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Presidente da República:
Fernando Henrique Cardoso
Ministro de Estado da Educação e do Desporto:
Paulo Renato Souza
Secretário Executivo:
Luciano Oliva Patrício
Secretária de Educação Fundamental:
Iara Glória Areias Prado
Diretora do Departamento de Política da Educação Fundamental:
Virgínia Zélia de Azevedo Rebeis Farha
Coordenadora Geral de Apoio às Escolas Indígenas:
Ivete Maria Barbosa Madeira Campos
Equipe Técnica:
Caio Valerio de Oliveira, Deuscreide Gonçalves Pereira, Deusalina Gomez Eirão, Cristiane
de Souza Geraldo, Andréa Patrícia Barbosa de Carvalho, Luciano Viana Neto.
Comitê de Educação Escolar Indígena:
Iara Glória Areias Prado, Susana Martelleti Grillo Guimarães, Meriel de Abreu Souza, Bruna
Franchetto, Luis Donisete B. Grupione, Sílvio Coelho dos Santos, Aldir Santos de Paula,
Rosely Maria de Souza Lacerda, Jadir Neves da Silva, Darlene Yaminalo Taukane, Alice
Oliveira Machado, Valmir Jesi Cipriano, Algemiro da Silva, Nietta Lindemberg Monte, Terezinha
de Jesus Machado Maher, Nilmar Gavino Ruiz, Marivânia Leonor Furtado Ferreira, Júlio
Wiggers, Álvaro Barros da Silveira, Gersen José dos Santos Luciano e Walderclace Batista
dos Santos.
Publicação financiada pelo MEC- Ministério da Educação e do Desporto, dentro do
Programa de Promoção e Divulgação de Materiais Didático-pedagógicos sobre as
Sociedades Indígenas Brasileiras, recomendada pelo Comitê de Educação Escolar
Indígena.
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LIVRO DE HISTORIA
Volume 1
PARQUE INDIGENA DO XINGU
Este material é fruto das primeiras etapas de estudo
da disciplina de história do Curso de Formação de
Professores Indígenas do Parque Indígena do Xingu
para o Magistério, promovido pelo Instituto
Socioambiental.
Constam deste primeiro livro as informações que foram
trabalhadas durante os cursos de formação,
acrescidas de textos e desenhos produzidos pelos
professores indígenas.
O objetivo deste primeiro livro é motivar os professores
indígenas a pesquisarem a sua própria história,
definindo um caminho próprio de ensino,
aprendizagem e pesquisa para as escolas do Parque
Indígena do Xingu.
INSTITUTO
SOCIOAMBIENTAL
Instituto Socioambiental
Av. Higienópolis, 901
01238-001 - Sao Paulo - SP
tel: (011)825-5544
fax:(011)825-7861
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fax:(061)274-7608
correio eletrônico: isadf@tba.com.br
Direitos autorais
Professores Indígenas: Tempty Suiá, Aturi Kaiabi, Matari Kaiabi, Pàtkôre Metyktire, Tarinu
Yudja, Tedjê Metyktire, Maiua Ikpeng, Korotowí Ikpeng, Kaomi Suia, Adjiha Yudja, Aisanain
Kamaiurá, Eroit Kaiabi, Ajumã Kamaiurá, Kanawayuri Kamaiurá, Wary Kamaiurá, Koinu Suya,
Thiayu Suiá, Makaulaka Mehinaku, Takap Trumai, Ariakumalu Trumai, Tahugaki Kalapalo,
Sepé Kuikuro, Yabaiwá Yudjá, Karin Yudjá, Jemy Kaiabi, Awatat Kaiabi, João Kaiabi, Yalau
Waurá, Moreajup Kaiabi, Kaomi Kaiabi Suiá, Anhê Pykany, Bep-ôiô Kaiapó, Bepnhi Kaiapó,
Megaron Txucarramãe.
Organização e texto: Estela Würker
Revisão: Maria Cristina Troncarelli
Coordenação do Programa Xingu: André Villas- Boas
Coordenação do Projeto de Formação de Professores Indígenas: Maria Cristina
Troncarelli
Editoração Eletrônica: Vera Feitosa
Agradecimentos:
Maria Cristina Troncarelli, Monica Pechincha, Marcela Coelho de Souza, Bruna Franchetto,
Marina Kahn, Alicia Rolla, Fanny Ricardo e Vera Feitosa.
* Textos retirados do livro "Guerreiros sem Espadas" dos irmãos Villas-Bôas
* Mapas retirados do livro "História e Vida", volume 1, Nelson e Claudino Piletti. ed. Ática.
* Mapa retirado do livro "História do Brasil", ed. Abril.
Apoio:
Rainforest Foundation Internacional
Ministério da Educação e dos Desportos/ Coordenação de Apoio às Escolas Indígenas
março, 1998
GUARDANDO A HISTORIA
Aturí Kaiabi
E importante estudar a história. Nós precisamos saber a his-
tória do passado, a história de outros povos, as histórias dos índios e a
história das pessoas importantes. Antigamente a gente aprendia a histó-
ria contada pelos velhos. O velho contava para os netos e os netos con-
tavam para seus filhos.
Assim a história chegou num ponto que a gente guarda na
escrita, em gravação e em filme.
HISTÓRIA É DOCUMENTO
Tempty Suiá
A história dos índios é um documento para a gente lembrar
do passado. É importante contar a história do passado para os filhos e os
netos.
Todo mundo tem a sua história para contar na sua vida.
Antigamente os índios não tinham a sua escrita, não tinham
seus papéis.
O índio só tinha história oral para contar da sua vida passada.
A VIDA ESTÁ MUDANDO
Pàtkôre Metyktire
Há muito tempo não tinha caderno e lápis para escrever his-
tória. A nossa história é guardada na cabeça. Todo dia, tôda noite, meu
pai me contava história de antigamente. Então a gente guardava na ca-
beça para contar para os nossos filhos.
Antigamente nós morávamos no mato. Meu povo não tinha
espingarda, não tinha rede e cobertor. Eles deitavam no chão. Antiga-
mente tinha flecha e borduna para matar os bichos. Quando o pessoal
brigava com outros índios, matava homens e mulheres.
Antigamente meu povo fazia guerra, agora não tem guerra.
A filha escuta e pergunta.
O
p
ai conta his
ória do
p
assado.
História é bom para contar.
Para não esquecer a gente guarda só na cabeça. Meu avô
conta para mim e eu guardo na minha cabeça. Depois eu conto para o
meu filho a mesma coisa, a história do meu avô.
Tarinu Yudjá
Para mim é muito importante estudar a história para poder
saber a vida dos antepassados e dos nossos avós.
Matari Kayabi
Responda:
1- Como o professor pode pesquisar
as histórias do seu povo?
2- Como o professor pode organizar sua
pesquisa para trabalhar na sala de aula?
3- Que tipo de atividades o professor pode
realizar com seus alunos para ensinar história?
COMO ACONTECEU ANTES DOS
BRANCOS CHEGAREM
Tempty Suiá
desenhos: Tempty Suiá
Há muitos anos atrás os povos moravam todos juntos e um
rapaz gostava de uma moça. Mas a moça não gostava dele. Ele tentou
namorar com ela, mas ela não gostou do rapaz.
Bom, o rapaz foi com o pessoal bater timbó no córrego. Ele
matou um peixe que era bicho d'água. Ele matou o macho, a fêmea es-
capou. A água foi subindo e o pessoal nem sabia que ele tinha matado
um bicho d'água. Eles estavam só pegando peixinhos. O rapaz carregou
o bicho lá para longe, ele queria comer um pedaço de carne, mas a água
estava subindo atrás dele. A chuva também estava chegando com tro-
vão muito forte. Quando ele foi cortar um pedaço de carne batendo com
o machado, vieram um raio e um trovão muito fortes.
Ele nem conseguiu acender o fogo. Quando ele comeu um
pedacinho da carne, a água caiu em cima dele. O pessoal que estava no
córrego já estava afundando.
O pessoal da aldeia ouviu o raio, o trovão e o barulho da
água. O pessoal se arranhou e passou na chuva, mas não adiantou se-
gurar a água e a chuva. Assim a água caiu em cima da aldeia, matando
todos os povos.
Kôgndê e sua mulher pegaram uma grande cabaça para co-
locar seus filhos dentro. A filha mais velha tinha ido com o pessoal para o
córrego, ela morreu com o pessoal. Então os pais colocaram somente os
filhos e as duas filhas dentro da cabaça para não afundar.
Quando a água passou pela aldeia, Kôgnde e sua mulher
transformaram-se em ariranhas. Eles foram carregando a cabaça pelo
rio, gritando como a ariranha grita.
A água foi subindo e matou todas as pessoas, acabaram-se
os parentes. Esse homem e sua mulher com a cabaça foram jogados
numa montanha pelas águas e pelo vento. Lá que nasceram os Kisêdjê.
Com essas duas moças que os Kisêdjê nasceram.
Os pais tiraram as filhas e os filhos da cabaça, esperando o
vento parar de ventar e o rio baixar suas águas.
Quando o vento parou e as águas se acalmaram, ele pergun-
tou para a mulher:
- Você agüenta ficar sem chorar?
-Sim, eu agüento.
- Quando o pessoal sair da cabaça não chore, enquanto a
sujeira não secar. Espere secar a sujeira primeiro.
- Esbem.
Eles acenderam fogo num monte de pedras e jogaram na
água, mas ela não abaixou. Então ele pensou e chamou a mulher:
- Vamos nos pintar.
Eles se pintaram como a arara e se transformaram nesses
pássaros. Voaram bem alto, bem em cima do rio.
Então eles cortaram muitos galhos de buriti e levaram para a
montanha. As filhas estavam esperando.
Eles acenderam uma fogueira bem grande e esquentaram
muitos galhos de buriti. Quando os galhos ficaram bem quentes, ele tirou
do fogo e bateu forte na água. Assim a água abaixou um pouco.
A mulher falou:
- Bata mais!
Ele bateu e a água abaixou muito, ficou como era antes.
As filhas foram saindo da cabaça e a mãe delas chorou, ela
não agüentou porque eram as filhas dela. Então todos correram para o
rio de novo, ainda não tinha secado aquela sujeira.
Por isso, todo o pessoal foi embora.
IPRËRE
Tedjê Metyktire
Eu escutei a historia do meu pai, que sempre conta sobre o
homem.
