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Uma experiência
de educação integral
Obras da Autora
"Uma Escola Diferente" Editora Nacionalo
Paulo 1969
"Cuentos de ninos tristes" Editora El Hondero San-
tiago, Chile 1953
"Andante tranqüilo" (poesia) Edições Távola Redonda
Lisboa Portugal 1950
Literatura Infantil:
"Julgamento na Horta" Prêmio de Literatura Infantil
SAPS (2º lugar), 1948 Edição Irmãos Pongetti.
"Joaninha vai às compras" Prêmio de Literatura Infantil
SAPS (1º lugar), inédito.
"O Pássaro e a feiticeira" teatro
"João do Algodão" teatro
"Desculpe amigo, sero ingrato" teatro
"Príncipe Feliz" adaptação para televisão do conto de
Oscar Wilde teatro
Em Preparo
"As crianças e seus livros". Estudo histórico-crítico de
Literatura Infantil.
"Da Infância, do Amor e do Mar" textos para crianças.
Fotos de HANS MANN, EDMUNDO e cedidas gentil-
mente pela USAID. Reprodução de fotos autorizadas.
Capa de Paulo Werneck
Composto c impresso nas oficinas do Serviço Gráfico da Fundação
IBGE, em Lucas, GB 3 463.
Uma experiência
do educação integral
Prefácio
O Centro Educacional Carneiro Ribeiro, cuja história e natureza Tere-
sinha Eboli descreve neste livro, é o testemunho da mais eloqüente con-
cretização de uma experiência de educação integral feita no Brasil, reunindo,
no propósito do seu idealizador Anísio Teixeira, o ensino da sala de
aula com a auto-educação resultante de atividade de que os alunos participam
com plena responsabilidade.
Se os seus frutos confirmam as aspirações do fundador e dos que ali
deram ou continuam dando parcela preciosa do seu esforço e do seu entusias-
mo, bem como os prognósticos dos poucos homens de governo que, compre-
endendo o alcance da iniciativa, se dispuseram a ajudar a obra, somente o
depoimento de professôres e antigos alunos pode esclarecer. Os que tive a
oportunidade de ouvir me confirmaram a densidade dos aspectos favoráveis
inerentes aos trabalhos do CECR que, embora auxiliado técnica e financeira-
mente pelo INEP,o poderá deixar de merecer do Estado da Bahia, em
troca do privilégio de tê-lo em seu território, continuado e substancial apoio
de recursos materiais.
O grande mérito do CECR é o de oferecer ambiente à realização da
simbiose educador-educando, eis que o ato educativo exige a integração de
esforços de um e outro, a reciprocidade de intenções destinadas a um objetivo
: o florescimento e cultivo da realidade individual da criança ou do jovem,
o seu amadurecimento consciente, a apreensão do sentido cultural da comu-
nhão dos homens e a demonstração de que o ser humano, sendo naturalmente
gregário, está indissolüvelmente relacionado com o universo de realidades
exterior.
Com as suas escolas-classe e a escola-parque, compreendendo esta a
multiplicidade das práticas educativas (teatro, biblioteca, educação física,
pavilhão de trabalho, artes plásticas, jornal, rádio, banco econômico etc), o
CECR constitui uma imagem viva em prol dos benefícios da educação inte-
gral, ou seja, do processo educativo que considera o educando na inteireza da
sua individualidade, desenvolvendo-lhe todos os aspectos da personalidade e
procurando afirmar nele os valores maiores da pessoa humana, como a liberda-
de com responsabilidade, o pensamento crítico, o senso das artes, a disposição
da convivência solidária, o espírito aberto a novas idéias, a capacidade de
trabalhar produtivamente.
Reconhecida a validade da notável experiência pedagógica, dever-se-ia
incentivar a sua implantação noutras regiões do País até que todos os muni-
cípios a tivessem.
As proporções grandiosas do seu continente físicoo seriam obrigato-
riamente adotadas, mas se construiriam Centros onde a filosofia e os métodos
educacionais do CECR fossem aplicados e sempre aperfeiçoados. O impor-
tante é a natureza da experiência, pois os mesmos resultados se obteriam numa
instituição semelhante e com número de alunos menor, relacionado à população
afluente. O CECR, estando situado no epicentro de uma área demográfica
social e economicamente baixa (e a sua localização em bairro de proletários
foi proposital), teve de orientar-se no sentido de abrigar milhares de edu-
candos.
A existência do CECR conduz a reflexões em torno da escola para todos,
desde que educação integral está diretamente ligada à escola pública. Como
assim? Sendo a educação direito impostergável de todos e de cada um indi-
vidualmente, pois cada um e todos devem participar da obra cultural, somente
o Estado tem condições de oferecer a todos escola de currículo completo e dia
letivo integral, isto é, escola onde o educando, dispondo de todos os meios
e instrumentos de conhecimento, usufruindo condições propícias para empre-
gá-los e vivendo por si mesmo experiências enriquecedoras, descubra as suas
virtualidades e penetre no conhecimento da natureza e da humanidade que o
rodeiam e o influenciam.
A escola particular, mesmo que tenha interesse na extensão e na fecun-
didade do currículo, somente é franqueada aos alunos de recursos. Com isso,
as desigualdades sociais persistem, pois a verdadeira educação continuará pri-
vilégio da minoria.
Ninguém deixa de reconhecer que a própria estrutura política de uma
naçãoo pode repousar sôbre um povo ignorante ou de educação deficiente,
que a tanto conduz a falta de escolas ou a existência de pseudo-escolas.
"A liberdade somente se pode assegurar mediante ampla distribuição de
conhecimento entre o povo" já dizia HORACE MANN, o inolvidável jurista
que se tornou educador, ao apresentar o seu 10" Relatório Anual, em 1846,
ao Conselho Estadual de Educação do Estado de Massachusets e no qual
discutiu os princípios gerais reguladores do sistema de escolas públicas.
E hoje, fazendo um giro retrospectivo pela história universal, sentimos
que a segurança do Estado vincula-se cada vez mais ao conceito e à prática da
liberdade. Onde mais houver educação integral, voltada para o Homem, maior
liberdade haverá no seio da Nação, surgindo então a segurança como corolário
desse clima.o pode haver segurança sem liberdade e liberdade sem conhe-
cimento. Portanto, a segurança depende, em última análise, de uma educação
completa e livre, em cujo processo se ajudem mutuamente educador e edu-
cando, homem e sociedade, governado e governante.
Como então proporcionar o máximo de educação ao indivíduo carente de
recursos ao ser na escola pública, a escola que pode realizar a harmonia
social pela convivência de alunos de procedência diversa, de costumes e hábitos
diferentes, de formação doméstica contraditória, ricos e pobres? A presença de
crianças da mais diversa origem social e da mais distinta formação pessoal en-
seja um fecundo intercâmbio de vivências e sentimentos, enriquecendo a cultura
de cada um pela soma de aquisições que reciprocamente se fazem indivíduos
pertencentes a grupos sociais diversos. Se a educação integral visa assegurar
a cada indivíduo a possibilidade de instruir-se segundo as suas capacidades,
permitindo-lhe afastar-se das injunções prejudiciais do meio em que nasceu
ou em que vive e entra em contacto com um ambiente mais amplo, é fácil
supor que a escola particular, mesmo facultada a todos (por hipótese),o
propiciaria aquêle objetivo, pois a ela afluiriam os mesmos grupos sociais
afins, levados pelo sentido natural de preservação de suas peculiaridades. Ao
contrário, à escola pública iriam todos os que a quisessem e aquêles que,s
motivos econômicos,o tivessem outra alternativa. É nesse sentido que
DEWEY falava da "força assimiladora" das escolas públicas.
Portanto a escola pública é a que, de um modo geral, oferece melhores
condições para garantir uma educação integral a todos, pois está menos sujeita
ao envolvimento de interesses pessoais dos seus dirigentes.
Por outro lado, a verdadeira escola pública (a escola comum, a escola para
todos), somente pode existir plenamente num regime democrático, entendido
como tal aquêle que permite a existência do homem integral, o jogo livre de
idéias e de criação artística, as experiências inovadoras em todos os campos
do saber e do viver.
O homem deve ser educadoo só para viver numa sociedade demo-
crática, mas também para formar tal sociedade. Por isso, a escola (e a pública
melhor do que qualquer outra) deve conduzir o indivíduo para a democracia
e êste regime deve garantir ao indivíduo o pleno desenvolvimento das suas
virtudes.
A sociedade precisa da escola para continuar existindo, pois, apesar da
importância fundamental do lar e de outras agênciaso sistemáticos de
educação, a escola é, por excelência, instrumento de atuação educativa da
sociedade.
Considerada essa perspectiva de atuação, o CECR vem desenvolvendo
eficientemente o seu trabalho, que exige, porém, seqüência noutra escala de
valores, a fim de que os egressos do seu "campus", formados de acordo com
um sentido de vida, encontrem condições de prosseguir o seu esforço e dar
vida às suas capacidades ali despertadas. É importante que haja escolas conti-
nuadoras do processo educativo do CECR, com a mesma largueza de vistas
pedagógicas.
Dois singulares exemplos da humanidade GANDHI e GABRIELA
MISTRAL vivendo em quadrantes diferentes do mundo mas com identi-
ficação espiritual de propósitos, imaginaram uma escola básica, elementar, da
qual o aluno saísseo apenas instruído com soma de conhecimentos de algu-
mas ciências e língua vernácula, mas educado com suficiente provisão de
experiências e pensamento reflexivo para poder guiar-se na vida. Uma escola
que acompanhasse o progredir da existência e se aproximasse cada vez mais
do homem.
O próprio CECR evoluiu, procurando ajustar-se aos novos apelos da vida.
Assim como as sociedades evoluem, as escolas também devem adaptar-se às
transformações da época em queo chamadas a atuar,o obstante as crises
geradas no fenômeno dessa adaptação.
Sobretudo hoje, quando se observam as dificuldades encontradas pela
família para proporcionar às crianças, de modo satisfatório, a educação dese-
jada e desejável, confiando em que a escola complete esse dever. E que escola
pode desincumbir-se com êxito do árduo e nobilíssimo encargo senão a escola
de educação integral, capaz de competir, em têrmos de substância, com a
infinidade de influências e meioso sistemáticos de educação?
O presente livro retrata uma pioneira e valiosa experiência de escola
pública de educação integral. Para escrevê-lo,o bastaria a existência da
obra, com a riqueza dos seus aspectos. Era importante a sua visão por alguém
imbuído do sentido de valorização do homem e de apreço à sociedade, mar-
cante no CECR. Alguém que tivesse presenciado o seu dinamismo e o seu
acontecer interno, difícil, belo e nele houvesse colaborado. Alguém de sensi-
bilidade para avaliar a dimensão do trabalho e com entusiasmo para divul-
gá-lo. Uma professora, educadora e escritora.
Por essas razões e outras mais convidei Teresinha Eboli para dar o
testemunho da experiência brasileira realizada no Centro Educacional Carneiro
Ribeiro.
Rio, dezembro de 1969,
Guido Ivan de Carvalho
índice
1 Antecedentes históricos do Centro Educacional Carneiro Ribeiro 11
2 Valor da experiência de educação integral 13
3 Estrutura e Objetivos do CECR
Visão geral do Centro de Educação Integral
Planta do CECR 20
4 Um dia no Centro 22
4.1. Escolas-classe, como funcionam 22
4.2. Serviço de Coordenação Pedagógica e Orientação Edu-
cacional 27
4.3. Escola Parque: uma pequena Universidade Infantil 35
a) A cantina assistência alimentar 35
b) O Pavilhão de Trabalho: artes aplicadas, industriais
e plásticas 39
c) Setor Recreativo 55
d) Setor Artístico 58
e) Biblioteca 65
f) Setor Socializante 69
g) Assistência material, médico-odontológica 71
Anexos 77
1. Antecedentes Históricos
do Centro Educacional
Carneiro Ribeiro
Aquêles que chegam a esta parte da cidade de
Salvador bairros da Liberdade, Caixa Dágua,
Pero Vaz e Pau Miúdo onde se localiza o CEN-
TRO EDUCACIONAL CARNEIRO RIBEIRO, DO
CRINEP
l
da Bahia, órgão do Ministério da Educa-
ção e Cultura,o imaginam, por certo, o que era
aquela área em 1947. Nela se instalaram, há alguns
anos, grupos de família, de baixa condição econô-
mica, em seus casebres de alvenaria, com uma popu-
lação infantil sem assistência, sem escolas, pratica-
mente abandonada.
O governador da Bahia, na ocasião, Otávio Man-
gabeira, preocupado com a falta de assistência fami-
liar e social da criança baiana, com a falta absoluta
de serviços de saúde e de escolas e o conseqüente
abandono da infância, vagando desocupada pelas
ruas, incumbiu seu secretário da educação, Prof. Aní-
sio Teixeira, de organizar um plano para reestruturar
o sistema vigente.
O mesmo professor, há trinta e dois anos, ha-
via feito a primeira reforma da instrução pública do
Estado da Bahia, com a Lei número 1.846, de 14
de agosto de 1925, e o Decreto n" 4.312, de 30
de dezembro do mesmo ano, que aprovou o regula-
mento do ensino primário e normal. Em 1947,
recém-chegado de um trabalho de educação na
LINESCO, imbuído de profundas preocupações com
a educação de nosso povo, estabeleceu, então, um
segundo plano de reforma para o Estado, quando
surgiu a Lei Orgânica de Educação e Cultura do
da Bahia. Sua intenção era a de refazer o que havia
em educação, com a sempre presente intenção
democrática da ampliação da escolaridade comum c
obrigatória. Mas, havia tanto a reconstruir que as
dificuldades políticas e financeiras o levaram a um
plano prioritário: a criação de um centro edu-
cação popular em nível primário que funcionaria
em tempo integral e como centro de demonstração
para a instalação de outros semelhantes, no futuro,
por tôda a cidade de Salvador. Programou-se só para
a capital 9 centros, queo chegaram a ser construí-
dos. Aquela populosa área, em cujos bairros residiam
agrupamentos pobres, havendo, aproximadamente, 8
mil crianças em idade escolar, apresentava as condi-
ções necessárias para implantação da grande expe-
riência que o educador programara.
Bem mais tarde, em 1955, com o título "Um
monumento na obscuridade", em reportagem publi-
cada no Diário da Bahia, um jornalista constata êste
aspecto: "Nesse primeiro contato que tivemos com
aquêle estabelecimento de ensino (Setor de Traba-
1
Centro Regional de Pesquisas Educacionais do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos.
lho da Escola Parque já funcionando, há quase um
mês), podemos observar a ordem, o asseio, o respeito,
a perfeita noção do cumprimento do dever daquelas
Crianças, cada qual mais compenetrada da importârt-
cia que representa seu próprio trabalho, num contras-
te vivo com aquelas outras crianças que, ali bem
próximo, vivem entregues à mais completa e preju-
dicial vadiagem."
Os projetos para a construção do CECR foram
encomendados ao escritório de arquitetura de Paulo
de Assis Ribeiro, que contou com a colaboração dos
arquitetos Diógenes Rebouças e Hélio Duarte. O
plano de funcionamento apresentado foi considerado,
na época — e ainda o é até nossos dias excelente
modêlo de organização e, principalmente, corajoso,
arrojado, para o sistema rotineiro e acanhado do País.
Com esssa bandeira de vanguarda, iniciou o grupo
de trabalho,o a construção de uma escola, mas de
um conjunto de prédios em que viria funcionar a
mais completa demonstração de educação integral,
em nível primário, da América Latina, idealizada por
Anísio Teixeira.
Do projeto de construção do Centro, em linhas
gerais, constavam:
a) Quatro Escolas-classe de nível primário para
mil alunos cada, com funcionamento em dois turnos;
b) Uma Escola-parque, com sete pavilhões, des-
tinados às chamadas práticas educativas, onde os
mesmos alunos completavam sua educação, em ho-
rário diverso, de maneira a oferecer àqueles meninos
o dia completo de permanência em ambiente edu-
cativo.
Havia, ainda, um plano de manter, numa resi-
dência apropriada, 5% dos meninos considerados sem
lar. Essa residência foi a única parte do projeto que
o se construiu.
2. Valor da Experiência
de Educação Integral
Em 1950, a 21 de outubro, inaugurou-se parcial-
mente o Centro Educacional Carneiro Ribeiro. Três
escolas-classe entraram em funcionamento, em três
grandes prédios, construídos em amplas áreas arbori-
zadas, situadas em três bairros da Liberdade.
Merece transcrição aqui o discurso que o pro-
fessor Anísio Teixeira pronunciou na ocasião e que
constitui o documento básico do CECR. Está nele a
própria filosofia do Centro; nele encontramos as di-
retrizes e metas a seguir na repetição da experiência,
seja com menos ou mais meninos.
'Senhor Governador:
Este é o começo de um esforço pela recupera-
ção, entre nós, da escola pública primária.
Três pavilhões três grupos escolareso
ser hoje inaugurados por V. Exª, partes integrantes de
um Centro Popular de Educação, a que houve por
bem V. Exª de designar Centro Educacional Carneiro
Ribeiro, em homenagem ao grande educador baiano.
A construção dêsses grupos obedece a um plano
de educação para a cidade da Bahia em que se visa
restaurar a escola primária, cuja estrutura e cujos
objetivos se perderam nas idas e vindas de nossa
evolução nacional.
Quando digo isto. Sr. Governador,o estou a
aduzir um julgamento, mas a trazer um testemunho.
Há 25 anos, era eu o diretor de instrução do Estado,
em governo que, como o de hoje, parecia inaugurar
uma era de reconstrução para a Bahia. As escolas pri-
márias passaram, então, por um surto de renovação
e de incremento, mas o que é digno de nota era o
seu funcionamento integral, com os cursos em dois
turnos, e o programa, para a época,o rico quanto
possível.
Já se podia apreciar o começo, entretanto, de uma
deterioração que se veio agravar enormemente nos 25
anos decorridos até hoje. Foi, com efeito, nessa épo-
ca que começou a lavrar, como idéia aceitável, o
princípio de que, seo tínhamos recursos para dar
a todos a educação primária essencial, deveríamos
simplificá-la até o máximo, até a pura e simples al-
fabetização e generalizá-la ao maior número. A idéia
tinha a sedução de todas as simplificações. Em meio
como o nosso produziu verdadeiro arrebatamento.
o Paulo deu início ao que se chamou de democra-
tização do ensino primário. Resistiram à idéia muitos
educadores. Resisriu a Bahia antes de 30. Resistiu
o Rio, ainda depois da revolução. Mas a simplifica-
ção teve forças para congestionar as escolas primá-
rias com os turnos sucessivos de alunos, reduzindo a
educação primáriao só aos três anos escolares de
Washington Luís, mas aos três anos de "meios-dias",
ou seja, ano e meio, até no grandeo Paulo, aos
três anos de "terços de dia", o que eqüivale realmen-
te a um ano de vida escolar. Ao lado dessa simpli-
ficação na quantidade, seguiram-se, comoo podia
deixar de ser, todas as demais simplificações de qua-
lidade. O resultado foi, por um lado, a quase des-
truição da instituição, por outro, a redução dos efeitos
da escola à alfabetização improvisada e, sob vários
aspectos, contraproducentes, de que estamos a colher,
nos adultos de hoje, exatamente, os que começaram
a sofrer os processos simplificadores da escola, a
seara de confusão e demagogia.
Bem sei queo é só a escola primária fantas-
ma, que esse regime criou, a causa do tipo de men-
talidade existente em nosso País, mas é triste saber
que, além de todas as outras causas de nossa singular
incongruência nacional, existe esta queo é das me-
nores, a própria escola, a qual, instituída para formar
essa mentalidade, ajuda, pelo contrário, a sua defor-
mação.
Os brasileiros, depois de 1930,o todos filhos
da improvisação educacional, que nao só liquidou a
escola primária, como invadiu os arraiais do ensino
secundário e superior e estendeu pelo País uma rede
de ginásios e universidades cuja falta de padrões e
de seriedade atingiria as raias do ridículo, seo vi-
vêssemos em épocao crítica eo trágica, que aos
nossos olhos, cheios de apreensão e de susto, jáo
m vigor para o risco ou a sátira.
É contra essa tendência à simplificação destruti-
va que se levanta êste Centro Popular de Educação.
Desejamos dar, de novo, à escola primária, seu dia le-
tivo completo. Desejamos dar-lhe seus cinco anos de
curso. E desejamos dar-lhe seu programa completo
de leitura, aritmética e escrita, ciências físicas e so-
ciais, artes industriais, desenho, música, dança e edu-
cação física. Além disso, desejamos que a escola edu-
que, forme hábitos, forme atitudes, cultive aspirações,
prepare, realmente, a criança para a sua civilização
essa civilizaçãoo difícil por ser uma civilização
técnica e industrial e ainda mais difícil e complexa
por estar em mutação permanente. E, além disso, de-
sejamos que a escola dê saúde e alimento à criança,
vistoo ser possível educá-la no grau de desnutri-
ção e abandono em que vive.
Tudo isso soa como algo de estapafúrdio e de
visionário. Na realidade, estapafúrdios e visionários
o os que julgam que se pode hoje formar uma
nação pelo modo por que estamos destruindo a nossa.
