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Presidente da República
Fernando Henrique Cardoso
Ministro de Estado da
Educação e do Desporto
Paulo Renato Souza
Secretário Executivo
Luciano Oliva Patrício
Secretária de Educação
Fundamental
Iara Glória Areias Prado
Diretora do
Departamento de Políticas
da Educação Fundamental
Virgínia Zélia de Azevedo
Rebeis Farha
Coordenadora Geral de
Apoio às Escolas Indígenas
Ivete Maria Barbosa
Madeira Campos
Equipe Técnica
Caio Valério de Oliveira,
Deuscreide Gonçalves Pereira
Deusalina Gomes Eirão Marcelo
Ernandez Macedo
Comité de Educação
Escolar Indígena
Iara Glória Areias Prado -
Presidente
Susana Martelleri Grillo Guimarães
Meiriel de Abreu Souza Luis Donisete
Benzi Grupioni Silvio Coelho dos
Santos Aldir Santos de Paula Rosely
Maria de Souza Lacerda Sebastião
Mário Lemos D. da Costa Jadir Neves
da Silva Darlene Yaminalo Taukane
Valmir Jesi Cipriano Bruno Ferreira
Algemiro da Silva . Salvino Brás
Nietta Lindenberg Monte Marina da
Silva Kahn Bruna Franchetto
Terezinha de Jesus Machado Maher
Nilmar Gavino Ruiz Marivânia
Leonor Furtado Ferreira Júlio
Wiggers Álvaro Barros da Silveira
Publicação financiada pelo
MEC - Ministério da
Educação e do Desporto,
dentro do Programa de
Promoção e Divulgação de
Materiais Didático-
Pedagógicos sobre as
Sociedades Indígenas
Brasileiras, recomendada
pelo Comité de Educação
Escolar Indígena
H
elicóptero
traz socorro
Apresentação
1 Palavras escritas sobre as
epidemias dos brancos
2 Palavras escritas
sobre o mal da malária
3 Palavras escritas
sobre o mal da gripe
4 Palavras escritas
sobre o mal da tosse
Anexo
5 Palavras escritas
sobre as dores de dentes
Escola
Apresentação
Bruce ALBERT
Antropólogo do ORSTOM (França)
Assessor da CCPY
As cinco cartilhas bilíngues Yanomami - Português apresentadas a seguir foram produzidas na
escola dos Watoriki t
h
eri pè ("habitantes da serra do vento forte")
1
durante o período de 25 de
maio de 1996 a 17 de junho de 1996, no âmbito dos projetos de educação e saúde
desenvolvidos pela CCPY nesta aldeia indígena.
Os Watoriki t
h
eri pê
A população dos Watoriki feri pè conta com 101 pessoas, das quais 45 % têm menos de 10
anos de idade. Apresenta um ritmo de crescimento demográfico muito forte (3,5% ao ano).
Trata-se de uma comunidade em fase de recuperação, depois de ter sido quase aniquilada por
várias epidemias ao longo de sua história recente, em particular nos anos 1970, durante a fase
dos seus primeiros contatos com a sociedade envolvente (período da construção da rodovia
Perimetral Norte).
2
Sua chefia é bicéfala, assegurada, no plano interno, por um líder tradicional e xamã respeitado
(Lourival Yanomami) e, no que tange às questões de relações externas, por seu genro e chefe
de posto da FUNAI, Davi Kopenawa, conhecido porta-voz da causa yanomami no plano
nacional e internacional.
Estas características históricas, demográficas e políticas fazem dos Watoriki feri pê uma
população jovem e dinâmica, enquadrada por adultos que, por serem sobreviventes das
grandes epidemias dos 70 e terem acesso a informações precisas sobre a sociedade envolvente,
são altamente conscientizados face aos perigos do contato (em 1988-89 foi uma das poucas
aldeias yanomami a expulsar os garimpeiros logo na sua chegada).
É deste dinamismo e desta experiência que os Watoriki feri pè tiram hoje o seu desejo de
adquirir conhecimentos capazes de garantir sua autonomia sanitária, económica e política. O
grande interesse despertado pelo programa de educação na comunidade enraíza-se na
expectativa de que ele possa ser um instrumento privilegiado desta busca de autonomia.
Contexto
O trabalho de produção das cartilhas foi desenvolvido quase
um ano após a implementação do programa de alfabetização
da CCPY na comunidade dos Watoriki t
h
eri pè (julho de
1995).
Após um ano de existência do programa:
uma parte significativa dos alunos (aproximadamente um
terço em fins de 1995, mais da metade em meados de 1996)
tinha chegado a um nível básico de escrita e leitura de
sílabas e palavras em Yanomami;
um pequeno grupo de alunos mais adiantados tinha adquirido
boa fluência na escrita e leitura de frases e textos curtos na sua
língua e já atuava como professores indígenas espontâneos na
aldeia (sob supervisão da educadora da CCPY);
a equipe médica da CCPY e as lideranças da comunidade
manifestavam o interesse
de introduzir no programa escolar elementos básicos de educação sanitária
como primeiro passo de um projeto de formação de agentes de saúde
yanomami.
Frente a estas novas realidades, foram definidos três objetivos:
encaminhar a elaboração de textos de
leitura na língua yanomami a fim de
acompanhar e sustentar a consolidação do
programa de alfabetização;
produzir material pedagógico oferecendo conhecimentos
básicos sobre questões de saúde particularmente relevantes
para a comunidade;
começar a formar os alunos mais adiantados da escola dos
Watoriki feri pè ao processo de produção de textos na sua
própria língua.
Carne assando num jirau e doente na rede comendo
Metodologia
A produção das cartilhas foi concebida como um processo dialógico entre os
Yanomami e os assessores não-yanomami (médico, odontólogo), no qual o
antropólogo operava enquanto interface de tradução/negociação no plano linguístico
e cultural. Assim, para realizar cada um dos cinco textos, foi reunido, sob a
coordenação do antropólogo, um grupo de trabalho composto de especialistas das
diversas áreas de competência envolvidas
os jovens mais adiantados no processo de alfabetização, por sua competência
na escrita fluente do Yanomami (Joseca, Cláudia, Geraldo e Tenose
Yanomami);
os homens influentes da comunidade no plano cultural e político, como o
velho líder Lourival Yanomami, por seus conhecimentos históricos e
xamânicos, e Davi Kopenawa, por sua visão global das orientações do
programa de educação epor sua experiência na escrita;
os assessores não-yanomami: Deise Alves Francisco, médica da CCPY, Ana
Isabel Dias, odontóloga da Diocese de Roraima, e Maria Edna de Brito, educadora
da CCPY.
Para a cartilha 1, a médica e o antropólogo pediram ao velho líder Lourival
Yanomami um depoimento sobre a situação de saúde anterior ao contato e sobre a
história epidemiológica do seu grupo desde os anos 1930. De cada etapa desta
narrativa foram extraídos trechos chave pelo antropólogo. Estes trechos foram então
submetidos aos "jovens letrados", para serem resumidos na forma de frases escritas
apropriadas aos objetivos do trabalho (elaboração de material de leitura básico e
introdução histórica às relações entre contato e saúde). O texto obtido foi finalmente
checado pelos dois mais competentes "letrados" da comunidade: Joseca Yanomami
e Davi Kopenawa.
Para as outras cartilhas (2,3,4 e 5), o antropólogo pediu à médica e à odontóloga
para sintetisar as informações biomédicas básicas a serem transmitidas no âmbito do
programa de educação sanitária. Colocou depois estas informações na forma de
proposta de frases yanomami, que foram submetidas tanto aos "jovens letrados"
quando às "autoridades político-culturais" da aldeia. As propostas de frases foram
então avaliadas (corrigidas e/ou contestadas) e reformuladas pelos Yanomami numa
forma linguística e cultural que lhes parecesse satisfatória. Os textos finais foram
também checados por Joseca Yanomami e Davi Kopenawa.
