de estrangeiros no Brasil, desceu
a cifras insignificantes, enquanto o braço nacional afluía sem
cessar. Hoje a economia do grande Estado depende, em larga
escala, das atividades dos filhos de outros pontos do território.
Nos últimos dez anos a quota brasileira foi maior, e saída,
justamente, do Nordeste, no qual p número de brasileiros de
"quatro costados", daqueles que desde os bisavós paternos e
maternos nasceram no país, numa proporção talvez de no-
venta por cento da população total, daqueles que maism
feito pela difusão da cultura, pela disseminação do trabalho,
pela defesa da brasilidade, pela valorização dos confins na-
cionais mais inacessíveis. Referimo-nos às regiões do Mara-
nhão e do Piauí ao Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba,
Pernambuco, Alagoas, Bahia e Sergipe. (*)
(26) Quota por nacionalidade.
(*) Nota: Pela nova classificação das regiões brasileiras Bahia
e Sergipe jáo pertencem ao Nordeste, mas ao Leste Setentrional,
como assinalamos páginas atrás.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
O Nordeste, além de ter sido um dos maiores campeões
das liberdades pátrias, defensor impertérrito da unidade nacio-
nal, expulsando sozinho, franceses do Maranhão e holandeses
da Bahia e Pernambuco, fêz-se cedo o viveiro de homens para
o desbravamento da Amazônia. E, mais ainda, em toda a
parte do território do Acre ao fundo de Mato-Grosso, ao
extremo das fronteiras do Sul lá estão, como elementos de
vida e de atividades: o maranhense, o piauiense, o cearense,
o pernambucano, o paraibano, o rio-grandense do norte, o baia-
no, o sergipano.
Altamente expressiva se nos afigura a descrição que, da
energia, do cavalheirismo, da perseverança beneditina do ser-
tanejo do Nordeste, faz o escritor inglês Cunninghame Graham,
o conhecido eo estimado no Prata e em toda a nossa
América latina, pelos seus estudos magistrais sôbre o gaúcho
e sôbre Bernal Díaz del Castillo. Em seu livro "A Brazilian
Mystic...", já citado, êle escreve: "o sertanejo é enfáticamente
(refere-se ao nordestino) o que o francês chama "un mâle"
um macho. O sangue indígena deu-lhe resistência e uma
paciência sôbre-humana na adversidade. De seus antepassados
brancos êle herdou a inteligência, o amor do individual em
contraposição à liberdade geral, inerente às raças latinas, boas
maneiras e uma forte dose de respeito a si mesmo.o es-
quece nunca um benefício e acaricia um insulto como se fôsse
gema de alto preço... pronto para a desforra quando se lhe
oferece a oportunidade ou quando o inimigo está fora de
sua proteção", (27)
É atestado valioso de tamanha energia descrita pelo es-
critor inglês o tipo clássico do vaqueiro. Suas proezas, atrás
do novilho ou do touro bravio,o se realizam nas praças de
touros com a colaboração dos capinhas e os olhares gulosos das
mulheres, nem mesmo nos pampas amplos e livres, porém nas
caatingas, nos pedregulhos, nos matagais. Uma vez em per-
seguição ao animal, ei-lo, vestido de couro, montado a cavalo,
penetrando nos agrestes e nas capoeiras, deslizando pelas grotas,
montanhas abaixo, montanhas acima, embarafustanto pelos
(27) Vide: Cunninghame Graham (R. B.) A Brazilian Mys-
tic-being the miracles of Antonio Conselheiro. Lincoln Macveagh, The
Dial Press. Incorporated. New York, 1925.
alcantilados, quebrando cipós, arbustos, cardos hostis, desvian-
do-se das galharias e dos troncos do caminho com uma agilidade
de prestidigitador. Colado à montaria, qual um novo "Cen-
tauro", em posturas sui generis, "Centauro", que aindao
encontrou o poeta capaz de lhe cantar a beleza da atitude sem
par. muito mais real e mais humano do que o da mitologia
antiga, o vaqueiro parece pregado, ora ao dorso do animal, ora
a seu ventre, e onde o touro penetra êle penetra, numa dispa-
rada louca, até cansá-lo, derribá-lo, vencê-lo.
O espetáculo é empolgante. Mostra ao espectador as re-
servas daquele corpo franzino e ágil, demonstra de quanto
é capaz aquela força. E trata-se, sobretudo, de uma energia
espiritual, nervosa se quiserem, com acentuação da vontade, da
coragem, da persistência, da paciência, da resignação, uma
resignação ativa, otimista, encorajada pela mutabilidade da
natureza seca, estorricada, abrasadora, hostil, nas longas es-
tiagens, e verde, amiga, acolhedora, logo à chegada das pri-
meiras chuvas. E' a paciência, a resignação fatalista, quase
risonha, que criou o adágio popular naqueles rincões famosos
"não há mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe".
E essa mentalidade curiosa, seo tornou o homem previdente
qualidade das formigas e das criaturas experimentadas
fê-lo sóbrio e capaz da mais extrema resistência física e moral.