Pajé grande chama-se Iprëre. Nossos índios chamam de
Iprëre. Pelo branco chama Deus.
Iprëre ficou sozinho junto com a família e o cunhado dele cha-
mado Ôiôjropre.
Antigamente não tinha gente, não tinha bicho e não tinha
morro. O filho do Iprëre pediu para o pai dele:
- Oh, meu pai, você pode fazer gente para morarmos junto
com ele.
Primeiro Iprêre fez porco do mato, botou dentro do buraco da
terra e fechou com uma pedra bem grande e bem redonda. Um dia o
cunhado do Iprëre pediu para caçar no mato, para matar os bichos que
chamamos caititu. Ele disse assim:
- Oh, meu cunhado, amanhã eu vou no mato para matar caititu
para a gente comer.
Ele saiu cedo para o mato, matou o caititu e carregou a caça
para casa. Ele pediu para a irmã dele assar o caititu.
Enquanto Ôiôjropre foi caçar, Iprëre chamou o filho para ca-
çar e matar algum bicho. Lá no mato eles pegaram duas frutas que nós
chamamos rojkrãtire. Eles foram até o buraco do porco e Iprëre bateu as
duas frutas e deixou-as perto do buraco. Um porco saiu, ele flechou,
matou e levou para casa.
Chamou a mulher para assar.
Iprëre fez matas,
fez banana, castanha, espin-
garda, gente, rios, igarapés.
Ele fez matas e coisas para a
gente.
HISTORIA DO MILHO
Tarinu Yudjá e Adjiha Yudjá
A história do povo Yudjá foi assim:
Antigamente o povo Yudjá comia casca de pau. Ele subia no
pau com a perna amarrada com embira. Quando ele descia, caía muita
casca de pau no chão e ele pegava para fazer farinha.
Nosso povo também comia sucuri, eles sempre matavam
sucuri. A sucuri chama TUWÍ.
Um caçador encontrou uma sucuri grande e contou para o
pessoal dele;
- Encontrei uma sucuri grande, vamos matá-la.
Quinze pessoas foram lá. As pessoas que foram na frente
tiraram a sucuri da terra para matar. Antes do pessoal matar, sentaram
em cima dela. Então uma pessoa apontou uma flecha para a sucuri. A
sucuri colou a flecha no corpo dela, o dono queria tirar a flecha, mas ela
não saía. Então todos quiseram se levantar, mas ficaram colados no cor-
po da sucuri. Ela correu para a água com eles e todo mundo ficou gritan-
do até cair na água.
Lá na água ela virou um peixe grande e comeu todos eles. Só
o pulmão deles que boiou. O pessoal falou com o pajé:
- Nós queremos pagar os nossos irmãos.
Então o pajé sonhou e falou para o pessoal:
- Vocês vão pegar os irmãos de vocês, a sucuri vai estar no
mesmo lugar.
A sucuri estava no mesmo lugar. O pajé falou para eles:
- Vocês podem derrubar mato em cima dela, vamos queimar
a sucuri.
O pessoal pegou machado de pedra e derrubou uma roça
grande em cima da sucuri. Depois o dono da roça chamou todo mundo
para queimar a roça. A sucuri estava no meio da roça. Quando o fogo
chegou perto, ficou quente para ela, e ela pulou até estourar, queimou
tôda.
Depois choveu muito sem parar e apareceu milho, mandioca,
melancia, banana, abóbora, mamão, batata, todos os tipos de alimentos.
ORIGEM DO FOGO E DO URUCUM
ATXI ONON MIRAN
(história gravada por Oporike Ikpeng em novembro de 1996;
tradução e transcrição de Korotowi Ikpeng)
Antigamente nós não tínhamos fogo. Tudo o que nós comía-
mos, assávamos e esquentávamos com a quentura do sol: peixes, caça,
mingau etc.
Daí se casaram Wonka e Parangka. Com o tempo a esposa
de Wonka ficou grávida pela primeira vez de Onon. Onon era o primeiro
filho do casal. Todo mundo ficou sabendo que ela estava grávida. Depois
de nove meses, quando ela sentiu as dores do parto, as parteiras se
juntaram. A criança nasceu, as parteiras verificaram o sexo e viram que
era um menino. Verificaram o corpo todo do bebê e finalmente viram uma
mancha bem no meio da cabeça do bebê. As parteiras falaram:
- Nossa, ele tem uma mancha vermelha bem no meio da ca-
beça, que bebê lindo com esse defeito!
Então a avó cortou o cordão umbilical, lavou a criança e deu-
a para a mãe.
desenho: Maíuá Poampo Ikpeng
A criança foi crescendo, começou a engatinhar, com um ano
a criança andou e foi crescendo. Os avós paternos, Amore e Yampï, fica-
ram contentes ao ver o menino dando os primeiros passos.
Os pais e os avós ainda não descobriram o que significava a
mancha vermelha na cabeça do menino nessa idade. Até esse tempo
não tínhamos fogo, comíamos todas as comidas preparadas no sol.
O menino foi crescendo. Quando ele ia tomar banho, só mo-
lhava o corpo, não molhava a cabeça. Quando o menino completou dez
anos, o pessoal teve a idéia de fazer uma caçada na mata por algum
tempo. Os pais do menino foram com o pessoal. Quando chegaram no
primeiro acampamento, o menino falou para os pais dele:
- Mamãe, papai, quebrem as varetinhas.
- Porque, filho?
- Para tentar uma coisa.
Os pais quebraram as varetinhas secas e trouxeram para ele.
- Aqui está o seu pedido, filho.
- Tudo bem.
Ele pegou uma varetinha, esfregou na cabeça em cima da
mancha vermelha, esfregou, esfregou, esfregou e abaixou a cabeça. Caiu
uma pequena brasa da cabeça dele. Colocaram a brasa no "pyagomompi"
e foram soprando, soprando, até acender. Então os pais falaram:
- Nossa, fogo! Agora temos fogo, não comeremos mais comi
das cruas.
Outras pessoas perguntaram:
- De onde vocês pegaram fogo?
- Do meu filho.
- Que fantástico!
A mãe do menino disse:
- Podem pegar o fogo de vocês.
Cada mulher pegou seu fogo e acendeu. Nessa caçada sur-
giu o primeiro fogo, os caçadores voltaram com fogo para a aldeia.
O menino tinha dez anos de idade, mas ele não cresceu, fi-
cou do jeito que ele andou, por causa da mancha na cabeça. Tôda vez
que o pessoal ia caçar, convidava os pais do menino por causa do fogo
na cabeça dele.
O menino brincava com os amigos e depois ia tomar banho
com eles. Ele não molhava a cabeça para o fogo não apagar. A mãe do
menino sempre falava para os amigos dele:
- Não molhem a cabeça do meu filho, senão vai apagar o
fogo. Se apagar o fogo da cabeça dele, o fogo das casas também vai
apagar, aí teremos que comer as comidas cruas e preparadas no sol.
A mãe dele sempre repetia essa frase para os amigos dele,
daí ninguém mais comia comidas preparadas no sol.
Passaram-se alguns anos. Havia um menino que era da mes-
ma geração dele. O menino do fogo era menor que ele, mas tinha a
mesma idade, dezesseis anos. Um dia ele foi tomar banho com muitos
rapazes. Um rapaz de dezesseis anos chamado Mepra falou para o me-
nino do fogo:
- Por que você não molha a sua cabeça? Ela está muito suja.
- Eu não posso.
- Porque?
- Assim meu fogo vai apagar e eu vou morrer.
- Mas você está sujo.
- Não faz mal.
Eles começaram a tomar banho. O menino do fogo foi nadar
um pouco no meio do córrego e voltou sem molhar a cabeça. Quando ele
voltou a nadar no córrego, Mepra segurou-o pelos pés e puxou-o para o
fundo. Ele afundou, apagou-se o fogo dele e das casas também. Os pais
dele falaram:
- Nossa, afogaram nosso filho, mataram nosso filho, por isso
que apagou o fogo das casas. Vamos ficar sem fogo novamente.
Os pais foram correndo para a porta e quando chegaram no
porto viram o menino já morto na beira do córrego. Eles carregaram o
menino e o trouxeram para casa. Eles sepultaram o menino na aldeia
velha e a vida voltou a ser como era antes do menino existir. O pessoal
voltou a comer a comida preparada no sol.
Depois de seis dias os pais foram visitar o túmulo do menino
e viram uma árvore nascendo bem no meio do túmulo. A mãe peguntou:
- O que será isso?
- Não sei.
De repente a árvore falou:
- Mamãe, papai, cortem dois galhos bonitos meus, descas-
quem e ponham no sol para secar. Façam um buraco em outro galho e
depois esfreguem um galho no outro até fazer fumaça. Depois ponham a
brasa no "pyagomompi", assim vocês vão ter fogo de novo. A minha fruta
vocês podem tirar que é uma semente vermelha. Isso serve de pintura
para vocês e será chamado de "onon" (urucum).
O pai dele cortou dois galhos bonitos, descascou, pôs no sol.
Foram embora para casa. Depois de três dias eles voltaram no túmulo. O
pai pegou as duas varinhas, fez um buraco na outra vara e esfregou uma
na outra. Nem demorou para sair fumaça. Até que caiu uma brasa. Eles
colocaram a brasa no "pyagomompi", sopraram, sopraram até que acen-
deu. Quando acendeu, os pais choraram. Quando eles pararam de cho-
rar, voltaram com fogo para casa e distribuíram fogo para as pessoas.
Foi assim que surgiu o fogo e o urucum no mundo do povo
Ikpeng.
desenho: Yalau Waurá
O SURGIMENTO DOS HOMENS
Maiua Ikpeng
Antigamente os homens desapareceram.
Havia dois rapazes, chamados Kureko. Esses dois rapazes
fizeram os homens surgir no mundo. Então é assim:
Os dois rapazes eram dois irmãos abandonados num lugar
acampando. No dia seguinte eles foram buscar mandioca para eles mes-
mos prepararem. Depois que eles vieram da roça o irmão mais velho
ficou no acampamento ralando mandioca. O irmão caçula foi no córrego
buscar água e viu um peixe chamado Tomuko embaixo da ponte. Ele
voltou para o acampamento para buscar sua flecha e disse para o irmão:
- Eu vim buscar flecha porque eu vi peixe embaixo da ponte
do córrego. O irmão mais velho disse:
- Não erre, mate o peixe para nós comermos.
- Se ele não foi embora vou matá-lo, mas vou demorar um
pouco.
