Nao é assim também que se deva colocar uma disjun
tiva entre conhecimento e estratégia política, como se um deves_
se ser mais relevante que a outra. A estratégia política não po-
deria tornar subserviente o conhecimento, e vice-versa, até por-
que no fundo temos o mesmo problema na mão, se é verdade que en-
tre saber e poder existe relação mais profunda do que se imagina
corriqueiramente. Evitar a deturpação ideológica excessiva é pro
jeto científico fundamental, mas isto não coibe a montagem de uma
estratégia política, até porque sua negação é uma péssima
estraté-gia. Ê que somos seres políticos inevitavelmente, mesmo
quando imaginamos estar fazendo a pesquisa mais pura.
Assim, reclamar que a pesquisa não é levada em con
ta pelo decisor, pode ter sua razão de ser, mas pode também reve-
lar falta de estratégia, que significa no fundo o pacto da não-de
cisão, É pelo menos ingênuo pensar que o mundo se move apenas por
idéias, com teorias, com levantamentos. E isto recoloca a ques_
tão da qualidade política do pesquisador, no sentido de se inda-
gar se de fato quer mudança, e qual. Falta competência políti-
ca, onde muitas vezes abunda a competência técnica formal.
Neste contexto, sao relevantes as metodologias al-
ternativas , envolvidas com a ligação necessária entre teoria e
pratica. Como sempre, há incríveis banalizações, desde os ativis_
mos baratos e fanáticos, até a despreocupação irresponsável com
passos metodológicos, a título de uma dialética que é tudo e na-
da. Mas possuem um mérito fundamental, que é o de calcar a liga-
ção vital entre conhecer e mudar, dentro de uma estratégia políti
ca de ação. Ou seja, mostram que o pesquisador não é um papel so
cial mais fundante, do que o papel de cidadão, na qualidade de
ator consciente na sociedade histórica. A transformação social
provém muito mais facilmente da cidadania organizada, do que da
pesquisa formalmente correta. Assim, falta muito mais cidadania,
do que pesquisa, ainda que esta contraposição seja mais artifi-
cial que real (1).
(1) - P. FEYERABEND, Contra o Método, Fr. Alves, 1977. D.L.
PHILLIPS, Abandoning Method, Jossey-Bass Publishers, 1973,
F. CAPRA, O Ponto de Mutação - A ciência, a sociedade e a
cultura emergente, Cultrix, 1986. P. Demo, Ciências Sociais
e Qualidade, Ed. ALMED, S. Paulo, 1985.