Com essa energia física e nervosa, com essas reservas es-
pirituais que tornam o homem religioso ou fanático, num
ambiente propício ao misticismo, familiarizado com a fatalidade
natural que lhe dissipa os rebanhos, com aquela crueldade do
banditismo que lhe infelicita a filha, que lhe destrói a criação,
êle está sempre pronto à penitência para que Deus lhe dê chuva,
lhe ajude a colheita, o proteja, em suma, contra os duendes e
os homens maus. Tudo nesse homem ressuma espiritualidade,
desde o físico ressequido de asceta, até às preocupações, os
sonhos, a poesia brotada das almas e das coisas rústicas e ino-
centes. O folclore, nascido nessas regiões, é simples, in-
gênuo. comovente. Nele ressumbra o travor de uma natureza
inculta, generosa e bravia. Manifesta-seo raro, em repentes
curiosos, nos terreiros enluarados das casas amigas, por menes-
tréis incultos, mas transbordantes de sensibilidade, que se
servem das lendas conhecidas, das superstições dominantes,
A. C A R N E I R O L E Ã O
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
das tradições sertanejas, da fama de um criminoso, da bondade
de um santo padroeiro. Um trovador dos sertões encontra
outro e desafia-o para uma luta, uma peleja poética, ao som da
viola. Essa contenda pode ser mero atestado de imaginação
como pode ser uma sátira. um motejo e até um insulto.
A parte mais interessante dos desafios escreve Gus-
tavo Barroso é a das perguntas enigmátícas para vencer o
adversário, algumas de uma perfeição admirável e de uma
grande beleza poética, com magníficas respostas ao pé da letra":
"O que é que OS olhos,
Que as mãoso podem pegá?
Depressinha me responda,
Ligeiro, sem imaginá"
" Vosmecê, ó meu Sinhô.
Com issoo me embaraça;
Pois é o sol e é lua,
Estrela, fogo e fumaça."
" Sinhô Mané Riachão (*)
Torno outra vez preguntá:
Quatrocentos bois correndo
Quantos rastos deixa:
Tire a conta dê-me a prova
Depressa, para somá",
"Rebanho muna bebi
Comendo tudo num pasto
Dormindo numa malhada,
o mil e seiscentos rasto,
Some a conta, tire a prova,
Que deste pontoo fasto".
Ou este desafio entre Madapolão e Bem-te-vi, conhecidos
repentistas sertanejos;
" Meu velho Madapolão.
Inda te vou preguntá:
O que é que há no mundo
Que anda em terra e no,
Tudo come e nada bebe.
Tem medo de se
(•) Nome de um cantador célebre do sertão do Ceará.
A. CARNEIRO LEÃO
" É um bicho muito quente,
Que Deus no mundo deixou
Tudo come e nada bebe,
Caiu n'água e se apagou." (28)
Aí está uma poética definição de fogo: "Tudo come
e nada bebe, caiu n'água e se apagou."
Ou ainda este gênero de cantador anônimo:
" Cantado que tá cantando,
Acho bom de me dizê
Em riba daquele morro
Quantos capins pode tê?"
"Se a secao matou
E se o gadoo comeu
Em riba daquele morro
Tem os capins que nasceu..."
Essa simplicidade, essa sensibilidade,o raro se desvia
e produz hecatombes. Pedra Bonita, sede memorável de sacrifí-
cios humanos, na primeira metade do século XIX, para provo-
car a ressurreição de D. Sebastião. Rei de Portugal, morto na
batalha de Alcácer-Kebir, em 1578, no intuito de salvar Por-
tugal e Brasil; (29) e Antônio Conselheiro, hirsuto Moisés
sertanejo, vindo do Ceará para uma Canaã ideada, e detendo-se
com sua gente nos sertões baianos, em Canudos, transforma-
dos de súbito em reduto de fanáticos que dizimou batalhões,
o atestados evidentes do que dissemos.
E' a comunhão com a natureza incerta, deturpada pelo
espírito primitivo, pré-lógico, sugestionável ao extremo, do
sertanejo ingénuo e puro que cria e alimenta tudo aquilo. Por-
que a energia do vaqueiro na cavalgada demoníaca pelos chapa-
dões é a mesma do tropeiro na caminhada infatigável, condu-
zindo rebanhos; do almocreve, marchando léguas a pé para en-
tregar missivas; do mascate, varando sertões para vender ou
comprar ninharias; do bandido, no seu destino de desgar-
rado social, cuja desditao raro surgiu numa contenda de
(28) Vide: Gustavo Barroso Terra do Sol, págs. 222 e se-
guintes Livraria Francisco Alves Rio, 1930 e Câmara Cascudo
(Luiz da) Vaqueiros e Cantadores, p. 129 Biblioteca de Investigação
Cientifica Livraria do Globo Porto Alegre.
(29) Vide: Pereira da Costa Folclore Pernambucano, Impren-
sa Nacional, Rio, 1908, Catulo da Paixão Cearense nos seus vários
livros de modinhas e Ferreira Ascêncio em Poemas.
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
honra, numa vindita, em defesa de brios ofendidos eo
justiçados; do fanático, na faina infatigável das penitências; de
populações inteiras, irrequietas e movediças, correndo, céleres
e submissas, ao chamado de um iluminado das brenhas, cons-
truindo igrejas ou provocando revoltas, de "clavinote" ao
ombro, com o nome de Deus nos lábios e a imagem de Nossa
Senhora diante dos olhos.