Ele voltou lá na beira e encontrou o Tomuko no mesmo lugar
que tinha visto.
- Oba, agora você vai morrer!
Ele caiu um pouco no córrego e armou seu arco, puxou a
flecha para disparar. Quando ele esticou o arco, Tomuko disse:
- Olhe, não me mate! Quero contar sobre a sua família.
Kureko tirou a flecha da armação e disse:
-Então me diga, o que vai contar?
Tomuko respondeu:
- Quero dar uma notícia boa para você. Sua mãe e os famili
ares estão lá no fundo da terra da água. Então você pode mergulhar até
você encontrar uma porta para entrar no fundo da água.
Kureko mergulhou e entrou logo no buraco que fica no fundo
do córrego. Tomuko explicou para ele que lá no fundo é igual aqui fora, lá
no fundo tem gente como a gente também. Tomuko disse a ele que ia
esperar na porta do buraco, mostrou o caminho que ia até a casa da mãe
do Kureko. Disse também que a irmã do Kureko era ruim, era do tipo de
um homem que acaba com tôda a gente que vive naquele lugar. Ela não
era nem mulher, nem homem. Kureko foi até a casa da mãe e disse atrás
da casa;
- Mãe, sou eu!
A mãe respondeu:
- Será que eu ouvi a voz do meu filho?
- Mãe, sou eu. Vim atrás de você. Quero que abra um buraco
para eu entrar.
- Vou te avisar antes de entrar, estamos em perigo porque
sua irmã não gosta de visitas. Quem chega aqui ela mata, está acabando
com todo mundo.
A mãe fez um buraco para ele entrar, mandou entrar logo. Na
casa tinha casca de pau para ele se esconder. Kureko contou todos os
acontecimentos da sua vida para a mãe. A mãe disse:
- Eu só tenho um jeito de ajudar você, faça tudo o que eu
peço.
A mãe deu a ele semente de algodão, semente de amendo-
im, um pouco de cabelo, um pouco de colar. Pediu para o filho cortar
muito pau para fazer um círculo.
- Você quer ver o que a sua irmã faz? Esconda-se debaixo da
casca de pau.
Dali a pouco a irmã apareceu correndo com um veado nas
costas e jogou na frente da sua mãe. Ela sentiu o cheiro do seu irmão e
perguntou:
- Ora essa, será que chegou visita? Mostre ele para mim.
- Não filha, não chegou ninguém. Você está acabando com
todos eles.
Ela deitou na rede e balançou para passar seu calor. Depois
disse:
- Mãe, talvez tenha chegado visita aqui na nossa casa. Você
está escondendo de mim.
- Ninguém apareceu, filha. Eles têm medo de você.
Ela desceu da rede e pediu para a mãe catar piolho. A mãe
aproveitou para cortar um fio de cabelo dela. Depois de ver os piolhos ela
foi tomar banho e deixou o colar pendurado. A mãe pegou um pouco do
colar. Enquanto ela tomava banho, a mãe levou o colar e o cabelo da
filha para o seu filho. Explicou o que ele deveria fazer. A irmã veio do
banho e a mãe falou:
- Vá procurar comida para nós.
Ela pegou sua flecha e borduna e saiu para caçar. O irmão
saiu da casa e voltou para o acampamento. Tomuko estava esperando
por ele lá na porta. Ele chegou até Tomuko e falou:
- Encontrei com a minha mãe. Agora estou muito feliz por ter
conhecido minha mãe. Vamos embora.
Tomuko pulou. Kureko pegou a cabaça de água e foi até o
irmão.
- Por que você demorou tanto assim?
Kureko ficou pensando se a mãe tinha contado a verdade
para ele. Ele queria contar logo para o irmão. Quando chegou a noite ele
contou tudo para o irmão.
Perguntas:
Você pode continuar essa história?
Cada professor pode conversar com os velhos
de sua aldeia e tentar escrever ou completar
as histórias do seu povo.
Nós precisamos saber dos antepassados, do que acon-
teceu há muito tempo atrás. Se nós não soubermos da nossa histó-
ria, os mais novos só vão saber as coisas que estão acontecendo
hoje em dia.
Kaomi Kaiabi
COMO APARECEU O BRANCO
Anhê Pykany
Quem nasceu primeiro foi Iprêre. Ele andava com a família
dele. Depois ele fez porco e caititu.
Antigamente não tinha animais,
morro e rio.
Iprêre fez mais
gente. Ainda não tinha
branco, mas tinha muita
lagarta. O mato pegou
fogo. A lagarta correu de
medo do fogo e virou gente
branca.
A HISTÓRIA DOS BRANCOS
Pàtkôre Metyktire
Eu vou contar a história dos brancos.
Antigamente não existia branco. Uma mulher foi no
rio e a lagarta
atravessou o ca-
minho. A mulher
gostou dela e à
noite deitou com
ela. Bem cedo ela
saiu e dormiu lá em cima da árvore.
Quando a gente fez fogueira
as lagartas se queimaram todas e
viraram os brancos.
Agora já tem branco. índio
nasceu primeiro, depois o branco saiu.
O homem que nasceu pri-
meiro nós chamamos Iprére, ele fez
mulher e filhos.
COMO APARECEU O BRANCO
Matari Kaiabi
desenho: Moreajup Kaiabi
Tinha um homem Kaiabi que era grande pajé. Naquele tem-
po o pajé era barbudo e peludo como o branco. Ele viu um ninho de
gavião no mato. Ao mesmo tempo o sobrinho dele também viu o mesmo
ninho no mato. O pajé tinha uma idéia de criar filhote de gavião, mas
corno o sobrinho dele viu, então ele tirou o filhote de gavião. Ele não
sabia que era do tio dele. Quando o pajé foi tirar o ninho de gavião, ele
não achou mais, o sobrinho já tinha levado.
Então o pajé ficou muito triste e aborrecido. Quando chegou
em casa contou para sua esposa e suas filhas. No dia seguinte ele pediu
para suas filhas cozinharem batata, cará, farinha de amendoim, feijão
fava, fazer bolo de mandioca, inhame e pimenta torrados. Tudo isso o
pajé mandou preparar. E a filha começou a preparar tudo o que o pai
mandou fazer. Quando ficou pronto a filha levou para o pai. O pajé levan-
tou-se e disse:
- Hoje eu vou mandar descer o branco do céu, porque estou
muito triste com o meu sobrinho que tirou filhote de gavião, porque era
meu. Esse branco que eu vou chamar vai matar muitos índios e vai aca
bar com a terra dos índios, vai trazer doença incurável.
Quando terminou de falar, o pajé sentou-se num banco e pe-
diu para sua filha trazer a comida que tinha sido
preparada. Quando ajuntou todas as coisas, o pajé
chamou sua mulher, as
filhas e todo o pessoal da
aldeia para ver o que ia
acontecer. O pajé come-
çou a fumar e oferecer
comida para os espíritos
que chamamos de
"mait".
desenho: Moreajup Kaiabi
Depois de ofe-
recer tôda a comida o pajé
começou a chamar os
brancos. Todos ouviram
barulho muito grande no
céu, como barulho de tro-
vão. Quando o povo ouviu,
ficou com medo. E o pajé
chamou de novo e os bran-
cos começaram a descer
do céu. Quando o pajé viu
que o pessoal ficou com
medo, disse:
- Este branco
que estou chamando não
vai descer neste lugar, vai descer no outro lugar, no outro país. Nós não
vamos ver, mas os nossos netos é que vão ver esse branco, eles que vão
sofrer nas mãos deles.
Então se acalmaram. O pajé chamou de novo e os brancos
desceram na terra. O pajé estava vendo os brancos descendo, eram
muitas pessoas. Quando chegaram na terra eles começaram a trabalhar
e fizeram uma balsa de tábua muito grande. Começaram a andar para
todo lado.
Foi assim que o branco desceu do céu, foi a mando do pajé.
Se não fosse assim o branco não ia existir aqui na terra. As palavras que
o pajé falou estão-se cumprindo de hoje em diante, porque o pajé falou
que o branco ia destruir o mato, matar muitos índios, tomar a terra e
trazer doença incurável.
Perguntas:
Todo povo tem suas histórias. As histórias que
você leu fazem parte de grandes histórias de
alguns povos do Xingu. Cada povo tem as
suas próprias histórias.
1 - Pesquise com os mais velhos:
- a origem do homem
- a origem do fogo
2 - Escreva essas histórias com muitos deta-
lhes.
A HISTORIA CONTADA PELO HOMEM BRANCO
O homem branco conta que os primeiros homens que vieram
morar aqui na América chegaram de um continente chamado Ásia.
Faz muito tempo, a terra ficou muito fria, a água congelou,
dava até para andar em cima. Os homens que moravam na Ásia sempre
caçavam um animal chamado mamute. Andando atrás do mamute o ho-
mem atravessou o Estreito de Bering, que é água hoje em dia, mas na-
quele tempo estava congelada e dava para andar em cima.
Assim o homem chegou na América.
Desenho em pedra dos povos
indígenas do Rio Negro.
Lá na Ásia o homem também caçava e nem sabia fazer casa.
Ele morava em cavernas, que são buracos grandes nos morros de pedra.
As pessoas que estudam essas cavernas chamam-se arqueólogos.
Eles cavam a terra e descobrem os lugares onde os primeiros homens
do planeta Terra viveram. Os arqueólogos descobriram muitas
cavernas com desenhos nas paredes, que mostram caçadas dos
homens antigos. Já encontraram essas cavernas em muitas partes do
mundo, inclusive aqui no Brasil.
Pintura em caverna no Nordeste.
Então nós podemos pensar que antigamente todos os ho-
mens viviam mais ou menos igual.
O clima (frio ou calor), o relevo (montanhas, planícies, etc.), o
tipo de mato (cerrado, mata etc), a água (mar, rio grande ou igarapé)
influenciaram o homem na sua vida. O homem precisou inventar um jeito
de viver e dominar o meio ambiente.
O homem branco dividiu em três períodos: o período da pe-
dra lascada, o período da pedra polida e a idade dos metais.
No período da pedra lascada o homem vivia da caça e da
coleta dos frutos e outras coisas que precisava para viver.
No período da pedra polida o homem passou a cultivar a ter-
ra (fazer roça), começou a criar animais e a viver em aldeias.
Na idade dos metais é que começaram a surgir as pequenas
cidades.
Converse com os velhos da sua aldeia e pergunte
como apareceram as pessoas aqui na Terra. Escreva
a história do seu povo.