Enquanto se desenvolvia esta produção coletiva das cartilhas,
extratos dos textos em elaboração (frases, parágrafos ou páginas)
eram imediatamente usados nos processos pedagógicos
quotidianos pelo público de alunos que sempre cercava o grupo de
trabalho. Estes extratos eram copiados, lidos e comentados no
quadro negro da escola por alguns dos "jovens letrados", para
serem reproduzidos pelos outros alunos em seus cadernos (ou em
um dos outros três quadros negros da aldeia). Em outros
momentos, versões preliminares ou definitivas de páginas dos
textos eram circuladas e comentadas entre os alunos, que
livremente as usavam para exercícios de leitura ou modelos de
escrita. Finalmente, todo o trabalho sobre as cartilhas foi
acompanhado por sessões de desenhos livres inspirados nos temas
evocados nos textos, dando oportunidade para mais comentários,
leituras e escrita. Assim, em complemento às sessões escolares
habituais (ministradas pela educadora), as sessões de produção de
textos criavam entre os alunos da aldeia uma alegre dinâmica de
disseminação pedagógica.
Durante a produção das cartilhas, foi dada uma atenção particular
ao princípio de negociação intercultural dos textos (além dos
cuidados dados aos seus aspectos linguísticos). Assim, a sua
formulação e conteúdo foram longamente debatidos para atingir a
maior sintonia possível com a visão indígena dos fenómenos
abordados, mas isto sem prejuízo da qualidade técnica das
informações sanitárias transmitidas. Assim, nunca foi tentado
traduzir literalmente para o Yanomami textos já fechados em
português "simplificado" (postura tão ineficiente quanto
infantilizante). Também nunca se pretendeu meramente "registrar"
uma auto-elaboração das cartilhas pelos Yanomami (pretensão tão
irreal quanto demagógica nesta fase do programa educativo).
Este princípio de negociação intercultural dos textos foi também
colocado em prática na tentativa de construí-los como instrumentos
dotados de uma dupla finalidade didática :
trazer novos saberes "teóricos" e práticos sobre
diferentes aspectos da realidade do contato (tais como
novos conhecimentos sanitários sobre patogenia,
patologia e tratamento);
reforçar pelo prestígio da escrita a transmissão de conhecimentos
indígenas ameaçados de não ser passados aos mais novos pelos
canais da tradição oral (tais como conhecimentos sobre plantas
medicinais, eventos históricos ou referências cosmológicas).
A valorização/fixação de novos conhecimentos na escola
intercultural pode, apesar das melhores intenções, contribuir
rapidamente para a obliteração de formas/situações sociais de
transmissão de saberes tradicionais já desvalorizadas ou em desuso
sob o efeito da
situação de contato. Portanto, tanto no processo de elaboração das
cartilhas quanto nas temáticas do seu conteúdo sempre foi tentado
mobilizar simultaneamente as competências respectivas dos jovens (que
escrevem mas não sabem) e dos anciãos (que sabem mas não
escrevem). Assim, longe de servir para ocultar ou substituir a memória
dos conhecimentos indígenas, a escrita foi usada para valorizar temas
oriundos da tradição oral a fim de incentivar indiretamente sua
transmissão de acordo com seus canais e moldes tradicionais.
Farmácia
Conteúdo
As cinco cartilhas foram elaboradas para serem usadas tanto
como textos básicos de leitura quanto como textos didáticos
para educação sanitária. Segue aqui uma breve descrição do
seu conteúdo:
3
Cartilha 1
napé pê xawara e t
h
è ã oni
Palavras escritas sobre a(s) epidemia(s) dos brancos
Esta cartilha foi elaborada a partir do conhecimento da história
epidemiológica do contato dos anciãos da comunidade. Descreve
de maneira sucinta o contexto no qual se operou a mudança da
situação sanitária yanomami após o contato com a fronteira
regional (contato direto ou "contato indireto", via outros grupos
indígenas). Pretende fornecer o contexto histórico a partir do qual os
alunos mais novos poderão entender melhor a realidade sanitária na
qual vivem.
Cartilha 2
hura a wai Pê ã oni
Palavras e
scritas sobre
o mal da malária
Esta cartilha trata da malária, a primeira patologia que acomete os Yanomami
em todo o seu território desde o começo da invasão garimpeira, no fim dos anos
1980. São introduzidas no texto noções básicas da medicina ocidental relativas
à doença (sintomas, diagnóstico, patologia, patogenia, tratamento e profilaxia).
São também mencionadas formas de tratamento indígena através de plantas medicinais.
4
Cartilha 3
huxu a wai t
h
é ã oni
Palavras escritas sobre o mal da gripe
Esta cartilha trata da gripe, a segunda patologia hoje mais frequente entre os Yanomami. São
apresentadas no texto noções básicas da medicina ocidental relativas à doença (sintomas,
diagnóstico, patologia, patogenia, tratamento e profilaxia). São igualmente mencionadas formas
tradicionais de tratamento da doença (plantas medicinais)
Cartilha 4
foko a wai t
h
ê ã oni
Palavras escritas sobre o mal da tosse (pneumonia)
Esta cartilha trata das complicações da gripe: faringite, conjuntivite, otite,
bronquite e, em particular, pneumonia, uma patologia extremamente letal entre os
Yanomami. São apresentadas no texto noções básicas da medicina ocidental
relativas a estas complicações, focalizando-se a pneumonia (resistência natural,
sintomas, diagnóstico, patologia, patogenia e tratamento).
Cartilha 5 :
na ki kam akar i p ê o w i t
h
ê ã oni Palavras escritas sobre
as dores de dentes
Esta cartilha trata dos problemas odontológicos que, com as mudanças
alimentares induzidas pelo contato, passam a constituir um problema extremamente
sério entre os Yanomami. São apresentadas no texto noções básicas sobre
estas mudanças alimentares e suas consequências odontológicas, bem
como noções elementares sobre a formação, o tratamento e a prevenção
das cáries. São também mencionadas formas de tratamento indígena
das odontalgias (plantas medicinais).
ãe e filha M
Notas:
1. Área do Posto Indígena Demini da FUNAI (AM).
2. Ver, em anexo, um resumo da história dos Watoriki t
h
eri pé.
3. Ver, em anexo, dados linguísticos básicos sobre a grafia yanomami utilizada.
4. Uma pesquisa sobre plantas medicinais yanomami foi
também realizada no quadro do programa sanitário da CCPY
(ver Milliken & Albert 1997 e sd.).
napé pé maõtêhêma t
h
é ã oni
Palavras escritas sobre o tempo antes dos brancos
Omamani yanomae t*ê pê tute raromãi têhê
No começo, quando Omama criou os Yanomami,
t
h
ê pê péi mahionimi
eles não ficavam muito doentes.
t
h
é pê temi nêhê maoma
Todos tinham boa saúde.
t
h
ê pê xiro hipêpê nomama
As pessoas só morriam cegas,
Pê pê hwêwê nomama
as pessoas morriam secas.
Epidemia
ihuru pê totixipé xiro nomama
Só as crianças desmamadas antes do tempo
morriam.
nê wari pêni mori t
h
ê pê wama
Os espíritos maléficos da floresta comiam
algumas pessoas.
oka pêni ai mori Pê pê xêpramahe
Os feiticeiros inimigos matavam algumas
outras.
xarakani pata t
h
ê pê niaprayoma makii
Os nossos antepassados faziam guerra com
flechas, mas
the pe mapronimi.
Não se acabavam.
t
h
ê pê nomaimiha Pé pê xi topraroma
As pessoas ficavam felizes de não morrer (muito).
íhí têhê xapiri t
h
é pê warohooma
Nesse tempo existiam muitos xamãs.
t
h
ê pê péma makii
Embora as pessoas ficassem doentes,
xapiri t
h
ê pêni ha rêaheni t
h
è pê haroma os xamãs as
protegiam e elas ficavam boas.
xapiri t
h
ê pêni nêhê yaxoriheni
Depois que os xamãs faziam sua cura,
t
h
uê t
h
ê pêni haro u pêni t
h
ê pê yaruprai nomihiomahe
por sua vez as mulheres davam banho nas pessoas com plantas
medicinais.
Espíritos xamânicos
napê xawarapê pata t
h
è pê ka nomani
Os antepassados que
morreram da(s)
epidemia(s) dos brancos
Xiomaaha pata t
h
ê pê pirioma
Os nossos antepassados moravam em Xiomaa.
