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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA
A EDUCAÇÃO EM DEBATE
Pronunciamento do Ministro da Educação e Cul-
tura, Jarbas Gonçalves Passarinho, na reunião
conjunta das Comissões de Educação e Cultura
do Senado Federal e da Câmara dos Deputados
- 25-10-73.
DEPARTAMENTO DE DOCUMENTAÇÃO E DIVULGAÇÃO
Brasília - DF - 1973
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O texto inserido nesta publicação foi captado de fita gra-
vada no Congresso Nacional sem revisão dos Senhores
Parlamentares a qual se encontra no Departamento
de Documentação e Divulgação do Ministério da Educação e
Cultura.
O SR. PRESIDENTE (Gustavo Capanema) - Está aberta a
sessão. Senhor representante do Presidente do Senado, senhor represen-
tante do Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Aderbal Jure-
ma, senhores líderes da ARENA e do MDB no Senado e na Câmara,
senhores representantes dos senhores Ministros de Estado, senhores Depu-
tados, senhores Senadores, minhas senhoras e meus senhores.
A Comissão de Educação do Senado Federal e a Comissão de
Educação da Câmara dos Deputados se entenderam no sentido de reali-
zarem daqui por diante sessões conjuntas para receberem personalidades
muito eminentes. A primeira delas é a sessão de hoje, em que vamos ouvir
o Ministro Jarbas Passarinho, que atendeu ao nosso convite de aqui vir
para falar sobre os aspectos culminantes, os aspectos preponderantes da
sua gestão ministerial.
Seria tomar tempo do auditório e do conferencista, se eu repi-
sasse que o Ministro Jarbas Passarinho é uma das mais eminentes figuras
da vida política contemporânea do nosso País. Depois de uma carreira
militar de grande beleza, de grande cintilância, de grandes atos, de
competência e de bravura, ele foi chamado para Governador do Estado
do Pará, cargo para o qual foi eleito. Depois que deixou esse mandato,
candidatou-se ao Senado Federal. Foi eleito em 1964 para esta Casa do
Poder Legislativo. Estou acentuando este ponto para dizer que quem
está aqui é antes de tudo um Senador da República. Porque o Senador
Jarbas Passarinho, depois de eleito e empossado, foi chamado para ser
Ministro do Trabalho, pelo Presidente Costa e Silva. Posteriormente, para
Ministro da Educação e Cultura, pelo Presidente Medici. Para ocupar o
seu lugar como suplente, veio o Senador Milton Trindade, que é um dos
elementos mais prestigiosos da Comissão de Educação e Cultura do
Senado Federal. Vamos ouvir, hoje, nesta primeira sessão conjunta das
duas Comissões de Educação do Senado e da Câmara, o Senador Jarbas
Passarinho, Ministro da Educação e Cultura.
Sua Excelência ocupará a tribuna, pelo tempo que quiser, para
fazer a sua conferência. Encerraremos aí a primeira parte dos nossos
trabalhos.
Em seguida, abriremos uma segunda parte da reunião, que se
prolongará improrrogavelmente até às 13 horas. Esta segunda parte é des-
tinada às interpelações.
Os senhores Deputados e Senadores que pretenderem interpelar
o conferencista deverão, antes de iniciado o debate, inscrever-se em lista
por ordem numérica que está na mesa. Cada interpelante disporá do lapso
de cinco minutos para formular a interpelação. Nenhuma interpelação
poderá desdobrar-se em mais de três perguntas.
O senhor Ministro, interpelado, tendo em vista o número de in-
terpelantes, ajuizará do espaço de tempo de que deva dispor para cada
resposta.
Finalmente, se encerrado o debate ainda houver interpelantes
inscritos, poderão estes imediatamente formular por escrito a sua interpe-
lação para ser entregue ao senhor Ministro interpelado, que lhe dará
oportuna resposta.
Estas cláusulas foram escritas à luz dos regimentos do Senado
e da Câmara e para regular uma situação inédita, que é a reunião de
uma sessão conjunta de Comissões das duas Câmaras. Mas, as disposições
concernentes à fala de Ministros no Congresso constam tanto do regimento
da Câmara quanto do regimento do Senado.
Nestes termos, senhor Ministro, tenho a honra de dar a palavra
a Vossa Excelência.
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Senhor Senador
Gustavo Capanema, Presidente desta reunião das Comissões de Educação
das duas Casas do Congresso, senhor Deputado Flexa Ribeiro, Presidente
da Comissão de Educação da Câmara, senhores representantes dos se-
nhores Presidentes do Senado e da Câmara, caro Senador João Calmon,
senhores congressistas, minhas senhoras e meus senhores.
Meu caro Presidente, Senador Gustavo Capanema, eu gostaria
inicialmente de endereçar algumas palavras de saudação a V. Ex.
a
por-
que, ao ser convocado pelo Presidente Medici para a Pasta da Educação
e Cultura, no momento em que me deslocava de Brasília para o Rio de
Janeiro, do avião mesmo eu remeti uma mensagem a V. Ex.
a
o tínha-
mos contatos anteriores, senão aqueles que um homem como eu, na
planície, teve, na oportunidade, de contemplar um homem como V. Ex.
a
no Planalto. Mas a minha lembrança se voltou imediatamente para V. Ex.
a
,
porque, sem desdouro para qualquer dos outros Ministros de Educação,
era em V. Ex.
a
que eu buscava uma inspiração do renovador da Educação
brasileira. E aqui quero saudar V. Ex.
a
como sendo o maior de todos nós,
e agradecer a idéia original de V. Ex.
a
, que foi a de me convidar para
uma exposição perante a Comissão de Educação e Cultura do Senado
Federal, Casa a que eu pertenço.
Mais tarde, graças à gentileza cativante do Deputado Flexa
Ribeiro, este admirável educador que todoss conhecemos, e de nome
internacional consagrado na UNESCO, as duas Casas se reúnem, e agora
eu vejo e ouço da palavra de V. Ex.
a
que é a primeira vez que assim o
fazem. Então, permitam V. Ex. as que eu me rejubile por isso.
É verdade que, há momentos, Senhores Deputados, sugeriam até,
que se transferisse a reunião daqui para o plenário, admitindo-se que,
numa reunião longa, possivelmente as pessoaso ficassem de pé por
muito tempo. Eu quero me rejubilar de estar nesta reunião das duas
Comissões conjuntas, senhores Senadores e senhores Deputados, porque
a convocação, para o plenário da Câmara como para o plenário do Se-
nado (é verdade que eu tenho experiência de apenas uma convocação,
quando Ministro do Trabalho, para o plenário da Câmara), a convocação,
repito, cerca o Ministro de determinados dispositivos protetores.
O Ministro tem uma hora para falar, meia mais prorrogável,
o propriamente o debate;, em seguida, a possibilidade de o con-
gressista que foi o autor da convocação falar durante meia hora; o
Ministro tem meia hora para responder. Assim era o regimento quando
eu fui convocado à Câmara. E aqui não, senhor Presidente. Eu tenho a
impressão de que feita a exposição, que eu pretendo seja breve, para
justamente poupar os ouvintes e dar oportunidade aos debatedores, eu
estarei na condição de debatedor comum, igual a qualquer congressista
que aqui se encontre. Tenho absoluta certeza de queo terei,o sofre-
rei constrangimentos, comoo imporei constrangimentos a ninguém,
de minha parte, porque pelo menos hei de me lembrar de uma frase de
Aldous Huxley, que dizia que "certos homenso educados como seres
da praia, que de tanto apanharem da maré se transformam em polidos".
Eu creio que estou neste caso. Então,o pretendo agredir ninguém.
Animal polemico alguns mem chamado, e sou, talvez, da cabeça aos
pés. Mas desconfio, senhor Presidente, que qualquer comissão de inqué-
rito, parlamentar ou não, jamais provaria que eu tomei a iniciativa de
agressão.
Dito isto, e colocadas as minhas homenagens nestas duas Casas
que aqui estão representadas, eu gostaria de começar uma exposição que
seguramente apenas aflorará alguns problemas. Mercê de Deus, euo
posso tratar dos problemas da educação em cinqüenta minutos. Graças
a Deus. Ses pudéssemos tratar em 50 minutos, sinal de que tínhamos
fracassado na condução da Pasta, seríamos apontados amanhã como
antípoda de V. Ex.
a
Vou tentar aquilo de que o velho padre Vieira já se
queixava tanto. Vou tentar: comoo tive tempo de ser breve, vou fazer
o possível para sintetizar o meu pensamento.
Em primeiro lugar, eu lembraria que o esforço da educação,
senhor Presidente, eu preferiria situar a partir de 64, eo apenas a
partir do Governo Medici. A partir de 64 porque eu faço parte dos três
tempos da Revolução, e amanhã serei julgado pela História por ter feito
parte dela deliberadamente. E se eu tivesse de tomar uma nova opção,
tomaria igualzinha àquela que tomei em 64. De maneira que, por isto.
eu prefiro ser julgado a partir de 64, até aqui, no conjunto do processo
revolucionário brasileiro.
Em 1964, a universalização do ensino primário era apenas um
objetivo extremamente longínquo de ser atingido, uma vez que a escola-
rização do ensino primárioo passava de cinqüenta por cento. Cinqüenta
por cento, apenas, o que se verificava que, para cada cem crianças bra-
sileiras, 50 tinham escola e 50o tinham escola. Em 1963, aplicava-se,
do Produto Nacional Bruto, na educação 2,2% deste produto, e que
produto! Que baixo produto era! De modo que, de 64 a 69,s adotamos,
em primeiro lugar, uma determinação de marcar objetivos firmes
à busca desta universalização, do ensino antigamente chamado primário
e agora considerado fundamental, na faixa etária dos 7 aos 14 anos. E,
em seguida, nas exposições que V. Ex.
a
me permitiu fazer, utilizando
simultaneamente o slide e as transparências, eu darei números e fontes.
Acho que o primeiro grande aspecto que se pode notar de 64 a
69 é precisamente, ao lado da operação escola, o da tentativa de se chegar
a um número bem mais preciso de escolarização, portanto levar a escola
à criança queo tinha escola, escolarizar a criança queo tinha possi-
bilidade de ir à escola. Aí surge um fato que me parece da maior impor-
tância, e a que tanta genteo tem dado a devida atenção: é que,
de 64, e eu gostaria que V. Ex.
as
, senhores congressistas, meditassem
nesse ponto: em 64 a oferta do ensino médio, ou melhor, do ensino secun-
dário brasileiro, era de 74% paga, e apenas 26% oferta pública; o que
significava, portanto, desde logo, um processo de marginalização das inte-
ligências brasileiras, filhos de operários, camponeses e classe média que
o tinham acesso à escola secundária. Então, o estrangulamento já se
fazia naquela ocasião, apesar de as ruas estarem cheias, entre outros, de
movimentos que falavam em reforma de base, e de a União Nacional
dos Estudantes pensar que era governo dentro do Ministério, do qual
recebia verbas sem prestação de contas. Maso havia a expressão pelego
estudantil, Nessa ocasião, portanto, Senhor Presidente, o que mais
me admira é o descompasso entre a toada das ruas e a ação dos adminis-
tradores, porque a herança que nós, recebemos era a mais antidemo-
crática possível no estrangulamento da inteligência brasileira já ao nível
do ensino secundário. Eu me proponho, senhor Presidente, a dar a V. Ex.
a
completos números cabais das afirmativas que aqui faço.
o venho apenas ousado na credibilidade da palavra de um
Ministro de Estado, mas na responsabilidade também de um Senador da
Casa. Mais ainda: aplicaram-se, de dispêndios federais, 5,6% na educação
brasileira. Essa era a aplicação dos dispêndios federais na educação. E, a
partir daí, de 64, começou uma construçãoo inusitada de ginásios, que
era o nome dado àquela época ao ensino secundário, que houve até um
problema (por exemplo, aqui os ilustres Deputados paulistaso de me
fiscalizar nesta afirmativa). O problema foi que o número de egressos de
ginásios foi de tal ordem, porque eles passaram a ser incorporados e enga-
jados num processo no qual eles eram antes marginalizados, que o colégio
passou ao ter vagas para garantir os egressos de ginásios. Então, inven-
tou-se um chamado "vestibularzinho" para fazer o exame do candidato ao
colégio. Mais ainda: para citar um só exemplo, e vou citar um na minha
região, Norte, o Senador José Sarney, queo estou divisando aqui, e fica
para mim ainda melhor citá-lo na sua ausência, encontrou na sua cidade,
capital do Maranhão, um ginásio tradicional, e eu diria, até secular. Ao
fim do seu governo, 18 ginásios novos havia apenas na sua capital, segundo
ele próprio me informou, na verificação que fizemos depois dos ginásios
construídos emo Luís e no interior do Maranhão. Foram tantos ginásios
construídos, que me lembro de um rapaz, que eu supus fosse João
Agripino, e outro dia ele me desencorajou dizendo queo era, melhor
fosse que realmente fosse ele, porque ele estava realmente muito ade-
quado ao temperamento dele. Dizia ele que certas pessoas construíram
tantos ginásios que, quando passaram o governo ao Governador seguinte,
este Governadoro pôde senão pagar as contas. E levou quatro anos
pagando as contas, e ao cabo de quatro anos, para se vingar, mandou
acrescentar nas placas de inauguração, que diziam: "este estabelecimento
foi construído no governo de fulano de tal", "e pago na administração de
beltrano".
De qualquer maneiras vamos verificar o efeito salutar que
significa a ampliação de bases democráticas. Mais ainda: de 64 a 69
atacou-se a Reforma Universitária. Pessoas equivocadas, e euo pretendo.
Senhor Presidente,o só neste auditório mas em nenhum auditório brasi-
leiro, euo pretendo convencer os socialistas, como acredito que na
idade em que estou eleso me convencerão; então, evidentemente,
quando eu trato deste problema, eu quero mostrar a evolução do sistema
educacional brasileiro para o modelo brasileiro. E a Reforma Universitá-
ria foi acusada de ter sido feita a mando de um determinado país estran-
geiro. que seria então o nosso patrão.
Este tipo de acusações levianas, eu diria, se a linguagem parla-
mentar me permitisse, acusações sórdidas, elaso feitas com a leveza das
pessoas que, ao caluniar,o se lembram de que as pessoas atingidasm
dignidade. Com que facilidade um opositor, com que facilidade às vezes
um jovem estudante mal informado, acreditando que está defendendo seu
País, lança sobres a pecha de traidor da nossa própria Pátria. Mas isto
para eleso é insulto. Insulto é quando provamos que eles faltam à verda-
de. Como ve Vossa Excelência, o meu preâmbulo é provocador para o
debate. Eu pretendo realmente que o debate se faça em torno de todo
assunto possível dentro desta Casa. O início da Reforma Universitária
foi, portanto, e é feito a partir de 64, inicialmente com o Presidente
Castello Branco, limitado à área das escolas federais, e posterior-
mente com o Presidente Costa e Silva, quando então se produziu este
documento, Reforma Universitária, que se dizia preparado, ou se diz, para
embair a boa-fé dos estudantes, que foi feito por uma comissão MEC-
USAID, quandos todos sabemos que aqui estão os estrangeiros que
produziram este documento: Tarso Dutra, presidente: Antônio Moreira
Còuceiro; Fernando Bastos D'Ávila, o eminente padre da Igreja Ca-
tólica; Fernando Ribeiro Duval; João Lira Filho; João Paulo dos Reis
Velloso; Newton Sucupira (não sei se talvez o nome do professor Sucupira
levasse alguma pronúncia francesa, Siquipirrá, pode ser!); Roque Spencer
Maciel de Barros (pode ser que alguém supusesse que era inglês); e Valnir
Chagas. Esteso os homens que propuseram a Reforma Universitária
brasileira que está sendo adotada. Aquio há nome de estrangeiro e
o há nenhuma subordinação da Educação brasileira a qualquer inte-
resse alienígena. Começou-se, portanto, essa Reforma, e é verdade que
movimentos de rua causaram alguns problemas em torno da sua ime-
diata aplicação. Além da Reforma Universitária, começou-se o reapa-
relhamento das universidades brasileiras. Apareceu primeiro o emprés-
timo MEC-Leste Europeu. Antes, o Governo tinha dificuldades em obter
empréstimos. No momento atual, é o contrário.s somos procurados
constantemente por tôda sorte de banqueiros quando eu digo ban-
queiros, digo da área capitalista e da área socialista. E da área capitalista
já obtivemos resultados, como, por exemplo, propostas de pagamento em
40 anos, carência de 10 anos e juros de 2,5% ao ano. E na área socialista
dir-se-á que é um empréstimo interessado. Concordo. Na área socialista,
queo é menos interessada,s obtivemos o melhor empréstimo, em
6 anos, carência de seis meses em vez de 10 anos, juros de 6,5% ao ano,
ao invés de 2. Como se prova, no meu entender, em matéria de negócio,
o socialista é mais capitalista que o próprio capitalista; porque, se eleo
quer lucro, quer pelo menos a mais-valia de alguém.
Ora, senhor Presidente, quais os instrumentos utilizados de
64 a 69? Em primeiro lugar, graças a algumas admiráveis leis que
vieram com o primeiro Governo da Revolução,s tivemos o salário-
educação. Aplicado à Reforma, à operação-escola,s hoje podemos
garantir a essas duas Casas, e as Casas nos fiscalizem tranqüilamente,
e só no decorrer deste ano contamos com 500 milhões de cruzeiros, ou
500 bilhões de cruzeiros antigos, provenientes de salário-educação. Tive-
mos um recurso orçamentário, que até a Constituição de 67 obrigava os
Estados a aplicar 20% de seus orçamentos em Educação, e os municípios
também, no mínimo. Tivemos, depois, com a eliminação desse dispositivo,
a manutenção de outro dispositivo que faz com que os fundos de partici-
pação, ao serem transferidos, tenham, no mínimo, 20% deles pelos muni-
cípios aplicados em Educação.
Vejamos os empréstimos externos, crescentes. Todos eles em condi-
ções vantajosas porque a idéia — e já respondo a partir da gestão do meu
eminente colega Senador Tarso Dutra para cá todos esses empréstimos
íoram feitos a largo prazo e a juros baixos. Portanto,o empréstimos absor-
vidos pelo crescimento vegetativo orçamentário do próprio Ministério
da Educação.s somos proibidos de fazer empréstimos queo tenham
um tipo de carência que nos permita exatamente essa tranqüilidade e
um tipo de pagamento de amortização do principal queo seja absorvível
pelo crecimento vegetativo do Ministério.
E, finalmente, tivemos a Loteria Esportiva, criada ainda até o
plano que estou dizendo,, 64 a 69, cujos lucros os seus criadoreso
colheriam. Os frutos iríamos colher nós.
Enfim, senhor Presidente, eu acho, portanto, que o esforço de
64 a 69 é admirável: primeiro, o incremento dos investimentos em Educa
ção; segundo, democratização do ensino ao nível secundário, desde logo;
terceiro, criação de receita, de fundo de recursos, que aliviassem as preo-
cupações orçamentárias; quarto, busca de fundos no exterior, desde que
eles tossem absorvíveis pelo crescimento natural do orçamento. E uma
determinação de reformular a Educação brasileira, porque é evidente
que a Reforma que V. Ex.
a
implantou neste País é admirável. Ela cum-
priu precisamente a sua etapa histórica, assim como a reforma de Fran-
cisco Campos, que V. Ex.
a
também reformou, cumpriu a sua obrigação
numa etapa histórica.
Agora, porém, em julho de 69s defrontávamos com este qua-
dro de deformações.
DEFORMAÇÕES
- CONCENTRAÇÃO DE ESFORÇOS NA PROBLEMÁTICA
DO ENSINO UNIVERSITÁRIO
- ENSINO VERBALÍSTICO E ACADÊMICO, DIVORCIADO
DA REALIDADE NACIONAL E DISTANTE DAS NECES-
SIDADES DO MERCADO DE TRABALHO
- AVILTAMENTO SALARIAL DO MAGISTÉRIO DE TO-
DOS OS NÍVEIS
- ESTRUTURA CENTRAL ADMINISTRATIVA INCAPAZ
DE EXERCER A COORDENAÇÃO E O COMANDO DAS
AÇÕES
- UTILIZAÇÃO DE TÉCNICAS, MÉTODOS E MODELOS
INADEQUADOS AO ATUAL ESTAGIO DE DESENVOL-
VIMENTO, SEM LEVAR EM CONTA AS CARACTERÍS-
TICAS DA REALIDADE NACIONAL
- BAIXO RENDIMENTO DO APRENDIZADO ESCOLAR,
EM DECORRÊNCIA DA SITUAÇÃO SÓCIO-ECONÔ-
MICA DO EDUCANDO
- ESCASSAS OPORTUNIDADES PARA PRATICA DE ATIVI-
DADES DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DE DESPORTOS
- REDUZIDA PRODUTIVIDADE DO ENSINO, COM O
CONSEQÜENTE CUSTO OPERACIONAL ELEVADO
- EXISTÊNCIA DE GRANDE CONTINGENTEO AB-
SORVIDO PELO SISTEMA EDUCACIONAL
- DEFICIÊNCIA DE INFORMAÇÕES ATUALIZADAS SO-
BRE EDUCAÇÃO E CULTURA.
Aís tínhamos, por exemplo, concentração de esforços na
problemática do ensino universitário. Isto tinha sido feito quando eu
disse, em parte, que os movimentos de rua, de 68, fizeram com que, por
exemplo, o ataque à criação do MOBRAL a que euo me referi, que
foi de 64 a 69o pudesse ter prosseguimento porque inclusive a verba
que seria destinada ao MOBRAL acabou sendo destinada ao ensino uni-
versitário para atender ao problema dos excedentes. Segundo o ensino ver-
balístico e acadêmico divorciado da realidade nacional, distante da neces-
sidade do mercado de trabalho. Então, esta era a página que eu trazia
para ler, de Anísio Teixeira. A conferência que Anísio Teixeira fez, em
1953, na Fundação Getúlio Vargas, dá perfeitamente a idéia do que se
chamava o ensino verbalístico. Ele dizia assim: "Regulares e sistemáticas
o as formas arcaicas do ensino pela exposição oral. A reprodução verbal
de conceitos e nomenclaturas, mais ou menos digeridos por simples com-
preensão, as quais dominam em boa parte a escola primária, esmagadora-
mente a escola média, sobretudo a secundária e a maior parte das escolas
superiores". Dizia ainda ele: "A atividade escolar consiste em aulas que os
alunos ouvem,, algumas vezes tomando notas, e exames em que se verifica
o que sabem por meio de provas escritas e orais. Marcam-se alguns tra-
balhos para casa, e em casa se supõe que o aluno estude". E por aí ele
fazia a análise do que eles chamavam o ensino que precisava ser reformu-
lado para se adequar às necessidades do desenvolvimento.
Havia orçamento salarial do magistério? Quando o Presidente
Medici assumiu, o professor titular de 12 horas de trabalho por semana
ganhava menos de 800 cruzeiros. Hoje, um professor titular com 40 horas,
com dedicação integral, ganha 6.600 cruzeiros. É de justiça dizer queo
está todo o magistério superior incluído neste sistema. Mas, como é um
processo em implantação há três anos ele dura apenas três anos este
processo envolve hoje mais de 50% dos professores federais. Portanto, é
uma implantação válida.
Estrutura central administrativa: é claro,s tivemos de refor-
mar a estrutura do Ministério, departamentalizamos o Ministério e trans-
formamos o departamento ao mesmo tempo na maior e menor unidade,
de maneira que ele pudesse responder, com presteza, às necessidades da
mudança que se faria.
Utilização de técnicas, modelos inadequados, atual estágio de
desenvolvimento tudo isto está dentro da linha da crítica de Anísio
Teixeira baixo rendimento de aprendizagem escolar, por isso mesmo, e
em grande parte, em decorrência da situação sócio-econômica do estu-
dante.
Escassas oportunidades de prática da atividade da Educação
Física: a Educação Física existia, todoss sabemos, apenas no papel.
E quando existia,o existia como Educação Física; existia como desporto.
Então, a título de Educação Física se fazia a chamada "pelada" de futebol.
Reduzida produtividade do ensino com conseqüente custo ope-
racional eflevado, existência de um grande contingenteo absorvido
pelo sistema educacional e deficiência de informação atualizada sobre
Educação eu tinha dificuldade em obter as estatísticas de Educação.
Ora, aí me parece que o constraste está estabelecido.s tínhamos crian-
ças ainda sem escola. É verdade que, nesta altura de 69, aquela escolari-
zação que em 64 era de 50% já estava em 66%. Mas isto ainda significava
um caminho a percorrer para atingir 100%. Portanto, para cada 100 cri-
anças, 34 aindao tinham escola. Era preciso marcar essa meta como
uma meta a ser atingida imediatamente.
Segundo:s tínhamos uma massa de trabalho de postulantes
desqualificada, e ela procurava, inclusive, as delegacias do Ministério do
Trabalho., havia vagas oferecidas. Por exemplo: vaga de estucador.
Eu digo isto com a experiência que tive no Ministério do Trabalho, e está
aqui o Deputado Ildélio Martins que era o Diretor Nacional do
Trabalho, na ocasião. As vagas oferecidaso eram tomadas porque a
força do trabalho desempregadao tinha capacidade de qualificação
para tomar. Então, havia necessidade de ordenar isto.
Por outro lado,s produzíamos nas universidades o que se
chama de "o excedente do desnecessário". Então, muitas pessoas
eram produzidas pra ter um canudo nao e repetiam o poeta da terra
do nosso Gustavo Capanema. Com o canudo nao diziam: "e agora.
José, o que farei com ele?", porque no mercadoo tinha aplicação. Uma
vez eu me dei mal, inclusive, porque declarei que havia excedentes pro-
fissionais de várias categorias no Rio de Janeiro, e, como Ministro do
Trabalho, fizemos uma pesquisa e descobrimos, inclusive, que havia psi-
cólogos em demasia. Eu querendo sublinhar, como é do meu feitio, de
uma maneira jocosa, os fatos graves, entãos fizemos uma verificação
de que havia excedentes de Psicologia, e eu disse assim: "já há tantos
psicólogos na Guanabara, que há psicólogo entrevistando psicólogo por-
queo tem a quem entrevistar"; e em seguida sofri uma observação da
Associação de Psicólogos que disse que eu havia dado um tratamento
debochado ao assunto. Absolutamente. O que eu quero é mostrar que há
a necessidade de uma certa adaptação entre a potencialidade absorvida
do mercado e a formação da universidade, parao cair naquela crise
universal da universidade, que é a crise da inadequação.