Alguns estudos mostram que a
temperatura da terra aumentou. Assim a vida do
homem na Terra foi ficando mais fácil.
Antes de aprender a abrir roças e fazer casas, os homens
caçavam e comiam frutas, sempre morando em cavernas.
Muitos anos se passaram para os homens morarem juntos,
em aldeias. Foi quando o homem aprendeu a plantar e abrir roças que
isso aconteceu.
Alguns homens precisaram de roupas porque moravam em
lugar muito frio. Enquanto um povo plantava milho, outro povo plantava
trigo e outro povo plantava arroz, porque cada planta depende do clima e
da terra.
A escrita também demorou um tempo para ser descoberta.
As primeiras escritas foram inventadas na Ásia. A Babilônia, a China e o
Egito são os lugares onde a escrita é mais antiga.
A escrita que nós usamos hoje é muito diferente da escrita
antiga dos egípcios e dos babilônios.
Com a escrita os povos começaram a escrever o que aconte-
cia. Por isso hoje em dia nós podemos saber como foi a vida dos povos
antigos.
A ORIGEM DA ESCRITA
Babilônia - escrita cuneiforme
Creta - escrita hieroglífica nos
vários lados de uma
barra de argila
Egito - a escrita dos hieroglifos
Alfabeto fenicio, hébreu e
grego
Inscrição dos romanos:
documento mais antigo
do alfabeto latino
Exemplo da escrita chinesa
Se os homens não temem o que é para temer
Maiores desgraças ainda recairão sobre eles
Procurar que ninguém ache mesquinha sua morada
Procurar que ninguém ache mesquinha sua existência
Os homens que não desejem desgostar-se, jamais se
desgostarão
Por isso, aquele que se conhece, jamais se exibe
Estima a si mesmo, mas não se aprecia.
(Lao Tse)
A escrita dos Maya
A escrita náhuatl
dos Astecas
América do Norte - índios Dakota
América do Norte - cantos Ojibwa
Urn indio e sua mulher tiveram uma
discussão: ele queria ir caçar, e ela,
não. Ele pegou o seu arco e flechas e
encaminhou-se para a floresta. Surpre-
endido por uma tempestade de neve,
procurou proteger-se. Avistou duas
tendas, examinou-as, mas descobriu
que abrigavam duas pessoas doentes:
numa delas havia um garoto com sa-
rampo, na outra, um homem com varí-
ola. Ele se afastou o mais rápido que
pode e logo aproximou-se de um rio.
Vendo peixes no rio, ele apanhou um
deles, comeu-o e descansou ali por dois dias. De-
pois pôs-se a caminho de novo e avistou um urso.
Disparou uma flecha contra ele, matou-o e fez
um belo banquete. Em seguida partiu novamente
e viu uma aldeia indígena, mas como eles se
mostrassem inimigos, fugiu e foi ter a um peque-
no lago. Enquanto caminhava ao longo do lago,
apareceu um cervo. Ele matou-o com uma flecha
e arrastou-o para sua cabana, para sua mulher e
seu filhinho.
Nos livros está escrito
que a historia dos povos começa
com a invenção da escrita.
Antes, quando não ti-
nha escrita, os estudiosos cha-
mam de pré-história.
Os povos que vivem
no Xingu também têm uma histó-
ria, que é chamada de história oral.
Agora os povos do Xingu estão
começando a escrever sua própria
história, cada povo na sua língua. É
muito importante cada povo es-
crever a sua história. O jeito de
pensar de cada povo aparece nes-
sas histórias.
Alguns professores escreveram como foi a chegada dos bran-
cos na aldeia do seu povo. Eles escutaram as histórias dos velhos e
estão começando a colocar no papel o que os velhos contaram.
Cada lugar do mundo é diferente, tem coisas diferentes. Por
isso cada povo faz artesanato diferente, come coisas diferentes e tem
um jeito diferente de viver.
Kaiabi e Panará sempre dizem que o lugar onde moravam
primeiro, o lugar dos antigos, tem coisas que não tem aqui no Xingu. Por
isso o pessoal parou de fazer um tipo de artesanato, porque não tem o
material no mato. Eles tem saudades de comer frutas que não tem aqui
no Xingu.
Aqui na América do Sul e na América do Norte viviam muitos
povos, um diferente do outro. Muitos desses povos não existem mais e
muitos estão vivendo até hoje.
Desenhe alguma coisa que o seu pessoal fa-
zia antigamente e parou de fazer, ou alguma
coisa que o seu pessoal comia e não come
mais.
O CONTINENTE AMERICANO
Urna terra grande, com muitos países, é chamada de conti-
nente. O Brasil fica no continente americano, que é formado pela Améri-
ca do Sul, América Central e América do Norte.
OCEANO ATLANTICO
OCEANO PACIFICO
A AMÉRICA DO SUL
O Parque Indígena do Xingu fica no Estado do Mato Grosso.
O Estado do Mato Grosso fica no país chamado Brasil.
O Brasil fica na América do Sul, que é formada por muitos
países.
Cada país tem o seu sistema de governo e o seu jeito de
viver.
A CHEGADA DOS EUROPEUS NO BRASIL
Jemy Kaiabi
desenho: Pablo Kamaiurá
Primeiro Colombo chegou na América em 12 de outubro de
1492. Depois que o europeu chegou no Brasil, em 1500. Aí que o Brasil
foi invadido pelos europeus: primeiro na Bahia, depois São Paulo e Rio
de Janeiro. Assim os portugueses foram tomando o Brasil.
Quando os portugueses não tinham chegado no Brasil essa
terra nem tinha esse nome Brasil. Eles deram esse nome para a nossa
terra. E foram tomando as terras dos índios do Brasil, que naquela época
existia só para os índios.
NAVEGAÇÕES PORTUGUESAS
BRANCO TAMBÉM FAZIA TROCA
Aisanain Kamaiu
Antigamente o povo europeu fazia troca na índia.
No meio do caminho do europeu tinha outro povo que era de
outra religião. Aí eles inventaram o barco, que naquela época chamava
caravela. Eles saíam da Europa, passavam pelo Cabo Verde, depois eles
passavam pelo Cabo da Boa Esperança. Até que eles chegavam na ín-
dia. Eles iam pegar muito material na índia, depois eles voltavam para a
Europa.
Os europeus pensavam muito no Cabo da Boa Esperança,
que era muito perigoso. Então eles fizeram outro caminho para a índia.
Na verdade eles estavam errando o caminho, eles foram atravessando o
mar, do outro lado da Europa. Dizem também que eles erraram o cami-
nho de propósito, para vir mesmo para o Brasil.
No dia 21 de abril de 1500 eles tiveram um sinal de terra e
ficaram alegres.
Os portugueses chegaram em Porto Seguro. Eles não viram
cidade nem outros brancos. Eles viram a terra com o mato e os índios.
Eles perguntaram para os índios se tinha ouro e prata, mas os índios
responderam que não tinha. Aí os europeus viram pau-brasil, bem ver-
melho. Eles começaram a cortar as árvores e pediram para os índios
ajudarem.
Os índios começaram a ajudar. Até que eles não agüenta-
ram e fugiram para o mato. Quando os brancos foram atrás deles, os
índios correram todos para o mato.
Assim que os índios começaram a se espalhar pelo Brasil.
BRASIL RICO
Eroit Kaiabi
Os europeus chegaram no Brasil só porque o Brasil era rico
de ouro e pau-brasil, só para explorar e tirar madeira para vender nos
outros países.
Outra coisa: antes dos europeus chegarem no Brasil não ti-
nha doente, a gente não tinha arma de fogo, roupas, de navio ninguém
sabia.
Os índios ficaram estranhando os europeus no Brasil.
JÁ TINHA ÍNDIO NESSA TERRA
Ajumã Kamaiurá
Os índios receberam os portugueses achando que aquelas
pessoas estavam de viagem e que logo iam embora. Mas eles chegaram
para tomar a terra, eles chegaram dizendo que tinham descoberto uma
terra nova.
Já tinha índios aqui nessa terra, na verdade essa terra nunca
foi descoberta. Já tinha habitantes, que somos nós.
desenho: Jo
ã
o Kaiabi
OS PRIMEIROS ENCONTROS COM OS BRANCOS
NO PARÁ
Adjiha Yudjá
O nome da nossa aldeia era Sebayau. Primeiro encontra-
mos os brancos. Os seringueiros mandavam a gente trabalhar no serin-
gal. Quando o pessoal não queria trabalhar para eles, eles queriam ma-
tar o pessoal. Algumas pessoas foram com os seringueiros lá na mata.
Até que eles roubaram mulher. Quando eles precisavam da gente, vi-
nham até a aldeia escolher rapazes para trabalhar para eles.
Um dia eles vieram e Tamariko velho foi com eles. O serigueiro
mentiu para ele:
- Você vai comigo trabalhar. Quando eu pagar você, pode
voltar, ou então eu mesmo vou trazer você aqui na aldeia.
No dia seguinte levou ele, mas ele não gostou nem um pouco
da fazenda. Eles andaram direto, sem parar em nenhum acampamento,
viajaram mais de seis dias sem parar, foram longe.
Tinha uma moça Yudjá casada com um seringueiro. Ela escu-
tou quando eles disseram que iam levar Tamariko para matar na cadeia.
Então ela disse para ele:
- Você sabe para onde o branco está levando você?
- Não.
- Os brancos estão levando você para matar lá.
Então ele resolveu fugir de noite. Pegou canoa velha, botou
no rio, pegou remo velho. A moça arranjou uma lata para ele colocar
farinha. Depois começou a assar carne e mentiu para o branco:
- O cachorro está comendo a carne.
O branco mandou Tamariko bater no cachorro. Na verdade
ela estava escondendo a carne para ele comer na viagem. O branco
amarrou a rede do Tamariko bem no meio do pessoal dele. Bem de noite
ele tirou a rede e passou por baixo da rede do branco sem acordar nin-
guém. Ele subiu o rio perto da fazenda e saiu no mato. Só andava de
noite para não encontrar o branco. A comida dele acabou e ele comeu só
coco. Até que chegou na aldeia.
NÃO TINHA JEITO DE CUMPRIMENTAR
Tempty Suiá
O primeiro encontro foi assim:
Os brancos vieram encontrar os Suiá na aldeia chamada
Tepswatxi Nhongô.