Imagine-se tamanha energia, tamanha coragem e tamanho
espírito de sacrifício canalizados de maneira construtiva. É a
civilização queo chega até ali ou chega apenas em suas
manifestações exteriores: na exigência do fisco, na impo-
sição da polícia, na apresentação de modelos, cuja cópia, ao in-
s de elevar, deturpa uma cultura original, máscula, promis-
sora, sem lhe oferecer derivativos ou substitutivos conscientes
e úteis.
Essa civilização, que reclamamos, consiste antes de tudo
na facilidade, pelo menos relativa, de comunicação. Nesse
sentido já se apresenta inapreciável o serviço prestado pelo
nosso Exército. Tanto no campo ferroviário quanto no rodo-
viário está sendo grande a sua colaboração.
As estradas de ferro Santiago-São Luís-Cêrro Azul, Pe-
lotas-Santa Maria, Rio Negro-Caxias estão em pleno desen-
volvimento. No tocante às rodovias as realizaçõeso ainda
maiores.
A rodovia Curitiba-Ribeira, com uma extensão de cento e
vinte e quatro quilómetros, terminou em 1938. A de Curitiba-
Joinville, de cento e dez, ficou pronta pouco depois e a de
Ponta Grossa-Foz do Iguaçu, com quarenta, também foi cons-
truída. Várias outras foram melhoradas, alargadas, aumen-
tadas
E o trabalho continua.
Como se, juntamente com o alcance militar das obras
realizadas ou em via de realização pelo Exército brasileiro, há
o valor econômico, social, civilizador, ajustando, enfim, na
comunhão nacional, integrando na civilização, regiões imensas
no território pátrio.
O programa é magnífico. O essencial é podermos contar
com a sua continuação.
Ao lado da comunicação e do transporte fácilm então o
saneamento, o melhoramento da vida familiar, a garantia da pro-
teção do Poder Público, da Justiça barata e eficiente, da
educação afinal.
O PROBLEMA DA EDUCAÇÃO RURAL
A educação rural no Brasil, ante as condições dos dife-
rentes meios naturais, culturais e sociais e as diferenciações
de situação econômica, é problema de grande complexidade.
Sua solução vai depender de estudos preliminares dos ambientes
mesológicos naturais, culturais e sociais, das possibilidades
de comunicação, das facilidades econômicas, das exigências da
vida coletiva nas diversas áreas do país.
No Brasil, como já assinalamos, a diversidade de meios é
o grande que, apesar de sua unidade política, ela indica uma
variedade sociológica considerável.
"O esfôrço que a nossa gente portuguêsa e brasileira desen-
volveu para tomar conta desse território sem par, escreve Vítor
Viana, é um dos feitos mais notáveis da história e honra so-
bremaneira a nossa raça. Os portuguêses do tempo da colo-
nização e os primeiros brasileiros eram como que predestinados
procuravam ampliar a terra conquistada.
Para alargar o domínio foi preciso dispersar a população.
O povoamento intermitente foi, assim, a causa de nossa riqueza
geográfica e de nossa pobreza social. Os homens dispersos,
sem comunicação direta, sem troca de produtos,o progridem,
e assim tivemos e temos núcleos de população que apenas
guardam o patrimônio para os descendentes". (30)
O grupo ligado pela mesma rede patrimonial de cultura,
homogeneizado por ela, desnivela-se e entra em conflito todas
as vezes que dentro dele os "socii" se desentendem... Isso se
verifica, ou em virtude do insulamento motivado pela ignorân-
cia do meio cultural, pela impossibilidade de a êle ajustar-se,
ou pelo contacto com áreas culturais muito diversas. Perce-
bemos logo, facilmente, que educação podemos fornecer se,
(30) Vide: Viana (Vítor) História da Formação Económica
do Brasil, p. 142. Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1922.
A. CARNEIRO LEÃO
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
ignorando as áreas de cultura, buscamos generalizar um modelo,
um tipo único e rígido para as regiões mais díspares. Cada
área de cultura deve possuir sua orientação educativa, seus
currículos, seus programas e até seus métodos e processos,
assentados na realidade ambiente, na filosofia da vida do
grupo respectivo. E se a educação, é, largo sensu, um con-
junto de modificações provocadas no indivíduo, visando ajus-
tá-lo à comunidade humana através de seu grupo,o é
provável empreendê-la sem o reconhecimento das determi-
nantes culturais dos diferentes meios. Essa política educa-
cional nada tem de restritiva. A mobilidade crescente dos
socii, quer horizontal, para outros locais, quer vertical, para
outras profissões, outros regimes de vida, outras áreas de
cultura, em nada os compromete. Ao contrário, quando
a educação é feita na direção do crescimento individual,
corresponde às necessidades funcionais, aos interesses reais
do indivíduo, a mudança ou a ascensão se facilita. O fato é
muito mais plausível se a escola está encarando de preferência
os problemas dos alunos antes em correspondência com fatos
concretos, filhos do ambiente ou pelo ambiente condicionados,
do que de abstrações ou preocupações estranhas ao indivíduo
e ao grupo.
