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Presidente da República Federativa do Brasil
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Ministro de Estado da Educação
PAULO RENATO SOUZA
Secretário Executivo
LUCIANO OLIVA PATRÍCIO
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Ministério da Educação Secretaria de
Educação Fundamental
GUIA
DO
LIVRONAUTA
Brasília, 2001
Equipe Técnica - SEF
Andrea Kluge Costa
Cecília Correia Lima Sobreira Sampaio
Cinara Dias Custódio
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental
Guia do livronauta — sobrevoando o tesouro da biblioteca e
aterrissando na prática / Secretaria de Educação Fundamental.
Brasília: MEC, 2001.
I. Biblioteca escolar. 2. Guia.
I. Programa Nacional Biblioteca da Escola - PNBE.
CDU 371.64
Caro professor,
Aprender a 1er é um processo contínuo que tem início mesmo antes do
processo de escolarização. Mas é na escola que esse aprendizado
acontece de forma rnais sistemática.
Quando se trata de formar o leitor, escola e biblioteca escolar têm um
papel muito importante, que consiste em relacionar as práticas sociais de
leitura com as práticas escolares de ensino e aprendizagem da leitura.
Para superar esse desafio, é fundamental que a escola não limite o acesso
do aluno à leitura apenas do livro didático, mas incentive e amplie o seu
contato com diversos outros tipos de texto, como livros, revistas, jornais
e demais materiais, que são fontes inesgotáveis de informação e
formação.
Com o objetivo de auxiliá-lo em sua tarefa, professor, o Ministério da
Educação distribuiu às escolas públicas de 1ª a 8ª série, com mais de
quinhentos alunos, no ano de 1998, o acervo do Programa Nacional
Biblioteca da Escola — PNBE, composto por obras da literatura
brasileira, enciclopédias, atlas, globos terrestres, mapas e dicionários.
Em continuidade a essa iniciativa, o Ministério encaminha agora este
manual de orientação para utilização desse acervo, que tem por objetivo
ajudá-lo a fazer da leitura, na sua escola, uma prática atraente, dinâmica,
participativa e constante.
Bom trabalho!
Paulo Renato Souza
Ministro da Educação
Caro diretor,
O Ministerio da Educação fez chegar, em 1998, à sua escola e a outras
20 mil escolas públicas do ensino fundamental, o primeiro acervo do
Programa Nacional Biblioteca da Escola — PNBE, com o objetivo de
democratizar o acesso de professores e alunos à leitura e à informação,
apoiando o professor em sua prática pedagógica, na formação do aluno
leitor e no aprofundamento dos assuntos afetos às disciplinas
curriculares.
Consciente de que nem sempre a escola se apropria, de forma efetiva,
desse importante material de leitura, o Ministério está enviando esta
publicação com o objetivo de motivar os professores a conhecer e a bem
utilizar os recursos colocados à sua disposição, não só para sua prática
pedagógica, como também para seu próprio desenvolvimento cultural,
intelectual, afetivo e emocional.
Mônica Messenberg Guimarães
Secretária Executiva do FNDE
Iara Glória Areias Prado
Secretária da SEF
Sumário
Introdução Aos educadores de educadores 13
Mapa da obra 16
Capítulo I Antes de iniciar a viagem... 19
1.1. Conversando sobre o prazer de ler 20
1.2. Sugestão de dinâmica com os professores 26
Capítulo 2 Sobrevoando os continentes do 29
planeta Acervo PNBE/98
2. I. Continente Ficção-Prosa — O Brasil visto com os olhos da imaginação 30
Região Alfa: para refletir e dar boas risadas 32
Região Beta: para envolver-se em grandes histórias de amor 36
Região Delta: para viver histórias da nossa história 42
Região Pi: para mergulhar em mistérios 52
Região Gama: para saber do erotismo e da violência da vida 60
Região Y: para provar o gosto da infância em Monteiro Lobato 64
2.2. Continente Ficção-Poesia — O Brasil visto com olhos de poeta 66
2.3. Continente Não-Ficção — O Brasil visto com um olhar analítico 78
Região Um: para compreender por que somos o que somos 80
(História, sociologia e antropologia)
Região Dois: para conhecer melhor nossa arte 92
(Arquitetura e música)
Região Três: para saber como e por que fazemos literatura 94
(História da literatura e crítica literária)
Região Quatro: para entrar na alma de grandes brasileiros 98
(Sermões, memórias, biografias e crônicas)
Capítulo 3 A mochila do livronauta
3. I. Instrumentos de busca e localização que apóiam a
viagem pelos continentes do planeta Acervo PNBE/98
3. 2. Sugestão de dinâmica com os professores
105
106
114
Capítulo 4 Escolas em viagem de leitura
4. I. Casos de boas escolas públicas brasileiras
Caso I. E. E. Júlia Telles (SE)
Caso 2. C. E. Conselheiro Zacarias (PR)
Caso 3. E. E. Xavier da Silva (PR)
Caso 4. E. M. Brigida Ferraz Foz (MS)
Caso 5. E. M. Marina Couto Fortes (MS)
Caso 6. E. E.Thomé de Medeiros Raposo (AM)
Caso 7. E. M. Conde de Agrolongo (RJ)
Caso 8. I. E. Sarah Kubitschek (RJ)
4. 2. Sugestão de dinâmica com os professores
117
118
120
122
124
126
128
130
132
134
136
Capítulo 5 Como colocar o planeta Acervo PNBE/98 na órbita da
proposta pedagógica de sua escola: Plano de
Ação
139
Conclusão Como nascem os livronautas
147
índice por obra
Ìndice por autor
156
161
Introdução
Aos
educadores de
educadores
(diretores, coordenadores pedagógicos,
supervisores e encarregados da biblioteca da
escola)
Dizem que há muito tempo, no meio do sertão, existia uma
casa em ruínas, invadida por ervas daninhas, plantas e
animais selvagens, onde um único objeto restara: um velho
baú de madeira, muito bem trancado. Os viajantes que
usavam o lugar como abrigo temporário, durante a noite,
nunca haviam chegado a abri-lo. A maioria nem sequer
notava o baú, encostado a uma parede, camuflado por
caibros e telhas quebradas. Dos que reparavam nele, uns
estavam cansados ou desesperados demais para tomar
qualquer iniciativa; outros chegavam perto, empurravam
com o pé, concluíam que um baú tão leve certamente devia
estar vazio e se afastavam. Um dia, no entanto, o destino
levou dois irmãos curiosos à casa abandonada. E eles não
descansaram enquanto não abriram o baú. Dentro,
encontraram um envelope de papel pardo. O que haveria
ali?, pensaram. Dólares? A escritura do terreno? Nada
disso.
Introdução
(*) Esta é rnais uma
iniciativa do Programa
Nacional Biblioteca da
Escola, desenvolvido pelo
Ministério da Educação
(MEC) e pelo Fundo
Nacional de
Desenvolvimento da
Educação (FNDE). O
acervo que será aqui
apresentado foi adquirido
em 1998 e inclui, ainda,
obras de referência como
enciclopédias, dicionários,
atlas e dois globos
terrestres. O Acervo
PNBE/98 foi entregue a
20 mil escolas públicas do
pais — todas as que
possuíam mais de
quinhentos alunos. Como
subsídio à implantação ou
à dinamização de suas
bibliotecas, as escolas já
receberam duas
publicações: o Manual
Básico, com orientações
sobre como instalar a
biblioteca, administrar e
manter o acervo, e o
Manual Pedagógico —
em papel e CD — com
sugestões aos
professores sobre como
enriquecer suas aulas,
utilizando algumas das
obras disponíveis. Esta
publicação, que
instrumentaliza a equipe
técnica para apoiar os
professores na utilização
do Acervo, vem
complementar a série.
Apenas umas minúsculas bolinhas
pretas. "Isso não serve para nada!",
gritou frustrado o irmão mais velho.
Mas o caçula, examinando as bolinhas
pretas, exclamou: "São sementes!"
Sem dizer nada, cavou um buraco no
chão e depositou-as ali, co-brindo-as
cuidadosamente com terra. Quando o
sol nasceu, o espanto: onde estavam as
sementes, uma árvore encantada havia
crescido, e era tão alta que sua copa se
perdia além das nuvens. Os dois
irmãos subiram pela árvore e o que
aconteceu lá em cima ninguém sabe,
mas, quando voltaram, estavam
melhores e rnais ricos.
Moral da história: velhos baús ou até
caixas de papelão podem ser arcas de
tesouro disfarçadas. Como a que
chegou aí na escola há algum tempo,
no primeiro semestre de 1999, vinda
do Ministério da Educação. Outras 20
mil escolas — todas com mais de
quinhetos alunos — também recebe-
ram e abriram a caixa misteriosa.
Nem todas as equipes, entretanto, se
deram conta de que o seu conteúdo, se
bem aproveitado, vale rnais que ouro
e pedras preciosas: são 206 livros —
122 títulos — representando uma
amostra do que de melhor foi
produzido pela inteligência brasileira,
do século XVII ao século XX, em
literatura, poesia, teatro, música,
historiografia, sociologia e
antropologia. Os títulos foram sele-
cionados por uma comissão de inte-
lectuais da mais alta qualidade: Lygia
Fagundes Telles, Sérgio Rouanet,
Hélio Jaguaribe, Eduardo Portella,
Antonio Cândido e Alfredo Bosi. Ler,
ainda que seja apenas uma dessas
obras, é plantar na alma semen tes que
desabrocham em uma com preensão
maior da realidade do nos so país.
Significa, também, elevar se acima do
cotidiano e expandir a fronteiras do
conhecimento que s tem do mundo e
do próprio ser.
Este manual foi produzido para aju-
dar as equipes escolares a se apro
priar do tesouro representado pelo
Acervo Programa Nacional Bi-
blioteca da Escola — PNBE/98,
refletindo coletivamente sobre
possibilidades de explorá-lo em
favor da aprendizagem de professores,
alunos e comunidade. Seu destinatário
principal é a liderança educacional da
escola: a pessoa ou o grupo de pessoas
cujo papel é motivar os docentes,
fortalecer a cooperação entre eles, uni-
los em torno do objetivo comum de
fazer com que todos os alunos
aprendam, além de oferecer a esses
docentes oportunidades de
aperfeiçoamento profissional
permanente no local de trabalho, tendo
em vista a realização desse objetivo.
Você, que é diretor, coordenador,
supervisor ou responsável pela bi-
blioteca, pode apresentar aos docentes
o novo acervo recebido. Pode
estimulá-los a superar a barreira da
falta de tempo e convidá-los a aven-
turar-se pelo Brasil que se revela na
prosa e nos versos de alguns dos
nossos autores rnais brilhantes. Este
será, talvez, o primeiro passo para
fazer com que rnais professores des-
cubram o prazer da leitura, apaixo-
nem-se pelo mundo dos livros e con-
sigam convencer melhor seus alunos
a habitá-lo.
Pensando nessa tarefa, inserimos
nesta publicação um guia turísti-co-
literário, em que se apresentam aos
leitores/viajantes os atrativos de um
planeta muito especial, o Acervo
PNBE/98 enviado pelo Ministério da
Educação. A liderança educacional
da escola poderá utilizar o guia para
convidar os professores a se
transformar em audazes
"livronautas", que irão explorar o
planeta Acervo PNBE/98. Com este
guia, poderão sobrevoar rapidamente
seus continentes — Ficção-Pro-sa,
Não-Ficção e Ficção-Poesia —,
identificando os territórios que rnais
os fascinam e que poderão visitar
rnais tarde, com tempo.
Confira, a seguir, o mapa da obra,
que poderá apoiá-lo em seu percurso
de liderança educacional, nas
próximas reuniões com a equipe de
professores.
V
Mapa da obra
Capítulo 3
Antes de iniciar a viagem
Este capítulo traz uma atividade
que poderá fazer os membros
da equipe refletir de forma
bem-humorada sobre a relação
que já construíram com os
livros e com a leitura e escolher
por qual continente gostariam
de começar a explorar o planeta
Acervo PNBE/ 98: Ficção-
Prosa, Não-Ficção ou Ficção-
Poesia.
Sobrevoando os continentes
do planeta Acervo PNBE/98
Este capítulo apresenta um guia
turístico-literário, que estimula
a equipe docente a excursionar
pelas obras de literatura, poesia
e não-ficção recebidas do
Ministério da Educação em
1999.
A mochila do livronauta
Os profissionais da escola irão
experimentar o prazer de
aprofundar-se no território de
um texto, utilizando ferra-
mentas como enciclopédia,
dicionários e atlas. Vamos su-
gerir uma dinâmica que, de
forma prazerosa, permitirá que
os professores formem uma
idéia da riqueza que há no
acervo, além de incentivá-los a
escolher um ou rnais territórios
literários para visitar e
conhecer, de acordo com seu
gosto, características pessoais e
aspirações.
Guia do livronauta
Capítulo 1
Escolas
em
viagem
de leitura
Neste
capítulo apresentaremos casos
reais de escolas brasileiras que
estão conseguindo despertar
nos alunos o amor pelos livros
e ofereceremos exemplos de
como as equipes poderiam
utilizar o Acervo PNBE/98
para enriquecer o currículo,
fortalecer a proposta
pedagógica da escola, ampliar
o universo cultural dos
profissionais e estreitar as
relações com a comunidade.
Como colocar o planeta Acer-
vo PNBE/98 na órbita da pro-
posta pedagógica de sua esco-
la: Plano de Ação
Neste capítulo estimularemos a
liderança escolar a elaborar,
com seus professores, planos
de ação para utilizar rnais in-
tensivamente os livros do
acervo em favor da aprendi-
zagem de alunos, professores e
comunidade.
Como nascem os livronautas
Os autores deste manual con-
tarão a gênese de sua paixão
pelos livros e o papel dos
adultos nisso: um último toque
a quem ajuda a escrever novas
histórias de leitura na escola.
As atividades e dinâmicas sugeridas nos
capítulos I e 3 deste guia podem ser
realizadas, também, por professores das
séries finais do ensino fundamentai e de
todas as séries do ensino médio, com seus
alunos, jovens e adultos da comunidade,
adaptando-as, sempre que necessário.
Capítulo 4
Capítulo I
Antes de
iniciar a
viagem...
Uma biblioteca é uma espécie de gabinete mágico.
Nele se encontram, encantados, os melhores espí-
ritos da humanidade, que esperam nossa palavra
para sair de sua mudez.
Que é um livro, se não o abrimos? E simplesmente
um cubo de papel e couro, com folhas. Mas, se o
lemos, acontece uma coisa rara: creio que ele muda
a cada instante.
Jorge Luis Borges,"O livro". Cinco visões pessoais, UnB, 1985
1.1. Conversando sobre o
(*) Veja o capitulo "O
professor leitor e
formador de leitores",
de Marisa Lajolo, no
manual que
acompanha o acervo
de literatura infantil.
Um dos grandes desafios da escola é
transformar seus alunos em bons lei-
tores. Isto se consegue com profes-
sores que tenham sido contaminados
pelo amor aos livros e percebam a
leitura não só como um meio para
conhecer o mundo e resolver pro-
blemas práticos, mas também como
uma das formas da felicidade.
Ler é viajar pelo passado, presente e
futuro; é percorrer todos os recantos
da Terra, sem sair do lugar. E poder
dialogar e aprender com os homens e
as mulheres rnais notáveis que a
humanidade já produziu. E descobrir
que o mesmo livro, lido em um
momento diferente de nossa vida, se
transforma em outro, revelando
significados dos quais antes não
suspeitávamos.
Por que, então, nós, professores bra-
sileiros, lemos pouco, ou só lemos
livros didáticos/técnicos diretamente
relacionados à nossa prática profis-
sional? Muitos temos histórias de
leitura* complicadas: em nossas fa-
mílias e comunidades o hábito de 1er
não era valorizado; na escola, líamos
por obrigação, não por prazer. A
maioria, dividida entre trabalho e
cuidados com a família, não encontra
tempo para incluir a leitura entre suas
(poucas) atividades de lazer. E rnais: o
preço dos livros é alto, enquanto nosso
salário é baixo.
A escola, local de aperfeiçoamento
profissional permanente de educa-
dores, pode oferecer as condições de
que necessitamos para explorar as
muitas dimensões da leitura. Um
primeiro passo é abrir a todos os do-
centes — não apenas aos de língua
portuguesa e literatura — a opor-
tunidade de familiarizar-se com o
acervo da biblioteca da escola. E,
muito especialmente, com as obras do
Acervo PNBE/98, enviado pelo
Ministério da Educação. Afinal, os
122 títulos selecionados representam o
mínimo essencial a que todo brasileiro
deveria ter acesso, para melhor
compreender a história, a cultura e a
arte de nosso país.
prazer de 1er
Que tal, então, fazer uma rápida
excursão por esse planeta desconhe-
cido (ou quase) que é o Acervo
PNBE/98? Nele existem três conti-
nentes: Ficção-Prosa, Ficção-Poesia e
Não-Ficção. Nas páginas seguintes,
sobrevoaremos essas regiões, para
nelas identificar os territó-rios-livros
que mais nos interessam e decidir se
queremos voltar a eles rnais tarde.
Mas... por onde começar? Vamos
ouvir a opinião de um dos maiores
leitores de todos os tempos, o escritor
argentino Jorge Luis Borges. Ele
adotou o lema de um filósofo francês,
Michel de Montaigne (1533-1592):
"Nada faço sem alegria". E, por
considerar a leitura uma das
possibilidades de felicidade ao alcance
do homem, recomendava que lêsse-
mos, em primeiro lugar, os livros que
nos dão prazer e não exigem esforço.
Mais tarde, já fisgados pela leitura,
descobriremos que vale a pena o
sacrifício de decifrar textos
difíceis, complicados, pois eles podem
nos proporcionar descobertas incríveis
e grandes alegrias intelectuais.
A idéia, então, é principiar a visita ao
planeta Acervo PNBE/98 pelo lado
que acharmos rnais prazeroso. Os
testes a seguir fazem pensar sobre o
tipo de relação que você tem com os
livros e sobre qual é o continente que
rnais tem a ver com suas
características, gostos e necessidades
— Literatura, Poesia ou Não-Ficção.
Os livros e você:
discutindo a relação
Assinale as afirmações verdadeiras para o seu caso. Atribua um
ponto a cada item marcado. Some os pontos e confira o gaba-
rito na página 25.
Leio no mínimo um livro por mês.
Conheço um livro que eu gostaria que todo mundo lesse.
Existe um personagem de literatura de quem eu gosto como se fosse
um amigo.
Posso citar o nome de um autor da minha predileção.
Antes de dormir, sempre leio alguma coisa.
Adoro conversar sobre o livro que estou lendo.
Se tivesse tempo, leria rnais.
Só saio de casa acompanhado por um livro.
Prefiro um livro interessante a uma conversa chata.
Se empresto um livro a um amigo e ele devolve com trechos
sublinhados, acaba a amizade.
Total de pontos:
Emocional, racional, poético:
qual é o seu estilo?
Assinale as afirmações verdadeiras para o seu caso. Atribua
um ponto para cada item marcado. Some os pontos obtidos
em cada bloco e confira o gabarito na página 25 para ver se
você tem rnais afinidades com a ficção ou com a (relativa)
objetividade da não-ficção.
A) Emocional
Se eu tivesse de escolher entre um bom filme de amor ou
aventura e um bom documentário, escolheria o filme de
amor/aventura.
Visitando uma cidade pela primeira vez, eu me interessaria
mais em conhecer suas obras de arte e paisagens do que em
descobrir como funcionam suas escolas e postos de saúde.
Ao encontrar uma pessoa desconhecida, gosto de imaginar a
história de sua vida.
Adoro sonhar e me lembrar dos meus sonhos.
Confio muito na minha intuição.
Total de pontos:
B) Racional
Se eu tivesse de escolher entre um bom filme de amor ou aventura
e um bom documentário, escolheria o documentário.
Visitando uma cidade pela primeira vez, eu me interessaria rnais
em descobrir como funcionam suas escolas e postos de saúde do
que em conhecer suas obras de arte e paisagens.
Ao encontrar uma pessoa desconhecida, se puder, faço perguntas
para conhecer sua história de vida.
No fim do dia, gosto de me lembrar do que fiz e avaliar em que
posso melhorar.
Confio rnais no meu raciocínio do que na minha intuição.
Total de pontos:
C) Poético
Sei pelo menos um poema de cor e o recito sempre que há
oportunidade.
Gosto de 1er poemas em voz alta ou escutar a leitura de poemas.
Se me apaixono, invento ou copio poemas para o meu amor.
As letras de algumas músicas me seduzem.
Gosto de brincar com o som e o significado das palavras.
Total de pontos:
E atenção!
Gabarito
Os livros e você:
discutindo a relação
0 a 2 pontos: Você e os livros têm pouca intimidade.
Chegue rnais perto: você não sabe o que está
perdendo.
3 a 5 pontos: Sua relação com os livros é boa.
Invista nela!
6 a 9 pontos: Você é apaixonado por livros e faz
com que outros também se apaixonem por eles.
10 pontos: Você desenvolveu uma atração fata
pelos livros. Cuidado! Leitura é para enriquecer a
vida e não para fugir dela.
Emocional, racional, poético:
qual é o seu estilo?
Compare os pontos que você obteve nos três blocos.
Maioria de pontos no bloco A
Emocional: leitor gato (sensual) E provável que
você sinta-se mais à vontade no terreno da
literatura do que no da não-ficção.
Maioria de pontos no bloco B
Racional: leitor touro (pragmático) £ provável
que você prefira a não-ficção.
Maioria de pontos no bloco C
Poético: leitor pássaro (lírico) £
provável que você se dê muito bem no
campo da poesia.
Testes como esses são feitos apenas para
descontrair e provocar a reflexão. Não exija de-
les nenhum rigor.
É interessante notar que uma obra literária ou
um poema podem encantar igualmente tanto
pessoas rnais emotivas e intuitivas, quanto indi-
víduos rnais racionais e pragmáticos. Estes últi-
mos vão encontrar na ficção informações pre-
ciosas — e precisas — sobre a realidade. Um
exemplo: 1er Recordações do escrivão Isaías Cami-
nha, de Lima Barreto, é conhecer por dentro al-
gumas das mazelas da Primeira República que
sobrevivem até hoje, e o poema Morte e vida
Severina, de João Cabral de Melo Neto, equiva-
le a um tratado de sociologia sobre a situação do
camponês sem terra.
Por outro lado, obras de não-ficção podem des-
velar aspectos tão surpreendentes da realidade,
que rnais parecem invenções — e portanto ape-
lam não só aos racionais, como aos emotivos.
Exemplo: a descrição do cerco de Canudos, por
Euclides da Cunha, em Os sertões, é uma repor-
tagem, mas tão ou mais comovente que um
romance.
Enfim, quer você seja rnais emotivo, racional ou
poético, poderá encontrar alegria nos três conti-
nentes do planeta Acervo PNBE/98.
1.2. Sugestão de dinâmica
Objetivo Motivar os professores a iniciar uma aproximação ao
lhes a oportunidade de dialogar sobre sua relação com os
Desenvolvimento
eça aos professores que, em
duplas, discutam se concordam
ou discordam da frase abaixo e por
quê: Professores que gostam de 1er
têm rnais facilidade em
transformar seus alunos em bons
leitores. Chame representantes de
algumas duplas para relatar as suas
conclusões e complemente lem-
brando que cabe à escola oferecer
oportunidades para que os profes-
sores possam 1er mais e com maior
prazer.
Distribua aos participantes
cópias de trechos da Conclusão,
Como nascem os livronautas (p.
146), contendo relato de três dos
autores sobre o início de seu caso de
amor com os livros. Em seguida,
peça que, em grupos de três, os
professores discutam: a) o que existe
de comum nas três histórias?
b) o que rnais chamou a sua atenção
em cada uma delas? e c) qual a sua
história de leitor? como começou a
gostar de 1er?
Divida os participantes em
grupos de no máximo cinco
pessoas. Distribua aos grupos cópias
do teste Os livros e você: dis-
cutindo a relação (p. 22). Em cada
grupo, os participantes responderão
ao teste individualmente e con-
sultarão o gabarito. Em seguida,
cada um compartilhará os resultados
com os colegas. Quem afirmou ter
algum livro que gostaria de re-
comendar aos demais vai dizer qual
é e por que o indicaria. Peça a um
representante de cada equipe para
contar às demais que livros foram
indicados no grupo e por quê. Vá
anotando, no quadro-negro ou
flipchart, os títulos dos livros
P
2
3
com os professores
Acervo PNBE/98 da biblioteca da escola, oferecendo-
livros e sobre o tipo de leitura que preferem.
citados. Sintetize, observando se um
mesmo livro é citado por vários
grupos, ressaltando os tipos de livro
rnais recomendados pelos pro-
fessores: ficção ou não-ficção, lite-
ratura infantil ou adulta, livros téc-
nicos, de auto-ajuda, etc.
Peça que os participantes, em
dupla, sugiram o que pode ser
feito para melhorar a relação da
equipe de professores com a leitura.
Anote e comente as sugestões.
Distribua aos participantes cópias
do teste Emocional, racional,
poético: qual é o seu estilo? (p. 23 e
24), que deve ser preenchido
individualmente. Enquanto isso,
afixe na parede, com bastante
distância um do outro, três cartazes,
um com imagem alusiva à palavra
emocional, outro à
palavra racional e outro à palavra
poético. À medida que os partici-
pantes forem terminando de res-
ponder o teste e de conferir o ga-
barito, peça que eles se posicionem
perto do cartaz com o qual têm mais
afinidade, de acordo com a
pontuação obtida no teste.
Em cada um dos três grupos, as
pessoas irão conversar um pouco
sobre se realmente gostam mais de
ficção do que de não-ficção, ou vice-
versa, e por quê.
Encerre a sessão, retomando,
com suas palavras, o texto do
item E atenção! (p. 25) e
anunciando, para o próximo en-
contro, uma excursão ao Acervo
PNBE/98.
4
5
6
Capítulo 2
Sobrevoando os
continentes do planeta
Acervo PNBE/98
Na capa do seu livro mais célebre, Narizinho arrebitado, o fundador de nossa
literatura infantil, Monteiro Lobato, inscreveu a seguinte advertência: "O livro
que não interessa à criança é um mal; cria o desapego, quando não o horror à
leitura".* Com adultos se passa a mesma coisa. Nós só nos motivamos a fazer
algo — como ler — se a atividade em pauta responder a nossos interesses e
necessidades, se fizer sentido para nossa vida.
Por isso, queremos iniciar os educadores no Acervo PNBE/98 de uma forma
lúdica, para que eles se sintam convidados e não forçados a se familiarizar com
os livros disponíveis na biblioteca; possam escolher por onde começar sua
exploração e se querem aprofundar-se em uma ou rnais das obras apresentadas.
Imaginemos, então, que o conjunto de livros recebidos do Ministério da
Educação é um planeta desconhecido que iremos sobrevoar. Esse planeta tem
três continentes: o vasto Ficção-Prosa, onde se encontram romances, contos,
novelas e peças de teatro de todos os gêneros e períodos; o escarpado Ficção-
Poesia, cujos poemas nos transportam a regiões elevadas e sutis do espírito
humano; e o desenhado Não-Ficção, com estudos e análises históricas,
sociológicas, antropológicas e políticas sobre o nosso país.
Vamos sobrevoar todos eles, para que você faça uma idéia da riqueza que
guardam. Percorrê-los é ter acesso a duas interpretações complementares do
Brasil: a da arte, oferecida pela literatura e pela poesia, e a da ciência,
oferecida pela não-ficção.
Qual será o primeiro continente a ser visitado? A escolha é sua!
(*) Citado por Marisa Lajolo, em Monteiro Lobato, um brasileiro sob medida. Moderna. 2000.
Capítulo 2
2.1. Continente Ficção-Prosa
(*) Uma sugestão:
sempre que concluir a
leitura de um dos livros
do Acervo PNBE/98,
escreva seu próprio
roteiro de viagem e
compare-o com o
apresentado neste
manual. Irá constatar,
então, que apenas o
titulo do livro e o nome
do autor permanecerão
iguais. Os critérios para
selecionar o que é
essencial em um texto
e as razões para
explorá-lo variam de
indivíduo para
indivíduo, de acordo
com sua experiência,
cultura e sensibilidade.
O mesmo acontece
quando visitamos uma
cidade: aspectos que
nela nos encantam
podem causar
indiferença ou
repugnância a outros.
Também é muito
relativa a dificuldade do
texto, indicada pelas
bolinhas ao lado do
título. Portanto,
considere os roteiros
(minirresenhas de cada
obra) apenas como
provocações. Eles são
como um dedo que
aponta para a Lua
(sendo a Lua a obra
que pede para ser lida).
O BRASIL VISTO COM
Bem-vindo ao vasto continente Fic- Região Y: se você, no fundo da alma,
ção-Prosa! Em suas seis regiões você ainda guarda a lembrança da crian-
encontrará paisagens literárias de ça que foi, vai adorar o passeio pe-
todos os tipos, que irão agradar aos los territórios do Sitio do Picapau
livronautas rnais exigentes. Confira: Amarelo.
Região Alfa: perfeita para quem anda
estressado e precisa oxigenar o cérebro
com sorrisos discretos ou até boas
risadas.
Região Beta: se você está vivendo uma
fase romântica e às vezes até chora nos
momentos cruciais do novelão das oito,
esta é a região ideal para iniciar sua
visita.
Região Delta: quem é curioso e quer
aventurar-se pelas histórias de nossa
história vai sentir-se em casa nesta região.
Região Pi: aqui se concentram territórios
cheios de mistério, que vão encantar os
rnais introspectivos, sempre em busca do
sentido da vida...
Região Gama: territórios feitos para
causar impacto, para quem gosta de
emoções fortes.
Continente Ficção-Prosa
OS OLHOS DA IMAGINAÇÃO
Para facilitar uma exploração su- TERRITÓRIO
perficial dos territorios dessas fas- Nome do livro que você irá conhecer
cinantes regiões, um roteiro* foi
preparado, com os seguintes itens: CRIADOR
Nome do autor
COORDENADAS
Tempo e espaço para onde sua imaginação irá
transportá-lo
PALAVRAS-CHAVE
Palavras que o ajudam a captar imediatamente o
espírito do território/livro
SUMO DA HISTÓRIA
O que você pode encontrar nesse território/livro
POR QUE SE AVENTURAR?
Pelo menos uma boa razão para você viajar por esse
território/livro
E então? Que tal iniciar, agora mesmo, um
sobrevôo pelo continente Ficção-Prosa e
descobrir se há algum território no qual você
gostaria de aterrissar com calma?
Capítulo 2
Região Alfa: para refletir e dar boas risadas
TERRITÓRIO A
Capital Federal
CRIADOR
Arthur de Azevedo, maranhense
(1855-1908), jornalista, apaixo-
nado pelo teatro, fortaleceu o tea-
tro nacional incentivando a ence-
nação de peças brasileiras. Teve
papel importante na construção do
Teatro Municipal do Rio de
Janeiro, que não chegou a ver
concluído, e foi diretor do Teatro
João Caetano.
COORDENADAS
Rio de Janeiro, início da Primeira
República.
PALAVRAS-CHAVE
Engano - liberalidades
malandragem
SUMO DA HISTÓRIA
Uma família simples porém endi-
nheirada, do interior de Minas
Gerais, chega ao Rio de Janeiro e
se hospeda no Grande Hotel da
Capital Federal. Mil confusões co-
meçam a acontecer: o patriarca é
iludido por uma simpática pros-
tituta espanhola, e a empregada da
família, uma mulata bonitona, cai
nas graças de um boêmio, jogador
inveterado...
POR QUE SE AVENTURAR?
A peça teatral de Arthur de
Azevedo, recheada de versos
para serem cantados e dançados,
traça um painel humorístico da
sociedade carioca no final do
século XIX, apresen-tando-nos
a um desfile de tipos
característicos, como as
prostitutas, então chamadas, em
francês, cocottes (galinhas), os
malandros, os novos-ricos. A
forma preconceituosa como as
mulheres, em especial as que
não são brancas, são percebidas
e tratadas revela-se em trechos
como esse:
Diabo dos home que insulta
as muié Quando eu vou
sózinha Só ouço dizê Vem
cá mulatinha Que eu vou
com você
TERRITORIO
Cidades mortas
CRIADOR
Mais conhecido por sua produção
literária infantil (vide p.64), o
paulista Monteiro Lobato foi
promotor da cidade de Areias (SP),
fazendeiro, editor, adido comercial
nos Estados Unidos e, aci-
ma de tudo, um cidadão partici-
pante, voltado à construção do
nosso futuro.
Em seu amor pelo Brasil, Lobato
comprou briga até com grandes
multinacionais estrangeiras, de-
fendendo a exploração do petróleo
e a produção do aço em território
nacional.
COORDENADAS
O livro traça um painel da socieda-
de paulista do norte do Vale do
Paraíba no início do século XX, lu-
gar que "tudo foi e nada é". Moti-
vo: depois de propiciar um período
de opulência à região, a lavoura de
café migrou para o oeste paulista,
deixando no vale um rastro de
miséria.
PALAVRAS-CHAVE
São Paulo - café - fazenda -
decadência
SUMO DA HISTÓRIA
Lobato vale-se muitas vezes de re-
cursos cômicos para representar a
decadente burguesia cafeeira que
insiste em agarrar-se a valores ultra-
passados. Assim é que em Café! Café,
por exemplo, o major Mimbuia re-
siste a diversificar o plantio de sua
fazenda e termina tendo de vendê-
la para saldar as dívidas. Mesmo
reduzido à solidão e à
Continente Ficção-Prosa
Nível de dificuldade: as bolinhas indicam o grau de dificuldade
de acesso — de para quem aprecia caminhos simples e
rápidos, a para os que gostam de desafios maiores
miséria, continua, num pedacinho
de terra, a plantar café.
POR QUE SE AVENTURAR?
O autor adota um ponto de
vista de irônica filosofia. Os
contos trazem sempre um as-
pecto ridículo ou patético,
sendo difícil ao leitor não sor-
rir diante deles. Esse estilo
zombeteiro torna ainda rnais
interessante a leitura e rnais
aguda a crítica.
TERRITORIO Serafim
Ponte Grande
CRIADOR
Oswald de Andrade, paulista
(1890-1954), um dos principais
integrantes da Semana de Arte Mo-
derna de 1922,* revolucionou o jei-
to de se fazer literatura no Brasil.
Queria contribuir para a Revolução
Proletária, mas reconhecia ser esta
uma "tarefa heróica para quem já
foi Irmão do Santíssimo, dançou
quadrilha em Minas e se fantasiou
de turco a bordo". Foi o represen-
tante rnais radical do Movimento
Antropofágico (1922) de renova-
ção literária, que ridicularizava a es-
crita empolada e a submissão aos
estilos europeus.
COORDENADAS
"Este livro foi escrito de 1929 para
trás", diz Oswald. São Paulo, Rio,
Paris, Jerusalém e o convés de um
transatlântico servem de cenário.
PALAVRAS-CHAVE
Sátira - fragmento - denúncia
SUMO DA HISTÓRIA
Infância, adolescência, amores
conjugáis e extraconjugais, viagens
e aventuras de um brasileiro muito
louco e metido a literato, Serafim
Ponte Grande, que faz dupla com
seu fiel amigo, escudeiro e
secretário, Pinto Calçudo.
POR QUE SE AVENTURAR?
Para conhecer um dos textos
rnais polêmicos e irônicos de
nossa literatura. Para ver até
que ponto ainda nos escan-
dalizam as transgressões do
"antropófago" Oswald. Para
rir das tiradas do Serafim,
como esta anotação do seu
diário ou, como diz ele, "Fo-
lhinha Conjugal: Continuo a
viver uma vida acanalhada. Só
vejo um remédio para me
moralizar: cortar a incômoda
mandioca que Deus me deu".
TERRITORIO A morte e a
morte de Quincas Berro
d'Água
CRIADOR
O baiano Jorge Amado (1912),
filho de um fazendeiro de cacau,
formou-se em Direito no Rio,
tendo sido deputado federal pelo
Partido Comunista (1945), logo
cassado. Materialista e místico ao
mesmo tempo, é figura respeitada
nos candomblés de Salvador.
Estreou como escritor em 1932,
com O país do carnaval, e acabou
tornando-se uma lenda viva das
letras brasileiras. E um de nossos
escritores rnais lidos no país e no
exterior.
Recorde de vendas, Amado geral-
mente retrata a vida, a sensuali-
dade e os valores das camadas po-
pulares da sociedade baiana, cap-
turando-os ora pelo lado da crô-
nica de costumes, ora pelo da de-
núncia social, mas sempre com
uma singeleza e um colorido pe-
culiares.
(*) Para saber rnais sobre Modernismo em
literatura, no Brasil, consulte "A
Revolução Modernista" em A literatura no
Brasil, vol. 5, Era Modernista. Os rnais
apressados podem recorrer à Macropédia
Bana, vol. 10, p.l03-104 (Acervo
PNBE/98).
Capítulo 2
COORDENADAS
Estamos em Salvador, na Bahia,
visitando suas favelas, botequins,
zonas de meretrício e todo o alegre
submundo da cidade na década de
1950.
PALAVRAS-CHAVE
Bahia - boemia - sobrenatural
SUMO DA HÍSTÓRIA
Durante cinqüenta anos, Joaquim
Soares da Cunha foi um respeitá-
vel funcionário público e chefe de
família. Um dia, cansado da tirania
da esposa, d. Otacília, e da filha,
Vanda, abandonou o lar e tornou-
se Quincas Berro d'Água, bebedor
contumaz, amigo de prostitutas,
boêmios, bandidos e marinheiros,
figura popularíssima em Salvador.
A história narra a morte desse he-
rói do submundo e de suas con-
seqüências: envergonhada e nada
disposta a gastar dinheiro no en-
terro, a família de Quincas tenta
velá-lo da forma mais discreta
possível. Mas seus amigos — e o
próprio defunto — acham que um
enterro festivo é o que mais
convém.
(*) Épico: o que diz respeito à epopéia, aos
heróis. Epopéia: poema ou texto de fôlego
sobre assunto grandioso ou heróico. Em
sentido figurado: ação ou série de ações
heróicas.Vide Novo Dicionário Aurélio da
Língua Portuguesa, Ed. Nova Fronteira
(Acervo PNBE/98).
POR QUE SE AVENTURAR?
Publicada pela primeira vez
em 1961, como parte do livro
Os velhos marinheiros, a
novela apresenta um painel
vivo e divertido da Salvador
de meados do século XX, e é
também um convite à refle-
xão: do mundo nada se leva,
portanto, o melhor que se tem
a fazer é viver a alegria de
nossa liberdade, mesmo à
custa da desaprovação da-
queles que se dizem "respei-
táveis".
TERRITORIO
O coronel e o
lobisomem
CRIADOR
O carioca José Cândido de Car-
valho (1914-1989) foi um diver-
tidíssimo observador das esperte-
zas, artimanhas e credulidade do
homem rural. Redator de jornal,
soube mesclar como ninguém a
visão crítica de jornalista com a
simpatia que o povo brasileiro lhe
inspirava.
COORDENADAS
Este delicioso romance de 1964,
narrado em primeira pessoa, conta
as peripécias do coronel Ponciano
de Azeredo Furtado, fazendeiro
influente do interior do Rio de
Janeiro.
PALAVRAS-CHAVE
Invenção - "causos" - lobisomens
SUMO DA HISTÓRIA
Do alto de seus dois metros de al-
tura, charuto na boca e barba rui-
va, o coronel Ponciano enfrenta
lobisomens (como chama, também,
seus muitos problemas — sejam
eles coletores de impostos ou
mestres de letras) sem perder o
bom humor. O leitor é envolvido
pela narrativa cativante do coronel,
emocionando-se e rindo com ele,
encantando-se com sua auto-
confiança ilimitada, sua imagina-
ção, seus rompantes de raiva e sua
permanente generosidade.
POR QUE SE AVENTURAR?