Então, senhor Presidente, podíamos ver nos primeiros sinais de
agora o que eu chamei aquio propriamente de uma pirâmide.
o é uma pirâmide; isto é um obelisco. Euo tinha, na ver-
dade, nem condição de mostrar uma formação piramidal, porque da pri-
meira para a segunda série a perda já era superior a 50%, e esta perda.
quando atingia as quatro séries iniciais do primário, chegava a 81,9%. Essa
era a perda do efetivo, de aluno. De maneira que a cada mil que partiam,
11 saíam da universidade. Ora, o quadro norte-americano mostrava 200,
ao invés de 11. Os quadros soviético e francês mostravam mais de 100. E
o quadro brasileiro, 11. Então, aí está o quadro.
13
Na verdade,s tínhamos um ensino todo ele propedêutico. O
primário, preparando para o secundário, o secundário preparando para o
colegial, o colegial preparando para a universidade. E, segundo as queixas
crônicas, preparando mal. E daí o nascimento dos cursinhos como conse-
qüência de um mau preparo de ensino médio.
Tínhamos, então, a necessidade de fazer uma articulação de
uma escola de primeiro grau com o segundo grau, mas esta escola de
primeiro grau, uma escola pré-vocacional. Tentar fazer sondagens de
aptidão para que as pessoas, desde cedo, pudessem seguir as suas voca-
ções, porque uma grande revista brasileira fez uma investigação e 20.000
estudantes de grau superior responderam: 83% disseram que seguiam a
profissão que seus pais decidiam. Então, era nosso objetivo tentar co-
meçar fazendo uma sondagem de aptidão para que a criança por si
própria encontrasse sua vocação, para que amanhã elao fosse um
médico frustrado apenas porque a família desejou que ela fosse médico.
Depois,s queríamos fazer com que o segundo grau, em vez
de exigir a matrícula por série, passasse a ser tirado por créditos, de ma-
neira que pudesse ser feito até em menos de três anos, quando o aluno é
pago pelo pai para cursar oito horas de aula por dia ou se dedicar
oito horas por dia à escola. E quando o aluno é pobre, que tem ele mesmo
que pagar a sua manutenção na escola,s então damos a ele a oportuni-
dade de prolongar este período em até cinco anos. Então, ele tira por
créditos eo por séries.
Daí partimos para a reforma completa da universidade, no
acompanhamento daquilo que já vinha de 64 a 69. Esta era uma pri-
meira observação nossa.s queríamos, entretanto, um desenvolvimento
integral do homem. Nas palavras de Anísio Teixeira, algumas pessoas
apressadas podem encontrar um tipo de crítica do tecnicista, e então
o aceitaria a chamada formação de cultura geral e só quereria a for-
mação especializada.o é isto. Ele mesmo se defende na sua conferência,
mas o que era preciso fazer era com que a formação técnica, em face da
aquisição violenta da mutação da tecnologia, pudesse ser atendida pela
escola e, ao mesmo tempo, o homem que saísse da escolao fosse um
robô, uma peça de máquina; fosse um homem com uma formação huma-
nística, capaz de criticar o mundo em que ele está situado. Daí, então,
a nossa necessidade deo perder de vista a formação humanística.
Além disso,s queríamos a educação como investimento eo
a educação como despesa de consumo. Este é um assunto que dará de-
bate, e eu espero que meu amigo Senador João Calmon certamente
provocará este tipo de debate, tantas vezes tenho ouvido dele a mesma
observação com a melhor das intenções de ajudar o Ministério da
Educação e Cultura.
Queríamos também uma democratização queo ficasse ape-
nas na base secundária.s queríamos e estamos determinados, e assumo
a responsabilidade de ser julgado por esta decisão, democratizar as opor-
tunidades neste País. E falo isto sem precisar utilizar qualquer tipo de
recurso demagógico, sem sequer lembrar a minha origem pobre. Quero
apenas dizer que um país que está determinado a ser desenvolvidoo
pode cometer o que seria um crime de marginalizar inteligências por-
que elaso de famílias pobres ou porquem este ou aquele outro tipo
de preconceito. Então, a democratização de oportunidades é um duplo
imperativo: um imperativo de natureza democrática e um imperativo de
natureza social. Ainda, respeito à vocação.
Então, os senhores verificam neste quadro que se segue
o que era o ensino superior brasileiro. Ali está o quadro ainda referido a
65. Aquelas fontes citadas UNESCO, o International Year Book, da
UNESCO, reparem por favor, meus senhores, qual era a composição do
alunato superior brasileiro para cada 100.000 habitantes, valor relativo.
O Brasil tinha 132 estudantes para cada 100.000 habitantes. Ganháva-
mos apenas de Honduras, com 68, e Salvador, com 78, e Guatemala, com
123. Eram os países que estavam atrás des no rendimento relativo à
população brasileira de grau superior. A Argentina já possuía 787 estu-
AMÉRICA LATINA: RENDIMENTO UNIVERSITÁRIO
COMPARAÇÃO COM OUTROS PAÍSES - 1965
PAÍSES
MÉXICO
BRASIL
PORTO RICO
PANAMÁ
COSTA RICA
PERU
HONDURAS
COLÔMBIA
VENEZUELA
SALVADOR
PARAGUAI
ARGENTINA
EQUADOR
URUGUAI
GUATEMALA
ESPANHA
POLÔNIA
ITÁLIA
FRANÇA
ESTADOS UNIDOS
ESTUDANTES POR
100 000 HABITANTES
190
132
805
135
231
222
68
191
220
78
164
787
174
610
123
244
571
321
409
1738
FONTE: STATISTICAL YEARBOOK 1965. UNESCO
dantes, para cada cem mil habitantes, de grau superior, e o pequenino
Uruguai, 610.
Some-se este quadro ao pequeno investimento em educação, a
marginalização do processo desde o quadro secundário, a falta de oportu-
nidade de metade das crianças brasileiras, es temos o quadro até 1964.
Vamos verificar ses evoluímos ou involuímos. E vamos verificar, citando
as fontes.
É verdade que, para algumas áreas, todas as fontes que partem
do Governoo suspeitas. É um velho jogo, senhor Presidente, que na
minha idadeo tenho mais o direito de me surpreender com ele. Quisera
eu que a definição da oposição fosse aquela da leal oposição de Sua
Majestade britânica. É que o direito de oposição é incontestável, mas
o leva ao indesculpável princípio de que os fatos podem ser torcidos
para favorecer uma opinião; nem de oposição, nem de Governo.
Aís fizemos a partir daí uma formulação. Precisamos fazer uma
formulação da política nacional de educação. O meu eminente colega
Tarso Dutra já tinha iniciado este processo aqui.
Quando cheguei ao Ministério, havia 29 professores num grupo
de trabalho começando um estudo para fazer articulação da escola do pri-
meiro grau com o segundo grau, repensando a escola.o era mera
justaposição do secundário sobre o primário. Era uma nova escola, com
as características que tem, ques podemos discutir. E que afinal o
projeto acho que já foi ultimado na gestão do Presidente Medici,
foi aprovado pelas duas Casas do Congresso e se transformou na Lei
n.° 5.692, de 1971. Então, poderemos discutir este assunto.
Depois partimos para a profissionalização ao nível médio e para
a continuação de equipamento das universidades, criação dos seus
campi universitários,o só o equipamento como construção física, como
treinamento dos professores. Por exemplo: aqui, quandos partimos para
essa Lei n.° 5.692 para a escola de 8 anos, que o Brasil era um dos raros
países do mundo que, desgraçadamente por afeto,s e Portugal e
poucos países éramos os dois únicos países do mundo que estávamos na
escala da UNESCO, dando obrigatoriedade de ensino de apenas 4 anos.
Então passamos para 8 anos, e Portugal hoje tem seis anos de obrigato-
riedade escolar.s estamos hoje com 8 anos. Quando iniciamos o pro-
cesso, apareceram os pessimistas, que diziam logo: mas, se a escolao
tem nem giz, a escola de 4 anos, quanto mais a escola de 8 anos; que é
que ela vai fazer precisando de equipamento e oficinas? Eu, senhor
Presidente, defino sempre o meu repúdio, quer ao otimista inconseqüente
quer ao pessimista. Mas particularmente ao pessimista. Eu li uma certa
vez que o pessimista é um cavalheiro que se sente mal quando está bem
pelo medo de se sentir pior quando estiver melhor. E por causa disso eu
realmenteo gosto dos pessimistas.
Então partimos com alguma coragem para esse tipo de modifica-
ção. Estabelecemos estratégias. Ora, ses provarmos que estava sendo
produzido excesso daquilo queo era necessário e havia falta do que
era necessário, então era preciso planificar a educação. A resposta era
claríssima. Para planificar a educaçãos partimos de alguns princí-
pios: o das vocações, por exemplo. Que é ques fizemos como princípio?
Primeiro dissemos: educação como investimento responsabilidade trípli-
ce do Governo, do professor e do aluno. Segunda:s queríamos agora
discutir o problema das vocações. Chegaram os velhos saudosistas do libe-
ralismo, e então diziam assim: não, o homem é intocável, a sua vocação é
intocável. Isto é bom para o Estado, bom para o homem. E por causa
dissos oferecíamos, por exemplo, excedentes de Psicologia, excedentes
de Direito, aliás esses nunca me preocuparam, porque os bacharéis em
Direito, pelas estatísticas de ques dispomos no Ministério, 51% deles
o chegam a advogar. Então o mercadoo é saturado,o sofre esse
tipo de pressão que muita gente supõe. É um equívoco generalizado no
País pensar, inclusive, ques estamos fazendo proliferar faculdades
de Direito no País. É um equívoco a mais,o há debate em queo
tenha de responder isso. E é totalmente equivocado. Mass achamos
também queo havia o direito sagrado da vocação quando aquiloo
interessava a uma educação que o País aplicava com poupanças dura-
mente obtidas. E ainda ques tivéssemos poupanças fáceis,o se de-
veria gastá-las à toa. Então,s chegamos à seguinte conclusão:
nem o liberalismo, nem a formação socialista. Que o socialista diz ao con-
trário: não, o que é bom só é bom para o Estado, o que é bom para o
homem, vírgula! Só é bom para o homem o que é bom para o Estado.
E transforma o problema numa planificação estatal que declara quantos
o os recursos humanos que devem ser treinados em cada campo, e as
vocações se ajustam ao plano. Entãoso tínhamos de fazer nem uma
coisa nem outra. O que fizemos? Consideramos que cada um é livre de
seguir a carreira que quer, mas nós, os do Governo, somos obrigados a
planejar o crescimento ordenado da Educação, de maneira a apresentar
o aumento de oferta nas áreas que interessam a nós. Então, em vez de
aumentar a oferta nas áreas saturadas,s aumentamos a oferta nas áreas
prioritárias. E aí estabelecemos, senhor Presidente, três áreas prioritárias:
Primeira: ciências da saúde: medicina, enfermagem, odontologia,
veterinária (por uma questão muito pessoal, pelo meu sobrenome,o
podia esquecer o nome veterinária; veterinária teria que ser lembrada nas
áreas prioritárias) e todas, enfim, na área de ciência da saúde, como por
exemplo farmácia, bioquímica etc.
Segunda: formação do magistério.s temos um número ainda
grande de professores leigos nos três graus de ensino. Então é preciso
s darmos prioridade à formação do magistério para treinar os nossos
professores.
Terceira prioridade:s a demos às técnicas, às engenharias, das
quais há mais de dez opções hoje, às químicas, às físicas, às áreas de tec-
nologia em geral.
Ora, estabelecidas as prioridades, que fizemos nós? Ampliação.
Daqui por diante, ordenadas as vagas, dar-se-á preferência a essas áreas.
Segundo: as bolsas ques damos aos estudantes também serão
preferentemente dadas a estudantes que cursem essas áreas. Só em casos
excepcionaiss damos bolsas a estudantes queo cursam áreas priori-
tárias. Então, com issos conciliamos. É um princípio filosóficoo
posso falar sobre toda a filosofia da política nacional de Educação, por-
que, então, senhor Presidente, tomaria todo tempo que V. Ex.
a
me con-
cedeu.
Mas mostraria dois exemplos apenas estratégicos estabelecidos:
um é quanto ao desenvolvimento dos recursos humanos, e aquis vamos
ferir um assunto polêmico logo: preparação do homem para o exercício
consciente da cidadania com fundamento nos princípios do idealismo
que aprimoram o caráter e asseguram prevalência dos valores espirituais
e morais.
As nossas cartas estão postas na mesa.s queremos e somos res-
ponsáveis por uma Educação idealista no sentido filosófico do termo.
s acreditamos na prevalência dos valores espirituais sobre os valores
materiais. Conseqüentemente,so podemos aceitar o materialismo,
mesmo como fonte obrigatória de citação ou como fonte obrigatória de
ala dentro das escolas, Esta é uma opção política: tratar vocações
desde o nível do ensino fundamental, estimular a expansão do sistema
de treinamento e retreinamento, proporcionar a terminalidade ao nível de
segundo grau, para queso tivéssemos aquele caso de que o estu-
danteo chegou à universidade. O que é que ele é? Ele era um ex-estu-
dante secundarista. O que é que sabe fazer? Ele responderia: em qualquer
área de mercado de trabalho, sei fazer tudo. Porque na verdadeo estava
qualificado para fazer coisa alguma. Então,s damos grau terminal no
segundo grau.
No segundo grau,s chegamos a abrir hoje um leque de cento
e vinte opções diferentes, isto é, técnico de motores, técnico de estradas,
técnico de indústria química, técnico de indústria têxtil. Eu conheço casos
no mercado deo Paulo, em que o técnico médio de indústria têxtil
ganha três vezes o que eu pago por um engenheiro pelos vencimentos do
serviço público.
Então, precisava-se dar aquela terminalidade. Aparece alguém
e diz assim: "o Ministro está inventando uma terminalidade de segundo
grau para evitar que os brasileiros cheguem ao ensino superior para
servir os seus patrões americanos". De quanto é possível a rica e fér-
til imaginação dos sonhadores do ódio! Porque, ses fizéssemos uma
terminalidade e impedíssemos o prosseguimento vertical no sentido da
universidade, muito bem. Mas, ao contrário,s estamos dando uma for-
mação ambivalente. O aluno, além de ganhar um grau de qualificação
profissional que vai ser uma garantia para ele contra o infortúnio, ele
também faz o seu vestibular querendo.o se impede o vestibular. Mas
é um tipo de crítica desgraçadamente difundido dentro de certas escolas.
E, então, se fala que é o tipo do ensino da Reforma, ques recebemos
instruções como lacaios dos norte-americanos, e que tivemos instruções para
fazer isso. Essa leveza ou leviandade, como o gaúcho chama no sentido
de leveza a leviandade, como eu chamo no sentido de falta de caráter.
Em seguida,s mostraríamos, sem prejuízo dos padrões qualita-
tivos, outro ponto que nos interessa aqui. Estamos prontos, senhor Presi-
dente, para ser julgados em relação ao crescimento numérico das ofertas
brasileiras que algunsm dito quem aparecido aqui neste País. Eu
de vida pública tenho pouco: tenho nove anos. Mas tenho a minha
vida toda neste País. E concluo que este País é feito, em grande parte, por
muita gente que eu chamo de arrombadores de portas abertas. Enquanto
as portas estão fechadas, nada diz. Quando aparece o primeiro para
abrir a porta, aparecem legiões de arrombadores exigindo a abertura da
porta que está sendo aberta.
Então aí aparece um caso para nós. Hojes estamos sendo
acusados de falta de qualidade no ensino. Proponho-me debater o assun-
to, acelerar a Reforma da universidade, pós-graduação, manter o prin-
cípio da gratuidade e, notem bem, por favor, manter o princípio da gra-
tuidade do ensino ulterior ao fundamental para todos os que sejam ca-
rentes ou tenham insuficiência de recursos. Significa que quem é pobre
tem garantia da gratuidade de ensino a qualquer nível. Enquantos
nos obrigamos na pesada carga que foi elevar de 7 para 11 e de 7 para 14
(antes eram 7 para 11, agora de 7 para 14) o ensino obrigatório. Se ele é
obrigatório, é necessariamente gratuito. Entãos assumimos a respon-
sabilidade da gratuidade dos 7 aos 14, e se esse estudante é carente de
recursos, deve ter uma garantia de ir até ao nível superior.
Segundo aspecto, apenas para mostrar outra estratégia. Trata-
va-se de analfabetismo. Discutimos muito os números de analfabetos
quando chegamos ao Ministério. Hoje,o há mais discussão porque há
o recenseamento de 1970, que deixou perfeitamente claro o número de
analfabetos adultos, e a UNESCO está aqui o nosso eminente pro-
fessor Flexa Ribeiro, que foi lá o Diretor de Educação da UNESCO
para confirmar só considera analfabeto a quem chega aos 13 anos
sem sequer alfabetizar-se, porque perdeu a oportunidade de alfabetizar-se
no sistema comum (na idade adequada).
Então, o que é ques fizemos? Comos sentimos que a fonte
do analfabetismo era a criança sem escola, era a falta de escola, então a
nossa estratégia, em vez de ser MOBRAL toda a gente se engana pen-
sando que nosso esforço é em MOBRAL é aumentar o número de
escolas e de vagas no ensino fundamental. Lá está: obrigatório e gratuito.
E finalmente eliminar possivelmente no decorrer da década de 70 o analfa-
betismo de adolescentes e adultos com o esforço concentrado na faixa dos
15 aos 35 anos, que é o esforço mais produtivo. Aquele eliminado, se-
nhores, deve ser entendidoo como reduzido a zero.s reduzimos
a dez e cinco por cento a taxa de analfabetos brasileiros maiores de
quinze anos para cima; é um êxito estrondoso. Porque em 1940s-
nhamos 56% da população adulta brasileira analfabeta. No recenseamento
de 50, 51%, no recenseamento de 60, que é altamente duvidoso, 39%, e
no recenseamento de 70, 33%. Ses reduzimos de 33 para 5 ou 10, é
perfeitamente compatível com o moderno desenvolvimento brasileiro
Então ali é que se fala de eliminação. Houve quem veio muito açodado
junto a mim e me disse: "Meu caro Senador, Ministro, quando é que
V. Ex.
a
vai eliminar os analfabetos?" Eu digo: nunca, porque euo
pretendo ser genocida. Eu pretendo realmente reduzir a taxa de analfa-
betismo ao número razoável.
Daí,s partimos para um processo. O MOBRAL que, como eu
disse, tinha sido criado no Governo do Presidente Costa e Silva, com o
Senador Tarso Dutra, o MOBRALo pôde ser incrementado naquela
ocasião. Dependeria em grande parte da sua grande fonte de receita, que
seria a Loteria Esportiva, que só em 70 produziria a receita. Hoje, o
MOBRAL tem duas fontes de receita: a Loteria Esportiva e 1% de imposto
de renda das firmas que preferem pagar diretamente ao MOBRAL, em
vez de pagar ao Tesouro. Então, isso dá hoje ao MOBRAL mais de
duzentos milhões de cruzeiros no orçamento deste ano. Absolutamente
tranqüilo quanto ao problema orçamentário.
Ora,s tínhamos, entretanto, de partir para um processo de
massificação.o podia ser alfabetização de dez mil, cinco mil.s tínha-
mos que partir para uma alfabetização massificada. Aí eu tive uma pessoa,
um eminente professor, que me disse isto: "Mas, Ministro, o Senhor vai
correr um risco muito sério. Porque na hora em que massificar a alfa-
betização no Brasil, o senhor vai comunizar o Brasil". E, sentado a meu
lado esse professor, disse eu: "Lastimo que estejamos sentados em posi-
ções trocadas. Queo esteja eu exatamente com o papel de ser o res-,
ponsável pelo MOBRAL. Um papel que euo vejo mais-fascinante no
Brasil do que alfabetizar este País. Eliminar, isto sim, esta chaga que
nos envergonha. Agora, a sua palavra me enseja uma conclusão. Quer
dizer que, para manter o Brasil democrático, eu devo aumentar o número
de analfabetos?" Ele disse: "Não disse tal", eo me permitiu concluir.
Porque se a garantia da democratização estava no número de analfabe-
tos, então eu deveria aumentar a garantia também.
Daís só vimos uma solução: massificar. Agora, massificar orde-
nadamente.o tratarei deste problema em profundidade porque o emi-
nente professor Mário Simonsen esteve na Câmara, pelo menos (não sei se
no Senado também), fazendo uma completa exposição sobre o MOBRAL.
Bom, daís partimos para esse projeto prioritário que eu vou mostrar
aos Senhores, apenas para mostrar.o vou falar sobre eles.
Naturalmente o projeto 12 pode dar motivo para debate, que é o
plano de carreira de melhoria de remuneração do ensino fundamental
dos professores. Assistência técnica, reformulação de currículos e carta
escolar, que é um levantamento estatístico específico para a Educação.
No ensino médio, a previsão é de professor em qualquer dos dois níveis.
No ensino superior, universitário: equipamento, construção dos campi uni-
versitários, produtividade da universidade, pós-graduação, para dar aos
senhores uma idéia de quanto o País evoluiu em cinco anos.s tínhamos
há cinco anos, em valor absoluto, menos pós-graduados, alunos de pós-
graduação, do que a Argentina. Hojes temos 9 mil professores ou estu-
dantes de pós-graduação matriculados nos diversos cursos stricto sensu.
o é o curso feito depois da graduação, é curso de mestrado e doutorado.
Temos 9 mil; todo o resto da América Latina somadao atinge 9 mil.
PROJETOS NO SETOR DO ENSINO FUNDAMENTAL
1 Operação Escola
2 Construção, Transformação e Equipamento dos Ginásios Po-
livalentes
3 Aperfeiçoamento e Treinamento de Professores para o Ensino
Fundamental e Normal
12 Plano de Carreira e Melhoria de Remuneração do Magistério
do Ensino Fundamental
27 Programa de Assistência Técnica aos Estados, Territórios e Dis
trito Federal
23 Reformulação de Currículos do Ensino Fundamental
29 Carta Escolar
PROJETOS NO SETOR DO ENSINO MÉDIO
4 Treinamento e Aperfeiçoamento de Professores para o
Ensino Médio
13 Plano de Carreira e Melhoria de Remuneração do Magistério
do Ensino Médio
14 Construção, Transformação e Equipamento de Colégios
Industriais, Agrícolas, Comerciais e Compreensivos e das
Escolas-Fazendas
15 Programa Intensivo de Preparação de Mão-de-Obra
16 Integração Escola-Empresa-Governo
19 Incentivo à Implantação das Carreiras de Curta Duração
29 Carta Escolar
QUANTO AO DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS
HUMANOS PARA UMA SOCIEDADE DEMOCRÁTICA
1 Preparação do homem pará o exercício consciente da cida-
dania, com fundamento nos princípios do idealismo que
aprimoram o caráter e asseguram a prevalência dos valores
espirituais e morais;
2 Despeitar as vocações, desde o nível do ensino fundamental;
3 Estimular a expansão dos sistemas de treinamento e retreina-
mento;
4 Proporcionar terminalidade ao ensino de 2.° grau, visando à for-
mação dos técnicos de nível médio;
5 Expandir, sem prejuízo dos padrões qualitativos, a oferta do en-
sino superior, especialmente nas áreas das técnicas, da forma-
ção do magistério e das ciências da saúde;
6 Acelerar a reforma da universidade;
7 Instituir os centros regionais de pós-graduação;
8 Manter o princípio de gratuidade do ensino ulterior ao funda-
mental para todos que sejam carentes ou tenham insuficiência
de recursos, até que se institua ura adequado sistema de bolsas
para estudantes.
QUANTO AO ANALFABETISMO
1 Secar-lhe a fonte, através da universalização do ensino
fundamental obrigatório e gratuito, na faixa dos 7 aos 14
anos de idade
2 Eliminar, possivelmente, no decorrer da década de 1970,
o analfabetismo de adolescentes e adultos, com o esforço
concentrado na faixa dos 15 aos 35 anos de idade.
NOVOS PROJETOS
34 - MELHORIA DO ENSINO DE CIÊNCIAS PARA 1.° e
2.° GRAUS
35 - EDUCAÇÃO DO EXCEPCIONAL
36 - PROGRAMA NACIONAL DE TELEDUCAÇÃO
PROJETOS DIVERSOS NO ÂMBITO DA
EDUCAÇÃO E CULTURA
3 Mecanismo de Financiamento da Educação e Cultura
20 Implantação do Sistema Avançado de Tecnologias Educacionais
21 Aperfeiçoamento do Sistema de Informações sobre Educação e
Cultura
22 Programa de Educação Física e Desportos
24 Preservação do Patrimônio Histórico
25 Programa de Incentivo à Difusão e à Criação, no âmbito de
assuntos Culturais
5 Programa Nacional de Alfabetização
6 Programa Integrado de Assistência ao Educando
31 Levantamento dos Distritos Geo-Educacionais
32 Programa do Livro-Texto
PRO TETOS NO SETOR DO ENSINO UNIVERSITÁRIO
8 Programa de Equipamento dos Centros Avançados e outros Es-
tabelecimentos do Ensino Superior
9 Programa de Construção da l.
a
Etapa dos Campi Universi-
tários
10 Operação Produtividade no Ensino Superior
11 Implantação de Cursos de Pós-Graduação e de Centros Regio-
nais de Pós-Graduação
14 Programa de Implantação Progressiva do Tempo Integral no
Magistério Superior
16 Integração Escola—Empresa—Governo
18 Programa de Integração das Universidades nas Comunidades
19 Incentivo à Implantação das Carreiras de Curta Duração
30 Universidade Aberta Sistema de crédito para os diplomados
Tempo integral no magistério superior; integração escola-empre-
sa-Governo; integração da comunidade na Universidade; Programa do
CRUTAC, Rondon, Mauá, etc; carreira de curta duração e Universidade
Aberta, à qual me referirei oportunamente.
No setor administrativo, apenas para mostrar realmente que
tivemos que modificar um organismo pesado queo atendia, com a
presteza necessária, a resposta ques queríamos.
26 Reforma Administrativa, implantação de técnicas e sistemas
reformulação de estruturas e métodos
28 Programa de Treinamento, Aperfeiçoamento e Enquadramento
e formação de liderança do Pessoal do Ministério.
Agora vejamos os recursos de outro ponto polêmico das nossas
apreciações. Aí está o projeto quanto ao orçamento federal. Esse documen-
to me foi dado em 1970 pelo Ministério do Planejamento, que me confir-
mou, ainda recentemente, mas que está alterando agora para um quadro
que abranja 71, 72 e 73 como estimativa. Então, eu me referia aos senhores
que em 63 os dispêndios de Educação, colocados sobre a despesa orçamen-
tária total, representavam 5,6% dos dispêndios globais. Com o Presidente
Castello Brancos chegamos em 65 a 9,2% e ao máximo a 9,8% em 66. Re-
gredimos <a 8,5% em 67. Ainda estávamos regredindo a 65 em 68, porque
em 68 era 9,2 contra 9,8. E apenas em 69 segundo os dados do Planejamen-
to,s passamos os 10% que até 67 a União era obrigada a aplicar eo
aplicava.s mostraremos esses quadros sob outro aspecto.