Todos sentimos os perigos de desagregação em
que estamos imersos. Essa desagregaçãoo é uma
opinião, mas um fato; um fato, por assim dizer, físi-
co, ou, pelo menos, de física social. Com efeito,
muito da desagregação corrente provém da velocidade
das transformações por que estamos passando. A
própria aceleração do tempo de processo social pro-
duz os deslocamentos, confusões e subversões a que
todos assistimos e a que temos de remediar. O remé-
dio, porém,o é fácil, antes duro, áspero e difícil. A
tentação do paliativo ou da panacéia, por isto mesmo,
inevitável. E há os que, parece, estão convencidos
da inevitabilidade da desagregação, pois de outro
modoo se explica aceitaremo tranqüilamente o
paliativo que, no máximo, produzirá aquêle retar-
damento indispensável para lhes ser poupado assis-
tir, individualmente, à deblacle final. Pertenço,o
sei se feliz ou infelizmente, ao grupo que acredita
poder-se dar remédio eficaz à nossa crise, que é um
aspecto da grande crise em que se acha tôda a hu-
manidade.
Se uma sociedade, como a brasileira, em que se
encontram ingredienteso incendiáveis, como os de
suas desigualdades e iníqüidades sociais, entra em
mudança e agitação acelerada, sacudida por movi-
mentos e forças econômicas e sociais queo po-
demos controlar, está claro que a mais elementar
prudência nos manda ver e examinar as molas e ins-
tituições em que se funda esta sociedade, para refor-
çá-las ou melhorá-las a fim de que suas estruturas
o se rompam ao impacto produzido pela rapidez
da transformação social.
Essas instituições fundamentaiso o Estado, a
Igreja, a Família e a Escola. De todas elaso pa-
rece controvertido afirmar que a mais deliberada, a
mais intencional, a mais dirigível é a escola. Teremos,
assim, de procurar, mais diretamente, atuar nessa ins-
tituição básica que, de certo modo, entre nós, deverá
suprir as deficiências das demais instituições, todas
elas em estado de defensiva e incapazes de atender,
com segurança e eficácia, a seus objetivos.
Ora, se assim é, a escola tem de ganhar uma
inevitável ênfase, pois se transforma na instituição
primária e fundamental da sociedade em transforma-
ção, e em transformação, queiramos ou não, preci-
pitada.
Por isso é que êste Centro de Educação Popular
tem as pretensões que sublinhei. É custoso e caro por-
queo custosos e caros os objetivos a que visa. Nao
se pode fazer educação barata comoo se pode
fazer guerra barata. Se é a nossa defesa que estamos
construindo, seu preço nunca será demasiado caro, pois
o há preço para a sobrevivência. Mas, exata-
mente, é que se ergue a grande dúvida nacional.
Pode a educação garantir-nos a sobrevivência? Acre-
dito que responderão todos afirmativamente a essa
pergunta. Basta que reflitamos sôbre a inviabilidade
da criatura humana ineducável. Nenhum des
discute que o anormal débil mental só pode sobre-
viver com o auxílio externo,o lhe sendo possível
produzir, nem sequer nutrir-se sozinho. Ora, o edu-
cável ineducado repete o caso do ineducável? Não.
Todos sabemos que sem educaçãoo há sobrevivên-
cia possível. A questão é sôbre a escola eo a edu-
cação. É sôbre a escola que o ceticismo nacional asses-
ta os seus tiroso certeiros e eficazes. O brasileiro
o acredita que a escola eduque. Eo acredita,
porque a escola, que possui até hoje, efetivamente
o educou.
Veja-se, pois, em que círculo vicioso se meteu
a Nação. Improvisa escolas de todo jeito porqueo
acredita em escolas senão como formalidade social
e, para preencher formalidade, de nada mais se pre-
cisa do que funcionários que conheçam as fórmulas
e porque só tem escolas improvisadas e inadequa-
daso acredita que escolas possam ser as formado-
ras eficientes de uma ordem social. Ouviu dizer, está
claro, que a Alemanha foi feita pelo mestre-escola,
ouviu dizer que o Japão era uma nação medieval nos
fins do século passado e se transformou em uma na-
ção altamente industrializada; ouve falar em todo o
progresso ocidental dos últimos duzentos anos, so-
brelevando espetacularmente o dos Estados Unidos,
filho todo êle da ciência e das escolas; ouve falar que
a Rússia se transformou em vinte anos e para istoz
da escola um instrumento de poder incalculável; mas
tudo isto lhe parece longe ou remoto. Em volta de
si, vê escolas improvisadas ou desorganizadas, sem
vigor nem seriedade, alinhavando programas e dis-
tribuindo, de qualquer modo, diplomas mais ou menos
honoríficos. Como acreditar em escolas? Tem razão
o povo brasileiro. E para queo tenha razão seria
preciso que reconstruíssemos as escolas. É êste esforço
que se está procurando aqui começar, Senhor Gover-
nador. Todo mundo sabe o que é educação. Qual-
quer pai ou qualquere pode vir dizer-nos que
coisa difícil e precária é educar. Em nossas casas,
todos estamos vendo como, dia a dia, fica mais difí-
cil exercer influência educativa sôbre os nossos filhos,
arrebatados, comos próprios, na voragem de mu-
danças, mutações e transformações sociais sem conta.
Estas dificuldades se alargam, chegam à Igreja. Che-
gam ao Estado e todos se sentem diminuídos em suas
forças e em suas respectivas autoridades. Só o edu-
cador profissional, preparado para o mister, com o
tempo e sossego, em uma instituição especial, como
a escola, poderá arcar com a tremenda responsabili-
dade do momento e da época. Mas, está claro, essa
instituição tem que contar com meios à altura das
dificuldades crescentes de sua função.
Daí esta escola, êste Centro aparentemente visio-
nário.o é visionário, é modesto. O começo que
hoje inauguramos é modestíssimo: representa apenas
um terço do que virá a ser o Centro completo. Custa-
,o apenas os sete mil contos que custaram estes
três grupos escolares, porém, alguns 15.000 mais.
Além disso, será um centro apenas para 4.000 das
40.000 crianças que teremos, no mínimo, de abrigar
nas escolas públicas desta nossa cidade. Deveremos
possuir, e jáo só êste, como mais nove centros
iguais a êste. Tudo isso pode parecer absurdo, entre-
tanto, muito mais absurdo será marcharmos para o
caos, para a desagregação e para o desaparecimento.
E de nada menos estamos ameaçados. Os que estão,
como cassandras, a anunciar e esperar a catástrofe e a
subversão, irão fazer as escolas que deixamos de fazer
para a vitória do seu regime. Se o nosso, o democrá-
tico, deve sobreviver, deveremos aparelhá-lo com o
sistema educativo forte e eficaz que lhe pode dar essa
sobrevivência. A inauguração, que hoje aqui se faz,
alimenta essa esperança e essa ambição. Bem sei que
a ambição é desmedida, mas que medida tem a sobre-
vivência democrática ?
Uma palavra ainda sôbre a organização do que
estamos a chamar de Centro de Educação Popular,
organização em que apoiamos a nossa confiança em
seu êxito.
Recordo-me que a construção dêste Centro re-
sultou de uma ordem de V. Exª, certa vez em que se
examinava o problema da chamada infância abando-
nada. Tive, então, oportunidade de ponderar que,
entre nós, quase tôda a infância, com exceção de filhos
de famílias abastadas, podia ser considerada aban-
donada. Pois, com efeito, se tinham pais,o tinham
lares em que pudessem ser educados e se, aparente-
mente tinham escolas, na realidadeo as tinham,
pois as mesmas haviam passado a simples casas em
que as crianças eram recebidas por sessões de poucas
horas, para um ensino deficiente e improvisado. No
mínimo, as crianças brasileiras, que logram freqüen-
tar escolas, estão abandonadas em metade do dia. E
êste abandono é o bastante para desfazer o que, por
acaso, tenha feito a escola na sua sessão matinal ou
vespertina. Para remediar isso, sempre me pareceu
que devíamos voltar à escola de tempo integral.
Tracejei, então, o plano dêste Centro que V. Exª
ordenou fosse imediatamente iniciado. A escola pri-
mária seria dividida em dois setores: o da instrução,
propriamente dita, ou seja, da antiga escola de letras,
e o da educação, propriamente dita, ou seja da escola
ativa. No setor instrução, manter-se-ia o trabalho
convencional da classe, o ensino da leitura, escrita e
aritmética e mais ciências físicas e sociais, e no setor
educação as atividades socializantes, a educação
artística, o trabalho manual, as artes industriais e a
educação física. A escola seria construída em pavi-
lhões, num conjunto de edifícios que melhor se ajus-
tassem a suas diversas funções. Para economia tor-
nava-se indispensável que se fixasse um número-
ximo para a matrícula de cada centro. Pareceu-nos
que 4.000 seria esse número, acima do qual nao seria
possível a manipulação administrativa.
Fixada, assim, a população escolar a ser atendi-
da em cada centro, localizamos quatro pavilhões,
como êste, para as escolas que chamamos de escolas-
classe, isto é, escolas de ensino de letras e ciências, e
um conjunto de edifícios centrais que designamos de
escola-parque, onde se distribuiriam as outras funções
do centro, isto é, as atividades sociais e artísticas, as
atividades de trabalho e as atividades de educação-
sica. A Escola-Classe aqui está: é um conjunto de 12
salas, planejada para o funcionamento melhor quer
possível do ensino de letras e ciências, com depen-
dências para administração e áreas de estar. É uma
escola parcial e para funcionar em turnos. Mas virá
integrá-la a Escola-Parque. A criança fará um turno
na Escola-Classe e um segundo turno na Escola-Par-
que. Nesta escola, além de locais para suas funções
específicas, temos mais a biblioteca infantil, os dor-
mitórios para 200 das 4.000 crianças atendidas pelo
Centro, os serviços gerais e de alimentação. Além da
reforma da escola, temos o acréscimo desse serviço
de assistência, que se impõe, dadas as condições so-
ciais. A criança, pois, terá um regime de semi-inter-
nato, recebendo educação e assistência alimentar.
Cinco por cento dentre elas receberão mais o inter-
nato. Serão as crianças chamadas propriamente de
abandonadas, sem pai nem mãe, que passarão a ser
o as hóspedes infelizes de triste orfanato, mas as
residentes da Escola-Parque, às quais competirá a
honra de hospedar as suas colegas, bem como a ale-
gria de freqüentar, com elas, as Escolas-Classe.
o poderei entrar aqui cm detalhes do funcio-
namento, um tanto complexo, do Centro, nem das
dificuldades naturais da constituição do seu numero-
so e variado corpo docente. Consintam-me, entretan-
to, uma observação. A maior dificuldade da educação
primária, que, por sua natureza, é uma educação uni-
versal, é a de obter um professor primário que possa
atender a todos os requisitos de cultura e aptidão
para um ensinoo vasto eo diversificado. A orga-
nização do ensino primário em centro desta comple-
xidade vem, de certo modo, facilitar a tarefa, sobre-
modo aumentada da escola elementar. Teremos os
professôres primários comuns para as escolas-classe e
para a escola-parque, os professôres primários espe-
cializados de música, de dança, de atividades dramá-
ticas, de artes industriais, de desenho, de biblioteca,
de educação física, recreação e jogos. Em vez de um
pequenino gênio para tudo, muitos professôres dife-
renciados em dotes e aptidões para a realização da
tarefa sem dúvida extraordinária de formar e educar
a infância nos seus aspectos fundamentais de cultura
intelectual, social, artística e vocacional.
A escola primária terá, em seu conjunto, algo
que lembre uma pequenina universidade infantil.
Mas, de nada menos, repito, precisamos em nossa
época, para ficarmos à altura das imposições que o
progresso técnico e científico nos está a impor. Quei-
ramos ou não, vamo-nos transformar de uma socie-
dade primitiva em uma sociedade moderna e técnica.
Os habitantes dêste bairro da Liberdade deixam um
estágio anterior aos tempos bíblicos de agricultura e
vida primitiva para emergir em pleno barato do-
culo vinte. Ou organizamos para eles instituições ca-
pazes de lhes preparar os filhos para o nosso tempo,
ou a sua intrusão na ordem atual terá o caráter das
intrusões geológicas que subvertem e desagregam a
ordem existente. O problema da educação é, por ex-
celência, o problema de ordem e de paz no País. Daí,
as linhas aparentemente exageradas em que o esta-
mos planejando."
Em 1961 estava o Centro quase concluído e assim
constituído:
a) Três escolas-classe, em funcionamento desde
1950.
b) A Escola-Parque, numa área arborizada de
42.000 m
2
com os seguintes setores: 1) pavilhão de
trabalho; 2) setor socializante; 3) pavilhão de edu-
cação física, jogos e recreação; 4) bibloteca; 5)
setor administrativo geral e almoxarifado; 6) o tea-
tro de arena ao ar livre, mais tarde se construindo o
último setor, o 7) artístico.
Sòmente na Escola-Parque há 6.203 m
2
de área
construída para educação em nível primário, algo iné-
dito, pela sua extensão e alcance na história da edu-
cação brasileira. É uma obra realmente invulgar, a
primeira, talvez, que se constrói, com tais caracterís-
ticas.
Examinando a documentação que o INEP (Ins-
tituto Nacional de Estudos Pedagógicos) colocou à
disposição da autora para êste livro, ao lado das cifras
do custeio da obra que, construída em nove longos
anos,o prejudicou a distribuição de verba que o
Instituto fazia aos outros Estados, salta-nos aos olhos
atônitos a correspondência, os telegramas, os depoi-
mentos e, afinal, tôda uma história que fica obscura
nos arquivos da repartição pública: a do esforço que
dispendeu um grupo de brasileiros: arquitetos, ope-
rários, educadores, engenheiros, funcionários, para
chegar à concretização da obra.
No mesmo Diário da Bahia, o mais antigo e
conceituado jornal de Salvador, em 1955, publicou-se
reportagem séria sôbre a melhoria da rede escolar
do Estado, que reafirma as dificuldades com que foi
erguido êste Centro, um contraste vivo com os galpões
improvisados, com os velhos casarões ou mesquinhas
instalações escolares existentes no País: "As dificul-
dades financeiras que c Estado enfrentava,o per-
mitiram o prosseguimento da obra. Como a ossatura
de um animal pré-histórico, ali jazia o arcabouço do
"setor de trabalho", à espera de recursos para a con-
clusão dos serviços. Veio, então, o MEC, através do
INEP em socorro do Estado, firmando com êste, na
data de 26 de agosto de 1952, convênio no valor de
cinco milhões e quinhentos mil cruzeiros, depois su-
plementados, em épocas diversas, em mais de um
milhão, duzentos e sessenta e nove mil, sessenta e seis
cruzeiros e quarenta centavos, sem se falar no forne-
cimento, naquele ano, de todo o equipamento, ma-
quinaria e mobiliário, no valor aproximado de dois
milhões de cruzeiros."
Tendo sido nomeado diretor do INEP em 1952
fato que o próprio Prof. Anísio Teixeira chamou
de "coincidência", foi possível então o prosseguimen-
to e término da obra em 1962, quando entrou em
funcionamento o setor artístico, com o teatro cuja ca-
pacidade é para cinco mil pessoas aproximadamente.
É uma experiência inédita de educação realizada
sem auxílio ou assistência técnica estrangeira de qual-
quer espécie. "Tudo sez com a prata de casa", como
disse seu criador, por ocasião da III Conferência Na-
cional de Educação, na própria Escola-Parque, em
1967. O corpo docente é constituído de professôres
baianos, alguns com aperfeiçoamento nos cursos do
INEP, no Rio de Janeiro, além de artistas e artesãos
qualificados. A direção geral do Centro é exercida
por professora formada em curso pedagógico de es-
cola normal de Salvador e que apresenta qualidades
pessoais,o só de conhecimentos da criança brasi-
leira das diversas classes, como de cultura ambiente,
da vida e de suas exigências.
Convênio de colaboração e assistência técnica
entre a Secretaria de Educação da Bahia e o Instituto
Nacional de Estudos Pedagógicos, assinado em 1957,
contribuiu de modo considerável para o prossegui-
mento e manutenção da experiência, que, afinal, pelo
número de meninos que atende atualmente, 3.770, tor-
nou-se uma escola econômica para o País. Em 1966,
foi calculado em média o custo de um aluno do
CECR: NCr$ 25,00 mensais, custo esse bem inferior
às mensalidades cobradas pelos jardins de infância
particulares.
É, afinal, um custo mínimo, considerando-se a
assistência que o aluno recebe, a educação integral,
em tempo integral, com professorado especializado,
em ambiente adequado. Atendendo a grande número
de alunos, reduz ponderàvelmente o custo per capita.
Um Centro de Educação primária como êste exi-
ge instalações adequadas, formação especializada de
seus professôres e abundante material, além de con-
dições para uma educação de qualidade, indispensá-
veis também a outras escolas, como as de Medicina,
de técnicas profissionais etc.
1
E, só pelo fato de uma escola pretender erguer
o povo de seu estágio semi-feudal para torná-lo um
grupo significativo de pessoas atuantes, numa socie-
dade democrática; só pelo caráter de laboratório de
treinamento do magistério, pela experimentação e de-
monstração de seu método de trabalho, o modêlo
para a construção da educação primária brasileira, se-
ria razoável seu alto custo, se fosse o caso.
Justifica-se que seja alto o custo de uma escola
primária quando ela representa a reforma da educa-
ção, que de sua expressão mais simples de duas horas
líquidas de classe de alienada teoria se transforme,
em verdadeiras comunidades, com suas múltiplas ati-
vidades, num conjunto de edificações que ofereçam
aos alunos oportunidade de estudo, de trabalho, de
recreação, de arte, de socialização que os levarão a se
tornar cidadãos responsáveis e integrados no plano
de desenvolvimento de seu país.
1
Em funcionamento de 1950 a 1969, com dezenove anos de vida, o Centro aindao é definitivamente aceito
como solução para a nossa educação primária.
Em 1964, a obra foi dada como terminada com
a construção da Escola-classe 4, apesar de faltar cons-
truir-se a residência destinada a 5% do total das
crianças, reconhecidamente abandonadas, que deve-
riam aí viver como se fosse a sua própria casa.
O Centro Educacional Carneiro Ribeiro tem 4
Escolas-Classe e uma Escola-Parque, num total de 11
prédios, e ocupa grande área do bairro da Liberdade.
Esta escola está localizada no meio das outras unida-
des, num raio aproximado de 1,5 km.
Objetivos gerais do CECR:
a) dar aos alunos a oportunidade de maior in-
tegração na comunidade escolar, ao realizar ativida-
des que os levam à comunicação com todos os colegas
ou com a maioria deles;
b) torná-los conscientes de seus direitos e de-
veres, preparando-os para atuar como simples cida-
dãos ou líderes, mas sempre como agentes do pro-
gresso social e econômico;
c) desenvolver nos alunos a autonomia, a ini-
ciativa, a responsabilidade, a cooperação, a honesti-
dade, o respeito a si mesmo e aos outros.
As Escolas-Classeo grandes prédios, amplos e
modernos, freqüentados atualmente por 3.770 alu-
nos, localizadas, respectivamente: Escola-classe 1, na
Liberdade; Escola-classe 2, no Pero Vaz; Escola-classe
3, na rua Marquês de Maricá, e Escola-classe 4, na
rua Saldanha Marinho, Caixa Dágua. Nesta última,
em 1964, passou a funcionar o ginásio, instalado em
1962, preferencialmente num dos pavilhões da Esco-
la-Parque, a fim de estender-se por mais quatro anos
a ação educativa do CECR sôbre os alunos maiores.
Estas escolas contam com 12 salas de aula cada
uma, áreas cobertas, gabinetes médico e dentário, ins-
talações para administração, jardins, hortas e áreas
livres. Nelas permanecem os alunos quatro horas,
em aprendizagem escolar das chamadas matérias de
ensino: linguagem, aritmética, ciências e estudos so-
ciais. Após o horário de classe, os alunos da manhã
encaminham-se para a Escola-Parque (e desta para
as classes, no horário desencontrado) onde permane-
cem mais quatro horas, completando seu tempo
integral de educação com as atividades dos diversos
setores. A diretoria, vice-diretoria, professôres e ser-
ventuários destas escolaso designados e mantidos
pelo Estado, com gratificação do INEP.
A Escola-Parque, localizada à rua Saldanha Ma-
rinho, 134, no bairro da Caixa Dágua, o segundo
setor do CECR, ocupa uma área de 42.292 m
2
, arbo-
rizada e gramada. Consta de sete pavilhões de ar-
quitetura moderna, à base de arcos que permitem
perfeita iluminação natural. Merece referência espe-
cial a decoração do pavilhão em que se acha insta-
lado o Setor de Trabalho, no qual podem ser apre-
ciados três grandes e belíssimos painéis dos artistas
Maria Célia Amado, Mário Cravo e Caribe; e dois
afrescos de Carlos Magano e Genner Augusto.
A função da Escola-Parque é importantíssima no
conjunto desse sistema educacional para alcançar-se
o objetivo da obra que é a educação integral de jovens
da classe popular. Nela os alunoso agrupadoso
apenas pela idade, mas por suas preferências, e dis-
tribuídos em turmas de 20 a 30 no máximo, pelos
diversos setores, todos em funcionamento para reali-
zar as seguintes atividades:
1 Setor de trabalho: artes aplicadas, indus-
triais e plásticas.
2 Setor de Educação Física e Recreação:
jogos, recreação, ginástica etc.
3 Setor Socializante: grêmio, jornal, rádio-
escola, banco e loja.
4 Setor Artístico: música instrumental, canto,
dança, teatro.
5 Setor de Extensão Cultural e Biblioteca:
leitura, estudo, pesquisa, etc.
3. Estrutura e Objetivos
do Centro de Educação
Integral
Completam o CECR, na Escola-Parque ainda:
6 Direção e Administração Geral do CECR;
Currículo, Supervisão e Orientação Educa-
tiva.
