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Presidente da República Federativa do Brasil
Itamar Augusto Cautiero Franco
Ministro da Educação e do Desporto
Murílio de Avellar Hingel
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PROPOSTAS DE TRABALHO
PREMIADAS
VII CONCURSO
1994
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO
Secretaria de Educação Fundamental
Departamento de Políticas Educacionais
Coordenação Geral do Magistério
PROPOSTAS DE TRABALHO
PREMIADAS
VII CONCURSO
1994
Brasília, dezembro de 1994
Secretário Executivo
Antonio José Barbosa
Secretária de Educação Fundamental
Maria Aglaê de Medeiros Machado
Diretor do Departamento de Políticas Educacionais
Célio da Cunha
Coordenadora Geral do Magistério
Marília Miranda Lindinger
SUMÁRIO
Pág.
APRESENTAÇÃO ...............................................................................07
- "CONSTRUTIVISMO PERSPECTIVA DE EDUCAÇÃO PARA
O HOMEM DO TERCEIRO MILÊNIO - Escola fundamental -
um projeto coletivo em busca da qualidade e cidadania", de
Marizeth Ribeiro da Costa Miranda, Sérvia Diniz Pinheiro
e Marilda de Fátima Araújo, Brasília - DF.........................................09
- "NOSSO PROJETO: UMA PROPOSTA PARA A FORMAÇÃO
DE UM NOVO CIDADÃO", de Edlamar Oliveira dos Santos,
Edlauva Oliveira dos Santos, Maria da Conceição Pereira,
Zilene Duarte de Lucena, Boa Vista - RR....................................... 235
- "A INSDÚSTRIA CULTURAL E A ESCOLA - Escola fundamental
- um projeto coletivo em busca de qualidade e cidadania", de
Sinara Maria Gomes Verardi, Esteio - RS...................................... 333
APRESENTAÇÃO
A oferta de uma educação pública de qualidade para todos, com
vistas a formar cidadãos conscientes e críticos, é um desafio que tem mobiliza-
do esforços tanto do governo quanto da sociedade.
Com o objetivo de incentivar a renovação da prática docente e a
valorização do professor pela melhoria de sua competência técnico-pedagógi-
ca, o MEC, desde 1987, vem promovendo o Concurso Prêmio 15 de Outubro
que visa identificar e divulgar experiências exitosas de professores do Ensino
de 1º grau.
Nessa perspectiva, a Secretaria de Educação Fundamental tem gran-
de satisfação em apresentar à comunidade educacional a presente publicação
que registra os trabalhos premiados no VII Concurso Prêmio 15 de Outubro cujo
tema foi "Escola Fundamental - Um Projeto Coletivo em Busca de Qualidade e
Cidadania".
Intitulado "Construtivismo - Perspectiva de Educação para o Ho-
mem do Terceiro Milênio" o primeiro lugar apresenta um trabalho de alfabetiza-
ção centrado na valorização das vivências do aluno e no aspecto lúdico da
aprendizagem, onde se percebe no professor o prazer de ensinar e no aluno, o
prazer de aprender.
O segundo lugar coube ao trabalho "Nosso Projeto: Uma Proposta
para a Formação de um Novo Cidadão" que propõe, por meio da integração de
conteúdos, da leitura crítica da realidade, de atividades em grupo e de ativida-
des extraclasses, a integração dos alunos com a comunidade. O trabalho evi-
dencia igualmente a motivação prazerosa que se desencadeia ao longo do pro-
cesso educativo.
"A Indústria Cultural e a Escola", trabalho que obteve a terceira colo-
cação, relata e sugere atividades que visam ao desenvolvimento da análise
crítica dos alunos ante a influência exercida pela mídia impressa e eletrônica.
Espera-se que esta publicação contribua para o repensar das práti-
cas pedagógicas e que, sobretudo, desperte o interesse dos professores em
criar coletivamente novas propostas a partir de sua própria realidade.
MARIA AGLAÊ DE MEDEIROS MACHADO
Secretária de Educação Fundamental
7
LUGAR
CONSTRUTIVISMO
PERSPECTIVA DE EDUCAÇÃO PARA
O HOMEM DO TERCEIRO MILÊNIO
"Escola fundamental - um projeto coletivo em busca da qualidade
e cidadania"
Marizeth Ribeiro da Costa Miranda
(Hortênsia) Sérvia Diniz Pinheiro
(Orquídea) Marilda de Fátima Araújo
(Primula)
Distrito Federal
1994
MENSAGEM
"PARA VOCÊ ME EDUCAR
você precisa me conhecer,
precisa saber de minha vida,
meu modo de viver e sobreviver;
conhecer a fundo as coisas nas quais eu creio
e às quais me agarro nos momentos de solidão,
desespero, sofrimento.
Precisa saber e entender
as verdades, pessoas e fatos
aos quais eu atribuo forças superiores às minhas
e aos quais me entrego
quando preciso ir além de mim mesmo.
PARA VOCÊ ME EDUCAR
precisa me encontrar lá onde eu existo,
quer dizer, no coração das coisas,
nos mitos e nas lendas,
nas formas originais e fantásticas,
na Terra, nas estrelas,
nas forças dos astros, do sol e da chuva.
PARA VOCÊ ME EDUCAR
você precisa estar comigo onde eu estou,
mesmo que você venha de longe e
que esteja muito adiante.
Só há um adiante para mim:
aquele que eu construo e conquisto.
Só há uma forma de construí-lo:
a partir de mim mesmo e do meio em que vivo.
PARA VOCE ME EDUCAR
precisa compreender a cultura do contexto
em que se dá meu crescimento.
Pois suas linhas de força
são as minhas energias.
Suas crenças e expectativas
são as que passam a construir
o meu credo e as minhas esperanças.
Mas eu também estou aberto para as outras culturas.
Identidade cultural não significa
prisão ao espaço que ocupo.
mas abertura ao que é autenticamente nosso
e ao que, vindo de fora, nos pode fazer mais nós mesmos.
A cultura universal é produto de todos os homens.
Mas como posso contribuir com essa fraternidade
se não construí o meu Eu
e não tenho minha expressão cultural própria?
A educação de que eu necessito
é aquela que me faz mais eu,
que desperta, do mistério de meu ser,
as potencialidades adormecidas.
É uma educação que promove
minha identidade pessoal.
Eu me educo fazendo cultura
e nesse ato de geração cultural
eu construo minha educação,
conquisto o meu ser, na relação dialógica
HOMEM/NATUREZA".
12
CONSTRUÇÃO
ORIGINALIDADE
NATURALIDADE
SOLIDARIEDADE
TRABALHO
RESPEITO
UNIÃO
TROCA
INVENÇÃO
VIVÊNCIA
INTELIGÊNCIA
SOLICIALIZAÇÃO
MOTIVAÇÃO
OPORTUNIDADE
SUMÁRIO
Pág.
- Introdução ........................................................................................19
Construir é viver...............................................................................20
- Aprender ou conhecer?
Professor ou Educador?...................................................................21
- A importância da interação social em busca da autonomia................24
- Eu não sou você
Vocêo é eu ..................................................................................25
- Alfabetização e Escola.....................................................................29
- Expressão escrita.............................................................................31
- As concepções iniciais da escrita pela criança..................................36
- Registro de experiências..................................................................43
- Produção de texto ............................................................................47
- O texto..............................................................................................49
- As funções comunicativas do texto....................................................51
- Gramática do texto...........................................................................53
- O que é linguagem...........................................................................57
- O ato de ler ......................................................................................59
- O papel da interação no desenvolvimento da linguagem...................61
- O respeito à linguagem da criança e à norma padrão........................62
- Construir sempre..............................................................................64
- Avaliação numa perspectiva construtivista........................................65
- Relato da nossa experiência.............................................................71
- Detalhando atividades:
. Valorizando o nome .......................................................................91
. Cruzadinha dos nomes..................................................................92
. Lidando com letras.......................................................................110
. Sentindo o prazer da ação ...........................................................119
. Construindo palavras ...................................................................120
. Descobrindo em grupo.................................................................136
. Explorando© corpo......................................................................137
. Construindo atras de recorte e colagem ...................................138
. Convivendo com os rótulos.......................................................... 143
. Divulgação de produtos................................................................144
. Hora das compras........................................................................144
15
.Cruzadinha ...................................................................................144
. Criando recadinhos.......................................................................147
. Homenageando as mães..............................................................147
. Trabalhando com textos diversos .................................................148
. Vivendo momentos históricos.......................................................149
. Enfeitando a porta da sala de aula...............................................156
. Preparando o colorido jogo de argolas.........................................157
. Brincando com o ar......................................................................157
. Integrando conteúdos...................................................................158
. Encorajando sempre ....................................................................158
.Agindo com liberdade...................................................................168
. Compartilhando experiências com a comunidade.........................168
. Explorando sílabas do pré-nome ..................................................169
. Construindo palavras geradas através de palavra geradora..........169
. Desenhando sempre ....................................................................170
. Construindo livremente.................................................................170
. Associando palavras ....................................................................170
. Libertando-se ...............................................................................171
. Incentivando a oralidade ..............................................................171
. Dando asas à imaginão............................................................171
. Resgatando nossa cultura............................................................171
. Conhecendo o avanço da mulher.................................................172
. Construindo em grupo..................................................................172
. Construindo conceito de higiene...................................................172
. Visitando um animalzinho amigo..................................................180
. Produzindo textos.........................................................................180
. Valorizando as profissões.............................................................180
. Festejando conteúdos..................................................................181
. Viajando com a imaginação..........................................................181
.Apresentando sua família.............................................................182
. Contextualizando a gramática......................................................182
. Explorando a gratica................................................................183
. Estimulando a criatividade ...........................................................183
. Passeando em Brasília.................................................................183
. Contando os alunos .....................................................................194
. Construindo o conceito de número...............................................194
. Construindo a adição....................................................................195
16
. Construindo a subtração.............................................................. 195
. Jogando boliche........................................................................... 199
. Construindo a multiplicação ......................................................... 199
. Retratando riquezas..................................................................... 208
. Registrando quantidades............................................................. 208
. Trilhando a matemática ............................................................... 208
. Contextualizando a matemática.................................................... 219
. Enriquecendo atividades.............................................................. 221
. Depoimento da mãe de um aluno................................................. 221
- Conclusão ..................................................................................... 227
- Por quem merece amor.................................................................. 231
- BIBLIOGRAFIA.............................................................................. 233
17
INTRODUÇÃO
Pela constatação de que sem dignidade e respeito não há Edu-
cação verdadeira, procuramos valorizar o processo educacional como
forma de promoção humana e social, capaz de proporcionar ao indivíduo
um desenvolvimento integral, com ritmo próprio e harmonia perfeita.
Este trabalho traz em seu corpo a organização e a concretiza-
ção de objetivos nascidos de um repensar sobre o verdadeiro sentido da
construção de conhecimento, onde professor e aluno atuam e interagem
na ação educativa.
Tal interação é feita objetivando propiciar à criança momentos
em que possa apropriar-se das ciências e cidadania.
O trabalho, ora objeto de nossa pesquisa e prática pedagógi-
ca, manifesta sua importância no momento em que gera mudança de
ação e promove melhoria no processo educacional.
Os propósitos ora assumidos e implícitos no bojo do nosso
construir pedagógico visam obter o desenvolvimento de mentes autôno-
mas capazes de reafirmarem-se no mundo, ocupando seus espaços.
O nosso papel de mediadores da Educação frente a estes com-
promissos abraçados é o de tornar nossos alunos autores criativos e
leitores críticos.
Trabalhando, recuperamos nossa satisfação de mediarmos a
construção do conhecimento. E é difícil descrevermos aqui o nosso fascí-
19
nio ao vermos as crianças superando o desafio (prazeroso) de apropria-
rem-se daquilo que a própria humanidade empreende esforços em cons-
truir. Para que isto aconteça de maneira agradável e espontânea, o profes-
sor precisa compreender "como a criança constrói e que esta é um ser
ativo."
Procuramos desenvolver nosso trabalho enfatizando que, se a
escola existe em função da criança, não deverá ser esta quem deve adap-
tar-se, mas a escola adequar-se ao tipo de criança que compõe a sua
clientela.
Construir é viver
A abordagem que julgamos coerente com nossa visão
construtivista do conhecimento enfatiza a iniciativa da criança de estimular
suas ações sobre os objetos e suas observações das reações desses
objetos às suas ações.
Entendemos que o conhecimento é construído, não como uma
coleção de fatos isolados, mas como uma rede de idéias organizadas.
Optamos por um ensino construtivista, por considerar relevan-
tes as idéias prévias dos alunos que, como algo em construção, passam
por etapas evolutivas.
Ao tomarmos conhecimento do trabalho de Piaget, da Escola de
Genebra, percebemos não ser mais possível concordar com a idéia de que
o desenvolvimento da inteligência se processa a partir de uma aquisição
de conhecimentos, fundamentada na experiência e na transmissão verbal
de verdades acabadas. Esta visão empírico-associacionista não consegue
desvendar o processo de evolução do conhecimento, enquanto os traba-
lhos epistemológicos piagetianos e neo-piagetianos mais e mais nos le-
vam a concluir que todo conhecimento ê construído e que toda construção
tem por base os anseios e os problemas que são próprios do construtor.
20
A construção do conhecimento está, pois, estreitamente ligada
às estruturas lógicas do indivíduo, que , por sua vez, estão ligadas às
experiências que ele vivência.
Dentro desta perspectiva, é, portanto, natural que a criança
inicialmente passe por etapas onde apareçam idéias espontâneas sobre
determinada noção ou conceito. Contudo, estas idéias são de vital im-
portância para que ela consiga futuramente alcançar as idéias aceitas
como científicas.
Defendendo o exposto acima, temos bem claro para nós que o
objetivo de nossas atividades em sala de aula não é ensinar um conceito
ou dar explicações científicas de forma acabada, mas fornecer oportuni-
dades para que as crianças conheçam verdadeiramente e não apenas
aprendam.
APRENDER OU CONHECER?
SER PROFESSOR OU EDUCADOR?
Aprender, no sentido restrito do termo, é, para Piaget, fazer, en-
quanto que conhecer é compreender, ê distinguir as relações necessárias
das contingentes; atribuir significado às coisas no sentido mais amplo da
palavra, ou seja, levando em conta não só o atual e explícito como o pas-
sado, o possível e o implícito... (Chiarottino, 1984, p. 73)
Parece claro que, nesta perspectiva, a educação deve estar
comprometida com o conhecimento e não apenas com a aprendizagem.
Para aprender bastam apenas treinamento, exercícios, transmissão de
informações que possibilitem ao sujeito saber realizar alguma coisa que
se tem em mente. Por isso mesmo, alunos que aprendem a "fazer", sem
21
a necessária compreensão do que realizam, facilmente esquecem a apren-
dizagem quando a realização deixa de ser solicitada. Só se "sabe fazer"
enquanto se está continuamente fazendo, pois não há "tomada de cons-
ciência" sobre o que se executa. Se o exercício é interrompido, a apren-
dizagem ê esquecida: "Esqueci, não me lembro mais como se faz isso!".
Mas o perigo maior do fazer, sem o compreender, relaciona-se às ques-
tões ideológicas que estão por detrás das decisões sobre aquilo que o
sujeito deve ou não aprender. O sujeito que não compreende o que faz
pode facilmente ser "domesticado".
Quando se educa para o "aprender", corre-se o risco de se for-
mar indivíduos presos a valores pragmáticos, que se submetem docilmen-
te aos valores de uma sociedade. Se a sociedade privilegia, por exemplo,
o consumismo, teremos indivíduos competitivos e individualistas, presos
ao que é aparente, ao superficial, ao figurativo, por não terem sido capazes
da "tomada de consciência" do que é substancial. Educar para o "aprender
a fazer" é impor valores relativos ao "ter" em detrimento do "vir-a-ser".
Em oposição, educar para o compreender é educar para o vir-a-
ser, é educar para o conhecimento, e o conhecimento implica construção
da própria inteligência. Neste sentido, a educação privilegia a ação reflexi-
va do sujeito com o mundo e as trocas interpessoais.
Quando o sujeito age em busca de um entendimento mais com-
plexo e abrangente de uma determinada situação, ele se depara com pon-
tos de vista diferentes do seu. Neste confronto, pela necessidade de se
fazer entender pelo outro, ele "dá-se conta" da fragilidade e das contradi-
ções de seus argumentos, sendo impulsionado a considerar novos ele-
mentos até então negligenciados.
A experiência de cooperação provoca a necessidade de o sujei-
to criar novos relacionamentos que melhor expliquem a realidade, selecio-
nando e coordenando os mais significativos e eliminando os secundários.
Ocorre a tomada de consciência quando o sujeito reorganiza a sua mente,
coordenando todas as relações criadas e selecionadas, superando sua
antiga forma de conceber e explicar a realidade. Ao mesmo tempo, na
22
experiência de cooperação, o sujeito também contribui, pelas trocas recí-
procas, para o crescimento de seus pares.
Educar para o conhecimento é, portanto, formar sujeitos capa-
zes de crítica e auto-crítica, capazes de pensamento criativo e transfor-
mador; sujeitos que se posicionam frente à realidade, que defendem seus
pontos de vista. É formar sujeitos que situam o seu Eu frente aos outros,
que enfrentam de maneira positiva os conflitos e as contradições, bus-
cando superá-las, coordenando as diferentes idéias e criando e desco-
brindo novos relacionamentos que melhor expliquem a realidade em que
vivem. Essas pessoas-sujeito são, portanto, capazes de contribuir para o
avanço do próprio conhecimento e das ciências.
Partindo desses pressupostos, é fácil concluir que o grande
erro do ensino de algumas disciplinas tem sido o de estar voltado para a
aprendizagem superficial de regras. É estar este ensino voltado para a
eficiência do saber realizar com êxito certos exercícios, aplicando certas
regras, em detrimento da real compreensão, ou seja, da verdadeira cons-
trução do conhecimento lógico.
Os professores precisariam mudar o foco de suas preocupa-
ções. Isto transcenderia o "ser professor" para o "ser educador". Esta
dimensão, através da ação que se efetiva nas trocas interpessoais, ga-
rantiria a construção, pelo sujeito, das operações da lógica simultanea-
mente à reinvenção do próprio conhecimento.
A educação implica educação para o "conhecimento", em su-
peração à educação para aprender a fazer; compromete-se, pois, com a
formação de sujeitos autônomos que valorizam as relações de solidarie-
dade em oposição ao individualismo. Sujeitos, portanto, conscientes da
importância das trocas com o outro para o seu crescimento pessoal e
para a possibilidade de modificar não só a si mesmo, mas a própria rea-
lidade: sujeitos que verdadeiramente agem, operam, cooperam e trans-
formam.
23
A importância da interação social em busca da autonomia
As crianças desenvolvem sua capacidade natural de pensar
logicamente e na atividade mental é que se dá no intercâmbio social. O
desejo de "fazer sentido" e de trocar pontos de vista auxiliam no desen-
volvimento do pensamento lógico da criança.
Os meios pelos quais os conflitos entre as crianças são resol-
vidos e a postura que o professor assume causam uma enorme diferen-
ça quanto ao modo que elas aprendem ou não, qualquer assunto acadê-
mico.
- Autonomia significa ser governado por si mesmo.
- Autonomia moral significa ser capaz de considerar os fatores
relevantes para decidir qual deve ser o melhor caminho da ação.
A criança que se sente respeitada na sua maneira de pensar e
sentir tem mais probabilidade de respeitar a maneira como as outras pes-
soas pensam ou sentem.
Segundo Piaget, as crianças adquirem valores morais não
absorvendo-os do meio ambiente, mas construindo-os do seu próprio
interior, através da interação com outras pessoas.
A autonomia intelectual trata-se não do certo ou errado, mas
do verdadeiro ou falso. Ao explicar seu raciocínio, a criança tem que sair
de si própria, para se fazer entender e, geralmente tentando coordenar
seu ponto de vista, ela entende seu próprio erro.
A autonomia intelectual só pode ser desenvolvida quando to-
das as idéias, inclusive as erradas, são respeitadas.
A autonomia deve ser o grande objetivo da educação, pois ela
parte da teoria científica do conhecimento.
Ser autônomo é, sem dúvida,saber respeitar a si próprio e então
respeitar o outro, pois o outro faz parte de nós enquanto representação do
24
social, essa dimensão maior refletida por cada individualidade. Portanto o
Eu e o Outro se fundem e realizam o social.
EU NÃO SOU VOCÊ
VOCÊ NÃO É EU
Eu não sou você
Você não é eu
Mas sei muito de mim
Vivendo com você
E você, sabe muito de você vivendo comigo?
Eu não sou você
Você não é eu
Mas encontrei comigo e me vi
enquanto olhava para você
Na sua, minha insegurança
Na sua, minha desconfiança
Na sua, minha competição
Na sua, minha birra infantil
Na sua, minha omissão
Na sua, minha firmeza
Na sua, minha impaciência
Na sua, minha prepotência
Na sua, minha fragilidade doce
Na sua, minha mudez aterrorizada
E você se encontrou e se viu enquanto
olhava para mim?
Eu não sou você
Você não é eu
Mas foi vivendo minha solidão
que conversei com você
E você conversou comigo na sua solidão
ou fugiu dela, de mim e de você?
Eu não sou você
Você não é eu
Mas sou mais eu, quando consigo
25
26
vê-lo, porque você me reflete
No que eu ainda sou
No que já sou e
No que quero vir a ser...
Eu não sou você
Você não é eu
Mas somos um grupo, enquanto
somos capazes de, diferenciadamente,
eu ser eu, vivendo com você e
Você ser você, vivendo comigo.
'Educador, é toda pessoa que
com sua sensibilidade e
criatividade, cria condições
para que o outro realize suas
próprias descobertas."
27
ALFABETIZAÇÃO E ESCOLA
A vinculação que se faz universalmente entre alfabetização e
escolarização, ou seja, entre o acesso ao mundo da leitura e da escrita e
a escola, merece ser analisada criticamente tanto em suas implicações
práticas quanto teóricas.
A atribuição exclusiva à escola da responsabilidade pela alfabe-
tização da criança tem sido, certamente, uma das causas das dificuldades
que vimos enfrentando para dar à criança e ao adulto, acesso ao mundo
da escrita.
Não é verdade, como muitas vezes se supõe, que só pela
escolarização o indivíduo terá esse acesso. Antes de iniciar sua
escolarização, e mesmo durante o tempo em que se submete a ela, o
indivíduo - criança ou adulto - vive independente da escola um processo
intenso de alfabetização, se entendermos esse processo como algo mais
que a aquisição das habilidades de ler e escrever através de seu desen-
volvimento formal e metódico.
Mesmo a aquisição formal dessas habilidades não se inaugu-
ra na escola. Emilia Ferreiro tem mostrado como desde cedo a criança vai
construindo uma concepção da escrita, e compreendendo sua natureza
como resultado de seu processo de desenvolvimento num mundo em que
a escrita é presença constante. Esse processo começa antes da criança
submeter-se ao ensino sistematizado, de ser "autorizada" a aprender. A
escola, entretanto, julga-se responsável por esta autorização.
29
Não é só a compreensão da escrita, pela criança ou pelo adul-
to, enquanto sistema de representação, que escapa ao controle da esco-
la; também sua compreensão enquanto atividade social ocorre antes da
escola, fora da escola e, até mesmo, apesar da escola.
Antes de iniciar o processo formal de alfabetização e mesmo
durante, a criança convive com a escrita e a leitura, já tem conceito for-
mado e informação sobre seu funcionamento, vivência socialmente seus
usos, pela observação ou pela simulação. Vivendo num mundo letrado.
crianças e adultos aprendem que a escrita serve para interação social,
quando o interlocutor está ausente - vêem cartas, bilhetes, cartões de
boas festas, sendo escritos e sendo lidos; aprendem que a escrita serve
para o registro de informações - convivem com documentos, certidões,
recibos, formulários; aprendem que a escrita tem usos instrumentais -
vêem cheques e moedas, contas, anúncios, indicações de trânsito, no-
mes de ruas, de ônibus, adesivos nos automóveis, nas portas e janelas,
cartazes de publicidade; aprendem ainda que a escrita é veículo de notíci-
as, porque vêem jornais, revistas, panfletos sendo lidos; e vêem também a
escrita usada como apoio à memória, em agenda, calendários, cadernetas
de telefone, de endereços, listas de compras.
Crianças e adultos considerados "analfabetos" vivenciam por-
tanto a leitura e a escrita intensamente; na verdade, são "letrados", em-
bora não sejam "alfabetizados". Em outras palavras: a escola não alfabe-
tiza, mas dá continuidade a um processo de alfabetização já em pleno
desenvolvimento quando o indivíduo se submete a ela. Num mundo po-
voado pela escrita, a escola não pode dizer que é a única responsável
por este processo.
Essa construção depende do contexto cultural da criança: ela
será, evidentemente, mais intensa nos ambientes urbanos em que a es-
crita tem presença mais forte do que no contexto rural; e nas camadas
sociais mais favorecidas, em cujo contexto a escrita é mais difundida,
não tendo a aura mitificada que costuma ter entre as camadas popula-
res.
Seja qual for o grau de conhecimentos que o indivíduo já te-
nha, a escola ignora tudo o que ele já sabe sobre os usos sociais e o
30
funcionamento da escrita. E, o que é pior, ela nega esse saber, impondo
uma escrita falsa, artificial e descontextualizada: os textos das cartilhas e
dos livros didáticos são apresentados sem outra função a não ser a "es-
colar"; a escrita produzida sob controle também tem a mesma função. A
escola reivindica para si a responsabilidade pela alfabetização, mas em
geral o que faz é levar o indivíduo a desaprender os usos e as funções
sociais da escrita e da leitura e a aprender o uso e a função escolar.
EXPRESSÃO ESCRITA
A escrita deve surgir do interesse e curiosidade natural da cri-
ança, e esta se manifesta pelo desejo que a criança tem de descobrir,
reconhecer e utilizar os sinais gráficos com que constantemente se de-
para. Inicialmente surge a necessidade de decifrar o meio e de se apro-
priar dos símbolos (palavras, sinais, frases...) e, posteriormente, já não
bastando isto, quer utilizar-se deles reproduzindo-os. (Anexo: 1)
É importante que a criança saiba qual é o objetivo da escrita.
Por que escrevemos?
A escrita é um sistema convencional, utilizado pelo homem
com a finalidade de se comunicar, registrar suas descobertas, sua histó-
ria, suas idéias e pensamentos.
Muitos pais e professores apressam-se em ensinar a escrita
sem se preocupar se realmente aquilo que querem que as crianças es-
crevam está sendo dominado por elas. Educadores querem ver um ca-
derno bonito, com bastantes coisas escritas. E quando a criança não con-
segue fazer "aquela" tão almejada letra bonita, apressam-se em apre-
sentar-lhe o famoso Caderno de Caligrafia, onde a saturam, obrigando-a
a preencher linhas com palavras vazias de significado, isoladas do pro-
cesso.
31
32
Anexo 1
E aconselhável que a criança tenha oportunidade de explorar
a escrita em diferentes espaços. Para um traçado mais próprio da crian-
ça, há um recurso muito mais eficiente e agradável que substitui o cader-
no de caligrafia: a expressão criadora.
A livre expressão não satura, não é repetitiva. Pelo contrário,
cada experiência que a criança realiza contribui para que a expressão
cresça, se aprofunde; a livre expressão atrai, envolve a criança e ainda
desenvolve a coordenação e o ajuste rítmico do movimento; a livre ex-
pressão elimina a necessidade de realizar certos exercícios que surgem
com "meios de desenvolver a coordenação motora", mas que na verda-
de são exercícios mecânicos, cansativos e limitados.
A criança fica muito satisfeita quando percebe que o professor
compreende e valoriza aquilo que ela produz. Muitas vezes o professor
passa horas procurando e fazendo desenhos para passar no mimeógrafo
e quando, entusiasmado, leva para a sala para que os alunos pintem, em
pouco tempo sente-se frustrado, pois o que vê é criança pintando traços
tão perfeitos, fora do limite.
O ideal é que o professor mude as estratégias, experimentan-
do confiar um pouco mais na capacidade da criança e com outros olhos
a obra infantil, pois desenho é expressão do sentimento, de emoções.
Aquilo que para os olhos dos adultos parece traços tortos e imperfeitos,
representa na verdade, um pouco da criança.
O professor deve coletar desenhos de seus alunos e procurar
envolvê-los nas atividades de sala de aula. Uma ótima opção é passá-los
no mimeógrafo, sempre identificando o autor, para que escrevam os no-
mes das gravuras, formem frases ou até textos, dentre outras atividades.
(Anexos: 2 e 3)
33
34
Anexo 2
Anexo 3
35
AS CONCEPÇÕES INICIAIS DA ESCRITA PELA CRIANÇA
É importante considerar que a criança, mesmo em relação à
escrita, não é uma "tábula rasa". Ela já traz para a escola algumas idéias
a respeito do que seja a escrita. E conforme o ambiente de que tenha
vindo - conforme tenha tido maiores ou menores experiências com ma-
terial escrito - ela pode encontrar-se em diferentes níveis de
conceituação e, pois, pode ter avançado mais ou menos na
compreensão básica das propriedades desse outro sistema de
representação.
Do ponto de vista cognitivo-construtivo, a escrita infantil segue
uma linha de evolução surpreendente semelhante nos diversos meios
culturais, nas diversas situações educativas e nas diversas línguas. Ela
vai passando por diferentes hipóteses sobre o que seja a escrita e suces-
sivamente compreendendo quais são suas propriedades e qual é a sua
relação com a fala. Procuremos, inicialmente, conhecer esse processo
para melhor conduzir nossa ação pedagógica.
Um primeiro momento se caracteriza pela percepção de que a
escrita se distingue do desenho. Entretanto, para "escrever", aparece-
rão, entre as primeiras tentativas, meros grafismos, linhas onduladas ou
quebradas, séries de elementos repetidos e, mesmo, a reprodução de
seqüência de letras a que teve acesso fora da escola, embora sem qual-
quer correspondência com os sons que representam. A descoberta, em
um momento posterior, de que a escrita representa, aproximadamente,
os sons da fala que constitui, é o grande salto qualitativo no processo de
aprendizagem.