PROJETOS NO SETOR ADMINISTRATIVO
PARTICIPAÇÃO DOS DISPÊNDIOS FEDERAIS
EM EDUCAÇÃO NO TOTAL DE DESPESAS ORÇAMENTARIAS
ANOS
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
(A)
DISPÊNDIOS
"FEDERAIS E-
DUCAÇÃO x
73,2
168,0
389,0
557,0
633,5
892,0
1 292,0
1 622,4
(B)
DESPESAS
ORÇAMENTA -
RIA TOTALxx
1 301,0
2 696,0
4 211,0
5 646,0
7 422,0
9 682,0
11 455,0
12 806,0
A/B
(%)
5,6
6,2
9,2
9,8
8,5
9,2
11,3
12,7
x INCLUSIVE RECURSOS EXTERNOS
xx EXCLUÍDAS AS VINCULAÇÕES
FONTE : SOF/IPEA (C.N.R.H.)
Aqui estão os dispêndios públicos de Educação e valores cons-
tantes. Agora, esse me parece ques podemos facilmente verificar.
Valores constanteso balanços consolidados da União, dos Estados.
Então temos valor constante de milhões em 70: nos quatro primeiros
DISPÊNDIOS PÚBLICOS EM EDUCAÇÃO
1960
1971
ANO
1 960
1961
1962
1963
1960/1963
1 964
1965
1 966
1 967
1964/1967
1 968
1 969
1970
197 1
1968/1971
VALOR
Cr$ MILHÕES 1970
1 92 1,9
2 1 4 8, 4
2 47 1,0
1 95 1,2
8 4 9 2, 5
2 0 6 0, 7
3 2 9 0,3
3 5 8 9,6
4 0 9 5,0
13 035,5
4 3 5 6,4
5 2 3 8, 3
5 7 8 0,2
6 6 7 7, 0 (est.)
22 051,9
FONTE : C N R H
anos 8 bilhões, ou seja, trilhões antigos e 492 em 60-63. Nos quatro
primeiros anos, a partir da Revolução, os 8 bilhões se transformam em
13, e nos quatro anos subseqüentes, de 68 para, em 22. Há valores
constantes; euo estou dando números inflacionários. Então, é fora de
dúvida que os dispêndios públicos aumentaram, e aumentaram quase
que na base de quase três vezes aquilo que se aplicava no último qua-
driènio, antes da Revolução.
Agora, resta saber que papel os dispêndios federais desempenham
nesses dispêndios públicos. Em regra, os dispêndios federais variam entre
1/5 e 1/4 dos dispêndios públicos. É outro grave equívoco que muita gen-
te tem. Eu tenho menos para o Ministério da Educação e Cultura do Bra-
sil do que o Secretário de Educação deo Paulo tem parao Paulo.
Ele tem mais do que eu no orçamento paulista: cinqüenta e tantos mi-
lhões.
Então, ses somarmos a aplicação dos Estados, dos Municípios
e as verbas a que me referi, salário-educação, Loteria Esportiva, etc, os
senhores verificam quanto está aplicado aqui.o incluo aí um dado
do Ministro Delfim Netto.o incluo porqueo tenho como estimá-lo.
Porque diz o Ministro Delfim Netto que essesoo os dados totais,
porque ses somássemos os aumentos dos dispêndios públicos com os
privados,s teríamos os gastos globais, e nos dispêndios privados pergun-
ta-me ele: "Você, por exemplo, que tem um filho na escola, vocêo
despende de seu salário, de seu orçamento, dinheiro? Os que pagam
por seus filhos na escolao despendem dinheiro com Educação? Esse di-
nheiroo está sendo computado".
Mas eu ficarei apenas nos dispêndios públicos e nos dispêndios pri-
vados queo computados pors como despesas das escolas particulares
existentes e reconhecidas.
Agora, eu tenho, com relação ao Produto Interno Bruto:
2,6 em 63 caiu para 2,3; em 64, chegou ao menor valor do Produto
Interno Bruto, 2,2. Daí para diante, 3,2, 3,4, 3,7, 3,5, 3,8 e 3,8,
onde praticamente se estabilizou. É aí que entra o argumento do Ministro
Delfim Netto de que esse 3,8 é menos do que a realidade. Porque há des-
pesas de orçamento pessoal queo estão sendo computadas. Prestem os
senhores, por favor, atenção, só no último resultado, que está, de 70
;
qual é o valor global de dispêndios públicos: 5 bilhões é o primeiro qua-
dro; 5 bilhões e 700. Verifiquem agora o que entra como dispêndio
federal. Então, estão aqui os recursos públicos federais aplicados: 1
bilhão e 490 milhões; os estaduais: 3 bilhões e 690; os municipais: 610,
no total de 5 bilhões e 700.s entramos com um bilhão e quatrocentos.
Então, isso significa entre 1/4 e 1/5 do total de dispêndios exercidos na
Educação. É natural que, desde tempos imemoriais, a escola primária e
a escola secundária estiveram afetas aos sistemas estaduais. E o sistema
federal tem a seu cargo mais algumas áreas de ensino médio e algumas
áreas de ensino superior, onde perdemos hoje, a cada dia, a maioria. Hoje,
do total de 832 mil estudantes de grau superior,s temos mais de 55%
provenientes de escolas particulares pagas, o que mostra logo uma dico-
BRASIL - RECURSOS APLICADOS EM EDUCAÇÃO E PRODUTO INTERNO BRUTO
1960/1970 (*)
ANO
1960
1961
1962
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
RECURSOS APLICADOS EM EDUCAÇÃO
PÚBLICOS
1.921.891
2.148.430
2.471.055
1.951.293
2.060.728
3.290.260
3.589.556
4.095.025
4.356.419
5.238.327
5.780.200
PRIVADOS
415.100
429.700
454.700
461.000
468.000
477.100
•481.000
507.800
501.000
560.500
578.000
EXTERNOS
4.000
14.000
4.700
247.200
20.800
19.800
104.200
114.300
121.000
180.000
181.000
TOTAL
2.340.991
2.593.080
2.930.355
2.659.493
2.549.528
3.787.1G0
4.174.756
4.717.125
4.978.419
5.978.827
6.539.200
PRODUTO
INTERNO
BRUTO
95.604.800
102.587.000
110.203.800
113.560.300
115.205.800
117.337.700
124.156.400
128.673.500
143.842.100
158.017.800
172.239.400
RECURSOS
EM % DO
P.I.B.
2,4
2,5
2,6
2,3
2,2
3,2
3,4
3,7
3,5
3,8
3,8
FONTE : CENTRO NACIONAL DE RECURSOS HUMANOS
(*) CrS 1.000.00 DE 1970
tomia no Brasil: o aluno que paga e que pode estudar na universidade e o
aluno queo paga porque está na universidade gratuita.
Por outro lado, eu posso afirmar aqui, e demonstrarei na hora, se
for oportuno, que o MEC atingiu uma posição muito salutar. Aqui está,
inclusive, meu eminente Deputado Aderbal Jurema, um dos que eu re-
conheço como perito no problema do orçamento, e aqui estão pessoas
ligadas ao orçamento, eu afirmo, para depois comprovar com os dados
de que disponho, baseado sobretudo nas fontes do Senado que me trans-
mitiu o Senador João Calmon. O Ministério da Educação é o primeiro
ou o segundo Ministério, na maioria das vezes o primeiro dos Ministé-
rios, nas dotações orçamentárias do Poder Executivo.
Quero agora a projeção dos slides. Vamos ver as evoluções
como se fizeram. Então, aquis construímos a Escola de oito anos.
A base que foi alargada se deve ao esforço de democratização do Ensino
Médio, já de 64 a 69, e em seguidas vamos ver como essa base vai
crescer para o ensino superior. Notem que, em vez de onze,s já temos
ali 41 concluintes de grau superior e eu vou mostrar um quadro que mos-
tre exatamente a evolução dinâmica entre 52, 62 e 73. Primeiro, o cresci-
BRASIL - RECURSOS APLICADOS EM EDUCAÇÃO E PRODUTO INTERNO BRUTO 1960/1970 (* )
mento da escolarização a que me referi: 53% em 64, dos 7 anos 14 anos;
atingimos 66% em 69; em 71, 71%, e a meta que era pará ser atingida em
74 estará sendo atingida ao fim deste ano, com 81% de escolarização dos
7 aos 14 anos. Temos as fontes todas citadas, inclusive o censo escolar.
Vamos ao outro quadro. Nesse outro, sim, já temos uma pirâmide. Aí está
uma pirâmide para cada mil que ingressaram em 1962;s estamos com
63 ingressando no ensino superior. Mas a perda do ensino superior é rela-
tivamente pequena, comparada com os outros graus;s admitimos que
estamos com conclusões de 55 naquele ponto. Ora, isso é 73, este qua-
dro foi preparado para 70, então 11 em 64, 71 em 70, 55 em 73. Lembrem-
se de que eu disse 200. O melhor resultado des Estados Unidos representa
20% de rendimento, seguido da União Soviética e da França com um
pouco mais de 100; no Brasil, com 55, num saldo de 4 anos, me parece
alguma coisa realmente admirável. Vejamos a evolução do nosso alunato
em conseqüência daquelas aplicações de dispêndios. Então aqui está
o primeiro. As quatro primeiras séries que eram antigo primário e agora
com quatro primeiras séries do fundamental. Mostre agora 100, que é em
68; esse índice está agora em 129,5 em 73, com alunato superior a 15
milhões de estudantes. Quatro séries seguintes: agora o crescimento da
oferta foi muito maior, porques tínhamos a necessidade de ampliar,
como eu disse, a criação do ginásio; os egressos estão surgindo. Então,
agora, o índice 6 se transforma em 1S6 no mesmo período de 68 a 73.
Então, 86% de aumento nesse período entre 68 e 73 com quase 4,5
milhões de estudantes. Então, com mais de 15 já estamos acima de 20
milhões de estudantes, só na escola de primeiro grau. No segundo
grau,s estamos no índice 100, crescemos 85% também e chega-
mos a 1.000.483 em 73. É a única meta estabelecida no plano de desen-
volvimento do Governo que o Ministérioo atingiu. O Ministério deveria
ter atingido acima de 1 milhão e meio, atingindo 2 milhões e pouco no
ano seguinte. Então aqui está o ensino médio, matrícula inicial no Brasil
de 68 a 73. E agora, por favor, analisem o ensino superior. 68 Eu
tomei de 68 porqueo dava nem para comparar 63 a 68. Basta dizer aos
Senhores que em 63 o Brasil tinha 123.900 estudantes em todos os cursos,
o que dava aqueles 132 para cada 100 mil habitantes. Agoras estamos
com 836.469 estudantes. Qual é a relação hoje entre estudantes de grau
superior em cada 100 mil habitantes? Mais de 830 estudantes brasileiros
estão no grau superior para cada 100 mil habitantes, pois acabamos de
fazer 100 milhões de população. (Isto é extremamente fácil de concluir.)
Saltamos de 132 para 830. Começamos a disputar o 3.° lugar na América
Latina.s que estávamos quase no antepenúltimo. Agora por favor,
notem o crescimento de um ano para o outro. Em 300 significa ques
tivemos sobre a base 200% de aumento nesse período em um, dois, três,
quatro, cinco, seis anos. Portanto, em seis anos, 200% de aumento,s ti-
vemos uma média anual de crescimento no ensino superior de 30%. Eu gos-
taria de ver, meu caro Deputado Flexa Ribeiro, nos anais da UNESCO,
nos documentos da UNESCO, um crescimento tamanho eo vertiginoso
como o nosso. E, desgraçadamente, ouço a oposição dizer: o Governo
BRASIL - 1968 / 73
CRESCIMENTO MATRÍCULA - ENSINO 1º GRAU
( 4 PRIMEIRAS SÉRIES )
FONTE : SEEC / SG / MEC
CRESCIMENTO MATRÍCULA - ENSINO 2º GRAU
MATRÍCULA INICIAL
BRASIL - 1968 / 73
CRESCIMENTO MATRÍCULA - ENSINO 1º GRAU
( 4 ÚLTIMAS SÉRIES )
BRASIL - 1968 / 73
CRESCIMENTO MATRÍCULA - ENSINO SUPERIOR
BRASIL - 1968 / 73
FONTE : SEEC / SG / MEC
oferece uma migalha de vagas novas para os estudantes. Aí estão as miga-
lhas. Em seguida, eu gostaria de ainda explorar aquele quadro final
porque vou falar sobre o Supletivo. Senhor Presidente, então, agora,
outro ponto a que a Lei 5.692 deu status, deu dignidade, é o Supletivo.
O Supletivo era apenas o Supletivo chamado de Madureza de primário
e Madureza de secundário. Quando cheguei ao Ministério da Educa-
ção encontrei um inquérito; não, fizemos um inquérito. Encontrei uma
revista, Realidade, que publicava a história de um jornalista que se
matriculou num curso numa cidade paulista do Vale do Paraíba, deu
um nome suposto, pagou um cursinho preparatório de Madureza, pois eles
disseram que, pagando o cursinho, ele seria aprovado qualquer que fosse
a sua prova. Errou deliberadamente todas as provas, foi aprovado e rece-
beu o canudo. Então, posso eu acusar o Ministro Tarso Dutra e os Minis-
tros anteriores por causa de um fato desses? É a mesma coisa que acusar
o Presidente da República ou qualquer Senador pelos ilícitos penais que
existem no País. Então o que nos cabia era fazer uma legislação que ten-
tasse controlar e impedir a prova. E partimos, então, para uma codifi-
cação de Madureza, obrigando-a inclusive a ser feita em colégios oficiais,
exclusivamente. Isso cria problemas com os pretendentes, mas cria garan-
tias para a própria Nação. Encontramos diplomas falsos, quantos diplomas
falsoss encontramos queo seja no campo da Educação! Quantos
outros existem por! E partimos então para o Supletivo. Além de corri-
gir o processo de Madureza por determinadas medidas de sanções, veri-
ficamos que era preciso fazer o Projeto Minerva com a Educação radio-
fônica. Aproveitamos o modelo colombiano;so somos orgulhosos.
Alguém disse também no meio desta catarata ideológica que a nossa Re-
forma era americana; outro radical de direita disse que a minha re-
forma era reforma soviética, porque exigia a terminalidade de segundo
grau, e eu então me lembrei que a Casa me permite essa história do
meu amigo professor Valnir Chagas, que foi um dos responsáveis pela
Reforma e que fica um pouco gago quando fica nervoso. E quando um
estudante me disse: "Mas a sua Reforma, a Reforma do Ministério,
é igual à Reforma americana", eu disse que era de fato porque eles lám
escolas es aqui temos escolas, eles lám professor,s aqui temos
professor, eles lám aluno,s aqui temos aluno, logo é uma cópia.
(Risos.) Então, a partir daís temos a desmoralização do tipo da
acusação odienta. Outros me disseram: "O senhor está usando o sistema
soviético de formação profissionalizante". Mas como o soviético, senhores,
eu preciso é de profissionalizar, porque a indústria brasileira cresce há
o sei quantos anos, aí a 11%, a pressão do mercado sobre o setor se-
cundário é enorme, es preparamos os generais e esquecemos da pre-
paração do sargento. Essa imagem fica por conta do elogio que V. Ex.
a
fez da minha formação militar. (Risos. Palmas!) Em seguida,s
pensamos no processo da televisão educativa, usando a televisão como
instrumento também de engajamento dos estudantes. E tenho a alegria,
Sr. Presidente, de declararo vou dizer em primeira mão, porque
os jornais já publicaram que o projeto João da Silva significou sim-
plesmente uma novela,s achamos que tínhamos que entrar naquele
chamado binômio novela—novelo; a pessoa fica em casa fazendo
novelo e vendo novela. Então, a partir daí,s entrávamos no binômio,
e tentávamos jogar uma novela que trouxesse benefício às pessoas que
o tinham tido a oportunidade de cumprir seus cursos.s temos uma
frase neste Ministério, senhor Presidente,s achamos que os brasileiros
somos todos hoje "proustianos"; todoss estamos à busca do tempo
perdido; todoss temos que voltar à escola e concluir essa escola. Eu
vi comovedora demonstração de um Prefeito lá da minha terra e da
área ali do Deputado Américo Brasil que se inscreveu no Projeto Minerva
para o primário, o chamado primário dinâmico, e ficou apenas en-
vergonhado de cursar junto com seus munícipes no radioposto. Então
ele ouvia em casa, ouvia em casa, acompanhou, e, quando chegou a hora
da prova, foi à Secretaria de Educação, fez as provas e tirou um dos me-
lhores lugares; depois, honradamente veio buscar o seu diploma.
Em seguida, partimos para o Minerva de segundo grau; segundo
grau, no caso,o é segundo, é segundo estágio Minerva, ainda dentro do
primeiro grau no antigo ginásio. E, pensando na matéria didática, devo
confessar a V. Ex.
a
que faço um apelo, sem distinção de qualquer partido
ou convicções: quem quiser nos auxiliar na descoberta de matéria didá-
tica que nos faça;s procuramos alemães, procuramos franceses, pro-
curamos americanos, procuramos ingleses, procuramos ler toda documen-
tação, inclusive da área socialista, para a descoberta de matéria didática
que fosse aplicada aos problemas brasileiros.
A nossa primeira tentativa foi o projeto João da Silva: este é um
projeto apresentado em uma série de capítulos, e que um estudante vindo
do Nordeste já achouo ficar bem, pois eu estaria criticando o Nordeste,
quando, na verdade, se trata de um fato social, irrecusável. Esse homem,
João da Silva, acaba fazendo seu curso com todas as dificuldades; é o
que prova a história. É uma história realmente comovedora, com um tom
o de Love Story, porqueo morre ninguém, graças a Deus, mas um
tom que mostra uma sensibilidade humana. E agora o grande júri de
Tóquio acaba de conferir ao projeto João da Silva o 1.° prêmio.
Estamos, agora, no campo do supletivo,o só dignificando o su-
pletivo como tentando levar às populações queo tiveram oportunidade
de estudar a chance que estão buscando e, mais adiante, estamos
pensando em completar essa curva e chegar com a universidade aberta
até o grau superior, oferecendo, sobretudo aos professores que estão no
interior eo tiveram a possibilidade de concluir o seu curso de escola
normal, oportunidade de freqüentar uma universidade. Neste caso, ela
o seriao aberta como a inglesa, que matricula com 21 anos de idade,
sem qualquer documento de escolaridade prévia; por isso dissemos que
a nossao é bem aberta, é entreaberta, porque aceitamos a matrícula,
mas com grau secundário completo, o segundo grau completo.
Aí está, Sr. Presidente, a síntese do panorama global de nosso es-
forço. Como viu V. Ex.
a
,o pude falar num de seus assuntos prediletos,
naquele que marca figura de V. Ex.
a
como inolvidável no quadro do Mi-
nistério da Educação e Cultura do Brasil, que é o aspecto cultural, uma
das minhas sinceras invejas de V. Ex.
a
, uma inveja para a qual eu peço
a sua benevolência, mas uma inveja que funciona menos como despeito,
poiso há nenhum, do que como emulação.
Mas, ainda aí no campo de ação cultural,s teremos alguma coi-
sa a dizer. Em conseqüência, peço a V. Ex.
a
que aceite que as minhas
palavras de encerramento desta parte sejam para dizer a todos queo
vim fazer uma exposição de natureza pessoal. Tudo que está feito aqui
tem um comando central, uma diretriz que foi sempre aprovada no
momento oportuno pelo Presidente da República, e uma equipe que
constituímos a duras penas, porques sabemos o quanto se pagava
mal digo pagava, aqui, numa posição intermediária do servidor público,
que se começa a pagar melhor num determinado segmento ao servidor
público, mas nossa equipe foi constituída somando muitos doadores,
inclusive seu Presidente, porque a mudança do Rio para Brasília difi-
culta o engajamento deste pessoal, por isso sabemos que estamos falan-
do em nome de uma equipe disposta a ser julgadao pela palavra de
nossos companheiros de partido, e nem mesmo pela palavra de nossos
congressistas, neste caso, meus colegas, como congressistas, mas da oposi-
ção, porques estamos preparados, Sr. Presidente, para sermos julgados
pela História. (Prolongadas palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Gustavo Capanema) Antes de encerrar
a primeira parte de nossos trabalhos, hoje, eu peço ao meu colega da-
mara dos Deputados, Deputado Flexa Ribeiro, Presidente da Comissão
de Educação e Cultura daquela Casa do Congresso, que diga algumas pa-
lavras de encerramento desta conferência que acata de pronunciar o Min.
Jarbas Passarinho. Antes que S. Ex.
a
inicie estas palavras finais, seja-me
permitido agradecer ao Ministro Jarbas Passarinho, que mostrou, na sua
conferência, os esforços admiráveis que está realizando para moderni-
zar o sistema educacional brasileiro, para ampliar a Educação do nosso
País, sem prejuízo de sua permanente qualificação. Antes destas palavras
que vai dizer o Presidente da Comissão de Educação e Cultura da-
mara, quero dizer uma palavra de agradecimento pessoal ao Ministro
Passarinho pelas desmerecidas palavras que ele mais uma vez pronun-
ciou a meu respeito. Na verdade, quando S. Ex.
a
foi nomeado Ministro
da Educação, eu pretendia mandar-lhe, logo depois da sua posse, um
telegrama de congratulações, porque eu era admirador de sua obra no
Ministério do Trabalho. Era seu amigo e colega do Senado, e estava espe-
rando a hora de lhe mandar um telegrama de congratulações na hora
da posse do Ministro da Educação. Qaulo foi a minha surpresa quan-
do fui eu que recebi o telegrama. Ele me mandara um telegrama que
mes de tal modo perturbado que até hoje eu me recordo do quanto
foi comovente, na minha casa, aquele telegrama. Um telegrama que
mostrei ao meu colega da Câmara dos Deputados, o Deputado Raymundo
Padilha, que oi leu e disse: está escrito na língua da Ilíada. De modo que
era um canto de amizade, amizade jáo digo, porque naquela ocasião
as nossas relações eram ainda um pouco cerimoniosas. Mas era de uma
fervorosa admiração que me enchia de orgulho, e guardei o documento co-
mo um dos mais importantes do meu arquivo. V. Ex.
a
receba de publico
o meu mais fervoroso agradecimento. E a admiração pela sua obra notá-
vel de modernização e ampliação, de qualificação, de enriquecimento, no
sentido material, no sentido quantitativo, mas também de aperfeiçoamen-
to, no sentido qualificativo, no sentido profissional que deve ter a Edu-
cação. V. Ex.
a
merece os maiores parabéns por essa obra gigantesca
que está fazendo.
Então, passaremos, agora, ao meu colega da Câmara dos Depu-
tados, que, também como Presidente desta Casa e desta Sessão, dirá as
palavras da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados.
O SR. DEPUTADO FLEXA RIBEIRO - Sr. Ministro, Sr. Senador
Gustavo Capanema, ilustres membros da Mesa, Srs. Senadores e Deputados.
autoridades presentes, as minhas palavras, na realidade,o breves e, no
momento em que estamos encerrando a primeira parte da reunião conjunta
projetada entre as duas Comissões de Educação e Cultura do Senado e da
Câmara, tenho a impressão de que posso dizer que os seus objetivos precí-
puos foram todos alcançados. Acabamos de ouvir do Ministro Jarbas Passa-
rinho uma síntese extraordinariamente bem feita dos mais relevantes as-
pectos de uma tarefa extremamente complexa e vasta como o é a gestão
dos problemas educacionais num grande País no mundo de hoje. E, repito,
neste século, um dos pontos centrais da crise do crescimento da nacionali-
dade está no programa da Educação, a transformação da sociedade a pe-
dir e >a exigir da escola produtos cada vez mais acabados c cada vez mais
variados, quando, na verdade, a sociedade nem sempre, no passado, deu à
escola os recursos e meios necessários para que ela se habilitasse para
enfrentar a sociedade nobre, surgente, que estava se projetando.
A tarefa é imensa, a crise mundial da Educação aí está. Mas,
por outro lado, hoje, felizmente, uma consciência generalizada de que os
recursos destinados à Educaçãoo os recursos mais produtivos para a
sociedade. É verdade que eles nem sempre, ou quase nunca,o colhidos
pela própria geração que os promove.o recursos que se tornam repro-
dutivos a longo alcance.
Já se disse uma vez, que, neste mundo, há um século e meio o ho-
memo faz senão buscar a maior, e cada vez maior, velocidade, fazendo
viagens, que antigamente levavam quarenta dias, em 10 horas; conseguiu-
se tudo, maso se conseguiu, em matéria de velocidade, fazer, por exem-
plo, com que um jovem chegue a uma idade de 18 anos em tempo menor
que 18 anos. Esse é o problema da Educação. O homemo está cres-
cendo com a velocidade, cada vez maior, com que os aviões estão se
aperfeiçoando. E os problemas da Educação são, por isso, muito complexos
e difíceis.
O Brasil está num conjunto de atividades transformadoras, tendo
na tarefa educacional o seu maior ponto de preparo da nacionalidade fu-
tura. A síntese admirável que acaba de nos fazer o Ministro Jarbas Passa-
rinhoo podia, evidentemente, entrar nos menores detalhes e, para isso,
ele agora se dispõe, em uma outra fase de nossa reunião, a entrar em de-
bates com os parlamentares, particularmente com os membros das Co-
missões de Educação e Cultura das duas Casas do Congresso para atender
às partes que, porventura,o tenham sido ventiladas na exposição que
ele acaba de fazer.
Mas como Presidente da Comissão de Educação e Cultura, e te-
nho a certeza de que estou interpretando o pensamento do Senador Gus-
tavo Capanema, Presidente da Comissão de Educação e Cultura do Sena-
do, considero que os nossos objetivos planejadoso ardorosamente,o
empenhadamente, para que esse nosso Congresso se torne cada vez mais
esse grande fórum de debates, estão plenamente alcançados nessa parte
expositiva que acaba de nos fazer o Senhor Ministro. Podemos, portanto,
dizer que as duas Comissões alcançaram a sua finalidade.
A parte dos debates é evidente que só poderá vir a enriquecer
mais ainda, com proveito geral, a matéria que, tendo sido amplamente tra-
tada, pode ser ainda objeto de estudos, revisão, reexame, ou indagação
de natureza minuciosa.
Creio, Sr. Presidente, Gustavo Capanema, que eram essas as
palavras que o Presidente da Comissão de Educação e Cultura devia
aqui pronunciar para se regozijar com V. Ex.
a
pelo êxito que já temos
alcançado com essa conferência aqui realizada. Muito obrigado. (Prolon-
gados aplausos.)
