segunda edição, em 2000, pela Universidade
Federal de Minas Gerais, visando sua difusão
entre um público brasileiro rnais amplo
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.
Esse primeiro longo período de pesquisa,
realizado entre 1989 e 2000, difundido em duas
edições, teve sua continuidade sob a
responsabilidade de alguns dos professores,
especialmente aqueles rnais relacionados com a
documentação e re-interpretação de sua tradição.
Recentemente, rnais dez narrativas foram
pesquisadas com alguns dos velhos ainda vivos,
contando-se com a colaboração dos alunos de
uma escola Kaxinawá da T.I Carapanã. Estes
jovens estiveram diretamente envolvidos na
escuta das narrativas e na confecção de desenhos
para contar as histórias dos seus antepassados.
Também alguns professores contribuíram com
seus desenhos para esta publicação. Constituem
importante elemento da pesquisa e do processo
de recriação das narrativas aqui reunidas
Assim, a escrita e a escola, mas também o
desenho, a escultura, o vídeo, o computador
foram apropriados pelos Kaxinawá, e outros
povos indígenas atuais, como tecnologias e
instituição do contato valorizadas e estratégicas
para possibilitar a construção "por conta
própria de uma história indígena presente e
futura". História agora documentada por suas
próprias mãos, com o domínio atual que
passaram a ter de técnicas de registro áudio-
visual e da escrita alfabética, em suas funções
sociais de memória e criação, e que tem sido
mobilizada para desencadear um novo ciclo de
produção, difusão e transmissão de línguas e
culturas.
Entendemos que a importância histórica e
educativa desse trabalho, integralmente
pesquisado e documentado em língua indígena, é
ser a continuidade amadurecida dos primeiros
materiais de autoria de professores indígenas
brasileiros. Materiais que são hoje lidos e escritos
também por significativa parcela da população
indígena jovem, na escola e fora dela. Sua
elaboração, edição e difusão têm possibilitado a
transmissão e recriação contínua de aspectos
valiosos das culturas indígenas, por meio de
novas obras culturais, como o vídeo, a pintura no
papel, a literatura oral e escrita, a escultura com
madeira reciclada. Por meio delas, a história
continua a ser narrada e interpretada
continuamente, renovando-se, no presente, o
tempo dos antepassados.
Por outro lado, a circulação desse e de outros
materiais entre sociedades indígenas vêm
permitindo o uso e a reflexão sobre sua língua
escrita, através das discussões entre falantes e
escritores de importantes aspectos das línguas,
além de possibilitarem a atribuição de
significados sempre históricos e renovados para
essas e outras narrativas. Tais processos de
formulação de literatura oral e escrita indígena
por membros de povos indígenas são boa
oportunidade de reflexão para outros povos: na
entrada do século XXI, faz presentes narradores e
escritores bilíngües de culturas minoritárias como
autores de novas formas de literaturas e de
pesquisas.
Este material e seu processo de construção
têm assim também um impacto educativo,
cultural e político multiplicador. Estimula, pelo
exemplo, às outras etnias, e deste imenso e
pluriétnico planeta, a elaborarem em suas
línguas, seus próprios livros e outras obras
culturais. Por meio de atividades de investigação
e criação, estimuladas hoje em algumas das
experiências educacionais em curso no país e no
mundo, várias sociedades indígenas vêm
podendo difundir, fortalecer e atualizar suas
identidades ameaçadas em situações
interculturais.
Nietta Lindenberg Monte
Comissão Pró-índio do Acre
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Organização dos Professores Indígenas do Acre. Shenipabu Miyui:
2000. 168 páginas.
história dos antigos. Belo Horizonte: Editora da UFMG,