O coronel Ponciano, esta cria-
tura de Cândido de Carvalho,
é um personagem adorável,
tão verossímil que parece feito
de carne e osso. Nele res-
saltam algumas das melhores
qualidades que um ser hu-
mano pode ter: otimismo,
criatividade e bondade. Vale a
pena enredar-se nas histórias
do coronel, mesmo sabendo
que a maior parte delas é men-
tira deslavada, como a do lo-
bisomem que já tinha empre-
go arranjado com o "povo do
governo", ou o caso da sereia
que se apaixona por ele, mas
da qual "só aproveita as partes
de cima, já que as partes subal-
ternas não servem para nada".
Continente Ficção-Prosa
TERRITÓRIO Auto da
Compadecida
CRIADOR
Ariano Suassuna (1927), natural
da Paraíba, é dramaturgo e pesqui-
sador da cultura nordestina, um de
nossos grandes tesouros culturais.
Em Auto da Compadecida, sua obra
rnais famosa, Suassuna consegue
reunir inteligência, humor e sim-
plicidade. A peça, com seus diálo-
gos vivos e coloridos, é um marco
na história do teatro brasileiro.
COORDENADAS
Estamos no sertão nordestino, na
pequena cidade de Taperoá. Por se
tratar de uma história popu-lar,
inspirada no folclore, ela é
atemporal.
PALAVRAS-CHAVE
Justiça - esperteza - misticismo
SUMO DA HISTÓRIA
João Grilo, caboclo esperto, pla-
neja enriquecer e vingar-se de seus
patrões, um casal de padeiros mes-
quinho e avarento. Para isso, in-
venta uma série de histórias, como
a de um cachorro bento e a de um
animal que "descome" dinheiro.
Mas a situação vai se complicando
e, para não ser pego em flagrante,
João é obrigado a mentir cada vez
rnais.
Em dado momento, todos os per-
sonagens são levados à presença de
Deus e do Diabo, para serem julga-
dos por seus pecados.
POR QUE SE AVENTURAR?
Inspirada em romances e his-
tórias populares do Nordeste,
o Auto da Compadecida é uma
deliciosa comédia em que a
crença religiosa dos homens e
mulheres do povo é represen-
tada de forma simples, doce e
próxima. O personagem João
Grilo é o típico anti-herói: fra-
co, pobre, só conta com a pró-
pria esperteza para sobreviver.
Desde sua criação, o Auto da
Compadecida vem acumulando
estrondosos sucessos no palco,
na televisão e no cinema.
TERRITORIO Viva o
povo brasileiro
CRIADOR
João Ubaldo Ribeiro (1941),
baiano, jornalista desde os 17 anos,
é um escritor extremamente
moderno, visual e popular. Basta
dizer que Viva o povo brasileiro foi
consagrado no carnaval de 1987
pela escola de samba carioca Im-
pério da Tijuca, que adotou a his-
tória do livro como tema de seu
samba-enredo.
COORDENADAS
O romance épico* cobre quatro sé-
culos de história do Brasil. Tendo
como referência um pequeno pon-
to geográfico, a ilha de Itaparica
(BA) e, como herói, o povo brasilei-
ro, o romance visita as culturas que
o compuseram e compõem.
PALAVRAS-CHAVE
Povo - humor - raízes - antropofagia
SUMO DA HISTÓRIA
Em 1647, os holandeses dispu-
tavam com portugueses e espa-
nhóis a posse da colônia do Brasil.
Estabelecidos há mais de um ano
na ilha de Itaparica (BA), tiveram
que fugir às pressas para Recife.
Na confusão, muitos dos soldados
holandeses foram abandonados à
própria sorte pelos superiores,
iniciando o processo de
miscigenação com o povo local.
Isso trouxe inúmeras conseqüên-
cias ao longo da nossa história: os
estrangeiros influenciaram e foram
influenciados por esta terra,
abrasileirando-se, deixando
descendência e ajudando a moldar
o caráter e a identidade nacional de
um dos países rnais plurais do
mundo.
POR QUE SE AVENTURAR?
Misturando dados históricos e
invencionice, problemati-
zando e propondo uma outra
leitura dos dados oficiais, este
épico humorístico e irônico é
na verdade uma anti-história
do Brasil, na qual se desvela,
de maneira divertida, o que está
por trás de muitos de nossos
usos, costumes e episódios
históricos.
Um livro que pode mudar
nossa maneira de pensar e
encarar o país.
Capítulo 2
Região Beta: para envolver-se em grandes
TERRITORIO A
Moreninha
CRIADOR
Joaquim Manuel de Macedo
(1820-1882), do Rio de Janeiro,
além de médico e professor, fun-
dador do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, foi o repre-
sentante burguês do Romantismo.*
Seus diálogos vivos, por vezes
engraçados, seus livros bem-
humorados e sua visão otimista de
mundo tiraram a escola romântica
dos planos de sofrimento e
seriedade absolutos e conquistaram
as boas graças do público: ao lado
de José de Alencar, Macedo foi o
escritor mais lido de sua época.
(*) Para saber rnais sobre Romantismo em
literatura, no Brasil, consulte A literatura no
Brasil, vol. 3, Era Romântica. Os rnais
apressados podem recorrer à Macropédia
Barsa, vol. 12, p. 456 (Acervo PNBE/98).
COORDENADAS
A história se passa no século XIX,
época do Segundo Império no Bra-
sil. Embora não seja possível preci-
sar exatamente o ano, sabemos que
ela transcorre exatamente em um
mês: de 20 de julho a 20 de agosto.
O espaço da narrativa é uma ilha,
presumivelmente a de Paquetá, no
Rio de Janeiro.
PALAVRAS-CHAVE
Aposta - corte - namoro
SUMO DA HISTÓRIA
Filipe convida seus três amigos,
Augusto, Fabrício e Leopoldo, para
passarem o feriado de Sant'Ana na
casa de sua avó, em uma ilha. Bai-
les, festas e as rnais encantadoras
moças do mundo esperam por eles.
Augusto, inconstante e irremediá-
vel conquistador, diz que se apai-
xonará por todas elas, mas, como
sempre, não amará nenhuma. Os
estudantes aproveitam o mote e
fazem uma aposta: dessa vez seria
diferente. E, se o amigo perdesse,
deveria escrever um romance.
Chegando à ilha, Augusto encon-
trará a irmã de Filipe: Carolina, a
Moreninha, adolescente levada e
original, diferente de todas que o
rapaz já tinha conhecido.
POR QUE SE AVENTURAR?
São várias as razões para visitar
Carolina:
De início, porque ela é a nossa
primeira heroína. Afastando-se
das loiras e distantes européias,
Macedo criou a moreninha viva
e maliciosa, que ainda hoje fun-
ciona como estereótipo da mu-
lher brasileira.
A segunda razão é que muitos
dos costumes do Segundo Im-
pério estão retratados no roman-
ce: bailes, brincadeiras, roupas,
comidas, formas de se relacio-
nar e namorar características do
século XIX são descritos com
graça e leveza, dando ao leitor a
impressão de participar tam-
bém do feriado na ilha.
A terceira razão é que A Moreni-
nha tem passagens engraçadíssi-
mas, pois Macedo é um gozador
nato: em alguns trechos, chega a
zombar do próprio estilo exage-
rado dos românticos, escola da
qual ele mesmo faz parte!
Existem personagens tão sedu-
tores que escapam das mãos de
seu autor e são definitivamente
adotados pelo público. Basta
dizer que, em Paquetá, lugar
onde se passa a história, existe
uma pedra batizada de "Pedra
da Moreninha".
Continente Ficção-Prosa
histórias de amor
Nível de dificuldade: as bolinhas indicam o grau de dificuldade
de acesso — de para quem aprecia caminhos simples e
pidos, a para os que gostam de desafios maiores.
TERRITORIO
Iracema
CRIADOR
José de Alencar, cearense ( 1829-
1877), formado em Direito em São
Paulo, filho de um senador do Im-
pério, é considerado o fundador do
romance nacional, com Iracema e
O guarani. Desenvolveu em suas
obras as temáticas indianista, rural
e urbana.
PALAVRAS-CHAVE
Sedução - amor - abandono
COORDENADAS
A ação ocorre no início de nossa
colonização, entre os séculos XVI e
XVII, em uma tribo indígena no
litoral da região Nordeste.
SUMO DA HISTÓRIA
Baseado em um argumento his-
tórico — a primeira expedição ao
Rio Grande do Norte, de Martim
Soares Moreno, que se ligou por
laços de amizade aos índios do li-
toral — Alencar cria uma inesque-
cível história de amor. Iracema, a
virgem morena de lábios de mel,
que guarda os segredos do aluci-
nógeno licor de jurema, abandona
tudo para seguir o colonizador
português. Da paixão nasce um
filho, Moacir, o ancestral da "raça
brasileira". Mas o presságio de um
final infeliz fica nas palavras de
Iracema ao amado Martim: "Teu
corpo está aqui, mas tua alma voa
à terra de teus pais e busca a vir-
gem branca, que te espera..."
POR QUE SE AVENTURAR?
f
Para confrontar o índio idea-
lizado de Iracema, que vive
em íntima comunhão com o
colonizador, e o índio real, es-
poliado, massacrado, que sur-
ge das páginas de Antonio
Callado, em Quarup, ou de
Darcy Ribeiro, em Diários
indígenas. Como diz Alfredo
Bosi, em seu livro A dialética
da colonização: "Alencar vio-
la a história da ocupação por-
tuguesa no primeiro século.
Sua representação da socieda-
de colonial dos séculos XVI e
XVII é mítica". No entanto,
1er Iracema é navegar por um
poema em prosa escrito por
alguém que considerava o co-
nhecimento da língua indígena
a fonte na qual todo escritor
brasileiro deveria beber, para
produzir obras efetivamente
nacionais.
TERRITORIO
Senhora
CRIADOR
José de Alencar (ver texto ao lado)
PALAVRAS-CHAVE
Casamento - erotismo - vingança
COORDENADAS
Estamos na Corte Imperial, século
XDC, Rio de Janeiro, entre moças de
"seios ofegantes", vestidas de seda e
cambraia...
SUMO DA HISTÓRIA
Aurélia, herdeira milionária, pre-
cisa de um marido, "traste indis-
pensável às senhoras honestas".
Seixas é o escolhido para o casa-
mento de conveniência. Uma vin-
gança, porque, no passado, quando
Aurélia era pobre, o rapaz a havia
rejeitado. O inferno conjugai dos
dois personagens prolonga-se até
quase o final do romance. Seixas é
tratado como um escravo por sua
Senhora e humilhado até redimir-
se de suas culpas, demonstrando
ser digno de freqüentar o leito
matrimonial...
Capítulo 2
POR QUE SE AVENTURAR?
Senhora nos introduz no co-
tidiano da elite do Rio de Ja-
neiro, na época do Império.
Uma sociedade europeizada,
onde se fala francês em salões
iluminados por candelabros de
cristal e cavalheiros entram em
êxtase erótico ao valsar com
suas damas: "As senhoras não
gostam da valsa senão pelo
prazer de sentirem-se ar-
rebatadas no turbilhão. Há
uma delícia, uma voluptuo-
sidade pura e inocente, nessa
embriaguez da velocidade.
(...) Mas é justamente aí que
está o perigo. Esse enlevo ino-
cente da dança entrega a
mulher palpitante, inebriada,
às tentações do cavalheiro,
delicado embora, mas homem,
que ela sem querer está
provocando com o casto re-
quebro de seu talhe e
transpassando com as emana-
ções de seu corpo".
(*) Para saber mais sobre Realismo em
literatura, no Brasil, consulte "Realismo,
Naturalismo, Parnasianismo", em A
literatura no Brasil, vol. 4, Era Realista. Os
mais apressados podem recorrer à
Macropédia Barsa, vol. 12, p. 230-231
(Acervo PNBE/98).
TERRITORIO
laiá Garcia
CRIADOR
O rnais brilhante e prestigiado de
nossos autores, Joaquim Maria
Machado de Assis (1839-1908),
carioca, era mulato, pobre e ór-,
fão. Adorava 1er — e isso fez toda
a diferença na sua vida. Começou
como tipógrafo, aprendeu línguas.
De revisor e jornalista, passou a
ocupante de altos cargos admi-
nistrativos, escritor renomado, e
terminou fundando, com outros
intelectuais, a Academia Brasileira
de Letras (1896). Sua ficção, para
Alfredo Bosi, representa "o ponto
mais alto e rnais equilibrado da
prosa realista brasileira".* A
preocupação psicológica e as
contradições da alma humana estão
sempre presentes em seus per-
sonagens, tornando-os humanos,
verossímeis e profundos.
COORDENADAS
A Guerra do Paraguai (1864 a
1870) é pano de fundo de grande
parte do romance, cuja história co-
meça em 1866 e termina em 1871.
Estamos no Rio de Janeiro,
PALAVRAS-CHAVE
Guerra - segredo - conquista
SUMO DA HISTÓRIA
Jorge, único herdeiro de uma rica
viúva, apaixona-se por Estela,
moça de origem humilde, mas
muito orgulhosa. Para evitar que o
filho se case com alguém social-
mente inferior, Valéria o envia
para a Guerra do Paraguai.
Jorge segue então para a campanha
militar, mas antes toma por
confidente o amigo Luís Garcia, a
quem fala de seus sentimentos sem
revelar o nome da amada. Ao vol-
tar da guerra, encontra Garcia e
Estela casados. A filha de Garcia,
Iaiá, descobre o desgosto secreto
de Jorge e, embora detestando-o,
dispõe-se a conquistar seu amor, a
fim de evitar um desfecho trágico
para o pai.
POR QUE SE AVENTURAR?
Entre os sinceros desejos do
coração e as conveniências so-
ciais existe um abismo. Ma-
chado de Assis foi mestre em
colocá-lo a nu. Nesse sentido,
laia Garcia é um de seus
romances mais representativos.
E quantas vezes não sacrifi-
camos nossos sonhos em
nome de valores materiais?
Continente Ficção-Prosa
TERRITORIO _________
Angústia
CRIADOR
O alagoano Graciliano Ramos
(1892-1953) foi prefeito de Pal-
meira dos índios e diretor da Im-
prensa Oficial e da Instrução Pú-
blica em Maceió. Autor profun-
damente engajado e de extrema
coragem, foi preso em 1936, du-
rante a ditadura de Vargas, por sua
posição política e suas denúncias
dos problemas sociais brasileiros.
A experiência, de quase um ano,
ficou registrada em seu Memórias
do cárcere (vide p. 100). Sua
linguagem simples e o estilo seco
tornaram-no um dos con-
solidadores da língua portuguesa
usada no Brasil.
COORDENADAS
Sertão alagoano da década de
1930. Aqui o foco não é tanto o
tempo ou o lugar, mas o que se
passa na alma do protagonista,
Luís da Silva. Vivendo entre o
passado brilhante e o presente
decadente da sociedade rural, Luís
não se identifica com nenhum dos
dois mundos.
PALAVRAS-CHAVE
Alagoas - amor - traição
SUMO DA HISTÓRIA
Luis da Silva é um homem solitá-
rio, recalcado e frustrado. Tendo
vivido sempre uma vida mesquinha
e sem grandes expectativas, sente
seu mundo iluminar-se de repente
ao conhecer Marina, uma vizinha.
Apaixonado por ela, pede-a em
casamento e entrega-lhe as
economias para o preparo do
enxoval. Mas Marina conhece João
Tavares, rapaz rico, ousado,
apaixonado pela vida, qualidades
que faltam ao noivo.
POR QUE SE AVENTURAR?
I Este é o romance rnais
complexo e intimista de
Graciliano. Narrado em pri-
meira pessoa, mostra o ponto
de vista de pessoas que se
acostumaram com o fracasso.
Continuamente boicotadas,
terminam por se auto-repri-mir.
O livro relata o drama dos que
pertencem àquela camada da
sociedade que vê todas as
possibilidades fecharem-se
diante de seus olhos.
TERRITORIO Gabriela cravo e
canela
CRIADOR
O baiano Jorge Amado (1912), fi-
lho de um fazendeiro de cacau, for-
mou-se em Direito no Rio, tendo
sido deputado federal pelo Partido
Comunista (1945), logo cassado.
Materialista e místico ao mesmo
tempo, é figura respeitada nos can-
domblés de Salvador. Estreou como
escritor em 1932, com O país do
carnaval, e acabou tornando-se
uma lenda viva das letras brasilei-
ras. É um de nossos escritores rnais
lidos no país e no exterior.
Recorde de vendas, Amado em ge-
ral retrata a vida, a sensualidade e os
valores das camadas populares da
sociedade baiana, capturando-os
ora pelo lado da crônica de costu-
mes, ora pelo da denúncia social,
mas sempre com uma singeleza e
um colorido peculiares.
COORDENADAS
Estamos no auge do ciclo do cacau,
em 1925, na cidade de Ilhéus, na
Bahia.
PALAVRAS-CHAVE
Ilhéus - cacau - paixão
SUMO DA HISTÓRIA
Por meio de várias histórias
individuais que se cruzam e se
amarram, Amado traça um painel
de todas as camadas da sociedade
baiana da década de 1920, com
Capítulo 2
seus usos e costumes. O livro tem
dois focos centrais: a história de
amor entre o árabe Nacib e sua
cozinheira, a mulata Gabriela, e os
esforços de Mundinho Falcão,
exportador de cacau, para levar aos
coronéis de Ilhéus os ventos do
progresso.
POR QUE SE AVENTURAR?
No seu livro mais famoso,
Amado consegue conciliar a
crítica política e a sátira mo-
ral, retratando a verdadeira re-
volução social trazida pelo
surto do cacau, assim como o
lirismo e a sensualidade de
um povo que sobrevive em
condições por vezes muito
difíceis.
TERRITORIO
Mar morto
CRIADOR
Jorge Amado (vide p. 39)
COORDENADAS
A história se passa em Ilhéus, litoral
da Bahia, nos portos de onde par-
tem e a que retornam os marinhei-
ros, e no meio de um mar cheio de
"mistério que nem os próprios ma-
rinheiros entendem".
PALAVRAS-CHAVE
Ilhéus - mar - pesca - amor
SUMO DA HISTÓRIA
A história de amor entre o mari-
nheiro Guma e a namorada Lívia,
que o aguarda em terra, é o fio
condutor desta narrativa, pun-.
gente e poético relato da arriscada
vida que levam os pescadores e os
canoeiros, sempre ameaçados pela
"rnais doce das mortes": a que nos
surpreende no mar.
POR QUE SE AVENTURAR?
Amado utilizou-se dos inú-
meros relatos que ouviu da
boca dos marinheiros baianos
para compor a história. Re-
produzindo fielmente a con-
cepção de mundo desses ho-
mens, seus sentimentos, cren-
ças e temores, alcançou tal
força lírica que Mar morto é
considerado um poema em
prosa, como Iracema, de
Alencar.
TERRITÓRIO Ciranda de
pedra ••
CRIADOR
A paulistana Lygia Fagundes
Telles (1923), formada em advo-
cacia e em educação física, é uma
das rnais expressivas autoras de
nosso tempo e talvez também a
rnais batalhadora. Seu esforço jun-
to às universidades nacionais e es-
trangeiras abriu caminho para
maior divulgação da nossa litera-
tura e aproximou-a muito, de
maneira até mesmo afetiva, de seu
público leitor. Em 1985, tornou-se
a terceira mulher a ingressar na
Academia Brasileira de Letras.
COORDENADAS
A história se passa nas décadas de
1940 e 1950, em São Paulo,
enfocando a infância e a adoles-
cência de Virgínia, a protagonista.
PALAVRAS-CHAVE
São Paulo - solidão - disputa -
SUMO DA HISTORIA
Virgínia é uma criança solitária e
desamparada: mora com a mãe,
que tem sérios problemas psicoló-
gicos, e com o amante desta, o tio
Daniel.
Continente Ficção-Prosa
A humildade de sua vida contrasta
com o padrão luxuoso das irmãs,
que moram com o pai rico. Bem
rnais velhas que Virgínia, Bruna e
Otávia têm um círculo social de
amigos íntimos que a caçula inveja
e no qual não consegue penetrar.
Após passar anos num colégio in-
terno, Virgínia volta para a casa do
pai, disposta a tirar a limpo o seu
passado.
POR QUE SE AVENTURAR?
Lygia desperta intensas emo-
ções no leitor, revelando o
turbilhão de sentimentos que
agita a alma de Virgínia, de-
samparada e carente de afeto.
Temos o privilégio de assistir
ao desenrolar dos problemas
da personagem e sua posterior
superação, por meio de uma
atitude de coragem e
autovalorização. Ciranda de
pedra foi o primeiro livro
brasileiro a abordar direta-
mente temas tabus como o
lesbianismo e a impotência
sexual.
TERRITORIO Ópera
dos mortos
CRIADOR
As obras de Valdomiro Freitas
Autran Dourado, nascido em
Minas Gerais (1926), iluminam a
"vida escondida" que borbulha sob
a aparente tranqüilidade das
pacatas famílias do interior. Um de
seus livros, Os sinos da agonia, faz
parte da bibliografia dos exames
das universidades francesas e já
inspirou mais de vinte teses de
mestrado e doutorado. Dourado
cursou Direito e foi secretário de
imprensa no governo de Juscelino
Kubitschek.
COORDENADAS
A história se passa entre o Império
e a Primeira República, chegando
ao início do século XX. O cenário
é a cidade fictícia de Duas Pontes,
herdeira do período aurifero de
Minas Gerais, com seus sobrados
barrocos — uma constante na obra
de Autran Dourado.
PALAVRAS-CHAVE
Senhora - servo - paixão
SUMO DA HISTÓRIA
Rosalina, a última descendente dos
Honorio Cota, família outrora
poderosa e influente, vive sozinha,
com dois empregados, em um
antigo casarão, cultuando seus
mortos.
Orgulhosa e tirana patroa, Rosalina
é, no fundo, uma mulher romântica
e frustrada, impedida de casar-se
na juventude por causa da
diferença social que existia entre
ela e o namorado. Assim, vive a
sonhar e a reler romances. E é
entre seus devaneios, num misto de
realidade e fantasia, que ela viverá
uma história de amor de con-
seqüências aterradoras...
POR QUE SE AVENTURAR?
O autor não poupa seus per-
sonagens. Eles estão expostos
diante dos olhos do leitor com
todas as suas paranóias, ansie-
dades e frustrações, de ma-
neira tão verídica que chega a
ser assustadora.
Capítulo 2
Região Delta: para viver histórias da
TERRITORIO
Triste fim de Policarpo
Quaresma
CRIADOR
O carioca Afonso Henriques de
Lima Barreto (1881-1922) era
neto de escravos. Nasceu no dia em
que, sete anos mais tarde, seria pro-
clamada a Abolição da Escravatura
e morreu no ano da Semana de Arte
Moderna, que tanto lhe deve. Che-
gou a matricular-se na Escola Poli-
técnica para cursar engenharia, mas
não prosseguiu os estudos.
Trabalhou como escrevente
("antepassado" do datilógrafo e do
digitador) e exerceu o jornalismo.
Crítico arguto, profundo observa-
dor da realidade, retratou com pre-
cisão as mazelas da sociedade de seu
tempo — a Primeira República —,
entre elas o preconceito racial que o
vitimava. Foi internado no mani-
cômio em virtude do alcoolismo,
por duas vezes. Captou, principal-
mente, a vida dos boêmios, peque-
no-burgueses, das pessoas pobres e
discriminadas como ele.
COORDENADAS
Rio de Janeiro, início do século XX,
início também da República no
Brasil. Tempo em que a mulher,
chegando aos cinqüenta anos, já
podia ser chamada de "uma bela ve-
lha"— sem ofensa.
PALAVRAS-CHAVE
República Velha - nacionalismo
SUMO DA HISTÓRIA
Policarpo Quaresma é um major
incondicionalmente apaixonado
pelo Brasil e apavorado com a
descaracterização da nossa cultura,
moldada, cada vez rnais, pelos
padrões europeus. Ingênuo, até
mesmo xenófobo, o major tenta
com todas as forças avivar um
sentimento nacional exagerado.
Uma série de atitudes estranhas —
como enviar à Câmara de De-
putados uma petição para que o
tupi-guarani seja a língua oficial
do povo brasileiro — acaba por
fazer com que seja julgado maluco
pelas outras pessoas.
POR QUE SE AVENTURAR?
É um privilégio saborear a lin-
guagem coloquial, despojada, de
Lima Barreto, precursor dos
modernistas. Deste autor diz
Ricardo Oiticica no prefácio do
Policarpo: "O ideal de uma lín-
gua nacional, que articula o pro-
jeto romântico ao modernismo,
passa necessariamente por ele".
Além de descortinar a vida polí-
tica do Brasil nos primórdios da
República, o livro estimula-nos
a refletir sobre o real significado
de "patriotismo".
TERRITORIO Recordações
do escrivão Isaías Caminha
CRIADOR
Lima Barreto (ver texto ao lado)
COORDENADAS
Rio de Janeiro, início do século
XX, início também da República
no Brasil.
PALAVRAS-CHAVE
Rio de Janeiro - imprensa -
corrupção
SUMO DA HISTÓRIA
Como o autor, Isaías Caminha é
mulato, tentando sobreviverem
uma sociedade onde o preconceito
de cor impera. Emprega-se na
redação de um jornal e, deste
observatório, faz uma descrição
impiedosa da subserviência dos
meios de comunicação aos
poderosos.
Continente Ficção-Prosa
nossa história
Nível de dificuldade: as bolinhas indicam o grau de dificuldade
de acesso — de para quem aprecia caminhos simples e
rápidos, a para os que gostam de desafios maiores.
POR QUE SE AVENTURAR?
Para constatar que os problemas
denunciados por Lima Barreto
— discriminação contra negros
e mulatos, imprensa chapa-bran-
ca, políticos corruptos, progres-
so feito à custa da destruição do
ambiente, pobreza—continuam
aí, desafiando-nos.
TERRITORIO A
bagaceira
CRIADOR
Advogado, procurador do Estado,
fundador da Universidade da
Paraíba quando governador do Es-
tado (1951-1953), ministro no pe-
ríodo Vargas. Além disso tudo, o
paraibano José Américo de
Almeida (1887-1980) também
inaugurou o ciclo do Nordeste no
movimento regionalista* da ficção
brasileira. É considerado "um
pioneiro, sem o qual seria difícil
conceber a trajetória de José Lins
do Rego, Rachel de Queiroz, Aman-
do Fontes, Graciliano Ramos" (A
literatura no Brasil, vol. 5, Era
Modernista, Ed. Global, 1997).
(*) Para saber mais sobre
regionalismo em literatura, no Brasil.
consulte "O regionalismo na ficção".
em A literatura no Brsil, vol. 4, Era
Realista (Acervo PNBE/98).
COORDENADAS
O romance se passa no sertão nor-
destino, entre os terríveis anos de
1898 e 1915, dois períodos de
grande seca.
PALAVRAS-CHAVE
Nordeste - seca - engenho - honra -
SUMO DA HISTORIA
Bagaceira é o local próximo ao en-
genho onde se junta o bagaço da
cana. Título apropriado para um
livro que põe a nu os destrutivos
mecanismos de poder manipulados
pelos latifundiários. Expulsos pela
seca, Valentim e sua filha, Soledade,
abandonam a fazenda e encontram
acolhida no engenho Marzagão, de
propriedade do viúvo Dagoberto
Marçau. Este tem um filho único,
Lúcio, com quem não se dá bem:
Dagoberto é o prepotente senhor
de engenho que faz suas próprias
leis; Lúcio é um jovem idealista e
sonhador.
Apaixonado por Soledade, Lúcio
precisa entretanto partir para a aca-
demia. De volta, já formado em ad-
vocacia, fica sabendo que Valentim
está preso pelo assassinato do feitor
da fazenda, suposto sedutor e aman-
te da filha. Lúcio resolve então
defendê-lo no tribunal.
POR QUE SE AVENTURAR?
O livro tornou-se um marco na
literatura brasileira, por esboçar
o perfil da futura leva de roman-
ces regionais: engajamento polí-
tico, consciência dos problemas
sociais. O ataque que Américo
de Almeida faz ao sistema de
concentração de terras, uma das
causas principais da miséria da
região, infelizmente ainda não
perdeu a atualidade.
TERRITORIO
Urupês ••
CRIADOR
Mais conhecido por sua produção
literária infantil (vide p. 64), o
paulista Monteiro Lobato (1882-
1948) foi promotor da cidade de
Areias (SP), fazendeiro, editor, adi-
do comercial nos Estados Unidos
e, acima de tudo, um cidadão par-
ticipante, voltado à construção do
nosso futuro.
Em seu amor pelo Brasil, Lobato
comprou briga até com grandes
multinacionais estrangeiras, de-
fendendo a exploração do petróleo
e a produção do aço em território
nacional.
Capítulo 2
COORDENADAS
Como em Cidades mortas, do mes-
mo autor, estamos em plena deca-
dência da economia cafeeira no
Vale do Paraíba (São Paulo), no
início do século XX.
PALAVRAS-CHAVE
São Paulo - campo - Jeca Tatu
SUMO DAS HISTÓRIAS
O volume é composto por doze
contos e artigos, com temas varia-
dos, do qual o rnais famoso é o
último, que dá título ao livro.
Urupês é o nome de um parasita,
metáfora para a inércia do caboclo,
que Lobato define, no artigo
"Velha praga", como "este funesto
parasita da terra". Ataca os que
idealizam o caboclo e expõe uma
população subnutrida, vivendo à
margem da sociedade, sem acesso
à cultura, sujeita a toda sorte de
doenças e cuja grande preocupação
seria "espremer todas as conse-
qüências da lei do menor esforço".
POR QUE SE AVENTURAR?
r
Lobato cria um personagem que
por muito tempo habitou o
imaginário dos brasileiros: o
polêmico Jeca Tatu, símbolo da
miséria do camponês brasileiro,
abandona- do pelos poderes
públicos. No Jeca se resumem
características do caipira paulista
que perpetuavam o atraso, como
sua ignorância e passividade,
levando às queimadas, à de-
vastação das matas, ao esgo-
tamento da terra. Mais tarde,
conta Marisa Lajolo (op. cit.,
2000), Lobato iria reformular '
seu julgamento, colocando na
péssima realidade sanitária
brasileira a culpa pela inação do
caipira: "O Jeca não é va-dio, está
doente". Quer melhor
combustível para alimentar um
debate sobre a atual situação do
homem do campo no Brasil?
TERRITORIO
Vidas secas
coragem, foi preso em 1936, du-
rante a ditadura de Vargas, por sua
posição política e suas denúncias
dos problemas sociais brasileiros.
A experiência, de quase um ano,
ficou registrada em seu Memórias
do cárcere (vide p. 100). Sua
linguagem simples e o estilo seco
tornaram-no um dos conso-
lidadores da língua portuguesa
usada no Brasil.
COORDENADAS
Sertão alagoano da década de
1930. O livro retrata as dificul-
dades de uma família de traba-
lhadores rurais que luta para
sobreviver nesse meio hostil: uma
terra seca que resseca também seus
habitantes.
PALAVRAS-CHAVE
Nordeste - seca - fome -
comunicação
SUMO DA HISTÓRIA
Fabiano, chefe da família, sofre
toda sorte de injustiças, desde o
fazendeiro que o rouba no salário
até um soldado que o prende ape-
nas para demonstrar poder.
CRIADOR
O alagoano Graciliano Ramos
(1892-1953) foi prefeito de Pal-
meira dos índios e diretor da Im-
prensa Oficial e da Instrução Pú-
blica em Maceió. Autor profun-
damente engajado e de extrema
Expulsos pela miséria trazida pela
seca, Fabiano, a mulher Sinhá
Vitória, duas crianças e a cachorra
Baleia — que, como os humanos,
também tem seus sonhos — aban-
donam o sertão, rumando para a
cidade, na esperança de uma vida
melhor.
Continente Ficção-Prosa
POR QUE SE AVENTURAR?
Graciliano penetra nos pen-
samentos, aspirações e espe-
ranças de seus personagens,
revelando todo o drama das
pessoas a quem não é dado ter
voz e que, por isso mesmo,
vão perdendo a capacidade de
se expressar, isto é, não
conseguem verbalizar os
próprios pensamentos.
Essas mesmas sensações de
solidão, desumanização e
"marginalidade lingüística",
explicitadas em Vidas secas,
podem aflorar não só no
campo, como nas cidades
brasileiras.
TERRITÓRIO
Menino de engenho
CRIADOR
José Lins do Rego (1901-1957),
formado em Direito, passou a in-
fância no engenho do avô, na
Paraíba. E com a firmeza e a sensi-
bilidade de quem viu e viveu a
experiência que Rego transpõe
para seus romances do chamado
ciclo da cana-de-açúcar a realida-
de da decadência dos senhores de
engenho e de sua concepção feudal
do mundo e do trabalho.
COORDENADAS
O romance se passa na região
limítrofe entre Pernambuco e
Paraíba, no engenho de Santa
Rosa, grande propriedade rural,
durante o apogeu do ciclo da cana-
de-açúcar.
PALAVRAS-CHAVE
Cana-de-açúcar - engenho -
coronelismo - sexo
SUMO DA HISTÓRIA
O narrador-protagonista é Carlos,
garoto que, depois de ficar órfão,
vai morar com o avô, o coronel
José Paulino, maior proprietário de
terras da região.
Em sua fazenda, o coronel tem
poder absoluto, decidindo o des-
tino dos trabalhadores, escravos e
agregados. Como seu herdeiro,
Carlos goza de uma liberdade ex-
cessiva, com direito a todas as re-
galias e nenhuma crítica.
É num contato direto com o bem e
o mal e sem muitos parâmetros de
certo e errado que Carlos cresce,
observa e apreende o mundo.
POR QUE SE AVENTURAR?
Rego queria escrever sua au-
tobiografia e a biografia de
seu avô, patriarcal dono de
engenho com quem morou na
infância. A imaginação
acabou vencendo, e nasceu o
É marcante a carga afetiva do
livro, bem como o vivo retrato
dos tipos humanos e das
relações sociais presentes em
uma grande propriedade rural
açucareira.
Interessante também é a re-
presentação do fenômeno do
cangaço, uma das poucas
saídas para a exploração
coronelista, bem como o re-
trato de superstições e cren-
dices típicas das camadas po-
pulares do Nordeste.
TERRITORIO
Fogo morto
CRIADOR
José Lins do Rego (ver texto ao lado)
COORDENADAS
O romance retrata o engenho de
Santa Fé (representativo das
regiões canavieiras de Paraíba e
Pernambuco) durante a decadência
do ciclo da cana-de-açúcar no
Brasil.
PALAVRAS-CHAVE
Cana-de-açúcar - engenho - poder -
corrupção
SUMO DA HISTÓRIA
O engenho de Santa Fé, antiga-
mente próspero, decai nas mãos de
seu herdeiro, Luís César de Holanda
Chacón, o "seu" Lula. Perdendo o
poder econômico mas sem deixar
de lado o orgulho, "seu" Lula tenta
impor-se nos mesmos padrões de
coronelismo de seus antecessores.
Mas os tempos são outros e ele
enfrentará o inconformismo do
cangaceiro Vitorino Carneiro da
Cunha e do mestre José Amaro,
trabalhador revoltado com o seu
destino de explorado.
POR QUE SE AVENTURAR?
Cada uma das três figuras
centrais de Fogo morto repre-
senta um segmento social da
população nordestina, inserida
numa realidade de corrupção,
politicagem e injustiças. O
livro retrata tanto essas
conflitantes relações quanto a
desordenada industrialização
das cidades com a introdução
das usinas, fenômeno que
acaba por agravar ainda mais
as distâncias entre
proprietários e empregados.
(*) A Revista do Globo foi uma publicação
quinzenal de grande popularidade da antiga
Editora Globo de Porto Alegre, nas décadas
de 1920 a 1960.
TERRITORIO O
tempo e o vento
CRIADOR
Érico Veríssimo (1905-1975),
gaúcho, pai do também escritor
Luís Fernando Veríssimo (autor de
O analista de Bagé, entre outros),.
revelou precocemente seu talento
para letras, música e desenho. Di-
rigiu a Revista do Globo* coorde-
nou o Departamento de Assuntos
Culturais da Organização dos
Estados Americanos e foi professor
visitante de várias universidades.
Também escreveu para crianças.
Partilha com Jorge Amado o maior
êxito de público nas letras
brasileiras.
COORDENADAS
Este extraordinário épico pinta um
grande mural da história, formação
e desenvolvimento do Rio Grande
do Sul. O tempo e o vento é
composto pela seguinte trilogia: O
continente (2 volumes), que cobre
o período do século XVIII, com a
formação do estado até 1895, com
o início da República no Brasil; O
retrato (2 volumes), situado nas
duas primeiras décadas do século
XX; e O arquipélago (3 volumes),
que chega até o Estado Novo, com
o governo de Getúlio Vargas.
PALAVRAS-CHAVE
Rio Grande do Sul - República -
tenentismo - Prestes - Vargas
SUMO DAS HISTORIAS
O fio condutor da narrativa são as
disputas de terra e poder entre duas
famílias inimigas, os Amaral e os
Terra Cambará. Durante dois
séculos de vida aventurosa e peri-
gosa, as duas famílias enfrentam-
se, mantendo a rivalidade por di-
versas gerações.
POR QUE SE AVENTURAR?
Diante dos olhos do leitor des-
filam imortais personagens
heróicos. O tempo e o vento foi
adaptado para a TV com gran-
de sucesso, tendo Glória Pires
como a irresistível Ana Terra e
Tarcísio Meira no papel do
corajoso Capitão Rodrigo. Por
meio da ficção, episódios
históricos reais, como o tenen-
tismo, a Coluna Prestes e o
integralismo, são apresentados
de maneira leve e sedutora.
TERRITÓRIO
Marques Rebelo: Os
melhores contos
CRIADOR
Marques Rebelo é o pseudônimo
de Eddy Dias da Cruz (1907-1973).
Carioca da gema, narrou em suas
obras a fervilhante vida social do
Rio de Janeiro. Para muitos críticos,
foi o primeiro ficcionista a retratar
de fato o impacto do século XX no
Brasil, declarando independência
dos modelos estrangeiros.
Continente Ficção-Prosa
COORDENADAS
A maioria das histórias, que cobrem
as décadas de 1930 a 1960, com a
crescente urbanização e industria-
lização das cidades, se passa no Rio
de Janeiro.
PALAVRAS-CHAVE
Rio de Janeiro - carnaval - amor -
politica
SUMO DAS HISTÓRIAS
Rebelo gostava de retratar acon-
tecimentos de seu próprio tempo.
Assim, o que aparece em seus con-
tos é a variedade e a riqueza da
vida carioca: o carnaval, o circo, as
cantoras de rádio, os trabalhadores
de fábrica, os sindicatos, etc.
Stela me abriu a porta, por exem-
plo, é o delicado relato do nasci-
mento do amor entre um estudante
e a costureira Stela, cuja vida foi
marcada por frustrações.
Acudiram três cavaleiros é a
divertida história de um grupo de
rapazes que, aproveitando-se da
confusão do golpe de 1964, dis-
farçam-se de militares e modificam
inteiramente a vida de uma cidade.
POR QUE SE AVENTURAR?
O encanto de Rebelo está em
tirar partido de temas simples:
o mundo retratado por ele é o
mundo real, cotidiano, sem
artifícios. O autor prova que,
muitas vezes, as histórias
banais podem ser rnais
encantadoras que as re-
quintadas.
TERRITORIO O
quinze •
CRIADOR
Em seu romance de estréia O quin-
ze (1930), lançado pouco depois da
publicação de A bagaceira, de José
Américo de Almeida (vide p. 43), a
cearense Rachel de Queiroz (1910)
já demonstrava que uma grande
escritora estava nascendo.
A narrativa fluente, de diálogos
fáceis, prova que bons livros não
precisam ser complicados. O con-
junto da obra de Rachel de Queiroz
é tão expressivo que a levou a ser a
primeira mulher aceita como
membro da Academia Brasileira de
Letras, em 1977.
COORDENADAS
Estamos em 1915, quando uma
terrível seca assolou o sertão do
Ceará.
PALAVRAS-CHAVE
Nordeste - seca - romance
SUMO DA HISTÓRIA
Conceição, moça culta da capital,
passa as férias na Fazenda
Logradouro. A jovem ama Vi-
cente, um criador de gado semi-
analfabeto. Por causa da distância
intelectual que os separa, ela não
consegue se decidir quanto ao
namoro.