Quem se educa por tais processoso contraria seu cres-
cimento e sim aumenta suas possibilidades naturais, aperfeiçoa
sua capacidade, melhora sua habilidade, desenvolvendo e revigo-
rando seu potencial, tomando-se mais apto a ajustar-se noutros
meios do que se fosse comprometido por uma escola inteira-
mente alheia às suas fôrças latentes e aos seus próprios proble-
mas. Contanto que a mobilidadeo se faça para ambientes so-
ciais e culturais muito acima ou muito abaixo de suas possibili-
dades, o reajustamento é sempre possível. Em suma: educar o
indivíduo conforme suas imposições vitais, solucionando-lhe os
problemaso será nunca um empecilho à transferência para
meios melhores, para carreiras mais altas, uma vez que os
meios e as carreiraso entrem em conflito com as aptidões e
as possibilidades individuais.
A educação rural deve ser encaminhada de modo a levar
de um lado o indivíduo a controlar-se e modificar-se a si mesmo.
de outro a controlar e modificar o meio. Todo processo edu-
cativo que contrarie a quádrupla realidade indivíduo, meio
físico, meio social e meio cultural transforma-se em desin-
12
A. CARNEIRO L E Ã O
tegração no indivíduo, em desadaptação no ambiente natural,
em desajustamento no grupo.
O esfôrço de um número escasso de indivíduos para povoar
um território da imensidade do nosso, produziu uma diversidade
de culturas, algumas insuladas, ciosas de suas características e
francamente hostis. O esfôrço civilizador da escola será o
único capaz de conciliar, unindo, numa aspiração comum de
progresso e de grandeza, todas as regiões por mais disse-
melhantes.
Nossa primeira necessidade, se quisermos construir uma
nacionalidade eficiente, com o objetivo de revigorar o poder
central medida indispensável a um espírito brasileiro, uno
e inteiriço é demarcar e estudar as principais áreas de
cultura, por todo o nosso território. Já começamos a traba-
lhar cientificamente com tal objetivo. Homens de estudo, so-
ciólogos e o próprio Governo, sobretudo pela "Secção de
Pesquisas Econômicas e Sociais" do Ministério da Agricultura,
investigam e agem no sentido do conhecimento exato das exi-
gências e possibilidades de cada região.
Por esse caminho, de posse das informações necessárias e
inteligentemente controladas, será possível determinar para cada
meio a educação mais conveniente. E se, como escreve Eucli-
des da Cunha, o sertanejo, mais do que qualquer outro homem,
está em função imediata da terra, como procurar educá-lo, ajus-
tá-lo à civilização sem o conhecimento exato do meio natural e
do meio cultural com o qual ele se vem identificando há quatro
séculos ?
Quatro séculos, quatrocentos anos de luta corpo-a-corpo,
com as negaças de um solo incerto, ora de uma fertilidade de
Canaã, ora de uma esterilidade de Saara, deram a essa gente, a
consciência cósmica, a marca mesológica física e cultural
só conhecida pelos filhos dos velhos povos asiáticos, milenar-
mente chumbados à terra dos antepassados comuns, sem mobili-
dades nem deslocamentos traiçoeiros.
Nenhuma educação será possível aí sem a visão precisa
do meio natural e da área de cultura.o é que se busque
circunscrever a educação às exigências de uma região, mas
ter sempre presentes tais exigências. O que se quer é o apro-
veitamento inteligente do meio natural, a adaptação do ser hu-
mano a seu "habitat" de modo a desenvolver-lhe ao máximo a
capacidade de fixação, a habilidade de exploração do solo para
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
a criação, em qualquer meio e em qualquer "área de cultura",
de uma vida social variada e progressiva.
A educação rural queo dê a consciência da terra, de sua
terra,o prepare a sociedade para defender-se das ciladas do
ambiente natural, conhecendo e dominando suas forças,o
ponha à disposição do homem os elementos capazes de fazê-lo
assenhorear-se das riquezas minerais, vegetais e animais de sua
região,o o ensine a elevar o ambiente material e moral de
seu lar,o o solidarize num companheirismo construtivo,o
lhe ofereça possibilidades de defender a saúde, de aumentar o
vigor físico, de bastar-se a si e aos seus, de socializar-se, de
recrear-se, de participar, em poucas palavras, da civilização de
seu tempo em seu meio,o merece o nome de educação.
E nenhum ambiente, nenhuma psicologia, comportamento
algum mais acorde ao amor pátrio, ao culto das tradições e dos
antepassados, mais conservador dentro dos imperativos nacio-
nais do que os da sociedade rural.
Enquanto as cidades litorâneas, as capitaiso cosmopoli-
tas, o campo e o sertão, em virtude da distância social inevitá-
vel, do isolamento forçado, por mais que a comunicação se
faça, permanecem conservadores. A tarefa da educação é
aproveitar no bom sentido essa fonte espontânea deo nacio-
nalismo. de nacionalismo acolhedor, consciente de suas pos-
sibilidades e virtudes. Nacionalismo que aceita a colaboração
de outras etnias, que a solicita, maso tolera quistos raciais,
o admite propagandas antiassimiladoras.o resume sua
aspiração em produção econômica e crescimento numérico da
cifra censitária, porque quer o desenvolvimento, o aperfeiçoa-
mento e a perpetuação de suas qualidades naturais e espirituais,
de sua própria cultura, dentro do espírito e da cultura inter-
nacionais.