O SR. PRESIDENTE (Gustavo Capanema) - Está encerrada a
primeira parte da conferência, que é propriamente a conferência. Por-
tanto, aquelas pessoas que desejarem retirar-se, por qualquer motivo,o
tenham constrangimento em fazê-lo, porque daqui por diante estamos
a um segundo da segunda fase do programa desta manhã, que é a inter-
pelação. É como se estivéssemos no plenário da Câmara dos Deputados.
Dando início a esta segunda parte, Sr. Ministro, eu devo dizer a
V. Ex.
a
queo doze os inscritos, e direi aos interpelantes que será de 5
minutos o prazo para as perguntas. Cada interpelação poderá envolver
uma, duas ou três perguntas, no máximo.o vamos repetir, aqui, hoje,
aquilo que é comum nas interpelações de Ministros na Câmara e no
Senado. A lista de 10 e 20 perguntas de cada interpelante. De modo que
a interpelação será feita em 5 minutos, é o que peço. Outra coisa mais:
eu terei de fazer por ordem de inscrição, mas vou fazer uma modifi-
cação nesta ordem de inscrição, que creio ser indispensável; é que há
arenistas em grande número e alguns do MDB que nem sempre se ins-
creveram logo. Então, eu vou alternar: um arenista com um emedebista.
até que as coisas se equilibrem, e depois então continuaremos com os
arenistas,.
Então, tem a palavra...
O SR. DEPUTADO FÁBIO FONSECA (Para uma questão de
ordem.) O Senhoro acha que fica uma desigualdade e uma despropor-
ção muito grandes, não?
O SR. PRESIDENTE (Gustavo Capanema) - Acho que sim, mas
como arenista eu acho que essa desigualdade será a nosso favor.
O SR. DEPUTADO FÁBIO FONSECA - À inteligência e ao
sistema pessedista mineiro. (Risos.)
O SR. PRESIDENTE (Gustavo Capanema) - Como arenista, eu
acho que vale a pena equilibrar esta força, pelo menos aqui. Tem a palavra
o 1.° interpelante, o Sr. Senador João Cafrnon.
O SR. SENADOR JOÃO CALMON - Eu me sinto dominado por
uma certa perplexidade em relação ao tratamento que devo dispensar a V.
Ex.
a
: Ministro, Senador, o meu irmão, meu irmão de lutas antes da Re-
volução e depois da Revolução, em momentos de extremo perigo para
mim. O irmão de sonhos, inclusive de um sonho que até hojeo foi
realizado: o sonho de se considerar a Educação a prioridade um, na hora
da elaboração de qualquer orçamento público, seja federal, seja esta-
dual ou seja municipal.
Há cerca de quatro meses, como Vice-Presidente da Comissão
de Educação e Cultura do Senado, pedi ao Centro de Processamento de
Dados da Câmara Alta e à Assessoria Legislativa do Senado para fa-
zerem um levantamento dos dispêndios com Educação, desde 1960.
inclusive, parao dar nenhuma conotação, antes ou depois da Re-
volução.
Quando esses dados chegaram às minhas mãos, eu confesso que
fiquei traumatizado. Esses dados indicavam que o percentual do Mi-
nistério da Educação, em relação ao orçamento geral da União, desabara
de 11,3 para 5,4, sendo que, em 1973, o percentual baixara para 4,38
por cento do orçamento geral da União.
Eu pertenço orgulhosamente aos quadros da Revolução e do seu
Partido Aliança Renovadora Nacional.
Acima de tudo, entretanto, eu tenho um dever de ficar em paz
com a minha consciência de cidadão. Como eu pertenço à ARENA e aos
quadros da Revolução, encaminhei os dados ao meu irmão, ao Ministro, ao
Senador Jarbas Gonçalves Passarinho.
Em numerosas palestras por este País todo, sem ter de me ater às
boas normas regimentais e protocolares, costumo dizer que o Ministro
Jarbas Passarinho é o homem que tem coragem até de mamar em onça.
Eleo recua diante do que lhe pareça ser o seu dever de cidadão, de
Ministro ou de Senador.
O Ministro Jarbas Passarinho imediatamente encaminhou esses
quadros ao Ministério do Planejamento, que é o Ministério adequado
para dar estas explicações, porque o Ministério do Planejamento é encarre-
gado da elaboração do orçamento. Se euo tivesse contado com a co-
laboração decisiva do Ministro Jarbas Passarinho, eu hojeo estaria de
posse desses dados que vou submeter à apreciação do Ministro da
Educação.
Devo declarar, ainda, que o Ministro da Educaçãoo é respon-
sável pela locação de recursos para a Educação, e nesse ponto reside uma
grave debilidade do nosso País. Só resolveremos o problema da Educa-
ção quando imitarmos o exemplo do México, que, quando lançou uma
Cruzada de Educação, atribuiu ao Ministro da Educação o direito de
vetar qualquer projeto público, federal, estadual ou municipal que des-
respeitasse a prioridade um que deveria ser dada à Educação.
O Ministro da Educaçãoo tem nada a ver com as verbas, ou
tem pouca coisa a ver com as verbas do orçamento. Mas recebi os dados
queo representam nenhuma condenação ao Governo Federal, ques
estamos analisando, neste momento: é o comportamento da sociedade
brasileira em face do problema da Educação.o é o comportamento
do Governo Federal ou do Governo Estadual ou do Governo Municipal.
E o comportamento da sociedade num país cujo Presidente, cujo gran-
de Presidente, General Emílio Garrastazu Medici, afirmou: chegou a ho-
ra de fazermos o jogo da verdade. E agora, na Escola Superior de
Guerra, que eu estou freqüentando, vejo que a doutrina dessa Escola
alerta os brasileiros contra o perigo da euforia estatística e da euforia de-
senvolvimentista, que podem levar, segundo a Escola Superior de Guerra,
ao neoufanismo altamente indesejável.
Quaiso os quadros oficiais deste Governo, que decidiu que
chegou a hora do jogo da verdade? Eu os recebi, no curto prazo de qua-
tro meses, depois de serem elucidados, graças à permanente atenção e
interesse do Ministro Jarbas Gonçalves Passarinho, no que foi, aliás, se-
cundado pelo Preesidente da ARENA, Senador Petrònio Portella. E estes
quadros, DISPÊNDIOS FEDERAIS COM EDUCAÇÃO, estão aqui.
Em 1960, a União gastou, o Ministério da Educação gastou 6,81%
do Orçamento Geral da União. Depois, no ano de 65, esse percentual se
elevou para 8,98%; depois, baixou para 7,56%, depois, subiu para 8,62%;
depois, subiu para 9,67%; depois de 1969, baixou para 7,23%. Em 70, baixou
para 6.20%; em 71, subiu para 8,30%; em 72, subiu para 8,60%; em 1973,
desabou para 6,2% um pouco menos do que o percentual de 1960. Estes
o os dados quentes. E digo quentes porque me foram entregues há pou-
cos minutos, depois de chegar a este Plenário.
Temos, entretanto, um quadro que é mais animador e que já
foi exibido pelo Ministro Jarbas Gonçalves Passarinho. Graças à Revolu-
ção que salvou este País da hiperinflação, da anarquia e do comunismo.
s aumentamos os percentuais, em relação ao Produto Nacional Bruto.
de 2,2 para 3,8%, o que é realmente e altamente animador e demonstra
o esforço excepcional da Revolução no setor da Educação. Mas temos
esse outro quadro, que é oficial, fornecido pelo IPEA: RECURSOS-
BLICOS APLICADOS em relação ao Produto Interno Bruto.
É precisoo confundir recursos públicos aplicados em Edu-
cação com recursos globais, porque, além de recursos públicos, há os re-
cursos do setor privado e ainda os empréstimos internos. Infelizmente, o
esforço nacional foi, realmente, apreciado. Mas, em relação ao esforço
no setor público, o quadro é muito menos brilhante, parao dizer que é
melancólico. De acordo com o IPEA, antes da Revolução, muito antes da
Revolução, em 1980, no início da década anterior, o Brasil gastou com re-
cursos públicos aplicados em Educação, em relação ao Produto Interno
Bruto, 2,01%; depois, em 1967,s subimos para 3,18%; depois, baixamos
para 3,01%; depois, subimos para 3,28%; depois descemos pará 3,19%. E, em
1973, o percentual dos recursos públicos aplicados em Educação, em rela-
ção ao Produto Interno Bruto, baixou para 2,80%, o queo entra em con-
flito com a afirmação, como sempre verdadeira, do notável Ministro da
Educação Senador Jarbas Passarinho de que os recursos globais apli-
cados em Educaçãoo da ordem de 3,8%. Em relação ao Ministério da
Educação, cujo esvaziamentoo poderia ter sido decretado, porque seria
um crime contra a Nação, esse levantamento feito pelo Senado demonstra
que, em termos de moeda de valor constante, o Ministério da Educação, em
1972, teve uma verba inferior ao do ano de 1969. Em 1969, em termos de
moeda de valor constante, o Ministério da Educação despendeu 2 bi-
lhões, 451 mil cruzeiros. E em 1968, despendeu apenas 2 bilhões, 161
cruzeiros.
O que trago ao debate nacional já estou no fim da minha in-
tervenção abusando da benevolência do Senador Gustavo Capanema, é
a conduta da sociedade brasileira em relação ao problema da Educação.
O Governo Federal tem cumprido o seu dever, senão de forma ideal,
espetacular, pelo menos, eu diria, de maneira satisfatória. O que é indis-
pensável é que todoss nos convençamos de que o problema da Edu-
cação deve ser solucionado por todoss eo apenas pelo Governo,
rigorosamente de acordo com as palavras do Presidente Medici, que teve
a coragem de proclamar por ocasião do meu discurso sobre o MOBRAL,
a seguinte frase: "o contraste da riqueza de uma pequena minoria e a
pobreza da maioria do povo brasileiro constitui uma vergonha na-
cional". E, depois de uma pausa, o Presidente acrescentou; "agora fale-
mos de uma outra vergonha, pela qual também somos igualmente res-
ponsáveis o analfabetismo". É invocando as palavras do Presidente
Medici e passando a invocar as do admirável Ministro da Educação que
encerro esta minha intervenção. O Ministro Jarbas Passarinho declarou,
numa das suas antológicas conferências na Escola Superior de Guerra:
"Já realizamos muita coisa, mas há ainda muita coisa a fazer. O contraste
entre os recursos de que dispomos e as metas a atingir chega, muitas
vezes, a ser desalentador."
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Sr. Presidente, se
V. Ex.
a
me permite, eu daria uma palavra complementar ao aparte do
Deputado Fábio Fonseca.
Quando o Presidente tinha na sua lista (e elao me foi oculta,
é claro) 12 inscritos, os 5 primeiros eram da ARENA, e só o 6.° era o pri-
meiro do MDB. S. Ex.
a
preferiu dar esta oportunidade ao MDB, com que
me rejubilo de ser alternado. Evidentemente,o poderá ser alternado
até o fim porque seria cassar uma parte da bancada da ARENA. Mas.
afora esse, eu considero que há um outro enfoque a fazer: é que eu
acho que meu querido amigo João Calmons aqui, Sr. Presidente,
possivelmente quebraremos algum protocolo, porque a minha amizade
com João Calmon faz com que eu fique numa camisa-de-força até no
tratamento protocolar de V. Ex.
a
ajudou um pouco o MDB, nesta hora,
porque ele partiu de algumas afirmativas contundentes e que apenas por
amizade e, creio, também por um dever de verdade ele me poupou. Eu
quero, em primeiro lugar, dizer aos senhores que vejo na figura do Se-
nador Calmon um homem com uma vocação extraordinária e, eu diria
até, em certos momentos quase que com uma ira sagrada quando ele trata
de discutir Educação e obter meios melhores. Durante, meu caro Senador,
uma conferência internacional de que participei, em Genebra, todos ou
quase todos os ministros da educação reunidos, levantou-se o Ministro da
África negra e propôs uma questão de ordem: "Será que esta nossa reu-
niãoo poderia ser interrompida, agora, pelo simples fato de ques
nos esquecemos todos de convidar os ministros da fazenda para estarem
presentes?" Mas isso é um problema realmente permanente. É verdade, eu
estou sempre a favor de que venha mais dinheiro, de maneira que eu
abençôo a campanha que faz o Senador João Calmon. Infelizmente, tenho
de me socorrer de uma velha passagem que tem sido abusivamente cita-
da por aí e que li num escritório inglês todo fato tem três versões: a
sua, a minha e a verdadeira.s já vimos uma versão do Sen. Calmon, ci-
tando as fontes; é a de um homem de extrema credibilidade e respeito.
Eleo tem o menor respeito pelas minhas contas orçamentárias do Mi-
nistério. Como ele disse, sendo o orçamento um sistema central, perten-
cente ao Ministério do Planejamento, e eu, quando citei o orçamento, citei
o planejamento.
Mas eu daria um atestado contrário à inteligência que me atri-
bui o Senador Calmon, se euo viesse preparado para este tipo de de-
bate que ele ia desenvolver. Porque eu tenho lido no jornal, sistematica-
mente, estas mesmas candentes palavras e estes mesmos números. De
maneira que eu peço a V. Ex.
a
, meu caro Senador, e aos nossos Presi-
dentes que, por favor, atentem para os dados da Secretaria-Geral do MEC,
em face do projeto de lei orçamentária para 74.
Então,s veríamos ali vários quadros. O primeiro quadro, que
o está em conflito, praticamente, com o que V. Ex.
a
falou, mostra, en-
tretanto, o crescimento do percentual do Ministério da Educação de cada
ano. De 69 para 70 crescimento: 22,8 maior que o custo de vida no perío-
do. Crescimento de 70 para 71: 35%. Depois um outro crescimento, de 72:
35%. Um outro crescimento, de 73, 32,9% Um outro crescimento, para
74: 27,0%. Estes dados eu posso entregar à Comissão e particularmente eu
solicito também sejam oferecidos ao Senador Calmon, para que ele tenha
oportunirdade, no fraterno entendimento ques temos, de checar, de
verificar, se a nossa versão está próxima à verdade ou não.
Então, a primeira conclusão a tirar daí é a seguinte: se este qua-
dro fosse realmente o quadro do desabamento a que se referiu o meu
eminente e querido colega Senador João Calmon, é evidente que eu teria,
cada vez, relativamente menos meio, a tal ponto que agora eu devia estar
fazendo Bônus precatórios para poder pagar as universidades. Co-
mo se explica que eu tenha crescido um alunato de 123.000 para 836.000?
Como se explica a Universidade do Fundão, por exemplo, que vivia
como uma espécie de vergonha nacional? (A frase está em moda, vamos
usá-la.) Todoss que descíamos no Galeão víamos aqueles esqueletos
inacabados, e subitamente, num período de dois anos apenas, se aplica-
ram 400 milhões queo eram orçamentários, mas que estão em fontes
outras de recursos, queo os empréstimos ques recebemos para apli-
cação em Educação.
Então, como se explica um crescimento vertiginoso, de um alu-
nato vertiginoso, como se explicam os valores constantes do quadro que
apresentei que vai até 68, e diria até 70, seo tivéssemos decréscimos
o contundentes. Há um fato para o qual eu gostaria de lembrar ao Se-
nador João Calmon e pedir a sua atenção particular: então,s devemos
fazer um tratamento semelhante ao que ele fez, e vamos verificar que
este fato aconteceu com todos os Ministérios.
Então, começa-se a explicar a coisa.s vamos dar uma demons-
tração, meu caro Senador; e em seguida,s lhe mostraremos como hou-
ve um percentual diminuído em seu próprio quadro do Senado, e então
mostrarei exatamente o que aconteceu aqui; em grande parte, é uma ex-
plicação que me deu o Ministro João Paulo Velloso, que disse que deu a
V. Ex.ª
O SR. SENADOR JOÃO CALMON - Este mesmo quadro de-
monstra que o Ministério dos Transportes, em 1970, recebeu verbas que re-
presentam 7,32% do orçamento. Em 73, este percentual subiu para 10,54%.
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - É claro, meu caro
Senador. O Ministério dos Transportes gostaria eu que as verbas dele
viessem para mim, porque ele tem fundos vinculados que o Presidente da
Repúblicao pode alterar. Quandoo vinculados, o Presidente do
Repúblicao pode alterar. É constitucional que seja enviado ao Minis-
tério dos Transportes.
O que eu estou falando é aquilo que o Presidente tem a de-
cisão de distribuir. É a esta capacidade de decisão do Presidente da Re-
pública que eu me refiro, que ele nos colocou em primeiro lugar, quase
sempre. Apenas um anos ficamos abaixo do Ministério do Exército.
Há um equívoco quando se pensa, por exemplo, que o Ministério
do Exército tem muito mais, quando ele tem pagamentos inativos queo
o pertinentes. Ao passo que o pagamento de inativos de todos os Mi-
nistérios civis passou para o Ministério da Fazenda. Então, este é o gran-
de problema. É aquele quadro do Ministério do Planejamento, exclusivo
de recursos vinculados. Se eu pudesse realmente, com recursos vinculados.
com as verbas com que se constróem as estradas necessárias neste País, eu
naturalmente teria hoje concluído todos os campi universitários brasileiros.
Euo vou falar mais no passado, eu estou neste presente, vi-
vendo contemporaneamente. Então, eu acho que o segundo fato prova
melhor.
Peço, por favor, que atente para meus dados. Agorao do
Senado Federal, com a fonte que V. Ex.
a
me forneceu, e eu, prudente-
mente,o incluí o Ministério do Planejamento. Nem me perguntei quais
os resultados que eles me dariam.
Agora, fiz os meus. Porque euo posso, também, tranqüila-
mente, dizer que em matéria de orçamento é o Ministério do Planejamento
quem faz. Ele faz, mas eu sofro as conseqüências. Ou então me beneficio
do dinheiro.
O quadro real, para nós, a nossa versão é aquela. 1969: orça-
mento da União. Reforços totais do MEC. Percentagem, que se chama A
sobre B. Neste caso, A sobre B significa a parte do orçamento do Minis-
tério da Educação global sobre o orçamento geral da União: 6,84; 70: 7,77;
71: 6,90; 72: 7,10; 73: 6,30; 74: 7,22.
Como se ve, os números nem tem semelhança com aqueles apre-
sentados pelo meu eminente e querido colega. Mas eu gostaria de pedir
com a maior humildade que a minha Casa, e, além da minha Casa, é o
meu amigo fraterno, que me deu a honra de chamar de irmão, e presidido
por um Senador da altura de um Gustavo Capanema, eu gostaria de pedir
ao Senado que se detivesse neste caso. O ques atribuímoso seja
e a projeção mostra-la-á o ques atribuímos que de um equívoco vem
este desabamento, então, em face do que meu amigo falou, e certo para
seu caso, veja o seguinte: aqui está o orçamento da União. Aqui está o
tratamento dado pelo Senado, que lhe levou aquela informação de 4,38, em
73, e infelizmente, para mim,o é verdade, ou melhor,o é a minha
verdade. Bom, o que aconteceu?
Aqui está o anexo da despesa. No anexo das despesas se encon-
tram: demonstrativo das despesas dos órgãos de categoria econômica, re-
cursos do tesouro. Ministério da Educação: Cr$ 2.283.800,00. É o que
está aqui. Educação. Cr$ 2.283.800,00.o se levou em consideração.
meu caro Senador, o segundo quadro, demonstrativo das despesas por
ordem de categorias econômicas, recursos de outras fontes, onde o Minis-
tério da Educação aparece: 573 milhões de cruzeiros.
Ora, se só aqui eu tenho 573 de outras fontes, no próprio anexo
do Senado queo foi consultado. O que já elevaria meu número de 2,8
para 3,3. Segundo:o se consultou Loteria Esportiva, Loteria Federal,
PETROBRÁS, que nos entrega 3 milhões de cruzeiros para pesquisa de
plataforma, quem para nós; para Geociências,o se levou um crédito
externo em consideração, 142 milhões realizados no período (bilhões anti-
gos). E nao se levou em conta a arrecadação direta de outros órgãos da
administração, 228 milhões. De maneira que eu entrego, então, a V. Ex.
a
estes dados.
O SR. SENADOR JOÃO CALMON - Do Planejamento.
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Certo.o se joga
agora o Planejamento contra a gente. Agora eu estou me dirigindo ao Se-
nado que me deu os documentos. Então, haverá três versões: a sua, a mi-
nha e a do Planejamento.
O SR. SENADOR JOÃO CALMON - Não, a minha, não. Eu
o tenho versão. Eu tenho os dados do Ministério do Planejamento!
(Aplausos interrompem o debate.)
O SR. PRESIDENTE (Gustavo Capanema) - Eu vou dar a pala-
vra, agora, ao representante do MDB para que possa equilibrar de começo
esta alternação das perguntas e respostas. Depois, eu carregarei um pouco
ao na representação da Arena. Digamos, darei a palavra a dois ou três
para depois dar a um dos do MDB, porques estamos aqui com minoria.
Tem a palavra o deputado Lysâneas Maciel.
O SR. DEPUTADO LYSÂNEAS MACIEL - Sr. Presidente, Se-
nador Gustavo Capanema, da Comissão de Justiça do Senado de Educação;
Sr. Deputado Flexa Ribeiro, Presidente da Comissão de Educação da-
mara, desejo congratular-me com V. Ex.
a
, em primeiro lugar, por esta ten-
tativa de fazer com que o Congresso, que já estáo espoliado cm suas
funções, tenha a oportunidade de debater assuntos de interesse nacio-
nal. Sr. Ministro Jarbas Passarinho, conferencista desta manhã. Sr. Mi-
nistro,s estamos cingidos aqui a um regulamento, que felizmente o
ilustre Senador Calmon já quebrou, que dispõe no sentido de que a inter-
pelaçãoo poderá se desdobrar em mais de três perguntas, e nem em
mais de cinco minutos, e de que o Sr. Ministro teria a seu critério o tem-
po que devia dispor para cada resposta.s lamentamos porque, eviden-
temente, V. Ex.
a
, com a inteligência que ninguém lhe nega, fez uma
síntese dos problemas educacionais. Mas, a rigor, a nós, parlamentares,
deveria caber um pouco mais de tempo, para ques pudéssemos deba-
ter. De maneira que, dentro da rigidez do tempo...
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Posso levantar
uma questão de ordem? Para mim, eu me sentiria profundamente feliz se
V. Ex.
a
desse o mesmo tempo ao Deputado Lysâneas, que dará a mim.
O SR. DEPUTADO LYSÂNEAS MACIEL - Eu agradeço a V.
Ex.
a
Era prescisamente isto que eu ia solicitar, inclusive...
O SR. PRESIDENTE (Gustavo Capanema) - Neste caso, eu re-
solvo a questão, aplicando o Regimento do Senado. O Regimento do Se-
nado é o seguinte: o interpelante tem dez minutos e o interpelado dez
minutos.
O SR. DEPUTADO LYSÃNEAS MACIEL - Já está mais justo.
O SR. PRESIDENTE (Gustavo Capanema) -o é a aplicação
do Regimento do Senado, que aqui paras é maior lei do que uma regi-
mentalidade provisória das reuniões conjuntas das comissões.
O SR. DEPUTADO LYSÃNEAS MACIEL - Pois não, Excelência,
eu vou de qualquer forma, dada a exigüidade do tempo, deter-me numa
declaração da exposição do Sr. Ministro, porque a considero fundamental
especialmente numa época em que há um verdadeiro vácuo entre as ciên-
cias humanas e as ciências exatas, numa ênfase toda especial à tecnocra-
cia, e ern que o Ministro da Educação vem, em muitos aspectos, subs-
tituindo a educação formativa pela informativa e os educadoresm sido
substituídos pelos técnicos com mentalidade empresarials tivemos
um exemplo recente desta afirmativa que estou fazendo aqui na Univer-
sidade de Brasília.o vou me deter, Sr. Ministro, nem teria condições
para isso, nem teria esta brilhante assessoria aqui para me fornecer os
dados, na mesma estatística, porque já houve três versões sobre as esta-
tísticas dadas por V. Ex.
a
, e eu creio que isto já demonstra claramente
que nenhuma dúvida há quanto a qual é a verdadeira versão: se é a de V.
Ex.
a
, se a do Senador João Calmon ou se é a das estatísticas do Ministé-
rio do Planejamento. A esta altura eu acrescentaria, também, uma outra
do eminente Presidente da Comissão de Educação da Câmara, Deputado
Flexa Ribeiro, que afirmou que desde 1964 o percentual de recursos da
União mantém uma tendência a declinar;o expressões textuais de S.
Ex.ª o Sr. Deputado Flexa Ribeiro. De maneira queo vamos nos deter
porque sabemos comoo as facilidades para o manejo da estatística. Mas
eu vou me deter, especialmente, Sr. Ministro, e faço isto com toda since-
ridade, V. Ex.
a
, certa feita, fez uma referência inclusive a um familiar meu
que foi reitor de uma universidade, e V. Ex.
a
fez esta referência reconhe-
cendo a sua probidade, reconhecendo a sua correção, e eu vou me per-
mitir que, em matéria de probidade, em matéria de honestidade, euo
posso ser modesto, é um traço da família, muito embora euo seja res-
ponsável pelas eventuais atitudes políticas ou técnicas de irmãos meus;
cada um tem a sua posição, e eu tenho um irmão que até acredita que a
inflação realmente pegue 12%! De maneira que V. Ex.
a
vê que isto varia
muito. Ele acredita nisso. De maneira que quero dizer a V. Ex.
a
queo
posso ser modesto em matéria de probidade e correção a que V. Ex.
a
fez
referência, quando citou o Reitor da Universidade Federal de Goiás.
Achei que houve uma descaída na condução do problema, por-
que na realidade o que nos interessava era discutir problemas fundamen-
tais e a filosofia da Educação. Então, V. Ex.
a
fez uma afirmativa e trouxe
aqui no quadro, hoje, e disse que o objetivo primordial da Educação é a
preparação do homem para o exercício consciente da cidadania. Excelên-
cia, esta declaração, conjugada com uma outra feita por V. Ex.
a
, recen-
temente, em 23 de outubro, na qual V. Ex.
a
disse que seria necessário
primeiro revogar o Ato Institucional n.° 5, antes de revogar o Decreto-
49
Lei 477, porque estão ambos dentro de uma mesma sistemática de legis-
lação. E V. Ex.
a
então vinculou o 477, que V. Ex.
a
alardeia tenha tido
uma aplicação muito restrita em todo o território nacional, muito embora
a imprensao tivesse acesso a este grau de intensidade da aplicação,
porque o professor Ivancir de Castro, da Divisão de Segurança, disse
queo poderia dar informações completas, porque estes documentos
encontravam-se no cofre do diretor da Divisão, declaração feita a O Es-
tado deo Paulo. Mas disse que, eventualmente, teria havido uma apli-
cação de 260 em 69, em 72, 10, e este ano teria a aplicação de 6.