De volta à cidade, Conceição passa
a ajudar as famílias de retirantes
que estão chegando sem parar,
doentes, famintas e desemprega-
das, expulsas de suas terras pela
seca. Horrorizada, a moça re-
conhece vários vizinhos da
Logradouro, entre eles o compadre
Chico Bento, de quem salva um
filho.
POR QUE SE AVENTURAR?
O romance é uma denúncia da
situação em que vivem as
pessoas no sertão nordestino,
assolado periodicamente pela
seca. Mais do que tudo, é uma
mensagem de solidariedade de
quem conheceu de perto o
problema, pois a própria
autora, em sua infância, foi
testemunha das tragédias que
marcaram a seca de 1915.
Capítulo 2
TERRITORIO
Memorial de
Maria Moura
CRIADOR
Rachel de Queiroz (vide p. 47)
COORDENADAS
Percorremos as vilas e fazendas do
sertão nordestino entre os séculos
XVIII e XIX. A ação situa-se par-
ticularmente na cidade de Vargem
da Cruz e na Serra dos Padres, len-
dário lugar, no Nordeste, onde se
acredita haver um tesouro enter-
rado.
PALAVRAS-CHAVE
Nordeste - cangaço - mulher -
paixão
SUMO DA HISTÓRIA
Esta é a saga da cangaceira nor-
destina Maria Moura.
Ao ficar órfã, Maria vê de repente
todo o seu mundo conhecido de
sinhazinha ruir. A morte dos pais é
o motivo para que os inimigos da
família apertem o cerco: eles
querem as terras e, para obtê-las,
não hesitarão em utilizar os méto-
dos rnais violentos. Que resistência
pode impor uma mulher jovem e
sozinha naqueles tempos?
Recusando-se à submissão, Maria
dá seu grito de liberdade: é matar
ou morrer, desafia ela, "pra nin-
guém nunca rnais querer botar o pé
no meu pescoço".
POR QUE SE AVENTURAR?
Memorial de Maria Moura, de
1992, é o último romance de
Rachel de Queiroz, que con-
siderou com ele ter encerrado
gloriosamente sua carreira de
romancista, opinião partilhada
pela crítica e, sem dúvida, por
quem quer que tenha lido esse
empolgante épico.
A emocionante história de
Maria é daquelas para ser lida
com pipoca do lado e o cora-
ção aos pulos: melhor que ci-
nema.
TERRITORIO
Capitães de areia
CRIADOR
O baiano Jorge Amado (1912),
filho de um fazendeiro de cacau,
formou-se em Direito no Rio,
tendo sido deputado federal pelo
Partido Comunista (1945), logo
cassado. Materialista e místico ao
mesmo tempo, é figura respeitada
nos candomblés de Salvador.
Estreou como escritor em 1932,
com O país do carnaval, e acabou
tornando-se uma lenda viva das
letras brasileiras. É um de nossos
escritores mais lidos no país e no
exterior.
Recorde de vendas, Amado geral-
mente retrata a vida, a sensuali-
dade e os valores das camadas po-
pulares da sociedade baiana,
capturando-os ora pelo lado da
crônica de costumes, ora pelo da
denúncia social, mas sempre com
uma singeleza e um colorido
peculiares.
COORDENADAS
A ação ocorre no cais do porto de
Salvador, que serve de abrigo a um
grupo de meninos e meninas de
rua.
PALAVRAS-CHAVE
Salvador - meninos de rua - amor
SUMO DA HISTÓRIA
Pedro Bala é o líder de um grupo
de garotos abandonados, os capi-
tães de areia. Vivendo de peque-
nos furtos e trapaças, cruzando
com os rnais diversos tipos de
marginais e com um código de lei
próprio, os meninos formam uma
sociedade à parte.
Vivendo em constante perigo, são
obrigados muitas vezes a lutar
contra poderes maiores, como os
adultos, os preconceitos e as pró-
prias instituições.
Continente Ficção-Prosa
Os perigos e as misérias por que
passam os meninos e as meninas
são contrabalançados pelo inten-
so lirismo e sinceridade com
que vivem algumas situações.
Amadurecidos precocemente
por um lado, são, ao mesmo
tempo, carentes de afeto e
cheios de ingenuidade.
Neste livro, escrito em 1937,
Amado soube dosar com lu-
cidez essas contradições, dan-
do veracidade ao retrato de
um dos rnais tristes problemas
brasileiros. O drama da
infância e da adolescência
abandonadas agravou-se a
partir da década de 1970 e
ainda hoje persiste, em desafio
à Constituição e ao Estatuto
da Criança e do Adolescente.
TERRITORIO Vila dos Confins
••
CRIADOR
O mineiro Mário Palmério
(1916) fundou, em Uberaba, as
faculdades de Odontologia,
Direito, Medicina e Engenharia.
Deputado estadual, embaixador,
estreou na literatura aos 40 anos.
Preocupa-se em denunciar o
coronelismo e as maquinações que
distorcem e anulam o poder do
voto, trazendo conseqüências de-
sastrosas para o país.
Sertão de Minas Gerais, provavel-
mente na década de 1950.
PALAVRAS-CHAVE
Minas - coronelismo - voto
SUMO DA HISTÓRIA
O deputado Paulo Santos, homem
simples, honesto e corajoso, parte
em viagem pelo sertão de Minas a
fim de organizar e angariar fundos
para a eleição do seu partido. É de
casa em casa, fazendo da pro-
paganda eleitoral uma oportuni-
dade de diálogo com o povo, que
ele se inteira dos problemas e bus-
ca soluções conjuntas.
Mas Paulo tem um feroz opositor:
Chico Belo, coronel da região, que
sempre fez valer sua vontade por
meio da força. Para conseguir vencê-
lo nas eleições, Paulo enfrentará di-
ficuldades que ultrapassam o jogo
político e ameaçam sua própria vida.
POR QUE SE AVENTURAR?
A
obra mostra um exemplo
de cidadania e coragem, que
pode deflagrar interessantes
discussões sobre a democracia
representativa no Brasil e
como fortalecê-la.
Além da denúncia política, o
livro traz também um curioso
inventário das tradições,
costumes, folclore e anedotas
do sertão de Minas Gerais.
TERRITÓRIO
Quarup ••
CRIADOR
Jornalista, nascido em Niterói,
Antonio Callado (1917-1998)
sempre se preocupou em ir além
da simples informação, traçando
todas as ligações necessárias para
revelar um painel completo da rea-
lidade brasileira em uma determi-
nada época.
COORDENADAS
O livro busca retratar o contraste
entre o mundo civilizado (Rio de
Janeiro e Recife) e o mundo pri-
mitivo (Amazônia) dentro de um
período histórico que cobre desde a
era de Getúlio Vargas até o
governo militar de 1964.
PALAVRAS-CHAVE
Revolução - religião - índios - sexo -
amor- ditadura
SUMO DA HISTÓRIA
O padre Fernando realiza um ve-
lho sonho viajando para o Xingu
em missão evangélica. Entretanto,
a convivência com os índios faz o
padre perceber que estes não
precisam do branco a não ser para
reparar os males que a civilização
trouxera.
E a partir desta comovida surpresa
que Nando abandona o hábito e
procura um novo ideal por que
viver, encontrando-o na militância
de esquerda, lutando contra a
ditadura.
POR QUE SE AVENTURAR? COORDENADAS
Capítulo 2
"Quarup" é o nome do ritual fu-
nerário de indígenas do Alto
Xingu, no Brasil central. A ceri-
mônia, realizada quando morre um
homem de valor, dramatiza ao
mesmo tempo a ressurreição do
morto e a criação da humanidade
pelo deus Maivotsinim.
POR QUE SE AVENTURAR?
Quarup é uma viagem ao co-
ração (partido) do nosso país.
Profundamente engajada, a
obra mostra o contraste entre
os vários Brasis e retrata a tra-
jetória individual de um ho-
mem em conflito, que busca
sua própria verdade, reedu-
cando-se, em uma terra tam-
bém dividida, fraturada pelas
contradições econômicas e
sociais. No decorrer da histó-
ria, passamos por salas de aula
onde camponeses são alfabe-
tizados pelo método Paulo
Freire e por salas de tortura,
por igrejas com artísticos azu-
lejos e por selvas onde se ar-
rastam índios destruídos pelas
doenças dos brancos. O livro
provoca reflees sobre o que
estamos fazendo para
ressuscitar e recriar a justiça e a
fraternidade no Brasil.
TERRITORIO Os
tambores de São
Luís ••
CRIADOR
O maranhense Josué Montello
(1917) foi diretor da Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro e
d
iretor do Serviço Nacional de
Teatro. Considerado o maior
Accionista atual da cidade que já
foi chamada "Atenas brasileira"
(São Luís), é daqueles autores que
mantêm o leitor em suspense.
Cuidado ao 1er Montello: você não
conseguirá desgrudar do livro até
o último ponto-final.
COORDENADAS
Esta obra-prima relata a grande saga
do negro brasileiro, cobrindo qua-
tro séculos de história.
PALAVRAS-CHAVE
Maranhão - África - negro - racismo
SUMO DA HISTÓRIA
Arrancados de suas pátrias pelo
tráfico negreiro, milhares de afri-
canos viram-se arrastados de forma
violenta para uma cultura
completamente estranha, preci-
sando lutar contra toda espécie de
adversidade para conseguir
sobreviver. Os tambores de São Luís
retrata essas lutas, tragédias e vi-
tórias, que marcaram a história do
Brasil e contribuíram para forjar
nossa identidade nacional.
POR QUE SE AVENTURAR?
Deliciosamente envolvente, o
romance reconstitui os passos
do negro no Brasil: sua im-
portância, o legado de sua rica
cultura e, paralelamente, sua
difícil assimilação racial. Por
meio de um fascinante rol de
personagens, esses conceitos
são passados de forma sedu-
tora e atualíssima.
TERRITORIO República
dos sonhos
CRIADOR
Nélida Piñon (1937), nascida no
Rio de Janeiro, é um fenômeno da
atualidade. Com uma vasta e
frenética produção, foi a primeira
mulher a conquistar o prêmio li-
terário Juan Rulfo — o rnais im-
portante da América Latina —
pelo conjunto de sua obra. Em
1990, tornou-se a primeira mulher
a ser eleita Presidente da Aca-
demia Brasileira de Letras.
COORDENADAS
Início do século, quando a Primei-
ra Guerra Mundial (1914-1918)
trouxe fome e miséria a muitos
países da Europa, empurrando
famílias inteiras para o Brasil, "o
país do futuro".
Continente Ficção-Prosa
PALAVRAS-CHAVE
São Paulo - Espanha - imigração -
amor
SUMO DA HISTÓRIA
O livro narra a saga de uma famí-
lia de imigrantes e as dificuldades,
esperanças e oportunidades que a
acompanham no Brasil, terra que a
transforma e que é também
transformada por ela.
As vidas dos personagens mes-
clam-se à história recente do país e
a narrativa toma partido disso, en-
tremeando histórias pessoais e his-
tória oficial, ficção e realidade.
POR QUE SE AVENTURAR?
A história é lida com enlevo e
prazer e é também uma boa
oportunidade para observar,
sob uma nova perspectiva,
este saboroso, generoso e ines-
gotável Brasil.
TERRITORIO
A festa
CRIADOR
O mineiro Ivan Ângelo (1937),
jornalista, é dono de um estilo
simples, despojado, muitas vezes
irônico, chegando até a crueldade.
A maneira como expõe seus per-
sonagens, com fragilidades veros-
símeis, torna-os rnais humanos e
próximos de nós.
COORDENADAS
As histórias se passam no final da
década de 1960 e início de 1970,
anos duros para o Brasil, em razão
da sanguinária ditadura militar que
por aqui se instalou.
PALAVRAS-CHAVE
Ditadura - limites - relacionamentos
SUMO DAS HISTÓRIAS
As diversas histórias têm em co-
mum o fato de todos os persona-
gens serem mais ou menos vítimas
de uma era de grandes
impossibilidades e proibições.
Assim é que, em Bodas de pérola,
por exemplo, tal impossibilidade
se traduz no esfriamento de uma
relação amorosa que se queria eter-
na, mas é cortada pelo envelheci-
mento do casal. Não aceitando tal
condição, o marido deseja matar-se
e à esposa, enquanto esta se
entrega a amantes para sentir-se
rnais jovem.
Em Andréa, a impossibilidade de
realização vem da própria heroína:
belíssima, mas intelectualmente in-
segura, Andréa forja uma biografia
a fim de tornar-se rnais interessan-
te, terminando por enredar-se na
própria mentira.
POR QUE SE AVENTURAR?
Além de recuperar com maestria
a atmosfera tensa dos anos de
ditadura, o autor organizou o
livro de forma inovadora: os
contos são lidos de maneira
independente, mas no
penúltimo, A festa, todos os
personagens se encontram. O
último conto (ou capítulo,
conforme a leitura que se
fizer) é um índice de destinos,
ou seja, o autor relaciona
cuidadosamente todos os
personagens (mesmo os rnais
fugazes) e mostra recortes de
suas vidas nos anos anteriores
ou subseqüentes.
Capítulo 2
Região Pi: para mergulhar em mistérios
TERRITORIO Dom
Casmurro ••
CRIADOR
O mais brilhante e prestigiado de
nossos autores, o carioca Joaquim
Maria Machado de Assis (1839-
1908), era mulato, pobre e órfão.
Adorava 1er — e isso fez toda a dife-
rença na sua vida. Começou como
tipógrafo, aprendeu linguas,
tornou-se jornalista e escritor
renomado e terminou fundando,
com outros intelectuais, a Acade-
mia Brasileira de Letras (1896). Sua
ficção, para Alfredo Bosi, represen-
ta "o ponto mais alto e rnais equili-
brado da prosa realista brasileira".
A preocupação psicológica e as
contradições da alma humana estão
sempre presentes em seus per-
sonagens, tornando-os humanos,
verossímeis e profundos.
COORDENADAS
O romance começa no Rio de Ja-
neiro, em 1857, quando Bentinho
tinha 15 anos e Capim, 14, e ter-
mina com o protagonista-narrador
já em sua velhice.
PALAVRAS-CHAVE
Amizade - amor - traição - mistério
SUMO DA HÍSTORIA
Apelidado de D. Casmurro pelos
amigos e vizinhos, o personagem-
narrador, Bentinho, dispõe-se a
contar como ganhou tal alcunha:
na juventude, Bentinho casara-se
com Capitu, seu amor de infância,
com quem teve um filho, Ezequiel.
Mas, por meio de alguns indícios,
Bentinho começa a desconfiar que
Capitu é amante de seu melhor
amigo, Escobar, e que Ezequiel, na
verdade, não é seu filho. Os ciúmes
de Bentinho aumentam gradativa-
mente, amargando a própria exis-
tência e a daqueles que o cercam.
POR QUE SE AVENTURAR?
Este é, talvez, o romance rnais
famoso de toda a literatura
brasileira, objeto de muita
curiosidade, estudos e debates.
Capitu cometeu de fato o
adultério, ou tudo não passa
de delírios de um ciumento?
Um século depois (o livro foi
publicado em 1900), a questão
permanece sem resposta, pois
o autor construiu as pistas
com tal maestria que elas
sempre levam a duas respostas
contrárias. Além disso, o leitor
deve ter em mente que o
narrador não é confiável: ele
se acredita vítima de traição;
sua narrativa passa, portanto,
pela subjetividade. Aceite o
desafio: tome seu partido e
responda, se puder.
TERRITORIO
Memórias póstumas
de Brás Cubas ••
CRIADOR
Machado de Assis (ver texto ao lado)
COORDENADAS
Meados do século XIX, no Rio de
Janeiro. Apesar de ter uma conti-
nuação, Quíncas Borba, ambos os
livros são obras acabadas e podem
ser lidos independentemente.
PALAVRAS-CHAVE
Morte - auto-análise
SUMO DA HISTÓRIA
Como anuncia o título, estas são as
memórias de um defunto-narrador,
Brás Cubas, o qual, depois de
morto, resolve repassar sua vida.
Brás Cubas teve em vida diversos
amores, aventuras políticas e
muitas filosofias. Mas, como a
maioria dos seres humanos, foi-se
acomodando cinicamente aos
próprios erros.
Nível de dificuldade: as bolinhas indicam o grau de dificuldade
de acesso — de para quem aprecia caminhos simples e
rápidos, a para os que gostam de desafios maiores.
POR QUE SE AVENTURAR?
Muitas são as originalidades
deste livro e a primeita delas é
o próprio narrador: Brás
Cubas está morto e enterrado,
podendo, portanto, contar os
fatos sem preconceitos,
vaidades ou hipocrisias, limi-
tações tão características dos
seres vivos.
Assim, Memórias póstumas é
mais que um romance: con-
tém uma filosofia e muitas,
muitas críticas, feitas num
tom irônico e divertido.
TERRITÓRIO
Quincas Borba
CRIADOR
Machado de Assis (vide p. 52)
COORDENADAS
Meados do século XIX, no Rio de
Janeiro, em plena decadência da
Monarquia e efervescência das
tendências republicanas. Apesar de
ser continuação de Memórias
póstumas de Bras Cubas, ambas são
obras acabadas e podem ser lidas
independentemente.
PALAVRAS-CHAVE
Amizade - amor - traição
SUMO DA HISTÓRIA
Ao morrer, o filósofo Quincas
Borba lega ao seu amigo, o pro-
fessor Rubião, uma imensa fortuna
e um cão. Uma vez rico, Rubião
trava íntima amizade com o casal
Cristiano e Sofia Palha. Ingênuo,
apaixona-se sinceramente peça es-
posa do amigo, mas, fiel a
Cristiano, resiste em concretizar o
adultério. O que Rubião nem
imagina é que Cristiano deseja
apenas apossar-se de sua fortuna e
que é com a permissão do marido
que Sofia tenta seduzi-lo.
POR QUE SE AVENTURAR?
Não obstante o tema pesado
(apenas os rnais fortes sobre-
vivem), o livro muitas vezes é
divertido, permeado pela fina
ironia do narrador, que usa
estratégias originais, como a
de fazer-se confidente do
leitor.
TERRITORIO Manuelzão e
Miguilim •••
CRIADOR
O mineiro Guimarães Rosa (1908-
1967) trabalhou como médico no
interior de seu estado e depois
entrou, por concurso, na carreira
diplomática, que o levou a
diferentes países. Criador sub-
versivo de mundos mágicos, cons-
truiu uma obra que aponta para a
transcendência da aventura hu-
mana, na qual os valores rnais pre-
sentes são a coragem, a alegria e o
amor. Fez uma verdadeira revolu-
ção na linguagem, sendo o inven-
tor de uma "língua rosiana" em que
o significado de cada coisa está em
constante mutação. Segundo Luís
Costa Lima, com Rosa "a palavra
perdeu a sua característica de
termo, entidade de contorno
unívoco, para converter-se em
plurissigno, realidade multissig-
nificativa" (A literatura no Brasil,
vol. 5, Era Modernista, Ed. Global,
1997 - Acervo PNBE/98).
Por unanimidade, é considerado a
maior expressão da literatura bra-
sileira no século XX.
Capítulo 2
COORDENADAS
Manuelzão e Miguilim tem por
espaço o sertão mineiro, com suas
cidades e vilas perdidas, seus enor-
mes campos e suas pequenas ve-
redas, tudo rodeado por uma na-
tureza abundante, generosa e mis-
teriosa.
PALAVRAS-CHAVE
Criança - amor - fantástico
SUMO DAS HISTÓRIAS
Manuelzão e Miguilim é composto
por duas novelas, Campo geral e
Uma estória de amor. Campo geral
narra a vida vista na perspectiva de
um sensível menino, Miguilim, em
suas brincadeiras e brigas com os
irmãos, seu amor pela natureza, seu
medo da morte, seu apego à mãe e
ao irmão Dito e seu respeito
temeroso ao pai. Através de seus
olhos, correm paralelamente as
histórias dos adultos que o cercam:
a negra macumbeira, a avó, guardiã
da moralidade, a mãe que suposta-
mente comete adultério com tio
Terêz, irmão do pai. Essa paixão é
responsável por um dos maiores
dilemas morais de Miguilim: tio
Terêz é muito mais carinhoso e
próximo do que o próprio pai,
sujeito rude que trabalha duro para
sustentar uma numerosa família
que por vezes maltrata.
POR QUE SE AVENTURAR?
Rosa alcançou transpor tamanha
verdade em seu texto, que não
há quem não se reconheça em
Miguilim. O mundo interno e
externo do garoto traduzem
aquela preciosa etapa, talvez a
rnais verdadeira de nossas vidas,
quando tanto a experiência do
medo quanto a da beleza | são
intraduzíveis e absolutas.
TERRITORIO Sagarana
CRIADOR
Guimarães Rosa (vide p. 53)
COORDENADAS
Os contos de Sagarana têm como
espaço o sertão mineiro, mas, na
verdade, trata-se de histórias
atemporais e universais, uma vez que
a idéia passada pelo livro é a de que
o sertão não é um espaço físico limi-
tado, mas sim um lugar mágico de
aprendizado, situado dentro de
cada um de nós.
PALAVRAS-CHAVE
Bem - mal - luta - morte
SUMO DAS HISTÓRIAS
O nome do livro vem de "saga",
que quer dizer "canto heróico", e
de "rana", que, em tupi, significa
"à maneira de". O rnais famoso dos
nove contos é A hora e a vez de
Augusto Matraga, que retrata a luta
eterna do Bem contra o Mal e a
angústia que essa luta sempre
provoca no ser humano. Matraga,
ex-valentão arrependido, quer fazer
as pazes com Deus e ganhar o céu.
Para tanto, passa a viver uma vida
recolhida e honesta, cheia de
orações. Até o dia em que seu
amigo, o jagunço Joãozinho Bem-
Bem, chega à cidade para executar
uma cruel vingança contra a
família de um assassino que
fugira...
POR QUE SE AVENTURAR?
Ler Guimarães Rosa é uma
experiência mística. É mergu-
lhar em nossos recantos rnais
secretos e fazer desabrochar
as indagações íntimas que tra-
zemos na alma.
TERRITÓRIO __________
No Urubuquaquá, no
Pinhém
CRIADOR
Guimarães Rosa (vide p. 53)
COORDENADAS
Os contos de No Urubuquaquá, no
Pinhém têm por espaço o sertão
mineiro, com suas cidades e vilas
perdidas, seus enormes campos e
suas pequenas veredas, tudo
rodeado por uma natureza abun-
dante, generosa e misteriosa.
Continente Ficção-Prosa
SUMO DAS HISTÓRIAS
No Urubuquaquá, no Pinhém é
composto por dois contos (O re-
cado do morro e Cara-de-Bronze) e
uma novela {A estória de Lelio e
Lina). Cara-de-Bronze é a alcunha
de Jéia Velho, o rnais rico pro-
prietário da região, dono da fa-
zenda de Urubuquaquá. Doente,
entrevado no quarto, Jéia Velho
convoca diversos de seus empre-
gados para uma estranha seleção:
escolher aquele que souber traduzir
melhor em palavras as coisas rnais
misteriosas. O ganhador, o vaquei-
ro Grivo, deve correr mundo a fim
de trazer a Cara-de-Bronze uma en-
comenda muito especial.
PALAVRAS-CHAVE
Sertão - mistério
POR QUE SE AVENTURAR?
1
Todo o sabor e o mistério do
sertão revelam-se, quando por
exemplo, em Cara-de-Bronze,
a história é narrada pelos ou-
tros vaqueiros da fazenda, no
dia da volta de Grivo. Todos
estão ansiosos para saber qual
a encomenda misteriosa que o
patrão fez a ele. E como
participar de uma conversa
descansada e informal entre os
trabalhadores rurais, com
direito a barulho de chuva e
modas de viola como pano de
fundo, cortada ainda pelas
pausas para o cafezinho e pão
de mandioca.
TERRITORIO Noites do
sertão •••
CRIADOR
Guimarães Rosa (vide p. 53)
COORDENADAS
As mesmas de No Urubuquaquá,
no Pinhém — o sertão, como lugar
mágico de aprendizado, situado
dentro de cada um de nós.
PALAVRAS-CHAVE
Paixão - magia
SUMO DAS HISTÓRIAS
Noites do sertão é composto por
duas novelas: Dão-Lalalão e
Buriti, ambas histórias de amor e
sensualidade. Em Dão-Lalalão, o
vaqueiro Soropita, homem duro e
com várias mortes nas costas,
apaixona-se por Doralda, uma
prostituta. Casando-se com ela,
Soropita é pouco a pouco envol-
vido por um ciúme doentio do
passado da esposa, mulher sensual
e vaidosa que domina com-
pletamente o valentão.
POR QUE SE AVENTURAR?
Mais uma vez Rosa consegue
infundir a um tema quase
banal uma intensidade mís-
tica, nova e mágica. As pai-
xões e a sensualidade são
mostradas como forças da
natureza, que dominam a
racionalidade e efetivamente
regem as vidas humanas.
CRIADOR
Guimarães Rosa (vide p. 53)
COORDENADAS
O drama de Grande sertão: vere-
das, único romance de Rosa, tem
como espaço os sertões de Minas,
Goiás e sul da Bahia. Sertão: "o
único espaço onde o homem as-
sume a sua espontaneidade, reali-
zando sua profunda instintividade
humana", local onde se afirmam "to-
das as possibilidades intrépidas do
ser humano" (Luís Costa Lima, cm
A literatura no Brasil, vol. 5, Era
Modernista, Ed. Global, 1997-
Acervo PNBE/98).
PALAVRAS-CHAVE
Sertão - Deus - diabo - amor -
amizade
SUMO DA HISTÓRIA
Riobaldo, um velho fazendeiro e
ex-jagunço, é o protagonista e
narrador dessa história, que conta
os episódios de sua vida, feita de
lutas, amores e vinganças.
Em sua juventude, para vencer seu
grande inimigo Hermógenes,
Riobaldo fez um pacto com o diabo.
Agora, com a morte se aproximan-
do, está preocupado com a existên-
cia ou não do demo.
Além desse plano narrativo existe
um outro, que é o amoroso:
TERRITORIO
Grande sertão:
veredas •••«
Capítulo 2
Riobaldo viveu atormentado pelo
amor que sentia por Diadorim, um
dos valentes guerreiros de seu
bando.
POR QUE SE AVENTURAR?
A narrativa é fragmentada
como é fragmentada a memó-
ria. Dessa maneira, o leitor
permanece ativo, convocado a
encaixar as peças de um que-
bra-cabeças, para formar o
todo da história. Entrar nos
grandes sertões de Rosa é ter
coragem de refletir sobre a
luta entre o que há de lumi-
noso e o que há de obscuro em
nós — sobre nossas relações
com Deus e com o diabo,
sobre as imprecisas fronteiras
entre amizade e amor, sobre o
quanto é perigoso viver.
TERRITORIO Os
cavalinhos de
Platiplanto
CRIADOR
O goiano José J. Veiga (1915-
1999) formou-se em advocacia,
trabalhou como locutor na BBC de
Londres nos tempos da Segunda
Guerra e foi, durante anos, editor da
revista Seleções do Reader's Digest,
no Rio. Ele escreve com tocante
simplicidade sobre o lado absurdo
da vida e do cotidiano. E o
introdutor, com Murilo Rubião, do
realismo mágico no Brasil. Tendo
começado sua
carreira literária com 40 anos, con-
seguiu logo aprovação da crítica, a
qual afirmou unanimemente ter
despontado no Brasil um novo ta-
lento narrativo.
COORDENADAS
As histórias situam-se nas pequenas
cidades e vilas do sertão de Goiás,
na década de 1950.
PALAVRAS-CHAVE
Criança - sonho - perdas
SUMO DAS HISTÓRIAS
O doze contos deste livro têm em
comum o fato de serem contados
pelos próprios personagens: garo-
tos pré-adolescentes que narram
suas experiências segundo sua óti-
ca particular. Assim, não raro é a
fantasia que traz soluções para os
problemas reais.
A Ilha dos Gatos Pingados, por
exemplo, conta a história de três
amigos que descobrem uma ilha
um pouco afastada da vila em que
moram. Ali, podem se consolar de
suas aflições, construindo livre-
mente uma cidade imaginária.
POR QUE SE AVENTURAR?
Os cavalinhos de Platiplanto
é um livro delicioso, que en-
canta o leitor, trazendo-o para
uma realidade fantástica,
misteriosa, cheia de nuanças
luminosas e sombrias, habi-
tada pelas crianças.
TERRITORIO A madona
de cedro •
CRIADOR
Jornalista, nascido em Niterói,
Antonio Callado (1917-1998)
sempre se preocupou em ir além da
simples informação, traçando todas
as ligações necessárias para revelar
um painel completo da realidade
brasileira em uma determinada
época.
COORDENADAS
A história se passa em Congonhas
do Campo (MG), cidade turística
famosa pelas esculturas barrocas
em pedra-sabão, nas décadas de
1940 e 1950.
PALAVRAS-CHAVE
Amor - roubo - responsabilidade -
milagre
SUMO DA HISTÓRIA
Delfino Montiel, jovem comerci-
ante de artigos religiosos, é pro-
curado por Adriano, um amigo de
infância. Adriano trabalha no Rio
para Juca Vilanova, misterioso fi-
gurão, maníaco colecionador de
objetos de arte. Juca deseja obter a
imagem de cedro da Virgem
Maria, escultura de Aleijadinho
exposta na Capela dos Milagres.
Se Delfino conseguir roubá-la,
pode vendê-la por uma grande
soma ao colecionador. Delfino
aceita a proposta num momento de
fraqueza: está apaixonado por
Marta e, para poder casar-se com
ela, deseja obter dinheiro
Continente Ficção-Prosa
rapidamente. Passados treze anos,
Delfino ainda se sente culpado,
tanto que nunca mais se confessou
com padre Estêvão, seu amigo
íntimo. O reencontro com Adriano
lhe dará a chance para a expiação.
POR QUE SE AVENTURAR?
Emocionante e muitas vezes
divertido, o romance gira em
torno de um sentimento bem
humano: o remorso. A trama
reúne todos os elementos para
prender o leitor: mistério, ro-
mance e aventura; tudo mui- ] to
bem dosado e regado pelo
espírito profundamente religioso
do povo mineiro.
TERRITORIO
Perto do coração
selvagem •••
CRIADOR
Clarice Lispector (1925-1977),
nascida na Ucrânia, chegou ao Re-
cife, onde passou a infância, aos
dois meses. Era bem jovem quando
publicou seu primeiro livro, Perto
do coração selvagem. Formada em
Direito, revolucionou para sempre
a nossa ficção, com sua prosa
introspectiva e agudamente
poética. Clarice devassa tão a
fundo a alma de suas personagens
— com freqüência femininas —
que acaba por desafiar a própria
psicologia.
COORDENADAS
A história cobre a infância e a vida
adulta de Joana, mas tanto o tempo
quanto o espaço são imprecisos,
pois importa muito mais o que se
passa dentro da alma da prota-
gonista do que os fatores externos
que a rodeiam.
PALAVRAS-CHAVE
Amor - comunicação - esposa -
amante
SUMO DA HISTÓRIA
Joana não hesita em mergulhar des-
de a infância no fundo de si mesma
e das pessoas e objetos que a ro-
deiam, numa tentativa de compre-
ender melhor a própria existência e
de chegar à essência da verdade,
ao "selvagem coração da vida".
Órfã, a menina é criada pelos tios,
surpreendendo e assustando famí-
lia, padres, professores e, posterior-
mente, o próprio marido, com seus
freqüentes questionamentos.
POR QUE SE AVENTURAR?
O texto intenso, poético,
hipnotizante, cativa o leitor
desde a primeira página e é
com a sensação de participar
de um grande mistério que
penetramos nas emoções,
impressões e reflexões de
Joana, compreendendo que
cada ser humano tem muito
rnais dentro de si do que
geralmente ousa descobrir.
TERRITÓRIO A paixão
segundo G. H...
CRIADOR
Clarice Lispector (ver texto ao lado)
COORDENADAS
A história se passa no quarto de
empregada do apartamento de G.
H., onde ela se isola para meditar.
A duração da história é um tanto
relativa: leva o tempo que se pro-
longar essa meditação, o que pode
significar tanto uma tarde quanto
uma vida.
PALAVRAS-CHAVE
Encontro - terror - barata
SUMO DA HISTÓRIA
Sozinha em seu apartamento, a
personagem-narradora, G. H., tenta
desvendar o sentido de sua solidão,
de seus sentimentos e da condição
humana em geral.
Toda a meditação que fará em tor-
no dessas temáticas tem como es-
topim a visão de uma barata no
quarto da empregada. Por meio do
nojo e do terror, G. H. compreende
a robotização crescente dos in-
divíduos e reage contra a sua
própria.
Capítulo 2
POR QUE SE AVENTURAR?
As indagações de G. H. são
tão intensas e universais que a
própria personagem é carac-
terizada apenas por suas ini-
ciais. O mergulho interior de
G. H. expressa nosso próprio
mergulho, nos raros momen-
tos em que temos tempo ou
disposição para fazê-lo...
TERRITORIO O encontro
marcado
CRIADOR
O mineiro Fernando Sabino
(1923) começou a escrever para
jornais aos 13 anos. Fundou uma
editora e também criou uma
produtora de cinema. Notabilizou-
se por suas crônicas, que
expressam uma visão bem-
humorada do mundo e seus pro-
blemas. O encontro marcado foge
um pouco da linha irreverente do
escritor por ser um romance que
tem como centro a indagação
pessoal.
COORDENADAS
Belo Horizonte, nas doces décadas
de 1930, 1940 e 1950, quando era
permitido a um estudante ser
amigo de um delegado de polícia,
compartilhando com ele seus
sonhos e brincadeiras.
PALAVRAS-CHAVE
Amizade - escolhas - destino
SUMO DA HISTÓRIA
Eduardo quer ser escritor. Ao sair
do ginásio, ele faz um trato com
seus dois melhores amigos:
encontrarem-se no mesmo local daí
a quinze anos, para compararem
suas respectivas trajetórias e
conquistas. A partir desse encontro
marcado, os três rapazes desejam
acumular o maior número possível
de experiências, numa grande ânsia
de viver. Mais tarde, envolvido
com o casamento e paralelamente
com um assassinato, a vida de
Eduardo modifica-se sem que ele
nunca alcance, mas também nunca
perca de vista, o seu grande sonho.
POR QUE SE AVENTURAR?
O encontro marcado é um
livro sobre as decisões que
tomamos e a nostalgia de, ao
escolher um entre cem
caminhos, termos de conviver
com a perda dos outros
noventa e nove.
Um livro feito para rir e
pensar.
TERRITORIO
Nove, novena
CRIADOR
O pernambucano Osman Lins
(1924-1979) estudou Ciências
Econômicas e Dramaturgia, e
ensinava literatura. Sua obra é
intimista, voltada à sondagem do
mundo interior. Ao mesmo tempo,
Lins busca a originalidade formal e
utiliza-se de recursos gráficos e de
diversos enfoques narrativos, para
contar suas histórias. E um escritor
extremamente agradável de ser
lido, transportando-nos em suas
águas de poesia e beleza.
COORDENADAS
Os contos de Nove, novena são
situados em Pernambuco, retra-
tando ora a capital, a metrópole,
ora os engenhos e as cidades co-
loniais.
SUMO DAS HISTÓRIAS
As personagens dos nove contos
do livro são seres humanos
comuns, vivendo histórias de
amor, miséria ou desencontro. O
retábulo de Santa Joana Carolina,
por exemplo, narra episódios da
vida de uma bela e paupérrima
mulher, contada sob os pontos de
vista das pessoas que a
conheceram. Joana realiza pe-
quenos milagres quotidianos,
Continente Ficção-Prosa
influenciando e por vêzes mudan-
do o rumo dos que cruzam seu
caminho. Assim, o que deveria ser
uma vida insignificante é, antes de
tudo, um exemplo de mansidão e
justiça.
PALAVRAS-CHAVE
Amor - vida - simplicidade
POR QUE SE AVENTURAR?
Nove, novena é um livro de-
licado, escrito com amor e
compaixão. Poderia ser a nar-
rativa de nossa própria vida.
Ao final, o leitor se pergunta
se estes não seriam os rnais
belos contos já escritos.
TERRITORIO __________
Lavoura arcaica ••
CRIADOR
Com este seu primeiro livro, pu-
blicado em 1975, Raduan Nassar
(1935) impressionou tanto a crítica
que esta declarou ter surgido a
maior inovação das letras bra-
sileiras desde Clarice Lispector. O
autor foi sucesso estrondoso na
Alemanha, Espanha, Portugal e
França e abandonou a literatura em
1984, declarando que iria dedicar-
se à agricultura.
O pouquíssimo tempo de carreira,
no entanto, foi suficiente para
colocá-lo ao lado dos imortais da
literatura nacional.
COORDENADAS
A história se passa basicamente em
dois espaços: uma pensão na ci-
dade grande, onde o irmão de
André o procura para levá-lo de
volta à casa dos pais, e a fazenda
destes.
Não há indícios de época, mas isso
é natural em uma parábola, nar-
rativa que se pretende universal.
PALAVRAS-CHAVE
Pecado - perdão - família
SUMO DA HISTÓRIA
André, escondido num quarto de
pensão, é procurado por Pedro, seu
irmão rnais velho, que tenta levá-lo
de volta para casa. Pedro não
entende os motivos da fuga do
irmão, já que os valores de sua
família sempre foram calcados em
amor, fé, tolerância e união.
É por meio da terrível confissão de
André que ficamos sabendo de suas
razões: o rapaz acredita carregar a
marca de um grande pecado.
POR QUE SE AVENTURAR?
Lavoura arcaica é uma
releitura da parábola do filho
pródigo; aquele que, depois de
pecar muito, volta ao lar para
receber o perdão paterno. No
entanto, Nassar inova tanto na
história quanto na linguagem:
a atmosfera que ele cria dá
algo de misterioso, poético e
novo a um tema já clássico na
literatura mundial.
Capítulo 2
Região Gama: para saber do erotismo e
TERRITORIO A
normalista
CRIADOR
Adolfo Caminha, nascido no Cea-
rá em 1867 e falecido com apenas
29 anos, no Rio de Janeiro, foi
guarda-marinha, chegando a fazer
uma viagem de instrução aos
Estados Unidos. É um dos prin-
cipais representantes do Natura-
lismo* no Brasil.
COORDENADAS
Estamos em Fortaleza, Ceará, no fi-
nal do século XIX, às vésperas da
Proclamação da República.
PALAVRAS-CHAVE
Fortaleza - assédio - sensualidade -
preconceito
(*) Para saber rnais sobre Naturalismo
em literatura, no Brasil, consulte
"A ficção naturalista", em A literatura
no Brasil, vol. 4, Era Realista.
Os rnais apressados podem recorrer à
Macropédia Borsa, p. 263-264 (Acervo
PNBE/98).
SUMO DA HISTORIA
Maria do Carmo, mocinha de 15
anos, órfã, criada por padrinhos,.
sai de um colégio de freiras e vai
estudar na Escola Normal. Namora
um rapaz de família abastada e
sofre o assédio constante de seu
tutor João da Mata, que termina
por engravidá-la.
POR QUE SE AVENTURAR?
Caminha nos desvela o mundo
de uma adolescente do final
do século passado e faz-nos
participar de sua excitação e
angústia diante da descoberta
da sexualidade. Ao mesmo
tempo, mostra como as moças
que se preparavam para ser
professoras e assumir um
papel público eram vítimas do
preconceito: "Uma gentinha
levada da breca, essas
normalistas! Com que
facilidade a Maria do Carmo,
aliás, uma das rnais
comportadas, entregava-lhe a
face para beijar e escrevia-lhe
carrinhas perfumadas, cheias
de juras e protestos de amor!
Se fosse outro, até já podia ter
feito uma asneira..."
TERRITÓRIO
Crônica da casa
assassinada ••
CRIADOR
Lúcio Cardoso (1913-1968), mi-
neiro, foi funcionário de compa-
nhia de seguros e jornalista literá-
rio. Foi tão esmerado nos enredos
de seus livros quanto na forma de
escrevê-los. Assim, Lúcio consegue
criar uma rara atmosfera de tensão
e morbidez, que envolve o leitor e
o deixa ansioso pela próxima
página.