Quando os Suiá foram de madrugada bater timbó no riacho,
ficaram só as mulheres na aldeia. Mas as mulheres não receberam os
brancos.
As mulheres ficaram assustadas, por isso que elas não liga-
ram nada para os brancos. Como não tinha jeito de cumprimentar, elas
mandaram duas moças correrem atrás dos homens para contar que os
brancos já tinham chegado na aldeia.
Quando o pessoal chegou na aldeia, eles queriam matar na
hora, mas o grande pajé falou que o filho dele ainda não tinha chegado.
Assim que o filho do pajé chegou, ele mandou o pajé matar os brancos.
O grande pajé falou para o pessoal para cada um deles ficar
perto dos brancos para segurá-lo.
Então cada um deles agarrou o branco, outros ajudaram seu
companheiro para matar.
Assim foi como primeiro os brancos encontraram com os Suiá
na aldeia do Xingu.
O PRIMEIRO CONTATO
Matari Kaiabi
O primeiro contato com os brancos foi assim:
Tinha um fazendeiro chamado Jacaré na língua Kaiabi, que
era muito bom, dava as coisas: machado, facão, foice, roupas. Ficou
muito tempo perto da aldeia Kaiabi. Todos os Kaiabi ganharam presente
dele. Tinha um Kaiabi muito valente e grande matador. Ele não ganhou
nenhum presente do Jacaré. Então ficou com inveja e foi matar aquele
fazendeiro que chamava Jacaré.
Depois desse fazendeiro, os Kaiabi ficaram muitos anos sem
ter contato com branco. Tinha branco, mas os Kaiabi não falavam, fica-
vam com medo.
Depois de muitos e muitos anos apareceram invasores que
eram seringueiros, isso aconteceu no rio Teles Pires. Os Kaiabi começa-
ram a trabalhar como empregados dos seringueiros. E os seringueiros
começaram a castigar, matar e a tomar as mulheres dos Kaiabi para
eles.
Naquele tempo os Kaiabi sofreram muito com os seringuei-
ros.
Então foi assim o primeiro contato com branco. Eu não posso
contar mais porque não sei.
"Esta casa é antiga. Antigamente nós fazíamos assim, aí era muito grande que
a gente gostava da festa, por isso nossa casa era grande".
PROCURANDO UM LUGAR PARA VIVER
Kanawayuri Kamaiurá
Segundo os mais velhos da aldeia Kamaiurá, a história do
povo é assim:
Dizem que com a chegada dos brancos de outra terra, eles
ficaram muito assustados e decidiram procurar outro lugar mais seguro,
mais longe dos brancos, para viver em liberdade.
Então eles resolveram descer um rio de canoa, sem saber
para onde iriam, sem destino. Esse percurso começou no Rio de Janeiro.
Durante o trajeto, eles pararam muito para fazer aldeias, mas desistiram
de morar em tais lugares devido às muriçocas que os dificultava dormir.
Os que vinham descendo atrás, se perderam no caminho. Esse grupo
agora é o povo Tapirapé.
Outros continuaram descendo o rio, até que encontraram um
lugar muito bom para morar, sem muriçocas ou mosquitos. Esse lugar é
o Ypawu, que fica aqui dentro do Xingu.
Dizem ainda que muitos grupos chegaram lá para morar, eram
Kamaiurá. Eles chegaram a fazer seis aldeias grandes. Depois, com a
chegada dos brancos com gripe, sarampo e muitas outras doenças, es-
ses grupos morreram e os que ficaram, os que sobraram, se juntaram
para fazer uma aldeia só.
LEIA ESTE TEXTO:
"Uma estrela excepcionalmente favorável conduziu-nos a um caminho
que nos pôs em contato com representantes de todos os mais impor-
tantes tipos tribais. A esse respeito, o Xingu supera a todos os afluen-
tes do Amazonas. E por essa razão cumpre estender a investigação
agora começada numa pequena parte dos índios do Xingu, primeira-
mente sobre o Kulisehu, tirando o véu, pouco a pouco, de toda a pai-
sagem ainda rica de mistérios...
Não há metais, nem cães, nem bebidas embriagadoras, nem bana-
nas! Eis a verdadeira idade da pedra entre tribos cujos parentes vivem
espalhados sobre quase dois terços do continente sul-americano. Eis,
por conseguinte, no estado primitivo, os principais tipos de tribos, cujos
parentes, em outras regiões, já se acham mais ou menos influencia-
dos por nossa civilização e, por isso, somente acessíveis ao estudo,
em condições impuras. Eis, por fim, um campo preciosíssimo de in-
vestigação situado no território restrito que se localiza entre a cachoei-
ra de Martius e o divisor das águas no sul.
Não é claro como a luz do sol que a província de Mato Grosso possui
tesouros maiores do que ouro e diamantes?"
Karl von den Steinen
Grife as palavras que você não conhece.
- Escreva cada palavra com sua explicação.
- O você pensa sobre a viagem de Karl von den
Steinen?
- Faça um mapa da sua região.
- Coloque os nomes dos rios.
- Coloque o lugar exato da sua aldeia.
- Sua aldeia sempre foi neste lugar? Pergunte
aos velhos. Escreva o que os velhos contarem
sobre o tempo antigo.
- Com a ajuda dos velhos, faça um mapa das
aldeias antigas.
- Escreva os nomes das aldeias no mapa.
RONDON E OS ÍNDIOS
No século XIX muitas famílias da Europa começaram a vir
morar no Brasil porque tinha muita gente na Europa, tinha muito branco e
a terra era pouca. O governo brasileiro resolveu aceitar essas famílias
para colonizar o interior do país. Já era proibido ter escravos nessa épo-
ca. Os colonos europeus seriam uma forma de ocupar a terra, trazendo
pessoas que pudessem contribuir para o crescimento sócio-econômico
do país.
No interior do país já tinha gente morando há muito tempo.
Eram todos os povos indígenas que nós conhecemos hoje e outros que
não conhecemos mais porque desapareceram com a chegada do bran-
co. O encontro do estrangeiro com o índio sempre resultou em conflitos,
que liquidaram com muitos povos indígenas.
No começo do século XX o governo brasileiro resolveu cons-
truir linhas de telégrafo no interior do país, tentando fazer a comunicação
das grandes cidades com os estados de Mato Grosso, Acre e Amazonas.
Com a expansão do telégrafo no interior do país o governo também apoi-
ava os colonizadores, que queriam se estabelecer nas terras do interior,
mas queriam apoio do governo.
Naquele tempo não existia rádio para comunicação, nem avi-
ões. As mensagens eram transmitidas pelo telégrafo, que precisava de
fios para passar as mensagens de um lugar para o outro. Então era pre-
ciso passar pelas terras dos índios colocando postes e esticando os fios.
Até aquela época ninguém se preocupava em respeitar os
índios, os brancos iam roubando as suas terras e acabando com suas
aldeias.
Para fazer esse trabalho foi criada a Comissão de Linhas Te-
legráficas e Estratégicas de Mato Grosso ao Amazonas. A pessoa res-
ponsável pela expansão do telégrafo era um um militar chamado Cândi-
do Mariano da Silva Rondón. Mais tarde essa comissão passou a cha-
mar-se Comissão Rondón.
Rondón foi o primeiro militar a pensar diferente sobre os indi-
os. Ele dizia para o seu pessoal que era melhor branco morrer do que
matar índio.
Rondón conheceu de perto os índios que tinham sofrido nos
conflitos com os estrangeiros e os outros brancos. Em 1910 foi criado o
Serviço de Proteção ao índio e Localização de Trabalhadores Nacionais.
A proposta inicial era de proteger os índios, suas terras e sua cultura.
Com o tempo eles seriam integrados na sociedade nacional, seja como
trabalhadores agrícolas ou com casamentos entre brancos, negros e
mulatos. No começo do SPI e durante quase tôda a sua vida Rondón
acreditou que seria bom o índio ser integrado à nossa sociedade. No final
de sua vida seu pensamento mudou, achando que seria melhor preser-
var o índio e sua cultura, na sua própria terra.
Foi assim que o governo brasileiro começou a ter uma políti-
ca de proteção ao índio.
- Pesquise com os mais velhos o que eles sabem
sobre o marechal Rondón.
- Pesquise e escreva como os índios do Xingu
começaram a se encontrar com o branco.
OS IRMÃOS VILLAS-BOAS
Depois de trinta anos da criação do SPI o branco já tinha
inventado os aviões. Eles não conseguiam chegar do Rio de Janeiro até
Manaus sem abastecer no caminho. Então o governo criou a expedição
Roncador-Xingu, para abrir campos de pouso e apoio ao Correio Aéreo
Nacional. Os irmãos Villas-Bôas fizeram parte desta expedição.
No rio da Mortes instalou-se a base principal da Expedição Roncador-
Xingu.
Levávamos dezesseis homens, todos recrutados no garimpo. Muitos
haviam entrado na expedição para fugir da polícia.
Tínhamos homens com dezoito, dezesseis
mortes - o mais pacífico tinha oito mortes,
chamava-se Antenor. Todas as noites fa-
zíamos uma roda de viola em volta de uma
fogueira e ficávamos conversando, con-
tando coisas do Brasil, falando de índios,
para acabar com a noção de que o índio
era um sujeito mau e destruidor. Isso deu
tão certo que os homens se transformaram
nos melhores assessores que tínhamos
para lidar com os índios.
Observamos que cada vez que parávamos
para fazer um trabalho - montar um posto
ou abrir um campo de pouso - os índios
reagiam. Tentavam atacar. Quando
reiniciávamos a marcha, nos acompa-
nhavam à distância mas não nos hostili-
zavam.
É claro: os índios só se preocupavam quando pensavam que iríamos
nos fixar nas suas terras.
...Já havíamos alcançado o rio Sete de Setembro. Bastava descê-lo
para chegarão Kuluene, um rio caudaloso. Kuluene abaixo, surgiram
na barranca alta da direita os índios Kalapalo. Quando tentamos nos
aproximar fugiram para dentro da mata. Recuamos. Não forçamos de
maneira alguma o contato. Nem tínhamos intenção de atraí-los. O ob-
jetivo da expedição era desbravara mata, localizar rios e abrir campos
de pouso para exame posterior da área. Mas nosso primeiro contato
com os índio do Xingu foi assim: o índio que chefiava o grupo, Yakumba,
aproximou-se com sua mulher, Kerezo. Quando Yakumba se acercou,
os demais índios foram chegando, devagarinho, ressabiados e preve-
nidos. Tornamo-nos amigos...