Xopat
h
a u hrikiha yano a upraoma
A sua maloca ficava no meio curso do rio Xopat
h
a u.
1
íhí t
h
ê urihiha yanomae Pê kraioa ha waroikini
Neste lugar chegou um estrangeiro
2
t
h
ê pê he yarema
que os contaminou com uma epidemia.
napê pêha xawara a ha nakarini
Ele havia pedido esta epidemia para os brancos e então
kaê huxoaimama
veio com ela até (nossos antepassados).
kraioani sarapo a t
h
aprarema
Esse estrangeiro transmitiu o sarampo (para eles)
t
h
ué a nakai ha kuikini
depois de ter pedido (em vão) uma mulher.
t
h
ê pê si ha hêtitirarini
Depois que a pele das pessoas descamou,
Pê pê nasi ha wehani
depois que eles pararam de urinar,
pree t
h
è pê nomaokema
todos morreram.
nahi prokea mahiprarioma
A maloca ficou totalmente vazia,
ai t
h
ê xee hêpronimi
não sobrou ninguém.
urihi a hotea pikema
A floresta envelheceu sozinha.
kama t
h
ê pê maro mão piokema
Os ossos das pessoas se perderam (sem ritual funerário).
Iharani t
h
é pê nomãi xi torayoma
A partir daí a gente passou a morrer sem controle.
xapiri t
h
è pêni a wai ha taariheni
Depois que os xamãs identificaram a doença,
t
h
ê pê pihi xaariprarioma
as pessoas passaram a entender (as epidemias).
hapa Pê pê he yariwihi a wai xoa
Esse mal com o qual (os nossos antepassados) foram
contaminados ainda existe.
yama ki nomãi xoa napê pê xawara pêni
Nós continuamos a morrer das epidemias dos
brancos até hoje.
Espíritos xamânicos
Mrakapii harani pata t
h
ê pêni t
h
hoko a wai hapa kaê kõtaamahe
Foi em Mrakapii
3
que os nossos antepassados voltaram pela
primeira vez com tosse.
pata t
h
ê pê horimoma yaro
Eles eram desprovidos de bens, por isso
Watatasi pêha poo pê toaiheha
iam visitar os Watatasipè
4
para conseguir ferramentas metálicas
a wai ihipemahe
e, assim, levaram a doença (para suas malocas).
kapixa pêha t
h
oko a pihi kaê temahe
Adquiriram roupas e, com elas, a tosse.
xawaraha pata t
h
ê pê pihi hétémoma
Os pensamento dos nossos antepassados ficou
perdido com (esta) doença epidêmica.
witi t
h
ê waini yamaki nomãi t
h
a t
h
ê pê pihi kuma
De que doença perigosa estamos morrendo ? Eles se perguntavam.
xapiri t
h
ê pêni t
h
è ã xaaripramarema
Os xamãs então endireitaram a história.
t
h
é pê pihi ha xaariprarini
Quando o pensamento das pessoas ficou endireitado,
hapênéha pata t
h
è pê herea kuma
assim falaram os anciãos em seus discursos :
kihami napê pê Pokomopêha wama ki huu xi wari yaro
vocês têm ido sempre para lá onde os estrangeiros estão
tossindo, por isso
wama ki írakema
vocês se contaminaram.
ihuru wama ki wei huu maprario
Vocês jovens têm que parar de ir até lá.
Pê pê pihi ha xaariprarini
Depois que as pessoas pensaram direito
sobre isso,
t
b
ê pê huu kõtaanimi
pararam de ir até lá.
Epidemia
Werihisipi uha ai pata t
h
è pê kuoxoaoma makii
No igarapé Werihisipi u
5
ainda havia outros anciãos,
xawarani pê yai haikia mahiarema
mas uma epidemia acabou mesmo com todos eles.
ahiama tixo a ha it
h
orini
Depois que um avião beija-flor
6
desceu,
napê pêni yama ki he yahãt
h
oa kõremahe
os brancos espalharam outra epidemia contra nós.
7
xawara a waini yama ki poremou mahioma
Por causa dessa epidemia perigosa ficamos muito doentes mesmo.
waroho Pê pé ha nomarini
depois que muita gente morreu,
urihi yama a tirakema
nós abandonamos essa floresta.
yama ki xuhurumoa mahirayoma
Ficamos muito angustiados,
yama ki yamia nê wãyaprarioha
ficamos com raiva de ter sobrado tão poucos de nós.
waisipê t
h
ê nê ha teterini
Depois de passar um pouco de tempo
yama ki pêa kõrayoma
adoecemos de novo.
yama ki ha xoriheni
Depois que fomos convidados para uma festa,
Hwaya uha pree t
h
ê pê hirao téhê
quando estávamos todos reunidos (na maloca) do igarapé Hwaya u,
yama ki nomãi kõõma
morremos de novo.
Wakat
h
a u harani hwama pêni xawara a wai ihia kõremahe
Outros convidados voltaram do rio Catrimani trazendo de novo uma
epidem
ia perigosa.
9
íhí têhê yama ki yai komi maprarioma
Dessa vez todos nós verdadeiramente acabamos.
inaha t
h
ê kua yaro pata t
h
ê pê mi mahi
Por isso hoje não tem mais anciãos entre nós.
inaha napê pêni yama ki he yai xi wari kuama yarohe
Assim os brancos nos contaminaram sem parar, é por causa disso
yanomae yama ki nomaokema
que nós Yanomami morremos (tanto).
hwei téhè xawarani yama ki nomãi kõ pihioimi
Agora, não queremos mais morrer de epidemia.
xawara a waiha yama ki kiria hikiprarioma yaro
Já ficamos com bastante medo do perigo da(s) epidemia(s).
hwei téhê pata yama ki xiro nomãi pihio
Agora, só queremos morrer de velhice.
Epidemia
Notas:
1. Afluente do rio Couto de Magalhães (anos 1930?).
2. Uma pessoa de outro grupo indígena.
3. Lugar situado na região do rio Couto de Magalhães.
4. Provavelmente os Makú, um grupo do baixo Parima (agora extinto).
5. Afluente do baixo rio Mapulaú.
6. Helicóptero.
7. A epidemia aconteceu em 1973. Sua origem não foi esclarecida até hoje.
8. Afluente do rio Lobo d'Almada.
9. Em 1977 convidados dos Herout
h
eripè foram contaminados
por sarampo na Missão Catrimani.
2
hura a wai t
h
ê ã oni
Palavras escritas sobre o mal da malária
yama ki huramohuru têhê wii naha yama ki kuaai t
h
a
O que sentimos quando começamos a ficar
doentes de malária ?
yama ki yopi mahi
Nós ficamos com febre alta.
yama ki si saihi
Nós temos sensação de frio.
yama ki xetixetimou
Nós temos tremores.
yama ki heki nini
Nós temos dor de cabeça.
yama ki hriki nini
Nós sentimos dor na região lombar.
yama ki mat
b
a ki nini
Nós sentimos dor nas pernas.
yama ki uuxi nini wakiki
Nós sentimos dores musculares por todo o corpo.
yama ki uutiti
Nós sentimos fraqueza.
Mosquitos da malária
yama k
i xiki wai
Nós sentimos dor abdominal.
yama ki komoxi yoruhou
Nós sentimos enjoo.
yama ki tuhrai
Nós temos vontade de vomitar.
yama ki hurapé xuèi
Nós temos o baço aumentado.
yama ki wêyêki auai iyê
mi yaro
Nossa face fica pálida porque
ficamos quase sem sangue.
Mulher com dor no baço
witi t
h
ê waim t
h
e pé huramou t
h
a
De que mal as pessoas adoecem quando
estão com malária ?
urihi komiha napê pê ha pêxêpraikini
Depois que os brancos invadiram a floresta,
h ura a wai praukuo mopetayoma
a malária se propagou por toda a parte.
urihit
h
eri riõ péni napé pê iyé ha ukukuarariheni
Quando os mosquitos da floresta sugam o sangue dos brancos,
yanomae t
h
è pê tikiai nomihio
eles vão picar os Yanomami.
íhí napê pê iyèha hura nat
h
e pê wei titia
No sangue desses brancos há pequenos ovos da malária.