COORDENADAS
Entramos na chácara da família
Meneses, localizada na pequena
cidade de Vila Velha, Minas Ge-
rais. Na primeira página há um
pequeno mapa da propriedade, que
traz inclusive os cômodos do velho
casarão. Recorra a ele para se
localizar e brincar de Sherlock
Holmes.
SUMO DA HISTÓRIA
Os três irmãos da tradicional e de-
cadente família Meneses moram
todos na mesma casa, cercados por
seus criados, odiando-se
educadamente há anos. Não im-
porta que Timóteo seja louco de
pedra ou que Demetrio sufoque a
esposa até tirar-lhe a vontade de
Continente Ficção-Prosa
da violência da vida
Nível de dificuldade: as bolinhas indicam o grau de dificuldade
de acesso — de para quem aprecia caminhos simples e
pidos, a para os que gostam de desafios maiores.
viver: todos têm um nome a zelar e
convenções a respeitar. Mas Valdo
casa-se com Nina, jovem sedutora,
caprichosa e vingativa. Sua
chegada rompe o frágil equilíbrio
familiar. Explodem paixões,
mágoas e rancores represados por
tanto tempo, levando os persona-
gens a atos extremados como sui-
cídio, assassinato e incesto.
POR QUE SE AVENTURAR?
Crônica da casa assassinada
é composto por depoimentos,
cartas e diários dos diversos
personagens. Com esse recur-
so, a intriga torna-se ainda
rnais interessante, pois os
acontecimentos são relati-
vizados. O leitor busca a ver-
dade, mas qual seria ela? Não
temos propriamente fatos,
temos versões, tão diferentes
entre si quanto os seres que as
contam.
Quanto rnais avançamos,
rnais reviravoltas nos reserva
a história. Ao final, amarran-
do as diversas "pontas soltas"
e ligando todas as pistas, per-
demos o fôlego ante o desfe-
cho surpreendente.
É 1er para crer.
TERRITORIO
Teatro completo de
Nelson Rodrigues
CRIADOR
O pernambucano Nelson
Rodrigues (1912-1980), pioneiro
da moderna dramaturgia brasileira,
com personagens extraídos da
paisagem urbana, em especial do
Rio de Janeiro, foi um mestre na
arte de desconcertar público,
críticos e leitores, devassando o
lado mais sórdido do homem e ex-
pondo suas neuroses e fraquezas
de uma maneira absolutamente
amoral e original.
COORDENADAS
Os dois primeiros volumes da série
trazem as cinco peças psicológicas
(volume 1) e as quatro míticas
(volume 2) do escritor. A maioria
das peças se passa no Rio de
Janeiro, nas décadas de 1940 a
1960.
SUMO DA HISTÓRIA
Vestido de noiva, uma das peças
rnais famosas de Nelson
Rodrigues, conta a história de
Alaíde, jovem que se encontra à
beira da morte após um acidente e
que reconstitui a série de acon-
tecimentos trágicos desencadeados
por seu casamento. Com a
memória confusa, Alaíde é auxi-
liada por Madame Clessi, fantasma
de uma dona de bordel que
falecera há tempos.
Ambas as mulheres morreram de
forma violenta, depois de passa-
rem por estranhas situações amo-
rosas: Alaíde e sua irmã amaram o
mesmo homem, Madame Clessi
namorara um rapaz da idade de
seu próprio filho.
POR QUE SE AVENTURAR?
A situação inusitada em que
as personagens se encontram
levou o autor a separar o pal-
co em três planos: o real, o da
memória e o da alucinação,
recurso que tornou a peça
ainda rnais interessante.
Com esta coleção, o leitor tem
acesso a muitas das obras-
primas do autor, cujo talento
atravessou continentes. Re-
centemente, até mesmo uma
companhia polonesa encenou
Vestido de noiva.
TERRITORIO O
mulo
CRIADOR
Darcy Ribeiro nasceu em Minas,
em 1922, e faleceu em 1997. An-
tropólogo, ensaísta, romancista e
político, participou intensa e apai-
xonadamente da vida nacional,
preocupando-se em especial com
as questões ligadas à educação.
Fundou a Universidade de Brasília
e participou ativamente da
formulação da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional
(LDB) de 1996. Sua obra traz
análises fundamentais para se
compreender as características do
povo brasileiro. Escreveu, entre
outros: Maíra, O mulo (ficção),
Utopia selvagem e O povo brasilei-
ro (sua última obra).
COORDENADAS
Fazenda dos Laranjos, em Goiás,
meados do século XX.
PALAVRAS-CHAVE
Solidão - erotismo
SUMO DA HISTORIA
Um fazendeiro rude e solitário,
antigo matador, esperando a morte
(natural) chegar, faz sua confissão
a um padre. Ao balanço de seus
muitos pecados mistura-se a
lembrança das mulheres que
amou e que o amaram.
POR QUE SE AVENTURAR?
Para conhecer o lado erótico
do grande antropólogo e ci-
entista social Darcy Ribeiro.
Suas tórridas descrições das ce-
nas amorosas protagonizadas
pelo mulo podem desassosse-
gar até defuntos nos seus
túmulos.
TERRITORIO O vampiro
de Curitiba
CRIADOR
Dalton Trevisan, paranaense
(1925), além de escrever, exerce a
advocacia e é dono de urna fábrica
de vidros. E um dos rnais feste-
jados contistas da atualidade. Usa
uma linguagem sintética, direta e
descomplicada.
COORDENADAS
Curitiba, no tempo em que os ho-
mens usavam bigodinho e cabelo
engomado e as mulheres sabiam o
que era uma anágua. Estamos entre
os anos de 1930-1960.
SUMO DAS HISTÓRIAS
Nelsinho, personagem amoral e
perversamente atraído pelo sexo
oposto, espreita os rnais diversos
tipos de mulheres (as próximas ví-
timas ou algozes de suas aventuras
eróticas). No anonimato de uma
grande cidade, o herói busca
constantemente um prazer fugaz e
egoísta, "vampirizando" e sendo
"vampirizado" por suas muitas
amantes.
POR QUE SE AVENTURAR?
As diversas histórias (na ver-
dade, pequenos flagrantes da
vida do herói) têm momentos
de intenso lirismo, outros de
crueldade absoluta. Atração
imperdível: o belíssimo Visita
à professora.
Continente Ficção-Prosa
TERRITÒRIO Coritos
reunidos
CRIADOR
Rubem Fonseca (1925) trabalhou
na polícia do Rio de Janeiro como
comissário na década de 1950,
sendo definido pelos companheiros
de época como um "perito em
desapartar brigas e resolver
tragédias humanas". A observação
dessas tragédias marcou-o
profundamente e ele expressou-as
em seus livros: temas
permanentemente abordados por
Fonseca são a violência e os exces-
sos a que se entregam os seres
humanos.
COORDENADAS
As histórias são contemporâneas e
se passam nas grandes cidades;
metrópoles marcadas, ao mesmo
tempo, pelo forte individualismo e
pelo anonimato.
SUMO DAS HISTÓRIAS
Os contos abordam a violência do
homem contemporâneo, da forma
rnais crua à rnais requintada.
Duzentos e vinte e cinco gramas,
por exemplo, é um tanto rude, ao
contar o episódio de um homem
que é obrigado a assistir à autópsia
da amante assassinada.
Nau Catarineta tem uma atmos-
fera lírica e lúbrica, típica dos con-
tos vitorianos: narra o banquete
dado por quatro senhoras em ho-
menagem aos 21 anos do sobrinho.
A preparação misteriosa do festim e
seu desfecho assustador só não cho-
cam os próprios personagens, já que
se trata de uma antiga tradição fa-
miliar.
POR QUE SE AVENTURAR?
Rubem Fonseca é um dos
rnais respeitados e lidos auto-
res contemporâneos, capaz de
expressar a maior angústia dos
tempos modernos: a
desumanização, trazendo
consigo a violência.
Capítulo 2
Região Y: para provar o gosto da infância em
TERRITORIOS
SÍTIO DO PICAPAU AMARELO
A chave do tamanho
Aritmética da Emilia
Caçadas de Pedrinho
Dom Quixote das crianças
Emilia no País da Gramática
Geografia de Dona Benta*
Hans Staden
Histórias das invenções
Histórias de Tia Nastácia
Histórias diversas
Histórias do mundo para crianças
Memórias da Emilia
O Picapau Amarelo
O poço do Visconde
O Saci
Os doze trabalhos de Hércules
Reinações de Narizinho
Serões de Dona Benta
Viagem ao céu
CRIADOR
O paulista José Bento Monteiro
Lobato (1882-1948), criador da
primeira editora brasileira (antes
dele, nossos livros eram impressos
em Portugal e também na França
— ver L. Hallewell, 1985),
começou a dedicar-se à literatura
infantil em 1921, com a convicção
de que, para se mudar alguma
coisa no país, era preciso começar
pelas crianças. Foi o primeiro
escritor brasileiro a escrever para
crianças.
PALAVRAS-CHAVE
Imaginação - curiosidade - aprendi-
zagem - aventura - família - escola
(*) Pode ser um exercício desafiante
encontrar, entre as muitas e pertinentes
informações contidas nesta "Geografia", as
que estejam desatualizadas. Por exemplo, a
população do planeta não é rnais de 3
bilhões...
Continente Ficção-Prosa
Monteiro Lobato
Nível de dificuldade: as bolinhas indicam o grau de dificuldade
de acesso — de para quem aprecia caminhos simples e
pidos, a para os que gostam de desafios maiores.
O SUMO DAS HISTÓRIAS
O Sítio do Picapau Amarelo é um
espaço mágico gostosamente fre-
qüentado pelas crianças brasileiras
desde os anos 1920. Ficou muito
em evidência na década de 1980,
com o seriado da TV Globo. Por
meio dos personagens Dona Benta,
uma velha e sábia senhora, sua
empregada, a negra Tia Nastácia,
as crianças Nari-zinho e Pedrinho,
Emilia, uma boneca irreverente e
pergunta-deira, e o erudito
Visconde de Sabugosa, Monteiro
Lobato leva adiante um projeto
pedagógico revolucionário.
"Curiosidade, imaginação, espírito
crítico, independência e humor
fazem parte de todos os enredos",
afirma Marisa Lajolo em seu livro
Monteiro Lobato, um brasileiro
sob medida (Moderna, 2000).
E completa: "Na mesma busca de
sintonia com seu tempo, não deixa
de incorporar às histórias que
inventa um lastro sólido de infor-
mações, muitas vezes coincidentes
com o currículo escolar. Assim, em
vários de seus livros encontramos
uma escola alternativa, onde
Dona Benta desempenha o papel
de professora. Particularmente nas
obras produzidas nos anos 1930,
o sítio se transforma em uma gran-
de escola, onde os leitores apren-
dem desde gramática até geologia
e o be-a-bá de uma política nacio-
nalista de petróleo".
POR QUE SE AVENTURAR?
Freqüentar o Sítio do Picapau
Amarelo é conviver, num am-
biente bem brasileiro, com
heróis lendários e grandes
personagens da ficção, como
Dom Quixote ou Peter Pan.
Para jovens e adultos que de-
sejam refrescar seus conheci-
mentos básicos de história do
mundo, geografia, história da
ciência, mitologia grega ou
folclore brasileiro, é um ex-
celente "ajuda-memória". Vale
a pena, ainda, analisar a crítica
à escola tradicional, embutida
em toda a obra: uma escola
conservadora, chata, onde
pouco se aprende.
Capítulo 2
2.2. Continente Ficção-Poesia
O BRASIL VISTO COM
Atenção, caro livronauta! Você está é que no poema estava inteiro e mi-
prestes a sobrevoar um dos mais be- nucioso o palácio enorme, em cada
los continentes do planeta Acervo ilustre porcelana e cada desenho em
PNBE/98: o da Poesia. São terri- cada porcelana e as penumbras e hi-
tónos montanhosos esses que você irá
percorrer, pois os poemas sempre nos
convidam a elevarmo-nos do chão, a
sairmos do terra-a-terra, em busca de
luz, de beleza, de esquecimento de
males e de pausa de aflições. Os
poetas que o acompanharão em suas
escaladas têm o dom de sintetizar, em
algumas palavras, um universo
complexo de sensações e idéias. Jorge
Luis Borges, em Parábola do
palácio, diz que o Imperador
Amarelo, certo dia, mostrou o seu
palácio ao poeta. Ao final da visita,
depois de haver contemplado "jardins,
águas, arquiteturas e formas de
esplendor", o poeta recitou uma breve
composição. Dizem que constava
apenas de um verso. Entretanto, "o
certo, o inacreditável,
Continente Ficção-Poesia
OLHOS DE POETA
zes dos crepúsculos e cada instante o interminável passado". Esse mila-
desditoso ou feliz das gloriosas gre, que só a poesia tem o dom de
dinastias de mortais, de deuses e realizar, você também poderá teste-
dragões que habitaram nele desde munhar.
Como um apoio para sua jornada,
preparamos roteiros com os seguintes
itens:
TERRITÓRIO
Título do livro ou da obra
CRIADOR
Nome do autor e alguns dados sobre ele
O GOSTO DE UM POEMA/ O
GOSTO DE UNS VERSOS
Poema ou trecho de um poema, só para você
provar...
POR QUE ESCALAR ESTA MONTANHA?
Algumas razões para você criar coragem e ir
muito além do cotidiano
Capítulo 2
TERRITORIO O
Uruguai
CRIADOR
José Basílio da Gama (1741-1795)
nasceu em São José do Rio das Mor-
tes, depois São João Del Rei, atual
Tiradentes, em Minas, e faleceu em
Lisboa, Portugal. Foi oficial admi-
nistrativo e secretário do responsá-
vel direto pela perseguição aos je-
suítas, o Marquês de Pombal. Nos
versos de O Uraguai ele conta a
guerra movida contra os jesuítas e
os índios pelos colonizadores por-
tugueses e espanhóis, que resultou
na destruição da Colônia dos Sete
Povos das Missões (localizada em
território do atual estado do Rio
Grande do Sul), no século XVII.
Feito para agradar Pombal, o poe-
ma apresenta os jesuítas como vi-
lões. No entanto, o que sobressai
não são os feitos bélicos dos portu-
gueses, mas a nobreza e o valor dos
indígenas, representados por
Cacambo e Lindóia.
O GOSTO DE UNSVERSOS
Este lugar delicioso e triste, Cansada
de viver, tinha escolhido Para
morrer a mísera Lindóia. Lá
reclinada, como que dormia
Na branda relva e nas mimosas
flores.
Tinha a face na mão, e a mão no
tronco
De um funesto cipreste, que
espalhava
Melancólica sombra. Mais de perto
Descobrem que se enrola no seu corpo
Verde serpente, e lhe passeia, e cinge
Pescoço e braços, e lhe lambe o seio.
(...)
Leva nos braços a infeliz Lindóia
O desgraçado irmão, que ao
despertá-la
Conhece, com que dori No frio rosto
Os sinais de veneno, e vê ferido
Pelo dente sutil o brando peito.
Os olhos, em que o Amor reinava, um
dia,
Cheios de morte; e muda aquela
língua
Que ao surdo vento e ao eco tantas
vezes
Contou a larga história de seus males.
POR QUE ESCALAR
ESTA MONTANHA?
O Uraguai transforma-nos em
testemunhas da luta do
cacique Sepé Tiaraju, um dos
líderes da rebelião indígena,
contra a exigência dos colo-
nizadores de que os guaranis
se retirassem do território das
Missões, por eles ocupado há
cerca de 150 anos. A descri-
ção do fim de Sepé, do guer-
reiro Cacambo e de Lindóia,
que se entrega à morte, de-
sesperada pela perda do ama-
do, é um monumento literário
em memória dos 1.500 índios
guaranis massacrados em
1758.
TERRITORIO ___________
Espumas flutuantes
CRIADOR
Antônio Frederico de Castro Alves
(1847-1871), baiano, é um dos
maiores poetas do Romantismo
brasileiro. Seus poemas abolicio-
nistas Navio negreiro e Vozes d'Africa
ajudaram a criar consenso sobre a
urgência de se eliminar a escravidão
no Brasil. Em sua obra convivem a
denúncia social e o mais intenso
lirismo.
O GOSTO DE UM POEMA
As duas flores
São duas flores unidas, São duas
rosas nascidas Talvez no mesmo
arrebol Vivendo no mesmo
galho, Da mesma gota de
orvalho, Do mesmo raio de sol.
Unidas, bem como áspenos
Dos duas asas pequenas De um
passarinho no céu... Como a
tribo de andorinhas Da tarde
no frouxo véu.
Unidas, bem como os prantos,
Que emparelha descem tantos
Dos profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.
Unidas. ..Ai quem pudera
Numa eterna primavera Viver,
qual vive esta flor. Juntar as
rosas da vida Na rama verde e
florida, Na verde rama do
amor!
Continente Ficção-Poesia
POR QUE ESCALAR
ESTA MONTANHA?
Espumas flutuantes é a única
obra publicada em vida por
um autor que, em seus 24
breves anos, lutou com as ar-
mas da poesia e da oratória
para tornar o Brasil livre e
justo. Percorrer suas páginas é
voar de mãos dadas com um
espírito apaixonado e cantar
com ele:
Oh! Eu quero viver, beber
perfumes
Na flor silvestre, que
embalsama os ares;
Ver minh 'alma adejar pelo
infinito,
Qual branca vela n'amplidão
dos mares.
TERRITÒRIO
Poemas
CRIADOR
Luiz Nicolau Fagundes Varela
(1841-1875), nascido no Rio de
Janeiro, era apaixonado pelos ro-
mânticos. Sentimental e naciona-
lista, abandonou a Faculdade de
Direito e adotou um estilo de vida
exótico, de andarilho solitário,
pobre e errante, empreendendo
longas viagens e entregando-se à
bebida.
O GOSTO DE UNS VERSOS
(...)
Erguei-vos, povo de bravos,
Erguei-vos, brasíleo povo, Não
consintas que piratas Na face
cuspam de novo!
Mostrai que as frontes sublimes
Os anjos cercam de luz, E não
há povo que vença O povo de
Santa Cruz!
Quando a turba que se agita
Saúda a campa adorada:
Foi um herói que esvaiu-se Nos
braços da pátria amada!
("Ao povo")
POR QUE ESCALAR
ESTA MONTANHA?
Os poemas de Varela trans-
portam-nos a um passado em
que o nacionalismo fazia su-
cesso e calava fundo na alma
popular brasileira. Mas tam-
bém são inspiradores seus
versos que falam de amor e
mostram a sublimação do so-
frimento, como Cântico do
calvário, escrito logo após a
morte de um filho pequeno.
TERRITÓRIO
Poesias
CRIADOR
Raimundo da Mota Azevedo
Correia (1859-1911) nasceu a
bordo do navio San'Luíz, nas cos-
tas do Maranhão (em 1864, outro
maranhense notável, o
indianista Gonçalves Dias, morreu
em um naufrágio pouco antes de
aportar em sua terra). Correia foi
promotor no Rio e em Minas e
viveu em Lisboa, sempre às voltas
com uma saúde frágil e uma
constante depressão.
O GOSTO DE UM POEMA
Mal secreto
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N'alma, e destrói cada ilusão
que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;
Se se pudesse, o espirito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja
agora
Nos causa, então piedade nos
causasse!
POR QUE ESCALAR
ESTA MONTANHA?
A melancolia e o desalento
íntimos, dos quais Raimundo
Correia padecia, transforma-
dos em versos, acalentam nos-
sa própria dor e fazem-nos
pensar... O autor prima pelo
rigor da técnica, da métrica,
da rima, do vocabulário e dos
temas, traço característico do
Parnasianismo brasileiro. Seu
vocabulário e sua sintaxe
sofisticados atraem por nos
permitir provar um pouco da
excentricidade poética que
marcou época.
TERRITORIO Poesias
completas
CRIADOR
João da Cruz e Souza (1861-
1898) nasceu em Florianópolis,
Santa Catarina, filho de escravos
alforriados. O antigo dono de seus
pais, um marechal que lutou na
Guerra do Paraguai, assumiu a
responsabilidade por sua educação.
Trabalhou em jornais e foi
empregado em estação da Estrada
de Ferro Central do Brasil. Bri-
lhante, estudou francês, inglês,
latim e grego, o que não o impediu
de sofrer toda a carga do pre-
conceito racial de seus contempo-
râneos. Seus principais temas são,
por um lado, a denúncia das in-
justiças, a defesa da igualdade so-
cial e, por outro, a busca do Ab-
soluto, de um Ideal místico. Mor-
reu tuberculoso, em virtude das
precárias condições em que vivia,
aos 37 anos.
O GOSTO DE UNS VERSOS
Os miseráveis, os rotos São as
flores dos esgotos. São espectros
implacáveis Os rotos, os
miseráveis. São prantos negros
de furnas Caladas, mudas,
soturnas.
(..)
As sombras das sombras mortas
Cegos, a tatear nas portas.
Procurando o céu, aflitos E
varando o céu de gritos.
("Litania dos pobres")
POR QUE ESCALAR
ESTA MONTANHA?
Cruz e Souza é, com Al-
phonsus de Guimarães, o
maior expoente do Simbolis-
mo brasileiro. Ler seus versos
é participar um pouco da vida
extraordinária deste homem
que, como diz Paulo Leminski,
destacou-se como poeta fulgu-
rante, no tempo em que o
Brasil era uma casa-grande,
onde negros não tinham lugar.
A poesia de Cruz e Souza,
talhada em linguagem
musical, sofisticada, seduz
mesmo os iniciantes, após a
leitura dos primeiros versos.
TERRITORIO Poesia
completa
CRIADOR
O médico Jorge de Lima ( 1893-
1953), nascido em Alagoas, era fi-
lho de senhor de engenho e co-
meçou a fazer poesia ainda criança,
no primário. Aos 17 anos já se
tornava famoso nos meios literá-
rios com o soneto O acendedor de
lampiões, uma resposta ao poema
Mal secreto, de Raimundo Correia.
Em 1925, adere ao Modernismo.
O GOSTO DE UNS VERSOS
(...)
ÓFuW.ÓFuW. (Era a fala da
Sinhá) Vem me ajudar, ó Fulô,
Vem abanar o meu corpo Que
eu estou suada, Fulô! Vem
cocar minha coceira, Vem me
catar cafuné, Vem balançar
minha rede, vem me contar
uma história, Que eu estou com
sono, Fulô!
(...)
Ó Fulô? Ó Fulô?
(Era a fala da Sinhá
chamando a Negra Fulô.)
Cadê meu frasco de cheiro
Que teu Sinhô me mandou?
Ah, foi você que roubou! Ah,
foi você que roubou!
(...)
O Sinhô foi açoitar
Sozinho a Negra Fulô. A
negra tirou a saia E tirou
o cabeção, De dentro dele
pulou Nuinha a negra
Fulô.
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô? Ó Fulô?
Cadê, cadê teu Sinhô
Que nosso Senhor me mandou?
Ah, foi você que roubou,
Foi você, negra Fulô?
("Essa Negra Fulô ")
Continente Ficção-Poesia
POR QUE ESCALAR
ESTA MONTANHA?
Jorge de Lima, que aos 7 anos
escreveu: "Tenho pena dos
pobres, dos aleijados, dos ve-
lhos. /Tenho pena do louco
Neco Vicente / E da Lua so-
zinha no céu", transforma em
poesia personagens e paisa-
gens do Brasil com uma ter-
nura que só ele sabe ter. Seus
poemas contêm os dramas da
escravidão, o heroísmo de
Zumbi incendiando a Serra da
Barriga (que fica em Alagoas,
lembre-se), a "traição" de
Calabar, que preferiu Holanda
a Portugal, nossas festas,
procissões, nosso rio São
Francisco.
TERRITORIO
Cobra Norato
CRIADOR
Raul Bopp (1898-1984) nasceu no
Rio Grande do Sul. Formado em
Direito, foi diplomata e amante das
viagens pelo Brasil e pelo mundo.
Participou da Semana de Arte
Moderna e do Movimento
Antropofágico.
Casão das farinhadas grandes
Mulheres trabalham nos ralos
Mastigando os cachimbos Chia a
carneira nos tachos Mandioca-puba
pelos tipitis Joaninha Vintém conte
um causo
Causo de quê?
Qualquer um
Vou contar causo do Boto
(...)
Tava lavando roupa maninha
Quando Boto me pegou
Q Joaninha Vintém
Boto era feio ou não?
Ai era um moço loiro, maninha
Tocador de violão
Me pegou pela cintura...
Depois o que aconteceu? (...)
Mas que Boto safado!
("Cobra Norato", capítulo XXTV)
POR QUE ESCALAR
ESTA MONTANHA?
Na sua ânsia de conhecer o
mundo, Raul Bopp visitou a
Amazônia e encantou-se com
a floresta e suas lendas. Daí
nasceu Cobra Norato, que faz,
segundo os críticos, tríade
com Macunaíma, de Mário de
Andrade, e com Martim
Cererê, de Cassiano Ricardo.
Obra indispensável a quem
deseja melhor compreender a
mitologia de nosso país.
Estrela da vida inteira
CRIADOR
Manuel Carneiro de Souza Ban-
deira Filho (1886-1968) nasceu
em Recife (PE). Era estudante de
Arquitetura, quando adoeceu dos
pulmões. Abandonou os estudos
aos 18 anos. Poeta modernista,
amigo de Mário de Andrade, foi
professor de literatura no Colégio
Pedro II e na Faculdade de Filo-
sofia Nacional do Rio de Janeiro,
tradutor de Shakespeare e Schiller,
membro da Academia Brasileira de
Letras.
O GOSTO DE UM POEMA
Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispnéia e suores
noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e
que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
Diga trinta e três.
Trinta e três... trinta e três...
trinta e três...
Respire.
(...)
O senhor tem uma escavação no
pulmão esquerdo e o pulmão direito
infiltrado.
Então, doutor, não é possível
tentar o pneumotórax? Não. A
única coisa a fazer é tocar um
tango argentino.
O GOSTO DE UNS VERSOS TERRITORIO
Capítulo 2
POR QUE ESCALAR
ESTA MONTANHA?
Com Manuel Bandeira, de-
talhes do cotidiano rnais banal
são transfigurados numa
poesia que parece retirar seu
fôlego da própria simplicida-
de. O poema anterior é
ilustrativo desse tom singelo e
ao mesmo tempo carregado de
ironia, no qual a tuberculose
que o aflige vira matéria-
prima da criação estética.
Mas, em outros momentos,
Bandeira convida-nos a aban-
donar o corriqueiro e "ir em-
bora para Pasárgada"... Vale a
pena conhecer o brasileiro de
quem Drummond disse: "O
poema, no sonho, te persegue,
e, servo, ao acordar, ele te
segue".
TERRITÓRIO
Poesia completa
Volumes I, II, III e IV ,
poesia traduz a fragilidade, a
fugacidade do ser humano e apre-
ende com maestria o mistério do
mundo. A poeta por ela mesma:
"Se pudesse recomeçar a vida,
gostaria de ser a mesma coisa,
porém melhor".
O GOSTO DE UM POEMA**
Motivo
Eu canto porque o instante existe E
a minha vida está completa. Não
sou alegre nem sou triste: Sou poeta.
Irmão das coisas fugidias, Não sinto
gozo nem tormento. Atravesso noites
e dios No vento.
Se desmorono ou se edifico
Se permaneço ou me desfaço,
não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada. E
um dia sei que estarei mudo: Mais
nada.
POR QUE ESCALAR
ESTA MONTANHA?
Ler Cecília significa ganhar
forças e beleza, ao percorrer o
universo que ela habita, "área
mágica, onde os caleidoscó-
pios inventaram fabulosos
mundos geométricos, onde os
relógios revelaram o segredo
de seu mecanismo, e as bo-
necas o jogo do seu olhar".
Ler Cecília é romper as bar-
reiras entre realidade e sonho,
"estes dois tempos da vida
unidos como os fios de um
pano". E também a oportu-
nidade de conhecer paisagens
da India e de outros lugares
longínquos, amados pela
poetisa, e revisitar uma
importante passagem da his-
tória do Brasil — a Inconfi-
dência Mineira —, imorta-
lizada em versos na obra
Romanceiro da Inconfidência.
TERRITÓRIO
Antologia poética
CRIADOR
O mineiro Carlos Drummond de
Andrade (1901-1987), príncipe
dos poetas brasileiros, foi jorna-
lista e funcionário público exem-
plar. Tímido e discreto em sua vida
pessoal, na poesia revelava-se
ousado, revolucionário, tanto na
forma como no conteúdo. Seus
versos são as vezes irônicos ("Mun-
Continente Ficção-Poesia
do, mundo, vasto mundo, se eu me
chamasse Raimundo seria uma
rima, não uma solução"), outras
vezes apaixonados ("Que pode
uma criatura, senão, entre criatu-
ras, amar? / Amar e esquecer, amar
e malamar / amar, desamar,
amar?"), outras ainda críticos ("A
bomba / é um cisco no olho da
vida, e não sai"), ou filosóficos ("E
agora, José?") — e sempre
agudamente verdadeiros, re-
veladores, canções capazes de
"acordar os homens e adormecer as
crianças..."
GOSTO DE UM POEMA
José
E agora, José? A festa
acabou, A luz apagou, O
povo sumiu, A noite
esfriou, E agora, José? E
agora, você? Você que é
sem nome, Que zomba dos
outros, Você que faz versos,
Que ama, protesta, E
agora, José?
Está sem mulher, Está sem
discurso, Está sem carinho,
Já não pode beber, Já não
pode fumar, Cuspir já não
pode, A noite esfriou, 0
dia não veio, O bonde
não veio,
O riso não veio, Não
veio a utopia E tudo
fugiu E tudo mofou,
E agora, José?
E agora, José? Sua
doce palavra, Seu
instante de febre, Sua
gula e jejum, Sua
biblioteca, Sua lavra
de ouro, Seu terno de
vidro, sua
incoerência, Seu ódio
e agora?
Com a chave na mão
Quer abrir a porta, não existe porta;
Quer morrer no mar,
Mas o mar secou;
Quer ir para Minas,
Minas não há rnais.
Se você gritassse, Se
você gemesse, Se você
tocasse A valsa
vienense, Se vo
dormisse, Se você
cansasse, Se vo
morresse... Mas você
não morre, Você é
duro, José!
Sozinho no escuro,
Qual bicho do mato,
Sem teogonia, Sem
parede nua Para se
encostar, sem cavalo
preto Que fuja a
galope, você marcha,
Jo! José, para onde?
POR QUE ESCALAR
ESTA MONTANHA?
Ao 1er esta obra, você penetra-
rá nos anseios, nas angústias e
nas dúvidas da alma moderna.
Drummond expressa em seus
poemas sentimentos que nos
inquietam, como a falta de co-
municação, a insegurança, a in-
diferença, o amor desencon-
trado e impossível, a solidão.
TERRITORIO ___________
Poesia completa e prosa
CRIADOR
O mineiro Murilo Monteiro Men-
des (1901-1975) era considerado
por Manuel Bandeira "o rnais com-
plexo, o rnais estranho e seguramen-
te o rnais fecundo poeta desta ge-
ração". Drummond, em 1972, in-
dignou-se pela pífia repercussão,
nas rodas literárias brasileiras, do
importante Prêmio Internacional de
Poesia Etna- Taormina conferido a
Murilo, que ensinava literatura
brasileira em Roma. Em uma
"microdefinição do autor", o poeta
assim se descreve: "Sinto-me com-
pelido ao trabalho literário: pelo de-
sejo de suprir lacunas da vida real;
pela minha teimosia em rejeitar os
'avances' da morte (...); pelo meu
não reconhecimento da fronteira
realidade-irrealidade; pela certeza
de que jamais serei guerrilheiro
urbano e muito menos rural,
embora gostasse de derrubar uns
dez ou quinze governos dos quais
omitirei os nomes (...)".
Capítulo 2
O GOSTO DE UM POEMA
Pentecostes
Um vento impetuoso que ninguém
sabe de onde vem
Penetra na sala rústica onde estão os
apóstolos,
Sopra sobre todos, entra neles de alto
a baixo;
Há uma transfusão de almas
inesperada.
O vento sopra mais, divide-se em
línguas de fogo,
Abre-se o espírito dos homens,
renovando a terra.
O vento continua implacável a
soprar,
Sai da sala, percorre cidades, desertos
e planícies
Levanta igrejas, conventos,
hospitais,
Cura leprosos, ressuscita agonizantes
e mortos,
Inspira a todos um desejo essencial
de amor,
Atravessa os tempos, continua
soprando, circular,
Move minha alma que move meu
corpo que move minha pena,
Impele de novo os homens ao seu fim
supremo
E continuará amanhã e até a
consumação das eras
Levando a todos o espírito de luz
consolador.
POR QUE ESCALAR
ESTA MONTANHA?
Com Murilo Mendes voamos
sem escalas do Finito ao
infinito, das dimensões do
Tempo às dimensões do Eterno
e vice-versa. Ele pode ser
místico, mítico, metafísico,''
surreal, amoroso e até engajado
e gozador, como nos poemas de
História do Brasil, que vão da
Carta de Pero Vaz, aos Pombos
de Pombal, do Milagre do
Conselheiro ao delicioso Linhas
paralelas:
Um presidente resolve
Construir uma boa escola
Numa vila bem distante. Mas
ninguém vai nessa escola: Não
tem estrada pra lá.
Depois ele resolveu Construir
uma estrada boa Numa outra
vila do Estado. Ninguém se
muda pra lá Porque o tem
escola.
TERRITÓRIO
Antologia poética
CRIADOR
O poeta Mário Quintana (1906-
1994), gaúcho, trabalhou em mui-
tos jornais e revistas de Porto Alegre
e traduziu grandes escritores, como
o francês Marcel Proust e a inglesa
Virginia Wolf. Morava em um ho-
tel, acompanhado apenas das musas
e de seu amor platônico pela atriz e
também poeta Bruna Lombardi.
O GOSTO DE UM POEMA
Canção do dia de sempre
Tão bom viver dia a dia... A
vida, assim, jamais cansa...
Viver tão só de momentos
Como essas nuvens no céu...
E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...
Ea rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.
Nunca dès um nome a um rio:
Sempre é outro rio apossar.
Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!
E sem nenhuma lembrança Dos
outras vezes perdidas, Atiro a
rosa do sonho Nas tuas mãos
distraídas...
Continente Ficção-Poesia
POR QUE ESCALAR
ESTA MONTANHA?
Walmir Ayala, em sua Apre-
sentação, explica o porquê:
"Ler Quintana é das coisas
rnais saborosas que qualquer
alfabetizado pode desfrutar.
Principalmente porque na
música de seus versos palpita
uma vida possível, uma vida
da qual, nós, leitores, nos
apropriamos com gula, e le-
mos e relemos ouvindo o rea-
lejo, apalpando os fantasmas,
os cataventos, as confidencias
com Deus, e o humor, ah, essa
ponta diabólica de humor que
lhe enfeita o lirismo e nos
aporta inesperado riso".
TERRITÓRIOS
Antologia poética
Livro dos sonetos A
arca de Noé
CRIADOR
Marcus Vinícius de Melo Moraes
(1913-1980) nasceu no Rio de
Janeiro e era conhecido carinho-
samente como "o poetinha". Além
de escritor versátil — sua obra
também abrange o teatro e a pro-
sa—, foi advogado, diplomata e
compositor, autor, com Toquinho,
de alguns clássicos da nossa MPB.
Boêmio, grande amigo, grande
namorador, amou e foi amado por
muitas mulheres. Participou do
movimento musical conhecido por
"bossa nova". Seus versos caíram
na boca do povo e garantem-lhe
vida eterna também neste mundo:
"Tristeza não tem fim, felicidade
sim"; "O futuro é uma astronave /
que queremos controlar / não tem
tempo, nem piedade / nem tem
hora pra chegar"; "Chega de
saudade, a realidade é que sem ela
não pode ser..."
O GOSTO DE UM POEMA
Soneto da fidelidade
De tudo, ao meu amor, serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante rnais meu
pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu
canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me
procure
Quem sabe a morte, angústia de quem
vive
Quem sabe a solidão, fim de quem
Eu possa me dizer do amor (que tive)
Que não seja imortal, posto que é
chama,
Mas que seja infinito enquanto dure.
POR QUE ESCALAR
ESTA MONTANHA?
Entre os modernos, Vinícius de
Moraes é um dos poetas que
com rnais delicadeza soube fa-
lar de amor e manejar imagens
eróticas. Erotismo e amor são
núcleos temáticos em torno dos
quais o poeta desenha uma tri-
lha que nos leva ao topo.
E as poesias infantis de
Vinícius, em Arca de Noé ?
Essas são feitas para tocar o co-
ração de crianças, adolescentes
e adultos com menos ou rnais
de 100 anos. Veja que lindo:
(...) Dorme, meu pequenininha,
Dorme que a vida já vem. Teu
pai está muito cansado De
tanta dor que ele tem (...).
("O filho que eu quero ter ")
TERRITÓRIOS
A educação peia pedra
e depois
Serial e antes
CRIADOR
João Cabral de Melo Neto (1920-1999), recifense,
diplomata, escritor que prima pelo rigor da linguagem, traz
imagens surrealistas em seus poemas, traduzindo em pura
beleza lingüística a aridez da seca nordestina. O poema O
cão sem plumas, que fala do rio Capibaribe,
('Antologiapoética") figura entre os dez melhores poemas
brasileiros do século XX.
Capítulo 2
Porém o poeta tornou-se popular
com o auto de Natal Morte e vida
Severina. Encenada pela primeira
vez em 1968, com música de
Chico Buarque, esta peça teatral é
denúncia e anúncio emocionado da
violência sofrida pelos camponeses ví-
timas da absurda concentração de ter-
ras que ainda prevalece no Brasil.
O GOSTO DE UNS VERSOS
[O retirante...] assiste ao enterro de
um trabalhador de eito e ouve o que
dizem do morto os amigos que o
levaram ao cemitério.
Essa cova em que estás,
com palmos medida,
é a conta menor que
tiraste em vida.
E de bom tamanho,
nem largo, nem fundo, é a
parte que te cabe deste
latifundio.
Não é cova grande,
é cova medida,
é a terra que querías
ver dividida.
E uma cova grande
para teu pouco defunto,
mas estarás rnais ancho
que estavas no mundo.
É uma cova grande para
teu defunto parco porém mais
que no mundo te sentirás
largo.
— É uma cova grande
para tua carne pouca,
mas à terra dada
não se abre a boca.
(...)
Agora trabalharás Só para ti,
não a meias, Como antes em
terra alheia.
(...)
Trabalhando nessa terra Tu
sozinho tudo empreitas Serás
semente, adubo, colheita.
(...)
("Morte e vida Severina", auto de Natal
pernambucano, em "Serial e antes")
POR QUE ESCALAR
ESTA MONTANHA?
A poesia de Cabral investe em
um lirismo ácido, cerebral, ín-
greme e ao mesmo tempo car-
regado de emoção — cada
palavra tem seu lugar exato no
poema e parece ser talhada na
porção rnais funda da alma
humana. Em seu poema A
literatura como turismo, ele
diz que alguns autores nos
levam para passeios de fins de
semana por suas obras e aca-
bamos por habitá-las. Com
Cabral é assim. O poeta leva-
nos dos baobás do Recife aos
baobás do Senegal, das mar-
gens do Capibaribe a Sevilha,
da escassez à abundância. E
difícil resistir à tentação de
nos tornarmos cidadãos desse
território fascinante, onde
convivem personagens como
Frei Caneca, Severino, o
lavrador, Clarice Lispectore
até... um piolho de Rui Bar-
bosa.
TERRITORIO
Toda poesia
CRIADOR
O maranhense José Ribamar
Ferreira (1930) adotou o pseudô-
nimo de Ferreira Cullar. Aos 20
anos de idade ganhou seu primeiro
concurso de poesia. No Rio de Ja-
neiro, voltou-se ao movimento de
cultura popular e era presidente do
Centro de Cultura Popular da UNE
quando adveio o golpe militar de
1964. É forçado a exilar-se em
1971 e só retorna com o início da
abertura política. A questão social
e as grandes indagações humanas
percorrem sua obra, na poesia e no
teatro.