7 Assistência médico-odontológica aos alunos.
8 Assistência Alimentar.
A direção geral do CECR é exercida pela pro-
fessora Carmen Spínola Teixeira, pelas diretoras e
subdiretoras das Escolas-Classe, assistentes adminis-
trativos e técnicos nos diversos setores da Escola-
Parque. O corpo docente é formado de professôres
do magistério baiano, recrutados em Salvador e no
interior e que em sua maioria realizaram cursos de
aperfeiçoamento no Centro Regional de Pesquisas
Educacionais da Bahia, no Curso de Artes Industriais
no SENAI do Rio de Janeiro, na Divisão de Aperfei-
çoamento do Magistério, do Centro Regional de Pes-
quisas Educacionais de Belo Horizonte e em bolsas
nos Estados Unidos da América do Norte.
4. Um dia no Centro
4.1. Escolas-classe, como funcionam
Num completo entrosamento com a Escola-Par-
que, as quatro escolas primárias do CECR, chamadas
"escolas-classe", funcionam regularmente em dois
turnos, contando com a assistência do Setor do Currí-
culo e Supervisão, do Setor Médico-dentário, receben-
do ainda os alunos fardamento, material didático,
merenda e medicamentos necessários.
As Escolas-Classe 1, 2 e 3 atendem a crianças de
7 a 13 anos, em grupos organizados pela idade crono-
lógica: Turma A: de 7, 8 anos; Turma B: 8, 9 anos;
Turma C: 10 anos; Turma D: 11 anos e Turma E:
12 e 13 anos. Procura-se constituir a classe de alunos
com interesses comuns, próprios de cada idade, em
total oposição às conhecidas e artificiais classes ho-
mogêneas que só tomam em consideração a capaci-
dade mental do aluno e os resultados de exames.
A experiência levada a efeito no CECR, nas es-
colas-classe,o é inteiramente nova na Bahia, tendo
sido realizada na extinta "Escola de Aplicação"
1
do
CRINEP, durante os anos de 1956 a 1962. Consiste
na "desgraduação escolar" em que se visa:
a) abolir a "repetência" de conseqüênciaso
funestas para o aluno, a família, a comunidade e para
o Estado, do ponto de vista psicológico, social e eco-
nômico, e estabelecer a promoção automática;
b) situar o aluno dentro de seu grupo etário,
evitando-se situações de constrangimento, inibição,
desânimo, desistência de estudo ou falsa superiori-
dade;
c) garantir ao aluno matriculado a permanên-
cia na Escola durante 7 anos a que tem direito, qual-
quer que seja seu aproveitamento, de acordo com
suas possibilidades;
d) regularizar a matrícula, com o início da fre-
qüência escolar aos 7-8 anos e término aos 13.
A orientação das Escolas-Classe 1, 2 e 3 está
confiada a um grupo de 11 supervisores, permane-
cendo 3 em cada uma das escolas e 2 na sede do
CECR. Do total das classes em cada escola, trêso
consideradas experimentais ou integradas, com a in-
tenção de entrosamento do trabalho de classe com o
realizado na Escola-Parque.
Em entrevista pessoal com a direção do Centro,
obtivemos, numa síntese, a filosofia educacional que
norteia a renovação do ensino elementar naqueie
Centro:
Qual o programa adotado nas Escolas-Classe?
o, nas Escolas-Classe, um programa
único, nem bitola única a determinar promoções ou
reprovações. Há o ensino diversificado, o trabalho
em grupos nos 3 ou 5 em que a classe se divide
o estudo dirigido, a cooperação dos alunos mais de-
sembaraçados, que se encaminham para a autonomia
da aprendizagem e ao exercício da liderança. O grupo
de professoras que dirige o Setor de Currículo e Su-
pervisão está trabalhando num programa para o
CECR, todo êle desenvolvido através de "centros de
interesse" ou "unidades de trabalho".
2
Será um cur-
rículo de conteúdo essencial para atender às necessi-
dades exigidas pela filosofia de educação do CECR.
"Em que consiste a renovação do currículo
escolar propriamente, nas escolas do CECR?"
1
Uma Escola Diferente, Terezinha Êboli, Companhia Editora Nacional, 1969.
- Vide: Unidade de Trabalho. Pág. 29.
Em todas as áreas do currículo proposto, o
aluno deve tratar de conteúdos que o estimulem inte-
lectualmente, que tenham significado para sua vida,
que se relacionem com o que já lhe é familiar ou que
possam ser usados na solução de problemas. Conteúdo
que tem pouco significado para as crianças ou que
represente uma ginástica mental (por exemplo, me-
morizar as capitais de todos os Estados),o tem
lugar no currículo moderno. Um currículo escolar que
dependa em grande parte de uma rotina de memória
e recordação de fatoso estimula a curiosidade in-
telectual e a criatividade da criança. A aprendizagem
é muito mais eficiente quando o aluno é um ativo
participante na descoberta do conhecimento. Temos
registrado, como exemplo, grande êxito com a ma-
temática moderna, nas escolas-classe. As classes ex-
perimentaiso organizadas pela iniciativa dos pró-
prios alunos; há grande variedade de atividades nelas:
correios, clubes, jornal, biblioteca, banco, lojas, rádio-
escola etc. Nelas foram substituídas as aulas teóricas
pela introdução das Unidades de Trabalho nas quais
se usa a prática de atividade em grupo, as pesquisas,
em vez de memorização de pontos; as excursões onde
o aluno vê e observa eo apenas tem notícia teórica;
as entrevistas onde êle pergunta, investiga e tira con-
clusões; a habilidade de consultar dicionários, enciclo-
pédias e livros, índices, catálogos, revistas etc.
"Poderia dar-nos alguns exemplos dessas Uni-
dades de Trabalho?"
Nas turmas A, por exemplo, as crianças es-
tudaram, em 1968: "Comoo as nossas casas", "A
água e sua utilidade", "Os elementos". Nas turmas
C, "Atrações turísticas da comunidade", "Govêrno,
comércio e indústria da comunidade", "A eletricida-
de e sua utilidade". Nas turmas E: "A vida na Re-
gião Norte". Nas turmas D: "Aratu, futuro da
Bahia" etc.
"Comoo alfabetizadas as crianças do
CECR?"
Os professôres das turmas A, isto é, dos alu-
nos analfabetos, orientados pelas supervisoras do Se-
tor de Currículo e Supervisão, adotam dois métodos
de alfabetização: o fônico, de Iracema Meireles (Ca-
sinha Feliz e o de contos, de Maria Yvone de Araújo
(Meninos Travessos). A maioria é alfabetizada pelo
método fônico. Tem sido verificada a maturidade
destes alunos, para a aprendizagem de aritmética, lei-
tura e escrita, através dos testes Abe de Lourenço
Filho, Kern ou pelo teste estandardizado de Zazo.
"Que outras atividades desenvolvem as esco-
las-classe além das curriculares?"
Escotismo, Associação de Pais e Professôres,
Catecismo, clubes, excursões, campanhas para melho-
ria do aprendizado.
"Como é controlado o progresso do aluno
para sua promoção automática?"
Na verificação do progresso do aluno, além
do conceito do professor decorrente de suas observa-
ções,o usados trabalhos, testes, provas organizadas
pelo Setor de Currículo e Supervisão. Conforme o
resultado dessas verificações, organizam-se cursos in-
tensivos de recuperação para os deficientes, com muito
bom resultado como o que sez em 1967, nas férias
juninas, para 200 alunos das turmas D e E das três
escolas-classe, que apresentavam deficiência em lin-
guagem e matemática. Os alunos de 11, 12 e 13 anos
que apresentarem, de acordo com a indicação das pro-
fessoras e a prévia verificação de maturidade, conhe-
cimento e atitude correspondente a uma educação
primária satisfatória, candidatam-se ao exame de co-
clusão de curso primário e matrícula na Escola-classe
4, na 1* série complementar. Mesmo aquêles que
o apresentem o "satisfatório" resultado exigido,
m uma oportunidade de freqüentar a Escola-classe
4, como "aluno extra". Quando atingem 15 anos, a
idade regulamentar, qualquer que seja o nível alcan-
çado,o podendo continuar na escola,o encami-
nhados às escolas noturnas, infelizmente, em número
muito reduzido no Estado.
O currículo adotado nas 5ª e 6ª séries primárias
é formado de:
1) Disciplinas obrigatórias (Escolas-classe):
Português, Matemática, Estudos Sociais, Ciên-
cias, Francês e Religião.
2) Práticas Educativas (Escola-Parque) :
Artes Industriais, Atividades Socializantes, Edu-
cação Física, Atividades Artísticas e Atividades Cul-
turais Biblioteca.
"Quantas e de que tipoo as estagiárias, ou
bolsistas que freqüentam o CECR, atualmente?"
o 75 estagiárias, 52 com ginásio incom-
pleto e 23 com o curso de regente, do Curso de Re-
gentes para o Ensino Primário, promovido pelo
INEP, em colaboração com a UNICEF e UNESCO.
Os bolsistaso procedentes dos municípios baianos
com maior carência de professôres para o exercício
do magistério primário. O CECR já promoveu outros
cursos para divulgar seus processos de ensino. Já ti-
vemos bolsistas na área recreativa, no setor de artes
industriais etc.
Na ESCOLA-CLASSE 4, funcionam: a Educação
Complementar (correspondente a 1ª e 2ª séries gi-
nasiais), e a educação ginasial (3ª e 4ª séries gina-
siais) de preferência para os alunos que cursaram o
primário no CECR.
A Educação Complementar é a ampliação e o
melhoramento do ensino primário adaptado às ne-
cessidades atuais. Considerando que a maioria dos
que freqüentam o CECR se encaminha para as ativi-
dades de trabalho, sua direção resolveu alongar o
período de escolaridade comum obrigatória, introdu-
zindo no currículo do complementar atividades e dis-
ciplinas tradicionalmente integradas ao curso secun-
dário; há uma combinação de atividades práticas de
trabalhos de iniciação profissional e artesanato com
as disciplinas teóricas.
As duas séries complementaresm como sede
a Escola-Classe 4 para o aprendizado das disciplinas
e os setores da Escola-Parque, tal como as outras
crianças do Centro, para as práticas educativas, tendo
seu curso também em tempo integral.
Atendendo a adolescentes de 13 e 14 anos, pro-
cura dar-lhes oportunidade de preparar-se melhor
para a vida e integrar-se socialmente através do co-
nhecimento mais completo do meio em que vivem,
bem como dos seus direitos e deveres na comunidade;
da formação de atitudes e hábitos de convivência so-
cial, de gosto artístico e de vida sadia; da iniciação
técnica, de acordo com seus interesses e aptidões que
lhes facilite futuras escolhas de uma atividade pro-
fissional.
O currículo é flexível e seus programas, embora
mais adiantados que os do curso primário tradicional,
o executados em classes do estilo do curso primário
e por reduzido número de professôres de nível médio
e de professôres primários que já tenham participado
de experiências com a 6ª série primária.
o ministradas as seguintes disciplinas e práti-
cas educativas nas séries complementares:
Disciplinas:
Português, Matemática, Iniciação à Ciência, Geo-
grafia, História, Estudos Sócio-econômicos baianos,
Organização Social e Política Brasileira, Higiene
(para meninos) e Higiene e Puericultura (para me-
ninas).
Práticas Educativas:
Educação Física, Artes Industriais e Domésticas,
Atividades Comerciais, Atividades Artísticas e Exten-
o cultural.
A escola complementar do CECR está vinculada
ao 1" ciclo do ensino médio e suas duas sérieso
equivalentes às duas primeiras séries do ginásio.
As práticas educativas, sejam artes industriais ou
atividades comerciais, o aluno poderá realizar na co-
munidade, apresentando à Escola comprovante men-
sal de freqüncia e aproveitamento na respectiva ati-
vidade.
O GINÁSIO DO CECR tem como objetivo dar
continuidade à formação dos alunos dêste Centro, a
qual, iniciada em nível primário, prossegue em nível
complementar e conclui-se com a 3ª e 4ª séries gina-
sial visando a maior integração do aluno na comu-
nidade a que pertence. Funciona em regime de exter-
nato noturno, no horário das 19 às 22 horas e aos
sábados das 13 às 17 horas.
O currículo da 3ª e 4ª séries do Ginásio do CECR
é constituído das seguintes disciplinas e práticas edu-
cativas:
Disciplinas:
Português, Matemática, Geografia, História, Or-
ganização Social e Política Brasileira, Ciências Físicas
e Biológicas, Desenho, Noções de Comércio e Inglês.
Práticas Educativas:
Educação Física, Extensão cultural, Religião e
Educação Artística.
Estando seu regimento interno de acordo com a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o
Ginásio é orientado pela direção e coordenação peda-
gógica que, através dos planos de cursos dos diversos
professôres, procuram levar o aluno a uma formação
brasileira e à integração social pelo estudo de nossa
língua, nossa história, nossa literatura, nossa civili-
zação e pelos estudos matemáticos e científicos indis-
pensáveis à cultura média atual.
Funciona ainda no Ginásio: o Serviço de Orien-
tação Pedagógica (SOE), confiado a pessoal espe-
cializado em curso de orientação educacional; os con-
selhos de classe ou pedagógicos, constituídos por pro-
fessôres, os conselheiros de série e turma, por alunos,
e o Grêmio Estudantil.
Ao lado do currículo da 3ª e 4ª séries ginasiais,
constituído de 9 disciplinas e 3 práticas educativas,
existem, ainda, as chamadas atividades complemen-
tares.o atividades relacionadas: a) com progra-
mas de estudo de uma ou mais disciplinas; b) com
a vida social, artística e recreativa dos alunos e da
comunidade; c) com atividades vocacionais.
Essas atividadeso organizadas em forma de
clubes, tais como: clube de ciência, de literatura, de
línguas estrangeiras, de arte musical, de artes domés-
ticas, de enfermagem de urgência, de jornalismo etc.
O Serviço de Orientação Educacional é um órgão
de atendimento individual ou em grupo, que, através
da orientação dos alunos, dos pais ou professôres,
procura solucionar os problemas que surgem na es-
cola. Procura resolver casos de disciplina ou desa-
justamento do aluno; captar a confiança dos pais, es-
clarecer o professor, enfim, imprimir tranqüilidade no
ambiente escolar para evitar a aplicação das penali-
dades previstas no regulamento. É um órgão de
grande importância no CECR.
"Numa síntese, em que o CECR poderá con-
tribuir para a melhoria do ensino primário no País?"
Na indicação de alguns dos caminhos que
adotamos. Em linhas gerais: fazer um melhor uso
das coisas que sabemos sôbre as crianças; fazer da sala
de aula um laboratório para a vida democrática; me-
lhorar o ambiente da classe; prover materiais efi-
cientes de aprendizagem, desenvolver melhores pro-
cedimentos para o trabalho com os pais; empregar
mais adequadamente as conclusões de pesquisas sôbre
o ensino das matérias escolares; e desenvolver um
programa de avaliação do progresso do aluno e pro-
curar manter a escola em harmonia com a vida da
sociedade, que rapidamente se vem modificando.
4.2. Serviço de Coordenação Pedagógica e
Orientação Educacional
O Setor de Currículo e Supervisão do Centro,
encarregado da orientação pedagógica e educacional
das três escolas de nível primário, Escolas-Classe 1,
2 e 3, procura realizar um trabalho consciencioso. Sob
a responsabilidade de uma pequena equipe de profes-
soras primárias, com cursos de aperfeiçoamento e es-
pecialização, seu trabalho consiste em dirigir o ensino
através dos departamentos de supervisão, estudo, ex-
perimentação, biblioteca e elaboração do currículo,
que recebe, por sua vez, orientação da diretora geral
do CECR.
Através da supervisão, essa equipe coordena o
trabalho de assistência e orientação às classes; visita
as classes em horários regulares e sistemáticos, regis-
trando em diários, para posterior debate em reunião
de grupo, as observações e problemas surgidos. Atra-
s do departamento de estudo, organiza cursos para
corrigir as deficiências, dinamizar ou renovar os-
todos de trabalho das professoras de classe; distribui
apostilas e bibliografia. A biblioteca circulante dêste
Setor, especialmente criada para fornecer livros di-
dáticos modernos ao professorado do CECR, revistas
e outras publicações educativas, funciona sob a deno-
minação de Centro de Currículo. O grupo que se
dedica a experimentação e elaboração do currículo,
desenvolve a aplicação de testes e medidas de avalia-
ção, experiências gerais, queo tentativas de mu-
dança para melhoria do ensino.
Em entrevista com a professora que desde 1963
vem dirigindo o Setor, considerado da maior impor-
tância pela direção geral no seu plano de melhoria
da qualidade do ensino primário, obtivemos as se-
guintes informações:
Para chegar a dirigir um Setor de Currículo
e Supervisão de um Centro de Educação como êste,
que formação foi necessária?
Diploma de professora primária inicialmente,
a grande experiência de trabalho experimental da
extinta Escola de Aplicação do CRPE, verdadeiro la-
boratório de idéias e ações educativas integradas, par-
ticipação como bolsista dos cursos do antigo PABAEE
(Programa de Aperfeiçoamento Brasileiro-Americano
do Ensino Elementar), onde adquiri todo o conheci-
mento acerca de currículo e supervisão e, por fim,
aprimoramento nos U.S.A. também como bolsista, nas
mesmas áreas.
Atualmente estou cursando a Faculdade de Edu-
cação da Universidade da Bahia, à noite.
Que objetivos pretende atingir seu trabalho
nas Escolas-Classe?
Nosso trabalho, meu e da minha equipe,
pretende experimentar, em cada classe, meios de le-
vá-la a uma aprendizagem real; mudar as práticas de
ensino gradualmente, e depois de bem seguras do
novo processo que experimentamos, incorporar em
nosso padrão de ensino cada nova idéia que tenhamos
testado com sucesso; enfim procurar avaliar, continua-
mente, os meios usados e os resultados obtidos no
ensino.
E, como pretendem atingir esses objetivos,
isto é, na prática, como se desenvolve o trabalho?
Selecionamos nove professoras de classe que
se dispuseram a fazer a experiência das "Unidades
de trabalho". Em geral, procuramos aquelas que re-
velaram paciência, persistência e bom humor indis-
pensáveis a um trabalho de caráter experimental,
como também amor às crianças e bom entrosamento
com o grupo. E então, com a assistência diária da
equipe de orientação, iniciamos em nove classes, de-
nominadas "classes integradas", a nova experiência,
visando, na medida do possível, a associação das ati-
vidades de classe com as de trabalho e as atividades
sociais. Além do trabalho direto nas classes, o plano
envolve atualização de procedimentos de ensino, atra-
s de estudos, debates, palestras, cursos, bem como
a elaboração do currículo experimental para o Cen-
tro no próprio Setor. É preciso registrar que todas
as classes das escolas recebem assistência permanente
do Setor e que as escolhidas para a experiência rece-
bem assistência diferente por serem de experimen-
tação.
Como é que o aluno trabalha numa "classe-
experimental" do CECR?
Procurarei dar um exemplo para melhor com-
preensão de uma "Unidade de Trabalho" que lhe vou
oferecer.
l
Por exemplo: os alunos do grupo B estão
estudando a "Vida numa Fazenda", na sala de aula;
no setor de trabalho estão fazendo desenhos de ani-
mais e bordando um mural com motivos campesinos.
No teatro, terão ocasião de estudar fábulas para levar
à cena, em dramatizações. Na Biblioteca estudam,
pesquisam assuntos relativos a animais, cultivo de
terras, alimentos, saúde, hábitos e costumes do inte-
rior, previamente planejados com os professôres. No
setor Recreativo há inúmeros jogos relacionados com
a vida dos animais, em suma, procura-se estabelecer
um entrosamento enquanto perdura o interesse do
aluno.
E a equipe anda satisfeita com os resultados
do trabalho?
Sim e não. Sim, porque: esforçamo-nos para
ser atendidas e o conseguimos, pela maioria das co-
legas que lecionam no CECR; porque temos conse-
guido a substituição da aula teórica pela unidade de
trabalho na qual se usa a prática de trabalho de grupo;
a prática de pesquisas, em vez de memorização de
pontos, através da qual o aluno assimila,o decora;
a prática de excursão, onde o aluno vê e observa e
o apenas tem notícia; a prática da entrevista, onde
êle pergunta, investiga, tira conclusões. Sim, também,
porque o ensino é feito em função do levantamento
de problemas sugerido pelo aluno,o do plano
imposto pelo professor; porque avaliamos nossos
alunos com freqüência e os que se apresentam defi-
cientes, conseguimos recuperar nos cursos de comple-
mentação; sim ainda, porque temos conseguido dar
assistência aos professôres através de reuniões, aulas,
visitas às classes, distribuindo livros e apostilas, e que
estamos com boa parte do nosso currículo já pronto
e mimeografado. Para terminar, digo-lhe que não,
porqueo fomos suficientemente capazes de con-
vencer algumas professoras que continuam usando
técnicas e tratamentos superados; não, porque encon-
tramos, ainda, enraizada em alguns professôres a
falsa idéia de que trabalhar com uma classe suposta-
mente homogênea é mais eficiente, em vez de pensar
que cada aluno é um indivíduo e revela necessidades
diferentes. . .
Exemplo de uma "Unidade de Trabalho", como
meio de ensino das classes experimentais, levada a
efeito na turma D da Escola-Classe 1, em 1967:
"POR QUE A CIDADE DE BRASÍLIA FOI CONSTRUÍDA NA
REGIÃO CENTRO-OESTE?"
I Justificativa:
O estudo da presente unidade surgiu do interes-
se dos alunos pelos festejos comemorativos do ani-
versário de Brasília.
1
As "Unidades de Trabalho"o realizadas e mimeografadas para os professôres e documentação do Setor.