Sr. Presidente, Sr. Ministro: a nossa preocupação fundamental
aqui, hoje, é esta declaração de V. Ex.
a
da preparação consciente do ci-
dadão para o exercício da cidadania. E torno às perguntas: como pode um
universitário exercer global e plenamente esta cidadania, se eleo pode
participar dos processos políticos e econômicos da Nação? Se os seus ca-
nais normais de expressãoo fechados? Se os canais legítimos, lembre
bem V. Ex.
a
, se os canais legítimos, todos os diretórios estão sob a égide
do 477? E quando anunciou a V. Ex.
a
e V. Ex.
a
é um homem inteligen-
te de que a universidade vive sob o regime do terror, eu vou dar dois
exemplos desta semana.
Na PUC do Rio de Janeiro, os estudantes estavam distribuindo
panfletos relativos à inconveniência de passar uma estrada por aquela uni-
versidade, porque aquilo iria prejudicar grandemente os aparelhos de
alta sensibilidade. Excelência, foram todos presos. E V. Ex.
a
fez até
blague, dizendo que isto era problema do DOPS da Guanabara. E V. Ex.
a
trouxe até um sério prejuízo ao Governador da Guanabara, quando disse
que era problema do DOPS e do Governador Chagas Freitas, porque V.
Éx.
a
chamou o Governador Chagas Freitas de oposição. Ele vai ficar pro-
fundamente ofendido quando souber disto. Então, outros alunos estavam
distribuindo, Sr. Ministro, uma explicação ao povo a respeito da inconve-
niência de passar aquela estrada por aquela universidade, porque pre-
judicava, e eu tenho aqui um memorial que eles estavam distribuindo. E
o memorial diz apenas da inconveniência desta passagem daquela estrada.
Foram todos presos, Excelência, e os nomeso estes: Regina, secretária
do DCE; João, da secretaria do DAP; Milton Notário, presidente do DCE;
Carlos Milton, presidente do CAE. Foram presos, Excelência. Qual a
razão? Quem prendeu? O DOPS? Ou está sendo aplicado o 477? É possí-
vel queo esteja sendo aplicado o 477. É possível. V. Ex.
a
está sorrindo
satisfeito, estou reparando. Mas, Excelência,s estamos vivendo...
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Eu estou sorrindo
desde a origem, Deputado. Se V. Ex.
a
permitir,s vamos debater aqui,
sem qualquer protocolo,.
DEPUTADO LYSÃNEAS MACIEL - Eu acho que será o mais
conveniente, porque eu vou até dizer para V. Ex.
a
que uma das acusa-
ções, não, eu gostaria,s estamos tratando aqui (interrupção da
Presidência). Não, eu estou (inaudível) aqui, será que a classe dos Mi-
nistros se baseia em tempo? Eu acho que deve ser deferida ao Sr. Pre-
sidente a correção da tempo. Mas a pergunta seria a seguinte:o enten-
de, V. Ex.
a
, que o simples fato de que alunos tenham sido presos por
pleitear algo perfeitamente legítimo para sua universidade, registre este
clima de terror? É a primeira pergunta.
A segunda pergunta, Sr. Ministro, é que aquele professor (inter-
rupção da mesa. Inaudível). Eu peço a V. Ex.ª a mesma benevolência que
teve com o Senador Calmon. (Interrupção. Inaudível.) Pois, não. Um pro-
fessor aqui da universidade, do CEUB, foi chamado aos órgãos de segu-
rança simplesmente porque citou o Presidente Juscelino Kubitschek em
sua fala. Teria ele feito a defesa política do Sr. Juscelino Kubitschek?
Não, Excelência. Simplesmente mencionou que o prefeito de Diamantina
solicitara às autoridades do DETRAN de Minas a placa JK para aquela
cidade, a fim de que se homenageasse o Presidente e a fim de demonstrar,
numa aula de comunicação, a força do símbolo da Universidade, a força do
símbolo para efeito de comunicabilidade. Este professor Beltrão foi
chamado aos órgãos de segurança.
Então, o que se pretende provar, e eu poderia citar aqui centenas
de casos: o Deputado Lysâneas Maciel lamenta informar a V. Ex.
a
o
fechamento do diretório acadêmico de Economia na Universidade Fe-
deral e a apreensão do boletim informativo, c que seu reitor determinou
a instalação de um processo sumário com base no Decreto n.° 477; extra-
oficialmente existem cerca de 25 estudantes indiciados, a intranqüilidade
é total nos meios universitários gaúchos, existe um enorme policiamento
em frente ao diretório central dos estudantes, assim como na Casa do
Estudante e no restaurante universitário; a imprensa está proibida de
noticiar qualquer nota expedida por estudantes, publicando apenas as
notas oficiais da reitoria da Universidade Federal; os abaixo-assinados,
na solidariedade aos estudantes, apelamos para V. Ex.
a
, para que seja
transmitido que o Decreto n.° 477, continua, como a espada de Dâmocles,
sobre todos os estudantes brasileiros. Jornais murais; inclusive na Ponti-
fícia Universidade Católica, foi preso o professor José Boneti Pinto.
Eu estou dando alguns nomes; alguns Deputados estão dizendo,
o se sabe por que razão, queo existem fatos concretos a este respeito.
Bom, então eu estou citando: Universidade Federal do Rio de
Janeiro (eu estou com o tempo curto e tenho de correr um pouco); dire-
tórios fechados, seis diretórios fechados, inclusive um que foi fechado
simplesmente porque publicou um estudo sobre o integralismo. Publicou
um estudo sôbre o integralismo! Aqui muito mais perto, Sr. Ministro, o
Ministro Jarbas Passarinho homologou decisão do Reitor da Universidade
de Brasília, professor Amadeu Coury, aplicando o Decreto n.° 477 aos
estudantes Clara Stalin Pinho, Antônio Pinheiro, (inaudível). Eu poderia
ficar citando aqui, mas infelizmente estou com o tempo curto, uma soma
enorme de medidas que euo sei se é o DOPS que toma, euo sei se
é o Exército que toma, euo sei seo as autoridades de segurança que
tomam. Mas o fato é que minha afirmativa inicial que os estudantes vivem
sob um clima de terror, Sr. Ministro, é um fato inequívoco.
Eu devo lembrar a V. Ex.
a
um outro fato, muito grave e signi-
ficativo: é que na realidade, Sr. Ministro,s estamos, quando V. Ex.
a
disse que isto é problema de outros órgãos de segurança,s estamos
talvez e isto já é a outra pergunta que eu faços estamos nos des-
sensibilizando em relação a um problema que diz respeito específico à
área de Educação? Eu devo lembrar a V. Ex.
a
que quando foram aplica-
das aquelas medidas do nazismo, na época terrível do nazismo, em que
milhões de criaturas foram sacrificadas, de um modo geral se procurou
insensibilizar a nação alemã, dando uma base legítima à aplicação da-
queles dispositivos.
Então, quando V. Ex.
a
diz que é o DOPS da Guanabara que
aplica eo é o 477, V. Ex.
a
talvez esteja inconscientemente ingressando
nesta dessensibilização para um problema que está específico na área da
Educação, ou seja, o terror de um simples professor, por mencionar como
símbolo da comunicação, como símbolo da comunicação, ou aqueles que
construíram a passarela que foi motivo de blague de V. Ex.
a
; foram todos
chamados ao DOPS; foram todos chamados ao DOPS; se fosse o Chagas
Freitas, se o Chagas Freitaso faz nada, sem seguir uma determinada
sistemática porque ele se proclama soldado de Mediei, soldado da Revo-
lução desde o princípio e todoss sabemos qual foi o processo da sua
escolha. Eu acho que ligar, determinar que a responsabilidade seja atri-
buída aos outros órgãos,s estamos fugindo a uma declaração muito
significativa do General Ernesto Geisel, quando disse que "não tenho
compromissos pessoais com ninguém". Ele quer inaugurar a época da
responsabilidade nesse País, porque quando se pergunta, quando se per-
gunta quem é responsável,o é o 477, é o DOPS; não,o é o 477, é o
Segundo Exército; não,o é o 477, é o Terceiro Exército; então, ele
quer inaugurar uma era de responsabilidade no País., à qual muitos tal-
vez queiram fugir. É muito fácil atribuir aos outros órgãos de segurança.
mas difícil é negar o clima de terror que existe na universidade e que eu
dei alguns exemplos somente, mas tenho a pasta cheia de telegramas de
todo o País, para demonstrar a V. Ex.
a
que na realidade este clima existe
e a responsabilidade também é da área, principalmente é da área da Edu-
cação.
O SR. MINISTRO JARRAS PASSARINHO - Meu caro Presi
dente, pelo direito de eqüidade, eu peço quinze minutos.
Aliás, Deputado, muito prazer em conhecê-lo. Creio, aliás, que
eu deveria ter-me lembrado de V. Ex.
a
quando fui Ministro do Trabalho
e Previdência Social e V. Ex.
a
foi um dos auxiliares daquele Ministério,
ao meu tempo.
O SR. DEPUTADO LYSÂNEAS MACIEL - Continuo sendo
funcionário do Ministério do Trabalho.
O SR. MINISTRO JARRAS PASSARINHO - Funcionário, evi-
dentemente,o há conflito entre o que eu diga e o que V. Ex.
a
afirme.
De minha parte, eu permito que V. Ex.
a
me interrompa à hora em que
desejar. Estou, entretanto, desacostumado de reconhecer o auxiliar do
Ministério do Trabalho que certa vez foi até o interventor na Ordem dos
Músicoso deve ter sido muito brilhante para sua fé de ofício, mas
foi naquele que ultimamente tem se extremado em algumas injustiças
clamorosas dirigidas a mim.a de Queiroz disse que Pinheiro Chagas
era o seu homem fatal, Deputado, e eu estou concluindo que por qualquer
coisa de sua fortuna V. Ex.
a
passou a ser o meu homem fatal neste Go-
verno. (Risos.) V. Ex.
a
fez algumas graças e humor perfeitamente parla-
mentares.
O DEPUTADO LYSÃNEAS MACIEL - Procurei manter o mes-
mo nível de V. Ex.
a
também, blague blaguérrimo.
O SR. MINISTRO JARRAS PASSARINHO - Exato. E se puder-
mos fazer um senso de humor, ajuda mais,o é? Porque já dizia o Ecle-
siastes que devemos amar uns aos outros, e isto V. Ex.
a
sabe mais do que
eu, porque creio que é pastor protestante, segundo me informaram.
O SR. DEPUTADO LYSÃNEAS MACIEL -o sou, mas pertenço.
com muita honra, à Igreja Evangélica.
O SR. MINISTRO JARRAS PASSARINHO - A mesma a que
pertence o Gen. Ernesto Geisel, não?
O SR. DEPUTADO LYSÃNEAS MACIEL - Não, Excelência,
ele é luterano.
O SR. MINISTRO JARRAS PASSARINHO - Ah, desculpe. Eu,
realmente, só entendo um pouco mais do catolicismo.
O SR. DEPUTADO LYSÃNEAS MACIEL - Mas issoo implica
que a minha citação do Gen. Ernesto Geiselo pode estar certa, pois
tem até uma conotação evangélica; responsabilidade também é bíblica.
O SR. MINISTRO JARRAS PASSARINHO - É aí que eu queria
chegar. Já queo podemos chegar ao Evangelho: "amai-vos uns aos ou-
tros", eu fico com Goethe, que disse assim: "seo puderdes amar uns
aos outros, pelo menos tentai fazer as pazes". V. Ex.
a
, Deputado, verberou
contra mim algumas coisas que eu respeito em V. Ex.
a
, porque sei que é
um homem probo, euo chamaria de calúnia, mas chamaria apenas a
atenção da consciência de V. Ex.
a
, que se mostrao sensível para alguns
aspectos e, no meu entender,o se mostra para outros. Mas vamos pri-
meiro ao seu discurso e, automaticamente, a uma e a outra pergunta que
na verdadeo houve. V. Ex.
a
colocou três pontos de exclamação, depois
de uma pergunta. V. Ex.
a
afirmou que existe terror. Eu não" sei se V.
Ex.
a
teve passado estudantil de liderança; possivelmente teve; eu tive.
Lá no extremo Norte, que era um Governo suposto constitucional, havia
Constituição; havia Congresso; havia Assembléia Legislativa; eu fui Pre-
sidente de Diretório Acadêmico e um dia resolvi sair para a rua, porque
achamos que uma providencia qualquer do Governo era certa. Saímos e
travei conhecimento na minha vida com alguma coisa de queo tenho a
menor saudade: "umbigo de boi", queo descrevo a V. Ex.
a
, porque é
dispensável. A polícia me bateu com isso.o havia o 477. Havia até uma
Constituição funcionando. Querer, querer imputar ao 477 as violências
e as brutalidades policiais me parece um pulo demasiado, mesmo para
a inteligência de V. Ex.
a
.
Segundo: sobre o DOPS da Guanabara pois V. Ex.
a
só
cita o DOPS da Guanabara isso é que me deu oportunidade de dizer
a um jornalista que me perguntou, euo fiz blague. Eu fui absoluta-
mente correto dentro daquilo que se chama lógica formal. DOPS da
Guanabara; Governador da Guanabara, tanto quanto eu sei é do MDB.
Ao que eu sei foi Deputado dos mais votados pelo MDB. E pertence à
legenda do MDB.o me consta que ele tenha sido expulso das hostes
partidárias do MDB. O DOPS é nomeado por ele. Então se existe o proble-
ma é com o Deputado Ulisses Guimarães, jáo é mais comigo, porque
o DOPS é da Guanabara; o Deputado é do MDB; o Governador é do
MDB, o problema é em família,o seria propriamente comigo. Mas
eu aceito a sua segunda interpelação, e é justamente perante V. Ex.
a
que
eu faço um apelo: queo fique o nosso encontro nesse debate for-
tuito. O meu Ministério, se V. Ex.
a
o considera que ele é capaz de
passar doença contagiosa, está à sua disposição para que V. Ex.
a
vasculhe
o que queira (prolongadas palmas), para verificar lá dentro (palmas).
Euo quis me servir das oportunidades apenas de uma maioria
arenista aqui presente, porque vimos agora mesmo, na demonstração
do eminente Senador João Calmou, que, quando é preciso discordar fron-
talmente, ela discorda também. Mas, V. Ex.
a
, Sr. Deputado, falou em
"claque" do Ministro. Creio que foi um falta de policiamento da sua ooli-
dez, porqueo basta polidez. É preciso, é absolutamente imprescindível,
que um homem da sua representação, da sua qualificação e da sua Igreja,
Excelência,o ataque as pessoas desnecessariamente, graciosamente. Eu
o diria nunca se V. Ex.
a
recebesse aplausos aqui, que teria "claque".
O SR. DEPUTADO LYSÂNEAS MACIEL - Mas V. Ex.
a
fez re-
ferência ao tempo.
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Mas V. Ex.
a
usou
a expressão "claque", eu anotei "claque". Doeu-me um pouco. Euo
vim com "claque".
O SR. DEPUTADO LYSÂNEAS MACIEL - Eu acho que nin-
guém, ao ser o Sr. Presidente da Comissão, tem o direito de fiscalizar
o tempo de Deputado.
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Perfeito!
O SR. DEPUTADO LYSÃNEAS MACIEL - E repilo veemen-
temente.
O SR. MINISTRO JARRAS PASSARINHO - Eu admito que, se
V. Ex.
a
colocasse o problema nestes têrmos,, eu o apoiaria.
O SR. DEPUTADO LYSÃNEAS MACIEL - Eu coloquei nestes
termos. Eu notei que disseram que tinha esgotado o tempo. V. Ex.
a
escutou?
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Talvez até tenha
escutado. E daí?
O SR. DEPUTADO LYSÃNEAS MACIEL - Euo admito, a
o ser o Presidente da Comissão, que fiscalize. Eu sou um parlamentar,
em pleno investimento.
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Então, V. Ex.
a
co-
locaria o problema nestes termos, eo dizer que a "claque" do Ministro
começou a se movimentar. Há de V. Ex.
a
concluir que foi um pouco in-
delicado na expressão. Euo fiz teatrinho,o vim aqui representar. Eu
vim aqui em respeito ao Poder. Ao Poder ao qual pertenço; vim prestar
contas do meu mandato enquanto Ministro do Trabalho e Ministro da Edu-
cação. Mais ainda, Sr. Presidente, disse o nosso ilustre Deputado Lysâneas
que eu até pensei que V. Ex.
a
chamasse Lisanías, porque foi assim que
lhe chamou o escritor brasileiro Ibrahim Sued, quando leu na Televisão.
O SR. DEPUTADO LYSÃNEAS MACIEL - Declarações de cro-
nista social de alguns pelegosm a importância que se lhes.
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Não,o tèm.
Para mim, eu chamei escritor porque ele é muito vendido, porque ele
mesmo disse que bateu o recorde de venda de livros.
O SR. DEPUTADO LYSÃNEAS MACIEL - V. Ex.
a
se socorreu
também da palavra do eminente educador Florim Coutinho, que todos
s respeitamos.
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Eu respeito Florim
Coutinho pela sua dignidade.
Eu só quero que descontem o meu tempo.
O SR. DEPUTADO LOMANTO JÜNIOR - Eu chamei a atenção,
pela ordem, quando estava falando o Deputado Lvsàneas Maciel, fui o pri-
meiro orador inscrito;o havia reconhecido e acho que o Senhor Calmou
tem todo direito, como membro da Comissão de Educação, mas também
quero advertir a V. Ex.
a
, Sr. Ministro, que há tempo limitado para res-
ponder.
O SR. PRESIDENTE (Senador Gustavo Capanema) - Mas ele,
primeiro, o Ministro só falou um terço do tempo dele; segundo, o Depu-
tado Lysàncas há de me permitir queo fale. Eu lhe peço queo fale
mais, pará que o Ministro tenha o tempo todo.
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Não, mas a outra
proposta que eu faria é que ele continue falando, mas o tempo dele seja
descontado a meu favor.
Eu estou usando desta liberalidade. Mas meu caro Deputado,
permita-me o tratamento, meu caro Deputado, a minha impressão é que
se trata de tremendo equívoco de V. Ex.
a
que, provavelmente, fez de
mim uma imagem que eu posso lhe dizer humildemente queo é a
verdadeira. E como V. Ex.
a
pretende que eu tenha poder de polícia
global do País, e possa evitar qualquer tipo de violência e arbitrariedade
policial, V. Ex.
a
com certeza está pedindo o impossível. Eu no mínimo
estaria ensejando uma oportunidade de citar uma frase que está lá no
velho Machado de Assis, talvez seja um escritor aceito por V. Ex.
a
,
em contraposição ao anterior que eu citei.
Quando ele dizia que entre os sonhos do poeta e as rosas do
jardim há o muro da casa. Agora, onde eu me defendo da possível insi-
nuação de V. Ex.
a
, que lastimo que na hora em que fez a demonstração
da sua cultura histórica, só citasse o período nefando do nazismo, indis-
cutivelmente uma chaga mundial, eo citasse paralelamente os anos de
terror de Stalin, submetendo aquela nação ao maior tipo de violência
que atravessou o mundo (aplausos) soube V. Ex.
a
, com determi-
nação, defender a dignidade da pessoa humana, e por isso é que eu respon-
do a V. Ex.
a
e a qualquer tribunal deste País. Ao chegar ao Ministério eu
tenho que falar rapidamente ao chegar ao Ministérios encontra-
mos o Decreto 477 que se exauria na autoridade que punia.
Apenas aquela que absolvia era obrigada a recorrer através de
ofício, para que o Ministro pudesse analisar o processo. Em suma, o Mi-
nistro só tinha possibilidade de agravar. A primeira providência que tomei
foi pedir ao Presidente da República que me desse o direito de ver todos
os autos.o só os da absolvição, mas também os de condenação. E
peço, por favor, que passe aquilo a que V. Ex.
a
diz queo teve acesso
o pobre do meu professor Ivancir. Primeiro lugar, Deputado Lysâneas
O SR. DEPUTADO (Lysâneas Maciel) Publicado pela imprensa.
Eu quero lhe dizer, V. Ex.
a
o me arme armadilha contra a
imprensa. A imprensa nunca mente. Nunca! Eu pago o meu tributo com-
pleto a ela. Raramente ela se equivoca. Mas mentir, nunca! De maneira
que, em função disso, eu quero dizer apenas a V. Ex.ª, Sr. Deputado, e
fa esta Casa, queo pode haver dúvida, porque todos estes atoso
publicados no Diário Oficial da União. Como é que pode ser clandestino
na gaveta da Divisão de Segurança! Todos esses atoso publicados no
Diário Oficial da União.
Agora, peço'a V. Ex.
a
que analise aquilo, em que V. Ex.
a
usou um
verbo provocativo, dizendo que eu alardeio.o alardeio tanto, Deputado
Lvsàneas; eu registro. Registro que em 1969 aplicaram 215 punições pelo
Decreto-lei n.° 477 em alunos, professores e funcionários. Estou acusando
eu, por exemplo, o meu eminente amigo Tarso Dutra, que eu acredito
tenha uma paciência muçulmana, uma formação humanística superior
à minha? Não! É que aquele era o momento crucial de um processo ci-
rúrgico.
Agora, o que me coube a partir de 70, repare V. Ex.
a
: de 70
até agora, 38 aplicações em quatro anos 70, 71, 72, 73, o que me dá
uma média menor de aplicação do 477, de 10 por ano, Deputado Lysàneas,
menos de 10 por ano.
Agora eu mostro a V. Ex.
a
aos que eu desclassifiquei para res-
ponder a segunda parte. Eu mereço a sua confiança, na medida em que
V. Ex.
a
acha que euo estou me alienando do processo. Vou lhe mos-
trar, estando eu dentro da minha capacidade de atribuição, note, 38 aplica-
ções em quatro anos, quantos foram desclassificados: desclassificados 54
Decretos de punição que chegaram à minha mesa e desclassifiquei.
Peço ao Professor Versílio, por obséquio, que me traga um tele-
grama que passei a Santa Maria. Ali está a Universidade Federal de
Santa Maria, Deputado Lysàneas, V. Ex.
a
é um homem probo; o seu
irmão desgraçadamente, para mim, foi envolvido num processo, de uma
maneira, cuja mutilação de uma frase minha o feriu. E por isso eu tive
a dignidade de telegrafar a ele pedindo-lhe desculpas, porque é indiscu-
tivelmente, e foi, um Reitor liberal. O que eu mostrei no caso, quando
situei o problema do ataque de V. Ex.
a
, sobre uma famosa passarela, que
a todo o momento V. Ex.
a
lançava nos Anais da Câmara, o que eu quis
dizer é que sendo irmão de V. Ex.
a
um homem liberal, podia testemunhar
o grau de liberal idade com que eu atuava porque até processos por ele
aprovados foram por mim anulados. Ali estão, por exemplo, 4 de Santa
Maria. Na hora que eu anulei esses processos, mandei este telegrama ao
Reitor. O telegramao é criptado;o é em código; é telegrama em
linguagem ostensiva: "Apraz-me comunicar Vossa Magnificência homolo-
guei sua corajosa, mas insta decisão, caso alunos Decreto-lei n.° 477.
Muito me honra trabalhar com homens corajosos na luta anticomu-
nista, mas queo usam o poder para arbitrariedades". Essa é a res-
posta que eu dou a V. Ex.
a
.
Agora, aproveitando outro caso, nunca houve nos quatro anos
do Presidente Medici uma aplicação na PUC da Guanabara. E eu
tenho o discurso de V. Ex.
a
, que de alguma maneira V. Ex.
a
naturalmente
o quis ser malicioso. Mas, infelizmente,s sabemos que a palavra é
aquilo que o velho Bernanos dizia numa imprecação até audaciosa
e blague quando ele dizia blasfemando que "a palavra é muito pouco
para o homem traduzir seu pensamento". Quando ele diz: "Ó meu Deus
porque só me deste a palavra para explicar o meu pensamento". V. Ex.
a
disse, e está aqui no Diário do Congresso Nacional que o estudante que
pregue um cartaz na parede é preso, que leva o 477 em cima. É unia
balela dizer o que é liberdade, citar os dispositvos até da ONU e da Cons-
tituição brasileira. Entre o que está escrito e a realidade estudantil há
um grande e profundo vácuo.
V. Ex.
a
pergunta ao Deputado Lomanto Júnior que alterna-
tivas lhes restam a eles estudantes, se por pregarem um cartaz na parede
da Faculdadeo punidos pelo 477. Se por formularem uma pergunta ao
professor, aplicam-lhes o 477.
Se V. Ex.
a
estivesse verdadeiro nisto, haveria terror. Felizmente.
para nós, a frase de V. Ex.
a
o é verdadeira. As afirmativas de V. Ex.
a
tem profundo descompasso entre o que lhe levaram ao conhecimento e
aquilo que aconteceu na realidade. Então, eu mostro a desqualificação
do 477. E vou mais longe, Deputado.
O SR. DEPUTADO (Lysàneas Maciel) V. Ex.
a
, com essa libera-
1idade que o caracteriza,o seria interessante que todos esses fatos, já que
há descompasso de informações, ajudassem os eminentes Deputados da
ARENA a compor a Comissão Parlamentar de Inquérito, verificaria...
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Essa é a terceira
pergunta, Deputado, eu responderei depois dos 15 minutos. Por enquanto,
não. Agora V. Ex.
a
, além de dizer isso, está aqui um jornal que mostra
que, às vezes, algumas queixas. Se eno conhecesse, realmente, o passado
de V. Ex.
a
, eo tivesse as informações de amigos comuns sobre V. Ex.
a
,
honestamente, meu caro Deputado, eu pensaria que V. Ex.
a
estaria den-
tro de um processo de supor que está sob injustiças permanentes.
P or exemplo, aqui está um jornal. O Jornal de Brasília. Deu
na íntegra uma verrina de V. Ex.
a
contra mim. Na íntegra, euo
consigo na íntegra uma publicação. Mas V. Ex.
a
diz neste documento,
por exemplo que "não vê no representante do Governo queo haveria
liberdade,o estaria um representante da oposição falando desta ma-
neira", palavras suas. Todos sabemos que a reprodução do que dizemos.
quando existe, é parcial. Ora, saiu na íntegra!
O SR. DEPUTADO (Lysàneas Maciel) Não,o saiu na íntegra
não;o senhor. Saiu em um só jornal do País, aqui em Brasília. E o reda-
tor político foi chamado ao DOPS' por causa disso.
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Ora veja!
O SR. DEPUTADO (Lysàneas Maciel) - Ora veja,? Ninguém
é responsável por nada.
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Agora, por favor,
faça como o nosso (inaudível) faz.o me queira por um personagem que
euo sou. Retire-me deste personagem porque euo sou personagem...
O que eu estou notando é que enquanto a minha afirmativa para V. Ex.
a
ganhou talvez dez centímetros de jornal, aqui eu li o que me pareceu na
íntegra porque eu li seu discurso. Li na íntegra e em negrito as frases
mais agressivas e mais violentas. Algumas, eu lhe disse,o chamo calú-
nia em respeito à sua qualidade.
