Série Deficiência Auditiva - Fascículo 7
tipos de constituintes e categorias lingüísticas, suas sentenças são estruturadas
sempre em torno de um núcleo com valencia, isto é, o núcleo que requer os
argumentos (complementos) necessários para a completude do significado
que veicula. Todas essas colocações serão discutidas a seguir por meio da
descrição de aspectos estruturais da LIBRAS, os quais serão comparados,
sempre que possível, com os equivalentes em língua portuguesa, no intuito de
salientar as diferenças e as semelhanças entre as duas línguas.
No entanto, antes de passarmos à descrição propriamente dita da
LIBRAS, é bom enfatizar que, como todas as línguas, ela é natural, isto é, ela
é por definição natural. Assim, não é adequado dizer que a LIBRAS é a
língua natural dos surdos brasileiros. Não, é natural devido à sua própria
natureza, o que a opõe a sistemas artificiais como o Esperanto, o Gestuno
(sistema de sinais semelhante a um "pidgin" utilizado por surdos de vários
países em sua interação em eventos e encontros internacionais), os diferentes
códigos de comunicação (de trânsito, das abelhas, dos golfinhos, etc.) e as
diferentes línguas orais sinalizadas (português sinalizado, inglês sinalizado,...).
Dessa forma, considera-se que a LIBRAS é ou deve ser a língua materna dos
surdos, não porque é a língua natural dos surdos, mas sim porque, tendo os
surdos bloqueios para a aquisição espontânea de qualquer língua natural oral,
só eles vão ter acesso a uma língua materna que não seja veiculada através
do canal oral-auditivo. Esta língua poderia ser uma língua cujo canal seria o
tato. Porém, como a alternativa existente às línguas orais são as línguas de
sinais, estas se prestam às suas necessidades. As línguas de sinais são tão
naturais quanto as orais para nós e, para os surdos, elas são mais acessíveis
devido ao bloqueio oral-auditivo que apresentam. Porém, não são mais fáceis
nem menos complexas. Os surdos são pessoas e, como tais, dotados de
linguagem assim como todos nós. Precisam apenas de uma modalidade de
língua que possam perceber e articular facilmente para ativar seu potencial
lingüístico e, conseqüentemente, os outros potenciais e para que possam atuar
na sociedade como cidadãos normais. Eles possuem o potencial. Falta-lhes o
meio. E a língua brasileira de sinais é o principal meio que se lhes apresenta
para "deslanchar" esse processo.