O GOSTO DE UM POEMA
A espera
Um grave acontecimento está sendo
esperado por todos
Os banqueiros os capitães de
indústria os fazendeiros ricos
dormem mal. O ministro da
Guerra janta sobressaltado, a
pistola em cima da mesa.
Ninguém sabe de que forma desta
vez a necessidade
se manifestará:
se como
um furacão ou um maremoto
se descerá dos morros ou subirá dos
vales
se manará dos subúrbios com a fúria
dos rios poluídos
Continente Ficção-Poesia
A poesia de Ferreira Gullar é
direta, bastante expressiva.
Nela ressoam, claramente,
ecos do regime militar impos-
to ao Brasil de 1964 a 1984. A
violência da repressão, o
medo, a tentativa de anular o
pensamento opositor, a morte
sob tortura, está tudo aqui.
Mas não é só isso: seus poe-
mas neoconcretos são surpre-
endentes, como o que brinca
com apenas duas palavras,
verde e erva. Gullar empre-
ende uma reflexão profunda
sobre o que é existir, possuir
um corpo, esse animal com o
qual às vezes nos identificamos
e que às vezes nos estranha.
versitárias de formação histórica e
literária que decidiram recuperar o
melhor de antigas antologias,
livros com trechos ou poemas es-
colhidos de autores brasileiros cé-
lebres que, no passado, as escolas
usavam para introduzir os alunos
na literatura e na poesia. Prestaram,
assim, um grande serviço aos
professores de língua portuguesa e
literatura brasileira e a alunos e
leitores que se interessam peia
poesia nacional.
O GOSTO DE UNS VERSOS
A pátria
Ama com fé e orgulho a terra em que
nasceste!
Criança! Não verás nenhum país
como este!
Olha que céu! Que mar! Que rios!
Que floresta!
A natureza aqui, perpetuamente em
festa,
E um seio de mãe, a transbordar
carinhos.
(...)
Boa terra!Jamais negou a quem
trabalha
O pão que mata a fome,
O teto que agasalha.
Quem com seu suor a fecunda e
umedece
Vê pago o seu esforço, e é feliz, e
enriquece!
Criança! Não verás nenhum país
como este:
Imita, na grandeza, a terra em que
nasceste!
(Olavo Bilac, 1865-1918)
POR QUE ESCALAR
ESTA MONTANHA?
A Antologia de antologias re-
cupera desde os versos de
Anchieta ( 1534-1597) até os
de Carlos Pena Filho (1930-
1960), passando por autores
como Cláudio Manuel da
Costa, Tomás Antonio
Gonzaga e Luís Gama. Na
escola do passado, os profes-
sores sabiam de cor muitos
deles — e faziam com que
seus alunos os declamassem,
contam as autoras, "com as
devidas inflexões de voz e os
respectivos meneios de cabe-
ça, braços e mãos". Aqui po-
demos nos emocionar com
alguns desses poemas céle-
bres, como a Canção do exílio
e I-Juca Pirama, de Gonçal-
ves Dias, ou Navio negreiro e
Vozes d'África, de Castro
Alves. E também vamos nos
surpreender e até nos inco-
modar com a ingenuidade de
versos, como os de A pátria,
de Olavo Bilac (também autor
da letra do Hino à Bandeira),
que hoje podem soar como
triste ironia: "Boa terra!
Jamais negou a quem trabalha
/ o pão que alimenta, o teto
que agasalha...". Mas,
pensando bem: existe retrato
melhor do Brasil, não como
ele é, mas como deveria ser?
2.3. Continente Não-Ficção O
BRASIL VISTO COM
O continente Não-Ficção do pla- ram-se através do tempo, não irão
neta Acervo PNBE/98 divide-se resistir a um passeio pelos territó-
em quatro regiões limítrofes, com rios da Região Três, na companhia
grande diversidade de paisagens e da história da literatura e crítica
atrativos. literária.
Continente Não-Ficção
UM OLHAR ANALITICO
A Região Quatro irá encantar os ções de brasileiros célebres. Em
livronautas adeptos de uma abor- seus territórios, sermões, memó-
dagem rnais pessoal, que lhes per- rias, biografias e crônicas pode-
mita ir fundo nas idéias e motiva- rão ser visitados.
Preparamos, para facilitar sua viagem
pelos territórios de cada uma dessas
fascinantes regiões, um roteiro
especial, com o seguinte formato:
TERRITÓRIO
Nome do livro a ser explorado e data de sua
primeira edição
CRIADOR
Nome do autor e alguns dados sobre sua vida
O QUE VAMOS ENCONTRAR
Pontos em destaque, que valem a
atenção do livronauta
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
Um pequeno trecho do livro, para provar que
estivemos lá e aumentar sua vontade de ir
também
Capítulo 2
Região Um: para compreender por que
História, sociologia e
antropologia
TERRITORIO Os sertões
Primeira edição em 1901
CRIADOR
Euclides da Cunha, carioca, nas-
ceu em 1866, no município de
Cantagalo. Em 1885 ingressou na
Escola Politécnica do Rio de Ja-
neiro, para estudar Engenharia. No
ano seguinte, ingressou no curso
de Engenharia Militar e de Estado-
Maior da Escola Militar na Praia
Vermelha, da qual acabou
excluído, por suas atitudes
contestadoras. Convidado a escre-
ver no jornal A Província de São
Paulo (atualmente O Estado de S.
Paulo), foi designado para cobrir o
movimento de Canudos. Suas
reportagens originaram a obra que
o imortalizou. Foi membro da
Academia Brasileira de Letras.
Morreu assassinado em 1909.
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
• O relato do movimento social de
caráter místico que ocorreu no
arraial de Canudos, no interior
da Bahia, impulsionado pela
seca, pela miséria e pelo desespe-
ro, liderado pelo beato Antônio
Conselheiro e esmagado pelo
exército republicano, em um
massacre que não poupou crian-
ças e velhos.
A revelação do Brasil profundo
do interior, desconhecido de
quem habita as faixas litorâneas.
• Um exemplo da ignorância e cru-
eldade das classes dirigentes da
recém-nascida República, em re-
lação aos habitantes de seu pró-
prio país.
Uma reportagem que é, ao mes-
mo tempo, um tratado antropo-
lógico e bélico, em que terra e
homem nordestinos são retrata-
dos: sertanejo, jagunço, padre,
soldado, autoridades do governo,
clima, flora e fauna, tudo está
ali.
Uma rica fonte de reflexão sobre
os conflitos motivados pela con-
centração da terra nas mãos de
uns poucos, que ainda prevalece
no Brasil.
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
Canudos tinha, naquela
ocasião — foram uma a uma
contadas depois —, cinco mil
e duzentas vivendas; e como
estas, cobertas de tetos de ar-
gila vermelha, mesmo nos
pontos em que se erigiam
isoladas, mal se destacavam,
em relevo, no solo, acontecia
que as vistas, acomodadas em
princípio ao acervo de
pardieiros compactos em
torno da praça, se iludiam
avolumando-as
desproporcionalmente. A
perspectiva era empolgante.
Agravava-a o tom misterioso
do local. Repugnava admitir-
se que houvesse ali embaixo
tantas vidas."
TERRITÓRIO O
Brasil nação
Primeira edição em 1928
CRIADOR
Manoel Bonfim, sergipano, nas-
cido em 1868, historiador e jor-
nalista. É autor de uma obra rela-
tivamente extensa, porém ainda
hoje pouco conhecida. Destacam-
se entre seus livros: América Lati-
na males de origem, Através do
Brasil (livro didático escrito com
Continente Não-Ficção
somos o que somos
Nível de dificuldade: as bolinhas indicam o grau de dificuldade
de acesso — de para quem aprecia caminhos simples e
rápidos, a para os que gostam de desafios maiores.
Olavo Bilac) e a trilogia: O Brasil
na América, O Brasil na história e
0 Brasil nação. Bonfim viveu in-
tensamente em um período de
grandes transformações em nosso
país — Abolição, Proclamação da
República, início da industriali-
zação — e faleceu em 1932.
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
• Uma história do Brasil escrita em
tom indignado e por vezes
panfletário, por um autor que
acreditava na necessidade de
uma revolução para que o povo
deixasse de ser "um pária na sua
pátria".
• Uma crítica às classes dirigentes,
aos políticos e às concepções
racistas que pretendiam explicar
os problemas latinoamericanos
como sendo originários de
questões genéticas e não da
relação entre colonizados e
colonizadores.
Uma análise da Proclamação da
República na qual se denuncia o
que foi feito para abafar a aspira-
ção por uma sociedade democrá-
tica e digna.
Detalhes que só poderiam ser
apreendidos por um autor que
enfrentou as oligarquias e
vivenciou as décadas que condu-
"No vazio da inteligência, com
a grosseria das inspirações
incapazes de correspondência
com a realidade, prontos a
explorar o que a força e a
riqueza material oferecem, os
nossos dirigentes são prontos,
igualmente, em aceitar
quantos conceitos e juízos lhes
dêem suas curtas leituras,
desde que se acordem à
insuficiência de pensamento e
grosseria de propósitos que os
caracterizam. Assim se explica
o empenho com que apelam
para a imigração, o valor que
lhe dão, as estultices que
repetem, quanto à significação
histórica do clima brasileiro e,
sobretudo, a empáfia brutal e
antibrasileira com que repetem
os interesseiros, falsos e
ferozes conceitos, argüidos
pela falsa ciência, a serviço do
colonialismo, contra os fracos
escravizados de ontem,
dominados e explorados de
hoje, em nome de uma
pretensa superioridade de
raça."
CRIADOR
Gilberto (de Mello) Freyre nasceu
em Recife, PE, no ano de 1900 e
faleceu aos 87 anos. E o primeiro e
um dos rnais importantes
sociólogos do Brasil. Sua obra foi
traduzida para diversos idiomas e
ainda hoje é uma referência
nacional e internacional. Casa-
grande e senzala, o primeiro livro
da trilogia Introdução à história da
sociedade patriarcal no Brasil,
revolucionou os estudos sociais no
Brasil. Contrário às concepções
racistas então vigentes, atribuía a
riqueza e a força cultural dos
brasileiros especialmente à mistura
das raças. Apesar disso, seu
pensamento é conservador. Freyre
elaborou a noção de democracia
racial brasileira — hoje contestada
como um mito —, que criou raízes
profundas em nossa cultura.
Apoiou o golpe militar de 1964 e a
manutenção do domínio português
sobre as colônias africanas.
ziram à República, aproximando-se
de concepções socialistas.
TERRITORIO______
_
Casa-grande e senzala
RECORDAÇÃO DE VIAGEM Primeira edição em 1933
Capítulo 2
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
Uma saborosa descrição da con-
tribuição indígena, africana e
portuguesa à formação da men-
talidade do brasileiro.
A mulher índia, sua sensualidade
e o hábito do banho freqüente —
um escândalo para o europeu
porcalhão do século XVI.
O negro africano, braços e per-
nas do colono português, que é
pálido, fraco, sem nunca sair da
rede — adotada dos índios —
que era usada para seu transpor-
te, para dormir e para fazer amor.
Uma interpretação do patriar-
calismo nos costumes brasileiros,
mostrando a organização da
sociedade e da família coloniais,
o cotidiano das relações entre se-
nhores e escravos, seu modo de
alimentar-se, festejar, fazer sexo,
casar, morrer.
Razões para nos indagarmos: a
exploração exercida pelos senho-
res de engenho (elite da época)
sobre os negros escravos (traba-
lhadores sem direitos) tem algu-
ma relação com a migração nor-
destina atual para o Sul do país,
com as favelas, com o grande
percentual que negros e mulatos
ocupam nas cadeias?
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
"Quanto à maior crueldade das
senhoras que dos senhores no
tratamento dos escravos, é fato
geralmente observado nas
sociedades escravocratas. Con-
firmam-no os nossos cronistas,
os viajantes, o folclore, a tradi-
ção oral. Não são dois nem
três porém muitos os casos de
crueldade das senhoras de
engenho contra escravos iner-
mes. Sinhás-moças que man-
davam arrancar os olhos de
mucamas bonitas e trazê-los à
presença do marido, à hora da
sobremesa, dentro da
compoteira de doce e boiando
em sangue ainda fresco.
Baronesas já de idade, que por
ciúme ou despeito mandavam
vender mulatinhas de quinze
anos a velhos libertinos.
Outras espatifavam a salto de
botina dentaduras de escravas;
ou mandavam-lhe cortar os
peitos, arrancar as unhas,
queimar a cara ou as orelhas.
Toda uma série de judiarías."
TERRITORIO Sobrados e
mocambos
Primeira edição em 1936
Segundo livro da trilogia Introdu-
ção à história da sociedade patriar-
cal no Brasil.
CRIADOR
Gilberto Freyre (vide p. 81)
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
• Uma discussão sobre a sociedade
brasileira do final do século XVIII
e início do XIX, quando se inicia
a decadência do patriarcado ru-
ral e a divisão social se expressa
em diferentes formas de morar:
os brancos, em sobrados — a
nova versão da casa-grande — e
os negros e mestiços, em
mocambos — a nova versão da
senzala.
Uma profunda análise do quoti-
diano de duas das grandes ma-
trizes do povo brasileiro — a eu-
ropéia e a africana—em seus con-
flitos e interações.
• Revelações sobre o surgimento da
simbologia em torno do mulato
e do bacharel, elementos básicos
de nossa estrutura social.
Continente Não-Ficção
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
"Nos princípios do século
XIX, São Paulo, já capital de
certa importância, com alguns
sobrados, sucursal do Banco
do Brasil, teatro, boas
chácaras, lojas tão bem sorri-
das quanto as da Corte — suas
senhoras não apareciam às
visitas. Do mesmo modo que
no interior de Minas, as
mulheres da cidade de São
Paulo desapareciam, ao se
anunciar visita de homem, nas
sombras da camarinha ou
entre as plantas e palmas dos
jardins — os jardins, por de-
trás das salas ou no centro das
casas, que eram também luga-
res tabus, lugares da maior in-
timidade, onde as mulheres
podiam tomar fresco sem ser
vistas da rua ou por estranhos."
TERRITÒRIO Raízes
do Brasil
Primeira edição em 1936
CRIADOR
Sérgio Buarque de Holanda, con-
siderado um dos maiores historia-
dores brasileiros, nasceu em São
Paulo, em 1902, e faleceu em 1982.
Formou-se em Direito no Rio de
Janeiro. Iniciou sua carreira profis-
sional como jornalista e crítico lite-
rário. Participou da Semana de Arte
Moderna de 1922, dirigiu o Museu
Paulista e lecionou em diversas
universidades no Brasil, na Europa
e nos Estados Unidos. Catedrático
de História da Civilização Brasileira
na USP, é autor de Visão do paraíso
e de outras obras-primas, dentre elas,
seu filho Chico Buarque, um dos
maiores compositores populares do
Brasil no século XX. Em 1980, Sér-
gio estava entre os fundadores do
Partido dos Trabalhadores.
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
• Uma análise brilhante e original
dos fundamentos de nosso desti-
no histórico — de nossas raízes —
na qual Buarque oferece elemen-
tos para que possamos compreen-
der a origem de traços do caráter
nacional, tais como: a predomi-
nância da ética da aventura sobre
a ética do trabalho persistente; a
cordialidade, que não é bondade,
mas predomínio de com-
portamentos de aparência afetiva,
não necessariamente sinceros, so-
bre as relações impessoais que de-
correm da posição e da função
do indivíduo; o individualismo e
o personalismo, com tendência a
acreditar que grandes líderes so-
zinhos podem resolver os proble-
mas da coletividade; a mistura en-
tre vida pública e vida privada.
• Uma proposta de superação de
nossas raízes, fincadas em uma so-
ciedade oligárquica e agrária (na
qual a cidade era um mero apên-
dice da fazenda), pelo ritmo
urbano, fazendo emergir as ca-
madas oprimidas da população,
que podem revitalizar e dar um
novo sentido à vida política.
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
"(...) a repulsa firme a todas as
modalidades de racionalização
e, por conseguinte, de
despersonalização, tem sido,
até nossos dias, um dos traços
rnais constantes dos povos de
origem ibérica. Para retirar
vantagens seguras em
transações com portugueses e
castelhanos, sabem muitos
comerciantes de outros países
que é de maior conveniência
estabelecerem com eles
vínculos rnais imediatos que
as relações formais que
constituem norma ordinária
nos tratos e contratos. (...)
Quando se quer alguma coisa
de alguém, o meio rnais certo
de consegui-lo é fazer desse
alguém um amigo."
Capítulo 2
TERRITORIO ___________
Formação do Brasil
contemporâneo
Primeira edição em 1942
CRIADOR
Caio Prado Junior nasceu em São
Paulo em 1907 e faleceu em 1990.
Pensador respeitado e com-
prometido com a nossa realidade,
não limitou as suas atividades ao
âmbito da universidade e destacou-
se pela intensa atuação política. Foi
deputado estadual pelo Partido
Comunista do Brasil, tendo sido
cassado em 1947. Foi importante
colaborador da Revista Brasiliense
e da Encontros com a Civilização
Brasileira. Seu livro Formação do
Brasil contemporâneo é um dos
primeiros, no Brasil, a utilizar o
refencial marxista.
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
Um exemplo de como a meto-
dologia marxista pode ser bem
utilizada ao se estudar a realida-
de brasileira.
• A sistematização das idéias de um
pesquisador que não se conten-
tava em utilizar fontes bibliográ-
ficas, mas fazia questão de ir até
as regiões que estava estudando
para observá-las e, assim, melhor
interpretá-las.
• Uma importante contribuição
para a compreensão em profun-
didade das grandes questões
nacionais, em que se analisa o
processo de construção do Brasil
contemporâneo desde o início da
ocupação portuguesa.
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
"Todo povo tem sua evolução,
que, vista a distância, possui
um certo 'sentido'. Este se
percebe não nos pormenores
de sua história, mas no
conjunto dos fatos e acon-
tecimentos essenciais que a
constituem num largo período
de tempo. (...) Mas tal caráter
rnais estável, permanente,
orgânico, de uma sociedade
própria e definida, só se
revelará aos poucos, domina-
do e abafado que é pelo que o
precede, e que continuará
mantendo a primazia e ditando
os traços essenciais da nossa
evolução colonial. Se vamos à
essência da nossa formação,
veremos que na realidade nos
constituímos para fornecer
açúcar, tabaco, alguns outros
gêneros; rnais tarde, ouro e
diamantes; depois, algodão, e
em seguida café, para o
comércio voltado para fora do
país e é sem atenção a
considerações que não fossem
o interesse daquele comércio,
que se organizarão a socieda-
de e a economia brasileiras."
TERRITÓRIO
História econômica do
Brasil —
Primeira edição em 1945
CRIADOR
Caio Prado Junior (ver texto ao
lado)
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
Fundamentos do processo de
exploração econômica e de ex-
clusão social sofrido pela socie-
dade brasileira, possibilitando
visualizar possíveis caminhos
para superar nossas contradições
e constituir uma sociedade rnais
igualitária.
Uma análise da organização das
relações econômicas no Brasil
desde 1500 até a crise do cha-
mado "Milagre Brasileiro", em
meados da década de 1970.
Uma investigação sobre as raízes
dos problemas brasileiros,
tentando demonstrar que, em-
bora de forma diferente, o Brasil
continua atrelando sua vida
econômica aos interesses inter-
nacionais.
Continente Não-Ficção
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
"A larga expansão das forças
produtivas e o progresso ma-
terial a que assistimos nos últi-
mos decênios do Império ain-
da se ativarão rnais com o ad-
vento da República. Os anos
que se seguem e o primeiro
decênio do século atual assina-
laram o apogeu desta econo-
mia voltada para a produção
extensiva e em larga escala de
matérias-primas e gêneros tro-
picais destinados à exportação,
e que vimos em pleno cresci-
mento no período anterior.
Em nenhum momento ou fase
do passado o país tivera diante
de si, neste sentido, perspecti-
vas rnais amplas. Para isto con-
correm ao mesmo tempo, esti-
mulando-se reciprocamente,
fatores externos e internos."
TERRITORIO
Coronelismo, enxada e
voto
Primeira edição em 1949
CRIADOR
Victor Nunes Leal nasceu em Mi-
nas Gerais em 1914 e faleceu no
Rio de Janeiro em 1986. Participou
ativamente do governo de Jusceli-
no Kubitschek como chefe da Casa
Civil da Presidência da República.
Foi nomeado ministro do Supremo
Tribunal Federal, em 1960, e do
Tribunal Superior Eleitoral, em
1966. Aposentou-se por exigência
do governo militar, em 1968.
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
Uma linha interpretativa sobre a
organização política brasileira,
partindo da tese de que a impor-
tância político-eleitoral dos gran-
des proprietários de terra não era
conseqüência da força do latifún-
dio, mas, ao contrário, de sua fra-
queza, pois a partir da República
iniciou-se um processo de deca-
dência do poder do latifúndio.
• Uma análise da Revolução de
1930 como momento de rom-
pimento final com este modelo
arcaico, estabelecendo um novo
padrão de acumulação baseado
nos setores urbano e industrial,
responsáveis pela política de
modernização que teria sido
iniciada após a ascensão de Ge-
túlio Vargas.
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
"Opera-se, pois, uma curiosa
inversão no exercício da auto-
nomia local. Se garantida juri-
dicamente contra as intromis-
sões do poder estadual e assen-
tada em sólida base financeira,
a autonomia do município se-
ria naturalmente exercida no
regime representativo, pela
maioria do eleitorado, através
dos seus mandatários nomea-
dos nas urnas; mas, com a au-
tonomia legal cerceada de di-
versas formas, já não será um
direito da maioria do eleitora-
do, será uma dádiva do poder."
TERRITÓRIO Os donos do
poder — formação do
patronato brasileiro
Primeira edição em 1957 (2 vo-
lumes)
CRIADOR
Raimundo Faoro, gaúcho, nascido
eml925, é jurista, sociólogo,
historiador e cientista político. Foi
presidente da Ordem dos
Advogados do Brasil, de 1977 a
1979, e é um dos grandes pensa-
dores da realidade brasileira. Sua
análise sobre a formação do Estado
brasileiro é, sem dúvida alguma,
uma das mais significativas e
elucidativas.
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
• Uma análise das bases de forma-
ção do Estado brasileiro, de-
monstrando que os problemas
enfrentados pelo país são conse-
qüência de uma colonização pre-
datória, perpetuando a existência
de uma forte burocracia, res-
ponsável, entre outras coisas, pelo
não desenvolvimento do Brasil.
Capítulo 2
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
"Numa população de 10 mi-
lhões de habitantes, em 1872,
cálculo otimista avalia entre
300 e 400 mil as pessoas aptas
aos comícios eleitorais (...)
Somente entre 1% e 3% do
povo participam na formação
da dita vontade nacional,
índice não alterado
substancialmente na Repú-
blica, nos seus primeiros qua-
renta anos. (...) As organiza-
ções partidárias se concentram
nos instrumentos de aliciar,
manipular e coagir o eleitorado
e não traduzir-lhes os
interesses, os sentimentos e as
inquietações. (...) Seu caráter
oligárquico, urna oligarquia
enriquecida pelo oficialismo
— só o controle do poder sus-
cita as maiorias do nada —
leva-as a recear a participação
popular, identificada, desde
José Bonifácio e Feijó, à
anarquia."
TERRITORIO
Formação econômica
do Brasil
Primeira edição em 1958
CRIADOR
Celso Furtado nasceu em 1920,
na Paraíba. Cursou a Faculdade
Nacional de Direito no Rio de Ja-
neiro. Em 1948, obteve o título
de doutor pela Universidade de
Paris. Em 1949, passou a coorde-
nar no Chile a recém-criada Co-
missão Econômica para a América
Latina (Cepal), ligada à ONU. Foi
superintendente da Sudene em
1960. Em 1962, foi ministro do
Planejamento do presidente João
Goulart, tendo elaborado o Plano
Trienal. Teve seus direitos políticos
cassados por dez anos em 1964.
Foi o primeiro estrangeiro a
assumir uma cátedra em uma uni-
versidade francesa — Universidade
de Paris —, na qual permaneceu
por vinte anos. Ministro da Cultura
durante o governo de José Sarney,
escreveu inúmeros livros e ensaios,
entre os quais A pré-revolução
brasileira e Formação econômica da
América Latina.
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
Os fundamentos da concepção
de desenvolvimento defendida
por Furtado.
Uma análise das bases econômi-
cas da sociedade brasileira, evi-
denciando as razões para o não
desenvolvimento do nosso país:
o passado colonial, com uma eco-
nomia agroexportadora, fundada
no latifúndio, na mão-de-obra
escrava e na baixa tecnologia, aca-
bou por criar um campo cuja re-
presentação central era o atraso.
A defesa de que o caminho para
o desenvolvimento brasileiro se-
ria fazer penetrar a modernidade
urbano-industrial nas áreas rurais.
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
"A suposição de que estaria ao
alcance do Brasil — na hipó-
tese de total liberdade de ação
— adotar uma política
idêntica à dos EUA, nessa pri-
meira fase do século XIX, não
resiste a uma análise detida
dos fatos. Esse problema en-
cerra particular interesse e
pode sintetizar-se numa per-
gunta que muitos homens de
pensamento se têm feito no
Brasil: por que se industriali-
zaram os EUA no século XX,
emparelhando-se com as na-
ções européias, enquanto o
Brasil evoluía no sentido de
transformar-se no século XX
numa vasta região subdesen-
volvida? Superado o fatalismo
supersticioso das teorias de
inferioridades de clima e raça,
essa pergunta adquiriu uma
significação rnais real do
ponto de vista econômico."
TERRITORIO______________
Visão do paraíso
Primeira edição em 1959
CRIADOR
Sérgio Buarque de Holanda (vide
p.83)
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
• Os fundamentos remotos, mí-
ticos, de nossa própria história.
Continente Não-Ficção
O repertorio de crenças e lendas
que, na época dos descobrimen-
tos, associava a idéia do Novo
Mundo à idéia de um Paraíso
Terrestre não era um conceito
abstrato, mas um lugar ao alcan-
ce efetivo dos homens.
As razões pelas quais as novas ter-
ras desconhecidas assumiram,
para os primeiros europeus que
as viam, a aparência do Paraíso
Terrestre: flora e fauna maravi-
lhosas, um clima que nunca era
quente ou frio demais, um povo
indígena muito bem apessoado.
Uma comparação entre a índole
das diferentes colonizações — a
inglesa, na América do Norte, e a
espanhola/portuguesa, na Amé-
rica Latina, e as conseqüências
para a formação dos dois povos:
enquanto os primeiros colonos da
América inglesa vinham movidos
pela vontade de vencer o deserto
e a selva, para construir uma co-
munidade abençoada, livre da
opressão que sofriam na pátria de
origem, os colonizadores da Amé-
rica Latina vinham na esperança
de deleitar-se em um paraíso que
a eles se oferecia como um dom
gratuito.
A contradição fundamental de
nossas origens: nossa terra podia
ser vista como um Jardim do
Éden, mas, como diz Caio Prado,
citado por Buarque, o Brasil
nasceu, de verdade, "para forne-
cer açúcar, tabaco, alguns outros
gêneros; rnais tarde, ouro e dia-
mantes; depois, algodão; e em
seguida, café para o comércio
europeu. Nada mais que isto".
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
(
(...) "Pedro de Rates Hane-
quin, natural e morador em
Lisboa, mas que viveu
longamente em Minas Gerais,
era filho de um cônsul ou
residente holandês (...) Preso
em 1741 por ordem de Sua
Majestade, viu-se Hanequin
chamado depois
à mesa do Santo Ofício (...) O
crime que com crua morte
assim pagou não foi, porém, o
de inconfidência, nem de
judeu professo (...) Foi de
heresiarca e apóstata (...) E
seus erros neste particular (...)
consistiram em sustentar com
obstinação impávida que o
Paraíso Terreal ficara e se
conservara no Brasil, entre
serranias do mesmo estado.
Acrescentava haver ali uma
árvore à feição de maçãs ou
figos e esta era a do Bem e do
Mal, e assim também o Ama-
zonas, o São Francisco e ou-
tros eram os quatro rios que
saíram daquele horto (...)
Dizia mais: que no Brasil ha-
via de se levantar o Quinto
Império e, para maior escân-
dalo dos inquisidores, que o
Dilúvio não foi universal, já
que poupou o Brasil (...)."
Primeira edição em 1964
CRIADOR
Antônio Cândido (de Mello e Sou-
za) nasceu em 1918, no Rio de Ja-
neiro. Após ter cursado a faculdade
de Filosofia da Universidade de São
Paulo, assumiu o cargo de assisten-
te em Sociologia. Em 1958, passou
a dedicar-se exclusivamente à lite-
ratura, tendo sido professor de Teo-
ria Literária e Literatura Compara-
da até sua aposentadoria. Um dos
fundadores do Partido dos Traba-
lhadores, é, sem dúvida alguma,
um dos principais intelectuais bra-
sileiros, tendo influenciado gerações
e merecido o reconhecimento de
todos aqueles que buscam entender
a nossa realidade.
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
O resultado da pesquisa realiza-
da por Antônio Cândido para sua
tese de doutorado em Ciências
Sociais, que, inicialmente, procu-
rava analisar a relação entre lite-
ratura e sociedade, a partir da
poesia popular, como o Cururu, e
acabou por revelar o universo
complexo das sociedades.
Os problemas enfrentados pelas
comunidades camponesas diante
do crescente processo de
expropriação a que estavam
sujeitas.
TERRITORIO Os
parceiros do Rio
Bonito
Capítulo 2
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
"A presença do escravo, depois
do colono estrangeiro, levou a
uma recomposição na organi-
zação dos bairros, onde os rnais
ricos abandonaram o sistema
de cooperação vicinal, marcan-
do assim a diferença crescente
entre sítio e fazenda. Ao mes-
mo tempo, o latifundio se for-
mava à custa de proprietários
menores, por compra ou espo-
liação — esta sempre fácil
numa sociedade em que a pre-
cariedade dos títulos e a gene-
ralização da posse de fato de-
sarmou o lavrador, na fase em
que a expansão econômica pas-
sou a exigir os requisitos legais
para configurar os direitos de
propriedade. Neste passo, po-
demos compreender melhor o
duplo caráter (ao mesmo tem-
po instabilizador e reparador)
da mobilidade no espaço, à
busca de terras disponíveis."
TERRITORIO ________
Memoria e sociedade —
lembranças de velhos
Primeira edição em 1973
CRIADOR
Ecléa Bosi nasceu em São Paulo.
E professora de Psicologia Social
na Universidade de São Paulo e
militante de ecologia. Tem várias
obras publicadas, como exemplo:
Cultura de massa e Cultura popu-
larleituras de operários.
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
Uma reconstrução da sociedade
paulista no século XX, na qual não
se recorre a livros, jornais e revistas,
e sim à memória dos idosos.
Um estudo no qual os "objetos
de pesquisa" — paulistanos nas-
cidos no início do século XX—
saltam para fora, tornam-se
sujeitos e contam como viveram
suas vidas, como eram os seus vi-
zinhos, como se comportavam as
autoridades, como eram os cos-
tumes, a música, a culinária. Um
exemplo do poder da memória e
um incentivo para que se explore
melhor esse tesouro que são as
recordações de quem sobreviveu.
Uma nova forma de contar a
história — carregada de poesia,
sentimento e vitalidade.
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
"Eu não apanhei a gripe de 18.
Mamãe me mandou para S.
José dos Campos. Eu fugi da
gripe. Fiquei sozinho num
hospital de tuberculosos. (...)
A tuberculose não pega, tanto
que comecei a namorar com
uma tuberculosa, dava cada
beijo nela e não peguei nada.
Era uma moça que sabia que
ia morrer e que me disse: —
Seu Abelzinho, eu sou
tuberculosa, ninguém gosta de
mim, mas eu gostaria que
alguém me desse um beijo.
Então venha cá". Eu lhe dei
um beijo de desentupir pia. Eu
tinha quinze anos nesse
tempo."
TERRITORIO
Carnavais, malandros e
heróis — para uma
sociologia do dilema
brasileiro
Primeira edição em 1978
CRIADOR
Roberto DaMatta, carioca nasci-
do em 1936, é antropólogo e pes-
quisador, tendo lecionado na
Universidade de Cambridge, In-
glaterra. É autor de estudos clás-
sicos sobre o Brasil, seus ritos e
mitos.
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
Algumas respostas possíveis à
pergunta: "O que faz o brasil,
Brasil?".
Uma análise que nos permite
compreender as contradições de
nosso país, onde coexistem car-
navais e hierarquias, igualdades
e aristocracias, com a cordiali-
dade do encontro cheio de sor-
risos cedendo lugar, no mo-
mento seguinte, à terrível vio-
lência dos antipáticos "sabe com
quem está falando?".
Continente Não-Ficção
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
'O uso do 'sabe com quem está
falando?' é, então, antigo. Já
Lima Barreto, em dois livros
clássicos e publicados no
início do século — Recor-
dações do escrivão Isaías Cami-
nha e sua notável etnografia
da República dos Estados
Unidos da Bruzundanga, Os
bruzundangas — revela a
sofreguidão do uso dos títulos
e formas hierarquizantes e de
como os heróis se movem
dentro desse sistema contra-
dítono, avesso à crítica hones-
ta, ao estudo sério e à im-
pessoalidade das regras uni-
versais, sempre distorcidas em
nome de uma relação pessoal
importante."
TERRITORIO História
geral da civilização
brasileira
Primeira edição em 1980
CRIADORES
Sérgio Buarque de Holanda e
Boris Fausto, coordenando o tra-
balho de rnais cem historiadores.
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
• A obra, em 5.200 páginas, dis-
tribuídas em 11 volumes, sendo
dois dedicados à época colonial,
cinco ao Brasil monárquico e qua-
tro ao Brasil republicano, analisa
o processo de organização da so-
ciedade brasileira.
• É uma obra de fôlego e uma sín-
tese, que vai de 1500 até 1964.
Tem como característica princi-
pal o fato de juntar sob um mes-
mo teto o pensamento de cem
pesquisadores da história e da
cultura brasileiras. Não é uma
obra coletiva, mas, sim, um con-
junto de trabalhos individuais
que, analisando períodos se-
qüenciais de nossa história, visam
estimular a reflexão crítica do lei-
tor. Deve ser considerada uma
das principais obras de referên-
cia sobre a formação da socie-
dade brasileira.
No livro que finaliza cada um
dos tomos da coleção (Colônia,
Monarquia e República), pode-
se encontrar, além de uma exten-
sa bibliografia que permitirá
aprofundar os textos lidos, uma
"cronologia sumária", que infor-
ma o leitor, simultaneamente,
dos principais fatos acontecidos
no Brasil e dos que ocorriam no
resto do mundo naquele mo-
mento, por exemplo: em 1937,
enquanto Getúlio Vargas dava
um golpe de Estado e assumia o
papel de ditador, a cidade de
Guernica, na Espanha (imorta-
lizada pela pintura de Picasso),
era destruída pela força aérea
nazista.
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
"Pelas suas características, o
método Paulo Freire respondia
às expectativas dos grupos
dirigentes, no governo da
União, e aos objetivos fixados
pelo movimento estudantil na
área da educação.
Centralizando a realização dos
trabalhos no exame crítico das
condições de vida dos adultos
matriculados nos círculos de
cultura', levando os adultos a
discutir os problemas
envolvidos em suas ex-
periências existenciais, sob o
estímulo e a orientação de um
'coordenador de debates', e
remetendo a reflexão sobre
esses problemas para a inves-
tigação de suas origens no
modo de organização da so-
ciedade brasileira, a educação
popular assim concebida
atendia integralmente às ne-
cessidades dos grupos gover-
namentais e estudantis com-
prometidos com a política das
'reformas estruturais' (...). Não
é difícil de entender por que as
atividades do Programa
Nacional de Alfabetização
foram encerradas logo após o
31 de março de 1964"(Cel-so
de Rui Beisigel, Educação e
sociedade no Brasil após
1930, tomo III, volume 4, O
Brasil republicano 1930-
1964).
Capítulo 2
TERRITORIO______
Os bestializados — o
Rio de Janeiro e a
República que não foi
Primeira edição em 1987
CRIADOR
José Murilo de Carvalho nasceu
em Minas Gerais, em 1939. É
doutor em Ciência Política pela
Universidade de Stanford.
Atualmente, é professor titular do
Departamento de História da UFRJ
e pesquisador da Fundação Casa de
Rui Barbosa. Publicou diversos
trabalhos, entre os quais: A
construção da ordem: a elite polí-
tica imperial e A escola de Minas de
Ouro Preto: o peso da glória.
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
Os motivos pelos quais a Procla-
mação da República brasileira
não desenvolveu a cidadania,
nem esteve baseada nela.
• A Revolta da Vacina apresentada
como exemplo de cidadania ati-
va da população.
• A constatação de que o povo não
tinha o menor sentimento de
identidade com o movimento re-
publicano, daí ter "assistido
bestializado" o desenrolar dos
acontecimentos que levaram à
queda do Império.
"...Nossa República, passado o
momento inicial de esperança
de expansão democrática, con-
solidou-se sobre um mínimo
de participação eleitoral, sobre
a exclusão do envol-vimento
popular no governo."
TERRITORIO ______________
A formação das almas — o
imaginário da República no
Brasil
Primeira edição em 1990
CRIADOR
José Murilo de Carvalho (vide
texto ao lado)
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
A história da gênese da Repú-
blica no Brasil, com a qual a po-
pulação pouco se identificou. A
descrição da tentativa de se
construir inúmeros símbolos que
tornassem o movimento parte
constitutiva da história nacional
e o aproximassem da população.
Uma importante análise sobre as
diferentes tendências ideológicas
que disputavam um espaço,
procurando tecer as bases
fundamentais da República.
"A oposição à nova bandeira
foi também imediata. O Diá-
rio do Comércio do mesmo
dia acusou o governo de
adotar um símbolo que se
prestava ao ridículo e que
refletia a posição de uma seita
religiosa..."
TERRITÓRIO _______
Formação do Brasil
colonial
Primeira edição em 1994
CRIADORES
Maria José Mesquita Cavalleiro
de Macedo Wehling é doutora em
Filosofia e professora titular de
Metodologia da História na Uni-
versidade do Rio de Janeiro. Arno
Wehling é doutor em História, di-
retor do curso de História na Uni-
versidade Gama Filho e professor
titular dos cursos de Teoria e
Metodologia e História do Direito
Luso-Brasileiro na UNI-Rio e na
UFRJ. E, atualmente, presidente do
Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro.
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
• Uma síntese de três séculos de
história brasileira, descrevendo,
em linguagem bastante acessí-
vel, uma aventura que começa
RECORDAÇÃO DE VIAGEM RECORDAÇÃO DE VIAGEM
Continente Não-Ficção
no ano de 1500 e se estende até
1822, quando o Brasil deixa de
ser uma colônia portuguesa.
Uma análise da expansão euro-
péia, com a fixação no litoral
brasileiro, a expansão para o
interior, a consolidação da eco-
nomia colonial e a interação
entre os três grupos étnicos for-
madores do brasileiro (o euro-
peu, o índio e o africano), o tipo
de cultura que criaram e as
relações de poder que se esta-
beleceram.
A possibilidade de compreender
melhor como se deu a dete-
rioração do sistema colonial e
como nos encaminhamos para a
independência de Portugal.
RECORDAÇÃO DE
VIAGEM
"Comia-se no sertão, além
disso, quase tudo o que a na-
tureza oferecia: cobras, sapos,
ratos, raízes de guaribá, brotos
de samambaia..."
TERRITORIO
Diários índios — os
urubus-kaapor
Primeira edição em 1996
CRIADOR
Darcy Ribeiro nasceu em Minas,
em 1922, e faleceu em 1997. An-
tropólogo, ensaísta, romancista e
político, participou intensa e apai-
xonadamente da vida nacional,
preocupando-se em especial com
as questões ligadas à educação.
Fundou a Universidade de Brasília
e participou ativamente da
formulação da Lei de Direttizes e
Bases da Educação Nacional
(LDBEN) de 1996. Sua obra traz
análises fundamentais para se
compreender as características do
povo brasileiro. Escreveu, entre
outros: Maíra, O mulo (ficção),
Utopia selvagem e O povo brasilei-
ro (sua última obra).