Por exemplo, V. Ex.
a
disse aqui; primeiro uma coisa que eu
mostrei ainda há pouco, ao me (inaudível). Deixe-me começar pelo menor,
é um (inaudível). "Não se tem dado atenção ao número de repro-
vados por ano, mas ao número de aprovados por ridículos aumentos de
vaga".
O aumento de vagas de um ano para o outro no ensino superior
de 30%. Eu desafiei o ex-diretor da UNESCO que prove um país que faz
isso num curto período de dez anos. Mas V. Ex.
a
chama a isso de ridículo.
O SR. DEPUTADO (Lysâneas Maciel) - As estatísticas de V. Ex.
a
às vezeso um pouco divergentes das ques temos com...
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Não,oo
Estaso são, Deputado, porque estas estão no IBGE e no SÉC. Só
tem estas duas fontes. Vossa Excelência poderá saber o número de
estudantes existentes, quando o problema complicado é orçamento, porque
cada um dá um tratamento, um tipo de enfoque ao símbolo da comunica-
ção, ou aqueles que construíram a passarela que foi orçamento. Então
vamos ficar nas estatísticas que eu estou lhe dando e me respondo por
elas. E desde logo renovo, renovo um convite cordial a V. Ex.
a
para ter
conhecimento,o de uma gaveta, mas de todas as gavetas. Acho que
V. Ex.
a
voltará com o pensamento modificado a nosso respeito.
O SR. DEPUTADO LYSÂNEAS MACIEL - Até das gavetas da
Segurança?
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Sim. Naquilo que
couber, naturalmente, à segurança. É claro que V. Ex.
a
, quando disse, no
auge da indignação o que me agrada muito,o esta passagem, mas a
sua modificação V. Ex.
a
fez uma abertura de confiança no futuro Presi-
dente General Geisel; eu fiquei comovido. Fiquei comovido porque V.
Ex.
a
mostrou, realmente, uma abertura de crença. Mas quando V. Éx.
a
se
refere, sistematicamente, nesta Casa, a esse General que ocupa a Presi-
dência da República, referindo-se ao Presidente Medici, acho que V. Ex.
a
o é feliz na expressão.
O SR. DEPUTADO LYSÂNEAS MACIEL - Eleo é general,
o ocupa a presidência?
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Na expressão de
V. Ex.
a
, com o insulto que V. Ex.
a
dá a todo o corpo legislativo do País e
a todos os seus colegas, euo acredito que V. Ex.
a
deva ser o único digno
neste Congresso.
O SR. DEPUTADO LYSÂNEAS MACIEL - Não, perfeitamente...
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO -o acredito que
V. Ex.
a
seja o único capaz de dizer: eu passei pelo Congresso sem nenhu-
ma indignidade, e todos os outros praticaram indignidade como esta.
O SR. DEPUTADO LYSÂNEAS MACIEL - Excelência, qual é
a indignidade da afirmação? Porque este Congresso votou no Presidente
Medici, que está, e V. Ex.
a
diz que ele ocupa a Presidência como Ge-
neral.
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO -o quero entrar
neste ponto.o quero, até porque realmente é irrelevante.
O SR. DEPUTADO LYSÂNEAS MACIEL - Perfeito.
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Mas o pior é o se-
guinte: aqui está escrito assim: se eu pouso de benevolência esta é uma
expressão dura se eu pouso de benevolente, por ordem sua, em negrito,
note bem, foi aberto inquérito a respeito das atividades. De fato,o é
verdade. O reitor, seu irmão, será chamado, se ele aceitar, para virmos
os três conversar, V. Ex.
a
, o reitor e eu, com os documentos na mão.
A Divisão de Segurança e Informações, pegando um documento.
um jornal de Medicina, mandou ao reitor para uma análise. Este jornal,
que está aqui, eu trouxe, eu sabia que estava no seu discurso o problema.
Eu ontem li. Em vez de chegar aqui para fazer uma palestra sobre Educa-
ção e prestar contas, eu vim aqui como se colocassem numa luta de boxe:
de um lado, o peso-pesado Lysâneas Maciel; do outro, peso-pluma Jarbas
Passarinho.
Então, Deputado, eu passarei às suas mãos, com o carimbo de
reservado, inclusive este documento. É uma série de insultos violentos
insultos violentos feitos por estudantes e assinados, mas que eu chamava,
em alguns casos, de linguagem de oposição. Éo comum a oposição nos
injustiçar. Então, era preciso que os estudantes fizessem a mesma coisa.
Mas também havia coisas desta natureza, por exemplo: a reforma do ensino
obedecerá a um plano gradual, assinado por íurandir Dias, presidente do
DCE, sob o qual o Reitor Farnese Maciel talvez se indignasse por minha
culpa, pelo apreço que ele me tem, aplicando nele o 477. E eu acabei
anulando porque isto é uma linguagem realmente insultuòsa, equivocada:
este rapaz deve estar envenenado.
Então, diz ele, Deputado, eu gostaria de saber a sua reação quan-
do lesse em relação ao senhor este trecho: "resolveram, então, os mandarins
entregar a critério de seus chefes do exterior a reformulação do ensino
em nossa pátria, isto pelo famoso acordo USAID-MEC." Então o man-
darim sou eu, traidor da minha pátria, recebendo ordem do americano,
para fazer o que o americano deseja em meu País. E V. Ex.
a
considera que
istoo seja calúnia? Pois bem, eu considerei apenas que ele era um mero
caluniador. E disse: "vocêo é um subversivo; para mim você é um incom-
petente, um incapaz e um envenenado. O seu prêmio, a sua punição para
mim, é permanecer na universidade, provando que você é um desinfor-
mado." Voltei-me para ele e disse: "agora quero lhe fazer um apelo: você
é um jovem, eu já fiz 50 anos, você é um jovem. Terá você a dignidade,
um resquício de dignidade, para ir ao Ministério, e eu lhe darei tudo que
há sobre MEC-USAID ou USAID-MEC. Darei tudo, com uma condição.
você vasculha todas as gavetas, porqueo publicados todos os acordos nos
jornais. Se você concluir que faltou à verdade, você terá a dignidade de
escrever um novo artigo dizendo caluniei um homem?" Ele me disse:
"Tenho".
Então eu o convoquei para ir ao Ministério, isto no dia em que
anulei a punição. Disse para ele: "convoco". E o seu irmão presente. Con-
voco para ir ao Ministério. E dou-lhe todo o acesso aos documentos do
MEC-USAID. Ele veio? Nunca.
s após mês, prometia vir através do Reitor Farnese Dias Ma-
ciel, e nunca veio porque ele sabia queo sustentaria isso diante dos
fatos. Ele sabia que seria desmoralizado eo teve a dignidade de dizer
que ele me considerou um vendilhão da minha Pátria. Já fui visto como
pró-comunista na hora em que defendi a PETROBRÁS. E agora passo
a ser partidário do regime nazista, do regime de terror, na expressão de
algumas pessoas da oposição.
Mas, Sr. Presidente, um minuto por favor: aqui me diz ele que
eu faço pose de generoso e em seguida mando; veja o alcance desta ati-
tude. Faço pose de generoso e em seguida mando, anulo as punições está
escrito no seu discurso e eu verifiquei o texto com o Diário do Congesso:
"proclama generosidade mas em seguida encaminha o nome dos estudantes
aos órgãos de segurança, retirando dos autos veja a expressão reti-
rando dos autos a peça básica do inquérito, ou seja, a defesa dos alunos".
Aqui está o homem diante de V. Ex.
a
, acusado de ser um crápula. Isto
é procedimento de um crápula. Quando, ao contrário, eu devolvi o inqué-
rito porqueo deu direito de defesa ao estudante; e na hora de assi-
nar a homologação, passa telegrama daquela natureza.
O resto, V. Ex.
a
, que tem uma formação cristã, fica com a sua
consciência. (Palmas.)
O SR, DEPUTADO LOMANTO JÚNIOR - Senhor Ministro
Gustavo Capanema, Presidente da Comissão de Educação do Senado, Se-
nhor Deputado Flexa Ribeiro, Presidente da Comissão de Educação da
Câmara dos Deputados, Exmo. Sr. Presidente da Câmara dos Deputados,
Senhores Senadores presentes, Senhores Deputados, Exmas. Senhoras, Se-
nhor Ministro Jarbas Passarinho. Estava desde o início numa dúvida atroz
se deveria participar desse debate, pois há dez dias venho guardando
leito; hoje vim apenas para ouvir a exposição de V. Ex.
a
, embora acom-
panhe no dia-a-dia, no cotidiano, este esforço admirável que se vem reali-
zando no setor da educação.o me •arrependo de ter desobedecido a meu
médico. Achei que fiz muito bem; vai fazer muito bem ao meu estado de
saúde aqui comparecer, porqueo há nada que revitalize mais o homem,
que melhore suas condições intrínsecas do que apreciar o debate
livre; eu, que sou um homem político, que nasci político, que vivi toda a
61
minha vida política e quero morrer político, eu adoro momentos como es-
tes, que consagram a democracia brasileira.
Um Ministro de Estado debate com um Deputado, sem rodeios,
francamente, dando respostas as mais contundentes, sem nenhum ressaibo
por parte daquele Deputado e nem também do Ministro, que exerce alta
runção. Eu me parabenizo e estou sentindo que a saúde volta com mais
intensidade, e digo ao Ministro, ao meu velho Ministro, velho e moço
Ministro, Gustavo Capanema, do meu empo, ao Mintistro da minha época,
ao grande reformador da Educação, que a sua iniciativa deve merecer os
aplausos desta Casa, que esta tarde ou esta manhã foi uma manhã mar-
cante na vida do Congresso Nacional, e a V. Ex.
a
, Deputado Flexa Ri-
beiro, que é um respeitado educador neste País, corroborando e colabo-
rando com a iniciativa do Ministro Capanema, V. Ex.
a
marca também um
dia de oiro na história da vida do nosso Parlamento.
Senhor Ministro da Educação, eu poderia me dispensar, eu poderia
o estar aqui presente, eu carrego comigo uma suspeição e por isso talvez
minha palavrao seja,o tenha a autenticidade, porque sou seu amigo
e admirador de mais de dez anos, mas uma coisa eu tenho:o condi-
cionar; uma coisa eu tenho:o me limitar à crítica, a queo tenho
que me subordinar: é aquela apreciação, que o homem público tem
de fazer, mesmo diante de um amigo, de um irmão, de um parente.
V. Ex.
a
deve merecer o respeito da Nação brasileira; eu
o conheci jovem, muito jovem, há dez anos atrás. V. Ex.
a
governava o seu
Estado do Pará e eu governava o meu Estado cia Bania. l\ós nos identifi-
camos, procuramos trocar idéias, verificamos as falências de recursos de
nossos Estados, as fragilidades das parcelas destinadas à Educação, veri-
ficamos aquilo que Vossa Excelência citou, no que tange ao Maranhão
com o Governador Sarney, verificamos o que havia de necessidade de adi-
cionar novos recursos para melhorar as condições educacionais brasileiras,
e naquele dia nasceu uma amizade que perdura até hoje, e que Deus há
de permitir perdurar para sempre.
Mas eu vi V. Ex.
a
jovem ainda.s ambos, V. Ex.
a
ainda mais
feliz do que eu porque euo tinha um cabelo branco e hoje meu cabelo
já está quase todo embranquecido. Mas eu pude observar nestes dez anos
de atividades, de 64 para, diria mesmo de 64 para, um homem dar
tudo de si; euo sei quem mais neste País se desprendeu, se despregou,
se devotou de corpo e alma a uma tarefa, transformando um Ministério
num sacerdócio, como o Ministro Jarbas Passarinho.
V. Ex.
a
hoje está velho, Ministro Jarbas Passarinho.o
acredite mais nos elogios das pessoas que lhe dizem que está moço. Seu
resto de mocidade já se foi como o meu também, mass estamos felizes
porque demos a nossa contribuição para o desenvolvimento deste País.
V. Ex.
a
mais do que eu, porque teve grandes oportunidades; no
Ministério do Trabalho foi uma revelação, no Ministério da Educação
V. Ex.
a
vem realizando uma tarefa que engrandece o País. Minis-
tro Jarbas Passarinho: o Deputado Lysàneas Maciel é uma das fi-
guras mais brilhantes desta Casa e que eu respeito e por quem eu tenho
estima, eu também já fui mimoseado por ele, com algumas expressões
carinhosas. Mas, habituado ao debate político militante, eu tenho sempre
aquilo que ele aprendeu na sua religião e que eu aprendi na minha, porque
católico praticante, aquele sentimento permanente e constante do perdão
recíproco. Constantemente estou a ouvi-lo,o a fazer citação verbal, mas
a aludir a certas passagens de discursos que pronunciei, como se eu fosse
um áulico ou como se eu estivesse aqui apenas a trazer elogios fáceis a
pessoas por questões de amizade.
Eu, naquele momento que interpelei sobre o tempo, é porque
acho que todos devem ter a oportunidade de falar no dia de hoje, e ficou
fixado que cinco minutos seriam o suficiente, e depois adiaram para dez
e hojeo sabemos de quantos minutos dispomos para debater. Mas eu serei
breve, eu serei breve; euo tenho mais perguntas a fazer a V. Ex.
a
Euo quero mais tomar o tempo dos meus colegas quem
depois de mim. Eu acho que V. Ex.
a
, sobre o 477, deu uma resposta cabal.
Resposta que eu havia dado sobre a Universidade de Brasília, quando
respondi ao discurso pronunciado pelo Deputado Lysâneas Maciel. E
V. Ex.
a
me surpreendeu ainda muito mais, porque na Universidade de
Brasília apenas duas dezenas foram atingidas pelo 477, isto em 1969, e
parece que 4 ou 5 de 39 para.
Mesmo assim, providências adotadas, alheias à própria Univer-
sidade, por autoridades, como eu tomei nota, exatamente como disse;
alunos envolvidos em processos de subversão, mediante denúncia formal-
mente apontada por autoridades coatoras estranhas à própria Universidade
de Brasília. p
A minha pergunta eu também iria fazer: o que ocorreu na
Universidade de Goiás? Eu poderia fazer sobre a Universidade da Bahia,
maso quero fazer perguntas sobre a Universidade de Goiás porque
V. Ex.
a
já esclareceu, mas seria interessante, já que a Universidade de
Goiás é dirigida por um homem da altitude, da grandeza que todoss
proclamamos e conhecemos, irmão do Deputado Lysâneas Maciel, que
V. Ex.
a
detalhasse mais e esclarecesse o seu comportamento quanto à
aplicação do 477.
Mas eu estou satisfeito pela visão panorâmica que V. Ex.
a
nos
deu aqui da Educação brasileira. Eu estou feliz e eu sei que o angustiado
de todos os homens neste País, o mais sofrido de todos os homens neste
Paíso é o Presidente Medici não;o é o Ministro da Fazenda não;
o sou eu, Excelência; o homem angustiado neste País, com o setor da
Educação é o Ministro Jarbas Gonçalves Passarinho, porque ele aindao
realizou aquilo que ele sonhou e aquilo que ele idealizou. Mas vale o
dever cumprido. Tenha a sua consciência tranqüila e viva em paz com ela,
porque deu de si o que pôde. Transformou o Ministério num sacerdócio,
vestiu a roupagem do sacrifício, fez o que pôde em favor da educação
de um país que estava cada dia mais descambando, mas que hoje ascen-
de para tornar-se, dentro em breve, numa das nações mais pujantes, mais
desenvolvidas, que será, sem dúvida alguma, muito mais orgulho para os
nossos filhos.
63
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Senhor Presidente,
inicialmente eu quero, realmente, comentar,o é nem agradecer, mas
comentar esse derramamento de sentimentos de meu amigo Lomanto
Júnior.
Meu caro Deputado Lomanto, eu costumo dizer, talvez em
alguns momentos de desânimo, que a vida pública é muito mais marcada,
o Deputado Lysàneas também diria isso a V. Ex.
a
, muito mais marcada de
decepções do que de recompensas. Mas, entre as recompensas que eu
hei de levar da minha passagem pela vida pública brasileira, figuram a
lealdade, o carinho, a amizade fraterna de V. Ex.
a
, ainda que derramada
em gestos e palavras napolitanas. Mas, aproveito ainda para que V. Ex.ª
me permita dar resposta ao Deputado Lysàneas, preocupado, justamente.
com o problema deo se cercear a capacidade de atuação dos estudantes.
Falou S. Ex.
a
em inúmeros diretórios fechados; eu tenho o quadro que
passarei e torno a convidar o Deputado a ter a possibilidade de verificar
isso diretamente no Ministério.
Em funcionamento neste País, há 781 diretórios acadêmicos;
fechados, 29; sob intervenção, 5, dos 29 fechados.
Então, era a mesma coisa que eu mostrar 10 aplicações do 477;
neste ano, seis, ainda seis em 836.000 estudantes de grau superior; por
favor, faça-se uma estatística e verifique-se o que isso representa; nem
um milésimo por cento. Admitir que esses 838.000 estudanteso coe-
lhos,o acovardados, eu creio que nem o Deputado Lysàneas, nem eu,
nem ninguém admitiria, porqueo há processo de terror,o há pro-
cesso de opressão que cale indefinidamente a voz da juventude.
Por isso, eu prefiro acreditar que há fates novos; eu prefiro acre-
ditar queo há razões de massificação de protesto na área estudantil.
Talvez, modestamente, por uma participação do Ministério da Educa-
ção, mas principalmente pela confiança com que a serena administração
do Presidente Medici tem trazido a essa própria área em demonstra-
ções concretas.
Ainda mais, tenho toda a relação dos 38 sobre os quais foi
aplicado, em quatro anos, o Decreto-lei. Posso mostrar todos ligados à
atividade, por exemplo, da APML, isto é, antiga Ação Popular, trans-
formada agora em Ação Popular Marxista-Leninista, que prega a luta
armada,o para a derrubada deste Governo, mas a do Regime.
Então, eu respeito qualquer estudante e qualquer pessoa humana que
tome a deliberação de lutar armadamente contra o Poder; respeito, desde
que aceite as conseqüências. O que euo posso é dar salvo-con-
duto, garantia, habeas corpus preventivo pará se lutar contra a Democra-
cia, ou contra o Regime ques representamos. (Palmas). Respeito.
Mais ainda, meu caro Deputado Lysàneas, se posso continuar
me dirigindo a V. Ex.
a
.o nos iludamos, e quando V. Ex.
a
me conhecer
melhor, verá que eu sou pouco profundo em religião, mas talvez tenha
alguma profundidade em sentimento humano.o sou capaz de citar
o Lucas,o sou capaz de citar o Evangelho deo Mateus, mas
provavelmente me comporte, de algum modo, dentro daquilo que eles
citaram;o vou dizer a V. Ex.
a
que sou de Dez Mandamentos, por que
talvez nem V. Ex.
a
acreditasse; entretanto, quero responder ao Lomanto;
o que eu quero mostrar é que cabe exata razão ao Deputado Lomanto,
quando afirmou aqui queo se trata de um processo de coerção sobre
a liberdade estudantil. Um dos diretórios fechados, recentíssimo, foi justa-
mente apontado ainda há pouco: Porto Alegre.
Meus Senhores, Senhores Deputados, Senhores Presidentes das
Comissões, eu deixarei a documentação. Esse jornal se auto-intitula Jor-
naleco. É o jornal do Diretório Acadêmico de Engenharia da Católica do
Rio de Janeiro. Acredito que nenhum Deputado da oposição, desta Casa,
aceitaria no todo esse tipo de comentário: "O esvaziamento das funções
dos DAs, a ação preventiva dos decretos, o ambiente geral comprimido
pelas cassações, censura prévia, Lei de Imprensa e, agora, Partidas, no
plural, partidos políticos fantoches"... e prossegue o ataque do Diretório
Acadêmico de Engenharia. De maneira que nisto eu partilho o insulto com
o Deputado Lysâneas. Se a ARENA é fantoche para esse Diretório, o
MDR é fantoche também, porque há dois partidos em atividade neste
País, queo partidos políticos apresentados como fantoches.
Ninguém proíbe o estudante de fazer prática política, ninguém
proíbe.o há um texto legal proibitivo disto. Por queo procura
ele, exatamente, as áreas correspondentes para a prática política queo
os partidos políticos? Se ele é contra o Governo, que se matricule no
MDR. Se ele é um rapaz inteligente e concorda conosco, que se matri-
cule na ARENA. (Palmas).
Mas ele tem possibilidade de atuar num como noutro campo.
Senhor Presidente, eu prefeririao mais falar no caso de Goiás, que até
Lomanto Júnior me disse queo havia mais necessidade. O que eu
quero neste episódio é salientar o perigo de se pinçarem do uma expressão
geral algumas palavras queo muito importantes.
Quando eu citei o Reitor Farnese Dias Maciel, citei, precisa-
mente, como eu disse, no todo. Quero citar o exemplo, coincidentemente,
do irmão do Deputado. Mas, para mostrar um exemplo de um homem
liberal, que chegou a aplicar, talvez indignado por isso, o 477.
Eu fui a Goiás, e, como esse 477 ia ser aplicado, inclusive
sobre alguns estudantes que estavam sendo concluintes de cursos e iam
ser graduados daí a dois dias, eu cheguei na reunião de que participou
o Reitor e disse: "A Revoluçãoo quer vingança, ela quer justiça. Apli-
car agora, na hora da saída da Universidade, o 477, significa exatamente
vingar-se proibindo um estudante de receber o seu diploma" em-
bora eu soubesse que eles estavam envolvidos, quatro desses estu-
dantes estavam envolvidos exatamente na rearticulação da AP Mar-
xista-Leninista. Aí está um exemplo.o há desdouro nenhum para o
ilustre Reitor de Goiás, meu caro Deputado Lomanto Júnior. Agora, o que
s provamos, inclusive, é o seguinte: enquanto, por favor, atente nisso,
meu caro Deputado; enquanto esses eram 8 casos: seis concluintes, dois
sobre os quais tinha restado a aplicação do Decreto, que por mim
foi anulada também. Oito estudantes estavam nessa situação. Daí
65
a dois dias, precisamente, graduação dos estudantes do ano passado,
da Universidade Federal de Goiás; por unanimidade, Presidente Medici,
paraninfo; por unanimidade desculpem-me a imodéstia — o Ministro da
Educação atual, patrono. Com quem estará a maioria? Aí está a resposta,
Deputado Lomanto (palmas).
O SR. PRESIDENTE (Gustavo Capanema) - Agora vou fazer
uma distribuição que me parece equilibrada.o 12 os interpelantes
inscritos.o vai haver tempo nem para a terça parte. De modo que
oitoo da ARENA e quatro do MD3. Portanto, eu tenho que fazer
uma proporção de 3 arenistas por 1 do MDB. Falaram dois da ARENA e
vou dar a palavra ao terceiro da ARENA, para completar quatro, com este
equilíbrio que eu defini.
Tem a palavra Sinval Guaselli. Agora eu peço ao Deputado
Sinval Guaselli.
(o está mais aí.)
o está mais?
O SR. PRESIDENTE (Gustavo Capanema) - Eu peço ao Depu-
tado Vasco Neto que, restringindo-se ao tempo de 10 minutos, formule
logo as perguntas.
O SR. DEPUTADO VASCO NETO - Vou diretamente às per-
guntas. Primeiro devo lhes dar um testemunho: sou pelo 477, porque, Di-
retor da Politécnica da Bahia, só com ele ou com medidas coercitivas,
dentro da cirurgia que o Ministro falou, havia liberdade do professor
dar aula e do aluno assisti-la. Antigamenteo havia aula. O 477, ainda
que pareça incrível, foi um instrumento de liberdade. Senhor Ministro,
me preocupa, com o País em desenvolvimento como estamos, a preparação
da elite brasileira para dirigi-lo; quando falo elite falo no bom sentido da
palavra. Vossa Excelência diz que há necessidade de gratuidade aos po-
bres. Há tempo, venho pensando, como Diretor da Escola Politécnica,
me preocupando com o fato de que os pobres tem menos acesso às uni-
versidades públicas federaiso pagas e, por decorrência,o às univer-
sidades particulares., ainda, deficiência de bolsas. Eu perguntaria a
Vossa Excelência: neste momento do Brasil,o se deveria dar ênfase ao
Ensino Superior para que essa elite pudesse contribuir mais efetiva-
mente para o progresso integral do Brasil, dentro do tema de Vossa
Excelência,, humanisticamente e tecnicamente, que é uma tecnocracia
porque sei que é da política maior do Governo do Brasil? Tenho outras
perguntas, mas me atenho a esta, atendendo a meu parente e amigo,
Gustavo Capanema.
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Em primeiro lugar,
eu gostaria de citar a V. Ex.
a
em aditamento como ilustração à sua tese ini-
cial: ainda há pouco se disse aqui que um professor citou o senhor Presiden-
te, ex-Presidente Juscelino, e automaticamente teve problemas com a Polí-
cia. Eu poderia citar que liberdade de cátedra, em primeiro lugar, foi ga-
rantida pelo Ministro da Educação, no que tange ao Ministro da Educação.
no seu discurso de posse. Então, declarei, clarissimamente, que ninguém,
pelos seus pensamentos, poderia ou sofreria sanções que ao Ministro
da Educação caberia aplicar. Agora, o que euo permitiria era que
qualquer professor, utilizando auditório cativo, fizesse o tipo de dou-
trinação sistemática num sentido. Pois bem, ainda há momentos isso
que vou dizer vai ser muito perigoso para mim mesmo — , ainda há poucos
dias, talvez alguns deputados se sensibilizem com isso, eu ouvi, por exem-
plo, sobre uma universidade aqui, que o professor, a título de ensinar
Português, apanha um editorial de um grande jornal carioca sobre o
MOBRAL e o ridiculariza de cima a baixo e diz que o Governo inclu-
sive estava preparando, com o MOBRAL, a marcha de mão-de-obra
para ser explorada pelos norte-americanos. Isto aqui dentro da Univer-
sidade de Brasília, sem nenhuma conseqüência, com o meu conhecimento,
o queo me parece liberdade de cátedra. Segundo: há dias, numa
prova de Sociologia para provar como realmente isso existe a questão
a que os alunos responderam foi: "Defina segundo o conceito de Marx as
classes e a luta de classes". Então se verifica queo há tabu nessas expres-
sões. Eu outra vez insisto: e ninguém pode responder pelo excesso de zelo
indevido de alguma autoridade policial. Voltando ao problema do ensino
pago, que eu chamo de ensino gratuito, eu mostraria a Vossa Excelência
apenas uma transparência para sermos muito breves,o propriamente
em homenagem a Vossa Excelência e a mim, mas em homenagem ao
MDB, que pede ao Presidente da Casa que tenha oportunidade. A transpa-
rência sobre o ques imaginamos fazer do ensino pago para quem
pode pagar. Em cima: Constituição Federal, que diz que os carentes
e os insuficientes de recursoso pagam e os outros deveriam pagar
na medida das suas possibilidades. Ali tem Vossa Excelência, senhor
Deputado Vasco, o ques imaginamos. Ali está o Imposto de Renda. (Eu
peço ao Professor Vianna que mostre, por favor, ao Professor Heitor, o
Imposto de Renda que foi a nossa inspiração.) Todas as pessoas isen-
tas de Imposto de Rendao pagando o Imposto de Renda até a alíquota
de 3%;s consideramos como isentas também. Em primeiro lugar, ne-
nhum filho de pessoa queo pague o Imposto de Renda pagaria um
só centavo na Universidade. Agora, o ques queríamos era uma socie-
dade solidária: e que os que podem mais ajudem os que menos podem
sem características paternalistas. A partir daís fizemos uma tabela de
taxação na ordem inversa da renda líquida. Lá está, na primeira coluna,
renda líquida. Por exemplo até 8.000 e tantos cruzeiros, haveria uma de-
dução de onze vírgula cinco salários mínimos e o pagamento de meio sa-
lário mínimo, ou seja, a contribuição de cento e trinta cruzeiros por ano.