No Brasil necessitamos agir. e agiro esquecendo os
problemas fundamentais da educação rural, que são:
1) conservar nos indivíduos a máxima vitalidade física,
mental, atendendo às aptidões, aos interesses e às possibilidades
de todos;
2) ajustar as atividades curriculares e extra-curriculares
às necessidades do ambiente natural e cultural, profundamente
variáveis de um a outro extremo do Brasil;
3) adaptar e ajustar os "socii" a seu meio físico e a seu
grupo, em todas as regiões do interior.
A. CARNEIRO LEÃO
O PROBLEMA DO PROFESSOR
Aqui o problema do mestre é dos mais graves. Os pro-
fessores mandados para as zonas rurais estudaram na capital
ou nas grandes cidades do interior.o cidadãos urbanos, se
assim podemos expressar. Vivem alheios aos problemas com
que se defrontam, à vida que os cerca, às necessidades que os
circundam, ao destino e à felicidade dos alunos e da comunidade.
o estranhos e em regra estranhos querem permanecer.
A "área cultural", na qual estão vivendo, apresenta antago-
nismos desconcertantes com a "área cultural" de onde vieram.
As necessidades e possibilidades do meio físico e socialo
integralmente ignoradas. Incapazes de solverem sequer um dos
problemas que preocupam aquela gente, de contribuírem para
ajustá-los ao grupo, para melhorar a vida doméstica, para
aumentar o bem-estar geral, no mínimo eles passam incólumes
em suas trajetórias. Tamanhas dificuldades aumentam pela
impropriedade dos currículos organizados com maior ou menor
rigidez, incapazes de serem ajustados às variáveis condições
do interior.
O provimento do cargo de professor da escola ruralo é
fácil se quisermos realmente uma educação consoante às neces-
sidades do meio. E se é difícil obter o professor primário, de
aspirações modestas, imagine-se o professor secundário e pro-
fessor de escola de formar professores?!
O problema é complexo e mais de um administrador bra-
sileiro tem tentado uma solução.
No caso ocorrente duas medidas se impõem: a primeira
é a renovação do mestre em atividade, a segunda a preparação
do mestre por vir.
Para a primeira medida faz-se mister a organização de
cursos de aperfeiçoamento, dos quais constituem modelos a
examinar, para adaptações convenientes, as missões mexicanas;
para a segunda, instalação de escolas normais, em regime de
internato e com currículos e programas adequados.
Na reforma da Educação, no Estado de Pernambuco em
1928, encaramos o problema de frente, recomendando a fun-
PANORAMA SOCIOLÓGICO DO BRASIL
dação de internatos para formar o magistério rural com os
próprios filhos do campo e do sertão. (31)
CONCLUSÃO
Seja porém comor a organização da educação rural no
Brasil deve ser precedida de uma ampla pesquisa em todas as
zonas do interior.
Do extremo Norte ao extremo Sul, comissões de pesquisa-
dores, compostas de educadores, de médicos, de higienistas, e
de agrônomos, dirigidas por sociólogos, afeitos à técnica de
"trabalhos de campo", estudarão, em todos os sentidos, as di-
versas regiões do território. A sondagem compreenderá os
meios naturais, sociais e culturais, único processo de delimitar
"áreas de cultura", norteadoras de uma obra de educação rea-
lista e eficaz.
Em primeiro lugar far-se-á um exame atento da literatura
existente sobre cada região, principalmente no ponto de vista
da história social, sanitária e econômica do meio.
O primeiro passo depois será a preparação de mapas da
natureza física. Onde houver cartas geográficas, construídas
por circunscrições administrativas, as comissões poderão apro-
veitá-las como ponto de partida para o estudo a iniciar, sem
esquecer, entretanto, os objetivos da pesquisa, ou seja: deter-
minação da "área de cultura". As "cartas" indicarão as con-
dições naturais de cada zona: topografia, hidrografia, climas,
condições do solo e sua classificação, estradas e situação
sanitária.
O segundo passo será a construção de mapas de "áreas de
cultura" dando:
a) densidade da população geral e escolar;
b) tipos predominantes de habitação;
c) processos de defesa da saúde;
d) existência de médico, dentista, farmácia;
e) centros agrícolas e comerciais mais próximos;
(31) Vide: Carneiro Leão (A.) Organização da Educação em
Pernambuco, pág. 64 Imprensa Oficial Recife, 1929 e "Planejar
e Agir", p. 155 e seguintes, Rio, 1942.
A. CARNEIRO L E Ã O
f) local da igreja e sua influência socializadora e re-
creativa ;
g) local da escola e sua ação sôbre o meio, conceito que
desfruta entre os alunos, os pais e a comunidade em
geral.