II Esquema do conteúdo:
A Brasil Central aspecto físico bacias
fluviais vias de comunicação Prin-
cipais cidades da Região Centro-Oeste
principais acidentes físicos. Produção:
reino vegetal, animal e mineral. Vias de
comunicação. Clima. População. Tipos
regionais. Brasília, sua divisão em Zona
Urbana, Cidades satélites, Zona Rural.
B O governo de Juscelino Kubitschek, con-
centração de autoridade federal e poderes
estaduais.
C — O Presidente Costa e Silva.
1 PODER LEGISLATIVO: Congresso Na-
cional Senadores, deputados e ve-
readores.
2 PODER EXECUTIVO.' Presidente da
República; Conselho de Minis-
tro; Govêrno do Estado; Pre-
feitos-Secretários.
3 PODER JUDICIÁRIO; Supremo Tribu-
nal Federal, Tribunal Estadual e
juizes.
D Os índios do Centro-Oeste, vida e costu-
mes. Rondon. Serviço de Proteção aos
índios. Tribos: Tupi,, Nuaruaque, Ca-
rajá, Bororó etc.
III Objetivos:
Aquisição de conhecimentos, atitudes, habili-
dades.
A Conhecimentos generalizados:
Esperamos que a criança adquira os se-
guintes conhecimentos
O nome da capital do Brasil Brasília.
Brasília está dividida em 3 partes: urbana, ci-
dades satélites e zona rural.
Zona Urbana é a parte mais movimentada da
cidade, onde estão localizados os melhores pré-
dios.
Cidades satéliteso chamadas as cidades lo-
calizadas nos arredores de Brasília.
o 4 as cidades satélites: Taguatinga, Sobradi-
nho, Planaltina e Gama.
Cada cidade satélite é governada por um sub-
prefeito.
O subprefeito dessas cidades é nomeado pelo
prefeito de Brasília.
As cidades satélites possuem escolas, assistência
médica, água canalizada, correio, telégrafo, trans-
porte etc.
As cidades satélites contam com meios de diver-
são: cinema, clubes recreativos etc.
As cidades satélites estão ligadas a Brasília por
amplas e modernas estradas de rodagem.
Taguatinga é a cidade satélite de maior desen-
volvimento.
Zona Ruralo lugares mais afastados de
Brasília, onde estão situados os sítios e granjas.
A Zona Rural é conhecida também com o nome
de Cinturão Verde.
Os moradores da Zona Rural dedicam-se à agri-
cultura e avicultura.
A cidade de Brasília, as cidades satélites e a zona
rural formam o Distrito Federal.
Distrito Federal é uma área à parte de qualquer
Estado, escolhida e destinada pela União para
a organização e funcionamento do governo do
País.
O solo de Brasília é revestido de campos natu-
rais e alguns cerrados com matas escassas.
A idéia de mudança da capital do Brasil para o
interior data de muitos anos.
O nome de Brasília foi sugerido pelo Patriarca
José Bonifácio de Andrada e Silva.
No Govêrno do Presidente Juscelino Kubitschek
de Oliveira foram dados os primeiros passos para a
construção de Brasília.
Contribuíram na construção de Brasília muitas
pessoas, distinguindo-se na direção da arquitetura
Oscar Niemeyer e no urbanismo Lúcio Costa e os can-
dangos.
A 1ª missa de Brasília foi celebrada por Dom
Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota, no dia 3 de
maio de 1957.
As primeiras construções de Brasília foram: Ca-
tetinho, Palácio da Alvorada, Ministérios, Super-
quadras.
O primeiro núcleo provisório de Brasília foi a
cidade livre.
A cidade livre prestou relevantes serviços à cons-
trução de Brasília.
No dia 21 de abril de 1960, Brasília foi oficial-
mente inaugurada como a capital do Brasil.
O Distrito Federal fica situado no Planalto Cen-
tral em terras que antigamente pertenciam ao Estado
de Goiás.
Brasília fica situada na Região Centro-Oeste do
Brasil.
A Região Centro-Oeste fica situada na parte
centro ocidental do Brasil.
A Região Centro-Oeste compreende os Estados
de Mato Grosso e Goiás e o Distrito Federal.
O tipo de vegetação desta região é muito varia-
da, predominando as grandes florestas ao norte.
O relevo é constituído principalmente de planal-
tos aplainados. Há uma grande planície: o Pantanal.
Grandes rios amazônicos e platinos, vegetação de
cerrados em grandes extensões, matas geralmente nos
vales mais úmidoso características dessa região.
O clima da Região Centro-Oeste apresenta-se
tropical típico.
As principais cidades são: Goiânia, Anápolis, Co-
rumbá, Campo Grande, Porto Nacional, Pirenópolis
etc.
A população da Região Centro-Oeste é de
3.066.866 habitantes aproximadamente.
As principais produções desta Região: arroz, café,
borracha, mate, milho, babaçu, cana-de-açúcar, ma-
deira de construção, gado bovino, suíno, eqüino, muar;
minerais: ouro, diamante, cristal de rocha, níquel,
mármore, manganês.
Vias de comunicação: estrada de rodagem, vias
férreas, navegação fluvial, navegação aérea.
Na Região Centro-Oeste confrontam-se as maio-
res bacias fluviais brasileiras: Amazonas e Platina.
À Bacia Amazônica pertencem os rios: Xingu,
Tapajós, Tocantins e seu afluente Araguaia, que vai
formar a ilha de Bananal.
À Bacia Platina pertencem os rios Paraíba, Pa-
raguai e Paraná.
Os principais portos fluviais são: Corumbá, no
rio Paraguai e Murtinho.
Na região Centro-Oeste encontramos os seguin-
tes tipos regionais: vaqueiro, garimpeiro, faiscador,
agricultor, boiadeiro, castanheiro, seringueiro.
B Atitudes
Ao desenvolver êste trabalho queremos
conduzir o aluno a formar atitudes de:
Interesse pela história da cidade de Brasília.
Interesse em estudar a Região Centro-Oeste.
Admiração pelo trabalho dos que construíram
Brasília.
Valorização do trabalho do homem de acordo
com o meio em que vive, procurando melhorar suas
condições de vida.
Respeito pelas autoridades do País.
C Habilidades
Desejamos que os alunos desenvolvam ha-
bilidades de:
Consultar fontes de informação.
Localizar Brasília no mapa.
Localizar a Região Centro-Oeste no mapa do
Brasil.
Confeccionar e desenhar material relacionado ao
assunto.
Reconhecer nos mapas os acidentes geográficos
da Região.
Sumariar idéias.
Relatar oralmente e por escrito as informações
colhidas.
Usar dicionários.
Saber encontrar o material necessário ao traba-
lho.
Repartir com os colegas o material de que pre-
cisa.
D Atividades previstas
Pesquisas (livros, revistas, jornais), entrevistas,
construção e uso de material auxiliar audiovisual,
observação dirigida e discussão.
E Seleção e preparo de material
Livros, gravuras, revistas, reálias, mapas, mural,
material tridimensional, desenhos, álbuns e cartazes.
Unidade em ação:
I Iniciação
A Esta unidade de trabalho foi iniciada a
24-4-1967, com um arranjo da sala de aula
que constou de: mapa do Brasil e da Re-
gião Centro-Oeste, gravuras, fotografias,
reportagens, diversas revistas, bateia, reá-
lias, livros de vários autores, dicionários e
no quadro de giz escrito um acróstico
sôbre Brasília; ficando a sala de aula bem
sugestiva, focalizando Brasília e a Região
Centro-Oeste em todos os seus aspectos.
B Levantamento de perguntas feitas pela
classe:
Onde está situada Brasília?
Como surgiu Brasília?
Quem fundou a cidade de Brasília?
Como está dividida a cidade de Brasília?
Em que lugar está situado o Palácio da Alvo-
rada ?
Quais as casas bancárias existentes em Brasília?
O que Juscelino Kubitschek era quando Brasília
foi construída?
O que Costa e Silva faz em Brasília?
Quais os Estados que formam a Região Centro-
Oeste?
Quais os meios de comunicação existentes?
Quem sugeriu a idéia do nome de Brasília?
Qual o clima da cidade de Brasília e de tôda
Região Centro-Oeste?
Na Região Centro-Oeste há realmente florestas?
Existe Escola como a nossa em Brasília?
Qual a superfície e população de Brasília?
Quantos anos tem Brasília?
Como se chama a pessoa que nasce em Brasília?
O que significa aquêle objeto? (bateia)
O que quer dizer garimpeiro?
Quem trabalha com a bateia?
De onde se tira a borracha?
Em que parte do Brasil se encontra a seringuei-
ra?
Para que serve a borracha?
Quem é o seringueiro?
Quais as produções da Região Centro-Oeste?
Quais os rios encontrados na Região Centro-
Oeste?
Há indígenas na cidade de Brasília?
Quais as armas que os índios de Goiás ainda
usam ?
Quais as tribos indígenas existentes na Região
Centro-Oeste?
Por que os índios usam ornamentos na boca?
Quais os usos e costumes dêsses índios?
Qual a habitação dos índios de Goiás?
Qual a língua falada pelos índios?
Há serviço de proteção ou ajuda aos índios?
Os índios existentes na Região Centro-Oeste ain-
dao antropófagos?
Qual a alimentação dos índios e de todos os ha-
bitantes da Região Centro-Oeste?
Como e quando surgiu a idéia de mudar a ca-
pital do Brasil para Brasília?
II Desenvolvimento
A Agrupamento e organização de perguntas.
B Atividades sugeridas pelas crianças.
Pesquisas, discussões, entrevistas, confecção de
material, trabalho de grupo, relatório, leitura de re-
vistas, boletins, jornais e confecção de mapas.
III Atividades executadas
A Pesquisas:
Livros sôbre Brasília.
Procurando nos jornais artigos sôbre Brasília e
Região Centro-Oeste.
Lendo revistas, folhetos, guias turísticos relacio-
nados ao assunto.
B Organização de cartazes
Cada grupo confeccionou um cartaz den-
tro das questões planejadas.
C Discutiram as informações colhidas.
D Escreveram relatório das pesquisas rea-
lizadas.
E Leram livros, consultando dicionário, re-
portagens relacionados ao assunto.
IV Atividades correlatas
A LÍNGUA PÁTRIA
1 Linguagem escrita:
Composição Brasília, sua fundação.
Cartas de convite, de agradecimento, de pedi-
dos, de felicitações.
Ditado de trechos referentes ao tema.
Relatórios.
Resumos.
Cartões.
2 Linguagem oral:
Ler e ouvir trechos referentes à Região Centro-
Oeste.
Discutir notícias de revistas, jornais sôbre Bra-
sília e tôda a região Centro-Oeste.
Coleta de dados de vários livros, dentro do as-
sunto a estudar.
Retenção mental do sentido de um trecho para
expô-lo oralmente.
Informações sôbre determinado assunto.
3 Gramática:
Aplicar ocasionalmente.
B ARITMÉTICA
Resolver problemas com relação a produções,
população, superfície da Região Centro-Oeste.
Os símbolos da Matemática Moderna.
Propriedades da adição.
Soma, subtração, multiplicação.
Conjunto, subconjunto, igualdade de conjuntos.
Sistema monetário brasileiro — o cruzeiro novo,
relação com o atual.
Geometria Ângulos.
C CIÊNCIAS
1 Vegetais:
Origem, clima e terrenos próprios, utilidade,
centro de maior produção.
Cana-de-açúcar.
Coco babaçu.
Erva-mate.
Fumo.
Café.
Mandioca.
Batata.
Cereais.
Borracha.
Madeiras de construção.
2 Animais:
Mamíferos, característicos físicos.
Classificação.
Utilidade.
Indústrias derivadas: charque, couro, chifre etc.
3 Minerais:
Ouro, diamante, níquel, cristal de rocha, már-
more, manganês.
4 Higiene:
Formação de bons hábitos de higiene.
Compreender os prejuízos que trazem ao orga-
nismo o uso do fumo e do álcool.
D ARTES
1 Desenho.
2 Poesia para leitura e crítica.
V Apresentação
Realizada através de uma exposição de trabalhos
e entrevista com a professora, que transmitiu infor-
mações suficientes das questões elaboradas pela classe
e que alcançaram os objetivos necessários previstos.
Em seguida, foi lido pelos coordenadores dos grupos
o relatório das atividades da Unidade de Trabalho.
VI Avaliação
A avaliação acompanhou todo o desenvolvimen-
to da Unidade através de:
Desenhos, composições, exercícios e teste final
para medir os conhecimentos adquiridos.
A verificação e mensuração da aprendizagem no
Centro se faz, de preferência, através de trabalhos de
equipe, exercícios, lições orais e provas objetivas. Na
ficha adotadao registradas: a avaliação feita pela
própria equipe, quando é o caso, e a realizada pelos
professôres.o considerados os seguintes aspectos
da atitude do aluno: interesse, pontualidade, coope-
ração, contribuição individual, responsabilidade, senso
de organização, comportamento, honestidade, partici-
pação ativa e delicadeza.
4.3 Escola-Parque: Pequena Universidade
Infantil
Um muro branco e simples, como de qualquer
casa, separa o mundo da Escola-Parque do mundo cá
de fora. Quem passa pela rua Saldanha Marinho, no
bairro popular da Caixa Dágua,o imagina que
atrás daquele despretensioso portão existe uma es-
cola que, em seu conjunto, lembra "uma pequena uni-
versidade infantil". Só penetrando nela e aí perma-
necendo algum tempo é que se poderá compreender
sua significação para aquêles meninos alegres e de-
sinibidos que se movimentam de um setor para outro,
com seus uniformes azuis!
Às 7,30 horas da manhã, os ônibus do CECR pe-
netram na área de estacionamento da Escola-Parque e
os professôres descem em seus uniformes azul-mari-
nhos, dirigindo-se ao setor administrativo para a ba-
tida do ponto e em seguida misturarem-se com os
alunos, encaminhando-se para os diversos pavilhões.
o há formalismo,o há rigidez na disciplina. Em
poucos minutos, aquela onda humana é absorvida
pelos setores onde inicia suas atividades. Os ruídos
das serras elétricas, das máquinas de costura, os mar-
telos batendo solas, metal ou madeira, no setor de
trabalho; a melodia do piano, da banda de música,
do canto coral que se eleva do setor artístico; os api-
tos de jogos, a marcação sistemática de ginástica no
setor recreativo, ou a hora da ida à cantina, onde os
vasilhames enormes completam a sinfonia com seu
barulho característico, tudo se nos afigura como um
grande painel de vida e educação. Algo assim como
um desafio ao marasmo do ambiente de tantas es-
colas.
Em reportagem publicada no jornal A Tarde.
de Salvador, a 20 de maio de 1967, sob o título "A
obra monumental que o Brasil desconhece", assim se
expressou a jornalista Aríete Bueno:
"Por que estamos usando desta linguagem
superlativa com relação ao CECR? Porque aca-
bamos de conhecê-lo. E no caminho de volta
viemos debatendo-nos entre duas emoções con-
traditórias: um enorme orgulho verde-amarelo
por ter constatado de quanto somos capazes,
quando realmente nos dispomos a fazer as coisas
bem feitas; e certa melancolia, também verde-
amarela, por ver quanto somos idiotamente cegos,
abandonando a uma obscuridade incompreensí-
vel as obras máximas. Ficamos um pouco enver-
gonhados até ao saber que o Centro Educacional
Carneiro Ribeiro, focalizado em reportagens por
diversas revistas estrangeiras, conhecido e divul-
gado na O.N.U. e objeto de visita de técnicos em
educação de diversos países, é quase completa-
mente desconhecido,o só em todo o Brasil,
mas até aqui na Bahia."
O pioro será tanto a falta de reconhecimento
público pela obra, mas a ausência de recursos finan-
ceiros que, dia a dia, nos orçamentos seo reduzin-
do, o que poderá levar à extinção total da obra, que
tem sobrevivido pelo esforço da equipe abnegada que
a dirige e de alguns administradores que fazem mi-
lagres com o reduzido orçamento.
a) A Cantina Assistência Alimentar
Num livro sôbre educação, muitos pergunta-
rão, por que, em primeiro lugar, a cantina? A assis-
tência alimentar de uma escola brasileira ainda é um
dos grandes atrativos para a população que chega
em busca de matrícula. Um pequenoo é abençoa-
do por umae de aluno pobre, com quinze filhos
para alimentar, quanto mais uma merenda completa
e um almôço-lanche, como o do CECR, que, até 1963,
era constituído de sopa de legumes ou sanduíches de
o e carne, ovos ou peixes!
Teoricamente sabemos queo é atribuição da
escola alimentar a criança. Mas, se a infância chega
à sua sala de aula, de trabalho ou de recreação, com
o estômago vazio, como é o caso da maioria dos alu-
nos das escolas públicas, que fazer senão alimentá-
los, para que se ponham em condições de participar
das atividades do dia escolar?
Aquêle imenso grupo de meninos desnutridos,
anêmicos, corroídos pela verminose, dentes cariados,
o aprenderiam nada, nem ao menos se beneficia-
riam do convívio dos colegas. Por isso foi instalada
uma cantina espetacular. Usamos o adjetivo mesmo
no sentido cinematográfico; só o cardápioo con-
tinuou, a partir de 1964, com o colorido desejado.
Em 1967, constava do relatório geral da Escola:
"No corrente ano forneceu-se, apenas, às 10 e
às 15 horas, a merenda preparada com leite e farinhas
fornecidas pelo Serviço de Merenda Escolar. Suspen-
deu-se a distribuição do almôço-lanche, constituído de
sopa de legumes e sanduíches deo com carne, ovos
ou peixes, em virtude de falta de verba suficiente para
liquidação de débitos de 66 relativos a gêneros ali-
mentícios."
Num grande pavilhão envidraçado, medindo
1.200 m
2
, instalou-se em 1962 a cantina completa:
dois grandes fogões paras liqüefeito, tipo reforça-
do, medindo 1,40 m de comprimento por 1,30 m de
largura, dotado de quatro grelhas de ferro com quei-
madores de alto rendimento; duas "coifas", apanha-
fumaça, para exaustão dos gases e vapores graxos
exalados dos fogões, medindo 1,60 m x 1,50 m com
0,85 m de altura; dois calderões a gás, com capaci-
dade de 100 litros cada um, ambos emo inoxidá-
vel; dois caldeirões a gás, com capacidade para 200
litros, idênticos aos anteriores; duas frigideiras elé-
tricas, de forma cilíndrica, tendo 600 mm de diâme-
tro por 130 mm de altura, com capacidade para 30
litros; uma máquina de moer carne, elétrica, com ca-
pacidade horária para 120 kg de carne, medindo cerca
de 0,80 m de comprimento por 0,37 m de largura e
0,48 m de altura. Acompanham a máquina: duas na-
valhas, dois discos e um pilão de madeira, para fazer
a entrada da carne até o caracol que a conduzirá aos
discos e à navalha; uma máquina elétrica de descas-
car batatas, com capacidade horária para 150 kg de
batata, medindo externamente 0,77 m de altura por
0,42 m de diâmetro; dois cortadores elétricos de frios,
destinados ao corte de carnes quentes ou frias, quei-
jos, presunto ou verduras, frutas e outros produtos
congêneres; duas máquinas de lavar copos, de 1,25
mm de espessura, medindo externamente 1,04 m de
comprimento por 0,45 m de largura e 0,90 m de altu-
ra, com duas cubas laterais maiores e uma central,
menor; dois fervedores de leite, cem capacidade para
200 litros; dois fervedores de leite, com capacidade,
cada, de 100 litros; dois espremedores de frutas, elé-
tricos, tipo comercial, de funcionamento prático e
higiênico, com aproveitamento integral dos sucos das
frutas; quatro bombas para leite e sucos utilizadas na
distribuição de líquidos, de acionamento manual; dois
balcões para preparo de carnes e cereais, em chapa
deo inoxidável, tipo padrão americano, medindo
2,80 m x 0,70 m; um balcão para preparo de massas,
com 2,80 m x 0,70 m, idêntico ao descrito acima;
quatro balcões de apoio, de chapa deo inoxidável
tipo americano; dois balcões térmicos de distribuição
de alimentos, medindo 3 m, dotados de cois recipien-
tes ondeo colocadas as panelas que contêm os ali-
mentos, com controle eletrônico de nível, fazendo
parte do conjunto quatro panelões especiais de alu-
mínio; dois balcões estufa elétrica, para a conserva-
ção da temperatura dos alimentos quentes a serem
servidos; dois balcões de apoio, para preparo de ali-
mento, em forma de "L", medindo 2,00 m x 0,60 m
+ 1,80 m x 0,60 m; dois balcões para preparo de
carne, com 2,15 m x 0,65 m com cubas e quatro tor-
neiras deo inoxidvel; dois balcões de copa para
lavagem, em forma de "L", medindo 1,60 m x
0,50 m x 1,20 m x 0,70 m; dois balcões de apoio
das copas, de leite e frutas, medindo 2,15 m x 0,65 m;
um cepo de carne, em madeira de lei, medindo apro-
ximadamente 0,60 m de diâmetro por 0,7$ m de al-
tura; três batedeiras elétricas de massa, dotadas de
recipiente deo inoxidável, com capacidade para 20
litros, sendo equipadas com um batedor de massas
leves, um batedor tipo espátula e um batedor para
massas densas; dois carros para recolhimento e trans-
porte de detritos, com capacidade de cerca de 100
litros, em forma cilíndrica vertical, com 0,64 m de
altura e 0,47 m de diâmetro, todo emo inoxidável,
com duas alças com punho tular; o carro possui três
rodízios giratórios para facilitar a locomoção; dois
carros de transporte de copos ou canecos, com rodas
móveis, medindo 0,85 m de comprimento por 0,65 m
de largura e 0,80 m de altura; dois armários para
guardar copos ou canecos e um armário para guardar
pão.