Sabíamos da existência dos índios Txucarramãe, a quem os Kalapalo
chamavam Aveotó ou Suya- cati. Tratava-se, segundo eles, da tribo
mais numerosa e perigosa de tôda a região. Diziam os Kalapalo que
os Aveotó não usavam arcos nem flechas, apenas lanças e tacapes.
Também não tinham morada fixa. Os Kalapalo até nos aconselharam
a não descer o rio Xingu. Só mais tarde ficamos sabendo que
Txucarramãe é uma palavra da língua Juruna que significa "desprovi-
do de arco".
Quando descíamos o Kuluene, já encorpado com as águas dos rios
Tanguro e Curizevo, avistamos canoas em fuga. Saímos no encalço.
Eram os Kamaiurá: batiam no peito, gesticulavam, apontavam em cer-
ta direção que, soubemos mais tarde, era a sua aldeia. Fomos até lá.
De início, só conseguimos provocar tumulto. Os velhos, porém, man-
daram os moços guardar os arcos e as flechas que vinham agitando.
Breve, saímos juntos com muitos deles. Queríamos encontrar uma terra
alta e firme para erguer um novo posto. Encontramos, no lugar que
chamavam lacaré. Foi aí, em 1947, que erguemos o posto mais impor-
tante, com campo de pouso maior, ladeado com muitos ranchos de
pau-a -pique. Orlando Villas-Bôas
desenho: Maiua Ikpeng
O ENCONTRO COM CLÁUDIO
(História narrada por Tuim Kaiabi para Matari, Jemy, Arupaiup,
Tangeakatu, Joaquim e Aturi)
Os Kaiabi moravam no rio Teles Pires quando tiveram o pri-
meiro contato com o homem branco. Esse homem nós chamávamos ita
ea, que significa olhos de pedra (ita é pedra, ea é olho). Esse branco era
o Cláudio Villas Boas. Ele usava óculos e o pessoal achava que era pe-
dra que estava nos olhos dele.
O Cláudio estava fazendo expedição até chegar num lugar
que os Kaiabi chamam jyapyi'i, que significa machadinho em português.
Eles fizeram acampamento nesse lugar do rio Teles Pires e fizeram uma
pista de pouso.
Havia três Kaiabi subindo o rio, pescando. Eles encontraram
a turma de Itaea. Eles não chegaram no acampamento, ficaram do outro
lado do rio. A turma do Ita ea não tinha coragem de chamar os Kaiabi.
Esses também ficaram com medo porque não conheciam branco.
Ita ea estava em outro acampamento. Quando ele chegou, a
turma contou para ele que chegou índio, mas que não tiveram coragem
de falar com eles. Ita ea ficou bravo com a turma dele.
Nesse mesmo tempo Prepori estava vindo de outra aldeia
que ficava lá em cima no Teles Pires. Ele chegou no acampamento do Ita
ea, que mostrou coisas para ele. Prepori teve coragem e chegou no acam-
pamento dos brancos. Deram muitos presentes para ele.
Ita ea falou para o Prepori buscar Kaiabi de outra aldeia que
ficava lá em baixo do Machadinho. Prepori disse que ia primeiro na outra
aldeia buscar suas coisas, depois ele ia atrás dos outros Kaiabi.
Aqueles Kaiabi que vieram primeiro levaram notícia para o
pessoal da aldeia lá em baixo. Um Kaiabi corajoso que ouviu a notícia
falou para o pessoal da aldeia que ¡ria subir para ver os brancos. Come-
çou a arrumar as coisas e levou mais um Kaiabi com ele.
Quando chegaram lá no acampamento dos brancos e se apro-
ximaram, Ita ea viu e logo pegou facão, machado e vários tipos de coi-
sas, gritando para os Kaiabi, pedindo para eles pegarem o material e
mostrando para eles. Os Kaiabi vieram, pegaram os presentes e levaram
para a aldeia.
O pessoal da aldeia viu que eles ganharam muitas coisas
dos brancos. Então aqueles Kaiabi que ficaram com medo voltaram com
suas mulheres no acampamento. Ita ea fez a mesma coisa com eles,
deu muitos presentes. Esses Kaiabi ficaram muitos dias com Ita ea. A
turma do Cláudio fez uma brincadeira com eles. Como eles não entendi-
am português, as esposas pensaram que os brancos queriam brigar com
eles e deixaram o acampamento de noite. Chegando na aldeia, elas con-
taram que os brancos tinham brigado com eles e matado seus maridos.
Os Kaiabi ficaram assustados, abandonaram sua aldeia e se espalha-
ram de medo dos brancos. Eles desceram o rio e quase foram parar no
Pará.
Passaram-se muitos meses. O mesmo Kaiabi corajoso vol-
tou para ver o acontecimento e encontrou com os maridos daquelas
mulheres que levaram a notícia ruim. Eles explicaram que não era verda-
de, que os brancos só fizeram uma brincadeira com eles e as mulheres
pensaram que era briga.
Então eles vieram buscar o pessoal que tinha se espalhado,
mas conseguiram levar só a metade. O resto do pessoal foi metade para
o Pará e metade para o Tatui. Foi naquele tempo que o pessoal se dividiu
em três grupos e não conseguiu mais se juntar. Daqueles que voltaram
para a aldeia, somente a metade veio para o Xingu.
Até hoje os Kaiabi vivem separados, uma parte no Pará, ou-
tra no Xingu e outra no Tatui.
Esse foi o primeiro encontro que mudou a vida do Kaiabi. Foi
uma tristeza muito grande, até agora a gente sente.
Ita ea foi atrás dos Kaiabi que se separaram, mas eles não
voltaram, ficaram lá mesmo.
A TRANSFERÊNCIA DOS KAIABI PARA O XINGU
(His
t
ória narrada por Tuim Kaiabi para Matari, Jemy, Arupajup,
Tan
g
eakatu, Joaquim e Aturi
)
Quando Cláudio Villas Boas terminou o trabalho naquele lu-
gar, ele estava arrumando as coisas para voltar para o Xingu. Antes de
sair o Cláudio convidou o Prepori para vir pesquisar o Xingu e ele ensinou
o caminho do Xingu para o Prepori.
Cláudio veio embora para o Xingu e nunca mais voltou. Pas-
saram-se anos e meses até que o Prepori resolveu fazer uma viagem
para o Xingu, preparou a comida e saiu com a família dele. Como o Cláu-
dio ensinou bem o caminho, eles souberam chegar.
Prepori começou a andar e lá no meio do caminho acabou a
comida. Mesmo assim ele continuou, eles passaram fome na viagem.
Essa viagem custou muitos dias, eles passaram por muitos rios, até que
chegaram no rio Maritsawa. Desceram o rio até chegarem na primeira
aldeia Yudjá. Ali eles ficaram um mês, porque passaram fome e emagre-
ceram muito.
Depois de um mês, eles subiram o rio Xingu e chegaram no
Diauarum. Os brancos que estavam aqui passaram rádio para o Cláudio
que pediu para eles subirem. O pessoal do Prepori continuou subindo até
chegarem para baixo da aldeia Trumai, que agora chama Morena. Ali o
Cláudio veio buscar o pessoal de motor e chegaram no destacamento da
FAB.
Prepori ficou muito tempo com Cláudio. Quando chegou o
tempo do Prepori voltar, ele saiu com a idéia de transferir os Kaiabi para
o Xingu.
Quando ele voltou, contou para os Kaiabi que aqui no Xingu
era melhor, que ganhavam presentes dos brancos. Muitos Kaiabi acredi-
taram na conversa do Prepori e muitos não acreditaram. Aqueles Kaiabi
que acreditaram vieram para o Xingu, a metade ficou porque não acredi-
tou.
Então a transferência dos Kaiabi foi assim, não foi o Cláudio
quem transferiu os Kaiabi, quem transferiu foi o Prepori. O Cláudio so-
mente ajudou com a comida e deu assistência quando o pessoal chegou
aqui no Xingu.
Desenho de peneira Kaiabi - Tanga Fuia.
O POVO TRUMAI
Yakairu e Ariakumalu Trumai
Antigamente o povo Trumai morava longe, na direção
do rio Kuluene. Desse lugar distante eles vieram para o Xingu
descendo o rio Kuluene. Dizem que no caminho discutiram entre
eles mesmos, só por causa de ema. Depois disso dividiram-se em
dois grupos e nunca mais tiveram contato, só um grupo ficou
aqui no Xingu.
Eles resolveram descer o rio até que encontraram o
povo Kalapalo. Eles ofereceram comida. Eles nao conheciam
beiju e outros alimentos.
Esses dois Kalapalo estavam pescando no rio
Tanguro. eles mostraram o rio que descia. Os Trumai vieram
descendo e fizeram aldeia no Utawana, mas não deu certo.
Foram fazer aldeia no Jacaré, depois no Anariá. Lá tinha bastante
Trumai e muitas coisas. Eles também se dividiram em dois
grupos, uma aldeia chamada Wani wani e outra chamada
Awaldat, que fala um pouco diferente, mas é a mesma língua.
Outros moravam na aldeia Hatixitixik e outros
no Urukutu.
No Anariá tinha alguns índios que pesquisavam os Trumai e
até hoje não sabemos que índios eram. De lá mudaram-se para Yaupew
e fizeram aldeia. Passou-se um ano e fizeram briga com os Kamaiurá.
Então os Villas-Bôas trouxeram o povo para o posto Leonardo. Depois
de dois dias eles foram para Diauarum e ficaram um ano.
Lá no Leonardo mataram um homem, filho do grande pajé
dos Trumai. Ele era grande rezador.
Dois anos depois, o filho do cacique, com dezesseis anos, foi
escolhido pelo povo dele. Ele resolveu tirar o povo dele do Leonardo e
vieram para a aldeia Makalavio. Ficaram dez anos e mudaram-se para o
rio Steinen, depois para A'dat, que é Terra Preta. Lá estamos vivendo
muito melhor que no passado. A outra aldeia Trumai se chama Awaldat,
que é Boa Esperança.
OS KISÊDJÊ
Tempty Suiá, Yako Suiá e Kaomi Kaiabi Suiá
Há muitos anos atrás os Kisêdjê chegaram no rio Arinos. Eles
moraram lá junto com o povo Tapaiuna. Nessa aldeia o povo Panará
atacou os Kisêdjê e mataram muitos Tapaiuna, pois os Kisêdjê já sabiam
se defender das brigas dos Panará e escaparam deles.