O terceiro e último passo será realizar entrevistas e inqué-
ritos entre os habitantes das diferentes regiões com o fim de
determinar-lhes os sentimentos, a mentalidade, a capacidade, as
habilidades, as aptidões, as atitudes, as aspirações.
Só assim se conseguirá, ao tentar-se algum esfôrço em prol
dos sertões, em prol dos nossos meios rurais, deixar de fazer
obra de desajustamento. Só assim se poderá evocar, com a
certeza de construção efetiva, a ação das diferentes instituições
educativas: escola, igreja, imprensa, biblioteca, associações,
cinema e rádio.
A mentalidade brasileira está felizmente ganhando maior
consciência da gravidade dos problemas na sociedade rural.
A campanha de pensadores, educadores e associações de
educação, assistência e cultura começa a atrair a atenção das
autoridades. O problema consiste agora em elaborar planos
exequíveis.
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ACKERS (C. E.), pg. 177.
ADAMS (James Truslow), pg. 177.
AGASSIZ (Luís e Elisabeth Caray),
pgs. 60, 149, 177.
ALBERDI (Juan B.), pgs. 46, 47, 177.
ALBUQUERQUE (Jerónimo de), pg.
73.
ALCIBÍADES, pág. 134.
AI.EXANDER (Frank D. e Lowrie
N.), pág. 177.
ALHAN (U.), 185.
ALVAREZ (Augustin), págs. 18, 84,
177.
ALMEIDA (José Américo de), págs.
64. 177.
AMARAL (Luis), pg. 177.
AMARAL (Braz do), pg. 177.
AMARAL (Luís), pág. 177.
ANCHIETA (Padre José de), pg. 104.
ANDRADE (Almir de), pgs. 55, 177.
ANGOULVENT (Paul), pg. 12.
ANTONIL (André João), pg. 177.
ANTONIO (Padre), pg. 59.
APHIALTO, pg. 134.
APOLO. pg. 118.
ARANHA (Graça), pg. 64, 177.
ARAÚJO (Orestes), pgs. 94, 103,
104. 177.
ARAÚJO JORGE (A. C), págs. 84,
177.
Araújo LIMA. págs. 64, 177.
ARINOS (Afonso), pgs. 17, 59, 177.
ARISTIDES, pág. 334.
ARISTÓTELES, pgs. 50, 116, 121, 135.
ARRUDA CÂMARA
(Manuel de), pág.
101.
ASPASIA, pg. 118.
Ayarragaray, pg. 178.
AZEVEDO (Thales de), pg. 178.
AZEVEDO (Fernando de), pgs. 15,
18,52, 54, 178.
AZPICUELTA NAVARRO, pág. 104.
B
BAEUMLER (Alfred), pg. 126.
BANDEIRA DE MELO (Afonso To-
ledo), pg. 178.
BARBARÁ, pg. 161.
BARBOSA (Lima), pág. 178.
BARBOSA (Lima Sobrinho), pág.
178.
BARBOSA (Rui), pgs. 88. 111. 178.
BARRETO (Castro), pgs. 60, 154.
BARRETO (Tobias), pgs. 38, 44. 50.
BARROS (Jaime de), pág. 178.
BARROSO (Gustavo) pgs. 17, 30, 59,
66, 167, 168, 178.
BASTIDE (Arbousse), pg. 54.
Bastide (Roger). pgs. 18, 54. 61,
178.
BASTOS (D'Ávila), pág. 178.
BEARD (Charles), pg. 178.
BECK (James), pg, 178.
BEGTRUP. pgs. 77, 178.
BELLO (Andrés), pgs. 46, 111.
BELLO (Júlio), pgs. 60, 178.
Bem-te-vi, pg. 167.
BENTO (São), pg. 136.
BERGEL (Egon Ernest), pg. 178.
BERNOUILLI, pgs. 132. 133.
BEVILÁQUA (Clovis), pgs. 41, 44,
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BITTENCOURT (General), pág. 61.
BLÁSQUEZ (Antônio) pg. 104.
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BLONDEL (Charles) pgs. 15, 179.
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BOLÍVAR pg. 107.
BOLL (Marcelle et André), pgs. 80,
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BONAPARTE, pgs. 107, 116.
BOULE, pg. 127.
BOSSARD (James H. S.), pg. 179.
BRANDÃO (Ulisses), pág. 179.
BRANNER (John Gasper), pg. 60.
BRIOT, pg. 127.
BROWNSON (C. A.), pg. 179.
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BRUNEAU, pg. 179.
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BRYCE (James), pág. 179.
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CARNEIRO
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W
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guro), pg. 194.
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WILHELM (Theodor), pg. 126.
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Wolf (Paulo), pg. 60.
WORMS (René), pg. 195.
WRIGHT (Mário Robinson), pg. 195.
Y
YEPES (J. M.), pg. 195.
Z
ZABRE (Afonso Teja), pág. 195,
ZIMMERMAN, pgs. 21, 24, 37, 195.
ZOLA (E.), pg. 135.
ZUM FELDE (Alberto), pgs. 45, 195.