Com semelhante montagem, a cantina da Escola-
Parque pretendia continuar a atender a quatro mil
alunos e todo o grupo de professôres, estagiárias ou
bolsistas, funcionários, visitantes,o apenas com uma
refeição de leite e farinha, é evidente.
Todo o equipamento custou, em 1962, a impor-
tância de Cr$ 6.356.098,70.
Quando aquela avalancha de meninos se acerca
dos balcões para receber sua merenda programada
por dietistas,o há tempo para se pensar senão na
satisfação do apetite que, em nossa criança do povo,
é secular. Há preferências, naturalmente, e os pães
quando os háo sobram, o queo acontece
com o leite em pó (que agências estrangeiras costu-
mam distribuir nos países subdesenvolvidos), que
se torna enjoativo, mesmo quando é enriquecido com
farinhas, canjica, arroz ou qualquer outro cereal.
b) 0 Pavilhão de Trabalho:
Artes Aplicadas, Industriais e Plásticas
Numa extensão de 4.000 m
2
de área construída,
o pavilhão envidraçado, semelhante a um grande
hangar de aviões, onde os alunos desenvolvem as ati-
vidades de artes aplicadas, industriais e plásticas, nos
causa, na primeira visita, um impacto e uma emoção
de surpresa. Tal como observou a jornalista Yvone
Jean, em sua reportagem publicada na revista Leitura,
de janeiro de 1958: "Ao penetrarmos no Centro, ao
chegarmos a uma espécie de passarela, dominando
o centro de um imenso galpão de uns 100 metros de
comprimento, de onde vislumbramos centenas de
crianças muito ativas, cada um soltou um "oh!" es-
pantado, encantado, admirado, pois estao era uma
escola parecida com qualquer outra. A claridade, a
luminosidade, os coloridos e a música que se tocava,
nos colocavam num mundo diferente. Descemos, ob-
servamos, conversamos. Como explicar as múltiplas
atividades de crianças que recebem educação integral
metade do dia na classe, metade na Escola-Parque ?
Havia crianças-alfaiates, sapateiros, marceneiros, tece-
lões, pintores, artesãos, manipulando o sisal, o couro,
e tudo o mais. Oh! conhecemos muitas escolas que
ensinam aos alunos o aproveitamento de palha e a
tecelagem. O que era diferente era o ambiente no
qual se moviam estes meninos e meninas que olha-
vam os visitantes nos olhos, sem complexos, com olhar
claro e seguro e com alegria. O que era novo era o
conjunto de ferramentas elétricas, de apetrechos". . .
Para se penetrar no Pavilhão de Trabalho, sobe-
se uma rampa e chega-se ao primeiro andar: ampla
área central elevada, destinada à administração do
setor, com armários, arquivos, mesas e máquinas de
dactilografia, alto-falante, radiola que irradia música
por todo o setor, nos horários de trabalho. Nesse
local fica o grupo responsável pelas anotações de fre-
qüência, conceitos sôbre o rendimento dos alunos, vi-
gilância geral etc. Em tôda a largura dessa área,o
há paredes dos dois lados, o que permite ver as duas
alas do pavilhão, no andar térreo: a da direita des-
tinada às técnicas de interesse das meninas e a da es-
querda, de meninos. Em cada ala, em tôda a exten-
o da parede do fundo, há um mural da autoria de
Mário Cravo e Caribe, obras de arte que decoram o
local.
Freqüentam o Setor de Trabalho os alunos de
nove a quatorze anos que escolhem as técnicas de seu
interesse, no ato da inscrição em turmas; o desenho é
atividade que todos os alunos realizam, pois é funda-
mental para as outras técnicas, desempenhando, tanto
para as meninas como para os meninos, papel de re-
levante importância. Registra-se especialmente seu
entrosamento com a técnica de tapeçaria (um dos
pontos altos do trabalho criador dêsses meninos)
bordados diversos, e na confecção de cartazes, más-
caras, pinturas de trajes e cenários para o teatro, bem
como na preparação de convites, avisos, murais, pro-
gramas de comemorações e divulgação do movimento
dos outros setores.
As técnicas em que se ocupam os alunoso as
seguintes: cartonagem, encadernação, ou simples re-
cuperação de livros, artefatos de couro, de metal, de
madeira, modelagem, cerâmica, cestaria, alfaiataria,
corte e costura, bordados diversos, confecção de bo-
necas e bichos, tapeçaria e tecelagem.
As turmas estão separadas na grande área por
armários colocados entre os grupos. Ao redor de
mesas retangulares, agrupam-se dezesseis a vinte crian-
ças de cada turma, sentadas em seus tamboretes de
madeira, ocupadas em seus afazeres. Cada uma reali-
za suas atividades, troca idéias e sugestões com os
colegas, mantendo com eles convívio geralmente amis-
toso, o que lhe permite a grande aprendizagem de
trabalho em grupo, da ajuda recíproca, do controle
dos impulsos agressivos, enfim, de formação de boas
amizades. Em seus grupos, trabalhando, o aluno
forma o hábito da cooperação, do respeito mútuo,
chegando ao entendimento do valor da divisão das
tarefas e da coordenação dos esforços. O professor
observa, orienta, esclarece, ajuda, estimula, ensina, em
trato cordial com os meninos, sem nenhuma imposi-
ção coercitiva. E a disciplina resulta flexível, decor-
rente do próprio trabalho e dos próprios alunos.
Este setor da Escola-Parque visa, principalmente,
educar o aluno pelo trabalho para o trabalho. A ma-
nipulação de variado material, das ferramentas e das
máquinas, a satisfação com que realiza suas ativida-
des, leva-o a adquirir atitudes, hábitos e ideais relati-
vos ao trabalho. Que amplitude de aprendizagens
lhes oferece a situação de julgamento de sugestões,
escolha de uma delas e, por fim, a execução do tra-
balho escolhido! Pelo trabalho, o mais simples arte-
o está sabiamente ensinando os meninos a pensar,
a prever, a ter paciência e tenacidade, a ser respon-
sável e exato.
o existe, assim, a preocupação de se ensinar
determinado trabalho, mas, fundamentalmente, de
oferecer oportunidade para se aprender a trabalhar.
Os grupos de meninos, que por ali passam, adquirem,
no mínimo, habilidade em uma técnica; mas, segura-
mente, levam algo muito mais importante: o gosto
e o amor pelo trabalho. Para isso a escola oferece
técnicas variadas, enriquecidas constantemente nas al-
ternativas do aprendizado, com sentido educativo, de
formação da personalidade eo com característica
ou cunho profissional. O trabalho revela, assim, para
estes alunos um sentido bem diferente da concepção
errônea de tributo ou castigo; mais do que discipli-
nador da sociedade, é êle próprio, em tôda sua am-
plitude, razão e objetivo da vida humana.
Enumeramos, a seguir, os processos utilizados
pelas diversas técnicas de trabalho do Setor, seus ob-
jetivos e a variada coleção de objetos criados pela
imaginação dos alunos do CECR; o material de con-
sumo e o instrumento utilizado em cada técnica:
Desenho:
Processo e materiais usados na técnica:
Desenho com lápis cera: lápis cera, papel branco,
anilina, guache. Recortes e colagem: papel de recorte,
papel der neutra, cola e tesouras. Impressões com
folhas e ramos: papel vegetal, rolo, tinta de impres-
são, folhas, flores ou apenas ramos. Técnica de água
sanitária: papel der escura ou branca, anilina, água
sanitária, palitos, pincéis. Desenho de bico de pena
em papel úmido: papel canson, nanquim, caneta, pena,
água. Carimbo de batata: batata doce ou inglesa,
tinta de carimbos, anilina, papel branco, preto e de
cores. Xilogravura: madeira (pinho, peroba rosa, ge-
nipapo do norte), goivas, goichivites, lixa fina, tinta
de impressão, rolo, papel, jornal, papel canson. De-
senho livre: papel de todos os tipos, lápis em cores e
tipos diferentes, pincéis de vários números, nanquim,
anilina, guache etc. Estamparia: tintas laváveis, dis-
solventes, emulsão, pincéis, tela de nylon e tecidos.
Objetivos do ensino do Desenho na Escola-Parque:
Gerais: desenvolvimento da imaginação, da sen-
sibilidade, da capacidade artística e do espírito de ob-
servação; familiarização do aluno com os diversos
materiais utilizados; conhecimento dos diversos pro-
cessos adotados no desenho.
Específicos: Provocar experiências através do de-
senho; desenvolver a sensibilidade e a imaginação
para a composição; exercício do emprego das cores;
levar à composição direta e indireta das áreas colo-
ridas, oferecendo também maiores recursos no exer-
cício da composição pelas possibilidades de movimen-
tação ou descolamento das formas recortadas até o
encontro do arranjo final (recortes); exercício da
distribuição harmônica das formas; conduzir à des-
coberta da beleza das estruturas que regem a organi-
zação vegetal, ampliando assim a percepção dos ele-
mentos normais da natureza; aguçar a curiosidade
pela pesquisa do material e obtenção de um desenho
bem integrado nas superfícies; levar a sentir o efeito
da aplicação de variadas cores; desenvolver a habili-
dade manual através da estilização e distribuição das
formas, ajudando-a desse modo no domínio das artes
gráficas e decorativas; levar à depuração e síntese da
linha, ao exercício e ao equilíbrio do jogo das massas,
preparando a criança para a compreensão das técnicas
mais complexas de artes gráficas e decorativas; de-
senvolver a espontaneidade e o espírito criador com
0 uso livre do material; despertar o gosto e a habili-
dade para a decoração de tecidos variados.
Modelagem e Cerâmica
Objetivos: despertar o gosto pelas artes plásticas;
desenvolver a habilidade manual; formar hábitos de
higiene; dar conhecimento de formas, dimensões dos
objetos; desenvolver a observação e concorrer para o
equilíbrio emocional.
Tipos de trabalhos: peças de forma variada e
moderna cinzeiros, pratos, xícaras, vasos, jarros,
máscaras, cabeças etc. Os alunos aprendem também
a trabalhar em torno, a empregar o decapê de prata
mexicana, a utilizar o fogareiro e o forno elétrico.
Material de consumo: barro, gêsso, tintas de ce-
râmica, tintas industriais, tinta guache, papel de
jornal, de bobina e cartolina, carvão vegetal, vaselina,
óleo de linhaça e cola animal.
Material instrumental: vasilha para conservar
barro, baldes, peneiras finas, peneiras grossas, espá-
tulas, compasso grande, compasso pequeno de ponta
seca, alicate de bico chato, raspadeiras, colheres de
pedreiro, laços pequenos, desbastadores requenos, su-
portes de madeira, tesouras, facas de corte redondo,
pincéis de pêlo de marta, pincéis pequenos, tijelas
grandes, tijelas pequenas, rolos de madeira, esponjas,
macêtes, bomba para pulverizar tinta, alguns metros
de matéria plástica, ladrilhos de cimento, fogareiro
e forno.
Escultura em Madeira
Essa técnica introduzida recentemente na Escola-
Parque por uma professora de arte, acha-se em fase
experimental. Tratando-se de criança, o processo uti-
lizado é da própria professora que o descreve: "Houve
necessidade, para se chegar à escultura da madeira, de
dar às crianças outros materiais para trabalhar e se
chegar, por uma seqüência, a esculpir na madeira o
objeto desejado. Por exemplo: notei que os meninos
tinham dificuldade inicial de entalhar o pedaço de
madeira e ir tirando, aprofundando, esculpindo pro-
priamente. Tentei uma inovação: dei-lhes o sabão
para mostrar a diferença entre escultura e modela-
gem se tirassem a mais no sabão, dava-se um jeito
mas na madeira não. Do trabalho feito no sabão,
passaram para o gêsso calcinado, em substituição à
pedra talco, que andou em falta no comércio. O gêsso
calcinado transformado em tijolos seriam posterior-
mente esculpidos. Então: do sabão ao gêsso, e dêste
à madeira. Quanto à madeira, há também uma se-
qüência; entre os diversos tipos, de acordo com sua
maleabilidade, os meninos trabalham com: "mulun-
gu", "umburana", "jaqueira" e, por fim, com o
"jacarandá". Usamos como instrumento de trabalho:
as faquinhas, formões, goivas e para acabamento ras-
padeiras e lixas."
Tipos de trabalhos: espátulas com cabos tra-
balhados; esculturas de totens, máscaras, animais,
flores etc.
Nas esculturas em gêsso é aplicado o decapê de
marfim, de bronze e prata mexicana.
Cartonagem e Encadernação
Objetivos específicos da técnica: noção prática
de medidas métricas, com o desenvolvimento do senso
da exatidão; exercitar a criança no uso dos instru-
mentos, para obtenção de trabalhos perfeitos com
medidas determinadas; familiarizar o aluno com o ma-
terial e instrumentos utilizados; despertar o senso de
responsabilidade e zelo pelo material da técnica; de-
senvolver habilidades técnicas nas diversas operações
do trabalho.
Tipos de trabalhos realizados pelos alunos:
pastas, cestinhas de papel, caixas de costura, caixas de
variadas formas e tamanhos, cadernos, fichados, ca-
pas de álbuns. Registra-se nessa técnica a fabricação
de papéis de fantasia marmorizado de grande beleza.
Material de consumo: papel de diversos tipos,
cartolina, papelão, percalina, fazendas para forro e
acolchoamento, couro, tintas, cola e linha.
Material instrumental: dobradeira, régua de aço,
esquadros de aço, esquadros de galalite, lápis fáber
nº 2, compasso para cortar discos de papelão, com-
passo de ponta seca, compasso como fixador, torquês,
martelo de pena 0,300 g, martelo de pena 0,200 g,
martelo de bola tamanho médio, macête, formão
12 mm, grosa combinada, lima, lamparina, régua de
madeira de 0,50 m, transferidor para quadro negro,
preparadores, agulhas nº 1, tesouras médias, tesoura
para papelão, serrote de costa, faca redonda, chan-
fradeira, burnidor, modelador para o couro e perca-
line, goiva de 20 mm, vazador de 2, 3, 4 e 6 mm,
pincel para sola, pincel para grude, pincel para tinta,
tigela pequena de louça ou pirex, panela para grude,
peneira de arame fino, colher de pau, caldeirão para
cola, tabuleiro para marmorizar de 0,80 x 0,55 m,
vidro de 4 mm (450 x 50), espátula de madeira,
pranchelas, arame, graminho, modelador de lombada,
bastão torneado, grampos C n" 3, prensa de madeira,
chave de prensa, prensa de ferro, guilhotina, furador,
broca de 1, 2, 3 e 4 mm, esmeril pequeno, pedra de
afiar, alicate de bico redondo, arco de pua, fogareiro
elétrico, metro articulado, régua T, lixas de ferro e
finas.
É digno de registro o trabalho que alguns meni-
nos desenvolvem nessa técnica: o de recuperação de
livros usados na biblioteca, que representa valiosa co-
laboração dos alunos na conservação do acervo da
biblioteca, ao mesmo tempo em que estimula maior
cuidado de todos os alunos no uso dos livros.
Metal
Objetivos: adquirir conhecimentos necessários à
técnica; conhecer a matéria-prima utilizada, sua ori-
gem, característica e propriedades; habituar o aluno
ao trabalho, usando de modo adequado ferramentas
e material.
Tipos de trabalhos realizados pelos alunos: ar-
mações de metal,s de filtro, cantoneiras, floreiras,
porta-revistas, conjunto de abajures, cinzeiros, can-
deeiros, figuras decorativas etc.
Material de consumo: vergalhões de diversos-
meros, folhas de zinco, cobre, arame e lata.
Material instrumental: chaves de fenda de 6",
8", 4", alicate (bico chato) de 6", alicate (bico re-
dondo) 6", alicates universais, alicate de dupla força,
alicate de corte lateral, arcos de serra para metal, te-
souras para chapa, calibrador para parafusos, máqui-
nas de furar, esquadros de aço, martelos de bola (de
200, 300 e 400 g), metro articulado, riscadores de
chapa, trilhadeiras, limas bastardas chatas 8" e 10",
limas murça 8" e 10", punções, bigorna de 10 kg,
bigornas de 25 kg, cadinho de grafite, escovas de
o para lima, forjas, ferros de soldar, elétrico e
simples, esmeril elétrico, máquina de furar elétrica
com mandril de 1/2", tenazes, tesourão para chapa,
soldador elétrico de 30 amp, 1 tarraxa, maçarico, ma-
cete de 1 kg, tranchas planas, tranchas curvas, chave
inglesa de 10", calibrador para arame e abridores
de lata.
Couro (Sapataria e outras confecções)
Objetivos: formar hábitos de trabalho, tornando
o aluno cada vez mais útil a si e à sociedade; exerci-
tar no manejo do material instrumental; adquirir co-
nhecimentos requeridos nessa técnica; habituar o
aluno no conhecimento do material e seu emprego.
Tipos de trabalhos realizados pelos alunos:
bolsas, sacolas, pastas, porta-revistas, capas para livros,
carteirinhas, cintos e pulseiras.
Deve-se registrar aqui o desenvolvimento da téc-
nica de Sapataria pelos meninos que constituíram
grupo à parte na ala masculina, na confecção de va-
riados tipos de sapatos, desde a sandália aberta até
o sapato escolar, fechado.
Material de consumo: couro de diversas cores e
tipos: fazendas para forro, fitilhos, linhas, papelão.
cola, tachas, arebites, trincos.
Material instrumental: facas, sovelas, tesouras
médias, tesourão, réguas de metal, fita métrica, es-
quadros de metal, alicates, jogos de vazadores nº 2,
3, 4, 5, etc. Alicates vazadores, dobradeiras, traçado-
res de osso, trinchetas, grosas, espátulas, marchetado-
res de aço, martelos, modeladores, pedra mármore
(pedaços de 20 cm), pirógrafo, jogos de marcheta-
dores de enfeite, grifos de 3 dentes, grifos de 1 dente,
pedras de amolar e de afiar, fôrmas para sapatos,
máquina de couro e de pregar colchetes de pressão,
agulhas.
Macieira
Os objetos do ensino da técnica de trabalho em
madeirao os mesmos do ensino da técnica do couro.
A aprendizagem vai do recorte simples em serras
"tico-tico" à utilização de serra elétrica em pequenos
móveis.
Tipos de trabalhos: mobiliário miniatura, cami-
nhões, carros e casas de brinquedo, porta-jóia com
incrustações de jacarandá, cabides, papeleiras etc. Re-
param também os móveis da própria escola e confec-
cionam pequenos tamboretes, cadeiras, balanços.
Material de consumo: compensados de 4 a 6 mm,
tábuas de pinho de 1/2 polegada, de 3/4 e de 1";
cola, tinta, verniz, alvaiade, pregos e lixas.
Material instrumental: bancos de marceneiro, de
professor, plainas nº 4, martelos de pena de 150, 200,
300 e 400 g, máquina de furar manual (capacidade
máxima 1/4), esquadros deo (tamanho médio),
martelos de unha de 200 g, graminho para encaixe,
arco de pua (com jogo de pua), compassos 7" ponta
seca, compassos de 10" (ponta seca), jogos de verru-
mas, grampos de C de 3", 4", 5", 6", 7", 10" de boca,
grosas meia cana de 8" e 10", suta, limas meia cana
de 8" e 10", chaves de parafusos de 4", 5", 6", 8",
limatões redondos, 4", 6", 8", 10" bastardo, arco de
serra tico-tico (de preferência Eclipse F.S.70), serro-
tões de costa de 12", serrotões de traçar 2", 1 nível-
limas de murça triangular 4", torquês de 6", alicate
de corte frontal 7", alicate de corte lateral 7", metros
articulados, coleiros, punção para marcar, para furar,
canivetes médios, formões de 1", 3/4", 5/8", 1/4",
1/8", raspadeiras espátulas de 1'', 1/2" e 2", serrotes
de ponta, travadeira, fogareiro elétrico, pedras de
afiar, caixa de corte, máquina de furar elétrica (ca-
pacidade máxima 1/4"), máquina tico-tico n
9
1, mo-
tor de 1/4 HP, torno tamanho médio.
Alfaiataria (meninos). Corte e Costura (meninas)
Objetivos: Despertar interesse para as confec-
ções, habilitar os alunos na confecção do seu próprio
vestuário; ensinar o aproveitamento econômico do
material.
Na técnica de alfaiataria os meninos confeccio-
nam: calças curtas e compridas, blusões, calções para
recreação, shortes, aventais de trabalho e camisas.
Em corte e costura as meninas produzem grande va-
riedade de vestidos, jogos para recém-nascidos, ca-
misinhas, blusões, jardineiras, aventais, saias, shortes,
conjuntos, baby-doll, camisolas, túnicas para recrea-
ção, casacos, trajes para representação no setor artís-
tico, jogos de cama e mesa para serem bordados.
Material de consumo: fazendas de múltiplas va-
riedades e cores, idem linhas, rendas, bicos, botões,
colchetes de pressão.
Material instrumental permanente: máquinas de
costura, fitas métricas, dedais, réguas de 1,00 m,
0,50 m e 0,30 m, ferro de gomas, tábua de passar a
ferro, papel de bobina, lápis fáber preto, lápis bico-
lor, carretilha, croquis, cadernos, agulhas, cartas de
alfinetes, giz de alfaiates, borracha e mesa de corte.
Bordados Diversos
Objetivo: desenvolver a habilidade manual, o
gosto artístico relativo aos artigos de cama, mesa e
uso pessoal.
Há grande variedade de trabalhos bordados pelas
meninas, desde os lencinhos individuais, "lingerie",
saias, blusas, aos jogos de cama e mesa. Tipos de
"pontos" aprendidos: bordado branco, matiz, ponto
de cruz, norueguês e croché.