Inicialmente, as unidades sonoras que a criança considera são
as sílabas. Ela "escreve" algumas palavras em que parece estar esque-
cendo "letras": CAAO por "cavalo", LRAJA por "laranja", COA por "cebo-
la". O professor deve entender o grande progresso que essas escritas
representam. De fato, abandonando as hipóteses iniciais, a criança co-
meça a estabelecer uma correspondência entre unidades ou elementos
de grafia e as sílabas que reconhece na seqüência sonora da palavra.
Isto não deve causar nenhuma surpresa nem ser considerado um "pro-
blema", como o fazem equivocadamente alguns professores: são, na
verdade, as sílabas e não os fonemas as unidades elementares da lin-
36
guagem oral. A criança já está, portanto, levando em consideração as-
pectos lingüísticos da correlação entre a escrita e a oralidade.
Nesse nível silábico da alfabetização, a criança ainda se de-
fronta com problema da leitura do que escreve: cada representação vale
somente para "aquele" exercício. E esse problema somente vai ser supe-
rado quando a criança conseguir formular a hipótese de que a escrita
constitui um processo combinatório, em que as letras se compõem para
distinguir as sílabas. Esta hipótese supõe dois passos difíceis e funda-
mentais: a compreensão do valor distintivo das letras na representação
das sílabas, a compreensão de que existe uma regra produtiva que per-
mite, a partir desses elementos simples, compor a representação de inú-
meras sílabas, mesmo aquelas sobre as quais não se tenha exercitado.
Num momento posterior, a criança chega ao nível alfabético onde
já conhece o valor sonoro convencional de todas ou de algumas letras e
sabe como juntá-las para que constituam as sílabas.
É interessante, porém, perceber que a criança ignora a palavra
como unidade separada nas frases e nos textos. Ela coloca espaços entre
partes da frase independentemente das palavras que a compõem. O as-
pecto alfabético da sílaba prepondera sobre a separação das palavras numa
frase.
Entrar, porém, no nível alfabético não significa ainda saber
escrever corretamente, nem do ponto de vista ortográfico nem do ponto
de vista léxico. No nível alfabético, o aluno ouve a pronúncia de cada
sílaba e procura colocar letras que lhe correspondam. Neste nível é ab-
solutamente legítimo escrever "XINELO" ou "CAZINHA". O grande passo
da veiculação pronúncia-construção alfabética da sílaba está dado, mes-
mo que a ortografia não corresponda adequadamente aos padrões
lingüísticos, ou que as palavras não sejam separadas com correção em
frases ou textos.
A entrada no nível alfabético deve ser seguida pela aprendiza-
gem das formas ortográficas de nossa língua, as quais nem sempre são
lógicas, isto é, um mesmo som pode estar associado a várias letras ou
uma letra pode corresponder a vários sons. (Anexos: 4 a 6)
37
38
Anexo 4
Anexo 5 39
40
Anexo 6
"Só aprende quem tem
coragem para abandonar o
velho e mergulhar de cabeça
no novo, mesmo com toda
vertigem que o salto provoca."
41
REGISTRO DE EXPERIÊNCIAS
A criança deve ser estimulada a registrar suas experiências,
pois é pelo registro que as crianças são levadas a construir seu conheci-
mento. Esse registro é como uma via para a integração no universo que a
cerca. Tal via proporcionará a desinibição; desenvolverá uma expressão
mais fluente e flexível; favorecerá maior segurança e participação no con-
texto em que vive.
Não permitir que a criança registre suas experiências é inter-
romper um processo. Muitos professores, por acharem que seus alunos
não têm condições de realizar esta tarefa tão "complexa", preferem sem-
pre dar "tudo pronto".
Esta atividade bloqueará cada vez mais o fluxo criativo da cri-
ança não permitindo a construção do saber pelo próprio aluno.
Alguns professores afirmam que o registro de experiências só
é viável mais tarde, quando a criança tiver um grande domínio da língua
escrita. Muitos dizem que a criança precisa escrever bastante para treinar
a escrita e que perderá muito tempo se tiver que criar seus textos. Muitas
escolas ainda consideram copiar bastante como sinônimo de produtivida-
de.
Sabemos que a capacidade de inventar histórias é uma quali-
dade espontânea e natural. Aos 3 (três) anos as crianças já são capazes
de contar histórias longas e criativas acerca de uma gravura. Mas muitas
dessas crianças, alguns anos após, não conseguem nem sequer formu-
lar algumas frases lógicas.
43
Todo ser humano, tendo seu espaço respeitado, cresce e ja-
mais regride. Todas as capacidades naturais do indivíduo devem ser esti-
muladas constantemente, pois o que não se usa, não se explora, atrofia e,
uma vez atrofiado, vai aos poucos se deteriorando.
Todo professor deve reservar um horário para que a criança
crie seus textos. É importante oferecer situações variadas para que o
aluno possa aumentar cada vez mais suas experiências criadoras.
Cabe ao professor o papel de incentivar constantemente a cri-
ança a escrever. (Anexos: 7 a 8)
Não se pode falar de alfabetização sem abordar, especifica-
mente, o processo de produção de textos infantis. Estes surgem, inicial-
mente, através de um jogo de gestos e movimentos corporais, ganham
com a linguagem oral uma maior capacidade de comunicação, ordena-
ção e coerência gradativas, expressando o avanço do pensamento da
própria criança, até chegarem ao texto escrito.
Ao ingressar no mundo da escrita, é fundamental valorizar o
significado do que a criança consegue produzir, sem se prender apenas
aos aspectos formais, como a grafia, o tipo de letra ou o tamanho do
texto. Na concepção de escrita como um processo de construção de co-
nhecimentos, escrever "Errado" é uma ocorrência produtiva no sentido
de reformular hipóteses, construir conceitos ou inferir regras.
A produção de textos não é, como se pensa à primeira vista,
uma atividade tão individual e solitária. Ao contrário, é resultado de dife-
rentes trocas interpsíquicas, mediadas pela linguagem oral, que vão sen-
do internalizadas pelo sujeito, dando origem ao pensamento.
Sendo assim, é fundamental que o professor crie situações de
trabalho em grupo, favorecendo a construção coletiva de textos, a troca
de idéias, opiniões, apresentação e discussão de hipóteses, reformulações
e "correções". Só uma prática pedagógica centrada no diálogo, na
interação e na interlocução propicia o desenvolvimento de um trabalho
nessas bases.
44
Anexo 7
46
Anexo 8
PRODUÇÃO DE TEXTO
Somos todos produtores de textos. É através deles, expressos
em diferentes linguagens, que estabelecemos relações as mais diversas.
Os textos estão presentes em nosso cotidiano: nas conversas, nas cartas
que recebemos ou enviamos, nos livros que lemos, nas receitas que copi-
amos ou recuperamos de memória, nas bulas dos remédios, nos jornais,
no rádio, na TV, nas músicas e poesias, nos compêndios...
Produzimos textos espontaneamente e não nos damos conta
desse processo. Quando a produção responde a uma solicitação com
objetivos determinados, várias questões passam a interferir nesse cará-
ter espontâneo, tornando o ato de criação de textos uma atividade mais
complexa, articulada e elaborada.
Os primeiros textos expressos pela criança, na escola, reve-
lam suas experiências de vida, suas expectativas, seu repertório cultural,
permitindo assim o fortalecimento do grupo do qual o professor é integran-
te, a troca de experiências, o respeito pelas diferenças, a busca de identi-
dade, uma vez que apesar de espontâneos estão marcados desde então
pelo caráter ideológico.
A linguagem falada é aí, por excelência, o ponto de partida
para o exercício da expressão.
A escola, sem preterir outras linguagens, irá promover a apren-
dizagem da escrita, entendida como um conhecimento que será construído
pelo aluno em interação com o grupo e com textos escritos, dos mais
variados tipos, adequados a diferentes funções.
A criança nesse processo percebe as relações entre fala e
escrita, modalidades distintas do código verbal que não devem ser
dissociadas quando do aprofundamento e sistematização dos conheci-
mentos lingüísticos pelas crianças.
Elas percebem que podemos escrever o que falamos e ler o
que está escrito. Começa aí um trabalho permanente de busca de ade-
quações e especificidades. Ampliam-se as possibilidades de expressão
47
e compreensão do mundo. Viabilizam-se formas de inserção na socieda-
de letrada, através dos atos de ler e escrever que cumprem funções so-
ciais, as mais diversas: das mais simples, como a de indicar o itinerário
de um ônibus, às mais complexas, como traduzir em palavras o mais
elaborado conhecimento filosófico ou científico.
A produção dos textos verbais-falados ou escritos deve ser o
ponto central do trabalho com as estruturas lingüísticas, uma vez que é
nos textos que podemos analisar as relações lingüísticas, paralingüísticas
e contextuais. É também através dos textos que podemos aprofundar os
conhecimentos nas diversas áreas do saber, numa relação dialógica de
produção de sentidos.
É o texto, então, o integrador das atividades pedagógicas.
Todo texto está relacionado a condições de produção especifi-
cas que devem ser analisadas para que o professor possa definir estratégi-
as de intervenção, isto é, problematizar sobre o seu papel de mediador
nesse processo de produção textual e no seu desejado aprimoramento.
Os textos espontâneos, produzidos pelas crianças, mostram-
se um material mais adequado à avaliação do processo de aprendiza-
gem que as atividades tradicionais de cópia, ditado e interpretação.
A cópia não é uma atividade que se esgote em si mesma. Ela
só será produtiva se, desvinculada do seu aspecto mecânico, tiver uma
função. Copiamos receitas que nos interessam, poemas dos quais gos-
tamos e que queremos guardar, um texto que sofreu modificações e cor-
reções e que precisa ser passado a limpo, ou para recolher informações
sobre um determinado assunto. Nesses casos a cópia pode tornar-se
uma atividade criativa, necessária e importante, porque produtiva.
Quanto aos ditados, esses também só serão produtivos quan-
do tiverem um sentido em si que transcenda a simples verificação da
ortografia. Muitas vezes, os professores quando realizam atividades de
ditado, no afã de ajudarem os alunos, produzem uma fala artificial,
silabada, fonética, distante da realidade. Nesses casos, os resultados
48
muitas vezes apresentam-se satisfatórios... As crianças erram menos,
mas não conseguem, na maioria dos casos, transferir esses "conheci-
mentos" para sua produção de textos livres, quando o professor não está
presente.
Outra atividade muito freqüente na escola e nos livros didáti-
cos são as interpretações de texto. Esses exercícios, muitas vezes, usam
os textos como meros pretextos para atividades estereotipadas e
empobrecedoras. A maioria das questões constitui-se em perguntas
meramente sintáticas e reducionistas.
Que propostas de produção textual podemos encaminhar, en-
tão, na escola? Como solicitar aos alunos que escrevam seus textos?
Que objetivos devemos traçar? Quem serão os interlocutores? Como,
enfim, considerar as questões de produção?
Um texto é o resultado de uma tarefa que está relacionada a
todos os fatores mencionados nas questões acima. Ele é o produto des-
se processo. Uma avaliação consistente deverá analisar, pois, todo o
processo e não apenas os resultados dele.
O TEXTO
A atividade lingüística não se faz nas palavras ou frases isola-
das para análises e exercícios escolares. Ela se realiza nos processos
reais de comunicação como discurso ou texto.
Estamos usando aqui a palavra "texto" para significar todo tre-
cho falado ou escrito que constitui um todo unificado e coerente dentro
de uma determinada situação discursiva. Assim, o que define texto não é
sua extensão (pode eventualmente ser uma só palavra, uma frase, um
diálogo, períodos correlacionados na escrita), mas o fato de que é uma
unidade de sentido em relação a uma situação. Um momento de vida.
49
Assim, o texto falado ou escrito constitui-se pela interação dos
interlocultores, falante ou ouvinte, autor e seus leitores, envolvendo
quem o produz e quem o interpreta. Por um lado, como vimos, esse
processo implica o recurso a aspectos sistemáticos e a regras
(lingüísticas, lógicas, conversacionais, ...) que permitem aos
participantes da comunicação identificar-se e identificar o quadro
lingüístico e cultural em que se situam. Por outro lado, exige uma atitude
ativa e crítica, e mesmo uma certa liberdade de ultrapassar os limites do
texto: quem diz ou escreve e quem interpreta são co-produtores na
construção do sentido do texto e co-responsáveis por relacioná-lo a uma
determinada situação de fato.
Nessa perspectiva dinâmica e dialética, que realça o processo
de construção e não o produto, "entendendo o texto não como coisa,
fato ou dado mas como reflexão sobre a experiência e experiência de
reflexão, é que podemos entender a interpretação e o sentido como a
instauração de um "ponto de vista". Se do ponto de vista do autor, o texto
é um trabalho com e sobre a experiência concreta, do ponto de vista do
intérprete o texto é uma nova experiência, que ele vive e transforma,
transformando-se na medida em que incorpora as novidades essenciais
e a própria reflexão, relativamente autônoma, ao seu mundo de vivências.
Por isso, atribuir sentido a textos é, em parte, ser capaz de interpretar o
ponto de vista que o autor manifesta; mas é, também, fazer variar esse
ponto de vista: construir outros textos e produzir conhecimento (enten-
dendo conhecimento como resultado de um trabalho conjunto de cons-
trução e não como mero consumo de informações tiradas dos livros e
das aulas).
Essa perspectiva tem conseqüências para as atitudes frente
aos textos das crianças. É bom lembrar que a criança não chega à esco-
la com uma linguagem fragmentária, restrita somente às necessidades
cotidianas da comunicação. Ela já chega iniciada na arte de narrar, na
arte da ficção e do faz-de-conta, e até já pratica o jogo poético das pala-
vras, do ritmo e do som. Todos somos potencialmente contadores de
estórias e capazes de exprimir pela linguagem (e de apreciar na lingua-
gem) nosso espírito lúdico e criativo. Mas é preciso que essa naturalida-
de narrativo-expressiva não seja logo aprisionada pelas regras do "bem
escrever" e pelas técnicas de "composição". Então, a "desigualdade" entre
os estudantes (estabelecida pelos critérios normativos do que "deve" ser
50
um texto) será absorvida numa diferenciação dos modos de exprimir-se
de cada um, numa criação liberada para a qual todos estão disponíveis e
todos podem contribuir.
AS FUNÇÕES COMUNICATIVAS DO TEXTO
O caráter comunicativo da linguagem ganha substância e den-
sidade através de textos que variam em situações específicas de
interlocução, conforme as condições reais de produção e uso, resultan-
do em variações de tipos e funções.
Todo texto está, pois, inserido em um contexto mais amplo,
que não pode ser desconsiderado quando de sua produção, entendida
aqui tanto como leitura quanto como elaboração, seja verbal (oral e es-
crita) ou não-verbal (outras linguagens).
O texto escrito ocupa espaço privilegiado nas sociedades le-
tradas, daí a necessidade de a escola, sem preterir as outras linguagens,
colocá-lo no centro do processo de construção de conhecimentos, nas
diferentes áreas do saber e em especial no que diz respeito à Língua
Materna.
Em que circunstâncias usamos a linguagem escrita em nosso
cotidiano? Como a escola vem empreendendo a mediação criança/escri-
ta? Que tipos de texto são produzidos socialmente? E a escola, que pos-
tura deve ter em relação aos textos na sala de aula?
Se temos como pressupostos que a língua deve ser vista na
escola sempre em situações reais de uso, a utilização de textos de tipologia
variada será uma decorrência dessa postura, evitando-se assim o
artificialismo e os estereótipos.
Assim, narrativas, textos jornalísticos, bilhetes, cartas, carta-
zes, histórias em quadrinhos, textos científicos, propagandas, receitas e
51
toda uma gama de escritos diversos devem fazer parte do cotidiano es-
colar, uma vez que estão presentes em nossas vidas, cumprindo diferen-
tes papéis como informar, divertir, persuadir...
É importante que o professor considere diferentes aspectos
que estão relacionados a uma tipologia textual variada, suas
especificidades e características.
O ensino das estruturas lingüísticas e da gramática será feito a
partir do suporte dos textos, assim como as atividades de leitura, reda-
ção, reescritura e revisão, dando relevância aos critérios de seleção.
Daí a importância da exposição da criança a diferentes tipos
de textos e propostas variadas de produção, que devem ser realizadas
tanto individualmente como em grupos, permitindo a troca e a interação
em diferentes situações de interlocução.
O texto literário abrange diversas modalidades narrativas como:
estórias infantis, contos, lendas, fábulas, crônicas e poemas. O trabalho
com as narrativas literárias, que tanto encantam as crianças, pressupõe
algumas considerações.
Em primeiro lugar, o contato inicial com a literatura não exige o
domínio do código escrito, advém das narrativas orais - clássicas e po-
pulares - bem como das cantigas, versos, trava-línguas, adivinhações,
que, desde cedo, fazem parte do universo infantil. Outro aspecto a consi-
derar é o caráter lúdico e afetivo das atividades de contar e recontar
estórias, importante momento para o estreitamento de laços entre as cri-
anças e destas com o professor. Deve-se considerar, ainda, a possibili-
dade de as crianças terem contato com livros de literatura infantil que
ensejam, além da fruição dos textos e das ilustrações, uma fonte de con-
tato com modalidade a escrita da língua... Finalmente, vale lembrar cine-
ma, teatro e a TV como veículos para as narrativas.
Por textos informativos compreendemos todo o espectro tex-
tual que tem na informação seu principal objetivo. São eles, notícias,
relatos, correspondências (cartas, bilhetes, ofícios, avisos), receitas, bu-
las, manuais e documentários (textos informativos veiculados pelo cinema
52
e pela TV). Quando da seleção de textos informativos para o trabalho em
sala de aula, como por exemplo, os de Ciências e Estudos Sociais, deve-
mos considerar a correlação entre o conhecimento do leitor e a organiza-
ção e seleção dos textos.
O trabalho com toda esta variedade de textos, ao longo de al-
gum tempo, representa sua reafirmação como eixo, bem como da prática
de interação/interlocução em classe. Assim, através dos textos lidos e pro-
duzidos, estaremos dialogando nas diversas áreas do conhecimento e cons-
tituindo conhecimento lingüístico, a partir da língua em uso em diferentes
situações de comunicação.
Uma das condições para que o aluno participe, ativamente, da
realidade social que o cerca é a de ser capaz de expressar-se através de
seu texto. E ainda, é fundamental que ele participe também da leitura e
discussão de outros textos, ampliando assim sua capacidade de expres-
são e de crítica.
O professor, deste modo, tem o papel primordial de tornar esta
etapa da vida escolar mais prazerosa e plena de significados. (Anexos: 9
e10)
A escrita de um povo é sua produção cultural mais preciosa.
Permite a comunicação, a transmissão, o registro e a preservação da
memória, na qualidade de grupo humano que vive e faz história.
GRAMÁTICA DO TEXTO
O ensino da Língua Portuguesa tradicionalmente vem-se ca-
racterizando pela preocupação em definir termos, classificar e reconhe-
cer substantivos e pronomes, conjugar verbos e outras questões distan-
tes da língua do usuário/falante.
Tal prática tem-se mostrado ineficaz, pois parte de um entendi-
mento de língua artificial como se fosse homogênea; da língua fora de
seu contexto real, distanciada da experiência natural de comunicação.
53
54
Anexo 9
Anexo 10
55
A escola que segue este modelo artificial de língua, é a que
ensina tudo o que deve ser evitado, mas não leva o aluno a melhorar o
seu desempenho lingüístico...
São comuns, então, os exercícios de sublinhar letras, substi-
tuir palavras, responder a perguntas mecânicas e estereotipadas de in-
terpretação que, muitas vezes, nem chegam a frases ou são meras re-
produções de trechos do texto utilizado.
Se partirmos para um outro enfoque, num sentido mais amplo,
entendendo língua como uma realização heterogênea, um conjunto de
usos, estaremos deixando de lado a língua e considerando os usos da
língua, isto é, as situações reais de utilização.
Privilegiamos, portanto, não o texto acabado e pronto, falado
ou escrito, mas o conjunto de circunstâncias de sua produção, assumin-
do, assim, uma variedade de formas conforme sua utilização, ou seja,
variando de acordo com o emissor (Quem escreve ou fala?), a situação
de interlocução (Para quem?) e as condições de uso (O quê? Onde?
Como? Para que escrevemos ou falamos?).
Nesta perspectiva é fundamental o caráter de unidade
(textualidade) de qualquer texto, oral e escrito, ou seja, ninguém fala ou
escreve por palavras isoladas ou frases. Sempre que nos comunicamos
usamos textos, falamos e escrevemos por meio de textos.
O ensino da Língua Materna que se propõe a enfatizar o uso
comunicativo da língua, isto é, utilizar situações e contextos reais, volta-
se para o texto, atividade verbal integradora que implica ouvir, falar, ler e
escrever.
O trabalho em sala de aula, tendo o texto como eixo e suporte
da língua, vai-se constituir em selecionar situações vividas pelo aluno-
falante, partindo da leitura compreendida tanto como análise e compre-
ensão da produção do outro, quanto como produção de sentidos, novos
textos.
Cabe, aqui, explicitar que texto (oral e escrito) caracteriza-se
pela unidade sentido, por um conjunto de relações responsáveis por sua
56
estrutura e organização. Destacamos dentre os elementos responsáveis
por sua unidade, a coesão e a coerência, padrões e critérios difíceis de
conceituar e delimitar, pois são indissociáveis, segundo alguns especia-
listas.
A coerência textual diz respeito à compreensão e entendimen-
to do texto, mais ligada ao sentido pela interligação das partes como todo
(organização coerente das idéias).
A coesão textual consiste nas relações e ligações das frases,
períodos e parágrafos, normalmente revelados por índices lingüísticos,
marcas que estabelecem o nexo e a lógica do texto. A coesão pode-se
dar por elementos lexicais, isto é, pelo léxico, ou vocabulário, represen-
tado por substantivos, verbos, adjetivos, pronomes, etc; e pelos elementos
relacionais como conjunções, preposições, alguns advérbios, pronomes,
etc, estabelecendo a liga da estrutura do texto, como as costuras de um
tecido.
A escola deveria centralizar os objetivos do ensino da língua na
capacidade comunicativa do aluno, partindo de textos variados num pro-
cesso de leitura, produção e revisão. (Anexo: 11)
O QUE É LINGUAGEM
A linguagem não é uma atividade escolar. É uma atividade
humana, histórica e social. Nessa atividade se constituem:
- o conjunto estruturado e sistemático dos recursos expressi-
vos da língua de uma comunidade;
- o sistema cultural, antropológico, de representação da reali-
dade em que as expressões da língua podem ser interpreta-
das;
- os meios lingüísticos que permitem situar essas expressões
no contexto real em que são produzidas.
57
58
Anexo 11
A linguagem é um trabalho construtivo, um processo coletivo
de que resulta, em uma longa história, o sistema lingüístico e comunica-
tivo utilizado em uma comunidade: uma língua, por exemplo, como o
português. Nessa concepção, a linguagem é uma atividade sujeita a "re-
gras", não somente regras relativas aos modos de construir e interpretar
as expressões (que se descrevem aproximadamente em suas gramáti-
cas), mas também regras próprias de conduzir a conversação. Desco-
nhecer estes dois tipos de regras a que a língua está sujeita seria desco-
nhecer o seu lado histórico. Também não devemos confundir as línguas
naturais com um "código", supondo que as expressões, por si só, conte-
nham todas as indicações necessárias para a interpretação. Ao contrá-
rio, para compreender o que contribui para que as expressões signifi-
quem aquilo que elas significam é preciso considerá-las parcialmente
indeterminadas e vagas. Além das expressões e do modo em que são
construídas, muitos outros fatores contribuem para a significação: fato-
res culturais, as relações que se estabelecem entre os interlocutores, a
imagem recíproca que estes fazem uns dos outros, os conhecimentos
que partilham e inúmeras outras condições da situação de fala. Desco-
nhecer todos estes fatos da significação e da língua seria desconhecer o
seu lado social.
Interpretar, em um sentido amplo, é relacionar as expressões a
uma situação de fato, na dimensão discursiva ou pragmática da linguagem
ou seja, considerando as condições da situação contextual que contribuem
para que se dê à expressão o seu sentido, em vez de se fixar exclusiva-
mente em seu sentido literal.
O ATO DE LER
Segundo especialistas, aprendemos a ler, lendo; melhor diría-
mos, vivendo. A leitura começa a partir do nosso contexto social, das
interações que estabelecemos com o outro e com o mundo, isto é, configu-
ra-se como um processo anterior à escola.
O texto é um tecido, uma estrutura construída de modo que uma
frase de texto escrito não tem sentido, se autônoma e isolada. Este se
59
organiza pela correlação que as frases mantêm entre si. O mesmo ocorre
com os significados, que só ganham sentido se em correlação com outros
significados.
A leitura também se estende além do texto e começa antes do
contato com eles. O leitor assume um papel atuante, deixa de ser mero
receptor passivo. Dar sentido a um texto implica considerar a situação
desse texto e a de seu leitor. E a noção de texto escrito então se amplia,
inserindo outras linguagens. O ato de ler realiza-se a partir do diálogo do
leitor, no caso o aluno com o texto, seja este escrito, sonoro, gestual, de
imagem ou mesmo uma cena ou fato acontecido.
O papel do educador no processo de leitura é cada vez mais
valorizado, não mais como uma atitude superior. Ele, hoje, passa a ler
com o aluno, fazendo trocas e intercâmbios de leituras, trazendo novos
elementos. A sua função não seria, necessariamente a de ensinar, mas a
de criar condições para o aluno realizar sua própria leitura, conforme
seus interesses, necessidades, fantasias, segundo as dúvidas e situa-
ções que a realidade lhe fornece.
Criar condições de leitura não significa apenas alfabetizar ou
dar acesso aos livros, mas sim dialogar com o aluno sobre sua leitura,
isto é, sobre o sentido que ele dá às várias formas em que o texto se
apresenta.
A escola de hoje nos mostra como se tenta impor a um deter-
minado grupo uma única "leitura". Elimina-se o espaço do indivíduo. Im-
põe-se uma única interpretação e uma única variante lingüística...
A língua varia em diversas situações. No entanto, nenhuma
dessas variantes rompe com o sistema, sendo a variante-padrão apenas
a de maior prestígio social.
Não há língua que seja, em sua amplitude, um sistema
invariante, rígido. Assim, a língua utilizada pelos alunos também apre-
senta variantes, que refletem diferenças sociais, culturais, etc.
Toda língua comporta variações de duas ordens: em função
do locutor e em função do interlocutor. Pertencem à primeira ordem as
60
variantes chamadas de dialetais: variantes regionais (dialetos geográfi-
cos); variantes de classe (dialetos sociais); variantes de grupo de idade
(dialetos etários). À segunda ordem (interlocutores) pertencem as vari-
antes conhecidas como registros: variantes de grau de formalismo, de
modalidade (escrita/falada).
- Não temos o direito de impor a ótica de uma pessoa ou de um
grupo a alguém.
- Não temos o direito de amarrar numa camisa-de-força o nos-
so aluno, exigindo que se expresse, exclusivamente, pela norma-padrão.
Compete à escola oferecer a seus alunos textos de outras pes-
soas escritos nos moldes da norma-padrão; dialogar, comparar, indicar ca-
minhos e, fundamentalmente, respeitar a diversidade, caminhando
gradativamente com o aluno, de modo a que possa acrescentar outros há-
bitos lingüísticos aos seus. Compete à escola esta tarefa, possibilitando ao
aluno o uso de outras variantes lingüísticas, além da que ele domina.
Cada povo tem sua língua com a qual se comunica.
A língua é de todos e de cada um ao mesmo tempo, porque um
povo é formado por várias pessoas, cada uma com sua visão do mundo,
sua realidade sócio-cultural, que se expressa através da língua. As varian-
tes lingüísticas refletem esta diversidade.
O PAPEL DA INTERAÇÃO NO
DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
Vários psicolingüístas têm mostrado que a aquisição e o desen-
volvimento da linguagem não se dão em virtude de uma atividade interior e
isolada do sujeito, mas sim, fundamentalmente, a partir da interação com o
adulto, principalmente a mãe; e tanto mais rica e fluente é a linguagem
quanto mais rica é a interação social. A perda das condições de interação
é correspondente à perda da linguagem.
61
No início, quando a criança começa a falar, a atividade lingüís-
tica é quase especular: ela retoma da fala do adulto o material lingüístico
de suas expressões. Pouco a pouco, a criança complementa as expres-
sões com material lingüístico de que já se apropriou. Finalmente a lin-
guagem desabrocha e se torna uma atividade criativa e inventiva quando
a criança consegue, a partir dessa interação com o outro, constituir-se a
si própria e constituir os adultos como verdadeiros interlocutores. Ela
consegue descobrir, no jogo da linguagem, a reversibilidade dos papéis
no processo comunicativo e a agir nele de modo interferente. Numa ver-
dadeira situação dialógica a fala de um é retomada, modificada, acresci-
da e transformada pelo outro: não pode ser somente eco ou repetição
porque a participação do interlocutor desaparece e a estrutura dialógica
se anula, instaurando um monólogo onde a voz que fala é apenas a do
outro.
Assim, quando a criança chega à escola, ela já traz uma rica
prática de linguagem, maior ou menor conforme o exercício efetivo da
comunicação e a variedade de suas experiências. A escola não pode
interromper esse processo. Ao contrário, deve manter e aprimorar os
comportamentos sociais da interação verbal, multiplicando as experiên-
cias de atividade discursiva para diferentes propósitos, sobre diferentes
temas, em diferentes condições de produção e interlocução.