A partir daí, a dedução vai diminuindo à proporção em que o homem tem
maior renda. Quando chega, por exemplo, naquela alíquota que corres-
ponde a 20 por cento, então ele paga cinco salários, o que corresponde
a 1.300 cruzeiros. Ora, hoje, vários deputados, senhores deputados, se-
nhores senadores, várias pessoas aqui em Brasília estão pagando pelos
seus filhos, no Pré-Universitário, acima de três mil cruzeiros por ano.
Es estamos ali propondo que uma pessoa que tem uma renda supe-
rior a 30.000 cruzeiros, renda líquida, que pode ser uma renda bruta
de 100 ou mais que isso, com as deduções, pague apenas 1.300 cru-
zeiros por ano por um filho; pelo segundo, metade; pelo terceiro, cortesia
da casa, ninguém paga mais. Então, a partir daí,s teríamos essa possi-
bilidade de chegar até àqueles que mais pagam, queo os que pagam
acima da alíquota de quarenta por cento. Esses teriam zero de dedução,
doze salários mínimos, pagamento que corresponderia a três mil, cento e
vinte cruzeiros por ano; significava o mais rico homem deste País. In-
clusive, por exemplo, o ex-Presidente Juscelino Kubitschek, se tivesse
um filho na universidade, ele que paga seu imposto de renda acima da
alíquota de 40%, pagaria por um filho 3.200 cruzeiros por ano. Aí o que
nos parece absolutamente correto. Para que, entretanto? Pará aumentar
os fundos de educação? Não. Para responder à pergunta do Deputado
Vasco, para jogar isso na Caixa Econômica Federal, num plano de bolsas
para atender aos estudantes pobres. Porque ao estudante pobreo basta
a universidade gratuita; ele tem que gastar com alimentação, com vestuá-
rio, com transporte e às vezes até com mudança de habitação. Por isso,
então,s colocaríamos ali um pool comum. Como a sociedade brasileira
está realmente progredindo, aquele pagamento seria cada vez maior
e, em seguida, comoo é patermalista o sistema ques imaginamos,
haveria a devolução da bolsa quando o estudante, por ela beneficiado,
pudesse pagar. Quando ele poderia pagar? Quando ele, por seu turno,
entrasse no imposto de renda. Então, se ele se chama Antônio da Silva
Júnior, entrou no imposto de renda, ele começa a pagar e devolve para o
estudante pobre aquilo que recebeu do Estado. Com um sistema dessa
natureza,s teríamos uma bola de neve, Deputado. De maneira que, em
cinco anos, eu duvido que algum ministro da Educação pudesse declarar
que tem um estudante pobre que se afastou da universidade, mesmo gra-
tuita, porqueo podia pagar as suas despesas de manutenção.
Muito obrigado a V. Ex.
a
. E a resposta completou o pedido do
meu colega Adhemar Ghisi, exatamente naquela bolsa para outros
valores queo só a educação. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Gustavo Capanema) -s estamos ainda
com 5 minutos. Eu vou dar a palavra ao Deputado Fernando Lira, que
estava em 5.° lugar, mas, como o Deputado (inaudível)o compareceu,
posso fazer aqui uma substituição. O Deputado Nina Ribeiro estava em
4.° lugar; eu, então, estou procurando fazer uma conciliação entre os
partidos, que a ordem da justiçao terá base. Peço que responda de
uma vez a dois interventores, um, aqui com a palavra, Fernando Lira,
pedindo a V. Ex.
a
que faça logo as perguntas, coisa que também vou
pedir ao Deputado Nina Ribeiro, para, assim, sem prejuízo da justiça e
da distribuição da palavra,o haver prejuízo do tempo do Congresso,
queo poderá dispensar ao presente acontecimento um período muito
além da uma hora da tarde.
O SR. DEPUTADO FERNANDO LIRA - Sr. Presidente, V. Ex.
a
está pedindo demais para um homem do MDB, que, segundo Sua Ex.
a
,
Sr. Ministro, para ser inteligente, precisa ser da ARENA, e para se fazer
três perguntas sem desenvolver o raciocínio é meio difícil.
O SR. PRESIDENTE (Gustavo Capanema) - Mas eu lhe peço
que as faça rápido.
O SR. DEPUTADO FERNANDO LIRA - Sem ser inteligente,
mas sendo do MDB, Sr. Presidente, Srs. Presidentes Gustavo Capane-
ma e Flexa Ribeiro, Senador João Calmon, Senador Franco Mon-
toro, meu caro conterrâneo, Deputado Aderbal Juremia, por mais
que eu me esforce para fazer as perguntas de imediato, eu teria
que fazer o mínimo de síntese para que as perguntas fossem uma conse-
qüência do raciocínio, eo o raciocínio ser uma conseqüência das per-
guntas, porque isso cabe ao Sr. Ministro Jarbas Passarinho. Antes de
mais nada, V. Ex.
a
vai-me permitir que, naquilo que V. Ex.
a
me-
reça elogio, eu vou omitir-me porque o Deputado Lomanto Júnior já (abran-
geu todos os setores, o que me dificulta a esse problema. V. Ex.
a
é um polí-
tico; é um político de liderança incontestável no seu Estado, é um homem
desta Casa, embora esta Casao tenha tido o privilégio de gozar de
sua permanência pelo chamamento do Governo às pastas do Ministério
do Trabalho e, posteriormente, do Ministério da Educação. Sendo político,
V. Ex.
a
entende o que é a sensibilidade política, do político, de homens
que lutam para reafirmar a posição dignificante da vida pública. Vida
pública que, neste País, cada vez mais se torna um sacerdócio, porque a
ela tudo se dá e hoje é dia de festa. V. Ex.
a
por aí tira, porque V. Ex.
a
vem a esta Casa, tem ouvintes, e a imprensa, amanhã, publicará que S.
Ex.
a
esteve aqui e que os Deputados, inclusive os da oposição, lhe interro-
garam, interpelaram, e esta assistência está aqui hoje, e este auditório
quaseo suportou a presença maciça dos interessados porque aqui se
efetuariao uma conferência do ilustre Ministro Jarbas Passarinho, mas
aqui seria travado um debate sobre problemas nacionais. Então, eu gos-
taria voltando ao problema político que V. Ex.
a
sentisse o drama
do homem da oposição, que é, como eu, oriundo de 1966, queo cultiva
o hábito do antes e depois de 64, queo tem nenhum compromisso com o
passado e nesta parte eu sigo até a orientação do Presidente Mediei, embo-
ra eleo tenha cumprido tudo, infelizmente, quando disse queo vamos
juntar, jogar pedras no passado, mas juntá-las para construir o futuro, por-
que, se aqui fôssemos comparar presente e passado, nesta mesma mesa tem
um passado presente e um presente-presente como Ministro da pasta
da Educação, o eminente, grande e culto professor Gustavo Capanema,
S. Ex.
a
o professor Flexa Ribeiro e tantos outros. Esta comparação,
presente e passado, euo gosto de fazê-la, porque, ao fazê-la come-
temos, sem querer, injustiças na contradição da afirmação, como também
o gosto daquela mania que se tem agora aliás, ela vem antes in-
clusive da Revolução,o é problema da Revolução,o da compara-
69
ção das estatísticas para afirmar as realizações, emborao se discuta o
problema das realizações, seo muitas ou poucas; mas sempre o próximo
Governo contesta as estatísticas do outro para afirmar que realizará muito
mais. Mas, Ministro Jarbas Passarinho, objetivando, agora eu gostaria de
encaminhar três perguntas a V. Ex.
a
, embora reconhecendo que poucos
aqui, ou melhor, ninguém reconheceu e eu vou reconhecer que V. Ex.
a
também é vítima da repressão. Foi no passado e é no presente, quando
apanhou da polícia como estudante e como Ministro da Educação do
Brasil. Porque se faz muita coisa e se toma muita atitude arbitrária no
setor educacional sem dar atenção aos seus pronunciamentos e a seus
repetidos apelos à dignidade humana, ao respeito à dignidade humana.
Ministro Jarbas Passarinho, ainda hoje, pela manhã, o Sr. veja o drama
do Deputado da oposição que, inclusive, criou um problema sério porque
hoje a ARENA é Revolução, e contestar Governo é a Revolução e à me-
dida que se faz evolução ao Governo, se contesta o Governo, se contesta
a Revolução, parece queo se ouviu o clamor de De Gaulle, quando
disse: "eu sou a França", e a Fr,ança disse: "Não é o Sr." Ele disse que
o era mais e deixou de ser a França; ninguém contestou a França, porque
De Gaulle saiu da Presidência. Mas, hoje, não. Contestou o Governo, o
Governo é Revolução; então, estão contestando a Revolução. Mas isto
o ilações queo cabem nesta hora. V. Ex.
a
veja bem; hoje de manhã,
recebi um telefonema do Recife. Como homem de oposição, represen-
tando o meu povo, eu tenho obrigação de ir à tribuna da Câmara e de-
nunciar o fato. Hoje pela manhã, às 7 horas da manhã, infelizmente, num
infeliz infelizmente nesta circunstância que V. Ex.
a
estaria aqui, eu recebo
um telefonema do advogado, de um advogado em Recife, dizendo que o
professor da Universidade Rural de Recife, que chegou aqui em 64, con-
vidado pelo Ministro Roberto Campos como seu assessor, está seqüestrado
desde anteontem; ele e sua esposa. O Sr. veja, Ministro, como é difícil a
nossa situação; um professor universitário seqüestado em Recife anteontem,
sem que ninguém possa saber onde ele se encontra, nem V. Ex.
a
;
então, há uma quebra de hierarquia, porque eu vi um telegrama
que V. Ex.
a
, permita-me relatar o fato, que vai muito a propósito de
nosso debate eu vi o telegrama de V. Ex.
a
, inclusive, uma exceção,
o de V. Ex.
a
, mas do Ministério de que V. Ex.
a
faz parte, res-
pondendo,o digo a interpelações, não, a apelos, pelo menos, da minoria.
V. Ex.
a
telegrafou ao MDB, dizendo queo podia dar conta do estudante
preso em Alagoas porque ele estava envolvido num movimento, segundo
o reitor; que foi informado ao reitor de derrubada do regime de Alagoas.
Então V. Ex.
a
veja bem; este professor foi seqüestrado anteontem e eu
poderia, posteriormente, passar o nome parao me demorar mais
de mais seis estudantes de que eu tenho a relação, cinco da Universidade
de Direito do Recife, quintanistas, que V. Ex.
a
disse há pouco queo
poderia aplicar o 477 num concluinte. Pois os órgãos de segurança pren-
dem 5 concluintes, Ministro, num desrespeito à própria palavra do Mi-
nistro da Educação.o é que V. Ex.
a
o queira ter nada com os órgãos
de segurança, mas os estudantes pertencem à Universidade do Recife; o
reitoro pode tomar conhecimento porque nada lhe é dado como res-
posta às indagações que faz; as autoridadeso respondem a nada; as
autoridades de segurançao respondem a nenhuma pergunta. Então.
este é o terror, Ministro, a que se referiu o Deputado Lysâneas Maciel.
O 477 é um instrumento; é claro; um instrumento de aniquilamento da
vida estudantil, se usado. Mas esses órgãos de segurança, agindo como
estão, cometem um desrespeito à hierarquia, um desrespeito à segurança
nacional, embora, em nome dela esteja agindo, e criando problemas se-
ríssimos, inclusive para V. Ex.
a
, porque é quem tem que responder a
coisas queoo de sua alçada, embora o sejam porque eleso realmente
estudantes universitários da Universidade do Recife, e queom ne-
nhuma conotação subversiva porque eu, inclusive, atesto pela palavra do
advogado de hoje que esses cinco estudantesom implicação nenhuma;
foram presos à revelia de todo sistema universitário e de toda a família e
foram presos sem que nada pudessem comprovar. Então, como é que
V. Ex.
a
explicaria? Vou terminar, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Gustavo Capanema) - O seu tempo
está terminado.
O SR. DEPUTADO (Fernando Lira) - Como o de todos os orado-
res que me antecederam, menos o Vasco Neto que foi muito correto no
tempo.
O SR. PRESIDENTE (Gustavo Capanema) - Mas agora já ter-
minou o tempo da Sessão.
O SR. DEPUTADO (Fernando Lira) - Infelizmente tem esse
limite, mas a primeira pergunta é: como V. Ex.
a
explica essa dicotomia
entre os órgãos de segurança e o Ministério da Educação? E, por favor,
o responda como V. Ex.
a
respondeu: queo tem nada a ver com órgãos
de segurança de outros Estados. Esse pessoal foi seqüestrado pelo DOI do
4.° Exército do Recife.
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Deputado, deixe a
minha resposta.
O SR. DEPUTADO (Fernando Lira) Pois não,o quero con-
duzir jamais o seu raciocínio. Isso é um velho hábito do Plenário, que nos
faz querer conduzir a resposta do interlocutor.
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Eu tenho o direito
de brindar V. Ex.
a
.
O SR. DEPUTADO (Fernando Lira) - Ah! pois não. Não, não,
eu sou do MDB, Ministro.
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Por isso mesmo V.
Ex.
a
o é estudante agora, é?
O SR. DEPUTADO (Fernando Lira) - Já fui.
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Por isso eu só me
referi aos estudantes inteligentes, V. Ex.
a
já foi.
O SR. DEPUTADO (Fernando Lira) - Ah! entendi. Correto. Aliás,
eu sou realmente estudante porque eu estou fazendo um curso de inglês!
nem me lembrava. Foi o Ministro que tomou meu tempo agora, Presidente,
agora eu vou. A primeira pergunta seria: como V. Ex.
a
entende esse
problema? Segunda, é outra pergunta: como V. Ex.
a
entende e eu vou
dar o meu entendimento, jamais o seu, a censura medíocre, estapafúrdia,
absurda, inclusive analfabeta?
O SR. PRESIDENTE (Gustavo Capanema) - Essa perguntao
pertence a...
O SR. DEPUTADO (Fernando Lira) - Pertence, Presidente. Eu
vou fazer a ligação.
O SR. PRESIDENTE (Gustavo Capanema) - As perguntaso
sobre as áreas do Ministério da Educação.
O SR. DEPUTADO (Fernando Lira) - Exatamente o que eu vou
fazer. Euo determinei qual é a censura, Presidente. Não, euo disse
que censura eu vou falar;o é da imprensa, não. O da imprensa é outro
problema; é Ministério da Justiça.
O SR. PRESIDENTE (Gustavo Capanema) - Tambémo entra
aqui.
O SR. DEPUTADO (Fernando Lira) -o vou falar sobre a
censura da imprensa, não; poderia ser da justiça, maso o é. No tocante,
por exemplo V. Ex.
a
sabe mais do que eu que o MEC premiou um
filme brasileiro, já queo posso entrar em outra seara, com três corujas
de outro; o filme notável que foi, inclusive, segundo colocado no Festival
de Berlim. Como é que V. Ex.
a
recebe, depois do filme premiado pelo MEC,
uma censura de um Departamento incompetente,o num sentido jurídico,
mas incompetente no sentido qualitativo, para um filme que foi pre-
miado pelo MEC? Eo é exceção; hoje,s temos que assistir a um
filme sempre no primeiro dia porqueo sabemos se no outro dia o
filme vai sair. Como é que V. Ex.
a
entenderia essa censura às obras
de arte, ao teatro? Agora mesmo, Margarida foi para o mundo porque
a censura achou queo poderia ser representada, depois de ter sido
censurada. Eo preciso nem citar casos; V. Ex.
a
já deve estar sendo todo
dia importunado com os telefonemas do Rio de Janeiro, dizendo: "minha
peça foi vetada", "minha peça foi vetada". Como é que se entende uma
coisa dessa? E o Senhor dizendo: "isso é um absurdo", mas fica no
absurdo e infelizmenteo tem aquele tal...
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Eu aprecio en.
V. Ex.
a
a desenvoltura com que me atribui frases.
O SR. DEPUTADO (Fernando Lira) - Não, mas V. Ex.
a
tem. .
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - É um artista per-
feito.
O SR. DEPUTADO (Fernando Lira) - Eu tenho o direito de atri-
buir porque V. Ex.
a
..
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Já me fez seu per-
sonagem.
O SR. DEPUTADO (Fernando Lira) - Ah! V. Ex.
a
é um perso-
nagem do Governo, porque V. Ex.
a
prova que é eclético, inclusive, porque
foi Ministro do Trabalho e Ministro da Educação; V. Ex.
a
abrange todos
os órgãos. Mas eu vou terminar a terceira pergunta. Como é que V. Ex.
a
,
ou melhor, quais as providencias ou, como V. Ex.
a
entende a permanência
do estrangeiro?
O SR. PRESIDENTE (Gustavo Capanema) - Meu caro Depu-
tado ...
O SR. DEPUTADO (Fernando Lira) - É a terceira pergunta.
O SR. PRESIDENTE (Gustavo Capanema) - V. Ex.
a
me per-
doe, mas o tempo está terminado.
O SR. DEPUTADO (Fernando Lira) - Mas eu posso fazer a
terceira pergunta, Presidente?
O SR. PRESIDENTE (Gustavo Capanema) - Pode, V. Ex.
a
terminou o prazo.
O SR. DEPUTADO (Fernando Lira) Eu posso fazer a terceira
pergunta? Eu já ia terminando quando o Sr. me interrompeu, o Sr. me
permita, o respeito que eu tenho ao Sr. é muito grande, mas o Sr. me inter-
rompeu na terceira pergunta.
O SR. PRESIDENTE (Gustavo Capanema) - O respeito maior
é à ordem.
O SR. DEPUTADO (Fernando Lira) Mas a ordem é para ser
cumprida e infelizmenteo tem sido até agora.
O SR. PRESIDENTE (Gustavo Capanema) - Mas agoras es-
tamos fora da hora do término da Sessão.
O SR. DEPUTADO (Fernando Lira) - Mas o Sr. me permite fa-
zer a terceira pergunta?
O SR. PRESIDENTE (Gustavo Capanema) - Faça, mas pelo
amor de Deus, faça depressa!
O SR. DEPUTADO (Fernando Lira) - A terceira pergunta, Sr.
Ministro, o senhor me perdoe...
O Senhor Presidente disse. E como V. Ex.
a
entende que pro-
fessores do melhor quilate intelectual e apenas para citar um, o Pro-
fessor Celso Furtado, e outros tantos que estão no exterior,om
oportunidade de ensinar aos brasileiros, quandos temos oportunidade
de ler os seus livros, e seus próprios estudoso parte do currículo das
universidades? Como Celso Furtado e tantos outros que estão no exterior,
ensinando em Oxford, Cambridge e tantos outros na Sorbonne? V. Ex.
a
gostou (inaudível) Estou aprendendo bem, heim? Na Sorbonne e em tantas
outras universidades estrangeiras... eom o direito de ensinar seu povo
e sua gente. Eu quero que V. Ex.
a
entenda esse problema e qual a sua
providencia, dentro dessa franqueza porque a única coisa que aprendi em
francês foi a citação do Pe. Debret, que dizia que a franqueza é a maior das
habilidades, qual foi sua luta para trazê-los de volta, pois tenho a certeza
de que V. Ex.
a
gostaria de tê-los aqui; sei que o Senhor lê os seus livros e às
vezeso concorda com as idéias expostas, mas entende as suas inteligên-
cias e os seus pronunciamentos. Portanto, essa era a terceira pergunta. O
Senhor se lembra das três?... Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE - Peço a atenção do auditório para o
seguinte:so podemos demorar-nos muito mais. Jáo treze horas
e quinze minutos. De modo que eu peço ao Deputado Nina Ribeiro que
encerre, a lista dos interpelantes e faça a sua pergunta rapidamente. Mas
muito rapidamente, pelo amor de Deus!
O SR. DEPUTADO NINA RIBEIRO - Senhor Presidente, se-
nhores membros da mesa, Senhor Ministro: Eu ia citar mesmo o grande
tribuno Mirabeau, que disse, certa vez, que os bons discursos mudam até
as opiniões, maso mudam os votos. Ê isto a propósito da explanação
magnífica que o Senhor Ministro aqui fez, a despeito da crítica acerba
e, inclusive, do dualismo do diálogo que demonstrou, sem sombra de
dúvida, à saciedade, da excelência dos resultados que o seu gênio, sem
favor nenhum, conseguiu na importante pasta da Educação. Teria, por
certo, outras indagações, outras considerações maiores a fazer e mere-
ceriam, sem dúvida, outros desdobramentos, maso quero me demo-
rar por demais. Tenho a missão terrível de ser o último, fechando, por
assim dizer, a lista de inscrições que ainda ia longe. Quero apenas, se-
nhor Ministro, indo diretamente ao assunto, indagar, como em comple-
mentação àquilo que V. Ex.
a
com bravura, com coragem mesmo aquela
coragem definida por Napoleão,o sendo o ato heróico muitas vezes
fruto até por contradição do próprio medo, como aquela bravura que a
sentinela tem, indormida, pelas madrugadas afora como V. Ex.
a
a enfren-
tou como problema, inclusive, de impopularidade, qual seja o do pagamen-
to, necessário do ensino superior, para que se possa preencher o vazio
que V. Ex.
a
herdou de épocas pretéritas. V. Ex.
a
enfrentou-o com aquela
coragem que o saudoso Presidente Kennedy apontou, por exemplo, em
prova de cratch, dizendo, inclusive, que a popularidade a gente arma-
zena para gastar quando é necessário.
Em complementação a isso, senhor Ministro, eu indagaria de
V. Ex.
a
a respeito de algo que chamamos de Banco Nacional de Educa-
ção. Uma idéia que pode sedimentar;o pretendendo ser dono da
verdade, nem pretendendo ter inventado, mas eu a observei funcionando
e funcionando bem em vários países, em viagem que fiz à minha custa
à Europa e, inclusive, aos Estados Unidos. Lá pude ver, por exemplo,
que o National Defense Education Act e o Higher Education Act bene-
ficiaram logo, com o seu advento, cerca de um milhão de jovens pobres.
Seria renomada demagogia, Senhor Ministro, se apresentássemos aqui, co-
mo projeto de lei, um tal esboço, porque, evidentemente, existe o óbice
constitucional do aumento de despesa. Então euo o fiz, mas encami-
nhei-o, inclusive, a V. Ex.
a
, a título de contribuição modesta, mas sincera.
E gostaria de que V. Ex.
a
, que atingiu dois excelentes resultados, dissesse
qual a vereda, qual a perspectiva que lançaria para o futuro, exatamente
nesse sistema de financiamento de bolsas em larga margem, que, em sín-
tese, poderíamos dizer, poderiam haurir também um adicional sobre im-
posto de bebidas, um adicional sobre fumo, ao lado da já dividida
Loteria Esportiva e ao lado de outras fontes que poderíamos ter, no
sentido de dar a partida do capital inicial deste Banco. Esteo seria.
necessariamente, um novo Banco, porque poderia aproveitar a rede das
Caixas Econômicas ou do próprio Banco do Brasil, de modo a financiar
o maior número possível de bolsas, levando-se em conta o aspecto
qualitativo, porque daríamos um maior número de bolsas exatamente
àquelas profissões queo mais carentes no nosso meio. Se olharmos
em redor, veremos, Senhor Ministro V. Ex.
a
sabe melhor do que qualquer
um como existe um número irrisório de geólogos neste País, como existe
cerca de mais de mil municípios, mil e quinhentos municípios aproxi-
madamente, sem um único médico neste País e como há carência de
técnicos de nível médio! Em complementação aos gigantescos, aos excep-
cionais esforços que V. Ex.
a
materializou em grandes resultados, eu per-
guntaria da possibilidade de acrescentarmos mais este expediente, das
possibilidades para o futuro, augurando que V. Ex.
a
continuasse inclusive
na pasta, porque acho que ninguém, ninguém mesmo, faria melhor que
V. Ex.
a
. Muito obrigado.
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Muito obrigado.
O SR. DEPUTADO FÁBIO FONSECA (Aparte) - Sr. Presi-
dente, é uma questão de ordem.
Senhor Presidente Flexa Ribeiro, Senhor Ministro Jarbas Pas-
sarinho: Eu, realmente, sou um recruta legislativo e jamais fui político
na minha vida. Apenas militar, posteriormente, professor universitário.
Servi na Segunda Grande Guerra. Mas, curioso e interessado realmente
pelos problemas nacionais, eu acho que o ensino na nossa pátria é tam-
m uma questão de segurança nacional. Perguntaria a V. Ex.
a
o seguinte:
se já foi levado em consideração o que se, o qaeo se dá à saúde
e aquilo que se dá à educação. Ses rememorarmos só o passado,
vamos verificar o seguinte: uma nutriz queo está bem alimentada terá
um feto desproteinizado. Por conseguinte,o haverá os anticorpos que
o formados pelas proteínas e esse feto estará sujeito a afecções e infec-
ções e, ao mesmo tempo, a uma debilidade do hemisfério cerebral di-
reito, que é o da criatividade, por falta de desenvolvimento dessas células.
E o senhor sabe perfeitamente que setenta por cento das nossas crianças
o reprovadas no primeiro ano primário ouo repetentes do primeiro ci-
clo. Eu gostaria de perguntar a V. Ex.
a
, para terminar eo desobe-
decer a meu Senador, o seguinte: se V. Ex.
a
está intencionado, realmente,
em colocar um pouquinho, uma colherzinha de chá também para a saúde,
para que os jovens de amanhão sejam os cadáveres ignorantes de hoje.
O SR. PRESIDENTE (Gustavo Capanema) - Tem a
palavra o Ministro Jarbas Passarinho para responder aos três últimos
querelantes.