Material de consumo: tecidos variados, linhos e
cambraias de diversas cores.
Material instrumental: tesouras médias e peque-
nas, máquinas, bastidores de vários tamanhos, fita
métrica, régua de 1 m, papel para risco, cartas de al-
finetes, lápis, dedais, agulhas.
Confecção de Brinquedos Flexíveis
Objetivo: aplicação de técnicas diversas (corte,
bordado e croché) em trabalhos de interesse infantil.
Tipos: bonecas de todos os tipos, da bruxinha de
pano e de meia, à bonequinha elegante; polichinelo,
ursos, cachorros, patos, coelhos, girafas, gatos e bur-
rinhos.
Material de consumo: meias de algodão, tecidos
diversos de seda, algodão, feltro, linhas variadas, fitas
e botões.
Material permanente: tesouras médias e peque-
nas, máquinas de costura, agulhas, estiletes de ma-
deira, cartas de alfinetes, dedal, caderno de desenho,
lápis e borracha.
Tapeçaria
Objetivo: desenvolvimento da habilidade ma-
nual, formação de hábitos de trabalho em grupo, de-
senvolvimento do gosto artístico.
Os tapetes dos alunos da Escola-Parqueo con-
siderados por alguns críticos de arte que tiveram oca-
sião de vê-los, trabalhos de nível de criação artística,
bastante elevado. Estiveram em exposição no Museu
de Arte Moderna deo Paulo, ocasião em que sua
diretora, Lina Bardi, personalidade de renome nos
meios artísticos internacionais, desejou comprá-los
para o acervo da instituição. Entretanto, nunca se
pretendeu vender a tapeçaria dos alunos, pois, se-
gundo Genaro de Carvalho, o tapeceiro baiano, "aquê-
les tapetesom preço,o um patrimônio do
Centro; nunca mais se irá conseguir novamente aquê-
les desenhos..."
Alguns estão espalhados pelo mundo como lem-
brança a visitantes ilustres, da mais variada estamparia
de flores exóticas, barcos no mar, jarros, bolas, listas,
florestas, crianças, velhas igrejas, ruas, ladeiras e ca-
sario antigo da Bahia.
Material de consumo: talagarça, etamine, lona,
lãs, fios, linhas etc.
Material instrumental: agulhas de tamanhos di-
versos; agulhas de croché e de tricô, agulhas sem
ponta, dedais, fitas métricas, réguas, caixas de lápis
de côr, lápis preto, papel de risco, papel vegetal,
caixas de alfinetes, fita durex, esquadros tamanho
médio.
No momento, o ponto empregado é o "gobelin".
Tecelagem e Cestaria
Objetivos: estimular o interesse econômico pelo
uso de fibras nacionais e aproveitamento de fios di-
versos; despertar a atenção e observação nas minúcias
das operações do trabalho.
Material de consumo: fibras variadas, sisal, pia-
çava, ráfia, vime, palha, madeirite, linhas de tipos
e cores diversos e tintas industriais.
Equipamento da sala de aula de tecelagem de
pedal: teares com bancos e sarrafos, mesas grandes,
armários para material, de consumo, ferramentas; ur-
dideira, roca, ensoladeira, pacetas, lançadeiras, tesou-
ras, réguas, fitas métricas, quadro-negro quadricula-
do, baldes para tintura de fibras, caixa de lápis de
côr, papel quadriculado e papel bobina.
Tipos de tecelagem: tapetinhos, esteiras de praia
e ornamentais, sacolas, isoladores de pratos e copos,
jogo americano, tecidos para abajur, chalé, caminho
de mesa e toalhas decorativas.
Tipos de cestaria: cestas de feitios e tamanhos
diversos.
Bijuteria:
Foi introduzida recentemente, como técnica de
interesse das meninas, a bijuteria, com aproveita-
mento de sementes típicas, contas, miçangas, sobras
de couro e plástico. As alunas fabricam seus próprios
brincos, colares, anéis, broches, acompanhando sem-
pre a influência da moda, no momento.
£ material muito vendável nas exposições de fim
de ano, devido à originalidade da bijuteria e de seu
excelente acabamento.
Flores:
Há também grande interesse das meninas pela
técnica de confecção de flores, em plástico ou tecido.
O material confeccionado pelos alunos no Setor
de Trabalho é vendido, no decorrer do ano, na "loji-
nha" que funciona sob a responsabilidade também
dos alunos, no Setor Socializante. No final de cada
ano, a volumosa produção de trabalhos é vendida na
exposição geral e o lucro depositado nas cadernetas
individuais dos alunos, do "banco econômico" do
CECR, de acordo com a venda de seus trabalhos.
Apesar da grande produção das técnicas, o obje-
tivo visadoo é o da quantidade, mas o de obter
uma produção que resulte de situações educativas,
isto é, situações em que o aluno, orientado pelo
mestre: l) sugira e aceite projetos de trabalho e par-
ticipe de sua elaboração; 2) realize com exatidão
todas as suas fases, mantendo-se sempre em ativi-
dade; 3) julgue o resultado obtido; 4) em conse-
qüência, aprenda real e integralmente, adquirindo
conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias à
vida.
Para a avaliação do aproveitamento do aluno no
Setor de Trabalhoo observados os seguintes as-
pectos: Colabora êle no planejamento do trabalho?
Compreende bem as instruções? Participa ativamente
das várias fases do trabalho ? Aproveita bem o tempo ?
Começa logo a trabalhar? Trabalha até encerrar o
horário? É digno de confiança e assume responsabi-
lidade? Está desenvolvendo autocrítica e senso crítico?
Procura descobrir e corrigir erros? Trabalha bem em
grupo? Trabalha bem independentemente? Aceita
bem as decisões do grupo? É cortês e respeita os di-
reitos dos outros?
Observando de perto uma criança em seu trabalho
Dos relatórios de estagiárias, bolsistas que esti-
veram em cursos de aperfeiçoamento do CECR, reti-
ramos esses trechos que consideramos verdadeiros
testemunhos do processo educativo que ali se efetua:
"No Setor de Trabalho pude observar detalha-
damente duas técnicas: uma na ala das meninas e
outra na ala dos meninos. A primeira foi a técnica
de fazer bonecas de pano. Achei lindíssimas as bo-
necas. E gostei imensamente da professora. Seus
gestos calmos, suas mãos seguras, seu olhar crítico,
tudo isso funciona muito bem junto às crianças. Tentei
observar essa técnica em todos os seus passos para
poder depois descobrir o que ela desenvolve na
criança. Por isso segue agora uma pequena descrição.
A professora corta o molde da boneca numa
meia de algodão. As meninas alinhavam e costuram
na máquina. Depois de rechearem a boneca com algo-
dão, fazem suas meias. Estaso costuradas na pró-
pria boneca com pontos bem juntos, pequenos e
firmes, feitos à mão. Seguem-se os sapatos, de feltro,
a maioria deles. O próximo passo é o rosto da boneca
que é elaborado com todos os detalhes. A seguir, as
meninas cortam a lã para os cabelos. O último passo
é o vestido. A professora corta o molde, as meninas
costuram à mão, bordam ou fazem aplicações.o
elas que escolhem a expressão do rosto da boneca,
seu penteado e modêlo do vestido, se querem boneca
clara ou escura, boneca ou boneco. Elaboram a bo-
neca segundo sua escolha, quase que inteiramente
sozinhas, porém submetendo cada passo à observação
e orientação da professora. Olhando tôda esta se-
qüência de atividades e escolhas, podemos verificar o
seguinte: essa técnica desenvolve, além da habilidade
manual, que se poderá tornar uma profissão mais
tarde, a iniciativa própria, força, decisão e responsa-
bilidade perante essa decisão; se a menina quiser
mudar a boneca, pode, mas terá que desmanchá-la e
fazê-la de novo; neste sentido aumenta a perseveran-
ça, a capacidade de concentração e oportunidade de
equilíbrio por ser muito motivador. Desenvolve o
sentimento decorativo, a percepção de relação entre
forma, tamanho e cores. Finalmente, é uma técnica
que integra muito bem diversas funções psicológicas,
contribuindo para o desenvolvimento intelectual e
emocional da criança.
A outra técnica que observei foi a cerâmica. Co-
meçarei também com uma pequena descrição: as
crianças, inicialmente, batem o barro e amassam. Se
forem trabalhar com massa estendida, estiram o
barro e cortam o formato que lhes parece certo, sem-
pre com a orientação da professora. Seo forem
trabalhar com massa estendida, fazem "cobrinhas"
que enrolam sôbre uma base, sempre cuidando bem
para que seja bem ligada uma à outra. Depois
disso, nos dois casos, o da massa estendida e o das
"cobrinhas", modelam a peça, trabalhando-a com os
dedos. Finalmente alisam bem cada aresta da peça
com o auxílio de pequenas espátulas de madeira. É
talvez o trabalho mais demorado e que exige cuidado
de todo o processo. Depois de lisa, a peça será quei-
mada. Poderá ser pintada ou não. Os meninos esco-
lherão também o que quiserem fazer; a forma, o ta-
manho, é escolha deles. Essa técnica desenvolve em
primeiro plano a imaginação e a criatividade. Além
disso é um ótimo instrumento de descarga emocional.
O que a criança tiver de agressividade, ou simples-
mente de energia suplementar, para ser posta para
fora, êle o fará na hora de bater o barro e de amas-
sá-lo. As próximas etapas desenvolvem a percepção
das relações entre formas, proporções, e também de
cores. Também nessa técnica a criança tem a opor-
tunidade de desenvolver a decisão, a responsabilidade,
a concentração e a perseverança. É menos difícil
amassar uma peça de barro mole e modelá-la nova-
mente, mas é sempre um esforço para a criança, e um
esforço muito positivo nesse caso." (Trecho do re-
latório de Elizabeth Bauch, psicóloga paulista.)
c) O Setor Recreativo
ou de Educação Física
O setor recreativo ou de educação física é cons-
tituído de um campo gramado de esportes, retangu-
lar, estendendo-se no centro da Escola, em tôda a sua
extensão; um pavilhão de atividades físicas, ginásti-
ca propriamente, com 2.775 m
2
, com as mesmas ca-
racterísticas arquitetônicas do setor de trabalho;
campo de basquete, voleibol, em área coberta; 120
banheiros com ducha, pequena cantina para os pro-
fessôres; 4 salas para guardar o material específico
do setor; e sala de reunião para a coordenação.
O funcionamento dêste setor, com professôres
especializados, se faz em três horários e nos dois
turnos letivos, de segunda a sexta-feira, e no primeiro
turno do sábado. Cada turma que o freqüenta, em
duas aulas semanais, em dias alternados, faz rodízio
com as que freqüentam os outros setores.
A qualquer hora do dia em que se chegue,
podemos assistir a grupos de crianças, com seus pro-
fessôres, vestidos com uniformes de ginástica, prati-
cando variados tipos de exercício físico. No pavilhão,
ou nas áreas ao ar livre, a infância fervilha em mo-
vimento: marchas, galopes, saltos, arremessos, jogos
de bola, ginástica, calistenia, aparelho em movimento,
basquete, futebol etc. tudo funcionando como um
grande ginásio esportivo, semelhante aos clubes em
competição internacional. É onde a alegria da criança
se faz notar com maior intensidade.
O ginásio comporta, aproximadamente, oito
grupos de alunos, num mesmo horário, com 30 alunos
em cada grupo, em educação física, ao mesmo tempo.
Espalham-se com seus instrumentos pelo salão, em
jogos e ginásticas apropriadas a cada idade.
Quando o aluno começa a freqüentar o Setor Re-
creativo, submete-se a um controle médico onde se
verificam o peso, a estatura, o perímetro toráxico e o
estado de saúde geral da criança apta ao exercício
físico.
Objetivos gerais das atividades recreativas: saúde
da criança, aproveitamento condigno das horas de
lazer; formação do caráter e afirmação da personali-
dade; preparação pré-vocacional dos maiores para o
campo dos esportes. Objetivos específicos: possibili-
tar o desenvolvimento da capacidade física da crian-
ça e do adolescente; concorrer para o desenvolvimen-
to normal de todas as funções orgânicas, principal-
mente a função respiratória; corrigir as atitudes de-
feituosas e as conseqüências das posturas viciadas; fa-
vorecer a aquisição de hábitos e atitudes que contri-
buam para o reajustamento social da criança e do
adolescente e do domínio emocional; ensinar habili-
dades recreativas variadas, ou propriamente ensinar a
brincar; desenvolver habilidades necessárias à prática
de determinados desportos, a capacidade de observa-
ção, julgamento, decisão, iniciativa e gosto pelas ati-
tudes definidas.
As atividades neste setoro organizadas em
planos mensais, pela coordenação técnica, e abrangem
as seguintes áreas: a) atitudes naturais correr,
saltar, trepar, arremessar etc; b) jogos motores,
sensoriais etc. adaptados às condições físicas e psíqui-
cas das crianças; c) atividades rítmicas marchas,
galopes, saltitos, ao som de ritmos, palmas, contagem,
tamborim; brinquedos cantados, danças regionais e
folclóricas; d) atividades ginásticas jogos ginásti-
cos, exercícios ginásticos (método francês), calistenia,
método sueco, desportiva generalizada, método aus-
tríaco, ginástica feminina moderna, ginástica de solo,
e em aparelhos; e) iniciação desportiva, com prin-
cípios técnicos essenciais, processos pedagógicos, jogos
pré-esportivos ou grandes jogos; f) desportos, basque-
te, voleibol e futebol.
, ainda, na programação, as atividades cha-
madas complementares queo as excursões, concen-
trações, demonstrações, competições. No final de
cada mês, os professôres do setor recreativo realizam,
para um grande auditório de pais e público em geral,
funcionários e professôres do CECR, evolução em
conjunto, com todas as turmas do horário, numa de-
monstração de harmonia e disciplina dos alunos.
Trecho do diário de uma bolsista, com estágio
de um ano no CECR: "Uma aula no setor recreativo
onde venho estagiando: as meninas trocam seus cal-
ções e suas blusinhas (que elas mesmas fizeram no
setor de costura do Pavilhão de trabalho) às pressas,
nos banheiros que ficam embaixo do ginásio. Pen-
duram suas fardas, colocam os sapatos, tênis, sandá-
lias, em fila, perto da parede de azulejo e saem numa
corrida parao chegar atrasadas.o diversos
grupos, de idade aproximada; quase todas de côr.
Atraídas pelos apitos dos professôres, cada grupo pro-
cura colocar-se em posição de atenção. Contando as
alunas, vi que cada professor fica com 25 meninas,
maso há desordem nos grupos, queo 8, desta
vez. Fazem a chamada, anotando as ausências numa
ficha grande. Quando tiver oportunidade procurarei
copiar os dados dela. Iniciam a aula com uma ativi-
dade viva, alegre; uma roda, um brinquedo cantado,
ou um pequeno jogo com bola. As meninas estão ale-
gres, seus rostinhos mostram bem como ficam felizes
com a recreação. Depois da primeira fase da aula,
do jogo simples, as meninas fazem a mando do pro-
fessor a "formação corporal", que pode ser exercício
(ginástica) e êle vai corrigindo a posição de uma ou
de outra. Algumasm defeito de postura que o pro-
fessor, com paciência, vai tentando corrigir. O final
da aula é feito com um jogo calmo e ao terminar,
juntam-se todas as meninas ao redor do professor para
ouvir o que êle tem a falar. As alunas estão acalora-
das, vermelhas e algumas transpirando. Ficam atentas
ouvindo o comentário da aula.o combinar com o
professor uma excursão que pretendem fazer,
e, logo em seguida, dispersam-se pela porta que as
leva às escadas para o andar térreo. Vou acompa-
nhando as meninas até os chuveiros., tiram suas
roupas e entram nos chuveiros ao longo dos banhei-
rinhos individuais. As meninaso muito naturais e
sem maldade. Tomam seus banhos, enxugam-se nas
toalhas fornecidas pela escola e, com seus cabelos
ainda escorrendo água, vestem-se eo correndo
para os outros setores." (Nadeje Crisóstomo, bolsista
do Curso de Supervisores, professora de Alagoas.)
A avaliação dos resultados da educação física
dos alunos é apreciada através das notas ou concei-
tos conferidos mensalmente, abrangendo aproveita-
mento e comportamento, observando, principalmen-
te, se a criança apresenta boa postura, se brinca com
prazer, se tem ampliado suas habilidades recreativas,
se está melhorando sua capacidade de colaboração, se
se ajusta a atividades mais tranqüilas, se há timidez
ou agressividade no jogo, se participa sem constran-
gimento dos jogos de eliminação, se respeita as re-
gras, se acata as instruções do professor.
Para freqüentar o setor recreativo, as criançaso
agrupadas por turmas, levando-se em consideração
idade e estatura. Os adolescentes da 4ª escola-classe
(em nível de escola secundária) agrupam-se em
turmas mais ou menos homogêneas, masculinas e fe-
mininas. Ademais, há turmas especiais de crianças
deficientes de saúde, portadoras de defeitos de ati-
tude ou que necessitam de atenção especial.
Há também no planejamento geral de atividades
do Setor, as chamadas temporadas "de boa atitude",
com duração aproximada de uma semana, em que
se cuida do valor postural da criança, isto é, ensina-
se a andar, sentar, abaixar-se, a usar corretamente os
pés, carregar pequenos pesos, a ficar de; em suma,
a colocar-se fisicamente no espaço, de forma harmo-
niosa e com o mínimo de desgaste.
Nas áreas livres do CECR, nos gramados maci-
ços, à sombra dos arvoredos, concentram-se os alunos
de sete anos, para sua brincadeira infantil, mais es-
pontânea que dirigida.
d) Setor Artístico:
Teatro, Música e Dança
O Setor Artístico da Escola-Parque é dos mais
novos, inaugurados em 1963, com instalações moder-
nas, apropriadas à arte teatral, musical e à dança, obe-
decendo à mesma linha de arquitetura do conjunto.
O grande auditório semicircular, tipo arena, com-
porta 5.000 pessoas aproximadamente. O palco é
giratório e de grandes proporções.
O trabalho realizado neste Setor coloca-se bem
acima da média das atividades artísticas encontradas,
em geral, nas escolas brasileiras. Responsabilizando-
se por êle profissionais de categoria, temos ali a edu-
cação integrada na arte,o o passatempo dos teatros
escolares,o improvisados e de mau gosto.
As atividades desenvolvidas pelos alunos que de-
monstram gosto pela música, pelo teatro ou pela
dança matrícula aberta a todos igualmente, com
aptidão ou sem aptidão é considerado por eleso
importante como qualquer outro, de classe ou de
banco ou comércio. É que, além de demonstrações in-
ternas, para colegas, professôres e famílias, é progra-
ma do setor os espetáculos fora da escola. De modo
que todo o esforço de participação dos grupos que
freqüentam o Setor Artístico, no sentido de fazer arte
de boa qualidade, se torna altamente educativo,o
só do ponto de vista propriamente artístico, como da
disciplina e do civismo.
Dentre as demonstrações de música, anotamos os
recitais de canto coral, levados em Feira de Santana,
no Teatro Vila Velha, na Reitoria da Universidade
da Bahia, a participação no Concurso Nacional de
Coros Orfeônicos do Rio de Janeiro, tendo o conjunto
se classificado em 1" lugar em âmbito regional e obti-
do menção honrosa na fase final. Ademais, os con-
juntos chamados "Selecionados" apresentam-se nas
escolas de música, teatros, salas de concerto, clubes,
estações de rádio da cidade e do interior, bem como
em praças públicas, por ocasião de encontro de corais
organizados pelo Touring Club. E os alunos que pre-
tendem continuar seus estudos artísticos, para se tor-
narem futuros profissionais,m como prêmio bôlsa-
de-estudo no Seminário de Música da Universidade
da Bahia.
Entre as demonstrações do grupo de teatro, além
das experiências significativas do sociograma, regis-
tramos o estudo de nosso folclore, e a encenação do
"Bumba-meu-boi", considerado o bailado popular
mais completo do Nordeste, com texto recolhido em
Alagoas, Sergipe e Bahia, enriquecida pela participa-
ção dos alunos. Encenado 12 vezes, foi filmado no
ano da montagem, por equipes especializadas da
ONU e da UNESCO que vieram à Bahia para reali-
zar documentário cinematográfico sôbre as escolas,
sendo apresentado pelo Brasil em 1964 a essas orga-
nizações internacionais. O espetáculo, cheio de graça
e espontaneidade, teve os cenários, vestimentas e más-
caras desenhados e confeccionados pelos alunos, DO
Setor de Trabalho, numa verdadeira revitalização do
folclore daquela zona. Encenaram ainda um auto,
"Pastoril do Natal", também levado na Associação
Atlética do Banco da Bahia, a "Feira da Confusão",
"Valores Novos", "Festa deo João na Roça", Gru-
pos de capoeira e samba de roda.
As atividades de teatro na Escola-Parque cons-
tam de pesquisa, preparo de peças, desenhos de ves-
timentas e cenários, exercícios de dicção, improvisa-
ção, canto e dança. Favorecem no educando a atitude
de observação, a desinibição, o espírito criador, que,
além de ajudá-lo em seu desenvolvimento emocional,
abre perspectiva ao talento revelado para projetá-lo
na cultura artística do seu meio.
O ensino de música na Escola-Parque tem como
objetivo oferecer ao aluno, ainda que sem aptidão,
oportunidade de, através de meios pedagógicos ade-
quados, aprender música; desenvolver o amor pela
música e prepará-lo para prática vocal e instrumen-
tal; desenvolver a sensibilidade rítmica, a capacidade
de ouvir, sentir e, se possível, criar; formar um-
blico capaz de ouvir com atenção, respeito e agrado,
tanto a música erudita como a popular; favorecer-
lhe, ainda, o senso crítico, enfim, colaborar no desen-
volvimento total da personalidade da criança.
o os seguintes os grupos selecionados em-
sica: educação musical, estudar cantando, conjunto de
flauta doce; bandinha rítmica; corais infantis; con-
junto folclórico; corais do primário; corais femininos
(ginásio); coral misto; banda de música e coral dos
professôres.