O RESPEITO À LINGUAGEM
DA CRIANÇA E À NORMA-PADRÃO
A língua falada em um país não é um sistema invariável, uni-
forme. Em toda comunidade lingüística existem variações na pronúncia,
no vocabulário, na sintaxe, no estilo, nos modos de organizar e represen-
tar a realidade. A variação pode estar relacionada a fatores regionais,
idade, sexo, escolaridade, posição social, enfim a inúmeras condições
que permitem identificar grupos e subgrupos que partilham situações e
temas especiais de interação. Mas, de um modo geral, as variações que
decorrem de diferenças de classe social e econômica se tornam elemen-
62
tos a mais (entre tantos outros) de discriminação: de um lado os que
falam e escrevem "bem" e pelo domínio da modalidade culta-padrão fa-
zem girar a máquina burocrática e institucional; de outro lado o povo que
fala e, se escreve, escreve "mal" e "errado". E não se pode esquecer que
a escola promove e acentua esse processo discriminativo.
A criança traz à escola o dialeto de sua comunidade e uma
prática na modalidade coloquial. Sem excluir essa prática, ela deve ad-
quirir o domínio do dialeto padrão e praticar a modalidade culta e formal,
não somente porque por ela será socialmente avaliada, mas porque por
ela terá acesso à tradição cultural escrita.
O grande problema é que a escola tem buscado substituir a
linguagem da criança pela linguagem-padrão, ao mesmo tempo em que
discrimina e desvaloriza a linguagem da criança que a identifica com sua
comunidade. A escola se transforma, por isso, "no lugar de inibição e
restrição, ao contrário do que parecem dizer seus objetivos educacio-
nais". Por um lado, desvalorizando a linguagem da criança, desvalori-
zam-na e a colocam em dúvida a respeito da cultura de sua família. Ela
passa a acreditar que não sabe falar e pouco a pouco passa a excluir-se
do grupo daqueles que participam, com voz, da sociedade. É fácil prever
os efeitos psicológicos e políticos dessa ação nefasta (desejada?) da
escola. Por outro lado, reprimindo seu dialeto, a escola (entre outros as-
pectos) elimina as condições de uma verdadeira interação, condição do
exercício da linguagem. "Podem-se percorrer nessas linhas as razões do
insucesso dessas crianças no sistema de educação formal e
institucionalizada, desatento em relação a essas peculiaridades".
A escola deve, ao contrário, desenvolver desde o primeiro ano
de alfabetização a sensibilidade das crianças em relação às variações
lingüísticas e colocar a nu os preconceitos sociais que privilegiam umas
e discriminam e estigmatizam outras. Desde as primeiras expressões
(como "nóis num vai", "vô ponha isso aí"), as primeiras grafias (como
"cadera", "cortá", "mulé"), a criança vai aprendendo que se trata de ex-
pressões e formas tão expressivas quanto quaisquer outras e que a mo-
dalidade padrão é uma alternativa e não a linguagem única em que pode
manifestar-se.
63
CONSTRUIR SEMPRE
As linhas gerais do trabalho no ciclo básico oferecem orienta-
ções para o trabalho nas séries subseqüentes. Mesmos parecendo
repetitivos, insistamos em que não se perca de vista:
- o privilégio que se deve dar às atividades de linguagem, de
produção e interpretação de textos orais e escritos, em um
contexto significativo que se constitui inicialmente como ex-
tensão do contexto comunicativo familiar e da comunidade,
mas que logo se amplia para novas situações sociais e
interpessoais diferenciadas, com novos propósitos e novas
exigências formais;
- o fato de que a escola, para isso, deve transformar-se em um
ambiente de rica interação em que se vivem múltiplas experi-
ências, que proporcionem situações de linguagem real e de
construção partilhada de conhecimentos;
- o fato de que a sistematização e a representação desses co-
nhecimentos devem partir de uma intensa exposição prévia
aos dados oferecidos nessas situações de linguagem e de
vida, como decorrência de operações sobre a própria lingua-
gem, na conversação, nas dramatizações, nos relatos e estó-
rias, na transformação e reconstrução dos próprios textos, no
acesso multiplicado a diferentes instrumentos verbais da cul-
tura contemporânea - o jornal, a revista, o livro, a literatura.
O projeto pedagógico é um processo contínuo em que o traba-
lho em uma série supõe sempre um conhecimento detalhado dos resulta-
dos obtidos nas séries anteriores. Assim como no caso da alfabetização o
professor deve levar em conta o nível de conceituação de escrita com que
as crianças chegam à escola. Nas séries subseqüentes o professor deve
sempre reavaliar a realidade lingüística de seus alunos nas atividades orais
de produção de textos e de leitura. Essa realidade será certamente muito
variável, dependendo do sucesso das práticas anteriores.
64
AVALIAÇÃO NUMA PERSPECTIVA CONSTRUTIVISTA
A avaliação é essencial à educação. Inerente e indissociável
enquanto concebida como problematização, questionamento, reflexão
sobre a ação.
Na reconstrução da prática avaliativa, a premissa básica é a
postura de questionamento do professor.
A avaliação é a reflexão transformada em ação. Ação que nos
impulsiona a novas reflexões. Reflexão permanente do educador sobre
sua realidade, e acompanhamento, passo a passo, do educando, na sua
trajetória de construção do conhecimento.
A avaliação na perspectiva de construção do conhecimento,
parte de duas premissas básicas: confiança na possibilidade dos
educandos construírem suas próprias verdades e a valorização de suas
manifestações e interesses.
Uma nova perspectiva de avaliação exige do educador uma
concepção de criança, jovem e adulto, como SUJEITO de seu próprio
desenvolvimento, inseridos no contexto de sua realidade social e políti-
ca. Seres autônomos intelectual e moralmente (com capacidade e liber-
dade de tomar suas próprias decisões), críticos e criativos (inventivos,
descobridores, observadores) e participativos (agindo com cooperação e
reciprocidade). Nessa dimensão, os erros e as dúvidas dos alunos são
considerados como episódios altamente significativos e impulsionadores
da ação educativa. Através deles os professores poderão investigar como
o aluno se posiciona diante do mundo ao construir suas verdades. Avali-
ar é dinamizar oportunidade de ação-reflexão. A avaliação deixa de ser
um momento terminal do processo educativo para se transformar na busca
incessante de compreensão das dificuldades do educando e na dinamização
de novas oportunidades de conhecimento.
A ação avaliativa abrange justamente a compreensão do pro-
cesso de cognição. Não há limites nem fins absolutos no processo de
construção do conhecimento.
65
Na medida em que a ação avaliativa exerce uma função dialógica
e interativa, ela promove os seres moral e intelectualmente, tornando-os
críticos e participativos, inseridos no contexto social e político.
Refletindo juntos sobre o que sabemos e o que não sabemos,
podemos atuar criticamente para transformar a sociedade.
A avaliação é MITO decorrente de sua história que vem perpe-
tuando o fantasma do controle e do autoritarismo. O desafio todos temos
de enfrentar! Construir outra história para a avaliação.
Na medida em que se amplia a contradição entre o discurso e
a prática dos educadores, o tema avaliação se torna mais problemático.
Os professores criticam essa prática, embora a exerçam no seu dia-a-dia.
Para analisar essa contradição, devemos resgatar o cotidiano
da avaliação, reconstruindo-se o significado a partir da problematização
de nossas vivências, de reflexão sobre nossas crenças em educação.
A avaliação deve ser revista como ação-reflexão-ação ineren-
te e indissociável da educação, observadora e investigativa no sentido
de favorecer e ampliar as possibilidades próprias do educando.
Qual o significado de determinadas respostas dos alunos nes-
se momento do processo de aprendizagem?
Ser educador hoje em dia implica interrogar-se sobre o signifi-
cado dos erros, para poder repensar uma didática científica.
Avaliação é "movimento", é ação e reflexão.
A justiça da precisão desconsidera a reciprocidade intelectual
que pode se desenvolver através de um método investigativo sobre as
manifestações do educando, a discussão de idéias, a argumentação e con-
tra-argumentação aluno e professor, numa reflexão conjunta.
A avaliação deve significar justamente a relação entre dois su-
jeitos cognoscentes que percebem o mundo através de suas próprias rea-
66
lidades, subjetivamente. O que importa é dinamizar essa relação ao invés
de aproximá-la da precisão das máquinas.
Se valorizarmos os "erros" dos alunos, considerando-os essen-
ciais para o "vir a ser" do processo educativo, temos de assumir também a
possibilidade das incetezas, das dúvidas, dos questionamentos que pos-
sam ocorrer conosco a partir da análise das respostas deles.
. Qual o significado de se atribuir notas a toda e qualquer tarefa
do aluno desde quando ele ingressa na escola?
. Por que se usam canetas vermelhas, salientando a ação corre-
tiva?
. Qual a razão dos calendários de prova, atestados médicos nas
ausências, uso obrigatório de canetas pelas crianças?
. O quanto somos responsáveis pelo fantasma das provas? E
com que propósito?
A ação avaliativa de acompanhamento e reflexão necessita
de consistência metodológica.
A elaboração de testes válidos é tarefa complexa que exige do
professor conhecimento da tecnologia de Testes e da área de conheci-
mento em questão.
Perguntas que devem ser formuladas na ação avaliativa:
O que meu aluno compreende?
Por que não compreende?
A postura do professor frente às alternativas de soluções
construídas pelo aluno deveria estar comprometida em tal concepção de
"erro construtivo". A criança e o jovem aprimoram sua forma de pensar o
mundo em situações novas e novos desafios onde formulam e reformulam
as hipóteses ("crescimento em processo de superação").
67
Há necessidade de sentido investigativo e reflexivo do professor
sobre as manifestações do aluno, deixando de ser "verificação de respos-
tas certas/erradas".
A avaliação deveria funcionar como mediação pela qual se en-
corajaria a reorganização do saber. Professor e aluno buscando coordenar
seus pontos de vista, trocando idéias, reorganizando-as.
A ação avaliativa enquanto mediação, se faria presente, justa-
mente no interstício entre uma etapa de construção do conhecimento do
aluno e a etapa de produção, por ele, de um saber enriquecido.
A ação do professor ê limitada a transmitir e corrigir.
Uma ação avaliativa mediadora envolveria um complexo de pro-
cessos educativos (que se desenvolveriam a partir da análise das hipóte-
ses formuladas pelo educando, de suas ações e manifestações), usando
essencialmente o entendimento.
É preciso legitimar a responsabilidade ativa do professor quanto
a um processo avaliativo mediador: refletir sobre toda a produção de
conhecimento do aluno, promovendo o "movimento", favorecendo a inici-
ativa e curiosidade no perguntar e responder, construindo nossos sabe-
res junto com os alunos.
A dimensão humana é infinita!
Não é possível medir o que é incomensurável e que ganha
proporções maiores a cada instante.
Limitar o homem ê como tentar prender a luz.
68
"A escola é o teatro, a sala de
aula é o palco. As crianças, os
atores. O enredo é a vida. Ao
professor, direção da cena."
69
RELATO DA NOSSA EXPERIÊNCIA
Fundamentados num embasamento teórico capaz de respal-
dar nossa prática, demos asas à nossa capacidade criadora e construto-
ra e adentramos nossa sala com uma nova visão de educação.
Foi com grande esforço, dificuldade, mas confiança, que assu-
mimos esse desafio ousado mas prazeroso de abandonar o velho pelo
novo, o comum, habitual e rotineiro pelo criador e inovador.
Seria utopia imaginarmos que atingimos o ideal e muito menos
o perfeito, mas é certo que nos aproximamos um pouco mais da melhoria
educacional que deve instigar todo educador compromissado com os
propósitos nobilitantes da educação.
Abriu-se então um novo caminho, alicerçado sempre no estu-
do, aprimorado na prática e alimentado pela satisfação de presenciar-
mos as descobertas conjuntas de professor e aluno.
Nosso campo de ação foi então uma escola de periferia, tendo
como clientela crianças oriundas de famílias de baixo poder aquisitivo.
Seus pais geralmente tiveram pouco ou nenhum acesso à escola.
A maior parte das crianças que atendemos tiveram suas pri-
meiras experiências escolares aos sete anos de idade. Portanto chega-
ram até nós com olhos inquiridores e com anseios de serem recebidos
num ambiente capaz de proporcionar-lhes momentos que dessem conti-
nuidade à dinâmica de vida que já possuíam fora da escola.
71
Dinâmica esta de cor, som, movimentos, melodia, espaço,
oralidade, desenho, escrita e leitura de mundo. Um mundo amplo e pró-
prio que se interage com o universo.
Dentre inúmeras atividades iniciais, tentamos resgatar com suma
importância e valorização ímpar do ser que estava à nossa frente, lançan-
do mão de sua identidade maior, colocando então à tona seu nome, esta
palavra singular capaz de despertar em nós uma grande história e de nos
projetar no tempo e no espaço.
O nome próprio é algo particular a cada pessoa, por isso dotado
de grande significado. Sendo assim, é viável sua exploração em sala de
aula, através de atividades cada vez mais ricas e variadas.
"O nome próprio pode considerar-se como uma palavra a mais
no mesmo nível de tantas outras; mas também pode considerar-se como
uma palavra singular, muito diferente de outras em muitos aspectos. Por
um lado, a carga emocional vinculada com esta escrita não pode ser
comparada com a carga emocional de outras palavras mais neutras. O
nome próprio escrito, ou a assinatura, é parte da pessoa, de sua própria
identidade
Provavelmente, através do uso da escrita do seu nome, a cri-
ança descobre algumas das funções da escrita em geral, como a de
identificar objetos, lugares, etc." (FERREIRO, Emilia 1979: 240)
A exploração do nome próprio é tão contagiante e significativo
que também é possível perceber o quanto as crianças evoluem em rela-
ção a interação - EU - OUTRO. (Anexos: 12 a 19)
A partir da exploração do pré-nome, proporcionamos às crian-
ças um contato intenso e agradável com o universo de letras, através
das quais será construída a ponte que as levarão ao mundo da leitura e
da escrita.
Este conjunto de letras chamado alfabeto é apresentado de
forma integral e sem receios porque acreditamos que o processo de alfa-
72
Anexo 12
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74 Anexo 13
Anexo 14 75
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Anexo 15
Anexo 16
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Anexo 17
Anexo 18
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80
Anexo 19
betização não acontece de forma a privilegiar seqüência de determina-
das letras em detrimento de outras.
A criança em sua vivência de mundo visualiza o todo para de-
pois internalizar as partes.
Em meio a pré-nomes e letras percorremos um caminho no qual
surgem palavras outras também dotadas de significação e que terão como
função informar às crianças quanto à existência de um sistema organizado
de signos, do qual a humanidade lança mão em situações funcionais e
sociais.
O trabalho com palavras origina-se sempre de um contexto.
Palavras como: rótulos; nomes de objetos da sala; nomes de objetos
trazidos de casa pelas crianças; palavras relacionadas ao estudo de de-
terminado tema; palavras do interesse da própria criança; palavras retira-
das de músicas, poemas, textos, histórias, receitas, jornais, revistas; pas-
seios realizados pela turma; acontecimentos sociais e políticos, etc.
A diversidade de textos contextualizados, dos quais retiramos
palavras, se dá com o objetivo de possibilitar à criança a descoberta da
variedade de situações em que aparece o uso funcional da linguagem
escrita.
Os recursos que ora citamos, tentando relatar o nosso trabalho
em sala de aula, são alicerçados em descobertas, construções, interse-
ções, trocas e comparações de conhecimentos. Portanto visam o fluir na-
tural, progressivo e harmônico do desenvolver infantil.
Para maior clareza dos processos utilizados nas entrelinhas
da nossa ação pedagógica, explicitaremos em seguida as atividades re-
alizadas no dia-a-dia da nossa sala de aula.
Expondo com detalhes, tentaremos mostrar que é possível
atualizar nossa prática, ousar pedagogicamente, crescer com as crian-
ças e aprender sempre.
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Assim e a nossa Escola
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Saber é conhecer por
experiência; compreender é
construir com vivência e
crescer só se faz
"consciência".
89
DETALHANDO ATIVIDADES
Valorizando o nome
Atividade 1
O pré-nome da criança é levado para a sala de aula e apre-
sentado como o primeiro e maior presente recebido por ela. Realizamos
atividades de identificação e trabalhamos tal palavra, primeiramente, de
uma forma global. Estes nomes são escritos, num segundo momento,
em fichas com letras caixa alta, devido à familiarização que a criança já
possui com tal letra, trazida na sua bagagem de mundo. (Anexo: 20)
As atividades de identificação são feitas trabalhando vários
critérios:
Exemplo: a criança que tiver o nome iniciado com a letra A
pegará sua ficha e colocará no fichário (lugar onde se expõem todos os
pré-nomes da turma).
. A criança que tiver 6 letras no nome poderá levar sua ficha ao
fichário.
. E assim prosseguirá a brincadeira explorando letra final, síla-
ba inicial e final, número de sílabas, terminação do nome (rima) e outras.
Estes pré-nomes também serão trabalhados em letras bastão
e cursiva. (Anexos: 21 e 22)
91
Atividade 2
Os nomes de todos da turma, inclusive o do professor, foram
feitos em fichas, faltando a letra inicial. Em seguida as fichas foram colo-
cadas na caixa surpresa.
Uma criança foi até a caixa, retirou uma ficha, tentou descobrir o
nome do colega, falou para a turma, disse qual letra estava faltando e só
então a inicial foi escrita de cor diferente.
Quando todos os nomes já haviam sido descobertos, foi feita a
classificação, observando o número de letras, colocando os nomes num
cabo de vassoura com os numerais correspondentes. (Anexo: 23)
Em outro momento, fizemos classificação dos nomes pela le-
tra inicial. (Anexo: 24)
Atividade 3
- Conversamos sobre a importância do nosso corpo, cuidados
para com ele, funções de suas partes. Também discutimos a questão
dos deficientes físicos; respeito e papel da sociedade para com eles. Em
seguida demos ênfase à importância do nome. Só então, cada criança
foi até o espelho, se olhou, disse uma palavra de carinho para si próprio,
pegou uma revista, foi recortar as letras que formavam seu nome, colo
cou no caderno e em seguida fez o desenho de seu corpo. (Anexo: 25)
Atividade 4
Cruzadinha dos nomes
- Fizemos moldes das letras. As crianças pegaram papel fan
tasia, os moldes e foram fazer seus nomes. Pedimos que fizessem a
inicial de outra cor.
Esboçamos a cruzada num papel pardo e colamos a inicial
dos nomes em seus respectivos lugares. Em seguida, as crianças procu-
92
ravam seus lugares através da inicial e quando havia nomes que começa-
vam com a mesma letra eles diferenciavam os lugares contando o número
de letras. Depois de montada a cruzada, as crianças fizeram o desenho de
seus rostinhos e colaram próximo ao nome. (Anexo: 26)
Atividade 5
Entregamos folhas brancas. Cada um escreveu a inicial do seu
nome bem grande e enfeitaram a letra, desenhando aquilo que ela suge-
ria. Alguns foram até a caixa de sucatas e pegaram algumas, para dar o
acabamento final. Quando todos haviam terminado, resolvemos pendurar
as obras de arte no teto. As crianças se divertiram muito, observando
detalhadamente cada letra pendurada e sorrindo quando o vento balança-
va as obras de arte. (Anexo: 27)
Atividade 6
Levamos para a sala muitas letras de gesso, deixamos que as
crianças explorassem bem até que todas as curiosidades estivessem atendi-
das. Sugerimos que pintassem as letras. Com muita alegria começaram a
pintura. Quando terminaram, falamos que também tínhamos corações, pla-
cas com dizeres e aviões de gesso. Estes também foram explorados e em
seguida pintados. Recolhemos os materiais e dissemos que futuramente tra-
balharíamos com eles de novo. Pegamos tais materiais e fizemos
lembrancinhas para as crianças, formando o nome de cada uma, colando
numa fita de tecido e enfeitando com o coração, o avião e os dizeres. Fizemos
pacotinhos e colocamos as lembrancinhas dentro. Levamos para a sala, fize-
mos suspense, pedimos que dissessem o que achavam que era. Em seguida
pedimos que fossem, um a um, pegando um pacote, abrindo e verificando o
que tinha dentro. Leram o nome do amigo e entregaram, dando um abraço.
Foram abraços carinhosos e sorrisos de felicidade.
Esta foi a lembrancinha que resolvemos oferecer em homena-
gem ao Dia da Criança. (Anexo: 28 e 29)
93
Atividade 7
Levamos para a sala todos os ingredientes necessários para
fazer massa de modelar de farinha-de-trigo. Com o auxílio das crianças a
massa foi feita e utilizada em várias atividades. Uma delas foi a formação
do pré-nome, sendo que a criança que sentisse dificuldade tinha toda liber-
dade para pegar sua ficha do pré-nome para orientar-se. Em seguida pro-
duzimos textos. (Anexo: 30)
Atividade 8
O bingo do pré-nome é um recurso muito utilizado desde os
primeiros dia de aula, pois uma das formas de construção de conheci-
mento pela criança é através do jogo, portanto, este deve estar sempre
presente.
Para jogar o bingo, a criança pega a carteia com seu nome,
conta o número de letras e, para marcar, pega a mesma quantidade de
tampinhas. Elas também podem marcar o bingo com as próprias letras
que formam seu nome.
Cada letra cantada é explorada: nome, som, quem tem aquela
letra no seu nome, palavras com tal letra, etc.
Para cantar as letras, usamos os vários jogos de alfabeto que
possuímos ou cantamos através da pescaria, com auxílio dos alunos.
(Anexos: 31 e 32)
Atividade 9
O nome também é utilizado em brincadeiras agradáveis e cons-
trutivas como o "caça-palavras".
O cartaz é colocado na parede ou no chão para que cada um
procure e pinte seu nome. (Anexo: 33)
94
Anexo 20
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Anexo 21
Anexo 22
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Anexo 25
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Anexo 28
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Anexo 29
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Anexo 31
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Anexo 34
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Atividade 10
Fizemos fichas com os nomes e, com o auxílio das crianças,
fomos descobrindo as sílabas dos nomes, cortando-as e marcando a
quantidade encontrada no nome de cada um. (Anexo: 34)
Atividade 11
Cada criança pegou, numa caixa, uma ficha que continha uma
sílaba, a qual era do nome de alguém da sala. Quando demos um sinal
elas saíram procurando outras fichas que encaixavam às suas. Ao en-
contrarem, sentavam-se no chão, descobriam de quem era o nome que
haviam conseguido formar. Depois de todos os nomes formados, houve o
momento da exposição pelos grupos e da exploração de cada nome.
Lidando com letras
Atividade 1
Desde seus primeiros dias na escola, nossas crianças lidam com
as letras de vários tipos, tamanhos e materiais. Usando o alfabeto de
imprensa maiúsculo, as crianças observaram e discutiram sobre as letras,
sendo que se apegaram mais aos segmentos retos e curvas que elas
possuem.
. Separaram as letras que só possuíam retas das que possuí-
am retas e curvas ou só curvas.
. Contaram quantas e quais letras havia em cada grupo.
. Pegaram os palitos de picolé que estavam no material de ma-
temática, coloriram com giz de cera e em um cartaz, fizeram as letras que
só possuíam retas e em outro as demais, usando sobras de lã para repre-
sentar as partes curvas. (Anexo: 35)
110
Atividade 2
Fizemos o traçado das letras do alfabeto em tipos diferentes
(maiúsculo e minúsculo, imprensa e cursiva) e pedimos que colassem nas
letras farinha colorida. Misturamos todas as letras e eles as separaram,
observando os tipos e fazendo a seqüência alfabética. (Anexo: 36)
Atividade 3
Colocamos numa caixa alfabetos construídos com vários tipos
de materiais: papelão, fio de eletricidade, lixa, garrafas de água sanitária,
tecido, plástico, madeira. Pedimos que observassem a caixa. Eles consta-
taram que havíamos misturado os alfabetos com os quais trabalhávamos
em sala. Despejamos tudo no chão e pedimos que fizessem a separação e
depois seqüenciassem. Foi um momento de muita integração e troca de
experiências. No final, vimos no chão, um espetáculo de cores e formas.
(Anexo: 37)
Atividade 4
Pegamos o alfabeto de letra cursiva em que as crianças haviam
colocado farinha colorida e dispusemos no alto do quadro, em ordem alfa-
bética. Resolvemos fazer isto porque as crianças estavam interessadas
em escrever com letra cursiva, porém algumas apresentavam dificuldades
em lembrar do traçado de algumas letras e precisavam de algo para
pesquisar. Desta forma, tal dificuldade foi resolvida. Na parede, colocamos
o alfabeto maiúsculo acompanhado de gravuras recortadas de revistas para
cada letra. (Anexo: 38)
Atividade 5
Colocamos no centro do grupo uma caixa contendo letras. Cada
um formou palavras, livremente, ilustrando-as.
Atividade 6
Possuímos joguinhos com gravuras e as letras iniciais das
mesmas, onde a criança sempre recebe tudo misturado para fazer a as-
sociação. (Anexo: 39)
Atividade 7
Fizemos um caminho dividido no chão da sala, com fita ade-
siva e, em cada divisão, colocamos uma letra do alfabeto. A criança pega-
va o dado, jogava e andava a quantidade de casas segundo o número
tirado no dado. Quando parava de andar, observava em que letra tinha
ficado, falava o nome da letra e palavras com aquela letra.
Com esta atividade, também trabalhamos seqüência alfabética.
(Anexo: 40)
Atividade 8
Temos na sala um quadro de pregas, o qual fica exposto na
parede de forma que todas as crianças o alcancem, pois o mesmo é
utilizado sempre que elas sentem necessidade de construir palavras.
Vale lembrar que o material citado é trabalhado de maneira inovadora,
porque, atualmente, colocamos nele todo o alfabeto para que a criança
tenha oportunidade de seguir sua caminhada de construção de forma
livre, sem ser podada do direito de formular suas hipóteses e avançar
cada vez mais em direção à apropriação da escrita convencional. Anti-
gamente, utilizávamos o quadro de pregas somente para colocarmos as
palavras e os padrões trabalhados. A criança só tinha o direito de formar
palavras com tais padrões. Palavras estas, na maioria das vezes, vazias
de significado, pois nossa preocupação era apenas com a fixação do
padrão trabalhado.
Quando refletimos sobre nossa ação do ontem e do hoje,
constatamos que só é possível haver construção se houver liberdade de
ação.
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Anexo 39
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Anexo 40
Sentindo o prazer da ação
Valendo-se de caixas de papelão, às vezes até consideradas
inúteis, o professor criativo pode proporcionar aos alunos momentos ines-
quecíveis.
. Vários jogos de alfabeto foram feitos.
. As letras exploradas com vários critérios: tamanho, espessura,
semelhanças e diferenças, quantidade de letras repetidas, quantidade to-
tal de letras, etc.
. A turma foi dividida em grupos e com alegria foram pintar as
letras. Alguns usaram pincéis, outros preferiram usar o dedo. Enquanto
pintavam conversavam sobre a atividade, as cores preferidas, as letras;
falavam palavras com a letra que estavam pintando, enfim interagiam sig-
nificativamente.
. Quando as letras já estavam pintadas, as crianças saíram da
sala com elas em busca do sol, a fim de que secassem mais rápido.
. Depois de secas houve nova exploração, verificando as co-
res, as misturas que surgiram, as tonalidades, etc.
Algumas foram colocadas no teto da sala e do corredor, como
mobiles; outras foram usadas em atividades da sala, como por exemplo,
estas a seguir, que são as mais deslumbrantes:
. Letras espalhadas pelo chão, todas com um cordão para se-
rem usadas como colar.
. Cada criança identificou e pegou a inicial de seu nome e
colocou-a no pescoço.
. Em seguida, andaram e agruparam-se, procurando combinar
as letras formando sílabas, palavras. A cada descoberta de uma palavra,
era um sorriso e um grito de alegria. Era uma vitória.
119
. Outro momento de muita atenção, de tentativas e encanto foi
quando o professor, anteriormente, combinou as iniciais dos nomes dos
alunos, descobrindo muitas palavras que são nomes de objetos, animais,
etc. Colocou na caixa surpresa o material concreto para que descobris-
sem, através da percepção tátil, o que havia na caixa e, no momento da
retirada do objeto, as crianças possuidoras das letras do nome do objeto
corriam para a frente e procuravam organizar-se formando o nome. Quan-
do alguém estava com a letra fora do local devido, ou quando faltava ou
sobrava alguma letra, as próprias crianças tomavam as iniciativas e sem-
pre explicavam o motivo da ação.
As atividades citadas mostram como é enriquecedor alfabetizar
com reflexão, ação, vida. E foi por isso que resolvemos fazer essas letras
também de tecido. (Anexos: 41 a 43)
Construindo palavras
Atividade 1
As palavras são construídas no chão e na carteira com muita
liberdade e variedade de letras. Neste momento a criança tem o direito
de criar suas próprias hipóteses usando o raciocínio lógico que lhe é
próprio e demonstrando o nível de escrita no qual se encontra. Neste
instante, ela experimenta, raciocina, opera, questiona e constrói. (Anexo:
44)
Atividade 2
Foram entregues envelopes contendo fichas, nas quais havia
gravuras e espaços quadriculados de acordo com a quantidade de letras
de cada palavra. As crianças observaram o desenho e procuraram formar
o nome da gravura, organizando as letras. (Anexo: 45)
120
Atividade 3
Com o jogo Adedonha, construído na Oficina Pedagógica, os
alunos sentaram-se e foram brincar. Cada um tinha o direito de girar a
roleta 2 vezes. A primeira para determinar a classe da palavra e a segunda
para determinar a letra.
Exemplo: 1ª vez sentimento
2ª vez letra a
O que rodou teve que dizer e formar o nome de um senti-
mento começado com a (amor). Em seguida a palavra foi escrita.
Na hora de formar a palavra a troca de experiência no grupo
sempre ocorre.
A referida atividade também foi feita com todos os alunos for-
mando palavras diferentes, mas todas iniciadas com a letra sorteada. Em
outro momento, também trabalhamos com este material, mas as crianças
apenas falaram as palavras. Só se via criança tentando ser mais rápida
no pensar e no falar. (Anexo 46)
Atividade 4
Solicitamos às crianças que trouxessem de casa vários obje-
tos. Explicamos a elas que muitas vezes achamos que determinadas
coisas só servem para o lixo, mas que íamos descobrir, juntos, formas
de utilizar tais coisas em nossas atividades de sala.