1
metiko pêni íhí hura nat
h
e pê wei tai yarohe
Os médicos conhecem esses pequenos ovos da malária, assim,
plasmódium pê ã ha hirathe
os chamam de plasmódium.
Mulheres
urihit
h
en riõ pèni napê pê iyê ha ukukuarariheni
Quando os mosquitos da floresta sugam o sangue dos brancos,
yanomae t
h
ê pê hitoxai nomihio
eles vão picar os Yanomami.
kua yaro yanomae t
h
é pê iyêha hura nat
h
e pê wei rukia nomihiki
É assim que os pequenos ovos da malária penetram por
sua vez no sangue dos Yanomami.
Homem
porakae hura nat
h
e kipê wei kua :
Existem dois tipos de ovos da malária:
Falciparum
nat
h
e wai mahiowi
cujo poder é muito perigoso e
yanomae t
h
ê pê yai nomamãiwi
faz os Yanomami realmente morrerem.
Vivax
nat
h
e wai hãt
h
ohoowi
cujo poder é menos perigoso e
yanomae t
h
ê pè huramomãi xi wariowi
faz os Yanomami terem crises repetidas de malária.
WH naha hura yama nat
h
e pé taarepé t
h
a
Como vemos os ovos da malária ?
ai yama ki huramou têhê
Quando um de nós apresenta os sintomas da malária,
yama t
h
ê nahasi iyê ha teni
depois de pegar sangue do dedo dele,
hura yama nat
h
e pê hêtéi
procuramos os ovos da malária.
yama t
h
ê hurapê mi taai pihio têhê
Quando queremos ver se uma pessoa tem malária,
apesar de não ter sintomas,
yama t
b
ê nahasi pree tikiai
também furamos o dedo dela.
iyê ha teni
Depois de furar o dedo e
laminaha iyê ha poyomakini
de pingar uma gota de sangue numa lâmina,
microscópioha Pê taai xoao
ficamos olhando esta gota no microscópio.
hura yama nat
h
e pê nê miri têhê
Quando reconhecemos os ovos da malária,
hura a wai yai kua.
é que existe mesmo a doença.
yama ki huramou têhé wii naha yama t
h
apê t
h
a ?
Quando estamos com malária, o que fazer ?
microscópioha hura yama nat
h
e pè nê miri téhê
Quando reconhecemos no microscópio os ovos da malária,
rope hura yama kiki hikai
nós tomamos logo os comprimidos contra malária.
hemeyo yama kiki yai hikai xaariru têhê
Somente tomando o remédio direito,
yama ki xiro harorayu
é que vamos nos curar.
Tomando remédio
hura nat
h
e pè komi nomãi mão têhé
Se todos os ovos da malária não morreram e
hemeyo yama kiki hikai tiraki tèhê
nós paramos de tomar o remédio,
hura a wai maproimi
a doença não vai acabar,
yama ki rope hurapê xurukoa kõrayu
ela volta rapidamente a nos atacar .
Roça
napé pé mão tèhê
Quando não havia brancos,
pata t
h
é péni urihit
h
eri hura si péni t
h
ê pê hwérimamoma
os nossos antepassados curavam-se da malária com cascas da
floresta.
pata t
h
é pé hurapé hwèrimamowi t
h
ê kini
Esses remédios contra malária que usavam os nossos antepassados,
yama ki pree hwèrimamou xoao
continuamos também a usar para nos curar,
yama t
h
ê ki pihipou xoa
ainda os guardamos em nosso pensamento.
wii naha yama ki kuaapê t
h
a yama ki huramou mãopê
O que devemos fazer para não pegar malária ?
t
h
ê pê huramou xi wari têhê
Quando as pessoas ficam com malária sem parar,
yama ki yano pê piimamou
nós borrifamos nossas malocas
riõ pê nomapê
para que os mosquitos morram e que, assim,
hura nat
h
e pê wei pihi kaê yama ki hitoxai mãopê
eles não nos inoculem ovos da malária.
karipero pê kuopêha hura a wai pata kua yaro
Lá onde tem garimpeiros existe muita malária perigosa, por isso
yama t
h
è pê yaxumãi pihi
nós queremos que sejam mandados embora de volta
kama napê pêha
para onde moram os (outros) brancos.
karipero pê kiapêha yama ki huu têhê
Quando vamos até lá onde os garimpeiros estão trabalhando,
yama ki Irão si ihehe
nós ficamos contaminados facilmente.
kua yaro yama ki mõyamio têhê
Por isso, quando somos espertos,
yama ki huimi
não vamos até lá.
ai t
h
é pê yano pê hurapéopéhami
Até às malocas de outros que estão com malária,
yama ki pree huimi
também não vamos
yama ki Irão mãopê
para não ser contaminados.
t
h
ê pé temi nêhê mão tèhé
Quando todos eles voltam a ficar bons
yama ki xiro hwama huu kõ
somente então podemos voltar a visitá-los
Notas:
1. Formas jovens de plasmódium.
Gripe
yama ki huxupéo têhê wii naha yama ki kuaai t
h
a
O que sentimos quando começamos a ficar
doentes de gripe ?
yama ki huxumohuru têhê Quando
ficamos com gripe,
yama ki hapa etisiamou xi wariprou
começamos a espirrar sem parar.
yama ki huxupé eharaxi hwai
O nariz fica escorrendo com uma coriza clara.
yama ki mamo ki wakêrario
Os olhos ficam avermelhados.
yama ki kaê akataki ninirayu A
garganta também dói.
yama ki yopirayu
Ficamos com febre.
yama ki si saihirayu Temos
sensação de frio.
yama ki úúxi nini wakiki
Sentimos dores musculares pelo corpo todo
yama ki heki ninirayu
Temos dor de cabeça.
porokatae t
h
ê titi kuprou têhê
Depois de uns dois dias
yama ki huka komirario ficamos
com o nariz entupido.
yama ki ã hwai pêraraprario
Falamos com uma voz rouca.
yama ki pariki huxirayu
O peito fica inflamado e
yama ki pariki waximirayu
sentimos fraqueza.
Gripe
wii naha huxuni yama ki toaiha a wai kuaai t
h
a
Como é o mal da gripe que nos pega ?
cidadeha napê pêni huxupê mahi kua yaro
Na cidade os brancos têm muitas gripes, por isso,
cidade harani huxu a wai íraíramou kuaimãiwi
a epidemia de gripe vem desde a cidade, passando de um para
outro,
yanomae t
h
è péha a kopiyu
até atingir os Yanomami.
napê pêni huxu a kaê wai kõ têhê Quando os brancos chegam com gripe,
yama ki írao
nós ficamos contaminados.
yanomae t
h
ê pè hwamani huxu a kaê wai waroo têhê
Quando chega um visitante yanomami com gripe,
yama ki pree írao
também ficamos contaminados.
Pê pê huxupêo têhê
Quando as pessoas estão com gripe,
konohori u pêha yai Pê pê wei titia
têm na sua saliva pequenos seres invisíveis
1
que
napê metiko pêni vírus pê ã ha hiraihe
os médicos dos brancos chamam de vírus.
ai Pê huxupêo têhê
Quando uma pessoa com gripe,
ahete harani Pê etisiamorayu têhê
espirra perto de outra pessoa,
yai Pé pê wei titipraki ai Pé kahikiha ai Pê hukaha os
vírus entram pela boca e nariz dessa outra pessoa.
ai Pê huxupêo têhê
Quando uma pessoa com gripe,
ahete harani Pê Pokomorayu têhê
tosse perto de outra pessoa,
yai Pé pê wei pree titipraki ai Pé kahikiha ai Pê hukaha
os vírus entram pela boca e nariz dessa outra pessoa.
ai t
h
é huxupéo têhê
Quando uma pessoa com gripe,
ahete harani t
h
è ã hwai têhê fala
perto de outra pessoa,
yai Pê pê wei pree titipraki ai t
h
ê kahikiha ai t
h
é hukaha os
vírus entram pela boca e nariz dessa outra pessoa.
kua yaro mõri Pê huxupê ha Iraikini
Por isso, quando uma pessoa se contamina com gripe,
a wai rope praukua xoarayu
rapidamente a doença se propaga para muita gente.