APÊNDICE
TRECHOS DE ALGUMAS CRÍTICAS SÔBRE A
EDIÇÃO FRANCESA DESTE LIVRO
O Sociólogo que sois, senhor dos melhores métodos científicos e
forte da experiência do administrador, que manejou, diretamente a rea-
lidade social, mas em quem as urgências da prática nunca adormeceram
o filósofo e o moralista, nos apresenta uma análise singularmente
evocativa de todos os problemas, a um tempo diversos e idênticos, que
situam o meio urbano e o meio rural em suas condições e em suas
exigências próprias.
GEORGES DAVY
Do Instituto de França
Doyen Emérito da Faculdade de Letras
de Paris.
Da Real Academia da Bélgica.
Jornal do Brasil, 8 de fevereiro de 1953.
* * *
Li esse grande livro e achei-o luminoso,o apenas no que
concerne à sociologia no Brasil, como também no tocante a numerosos
e importantes problemas sociológicos gerais.
PlTIRIM SOROKIN
Chefe do Departamento de Sociologia
da Universidade de Harvard.
Jornal do Brasil, 25 de agosto de 1953.
* * *
Ninguém de boa fé deixará de reconhecer nesse "Panorama Socio-
logique du Brasil" um honesto esforço de síntese em que se reafirmam
a inteligência, o saber e o fervor de um mestre de mestres em assuntos
de Pedagogia e de Sociologia da educação no Brasil de hoje.
GILBERTO FREIRE
Jornal do Brasil, 13 de maio de 1953.
* * *
"Panorama Sociologique du Brésil" dignifica as letras universitárias
e as projeta para além de nossas fronteiras estreitas na vastidão e na
complexidade da crise moderna.
PEDRO CALMON
Da Academia Brasileira e da Academia
de Ciências de Lisboa Da Real
Academia Espanhola Reitor da
Universidade do Brasil
Da apreciação de Pedro Calmon na Acade-
mia Brasileira.
* * *
'Panorama Sociologique du Brésil" confirma o grande prestígio
<le que goza Carneiro Leão na sociologia americana e mundial que
tanto lhe deve pelos múltiplos, variados e profundos trabalhos que ele
tem publicado cm diversos países.
Professor
MOISÉS POBLETE TRONCOSO
Diretor do Seminário de Ciências
Econômicas e Sociais do Chile.
* * *
Em " Panorama Sociologique du Brésil" estuda Carneiro Leão a
evolução da sociologia com uma cópia imensa de dados e uma penetra-
o psicológica que lhe permite chegar a uma síntese admirável, alta-
mente demonstrativa.
GREGORIO ARAOZ ALFARO
Da Academia Argentina e da Academia
Brasileira.
"A Noite", 25 de maio de 1953.
* * *
Eis um livro de interesse para todos, particulamente para os que
nos inclinamos com simpatia em penetrar as realidades e os problemas
da Latino-América.
Professor
JUAN MANTOVANI
Ex-Ministro de Educación, República
Argentina.
Junho de 1953
* * *
Este livro está escrito em forma clara, substanciosa e num estilo
a um tempo magistral e vivo. Suas concepções sociológicas e filosóficas
refletem a autêntica personalidade de pensador que medita serena e inte-
ligentemente sôobre o passado e o porvir de nossos países.
EUGÊNIO PEREIRA SALAS
Universidade do Chile 15 de julho de 1953.
* * *
Que belo serviço prestou Carneiro Leão com o seu esplêndido
'Panorama Sociologique du Brésil!" Clareza, erudição, cultura apurada.
ROQUETE PINTO
Da Academia Brasileira.
Rio, 8 de maio de 1953.
* * *
Estas lições foram pensadas com o acento vivo da confiança no
valor e eficácia dos conhecimentos sociológicos; por um lado, pela
fundamentação científica, informam e explicam, e por outro, pelo desen-
volvimento teórico c pelo ditame pragmático, animam e incitam. Tanto
basta para aconselhar que essas lições alcancem também o auditório da
língua portuguesa, vindo a público na linguagem em que foram
pensadas.
JOAQUIM DE CARVALHO
Da Academia de Ciências de Lisboa
Professor de Filosofia da Univer-
sidade de Coimbra.
" O Jornal" Rio, 14 de fevereiro de 1954.
É um prazer tomar conhecimento do fato de que obra desse alto nível
cultural constitui objeto de um curso feito por um brasileiro na velha,
respeitável e tradicional Sorbonne de Paris.
MAURÍCIO DE MEDEIROS
Da Academia Brasileira Professor
Emérito da Universidade do Brasil
Ministro da Saúde.
Gazeta deo Paulo, 22 de maio de 1953.
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A descrição das nossas origens, raciais e culturais, toda a estática
da sociologia brasileira é feita neste livro como de mestre, numa
linguagem clara, límpida, aprendida dos bons escritores franceses, Mon-
taigne, Renan e Anatole France, que ele cita.
BENEDITO COSTA
Cônsul Geral do Brasil em Cannes.
"O Jornal", 28 de junho de 1953.
* * *
É verdadeiramente uma admirável vista do conjunto de toda a vida
política, social e cultural do Brasil, que aí se tem e num esforço de síntese
que por si só dá impressionante testemunho do extraordinário domínio
do autor sôbre a sua matéria...