Colocamos, na parede, ficha com os 4 tipos de letras, abaixo
de cada uma batemos um prego e amarramos um cordão.
Os objetos trazidos foram colocados no chão. Convidamos os
alunos para que pronunciassem os nomes dos objetos destacando o
som inicial. Esta atividade é um momento importante para a descoberta
do valor sonoro convencional das letras. Depois desta descoberta pen-
duramos os objetos na parede, com o auxílio das crianças, abaixo de
suas respectivas iniciais. Compusemos assim um belo painel, intitulado
121
"alfabeto concreto" e que serviu como uma grande fonte de palavras, as
quais foram construídas pelas crianças em quadro de pregas, com alfabe-
tos pelo chão, escrevendo no caderno, no quadro negro, etc. Com os ma-
teriais do "alfabeto concreto" também construíram-se frases e textos.
(Anexo: 47)
Atividade 5
Temos a caixa e o saco surpresa, os quais, como o próprio
nome já diz, dão mais emoção às atividades. Neles podemos colocar
coisas para serem descobertas pelas crianças através da percepção tátil
e depois escritas ou explorados de outras formas. (Anexo: 48)
Atividade 6
Para estudarmos as plantas, saímos para dar um passeio pela
escola e também por sua redondeza. Antes já havíamos discutido sobre
o objetivo do passeio. Levamos sacolas de plástico para recolhermos
folhas, flores, tudo que encontrássemos pelo chão referente a plantas. Com-
binamos que não tiraríamos nada que estivesse plantado, pois também
valorizamos a preservação da natureza. Foi um passeio maravilhoso, mui-
to interessante. Quando voltamos para a sala, formamos uma árvore com
as partes que encontramos e fizemos caule com pó de cerragem. Também
fizemos fichas com os nomes das partes, escrevendo, com as crianças
nos dizendo, as letras que deveríamos pôr. Isto após conversarmos sobre
as funções de cada uma.
Dando continuidade a este assunto também conversamos so-
bre alimentos e produzimos textos informativos. (Anexos: 49 e 50)
Atividade 7
Fizemos um "leque do alfabeto" no qual colocamos as mes-
mas quantidades de letras que há no quadro de pregas, 3 vogais e 2
consoantes, bem como os acentos. As crianças abriram o leque e forma-
ram palavras que lhes eram significativas. (Anexo: 51)
122
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Anexo 47
129
130
Anexo 48
Anexo 49
131
132
Anexo 50
133
134
135
Atividade 8
Numa tira de cartolina fizemos a seqüência alfabética, escre-
vendo com pincel atômico. Cada tira foi acompanhada por um envelope,
no qual colocamos as letras separadamente. Eles abriram o envelope, des-
pejaram as letras misturadas na carteira e foram associando as letras,
fazendo a seqüência alfabética. Depois formaram palavras significativas,
retirando as letras necessárias, escrevendo as palavras e devolvendo as
letras para seus respectivos lugares. (Anexo: 52)
Atividade 9
Fichas contendo letras variadas são entregues às crianças, acom-
panhadas de um suporte de plástico com espaço próprio para o encaixe
das fichas.
As palavras são construídas livremente e depois escritas em
folha branca.
Atividade 10
Explorando cores diversas e letras variadas, palavras são
construídas livremente na carteira. (Anexo: 53)
Descobrindo em grupo
Em garrafinhas de iogurte, letras do alfabeto feitas de papel fo-
ram colocadas, e com um pedaço de papelão foi feita uma argola. As
crianças dividiram-se em grupos, sendo que em cada grupo havia muitas
letras para trabalharem. Uma criança retirou-se do grupo, pegou a argola e
jogou-a , procurando acertar uma letra. Todos observaram a letra acertada
e, em grupo, formaram palavras que iniciavam com a letra derrubada.
136
Antes, combinamos um tempo para a formação das palavras e,
vencido este tempo, todos os grupos paravam apenas para ouvir e observar
as palavras que estavam sendo apresentadas pelos colegas. (Anexo: 54)
Explorando o corpo
O corpo também é explorado e valorizado em nossas ativida-
des. Trabalhamos a auto - estima, mostramos às crianças a importân-
cia, os cuidados que devemos ter para com ele, etc. Para que o trabalho
seja mais consistente, além de analisarmos o corpo como um todo,
refletimos sobre cada parte. Vejamos uma dessas atividades, que ex-
plora as mãos.
- Conversamos com as crianças sobre como era a sala assim
que as aulas iniciaram. Lembramos como estavam as paredes.
- Conversamos sobre o quanto nossas mãos trabalhavam para
termos um ambiente agradável, bonito, enfeitado, cheio de atividades. Ex-
ploramos o que mais as nossas mãos podem fazer.
- Trabalhamos os atos de bondade e de maldade que as mãos
podem fazer, deixando que dessem exemplos vivenciados por eles.
- Colocamos no centro da sala um objeto grande e pesado (a
mesa do professor) e pedimos para uma criança carregá-la para perto da
porta, sem arrastá-la.
A criança percebeu que não dava conta de fazer isso sozinha.
e, então, convidou outros colegas para ajudá-la.
. Conversamos sobre a importância da união.
- Discutimos sobre os deficientes físicos.
- Deixamos que montassem, no chão, o alfabeto, nos 4 tipos
de letras para que a palavra MÃO fosse formada e observada.
137
- Colocamos pratos com tinta num canto da sala, bem como
papéis.
- As crianças levantaram-se uma a uma, dirigiram-se a um cole-
ga, fizeram um gesto de carinho com as mãos para, em seguida, colocar a
mãozinha na tinta e carimbar numa folha. (Anexo: 55)
Construindo através de recorte e colagem
Atividade 1
Num ambiente de união e descontração, após colocarem as
letras em ordem alfabética, usando um dos vários alfabetos existentes
em sala, as crianças pegaram revistas, procuraram e recortaram letras,
para formarem a seqüência em seus cadernos de desenhos. Foi um
momento de total movimentação onde presenciamos e praticamos a ver-
dadeira disciplina "estar envolvido em alguma coisa" com interesse,
motivação, participação e crescimento. (Anexo: 56)
Atividade 2
Gravuras foram recortadas de jornais, revistas ou livros velhos
e colados em folhas. Dos mesmos materiais foram cortadas letras e, perto
das gravuras, as crianças colaram letra inicial, formaram sílaba inicial ou a
palavra toda. Cada criança ficou livre para escolher o que lhe era mais
interessante. (Anexo: 57)
Atividade 3
Cada criança fez um "dicionário" no qual elas colaram gravu-
ras e escreveram os nomes. O mesmo foi organizado em ordem alfabé-
tica e as gravuras foram recortadas em sala, ou trazidas de casa. Quando
chegavam na sala, as próprias crianças, livremente, pegavam seus
"dicionários" na prateleira e organizavam-no.
138
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141
142
Atividade 4
Nesta atividade, as crianças retiram de revistas diversas gra-
vuras e letras com a participação e a ajuda de todos da turma, constroem
palavras, formando um belo e rico painel para ser posteriormente afixado
na parede da sala.
Convivendo com os rótulos
Vários produtos foram colocados no chão para serem explora-
dos, observando o que havia dentro das embalagens e lendo os rótulos.
Fomos destacando alguns rótulos e as crianças foram fazendo
a mímica que o produto sugeria. Exemplo: Sabonete Palmolive.
* As crianças faziam que estavam tomando banho.
Classificação:
Sugerimos que organizassem os produtos sempre questionan-
do qual critério estava sendo utilizado e deixando várias crianças realiza-
rem a atividade a fim de que houvesse tipos bem diversificados de classi-
ficações.
Questionamentos:
- Onde tais produtos são encontrados?
- O que utilizamos para comprá-los?
* Sugerimos a organização de uma vendinha na sala de aula.
* Pedimos que dessem nome à vendinha. Dentre os nomes su
geridos, um foi escolhido através de votação e escrito numa ficha.
143
- Atentamos para o fato de que os produtos deveriam ser orga-
nizados na vendinha, de modo que facilitasse para quem fosse comprar, pois
nos supermercados observamos bem esta organização.
- Pedimos a uma criança para organizar a vendinha.
Divulgação dos produtos
As crianças fizeram propagandas na televisão, apresentando
alguns produtos da vendinha.
Hora das compras
Uma criança foi escolhida para trabalhar no caixa. Esta criança
encontrava-se no nível alfabético, pois teria que observar as fichas do
comprador e dizer se ele pegou ou não o produto correto.
Conversamos com os compradores que o dinheiro a ser utilizado
seria diferente. Eles usariam fichas contendo letras, sílabas ou palavras.
Cruzadinha
No chão, fizemos uma cruzada concreta, usando os produtos
trabalhados e demarcando os espaços com fita adesiva.
Deixamos vários alfabetos à disposição dos alunos para que
formassem a cruzada.
144
Aprender é despertar em nós
aquilo que já existe."
145
Destacamos alguns rótulos para que as crianças, usando-os,
sugerissem frases, as quais foram registradas.
Num outro dia, fizemos, em papel pardo, o esboço de uma cru-
zada (somente os espaços). Colocamos o cartaz e vários rótulos no chão.
Solicitamos às crianças que tentassem procurar o lugar devido de cada um
e, em seguida, colassem as letras, que foram feitas por eles, usando
moldes.
Aproveitando pedaços de carpete fizemos muitas letras e as
crianças, empolgadas, pintaram todas com giz de cera. Também providen-
ciamos um pedaço de acrilon e o afixamos na parede. Nele foi montada
outra cruzada. (Anexos: 58 a 60)
Criando recadinhos
Na sala havia um mural onde as crianças colocavam os
recadinhos que redigiam. O professor mandava recadinhos e sempre pro-
curava proporcionar momentos para que esta atividade ocorresse.
Também eram colocados avisos, cartas, desenhos...
Homenageando as mães
Atividade 1
Mãe, este sertão sublime também foi lembrado em nossas ativi-
dades. Conversamos muito sobre o que ê ser mãe, ouvimos atentamente
os depoimentos de cada um.
Todos quiseram contar fatos do seu cotidiano que relacionavam
com a mãe. Partindo disso, resolvemos fazer um livrinho para a mamãe,
no qual continha:
147
. a gravura da mamãe feita com cartolina, lã para os cabelos;
. um acróstico com o nome da mãe;
. uma oração;
. agradecimentos;
. coisas de que gosta na mãe;
. coisas de que não gosta;
. receitas;
. fotografia do filho, acompanhada de uma frase.
Também fizemos um jarrinho, que ficou interessante. O jarro foi
um copo descartável coberto com papel alumínio. Sentimos dificuldade
em resolver o que colaríamos dentro para sustentar as florezinhas do cer-
rado, mas logo as crianças sugeriram massa de modelar. Então aceita-
mos, conseguimos os ingredientes, fizemos a massa com as crianças e
deu certo.
Finalizando o trabalho, cada um criou uma frase para sua
mãe, que foi escrita e assinada pelo filho. Acompanhando a frase veio o
contorno das mãos com a mãe desenhada no centro e os filhos nos
dedos.
Atividade 2
Em outra oportunidade, fizemos um jarrinho utilizando o fundo
do vasilhame de água sanitária que foi coberto com retalhos e tule. Usa-
mos massa de modelar para encher o jarro e o enfeitamos com flores do
cerrado. (Anexo: 61)
Trabalhando com textos diversos
1 - Observando gravuras escolhidas livremente na caixa do
material Imagem e texto, construído na Oficina Pedagógica;
148
2 - Situação ocorrida em sala;
3 - Carta de um funcionário da escola;
4 - Músicas;
5 - Texto literário;
6 - Poesias.
Vivendo momentos históricos
Atividade 1
Criamos o hábito de discutir aberta e criticamente qualquer
tipo de situação. Foi assim que, por várias vezes, surgiram na sala
contagiantes discussões sobre a crise política que afetava o Brasil. No-
tícias sobre as denúncias de corrupção no governo chegavam todos os
dias e, pouco a pouco, cada um foi se posicionando, se manifestando,
tomando consciência do momento histórico do qual cada um de nós se
tornou personagem.
No dia posterior à votação do "impeachement", quando entra-
mos na sala, foi uma explosão de alegria. Cada um vibrava como se fosse
o responsável direto por esta vitória. Descobri que quase todos assisti-
ram à votação, sabiam contar quantos votos a favor, quantos contra, como
foi a comemoração em todo o país.
A sugestão de registrar este momento partiu das próprias
crianças. Fizemos, então, o texto e cantinho do "impeachment" com re-
cortes de jornais. (Anexo: 62)
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Anexo 62
155
Atividade 2
Uma emoção ainda mais forte tomou conta de todos na oca-
sião da morte do piloto Ayrton Senna. Entre muitas lágrimas lemos as
notícias sobre sua morte, discutimos o que ele representava para nosso
país, considerando que profissionalmente ele se consagrou ídolo mas
sua vida não era mais valiosa do que as nossas perante o Criador.
Decidimos, como forma de prestar-lhe a última homenagem,
confeccionar um mural com as notícias e os sentimentos de cada um,
expressos em desenhos e/ou textos. (Anexo 63)
Enfeitando a porta da sala de aula
Costumamos, sempre que possível, enfeitar a porta da nossa
sala de aula. Dentre várias alternativas utilizamos esta:
Colocamos dentro de uma caixinha várias palavras. Convi-
damos uma criança a retirar uma palavra e ler. Depois convidamos ou-
tra. Quando elas leram as palavras, pedimos que, juntas, pensassem e
dissessem algo onde aparecessem as duas palavras retiradas. No pen-
samento visto na fotografia em anexo as palavras retiradas foram: es-
cola e estrela. Depois que a dupla apresentou o que conseguiu cons-
truir, escrevemos num cartaz. Partindo daí, discutimos sobre a escola,
chegando à conclusão de que ela é de grande importância e que cada
um de seus membros deve cumprir sua missão para que ela funcione
bem. Decidimos fazer estrelas com o desenho dos integrantes da nossa
escola bem no centro delas e nas pontas, colagem com papel picado.
Para realizar a atividade acima foi preciso que as crianças se dividissem
em grupos, os quais foram organizados de acordo com as funções dos
integrantes de nossa escola.
156
Preparando o colorido jogo de argolas
A preparação deste material foi riquíssima. O primeiro passo
foi conseguir as garrafas com os próprios alunos. Depois a confecção do
jogo. Com tintas guache nas cores primárias fizemos as mais variadas
misturas. Os alunos atentos descobriam as novas cores. A cada descober-
ta fazíamos o registro e colocávamos a tinta na garrafa, completando-a
com água. Em seguida recortamos as letras de papel contact e colamos
nas garrafas.
Fizemos também a argola de papelão.
Com este material as crianças, além de descobrirem as cores,
construíram palavras, fizeram seqüência alfabética, classificações,
seriações, etc. (Anexo: 64 e 65)
Brincado com o ar
Atividade 1
Fizemos vários experimentos e atividades lúdicas, estudando
o ar. Algumas delas são as explicitadas no texto em anexo (fotografia), o
qual foi produzido com a turma. (Anexo: 66 e 67)
Atividade 2
Merece destaque a seguinte atividade:
Partindo da música O Vento, conversamos sobre o ar, fizemos
aviões de papel e levamos as crianças para o pátio para que com os
aviões brincassem com o ar.
Fechando o estudo produzidos um texto referente ao ar. (Ane-
xo: 68)
157
Integrando conteúdos
Um dia antes dissemos às crianças que em breve íamos fazer-
Ihes uma surpresa. No dia seguinte, levamos para a sala caixinhas de
gelatina. Colocamos as caixinhas à disposição das crianças. Elas leram o
que era. Vimos quem conhecia, quais os sabores que já haviam experi-
mentado, quais os sabores que tínhamos no momento.
Sugerimos que fizéssemos a gelatina. Fomos para a cantina,
observamos como estava a água, colocamos no fogo e esperamos fer-
ver, tornamos a observar a água e fizemos gelatina sabor framboesa,
abacaxi e limão. Quando fomos colocar os recipientes na geladeira, as
crianças também observaram o congelador e viram a água em outro
estado. Enquanto esperávamos ficar pronta, voltamos para a sala e fo-
mos conversar e agir. Alguns escreveram no quadro os sabores com os
quais trabalhamos. Com o auxílio das crianças, que iam falando, escreve-
mos a receita da gelatina. Depois da gelatina pronta contamos quantos
copinhos deram de cada sabor e quantos ao todo. Isto foi representado na
sapateira e registrado no quadro. (Anexos: 69 e 70)
Encorajando sempre
Atividade 1
Como apoio ao trabalho de incentivo que fazemos com as crian-
ças, lançamos mão de frases significativas com mensagens de
encorajamento, capazes de fazer com que as crianças sintam-se segu-
ras e motivadas a construir. (Anexo: 71)
Atividade 2
Além das frases de encorajamento às crianças, lançamos mão
também de frases que representam pontos de apoio e esclarecimento para
o nosso trabalho. (Anexo: 72)
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159
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Anexo 66
161
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Anexo 67
Anexo 68
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Agindo com liberdade
Quando terminavam as atividades, as crianças, por livre e es-
pontânea vontade, logo procuravam algo novo para fazer. Dentre os
vários materiais expostos pela sala, os mais procurados eram os livros.
Estes eram tratados com carinho especial, como tratamos verdadeiros
amigos: com dedicação, confiança, prazer, emoção, amor. Para ler os livros
as crianças gostavam de sentar-se no chão porque ficavam mais à vonta-
de para lidar com o "amigo livro".
Compartilhando experiências com a comunidade
A vovó de um dos nossos alunos nos mandou um tapete, con-
feccionado por ela, para que usássemos na porta de nossa sala. Como
ficamos muito alegres, ficou decidido que ela seria convidada para uma
entrevista.
Quando o convite foi feito, aceitou com alegria.
A visita da Vovó Ana, que tem 71 anos, foi inesquecível. Tratou
as crianças com enorme carinho, respondendo com satisfação a todas as
perguntas. Ela pediu para as crianças que procurassem respeitar os mais
velhos, que amassem seus pais e valorizassem a escola. Quando vovó
Ana falou sobre a escola, contou para as crianças que quando freqüentou
uma, já era adulta e tinha dois filhos.
Ela também fez orações, ensinou receitas, contou como é a
vida na roça e disse que na cidade as pessoas parecem não ter amor a
Deus nem ao próximo. Muitos outros assuntos foram tratados e, no final
da visita, ela recebeu flores.
Quando estava saindo, disse que se precisasse, voltaria, pois
havia gostado de tudo. As experiências que vovó Ana passou ficaram
para sempre registradas em nossa mente.
168
As crianças fizeram, de papel e bem grande, a vovó Ana. Divi-
diram-se em grupos e cada detalhe foi tratado com atenção e carinho. O
corpo foi enchido com jornal picadinho. Depois escreveram bilhetinhos
para ela.
Nunca esqueceremos o semblante feliz desse alguém que se
sentiu valorizado. (Anexo: 73)
Explorando sílabas do pré-nome
As primeiras sílabas do pré-nome das crianças foram espalha-
das pelo chão. Cada criança identificou a sua e colou na frente de seu
corpo.
Em seguida, elas tentavam se juntar a outro colega para então
descobrirem algumas palavras.
Estas palavras eram escritas no quadro pelo professor e lidas
por toda a turma.
Construindo palavras geradas através de palavra geradora
Alfabetos de tecido, enchidos com bolinhas de isopor são distri-
buídos para todos na sala.
A exploração das letras é realizada através de diversas ativida-
des.
Sílabas são formadas e palavras construídas através de des-
cobertas das crianças.
169
Dentre as inúmeras palavras surgiu a palavra sacola e dela,
outras tantas, mostrando a capacidade de construção permanente.
Desenhado sempre
O desenho livre e criativo encontra sempre seu merecido es-
paço em sala de aula. Pois através dele, a criança ganha oportunidade
de evoluir em seu traçado, de aumentar sua capacidade de criação e tam-
bém de se divertir bastante.
Construindo livremente
Explorando um pouco mais a sucata e criando mais um material
rico e criativo, as crianças recebem alfabetos confeccionados em tampas
de garrafa encapadas por elas mesmas.
Através destas tampas, várias palavras são construídas num
espaço gostoso e livre como o chão.
Associando palavras
Através de material simples de sucata como caixas de fósfo-
ros, construímos um recurso rico e divertido para leitura de palavras.
As crianças trabalham com as caixinhas, associando palavras a
seus respectivos desenhos. (Anexo: 74)
170
Libertando-se
Para um professor tradicional, o aluno só deve aproximar-se do
quadro-de-giz quando permitido pelo professor para que seja colocado à
prova.
Para nós e nossas crianças, o quadro é um local onde todos
podem ter acesso quando sentirem necessidade. Através do que os alu-
nos escrevem, observamos suas hipóteses, suas evoluções.
O que a criança mais gosta de escrever no quadro é seu nome,
pois quando lê, sente a valorização do seu próprio EU. (Anexo: 75)
Incentivando a oralidade
Dentre as várias atividades de estimulação à expressão oral,
sempre trabalhamos com fantoches. Até mesmo as crianças mais tímidas
gostam de participar porque não se expõem completamente, mas apenas
sua voz.
Dando asas à imaginação
Com o material chamado "Construção", que é formado por figu-
ras geométricas de várias cores e tamanhos, os alunos dão asas à imagi-
nação criando os mais interessantes brinquedos, com os quais brincam
criativamente. (Anexo: 76)
Resgatando nossa Cultura
Trabalhando a importância de nossa cultura, trabalhamos adi-
vinhações, lendas, cantigas de roda, parlendas, remédios caseiros, cren-
171
ças, etc. Montamos um livro e fizemos personagens do nosso folclore.
(Anexo: 77)
Conhecendo o avanço da mulher
Após cantarmos e interpretarmos a música Sexo Frágil, do can-
tor Erasmo Carlos, discutimos sobre o avanço da mulher na sociedade e
listamos vários cargos ocupados atualmente pela mulher. Houve um
momento de dramatização dessas profissões, que foi bastante descontraído
e rico, deixando as crianças empolgadas para fazerem uma apresentação
na Hora Cívica. (Anexo 78)
Construindo em grupo
A criança está em processo de construção do conhecimento,
logo devemos nos lembrar da importância da interação professor/
aluno,aluno/aluno, quando as crianças aprendem e ensinam muitíssimo
umas as outras. Sempre permitimos e criamos situações que favorecem a
construção do conhecimento através da interação grupai. (Anexo: 79)
Construindo conceito de higiene
Distribuímos na sala de aula gibis do Cascão. Todos puderam
escolher uma história, ler e comentar.
A partir daí questionamos as atitudes do Cascão com relação
à higiene. Vimos os cuidados que devemos ter com o nosso corpo, com
os nossos alimentos e com o ambiente.
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Anexo 75 175
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Produzimos um texto informativo, para exploração posterior
do conteúdo, de forma mais detalhada.
Visitando um animalzinho amigo
Uma cadelinha muito amiga das crianças teve 11 filhotes. A
empolgação das crianças foi tanta que resolvemos visitá-la. Lá contamos
quantos filhotes ao todo, quantos machos, quantas fêmeas, exploramos
cor, tamanho. Este foi o passo inicial para o estudo dos animais, o qual se
deu através de textos informativos, de relatos das crianças, de aconteci-
mentos referentes a animais, de painéis feitos com recortes e colagem.
Produzindo textos
Sempre que podemos, exploramos conteúdos e situações as
mais diversas possíveis, para posteriormente produzirmos textos coleti-
vos informativos, construídos por toda a turma, numa interação de conhe-
cimento.
Valorizando as profissões
A poesia "Muitos cheiros" foi usada como tema gerador do
conteúdo profissões.
Apôs a leitura, além da exploração de rimas, estrofes, versos e
alguns conteúdos gramaticais, destacamos a mensagem da poesia, a
qual aborda o tema profissões.
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Depois da exploração feita de forma oral, partimos para a con-
fecção de um painel com recortes de revistas, retratando as profissões.
(Anexo: 80)
Festejando conteúdos
Animando o estudo das plantas e das estações do ano, fize-
mos um baile ecológico na própria sala com as crianças caracterizadas
de flores, pássaros, borboletas, etc. O ponto máximo do baile foi o mo-
mento de cantar e dançar a seguinte música:
Desfile da Primavera
Sementinhas de rosas
Margaridas também Espalhei
no jardim E cuidei muito bem.
Num dia tão lindo Em sonhos
de flor De margaridas e rosas
O jardim se enfeitou.
Nesta festa tão linda Vamos
todos dançar Passarinhos,
borboletas De mãos dadas a
festejar.
Viajando com a imaginação
Nesta atividade, entregamos folhas brancas para as crianças
colorirem livremente. Em seguida, foi feita a dobradura de um barquinho.
Logo depois, todos deitaram no chão ouvindo uma suave musica, com o
181
barco no coração. Neste momento, imaginaram uma viagem. Quando che-
garam da viagem relatavam oralmente onde tinham ido. Também colaram
o barquinho numa folha e escreveram o texto sobre sua viagem, apresen-
tando-o para a turma.
Apresentando sua família
Trabalhamos o conteúdo família partindo da música Utopia,
do Padre Zezinho. Além das discussões críticas referentes ao tema, tam-
bém deixamos que cada criança manuseasse vários materiais, fazendo
bonequinhos de papel e formando sua família. A casa foi feita com
dobradura, colagem com recorte de papel e complementada livremente,
conforme a criatividade de cada aluno. Nesta atividade a mãe teve des-
taque, uma vez que estava próximo do dia das mães. Os cartazes da
família foram expostos nos murais perto de sugestivas frases. (Anexos: 81
a 82)
Contextualizando a gramática
No dia do soldado, convidamos o policial que trabalhava em
nossa escola e outro, pai de uma aluna, para uma entrevista em nossa
sala de aula.
Eles relataram a importância desta profissão e as dificuldades
por eles enfrentadas, gerando uma grande discussão sobre a violência,
resgatando a educação como meio de evitá-la.
Fizemos a dobradura de soldado. Aproveitamos para contar o
total, os grandes e pequenos, enfileiramos e contamos em números ordinais.
Descobrimos que muitos soldados formam um batalhão ou um
exército. Logo a turma se prontificou a pesquisar outros coletivos e a fazer
os desenhos para enriquecer a atividade. (Anexo: 83)
182
Explorando a gramática
De uma forma divertida e rica, as crianças retiram de revistas
e jornais palavras diversas que representam nomes e que são posterior-
mente classificadas como substantivos. (Anexo: 84)
Estimulando a criatividade
Todos somos possuidores de grande capacidade criadora, que
precisa ser estimulada e valorizada. Em nossa atividade, sempre procura-
mos oferecer às nossas crianças oportunidades de desenvolvimento da
criatividade. Vejamos algumas dessas oportunidades:
. criação de personagens através de caroços de manga;
. confeccionando bonecos;
. fantoches com saco de pipoca;
. flores de papel crepom;
.colagem;
. trabalhando com giz-de-cera e vela;
. construção de maquetes partindo da exploração de livros lite-
rários. (Anexos: 85 a 87)
Passeando em Brasília
Próximo ao aniversário de Brasília, levamos as nossas crian-
ças para visitá-la, pois muitas delas não têm o hábito de passear e algu-
mas nunca tinham ido ao Plano Piloto. Fomos a vários locais, sendo que
183
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Anexo 80
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Anexo 89
193
passamos a maior parte do tempo no Memorial JK e na Praça dos Três
Poderes. Neste mesmo dia, as crianças visitaram a FUNAI onde assistiram
a uma pecinha de teatro, observaram fotos e apetrechos indígenas, brinca-
ram e cantaram com os índios. Tais atividades vieram concluir o trabalho
sobre os índios, o qual já vínhamos desenvolvendo em dias anteriores,
através de textos, músicas, filmes, etc.
Após o passeio, os alunos fizeram uma maquete de Brasília.
(Anexo: 88 a 89)
Contando os alunos
Usando tampas de latas, copos descartáveis e canudinhos fi-
zemos o quadro "Quantos somos?"
Todos os dias, após a contagem que é feita através do fichário
do pré-nome ou com os próprios alunos, um aluno faz a representação
no quadro.
Construindo o conceito de número
Atividade 1
Estes dois jogos: jogo da taturana e carteia cheia objetivam a
construção do conceito de número. Cada um joga o dado, pega a quan-
tidade correspondente de tampinhas e preenche os espaços.
Estes jogos podem ser utilizados também na adição e multipli-
cação.
194
Atividade 2
Usamos um dado com quantidades de 0 a 5 e outro de 6 a 9.
Cada criança jogava o dado e pegava a respectiva quantidade
de tampinhas, colocando-as em suas cartelas que continham números
de 0 a 9.
Em seguida ordenamos e fixamos na parede. (Anexo 90)
Construindo a adição
Estas cartelas foram confeccionadas com a ajuda das próprias
crianças.
O jogo consiste em cada um jogar dois dados ao mesmo tem-
po, somar as quantidades e andar, com seu marcador, as casas ganhas,
até chegar ao final.
Este mesmo jogo pode ser feito usando a subtração ou a multi-
plicação. (Anexo 91)
Construindo a subtração
Cada aluno recebeu a mesma quantidade de material doura-
do. Cada um, ao jogar o dado, devolvia para o "banco" a quantidade
indicada na face superior do dado.
Sempre que não era possível devolver a quantidade indicada
(quando se tinha menos unidades), efetuavam trocas (uma dezena por
10 unidades) e prosseguiam o jogo, até acabar o material. (Anexo: 92)
195
196
197
198
Jogando boliche
Iniciamos esta atividade com um animado jogo de boliche no
pátio da escola. Formamos as equipes. Cada um jogava a bola e pegava
tantas tampinhas quantas latas havia derrubado.
Após o jogo, voltamos para a sala e cada um contou suas tampi-
nhas para descobrir quem ganhou. Fizemos várias comparações.
Em seguida, cada um agrupou as suas de 10 em 10, colocando
cada montinho formado em um saquinho de pipocas.
O próximo passo foi juntar o material de cada equipe fazendo
os reagrupamentos necessários, usando sacos maiores.