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
• Um delicioso relato, em lingua-
gem coloquial, de como vivem
as comunidades indígenas
kaapor, escrito em forma de cat-
ta de amor. São 627 páginas nas
quais Darcy fez a edição dos
diários de campo de duas ex-
pedições que ele realizou às
aldeias, entre 1949 e 1951.
Uma coleção fascinante de mitos
indígenas, descrição de rituais,
de sistemas de parentesco e
genealogias, transcrição de
conversas com os intelectuais da
tribo, tudo ilustrado com fotos,
desenhos e diagramas.
A denúncia às agressões vividas
pelos kaapor, levando-os à
extinção.
A coragem de Darcy Ribeiro,
que no prefácio fala do câncer
que iria matá-lo pouco tempo
depois e do reencontro com a
mulher, a antropóloga Berta
Ribeiro: "Voltamos até a namo-
rar, depois de vinte anos de
separação. Eu a beijo na boca e
prometo casar de novo com ela".
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
"Berta, abro este diário com
seu nome. Dia a dia escreverei
o que me suceder, sentindo
que falo com você. Ponha sua
mão na minha mão e venha
comigo. Vamos percorrer mil
quilômetros de picadas pela
floresta, visitando as aldeias
índias que nos esperam, para
conviver com eles, vê-los
viver, aprender com eles."
Capítulo 2
Região Dois: para conhecer melhor
Arquitetura e
música
TERRITÓRIO Música
popular — um tema em
debate
Primeira edição em 1966
CRIADOR
José Ramos Tinhorão (1928), um
dos rnais respeitados pesquisadores
da música popular brasileira.
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
Um estudo aprofundado sobre as
origens e o desenvolvimento da
música urbana no Brasil, que
leva em conta os determinantes
econômicos, sociais e políticos de
cada época.
A descrição do nascimento do
samba e da marcha, no Rio de
Janeiro, entre 1870 e 1930, pro-
dutos dos ranchos carnavalescos,
primeira manifestação popular
carioca.
A recuperação do tempo em que
fazer música, e não apenas ouvi-
la, era um hábito disseminado
entre as camadas rnais pobres da
população e os barbeiros forma-
vam bandas de música.
O surgimento da bossa nova, na
década de 1960, filha da música
norte-americana e de músicos
como Johnny Alf, Tom Jobim,
Vinícius de Moraes e João Gil
berto.
• As causas da transformação do
carnaval carioca de festa popular
anárquica, gratuita, em desfiles
organizados de escolas de samba,
com ingressos pagos.
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
"Esses conjuntos de músicos—
saídos da classe dos barbeiros
provavelmente pelo fato de
constituir tal profissão, na
época, uma das poucas ativi-
dades urbanas de deixar tem-
po vago para o aprendizado
musical — exibiam-se no
domingo do Espírito Santo
sobre um império. Os impé-
rios eram espécies de coretos
armados perto da igreja
fronteira à qual se realizava a
festa."
TERRITORIO Arquitetura
brasileira
Primeira edição em 1979
CRIADOR
Carlos Alberto Cerqueira Lemos,
arquiteto e artista plástico, nasceu
em São Paulo em 1925. Além de
atuar em sua area, a arquitetura,
também se dedicou ao desenho, à
gravura e à pintura.
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
Um retrato da arquitetura pro-
duzida pelas sucessivas gerações
de brasileiros, do século XVI até
os nossos dias: dos tempos da tai-
pa e da terra socada às constru-
ções de pedra e cal, chegando aos
arranha-céus, percorrendo o lito-
ral de norte a sul e o interior.
Exemplos de como estilos euro-
peus foram adaptados e recria-
dos de acordo com as condições
ambientais, econômicas e sociais
dos trópicos.
Evidências da presença indígena
e africana em nosso "jeito de
morar" na época colonial.
Caminhos para identificar, na
arquitetura, os reflexos de mu-
danças políticas e econômicas e
de uma ideologia marcada pela
existência de senhores e escravos.
A diferença e o "diálogo" entre a
arquitetura erudita dos edifícios
públicos, palácios e igrejas e a
arquitetura popular.
Uma descrição, ilustrada com
fotos, de três momentos fortes de
nossa arquitetura, nos quais a
criatividade e a cultura nacionais
melhor se expressaram: a arqui-
tetura paulista da época dos ban-
deirantes, o barroco mineiro e a
arquitetura moderna.
Continente Não-Ficção
• Um inventário dos brasileiros e
dos estrangeiros que fizeram a
história da arquitetura no país, de
Antonio Francisco Lisboa, o Alei-
jadinho, a Lúcio Costa, Niemayer,
Lina Bo Bardi e Vilanova Artigas.
Uma crítica aos processos de urba-
nização que devastam a paisagem
e destroem a memória do país,
construindo "em cima" e não ao
lado do que já existe.
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
"As casas brasileiras podem
mesmo ser classificadas, quan-
to ao seu funcionamento, em
anteriores e posteriores à es-
cravatura, pois o negro, como
disse Lúcio Costa, era esgoto,
ventilador, monta-carga,
enfim, motor que punha em
funcionamento a casa sem
instalações sanitárias e de ín-
gremes escadas de sobrados
sucessivos, de janelas pesadas
de guilhotina que sinhazinha
alguma conseguia levantar."
TERRITÓRIO
Artistas coloniais
Primeira edição em 1997 (compi-
lação de artigos publicados pelo
autor em diferentes jornais)
CRIADOR
Rodrigo Mello Franco de Andrade
nasceu em Belo Horizonte em 1898
e faleceu no Rio em 1969. Foi o
primeiro diretor do Serviço de
Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional. Dirigiu uma revista
dedicada ao estudo dos monumen-
tos históricos e artísticos do Brasil e
impulsionou os trabalhos de sua
conservação. Criou museus como o
da Inconfidência, em Ouro Preto
(MG), e o das Missões, em Santo
Ângelo (RS).
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
• O registro do trabalho de pio-
neiros da arquitetura e da arte em
nosso país, como Luís Dias, "mes-
tre da pedraria", que chegou em
1549, com Tomé de Souza, e
erigiu os muros da cidade de Sal-
vador, além da primeira casa da
Câmara e Cadeia; frei Francisco
dos Santos, responsável pelos
projetos do Convento Francis-
cano de Olinda, na segunda me-
tade do século XVI; Gabriel Ri-
beiro, que projetou a famosa Igre-
ja da Ordem Terceira de S. Fran-
cisco, em Salvador, no início do
século XVIII; Manuel Francisco
de Araújo, ligado à autoria de um
dos monumentos de arquitetura
rnais apreciados do país, a Igreja
do Rosário, em Ouro Preto; o
mulato Antonio Francisco Lis-
boa, o Aleijadinho, arquiteto, es-
cultor e entalhador, responsável
pela definição última do barroco
mineiro; Manuel de Brito e Fran-
cisco Xavier de Brito, autores, no
século XVIII, dos admiráveis
retábulos da Igreja de S. Francis-
co, no Rio de Janeiro.
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
"Um dos preconceitos rnais in-
fundados e ao mesmo tempo
rnais generalizados a respeito
de Antonio Francisco Lisboa é
apontá-lo como um autodida-
ta. Tal afirmação tem servido a
muitos escritores, desde Saint
Hilaire até críticos recentes, me-
nos para encarecer o merecimen-
to do Aleijadinho, do que para
lhe explicar, na obra vigorosa,
certas rudezas e deformações que
sempre chocaram o gosto con-
vencional de seus apologistas.
No entanto, nunca houve mo-
tivo para semelhante suposição,
pois as primeiras informações
sobre Antonio Francisco já men-
cionavam que ele aprendera com
o próprio pai, Manuel Francis-
co Lisboa, e com o abridor de
cunhos João Gomes Batista,
ambos mestres consumados: o
primeiro, carpinteiro e arqui-
teto (...); o segundo, desenhis-
ta exímio e gravador (...)."
Capítulo 2
Região Três: para saber como e por que
História da literatura
e crítica literária
História da literatura
brasileira
Primeira edição em 1915
CRIADOR
José Veríssimo, nascido em Óbidos,
Pará, em 1857, e falecido no Rio de
Janeiro, em 1916, foi professor, jor-
nalista e crítico literário.
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
Uma análise das obras literárias
brasileiras que é mais estética do
que sociológica.
Uma das primeiras sistematiza-
ções de nossos estudos literários,
de caráter histórico e biográfico.
• A afirmação do Romantismo, que
começa a florescer no final do sé-
culo XVIII, como o período que
marca a autonomia da nossa lite-
ratura, junto com a emancipação
política e cultural do pais.
Estudos sobre a vida e a obra de
autores como Gregório de Ma-
tos, Basílio da Gama, Joaquim
Manuel de Macedo, Gonçalves
Dias, Castro Alves e José de
Alencar, considerado um dos fun-
dadores da literatura nacional.
• A primeira defesa de Machado de
Assis como a mais alta expressão
de nosso gênio literário.
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
"Modesto por índole e por ci-
vilidade, tímido de tempera-
mento, modéstia e timidez que
encobriam grande energia
moral e íntima consciência de
sua capacidade, Machado de
Assis, estranho a toda
petulância da juventude,
estuda, observa, medita, lê e
relê os clássicos da língua e as
obras-primas das principais
literaturas. Ao contrário de
alguns notáveis escritores
nossos que começaram por
suas melhores obras e como
que nelas se esgotaram, tem
Machado de Assis uma mar-
cha ascendente. Cada obra sua
é um progresso em relação à
anterior."
TERRITORIO _____________
A literatura no Brasil
Primeira edição em 1955, com
reedições e atualizações até 1990
(seis volumes)
CRIADORES
Afrânio (dos Santos) Coutinho,
crítico e historiador literário, nas-
ceu em Salvador em 1911 e mor-
reu em 1948. Criou a primeira
cátedra de teoria e técnica literária
no país. Membro da Academia
Brasileira de Letras, foi diretor da
Faculdade de Letras da
Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Junto com Eduardo de
Faria Coutinho coordenou o tra-
balho de dezenas de especialistas
que produziram esta obra.
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
Material de suma importância
para professores de literatura,
alunos e estudiosos da arte lite-
rária, tornando fácil entender o
que é estilo literário, gênero li-
terário, de que forma nossa lite-
ratura se apresenta e que con-
teúdos abarca.
A periodização da nossa produ-
ção literária, explicando por que
algumas obras pertencem
Continente Não-Ficção
fazemos literatura
Nível de dificuldade: as bolinhas indicam o grau de dificuldade
de acesso — de para quem aprecia caminhos simples e
rápidos, a para os que gostam de desafios maiores.
ao Romantismo, outras ao Rea-
lismo, ao Simbolismo ou ao
Modernismo.
• Textos mostrando as origens, as
transformações, os rumos segui-
dos e as tendências da nossa lite-
ratura de acordo com os diferen-
tes momentos históricos.
• Excelentes resumos críticos e co-
mentários das obras dos autores
que fizeram e fazem a literatura
brasileira, com biografias eviden-
ciando a rede de influências que
une os escritores (comentários da
maioria das obras do Acervo
PNBE/98, ficção e poesia).
Os volumes estão assim orga-
nizados:
1. Apresenta os prefácios das qua-
tro edições anteriores, com im-
portantes informações sobre a
obra. Fala do Renascimento, do
folclore, da literatura oral e da
literatura popular, dentre outros
assuntos.
2. Era Barroca e a Neoclássica, da
literatura jesuítica, Gregorio de
Matos, a oratória sacra e o
Movimento Academicista, o
rococó, o Arcadismo, etc.
3. A Era Romântica. O Movi-
mento Romântico, seus preli-
minares, Gonçalves Dias, o
indianismo, Castro Alves, a
ficção romântica e a crítica
literária romântica, etc.
4. A Era Realista. O Realismo, o
Naturalismo, o Parnasianismo, a
ficção naturalista, Machado de
Assis, Euclides da Cunha, o
regionalismo na ficção, etc. A
era de transição: o Simbolismo,
o Impressionismo, o Mo-
dernismo.
5. A Era Modernista. A revolução
modernista, a poesia, van-
guardas, a ficção e a crítica mo-
dernistas.
6. Relações e perspectivas. Con-
ceitos sociológicos e estéticos,
evolução da literatura dramá-
tica, evolução do conto, litera-
tura e jornalismo, literatura e
filosofia, literatura e arte, lite-
ratura infantil. Conclusão: o
Pós-Modernismo no Brasil, a
nova literatura brasileira (anos
1980-1990). Traz também vasta
bibliografia e nomes dos
colaboradores da obras.
TERRITÓRIO______________
Panorama do teatro
brasileiro
Primeira edição em 1962
CRIADOR
(Antonio) Sábato Magaldi, crítico
de teatro, nasceu em Belo Ho-
rizonte (MG) em 1927. Foi crítico
do Suplemento Literário do jornal
O Estado de S. Paulo, lecionou na
Escola de Arte Dramática e na
Escola de Comunicações e Artes
da USP Secretário de Cultura do
município de São Paulo, de 1974 a
1978, é professor associado do
Instituto de Estudos Brasileiros e
Portugueses da Universidade de
Sorbonne, França.
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
Uma bússola para nos guiar
pelos caminhos da produção
teatral brasileira.
A história do teatro no Brasil, de
suas origens, quando José de
Anchieta usou a encenação para
catequizar os silvícolas, até a
atualidade, passando por Martins
Pena e a comédia brasileira e
destacando os responsáveis pelo
crescimento e pelo
amadurecimento do nosso
Capítulo 2
teatro, como França Júnior, José
de Alencar, João Caetano, Artur
Azevedo, e nossos contempo-
râneos: Nelson Rodrigues, Ari-
ano Suassuna, Gianfrancesco
Guarnieri, Dias Gomes.
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
"O surto admirável do teatro
paulista é obra do industrial
italiano Franco Zampari,
criador, em 1948, do Teatro
Brasileiro de Comédia, cuja
história não só domina o pa-
norama nacional dos últimos
anos, mas tem sido a fonte de
outras companhias jovens de
mérito. A fórmula do novo
mecenas era simples: o cos-
mopolitismo de São Paulo re-
clama uma atividade cênica
semelhante à de Paris, Lon-
dres ou Nova York."
TERRITORIO _____________
De Anchieta a Euclides —
breve história da literatura
brasileira
Primeira edição em 1977
CRIADOR
José Guilherme Merquior, diplo-
mata e ensaísta, nasceu no Rio de
Janeiro em 1941 e morreu em
Boston, EUA, em 1991. Doutor em
estudos latino-americanos pela
Universidade de Paris, e em Socio-
logia pela London School of
Economic and Politic Sciences,
Merquior ocupou postos diplomá-
ticos em Paris e em Montevidéu.
Fez parte da equipe do ministro
Leitão de Abreu, do Gabinete Civil
do governo João Figueiredo, em
1981. Em 1983, tornou-se um dos
escritores rnais jovens a entrar para
a Academia Brasileira de Letras.
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
Um livro imprescindível aos es-
tudiosos rnais especializados, es-
crito em linguagem que não é
hermética, impenetrável.
Uma análise das obras produzi-
das no Brasil, de Anchieta a
Euclides da Cunha, apresentan-
do os autores rnais importantes
de cada momento literário desde
o período colonial (Era Barroca)
até a época moderna, com os es-
tilos pós-românticos (Realismo,
Naturalismo, Parnasianismo,
Impressionismo e Simbolismo).
• Uma obra que, como diz o pró-
prio autor, "obedece à acessibi-
lidade, seletividade, senso de
fórma... e tenta contribuir para
restabelecer o diálogo entre os
estudos literários e o homem
sensível de cultura média".
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
" Os sertões são, antes de mais
nada, uma retratação. Retra-
tação do tribuno republicano,
que tinha condenado
dogmaticamente, sem procu-
rar compreender o fenômeno,
o "obscurantismo reacionário"
dos jagunços de Antônio
Conselheiro, e, em contato
direto com o hinterland
(interior), foi levado a reco-
nhecer o heroísmo anônimo
das populações sertanejas."
TERRITORIO
As razões do
Iluminismo
Primeira edição em 1986
CRIADOR
Sérgio Paulo Rouanet, nascido em
1934, no Rio de Janeiro, é diplo-
mata, tendo ocupado o cargo de em-
baixador do Brasil nos Estados
Unidos entre 1987 e 1991 e de
secretário nacional da Cultura de
1991 a 1992. Com primorosa for-
mação filosófica e política, tem pu-
blicado livros e traduções de gran-
de importância.
Continente Não-Ficção
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
Uma obra que nos ajuda a en-
tender por que o irracionalismo
é sempre repressivo, enquanto
as luzes da razão podem nos li-
bertar.
Uma reconceituação do que é
moderno e pós-moderno.
Um convite a construir um novo
humanismo.
Ensaios que, em sua maioria, fo-
ram publicados nos jornais Folha
de S. Paulo, O Estado de S. Paulo,
e em revistas como Tempo
Brasileiro, Humanidades, e
textos proferidos em conferências
e palestras.
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
"Segundo Jameson, o Pós-
modernismo tem entre suas ca-
racterísticas o apagamento das
fronteiras entre a arte popular,
ou de massas, e a arte erudita,
o desaparecimento do sujeito
(com a extinção conseqüente
da figura do artista ge-nial,
obrigado a exprimir-se em
linguagens formais absoluta-
mente inéditas), da ideologia
do novo e do vanguardismo
em geral. Além disso, a arte
pós-moderna estabelece com a
história uma relação sui generis.
Esgotada sua capacidade de
criação, o artista pós-moderno
é forçado a voltar-se para o pas-
sado e recorre ao pastiche de
obras anteriores."
TERRITÓRIO
Um mestre na periferia do
capitalismo — Machado de
Assis
Primeira edição em 1990
CRIADOR
Roberto Schwarz, ensaísta e crítico
literário, nasceu em Viena, Áustria,
em 1938 e chegou ao Brasil ainda
criança, durante a Segunda Guerra
Mundial. Formado em Ciências
Sociais pela Universidade de São
Paulo, fez mestrado em Teoria Lite-
rária na Universidade de Yale, EUA,
e doutorado na Sorbonne, França.
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
Um estudo sobre um dos
maiores expoentes da literatura
brasileira.
• Uma análise do livro Memórias
póstumas de Brás Cubas, compon-
do a segunda parte dos estudos
de Schwarz, que tem início com
o título Ao vencedor as batatas,
no qual examina os primeiros ro-
mances machadianos.
Uma demonstração da capacida-
de de Machado de Assis em re-
tratar a sociedade brasileira inse-
rindo-a num contexto que vai
além do provinciano.
• Subsídios para melhor entender,
contextualizar e compreender
toda a atualidade da obra de Ma-
chado de Assis.
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
"O enredo das Memórias pro-
cura ancorar-se na história
nacional e também significá-
la, através de referências ora
explícitas, ora escondidas.
Alguma coisa já ficou dita
sobre correspondências estru-
turais. Entretanto, não faltam
relações de ordem rnais direta.
Seguiremos aqui a descoberta
de John Gledson, que vem
mostrando o papel que têm na
ficção macha-diana alguns
episódios políticos destacados,
tais como a Independência, a
Abdicação de D. Pedro I, a
Maioridade, a Conciliação do
Marquês de Paraná, a Lei do
Ventre Livre, a Abolição e a
República."
Capítulo 2
Região Quatro: para entrar na alma de
Sermões,
memórias,
biografias e
crônicas
TERRITÓRIO
Sermões
Primeira edição em 1679 (nove
volumes)
CRIADOR
Antonio Vieira nasceu em Lisboa,
Portugal, em 1608 e morreu em
1696. Ordenou-se padre jesuíta em
Salvador, onde sua família se
fixara. Atuou não apenas como
religioso, mas como político,
diplomata e advogado dos opri-
midos. Missionário no Maranhão e
no Pará, fez do púlpito uma tribuna
de onde lutou contra a ocupação
holandesa, defendeu os índios
cativos e denunciou a violência dos
senhores contra os negros
escravizados. Inspirou a criação
das Missões Jesuíticas no Sul do
país, onde índios catequizados
podiam viver em segurança.—
aldeias que foram tragicamente
destruídas em meados do século
XVIII.
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
Um conjunto de textos sobre os
rnais diferentes temas, relativos
não só à religião e à moral, como
também à organização social e
política do Brasil na época, cujo
estilo justifica o título de "Impe-
rador da Língua Portuguesa",
conferido ao autor pelo poeta
Fernando Pessoa.
Dentre outras pérolas, o Sermão
da Epifania, pregado na Capela
Real em 1662, em defesa dos
índios do Maranhão escraviza-
dos pelos colonos portugueses, e
os Sermões XIV, XVI, XX e
XXVII do Rosário, cujo tema é a
escravidão, no qual Vieira com-
para a vida do negro escravo à
paixão de Cristo na cruz.
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
"Os homens, pervertendo a
igualdade da natureza, se dis-
tinguem em dois nomes tão
opostos, como o de senhor e
escravo. (...) Eles mandam e
vós servis, eles descansam e
vós trabalhais, eles gozam o
fruto de vosso trabalho e vós o
que colheis deles é um tra-
balho sobre o outro. Sois
como abelhas que fabricam o
mel, mas não para si."
TERRITÓRIO___________
Minha formação
Primeira edição em 1900
CRIADOR
Joaquim (Aurélio Barreto)
Nabuco (de Araújo) nasceu em
Recife/PE em 1849 e faleceu nos
EUA em 1910. Filho de família
tradicional, foi um dos homens
rnais influentes, ativos e elegantes
de seu tempo. Político e diplomata,
embaixador do Brasil nos Estados
Unidos, em suas temporadas na
Europa teve contato com artistas e
intelectuais famosos, como, Sarah
Bernhardt e George Sand. Foi, ao
mesmo tempo, um de nossos
principais abolicionistas e um
monarquista convicto.
Continente Não-Ficção
grandes brasileiros
Nivel de dificuldade: as bolinhas indicam o grau de dificuldade
de acesso — de para quem aprecia caminhos simples e
pidos, a para os que gostam de desafios maiores.
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
A autobiografia de um brasileiro
que vivenciou intimamente o
final do Império e os primeiros
passos de nossa República,
oferecendo um retrato preciso
do comportamento político
brasileiro e uma boa visão de
como estavam organizadas as
sociedades européia e americana
na mesma época.
Reflexões de um homem inte-
ligente que, ainda cheio de vida
e no auge da maturidade, é ca-
paz de pensar o seu tempo e o
momento político.
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
"Em outras casas o chefe de
família estava sem emprego
havia anos por causa de um
voto dado ao partido da
oposição..."
_____
_______________
TERRITORIO
Campanhas
jornalísticas
Primeira edição em 1921 (três
volumes)
CRIADOR
Rui Barbosa (1849, Salvador -
1923, Petrópolis) formou-se em
Direito pelas Faculdades de Recife
e São Paulo. Sua inteligência
brilhante, aliada à grande capaci-
dade de trabalho, fez que se des-
tacasse nos campos do direito, do
jornalismo, da diplomacia e da
política. Participou da campanha
abolicionista e seus artigos no jor-
nal Diário de Notícias contribuí-
ram para a queda da Monarquia.
Com a Proclamação da República,
tornou-se ministro da Fazenda e
ajudou a elaborar a primeira
Constituição republicana. Repre-
sentou o Brasil na Segunda Con-
ferência Internacional de Paz, em
Haia, na Holanda, e por duas vezes
concorreu, sem êxito, à Presidência
da República.
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
• Uma coletânea de artigos pu-
blicados nos jornais do país,
como Radical Paulistano,
Diário da Bahia, Jornal do
Commércio, Jornal do Brasil, O
Imparcial e Diário de Notícias,
cobrindo os principais
acontecimentos do final do
Império e da primeira década da
República.
• Um exemplo do poder de dis-
seminar idéias e influir por meio
da imprensa.
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
"Anuncia-nos Vossa Majestade
que a 'substituição do trabalho
(escravo) vai prosseguindo
regularmente' e que 'a classe
agrícola inaugurou
resolutamente o novo regimen'.
Naturalmente este resultado se
deve, não a essa classe,
republicanizada em 14 de
maio, mas ao patriotismo do
governo, que tem 'auxiliado o
movimento', promovendo a
guerra das raças, inventando a
guarda negra, acor-çoando-a à
trucidação dos ex-senhores e
atordoando as veleidades
democráticas da lavoira com a
pronunciada anistia aos
assassinos de fazendeiros.
Vossa Majestade é
infinitamente sábio, justo e
misericordioso" (Diário de
Notícias, 4 de maio de 1889).
Capítulo 2
TERRITORIO
Memórias do cárcere
Primeira edição em 1953
CRIADOR
O alagoano Graciliano Ramos
(1892-1953) foi um autor pro-
fundamente engajado e de extrema
coragem. Sua obra reflete sua luta
política e sua preocupação em
denunciar os problemas sociais
brasileiros. Por ser considerado
subversivo, Graciliano Ramos foi
preso em 1936, em Alagoas, du-
rante a ditadura de Getúlio Vargas.
Embora sem provas de acusação,
passou quase um ano percorrendo
diversos presídios.
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
Memórias do cárcere é o relato da
dolorosa experiência de prisão do
autor, com suas humilhações,
angústias e incertezas. O livro ul-
trapassa o plano pessoal e é tam-
bém uma análise contundente de
um importante momento his-
tórico brasileiro. Memórias do
cárcere é um grito de liberdade.
E uma obra universal de protesto
contra as condições em que são
mantidos os prisioneiros políti-
cos, e rnais, contra um tipo de
autoridade estatal absoluta que
nenhuma nação deve tolerar.
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
"Mandaram-nos subir à
coberta, apinhamo-nos em
magote ao pé de um mastro.
Que diabos estaríamos fazen-
do ali? Desejava informar-me,
apesar de saber que a pergunta
seria inútil. Nenhum do's
companheiros estava em
condições de satisfazer-me à
curiosidade, e evidentemente
os sujeitos que nos davam
ordens não iam explicar-se.
Esse automatismo, renovado
com freqüência nas cadeias, é
uma tortura; as pessoas livres
não imaginam a extensão do
tormento."
TERRITORIO
Seleta de prosa
Crônicas publicadas entre as déca-
das de 1930 e 1950.
CRIADOR
Manuel Bandeira (1886-1968), um
dos maiores poetas brasileiros, foi
também um grande prosador,
como prova esta seleção de seus
ensaios, críticas de arte, estudos
literários, correspondências e crô-
nicas organizada por Júlio Cas-
tafion Guimarães.
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
• Em cada ensaio, em cada peque-
no texto, é possível contemplar a
marca delicada de Bandeira, a
mágica que faz com as palavras,
sua poesia intrínseca, seu grande
amor pelas artes e pela humani-
dade. E assim que em Itinerário
de Pasárgada, por exemplo, Ban-
deira comenta, com maravilhosa
lucidez e extraordinária firmeza,
sobre o escândalo que sua poesia
provocou de início, declarando
que o que sempre achou impor-
tante transpor para o papel não
foram os canteiros de flores, mas
as lavadeiras, os mendigos e os
desempregados que via pelos be-
cos sem terem um porta-voz. A
obra de Bandeira, tanto na po-
esia quanto na prosa, foi sempre,
acima de tudo, um canto de amor
e solidariedade ao povo.
Continente Não-Ficção
"O meu primeiro contato com
a poesia sob forma de versos
terá sido provavelmente em
contos de fadas, em histórias
da carochinha. No Recife,
depois dos seis anos. Pelo
menos me lembro do sobrosso
que me causava a cantiga da
menina enterrada viva no
conto A madrasta:
Capineiro de meu pai Não me
cortes meus cabelos. Minha
mãe me penteou, Minha
madrasta me enterrou Pelo
figo da figueira Que o
passarinho bicou. Xô,
passarinho.
Era assim que recitavam os
versos. E esse 'Xô passarinho!'
me cortava o coração, me dava
vontade de chorar."
200 crônicas escolhidas
Crônicas publicadas entre as déca-
das de 1930 e 1970.
CRIADOR
Rubem Braga (1913-1990) con-
solidou a crônica como um estilo
literário respeitado. Jornalista, foi
embaixador do Brasil em Marrocos
e atuou como correspondente na
Itália, na Argentina, nos Estados
Unidos, no México, em Cuba, na
Colômbia, em Portugal, na França,
na Inglaterra, no Chile, no Paraguai
e — ufa! — na Índia. Altamente
politizado, foi preso diversas vezes
durante a ditadura de Vargas.
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
• O livro é uma coletânea das me-
lhores crônicas de Braga, escritas
entre as décadas de 1930 e 1970.
A maioria das histórias se passa
no Rio de Janeiro. As crônicas
enfocam temas como amor e
militância política, e os rnais varia-
dos personagens entram em cena:
crianças e velhos, ricos e pobres,
o trabalhador rural e o intelectu-
al. O traço comum é a simplici-
dade das histórias, retiradas do
próprio cotidiano; pequenos
acontecimentos pitorescos, fuga-
zes e preciosos instantes. Um dos
rnais belos textos é o "Recado ao
Senhor 903". A partir de uma
briga entre vizinhos, Braga con-
segue protestar contra a rotulação
e a pressa do homem moderno e
clamar pela união, pela beleza,
pelo amor e pela paz. Todas as
viagens e as vivências do autor
deram-lhe uma visão cosmopoli-
ta de mundo. Mas uma visão
cosmopolita bem brasileira,
temperada com momentos de
profundo humor e outros de
enorme lirismo. Uma crônica de
Rubem Braga leva dois minutos
para ser lida e é boa companhia
para o dia inteiro!
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
Velhas cartas
"Você nunca saberá o bem
que sua carta me fez...' Sinto
um choque ao 1er esta carta
antiga que encontro em um
maço de outras. Vejo a data e
então me lembro onde estava
quando a recebi. Não me
lembro é do que escrevi que
fez tanto bem a uma pessoa
(...).
Agora folheio outras cartas de
amigos e amigas; são quase
todas de apenas dois ou três
anos atrás. Mas, como isso
está longe! Sinto-me um
pouco humilhado pensando
como certas pessoas me eram
necessárias e agora nem
existiriam rnais na minha
lembrança se eu não encon-
trasse essas linhas rabiscadas
em Londres ou na Suíça.
RECORDAÇÃO DE VIAGEM TERRITÓRIO
Capítulo 2
'Cheguei nesse instante; é a
primeira coisa que faço, como
prometi, escrever para você,
mesmo porque durante a
viagem pensei demais em
você...'
Isso soa absurdo a dois anos e
meio de distância. Não faço a
menor idéia do paradeiro
dessa mulher de letra redonda;
ela, com certeza, mal se
lembrará do meu nome. E esse
casal, santo Deus, como era
amigo: fazíamos planos de
viajar juntos pela Itália; os
dias que tínhamos passado
juntos eram 'inesquecíveis'.
E esse amigo como era ami-
go! Entretanto, nenhum de
nós dois se lembrou mais de
procurar o outro."
TERRITÓRIO Quase
memória
Primeira edição em 1995
CRIADOR
Carlos Heitor Cony (1926) é es-
critor e jornalista, cronista da
Folha de S. Paulo. Notabilizou-se
com livros para o público adoles-
cente, que lhe valeram diversos
prêmios. Pouco a pouco, voltou-se
também para o público adulto, mas
suas marcas registradas continuam
sendo a simplicidade, o amor pelo
ser humano e a franqueza com que
expõe sentimentos e valores.
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
A história situa-se no Rio de Ja-
neiro, nas décadas de 1930 e
1940, quando o autor era ainda
menino. Existe porém sempre
um elo de ligação com os dias de
hoje, pois quem faz a viagem ao
passado é a memória do narrador-
autor. Ernesto Cony Filho, pai
do autor, era um homem que
sentia grande prazer em viver,
acreditava em ideais e fazia as
outras pessoas acreditarem tam-
bém. Sem jamais abandonar suas
convicções, Ernesto deu a volta
por cima em muitas situações di-
fíceis e deixou grandes lições.
O livro é a história da convivên-
cia diária de um pai amoroso com
seu filho e das marcas que essa
divertida convivência deixaram
para sempre naquele garoto. Os
episódios são descritos através
dos olhos infantis de um Carlos
menino, que viam o pai como
grande companheiro, num tempo
em que as fronteiras entre a
infância e a maturidade eram
bem definidas e estabeleciam se-
veros limites na intimidade entre
crianças e adultos. O tom alegre
da narrativa impede a melanco-
lia que poderia ter esse tipo de
evocação, provando que a convi-
vência com Ernesto foi, para
Carlos, uma festa do início ao fim.
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
"Não sabia fazer nada sem en-
tusiasmo, embora fosse o pri-
meiro a reconhecer que aquilo
não teria futuro para ele. No
dia em que terminou a represa
no meio do quintal, deu-lhe o
estalo. Nada a ver com o
pequeno lago em si, que só lhe
renderia futuros
aborrecimentos. Aliás, fazia
parte de seus truques interio-
res partir de uma realidade es-
téril para um sonho grandioso.
A realidade estéril era o lago,
uma vez pronto nada tinha a
fazer com ele. O sonho
grandioso veio por causa do
lago, embora não houvesse,
entre a realidade e o sonho,
nenhuma relação de causa e
efeito.
O sonho era: criar galinhas!"
Continente Não-Ficção
TERRITÓRIO Mauá —
empresário do Império
primeira edição em 1995
CRIADOR
Jorge Caldeira nasceu em 1955,
em São Paulo. Jornalista, é mestre
em Sociologia e doutorando em
Ciência Política. Publicou também
uma biografia de Noel Rosa: De
costas para o mar.
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
A história de Irineu Evangelista
de Sousa, barão e visconde de
Mauá, nosso primeiro industrial,
homem de acurada visão comer-
cial que, começando a vida como
office-boy (em 1822), construiu
em Niterói um grande estaleiro e
fundição, tornando-se depois
dono de bancos, estradas de
ferro, companhias de navegação,
expandindo seus negócios para a
Argentina e o Uruguai.
Os primeiros vislumbres de algo
como o Mercosul.
Informações sobre a quantas
andava a economia brasileira após
a Independência: o conflito entre
o moderno empresário e o feitor
de escravos.
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
"Enquanto os brasileiros la-
mentavam a falta de escravos,
Mauá implementava admi-
nistrações participativas e
distribuição de lucros para
empregados."
Capítulo 3
A mochila do
lívronauta
Quando entramos em uma cidade pela primeira vez, precisamos de
mapas que nos orientem e guias que nos ajudem a entender a
história dos monumentos e das ruas que percorremos. Da mesma
forma, ao adentrarmos os territórios dos continentes da Ficção-
Prosa e da Não-Ficção ou ao escalarmos as montanhas da Ficção-
Poesia, muitas vezes ou recorremos a instrumentos de apoio, ou
nos perdemos.
Conforme avançamos na leitura de um livro, deparamos com
palavras desconhecidas, construções sintáticas estranhas, por vezes
descrições de locais, paisagens, épocas e personagens históricas
com as quais não estamos familiarizados. Isso às vezes atrapalha
nossa leitura, pois a compreensão fica mais difícil. Como resolver
esse problema? Consultando as chamadas obras de referência ou
apoio. Nelas, é possível encontrar as informações de que
necessitamos para enriquecer ainda rnais nossa viagem através dos
textos. São dicionários de língua portuguesa, enciclopédias,
gramáticas, atlas, etc. Claro, não podemos deixar de lado nossa
leitura sempre que encontramos algo que não compreendemos. E
importante não quebrar o clima. Mas, em algumas situações, vale a
pena fazer uma pausa, abrir a mochila e dela retirar os
instrumentos que vão fazer que a leitura ganhe em significado e
colorido.
3.1. Instrumentos de busca e
viagem pelos continentes
Estou explorando o continente da Ficção e
entro no território do livro Viva o povo
brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro,
romance épico que narra a história do
Brasil a partir da Bahia e do Rio de
Janeiro, desde o século XVII até o século
XX. Em várias ocasiões, vou me servir
dos meus instrumentos de busca e de
apoio para me situar no espaço e no
tempo e para compreender melhor os
personagens e os ambientes que encontro
no decorrer da leitura.
Atlas Geogràfico Melhoramentos, p. 52
• ATLAS GEOGRÁFICO
MELHORAMENTOS
• MODERNO ATLAS GEOGRÁFICO
Logo no início da caminhada, já
deparo com a necessidade de uma luz:
na página 9, vejo o personagem José
Francisco Brandão Galvão, al-feres,
absorto em seus pensamentos, "em
na brisa da Ponta das Baleias", pouco
antes de morrer como falso herói,
atingido pelos portugueses. Onde fica
essa tal Ponta das Baleias? Preciso
saber, para imaginar melhor a cena.
Ainda bem que na minha mochila de
turista leitor eu tenho vários atlas, com
mapas geográficos, físicos e políticos,
de todos os países do mundo, inclusive
do Brasil.
Na página 52 do Atlas Geográfico
Melhoramentos, encontro um mapa do
Estado da Bahia com todas as cidades
assinaladas. Posso ver, então, no sul da
Bahia — Bahia de Todos os Santos,
como o narrador diz ainda na mesma
página —, entre Caravelas e Alcobaça,
a Ponta das Baleias. Confiro a
informação no Moderno atlas
geográfico, na página 18,
Um exemplo
ESTADO DA BAHIA
localização que apóiam a do
planeta Acervo PNBE/98
que possui um mapa da região Nor-
deste do Brasil. Agora posso localizar
geograficamente o início da história
de Viva o povo brasileiro. A narração
segue mostrando outros lugares,
principalmente na Bahia: Ilha de
Itaparica, Pirajá, Cachoeira...
Moderno atlas geográfico, p. 18
Capítulo 3
• ATLAS ATUAL GEOGRAFIA
Na página 12, o personagem José
Brandão, alferes, a essa altura já meu
amigo, comunica-me uma dúvida: ele
diz não saber onde fica Portugal, país
para onde seu pai voltou antes de ele
nascer. Isso me lembra que estou
também em dúvida sobre alguns
detalhes da localização de Portugal.
Como será mesmo o nome daquela
cordilheira que o separa da Espanha?
Quais suas principais cidades?
Procuro a palavra Portugal no índice
remissivo do Atlas atual geografia, por
exemplo. Encontro a indicação 17C6-
7, que significa que Portugal está na
página 17, nas coordenadas C e 6-7,
dadas pelo livro, isto é, na coluna C e
na linha entre o 6 e o 7. Seguindo as
indicações, estou diante de Portugal,
na Europa, verificando onde está
Lisboa, Porto e Coimbra.
Atlas atual geografia, p. 17
• GEOATLAS
Mais tarde, na página 480, outro
amigo, o personagem Corinto
Mello, questiona Zé Popó, um "he rói
brasileiro", sobre a imagem mai forte
em sua mente depois de tan tas
batalhas. Surpreendentemente o herói
fala sobre o que mais o mar cou — as
bicheiras — e diz que elas ocorriam
em muitas partes do Paraguai e das
áreas fronteiriças do Brasil. Depois de
rir dessa tirada descubro-me em
dúvida sobre o nome de todos os
países que fazem fronteira com o
nosso. Que países além do Paraguai,
sofriam com as bicheiras? No
Geoatlas, pesquiso no índice a
América do Sul. Chego ao item 27,
América do Sul Político. Nesta
página posso relembrar todos os
países próximos ao Brasil: Uruguai,
Argentina, Paraguai, Bolívia, Peru,
Colômbia, Venezuela, Guiana,
Suriname e Guiana Francesa.
, ATLAS GEOGRÁFICO ILUSTRADO
Mais à frente em meu caminho, na
página 555, um novo conhecido,
Filomeno, montado em sua mula,
Periquita, diz a seu comandante que a
noite costuma chegar ali subitamente:
"Sim, a noite cai de repente na
caatinga...". Quero saber exatamente o
que é caatinga. Pesquisando no Atlas
geográfico ilustrado, encontro, nas
páginas 30 e 31, essa vegetação
natural típica do Brasil. Posso ver
então a foto de uma caatinga e onde
esse tipo de vegetação pode ser
localizado no Brasil.
Também consulto um dicionário, no
qual encontro a definição de caatinga
e de catinga, duas coisas bem di-
ferentes. E no Atlas da flora brasileira
encontro rnais imagens desse tipo de
vegetação.