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Senhor Presidente.
Pela ordem, responderei ao Deputado Fernando Lira, depois ao Depu-
tado Nina Ribeiro e, finalmente, ao Deputado Fábio Fonseca. Quando
eu digo que responderei, pode ser pretensão minha. Nesse momento, eu
creio que o Deputado Fernando Lira agora o sapato muda de pé
estará pensando assim: bom, ele supõe que vai responder, maso deve
responder. Eu chegarei a alguma conclusão.
Em primeiro lugar permita-me uma homenagem realmente sin-
cera. Eu acho que a homenagem precisa desse qualificativo. Eu ouviria
V. Ex.
a
indefinidamente. A sua colocação sobre o posicionamento do pro-
blema me parece a de um homem profundamente inteligente, que deve
ter sido um estudante inteligente. (Aparteo identificado O primeiro
da classe.) Apenas equivocado. O primeiro de classe.o o
primeiro de classe. Quanto ao primeiro de classe, é um problema-
rio. Eu aprendi também com o Comandante (inaudível) hoje é o
dia das citações que, um dia, os animais resolveram fazer um concur-
so para saber quem seria o rei dos animais. E resolveram que devia ser
o primeiro da classe. Então fizeram uma série de requisitos, pré-
requisitos talvez o DASP tenha entrado nisso fez os pré-requisi-
tos o animal deveria voar um pouco, nadar um pouco, correr um pouco,
Logo na saída, o leão mergulhou numa lagoa eo veio mais. O elefante,
adiante. Então, ganhou o pato, que de tudo fazia um pouco, era o primeiro
da classe. Eu longe de mim querer, entretanto, fazer qualquer compa-
ração entre pato e V. Ex.
a
já estou, realmente, muito acostumado às
brincadeiras com passarinho, meu sobrenome. Mas, Deputado Fernando
Lira, V. Ex.
a
disse-me, impressionou-me profundamente, queo iria se
referir ao passado e ao presente; a história brasileira é uma só e V. Ex.
a
tem uma militancia política queo lhe dá responsabalidade de defesa
de heranças passadas.
Sim, eu creio que V. Ex.
a
reconhece os métodos, os méritos
inclusive, dos seus adversários, embora V. Ex.
a
prefira elogiá-los pela
boca do Deputado Lomanto Júnior. É evidente. Primeiro, V. Ex.
a
nem
poderá dizer que euo fui cordial com V. Ex.
a
porque até lhe dei água
Segundo, eu gostaria de tratar do problema de inteligência, que acredito
que (peço agora aos meus amigos Deputados e Senadores da ARENA)
estou prevendo o que vai acontecer. Eu fiz uma blague. V. Ex.
a
citou o Pa-
dre Debret e poderia até citá-lo numa determinada passagem também de
seu manifesto, onde ele mostrava que um dos perigos da blague está exata-
mente em ser interpretada ao pé da letra, eo com a intenção que lhe dá o
orador. Daí, então, algumas afirmativas em tom de blague serem muito
mal interpretadas historicamente. É evidente que quando eu falei em "estu-
dante inteligente vem para a ARENA", estou fazendo um pouco natural-
mente da minha posição de Presidente, primeiro Presidente da ARENA
do Pará, e estou fazendo blague. Mas parece que V. Ex.
a
vai querer, a
partir daí, derjenar o passarinho no Congresso, não? Vamos admitir que
o MDB seria um antro de burrice. Nunca eu poderia dizer isso. Até
admiro profundamente as inteligências onde elas se situem. Ainda gos-
taria de afirmar ao Deputado Fernando Lira: onde elas se situem, eu
admiro as inteligências. Nem sempre, é claro, eu as respeito, porque nem
todas, infortunadamente,o também respeitáveis.
Mas V. Ex.
a
falou no caso de Alagoas. Me parece que, como
advogado. Eu anotei tudo. E eram três perguntas, depois mais quatro e eu
tinha de anotar porque ele mesmo me perguntou se eu me lembraria
de tudo. Então, eu me lembro bem, o Deputado Ulysses Guimarães
infelizmenteo o vejo aqui, mas o arquivo do MDB está à disposição
para mostrar que tipo de resposta eu lhe dei disse apenas que eu las-
timava que o presidente do Partido tivesse antecipado o julgamento. Eu
lhe dei a informação a respeito de onde ce encontravam os estudantes.
Disse-lhe, inclusive, que se encontravam presos em Alagoas e a informa-
ção que obtivera direto do Reitor: que o Reitor lhe garantia que eles
estavam sendo bem tratados e mais, estavam, entretanto, incomunicáveis
porque se tratava de um problema de desmantelamento de uma rede do
antigo Partido Comunista Revolucionário. Para os queo estão habi-
tuados talvez a estas siglas, eu devo dizer que o Partido Comunista Revo-
lucionário é um desdobramento, por dissidência, do antigo Partido Co-
munista Brasileiro. E foi o responsável pelo atentado contra a vida do
Presidente Costa e Silva no Aeroporto de Guararapes. Agora, eu direi
apenas, com base nos documentos de que disponho com as provas dos
órgãos correspondentes de avaliação da guerra revolucionária existente no
Brasil. O único ponto que me pareceu, data venia, fraco, na argumentação
de V. Ex.
a
, é que V. Ex.
a
antecipou os julgamentos. Fez juízo de valores.
Assim como a sua reproduçãoo fazia muita justiça ao texto do meu
telegrama sobre Alagoas, V. Ex.
a
disse que hoje, ao receber essa notícia
do Becife, tem a certeza de que nenhuma dessas pessoas cometeu qual-
quer transgressão. Acho arriscada a sua afirmativa apriorística.
O SR. DEPUTADO FERNANDO LIRA - (Aparte inaudível.)
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Sim, mas V. Ex.
a
estranhou; o advogadoo chegaria aqui. Chegou pela autoridade de
V. Ex.
a
. Chegou pela autoridade, pelo respeito que V. Ex.
a
merece nesta
Casa. Então, é evidente que, automaticamente, V. Ex.
a
endossou. E en-
dossou no escuro. Partiu, então, para uma teoria de direito que me parece
estranha. É o eu-achismo. Eu acho queo houve transgressão.
O SR. DEPUTADO FERNANDO LIRA - (Aparte inaudível.)
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Euo percebi,
Deputado.
O SR. DEPUTADO FERNANDO LIRA - Bom, talvez. Isso
o se aplica a mim.o tenho procuração do Ministério.
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Bom, maso
copie isso, que isso é mau. Ainda mais a um homem jovem como o senhor
fica mal. ( Risos.)
Agora, desculpe a advertência que é quase fraterna, mes-
mo. Mais uma coisa, Deputado. Há o que euo tenho. Como os
fatoso de hoje, é evidente que euo tenho nenhuma palavra para
lhe dar. Mas eu me comprometo com V. Ex.
a
em pessoa, com a opção
desta Casa, com esta Casa pelo seu partido majoritário, a obter as infor-
mações no mais curto prazo possível e transmitir-lhe como trans-
miti ao Presidente Ulysses Guimarães, as informações sobre o caso de
Alagoas.
O SR. DEPUTADO FERNANDO LIRA - (Aparte inaudível.)
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Pois não. Quanto
aos professores, verificamos ainda há pouco ali que, nesses quatro anos
de mandato do Presidente Medici, dois professores foram atingidos pelo
477. Ambos foragidos. Inclusive,o entendi quando um Deputado
disse aqui, por exemplo, ques tínhamos trocado um professor por um
empresário na direção da UnB.o entendi, porque a UnB tem hoje
como seu Beitor um dos pesquisadores e cientistas brasileiros mais no-
táveis, que é a figura do Professor Amadeu Coury, um homem queo
se deixa dominar pelo ódio.
O SR. DEPUTADO FERNANDO LIRA - (Aparte inaudível.)
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Pois não. Claro.
O SR. DEPUTADO FERNANDO LIRA - (Aparte inaudível.)
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Sim, sim, isso é
diferente. Eu concordo com V. Ex.
a
. Eu é que liguei o fato contra os
professores. Quanto à seqüência, V. Ex.
a
.. .
O SR. DEPUTADO FERNANDO LIRA - É, sobre a cabeça...
(Risos.)
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - É, sobre a ca-
beça. (Risos.) Inclusive é o seguinte, Deputado:s podíamos ir para
um terreno queo seria muito vantajoso. E creio mesmo queo
seria muito vantajoso para V. Ex.
a
e seus colegas, porque o 477o
inovou nada. O 477 (eu esperava até hoje ser chamado aqui a esta
responsabilidade), o 477, eu dizia, consolidou artigos queo da Lei
de Segurança Nacional, do Código Penal e, tanto quanto eu apren-
di eu chamava o Presidente Castelo Branco um jurista do Rea-
lengo, que tinha um curso de Direito na Escola Militar do Realengo
o jurista do Bealengo também achava que havia uma certa implicação de
direito civil na repartição do dano. Então,o se inventou nada. Apenas
se colecionou, colocou-se na legislação específica, na área de Educação.
Na medida em que eu garanti que o 477 tinha que vir a mim em todos os
casos, eu passei a ser isso que V. Ex.
a
diz: o fiador da sua aplicação.
E por essa,o respondo. Respondoo apenas fraternalmente diante
de V. Ex.
a
, mas isentamente em qualquer tribunal. Logo,o me parece
que este 477 provoque reações e violências contra as pessoas que fazem
as suas postulações, que fazem suas reclamações, inclusive que escre-
vem como houve um caso em Goiás ainda com o meu ilustre ex-Reitor
Farnesi Maciel uma série de ofensas ao Presidente do DCE. Quisera
aplicar o 477 nele; eu o chamei a Brasília, e lhe fiz essa pergunta: Você
me chama de traidor da Pátria? "Não,o estou chamando. Estou
chamando só de entreguista". Muito bem. Então lhe pergunto: Você
escreveu aqui que eu assinei o acordo MEC/USAID? Vou-lhe fazer
uma pergunta, mas quero me permita que explique isso, Deputado,
porque me parece que faltou, de algum modo, algo pertinente à com-
preensão do problema quero que você me diga, e eu tenho condições
de saber, advirto-o antes, eu tenho condições de saber se sua res-
79
posta é verdadeira ou não: "Já leu o acordo MEC/USAID? Advertido
por mim, pensou e disse: "Não senhor,o li, mas sou contra".
Eu atéo ri diante da expressão, porque ele comentou que é um
homem voltado para o socialismo e acha que qualquer acordo com
a América do Norte seria um acordo colonial. Então é esse o seu ponto
de vista.
Respondi: então me agrada que você tenha dito a verdade;
queo leu. Que ninguém leu, pela simples razão queo existe o
acordo MEC/USAID. Jamais foi assinado. Eu tenho que dizer isso em
defesa de meu eminente antecessor, eme é o Senador Tarso Dutra. Jamais
ele nomeou a comissão americana junto com a comissão brasileira para
fazer o acordo MEC/USAID. A solução brasileira é inteiramente brasileira
na Reforma Universitária, como eu mostrei. Senhor Presidente, alguns, in-
clusive, me parecem conterrâneos de V. Ex.
a
. Aí está, então, o problema.
Disse a ele: "Você nunca leu,o existe, você é um completo equivo-
cado e você pode ir embora, porque você para mimo é subversivo.
Você é oposicionista. Você quis posar de valente e apenas caluniou o
Ministro. O problema é com a sua consciência; pode ir embora".
Bem, Deputado, então o caso da censura do filme: V. Ex
a
, com
uma habilidade extraordinária que só os homens profundamente inteli-
gentes têm, prosseguiu na pergunta que tinha sido impedida pelo Presi-
dente da Casa, porque, na verdade, V. Ex.
a
situou filme e teatro. Ora,
aparentemente, os camposo meus. Filme, porque existem o Instituto
Nacional de Cinema e a Embrafilme, que financiem os filmes e que podem
vir a financiar filmes censurados, o que é realmente um contrasenso. E
pode vir a ser premiado um filme, como V. Ex.
a
disse. E, seo me
engano, é até um filme que tinha esse nome Toda nudez será castigada.
E uma vez, porque eu disse, em tom de blague, no Museu de Belas-
Artes, que nem toda nudez devia ser castigada, eu também fui acusado
até de obsceno. Veja o perigo da blague! Mas eu vou morrer com ela,
maso vou morrer dela. Deputado, então o problema é que, na ver-
dade, com uma admirável habilidade até comentei com meu velho
amigo Senador Franco Montoro V. Ex.
a
usou uma tática napoleônica.
Usou uma tática de dividir para abater. E então me colocou contra meu
próprio governo, ficando eu aqui, contra as autoridades da censura. Por
uma questão de ética, eu apenas digo a V. Ex.
a
que,o estando a censura
inserida no Ministério da Educação, euo me sinto obrigado, como
Ministro da Educação convocado pela Casa, a tratar do assunto queo
é, evidentemente, pertinente ao Ministério da Educação.
O SR. DEPUTADO FERNANDO LIRA - (Aparte inaudível.)
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Não, silêncio, não!
As frases eu disse antes a jornais que publicaram o que eu pensava sobre
o processo classificatório da censura. Eu disse isso ao velho Presidente
Costa e Silva: "Prefiro mil vezes que o senhor passe por uma censura
classificatória de idade, rigorosamente obedecida, a ter que se preocupar
com determinados' textos de peças". Finalmente, Deputado, uma res-
posta comprometedora: V. Ex.
a
falou que eu leio livros, e é preciso que
V. Ex.
a
saiba que eu tambémo souo pouco inteligente. '
O SR. DEPUTADO FERNANDO LIRA - Determinados livros.
O SR. MINISTRO JARRAS PASSARINHO - Determinados
livros. Deus permita queo sejam os novos livros do MOBRAL, para
oe neoleitores, que eu, realmente, já alcancei um grau adiante. E quem
é Celso Furtado? Era eu chefe do Estado-Maior do Comando Militar da
Amazônia em 1962, sendo meu Comandante o General Taurino de Re-
zende, quando fiz a abertura dos cursos do CPOR de Belém com um
livro de Celso Furtado nao chamado A Pré-Revohição Brasileira
onde, no meu entender, ele, muito claramente, ou talvezoo cla-
ramente, porque ele era um pouco ortodoxo na maneira de escrever,
em vez de falar, por exemplo, ditadura, falava sociedade fechada; e em
vez de democracia, sociedade aberta. E o livro dele, A Pré-Revolução
Brasileira, era uma advertência ao Brasil quanto ao perigo de uma co-
munização, a partir do campo contra a cidade. Então, realmente, quanto
a este seu livro, eu o li, sublinhei-o e fiz dele tese de uma abertura,
da qualo tem uma palavra, hoje, queo fosse a palavra de 1962.
O SR. DEPUTADO FERNANDO LIRA - (Aparte inaudível.)
O SR. MINISTRO JARRAS PASSARINHO - Sobre o livro do
Celso Furtado, A Pré-Revolução Rrasileira, eu já disse. Euo sou ho-
mem de muitos livros. Li um deles
O SR. DEPUTADO FERNANDO LIRA - O Senhor permite?
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Pois não.
O SR. DEPUTADO FERNANDO LIRA - Euo lhe perguntei
sobre o livro do Celso Furtado.
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Eu é que lhe trouxe
a resposta; na resposta eu trouxe o livro.
O SR. DEPUTADO FERNANDO LIRA - (Aparte inaudível.)
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Exato. Então, aí é
que eu acho que V. Ex.
a
cometeu um erro entre sua premissa levantada
e a pergunta formulada, porque, na verdade, V. Ex.
a
estava dizendo que
o ia se referir ao passado e trouxe um problema que é totalmente ante-
rior à minha chegada ao Ministério do Trabalho. Totalmente anterior.
O SR. DEPUTADO FERNANDO LIRA - (Aparte inaudível.)
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Se pudéssemos en-
sinar numa universidade brasileira, é uma afirmativa que naturalmente V.
Ex.
a
responderá por ela. Euo tenho um caso, dou-lhe, sob a fé do meu
posto e da minha pessoa,o tenho um caso em que me tenha trazido
um reitor a indicação do professor Celso Furtado para professor de algu-
ma universidade brasileira.o o conheço por questão de segurança.
Para mim, posso-lhe garantir, nunca recebi uma recomendação no sentido
de que o professor Celso Furtado fosse um marxizante de cátedra e con-
seqüentemente devesse ser afastado.o sei, realmente,o estou atento
a este problema, se ele é atingido pelo AI-1 ou não. Inclusive, posso-lhe
garantir que ele veio a esta Casa quando eu era Ministro do Trabalho.
Meu prezado amigo Franco Montoroo me deixará faltar à verdade;
veio aqui, fez uma palestra sobre política salarial e decepcionou profunda-
mente os radicais de esquerda.
O SR. DEPUTADO NINA RIBEIRO (Aparte inaudível.)
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Há dias, Deputado,
eu conheci em Genebra, para V. Ex.
a
ver, que o mundo, todo ele, é igual,
de algum modo, e que às vezes ri o roto do esfarrapado, há dias conheci
o prof. Fischer, que escreveu um livro sobre o Brasil, chamado Le Re-
gime Modernisateur du Brésil (desculpe a minha pronúncia porque eu
o estou matriculado em curso de francês). Este livro é consideradoo
isento, que algumas áreas dos três tempos da Revolução consideraram o
livro danoso à nossa imagem. Mas só porque ele, neste livro, faz algumas
apreciações altamente lisonjeiras quanto, por exemplo, a alguns aspectos
do desenvolvimento sócio-econômico brasileiro, este homem da Universi-
dade de Genebra, pertencente ao Instituto de Altos Estudos da Universi-
dade de Genebra, na Suíça, considerada a democracia basilar e modelar
do mundo, este homem perdeu a sua cátedra! Como vê V. Ex.
a
, há muitos
Celsos Furtados!
O SR. DEPUTADO NINA RIBEIRO - (Aparte inaudível.)
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Deputado Nina Ri-
beiro, já conheço seu ponto de vista e até louvo a pertinácia com que o
defende, porque a pertinácia é também uma virtude, quando usada com
moderação, é claro; é a pertinácia em relação ao Banco Nacional de Edu-
cação. O ques pretendíamos é que, com aquele exemplo, infelizmente
deturpado para certos estudantes, os estudantes pudessem receber uma
tabela; em em vez de estar a renda líquida ao lado, estava o salá-
rio mensal. Então, dizia assim: salário até 500 cruzeiros, paga tanto.
Até 1.000, paga tanto. Houve um problema de verdadeiro amedrontamento
por parte de toda a classe média brasileira, para destruir a idéia de que,
no fundo, é em favor de um estudante pobre e em favor da democratiza-
ção do ensino. Mas veja o quanto pode o que eu chamo de catarata ideoló-
gica: elao permite ver com translucidez e envenena os locais onde
pousa. Fábio Fonseca, meu caro Deputado, já tenho lido muito as suas
interpelações e lhe confesso que V. Ex.
a
me surpreendeu. Foi o único Depu-
tado que me surpreendeu, porque eu esperava de V. Ex.
a
, como presidente
do meu clube, em Minas Gerais, que me fizesse perguntas sobre esporte,
porque noto que V. Ex.
a
, normalmente, é presente sobre o esporte bra-
sileiro. E, no fim, V. Ex.
a
me fez uma belíssima exposição de médico. Con-
cordo plenamente. Se a partir dos sete anos de idade,o pegarmos a
criança com a merenda escolar, como hoje fazemos com a Campanha
Nacional de Alimentação Escolar, de sete anos para a frente,s podemos
encontrar algumas lesões irreversíveis para as quais a atenção do Mi-
nistério da Educação jáo seria suficiente. Criou o Presidente da Re-
pública, por causa disso, o INAN, o Instituto Nacional de Alimentação, e
é para este que eu peço as vistas de V. Ex.
a
, porque me parece que a
resposta está dada à sua pergunta.
O SR. PRESIDENTE (Gustavo Capanema) - Mas esta questão
de ordemo vai ser respondida pelo Ministro Passarinho, vai ser res-
pondida por mim, mas eu só responderei à questão de ordem. Pois é. Por
uma questão de ordemo se deve dar a palavra pela ordem.o res-
ponda não, eu é que vou responder.o há mais prazo para perguntar.
O SR. DEPUTADO FERNANDO LIRA - Mas eu tenho direito,
é uma questão de ordem.
O SR. PRESIDENTE (Gustavo Capanema) - Mas eu quero ou-
vir a sua questão de ordem, o que é que é?
O SR. DEPUTADO FERNANDO LIRA - Ministro Jarbas Pas-
sarinho, que veio a esta Casa e se dispôs a responder a todas as pergun-
tas, está faltando uma.
O SR. PRESIDENTE (Gustavo Capanema) - Seo houver tem-
po, eleo responderá.
O SR. DEPUTADO FERNANDO LIRA - É uma pergunta -
inclusive,o sei se é a terceira ou a quarta falando sobre a sua missão,
no caso de se seria contra ou a favor de uma CPI sobre a problemática
(inaudível).
O SR. MINISTRO JARRAS PASSARINHO - Essa pergunta foi
feita ao final das interpelações do Deputado Lysâneas, e eu me proponho
a responder agora e peço encarecidamente ao Presidente que me conceda
esse direito, porque euo gostaria de, depois de um massacre dessa na-
tureza, por parte do MDB, dar a impressão de que saio pela janela lateral;
quero sair pela porta. Eu responderei, então, ao Deputado Lysàneas...
O SR. PRESIDENTE (Gustavo Capanema) - Mas eu peço, en-
tão, aos dois, queo aparteiem o Ministro. Estou apenas prevenindo.
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Responderei. Vou
apenas elaborar um pouco a resposta. Em primeiro lugar, Deputado Fer-
nando Lira, V. Ex.
a
usou cerca de 8 minutos, eu cronometrei, dizendo que
o poderia fazer perguntas, sem antes fazer uma preparação lógica. Eu
o posso dar-lhe uma resposta sem uma preparação lógica. E é uma
homenagem, também, outra vez, à sua inteligência de ex-estudante. Eu vol-
tarei a lhe dizer, em primeiro lugar, o seguinte: a mim, Senhor Presidente,
me estranha, Senhores Deputados, Senhores Senadores, me estranha que
tenha sido pedida uma Comissão Parlamentar de Inquérito, quando, na
verdade, o problema surgiu do fato de eu ter lido duas ou três vezes ex-
pressões atribuídas ao Deputado Lysâneas Maciel e ligadas a frases como
esta em que parecia que, para um estudante pregar um cartaz na parede,
ora submetido ao 477; se ele fizesse uma pergunta ao professor, era sub-
metido ao 477; e se ele subisse em uma passarela, era submetido ao 477
por extensão. Então, eu pedi ao Deputado que desse um só fato em favor
dele, um fato concreto, porque, na verdade, todas as puniçõeso publi-
cadas no Diário Oficial da União e então a pessoa que disse que isto
aconteceu, naturalmente, conhece a vítima, e trá-la-ia a mim. E lhe disse,
resguardando meus jornalistas: tenho a impressão de que o Deputadoo
poderá provar isso, porque, desde que assumi e o Presidente me conce-
deu o direito de ser a última instância, eu leio todos os autos; eu os leio.
De maneira que eu tenho certeza de que nada igual passou por mim. Eu ti-
nha essa convicção de consciência e disse: se o Deputado provar, eu entre-
go imediatamente a minha função de Ministro e entrego o resto do meu
mandato do Senado.
O SR. DEPUTADO FERNANDO LIRA - Como?
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Eu chegarei.
Deputado. V. Ex.
a
alardeou o problema e foi para a CPI,o é?
Eu ia usar, aqui, uma expressão militar de manobra em retirada, mas
o o farei. Vou usar uma outra, do Deputado Fábio Fonseca, que foi o
nosso companheiro de guerra na Itália. Então eu diria: Deputado Fer-
nando Lira. também de V. Ex.
a
, a partir desse instante, eu esperava uma
comprovação; eu entregaria, faria o que prometi. Jornalistas, ávidos, real-
mente, de nos criar problemas maiores de atritos, perguntaram: "O que V.
Ex.
a
exigirá do Deputado Lysâneas?" Eu disse: nada. Se eleo provar,
nada. Naturalmente, sendo um homem de consciência, ele vai chegar à
conclusão de que faltou à verdade. Apenas isso. Euo peço a ele, repito.
Se eleo provar, perde o mandato?
Não.
Bem, em seguida, eu viajei para o Norte, para o Nordeste e
regressei ao Norte; lá eu verifiquei que o MDB apresentava, como solução.
que eu chamo ladear problema, a constituição de uma CPI. Ora, eu te-
nho fatos concretos, o Deputado tem fatos concretos. É a grande opor-
tunidade, inclusive, de provar; está aqui: esse estudante teve aplicado
sobre ele o 477 porque pediu a passarela ou porque interpelou um pro-
fessor sobre a palavra tal de Português ou sobre História onde eu que-
ria caracterizar, exatamente, que sou fiador, perante o Presidente da Re-
pública,. deo ser um Ministro da Educação torturador, ou Ministro da
Educação que utiliza o sistema de coação sobre os estudantes violentos.
Então eu respondo por isso. Respondo, Deputado, hoje, amanhã, quando
V. Ex.
a
quiser. E pelo prazer que me está dando esse tipo de debate, é
provável que eu volte à Câmara pará encontrar V. Ex.
a
, Deputado Lysâ-
neas, pelo povo do Pará!
O SR. DEPUTADO LYSÂNEAS MACIEL - Eu vou responder.
O SR. MINISTRO JARBAS PASSARINHO - Deputado, esse é
um momento de entusiasmo; euo acabei a minha expressão. V. Ex.
a
está redondamente enganado se pensa que eu sou de recuar por covardia.
Posso recuar por medo; por medo, sim, porque há até covardia deo
parecer covarde. Isso talvez; mas por covardia pura e simples, não. Então
dei a seguinte resposta ao meu líder: a CPI é um instrumento nitidamente
previsto no regimento interno das duas Casas do Congresso no Senado
e na Câmara. É um assunto da deliberação do Senado e da Câmara, en-
quanto regimento de ambas. Eu, entretanto, sou membro do Governo,o
estou me situando aqui como Senador; estou me situando como Ministro
do Governo. É um problema a ser discutido pelo Governo com a Lideran-
ça da Casa. Agora, talvez o Deputado Lysâneas desejasse que eu dissesse:
eu quero uma CPI. Isso dava uma coisa curiosa, quer dizer, eu afirmo
queo ofendo, eu afirmo queo violento e eu peço, sobre mim, que
investiguem agora, porque o Deputado que afirmou que eu violentoo
foi capaz de provar a violência. Isso.
O SR. PRESIDENTE (Gustavo Capanema) - Vamos encerrar essa
sessão com as maiores congratulações ao Ministro. Vamos sair? Sair pela
retaguarda.
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