Cada equipe registrou seus pontos usando o próprio material e
cada aluno registrou seus pontos usando saquinhos plásticos e feijões.
(Anexos: 93 a 96)
Construindo a multiplicação
Antes de pensar em trabalhar a multiplicação, precisamos res-
gatar o conceito que as crianças têm da palavra "vezes", fazendo uma
ponte com o que a criança interpreta em seu dia-a-dia, trazendo este signi-
ficado para a construção do conceito de multiplicação, que representa
várias vezes o mesmo tanto de coisas.
Atividade 1
Fizemos um grande círculo na área verde da escola. Tiramos
nossos calçados, contamos quantos sapatos, quantos pares, etc. Sepa-
ramos os calçados em grupos, observando os atributos comuns e nome-
ando cada grupo.
199
200
201
202
203
"Ensinar é mostrar ao outro
que ele sabe tanto quanto
nós."
205
Em seguida contamos os pares de cada grupo, adicionamos de 2
em 2 e usamos a linguagem X vezes 2 tênis é igual a Y tênis. (Anexo 97)
Atividade 2
Transformamos nossa sala em "uma fábrica de doces", onde
só vendíamos 2 doces. Os alunos fabricaram os doces de chocolate (tam-
pinhas cobertas) e embalaram de 2 em 2.
Brincamos inúmeras vezes comprando os docinhos, depois fi-
zemos o registro das vendas, o que resultou no registro da tabuada de 2.
(Anexo: 98)
Atividade 3
Uma outra fábrica foi montada em nossa sala de aula, desta
vez "a fábrica dos 3 doces".
Os alunos fizeram doces variados e depois embalaram de 3
em 3 (colocando as tampinhas em pratos de papelão).
Com todo o material no chão, realizamos inúmeras compras
de doces, usando a palavra vezes.
Depois colamos os pratinhos na parede, formando a tabuada
de 3. (Anexos: 99 a 101)
Atividade 4
Em grupos de 4, realizamos um jogo de dados, onde a cada
rodada, quem tirava o número maior ganhava 2 "ovos" ou 2 "doces".
Durante o jogo, os alunos contavam quantas vezes ganhou,
quem fez mais pontos, quem fez menos, etc.
Após o jogo, cada um contou quantas vezes ganhou e regis-
trou o jogo em seu caderno. (Anexos: 102 e 103)
207
Retratando riquezas
Temos uma riqueza de recursos que possibilitam à criança
construir seu conhecimento de maneira lúdica através da vivência e
exploração, num ambiente variado, colorido e estimulador. (Anexo: 104)
Registrando quantidades
Atividade 1
Depois de explorarmos o material dourado, de forma livre e
interativa, compondo alguns números com a participação de todos, re-
gistramos alguns deles em folha.
Atividade 2
Explorando outro material, realizamos a mesma atividade an-
terior, jogando dados com as crianças e compondo alguns números, de
acordo com as quantidades aparecidas nas rodadas. (Anexo: 105)
Trilhando a matemática
Além das trilhas que usamos para construir os conceitos de
adição e subtração, usamos também as trilhas de seqüência numérica.
Separamos as crianças em duplas e damos uma trilha a cada
uma e um dado. Em seguida, cada criança escolhe uma determinada quan-
tidade para iniciar sua corrida, os dados são jogados e a trilha é percorrida
de acordo com as quantidades tiradas. (Anexos: 105 e 106)
208
Y
209
210
211
212
Anexo 100
213
214
Anexo 103
215
216
Anexo 104
Anexo 105
21
218
Anexo 106
Contextualizando a matemática
Vamos fazer algumas considerações sobre a questão dos pro-
blemas em matemática, a partir do que temos observado no dia-a-dia da
sala de aula. Na maioria das vezes, trabalhamos com as crianças as técni-
cas das operações. Quando achamos que as crianças já estão seguras
das técnicas operatórias, introduzimos os chamados "problemas", e o que
as crianças faziam nas contas, agora parecem não compreender. Dizemos
então que elas ainda não lêem direito, ou que não sabem interpretar, que
estão com "preguiça" de pensar, e assim por diante.
Agora vamos analisar o que pode estar acontecendo com essa
criança. Quando ensinamos as "continhas" mostramos o "sinal" de cada
uma das operações, e as crianças se fixam nestes sinais. Quando o sinal
é de "mais", elas dizem que "são aquelas contas em que juntam" ou aque-
las que "vai um"; se aparece um sinal de "menos", são aquelas que "pe-
dem emprestado"; se aparece um sinal de "vezes", são aquelas das
tabuadas, e se aparece um sinal de "dividir" ou a "chave" são aquelas que
precisam ver "quanto cabe". Nestes casos, fica identificado que as crian-
ças decoram os sinais e, a partir deles, o que fazer.
Ocorre que nos chamados "problemas" não aparecem os "si-
nais" que "sinalizam" o que deveriam fazer. Então elas ficam fazendo per-
guntas do tipo: "é de mais ou é de menos?", "é de vezes ou de dividir?". As
crianças ao fazerem estas perguntas estão procurando o "sinal" da conta,
uma vez que quando faziam as contas, estas vinham com sinais que indi-
cavam o que fazer.
Como podemos eliminar esta situação?
A resposta seria: cada vez que uma "conta" for apresentada
para a criança, ela deve vir acompanhada de um contexto, o que significa
que não deveríamos ensinar separado contas de problemas, e sim ao mesmo
tempo. Se cada cálculo apresentado for solução de uma situação do cotidi-
ano, estaremos construindo o conceito de "solucionar situações" e não de
"resolver problemas".
219
No dia-a-dia do adulto, não fazemos "contas de nada", fazemos
cálculos de dinheiro, de pessoas, de garrafas, de frutas, etc, enfim de coi-
sas reais e o mais importante: fazemos cálculos necessários. Só há um
local onde se fazem "contas de nada": na escola! Enchemos lousas de
continhas, nas quais as crianças decoram sinais e o que fazer em cada
caso, e esperamos que encontrem significado naquilo.
Sugerimos propor os cálculos sempre através de situações, de
histórias que os motivem a encontrar as soluções do tipo "você é o deteti-
ve", "descubra se puder", "encontre o fim da história", estaremos motivan-
do-os, utilizando contextos que possam ser dramatizados, vivenciados. Se
todo cálculo aparecer como resolução de uma situação, em breve podere-
mos propor "contas" para que as crianças criem histórias que possam ser
resolvidas por elas mesmas. Estaremos dessa forma proporcionando a
condição das crianças produzirem textos orais e escritos, individualmente
ou em grupos.
Além disso, as crianças trazem consigo um significado próprio
das palavras. Desde pequenas as crianças ouvem os pais dizerem que
tem "problemas", os tios, os avós, enfim todos têm "problemas", e essa
expressão sempre vem carregada de dificuldade, de coisa que não conse-
guem resolver, nem tampouco encontrar as soluções. Então, o tempo pas-
sa na vida dessa criança, ela entra na escola e logo também tem "proble-
mas", e que, como todos, ela também acredita que eles são difíceis de
serem resolvidos.
O que sugerimos portanto, seria não chamarmos de "proble-
mas" as situações matemáticas, e sim de histórias, de situações, enfim do
que o contexto permitir, exceto de problemas.
Considerando tudo o que foi exposto, acreditamos que seja pos-
sível uma reflexão sobre as dificuldades que os problemas trazem. Obser-
vando a condição que as crianças têm de criar, de encontrar soluções
através de suas próprias estratégias de pensamentos, sem que precise-
mos ensinar "formas" de resolver. (Anexos: 107 a 109)
220
Enriquecendo atividades
Em uma atividade de recorte e colagem, onde o aluno deveria
escolher gravuras de revistas, colar em uma folha e recortar letras para
formar as respectivas palavras, surgiu um nome estranho, mas como era
de costume a criança foi indagada: - O que é isso?
Ele segurando respondeu: É "Vanbaster" (falou apontando para
sua escrita).
Percebendo que ninguém tinha entendido, explicou que se tra-
tava de um jogador de futebol alemão.
Como este aluno tinha paixão por futebol, começamos a
pesquisar sobre o assunto, descobrimos que este jogador era holandês
e não alemão.
Com essa descoberta, ele nos disse que já sabia, mas como
só havia conseguido uma gravura de jogador alemão, usou-a colocando o
nome do jogador holandês de quem ele mais gosta.
Dando continuidade a este trabalho, ele fez a lista dos jogado-
res dos quais mais gosta, de onde são e onde jogam, fazendo também um
texto.
Com a liberdade que teve para falar sobre o futebol, ele conta-
giou os outros alunos, chegando até a formar times. (Anexos: 109 e 110)
Depoimento da mãe de um aluno (Anexo: 111)
Quando vemos a Alfabetização como um processo contínuo,
entendemos que ele se prolonga e se aprimora ao longo de um tempo. E
é com esta visão que afirmamos que o nosso trabalho não se restringe a
alunos iniciando a alfabetização, mas continua e se aprofunda nas séries
subseqüentes...
221
222
Anexo 107
Anexo 108
223
224
Anexo 109
Anexo 110
225
226
Anexo 111
CONCLUSÃO
Diante da evolução constante de nossas crianças, observada
por nós ao longo de todo um processo, podemos nos convencer de que
a nossa ação pedagógica representa um avanço valiosíssimo na área da
Educação e que traz propostas sérias, com fundamentação metodológica
e prática.
Ela retrata, no presente momento, as alternativas e caminhos a
serem profundamente estudados e aplicados como projeto de melhoria
para o processo de construção do conhecimento.
Sua importância se manifesta também pelo fato de propor trans-
formações para as séries iniciais que são verdadeiramente o alicerce da
Educação.
Ao fecharmos mais esta etapa, chegamos à conclusão pesso-
al de que além dos objetivos de atualização e crescimento profissionais e
do nosso interesse na melhoria educacional, sem dúvida alguma o ob-
jetivo maior de nossa trajetória, perseverança e envolvimento transcen-
de a todos estes.
O que nos moveu verdadeiramente foi a crença convicta,
insofismável e genuína de que somente pela construção do próprio ho-
mem, edificaremos juntos a construção de uma civilização mais feliz e
autêntica.
227
Com esta convicção, um sentimento "maior" nos incomodou e
nos impulsionou vertiginosamente para o trabalho, para a luta e para a
dignificação de nós mesmos como humanidade que somos.
"Nos perturba esse Amor
Amor de humanidade
nosso Amor É Amor de
verdade"
228
Criar; Descobrir; Inventar;
construir; Crescer sempre;
Acreditar que é possível!
229
POR QUEM MERECE AMOR
Te perturba esse amor Amor
de Juventude Meu amor é É
amor de virtude
Te perturba esse amor Sem
máscaras por trás Meu amor
É uma arte de paz
Te perturba esse amor Amor
de humanidade Meu amor É
amor de verdade
Te perturba esse amor Com
todos ao redor Meu amor É
uma arte maior
Meu amor
Minha prenda encantada
Minha eterna morada Meu
espaço sem fim
Meu amor Não aceita
fronteira Como a
primavera Não escolhe
jardim
(MPB 4)
23
1
Meu amor
Não é amor de mercado
Esse amor tão sangrado
Não se tem pra lucrar
Meu amor
É tudo quando tenho
E se eu vendo ou empenho
Para que respirar
Meu amor
Alivia e acalma
É o remédio da alma
Pra quem quer se curar
Meu amor É humilde é
singelo É o destino mais
belo É torná-lo maior
Meu amor O mais
apaixonado Pelo
injustiçado Pelo mais
sofredor
Meu amor
Abre o peito pra morte
E se entrega pra sorte
Por um tempo melhor
Meu amor Esse amor
destemido Arde em fogo infinito
Por quem merece amor.
232
I
BIBLIOGRAFIA
GAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização & Lingüística. São Paulo: Scipione,
1990.
EQUIPE Técnica de Língua Portuguesa. Proposta Curricular para o en-
sino de Língua Portuguesa -1º grau. São Paulo, 1988.
FERREIRO, Emilia. Alfabetização em processo. São Paulo: Cortez,
1986.
FERREIRO, Emilia & TEBEROSKY. Ana. Psicogênese da Língua es-
crita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.
FERREIRO, Emilia & PALÁCIO, Margarita Gomes. Os processos de lei-
tura e escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988.
FERREIRO, Emilia. Com todos as letras. São Paulo: Cortez, 1993.
FREIRE, Madalena. A paixão de conhecer o mundo. 7ª ed. São Paulo,
1989.
GEEMPA. Alfabetização em novas bases. Porto Alegre: Kuarup. 1989.
GEEMPA. Alfabetização em classes populares. 4ª ed. Porto Alegre:
Kuarup, 1990.
GROSSI, Esther Pillar. Didática do nível pré-silábico. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1990.
GROSSI, Esther Pillar. Didática do nível silábico. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1990.
GROSSI, Esther Pillar. Didática do nível alfabético. Rio de Janeiro:
Paz e Terra. 1990.
233
GROSSI, Esther Pillar e BORDIN, Jussara. (Organizadoras). Paixão de
aprender. Petropólis: Vozes, 1993.
LA TAILLE, Yves de & OLIVEIRA, Marta Kohl de & DANTAS, Heloysa.
Piaget Vygotsky Wallon: teorias psicogenéticas em discussão.
São Paulo: Summus, 1992.
LIMA, Adrina Flávia Santos de Oliveira. Pré-Escola e Alfabetização.
Petrópolis: Vozes, 1988.
MARZOLA, Norma. Escola e classes populares. Porto Alegre: Kuarup,
1988.
RAMOS, Luzia Faraco. Educação para o ano 2.000, a construção do
conhecimento lógico-matemático nas séries iniciais. São Pau-
lo, 1992.
RANGEL, Ana Cristina S. A Educação matemática e a construção do
número pela criança. Porto Alegre, 1992.
SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. A criança na fase inicial da escrita. 2-
ed. São Paulo: Cortez, 1988.
TEBEROSKY, Ana. Psicopedagogia da língua escrita. 2ª ed. São Paulo:
Trajetória Cultural, 1990.
234
NOSSO PROJETO:
UMA PROPOSTA PARA
A FORMAÇÃO DE
UM NOVO CIDADÃO
. Edlamar Oliveira dos Santos
. Edlauva Oliveira dos Santos
. Maria da Conceição Pereira
. Zilene Duarte de Lucena
(Grupo Resistência)
BOA VISTA - RORAIMA
JULHO-1994
SUMARIO
Apresentação....................................................................................241
Introdução.........................................................................................243
Parte I
- Fundamentando a nossa prática na busca de uma nova política
de educação..................................................................................245
1.A questão da ideologia..................................................................245
1.1. Esconder, justificar, universalizar e fragmentar......................245
1.2. Os instrumentos de dominação ideológica............................247
1.3. Os princípios liberais..............................................................249
1.4. A luta ideológica dos trabalhadores: solidariedade
e companheirismo..................................................................250
2.Conscientização e cidadania........................................................ 250
2.1. Os direitos sociais e a distribuição das políticas sociais
no Brasil.................................................................................251
2.2. Conscientização: Exigência fundamental na formação
do cidadão .............................................................................253
3. Qualidade......................................................................................255
Parte II
- Nosso projeto: Uma proposta para a formação de um novo
cidadão..........................................................................................259
1. Democratização do ensino: Um processo coletivo.......................259
1.1. O trabalho e a criação do ser coletivo................................... 265
2.Precisar os objetivos da educação: Uma necessidade urgente .. 266
3.Concretizando a proposta..............................................................267
3.1. Planejamento.........................................................................267
3.2. Objetivos................................................................................268
3.3. Conteúdos..............................................................................268
3.4. Metodologia............................................................................268
237
3.5. Avaliação............................................................................... 269
4.Relações que se dão no processo educativo................................ 269
4.1. Professor-aluno...................................................................... 269
4.2. Escola-comunidade .............................................................. 270
5. Organização do trabalho na escola...............................................270
6.Demonstração do trabalho que a escola já vem realizando
nesta perspectiva......................................................................... 271
6.1. Na sala de aula.......................................................................271
6.2. Na escola................................................................................281
7. Perspectivas do projeto............................................................... 282
Conclusão..........................................................................................283
Bibliografia.........................................................................................285
238
Queremos registrar nossos agradecimentos
às pessoas que, durante os cinco meses de
elaboração do presente trabalho, contribuí-
ram conosco nas indicações bibliográficas,
discussões e revisão do texto.
Dedicamos
aos nossos alunos que nos ajudaram a
enxergar a necessidade de contribuir para a
formação de um cidadão de novo tipo.
239
APRESENTAÇÃO
Estou convicto de que a finalidade da nossa educação reside
não somente em educar um homem de espírito criador, um homem-cida-
dão capacitado para participar com a máxima eficiência na edificação do
Estado. Nós devemos educar, também, uma pessoa que seja obrigato-
riamente feliz.
Makarenko
241
INTRODUÇÃO
Este trabalho é resultado de uma ampla discussão sobre o
conteúdo ambíguo e contraditório das variadas abordagens realizadas a
respeito do conceito de cidadania, consciência, ideologia e qualidade do
ensino na Escola Fundamental. Essas ambigüidades, ao nosso ver, são
creditadas à insuficiência teórica e à superficialidade das apreciações
com que se tem tratado estas questões.
Na prática, essa insuficiência resulta em propostas e experiên-
cias que, em última instância, reduzem a cidadania, a qualidade e a educa-
ção a categorias absolutas, ineptas e desprovidas de historicidade. Partindo
deste referencial, a práxis pedagógica revela-se, no mínimo, conservadora.
Os conflitos, as lutas inerentes às sociedades de classes são omitidos e o
conjunto de relações que a sociedade estabelece não é apreendido na sua
concreticidade, ignorando-se o movimento histórico do real. Esta concep-
ção de mundo, portanto, tem em sua base o método metafísico de análise,
que não considera os fenômenos nas suas múltiplas relações, como aspec-
tos de uma mesma natureza e imbuídos de movimento. Este método, apoi-
ando-se na inércia do mundo, contribui política e ideologicamente para a
manutenção e perpetuação do status quo.
Quando se fala em "educação para a cidadania", "ensino de
qualidade para a formação do cidadão" - expressões muito em evidên-
cia -, de que cidadão e de que qualidade estão a falar? A cidadania
seria resultado de um amplo processo de construção política ou um di-
reito outorgado, concedido pelas elites dirigentes? A partir de que rela-
ções sociais são traçados os parâmetros para uma ação pedagógica no
sentido de forjar este cidadão? Estas questões, ao mesmo tempo que
243
orientam nossa proposta devem ser também compreendidas para a sua
elaboração como resultado da utilização de um método de análise que
tem como marco teórico o materialismo dialético.
Este método entende que no estudo do desenvolvimento de
um fenômeno deve partir-se do seu conteúdo interno, das suas rela-
ções com os outros fenômenos, quer dizer, deve-se considerar o de-
senvolvimento dos fenômenos como sendo o seu movimento próprio,
necessário, interno, encontrando-se, aliás, cada fenômeno no seu
movimento em ligação e interação com os outros fenômenos que o
rodeiam. A causa fundamental do desenvolvimento dos fenômenos
não é externa, mas interna; ela reside no contraditório do interior dos
próprios fenômenos. No interior de todo fenômeno há contradições,
daí o seu movimento e desenvolvimento. (In: GADOTTI, 1993, p. 32).
Iniciamos o trabalho tratando da questão da ideologia, quando
discutimos a forma pela qual a burguesia procura omitir, justificar e
universalizar os seus princípios.
Em seguida, abordamos os conceitos de consciência e cidada-
nia numa perspectiva histórica, procurando a contemporaneidade destes.
A qualidade do ensino, por nós discutida neste trabalho, ques-
tiona o conteúdo de classe implícito nesta categoria.
Finalmente, apresentamos uma proposta de projeto pedagó-
gico com a qual buscamos responder as questões acima levantadas.
Como afirma Lenine: uma pessoa analfabeta fica de fora da
vida política e, para que dela participe, é necessário primeiro ensiná-
la a ler e escrever.
A partir deste postulado, na realidade, propomo-nos apenas a
colaborar, na medida das nossas limitações, para a busca de alternativas
que possam contribuir na erradicação do atraso cultural em que o nosso
país está mergulhado.
Os autores.
244
PARTE I
FUNDAMENTANDO A NOSSA PRÁTICA
NA BUSCA DE UMA NOVA POLÍTICA DE EDUCAÇÃO
1. A QUESTÃO DA IDEOLOGIA
1.1. Esconder, Justificar, Universalizar e Fragmentar.
Para se compreender o freqüente discurso burguês em rela-
ção à cidadania, faz-se necessário analisar inicialmente a questão ideo-
lógica, visto que o modelo de cidadão, difundido pela burguesia, é fruto
de sua ideologia.
De início, devemos observar que, em qualquer sociedade, exis-
te um conjunto de idéias a partir das quais as pessoas entendem o mun-
do em que vivem. Mas, por que esta visão de mundo é de uma forma e
não de outra? A quem interessa explicar o mundo por estas idéias? Es-
tes interesses aparecem claramente ou são mascarados? Segundo Ciro
Marcondes Filho (1991, p. 21) a ideologia vive fundamentalmente de
símbolos, ela trabalha com símbolos e é formada por estereótipos.
Portanto, a ideologia não se mostra como realmente é. Pelo
contrário, as idéias, características de uma sociedade de classes, costu-
mam se apresentar como NEUTRAS. Isto quer dizer que elas não estari-
am favorecendo nenhuma classe social em particular, mas estariam aci-
ma das classes. Mais ainda: as idéias que constituem a visão de mundo
245
de uma sociedade seriam realidades que não têm "nada a ver" com a
divisão da sociedade em classes sociais.
Até mesmo a existência de classes sociais é, muitas vezes,
negada no sistema capitalista, pelo setor dominante desta sociedade - a
burguesia - que na luta pela permanência de seu poder e privilégios,
procura difundir a idéia de que somos todos cidadãos, com iguais direi-
tos e deveres. Jogando uma cortina de fumaça em frente da real divisão
da sociedade em classes, a burguesia tenta evitar que os explorados
tomem consciência desta realidade.
Assim, a ideologia dominante precisa ESCONDER como a so-
ciedade se organiza e funciona. Precisa esconder as verdadeiras causas
da pobreza e das injustiças. E precisa também esconder a função classista
da própria ideologia: isto é, precisa "esconder que está escondendo".
Mas, além de mascarar a realidade social e a si mesma, a
ideologia dominante procura JUSTIFICAR o mundo em que vivemos.
Deste ponto de vista, é preciso que todos, ou pelo menos a maioria,
aceitem a sociedade do jeito que ela é, sem nenhuma visão crítica.
As sociedades marcadas pelo domínio da burguesia seriam
essencialmente "boas e justas". E ainda: seriam as únicas formas possí-
veis dos homens se organizarem para poder viver neste mundo.
É importante salientar que a classe dominante procura "es-
conder e justificar" a realidade não só diante dos explorados, como tam-
bém, diante de si mesma. Deste modo, ela busca tranqüilizar sua
conciência frente a tantas desgraças sociais que existem nas socieda-
des divididas em classes.
Concluímos, por tudo isso, que a ideologia é um instrumento
das classes dominantes (em qualquer que seja o momento histórico) para
assegurar a continuidade do seu domínio, pelo controle do modo de pen-
sar do conjunto da sociedade. É, portanto, um instrumento usado em
proveito de "um grupo particular" dentro da sociedade. Como afirma
Marcondes Filho, a ideologia pertence sempre a um grande grupo de
pessoas, nunca a um sujeito separadamente (op. cit., p. 20).
246
Mas o segredo da ideologia está em que, sendo um conjunto
de idéias, de acordo com os interesses de uma classe PARTICULAR, ela
se apresenta como o modo de pensar ÚNICO E UNIVERSAL.
Assim, sem percebermos, existem muitas idéias que acredita-
mos serem nossas, mas que, na realidade, são formas de pensar que
foram sendo introduzidas pelas classes dominantes, através dos meca-
nismos que elas controlam.
A ideologia dominante, na sociedade capitalista, tenta conven-
cer toda a sociedade que o único modo de organizar a produção, de
viver e de pensar é e sempre foi este, que é o seu. E tenta fazer passar
os seus interesses como se fossem os interesses de todos. Para con-
seguir este objetivo, a ideologia burguesa colabora para que os trabalha-
dores tenham uma VISÃO FRAGMENTADA do mundo, isto é, não te-
nham uma visão de TOTALIDADE.
Esta visão fragmentada que ajuda a exploração e a domina-
ção da burguesia se dá em vários níveis, como veremos a seguir:
Ao nível do processo produtivo, interessa à burguesia que
os trabalhadores tenham uma visão compartimentalizada deste proces-
so, no que são ajudados pela divisão social do trabalho dentro das em-
presas, e mesmo entre as empresas.
Um outro nível em que a visão de totalidade é mais difícil ainda
para o trabalhador, é o nível histórico. Interessa à burguesia que o
trabalhador não saiba que antes do capitalismo houve outras socieda-
des, pois poderia assim perceber que o capitalismo não é eterno. Inte-
ressa, ainda, que o trabalhador não perceba como os fatos passados
estão influenciando o presente. É preciso que o trabalhador não tenha
consciência histórica, mas acredite que as coisas sempre foram e sem-
pre serão do jeito que se apresentam hoje.
1.2. Os instrumentos de dominação ideológica.
Por que meios a classe dominante impõe a sua ideologia?
247
Ela impõe a sua ideologia pelo controle de vários instrumentos
que são de sua propriedade, ou que ela financia, ou pelo menos, que
são dirigidos por pessoas fiéis a ela.
Entre os vários instrumentos que a classe dominante utiliza
para manipular a consciência social destacamos:
a) OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA, como a televi
são, o rádio, os jornais, as revistas, o cinema, etc;
b) toda A PROPAGANDA COMERCIAL, incentivando o
consumismo, e a PROPAGANDA ESTATAL, como a que divulga as obras
do Governo e as proezas das Forças Armadas;
c) AS RELIGIÕES conservadoras, levando as pessoas a pen-
sarem só no além, a sofrerem no aquém;
d) OS ESPORTES, quando são usados politicamente para dis-
trair o povo de seus problemas;
e) OS PROVÉRBIOS POPULARES, como "quem nasce para
tostão nunca chega a vintém";
f) A ESCOLA, sendo uma instituição pertencente ao sistema
capitalista utiliza, entre outros, os instrumentos de dominação acima cita-
dos para difundir os valores da burguesia.
Através destes e de outros meios, a classe dominante luta ide-
ologicamente por seus interesses. Assim, difunde também para os traba-
lhadores que as greves são obras de radicais; que foram elas que provo-
caram a crise econômica; que os brasileiros têm índole pacífica e coisas
do gênero.
Os instrumentos que citamos difundem também, geralmente,
e de forma lenta e difusa, os valores fundamentais da burguesia, chama-
dos também de princípios liberais: individualismo, competição, liberdade,
propriedade, igualdade e democracia.
248
1.3. Os princípios liberais.
- O INDIVIDUALISMO é o princípio liberal fundamental que vai
influenciar todos os outros. Assim, o homem é por natureza indivíduo (o que
não se divide), portanto, naturalmente egoísta. Ele só se relaciona com os
outros seres humanos por conveniência, através de uma espé-cie de "contrato
social". É lógico, portanto, que cada um se preocupe, acima de tudo, em
conseguir vantagens para si mesmo.
- A COMPETIÇÃO decorre imediatamente do individualismo. Para
vencer na vida é preciso competir (o que implica derrotar os outros e fazê-los
de degraus). E vencer na vida significa, acima de tudo, conseguir uma situação
econômica vantajosa.
- A LIBERDADE que a burguesia difunde é, em primeiro
lugar, a liberdade de propriedade. A liberdade de propriedade é funda
mental para a burguesia, sem a qual todas as outras são impossíveis.
- A PROPRIEDADE, não se trata de propriedade em geral, mas da
propriedade burguesa, isto é, da propriedade do capital. Na realidade, essa
propriedade só pode existir para uma pequena parcela da sociedade, os
burgueses, com a condição de que a maioria da sociedade, que são os
trabalhadores, não tenha propriedade nenhuma, a não ser sua força de
trabalho.
- A IGUALDADE que a burguesia defende é a igualdade jurídica.
Todos são iguais perante a lei. Podemos constatar, no entanto, que a igualdade
jurídica sem a igualdade econômica é puramente formal. Consta no papel, mas
não existe na prática. Aliás, no dia-a-dia, o que se diz é outra coisa, que
existem leis para os ricos e leis para os pobres.
- A DEMOCRACIA é representativa e se resume, na maioria das
vezes, em poder escolher entre os vários candidatos da burguesia aqueles que
irão representar o povo nas instâncias do governo e do parlamento.
249
1.4. A luta ideológica dos trabalhadores: SOLIDARIEDADE E
COMPANHEIRISMO.
Embora as idéias dominantes de uma época sejam as idéi-
as da classe dominante, sempre houve por parte dos mais variados
setores da classe trabalhadora MOVIMENTOS DE RESISTÊNCIA no
campo da ideologia e da cultura. Movimentos de resistência que se de-
ram, primeiro de forma espontânea e, depois, respaldados em visões
teóricas mais elaboradas como de Marx, Engels, Bakunin e outros. Con-
tra o individualismo e a competição da classe dominante, estes trabalha-
dores valorizavam a SOLIDARIEDADE E O COMPANHEIRISMO. E for-
mulavam também, de outro modo, os princípios de igualdade, liberda-
de e democracia.
Tanto no passado como no presente, os movimentos de resis-
tência ideológica e cultural dos trabalhadores foram sempre feitos com
instrumentos modestos. O teatro, a música, as danças, os jornais, o cine-
ma e algumas experiências em escolas têm servido, a duras penas, como
instrumentos com os quais os explorados resistem à dominação ideológi-
ca da burguesia.
2. CONSCIENTIZAÇÃO E CIDADANIA
Como analisamos anteriormente, na sociedade capitalista existe
uma vinculação entre as políticas sociais e a cidadania que decorre da
forma de organização política desta sociedade. A seqüência dos direi-
tos integrantes da condição de cidadão acompanha e se ímbrica
com a própria constituição da sociedade de mercado ao requerer
novas formas de integração social (AZEVEDO 1987, p. 96).