Gripe
yama ki huxupêo têhê witi pei t
h
ê pêni yama ki
hwêrimamopé t
h
a
Quando estamos com gripe, o
que fazer para nos curar ?
hemeyo pêni huxu a wai mapramaimi
Os remédios dos brancos não matam a gripe.
kanasi hwèrimãi pio
só curam os lugares que ela "comeu".
vírus napê pêni t
h
é pê ã ha ka hiraiwihi
Os seres que os brancos chaman de vírus,
kama pê nomaa pêrayu
acabam morrendo sozinhos.
yama ki yai harou pihio têhé
Quando realmente queremos sarar,
puu pêxê limão xuuxé yama uku koai
bebemos uma mistura de mel com suco de limão,
yama ki waximi horou
descansamos, e
hemeyo yama kiki ha tuharini
depois de tomarmos comprimidos,
hemeyo yama uku ha koarini
(ou) depois de tomarmos remédios líquidos,
yama ki saiprou
ficamos livres da febre e
heki nini maprou
da dor de cabeça.
t
h
oko hana péni pata t
h
ê pê huxu kanasi pree hwèrimamahe
Os antigos também curavam-se da gripe com "folhas da tosse",
kua yaro yama t
h
é ki pree t
h
ai xoa
por isso, continuamos a usar esses remédios.
Notas:
1. yai (*£ designa um ser sem nome, desconhecido, imprestável,
perigoso, ou um ser invisível, sobrenatural.
Espíritos xamânicos
4
t
h
oko a wai t
h
ê ã oni
Palavras escritas
sobre o mal
da tosse
1
Pneumonia
napé pêni huxupéo xoaoma yaro
Há muito tempo que os brancos têm gripe, por isso,
íhí t
h
ê wai tai hikio yarohe
conhecem bem essa doença e
t
h
ê pé uúxi kohipê
o interior de seus corpos ficou resistente.
yanomae yama kini yama thê wai taimi yaro
Nós Yanomami não conhecemos esta doença, por isso,
ai yama ki wixia mi
alguns de nós não têm (bastante) sopro vital (para resistir).
oxe t
h
êpê warõ pata t
h
ê pê t
h
uê pata t
h
ê pê wixia onihi
As crianças, os homens e as mulheres velhas têm o sopro vital
curto (demais).
ai t
h
ê pê uutitiowi wixia pree mi
Outras pessoas enfraquecidas também não têm (bastante) sopro vital
kua yaro t
h
ê pê mahitu xoao
por isso, elas podem piorar da gripe.
t
h
é pê mahitu têhê wii naha t
h
è pê kuaai t
h
a
O que sentem as pessoas quando pioram da gripe ?
Pê pê wixia mão têhê
Quando as pessoas não têm (bastante) sopro vital,
huxu a wai maimi
o mal da gripe não acaba.
huxu kanasiha ai yai t
h
è pê wei kea nomihiki
Nos lugares "comidos" pela gripe, chegam outros
pequenos seres invisíveis.
2
napê metiko pêni fhl bactérias Pê pê ã ha hiraihe
Os médicos dos brancos os chamam de bactérias.
íh
í Pê pê wei iai nomihiopêha
Nos lugares onde, por sua vez, estes seres "comem",
nionio u pê yêtêkêrayu
se forma pus.
íhi têhê u pê ono huxi
Então, o lugar fica inflamado,
u pê ono xuê
inchado e
u pe ono mm
dolorido.
Pneumonia
eha íhí t
h
é pê wei iai téhè urem
Quando estes seres ficam "comendo" a garganta,
yama ki ureme wai
sentimos dor com sensação de mordida.
3
wamotima t
h
ê pê tuhapraimi
Não conseguimos engolir comida.
mamo kiha íhí t
h
ê pê wei iai têhê
Quando estes seres ficam "comendo" os olhos,
yama ki mamo ki waipêi
temos os olhos infectados.
yama ki mamo ki komi
temos os olhos fechados,
yama ki mamo ki kreaasipè
e colados com secreções.
4
yêmaka kiha íhí t
h
ê pê wei iai têhê
Quando estes seres ficam "comendo" os ouvidos,
yama ki yêmaka ki uuxi wai
sentimos dor no fundo dos ouvidos, com sensação de mordida.
yama ki yêmaka ki komi
Temos o ouvido tampado.
yama ki yèmaka ki úúxi xué
com o interior inchado.
5
t
h
oropê oraha íhí t
h
ê pê wei iai têhê
Quando estes seres ficam "comendo" os brônquios,
yama ki t
h
okomou xi wari
nós passamos a tossir sem parar.
yama ki t
h
oko pê axi hoamou
Nós expectoramos catarro amarelo.
6
yai t
h
ê pê wei iai taroraehuru têhê
Quando estes seres descem mais o caminho dos brônquios,
here ki yai nioupêprario
os pulmões ficam realmente cheios de pus.
here ki nioupêprario têhê
Quando os pulmões ficam cheios de pus,
pneumonia napê pêni pê ã ha hiraihe
os médicos dos brancos chamam isso de pneumonia.
yama ki here ki yai nioupéprario têhê wii naha
yama ki kuaai t
h
a
Quando temos os pulmões cheios de pus, como
nos sentimos ?
yama ki wakê tuki Temos
febre muito alta.
yama ki t
h
okomou xi wari
Tossimos sem parar
yama ki wixia yawéyawémou
Ficamos com dificuldades para respirar
yama ki pariki rakaimi hurekehúrekemou Sentimos dores em pontada no
peito
yama ki t
h
oko pê axi hoamou
Expectoramos catarro com pus.
yama ki t
h
oko pê iyê hoamou
Expectoramos catarro com sangue.
yama ki pariki xeerexeeremou
O nosso peito fica com chiado.
yama ki porepê piria
Ficamos caídos na rede.
yama ki upraproimi u ki porepérario
Não conseguimos andar, as pernas ficam enfraquecidas.
wii naha t
h
oko yama a nê yai wai mirepé t
h
a
Como sabemos com certeza se é pneumonia ?
t
h
oko pê axi hoai têhê
Quando se expectora catarro amarelo (purulento)
ih! t
h
oko a yai wai ixou
é porque a tosse perigosa mesmo atacou,
t
h
ê pê nomamãiwi
aquela que mata as pessoas.
estetoscópioni pariki a úuxi hiri téhé
Quando se escuta o interior do peito com estetoscópio,
t
h
ê ã homohãi waoto / t
h
ê ã tihitihimou waoto
ouve-se nitidamente um barulho de bolhas estourando.
5hí têhê pihi xaariprari Nesse caso,
pensamos direito:
awe t
h
oko a yai wai kuonoa
sim, era mesmo a tosse perigosa (pneumonia),
t
h
è pê nomamãiwi
aquela que mata as pessoas.
t
h
oko a yai wai kua yaro witi pei
t
h
êni yama ki haropê t
h
a
Tendo mesmo pneumonia, com que vamos nos
curar ?
t
h
oko a wai yai nê miri têhê
Quando se reconhece realmente a pneumonia,
rope hemeyo yama kiki hikai
nós tomamos logo os remédios (comprimidos).
oxe t
h
è pê kuo têhé
Quando se trata de crianças pequenas,
hemeyo yama u pê koamãi
fazemos elas tomarem o remédio líquido.
hemeyo yama kiki (u pê) tuhaprai mão têhê
Quando não conseguimos engolir os comprimidos (o líquido),
yama ki tuhrai têhê
ou quando vomitamos,
yama ki xiro tikiamorayu
só então tomamos injeção.
Pneumonia
hemeyo yama kiki yai tuhai xaariru têhê
Quando tomamos os comprimidos direito,
hemeyo yama u pê yai koai xaariru têhê
quando tomamos o remédio líquido direito
yama ki tikiamoa xaarirayu têhê
quando tomamos injeção direito,
yama ki xiro uêhêprou
então vamos ficar bons.
yai t
h
ê pê wei bactérias napê pèni pê ã ha ka hiraiwihi
Enquanto aqueles pequenos seres que os brancos
chamam de bactérias
komi nomãi mão têhê
não morrerem todos,
yama ki haroimi não
saramos.
kua yaro hemeyo yama kiki (u pê) tirai haioimi
Por isso, não paramos de tomar os comprimidos
(líquido) com pressa.
yai ha harorini yama kiki (upê) xiro tiraki
Somente se ficarmos bons mesmo é que paramos de tomar.
kua yaro yama ki pree tikiamou xoa
Por isso, continuamos também a tomar injeções.
yai ha harorini yama ki xiro tikiamou maprario
Paramos somente quando estivermos verdadeiramente curados.