Se quiser, ainda poderei obter rnais
informações a respeito da Bahia, de
Portugal e dos países latino-ameri-
canos sobre os quais já pesquisei
antes. Posso ver suas bandeiras, saber
em que suas economias estão ba-
seadas, como são constituídos seus
solos e qual é a população da região.
At/os geogràfico ilustrado, p. 30
Capítulo 3
• ATLAS DA FAUNA BRASILEIRA
No territorio de Viva o povo brasileiro,
encontro não só pessoas e plantas, mas
também bichos. Na página 264,
participo de uma caçada de tatu, em
que cachorros cercam sua toca. Quero
saber rnais sobre os tatus, pois, afinal,
nunca vi nenhum pessoalmente.
Recorro ao Atlas da fauna brasileira.
O sumário leva-me à página 31,
capítulo sobre os mamíferos, em que
há informações a respeito dessa classe
de animais. Há imagens dos tatus
brasileiros nas páginas 32 e 33 (com
legenda na página 34).
Páginas depois, novos animais vêm ao
meu encontro. Na página 556, o amigo
Filomeno ouve barulhos na mata.
Podem ser macacos e preás.
Que tipos de macacos poderiam ser? E
o que é um preá? No Atlas da fauna
brasileira encontro imagens do preá
nas páginas 36 e 37 (legenda na página
38) e dos macacos nas .páginas 44, 45
e 46).
EDENTA TA (= XENARTHRA)
Abrange os chamados desdentados: ordem formada
pelas familias Myrmecophagidae (tamanduás),
Bradypodidae (preguiças) e Dasypodidae (tatus).
Atlas da fauna brasileira
Atlas da fauna brasileira, p. 36. 37 e 38
• ATLAS ESCOLAR DE BOTÂNICA
Subitamente, na página 556, em plena
caatinga, deparo com uma árvore
chamada quixabeira, onde uma mula —
e eu — se escondeu de um tiroteio.
Convoco de imediato o Atlas escolar de
botânica. Retomo a definição de
caatinga na Unidade 8 (p. 94), sobre a
vegetação do Brasil, e localizo exemplos
de suas árvores, dentre elas a
quixabeira.
Atlas escolar de botânico, p. 94
ENCICLOPÉDIA BARSA
ENCICLOPÉDIA DICIONÁRIO
ILUSTRADO
De repente, descubro que preciso
situar-me melhor nos tempos em que a
história acontece. Na página 9, uma
data: 10 de junho de 1822. E aí que a
história começa; depois volta no
tempo, para 1647, adianta-se para
1827, retorna para 1809, vai para 1839,
pula para 1889 e segue até 1977. Mas
foi naquele primeiro dia que o já citado
alferes José Francisco morreu
"defendendo" o Brasil. O que estava
acontecendo no país nessa época? A
Nova enciclopédia Barsa e a
Enciclopédia dicionário ilustrado
contêm as informações de que
precisamos. Procuro pela ordem al-
fabética no volume correspondente ao
Brasil. Localizo História, e ali, uma
descrição do que acontecia no país,
prestes a se tornar independente de
Portugal. Uma Assembléia Cons-
tituinte fora convocada por D. Pedro
em 3 de junho de 1822, e, a 7 de
setembro, o mesmo D. Pedro pro-
clamou a independência do país. Pouco
depois, em 12 de outubro, D. Pedro foi
aclamado imperador constitucional e
defensor perpétuo do Brasil, como é
dito na página 10. As enciclopédias
são excelentes para fornecer
informações completas sobre os mais
diversos assuntos.
Capítulo 3
MINIDICIONÁRIO DA
LINGUA PORTUGUESA
GRANDE DICIONÁRIO
LAROUSSE CULTURAL DA
LÌNGUA PORTUGUÊSA
DICIONÁRIO AURÉLIO DA
LÌNGUA PORTUGUÊSA
Durante a caminhada pelo
território de Viva o povo bra-
sileiro, tropeço com várias pa-
lavras cujo significado desco-
nheço. Na maior parte das
vezes, isso não me perturba,
pois o contexto ajuda-me a
preencher a lacuna. Mas al-
gumas vezes há palavras que
são verdadeiras pedreiras,
ocultando conceitos que temos
de dominar para não perder boa
parte da beleza de nossa viagem
pela ficção, pela poesia ou pela
não-ficção. E então?
Dicionário. Um para consultas
rápidas é o Mini-dicionário da
língua portuguesa; outros
muito recomendados são o
Grande dicionário Larousse
cultural da língua portuguesa,
que traz também alguns mapas
do Brasil e fronteiras, modelos
de conjugação verbal e noções
gramaticais, e o Novo
dicionário da língua
portuguesa, com os adjetivos de
nacionalidade para vários lu-
gares do Brasil; outro muito
conhecido e utilizado é (sem
dúvida) o Dicionário Aurélio
da língua portuguesa, o Auré-
lio. Nele eu já havia encontrado
a definição de caatinga, da
página 555 de Viva o povo
brasileiro. Nele também
descubro o que é madrijo (p.
110), sincopada (p. 419),
resvaladiço (p. 440), pressu-
rosa (p. 528) e outras palavras
que não conhecia,
DICIONÁRIO ETIMOLÒGICO
NOVA FRONTEIRA DA
LÍNGUA PORTUGUESA
DICIONÁRIO DIDÁTICO DE
PORTUGUÊS
Há palavras que são verdadei-
ros atalhos para mundos muito
interessantes. Nelas, eu gosto
de me deter e explorá-las em
profundidade. Para isso, conto
também com o auxílio de
outros dois instrumentos: o
Dicionário etimológico Nova
Fronteira da língua portuguesa
e o Dicionário didático de
português. O primeiro é muito
útil quando queremos saber a
origem de uma palavra. Por
exemplo: na página 11, o
alferes Brandão Galvão chama
mentalmente Gonçalves Ledo
de "traidor cobarde". Por que
"cobarde", e não "covarde"?
Todos os dicionários do Acervo
informam-nos apenas que essa
é
uma palavra de origem fran-
cesa. O Dicionário etimológico
vai rnais além: é uma palavra
de origem francesa, derivada
do latim, que data do século
XIV. "Cobarde" é uma variação
surgida no século XVII. Essa
pesquisa pode ser feita com to-
das as palavras consultadas no
Aurélio: caatinga é um vocábu-
lo de origem tupi ("kaa'tina"
significa "mato branco");
síncope, raiz de sincopada, vem
do francês derivado do latim,
derivado, por sua vez, do
grego.
O Dicionário didático presta-
me outra excelente ajuda: além
da definição do vocábulo,
encontramos nele a classe de
palavras à qual pertence, a
divisão silábica, o plural e
outras informações úteis.
Caatinga, por exemplo, es
explicada na página 161; sín-
cope, na página 856; e assim
por diante.
MODERNA GRAMÁTICA
PORTUGUESA
NOVA GRAMÁTICA DO
PORTUGUÊS
CONTEMPORÂNEO
Mergulhando mais e mais no
texto, quero compreender a
estrutura das palavras e a lin-
guagem empregada pelos
personagens. O que são classes
de palavras? Como se faz a
divisão silábica de um vocá-
bulo? E o plural, como é
construído? Encontro respos-
as para essas questões em
outro tipo de obra de referên-
cia: a gramática. Disponho
e duas: a Moderna gramática
portuguesa e a Nova gra-
mática do português contem-
porâneo. Nelas acho a expli-
cação para essas e para muitas
outras perguntas. No primeiro
livro, a segunda parte,
"Morfologia", é inteiramente
dedicada às classes de
palavras: suas definições,
classificações, utilizações e
flexões. A primeira parte tem
um capítulo com um item
sobre divisão silábica. Há
também uma parte que estuda
as concordâncias nominal e
verbal. Além disso, as
gramáticas são muito úteis
para entender a linguagem
empregada pelas personagens.
Um exemplo? Na página 68,
há um modelo de discurso di-
reto, quando Perilo Ambrosio
e o cônego D. Francisco
Manoel de Araújo Marques
conversam:
— Na verdade — disse Perilo
Ambrósio com a mão esten-
dida para fora —, estas terras
cá já são das minhas..."
O que caracteriza o discurso
direto, segundo a Nova gra-
mática do português contempo-
râneo, é a "ausência" do
narrador, que cede, por meio
do travessão e do verbo "di-
zer", a palavra à personagem.
Agora, vamos analisar outro
tipo de discurso, apresentado
na página 603, que descreve
uma refeição servida por Rita
Popó a Florisvaldo:
"Sentaram-se em dois outros
tamboretes e ele perguntou,
brandindo a colher de pau, se
podia servi-la. Não, não, ela o
serviria, a visita era ele, tinha
direito aos melhores pedaços,
se bem que tudo ali fosse do
bom e do melhor. (...) Ah,
como cheira bem! (...) Então,
minha cara Sá Rita, estamos
tendo um banquete de reis..."
Ainda de acordo com a Nova
gramática, esse tipo de discurso
aproxima narrador e per-
sonagem, como se falassem em
uníssono. Tem as características
do indireto (ausência de
travessão e de verbo de
enunciação), mas mantém o
estilo (pontuação, repetição,
etc.) do direto. E chamado
discurso indireto livre.
MANUAL DE REDAÇÃO
E ESTILO
Terminada minha expedição
pelo território de Viva o povo
brasileiro, quero escrever um
relatório que me ajude a re-
cordar o que aprendi no per-
curso. Neste momento, retiro
de minha mochila uma outra
ferramenta: um livro de
consulta rápida, muito útil para
dicas de redação, de con-
cordância, de utilização e de
ortografia das palavras, o
Manual de redação e estilo. É
uma síntese de diversas gra-
máticas e vários dicionários
que permite esclarecer de for-
ma simples algumas dúvidas
rnais comuns.
Em suma: reunindo o li-
vro a ser lido, qualquer
que seja ele, e as obras de
apoio, conseguimos reali-
zar uma viagem muito
rnais completa e concreta
pelos territórios-livros.
De uma história vamos a
outra, de uma enciclopé-
dia a um atlas, de um di-
cionário a outro... O co-
nhecimento aumenta, e o
interesse em adquiri-lo,
rnais ainda.
Capítulo 3
3.2. Sugestão de dinâmica
Objetivo Possibilitar aos professores familiarizar-se com as obras
Procedimentos
Fase I
Organize uma exposição das
obras do Acervo PNBE/98
utilizando carteiras ou mesas como
stands. Haverá quatro stands: no
primeiro ficam as obras de ficção-
prosa; no segundo, as de ficção-
poesia; no terceiro, as de não-
ficção; e no quarto, as obras de
referência (dicionários, atlas,
enciclopédias). Coloque cartazes
bem chamativos em cada stand.
Convide os professores a
visitarem o Planeta Acervo
PNBE/98 percorrendo os stands e
folheando os livros que rnais lhes
chamem a atenção. Cada docente
receberá uma folha em branco, na
qual poderá escrever os títulos de
livros de autores brasileiros que
considera importantes, mas que não
foram incluídos no Acervo
PNBE/98.
Recolha as folhas preenchidas pelos
participantes e apresente os novos
títulos por eles sugeridos para
compor o Acervo da Biblioteca,
indagando o porquê da indicação. Se
for oportuno, estimule a equipe a
levantar estratégias para adquiri-los.
Fase II
Divida os participantes er
grupos de no máximo dez pessoas.
Distribua ao grupo 1 cópia da
resenhas de ficção-prosa; ao grupo 2,
cópia das resenhas de ficção-po-esia;
ao grupo 3, cópia das resenha de não-
ficção. Se houver mais de três
grupos, o grupo 4 receberá também
cópia das resenhas de ficção-prosa; o
grupo 5, ficção-poesia, e assim por
diante.
1I
2
3
com os professores
de ficção, não-ficção e de referência disponíveis no Acervo PNBE/98
Soliate aos participantes que
leiam individualmente o material,
procurando identificar um livro que
lhe desperte curiosidade e sobre o
qual gostaria de saber rnais. Em
seguida, cada um falará sobre o livro
que escolheu e por quê. O grupo
poderá escolher então um ou dois
livros para explorar melhor, pegando
o volume na biblioteca.
Cada grupo irá criar uma
propaganda de televisão para
divulgar o seu livro aos outros grupos.
Os grupos podem usar toda sua
criatividade e materiais como revistas
velhas, papel crepom, panos, cola, te-
soura; devem estar disponíveis tam-
bém papel craft e pincéis atômicos.
0s grupos apresentarão as
propagandas dos livros selecio-
nados. Depois de cada apresentação,
os espectadores poderão fazer per-
guntas para obter rnais detalhes.
Fase III
Distribua a cada grupo cópias
de um trecho de um dos livros
que rnais tenha interessado aos
professores na Fase I (o mesmo
para todos os grupos). Peça aos
participantes que procurem
aprofundar-se no significado do
texto, com auxílio das obras de
referência. Cada grupo ficará com
materiais diferentes. Por exemplo,
o grupo 1 consultará a
enciclopédia; o grupo 2, o
dicionário; o grupo 3, o dicionário
etimológico, e assim por diante.
Solicite a um representante de
cada grupo que relate aos
outros o que a equipe descobriu
graças ao auxílio do material de
apoio.
4
5
6
7
8
Capítulo 4
Escolas em
viagem de leitura
O ato de ler não se esgota na decodificação pura da
palavra escrita ou da linguagem escrita, mas se antecipa
e se alonga na inteligência do mundo. A leitura do
mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior
leitura dessa não possa prescindir da continuidade da
leitura daquele.
Eunice continuou e aprofundou o trabalho de meus pais.
Com ela, a leitura da palavra, da frase, da sentença, jamais
significou uma ruptura com a "leitura" do mundo. Com
ela, a leitura da palavra foi a leitura da
"palavramundo".
Paulo Freire, A importância do ato de ler, Cortez Editora, 1983
Capítulo 4
4.1. Casos de boas escolas
Você, audaz livronauta que navegou conosco pelos capí-
tulos anteriores, com certeza conseguiu recolher algumas
informações básicas sobre o planeta Acervo PNBE/98.
Pôde identificar, em seus três continentes — Ficção-
Prosa, Ficção-Poesia e Não-Ficção —, territórios fascinan-
tes que apelaram à sua razão e à sua imaginação e talvez
tenha até selecionado alguns deles para visitar depois.
Vamos, então, propor rnais um desafio à sua argúcia.
Queremos apresentar-lhe oito escolas que estão
explorando com seus professores e alunos as galáxias da
leitura — incluindo-se aí os territórios do planeta Acervo
PNBE/98. Podemos adiantar-lhe que, embora situadas em
diferentes regiões do país e possuindo
públicas brasileiras
identidades muito próprias, todas têm em comum a
característica de considerar prioridade número um a
aprendizagem e o progresso de todos os alunos. Além
disso, estão profundamente enraizadas na realidade: são
leitoras do mundo, da comunidade à sua volta e
possibilitam aos alunos saírem do texto e mergulharem no
contexto.
O seu desafio é visitar virtualmente as oito escolas,
começando em Sergipe e terminando no Rio de Janeiro,
para descobrir outros recursos do planeta Acervo
PNBE/98, além dos já utilizados por essas unidades, que
poderiam ser mobilizados para fortalecer ainda rnais seu
projeto educacional. Bom trabalho!
Capítulo 4
Caso I Escola Estadual Julia Telles,
Aracaju, Sergipe
O Conjunto Jardim é uma comunidade
pobre, na periferia da cidade, com ruas
de terra, sem comércio, sem praças ou
locais de lazer, tachada de violenta
pelos meios de comunicação. Neste
local situa-se a "Julia Telles", uma
escola clara, bonita, cheia de verde,
onde se aposta na inteligência e na
criatividade dos alunos.
A diretora, Oswaldina Ribeiro da Cruz
Mello, só recentemente conseguiu
completar o quadro de professores
concursados de 5
a
a 8- séries. Os de I
a
a 4
a
séries possuem formação de nível
médio (curso de magistério). As
reuniões de planejamento são
semanais. Nesta escola, os professores
são estimulados a aprender uns com os
outros. Por exemplo, os professores de
5- a 8
a
séries organizaram uma oficina
para seus colegas de I
a
a 4
a
séries com
temas sugeridos por estes últimos:
Redação, Uso de Materiais
Pedagógicos e Cultura Popular.
A proposta pedagógica da escola
centra-se no fortalecimento da auto-
estima e da cultura da comunidade,
valorizando o talento dos alunos e o
dos moradores do bairro. A "Julia
Telles" é o pólo cultural mais im-
portante da comunidade, organizando
apresentações de danças típicas e
teatro, além da semana do folclore. Os
alunos de 5
a
a 8
a
séries têm a
oportunidade de expressar-se criando
literatura de cordel. Um deles, Adelmo
Bras Cordeiro Filho, 18 anos, terminou
a 8
a
série no ano passado, mas não
deixou a escola. Agora trabalha como
voluntário na escola, ajudando a
organizar os eventos artísticos e
culturais. Adelmo é autor de uma série
de livretos de cordel que foram
impressos peia escola. Atentos, os
professores também obsetvaram a
inclinação natural de outro aluno,
César da Silva, para a pintura. A escola
financiou-lhe as tintas. Hoje, aos 20
anos, ele já levou a comunidade às
páginas do jornal ao ganhar o segundo
lugar no Concurso de Pintura em Spray
— Brasil 500 anos, promovido peia
Prefeitura Municipal de Ilhéus, na
Bahia.
A biblioteca é utilizada pelos alunos
especialmente para pesquisas.
OUTRAS FORMAS DE UTILIZAR O ACERVO PNBE/98 EM FUNÇÃO PA PROPOSTA
PEDAGÓGICA DESTA ESCOLA
Nossas sugestões
Suas sugestões
1. Apresentar aos professores, nas
reuniões de estudo, o livro
Memória e sociedade
lembranças de velhos, de Ecléa
Bosi, no qual pessoas idosas
recuperam a história da cidade
de São Paulo. Quem sabe, a
partir daí, docentes e alunos não
poderiam desenvolver um
projeto de resgate da memória
da comunidade, entrevistando
os moradores mais velhos?
2. Promover a leitura coletiva, em
reuniões com os professores, do
livro Raízes do Brasil, de
Sérgio Buarque de Holanda,
chave para melhor se com-
preender a(s) cultura(s) do
nosso povo.
3. Sugerir a leitura e a recriação
pelos alunos, em cordel ou peça
de teatro, do enredo dos livros
Vidas secas, de Graci-liano
Ramos, e Auto da compadecida,
de Ariano Suassuna, em
trabalho envolvendo as áreas de
português, história, geografia e
artes.
Capítulo 4
Caso 2 Colégio Estadual Conselheiro
Zacarias, Curitiba, Paraná
A escola ocupa um belo prédio com
arquitetura típica do início do século
XX (foi construída em 1911),
encravado em um bairro central da
cidade e atende alunos de l
ã
a 8
ã
séries.
Tem pelo menos um ex-aluno e um
vizinho ilustres: o presidente Jânio
Quadros completou ali o antigo
primário, e a duas quadras fica a casa
do recluso escritor Dalton Trevisan,
criador do famosissimo O vampiro de
Curitiba, E mais: corno fica próxima a
um hospital-referencia no tratamento
de câncer, alguns de seus alunos são
pequenos grandes guerreiros: crianças
e adolescentes em luta contra a
doença.
Os 1.170 alunos, os 43 professores e a
equipe técnica formada por diretora,
diretora auxiliar e duas supervisoras
estão conseguindo nocautear o
fracasso escolar. "Mas os alunos
passam de ano porque aprendem",
assegura a diretora Waldecyr Simioni
Ursi, lembrando o ótimo desempenho
da escola na prova de Conhecimentos
Gerais da Gincana Interescolar
promovida peia Secretaria da
Educação. Os professores, em sua
maioria, têm curso de pós-graduação e
utilizam metodologias inspiradas no
construtivismo. Há reuniões
pedagógicas semanais.
A diretora resume assim a proposta
educacional da "Conselheiro Zaca-
rias": "Preparar os alunos para a vida".
E completa: "Aqui, todo munido tem
que 1er e escrever bem. Quem não lê
direito não consegue interpretar textos
e, portanto, não pode compreender os
conteúdos de matemática, história ou
ciências".
E por isso que o hábito de freqüentar a
biblioteca é cuidadosamente cultivado.
Os alunos retiram livros e,
quinzenalmente, vão trocá-los por
outros. Durante as aulas de português,
marca-se um dia para apresentar e
debater o que foi lido no período. Os
estudantes formam um círculo e, um a
um, fazem comentários sobre o tema e
sobre os personagens do livro que
leram e, principalmente, extraem da
leitura as mensagens ou lições que
podem incorporar à sua vida. Em
outras ocasiões, montam júris
simulados nos quais um personagem
literário é acusado ou defendido, ou, a
partir da leitura, criam peças de teatro,
uma iniciativa conjunta das áreas de
literatura, história e educação física.
As professoras'de português Tânia
Regina Machado e Ingeborg Pais
Chende costumam apresentar às
classes a lista de novos livros dispo-
níveis na biblioteca e recomendar aos
alunos adolescentes a leitura de obras
que dizem respeito às suas principais
necessidades e preocupa-
çges. Elas contam que uma grande
vitória da escola foi ter conseguido
eliminar os casos de gravidez precoce
— que antes eram corriqueiros —
graças a um projeto interdisciplinar de
longa duração, coordenado peia
professora de Ciências Lúcia
Machado Willeman. Temas como
sexualidade (namoro, virgindade,
prostituição, Aids) e drogas (álcool e
cigarro incluídos)
s
io trabalhados com
os alunos por meio de livros de
literatura juvenil,
como Uma luz no fim do túnel, de
Ganymedes José, Doce Manuela, de
Júlio J. Chiavenatto, Lento veneno, de
Raul Drawnik. Como a clientela é de
classe média, os alunos compram os
livros, que, ao final do ano, são doados
à biblioteca.
Os alunos das séries finais já se estão
familiarizando com alguns dos autores
destacados pelo Acervo PNBE/98,
como José de Alencar, Machado de
Assis e Graciliano Ramos.
UTRAS FORMAS DE UTILIZAR O ACERVO PNBE/98 EM FUNCAO ¡A
PROPOSTA PEDAGÓGICA DESTA ESCOLA
Nossas sugestões
1. Apresentar aos professores, em
reunião, as obras O vampiro de
Curitiba, de Dalton Trevisan,
escritor que mora vizinho à es-
cola, e Contos reunidos, de Ru-
bem Fonseca, e discutir até que
ponto alguns dos contos pode-
riam ser utilizados como ponto
de partida para a discussão do
tema sexualidade com os
adolescentes.
2. Propor aos professores de His-
tória e Português que leiam e
indiquem aos alunos A More-
ninha, de Joaquim Manuel de
Macedo, e Senhora, de José de
Alencar, para uma comparação
entre as formas de se cortejar e
seduzir no Brasil do século
XIX e hoje.
Caso 3 Escola Estadual Xavier da Silva,
Curitiba, Paraná
Como a "Conselheiro Zacarias", esta
escola também foi construída no início
do século passado, e, em suas salas
amplas, de paredes altas, estudam
1.870 alunos, muitos deles prove-
nientes de uma favela próxima, Ca-
pinam, a maior da cidade. Oferece en-
sino fundamental, ensino médio e cur-
so supletivo. As salas de aula formam
um quadrado, no centro do qual há um
agradável pátio interno, com árvores
rodeadas por bancos circulares.
Os professores são todos habilitados,
com exceção de um, que ainda é es-
tudante universitário. Os docentes de
I
a
a 4- séries reúnem-se semanalmente,
mas os de 5- a 8- séries e os do ensino
médio apenas uma vez por bimestre.
A proposta pedagógica da escola é
oferecer aos alunos oportunidades de
construir conhecimentos e cidadania
por meio do desenvolvimento de
projetos nos quais problemas con-
cretos possam ser enfrentados.
Dentre diversos projetos já imple-
mentados, destaca-se o de Educação
para Valores. O objetivo era desen-
volver nos alunos das séries iniciais
atitudes de solidariedade e compre-
ensão mútua, contribuindo para
incrementar a aprendizagem da con-
vivência. A leitura de livros como A
borboleta dourada, A tartaruga infeliz
e A lebre fanfarrona foi o elemento
deflagrador deste projeto, que incluiu
atividades de teatro, artes plásticas e a
redação de uma história coletiva.
Já o projeto Escritores do Amanhã
incluiu professores e alunos de 5-série
em diante. Por meio dele, docentes de
todas as áreas puderam experimentar
em sala de aula, entre outras
estratégias, algumas dinâmicas que
motivam e orientam os alunos a 1er
com compreensão qualquer tipo de
texto e a expressar com clareza suas
idéias.
Embora a biblioteca da escola esteja
interditada para reforma, alguns
docentes continuam utilizando os li-
vros de literatura como um recurso
pedagógico. Por exemplo, o livro O
vampiro que descobriu o Brasil, de
Ivan Jaf, foi utilizado de forma inte-
grada por professores de português,
história e geografia para explorar
questões relativas ao Descobrimento
do Brasil e às diferenças entre fato e
ficção. Os alunos do ensino médio já
leram algumas obras do Acer-
vo PNBE/98, como as de José de círculo, debatem suas impressões.
Alencar e Machado de Assis. Os pro- "Nossa luta é seduzir rnais professores
fessores indicam os livros, oferecem a utilizarem os livros da biblioteca em
um roteiro de análise para orientar suas aulas", dizem a coordenadora Cléa
a leitura e depois os alunos, em e o diretor Arnaldo M. Matos.
OUTRAS FORMAS DE UTILIZAR O ACERVO PNBE/98 EM FUNÇÃO DA
PROPOSTA PEDAGÓGICA DESTA ESCOLA
Nossas sugestões
Apresentar aos professores as
Antologias poéticas de Carlos
Drummond, Cecília Meireles,
Vinícius de Moraes, Mario
Quintana, e mais A educação
pela pedra e depois, de João
Cabral de Mello Neto. Convidá-
los a selecionar, de cada autor,
um poema que tenha a ver com
os valores que estão sendo
trabalhados com os alunos,
como solidariedade, diálogo,
compreensão mútua. Verificar a
possibilidade de desenvolver,
com os alunos, um projeto que
envolva a reescrita desses
poemas e a sua "tradução" em
outras linguagens, como pintura,
colagem ou música.
Capítulo 4
Caso 4 Escola Municipal Brígida Ferraz, Foz,
Campo Grande, MS
Ocupando um predio terreo acolhedor
e bem cuidado, a escola é fre-qüentada
por oitocentos alunos de lª a 8ª séries,
pertencentes a famílias de classe
média baixa. Muitos pais freqüentam o
curso supletivo noturno. Os trinta
professores são apoiados por uma
equipe técnica formada por diretora,
diretora-adjunta, supervisora
pedagógica e dois encarregados da
biblioteca. Todos os docentes têm
curso universitário e são habilitados
para as áreas nas quais lecionam. Há
reuniões semanais por série e por área.
Segundo a diretora Cleonice, a pro-
posta pedagógica da escola prioriza
um ensino eficaz, de qualidade, que
propicie a todos os alunos, sem ex-
ceção, aprendizagem e progresso.
Dentro dessa proposta, diz a
supervisora Márcia Fabiano, a leitura
é entendida como a base para a
compreensão do mundo.
Para cultivar o prazer de 1er, os pro-
fessores indicam aos alunos livros
com temas do interesse deles — por
exemplo, para os adolescentes, his-
tórias de amor. Os estudantes de 5-a 8
a
séries devem ler no mínimo quatro
livros por ano, cujo conteúdo é
debatido coletivamente. Todos os
alunos são incentivados a freqüentar a
biblioteca, onde contam com a
orientação dos encarregados.
Estão em boas mãos. José Amaury, o
responsável pela biblioteca nos
períodos da tarde e da noite, é um
leitor apaixonado, aluno da Faculdade
de Letras. "Leio o que gosto", diz. E
revela que seu livro predileto é uma
das obras de Guimarães Rosa contida
no Acervo PNBE/98, Grande sertão:
veredas. Por iniciativa própria,
Amaury desenvolve um projeto com
os jovens e os adultos que estão
aprendendo a 1er no supletivo
noturno. Ele leva livrinhos de lite-
ratura infantil a esses alunos. "Livros
grandes, para adultos, os
desestimulariam", diz.
OUTRAS FORMAS DE UTILIZAR O ACERVO PNBE/98 EM FUNÇÃO DA
PROPOSTA PEDAGÓGICA DESTA ESCOLA
Nossas sugestões
1. Propor aos professores que
sugiram aos alunos de 6
a
série
em diante e que gostam de 1er
que apresentem aos seus
colegas jovens e adultos
alfabetizandos resumos dos
livros do Acervo PNBE/98 que
podem ser de seu interesse,
como A morte e a morte de
Quíncas Berro D'Agua, de
Jorge Amado, O coronel e o
lobisomem, de José Cândido de
Carvalho, A madona de cedro,
de Antonio Callado, o
Encontro marcado de
Fernando Sabino.
2. Apresentar aos professores o
livro sica popular, de José
Ramos Tinhorão, inspirandoos
a desenvolver um projeto
interdisciplinar de pesquisa
sobre a origem de músicas tí-
picas da região.
Capítulo 4
Caso 5 Escola Municipal Marina Couto
Fortes, Campo Grande, MS
Com 1.153 alunos, de a 8
a
séries, e
41 professores, a escola aten-de a u,ma
comunidade pobre, e sua proposta
pedagógica prevê um grande
investimento no aperfeiçoamento
constante dos docentes para que
possam oferecer um ensino cada vez
melhor aos alunos. A equipe técnica é
formada por diretora, diretora-adjunta,
supervisora e encarregada da
biblioteca.
Os professores têm quatro horas se-
manais de planejamento. Uma vez por
mês, eles se reúnem para estudar
juntos. Dentre os pontos da agenda:
Parâmetros Curriculares e Avaliação.
Em sábados alternados, os que
trabalham no período noturno se
encontram para essas sessões de
estudo.
A diretora, Maria Terezinha Castelli,
conta que, utilizando recursos do
programa Plano de Desenvolvimento
da Escola, patrocinado pelo Ministério
da Educação/Fundescola, a equipe
contratou a consultoria de uma
especialista — que também as-
sessora a renomada Escola da Vila, em
São Paulo — para capacitar as
professoras alfabetizadoras. Além
disso, adquiriu 106 títulos, escolhidos
com a ajuda dos professores, para a
sua biblioteca especializada, incluindo
metodologia das diferentes disciplinas,
filosofia educacional, avaliação e
direitos de cidadania. Esse acervo foi
apresentado aos docentes, que vão
escolher os livros que desejam 1er e
depois comentá-los na reunião.
A biblioteca é um espaço do qual os
alunos já se apoderaram. Eles têm dias
certos para retirar e devolver os livros.
Os das séries rnais adiantadas adoram
a série Vagalume, de literatura
infanto-juvenil, e usam bastante a
enciclopédia em suas pesquisas. Os
professores também costumam retirar
livros em quantidade suficiente para
toda a turma e levá-los para serem
lidos em classe. Mas a biblioteca não
serve apenas ao pessoal da escola.
Pessoas da comunidade e alunos de
outras escolas costumam freqüentá-la.
OUTRAS FORMAS DE UTILIZAR O ACERVO PNBE/98 EM FUNÇÃO DA
PROPOSTA PEDAGÓGICA DESTA ESCOLA
Nossas sugestões
1. Apresentar aos professores os
livros do Acervo PNBE/98 e
pedir que cada um escolha o
que rnais o atraiu, com o com-
promisso de, ao final do
bimestre, resumi-lo para os
colegas.
2. Debater, com os professores, o
livro Arquitetura brasileira, de
Carlos A. C. Lemos, moti-
vando-os a desenvolver proje-
tos de recuperação da memória
urbanística da cidade ou do
bairro.
Caso 6 Escola Estadual Thomé de
Medeiros Raposo, Manaus, AM
A escola funciona em um prédio bo-
nito, bem conservado, com uma
enorme quadra de esportes anexa,
atende a 1.531 alunos de 1ª a 8ª séries,
tem 39 professores e uma equipe
técnica formada por diretor,
supervisora, coordenadora pedagógica,
encarregada da sala de leitura e
encarregada da sala de vídeo. Pais e
mães da maioria dos alunos trabalham
como feirantes, camelôs, portuários,
domésticos, garçons, e há uma minoria
de funcionários, professores e
comerciantes.
A proposta pedagógica da escola está
sintetizada no seu mote, escrito em um
cartaz logo na entrada: "Escola
Thomé: uma organização que visa
garantir o pleno desenvolvimento do
aluno". O diretor Augusto afirma que
a missão dos educadores da "Thomé"
é formar cidadãos em sua plenitude,
capazes de vivenciar valores como
solidariedade e respeito mútuo, em
parceria com a comunidade.
Os professores são habilitados para as
áreas que lecionam, com exceção de
um, que ainda é estudante. Há
reuniões mensais de planejamento.
A interação com a comunidade é uma
das forças da escola. Todos os
recursos são mobilizados em função
dos alunos. Assim, o Centro Social
oferece aulas de reforço, e o Posto de
Saúde, semanalmente, faz a avaliação
física de grupos de crianças e jovens.
Religiosos de diferentes igrejas são
convidados a conversar com os alunos
sobre valores e atitudes éticas. Em
retribuição, a escola apresenta-se à
comunidade como um bem público
que deve ser usufruído por todos. A
quadra é aberta para que adultos e
pessoas da terceira idade possam
praticar esportes. A Associação dos
Soropositivos do Amazonas enviou
representante para dialogar com os
alunos sobre como prevenir a Aids, e,
a partir daí, uma equipe de voluntários
formou-se, para apoiar os doentes.
Mas uma das trocas rnais emocio-
nantes foi a que se estabeleceu entre a
escola e membros da tribo Saterê-
Mauê, que habitam uma invasão
próxima e em geral são vítimas de
discriminação. Os índios — alguns
deles pais e mães de alunos —
construíram uma oca no terreno da
escola, expuseram seu artesanato e
compartilharam com as crianças, os
adolescentes, os pais e os professores
alguns de seus rituais, como a dança à
roda da fogueira.
E a biblioteca nisso tudo? Segundo a
encarregada Marcionícia Bessa da
Silva, a biblioteca é mais um espaço
onde se desenvolve nos alunos o gosto
pela leitura dos livros e da vida. Ela
participa das reuniões de professores e
divulga os títulos dis-
poníveis. Muitos docentes colocam
livros em caixas e levam até a sala de
aula. Se por algum motivo a biblioteca
não abre, todo mundo reclama.
OUTRAS FORMAS DE UTILIZAR O ACERVO PNBE/98 EM FUNÇÃO DA
PROPOSTA PEDAGÓGICA DESTA ESCOLA
Nossas sugestões
1. Apresentar aos professores os
livros Diários índios, de Darcy
Ribeiro, e Quarup, de Antonio
Callado, propor que alguns
interessados os leiam e apre-
sentem aos colegas, como for-
ma de melhor compreender as
raízes indígenas dos alunos e
membros da comunidade.
2. Propor aos professores de
português, história e artes a
montagem de uma peça de
teatro ou dança a partir do livro
Cobra Norato, de Raul Bopp,
cujo tema é uma lenda do
Amazonas.
Capítulo 4
Caso 7 Escola Municipal Conde de
Agrolongo, Rio de Janeiro, RJ
Os 1.460 alunos, do jardim da infância
à 8
a
série, são atendidos por setenta
professores e por uma equipe técnica
formada por diretora, diretora-adjunta,
coordenadora pedagógica e
professores regentes de sala de leitura.
Grande parte das famílias mora nos
Morros de Caixa Alta e do Cerro e no
Complexo do Alemão, lugares com
infra-estrutura urbana deficiente, onde
as pessoas têm de acordar mais cedo
para buscar água e às vezes não
conseguem "porque os malandros não
deixam".
Os docentes têm reuniões semanais
nas quais discutem textos e assistem a
vídeos sobre os temas que rnais os
preocupam, como Avaliação.
Dentre as prioridades da proposta pe-
dagógica da escola está oferecer aos alu-
nos condições de desenvolver as com-
petências necessárias para se inserir e
permanecer no mercado de trabalho.
Em 1999, todos os professores uni-
ram-se para desenvolver o projeto
Brasil 500 Anos, Rumo ao Terceiro
Milênio, que foi abordado sob dife-
rentes perspectivas, de acordo com as
áreas e as séries, resultando em
produtos muito interessantes. Em
história, por exemplo, os alunos
montaram uma peça na qual apre-
sentaram o julgamento da Coloni-
zação. Em ciências, fizeram um le-
vantamento das plantas e dos pro-
cedimentos usados na medicina
popular. Em português, colecionaram
mitos indígenas e histórias do nosso
folclore. Em educação física e artes,
resgataram antigas brincadeiras de
roda e organizaram um festival de
pipas.
A equipe técnica separou os livros da
biblioteca que poderiam subsidiar a
implementação do projeto e os
colocou à disposição dos docentes e
dos alunos, como, por exemplo,
Plantas que curam, Fábulas in-
dígenas, Didática e folclore, além de
obras de História do Brasil.
Marilza Brandão Pires, responsável
pela sala de leitura, conta que os pro-
fessores costumam retirar livros para
trabalhar em sala de aula. Quando os
alunos vêm até a sala de leitura,
procura criar uma atmosfera mágica
que desperte neles o gosto pelos
livros. Ela conta histórias e também lê
alguns livros em voz alta, inter-
rompendo a leitura de vez em quando
para que eles, os alunos, discutam e
dêem a sua opinião. A sala de leitura
da "Conde" é um espaço de animação
cultural, de onde se impulsiona uma
série de atividades, como a gravação e
a divulgação dos vídeos da TV Escola,
a elaboração,
pelos alunos, do jornal Planeta do
Conde, a organização de festivais de
música e de poesia. Vanessa Gregório,
da série, teve um de seus trabalhos
publicados no livro Com a palavra...
os poetas, uma antologia de poemas de
alunos da rede municipal de educação
do Rio de Janeiro.
OUTRAS FORMAS DE UTILIZAR O ACERVO PNBE/98 EM FUNCAO DA
PROPOSTA PEDAGÓGICA DESTA ESCOLA
Nossas sugestões
Propor aos professores a leitura
conjunta e a discussão dos livros
Casa-grande e senzala e
Sobrados e mocambos, de Gilber-
to Freyre, para um mergulho nas
origens da nossa sociedade e
para uma compreensão rnais
aprofundada das desigualdades
sociais que se refletem na clien-
tela da escola.
Caso 8 Instituto de Educação Sarah
Kubitschek, Rio de Janeiro, RJ
Os edifícios que compõem o Instituto
abrigam 7 mil alunos — uma
população maior que a de muitos
municípios brasileiros. A maioria é de
classe média, mas também
moradores de favelas próximas. O
Instituto oferece ensino fundamental,
ensino médio e magistério. Há
trezentos professores, e a equipe
técnica que gerencia esse universo é
formada por dois diretores (um do
ensino fundamental e outro do médio),
dois dire-tores-adjuntos, três
orientadores, um coordenador só para
o ensino médio, uma encarregada de
sala de leitura e dois animadores
culturais que também atuam na sala de
leitura como contadores de histórias,
organizadores de teatro de fantoches e
coordenadores da elaboração do jornal
da escola.
E a única escola da região onde existe
curso de magistério, por isso a
procura é muito grande. Em 1999, 44
turmas de novos professores for-
maram-se no "Sarah". Mas, segundo a
diretora-adjunta Gilda Francisco de
Oliveira Silva, poucos pretendem
seguir a carreira.
A leitura é incentivada por meio da
montagem de peças teatrais que exi-
gem pesquisa em diferentes livros para
sua preparação e nas quais se integram
várias disciplinas, tais como História,
Português e Artes.
A biblioteca é bem freqüentada pelos
alunos, e é possível notar que algumas
obras do Acervo PNBE/98 são muito
retiradas. É o caso de A madona de
cedro, de Antonio Calado, A
Moreninha, de Joaquim Manuel de
Macedo, Auto da Compadecida, de
Ariano Suassuna, Capitães de areia,
de Jorge Amado, e Memorial de Maria
Moura, de Rachel de Queiroz.