No contexto histórico no qual a sociedade capitalista surgiu,
os primeiros direitos estabelecidos foram os direitos civis e, logo em se-
guida, os direitos políticos. Estes se ligam à questão da liberdade, igual-
dade jurídica e possibilidade de acesso e participação no poder político.
Por último, são constituídos os direitos sociais - à vida, à saúde, à edu-
cação e à moradia.
250
2.1. Os direitos sociais e a distribuição das políticas sociais no Bra-
sil.
A partir da constituição destes direitos, estabeleceram-se os
conteúdos constitutivos da cidadania. Esta cidadania consiste em propo-
sições impostas pela democracia burguesa, como processo de "demo-
cratização", no sentido de promover igualdade social nas sociedades
capitalitas. No entanto, o que se percebe é a presença de desigualdades
nesta sociedade de classes.
Para se ter uma idéia geral de como se processou a aquisição
dos direitos sociais e da cidadania no Brasil, é necessário que se tenha
uma visão geral da função redistribuitiva das políticas sociais em nosso
país. Para tanto, analisaremos alguns dados. Em 1990, apenas 4,9% da
população economicamente ativa possuíam renda acima de 10 salários
mínimos, enquanto 23,5% recebiam até 1 salário mínimo. Neste contin-
gente, a expectativa de vida é de 55 anos, enquanto para aqueles que
auferem mais de 10 salários mínimos esta expectativa atinge 71 anos
(tabela 01). Em 1990, cerca de 51, 5% da renda do país estava con-
centrada nas mão de 10% da população, enquanto que os 50% mais
pobres ficavam com apenas 11,2% desta renda (tabela 02). Além
disso, 97% das crianças de 7 a 14 anos que pertencem às famílias
com mais de 2 salários mínimos per capita freqüentam a escola.
Nas famílias em que esta renda só atinge meio salário, apenas 74,5%
das crianças freqüentam a escola. (Brasil em números IBGE. 1993,
p.45)
TABELA 01
EXPECTATIVAS DE VIDA E RENDIMENTOS NO BRASIL (1990)
Grupos de rendimento Participação da população Esperança de vida ao
mensal economicamente ativa nascer
Até 1 salário mínimo 23,5% 54,8 anos
De 1 a 2 salários mínimos 22,7% 59,5 anos
De 2 a 5 salários mínimos 39.2% 64,0 anos
De 5 a 10 salários mínimos 9,7% 69,6 anos
Mais de 10 salários mínimos 4,9% 71,5 anos
Fonte: IBGE, PNAD (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios),
1990
251
TABELA 02
DISTRIBUIÇÃO DA RENDA NO BRASIL
(entre a população economicamente ativa)
Participação nos rendimentos (%)
1960 1970 1980 1990
os 50% mais pobres 17,4 14,9 12,6 11,2
os 40% intermediários 43,0 38,4 36,5 37,3
os 10% mais ricos 39,6 46,7 50,9 51,5
TOTAL 100,0 100.0 100,0 100,0
o 1 % mais rico 11,9 14,7 16,9 17,3
Fonte: Tabela elaborada a partir de dados do IBGE, Censos de 1960 e
1970; e PNAD de 1990.
Portanto, estes graves problemas sociais e econômicos que
afligem a maioria da população decorrem da crise do próprio capitalismo,
que não cumpriu com as tarefas que ele mesmo determinou quando da
Revolução Burguesa.
Nem mesmo a educação, um direito do cidadão, tão presente
nos discursos burgueses, vem sendo garantida em nosso país. O que se
oferece à maioria da população é uma rede escolar precária, tanto no
que concerne aos recursos físicos, como humanos.
A escola, sendo uma instituição, pertencente ao sistema capi-
talista, reproduz os valores defendidos por sua classe dominante, a bur-
guesia. Tomando-se como base essa afirmação se faz necessário ques-
tionar a relação estreita entre educação e cidadania que vem sendo
difundida no limiar deste século:
- Que educação e cidadania são estas?
- Quem define os fins desta educação e desta cidadania?
- A que interesses servem?
- Por que a educação é pré-condição para a cidadania?
252
2.2. Conscientização: Exigência fundamental na formação do cida-
dão.
Educar para a cidadania, segundo o discurso pedagógico bur-
guês, tem por função principal disciplinar, isto é, formar um ser passivo,
oferecendo o mínimo necessário para disciplinar o cidadão. Nestes ter-
mos, a educação serve de instrumento para manter a ordem vigente onde
uma pequena minoria, "instruída" e "educada", governa e decide pela
maioria (que é julgada "ignorante", "não civilizada").
O estreito elo que se coloca entre educação e cidadania reduz
o espaço de participação apenas aos ditos educados.
Os "educados" percebem e organizam o espaço de acordo
com os seus interesses, enquanto a maioria limita-se a aceitar a socieda-
de tal qual ela se apresenta.
Durante séculos o saber ler, escrever e contar foi o
apanágio das classes dirigentes e, desse monopólio, elas obtinham
um acréscimo de poder (LACOSTE 1988, p. 54). Desenvolvem-se na
escola um ensino sem nenhuma utilidade prática. Impõe-se, implicita-
mente, que é preciso nada mais que memória. Neste contexto, a escola
submete, domestica e adapta o indivíduo à sociedade.
Através da escola, a burguesia se fortalece, difundindo a sua
visão de mundo, tão presente nos livros didáticos . Percebemos que este
recurso tem sido instrumento de propagação da ideologia dominante, no
que se refere a mostrar uma falsa realidade. Nos livros, se enfatiza o
convívio, a cooperação . Não se leva em consideração as desigualda-
des, pelo contrário, coopera-se nas desigualdades, pois os textos camu-
flam a realidade e a trama política na organização do espaço. Diante
disto, é necessário que se desenvolva o senso crítico de análise da rea-
lidade e que se ultrapasse a esfera espontânea da apreensão da realida-
de. Como afirma Paulo Freire, concientização é o olhar mais crítico
possível da realidade, que a "desvela" para conhecê-la e para co-
nhecer os mitos que enganam e ajudam a manter a realidade da
estrutura dominante (1980, p. 29).
253
Podemos conceber, desta forma , que conscientização não
significa apenas estar a par da realidade, mas principalmente tomar uma
posição dentro desta e, conseqüentemente, atuar em busca da concreti-
zação de seus objetivos.
Quando se trata de educação como parte na formação da ci-
dadania, devemos ter claro que esta não se constitui enquanto pré-con-
dição da democracia e da participação, mas é parte, fruto e expres-
são do processo de sua constituição (ARROYO, in: Educação e Cida-
dania, 1988, p.79). Enquanto os verdadeiros determinantes sociais, eco-
nômicos e políticos continuarem camuflados para as camadas populares
e educadores, não haverá condição de se engajarem na luta por uma
transformação, de alcançarem o verdadeiro sentido da cidadania.
Portanto, os profissionais envolvidos nesta área devem, não
apenas tomar consciência da importância de se formar cidadãos consci-
entes, mas também optar por uma postura transformadora. Partindo desse
pressuposto, acreditamos que, se realmente queremos formar cidadãos
conscientes, o processo educacional não pode continuar desvinculado
do contexto social dos educandos, tornando, desta forma, o ato educativo
significativo.
Para ser válida, toda educação, toda ação educativa deve
necessariamente estar precedida de uma reflexão e de uma análise
de meio de vida do homem concreto a quem queremos educar (ou
melhor dito, a quem queremos ajudar a educar) (FREIRE op. cit., pp.
33-34). Não se pode considerar o indivíduo isoladamente, mas como
resultado de suas relações com o meio natural e social em sua totalida-
de. É importante lembrar que os educandos brasileiros também fazem
parte de uma sociedade dividida em classes, onde aparecem a figura do
opressor e do oprimido. E que, estas relações não se dão somente no
campo econômico, mas também, no social e no cultural, levando-nos a
discordar da postura "neutra" que a escola pretende ter.
A partir do momento em que o educador toma consciência desta
situação deve posicionar-se, questionando o seu papel político na socie-
dade, e se sua prática pedagógica está realmente vinculada aos seus
anseios enquanto trabalhador oprimido.
254
A educação, portanto, deveria ajudar o homem a constituir-se
como sujeito atuante, construtor de sua própria história. Pois... é através
da luta de classes sempre mais intensa que as duas classes do sis-
tema capitalista criam a história. (In: NOSELLA 1988, p. 81).
É no interior das lutas, no organismo do processo revolucioná-
rio que se mostram os sinais da morte do velho cidadão burguês e a
emergência do novo cidadão que está para nascer.
Por ser um processo de classe , portanto social, o novo
educador é o partido que, visível ou invisivelmente, faz diagnósti-
cos, organiza atividades educativas, levanta prioridades e avalia
resultados. (NOSELLA, op. cit., p. 89). A educação nesse contexto deve
ser anti-autoritária, aberta e criativa. Pois, de acordo com Paulo Freire,
na medida em que o ser humano cria e decide, as épocas vão se
formando e reformando. (Op. cit., p. 38).
É essencial que os programas, seus conteúdos e seus méto-
dos estejam adaptados ao homem a que se destinam, no sentido de
permiti-lo construir-se como sujeito, de forma a atuar, fazendo cultura e
história. É preciso que a educação estimule esse sujeito a conhecer a
realidade na qual ele está inserido, pois ninguém luta contra as forças
que não mede, cujas formas e contornos não discerne... (PAULO
FREIRE op. cit., p. 40).
3. QUALIDADE
As nossas discussões a respeito da escola nos têm levado
também a questionar a qualidade do ensino que é ministrado nesta insti-
tuição.
Antes, porém, de discutir a qualidade do ensino propriamente
dita, achamos necessário tomar esta categoria de análise - qualidade -
como um instrumento de aferição que determina, numa sociedade de
classes, e nos variados conflitos que as relações sociais propiciam, a
que interesses esses agentes de "qualidade" se põem a serviço . Ou
seja, se os resultados satisfazem, ou não aqueles que se mantém na
condição de classe dominante.
255
Compreendida como instituição que reproduz as contradições
sociais nas quais está inserida, a escola coloca a velha e antiga dicotomia
entre qualidade e quantidade, levada, na maioria das vezes, a um extre-
mismo maniqueísta, onde qualidade e quantidade passam a ser
excludentes entre si. Uma análise dialética da questão, nos indica outro
caminho:
A concepção dialética não metafísica reconhece a realida-
de como processo multidimensional, complexo, que tem aspectos
"transitórios" e "permanentes" , aspectos visíveis e invisíveis, as-
pectos materiais e aspectos não materiais, aspectos específicos e
aspectos gerais, uns agindo sobre os outros em forma de
contraposição , de conflito, de contradição. (VASCONCELOS in:
CANDAU 1989, p. 15)
Nesta perspectiva, qual seja, a de classe, indagamos: Quem é
o sujeito que tem direito à educação? E mais: Qual a educação que
queremos para as classes populares?
O sujeito do direito à educação não é abstrato. Trata-se de
cidadãos concretos, forjados na história da luta das camadas popu-
lares brasileiras pela cidadania. (ARROYO, in: Anais da IV CBE, p.
657). Este sujeito é entendido como produto do seu momento histórico.
Um ser coletivo por natureza, que estabelece relações com o meio em
que vive, contribuindo ora para a perpetuação os status quo, ora negan-
do a vigência da ordem estabelecida. Esta compreensão de sujeito histó-
rico parte do entendimento de que não é a consciência que determina o
ser, e sim o ser social que determina a consciência social. Opõe-se à
concepção que parte do pressuposto de que o indivíduo isolado, criado
abstratamente, fora e acima da realidade concreta, por si só, é suficiente
para intervir e transformar o conjunto de relações que a sociedade esta-
belece para produzir e se reproduzir social, econômica, culturalmente
etc.
Quando tratamos da educação para as classes populares, não
podemos levar em consideração apenas a educação como um mecanis-
mo de reduzir desigualdades na distribuição, uma vez que não se pode
tornar as pessoas mais iguais ao nível do consumo dos bens
256
APRESENTAÇÃO
Estou convicto de que a finalidade da nossa educação reside
não somente em educar um homem de espírito criador, um homem-cida-
dão capacitado para participar com a máxima eficiência na edificação do
Estado. Nós devemos educar, também, uma pessoa que seja obrigato-
riamente feliz.
Makarenko
241
INTRODUÇÃO
Este trabalho é resultado de uma ampla discussão sobre o
conteúdo ambíguo e contraditório das variadas abordagens realizadas a
respeito do conceito de cidadania, consciência, ideologia e qualidade do
ensino na Escola Fundamental. Essas ambigüidades, ao nosso ver, são
creditadas à insuficiência teórica e à superficialidade das apreciações
com que se tem tratado estas questões.
Na prática, essa insuficiência resulta em propostas e experiên-
cias que, em última instância, reduzem a cidadania, a qualidade e a educa-
ção a categorias absolutas, ineptas e desprovidas de historicidade. Partindo
deste referencial, a praxis pedagógica revela-se, no mínimo, conservadora.
Os conflitos, as lutas inerentes às sociedades de classes são omitidos e o
conjunto de relações que a sociedade estabelece não é apreendido na sua
concreticidade, ignorando-se o movimento histórico do real. Esta concep-
ção de mundo, portanto, tem em sua base o método metafísico de análise,
que não considera os fenômenos nas suas múltiplas relações, como aspec-
tos de uma mesma natureza e imbuídos de movimento. Este método, apoi-
ando-se na inércia do mundo, contribui política e ideologicamente para a
manutenção e perpetuação do status quo.
Quando se fala em "educação para a cidadania", "ensino de
qualidade para a formação do cidadão" - expressões muito em evidên-
cia -, de que cidadão e de que qualidade estão a falar? A cidadania
seria resultado de um amplo processo de construção política ou um di-
reito outorgado, concedido pelas elites dirigentes? A partir de que rela-
ções sociais são traçados os parâmetros para uma ação pedagógica no
sentido de forjar este cidadão? Estas questões, ao mesmo tempo que
243
orientam nossa proposta devem ser também compreendidas para a sua
elaboração como resultado da utilização de um método de análise que
tem como marco teórico o materialismo dialético.
Este método entende que no estudo do desenvolvimento de
um fenômeno deve partir-se do seu conteúdo interno, das suas rela-
ções com os outros fenômenos, quer dizer, deve-se considerar o de-
senvolvimento dos fenômenos como sendo o seu movimento próprio,
necessário, interno, encontrando-se, aliás, cada fenômeno no seu
movimento em ligação e interação com os outros fenômenos que o
rodeiam. A causa fundamental do desenvolvimento dos fenômenos
não é externa, mas interna; ela reside no contraditório do interior dos
próprios fenômenos. No interior de todo fenômeno há contradições,
daí o seu movimento e desenvolvimento. (In: GADOTTI, 1993, p. 32).
Iniciamos o trabalho tratando da questão da ideologia, quando
discutimos a forma pela qual a burguesia procura omitir, justificar e
universalizar os seus princípios.
Em seguida, abordamos os conceitos de consciência e cidada-
nia numa perspectiva histórica, procurando a contemporaneidade destes.
A qualidade do ensino, por nós discutida neste trabalho, ques-
tiona o conteúdo de classe implícito nesta categoria.
Finalmente, apresentamos uma proposta de projeto pedagó-
gico com a qual buscamos responder as questões acima levantadas.
Como afirma Lenine: uma pessoa analfabeta fica de fora da
vida política e, para que dela participe, é necessário primeiro ensiná-
la a ler e escrever.
A partir deste postulado, na realidade, propomo-nos apenas a
colaborar, na medida das nossas limitações, para a busca de alternativas
que possam contribuir na erradicação do atraso cultural em que o nosso
país está mergulhado.
Os autores.
244
PARTE I
FUNDAMENTANDO A NOSSA PRÁTICA
NA BUSCA DE UMA NOVA POLÍTICA DE EDUCAÇÃO
1. A QUESTÃO DA IDEOLOGIA
1.1. Esconder, Justificar, Universalizar e Fragmentar.
Para se compreender o freqüente discurso burguês em rela-
ção à cidadania, faz-se necessário analisar inicialmente a questão ideo-
lógica, visto que o modelo de cidadão, difundido pela burguesia, é fruto
de sua ideologia.
De início, devemos observar que, em qualquer sociedade, exis-
te um conjunto de idéias a partir das quais as pessoas entendem o mun-
do em que vivem. Mas, por que esta visão de mundo é de uma forma e
não de outra? A quem interessa explicar o mundo por estas idéias? Es-
tes interesses aparecem claramente ou são mascarados? Segundo Ciro
Marcondes Filho (1991, p. 21) a ideologia vive fundamentalmente de
símbolos, ela trabalha com símbolos e é formada por estereótipos.
Portanto, a ideologia não se mostra como realmente ê. Pelo
contrário, as idéias, características de uma sociedade de classes, costu-
mam se apresentar como NEUTRAS. Isto quer dizer que elas não estari-
am favorecendo nenhuma classe social em particular, mas estariam aci-
ma das classes. Mais ainda: as idéias que constituem a visão de mundo
245
de uma sociedade seriam realidades que não têm "nada a ver" com a
divisão da sociedade em classes sociais.
Até mesmo a existência de classes sociais é, muitas vezes,
negada no sistema capitalista, pelo setor dominante desta sociedade - a
burguesia - que na luta pela permanência de seu poder e privilégios,
procura difundir a idéia de que somos todos cidadãos, com iguais direi-
tos e deveres. Jogando uma cortina de fumaça em frente da real divisão
da sociedade em classes, a burguesia tenta evitar que os explorados
tomem consciência desta realidade.
Assim, a ideologia dominante precisa ESCONDER como a so-
ciedade se organiza e funciona. Precisa esconder as verdadeiras causas
da pobreza e das injustiças. E precisa também esconder a função classista
da própria ideologia: isto é, precisa "esconder que está escondendo".
Mas, além de mascarar a realidade social e a si mesma, a
ideologia dominante procura JUSTIFICAR o mundo em que vivemos.
Deste ponto de vista, é preciso que todos, ou pelo menos a maioria,
aceitem a sociedade do jeito que ela é, sem nenhuma visão crítica.
As sociedades marcadas pelo domínio da burguesia seriam
essencialmente "boas e justas". E ainda: seriam as únicas formas possí-
veis dos homens se organizarem para poder viver neste mundo.
É importante salientar que a classe dominante procura "es-
conder e justificar" a realidade não só diante dos explorados, como tam-
bém, diante de si mesma. Deste modo, ela busca tranqüilizar sua
conciência frente a tantas desgraças sociais que existem nas socieda-
des divididas em classes.
Concluímos, por tudo isso, que a ideologia é um instrumento
das classes dominantes (em qualquer que seja o momento histórico) para
assegurar a continuidade do seu domínio, pelo controle do modo de pen-
sar do conjunto da sociedade. É, portanto, um instrumento usado em
proveito de "um grupo particular" dentro da sociedade. Como afirma
Marcondes Filho, a ideologia pertence sempre a um grande grupo de
pessoas, nunca a um sujeito separadamente (op. cit., p. 20).
246
Mas o segredo da ideologia está em que, sendo um conjunto
de idéias, de acordo com os interesses de uma classe PARTICULAR, ela
se apresenta como o modo de pensar ÚNICO E UNIVERSAL.
Assim, sem percebermos, existem muitas idéias que acredita-
mos serem nossas, mas que, na realidade, são formas de pensar que
foram sendo introduzidas pelas classes dominantes, através dos meca-
nismos que elas controlam.
A ideologia dominante, na sociedade capitalista, tenta conven-
cer toda a sociedade que o único modo de organizar a produção, de
viver e de pensar é e sempre foi este, que é o seu. E tenta fazer passar
os seus interesses como se fossem os interesses de todos. Para con-
seguir este objetivo, a ideologia burguesa colabora para que os trabalha-
dores tenham uma VISÃO FRAGMENTADA do mundo, isto é, não te-
nham uma visão de TOTALIDADE.
Esta visão fragmentada que ajuda a exploração e a domina-
ção da burguesia se dá em vários níveis, como veremos a seguir:
Ao nível do processo produtivo, interessa à burguesia que
os trabalhadores tenham uma visão compartimentalizada deste proces-
so, no que são ajudados pela divisão social do trabalho dentro das em-
presas, e mesmo entre as empresas.
Um outro nível em que a visão de totalidade é mais difícil ainda
para o trabalhador, é o nível histórico. Interessa à burguesia que o
trabalhador não saiba que antes do capitalismo houve outras socieda-
des, pois poderia assim perceber que o capitalismo não é eterno. Inte-
ressa, ainda, que o trabalhador não perceba como os fatos passados
estão influenciando o presente. É preciso que o trabalhador não tenha
consciência histórica, mas acredite que as coisas sempre foram e sem-
pre serão do jeito que se apresentam hoje.
1.2. Os instrumentos de dominação ideológica.
Por que meios a classe dominante impõe a sua ideologia?
247
Ela impõe a sua ideologia pelo controle de vários instrumentos
que são de sua propriedade, ou que ela financia, ou pelo menos, que
são dirigidos por pessoas fiéis a ela.
Entre os vários instrumentos que a classe dominante utiliza
para manipular a consciência social destacamos:
a) OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA, como a televi
são, o rádio, os jornais, as revistas, o cinema, etc;
b) toda A PROPAGANDA COMERCIAL, incentivando o
consumismo, e a PROPAGANDA ESTATAL, como a que divulga as obras
do Governo e as proezas das Forças Armadas;
c) AS RELIGIÕES conservadoras, levando as pessoas a pen-
sarem só no além, a sofrerem no aquém;
d) OS ESPORTES, quando são usados politicamente para dis-
trair o povo de seus problemas;
e) OS PROVÉRBIOS POPULARES, como "quem nasce para
tostão nunca chega a vintém";
f) A ESCOLA, sendo uma instituição pertencente ao sistema
capitalista utiliza, entre outros, os instrumentos de dominação acima cita-
dos para difundir os valores da burguesia.
Através destes e de outros meios, a classe dominante luta ide-
ologicamente por seus interesses. Assim, difunde também para os traba-
lhadores que as greves são obras de radicais; que foram elas que provo-
caram a crise econômica; que os brasileiros têm índole pacífica e coisas
do gênero.
Os instrumentos que citamos difundem também, geralmente,
e de forma lenta e difusa, os valores fundamentais da burguesia, chama-
dos também de princípios liberais: individualismo, competição, liberdade,
propriedade, igualdade e democracia.
248
1.3. Os princípios liberais.
- O INDIVIDUALISMO é o princípio liberal fundamental que vai
influenciar todos os outros. Assim, o homem é por natureza indivíduo (o
que não se divide), portanto, naturalmente egoísta. Ele só se relaciona
com os outros seres humanos por conveniência, através de uma espé-
cie de "contrato social". É lógico, portanto, que cada um se preocupe,
acima de tudo, em conseguir vantagens para si mesmo.
- A COMPETIÇÃO decorre imediatamente do individualismo.
Para vencer na vida é preciso competir (o que implica derrotar os outros
e fazê-los de degraus). E vencer na vida significa, acima de tudo, conse-
guir uma situação econômica vantajosa.
- A LIBERDADE que a burguesia difunde é, em primeiro
lugar, a liberdade de propriedade. A liberdade de propriedade é funda
mental para a burguesia, sem a qual todas as outras são impossíveis.
- A PROPRIEDADE, não se trata de propriedade em geral,
mas da propriedade burguesa, isto é, da propriedade do capital. Na rea-
lidade, essa propriedade só pode existir para uma pequena parcela da
sociedade, os burgueses, com a condição de que a maioria da socieda-
de, que são os trabalhadores, não tenha propriedade nenhuma, a não
ser sua força de trabalho.
- A IGUALDADE que a burguesia defende é a igualdade jurídi-
ca. Todos são iguais perante a lei. Podemos constatar, no entanto, que
a igualdade jurídica sem a igualdade econômica é puramente formal.
Consta no papel, mas não existe na prática. Aliás, no dia-a-dia, o que se
diz é outra coisa, que existem leis para os ricos e leis para os pobres.
- A DEMOCRACIA é representativa e se resume, na maioria
das vezes, em poder escolher entre os vários candidatos da burguesia
aqueles que irão representar o povo nas instâncias do governo e do par-
lamento.
249
TABELA 02
DISTRIBUIÇÃO DA RENDA NO BRASIL
(entre a população economicamente ativa)
Participação nos rendimentos (%)
1960 1970 1980 1990
os 50% mais pobres
os 40% intermediários
os 10% mais ricos
TOTAL
o 1 % mais rico
17.4
43,0
39,6
100,0
11,9
14,9
38,4
46,7
100,0
14,7
12,6
36,5
50,9
100,0
16,9
11,2
37,3
51,5
100,0
17,3
Fonte: Tabela elaborada a partir de dados do IBGE, Censos de 1960 e
1970; e PNAD de 1990.
Portanto, estes graves problemas sociais e econômicos que
afligem a maioria da população decorrem da crise do próprio capitalismo.
que não cumpriu com as tarefas que ele mesmo determinou quando da
Revolução Burguesa.
Nem mesmo a educação, um direito do cidadão, tão presente
nos discursos burgueses, vem sendo garantida em nosso país. O que se
oferece à maioria da população é uma rede escolar precária, tanto no
que concerne aos recursos físicos, como humanos.
A escola, sendo uma instituição, pertencente ao sistema capi-
talista, reproduz os valores defendidos por sua classe dominante, a bur-
guesia. Tomando-se como base essa afirmação se faz necessário ques-
tionar a relação estreita entre educação e cidadania que vem sendo
difundida no limiar deste século:
- Que educação e cidadania são estas?
- Quem define os fins desta educação e desta cidadania?
- A que interesses servem?
- Por que a educação é pré-condição para a cidadania?
252
2.2. Conscientização: Exigência fundamental na formação do cida-
dão.
Educar para a cidadania, segundo o discurso pedagógico bur-
guês, tem por função principal disciplinar, isto é, formar um ser passivo,
oferecendo o mínimo necessário para disciplinar o cidadão. Nestes ter-
mos, a educação serve de instrumento para manter a ordem vigente onde
uma pequena minoria, "instruída" e "educada", governa e decide pela
maioria (que é julgada "ignorante", "não civilizada").
O estreito elo que se coloca entre educação e cidadania reduz
o espaço de participação apenas aos ditos educados.
Os "educados" percebem e organizam o espaço de acordo
com os seus interesses, enquanto a maioria limita-se a aceitar a socieda-
de tal qual ela se apresenta.
Durante séculos o saber ler, escrever e contar foi o
apanágio das classes dirigentes e, desse monopólio, elas obtínham
um acréscimo de poder (LACOSTE 1988, p. 54). Desenvolvem-se na
escola um ensino sem nenhuma utilidade prática. Impõe-se, implicita-
mente, que é preciso nada mais que memória. Neste contexto, a escola
submete, domestica e adapta o indivíduo à sociedade.
Através da escola, a burguesia se fortalece, difundindo a sua
visão de mundo, tão presente nos livros didáticos . Percebemos que este
recurso tem sido instrumento de propagação da ideologia dominante, no
que se refere a mostrar uma falsa realidade. Nos livros, se enfatiza o
convívio, a cooperação . Não se leva em consideração as desigualda-
des, pelo contrário, coopera-se nas desigualdades, pois os textos camu-
flam a realidade e a trama política na organização do espaço. Diante
disto, é necessário que se desenvolva o senso crítico de análise da rea-
lidade e que se ultrapasse a esfera espontânea da apreensão da realida-
de. Como afirma Paulo Freire, concientização é o olhar mais crítico
possível da realidade, que a "desvela" para conhecê-la e para co-
nhecer os mitos que enganam e ajudam a manter a realidade da
estrutura dominante (1980, p. 29).
253
Podemos conceber desta forma , que conscientização não
significa apenas estar a par da realidade, mas principalmente tomar uma
posição dentro desta e, conseqüentemente, atuar em busca da concreti-
zação de seus objetivos.
Quando se trata de educação como parte na formação da ci-
dadania, devemos ter claro que esta não se constitui enquanto pré-con-
dição da democracia e da participação, mas é parte, fruto e expres-
são do processo de sua constituição (ARROYO, in: Educação e Cida-
dania, 1988, p.79). Enquanto os verdadeiros determinantes sociais, eco-
nômicos e políticos continuarem camuflados para as camadas populares
e educadores, não haverá condição de se engajarem na luta por uma
transformação, de alcançarem o verdadeiro sentido da cidadania.
Portanto, os profissionais envolvidos nesta área devem, não
apenas tomar consciência da importância de se formar cidadãos consci-
entes, mas também optar por uma postura transformadora. Partindo desse
pressuposto, acreditamos que, se realmente queremos formar cidadãos
conscientes, o processo educacional não pode continuar desvinculado
do contexto social dos educandos, tornando, desta forma, o ato educativo
significativo.
Para ser válida, toda educação, toda ação educativa deve
necessariamente estar precedida de uma reflexão e de uma análise
de meio de vida do homem concreto a quem queremos educar (ou
melhor dito, a quem queremos ajudar a educar) (FREIRE op. cit., pp.
33-34). Não se pode considerar o indivíduo isoladamente, mas como
resultado de suas relações com o meio natural e social em sua totalida-
de. É importante lembrar que os educandos brasileiros também fazem
parte de uma sociedade dividida em classes, onde aparecem a figura do
opressor e do oprimido. E que, estas relações não se dão somente no
campo econômico, mas também, no social e no cultural, levando-nos a
discordar da postura "neutra" que a escola pretende ter.
A partir do momento em que o educador toma consciência desta
situação deve posicionar-se, questionando o seu papel político na socie-
dade, e se sua prática pedagógica está realmente vinculada aos seus
anseios enquanto trabalhador oprimido.
254
A educação, portanto, deveria ajudar o homem a constituir-se
como sujeito atuante, construtor de sua própria história. Pois... é através
da luta de classes sempre mais intensa que as duas classes do sis-
tema capitalista criam a história. (In: NOSELLA 1988, p. 81).