Os Kisêdjê resolveram se mudar daquela aldeia porque tinha
muitas brigas. Então eles foram andando até chegar no rio Teles Pires,
atravessaram o rio e caminharam muitos dias até chegarem no rio
Maritsawa. Quando chegaram lá, os Tapaiuna voltaram para o rio Arinos
porque brigaram com os Kisêdjê.
Os Kisêdjê caminharam para o rio Xingu. No meio do cami-
nho, dividiram-se em três grupos para procurar o rio, pois não sabiam qie
o Xingu ficava nessa direção. Então fizeram aldeia no Xingu, mas os três
grupos não se juntaram, só fizeram picada para visitar os parentes.
Um velho pajé contou que tinha índios, mas eram mansos.
Eram os Trumai, Waurá, Kalapalo, Kuikuro e Yawalapiti. Esses índios
começaram a visitar a aldeia Kisêdjê e colocaram feitiço na aldeia. Mor-
reu muita gente só de uma aldeia.
Nas outras duas aldeias ainda tinha muitos Kisêdjê. Havia
um homem muito inteligente que levou o pessoal para morar em outro
lugar, porque ali tinha muita briga. Um grupo morou no Hwinkôtxi, que é o
desenho: Ariakumalu Trumai
Diauarum e o restante foi para o Pequizal. Durante muitos anos o pessoal
morou no Hwinkôtxi e teve muita briga com qualquer povo que vinha
brigar.
Um cacique resolveu salvar o povo, ele estava com intenção
de mudar a aldeia e levou o pessoal para o rio Suiá Miçu. Ainda houve
muita briga onde é hoje a fazenda Jaú. Outro grupo foi para o rio
Ngôsákatxi, que é o rio Claro, onde fica a fazenda Moreira. Lá tinha duas
aldeias. No rio Claro que houve o primeiro contato dos Yudjá com os
Kisêdjê.
Os Yudjá demoraram muito para contar para o Cláudio Villas-
Bôas, mas os Kisêdjê já sabiam que tinha gente no Diauarum. Os Kisêdjê
foram lá ver os brancos e voltaram.
Havia duas aldeias no rio Claro, uma na cabeceira e outra lá
para baixo. Os Yudjá levaram um rapaz Kisêdjê da aldeia de baixo para
mostrar para o Cláudio no Diauarum. Então o Cláudio, o Orlando e mais
pessoas subiram o rio. Ele levaram montes de presentes: miçangas,
machados, facões, facas e roupas para amansarem os Kisêdjê.
Orlando e Cláudio conversaram com o cacique e o pessoal
concordou em descer para o Diauarum. Eles tinham a intenção de arran-
jar um lugar para o povo morar. Em primeiro lugar eles deixaram a gente
morando na aldeia que se chamava Aranha, mas nós tínhamos aldeias
velhas.
Bordunas do povo Kisêdjê.
Desenho Tempty Suyá.
O POVO IKPENG
Quando não existia branco na aldeia Ikpeng, nosso povo bri-
gava com outros índios: Kaiapó, Panará, Kaiabi e Waurá.
Quando outros índios vinham atacar, eles também iam ata-
car, eles brigavam direto.
Até que eles resolveram sair para bater timbó numa lagoa
que se chama Tarik Yegun (lagoa dos peixinhos). Morreram muitos
peixinhos: tucunaré, piau, pacu, voadeira, matrinchã e outros. Eles não
estavam sabendo que os fazendeiros iam aparecer.
As pessoas que ficaram na aldeia ouviram barulho de avião.
Eram Cláudio e Orlando dentro do avião. Quando o avião passou por
cima da aldeia, o pessoal pensou que fosse bicho. Todo mundo entrou
na casa, só os homens ficaram flechando. Orlando e Cláudio começa-
ram a soltar facão, faca, foice e rapadura. Quando Orlando soltou rapa-
dura, Ikpeng pensou que era cocô do avião. Eles falaram assim:
- O avião fez cocô.
A rapadura ficou com o pajé, ele curava e dava rapadura para
o doente. E foi indo assim.
Quando os outros Ikpeng voltaram do timbó, eles contaram
do avião, do bicho que jogou muito facão e fez cocô. Todo mundo juntou
para ver a rapadura que Orlando soltou pelo avião.
Até que Cláudio e Orlando pousaram lá no campo. Então
Ikpeng pegou muito facão, anzol, chapéu e linha de pesca.
O pessoal veio para o Xingu e viram o pessoal do Alto e do
Baixo Xingu todos pintados de jenipapo e urucum.
Foi assim que os Ikpeng chegaram no Parque. Eles ficaram
lá no Leonardo por quatro ou cinco anos. Depois resolveram mudar de lá
porque morreu muita gente, o cacique Wagui e o cacique Pavuru, que
era o pai do Oporike.
Primeiro veio uma pessoa procurar lugar, até que eles esco-
lheram aquela aldeia. Derrubaram roça e quando terminaram tudo,
Megaron chegou lá dizendo que ia fundar um posto. Ikpeng aceitou e
escolheu o nome do posto Pavuru, que era o nome do cacique.
HISTORIA DA PEDRA SECA
Tarinu Yudjá
desenhos: Karin Yudja
O branco encontrou Yudjá aqui na Pedra Seca. Esse lugar
chama-se Txameribía. Aqui nosso povo brigava muito com Kaiapó. O
povo Yudjá era bom de flecha e o Kaiapó só usava borduna.
Na Pedra Seca tinha duas aldeias grandes. Subindo o rio,
Yudjá brigou muito com branco. Branco matou Yudjá, depois Yudjá ma-
tou branco. Depois branco brigou com ele mesmo.
Banco e pintura Yudjá.
O POVO KAMAIURÁ
Aisanain Kamaiu
Antigamente o povo Kamaiurá morava onde era a aldeia ve-
lha do Prepori, o lugar que se chamava Krukitsa. Depois eles mudaram
para Wawitsa, onde hoje é o posto Pavuru. Nesse lugar os povos Suiá e
Yudjá estavam atacando os Kamaiurá.
Depois eles se mudaram para Jacaré e outros atravessaram
o rio e foram para a lagoa abrir uma aldeia. De lá eles mudaram para o
outro lado do lago. Hoje em dia tem pessoas morando nessa aldeia ain-
da. Lá eles fizeram cinco aldeias porque eram muitas pessoas.
Passaram-se muitos anos e Orlando Villas-Bôas chegou lá
na boca do Tuatuari. Os Kamaiurá foram lá só para ver os brancos. Aí
eles fizeram uma aldeia bem grande e metade dos Kamaiurá foi para lá,
por causa do branco.
Orlando desceu o rio, ele queria fazer um posto lá no Morena.
Ele pensou que era limpo, mas era sujo. Ele desceu para Awara'ï. Lá
eles fizeram um pouso de avião. Nesse lugar tem gente morando, é a
aldeia Boa Esperança. Os Kamaiurá vieram atrás dos brancos. Depois
de dez dias, um Kamaiurá chamado Amarika, que conhecia todos os
lugares do Xingu, falou para o Orlando do Jacaré, disse que era um lugar
bom. Orlando conversou com o pessoal dele e no outro dia foram lá. Os
Kamaiurá que estavam com ele voltaram, saíram do Awarai'ï bem cedo,
dormiram lá na aldeia do Trumai, uma aldeia que se chamava Inarija.
Hoje em dia ninguém mora mais nesse lugar. De lá eles foram para o
posto Leonardo, onde muitos povos se juntaram: Kamaiurá, Yawalapiti,
Waurá e Trumai. Eles fizeram uma grande festa no posto Leonardo. En-
tão Orlando pediu para o cacique abrir picada para a aldeia Kamaiurá.
MEHINAKU
Makaulaka Mehinaku
Ulawapühü era aldeia antiga, a primeira aldeia.
Eles mudaram para Yakuayanaku porque os Ikpeng vieram
fazer confusão com eles. O cacique pensou em mudar.
Os Ikpeng vieram atrás e brigaram de novo. Aí eles mudaram
mais uma vez. Então ninguém mais veio fazer confusão, ficou bom.
Os Mehinaku voltaram para Uyaipiaku. Agora não mudam
mais de lugar.
Os Aweti que encontraram brancos no Curizevo.
KUIKURO
Sepe Kuikuro
Capítulo 1
Antigamente os índios viviam só nas aldeias.
Primeiro os Kuikuro moravam na aldeia Alahatuha. Lá eles
trabalhavam com machado de pedra, não tinham facão, anzol ou linha
de pesca. Eles pescavam com flecha.
Capítulo 2
Na época do meu bisavô meu povo veio pelo rio Buriti procu-
rando um lugar. Acharam um lugar bom e deram o nome de Jagamü.
Alguns moraram nessa aldeia e outros na aldeia Oti.
Os homens brancos chegaram sem anunciar, procurando o
chefe Kuigalu. Eles brigaram, atiraram. Kuigalu pediu socorro. Eles leva-
ram Kuigalu.
Capítulo 3
Orlando organizou os índios. Primeiro ele quis abrir um posto
de saúde no Xingu. Ele desceu o rio Xingu e viu o lugar chamado Boa
Esperança. Pensou em fazer o posto lá. Os índios disseram:
- Orlando, para mim não está certo. Como a gente vem fazer
tratamento aqui? É muito distante.
Ele subiu de novo, entrou pelo rio Tuatuari e encontrou um
bom lugar. Ele construiu farmácia e campo de pouso. Ele chamou os
índios de cada aldeia, juntava muita gente no PI Leonardo.
Depois eles criaram outros postos: Kretire, Diauarum e Pavuru.
Pintura do Kuarup.
Desenho: Sillas Kuikuro
PARQUE INDÍGENA DO XINGU
desenho: Maiua Ikpeng
A CRIAÇÃO DO PARQUE NACIONAL DO XINGU
Os irmãos Villas-Bôas achavam que era melhor deixar o ín-
dio viver a sua vida em paz. Para isso acontecer era preciso garantir que
as terras ocupadas pelos índios não fosse invadida pelos brancos.
Então o governo brasileiro deveria reconhecer que essa terra
pertencia aos índios, senão os brancos nunca respeitariam.
Depois de muita conversa e entendimentos foi criado o Par-
que Nacional do Xingu, no ano de 1961.
Olhe o primeiro mapa do Parque e leia a legenda com
atenção.