OUTRAS FORMAS DE UTILIZAR O ACERVO PNBE/98 EM FUNÇÃO DA
PROPOSTA PEDAGÓGICA DESTA ESCOLA
Nossas sugestões
1. Propor aos animadores cul-
turais a formação de conta-
dores de histórias, escolhidos
entre alunos voluntários, que
poderiam apresentar-se nas
salas de aula, despertando nos
colegas a vontade de 1er.
2. Propor aos professores do
curso de magistério a leitura
de A normalista, de Adolfo
Caminha, comparando o que
mudou e o que permanece, do
século XIX para cá, em
termos do perfil e das preo-
cupações do estudante de
magistério, bem como dos
recursos disponíveis para sua
formação.
4.2. Sugestão de dinâmica
Objetivo Oferecer aos professores a oportunidade de trocar do Acervo
PNBE/98 da biblioteca da escola, sua relação com os
livros e sobre o tipo de leitura
Procedimento
Divida os professores em oito grupos. Dê a cada grupo
a cópia do caso de uma escola (sem o quadro "Nossas
sugestões"). Peça que, em grupo, levantem os livros e
as obras de referência presentes no Acervo PNBE/98
que poderiam ser utilizados para incrementar o trabalho
daquelas unidades e/ ou outras atividades que poderiam
ser realizadas para estimular o gosto pela leitura entre a
equipe escolar e os alunos.
com os professores
idéias sobre formas possíveis de se utilizar as obras
oferecendo-lhes a oportunidade de dialogar sobre que
preferem.
Chame um representante de cada grupo para
expor as idéias que surgiram. Complemente com
as contidas no item "Outras formas de utilizar o
Acervo PNBE/98 em função da proposta peda-
gógica desta escola — Nossas sugestões".
2
Capítulo 5
Como colocar o
planeta Acervo
PNBE/98 na órbita da
proposta pedagógica
de sua escola: Plano
de Ação
Agradecemos a colaboração de Boudewijn vanVelzen do Centro Nacional pelo
Aperfeiçoamento das Escolas (APS), Utrecht, Holanda, e Claudia Ceccon, do Centro de
Criação de Imagem Popular (Cecip), Rio de Janeiro, RJ.
Capítulo 5
Se você nos acompanhou até
aqui, pode ser que esteja com
vontade de começar a explorar,
com seus professores, as possi-
bilidades do Acervo PNBE/98
como mais uma ferramenta de
aperfeiçoamento profissional e
humano e de fortalecimento da
proposta educacional de sua
unidade.
Já apresentamos, nos capítulos
anteriores, sugestões de al-
gumas dinâmicas que podem
ser adaptadas e utilizadas pela
liderança educacional da escola
em reuniões com os docentes,
visando a sensibilizá-
los para que percebam suas
próprias características como
leitores e a motivá-los a 1er
algumas das obras do Acervo
PNBE/98.
Mas... como realizar progres-
sos, passo a passo, de forma
inteligente, rumo à ampliação
das oportunidades oferecidas
aos professores de se exercita-
rem como leitores, capazes não
só de utilizar os livros em fun-
ção da proposta pedagógica que
implementam, mas tamm de
perceber na leitura uma forma
de felicidade e de crescimento
pessoal?
O caminho para se enfrentar
este e outros desafios com que
uma escola depara como or-
ganização que aprende passa
pelo planejamento de ações,
realizado de forma coletiva,
com envolvimento de todos os
interessados.
UM EXEMPLO
Uma escola fictícia, "Alberto
Caieiro", tem por missão
"Possibilitar que todos os
alunos aprendam a ser, a
conviver, a fazer e a aprender
sem cessar, investindo no
aperfeiçoamento humano e
Um Plano de Ação
MAR será capaz de
colocar a equipe em
movimento rumo à
rneta desejada, pois
se caracteriza por
ser...
Realista
O reconhecimento das
condições existentes determina
se um plano é realista ou não.
Por exemplo, seria um absurdo
elaborar um plano visando
apresentar o Acervo PNBE/ 98
aos professores sem saber ao
certo se os livros chegaram à
escola. Ou, ainda, pretender
que, em dois meses, todos os
professores lessem sessenta
livros do acervo.
Especifico
Tanto o objetivo como as
etapas para se chegar a ele
devem ser concretos e
específicos. Com isso, os
profissionais vão ter bem
claro o que precisam fazer
para chegar onde pretendem.
profissional dos docentes e na
interação constante com a
comunidade". A equipe técnica
desta escola, no entanto,
identifica, dentre os problemas
que representam um obstáculo
à realização da missão, o
seguinte: 90% dos professores
da escola não estão
suficientemente informados
sobre o conteúdo do Acervo
PNBE/98 e, portanto, não
podem aproveitá-lo, seja para
seu uso pessoal, seja como
recurso pedagógico.
Para enfrentar esse problema,
diretor, diretor-adjunto,
"Informar os professores sobre
o conteúdo do Acervo PNBE/
98 por meio de três oficinas de
quatro horas cada, permitindo
que identifiquem pelo menos
três obras que lhe interessem
como pessoas ou profissionais
e possam selecionar uma delas
para leitura, comprometendo-se
a compartilhar o que leram com
os colegas dentro de um mês."
O acróstico REMAR diz muito
sobre a essência dessa
abordagem de planejamento
para a ação. Afinal, na escola
estamos todos no mesmo barco.
Temos de nos apoiar
mutuamente e remar na mesma
direção se quisermos sair do
lugar.
Mensurável
As etapas rumo à realização
do objetivo devem ser
descritas de tal forma que
possam ser monitoradas,
"medindo-se" até que ponto
cada uma delas está sendo
realizada.
traente
O Plano de Ação torna-se
atraente quando focaliza
atividades que os
profissionais desempenham
e é elaborado pelas pessoas
que vão colocá-lo em prática.
Os profissionais precisam
sentir que o plano é deles.
Realizado a tempo
Um plano depende
fundamentalmente da sua
credibilidade. Se uma
etapa não for completada a
tempo, os passos
seguintes não podem ser
realizados. Qualquer plano
falha se não houver um
cronograma claro e se este
não for levado a sério.
coordenador pedagógico e Em seguida, é preciso traçar
encarregados da biblioteca um Plano de Ação (veja o
formulam um objetivo es- quadro abaixo) que indique
pecífico voltado à sua reso- claramente como alcançar, a
lução: curto prazo, esse objetivo.
Capítulo 5
O Plano de Ação da equipe da
"Alberto Caieiro", portanto, terá
grandes chances de atingir seu ob-
jetivo se:
Envolver, na sua elaboração, as
pessoas que irão implementá-lo.
• Registrar, por meio de palavras-
chave, a missão da instituição
(síntese de sua proposta educa-
cional, que exprime a identidade
da escola), explicitando o norte
de todas as ações.
• Tendo em vista a missão da ins-
tituição, determinar e delimitar
com clareza o objetivo que será
trabalhado.
• Descrever o que será feito — as
atividades/etapas necessárias
para alcançar o objetivo. E es-
sencial que as atividades sejam
descritas de forma concreta, ou
corre-se o risco de não ir além
de boas intenções.
Colocar as atividades/etapas em
uma ordem lógica.
Indicar quem deverá executar as
atividades.
Indicar quando cada uma das ati-
vidades será realizada, garantin-
do sua execução dentro do espa-
ço de tempo de que se dispõe.
Indicar como cada uma das
atividades será realizada, ex-
plicitando os recursos necessá-
rios (financeiros e/ou materiais).
• Descrever os indicadores de êxi-
to, ou seja, o que será realizado
ao final de cada atividade e ao fi-
nal do plano, se tudo der certo.
Veja como, depois de discutir cada
etapa, a equipe técnica da "Alberto
Caieiro" formatou o seu Plano de
Ação (vide p. 144).
Implementar planos de ação co-
letivamente elaborados é uma for-
ma de melhorar a escola, aperfei-
çoando o desempenho de seus
profissionais. Planos de ação unem
a equipe em torno de objetivos
realizáveis, aumentando seu
poder de analisar e resolver pro-
blemas com autonomia. Permitem
avaliar ou rever o trabalho
efetuado durante a realização das
ações e ao final delas. Possibilitam
celebrar sucessos e motivam o
grupo a seguir adiante, transfor-
mando gradativamente em reali-
dade a missão da escola.
Depois de elaborar e executar o
Plano de Ação REMAR com a
equipe técnica, experimente fazer o
mesmo com o grupo de profes-
sores, a partir de um objetivo por
eles levantado. Pode ser, por
exemplo, organizar um concurso
de poesia na escola, com temas da
história brasileira, utilizando como
subsídio alguns livros do Acervo
PNBE/98, ou criar um círculo de
leitura para professores, ou...
E lembre-se:
O fator rnais importante para o real
aperfeiçoamento de uma instituição
educacional é o diálogo constante entre a
liderança educacional da escola e os
professores, tendo como foco o trabalho
pedagógico, voltado à aprendizagem de
todos. Planos de Ação específicos
representam um poderoso aliado para que a
equipe empreenda passos sistemáticos rumo
à melhoria da qualidade da educação,
incluindo-se aí incrementar a competência
de todos como leitores de livros e leitores
do mundo.
Capítulo S
Plano de
Ação
O QUÊ
COMO
Procedimentos
TEMA
Leitura/professores
MISSÃO DA
INSTITUIÇÃO
(síntese, em palavras-chave)
Aprender a ser, conviver,
fazer, conhecer;
aperfeiçoamento docente;
interação com a comunidade.
OBJETIVO
Informar os professores sobre
o conteúdo do Acervo
PNBE/98, por meio de três
oficinas de quatro horas cada,
permitindo que identifiquem
pelo menos três obras que
lhes interessem como pessoas
ou profissionais a fim de
selecionar uma delas para
leitura, comprometendo-se a
compartilhar o que leram com
os colegas dentro de um mês.
I. Separar os livros do
Acervo PNBE/98
2. Motivar os
professores
3. Definir os horários
das oficinas
4. Preparar os
materiais de apoio
5. Preparar as
dinâmicas das
oficinas
Levantamento dos livros do Acervo
PNBE/98 existentes na biblioteca
com ajuda da listagem dos mesmos
publicada no Diário Oficial,
colocando-os no local das oficinas
separados por gênero literário
Conversa na hora dos intervalos,
em grupo e individualmente,
perguntando: Você gostaria de ter
tempo para ler mais? Por quê?
Levantamento com os professores
dos melhores dias e horários
Elaboração de agenda, folhas-tarefa,
folhas de avaliação e cartazes
Estudo e adaptação das dinâmicas
propostas no livro Guia do livronauta
INDICADORES DE
ÊXITO
I .Ao final da oficina, todos os
participantes selecionaram
três livros que gostariam de
ler.
2. Um mês depois da
realização das oficinas, 60%
dos participantes
compartilham com os
colegas o resumo de um
livro do Acervo PNBE/98.
6. Organizar o local
das oficinas
7. Realizar as oficinas
Preparação do local, dispondo as carteiras
em U, colocando um quadro-negro ou
flipchart em local visível e montando a
exposição de livros do Acervo
Aplicação das dinâmicas previamente
preparadas
QUEM QUANDO
I
NDICADORES
B
Relação das obras do
Acervo fornecida pela
Secretaria de
Educação; fita crepe,
cartazes, papel
crepom
Encarregado da
biblioteca,
coordenador
pedagógico
13/6
Os livros do Acervo estão separados
em ficção-prosa, ficção-poesia e
não-ficção e expostos de forma
atrativa na sala onde serão
realizadas as oficinas
Cartazes
anunciando a
oficina e abrindo
inscrições
Diretora
13 a 16/6
90% dos professores terão
expresso expectativas em
relação à leitura e 70% terão
feito inscrição para as oficinas
Tabela com nomes
de professores, dias
e horários
Diretora-adjunta
13 a 16/6
Os dias escolhidos para as oficinas
são compatíveis com a disponibi-
lidade de 100% dos inscritos
Papel, cópias
Diretora, diretora-
adjunta.encarregado
da biblioteca,
coordenador
pedagógico
17 a 21/3
Folhas-tarefa, folhas de avaliação,
agenda e cartazes prontos
Livro Guia do
livronauta
Diretora,
encarregado da
biblioteca,
coordenador
pedagógico
22 a 27/3
Os profissionais são capazes de
apresentar cada dinâmica de
forma clara, em "ensaio" prévio
Todos os livros do
Acervo
Diretora-adjunta,
encarregado da
biblioteca
28/3
Foto da sala mostra carteiras
dispostas em U, quadro-negro ou
flipchart bem visível e livros
expostos
Folhas-tarefa,
livros do Acervo
PNBE/98, papel
manilha, pincéis
atômicos
Diretora,
encarregado
da biblioteca,
coordenador
pedagógico
31/3, 7 e 8/4
Participação de 90% dos inscritos
em todas as oficinas
80% dos participantes avaliam as
oficinas como "ótimas" ou "boas"
Conclusão
Como nascem
os livro nautas
Caro leitor, cara leitora, aqui termina um livro que pode ser
o começo de novas e instigantes historias.
Ele foi escrito por um grupo de "livronautas", uns mais
jovens, outros já maduros, todos irremediavelmente
engajados em viagens pelos continentes da Ficção-Pro-sa,
da Ficção-Poesia e da Não-Ficção, de onde trazem tesouros
sem conta para sua casa — a realidade.
Um desejo uniu esta equipe: o de que todos os professores,
todos os alunos brasileiros e seus pais possam também
experimentar o prazer sem fim que é despertar os gênios
encantados nas páginas dos livros e voar com eles para
além dos limites do horizonte cotidiano.
Talvez você também compartilhe desse desejo. Como
liderança educacional, tem as condições que nos faltam para
realizá-lo, motivando docentes, alunos e comunidade a
abrirem os portões da biblioteca para explorar suas galáxias,
percorrerem seus planetas e territórios. Você e sua equipe
podem escrever uma nova "história de leitura" na escola.
Por isso lhe somos gratos, e despedimo-nos,
compartilhando um segredo: como nos tornamos
livronautas e que alegrias tiramos disso.
Carla Saukas
Jornalista pela PUC-SP, licenciada em
Letras pela USP
O meu contato com livros não co-
meçou propriamente em momento
algum: nasci no meio deles, essa é que
é a verdade. Na minha casa, tinha
livros pra todo lado: na sala, nos
quartos, muitas vezes empilhados na
mesa da cozinha e até no banheiro.
Livros sempre foram uma mania de
família.
Éramos três filhos. Lembro-me das
noites em que minha mãe sentava com
a gente para contar histórias de fadas:
volumes enormes, ilustrados com
aqueles desenhos tão bonitos. Mais
tarde, quando aprendi a 1er, nunca
perdi o gosto pelas histórias infantis.
Peter Pan, Alice no País das
Maravilhas e a coleção dos irmãos
Grimm ainda têm destaque na minha
biblioteca, bem como A fada
que tinha idéias e A bolsa amarela,
que encantaram a minha infância.
Esses dois últimos foram lidos na
escola, no primário: em cada classe,
havia uma pequena biblioteca e, todos
os dias, vinte minutos para leitura. As
crianças sentavam-se como queriam e
liam o que escolhessem.
Ser livronauta sempre me trouxe
benefícios: nunca tive problemas com
redação, por exemplo, a grande praga
do vestibular. Existem outras
vantagens, e muitas.
Primeiro, um leitor nunca se sente
solitário. Está sempre em boa com-
panhia.
Segundo, livro é uma opção barata de
lazer, nos tempos de hoje, em que
ninguém está para gastar dinheiro a
toda hora. E é uma ótima maneira de
viajar sem sair do lugar. Não apenas
por lugares, mas também por épocas!
Terceiro: para os tímidos, a melhor
estratégia. Vá à praia e paquere
disfarçadamente, olhando por cima do
volume. Além de tudo, tem o charme
intelectual, ou vocês pensam que leitor
não é chegado nessas coisas?
Edleuza Ferreira da Silva
Licenciada em Letras pela USP
Enquanto minha mãe não precisou
trabalhar fora, contava-me histórias:
Os três Porquinhos, Branca de Neve,
A bela adormecida. Depois de
alfabetizada, 1er tornou-se minha
diversão predileta, principalmente
quando chovia ou quando brigava com
a única amiga de infância e não tinha
com quem brincar.
Livros, tinha quase nada. Lia os gibis
dos primos rnais velhos e as
fotonovelas. Estas às escondidas,
porque minha mãe as proibia.
Na escola pública, as professoras do
primário faziam trava-línguas,
teatrinhos, jograis... Na 5ª série,
ainda pública, o professor de Por-
tuguês me fez odiar a leitura de A
pata da gazela, de José de Alencar,
não pela trama, mas pelo resumo
que era obrigada a fazer e não
sabia como, por mais que ele
explicasse.
Este mesmo professor incentivava
muito o teatro, e então, aos 12
anos, eu transformava partes
narradas dos textos de Monteiro
Lobato em diálogos. Dirigia, es-
colhia os atores e organizava, so-
zinha, a peça de encerramento do
ano. Era um sucesso na escola!
Aquele professor de língua por-
tuguesa foi determinante, por seus
erros e acertos, para que eu me
tornasse uma livronauta. Hoje eu
sei.
A leitura prazerosa foi arquivada
durante o restante do meu colegial.
Passei a amá-la novamente quando
decidi ser professora e entrei no
curso de Letras da Universidade de
São Paulo. Então, a paixão pela
leitura reacendeu e hoje procuro
"chamuscar" todos à minha volta...
Fabiana Pino
Licenciada em Letras pela USP
Mal saíra das fraldas e já andava pela
casa carregando um livro de fábulas e
atormentando minha mãe: "Tonta
histolinha, tonta!". Eu aprendia as
histórias de cor e não admitia que, na
leitura, nada fosse alterado ou
omitido.
A escola, depois, iria me colocar de
sobreaviso contra os livros. Somente
ao entrar na faculdade de Letras é que
me desarmei e pude voltar a obras e a
autores que havia sido obrigada a 1er
na infância e na adolescência, e que
tanto me amedrontaram, com sua
linguagem obscura, personagens e
situações quase inacessíveis para mim.
Resolvi fazer Letras meio por acaso,
mas o que começou como brincadeira
rapidamente se tornou muito sério.
Hoje, minha biblioteca particular tem
um tamanho considerável, mesmo que
quase um terço dos livros ainda não
tenha sido tocado. Mas eles, e muitos
outros, terão sua vez.
Já mais velha, comecei a explorar
bibliotecas alheias. Graças a meus
pais, que costumavam adquirir livros
ao acaso, e a uma tia, compradora de
coleções com um único objetivo: não
lê-las. Sua estante cheia encantava-
me, e às vezes eu roubava alguns
livros para folhear. Dentre muita
inutilidade, algumas pérolas. Histórias
interessantes, cujos autores nem me
lembro.
J. C. Leão
Sociólogo pela USP
nhecer um autor alemão chamado
Karl May. Com ele viajei para o
Curdistão e percorri as planícies
americanas em meio aos índios,
sempre capitaneado pelo herói
"Mão de Ferro". Em seguida,
vieram os livros policiais... e o
prazer de 1er livros de todos os
gêneros, que passou a me
acompanhar para sempre.
Os gibis de todos os gêneros, de Pato
Donald a Cavaleiro Negro, ensina-
ram-me a gostar de 1er. Ao mesmo
tempo, nas aulas de língua portuguesa
tomava contato com fragmentos de
textos de autores nacionais. Algumas
citações ficaram gravadas até hoje em
minha memória, como "O sertanejo é
antes de tudo um forte" (Euclides da
Cunha, Os sertões). Em casa, folheava
os livros espíritas que meus pais liam
e que eu achava divertidos porque
falavam de "fantasmas".
O salto definitivo para os livros ocor-
reu na biblioteca do meu bairro, onde
ia atrás dos gibis. Para isso, a condição
era, antes, passar uma hora lendo
livros. Foi quando pude co-
Conclusão
Jorge Miguel Marinho
Escritor, autor, dentre outros livros, de Te
dou a Lua amanhã, prêmio Jabuti 94
Para mim, a leitura de fato, aquela
leitura boa e feliz, acontece ao acaso, e
não por acaso, às vezes pode até se
tornar um caso de amor.
A minha história de leitura inicial foi
precária, retardatária e clandestina,
diferente do mundo de livros que faz
parte da vida de outros escritores. Por
isso mesmo, ela me parece muito
singular — ao menos para questionar e
até implodir um certo senso comum:
"Para ser escritor é preciso ter lido os
clássicos, sem esquecer a filosofia, a
história, os contos da carochinha e que
tais". Não houve clássicos na minha
infância. A leitura chegou muito tarde
na minha vida. Entretanto, esse atraso
acabou proporcionando o encontro
rnais exato e pontual.
Explico melhor: o meu primeiro
contato com os livros só aconteceu aos
quinze anos. A obra que me abriu as
portas do maravilhoso mundo das
narrativas foi Os padres também
amam, de Adelaide Carraro, para
muitos leitura apelativa, de
"sacanagem" mesmo, principalmente
esta que mistura sexo com religião. Na
época eu gostei muito e li os outros
livros dessa minha primeira autora,
todos eles emprestados por uma amiga
que lia sempre às escondidas, um dos
melhores métodos de convite à leitura
densa, tensa e curiosa. Li e esqueci.
Mas o sentido da necessidade,
provocado e momentaneamente
satisfeito pela narrativa ingênua,
demagógica e inflacionada de clichês,
ficou. Acontece que a leitura,
independentemente do assunto ou da
qualidade literária, depura o gosto, e
quando ela fisga o leitor, ele está
salvo. Eu me salvei.
Fui lendo Saint-Exupéry, Machado de
Assis e, é claro, Clarice Lispector, que
é a escritora que pedi a Deus. Vieram
então Graciliano Ramos, Cortázar,
García Márquez, Murilo Rubião e
tantos outros.
Hoje eu acredito mesmo que essa
ausência de leitura até a adolescência e
depois um excesso de livros, per-
sonagens e pessoas fizeram de mim
um escritor. Um toque inicial do
acaso, seguido de um caso definitivo
de amor.
Maria Cecília Martinez
Mestre em História Social pelo Departa-
mento de História da FFLCH/USP e
doutoranda em História Social peia USP
Desde pequena via meus pais lendo.
Todos os assuntos os interessavam, e
eles procuravam passar aos filhos a
grande emoção que sentiam quando
conheciam algo novo. Esta era a
grande lição que eles sempre repetiam:
o conhecimento é o principal caminho
para a liberdade.
Assim, meus pais foram, pouco a
pouco, despertando minha curio-
sidade sobre os rnais variados as-
suntos. Iam me contando histórias
das quais queria saber rnais
detalhes; justamente neste mo-
mento, eles me entregavam um
livro e falavam: "Nele você terá as
informações a mais que deseja".
Deste modo, meus pais foram
despertando em mim o prazer da
leitura.
Este imenso prazer foi ainda mais
estimulado pela ação de vários
professores do curso de História da
PUC/SP, cuja dedicação ia para
muito além do dever de ensinar.
Conclusão
Madza Ednir
Pedagoga pela USP, mestre em Educação
pela PUC/SP, consultora em Comunicação
e Educação do Cecip (RJ), autora, dentre
outros livros, de Ler e escrever, muito
prazer, com Beatriz Cardoso
Filha de dois grandes livronautas, ao
empreender minhas navegações pelo
universo dos livros, nada rnais faço
que seguir a tradição da família. Em
casa podia faltar pão, mas livros,
nunca. Na década de 1950, morá-
vamos em uma cidadezinha no fim do
mundo, de ruas de terra, com uma
padaria, uma igreja, um posto de saúde
e uma escola. A luz elétrica acabava às
11 horas da noite. Depois disso,
continuávamos lendo à luz de velas ou
acendíamos o lampião de querosene.
Acho que 90% dos livros de Paulicéia
estavam concentrados no nosso
endereço. Os outros 10% ficavam no
Grupo Escolar, onde professoras
maravilhosas
introduziam meus colegas, de famílias
camponesas, em um universo de
leitura e arte que para mim era to-
talmente familiar.
Na realidade, eu não vivia em uma
casa "normal", mas em uma biblioteca.
Os cômodos possuíam apenas um
mobiliário rústico, o mínimo
indispensável. O espaço era dominado
por prateleiras e estantes que
ocupavam todas as paredes, de alto a
baixo. Havia obras de filosofia, de
antropologia, de sociologia, de his-
tória, de divulgação científica, mas o
que me encantava eram os romances e
contos, sem falar nas revistas
ilustradas nacionais, como A Cigarra e
Manchete, e estrangeiras, como a Life
e a National Geographic. Meus pais
não impunham nenhum limite às
minhas incursões pelo mundo dos
livros. Eu ia testando as forças,
ampliando fronteiras. Tinha os "meus"
livros, é claro: lendas de todos os
países do mundo, a coleção completa
de Monteiro Lobato, os livros da
senhora Leandro Dupré... Mas se
quisesse visitar Jorge Amado,
Turguenieff, Checov, Maupassant,
Maugham ou Érico Veríssimo, tudo
bem. Eu lia literatura adulta aos
saltos. Pegava o fio do enredo e ele me
guiava pela complexidade do texto. As
passagens que não entendia ou achava
chatas, pulava. Depois, assombrada,
contava à mãe o que havia "capturado"
em minhas "caçadas de leitura", e ela
me ajudava a digerir o impacto.
Mamãe não apenas lia e dramatizava
histórias para mim, mas as inventava
também. Criava novelas em capítulos,
que eu aguardava ansiosamente a cada
final de tarde. O mais fantástico é que
eu podia interferir na história, pedindo
para que o destino dos personagens
fosse modificado aqui e ali. Foi minha
iniciação às delícias de imitar o
Criador. Pois um escritor tem sobre
seus personagens poderes de vida e
morte; é senhor absoluto de seus
destinos, como os religiosos acreditam
que Deus seja dos nossos.
Livronauta de nascença, só adoles-
cente fui me dar conta de que era
pobre. E que, mesmo sem geladeira,
sem sofá, nem mesinha de centro, sem
televisão e sem conforto, aquela
humilde casa de madeira cinza para
mim era um palácio, pois tinha tudo o
que eu precisava: amor, criatividade e
livros.
índice por obra
Título da obra Autor Gênero Página
200 crônicas escolhidas Rubem Braga Não-ficção
101
A arca de Noé Vinícius de Moraes
A bagaceira José Américo de Almeida
Ficção-poesia
Ficção-prosa
75
43
A Capital Federai Arthur de Azevedo Ficção-prosa
32
A educação pela pedra e depois João Cabral de Melo Neto Ficção-poesia
75
A festa Ivan Angelo Ficção-prosa
51
José Murilo de Carvalho Não-ficção
90
A formação das almas — o imaginario da República no Brasil A
literatura no Brasil (6 volumes)
Afrânio Coutinho e Eduardo de Faria Coutinho Não-ficção
94
A madona de cedro Antonio Callado Ficção-prosa
56
A Moreninha Joaquim Manuel de Macedo Ficção-prosa
36
A morte e a morte de Quincas Berro d'Água Jorge Amado Ficção-prosa
33
A normalista
Adolfo Caminha Ficção-prosa
60
A paixão segundo G. H. Ficção-prosa
57
Angústia
Clarice Lispector
Graciliano Ramos
Ficção-prosa
39
Antologia de antologias — 101 poetas brasileiros revisitados Magaly T. Gonçalves/Zélia T. de Aquino/Zina B. Silva Ficção-poesia
77
Antologia poética
Carlos Drummond de Andrade Ficção-poesia
72
Antologia poética Mário Quintana Ficção-poesia
74
Vinícius de Moraes Ficção-poesia
75
Antologia poética
Carlos A. C. Lemos Não-ficção
92
Arquitetura brasileira
Artistas coloniais
Rodrigo Mello Franco de Andrade Não-ficção
93
As razões do Iluminismo Sérgio Paulo Rouanet Não-ficção
96
Auto da Compadecida
Ariano Suassuna Ficção-prosa
35
Campanhas jornalísticas (3 volumes) Rui Barbosa Não-ficção
99
Ficção-prosa
48
Capitães de areia Carnavais,
malandros e heróis
Jorge Amado
Roberto DaMatta
Não-ficção
Casa-grande e senzala Gilberto Freyre Não-ficção
88
81
Cidades mortas Monteiro Lobato Ficção-prosa
32
Ciranda de pedra Lygia Fagundes Telles Ficção-prosa
40
Raul Bopp Ficção-poesia
71
Cobra Norato
Contos reunidos
Rubem Fonseca Ficção-prosa
63
Titulo da obra Autor Gênero Página
Coronelismo, enxada e voto Victor Nunes Leal Não-ficção
85
Crônica da casa assassinada Lúcio Cardoso Ficção-prosa
60
De Anchieta a Euclides
Diários índios — os urubus-kaapor
José Guilherme Merquior
Darcy Ribeiro
Não-ficção
Não-ficção
96
91
Machado de Assis Ficção-prosa
52
Dom Casmurro
Espumas flutuantes
Castro Alves Ficção-poesia
68
Estrela da vida inteira Manuel Bandeira
Fogo morto José Lins do Rego
Ficção-poesia
Ficção-prosa
Maria José M.Wehling/Arno Wehling Não-ficção
71
45
90
Formação do Brasil colonial
Formação do Brasil contemporâneo
Caio Prado Junior Não-ficção
Formação econômica do Brasil Celso Furtado Não-ficção
84
86
Gabriela cravo e canela Jorge Amado Ficção-prosa
39
Grande sertão: veredas Guimarães Rosa Ficção-prosa
55
História da literatura brasileira José Veríssimo Não-ficção
94
História econômica do Brasil Caio Prado Junior Não-ficção
84
História geral da civilização brasileira Sérgio Buarque de Holanda/Bons Fausto Não-ficção
89
Ficção-prosa
38
laiá Garcia
Iracema
Machado de
Assis José de
Ficção-prosa
37
Lavoura arcaica Raduan Nassar Ficção-prosa
59
Livro dos sonetos Vinícius de Moraes Ficção-poesia
75
Manuelzão e Miguilim Guimarães Rosa Ficção-prosa
53
Mar morto Jorge Amado Ficção-prosa
40
Marques Rebelo: os melhores contos Marques Rebelo Ficção-prosa
46
Mauá — empresário do Império Jorge Caldeira Não-ficção
103
Memória e sociedade — lembranças de velhos Ecléa Bosi Não-ficção
88
Memorial de Maria Moura Rachel de Queiroz Ficção-prosa
48
Memórias do cárcere Graciliano Ramos Não-ficção
100
Memórias póstumas de Brás Cubas Machado de Assis Ficção-prosa
52
Menino de engenho José Lins do Rego Ficção-prosa
45
Minha formação Joaquim Nabuco Não-ficção
»!
índice por obra
Título da obra Autor Gênero Página
Música popular — um tema em debate José Ramos Tinhorão Não-ficção
92
No Urubuquaquá, no Pinhém Guimarães Rosa Ficção-prosa
54
Noites do sertão Guimarães Rosa Ficção-prosa
55
Nove, novena Osman Lins Ficção-prosa
58
0 Brasil nação Manoel Bonfim Não-ficção
80
0 coronel e o lobisomem José Cândido de Carvalho Ficção-prosa
34
0 encontro marcado Fernando Sabino Ficção-prosa
58
0 mulo Darcy Ribeiro Ficção-prosa
62
0 quinze Rachel de Queiroz Ficção-prosa
47
0 tempo e o vento Érico Veríssimo Ficção-prosa
46
0 Uraguai José Basílio da Gama Ficção-poesia
68
0 vampiro de Curitiba Dalton Trevisan Ficção-prosa
62
Ópera dos mortos Autran Dourado Ficção-prosa
41
Os bestializados — o Rio de Janeiro e a República que não foi José Murilo de Carvalho Não-ficção
90
Os cavalinhos de Platiplanto José J. Veiga Ficção-prosa
56
Os donos do poder — formação do patronato brasileiro Raimundo Faoro Não-ficção
85
Os parceiros do Rio Bonito Antônio Cândido Não-ficção
87
Os sertões Euclides da Cunha Não-ficção
80
Os tambores de São Luis Josué Montello Ficção-prosa
50
Panorama do teatro brasileiro Sábato Magaldi Não-ficção
95
Perto do coração selvagem Clarice Lispector Ficção-prosa
57
Poemas Fagundes Varela Ficção-poesia
69
Poesia completa Jorge de Lima Ficção-poesia
70
Poesia completa (4 volumes) Cecília Meireles Ficção-poesia
72
Poesia completa e prosa Murilo Mendes Ficção-poesia
73
Poesias Raimundo Correia Ficção-poesia
69
Poesias completas Cruz e Souza Ficção-poesia
70
Quarup Antonio Callado Ficção-prosa
49
Quase memória Carlos Heitor Cony Não-ficção
102
Quincas Borba Machado de Assis Ficção-prosa
53
Título da obra Autor Gênero Página
Raízes do Brasil
Sérgio Buarque de Holanda
Não-ficção
83
Lima Barreto
Ficção-prosa
42
Recordações do escrivão Isaías Caminha
República dos sonhos
Nélida Piñon
Ficção-prosa
50
Sagarana
Guimarães Rosa
Ficção-prosa
54
Seleta de prosa
Manuel Bandeira
Não-ficção
100
Senhora
José de Alencar
Ficção-prosa
37
Serafim Ponte Grande
Oswald de Andrade
Ficção-prosa
33
Serial e antes
João Cabral de Melo Neto
Ficção-poesia
75
Sermões
Antonio Vieira
Não-ficção
98
SÍTIO DO PICAPAU AMARELO
A chave do tamanho
Aritmética da Emilia
Caçadas de Pedrinho
Dom Quixote das crianças
Emilia no Pais da Gramática
Geografìa de Dona Benta
Hans Staden
Histórias das invenções
Histórias de Tia Nastácia
Histórias diversas
Histórias do mundo para crianças
Memórias da Emilia
O Picapau Amarelo
O poço do Visconde
O Saci
Os doze trabalhos de Hércules
Reinações de Narizinho
Serões de Dona Benta
Viagem ao céu
Monteiro Lobato
Ficção-prosa
64
Sobrados e mocambos
Gilberto Freyre
Não-ficção
82
Teatro completo de Nelson Rodrigues
Nelson Rodrigues
Ficção-prosa
61
Toda poesia
Ferreira Gullar
Ficção-poesia
76
Triste fim de Policarpo Quaresma
Lima Barreto
Ficção-prosa
42
Um mestre na periferia do capitalismo — Machado de Assis
Roberto Schwarz
Não-ficção
97
Urupês
Monteiro Lobato
Ficção-prosa
43
Vidas secas
Graciliano Ramos
Ficção-prosa
44
Vila dos Confins
Mário Palmério
Ficção-prosa
49
Visão do paraíso
Sérgio Buarque de Holanda
Não-ficção
86
Viva o povo brasileiro
João Ubaldo Ribeiro
Ficção-prosa
35
indice por obra
Título da obra Autor Gênero Página
Atlas atual geografia
Vicenzo Raffaele Bochicchio
Referência
108
Atlas da fauna brasileira
José Cândido de Melo Franco
Referência
110
Atlas escolar de botânica
Ronaldo Fernandes de Oliveira
Referência
III
Atlas geográfico ilustrado
Graça M. L. Ferreira/Marcello Martinelli
Referência
109
Atlas geográfico Melhoramentos
Pe. Geraldo José Pauwels
Referência
106
Dicionário Aurélio da língua portuguesa
Aurélio Buarque de Holanda Ferreira
Referência
112
Dicionário didático de português
Maria Tereza C. Biderman
Referência
112
Dicionário etimológico Nova fronteira da língua portuguesa
Antônio Geraldo da Cunha
Referência
Enciclopédia dicionário ilustrado
Koogan/Houaiss
Referência
112
III
Enciclopédia Barsa
-
Referência
III
Geoatlas
Maria Elena Simielli
Referência
108
Grande dicionário Larousse cultural da língua portuguesa
-
Referência
112
Manual de redação e estilo
Eduardo Martins
Referência
113
Minidicionário da língua portuguesa (Melhoramentos)
-
Referência
112
Moderno atlas geográfico
Graça Maria Lemos Ferreira
Referência
106
Moderna gramática portuguesa
Evanildo Bechara
Referência
112
Nova gramática do português contemporâneo
Celso Cunha/Lindley Cintra
Referência
112
Adolfo Caminha, p. 60
Graciliano Ramos, p. 39, 44 e 100
Maria José M. Wehling, p. 90
Afrânio Coutinho, p. 94
Guimarães Rosa, p. 53,54 e 55
Mário Palmério, p. 49
Antonio Callado, p. 49 e 56
Ivan Ângelo, p. 51
Mário Quintana, p. 74
Antônio Cândido, p. 87
João Cabral de Melo Neto, p. 75
Marques Rebelo, p. 46
Antonio Vieira, p. 98
João Ubaldo Ribeiro, p. 35
Monteiro Lobato, p. 32, 43 e 64
Ariano Suassuna, p. 35
Joaquim Manuel de Macedo, p. 36
Murilo Mendes, p. 73
Arno Wehling, p. 90
Joaquim Nabuco, p. 98
Nélida Piñon, p. 50
Arthur de Azevedo, p. 32
Jorge Amado, p. 33,39, 40 e 48
Nelson Rodrigues, p. 61
Autran Dourado, p. 41
Jorge Caldeira, p. 103
Osman Lins, p. 58
Boris Fausto, p. 89
Jorge de Lima, p. 70
Oswald de Andrade, p. 33
Caio Prado Junior, p. 84
José Américo de Almeida, p. 43
Rachel de Queiroz, p. 47, 48
Carlos A. C. Lemos, p. 92
José Basílio da Gama, p. 68
Raduan Nassar, p. 59
Carlos Drummond de Andrade, p. 72
José Cândido de Carvalho, p. 34
Raimundo Correia, p. 69
Carlos Heitor Cony, p. 102
José de Alencar, p. 37
Raimundo Faoro, p. 85
Castro Alves, p. 68
José Guilherme Merquior, p. 96
Raul Bopp, p. 71
Cecília Meireles, p. 72
José J. Veiga, p. 56
Roberto DaMatta. p. 88
Celso Furtado, p. 86
José Lins do Rego, p. 45
Roberto Schwarz, p. 97
Clarice Lispector, p. 57
José Murilo de Carvalho, p. 90
Rodrigo Mello Franco de Andrade, p. 93
Cruz e Souza, p. 70
José Ramos Tinhorão, p. 92
Rubem Braga, p. 101
Dalton Trevisan, p. 62
José Verissimo, p. 94
Rubem Fonseca, p. 63
Darcy Ribeiro, p. 62 e 91
Josué Montello, p. 50
Rui Barbosa, p. 99
Ecléa Bosi, p. 88
Lima Barreto, p. 42
Sàbato Magaldi, p. 95
Érico Verissimo, p. 46
Lúcio Cardoso, p. 60
Sérgio Buarque de Holanda, p. 83, 86 e 89
Euclides da Cunha, p. 80
Lygia Fagundes Telles, p. 40
Sérgio Paulo Rouanet, p. 96
Fagundes Varela, p. 69
Machado de Assis, p. 38,52 e 53
Victor Nunes Leal, p. 85
Fernando Sabino, p. 58
Magaly T. Gonçalves, p. 77
Vinícius de Moraes, p. 75
Ferreira Gullar, p. 76
Manoel Bonfim, p. 80
Zélia T. de Aquino, p. 77
Gilberto Freyre, p. 81 e 82
Manuel Bandeira, p. 71 e 100
Zina B. Silva, p. 77
Criação da estrutura e edição
Madza Ednir
Redação
Carla Saukas (ficção-prosa)
Edleuza Ferreira (ficção-poesia)
J. C. Leão (não-ficção)
Fabiana Pino (dicionários, enciclopédia, atlas)
Madza Ednir (sugestões de dinâmicas)
Revisão técnica
Jorge Miguel Marinho (ficção) Maria
Cecília Martinez (não-ficção)
Revisão
Cecilia Fujita Rejane de
Meneses Sonja
Cavalcanti Yana
Palankof
Realização
CECIP
Direção de arte e ilustrações
Claudius Ceccon
Coordenação de produção
Dinah Frotté
Diagramação e editoração
Cristiana Lacerda
CECIP — Centro de Criação e Imagem Popular Largo
de São Francisco de Paula, 34/4º andar 20051-070
Rio de Janeiro • RJ Tel: (21) 2509 3812 . Fax: (21)
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