É no interior das lutas, no organismo do processo revolucioná-
rio que se mostram os sinais da morte do velho cidadão burguês e a
emergência do novo cidadão que está para nascer.
Por ser um processo de classe , portanto social, o novo
educador é o partido que, visível ou invisivelmente, faz diagnósti-
cos, organiza atividades educativas, levanta prioridades e avalia
resultados. (NOSELLA, op. cit., p. 89). A educação nesse contexto deve
ser anti-autoritária, aberta e criativa. Pois, de acordo com Paulo Freire,
na medida em que o ser humano cria e decide, as épocas vão se
formando e reformando. (Op. cit., p. 38).
É essencial que os programas, seus conteúdos e seus méto-
dos estejam adaptados ao homem a que se destinam, no sentido de
permiti-lo construir-se como sujeito, de forma a atuar, fazendo cultura e
história. É preciso que a educação estimule esse sujeito a conhecer a
realidade na qual ele está inserido, pois ninguém luta contra as forças
que não mede, cujas formas e contornos não discerne... (PAULO
FREIRE op. cit., p.40).
3. QUALIDADE
As nossas discussões a respeito da escola nos têm levado
também a questionar a qualidade do ensino que é ministrado nesta insti-
tuição.
Antes, porém, de discutir a qualidade do ensino propriamente
dita, achamos necessário tomar esta categoria de análise - qualidade -
como um instrumento de aferição que determina, numa sociedade de
classes, e nos variados conflitos que as relações sociais propiciam, a
que interesses esses agentes de "qualidade" se põem a serviço . Ou
seja, se os resultados satisfazem, ou não aqueles que se mantém na
condição de classe dominante.
255
Compreendida como instituição que reproduz as contradições
sociais nas quais está inserida, a escola coloca a velha e antiga dicotomia
entre qualidade e quantidade, levada, na maioria das vezes, a um extre-
mismo maniqueísta, onde qualidade e quantidade passam a ser
excludentes entre si. Uma análise dialética da questão, nos indica outro
caminho:
A concepção dialética não metafísica reconhece a realida-
de como processo multidimensional, complexo, que tem aspectos
"transitórios" e "permanentes" , aspectos visíveis e invisíveis, as-
pectos materiais e aspectos não materiais, aspectos específicos e
aspectos gerais, uns agindo sobre os outros em forma de
contraposição , de conflito, de contradição. (VASCONCELOS in:
CANDAU 1989, p. 15)
Nesta perspectiva, qual seja, a de classe, indagamos: Quem é
o sujeito que tem direito à educação? E mais: Qual a educação que
queremos para as classes populares?
0 sujeito do direito à educação não é abstrato. Trata-se de
cidadãos concretos, forjados na história da luta das camadas popu-
lares brasileiras pela cidadania. (ARROYO, in: Anais da IV CBE, p.
657). Este sujeito é entendido como produto do seu momento histórico.
Um ser coletivo por natureza, que estabelece relações com o meio em
que vive, contribuindo ora para a perpetuação os status quo, ora negan-
do a vigência da ordem estabelecida. Esta compreensão de sujeito histó-
rico parte do entendimento de que não é a consciência que determina o
ser, e sim o ser social que determina a consciência social. Opõe-se à
concepção que parte do pressuposto de que o indivíduo isolado, criado
abstratamente, fora e acima da realidade concreta, por si só, é suficiente
para intervir e transformar o conjunto de relações que a sociedade esta-
belece para produzir e se reproduzir social, econômica, culturalmente
etc.
Quando tratamos da educação para as classes populares, não
podemos levar em consideração apenas a educação como um mecanis-
mo de reduzir desigualdades na distribuição, uma vez que não se pode
tornar as pessoas mais iguais ao nível do consumo dos bens
256
sociais, quando existe na base, uma desigualdade social, cultural e
econômica (ARROYO op. cit., p. 657), que os define como desiguais. E,
assim, qualquer concepção que as camadas populares possam cons-
truir a partir de suas práticas sociais, políticas, organizacionais, é
sistematicamente negada, desestruturada, em nome de ser contrá-
ria aos interesses nacionais. (ARROYO op. cit., p. 658).
Diante deste entendimento, não é somente a escola que é
negada à classe trabalhadora mas, também, a possibilidade de elaborar
e estruturar o seu pensamento. Isto consiste, entre outros elementos, na
forma pela qual as elites dominantes exercem seu domínio de classe.
Compreendemos que uma política educacional que reflita a
qualidade deve ser traçada a partir da realidade objetiva, observando e
apreendendo as lutas de classe em sua dinamicidade, enxergando o
movimento inerente a todo processo social, pois a luta pelo saber, pela
cultura, pelo ensino acaba sendo o modo pelo qual o povo entra na
história e se constitui cidadão. (ARROYO op. cit., 659).
No entanto, conquistar a cidadania não implica apenas na aqui-
sição de habilidades como: ler, escrever e contar. A cidadania que quere-
mos conquistar é a que deve ser construída a partir do saber que se
adquire na luta política, nos embates de classe.
Isto só deverá ser possível, na medida em que possa haver
uma reorientação da política educacional, no sentido de atender aos in-
teresses das camadas populares, pois a política educacional oficial vi-
gente no Brasil tem por objetivo esmagar intelectualmente os menos fa-
vorecidos, alienando-os de uma prática transformadora.
257
PARTE II
NOSSO PROJETO: UMA PROPOSTA PARA
FORMAÇÃO DE UM NOVO CIDADÃO.
1. DEMOCRATIZAÇÃO DO ENSINO: UM PROCESSO COLETIVO
A escola tem que ser uma coletivida-
de única na qual possam estar conti-
dos todos os processos educativos,
e cada membro da coletividade deve
sentir sua dependência com relação
à mesma.
MAKARENKO
A crise do ensino no Brasil é um fato que ninguém desconhe-
ce. Atrelado aos interesses das classes dirigentes, o ensino em nosso
país tem sido, desde o seu nascedouro, um instrumento de dominação e
manipulação em detrimento dos objetivos e realizações das classes
menos favorecidas. A sua estrutura elitista e conservadora tem afastado
sistematicamente, e de forma violenta, a população do acesso ao conhe-
cimento científico, ao mesmo tempo, negando a esta, a oportunidade de
inserir-se nos grandes debates em torno da problemática maior da soci-
edade brasileira : a crise geral do capitalismo.
A ausência de uma política educacional voltada para o co-
nhecimento da realidade brasileira tem contribuído sensivelmente para
259
o obscurecimento das causas responsáveis pelo atraso cultural em nos-
so país.
A crise do ensino é um dado concreto, objetivo. A defasagem
curricular, o distanciamento de conteúdos concernentes à realidade ob-
jetiva são aspectos coadjuvantes da crise. A falta de material didático, a
péssima remuneração do corpo docente, a incompetência administrati-
va, às vezes voluntária, têm sido constantes na realidade educacional
brasileira. Aliado a isto tudo, está o incentivo à privatização do ensino em
prejuízo dos interesses públicos. Por ser uma crise estrutural,
notadamente, a sua solução está umbilicalmente ligada a uma transfor-
mação da estrutura econômica e social brasileira.
De acordo com a Constituição de 1988, art. 208, o direito à
educação fundamental é garantido por lei a todo cidadão brasileiro. No
entanto, este direito está longe de ser concretizado, tendo em vista a
atual realidade de nosso país que, entre outros aspectos, está constituí-
da de números alarmantes de alunos que não chegam a freqüentar a
escola na faixa etária própria, outros submetidos continuamente à
repetência, um sem número que são expulsos da escola, sem contar
com o mais grave problema que são os altos índices de analfabetismo.
TABELA 03
PERÍODO
PERCENTAGEM DE
ANALFABETISMO
1900 65,3%
1900-1920 65,0%
1920-1940 56,1%
1940-1950 50,6%
1950-1960 39,7%
1960-1970 33,7%
1970-1980 25,9%
1990 18,4%
FONTE: (Nova Escola, Dez/1993, p. 12)
260
Os dados mostram que houve, do ponto de vista quantitativo,
considerável redução na taxa de analfabetismo. No entanto, ainda signi-
fica quase 30 milhões de brasileiros acima de 10 anos que não sabem ler
nem escrever.
Os índices oficiais não estão acompanhados de análises que
expressem nestes indicadores o caráter, o sentido e a qualidade da
atenção recebida no sistema educativo, nem tão pouco se expressa
o que é passado aos usuários do sistema de ensino, o que apren-
dem, que competência adquirem. (HUIDOBRO. in INEP. 1988. p. 26)
Uma outra questão a ser levantada é qual o conceito de alfa-
betização utilizado para definir os letrados ou não.
Se considerarmos a realidade do país há 20 anos atrás, ob-
servaremos um considerável avanço tecnológico, que ao nosso ver, de-
termina também uma reelaboração do referido conceito .
Achamos necessário questionar se estes letrados estão fami-
liarizados e aptos a manejar todo o arsenal de produtos resultantes des-
te avanço tecnológico. Ao lado disto, é importante observar o nível de
compreensão política do momento histórico. Nos referimos ao fato de
que grande parte da população brasileira, alijada que está das discus-
sões e decisões dos problemas nacionais, não consegue apreender o
conteúdo de classe existente na produção tecnológica. (Ver quadro a
seguir)
261
TABELA 04
QUADRO COMPARATIVO DE INDICADORES EDUCACIONAIS E CULTURAIS
INTER-PAÍSES LATINO-AMERICANOS - 1990.
EMISSORA
TAXAS DE
ESCOLARIZAÇÃO POR
NÍVEIS DE ENSINO (%)
1ºGRAU
Rádio
Televi-
são
Sobrevivência (%)
PAÍSES
TAXAS
ANAL-
FABE-
TISMO
(%)
(1000 hab)
CIRCU-
LAÇÃO
DE
JORNAIS
(1.000
hab)
PERCENTUAL
DE
MATRÍCULAS
ESCOLARES
DA
POPULAÇÃO
DE 4 A 24
ANOS
Pré-escolar
grau
grau
Repe-
tência
(%)
Até a 4º
série
Até o
final
Argentina 4,5 659 217 - 72,9 54 110 74 - - -
Bolívia 22,4 527 77 50 53,7 34 91 37 - - -
Brasil 18,7 368 191 48 53,3 34 103 37 20 47 22
Chile 6,5 335 164 - 60.7 83 102 74 7 97 85
Cuba 5,7 334 193 107 60,7 86 105 88 8 96 91
México 12,6 241 120 127 61,1 62 118 53 10 80 69
FONTES - IBGE, Diretoria de Pesquisas, Departamento de Indicadores Sociais, UNES, Indicateurs
Statistiques le Monde, 1990, p. 46-53.
Nota - Os dados culturais referem-se ao período 1987-1990.
No atual ritmo de escolarização, o Brasil chegará ao ano
2000 com 41,9 milhões de analfabetos.
Apenas em 2100 terá 95% de uma geração com o primeiro
grau completo e somente no ano 3.080, 90% dos brasileiros terão con-
cluído o segundo grau... (NOVA ESCOLA, Dez/1993, p. 11).
Como se vê, as perspectivas da educação no Brasil não são
alentadoras.
Em 1992, a UNESCO divulgou os resultados de uma pesquisa
sobre avaliação escolar de alunos de 1
9
grau em mais de cem países.
As notas obtidas pelos alunos brasileiros nos colocaram em penúl-
timo lugar. Ficamos à frente apenas de Moçambique (FERREIRA 1993,
p.3).
Um dos principais entraves encontrados para resolver ou ame-
nizar esta situação é que o Brasil investe muito mal em educação. (Tabe-
la 05) Este problema se agrava ainda mais quando se trata da escola
básica, que em 1992 ficou com apenas 10% dos investimentos destina-
dos à educação. (Tabela 06).
TABELA 05
INVESTIMENTOS DA UNIÃO EM EDUCAÇÃO...
ANO % PIB
1987 13,1
1988 10,6
1989
4,6
1990
2,4
1991
3,7
FONTE - (Nova Escola, Dez/1993, p. 14)
...e quanto vai para o ensino básico.
263
TABELA 06
ANO
%
1987
32
1988
25
1989
22
1992
10
FONTE - (Nova Escola. Dez/ 1993, p. 14)
Diante deste quadro se põe a necessidade de compreender e
resistir à crise, tornando-se isto tarefa de todo educador que tenha o
mínimo de compromisso com o magistério e com a transformação da
sociedade. A luta pela democratização do ensino deverá ser questão de
honra para os trabalhadores em educação. Criar mecanismos que favo-
reçam o acesso da população carente e marginalizada às informações é
fator inerente à práxis educadora.
O engajamento efetivo nas discussões e a participação incan-
sável na luta pela melhoria da qualidade do ensino, deve nortear a ação
pela conquista de uma política educacional coerente com os anseios das
camadas populares. "Desideologizar" a educação em favor das classes
exploradas deve ser a meta sobre a qual repousarão as nossas ativida-
des. O despertar da consciência deverá ser a estratégia atingida, com o
objetivo final de possibilitar às camadas populares, o encontro com sua
consciência máxima, qual seja, a consciência política, conseguida ape-
nas e somente no instante de sua libertação da exploração do homem
pelo homem.
Ao verificarmos a farta literatura que trata da realidade educa-
cional brasileira, observamos que as análises se repetem no que diz
respeito a seus múltiplos problemas, como também se repetem as alter-
nativas propostas para solucioná-los.
No Seminário Latino-Americano de Institutos de Pesquisas em
Educação, realizado em 1988, o então Secretário-Geral do MEC, Luiz
264
Bandeira afirmava que analisando o grave quadro da situação educa-
cional brasileira, observamos que ele é o espelho da nossa sociedade.
Milhões de crianças de 7 a 14 anos nunca freqüentaram a escola; ou-
tros milhões deixam as escolas por repetir uma, duas, três é até mais
vezes a primeira série. Milhares de adultos não tiveram acesso à esco-
la, obrigando o Congresso a aprovar o voto do analfabeto, como forma
de minimizar as restrições ao direito à cidadania (INEP -1988, p. 7 ).
Sabemos, no entanto, que as causas do analfabetismo são
estruturais e que as medidas tomadas institucionalmente têm-se mostra-
do insuficientes para solucionar problemas de tal envergadura. Faz-se
necessário formular uma política educacional, cujos princípios e fins es-
tejam ligados à redefinição das políticas econômica e social.
Tais modificações devem se dar, entre outras, nas esferas: da
teoria educativa, da cultura e da ciência, como também na igualdade de
condições. Isto significa educação geral e universal para todos, em to-
dos os níveis.
1.1.0 TRABALHO E A CRIAÇÃO DO SER COLETIVO
O marco teórico que nos orienta fundamenta-se no materia-
lismo histórico. No prefácio da Contribuição à Crítica da Economia Políti-
ca, Marx define, de forma clara, os pressupostos que servem de base à
esta teoria: Na produção social de sua existência, os homens en-
tram em relações determinadas, necessárias, independentes de sua
vontade, relações de produção que correspondem a um dado grau
de desenvolvimento de suas forças produtivas materiais (MARX , in
PLEKHANOV 1980, p. 32)
Percebe-se claramente que a idéia fundamental de Marx é
compreender o desenvolvimento da sociedade humana a partir da forma
como, historicamente, o homem se organiza para produzir. A relação
homem-natureza vai ser para Marx a relação fundamental. Uma relação
que se materializa, na sua forma e conteúdo, através do TRABALHO.
Para o materialismo histórico o homem é produto do trabalho.
Ou seja, a gênese da sociedade humana está inseparavelmente liga-
265
da a atividade laborai dos homens e ao desenvolvimento da produ-
ção material (SAVTCHENKO 1987, p. 7 ). Deduz-se portanto, que ao
atuar sobre a natureza, ao trabalhar, o homem transforma-se, desenvol-
vendo ao mesmo tempo a sua cultura material e espiritual e as suas
aptidões físicas e materiais. De caráter essencialmente social, o trabalho
produz o ser coletivo. Uma vez que o trabalho é que possibilita o estabe-
lecimento da relação homem-natureza, esta categoria deve ser tomada
como eixo conceituai para o desenvolvimento de outros conceitos com a
criança: relações sociais, natureza, cultura, espaço, tempo, etc. (...) A
finalidade do conteúdo do ensino consiste em armar o educando
para a luta e a criação de uma nova sociedade... (PISTRAK 1981, pp.
10-11).
Esta prática pedagógica deverá resultar no desenvolvimento
de habilidades que possibilitem a criança criar, elaborar, refletir, questio-
nar sua vida real; (...) daí a necessidade da escola educar os jovens
conforme a realidade do momento histórico, adaptando-se a ela, e,
por sua vez, reorganizando-a (PISTRAK. op. cit. p.10).
A nossa proposta de projeto consiste, portanto, na tentativa de
viabilizar uma prática que culmine com a formação de um ser crítico,
participativo e transformador.
2. PRECISAR OS OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO: UMA NECESSIDADE
URGENTE.
Um aspecto de grande relevância no nosso trabalho consiste
em determinar, claramente, os objetivos de uma educação que atenda
às necessidades dos menos favorecidos. Em diversos momentos, a rea-
lidade social coloca para o homem necessidades imediatas e concretas,
quais sejam: alimentação, saúde, moradia, transporte etc.
De forma geral, o Capitalismo não oferece condições para a
realização destas necessidades, ao mesmo tempo que, ideologicamen-
te, cria a ilusão da ascensão social através da educação.
É preciso, no entanto, que nos preocupemos com uma educa-
ção que, ao mesmo tempo que capacita o homem tecnicamente para
266
atender às exigências da sociedade, prepara-o, também, para um novo
tipo de conduta de caracteres, traços e qualidades da personalida-
de que são necessários ao cidadão que construirá uma sociedade justa
e igualitária. Esta é, nossa utopia pedagógica.
3. CONCRETIZANDO A PROPOSTA
Na elaboração desta proposta, levamos em consideração os
seguintes objetivos:
- oportunizar situações de aprendizagem que tendem a mos-
trar elos siginificativos com as experiências de vida dos alunos, seus in-
teresses e necessidades;
- proporcionar oportunidades para discussão e análise crítica
dos conteúdos, estimulando o pensamento criativo;
- estimular a participação consciente do aluno na escola, co-
munidade e sociedade;
- despertar o interesse pela curiosidade científica, contribuin-
do na produção de novos conhecimentos;
- ampliar os conhecimentos apreendidos sobre a realidade no
intuito de transformá-la;
- construir uma nova prática pedagógica baseada no ensino
globalizante, integrando a escola ao contexto sócio-cultural, econômico
e político, onde a escola está inserida.
Para que estes objetivos sejam alcançados, chegamos às se-
guintes conclusões sobre:
3.1. Planejamento:
- deve ser flexível e não algo pronto e acabado, desvinculado
das relações entre escola e realidade histórica;
- deve estar fundamentado numa ação pedagógica participativa,
crítica e tranformadora, através da integração de todos os setores da
atividade humana, numa ação globalizante e coletiva. Essa ação
participativa se dá através da discussão, reflexão, questionamento e ava-
267
liação de atividades propostas coletivamente, priorizando a relação entre
teoria e prática;
- não pode ser considerado uma atividade neutra e sim uma
ação pedagógica consciente e comprometida com o seu papel transfor
mador. Para isso, é necessário que as pessoas envolvidas no processo
educativo estejam comprometidas com esta postura política.
3.2. Objetivos
Inicialmente, é importante ter clareza das metas que quere-
mos alcançar junto aos alunos. Isto não significa que as decisões em
relação ao caminhar do processo educativo devam ser definidas total-
mente no início do processo. É na prática diária que prentendemos
alcançá-las. A elaboração dos objetivos deve ser, portanto, fruto de uma
ação coletiva.
3.3. Conteúdos
Para um ensino de qualidade, não é suficiente apenas a sele-
ção e organização lógica dos conteúdos, mas imbuí-los de significado
através das experiências de vida dos alunos, ocasionando, desta forma,
uma aprendizagem ativa e consciente. Assim, na medida em que ocorre
a transmissão de conhecimentos, procede-se a sua reelaboração, visan-
do à produção de novos conhecimentos.
A aplicação destes conhecimentos apreendidos sobre a reali-
dade resultará em sua transformação. Para tanto, é necessário que se
faça uma análise crítica dos conteúdos que fazem parte do currículo es-
colar, objetivando selecionar o que é essencial e o que é secundário a
ser apreendido, levando em conta a realidade dos alunos.
3.4. Metodologia:
- priorização do dialógo através de discussões, numa ação
coletiva e integradora, onde se proporcione a apreensão da realidade,
vinculada à análise crítica dos conteúdos curriculares;
- realização de pesquisas e entrevistas, no intuito de explorar
e aprofundar questões de interesse do grupo;
268
- realização de experiências que despertem no aluno o espíri-
to investigador;
- utilização de material concreto para que o conhecimento se
corporifique no concreto e a partir dele se estruture;
- produção de textos coletivos e individuais, no intuito de de-
senvolver a expressão oral, escrita e a criatividade dos alunos;
- execução de trabalhos em grupo, promovendo a integração
entre a comunidade e a escola, como também articulação entre as disci-
plinas, tendo como ponto central os aspectos sócio-cultural, econômico e
político, no qual o aluno está inserido;
Esta será a base do desenvolvimento metodológico deste pro-
jeto, com vistas à formação da cidadania na busca de um ensino real-
mente de qualidade, fundamentado na coletividade.
3.5. Avaliação
A avaliação deve ser um processo constante, realizado não
apenas do professor para o aluno, mas por toda comunidade escolar. Ou
seja, a avaliação deve ser feita por professores, administradores, funcio-
nários, pais e alunos, no que se refere à prática pedagógica e administra-
tiva da escola. Neste processo, a auto avaliação assume um papel im-
portante, pois concebe-se que, a partir do momento em que se percebe
e admite as falhas, consegue-se encontrar soluções. A avaliação não
pode ser considerada classificatória, mas um processo de aperfeiçoa-
mento.
4. RELAÇÕES QUE SE DÃO NO PROCESSO EDUCATIVO.
4.1. Professor-aluno.
Partindo do pressuposto levantado por Cunha (1988, p. 146)
de que a relação professor-aluno está diretamente ligada à questão da
afetividade, de como são tratados os conteúdos e a metodologia utiliza-
da pelo professor, propomos uma relação que favoreça a liberdade de
expressão, a conquista da autonomia, a confiança, o respeito e a troca
de conhecimento. Compreendemos que, desta forma, se estabelecerá
uma relação de qualidade entre professores e alunos. Contudo, não es-
269
quecemos que tanto o professor como o aluno, são produtos do mundo que os
cerca. Seus comportamentos, personalidade e convicções estão relacionados a
sua realidade de vida.
4.2. Escola-comunidade.
Numa perspectiva de planejamento baseado no concreto, as
contribuições dadas pela comunidade são de fundamental importância. É a
partir da participação da comunidade que obteremos os dados necessários
para realizar uma educação crítica e estruturada no real. Esta participação é de
vital necessidade para a escola, pois os pais, a partir do momento que
conhecem e participam ativamente nas decisões tomadas, assumem o trabalho
na escola, engajando-se na luta pela qualidade e concretizando o processo de
democratização da escola pública.
5. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO NA ESCOLA
Em nossa proposta, a organização do trabalho na escola deve estar
necessariamente precedida de um processo constante de estudos, discussões,
reflexões, questionamentos, concientização acerca da práti-ca pedagógica
desenvolvida. Neste contexto, ao final de cada ano, é necessário que se faça
um levantamento das condições e dos resultados da prática desenvolvida. Tal
ação deverá ser feita pela comunidade escolar que juntos buscarão
alternativas, visando à melhoria da qualidade do ensino a ser aplicado a partir
do próximo ano. É importante também que no decorrer do ano letivo sejam
realizadas avaliações periódicas, no sentido de reorientar o trabalho
desenvolvido.
Dessa forma, a organização e a realização de um ensino de
qualidade que priorize a formação da cidadania, baseada em atividades
coletivas, exige que toda a comunidade escolar envolvida no processo
educacional e principalmente os educadores tenham disponibilidade no sentido
de crescer e mudar. É necessário que adotem princípios e objetivos comuns,
no sentido de estar politicamente comprometidos com a educação, enquanto
trabalhadores oprimidos.
Neste contexto, buscar-se-á a democratização dos conhecimentos
historicamente acumulados e a construção de novos conheci-
270
mentos, envolvendo a realidade social como um todo, levando ao fortale-
cimento dos ideais sobre o ponto de vista dos interesses e necessidade
das camadas populares. Por este prisma, deve-se estimular a criatividade
dos alunos, de maneira a levá-los a descobrir suas expectativas e a bus-
car sua concretização, numa perspectiva de constituir seres capazes de
ver o mundo com espírito crítico e de contribuir para a formação da soci-
edade, no sentido de torná-la justa e igualitária.
6. DEMONSTRAÇÃO DO TRABALHO QUE A ESCOLA JÁ VEM REALI-
ZANDO NESTA PERSPECTIVA:
6.1. Na sala de aula
Para demonstrar o trabalho que a Escola vem realizando nes-
ta perspectiva de participação da escola no mundo real, apresentamos a
seguir dois planos de unidade e atividades elaboradas entre professores
de uma mesma série e professores assessores.
No momento da aplicação do plano, o mesmo poderá sofrer
modificações propostas pelos alunos, ou em função da necessidade sen-
tida pelos professores.
Plano 1 ano: 1993 - série 3
8
Escola:_______________________
Série 3ª____________ Professor(a):
271
272
Uma visão geral de como foi aplicado este plano e mostra
de algumas atividades.
- Questionar junto aos alunos a origem do nome do Estado
onde moramos. Incentivá-los a realizar uma pesquisa sobre o assunto.
(Anexo 1).
- Construção de um texto coletivo sobre a origem do nome
Roraima. (Anexo 2).
- Atividades integradas.
- Conversar com os alunos sobre os seguintes temas: Roraima
antigamente, hoje e no futuro.
- Apresentação de algumas fotos históricas de Roraima para o
diálogo se tornar mais rico.
273
- Construção de cartazes pelos alunos. (Anexos 3,4).
- Produção de um texto coletivo sobre o assunto estudado.
(Anexo 5).
- Na produção de texto, trabalhar a leitura e as demais dificul-
dades apresentadas pelo grupo.
- Atividades integradas.
- Incentivá-los à leitura de lendas de Roraima.
- Apresentação oral das lendas pelos alunos.
- Realização de uma pesquisa ou entrevista acerca da História
de Roraima. (Anexos 6,7).
- Realização de um passeio pelos principais pontos históricos
de Boa Vista.
- Construção de um mural com as fotos tiradas durante o pas-
seio, as observações e dados coletados. (Anexos 8,9,10,11,12,13,14 e 15).
- Construção coletiva de um texto sobre "O passeio pelos pon-
tos históricos de Boa Vista". (Anexo 16).
- Durante a construção coletiva, trabalhar a leitura, pontuação,
construção de parágrafos e demais dificuldades apresentadas pelo grupo.
- Atividades integradas. (Anexos 17,18).
- Discussões sobre os problemas que Roraima enfrentava an-
tigamente e o problemas que enfrenta atualmente, relacionando-os com
os problemas enfrentados pelo restante do país.
- Fazer levantamento dos tipos de alimentos mais consumidos
pelos primeiros moradores de Roraima, bem como os alimentos mais
consumidos hoje em dia.
274
- Promover discussões acerca da importância da alimentação
na vida das pessoas.
- Salientar que todos os seres vivos precisam se alimentar para
viver. No entanto, a maioria das pessoas não podem comprar todos os
alimentos de que necessitam, e outros, mesmo podendo, não sabem o
que lhes faz falta.
- Partindo das discussões, os alunos listarão os alimentos mais
consumidos pela sua família.
- Utilizar esta lista de alimentos e promover a realização de
experiências que levem o aluno a descobrir a origem e a classificação
dos alimentos e a importância de cada um deles para o bom funciona-
mento do corpo.
- Construção de cartazes sobre a classificação dos alimentos.
(Anexo 19).
- Leitura de um texto informativo sobre alimentação.
- Atividades integradas.
- Leitura de um texto que aborda a vida de um menino que se
alimenta mal. (Anexo 20).
- Interpretação oral do texto través de discussões em grupo.
- Atividades de ernriquecimento. (Anexo 21).
- Discutir com os alunos se existe na localidade, lugares onde
as pessoas pobres possam receber atendimento "gratuito" (médico,
assistencial, educacional). Se existem, quais as instituições?
- Dividir a turma em grupos para a realização de entrevista
acerca dos serviços públicos de saúde. (Anexo 22, 23)
- Discutir o resultado das entrevistas.
- Elaborar problemas, partindo do assunto em estudo. (Anexo 24).
275
Plano 2. Ano: 1994 - Série 3ª
Escola:
Série: ___________Professor (a):
276
277
Uma visão geral de como foi aplicado este plano e mostra
de algumas atividades.
1. Conversar com os alunos sobre:
- A importância que o trabalho representa para o bem-estar da
comunidade.
- Formas e condições de realização das diversas atividades
profissionais.
- Os tipos de atividades exercidas pelos membros da comuni-
dade.
- Importância da atividade para a economia da região.
- Formas de renumeração existentes para as diversas ativida-
des profissionais.
- Oportunidades de emprego existentes na comunidade.
- Problemas enfrentados pelos diversos profissionais.
2. Organizar as idéias discutidas e montar um texto coletivo.
3. Fazer a leitura do texto. (Anexo 25).
4. Dividir os alunos em grupos e pedir que confeccionem car-
tazes sobre as diferentes atividades profissionais, desenvolvidas pelos
membros da comunidade. (Anexo 26).
278
5. Apresentação oral dos trabalhos.
6. Tarefa de casa. (Anexo 27).
7. Discutir o resultado da tarefa de casa.
8. Realizar pesquisa com os funcionários da Escola (Anexo 28).
9. Discutir com os alunos a importância da agricultura e as relações
sociais que ocorrem nesta atividade.
- Pontos que foram discutidos:
- Importância da agricultura para o desenvolvimento da comu-
nidade.
- Tipos de produção.
- Técnicas de produção.