Notas:
1. Complicações da gripe (pneumonia)
2. yai í*e designa um ser sem nome, desconhecido, imprestável,
perigoso, ou um ser invisível, sobrenatural.
3. Faringite
4. Conjuntivite
5. Otite.
6. Bronquite.
Espíritos xamânicos
Escovando
os dentes
wii naha kamakari pêni wamare ki na ki wai
praukurayoma t
h
a
Por quê as nossas dores de dentes aumentaram tanto ?
hapa pata t
h
ê pêni urihit
h
eri t
h
ê pê tute xiro wama yarohe
No começo nossos antepassados só comiam coisas
novas do mato, por isso,
t
h
é pé na ki kohipêoma
os seus dentes eram resistentes.
Omamari a nê kamakari pêni t
h
ê pê na ki xiro waaprama waarapraha
Só os espíritos Kamakari de Omamari
2
comiam os dentes de uns ou
outros.
hwei têhê oxe yama ki raruhêaiwini
Hoje, nós que crescemos depois dos antigos,
napê yama pê wamotima pê riai yaro
começamos a comer comidas de
fora, por isso,
yama ki na ki hoximaa imatayu
os nossos dentes estão se deteriorando.
napê pê wamotima pêha yai t
h
ê pê pihi kaê titia yaro
Nas comidas dos brancos são misturadas coisas ruins e, por isso,
yama Pê pê wai têhê
quando as comemos,
yama ki na ki pêka hikatoha riihi pê keteti (naxi) hateteki
restos dessa comida açucarada (salgada) ficam presos entre os
nossos dentes.
íhí riihi pê ha hateteoni
Quando estes restos de comida ficam presos entre nossos dentes,
na ki aumamou mão têhê
e que não os escovamos,
napê pê wamotima pê wai keo
aí o mal da comida dos brancos ataca (os nossos dentes).
Cão de Omamarí
(espírito Kamakari)
oxe t
h
ê pê na kiha napê wamotima e t
h
ê pê wai mahi yaro
As comidas dos brancos são muito perigosas para os dentes
das crianças, por isso,
kamakari pêni oxe t
h
è pê na ki hriki witirari
os espíritos Kamakari comem os seus dentes pelo meio.
t
h
ê pê na ki mat
h
arario
Ficam apenas os tocos dos dentes.
oxe t
h
ê pê na ki hapa hwarayuwi na ki tarea ha paririni
Depois que os primeiros dentes das crianças já apodreceram,
ai tukurima na ki hwaa kõrayuwi na ki tarea kõrayu
quando nascem os novos dentes eles apodrecem também.
ihl têhê ai na ki hwataai kõimi Então,
não nascem outros dentes.
na ki hefo marokoxia xoaprario Fica para
sempre a boca sem dentes.
napê pê prahao têhê kami yama ki pataiwi
Nós que ficamos adultos quando os brancos ainda estavam longe,
yama ki na ki kohipê hãt
h
oho
temos os dentes mais ou menos resistentes.
oxe Pê pé napé pê kuopêha t
h
ê pê keama yarohe
As crianças nasceram perto dos brancos e, por isso,
t
h
ê pê na ki êpêhê
têm os dentes pouco resistentes.
níí e t
h
è pê kamakaripéo têhê
Quando as mães têm cáries,
hwíí e t
h
ê pé kamakaripéo têhê
quando os pais têm cáries,
ihuru pê eni t
h
ê pé kanasi wai têhê
e que seus filhos comem a sua comida,
kamakari a pree írao
as cáries passam também para eles.
D
o
r
de
dentes
yama ki kamakaripêo têhê wii naha yama ki kuaai t
h
a
Como ficamos quando os nossos dentes estão
com cáries ?
na ki aumamou mão têhê Quando não
se limpam os dentes,
na ki siposiha kamakari a hapa keo
o espírito Kamakari ataca primeiro o esmalte.
a ha keikini na ki úuxi miamoha a iai taroraehuru Depois disso, ele vai
cavando fundo até a dentina.
na ki uuxi yaiha a ha kea mahiikini
Quando ele chega realmente à polpa,
t
h
ê yai ninia mahirayu aí dói muito mesmo.
iaproimi miproimi
Não se consegue mais comer nem dormir direito.
mõri na yai waa mahiriwi na si ha tékêkèprarini Quando um
dente é realmente comido, ele fica oco e,
íhí têhê na yai tare hoyamorayu
então, temos que fazer a extração desse dente podre.
kamakari xi
cárie
3
na uuxi yai
polpa
kamakari mae
cárie profunda
4
na siposi
esmalte
na uuxi
miamo
dentina
wii naha kamakari pé irão mãopé yama ki kuaapé t
h
a
O que fazer para não pegar cáries ?
kami yama kini kamakari yama pê praukamãi pihio mão têhé
Se não quisermos propagar ainda mais os espíritos Kamakari
(aumentar as cáries),
napê yama pê wamotima t
h
ê pê keteti (naxi) waroho waimi
não devemos comer muitas comidas açucaradas
(salgadas) dos brancos.
mõri yama t
h
ê pé wai pihio têhé
Se quisermos comer um pouco dessas comidas,
yama t
h
ê pê wai ha huraproni
quando acabarmos de comê-las,
yama ki na ki aupramou xoao
logo depois, devemos limpar os dentes.
oxe t
h
ê pêha napê yama pê wamotima pê wamaimi mahio
Não devemos absolutamente dar comidas dos brancos para
as crianças.
yama ki iai ha huraproni
Quahdo acabamos de comer,
yama ki na ki aupramou escova kikini
limpamos os dentes com escova.
escova kiki mão têhê
Quando não temos escova,
huu tihi mamakaxini rii yama hi pê hixaprai
tiramos os restos de comida dos dentes com um pedacinho de pau.
rii hi pè ha hixararini depois de
palitar os dentes,
mãu u pèni yama ki kahiki roukoa xoapramorayu
limpamos a boca bochechando com água,
pee yama nahe pê karepou têhê kamakari pê pree keoimi
Quando temos tabaco embaixo do lábio também evitamos que
os espíritos Kamakari ataquem os dentes,
Bocas
oxe t
h
è pê na ki êpêhé mahi xoa yaro
Os dentes das crianças são ainda muito frágeis, por isso,
kamakari a tokumãi pihio têhê
quando queremos afugentar deles o espírito Kamakari,
hemeyo u pèni yama t
h
ê pê na ki riêi
esfregamos neles um remédio líquido.
íhí hemeyo u pê ka kii
O remédio líquido em questão,
napê pèni flúor u pê ã ha hiraihe
os brancos chamam de flúor.
níí yama e kini oxe yama t
h
é pê na ki taai
Nós, mães, ficamos de olho nos dentes das crianças.
na ki pêka horara taari têhê
Quando vemos um buraco se formando nos dentes,
enfermeiro eha yama t
h
ê pê na ki totopou
mostramos os dentes das crianças para o enfermeiro
t
h
ê pê na ki hwêrimapê
para que ele trate esses dentes
na ki auprapé e os
limpe.
níí yama e kini yama ki ihuru pê na ki aumamomãi pihi
Nós, mães, mandamos as crianças limparem os dentes.
Dentes
witi pei t
h
êni yama ki na ki nini hwêrimamopê t
h
a
Como curar nossas dores de dente ?
pata t
h
è pê na ki ninio têhê amat
h
a pê t
h
aamahe Quando os
nossos antepassados sentiam dor de dente eles usavam (raízes
de) amat
h
a.
kamakari hi si pêni t
h
è pê na ki pree hwêrimamoma Eles
usavam também cascas de árvores kamakari para curar a sua
dor de dente.
kua yaro inaha yama ki na ki t
h
amou xoa
Por isso, nós continuamos fazendo a mesma coisa com os nossos dentes.
hemeyo kiki hikaki têhê Quando tomamos comprimidos,
na ki nini si waiwaimou pio
a dor de dente só acaba temporariamente.
kamakari a yai nomamaimi
(Os comprimidos) não matam realmente o espírito
Kamakari.
dentistani kamakari xi pê ha hikekerarini Depois
que o dentista raspa as cáries,
5
na ki pêka ha yaruprarini e limpa
o buraco dos dentes,
na ki pêka hehua xoaki
por fim, ele tapa esses buracos.