- Quais eram as vantagens da
área a ser demarcada para o
Xingu proposta por Rondón ao
governo brasileiro?
- Por que você acha que essa
propostao foi aceita pelo governo brasileiro?
- Delimite os territórios antigos na área proposta pelo marechal Rondón.
PARQUE INDÍGENA DO XINGU -1952/61
PARQUE INDIGENA DO XINGU - 1961/91
Qual é a linha que delimita o Parque?
Indique sua aldeia no mapa. Coloque
o nome dos rios.
AULA DE MEGARON TXUCARRAMÃE SOBRE
MEIO AMBIENTE
Posto Indígena Pavuru -1 Curso de formação de professores
indígenas do Parque Indígena do Xingu
(fevereiro de 1994 )
Nós precisamos guardar e cuidar das coisas da natureza.
Onde tem caraibas (não-índios) só existe capim.
Os lugares que vocês conheceram quando crianças, 40 qui-
lômetros à direita e à esquerda do Parque, só existem fazendas. As cida-
des estão começando a aumentar: Querencia, Canarana, Guarantã,
Marcelândia e muitas outras.
Quando vocês nasceram, não tinha nada aqui, a última cida-
de era Xavantina. Agora está tudo tomado pelos brancos. As cabeceiras
do rio Xingu estão fora de nossa área, os caraibas estão jogando veneno
na água (agrotóxicos), que vem das plantações que eles fazem.
Quando os brancos chegaram aqui, alguns deles acharam
que tinha que ter uma área reservada para nós. Orlando Villas-Bôas e
outros antropólogos começaram a brigar com os brancos, com o gover-
no, para que respeitassem nossa área. Em 1961 o Parque foi demarca-
do.
Para os Kaiapó foi diferente, nós sofremos com a estrada
que vinha de Xavantina. Orlando Villas-Bôas pediu que a estrada não
cortasse o parque, mas não adiantou. Em 1970 a estrada passou cortan-
do a nossa terra. Orlando mandou o meu povo deixar grande parte da
nossa terra, meu tio Raoni acreditou em Orlando e veio com uma parte
do meu povo para cima da estrada. Mas os meus tios Krumare e Kremoro
brigaram, ficaram no Jarina até 1977, sem apoio de Orlando e da FUNAI.
Em 1977 eles brigaram com os fazendeiros, mataram alguns
peões, só assim conseguiram a demarcação do Jarina.
Em 1979 tomaram a fazenda AGROPEXIN, expulsaram os
fazendeiros. O governo indenizou os fazendeiros.
Em 1984 lutamos pelo Kapôt e por 15 quilômetros da mar-
gem da estrada, brigamos para controlar a balsa. Prendemos a balsa,
chamamos a atenção do povo brasileiro.
O pessoal Mekrangnotire também brigou muito pela terra.
Conseguiram demarcar uma terra muito grande. Nós, Metyktire, também
ajudamos os nossos parentes.
Na área Kaiapó tem castanha, madeira, minério, ouro. Os
brancos que querem esse tipo de riquezas. Para nós, índios, a nossa
riqueza é a natureza.
Eu sou rico do rio, que tem peixe; do mato, que tem muita
caça. Se vocês pensarem que vocês são pobres, estão errados. Nós
somos ricos de comida.
Nós somos iguais aos caraibas que têm muito dinheiro, nós
somos assim.
Nós comemos comidas que muitos brancos não comem.
Nossos caciques, lideranças, tem que pensar desse jeito.
Os Mekrangnotire não conheciam as coisas que os brancos
dão valor, como o ouro e a madeira. Até que chegaram os garimpeiros
mostrando o ouro. Primeiro a FUNAI fez contrato com eles, os garimpei-
ros começaram a explorar o ouro. Com o dinheiro do ouro o pessoal
podia comprar muitas coisas: carro, avião, barco. Depois foram os ma-
deireiras, pagando com dinheiro as lideranças. Agora tiraram quase tôda
a madeira. Eles pensam que porque tem avião, casa de alvenaria, carro,
são ricos.
O mogno que é tirado das áreas indígenas é exportado. Os
estrangeiros estão usando os brasileiros. Em São Félix do Xingu chegam
muitas balsas cheias de mogno, saídas da área indígena.
Eu fico preocupado com o meu pessoal porque eles estão
indo muito ao Pará. Pode ser que daqui há algum tempo queiram tirar
madeira também. Eles não percebem que quando a madeira acabar, eles
não vão ter mais nada, a terra vai ficar estragada e sem caça.
Enquanto o pessoal es
recebendo o dinheiro do ouro, o rio
deles está poluído. Com o garimpo os
peixes e os tracajás morrem. O
veneno entra na água e nos peixes, o
pessoal já está doente, contaminado
pelo mercúrio. Tudo isso é muito
triste. Os madeireiros chegam com a
maia cheia de dinheiro, as lideranças
aceitam. A madeira, o ouro e o
dinheiro vão acabar e o pessoal vai
ficar mesmo pobre, sem comida e
doente.
Pàt, festa Mebengokre.
EU QUERIA...
Korotowï Otariup Ikpeng
Eu queria que não mudasse o costume do povo Ikpeng, con-
tinuando sua tradição cultural. Eu queria que o meu povo não acostumas-
se com a tradição e a cultura do homem branco: ser crente, evangélico
ou bailarino.
Também não queria que meus netos esquecessem das comi-
das que eu estou comendo agora, o jeito de viver na aldeia.
Não queria que meus netos vendessem sua própria terra para
fazendeiros e também não deixassem sujar o belo rio Xingu por garimpei-
ros.
Queria que meus netos aprendessem mais coisas que os meus
tataravós faziam, como viviam. E também aprendessem coisas dos ho-
mens brancos que servissem para eles, não aprendessem coisas ruins.
Queria que aprendessem a defender sua cultura da cultura
do branco, que não acreditassem nas pessoas que vem falar para deixar
a sua cultura. Pediria para meus netos não entrarem nas conversas dos
evangélicos.
A MINHA PREOCUPAÇÃO
Kanawayuri Kamaiurá
Eu queria que na época dos meus netos tudo fosse do mes-
mo modo como estou vivendo. Eu queria que continuassem com as mes-
mas tradições, costumes, crenças, danças e festas.
Eu queria que fossem assim, apesar de eu ser um jovem da
geração que já modificou as tradições dos meus avós, que quer tudo do
modo dos brancos: 3 em 1, walkman, etc... Mas estou voltando um pouco
atrás e é por isso que eu quero que os meus netos sejam assim, mesmo
não prevendo nada sobre o futuro dos meus netos.
Que eles sejam também controlados com o mundo dos bran-
cos, não querendo ficar iguais aos brancos e sim sendo mais índios e
utilizando somente coisas de necessidade das coisas dos brancos.
Aqui está exposta a minha preocupação com o futuro dos meus
netos.
A TERRA NAO ACABA
Aturi Kaiabi
Antigamente os índios não sabiam falar português.
Hoje nós sabemos falar um pouco.
Pouca gente do Xingu sabe escrever.
Lutar pela escrita, fazer jornal, processo, justiça e contar as
histórias para os outros índios.
Lutar pela vida é direito de todos nós.
Lutar pela terra é a coisa mais importante.
A terra não acaba.
O dinheiro, o carro, o trator, o avião e outros objetos não va-
lem igual a terra.
TERRAS INDÍGENAS NO BRASIL
LISTA DE POVOS INDÍGENAS NO
ESTADO DO MATO GROSSO(*)
Nome Outros nomes ou grafias
Família
Lingüística
UF
População
censo/
estimativa
Ano
Apiaká Apiacá Tupi-Guarani MT 43 1989
Arara do Aripuanã
**
MT 150 1994
Aweti Aueti Tronco Tupi MT 93 1995
Bakairi Bacairi Karib MT 570 1989
Bororó Boé Bororó MT 914 1994
Cinta Larga Matétamãe Mondé MT/RO 643 1993
Enawenê-Na Salumã Aruák MT 253 1995
Ik
p
en
g
Txicão, Txikão Karib MT 214 1995
Iranxe Irantxe, Munku língua isolada MT 250 1994
Kalapalo Calapalo Karib MT 326 1995
Kamayurá Camaiurá Tupi-Guarani MT 303 1995
Karajá Carajá, Javaé, Xambioá Karajá MT/TO 2.450 1993
Kayabi Caiabi, Kaiabi Tupi-Guarani MT/PA 1.200 1995
Kayapó/Metyktire
Kaiapó. Caiapó
Mebegnokre
MT/PA 577 1995
Kuikuro Kuikuru Karib MT 343 1995
Matipu
Karib MT 62 1995
Mehinako Meináku, Meinacu Aruák MT 149 1994
Myky Menky, Munku, Menki língua isolada MT 62 1995
Nahukwá Nafuquá Karib MT 64 1995
Nambikwara
Nhambiquara Nambiquara
Hahaintesu, Alantesu
Wasusu, Halotesu Katitawlu,
Kithaulu. Latunde, Mamainde,
Manduka, Negarote, Sabane,
Waikisu
Nambikwara MT/RO 885 1989
Panará
Krenhakarore, Krenakore,
Krenakarore índios
Gigantes Kreen-Akarore
MT 160 1995
Pareci Paresi, Haliti Aruák MT 1.200 1995
Rikbaktsa Canoeiros, Eri
gp
aktsa Tronco Macro-Jê MT 690 1993
Suyá Suiá MT 213 1995
Tapayuna Beiço-de-Pau MT 58 1995
Tapirapé Tapiïrape Tupi-Guarani MT 380 1995
Trumai
Língua isolada MT 89 1995
Umutina Omotina
**
MT 100 1989
Waurá Uaurá, Wauja Aruák MT 226 1995
Xavante Akwe, Awen MT 7.100 1994
Yawalapiti laualapiti Aruák MT 196 1995
Yudjá Juruna Juruna MT/PA 212 1995
Zoró Pageyn Mondé MT 257 1992
O fonte: Banco de Dados do Instituto Socioambiental, dezembro de 1.995.
(*') Já não falam a língua original, usam o português regional.
Observação: as famílias lingüísticas Tupi Guarani, Awetí, Munduruku. Mawé, Tupari, Ariken, Mondé,
Ramarama e Juruna fazem parte do Tronco Tupi. As famílias lingüísticas Jê, Maxakali, Krenak, Yatê,
Karajá, Ofaié, Guatò, Rikbaktsa e Bororó fazem parte do Tronco Macro-Jê.
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