- Técnicas e recursos utilizados na produção.
- Relações de trabalho.
- Tipo de agricultura: subsistência e comercial.
10. Após as discussões, organizar as idéias e construir texto
coletivo. (Anexo 29).
11. Atividades de enriquecimento. (Anexo 30).
12. Discutir com os alunos a entrevista que deverá ser realizada na
Feira do Produtor. (Anexo 31).
13. Visita à Feira do Produtor.
14. Discutir com os alunos o resultado da pesquisa feita na Feira do
Produtor.
15. Tarefa de casa (Anexo 32).
16. Organizar as idéias e construir um texto coletivo sobre o que foi
discutido. (Anexo 33).
279
17. Atividades de enriquecimento. (Anexo 34).
18. Ler e discutir o texto informativo: O Solo. (Anexo 35).
19. Realizar aula-passeio pelo pátio da Escola. Durante o passeio
os alunos poderão observar os tipos de solo, as condições do solo, as formas
de utilização do solo (horta escolar), relação entre o tipo de solo e o tipo de
vegetação.
20. Organizar as idéias e construir um texto coletivo. (Anexo 36).
21. Organizar os alunos em grupo e incentivá-los a pesquisar sobre
o assunto. (Anexo 37).
Depoimento de uma mãe de aluno quanto ao trabalho desenvolvido
em sala de aula, isso no primeiro bimestre do ano letivo de 1993.
280
Depoimento da mesma mãe, no terceiro bimetre do ano letivo
de 1993.
6.2. Na Escola.
- Os professores do primeiro grau fazem planejamentos sema-
nais por série e acompanhados dos professores assessores.
- São realizados estudos, de grupos objetivando refletir
teoricamente sobre a nossa prática.
- As reuniões e encontros de pais deixaram de ser apenas
momentos de saber como os alunos se comportam e suas notas, para
dar lugar às discussões sobre a prática pedagógica e administrativa da
Escola. Momentos estes de fundamental importância, pois tem-se perce-
bido uma participação mais qualitativa dos pais em relação à compreen-
são da prática de sala de aula e a dar sugestões e incentivos para o seu
aperfeiçoamento.
- Sempre que necessário são realizados encontros para se
avaliar o trabalho da Escola, em busca de melhorar cada vez mais. Estas
avaliações têm sido importantes pois nos transmitem confiança,
companheirismo e vontade de lutar sempre que encontramos proble-
mas. Nessa perspectiva o grupo não avalia só para encontrar os proble-
mas, mas para buscar soluções.
281
7. PERSPECTIVA DO PROJETO.
Este projeto tem como finalidade principal proporcionar um
ensino de qualidade baseado numa ação coletiva, onde educandos e
educadores construam conhecimentos, integrando a Escola na socieda-
de e vice-versa. Um ensino que se contrapõe aos mecanismos de discri-
minação e seletividade, verificados na sociedade brasileira. Deverá pos-
sibilitar a formação de pessoas críticas e atuantes que contribuam para
a construção de uma nova sociedade.
282
CONCLUSÃO
Quando nos propusemos a apresentar um Projeto Coletivo em
busca da Qualidade e da Cidadania para a Escola Fundamental, leva-
mos em consideração a necessidade compreendê-la como instituição
inserida no conjunto de relações que a sociedade, historicamente, esta-
belece.
A sociedade capitalista, entre outros aspectos, caracteriza-se
pela supervalorização e culto ao individualismo e à competição. Valores
estes que se configuram como empecilhos para o desenvolvimento e
consecução de um trabalho coletivo e de qualidade, que deva colocar-se
entre os ideais desejáveis e os realizáveis.
Mesmo encontrando estas dificuldades sempre existiram e
existirão grupos de resistência que se contrapõem aos domínios da bur-
guesia. Assim, este grupo, no anseio de responder às angústias e preo-
cupações no âmbito da Escola Fundamental, procurou discutir exausti-
vamente temas que pudessem nos ajudar a entender melhor os meca-
nismos através dos quais a burguesia exerce o seu domínio, reproduzin-
do seus princípios e valores.
Estas discussões nos ajudaram a confirmar o pensamento ini-
cial de que esse projeto coletivo deve contar com a presença da comuni-
dade escolar que, entre outras funções, deverá desempenhar um papel
fundamental na efetivação do mesmo. A comunidade escolar deverá es-
tar constantemente avaliando, reavaliando e propondo modificações com
o objetivo de aperfeiçoar a prática pedagógica. Desta maneira, reforça-
mos o entendimento de que a educação é um processo em constante
283
construção, partindo de desafios enfrentados e buscando respostas para
superá-los.
Propomos uma prática educativa que deva partir das contradi-
ções da realidade social para embasar a realização de um trabalho que
vise, fundamentalmente, à formação de um cidadão consciente e atuan-
te, que compreenda a sociedade em suas múltiplas relações e desta
maneira possa transformá-la.
284
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NOVA ESCOLA - Ano VIII - nº 72 - dezembro de 1993.
NOVA ESCOLA - Ano VIII - nº 75 - maio de 1994.
289
ANEXOS
291
Anexo 1
293
294
Anexo 2
Anexo 3
295
296
Anexo 4
Anexo 5 297
298 Anexo 6
Anexo 7
299
300
Anexo 8
Anexo 9
301
302
Anexo 10
Anexo 11 303
304
Anexo 12
Anexo 13
305
306 Anexo 14
Anexo 15
307
308
Anexo 16
Anexo 17
309
310
Anexo 18
Anexo 19
311
312
Anexo 20
Anexo 21
313
314
Anexo 22
Anexo 23
315
316
Anexo 24
Anexo 25
317
318
Anexo 26
Anexo 27 319
320
Anexo 28
Anexo 29
321
322
Anexo 30
Anexo 31 323
324
Anexo 32
Anexo 33
325
326
Anexo 34
Anexo 35
327
328
Anexo 36
Anexo 37
329
330
Anexo 38
Anexo 39
331
A Indústria Cultural e a Escola
"Escola Fundamental - um projeto coletivo em
busca de qualidade e cidadania"
Sinara Maria Gomes Verardi
(Aranis)
1994 Esteio
- RS
SUMÁRIO
1. JUSTIFICATIVA............................................................................. 337
2.OBJETIVO.....................................................................................339
3.CLIENTELA ................................................................................... 341
4.DESENVOLVIMENTO................................................................... 343
4.1. A REALIDADE QUE SE APRESENTA E O QUE FAZER....... 343
4.2. SUGESTÕES DE TRABALHOS............................................345
CONCLUSÃO................................................................................... 355
BIBLIOGRAFIA................................................................................. 356
335
1. JUSTIFICATIVA
O motivo pelo qual optei pela realização deste trabalho é o
fato de que, atualmente, vivemos num contexto cercado por toda uma
estrutura tecnológica de informação e lazer (TV, vídeo, revistas...) que aí
está, fazendo parte do cotidiano do nosso aluno, influindo direta e osten-
sivamente no seu comportamento, e que não ê aproveitada pela escola.
Como trabalho com adolescentes, em uma escola estadual de
bairro, e observo os resultados dessa imensa carga de informações, cos-
tumes, linguagem, posturas que nos são impostos diariamente, resolvi
escolher este assunto para o meu projeto, apresentando propostas e
sugestões de atividades que tentem inverter a situação e aproveitar toda
essa indústria cultural que é o "aparelho ideológico" da sociedade admi-
nistrada, tornando-a alvo de crítica, com o intuito de transformar o nosso
aluno, não em um "não-consumidor", mas num consumidor mais consci-
ente, capaz de fazer suas próprias escolhas.
337
2. OBJETIVO
Propor aos nosso alunos um exame mais profundo, um olhar
mais atento aos programas de televisão, fitas de vídeo, histórias em qua-
drinhos, enfim toda essa "indústria cultural" através da qual nos é impos-
ta a dominação política, econômica e cultural, a fim de que esses alunos
possam analisá-la e posicionar-se criticamente diante dela, como pesso-
as livres e cidadãos conscientes.
339
3. CLIENTELA
O presente trabalho se destina a alunos de 7a. e 8a. séries de
uma Escola Estadual de bairro. Esses alunos são, na sua maioria, prove-
nientes de famílias de classe pobre e média baixa, com as idades entre
13 e 16 anos. Alguns deles trabalham, à tarde, como empacotadores em
supermercado, babás ou, então, fazem o SENAI.
O perfil desse grupo se assemelha a qualquer outro dessa
faixa etária e inserido no mesmo contexto sócio/econômico/ cultural. Tem
a linguagem e o comportamento diretamente influenciados por músicas,
por heróis da tela, cantores, artistas, programas e propagandas, tudo
isso veiculado por uma força poderosa que são os Meios de Comunica-
ção Social.
O nosso aluno é o "consumidor" em formação que está indefe-
so, exposto aos vetores ideológicos que direcionam os bens culturais
que são oferecidos a ele, a todo momento, quando se prostra passivo
diante da TV.
Cabe a nós, professores, dar a oportunidade aos nossos jo-
vens de conhecer um pouco sobre como funciona a dita "indústria cultu-
ral" para que eles saibam lidar com toda essa carga de informações,
habilidades, valores, linguagens e procedimentos que chegam até eles e
possam filtrá-los, acolhê-los ou rejeitá-los. É preciso que nós ajudemos o
nosso aluno a entender o mundo em que vive e a si mesmo.
341
4. DESENVOLVIMENTO
4.1. A REALIDADE QUE SE APRESENTA E O QUE FAZER.
Como já foi referido anteriormente, trabalho com adolescentes
e jovens de oitava série de uma escola estadual de bairro, portanto, pre-
ciso me deter nessa realidade, nesse contexto em que estamos inseri-
dos, meus alunos e eu, assim como também uma grande parte dos bra-
sileiros, e preciso fazer isso dentro e através da minha disciplina: Língua
Portuguesa.
Uma coisa que me parece ser bastante clara é que estamos
afundados até o pescoço numa sociedade capitalista, onde as regras
são ditadas por uma classe dominante que visa ao "lucro"; onde tudo se
transforma em bem de consumo; onde a competição é vital; onde preva-
lece a lei do mais forte e do mais esperto; enfim, onde o "ter" e o "pare-
cer" são mais importantes do que o "ser". E, mais, que a solução não ê
simplesmente tirar a pessoa desse "jogo", mas prepará-la para ser um
ator consciente.
Como somos participantes de uma sociedade de consumo,
nos vemos fortemente envolvidos no "modo capitalista de pensar", onde
tudo é mercadoria e a troca tornou-se a mola impulsionadora das rela-
ções humanas.
Tudo se encaixa na lógica da troca de mercadorias: religião,
moral, produtos, etc, sustentada e motivada pela fantasia, pelo prazer,
pelo lucro.
343
O ser humano vê-se invadido, massacrado por um turbilhão
de ofertas, de valores e para se resolver ele só encontra uma saída, que
está fora do esquema em que está inserido, mas ao alcance de todos
que buscam realizações: é a utopia; o segredo é encontrar o espaço,
alimentar a utopia. Para isso o indivíduo precisa conhecer as regras do
"jogo", entender a lógica desse mundo para criar defesas, para
instrumentalizar-se.
Por exemplo, é preciso ser atento para perceber que quando
um produto é oferecido, o importante não é o "conteúdo" dele, mas, sim,
a "metáfora" do modo capitalista de pensar, porque tudo é intencional e,
assim, ao comprar um cigarro se está comprando não um pouco de fumo,
mas a marca "tal" que confere "tal status".
Quando assistimos a um filme ou acompanhamos uma nove-
la, a história, o enredo não é a única coisa que vemos. Como pano de
fundo está todo um jogo cultural: um tipo de moradia, de decoração, de
carro, uma maneira de se relacionar, de viver, em resumo, um padrão
cultural diferente. E é isso que fica na mente das pessoas e leva a mu-
danças dos padrões culturais de forma quase inconsciente.
É dessa forma sutil e prazerosa que toda uma gama de infor-
mações, habilidades e valores, vai-se instalando, deixando as pessoas
dependentes, fragilizadas, consumindo com resignação o que lhes é im-
posto culturalmente.
Utiliza-se muito freqüentemente a expressão "cultura de mas-
sa" para identificar cultura popular. Na verdade não é o correto, pois a
cultura popular seria, na realidade, aquilo que vem do povo e a "cultura
de massa" vem "de cima", impregnada de ideologia da classe dominan-
te, que só confirma a validade do sistema.
A idéia é "vender" um produto (filmes, novelas, propagandas...)
impregnado de muito prazer, beleza, realizações..., ao ponto de as pes-
soas se sentirem tão fortemente envolvidas que se tornam incapazes de
organizar suas vidas sem os ideais fabricados por essa "indústria cultu-
ral".
344
Agora como conviver com isso e reverter a nosso favor? Sabe-
mos que precisamos ajudar o nosso aluno nas suas experiências; que
não somos capazes de impedi-lo de participar ou evitar que seja atingi-
do, mas é necessário que o façamos ver que tudo o que se apresenta
leva para a "confirmação", para a "alienação" e não para o
"questionamento". E é isso que tem que mudar. É preciso perceber que
não existem "verdades absolutas", que há relatividade nas coisas, pon-
tos de vistas diferentes.
É fundamental saber pensar, analisar e optar; argumentar e
estabelecer critérios e não, simplesmente, deixar-se levar de forma pas-
siva, omitir-se das responsabilidades, lançando toda a culpa nos outros,
no sistema, no governo, enfim em terceiros.
Com certeza, não será lendo relatórios para as crianças ou
fazendo pregações em prol da "moral e dos bons costumes" que se efe-
tivará essa transformação mas, sim, num processo lento, gradativo, in-
tenso, impregnando todo o trabalho em sala de aula e fora. Aproveitar
cada situação que se apresenta, cada momento político/histórico/social
que nos diz respeito direta e significativamente; oportunizar experiências
estéticas aos alunos; muitas leituras; filmes; discutir coisas práticas, etc.
No próximo item serão colocadas algumas sugestões mais prá-
ticas a respeito da aplicabilidade dessa questão, isto ê, maneiras de como
agilizar esse processo emancipatório de nossas crianças e jovens.
4.2. SUGESTÕES DE TRABALHOS
Vamos iniciar examinando as novelas transmitidas pela televi-
são, que é o meio de comunicação mais presente e de maior destaque
nos lares brasileiros. É claro que não adianta falarmos contra as novelas,
dizermos que nelas os valores estão invertidos, que há um exagero, falta
de postura, etc; ou ainda, como pais, desligarmos a TV e proibirmos nos-
sos filhos de assistirem à programação. O que temos de fazer é estar
juntos deles (alunos e filhos) para conversarmos e pensarmos juntos a
respeito dela.
345
Assim, poderemos pedir aos nossos alunos que por alguns
dias observem as novelas (das seis, sete e oito horas). Cada grupo fica-
ria encarregado de um horário e faria anotações do tipo:
- A que grupo social e familiar pertencem os personagens da
história?
- Que marcas me comprovam isso?
(tipos de casa, carro, roupas, emprego, comida)
- Até que ponto há identificações com a nossa própria família e
com as pessoas das nossas relações?
- Como se comportam os jovens na novela?
(músicas, roupas, divertimentos, namorados)
- Há semelhanças com a sua própria realidade? Quais?
- O que você classifica de "real" e de "fantasioso" na novela?
Ou então, as perguntas podem ser direcionadas ao
"merchandising" que invade as novelas de forma ostensiva e direta, qua-
se agredindo a percepção do telespectador.
-No capítulo de hoje quantos produtos, marcas e grifes apare-
ceram durante as cenas vividas pelos personagens? (cervejas, refrige-
rantes, calças jeans, eletrodomésticos, cosméticos...)
- Como se comportam os personagens em relação a esses
produtos? (mostram, falam, usam?...)
- Qual ou quais bancos aparecem nas novelas?
- Como é a atitude dos "gerentes" e "funcionários" desses ban-
cos em relação às necessidades do cliente?
346
- Como é que essas situações se processam na vida real?
- Por que você acha que isso ocorre nas novelas?
- Interessa a quem?
- Quem ganha com isso?
- Quem é atingido e de que forma?
- Como é que os produtores, empresários e publicitários to-
mam conhecimento dos efeitos causados?
É interessante também fazer sempre ver aos alunos que nem
só produtos são comercializados e que "idéias" ("Academias de estéti-
cas", "Doação de órgãos", "Incentivo à Pequena Empresa",...) são vendi-
das de forma tão sistemáticas até que mudam o comportamento das
pessoas e passam a fazer parte da vida delas. Isso não quer dizer que
sejam sempre ruins. Muitas vezes, têm um caráter positivo, mas o que se
quer é que todos tenhamos condições de examinar e decidir se as quere-
mos ou não.
Em sala de aula, os grupos se reúnem para debater e juntar as
informações e idéias para depois apresentá-las ao grande grupo, onde o
assunto é amplamente debatido. Os alunos fazem suas anotações e re-
gistram conclusões.
Como trabalho final, cada um escreve um texto expondo seu
posicionamento crítico a partir do trabalho realizado e depois a turma é
dividida em grupos que ficarão encarregados de, sob orientação da pro-
fessora, preparar cenas de novelas, procurando exagerar as caracterís-
ticas das personagens e seus comportamentos com o intuito de provocar
riso e enfatizar significativamente aquilo que é peculiar a cada uma de-
las.
Aproveitando ainda a televisão, é possível trabalharmos o "pon-
to de vista", os diversos enfoques que se dão a uma mesma situação ou
fato. Por exemplo, a professora grava o jornal local e o da rede nacional
347
de uma determinada emissora e pede aos colegas que gravem os jornais
de outras duas emissoras, todos no mesmo dia.
Em aula, os alunos e a professora assistem aos jornais que,
em linhas gerais, darão quase as mesmas notícias de fatos e aconteci-
mentos que foram manchetes naquele dia. O que deverá ser observado
então?
A professora pede aos alunos que sejam atentos e procurem
verificar os seguintes aspectos:
- Quais as notícias que foram comuns nos noticiários?
- Como uma mesma notícia é dada num jornal local e na rede
nacional? Por quê?
- O mesmo fato é transmitido da mesma forma em todos os
canais?
- O que difere? (aspectos abordados, maior ou menor enfoque,
etc)
- Por que você acha que isso ocorre? (enfatizar que para uma
notícia ser veiculada é necessário todo um esquema: um jornalista, um
fotógrafo, um redator, um apresentador, etc, além de vínculos ideológi-
cos, interesses econômicos e outros; tudo isso determina os diferentes
"pontos de vista").
Depois a turma se divide em grupos (5 ou 6 alunos cada) que
formarão "equipes jornalísticas" e a professora propõe que todos obser-
vem um mesmo acontecimento (desfile de 7 de setembro; a apresenta-
ção do coral da escola ou Expointer, etc..) e elabore um noticiário para
ser transmitido à turma e/ou afixado em mural.
Na data marcada as notícias são apresentadas e analisadas
quanto às abordagens, enfoques, elaboração...
348
Outro elemento importantíssimo da produção cultural para cri-
anças e jovens é a Revista em Quadrinhos e, por isso, não poderia dei-
xar de ser lembrada nesse trabalho.
É bastante comum a circulação de revistas em quadrinhos na
sala de aula. A professora, então, deve aproveitar essa situação e trazer as
revistinhas para dentro do contexto escolar, procurando explorar o que for
possível, sempre com a intenção de preparar o aluno, ajudá-lo a compreen-
der, a estabelecer relações, fazer comparações e tirar conclusões.
A professora pede que os alunos tragam as revistinhas que
costumam ler. Com certeza, vão aparecer inúmeros títulos: Pato Donald,
Xuxa, Super-Heróis, Chiclete com Banana, etc. A turma examina todas,
comenta, troca. Depois seleciona duas: uma do tipo bem infantil (Môni-
ca) e outra para adolescentes e jovens (Chiclete com Banana).
Os alunos, em grupos, procedem à análise, seguindo um ro-
teiro de perguntas.
Primeiro é feito um exame de produção editorial das revisti-
nhas: tipo de capa, papel, ilustração, cores, se é atrativa ou não...
Depois é examinado o conteúdo delas:
- Que tipos de personagens são utilizados na Mônica?
- Procura atingir qual público?
- Quais os temas das historinhas?
- Nas revistinhas são encontradas propagandas comerciais?
- De que tipo de produtos?
- Qual o objetivo disto?
- Você acha que há identificação com os leitores-crianças?
Explique.
349
- Você sabe que as revistinhas têm muita aceitação, não só
entre as crianças, mas também entre jovens e até adultos. Por que você
acha que ocorre isto? (chamar a atenção para o aspecto da estrutura, a
descontração, o humor.)
- E os personagens de Chiclete com Banana? Como são?
- A que se propõe, basicamente essa revista? (levantar a ques-
tão do humor)
- Quais os principais temas dessa revista? (principalmente a
sátira do sexo, política e violência também)
- Descreva a linguagem da revista (chamar a atenção para o
uso de palavrões; linguagem muito apelativa)
- A quem se destina a revista?
- Você acha que cumpre os fins? Justifique (preferência dos
jovens pela identificação com as aspirações e posicionamento de grupo)
- Há algum tipo de propaganda comercial? De que produtos?
- Qual o objetivo?
Depois o grande grupo se reúne e as respostas são colocadas
e debatidas.
O intuito desse trabalho não é, de forma alguma, fazer com
que as crianças deixem de ler histórias em quadrinhos, mas, apenas,
que consigam vê-las como elas realmente são, compreendam que o gran-
de e real objetivo delas é sempre incentivar o consumo das próprias re-
vistas e dos produtos anunciados e ligados a elas. Assim, é importante
perceber toda a estrutura publicitária e econômica que está atrás da ino-
cente "Mônica e sua Turma" (brinquedos, jogos educativos, material es-
colar, roupas, calçados, jogos de cama e banho, produto de higiene in-
fantil, chocolates, yogurtes, etc.)
350
Para complementar o trabalho, a professora traz uma fita de
vídeo com um documentário sobre os 20 anos da relação CICA E
JOTALHÃO (o elefante da Turma da Mônica). Neste filme, produzido por
Maurício de Souza, o criador da Mônica e a sua turma, patrocinado pela
CICA, são mostrados todos os comerciais que esses personagens fize-
ram, nos últimos vinte anos, dos produtos dessa empresa: ervilha, do-
ces, marmelada, vinagre, maionese e, principalmente, o extrato de toma-
te Elefante que é associado ao Jotalhão. Esse "casamento" fez tanto
sucesso que esse elefante tem o contrato mais antigo da televisão do
mundo inteiro.
É fundamental que os alunos percebam o motivo pelo qual
essa associação tem durado tanto: certamente é porque traz lucros e
benefícios a ambas as partes. O público, nesses vinte anos, tem
correspondido exatamente às expectativas, comprando as revistas e os
produtos anunciados, participando dos concursos, declarações de amor
ao "elefante mais amado do Brasil", para ganhar um pingente de ouro em
forma de coração.
Para fechar o trabalho, alguns grupos produzirão histórias em
quadrinhos com personagens criados por eles; e outros, criarão uma
campanha publicitária com comerciais vinculados a personagens de re-
vistas em quadrinhos. Tudo será afixado em mural.
Quanto à revista "Chiclete com Banana", ainda que não tenha
a mesma representação que a "Mônica", deve, também, ser avaliada sob
o enfoque do consumo. Ela atinge determinado grupo porque esse gru-
po se identifica com ela e ê de interesse dos elaboradores e patrocinado-
res da revista que haja cada vez mais afinidades entre ela e o público a
que se destina. É por isso que a garotada vai sempre encontrar nesse
tipo de revistinha a mesma postura rebelde, irreverente, contestadora,
que caracteriza muito bem a juventude. Sendo assim, em "Chiclete com
Banana" encontramos o sexo promíscuo; a política e o governo ridicula-
rizados; o palavrão livre; a negação de valores como a família, religião...
tudo feito com uma certa dose de humor e inteligência, bem a gosto e
prazer dos leitores que, às vezes, riem sem entender bem. Por isso é
importante uma leitura efetiva, com compreensão, com vivências, para
que possa haver uma escolha verdadeira: a aprovação ou não.
351
A professora pode, ainda, trazer uma fita de vídeo contendo a
gravação do programa "Casseta e Planeta", - que segue mais ou menos
a mesma linha de humor (sátira da política, sexo...) sem ser tão apelativo
quanto a revista. Com a ajuda da professora, os alunos fazem o comen-
tário crítico da revista e do programa, sempre tendo presente a conotação
de "mercadoria" que eles têm e, por conseguinte, a necessidade de se-
rem atrativos ao consumidor.
Para concluir as sugestões de trabalhos, vamos nos deter um
pouco nos filmes americanos veiculados pela TV (Indiana Jones, Macgiver,
Justiça Final ...), os ditos "enlatados americanos". Primeiro precisamos
conversar com os alunos a respeito dessa expressão: por que é usada?
o que justifica seu uso? Depois, devemos fazer, junto aos alunos, um
levantamento das referências de filmes e seriados, sempre acompanha-
dos de comentários a respeito dos mesmos.
O próximo passo será a professora trazer algumas fitas com
esses tipos de filmes para a turma assistir e logo a seguir, em grupos,
analisar alguns aspectos deles:
-Como é o herói desses filmes?
(sempre bonito, bom caráter, esperto, corajoso, inteligente...)
-Como se processa a relação Bem e Mal nessas histórias?
(o Bem vence o Mal e a justiça prevalece)
-Como ocorre a solução do conflito, na maioria das vezes?
-Qual a imagem do homem americano que é criada com esse
tipo de filme?
-Será que isso é intencional?
(padrão americano de vida)
- Por que esse tipo de filme agrada tanto às pessoas e dá
sempre altos índices de audiência? (chamar a atenção para a necessida-
352
de que as pessoas têm de exercitar a fantasia, alcançar realizações, so-
frer com os problemas dos outros e também encontrar as soluções; viver
a dor; a tristeza; a emoção... mas à distância)
Como atividade sugerida para o fechamento desse trabalho
com os filmes, a professora pede que cada grupo escolha um dos "he-
róis" das histórias e elabore um roteiro de perguntas para entrevistá-lo.
A entrevista deve também conter as respostas, portanto, os
alunos deverão assumir dois posicionamentos, dois pontos-de-vista: o
do entrevistador (público) e o do herói.
Em contrapartida a esses filmes produzidos em série, a pro-
fessora, então trará outros que levantem outras questões, filmes
questionadores e emancipadores, que levem o nosso aluno à reflexão e
à crítica. Dentre esses podemos citar "Quero ser grande". Esse filme
conta a história de um menino que estava cansado de ser criança e de
ser tratado como tal. Numa certa ocasião, em um parque de diversões
apareceu uma máquina que concedia pedidos e o garoto pediu para "ser
grande", no que foi atendido. Ele, então, continuou a ser um menino de
12 anos, mas em um corpo de adulto. Teve que sair de casa, trabalhar,
arranjou uma namorada, mas portava-se como a criança que era. Isso
fez com que obtivesse sucesso no emprego, pois era supervisor numa
indústria de brinquedos e dava opiniões e sugestões a partir do seu pró-
prio ponto de vista, isto ê, o de uma criança. Se por um lado ele possuía
tudo que um rapaz gostaria de ter: bom apartamento, dinheiro, namora-
da, sucesso; por outro, ele se sentia triste, saudoso dos amigos, da famí-
lia, das etapas queimadas. Foi assim que tomou a decisão de abandonar
tudo e pedir à máquina que o fizesse novamente criança.
Esse filme levanta, também, a questão do "adultocentrismo" e
da assimetria adulto/criança, primeiro na relação do garoto com os pais
e, depois, na fábrica de brinquedos, quando os empresários não conse-
guiam perceber o que as crianças realmente gostavam. O menino achou,
a princípio, que crescendo transporia a barreira e resolveria o problema,
mas viu que essa não era a solução,que as coisas viriam a seu tempo.
353
A turma comenta o filme, sob a orientação da professora que
direciona as perguntas.
Depois, cada aluno pode produzir um texto narrativo, onde
ocorre uma situação inversa àquela do filme: um adulto que, de repente,
vira criança (aparência de criança mas cabeça de adulto).
E assim, desta forma: analisando, questionando e selecionan-
do, pode-se aproveitar cada nova situação do dia-a-dia, como o tetra-
campeonato mundial de futebol, as campanhas eleitorais, enfim tudo que
faz parte e influencia diretamente a vida de cada jovem brasileiro, o nos-
so aluno.
354
CONCLUSÃO
Ao chegar ao término desse trabalho, espera-se que tenha
atingido os fins aos quais havia se destinado e que, então, tenha sido
possível dar uma idéia da realidade com a qual temos convivido e da
necessidade urgente de nós, pais e professores, prepararmos nossos
filhos e alunos para participarem dela como sujeitos atuantes, homens
livres, cidadãos conscientes.
Era também objetivo dessa proposta apresentar algumas su-
gestões de trabalhos práticos que podem ser realizados com nossos alu-
nos, aproveitando, para isso, o que está sendo produzido em termos de
cultura industrializada e que atrai tanto as crianças e jovens.
Depois de tudo que foi examinado, visto e revisto, uma coisa
fica clara: é que nós, professores, precisamos, necessariamente, explo-
rar e usufruir dos meios de comunicação social. Eles estão aí, ocupando
lugares destacados dentro das casas, vendendo, definindo, idealizando
os modelos estéticos, sexuais e comportamentais das pessoas. É preci-
so, pois, ajudar nossos alunos a lidar com eles, instrumentalizá-los para
que se tornem mais críticos, atuantes, emancipados, e não apenas mais
alguns para engrossar a "massa" dos repetidores do modelo.
355
BIBLIOGRAFIA
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Alves, 1977.
MOREIRA, Roberto S.C. Teoria da Comunicação. Petrópolis: Vozes,
1979.
MARCONDES FILHO, Ciro. Quem manipula quem? Petrópolis: Vozes,
1991.
MARCONDES FILHO, Ciro. Televisão, a vida pelo vídeo. São Paulo;
Moderna, 1991.
GUARESCHI, Pedrinho. Os meios de comunicação e o massacre da
cultura
356
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
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