íhi téhé kamakari a xiro iai si waiki
Só então o espírito Kamakari pára de comer (os dentes).
na ki yai tareo têhê
Somente quando os dentes estão realmente podres,
yama ki na ki xiro ukipramorayu
é que os arrancamos.
kua yaro dentista a kõõ têhê
Por isso, quando chega um dentista,
pree yama ki na ki totoamou
todos nós devemos lhe mostrar os dentes.
inaha yama ki na ki xiro t
h
amou têhê
Somente se fizermos tudo isso,
yama ki na ki niniaimi
não teremos dor de dente.
kami yama ki na kiha yama ki pihi mõyamia
nêhê maki
Nós devemos todos ficar espertos com nossos dentes
yama ki na ki het
h
o marokoxio têhê
Quando não temos mais dentes na boca,
t
h
oo yama t
h
oxi pê witipraimi
não conseguimos mais cortar cipó com os dentes,
yaro yama yãhi pé waxikipraimi
não conseguimos mais mastigar carnes de caça,
yama ki aka hwai porepérario
falamos de maneira enrolada,
yama ki ikaprarou kiri na ki mi né kirihiha
ficamos com medo de rir porque envergonha não ter dentes.
Notas:
1. As dores de dentes e cáries são atribuídas aos espíritos Kamakarí, "comedores de dentes".
2. Omamari é um ente maléfico da floresta. Caça os Yanomami
fornecendo parte de seus corpos (ossos, dentes, etc.) para seus cães
(os espíritos Kamakarí).
3. Lit. "excrementos do espírito Kamakarí".
4. Lit. "caminho do espírito Kamakarí".
5. Aqui, literalmente, "excrementos do espírito Kamakarí" {Kamakarí xi pè).
Cães de Omamari comendo os dentes
Anexo
Xamã curando
1 .Os Watonki t
h
en pê
Os antepassados dos Watoriki t
h
eri pê habitavam a região das cabeceiras do rio Mucajaí
durante as primeiras décadas do século XX. Passaram depois, através de pequenos
movimentos migratórios, para a bacia do rio Couto de Magalhães (anos 1930), onde foram
contaminados pelas primeiras epidemias (sarampo, gripe)
1
oriundas da fronteira regional (por
intermédio de grupos indígenas vizinhos).
Prosseguindo em sua lenta migração para o Sul (anos 1940), chegaram, enfim, à região das
cabeceiras do Rio Catrimani, onde passaram os anos 1950. Nos anos 1960 habitavam o alto
rio Lobo d'Almada (afluente do Catrimani). Começaram a ter, entre 1965 e 1968, contatos
esporádicos com a missão católica do Catrimani, que se estabeleceu na região neste período (a
aproximadamente cinco dias de caminhada em direção ao Sul). Há também memória de várias
mortes por gripe atribuídas a estes contatos.
Em 1970, entraram em contato com a missão evangélica Novas Tribos do Brasil, no rio
Toototobi. Acabaram sendo atraídos para a periferia da área de influência desta missão, no rio
Mapulaú, em 1971-72. No verão de 1973 foram atingidos, neste local, por uma epidemia (não
identificada) que atribuíram à fumaça de uma explosão em seguida ao pouso de um
helicóptero na área (prospecção geológica ?)
2
. Esta epidemia custou a vida de uma grande
parte da aldeia (entre 35 e 40 óbitos).
3
Em 1974, os sobreviventes dos Watoriki t
h
eri pê se separaram. Uma parte (grupo do
Lourival) se estabeleceu na vizinhança de um posto da FUNAI recentemente aberto no
Mapulaú. A outra parte (grupo do Noé), voltou para a região de origem da comunidade, no
alto rio Lobo d'Almada. No começo de 1977, uma epidemia de sarampo, oriunda da missão
Catrimani, atingiu o grupo do Noé no Lobo d'Almada, matando, novamente, de 10 a 15
pessoas.
4
Em 1977, a FUNAI desativou o posto Mapulaú. Abriu, no ano seguinte, o posto Demini, no km 211 da
Perimetral Norte, a menos de cem quilómetros a sudeste do anterior O grupo do Lourival começou
então um movimento de migração progressiva na direção do posto Demini, com o qual passou a ter
contatos regulares (trocas, assistência sanitária). Os remanescentes do grupo do Noé, depois de uma
tentativa de aproximação da missão Catrimani, acabaram se juntando novamente ao grupo do
Lourival, no começo dos anos 1980. Os Watoriki t
h
eri pê moram hoje numa única aldeia, a 3
quilómetros do posto Demini
2.Línguas e dialetos
Yanomami
5
O termo Yanomami é usado de maneira genérica para designar o conjunto
cultural e territorial constituído pelo grupo indígena como um todo. No plano
linguístico, designa uma família de quatro línguas subdivididas em vários
dialetos.
A primeira descrição desta divisão do conjunto yanomami em quatro línguas foi
proposta há vinte cinco anos por Migliazza (1972), com dúvidas sobre uma
possível quinta área linguística, mal conhecida, cobrindo os rios Ajarani, Apiaú e
o baixo Mucajaí. Assim, temos no Brasil:
1- Yanomam (rios Uraricoera, Parima, alto Mucajaí, Catrimani, Toototobi),
2- Yanomami (rios Demini, Aracá, Padauiri, Cauaburis)
3- Ninam ou Yanam (rios Uraricaá, médio Mucajaí)
4- Sanima (rio Auaris)
Um estudo mais recente (Ramirez 1994) modificou um pouco esta
primeira descrição, da seguinte maneira:
1- Yanomam e Yanomami passam a ser vistos como dois "super-
dialetos"-oriental e ocidental - de uma mesma língua ("divisão Y");
2 e 3- Ninam -Yanam e Sanima permanecem classificados como
línguas separadas ("divisão N" e "divisão S");
4- o idioma da área Ajarani, Apiaú, baixo Mucajaí e médio Catrimani (igarapé
do Castanho e rio Pacu) passa a ser considerado como uma quarta língua ("divisão A
Cada uma destas línguas é subdividida em dialetos com nítidas
diferenciações fonológicas, lexicais e morfo-sintáticas. O Yanomami
oriental (o Yanomam de Migliazza) tem, por exemplo, dialetos distintos:
a) na região do Catrimani/Toototobi, b) no alto Mucajaí (Xitei, Homoxi,
Paapiú) e, c) na área de Surucucus. Pode-se, além disso, observar
diferenças subdialetais mais sutis: o subdialeto do alto Catrimani tem,
por exemplo, certas diferenças fonológicas e léxicas com relação ao
idioma da área da missão Catrimani e do Toototobi. Em certas regiões de
"fronteira" entre línguas, dialetos ou subdialetos, pode-se encontrar até
variações linguísticas de uma aldeia para outra ou mesmo dentro de uma
mesma aldeia (em razão dos casamentos entre malocas de fala distinta).
A fala dos Watoriki t
h
eri pé do P.I. Demini apresentada nestas cartilhas
pertence ao dialeto do alto Catrimani da língua yanomam (classificação
de Migliazza) ou yanomami oriental (classificação de Ramirez ). Esse
dialeto é designado como Yanomae t
h
ê ã, "língua yanomae ".
3. Sons e grafia yanomami
(dialeto Yanomaé)
6
As vogais
O dialeto Yanomae tem sete vogais que aparecem na tabela abaixo
conforme a posição da língua na boca durante a articulação:
anterior central
posterior
(arredondada)
Cinco dessas vogais são comuns ao português. As duas únicas que podem ser difíceis de
pronunciar são, portanto, i e è'. A primeira é representada pela letra i e seu som fica entre i e u.