OLÍVIO MONTENEGRO
"O Jornal", 12 de abril de 1953.
* * *
"Panorama Sociologique du Brésil" é um dos belos trabalhos do
Sr. Carneiro Leão e uma das mais apreciáveis meditações sociológicas
da nossa literatura.
JOAQUIM TOMÁS
Critico do Jornal do Brasil,
"Jornal do Brasil" 20 de abril de 1953.
* * *
O " Panorama" representa, sob certos aspectos a concentração su-
blimada de trabalhos e pesquisas anteriores do autor, superados nessa
obra pela concisão expositiva e pela elevação dos conceitos. Um livro
riquíssimo, digno da biblioteca dos estudiosos de qualquer nação.
CELSO KELLY
Presidente do P. E?. N. Clube Brasileiro.
"A Noite", 21 de março de 1953.
* * *
Com o brilho de sua inteligência, que costuma dar ainda maior
realce a uma magnífica cultura e com a vivacidade e clareza de expressão
que todos lhe reconhecem, o ilustre Diretor da Faculdade Nacional de
Filosofia da Universidade do Brasil obteve o maior sucesso que se
poderia esperar, entre os aplausos e referências elogiosas de um meio
onde predomina a mais alta cultura.
MÁRIO DE LIMA BARBOSA
"Jornal do Comércio", Rio, 26 de abril de
1953.
* * *
Trata-se de uma obra séria e que passa a ter seu lugar na bibliografia
sôbre a matéria, no plano internacional.
MÁRIO GUEDES
" Jornal do Comércio" Rio, 19 de fevereiro
de 1953.
* * *
Pode dizer-se, sem medo de errar, que esta obra vai ficar como um
<los momentos culminantes da pesquisa sociológica em nosso país. Com
ela o eminente educador afirma, de maneira indelével, seu lugar entre
os mais notáveis cultores da sociologia na América latina.
BERILLO NEVES
"Jornal do Comércio", Rio, 22 de março de
1953.
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Toda a obra de Carneiro Leão, começada na ebulição criadora do
Recife, é uma aliança feliz entre o gosto da pesquisa e a arte do
pensamento, nunca faltou às realizações de seu espirito aquele suco
filosófico, aquele caldo doutrinário que vitalizam idéias e iniciativas.
(Do voto de felicitações enviado ao autor de "Panorama" pela
Associação Brasileira de Educação).
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO
Em 25 de maio de 1953.
* * *
Servido por abundantes conhecimentos históricos, geográficos e
filosóficos, o Sr. Carneiro Leão traça um resumo da evolução polí-
tica social e cultural das Américas...
PLÍNIO BARRETO
" O Estado deo Paulo", 3 de maio de
1953.
* * *
Lm trabalho de síntese da natureza de "Panorama Sociologique
du Brésil" exige aquilo que Carneiro Leão tem como raros — a longa
experiência, a profunda intimidade com o assunto, e, por isso mesmo,
o poder de traduzir seu pensamento com perfeito domínio da expressão.
ODILO COSTA FILHO
Do "Diário de Notícias", Rio, 24 de maio
de 1953.
* * *
O livro de Carneiro Leão dá em geral a noção da grande resso-
nância que os estudos sociológicos alcança em nosso País.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO
Recife, Pernambuco, 26 de junho de 1953.
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O livro de Carneiro Leão é modelar. Mereceo só ser lido, como
difundido.
PAULO TACLA
"Vanguarda", 21 de janeiro de 1954.
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"Panorama Sociologique du Brésil" é uma obra singular pela
erudição o pela notável propriedade dos conceitos nêle emitidos. É uma
honra para a cultura nacional.
FLÁVIO LACERDA
Reitor da Universidade do Paraná.
6 de junho de 1953.
* * *
Trata-se de um esforço de síntese verdadeiramente admirável no
sumariar o panorama completo de nossa evolução sociológica, no tracejar
o método a seguir no assunto, constituindo a mais perfeita consideração
no versar a matéria.
MÁRIO PINTO SERVA
Do Jornal do Comércio Rio, 28 de junho
de 1954.
* * *
Esta obra sintesis de las ideas sociológicas de A. Carneiro Leão,
contribuye luminosamente a facilitar la búsqueda de los valores uni-
versales que subyacen en el regionalismo del Brasil, y, a su vez, pre-
senta a dicho pais como um mosaico geográfico y social que, a pesar de
los típicos acentos regionales, logra configurar el universo unitário de
una poderosa y creadora civilización tropical.
DANIEL D. VIDART
Montevideo "El Plata" 16 de junho
de 1953.
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Fuera de la precisión del método y la distribuición armoniosa de
los temas, se vé una sólida erudición que fundamenta todo su libro.
La apreciación de los fenómenos sociológicos tanto en lo que se refiere
a nuestro .continente en general, quanto al Brasil en particular, es muy
cabal y responde a las realidades históricas.
ESTE LIVRO FOI COMPOSTO E IMPRESSO
NAS OFICINAS DA EMPRESA GRÁFICA DA
"REVISTA DOS TRIBUNAIS" LTDA., A RUA
CONDE DE SARZEDAS. 38,O PAULO,
EM 1957.
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