As aulas de dançao de dois tipos: a dança
moderna baseada nos movimentos livres, na criação
que a música sugere às meninas, no momento; e as
danças folclóricas, tais como a capoeira, samba de
roda e escola de samba. Esse tipo de dança tem
grande aceitação pelo auditório das famílias dos alu-
nos e por eles próprios, havendo a participação assí-
dua do elemento masculino.
e) Biblioteca
Dos diários escritos pela professora bibliotecá-
ria do Setor "cultural biblioteca" da Escola-Parque,
em que num relato minucioso se registra o dia-a-dia
de suas atividades com aquêle mundo de crianças, des-
tacamos os seguintes trechos que nos revelam aspec-
tos mais significativos de sua vivência educativa:
"Nos primeiros dias letivos de março de 1962,
tivemos a satisfação de dar prosseguimento aos tra-
balhos de organização e instalação da Biblioteca da
Escola-Parque iniciados em julho de 1961 e graças
à dedicação de todo o pessoal, professôres e funcioná-
rios, queo pouparam esforços no sentido de equi-
pá-la com rapidez, tivemos a alegria de em pouco
tempo ver cumprido nosso propósito. A fim de abre-
viar os trabalhos de preparação dos livros para que a
Biblioteca pudesse ser freqüentada pelos alunos o
mais depressa possível, decidimos registrar inicial-
mente 5 (cinco) exemplares de cada título, classifi-
cá-los e prepará-los logo para o "empréstimo". Usa-
mos o sistema de classificação decimal de Dewey,
sendo que para os livros de literatura infantil, adota-
mos o símbolo F (ficção). A catalogação é a do
Vaticano com abreviações, e empregamos a tabela
Cutter pará o nome do autor. Quanto ao catálogo,
adotamos o sistema "dicionário", fazendo também o
de "cabeçalho de assunto". Para as revistas, usamos
o fichário Kardex. Havia 4.286 livros nas estantes.
No final do ano eram 6.844 livros e 190 álbuns re-
gistrados e catalogados, mais 24 títulos de revistas
infantis.
"De modo geral as criançasom hábito de
leitura eo se interessam pelas histórias mais longas.
Preferem os livros elementares, de texto curto que
lêem num instante: o grupo que ocupa uma mesa e
os que estão próximos querem sempre livros iguais.
Durante os dois primeiros meses, notávamos que as
criançaso liam. Estavam sempre a trocar de livros,
procurando um livro diferente dos que já haviam
folheado, curiosos de ver todos. Aos poucos essa
atitude foi se modificando e passaram a procurar os
livros didáticos, querendo estudar as lições, com au-
xílio das professoras que indicam onde encontrar o
assunto desejado eo explicações sôbre o tema pro-
curado. As criançaso livremente às estantes e re-
tiram o livro que desejam."
Os diários de 1963 nos contam: "O recinto da
biblioteca é pequeno parao elevado número de
crianças e jáo dispõe de salas isoladas onde se
possam localizar as turmas de pequenos quem
ouvir estórias, ver teatro, fazer jogos instrutivos. É
inevitável o falatório e a confusão até que todos se
acomodem. Foi considerável o estrago de livro. Atri-
buímos a dois motivos: grande número de crianças
analfabetas manuseando-os para ver figuras e a lo-
tação de quatro alunos em mesas com capacidade para
dois apenas, o que dificulta folhear as páginas dos
livros, estragando-os. Nos de agosto iniciamos o
empréstimo de livros a domicílio com os alunos maio-
res do curso primário e do ginásio. Estabelecemos o
dia fixo para retirada de livros e devolução. O livro
didático, entretanto, poderá ser emprestado em qual-
quer dia, havendo necessidade de estudo. Vantagens
do empréstimo: possibilita a leitura de livros de
maior texto e seqüência, uma vez que muitas crianças
se negavam a retirar da estante livros bons por serem
de muito texto, alegando o pouco tempo de perma-
nência na Biblioteca. Mesmo assim, tivemos alguns
alunos que se interessaram por leituras mais longas
pedindo às professoras que anotassem a página onde
haviam ficado, a fim de prosseguirem a leitura no
dia seguinte. Com o empréstimo foi solucionado êste
problema. Livros como Aventuras de Pinóquio, Aven-
turas de Vera Lúcia, Pingo e Pipoca, Alice e muitos
outros eram lidos, comentados, despertando assim o
interesse em outros leitores." "Em agosto saíram
900 livros para empréstimo; em setembro, 1.721; em
outubro, 1.374. Encerramos o empréstimo a 28 de
outubro. Reavemos todo o acervo, com exceção de
três exemplares."
Em abril de 1964, os diários da Biblioteca re-
gistraram: "Tem sido grande o movimento na bi-
blioteca nestes primeiros meses de atividades; os
leitores têm-se mostrado bastante interessados, lêem
com atenção, pesquisam, pedem e recebem orientação
dos professôres. Aprenderam a manter o silêncio e a
disciplina, a manusear e conservar os livros, a sentar
e permanecer tranqüilos na biblioteca, a tratar com
boas maneiras professôres, colegas e funcionários.
Tem crescido muito o movimento do serviço de em-
préstimo e os livros que possuímos na referida seção
já estão sendo poucos para atender ao número de lei-
tores. Os alunos do 4" ano primário aindao estão
habituados com a seção de empréstimos e desarru-
mam as estantes, querem todos ser atendidos ao mes-
mo tempo, causando certa confusão no ambiente. Es-
pecialmente nos de outubro, o movimento foi ex-
traordinário, talvez por se aproximarem os exames,
talvez pelos festejos comemorativos da semana da
criança. Os alunos, alegres, enchiam a Biblioteca de
vida e calor. Estudaram, leram, pesquisaram e apre-
ciaram os desenhos que fizeram e que foram expos-
tos."
Em 1967, cinco anos depois de iniciadas as ati-
vidades culturais da Biblioteca, foram organizados
grupos de alunos para "auxiliares de biblioteca". "Em
cada sala, seis alunos serão escolhidos mensalmente e
previamente orientados, terão a função de auxiliares
da biblioteca, isto é: ajudarão na disciplina, na arru-
mação das estantes, na conservação dos livros, mo-
biliários, plantas e outros objetos. Após alguns meses
todos os alunos que freqüentam o Setor, serão auxi-
liares da biblioteca."
"Durante o ano de 1968, a biblioteca funcionou
em seis horas diárias: 3 no primeiro turno e 3 no
segundo, para o curso primário; para o secundário
em cinco horas, das 7 às 12 nos dias de 4ª-feira. Os
alunos leram, estudaram, pesquisaram, ouviram, cria-
ram, narraram e dramatizaram estórias e fatos, par-
ticiparam de coro falado, auxiliaram os professôres
da Biblioteca, apresentaram desenhos e composições
nas exposições realizadas no Setor." "Após inventá-
rio meticuloso, chegamos à conclusão de que 170
livros foram extraviados em 1968. Esta elevada cifra
de livros extraviados num curto período de oito meses
de atividades, teve como principais fatôres: a)o
funcionamento do serviço de empréstimo, por falta
de professôres; b) número excessivo de leitores em
cada sala, dificultando o trabalho de melhor orien-
tação e fiscalização; c) as venezianas e janelas baixas
que contornam o Setor, facilitando aos leitores o des-
vio dos livros. Há registrados, conforme o livro de
tombo, 10.934 livros na Biblioteca da Escola-Parque
do CECR." "Seria ideal a existência de verba des-
tinada à biblioteca para que, nos casos de preferência
por determinados livros (como, por exemplo, "O pás-
saro azul", de Maiterlinck, que durante o ano foi dia-
riamente solicitado pelos leitores), pudéssemos ad-
quiri-lo em número suficiente, a fim de atender a
todos." "Cresce dia a dia o número de alunos que
dispensam a leitura recreativa para se dedicarem
quase que exclusivamente à pesquisa, à leitura infor-
mativa. As professorasm sentido dificuldades em
atender aos que procuram freqüentemente os livros
didáticos, atualmente adotados e que a bibliotecao
possui, como, por exemplo, a matemática moderna."
O prédio em que se acha instalada a Biblioteca
é de linhas modernas, redondo e envidraçado. Há
luz por todos os lados no seu interior. Um balcão
central, circular, separa os arquivos, fichados, mesas
de professôres e armários, da área onde, em recantos
divididos entre si por pequenos muros de estantes e
livros como setores de um círculo, se localizam
os meninos leitores. Compõe-se de duas seções, com
fichários próprios: a infantil (livros didáticos, lite-
ratura infantil e revistas) e a de referências (dicio-
nários, enciclopédias, livros informativos, fichário de
gravuras, mapoteca e pastas de recorte).
A Biblioteca funciona com as seguintes ativi-
dades:
Leitura com livre acesso aos livros para
retirarem os que mais lhes interessem. As crianças já
adquiriram razoável autonomia e raramente pedem à
professora para indicar suas leituras recreativas. Em
levantamentos procedidos anualmente verifica-se que
o gênero preferido é o de aventuras, mistérios e con-
tos de fadas.
Estudo-livre ou dirigido; o estudo em livros
didáticos corresponde à necessidade dos currículos das
escolas-classe. Em períodos de provas, de verificação
da aprendizagem, o movimento de estudo se intensi-
fica e dá-se oportunidade de estudo-dirigido em equi-
pe sob a orientação da professora.
Pesquisa realizada na sala de referência,
a pesquisa é comum entre os alunos das séries mais
adiantadas que consultam com desembaraço, dicioná-
rios, mapas, enciclopédias, pasta de recortes de jor-
nais, revistas e fichário de pesquisa,
Hora do conto criada para os alunos
menores que ouvem e narram estórias, a hora do conto
tem grande aceitação entre os alunos. Desenvolvem-
se com essa atividade, a linguagem, a imaginação, a
atenção e a memória.
Jornal mural com suas diversas seções,
humorismo, literatura, crônica, notas sociais, ilustra-
ções, charadas, movimento mensal da biblioteca. O
Uirapuru é o veículo de publicidade organizado pe-
los alunos, no Setor.
Exposições cartazes, dísticos, gravuras,
desenho dos alunos, livros antigos etc. estão constan-
temente em exposição para comemorar datas históri-
cas e cívicas, acontecimentos religiosos, tradicionais,
ou fatos de interesse mundial.
Teatro de sombra e fantoche bonecos,
cenários, silhuetaso confeccionados no Setor de
Trabalho pelos alunos que criam peças e as encenam
com os professôres. É uma das grandes atrações da
biblioteca.
Livros recreativos mais solicitados pelos alunos
que freqüentaram a biblioteca da Escola-Parque, entre
os anos de 1967 e 1968:
Entre os alunos menores registrou-se a eleição
de dois livros queridos e disputados por todos, me-
ninos e meninas: A Bonequinha Preta e O Bonequi-
nho doce. ambos da escritora mineira Alayde L. de
Oliveira. A seguir vêm: A galinha esperta, de Sara
Cone Bryant, Bonequinho de massa, de Mary Buarque,
os Contos, de Perrault, de Anderson e Grimm, adap-
tação de Monteiro Lobato.
Entre os alunos maiores, com domínio comple-
to do mecanismo da leitura, foram os seguintes os
livros mais pedidos: A mina de ouro, da autoria de
Leandro Dupré, O pássaro azul, de Virgínia Lèfèvre,
os livros de Nina Salvi, Francisco Marins, Mª Tereza
Giacomo, a coleção dos livros de Monteiro Lobato,
principalmente a série de aventuras ocorridas no "Sí-
tio do Pica-Pau Amarelo", série de contos de Grimm,
Anderson e Perrault e os livros de Alexandre Dumas,
Os irmãos Corsos, O Conde de Monte Cristo e os Três
Mosqueteiros.
, ao lado desse levantamento anual, da pre-
ferência do aluno por determinados livros, na do-
cumentação da Biblioteca, um material de pesquisa
da opinião daqueles alunos sôbre os mesmos, com
elementos de interesse para os estudiosos da litera-
tura infantil. Eis alguns depoimentos: Sôbre a Gata
Borralheira, por exemplo, Mary Conceição Fernandes,
de 14 anos, assim se expressou: "Não gostei porque
Gata Borralheira, que erao bondosa, foi muito hu-
milhada pela madrasta." Sôbre a Irmã de Simplicia,
de Virgínia Lefèvre, outra menina, Waldelice de
Assis, de 14 anos, assim escreve: "Eu gostei muito
dêste conto, eu acho parecido com a realidade e por
isso eu gostei. Eu nunca li um contoo bonito,
calmo e maravilhoso e ao mesmo tempo engraçado."
Sôbre A rainha das borboletas, a menina Maria José
Cruz de Aragão, de 13 anos, observou: "Euo
gostei dessa história, certamente é uma linda fábula
infantil para alguém que goste, mas eu francamente
o gostei, porque no começo ainda vai contando
aquela lenda que é até graciosa, mas, no fim, fran-
camente,o gostei porque é muito triste e sem
graça." Sôbre a Galinha Esperta, de Sara Cone
Bryant, comentou Washington Almeida Lacerda, de
13 anos: "Eu gostei muito da galinha esperta; de ver
que a raposa querendo comer a galinha esperta, a ra-
posa só ficava procurando a galinha até que um dia
ela fica livre dessa raposa. Eu sempre apreciei esta
história e nunca quero esquecer essa história e queria
ler outros livros iguais a esse." Sôbre o homem que
morre 4 vezes, de Theobaldo Miranda Santos, é a se-
guinte a opinião de Nair de Oliveira, de 13 anos:
"Não gostei da história porque nunca vi homem mor-
rer quatro vezes e nunca vi juramento assim pegar
um assassino por uma coisa queoz e o outro as-
sassino verdadeiro vem e é depois libertado com os
outros queo tinham nada com a morte, foram ju-
rando e depois libertados. Eo se sabe qual o as-
sassino certo." Sôbre Robin Hood, José Orlando de
Souza, com 13 anos, registrou: "Apreciei muito essa
estória porque é uma estória que combina com minha
idade, pois livros de infânciao muito cheios de bo-
bagens, então êste livro de Robim Hood tem muitas
coisas para despertar a curiosidade de qualquer ado-
lescente, também gostei muito por iniciar a estória
com gravura e terminar do mesmo modo."
f) Setor Socializante
O Setor Socializante do CECR abrange: o Banco
Comércio e Indústria, o Jornal, a Rádio, o Grêmio e
a Loja, instituições inteiramente dirigidas pelos alu-
nos da 5ª e 6ª séries, supervisionadas por uma pro-
fessora.
As atividades dêste Setorm como objetivos
gerais dar aos alunos a oportunidade de maior inte-
gração na comunidade escolar, ao realizar atividades
que os levam à comunicação com todos os colegas ou
a maioria deles; prepará-los para atuar na comuni-
dade, conscientes de seus direitos e deveres, como
agentes do progresso social e econômico; desenvol-
ver-lhes a autonomia, a iniciativa, a responsabilidade,
a cooperação, a honestidade, o respeito a si e aos
outros.
Organização do Banco Funciona o banco
em turmas de 10 alunos com as seguintes funções:
gerente, o aluno que dirige o banco, providencia a
aplicação do capital, resolve os casos omissos no re-
gulamento e autoriza empréstimos; subgerente, que
auxilia o gerente e o substitui em seus impedimentos,
autoriza o pagamento dos cheques; caixa-tesoureiro,
que tem sob sua responsabilidade o dinheiro em
Caixa, se encarrega de receber os depósitos, prepara
a relação deles e confere o dinheiro em caixa sob a
responsabilidade do tesoureiro; escriturário, que re-
cebe dos caixas as papeletas de depósitos e os cheques
pagos, além de escriturar o livro-caixa, organizando
os balancetes mensais e o balanço anual; conferente
de firmas, que confere a firma dos cheques e verifica
se estão preenchidos corretamente; conferente de
saldo, que confere o saldo das contas correntes para
o pagamento dos cheques; correntistas, que fazem
os lançamentos nas fichas de contas correntes, inclu-
sive de juros que calculam; recepcionistas, que aten-
dem no balcão, fornecendo informações e encami-
nhando os cheques para os vistos e pagamentos.
Em 1968, era de 1.316 o número de correntistas
no Banco.
Funcionando regularmente, as atividades do
banco oferecem aos meninos oportunidades educati-
vas excepcionais: desenvolvimento do senso econômi-
co e da honestidade; compreensão da importância da
contribuição individual no patrimônio à disposição da
comunidade; hábito de reservar uma parcela de re-
cursos para ocasiões de maior necessidade; treino da
prática bancária, própria na vida social do adulto.
O Jornal um diário, tipo mural e um de
circulação mensal mimeografado oferece aos alu-
nos atividades muito interessantes através de suas di-
versas seções: editorial, manchete, noticiário, "men-
sagem a Garcia'', humorismo e esportes. Os alunos
se distribuem nos diversos encargos: diretor-presiden-
te, o chefe-geral; diretor-chefe, responsável pelo
editorial e de distribuir as tarefas pelos demais cola-
boradores, redatores, preparam a redação do noticiá-
rio; chefe de reportagem, encarregado de rever e se-
lecionar as reportagens; repórteres, revisores, diagra-
madores.
A prática do jornalismo desperta no jovem aten-
ção para os problemas e interesses da coletividade,
buscando, sugerindo soluções e promovendo realiza-
ções; oferece uma oportunidade ao leitor para pensar,
sentir e agir; desenvolve a autocrítica e a crítica cons-
trutiva; favorece a redação rápida, correta e a infor-
mação exata.
A "Rádio-escola" apresenta uma programação
diária que consta de: comentário do dia, noticiário,
pergunte o que quiser, estória lida ou contada, músi-
ca, canto e discos.
Nela, os alunos desempenham as seguintes fun-
ções: responsável pela administração geral da Rádio
(diretor geral); chefe do departamento de progra-
mação (diretor artístico); encarregados de preparar
as reportagens (repórteres); noticiarista, incumbido
de receber e selecionar as notícias e encaminhá-las aos
locutores (chefe de departamento de notícias); encar-
regados de transmitir as notícias através do microfone
(locutores).
A "Radioescola" procura desenvolver o gosto
pela música; distrair a comunidade, preenchendo suas
horas de lazer; noticiar com exatidão e objetividade;
desenvolver a capacidade de comunicação da comuni-
dade, sugerindo soluções e promovendo realizações.
O "Grêmio" é constituído de quatro depar-
tamentos, sob a responsabilidade dos alunos: nossa
escola, nossos colegas, social e esportivo. Através dês-
ses departamentos os jovens apresentam sugestões,
elaboram planos e promovem realizações, visando
aperfeiçoar a escola, ajudar os colegas, incentivar a
vida social e as atividades esportivas.
Convivendo em grupos, com seu presidente, vice-
presidente, secretário, tesoureiro, chefes de departa-
mento e sócios, obedecendo a um regulamento, os
alunos no Grêmiom oportunidades de praticar de-
mocraticamente a educação de sua livre expressão, de
sua autonomia, iniciativa, cortesia, respeito e atenção.
A "Loja" instalada na Escola-Parque
vende, exclusivamente, os trabalhos que os alunos fa-
zem no Setor de Trabalho. Funciona tal qual uma
loja verdadeira, com o gerente administrando e assu-
mindo tôda responsabilidade pelos artigos à venda;
o caixa, que recebe e registra o pagamento prove-
niente das vendas e deposita o dinheiro no Banco;
o correntista, que faz os lançamentos de lucros ou
prejuízos e encarrega-se das fichas de vendas a cré-
dito; os vendedores, que atendem à freguesia e ven-
dem os inúmeros artigos que lhesm do almoxari-
fado da Escola.
Com as atividades da "Loja", os alunos adqui-
rem noções de lucro, prejuízo, economia em suma, e
desenvolvem seus conhecimentos de contabilidade
pela organização de livros de escrituração mercantil.
O Setor Socializante, procurando atender
aos interesses dos jovens que freqüentam a 6" série e
o ginásio, ainda promove cursos extras, como os de
arte culinária, manicure, cabeleireiros, bijuterias e
dactilografia.
g) Assistência Material,
Médico-Odontológica
Existe no Centro a "Assistência Escolar" que
tem por finalidade principal concorrer para as des-
pesas de material didático e ajuda aos alunos com-
provadamente necessitados. A receita da Assistência
Escolar é constituída por donativos, produtos de festas
beneficentes, contribuições de alunos e outros quais-
quer recursos a ela destinados.
Tem consistido em distribuição de fardamento
completo a todos os alunos, de livros e material di-
dático.
A merenda, encargo que a direção do Centro
vem mantendo desde sua fundação, independente de
qualquer contribuição do aluno, bem como distribui-
ção de medicamentos e donativos de óculos, comple-
tam a assistência material.
Funciona na Escola-Parque o gabinete médico
com atendimento diário; e, nas Escolas-classe, quatro
gabinetes dentários que contam com pessoal designa-
do pela Secretaria de Saúde do Estado e material for-
necido pela direção geral do CECR.
ANEXOS
Elementary Education for the few and
Elementary Education for ali:
The Brazilian Experiment
BAHIA et 1'école experimentale
PARQUE.
Elementary Education for The
Few and Elementary Education for
All: The Brazilian Experiment
ANÍSIO TEIXEIRA
Brazil´s experiment in elementary schooling and
possibly Latin America's has been, up to the present, an
elementary school experiment for a part of, and not for the
whole school population. Even though it might entertain
the hope of being an education for ali, it has not succeeded
in reaching but a larger or smaller percentage of school-age
children.
