SIMPÓSIO 12
Formação continuada do professor na Educação Infantil
Alarcão, 2001: 17), vivenciando um processo de
formação permeado pela dor, pelo prazer, por
sensações de vitórias, derrotas, dúvidas, alegrias
e também disciplina.
Nesse sentido, a constituição do professor
reflexivo passaria pela compreensão de que ele
é "um profissional da ação cuja atividade impli-
ca um conjunto de atos que envolvem seres hu-
manos. Como tal, a racionalidade que impregna
a sua ação é uma racionalidade dialógica, inte-
rativa e reflexiva" (Alarcão, 2001: 23).
Parece-me que neste viés precisaríamos cons-
truir, coletivamente, durante a formação continua-
da, procedimentos de registros individuais e cole-
tivos. Estes teriam a função de acompanhar e ava-
liar o processo educativo dos professores e em es-
pecial seriam referenciais dinâmicos para a
autoformação. A meu ver, estamos diante do quin-
to aspecto para o qual as propostas de formação
continuada deveriam dedicar mais esforços.
o desenvolvimento do registro reflexivo
como um procedimento formativo está direta-
mente relacionado à organização do trabalho
pedagógico, que deve possibilitar o exercício do
"pensar" para que o "vir a ser" se torne realidade
no "hoje" da prática docente. Tal atitude não é
tarefa fácil. Ao contrário, exige muitos rompi-
mentos, a começar por desinstalar a certeza de
que a formação se encerra ao término de um
curso. Compreender que o conhecimento não
está pronto requer criar lugar para a proviso-
riedade, assumir atitudes de investigação como
necessárias ao profissional professor.
Se considerássemos esses aspectos na orga-
nização de propostas de formação continuada,
estaríamos organizando um novo espaço no qual
os professores não apenas estivessem mas que
pudessem vivê-lo de forma a movimentar-se re-
petidamente entre a reflexão-na-ação e a refle-
xão-sobre-a-ação (Schon, 2000: 227).
Dessa forma, os outros aspectos até aqui
apresentados neste texto se articulam a este
quinto aspecto. Concebo a organização do tra-
balho pedagógico como uma estrutura na qual
cotidianamente se exercite a reflexão dos faze-
res educativos e se concretize essa reflexão no
registro escrito, supondo que este viabilizaria a
análise do percurso formativo, ajudaria na iden-
tificação de problemas, reafirmaria objetivos,
encaminharia soluções, auxiliaria nas dificulda-
des de problemas individuais e coletivos e en-
volveria os sujeitos em um processo vivo de pro-
dução e de reconstrução de conhecimento.
Assumir uma prática reflexiva na formação
continuada, a meu ver, indica a necessidade de
reestruturação da organização do trabalho pe-
dagógico, organização que carece, como cita
Nóvoa (1997:23-31), de saberes e de saber-fazer
pedagógico. Precisa de saberes teóricos e tam-
bém de colocar em prática esses saberes para
construir um "saber fazer" teorizado, o que, em
linhas gerais, significaria um conjunto de sabe-
res relacionados com a organização: do trabalho
individual e em grupo, da organização espaço-
temporal, do conhecimento, dos procedimentos,
dos instrumentos, das tecnologias, das metodo-
logias, da construção de novas estratégias, do
incentivo às interações e às relações.
Considero que, para o desenvolvimento do
registro reflexivo, precisamos abrir espaço para
a formação de um professor reflexivo, o qual se
utiliza do próprio registro de maneira reflexiva,
para pensar e ampliar o seu processo educativo.
Nesse sentido, percebe-se nas propostas de for-
mação continuada pouco espaço para o pensar,
pois este está relacionado ao perguntar, ao in-
quietar, ao buscar, à incerteza. Não há conheci-
mento que não esteja, de alguma maneira, amea-
çado pelo erro. O conhecimento, sob a forma de
palavra, de idéia, de teoria, é fruto de uma re-
construção, e reconstrução comporta a inter-
pretação, o que introduz o risco do erro na sub-
jetividade do conhecedor, de sua visão do mun-
do e de seus princípios de conhecimento.
É necessário refletir que, em tempos recentes,
ora se concebia a prática como uma aplicação da
teoria, como uma conseqüência, ora, ao contrá-
rio, como inspiradora da teoria. Porém, como afir-
ma Foucault (2000: 70), "nenhuma teoria pode se
desenvolver sem encontrar uma espécie de muro
e é preciso a prática para atravessar o muro." Acres-
cento: para tanto é preciso que a formação crie con-
dições para transpor esse muro.
Ainda na mesma obra, o autor nos faz refletir
sobre a relação entre a teoria e uma caixa de fer-
ramentas: se esta não servir, não funcionar, de
nada serve a teoria para sua utilização, assim
como, se não há pessoas para fazer uso da teoria,