Para se pronunciar i, começa-se a pronunciar i e logo depois u. Ao mesmo tempo, os lábios
ficam estendidos e a massa da língua fica pressionada contra o centro do palato. A segunda é
representada pela letra è\ Para se tentar pronunciar S, começa-se com e e, logo depois, o. O som
do 8 fica entre as duas vogais e e o. Os lábios ficam relaxados e não arredondados e a massa da
língua solta.
Todas estas sete vogais podem ser nasalizadas e representadas, neste caso, por um til
sobreposto à vogal, como em huxomu, 'assobiar', ou u, 'água'. Todas as vogais também
podem ser alongadas, articuladas com maior duração. Vogais alongadas são representadas por
duas letras, por exemplo, xaari, 'reto', e pêê nahe, 'tabaco'.
Os exemplos abaixo mostram ocorrências das vogais no dialeto Yanomae :
As consoantes
O dialeto Yanomae tem 13 consoantes, que aparecem na tabela abaixo,
conforme o modo de articulação e a posição da língua na boca durante a articulação:
Bilabial Alveolar Palatal Velar Glota
As oclusivas simples são representadas pelas letras p, í, e k. p e í são
pronunciadas frequentemente como suas respectivas contrapartes sonoras b e d,
não mudando o significado da palavra. A oclusiva k é sempre pronunciada como tal.
As oclusivas simples são basicamente as mesmas que existem em português, nas palavras:
'papo', 'teto' e 'cabo'.
A oclusiva aspirada t
h
é pronunciada como t com um sopro adicional de ar. O contraste entre Pef
pode ser exemplificado nas palavras Pai, 'fazer' e tai, 'ver'. Consideramos aqui í*como uma unidade
fonêmica, como é o caso nas gramáticas pedagógicas de Borgman (1976, 1990) sobre o Sanima, e
Lizot (1996) sobre o Yanomami ocidental. Entretanto, deve-se notar que no recente trabalho de
Ramirez (1994:61-62), também dedicado ao Yanomami ocidental, este som é analisado como uma
sequência de fonemas te h.
As fricativas são representadas pelas letras s, xe h. Não apresentam dificuldade para quem fala
português. São basicamente similares aos sons s de 'saber' exde 'lixo'; h é semelhante à pronúncia
carioca da consoante inicial da palavra 'rápido'. Existe, além de h, o fonema hw. hw é
pronunciado como uma sequência formada pelo som h e, logo depois, pelo som w(como u na
palavra água). Trata-se, de acordo com Ramirez (1994: 35-36), de um fonema residual com
distribuição limitada (nunca acompanha i, o ou u). Esse fonema é específico ao subdialeto
Yanomae do alto Catrimani (aldeias do Posto Demini, rio Lobo d'Almada e rio Jundiá) e
corresponde ao fonema /da região de Surucucus. Além dessa particularidade, todas as outras
qualidades fônicas descritas aqui são idênticas nas outras áreas de fala Yanomae: Toototobi,
Catrimani, Paapiú, Xitei, Homoxi, Palimiú, etc.
A vibrante r é produzida quando a ponta da língua bate brevemente na região alveolar, atrás dos
dentes superiores. Pode encontrar-se pronunciada como a lateral 1. Também é muito parecida ao n
quando ocorre ao lado de uma vogal nasalizada. Por exemplo, a pronúncia do ré igual a n depois de
õ: mõri = mõni, 'um, quase'.
As nasais, me n, são basicamente as mesmas que existem em português nas
palavras 'mato' e 'nove'.
As semivogais são representadas pelas letras w e y Estes tipos de sons são
pronunciados como vogais, mas têm uma duração curta como consoantes e
ocorrem precedendo ou seguindo uma vogal. O som de semelhante ao som
representado por u na palavra portuguesa 'água'. O som de y é semelhante ao som
representado por i na palavra portuguesa 'praia'.
Os exemplos abaixo mostram ocorrências das consoantes no dialeto Yanomae
Xamã
curand
o
A sílaba
A sílaba mais comum consiste de uma consoante e uma vogal, como, por exemplo, em
wa-ké, 'fogo'. Ocorrem também outros tipos de sílabas, como, por exemplo, V-CV em a-
ra, 'arara', CVV em puu, 'mel' ou CCVV em pree, 'grande'.
Existem entretanto sequências de vogais difíceis de pronunciar, como, por exemplo:
pèi 'sentir-se mal, ficar doente'
-VV
mamai 'dar uma terçadada'
—vvv
Aiamorí 'espírito das flechas'
VVV—-
praiai 'dançar nas festas reahu (apresentação)'
Existem, também, agrupamentos de certas consoantes difíceis de pronunciar. Por exemplo:
Acentuação
O acento marca a intensidade de uma sílaba. A acentuação na penúltima sílaba é mais frequente no
dialeto Yanomae, como, por exemplo, em: xáma, 'anta' e watórí, 'vento forte' Para dar ênfase,
entretanto, o acento pode ser colocado na última sílaba da frase, como, por exemplo, em: ya nini
mahíl 'estou com muita do
Notas:
1. Aldeias de Xioniau e Mrakapii (ver Cartilha 1).
2. Aldeia de Werihisipi u (ver Cartilha 1).
3. Estimativa a partir de genealogias (arquivo B. Albert). A aproximação do número
vem essencialmente da dificuldade do recenseamento dos óbitos de crianças menores.
4. Aldeia de Hwaya u (ver Cartilha 1). Esta epidemia atingiu quatro grupos do Lobo d Almada,
matando um total de 68 pessoas (arquivo Missão Catrimani e B. Albert). Ela se alastrou também
entre os grupos do Paapiú. então isolados, com um número desconhecido de vítimas.
5. Fonte: Albert & Goodwin Gomez, 1997.
Bibliografia
ALBERT, B. & G. GOODWIN GOMEZ
1997 Saúde Yanomami. Um manual etnolingiiístico. Belém, Museu Paraense Emílio Goeldi (Coleção Eduardo Galvão).
BORGMAN, D.
1976 Gramática pedagógica Sanumá. Boa Vista, MEVA.
1990 "Sanuma", in: Handbook of Amazonian Languages
(D.C Derbyshire e G.K. Pullum orgs.). Haia, Mouton. Vol. 2, pp. 17-248.
LIZOT, J.
1996 Introducción a la lengua yanomami. Morfologia.
Caracas, Vicariato Apostólico de Puerto Ayacucho.
MILLIKEN.W. & B. ALBERT
1997 "Plantas medicinais dos Yanomami: um novo
entendimento dentro da etnobotânica de Roraima", in: Bases
para o Desenvolvimento Científico de Roraima, R. I.
Barbosa, E. Castellon et E. Ferreira (orgs.). Boa
Vista, INPA.
sd. Saúde Yanomami (II). Um guia de plantas medicinais.
(em preparação).
MIGLIAZZA, E. C.
1972 Yanomama Grammar and Intelligibility. Tese de Doutorado, Indiana University.
RAMIREZ, H.
1994 Le parler Yanomami des Xamatauteri.
Tese de Doutorado, Université d'Aix en Provence.
CCPY
Comissão Pró-Yanomami
R. Manoel da Nóbrega 111 - Cj. 32 04001-900
Sâo Paulo SP Fone: (+55.11)289.1200 Fax:
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Os direitos autorais dessa publicação pertencem
aos Watoriki feri pé (Comunidade do Demini)
Julho de 1997
Coordenação Editorial
Claudia Andujar
Assessoria Técnica
Ana Isabel Dias
(odontóloga. Diocese de Roraima)
Deise Alves Francisco
(médica, CCPY)
Maria Edna de Brito
(educadora, CCPY)
Produção dos Textos
Claudia Yanomami
Davi Kopenawa Yanomami
Geraldo Yanomami
Joseca Yanomami
Lourival Yanomami
Tenose Yanomami
e os demais alunos da escola
dos Watoriki feri pe (Demini)
sob a coordenação de Bruce Albert
(antropólogo, ORSTOM)
Ilustrações
Dário Yanomami Hyko Yanomami
Isligue Yanomami Jair Yanomami
Joaquim Yanomami José
Yanomami Joseca Yanomami
Mozaniel Yanomami Pedrinho
Yanomami Poraco Yanomami
Roberto Yanomami Sebastião
Yanomami Sérgio Yanomami
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