As a result of this fact, Brazil´s elementary school, in
spite of its claim of being a school for all, and therefore
adapted, in its content, methods and techniques to the
Student and not the latter to the school is, in truth,
a school for the few, even though the number of these few
has grown and continues to grow.
The school for the few is characterized as being a school
whose results and quality depend above all on the Student,
and not only on program, method and teacher. It is up to
the Student to be capable of learning and adapting to the
program, method or teacher. The process for evaluating
his efficiency is the method of Student failure. The more
failures there are, the more efficient the school will be
considered.
Such a school, called selective school, is generally
accepted in the secondary and higher leveis, where the
predominant idea is that education is not intended for ali,
but for those who prove themselves capable of receiving it.
Its function is thus to prepare the so-called staff of middle
and higher Culture in the country, consisting naturally of a
limited number of members.
While this middle and higher education begins to aim
at enlarging its scope to many, if not to ali as in the
United States it undergoes structural changes in program,
and above ali in methods, processes and teachers.
In Brazil the elementary school, although available as
yet to the few, has lived through two stages. At first, it
was organized in accordance with the pattern then prevail-
ing in Europe, as an educational system parallel with the
actual preparatory system, aiming at the universities and
the instruction of the ruling elite. Its Course included seven
or eight years of learning, at the end of which the Student
would close his school life, or he might continue it in the
so-called vocational schools. It was a copy of the educational
dualism current in Europe and especially in France, where
inspiration was sought.
The elementary school, the normal school and the
schools of arts and crafts made up the system for the middle
classes, at that point small and reduced; the high-school and
the University made up the school system for the ruling
elite.
The elementary school had appropriate quarters, and
did not expand except when there were resources and condi-
tions availabre for its adequate maintenance. Teachers, both
male and female, received their training at the normal
school, which usually consisted of four or five years' study,
after the seven years of elementary and complementary
courses in elementary school.
Because applicants to the teaching profession were
up to a point selected, elementary teachers divided in
two groups, those for elementary classes and those for
complementary grades used to receive a significant mid-
dle-level training, and were not considerd members of the
intelligentsia, or of the ruling class; they were respectable
representatives of what the French called "the primary
spirit", or in other words, the practical spirit, and not
"disinterested".
Since it was not attended by the people themselves, but
by the middle class, the elementary school continued thus,
restricted, with reasonably good standards, up to the 20's,
when the second stage began.
In this second period an attempt was undertaken,
to make it more democratic, by extending its scope to all,
and not merely to the few then benefiting from school learn-
ing. The means adopted to bring this about was to cut
down on its duration. The idea was to teach Brazilians how
to read and write. The State ofo Paulo, which led the
motion, actually suggested a school Course of two years,
and it took the effort of some educators to raise this period
to four years of study in urban communities, and to three
years in rural sections.
Once this step was taken, the road was open to an
evolution not lacking in amazing distortions. In the first
place, from this moment on there was a breach in the evident
educational dualism of two separate systems, one for the
small middle class, and a second for the ruling classes. The
elementary school became a popular school for teaching how
to read and write, having no articulation either with the
vocational or the academic schools. Both of these latter
groups then began to require entrance examinations for
those wishing to join their courses, which started at the
age of eleven. These courses, though intended for different
clienteles, no longer bore the stamp of autonomous systems,
and would eventually merge into one single systc-m of
secondary schools, with mutually equivalent courses.
And the elementary school, curtailed in its duration
and programs, while also isolated from the other schools
of secondary levei, now entered a process of simplification
and expansion no matter what. As it was no longer a
school for the middle classes, but truly a school for the
people, who began to seek it in a real explosion of enroll-
ment, it soon started to operate in two shifts, with indepen-
dent matriculation, one in the morning, and another in the
afternoon: and in larger cities, it actually reached three
shifts and even four, in some cases.
Thus, it would be a school for teaching how to read
and write. However, because this does not, in itself, make
up a complete school aim; and because teacher-training in
the normal schools has not been changed and continues to
recruit its members from the middle classes, training them
for the old semi-academic schooling of the old elementary
schools, the new elementary school has become neither a
basic education school, which might have been done, nor
did it preserve its former, reasonable efficiency as a school
preparatory for access to the vocational school of secondary
levei.
However, this did not mean that it ceased to be a
preparatory school: It became a preparatory school for the
entrance examinations required by the middle and secondary
schools. As this examination has maintained its characteristic
as a selective academic examination, the elementary school,
without aiming or planning this, and with its short schedule,
became a school of strictly formal and academic teaching,
in the sense of being a catalogue of knowledge, for the
middle-level entrance examination.
Recruiting matriculations from the popular class as a
whole, and finding it unprepared for this type of schooling,
the rate of failures rose enormously; the number of school
dropouts grew significantly, and the school itself does neither
fulfill its popular purposes, nor stand for a good preparatory
school.
We might add that from this drastic reduction in its
functionality there carne a growing need for the secondary
school, without which the few survivals of the elementary
school would be unable to do anything with the formal
Culture received. Hence the disorderly expansion of the
secondary schools of academic type, whose efficiency is more
than doubtful.
There is no exaggeration in this outline, except that
resulting from our intention of underlining more clearly
the tendencies and distortions. I well realize that many
schools succeed in obtaining a degree of efficiency, but this
will always be due either to the selection of the Students or
to the selection of the teachers, facts which have always
allowed that something be well taught, no matter what the
organization of the philosophy of the school.
When the so-called democratization of the elementary
school began, in the 20's, we should have tried, not to
reduce the curriculum and the length of the school period,
but to adapt it to the education of ali Students of school
age. For this purpose, the following would be indispens-
able: 1) to maintain, and not to reduce the number of
school grades; 2) to extend, and not to shorten the hours
in a school day; 3) to enrich the program, with educational
activities beyond the intellectual teaching proper; and 4) to
train a new teacher, or new teachers for the more extended
duties of the school.
And why is that? Because the school was no longer
able to remain the partial school, for the mere instruction
of the sons of middle class families who went there in
search of the complementation of the education received
at home, in strict affinity with the school curriculum.
Instead, the school should aim at being an establishment for
providing education in the broader sense of the word, to
children of ali classes, from the middle and upper classes
to the much more numerous popular classes, which sometimes
don't even own a home, and which hardly ever bring from
family life the experience and the habits in the instruction
they are about to receive.
For this very reason, the school could no longer remain
the dominantly instruetive school of the past, but should
replace the home, family, social class and lastly the school
itself, offering the child complete opportunities for living,
and including activities in study, work, social life, recreation
and games. For such a school, therefore, a new curriculum
would be needed, a new program and a new teacher. The
popular school for an underdeveloped society, with a
pronounced social stratification, far from being easier,
becomes the most complex and the most difficult of schools.
Whatever the difficulties may be, this will have to be
the elementary school with which we will solve the problems
arising from the rigid social stratification and the serious
economic unevenness in Brazilian society. Through it we
will create equal opportunities for all, which is the essence
of democracy.
The problem of an elementary school for ali, with a
view to the integration of the whole population in the
context of modem society: the Center of Elementary Educa-
tion in Bahia, as an experiment toward the solution.
It was with the purpose of presenting a model for this
type of elementary school that the Centers for Elementary
Education were designed, in Bahia. Of these, the Carneiro
Ribeiro Center, in Salvador, represents the first demons-
tration.
At these Centers, the school day is divided into two
periods, the first for instruction, in class; and the second
for work, physical education, social activities proper and
artistic activities. The Center operates like a day-school,
with Students arriving at 7:30 A.M. and being returned to
their families at 4.30 P.M.
In order to make this type of school more economical,
each compound was designed for 4 000 Students, and
includes four class-schools, for a thousand Students each, in
two shifts of 500 which means a minimum of twelve
schoolrooms and a park-school, with a work pavilion,
gymnasium, social activities pavilion, theater and library,
for the above-mentioned 4 000 Students, in shifts of 2 000
in the morning and 2 000 in the afternoon, plus other
buildings for the cafeteria, and administration offices.
Thus, the compound resembles a child Campus, with
Students scattered out among the buildings of the class-
schools (formal activities of intellectual learning) and
among the workshops, gymnasium, sports field, social
activity building (shop, clubs, children's organizations),
theater and library.
The philosophy of the school aims at offering the
child a replica of life in society, with its diversified activities
and its rhythm of "preparation" and "carrying out", provi-
ding him with experiences in responsible study and action.
While on one hand there is in the class-school a predo-
minant sense of preparation, on the other hand, in the park-
school (name given to the compound formed by the work-
activity, social, physical education and arts buildings), the
sense of complete activity predomiates, with its stages of
preparation and carrying out. And the Student is expected
to practice in full his sense of responsibility and practical
action, whether in his work (which is not mere exercise,
but the actual making of something complete and of
utilitarian value), or in the games and recreation; be it in
the social activities, the theater, in the music and dancing
rooms, or in the library which is not intended for studying
only, but for reading and enjoying the treasures of the mind.
Although the experiment now under way in Bahia has
been in operation for some years, only at present, in 1962,
will it have its installations completed, with the library, the
theater and the social activity pavilion. Up to now there
were in operation the work-activity and the physical educa-
tion pavilions, and the open-air theater, besides the class-
schools.
With the extension of the school period to eight years,
there should now be the inauguration of the sixth, seventh
and eighth grades (complementary grades), which will raise
the learning period to ages thirteen and fourteen. However,
due to the fact that the school stands in one of the poorest
districts in the city of Salvador, the Center has always had
many Students of these ages, who were retarded in their
regular schooling.
For the new activities of this Center, teachers were
recruited among those from the State normal schools, for
the class-schools of formal teaching; and those intended for
the other activities received special training in the specialized
courses organized by the Instituto Nacional de Estudos Pe-
dagógicos.
There is a plan to complete the project for the Carnei-
ro Ribeiro Center with the construction of a dormitory for
200 Students, or five per cent of the total enrollment. This
dormitory will shelter orphans or abandoned children in
need of education plus boarding. Such children will take
part in all school activities, like the others, but will live in
the Center itself. It is hoped that in this way they will not
feel seggregated, but on the contrary, raised to the status
of hosts to the other children who come to the Center as
day-students. Whenever possible, they will be given tasks
and responsibilities in the organization and distribution of
activities at the Center, so that they may fully realize the
trust they deserve from their principais and teachers.
The school system of Brasília was organized in accord-
ance with this model Center in Salvador, Bahia. We have
drawn the plan with the purpose of giving Brazil´s capital
a chance to offer the nation a school compound which might
stand as an example and a demonstration for the Brazilian
educational system.
In this article we have dealt only with the program of
education for ali, that is, elementary education. We have
sought, in the Carneiro Ribeiro project, to combine classroom
teaching proper, with the self-education resulting from
activites where in Students participate with full responsi-
bility. That is why the school day lasts for eight hours,
divided between study and work activities, art and social
living. At the "elementary education Center", in addition
to the four hours of formal education given at the "class-
school" building, where he learns how to "study", the child
is given four more hours of work activities, physical and
social education, activities in which he engages, individually
or in groups, thus learning how to work and to get along
with others.
We can readily realize the amount of changes that will
have to be introduced in school architecture, to meet a
program of this kind. It is no longer a question of schools
and classrooms, but of a whole compound of places, where
children may scatter and engage in activities of "study",
"work", "recreation", "assembly", "administration", "deci-
sion", living and group-living in the fullest sense of the
word. The school architecture should thus combine aspects
of the "traditional school", with those of the "Workshop",
of the sports and recreation "club", of "home", of
"business", of "restaurant" and "theater", including perhaps
the most complex and diversified program of ali the special
forms of architecture. The outline which acompanies this
book seeks to show how architects are approaching the new
needs and funetions of this ambitious, modem school.
Should circumstances allow it, the experience now under
way in Salvador, Bahia, may mean the first step of an effort
which means not only a circumstancial cure, but the very
solution for the problem of elementary education, common
in Brazil, or in other words, the necessary structural change
of the elementary school in order to meet the goals of the
new society which an accelerated economic development will
inevitably bring about, and which, only through the catalytic
agent of this new type of education, will cease to be an
upheaval and become a solution.
Translated by Amalia C. Machado da Costa.
BAHIA
et l'école experimentale
PARQUE
MAX FOURESTII-R
En novembre et décembre 1961, j'ai eu l´honneur, sous
les auspices de notre ministère des Affaires étrangères,
d'accomplir une mission culturelle en Amérique du Sud. Ce
fut un merveilleux périple jalonné par ces escales aux noms
enchanteurs: Caracas, Lima, Santiago du Chili, Buenos Aires,
Montevideo,o Paulo, Rio de Janeiro, Bahia et La Paz,
la capitale du haut du monde (4 000 mètres d'altitude, en
Bolivie...). Dans le Boeing 707, "Château-de-Josselin",
du jour de Noél, qui me ramenait à Paris après de merveil-
leux voyage de 37 000 kilomètres, j'évoquais beaucoup de
souvenirs. Jespérais navoir pas déçu mes auditeurs avec
mes trois thèmes de conférences si souvent exposés: "l'En-
doscope Universel" (brevets d'invention du Centre National
de la Recherche Scientifique), mon oeuvre phtisiologique (et
plus particulièrement l'experience B.C.G. de Montreuil), les
"Experiences scolaires de Vanves" enfin (qui avaient suscité
tant d'intérêt, surtout en Argentine et au Brésil). Je
revoyais aussi un grand nombre de figures amies, des pay-
sages extraordinaires, des spectacles et des réalisations hors
du commun, notamment 1'école experimentale Parque à
Bahia (Brésil), dont je vais parler en racontant ce que j'y
ai vu et ce qui m'a été dit.
Le voyage aérien Rio-Bahia (1 300 km) me fit décou-
vrir que tout au long de la cote brésilienne il n'y avait pas
"une" baie de Rio, mais des centaines, tant mer et terre se
sont entrelacées, jadis, en des étreintes puissantes et convulsi-
ves. J'allais vers le nord, oui, mais là-bas c'est aller vers
encore plus de soleil ot de chaleur (Bahia est sur le 13º
parallèle, c'est-à-dire 1'équivalent "chez nous" de Dakar).
Des la sortie de l´aéroport de Bahia, ce fut la visite d'un
petit lac, lieu sacré pour les Noirs, il y a encore peu de
temps; la plage tradionnelle est toute proche avec ses co-
rotiers très carte postale; il fait une chaleur étouffante (je
suis près des Tropiques et c'est l'été!), le ciel est sombre à
force d'être bleu, des Noirs ou des Métis partout; décidé-
ment, je suis dans l'ambiance!
Mais la ville elle-même? Deux zones três contrastées:
la basse, du bord de mer, la haure, des collines, qui commu-
niquent sur un plan presque vertical par des ascenseurs ("ele-
vators") modernes ou de 1'ancien temps. Une cite aux
églises aussi nombreuses que les jours dan 1'année. . . Et
quelles merveilleuses stations (d'un vrai chemin de croix
touristique!) furent mes visites à San Francisco, San Do-
mingos, San Pedro dos Clericos, Norte-Seigneur de Bomfin,
de cloítre de 1'église du Carmel, Dos Passos et son escalier
monumental, etc. A Bahia, 1'architecture est autant florale
que. . . de pierres, c'est-à-dire qu'on né sait plus, tant les
pátios font partie des pièces d'habitation, ce qui est jardin
ou ce qui est maison. Ainsi 1'hôtel oü j'étais logé, une des
premières réalisations en Amérique du Sud de Le Corbusier.
On né se lasse pas d'errer dans le vieux Bahia, comme dans
la célebre rue en pente Pelourinho oü les esclaves noirs,
jadis, étaient châtiés en public, et sur le port notamment
devant 1'église de la Conception-de-la-Plage; et le 8-
cembre le jour de la grande fête de la Vierge, ce fut pour-
moi la découverte dune de ces curieuses cérémonies oü
le sacré se mele si intimement au profane.
La plus belle réalisation, proprement pédagogique, du
Centre Brésilien de Recherches Educativés est le Centre
éducatif Carneiro Ribeiro ou l'école experimentale Parque
que j'avais hâte de visiter, tant on m'en avait parle du
Brésil. "Ce centre a été conçu quand le professeur Anisio
Teixeira était chargé de ladministration de 1'éducation de
l'État de Bahia. Cette entreprise est une véritable révolution
dans le domaine de renseignement élémentaire au Brésil, car
elle se propose de donner une education intégrale aux enfants
de sept à quatorze ans, qui ont le droit de trouver à 1'école
des conditions nécessaires à l'épanouissement et au dévelop-
pement de touíes leurs aptitudes", tels ont été les premiers
mots qui me furent dits le jour de la présentation. Ce centre
est composé d'un noyau central de bâtiments ultra-modernes
(gymnase olympique, théàtres: l'un dos, 1'autre à ciei ouvert,
bibliothècjue, immense restaurant, bâtiments des centres
d'apprentiss.ige professionnel, installations sanitaires, service
médico-social, etc), dans un pare verdoyant et superbe
(d'oü 1'appellation: école-parc), et de trois écoles-classes,
chacine de mille élèves, en périphérie du site (un kilomètre
environ), drainant les enfants dun quartier. peut-être
parmi les plus déshérités et pauvres de Bahia, celui de
Saint-Lazare.* Dans ces écoles-classes, les enfants travaillent
une demi-journée (soit le matin, soit 1'après-midi), pendant
quatre heures, et comme dans toutes les écoles primaires du
monde, ils y apprennent les techniques fondamentales du
langage, de la lecture, de l'écriture et du calcai, ainsi que
des notions dhistoire, de géographie et de sciences, en
accord avec les programmes officiels. L'autre demi-journée
(de quatre heures elle aussi) se passe à l'école-parc, ou les
enfants prennent le repas de midi et ou ils sont instruits
dans toutes les autres disciplines qui doivent leur permettre
d'acquérir une education élémentaire intégrale: sportives,
artistiques, manuelles, professionnelles, "socialisantes" (cette
appellation non politique signifiant, dans son sens platoni-
cien, toutes les qualités nécessaires à un homme pratiquant
une vie de Societé, et quel que soit son métier); en outre,
santé et morphophysiologie des enfants sont régulièrement
contrôlées.
Au total car il n'y a pas de jeudi libre comme chez
nous la scolarité hebdomadaire est de quarante-huit
heures, dont six heures (en deux séances de trois heures
chacune) réservées à 1'éducation physique et à 1'initiation
sportive.
Pour les enfants de sept à dix ans, le programme de
d'école-parc est surtout récréatif et artistique; c'est pour Le
groupe des enfants de onze à quatorze ans que 1'initiation
sportive et les activités manuelles d'un véritable apprentis-
sage professionnel sont surtout valables. Voici la liste des
principaux travaux manuels auxquels les enfants sont
astreints: dessin, moulage, broderie, tapisserie, vannerie,
couture, céramique, cordonnerie, coupe, travaux sur bois,
carton, cuir, metal. Le moulage et le dessin constituent les
techniques pratiques de base: tous les élèves y travaillent
pendant deux périodes hebdomadaires de quatre-vingt-dix
minutes.
Les enfants sont répartis par groupes de quinze dans
chaque technique, sous la direction d'un professeur spécialisé,
et au moins deux sortes d'activités manuelles sont exigées
d'eux. Bien que 1'école-parc n'ait aucune finalité de forma-
tion professionnelle, en fait, 1'enfant, après une période
d'observation probatoire, se spécialisé plus ou moins dans
ce qui será, plus tard, son métier. Cinquante-six professeurs
et quatorze auxiliaires, soit au total soixante-dix personnes,
soccupent de ces trois mile élèves à l'école-parc et enseignent
matin et soir, successivement, tous les jours, deux groupes.
Leur présence scolaire hebdomadaire est donc, pour eux
aussi, de quarante-huit heures. Cette école, bien qu'expéri-
mentale, est un organisme d'État; la scolarité est gratuite
pour les enfants qui bénéficient, outre le repas substantiel
de midi, du don dun uniforme; créée par décret en 1955,
elle a commencé à fonctionner en 1958. j'ai constate de
nombreux chantiers de construction qui vont parfaire sans
nul doute cet ensemble scolaire unique au Brésil (et dans
toute 1'Amérique du Sul), dirige par M'' Carmen Spinola
Teixeira (soeur du promoteur de 1'idée), qui de longues
heures durant fut le plus dévoué, déférent et amical des
cicérones et répondit inlassablement et sans faux-fuyants,
par le truchement dun interprete, le docteur Luis Ribeiro
Sena, à mes questions nombreuses, precises et parfois in-
discrètes.
Je l'ai dit en public là-bas, et je le répète ici: une telle
réalisation fait honncur aux responsables, au Brésil, de
['Education dÉtat. Au milieu de la misère, dinstitutions
politiques si souvent troublées, dans un pays immense (dix-
sept fois la France, continent dans un continent. . .) en
plein devenir, creusei. de races qui se cherchent et parfois
sopposent, non structure socialement encore et sans bases
éconcmiques et démocratiques tout à fait stables, c'est
miracle de voir fonctionner une telle pedagogic. Dans mon
discours de remerciements et de félicitations, le rapproche-
ment du nom du quartier (Saint-Lazare) et de celui de cette
école ultra-moderne, spontanément et sincèrement me fit
dire: "Oui, à 1'évidence, votre école expérimentale Parque,
c'est non la réssurrection mais la véritable naissance de tout
l'enseignement élémentaire d'emblée parfait qu'elle annonce
au Brésil."
Reproduzido ia "Revue Française de 1'Élite Européen-
ne", mars 1963.
* Max Fourestier refere-se ao bairro onde está localizado o CRPE.
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